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ALGUNS MESES ANTES
A i meu Deus!
Ai meu Deus! Sento rapidamente na cama enfiando minha cabeça debaixo do lençol, vendo meu corpo nu. Que merda! Remexo-me agitada procurando a droga do meu celular que parece ter criado asas quando eu mais preciso.
O quarto gira quando me curvo para caçar minhas coisas. A garrafa de champanhe está jogada perto da janela, vazia, um pequeno lembrete das merdas que fazemos na vida. E eu pratico muitas delas.
Enfio minha cabeça debaixo da cama me deparando com uma cueca boxer branca.
Ah, merda!
Sinal vermelho. Pegar as coisas e cair fora!
Curvo meu corpo para baixo vendo meu sutiã perdido bem no meio e a calcinha do outro lado, perto do pé de um puff. Fico literalmente com a bunda jogada ao vento tentando capturar meu sutiã e me vestir com o resto de dignidade que me resta, mas lógico que não consigo e caio com tudo no chão, produzindo aquele baque seco. Merda! Rastejo para debaixo da cama finalmente capturando meu sutiã, escuto o barulho do celular vibrando perdido em algum lugar daquele quarto desconhecido, corro pegando-o ao mesmo tempo em que tento não me dar um nó ao vestir minhas roupas íntimas.
— Onde você se meteu? Luce já estava querendo chamar a polícia. — Escuto assim que atendo a ligação.
— Gabi, pelo amor de Deus, onde eu estou? Sou eu que te pergunto isso! — Atrapalho-me com a alça do sutiã e o cabelo me fazendo parecer a menina daquele filme de exorcismo, enquanto mantenho o aparelho na orelha:
— Um pouco de aventura depois de uma semana complicada no trabalho, Bia. Diga, está enroscada naquele gostoso? — a voz de Luce soa alta do outro lado da linha, pelo visto estou no viva-voz.
— Isso não está ajudando, mal sei onde estou!
Dou uma olhada pelo quarto, pelo visto é um flat . A vista de São Paulo brilha com o reflexo do sol do lado de fora.
— Vai dizer que não se lembra de nada? — Gabi resmunga.
— Quase isso — retruco buscando o resto de minhas coisas.
— Um pouco de irresponsabilidade não mata ninguém — Luce diz rindo.
— Apenas demite!
Escuto passos vindo em direção ao quarto, pressiono a mão contra a boca abafando o telefone. — Encontro com vocês no apartamento! — digo jogando o celular em minha bolsa recém-encontrada.
— Até que enfim acordou, pensei que tivesse entrado em coma alcoólico!
Congelo de costas para onde vem a voz, pensando em mil maneiras que poderia tornar isso menos constrangedor. Não que ele já não esteja saboreando a visão de minha bunda recém-tampada pela calcinha.
Viro apertando minha bolsa contra o corpo, como se ela pudesse tampar minha nudez. O homem, com leve toque grisalho no cabelo, me encara sorrindo, meus olhos passeiam pelo seu corpo em transe, suas mãos seguram uma bandeja imensa com café da manhã, mas o que me faz me sentir mais idiota é a forma como cobiço a bermuda larga pendendo pela cintura, e não por ser uma bermuda de pano daqueles modelos que vemos nos velhos, mas por ter uma saliência bem dotada ali e, pelo visto, livre leve e solta, pronta para brincar de pique-esconde, que me faz baixar a bolsa com um sorrisinho sinistro na boca e pedir um bis de qualquer coisa que tenha acontecido naquele quarto.
Os olhos curiosos me encaram com diversão, ele deixa a bandeja de café sobre a cama bagunçada, levando a mão ao cabelo, percorrendo os fios molhados com os dedos.
— Fiz um café para nós. Mas não precisa interromper a análise do meu corpo, estou gostando muito de ser escaneado — diz sorrindo.
Pisco, afastando a cara de idiota que deve estar estampada em meu rosto. — Desculpe-me, eu não me...
— Lembra do meu nome? — seu sorriso se abre — Caio, o prazer é todo meu.
— O cara do bar.
— O cara que salvou você de beijar a calçada enquanto cantava “ Makes me Wonder” , com uma dança bem sensual no meio da rua?
— Meu Deus! — exclamo pausadamente.
Que Diabos eu fiz a noite passada?
Caio se senta no colchão, deixando ainda mais evidente sua saliência na bermuda. — Vai dispensar meu café? Coloquei meu ingrediente especial para curar sua ressaca.
Pego a caneca de café que ele me estende, sentando na ponta do colchão à sua frente.
— Não me lembro de nada do que aconteceu depois do bar, então... — murmuro dando de ombros. — Espero que a noite tenha sido boa.
Ele gargalha, seu pomo de adão vibra com seu timbre rouco.
— Eu gosto de mulheres conscientes quando vou fazer sexo, quero que elas sintam tudo que posso lhes proporcionar. Então, fique tranquila, não transamos. — Esboço um sorriso de tranquilidade ao ouvir isso — Mas não significa que você não arrancou sua roupa e roubou vários beijos e amassos meus.
Caio abandona sua caneca na bandeja, afastando-a de nós. Chega mais perto, com seus lábios entreabertos, carnudos e bastante chamativos. Nossos corpos perto um do outro, nossos rostos bem no limite da insanidade para eu aproveitar a brecha de “bêbada louca” para agarrá-lo.
— Fico feliz que tenha sido eu a encontrá-la.
A voz grave dele incorpora um tom divertido.
Ele não está me tocando, suas mãos estão apoiadas sobre suas pernas, mas é como se eu pudesse sentir o toque de seus dedos percorrendo meus braços, esquentando minha nuca.
— Levarei você para casa, com duas condições.
— Condições? — pergunto arqueando a sobrancelha.
— Seu telefone e um beijo de despedida; não é demais, levando-se em consideração que nas últimas oito horas tive sua boca passando por meu corpo.
Caio deu uma risadinha, pegou seu celular no bolso da bermuda e me entregou.
Quantas vezes um raio pode cair no mesmo lugar? Duas, chutando muito alto? A chance de ele me ligar poderia ser de cinquenta por cento, já tinha passado meu telefone para homens piores do que ele, então por que não?
Digito salvando o contato e lhe devolvo o aparelho. Satisfeito, ele sorri e me entrega o restante de minhas roupas.
— Vou deixar a última parte para receber assim que entrarmos no carro.
Capítulo 2
DIAS ATUAIS
T RINTA, A IDADE DO SUCESSO... Grande besteira! Só se for para Jennifer Garner, naquele filme da Sessão da Tarde!
Jogo minhas pernas para fora da cama, olhando o projeto de homem estirado nela e automaticamente torço os lábios. Minha vontade é chutar sua bunda até que saia do meu apartamento me chamando de maluca. E tenho bons motivos, acredite.
Mas, também a culpa é toda minha, afinal, fui eu que disse sim às suas cantadas. Resmungo saindo da cama e de perto dele, que não se mexe um centímetro.
Quando um homem vem atrapalhando minha noitada com minhas amigas, desempenhando as melhores cantadas em meu ouvido e eu me presto a ouvi-las, espero três coisas básicas:
Primeira: um beijo de qualidade, aquele que a gente sente a calcinha molhar só de imaginar o estrago que a boca dele pode fazer lá embaixo.
Segunda: uma pegada de respeito. Ah, não adianta executar o primeiro ponto bem e na hora de dar aquela pegada que nos faz querer grudar na parede igual lagartixa se mostra na verdade uma bosta! Aquela com mão frouxa e que só pensa em ficar roçando o amiguinho na minha bunda.
E terceira: o sexo. Se o carinha passou pelos dois testes, merece que minha amiguinha lhe encare e é aí, meu caro hétero top , que você tem que encarnar o Sidney Magal e me fazer jogar a calcinha na sua cara. Antes que diga que estou sendo exigente, não mesmo, nem pense nisso. Estou sendo é boazinha com esses homens que pensam que porque têm um pênis no meio da cueca a gente tem que ajoelhar e rezar.
No caso do hétero top , deitado babando em um dos meus travesseiros foi exatamente isso que aconteceu. Ele tinha um beijo arrasador, uma pegada... que me deixa sem palavras só de lembrar, mas o sexo? Esse é do muito, mais muito, meia boca.
E o pior de tudo foi dizer que iria me deixar caminhando com as pernas abertas no dia seguinte... Coitado né, o hétero top esqueceu que da nossa coleguinha sai um bebê, então não venha falar isso para uma mulher com seu pênis de tamanho normal. Ainda mais quando você não sabe executar a tarefa e o instrumento direito.
Porque até mesmo para fazer um bom brigadeiro, o segredo é manusear bem os ingredientes dentro da panela.
E se não bastasse isso para terminar minha noite e todos os meus desejos secretos é o homem tentar rasgar a calcinha. Eu vejo a frustração deles, no máximo eles irão conseguir fazer minha calcinha acomodar eu e mais uma amiga. Sim, a ideia é excelente, seria maravilhoso vocês chegarem com tudo, a calcinha voando para o lado...o plano é excelente. E por mais que vejamos isso em filmes, na vida real é bem diferente.
Se depois de tudo isso eu não chutasse esse cara para fora da minha casa... Inspiro profundamente olhando para o sujeito babão em minha cama. Com o verdadeiro significado de lindo e ordinário.
Mas calma, as coisas vão piorar e eu vou lhe contar exatamente como eu desejei que minha vida, por um pequeno momento, deixasse de ser uma comédia atrapalhada e nada romântica para o dia em que eu realmente veria o sol deitada sobre uma espreguiçadeira com um drink nas mãos.
O fato é que eu tinha acabado de completar trinta anos, dando uma olhada bem rápida na imagem refletida no espelho do outro lado do quarto, sei que pareço igualzinha como em todos os outros dias, mas algo em mim mudou.
Talvez seja apenas minha paciência que ficou ainda mais curta ou parece que meu rosto está um pouco flácido? Meus olhos castanhos e redondos, estão um pouco enrugados nos cantos?
Acima de tudo, tenho o ar cansado. E não por ter passado a maior parte da noite bebendo com minhas amigas e dançando com caras estranhos acreditando que seria um belo caso de uma noite, mas sim porque estou realmente cansada.
Achei que estava preparada para os trinta, que já estaria com tudo resolvido e todos os planos perfeitamente traçados e todos sendo executados. Porém, é como se estivesse apenas algumas casas à frente de onde eu comecei. Meu último relacionamento durou o mesmo que a temperatura de uma água no fogo, logo evaporou. Assim como os outros tantos que vieram antes dele e isso me fez ter em mente que eu sou minha melhor companhia. Que eu posso ser um caso de “panela sem tampa”; no meu caso, sou uma frigideira.
Tá, não posso reclamar, tenho um emprego bom, um canto só meu, assim como vários boletos. Coisas de vida adulta. Mas eu achei que aos trinta anos teria chegado ao cargo que tanto almejo, desde o dia em que coloquei meus pés na agência de publicidade. Isso não aconteceu, faz cinco anos que estou encalhada na mesma vaga.
E quando paro para pensar nisso, vêm milhões de maneiras em negrito em minha mente dizendo que eu desperdicei anos de minha vida, e que se me perguntassem o que eu pretendo fazer a partir de hoje, minha reação seria sair correndo.
Aos vinte e cinco anos me fiz a pergunta de como me veria aos trinta. Naquela época, só via caminhos frutuosos e gloriosos, era o que eu esperava enquanto segurava uma caixa lotada das minhas coisas no meio do meu apartamento recém-alugado.
Lembro-me bem, eu acreditava que tudo se encaixaria perfeitamente e que as dúvidas e incertezas que via as mulheres de trinta tendo eu nunca teria. Pois bem amigos, aqui estamos nós.
A verdade é que eu não estou pronta para os trinta, com trinta a maioria das mulheres está bem resolvida. Não quero ser insegura por causa de uma idade, mas eu não estou pronta para ela. É confuso, eu ainda me sinto jovem como quando eu tinha vinte e dois, ainda quero cometer loucuras, agir de maneira irresponsável de vez em quando. E pior, não quero ter filhos agora, muitas vezes mal me lembro de reabastecer a geladeira, como uma criança dependeria de mim?
Essa é a questão, todas as responsabilidades que jogam em nossos ombros ao completar trinta anos, muitas de nós nem mesmo pedimos por isso. Um dia depois do meu aniversário, a primeira pergunta que minha querida mãe me fez foi: “quando vai criar juízo e arrumar um bom partido?”.
É uma coisa muito maluca, mas faz sentido, eu não estou pronta, mesmo que seja uma data marcante, me recuso — ao menos por enquanto —, a assumir todas as responsabilidades e coisas que nos impõem.
— Ei — chamo cutucando o babão em cima da minha cama. — Belo adormecido, vamos acordar!
NADA! Dou a volta na cama chegando perto de seu rosto, vendo se o homem ainda respira.
Sacudo seus braços fazendo-o se sobressaltar na cama de susto.
— Olha, a noite foi uma delícia — minto descaradamente. — Mas está na hora de você ir embora.
— Podemos nos ver hoje à noite, repetir tudo isso... — sugere sorrindo.
Eu tenho duas opções e uma delas é uma obrigação para nós mulheres. Os homens precisam saber que transam mal, não podemos mais, em pleno século vinte e um, ficar mentindo que tivemos orgasmos quando a transa foi bem ruim; ou, posso ser simpática, despachá-lo com a desculpa que cuidarei do meu tio doente ou o gato da vizinha.
— Olha, foi legal e tudo. Você é bom, mas sendo sincera, não vai rolar! Você babou no meu travesseiro, prometeu uma coisa que não conseguiu cumprir e você sabe como isso é frustrante para uma mulher? Você realmente achou que meu clítoris era uma campainha?
O homem em minha frente fica pasmo, assombrado por tudo que despejo em cima dele.
— Desculpe-me, sim?
— Que mulher maluca! — diz ao recolher suas coisas e sair batendo a porta com tudo atrás de si.
— Sou maluca e você precisa de um cursinho intensivo de sexo! — grito em direção a sala.
Pego um jeans preto e uma camisa social deixando sobre a cama, assim como os saltos escolhidos para hoje e vou para o banheiro. Quando saio do chuveiro, penteio o cabelo molhado para trás, num rabo de cavalo e passo uma maquiagem leve no rosto.
Eu me arrumo com calma, como se não tivesse um emprego para salvar depois do que aconteceu na sexta-feira passada... como se eu não tivesse vomitado no meu chefe logo depois de declarar uma paixão platônica!
Por que eu tinha que fazer essas burradas?
Como me meti na maior enrascada da minha vida?
Foi de repente, ele surgiu pelo elevador sorridente, o terno cinza como sempre muito bem alinhado, porém, naquele dia, ele estava sem gravata, a camisa social branquíssima aberta nos primeiros botões... Primeiros não! Eram uns quatro ou cinco mostrando aquele início delicioso de peitoral, eu pude até ver aquele “tufinho” de pelos, o deixando ainda mais másculo e erótico em meus pensamentos. Deus!
O caso é que Patrick assumiu o lugar do meu ex-chefe, um velho decrépito que ia contra a modernidade e os avanços que as empresas e marcas criaram com o toque dos dedos. Enfim, Patrick era totalmente o oposto, era antenado no que o mundo vinha pedindo, trouxe um novo ar para a empresa.
Patrick era aquele homem que se a gente parasse para pensar, ficaria bem em diversas situações. Eu imaginava seus braços fortes e produzidos em academia me segurando forte na sala de descanso para uns amassos proibidos, imaginava seu corpo nu dentro do meu chuveiro. Era daqueles homens que nem guindaste nos tiraria de cima.
Era tanta coisa que eu poderia fazer com esse homem em minha mente que eu o transformaria num Bombril.
E eu estava tão cega pela vontade de transar com meu chefe que não percebi o que estava na minha cara, precisei na sexta-feira sair com Luce para vê-lo beijando um homem. E o problema não é ele ser gay, afinal, a gente dá para quem quiser. O problema foi ver todas as minhas fantasias e cenas eróticas planejadas para minhas noites com meu consolo caírem quebradas aos meus pés, porque eu nunca mais tiraria essa cena da minha mente.
Quando ele percebeu que eu estava do outro lado da balada olhando para ele como se tivesse acabado de matar minha mãe na minha frente, veio falar comigo, eu mal me lembro o que falou, mas me lembro bem de ter vomitado em cima dele.
Todo o álcool que ingeri para dar coragem de ir me declarar, voltou com força máxima manchando sua calça jeans cara e seus sapatos mais caros ainda.
Mas é como dizem: Vemos aquilo que queremos ver.
Nunca desconfiei que os almoços que ele tinha com seu amigo eram, na verdade, encontros com seu namorado, que as flores que ele pedia para sua secretária enviar, não eram para as mulheres com quem saía, eram para seu namorado... Um namorado lindo, alto e gostoso assim como ele. Um namorado moreno e careca tão sensual que metade das meninas na empresa queriam o telefone dele. Um casal perfeitamente gostoso e gay, por quem eu vim fantasiando grande parte do ano passado e deste ano, até mesmo aceitando — sem nenhum convite oficial, apenas um feito em minha mente —, participar de um ménage louco com os dois.
Eu deveria ter inventado uma desculpa, ter ligado para meu chefe e ter dito que estava com gripe, dengue, sarampo, qualquer coisa. Até malária seria melhor do que isso. Mas não fiz.
O destino tinha mandado seu recado, eu que fui surda demais para ouvi-lo.
Paro no meio fio acenando para o Uber.
— Centro, né? — confirma o motorista.
— Por favor – digo me jogando no banco de trás.
— Ih mocinha, vamos enfrentar um belo de um trânsito – argumenta o motorista.
Bufo olhando para o celular de novo, o motorista corta algumas ruas seguindo direto para o engarrafamento, colo meu olhar na janela absorvendo os cheiros estranhos de São Paulo logo pela manhã e os motoristas irritados no trânsito, respirando fundo pela minha péssima escolha de ter saído na sexta passada com minhas amigas e enfiado meu pé na jaca.
Não pense que sou frustrada, nem um pouco, mas eu tenho a grande tendência de me envolver com os tipos errados: caras broxantes, filhinhos de mamãe, canalhas, mentirosos..., mas confesso que uma mudança cairia muito bem.
— Mocinha, chegamos. – O motorista me arranca dos devaneios.
Tiro o dinheiro da carteira, passando para ele.
Atravesso o saguão da empresa, me espremendo no elevador apinhado de pessoas.
— Você está atrasada Bianca e muito — reclama a secretária de Patrick, assim que piso na empresa.
— Sabe como é, São Paulo é um completo caos — digo com um sorrisinho cínico nos lábios, pela desculpa esfarrapada.
Ela revira os olhos. Nádia é o tipo de mulher que acorda de mal com o mundo.
— Nádia, ligue no telefone da Bianca, preciso do briefing que ela estava tomando conta .
Nádia, só torce os lábios apontando para mim.
— Desculpe o atraso, Patrick.
Ele me encara por alguns segundos e dá espaço para que eu entre em sua sala, fechando a porta atrás de si, assim que passo.
Será que foi porque eu descobri que meu chefe tesudo — por quem eu nutria uma tensão sexual — é gay que os sorrisos doces e gentis que ele geralmente me dava sumiram? Tá, estou sendo hipócrita, ele está me olhando assim por que eu vomitei pelo menos cinco copos de vodca em cima dele.
— Precisamos conversar sobre o que houve semana passada.
— Olha, Patrick, sinto muito.
— Eu admiro muito seu trabalho aqui na empresa, você é uma das melhores publicitárias, mas...
Minha cabeça deu um nó. — Espera, esse discurso...
— Sim, Bianca. Conversei com um amigo, ele tem uma ótima empresa de publicidade, seu perfil se encaixa muito bem.
— Ah, cala a boca! — explodo.
— Como é?
— Está me demitindo porque descobri que você é gay?
— Não é por que sou gay — diz — Mas descobrir que você nutre um sentimento por mim fere tudo que eu construí nesta empresa, não quero que fique...
— Desculpa, Patrick? Fique o quê? Você está me demitindo por um sentimento que não fazia nem ideia? Isso é ridículo, eu me desdobro por esta empresa! Não venha com uma merda de desculpa dessas!
Abro a porta com violência, e caminho pisando duro até minha mesa, o filho da puta já tinha juntado minhas coisas.
— Bianca, preciso que deixe seu crachá com a segurança.
Viro querendo mandá-lo para aquele canto obscuro. Retiro o crachá do bolso jogando em sua direção. Os funcionários das baias próximas observam atentos ao show.
— Sinto muito.
— Não! Você não sente porra nenhuma!
Patrick olha em nossa volta, dando um sorrisinho para meus colegas. — Bianca — adverte.
— Você é um tremendo babaca, babaca gay! Eu estou há cinco anos nesta empresa e você chuta minha bunda porque eu vomitei em cima de você e do seu namorado por descobrir que é gay. Olha! Eu quero que vá para o inferno! — explodo, minhas mãos tremem de nervoso, sinto meu corpo suar. — Você está sendo insano, foda-se que é gay!
— Bianca, por favor. Fale baixo.
Solto uma gargalhada ácida. — Fale baixo? Então o problema é esse? Achou que eu ia falar para alguém que você e seu suposto amiguinho fodiam dentro de sua sala, nas intermináveis reuniões? Como você pôde sequer pensar isso e ainda por cima vir com esse papinho para me demitir? O que vai colocar no papel? Justa causa por descobrir que você é gay?
As pessoas ao nosso redor já olhavam assombradas, cochichando umas com as outras.
Agarro a caixa em cima de minha mesa com todos os meus pertences. — Sabe de uma coisa? Essa empresa de merda nunca mereceu meu trabalho! — digo e saio batendo os pés em direção ao elevador, atropelando as duas meninas que saíam dele.
Se esse não é o pontapé que eu estava esperando para dar um rumo totalmente novo em minha vida, só falta um meteorito cair direto em minha cabeça, não é mesmo?
Capítulo 3
N a manhã seguinte, o sol me saúda através das cortinas lilás, com a promessa de um dia melhor... ou não. Olho para o relógio na mesinha de cabeceira, passa das onze horas. O calor do final de ano cai sobre a cidade com força, deixando aquela vontade imensa de arrumar uma mala, jogar algumas roupas despretensiosas dentro, pronta para viver uma aventura sem ter por que voltar.
E eu devia mesmo executar esse plano, não estou nem um pouco disposta a me sentar em frente ao computador e enviar currículos a tarde toda, muito menos ficar remoendo a canalhice que Patrick fez comigo.
Abro o notebook, apoiando-o em minhas pernas, pesquisando sobre destinos e lugares que sempre quis conhecer.
— Querida, cheguei! — Luce grita ao fechar a porta do apartamento atrás de si.
Olho por cima do ombro, vendo minha amiga deixar de lado as chaves reservas na mesa de jantar, junto com sua bolsa e celular.
— Você não devia estar trabalhando? Achei que nos veríamos de noite!
— Tirei a tarde de folga. E você também, não?
— Fui demitida — conto, bufando.
Luce se joga ao meu lado no sofá, encarando meu rosto. — Mentira, né?
— Mais pura verdade, aquele filho da puta me chutou da empresa com a desculpa de que eu ter sentimentos por ele ia contra a política imposta!
— Tá de brincadeira, o que pretende fazer agora?
Dou de ombros — Tenho uma reserva guardada. Talvez agora eu esteja precisando mesmo é de umas férias.
Ela arranca o notebook de meu colo, rolando a tela, vendo minhas pesquisas. O anúncio que piscou na tela assim que abri e digitei o que queria no Google, chama de imediato minha atenção. Se eu abusar do cartão de crédito posso ir com a consciência tranquila.
— Se jogar numa praia paradisíaca em pleno natal?
— Por que não? Seria melhor do que ir para casa dos meus pais, ficar escutando a noite toda como meu irmão é perfeito e de sua família perfeita. Enquanto minha tia Dirce me enche o saco perguntando dos namorados que não tenho e dizendo que logo estarei seca e velha como uma ameixa. Além das cobranças de minha mãe sobre netos, que se depender de mim, ela não os terá tão cedo ou nunca. E o fato de que ela sempre tem um jeito muito gentil de mostrar o quanto minha personalidade a desagrada.
Luce gargalha.
— Sem contar que depois da meia-noite, o clima de amizade e família iria ladeira abaixo e todo mundo tentaria se matar com a faca que cortou o peru. Preciso de uma mudança e se ficar isolada numa praia, enchendo o rabo de bebidas doces, longe de tudo, for a saída?
— Então, amiga, compre agora mesmo esse pacote de viagem e arrume as malas — ela comenta ao clicar no anúncio da tela.
Encorajada por Luce, olho mais uma vez o anúncio: os passeios inclusos nas praias de Maragogi e região, são perfeitos! Oito dias de sol e mar!
— Você viu que o tal chalé do pacote é de frente para a praia?
— Maravilhoso! — comento sorridente, olhando as fotos que tinham aparecido depois que reservei a passagem na outra guia. — Aqui diz que está com poucas unidades disponíveis e que você ganha desconto quando reserva as passagens.
— Cadê aquele cartãozinho de ouro? — Luce brinca.
Saco o cartão de crédito e parcelo a viagem a perder de vista, desse modo o fato de eu ter sido chutada do meu emprego não impactará em continuar pagando meu aluguel e as parcelas do cartão. Confiro todas as informações, eu embarcarei para Maragogi dia vinte e um de dezembro e volto para São Paulo no dia vinte e oito. Oito dias no mais perfeito paraíso, longe de toda a bagunça que minha vida se transformou. Esses oito dias serão suficientes para eu reabastecer minhas energias, traçar novas metas e fazer as mudanças que tanto preciso.
— Pronto, tenho uma semana para a viagem.
— E amanhã iremos nos jogar num dia de garotas e comprar alguns biquínis novos, para sua aventura praiana.
— Dia de shopping animador, em pleno final de ano? — questiono rindo.
— Sua vida seria um tédio sem mim, gata! — diz piscando. — Vamos aproveitar as liquidações.
— Tudo bem — dou-me por vencida.
***
A beleza do feriado mais amado, HO, HO, HO!
— Vai sentar no colo do bom velhinho, amiga?
Reviro os olhos para Luce, — Só falta isso na minha lista de coisas que não devo nunca fazer: correr para roubar o lugar de criancinhas e sentar no colo de um velho com barba falsa.
Luce ri — Vai que ele traz um belo presente para você!
— Tô precisando quase de um milagre. Uma mala cheia de dinheiro seria muito bom, outra coisa interessante seria o bom velhinho transportar homens em caixas de brinquedo.
— Acho que os seus pedidos estão exigindo demais do coitado. Mas será que se pedirmos com bastante desejo ele manda algum de um metro e oitenta em caixa de brinquedo? — Luce gargalha.
Dou de ombros tomando o resto do meu sorvete. — Poderia me contentar com um metro e setenta, os tempos são caóticos.
Olho uma última vez para o velhinho sorridente na ampla poltrona vermelha entregando doces e arrancando sonhos das crianças inocentes que correm em sua direção, antes de caminhar na direção contrária.
— Acho que tem alguém mudando de ideia e vai entrar na fila do bom velhinho — Luce caçoa.
— Você já reparou que ensinamos as crianças a não falar com estranhos e tomar certos cuidados, mas incentivamos a sentar no colo de um, por causa da magia do Natal? — inquiro.
Luce me encara arqueando a sobrancelha, — Amiga, tua amargura tem lógica.
— Não estou amarga com a vida, é apenas uma observação. E outra, compramos mais do que deveríamos — comento ao olhar a quantidade de sacolas em meus braços.
— Mulheres precisam de agrados e você precisava de biquínis cavados para marcar esse bundão!
Reviro os olhos. — A sua sinceridade é impagável.
— Precisa de carona até o aeroporto, amanhã?
— Não, tenho tudo sob controle.
— Vê se não deixa de anotar tudo o que precisa para se encontrar por lá. — Luce alerta.
— Fiz um pacote avulso onde contratei um transfer até o chalé, então, nada de me perder por Maragogi, pelo menos não intencionalmente. Segundo está no site, o chalé fica a cinquenta minutos do centro.
— Daqueles bem escondidinhos para altas aventuras — diz maliciosamente. — Serão grandes dias, quero ligações para me contar as novidades.
— Tem um ditado que diz: pior do que está não fica . Vou descobrir se é verdade.
— Deixa de ser pessimista, vai ser uma viagem incrível e, quando o ano virar, as coisas serão melhores!
Dou de ombros, não quero criar expectativas. Tenho grande experiência de me frustrar com falsas expectativas. Quero curtir esta viagem sozinha, para um lugar que nunca fui e passar oito dias maravilhosos por lá.
Capítulo 4
D emoro um pouco para fechar a mala devido a quantidade de coisas que enfiei dentro dela, arrasto-a pelo piso até a porta de entrada, junto com a bagagem de mão pequena que decidi levar de última hora com itens indispensáveis.
A viagem de avião foi tranquila, como escolhi viajar a noite por conta da diferença de valor, me sinto sonolenta e tudo que desejo é cair naquela cama macia que vi na foto. A van espera enquanto busco minha mala na esteira. As pessoas que entraram junto comigo estão animadas para se aventurarem, mesmo de noite, pelo que a cidade tem a oferecer.
Apoio minha cabeça contra o vidro frio do carro, ouvindo o guia explicar sobre as praias e os destinos que os turistas mais gostam. Algumas pessoas foram deixadas em uma pousada no centro, outras seguiram para pousadas na beira do mar, restava apenas um casal quando a van parou em frente a uma entradinha pequena, cercada de areia e chamou pelo meu nome.
— Esses chalés são bastante procurados por casais. — falou ao entregar minha mala.
— Viagem solo, quero esse paraíso todo para mim — digo dando uma olhada ao redor. — Desculpe parecer ignorante, mas se eu tiver algum problema, com quem eu falo? Não imaginei que seria tão isolado.
O rapaz sorri, — O hotel fica a uns dez minutos de caminhada dos chalés, mas basta ligar para a administração que você será atendida e algum funcionário virá até você.
— Ah, obrigada — respondo me sentindo uma idiota por ter perguntado.
— Espero que Maragogi lhe traga boas surpresas.
— Oito dias de tranquilidade já me bastam.
Pego minha mala, acenando quando ele me deseja uma boa estadia e retorna para dentro da van. Retiro os tênis e as meias, fincando meus pés na areia fofa e gelada, caminhando até o chalé.
Há um caminho de pequenas lanternas pela areia, isso se repete em todos os chalés. As luzes externas estão acesas, uma rede balança de maneira preguiçosa com o vento vindo do mar ao longe.
Paro em frente a porta e no meio de toda a empolgação, não prestei atenção como entraria, geralmente em hotéis fazemos o check-in onde o atendente nos entrega o cartão de acesso ou a chave, mas quando fechei o pacote, não recebi um código, chave, nada disso. Será que terei que caminhar até o Hotel? Não tirei essas dúvidas com o guia do transfer .
Meu lado paranoico ativou, fazendo minha mente já cair em várias armadilhas. Balanço a cabeça para tirar essas ideias da mente, o chalé está com as luzes acesas, óbvio que a empresa sabe de minha chegada e deixou tudo preparado. Não há motivo para paranoia, Bianca! — brigo em pensamento — Posso muito bem ir até o hotel como o rapaz da van me informou e buscar a chave .
Olho ao redor vendo que a distância entre os chalés é considerável, tornando realmente um espaço particular na praia.
Confiro o número do chalé no e-mail e na porta em minha frente, devolvo o celular para a bolsa e empurro a porta — como um teste para ver se está aberta, antes de caminhar até o Hotel em busca da chave de acesso —, ela abre com um pequeno rangido e por dois segundos fico parada olhando para dentro, procurando pelo interruptor para acender as luzes.
O ambiente praiano se mistura com os móveis rústicos de madeira clara tomando conta do ambiente; até mesmo a pequena cozinha segue o padrão da sala. Entro arrastando minha mala, parando na mesa redonda de jantar vendo uma linda cesta de guloseimas posta ali com um cartão de boas-vindas.
Junto ao cartão, tem um molho de chaves, que obviamente são do chalé.
Viu? Sem nenhuma desculpa para aquele “quase surto” — digo a mim mesma.
Abro a cesta intocada, vendo que tem alguns itens da culinária local, assim como um pequeno café da manhã preparado. Caminho até a cozinha, abro os armários, a geladeira está abastecida.
Puxo minha mala em direção ao quarto, parando para sorrir igual uma boba ao ver a imensa banheira no banheiro com vista para a praia. Um verdadeiro paraíso! Deixo minha mala no canto do quarto e então meu coração salta pela boca, tateio as paredes tentando achar o interruptor de luz, com os olhos colados no vulto que se senta na cama.
Tropeço em meus próprios pés, batendo a mão com força na parede ao acender a luz.
— QUEM É VOCÊ? — pergunto aos berros.
— Eu é que pergunto! Que porra você está fazendo aqui? Quem é você? Como entrou no meu chalé? — O invasor coça os olhos tentando se acostumar com a claridade, enquanto eu permaneço colada contra a parede, com um abajur nas mãos, pronta para usá-lo como arma.
Capítulo 5
E le empurra para longe o lençol que cobria suas coxas e levanta-se, vestindo nada mais que uma cueca boxer bem agarrada nas coxas torneadas. Os cabelos, com leves toques grisalhos e extremamente atraentes, bíceps definidos, que chamam minha atenção, como se já tivéssemos nós cruzado em algum momento.
Deixando de lado por alguns segundos que as coxas torneadas, seguidas de músculos e mais músculos que dão água na boca, são de um invasor.
Seus olhos fixos nos meus, fazendo o ato de desviar meu olhar não ser uma opção, pelo menos, não ainda.
— Vai me dizer quem é você e por que está parada no meio do meu quarto segurando um abajur pronta para me atacar?
— Eu deveria fazer as mesmas perguntas, já que este chalé é meu. — afirmo empinando o queixo evitando, na realidade, deixar meu olhar ir para baixo, logo após o tanquinho definido, bem perto dos pelos que descem por seu umbigo, indo se esconder na cueca. Ao longo da parte superior de sua coxa, quase em neon, bem brilhante como uma árvore de Natal iluminada, uma protuberância muito proeminente. Aperto as pontas dos dedos contra o abajur, não caindo na tentação no meio de suas pernas, ou melhor, querendo fugir pelas beiradas.
— Isso é inaceitável! — falo, desviando os pensamentos eróticos que brilham em minha mente.
— Concordo! Como entrou aqui? — Ele retruca, cruzando os braços diante do peito.
— Pulando a janela que não foi — resmungo.
— Língua afiada a sua, mas como vemos, eu estava dormindo e foi você quem invadiu meu quarto. Aluguei este chalé para o final de ano, o que significa que você entrou no chalé errado.
Respiro fundo, exalando o ar de maneira audível. Devolvo o abajur para a cômoda e caminho até a sala, em busca da minha bolsa, retornando para o quarto com pisadas firmes.
— Aqui está, eu aluguei para o Natal — rebato, praticamente enfiando meu celular contra o rosto dele, com o e-mail de locação aberto.
Ele me encara, retira o celular da minha mão analisando as informações em silêncio.
Minha impaciência diante sua postura me faz bufar.
— Pronto, já viu? Agora você precisa procurar o seu chalé, pois este é meu.
Mas tudo que ele faz é rir, um riso baixo e grosso, deixando a fileira de dentes à mostra.
— Não estou vendo nada engraçado por aqui. Saia. Agora!
— Ah, eu estou vendo algo muito engraçado! Você caiu em um golpe!
— Que diabos você está falando? — inquiro com as mãos na cintura.
— Esse site é falso, você caiu no golpe da locação. Nem mesmo o logo dos chalés eles tiveram o trabalho de colocar no site.
— Você só pode estar falando besteira, eu não caí num golpe!
Puxo o celular analisando toda a página do e-mail, clicando no link ao final que me encaminharia diretamente para o site.
Meus olhos se arregalam quando a página dá erro, não uma, mas três vezes. — Isso é impossível! — minha voz sai um mero sussurro, sinto minha respiração prender na garganta.
— Não, isso é mais comum do que imagina, ainda mais em épocas festivas. Aposto que você recebeu o link contendo uma promoção incrível, tão incrível que nenhum site de viagem tinha algo do tipo. Não é mesmo?
Abro e fecho a boca sem saber o que falar, pois foi exatamente isso que aconteceu.
— Ninguém nunca te ensinou a averiguar antes de fechar um negócio?
Ele joga-se na cama, colocando os braços atrás da cabeça com um imenso sorriso zombeteiro no rosto. — Como hoje está tarde, deixo você dormir no sofá, desde que fique longe das facas e abajures. E amanhã você tenta achar um chalé para você. Estou até sendo razoável com a pessoa que me acordou querendo me atacar. — acrescenta bocejando.
— Você só pode estar brincando com a minha cara, eu investi nesta viagem, não vou deixar este chalé! Pegue suas coisas e saia daqui!
— Quem caiu no golpe mais ultrapassado da internet foi você. Espero que não tenha pago por depósito.
— Eu parcelei — confesso.
Ele sorri, relaxando ainda mais na cama — Então é só cancelar, problema resolvido.
De fato, se ele estiver certo — e eu não estou pronta para assumir que sim —, eu caí feito uma patinha num golpe estúpido.
— Apague a luz quando sair — diz, ajeitando-se contra os travesseiros.
***
Esmurro as almofadas, com o telefone contra o ouvido. — Não estou te ligando para você rir.
— Amiga, estou rindo com todo respeito do mundo. Acredite!
— Não sei por que te liguei — resmungo.
— O que você tem que fazer é procurar a administração desses chalés e informar o que houve. — Ela diz do outro lado da linha. — E logo depois ligar na administradora de cartão e pedir o cancelamento das parcelas.
— Farei isso assim que o sol aparecer no céu.
— E quanto ao seu colega de quarto, ele é gato?
— Urgh! Um folgado, escroto.
Olho por cima do ombro, vendo a fresta de luz da sala iluminar o traseiro dele sobre a cama.
— Estou pedindo atributos físicos, amiga.
Reviro os olhos, ficando de costa para o folgado deitado a alguns metros de mim, numa cama extremamente confortável. Corrigindo, na minha cama extremamente confortável! Enquanto eu me ajeito neste sofá!
— Nem mesmo ele ter uma comissão de frente “nota dez” o salva — retruco ao socar outra vez as almofadas.
— Preciso de uma foto! — Luce comenta gargalhando.
— Eu preciso dormir e ver que isto não passou de um pesadelo e que na verdade eu estou dentro do avião a caminho das minhas férias perfeitas. E que esta história de golpe não passa de um pesadelo estranho devido a minha animação para curtir o Natal longe de tudo.
— Sinto te informar que isso só poderia ser possível se eu estivesse dormindo também.
— Vou desligar, amanhã ligo dando notícias.
— Tudo bem, vou esperar sua ligação pela manhã.
Dou uma última olhada em direção ao quarto, vendo-o se remexer na cama, jogando para longe o lençol, deixando seu corpo todo à mostra. Reviro meus olhos, ao relembrar o choque que tive com a protuberância em sua cueca.
Pelo amor de Deus, tudo isso só pode ser uma imensa piada!
Acordo com o som de panelas batendo e o cheiro de ovos e bacon, fazendo minha boca salivar.
Espreguiço-me no sofá, passando as mãos pelo rosto e espio o quarto, agora com a porta totalmente aberta, assim como as cortinas das portas de vidro que dão para a varanda de entrada.
Os chiados que vêm da cozinha tiram minha atenção do quarto para olhar cada centímetro daquele corpo bem em frente ao fogão, novamente vestindo apenas uma cueca. Será que ele não trouxe roupas na mala? Tudo bem que estamos à beira mar, mas isso por si só não é desculpa para andar só de roupa íntima.
Levanto indo até a cozinha e se de longe a cena de sua bunda envolta por uma cueca boxer estava boa, de perto chega a ser um pecado! Quase me faz repensar sobre a falta de roupas, — coloque muita ênfase no quase!
— Nunca vi uma pessoa dormir como você.
Ele se vira, despeja o conteúdo da panela em um dos pratos em sua frente.
— O que quer dizer com isso?
Ele sorri. — É sério que você não se lembra de mim? Pois, eu estava me questionando de onde poderia conhecer você. Óbvio que ontem não consegui me lembrar, não depois de ser atacado em meu próprio quarto.
— Não estou entendendo nada — afirmo ao ocupar um lugar na ilha no meio da cozinha.
Ele estende o prato em minha direção e se inclina contra a ilha, olhando-me com uma expressão que deixa minhas bochechas coradas. Cruza os braços sobre o peito despido.
— Você é a garota do bar. Achei que lembraria de nossa despedida no carro. Mundo pequeno, não?
Ele ri da minha expressão confusa e volta para a frigideira.
— Acredito que esteja me confundindo — digo, engolindo em seco.
Ele me olha, arqueando a sobrancelha. — Acho que não, geralmente não esqueço de uma mulher que me dá um belo boquete.
— Ei, mais respeito, idiota!
— De forma alguma quis desrespeitá-la. Muito pelo contrário. Achei que se lembraria de mim, mesmo que ambos tivéssemos bebido demais na noite em questão.
Cruzo os braços diante dos seios. — Você está me confundindo com outra pessoa!
Ele pega a panela no fogo e volta, dando de ombros em minha direção. — Duvido muito.
— Acredito que não poderia esperar outra coisa de você não é mesmo? É um sem educação!
— Acho que a boa aparência compensa.
Ele está tentando me irritar? Isso é óbvio.
Assisto a ele pegar uma garfada generosa da comida em seu prato, enfiando-a na boca com um sorriso quente como o inferno.
— Acho...que deveríamos...começar de novo — diz entre uma mastigada e outra.
— Bianca.
— Caio, o cara que te salvou de beijar a calçada de tão bêbada enquanto cantava...
— “ Makes me Wonder” — interrompo. — Puta que pariu!
Como eu sei que o que ele diz é verdade? Porque sempre que bebo um pouco a mais me empolgo achando que sou o próprio vocalista da “ Maroon 5”! Então, é totalmente possível a gente ter se envolvido.
Ele ri alto. — Fico feliz que a bebida ainda não tenha corroído seu cérebro.
— De todas as pessoas do mundo...
— Ah, pare! Eu adorei descobrir que tive o prazer de encontrá-la novamente. Mesmo depois de meses tentando falar com você, nunca atende o telefone? Ou responde mensagens? — Pergunta jogando um pedaço de bacon na boca.
— Não costumo atender ou responder mensagens de estranhos. — Faço uma careta. — Isso é verdadeiramente um pesadelo.
— Não coloque palavras em minha boca, apenas outras coisas.
Estreito meus olhos, odiando sua arrogância e confiança por já termos transado.
— Não fique tão confiante por que transamos uma vez, estou a ponto de chutá-lo daqui quando resolver o problema da reserva.
Ele sorri — Se você contar o episódio no carro, foram duas. E você não reclamou.
Caio se levanta, caminha em direção a geladeira e é como se tivesse um imã colado em seu traseiro e em meus olhos. É inevitável não olhar.
— Pode olhar, não há nada de errado com isso — diz sorrindo ao pegar uma garrafa de água.
Franzo a testa desviando imediatamente o olhar. — Não estou olhando.
— É, aposto que não.
Capítulo 6
O ntem de noite não tinha percebido como o Hotel era imenso. A parte onde os chalés ficam na praia não é nada se comparada ao esplendor que o resort representa. Perdi as contas de quantas piscinas e áreas de lazer passei até finalmente atravessar uma ponte e chegar à Torre do Hotel.
Mesmo não querendo admitir, fui feita de boba. Olhando todos os detalhes do hotel, nunca sairia pelo preço que paguei pelos oito dias.
— Em que posso ajudar? — questiona uma mocinha sorridente, sua voz soa tão doce que poderia me dar enjoo.
— Estou hospedada em um dos chalés, porém tem outro hóspede comigo e eu não o conheço, mas ele afirma que o quarto é dele. — minto, bom só pela parte de alegar que não o conheço. Mas esse tipo de informação ela não precisa saber.
— Qual é o seu nome?
— Bianca Mendes.
A mocinha digita rápido no teclado, olhando atentamente para a tela, volta e meia sua expressão muda, ficando entre totalmente compenetrada e confusa.
— Desculpe, mas não temos nenhuma reserva em nome de Bianca Mendes, você fechou a reserva diretamente em nosso site ou por algum canal de viagem?
— Sim, eu fechei por este canal aqui, na verdade recebi uma promoção por oito dias — digo rapidamente, pegando o celular na bolsa, abrindo o e-mail para que ela veja.
— Então, vejo que as informações do Hotel estão corretas, mas não tem nenhuma reserva em seu nome e esse não é um dos sites parceiros.
O desespero bate forte novamente com a confirmação do pesadelo que entrei.
— Moça, eu paguei por uma reserva de oito dias, fora os passeios.
Está estampado no rosto dela a pena diante do que eu lhe contei.
— Eu vou chamar o gerente, só um instante.
O que não demorou muito, logo a atendente estava de volta à recepção, sendo seguida por um moreno alto, vestindo terno de boa qualidade.
— Susana me informou sobre seu problema, posso dar uma olhada no e-mail de confirmação?
Confirmo com um gesto, entregando-lhe o celular.
— Hum, realmente esse não é um dos sites parceiros. — Ele ergue a vista do celular, devolvendo-o logo em seguida — Infelizmente você caiu em um golpe, quando entramos no site disposto no final do e-mail, informam que a página foi retirada do ar. Nos últimos meses uma porção de hotéis e resorts têm enfrentado problemas como este. Sites falsos, usando informações oficiais divulgam promoções para que os turistas caiam num golpe hoteleiro.
Engulo seco, prendendo as lágrimas nos olhos. Como sou estúpida e em que bela enrascada de Natal eu me meti!
— Só para esclarecer, o chalé trinta e dois está em nome de Caio? E eu sou a invasora?
A atendente confirma ao olhar a tela do computador.
— Pelo que notei sua falsa reserva foi feita por cartão de crédito, você terá que ligar e cancelar o mais rápido possível para que as outras parcelas não sejam debitadas.
— Quanto ficaria uma estadia de oito dias? Não precisa nem mesmo ser nos chalés. Pode ser aqui mesmo, no hotel. — Comento apontando para o grande saguão.
A atendente e o gerente trocam um olhar silencioso.
— Ficaria em torno de nove mil reais — O gerente diz.
Travo os dentes suspirando profundamente, eu não tenho esse dinheiro, e mesmo se tivesse um limite desses para parcelar novamente, precisaria esperar o cancelamento para poder fazer isso. Ou seja, eu estou numa enrascada completa.
Eu deveria ter desconfiado que estava tudo muito barato!
— Podemos ajudar em algo mais?
Dou um sorriso sem graça, antes de negar e voltar para o chalé.
Sei que Luce pode me ajudar com a questão da passagem para voltar, já que a minha está marcada para daqui a oito dias, sem direito a reembolso. Fantástico!
Refaço todo o caminho até o chalé, respirando fundo, com vontade de chorar.
Com raiva até por olhar em volta e ver que ninguém ali, além de mim, tinha sido enganado e caído num golpe ridículo. Todos parecem felizes e satisfeitos por aproveitarem as férias tão sonhadas. Eu sou a única bobona, e o pior, a confirmação disso tudo está saindo neste exato momento do mar.
A sunga molhada com aquela protuberância marcante, as gotas de água salgada escorrendo pelos músculos, o leve balançar de cabeça para afastar o cabelo do rosto. Digno de um episódio no “De férias com o Ex”, mas no meu caso, seria “Caindo de trouxa na praia alheia”.
— Olha só quem voltou! Espero que tenha resolvido o pequeno problema de invasão.
— Sim, fique à vontade em seu chalé, — “poderia enfiá-lo naquele lugar”, penso — Estou indo pegar minhas coisas.
Caio para perto de mim, seus olhos me analisando.
— Pelo visto caiu em um golpe mesmo.
— Sim — respondo amarga.
— Mas isso é fácil de resolver, conseguiu um quarto para ficar?
— Claro, junto com um champanhe e um desejo de boa estadia. — resmungo. — Você sabe quanto custa oito noites neste lugar?
— Imagino que seja um pouco salgado nesta época do ano.
Gargalho. — Acredito que nem todo o sal escorrendo pelo seu corpo chega aos pés.
— E o que você pretende fazer?
Minha vontade de revirar os olhos é tamanha que eu não consigo controlar.
— Arrumar as malas e voltar para São Paulo. E passar horas intermináveis em espera numa ligação para a operadora do cartão.
Caio pega a toalha jogada em uma das espreguiçadeiras e seca seu rosto e braços.
— O que a fez vir para tão longe e sozinha, justo no Natal?
Arqueio a sobrancelha. — Não estou vendo uma companhia para você por aqui.
Ele sorri. — Vim trabalhar, sou responsável pelo banquete natalino. Sua vez.
Gostoso e chef de cozinha? Assim era um pecado, atacar qualquer mulher pelo estômago é um pecado.
— Encurtando a história fui demitida do meu emprego e fugi da encenação de Natal perfeito que minha família adora fazer todos os anos e agora tenho que pedir um favor para minha amiga se quiser voltar para casa, já que minha passagem de volta com seu preço promocional não inclui alteração na data, muito menos reembolso.
Era para encurtar a história, mas acabei contando bem mais do que pretendia.
— Entendi, sua viagem foi uma fuga, você mirou na fuga perfeita e acertou numa confusão — comenta rindo.
Dou de ombros — Enfim, desculpe pela confusão.
Viro caminhando em direção ao chalé, quando Caio segura meu punho, puxando meu braço.
— Tenho uma proposta para fazer.
— Não... — digo torcendo os lábios.
— Para, nem escutou minha proposta ainda e, afinal, o que você estaria perdendo? Ou vai dizer que tem mais algum chalé para invadir? — acrescenta rindo.
— Muito engraçadinho!
Caio dá um passo, ficando mais perto.
— Dizem que esse é um dos meus pontos fortes. — Ele abre os braços com um sorriso enorme nos lábios — Serei seu próprio Papai Noel, divida o chalé comigo!
— Não é uma boa ideia.
— Por que não? Eu ficarei pouco no chalé, nos veremos apenas no café. O resto do dia estarei esquentando a barriga dos visitantes.
— Como você acabou aqui, cozinhando para outras pessoas em vez de estar com sua família? — questiono. — Trabalhar nos feriados?
— Uma das minhas paixões na vida é cozinhar, então, todo ano me candidato a preparar a ceia. — Caio fala — Essa é minha tradição.
Ele caminha de volta às espreguiçadeiras e veste um short preto por cima da sunga úmida.
— Venha, vou cozinhar algo bom para nós.
— Eu não disse que aceitei sua proposta.
Bem, na verdade eu estou bem propensa a aceitar, eu já estou aqui mesmo. Não é?
Ele esboça um sorriso sacana. — Não pense nisso agora, espere até estar saciada de tanto comer.
Eu poderia dizer não, ligar para minha amiga em busca de socorro, pegar minhas malas e dar meia volta até São Paulo. Ou podia dar umas horinhas para pensar sobre tudo.
O fato é que eu não sou de medir as consequências, quando vejo... já fiz. Mesmo que as pessoas vivam dizendo que para uma mulher de trinta anos, essa não é uma postura adequada.
Caio me conduz de volta para o chalé. Ocupando a ampla e arejada cozinha, coloca uma vasilha sobre a mesa, sua expressão compenetrada ao escolher os ingredientes é ainda mais sexy do que seus sorrisos.
Isso se eu não contar o olhar cara de pau que ele me lança, como se eu fosse um pedaço suculento de carne.
— Você vai ver que sou uma ótima pessoa para se dividir um chalé. Sou muito prendado, mas isso você já deve se lembrar.
Abri a boca sem saber o que responder.
— Venha invasora, prometo que não vai doer. E eu não mordo; bem, na verdade sim, mas você quem pediu aquela noite.
— Ei, camarada, lembro bem que você e eu não transamos!
— Tem certeza? — pergunta estreitando os olhos.
— O carro não conta. — retruco com o ego ferido.
— Ô se conta, mas se aquilo não foi uma transa para você, estou ansioso para saber o que seria!
Ele me lança uma piscadela, seguida de uma gargalhada, mergulhando na tarefa de separar os ingredientes.
***
Olho por cima do ombro, verificando se estou mesmo sozinha.
— Você precisa admitir Bia, isso é bem engraçado!
— Em tanto lugar no mundo, eu vim invadir o quarto de um ex-peguete .
Luce ri, balançando a cabeça, enquanto toma um copo de suco. — Eu aceitaria na hora a proposta e ainda incluiria um sexo animal na lista.
— Você é sem-vergonha, amiga — digo sorrindo para ela por vídeo-chamada.
— Parece que o presente de Natal veio antecipado este ano — Luce brinca fazendo gestos obscenos na câmera. — Então, o garanhão está por aí?
Dou mais uma espiada por cima do ombro. — Não, ele foi conhecer o local de trabalho.
— Não se esqueça de mandar um vídeo dele se trocando, aproveite, tire várias casquinhas !
Capítulo 7
U ma noite bastava para descobrir que dormir naquele sofá seria como se um caminhão passasse por cima das minhas costas durante a noite.
Caio realmente falou sério quando disse que mal nos veríamos, já passava das nove da noite e ele não tinha dado as caras de volta no chalé. Não que eu esteja reclamando. Pude aproveitar o mar límpido e convidativo e o sol quente durante todo o dia, aumentando meu bronzeado.
Tinha acabado de colocar meu pijama quando escuto a porta se abrir.
— Alguém finalmente aproveitou o dia — comenta assim que nos cruzamos no corredor.
— Aproveitaria mais se não tivesse uma noite tão ruim ao dormir neste sofá.
Ele morde levemente o lábio inferior ao me encarar.
— Já ofereci a cama para você?
— Sim, mas não quero dividi-la com você, por que não revezamos, você dorme no sofá durante duas noites e eu nas próximas duas. Que tal?
Caio caminha até o quarto, arrancando a camisa pela cabeça, me deixando parada na entrada, vendo seus músculos agitarem enquanto anda pelo quarto.
— Então está decidido, você dorme na sala hoje. — Anuncio, chamando sua atenção.
Ele vira-se, sorri e anda para perto de mim.
— Parece que está fugindo de mim, o que acha que vou fazer com você se dividirmos a cama?
— Nada! — respondo rápido, contrariando minha vontade de encarar seu abdômen nu, minha vontade de cravar as unhas em seus braços e...
— O único problema de dividirmos a cama seria pijamas. — Sua expressão de desagrado me traz à tona.
— Como assim?
Ele vai até uma pilha de toalhas limpas que a camareira tinha deixado pela manhã na cômoda, pega uma deixando as outras bagunçadas. E volta a olhar para mim por cima do ombro.
E no mesmo instante que abre a boca para dizer algo, sua bermuda caqui e cueca despencam no chão, me fazendo ficar petrificada na porta do quarto.
— Eu durmo pelado.
O riso dele sai leve, ele está se divertindo às minhas custas. Caio passa por mim no quarto — onde ainda estou parada encarando a jiboia que ele tem no meio das pernas me perguntando como não me lembro desse detalhe quando ficamos juntos — e vai em direção ao banheiro.
Ele estava se saindo aqueles tipos de caras que você não sabe se quer dar um soco ou quicar feito bola de basquete. Eu, com certeza, mesmo negando, sei qual opção escolheria.
Escuto o barulho do chuveiro e me atrevo a entrar no quarto, caminho até a cama sentando-me na ponta. Afinal, quem eu queria enganar? Poderia ter trinta anos, mas para mim, idade era só um conjunto de número que faz a sociedade se sentir no direito de ditar sua vida e julgar quando você não faz as escolhas padrões.
Caio era quente e já transamos antes, que mal haveria em matar minha vontade neste momento?
Seria um caso de uma noite ou sete dias? Ele é gostoso, vive dando respostas espirituosas para mim, estamos sozinhos no meio de uma praia paradisíaca em Maragogi...ainda não consegui pensar nos contras.
Não me dou conta de que o chuveiro tinha cessado, só percebo quando Caio surge se recostando na porta, observando-me, a toalha amarrada na cintura, deixando à mostra o caminho da felicidade.
— Está considerando minha proposta?
— O que mais você pode me oferecer? — devolvo.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Quer que eu te mostre?
A falta de resposta momentânea não o afeta, Caio cruza o pequeno espaço entre nós, puxa meu corpo para fora da cama, contra o dele. Ele remexe o quadril, fazendo seu pênis a meio mastro roçar em minhas pernas, aumentando minha vontade de relembrar como era ter ele em minhas mãos, boca e em meu corpo.
— Me diz, Bia — meu nome parece sair aveludado de sua boca —, o que te fez mudar de ideia?
— É como dizem, se já estou em maus lençóis, o melhor a ser feito é me enrolar nele. E pela falta de companhia e marca de uma possível aliança no seu dedo me indicam que não estarei sendo uma piranha cretina.
A gargalhada dele faz meu corpo vibrar junto ao seu.
— Sem compromissos. Agora posso saber o que posso fazer com seu corpo?
— Acho que estou pagando para ver do que é capaz. Ou será que é apenas um corpo gostoso e piadinhas de duplo sentido? — desafio.
— Eu adoro um desafio — disse segundos antes de arrancar minha blusa por cima da cabeça, a ponta dos seus dedos raspando de leve pelo meu corpo. — Aposto que quando acabar com você vai implorar por mais.
— Não aposte tão alto. — Respondo, meu pulso disparando.
Caio tinha com certeza, dois dos três atributos que me faziam ir para cama com um cara, o terceiro acho que estava prestes a descobrir.
Desço minha mão sobre seu abdômen, chegando no limite da toalha, mas não paro por aí, faço com que ela caia entre nós, deixando-o totalmente nu.
Sua mão se enrosca em meu cabelo preso, forçando minha cabeça para trás, sua boca desce com fome sobre meu colo, fincando os dentes no sutiã, forçando-o a libertar um de meus seios, só para que ele o abocanhe.
O gemido sai alto de minha boca, sua barba raspando minha pele, enquanto morde e mama meu seio com desejo e tesão. Faço certo malabarismo para me despir de meu short e calcinha, chutando-os para fora do caminho para que ele não perceba que a pobre coitada da calcinha não é daquelas que colocamos para os dias transantes . Esta com certeza é da classe de: “hoje não tem farra aqui embaixo”.
— Adoro seu lado sem-vergonha, e é muito bom saber que ele não aparece apenas quando você está de porre.
— Você não perde a chance de relembrar esse dia!
— E por que perderia? A única coisa que posso prometer é que deixo a lembrança do que faremos hoje ocupar o lugar daquela.
Não tento responder, não com ele deslizando a mão sobre minha boceta, contornando e esfregando meu clitóris. Empurro meu quadril em direção da sua mão deixando que ele aprofunde os dedos, gemendo quando ele gira o polegar e atinge aquele pontinho especial.
Caio abandona meus seios, subindo até o pescoço, chupando minha pele, me eletrizando. Meu corpo enganchado no seu enquanto seus dedos me fodem e eu o incentivo a fazer mais daquilo.
Antes que eu seja vencida por seu impulso de me jogar contra a cama, empurro seu corpo para trás, mordiscando todo o caminho até ficar de joelhos em sua frente.
Caio dá um meio passo para trás, se esticando para pegar preservativos na mesinha de cabeceira e é óbvio que ele tem várias opções ali.
— Prefere morango ou chocolate?
Faço uma careta — A última vez que fiz um boquete com uma camisinha de morango ficou parecendo que eu tinha feito preenchimento labial. Não foi legal, se você tiver com seus exames em dia...
— Tudo ok.
Jogo longe os pacotes de camisinha que ele tinha me oferecido, pegando seu pau nas mãos. Passo o polegar pela cabeça, seguido de uma lenta chupada, umedecendo meus lábios ao olhar para cima, encarando os olhos de Caio. Lambo mais uma vez, gostando do gemido que sai de sua boca. Subo e desço a mão encontrando um ritmo, ao intercalar com chupadas nas bolas e na glande.
