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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


FETICHE / Sherri L. King
FETICHE / Sherri L. King

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio "SEBO"

 

 

 

  

Dentro dos muros de um clube de classe alta, Aerin Peters encontrará sua identidade sexual em meio à desordem de sua crise de meia idade...

Mas nem tudo é o que parece dentro dos muros do Clube Fetiche. Como Aerin cada vez se torna mais próxima de seu abusado protetor, Violanti D’Arco, os perigos de seus retiros de fim de semana no clube se tornam cada vez mais aparentes. Ela é caçada por seu estranho novo amigo e por Fetiche. Perdas de cor inexplicáveis, um crescente vício ao toque de Violanti e arrepiantes histórias de desvios sexuais conduzirão Aerin a investigar o enigmático mistério de Fetiche e de seu dono nunca visto...

O amor de Aerin, seu coração e mesmo sua vida podem depender dessas respostas. Porque em Fetiche, nada é tabu...

 

 

 

 

 

Aerin olhou através da superfície lisa do lago. Não lhe importava que a umidade fria do solo molhasse o tecido da resistente saia cinza. Não lhe importava que o barro e as pedras na pequena ribeira a margem da água lhe manchassem os sapatos de couro. Nada poderia ter importado nesse momento. Pela primeira vez em semanas ela podia ver seu reflexo… E ficou presa, fascinada com o que viu no espelho de água.

O rosto refletido nas profundezas do lago era muito redondo, muito gordinho e cheio de muitas tensões vergonhosas. O cabelo suave e castanho era murcho e pouco atraente e repousava dentro de um capuz sem forma sobre sua cabeça. Tinha os olhos castanhos, muito juntos entre si e se enrugavam de tanto semicerrá-los atrás dos óculos de armação grossa. Seu nariz era muito grande e a pele era muito pálida.

Nada do que via fazia com que se sentisse feliz absolutamente por estar sob sua própria pele.

Por esse motivo, ela nunca olhava para espelhos. Ter sido gorda toda a vida, feia, desgraciosa e chata tinham-na feito evitar qualquer superfície refletiva como se fosse peste. Mas nunca havia reagido desta maneira, com tanto ódio e pena por si mesma. Nada havia mudado muito para que reagisse com tanta violência diante da visão inesperada, no lago. Exceto por uma coisa.

De algum modo havia envelhecido. Para o cúmulo, agora já não era jovem.

Ela estremeceu ao ver a imagem de seu próprio e odiado rosto. O tempo havia feito estragos nesse rosto, com um regozijo brutal e desumano. Deus… Tenho quarenta e sete anos. Quarenta e sete anos. De algum jeito tinha ignorado; até este momento, nunca tinha se incomodado em pensar nisso. Mas agora, a verdade a golpeava duramente. Para trás haviam ficado os anos jovens de sua vida, agora não possuía nada mais que a rotina do dia seguinte e o seguinte e o seguinte. E era de esperar, que se tivesse sorte… Outro dia seguinte.

-Nunca fiz nada espetacular com minha vida. – ela sussurrou para o espelho de água e de repente, se assustou. - Nunca fui alguém especial. Nunca senti nada, - ela engoliu saliva com dificuldade, - real.

E em que momento tivera a oportunidade? Uma gansa, gorda e feia como ela poucas vezes tivera a possibilidade de viver uma aventura ou um amor, ou mesmo algo pelo qual valesse a pena viver. Não era estúpida; sabia como as pessoas a viam. De maneira que as pessoas olhavam sempre, todos aqueles que tinham a má sorte de ser tão pouco agraciados fisicamente como ela.

Trabalhava em um escritório. Seu mundo era relativamente seguro, apesar do entorno, que às vezes era atroz. Um mundo dentro de um cubículo com paredes apertadas e colegas impessoais. Trabalhava com tipografia em uma pequena imprensa, fazia o desenho e formato de convites para casamentos, cartões comerciais, cabeçalhos e coisas de estilo, para milhares de clientes de toda a região, que pagavam por este serviço. O trabalho era bem pago e não pedia muita velocidade e habilidade, o que lhe alimentava o ego. Mas também era o tipo de trabalho que não pedia nada dos trabalhadores, quanto à personalidade ou aparência.

Mas, ah... Se tivesse sido outra pessoa, alguém mais bela faria algo diferente com sua vida. Se sua aparência tivesse sido agradável, não teria sido tão dolorosamente tímida e, talvez, teria tido a coragem para seguir uma carreira como bailarina, que sempre havia desejado ser em segredo ou talvez uma vendedora de arte ou mesmo uma empresaria. Com um corpo esbelto, provavelmente se tivesse casado antes, em vez de chegar aos quarenta e sete anos, quarenta e sete anos, com sua virgindade ainda intacta. Ou talvez não tivesse se casado nunca, mas teria tido muitos amantes só para provar a diversão e a variedade. A aventura.

Ela deixou cair uma mão fracamente no lago e rompeu a superfície lisa em centenas de ondas que refletiam uma imagem absolutamente horrível e distorcida de seu rosto. Seu odiado rosto. Salpicou a água novamente. Como resultado, as gotas lhe molharam as bochechas e a água do lago se misturou com as lágrimas que já deixavam rastro em sua face. Como odiava e detestava seu rosto. odiava e detestava a si mesma. Mais de noventa quilos. Levantou rapidamente e rettoquedeu do corpo refletido pela água brutalmente honesta. Voltou a tomar consciência dos jardins bem cuidados do parque, enquanto tentava corajosamente secar as lágrimas e acomodar a roupa. Esforçou-se para superar os momentos duros em frente ao lago refletivo e culpou os hormônios fora de controle; a maldita mudança de vida já estava aparecendo e desbaratando suas emoções. Odiava-se por ser tão fraca, enquanto tirava o barro e as folhas que haviam ficado em suas meias.

Não sou uma boba. Não sou tão egocêntrica para que a simples visão de meu reflexo me faça choramingar como um bebê. Aerin limpou a garganta dos últimos vestígios persistentes das lágrimas. Com os dedos grossos, tremendo, mas apenas um pouco, ela empurrou as pesados lentes mais acima sobre a ponta do nariz. Elas escorregaram enquanto ela se inclinava frente ao lago e odiava como faziam que lhe picasse a ponta do nariz quando se baixavam. Odiava os óculos, ponto final. Mas tinha a visão muito ruim até para fazer uma cirurgia a laser mais inovadora e aos quarenta e sete anos parecia um pouco tarde para pensar em usar lentes de contato. Usava óculos desde os sete anos e sem dúvida, os usaria até o dia de sua morte.

Foi difícil, mas ela recuperou o ânimo. Depois era sexta-feira. E sexta-feira era seu dia preferido da semana. O dia em que podia esperar dois dias completos de liberdade. O dia em que uma semana longa e dura de trabalho finalmente ficava para trás. Todas as semanas eram longas e duras. Todos os fins de semana eram um período de quarenta e oito horas de descanso e recuperação, de longas horas com livros, jardinagem e edredons. A sexta-feira era um presente do céu, seu dia preferido. Um dia de transição.

Já quase terminava a hora do almoço. O singelo sanduíche de Aerin, de maionese e alface e envolvido em papel estava inteiro sobre o banco do parque, atrás dela. Ela não se lembrava de ter se afastado do banco. Somente se recordava de ter visto seu rosto tão repentina e cruamente, com olhos despreparados. Talvez tinha caído do banco. Talvez tivesse caído do banco até o lago, para a água, inclusive sem sequer querer. Inconscientemente. O comportamento compulsivo tinha sido um ato reflito desde que os primeiros sinais da menopausa haviam começado a despertar durante a noite, com períodos febris de calor.

Esperava que ninguém tivesse visto seu estranho comportamento.

A quem estava enganando? Ninguém a olhava uma segunda vez. A maioria das vezes, se por acaso a olhavam mudavam rapidamente a direção do olhar, como se sentissem envergonhados ao ver tal carga de sobrepeso. É obvio que ninguém tinha visto o momento em que sentiu lástima de si mesma. Estavam muito ocupados para se lastimarem por ela. Não. Era muito duro para ela. Estava fazendo cargo a outros de sua própria baixa opinião, quando não fazia idéia do que pensavam realmente dela, quando provavelmente não sentissem, nem notassem nada, absolutamente.

Aerin também se odiava por isso.

Levantou o sanduíche com uma careta de asco e começou a refazer o trajeto curto de volta ao escritório. Era um dia formoso. Fresco e cinza, nada de estranho, já que em Seattle quase todos os dias era assim, mas hoje se ouvia o cantar dos pássaros no ar e se sentia o perfume da primavera na brisa. E era uma brisa tão gostosa e fresca.

Um pedaço de papel, que a brisa carregava voou e entrou como um pão-doce entre em sua blusa. Enredou até ali e ficou durante um segundo. O bastante como para que a tola e impaciente de Aerin o pegasse. O suficiente para ela ler as palavras impressas a máquina.

 

Era um aviso de algum tipo de clube noturno. Nada do outro mundo. Nada emocionante. Mas, inexplicavelmente, lhe sobressaltou o coração. Acelerou-lhe o pulsação. E seu olhar percorreu o texto, não uma vez, mas quatro vezes, antes de poder deixar de olhá-lo fixamente.

 

Fetiche... Aqui podem satisfazer todas as fantasias com segurança e cuidado. Fazem e sabem tudo o que jamais imaginou. Em Fetiche, nada é tabu.

 

Nada mais. Somente essas poucas palavras e um número de telefone celular local. Fetiche. Que nome tão interessante e acertado para um lugar no qual se podia satisfazer todas as fantasias. – Ela torceu os lábios. Nunca soubera de um lugar como este, é obvio, porque nunca visitara clubes noturnos temáticos. Ou qualquer clube noturno na realidade, temático ou não. Mas… mas.

Sempre há uma primeira vez para tudo. Não fazia dez minutos, ela se lamentava dos tantos anos de sua vida e da falta de emoção neles. Talvez esta fosse uma forma de procurar um pouco de emoção. Em um lugar onde, enquanto a cor do dinheiro fosse verde, não importava quem era ou como era.

Era vergonhoso. Era aterrador. Mas estava com quarenta e sete anos e isso a assustava tanto, que tinha ignorado até que a consciência a picou forte, com bastante dor para fazê-la chorar. O medo ou a vergonha não tinham lugar no pensamento de que, talvez, Fetiche ou outro clube como ele fosse muito para ela, poderia ser o bálsamo que acalmasse seu confronto com a crise de meia vida.

E era sexta-feira, afinal. Tinha o fim de semana pela frente com um sem-fim de possibilidades. Pegou o papel com os dedos que, de repente se desesperaram, antes de colocar com firmeza o anúncio no bolso interno de seu casaco. Seu monótono casaco cinza.

Aerin estremeceu e se apressou para voltar para o trabalho, tão rápido como seus grossos tornozelos poderiam levá-la com comodidade.

 

Duas semanas depois

Madame Delilah, é obvio que era algum tipo de nome artístico, sorriu para Aerin em frente à grande mesa de nogueira. Não era um sorriso descortês. Aerin se sentiu agradecida por isso. Ver-se sentada em um aposento com as paredes cobertas por espelhos e em frente a uma mulher que dizia ser Madame de um clube noturno muito caro, muito elitista e algo pervertido, não era uma experiência cômoda. Aerin sabia que necessitava de toda a bondade que essa mulher podia lhe dar neste momento; se não, sairia correndo.

-Não... Não estou segura se deveria estar aqui, - ela ouviu-se dizer e estremeceu de vergonha, se perguntando sua boca teria mente própria. Que estúpida devia ter soado. Não era nada sofisticada e era óbvio que os freqüentadores do clube eram muito sofisticados.

Deveriam ser para gastar cinco mil dólares por noite em um lugar como ele.

O sorriso de Madame Delilah não fraquejou. Mas, parecia aumentar com o desconforto evidente de Aerin. A mulher, muito mais jovem que ela, estirou o braço e cobriu a mão trêmula de Aerin com a sua.

-E por isso é que sim, você pertence a esse lugar. O que fazemos dentro destas paredes não é somente por prazer, mas para o enriquecimento pessoal. Amanhã de manhã, você se sentirá melhor contigo mesma e com seu lugar no mundo. Garanto-lhe isso, querida.

Aerin engoliu saliva e disse o que mais lhe incomodava nesta transação. O que mais a tinha incomodado desde o começo. Envergonhava-a depois de tudo, era seu dinheiro e isto era um negócio… Mas tinha esse sentimento fastidioso de vergonha e dúvida que lhe feria sem piedade. Tinha que dizer o que estava pensando para acalmar sua consciência, pelo menos um pouco.

- Mas o que acontece se for tão desagradável, que ninguém deseje fazer isto? O que acontece se estes homens, estes… - ela titubeou.

-Acompanhantes, - disse gentilmente Madame Delilah.

Aerin chegou a acreditar, depois de uma pequena conversa com esta mulher, que possuía um coração amável e bondoso, apesar de ser uma mulher de negócios eficiente e inteligente.

 

-Sim. Aerin deixou sair uma respiração longa e contida. Nem havia se tinha dado conta de que a estava contendo. - Estes acompanhantes... O que acontece se não podem suportar me ver? – Ela fitou os olhos da outra mulher. A mulher atraente, magra e obviamente, hábil. - Como posso suportar esse tipo de rechaço? – Ela disse de maneira pouco convincente e odiando-se por soar tão infelizmente fraca.

Madame Delilah lhe apertou as mãos de um modo tranqüilizador. - Não vou te mentir, Aerin. Estes homens têm direito a dizer não. Não sou uma alcoviteira. Meu chefe, o dono deste lugar, não é um alcoviteiro. Os homens e mulheres que trabalham e vivem aqui não são prostitutos. O que fazem, o que escolhem fazer em companhia de nossos clientes é assunto deles. - Mas estas pessoas estão aqui por um motivo, além do dinheiro envolvido. Estas pessoas estão aqui para fazer que alguém como você seja feliz. Para fazer felizes em seu encargo. E, coração, não importa o que pense você tem encanto e tem atração. E conheço alguém aqui que te ajudará a ver essa verdade sobre ti. Não sairá daqui com um sentimento de rechaço. Quase posso jurar.

Aerin evitou o olhar brilhante da mulher. - Deve pensar que sou bastante patética.

-Não penso isso. - As palavras soaram sinceras. - Penso que é uma cliente perfeita para o Fetiche.

- Você fez com que soasse como se fosse muito mais que um velho clube mundano, quando falamos por telefone. Eu… Eu tinha que prová-lo. - Aerin não tinha idéia do por que, mas simplesmente tinha que fazer isso. Três conversas telefônicas com esta mulher a haviam convencido. Havia se sentido obrigado a vir. A conhecer esta mulher.

A conhecer homem que a levaria, de maneira que esperava que o fizesse quem quer que fosse a um estado duradouro e a tempo esperado no qual se sentiria uma mulher.

Mas isso seria em outra visita, se ela sentisse que repetir o acontecimento valia seu dinheiro e seu orgulho. Esta visita era para conhecer Fetiche e tudo o que havia para oferecer. Era certo; não era um clube modesto nem ruim, como temera ao princípio. Era… Aerin não encontrava palavras para descrevê-lo. Um refúgio, talvez. Uma casa burlesca seria um estereótipo absurdo. Depois de falar com Madame Delilah por um momento, realmente não sabia como chamar este lugar. Porque nunca tinha ouvido falar de um paraíso como este.

Um refúgio no que tudo o que alguém queria estava disponível. Aceitava. Incentivava. O sexo era só uma parte desse pacote. Aerin não tinha perguntado, mas supunha que a legalidade não influía sobre o que o cliente quisesse. Fetiche era uma grande mansão; um autêntico castelo. Como tal, formado de enormes quantidades de pedra cinza por fora e se encontrava quase a 80 km de Seattle. Estava localizado em uma grande extensão de bosque, onde se podia realizar qualquer comportamento ilegal e ilícito. Aerin não tinha dúvidas disso.

Cinco mil dólares por noite podiam comprar todas as comodidades, as legais e as outras.

Aerin podia pagar, já que era uma solteirona que economizava. Tinha um muito bom salário. Era muito boa no trabalho e merecia o dinheiro que ganhava. Mesmo assim, era muito dinheiro para gastar e em algo que sequer estava segura de que fosse uma tentativa acertada. Não tinha idéia do que esperar nas horas seguintes, do entardecer ao amanhecer, nem sabia se quereria retornar.

Teria que tocar de ouvido.

Madame Delilah a trouxe novamente ao presente, à conversa. -Isto é algo menos um clube mundano, Aerin. Espero que se desfaça dos preconceitos agora, antes que a leve a um lugar comum, onde os acompanhantes e clientes começam a noite. Muito poucas vezes as coisas são o que parecem ser na superfície, aqui e em todas as partes do mundo. É um fato da vida e sempre foi. Mas você veio aqui por diversão talvez algum incentivo para sua auto-estima e isso é o que precisamente terá. Se não encontrar algo mais, pelo menos terá isso. Sua grande aventura.

Aerin concordou. Isso era exatamente como ela tinha pensado no fundo de sua mente. Sua grande aventura. A única em todos os seus anos. E esta mulher se dera conta. Aerin olhou os olhos perspicazes da mulher e sentiu que afundava, que quase se afogava nesse olhar brilhante. Ela sacudiu a cabeça para limpá-la de tais idéias extravagantes e inquietantes e se sentiu aliviada quando Madame quebrou o contato visual e olhou para outro lado.

- Estou pronta para começar, - disse quase sussurrando.

-Recorde as regras. Deixe este lugar à primeira luz, sozinha. Se decidir retornar, e espero que o faça, venha ao anoitecer e sozinha. Não haverá brincadeira com gente embriagada, a menos que seja na comodidade e privacidade de seus aposentos e com participantes dispostos. Se alguém se comportar mal ou te causar algum inconveniente, informe imediatamente um dos acompanhantes ou acompanhantes. Não se afaste dos lugares que eu te mostrar, no percurso, a menos que esteja escoltada por um acompanhante. E, doçura, a mulher se inclinou e tomou novamente as mãos dela. Aerin não se deu conta do momento em que ela lhe soltou as mãos pela primeira vez e se sentiu até mais nervosa por este lapso em sua consciência. - Se divirta. Pude notar, inclusive em nossas conversas telefônicas, que há muito pouco disso em sua vida. Pode se sentir segura aqui. Sinta-se cômoda. Seja autêntica, como desejas ser, não como a sociedade lhe impôs. Sua não é diferente de qualquer outro ser humano. Merece ter um pouco de felicidade.

-Mesmo pagando por ela? - Aerin tentou não soar ressentida.

-Sim. - Os olhos amáveis de Madame Delilah olharam para outra direção e brilharam de maneira estranha. - Inclusive pagando por ela. Especialmente se pagamentos por ela. - Ela se levantou da cadeira atrás da enorme mesa. - Vamos. É hora do percurso, para que conheça o lugar e talvez, encontre companhia enquanto o faz. Pagaste generosamente pela experiência. – Ali estava outro eco do pensamento de Aerin em voz alta, - e o tempo é dinheiro ou me disseram algo parecido. A noite está começando. Sua aventura começou.

Aerin sentiu os cabelos da nuca se arrepiar.

 

-Aqui está ela. Enviei-a sozinha ao salão.

-Não se aproximará ninguém dela antes que eu chegue?

-A menos que deseje o contrário, a deixarão para ti. - Uma pausa. - Está seguro que é o que quer?

-Suas conversas ao telefone me chamaram a atenção. Ela soava muito interessante, como disse que seria. Agora está aqui. E já passou muito tempo desde última vez que…

- Muito. Todos nós sentimos que foste descuidado com suas próprias necessidades.

-Minhas necessidades são poucas, mas ali estão de toda forma. A pena é que estive muito ocupado para as companhias ultimamente. Talvez esta noite, se ela for tão interessante como soava por telefone, me retificarei.

-Assim espero.

-Está na sala de principiantes?

-Sim. Dará conta quando vê-la, acredito. É mais do que esperava e você esperava muito.

-Muito bem. Obrigado, Delilah.

Madame sorriu e se o tema desta conversa estranha tivesse visto o sorriso, sairia correndo aos gritos do clube, para nunca voltar. -Tenha uma boa noite.

-Confio nisso.

 

Aerin levou a taça de champanhe aos lábios. Mais como hábito que por sede, na realidade. A taça estava lá e ela bebeu. Por outra parte, sustentar a taça a ajudava que suas mãos tivessem algo para fazer, além de tremer com violência no fim dos braços débeis e pesados. E talvez com sorte, uma dose generosa de álcool a ajudasse a acalmar os nervos.

Estava inquieta, com sua roupa nova, que havia comprado especialmente para a ocasião. A blusa de seda marrom, com mangas curtas estava um pouco justa no peito, mas era solta mais embaixo e, portanto, passível. A calça negra era bem confeccionada e bastante feminina. Entretanto, sentia-se um pouco incômoda nela, já que era até os tornozelos, mas mesmo assim era um tanto exagerada se a comparasse com seu traje habitual. Os sapatos também eram novos. Botinhas de salto, de elegante estilo italiano; embora se perguntasse se alguém de seu tamanho não deveria evitar a moda tão refinada.

Aerin geralmente escolhia o estilo insípido para minimizar seu tamanho, embora soubesse que a aparência de solteirona simplesmente lhe acentuava os seios e os quadris de uma maneira que teria detestado. Sempre havia prometido que, um dia, liberaria das dúvidas e se vestiria como seu gosto às vezes pedia, talvez até se animasse a usar um vestido de veludo, mas nunca tivera a coragem para tanto. Esta noite havia feito uma tentativa incomum e se vestira bastante bem.

Se pudesse deixar de se mover.

Isto estava ficando mais difícil do que esperava. E havia esperado bastante dificuldade. Pela milionésima vez, ela se censurou por ser tão estúpida para que a enganassem com a questão do clube de prazer. Não era o que esperava, embora se lhe perguntasse, não poderia dizer que era exatamente o que queria e até agora, não encontrara algo que valesse os cinco mil dólares que havia gasto.

Sim, era cheio de luxo. O proprietário do lugar não regulava os gastos para a comodidade de seus visitantes. Somente os móveis deviam ter custado uns quantos milhares de dólares. O custoso champanhe Cristal circulava livremente, junto com o caviar e o Foie Gras. E as pessoas que por ali circulavam agiam como se estivessem acostumadas a tais luxos, como se os esperassem.

Não havia quantidade de champanhe que a ajudasse a se encaixar no lugar. Não havia quantidade alguma de álcool, forte ou suave, que a tornasse mais atraente para os acompanhantes dali. Deus. Como posso ser tão estúpida? Por que pensei sequer em vir aqui, quanto mais vir? Devia estar louca.

Não. Somente desesperada. Completa, absoluta e infelizmente desesperada.

Ela sentiu o ardor das lágrimas traidoras no lado do olho e pestanejou desesperadamente para evitar que derramassem. Outra vez os hormônios. Os demônios menopáusicos chegavam para dar sua saudação travessa. Devia ser isso. Ela deu um suspiro, tomou o que restava do delicioso champanhe e colocou a taça vazia na bandeja mais próxima. Estava pronta para ir embora. Essa taça de champanhe sobrevalorizada era tudo o que resgataria da tentativa horrivelmente tola e se repreendia pelo gasto que havia feito.

Sentindo mais esmagada do que jamais se sentira ou na vida, ela se voltou e caminhou pelo delicioso salão, para o que esperava que fosse a porta principal. Era o momento de uma retirada elegante, já que era precipitada.

-Amada, aonde se dirige com tanta pressa? - Uma voz de veludo acalmou a aspereza do que logo teria sido pânico terminante. Uma mão grande e serena caiu sobre as suas e a segurou. Prendeu-a.

Aerin sentiu frio e calor ao mesmo tempo. O medo e o alívio se fundiram até que ela sentiu vontade de soluçar. Alguém havia lhe estendido a mão. Alguém a vira.

Não era tudo o que ela esperava, mas era um começo. Era um bálsamo para seu coração ferido. Não teria que deixar o lugar, totalmente derrotada. Pelo menos mudaria uma oração ou duas com alguém que não se encarregava de lhe cobrar com o cartão de crédito na entrada.

Voltar seu rosto para a voz foi fácil. Encontrar a face do estranho que a possuía era mais difícil. O que viu a impactou completamente, até a medula.

De tudo o que havia imaginado, ela não havia esperado esta… A amabilidade de um homem tão arrumado e atraente.

Que alto que era! Foi o primeiro que observou, mas não o último. Media mais de dois metros. Talvez mais que isso. Quando a maioria dos homens que alcançavam essa estatura seria desajeitados aquele homem era forte e musculoso. Os ombros eram tão longos que enchiam seu campo visual. Da maneira em que estava vestido, com uma camiseta negra e calça de escravo, desses que vestem bem, com fivelas e presilhas prateadas brilhantes, cada músculo delineado se acentuava à perfeição.

O pescoço era grosso e marcado, apesar de notá-lo um pouco tímido por ser tão brutal. Os braços pareciam longos, mais longos do que o corpo, embora longo tivesse requerido. O torso também era largo. Terminava quase de maneira espetacular em uma pequena cintura e quadris reto. As pernas continuavam por milhas e luziam seus próprios músculos fortes. Talvez, os músculos de um bailarino. Pareciam mais aos músculos de um bailarino erótico.

Aerin tremeu.

-Você está bem, Ama? – Ele perguntou gentilmente. Sua voz era rouca, de alcova, com sotaque decididamente exótico. De onde poderia ser? Decididamente não era americano. - Precisa se sentar um pouco? Talvez esteja um pouco quente aqui?

Aerin colocou uma pausa funda nos pulmões e se surpreendeu ao dar conta de que estavam pedindo a gritos. Ela contivera a respiração todo o tempo. E quanto tempo havia passado desde que começou a comê-lo bobamente com os olhos?

Tingiram-lhe as bochechas de vergonha e uma febre quente a alagou.

A mão que a sustentava a aproximou, à medida que a conduzia ao divã mais próximo. O brocado suave e profundo do estofo estava frio e lhe acalmava as pernas vestidas. O homem a seguiu até que se sentaram e ele se colocou comodamente um pouco mais atrás que ela, de maneira que seu corpo parecia abraçá-la, enquanto movia brandamente a mão para cima e abaixo sobre seu braço, como se queria acalmá-la. Não a acalmou absolutamente; de fato, conseguiu fazer justamente o oposto.

-Posso saber seu nome, Ama? – Ele disse em um tom suave e persuasivo.

-Aerin, - ela respondeu de bom grau. A questão de Ama estava se tornando estranha, apesar de que ela sabia que os acompanhantes estavam acostumados a usá-la, ao igual a Amo, segundo o sexo do cliente. Ela não gostava de ser Ama de ninguém, muito menos de outra pessoa. Ela acreditava que nenhuma quantidade de dinheiro deveria lhe conceder esse direito.

Além disso, parecia um tanto petulante e imaturo. E desnecessário. Sem embargo, ele seguia chamando-a de Ama e não soava para nada diferente. Soava como se a palavra fosse meramente uma formalidade, arraigada, mas não infundida com algum peso ou condição real. Qual era o objetivo dos títulos, não havia um verdadeiro significado ao fundo?

-Ama Aerin, - ele saboreou a palavra na boca como um facemelo doce e decadente. E ali estava outra vez a palavra Ama e não havia como este homem a usasse de outra forma, como se usasse Srta. ou Sra., Ele não parecia ser o tipo de pessoa que estava ao serviço de alguém, além dos requisitos do trabalho.

Aerin sacudiu um pouco a cabeça. Ela não era do estilo que estudava as pessoas deste modo e julgava. O homem havia lhe dirigido umas poucas palavras, isso era tudo. E ali estava ela tentando analisar e rotular sua personalidade. Era imperdoável. E um pouco sem sentido. Não havia muito que pudesse saber a respeito da verdadeira personalidade de uma pessoa sob estas circunstâncias, de toda forma. Era mais que tudo, um negócio.

Ela estava pagando a gentileza deste homem. Fazia bem em recordar. – O rubor quente cedeu e se substituiu uma sensação fria de solidão.

-O que faz com que te pareça tão desamparada, Ama Aerin? O que a fez procurar a saída tão cedo em uma noite tão agradável como esta?

-Não me chame assim.

-Chama-se Aerin, certo? – Ele perguntou com um pequeno sorriso, levantando uma sobrancelha.

Aerin franziu a boca. Ele sabia muito bem a que ela se referia e de algum modo, chateou-a que aparentasse o contrário. - Não me chame de Ama.

-Prefere Amo? - Agora ele estava sorrindo abertamente.

-É que eu não gosto, de acordo? Por favor, não o use.

-Posso te chamar Aerin, então?

-Sabe que preferiria que me chamasse por meu nome.

Seus olhos brilharam de uma maneira estranha. Perigosa. Toda a brincadeira desapareceu, como se nunca tivesse acontecido. Ele levantou um pouco mais os cotovelos, que sustentavam sua postura preguiçosa e se aproximou o bastante para que sua respiração lhe esquentasse os belos do braço. - Ainda não sei o que é e o que prefere. Mas eu gostaria de saber. Realmente eu gostaria de conhecer todas as suas preferências.

As lágrimas lhe alagaram os olhos uma vez mais, mas desta vez por outro motivo. Culpa. Uma culpa abafada. - Não é necessário que diga isso. Não quero que diga isso…

-Não quer que me interesse por ti?

A voz sedosa e musical se converteu em uma carícia física; percorreu-lhe a coluna como se fosse um dedo e tocou-lhe os seios como se fossem lábios. Fez com que umedecesse entre suas pernas.

Como ele fez isso?

Aerin afastou a sedução de suas palavras perversas e se endireitou, à defensiva. - Cometi um engano ao vir aqui, - ela sabia que essa era a verdade e insinuou levantando-se.

As pontas de dois dedos se colocassem com firmeza no interior do pulsação de Aerin, sobre sua pulsação desesperada. De alguma forma, o gesto mínimo a manteve cativa ali, com ele.

- Não cometeu nenhum engano, - ele disse enquanto exalava, mas com firmeza.

-Não sei por que vim, - tremiam-lhe as palavras. E com elas, os lábios.

-Eu sei por que veio. Sei que voltará. - Agora, por sobre todas as coisas, ele parecia-lhe arrogante.

Estava analisando-o outra vez. Sua mente estava em dois lugares ao mesmo tempo, uma parte olhava desenredada do resto de seu corpo, enquanto que a outra parte nadava alcoolizada pelo atraente homem em frente a ela. Não lhe agradava esta dualidade, que até o momento não sabia possuir.

-Vou. E não voltarei, - ela murmurou em um tom menos firme do que teria gostado.

-Não vá, Aerin. Finalmente, ele usou seu nome, como ela queria e soou descaradamente perverso em seus lábios.

-Não precisa me convencer para que fique. Não vou pedir uma reintegração do dinheiro, então não se incomode em se preocupar por isso.

-Você acredita que eu me preocupo por isso?

Aerin levantou o olhar para encontrar o dele. Eram verdes, prateados e azuis ao mesmo momento. Hipnóticos. Nunca tinha visto olhos como os dele. Nem nada que se parecesse.

-Não sei... – ela disse. Estava confusa. Do que estavam falando?

-Esqueça-se do por que ou como chegou aqui, somente está aqui. O único que importa é que estamos você e eu aqui, juntos. Fique comigo. Deixe-me te mostrar o lugar, - ele tentou convencê-la.

Por algum motivo, ela não podia deixar de olhá-lo. Não queria. Sequer para conservar sua própria dignidade. Engoliu saliva e encontrou sua língua, apesar de uma árdua luta. - Madame Delilah já me mostrou o lugar, - Aerin mentiu-lhe, inexplicavelmente assustada, em um breve momento de auto-preservação.

E sentiu a seda calma de sua boca no pescoço antes que o visse se mover. Algo acontecia com seus olhos. Provavelmente fosse o champanhe. Havia tomado muito rápido. Ou, provavelmente estava com os óculos torcidos, o que fazia com que as coisas começassem a dar voltas e deixasse sua visão imprecisa. Podia ser algo… E não importava, ela se deu conta.

A boca era tão firme e suave.

Cada palavra que dizia era um beijo em sua pele, suave e devastador. - Eu posso mostrar mais do que ela te mostrou. Muito mais.

O coração lançava rugidos. As areias de mil desertos lhe secaram a boca, até sentir que se gretava. Enquanto tudo dava voltas, ela sentiu com o último de seus sentidos, uma carícia da ponta de um dedo contra a parte superior de um seio. Aerin aceitou seus desejos como próprios e abandonou seu último foco de resistência.

E assim foi como conheceu Violanti D’Arco.

 

- Este é o primeiro passo do percurso.

Violanti, como ela sabia seu nome? Havia lhe perguntado? Não podia recordar. Ele lhe fez um gesto para frente, para se dirigir a uma porta de cor verde jade.

- Seu nome é Violanti? - Perguntou de um modo tolo.

Logo apareceu um pequeno e divertido sorriso, com o gesto suntuoso de sua boca. - Sim e soa precioso em seus lábios.

-Soa… É italiano? Ela franziu o cenho, desconcertou-a o fato de que importasse ou inclusive que tivesse mencionado.

O sorriso desapareceu. O brilho dos olhos mudou de verde para prateado e depois para o azul, o que fez que ela ficasse tonta.

-Sim. - Foi sua resposta breve.

-Ah.

Quase instantaneamente, Aerin esqueceu o que estavam conversando e olhou adiante de Violanti, para a porta verde. - O que há aí? Uma curiosidade que nunca tinha experimentado antes fez com que quase superasse o acanhamento.

Ele sorriu novamente. Seria um sorriso praticado? Era tão sensual que devia ser. Nenhum homem deveria ter um atributo tão sedutor, sem ter que se esforçar nem um pouquinho por ele. – Siga-me se quer averiguar. – Ele abriu a porta e entrou. Aerin não poderia ter permanecido para trás, mesmo que quisesse. Então, fez pela metade. O que quer que esteja atrás daquela porta a fazia sentir-se nervosa.

Uma vez que passou o marco, Violanti fechou a porta brandamente atrás dela. Prendeu-a. junto a ele. Juntos.

O aposento era precioso. Nada sinistro ou intimidante, como ela havia temido. Os suaves tons de jade, acentuados por uma cor de baunilha quente e cremosa davam ao aposento uma qualidade tranqüilizante e atraente. As fragrâncias exuberantes de baunilha e talvez, um pouco de maçã ou abacaxi, abundavam e favoreciam a decoração. Somavam-se à comodidade do lugar.

O perfume adormecia Aerin, envolvia-a, atraente e sedutor. A mão de Violanti em suas costas a convenceu e tranqüilizou-a. Ela entrou mais no quarto. Havia outro divã, todo coberto de seda em um tom esmeralda. Estava localizado diante de uma parede e era o único móvel que tinha sido liberado do motivo jade e baunilha. Violanti a levou até divã com suavidade, mas firme e ali se uniu a ela.

Havia uma luz em algum lado atrás da parede em frente a eles, o que a tornava transparente. Aerin se deu conta de que era um espelho de duas faces. Atrás do espelho, havia outro aposento idêntico ao deles. Só que havia várias pessoas nele.

Aerin se ruborizou freneticamente e afastou o olhar. Os dedos longos e serenos de seu acompanhante lhe seguravam o queixo e a fizeram virar o rosto novamente para a cena em frente a eles. - Olhe-os, Aerin. Não há por que sentir vergonha.

Ela não pôde evitar. Devia olhar. O rubor se fez mais profundo. Queimava-lhe o pescoço e os seios com veemência. – Eles sabem que podemos vê-los? - Essa era sua voz, entrecortada e fraca?

Ele riu entre dentes. Era como um suspiro, a pequena risada. Mas ela sentiu que vibrava por todos seus ossos. - É obvio. É o que querem. Por escolheram esse aposento? São exibicionistas; é o fetiche deles, que os outros os assistam e o clube lhe brinda esta experiência.

-Podem nos ver?

-Não. Quer que nos vejam?

-Não! – Ela explodiu. Depois, disse com mais calma. - Não. Eu preferiria que não o fizessem. Eu… Não creio que tenha um fetiche exibicionista.

Outra vez o sorriso divertido. Diversão a custa dela. Por um segundo, ela odiou e temeu o sorriso dele e todos os mistérios que ocultava. Mas o momento chegou e da mesma forma foi embora e ela ficou novamente deslumbrada por Violanti e pela cena que se revelava atrás do espelho. - Minha pergunta, é se conhece seus próprios fetiches, Ama.

- Eu disse a você que não me chamasse dessa maneira. Faz-me se sentir incômoda.

-Mesmo depois de ter passado toda a sua vida debaixo dessa pele, posso ver que se sente incômoda nela. Por que isto deveria ser diferente e te ofende?

Aerin se tornou para trás, com um suspiro superficial e inseguro; surpresa de que ele a machucasse e fizesse zangar-se tanto e tão rapidamente. – Você não me conhece. Não deveria fazer hipóteses sobre as pessoas que não conhece.

Os olhos dele brilharam perigosamente. – Você supõe que estou interessado em ti por lástima ou por obrigação, simplesmente porque pagou para ficar aqui, não?

Era por isso. Claro que era assim. Era algo seguro de supor. Mais que seguro.

Ele pareceu dar-se conta de que reconhecia talvez em seu olhar ou em seu rosto. Violanti era muito observador. – Você é tão culpada de fazer hipóteses como eu. E, talvez, nós dois estamos equivocados… não. Isso não é certo. Eu digo que você está equivocada a respeito de mim. Enquanto que eu sei que estou certo a respeito de ti.

Ele disse com um tom subjacente que virtualmente a desafiava a discrepar.

Aerin não pôde discrepar sequer aparentar fazê-lo. Ele tinha razão. Ela era uma estranha em sua própria pele, sempre havia sido e sempre seria assim. Mas isso não significava que ela devia aceitar sua observação do fato.

-Não quero falar sobre isto. – Ela olhou o espelho, o que havia mais à frente, e logo afastou o olhar. – Eu não devi ter vindo. Preciso ir agora.

Novamente, ele apoiou as pontas de dois dedos, não mais, contra sua pulsação. Se tivesse feito outro movimento, talvez tivesse descoberto força para sair correndo. Mas, igual antes, o pequeno gesto a conteve efetivamente.

-Outra vez o mesmo? Desculpe-me, Aerin. Fui prosaico, me desculpe. Mas posso ver claramente que, de todos nossos clientes, você necessita de Fetiche desesperadamente. Necessita da comodidade e o prazer que possamos te dar. E nós podemos te ajudar a encontrar esse ser escondido, que há tanto tempo você esqueceu. Essa parte tua que não tem medo de sua própria sensualidade. De sua própria tração sexual. Enterraste-o muito fundo, mas ainda está aí, esperando ser descoberto. Deixe-nos te ajudar a encontrá-lo. Deixe-me te ajudar a encontrá-lo.

- Você está brincando comigo? – Aerin perguntou trêmula.

- Não. Nunca pense isso. Sempre serei honesto contigo. Prometo-lhe aqui e agora. Acredite-me, - ele sorriu-lhe com o sorriso lento e adocicado, - porque nunca falto a uma promessa.

-Não sei o que esperava quando cheguei aqui. E me senti culpada por isso, logo que emiti o cheque. Só queria… - ela titubeou.

-Queria amor. Ser amada, pelo menos por um momento, mesmo se tivesse que comprar esse momento.

-Sim. Sou patética.

-Não! - Agora, a mão dele era um vício ao redor de seu pulsação. -Nunca, jamais diga isso diante de mim. Não é certo. Você é preciosa e adorável e merece amor, igual a todas as criaturas desta Terra. Mas esqueceste de seus direitos, porque a sociedade, a modo popular e o marketing lhe disseram isso. Ouça-me agora, já que nunca ouviu de outra pessoa; você é formosa.

Ela recusou a aceitar, por desconforto e incredulidade.

Os dedos longos da mão esculpida lhe levantaram o queixo para que ela o olhasse, e Aerin se sentiu presa. – Você é formosa, Aerin, - ele repetiu com firmeza. - Me deixe lhe mostrar o quanto formosa é. Deixe-me ensinar-lhe pelo menos isto, embora tenha muito que aprender.

Os olhos de Violanti eram hipnóticos, formosos. Aerin sentiu como uma presa apanhado pelas luzes de um caçador. - Não quero que se prostitua para mim. – Ela gaguejou.

Ele sorriu, antes de baixar a cabeça e os cabelos de um negro azulado e lhe acariciar a curva do pescoço com os lábios suaves e frescos. Os arrepios lhe percorreram o corpo, pelos lugares onde ele a tocava. - Não me prostituo. Não mais do que você o faz.

-Mas eu paguei por…

-Shh. - O polegar lhe percorreu todo o lábio inferior, fez com que inchasse e formigasse, congestionado pelo sangue e excitação. Moveu a mão e se enredou no cabelo de sua nuca, sustentou-a perto, como se seus lábios a acariciassem profundamente.

-Não diga mais. Você pagou por um lugar aqui, por prazer e socorro se é que podia encontrar aqui; não pela alma de qualquer homem ou mulher dentro destas paredes. Nenhum de nós está obrigado de maneira nenhuma a fazer mais que oferecer alguma bebida ou um bom papo aos nossos clientes. Eu estou aqui contigo agora porque escolhi estar aqui. E se fizermos amor e admitirei que, embora seja em breve desejo fazer contigo, então, será porque nós dois escolhemos fazê-lo. Ela moveu sua mão junto com a dele, os lábios ainda lhe faziam cócegas na pulsação de seu pescoço. Enquanto ele a acariciava desceu sua mão até a elevação dura de seu membro.

Ela ofegou e tentou se afastar. Mas ele a sustentou com firmeza e novamente lhe falou, enquanto cada palavra parecia ser um dedo mágico e invisível que lhe acariciava os seios e o púbis. - Esta é minha honestidade. Esta é minha verdade. Desejo-te. Porque é formosa. Porque é… - Ele mordiscou sua pulsação com os dentes e fez com que ela gemesse. – Doce, inocente e digna. Desejo-te.

Ele deixou que retirasse a mão e apesar de ser tímida, não pôde se afastar imediatamente da ereção. Esta era a primeira vez em sua vida que havia sentido uma coisa como essa. Era estranho e lhe dava medo, mas também era tremendamente excitante.

Ele deu-lhe outro beijo no pescoço, forte e depois se afastou. Inclinou, chegou onde estavam suas mãos juntas e apertou a dela para tranqüilizá-la. Depois se endireitou, de maneira que os ombros largos a fizessem parecer pequena. Pela primeira vez na vida Aerin se sentiu pequena e olhou novamente para o espelho em frente a eles. Quase havia se esquecido dos momentos anteriores.

-A lição desta noite será esta; olhar, observar. Pode proporcionar prazer. E não há por que se envergonhar disso. Por nada. Olhe-os. Aqui todos são iguais na paixão. Todos nós somos iguais. Todos nós somos dignos. Você não é diferente no que vale, não importa que pense o contrario. Então, agora olhe comigo e aprende.

O olhar de Aerin, agora ardente, levantou para a cena desdobrada atrás do espelho.

Havia cinco pessoas no aposento. Três mulheres e dois homens, de diferentes cores, tamanhos e formas. As mulheres eram curvilíneas e exuberantes. Uma ruiva, uma morena e uma loira. Os homens eram como o dia e a noite, moreno com a pele de cor marfim e músculos definidos e o outro era loiro, de textura firme e tez de uma cor chocolate cremoso e profundo.

Todos estavam completamente nus, embora minutos antes estivessem despidos em diferentes graus. Não havia dúvida de que estavam desfrutando; indiferentes, ou melhor, excitados e conscientes que alguém estava observando-os. Definitivamente, não demonstravam vergonha ou desconforto em saber.

Os seios arredondados da mulher morena formavam um travesseiro, para cabeça do homem de pele cor clara. Ela estava com as pernas separadas, atrás e debaixo dele, sobre uma grande cama de quatro colunas. O corpo do homem estava dentro do dela. Os dedos longos da morena brincavam ociosamente com seu cabelo, enquanto olhava os movimentos da mulher ruiva ao lado deles.

A ruiva fez um gesto com os lábios cheios e umedecidos de excitação e se abaixou ao lado dos outros dois e levantou os seios de mamilos grandes enquanto se abaixava maneira sedutora para o homem moreno e lhe oferecia seu fruto proibido. Os lábios do homem se fecharam ansiosamente sobre o primeiro mamilo e logo o outro, como se estivesse sugando uma fruta amadurecida e deliciosa.

A mulher loira, que gozava de um corpo de ânfora que até Marilyn Monroe teria invejado, estava com o membro duro e tenso do moreno na boca. A carne vermelha e torcida do membro aparecia e desaparecia dentro de sua boca, uma e outra vez, enquanto a cabeça da mulher se meneava para cima e para baixo com suas abluções. O membro não era pequeno e nem grande e cobriu tão esplêndido, como os membros que Aerin tinha visto nos filmes pornográficos, mas estava claro que à mulher que o sugava até a garganta não se importava. Sorria de felicidade ao homem, cada vez que a cabeça com forma de cogumelo de seu membro lhe escorregava dos lábios brilhosos.

O homem de pele cor de café observava de fora, às vezes acariciava as mulheres, às vezes acariciava o homem, enquanto sustentava seu próprio órgão inchado. Seu membro era o menor dois, mas era um pouco mais atraente que o do outro homem. Levou um momento para Aerin se dar conta de que era porque estava completamente raspado. Ele possuía as testículos firmes contra o corpo, duas pedras escuras cobertas com cetim, que brilhavam como um chocolate cremoso e quente com a luz tênue do aposento.

Aerin sentiu que seu sexo se umedecia cada vez mais.

Dado que os participantes da pequena orgia estavam nus, Aerin não estava segura de quem trabalhava em Fetiche e quem não. Todos os acompanhantes do clube usavam roupa negra, do pescoço até os pés, de maneira que era relativamente fácil detectá-los nos aposentos comuns. Mas ali, como Violanti havia mencionado antes, estas pessoas pareciam ser iguais. Ali, naquele quarto de luxúria e desejo, não havia acompanhantes, nem clientes, somente amantes. Por algum motivo, isto acalmou o insistente sentido de culpa de Aerin, e ela pelo menos se sentia agradecida por isso.

O homem moreno que jazia na cama, de repente tirou o seio da mulher da boca e aproximou de seu amante de pele cor chocolate. O homem de pele morena deixou de acariciar e subiu à cama, sentou escarranchado sobre o peito do homem moreno e deslizou todo o membro impressionante na boca de seu companheiro. Aerin deu um grito afogado de surpresa, mas não pôde afastar o olhar da visão decadente.

O moreno que estava sobre a cama sugava o membro escuro tão formoso e apertava as mãos nas nádegas do homem, empurrando-o cada vez mais intimamente. A loira Marilyn que sugava o homem que estava deitado deixou de fazê-lo e permitiu que a ruiva subisse sobre membro brilhante e úmido do homem.

A ruiva envolveu a cintura do homem cor de marfim em frente a ela com os braços, enquanto se empalava sobre seu companheiro e, juntos, ondulavam sobre o amante que repousava. Eram exóticos. Ela com a pele pálida, ele com sua pele negra e cremosa, juntos, quase meigamente, à medida que se moviam ritmicamente.

‘Marilyn’ se aproximou e beijou a mulher morena que estava sobre a cama, cujos seios ainda serviam de travesseiro ao homem que agora gemia extasiado. As duas mulheres se acariciaram os seios mutuamente, suas línguas lambiam mutuamente as bocas famintas. O cabelo de ambas se mesclava em tons que se assemelhavam aos da pele de seus amantes.

Juntos, o grupo era uma massa de corpos que se estremeciam, alagados em suor, em um caleidoscópio cambiante e estimulante de cor.

Aerin se sentiu quente. Seu coração lançava rugidos. Nunca tinha esperado passar a noite desta maneira, olhando o espetáculo ao vivo mais erótico que poderia imaginar.

-Você gosta de vê-los, Aerin?

Ela não podia falar. Mal podia respirar. Mas fez um gesto afirmativo com a cabeça, sem pensar em mentir ou sentir-se envergonhada em um momento tão erótico, sabendo que realmente gostava de fitá-los. Gostava muito.

-Bem. Estava seguro de que você gostaria. Agora, vamos para a segunda parte do percurso.

 

Aerin se surpreendeu.

Agora, os olhos de Violanti estavam tão quentes como aço fundido… Completamente prateados. Brilhantes sob a luz tênue do quarto. Levantou-se do assento atrás dela e se dirigiu para trás do divã, onde Aerin não podia vê-lo. Aerin estava muito nervosa para olhar, para se voltar e estudar abertamente seus movimentos, então se surpreendeu ao ver que ele tinha procurado outra cadeira suave e macia, que agora a levava para colocá-la diretamente em frente a ela. Sentou-se e estirou as pernas longas, até enredá-las com as dela.

-Está pronta?

Aerin engoliu a saliva porque estava com a boca seca como um deserto depois de uma longa seca. – P.. Pronta para que?

- Eu lhe disse que a lição desta noite seria te ensinar a olhar e desfrutar do que vê. Você disse que desfrutou olhar os amantes através do espelho e isso é bom. Agora deve descobrir a verdadeira diferença entre ter a barreira dessa janela entre você e o que vê e não tê-la absolutamente.

-Penso que não…

Ele inclinou-se para frente e aproximou a face da dela, tão perto que quase podia sentir o gosto doce da respiração dele na boca. - Não tem que pensar. Só deve olhar, observar.

Ele elevou o corpo para trás uma vez mais e suspirou brandamente. Essa longa respiração era tão incrivelmente estimulante que fazia eco no útero de Aerin. Violanti moveu as mãos e se acariciou, começando pelo peito musculoso, seguindo pelo abdômen chato, até chegar ao botão da calça.

Foi então quando Aerin se deu conta de suas intenções. O rubor de suas bochechas se intensificou até que ela acreditou que a pele lhe estalaria em chamas, mas não havia força na Terra que a teria feito desviar a visão dos dedos longos abrindo o botão e baixando o zíper.

-O espelho a protege, Aerin. Mais de ti mesma que dos outros amantes. Com o espelho como barreira, você não sente a necessidade de cuidar suas reações ou sua excitação. Mas sem esse espelho se sentirá nua, exposta. Não te deixaria perder no meio do espetáculo.