Só o fato do pau de Caio estar depilado me dá ainda mais vontade de prová-lo. Adoro homens que pensam nas mulheres. Afinal, nenhuma mulher é obrigada a cortar grama com os dentes.
Sua mão enrosca em meu cabelo, acompanhando o vaivém de minha boca sobre seu pênis. Finco a ponta das unhas em seu traseiro firme, acelerando os movimentos, apertando meus lábios sobre sua pele ao escutar os gemidos altos que emanam no quarto.
— Se não quiser que eu goze em sua boca é melhor parar agora — adverte.
Olho para cima, sugando ainda mais, escutando-o xingar baixinho enrolando meu cabelo ainda mais em sua mão. Sinto os músculos se contraírem, fecho os olhos, pronta para receber o jato em minha garganta e nem mesmo assim desacelero, chupo deixando os tremores que irradiam pelo corpo dele cessarem para então me levantar.
Caio me puxa pela nuca, roubando um beijo, sugando minha língua e mordendo meu lábio inferior. Nossas bocas se movem em total sincronia e furiosas; eu preciso dele dentro de mim. Ele busca o preservativo outra vez, abre a embalagem, desenrolando sobre ele.
Jogando-nos na cama, seu corpo desce sobre o meu, nada fora dito e, nem precisaria, só a força do tesão com que nos olhamos já diz coisas suficientes. Suas mãos seguram com firmeza meus seios, enquanto ele encaixa seu pau em mim, como se tivéssemos feito um nó em nossos corpos. Caio penetra fundo, o fato de uma de suas pernas estar sobre meu quadril faz seu pau tocar em lugares que me fazem gemer alto.
— Adoro o modo como sua boceta me engole esfomeada — sussurra.
— Se me fizer perder os sentidos de tanto gozar, eu deixo você gozar aqui — desafio, apertando os seios fartos.
O sorriso largo que aparece na boca dele é sexy pra cacete, ele desfere um tapa em meu quadril e me penetra fundo, os dedos brincando entre meu clitóris, ora introduzindo-os em minha boceta juntos com seu pau ou ora circulando meu ânus.
Os gemidos se intensificam com o ritmo de suas estocadas, seu peitoral brilha de suor e nossas respirações são suspiros entrecortados por gemidos. Eu estou tão molhada que não precisa muito para que ele me preencha por inteiro. Minhas costas se curvam quando Caio ataca novamente meus seios com sua boca, meus dedos afundando em sua pele, deixando a certeza de marcas pela manhã.
— Não mude de posição — imploro, sentindo algo crescer e ir tomando conta de mim.
O vaivém implacável, sua boca chupando ferozmente meus seios, sendo capaz de produzir um orgasmo eletrizante, quente, derramando-me sobre seu corpo. Jogo a cabeça para trás, contra os travesseiros e suspiro ao fechar os olhos.
— Abra os olhos, a noite está apenas começando.
Capítulo 8
S into leves cócegas, as pontas dos dedos de Caio acariciam o espaço entre meus seios, descendo pelo estômago, passeando por todos os lugares que ele se familiarizou em meu corpo nestas últimas horas.
Abro lentamente os olhos, notando que o sol entra com força pela ampla janela de vidro do quarto, assim como meu estômago dá os primeiros sinais de desejo por um desjejum.
— Continua — peço descaradamente.
Escuto seu riso baixo e suas mãos afastarem o lençol de minha barriga, uma de suas mãos desce, abrindo minhas pernas enquanto a outra gruda em meu seio direito.
— Mais uma foda ou comer o banquete que eu estou preparando para nós dois? Acho que seu estômago prefere a segunda opção — acrescenta rindo ao ouvir o rugido baixo que vem da minha barriga.
— Meu estômago tem mais é que ficar quietinho neste momento — digo agarrando um punhado de seus cabelos e guiando sua cabeça para o meio de minhas pernas.
O riso silencioso reverbera em minha pele.
Sua mão alisa minha coxa, os dedos tocam os grandes lábios, afundando em minha carne, massageando meu clitóris, fazendo os gemidos saírem altos, sem vergonha alguma.
Minha pele inteira se arrepia quando me devora, meu corpo se contorce, ele ergue meu quadril em busca de mais contato, minhas pernas tencionam ao redor de sua cabeça, eu estou suspensa, assim como meus sentidos, totalmente perdida no estralar de língua que esse homem faz.
Fixo meus olhos no teto do quarto, agradecendo todo o perrengue passado, afinal, não é todo dia que você cruza com um homem lindo e gostoso como esse e com uma boquinha que sabe bem o que fazer.
Cravo minhas unhas em seus tríceps, deixando que as contrações explodam, percorrendo minha coluna no vaivém que ele produz com a língua e seus dedos.
— Uau! — Meus braços desabam, assim como minhas pernas.
Caio ergue a cabeça, limpando o canto da boca com o polegar, exibindo um sorriso convencido.
— Eu disse que seria muito bom relembrar o que fizemos no carro. — Ele fica de joelho na cama, o pau em riste, duro e ereto; ele o acaricia, descendo e subindo a mão. — Estou vendo esse olhar guloso.
— Se me der alguns minutos eu terei o maior prazer em te dar de novo. — Caçoo.
— Gosto dessa Bianca direta.
— Gosto do que faz com a boca — retruco.
— Vai gostar ainda mais do que faço com as mãos, tome um banho, vou preparar nosso almoço. — Comenta, levantando-se.
Observo-o caminhar nu para fora do quarto, em direção a sala.
— Alguma frescura para comida? — Caio se vira, para me encarar.
— Se é de comer, tô comendo — brinco mordendo o lábio inferior, fazendo-o gargalhar.
— Acho que você foi muito espertinha em invadir meu chalé no meio da noite, sabia? — Caio continua sorridente enquanto ocupa o espaço da cozinha, nu. — Vamos ver se você vai gostar de minhas outras habilidades.
Caio traz o frango para a ilha onde estou sentada, junto com alguns temperos e especiarias.
— Então, o que você fazia da vida antes de ser demitida?
Os braços fortes e grandes massageiam aquele frango, fazendo o cheiro dos temperos se espalhar pelo ambiente; ele está nu e seu pau quase me hipnotiza como um pêndulo de um relógio, balançando lentamente enquanto ele tempera o frango.
Deus é mais!
— Trabalho com publicidade.
— Ah, legal. Uma mente pensante! Mas, me conte, por que foi demitida? Foi pega fazendo travessuras em alguma mesa de trabalho?
— Que mente perturbada, não? Esperaria isso de um homem de vinte e poucos e não...
— De um quarentão? Os únicos que não pensariam nisso seriam os assexuados, gostosa.
— Gostosa? — devolvo.
O sem-vergonha gargalha.
— Vamos, me conte e experimente — diz ao trazer o dedo em direção a minha boca, fazendo chupá-lo.
Uma explosão de sabores ocorre em minha boca, me fazendo soltar um gemido baixinho.
— Está delicioso!
Caio pisca dando as costas para mim, indo para perto do fogão.
— Você sempre cozinha pelado?
Ele dá de ombros.
— Eu gosto.
— Até mesmo no seu restaurante? — brinco.
— Não tanto como gostaria, acho que poderia arranjar problemas com todos os ajudantes e garçons. — responde rindo ainda mais.
— Sério?
Caio se vira, olhando-me seriamente. — Sim, por que não? Quando estou criando minhas receitas preciso ficar à vontade.
— Bom, vou provar o que você está preparando aí e te digo o que achei.
O sorriso modo cafajeste está ativo em seu rosto, fazendo ser demais até mesmo para minha calcinha, está difícil ver um homem como Caio desfilando nu na minha frente.
Quando ele monta a mesa, servindo a comida, eu já estou mais interessada na sobremesa... nem mesmo me lembro de que o dia está lindo fora daquele chalé e muito menos que tenho praias para visitar. E Luce também perdoará meu sumiço e minhas poucas mensagens. Eu já passei pelo pão que o cão pisoteou, agora eu vou me divertir na banana boat!
O frango com especiarias estava divino. Eu tenho realmente que dar o braço a torcer e assumir que ele é prendado em muitas coisas. Caio coloca a última garfada na boca, empurrando o prato para o centro da mesa, olhando sério.
— E então...me diga? Conquistei seu paladar?
Inspiro protelando a resposta e tomo um gole do vinho branco em minha taça.
— Conquistou, estava delicioso.
Ele se levanta sorrindo, retira os pratos e antes de sair da mesa me tasca um beijo na boca, com direito a mordidinha no lábio inferior.
Caio é três coisas: um acaso bem sucedido do destino; um deus sexy como o inferno na cama e, com certeza, um chef de cozinha habilidoso.
Se estivesse em busca de algo sério — um namorado que seja, o que não estou! —, gostaria de alguém como ele. É a quantidade certa de sensualidade, enrolado no pacote, ou o pacote completo acoplado no meio das pernas.
Capítulo 9
— O que pode ser mais importante do que passar o natal com sua família, Bianca?
Reprimo a vontade de torcer os lábios.
— Trabalho, além do fato que a falta de minha presença não será um grande impacto.
— Bianca, você não liga para sua família! Isso é um absurdo! Você viu isso, Mario?
Claro que ela iria incluir meu pai na história — Não faça drama, mãe, por favor! Estou viajando a trabalho, volto daqui nove dias.
— O Natal já terá passado! — Ela grita.
Tremo minimamente o celular na mão, fazendo uma careta, vendo minha mãe nada tecnológica bater o dedo indicador na tela, sem saber que o problema é feito por mim.
— Mãe, o sinal...tá...nossa — fico estática, parada por alguns segundos enquanto ela pede pro meu pai arrumar o problema e ele retruca dizendo que não sabe o que está acontecendo. — Ligo para vocês... Natal...eu...beijo. — E assim encerro a vídeo-chamada, suspirando de alívio.
— Que feio, Papai Noel não vai trazer presente para uma menina tão mentirosa!
Congelo no lugar, enfio o celular no bolso do short.
— Há quanto tempo está aí? — Exijo, finalmente virando para encarar Caio parado na entrada do chalé vestindo apenas uma bermuda caída no quadril.
— Tempo suficiente para ver você sendo uma grande mentirosa com sua família. Por que não disse que está fugindo de tudo?
— Ah, claro, seria uma conversa bem mais simpática. — afirmo me jogando no sofá.
— Por que ainda não colocou um biquíni? Faltam poucos dias para você ir embora, então temos que aproveitar.
— Nem parece que já se passaram quatro dias.
— É o poder que meu pau exerce nas mulheres, desorientação. — O descarado pisca para mim. — Vamos coloque um biquíni e separe protetor solar e mais as bugigangas que as mulheres amam, pois hoje vou te levar para um passeio por Maragogi. Além de querer ver essa bunda branquela pegar uma cor, deve ficar sensacional douradinha.
— Pervertido! E posso saber aonde vamos?
Ele abre um sorriso enorme — Claro, gata! Consegui com um colega do hotel um barco para a gente conhecer os Galés.
Quando retorno para sala, Caio tinha ocupado o espaço vazio do sofá, deitado, com os braços atrás da cabeça, parecendo totalmente relaxado.
— Estou pronta.
Ele ergue a cabeça, sorri levemente e assente: — Eu também, me siga para nossa aventura!
Caio abre a porta, atravessando a varanda tomada de areia pelo vento da noite passada, dando a volta no chalé. O céu de um azul límpido, sem uma nuvem sequer para aliviar o calor que o sol faz. O mar no seu vaivém tranquilo, as ondas de um azul transparente quebrando de encontro a areia. Uma vista e tanto.
— Espero que tenha passado um pouco de protetor solar, aqui o sol queima de verdade. — Ele inclina a cabeça em minha direção, antes de assumir a direção do buggy.
— Conseguiu com um de seus amigos? — pergunto.
— Nem imagina o que podemos conseguir como barganha por um lugar no salão na noite de Natal.
— Eles vão é te demitir, isso sim — comento rindo.
— Pode ser que depois, mas mesmo assim, não o fariam, já é meu quarto ano fazendo o banquete para a grande festa de Natal deles.
Caio pega o acesso a uma estrada de terra, ladeada de palmeiras e gramas, o vento passa quente por nós, e o sorriso em seu rosto o faz parecer um menino toda vez que o buggy pula um buraco, fazendo a frente do carro erguer.
Maragogi é realmente incrível. Caio diminui a velocidade, a mão direita sai do volante, pousa levemente em meu joelho, tecendo um carinho naquela região, enviando arrepios por toda minha perna.
— Posso saber por que tem aversão a família?
— Não tenho aversão a minha família — protesto. — Não exatamente...
Ele me encara por cima dos óculos escuros.
— É verdade, apenas queria fazer algo diferente este ano. Todos os Natais são a mesma ladainha, nos reunimos onde eu fico a noite toda escutando minha mãe reclamar do meu estilo de vida e de como meu irmão é perfeito por ter a vida perfeita. — Torço os lábios e encaro a paisagem que passa por nós. — E depois de me ver com trinta anos e nada do que planejei para mim mesma conquistado, eu comprei a primeira oferta de viagem que vi pela internet e vim parar aqui.
— Lembre-me depois de agradecer aos golpistas!
Caio estaciona o buggy em umas das pequenas vagas disponíveis, desliga o carro e se inclina em minha direção, me olhando nos olhos e assim fica. Ele está a trinta centímetros de mim, os lábios entreabertos, muito convidativos, a mão ainda apoiada um pouco acima do meu joelho.
Já aguardo por um beijo tórrido ou que sua mão deslize até o meio de minhas pernas. Mas ele só beija a ponta do meu nariz e se afasta.
— Vamos.
Resmungo uma série de palavrões baixinho em minha mente enquanto pulo para fora do carro, seguindo a figura sorridente de Caio praia adentro.
Minha frustação pelo não beijo rapidamente se transforma em excitação genuína quando atravessamos a pequena trilha e meus pés fincam na areia fofa e morna. Nos dias que se passaram, eu tive oportunidade de explorar algumas praias de Maragogi, incluindo o Hotel, onde usei de forma descarada o sobrenome de Caio. Mas nada se compara ao visual que se distende diante de mim. Olhando para o oceano, os barcos balançando conforme a maré, de um azul tão claro, que dói a vista.
— Dizem que nada se compara ao mar da praia do Antunes.
— É muito diferente do que eu pensava, nunca viajei para nenhum litoral fora de São Paulo e hoje posso dizer que nada do que pensei chega aos pés disto e, estando aqui... — Olho em direção ao mar — É simplesmente perfeito!
Ele sorri.
— É difícil resistir a este lugar.
É difícil resistir a este sorriso, meu Deus, o que é o Caio sorrindo? Sabe aquela pessoa que te faz arreganhar os dentes só por sorrir? Pois bem, acho que a culpa de tudo é da única e pequenina covinha do lado esquerdo de sua bochecha.
— Tem algo melhor do que ficar aqui apenas admirando?
Eu concordo com a cabeça e devolvo um sorriso.
Caio estende a mão, pegando a minha e me puxando para dentro da praia, desviando dos grupos de pessoas sentados na areia, dos guarda-sóis. Paramos perto de um barco pequeno, muito diferente das lanchas luxuosas ou dos barcos imensos onde dezenas de pessoas se amontoam para entrar.
— Romildo! — Caio cumprimenta alegre.
— E aí cara, achei que não viria mais, temos que aproveitar a maré!
— Desculpe o atraso, mulheres, você sabe... — Acrescenta virando-se para mim e mandando um beijinho.
— Subam e ponham os coletes.
— Romildo, Bianca... Gata, este será nosso barqueiro até o paraíso.
— Muito prazer — digo ao ser içada para cima do barco.
— Primeira vez em Maragogi? — Romildo questiona.
— Sim, está tão evidente?
— Um pouco, mas a gente reconhece de longe os turistas, além de você estar toda vermelha. — diz rindo — É preciso reforçar o protetor de tempos em tempos. Mas vamos deixar de conversa mole e cair em alto-mar.
Romildo nos deixa sentados no fundo do barco, ocupando o lugar atrás do volante, o motor faz um rugido alto ao ser ligado e logo o barco está abandonando o lugar perto da praia, ganhando o mar.
— Vocês tinham que vir mais cedo, quando a maré está tão baixa que vocês podem fazer este passeio a pé.
— Sério? — pergunto duvidosa.
Romildo olha em nossa direção. — Mas é claro, isso daqui tudo fica praticamente sem água, e quando tem, nem bate nos joelhos! Ó homem, você não levou a moça para conhecer nenhuma das piscinas naturais?
— Ainda não. Pode acreditar, é incrível. — Caio confirma ao me olhar.
— Você já esteve aqui?
— Não posso me considerar um turista em Maragogi, após quatro anos...
Não fazia nem quinze minutos que estávamos no barco e ele foi diminuindo a velocidade.
— Aqui é repleto de barreiras de corais, por isso é obrigado ir devagar e tudo que vocês podem levar é em fotos e na memória.
Romildo joga dois óculos de mergulho na direção de Caio e para o barco perto dos outros, como se fosse um estacionamento bem em alto-mar.
— Cronometre o tempo.
Caio assente com a cabeça.
— Tenham um ótimo passeio.
Caio pula na água fazendo sinal para que me junte a ele. Os peixes ficam ao nosso redor, nem um pouco incomodados, estão muito mais para curiosos, já que chegam a raspar suas nadadeiras em minhas coxas, de tão perto que ficam.
Em algumas partes é possível andar, em outras tive que nadar junto com os peixes, pelo nível da água.
Caio me puxa pela mão, enroscando os braços em minha cintura. — Está gostando?
— Muito.
— Eu até poderia estar apreciando mais — fala fazendo uma careta de desagrado.
— Por que diz isso?
Caio suspira, sua mão segurando firme minhas costas. — Ver sua bunda tão linda nesse biquíni sendo beijada por peixes ao invés de minha boca não está ajudando. — Ele inclina em direção ao meu ouvido — Sua pele avermelhada do sol, meu corpo inteiro tá se espremendo nessa sunga por sua causa.
Ele ri, enquanto eu fico sem atitude. Caio vai de zero a mil em menos de dez segundos!
— Só não sou capaz de uma besteira, senão iríamos direto para a cadeia por deixar tanta gente com água na boca e as crianças assombradas.
— Não me lembro desse lado tão sem-vergonha.
— Opa! Tudo tem momento certo e finalmente vejo que o bom velhinho acertou no meu presente. Nada de meias ou pijamas. E já que o que eu quero agora não posso fazer, pelo menos, uns beijos eu vou roubar!
Esta última parte dita em sussurro, olhos colados nos meus, sua mão espalmada entre o final da minha coluna e minha bunda, faz o calor emanar ainda mais de minha pele.
Prendo seu lábio inferior numa mordida, puxando-o de leve para mim, meus braços ao redor de seu pescoço, as mãos cravadas em seus cabelos molhados enquanto aprofundamos o beijo com tesão. Eu o beijo com mais paixão do que jamais beijei um total estranho antes, mesmo que Caio não seja assim tão estranho, já que estamos dividindo um chalé por oito dias, regados a muito sexo e comida. E não há dúvida: isso é definitivamente uma ereção no meio de sua sunga, uma ereção grande, grossa e me deixando com água na boca pelas promessas safadas que ele tinha feito.
Quando finalmente pegamos ar e nossos olhos se fixam um no outro novamente, tenho minha certeza de que nada fará me arrepender de todos os meus movimentos impulsivos com Caio, só me arrependo de ter demorado tanto para tirar a roupa.
— Não sei o que faz, mas que boca gostosa! — exclama sorrindo.
Capítulo 10
— M ulher do céu, tu mirou no desastre e acabou quicando no colo de um anjo? — Luce diz ao gargalhar do outro lado da linha.
Aperto o viva-voz jogando o telefone contra o travesseiro, para passar uma regata pela cabeça. — Ele está entre o desastre e o anjo, ou pelo menos, o que faz com meu corpo pode ser julgado assim.
— E oito dias bastarão para desfrutar de tudo isso?
Tiro do viva-voz, pressionando o telefone contra o ouvido, solto um suspiro longo e me sento na cama.
— É o que tenho.
— Hum, parece que o tal invasor de quarto invadiu mais que suas calcinhas...
— Apenas tesão, além do mais, combinamos que seria apenas sexo casual natalino.
Luce ri.
— Adoro peru bem passado!
— Tarada!
— Conseguiu resolver o problema do cartão? — Luce questiona.
— Não — bufo — Cansei de passar meus dias em intermináveis ligações esperando uma posição, a última informação é que eles estão averiguando o caso.
— Mas não deve ser assim tão ruim, né? Já que o golpe está sendo bem aproveitado afinal. — Minha amiga gargalha na linha.
Olho para a entrada do quarto e a voz de Luce se perde com a imagem de Caio soltando os botões da camisa social, seu abdômen esculpido me encarando, meus olhos se movem lentamente, acompanhando seu gesto de passar a mão no cabelo sedoso, retirando-o do rosto. Com os olhos fixos em meu rosto e o sorriso em sua boca; Caio abre o cinto, desabotoando e puxando sua bermuda para baixo, e na medida em que o tecido avança em direção ao chão, sua protuberância fica exposta.
— Amiga, ainda está aí? O sinal está péssimo aqui no interior . — Luce retruca meu silêncio — Bosta, deve ter caído a ligação!
Tiro o telefone do ouvido, encerrando a chamada com um pedido de desculpas na mente, não é tão difícil desligar na cara da minha melhor amiga, especialmente com Caio de pé, nu na minha frente, caminhando em minha direção.
— Já jantou? Posso preparar algo para você — pergunta baixinho.
— Confesso que estou com fome, mas não é de comida.
Deixo meus olhos colados em seu pênis, ele caminha até mim, parando a poucos centímetros com as mãos apoiadas na cintura. Sua boca se curvando em um sorriso malicioso.
Caio curva o seu corpo contra o meu, suas mãos apoiam minhas costas até que estivéssemos deitados atravessados na cama. Sua ereção dura entre minhas pernas, aproveito o fato de estar vestindo apenas calcinha e camiseta para abraçá-lo com minhas coxas, deixando seu pênis se esfregar exatamente onde eu estava sedenta.
Tem algo diferente no toque de Caio, tem sim, um pouco da urgência em suas mãos ao me tocar e por sua respiração ofegar contra meu rosto. A voracidade do beijo e das mordidas em meu pescoço vão diminuindo gradativamente, mesmo que sua boca ainda invista contra a minha.
Minhas roupas são arrancadas lentamente, Caio se afasta apenas para descer minha calcinha por minhas coxas, logo ocupando seu espaço novamente. Gemo quando sinto a glande pressionar a entrada de minha boceta. Caio segura firme seu pau, masturbando-o algumas vezes e em outras raspando todo seu comprimento em minha intimidade, arrepiando cada mínima célula de meu corpo, me fazendo clamar por seu nome num sussurro.
Caio se curva para trás, procurando algo perto da cômoda.
— Acredito que sofrerei por dependência daqui a alguns dias — diz ao voltar para sua posição, deslizando um preservativo sobre seu pênis. — Tudo por causa dessa deliciosa.
Ele abre mais minhas pernas, deslizando os dedos por minha boceta. — Posso?
Não digo nada, puxo seu pescoço, trazendo sua boca até a minha, beijando e gemendo ao sentir suas mãos acariciarem minhas coxas e seu pau me preencher por completo.
***
Algo me cutuca, meu ombro treme e escuto alguém bem longe chamar pelo meu nome.
— Vamos, acorde!
— Uns quinze minutos a mais...
A risada quente, faz cócegas em meu pescoço.
— Abra os olhos, preguiçosa!
Respiro fundo, abrindo lentamente como Caio manda. Ainda estou mole pela noite anterior, os músculos de minha virilha reclamam ao menor movimento que faço para me sentar. Olho para ele ajoelhado ao meu lado na cama, a bermuda caqui aberta, como se ele ainda não tivesse terminado de se vestir.
— Que horas são?
— Ainda está cedo, infelizmente hoje voltarei tarde, por isso te acordei, não queria sair sem avisar. Aproveite a cidade, deixei um telefone pregado na geladeira, é de um amigo que me deve uns favores, ligue para ele. É o melhor guia turístico daqui.
— Outro homem comprado por um pedaço de peru? — caçoo.
— Mas não é qualquer peru! — diz apanhando-me pela cintura, me deitando na cama novamente.
— Acho que um dia todo na praia me fará bem, quero aproveitar o máximo deste paraíso.
— Não queime demais minha bunda, não quero você ardida.
Arqueio a sobrancelha.
— Estou pensando em nossa diversão — comenta rindo.
Sorrindo, sento-me na cama olhando a bandeja em nossos pés.
— Café na cama?
— Tudo é barganha, gata.
— Então estou em débito com você?
Ele gargalha, enfiando na boca um pedaço da laranja cortada.
— Vamos dizer que estou deixando tudo favorável para quando for comer você bem ali. — Fala ao apontar para a praia.
— Vou ficar esperando, ansiosa.
Depois de vários amassos e Caio pular da cama com o pau duro, reclamando que sou uma tentação, escuto a porta do chalé bater e ficar novamente sozinha.
Mais três dias e estarei me despedindo deste lugar, mesmo eu e Caio não termos firmado nenhum acordo, ambos sabemos que tudo que vivemos e o quanto nos envolvemos nestes dias será deixado sobre as areias de Maragogi.
Deixo esses pensamentos de lado e salto da cama após terminar o café da manhã preparado por Caio; visto um dos infinitos conjuntos de biquínis que trouxe na mala, pego uma canga, protetor solar, garrafa de água e mais outros utensílios que enchem rapidamente minha bolsa e vou para a praia.
Gosto de passar um tempo sozinha e foi bom curtir a tarde inteira na praia. O sol não estava para brincadeira, não teve um só dia em que ele tenha dado uma trégua e, mesmo acostumada com os dias quentes de São Paulo, nada consegue se comparar ao calor que faz por aqui. Tanto que por diversas vezes fui me refugiar no mar, passando bons minutos mergulhando nas águas cristalinas.
Aceitei o conselho de Caio sobre seu amigo de favores e liguei pouco depois do fim de tarde, pedi que me levasse em algum restaurante no centro. E, nossa, comi tantos frutos do mar que me senti a ponto de explodir, com certeza foi o melhor camarão na manteiga que comi na vida! E isso não facilitava os pensamentos que volta e meia iam em direção a certo chef gostoso, com músculos bem distribuídos e um porta-malas recheado.
Peguei-me ansiosa pelo retorno dele, mesmo com o aviso que voltaria tarde. Tomei um banho demorado, coloquei um vestido leve de alças finas, algo que ficasse visível meu novo bronzeado e me sentei na sala, passando o tempo zapeando pelos canais locais de TV.
— Querida, cheguei! Espero que esteja nua!
Eu me aprumo no sofá, sentindo as costas doloridas por ter passado tanto tempo deitada sobre as molas velhas vendo um seriado idiota na TV.
— Que pena — escuto o lamento assim como o barulho da porta se fechando.
— Desculpe, a decepção. Estava quase dormindo.
Caio deixa uma pequena mala preta na mesa de jantar e vem ao meu encontro. Se inclina, dando um beijo casto em minha testa, com intimidade.
— Espero que não tenha me esperado para jantar.
— Você só pensa em comida? — brinco.
— Hum, em sexo também.
— Sem-vergonha! — digo estreitando os olhos — jantei no centro.
— Aceitou minha recomendação?
— Sim, seu garoto de favores foi muito atencioso.
Caio me puxa para seus braços, encaixando-me em seu peito. Um gesto nada proposital, mas que me faz olhar de esguelha para ele por alguns segundos.
— Estou tão cansado, com a aproximação do Natal o hotel entra em colapso.
— Que tal dormirmos?
Ele se espreguiça, bocejando. — Aceito, mas antes temos uma missão.
Afasto-me para encará-lo.
— Qual missão?
— O Natal é daqui a poucos dias e como não sabia o que comprar de presente para você, decidi dar algo que sei que você não negaria de forma alguma.
— Eu...Caio, não me preparei para uma troca de presentes — digo sem jeito.
— Relaxa, gata. Espera aqui um minutinho, ok?
Confirmo com um gesto de cabeça, vendo Caio correr até a mesa, pegando sua bolsa e sumindo em direção ao quarto.
Passa alguns minutos até que ele abre a porta saindo de lá totalmente nu, com um laço pomposo amarrado no pau meio ereto, vestindo um gorro natalino na cabeça e um sorriso sacana nos lábios.
— Alguém aqui não foi uma boa menina este ano, por isso ganhará apenas uma bengalada do Papai Noel!
A crise de riso que me dá diante da cena me faz rolar no sofá, Caio não perde a pose e dança cantarolando “Jingle Bell Rock” bem desafinado.
— Que tempo iluminado, é a hora certa para agitar a noite.
Pego o celular, abrindo a câmera e filmando a cena em minha frente.
— Preciso gravar isso para a posterioridade — falo entre as gargalhadas.
Caio continua cantando e dançando pela sala, até chegar perto de mim, mandar um beijo em direção ao celular e tirá-lo de minhas mãos, me girando em seus braços, balançando o pau enlaçado enquanto canta.
— Sabe, eu pensei em colocar uns pisca-piscas, mas fiquei com medo de tomar um choque nas bolas.
— Só essa fita felpuda amarrando seu pau está maravilhoso! Com certeza, esse é um dos presentes que eu nunca negaria!
— Posso passar uma calda de chocolate nele, garanto que ficaria feliz com o agrado — retruca piscando.
Mordo o lábio inferior, considerando a oferta.
— Tudo bem, vamos lá!
Não posso deixar de rir ainda mais quando ele agarra minha cintura me jogando contra suas costas como um homem das cavernas e sai correndo em direção ao quarto.
Caio tem mais habilidades escondidas do que eu previ.
Capítulo 11
S exto dia.
Nunca seis dias passaram tão rápidos como estes. Isso me deixa até um pouco triste. O lugar é incrível, o hotel maravilhoso, mesmo que eu não tenha explorado cada centímetro como prometi que faria, estive explorando outros territórios, principalmente um de um metro e noventa, músculos bem definidos e um pau de arrasar corações. Além de passar esses seis dias me empanturrando de comida.
Mas ao acordar hoje sabendo que terei só mais dois dias, arrumar as malas e, enfim, voltar para a realidade, não me anima em nada.
Como foi fácil me acostumar com esta pequena rotina que estava vivendo! Caio trabalhava no hotel em turnos diversificados, alguns dias pela manhã outros a noite. Mas era quando estava aqui que a diversão realmente acontecia. Com certeza engordei pelo menos uns cinco quilos comendo tudo que ele inventa na cozinha!
Olho para seu rosto, apreciando-o mastigar, o sol bate em seu peito dourado e bronzeado fazendo sua pele brilhar tentadoramente. Vestido como de costume, apenas de bermuda solta no quadril e descalço.
— Adoro quando você me admira como um belo prato de comida.
— Não é difícil ficar encarando quando a pouco minutos você estava andando nu pela cozinha.
Ele se inclina, pegando outra fatia de abacaxi do prato em nossa frente.
— Não estou reclamando, de forma alguma. Poderia ficar aqui por um bom tempo.
— Realmente não quero ir para casa.
— Nunca?
— Pelo menos, não por agora — digo.
Caio me observa por alguns instantes, em silêncio.
— Vou pegar uma cerveja aceita?
— Sim.
Ele some e quando volta traz consigo um isopor com algumas latinhas geladas da bebida.
— Sabe, — puxo assunto abrindo uma das latas — nunca perguntei se é realmente trabalho que o motiva passar o Natal sozinho.
Ele ri alto.
— Acha que estou fugindo?
Dou de ombros — Não sei, eu estou. — Dou um longo gole na cerveja. — Cheguei aos trinta e nada do que havia planejado aconteceu, muito pelo contrário, fui demitida por ter uma paixonite platônica pelo meu chefe gay. Não quero os olhares de pena ou os discursos de minha mãe sobre eu estar ficando velha e solteirona. Qual o problema em ser solteira?
Caio segura o riso.
— Não vejo problema nisso.
Faço uma careta para seu sarcasmo. — Vocês homens são todos iguais!
— Ei, não me coloque no mesmo pote de biscoito! Não vejo problemas em uma mulher ser livre e desimpedida; vejo nas comprometidas, que pulam a cerca — ele diz. — Acho tentadora e extremamente sexy uma mulher independente.
— Eu esperava que depois desta viagem tudo se resolvesse, ano novo, vida nova, não é assim que todo mundo diz?
— Gata, o ano sempre será o mesmo, se você não mudar. Não quer mais sua família metendo o nariz onde não deve? Suba os muros. Quer mandar seu chefe escroto pro inferno e mostrar o mulherão que você é? Faça isso, ninguém tem poder de te segurar.
Eu vivia minha vida sem arrependimentos e nunca quis mudar algo nisso, até a realidade chutar minha bunda no momento que eu assoprei as velas. O que Caio estava dizendo era a mais pura realidade.
— E quanto a feriados, acredito que não são feitos para passarmos sozinhos, a gente precisa de uma companhia. Posso vir para os hotéis sozinho, porém tenho amigos e a equipe que se torna uma família durante esses dias. — Completa dando de ombros.
— E cá estamos nós — brinco erguendo a latinha com um brinde.
— Sou sua encomenda de Natal?
— O que te faz pensar que desejei algo assim para o bom velhinho? — inquiro erguendo a sobrancelha.
— Algo me diz que primeiro foi o efeito incrível que meu pau causa e, segundo, mas não menos importante, te conquistei pelo estômago.
— A segunda alternativa é verdade, se tivesse me apresentado seus dotes culinários naquele primeiro encontro, eu teria te ligado ou pelo menos ficado mais tentada a atender ligações de desconhecidos tarados.
— As bonitas são as mais cruéis — resmunga.
Caio levanta, estendendo a mão sobre a mesa para mim, esperando que eu a pegue.
— Venha, temos uma missão.
Sigo-o com nossos dedos entrelaçados para dentro do chalé, onde ele desvencilha sua mão da minha, caçando algo nos armários.
— O que está procurando?
— Logo você verá.
Ele abre e fecha mais alguns, vai até o quarto repetindo o mesmo processo até que volta com um saco preto na mão e um sorriso no rosto.
— Precisamos dar vida a este lugar, contando que eu serei seu anfitrião na noite de Natal, quero o cenário completo.
Ele enfia a mão dentro do saco tirando um rolo de pisca-piscas, deixando algumas bolinhas cair e rolarem em várias direções.
— Vamos montar uma árvore? —pergunto incrédula.
— Bem, isso não temos, a não ser que queira usar o bonitão — Caçoa apontando para o próprio quadril.
— Acho que já penduramos coisas demais nele. — Digo rindo.
— Então vamos nos virar com isso daqui — afirma mostrando uma bengala vermelha e verde.
— Não deixa de ser muito parecida com a sua — caçoo.
Ele encara o pequeno enfeite nas mãos, torcendo os lábios. — Isso fere meu coração.
Gargalho. Esticando o braço, pego duas bolas prateadas de dentro do saco preto, olhando em volta para onde poderia pendurá-las.
— Que tal ali? — ele aponta para pequenos pregos na parede oposta.
Faço como ele indica, penduro as bolinhas nos ganchos, enquanto ele se joga no pequeno sofá tentando tirar os nós nos fios de luzes.
Vou até ele, sentando-me ao seu lado.
— Deixe-me ajudar com isso.
— Você poderia ajudar com outra coisa também — a voz num sussurro baixo no pé do meu ouvido.
Engulo um gemido e contenho o arrepio em minha pele.
Os dedos livres sobem por minha coluna, enganchando na raiz do meu cabelo solto. O chupão que ele dá em meu ombro eletriza minha pele, me atrapalhando no desenrolar dos pisca-piscas.
— Fazer sexo sem parar, até que desmaiemos aqui no sofá?
— Fica impossível negar, quando é falado com tanto jeito — falo rindo.
Ele segura com mais firmeza meus cabelos, curvando meu pescoço para trás, dando acesso livre por todo meu pescoço e colo dos seios.
— Achei que gostava da minha sinceridade — afirma, empurrando o tecido de minha blusa para baixo, liberando meu seio. — Ainda mais quando deixa tudo tão fácil para mim — acrescenta antes de abocanhar meu mamilo, mordendo e mamando com vontade.
— Você pode o que quiser — murmuro.
Ele mama mais forte, olhando para cima, tentando ver meu rosto. Jogo o bolo de luzes que ainda estão em meu colo para o lado, para infiltrar meus dedos em seu cabelo, ficando quase de frente para ele; puxo seu rosto para o meu, atracando nossas bocas, nossos lábios se movendo de forma sensual e intensa.
Seis dias e descobri que bocas como a de Caio não são dadas a qualquer humano. Quando sua boca escorrega pelo meu corpo, abocanhando minha intimidade eu tenho certeza que qualquer terminação nervosa do meu corpo, para de funcionar. Ele aperta meu quadril, fincando a mão em minha bunda, mantendo o movimento contra seu rosto.
Minhas costas se projetam, impulsos me percorrem até o dedão do pé.
— Chega, quero você!
Caio ergue o rosto no meio de minhas pernas, lambendo os lábios com meus fluidos.
— Seu desejo é uma ordem.
Acariciando-me ele vai lentamente se enterrando em mim e cada vez que eu me mexo para pressionar o quadril contra o seu, ele me trava. Para os avanços e volta a chupar meus seios. Só quando me controlo para ficar o mais imóvel possível é que se enterra fundo em mim, batendo suas bolas em minha bunda.
— Ohh...
Ele puxa meu corpo para o seu, fazendo-me cavalgar em seu pau, engolindo todos os meus gemidos com sua boca, a mão apertando e dando tapas deliciosos em minha bunda toda vez que eu engulo seu pau por completo ou quando eu rebolo.
— Rebola e goza, até perder os sentidos!
Faço como ele manda, mesmo que meus joelhos reclamem, cavalgo-o com força, sentindo-me completamente preenchida, as contrações crescendo em meu ventre esperando pela libertação. Sua mão esquerda livre agarrando meus cabelos na nuca, o corpo de Caio treme, mas eu sei que ele está segurando o próprio alívio, esperando que o orgasmo me atinja.
E eles não tardam a vir, sinto meu corpo apertando seu pênis dentro de mim, Caio geme alto, jogando a cabeça para trás, repetindo baixinho o quanto que eu sou gostosa e como ele está perdido depois destes dias.
Ele me dá um beijo lento na boca, antes que eu saia do seu colo.
— Linda, temos um chalé para decorar.
Viro olhando para ele — Achei que tinha sido um pretexto para sexo.
Ele solta uma gargalhada.
— Poderia passar o dia fazendo sexo com você, mas estou falando sério. Natal é daqui um dia e temos um chalé para decorar. Você fica com os pisca-piscas e eu com as bolinhas, se for uma boa menina te fodo de quatro na banheira enquanto vemos o pôr do sol.
— Acho que eu deveria me encarregar das bolas — digo maliciosamente.
— Garota perversa!
***
Panetone recheado, rabanada, salada de frutas com calda de chocolate...foi nesse mar de aromas deliciosos que eu sentei na mesa decorada com uma toalha vermelha no dia seguinte, Caio utilizando seu gorro de Papai Noel — mas sem o laço embalando seu pênis —. Ele tinha preparado um banquete particular para nós dois.
— Tem tanta coisa gostosa para comer, que nem sei por onde começar.
— Fiz questão de fazer um café da manhã dos campeões para você, tem certeza de que não quer vir comigo para o hotel?
Puxo uma das cadeiras, sentando-me de frente para a mesa farta.
— Sim, além do que, eu só te atrapalharia. Cozinha não é um dos meus atributos.
— Eu compenso isso por nós dois, gata.
Sua mão acaricia meu braço distraidamente.
— Prometo voltar na primeira badalada. — Caio me dá um beijo rápido na boca, pega sua mala de instrumentos e sai, me deixando sozinha com todo aquele clima natalino.
Olho para o chalé, bolas e festões que estão pendurados pelas vigas e paredes, assim como os pisca-piscas brilhando lentamente, acendendo e apagando.
Quando fiquei tão sentimental sobre passar a véspera de natal sozinha? Ah, bom, deve ter começado seis dias atrás quando entrei no chalé e tentei atingir a cabeça de Caio com um abajur.
— Já pensou que daqui a dois dias você estará fazendo as malas?
Jogo um punhado de rabanada na boca, ignorando minha amiga na videochamada.
— O que tem?
Ela cruza os braços diante do peito, olhando séria para o telefone. — Vocês dois irão se encontrar novamente? Ou vai dizer que ficará por isso mesmo?
— E pode me dizer o que você espera que eu faça?
— Sei lá, ligue para ele, tente manter o que começou aí, desse lado.
Franzo a testa. — Não estou procurando amor, nunca estive. Sim, foi ótimo estar com Caio, mas...
— Mas nada, nem tente me enganar dizendo que essa sua cara desanimada é porque está entediada!
— Impressão errada.
Luce revira os olhos. — Sim, porque você está aí, vivendo uma fantasia erótica com um cara incrível, existe muitas maneiras de entender tudo errado.
— Sexo sem sentimentos, aprendi com você.
— E eu fui eleita Mamãe Noel 2021!
— Uma semana. Não tem muito que gostar em uma semana.
Jogo o resto da rabanada na boca porque, tanto minha melhor amiga, como eu, sabemos que tudo que disse é mentira. Caio me deixou caidinha pelo seu jeito, mas continuo firme.
Foi uma aventura deliciosa...inesquecível, mas apenas isso uma aventura, não?
Não estou apaixonada, apenas... Bom, o fato é que sim, eu sentirei falta dele quando for embora, isso não é algo que eu poderia prever.
***
— Foi daqui que pediram uma ceia de Natal e um ajudante do papai Noel gostoso?
Vou até a sala e admiro Caio, o gorro de natal enfiado em sua cabeça, nas mãos uma enorme bandeja e mais algumas apoiadas sobre a mesa de jantar.
— Andou caçando?
— Olha, foi uma missão incrível, pretendo te contar todos os meus esforços de resgatar um peru.
— Sabe que me contentaria com um prato pronto, né?
Caio torce os lábios com desgosto, vai até a cozinha, tira o papel alumínio do peru, checando sabores e acrescentando temperos só para cobri-lo de novo e enfiá-lo no forno.
— Quer dizer então que está negando a oportunidade de comer minha ceia de Natal?
Rio de sua cara.
— Isso é pecado. — Caio dá a volta na bancada vindo em minha direção.
Dez passos... contei cada passada que ele deu em minha direção, até que seus braços estivessem em volta do meu corpo e minhas mãos correndo pelo seu. Caio ergue minha cabeça, angulando meu rosto e então aprofunda o contato e me beija.
Beijo sua boca, agarrando seu cabelo, aproveitando daquela língua macia que contorna a minha.
— Nunca vai ser apenas um beijo, né? Sempre terei esta vontade de ter mais e mais — Caio indaga.
— Não estou reclamando — pisco para ele, ajeitando o rabo de cavalo que foi desfeito por ele.
O forno apita, fazendo Caio olhar por cima do ombro e esboçar um sorriso.
— O peru me chama.
— Como posso ajudar?
Ele arqueia a sobrancelha.
— Ah, posso cortar uma cebola ou outra — assumo rindo.
— Está bem, venha, vou te colocar para trabalhar.
Caio separa alguns temperos, escolhe pimentões e hortaliças e algumas cebolas. Enquanto lavo minhas mãos, ele busca as outras travessas sobre a mesa, deixando-as em nossa frente; uma está cheia de batatas picadas e a outra com carne.
Ele abre espaço para que eu fique em sua frente, me cercando com seu corpo, sua boca perto de meu ouvido, suas mãos segurando as minhas e suas ordens sussurradas em meu pescoço.
— Entendeu como vamos fazer?
Pisco rapidamente, não prestei atenção em nada que ele disse.
— Desculpa — confesso —, fiquei distraída com seu amigo roçando em mim.
A gargalhada gostosa que ele dá em meu ouvido eriça os pelos de meu corpo. Caio segura a cebola e com a outra mão firma as nossas na faca, e quando faz o primeiro corte, sua boca percorre meu ombro, avançando para minha nuca.
— É só manter o ritmo, dobre os dedos para não se cortar e deslize a faca pela cebola, assim...
O filho da mãe ri na curva do meu pescoço, ele sabe o que está causando. Sua barba por fazer raspa em minha pele. — Muito bom, vou deixá-la sozinha agora.
Respiro fundo vendo o sem-vergonha contendo o riso ao voltar para a bancada e se ocupar em preparar as hortaliças.
Dividimos as tarefas, eu com as simples — e fora de perigo iminente como Caio caçoo ao dizer — e ele responsável por fazer nosso jantar acontecer. O tempo vai passando e beijos e amassos quentes são roubados no meio do trabalho.
Não tocamos no assunto que amanhã será meu último dia aqui, que logo ao amanhecer, eu estarei indo embora. Não tocamos neste assunto, ficou enterrado no meio dos aromas e sabores divinos de Caio.
Menos de duas horas depois, Caio serve a ceia, os pisca-piscas estão ligados dando um ar romântico e natalino para o chalé, assim como algumas velas no centro da mesa. Ele preparou tudo para nós, a sacada aberta deixando a brisa do mar vir lenta e fresca, assim como o barulho das ondas quebrando na areia.
— Um brinde a nós. — Caio diz erguendo sua taça de vinho; faço o mesmo encostando a minha na sua, levando à boca em seguida, sorridente.
— Preciso dizer que o peru está divino? — passo o pedaço sobre a borda da tigela, pegando um pouco mais do tempero e levando à boca.
— Elogios sempre são bem-vindos e ver você comer me dá tesão.
Ergo a sobrancelha.
— Não há nada mais sexy do que ver uma mulher devorar a comida com gosto — explica dando de ombros. — Acredito que esse é o principal motivo para eu ser um Chef hoje, adoro ver as pessoas comerem, realmente degustarem as comidas.
— Adoro comer — assumo.
— Você sabia que o ato de comer pode ser muito erótico, alimenta fantasias...
Deixo o garfo sobre o prato, olhando seriamente para Caio.
— Então me diga, senhor Chef. O que pensa quando me vê comendo?
Caio ama um desafio, isso é nítido.
Ele passa o dedo no molho das batatas e põe o dedo na boca, chupando-os com vontade, fazendo minha boca se encher de saliva.
— Primeiro eu amo comer, mas hoje isso foi totalmente ofuscado por você e eu não sabia se me dedicava à nossa ceia ou no que teria depois, porque uma coisa é certa: eu vou me afundar no meio de suas pernas e faço questão de lamber cada centímetro do seu corpo! Quero sua boca abocanhando meu pau exatamente como fez com nossa refeição, quero sentir sua língua subindo e descendo. E o mais importante, quero ver você gritar meu nome quando te pegar por trás ou quando eu mamar gostoso nesses seios fartos.
Só de ouvi-lo recitar o sexo ou o que faríamos depois me deixa úmida e sedente para pular essas comemorações. Mas Caio não é o tipo de homem que sai atropelando as coisas, por isso, não me surpreendo quando ele se levanta, inclina-se sobre mim na cadeira, sussurrando em meu ouvido que isso será depois e pede que eu o acompanhe.
Caio me puxa para fora da mesa, me levando até a praia, a areia fofa ainda está morna pelo sol escaldante que fez o dia todo, paramos perto do mar, sentando na areia encarando as ondas quebrando.
— Se eu tivesse um dia que decidir como gostaria de passar meu feriado, com certeza seria assim.
— Entendo completamente.
Seus olhos voltam-se para mim, a covinha solitária à mostra em sua bochecha, acaricio seu rosto e é assim, com a brisa do mar nos embalando e as ondas quebrando em nossa frente que nos beijamos, nossos corpos enroscados num abraço apertado e a sutil lembrança que isso logo acabaria no meio.
Sua boca só me abandona por um pequeno instante, quando o barulho de sinos ao longe tocam doze badaladas. As mãos dele fazem carícias provocantes em meu corpo.
— Feliz Natal, invasora.
Beijo sua boca com ganância, com fome e desejo. — Posso pedir meu presente novamente?
Ele ri contra minha boca, nos levando dali, correndo de volta para o chalé. As roupas sendo arremessadas logo na entrada, minhas costas se chocam contra a parede e ele suga meus seios, mordendo e beijando-os. Sua bermuda fica perdida no caminho do banheiro, assim como minha lingerie.
Os amassos avançam para uma sessão de sexo no chuveiro, depois para o restante da noite na cama, tendo como gemidos e o som molhado de nossos corpos se libertando.
Capítulo 12
S étimo dia.
Sinto o calor do sol esquentar minhas costas nuas, abro os olhos devagar e suspiro. Caio ainda dorme tranquilo ao meu lado, o cabelo caindo sobre a testa e a boca formando um biquinho. Um de seus braços está jogado em cima do meu quadril, as panturrilhas enroscadas nas minhas. E por alguns minutos eu fico ali parada, pois sei que o mínimo movimento vai acordá-lo.
Só quando a vontade de ir ao banheiro se torna urgente eu escapo para fora.
— Saindo de fininho — a voz grossa e sonolenta chega até mim.
Saio do banheiro sorrindo, engatinho pela cama aceitando os braços abertos de Caio, aninhando-me em seu peito. Ele abraça minha coxa sobre seu quadril enquanto a outra mão sobe e desce pelo meu braço.
— Sentirei falta disso.
Engulo em seco, as palavras morrendo em minha garganta, por mais que eu deseje falar o quanto sentirei falta da aventura que foram esses últimos dias, do quanto seu cheiro em minha pele me deixará saudosa e até mesmo vê-lo desfilar nu pela casa enquanto cozinha.
Subo minha mão sobre seu peito, agarrando seu corpo, ficando tão perto quanto ainda posso. Fecho os olhos e apenas sinto sua mão mapear a minha pele, apalpando minha coxa.
Diferente dos outros dias que preferimos aventuras em nosso tempo livre, hoje ficamos ali, jogados na cama, nos empanturrando do resto da ceia e das guloseimas feitas por Caio. Não foi algo que pronunciamos em voz alta, apenas ficamos enroscados um no outro, enquanto o sol vai se pondo do outro lado da cabana.
***
Termino de colocar a última peça de roupa na mala com um suspiro tristonho. Caio sai do banheiro parando na porta e me olha, os cabelos molhados, a toalha ao redor da cintura. Eu guardarei esta cena na mente.
— Queria protelar esta cena.
—Também, mas é preciso retornar à realidade — digo.
— Poderia te prender aqui por mais alguns meses.
— Tentador — falo sorrindo.
Fecho o zíper da mala, colocando-a perto da porta.
— Temos que aproveitar sua última noite.
Olho para ele, agradecendo silenciosamente o sarcasmo do destino. Caminho até ele que me pega pela cintura, o puxão bruto, me prendendo em seus braços, Caio nos gira, prendendo meu corpo contra a parede, meus olhos se fecham deixando escapar um suspiro por minha boca, no mesmo instante em que ele rouba meus lábios para ele.
Sua mão segurando firmemente minha mandíbula, sua língua ganhando espaço em minha boca e seu quadril movendo-se contra o meu.
Eu estou uma completa bagunça interna referente aos meus desejos. Neste momento eu o quero tanto, que faço meu corpo latejar.
Parece que estamos em câmera lenta, perpetuando este momento até não podermos mais. Nos tornamos dois compulsivos por sexo, querendo ter esses momentos e o laço que formamos o máximo possível.
Roço o polegar em sua boca vermelha pelos nossos beijos, deixando que ela desça até seu pescoço. Sua mão desliza pela lateral de meu corpo, acariciando meus seios, um gemido escapa de mim fazendo com que ele gema comigo.
Nos olhamos em silêncio, seus olhos brilham desejo.
Sento na cama, minhas pernas ao redor de sua cintura, jogo a toalha longe o deixando nu e, quanto mais olho para ele, mais o desejo queima dentro de mim. Caio lambe meu pescoço dando uma mordida no lóbulo de minha orelha.
Ele desce as mãos por minha cintura, se infiltrando no meu short de moletom, jogando minha calcinha para o lado, acariciando minha boceta; inclino-me para trás permitindo que seu toque se aprofunde. Ele enfia dois dedos dentro de mim, girando-os lentamente me fazendo arfar.
— Caio?
Ele me olha sem interromper os movimentos.
— Não quero preliminares.
Caio retira sua mão de mim e um gemido fraco sai de meus lábios, em um instante estou nua deitada na cama e seu pênis protegido por um preservativo.
— Quero você de quatro.
Giro o corpo, empinando a bunda em sua direção. Ele percorre cada centímetro do meu corpo com a ponta dos dedos, sinto a glande encaixar em minha entrada e então a estocada firme e profunda, provoca uma pequena fisgada pelo sexo frequente. Uma de suas mãos se afunda em meu cabelo curvando meu corpo para trás o máximo possível e a outra agarra meu quadril, sinto todo meu corpo sendo tomado por Caio durante suas investidas. A mão que agarrava minha cintura, agora circula por minha barriga, descendo por meu sexo, apertando e esfregando meu clitóris.
Ele morde minha orelha gemendo baixinho, me fodendo com rapidez e força, mutilando meus nervosos pouco a pouco. — Quero vê-la gozar, muitas vezes.
Cravo as unhas no lençol e fecho os olhos, este foi o orgasmo mais rápido e foi devastador, senti cada parte de mim se quebrando.
Ficamos deitados na cama, acima das cobertas, respirando profundamente, deixando o corpo se orientar novamente e os batimentos cardíacos se acalmarem. E ficamos assim de mãos dadas, conversando sobre esta conexão maluca que nos levou até onde estamos. Até que o sol começa a lançar os primeiros raios sobre o céu.
Depois de muitas tentativas de sair da cama, sigo para o banheiro onde tomo um banho rápido e me troco por ali mesmo, seria tentação demais ficar desfilando nua na frente de Caio. Ele me emboscaria novamente com seus beijos e amassos.
Puxo a alça da bolsa olhando para ele que me aguarda na sala. — Preciso ir.
— Acho que a chave do chalé sumiu misteriosamente — disse sorrindo.
— Não me tente.
Ele se levanta. — Fala para mim: o que espera você em São Paulo?
Faço charme — Além de responsabilidades, boletos a pagar... — comento rindo.
— Mande-me todos, sou um sequestrador bonzinho, eu pago suas contas.
— Por que não disse que seria um ótimo sugar daddy ? — caçoo.
— Acho que não sou tão velho para esse cargo.
Balanço a cabeça rindo e pego minhas malas. — Obrigada por essa aventura sexual.
— O prazer foi todo meu, acredite.
Caio me acompanha em silêncio até a pequena estradinha onde marquei com o transfer de me buscar, ficamos lado a lado sorrindo quando nossos olhares se cruzam, mas com um silêncio incômodo entre nós.
O transfer aparece ao longe, levantando poeira, é hora das despedidas.
— Bia? — Caio sussurra.
Luto com a tensão em minha garganta, soltando uma resposta baixa.
— Caio...
Ele me puxa contra seu corpo, beijando minha boca, com urgência, minhas pernas ficam fracas, mas seus braços me prendem em pé, agarrada ao seu corpo. E quando vejo, a boca dele se foi.
A van aguarda ao meu lado com a porta aberta, que eu mal notei se aproximar.
— Não vou dizer adeus, somente até logo — diz segundos antes de eu entrar na van e vê-lo ficar cada vez mais distante.
Capítulo 13
R olo pela cama , buscando o celular. Já passa das cinco da tarde. A primeira coisa que fiz ao chegar de viagem foi me jogar na cama e tirar um longo cochilo, as horas roubadas na madrugada caíram sobre mim no voo. Mas por causa de duas pequenas pestinhas fazendo uma farra ao meu lado, então, não consegui descansar.
Levanto um tanto desorientada, me afasto da cama, caminho até o banheiro, jogo água em meu rosto e vou para sala e não é nenhuma surpresa ver Luce sentada totalmente à vontade no sofá.
— Boa tarde, Bela Adormecida!
O olhar curioso que minha amiga me dá, quer dizer que ela não quer enrolação de minha parte, quer a história toda com ênfase no sexo. Por isso, não perco tempo. Sento-me ao seu lado cruzando as pernas e conto tudo.
— E mesmo com tudo isso que acabou de me contar você virou as costas e deixou o pobre homem plantado numa estrada de terra e foi embora?
— Não me torne a vilã, ele foi uma aventura, não era isso que queríamos quando falamos da viagem aqui mesmo? — argumento.
— Sim, mas tem coisas que não evitamos, por exemplo, seu gato sarado.
Reviro os olhos, tocar no assunto é pior ainda, já não bastam as cenas se repetindo em minha mente?
— Foi uma semana deliciosa. Descobri que Caio é incrível e pronto, acabou.
Ela ri. — Vamos ver.
O olhar de Caio me vem a mente, o olhar persistente antes de vir em minha direção roubando um beijo. Estremeço.
Merda!
***
Os dias vão passando e com eles os últimos resquícios de Natal também, as vitrines das lojas lotadas de promoções e queimas de estoque, as pessoas ansiosas pela virada do ano planejando suas viagens ou correndo para arrumar tudo a tempo.
Luce tinha viajado para casa de seus pais novamente, e eu me vi na solidão do apartamento e com uma pilha de currículos para serem entregues.
É dia vinte e nove e eu já estou cansada de tanto atualizar a página do Linkedin em busca de uma resposta positiva. Abro meu e-mail vendo que tem uma proposta de emprego e isso me anima. Será que finalmente minha sorte está mudando? O canalha do meu ex-chefe não teve nem a capacidade de escrever uma recomendação para mim.
Abro o e-mail, correndo os olhos pelo que está escrito e é fato que um sorriso toma meu rosto.
Abaixo de uma proposta falsa de emprego, tem uma mensagem do Caio.
“Achou mesmo que poderia fugir de mim?”
Pego o celular, abrindo o aplicativo de mensagens.
“A proposta de emprego está de pé?”
Envio a mensagem rindo. Num segundo é visualizada e no outro, meu telefone está tocando.
— Oi, gostosa.
— Oi.
— Sinto falta da minha invasora. Como você está?
— Estou bem.
— Sua voz é muito sexy no telefone.
O sorriso se abre em meu rosto com sua provocação.
— Sentiu saudades de mim? — questiona abaixando o tom de voz.
Mordo o canto da boca. Por que mentir?
— Sim.
— Que ótimo, que tal embarcar em outra aventura comigo?
— Caio...
— Não quero desculpas, Bia. Quero você nua para mim. Quero você.
— Não é tão simples.
— Por que não? Estou te perguntando se aceita uma vaga de emprego, será minha assistente. Fui convidado por um hotel em Trancoso e o Chef foi bem claro, ele quer você como assistente. Que eu saiba você ainda não conseguiu o emprego dos seus sonhos, certo?
— Ainda não e eu iria mais atrapalhar do que ajudar seu Chef — comento rindo, adorando a ideia por dentro.
— Acho que ele se responsabiliza pelos riscos, afinal, ele deve gostar de você já que tem uma grande tendência a deixar o pobre homem plantado em estradas.
Gargalho.
— Então, o que me diz? Embarca nesta aventura comigo? Te garanto hospedagem, refeições e um passe livre para brincar pelo meu corpo.
— Realmente é uma proposta irrecusável.
— Bia, Bia, não me mate na unha...
Seguro o riso.
— Eu aceito.
— Vá até a sacada, então...
— Como? — questiono ficando de pé num pulo.
— Vai...
Aperto o celular entre os dedos, destravo a porta da sacada e olho para baixo. E lá está ele, encostado no carro, com o telefone na orelha olhando em minha direção.
— Isso soa muito Romeu e Julieta.
Caio ri, — Tirando a parte que ninguém vai provocar a morte de ninguém, então, arrume as malas, estou te aguardando.
— Você é maluco!
— Pode apostar. Que comece mais uma de nossas aventuras, invasora!
ALGUNS MESES ANTES
A i meu Deus!
Ai meu Deus! Sento rapidamente na cama enfiando minha cabeça debaixo do lençol, vendo meu corpo nu. Que merda! Remexo-me agitada procurando a droga do meu celular que parece ter criado asas quando eu mais preciso.
O quarto gira quando me curvo para caçar minhas coisas. A garrafa de champanhe está jogada perto da janela, vazia, um pequeno lembrete das merdas que fazemos na vida. E eu pratico muitas delas.
Enfio minha cabeça debaixo da cama me deparando com uma cueca boxer branca.
Ah, merda!
Sinal vermelho. Pegar as coisas e cair fora!
Curvo meu corpo para baixo vendo meu sutiã perdido bem no meio e a calcinha do outro lado, perto do pé de um puff. Fico literalmente com a bunda jogada ao vento tentando capturar meu sutiã e me vestir com o resto de dignidade que me resta, mas lógico que não consigo e caio com tudo no chão, produzindo aquele baque seco. Merda! Rastejo para debaixo da cama finalmente capturando meu sutiã, escuto o barulho do celular vibrando perdido em algum lugar daquele quarto desconhecido, corro pegando-o ao mesmo tempo em que tento não me dar um nó ao vestir minhas roupas íntimas.
— Onde você se meteu? Luce já estava querendo chamar a polícia. — Escuto assim que atendo a ligação.
— Gabi, pelo amor de Deus, onde eu estou? Sou eu que te pergunto isso! — Atrapalho-me com a alça do sutiã e o cabelo me fazendo parecer a menina daquele filme de exorcismo, enquanto mantenho o aparelho na orelha:
— Um pouco de aventura depois de uma semana complicada no trabalho, Bia. Diga, está enroscada naquele gostoso? — a voz de Luce soa alta do outro lado da linha, pelo visto estou no viva-voz.
— Isso não está ajudando, mal sei onde estou!
Dou uma olhada pelo quarto, pelo visto é um flat . A vista de São Paulo brilha com o reflexo do sol do lado de fora.
— Vai dizer que não se lembra de nada? — Gabi resmunga.
— Quase isso — retruco buscando o resto de minhas coisas.
— Um pouco de irresponsabilidade não mata ninguém — Luce diz rindo.
— Apenas demite!
Escuto passos vindo em direção ao quarto, pressiono a mão contra a boca abafando o telefone. — Encontro com vocês no apartamento! — digo jogando o celular em minha bolsa recém-encontrada.
— Até que enfim acordou, pensei que tivesse entrado em coma alcoólico!
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/FEITO_SOB_ENCOMENDA.jpg
Congelo de costas para onde vem a voz, pensando em mil maneiras que poderia tornar isso menos constrangedor. Não que ele já não esteja saboreando a visão de minha bunda recém-tampada pela calcinha.
Viro apertando minha bolsa contra o corpo, como se ela pudesse tampar minha nudez. O homem, com leve toque grisalho no cabelo, me encara sorrindo, meus olhos passeiam pelo seu corpo em transe, suas mãos seguram uma bandeja imensa com café da manhã, mas o que me faz me sentir mais idiota é a forma como cobiço a bermuda larga pendendo pela cintura, e não por ser uma bermuda de pano daqueles modelos que vemos nos velhos, mas por ter uma saliência bem dotada ali e, pelo visto, livre leve e solta, pronta para brincar de pique-esconde, que me faz baixar a bolsa com um sorrisinho sinistro na boca e pedir um bis de qualquer coisa que tenha acontecido naquele quarto.
Os olhos curiosos me encaram com diversão, ele deixa a bandeja de café sobre a cama bagunçada, levando a mão ao cabelo, percorrendo os fios molhados com os dedos.
— Fiz um café para nós. Mas não precisa interromper a análise do meu corpo, estou gostando muito de ser escaneado — diz sorrindo.
Pisco, afastando a cara de idiota que deve estar estampada em meu rosto. — Desculpe-me, eu não me...
— Lembra do meu nome? — seu sorriso se abre — Caio, o prazer é todo meu.
— O cara do bar.
— O cara que salvou você de beijar a calçada enquanto cantava “ Makes me Wonder” , com uma dança bem sensual no meio da rua?
— Meu Deus! — exclamo pausadamente.
Que Diabos eu fiz a noite passada?
Caio se senta no colchão, deixando ainda mais evidente sua saliência na bermuda. — Vai dispensar meu café? Coloquei meu ingrediente especial para curar sua ressaca.
Pego a caneca de café que ele me estende, sentando na ponta do colchão à sua frente.
— Não me lembro de nada do que aconteceu depois do bar, então... — murmuro dando de ombros. — Espero que a noite tenha sido boa.
Ele gargalha, seu pomo de adão vibra com seu timbre rouco.
— Eu gosto de mulheres conscientes quando vou fazer sexo, quero que elas sintam tudo que posso lhes proporcionar. Então, fique tranquila, não transamos. — Esboço um sorriso de tranquilidade ao ouvir isso — Mas não significa que você não arrancou sua roupa e roubou vários beijos e amassos meus.
Caio abandona sua caneca na bandeja, afastando-a de nós. Chega mais perto, com seus lábios entreabertos, carnudos e bastante chamativos. Nossos corpos perto um do outro, nossos rostos bem no limite da insanidade para eu aproveitar a brecha de “bêbada louca” para agarrá-lo.
— Fico feliz que tenha sido eu a encontrá-la.
A voz grave dele incorpora um tom divertido.
Ele não está me tocando, suas mãos estão apoiadas sobre suas pernas, mas é como se eu pudesse sentir o toque de seus dedos percorrendo meus braços, esquentando minha nuca.
— Levarei você para casa, com duas condições.
— Condições? — pergunto arqueando a sobrancelha.
— Seu telefone e um beijo de despedida; não é demais, levando-se em consideração que nas últimas oito horas tive sua boca passando por meu corpo.
Caio deu uma risadinha, pegou seu celular no bolso da bermuda e me entregou.
Quantas vezes um raio pode cair no mesmo lugar? Duas, chutando muito alto? A chance de ele me ligar poderia ser de cinquenta por cento, já tinha passado meu telefone para homens piores do que ele, então por que não?
Digito salvando o contato e lhe devolvo o aparelho. Satisfeito, ele sorri e me entrega o restante de minhas roupas.
— Vou deixar a última parte para receber assim que entrarmos no carro.
Capítulo 2
DIAS ATUAIS
T RINTA, A IDADE DO SUCESSO... Grande besteira! Só se for para Jennifer Garner, naquele filme da Sessão da Tarde!
Jogo minhas pernas para fora da cama, olhando o projeto de homem estirado nela e automaticamente torço os lábios. Minha vontade é chutar sua bunda até que saia do meu apartamento me chamando de maluca. E tenho bons motivos, acredite.
Mas, também a culpa é toda minha, afinal, fui eu que disse sim às suas cantadas. Resmungo saindo da cama e de perto dele, que não se mexe um centímetro.
Quando um homem vem atrapalhando minha noitada com minhas amigas, desempenhando as melhores cantadas em meu ouvido e eu me presto a ouvi-las, espero três coisas básicas:
Primeira: um beijo de qualidade, aquele que a gente sente a calcinha molhar só de imaginar o estrago que a boca dele pode fazer lá embaixo.
Segunda: uma pegada de respeito. Ah, não adianta executar o primeiro ponto bem e na hora de dar aquela pegada que nos faz querer grudar na parede igual lagartixa se mostra na verdade uma bosta! Aquela com mão frouxa e que só pensa em ficar roçando o amiguinho na minha bunda.
E terceira: o sexo. Se o carinha passou pelos dois testes, merece que minha amiguinha lhe encare e é aí, meu caro hétero top , que você tem que encarnar o Sidney Magal e me fazer jogar a calcinha na sua cara. Antes que diga que estou sendo exigente, não mesmo, nem pense nisso. Estou sendo é boazinha com esses homens que pensam que porque têm um pênis no meio da cueca a gente tem que ajoelhar e rezar.
No caso do hétero top , deitado babando em um dos meus travesseiros foi exatamente isso que aconteceu. Ele tinha um beijo arrasador, uma pegada... que me deixa sem palavras só de lembrar, mas o sexo? Esse é do muito, mais muito, meia boca.
E o pior de tudo foi dizer que iria me deixar caminhando com as pernas abertas no dia seguinte... Coitado né, o hétero top esqueceu que da nossa coleguinha sai um bebê, então não venha falar isso para uma mulher com seu pênis de tamanho normal. Ainda mais quando você não sabe executar a tarefa e o instrumento direito.
Porque até mesmo para fazer um bom brigadeiro, o segredo é manusear bem os ingredientes dentro da panela.
E se não bastasse isso para terminar minha noite e todos os meus desejos secretos é o homem tentar rasgar a calcinha. Eu vejo a frustração deles, no máximo eles irão conseguir fazer minha calcinha acomodar eu e mais uma amiga. Sim, a ideia é excelente, seria maravilhoso vocês chegarem com tudo, a calcinha voando para o lado...o plano é excelente. E por mais que vejamos isso em filmes, na vida real é bem diferente.
Se depois de tudo isso eu não chutasse esse cara para fora da minha casa... Inspiro profundamente olhando para o sujeito babão em minha cama. Com o verdadeiro significado de lindo e ordinário.
Mas calma, as coisas vão piorar e eu vou lhe contar exatamente como eu desejei que minha vida, por um pequeno momento, deixasse de ser uma comédia atrapalhada e nada romântica para o dia em que eu realmente veria o sol deitada sobre uma espreguiçadeira com um drink nas mãos.
O fato é que eu tinha acabado de completar trinta anos, dando uma olhada bem rápida na imagem refletida no espelho do outro lado do quarto, sei que pareço igualzinha como em todos os outros dias, mas algo em mim mudou.
Talvez seja apenas minha paciência que ficou ainda mais curta ou parece que meu rosto está um pouco flácido? Meus olhos castanhos e redondos, estão um pouco enrugados nos cantos?
Acima de tudo, tenho o ar cansado. E não por ter passado a maior parte da noite bebendo com minhas amigas e dançando com caras estranhos acreditando que seria um belo caso de uma noite, mas sim porque estou realmente cansada.
Achei que estava preparada para os trinta, que já estaria com tudo resolvido e todos os planos perfeitamente traçados e todos sendo executados. Porém, é como se estivesse apenas algumas casas à frente de onde eu comecei. Meu último relacionamento durou o mesmo que a temperatura de uma água no fogo, logo evaporou. Assim como os outros tantos que vieram antes dele e isso me fez ter em mente que eu sou minha melhor companhia. Que eu posso ser um caso de “panela sem tampa”; no meu caso, sou uma frigideira.
Tá, não posso reclamar, tenho um emprego bom, um canto só meu, assim como vários boletos. Coisas de vida adulta. Mas eu achei que aos trinta anos teria chegado ao cargo que tanto almejo, desde o dia em que coloquei meus pés na agência de publicidade. Isso não aconteceu, faz cinco anos que estou encalhada na mesma vaga.
E quando paro para pensar nisso, vêm milhões de maneiras em negrito em minha mente dizendo que eu desperdicei anos de minha vida, e que se me perguntassem o que eu pretendo fazer a partir de hoje, minha reação seria sair correndo.
Aos vinte e cinco anos me fiz a pergunta de como me veria aos trinta. Naquela época, só via caminhos frutuosos e gloriosos, era o que eu esperava enquanto segurava uma caixa lotada das minhas coisas no meio do meu apartamento recém-alugado.
Lembro-me bem, eu acreditava que tudo se encaixaria perfeitamente e que as dúvidas e incertezas que via as mulheres de trinta tendo eu nunca teria. Pois bem amigos, aqui estamos nós.
A verdade é que eu não estou pronta para os trinta, com trinta a maioria das mulheres está bem resolvida. Não quero ser insegura por causa de uma idade, mas eu não estou pronta para ela. É confuso, eu ainda me sinto jovem como quando eu tinha vinte e dois, ainda quero cometer loucuras, agir de maneira irresponsável de vez em quando. E pior, não quero ter filhos agora, muitas vezes mal me lembro de reabastecer a geladeira, como uma criança dependeria de mim?
Essa é a questão, todas as responsabilidades que jogam em nossos ombros ao completar trinta anos, muitas de nós nem mesmo pedimos por isso. Um dia depois do meu aniversário, a primeira pergunta que minha querida mãe me fez foi: “quando vai criar juízo e arrumar um bom partido?”.
É uma coisa muito maluca, mas faz sentido, eu não estou pronta, mesmo que seja uma data marcante, me recuso — ao menos por enquanto —, a assumir todas as responsabilidades e coisas que nos impõem.
— Ei — chamo cutucando o babão em cima da minha cama. — Belo adormecido, vamos acordar!
NADA! Dou a volta na cama chegando perto de seu rosto, vendo se o homem ainda respira.
Sacudo seus braços fazendo-o se sobressaltar na cama de susto.
— Olha, a noite foi uma delícia — minto descaradamente. — Mas está na hora de você ir embora.
— Podemos nos ver hoje à noite, repetir tudo isso... — sugere sorrindo.
Eu tenho duas opções e uma delas é uma obrigação para nós mulheres. Os homens precisam saber que transam mal, não podemos mais, em pleno século vinte e um, ficar mentindo que tivemos orgasmos quando a transa foi bem ruim; ou, posso ser simpática, despachá-lo com a desculpa que cuidarei do meu tio doente ou o gato da vizinha.
— Olha, foi legal e tudo. Você é bom, mas sendo sincera, não vai rolar! Você babou no meu travesseiro, prometeu uma coisa que não conseguiu cumprir e você sabe como isso é frustrante para uma mulher? Você realmente achou que meu clítoris era uma campainha?
O homem em minha frente fica pasmo, assombrado por tudo que despejo em cima dele.
— Desculpe-me, sim?
— Que mulher maluca! — diz ao recolher suas coisas e sair batendo a porta com tudo atrás de si.
— Sou maluca e você precisa de um cursinho intensivo de sexo! — grito em direção a sala.
Pego um jeans preto e uma camisa social deixando sobre a cama, assim como os saltos escolhidos para hoje e vou para o banheiro. Quando saio do chuveiro, penteio o cabelo molhado para trás, num rabo de cavalo e passo uma maquiagem leve no rosto.
Eu me arrumo com calma, como se não tivesse um emprego para salvar depois do que aconteceu na sexta-feira passada... como se eu não tivesse vomitado no meu chefe logo depois de declarar uma paixão platônica!
Por que eu tinha que fazer essas burradas?
Como me meti na maior enrascada da minha vida?
Foi de repente, ele surgiu pelo elevador sorridente, o terno cinza como sempre muito bem alinhado, porém, naquele dia, ele estava sem gravata, a camisa social branquíssima aberta nos primeiros botões... Primeiros não! Eram uns quatro ou cinco mostrando aquele início delicioso de peitoral, eu pude até ver aquele “tufinho” de pelos, o deixando ainda mais másculo e erótico em meus pensamentos. Deus!
O caso é que Patrick assumiu o lugar do meu ex-chefe, um velho decrépito que ia contra a modernidade e os avanços que as empresas e marcas criaram com o toque dos dedos. Enfim, Patrick era totalmente o oposto, era antenado no que o mundo vinha pedindo, trouxe um novo ar para a empresa.
Patrick era aquele homem que se a gente parasse para pensar, ficaria bem em diversas situações. Eu imaginava seus braços fortes e produzidos em academia me segurando forte na sala de descanso para uns amassos proibidos, imaginava seu corpo nu dentro do meu chuveiro. Era daqueles homens que nem guindaste nos tiraria de cima.
Era tanta coisa que eu poderia fazer com esse homem em minha mente que eu o transformaria num Bombril.
E eu estava tão cega pela vontade de transar com meu chefe que não percebi o que estava na minha cara, precisei na sexta-feira sair com Luce para vê-lo beijando um homem. E o problema não é ele ser gay, afinal, a gente dá para quem quiser. O problema foi ver todas as minhas fantasias e cenas eróticas planejadas para minhas noites com meu consolo caírem quebradas aos meus pés, porque eu nunca mais tiraria essa cena da minha mente.
Quando ele percebeu que eu estava do outro lado da balada olhando para ele como se tivesse acabado de matar minha mãe na minha frente, veio falar comigo, eu mal me lembro o que falou, mas me lembro bem de ter vomitado em cima dele.
Todo o álcool que ingeri para dar coragem de ir me declarar, voltou com força máxima manchando sua calça jeans cara e seus sapatos mais caros ainda.
Mas é como dizem: Vemos aquilo que queremos ver.
Nunca desconfiei que os almoços que ele tinha com seu amigo eram, na verdade, encontros com seu namorado, que as flores que ele pedia para sua secretária enviar, não eram para as mulheres com quem saía, eram para seu namorado... Um namorado lindo, alto e gostoso assim como ele. Um namorado moreno e careca tão sensual que metade das meninas na empresa queriam o telefone dele. Um casal perfeitamente gostoso e gay, por quem eu vim fantasiando grande parte do ano passado e deste ano, até mesmo aceitando — sem nenhum convite oficial, apenas um feito em minha mente —, participar de um ménage louco com os dois.
Eu deveria ter inventado uma desculpa, ter ligado para meu chefe e ter dito que estava com gripe, dengue, sarampo, qualquer coisa. Até malária seria melhor do que isso. Mas não fiz.
O destino tinha mandado seu recado, eu que fui surda demais para ouvi-lo.
Paro no meio fio acenando para o Uber.
— Centro, né? — confirma o motorista.
— Por favor – digo me jogando no banco de trás.
— Ih mocinha, vamos enfrentar um belo de um trânsito – argumenta o motorista.
Bufo olhando para o celular de novo, o motorista corta algumas ruas seguindo direto para o engarrafamento, colo meu olhar na janela absorvendo os cheiros estranhos de São Paulo logo pela manhã e os motoristas irritados no trânsito, respirando fundo pela minha péssima escolha de ter saído na sexta passada com minhas amigas e enfiado meu pé na jaca.
Não pense que sou frustrada, nem um pouco, mas eu tenho a grande tendência de me envolver com os tipos errados: caras broxantes, filhinhos de mamãe, canalhas, mentirosos..., mas confesso que uma mudança cairia muito bem.
— Mocinha, chegamos. – O motorista me arranca dos devaneios.
Tiro o dinheiro da carteira, passando para ele.
Atravesso o saguão da empresa, me espremendo no elevador apinhado de pessoas.
— Você está atrasada Bianca e muito — reclama a secretária de Patrick, assim que piso na empresa.
— Sabe como é, São Paulo é um completo caos — digo com um sorrisinho cínico nos lábios, pela desculpa esfarrapada.
Ela revira os olhos. Nádia é o tipo de mulher que acorda de mal com o mundo.
— Nádia, ligue no telefone da Bianca, preciso do briefing que ela estava tomando conta .
Nádia, só torce os lábios apontando para mim.
— Desculpe o atraso, Patrick.
Ele me encara por alguns segundos e dá espaço para que eu entre em sua sala, fechando a porta atrás de si, assim que passo.
Será que foi porque eu descobri que meu chefe tesudo — por quem eu nutria uma tensão sexual — é gay que os sorrisos doces e gentis que ele geralmente me dava sumiram? Tá, estou sendo hipócrita, ele está me olhando assim por que eu vomitei pelo menos cinco copos de vodca em cima dele.
— Precisamos conversar sobre o que houve semana passada.
— Olha, Patrick, sinto muito.
— Eu admiro muito seu trabalho aqui na empresa, você é uma das melhores publicitárias, mas...
Minha cabeça deu um nó. — Espera, esse discurso...
— Sim, Bianca. Conversei com um amigo, ele tem uma ótima empresa de publicidade, seu perfil se encaixa muito bem.
— Ah, cala a boca! — explodo.
— Como é?
— Está me demitindo porque descobri que você é gay?
— Não é por que sou gay — diz — Mas descobrir que você nutre um sentimento por mim fere tudo que eu construí nesta empresa, não quero que fique...
— Desculpa, Patrick? Fique o quê? Você está me demitindo por um sentimento que não fazia nem ideia? Isso é ridículo, eu me desdobro por esta empresa! Não venha com uma merda de desculpa dessas!
Abro a porta com violência, e caminho pisando duro até minha mesa, o filho da puta já tinha juntado minhas coisas.
— Bianca, preciso que deixe seu crachá com a segurança.
Viro querendo mandá-lo para aquele canto obscuro. Retiro o crachá do bolso jogando em sua direção. Os funcionários das baias próximas observam atentos ao show.
— Sinto muito.
— Não! Você não sente porra nenhuma!
Patrick olha em nossa volta, dando um sorrisinho para meus colegas. — Bianca — adverte.
— Você é um tremendo babaca, babaca gay! Eu estou há cinco anos nesta empresa e você chuta minha bunda porque eu vomitei em cima de você e do seu namorado por descobrir que é gay. Olha! Eu quero que vá para o inferno! — explodo, minhas mãos tremem de nervoso, sinto meu corpo suar. — Você está sendo insano, foda-se que é gay!
— Bianca, por favor. Fale baixo.
Solto uma gargalhada ácida. — Fale baixo? Então o problema é esse? Achou que eu ia falar para alguém que você e seu suposto amiguinho fodiam dentro de sua sala, nas intermináveis reuniões? Como você pôde sequer pensar isso e ainda por cima vir com esse papinho para me demitir? O que vai colocar no papel? Justa causa por descobrir que você é gay?
As pessoas ao nosso redor já olhavam assombradas, cochichando umas com as outras.
Agarro a caixa em cima de minha mesa com todos os meus pertences. — Sabe de uma coisa? Essa empresa de merda nunca mereceu meu trabalho! — digo e saio batendo os pés em direção ao elevador, atropelando as duas meninas que saíam dele.
Se esse não é o pontapé que eu estava esperando para dar um rumo totalmente novo em minha vida, só falta um meteorito cair direto em minha cabeça, não é mesmo?
Capítulo 3
N a manhã seguinte, o sol me saúda através das cortinas lilás, com a promessa de um dia melhor... ou não. Olho para o relógio na mesinha de cabeceira, passa das onze horas. O calor do final de ano cai sobre a cidade com força, deixando aquela vontade imensa de arrumar uma mala, jogar algumas roupas despretensiosas dentro, pronta para viver uma aventura sem ter por que voltar.
E eu devia mesmo executar esse plano, não estou nem um pouco disposta a me sentar em frente ao computador e enviar currículos a tarde toda, muito menos ficar remoendo a canalhice que Patrick fez comigo.
Abro o notebook, apoiando-o em minhas pernas, pesquisando sobre destinos e lugares que sempre quis conhecer.
— Querida, cheguei! — Luce grita ao fechar a porta do apartamento atrás de si.
Olho por cima do ombro, vendo minha amiga deixar de lado as chaves reservas na mesa de jantar, junto com sua bolsa e celular.
— Você não devia estar trabalhando? Achei que nos veríamos de noite!
— Tirei a tarde de folga. E você também, não?
— Fui demitida — conto, bufando.
Luce se joga ao meu lado no sofá, encarando meu rosto. — Mentira, né?
— Mais pura verdade, aquele filho da puta me chutou da empresa com a desculpa de que eu ter sentimentos por ele ia contra a política imposta!
— Tá de brincadeira, o que pretende fazer agora?
Dou de ombros — Tenho uma reserva guardada. Talvez agora eu esteja precisando mesmo é de umas férias.
Ela arranca o notebook de meu colo, rolando a tela, vendo minhas pesquisas. O anúncio que piscou na tela assim que abri e digitei o que queria no Google, chama de imediato minha atenção. Se eu abusar do cartão de crédito posso ir com a consciência tranquila.
— Se jogar numa praia paradisíaca em pleno natal?
— Por que não? Seria melhor do que ir para casa dos meus pais, ficar escutando a noite toda como meu irmão é perfeito e de sua família perfeita. Enquanto minha tia Dirce me enche o saco perguntando dos namorados que não tenho e dizendo que logo estarei seca e velha como uma ameixa. Além das cobranças de minha mãe sobre netos, que se depender de mim, ela não os terá tão cedo ou nunca. E o fato de que ela sempre tem um jeito muito gentil de mostrar o quanto minha personalidade a desagrada.
Luce gargalha.
— Sem contar que depois da meia-noite, o clima de amizade e família iria ladeira abaixo e todo mundo tentaria se matar com a faca que cortou o peru. Preciso de uma mudança e se ficar isolada numa praia, enchendo o rabo de bebidas doces, longe de tudo, for a saída?
— Então, amiga, compre agora mesmo esse pacote de viagem e arrume as malas — ela comenta ao clicar no anúncio da tela.
Encorajada por Luce, olho mais uma vez o anúncio: os passeios inclusos nas praias de Maragogi e região, são perfeitos! Oito dias de sol e mar!
— Você viu que o tal chalé do pacote é de frente para a praia?
— Maravilhoso! — comento sorridente, olhando as fotos que tinham aparecido depois que reservei a passagem na outra guia. — Aqui diz que está com poucas unidades disponíveis e que você ganha desconto quando reserva as passagens.
— Cadê aquele cartãozinho de ouro? — Luce brinca.
Saco o cartão de crédito e parcelo a viagem a perder de vista, desse modo o fato de eu ter sido chutada do meu emprego não impactará em continuar pagando meu aluguel e as parcelas do cartão. Confiro todas as informações, eu embarcarei para Maragogi dia vinte e um de dezembro e volto para São Paulo no dia vinte e oito. Oito dias no mais perfeito paraíso, longe de toda a bagunça que minha vida se transformou. Esses oito dias serão suficientes para eu reabastecer minhas energias, traçar novas metas e fazer as mudanças que tanto preciso.
— Pronto, tenho uma semana para a viagem.
— E amanhã iremos nos jogar num dia de garotas e comprar alguns biquínis novos, para sua aventura praiana.
— Dia de shopping animador, em pleno final de ano? — questiono rindo.
— Sua vida seria um tédio sem mim, gata! — diz piscando. — Vamos aproveitar as liquidações.
— Tudo bem — dou-me por vencida.
***
A beleza do feriado mais amado, HO, HO, HO!
— Vai sentar no colo do bom velhinho, amiga?
Reviro os olhos para Luce, — Só falta isso na minha lista de coisas que não devo nunca fazer: correr para roubar o lugar de criancinhas e sentar no colo de um velho com barba falsa.
Luce ri — Vai que ele traz um belo presente para você!
— Tô precisando quase de um milagre. Uma mala cheia de dinheiro seria muito bom, outra coisa interessante seria o bom velhinho transportar homens em caixas de brinquedo.
— Acho que os seus pedidos estão exigindo demais do coitado. Mas será que se pedirmos com bastante desejo ele manda algum de um metro e oitenta em caixa de brinquedo? — Luce gargalha.
Dou de ombros tomando o resto do meu sorvete. — Poderia me contentar com um metro e setenta, os tempos são caóticos.
Olho uma última vez para o velhinho sorridente na ampla poltrona vermelha entregando doces e arrancando sonhos das crianças inocentes que correm em sua direção, antes de caminhar na direção contrária.
— Acho que tem alguém mudando de ideia e vai entrar na fila do bom velhinho — Luce caçoa.
— Você já reparou que ensinamos as crianças a não falar com estranhos e tomar certos cuidados, mas incentivamos a sentar no colo de um, por causa da magia do Natal? — inquiro.
Luce me encara arqueando a sobrancelha, — Amiga, tua amargura tem lógica.
— Não estou amarga com a vida, é apenas uma observação. E outra, compramos mais do que deveríamos — comento ao olhar a quantidade de sacolas em meus braços.
— Mulheres precisam de agrados e você precisava de biquínis cavados para marcar esse bundão!
Reviro os olhos. — A sua sinceridade é impagável.
— Precisa de carona até o aeroporto, amanhã?
— Não, tenho tudo sob controle.
— Vê se não deixa de anotar tudo o que precisa para se encontrar por lá. — Luce alerta.
— Fiz um pacote avulso onde contratei um transfer até o chalé, então, nada de me perder por Maragogi, pelo menos não intencionalmente. Segundo está no site, o chalé fica a cinquenta minutos do centro.
— Daqueles bem escondidinhos para altas aventuras — diz maliciosamente. — Serão grandes dias, quero ligações para me contar as novidades.
— Tem um ditado que diz: pior do que está não fica . Vou descobrir se é verdade.
— Deixa de ser pessimista, vai ser uma viagem incrível e, quando o ano virar, as coisas serão melhores!
Dou de ombros, não quero criar expectativas. Tenho grande experiência de me frustrar com falsas expectativas. Quero curtir esta viagem sozinha, para um lugar que nunca fui e passar oito dias maravilhosos por lá.
Capítulo 4
D emoro um pouco para fechar a mala devido a quantidade de coisas que enfiei dentro dela, arrasto-a pelo piso até a porta de entrada, junto com a bagagem de mão pequena que decidi levar de última hora com itens indispensáveis.
A viagem de avião foi tranquila, como escolhi viajar a noite por conta da diferença de valor, me sinto sonolenta e tudo que desejo é cair naquela cama macia que vi na foto. A van espera enquanto busco minha mala na esteira. As pessoas que entraram junto comigo estão animadas para se aventurarem, mesmo de noite, pelo que a cidade tem a oferecer.
Apoio minha cabeça contra o vidro frio do carro, ouvindo o guia explicar sobre as praias e os destinos que os turistas mais gostam. Algumas pessoas foram deixadas em uma pousada no centro, outras seguiram para pousadas na beira do mar, restava apenas um casal quando a van parou em frente a uma entradinha pequena, cercada de areia e chamou pelo meu nome.
— Esses chalés são bastante procurados por casais. — falou ao entregar minha mala.
— Viagem solo, quero esse paraíso todo para mim — digo dando uma olhada ao redor. — Desculpe parecer ignorante, mas se eu tiver algum problema, com quem eu falo? Não imaginei que seria tão isolado.
O rapaz sorri, — O hotel fica a uns dez minutos de caminhada dos chalés, mas basta ligar para a administração que você será atendida e algum funcionário virá até você.
— Ah, obrigada — respondo me sentindo uma idiota por ter perguntado.
— Espero que Maragogi lhe traga boas surpresas.
— Oito dias de tranquilidade já me bastam.
Pego minha mala, acenando quando ele me deseja uma boa estadia e retorna para dentro da van. Retiro os tênis e as meias, fincando meus pés na areia fofa e gelada, caminhando até o chalé.
Há um caminho de pequenas lanternas pela areia, isso se repete em todos os chalés. As luzes externas estão acesas, uma rede balança de maneira preguiçosa com o vento vindo do mar ao longe.
Paro em frente a porta e no meio de toda a empolgação, não prestei atenção como entraria, geralmente em hotéis fazemos o check-in onde o atendente nos entrega o cartão de acesso ou a chave, mas quando fechei o pacote, não recebi um código, chave, nada disso. Será que terei que caminhar até o Hotel? Não tirei essas dúvidas com o guia do transfer .
Meu lado paranoico ativou, fazendo minha mente já cair em várias armadilhas. Balanço a cabeça para tirar essas ideias da mente, o chalé está com as luzes acesas, óbvio que a empresa sabe de minha chegada e deixou tudo preparado. Não há motivo para paranoia, Bianca! — brigo em pensamento — Posso muito bem ir até o hotel como o rapaz da van me informou e buscar a chave .
Olho ao redor vendo que a distância entre os chalés é considerável, tornando realmente um espaço particular na praia.
Confiro o número do chalé no e-mail e na porta em minha frente, devolvo o celular para a bolsa e empurro a porta — como um teste para ver se está aberta, antes de caminhar até o Hotel em busca da chave de acesso —, ela abre com um pequeno rangido e por dois segundos fico parada olhando para dentro, procurando pelo interruptor para acender as luzes.
O ambiente praiano se mistura com os móveis rústicos de madeira clara tomando conta do ambiente; até mesmo a pequena cozinha segue o padrão da sala. Entro arrastando minha mala, parando na mesa redonda de jantar vendo uma linda cesta de guloseimas posta ali com um cartão de boas-vindas.
Junto ao cartão, tem um molho de chaves, que obviamente são do chalé.
Viu? Sem nenhuma desculpa para aquele “quase surto” — digo a mim mesma.
Abro a cesta intocada, vendo que tem alguns itens da culinária local, assim como um pequeno café da manhã preparado. Caminho até a cozinha, abro os armários, a geladeira está abastecida.
Puxo minha mala em direção ao quarto, parando para sorrir igual uma boba ao ver a imensa banheira no banheiro com vista para a praia. Um verdadeiro paraíso! Deixo minha mala no canto do quarto e então meu coração salta pela boca, tateio as paredes tentando achar o interruptor de luz, com os olhos colados no vulto que se senta na cama.
Tropeço em meus próprios pés, batendo a mão com força na parede ao acender a luz.
— QUEM É VOCÊ? — pergunto aos berros.
— Eu é que pergunto! Que porra você está fazendo aqui? Quem é você? Como entrou no meu chalé? — O invasor coça os olhos tentando se acostumar com a claridade, enquanto eu permaneço colada contra a parede, com um abajur nas mãos, pronta para usá-lo como arma.
Capítulo 5
E le empurra para longe o lençol que cobria suas coxas e levanta-se, vestindo nada mais que uma cueca boxer bem agarrada nas coxas torneadas. Os cabelos, com leves toques grisalhos e extremamente atraentes, bíceps definidos, que chamam minha atenção, como se já tivéssemos nós cruzado em algum momento.
Deixando de lado por alguns segundos que as coxas torneadas, seguidas de músculos e mais músculos que dão água na boca, são de um invasor.
Seus olhos fixos nos meus, fazendo o ato de desviar meu olhar não ser uma opção, pelo menos, não ainda.
— Vai me dizer quem é você e por que está parada no meio do meu quarto segurando um abajur pronta para me atacar?
— Eu deveria fazer as mesmas perguntas, já que este chalé é meu. — afirmo empinando o queixo evitando, na realidade, deixar meu olhar ir para baixo, logo após o tanquinho definido, bem perto dos pelos que descem por seu umbigo, indo se esconder na cueca. Ao longo da parte superior de sua coxa, quase em neon, bem brilhante como uma árvore de Natal iluminada, uma protuberância muito proeminente. Aperto as pontas dos dedos contra o abajur, não caindo na tentação no meio de suas pernas, ou melhor, querendo fugir pelas beiradas.
— Isso é inaceitável! — falo, desviando os pensamentos eróticos que brilham em minha mente.
— Concordo! Como entrou aqui? — Ele retruca, cruzando os braços diante do peito.
— Pulando a janela que não foi — resmungo.
— Língua afiada a sua, mas como vemos, eu estava dormindo e foi você quem invadiu meu quarto. Aluguei este chalé para o final de ano, o que significa que você entrou no chalé errado.
Respiro fundo, exalando o ar de maneira audível. Devolvo o abajur para a cômoda e caminho até a sala, em busca da minha bolsa, retornando para o quarto com pisadas firmes.
— Aqui está, eu aluguei para o Natal — rebato, praticamente enfiando meu celular contra o rosto dele, com o e-mail de locação aberto.
Ele me encara, retira o celular da minha mão analisando as informações em silêncio.
Minha impaciência diante sua postura me faz bufar.
— Pronto, já viu? Agora você precisa procurar o seu chalé, pois este é meu.
Mas tudo que ele faz é rir, um riso baixo e grosso, deixando a fileira de dentes à mostra.
— Não estou vendo nada engraçado por aqui. Saia. Agora!
— Ah, eu estou vendo algo muito engraçado! Você caiu em um golpe!
— Que diabos você está falando? — inquiro com as mãos na cintura.
— Esse site é falso, você caiu no golpe da locação. Nem mesmo o logo dos chalés eles tiveram o trabalho de colocar no site.
— Você só pode estar falando besteira, eu não caí num golpe!
Puxo o celular analisando toda a página do e-mail, clicando no link ao final que me encaminharia diretamente para o site.
Meus olhos se arregalam quando a página dá erro, não uma, mas três vezes. — Isso é impossível! — minha voz sai um mero sussurro, sinto minha respiração prender na garganta.
— Não, isso é mais comum do que imagina, ainda mais em épocas festivas. Aposto que você recebeu o link contendo uma promoção incrível, tão incrível que nenhum site de viagem tinha algo do tipo. Não é mesmo?
Abro e fecho a boca sem saber o que falar, pois foi exatamente isso que aconteceu.
— Ninguém nunca te ensinou a averiguar antes de fechar um negócio?
Ele joga-se na cama, colocando os braços atrás da cabeça com um imenso sorriso zombeteiro no rosto. — Como hoje está tarde, deixo você dormir no sofá, desde que fique longe das facas e abajures. E amanhã você tenta achar um chalé para você. Estou até sendo razoável com a pessoa que me acordou querendo me atacar. — acrescenta bocejando.
— Você só pode estar brincando com a minha cara, eu investi nesta viagem, não vou deixar este chalé! Pegue suas coisas e saia daqui!
— Quem caiu no golpe mais ultrapassado da internet foi você. Espero que não tenha pago por depósito.
— Eu parcelei — confesso.
Ele sorri, relaxando ainda mais na cama — Então é só cancelar, problema resolvido.
De fato, se ele estiver certo — e eu não estou pronta para assumir que sim —, eu caí feito uma patinha num golpe estúpido.
— Apague a luz quando sair — diz, ajeitando-se contra os travesseiros.
***
Esmurro as almofadas, com o telefone contra o ouvido. — Não estou te ligando para você rir.
— Amiga, estou rindo com todo respeito do mundo. Acredite!
— Não sei por que te liguei — resmungo.
— O que você tem que fazer é procurar a administração desses chalés e informar o que houve. — Ela diz do outro lado da linha. — E logo depois ligar na administradora de cartão e pedir o cancelamento das parcelas.
— Farei isso assim que o sol aparecer no céu.
— E quanto ao seu colega de quarto, ele é gato?
— Urgh! Um folgado, escroto.
Olho por cima do ombro, vendo a fresta de luz da sala iluminar o traseiro dele sobre a cama.
— Estou pedindo atributos físicos, amiga.
Reviro os olhos, ficando de costa para o folgado deitado a alguns metros de mim, numa cama extremamente confortável. Corrigindo, na minha cama extremamente confortável! Enquanto eu me ajeito neste sofá!
— Nem mesmo ele ter uma comissão de frente “nota dez” o salva — retruco ao socar outra vez as almofadas.
— Preciso de uma foto! — Luce comenta gargalhando.
— Eu preciso dormir e ver que isto não passou de um pesadelo e que na verdade eu estou dentro do avião a caminho das minhas férias perfeitas. E que esta história de golpe não passa de um pesadelo estranho devido a minha animação para curtir o Natal longe de tudo.
— Sinto te informar que isso só poderia ser possível se eu estivesse dormindo também.
— Vou desligar, amanhã ligo dando notícias.
— Tudo bem, vou esperar sua ligação pela manhã.
Dou uma última olhada em direção ao quarto, vendo-o se remexer na cama, jogando para longe o lençol, deixando seu corpo todo à mostra. Reviro meus olhos, ao relembrar o choque que tive com a protuberância em sua cueca.
Pelo amor de Deus, tudo isso só pode ser uma imensa piada!
Acordo com o som de panelas batendo e o cheiro de ovos e bacon, fazendo minha boca salivar.
Espreguiço-me no sofá, passando as mãos pelo rosto e espio o quarto, agora com a porta totalmente aberta, assim como as cortinas das portas de vidro que dão para a varanda de entrada.
Os chiados que vêm da cozinha tiram minha atenção do quarto para olhar cada centímetro daquele corpo bem em frente ao fogão, novamente vestindo apenas uma cueca. Será que ele não trouxe roupas na mala? Tudo bem que estamos à beira mar, mas isso por si só não é desculpa para andar só de roupa íntima.
Levanto indo até a cozinha e se de longe a cena de sua bunda envolta por uma cueca boxer estava boa, de perto chega a ser um pecado! Quase me faz repensar sobre a falta de roupas, — coloque muita ênfase no quase!
— Nunca vi uma pessoa dormir como você.
Ele se vira, despeja o conteúdo da panela em um dos pratos em sua frente.
— O que quer dizer com isso?
Ele sorri. — É sério que você não se lembra de mim? Pois, eu estava me questionando de onde poderia conhecer você. Óbvio que ontem não consegui me lembrar, não depois de ser atacado em meu próprio quarto.
— Não estou entendendo nada — afirmo ao ocupar um lugar na ilha no meio da cozinha.
Ele estende o prato em minha direção e se inclina contra a ilha, olhando-me com uma expressão que deixa minhas bochechas coradas. Cruza os braços sobre o peito despido.
— Você é a garota do bar. Achei que lembraria de nossa despedida no carro. Mundo pequeno, não?
Ele ri da minha expressão confusa e volta para a frigideira.
— Acredito que esteja me confundindo — digo, engolindo em seco.
Ele me olha, arqueando a sobrancelha. — Acho que não, geralmente não esqueço de uma mulher que me dá um belo boquete.
— Ei, mais respeito, idiota!
— De forma alguma quis desrespeitá-la. Muito pelo contrário. Achei que se lembraria de mim, mesmo que ambos tivéssemos bebido demais na noite em questão.
Cruzo os braços diante dos seios. — Você está me confundindo com outra pessoa!
Ele pega a panela no fogo e volta, dando de ombros em minha direção. — Duvido muito.
— Acredito que não poderia esperar outra coisa de você não é mesmo? É um sem educação!
— Acho que a boa aparência compensa.
Ele está tentando me irritar? Isso é óbvio.
Assisto a ele pegar uma garfada generosa da comida em seu prato, enfiando-a na boca com um sorriso quente como o inferno.
— Acho...que deveríamos...começar de novo — diz entre uma mastigada e outra.
— Bianca.
— Caio, o cara que te salvou de beijar a calçada de tão bêbada enquanto cantava...
— “ Makes me Wonder” — interrompo. — Puta que pariu!
Como eu sei que o que ele diz é verdade? Porque sempre que bebo um pouco a mais me empolgo achando que sou o próprio vocalista da “ Maroon 5”! Então, é totalmente possível a gente ter se envolvido.
Ele ri alto. — Fico feliz que a bebida ainda não tenha corroído seu cérebro.
— De todas as pessoas do mundo...
— Ah, pare! Eu adorei descobrir que tive o prazer de encontrá-la novamente. Mesmo depois de meses tentando falar com você, nunca atende o telefone? Ou responde mensagens? — Pergunta jogando um pedaço de bacon na boca.
— Não costumo atender ou responder mensagens de estranhos. — Faço uma careta. — Isso é verdadeiramente um pesadelo.
— Não coloque palavras em minha boca, apenas outras coisas.
Estreito meus olhos, odiando sua arrogância e confiança por já termos transado.
— Não fique tão confiante por que transamos uma vez, estou a ponto de chutá-lo daqui quando resolver o problema da reserva.
Ele sorri — Se você contar o episódio no carro, foram duas. E você não reclamou.
Caio se levanta, caminha em direção a geladeira e é como se tivesse um imã colado em seu traseiro e em meus olhos. É inevitável não olhar.
— Pode olhar, não há nada de errado com isso — diz sorrindo ao pegar uma garrafa de água.
Franzo a testa desviando imediatamente o olhar. — Não estou olhando.
— É, aposto que não.
Capítulo 6
O ntem de noite não tinha percebido como o Hotel era imenso. A parte onde os chalés ficam na praia não é nada se comparada ao esplendor que o resort representa. Perdi as contas de quantas piscinas e áreas de lazer passei até finalmente atravessar uma ponte e chegar à Torre do Hotel.
Mesmo não querendo admitir, fui feita de boba. Olhando todos os detalhes do hotel, nunca sairia pelo preço que paguei pelos oito dias.
— Em que posso ajudar? — questiona uma mocinha sorridente, sua voz soa tão doce que poderia me dar enjoo.
— Estou hospedada em um dos chalés, porém tem outro hóspede comigo e eu não o conheço, mas ele afirma que o quarto é dele. — minto, bom só pela parte de alegar que não o conheço. Mas esse tipo de informação ela não precisa saber.
— Qual é o seu nome?
— Bianca Mendes.
A mocinha digita rápido no teclado, olhando atentamente para a tela, volta e meia sua expressão muda, ficando entre totalmente compenetrada e confusa.
— Desculpe, mas não temos nenhuma reserva em nome de Bianca Mendes, você fechou a reserva diretamente em nosso site ou por algum canal de viagem?
— Sim, eu fechei por este canal aqui, na verdade recebi uma promoção por oito dias — digo rapidamente, pegando o celular na bolsa, abrindo o e-mail para que ela veja.
— Então, vejo que as informações do Hotel estão corretas, mas não tem nenhuma reserva em seu nome e esse não é um dos sites parceiros.
O desespero bate forte novamente com a confirmação do pesadelo que entrei.
— Moça, eu paguei por uma reserva de oito dias, fora os passeios.
Está estampado no rosto dela a pena diante do que eu lhe contei.
— Eu vou chamar o gerente, só um instante.
O que não demorou muito, logo a atendente estava de volta à recepção, sendo seguida por um moreno alto, vestindo terno de boa qualidade.
— Susana me informou sobre seu problema, posso dar uma olhada no e-mail de confirmação?
Confirmo com um gesto, entregando-lhe o celular.
— Hum, realmente esse não é um dos sites parceiros. — Ele ergue a vista do celular, devolvendo-o logo em seguida — Infelizmente você caiu em um golpe, quando entramos no site disposto no final do e-mail, informam que a página foi retirada do ar. Nos últimos meses uma porção de hotéis e resorts têm enfrentado problemas como este. Sites falsos, usando informações oficiais divulgam promoções para que os turistas caiam num golpe hoteleiro.
Engulo seco, prendendo as lágrimas nos olhos. Como sou estúpida e em que bela enrascada de Natal eu me meti!
— Só para esclarecer, o chalé trinta e dois está em nome de Caio? E eu sou a invasora?
A atendente confirma ao olhar a tela do computador.
— Pelo que notei sua falsa reserva foi feita por cartão de crédito, você terá que ligar e cancelar o mais rápido possível para que as outras parcelas não sejam debitadas.
— Quanto ficaria uma estadia de oito dias? Não precisa nem mesmo ser nos chalés. Pode ser aqui mesmo, no hotel. — Comento apontando para o grande saguão.
A atendente e o gerente trocam um olhar silencioso.
— Ficaria em torno de nove mil reais — O gerente diz.
Travo os dentes suspirando profundamente, eu não tenho esse dinheiro, e mesmo se tivesse um limite desses para parcelar novamente, precisaria esperar o cancelamento para poder fazer isso. Ou seja, eu estou numa enrascada completa.
Eu deveria ter desconfiado que estava tudo muito barato!
— Podemos ajudar em algo mais?
Dou um sorriso sem graça, antes de negar e voltar para o chalé.
Sei que Luce pode me ajudar com a questão da passagem para voltar, já que a minha está marcada para daqui a oito dias, sem direito a reembolso. Fantástico!
Refaço todo o caminho até o chalé, respirando fundo, com vontade de chorar.
Com raiva até por olhar em volta e ver que ninguém ali, além de mim, tinha sido enganado e caído num golpe ridículo. Todos parecem felizes e satisfeitos por aproveitarem as férias tão sonhadas. Eu sou a única bobona, e o pior, a confirmação disso tudo está saindo neste exato momento do mar.
A sunga molhada com aquela protuberância marcante, as gotas de água salgada escorrendo pelos músculos, o leve balançar de cabeça para afastar o cabelo do rosto. Digno de um episódio no “De férias com o Ex”, mas no meu caso, seria “Caindo de trouxa na praia alheia”.
— Olha só quem voltou! Espero que tenha resolvido o pequeno problema de invasão.
— Sim, fique à vontade em seu chalé, — “poderia enfiá-lo naquele lugar”, penso — Estou indo pegar minhas coisas.
Caio para perto de mim, seus olhos me analisando.
— Pelo visto caiu em um golpe mesmo.
— Sim — respondo amarga.
— Mas isso é fácil de resolver, conseguiu um quarto para ficar?
— Claro, junto com um champanhe e um desejo de boa estadia. — resmungo. — Você sabe quanto custa oito noites neste lugar?
— Imagino que seja um pouco salgado nesta época do ano.
Gargalho. — Acredito que nem todo o sal escorrendo pelo seu corpo chega aos pés.
— E o que você pretende fazer?
Minha vontade de revirar os olhos é tamanha que eu não consigo controlar.
— Arrumar as malas e voltar para São Paulo. E passar horas intermináveis em espera numa ligação para a operadora do cartão.
Caio pega a toalha jogada em uma das espreguiçadeiras e seca seu rosto e braços.
— O que a fez vir para tão longe e sozinha, justo no Natal?
Arqueio a sobrancelha. — Não estou vendo uma companhia para você por aqui.
Ele sorri. — Vim trabalhar, sou responsável pelo banquete natalino. Sua vez.
Gostoso e chef de cozinha? Assim era um pecado, atacar qualquer mulher pelo estômago é um pecado.
— Encurtando a história fui demitida do meu emprego e fugi da encenação de Natal perfeito que minha família adora fazer todos os anos e agora tenho que pedir um favor para minha amiga se quiser voltar para casa, já que minha passagem de volta com seu preço promocional não inclui alteração na data, muito menos reembolso.
Era para encurtar a história, mas acabei contando bem mais do que pretendia.
— Entendi, sua viagem foi uma fuga, você mirou na fuga perfeita e acertou numa confusão — comenta rindo.
Dou de ombros — Enfim, desculpe pela confusão.
Viro caminhando em direção ao chalé, quando Caio segura meu punho, puxando meu braço.
— Tenho uma proposta para fazer.
— Não... — digo torcendo os lábios.
— Para, nem escutou minha proposta ainda e, afinal, o que você estaria perdendo? Ou vai dizer que tem mais algum chalé para invadir? — acrescenta rindo.
— Muito engraçadinho!
Caio dá um passo, ficando mais perto.
— Dizem que esse é um dos meus pontos fortes. — Ele abre os braços com um sorriso enorme nos lábios — Serei seu próprio Papai Noel, divida o chalé comigo!
— Não é uma boa ideia.
— Por que não? Eu ficarei pouco no chalé, nos veremos apenas no café. O resto do dia estarei esquentando a barriga dos visitantes.
— Como você acabou aqui, cozinhando para outras pessoas em vez de estar com sua família? — questiono. — Trabalhar nos feriados?
— Uma das minhas paixões na vida é cozinhar, então, todo ano me candidato a preparar a ceia. — Caio fala — Essa é minha tradição.
Ele caminha de volta às espreguiçadeiras e veste um short preto por cima da sunga úmida.
— Venha, vou cozinhar algo bom para nós.
— Eu não disse que aceitei sua proposta.
Bem, na verdade eu estou bem propensa a aceitar, eu já estou aqui mesmo. Não é?
Ele esboça um sorriso sacana. — Não pense nisso agora, espere até estar saciada de tanto comer.
Eu poderia dizer não, ligar para minha amiga em busca de socorro, pegar minhas malas e dar meia volta até São Paulo. Ou podia dar umas horinhas para pensar sobre tudo.
O fato é que eu não sou de medir as consequências, quando vejo... já fiz. Mesmo que as pessoas vivam dizendo que para uma mulher de trinta anos, essa não é uma postura adequada.
Caio me conduz de volta para o chalé. Ocupando a ampla e arejada cozinha, coloca uma vasilha sobre a mesa, sua expressão compenetrada ao escolher os ingredientes é ainda mais sexy do que seus sorrisos.
Isso se eu não contar o olhar cara de pau que ele me lança, como se eu fosse um pedaço suculento de carne.
— Você vai ver que sou uma ótima pessoa para se dividir um chalé. Sou muito prendado, mas isso você já deve se lembrar.
Abri a boca sem saber o que responder.
— Venha invasora, prometo que não vai doer. E eu não mordo; bem, na verdade sim, mas você quem pediu aquela noite.
— Ei, camarada, lembro bem que você e eu não transamos!
— Tem certeza? — pergunta estreitando os olhos.
— O carro não conta. — retruco com o ego ferido.
— Ô se conta, mas se aquilo não foi uma transa para você, estou ansioso para saber o que seria!
Ele me lança uma piscadela, seguida de uma gargalhada, mergulhando na tarefa de separar os ingredientes.
***
Olho por cima do ombro, verificando se estou mesmo sozinha.
— Você precisa admitir Bia, isso é bem engraçado!
— Em tanto lugar no mundo, eu vim invadir o quarto de um ex-peguete .
Luce ri, balançando a cabeça, enquanto toma um copo de suco. — Eu aceitaria na hora a proposta e ainda incluiria um sexo animal na lista.
— Você é sem-vergonha, amiga — digo sorrindo para ela por vídeo-chamada.
— Parece que o presente de Natal veio antecipado este ano — Luce brinca fazendo gestos obscenos na câmera. — Então, o garanhão está por aí?
Dou mais uma espiada por cima do ombro. — Não, ele foi conhecer o local de trabalho.
— Não se esqueça de mandar um vídeo dele se trocando, aproveite, tire várias casquinhas !
Capítulo 7
U ma noite bastava para descobrir que dormir naquele sofá seria como se um caminhão passasse por cima das minhas costas durante a noite.
Caio realmente falou sério quando disse que mal nos veríamos, já passava das nove da noite e ele não tinha dado as caras de volta no chalé. Não que eu esteja reclamando. Pude aproveitar o mar límpido e convidativo e o sol quente durante todo o dia, aumentando meu bronzeado.
Tinha acabado de colocar meu pijama quando escuto a porta se abrir.
— Alguém finalmente aproveitou o dia — comenta assim que nos cruzamos no corredor.
— Aproveitaria mais se não tivesse uma noite tão ruim ao dormir neste sofá.
Ele morde levemente o lábio inferior ao me encarar.
— Já ofereci a cama para você?
— Sim, mas não quero dividi-la com você, por que não revezamos, você dorme no sofá durante duas noites e eu nas próximas duas. Que tal?
Caio caminha até o quarto, arrancando a camisa pela cabeça, me deixando parada na entrada, vendo seus músculos agitarem enquanto anda pelo quarto.
— Então está decidido, você dorme na sala hoje. — Anuncio, chamando sua atenção.
Ele vira-se, sorri e anda para perto de mim.
— Parece que está fugindo de mim, o que acha que vou fazer com você se dividirmos a cama?
— Nada! — respondo rápido, contrariando minha vontade de encarar seu abdômen nu, minha vontade de cravar as unhas em seus braços e...
— O único problema de dividirmos a cama seria pijamas. — Sua expressão de desagrado me traz à tona.
— Como assim?
Ele vai até uma pilha de toalhas limpas que a camareira tinha deixado pela manhã na cômoda, pega uma deixando as outras bagunçadas. E volta a olhar para mim por cima do ombro.
E no mesmo instante que abre a boca para dizer algo, sua bermuda caqui e cueca despencam no chão, me fazendo ficar petrificada na porta do quarto.
— Eu durmo pelado.
O riso dele sai leve, ele está se divertindo às minhas custas. Caio passa por mim no quarto — onde ainda estou parada encarando a jiboia que ele tem no meio das pernas me perguntando como não me lembro desse detalhe quando ficamos juntos — e vai em direção ao banheiro.
Ele estava se saindo aqueles tipos de caras que você não sabe se quer dar um soco ou quicar feito bola de basquete. Eu, com certeza, mesmo negando, sei qual opção escolheria.
Escuto o barulho do chuveiro e me atrevo a entrar no quarto, caminho até a cama sentando-me na ponta. Afinal, quem eu queria enganar? Poderia ter trinta anos, mas para mim, idade era só um conjunto de número que faz a sociedade se sentir no direito de ditar sua vida e julgar quando você não faz as escolhas padrões.
Caio era quente e já transamos antes, que mal haveria em matar minha vontade neste momento?
Seria um caso de uma noite ou sete dias? Ele é gostoso, vive dando respostas espirituosas para mim, estamos sozinhos no meio de uma praia paradisíaca em Maragogi...ainda não consegui pensar nos contras.
Não me dou conta de que o chuveiro tinha cessado, só percebo quando Caio surge se recostando na porta, observando-me, a toalha amarrada na cintura, deixando à mostra o caminho da felicidade.
— Está considerando minha proposta?
— O que mais você pode me oferecer? — devolvo.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Quer que eu te mostre?
A falta de resposta momentânea não o afeta, Caio cruza o pequeno espaço entre nós, puxa meu corpo para fora da cama, contra o dele. Ele remexe o quadril, fazendo seu pênis a meio mastro roçar em minhas pernas, aumentando minha vontade de relembrar como era ter ele em minhas mãos, boca e em meu corpo.
— Me diz, Bia — meu nome parece sair aveludado de sua boca —, o que te fez mudar de ideia?
— É como dizem, se já estou em maus lençóis, o melhor a ser feito é me enrolar nele. E pela falta de companhia e marca de uma possível aliança no seu dedo me indicam que não estarei sendo uma piranha cretina.
A gargalhada dele faz meu corpo vibrar junto ao seu.
— Sem compromissos. Agora posso saber o que posso fazer com seu corpo?
— Acho que estou pagando para ver do que é capaz. Ou será que é apenas um corpo gostoso e piadinhas de duplo sentido? — desafio.
— Eu adoro um desafio — disse segundos antes de arrancar minha blusa por cima da cabeça, a ponta dos seus dedos raspando de leve pelo meu corpo. — Aposto que quando acabar com você vai implorar por mais.
— Não aposte tão alto. — Respondo, meu pulso disparando.
Caio tinha com certeza, dois dos três atributos que me faziam ir para cama com um cara, o terceiro acho que estava prestes a descobrir.
Desço minha mão sobre seu abdômen, chegando no limite da toalha, mas não paro por aí, faço com que ela caia entre nós, deixando-o totalmente nu.
Sua mão se enrosca em meu cabelo preso, forçando minha cabeça para trás, sua boca desce com fome sobre meu colo, fincando os dentes no sutiã, forçando-o a libertar um de meus seios, só para que ele o abocanhe.
O gemido sai alto de minha boca, sua barba raspando minha pele, enquanto morde e mama meu seio com desejo e tesão. Faço certo malabarismo para me despir de meu short e calcinha, chutando-os para fora do caminho para que ele não perceba que a pobre coitada da calcinha não é daquelas que colocamos para os dias transantes . Esta com certeza é da classe de: “hoje não tem farra aqui embaixo”.
— Adoro seu lado sem-vergonha, e é muito bom saber que ele não aparece apenas quando você está de porre.
— Você não perde a chance de relembrar esse dia!
— E por que perderia? A única coisa que posso prometer é que deixo a lembrança do que faremos hoje ocupar o lugar daquela.
Não tento responder, não com ele deslizando a mão sobre minha boceta, contornando e esfregando meu clitóris. Empurro meu quadril em direção da sua mão deixando que ele aprofunde os dedos, gemendo quando ele gira o polegar e atinge aquele pontinho especial.
Caio abandona meus seios, subindo até o pescoço, chupando minha pele, me eletrizando. Meu corpo enganchado no seu enquanto seus dedos me fodem e eu o incentivo a fazer mais daquilo.
Antes que eu seja vencida por seu impulso de me jogar contra a cama, empurro seu corpo para trás, mordiscando todo o caminho até ficar de joelhos em sua frente.
Caio dá um meio passo para trás, se esticando para pegar preservativos na mesinha de cabeceira e é óbvio que ele tem várias opções ali.
— Prefere morango ou chocolate?
Faço uma careta — A última vez que fiz um boquete com uma camisinha de morango ficou parecendo que eu tinha feito preenchimento labial. Não foi legal, se você tiver com seus exames em dia...
— Tudo ok.
Jogo longe os pacotes de camisinha que ele tinha me oferecido, pegando seu pau nas mãos. Passo o polegar pela cabeça, seguido de uma lenta chupada, umedecendo meus lábios ao olhar para cima, encarando os olhos de Caio. Lambo mais uma vez, gostando do gemido que sai de sua boca. Subo e desço a mão encontrando um ritmo, ao intercalar com chupadas nas bolas e na glande.