Ele tinha razão. Aerin tremia.

Ele estava com a calça desabotoada. Com uma mão, levantou a camisa até o ventre, deixando ver uma extensão da lisa carne rígida e musculosa. A outra mão entrou lentamente pelo tecido aberto.

 

-Demonstrarei a você que nunca precisará esconder suas reações, sua excitação, seu gozo, haja um espelho ou não. Nunca se esconda atrás de uma parede, Aerin, real ou metafórica. Não é divertido se esconder. Abra-se para o mundo. Abra-te a seus amantes. Não há erotismo mais velho, que a demonstração da emoção honesta.

Ele pegou o vulto de sua excitação com toda a mão e se elevou. Aerin cortou a respiração. A calça se abriu e revelou toda o longo membro, em frente a seu olhar faminto. Era moreno, liso e longo. Tão grosso e longo que Aerin soube que nunca seria capaz de envolvê-la com a mão, se tentasse.

Estava decorada por uma rança de veias azuis, finas e delicadas, apenas por baixo da pele de veludo. Estava tão pesado e duro que não dobrada para a direita sobre o estômago, sob a mão que ainda lhe sustentava a base. A coroa era grande, mas não tão grande, de maneira que era mais grossa que sua parte mais grossa. Tinha uma protuberância arredondada que descia se que conduzia ao orifício na ponta da crista.

Uma pequena gota de líquido claro e brilhante saiu do orifício e caiu lentamente sobre a cabeça inchada.

Os olhos de Aerin a seguiram, hipnotizados.

- Me olhe, Aerin. Não seja tímida. Nunca seja tímida comigo. Enquanto você me olha, eu te olharei. Mostre-me seu desejo. Mostre-me sua necessidade e eu te mostrarei a minha.

Aerin observou, fascinada, enquanto a mão segurava a carne pesada com mais firmeza, à medida que começava a mover para cima e para baixo, como o movimento de um êmbolo. A coroa chorou suas lágrimas brilhantes e as mãos dele as capturaram e as levaram pela haste, para usá-las como lubrificante.

-Você gosta do que vê mulher? - Sua voz era um sussurro rouco e suave.

-Sim. – Ela respondeu-lhe da mesma maneira e era a verdade, mas bem mais que isso. Estava cativa e seu corpo gemia e vibrava pela excitação sustentada, que não oferecia descanso. O lado perverso da faca de sua excitação cortava profundamente e fez com que seu corpo doesse pela saudade não correspondida. Tremeram-lhe as coxas e os sucos de seu sexo em pranto a empaparam através do tecido da calcinha.

Agora os olhos de Violanti estavam sombreados e mostravam uma mínima fresta de cor, uma vez mais, brilhavam com os tons em constante mudança. Os cílios eram longos e tão negros como a noite mais escura e fechada. Ocultavam-lhe os olhos e roçavam as maçãs do rosto, incitavam-na e só lhe permitiam a ver brevemente o fogo de seu olhar.

- Você se tocaria como eu? – Ele perguntou-lhe com voz rouca.

-Não posso, - queixou. Tinha os lábios secos e os lambeu. Os olhos de Violanti viam tudo e ardiam com mais brilho.

Ele levantou as pálpebras e seu olhar era penetrante, impositivo. -Sim, você pode.

-Não. Não pode me pedir que...

-Então não lhe peço. Ordeno-lhe. Toque-se como eu o faço. Não sinta vergonha, Aerin. Não seja tímida. Quero vê-la. Preciso vê-la.

Finalmente, ela encontrou força para desviar o olhar. Mas não havia segurança no gesto, já que atrás dele se via a cena dos amantes, ainda no mundo, além do espelho.

- Não posso. Não o farei. É muito cedo. - Odiava-se por ser tão covarde, mas não mudaria o fato de que simplesmente não podia se acariciar abertamente na frente deste homem.

Um sopro de impaciência explodiu nos lábios apertados de Violanti. - Muito bem, então. Não a obrigarei. Não esta noite. Mas logo chegará o momento em que fará o que peço. O que te rogo. O que te exijo. Agora, olhe. E compreenda que não há vergonha no desejo, na necessidade ou em compartilhar alguma destas duas coisas.

Ele elevou a cabeça para trás, sobre a cadeira. A linha do queixo e da garganta era uma expansão de músculos formosos e marcados, dentro de uma camada lisa de pele cor de bronze. Essa pele brilhava sob a luz tênue, diferente da carne de todos os homens que Aerin já tinha visto. Possuía atração hipnótica própria e ela não podia pensar em afastar a visão da coluna de sua garganta e pescoço, que saia dos largos ombros.

Ela esperava ao mesmo tempo em que temia, que ele tirasse a camisa. Toda a pele nua de uma vez, seria uma visão que endemoninharia seus sonhos pelo resto de seus dias. Vê-lo nu seria uma decadência pecaminosa. Mas, oh! Como desejava.

Pele e pecado, duas palavras que continham tudo, empapadas com o poder de fazer com que uma mulher se tornasse louca de luxúria.

Finalmente, ela pôde olhar para baixo, além da forte garganta, os amplos ombros, o longo torso… Até a zona que mais anseio estava de olhar. A arma formosa, o membro magnífico que desaparecia e voltava a aparecer dentro do punho que o acariciava. Uma e outra vez, em um ritmo maravilhoso. Pum, pum, pum. Tac, tac, tac. O coração de Aerin logo ecoou no mesmo ritmo e interpretou sua própria melodia de excitação.

Ele sacudiu os quadris. Uma, duas vezes. O membro estava até mais torcido, mais duro. A cabeça tomou uma cor vermelha muito intensa. Como lápis de lábios. Aerin queria beijá-lo. Realmente lhe doíam os lábios pela intensidade do desejo. Ela passou a língua pelos lábios

-Isso virá depois, Aerin. – Ele pareceu-lhe ler a mente. - Por ora, só olhe.

E ela olhou. No fundo de sua mente, deu-se conta de que a respiração de ambos estava sincronizada. Aumentava com a velocidade dos movimentos da mão e dos quadris de Violanti. Ele possuía os testículos rígidos e tensos sob o grande membro. De repente, o importante peso circular deles exercia pressão pela máxima liberação, com uma impaciência imediatamente evidente pelo movimento acelerado dos punhos de Violanti.

Parecia que ele se segurava com mais força. Aerin observou como lhe sobressaía a mandíbula, à medida que ele apertava os dentes. Os cílios dele vibravam e os olhos a fitaram por um momento e logo se desviaram rapidamente, como se fosse um animal enfurecido. Arqueou as costas na cadeira, sacudiu-se e levantou os quadris. Faltava pouco… Muito pouco para ele chegar ao orgasmo.

Aerin sentiu esse instante como se ela também estivesse na mesma situação. Pequenas pulsações lhe banhavam os seios e o púbis. O clitóris inchado vibrava no topo do sexo, que estava tão molhado que certamente devia estar impressionada. Aerin nunca havia estado tão molhada, tão excitada. Jamais! Não desta forma. E sequer sem se tocar… Era incrível.

- Olhe-me, Aerin. – Ele gemeu com um sussurro tenso. – Observe-me, mulher. Observe como acabo, para seu prazer.

Como ela conseguiria desviar o olhar em um momento tão potente? Não havia força no céu ou o inferno que conseguisse lhe afastar o olhar enquanto ele se levantava vigorosamente da cadeira. O membro meneava enquanto ele movia a mão rapidamente para cima e para baixo por toda sua longitude. Os testículos tremiam. E logo, ele acabou.

Violanti emitiu um gemido profundo e tortuoso que lhe rasgou o interior e ela apertou fortemente os olhos fechados. Apertou os lábios e lançou outro gemido. Estremeceu-lhe o corpo e inchou-lhe mais o membro. Pulsava. Ele deixou de mover a mão, enquanto se segurava com força. Uma espessa erupção líquida, branca e cremosa saiu a jorros sobre sua mão, para seu ventre.

Aerin gemeu. Ele ecoou com outro gemido e liberou outra erupção do membro torcido.

Começou a mover novamente a mão, enquanto sacudia os quadris contra a incontrolável força que o fazia explodir de êxtase. Devido aos movimentos, ele estava com a calça à altura dos joelhos, para poder separar mais as pernas e mover com mais força a mão. Aerin viu as sombras negras que se formavam sob seus testículos, enquanto ele se movia.

Queimavam-lhe os olhos. Ao igual sua intimidade.

Teria dado tudo nesse momento para ter a coragem de subir em seu corpo palpitante. Mas sequer encontrou a coragem bastante para se tocar ela mesma na frente dele, muito menos para montá-lo. Este embaraço lhe rasgou o coração, mas ela não fez nada para liberar-se da saudade, da febre que a afligia.

Outro jorro de orgasmo voou para ventre e depois amainou. Ele ainda movia a mão, mas lentamente agora, sobre a haste vermelha e brilhante. Seu aroma cheirava a canela, amêndoa, almíscar e a homem, afogava-a. E ela se perguntava se o gosto seria tão bom como seu aroma e sentiu uma ânsia agradável provocada por esse pensamento.

Seguiu com a visão da outra mão, que se levantava e esfregava o creme maravilhoso sobre o ventre e para cima, enquanto erguia a camisa com o movimento. Em frente a ela, apareceu o torso de cor oliva e sem pelo de Violanti, o qual a fez gemer novamente. Ainda lhe gotejavam pequenas quantidades de sêmen brilhante do membro enquanto ele seguia acariciando-o delicadamente, mas parecia não lhe importar. Estava coberto com o brilho de seu sexo, do peito até o membro, o qual parecia desfrutar completamente.

Aerin queria tocá-lo, sentir sua essência mais privada.

Ele colocou os dedos sobre as últimas gotas que restavam na cabeça do membro e levou-as a boca. Sugou os dedos brandamente com a língua. Abriu uma vez mais os olhos e fitou os dela, prendendo-a.

-A próxima vez se unirá a mim, não Aerin?

Ela tremeu e não teve voz para respondê-lo. De fato, não fazia idéia do que poderia ser dito, de poder lhe responder.

Repentinamente, Violanti se abaixou em frente a ela e lhe separou as pernas com as mãos fortes e resolvidas. Ainda estava com a calça à altura dos joelhos e a tocou com a longa coluna de seu membro. O aroma de seu sexo a embriagou. Seduziu-a, atraiu-a. Uma nuvem perfumada de delicioso almíscar masculino. Fez-lhe água a boca.

Ele desceu a face.

-N-não, o que está fazendo? – Confusa, finalmente ela conseguiu encontrar sua voz, enquanto lhe segurava as mãos.

-Não posso resistir à reclamação de paixão e de desejo veemente que vejo em seus olhos. – Ele ignorou seus protestos, moveu as mãos e a acariciou brandamente na parte interna das coxas, atormentando-a a loucura.

-Não. Não faça. – Ela disse com mais velha firmeza que pensava ser possível. - Por favor, não o faça.

-Posso cheirar que me deseja. Quase posso saborear no ar. Você nega que me deseja?

-Não. Claro que te desejo. Deus! Que mulher de sangue quente não o desejaria depois de um espetáculo tão íntimo? - Mas, por favor, não posso fazê-lo.

Seus olhos ardiam sobre os dela. Havia zanga em suas profundezas multicoloridas? Primeiro seu olhar foi duro, depois suave e depois duro novamente. Como se estivesse combatendo contra si mesmo. - Pode fazer sim. – Ele protestou, grunhindo.

-Eu... Eu... - Não sabia o que queria. Levou o olhar para o espelho atrás deles, mas outra vez, não encontrou segurança em olhar para lá. De seu corpo caía a excitação interminável, como uma avalanche de fogo entre as pernas, enquanto olhava o orgasmo do homem loiro, que fluía como leite na boca e o rosto do homem moreno.

Nunca tinha visto tanto sêmen e jamais em pessoas, só nos filmes pornográficos que tinha visto para se excitar, a medida ela mesma encontrara ao longo dos anos. De maneira alguma haviam preparado-a para a rajada explosiva de observar tanta liberação, diretamente.

Violanti atraiu sua atenção uma vez mais. - Me permita ter isto de você. Sua paixão. Seu desejo. Sua excitação. Necessito-os, mesmo tanto como você.

-Não quero assim. Não desta forma. Você tampouco a quer realmente, você...

-Não me diga o que quero!- Ele deu um grito e Aerin se perguntou se as pessoas do outro lado do espelho podiam ouvi-lo.

Os olhos de Violanti tomaram ao mesmo tempo a cor estranha e cambiante do verde, o prateado e o azul, embora as mudanças fossem bem mais rápidas que antes. Aerin se perguntou como podiam existir esses olhos naturalmente, mas sem lugar a dúvidas, não tinha ouvido falar de lentes de contato que pudessem mudar de cor. Talvez, seus olhos fossem de algum tipo de cor avelã que nunca tinha visto, que mudavam dessa maneira, de um tom a outro.

Com mais calma agora, mais tranqüilo, ele continuou. - Não me diga o que quero, não pense que tem esse poder. Em troca, me deixe dizer a você. Deixe-me dizer o que desejo.

Estremeceu-lhe o coração e paralisou sua respiração. Ele moveu um pouco mais as mãos e as pontas de seus dedos revoaram pelo sexo dela.

-Desejo que apóie as costas nessa poltrona e termine com todas as dúvidas a respeito de sua pessoa, sobre seu corpo e especialmente, sobre mim. Desejo abrir bem suas pernas e pôr a língua contra seu úmido centro. Desejo apoiar a cabeça em seus seios e saborear os frutos de seus mamilos e que você me deixe marcas nas costas com as unhas enquanto eu faço isso. Desejo esfregar meu membro contra seu sexo úmido e te montar até te machucar, ter seus tornozelos à altura de meu pescoço e te cravar os dedos em seu suave e agradável traseiro. Isso é o que desejo. Isso é o que quero. E nenhuma de suas dúvidas sobre Fetiche ou seu lugar no clube farão com que isso mude.

Ele pegou-a com uma das mãos e instintivamente mais que defensivamente, ela apertou as pernas contra a mão dele. - C-como pode querer fazer isso? – Ela quase gemeu ao dizer essas palavras. – Olhe para mim! Não pode querer isso. Ela levou as mãos à face e se escondeu apesar dele ordenar que se visse como realmente era. Uma solteirona de meia idade, com sobrepeso. Certamente, nenhum homem tão belo ou sensual como ele podia se sentir atraído por uma coisa tão lastimosa.

Violanti desenredou das pernas e usou as mãos para tirar as dela da face. Estavam suaves e úmidas e ela gemeu brandamente pela carícia. – Você é formosa, Aerin. Mas se não estiver pronta para notar ainda, então talvez possa esperar. Mas não posso esperar muito. Não me peça isso. Não te peça isso. Nós dois merecemos sua paixão. Merecemos seu prazer. Estamos famintos dele, como se morrêssemos de fome.

Ela sentiu o sabor das lágrimas na boca e se deu conta, surpresa, que estava chorando. Desculpando-se, ela lutou contra a força que a fazia fitá-lo nos olhos. - Acreditei que podia. Pensei que podia levar a cabo.

O sorriso dele era amargo, um pouco distorcido. - Não pensou isso. Você pensou que se encontraria com a desilusão, com o rechaço e que iria confirmar sua baixa-estima. Não esperava que se apresentasse uma opinião diferente, por nada.

 

Agora à defensiva, Aerin torceu os lábios. - Não. Paguei por sexo, não foi? Certamente, não preciso pagar cinco mil dólares para sentir pena por mim mesma.

- Você não pagou por sexo. Pagou por prazer. E, honestamente, creio que pensa que o único prazer que pode encontrar é o rechaço e a falta de estima de outros. Por isso pagou… Mas está obtendo outra coisa por seu dinheiro e não creio que esteja preparada para isto.

-Voltamos às pressuposições. Pensei que já tinha terminado com isso, - disse ela entredentes, zangada com ele por sua capacidade de vê-la. Realmente, ele podia vê-la... E de verdade, ela era assim? Assustava-a dar-se conta de que talvez fosse precisamente assim.

-As hipóteses não têm nada a ver com isso. Um dia verá que tenho minhas próprias maneiras de te conhecer, até as profundezas de sua alma. Por isso estou aqui em Fetiche. É meu dom, meu valor diante outros. Finalmente verá como um valor, por si mesma.

-Mas não voltarei aqui para averiguar. Não voltarei aqui, então deixe de dizer todas essas coisas. Não necessito de um psiquiatra, Violanti. Em todo caso, um psiquiatra provavelmente seja mais barato, então não tente me analisar. Duvido que possa me convencer nas poucas horas que restam da noite. Então, por favor, abandone a atuação de Dom Juan. Não há motivo para fazer.

Violanti pegou uma mecha de cabelo dela, com os olhos cerrados. - Lamento que o mundo tenha te dado um escudo tão duro e frio de atravessar. Lamento que não seja feliz. Lamento que esteja sozinha. Mas, não pode se esquecer disso por uma noite? Uma noite comigo?

O timbre suave como o veludo de sua voz estava lhe devastando os sentidos. Ela queria com tanto desespero voltar atrás e deixá-lo fazer todas as coisas que disse que queria fazer.

Mas algo a conteve, algo no fundo de si mesma. Talvez fosse temor, talvez fosse outra coisa, algo que não podia definir, inclusive no fundo de seu coração. Só tinha uma certeza, não podia estar com ele, e sabia que talvez fosse a cor de seu dinheiro que havia despertado seu interesse.

Como virgem, como mulher, como Aerin Peters, ela não podia tomar esse homem como amante sob tais condições.

-Não esta noite. – Ela ouviu-se dizer. - Esta noite conversaremos, de acordo? Você disse que eu paguei por prazer e de fato paguei. Mas, antes de tudo, creio que o prazer que procuro esta noite é o de sua companhia. De sua voz e de suas palavras. Isso é tudo. - Seus olhos se encontraram com os dele e ela teve a certeza que o pedido que dava voltas sob suas pálpebras era singelo de ver. O pedido de compreensão. De indulto. – Seja meu amigo esta noite, Violanti, não meu acompanhante pago.

O sorriso que ele lhe dirigiu foi, talvez, mais genuína atenção da noite, apesar de que parecia matizado com uma pequena desilusão. -Muito bem, então. Talvez logo esteja pronta para algo mais. Mas esta noite, seremos como amigos, porque assim você deseja.

Aerin lançou um suspiro e se perguntou se havia desperdiçado sua única possibilidade de conseguir um amante. Depois esqueceu, quando Violanti mudou de posição para que pudessem seguir observando o espelho O resto da noite transcorreu de maneira agradavelmente imprecisa. Ela sentiu o arrepio no corpo, pela sensualidade da visão e de sua companhia. Sentiu um zumbido na mente, pelo prazer da conversa amistosa. Seu coração e sua alma sorriram de felicidade e satisfação e isso era bom.

A noite passou tão rapidamente que Aerin sequer foi a seu quarto para dormir. Mas sim, passou-a inteira com ele. A hora do amanhecer chegou muito rápida, o momento da despedida. Violanti a beijou em ambas as faces, apertou-lhe as mãos antes de ir para suas dependências privada, nas vísceras do clube. Aerin o observou enquanto ele saia, com uma dor inesperada no coração.

 

Ela se conduziu até seu lar, com uma sensação de alegria e arrependimento. Ao meio dia se sentiu tão confusa por não ter uma lembrança clara do rosto de Violanti ou mesmo do que falaram durante as horas da noite. Então, deu-se conta de que, talvez, não tivesse que recordar nada. Não importavam os detalhes. Mas sim a felicidade que persistia, que lhe serviria como a lembrança necessária para os dias sombrios que viriam, à medida que sua vida retornava a sua rotina habitual.

Só desejava poder recordar seu rosto.

 

-Como esteve ela?

-Era tudo o que eu esperava e muito mais. Creio que voltará. Mais cedo ou mais tarde, pode apostar.

-Mas, ainda está pálido. Gasto. Cansado. O rosto de Violanti ficou mais sério, sem o menor sinal de emoção e Delilah lamentou imediatamente suas palavras. - Me desculpe...

-Não. Não há nada que desculpar. Estou exatamente como diz.

-Talvez, amanhã à noite...

-Só abrimos nossas portas uma vez na semana. Sem exceção.

-Mas, contigo, um dos homens compartilharia com agrado...

-Não há necessidade disso. Esperarei que ela volte. Penso que a semana que vem. Não creio que seja pedir muito.

- Você trabalha muito, - suspirou Delilah, consciente que não valia a pena continuar a conversa. Violanti era o homem mais teimoso que jamais tinha conhecido e ela havia conhecido muitos, durante sua vida.

Suavizou a expressão e se viu quase nostálgico sob a luz tênue do corredor que conduzia aos quartéis de quem vivia ali.

- Ela estava radiante.

-Ela é encantadora.

Violanti não disse uma palavra mais até que chegou à porta que o levava a seu departamento. Quando Madame se voltou para deixá-lo e se dirigir a seu próprio departamento, a duas portas. Ele a deteve.

–Você me avisará quando ela retornar?

-É obvio. – Ela prometeu imediatamente.

-Bem. Quero-a. É só para mim. Assegure-te de que os outros saibam.

-Já sabem.

Os olhos de Violanti ardiam em maneira de resposta e só quando fechou a porta permitiu Delilah se liberar do poder de seu olhar perigoso e ameaçador.

Ela se dirigiu à porta, tremendo. Ocorreu-lhe que talvez a inocente Srta. Peters não se encontrara em Violanti colocava algo na cabeça, posição para poder dirigir a um homem como ele. E se deu conta que não importava. Uma vez que era impossível dissuadi-lo. Absolutamente impossível.

 

-Você perdeu de peso, Aerin?

Aerin olhou por cima da xícara de café, onde tinha as mãos ocupadas preparando a primeira e desesperadamente necessária xícara de líquido para despertar. Ela franziu o cenho e se encontrou em frente a um de seus tantos chefes. Sempre havia mais caciques que índios na companhia. Era uma mulher chamada… Paula. Sim. Era Paula.

Paula nunca havia lhe dito mais que duas palavras antes… E definitivamente, não em conversas insubstanciais.

-Não. Não creio. – Ela disse, quando finalmente encontrou voz para.

Os olhos da Paula eram maliciosos. Calculadores. Dispararam da face volta de Aerin até os sapatos de couro singelos que usava, como se estivesse procurando um engano, sem ter êxito. - Bom, vê-la… Bonita.

Aerin tentou não fazer uma careta por causa tom condescendente da mulher. No fundo, não acreditava que Paula estava sendo ofensiva a propósito, por isso resolveu passar por cima seu tom de voz. Simplesmente, Paula estava acostumada a estar na cúspide da cadeia alimentícia e sem dúvidas era incomum que ela conversasse com a prisioneira.

-Obrigado, - respondeu finalmente Aerin, embora sua voz fosse um pouco mais que um murmúrio.

-Eu gosto do que fez no cabelo. - Foi o último comentário de Paula, ao deixar para trás a pequena sala de descanso. Sem dúvida, logo que Aerin saiu de sua visão, também havia saído de sua mente.

Aerin, indignada e surpresa pelo intercâmbio, afastou o cabelo do pescoço. Franziu mais o cenho, já que sabia perfeitamente que hoje não havia feito nada no cabelo, diferente do dia anterior e, finalmente, deixou-o cair sobre o pescoço. Encolheu de ombros. Talvez Paula somente estivesse tentando ser amável, sociável.

Alguma vez deixaria de duvidar?

Aerin riu bobamente e se sobressaltou surpresa pelo som.

Ruborizada por seu próprio comportamento, cravou o sorriso que persistia, na xícara de café.

 

Na hora do almoço, Aerin se surpreendeu ao ver um colega no banco do parque que habitualmente ocupava. Em vez de se voltar e procurar um lugar afastado como normalmente teria feito, decidiu se unir à mulher ali sentada.

-É um dia formoso. - Disse Aerin, a modo de saudação. - Você se irritaria se eu me sentar? – Eça assinalou um espaço no banco.

A mulher sorriu. - Absolutamente, sente-se. Ouça, - ela disse começando a sorrir, - eu te conheço. Você trabalha em impressões de último momento.

-Sim. Sou a pessoa que os acodem quando necessitam urgente de um trabalho de impressão, infelizmente. - Aerin sorriu entredentes e se surpreendeu do quanto fácil foi à interação. A mulher devia ter uns dez ou quinze anos menos e era decididamente mais linda. Mas, pela primeira vez, Aerin não se sentiu intimidada por isso. A mulher era magra e bem proporcionada, era jovem e não tinha rugas. Não importava. Pela primeira vez, Aerin se sentiu totalmente cômoda com o que considerava suas próprias deficiências estéticas, na presença de alguém que parecia não tê-las.

A mulher moveu a cabeça. - Eu não gostaria nada de ter seu trabalho. Trabalho na recepção e ingresso de pedidos. Não trabalhamos com datas limites e nem lutamos para cumprir com a produção, graças a Deus. O trabalho já é o bastante estressante, sem todas essas cargas adicionais.

-Bom, acostuma-se. Realmente, não posso recordar como era antes de começar a trabalhar na produção. Era corretor, - ela explicou, -até que me transferissem para outro departamento.