Só o fato do pau de Caio estar depilado me dá ainda mais vontade de prová-lo. Adoro homens que pensam nas mulheres. Afinal, nenhuma mulher é obrigada a cortar grama com os dentes.
Sua mão enrosca em meu cabelo, acompanhando o vaivém de minha boca sobre seu pênis. Finco a ponta das unhas em seu traseiro firme, acelerando os movimentos, apertando meus lábios sobre sua pele ao escutar os gemidos altos que emanam no quarto.
— Se não quiser que eu goze em sua boca é melhor parar agora — adverte.
Olho para cima, sugando ainda mais, escutando-o xingar baixinho enrolando meu cabelo ainda mais em sua mão. Sinto os músculos se contraírem, fecho os olhos, pronta para receber o jato em minha garganta e nem mesmo assim desacelero, chupo deixando os tremores que irradiam pelo corpo dele cessarem para então me levantar.
Caio me puxa pela nuca, roubando um beijo, sugando minha língua e mordendo meu lábio inferior. Nossas bocas se movem em total sincronia e furiosas; eu preciso dele dentro de mim. Ele busca o preservativo outra vez, abre a embalagem, desenrolando sobre ele.
Jogando-nos na cama, seu corpo desce sobre o meu, nada fora dito e, nem precisaria, só a força do tesão com que nos olhamos já diz coisas suficientes. Suas mãos seguram com firmeza meus seios, enquanto ele encaixa seu pau em mim, como se tivéssemos feito um nó em nossos corpos. Caio penetra fundo, o fato de uma de suas pernas estar sobre meu quadril faz seu pau tocar em lugares que me fazem gemer alto.
— Adoro o modo como sua boceta me engole esfomeada — sussurra.
— Se me fizer perder os sentidos de tanto gozar, eu deixo você gozar aqui — desafio, apertando os seios fartos.
O sorriso largo que aparece na boca dele é sexy pra cacete, ele desfere um tapa em meu quadril e me penetra fundo, os dedos brincando entre meu clitóris, ora introduzindo-os em minha boceta juntos com seu pau ou ora circulando meu ânus.
Os gemidos se intensificam com o ritmo de suas estocadas, seu peitoral brilha de suor e nossas respirações são suspiros entrecortados por gemidos. Eu estou tão molhada que não precisa muito para que ele me preencha por inteiro. Minhas costas se curvam quando Caio ataca novamente meus seios com sua boca, meus dedos afundando em sua pele, deixando a certeza de marcas pela manhã.
— Não mude de posição — imploro, sentindo algo crescer e ir tomando conta de mim.
O vaivém implacável, sua boca chupando ferozmente meus seios, sendo capaz de produzir um orgasmo eletrizante, quente, derramando-me sobre seu corpo. Jogo a cabeça para trás, contra os travesseiros e suspiro ao fechar os olhos.
— Abra os olhos, a noite está apenas começando.
Capítulo 8
S into leves cócegas, as pontas dos dedos de Caio acariciam o espaço entre meus seios, descendo pelo estômago, passeando por todos os lugares que ele se familiarizou em meu corpo nestas últimas horas.
Abro lentamente os olhos, notando que o sol entra com força pela ampla janela de vidro do quarto, assim como meu estômago dá os primeiros sinais de desejo por um desjejum.
— Continua — peço descaradamente.
Escuto seu riso baixo e suas mãos afastarem o lençol de minha barriga, uma de suas mãos desce, abrindo minhas pernas enquanto a outra gruda em meu seio direito.
— Mais uma foda ou comer o banquete que eu estou preparando para nós dois? Acho que seu estômago prefere a segunda opção — acrescenta rindo ao ouvir o rugido baixo que vem da minha barriga.
— Meu estômago tem mais é que ficar quietinho neste momento — digo agarrando um punhado de seus cabelos e guiando sua cabeça para o meio de minhas pernas.
O riso silencioso reverbera em minha pele.
Sua mão alisa minha coxa, os dedos tocam os grandes lábios, afundando em minha carne, massageando meu clitóris, fazendo os gemidos saírem altos, sem vergonha alguma.
Minha pele inteira se arrepia quando me devora, meu corpo se contorce, ele ergue meu quadril em busca de mais contato, minhas pernas tencionam ao redor de sua cabeça, eu estou suspensa, assim como meus sentidos, totalmente perdida no estralar de língua que esse homem faz.
Fixo meus olhos no teto do quarto, agradecendo todo o perrengue passado, afinal, não é todo dia que você cruza com um homem lindo e gostoso como esse e com uma boquinha que sabe bem o que fazer.
Cravo minhas unhas em seus tríceps, deixando que as contrações explodam, percorrendo minha coluna no vaivém que ele produz com a língua e seus dedos.
— Uau! — Meus braços desabam, assim como minhas pernas.
Caio ergue a cabeça, limpando o canto da boca com o polegar, exibindo um sorriso convencido.
— Eu disse que seria muito bom relembrar o que fizemos no carro. — Ele fica de joelho na cama, o pau em riste, duro e ereto; ele o acaricia, descendo e subindo a mão. — Estou vendo esse olhar guloso.
— Se me der alguns minutos eu terei o maior prazer em te dar de novo. — Caçoo.
— Gosto dessa Bianca direta.
— Gosto do que faz com a boca — retruco.
— Vai gostar ainda mais do que faço com as mãos, tome um banho, vou preparar nosso almoço. — Comenta, levantando-se.
Observo-o caminhar nu para fora do quarto, em direção a sala.
— Alguma frescura para comida? — Caio se vira, para me encarar.
— Se é de comer, tô comendo — brinco mordendo o lábio inferior, fazendo-o gargalhar.
— Acho que você foi muito espertinha em invadir meu chalé no meio da noite, sabia? — Caio continua sorridente enquanto ocupa o espaço da cozinha, nu. — Vamos ver se você vai gostar de minhas outras habilidades.
Caio traz o frango para a ilha onde estou sentada, junto com alguns temperos e especiarias.
— Então, o que você fazia da vida antes de ser demitida?
Os braços fortes e grandes massageiam aquele frango, fazendo o cheiro dos temperos se espalhar pelo ambiente; ele está nu e seu pau quase me hipnotiza como um pêndulo de um relógio, balançando lentamente enquanto ele tempera o frango.
Deus é mais!
— Trabalho com publicidade.
— Ah, legal. Uma mente pensante! Mas, me conte, por que foi demitida? Foi pega fazendo travessuras em alguma mesa de trabalho?
— Que mente perturbada, não? Esperaria isso de um homem de vinte e poucos e não...
— De um quarentão? Os únicos que não pensariam nisso seriam os assexuados, gostosa.
— Gostosa? — devolvo.
O sem-vergonha gargalha.
— Vamos, me conte e experimente — diz ao trazer o dedo em direção a minha boca, fazendo chupá-lo.
Uma explosão de sabores ocorre em minha boca, me fazendo soltar um gemido baixinho.
— Está delicioso!
Caio pisca dando as costas para mim, indo para perto do fogão.
— Você sempre cozinha pelado?
Ele dá de ombros.
— Eu gosto.
— Até mesmo no seu restaurante? — brinco.
— Não tanto como gostaria, acho que poderia arranjar problemas com todos os ajudantes e garçons. — responde rindo ainda mais.
— Sério?
Caio se vira, olhando-me seriamente. — Sim, por que não? Quando estou criando minhas receitas preciso ficar à vontade.
— Bom, vou provar o que você está preparando aí e te digo o que achei.
O sorriso modo cafajeste está ativo em seu rosto, fazendo ser demais até mesmo para minha calcinha, está difícil ver um homem como Caio desfilando nu na minha frente.
Quando ele monta a mesa, servindo a comida, eu já estou mais interessada na sobremesa... nem mesmo me lembro de que o dia está lindo fora daquele chalé e muito menos que tenho praias para visitar. E Luce também perdoará meu sumiço e minhas poucas mensagens. Eu já passei pelo pão que o cão pisoteou, agora eu vou me divertir na banana boat!
O frango com especiarias estava divino. Eu tenho realmente que dar o braço a torcer e assumir que ele é prendado em muitas coisas. Caio coloca a última garfada na boca, empurrando o prato para o centro da mesa, olhando sério.
— E então...me diga? Conquistei seu paladar?
Inspiro protelando a resposta e tomo um gole do vinho branco em minha taça.
— Conquistou, estava delicioso.
Ele se levanta sorrindo, retira os pratos e antes de sair da mesa me tasca um beijo na boca, com direito a mordidinha no lábio inferior.
Caio é três coisas: um acaso bem sucedido do destino; um deus sexy como o inferno na cama e, com certeza, um chef de cozinha habilidoso.
Se estivesse em busca de algo sério — um namorado que seja, o que não estou! —, gostaria de alguém como ele. É a quantidade certa de sensualidade, enrolado no pacote, ou o pacote completo acoplado no meio das pernas.
Capítulo 9
— O que pode ser mais importante do que passar o natal com sua família, Bianca?
Reprimo a vontade de torcer os lábios.
— Trabalho, além do fato que a falta de minha presença não será um grande impacto.
— Bianca, você não liga para sua família! Isso é um absurdo! Você viu isso, Mario?
Claro que ela iria incluir meu pai na história — Não faça drama, mãe, por favor! Estou viajando a trabalho, volto daqui nove dias.
— O Natal já terá passado! — Ela grita.
Tremo minimamente o celular na mão, fazendo uma careta, vendo minha mãe nada tecnológica bater o dedo indicador na tela, sem saber que o problema é feito por mim.
— Mãe, o sinal...tá...nossa — fico estática, parada por alguns segundos enquanto ela pede pro meu pai arrumar o problema e ele retruca dizendo que não sabe o que está acontecendo. — Ligo para vocês... Natal...eu...beijo. — E assim encerro a vídeo-chamada, suspirando de alívio.
— Que feio, Papai Noel não vai trazer presente para uma menina tão mentirosa!
Congelo no lugar, enfio o celular no bolso do short.
— Há quanto tempo está aí? — Exijo, finalmente virando para encarar Caio parado na entrada do chalé vestindo apenas uma bermuda caída no quadril.
— Tempo suficiente para ver você sendo uma grande mentirosa com sua família. Por que não disse que está fugindo de tudo?
— Ah, claro, seria uma conversa bem mais simpática. — afirmo me jogando no sofá.
— Por que ainda não colocou um biquíni? Faltam poucos dias para você ir embora, então temos que aproveitar.
— Nem parece que já se passaram quatro dias.
— É o poder que meu pau exerce nas mulheres, desorientação. — O descarado pisca para mim. — Vamos coloque um biquíni e separe protetor solar e mais as bugigangas que as mulheres amam, pois hoje vou te levar para um passeio por Maragogi. Além de querer ver essa bunda branquela pegar uma cor, deve ficar sensacional douradinha.
— Pervertido! E posso saber aonde vamos?
Ele abre um sorriso enorme — Claro, gata! Consegui com um colega do hotel um barco para a gente conhecer os Galés.
Quando retorno para sala, Caio tinha ocupado o espaço vazio do sofá, deitado, com os braços atrás da cabeça, parecendo totalmente relaxado.
— Estou pronta.
Ele ergue a cabeça, sorri levemente e assente: — Eu também, me siga para nossa aventura!
Caio abre a porta, atravessando a varanda tomada de areia pelo vento da noite passada, dando a volta no chalé. O céu de um azul límpido, sem uma nuvem sequer para aliviar o calor que o sol faz. O mar no seu vaivém tranquilo, as ondas de um azul transparente quebrando de encontro a areia. Uma vista e tanto.
— Espero que tenha passado um pouco de protetor solar, aqui o sol queima de verdade. — Ele inclina a cabeça em minha direção, antes de assumir a direção do buggy.
— Conseguiu com um de seus amigos? — pergunto.
— Nem imagina o que podemos conseguir como barganha por um lugar no salão na noite de Natal.
— Eles vão é te demitir, isso sim — comento rindo.
— Pode ser que depois, mas mesmo assim, não o fariam, já é meu quarto ano fazendo o banquete para a grande festa de Natal deles.
Caio pega o acesso a uma estrada de terra, ladeada de palmeiras e gramas, o vento passa quente por nós, e o sorriso em seu rosto o faz parecer um menino toda vez que o buggy pula um buraco, fazendo a frente do carro erguer.
Maragogi é realmente incrível. Caio diminui a velocidade, a mão direita sai do volante, pousa levemente em meu joelho, tecendo um carinho naquela região, enviando arrepios por toda minha perna.
— Posso saber por que tem aversão a família?
— Não tenho aversão a minha família — protesto. — Não exatamente...
Ele me encara por cima dos óculos escuros.
— É verdade, apenas queria fazer algo diferente este ano. Todos os Natais são a mesma ladainha, nos reunimos onde eu fico a noite toda escutando minha mãe reclamar do meu estilo de vida e de como meu irmão é perfeito por ter a vida perfeita. — Torço os lábios e encaro a paisagem que passa por nós. — E depois de me ver com trinta anos e nada do que planejei para mim mesma conquistado, eu comprei a primeira oferta de viagem que vi pela internet e vim parar aqui.
— Lembre-me depois de agradecer aos golpistas!
Caio estaciona o buggy em umas das pequenas vagas disponíveis, desliga o carro e se inclina em minha direção, me olhando nos olhos e assim fica. Ele está a trinta centímetros de mim, os lábios entreabertos, muito convidativos, a mão ainda apoiada um pouco acima do meu joelho.
Já aguardo por um beijo tórrido ou que sua mão deslize até o meio de minhas pernas. Mas ele só beija a ponta do meu nariz e se afasta.
— Vamos.
Resmungo uma série de palavrões baixinho em minha mente enquanto pulo para fora do carro, seguindo a figura sorridente de Caio praia adentro.
Minha frustação pelo não beijo rapidamente se transforma em excitação genuína quando atravessamos a pequena trilha e meus pés fincam na areia fofa e morna. Nos dias que se passaram, eu tive oportunidade de explorar algumas praias de Maragogi, incluindo o Hotel, onde usei de forma descarada o sobrenome de Caio. Mas nada se compara ao visual que se distende diante de mim. Olhando para o oceano, os barcos balançando conforme a maré, de um azul tão claro, que dói a vista.
— Dizem que nada se compara ao mar da praia do Antunes.
— É muito diferente do que eu pensava, nunca viajei para nenhum litoral fora de São Paulo e hoje posso dizer que nada do que pensei chega aos pés disto e, estando aqui... — Olho em direção ao mar — É simplesmente perfeito!
Ele sorri.
— É difícil resistir a este lugar.
É difícil resistir a este sorriso, meu Deus, o que é o Caio sorrindo? Sabe aquela pessoa que te faz arreganhar os dentes só por sorrir? Pois bem, acho que a culpa de tudo é da única e pequenina covinha do lado esquerdo de sua bochecha.
— Tem algo melhor do que ficar aqui apenas admirando?
Eu concordo com a cabeça e devolvo um sorriso.
Caio estende a mão, pegando a minha e me puxando para dentro da praia, desviando dos grupos de pessoas sentados na areia, dos guarda-sóis. Paramos perto de um barco pequeno, muito diferente das lanchas luxuosas ou dos barcos imensos onde dezenas de pessoas se amontoam para entrar.
— Romildo! — Caio cumprimenta alegre.
— E aí cara, achei que não viria mais, temos que aproveitar a maré!
— Desculpe o atraso, mulheres, você sabe... — Acrescenta virando-se para mim e mandando um beijinho.
— Subam e ponham os coletes.
— Romildo, Bianca... Gata, este será nosso barqueiro até o paraíso.
— Muito prazer — digo ao ser içada para cima do barco.
— Primeira vez em Maragogi? — Romildo questiona.
— Sim, está tão evidente?
— Um pouco, mas a gente reconhece de longe os turistas, além de você estar toda vermelha. — diz rindo — É preciso reforçar o protetor de tempos em tempos. Mas vamos deixar de conversa mole e cair em alto-mar.
Romildo nos deixa sentados no fundo do barco, ocupando o lugar atrás do volante, o motor faz um rugido alto ao ser ligado e logo o barco está abandonando o lugar perto da praia, ganhando o mar.
— Vocês tinham que vir mais cedo, quando a maré está tão baixa que vocês podem fazer este passeio a pé.
— Sério? — pergunto duvidosa.
Romildo olha em nossa direção. — Mas é claro, isso daqui tudo fica praticamente sem água, e quando tem, nem bate nos joelhos! Ó homem, você não levou a moça para conhecer nenhuma das piscinas naturais?
— Ainda não. Pode acreditar, é incrível. — Caio confirma ao me olhar.
— Você já esteve aqui?
— Não posso me considerar um turista em Maragogi, após quatro anos...
Não fazia nem quinze minutos que estávamos no barco e ele foi diminuindo a velocidade.
— Aqui é repleto de barreiras de corais, por isso é obrigado ir devagar e tudo que vocês podem levar é em fotos e na memória.
Romildo joga dois óculos de mergulho na direção de Caio e para o barco perto dos outros, como se fosse um estacionamento bem em alto-mar.
— Cronometre o tempo.
Caio assente com a cabeça.
— Tenham um ótimo passeio.
Caio pula na água fazendo sinal para que me junte a ele. Os peixes ficam ao nosso redor, nem um pouco incomodados, estão muito mais para curiosos, já que chegam a raspar suas nadadeiras em minhas coxas, de tão perto que ficam.
Em algumas partes é possível andar, em outras tive que nadar junto com os peixes, pelo nível da água.
Caio me puxa pela mão, enroscando os braços em minha cintura. — Está gostando?
— Muito.
— Eu até poderia estar apreciando mais — fala fazendo uma careta de desagrado.
— Por que diz isso?
Caio suspira, sua mão segurando firme minhas costas. — Ver sua bunda tão linda nesse biquíni sendo beijada por peixes ao invés de minha boca não está ajudando. — Ele inclina em direção ao meu ouvido — Sua pele avermelhada do sol, meu corpo inteiro tá se espremendo nessa sunga por sua causa.
Ele ri, enquanto eu fico sem atitude. Caio vai de zero a mil em menos de dez segundos!
— Só não sou capaz de uma besteira, senão iríamos direto para a cadeia por deixar tanta gente com água na boca e as crianças assombradas.
— Não me lembro desse lado tão sem-vergonha.
— Opa! Tudo tem momento certo e finalmente vejo que o bom velhinho acertou no meu presente. Nada de meias ou pijamas. E já que o que eu quero agora não posso fazer, pelo menos, uns beijos eu vou roubar!
Esta última parte dita em sussurro, olhos colados nos meus, sua mão espalmada entre o final da minha coluna e minha bunda, faz o calor emanar ainda mais de minha pele.
Prendo seu lábio inferior numa mordida, puxando-o de leve para mim, meus braços ao redor de seu pescoço, as mãos cravadas em seus cabelos molhados enquanto aprofundamos o beijo com tesão. Eu o beijo com mais paixão do que jamais beijei um total estranho antes, mesmo que Caio não seja assim tão estranho, já que estamos dividindo um chalé por oito dias, regados a muito sexo e comida. E não há dúvida: isso é definitivamente uma ereção no meio de sua sunga, uma ereção grande, grossa e me deixando com água na boca pelas promessas safadas que ele tinha feito.
Quando finalmente pegamos ar e nossos olhos se fixam um no outro novamente, tenho minha certeza de que nada fará me arrepender de todos os meus movimentos impulsivos com Caio, só me arrependo de ter demorado tanto para tirar a roupa.
— Não sei o que faz, mas que boca gostosa! — exclama sorrindo.
Capítulo 10
— M ulher do céu, tu mirou no desastre e acabou quicando no colo de um anjo? — Luce diz ao gargalhar do outro lado da linha.
Aperto o viva-voz jogando o telefone contra o travesseiro, para passar uma regata pela cabeça. — Ele está entre o desastre e o anjo, ou pelo menos, o que faz com meu corpo pode ser julgado assim.
— E oito dias bastarão para desfrutar de tudo isso?
Tiro do viva-voz, pressionando o telefone contra o ouvido, solto um suspiro longo e me sento na cama.
— É o que tenho.
— Hum, parece que o tal invasor de quarto invadiu mais que suas calcinhas...
— Apenas tesão, além do mais, combinamos que seria apenas sexo casual natalino.
Luce ri.
— Adoro peru bem passado!
— Tarada!
— Conseguiu resolver o problema do cartão? — Luce questiona.
— Não — bufo — Cansei de passar meus dias em intermináveis ligações esperando uma posição, a última informação é que eles estão averiguando o caso.
— Mas não deve ser assim tão ruim, né? Já que o golpe está sendo bem aproveitado afinal. — Minha amiga gargalha na linha.
Olho para a entrada do quarto e a voz de Luce se perde com a imagem de Caio soltando os botões da camisa social, seu abdômen esculpido me encarando, meus olhos se movem lentamente, acompanhando seu gesto de passar a mão no cabelo sedoso, retirando-o do rosto. Com os olhos fixos em meu rosto e o sorriso em sua boca; Caio abre o cinto, desabotoando e puxando sua bermuda para baixo, e na medida em que o tecido avança em direção ao chão, sua protuberância fica exposta.
— Amiga, ainda está aí? O sinal está péssimo aqui no interior . — Luce retruca meu silêncio — Bosta, deve ter caído a ligação!
Tiro o telefone do ouvido, encerrando a chamada com um pedido de desculpas na mente, não é tão difícil desligar na cara da minha melhor amiga, especialmente com Caio de pé, nu na minha frente, caminhando em minha direção.
— Já jantou? Posso preparar algo para você — pergunta baixinho.
— Confesso que estou com fome, mas não é de comida.
Deixo meus olhos colados em seu pênis, ele caminha até mim, parando a poucos centímetros com as mãos apoiadas na cintura. Sua boca se curvando em um sorriso malicioso.
Caio curva o seu corpo contra o meu, suas mãos apoiam minhas costas até que estivéssemos deitados atravessados na cama. Sua ereção dura entre minhas pernas, aproveito o fato de estar vestindo apenas calcinha e camiseta para abraçá-lo com minhas coxas, deixando seu pênis se esfregar exatamente onde eu estava sedenta.
Tem algo diferente no toque de Caio, tem sim, um pouco da urgência em suas mãos ao me tocar e por sua respiração ofegar contra meu rosto. A voracidade do beijo e das mordidas em meu pescoço vão diminuindo gradativamente, mesmo que sua boca ainda invista contra a minha.
Minhas roupas são arrancadas lentamente, Caio se afasta apenas para descer minha calcinha por minhas coxas, logo ocupando seu espaço novamente. Gemo quando sinto a glande pressionar a entrada de minha boceta. Caio segura firme seu pau, masturbando-o algumas vezes e em outras raspando todo seu comprimento em minha intimidade, arrepiando cada mínima célula de meu corpo, me fazendo clamar por seu nome num sussurro.
Caio se curva para trás, procurando algo perto da cômoda.
— Acredito que sofrerei por dependência daqui a alguns dias — diz ao voltar para sua posição, deslizando um preservativo sobre seu pênis. — Tudo por causa dessa deliciosa.
Ele abre mais minhas pernas, deslizando os dedos por minha boceta. — Posso?
Não digo nada, puxo seu pescoço, trazendo sua boca até a minha, beijando e gemendo ao sentir suas mãos acariciarem minhas coxas e seu pau me preencher por completo.
***
Algo me cutuca, meu ombro treme e escuto alguém bem longe chamar pelo meu nome.
— Vamos, acorde!
— Uns quinze minutos a mais...
A risada quente, faz cócegas em meu pescoço.
— Abra os olhos, preguiçosa!
Respiro fundo, abrindo lentamente como Caio manda. Ainda estou mole pela noite anterior, os músculos de minha virilha reclamam ao menor movimento que faço para me sentar. Olho para ele ajoelhado ao meu lado na cama, a bermuda caqui aberta, como se ele ainda não tivesse terminado de se vestir.
— Que horas são?
— Ainda está cedo, infelizmente hoje voltarei tarde, por isso te acordei, não queria sair sem avisar. Aproveite a cidade, deixei um telefone pregado na geladeira, é de um amigo que me deve uns favores, ligue para ele. É o melhor guia turístico daqui.
— Outro homem comprado por um pedaço de peru? — caçoo.
— Mas não é qualquer peru! — diz apanhando-me pela cintura, me deitando na cama novamente.
— Acho que um dia todo na praia me fará bem, quero aproveitar o máximo deste paraíso.
— Não queime demais minha bunda, não quero você ardida.
Arqueio a sobrancelha.
— Estou pensando em nossa diversão — comenta rindo.
Sorrindo, sento-me na cama olhando a bandeja em nossos pés.
— Café na cama?
— Tudo é barganha, gata.
— Então estou em débito com você?
Ele gargalha, enfiando na boca um pedaço da laranja cortada.
— Vamos dizer que estou deixando tudo favorável para quando for comer você bem ali. — Fala ao apontar para a praia.
— Vou ficar esperando, ansiosa.
Depois de vários amassos e Caio pular da cama com o pau duro, reclamando que sou uma tentação, escuto a porta do chalé bater e ficar novamente sozinha.
Mais três dias e estarei me despedindo deste lugar, mesmo eu e Caio não termos firmado nenhum acordo, ambos sabemos que tudo que vivemos e o quanto nos envolvemos nestes dias será deixado sobre as areias de Maragogi.
Deixo esses pensamentos de lado e salto da cama após terminar o café da manhã preparado por Caio; visto um dos infinitos conjuntos de biquínis que trouxe na mala, pego uma canga, protetor solar, garrafa de água e mais outros utensílios que enchem rapidamente minha bolsa e vou para a praia.
Gosto de passar um tempo sozinha e foi bom curtir a tarde inteira na praia. O sol não estava para brincadeira, não teve um só dia em que ele tenha dado uma trégua e, mesmo acostumada com os dias quentes de São Paulo, nada consegue se comparar ao calor que faz por aqui. Tanto que por diversas vezes fui me refugiar no mar, passando bons minutos mergulhando nas águas cristalinas.
Aceitei o conselho de Caio sobre seu amigo de favores e liguei pouco depois do fim de tarde, pedi que me levasse em algum restaurante no centro. E, nossa, comi tantos frutos do mar que me senti a ponto de explodir, com certeza foi o melhor camarão na manteiga que comi na vida! E isso não facilitava os pensamentos que volta e meia iam em direção a certo chef gostoso, com músculos bem distribuídos e um porta-malas recheado.
Peguei-me ansiosa pelo retorno dele, mesmo com o aviso que voltaria tarde. Tomei um banho demorado, coloquei um vestido leve de alças finas, algo que ficasse visível meu novo bronzeado e me sentei na sala, passando o tempo zapeando pelos canais locais de TV.
— Querida, cheguei! Espero que esteja nua!
Eu me aprumo no sofá, sentindo as costas doloridas por ter passado tanto tempo deitada sobre as molas velhas vendo um seriado idiota na TV.
— Que pena — escuto o lamento assim como o barulho da porta se fechando.
— Desculpe, a decepção. Estava quase dormindo.
Caio deixa uma pequena mala preta na mesa de jantar e vem ao meu encontro. Se inclina, dando um beijo casto em minha testa, com intimidade.
— Espero que não tenha me esperado para jantar.
— Você só pensa em comida? — brinco.
— Hum, em sexo também.
— Sem-vergonha! — digo estreitando os olhos — jantei no centro.
— Aceitou minha recomendação?
— Sim, seu garoto de favores foi muito atencioso.
Caio me puxa para seus braços, encaixando-me em seu peito. Um gesto nada proposital, mas que me faz olhar de esguelha para ele por alguns segundos.
— Estou tão cansado, com a aproximação do Natal o hotel entra em colapso.
— Que tal dormirmos?
Ele se espreguiça, bocejando. — Aceito, mas antes temos uma missão.
Afasto-me para encará-lo.
— Qual missão?
— O Natal é daqui a poucos dias e como não sabia o que comprar de presente para você, decidi dar algo que sei que você não negaria de forma alguma.
— Eu...Caio, não me preparei para uma troca de presentes — digo sem jeito.
— Relaxa, gata. Espera aqui um minutinho, ok?
Confirmo com um gesto de cabeça, vendo Caio correr até a mesa, pegando sua bolsa e sumindo em direção ao quarto.
Passa alguns minutos até que ele abre a porta saindo de lá totalmente nu, com um laço pomposo amarrado no pau meio ereto, vestindo um gorro natalino na cabeça e um sorriso sacana nos lábios.
— Alguém aqui não foi uma boa menina este ano, por isso ganhará apenas uma bengalada do Papai Noel!
A crise de riso que me dá diante da cena me faz rolar no sofá, Caio não perde a pose e dança cantarolando “Jingle Bell Rock” bem desafinado.
— Que tempo iluminado, é a hora certa para agitar a noite.
Pego o celular, abrindo a câmera e filmando a cena em minha frente.
— Preciso gravar isso para a posterioridade — falo entre as gargalhadas.
Caio continua cantando e dançando pela sala, até chegar perto de mim, mandar um beijo em direção ao celular e tirá-lo de minhas mãos, me girando em seus braços, balançando o pau enlaçado enquanto canta.
— Sabe, eu pensei em colocar uns pisca-piscas, mas fiquei com medo de tomar um choque nas bolas.
— Só essa fita felpuda amarrando seu pau está maravilhoso! Com certeza, esse é um dos presentes que eu nunca negaria!
— Posso passar uma calda de chocolate nele, garanto que ficaria feliz com o agrado — retruca piscando.
Mordo o lábio inferior, considerando a oferta.
— Tudo bem, vamos lá!
Não posso deixar de rir ainda mais quando ele agarra minha cintura me jogando contra suas costas como um homem das cavernas e sai correndo em direção ao quarto.
Caio tem mais habilidades escondidas do que eu previ.
Capítulo 11
S exto dia.
Nunca seis dias passaram tão rápidos como estes. Isso me deixa até um pouco triste. O lugar é incrível, o hotel maravilhoso, mesmo que eu não tenha explorado cada centímetro como prometi que faria, estive explorando outros territórios, principalmente um de um metro e noventa, músculos bem definidos e um pau de arrasar corações. Além de passar esses seis dias me empanturrando de comida.
Mas ao acordar hoje sabendo que terei só mais dois dias, arrumar as malas e, enfim, voltar para a realidade, não me anima em nada.
Como foi fácil me acostumar com esta pequena rotina que estava vivendo! Caio trabalhava no hotel em turnos diversificados, alguns dias pela manhã outros a noite. Mas era quando estava aqui que a diversão realmente acontecia. Com certeza engordei pelo menos uns cinco quilos comendo tudo que ele inventa na cozinha!
Olho para seu rosto, apreciando-o mastigar, o sol bate em seu peito dourado e bronzeado fazendo sua pele brilhar tentadoramente. Vestido como de costume, apenas de bermuda solta no quadril e descalço.
— Adoro quando você me admira como um belo prato de comida.
— Não é difícil ficar encarando quando a pouco minutos você estava andando nu pela cozinha.
Ele se inclina, pegando outra fatia de abacaxi do prato em nossa frente.
— Não estou reclamando, de forma alguma. Poderia ficar aqui por um bom tempo.
— Realmente não quero ir para casa.
— Nunca?
— Pelo menos, não por agora — digo.
Caio me observa por alguns instantes, em silêncio.
— Vou pegar uma cerveja aceita?
— Sim.
Ele some e quando volta traz consigo um isopor com algumas latinhas geladas da bebida.
— Sabe, — puxo assunto abrindo uma das latas — nunca perguntei se é realmente trabalho que o motiva passar o Natal sozinho.
Ele ri alto.
— Acha que estou fugindo?
Dou de ombros — Não sei, eu estou. — Dou um longo gole na cerveja. — Cheguei aos trinta e nada do que havia planejado aconteceu, muito pelo contrário, fui demitida por ter uma paixonite platônica pelo meu chefe gay. Não quero os olhares de pena ou os discursos de minha mãe sobre eu estar ficando velha e solteirona. Qual o problema em ser solteira?
Caio segura o riso.
— Não vejo problema nisso.
Faço uma careta para seu sarcasmo. — Vocês homens são todos iguais!
— Ei, não me coloque no mesmo pote de biscoito! Não vejo problemas em uma mulher ser livre e desimpedida; vejo nas comprometidas, que pulam a cerca — ele diz. — Acho tentadora e extremamente sexy uma mulher independente.
— Eu esperava que depois desta viagem tudo se resolvesse, ano novo, vida nova, não é assim que todo mundo diz?
— Gata, o ano sempre será o mesmo, se você não mudar. Não quer mais sua família metendo o nariz onde não deve? Suba os muros. Quer mandar seu chefe escroto pro inferno e mostrar o mulherão que você é? Faça isso, ninguém tem poder de te segurar.
Eu vivia minha vida sem arrependimentos e nunca quis mudar algo nisso, até a realidade chutar minha bunda no momento que eu assoprei as velas. O que Caio estava dizendo era a mais pura realidade.
— E quanto a feriados, acredito que não são feitos para passarmos sozinhos, a gente precisa de uma companhia. Posso vir para os hotéis sozinho, porém tenho amigos e a equipe que se torna uma família durante esses dias. — Completa dando de ombros.
— E cá estamos nós — brinco erguendo a latinha com um brinde.
— Sou sua encomenda de Natal?
— O que te faz pensar que desejei algo assim para o bom velhinho? — inquiro erguendo a sobrancelha.
— Algo me diz que primeiro foi o efeito incrível que meu pau causa e, segundo, mas não menos importante, te conquistei pelo estômago.
— A segunda alternativa é verdade, se tivesse me apresentado seus dotes culinários naquele primeiro encontro, eu teria te ligado ou pelo menos ficado mais tentada a atender ligações de desconhecidos tarados.
— As bonitas são as mais cruéis — resmunga.
Caio levanta, estendendo a mão sobre a mesa para mim, esperando que eu a pegue.
— Venha, temos uma missão.
Sigo-o com nossos dedos entrelaçados para dentro do chalé, onde ele desvencilha sua mão da minha, caçando algo nos armários.
— O que está procurando?
— Logo você verá.
Ele abre e fecha mais alguns, vai até o quarto repetindo o mesmo processo até que volta com um saco preto na mão e um sorriso no rosto.
— Precisamos dar vida a este lugar, contando que eu serei seu anfitrião na noite de Natal, quero o cenário completo.
Ele enfia a mão dentro do saco tirando um rolo de pisca-piscas, deixando algumas bolinhas cair e rolarem em várias direções.
— Vamos montar uma árvore? —pergunto incrédula.
— Bem, isso não temos, a não ser que queira usar o bonitão — Caçoa apontando para o próprio quadril.
— Acho que já penduramos coisas demais nele. — Digo rindo.
— Então vamos nos virar com isso daqui — afirma mostrando uma bengala vermelha e verde.
— Não deixa de ser muito parecida com a sua — caçoo.
Ele encara o pequeno enfeite nas mãos, torcendo os lábios. — Isso fere meu coração.
Gargalho. Esticando o braço, pego duas bolas prateadas de dentro do saco preto, olhando em volta para onde poderia pendurá-las.
— Que tal ali? — ele aponta para pequenos pregos na parede oposta.
Faço como ele indica, penduro as bolinhas nos ganchos, enquanto ele se joga no pequeno sofá tentando tirar os nós nos fios de luzes.
Vou até ele, sentando-me ao seu lado.
— Deixe-me ajudar com isso.
— Você poderia ajudar com outra coisa também — a voz num sussurro baixo no pé do meu ouvido.
Engulo um gemido e contenho o arrepio em minha pele.
Os dedos livres sobem por minha coluna, enganchando na raiz do meu cabelo solto. O chupão que ele dá em meu ombro eletriza minha pele, me atrapalhando no desenrolar dos pisca-piscas.
— Fazer sexo sem parar, até que desmaiemos aqui no sofá?
— Fica impossível negar, quando é falado com tanto jeito — falo rindo.
Ele segura com mais firmeza meus cabelos, curvando meu pescoço para trás, dando acesso livre por todo meu pescoço e colo dos seios.
— Achei que gostava da minha sinceridade — afirma, empurrando o tecido de minha blusa para baixo, liberando meu seio. — Ainda mais quando deixa tudo tão fácil para mim — acrescenta antes de abocanhar meu mamilo, mordendo e mamando com vontade.
— Você pode o que quiser — murmuro.
Ele mama mais forte, olhando para cima, tentando ver meu rosto. Jogo o bolo de luzes que ainda estão em meu colo para o lado, para infiltrar meus dedos em seu cabelo, ficando quase de frente para ele; puxo seu rosto para o meu, atracando nossas bocas, nossos lábios se movendo de forma sensual e intensa.
Seis dias e descobri que bocas como a de Caio não são dadas a qualquer humano. Quando sua boca escorrega pelo meu corpo, abocanhando minha intimidade eu tenho certeza que qualquer terminação nervosa do meu corpo, para de funcionar. Ele aperta meu quadril, fincando a mão em minha bunda, mantendo o movimento contra seu rosto.
Minhas costas se projetam, impulsos me percorrem até o dedão do pé.
— Chega, quero você!
Caio ergue o rosto no meio de minhas pernas, lambendo os lábios com meus fluidos.
— Seu desejo é uma ordem.
Acariciando-me ele vai lentamente se enterrando em mim e cada vez que eu me mexo para pressionar o quadril contra o seu, ele me trava. Para os avanços e volta a chupar meus seios. Só quando me controlo para ficar o mais imóvel possível é que se enterra fundo em mim, batendo suas bolas em minha bunda.
— Ohh...
Ele puxa meu corpo para o seu, fazendo-me cavalgar em seu pau, engolindo todos os meus gemidos com sua boca, a mão apertando e dando tapas deliciosos em minha bunda toda vez que eu engulo seu pau por completo ou quando eu rebolo.
— Rebola e goza, até perder os sentidos!
Faço como ele manda, mesmo que meus joelhos reclamem, cavalgo-o com força, sentindo-me completamente preenchida, as contrações crescendo em meu ventre esperando pela libertação. Sua mão esquerda livre agarrando meus cabelos na nuca, o corpo de Caio treme, mas eu sei que ele está segurando o próprio alívio, esperando que o orgasmo me atinja.
E eles não tardam a vir, sinto meu corpo apertando seu pênis dentro de mim, Caio geme alto, jogando a cabeça para trás, repetindo baixinho o quanto que eu sou gostosa e como ele está perdido depois destes dias.
Ele me dá um beijo lento na boca, antes que eu saia do seu colo.
— Linda, temos um chalé para decorar.
Viro olhando para ele — Achei que tinha sido um pretexto para sexo.
Ele solta uma gargalhada.
— Poderia passar o dia fazendo sexo com você, mas estou falando sério. Natal é daqui um dia e temos um chalé para decorar. Você fica com os pisca-piscas e eu com as bolinhas, se for uma boa menina te fodo de quatro na banheira enquanto vemos o pôr do sol.
— Acho que eu deveria me encarregar das bolas — digo maliciosamente.
— Garota perversa!
***
Panetone recheado, rabanada, salada de frutas com calda de chocolate...foi nesse mar de aromas deliciosos que eu sentei na mesa decorada com uma toalha vermelha no dia seguinte, Caio utilizando seu gorro de Papai Noel — mas sem o laço embalando seu pênis —. Ele tinha preparado um banquete particular para nós dois.
— Tem tanta coisa gostosa para comer, que nem sei por onde começar.
— Fiz questão de fazer um café da manhã dos campeões para você, tem certeza de que não quer vir comigo para o hotel?
Puxo uma das cadeiras, sentando-me de frente para a mesa farta.
— Sim, além do que, eu só te atrapalharia. Cozinha não é um dos meus atributos.
— Eu compenso isso por nós dois, gata.
Sua mão acaricia meu braço distraidamente.
— Prometo voltar na primeira badalada. — Caio me dá um beijo rápido na boca, pega sua mala de instrumentos e sai, me deixando sozinha com todo aquele clima natalino.
Olho para o chalé, bolas e festões que estão pendurados pelas vigas e paredes, assim como os pisca-piscas brilhando lentamente, acendendo e apagando.
Quando fiquei tão sentimental sobre passar a véspera de natal sozinha? Ah, bom, deve ter começado seis dias atrás quando entrei no chalé e tentei atingir a cabeça de Caio com um abajur.
— Já pensou que daqui a dois dias você estará fazendo as malas?
Jogo um punhado de rabanada na boca, ignorando minha amiga na videochamada.
— O que tem?
Ela cruza os braços diante do peito, olhando séria para o telefone. — Vocês dois irão se encontrar novamente? Ou vai dizer que ficará por isso mesmo?
— E pode me dizer o que você espera que eu faça?
— Sei lá, ligue para ele, tente manter o que começou aí, desse lado.
Franzo a testa. — Não estou procurando amor, nunca estive. Sim, foi ótimo estar com Caio, mas...
— Mas nada, nem tente me enganar dizendo que essa sua cara desanimada é porque está entediada!
— Impressão errada.
Luce revira os olhos. — Sim, porque você está aí, vivendo uma fantasia erótica com um cara incrível, existe muitas maneiras de entender tudo errado.
— Sexo sem sentimentos, aprendi com você.
— E eu fui eleita Mamãe Noel 2021!
— Uma semana. Não tem muito que gostar em uma semana.
Jogo o resto da rabanada na boca porque, tanto minha melhor amiga, como eu, sabemos que tudo que disse é mentira. Caio me deixou caidinha pelo seu jeito, mas continuo firme.
Foi uma aventura deliciosa...inesquecível, mas apenas isso uma aventura, não?
Não estou apaixonada, apenas... Bom, o fato é que sim, eu sentirei falta dele quando for embora, isso não é algo que eu poderia prever.
***
— Foi daqui que pediram uma ceia de Natal e um ajudante do papai Noel gostoso?
Vou até a sala e admiro Caio, o gorro de natal enfiado em sua cabeça, nas mãos uma enorme bandeja e mais algumas apoiadas sobre a mesa de jantar.
— Andou caçando?
— Olha, foi uma missão incrível, pretendo te contar todos os meus esforços de resgatar um peru.
— Sabe que me contentaria com um prato pronto, né?
Caio torce os lábios com desgosto, vai até a cozinha, tira o papel alumínio do peru, checando sabores e acrescentando temperos só para cobri-lo de novo e enfiá-lo no forno.
— Quer dizer então que está negando a oportunidade de comer minha ceia de Natal?
Rio de sua cara.
— Isso é pecado. — Caio dá a volta na bancada vindo em minha direção.
Dez passos... contei cada passada que ele deu em minha direção, até que seus braços estivessem em volta do meu corpo e minhas mãos correndo pelo seu. Caio ergue minha cabeça, angulando meu rosto e então aprofunda o contato e me beija.
Beijo sua boca, agarrando seu cabelo, aproveitando daquela língua macia que contorna a minha.
— Nunca vai ser apenas um beijo, né? Sempre terei esta vontade de ter mais e mais — Caio indaga.
— Não estou reclamando — pisco para ele, ajeitando o rabo de cavalo que foi desfeito por ele.
O forno apita, fazendo Caio olhar por cima do ombro e esboçar um sorriso.
— O peru me chama.
— Como posso ajudar?
Ele arqueia a sobrancelha.
— Ah, posso cortar uma cebola ou outra — assumo rindo.
— Está bem, venha, vou te colocar para trabalhar.
Caio separa alguns temperos, escolhe pimentões e hortaliças e algumas cebolas. Enquanto lavo minhas mãos, ele busca as outras travessas sobre a mesa, deixando-as em nossa frente; uma está cheia de batatas picadas e a outra com carne.
Ele abre espaço para que eu fique em sua frente, me cercando com seu corpo, sua boca perto de meu ouvido, suas mãos segurando as minhas e suas ordens sussurradas em meu pescoço.
— Entendeu como vamos fazer?
Pisco rapidamente, não prestei atenção em nada que ele disse.
— Desculpa — confesso —, fiquei distraída com seu amigo roçando em mim.
A gargalhada gostosa que ele dá em meu ouvido eriça os pelos de meu corpo. Caio segura a cebola e com a outra mão firma as nossas na faca, e quando faz o primeiro corte, sua boca percorre meu ombro, avançando para minha nuca.
— É só manter o ritmo, dobre os dedos para não se cortar e deslize a faca pela cebola, assim...
O filho da mãe ri na curva do meu pescoço, ele sabe o que está causando. Sua barba por fazer raspa em minha pele. — Muito bom, vou deixá-la sozinha agora.
Respiro fundo vendo o sem-vergonha contendo o riso ao voltar para a bancada e se ocupar em preparar as hortaliças.
Dividimos as tarefas, eu com as simples — e fora de perigo iminente como Caio caçoo ao dizer — e ele responsável por fazer nosso jantar acontecer. O tempo vai passando e beijos e amassos quentes são roubados no meio do trabalho.
Não tocamos no assunto que amanhã será meu último dia aqui, que logo ao amanhecer, eu estarei indo embora. Não tocamos neste assunto, ficou enterrado no meio dos aromas e sabores divinos de Caio.
Menos de duas horas depois, Caio serve a ceia, os pisca-piscas estão ligados dando um ar romântico e natalino para o chalé, assim como algumas velas no centro da mesa. Ele preparou tudo para nós, a sacada aberta deixando a brisa do mar vir lenta e fresca, assim como o barulho das ondas quebrando na areia.
— Um brinde a nós. — Caio diz erguendo sua taça de vinho; faço o mesmo encostando a minha na sua, levando à boca em seguida, sorridente.
— Preciso dizer que o peru está divino? — passo o pedaço sobre a borda da tigela, pegando um pouco mais do tempero e levando à boca.
— Elogios sempre são bem-vindos e ver você comer me dá tesão.
Ergo a sobrancelha.
— Não há nada mais sexy do que ver uma mulher devorar a comida com gosto — explica dando de ombros. — Acredito que esse é o principal motivo para eu ser um Chef hoje, adoro ver as pessoas comerem, realmente degustarem as comidas.
— Adoro comer — assumo.
— Você sabia que o ato de comer pode ser muito erótico, alimenta fantasias...
Deixo o garfo sobre o prato, olhando seriamente para Caio.
— Então me diga, senhor Chef. O que pensa quando me vê comendo?
Caio ama um desafio, isso é nítido.
Ele passa o dedo no molho das batatas e põe o dedo na boca, chupando-os com vontade, fazendo minha boca se encher de saliva.
— Primeiro eu amo comer, mas hoje isso foi totalmente ofuscado por você e eu não sabia se me dedicava à nossa ceia ou no que teria depois, porque uma coisa é certa: eu vou me afundar no meio de suas pernas e faço questão de lamber cada centímetro do seu corpo! Quero sua boca abocanhando meu pau exatamente como fez com nossa refeição, quero sentir sua língua subindo e descendo. E o mais importante, quero ver você gritar meu nome quando te pegar por trás ou quando eu mamar gostoso nesses seios fartos.
Só de ouvi-lo recitar o sexo ou o que faríamos depois me deixa úmida e sedente para pular essas comemorações. Mas Caio não é o tipo de homem que sai atropelando as coisas, por isso, não me surpreendo quando ele se levanta, inclina-se sobre mim na cadeira, sussurrando em meu ouvido que isso será depois e pede que eu o acompanhe.
Caio me puxa para fora da mesa, me levando até a praia, a areia fofa ainda está morna pelo sol escaldante que fez o dia todo, paramos perto do mar, sentando na areia encarando as ondas quebrando.
— Se eu tivesse um dia que decidir como gostaria de passar meu feriado, com certeza seria assim.
— Entendo completamente.
Seus olhos voltam-se para mim, a covinha solitária à mostra em sua bochecha, acaricio seu rosto e é assim, com a brisa do mar nos embalando e as ondas quebrando em nossa frente que nos beijamos, nossos corpos enroscados num abraço apertado e a sutil lembrança que isso logo acabaria no meio.
Sua boca só me abandona por um pequeno instante, quando o barulho de sinos ao longe tocam doze badaladas. As mãos dele fazem carícias provocantes em meu corpo.
— Feliz Natal, invasora.
Beijo sua boca com ganância, com fome e desejo. — Posso pedir meu presente novamente?
Ele ri contra minha boca, nos levando dali, correndo de volta para o chalé. As roupas sendo arremessadas logo na entrada, minhas costas se chocam contra a parede e ele suga meus seios, mordendo e beijando-os. Sua bermuda fica perdida no caminho do banheiro, assim como minha lingerie.
Os amassos avançam para uma sessão de sexo no chuveiro, depois para o restante da noite na cama, tendo como gemidos e o som molhado de nossos corpos se libertando.
Capítulo 12
S étimo dia.
Sinto o calor do sol esquentar minhas costas nuas, abro os olhos devagar e suspiro. Caio ainda dorme tranquilo ao meu lado, o cabelo caindo sobre a testa e a boca formando um biquinho. Um de seus braços está jogado em cima do meu quadril, as panturrilhas enroscadas nas minhas. E por alguns minutos eu fico ali parada, pois sei que o mínimo movimento vai acordá-lo.
Só quando a vontade de ir ao banheiro se torna urgente eu escapo para fora.
— Saindo de fininho — a voz grossa e sonolenta chega até mim.
Saio do banheiro sorrindo, engatinho pela cama aceitando os braços abertos de Caio, aninhando-me em seu peito. Ele abraça minha coxa sobre seu quadril enquanto a outra mão sobe e desce pelo meu braço.
— Sentirei falta disso.
Engulo em seco, as palavras morrendo em minha garganta, por mais que eu deseje falar o quanto sentirei falta da aventura que foram esses últimos dias, do quanto seu cheiro em minha pele me deixará saudosa e até mesmo vê-lo desfilar nu pela casa enquanto cozinha.
Subo minha mão sobre seu peito, agarrando seu corpo, ficando tão perto quanto ainda posso. Fecho os olhos e apenas sinto sua mão mapear a minha pele, apalpando minha coxa.
Diferente dos outros dias que preferimos aventuras em nosso tempo livre, hoje ficamos ali, jogados na cama, nos empanturrando do resto da ceia e das guloseimas feitas por Caio. Não foi algo que pronunciamos em voz alta, apenas ficamos enroscados um no outro, enquanto o sol vai se pondo do outro lado da cabana.
***
Termino de colocar a última peça de roupa na mala com um suspiro tristonho. Caio sai do banheiro parando na porta e me olha, os cabelos molhados, a toalha ao redor da cintura. Eu guardarei esta cena na mente.
— Queria protelar esta cena.
—Também, mas é preciso retornar à realidade — digo.
— Poderia te prender aqui por mais alguns meses.
— Tentador — falo sorrindo.
Fecho o zíper da mala, colocando-a perto da porta.
— Temos que aproveitar sua última noite.
Olho para ele, agradecendo silenciosamente o sarcasmo do destino. Caminho até ele que me pega pela cintura, o puxão bruto, me prendendo em seus braços, Caio nos gira, prendendo meu corpo contra a parede, meus olhos se fecham deixando escapar um suspiro por minha boca, no mesmo instante em que ele rouba meus lábios para ele.
Sua mão segurando firmemente minha mandíbula, sua língua ganhando espaço em minha boca e seu quadril movendo-se contra o meu.
Eu estou uma completa bagunça interna referente aos meus desejos. Neste momento eu o quero tanto, que faço meu corpo latejar.
Parece que estamos em câmera lenta, perpetuando este momento até não podermos mais. Nos tornamos dois compulsivos por sexo, querendo ter esses momentos e o laço que formamos o máximo possível.
Roço o polegar em sua boca vermelha pelos nossos beijos, deixando que ela desça até seu pescoço. Sua mão desliza pela lateral de meu corpo, acariciando meus seios, um gemido escapa de mim fazendo com que ele gema comigo.
Nos olhamos em silêncio, seus olhos brilham desejo.
Sento na cama, minhas pernas ao redor de sua cintura, jogo a toalha longe o deixando nu e, quanto mais olho para ele, mais o desejo queima dentro de mim. Caio lambe meu pescoço dando uma mordida no lóbulo de minha orelha.
Ele desce as mãos por minha cintura, se infiltrando no meu short de moletom, jogando minha calcinha para o lado, acariciando minha boceta; inclino-me para trás permitindo que seu toque se aprofunde. Ele enfia dois dedos dentro de mim, girando-os lentamente me fazendo arfar.
— Caio?
Ele me olha sem interromper os movimentos.
— Não quero preliminares.
Caio retira sua mão de mim e um gemido fraco sai de meus lábios, em um instante estou nua deitada na cama e seu pênis protegido por um preservativo.
— Quero você de quatro.
Giro o corpo, empinando a bunda em sua direção. Ele percorre cada centímetro do meu corpo com a ponta dos dedos, sinto a glande encaixar em minha entrada e então a estocada firme e profunda, provoca uma pequena fisgada pelo sexo frequente. Uma de suas mãos se afunda em meu cabelo curvando meu corpo para trás o máximo possível e a outra agarra meu quadril, sinto todo meu corpo sendo tomado por Caio durante suas investidas. A mão que agarrava minha cintura, agora circula por minha barriga, descendo por meu sexo, apertando e esfregando meu clitóris.
Ele morde minha orelha gemendo baixinho, me fodendo com rapidez e força, mutilando meus nervosos pouco a pouco. — Quero vê-la gozar, muitas vezes.
Cravo as unhas no lençol e fecho os olhos, este foi o orgasmo mais rápido e foi devastador, senti cada parte de mim se quebrando.
Ficamos deitados na cama, acima das cobertas, respirando profundamente, deixando o corpo se orientar novamente e os batimentos cardíacos se acalmarem. E ficamos assim de mãos dadas, conversando sobre esta conexão maluca que nos levou até onde estamos. Até que o sol começa a lançar os primeiros raios sobre o céu.
Depois de muitas tentativas de sair da cama, sigo para o banheiro onde tomo um banho rápido e me troco por ali mesmo, seria tentação demais ficar desfilando nua na frente de Caio. Ele me emboscaria novamente com seus beijos e amassos.
Puxo a alça da bolsa olhando para ele que me aguarda na sala. — Preciso ir.
— Acho que a chave do chalé sumiu misteriosamente — disse sorrindo.
— Não me tente.
Ele se levanta. — Fala para mim: o que espera você em São Paulo?
Faço charme — Além de responsabilidades, boletos a pagar... — comento rindo.
— Mande-me todos, sou um sequestrador bonzinho, eu pago suas contas.
— Por que não disse que seria um ótimo sugar daddy ? — caçoo.
— Acho que não sou tão velho para esse cargo.
Balanço a cabeça rindo e pego minhas malas. — Obrigada por essa aventura sexual.
— O prazer foi todo meu, acredite.
Caio me acompanha em silêncio até a pequena estradinha onde marquei com o transfer de me buscar, ficamos lado a lado sorrindo quando nossos olhares se cruzam, mas com um silêncio incômodo entre nós.
O transfer aparece ao longe, levantando poeira, é hora das despedidas.
— Bia? — Caio sussurra.
Luto com a tensão em minha garganta, soltando uma resposta baixa.
— Caio...
Ele me puxa contra seu corpo, beijando minha boca, com urgência, minhas pernas ficam fracas, mas seus braços me prendem em pé, agarrada ao seu corpo. E quando vejo, a boca dele se foi.
A van aguarda ao meu lado com a porta aberta, que eu mal notei se aproximar.
— Não vou dizer adeus, somente até logo — diz segundos antes de eu entrar na van e vê-lo ficar cada vez mais distante.
Capítulo 13
R olo pela cama , buscando o celular. Já passa das cinco da tarde. A primeira coisa que fiz ao chegar de viagem foi me jogar na cama e tirar um longo cochilo, as horas roubadas na madrugada caíram sobre mim no voo. Mas por causa de duas pequenas pestinhas fazendo uma farra ao meu lado, então, não consegui descansar.
Levanto um tanto desorientada, me afasto da cama, caminho até o banheiro, jogo água em meu rosto e vou para sala e não é nenhuma surpresa ver Luce sentada totalmente à vontade no sofá.
— Boa tarde, Bela Adormecida!
O olhar curioso que minha amiga me dá, quer dizer que ela não quer enrolação de minha parte, quer a história toda com ênfase no sexo. Por isso, não perco tempo. Sento-me ao seu lado cruzando as pernas e conto tudo.
— E mesmo com tudo isso que acabou de me contar você virou as costas e deixou o pobre homem plantado numa estrada de terra e foi embora?
— Não me torne a vilã, ele foi uma aventura, não era isso que queríamos quando falamos da viagem aqui mesmo? — argumento.
— Sim, mas tem coisas que não evitamos, por exemplo, seu gato sarado.
Reviro os olhos, tocar no assunto é pior ainda, já não bastam as cenas se repetindo em minha mente?
— Foi uma semana deliciosa. Descobri que Caio é incrível e pronto, acabou.
Ela ri. — Vamos ver.
O olhar de Caio me vem a mente, o olhar persistente antes de vir em minha direção roubando um beijo. Estremeço.
Merda!
***
Os dias vão passando e com eles os últimos resquícios de Natal também, as vitrines das lojas lotadas de promoções e queimas de estoque, as pessoas ansiosas pela virada do ano planejando suas viagens ou correndo para arrumar tudo a tempo.
Luce tinha viajado para casa de seus pais novamente, e eu me vi na solidão do apartamento e com uma pilha de currículos para serem entregues.
É dia vinte e nove e eu já estou cansada de tanto atualizar a página do Linkedin em busca de uma resposta positiva. Abro meu e-mail vendo que tem uma proposta de emprego e isso me anima. Será que finalmente minha sorte está mudando? O canalha do meu ex-chefe não teve nem a capacidade de escrever uma recomendação para mim.
Abro o e-mail, correndo os olhos pelo que está escrito e é fato que um sorriso toma meu rosto.
Abaixo de uma proposta falsa de emprego, tem uma mensagem do Caio.
“Achou mesmo que poderia fugir de mim?”
Pego o celular, abrindo o aplicativo de mensagens.
“A proposta de emprego está de pé?”
Envio a mensagem rindo. Num segundo é visualizada e no outro, meu telefone está tocando.
— Oi, gostosa.
— Oi.
— Sinto falta da minha invasora. Como você está?
— Estou bem.
— Sua voz é muito sexy no telefone.
O sorriso se abre em meu rosto com sua provocação.
— Sentiu saudades de mim? — questiona abaixando o tom de voz.
Mordo o canto da boca. Por que mentir?
— Sim.
— Que ótimo, que tal embarcar em outra aventura comigo?
— Caio...
— Não quero desculpas, Bia. Quero você nua para mim. Quero você.
— Não é tão simples.
— Por que não? Estou te perguntando se aceita uma vaga de emprego, será minha assistente. Fui convidado por um hotel em Trancoso e o Chef foi bem claro, ele quer você como assistente. Que eu saiba você ainda não conseguiu o emprego dos seus sonhos, certo?
— Ainda não e eu iria mais atrapalhar do que ajudar seu Chef — comento rindo, adorando a ideia por dentro.
— Acho que ele se responsabiliza pelos riscos, afinal, ele deve gostar de você já que tem uma grande tendência a deixar o pobre homem plantado em estradas.
Gargalho.
— Então, o que me diz? Embarca nesta aventura comigo? Te garanto hospedagem, refeições e um passe livre para brincar pelo meu corpo.
— Realmente é uma proposta irrecusável.
— Bia, Bia, não me mate na unha...
Seguro o riso.
— Eu aceito.
— Vá até a sacada, então...
— Como? — questiono ficando de pé num pulo.
— Vai...
Aperto o celular entre os dedos, destravo a porta da sacada e olho para baixo. E lá está ele, encostado no carro, com o telefone na orelha olhando em minha direção.
— Isso soa muito Romeu e Julieta.
Caio ri, — Tirando a parte que ninguém vai provocar a morte de ninguém, então, arrume as malas, estou te aguardando.
— Você é maluco!
— Pode apostar. Que comece mais uma de nossas aventuras, invasora!