-Sou Heather Knowles. – apresentou-se a mulher.

-Aerin Peters.

-Trabalhei aqui durante seis meses e creio que esta é a primeira vez que falo tanto com um colega. - Brincou Heather.

-Esse é o mundo profissional para você. - Aerin sorriu antes de se dar conta sequer que estava fazendo, dando-se conta de que quase nunca falava com seus colegas se pudesse evitar. - A nossa não é uma empresa muito sociável. São todos muito reservados. De fato, creio ser esta a primeira vez em semanas, que troquei mais que duas palavras com alguém que não eu mesma.

-Por Deus! Então, sempre será assim? - O sorriso compungido no rosto de Heather o transformou e fez com que a tornasse até mais jovem. - Porque não creio que possa viver com isso. – Ela sorriu descaradamente.

Aerin refletiu. - Creio que sim, a maior parte do tempo. Na realidade, creio que é como uma necessidade do mundo corporativo. A única maneira de fazer um trabalho em um lugar como este é reduzindo a socialização ao mínimo. A gente não tem tempo de fazer amigos quando se está muito ocupado brincando de correr de um lado a outro, tentando cumprir com as datas de entrega como uma boa abelha operária. - Pela primeira vez, Aerin viu com claridade que este era o caso, pelo menos em sua experiência pessoal. Sua própria profissão limitava sua interação social. Havia escolhido esse caminho de propósito, quando terminou o colégio, por ser tão tímida e introvertida? Não sabia com segurança.

Violanti saberia.

Por que tinha tido esse pensamento agora?

As palavras de Heather a tiraram da confusão estranha. - Bom, somente teremos que estar de acordo em socializar entre nós, com a mais velha freqüência possível, então. Todos necessitam de amigos, no trabalho ou na diversão. A quem importa quais as regras tácitas do mundo corporativo?

Aerin riu novamente, com mais facilidade desta vez, porque não estava surpresa em fazê-lo. - Eu gostaria de fazer isso, Heather. Muito.

Heather se levantou. - Bom, terminou meu descanso. Mas amanhã sairei para almoçar às doze horas, talvez possamos nos encontrar por uma hora. Se você quiser, é obvio.

-Aqui estarei. - Aerin sentiu que lhe inchava o coração com antecipação e esperanças. Seria agradável ter uma companheira no almoço.

-Poderemos alimentar os patos, se houver.

-Isso seria muito bom.

-Ao diabo com o mundo profissional. - Heather virou para sair, agitando a mão sobre o ombro simultaneamente, com o jovial adeus. –Nos encontraremos.

Aerin a saudou e ficou comendo com um entusiasmo que não havia sentido em anos.

 

Os dias seguintes passaram com rapidez. E Aerin não pôde ter se sentido mais feliz por esse benefício. Na quinta-feira à tarde, enquanto compunha uma palmilha com diferentes convites de casamento, se deu conta de que realmente havia sido uma boa semana. Talvez a melhor que tivera em anos.

Havia levado a dianteira nesta semana. Como era a datilógrafa mais rápida, geralmente lhe atribuíam uma maior carrega de trabalho que a muitos outros de seus colegas, uma pronta desalentadora de tarefas que parecia não terminar jamais. Nesta semana, a grande quantidade de cartões comerciais, convites de núpcias e certificados atribuídos para desenhar e compor lhe tinham parecido um passeio. Havia completado os difíceis objetivos de produção e inclusive os superara, talvez pela primeira vez em seis meses.

Encontrou-se com Heather todos os dias no parque, às doze em ponto, como havia prometido. Que se recordasse era a primeira vez que Aerin tinha alguém com quem falar. Alguém com quem se sentia cômoda. Alguém que não parecia julgá-la por sua aparência ou por sua conduta muito tímida. Falavam do trabalho, de seus interesses, de livros, de música e de seus passatempos. Tinham bastante em comum, igual a muitas diferenças. Aerin estava segura de que estavam se convertendo em algo mais que colegas que compartilhavam o almoço. Estavam se tornando boas amigas.

Iriam juntas, as compras do domingo. Aerin esperou como um animal faminto espera um pedaço de carne crua. Às vezes, sentia que dava lástima por isso, mas lhe importava muito pouco quão patética pudesse parecer diante de um estranho. Ela possuía uma nova amiga e, pela primeira vez em muito tempo se sentia bem por isso.

E isso era graças a Heather. E a Fetiche. E… Como era o nome? Violanti. Violanti é obvio. Assim era. Que pessoa horrível devia ser ela para ter que fazer um esforço para recordar algo tão simples e de uma vez tão importante como o nome dele. Ele havia lhe dado a experiência de toda uma vida com sua presença e sua atenção… E algo mais. Não podia recordar. Sua mente tentou jogar a lembrança de um lado, mas igual uma mancha de petróleo sobre a superfície do oceano, ela persistia.

Como poderia estar a ponto de esquecer seu nome? Depois de passar uma noite tão incrível com um erotismo tão profundo, de conversa e desejo. O que estava errado nela? Ela sacudiu a cabeça para poder limpar a mente.

Era imperdoável o fato de que não se recordasse com claridade dos planos de seu rosto. Ou da cor de seus olhos. Não tinha sido incrível a cor de seus olhos… Sem dúvida a imagem devia ter permanecido com claridade em sua mente? Eram castanhos? Verdes? Sim, talvez essa fosse a cor. Eram verdes. Sim. Agora estava segura disso.

Um momento.

Não.

Verdes, verde jade era a cor do quarto que haviam compartilhado. O quarto com espelho de duas faces.

Então, de que cor eram seus olhos?

Ela fechou os olhos e passou a mão pelo cabelo grosso. Algo não estava bem. Como podia não recordar? Ela possuía uma memória incrível e inclusive agora podia recordar o aroma do aposento de cor jade e creme. Baunilha, misturada com toques de fruta doce e ácida. Estava agora, virtualmente cheia do perfume enquanto imaginava.

Mas Violanti, seu rosto e seus olhos, tudo eram uma lembrança vaga. E, pensando bem… Também era Madame Delilah. Não importava o quanto tentasse, não podia recordar um detalhe dos rostos de Violanti ou da Madame.

Talvez o fino champanhe houvesse subido à cabeça e a afetara bem mais do que havia notado.

Estava mais que triste do fato de não poder recordar cada matiz de sua noite no Fetiche. Havia sido uma grande aventura. Talvez, não exatamente como havia previsto, mas ao mesmo tempo tinha sido bem melhor que qualquer fantasia que houvesse recreado antes disso. Pelo menos… Acreditava que tinha sido um momento muito bom… Não podia ter a certeza agora. Tudo estava muito impreciso. Esquecera de muitos detalhes.

Talvez não fosse tão tolo de sua parte voltar ao clube. Uma vez mais. Somente uma vez, para averiguar o motivo pelo qual estava tão segura de que tinha sido uma experiência liberadora. De tanto prazer. Tanta sorte.

Finalmente, com um sorriso de felicidade, ela pôde abandonar suas reflexões e continuar com o resto dos convites de casamentos em espera. O trabalho nunca tinha sido tão fácil. Os dedos voavam entre as teclas e os pensamentos o faziam de cara ao fim de semana. Sua visita a Fetiche e seu passeio com sua nova amiga. Como sempre, ela esperou o fim de semana, especialmente o sábado, com grande antecipação. Mas desta vez por motivos diferentes.

Motivos completamente diferentes.

 

-Agrada-me vê-la outra vez, Aerin. - Madame Delilah tomou as mãos de Aerin entre as dela e lhe ofereceu um beijo em cada face.

-Eu também, - ela sorriu, um tanto tímida.

-Violanti fala muito bem de ti. Devo admitir que isso me agrada. Nosso Violanti não é um homem fácil de impressionar. Por nada. E não se surpreenda se esta noite ele te buscar outra vez. Não me surpreenderia.

Aerin esperava que assim acontecesse. De fato, ia ter cinco mil dólares a menos em sua conta depois desta noite, porque contava com isso.

- O que disse?

Madame Delilah mostrou um sorriso enigmático. - Isto e aquilo… Mas posso deduzir por seu tom que os dois a passaram bem. Espero que tenha sido o que esperava.

-Voltei, não é certo? - Aerin fez graça sua rápida resposta. Isto era atípico nela. Este sentimento de audácia e atrevimento que a envolvia. O sorriso era atípico nela… De fato, muitas de suas ações tinham sido estranhas para ela durante a semana passada. Que emocionante.

-Sim, você voltou. - Madame sorriu.- E parece que a aventura lhe fez muito bem. Porque creio que há um pouco de cor em sua face! E agora que penso, faz uma semana parecia estar perto de um colapso, de tão pálida que estava.

Aerin sorriu com facilidade, mas foi incômodo ouvir um comentário tão direto a respeito de seu aspecto, que nunca foi muito pelo qual sentir orgulhoso, inclusive sob as melhores circunstâncias. -Talvez seja o ar fresco da primavera, - finalmente disse.

-Talvez. - Os olhos da Madame brilharam sobre seu sorriso.-Recorda as regras?

Apesar de não ter pensado nelas até o momento, Aerin as recordava. Claramente. - Sim. - As lembranças.

-Bem. Posso cobrar na mesma conta?

Aerin se envergonhou, mas somente um pouco, ao recordar uma vez mais que aquele era um serviço pelo qual pagava. Bem, esse aviso foi para seu bem. Não devia dar muita importância ao interesse de Violanti e nem de qualquer outra pessoa ali, no caso. - Era seu dinheiro que realmente lhe interessava. Nada mais. - A mesma, sim. Obrigado.

-Bem. O sorriso de Madame se tornou maior em seus lábios e fez com que seu rosto nobre e atraente se tornasse mais belo. - Pode entrar. – Ela se dirigiu até a porta que a levaria a salão comum do clube. - Creio que pode encontrar o caminho sem minha ajuda.

-Obrigado. - Murmurou Aerin. Então, com um suspiro profundo e constante, ela se voltou e ingressou pela porta que a levaria às profundezas de Fetiche.

O corredor do escritório de Madame, até o amplo espaço aberto da primeira sala era curto e largo. E estava decorado com quadros grandes. Reproduções de artistas pré rafaelianos como Waterhouse ou Rossetti. Eram formosas e pareciam etéreas e surreais, diante seus olhos.

Etérea e surreal. As palavras eram uma descrição perfeita de como ela se sentia quando entrou no salão comum, no qual havia aproximadamente dez clientes com seus acompanhantes.

O local era grande e quase circular, decorado com tecidos e cores luxuosas. Havia várias portas, algumas estavam abertas e outras fechadas. Um par de portas de carvalho conduzia a um jardim cuidado deixavam entrar uma brisa noturna agradável e fresca. Era estranho, mas não havia janelas no aposento e nos lugares onde poderia ter alguma, uma tapeçaria ou uma tela gigante adornava a parede.

Havia quatro portas singelas nas paredes, todas fechadas, que conduziam as vísceras da mansão. Violanti a tinha levado por uma dessas portas em sua última visita, pelo corredor pequeno que conduzia a porta Verde.

Parecia que atrás da maioria das portas daquele lugar havia um corredor que levava a outra porta. E, além disso… Aerin não estava segura.

Neste aposento havia outro grupo de portas duplas. Estas eram excepcionalmente amplas, de maneira que quase ocupavam toda a parede em que se encontravam e estavam abertas para deixar ver outra sala mais à frente. Esse aposento não era diferente. Aerin sabia, devido a seu percurso anterior que havia pelo menos outros dois quartos como aquele. Aposentos nos quais os clientes eram livres de circular sem supervisão… Já que não era permitido passar pelas portas que conduziam aos santuários internos, sem um acompanhante.

Havia regras ali. Aerin teve a sensação de que eram sagradas, inquebráveis. Perguntou-se despreocupadamente, se havia guarda-costas em um lugar como aquele. Certamente havia, em algum lado. Embora não tivesse visto nenhum ainda. Sem dúvida, pelo menos um ou dois clientes haviam tentado romper as regras e o pessoal de segurança anônimo os havia advertido.

E se não fosse os guarda-costas, então seria alguém pior.

De onde veio esse pensamento? Perguntou-se Aerin. De todas as coisas, Fetiche não parecia ser um lugar ameaçador. Bem… Não de todo. Aerin sacudiu a cabeça para esclarecer suas idéias. Ali havia uma aura de mistério e perigo… Mas esse tipo de coisa era mão a mão com um lugar como Fetiche. Não havia nada mais que isso. Certamente.

Aerin sentiu a necessidade de uma dose rápida de coragem e pegou a taça mais perto disponível, de champanhe Cristal, como sempre. Parecia que o dono invisível daquele lugar gostava destas coisas ou sabia que seus clientes gostariam. Ela se perguntou que tipo de homem poderia ser o proprietário dali e fazer funcionar um lugar como Fetiche. Como seria? Arrogante, sofisticado, mimado. Um sujo rico, provavelmente.

Percorreu o salão com o olhar e cruzou brevemente com o de outro cliente, um homem de cabelo escuro e olhos azuis vestido com jeans e uma jaqueta esporte. Fizeram um gesto com a cabeça, amavelmente e rapidamente afastaram o olhar. Aerin levantou a taça. Estava com a garganta seca. O champanhe era revigorante e refrescante, resfriado à perfeição… mas não o bastante para acalmar o tremor que continuava sacudindo sua compostura.

-Vejo que voltou.

Aerin se voltou e encontrou Violanti parado inquietantemente perto, embora não o ouvira se aproximar. Levantou bem o olhar para encontrar o dele. Havia se esquecido quão alto ele era. Entre outras coisas. Seu cabelo longo e escuro era grosso e resplandecia sobre os ombros. Ela havia esquecido quanto era novo o que se via, mas agora as lembranças a assediavam com a força do vento de uma tormenta, no deserto de sua mente.

Aquele cabelo havia lhe roçado a pele como mil dedos que a acariciavam. Com cada movimento que ele tinha feito, tão perto dela naquela noite, seu cabelo a tinha beijado. Seu fôlego a tinha beijado. E nos lugares onde não havia chegado, ele havia usado os lábios e os dedos e palavras doces para dissipar a perda.

Era sua própria relutância dissimulada que evitara que a tocasse sobre a roupa em seu corpo. Bem, ela tinha ficado com toda a roupa, mas ele… Ele se desarrumou de uma forma incrível depois de se masturbar frente a ela.

Masturbar… Agora ela recordava tudo com muita claridade, as coisas que deviam ter sido como chamas minuciosas em sua memória durante a semana. Deus, ela havia sido tão impressionantemente sexy, tão incrivelmente aberto e desavergonhado com ela. E ela não se uniu a ele nesse momento? Tampouco aceitara o convite que lhe tinha devotado depois?

Que tola havia sido.

Ela sobressaltou de maneira visível e se voltou bruscamente, para responder à saudação ligeiramente rouca. - Sim, voltei. - Disse sem convicção.

-Estou vendo. - O sorriso que ele mostrava, parte zombeteiro e parte divertido eram pura sensualidade. Era uma doce lembrança em si. Como poderia ter esquecido? - Posso te fazer companhia, Ama?

Ela suspirou e tentou cobrir com as mãos o som que não pôde conter. O que estava errado com ela? No geral, não era tão emotiva, sempre estava muito ocupada se escondendo na multidão, tentando evitar chamar a atenção. Controlou-se um pouco, desceu as mãos e engoliu uma risada nervosa.

-Acreditei que havíamos passado disso, de Ama. Ou… Não recorda meu nome? - Não seria imperdoável; depois de tudo, ela havia esquecido o dele umas quantas vezes na última semana.

Ele sorriu ainda mais ainda e deixou ver um resplendor de dentes brancos e fortes. Seus pais deveriam ter pago uma fortuna em ortodontia para que ele tivesse esse sorriso. Aerin estremeceu por dentro em pensar, inclusive mentalmente estava mostrando sua idade. Supôs que isso acontecia, por ser mais velha que seu acompanhante, apesar de que tinha tentado até agora, não pensar muito nisso.

Mas, quantos anos ele possuía, realmente? Não pode adivinhar, embora se sentisse mais velha e estava bastante segura de que era. Mas Violanti possuía o tipo de rosto que se conservava eternamente jovem. Podia ter de vinte e cinco ou trinta anos… Podia estar mais perto dos quarenta, embora ela duvidasse. Eram seus olhos, mais que tudo, o que fazia com que se parecesse muito mais velho. Pareciam de homem mais velho, de muito mundo e ardiloso. Veria só um tanto diferente em sua senilidade, disto não restava dúvida.

Sua impecável raça e sua herança claramente exótica se encarregariam disso. 

-Lembro-me de tudo, Aerin. – Ele estirou um braço e lhe ofereceu a mão, com a palma para cima. Como um cavalheiro nobre que pedia um favor a sua dama. Seu cabelo se moveu novamente, deixando entrever uma garra de prata no lóbulo de sua orelha. - Virá comigo ou não? Tenho muito para mostrar a você esta noite, se ficar comigo.

A ela enterneceu o coração e esqueceu-se de ser prudente. - O que me mostrará? - Deu-lhe a mão e sentiu envolvia na força calma e energética.

-Tudo, se me permitir.

Seus olhos... Esses olhos gloriosos e mágicos resplandeciam com a cor em constante mudança.

Um calor lhe percorreu a coluna. Um sinal primitivo soou no fundo de seu coração. Descartou-o rapidamente, muito rápido para considerar. Seu acompanhante poderosamente sexual para que se preocupasse ou inclusive, notasse tais sinais.

Ele aproximou-a de seu lado, sentiu abertamente seu aroma e fechou os olhos, como cheio de felicidade. – Você é mais embriagadora que o vinho, sabia?

Ela soltou uma risada suave e nervosa. Ele possuía uma forma de falar que era encantadora e emocionante.

-Me embebedarei de ti se não tomar cuidado, - brincou ele. Evidentemente, era provocação. Isto era o que fazia para ganhar a vida, depois de tudo. Provocar e excitar a mulheres mais velhas. - E já sei que uma degustação de você não é suficiente para um glutão como eu.

-Não é necessário que fale assim todo o tempo, - Aerin disse sorrindo, apesar de que gostava muito de sua paquera. Sentia que havia algo mais alem deste jogo, algo que não conseguia compreender e que a fazia sentir um pouco incômoda. Era muito difícil para ela e sabia, não que importasse tanto a esta altura da situação.

-Oh, mas ainda falta conhecer todo o prazer de minha língua, Ama. - O brilho de seus olhos era perverso e intenso, de uma vez. -Talvez, antes que termine a noite, se sentirá diferente sobre isto.

Era quase impossível conter o sorriso ingênuo que fazia cócegas em sua garganta, pedindo para sair. Mas, de algum jeito, ela controlou-o. Por Deus, o que está acontecendo comigo ultimamente? Não tinha a menor idéia.

Ao diabo com isso, não se importava. Na realidade, estava passando o melhor momento de sua vida.

- O que tem planejado para esta noite? - Perguntou, surpresa pelo fácil que lhe resultava o joguinho cênico entre os dois. Se sentiria satisfeita fazendo quase tudo o que ele lhe pedisse esta noite. Só pensar no que ele poderia lhe pedir, o que gostaria de lhe pedir, fez com que se estremecesse delicadamente em espera.

Ele sorriu entredentes enquanto o cabelo longo e negro se esparramava pelos ombros e braços. Ela havia esquecido o quão longo era. E com esse pequeno movimento, seu perfume chegou até ela, conquistou-a, alterou-lhe os sentidos. Canela, amêndoa e seu próprio perfume; era delicioso. Uma combinação pecaminosa. Aerin sentiu que lhe endureceu o ventre, ardente e tenso com um desejo desesperado. - Prazer. Sempre me agradar contigo, minha doce Aerin.

Ele segurou sua mão com mais força e a levou pelo salão, rumo a uma das portas. Esta porta se abriu em frente a ele, como se fosse automática e se fechou silenciosamente atrás deles. Estavam em outro ambiente agora, uma espécie de salão pequeno, decorado com um sofá, uma cadeira e um assento turco. Só havia uma porta na parede, nada mais. Era de cor azul real, profunda e Aerin sentiu necessidade de abri-la para ver que havia além da barreira azul.

-Como sabe, Fetiche se encarrega dos impulsaçãos hedonistas de seus clientes. Aqui se podem encontrar todos os prazeres, apesar de que os prazeres sexuais são, é obvio, mais populares que qualquer outro e isso é de esperar.

De sua altura muito acima dela, ele inclinou a cabeça e lhe deu um beijo casto na fronte, antes de se afastar e olhar a porta em frente a eles, como se estivesse meditando.

-A última vez que esteve aqui, eu aprendi muitas coisas a respeito de como você é. Sei sobre seus desejos e saudades, apesar de que tenha se esforçado para escondê-los. – Ele soou como se estivesse decepcionado por isso, mas continuou com sua voz profunda e musical. - Estou quase seguro de saber o que você gostaria de obter de suas vindas a este lugar. O que te dará muito prazer. Mas devo te dar a liberdade de escolher antes de controlar esta situação. Antes que possa continuar com o percurso.

-A que se refere? – Aerin disse franzindo o cenho.

Ele virou-se, para ficar totalmente de frente para ela e lhe levantou a cabeça com um dedo, para que pudessem fitar-se diretamente nos olhos. A cor da íris dele mudou com uma rapidez vertiginosa. - Pode escolher muitos caminhos diferentes para explorar aqui, mais do que pode imaginar. Deve saber do que se trata, antes que continuemos com isto. Sinto que sabe o bastante bem para começar daqui, mas posso me equivocar. Não me arriscarei a arruinar seu prazer neste lugar.

-Continue, - ela pediu-lhe ela com curiosidade.

-Nossos clientes nos dizem o que querem e nós tornamos realidade seus desejos. Para isso estamos aqui. Mas você é distinta, é mais reservada. Na realidade, não creio que saiba o que quer, além de felicidade, esse estado do ser intangível, mas incrivelmente poderoso. Terá felicidade, prometo, mas o que mais desejo te dar é um toque de aventura. Então haverá uma viagem para ti, de um ser inocente, tímida e jamais tocada, a um ser, espero, mulher sensual e segura de si mesma, que sabe e se deleita com cada aspecto de sua sensualidade. Como pessoa e como amante, em igual medida. Eu serei seu guia nessa viagem. Mas como disse antes, primeiro perguntarei suas preferências.

-Temos muitos aposentos neste lugar, como certamente já deve ter imaginado. E dentro de cada uma haverá um mundo diferente de agradar e descobrir. Para ti escolhi ambientes que, creio, são os mais adequados para fazer surgir seu ser sensual mais profundo. Mas há ambientes que também são adequadas para despertar sua curiosidade e… Outras coisas. Eu os evitaria, para começar, embora eu pergunte quais são suas preferências, já que é o mais importante.

Mostrou um sorriso reservado, de sátiro, e as profundezas de seus seios e em seu ventre algo se estirou de ânsia.

-Nosso nome não é Fetiche só por capricho. Se passasse por todas as portas deste lugar, provavelmente teria visto cada fantasia desviada feita realidade e mais. Para ti, eu escolho os aspectos mais suaves, mais femininos de Fetiche, porque creio que você é completamente suave e feminina. Mas, se você desejar, levarei-a por um caminho diferente. Posso-te mostrar fetiches de látex, fetiches médicos e fetiches de sangue… Tudo o que possa imaginar. Se me perguntasse agora, a levaria a um local que se satisfaz só a quem está interessado em elaborar cenários de submissão com cordas. Posso te levar a um local em que a dor é o mais velho catalisador para o prazer. Ou a um em que o sexo anal é o mais procurado, forte e suave e todas as variantes no meio. Aqui, há um sem-fim de possibilidades.

Aerin sentiu temor do alcance e a imaginação do clube… Nunca tinha pensado até que ponto o lugar podia satisfazer seus clientes sexualmente. Supôs que muito… Mas nem tanto.

Tinham-lhe assegurado, mais de uma vez, que os acompanhantes deste lugar só faziam o que queriam fazer com os clientes. Se oferecessem fetiches extremos dentro das paredes do clube, certamente o fazia por consentimento mútuo das pessoas envolvidas, ela recordou neste momento.

- O que? – Ela engoliu saliva. - Que fetiche escolheu para minha esta noite?

O sorriso dele se tornou tão amplo, que mostrou novamente seus dentes muito brancos. - Não é tanto um fetiche, no sentido que pode supor da palavra. Para ti, eu diria que seu fetiche é um objeto de reverência, uma coisa intangível que precisa de atenção, devoção e supremo cuidado. Sua sensualidade interior. Agora está adormecida, mas somente um pouco, depois de sua última visita, creio. Eu gostaria de despertar este lugar tão profundo dentro de ti. Eu gostaria de vê-la florescer como se supõe que tem que ser. Quero vê-la carnuda, aberta e ébria por seu próprio poder como mulher.

 

Todos os sinais de confiança em si mesma desapareceram como se nunca os tivesse. Ela estremeceu pela repentina perda e respirou violentamente, nervosa. - Fala como se eu fosse uma solteirona aborrecida.

-Não teassim? - Suas palavras eram impiedosas, imperativas. - Não acreditaria se dissesse o contrário e tampouco penso que possa mentir a respeito de algo tão sério.

-E não creio que possa me fazer ver mesma de maneira diferente. – Aerin evitou admitir que, de fato, se via como ele havia sugerido.

- Não é assim? Seus olhos mudaram de cor com mais rapidez agora, prateados, verdes e azuis e outra vez prateados. As cores pareciam tão profundas, como se fossem piscinas atrás das persianas longas e escuras de seus cílios. - Não sentiu uma mudança dentro de ti depois de passar somente uma noite comigo aqui?

Era verdade. Mas, como ele podia saber? Havia sido tão óbvio? –Sim, - ela admitiu, sem a menor intenção de mentir. Não a este homem que, sem dúvida havia sentido a mentira antes que tivesse terminado de articulá-la. Era muito ardiloso e sabia muito, para tentar qualquer tipo de subterfúgio. – Me senti distinta. Não sei como, mas senti. Tremeram-lhe as mãos, uma ainda cativa pela dele.

-Então, confie em que possamos os dois despertar seu ser mais profundo. Se você escolheu explorar o mundo de Fetiche, então a acompanharei com gosto. Mas creio que posso ser nosso guia nesta viagem. Confie em que sei que passos dar e prometo que nunca se arrependerá de ter me dado essa confiança.

Apesar de sentir curiosidade em ver os ambientes estranhos que ele havia mencionado, ela sabia haver menos possibilidades de obter um benefício duradouro do que fosse que encontrasse ali. Pelo que Violanti se referia agora era liberação dela mesma, de sua sensualidade, de cada aspecto de sua condição de mulher. Se ele pudesse provocar tal milagre, se ele pudesse liberá-la, liberá-la para ser ela mesma em todo sentido estaria por sempre agradecida.

Ele já forjado tal mudança nela, que quase não podia acreditar. Confiaria nele um pouco mais agora, somente porque ele pedira. –Tome o comando, Violanti. Confio em ti. - Mostrou-lhe um sorriso honesto e se sentiu aliviada de se não sentir coibida.

Os olhos dele se obscureceram. Uma tormenta perigosa se formava em suas profundezas e a eletrificava com a intensidade de seu olhar. - Bom. Necessito dessa confiança, Aerin. Mais do que imagina. – Ele a levou até a porta azul, com a mão calma e forte ao redor da dela. - Agora, me deixe te guiar. Deixe-me te levar. Deixe-me te mostrar a mulher que é.

 

A porta azul se abriu e obviamente, o aposento estava decorado em vários tons de azul, turquesa e azul real. Era uma decoração tranqüilizadora e relaxante, serena e incitante. Cada aspecto tinha o fim de atrair o ocupante, levá-lo profundamente em um mar de cor e obvio, textura. Todas as superfícies disponíveis estavam adornadas com brocados, sedas, tanto cruas como refinadas, cetins, algodões e veludo. Era verdadeiramente encantador. Aerin suspirou e relaxou profunda e imediatamente no clima luxuoso do aposento.

Havia uma cama no centro do lugar, elevada sobre três degraus de mármore, de maneira que era a principal atração do aposento. Ricos tecidos caiam das colunas imensas do marco da cama, em vários tons de azul, prata, branco e creme. O piso estava revestido com pequenas peças de mármore e granito polidos. O aspecto frio e duro desse material tão implacável estava suavizado por vários tapetes de pele densamente amontoados, cada um era decadente e pecaminoso de luxo e gosto refinado.

 

Não havia janelas, mas as paredes estavam cobertas com esculturas e pinturas, do estilo que Aerin, uma amante voraz da arte, nunca havia visto. As obras de arte pertenciam a um palácio ou a um museu, não a uma mansão em Seattle. Honestamente, ela sentia os dedos impaciente em alcançar a tocar uma das pinturas. Teria dado sua alma por ter somente uma. Eram magníficas.

Desviou a atenção das obras de arte, já que era quase doloroso e olhou a seu redor, observando as diferenças do aposento com o de cor jade que havia ocupado na primeira visita. - Não há espelhos de duas faces desta vez? – Ela perguntou com um pequeno sorriso zombeteiro.

Ele devolveu o gesto com um sorriso igual. - Queria ter toda sua atenção esta noite, então não. Temo que não há espelhos de duas faces desta vez.

E ele levou-a diretamente à cama. Ela o evitou, insegura e nervosa por suas intenções. Ele a olhou intensamente; como lhe advertindo, com seus olhos inconstantes. - Já está retirando a confiança, Aerin? Tão logo?

-N-não. – Ela disse e depois com mais firmeza, - não. É obvio que não. Estou um pouco nervosa, é isso. - E era verdade, mas não totalmente. Estava nervosa, mas também estava entusiasmada. Muito entusiasmada pelo que seguiria.

-Bem. Eu não gostaria que fosse tão precipitada, quando eu tenho uma noite planejada. Tão encantadora, para os dois.

-E o que exatamente planejou? – Ela sentiu necessidade de perguntar.

Violant sentou-a no lado da cama e se juntou a ela, tão perto que seu perfume a envolveu em uma nuvem quente. -Tanto que não sei por onde começar. Porque esta noite será puro prazer para os dois, mas não quero apressar as coisas. Quero saborear cada matiz que descubra de ti mesma.

-Não estou pronta para me deitar contigo, - ela admitiu com pressa.

Ele abriu bem os olhos e depois os escondeu atrás dos densos cílios. – Não disse nada a respeito de nos deitar.

-Não brinque. Me eu gosto muito de ti Violanti, mas não vou deixar que seja meu prostituto...

Ele apoiou a mão sobre os lábios de Aerin, para que ela não continuasse. Sua expressão se tornou dura, perigosa. Uma advertência. - Nunca mais diga isso. Você segue com isso e já me estou cansando. Não sou um prostituto. E você tampouco é. Basta com isso, não seja tola.

Aerin franziu o cenho, a mão de Violanti ainda lhe cobria a boca e ela se moveu para mordê-lo, escandalizando inclusive ela mesma por suas ações.

Violanti somente sorriu enquanto ela lhe cravava os dentes, desta vez com um sorriso voraz, antes de baixar a mão. - Haverá tempo para isso mais tarde, doce. – Ele prometeu com picardia.

Aerin estava bem mais que excitada por suas palavras e sentia os joelhos tão fracos como a água.

- Por ora direi que esta noite continuaremos a viagem: exploraremos o sentido do tato. A necessidade e o desejo de tocar, dar e receber. Creio que te darei o domínio e te permitirei explorar a forma de entrega desta primeira aventura. Embora intensamente anseio te tocar. Creio que precisa provar levemente esta supremacia, assim de repente em nossa relação.

Aerin sentiu um formigamento nas mãos, realmente era um formigamento, de vontade de tocá-lo. Mas lutou contra a vontade e venceu, apenas. Não queria parecer tão impaciente. Embora, para falar a verdade estava muito, muito impaciente.

-Está pronta, Aerin? A noite se estenderá muito, inclusive para os que logo serão amantes, como você e eu.

 

Ela não estava tão segura disso, apesar de acreditar que já eram uma espécie de amantes. Era incrível que um homem tão encantador, tão perfeito e tão perigosamente sexy como Violanti pudesse sequer falar em ser seu amante. E ela tinha a maravilhosa idéia de que realmente ele falara a sério cada palavra. Nunca havia ficado mais feliz, nem sequer perto disso.

-Estou preparada. – Ela murmurou assombrada de que uma voz tão sensual pudesse lhe pertencer; transbordante de alegria ao se dar conta de que lhe pertencia por completo.

-Me dispa doce Aerin. – Ele ordenou lhe com um sussurro que lhe acariciou a pele como o toque de lábios invisíveis.

Tremiam-lhe as mãos à medida que as levava para sua camiseta negra e apertada. Ele levantou os braços complacentemente por sobre a cabeça, para que ela lhe levantasse a camiseta, permitindo que os músculos do estômago e o peito ficassem ao descoberto. A gola da camiseta se liberou da cabeça, mas ela era muito baixa para tirar-lhe pelos braços, então ele terminou de tirar por ela e arrojou o objeto negro descuidadamente no piso.

Aerin absorveu-o por completo com o olhar. O pescoço marcado, os ombros alarmantemente largos, o tórax e o abdômen como tabua de lavar. No mamilo esquerdo, de cor marrom escura, contra o peito sem pêlo havia uma pequena argola prateada. O azul do aposento refrescava um pouco a pele acalorada cor oliva de Violanti, mas ela se sentiu superada pelo calor, de todo modo. Ele era perfeição pura, além de tudo o que pudesse ter imaginado ou sonhado. E, no momento, era tudo dele. Dele! Era incrível.

Estendeu o braço para tocar o aro em seu mamilo, para deslizar as mãos por todo o magnífico peito e deu um grito afogado quando ele lhe segurou firmemente as mãos indagadoras.

-Ainda não. – Ele abraçou-a com o olhar. - Não poderia suportar agora. Não tão já. Por ora, me dê seus óculos antes que lhe escorreguem da face. – Ela obedeceu, embora tivesse a visão tão imprecisa sem eles, que mal podia vê-lo. Violanti pegou os óculos e os deixou sobre uma mesinha ao lado da cama, antes de se voltar novamente para ela. –Agora me tire à roupa antes de irmos mais longe. Dispa-me. – Ele deu outro suspiro antes de soltá-la brandamente.

Aerin levou as mãos para baixo, até a fivela do cinto, com cuidado, sem sequer roçar sua pele sensual. Mas, ai... Estava com tanta vontade de tocá-lo. Ansiava desesperadamente por tocá-lo. Apertou os dentes e se sobressaltou ao notar que Violanti ria, por ter ouvido o som revelador do interior de sua boca.

 

Seus olhares se encontraram e Aerin sentiu que lhe queimava a alma. Havia uma promessa em seu olhar, um conhecimento secreto em suas profundezas, um conhecimento escuro e embriagador que somente um amante podia ter. Não havia admitido que eram amantes, se não no corpo, mas na mente? Havia esperado este avanço na relação. Não lhe faria nada bem mentir a ela mesma a respeito dessa verdade. Queria-o como amante, seu primeiro amante. Se ele quisesse que se unissem esta noite, ela não o rechaçaria. Nem se rechaçaria.

A fivela do cinto era de prata pesada. Ele parecia que tinha seu próprio fetiche com a prata e Aerin estava admirada porque suas mãos trêmulas conseguiram desabotoá-la. Depois, seguiu com o zíper e botões da calça de couro negro. Ele se inclinou para trás sobre os cotovelos, com o fim de ajudá-la em seu esforço. Sua excitação era grande, dura e quente, à medida que ela a roçava indevidamente com os dedos, em sua tentativa em lhe desajustar a calça. O coração de Aerin soava como o trovão. Seu sexo ansiava, enchia-se e a alagava de excitação. Ela respirava com suaves ofegos que saíam com força de seus lábios, para a pele de Violanti.

Parecia que se sua própria respiração desejava se arremeter contra ele, tocá-lo.

 

Ele não usava roupa interior. Seu membro inchado se liberou do confinamento, pesado e grosso em suas mãos, à medida que ela desabotoava o último dos botões. Suas mãos lhe afrouxaram e ela conteve a respiração. Nunca havia tocado um homem desta maneira. Olhou rapidamente para cima e encontrou com os olhos de Violanti. A chama do desejo ardeu entre eles, com mais força que nunca.

-Termine com isso, doçura. – Ele indicou-lhe com suavidade. -Logo me tocará, prometo. Tudo o que deseja e mais.

Desesperada, ela tirou do cinto frouxo da calça. Ele levantou os quadris e empurrou a coluna lisa de seu sexo para a face de Aerin, enquanto ela se inclinava para frente, com empenho. O perfume dele, mais concentrado ali, no centro de sua masculinidade, afligiu-a. Fez-lhe água a boca. O perfume natural lhe encheu o nariz e os pulmões e ela se embriagou tanto de luxúria, que poderia ter morrido.

Mas não antes de despi-lo completamente. Como poderia morrer sem antes ver tal imagem que a consolasse nos últimos momentos de vida, antes de afundar nas profundezas do manto de cor ébano da morte?

Torpe, mas decidida, ela deslizou-se da cama, tirou-lhe as botas de couro e depois lhe desceu a calça até os tornozelos, ajoelhada no piso entre as pernas dele, enquanto se movia para cumprir a tarefa. Uma vez que lhe tirou a calça, por fim, o fitou e ficou quieta. Seu rosto estava à altura de seu membro. Essa fortificação longa e dura de malha rígida, congestionada pelo sangue, excitava-a.

Aerin sentiu, em lugar de ouvir, o gemido suave que escapou das profundezas de sua própria garganta. Violanti separou um pouco mais as pernas em frente a ela e o perfume delicioso de canela e amêndoa aumentava, enquanto ela mudava de posição para se permitir ter uma melhor visão.

-Tem alguma dúvida do quanto que te desejo agora, Aerin?

Ela engoliu saliva e sacudiu a cabeça, enquanto os olhos se moviam por vontade própria para absorvê-lo, abaixada entre suas coxas.

-Deseja-me?

Ela duvidou e depois assentiu com a cabeça, já que era a verdade mais honesta que conhecia nesse momento.

-Então não se arrependa. Por nada. Agora. Toque-me. Por favor, me toque.

Ela levou as mãos para cima, visivelmente trêmulas pelo nervosismo e a excitação e as colocou sobre os joelhos dele. Seus olhos o tocavam com mais velha liberdade, da cabeça ao peito, do ventre até o sexo, as pernas e, ai! Que lindos, os pés.

-Toque-me todo, - ele incentivou-a.

Aerin acariciou-lhe os pêlos das pernas, dos joelhos até as panturrilhas e depois, novamente para cima, até as coxas. Nenhuma só vez separou as mãos de sua pele morena, nenhuma só vez deixou de fitá-lo. Era muito belo para expor em palavras e muito sexy para imaginá-lo.

Tremia-lhe o corpo; respirava com ofegos inconstantes que sabia que ele podia ouvir.

-No que pensa? - Perguntou ele com um sussurro terno que lhe chegou até a face, como uma brisa brandamente perfumada.

E ela podia encontrar as palavras para transmitir sua admiração? Existiam essas palavras no vocabulário humano? Tentaria e esperaria não arruinar o momento com um discurso inadequado. - V-você cheira muito bem. - Disse com voz agitada, amortecida, ou melhor, afogada pela respiração rouca que impregnava suas palavras. - E eu nunca… - Balbuciou ela. - Nunca havia tocado nada tão magnífico. – Suas mãos acariciavam as coxas dele uma vez mais enquanto falava.

-Toque-me todo. Sente mais de mim. - Violanti se inclinou para trás com um suspiro profundo e instável.

 

-Sim-, disse ela com um ofego.

Aerin levantou-se lentamente, evitando seu membro, apesar de que desejava com desespero tocá-lo, até que ficou parcialmente inclinada, parcialmente apoiada sobre ele, enquanto deslizava a mão pelo corpo dele. Levantou as mãos até chegar a seus ombros. Ele tinha a pele fresca, tanto como o aposento, o que era inesperado, embora ela recordasse que sempre estava igual, além de estar tão macia como a seda mais fina. Seda sobre aço, já que seus músculos eram ainda mais duros de como se viam sob a pele.

Ela provou os músculos, apertou-os com firmeza, assim como desejava fazer em outras partes. Depois, percorreu os planos longos do peito com as mãos. O brilho do aro prateado no bico do peito a fascinava. Quando se atreveu a tocá-lo e puxou-o brandamente, Violanti vaiou e inflou o peito sob suas mãos.

Aerin afastou as mãos, incomodada pelo som e se moveu para sentar novamente a seu lado ao sentir que a respiração lhe escapava como uma rajada. Violanti rebateu imediatamente o movimento, tomou as mãos e as levou novamente ao peito. - Faça-o outra vez. – Ele pediu-lhe, ordenou-lhe. Rogou-lhe.

Ela puxou brandamente do aro, enquanto o percorria com o olhar, para não perder de visão a pulsação que lhe sacudia o membro rígido quando, mesmo com sua visão deficiente. Repetiu o gesto e seus olhos se impressionaram ao ver a mesma resposta uma vez mais nas malhas inchadas do membro. O perfume a provocou novamente, cativou-a. Excitou-a ainda mais.

Mais atrevida que nunca, Aerin inclinou-se para a frente e lambeu o mamilo com o aro. Violanti gemeu e enredou uma mão no cabelo de Aerin. Ela repetiu a carícia, desta vez sugando-o e lambendo-o, apesar do mamilo plaino ser um pouco difícil de segurar, inclusive com o aro. Violanti sacudiu os quadris e fechou o punho em sua cabeleira.

Aerin nunca havia se sentido tão forte como nesse momento, com o poderoso corpo de seu amante cativo, mesmo com uma carícia tão ligeira.

O cabelo cobriu a face dela como se fosse uma cortina pesada ao tornar para trás e se inclinou para colocar os lábios com firmeza sobre a carne de Violanti, que estava tomando temperatura. No lugar mais recôndito de sua mente, ela se perguntava se seu cabelo poderia ser pesado, sempre havia sido murcho e fino, mas esse pensamento estava enterrado muito fundo para verdadeiramente notar.

E havia tantas outras coisas importantes que requeriam sua atenção nesse momento. Como os músculos marcados da garganta de Violanti. Sem resistir, Aerin subiu os lábios e pressionou-os contra o pescoço dele, com uma força rapace. A respiração de Violanti lhe explodiu no ouvido.

-Morda-me, - ele disse com uma voz trêmula, que ela nunca o ouvira usar antes, - por favor.

Sem pensar duas vezes, ela o mordeu. Com suavidade a principio, mas quando Violanti lhe empurrou a boca contra a garganta com a mão punho ainda enredada em seu cabelo, ela o mordeu mais forte. Ele gemeu, em um ruído forte que quase a sobressaltou por ser tão masculino e tão cheio de excitação, fome e paixão.

-Mais forte. – Ele pediu-lhe ele, enquanto lhe apertava o corpo contra o seu, deitando-a junto a ele na cama.

Ela mordeu mais forte, levando a pele à boca, consciente de que deixaria uma marca de amor dele e deleitando em saber.

A estrutura forte de seu corpo se estremeceu sob a dela, enquanto o membro inchado lhe empurrava o estômago de maneira exigente. - Mais forte, por favor. Morda-me mais forte, Aerin!

Se o mordesse mais forte, o teria feito sangrar. Então ela se afastou e se levantou sobre seu corpo, de maneira que o cabelo castanho caía e se enredava com o cabelo negro dele. Seus olhos se encontraram. Poderia ter jurado que os dele tinham um matiz vermelho, tão forte era sua necessidade nesse momento.

Quase tanto como a dela.

-Toque-me todo, Aerin. Necessito-te. – Ele levou as mãos à têmpora, como uma clara prova de sua necessidade e frustração em aumento. Suas palavras a intoxicaram, a seduziram e enfeitiçaram-na.

Ela se sentou escarranchada sobre ele, sem sentir vergonha ou desconforto, como devia ter feito uns instantes antes. Algo havia mudado entre eles. Tinha ocorrido um intercâmbio de poder, de supremacia, apesar de Aerin não ter idéia do por que sentia que assim acontecera. Somente havia acontecido. Violanti estava submetido a ela, a seu poder como mulher, de uma maneira que nunca haveria de acreditar, nem poderia acreditar. Ele a desejava. Verdadeiramente e sem vergonha, ele a desejava.

Bom, ela também o desejava. E sua intenção era tê-lo.

Mas por ora, tocá-lo. Ele parecia necessitar que o tocasse, parecia ter ânsias dela.

Aerin deslizou as mãos pelo peito e o estômago. Os músculos do ventre se apertaram como se tivesse cócegas e ela repetiu a carícia com um sorriso. Nunca teria imaginado que fosse possível encontrar tal felicidade em tocar a alguém e,outra vez, teve a certeza de que nunca tinha sido mais feliz que neste momento. Com este homem.

Havia algo precioso no tato. Ela estava um pouco surpresa por notar essa verdade. Uma preciosidade simples, que era inocente, apesar da natureza puramente sexual de sua situação. Era macio e áspero de uma vez, duro e suave, da maneira em que só um homem verdadeiramente masculino ao nível de seu apogeu sexual podia ser. O membro quente agora entre as pernas dela e queimou-a com incessante demanda. Ela se acomodou sobre ele instintivamente.

Violanti emitiu um gemido gutural sob ela, em resposta ao movimento. - Não posso suportar muito mais disto, Aerin. – Ele sorriu arrependido e soou mais que um pouco surpreso em reconhecer.

Com as mãos, ela massageou-lhe os músculos do peito, que estavam cada vez mais tensos, o qual se repetia em todas as demais parte de seu corpo. O aro de prata lhe cravou a mão e ela o correu, retorceu-o com cuidado sobre a carne, até que ele vaiou, resistiu, tirou-a de cima dele e girou-se para se colocar sobre ela.

As cores cambiantes de seu olhar a hipnotizaram. Arrastaram-na mais profundamente. Respirou abruptamente pela boca, para os lábios de Aerin. Os dentes se mostravam afiados e malvados à medida que ele os apertava e movia a mandíbula tensamente. Uma intensidade escura e perigosa lhe rodeava os músculos enquanto seu peso a afundava mais ao colchão. Alguma ameaça escondida que ela não podia nomear parecia fluir dele para ela. Seus instintos gritaram que se afastasse, que algo acontecia, que algo estava terrivelmente errado, mas ela não podia adivinhar o que era. O momento não identificado aconteceu e ele se acalmou sobre ela e o sorriso perverso começou a brincar nos cantos de sua boca.

-Aprendeste este jogo muito bem, creio e muito rápido. Talvez seja muito mulher para mim, depois de tudo. – Ele brincou claramente, sem querer dizer uma só palavra do que disse.

-Eu gosto de te tocar, - disse ela finalmente.

Seus olhos se obscureceram e o perigo estava presente outra vez. - E eu gosto que me toque doce Aerin. - Os cílios dele lhe cobriram os olhos e ele abaixou a cabeça.

Os lábios eram como o suave toque do cetim sobre os dela. Tinha sabor de canela e esse aroma penetrava em sua boca, à medida que ele lhe separava os lábios brandamente. A maciez da língua lhe lambeu meigamente a boca, desenhando o contorno de seus lábios e os dentes. Ao abrir a boca, ansiosa por beijá-lo, Aerin sentiu o toque da língua dentro dela e gemeu.

Que pudesse ter um gosto tão encantado estava além de suas hipóteses febris. Lamberam-se com a língua, uma e outra vez e ele investiu para dentro e para fora de sua boca, até que ela se sentiu o suficientemente encorajada para seguir o exemplo. Levantou as mãos para enroscar ao redor do pescoço dele, a suavidade deliciosa do cabelo lhe incitou os dedos e as palmas das mãos, à medida que seus corpos se fundiam e Aerin o aproximava.

Ele raspou-lhe os lábios com os dentes e lhe tirou uma pequena gota de sangue. Ela fez uma careta de dor. Ele lambeu-lhe o sangue imediatamente e a dor se acalmou. O grunhido que saiu dos lábios de Violanti floresceu em sua boca. Ela engoliu-o e o fez parte dela. Ele mordeu-a novamente, bruscamente e todo ficou confuso e escuro.

Parecia como se o fundo da terra se abrisse sob eles. O enjôo a invadiu, a desorientação e a confusão a dominaram. Sentiu os lábios de Violanti sobre os dela e levou o lábio inferior para dentro de sua boca. Sentiu o calor cada vez mais de sua pele contra seu corpo coberto pela roupa, sob suas mãos, que tinham começado a baixar, lhe acariciando as costas e... Ai, Deus! As duras nádegas. Todo o resto havia desaparecido. O único real e tangível no mundo durante esse momento era Violanti.

E o beijo devastador de Violanti.

De uma só vez, ele tornou para trás com um empurrão quase violento que o deslocou de cima dela e Aerin recuperou a consciência com um ruído surdo. Ele estava com boca vermelha, os olhos mudavam de cor com uma rapidez violenta. Seu corpo estremecia sobre o dela, com o sexo como uma tocha quente sobre seu ventre.

Enquanto gemia, por algo mais que simples necessidade ou desejo e ela sentia algo muito mais que ambas as sensações combinadas, tentou aproximá-lo novamente. Devorou-o com exigência do cabelo de cor ébano. Novamente ele estremeceu, mas se aproximou dela por vontade própria, com os olhos quase fechados pelas pesadas pálpebras.

Mas, em vez de voltar para sua boca, como ela esperava que fizesse, ele cravou a face no pescoço. A respiração dos dois se voltou áspera e vibrante, enquanto ele se encontrava sobre ela. A boca dele exercia pressão como se fosse uma fornalha quente sobre a garganta dela e seus dentes fizeram com que o beijo fosse duro e áspero contra ela.

As fortes mãos lhe sustentavam a parte superior dos braços quase os envolvendo. Aerin sentiu que o membro lhe oprimia o osso púbico, por isso separou as pernas ansiosamente para atraí-lo a seu centro. Envolveu-lhe os quadris com as pernas, travou os tornozelos juntos e gemeu quando ele girou os quadris contra ela.

 

Ela sentiu a mordida, um segundo depois dele se enrijecer novamente, desta vez com um rugido que teria assustado a qualquer pessoa, mas que só serviu para esquentá-la mais. Apoiou-a para trás, levantou-a e a sentou a seu lado uma vez mais.