ALGUNS MESES ANTES
A i meu Deus!
Ai meu Deus! Sento rapidamente na cama enfiando minha cabeça debaixo do lençol, vendo meu corpo nu. Que merda! Remexo-me agitada procurando a droga do meu celular que parece ter criado asas quando eu mais preciso.
O quarto gira quando me curvo para caçar minhas coisas. A garrafa de champanhe está jogada perto da janela, vazia, um pequeno lembrete das merdas que fazemos na vida. E eu pratico muitas delas.
Enfio minha cabeça debaixo da cama me deparando com uma cueca boxer branca.
Ah, merda!
Sinal vermelho. Pegar as coisas e cair fora!
Curvo meu corpo para baixo vendo meu sutiã perdido bem no meio e a calcinha do outro lado, perto do pé de um puff. Fico literalmente com a bunda jogada ao vento tentando capturar meu sutiã e me vestir com o resto de dignidade que me resta, mas lógico que não consigo e caio com tudo no chão, produzindo aquele baque seco. Merda! Rastejo para debaixo da cama finalmente capturando meu sutiã, escuto o barulho do celular vibrando perdido em algum lugar daquele quarto desconhecido, corro pegando-o ao mesmo tempo em que tento não me dar um nó ao vestir minhas roupas íntimas.
— Onde você se meteu? Luce já estava querendo chamar a polícia. — Escuto assim que atendo a ligação.
— Gabi, pelo amor de Deus, onde eu estou? Sou eu que te pergunto isso! — Atrapalho-me com a alça do sutiã e o cabelo me fazendo parecer a menina daquele filme de exorcismo, enquanto mantenho o aparelho na orelha:
— Um pouco de aventura depois de uma semana complicada no trabalho, Bia. Diga, está enroscada naquele gostoso? — a voz de Luce soa alta do outro lado da linha, pelo visto estou no viva-voz.
— Isso não está ajudando, mal sei onde estou!
Dou uma olhada pelo quarto, pelo visto é um flat . A vista de São Paulo brilha com o reflexo do sol do lado de fora.
— Vai dizer que não se lembra de nada? — Gabi resmunga.
— Quase isso — retruco buscando o resto de minhas coisas.
— Um pouco de irresponsabilidade não mata ninguém — Luce diz rindo.
— Apenas demite!
Escuto passos vindo em direção ao quarto, pressiono a mão contra a boca abafando o telefone. — Encontro com vocês no apartamento! — digo jogando o celular em minha bolsa recém-encontrada.
— Até que enfim acordou, pensei que tivesse entrado em coma alcoólico!
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Congelo de costas para onde vem a voz, pensando em mil maneiras que poderia tornar isso menos constrangedor. Não que ele já não esteja saboreando a visão de minha bunda recém-tampada pela calcinha.
Viro apertando minha bolsa contra o corpo, como se ela pudesse tampar minha nudez. O homem, com leve toque grisalho no cabelo, me encara sorrindo, meus olhos passeiam pelo seu corpo em transe, suas mãos seguram uma bandeja imensa com café da manhã, mas o que me faz me sentir mais idiota é a forma como cobiço a bermuda larga pendendo pela cintura, e não por ser uma bermuda de pano daqueles modelos que vemos nos velhos, mas por ter uma saliência bem dotada ali e, pelo visto, livre leve e solta, pronta para brincar de pique-esconde, que me faz baixar a bolsa com um sorrisinho sinistro na boca e pedir um bis de qualquer coisa que tenha acontecido naquele quarto.
Os olhos curiosos me encaram com diversão, ele deixa a bandeja de café sobre a cama bagunçada, levando a mão ao cabelo, percorrendo os fios molhados com os dedos.
— Fiz um café para nós. Mas não precisa interromper a análise do meu corpo, estou gostando muito de ser escaneado — diz sorrindo.
Pisco, afastando a cara de idiota que deve estar estampada em meu rosto. — Desculpe-me, eu não me...
— Lembra do meu nome? — seu sorriso se abre — Caio, o prazer é todo meu.
— O cara do bar.
— O cara que salvou você de beijar a calçada enquanto cantava “ Makes me Wonder” , com uma dança bem sensual no meio da rua?
— Meu Deus! — exclamo pausadamente.
Que Diabos eu fiz a noite passada?
Caio se senta no colchão, deixando ainda mais evidente sua saliência na bermuda. — Vai dispensar meu café? Coloquei meu ingrediente especial para curar sua ressaca.
Pego a caneca de café que ele me estende, sentando na ponta do colchão à sua frente.
— Não me lembro de nada do que aconteceu depois do bar, então... — murmuro dando de ombros. — Espero que a noite tenha sido boa.
Ele gargalha, seu pomo de adão vibra com seu timbre rouco.
— Eu gosto de mulheres conscientes quando vou fazer sexo, quero que elas sintam tudo que posso lhes proporcionar. Então, fique tranquila, não transamos. — Esboço um sorriso de tranquilidade ao ouvir isso — Mas não significa que você não arrancou sua roupa e roubou vários beijos e amassos meus.
Caio abandona sua caneca na bandeja, afastando-a de nós. Chega mais perto, com seus lábios entreabertos, carnudos e bastante chamativos. Nossos corpos perto um do outro, nossos rostos bem no limite da insanidade para eu aproveitar a brecha de “bêbada louca” para agarrá-lo.
— Fico feliz que tenha sido eu a encontrá-la.
A voz grave dele incorpora um tom divertido.
Ele não está me tocando, suas mãos estão apoiadas sobre suas pernas, mas é como se eu pudesse sentir o toque de seus dedos percorrendo meus braços, esquentando minha nuca.
— Levarei você para casa, com duas condições.
— Condições? — pergunto arqueando a sobrancelha.
— Seu telefone e um beijo de despedida; não é demais, levando-se em consideração que nas últimas oito horas tive sua boca passando por meu corpo.
Caio deu uma risadinha, pegou seu celular no bolso da bermuda e me entregou.
Quantas vezes um raio pode cair no mesmo lugar? Duas, chutando muito alto? A chance de ele me ligar poderia ser de cinquenta por cento, já tinha passado meu telefone para homens piores do que ele, então por que não?
Digito salvando o contato e lhe devolvo o aparelho. Satisfeito, ele sorri e me entrega o restante de minhas roupas.
— Vou deixar a última parte para receber assim que entrarmos no carro.
Capítulo 2
DIAS ATUAIS
T RINTA, A IDADE DO SUCESSO... Grande besteira! Só se for para Jennifer Garner, naquele filme da Sessão da Tarde!
Jogo minhas pernas para fora da cama, olhando o projeto de homem estirado nela e automaticamente torço os lábios. Minha vontade é chutar sua bunda até que saia do meu apartamento me chamando de maluca. E tenho bons motivos, acredite.
Mas, também a culpa é toda minha, afinal, fui eu que disse sim às suas cantadas. Resmungo saindo da cama e de perto dele, que não se mexe um centímetro.
Quando um homem vem atrapalhando minha noitada com minhas amigas, desempenhando as melhores cantadas em meu ouvido e eu me presto a ouvi-las, espero três coisas básicas:
Primeira: um beijo de qualidade, aquele que a gente sente a calcinha molhar só de imaginar o estrago que a boca dele pode fazer lá embaixo.
Segunda: uma pegada de respeito. Ah, não adianta executar o primeiro ponto bem e na hora de dar aquela pegada que nos faz querer grudar na parede igual lagartixa se mostra na verdade uma bosta! Aquela com mão frouxa e que só pensa em ficar roçando o amiguinho na minha bunda.
E terceira: o sexo. Se o carinha passou pelos dois testes, merece que minha amiguinha lhe encare e é aí, meu caro hétero top , que você tem que encarnar o Sidney Magal e me fazer jogar a calcinha na sua cara. Antes que diga que estou sendo exigente, não mesmo, nem pense nisso. Estou sendo é boazinha com esses homens que pensam que porque têm um pênis no meio da cueca a gente tem que ajoelhar e rezar.
No caso do hétero top , deitado babando em um dos meus travesseiros foi exatamente isso que aconteceu. Ele tinha um beijo arrasador, uma pegada... que me deixa sem palavras só de lembrar, mas o sexo? Esse é do muito, mais muito, meia boca.
E o pior de tudo foi dizer que iria me deixar caminhando com as pernas abertas no dia seguinte... Coitado né, o hétero top esqueceu que da nossa coleguinha sai um bebê, então não venha falar isso para uma mulher com seu pênis de tamanho normal. Ainda mais quando você não sabe executar a tarefa e o instrumento direito.
Porque até mesmo para fazer um bom brigadeiro, o segredo é manusear bem os ingredientes dentro da panela.
E se não bastasse isso para terminar minha noite e todos os meus desejos secretos é o homem tentar rasgar a calcinha. Eu vejo a frustração deles, no máximo eles irão conseguir fazer minha calcinha acomodar eu e mais uma amiga. Sim, a ideia é excelente, seria maravilhoso vocês chegarem com tudo, a calcinha voando para o lado...o plano é excelente. E por mais que vejamos isso em filmes, na vida real é bem diferente.
Se depois de tudo isso eu não chutasse esse cara para fora da minha casa... Inspiro profundamente olhando para o sujeito babão em minha cama. Com o verdadeiro significado de lindo e ordinário.
Mas calma, as coisas vão piorar e eu vou lhe contar exatamente como eu desejei que minha vida, por um pequeno momento, deixasse de ser uma comédia atrapalhada e nada romântica para o dia em que eu realmente veria o sol deitada sobre uma espreguiçadeira com um drink nas mãos.
O fato é que eu tinha acabado de completar trinta anos, dando uma olhada bem rápida na imagem refletida no espelho do outro lado do quarto, sei que pareço igualzinha como em todos os outros dias, mas algo em mim mudou.
Talvez seja apenas minha paciência que ficou ainda mais curta ou parece que meu rosto está um pouco flácido? Meus olhos castanhos e redondos, estão um pouco enrugados nos cantos?
Acima de tudo, tenho o ar cansado. E não por ter passado a maior parte da noite bebendo com minhas amigas e dançando com caras estranhos acreditando que seria um belo caso de uma noite, mas sim porque estou realmente cansada.
Achei que estava preparada para os trinta, que já estaria com tudo resolvido e todos os planos perfeitamente traçados e todos sendo executados. Porém, é como se estivesse apenas algumas casas à frente de onde eu comecei. Meu último relacionamento durou o mesmo que a temperatura de uma água no fogo, logo evaporou. Assim como os outros tantos que vieram antes dele e isso me fez ter em mente que eu sou minha melhor companhia. Que eu posso ser um caso de “panela sem tampa”; no meu caso, sou uma frigideira.
Tá, não posso reclamar, tenho um emprego bom, um canto só meu, assim como vários boletos. Coisas de vida adulta. Mas eu achei que aos trinta anos teria chegado ao cargo que tanto almejo, desde o dia em que coloquei meus pés na agência de publicidade. Isso não aconteceu, faz cinco anos que estou encalhada na mesma vaga.
E quando paro para pensar nisso, vêm milhões de maneiras em negrito em minha mente dizendo que eu desperdicei anos de minha vida, e que se me perguntassem o que eu pretendo fazer a partir de hoje, minha reação seria sair correndo.
Aos vinte e cinco anos me fiz a pergunta de como me veria aos trinta. Naquela época, só via caminhos frutuosos e gloriosos, era o que eu esperava enquanto segurava uma caixa lotada das minhas coisas no meio do meu apartamento recém-alugado.
Lembro-me bem, eu acreditava que tudo se encaixaria perfeitamente e que as dúvidas e incertezas que via as mulheres de trinta tendo eu nunca teria. Pois bem amigos, aqui estamos nós.
A verdade é que eu não estou pronta para os trinta, com trinta a maioria das mulheres está bem resolvida. Não quero ser insegura por causa de uma idade, mas eu não estou pronta para ela. É confuso, eu ainda me sinto jovem como quando eu tinha vinte e dois, ainda quero cometer loucuras, agir de maneira irresponsável de vez em quando. E pior, não quero ter filhos agora, muitas vezes mal me lembro de reabastecer a geladeira, como uma criança dependeria de mim?
Essa é a questão, todas as responsabilidades que jogam em nossos ombros ao completar trinta anos, muitas de nós nem mesmo pedimos por isso. Um dia depois do meu aniversário, a primeira pergunta que minha querida mãe me fez foi: “quando vai criar juízo e arrumar um bom partido?”.
É uma coisa muito maluca, mas faz sentido, eu não estou pronta, mesmo que seja uma data marcante, me recuso — ao menos por enquanto —, a assumir todas as responsabilidades e coisas que nos impõem.
— Ei — chamo cutucando o babão em cima da minha cama. — Belo adormecido, vamos acordar!
NADA! Dou a volta na cama chegando perto de seu rosto, vendo se o homem ainda respira.
Sacudo seus braços fazendo-o se sobressaltar na cama de susto.
— Olha, a noite foi uma delícia — minto descaradamente. — Mas está na hora de você ir embora.
— Podemos nos ver hoje à noite, repetir tudo isso... — sugere sorrindo.
Eu tenho duas opções e uma delas é uma obrigação para nós mulheres. Os homens precisam saber que transam mal, não podemos mais, em pleno século vinte e um, ficar mentindo que tivemos orgasmos quando a transa foi bem ruim; ou, posso ser simpática, despachá-lo com a desculpa que cuidarei do meu tio doente ou o gato da vizinha.
— Olha, foi legal e tudo. Você é bom, mas sendo sincera, não vai rolar! Você babou no meu travesseiro, prometeu uma coisa que não conseguiu cumprir e você sabe como isso é frustrante para uma mulher? Você realmente achou que meu clítoris era uma campainha?
O homem em minha frente fica pasmo, assombrado por tudo que despejo em cima dele.
— Desculpe-me, sim?
— Que mulher maluca! — diz ao recolher suas coisas e sair batendo a porta com tudo atrás de si.
— Sou maluca e você precisa de um cursinho intensivo de sexo! — grito em direção a sala.
Pego um jeans preto e uma camisa social deixando sobre a cama, assim como os saltos escolhidos para hoje e vou para o banheiro. Quando saio do chuveiro, penteio o cabelo molhado para trás, num rabo de cavalo e passo uma maquiagem leve no rosto.
Eu me arrumo com calma, como se não tivesse um emprego para salvar depois do que aconteceu na sexta-feira passada... como se eu não tivesse vomitado no meu chefe logo depois de declarar uma paixão platônica!
Por que eu tinha que fazer essas burradas?
Como me meti na maior enrascada da minha vida?
Foi de repente, ele surgiu pelo elevador sorridente, o terno cinza como sempre muito bem alinhado, porém, naquele dia, ele estava sem gravata, a camisa social branquíssima aberta nos primeiros botões... Primeiros não! Eram uns quatro ou cinco mostrando aquele início delicioso de peitoral, eu pude até ver aquele “tufinho” de pelos, o deixando ainda mais másculo e erótico em meus pensamentos. Deus!
O caso é que Patrick assumiu o lugar do meu ex-chefe, um velho decrépito que ia contra a modernidade e os avanços que as empresas e marcas criaram com o toque dos dedos. Enfim, Patrick era totalmente o oposto, era antenado no que o mundo vinha pedindo, trouxe um novo ar para a empresa.
Patrick era aquele homem que se a gente parasse para pensar, ficaria bem em diversas situações. Eu imaginava seus braços fortes e produzidos em academia me segurando forte na sala de descanso para uns amassos proibidos, imaginava seu corpo nu dentro do meu chuveiro. Era daqueles homens que nem guindaste nos tiraria de cima.
Era tanta coisa que eu poderia fazer com esse homem em minha mente que eu o transformaria num Bombril.
E eu estava tão cega pela vontade de transar com meu chefe que não percebi o que estava na minha cara, precisei na sexta-feira sair com Luce para vê-lo beijando um homem. E o problema não é ele ser gay, afinal, a gente dá para quem quiser. O problema foi ver todas as minhas fantasias e cenas eróticas planejadas para minhas noites com meu consolo caírem quebradas aos meus pés, porque eu nunca mais tiraria essa cena da minha mente.
Quando ele percebeu que eu estava do outro lado da balada olhando para ele como se tivesse acabado de matar minha mãe na minha frente, veio falar comigo, eu mal me lembro o que falou, mas me lembro bem de ter vomitado em cima dele.
Todo o álcool que ingeri para dar coragem de ir me declarar, voltou com força máxima manchando sua calça jeans cara e seus sapatos mais caros ainda.
Mas é como dizem: Vemos aquilo que queremos ver.
Nunca desconfiei que os almoços que ele tinha com seu amigo eram, na verdade, encontros com seu namorado, que as flores que ele pedia para sua secretária enviar, não eram para as mulheres com quem saía, eram para seu namorado... Um namorado lindo, alto e gostoso assim como ele. Um namorado moreno e careca tão sensual que metade das meninas na empresa queriam o telefone dele. Um casal perfeitamente gostoso e gay, por quem eu vim fantasiando grande parte do ano passado e deste ano, até mesmo aceitando — sem nenhum convite oficial, apenas um feito em minha mente —, participar de um ménage louco com os dois.
Eu deveria ter inventado uma desculpa, ter ligado para meu chefe e ter dito que estava com gripe, dengue, sarampo, qualquer coisa. Até malária seria melhor do que isso. Mas não fiz.
O destino tinha mandado seu recado, eu que fui surda demais para ouvi-lo.
Paro no meio fio acenando para o Uber.
— Centro, né? — confirma o motorista.
— Por favor – digo me jogando no banco de trás.
— Ih mocinha, vamos enfrentar um belo de um trânsito – argumenta o motorista.
Bufo olhando para o celular de novo, o motorista corta algumas ruas seguindo direto para o engarrafamento, colo meu olhar na janela absorvendo os cheiros estranhos de São Paulo logo pela manhã e os motoristas irritados no trânsito, respirando fundo pela minha péssima escolha de ter saído na sexta passada com minhas amigas e enfiado meu pé na jaca.
Não pense que sou frustrada, nem um pouco, mas eu tenho a grande tendência de me envolver com os tipos errados: caras broxantes, filhinhos de mamãe, canalhas, mentirosos..., mas confesso que uma mudança cairia muito bem.
— Mocinha, chegamos. – O motorista me arranca dos devaneios.
Tiro o dinheiro da carteira, passando para ele.
Atravesso o saguão da empresa, me espremendo no elevador apinhado de pessoas.
— Você está atrasada Bianca e muito — reclama a secretária de Patrick, assim que piso na empresa.
— Sabe como é, São Paulo é um completo caos — digo com um sorrisinho cínico nos lábios, pela desculpa esfarrapada.
Ela revira os olhos. Nádia é o tipo de mulher que acorda de mal com o mundo.
— Nádia, ligue no telefone da Bianca, preciso do briefing que ela estava tomando conta .
Nádia, só torce os lábios apontando para mim.
— Desculpe o atraso, Patrick.
Ele me encara por alguns segundos e dá espaço para que eu entre em sua sala, fechando a porta atrás de si, assim que passo.
Será que foi porque eu descobri que meu chefe tesudo — por quem eu nutria uma tensão sexual — é gay que os sorrisos doces e gentis que ele geralmente me dava sumiram? Tá, estou sendo hipócrita, ele está me olhando assim por que eu vomitei pelo menos cinco copos de vodca em cima dele.
— Precisamos conversar sobre o que houve semana passada.
— Olha, Patrick, sinto muito.
— Eu admiro muito seu trabalho aqui na empresa, você é uma das melhores publicitárias, mas...
Minha cabeça deu um nó. — Espera, esse discurso...
— Sim, Bianca. Conversei com um amigo, ele tem uma ótima empresa de publicidade, seu perfil se encaixa muito bem.
— Ah, cala a boca! — explodo.
— Como é?
— Está me demitindo porque descobri que você é gay?
— Não é por que sou gay — diz — Mas descobrir que você nutre um sentimento por mim fere tudo que eu construí nesta empresa, não quero que fique...
— Desculpa, Patrick? Fique o quê? Você está me demitindo por um sentimento que não fazia nem ideia? Isso é ridículo, eu me desdobro por esta empresa! Não venha com uma merda de desculpa dessas!
Abro a porta com violência, e caminho pisando duro até minha mesa, o filho da puta já tinha juntado minhas coisas.
— Bianca, preciso que deixe seu crachá com a segurança.
Viro querendo mandá-lo para aquele canto obscuro. Retiro o crachá do bolso jogando em sua direção. Os funcionários das baias próximas observam atentos ao show.
— Sinto muito.
— Não! Você não sente porra nenhuma!
Patrick olha em nossa volta, dando um sorrisinho para meus colegas. — Bianca — adverte.
— Você é um tremendo babaca, babaca gay! Eu estou há cinco anos nesta empresa e você chuta minha bunda porque eu vomitei em cima de você e do seu namorado por descobrir que é gay. Olha! Eu quero que vá para o inferno! — explodo, minhas mãos tremem de nervoso, sinto meu corpo suar. — Você está sendo insano, foda-se que é gay!
— Bianca, por favor. Fale baixo.
Solto uma gargalhada ácida. — Fale baixo? Então o problema é esse? Achou que eu ia falar para alguém que você e seu suposto amiguinho fodiam dentro de sua sala, nas intermináveis reuniões? Como você pôde sequer pensar isso e ainda por cima vir com esse papinho para me demitir? O que vai colocar no papel? Justa causa por descobrir que você é gay?
As pessoas ao nosso redor já olhavam assombradas, cochichando umas com as outras.
Agarro a caixa em cima de minha mesa com todos os meus pertences. — Sabe de uma coisa? Essa empresa de merda nunca mereceu meu trabalho! — digo e saio batendo os pés em direção ao elevador, atropelando as duas meninas que saíam dele.
Se esse não é o pontapé que eu estava esperando para dar um rumo totalmente novo em minha vida, só falta um meteorito cair direto em minha cabeça, não é mesmo?
Capítulo 3
N a manhã seguinte, o sol me saúda através das cortinas lilás, com a promessa de um dia melhor... ou não. Olho para o relógio na mesinha de cabeceira, passa das onze horas. O calor do final de ano cai sobre a cidade com força, deixando aquela vontade imensa de arrumar uma mala, jogar algumas roupas despretensiosas dentro, pronta para viver uma aventura sem ter por que voltar.
E eu devia mesmo executar esse plano, não estou nem um pouco disposta a me sentar em frente ao computador e enviar currículos a tarde toda, muito menos ficar remoendo a canalhice que Patrick fez comigo.
Abro o notebook, apoiando-o em minhas pernas, pesquisando sobre destinos e lugares que sempre quis conhecer.
— Querida, cheguei! — Luce grita ao fechar a porta do apartamento atrás de si.
Olho por cima do ombro, vendo minha amiga deixar de lado as chaves reservas na mesa de jantar, junto com sua bolsa e celular.
— Você não devia estar trabalhando? Achei que nos veríamos de noite!
— Tirei a tarde de folga. E você também, não?
— Fui demitida — conto, bufando.
Luce se joga ao meu lado no sofá, encarando meu rosto. — Mentira, né?
— Mais pura verdade, aquele filho da puta me chutou da empresa com a desculpa de que eu ter sentimentos por ele ia contra a política imposta!
— Tá de brincadeira, o que pretende fazer agora?
Dou de ombros — Tenho uma reserva guardada. Talvez agora eu esteja precisando mesmo é de umas férias.
Ela arranca o notebook de meu colo, rolando a tela, vendo minhas pesquisas. O anúncio que piscou na tela assim que abri e digitei o que queria no Google, chama de imediato minha atenção. Se eu abusar do cartão de crédito posso ir com a consciência tranquila.
— Se jogar numa praia paradisíaca em pleno natal?
— Por que não? Seria melhor do que ir para casa dos meus pais, ficar escutando a noite toda como meu irmão é perfeito e de sua família perfeita. Enquanto minha tia Dirce me enche o saco perguntando dos namorados que não tenho e dizendo que logo estarei seca e velha como uma ameixa. Além das cobranças de minha mãe sobre netos, que se depender de mim, ela não os terá tão cedo ou nunca. E o fato de que ela sempre tem um jeito muito gentil de mostrar o quanto minha personalidade a desagrada.
Luce gargalha.
— Sem contar que depois da meia-noite, o clima de amizade e família iria ladeira abaixo e todo mundo tentaria se matar com a faca que cortou o peru. Preciso de uma mudança e se ficar isolada numa praia, enchendo o rabo de bebidas doces, longe de tudo, for a saída?
— Então, amiga, compre agora mesmo esse pacote de viagem e arrume as malas — ela comenta ao clicar no anúncio da tela.
Encorajada por Luce, olho mais uma vez o anúncio: os passeios inclusos nas praias de Maragogi e região, são perfeitos! Oito dias de sol e mar!
— Você viu que o tal chalé do pacote é de frente para a praia?
— Maravilhoso! — comento sorridente, olhando as fotos que tinham aparecido depois que reservei a passagem na outra guia. — Aqui diz que está com poucas unidades disponíveis e que você ganha desconto quando reserva as passagens.
— Cadê aquele cartãozinho de ouro? — Luce brinca.
Saco o cartão de crédito e parcelo a viagem a perder de vista, desse modo o fato de eu ter sido chutada do meu emprego não impactará em continuar pagando meu aluguel e as parcelas do cartão. Confiro todas as informações, eu embarcarei para Maragogi dia vinte e um de dezembro e volto para São Paulo no dia vinte e oito. Oito dias no mais perfeito paraíso, longe de toda a bagunça que minha vida se transformou. Esses oito dias serão suficientes para eu reabastecer minhas energias, traçar novas metas e fazer as mudanças que tanto preciso.
— Pronto, tenho uma semana para a viagem.
— E amanhã iremos nos jogar num dia de garotas e comprar alguns biquínis novos, para sua aventura praiana.
— Dia de shopping animador, em pleno final de ano? — questiono rindo.
— Sua vida seria um tédio sem mim, gata! — diz piscando. — Vamos aproveitar as liquidações.
— Tudo bem — dou-me por vencida.
***
A beleza do feriado mais amado, HO, HO, HO!
— Vai sentar no colo do bom velhinho, amiga?
Reviro os olhos para Luce, — Só falta isso na minha lista de coisas que não devo nunca fazer: correr para roubar o lugar de criancinhas e sentar no colo de um velho com barba falsa.
Luce ri — Vai que ele traz um belo presente para você!
— Tô precisando quase de um milagre. Uma mala cheia de dinheiro seria muito bom, outra coisa interessante seria o bom velhinho transportar homens em caixas de brinquedo.
— Acho que os seus pedidos estão exigindo demais do coitado. Mas será que se pedirmos com bastante desejo ele manda algum de um metro e oitenta em caixa de brinquedo? — Luce gargalha.
Dou de ombros tomando o resto do meu sorvete. — Poderia me contentar com um metro e setenta, os tempos são caóticos.
Olho uma última vez para o velhinho sorridente na ampla poltrona vermelha entregando doces e arrancando sonhos das crianças inocentes que correm em sua direção, antes de caminhar na direção contrária.
— Acho que tem alguém mudando de ideia e vai entrar na fila do bom velhinho — Luce caçoa.
— Você já reparou que ensinamos as crianças a não falar com estranhos e tomar certos cuidados, mas incentivamos a sentar no colo de um, por causa da magia do Natal? — inquiro.
Luce me encara arqueando a sobrancelha, — Amiga, tua amargura tem lógica.
— Não estou amarga com a vida, é apenas uma observação. E outra, compramos mais do que deveríamos — comento ao olhar a quantidade de sacolas em meus braços.
— Mulheres precisam de agrados e você precisava de biquínis cavados para marcar esse bundão!
Reviro os olhos. — A sua sinceridade é impagável.
— Precisa de carona até o aeroporto, amanhã?
— Não, tenho tudo sob controle.
— Vê se não deixa de anotar tudo o que precisa para se encontrar por lá. — Luce alerta.
— Fiz um pacote avulso onde contratei um transfer até o chalé, então, nada de me perder por Maragogi, pelo menos não intencionalmente. Segundo está no site, o chalé fica a cinquenta minutos do centro.
— Daqueles bem escondidinhos para altas aventuras — diz maliciosamente. — Serão grandes dias, quero ligações para me contar as novidades.
— Tem um ditado que diz: pior do que está não fica . Vou descobrir se é verdade.
— Deixa de ser pessimista, vai ser uma viagem incrível e, quando o ano virar, as coisas serão melhores!
Dou de ombros, não quero criar expectativas. Tenho grande experiência de me frustrar com falsas expectativas. Quero curtir esta viagem sozinha, para um lugar que nunca fui e passar oito dias maravilhosos por lá.
Capítulo 4
D emoro um pouco para fechar a mala devido a quantidade de coisas que enfiei dentro dela, arrasto-a pelo piso até a porta de entrada, junto com a bagagem de mão pequena que decidi levar de última hora com itens indispensáveis.
A viagem de avião foi tranquila, como escolhi viajar a noite por conta da diferença de valor, me sinto sonolenta e tudo que desejo é cair naquela cama macia que vi na foto. A van espera enquanto busco minha mala na esteira. As pessoas que entraram junto comigo estão animadas para se aventurarem, mesmo de noite, pelo que a cidade tem a oferecer.
Apoio minha cabeça contra o vidro frio do carro, ouvindo o guia explicar sobre as praias e os destinos que os turistas mais gostam. Algumas pessoas foram deixadas em uma pousada no centro, outras seguiram para pousadas na beira do mar, restava apenas um casal quando a van parou em frente a uma entradinha pequena, cercada de areia e chamou pelo meu nome.
— Esses chalés são bastante procurados por casais. — falou ao entregar minha mala.
— Viagem solo, quero esse paraíso todo para mim — digo dando uma olhada ao redor. — Desculpe parecer ignorante, mas se eu tiver algum problema, com quem eu falo? Não imaginei que seria tão isolado.
O rapaz sorri, — O hotel fica a uns dez minutos de caminhada dos chalés, mas basta ligar para a administração que você será atendida e algum funcionário virá até você.
— Ah, obrigada — respondo me sentindo uma idiota por ter perguntado.
— Espero que Maragogi lhe traga boas surpresas.
— Oito dias de tranquilidade já me bastam.
Pego minha mala, acenando quando ele me deseja uma boa estadia e retorna para dentro da van. Retiro os tênis e as meias, fincando meus pés na areia fofa e gelada, caminhando até o chalé.
Há um caminho de pequenas lanternas pela areia, isso se repete em todos os chalés. As luzes externas estão acesas, uma rede balança de maneira preguiçosa com o vento vindo do mar ao longe.
Paro em frente a porta e no meio de toda a empolgação, não prestei atenção como entraria, geralmente em hotéis fazemos o check-in onde o atendente nos entrega o cartão de acesso ou a chave, mas quando fechei o pacote, não recebi um código, chave, nada disso. Será que terei que caminhar até o Hotel? Não tirei essas dúvidas com o guia do transfer .
Meu lado paranoico ativou, fazendo minha mente já cair em várias armadilhas. Balanço a cabeça para tirar essas ideias da mente, o chalé está com as luzes acesas, óbvio que a empresa sabe de minha chegada e deixou tudo preparado. Não há motivo para paranoia, Bianca! — brigo em pensamento — Posso muito bem ir até o hotel como o rapaz da van me informou e buscar a chave .
Olho ao redor vendo que a distância entre os chalés é considerável, tornando realmente um espaço particular na praia.
Confiro o número do chalé no e-mail e na porta em minha frente, devolvo o celular para a bolsa e empurro a porta — como um teste para ver se está aberta, antes de caminhar até o Hotel em busca da chave de acesso —, ela abre com um pequeno rangido e por dois segundos fico parada olhando para dentro, procurando pelo interruptor para acender as luzes.
O ambiente praiano se mistura com os móveis rústicos de madeira clara tomando conta do ambiente; até mesmo a pequena cozinha segue o padrão da sala. Entro arrastando minha mala, parando na mesa redonda de jantar vendo uma linda cesta de guloseimas posta ali com um cartão de boas-vindas.
Junto ao cartão, tem um molho de chaves, que obviamente são do chalé.
Viu? Sem nenhuma desculpa para aquele “quase surto” — digo a mim mesma.
Abro a cesta intocada, vendo que tem alguns itens da culinária local, assim como um pequeno café da manhã preparado. Caminho até a cozinha, abro os armários, a geladeira está abastecida.
Puxo minha mala em direção ao quarto, parando para sorrir igual uma boba ao ver a imensa banheira no banheiro com vista para a praia. Um verdadeiro paraíso! Deixo minha mala no canto do quarto e então meu coração salta pela boca, tateio as paredes tentando achar o interruptor de luz, com os olhos colados no vulto que se senta na cama.
Tropeço em meus próprios pés, batendo a mão com força na parede ao acender a luz.
— QUEM É VOCÊ? — pergunto aos berros.
— Eu é que pergunto! Que porra você está fazendo aqui? Quem é você? Como entrou no meu chalé? — O invasor coça os olhos tentando se acostumar com a claridade, enquanto eu permaneço colada contra a parede, com um abajur nas mãos, pronta para usá-lo como arma.
Capítulo 5
E le empurra para longe o lençol que cobria suas coxas e levanta-se, vestindo nada mais que uma cueca boxer bem agarrada nas coxas torneadas. Os cabelos, com leves toques grisalhos e extremamente atraentes, bíceps definidos, que chamam minha atenção, como se já tivéssemos nós cruzado em algum momento.
Deixando de lado por alguns segundos que as coxas torneadas, seguidas de músculos e mais músculos que dão água na boca, são de um invasor.
Seus olhos fixos nos meus, fazendo o ato de desviar meu olhar não ser uma opção, pelo menos, não ainda.
— Vai me dizer quem é você e por que está parada no meio do meu quarto segurando um abajur pronta para me atacar?
— Eu deveria fazer as mesmas perguntas, já que este chalé é meu. — afirmo empinando o queixo evitando, na realidade, deixar meu olhar ir para baixo, logo após o tanquinho definido, bem perto dos pelos que descem por seu umbigo, indo se esconder na cueca. Ao longo da parte superior de sua coxa, quase em neon, bem brilhante como uma árvore de Natal iluminada, uma protuberância muito proeminente. Aperto as pontas dos dedos contra o abajur, não caindo na tentação no meio de suas pernas, ou melhor, querendo fugir pelas beiradas.
— Isso é inaceitável! — falo, desviando os pensamentos eróticos que brilham em minha mente.
— Concordo! Como entrou aqui? — Ele retruca, cruzando os braços diante do peito.
— Pulando a janela que não foi — resmungo.
— Língua afiada a sua, mas como vemos, eu estava dormindo e foi você quem invadiu meu quarto. Aluguei este chalé para o final de ano, o que significa que você entrou no chalé errado.
Respiro fundo, exalando o ar de maneira audível. Devolvo o abajur para a cômoda e caminho até a sala, em busca da minha bolsa, retornando para o quarto com pisadas firmes.
— Aqui está, eu aluguei para o Natal — rebato, praticamente enfiando meu celular contra o rosto dele, com o e-mail de locação aberto.
Ele me encara, retira o celular da minha mão analisando as informações em silêncio.
Minha impaciência diante sua postura me faz bufar.
— Pronto, já viu? Agora você precisa procurar o seu chalé, pois este é meu.
Mas tudo que ele faz é rir, um riso baixo e grosso, deixando a fileira de dentes à mostra.
— Não estou vendo nada engraçado por aqui. Saia. Agora!
— Ah, eu estou vendo algo muito engraçado! Você caiu em um golpe!
— Que diabos você está falando? — inquiro com as mãos na cintura.
— Esse site é falso, você caiu no golpe da locação. Nem mesmo o logo dos chalés eles tiveram o trabalho de colocar no site.
— Você só pode estar falando besteira, eu não caí num golpe!
Puxo o celular analisando toda a página do e-mail, clicando no link ao final que me encaminharia diretamente para o site.
Meus olhos se arregalam quando a página dá erro, não uma, mas três vezes. — Isso é impossível! — minha voz sai um mero sussurro, sinto minha respiração prender na garganta.
— Não, isso é mais comum do que imagina, ainda mais em épocas festivas. Aposto que você recebeu o link contendo uma promoção incrível, tão incrível que nenhum site de viagem tinha algo do tipo. Não é mesmo?
Abro e fecho a boca sem saber o que falar, pois foi exatamente isso que aconteceu.
— Ninguém nunca te ensinou a averiguar antes de fechar um negócio?
Ele joga-se na cama, colocando os braços atrás da cabeça com um imenso sorriso zombeteiro no rosto. — Como hoje está tarde, deixo você dormir no sofá, desde que fique longe das facas e abajures. E amanhã você tenta achar um chalé para você. Estou até sendo razoável com a pessoa que me acordou querendo me atacar. — acrescenta bocejando.
— Você só pode estar brincando com a minha cara, eu investi nesta viagem, não vou deixar este chalé! Pegue suas coisas e saia daqui!
— Quem caiu no golpe mais ultrapassado da internet foi você. Espero que não tenha pago por depósito.
— Eu parcelei — confesso.
Ele sorri, relaxando ainda mais na cama — Então é só cancelar, problema resolvido.
De fato, se ele estiver certo — e eu não estou pronta para assumir que sim —, eu caí feito uma patinha num golpe estúpido.
— Apague a luz quando sair — diz, ajeitando-se contra os travesseiros.
***
Esmurro as almofadas, com o telefone contra o ouvido. — Não estou te ligando para você rir.
— Amiga, estou rindo com todo respeito do mundo. Acredite!
— Não sei por que te liguei — resmungo.
— O que você tem que fazer é procurar a administração desses chalés e informar o que houve. — Ela diz do outro lado da linha. — E logo depois ligar na administradora de cartão e pedir o cancelamento das parcelas.
— Farei isso assim que o sol aparecer no céu.
— E quanto ao seu colega de quarto, ele é gato?
— Urgh! Um folgado, escroto.
Olho por cima do ombro, vendo a fresta de luz da sala iluminar o traseiro dele sobre a cama.
— Estou pedindo atributos físicos, amiga.
Reviro os olhos, ficando de costa para o folgado deitado a alguns metros de mim, numa cama extremamente confortável. Corrigindo, na minha cama extremamente confortável! Enquanto eu me ajeito neste sofá!
— Nem mesmo ele ter uma comissão de frente “nota dez” o salva — retruco ao socar outra vez as almofadas.
— Preciso de uma foto! — Luce comenta gargalhando.
— Eu preciso dormir e ver que isto não passou de um pesadelo e que na verdade eu estou dentro do avião a caminho das minhas férias perfeitas. E que esta história de golpe não passa de um pesadelo estranho devido a minha animação para curtir o Natal longe de tudo.
— Sinto te informar que isso só poderia ser possível se eu estivesse dormindo também.
— Vou desligar, amanhã ligo dando notícias.
— Tudo bem, vou esperar sua ligação pela manhã.
Dou uma última olhada em direção ao quarto, vendo-o se remexer na cama, jogando para longe o lençol, deixando seu corpo todo à mostra. Reviro meus olhos, ao relembrar o choque que tive com a protuberância em sua cueca.
Pelo amor de Deus, tudo isso só pode ser uma imensa piada!
Acordo com o som de panelas batendo e o cheiro de ovos e bacon, fazendo minha boca salivar.
Espreguiço-me no sofá, passando as mãos pelo rosto e espio o quarto, agora com a porta totalmente aberta, assim como as cortinas das portas de vidro que dão para a varanda de entrada.
Os chiados que vêm da cozinha tiram minha atenção do quarto para olhar cada centímetro daquele corpo bem em frente ao fogão, novamente vestindo apenas uma cueca. Será que ele não trouxe roupas na mala? Tudo bem que estamos à beira mar, mas isso por si só não é desculpa para andar só de roupa íntima.
Levanto indo até a cozinha e se de longe a cena de sua bunda envolta por uma cueca boxer estava boa, de perto chega a ser um pecado! Quase me faz repensar sobre a falta de roupas, — coloque muita ênfase no quase!
— Nunca vi uma pessoa dormir como você.
Ele se vira, despeja o conteúdo da panela em um dos pratos em sua frente.
— O que quer dizer com isso?
Ele sorri. — É sério que você não se lembra de mim? Pois, eu estava me questionando de onde poderia conhecer você. Óbvio que ontem não consegui me lembrar, não depois de ser atacado em meu próprio quarto.
— Não estou entendendo nada — afirmo ao ocupar um lugar na ilha no meio da cozinha.
Ele estende o prato em minha direção e se inclina contra a ilha, olhando-me com uma expressão que deixa minhas bochechas coradas. Cruza os braços sobre o peito despido.
— Você é a garota do bar. Achei que lembraria de nossa despedida no carro. Mundo pequeno, não?
Ele ri da minha expressão confusa e volta para a frigideira.
— Acredito que esteja me confundindo — digo, engolindo em seco.
Ele me olha, arqueando a sobrancelha. — Acho que não, geralmente não esqueço de uma mulher que me dá um belo boquete.
— Ei, mais respeito, idiota!
— De forma alguma quis desrespeitá-la. Muito pelo contrário. Achei que se lembraria de mim, mesmo que ambos tivéssemos bebido demais na noite em questão.
Cruzo os braços diante dos seios. — Você está me confundindo com outra pessoa!
Ele pega a panela no fogo e volta, dando de ombros em minha direção. — Duvido muito.
— Acredito que não poderia esperar outra coisa de você não é mesmo? É um sem educação!
— Acho que a boa aparência compensa.
Ele está tentando me irritar? Isso é óbvio.
Assisto a ele pegar uma garfada generosa da comida em seu prato, enfiando-a na boca com um sorriso quente como o inferno.
— Acho...que deveríamos...começar de novo — diz entre uma mastigada e outra.
— Bianca.
— Caio, o cara que te salvou de beijar a calçada de tão bêbada enquanto cantava...
— “ Makes me Wonder” — interrompo. — Puta que pariu!
Como eu sei que o que ele diz é verdade? Porque sempre que bebo um pouco a mais me empolgo achando que sou o próprio vocalista da “ Maroon 5”! Então, é totalmente possível a gente ter se envolvido.
Ele ri alto. — Fico feliz que a bebida ainda não tenha corroído seu cérebro.
— De todas as pessoas do mundo...
— Ah, pare! Eu adorei descobrir que tive o prazer de encontrá-la novamente. Mesmo depois de meses tentando falar com você, nunca atende o telefone? Ou responde mensagens? — Pergunta jogando um pedaço de bacon na boca.
— Não costumo atender ou responder mensagens de estranhos. — Faço uma careta. — Isso é verdadeiramente um pesadelo.
— Não coloque palavras em minha boca, apenas outras coisas.
Estreito meus olhos, odiando sua arrogância e confiança por já termos transado.
— Não fique tão confiante por que transamos uma vez, estou a ponto de chutá-lo daqui quando resolver o problema da reserva.
Ele sorri — Se você contar o episódio no carro, foram duas. E você não reclamou.
Caio se levanta, caminha em direção a geladeira e é como se tivesse um imã colado em seu traseiro e em meus olhos. É inevitável não olhar.
— Pode olhar, não há nada de errado com isso — diz sorrindo ao pegar uma garrafa de água.
Franzo a testa desviando imediatamente o olhar. — Não estou olhando.
— É, aposto que não.
Capítulo 6
O ntem de noite não tinha percebido como o Hotel era imenso. A parte onde os chalés ficam na praia não é nada se comparada ao esplendor que o resort representa. Perdi as contas de quantas piscinas e áreas de lazer passei até finalmente atravessar uma ponte e chegar à Torre do Hotel.
Mesmo não querendo admitir, fui feita de boba. Olhando todos os detalhes do hotel, nunca sairia pelo preço que paguei pelos oito dias.
— Em que posso ajudar? — questiona uma mocinha sorridente, sua voz soa tão doce que poderia me dar enjoo.
— Estou hospedada em um dos chalés, porém tem outro hóspede comigo e eu não o conheço, mas ele afirma que o quarto é dele. — minto, bom só pela parte de alegar que não o conheço. Mas esse tipo de informação ela não precisa saber.
— Qual é o seu nome?
— Bianca Mendes.
A mocinha digita rápido no teclado, olhando atentamente para a tela, volta e meia sua expressão muda, ficando entre totalmente compenetrada e confusa.
— Desculpe, mas não temos nenhuma reserva em nome de Bianca Mendes, você fechou a reserva diretamente em nosso site ou por algum canal de viagem?
— Sim, eu fechei por este canal aqui, na verdade recebi uma promoção por oito dias — digo rapidamente, pegando o celular na bolsa, abrindo o e-mail para que ela veja.
— Então, vejo que as informações do Hotel estão corretas, mas não tem nenhuma reserva em seu nome e esse não é um dos sites parceiros.
O desespero bate forte novamente com a confirmação do pesadelo que entrei.
— Moça, eu paguei por uma reserva de oito dias, fora os passeios.
Está estampado no rosto dela a pena diante do que eu lhe contei.
— Eu vou chamar o gerente, só um instante.
O que não demorou muito, logo a atendente estava de volta à recepção, sendo seguida por um moreno alto, vestindo terno de boa qualidade.
— Susana me informou sobre seu problema, posso dar uma olhada no e-mail de confirmação?
Confirmo com um gesto, entregando-lhe o celular.
— Hum, realmente esse não é um dos sites parceiros. — Ele ergue a vista do celular, devolvendo-o logo em seguida — Infelizmente você caiu em um golpe, quando entramos no site disposto no final do e-mail, informam que a página foi retirada do ar. Nos últimos meses uma porção de hotéis e resorts têm enfrentado problemas como este. Sites falsos, usando informações oficiais divulgam promoções para que os turistas caiam num golpe hoteleiro.
Engulo seco, prendendo as lágrimas nos olhos. Como sou estúpida e em que bela enrascada de Natal eu me meti!
— Só para esclarecer, o chalé trinta e dois está em nome de Caio? E eu sou a invasora?
A atendente confirma ao olhar a tela do computador.
— Pelo que notei sua falsa reserva foi feita por cartão de crédito, você terá que ligar e cancelar o mais rápido possível para que as outras parcelas não sejam debitadas.
— Quanto ficaria uma estadia de oito dias? Não precisa nem mesmo ser nos chalés. Pode ser aqui mesmo, no hotel. — Comento apontando para o grande saguão.
A atendente e o gerente trocam um olhar silencioso.
— Ficaria em torno de nove mil reais — O gerente diz.
Travo os dentes suspirando profundamente, eu não tenho esse dinheiro, e mesmo se tivesse um limite desses para parcelar novamente, precisaria esperar o cancelamento para poder fazer isso. Ou seja, eu estou numa enrascada completa.
Eu deveria ter desconfiado que estava tudo muito barato!
— Podemos ajudar em algo mais?
Dou um sorriso sem graça, antes de negar e voltar para o chalé.
Sei que Luce pode me ajudar com a questão da passagem para voltar, já que a minha está marcada para daqui a oito dias, sem direito a reembolso. Fantástico!
Refaço todo o caminho até o chalé, respirando fundo, com vontade de chorar.
Com raiva até por olhar em volta e ver que ninguém ali, além de mim, tinha sido enganado e caído num golpe ridículo. Todos parecem felizes e satisfeitos por aproveitarem as férias tão sonhadas. Eu sou a única bobona, e o pior, a confirmação disso tudo está saindo neste exato momento do mar.
A sunga molhada com aquela protuberância marcante, as gotas de água salgada escorrendo pelos músculos, o leve balançar de cabeça para afastar o cabelo do rosto. Digno de um episódio no “De férias com o Ex”, mas no meu caso, seria “Caindo de trouxa na praia alheia”.
— Olha só quem voltou! Espero que tenha resolvido o pequeno problema de invasão.
— Sim, fique à vontade em seu chalé, — “poderia enfiá-lo naquele lugar”, penso — Estou indo pegar minhas coisas.
Caio para perto de mim, seus olhos me analisando.
— Pelo visto caiu em um golpe mesmo.
— Sim — respondo amarga.
— Mas isso é fácil de resolver, conseguiu um quarto para ficar?
— Claro, junto com um champanhe e um desejo de boa estadia. — resmungo. — Você sabe quanto custa oito noites neste lugar?
— Imagino que seja um pouco salgado nesta época do ano.
Gargalho. — Acredito que nem todo o sal escorrendo pelo seu corpo chega aos pés.
— E o que você pretende fazer?
Minha vontade de revirar os olhos é tamanha que eu não consigo controlar.
— Arrumar as malas e voltar para São Paulo. E passar horas intermináveis em espera numa ligação para a operadora do cartão.
Caio pega a toalha jogada em uma das espreguiçadeiras e seca seu rosto e braços.
— O que a fez vir para tão longe e sozinha, justo no Natal?
Arqueio a sobrancelha. — Não estou vendo uma companhia para você por aqui.
Ele sorri. — Vim trabalhar, sou responsável pelo banquete natalino. Sua vez.
Gostoso e chef de cozinha? Assim era um pecado, atacar qualquer mulher pelo estômago é um pecado.
— Encurtando a história fui demitida do meu emprego e fugi da encenação de Natal perfeito que minha família adora fazer todos os anos e agora tenho que pedir um favor para minha amiga se quiser voltar para casa, já que minha passagem de volta com seu preço promocional não inclui alteração na data, muito menos reembolso.
Era para encurtar a história, mas acabei contando bem mais do que pretendia.
— Entendi, sua viagem foi uma fuga, você mirou na fuga perfeita e acertou numa confusão — comenta rindo.
Dou de ombros — Enfim, desculpe pela confusão.
Viro caminhando em direção ao chalé, quando Caio segura meu punho, puxando meu braço.
— Tenho uma proposta para fazer.
— Não... — digo torcendo os lábios.
— Para, nem escutou minha proposta ainda e, afinal, o que você estaria perdendo? Ou vai dizer que tem mais algum chalé para invadir? — acrescenta rindo.
— Muito engraçadinho!
Caio dá um passo, ficando mais perto.
— Dizem que esse é um dos meus pontos fortes. — Ele abre os braços com um sorriso enorme nos lábios — Serei seu próprio Papai Noel, divida o chalé comigo!
— Não é uma boa ideia.
— Por que não? Eu ficarei pouco no chalé, nos veremos apenas no café. O resto do dia estarei esquentando a barriga dos visitantes.
— Como você acabou aqui, cozinhando para outras pessoas em vez de estar com sua família? — questiono. — Trabalhar nos feriados?
— Uma das minhas paixões na vida é cozinhar, então, todo ano me candidato a preparar a ceia. — Caio fala — Essa é minha tradição.
Ele caminha de volta às espreguiçadeiras e veste um short preto por cima da sunga úmida.
— Venha, vou cozinhar algo bom para nós.
— Eu não disse que aceitei sua proposta.
Bem, na verdade eu estou bem propensa a aceitar, eu já estou aqui mesmo. Não é?
Ele esboça um sorriso sacana. — Não pense nisso agora, espere até estar saciada de tanto comer.
Eu poderia dizer não, ligar para minha amiga em busca de socorro, pegar minhas malas e dar meia volta até São Paulo. Ou podia dar umas horinhas para pensar sobre tudo.
O fato é que eu não sou de medir as consequências, quando vejo... já fiz. Mesmo que as pessoas vivam dizendo que para uma mulher de trinta anos, essa não é uma postura adequada.
Caio me conduz de volta para o chalé. Ocupando a ampla e arejada cozinha, coloca uma vasilha sobre a mesa, sua expressão compenetrada ao escolher os ingredientes é ainda mais sexy do que seus sorrisos.
Isso se eu não contar o olhar cara de pau que ele me lança, como se eu fosse um pedaço suculento de carne.
— Você vai ver que sou uma ótima pessoa para se dividir um chalé. Sou muito prendado, mas isso você já deve se lembrar.
Abri a boca sem saber o que responder.
— Venha invasora, prometo que não vai doer. E eu não mordo; bem, na verdade sim, mas você quem pediu aquela noite.
— Ei, camarada, lembro bem que você e eu não transamos!
— Tem certeza? — pergunta estreitando os olhos.
— O carro não conta. — retruco com o ego ferido.
— Ô se conta, mas se aquilo não foi uma transa para você, estou ansioso para saber o que seria!
Ele me lança uma piscadela, seguida de uma gargalhada, mergulhando na tarefa de separar os ingredientes.
***
Olho por cima do ombro, verificando se estou mesmo sozinha.
— Você precisa admitir Bia, isso é bem engraçado!
— Em tanto lugar no mundo, eu vim invadir o quarto de um ex-peguete .
Luce ri, balançando a cabeça, enquanto toma um copo de suco. — Eu aceitaria na hora a proposta e ainda incluiria um sexo animal na lista.
— Você é sem-vergonha, amiga — digo sorrindo para ela por vídeo-chamada.
— Parece que o presente de Natal veio antecipado este ano — Luce brinca fazendo gestos obscenos na câmera. — Então, o garanhão está por aí?
Dou mais uma espiada por cima do ombro. — Não, ele foi conhecer o local de trabalho.
— Não se esqueça de mandar um vídeo dele se trocando, aproveite, tire várias casquinhas !
Capítulo 7
U ma noite bastava para descobrir que dormir naquele sofá seria como se um caminhão passasse por cima das minhas costas durante a noite.
Caio realmente falou sério quando disse que mal nos veríamos, já passava das nove da noite e ele não tinha dado as caras de volta no chalé. Não que eu esteja reclamando. Pude aproveitar o mar límpido e convidativo e o sol quente durante todo o dia, aumentando meu bronzeado.
Tinha acabado de colocar meu pijama quando escuto a porta se abrir.
— Alguém finalmente aproveitou o dia — comenta assim que nos cruzamos no corredor.
— Aproveitaria mais se não tivesse uma noite tão ruim ao dormir neste sofá.
Ele morde levemente o lábio inferior ao me encarar.
— Já ofereci a cama para você?
— Sim, mas não quero dividi-la com você, por que não revezamos, você dorme no sofá durante duas noites e eu nas próximas duas. Que tal?
Caio caminha até o quarto, arrancando a camisa pela cabeça, me deixando parada na entrada, vendo seus músculos agitarem enquanto anda pelo quarto.
— Então está decidido, você dorme na sala hoje. — Anuncio, chamando sua atenção.
Ele vira-se, sorri e anda para perto de mim.
— Parece que está fugindo de mim, o que acha que vou fazer com você se dividirmos a cama?
— Nada! — respondo rápido, contrariando minha vontade de encarar seu abdômen nu, minha vontade de cravar as unhas em seus braços e...
— O único problema de dividirmos a cama seria pijamas. — Sua expressão de desagrado me traz à tona.
— Como assim?
Ele vai até uma pilha de toalhas limpas que a camareira tinha deixado pela manhã na cômoda, pega uma deixando as outras bagunçadas. E volta a olhar para mim por cima do ombro.
E no mesmo instante que abre a boca para dizer algo, sua bermuda caqui e cueca despencam no chão, me fazendo ficar petrificada na porta do quarto.
— Eu durmo pelado.
O riso dele sai leve, ele está se divertindo às minhas custas. Caio passa por mim no quarto — onde ainda estou parada encarando a jiboia que ele tem no meio das pernas me perguntando como não me lembro desse detalhe quando ficamos juntos — e vai em direção ao banheiro.
Ele estava se saindo aqueles tipos de caras que você não sabe se quer dar um soco ou quicar feito bola de basquete. Eu, com certeza, mesmo negando, sei qual opção escolheria.
Escuto o barulho do chuveiro e me atrevo a entrar no quarto, caminho até a cama sentando-me na ponta. Afinal, quem eu queria enganar? Poderia ter trinta anos, mas para mim, idade era só um conjunto de número que faz a sociedade se sentir no direito de ditar sua vida e julgar quando você não faz as escolhas padrões.
Caio era quente e já transamos antes, que mal haveria em matar minha vontade neste momento?
Seria um caso de uma noite ou sete dias? Ele é gostoso, vive dando respostas espirituosas para mim, estamos sozinhos no meio de uma praia paradisíaca em Maragogi...ainda não consegui pensar nos contras.
Não me dou conta de que o chuveiro tinha cessado, só percebo quando Caio surge se recostando na porta, observando-me, a toalha amarrada na cintura, deixando à mostra o caminho da felicidade.
— Está considerando minha proposta?
— O que mais você pode me oferecer? — devolvo.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Quer que eu te mostre?
A falta de resposta momentânea não o afeta, Caio cruza o pequeno espaço entre nós, puxa meu corpo para fora da cama, contra o dele. Ele remexe o quadril, fazendo seu pênis a meio mastro roçar em minhas pernas, aumentando minha vontade de relembrar como era ter ele em minhas mãos, boca e em meu corpo.
— Me diz, Bia — meu nome parece sair aveludado de sua boca —, o que te fez mudar de ideia?
— É como dizem, se já estou em maus lençóis, o melhor a ser feito é me enrolar nele. E pela falta de companhia e marca de uma possível aliança no seu dedo me indicam que não estarei sendo uma piranha cretina.
A gargalhada dele faz meu corpo vibrar junto ao seu.
— Sem compromissos. Agora posso saber o que posso fazer com seu corpo?
— Acho que estou pagando para ver do que é capaz. Ou será que é apenas um corpo gostoso e piadinhas de duplo sentido? — desafio.
— Eu adoro um desafio — disse segundos antes de arrancar minha blusa por cima da cabeça, a ponta dos seus dedos raspando de leve pelo meu corpo. — Aposto que quando acabar com você vai implorar por mais.
— Não aposte tão alto. — Respondo, meu pulso disparando.
Caio tinha com certeza, dois dos três atributos que me faziam ir para cama com um cara, o terceiro acho que estava prestes a descobrir.
Desço minha mão sobre seu abdômen, chegando no limite da toalha, mas não paro por aí, faço com que ela caia entre nós, deixando-o totalmente nu.
Sua mão se enrosca em meu cabelo preso, forçando minha cabeça para trás, sua boca desce com fome sobre meu colo, fincando os dentes no sutiã, forçando-o a libertar um de meus seios, só para que ele o abocanhe.
O gemido sai alto de minha boca, sua barba raspando minha pele, enquanto morde e mama meu seio com desejo e tesão. Faço certo malabarismo para me despir de meu short e calcinha, chutando-os para fora do caminho para que ele não perceba que a pobre coitada da calcinha não é daquelas que colocamos para os dias transantes . Esta com certeza é da classe de: “hoje não tem farra aqui embaixo”.
— Adoro seu lado sem-vergonha, e é muito bom saber que ele não aparece apenas quando você está de porre.
— Você não perde a chance de relembrar esse dia!
— E por que perderia? A única coisa que posso prometer é que deixo a lembrança do que faremos hoje ocupar o lugar daquela.
Não tento responder, não com ele deslizando a mão sobre minha boceta, contornando e esfregando meu clitóris. Empurro meu quadril em direção da sua mão deixando que ele aprofunde os dedos, gemendo quando ele gira o polegar e atinge aquele pontinho especial.
Caio abandona meus seios, subindo até o pescoço, chupando minha pele, me eletrizando. Meu corpo enganchado no seu enquanto seus dedos me fodem e eu o incentivo a fazer mais daquilo.
Antes que eu seja vencida por seu impulso de me jogar contra a cama, empurro seu corpo para trás, mordiscando todo o caminho até ficar de joelhos em sua frente.
Caio dá um meio passo para trás, se esticando para pegar preservativos na mesinha de cabeceira e é óbvio que ele tem várias opções ali.
— Prefere morango ou chocolate?
Faço uma careta — A última vez que fiz um boquete com uma camisinha de morango ficou parecendo que eu tinha feito preenchimento labial. Não foi legal, se você tiver com seus exames em dia...
— Tudo ok.
Jogo longe os pacotes de camisinha que ele tinha me oferecido, pegando seu pau nas mãos. Passo o polegar pela cabeça, seguido de uma lenta chupada, umedecendo meus lábios ao olhar para cima, encarando os olhos de Caio. Lambo mais uma vez, gostando do gemido que sai de sua boca. Subo e desço a mão encontrando um ritmo, ao intercalar com chupadas nas bolas e na glande.