-Devemos ir mais devagar, - ele tinha a voz entrecortada, mas rapidamente recuperou a compostura. Seu olhar lhe queimava o rosto e o corpo. - Ainda não chegou meu turno, doçura.

Levou as mãos imediatamente à garganta e lhe desabotoou a recatada blusa. Desfez eficientemente do linho de cor creme e o fez seguir o trajeto de sua própria camiseta, para que se esparramasse como uma nuvem sobre o piso. Comeu-a com o olhar, vasta e intensa, que lançava labaredas prateadas, verdes, azul e às vezes, vermelha.

-Você é perfeita, - disse ele em voz baixa. Aerin quase acreditou na sinceridade de suas palavras, mas a pobre imagem dela mesma estava muito arraigada.

Finalmente, deixou de duvidar de sua sinceridade, já que quando ele estirou os braços para tocá-la, eles tremeram quase com violência. As grandes mãos lhe tocaram os seios através do resistente cetim branco do soutien. Levantava-os e provou todo seu peso, com os polegares a acariciava brandamente seus mamilos, através do material.

 

Ao fitar sua face, Aerin notou primeiro, assombro, sobressalto e logo, veneração. Realmente, ele parecia encantado ao fitar seus seios. Realmente parecia que a achava atraente.

Aerin jurou agradecer a cada boa estrela que brilhasse no céu por este momento.

Ele deslizou os dedos, impaciente, e tirou as alças do soutien. Moveu-os a seu redor e os levou para trás e logo desabotoou o soutien engenhosamente com apenas um movimento dos dedos. As Palmas de suas mãos a acariciaram, devagar, para saborear melhor a sensação de sua pele.

O soutien se desprendeu e Aerin ficou completamente exposta.

Violanti a absorveu completamente com o olhar.

Os mamilos se sentiam como diamantes nas pontas dos seios, tensos pelo desejo. Toque-me! Pediam a gritos seu corpo e mente. Toque-me, por favor. E ele o fez como se tivesse ouvido seus pedidos. Ou, talvez quisesse tocá-los, tanto como ela queria. Tomou-os com as mãos. Os mamilos lhe cravaram nas palmas.

-Perfeitos, - murmurou ele. Seus dedos acariciaram seus mamilos, atirou-os e os retorceu até que ela sentiu que arqueava as costas para as carícias, pedindo toda sua atenção. - Mais que perfeito. – ele se corrigiu.

 

Suas mãos a tocavam com mais firmeza agora. Fizeram pressão até deitá-la sobre os travesseiros de plumas, na cama. Ele levou as mãos para baixo, pela curva suave de seu ventre, até o zíper da saia verde. Depois de alguns segundos, a saia já não estava em seu lugar, deslizava para baixo, pelas coxas e as pernas, até o lado da cama.

Aerin tinha evitado a meia-calça que sempre usava, enquanto colocara a saia para essa noite e em lugar delas, optou por um atrevido conjunto até as coxas, de cor creme, que combinavam com a blusa, com diminutos laços na parte superior. Sentiu-se tão aliviada por ter preferido, ao ver a descarada apreciação impressa na face de Violanti. Quando ele beijou a parte superior das meias, em reverência, ela quase se deprimiu pela comoção e o prazer e jurou nunca mais usar nada debaixo das saias que não fossem meias até as coxas, pelo resto de sua vida.

As meias voaram de seu corpo como se tivessem asas, porque ele as enganchou facilmente com os dedos e as deslizou por suas pernas. Seus olhos a queimavam, enquanto lhe sustentava as pernas separadas em frente a ele. Uma só gota brilhante de seu suor lhe percorreu a têmpora.

 

-Necessito-te, Aerin. – Ele deixou de olhar seu sexo e procurou seu olhar. - Pode compreender isso? Esqueça-te da lição. Esqueça-se do plano. Necessito-te.

Ela assentiu com a cabeça, ao sentir o peso da situação, como se fosse algo evidente, apesar de não a compreender.

-Me dê tudo o que tem doçura. Prometo que estará segura. Só não volte atrás agora. - Disse-lhe ele com um gemido e lhe percorreu o corpo com os olhos. - Por favor.

Como se ela pudesse voltar atrás. - Não voltarei. – Ela prometeu.

Ele separou-lhe mais as pernas, com mais exigência agora. Aerin sentiu-se tímida ao estar tão exposta em frente a ele, mas era algo minúsculo comparado com seu óbvio desejo. Estavam os dois nus e juntos agora, exceto pelas meias. Pela primeira vez em sua vida, Aerin estava nua frente a um homem, pronta para tomá-lo como seu amante.

Violant levou uma de suas mãos entre as pernas de Aerin e a fez sentir seus dedos sobre o pêlo aveludado, sobre a carne úmida e cheia, fez com que ela gemesse com a carícia. Esses dedos lhe separaram suas dobras, abriram-na, de maneira que seus mais profundos tesouros estavam abertos para o olhar de Violanti.

-Por Deus! – Ele murmurou e fez com que Aerin estremecesse.

 

Ele acariciou-lhe a vulva com os dedos, enquanto lubrificava e esparramava sua umidade sobre cada polegada de sua carne agitada, que estava aberta e florescente para seu prazer. O cabelo de Violanti se esparramou sobre seu rosto defendendo-o, o que lhe permitiu ter segredos e sombras. Aerin poderia ter jurado que, por um momento, o brilho dos olhos tomou uma cor vermelha atrás da cortina de cabelo e depois resplandeceu com um prateado forte.

-Tocar é importante nesta viagem, - disse ele. – E provar também.

Ele desceu o corpo. Inclinou a cabeça e enviou-lhe uma onda fervente de respiração a seu sexo e logo fechou a boca sobre ela.

Aerin gritou e quase o afastou dela.

Violanti sorriu contra ela, de fato. Ela podia sentir a curva dos lábios dele e depois os abriu para fazer dançar sua língua contra ela. Aerin não teria esperado a carícia nem em um milhão de anos e era tão louca, mágica e emocionante, como teria sonhado se houvesse atrevido. Aerin sentiu que voava, o mundo girou a seu redor, porque a cabeça de Violanti se meneava entre suas pernas enquanto a lambia desde o ânus até o clitóris. Uma e outra vez até que ela sentiu que morreria da excitação que a inchava.

 

Agora ele a sugava. Os sons úmidos encheram o aposento e seus ouvidos, junto com o som de sua respiração e seus gemidos frenéticos. Ela se sacudiu contra sua face e ele se cravou mais dentro dela, enquanto a sugava e a lambia com mais força.

Logo chegaram as mordidas. As mordidas de amor, o aguilhão dos dentes. Ela gritou e separou mais as pernas. Rogou-lhe que continuasse com o corpo, que nunca se detivesse. E ele cravou mais os dentes, enquanto a mordia com mais força, antes que se afastasse abruptamente.

Mas, para seu êxtase interminável, ele substituiu os lábios pelos dedos. Cravou-lhe o longo dedo médio muito fundo em seu sexo. Enchia-a. Estendia, enquanto que o outro dedo brincava com o clitóris inchado.

Seus olhares se encontraram enquanto a mão dele brincava entre suas pernas. - Por Deus. Doçura! Você é muito doce. Lambeu-lhe os lábios inchados e sensuais, que brilhavam pela umidade.

Todo o peso de seu corpo a cobriu, enquanto movia a mão profundamente para dentro e para fora dela. E os sons de palmadas úmidas acompanhavam cada movimento. Ele selou sua boca contra a dela e fez com que ela provasse o próprio sabor, que ele levava nos lábios e na língua. O beijo se afastou de sua boca, até o queixo e o pescoço. Logo ele a mordeu com força e outra vez, o mundo se tornou confuso e estranho.

Uma sensação de calma, líquida e espessa, cobriu-a da garganta até a boca e a afetava à medida que o beijo se tornava mais profundo. A sensação de dar, de compartilhar algo profundo dentro dela, algo mais que simplesmente sexo, brotou dentro dela. Nesse momento, não ela queria mais que desaparecer dentro de Violanti, lhe dar tudo dela, até que não restasse nada.

O mundo girava desenfreado se tornava cinza a seu redor. Violanti era o único sólido nessa realidade estranha. O dedo dentro de seu sexo se converteu em dois, que a estendiam à medida que ele investia contra ela. A ponta de um dedo pressionava o clitóris duro, uma vez, duas vezes, e na terceira tentativa, Aerin sentiu a avalanche de umidade que lhe caía pela mão. Seu corpo se converteu em uma pulsação com vida própria, um batimento do coração gigante e palpitante. E nesse momento, ela realmente sentiu que voava.

O orgasmo retumbou por todo seu ser e ela gritou mais forte do que jamais tinha gritado. Nunca havia sentido uma liberação como esta. Violant levou outro dedo para dentro dela e mais outro, até que ela sentiu que estava totalmente aberta. Como se Violanti chegasse até seu coração pelo útero, cravando-a tão profundamente.

Os músculos de seu sexo abrasaram os quatro dedos que a acariciava, até que esteve segura de que lhe causava dor. Ela era muito estreita. Cheia de prazer, paixão e sim, dor. Dor, porque estava totalmente estendida e a boca de Violanti ainda a sugava. Ele investiu profundamente dentro dela novamente, enganchou-a e se dobrou para dentro dela, até que ela sentiu uma nova sensação, talvez, mais forte que o orgasmo que ainda a afligia.

E ela explodiu uma e outra vez e outra vez gritando, chorando, soluçando e gemendo, até que começava a ficar sem voz. O mesmo aconteceu com a visão… Com os pulmões… Até que todo se tornou cinza.

 

Era muito cedo para os dois, ele sabia. Mas uma estranha febre dominava seu julgamento e seu controle se esfumou perigosamente. Estava enormemente faminto. Seu corpo e sua alma estavam sedentos, suas veias rogavam e ansiavam com uma necessidade ardente. Estava sem poder diante sua própria natureza escura. Violanti cravou as presas bruscamente na garganta aveludada e bebeu profundamente.

 

A luz das estrelas explodiu em cada fibra de seu ser. Ela era pura, doce. Sua aura, um halo dourado brilhante que a envolvia a todo o momento, se ampliou para envolvê-lo. A energia da vida e o sangue de Aerin o encheram, alimentaram-no. Era vivificante. Cheia de vida. Nunca havia se sentido tão atônito, tão realizado e extasiado. E não havia indecisão nela. Dera-se por completo a ele e, por meio de seus corações abertos, compartilhou com ela o dom que era somente dele.

Ele era um incubo e um vampiro, mas os rótulos, estes nomes não eram uma maldição tão sombria como o mundo moderno proclamava. Ele possuía dons inimagináveis e agora estava usando-os para agradecer a ela por seu obséquio tão prezado como sua confiança. Ela devia confiar nele, já que nunca poderia se alimentar dela tão inteiramente se tivesse protegida ou não estivesse disposta.

Tão inocente e tão generosa. Era a doce Aerin, dos pés a cabeça. O sabor de seu sangue lhe encheu a boca, fez com que por sua mente vagassem imagens espetaculares de amor, luxúria e desejo. O sabor da aura e a essência de vida dela encheram seu corpo até transbordar e lhe dar uma energia vibrante como nunca havia sentido em seus longos anos. Nada tinha sido tão incrivelmente perfeito.

 

Nunca poderia ter o bastante dela. Nem agora, nem nunca.

Estava perdido de amor por ela.

Se em algum momento teria pensado em uni-la a ele para seu próprio prazer, agora sabia que era impossível. Ela se adiantara. Unira-o a ela de uma forma que sequer sabia que os humanos podiam fazer. Convertera-o instantaneamente em um viciado. Nunca chegaria o momento, não importava quanto tempo ele existisse em que deixaria de querê-la. De necessitá-la.

A explosão de seu orgasmo o sacudiu. Ele engoliu mais dela. Deus! Ela enchia cada espaço vazio dentro dele. Por meio dela, ele poderia ver a luz do sol, cheirar as flores da primavera, sentir o rocio à manhã. Nunca havia se sentido assim por se alimentar de alguém.

Porque não estava se alimentando somente. Era diferente, algo que não podia nomear.

Engoliu o sabor quente e saboroso novamente e lhe vibraram os dentes com a pulsação de seu coração. Seu brilho se apagou um pouco à medida que sua força fluía dentro dele. Ela estava se debilitando, relaxada em seus braços. Temia que pudesse acontecer isto. Afastou-se para não mordê-la umas quantas vezes mais, porque sabia que podia chegar a isto. Não tinha controle com ela. Era impossível esperar que tivesse. Ela fez com que perdesse a disciplina, simplesmente fitando-o com os incríveis olhos profundos.

Havia tomado muito.

Ele engoliu uma vez mais, incapaz de rechaçar o último gole profundo e logo a liberou. Afastou-a com firmeza e a examinou para assegurar-se de que não havia causado algum dano duradouro.

Sua aura brilhou quase imediatamente. Ela era forte. Estaria bem.

Mas, e ele? Sua cabeça lhe dava voltas. Tinha um formigamento em todo o corpo, por dentro e por fora. Seu sabor o fazia com querer mais, até que apertou os dentes e fez frente ao poderoso impulso de beber dela novamente. Tirou sangue dos lábios com a ponta afiada das presas e a saboreou em sua própria corrente sangüínea com um grito entrecortado.

Doce! Perfeita. Estava perdido.

A pele de veludo acalmou suas ânsias de sangue, mas despertou outra. Ela se moveu contra ele com um gemido suave e o roçou com o centro úmido e ardente de seu sexo, no esforço. Ele estava com as mãos cobertas com o sangue de seu orgasmo, lambeu-as e deixou rastros misturados de manchas do sangue dos dois.

As curvas exageradas do corpo dela fizeram com que lhe apertasse o estômago e que seu coração lhe pulsasse entrecortado no peito. O mamilo tinha um gosto doce, o seio, o ventre e o umbigo eram suaves e perfeitos. Ele beijou-a da cabeça aos pés e fez uma pausa para lambê-la atrás dos joelhos, para lhe mordiscar delicadamente a pele dos tornozelos.

Tocar sua saciedade, enquanto ela jazia aturdida em seu desvanecimento, deu-lhe a energia que era dele por meio dessas carícias. Uma energia que a percorreria por completo, mesmo se não tivesse idéia do que fazer com ela ou como usá-la. E não saberia o que fazer. Por ora, o feitiço que protegia a Fetiche serviria para lhe apagar a memória, de maneira que, até se contasse, explicasse-lhe tudo em detalhe, ela se esqueceria. Mas estaria ali a energia, esperando que ela desejasse usá-la, inclusive em seu subconsciente.

Era tudo o que tinha para lhe dar, para lhe agradecer pelo obséquio maravilhoso que lhe tinha dado esta noite. Ele ardia com o sabor e o contato dela, cada fibra de seu ser pedia mais. Com um gemido dilacerador inclinou a cabeça para saborear essa parte dela que era quase tão secreta e mágica como seu sangue. Teria que ser o bastante por ora, até que ela estivesse pronta para o seguinte passo, e ele teria que cumprir com isso.

 

Aerin recuperou a consciência depois do que certamente foram momentos muito longos.

-Minha incrível e doce Aerin. Seu sabor… Ai, seu sabor! A voz de Violanti era um suave murmúrio, mas já não em seu ouvido. Ele gemeu novamente as palavras, repetiu-as como um mantra e lhe levou um momento para sedar conta de que ele sussurrava contra a carne ainda agitada de seu sexo.

Ele lambia-a, bebia-a. Os lábios se moviam contra ela enquanto repetia novamente as palavras. - O sabor, seu sabor. Ai, estou perdido. Ele atravessou-a com a língua, seus dedos separaram delicadamente as dobras para sua boca enlouquecida.

-Violanti. – Aerin gemeu e sua voz não era mais que um sussurro rouco, já que havia perdido-a nos gritos anteriores.

Ele se levantou o ouvir sua voz e a cobriu novamente. As pontas dos dedos manchadas com o que parecia ser sangue. Se ela tinha uma membrana virgem, provavelmente ele havia rompido-a com os dedos, que lhe acariciaram as bochechas.

- Aerin, Aerin, meu amor. – Ele sussurrou, enquanto lhe beijava a face com veneração.

 

Ela sentiu que ele acariciava seu seio, que lhe beliscava o mamilo com delicada ternura. E com essa suavidade, voltou a despertar sua paixão. Parecia impossível, mas o desejava com tanto desespero como o desejara tão somente antes da liberação.

Mas Violanti a surpreendeu. Em vez de tomar tudo o que lhe oferecia, em vez de lhe afundar a membro grande e grosso em seu sexo uma vez mais sedento, como teria gostado desesperadamente que fizesse, ele simplesmente a abraçou. Beijou-a. Acariciou-a.

-Por favor, - rogou-lhe ela, sem vergonha.

Seus olhos eram delicados e quentes e estavam confusos pela sua própria paixão. - Não esta noite. Agora descanse. Fui muito exigente. Depois… Depois teremos mais. Depois, quando estiver mais forte. Quando estiver descansado.

O arco íris em constante mudança de seu olhar a apanhou e ela adormeceu. Ele manteve-a segura. Acalmou-a para que dormisse.

-Não sabia que tocar podia ser tão puramente delicioso, Aerin. Esta noite me ensinaste bem mais do que eu esperava te ensinar. Obrigado. Muito obrigado. - Sua voz se desvaneceu. Essas palavras, tão cheias de emoção pura, embora incapazes de evitar que o sonho a reclamasse silenciou-se nos ouvidos surdos dela, enquanto descansava.

 

Antes que ela se desse conta, ele estava despertando-a para lhe dizer com suavidade e com pesar, que era hora de ir.

 

-Você está agindo como se tivesse um segredo, - brincou Heather, durante o almoço rápido.

Aerin sorriu contra sua vontade, sentiu que a maciez da noite anterior a percorria com um delicado prazer. – Eu estava pensando na roupa nova que comprei. – Ela mentiu e levantou a voz, para que ela a ouvisse em meio ao barulho da área de alimentação do buliçoso centro comercial, ainda um pouco fraca, por causa dos gemidos e gritos que Violanti lhe tinha arrancado na cama do quarto azul. - Não posso imaginar se alguma vez me animarei a usá-la, apesar de ser magnífica.

-Precisamente por esse motivo é que a vai usá-la. - Afirmou Heather enquanto ria. – Você ficou preciosa com ela. Seria uma lástima que a guardasse no fundo do armário, atrás do traje comercial insípido e deprimente que parece que amas usar todos os santos dias.

 

-Está criticando minha roupa? - Aerin levantou as sobrancelhas em um gesto cômico. Ela também odiava sua vestimenta insípida, mas sabia que era muito gorda e feia para usar roupa com brilho e a elegância que estava de moda.

De fato, o estilo de roupa que usava no centro comercial estava destinado às pessoas como Heather. As pessoas esbeltas, atraentes e elegantes usavam roupa como aquela. Não os vagabundos com forma de ovo como ela.

Mas quando provara a roupa… Se sentiu realmente linda. Pela primeira vez em... Bem, em toda sua vida. Havia se sentido mais alta, mais magra e mais linda. Tinha sido um sentimento decadente e maravilhoso. O olhar de Heather tinham sido de muita ajuda, um olhar de reconhecimento e aprovação e Aerin se sentiu segura de que se sentia bem. De que não tinha sido somente sua imaginação nostálgica que a enganava.

Ela tinha comprado a roupa.

Mas, usaria-a? Não sabia. Talvez. Só talvez.

Talvez para Violanti. Se decidisse retornar a Fetiche e voltar a vê-lo. Isso estava em discussão em sua cabeça, a estas alturas. Tinha muita vontade de vê-lo novamente, de finalizar o que haviam começado, mas não queria gastar tanto dinheiro na experiência. Sem importar quão maravilhosa fosse e muito provavelmente fosse. Não era rica, depois de tudo e o dinheiro de suas economias não duraria para sempre. Por ora, teria que pensar.

Pensaria em usar a roupa e talvez, presumir adiante de Violanti, se decidisse retornar a Fetiche uma vez mais.

Heather riu. - Sim! Estou criticando sua roupa. Você fica tão bem com essas cores brilhantes, que não posso acreditar que pensou em não usá-los. Você é o tipo de pessoa que brilha com a roupa atrevida e bela, mas simplesmente não quer acreditar.

-Diz puras sandices. - O que divertido era ter uma amiga a qual pudesse brincar e sorrir. - Sou muito gorda para usar arroxeado e escarlate. Sempre termino parecendo com uma carpa de circo quando me visto com essas cores.

-Bom, mas a dieta está fazendo maravilhas com sua figura, então não terá desculpa para se defender por muito tempo. Como fez a princípio. Não é nada gorda. É...

-De ossos grandes? Ouvi muitas vezes. - Aerin soltou uma gargalhada. E, que dieta? Não estava de dieta. Heather não era a primeira pessoa em observar que havia perdido peso; outros haviam dito. Inclusive ela mesma tinha notado. Ultimamente estava usando roupas menores, com poucos dedos a menos, mas ainda assim era uma melhoria que tinha observado rapidamente. Talvez a menopausa estivesse ajudando a acelerar seu metabolismo.

-Não ia dizer de ossos grandes. – sorriu Heather. – Eu ia dizer que é barroca. Você sabe. Curvilínea e bela, como essas antigas pinturas que a gente vê nos museus.

-Conheço o estilo barroco e eu adoro esse período, mas não sou assim. Sou pálida, feia e gorda. Não tenho as bochechas rosadas, nem sou Mona e arredondada, como essas antigas desavergonhadas. – Ela riu.

-Sim. Você é. Mas é muito teimosa para notar.

-Possamos falar de outra coisa? Como de seu noivo? - O noivo de Heather finalmente lhe tinha proposto matrimônio na sexta-feira a noite e a julgar pelo tamanho do diamante que ela tinha no dedo era um bom partido, realmente. - Me conte mais a respeito dele.

Os olhos de Heather ficaram frágeis e o olhar de amor fez que seu rosto, normalmente atraente ficasse ainda mais. Ela estava radiante. - Não é maravilhoso. Isto foi uma surpresa. – Ela brandiu o anel de noivado com uma alegria ansiosa. -Não acreditava que ele queria se casar até que se tornasse sócio da empresa. Ele leva sua profissão tão a sério. E eu estava contente esperando. Foi realmente uma surpresa… Quase não sabia o que dizer quando ele me perguntou!

 

-Bom, alegra-me que tenha dito o sim. Você merece toda a felicidade. Ele é afortunado em tê-la. - Aerin fez um brinde com o copo de papel cheio de refrigerante borbulhante. - Parece que é o bastante preparado para saber, também. Bom menino.

-Ele é um bom menino. - Heather riu bobamente. - Muito bom para mim, mas estou feliz que não me dei conta ainda. Não sei o que esperar destes próximos meses. Ele quer que nos casemos em julho. Faltam somente três meses. – E ela escureceu o olhar abruptamente, - ele quer que eu renuncie ao trabalho depois do casamento.

Aerin sentiu que lhe abriam os olhos. - Isso é um pouco arcaico, não? Você quer renunciar a seu trabalho? Não a culparia se o fizesse.

-Você sabe... Quero e não quero. – Ela suspirou. - Mas não creio estar pronta para o mundo corporativo, sabe? Parece muito selvagem para mim. E não estou exatamente apaixonada por meu trabalho, tampouco. Mas não dá a Don o direito de me obrigar a renunciar.

- Se não está feliz com o trabalho, por que decidiu tentar trabalhar para a empresa?

O rosto de Heather acendeu novamente e ela se inclinou sobre a mesa, como se estivesse a ponto de divulgar um grande segredo e não quisesse que ninguém que passasse o ouvisse por acaso. - Bom, sou uma datilógrafa rápida. Realmente rápida. Posso datilografar pedidos como ninguém. Realmente pensava que era uma boa idéia quando estava na escola, de usar essa habilidade e obter um ganho, de algum jeito. É que sou tão rápida porque em meu tempo livre escrevo novelas. A prática aperfeiçoa, sabe? Muita, muita prática. Quanto mais escrevo, mais rápida me torno. Assim trabalho em uma imprensa por um salário fixo, mas não me faz feliz. É escrever o que realmente me entusiasma. Mas não poderia viver disso.

Heather era animada, apaixonada. De repente, segura de que Heather pertencia ao mundo dos Novelistas, Aerin fez um gesto com a cabeça, pensativa. Estava segura que poderia viver disso, se realmente te concentrasse. - Talvez, por isso Don pediu que deixe seu trabalho. Ele sabe que você gosta de escrever?

-É obvio. Ele sabe o quanto é importante para mim. Mas isso não muda nada.

-Não sei. Talvez mude tudo. Talvez ele queira te dar esta oportunidade de ser uma escritora, da única maneira que pode. Era verdadeiramente ela que estava dizendo estas palavras? Aerin nunca tinha compreendido às pessoas, as relações ou os motivos que impulsionavam o comportamento humano. Mas este panorama parecia possível, por isso o assinalou. -Talvez ele saiba que seria mais feliz escrevendo a tempo completo e quer te dar a oportunidade.

Com os olhos brilhosos, Heather deu um grito entrecortado. - Mas por que não diz? Ele simplesmente me disse que deveria renunciar ao trabalho quando nos casarmos, como se fosse indigno dele que sua esposa trabalhasse ou algo parecido. Não que deveria escrever o tempo inteiro.

-Bom, não o conheço, então não posso falar por ele. Mas que outra coisa faria que não fosse escrever? Sentar-se todo o dia em sua casa? Se ele te conhece como você diz, então sabe que provavelmente passaria o tempo em frente ao teclado. Não limpando a casa ou fazendo bebês.

Elas ficaram em silencio por um momento. - Creio que tem razão Aerin. Estava muito preocupada em manter minha independência, que Don não me dirija, que não me dei conta disso. Vou perguntar a ele esta noite, se é realmente o que pensa. Oh! Não seria incrível se eu pudesse me dedicar a escrever? – Ela riu bobamente e fechou os punhos como amostra de seu grande entusiasmo.

Aerin riu com sua amiga. - Parece que Don pode pagar todos os gastos enquanto você torna seu sonho em realidade. Espero estar certa ao pensar que essas são suas intenções.

 

-Creio que tem razão, Aerin. Creio que sim. Como pôde ver com tanta claridade algo que eu não pude? É uma grande amiga, sério.

Aerin se ruborizou e tomou um grande gole do refrigerante. –Teria dado conta disso em um ou dois dias.

-Vamos. Eu já tive suficiente deste lixo gordurento. - Heather olhou a comida com desdém. -Celebraremos meu compromisso e vamos comprar sapatos. - As duas se levantaram, atiraram as sobras da comida no cesto mais próximo e partiram em busca da compra perfeita.

Aerin nunca se divertiu tanto no centro comercial. Era genial ter uma amiga.

 

Na noite seguinte, Aerin se esqueceu do rosto dele.

Após de lutar todo o dia contra a inevitável memória ruim, que suspeitava encontrar no fio de sua mente, Aerin perdeu a batalha e, uma vez mais, os traços de Violanti se desvaneceram nos lugares mais recônditos de sua memória defeituosa. Aconteceu na ducha, enquanto ela limpava muito a seu pesar, os últimos rastros do perfume dele em seu corpo. Sua mente parecia fugir do presente, desviar para lugares desconhecidos e quando voltava em si, já o havia esquecido.

Nunca havia sentido as lágrimas tão amargas na língua. Nunca lhe tinha resultado tão difícil chorar, mas agora parecia doloroso e extenuante e de maneira alguma lhe servia de alívio. Como podia ser tão estúpida? Como podia ser tão despreocupada? Acaso nada lhe importava, exceto sua depressão egocêntrica?

Durante horas se fez estas e outras inumeráveis perguntas similares. Repreendeu-se, odiou e não queria fazer mais que gritar sua frustração no silêncio profundo e solitário de sua casa. Mas não gritava. Apertou os dentes e ficou firme, figurativa e literalmente, decidida a triunfar sobre o que estava segura que devia ser um estranho caso de amnésia induzida pela menopausa.

Para triunfar, devia retornar a Fetiche. Devia ver Violanti novamente. Para recordar seu rosto, seu perfume e suas carícias, devia retornar. Ao diabo com o custo, tanto pelo dinheiro como pelo orgulho, simplesmente devia retornar e vê-lo outra vez. Mas somente uma vez mais, uma só. Não era tola para pensar que podia começar uma relação duradoura com um acompanhante pago, de um clube de sexo.

Mesmo Violanti que parecia tão interessado nela, como ela estava nele.

 

Violanti cobrava por achá-la interessante. Admitisse ele ou não, essa era a verdade da questão. E ela, uma solteirona estúpida nunca devia esquecer. Sim, ela havia passado o melhor momento de sua vida na noite anterior. Sim, seu corpo tinha sido e ainda era dele. Mas ela devia em seu interior, ter o controle final de seu coração.

Como havia esquecido sua face em tão pouco tempo, como vinte e quatro horas? Talvez não fosse seu coração que estava em risco, depois de tudo, mas sua prudência.

Não importava. Era com seu coração pelo que devia se preocupar, finalmente. Nunca devia entregá-lo a seu acompanhante, o perigosamente sexy Violanti ou se arriscaria a sofrer o maior dano que poderia conhecer. Podia ser virgem... Bem, talvez não tecnicamente depois da última noite. Poderia não ter se apaixonado nunca, mas isso não significava que ela não conhecia a dor que o amor podia causar. O amor era uma arma de dois gumes, até nas situações mais perfeitas e esta não era absolutamente uma situação perfeita.

A cor do dinheiro orquestrava o comportamento de seu misterioso acompanhante. Não devia esquecer jamais, nunca; certamente não tão rápido como se esquecera de seu rosto. Inclusive se desfrutasse do tempo que passavam juntos, doce como parecia era só um sonho. Um sonho que não duraria, que não podia durar.

 

Tinha cabelo marrom ou negro? E de que cor eram seus olhos? Isto parecia ser o mais importante de tudo e ela havia esquecido, além da forma de seu rosto, seus lábios ou o cabelo longo. Certamente recordaria seus olhos por sempre. A janela da alma, profunda e estranha. Mas, que cor seriam?

A força de seus soluços a surpreendeu. Sentiu como se seu coração e sua mente a tivessem traído da pior maneira. Da forma mais imperdoável. Como, ai... Como pôde esquecer seu rosto? O rosto de seu amante, o primeiro e provavelmente o último devia permanecer para sempre em sua memória, ou não? Como podia sair de sua mente o semblante de seu mais velho desejo, tão rápida e tão completamente?

Ela o amava ou estava perto de amá-lo. As advertências ou as negações não lhe fariam nada bem. Já tinha chegado muito longe.

Maldita fosse por ser tola.

O tic tac do relógio de mesa, sincronizado com cada lágrima que derramava era sua única companhia na noite longa e solitária. Não importava o quanto tentava, não podia recordar seu rosto. Seu amado rosto.

 

Madame Delilah a beijou em ambas as faces a modo de saudação, antes de lhe dar um abraço que parecia muito forte para uma mulher de aparência tão delicada. - Alegra-me que tenha voltado, amor. Violanti está esperando no aposento rosa.

Aerin franziu o cenho e quase tentou empurrar armação dos óculos, mas se lembrou de que usava suas novas lentes de contato. Perguntou-se se alguma vez poderia abandonar o hábito. Estivera fazendo-o por tanto tempo que se convertera em um costume.

-Onde é?

-Acompanho-te.

-Mas, ainda não paguei. E você não me pediu que assinasse a fatura da vez anterior.

Madame fez um movimento com a mão, claramente despreocupada. -Não se preocupe por isso. Em outro momento nos encarregamos. Por ora, venha. Você tem toda uma noite adiante, que está esperando começar.

Seguiu Madame pelo labirinto dos distintos aposentos. Quantos aposentos teriam esta mansão? E sentiu que uma antecipação eufórica se apoderou dela. Esta noite era à noite, ela estava segura disso. Esta noite faria o amor com ele! Com Violanti, o homem mais viril e bonito que jamais tinha visto. Era tão emocionante, que ela apenas se conteve para não começar a correr e arrastar Delilah atrás dela. Provavelmente o teria feito, se soubesse o caminho.

A porta rosa, que, indubitavelmente, conduzia ao aposento rosa, apareceu diante delas. Era de uma cor relaxante e ao mesmo tempo, estimulante. Era o tom exato de rosa que mancharia os lençóis brancos de uma mulher virgem, depois de deitar com seu primeiro amante. Tinha a mesma cor que a carne mais branda de uma mulher; os lábios, os mamilos ou a vagina.

Aerin sabia que seu próprio sexo tinha essa mesma cor; mais cedo nesse dia, ela havia tirado todo o pêlo púbico para a ocasião; não queria que houvesse barreiras entre sua pele e a dele. Ela sabia, não por olhar pelo espelho, porque poucas vezes o fazia, mas sim de recordar que seus mamilos e seus lábios também possuíam a mesma cor. Esta era a cor do sexo. Esta era a cor de fazer amor.

-Entre. Ele está te esperando.

Sorriu Madame, a quem ela devolveu o sorriso de um modo alentador e transpassou a porta. Seu coração pulsava com força e estava com os lábios e a língua secos. Ali estava. Esta era a noite. Estes últimos passos seriam os últimos como virgem. Depois disto, se converteria completamente em uma mulher.

Seus pensamentos e expectativas se solidificaram quando o viu.

Ele estava no meio do aposento com um pincel na mão, dando pinceladas selvagens e energéticas em um tecido colocado em frente a ele. Nu, salvo pelas botas de cano alto de couro negro. Destacavam as fivelas grandes e prateadas que ressaltavam sobre a austeridade do material escuro e brilhante. O resto do corpo, resplandecente na luz coral do aposento, como uma escultura de bronze, estava completamente nu exceto pelo diminuto anel, a garra prateada no lóbulo da orelha e... Isto era novo, o brinco prateado na coroa do membro que meneava.

Seu fetiche pela prata brilhava como um farol na luz tênue. Também seus olhos eram prateados. Mais prateados que verdes ou azuis esta noite. Seu rosto lhe era conhecido uma vez mais, tão arrumado e galhardo como sempre. Depois de uma semana aterradora, tentando recordar desesperadamente como ele era e sem poder fazê-lo, estava surpresa de que fosse tão familiar, como se sua memória nunca tivesse impedido-a de lembrar-se dele. Devia ser o começo da menopausa que estava causando estas raridades em sua memória. Decidiu visitar médico e adicionar uma terapia hormonal a seu tratamento, o mais breve possível. Isso deveria arrumar as coisas.

O perfume maravilhoso que parecia emanar dos poros dele, lhe adormecia os sentidos. Respirou profundamente. O pequeno ruído pareceu muito forte na calma do aposento e fez com que os olhos de Violanti encontrassem os dela, por cima do cavalete e da tela que os separava.

-Você está sem óculos.

-Estou com lentes de contato. - Não era necessário lhe dizer que eram novos, nem que tinha esperado todo este tempo para comprá-las, porque queria vê-lo com claridade em o todo momento. Especialmente quando tivessem sexo.

-Tenho um presente para você. - Disse ele simplesmente, mudando de assunto.

Ela se ruborizou ao ouvir a sutil insinuação dessas palavras. Ele estava com o membro ereto e atento, obviamente excitado ao estar tão descoberto a seu olhar de aprovação.

-O que é? – Aerin sentiu a voz grossa na garganta. A excitação a afligia com tanta rapidez, sequer sem uma carícia ou um beijo entre eles. Estava pronta para ele.

Ele sorriu, claramente consciente e afetado pelo evidente interesse dela por seu corpo. –Venha. Olhe e comprove-o por ti mesma.

 

Outra vez essa ambigüidade, mas ela se deu conta de que ele só queria dizer que olhasse a pintura. Moveu-se para colocar a seu lado, de maneira que o calor de seu corpo a reconfortasse e virou-se para olhar a tela e deu um grito entrecortado.

Era uma pintura dela completamente nua de frente, junto ao corpo de Violanti, que servia de apóio a suas costas. Ele tinha a mão no quadril dela, possessivamente. O cabelo de Violanti caía para frente e se mesclava ao dela e a boca brincava na curva do pescoço de Aerin. Ela tinha os olhos fechados e seu rosto era terno e encantador. Os lábios eram carnudos e estavam separados. Seus seios eram redondos e suaves; seu ventre, delicadamente curvo; seus lábios, carnudos e exuberantes, mas de maneira nenhuma ela se via gorda. Nem pouco agraciada. Nem feia. Via-se exuberante.

Como podia ser? A pessoa da pintura realmente era ela? Reconheceu-se nela. Mas Aerin sabia que não podia ser desse modo. Não era esta mulher bonita, deliciosa e bela, que aparecia recostada na pintura. Não podia. Era impossível.

-Não é impossível. - As palavras de Violanti fizeram com que se perguntasse se havia dito o que pensava em voz alta ou se simplesmente ele havia sentido, já que parecia ter uma habilidade para isso, - Porque é formosa. Simplesmente não se vê. Mas se verá. Mostrarei o quão preciosa é. Inclinou-se e lhe deu um suspiro em forma de beijo na têmpora. Deixou o pincel e a paleta e virou-se para fitá-la, com um sorriso perigoso e sedutor.

-Não pode levar a pintura a sua casa esta noite. Deve secar primeiro. Mas lhe enviarei quando estiver preparada. Para que me recorde, para que nos recorde juntos.

Saberia ele, que havia passado um momento terrível tentando recordá-lo e o momento que passaram juntos? Como podia ser? Ele sabia muito, era muito ardiloso, mas não vidente. Quase riu por esse pensamento desatinado.

Ele percorreu-a com o olhar, que mudava de cor como um caleidoscópio. – Você está estupenda esta noite, doce Aerin.

Aerin vestia um vestido vermelho escuro, de veludo amarrotado. Com cintura alta, saia curta e o corte de um baby doll. Depois de muito tempo de debate interno, começou a usar a roupa nova, apesar de que até na quarta-feira não se atrevia a tentar. Levou-lhe alguns dias tomar coragem.

Violanti não era o primeiro em observar e apreciar seu novo estilo em vestir, mas esta era a primeira opinião que verdadeiramente lhe importava. Surpreendera-se, que se dera conta, mas o encontrou de seu agrado.

Cada vez importava menos a forma em que as pessoas a olhava.

Por uma vez na vida, estava totalmente alheia e despreocupada por sua imagem exterior. Gostava de sua nova aparência. Violanti obviamente gostava de sua nova aparência e isso era tudo o que importava.

-Obrigado. – Ela ruborizou. Não importava quanta segurança havia ganhado e continuava ganhando cada vez mais nas últimas semanas, sabia que sempre se ruborizaria com facilidade.

-O escarlate é uma cor estupenda em você. Ressalta a cor mogno de seu cabelo.

É obvio que o elogio a fez se ruborizar ainda mais. Mas suas palavras eram suaves e doces e ele estava olhando o vestido, não suas bochechas. Nunca tinha notado uma cor mogno em seu cabelo. Sempre lhe tinha parecido um marrom apagado e desgracioso. Que lindo era pensar que podia haver um arco íris escondido em seu cabelo, acentuado por estas novas cores e tecidos que finalmente se atrevia a usar.

- Você também está muito bonito. – Seu coração lhe pulsava fortemente.

 

-Dei-me conta de que pinto muito melhor nu. – Ele levantou uma das sobrancelhas de cor ébano. - E pensei que talvez você gostasse de me ver assim esta noite. Facilmente acessível e nu a seu olhar. – Ele desafiou-a, a que o negasse.

-Eu gosto. - Não lhe mentiria. Não poderia lhe mentir. - Eu gosto. Eu gosto... Assim. - Gaguejou e riu de arrependimento por sua própria estupidez, algo que não teria feito tão somente algumas semanas atrás.

-Bem. Agora, apesar de que eu gosto de muito seu vestido, creio que já é hora de que lhe tire. Não? – Ele tinha os dentes tão brancos quando mostrava o sorriso de sátiro.

-Já? Não me vai oferecer um pouco de vinho para me soltar primeiro? Talvez um beijo de boas-vindas ou algo para me incentivar?

Ele emitiu um grunhido de riso, que chegou a lugares que estavam preparados para ser mais afetados profundamente por outras coisas, além de sua diversão sexy. - Não é suficiente a pintura? – Ele brincou. - Você, carinho, não necessita mais de incentivo. Creio que te converteste em uma pícara ousada sem problemas, sem necessidade de licor ou outras sutilezas similares.

-Todas as garotas necessitam de sutilezas ou não? - De toda formas, que classe de homem usava uma palavra como sutilezas nestes dias?

Seu olhar ardia. - Sim. Talvez tenha razão. Inclinou-se, lento e sedutor e uniu seus lábios aos dela.

Os olhos de Aerin se fecharam repentinamente. Os dele estavam calmos, mas se animaram rapidamente frente aos dela, à medida que se esquentavam com a paixão que aumentava. Os dedos longos das mãos dele se moveram para lhe envolver a face, para incliná-la um pouco, para beijá-la melhor.

A chama de sua língua a lambeu e ele se moveu contra seus lábios até que os separou. Engoliu para saborear os lugares mais recônditos de sua boca, deu-lhe um gosto de canela e, depois se separou. Mordiscou-a com os lábios um segundo mais e logo o beijo terminou.

-Alegra-me que tenha voltado Aerin. Senti saudades. Se pareço apurado esta noite, é por isso. – Ele sussurrou contra sua boca.

Aerin abriu os olhos e os fixou aos dele. - Eu também senti saudades.

-Sonhei contigo.

-Sim? - Sentiu que lhe abriam os olhos, que o coração lhe pulsava como um murro no peito.

 

A curva dos lábios de Violanti a fizeram sorrir. Apenas um suspiro os separava. -Sim. E em meu sonho fiz todas as coisas que queria te fazer. Você adorou. Eu e você adoramos. Amamo-nos os dois.

Aerin quis esquecer as palavras, ao não querer ouvir seu eco no sangue. Afastou-se dele, afastou o olhar, no desespero por colocar distância entre eles e rapidamente.

Violanti deixou passar o momento e a ajudou de algum jeito, ao deixá-la se retirar. O amor, ela estava segura, não tinha lugar entre eles. Somente o dinheiro. Só a luxúria, a paixão e o desejo. Essas coisas ela podia dirigir ou, pelo menos, acreditava que podia dirigir melhor que o amor. E provavelmente ele dissesse essas palavras tão doces porque sentia que ela queria ouvi-las e fazia com que fossem mais irritantes.

Ele não deveria falar de amor tão ligeiramente. Até ela, uma mulher de meia idade sozinha, sabia esta verdade.

-Creio que esta noite está pronta para uma lição muito importante em nossa viagem.

Aerin sorriu, com mais calma a medida passava o momento estranho, embora um desejo escuro a sacudisse sem piedade ao recordar. - E qual é?

 

- Transar. Fazer a fera de duas costas. E o que essas coisas podem ou não significar entre um homem e uma mulher. Logo te mostrarei a real, a grande diferença entre fazer sexo e fazer amor, mas, esta noite creio que está tão amadurecida e pronta como eu, para uma lição mais básica.

Aerin franziu o cenho, porque não gostou do tom insensível da voz de Violanti. Apesar de que a noite parecia ter encarado uma direção mais terna, agora estava dizendo que a ternura não teria lugar no que fariam juntos. Ele tinha razão. Ela se deu conta no fundo de sua mente prudente, já que ela estava pagando por sexo ali. Alguém tinha que ganhar a confiança e a ternura que se sentia quando realmente fazia amor.

Nenhuma soma de dinheiro podia comprar essas coisas.

O olhar fixo de Violanti lhe interrompeu o pensamento, tão emocionante como aterrador em intensidade. – Olhe-me, Aerin. Esta noite serei uma ferramenta, forte e dura, que você deve usar para encontrar satisfação. Aprenderá que o sexo é tão bom como se diz e mais e aprenderá a tentar chegar a ele e tomá-lo quando se oferece. Aprenderá a desfrutá-lo, necessitá-lo, a sair para buscá-lo.

-E-e você? – Ela gaguejou. - Também você gostará?

 

-Oh sim, eu adorarei transar você, doçura. Fascinará-me. Já estou necessitando, como poderá ver tão somente ao olhar para baixo.

Aerin olhou e engoliu saliva com dificuldade ao ver o quanto ele necessitava. Não lhe tinha parecido tão grande a última vez. Tão grosso. Mas era somente a imaginação que a enganava. Que reagia de uma maneira exagerada agora que sabia que certamente esta parte dele se impulsionaria dentro dela antes que a noite terminasse. Saber isso era aterrador e formidável. Quase a deixou de joelhos.

-Está-me assustando, Violanti. - Gemeu, mas com mais desejo que temor, apesar de suas palavras.

-Não. Estou emocionando-a. Há uma diferença. - Disse com arrogância. Seu olhar ardia. -E você gosta, não?

Sim, gostava. Oh, como gostava. -Não me machucará.

Algo parecido a um susto o fez abrir os olhos antes que os fechassem e escondessem essa amostra de surpresa, como se devesse manter em segredo.

-Nunca te faria mal, Aerin. Está a salvo comigo. Bem a salvo.

A segurança não tinha nada a ver com isto.

-Mas te vou montar e duramente. Não me peça piedade, porque não lhe darei. Não esta noite, minha doçura.

 

-Você vai fazer com que eu goste. Ela o ouvia tranqüila quando, na realidade sentia que tinha vontade de gritar.

Ele sorriu perverso, novamente. -É obvio. Vou fazer com que você adore.

-É um demônio.

Ele sorriu novamente e desta vez foi um rugido que encheu o aposento e a fez responder com um sorriso, sem poder fazer nada. -Sim, sou um demônio. É bom que tenha notado e que esteja tranqüila com isso, porque é um fato. Seu sotaque era marcado e sonoro e a divertia deliciosamente. -Agora-, ele se acalmou abruptamente, - tire a roupa.

Sua garganta lhe encheu de ruído. Com as mãos instáveis, obedeceu e s tirou o vestido pela cabeça. O cabelo, que estava um pouco mais longo e grosso agora que quando se conheceram, esparramou pelos ombros, enredado. Também jogou rapidamente no piso o soutien, que se prendia na parte dianteira com um pequeno cordão e era tão novo como o vestido. Tirou despreocupadamente os sapatos vermelhos de salto alto para combinar com o vestido. Mas, quando levou as mãos às meias negras de renda, ele a fez deter-se.

-Não. Deixe-me. - Inclinou-se em frente a ela e lentamente deslizou para baixo as meias até os pés. Para se sujeitar, Aerin apoiou as mãos sobre os ombros de Violanti. Os músculos fortes fizeram com que seus dedos quisessem massageá-los e ela não se incomodou sequer em lutar contra o impulso. A sensação era deliciosa. Cravou as unhas na firmeza lisa e forte e se sentiu gratificada pelo grito afogado como resposta.

Violant levantou a cabeça de cor negra ébano. Já lhe tinha tirado as meias. Sua última barreira já não estava, para ficar à altura dos seios empinados que a cada respiração dela, tremiam. Violanti seguiu até o menor de seus movimentos com o olhar, com uma ânsia que a aterrava. Excitava-a.

Os dedos roçaram a sensibilidade exposta do púbis. -Descarada. Não leva roupa interior. O louco que teria me colocado se soubesse.

-Só estive aqui quinze minutos. Poderia ter feito você sofrido, - ela brincou com a voz instável e entrecortada.

-Eu teria saltado em cima de você nos primeiros cinco. – Ele mordiscou-lhe o mamilo. - Pareciam tão duros! Antes de apertar os lábios contra a carne enrugada. Ela tomou ar. –Agora te recoste na cama, amor.

Aerin não tinha prestado atenção à cama, a confecção cor creme e rosa deveria parecer feminina, mas a madeira escura da grande estrutura lhe dava uma aparência quase perigosa. Toda essa madeira masculina que rodeava os detalhes femininos… Como um homem e uma mulher fazendo o amor… Era muito sensual.

Sua imaginação estava muito frondosa esta noite. Talvez fosse por causa da mistura do perfume de Violanti e o aroma das pinturas. Não sabia e nem lhe importava.

As mãos de dedos longos a guiaram à cama e lhe acomodaram as costas nos travesseiros.

-Já estivemos aqui antes, - disse-lhe brandamente, fazendo referência a seu último encontro.

-Não assim. – Ele respondeu-lhe. - E nunca mais estaremos assim; só é inocente somente uma vez.

-Já não sou tão inocente, graças a ti.

Seu sorriso era aterrador, escuro e possessivo. -Então tudo é da maneira que deve ser.

Violant cobriu-lhe os seios com as mãos e recostou-se sobre ela, tranqüilo e devagar, para não esmagá-la com seu peso. Parecia ter a pele mais quente que o habitual esta noite contra a sua, mas era tão duro e firme como ela recordava. Fez pressão sobre seu ventre, com a ponta quente e ainda mais dura de sua ereção.

Sentia o sabor úmido e doce de sua respiração sobre os lábios. -Desejo-te. - O murmúrio dele foi instável, como a pulsação que lhe martelava o sangue. - Desesperadamente.

Ele fez que se sentisse bela, a maneira em que a fitava, a forma de reagir com ela. Sexy. E muito vulnerável. Não pôde encontrar palavras e não precisava, já que ele reclamou sua boca com uma intensidade eletrizante que beirava a agressão.

Levou seu corpo para baixo e beijou-lhe a bochecha, o queixo e o pescoço. Uma perigosa faísca de prazer a percorreu, à medida que sentia que os dentes lhe mordiscando a garganta, antes de baixar mais para reclamar os mamilos ansiosos. Levou um à boca e o sugou até deixá-lo duro como um diamante.

A força de seu corpo a enjaulou, a envolveu. Segurava-lhe os flancos com as mãos, enquanto ele se movia para acomodar entre suas pernas. O calor do membro pressionou o berço ansioso de suas coxas e lhe golpeou as dobras da vulva. Ela estava úmida e mais que pronta ou seu corpo estava. Sua mente era um lodaçal de prazer e nervosismo, temor e luxúria.

Violanti apertou as mãos, quase a machucando. Segurou-a e a aproximou dele, com uma demonstração mal contida de violência e ela viu e sentiu como a boca de Violanti se abria incrivelmente para levar seu seio profundamente dentro da boca. A dor profunda e aguda a assustou, enquanto ele a mordia. Os dentes pareciam agulhas, longas e agudas, em direção a seu coração.