Só o fato do pau de Caio estar depilado me dá ainda mais vontade de prová-lo. Adoro homens que pensam nas mulheres. Afinal, nenhuma mulher é obrigada a cortar grama com os dentes.
Sua mão enrosca em meu cabelo, acompanhando o vaivém de minha boca sobre seu pênis. Finco a ponta das unhas em seu traseiro firme, acelerando os movimentos, apertando meus lábios sobre sua pele ao escutar os gemidos altos que emanam no quarto.
— Se não quiser que eu goze em sua boca é melhor parar agora — adverte.
Olho para cima, sugando ainda mais, escutando-o xingar baixinho enrolando meu cabelo ainda mais em sua mão. Sinto os músculos se contraírem, fecho os olhos, pronta para receber o jato em minha garganta e nem mesmo assim desacelero, chupo deixando os tremores que irradiam pelo corpo dele cessarem para então me levantar.
Caio me puxa pela nuca, roubando um beijo, sugando minha língua e mordendo meu lábio inferior. Nossas bocas se movem em total sincronia e furiosas; eu preciso dele dentro de mim. Ele busca o preservativo outra vez, abre a embalagem, desenrolando sobre ele.
Jogando-nos na cama, seu corpo desce sobre o meu, nada fora dito e, nem precisaria, só a força do tesão com que nos olhamos já diz coisas suficientes. Suas mãos seguram com firmeza meus seios, enquanto ele encaixa seu pau em mim, como se tivéssemos feito um nó em nossos corpos. Caio penetra fundo, o fato de uma de suas pernas estar sobre meu quadril faz seu pau tocar em lugares que me fazem gemer alto.
— Adoro o modo como sua boceta me engole esfomeada — sussurra.
— Se me fizer perder os sentidos de tanto gozar, eu deixo você gozar aqui — desafio, apertando os seios fartos.
O sorriso largo que aparece na boca dele é sexy pra cacete, ele desfere um tapa em meu quadril e me penetra fundo, os dedos brincando entre meu clitóris, ora introduzindo-os em minha boceta juntos com seu pau ou ora circulando meu ânus.
Os gemidos se intensificam com o ritmo de suas estocadas, seu peitoral brilha de suor e nossas respirações são suspiros entrecortados por gemidos. Eu estou tão molhada que não precisa muito para que ele me preencha por inteiro. Minhas costas se curvam quando Caio ataca novamente meus seios com sua boca, meus dedos afundando em sua pele, deixando a certeza de marcas pela manhã.
— Não mude de posição — imploro, sentindo algo crescer e ir tomando conta de mim.
O vaivém implacável, sua boca chupando ferozmente meus seios, sendo capaz de produzir um orgasmo eletrizante, quente, derramando-me sobre seu corpo. Jogo a cabeça para trás, contra os travesseiros e suspiro ao fechar os olhos.
— Abra os olhos, a noite está apenas começando.
Capítulo 8
S into leves cócegas, as pontas dos dedos de Caio acariciam o espaço entre meus seios, descendo pelo estômago, passeando por todos os lugares que ele se familiarizou em meu corpo nestas últimas horas.
Abro lentamente os olhos, notando que o sol entra com força pela ampla janela de vidro do quarto, assim como meu estômago dá os primeiros sinais de desejo por um desjejum.
— Continua — peço descaradamente.
Escuto seu riso baixo e suas mãos afastarem o lençol de minha barriga, uma de suas mãos desce, abrindo minhas pernas enquanto a outra gruda em meu seio direito.
— Mais uma foda ou comer o banquete que eu estou preparando para nós dois? Acho que seu estômago prefere a segunda opção — acrescenta rindo ao ouvir o rugido baixo que vem da minha barriga.
— Meu estômago tem mais é que ficar quietinho neste momento — digo agarrando um punhado de seus cabelos e guiando sua cabeça para o meio de minhas pernas.
O riso silencioso reverbera em minha pele.
Sua mão alisa minha coxa, os dedos tocam os grandes lábios, afundando em minha carne, massageando meu clitóris, fazendo os gemidos saírem altos, sem vergonha alguma.
Minha pele inteira se arrepia quando me devora, meu corpo se contorce, ele ergue meu quadril em busca de mais contato, minhas pernas tencionam ao redor de sua cabeça, eu estou suspensa, assim como meus sentidos, totalmente perdida no estralar de língua que esse homem faz.
Fixo meus olhos no teto do quarto, agradecendo todo o perrengue passado, afinal, não é todo dia que você cruza com um homem lindo e gostoso como esse e com uma boquinha que sabe bem o que fazer.
Cravo minhas unhas em seus tríceps, deixando que as contrações explodam, percorrendo minha coluna no vaivém que ele produz com a língua e seus dedos.
— Uau! — Meus braços desabam, assim como minhas pernas.
Caio ergue a cabeça, limpando o canto da boca com o polegar, exibindo um sorriso convencido.
— Eu disse que seria muito bom relembrar o que fizemos no carro. — Ele fica de joelho na cama, o pau em riste, duro e ereto; ele o acaricia, descendo e subindo a mão. — Estou vendo esse olhar guloso.
— Se me der alguns minutos eu terei o maior prazer em te dar de novo. — Caçoo.
— Gosto dessa Bianca direta.
— Gosto do que faz com a boca — retruco.
— Vai gostar ainda mais do que faço com as mãos, tome um banho, vou preparar nosso almoço. — Comenta, levantando-se.
Observo-o caminhar nu para fora do quarto, em direção a sala.
— Alguma frescura para comida? — Caio se vira, para me encarar.
— Se é de comer, tô comendo — brinco mordendo o lábio inferior, fazendo-o gargalhar.
— Acho que você foi muito espertinha em invadir meu chalé no meio da noite, sabia? — Caio continua sorridente enquanto ocupa o espaço da cozinha, nu. — Vamos ver se você vai gostar de minhas outras habilidades.
Caio traz o frango para a ilha onde estou sentada, junto com alguns temperos e especiarias.
— Então, o que você fazia da vida antes de ser demitida?
Os braços fortes e grandes massageiam aquele frango, fazendo o cheiro dos temperos se espalhar pelo ambiente; ele está nu e seu pau quase me hipnotiza como um pêndulo de um relógio, balançando lentamente enquanto ele tempera o frango.
Deus é mais!
— Trabalho com publicidade.
— Ah, legal. Uma mente pensante! Mas, me conte, por que foi demitida? Foi pega fazendo travessuras em alguma mesa de trabalho?
— Que mente perturbada, não? Esperaria isso de um homem de vinte e poucos e não...
— De um quarentão? Os únicos que não pensariam nisso seriam os assexuados, gostosa.
— Gostosa? — devolvo.
O sem-vergonha gargalha.
— Vamos, me conte e experimente — diz ao trazer o dedo em direção a minha boca, fazendo chupá-lo.
Uma explosão de sabores ocorre em minha boca, me fazendo soltar um gemido baixinho.
— Está delicioso!
Caio pisca dando as costas para mim, indo para perto do fogão.
— Você sempre cozinha pelado?
Ele dá de ombros.
— Eu gosto.
— Até mesmo no seu restaurante? — brinco.
— Não tanto como gostaria, acho que poderia arranjar problemas com todos os ajudantes e garçons. — responde rindo ainda mais.
— Sério?
Caio se vira, olhando-me seriamente. — Sim, por que não? Quando estou criando minhas receitas preciso ficar à vontade.
— Bom, vou provar o que você está preparando aí e te digo o que achei.
O sorriso modo cafajeste está ativo em seu rosto, fazendo ser demais até mesmo para minha calcinha, está difícil ver um homem como Caio desfilando nu na minha frente.
Quando ele monta a mesa, servindo a comida, eu já estou mais interessada na sobremesa... nem mesmo me lembro de que o dia está lindo fora daquele chalé e muito menos que tenho praias para visitar. E Luce também perdoará meu sumiço e minhas poucas mensagens. Eu já passei pelo pão que o cão pisoteou, agora eu vou me divertir na banana boat!
O frango com especiarias estava divino. Eu tenho realmente que dar o braço a torcer e assumir que ele é prendado em muitas coisas. Caio coloca a última garfada na boca, empurrando o prato para o centro da mesa, olhando sério.
— E então...me diga? Conquistei seu paladar?
Inspiro protelando a resposta e tomo um gole do vinho branco em minha taça.
— Conquistou, estava delicioso.
Ele se levanta sorrindo, retira os pratos e antes de sair da mesa me tasca um beijo na boca, com direito a mordidinha no lábio inferior.
Caio é três coisas: um acaso bem sucedido do destino; um deus sexy como o inferno na cama e, com certeza, um chef de cozinha habilidoso.
Se estivesse em busca de algo sério — um namorado que seja, o que não estou! —, gostaria de alguém como ele. É a quantidade certa de sensualidade, enrolado no pacote, ou o pacote completo acoplado no meio das pernas.
Capítulo 9
— O que pode ser mais importante do que passar o natal com sua família, Bianca?
Reprimo a vontade de torcer os lábios.
— Trabalho, além do fato que a falta de minha presença não será um grande impacto.
— Bianca, você não liga para sua família! Isso é um absurdo! Você viu isso, Mario?
Claro que ela iria incluir meu pai na história — Não faça drama, mãe, por favor! Estou viajando a trabalho, volto daqui nove dias.
— O Natal já terá passado! — Ela grita.
Tremo minimamente o celular na mão, fazendo uma careta, vendo minha mãe nada tecnológica bater o dedo indicador na tela, sem saber que o problema é feito por mim.
— Mãe, o sinal...tá...nossa — fico estática, parada por alguns segundos enquanto ela pede pro meu pai arrumar o problema e ele retruca dizendo que não sabe o que está acontecendo. — Ligo para vocês... Natal...eu...beijo. — E assim encerro a vídeo-chamada, suspirando de alívio.
— Que feio, Papai Noel não vai trazer presente para uma menina tão mentirosa!
Congelo no lugar, enfio o celular no bolso do short.
— Há quanto tempo está aí? — Exijo, finalmente virando para encarar Caio parado na entrada do chalé vestindo apenas uma bermuda caída no quadril.
— Tempo suficiente para ver você sendo uma grande mentirosa com sua família. Por que não disse que está fugindo de tudo?
— Ah, claro, seria uma conversa bem mais simpática. — afirmo me jogando no sofá.
— Por que ainda não colocou um biquíni? Faltam poucos dias para você ir embora, então temos que aproveitar.
— Nem parece que já se passaram quatro dias.
— É o poder que meu pau exerce nas mulheres, desorientação. — O descarado pisca para mim. — Vamos coloque um biquíni e separe protetor solar e mais as bugigangas que as mulheres amam, pois hoje vou te levar para um passeio por Maragogi. Além de querer ver essa bunda branquela pegar uma cor, deve ficar sensacional douradinha.
— Pervertido! E posso saber aonde vamos?
Ele abre um sorriso enorme — Claro, gata! Consegui com um colega do hotel um barco para a gente conhecer os Galés.
Quando retorno para sala, Caio tinha ocupado o espaço vazio do sofá, deitado, com os braços atrás da cabeça, parecendo totalmente relaxado.
— Estou pronta.
Ele ergue a cabeça, sorri levemente e assente: — Eu também, me siga para nossa aventura!
Caio abre a porta, atravessando a varanda tomada de areia pelo vento da noite passada, dando a volta no chalé. O céu de um azul límpido, sem uma nuvem sequer para aliviar o calor que o sol faz. O mar no seu vaivém tranquilo, as ondas de um azul transparente quebrando de encontro a areia. Uma vista e tanto.
— Espero que tenha passado um pouco de protetor solar, aqui o sol queima de verdade. — Ele inclina a cabeça em minha direção, antes de assumir a direção do buggy.
— Conseguiu com um de seus amigos? — pergunto.
— Nem imagina o que podemos conseguir como barganha por um lugar no salão na noite de Natal.
— Eles vão é te demitir, isso sim — comento rindo.
— Pode ser que depois, mas mesmo assim, não o fariam, já é meu quarto ano fazendo o banquete para a grande festa de Natal deles.
Caio pega o acesso a uma estrada de terra, ladeada de palmeiras e gramas, o vento passa quente por nós, e o sorriso em seu rosto o faz parecer um menino toda vez que o buggy pula um buraco, fazendo a frente do carro erguer.
Maragogi é realmente incrível. Caio diminui a velocidade, a mão direita sai do volante, pousa levemente em meu joelho, tecendo um carinho naquela região, enviando arrepios por toda minha perna.
— Posso saber por que tem aversão a família?
— Não tenho aversão a minha família — protesto. — Não exatamente...
Ele me encara por cima dos óculos escuros.
— É verdade, apenas queria fazer algo diferente este ano. Todos os Natais são a mesma ladainha, nos reunimos onde eu fico a noite toda escutando minha mãe reclamar do meu estilo de vida e de como meu irmão é perfeito por ter a vida perfeita. — Torço os lábios e encaro a paisagem que passa por nós. — E depois de me ver com trinta anos e nada do que planejei para mim mesma conquistado, eu comprei a primeira oferta de viagem que vi pela internet e vim parar aqui.
— Lembre-me depois de agradecer aos golpistas!
Caio estaciona o buggy em umas das pequenas vagas disponíveis, desliga o carro e se inclina em minha direção, me olhando nos olhos e assim fica. Ele está a trinta centímetros de mim, os lábios entreabertos, muito convidativos, a mão ainda apoiada um pouco acima do meu joelho.
Já aguardo por um beijo tórrido ou que sua mão deslize até o meio de minhas pernas. Mas ele só beija a ponta do meu nariz e se afasta.
— Vamos.
Resmungo uma série de palavrões baixinho em minha mente enquanto pulo para fora do carro, seguindo a figura sorridente de Caio praia adentro.
Minha frustação pelo não beijo rapidamente se transforma em excitação genuína quando atravessamos a pequena trilha e meus pés fincam na areia fofa e morna. Nos dias que se passaram, eu tive oportunidade de explorar algumas praias de Maragogi, incluindo o Hotel, onde usei de forma descarada o sobrenome de Caio. Mas nada se compara ao visual que se distende diante de mim. Olhando para o oceano, os barcos balançando conforme a maré, de um azul tão claro, que dói a vista.
— Dizem que nada se compara ao mar da praia do Antunes.
— É muito diferente do que eu pensava, nunca viajei para nenhum litoral fora de São Paulo e hoje posso dizer que nada do que pensei chega aos pés disto e, estando aqui... — Olho em direção ao mar — É simplesmente perfeito!
Ele sorri.
— É difícil resistir a este lugar.
É difícil resistir a este sorriso, meu Deus, o que é o Caio sorrindo? Sabe aquela pessoa que te faz arreganhar os dentes só por sorrir? Pois bem, acho que a culpa de tudo é da única e pequenina covinha do lado esquerdo de sua bochecha.
— Tem algo melhor do que ficar aqui apenas admirando?
Eu concordo com a cabeça e devolvo um sorriso.
Caio estende a mão, pegando a minha e me puxando para dentro da praia, desviando dos grupos de pessoas sentados na areia, dos guarda-sóis. Paramos perto de um barco pequeno, muito diferente das lanchas luxuosas ou dos barcos imensos onde dezenas de pessoas se amontoam para entrar.
— Romildo! — Caio cumprimenta alegre.
— E aí cara, achei que não viria mais, temos que aproveitar a maré!
— Desculpe o atraso, mulheres, você sabe... — Acrescenta virando-se para mim e mandando um beijinho.
— Subam e ponham os coletes.
— Romildo, Bianca... Gata, este será nosso barqueiro até o paraíso.
— Muito prazer — digo ao ser içada para cima do barco.
— Primeira vez em Maragogi? — Romildo questiona.
— Sim, está tão evidente?
— Um pouco, mas a gente reconhece de longe os turistas, além de você estar toda vermelha. — diz rindo — É preciso reforçar o protetor de tempos em tempos. Mas vamos deixar de conversa mole e cair em alto-mar.
Romildo nos deixa sentados no fundo do barco, ocupando o lugar atrás do volante, o motor faz um rugido alto ao ser ligado e logo o barco está abandonando o lugar perto da praia, ganhando o mar.
— Vocês tinham que vir mais cedo, quando a maré está tão baixa que vocês podem fazer este passeio a pé.
— Sério? — pergunto duvidosa.
Romildo olha em nossa direção. — Mas é claro, isso daqui tudo fica praticamente sem água, e quando tem, nem bate nos joelhos! Ó homem, você não levou a moça para conhecer nenhuma das piscinas naturais?
— Ainda não. Pode acreditar, é incrível. — Caio confirma ao me olhar.
— Você já esteve aqui?
— Não posso me considerar um turista em Maragogi, após quatro anos...
Não fazia nem quinze minutos que estávamos no barco e ele foi diminuindo a velocidade.
— Aqui é repleto de barreiras de corais, por isso é obrigado ir devagar e tudo que vocês podem levar é em fotos e na memória.
Romildo joga dois óculos de mergulho na direção de Caio e para o barco perto dos outros, como se fosse um estacionamento bem em alto-mar.
— Cronometre o tempo.
Caio assente com a cabeça.
— Tenham um ótimo passeio.
Caio pula na água fazendo sinal para que me junte a ele. Os peixes ficam ao nosso redor, nem um pouco incomodados, estão muito mais para curiosos, já que chegam a raspar suas nadadeiras em minhas coxas, de tão perto que ficam.
Em algumas partes é possível andar, em outras tive que nadar junto com os peixes, pelo nível da água.
Caio me puxa pela mão, enroscando os braços em minha cintura. — Está gostando?
— Muito.
— Eu até poderia estar apreciando mais — fala fazendo uma careta de desagrado.
— Por que diz isso?
Caio suspira, sua mão segurando firme minhas costas. — Ver sua bunda tão linda nesse biquíni sendo beijada por peixes ao invés de minha boca não está ajudando. — Ele inclina em direção ao meu ouvido — Sua pele avermelhada do sol, meu corpo inteiro tá se espremendo nessa sunga por sua causa.
Ele ri, enquanto eu fico sem atitude. Caio vai de zero a mil em menos de dez segundos!
— Só não sou capaz de uma besteira, senão iríamos direto para a cadeia por deixar tanta gente com água na boca e as crianças assombradas.
— Não me lembro desse lado tão sem-vergonha.
— Opa! Tudo tem momento certo e finalmente vejo que o bom velhinho acertou no meu presente. Nada de meias ou pijamas. E já que o que eu quero agora não posso fazer, pelo menos, uns beijos eu vou roubar!
Esta última parte dita em sussurro, olhos colados nos meus, sua mão espalmada entre o final da minha coluna e minha bunda, faz o calor emanar ainda mais de minha pele.
Prendo seu lábio inferior numa mordida, puxando-o de leve para mim, meus braços ao redor de seu pescoço, as mãos cravadas em seus cabelos molhados enquanto aprofundamos o beijo com tesão. Eu o beijo com mais paixão do que jamais beijei um total estranho antes, mesmo que Caio não seja assim tão estranho, já que estamos dividindo um chalé por oito dias, regados a muito sexo e comida. E não há dúvida: isso é definitivamente uma ereção no meio de sua sunga, uma ereção grande, grossa e me deixando com água na boca pelas promessas safadas que ele tinha feito.
Quando finalmente pegamos ar e nossos olhos se fixam um no outro novamente, tenho minha certeza de que nada fará me arrepender de todos os meus movimentos impulsivos com Caio, só me arrependo de ter demorado tanto para tirar a roupa.
— Não sei o que faz, mas que boca gostosa! — exclama sorrindo.
Capítulo 10
— M ulher do céu, tu mirou no desastre e acabou quicando no colo de um anjo? — Luce diz ao gargalhar do outro lado da linha.
Aperto o viva-voz jogando o telefone contra o travesseiro, para passar uma regata pela cabeça. — Ele está entre o desastre e o anjo, ou pelo menos, o que faz com meu corpo pode ser julgado assim.
— E oito dias bastarão para desfrutar de tudo isso?
Tiro do viva-voz, pressionando o telefone contra o ouvido, solto um suspiro longo e me sento na cama.
— É o que tenho.
— Hum, parece que o tal invasor de quarto invadiu mais que suas calcinhas...
— Apenas tesão, além do mais, combinamos que seria apenas sexo casual natalino.
Luce ri.
— Adoro peru bem passado!
— Tarada!
— Conseguiu resolver o problema do cartão? — Luce questiona.
— Não — bufo — Cansei de passar meus dias em intermináveis ligações esperando uma posição, a última informação é que eles estão averiguando o caso.
— Mas não deve ser assim tão ruim, né? Já que o golpe está sendo bem aproveitado afinal. — Minha amiga gargalha na linha.
Olho para a entrada do quarto e a voz de Luce se perde com a imagem de Caio soltando os botões da camisa social, seu abdômen esculpido me encarando, meus olhos se movem lentamente, acompanhando seu gesto de passar a mão no cabelo sedoso, retirando-o do rosto. Com os olhos fixos em meu rosto e o sorriso em sua boca; Caio abre o cinto, desabotoando e puxando sua bermuda para baixo, e na medida em que o tecido avança em direção ao chão, sua protuberância fica exposta.
— Amiga, ainda está aí? O sinal está péssimo aqui no interior . — Luce retruca meu silêncio — Bosta, deve ter caído a ligação!
Tiro o telefone do ouvido, encerrando a chamada com um pedido de desculpas na mente, não é tão difícil desligar na cara da minha melhor amiga, especialmente com Caio de pé, nu na minha frente, caminhando em minha direção.
— Já jantou? Posso preparar algo para você — pergunta baixinho.
— Confesso que estou com fome, mas não é de comida.
Deixo meus olhos colados em seu pênis, ele caminha até mim, parando a poucos centímetros com as mãos apoiadas na cintura. Sua boca se curvando em um sorriso malicioso.
Caio curva o seu corpo contra o meu, suas mãos apoiam minhas costas até que estivéssemos deitados atravessados na cama. Sua ereção dura entre minhas pernas, aproveito o fato de estar vestindo apenas calcinha e camiseta para abraçá-lo com minhas coxas, deixando seu pênis se esfregar exatamente onde eu estava sedenta.
Tem algo diferente no toque de Caio, tem sim, um pouco da urgência em suas mãos ao me tocar e por sua respiração ofegar contra meu rosto. A voracidade do beijo e das mordidas em meu pescoço vão diminuindo gradativamente, mesmo que sua boca ainda invista contra a minha.
Minhas roupas são arrancadas lentamente, Caio se afasta apenas para descer minha calcinha por minhas coxas, logo ocupando seu espaço novamente. Gemo quando sinto a glande pressionar a entrada de minha boceta. Caio segura firme seu pau, masturbando-o algumas vezes e em outras raspando todo seu comprimento em minha intimidade, arrepiando cada mínima célula de meu corpo, me fazendo clamar por seu nome num sussurro.
Caio se curva para trás, procurando algo perto da cômoda.
— Acredito que sofrerei por dependência daqui a alguns dias — diz ao voltar para sua posição, deslizando um preservativo sobre seu pênis. — Tudo por causa dessa deliciosa.
Ele abre mais minhas pernas, deslizando os dedos por minha boceta. — Posso?
Não digo nada, puxo seu pescoço, trazendo sua boca até a minha, beijando e gemendo ao sentir suas mãos acariciarem minhas coxas e seu pau me preencher por completo.
***
Algo me cutuca, meu ombro treme e escuto alguém bem longe chamar pelo meu nome.
— Vamos, acorde!
— Uns quinze minutos a mais...
A risada quente, faz cócegas em meu pescoço.
— Abra os olhos, preguiçosa!
Respiro fundo, abrindo lentamente como Caio manda. Ainda estou mole pela noite anterior, os músculos de minha virilha reclamam ao menor movimento que faço para me sentar. Olho para ele ajoelhado ao meu lado na cama, a bermuda caqui aberta, como se ele ainda não tivesse terminado de se vestir.
— Que horas são?
— Ainda está cedo, infelizmente hoje voltarei tarde, por isso te acordei, não queria sair sem avisar. Aproveite a cidade, deixei um telefone pregado na geladeira, é de um amigo que me deve uns favores, ligue para ele. É o melhor guia turístico daqui.
— Outro homem comprado por um pedaço de peru? — caçoo.
— Mas não é qualquer peru! — diz apanhando-me pela cintura, me deitando na cama novamente.
— Acho que um dia todo na praia me fará bem, quero aproveitar o máximo deste paraíso.
— Não queime demais minha bunda, não quero você ardida.
Arqueio a sobrancelha.
— Estou pensando em nossa diversão — comenta rindo.
Sorrindo, sento-me na cama olhando a bandeja em nossos pés.
— Café na cama?
— Tudo é barganha, gata.
— Então estou em débito com você?
Ele gargalha, enfiando na boca um pedaço da laranja cortada.
— Vamos dizer que estou deixando tudo favorável para quando for comer você bem ali. — Fala ao apontar para a praia.
— Vou ficar esperando, ansiosa.
Depois de vários amassos e Caio pular da cama com o pau duro, reclamando que sou uma tentação, escuto a porta do chalé bater e ficar novamente sozinha.
Mais três dias e estarei me despedindo deste lugar, mesmo eu e Caio não termos firmado nenhum acordo, ambos sabemos que tudo que vivemos e o quanto nos envolvemos nestes dias será deixado sobre as areias de Maragogi.
Deixo esses pensamentos de lado e salto da cama após terminar o café da manhã preparado por Caio; visto um dos infinitos conjuntos de biquínis que trouxe na mala, pego uma canga, protetor solar, garrafa de água e mais outros utensílios que enchem rapidamente minha bolsa e vou para a praia.
Gosto de passar um tempo sozinha e foi bom curtir a tarde inteira na praia. O sol não estava para brincadeira, não teve um só dia em que ele tenha dado uma trégua e, mesmo acostumada com os dias quentes de São Paulo, nada consegue se comparar ao calor que faz por aqui. Tanto que por diversas vezes fui me refugiar no mar, passando bons minutos mergulhando nas águas cristalinas.
Aceitei o conselho de Caio sobre seu amigo de favores e liguei pouco depois do fim de tarde, pedi que me levasse em algum restaurante no centro. E, nossa, comi tantos frutos do mar que me senti a ponto de explodir, com certeza foi o melhor camarão na manteiga que comi na vida! E isso não facilitava os pensamentos que volta e meia iam em direção a certo chef gostoso, com músculos bem distribuídos e um porta-malas recheado.
Peguei-me ansiosa pelo retorno dele, mesmo com o aviso que voltaria tarde. Tomei um banho demorado, coloquei um vestido leve de alças finas, algo que ficasse visível meu novo bronzeado e me sentei na sala, passando o tempo zapeando pelos canais locais de TV.
— Querida, cheguei! Espero que esteja nua!
Eu me aprumo no sofá, sentindo as costas doloridas por ter passado tanto tempo deitada sobre as molas velhas vendo um seriado idiota na TV.
— Que pena — escuto o lamento assim como o barulho da porta se fechando.
— Desculpe, a decepção. Estava quase dormindo.
Caio deixa uma pequena mala preta na mesa de jantar e vem ao meu encontro. Se inclina, dando um beijo casto em minha testa, com intimidade.
— Espero que não tenha me esperado para jantar.
— Você só pensa em comida? — brinco.
— Hum, em sexo também.
— Sem-vergonha! — digo estreitando os olhos — jantei no centro.
— Aceitou minha recomendação?
— Sim, seu garoto de favores foi muito atencioso.
Caio me puxa para seus braços, encaixando-me em seu peito. Um gesto nada proposital, mas que me faz olhar de esguelha para ele por alguns segundos.
— Estou tão cansado, com a aproximação do Natal o hotel entra em colapso.
— Que tal dormirmos?
Ele se espreguiça, bocejando. — Aceito, mas antes temos uma missão.
Afasto-me para encará-lo.
— Qual missão?
— O Natal é daqui a poucos dias e como não sabia o que comprar de presente para você, decidi dar algo que sei que você não negaria de forma alguma.
— Eu...Caio, não me preparei para uma troca de presentes — digo sem jeito.
— Relaxa, gata. Espera aqui um minutinho, ok?
Confirmo com um gesto de cabeça, vendo Caio correr até a mesa, pegando sua bolsa e sumindo em direção ao quarto.
Passa alguns minutos até que ele abre a porta saindo de lá totalmente nu, com um laço pomposo amarrado no pau meio ereto, vestindo um gorro natalino na cabeça e um sorriso sacana nos lábios.
— Alguém aqui não foi uma boa menina este ano, por isso ganhará apenas uma bengalada do Papai Noel!
A crise de riso que me dá diante da cena me faz rolar no sofá, Caio não perde a pose e dança cantarolando “Jingle Bell Rock” bem desafinado.
— Que tempo iluminado, é a hora certa para agitar a noite.
Pego o celular, abrindo a câmera e filmando a cena em minha frente.
— Preciso gravar isso para a posterioridade — falo entre as gargalhadas.
Caio continua cantando e dançando pela sala, até chegar perto de mim, mandar um beijo em direção ao celular e tirá-lo de minhas mãos, me girando em seus braços, balançando o pau enlaçado enquanto canta.
— Sabe, eu pensei em colocar uns pisca-piscas, mas fiquei com medo de tomar um choque nas bolas.
— Só essa fita felpuda amarrando seu pau está maravilhoso! Com certeza, esse é um dos presentes que eu nunca negaria!
— Posso passar uma calda de chocolate nele, garanto que ficaria feliz com o agrado — retruca piscando.
Mordo o lábio inferior, considerando a oferta.
— Tudo bem, vamos lá!
Não posso deixar de rir ainda mais quando ele agarra minha cintura me jogando contra suas costas como um homem das cavernas e sai correndo em direção ao quarto.
Caio tem mais habilidades escondidas do que eu previ.
Capítulo 11
S exto dia.
Nunca seis dias passaram tão rápidos como estes. Isso me deixa até um pouco triste. O lugar é incrível, o hotel maravilhoso, mesmo que eu não tenha explorado cada centímetro como prometi que faria, estive explorando outros territórios, principalmente um de um metro e noventa, músculos bem definidos e um pau de arrasar corações. Além de passar esses seis dias me empanturrando de comida.
Mas ao acordar hoje sabendo que terei só mais dois dias, arrumar as malas e, enfim, voltar para a realidade, não me anima em nada.
Como foi fácil me acostumar com esta pequena rotina que estava vivendo! Caio trabalhava no hotel em turnos diversificados, alguns dias pela manhã outros a noite. Mas era quando estava aqui que a diversão realmente acontecia. Com certeza engordei pelo menos uns cinco quilos comendo tudo que ele inventa na cozinha!
Olho para seu rosto, apreciando-o mastigar, o sol bate em seu peito dourado e bronzeado fazendo sua pele brilhar tentadoramente. Vestido como de costume, apenas de bermuda solta no quadril e descalço.
— Adoro quando você me admira como um belo prato de comida.
— Não é difícil ficar encarando quando a pouco minutos você estava andando nu pela cozinha.
Ele se inclina, pegando outra fatia de abacaxi do prato em nossa frente.
— Não estou reclamando, de forma alguma. Poderia ficar aqui por um bom tempo.
— Realmente não quero ir para casa.
— Nunca?
— Pelo menos, não por agora — digo.
Caio me observa por alguns instantes, em silêncio.
— Vou pegar uma cerveja aceita?
— Sim.
Ele some e quando volta traz consigo um isopor com algumas latinhas geladas da bebida.
— Sabe, — puxo assunto abrindo uma das latas — nunca perguntei se é realmente trabalho que o motiva passar o Natal sozinho.
Ele ri alto.
— Acha que estou fugindo?
Dou de ombros — Não sei, eu estou. — Dou um longo gole na cerveja. — Cheguei aos trinta e nada do que havia planejado aconteceu, muito pelo contrário, fui demitida por ter uma paixonite platônica pelo meu chefe gay. Não quero os olhares de pena ou os discursos de minha mãe sobre eu estar ficando velha e solteirona. Qual o problema em ser solteira?
Caio segura o riso.
— Não vejo problema nisso.
Faço uma careta para seu sarcasmo. — Vocês homens são todos iguais!
— Ei, não me coloque no mesmo pote de biscoito! Não vejo problemas em uma mulher ser livre e desimpedida; vejo nas comprometidas, que pulam a cerca — ele diz. — Acho tentadora e extremamente sexy uma mulher independente.
— Eu esperava que depois desta viagem tudo se resolvesse, ano novo, vida nova, não é assim que todo mundo diz?
— Gata, o ano sempre será o mesmo, se você não mudar. Não quer mais sua família metendo o nariz onde não deve? Suba os muros. Quer mandar seu chefe escroto pro inferno e mostrar o mulherão que você é? Faça isso, ninguém tem poder de te segurar.
Eu vivia minha vida sem arrependimentos e nunca quis mudar algo nisso, até a realidade chutar minha bunda no momento que eu assoprei as velas. O que Caio estava dizendo era a mais pura realidade.
— E quanto a feriados, acredito que não são feitos para passarmos sozinhos, a gente precisa de uma companhia. Posso vir para os hotéis sozinho, porém tenho amigos e a equipe que se torna uma família durante esses dias. — Completa dando de ombros.
— E cá estamos nós — brinco erguendo a latinha com um brinde.
— Sou sua encomenda de Natal?
— O que te faz pensar que desejei algo assim para o bom velhinho? — inquiro erguendo a sobrancelha.
— Algo me diz que primeiro foi o efeito incrível que meu pau causa e, segundo, mas não menos importante, te conquistei pelo estômago.
— A segunda alternativa é verdade, se tivesse me apresentado seus dotes culinários naquele primeiro encontro, eu teria te ligado ou pelo menos ficado mais tentada a atender ligações de desconhecidos tarados.
— As bonitas são as mais cruéis — resmunga.
Caio levanta, estendendo a mão sobre a mesa para mim, esperando que eu a pegue.
— Venha, temos uma missão.
Sigo-o com nossos dedos entrelaçados para dentro do chalé, onde ele desvencilha sua mão da minha, caçando algo nos armários.
— O que está procurando?
— Logo você verá.
Ele abre e fecha mais alguns, vai até o quarto repetindo o mesmo processo até que volta com um saco preto na mão e um sorriso no rosto.
— Precisamos dar vida a este lugar, contando que eu serei seu anfitrião na noite de Natal, quero o cenário completo.
Ele enfia a mão dentro do saco tirando um rolo de pisca-piscas, deixando algumas bolinhas cair e rolarem em várias direções.
— Vamos montar uma árvore? —pergunto incrédula.
— Bem, isso não temos, a não ser que queira usar o bonitão — Caçoa apontando para o próprio quadril.
— Acho que já penduramos coisas demais nele. — Digo rindo.
— Então vamos nos virar com isso daqui — afirma mostrando uma bengala vermelha e verde.
— Não deixa de ser muito parecida com a sua — caçoo.
Ele encara o pequeno enfeite nas mãos, torcendo os lábios. — Isso fere meu coração.
Gargalho. Esticando o braço, pego duas bolas prateadas de dentro do saco preto, olhando em volta para onde poderia pendurá-las.
— Que tal ali? — ele aponta para pequenos pregos na parede oposta.
Faço como ele indica, penduro as bolinhas nos ganchos, enquanto ele se joga no pequeno sofá tentando tirar os nós nos fios de luzes.
Vou até ele, sentando-me ao seu lado.
— Deixe-me ajudar com isso.
— Você poderia ajudar com outra coisa também — a voz num sussurro baixo no pé do meu ouvido.
Engulo um gemido e contenho o arrepio em minha pele.
Os dedos livres sobem por minha coluna, enganchando na raiz do meu cabelo solto. O chupão que ele dá em meu ombro eletriza minha pele, me atrapalhando no desenrolar dos pisca-piscas.
— Fazer sexo sem parar, até que desmaiemos aqui no sofá?
— Fica impossível negar, quando é falado com tanto jeito — falo rindo.
Ele segura com mais firmeza meus cabelos, curvando meu pescoço para trás, dando acesso livre por todo meu pescoço e colo dos seios.
— Achei que gostava da minha sinceridade — afirma, empurrando o tecido de minha blusa para baixo, liberando meu seio. — Ainda mais quando deixa tudo tão fácil para mim — acrescenta antes de abocanhar meu mamilo, mordendo e mamando com vontade.
— Você pode o que quiser — murmuro.
Ele mama mais forte, olhando para cima, tentando ver meu rosto. Jogo o bolo de luzes que ainda estão em meu colo para o lado, para infiltrar meus dedos em seu cabelo, ficando quase de frente para ele; puxo seu rosto para o meu, atracando nossas bocas, nossos lábios se movendo de forma sensual e intensa.
Seis dias e descobri que bocas como a de Caio não são dadas a qualquer humano. Quando sua boca escorrega pelo meu corpo, abocanhando minha intimidade eu tenho certeza que qualquer terminação nervosa do meu corpo, para de funcionar. Ele aperta meu quadril, fincando a mão em minha bunda, mantendo o movimento contra seu rosto.
Minhas costas se projetam, impulsos me percorrem até o dedão do pé.
— Chega, quero você!
Caio ergue o rosto no meio de minhas pernas, lambendo os lábios com meus fluidos.
— Seu desejo é uma ordem.
Acariciando-me ele vai lentamente se enterrando em mim e cada vez que eu me mexo para pressionar o quadril contra o seu, ele me trava. Para os avanços e volta a chupar meus seios. Só quando me controlo para ficar o mais imóvel possível é que se enterra fundo em mim, batendo suas bolas em minha bunda.
— Ohh...
Ele puxa meu corpo para o seu, fazendo-me cavalgar em seu pau, engolindo todos os meus gemidos com sua boca, a mão apertando e dando tapas deliciosos em minha bunda toda vez que eu engulo seu pau por completo ou quando eu rebolo.
— Rebola e goza, até perder os sentidos!
Faço como ele manda, mesmo que meus joelhos reclamem, cavalgo-o com força, sentindo-me completamente preenchida, as contrações crescendo em meu ventre esperando pela libertação. Sua mão esquerda livre agarrando meus cabelos na nuca, o corpo de Caio treme, mas eu sei que ele está segurando o próprio alívio, esperando que o orgasmo me atinja.
E eles não tardam a vir, sinto meu corpo apertando seu pênis dentro de mim, Caio geme alto, jogando a cabeça para trás, repetindo baixinho o quanto que eu sou gostosa e como ele está perdido depois destes dias.
Ele me dá um beijo lento na boca, antes que eu saia do seu colo.
— Linda, temos um chalé para decorar.
Viro olhando para ele — Achei que tinha sido um pretexto para sexo.
Ele solta uma gargalhada.
— Poderia passar o dia fazendo sexo com você, mas estou falando sério. Natal é daqui um dia e temos um chalé para decorar. Você fica com os pisca-piscas e eu com as bolinhas, se for uma boa menina te fodo de quatro na banheira enquanto vemos o pôr do sol.
— Acho que eu deveria me encarregar das bolas — digo maliciosamente.
— Garota perversa!
***
Panetone recheado, rabanada, salada de frutas com calda de chocolate...foi nesse mar de aromas deliciosos que eu sentei na mesa decorada com uma toalha vermelha no dia seguinte, Caio utilizando seu gorro de Papai Noel — mas sem o laço embalando seu pênis —. Ele tinha preparado um banquete particular para nós dois.
— Tem tanta coisa gostosa para comer, que nem sei por onde começar.
— Fiz questão de fazer um café da manhã dos campeões para você, tem certeza de que não quer vir comigo para o hotel?
Puxo uma das cadeiras, sentando-me de frente para a mesa farta.
— Sim, além do que, eu só te atrapalharia. Cozinha não é um dos meus atributos.
— Eu compenso isso por nós dois, gata.
Sua mão acaricia meu braço distraidamente.
— Prometo voltar na primeira badalada. — Caio me dá um beijo rápido na boca, pega sua mala de instrumentos e sai, me deixando sozinha com todo aquele clima natalino.
Olho para o chalé, bolas e festões que estão pendurados pelas vigas e paredes, assim como os pisca-piscas brilhando lentamente, acendendo e apagando.
Quando fiquei tão sentimental sobre passar a véspera de natal sozinha? Ah, bom, deve ter começado seis dias atrás quando entrei no chalé e tentei atingir a cabeça de Caio com um abajur.
— Já pensou que daqui a dois dias você estará fazendo as malas?
Jogo um punhado de rabanada na boca, ignorando minha amiga na videochamada.
— O que tem?
Ela cruza os braços diante do peito, olhando séria para o telefone. — Vocês dois irão se encontrar novamente? Ou vai dizer que ficará por isso mesmo?
— E pode me dizer o que você espera que eu faça?
— Sei lá, ligue para ele, tente manter o que começou aí, desse lado.
Franzo a testa. — Não estou procurando amor, nunca estive. Sim, foi ótimo estar com Caio, mas...
— Mas nada, nem tente me enganar dizendo que essa sua cara desanimada é porque está entediada!
— Impressão errada.
Luce revira os olhos. — Sim, porque você está aí, vivendo uma fantasia erótica com um cara incrível, existe muitas maneiras de entender tudo errado.
— Sexo sem sentimentos, aprendi com você.
— E eu fui eleita Mamãe Noel 2021!
— Uma semana. Não tem muito que gostar em uma semana.
Jogo o resto da rabanada na boca porque, tanto minha melhor amiga, como eu, sabemos que tudo que disse é mentira. Caio me deixou caidinha pelo seu jeito, mas continuo firme.
Foi uma aventura deliciosa...inesquecível, mas apenas isso uma aventura, não?
Não estou apaixonada, apenas... Bom, o fato é que sim, eu sentirei falta dele quando for embora, isso não é algo que eu poderia prever.
***
— Foi daqui que pediram uma ceia de Natal e um ajudante do papai Noel gostoso?
Vou até a sala e admiro Caio, o gorro de natal enfiado em sua cabeça, nas mãos uma enorme bandeja e mais algumas apoiadas sobre a mesa de jantar.
— Andou caçando?
— Olha, foi uma missão incrível, pretendo te contar todos os meus esforços de resgatar um peru.
— Sabe que me contentaria com um prato pronto, né?
Caio torce os lábios com desgosto, vai até a cozinha, tira o papel alumínio do peru, checando sabores e acrescentando temperos só para cobri-lo de novo e enfiá-lo no forno.
— Quer dizer então que está negando a oportunidade de comer minha ceia de Natal?
Rio de sua cara.
— Isso é pecado. — Caio dá a volta na bancada vindo em minha direção.
Dez passos... contei cada passada que ele deu em minha direção, até que seus braços estivessem em volta do meu corpo e minhas mãos correndo pelo seu. Caio ergue minha cabeça, angulando meu rosto e então aprofunda o contato e me beija.
Beijo sua boca, agarrando seu cabelo, aproveitando daquela língua macia que contorna a minha.
— Nunca vai ser apenas um beijo, né? Sempre terei esta vontade de ter mais e mais — Caio indaga.
— Não estou reclamando — pisco para ele, ajeitando o rabo de cavalo que foi desfeito por ele.
O forno apita, fazendo Caio olhar por cima do ombro e esboçar um sorriso.
— O peru me chama.
— Como posso ajudar?
Ele arqueia a sobrancelha.
— Ah, posso cortar uma cebola ou outra — assumo rindo.
— Está bem, venha, vou te colocar para trabalhar.
Caio separa alguns temperos, escolhe pimentões e hortaliças e algumas cebolas. Enquanto lavo minhas mãos, ele busca as outras travessas sobre a mesa, deixando-as em nossa frente; uma está cheia de batatas picadas e a outra com carne.
Ele abre espaço para que eu fique em sua frente, me cercando com seu corpo, sua boca perto de meu ouvido, suas mãos segurando as minhas e suas ordens sussurradas em meu pescoço.
— Entendeu como vamos fazer?
Pisco rapidamente, não prestei atenção em nada que ele disse.
— Desculpa — confesso —, fiquei distraída com seu amigo roçando em mim.
A gargalhada gostosa que ele dá em meu ouvido eriça os pelos de meu corpo. Caio segura a cebola e com a outra mão firma as nossas na faca, e quando faz o primeiro corte, sua boca percorre meu ombro, avançando para minha nuca.
— É só manter o ritmo, dobre os dedos para não se cortar e deslize a faca pela cebola, assim...
O filho da mãe ri na curva do meu pescoço, ele sabe o que está causando. Sua barba por fazer raspa em minha pele. — Muito bom, vou deixá-la sozinha agora.
Respiro fundo vendo o sem-vergonha contendo o riso ao voltar para a bancada e se ocupar em preparar as hortaliças.
Dividimos as tarefas, eu com as simples — e fora de perigo iminente como Caio caçoo ao dizer — e ele responsável por fazer nosso jantar acontecer. O tempo vai passando e beijos e amassos quentes são roubados no meio do trabalho.
Não tocamos no assunto que amanhã será meu último dia aqui, que logo ao amanhecer, eu estarei indo embora. Não tocamos neste assunto, ficou enterrado no meio dos aromas e sabores divinos de Caio.
Menos de duas horas depois, Caio serve a ceia, os pisca-piscas estão ligados dando um ar romântico e natalino para o chalé, assim como algumas velas no centro da mesa. Ele preparou tudo para nós, a sacada aberta deixando a brisa do mar vir lenta e fresca, assim como o barulho das ondas quebrando na areia.
— Um brinde a nós. — Caio diz erguendo sua taça de vinho; faço o mesmo encostando a minha na sua, levando à boca em seguida, sorridente.
— Preciso dizer que o peru está divino? — passo o pedaço sobre a borda da tigela, pegando um pouco mais do tempero e levando à boca.
— Elogios sempre são bem-vindos e ver você comer me dá tesão.
Ergo a sobrancelha.
— Não há nada mais sexy do que ver uma mulher devorar a comida com gosto — explica dando de ombros. — Acredito que esse é o principal motivo para eu ser um Chef hoje, adoro ver as pessoas comerem, realmente degustarem as comidas.
— Adoro comer — assumo.
— Você sabia que o ato de comer pode ser muito erótico, alimenta fantasias...
Deixo o garfo sobre o prato, olhando seriamente para Caio.
— Então me diga, senhor Chef. O que pensa quando me vê comendo?
Caio ama um desafio, isso é nítido.
Ele passa o dedo no molho das batatas e põe o dedo na boca, chupando-os com vontade, fazendo minha boca se encher de saliva.
— Primeiro eu amo comer, mas hoje isso foi totalmente ofuscado por você e eu não sabia se me dedicava à nossa ceia ou no que teria depois, porque uma coisa é certa: eu vou me afundar no meio de suas pernas e faço questão de lamber cada centímetro do seu corpo! Quero sua boca abocanhando meu pau exatamente como fez com nossa refeição, quero sentir sua língua subindo e descendo. E o mais importante, quero ver você gritar meu nome quando te pegar por trás ou quando eu mamar gostoso nesses seios fartos.
Só de ouvi-lo recitar o sexo ou o que faríamos depois me deixa úmida e sedente para pular essas comemorações. Mas Caio não é o tipo de homem que sai atropelando as coisas, por isso, não me surpreendo quando ele se levanta, inclina-se sobre mim na cadeira, sussurrando em meu ouvido que isso será depois e pede que eu o acompanhe.
Caio me puxa para fora da mesa, me levando até a praia, a areia fofa ainda está morna pelo sol escaldante que fez o dia todo, paramos perto do mar, sentando na areia encarando as ondas quebrando.
— Se eu tivesse um dia que decidir como gostaria de passar meu feriado, com certeza seria assim.
— Entendo completamente.
Seus olhos voltam-se para mim, a covinha solitária à mostra em sua bochecha, acaricio seu rosto e é assim, com a brisa do mar nos embalando e as ondas quebrando em nossa frente que nos beijamos, nossos corpos enroscados num abraço apertado e a sutil lembrança que isso logo acabaria no meio.
Sua boca só me abandona por um pequeno instante, quando o barulho de sinos ao longe tocam doze badaladas. As mãos dele fazem carícias provocantes em meu corpo.
— Feliz Natal, invasora.
Beijo sua boca com ganância, com fome e desejo. — Posso pedir meu presente novamente?
Ele ri contra minha boca, nos levando dali, correndo de volta para o chalé. As roupas sendo arremessadas logo na entrada, minhas costas se chocam contra a parede e ele suga meus seios, mordendo e beijando-os. Sua bermuda fica perdida no caminho do banheiro, assim como minha lingerie.
Os amassos avançam para uma sessão de sexo no chuveiro, depois para o restante da noite na cama, tendo como gemidos e o som molhado de nossos corpos se libertando.
Capítulo 12
S étimo dia.
Sinto o calor do sol esquentar minhas costas nuas, abro os olhos devagar e suspiro. Caio ainda dorme tranquilo ao meu lado, o cabelo caindo sobre a testa e a boca formando um biquinho. Um de seus braços está jogado em cima do meu quadril, as panturrilhas enroscadas nas minhas. E por alguns minutos eu fico ali parada, pois sei que o mínimo movimento vai acordá-lo.
Só quando a vontade de ir ao banheiro se torna urgente eu escapo para fora.
— Saindo de fininho — a voz grossa e sonolenta chega até mim.
Saio do banheiro sorrindo, engatinho pela cama aceitando os braços abertos de Caio, aninhando-me em seu peito. Ele abraça minha coxa sobre seu quadril enquanto a outra mão sobe e desce pelo meu braço.
— Sentirei falta disso.
Engulo em seco, as palavras morrendo em minha garganta, por mais que eu deseje falar o quanto sentirei falta da aventura que foram esses últimos dias, do quanto seu cheiro em minha pele me deixará saudosa e até mesmo vê-lo desfilar nu pela casa enquanto cozinha.
Subo minha mão sobre seu peito, agarrando seu corpo, ficando tão perto quanto ainda posso. Fecho os olhos e apenas sinto sua mão mapear a minha pele, apalpando minha coxa.
Diferente dos outros dias que preferimos aventuras em nosso tempo livre, hoje ficamos ali, jogados na cama, nos empanturrando do resto da ceia e das guloseimas feitas por Caio. Não foi algo que pronunciamos em voz alta, apenas ficamos enroscados um no outro, enquanto o sol vai se pondo do outro lado da cabana.
***
Termino de colocar a última peça de roupa na mala com um suspiro tristonho. Caio sai do banheiro parando na porta e me olha, os cabelos molhados, a toalha ao redor da cintura. Eu guardarei esta cena na mente.
— Queria protelar esta cena.
—Também, mas é preciso retornar à realidade — digo.
— Poderia te prender aqui por mais alguns meses.
— Tentador — falo sorrindo.
Fecho o zíper da mala, colocando-a perto da porta.
— Temos que aproveitar sua última noite.
Olho para ele, agradecendo silenciosamente o sarcasmo do destino. Caminho até ele que me pega pela cintura, o puxão bruto, me prendendo em seus braços, Caio nos gira, prendendo meu corpo contra a parede, meus olhos se fecham deixando escapar um suspiro por minha boca, no mesmo instante em que ele rouba meus lábios para ele.
Sua mão segurando firmemente minha mandíbula, sua língua ganhando espaço em minha boca e seu quadril movendo-se contra o meu.
Eu estou uma completa bagunça interna referente aos meus desejos. Neste momento eu o quero tanto, que faço meu corpo latejar.
Parece que estamos em câmera lenta, perpetuando este momento até não podermos mais. Nos tornamos dois compulsivos por sexo, querendo ter esses momentos e o laço que formamos o máximo possível.
Roço o polegar em sua boca vermelha pelos nossos beijos, deixando que ela desça até seu pescoço. Sua mão desliza pela lateral de meu corpo, acariciando meus seios, um gemido escapa de mim fazendo com que ele gema comigo.
Nos olhamos em silêncio, seus olhos brilham desejo.
Sento na cama, minhas pernas ao redor de sua cintura, jogo a toalha longe o deixando nu e, quanto mais olho para ele, mais o desejo queima dentro de mim. Caio lambe meu pescoço dando uma mordida no lóbulo de minha orelha.
Ele desce as mãos por minha cintura, se infiltrando no meu short de moletom, jogando minha calcinha para o lado, acariciando minha boceta; inclino-me para trás permitindo que seu toque se aprofunde. Ele enfia dois dedos dentro de mim, girando-os lentamente me fazendo arfar.
— Caio?
Ele me olha sem interromper os movimentos.
— Não quero preliminares.
Caio retira sua mão de mim e um gemido fraco sai de meus lábios, em um instante estou nua deitada na cama e seu pênis protegido por um preservativo.
— Quero você de quatro.
Giro o corpo, empinando a bunda em sua direção. Ele percorre cada centímetro do meu corpo com a ponta dos dedos, sinto a glande encaixar em minha entrada e então a estocada firme e profunda, provoca uma pequena fisgada pelo sexo frequente. Uma de suas mãos se afunda em meu cabelo curvando meu corpo para trás o máximo possível e a outra agarra meu quadril, sinto todo meu corpo sendo tomado por Caio durante suas investidas. A mão que agarrava minha cintura, agora circula por minha barriga, descendo por meu sexo, apertando e esfregando meu clitóris.
Ele morde minha orelha gemendo baixinho, me fodendo com rapidez e força, mutilando meus nervosos pouco a pouco. — Quero vê-la gozar, muitas vezes.
Cravo as unhas no lençol e fecho os olhos, este foi o orgasmo mais rápido e foi devastador, senti cada parte de mim se quebrando.
Ficamos deitados na cama, acima das cobertas, respirando profundamente, deixando o corpo se orientar novamente e os batimentos cardíacos se acalmarem. E ficamos assim de mãos dadas, conversando sobre esta conexão maluca que nos levou até onde estamos. Até que o sol começa a lançar os primeiros raios sobre o céu.
Depois de muitas tentativas de sair da cama, sigo para o banheiro onde tomo um banho rápido e me troco por ali mesmo, seria tentação demais ficar desfilando nua na frente de Caio. Ele me emboscaria novamente com seus beijos e amassos.
Puxo a alça da bolsa olhando para ele que me aguarda na sala. — Preciso ir.
— Acho que a chave do chalé sumiu misteriosamente — disse sorrindo.
— Não me tente.
Ele se levanta. — Fala para mim: o que espera você em São Paulo?
Faço charme — Além de responsabilidades, boletos a pagar... — comento rindo.
— Mande-me todos, sou um sequestrador bonzinho, eu pago suas contas.
— Por que não disse que seria um ótimo sugar daddy ? — caçoo.
— Acho que não sou tão velho para esse cargo.
Balanço a cabeça rindo e pego minhas malas. — Obrigada por essa aventura sexual.
— O prazer foi todo meu, acredite.
Caio me acompanha em silêncio até a pequena estradinha onde marquei com o transfer de me buscar, ficamos lado a lado sorrindo quando nossos olhares se cruzam, mas com um silêncio incômodo entre nós.
O transfer aparece ao longe, levantando poeira, é hora das despedidas.
— Bia? — Caio sussurra.
Luto com a tensão em minha garganta, soltando uma resposta baixa.
— Caio...
Ele me puxa contra seu corpo, beijando minha boca, com urgência, minhas pernas ficam fracas, mas seus braços me prendem em pé, agarrada ao seu corpo. E quando vejo, a boca dele se foi.
A van aguarda ao meu lado com a porta aberta, que eu mal notei se aproximar.
— Não vou dizer adeus, somente até logo — diz segundos antes de eu entrar na van e vê-lo ficar cada vez mais distante.
Capítulo 13
R olo pela cama , buscando o celular. Já passa das cinco da tarde. A primeira coisa que fiz ao chegar de viagem foi me jogar na cama e tirar um longo cochilo, as horas roubadas na madrugada caíram sobre mim no voo. Mas por causa de duas pequenas pestinhas fazendo uma farra ao meu lado, então, não consegui descansar.
Levanto um tanto desorientada, me afasto da cama, caminho até o banheiro, jogo água em meu rosto e vou para sala e não é nenhuma surpresa ver Luce sentada totalmente à vontade no sofá.
— Boa tarde, Bela Adormecida!
O olhar curioso que minha amiga me dá, quer dizer que ela não quer enrolação de minha parte, quer a história toda com ênfase no sexo. Por isso, não perco tempo. Sento-me ao seu lado cruzando as pernas e conto tudo.
— E mesmo com tudo isso que acabou de me contar você virou as costas e deixou o pobre homem plantado numa estrada de terra e foi embora?
— Não me torne a vilã, ele foi uma aventura, não era isso que queríamos quando falamos da viagem aqui mesmo? — argumento.
— Sim, mas tem coisas que não evitamos, por exemplo, seu gato sarado.
Reviro os olhos, tocar no assunto é pior ainda, já não bastam as cenas se repetindo em minha mente?
— Foi uma semana deliciosa. Descobri que Caio é incrível e pronto, acabou.
Ela ri. — Vamos ver.
O olhar de Caio me vem a mente, o olhar persistente antes de vir em minha direção roubando um beijo. Estremeço.
Merda!
***
Os dias vão passando e com eles os últimos resquícios de Natal também, as vitrines das lojas lotadas de promoções e queimas de estoque, as pessoas ansiosas pela virada do ano planejando suas viagens ou correndo para arrumar tudo a tempo.
Luce tinha viajado para casa de seus pais novamente, e eu me vi na solidão do apartamento e com uma pilha de currículos para serem entregues.
É dia vinte e nove e eu já estou cansada de tanto atualizar a página do Linkedin em busca de uma resposta positiva. Abro meu e-mail vendo que tem uma proposta de emprego e isso me anima. Será que finalmente minha sorte está mudando? O canalha do meu ex-chefe não teve nem a capacidade de escrever uma recomendação para mim.
Abro o e-mail, correndo os olhos pelo que está escrito e é fato que um sorriso toma meu rosto.
Abaixo de uma proposta falsa de emprego, tem uma mensagem do Caio.
“Achou mesmo que poderia fugir de mim?”
Pego o celular, abrindo o aplicativo de mensagens.
“A proposta de emprego está de pé?”
Envio a mensagem rindo. Num segundo é visualizada e no outro, meu telefone está tocando.
— Oi, gostosa.
— Oi.
— Sinto falta da minha invasora. Como você está?
— Estou bem.
— Sua voz é muito sexy no telefone.
O sorriso se abre em meu rosto com sua provocação.
— Sentiu saudades de mim? — questiona abaixando o tom de voz.
Mordo o canto da boca. Por que mentir?
— Sim.
— Que ótimo, que tal embarcar em outra aventura comigo?
— Caio...
— Não quero desculpas, Bia. Quero você nua para mim. Quero você.
— Não é tão simples.
— Por que não? Estou te perguntando se aceita uma vaga de emprego, será minha assistente. Fui convidado por um hotel em Trancoso e o Chef foi bem claro, ele quer você como assistente. Que eu saiba você ainda não conseguiu o emprego dos seus sonhos, certo?
— Ainda não e eu iria mais atrapalhar do que ajudar seu Chef — comento rindo, adorando a ideia por dentro.
— Acho que ele se responsabiliza pelos riscos, afinal, ele deve gostar de você já que tem uma grande tendência a deixar o pobre homem plantado em estradas.
Gargalho.
— Então, o que me diz? Embarca nesta aventura comigo? Te garanto hospedagem, refeições e um passe livre para brincar pelo meu corpo.
— Realmente é uma proposta irrecusável.
— Bia, Bia, não me mate na unha...
Seguro o riso.
— Eu aceito.
— Vá até a sacada, então...
— Como? — questiono ficando de pé num pulo.
— Vai...
Aperto o celular entre os dedos, destravo a porta da sacada e olho para baixo. E lá está ele, encostado no carro, com o telefone na orelha olhando em minha direção.
— Isso soa muito Romeu e Julieta.
Caio ri, — Tirando a parte que ninguém vai provocar a morte de ninguém, então, arrume as malas, estou te aguardando.
— Você é maluco!
— Pode apostar. Que comece mais uma de nossas aventuras, invasora!
ALGUNS MESES ANTES
A i meu Deus!
Ai meu Deus! Sento rapidamente na cama enfiando minha cabeça debaixo do lençol, vendo meu corpo nu. Que merda! Remexo-me agitada procurando a droga do meu celular que parece ter criado asas quando eu mais preciso.
O quarto gira quando me curvo para caçar minhas coisas. A garrafa de champanhe está jogada perto da janela, vazia, um pequeno lembrete das merdas que fazemos na vida. E eu pratico muitas delas.
Enfio minha cabeça debaixo da cama me deparando com uma cueca boxer branca.
Ah, merda!
Sinal vermelho. Pegar as coisas e cair fora!
Curvo meu corpo para baixo vendo meu sutiã perdido bem no meio e a calcinha do outro lado, perto do pé de um puff. Fico literalmente com a bunda jogada ao vento tentando capturar meu sutiã e me vestir com o resto de dignidade que me resta, mas lógico que não consigo e caio com tudo no chão, produzindo aquele baque seco. Merda! Rastejo para debaixo da cama finalmente capturando meu sutiã, escuto o barulho do celular vibrando perdido em algum lugar daquele quarto desconhecido, corro pegando-o ao mesmo tempo em que tento não me dar um nó ao vestir minhas roupas íntimas.
— Onde você se meteu? Luce já estava querendo chamar a polícia. — Escuto assim que atendo a ligação.
— Gabi, pelo amor de Deus, onde eu estou? Sou eu que te pergunto isso! — Atrapalho-me com a alça do sutiã e o cabelo me fazendo parecer a menina daquele filme de exorcismo, enquanto mantenho o aparelho na orelha:
— Um pouco de aventura depois de uma semana complicada no trabalho, Bia. Diga, está enroscada naquele gostoso? — a voz de Luce soa alta do outro lado da linha, pelo visto estou no viva-voz.
— Isso não está ajudando, mal sei onde estou!
Dou uma olhada pelo quarto, pelo visto é um flat . A vista de São Paulo brilha com o reflexo do sol do lado de fora.
— Vai dizer que não se lembra de nada? — Gabi resmunga.
— Quase isso — retruco buscando o resto de minhas coisas.
— Um pouco de irresponsabilidade não mata ninguém — Luce diz rindo.
— Apenas demite!
Escuto passos vindo em direção ao quarto, pressiono a mão contra a boca abafando o telefone. — Encontro com vocês no apartamento! — digo jogando o celular em minha bolsa recém-encontrada.
— Até que enfim acordou, pensei que tivesse entrado em coma alcoólico!
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Congelo de costas para onde vem a voz, pensando em mil maneiras que poderia tornar isso menos constrangedor. Não que ele já não esteja saboreando a visão de minha bunda recém-tampada pela calcinha.
Viro apertando minha bolsa contra o corpo, como se ela pudesse tampar minha nudez. O homem, com leve toque grisalho no cabelo, me encara sorrindo, meus olhos passeiam pelo seu corpo em transe, suas mãos seguram uma bandeja imensa com café da manhã, mas o que me faz me sentir mais idiota é a forma como cobiço a bermuda larga pendendo pela cintura, e não por ser uma bermuda de pano daqueles modelos que vemos nos velhos, mas por ter uma saliência bem dotada ali e, pelo visto, livre leve e solta, pronta para brincar de pique-esconde, que me faz baixar a bolsa com um sorrisinho sinistro na boca e pedir um bis de qualquer coisa que tenha acontecido naquele quarto.
Os olhos curiosos me encaram com diversão, ele deixa a bandeja de café sobre a cama bagunçada, levando a mão ao cabelo, percorrendo os fios molhados com os dedos.
— Fiz um café para nós. Mas não precisa interromper a análise do meu corpo, estou gostando muito de ser escaneado — diz sorrindo.
Pisco, afastando a cara de idiota que deve estar estampada em meu rosto. — Desculpe-me, eu não me...
— Lembra do meu nome? — seu sorriso se abre — Caio, o prazer é todo meu.
— O cara do bar.
— O cara que salvou você de beijar a calçada enquanto cantava “ Makes me Wonder” , com uma dança bem sensual no meio da rua?
— Meu Deus! — exclamo pausadamente.
Que Diabos eu fiz a noite passada?
Caio se senta no colchão, deixando ainda mais evidente sua saliência na bermuda. — Vai dispensar meu café? Coloquei meu ingrediente especial para curar sua ressaca.
Pego a caneca de café que ele me estende, sentando na ponta do colchão à sua frente.
— Não me lembro de nada do que aconteceu depois do bar, então... — murmuro dando de ombros. — Espero que a noite tenha sido boa.
Ele gargalha, seu pomo de adão vibra com seu timbre rouco.
— Eu gosto de mulheres conscientes quando vou fazer sexo, quero que elas sintam tudo que posso lhes proporcionar. Então, fique tranquila, não transamos. — Esboço um sorriso de tranquilidade ao ouvir isso — Mas não significa que você não arrancou sua roupa e roubou vários beijos e amassos meus.
Caio abandona sua caneca na bandeja, afastando-a de nós. Chega mais perto, com seus lábios entreabertos, carnudos e bastante chamativos. Nossos corpos perto um do outro, nossos rostos bem no limite da insanidade para eu aproveitar a brecha de “bêbada louca” para agarrá-lo.
— Fico feliz que tenha sido eu a encontrá-la.
A voz grave dele incorpora um tom divertido.
Ele não está me tocando, suas mãos estão apoiadas sobre suas pernas, mas é como se eu pudesse sentir o toque de seus dedos percorrendo meus braços, esquentando minha nuca.
— Levarei você para casa, com duas condições.
— Condições? — pergunto arqueando a sobrancelha.
— Seu telefone e um beijo de despedida; não é demais, levando-se em consideração que nas últimas oito horas tive sua boca passando por meu corpo.
Caio deu uma risadinha, pegou seu celular no bolso da bermuda e me entregou.
Quantas vezes um raio pode cair no mesmo lugar? Duas, chutando muito alto? A chance de ele me ligar poderia ser de cinquenta por cento, já tinha passado meu telefone para homens piores do que ele, então por que não?
Digito salvando o contato e lhe devolvo o aparelho. Satisfeito, ele sorri e me entrega o restante de minhas roupas.
— Vou deixar a última parte para receber assim que entrarmos no carro.
Capítulo 2
DIAS ATUAIS
T RINTA, A IDADE DO SUCESSO... Grande besteira! Só se for para Jennifer Garner, naquele filme da Sessão da Tarde!
Jogo minhas pernas para fora da cama, olhando o projeto de homem estirado nela e automaticamente torço os lábios. Minha vontade é chutar sua bunda até que saia do meu apartamento me chamando de maluca. E tenho bons motivos, acredite.
Mas, também a culpa é toda minha, afinal, fui eu que disse sim às suas cantadas. Resmungo saindo da cama e de perto dele, que não se mexe um centímetro.
Quando um homem vem atrapalhando minha noitada com minhas amigas, desempenhando as melhores cantadas em meu ouvido e eu me presto a ouvi-las, espero três coisas básicas:
Primeira: um beijo de qualidade, aquele que a gente sente a calcinha molhar só de imaginar o estrago que a boca dele pode fazer lá embaixo.
Segunda: uma pegada de respeito. Ah, não adianta executar o primeiro ponto bem e na hora de dar aquela pegada que nos faz querer grudar na parede igual lagartixa se mostra na verdade uma bosta! Aquela com mão frouxa e que só pensa em ficar roçando o amiguinho na minha bunda.
E terceira: o sexo. Se o carinha passou pelos dois testes, merece que minha amiguinha lhe encare e é aí, meu caro hétero top , que você tem que encarnar o Sidney Magal e me fazer jogar a calcinha na sua cara. Antes que diga que estou sendo exigente, não mesmo, nem pense nisso. Estou sendo é boazinha com esses homens que pensam que porque têm um pênis no meio da cueca a gente tem que ajoelhar e rezar.
No caso do hétero top , deitado babando em um dos meus travesseiros foi exatamente isso que aconteceu. Ele tinha um beijo arrasador, uma pegada... que me deixa sem palavras só de lembrar, mas o sexo? Esse é do muito, mais muito, meia boca.
E o pior de tudo foi dizer que iria me deixar caminhando com as pernas abertas no dia seguinte... Coitado né, o hétero top esqueceu que da nossa coleguinha sai um bebê, então não venha falar isso para uma mulher com seu pênis de tamanho normal. Ainda mais quando você não sabe executar a tarefa e o instrumento direito.
Porque até mesmo para fazer um bom brigadeiro, o segredo é manusear bem os ingredientes dentro da panela.
E se não bastasse isso para terminar minha noite e todos os meus desejos secretos é o homem tentar rasgar a calcinha. Eu vejo a frustração deles, no máximo eles irão conseguir fazer minha calcinha acomodar eu e mais uma amiga. Sim, a ideia é excelente, seria maravilhoso vocês chegarem com tudo, a calcinha voando para o lado...o plano é excelente. E por mais que vejamos isso em filmes, na vida real é bem diferente.
Se depois de tudo isso eu não chutasse esse cara para fora da minha casa... Inspiro profundamente olhando para o sujeito babão em minha cama. Com o verdadeiro significado de lindo e ordinário.
Mas calma, as coisas vão piorar e eu vou lhe contar exatamente como eu desejei que minha vida, por um pequeno momento, deixasse de ser uma comédia atrapalhada e nada romântica para o dia em que eu realmente veria o sol deitada sobre uma espreguiçadeira com um drink nas mãos.
O fato é que eu tinha acabado de completar trinta anos, dando uma olhada bem rápida na imagem refletida no espelho do outro lado do quarto, sei que pareço igualzinha como em todos os outros dias, mas algo em mim mudou.
Talvez seja apenas minha paciência que ficou ainda mais curta ou parece que meu rosto está um pouco flácido? Meus olhos castanhos e redondos, estão um pouco enrugados nos cantos?
Acima de tudo, tenho o ar cansado. E não por ter passado a maior parte da noite bebendo com minhas amigas e dançando com caras estranhos acreditando que seria um belo caso de uma noite, mas sim porque estou realmente cansada.
Achei que estava preparada para os trinta, que já estaria com tudo resolvido e todos os planos perfeitamente traçados e todos sendo executados. Porém, é como se estivesse apenas algumas casas à frente de onde eu comecei. Meu último relacionamento durou o mesmo que a temperatura de uma água no fogo, logo evaporou. Assim como os outros tantos que vieram antes dele e isso me fez ter em mente que eu sou minha melhor companhia. Que eu posso ser um caso de “panela sem tampa”; no meu caso, sou uma frigideira.
Tá, não posso reclamar, tenho um emprego bom, um canto só meu, assim como vários boletos. Coisas de vida adulta. Mas eu achei que aos trinta anos teria chegado ao cargo que tanto almejo, desde o dia em que coloquei meus pés na agência de publicidade. Isso não aconteceu, faz cinco anos que estou encalhada na mesma vaga.
E quando paro para pensar nisso, vêm milhões de maneiras em negrito em minha mente dizendo que eu desperdicei anos de minha vida, e que se me perguntassem o que eu pretendo fazer a partir de hoje, minha reação seria sair correndo.
Aos vinte e cinco anos me fiz a pergunta de como me veria aos trinta. Naquela época, só via caminhos frutuosos e gloriosos, era o que eu esperava enquanto segurava uma caixa lotada das minhas coisas no meio do meu apartamento recém-alugado.
Lembro-me bem, eu acreditava que tudo se encaixaria perfeitamente e que as dúvidas e incertezas que via as mulheres de trinta tendo eu nunca teria. Pois bem amigos, aqui estamos nós.
A verdade é que eu não estou pronta para os trinta, com trinta a maioria das mulheres está bem resolvida. Não quero ser insegura por causa de uma idade, mas eu não estou pronta para ela. É confuso, eu ainda me sinto jovem como quando eu tinha vinte e dois, ainda quero cometer loucuras, agir de maneira irresponsável de vez em quando. E pior, não quero ter filhos agora, muitas vezes mal me lembro de reabastecer a geladeira, como uma criança dependeria de mim?
Essa é a questão, todas as responsabilidades que jogam em nossos ombros ao completar trinta anos, muitas de nós nem mesmo pedimos por isso. Um dia depois do meu aniversário, a primeira pergunta que minha querida mãe me fez foi: “quando vai criar juízo e arrumar um bom partido?”.
É uma coisa muito maluca, mas faz sentido, eu não estou pronta, mesmo que seja uma data marcante, me recuso — ao menos por enquanto —, a assumir todas as responsabilidades e coisas que nos impõem.
— Ei — chamo cutucando o babão em cima da minha cama. — Belo adormecido, vamos acordar!
NADA! Dou a volta na cama chegando perto de seu rosto, vendo se o homem ainda respira.
Sacudo seus braços fazendo-o se sobressaltar na cama de susto.
— Olha, a noite foi uma delícia — minto descaradamente. — Mas está na hora de você ir embora.
— Podemos nos ver hoje à noite, repetir tudo isso... — sugere sorrindo.
Eu tenho duas opções e uma delas é uma obrigação para nós mulheres. Os homens precisam saber que transam mal, não podemos mais, em pleno século vinte e um, ficar mentindo que tivemos orgasmos quando a transa foi bem ruim; ou, posso ser simpática, despachá-lo com a desculpa que cuidarei do meu tio doente ou o gato da vizinha.
— Olha, foi legal e tudo. Você é bom, mas sendo sincera, não vai rolar! Você babou no meu travesseiro, prometeu uma coisa que não conseguiu cumprir e você sabe como isso é frustrante para uma mulher? Você realmente achou que meu clítoris era uma campainha?
O homem em minha frente fica pasmo, assombrado por tudo que despejo em cima dele.
— Desculpe-me, sim?
— Que mulher maluca! — diz ao recolher suas coisas e sair batendo a porta com tudo atrás de si.
— Sou maluca e você precisa de um cursinho intensivo de sexo! — grito em direção a sala.
Pego um jeans preto e uma camisa social deixando sobre a cama, assim como os saltos escolhidos para hoje e vou para o banheiro. Quando saio do chuveiro, penteio o cabelo molhado para trás, num rabo de cavalo e passo uma maquiagem leve no rosto.
Eu me arrumo com calma, como se não tivesse um emprego para salvar depois do que aconteceu na sexta-feira passada... como se eu não tivesse vomitado no meu chefe logo depois de declarar uma paixão platônica!
Por que eu tinha que fazer essas burradas?
Como me meti na maior enrascada da minha vida?
Foi de repente, ele surgiu pelo elevador sorridente, o terno cinza como sempre muito bem alinhado, porém, naquele dia, ele estava sem gravata, a camisa social branquíssima aberta nos primeiros botões... Primeiros não! Eram uns quatro ou cinco mostrando aquele início delicioso de peitoral, eu pude até ver aquele “tufinho” de pelos, o deixando ainda mais másculo e erótico em meus pensamentos. Deus!
O caso é que Patrick assumiu o lugar do meu ex-chefe, um velho decrépito que ia contra a modernidade e os avanços que as empresas e marcas criaram com o toque dos dedos. Enfim, Patrick era totalmente o oposto, era antenado no que o mundo vinha pedindo, trouxe um novo ar para a empresa.
Patrick era aquele homem que se a gente parasse para pensar, ficaria bem em diversas situações. Eu imaginava seus braços fortes e produzidos em academia me segurando forte na sala de descanso para uns amassos proibidos, imaginava seu corpo nu dentro do meu chuveiro. Era daqueles homens que nem guindaste nos tiraria de cima.
Era tanta coisa que eu poderia fazer com esse homem em minha mente que eu o transformaria num Bombril.
E eu estava tão cega pela vontade de transar com meu chefe que não percebi o que estava na minha cara, precisei na sexta-feira sair com Luce para vê-lo beijando um homem. E o problema não é ele ser gay, afinal, a gente dá para quem quiser. O problema foi ver todas as minhas fantasias e cenas eróticas planejadas para minhas noites com meu consolo caírem quebradas aos meus pés, porque eu nunca mais tiraria essa cena da minha mente.
Quando ele percebeu que eu estava do outro lado da balada olhando para ele como se tivesse acabado de matar minha mãe na minha frente, veio falar comigo, eu mal me lembro o que falou, mas me lembro bem de ter vomitado em cima dele.
Todo o álcool que ingeri para dar coragem de ir me declarar, voltou com força máxima manchando sua calça jeans cara e seus sapatos mais caros ainda.
Mas é como dizem: Vemos aquilo que queremos ver.
Nunca desconfiei que os almoços que ele tinha com seu amigo eram, na verdade, encontros com seu namorado, que as flores que ele pedia para sua secretária enviar, não eram para as mulheres com quem saía, eram para seu namorado... Um namorado lindo, alto e gostoso assim como ele. Um namorado moreno e careca tão sensual que metade das meninas na empresa queriam o telefone dele. Um casal perfeitamente gostoso e gay, por quem eu vim fantasiando grande parte do ano passado e deste ano, até mesmo aceitando — sem nenhum convite oficial, apenas um feito em minha mente —, participar de um ménage louco com os dois.
Eu deveria ter inventado uma desculpa, ter ligado para meu chefe e ter dito que estava com gripe, dengue, sarampo, qualquer coisa. Até malária seria melhor do que isso. Mas não fiz.
O destino tinha mandado seu recado, eu que fui surda demais para ouvi-lo.
Paro no meio fio acenando para o Uber.
— Centro, né? — confirma o motorista.
— Por favor – digo me jogando no banco de trás.
— Ih mocinha, vamos enfrentar um belo de um trânsito – argumenta o motorista.
Bufo olhando para o celular de novo, o motorista corta algumas ruas seguindo direto para o engarrafamento, colo meu olhar na janela absorvendo os cheiros estranhos de São Paulo logo pela manhã e os motoristas irritados no trânsito, respirando fundo pela minha péssima escolha de ter saído na sexta passada com minhas amigas e enfiado meu pé na jaca.
Não pense que sou frustrada, nem um pouco, mas eu tenho a grande tendência de me envolver com os tipos errados: caras broxantes, filhinhos de mamãe, canalhas, mentirosos..., mas confesso que uma mudança cairia muito bem.
— Mocinha, chegamos. – O motorista me arranca dos devaneios.
Tiro o dinheiro da carteira, passando para ele.
Atravesso o saguão da empresa, me espremendo no elevador apinhado de pessoas.
— Você está atrasada Bianca e muito — reclama a secretária de Patrick, assim que piso na empresa.
— Sabe como é, São Paulo é um completo caos — digo com um sorrisinho cínico nos lábios, pela desculpa esfarrapada.
Ela revira os olhos. Nádia é o tipo de mulher que acorda de mal com o mundo.
— Nádia, ligue no telefone da Bianca, preciso do briefing que ela estava tomando conta .
Nádia, só torce os lábios apontando para mim.
— Desculpe o atraso, Patrick.
Ele me encara por alguns segundos e dá espaço para que eu entre em sua sala, fechando a porta atrás de si, assim que passo.
Será que foi porque eu descobri que meu chefe tesudo — por quem eu nutria uma tensão sexual — é gay que os sorrisos doces e gentis que ele geralmente me dava sumiram? Tá, estou sendo hipócrita, ele está me olhando assim por que eu vomitei pelo menos cinco copos de vodca em cima dele.
— Precisamos conversar sobre o que houve semana passada.
— Olha, Patrick, sinto muito.
— Eu admiro muito seu trabalho aqui na empresa, você é uma das melhores publicitárias, mas...
Minha cabeça deu um nó. — Espera, esse discurso...
— Sim, Bianca. Conversei com um amigo, ele tem uma ótima empresa de publicidade, seu perfil se encaixa muito bem.
— Ah, cala a boca! — explodo.
— Como é?
— Está me demitindo porque descobri que você é gay?
— Não é por que sou gay — diz — Mas descobrir que você nutre um sentimento por mim fere tudo que eu construí nesta empresa, não quero que fique...
— Desculpa, Patrick? Fique o quê? Você está me demitindo por um sentimento que não fazia nem ideia? Isso é ridículo, eu me desdobro por esta empresa! Não venha com uma merda de desculpa dessas!
Abro a porta com violência, e caminho pisando duro até minha mesa, o filho da puta já tinha juntado minhas coisas.
— Bianca, preciso que deixe seu crachá com a segurança.
Viro querendo mandá-lo para aquele canto obscuro. Retiro o crachá do bolso jogando em sua direção. Os funcionários das baias próximas observam atentos ao show.
— Sinto muito.
— Não! Você não sente porra nenhuma!
Patrick olha em nossa volta, dando um sorrisinho para meus colegas. — Bianca — adverte.
— Você é um tremendo babaca, babaca gay! Eu estou há cinco anos nesta empresa e você chuta minha bunda porque eu vomitei em cima de você e do seu namorado por descobrir que é gay. Olha! Eu quero que vá para o inferno! — explodo, minhas mãos tremem de nervoso, sinto meu corpo suar. — Você está sendo insano, foda-se que é gay!
— Bianca, por favor. Fale baixo.
Solto uma gargalhada ácida. — Fale baixo? Então o problema é esse? Achou que eu ia falar para alguém que você e seu suposto amiguinho fodiam dentro de sua sala, nas intermináveis reuniões? Como você pôde sequer pensar isso e ainda por cima vir com esse papinho para me demitir? O que vai colocar no papel? Justa causa por descobrir que você é gay?
As pessoas ao nosso redor já olhavam assombradas, cochichando umas com as outras.
Agarro a caixa em cima de minha mesa com todos os meus pertences. — Sabe de uma coisa? Essa empresa de merda nunca mereceu meu trabalho! — digo e saio batendo os pés em direção ao elevador, atropelando as duas meninas que saíam dele.
Se esse não é o pontapé que eu estava esperando para dar um rumo totalmente novo em minha vida, só falta um meteorito cair direto em minha cabeça, não é mesmo?
Capítulo 3
N a manhã seguinte, o sol me saúda através das cortinas lilás, com a promessa de um dia melhor... ou não. Olho para o relógio na mesinha de cabeceira, passa das onze horas. O calor do final de ano cai sobre a cidade com força, deixando aquela vontade imensa de arrumar uma mala, jogar algumas roupas despretensiosas dentro, pronta para viver uma aventura sem ter por que voltar.
E eu devia mesmo executar esse plano, não estou nem um pouco disposta a me sentar em frente ao computador e enviar currículos a tarde toda, muito menos ficar remoendo a canalhice que Patrick fez comigo.
Abro o notebook, apoiando-o em minhas pernas, pesquisando sobre destinos e lugares que sempre quis conhecer.
— Querida, cheguei! — Luce grita ao fechar a porta do apartamento atrás de si.
Olho por cima do ombro, vendo minha amiga deixar de lado as chaves reservas na mesa de jantar, junto com sua bolsa e celular.
— Você não devia estar trabalhando? Achei que nos veríamos de noite!
— Tirei a tarde de folga. E você também, não?
— Fui demitida — conto, bufando.
Luce se joga ao meu lado no sofá, encarando meu rosto. — Mentira, né?
— Mais pura verdade, aquele filho da puta me chutou da empresa com a desculpa de que eu ter sentimentos por ele ia contra a política imposta!
— Tá de brincadeira, o que pretende fazer agora?
Dou de ombros — Tenho uma reserva guardada. Talvez agora eu esteja precisando mesmo é de umas férias.
Ela arranca o notebook de meu colo, rolando a tela, vendo minhas pesquisas. O anúncio que piscou na tela assim que abri e digitei o que queria no Google, chama de imediato minha atenção. Se eu abusar do cartão de crédito posso ir com a consciência tranquila.
— Se jogar numa praia paradisíaca em pleno natal?
— Por que não? Seria melhor do que ir para casa dos meus pais, ficar escutando a noite toda como meu irmão é perfeito e de sua família perfeita. Enquanto minha tia Dirce me enche o saco perguntando dos namorados que não tenho e dizendo que logo estarei seca e velha como uma ameixa. Além das cobranças de minha mãe sobre netos, que se depender de mim, ela não os terá tão cedo ou nunca. E o fato de que ela sempre tem um jeito muito gentil de mostrar o quanto minha personalidade a desagrada.
Luce gargalha.
— Sem contar que depois da meia-noite, o clima de amizade e família iria ladeira abaixo e todo mundo tentaria se matar com a faca que cortou o peru. Preciso de uma mudança e se ficar isolada numa praia, enchendo o rabo de bebidas doces, longe de tudo, for a saída?
— Então, amiga, compre agora mesmo esse pacote de viagem e arrume as malas — ela comenta ao clicar no anúncio da tela.
Encorajada por Luce, olho mais uma vez o anúncio: os passeios inclusos nas praias de Maragogi e região, são perfeitos! Oito dias de sol e mar!
— Você viu que o tal chalé do pacote é de frente para a praia?
— Maravilhoso! — comento sorridente, olhando as fotos que tinham aparecido depois que reservei a passagem na outra guia. — Aqui diz que está com poucas unidades disponíveis e que você ganha desconto quando reserva as passagens.
— Cadê aquele cartãozinho de ouro? — Luce brinca.
Saco o cartão de crédito e parcelo a viagem a perder de vista, desse modo o fato de eu ter sido chutada do meu emprego não impactará em continuar pagando meu aluguel e as parcelas do cartão. Confiro todas as informações, eu embarcarei para Maragogi dia vinte e um de dezembro e volto para São Paulo no dia vinte e oito. Oito dias no mais perfeito paraíso, longe de toda a bagunça que minha vida se transformou. Esses oito dias serão suficientes para eu reabastecer minhas energias, traçar novas metas e fazer as mudanças que tanto preciso.
— Pronto, tenho uma semana para a viagem.
— E amanhã iremos nos jogar num dia de garotas e comprar alguns biquínis novos, para sua aventura praiana.
— Dia de shopping animador, em pleno final de ano? — questiono rindo.
— Sua vida seria um tédio sem mim, gata! — diz piscando. — Vamos aproveitar as liquidações.
— Tudo bem — dou-me por vencida.
***
A beleza do feriado mais amado, HO, HO, HO!
— Vai sentar no colo do bom velhinho, amiga?
Reviro os olhos para Luce, — Só falta isso na minha lista de coisas que não devo nunca fazer: correr para roubar o lugar de criancinhas e sentar no colo de um velho com barba falsa.
Luce ri — Vai que ele traz um belo presente para você!
— Tô precisando quase de um milagre. Uma mala cheia de dinheiro seria muito bom, outra coisa interessante seria o bom velhinho transportar homens em caixas de brinquedo.
— Acho que os seus pedidos estão exigindo demais do coitado. Mas será que se pedirmos com bastante desejo ele manda algum de um metro e oitenta em caixa de brinquedo? — Luce gargalha.
Dou de ombros tomando o resto do meu sorvete. — Poderia me contentar com um metro e setenta, os tempos são caóticos.
Olho uma última vez para o velhinho sorridente na ampla poltrona vermelha entregando doces e arrancando sonhos das crianças inocentes que correm em sua direção, antes de caminhar na direção contrária.
— Acho que tem alguém mudando de ideia e vai entrar na fila do bom velhinho — Luce caçoa.
— Você já reparou que ensinamos as crianças a não falar com estranhos e tomar certos cuidados, mas incentivamos a sentar no colo de um, por causa da magia do Natal? — inquiro.
Luce me encara arqueando a sobrancelha, — Amiga, tua amargura tem lógica.
— Não estou amarga com a vida, é apenas uma observação. E outra, compramos mais do que deveríamos — comento ao olhar a quantidade de sacolas em meus braços.
— Mulheres precisam de agrados e você precisava de biquínis cavados para marcar esse bundão!
Reviro os olhos. — A sua sinceridade é impagável.
— Precisa de carona até o aeroporto, amanhã?
— Não, tenho tudo sob controle.
— Vê se não deixa de anotar tudo o que precisa para se encontrar por lá. — Luce alerta.
— Fiz um pacote avulso onde contratei um transfer até o chalé, então, nada de me perder por Maragogi, pelo menos não intencionalmente. Segundo está no site, o chalé fica a cinquenta minutos do centro.
— Daqueles bem escondidinhos para altas aventuras — diz maliciosamente. — Serão grandes dias, quero ligações para me contar as novidades.
— Tem um ditado que diz: pior do que está não fica . Vou descobrir se é verdade.
— Deixa de ser pessimista, vai ser uma viagem incrível e, quando o ano virar, as coisas serão melhores!
Dou de ombros, não quero criar expectativas. Tenho grande experiência de me frustrar com falsas expectativas. Quero curtir esta viagem sozinha, para um lugar que nunca fui e passar oito dias maravilhosos por lá.
Capítulo 4
D emoro um pouco para fechar a mala devido a quantidade de coisas que enfiei dentro dela, arrasto-a pelo piso até a porta de entrada, junto com a bagagem de mão pequena que decidi levar de última hora com itens indispensáveis.
A viagem de avião foi tranquila, como escolhi viajar a noite por conta da diferença de valor, me sinto sonolenta e tudo que desejo é cair naquela cama macia que vi na foto. A van espera enquanto busco minha mala na esteira. As pessoas que entraram junto comigo estão animadas para se aventurarem, mesmo de noite, pelo que a cidade tem a oferecer.
Apoio minha cabeça contra o vidro frio do carro, ouvindo o guia explicar sobre as praias e os destinos que os turistas mais gostam. Algumas pessoas foram deixadas em uma pousada no centro, outras seguiram para pousadas na beira do mar, restava apenas um casal quando a van parou em frente a uma entradinha pequena, cercada de areia e chamou pelo meu nome.
— Esses chalés são bastante procurados por casais. — falou ao entregar minha mala.
— Viagem solo, quero esse paraíso todo para mim — digo dando uma olhada ao redor. — Desculpe parecer ignorante, mas se eu tiver algum problema, com quem eu falo? Não imaginei que seria tão isolado.
O rapaz sorri, — O hotel fica a uns dez minutos de caminhada dos chalés, mas basta ligar para a administração que você será atendida e algum funcionário virá até você.
— Ah, obrigada — respondo me sentindo uma idiota por ter perguntado.
— Espero que Maragogi lhe traga boas surpresas.
— Oito dias de tranquilidade já me bastam.
Pego minha mala, acenando quando ele me deseja uma boa estadia e retorna para dentro da van. Retiro os tênis e as meias, fincando meus pés na areia fofa e gelada, caminhando até o chalé.
Há um caminho de pequenas lanternas pela areia, isso se repete em todos os chalés. As luzes externas estão acesas, uma rede balança de maneira preguiçosa com o vento vindo do mar ao longe.
Paro em frente a porta e no meio de toda a empolgação, não prestei atenção como entraria, geralmente em hotéis fazemos o check-in onde o atendente nos entrega o cartão de acesso ou a chave, mas quando fechei o pacote, não recebi um código, chave, nada disso. Será que terei que caminhar até o Hotel? Não tirei essas dúvidas com o guia do transfer .
Meu lado paranoico ativou, fazendo minha mente já cair em várias armadilhas. Balanço a cabeça para tirar essas ideias da mente, o chalé está com as luzes acesas, óbvio que a empresa sabe de minha chegada e deixou tudo preparado. Não há motivo para paranoia, Bianca! — brigo em pensamento — Posso muito bem ir até o hotel como o rapaz da van me informou e buscar a chave .
Olho ao redor vendo que a distância entre os chalés é considerável, tornando realmente um espaço particular na praia.
Confiro o número do chalé no e-mail e na porta em minha frente, devolvo o celular para a bolsa e empurro a porta — como um teste para ver se está aberta, antes de caminhar até o Hotel em busca da chave de acesso —, ela abre com um pequeno rangido e por dois segundos fico parada olhando para dentro, procurando pelo interruptor para acender as luzes.
O ambiente praiano se mistura com os móveis rústicos de madeira clara tomando conta do ambiente; até mesmo a pequena cozinha segue o padrão da sala. Entro arrastando minha mala, parando na mesa redonda de jantar vendo uma linda cesta de guloseimas posta ali com um cartão de boas-vindas.
Junto ao cartão, tem um molho de chaves, que obviamente são do chalé.
Viu? Sem nenhuma desculpa para aquele “quase surto” — digo a mim mesma.
Abro a cesta intocada, vendo que tem alguns itens da culinária local, assim como um pequeno café da manhã preparado. Caminho até a cozinha, abro os armários, a geladeira está abastecida.
Puxo minha mala em direção ao quarto, parando para sorrir igual uma boba ao ver a imensa banheira no banheiro com vista para a praia. Um verdadeiro paraíso! Deixo minha mala no canto do quarto e então meu coração salta pela boca, tateio as paredes tentando achar o interruptor de luz, com os olhos colados no vulto que se senta na cama.
Tropeço em meus próprios pés, batendo a mão com força na parede ao acender a luz.
— QUEM É VOCÊ? — pergunto aos berros.
— Eu é que pergunto! Que porra você está fazendo aqui? Quem é você? Como entrou no meu chalé? — O invasor coça os olhos tentando se acostumar com a claridade, enquanto eu permaneço colada contra a parede, com um abajur nas mãos, pronta para usá-lo como arma.
Capítulo 5
E le empurra para longe o lençol que cobria suas coxas e levanta-se, vestindo nada mais que uma cueca boxer bem agarrada nas coxas torneadas. Os cabelos, com leves toques grisalhos e extremamente atraentes, bíceps definidos, que chamam minha atenção, como se já tivéssemos nós cruzado em algum momento.
Deixando de lado por alguns segundos que as coxas torneadas, seguidas de músculos e mais músculos que dão água na boca, são de um invasor.
Seus olhos fixos nos meus, fazendo o ato de desviar meu olhar não ser uma opção, pelo menos, não ainda.
— Vai me dizer quem é você e por que está parada no meio do meu quarto segurando um abajur pronta para me atacar?
— Eu deveria fazer as mesmas perguntas, já que este chalé é meu. — afirmo empinando o queixo evitando, na realidade, deixar meu olhar ir para baixo, logo após o tanquinho definido, bem perto dos pelos que descem por seu umbigo, indo se esconder na cueca. Ao longo da parte superior de sua coxa, quase em neon, bem brilhante como uma árvore de Natal iluminada, uma protuberância muito proeminente. Aperto as pontas dos dedos contra o abajur, não caindo na tentação no meio de suas pernas, ou melhor, querendo fugir pelas beiradas.
— Isso é inaceitável! — falo, desviando os pensamentos eróticos que brilham em minha mente.
— Concordo! Como entrou aqui? — Ele retruca, cruzando os braços diante do peito.
— Pulando a janela que não foi — resmungo.
— Língua afiada a sua, mas como vemos, eu estava dormindo e foi você quem invadiu meu quarto. Aluguei este chalé para o final de ano, o que significa que você entrou no chalé errado.
Respiro fundo, exalando o ar de maneira audível. Devolvo o abajur para a cômoda e caminho até a sala, em busca da minha bolsa, retornando para o quarto com pisadas firmes.
— Aqui está, eu aluguei para o Natal — rebato, praticamente enfiando meu celular contra o rosto dele, com o e-mail de locação aberto.
Ele me encara, retira o celular da minha mão analisando as informações em silêncio.
Minha impaciência diante sua postura me faz bufar.
— Pronto, já viu? Agora você precisa procurar o seu chalé, pois este é meu.
Mas tudo que ele faz é rir, um riso baixo e grosso, deixando a fileira de dentes à mostra.
— Não estou vendo nada engraçado por aqui. Saia. Agora!
— Ah, eu estou vendo algo muito engraçado! Você caiu em um golpe!
— Que diabos você está falando? — inquiro com as mãos na cintura.
— Esse site é falso, você caiu no golpe da locação. Nem mesmo o logo dos chalés eles tiveram o trabalho de colocar no site.
— Você só pode estar falando besteira, eu não caí num golpe!
Puxo o celular analisando toda a página do e-mail, clicando no link ao final que me encaminharia diretamente para o site.
Meus olhos se arregalam quando a página dá erro, não uma, mas três vezes. — Isso é impossível! — minha voz sai um mero sussurro, sinto minha respiração prender na garganta.
— Não, isso é mais comum do que imagina, ainda mais em épocas festivas. Aposto que você recebeu o link contendo uma promoção incrível, tão incrível que nenhum site de viagem tinha algo do tipo. Não é mesmo?
Abro e fecho a boca sem saber o que falar, pois foi exatamente isso que aconteceu.
— Ninguém nunca te ensinou a averiguar antes de fechar um negócio?
Ele joga-se na cama, colocando os braços atrás da cabeça com um imenso sorriso zombeteiro no rosto. — Como hoje está tarde, deixo você dormir no sofá, desde que fique longe das facas e abajures. E amanhã você tenta achar um chalé para você. Estou até sendo razoável com a pessoa que me acordou querendo me atacar. — acrescenta bocejando.
— Você só pode estar brincando com a minha cara, eu investi nesta viagem, não vou deixar este chalé! Pegue suas coisas e saia daqui!
— Quem caiu no golpe mais ultrapassado da internet foi você. Espero que não tenha pago por depósito.
— Eu parcelei — confesso.
Ele sorri, relaxando ainda mais na cama — Então é só cancelar, problema resolvido.
De fato, se ele estiver certo — e eu não estou pronta para assumir que sim —, eu caí feito uma patinha num golpe estúpido.
— Apague a luz quando sair — diz, ajeitando-se contra os travesseiros.
***
Esmurro as almofadas, com o telefone contra o ouvido. — Não estou te ligando para você rir.
— Amiga, estou rindo com todo respeito do mundo. Acredite!
— Não sei por que te liguei — resmungo.
— O que você tem que fazer é procurar a administração desses chalés e informar o que houve. — Ela diz do outro lado da linha. — E logo depois ligar na administradora de cartão e pedir o cancelamento das parcelas.
— Farei isso assim que o sol aparecer no céu.
— E quanto ao seu colega de quarto, ele é gato?
— Urgh! Um folgado, escroto.
Olho por cima do ombro, vendo a fresta de luz da sala iluminar o traseiro dele sobre a cama.
— Estou pedindo atributos físicos, amiga.
Reviro os olhos, ficando de costa para o folgado deitado a alguns metros de mim, numa cama extremamente confortável. Corrigindo, na minha cama extremamente confortável! Enquanto eu me ajeito neste sofá!
— Nem mesmo ele ter uma comissão de frente “nota dez” o salva — retruco ao socar outra vez as almofadas.
— Preciso de uma foto! — Luce comenta gargalhando.
— Eu preciso dormir e ver que isto não passou de um pesadelo e que na verdade eu estou dentro do avião a caminho das minhas férias perfeitas. E que esta história de golpe não passa de um pesadelo estranho devido a minha animação para curtir o Natal longe de tudo.
— Sinto te informar que isso só poderia ser possível se eu estivesse dormindo também.
— Vou desligar, amanhã ligo dando notícias.
— Tudo bem, vou esperar sua ligação pela manhã.
Dou uma última olhada em direção ao quarto, vendo-o se remexer na cama, jogando para longe o lençol, deixando seu corpo todo à mostra. Reviro meus olhos, ao relembrar o choque que tive com a protuberância em sua cueca.
Pelo amor de Deus, tudo isso só pode ser uma imensa piada!
Acordo com o som de panelas batendo e o cheiro de ovos e bacon, fazendo minha boca salivar.
Espreguiço-me no sofá, passando as mãos pelo rosto e espio o quarto, agora com a porta totalmente aberta, assim como as cortinas das portas de vidro que dão para a varanda de entrada.
Os chiados que vêm da cozinha tiram minha atenção do quarto para olhar cada centímetro daquele corpo bem em frente ao fogão, novamente vestindo apenas uma cueca. Será que ele não trouxe roupas na mala? Tudo bem que estamos à beira mar, mas isso por si só não é desculpa para andar só de roupa íntima.
Levanto indo até a cozinha e se de longe a cena de sua bunda envolta por uma cueca boxer estava boa, de perto chega a ser um pecado! Quase me faz repensar sobre a falta de roupas, — coloque muita ênfase no quase!
— Nunca vi uma pessoa dormir como você.
Ele se vira, despeja o conteúdo da panela em um dos pratos em sua frente.
— O que quer dizer com isso?
Ele sorri. — É sério que você não se lembra de mim? Pois, eu estava me questionando de onde poderia conhecer você. Óbvio que ontem não consegui me lembrar, não depois de ser atacado em meu próprio quarto.
— Não estou entendendo nada — afirmo ao ocupar um lugar na ilha no meio da cozinha.
Ele estende o prato em minha direção e se inclina contra a ilha, olhando-me com uma expressão que deixa minhas bochechas coradas. Cruza os braços sobre o peito despido.
— Você é a garota do bar. Achei que lembraria de nossa despedida no carro. Mundo pequeno, não?
Ele ri da minha expressão confusa e volta para a frigideira.
— Acredito que esteja me confundindo — digo, engolindo em seco.
Ele me olha, arqueando a sobrancelha. — Acho que não, geralmente não esqueço de uma mulher que me dá um belo boquete.
— Ei, mais respeito, idiota!
— De forma alguma quis desrespeitá-la. Muito pelo contrário. Achei que se lembraria de mim, mesmo que ambos tivéssemos bebido demais na noite em questão.
Cruzo os braços diante dos seios. — Você está me confundindo com outra pessoa!
Ele pega a panela no fogo e volta, dando de ombros em minha direção. — Duvido muito.
— Acredito que não poderia esperar outra coisa de você não é mesmo? É um sem educação!
— Acho que a boa aparência compensa.
Ele está tentando me irritar? Isso é óbvio.
Assisto a ele pegar uma garfada generosa da comida em seu prato, enfiando-a na boca com um sorriso quente como o inferno.
— Acho...que deveríamos...começar de novo — diz entre uma mastigada e outra.
— Bianca.
— Caio, o cara que te salvou de beijar a calçada de tão bêbada enquanto cantava...
— “ Makes me Wonder” — interrompo. — Puta que pariu!
Como eu sei que o que ele diz é verdade? Porque sempre que bebo um pouco a mais me empolgo achando que sou o próprio vocalista da “ Maroon 5”! Então, é totalmente possível a gente ter se envolvido.
Ele ri alto. — Fico feliz que a bebida ainda não tenha corroído seu cérebro.
— De todas as pessoas do mundo...
— Ah, pare! Eu adorei descobrir que tive o prazer de encontrá-la novamente. Mesmo depois de meses tentando falar com você, nunca atende o telefone? Ou responde mensagens? — Pergunta jogando um pedaço de bacon na boca.
— Não costumo atender ou responder mensagens de estranhos. — Faço uma careta. — Isso é verdadeiramente um pesadelo.
— Não coloque palavras em minha boca, apenas outras coisas.
Estreito meus olhos, odiando sua arrogância e confiança por já termos transado.
— Não fique tão confiante por que transamos uma vez, estou a ponto de chutá-lo daqui quando resolver o problema da reserva.
Ele sorri — Se você contar o episódio no carro, foram duas. E você não reclamou.
Caio se levanta, caminha em direção a geladeira e é como se tivesse um imã colado em seu traseiro e em meus olhos. É inevitável não olhar.
— Pode olhar, não há nada de errado com isso — diz sorrindo ao pegar uma garrafa de água.
Franzo a testa desviando imediatamente o olhar. — Não estou olhando.
— É, aposto que não.
Capítulo 6
O ntem de noite não tinha percebido como o Hotel era imenso. A parte onde os chalés ficam na praia não é nada se comparada ao esplendor que o resort representa. Perdi as contas de quantas piscinas e áreas de lazer passei até finalmente atravessar uma ponte e chegar à Torre do Hotel.
Mesmo não querendo admitir, fui feita de boba. Olhando todos os detalhes do hotel, nunca sairia pelo preço que paguei pelos oito dias.
— Em que posso ajudar? — questiona uma mocinha sorridente, sua voz soa tão doce que poderia me dar enjoo.
— Estou hospedada em um dos chalés, porém tem outro hóspede comigo e eu não o conheço, mas ele afirma que o quarto é dele. — minto, bom só pela parte de alegar que não o conheço. Mas esse tipo de informação ela não precisa saber.
— Qual é o seu nome?
— Bianca Mendes.
A mocinha digita rápido no teclado, olhando atentamente para a tela, volta e meia sua expressão muda, ficando entre totalmente compenetrada e confusa.
— Desculpe, mas não temos nenhuma reserva em nome de Bianca Mendes, você fechou a reserva diretamente em nosso site ou por algum canal de viagem?
— Sim, eu fechei por este canal aqui, na verdade recebi uma promoção por oito dias — digo rapidamente, pegando o celular na bolsa, abrindo o e-mail para que ela veja.
— Então, vejo que as informações do Hotel estão corretas, mas não tem nenhuma reserva em seu nome e esse não é um dos sites parceiros.
O desespero bate forte novamente com a confirmação do pesadelo que entrei.
— Moça, eu paguei por uma reserva de oito dias, fora os passeios.
Está estampado no rosto dela a pena diante do que eu lhe contei.
— Eu vou chamar o gerente, só um instante.
O que não demorou muito, logo a atendente estava de volta à recepção, sendo seguida por um moreno alto, vestindo terno de boa qualidade.
— Susana me informou sobre seu problema, posso dar uma olhada no e-mail de confirmação?
Confirmo com um gesto, entregando-lhe o celular.
— Hum, realmente esse não é um dos sites parceiros. — Ele ergue a vista do celular, devolvendo-o logo em seguida — Infelizmente você caiu em um golpe, quando entramos no site disposto no final do e-mail, informam que a página foi retirada do ar. Nos últimos meses uma porção de hotéis e resorts têm enfrentado problemas como este. Sites falsos, usando informações oficiais divulgam promoções para que os turistas caiam num golpe hoteleiro.
Engulo seco, prendendo as lágrimas nos olhos. Como sou estúpida e em que bela enrascada de Natal eu me meti!
— Só para esclarecer, o chalé trinta e dois está em nome de Caio? E eu sou a invasora?
A atendente confirma ao olhar a tela do computador.
— Pelo que notei sua falsa reserva foi feita por cartão de crédito, você terá que ligar e cancelar o mais rápido possível para que as outras parcelas não sejam debitadas.
— Quanto ficaria uma estadia de oito dias? Não precisa nem mesmo ser nos chalés. Pode ser aqui mesmo, no hotel. — Comento apontando para o grande saguão.
A atendente e o gerente trocam um olhar silencioso.
— Ficaria em torno de nove mil reais — O gerente diz.
Travo os dentes suspirando profundamente, eu não tenho esse dinheiro, e mesmo se tivesse um limite desses para parcelar novamente, precisaria esperar o cancelamento para poder fazer isso. Ou seja, eu estou numa enrascada completa.
Eu deveria ter desconfiado que estava tudo muito barato!
— Podemos ajudar em algo mais?
Dou um sorriso sem graça, antes de negar e voltar para o chalé.
Sei que Luce pode me ajudar com a questão da passagem para voltar, já que a minha está marcada para daqui a oito dias, sem direito a reembolso. Fantástico!
Refaço todo o caminho até o chalé, respirando fundo, com vontade de chorar.
Com raiva até por olhar em volta e ver que ninguém ali, além de mim, tinha sido enganado e caído num golpe ridículo. Todos parecem felizes e satisfeitos por aproveitarem as férias tão sonhadas. Eu sou a única bobona, e o pior, a confirmação disso tudo está saindo neste exato momento do mar.
A sunga molhada com aquela protuberância marcante, as gotas de água salgada escorrendo pelos músculos, o leve balançar de cabeça para afastar o cabelo do rosto. Digno de um episódio no “De férias com o Ex”, mas no meu caso, seria “Caindo de trouxa na praia alheia”.
— Olha só quem voltou! Espero que tenha resolvido o pequeno problema de invasão.
— Sim, fique à vontade em seu chalé, — “poderia enfiá-lo naquele lugar”, penso — Estou indo pegar minhas coisas.
Caio para perto de mim, seus olhos me analisando.
— Pelo visto caiu em um golpe mesmo.
— Sim — respondo amarga.
— Mas isso é fácil de resolver, conseguiu um quarto para ficar?
— Claro, junto com um champanhe e um desejo de boa estadia. — resmungo. — Você sabe quanto custa oito noites neste lugar?
— Imagino que seja um pouco salgado nesta época do ano.
Gargalho. — Acredito que nem todo o sal escorrendo pelo seu corpo chega aos pés.
— E o que você pretende fazer?
Minha vontade de revirar os olhos é tamanha que eu não consigo controlar.
— Arrumar as malas e voltar para São Paulo. E passar horas intermináveis em espera numa ligação para a operadora do cartão.
Caio pega a toalha jogada em uma das espreguiçadeiras e seca seu rosto e braços.
— O que a fez vir para tão longe e sozinha, justo no Natal?
Arqueio a sobrancelha. — Não estou vendo uma companhia para você por aqui.
Ele sorri. — Vim trabalhar, sou responsável pelo banquete natalino. Sua vez.
Gostoso e chef de cozinha? Assim era um pecado, atacar qualquer mulher pelo estômago é um pecado.
— Encurtando a história fui demitida do meu emprego e fugi da encenação de Natal perfeito que minha família adora fazer todos os anos e agora tenho que pedir um favor para minha amiga se quiser voltar para casa, já que minha passagem de volta com seu preço promocional não inclui alteração na data, muito menos reembolso.
Era para encurtar a história, mas acabei contando bem mais do que pretendia.
— Entendi, sua viagem foi uma fuga, você mirou na fuga perfeita e acertou numa confusão — comenta rindo.
Dou de ombros — Enfim, desculpe pela confusão.
Viro caminhando em direção ao chalé, quando Caio segura meu punho, puxando meu braço.
— Tenho uma proposta para fazer.
— Não... — digo torcendo os lábios.
— Para, nem escutou minha proposta ainda e, afinal, o que você estaria perdendo? Ou vai dizer que tem mais algum chalé para invadir? — acrescenta rindo.
— Muito engraçadinho!
Caio dá um passo, ficando mais perto.
— Dizem que esse é um dos meus pontos fortes. — Ele abre os braços com um sorriso enorme nos lábios — Serei seu próprio Papai Noel, divida o chalé comigo!
— Não é uma boa ideia.
— Por que não? Eu ficarei pouco no chalé, nos veremos apenas no café. O resto do dia estarei esquentando a barriga dos visitantes.
— Como você acabou aqui, cozinhando para outras pessoas em vez de estar com sua família? — questiono. — Trabalhar nos feriados?
— Uma das minhas paixões na vida é cozinhar, então, todo ano me candidato a preparar a ceia. — Caio fala — Essa é minha tradição.
Ele caminha de volta às espreguiçadeiras e veste um short preto por cima da sunga úmida.
— Venha, vou cozinhar algo bom para nós.
— Eu não disse que aceitei sua proposta.
Bem, na verdade eu estou bem propensa a aceitar, eu já estou aqui mesmo. Não é?
Ele esboça um sorriso sacana. — Não pense nisso agora, espere até estar saciada de tanto comer.
Eu poderia dizer não, ligar para minha amiga em busca de socorro, pegar minhas malas e dar meia volta até São Paulo. Ou podia dar umas horinhas para pensar sobre tudo.
O fato é que eu não sou de medir as consequências, quando vejo... já fiz. Mesmo que as pessoas vivam dizendo que para uma mulher de trinta anos, essa não é uma postura adequada.
Caio me conduz de volta para o chalé. Ocupando a ampla e arejada cozinha, coloca uma vasilha sobre a mesa, sua expressão compenetrada ao escolher os ingredientes é ainda mais sexy do que seus sorrisos.
Isso se eu não contar o olhar cara de pau que ele me lança, como se eu fosse um pedaço suculento de carne.
— Você vai ver que sou uma ótima pessoa para se dividir um chalé. Sou muito prendado, mas isso você já deve se lembrar.
Abri a boca sem saber o que responder.
— Venha invasora, prometo que não vai doer. E eu não mordo; bem, na verdade sim, mas você quem pediu aquela noite.
— Ei, camarada, lembro bem que você e eu não transamos!
— Tem certeza? — pergunta estreitando os olhos.
— O carro não conta. — retruco com o ego ferido.
— Ô se conta, mas se aquilo não foi uma transa para você, estou ansioso para saber o que seria!
Ele me lança uma piscadela, seguida de uma gargalhada, mergulhando na tarefa de separar os ingredientes.
***
Olho por cima do ombro, verificando se estou mesmo sozinha.
— Você precisa admitir Bia, isso é bem engraçado!
— Em tanto lugar no mundo, eu vim invadir o quarto de um ex-peguete .
Luce ri, balançando a cabeça, enquanto toma um copo de suco. — Eu aceitaria na hora a proposta e ainda incluiria um sexo animal na lista.
— Você é sem-vergonha, amiga — digo sorrindo para ela por vídeo-chamada.
— Parece que o presente de Natal veio antecipado este ano — Luce brinca fazendo gestos obscenos na câmera. — Então, o garanhão está por aí?
Dou mais uma espiada por cima do ombro. — Não, ele foi conhecer o local de trabalho.
— Não se esqueça de mandar um vídeo dele se trocando, aproveite, tire várias casquinhas !
Capítulo 7
U ma noite bastava para descobrir que dormir naquele sofá seria como se um caminhão passasse por cima das minhas costas durante a noite.
Caio realmente falou sério quando disse que mal nos veríamos, já passava das nove da noite e ele não tinha dado as caras de volta no chalé. Não que eu esteja reclamando. Pude aproveitar o mar límpido e convidativo e o sol quente durante todo o dia, aumentando meu bronzeado.
Tinha acabado de colocar meu pijama quando escuto a porta se abrir.
— Alguém finalmente aproveitou o dia — comenta assim que nos cruzamos no corredor.
— Aproveitaria mais se não tivesse uma noite tão ruim ao dormir neste sofá.
Ele morde levemente o lábio inferior ao me encarar.
— Já ofereci a cama para você?
— Sim, mas não quero dividi-la com você, por que não revezamos, você dorme no sofá durante duas noites e eu nas próximas duas. Que tal?
Caio caminha até o quarto, arrancando a camisa pela cabeça, me deixando parada na entrada, vendo seus músculos agitarem enquanto anda pelo quarto.
— Então está decidido, você dorme na sala hoje. — Anuncio, chamando sua atenção.
Ele vira-se, sorri e anda para perto de mim.
— Parece que está fugindo de mim, o que acha que vou fazer com você se dividirmos a cama?
— Nada! — respondo rápido, contrariando minha vontade de encarar seu abdômen nu, minha vontade de cravar as unhas em seus braços e...
— O único problema de dividirmos a cama seria pijamas. — Sua expressão de desagrado me traz à tona.
— Como assim?
Ele vai até uma pilha de toalhas limpas que a camareira tinha deixado pela manhã na cômoda, pega uma deixando as outras bagunçadas. E volta a olhar para mim por cima do ombro.
E no mesmo instante que abre a boca para dizer algo, sua bermuda caqui e cueca despencam no chão, me fazendo ficar petrificada na porta do quarto.
— Eu durmo pelado.
O riso dele sai leve, ele está se divertindo às minhas custas. Caio passa por mim no quarto — onde ainda estou parada encarando a jiboia que ele tem no meio das pernas me perguntando como não me lembro desse detalhe quando ficamos juntos — e vai em direção ao banheiro.
Ele estava se saindo aqueles tipos de caras que você não sabe se quer dar um soco ou quicar feito bola de basquete. Eu, com certeza, mesmo negando, sei qual opção escolheria.
Escuto o barulho do chuveiro e me atrevo a entrar no quarto, caminho até a cama sentando-me na ponta. Afinal, quem eu queria enganar? Poderia ter trinta anos, mas para mim, idade era só um conjunto de número que faz a sociedade se sentir no direito de ditar sua vida e julgar quando você não faz as escolhas padrões.
Caio era quente e já transamos antes, que mal haveria em matar minha vontade neste momento?
Seria um caso de uma noite ou sete dias? Ele é gostoso, vive dando respostas espirituosas para mim, estamos sozinhos no meio de uma praia paradisíaca em Maragogi...ainda não consegui pensar nos contras.
Não me dou conta de que o chuveiro tinha cessado, só percebo quando Caio surge se recostando na porta, observando-me, a toalha amarrada na cintura, deixando à mostra o caminho da felicidade.
— Está considerando minha proposta?
— O que mais você pode me oferecer? — devolvo.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Quer que eu te mostre?
A falta de resposta momentânea não o afeta, Caio cruza o pequeno espaço entre nós, puxa meu corpo para fora da cama, contra o dele. Ele remexe o quadril, fazendo seu pênis a meio mastro roçar em minhas pernas, aumentando minha vontade de relembrar como era ter ele em minhas mãos, boca e em meu corpo.
— Me diz, Bia — meu nome parece sair aveludado de sua boca —, o que te fez mudar de ideia?
— É como dizem, se já estou em maus lençóis, o melhor a ser feito é me enrolar nele. E pela falta de companhia e marca de uma possível aliança no seu dedo me indicam que não estarei sendo uma piranha cretina.
A gargalhada dele faz meu corpo vibrar junto ao seu.
— Sem compromissos. Agora posso saber o que posso fazer com seu corpo?
— Acho que estou pagando para ver do que é capaz. Ou será que é apenas um corpo gostoso e piadinhas de duplo sentido? — desafio.
— Eu adoro um desafio — disse segundos antes de arrancar minha blusa por cima da cabeça, a ponta dos seus dedos raspando de leve pelo meu corpo. — Aposto que quando acabar com você vai implorar por mais.
— Não aposte tão alto. — Respondo, meu pulso disparando.
Caio tinha com certeza, dois dos três atributos que me faziam ir para cama com um cara, o terceiro acho que estava prestes a descobrir.
Desço minha mão sobre seu abdômen, chegando no limite da toalha, mas não paro por aí, faço com que ela caia entre nós, deixando-o totalmente nu.
Sua mão se enrosca em meu cabelo preso, forçando minha cabeça para trás, sua boca desce com fome sobre meu colo, fincando os dentes no sutiã, forçando-o a libertar um de meus seios, só para que ele o abocanhe.
O gemido sai alto de minha boca, sua barba raspando minha pele, enquanto morde e mama meu seio com desejo e tesão. Faço certo malabarismo para me despir de meu short e calcinha, chutando-os para fora do caminho para que ele não perceba que a pobre coitada da calcinha não é daquelas que colocamos para os dias transantes . Esta com certeza é da classe de: “hoje não tem farra aqui embaixo”.
— Adoro seu lado sem-vergonha, e é muito bom saber que ele não aparece apenas quando você está de porre.
— Você não perde a chance de relembrar esse dia!
— E por que perderia? A única coisa que posso prometer é que deixo a lembrança do que faremos hoje ocupar o lugar daquela.
Não tento responder, não com ele deslizando a mão sobre minha boceta, contornando e esfregando meu clitóris. Empurro meu quadril em direção da sua mão deixando que ele aprofunde os dedos, gemendo quando ele gira o polegar e atinge aquele pontinho especial.
Caio abandona meus seios, subindo até o pescoço, chupando minha pele, me eletrizando. Meu corpo enganchado no seu enquanto seus dedos me fodem e eu o incentivo a fazer mais daquilo.
Antes que eu seja vencida por seu impulso de me jogar contra a cama, empurro seu corpo para trás, mordiscando todo o caminho até ficar de joelhos em sua frente.
Caio dá um meio passo para trás, se esticando para pegar preservativos na mesinha de cabeceira e é óbvio que ele tem várias opções ali.
— Prefere morango ou chocolate?
Faço uma careta — A última vez que fiz um boquete com uma camisinha de morango ficou parecendo que eu tinha feito preenchimento labial. Não foi legal, se você tiver com seus exames em dia...
— Tudo ok.
Jogo longe os pacotes de camisinha que ele tinha me oferecido, pegando seu pau nas mãos. Passo o polegar pela cabeça, seguido de uma lenta chupada, umedecendo meus lábios ao olhar para cima, encarando os olhos de Caio. Lambo mais uma vez, gostando do gemido que sai de sua boca. Subo e desço a mão encontrando um ritmo, ao intercalar com chupadas nas bolas e na glande.
Só o fato do pau de Caio estar depilado me dá ainda mais vontade de prová-lo. Adoro homens que pensam nas mulheres. Afinal, nenhuma mulher é obrigada a cortar grama com os dentes.
Sua mão enrosca em meu cabelo, acompanhando o vaivém de minha boca sobre seu pênis. Finco a ponta das unhas em seu traseiro firme, acelerando os movimentos, apertando meus lábios sobre sua pele ao escutar os gemidos altos que emanam no quarto.
— Se não quiser que eu goze em sua boca é melhor parar agora — adverte.
Olho para cima, sugando ainda mais, escutando-o xingar baixinho enrolando meu cabelo ainda mais em sua mão. Sinto os músculos se contraírem, fecho os olhos, pronta para receber o jato em minha garganta e nem mesmo assim desacelero, chupo deixando os tremores que irradiam pelo corpo dele cessarem para então me levantar.
Caio me puxa pela nuca, roubando um beijo, sugando minha língua e mordendo meu lábio inferior. Nossas bocas se movem em total sincronia e furiosas; eu preciso dele dentro de mim. Ele busca o preservativo outra vez, abre a embalagem, desenrolando sobre ele.
Jogando-nos na cama, seu corpo desce sobre o meu, nada fora dito e, nem precisaria, só a força do tesão com que nos olhamos já diz coisas suficientes. Suas mãos seguram com firmeza meus seios, enquanto ele encaixa seu pau em mim, como se tivéssemos feito um nó em nossos corpos. Caio penetra fundo, o fato de uma de suas pernas estar sobre meu quadril faz seu pau tocar em lugares que me fazem gemer alto.
— Adoro o modo como sua boceta me engole esfomeada — sussurra.
— Se me fizer perder os sentidos de tanto gozar, eu deixo você gozar aqui — desafio, apertando os seios fartos.
O sorriso largo que aparece na boca dele é sexy pra cacete, ele desfere um tapa em meu quadril e me penetra fundo, os dedos brincando entre meu clitóris, ora introduzindo-os em minha boceta juntos com seu pau ou ora circulando meu ânus.
Os gemidos se intensificam com o ritmo de suas estocadas, seu peitoral brilha de suor e nossas respirações são suspiros entrecortados por gemidos. Eu estou tão molhada que não precisa muito para que ele me preencha por inteiro. Minhas costas se curvam quando Caio ataca novamente meus seios com sua boca, meus dedos afundando em sua pele, deixando a certeza de marcas pela manhã.
— Não mude de posição — imploro, sentindo algo crescer e ir tomando conta de mim.
O vaivém implacável, sua boca chupando ferozmente meus seios, sendo capaz de produzir um orgasmo eletrizante, quente, derramando-me sobre seu corpo. Jogo a cabeça para trás, contra os travesseiros e suspiro ao fechar os olhos.
— Abra os olhos, a noite está apenas começando.
Capítulo 8
S into leves cócegas, as pontas dos dedos de Caio acariciam o espaço entre meus seios, descendo pelo estômago, passeando por todos os lugares que ele se familiarizou em meu corpo nestas últimas horas.
Abro lentamente os olhos, notando que o sol entra com força pela ampla janela de vidro do quarto, assim como meu estômago dá os primeiros sinais de desejo por um desjejum.
— Continua — peço descaradamente.
Escuto seu riso baixo e suas mãos afastarem o lençol de minha barriga, uma de suas mãos desce, abrindo minhas pernas enquanto a outra gruda em meu seio direito.
— Mais uma foda ou comer o banquete que eu estou preparando para nós dois? Acho que seu estômago prefere a segunda opção — acrescenta rindo ao ouvir o rugido baixo que vem da minha barriga.
— Meu estômago tem mais é que ficar quietinho neste momento — digo agarrando um punhado de seus cabelos e guiando sua cabeça para o meio de minhas pernas.
O riso silencioso reverbera em minha pele.
Sua mão alisa minha coxa, os dedos tocam os grandes lábios, afundando em minha carne, massageando meu clitóris, fazendo os gemidos saírem altos, sem vergonha alguma.
Minha pele inteira se arrepia quando me devora, meu corpo se contorce, ele ergue meu quadril em busca de mais contato, minhas pernas tencionam ao redor de sua cabeça, eu estou suspensa, assim como meus sentidos, totalmente perdida no estralar de língua que esse homem faz.
Fixo meus olhos no teto do quarto, agradecendo todo o perrengue passado, afinal, não é todo dia que você cruza com um homem lindo e gostoso como esse e com uma boquinha que sabe bem o que fazer.
Cravo minhas unhas em seus tríceps, deixando que as contrações explodam, percorrendo minha coluna no vaivém que ele produz com a língua e seus dedos.
— Uau! — Meus braços desabam, assim como minhas pernas.
Caio ergue a cabeça, limpando o canto da boca com o polegar, exibindo um sorriso convencido.
— Eu disse que seria muito bom relembrar o que fizemos no carro. — Ele fica de joelho na cama, o pau em riste, duro e ereto; ele o acaricia, descendo e subindo a mão. — Estou vendo esse olhar guloso.
— Se me der alguns minutos eu terei o maior prazer em te dar de novo. — Caçoo.
— Gosto dessa Bianca direta.
— Gosto do que faz com a boca — retruco.
— Vai gostar ainda mais do que faço com as mãos, tome um banho, vou preparar nosso almoço. — Comenta, levantando-se.
Observo-o caminhar nu para fora do quarto, em direção a sala.
— Alguma frescura para comida? — Caio se vira, para me encarar.
— Se é de comer, tô comendo — brinco mordendo o lábio inferior, fazendo-o gargalhar.
— Acho que você foi muito espertinha em invadir meu chalé no meio da noite, sabia? — Caio continua sorridente enquanto ocupa o espaço da cozinha, nu. — Vamos ver se você vai gostar de minhas outras habilidades.
Caio traz o frango para a ilha onde estou sentada, junto com alguns temperos e especiarias.
— Então, o que você fazia da vida antes de ser demitida?
Os braços fortes e grandes massageiam aquele frango, fazendo o cheiro dos temperos se espalhar pelo ambiente; ele está nu e seu pau quase me hipnotiza como um pêndulo de um relógio, balançando lentamente enquanto ele tempera o frango.
Deus é mais!
— Trabalho com publicidade.
— Ah, legal. Uma mente pensante! Mas, me conte, por que foi demitida? Foi pega fazendo travessuras em alguma mesa de trabalho?
— Que mente perturbada, não? Esperaria isso de um homem de vinte e poucos e não...
— De um quarentão? Os únicos que não pensariam nisso seriam os assexuados, gostosa.
— Gostosa? — devolvo.
O sem-vergonha gargalha.
— Vamos, me conte e experimente — diz ao trazer o dedo em direção a minha boca, fazendo chupá-lo.
Uma explosão de sabores ocorre em minha boca, me fazendo soltar um gemido baixinho.
— Está delicioso!
Caio pisca dando as costas para mim, indo para perto do fogão.
— Você sempre cozinha pelado?
Ele dá de ombros.
— Eu gosto.
— Até mesmo no seu restaurante? — brinco.
— Não tanto como gostaria, acho que poderia arranjar problemas com todos os ajudantes e garçons. — responde rindo ainda mais.
— Sério?
Caio se vira, olhando-me seriamente. — Sim, por que não? Quando estou criando minhas receitas preciso ficar à vontade.
— Bom, vou provar o que você está preparando aí e te digo o que achei.
O sorriso modo cafajeste está ativo em seu rosto, fazendo ser demais até mesmo para minha calcinha, está difícil ver um homem como Caio desfilando nu na minha frente.
Quando ele monta a mesa, servindo a comida, eu já estou mais interessada na sobremesa... nem mesmo me lembro de que o dia está lindo fora daquele chalé e muito menos que tenho praias para visitar. E Luce também perdoará meu sumiço e minhas poucas mensagens. Eu já passei pelo pão que o cão pisoteou, agora eu vou me divertir na banana boat!
O frango com especiarias estava divino. Eu tenho realmente que dar o braço a torcer e assumir que ele é prendado em muitas coisas. Caio coloca a última garfada na boca, empurrando o prato para o centro da mesa, olhando sério.
— E então...me diga? Conquistei seu paladar?
Inspiro protelando a resposta e tomo um gole do vinho branco em minha taça.
— Conquistou, estava delicioso.
Ele se levanta sorrindo, retira os pratos e antes de sair da mesa me tasca um beijo na boca, com direito a mordidinha no lábio inferior.
Caio é três coisas: um acaso bem sucedido do destino; um deus sexy como o inferno na cama e, com certeza, um chef de cozinha habilidoso.
Se estivesse em busca de algo sério — um namorado que seja, o que não estou! —, gostaria de alguém como ele. É a quantidade certa de sensualidade, enrolado no pacote, ou o pacote completo acoplado no meio das pernas.
Capítulo 9
— O que pode ser mais importante do que passar o natal com sua família, Bianca?
Reprimo a vontade de torcer os lábios.
— Trabalho, além do fato que a falta de minha presença não será um grande impacto.
— Bianca, você não liga para sua família! Isso é um absurdo! Você viu isso, Mario?
Claro que ela iria incluir meu pai na história — Não faça drama, mãe, por favor! Estou viajando a trabalho, volto daqui nove dias.
— O Natal já terá passado! — Ela grita.
Tremo minimamente o celular na mão, fazendo uma careta, vendo minha mãe nada tecnológica bater o dedo indicador na tela, sem saber que o problema é feito por mim.
— Mãe, o sinal...tá...nossa — fico estática, parada por alguns segundos enquanto ela pede pro meu pai arrumar o problema e ele retruca dizendo que não sabe o que está acontecendo. — Ligo para vocês... Natal...eu...beijo. — E assim encerro a vídeo-chamada, suspirando de alívio.
— Que feio, Papai Noel não vai trazer presente para uma menina tão mentirosa!
Congelo no lugar, enfio o celular no bolso do short.
— Há quanto tempo está aí? — Exijo, finalmente virando para encarar Caio parado na entrada do chalé vestindo apenas uma bermuda caída no quadril.
— Tempo suficiente para ver você sendo uma grande mentirosa com sua família. Por que não disse que está fugindo de tudo?
— Ah, claro, seria uma conversa bem mais simpática. — afirmo me jogando no sofá.
— Por que ainda não colocou um biquíni? Faltam poucos dias para você ir embora, então temos que aproveitar.
— Nem parece que já se passaram quatro dias.
— É o poder que meu pau exerce nas mulheres, desorientação. — O descarado pisca para mim. — Vamos coloque um biquíni e separe protetor solar e mais as bugigangas que as mulheres amam, pois hoje vou te levar para um passeio por Maragogi. Além de querer ver essa bunda branquela pegar uma cor, deve ficar sensacional douradinha.
— Pervertido! E posso saber aonde vamos?
Ele abre um sorriso enorme — Claro, gata! Consegui com um colega do hotel um barco para a gente conhecer os Galés.
Quando retorno para sala, Caio tinha ocupado o espaço vazio do sofá, deitado, com os braços atrás da cabeça, parecendo totalmente relaxado.
— Estou pronta.
Ele ergue a cabeça, sorri levemente e assente: — Eu também, me siga para nossa aventura!
Caio abre a porta, atravessando a varanda tomada de areia pelo vento da noite passada, dando a volta no chalé. O céu de um azul límpido, sem uma nuvem sequer para aliviar o calor que o sol faz. O mar no seu vaivém tranquilo, as ondas de um azul transparente quebrando de encontro a areia. Uma vista e tanto.
— Espero que tenha passado um pouco de protetor solar, aqui o sol queima de verdade. — Ele inclina a cabeça em minha direção, antes de assumir a direção do buggy.
— Conseguiu com um de seus amigos? — pergunto.
— Nem imagina o que podemos conseguir como barganha por um lugar no salão na noite de Natal.
— Eles vão é te demitir, isso sim — comento rindo.
— Pode ser que depois, mas mesmo assim, não o fariam, já é meu quarto ano fazendo o banquete para a grande festa de Natal deles.
Caio pega o acesso a uma estrada de terra, ladeada de palmeiras e gramas, o vento passa quente por nós, e o sorriso em seu rosto o faz parecer um menino toda vez que o buggy pula um buraco, fazendo a frente do carro erguer.
Maragogi é realmente incrível. Caio diminui a velocidade, a mão direita sai do volante, pousa levemente em meu joelho, tecendo um carinho naquela região, enviando arrepios por toda minha perna.
— Posso saber por que tem aversão a família?
— Não tenho aversão a minha família — protesto. — Não exatamente...
Ele me encara por cima dos óculos escuros.
— É verdade, apenas queria fazer algo diferente este ano. Todos os Natais são a mesma ladainha, nos reunimos onde eu fico a noite toda escutando minha mãe reclamar do meu estilo de vida e de como meu irmão é perfeito por ter a vida perfeita. — Torço os lábios e encaro a paisagem que passa por nós. — E depois de me ver com trinta anos e nada do que planejei para mim mesma conquistado, eu comprei a primeira oferta de viagem que vi pela internet e vim parar aqui.
— Lembre-me depois de agradecer aos golpistas!
Caio estaciona o buggy em umas das pequenas vagas disponíveis, desliga o carro e se inclina em minha direção, me olhando nos olhos e assim fica. Ele está a trinta centímetros de mim, os lábios entreabertos, muito convidativos, a mão ainda apoiada um pouco acima do meu joelho.
Já aguardo por um beijo tórrido ou que sua mão deslize até o meio de minhas pernas. Mas ele só beija a ponta do meu nariz e se afasta.
— Vamos.
Resmungo uma série de palavrões baixinho em minha mente enquanto pulo para fora do carro, seguindo a figura sorridente de Caio praia adentro.
Minha frustação pelo não beijo rapidamente se transforma em excitação genuína quando atravessamos a pequena trilha e meus pés fincam na areia fofa e morna. Nos dias que se passaram, eu tive oportunidade de explorar algumas praias de Maragogi, incluindo o Hotel, onde usei de forma descarada o sobrenome de Caio. Mas nada se compara ao visual que se distende diante de mim. Olhando para o oceano, os barcos balançando conforme a maré, de um azul tão claro, que dói a vista.
— Dizem que nada se compara ao mar da praia do Antunes.
— É muito diferente do que eu pensava, nunca viajei para nenhum litoral fora de São Paulo e hoje posso dizer que nada do que pensei chega aos pés disto e, estando aqui... — Olho em direção ao mar — É simplesmente perfeito!
Ele sorri.
— É difícil resistir a este lugar.
É difícil resistir a este sorriso, meu Deus, o que é o Caio sorrindo? Sabe aquela pessoa que te faz arreganhar os dentes só por sorrir? Pois bem, acho que a culpa de tudo é da única e pequenina covinha do lado esquerdo de sua bochecha.
— Tem algo melhor do que ficar aqui apenas admirando?
Eu concordo com a cabeça e devolvo um sorriso.
Caio estende a mão, pegando a minha e me puxando para dentro da praia, desviando dos grupos de pessoas sentados na areia, dos guarda-sóis. Paramos perto de um barco pequeno, muito diferente das lanchas luxuosas ou dos barcos imensos onde dezenas de pessoas se amontoam para entrar.
— Romildo! — Caio cumprimenta alegre.
— E aí cara, achei que não viria mais, temos que aproveitar a maré!
— Desculpe o atraso, mulheres, você sabe... — Acrescenta virando-se para mim e mandando um beijinho.
— Subam e ponham os coletes.
— Romildo, Bianca... Gata, este será nosso barqueiro até o paraíso.
— Muito prazer — digo ao ser içada para cima do barco.
— Primeira vez em Maragogi? — Romildo questiona.
— Sim, está tão evidente?
— Um pouco, mas a gente reconhece de longe os turistas, além de você estar toda vermelha. — diz rindo — É preciso reforçar o protetor de tempos em tempos. Mas vamos deixar de conversa mole e cair em alto-mar.
Romildo nos deixa sentados no fundo do barco, ocupando o lugar atrás do volante, o motor faz um rugido alto ao ser ligado e logo o barco está abandonando o lugar perto da praia, ganhando o mar.
— Vocês tinham que vir mais cedo, quando a maré está tão baixa que vocês podem fazer este passeio a pé.
— Sério? — pergunto duvidosa.
Romildo olha em nossa direção. — Mas é claro, isso daqui tudo fica praticamente sem água, e quando tem, nem bate nos joelhos! Ó homem, você não levou a moça para conhecer nenhuma das piscinas naturais?
— Ainda não. Pode acreditar, é incrível. — Caio confirma ao me olhar.
— Você já esteve aqui?
— Não posso me considerar um turista em Maragogi, após quatro anos...
Não fazia nem quinze minutos que estávamos no barco e ele foi diminuindo a velocidade.
— Aqui é repleto de barreiras de corais, por isso é obrigado ir devagar e tudo que vocês podem levar é em fotos e na memória.
Romildo joga dois óculos de mergulho na direção de Caio e para o barco perto dos outros, como se fosse um estacionamento bem em alto-mar.
— Cronometre o tempo.
Caio assente com a cabeça.
— Tenham um ótimo passeio.
Caio pula na água fazendo sinal para que me junte a ele. Os peixes ficam ao nosso redor, nem um pouco incomodados, estão muito mais para curiosos, já que chegam a raspar suas nadadeiras em minhas coxas, de tão perto que ficam.
Em algumas partes é possível andar, em outras tive que nadar junto com os peixes, pelo nível da água.
Caio me puxa pela mão, enroscando os braços em minha cintura. — Está gostando?
— Muito.
— Eu até poderia estar apreciando mais — fala fazendo uma careta de desagrado.
— Por que diz isso?
Caio suspira, sua mão segurando firme minhas costas. — Ver sua bunda tão linda nesse biquíni sendo beijada por peixes ao invés de minha boca não está ajudando. — Ele inclina em direção ao meu ouvido — Sua pele avermelhada do sol, meu corpo inteiro tá se espremendo nessa sunga por sua causa.
Ele ri, enquanto eu fico sem atitude. Caio vai de zero a mil em menos de dez segundos!
— Só não sou capaz de uma besteira, senão iríamos direto para a cadeia por deixar tanta gente com água na boca e as crianças assombradas.
— Não me lembro desse lado tão sem-vergonha.
— Opa! Tudo tem momento certo e finalmente vejo que o bom velhinho acertou no meu presente. Nada de meias ou pijamas. E já que o que eu quero agora não posso fazer, pelo menos, uns beijos eu vou roubar!
Esta última parte dita em sussurro, olhos colados nos meus, sua mão espalmada entre o final da minha coluna e minha bunda, faz o calor emanar ainda mais de minha pele.
Prendo seu lábio inferior numa mordida, puxando-o de leve para mim, meus braços ao redor de seu pescoço, as mãos cravadas em seus cabelos molhados enquanto aprofundamos o beijo com tesão. Eu o beijo com mais paixão do que jamais beijei um total estranho antes, mesmo que Caio não seja assim tão estranho, já que estamos dividindo um chalé por oito dias, regados a muito sexo e comida. E não há dúvida: isso é definitivamente uma ereção no meio de sua sunga, uma ereção grande, grossa e me deixando com água na boca pelas promessas safadas que ele tinha feito.
Quando finalmente pegamos ar e nossos olhos se fixam um no outro novamente, tenho minha certeza de que nada fará me arrepender de todos os meus movimentos impulsivos com Caio, só me arrependo de ter demorado tanto para tirar a roupa.
— Não sei o que faz, mas que boca gostosa! — exclama sorrindo.
Capítulo 10
— M ulher do céu, tu mirou no desastre e acabou quicando no colo de um anjo? — Luce diz ao gargalhar do outro lado da linha.
Aperto o viva-voz jogando o telefone contra o travesseiro, para passar uma regata pela cabeça. — Ele está entre o desastre e o anjo, ou pelo menos, o que faz com meu corpo pode ser julgado assim.
— E oito dias bastarão para desfrutar de tudo isso?
Tiro do viva-voz, pressionando o telefone contra o ouvido, solto um suspiro longo e me sento na cama.
— É o que tenho.
— Hum, parece que o tal invasor de quarto invadiu mais que suas calcinhas...
— Apenas tesão, além do mais, combinamos que seria apenas sexo casual natalino.
Luce ri.
— Adoro peru bem passado!
— Tarada!
— Conseguiu resolver o problema do cartão? — Luce questiona.
— Não — bufo — Cansei de passar meus dias em intermináveis ligações esperando uma posição, a última informação é que eles estão averiguando o caso.
— Mas não deve ser assim tão ruim, né? Já que o golpe está sendo bem aproveitado afinal. — Minha amiga gargalha na linha.
Olho para a entrada do quarto e a voz de Luce se perde com a imagem de Caio soltando os botões da camisa social, seu abdômen esculpido me encarando, meus olhos se movem lentamente, acompanhando seu gesto de passar a mão no cabelo sedoso, retirando-o do rosto. Com os olhos fixos em meu rosto e o sorriso em sua boca; Caio abre o cinto, desabotoando e puxando sua bermuda para baixo, e na medida em que o tecido avança em direção ao chão, sua protuberância fica exposta.
— Amiga, ainda está aí? O sinal está péssimo aqui no interior . — Luce retruca meu silêncio — Bosta, deve ter caído a ligação!
Tiro o telefone do ouvido, encerrando a chamada com um pedido de desculpas na mente, não é tão difícil desligar na cara da minha melhor amiga, especialmente com Caio de pé, nu na minha frente, caminhando em minha direção.
— Já jantou? Posso preparar algo para você — pergunta baixinho.
— Confesso que estou com fome, mas não é de comida.
Deixo meus olhos colados em seu pênis, ele caminha até mim, parando a poucos centímetros com as mãos apoiadas na cintura. Sua boca se curvando em um sorriso malicioso.
Caio curva o seu corpo contra o meu, suas mãos apoiam minhas costas até que estivéssemos deitados atravessados na cama. Sua ereção dura entre minhas pernas, aproveito o fato de estar vestindo apenas calcinha e camiseta para abraçá-lo com minhas coxas, deixando seu pênis se esfregar exatamente onde eu estava sedenta.
Tem algo diferente no toque de Caio, tem sim, um pouco da urgência em suas mãos ao me tocar e por sua respiração ofegar contra meu rosto. A voracidade do beijo e das mordidas em meu pescoço vão diminuindo gradativamente, mesmo que sua boca ainda invista contra a minha.
Minhas roupas são arrancadas lentamente, Caio se afasta apenas para descer minha calcinha por minhas coxas, logo ocupando seu espaço novamente. Gemo quando sinto a glande pressionar a entrada de minha boceta. Caio segura firme seu pau, masturbando-o algumas vezes e em outras raspando todo seu comprimento em minha intimidade, arrepiando cada mínima célula de meu corpo, me fazendo clamar por seu nome num sussurro.
Caio se curva para trás, procurando algo perto da cômoda.
— Acredito que sofrerei por dependência daqui a alguns dias — diz ao voltar para sua posição, deslizando um preservativo sobre seu pênis. — Tudo por causa dessa deliciosa.
Ele abre mais minhas pernas, deslizando os dedos por minha boceta. — Posso?
Não digo nada, puxo seu pescoço, trazendo sua boca até a minha, beijando e gemendo ao sentir suas mãos acariciarem minhas coxas e seu pau me preencher por completo.
***
Algo me cutuca, meu ombro treme e escuto alguém bem longe chamar pelo meu nome.
— Vamos, acorde!
— Uns quinze minutos a mais...
A risada quente, faz cócegas em meu pescoço.
— Abra os olhos, preguiçosa!
Respiro fundo, abrindo lentamente como Caio manda. Ainda estou mole pela noite anterior, os músculos de minha virilha reclamam ao menor movimento que faço para me sentar. Olho para ele ajoelhado ao meu lado na cama, a bermuda caqui aberta, como se ele ainda não tivesse terminado de se vestir.
— Que horas são?
— Ainda está cedo, infelizmente hoje voltarei tarde, por isso te acordei, não queria sair sem avisar. Aproveite a cidade, deixei um telefone pregado na geladeira, é de um amigo que me deve uns favores, ligue para ele. É o melhor guia turístico daqui.
— Outro homem comprado por um pedaço de peru? — caçoo.
— Mas não é qualquer peru! — diz apanhando-me pela cintura, me deitando na cama novamente.
— Acho que um dia todo na praia me fará bem, quero aproveitar o máximo deste paraíso.
— Não queime demais minha bunda, não quero você ardida.
Arqueio a sobrancelha.
— Estou pensando em nossa diversão — comenta rindo.
Sorrindo, sento-me na cama olhando a bandeja em nossos pés.
— Café na cama?
— Tudo é barganha, gata.
— Então estou em débito com você?
Ele gargalha, enfiando na boca um pedaço da laranja cortada.
— Vamos dizer que estou deixando tudo favorável para quando for comer você bem ali. — Fala ao apontar para a praia.
— Vou ficar esperando, ansiosa.
Depois de vários amassos e Caio pular da cama com o pau duro, reclamando que sou uma tentação, escuto a porta do chalé bater e ficar novamente sozinha.
Mais três dias e estarei me despedindo deste lugar, mesmo eu e Caio não termos firmado nenhum acordo, ambos sabemos que tudo que vivemos e o quanto nos envolvemos nestes dias será deixado sobre as areias de Maragogi.
Deixo esses pensamentos de lado e salto da cama após terminar o café da manhã preparado por Caio; visto um dos infinitos conjuntos de biquínis que trouxe na mala, pego uma canga, protetor solar, garrafa de água e mais outros utensílios que enchem rapidamente minha bolsa e vou para a praia.
Gosto de passar um tempo sozinha e foi bom curtir a tarde inteira na praia. O sol não estava para brincadeira, não teve um só dia em que ele tenha dado uma trégua e, mesmo acostumada com os dias quentes de São Paulo, nada consegue se comparar ao calor que faz por aqui. Tanto que por diversas vezes fui me refugiar no mar, passando bons minutos mergulhando nas águas cristalinas.
Aceitei o conselho de Caio sobre seu amigo de favores e liguei pouco depois do fim de tarde, pedi que me levasse em algum restaurante no centro. E, nossa, comi tantos frutos do mar que me senti a ponto de explodir, com certeza foi o melhor camarão na manteiga que comi na vida! E isso não facilitava os pensamentos que volta e meia iam em direção a certo chef gostoso, com músculos bem distribuídos e um porta-malas recheado.
Peguei-me ansiosa pelo retorno dele, mesmo com o aviso que voltaria tarde. Tomei um banho demorado, coloquei um vestido leve de alças finas, algo que ficasse visível meu novo bronzeado e me sentei na sala, passando o tempo zapeando pelos canais locais de TV.
— Querida, cheguei! Espero que esteja nua!
Eu me aprumo no sofá, sentindo as costas doloridas por ter passado tanto tempo deitada sobre as molas velhas vendo um seriado idiota na TV.
— Que pena — escuto o lamento assim como o barulho da porta se fechando.
— Desculpe, a decepção. Estava quase dormindo.
Caio deixa uma pequena mala preta na mesa de jantar e vem ao meu encontro. Se inclina, dando um beijo casto em minha testa, com intimidade.
— Espero que não tenha me esperado para jantar.
— Você só pensa em comida? — brinco.
— Hum, em sexo também.
— Sem-vergonha! — digo estreitando os olhos — jantei no centro.
— Aceitou minha recomendação?
— Sim, seu garoto de favores foi muito atencioso.
Caio me puxa para seus braços, encaixando-me em seu peito. Um gesto nada proposital, mas que me faz olhar de esguelha para ele por alguns segundos.
— Estou tão cansado, com a aproximação do Natal o hotel entra em colapso.
— Que tal dormirmos?
Ele se espreguiça, bocejando. — Aceito, mas antes temos uma missão.
Afasto-me para encará-lo.
— Qual missão?
— O Natal é daqui a poucos dias e como não sabia o que comprar de presente para você, decidi dar algo que sei que você não negaria de forma alguma.
— Eu...Caio, não me preparei para uma troca de presentes — digo sem jeito.
— Relaxa, gata. Espera aqui um minutinho, ok?
Confirmo com um gesto de cabeça, vendo Caio correr até a mesa, pegando sua bolsa e sumindo em direção ao quarto.
Passa alguns minutos até que ele abre a porta saindo de lá totalmente nu, com um laço pomposo amarrado no pau meio ereto, vestindo um gorro natalino na cabeça e um sorriso sacana nos lábios.
— Alguém aqui não foi uma boa menina este ano, por isso ganhará apenas uma bengalada do Papai Noel!
A crise de riso que me dá diante da cena me faz rolar no sofá, Caio não perde a pose e dança cantarolando “Jingle Bell Rock” bem desafinado.
— Que tempo iluminado, é a hora certa para agitar a noite.
Pego o celular, abrindo a câmera e filmando a cena em minha frente.
— Preciso gravar isso para a posterioridade — falo entre as gargalhadas.
Caio continua cantando e dançando pela sala, até chegar perto de mim, mandar um beijo em direção ao celular e tirá-lo de minhas mãos, me girando em seus braços, balançando o pau enlaçado enquanto canta.
— Sabe, eu pensei em colocar uns pisca-piscas, mas fiquei com medo de tomar um choque nas bolas.
— Só essa fita felpuda amarrando seu pau está maravilhoso! Com certeza, esse é um dos presentes que eu nunca negaria!
— Posso passar uma calda de chocolate nele, garanto que ficaria feliz com o agrado — retruca piscando.
Mordo o lábio inferior, considerando a oferta.
— Tudo bem, vamos lá!
Não posso deixar de rir ainda mais quando ele agarra minha cintura me jogando contra suas costas como um homem das cavernas e sai correndo em direção ao quarto.
Caio tem mais habilidades escondidas do que eu previ.
Capítulo 11
S exto dia.
Nunca seis dias passaram tão rápidos como estes. Isso me deixa até um pouco triste. O lugar é incrível, o hotel maravilhoso, mesmo que eu não tenha explorado cada centímetro como prometi que faria, estive explorando outros territórios, principalmente um de um metro e noventa, músculos bem definidos e um pau de arrasar corações. Além de passar esses seis dias me empanturrando de comida.
Mas ao acordar hoje sabendo que terei só mais dois dias, arrumar as malas e, enfim, voltar para a realidade, não me anima em nada.
Como foi fácil me acostumar com esta pequena rotina que estava vivendo! Caio trabalhava no hotel em turnos diversificados, alguns dias pela manhã outros a noite. Mas era quando estava aqui que a diversão realmente acontecia. Com certeza engordei pelo menos uns cinco quilos comendo tudo que ele inventa na cozinha!
Olho para seu rosto, apreciando-o mastigar, o sol bate em seu peito dourado e bronzeado fazendo sua pele brilhar tentadoramente. Vestido como de costume, apenas de bermuda solta no quadril e descalço.
— Adoro quando você me admira como um belo prato de comida.
— Não é difícil ficar encarando quando a pouco minutos você estava andando nu pela cozinha.
Ele se inclina, pegando outra fatia de abacaxi do prato em nossa frente.
— Não estou reclamando, de forma alguma. Poderia ficar aqui por um bom tempo.
— Realmente não quero ir para casa.
— Nunca?
— Pelo menos, não por agora — digo.
Caio me observa por alguns instantes, em silêncio.
— Vou pegar uma cerveja aceita?
— Sim.
Ele some e quando volta traz consigo um isopor com algumas latinhas geladas da bebida.
— Sabe, — puxo assunto abrindo uma das latas — nunca perguntei se é realmente trabalho que o motiva passar o Natal sozinho.
Ele ri alto.
— Acha que estou fugindo?
Dou de ombros — Não sei, eu estou. — Dou um longo gole na cerveja. — Cheguei aos trinta e nada do que havia planejado aconteceu, muito pelo contrário, fui demitida por ter uma paixonite platônica pelo meu chefe gay. Não quero os olhares de pena ou os discursos de minha mãe sobre eu estar ficando velha e solteirona. Qual o problema em ser solteira?
Caio segura o riso.
— Não vejo problema nisso.
Faço uma careta para seu sarcasmo. — Vocês homens são todos iguais!
— Ei, não me coloque no mesmo pote de biscoito! Não vejo problemas em uma mulher ser livre e desimpedida; vejo nas comprometidas, que pulam a cerca — ele diz. — Acho tentadora e extremamente sexy uma mulher independente.
— Eu esperava que depois desta viagem tudo se resolvesse, ano novo, vida nova, não é assim que todo mundo diz?
— Gata, o ano sempre será o mesmo, se você não mudar. Não quer mais sua família metendo o nariz onde não deve? Suba os muros. Quer mandar seu chefe escroto pro inferno e mostrar o mulherão que você é? Faça isso, ninguém tem poder de te segurar.
Eu vivia minha vida sem arrependimentos e nunca quis mudar algo nisso, até a realidade chutar minha bunda no momento que eu assoprei as velas. O que Caio estava dizendo era a mais pura realidade.
— E quanto a feriados, acredito que não são feitos para passarmos sozinhos, a gente precisa de uma companhia. Posso vir para os hotéis sozinho, porém tenho amigos e a equipe que se torna uma família durante esses dias. — Completa dando de ombros.
— E cá estamos nós — brinco erguendo a latinha com um brinde.
— Sou sua encomenda de Natal?
— O que te faz pensar que desejei algo assim para o bom velhinho? — inquiro erguendo a sobrancelha.
— Algo me diz que primeiro foi o efeito incrível que meu pau causa e, segundo, mas não menos importante, te conquistei pelo estômago.
— A segunda alternativa é verdade, se tivesse me apresentado seus dotes culinários naquele primeiro encontro, eu teria te ligado ou pelo menos ficado mais tentada a atender ligações de desconhecidos tarados.
— As bonitas são as mais cruéis — resmunga.
Caio levanta, estendendo a mão sobre a mesa para mim, esperando que eu a pegue.
— Venha, temos uma missão.
Sigo-o com nossos dedos entrelaçados para dentro do chalé, onde ele desvencilha sua mão da minha, caçando algo nos armários.
— O que está procurando?
— Logo você verá.
Ele abre e fecha mais alguns, vai até o quarto repetindo o mesmo processo até que volta com um saco preto na mão e um sorriso no rosto.
— Precisamos dar vida a este lugar, contando que eu serei seu anfitrião na noite de Natal, quero o cenário completo.
Ele enfia a mão dentro do saco tirando um rolo de pisca-piscas, deixando algumas bolinhas cair e rolarem em várias direções.
— Vamos montar uma árvore? —pergunto incrédula.
— Bem, isso não temos, a não ser que queira usar o bonitão — Caçoa apontando para o próprio quadril.
— Acho que já penduramos coisas demais nele. — Digo rindo.
— Então vamos nos virar com isso daqui — afirma mostrando uma bengala vermelha e verde.
— Não deixa de ser muito parecida com a sua — caçoo.
Ele encara o pequeno enfeite nas mãos, torcendo os lábios. — Isso fere meu coração.
Gargalho. Esticando o braço, pego duas bolas prateadas de dentro do saco preto, olhando em volta para onde poderia pendurá-las.
— Que tal ali? — ele aponta para pequenos pregos na parede oposta.
Faço como ele indica, penduro as bolinhas nos ganchos, enquanto ele se joga no pequeno sofá tentando tirar os nós nos fios de luzes.
Vou até ele, sentando-me ao seu lado.
— Deixe-me ajudar com isso.
— Você poderia ajudar com outra coisa também — a voz num sussurro baixo no pé do meu ouvido.
Engulo um gemido e contenho o arrepio em minha pele.
Os dedos livres sobem por minha coluna, enganchando na raiz do meu cabelo solto. O chupão que ele dá em meu ombro eletriza minha pele, me atrapalhando no desenrolar dos pisca-piscas.
— Fazer sexo sem parar, até que desmaiemos aqui no sofá?
— Fica impossível negar, quando é falado com tanto jeito — falo rindo.
Ele segura com mais firmeza meus cabelos, curvando meu pescoço para trás, dando acesso livre por todo meu pescoço e colo dos seios.
— Achei que gostava da minha sinceridade — afirma, empurrando o tecido de minha blusa para baixo, liberando meu seio. — Ainda mais quando deixa tudo tão fácil para mim — acrescenta antes de abocanhar meu mamilo, mordendo e mamando com vontade.
— Você pode o que quiser — murmuro.
Ele mama mais forte, olhando para cima, tentando ver meu rosto. Jogo o bolo de luzes que ainda estão em meu colo para o lado, para infiltrar meus dedos em seu cabelo, ficando quase de frente para ele; puxo seu rosto para o meu, atracando nossas bocas, nossos lábios se movendo de forma sensual e intensa.
Seis dias e descobri que bocas como a de Caio não são dadas a qualquer humano. Quando sua boca escorrega pelo meu corpo, abocanhando minha intimidade eu tenho certeza que qualquer terminação nervosa do meu corpo, para de funcionar. Ele aperta meu quadril, fincando a mão em minha bunda, mantendo o movimento contra seu rosto.
Minhas costas se projetam, impulsos me percorrem até o dedão do pé.
— Chega, quero você!
Caio ergue o rosto no meio de minhas pernas, lambendo os lábios com meus fluidos.
— Seu desejo é uma ordem.
Acariciando-me ele vai lentamente se enterrando em mim e cada vez que eu me mexo para pressionar o quadril contra o seu, ele me trava. Para os avanços e volta a chupar meus seios. Só quando me controlo para ficar o mais imóvel possível é que se enterra fundo em mim, batendo suas bolas em minha bunda.
— Ohh...
Ele puxa meu corpo para o seu, fazendo-me cavalgar em seu pau, engolindo todos os meus gemidos com sua boca, a mão apertando e dando tapas deliciosos em minha bunda toda vez que eu engulo seu pau por completo ou quando eu rebolo.
— Rebola e goza, até perder os sentidos!
Faço como ele manda, mesmo que meus joelhos reclamem, cavalgo-o com força, sentindo-me completamente preenchida, as contrações crescendo em meu ventre esperando pela libertação. Sua mão esquerda livre agarrando meus cabelos na nuca, o corpo de Caio treme, mas eu sei que ele está segurando o próprio alívio, esperando que o orgasmo me atinja.
E eles não tardam a vir, sinto meu corpo apertando seu pênis dentro de mim, Caio geme alto, jogando a cabeça para trás, repetindo baixinho o quanto que eu sou gostosa e como ele está perdido depois destes dias.
Ele me dá um beijo lento na boca, antes que eu saia do seu colo.
— Linda, temos um chalé para decorar.
Viro olhando para ele — Achei que tinha sido um pretexto para sexo.
Ele solta uma gargalhada.
— Poderia passar o dia fazendo sexo com você, mas estou falando sério. Natal é daqui um dia e temos um chalé para decorar. Você fica com os pisca-piscas e eu com as bolinhas, se for uma boa menina te fodo de quatro na banheira enquanto vemos o pôr do sol.
— Acho que eu deveria me encarregar das bolas — digo maliciosamente.
— Garota perversa!
***
Panetone recheado, rabanada, salada de frutas com calda de chocolate...foi nesse mar de aromas deliciosos que eu sentei na mesa decorada com uma toalha vermelha no dia seguinte, Caio utilizando seu gorro de Papai Noel — mas sem o laço embalando seu pênis —. Ele tinha preparado um banquete particular para nós dois.
— Tem tanta coisa gostosa para comer, que nem sei por onde começar.
— Fiz questão de fazer um café da manhã dos campeões para você, tem certeza de que não quer vir comigo para o hotel?
Puxo uma das cadeiras, sentando-me de frente para a mesa farta.
— Sim, além do que, eu só te atrapalharia. Cozinha não é um dos meus atributos.
— Eu compenso isso por nós dois, gata.
Sua mão acaricia meu braço distraidamente.
— Prometo voltar na primeira badalada. — Caio me dá um beijo rápido na boca, pega sua mala de instrumentos e sai, me deixando sozinha com todo aquele clima natalino.
Olho para o chalé, bolas e festões que estão pendurados pelas vigas e paredes, assim como os pisca-piscas brilhando lentamente, acendendo e apagando.
Quando fiquei tão sentimental sobre passar a véspera de natal sozinha? Ah, bom, deve ter começado seis dias atrás quando entrei no chalé e tentei atingir a cabeça de Caio com um abajur.
— Já pensou que daqui a dois dias você estará fazendo as malas?
Jogo um punhado de rabanada na boca, ignorando minha amiga na videochamada.
— O que tem?
Ela cruza os braços diante do peito, olhando séria para o telefone. — Vocês dois irão se encontrar novamente? Ou vai dizer que ficará por isso mesmo?
— E pode me dizer o que você espera que eu faça?
— Sei lá, ligue para ele, tente manter o que começou aí, desse lado.
Franzo a testa. — Não estou procurando amor, nunca estive. Sim, foi ótimo estar com Caio, mas...
— Mas nada, nem tente me enganar dizendo que essa sua cara desanimada é porque está entediada!
— Impressão errada.
Luce revira os olhos. — Sim, porque você está aí, vivendo uma fantasia erótica com um cara incrível, existe muitas maneiras de entender tudo errado.
— Sexo sem sentimentos, aprendi com você.
— E eu fui eleita Mamãe Noel 2021!
— Uma semana. Não tem muito que gostar em uma semana.
Jogo o resto da rabanada na boca porque, tanto minha melhor amiga, como eu, sabemos que tudo que disse é mentira. Caio me deixou caidinha pelo seu jeito, mas continuo firme.
Foi uma aventura deliciosa...inesquecível, mas apenas isso uma aventura, não?
Não estou apaixonada, apenas... Bom, o fato é que sim, eu sentirei falta dele quando for embora, isso não é algo que eu poderia prever.
***
— Foi daqui que pediram uma ceia de Natal e um ajudante do papai Noel gostoso?
Vou até a sala e admiro Caio, o gorro de natal enfiado em sua cabeça, nas mãos uma enorme bandeja e mais algumas apoiadas sobre a mesa de jantar.
— Andou caçando?
— Olha, foi uma missão incrível, pretendo te contar todos os meus esforços de resgatar um peru.
— Sabe que me contentaria com um prato pronto, né?
Caio torce os lábios com desgosto, vai até a cozinha, tira o papel alumínio do peru, checando sabores e acrescentando temperos só para cobri-lo de novo e enfiá-lo no forno.
— Quer dizer então que está negando a oportunidade de comer minha ceia de Natal?
Rio de sua cara.
— Isso é pecado. — Caio dá a volta na bancada vindo em minha direção.
Dez passos... contei cada passada que ele deu em minha direção, até que seus braços estivessem em volta do meu corpo e minhas mãos correndo pelo seu. Caio ergue minha cabeça, angulando meu rosto e então aprofunda o contato e me beija.
Beijo sua boca, agarrando seu cabelo, aproveitando daquela língua macia que contorna a minha.
— Nunca vai ser apenas um beijo, né? Sempre terei esta vontade de ter mais e mais — Caio indaga.
— Não estou reclamando — pisco para ele, ajeitando o rabo de cavalo que foi desfeito por ele.
O forno apita, fazendo Caio olhar por cima do ombro e esboçar um sorriso.
— O peru me chama.
— Como posso ajudar?
Ele arqueia a sobrancelha.
— Ah, posso cortar uma cebola ou outra — assumo rindo.
— Está bem, venha, vou te colocar para trabalhar.
Caio separa alguns temperos, escolhe pimentões e hortaliças e algumas cebolas. Enquanto lavo minhas mãos, ele busca as outras travessas sobre a mesa, deixando-as em nossa frente; uma está cheia de batatas picadas e a outra com carne.
Ele abre espaço para que eu fique em sua frente, me cercando com seu corpo, sua boca perto de meu ouvido, suas mãos segurando as minhas e suas ordens sussurradas em meu pescoço.
— Entendeu como vamos fazer?
Pisco rapidamente, não prestei atenção em nada que ele disse.
— Desculpa — confesso —, fiquei distraída com seu amigo roçando em mim.
A gargalhada gostosa que ele dá em meu ouvido eriça os pelos de meu corpo. Caio segura a cebola e com a outra mão firma as nossas na faca, e quando faz o primeiro corte, sua boca percorre meu ombro, avançando para minha nuca.
— É só manter o ritmo, dobre os dedos para não se cortar e deslize a faca pela cebola, assim...
O filho da mãe ri na curva do meu pescoço, ele sabe o que está causando. Sua barba por fazer raspa em minha pele. — Muito bom, vou deixá-la sozinha agora.
Respiro fundo vendo o sem-vergonha contendo o riso ao voltar para a bancada e se ocupar em preparar as hortaliças.
Dividimos as tarefas, eu com as simples — e fora de perigo iminente como Caio caçoo ao dizer — e ele responsável por fazer nosso jantar acontecer. O tempo vai passando e beijos e amassos quentes são roubados no meio do trabalho.
Não tocamos no assunto que amanhã será meu último dia aqui, que logo ao amanhecer, eu estarei indo embora. Não tocamos neste assunto, ficou enterrado no meio dos aromas e sabores divinos de Caio.
Menos de duas horas depois, Caio serve a ceia, os pisca-piscas estão ligados dando um ar romântico e natalino para o chalé, assim como algumas velas no centro da mesa. Ele preparou tudo para nós, a sacada aberta deixando a brisa do mar vir lenta e fresca, assim como o barulho das ondas quebrando na areia.
— Um brinde a nós. — Caio diz erguendo sua taça de vinho; faço o mesmo encostando a minha na sua, levando à boca em seguida, sorridente.
— Preciso dizer que o peru está divino? — passo o pedaço sobre a borda da tigela, pegando um pouco mais do tempero e levando à boca.
— Elogios sempre são bem-vindos e ver você comer me dá tesão.
Ergo a sobrancelha.
— Não há nada mais sexy do que ver uma mulher devorar a comida com gosto — explica dando de ombros. — Acredito que esse é o principal motivo para eu ser um Chef hoje, adoro ver as pessoas comerem, realmente degustarem as comidas.
— Adoro comer — assumo.
— Você sabia que o ato de comer pode ser muito erótico, alimenta fantasias...
Deixo o garfo sobre o prato, olhando seriamente para Caio.
— Então me diga, senhor Chef. O que pensa quando me vê comendo?
Caio ama um desafio, isso é nítido.
Ele passa o dedo no molho das batatas e põe o dedo na boca, chupando-os com vontade, fazendo minha boca se encher de saliva.
— Primeiro eu amo comer, mas hoje isso foi totalmente ofuscado por você e eu não sabia se me dedicava à nossa ceia ou no que teria depois, porque uma coisa é certa: eu vou me afundar no meio de suas pernas e faço questão de lamber cada centímetro do seu corpo! Quero sua boca abocanhando meu pau exatamente como fez com nossa refeição, quero sentir sua língua subindo e descendo. E o mais importante, quero ver você gritar meu nome quando te pegar por trás ou quando eu mamar gostoso nesses seios fartos.
Só de ouvi-lo recitar o sexo ou o que faríamos depois me deixa úmida e sedente para pular essas comemorações. Mas Caio não é o tipo de homem que sai atropelando as coisas, por isso, não me surpreendo quando ele se levanta, inclina-se sobre mim na cadeira, sussurrando em meu ouvido que isso será depois e pede que eu o acompanhe.
Caio me puxa para fora da mesa, me levando até a praia, a areia fofa ainda está morna pelo sol escaldante que fez o dia todo, paramos perto do mar, sentando na areia encarando as ondas quebrando.
— Se eu tivesse um dia que decidir como gostaria de passar meu feriado, com certeza seria assim.
— Entendo completamente.
Seus olhos voltam-se para mim, a covinha solitária à mostra em sua bochecha, acaricio seu rosto e é assim, com a brisa do mar nos embalando e as ondas quebrando em nossa frente que nos beijamos, nossos corpos enroscados num abraço apertado e a sutil lembrança que isso logo acabaria no meio.
Sua boca só me abandona por um pequeno instante, quando o barulho de sinos ao longe tocam doze badaladas. As mãos dele fazem carícias provocantes em meu corpo.
— Feliz Natal, invasora.
Beijo sua boca com ganância, com fome e desejo. — Posso pedir meu presente novamente?
Ele ri contra minha boca, nos levando dali, correndo de volta para o chalé. As roupas sendo arremessadas logo na entrada, minhas costas se chocam contra a parede e ele suga meus seios, mordendo e beijando-os. Sua bermuda fica perdida no caminho do banheiro, assim como minha lingerie.
Os amassos avançam para uma sessão de sexo no chuveiro, depois para o restante da noite na cama, tendo como gemidos e o som molhado de nossos corpos se libertando.
Capítulo 12
S étimo dia.
Sinto o calor do sol esquentar minhas costas nuas, abro os olhos devagar e suspiro. Caio ainda dorme tranquilo ao meu lado, o cabelo caindo sobre a testa e a boca formando um biquinho. Um de seus braços está jogado em cima do meu quadril, as panturrilhas enroscadas nas minhas. E por alguns minutos eu fico ali parada, pois sei que o mínimo movimento vai acordá-lo.
Só quando a vontade de ir ao banheiro se torna urgente eu escapo para fora.
— Saindo de fininho — a voz grossa e sonolenta chega até mim.
Saio do banheiro sorrindo, engatinho pela cama aceitando os braços abertos de Caio, aninhando-me em seu peito. Ele abraça minha coxa sobre seu quadril enquanto a outra mão sobe e desce pelo meu braço.
— Sentirei falta disso.
Engulo em seco, as palavras morrendo em minha garganta, por mais que eu deseje falar o quanto sentirei falta da aventura que foram esses últimos dias, do quanto seu cheiro em minha pele me deixará saudosa e até mesmo vê-lo desfilar nu pela casa enquanto cozinha.
Subo minha mão sobre seu peito, agarrando seu corpo, ficando tão perto quanto ainda posso. Fecho os olhos e apenas sinto sua mão mapear a minha pele, apalpando minha coxa.
Diferente dos outros dias que preferimos aventuras em nosso tempo livre, hoje ficamos ali, jogados na cama, nos empanturrando do resto da ceia e das guloseimas feitas por Caio. Não foi algo que pronunciamos em voz alta, apenas ficamos enroscados um no outro, enquanto o sol vai se pondo do outro lado da cabana.
***
Termino de colocar a última peça de roupa na mala com um suspiro tristonho. Caio sai do banheiro parando na porta e me olha, os cabelos molhados, a toalha ao redor da cintura. Eu guardarei esta cena na mente.
— Queria protelar esta cena.
—Também, mas é preciso retornar à realidade — digo.
— Poderia te prender aqui por mais alguns meses.
— Tentador — falo sorrindo.
Fecho o zíper da mala, colocando-a perto da porta.
— Temos que aproveitar sua última noite.
Olho para ele, agradecendo silenciosamente o sarcasmo do destino. Caminho até ele que me pega pela cintura, o puxão bruto, me prendendo em seus braços, Caio nos gira, prendendo meu corpo contra a parede, meus olhos se fecham deixando escapar um suspiro por minha boca, no mesmo instante em que ele rouba meus lábios para ele.
Sua mão segurando firmemente minha mandíbula, sua língua ganhando espaço em minha boca e seu quadril movendo-se contra o meu.
Eu estou uma completa bagunça interna referente aos meus desejos. Neste momento eu o quero tanto, que faço meu corpo latejar.
Parece que estamos em câmera lenta, perpetuando este momento até não podermos mais. Nos tornamos dois compulsivos por sexo, querendo ter esses momentos e o laço que formamos o máximo possível.
Roço o polegar em sua boca vermelha pelos nossos beijos, deixando que ela desça até seu pescoço. Sua mão desliza pela lateral de meu corpo, acariciando meus seios, um gemido escapa de mim fazendo com que ele gema comigo.
Nos olhamos em silêncio, seus olhos brilham desejo.
Sento na cama, minhas pernas ao redor de sua cintura, jogo a toalha longe o deixando nu e, quanto mais olho para ele, mais o desejo queima dentro de mim. Caio lambe meu pescoço dando uma mordida no lóbulo de minha orelha.
Ele desce as mãos por minha cintura, se infiltrando no meu short de moletom, jogando minha calcinha para o lado, acariciando minha boceta; inclino-me para trás permitindo que seu toque se aprofunde. Ele enfia dois dedos dentro de mim, girando-os lentamente me fazendo arfar.
— Caio?
Ele me olha sem interromper os movimentos.
— Não quero preliminares.
Caio retira sua mão de mim e um gemido fraco sai de meus lábios, em um instante estou nua deitada na cama e seu pênis protegido por um preservativo.
— Quero você de quatro.
Giro o corpo, empinando a bunda em sua direção. Ele percorre cada centímetro do meu corpo com a ponta dos dedos, sinto a glande encaixar em minha entrada e então a estocada firme e profunda, provoca uma pequena fisgada pelo sexo frequente. Uma de suas mãos se afunda em meu cabelo curvando meu corpo para trás o máximo possível e a outra agarra meu quadril, sinto todo meu corpo sendo tomado por Caio durante suas investidas. A mão que agarrava minha cintura, agora circula por minha barriga, descendo por meu sexo, apertando e esfregando meu clitóris.
Ele morde minha orelha gemendo baixinho, me fodendo com rapidez e força, mutilando meus nervosos pouco a pouco. — Quero vê-la gozar, muitas vezes.
Cravo as unhas no lençol e fecho os olhos, este foi o orgasmo mais rápido e foi devastador, senti cada parte de mim se quebrando.
Ficamos deitados na cama, acima das cobertas, respirando profundamente, deixando o corpo se orientar novamente e os batimentos cardíacos se acalmarem. E ficamos assim de mãos dadas, conversando sobre esta conexão maluca que nos levou até onde estamos. Até que o sol começa a lançar os primeiros raios sobre o céu.
Depois de muitas tentativas de sair da cama, sigo para o banheiro onde tomo um banho rápido e me troco por ali mesmo, seria tentação demais ficar desfilando nua na frente de Caio. Ele me emboscaria novamente com seus beijos e amassos.
Puxo a alça da bolsa olhando para ele que me aguarda na sala. — Preciso ir.
— Acho que a chave do chalé sumiu misteriosamente — disse sorrindo.
— Não me tente.
Ele se levanta. — Fala para mim: o que espera você em São Paulo?
Faço charme — Além de responsabilidades, boletos a pagar... — comento rindo.
— Mande-me todos, sou um sequestrador bonzinho, eu pago suas contas.
— Por que não disse que seria um ótimo sugar daddy ? — caçoo.
— Acho que não sou tão velho para esse cargo.
Balanço a cabeça rindo e pego minhas malas. — Obrigada por essa aventura sexual.
— O prazer foi todo meu, acredite.
Caio me acompanha em silêncio até a pequena estradinha onde marquei com o transfer de me buscar, ficamos lado a lado sorrindo quando nossos olhares se cruzam, mas com um silêncio incômodo entre nós.
O transfer aparece ao longe, levantando poeira, é hora das despedidas.
— Bia? — Caio sussurra.
Luto com a tensão em minha garganta, soltando uma resposta baixa.
— Caio...
Ele me puxa contra seu corpo, beijando minha boca, com urgência, minhas pernas ficam fracas, mas seus braços me prendem em pé, agarrada ao seu corpo. E quando vejo, a boca dele se foi.
A van aguarda ao meu lado com a porta aberta, que eu mal notei se aproximar.
— Não vou dizer adeus, somente até logo — diz segundos antes de eu entrar na van e vê-lo ficar cada vez mais distante.
Capítulo 13
R olo pela cama , buscando o celular. Já passa das cinco da tarde. A primeira coisa que fiz ao chegar de viagem foi me jogar na cama e tirar um longo cochilo, as horas roubadas na madrugada caíram sobre mim no voo. Mas por causa de duas pequenas pestinhas fazendo uma farra ao meu lado, então, não consegui descansar.
Levanto um tanto desorientada, me afasto da cama, caminho até o banheiro, jogo água em meu rosto e vou para sala e não é nenhuma surpresa ver Luce sentada totalmente à vontade no sofá.
— Boa tarde, Bela Adormecida!
O olhar curioso que minha amiga me dá, quer dizer que ela não quer enrolação de minha parte, quer a história toda com ênfase no sexo. Por isso, não perco tempo. Sento-me ao seu lado cruzando as pernas e conto tudo.
— E mesmo com tudo isso que acabou de me contar você virou as costas e deixou o pobre homem plantado numa estrada de terra e foi embora?
— Não me torne a vilã, ele foi uma aventura, não era isso que queríamos quando falamos da viagem aqui mesmo? — argumento.
— Sim, mas tem coisas que não evitamos, por exemplo, seu gato sarado.
Reviro os olhos, tocar no assunto é pior ainda, já não bastam as cenas se repetindo em minha mente?
— Foi uma semana deliciosa. Descobri que Caio é incrível e pronto, acabou.
Ela ri. — Vamos ver.
O olhar de Caio me vem a mente, o olhar persistente antes de vir em minha direção roubando um beijo. Estremeço.
Merda!
***
Os dias vão passando e com eles os últimos resquícios de Natal também, as vitrines das lojas lotadas de promoções e queimas de estoque, as pessoas ansiosas pela virada do ano planejando suas viagens ou correndo para arrumar tudo a tempo.
Luce tinha viajado para casa de seus pais novamente, e eu me vi na solidão do apartamento e com uma pilha de currículos para serem entregues.
É dia vinte e nove e eu já estou cansada de tanto atualizar a página do Linkedin em busca de uma resposta positiva. Abro meu e-mail vendo que tem uma proposta de emprego e isso me anima. Será que finalmente minha sorte está mudando? O canalha do meu ex-chefe não teve nem a capacidade de escrever uma recomendação para mim.
Abro o e-mail, correndo os olhos pelo que está escrito e é fato que um sorriso toma meu rosto.
Abaixo de uma proposta falsa de emprego, tem uma mensagem do Caio.
“Achou mesmo que poderia fugir de mim?”
Pego o celular, abrindo o aplicativo de mensagens.
“A proposta de emprego está de pé?”
Envio a mensagem rindo. Num segundo é visualizada e no outro, meu telefone está tocando.
— Oi, gostosa.
— Oi.
— Sinto falta da minha invasora. Como você está?
— Estou bem.
— Sua voz é muito sexy no telefone.
O sorriso se abre em meu rosto com sua provocação.
— Sentiu saudades de mim? — questiona abaixando o tom de voz.
Mordo o canto da boca. Por que mentir?
— Sim.
— Que ótimo, que tal embarcar em outra aventura comigo?
— Caio...
— Não quero desculpas, Bia. Quero você nua para mim. Quero você.
— Não é tão simples.
— Por que não? Estou te perguntando se aceita uma vaga de emprego, será minha assistente. Fui convidado por um hotel em Trancoso e o Chef foi bem claro, ele quer você como assistente. Que eu saiba você ainda não conseguiu o emprego dos seus sonhos, certo?
— Ainda não e eu iria mais atrapalhar do que ajudar seu Chef — comento rindo, adorando a ideia por dentro.
— Acho que ele se responsabiliza pelos riscos, afinal, ele deve gostar de você já que tem uma grande tendência a deixar o pobre homem plantado em estradas.
Gargalho.
— Então, o que me diz? Embarca nesta aventura comigo? Te garanto hospedagem, refeições e um passe livre para brincar pelo meu corpo.
— Realmente é uma proposta irrecusável.
— Bia, Bia, não me mate na unha...
Seguro o riso.
— Eu aceito.
— Vá até a sacada, então...
— Como? — questiono ficando de pé num pulo.
— Vai...
Aperto o celular entre os dedos, destravo a porta da sacada e olho para baixo. E lá está ele, encostado no carro, com o telefone na orelha olhando em minha direção.
— Isso soa muito Romeu e Julieta.
Caio ri, — Tirando a parte que ninguém vai provocar a morte de ninguém, então, arrume as malas, estou te aguardando.
— Você é maluco!
— Pode apostar. Que comece mais uma de nossas aventuras, invasora!
A. K. Raimundi
O melhor da literatura para todos os gostos e idades