Sentiu uma explosão de prazer. Como um tsunami que a arrasava e não podia lutar contra ele. Cravou-lhe as unhas nas costas, consciente de que estava fazendo sair sangue, mas não se importou. Não podia parar. Estava muito extasiada. Sentia um prazer delicioso. Seu corpo gritava de prazer. Abriu a boca para deixar sair esse grito, enquanto seu corpo estremecia debaixo do dele.

Violanti lhe levou uma mão à boca para cobri-la, para sufocar o ruído que rachava a terra.

Sentiu que ele lhe selava a boca, mesmo em meio da erupção de outro grito. Seu sexo palpitava com força, tremiam-lhe as paredes de sua vagina e seus lábios resistiam grosseiramente contra os dele.

Aerin sentiu um orgasmo quente e líquido, em seu sexo e nos seios, que lhe arrasavam todo o corpo, até enlouquecê-la. Gritou novamente e perdeu a razão.

 

Violanti se encheu de seu sabor. O perfume se pulverizou para todas as suas células. O sabor de seu êxtase era forte, intoxicante e impossível de resistir.

Ele engoliu a doçura mágica de seu sangue, saciou a sede que o impulsionava.

Sua alma se banhou do vórtice dourado da aura imensamente brilhante, energizada por essa força que alimentava sua vida e sustentava a dele.

Estava com as pernas separadas, desejosas de que tivesse sido mais cuidadoso, mais paciente com ela.

Que lhe tivesse dado mais tempo para preparar para esta, para sua primeira união. Mas não pôde fazê-lo. Igual a outra vez, ela o despiu, despojou-o de todo controle, de toda razão. Ele a queria. Devia tê-la. Nada mais importava.

Levantou-se, soprou ar sobre as espetadas dos magníficos e deliciosos seios. Sua respiração selaria as feridas e ajudaria a cicatrizar e desvanecer-se em segundos. Sua Aerin estava gemendo brandamente contra sua mão, desvanecida de prazer, graças à mágica rede que empunhava instintivamente enquanto se alimentava.

Era formosa.

Queria mais dela.

E teria mais dela. Localizou-se no portal de seu calor úmido e esperou que ela retornasse ao momento. Quando Aerin encontrou com o olhar de Violanti, ele deixou que seus olhos se abrissem por completo, para lhe permitir ver a mancha vermelha de seu desejo de sangue, de seu amor e a investiu de uma só vez.

 

Ela gritou, viu a nuvem vermelha de seus olhos, como se fossem os olhos de um demônio. Queimavam-na, invadiam sua alma e depois, ele encheu seu corpo com o dele.

O grito passou a ser um alarido, mas não de dor. Não havia dor. Só paixão. E o temor que lhe causaram os olhos vermelhos se misturou com a paixão, até ficar somente o desejo ardente e puro.

Todo grosso membro fez com que Aerin o aceitasse apertadamente. Como se fosse uma luva nova, ela lutou para se adaptar ao perímetro dele e o obteve. Apenas. Aerin sentiu que se abria totalmente para ele. Ardia-lhe e palpitava o sexo, mas no momento em que ele parou, finalmente encravado até o pescoço, o desconforto desapareceu e foi substituído pelo prazer. Somente prazer.

-Deus! – Ela fechou fortemente os olhos frente à extraordinária tranqüilidade e a aterradora impossibilidade de seu olhar carmesim. - Oh, Deus.

Ele apoiou todo o peso de seu corpo sobre as mãos, levantou-se sobre ela, de maneira que lhe sobressaíram os músculos. A carne grossa dele se sacudia nas profundezas de seu corpo, enquanto os dois gemiam. – Você é doce, tão estreita. – Ele disse gemendo. -Maldição.

Uma gota de suor caiu de sua face à bochecha de Aerin. Quase chispou sobre a pele quente.

-Me envolva a cintura com as pernas, - ele ordenou-lhe.

Estava tão profundo, tão largo, que ela não podia arrumar forças para se mover.

-Rápido. - Ele explodiu e fez um gesto com os lábios, como se não pudesse evitá-lo.

Ela o envolveu com as pernas, travou os tornozelos em suas costas e os sustentou com força. Incrivelmente, o corpo de Violanti se cravou ainda mais profundo dentro dela. Aerin deu um gemido e se sacudiu reflexivamente devido ao prazer deslumbrante que este novo ângulo lhe produziu. Tinha o clitóris esmagado contra ele, seus corpos sufocados estavam fortemente unidos e muito dentro dela. Aerin sentiu uma sensação nova, no lugar onde a sensacional argola prateada do membro dele, a acariciava.

-Não posso… Não posso esperar… - Tremia-lhe o corpo contra o dela e fazia com que a sacudisse junto com ele e a cama. E começou a mover. E a mover. E a mover. Investiu-a com força, profundamente e depois se retirou. Arqueou os quadris e se lançou novamente dentro dela, encheu-a com a grossa e ardente pele dura.

A força de suas mãos parecia incrível, à medida que se movia para guiá-la, para lhe ensinar os movimentos que lhe dariam mais prazer. Levantou todo seu peso da cama, para movê-la para seu membro, com a facilidade com que teria movido uma mão. A força de Violanti a assustava, mas a faziam estremecer de uma vez, já que uma parte desse poder sobrenatural ajudava-o a dirigir as investidas com mais força e profundamente, para o centro de seu corpo.

Sentia que os ossos lhe zumbiam e vibravam.

Todo o peso de seus seios se sacudia pela força. Violanti se inclinou para trás, levando-a com ele e se apoiou sobre os pés. Aerin se sentou sobre ele, que segurou suas nádegas e guiou cada movimento sobre seu brilhante corpo de bronze. Seus corpos se chocavam. Ele grunhiu e sacudiu os quadris enquanto a movia para baixo em um rebote particularmente forte.

Aerin deu um alarido, cravou-lhe as unhas nos ombros enquanto procurada segurar algo sólido em meio da tormenta de paixão.

-Acaba para mim, doçura. Deixe-me sentir como se aperta uma e outra vez essa vagina doce. – Ele suspirou contra sua boca. Enterrou-lhe os dedos no traseiro acolchoado e puxou-a fortemente para ele e depois, levantou-a, para investi-la novamente. O clitóris inchado pulsava com força. Apertou a vagina e alagou o membro que a atravessava tão profundamente.

Levou a boca firme à curva do pescoço e os ombros. -Vamos, amor. – Dê-me isso. – Ele pediu-lhe, respirando com dificuldade sob seu ouvido e passou-lhe a língua.

Enquanto lhe raspava o corpo com o clitóris. Ele estirou as pernas e a investiu profundamente outra vez, enchendo-a, tomou-a com um só movimento intenso. Sua vulva palpitava, pulsava. Sentiu que o calor subia por seu útero, afligia-a. O prazer a transbordou dos pés a cabeça, até sentir-se aturdida. Outra investida intensa, outro pulsar e ela voou diretamente ao céu.

-Isso meu bem. Acabe para mim. Chupe-me. Trague-me tudo. - Abriu a boca sobre ela e outra vez lhe cravou os dentes. O calor fluiu do corpo de Aerin para o dele. Sacudiu contra ele. Violanti levantou as mãos para lhe segurar as costas, prendendo-a fortemente contra ele.

Sacudiu os quadris entre suas pernas. Encheu-a, fez-se estender, à medida que o impulso se tornava mais duro e rápido. Levou rapidamente a cabeça para trás enquanto gritava, um uivo ensurdecedor e o líquido quente lhe salpicou a garganta e os seios. Estava com a boca manchada.

Ela gritou de temor e prazer, ainda no orgasmo. Um calor fervendo e incitante lhe queimou o útero e ela gritou novamente. Prazer e dor, prazer e dor, estava fazendo-a enlouquecer. E não lhe importava. Não importava nada, exceto este homem maravilhoso e incrível em seus braços. A imagem da boca de Violanti manchada com seu sangue se desvaneceu, sua mente se separou dela e todo o temor dele se esfumou.

Violanti a investiu poderosamente por última vez, direto para o centro. Ambos gritaram e tremeram como duas folhas em um vento impetuoso. Aferraram-se com firmeza um ao outro. Não queriam se separar. Precisavam estar o mais perto possível nesse momento.

Os minutos passaram. Paralisaram-se outra vez sobre a cama, débeis. A respiração dos dois se acalmou, mas somente um pouco. Violanti a limpou com a língua, do pescoço até os mamilos e cada lambida produzia outro tremor da vagina que o sugava. Sua longitude dura ainda a enchia. Mais dura que nunca, estendia-a. A mistura espessa de seu orgasmo e o dela, corria insinuante, pela raia do traseiro de Aerin.

O aposento parecia estar anormalmente caloroso. Violanti se voltou e a levou com ele, com seu corpo ainda unido ao dela. Ela descansava sobre ele agora, trêmula e exausta. O estrondo de seu coração a adormeceu. O arrasto profundo e contínuo de sua respiração para os pulmões estava perfeitamente sincronizado com o dela.

Abriu-se a porta de um estalo e Aerin se sobressaltou e deu um grito fraco. Violanti se moveu imediatamente para protegê-la do intruso inesperado.

-Venha rápido! Houve um acidente. - O homem era outro acompanhante do clube e evidentemente, estava emocionado.

Violanti se levantou e seu corpo parecia uma massa em movimento. Dirigiu-se com pressa para onde estava o homem na porta. Inconsciente ou desinteressado por sua nudez, não perdeu o tempo em se vestir, ainda com as pícaras botas negras. Fez uma pausa, somente para lhe jogar um olhar equânime antes de ir. -Fique aqui. – Ele ordenou-lhe imperiosamente. A porta se fechou com firmeza atrás dele, sem que parecesse tê-la tocado. A trava fez um clique quando se fechou e soou como um disparo no aposento.

Aerin começou a tremer assustada, impactada e confusa, enquanto se cobria com a roupa de cama. Que demônios estava acontecendo?

Não tinha a menor idéia.

 

Violanti observou o corpo humano frio e sem vida desabado sobre a cama. Havia outra pessoa no aposento: um vampiro novo no clube, que havia chegado há dois anos. Dois anos era um período muito curto de tempo para sua espécie, sempre que encontrasse sexo disponível ou sangue, mas tinha transcorrido um tempo suficiente para que o jovem Mitchell causasse problemas. Bom, Mitchell estava morto agora, mas isso não satisfez Violanti, que teria que limpar a confusão que havia deixado. -Maledire. Maldito!

-Como pode ter acontecido isto? Nesta casa? - Delilah apertou os dentes, furiosa pela situação. Havia chegado à cena segundos antes que Violanti, o suficiente para dar conta do que havia acontecido, mas não para penar em uma solução ao problema ao que enfrentavam. - Com um dos nossos?

 

-Ele não era um dos nossos. Mitchell estava recém convertido. E não havia convertido ninguém daqui; veio de Chicago. O aceitamos porque devíamos um favor à família. Recorda? – Disse Robin, que tinha ido procurar imediatamente Violanti depois de descobrir o horror dos dois homens mortos, explicou-lhe a situação em um tom fraco e preocupado, sabendo que importava muito pouco em meio da tragédia.

O olhar duro de Violanti o deixou gelado. - Então, essa família está em dívida conosco agora e bastante, não? Soltar entre nós um novato, obviamente descuidado e inexperiente, equivale a um ato de sabotagem. Nosso segredo está em jogo e é o que nos mantém vivos. A todos nós. Maldito seja. - Gritou uma vez mais Violant, impotente pela raiva. – O idiota.

-Queimem o corpo do Mitchell até que só restem as cinzas. Façam-no agora, antes que eu lhe tire o coração e coma!

Robin se moveu imediatamente para obedecer as ordens de Madame. Levantou o peso morto de Mitchell com os braços, com uma facilidade como se estivesse elevando uma bolsa de plumas e virou-se para abandonar o aposento. O incinerador, no calabouço que se encontrava no porão da mansão, destruiria todo rastro do vampiro negligente.

Mas não podiam se desfazer do corpo humano com tanta facilidade. Não enquanto tivesse que defender a honra de seu aquelarre, de qualquer modo.

-Que faremos? Isto nunca tinha acontecido...

-Averigúe quem é. Quem poderia estar buscando-o e se farão muitas perguntas não desejadas. - Ordenou Violanti, em um tom seco e objetivo.

Delilah pensou por um momento. - Já tenho as respostas a suas perguntas. Ele é um cliente regular, que esteve vindo durante um ano e era quase exclusivamente o amante de Mitchell. Não tem laços próximos com familiares ou amigos. E às pessoas que poderiam buscá-lo não lhes resultará muito difícil ignorar as suspeitas fastidiosas se lhes oferece suficiente dinheiro.

- Se estiver certa, então temos muita sorte. Limpem-no. E procurem um lugar adequado para seu corpo e seus pertences.

-Como pôde ter acontecido isto? - Murmurou Delilah novamente, com aparência neurótica, mais que enfurecida.

-Mitchell era jovem. Não compreendia as conseqüências de seus atos ou simplesmente quanta responsabilidade tinha com seu amante humano. Alimentou-se muito e seguiu seu prisioneira até a morte. Se seu aquelarre de origem se ocupou de sua educação corretamente, isto não teria que ter acontecido.

- O que faremos com eles?

Violanti compreendeu que Madame se referia ao aquelarre em Chicago, não aos dois amantes mortos. – Você lhes oferecerá a oportunidade de reparar o dano feito. Se não nos satisfizerem, então os destruiremos totalmente.

-Sentirão medo se mencionar o nome do amo de nosso aquelarre. - O sorriso do Delilah se retorceu diante do brilho mortal de suas presas agora latentes. – E nos rogarão a oportunidade de compensar o engano grosseiro.

-Meu nome é tão temido entre os de nossa espécie?

-Sabe que sim.

-Então lhes diga meu nome. Diga-lhes que o aquelarre de Violant D’Arco foi ofendido. Diga-lhes que terei suas desculpas rápidas e generosas ou seus corações em uma fonte. Uma das duas.

Delilah lhe fez uma reverência, depois de ouvir o poder da ordem, legitimamente dele como chefe da família. – Farão como quer.

-Bem. – Ele se voltou e se retirou, sem querer ver a prova do que considerava um engano próprio de controle do acionar não instruído de um dos seus. Dirigiu-se aos seus aposentos, perturbado.

 

Já que há vinte anos ele estava a cargo de Fetiche. A princípio, o clube tinha sido sua idéia, uma maneira de que sua gente vivesse comodamente no mundo, agora menor, do novo milênio. Tinha levado vinte de seus amigos e vinte amigos deles para povoar este aquelarre da nova Era e, até esta noite, tudo tinha partido quase que perfeitamente. Sua espécie necessitava do sexo e do sangue, igual os humanos necessitavam do alimento para viver. Mas, à diferença dos humanos, sua espécie devia convencer o prisioneiro a estar disposto. Nem o sangue nem o sexo se podiam compartilhar entre a raça sem o consentimento de um humano, consciente ou subconsciente. Não importava qual, mas devia ser absoluto.

Se o sangue ou o prazer se tomavam pela força ou se tomasse muito sangue sem devolvê-lo rapidamente, o resultado geralmente era a morte, tanto para o vampiro como para o humano. Como aconteceu com Mitchell e seu amigo humano.

Novato estúpido! Violanti sentiu o calor da irritação que quase o fez rugir. Mas não estava somente zangado com Mitchell. Também estava zangado consigo mesmo. Como amo de um aquelarre, deveria ter se dado conta de que isto ia acontecer. Mas estivera muito ocupado deslizando sua pele contra a de sua própria prisioneira, para se preocupar com a segurança de outro.

Sentiu o perfume de Aerin. O contato, o gosto e o som dela lhe afligiram os sentidos até que quase o cambaleou. A lembrança do corpo de Aerin sob o seu sempre o afetaria dessa maneira? Sentiu-se fraco e forte, sedento e completamente satisfeito, tudo de uma vez. Sua mente e seu corpo estavam em guerra, como nunca havia estado com nenhuma outra amante, humana ou não e isso o inquietava e o levava a um nível primário que nunca se inteirou que possuía.

Era insensato que se vinculasse tanto a ela? Compartilhar seus líquidos, qualquer líquido com ela era muito parecido a um vínculo de casal que, se qualquer dos seus se inteirasse, já a considerariam sua esposa de sangue. Talvez devesse ter usado uma camisinha.

Mas nem até a camada mais fina de látex a teria protegido no momento da excitação, se ele não quisesse. E ele não queria essa barreira entre eles, sem importar quão insignificante fosse. Sequer por um momento. Ele quisera senti-la. Sentir suas paredes quentes, nuas e úmidas sujeitá-lo enquanto acabava em uma avalanche. Ela tinha sido como a luz do sol em estado líquido entre seus braços.

Era o mais perto que havia estado do sol em mais de cinco mil anos.

Se alguém tivesse passado por ele no corredor, teria visto sua enorme ereção.

 

Mas não havia ninguém ali.

Teria ejaculado se não fosse pelo controle monumental que possuía. O controle que se debilitou no que concernia ao desafortunado Mitchell. Era uma lástima. Uma vergonha que devia suportar. Mas o aquelarre de Chicago o pagaria, Delilah se encarregaria disso. E se encarregariam do corpo do humano, junto com a família ou os amigos que tivesse deixado. Era uma tragédia, o que havia acontecido sob seu próprio teto esta noite, mas sua espécie se arriscava a esses horrores todas as noites durante sua existência.

Só desejava poder suprimir a culpa horrível que sentia por tudo isto.

A tormenta de seus pensamentos e emoções o confundiu. Ele nunca era assim. Ser frio, calculista e perigosamente metódico era o que o tornava tão formidável entre os de sua própria espécie. Não esta fome possessiva, este desejo impaciente ou esta culpa escura e terrível que se combinava em uma massa de intranqüilidade desconcertante.

Aerin o debilitara.

Mas também o tinha feito mais forte do que jamais havia se sentido.

Devia desencantá-la, fazê-la esquecer dele e do tempo que passara ali, de maneira que ambos seguissem por caminhos separados? Grunhiu, zangado pela perda, em tão somente pensar. Mas, podia continuar com ela desta forma, vendo-a só uma vez à semana? Sentindo-a, cheirando-a, saboreando-a apenas uma vez a cada sete dias longos e solitários? Sabia que não podia. Não depois desta noite. Ela havia se tinha agasalhado tão profundo dentro dele, que sentiu sua perda mesmo agora, como uma ferida aberta em sua alma, depois de só uma hora separados.

Estava perdendo seu controle rígido, sobre sua própria pessoa e seu aquelarre. Fetiche não podia suportar outro engano como o que tinha acontecido esta noite. Algo devia mudar. E rápido. Pela primeira vez desde que se convertera no que era agora, sentiu que a pressão do tempo o preocupava como um espectro provocante. Que finalmente o castigou por seus longos anos eternos.

Suspirou fora do aposento rosa, onde esperava sua consorte humana. Sacudiu bruscamente a cabeça intumescida e fez com que as preocupações desaparecessem no momento. Aerin não podia saber a respeito da preocupação em sua mente e em seu coração. Não arruinaria o momento que ela passava com ele, carregando-a de negatividade. Ela já tinha muito disso em sua vida fora dali e ele não lhe adicionaria mais.

Além disso, necessitava de toda a energia concentrada em mantê-la sem saber sobre sua verdadeira natureza. Ela já suspeitava de alguma coisa, embora tivesse medo de enfrentar esses temores. Ela tinha visto seus lapsos, os olhos vermelhos e a boca cheia de sangue, mas havia se afastado desses sinais como uma criança que se acorda de um pesadelo. Não estava pronta para saber o que ele era. Ou o que lhe esperava.

E o que tinha ele para ela?

Nem ele mesmo tinha a resposta para essa interrogação.

 

Aerin olhou fixamente o tom rosa de tudo o que a rodeava. Doía-lhe a garganta, sentia o pescoço ferido e inchado. Ela sabia o motivo… Mas se negava a aceitá-lo. Havia um limite para o que podia aceitar até agora e isso era inaceitável. Por ora, estava mais concentrada nas novas sensações de seu corpo bem amado que nos pensamentos aterradores e histéricos provocados pelos hormônios durante o orgasmo mais incrível, orgasmo múltiplo, que tinha tido.

E do que se tratava todo esse alvoroço a respeito de um acidente? Violanti saíra há quase uma hora e ela tinha ficado presa ali, encerrada até que voltasse para deixá-la sair. Estaria tudo bem? Havia alguém ferido? Seria esse tipo de acidente? E por que lhe importava tanto Violanti? Não devia encarregar Madame Delilah em lugar dele? Ou estava diretamente envolvido de algum jeito, seja o que fosse?

Ela sentiu uma dor que fazia palpitar o útero e uma destilação quente, quando os líquidos de Violanti fluíram de seu sexo até cama. Esse líquido estava manchado de uma cor rosada, como o aposento, da ruptura do hímen ou… De outra coisa. Cobriu-se até o pescoço e fez um gesto de dor pela moléstia fraca entre as pernas. Sentia seu sexo torcido e vazio, como se Violanti a tivesse estirado e agora que saíra estava despojada, ansiosa por sua volta.

Sentia o coração de maneira muito parecida.

A confusão a bombardeava. Sua mente e seu corpo eram uma tormenta de emoções turbulentas que nunca havia sentido. Emoções que não compreendia. Fizera sexo com um homem ao qual pagara para fazê-lo. E não sentia culpa. Nem vergonha. Somente um prazer puro e incrível.

Era algo errado? Isso a convertia em uma má pessoa? Não sentia que fosse assim, mas certamente a sociedade não sentiria outra coisa mais que desprezo pelo que tinha feito nos braços de Violanti, esta noite.

Que demônios me importam? Eu não sinto isso. Por isso paguei a um homem para que me transasse. Era tão maravilhoso que o faria outra vez. Sorriu devido que já não estava surpresa de que sua voz interna estivesse tomando uma atitude sábia, já que, ultimamente, estava desenvolvendo uma exterior, a maioria das vezes. De fato, deleitou sabendo. Estava ficando mais forte. A Aerin doce e total de antes já quase tinha desaparecido por completo. Era incrível, até milagroso; entretanto, era verdade.

Tinha que agradecer a Fetiche. Não. Devia agradecer ao Violanti D’Arco.

Seu clitóris pulsava com força e a queimava. Desejava que ele voltasse. Seu corpo já ansiava por mais de suas carícias. O coração lhe inchava pelas expectativas e ela se atreveu a pensar, por amor. Aerin tinha ouvido um provérbio, de que uma mulher sempre amaria seu primeiro amor e agora pensava que podia ser certo. Duplo, em seu caso. E que melhor homem para amar que Violanti? Era bondoso, considerado, preparado e extremamente sexy. Também era perigoso. Totalmente. Estremeceu, o que a fez sentir mais excitada, mais ansiosa por sua volta.

Estava claro que já o desejava. E estava se apaixonando rapidamente por ele. Que Deus a ajudasse. Perguntou-se. O que o céu tinha remotamente a que ver?

A trava da porta fez barulho, como se explodisse um petardo no meio do silêncio. A porta de abriu. Aerin alvoroçada se levantou rapidamente na cama e dirigiu o olhar para os olhos de Violanti à medida que ele entrava no aposento.

Olhos tão vermelhos como o amanhecer.

 

-Quero que se ponha de joelhos, Aerin. – Ele fez um gesto diante dela, deixando claras suas intenções.

Ela se sobressaltou pela ordem inesperada. - O que aconteceu? Disse que tinha havido um acidente, o que…?

Ele estava com o olhar ardente, o que encheu Aerin de inquietação e confusão. Como podia ter os olhos vermelhos? Sentiu medo, mental e fisicamente. Não queria saber a resposta.

-De joelhos. Agora.

Uma irritação inesperada subiu até suas bochechas. Ele soava tão… Tão duro. Tão aterrador. -Como?

Ele mostrou os dentes. -Já me ouviu. Não me faça repetir pela terceira vez.

Furiosa e curiosa por esta repentina mudança de humor e talvez um pouco intimidada também, ela se moveu para parar na frente a ele. -Não me machucará.

Ele grunhiu, pegou-a por uma mecha de cabelo da parte de atrás da cabeça e a obrigou a se ajoelhar na frente a ele. Horrorizada, ela somente pôde obedecer e sua força era tal, que inclusive se tivesse pensado em resistir, ele a teria dominado de toda forma.

A ponta do aro no membro dele brilhava diretamente em seu rosto. A mão lhe sustentava a cabeça com uma força inalterável e a obrigava a fitá-lo, ao tempo que ele se elevava imponente sobre ela.

- Molhe os lábios.

-Não creio...

-Faça.

-Violanti, assusta-me...

Ele ergueu-lhe a cabeça, inclinou-se e lhe lambeu os lábios. Aerin sentia que seu coração rugia. Apesar da preocupação, seu corpo estava profundamente excitado e ela sentia um formigamento nos mamilos duros. Seu sexo estava ansioso e úmido pela necessidade.

-Abre a boca. Bem aberta.

 

Ela pensou em resistir, mas a avalanche de sua própria excitação afogava qualquer manifestação de protesto que pudesse ter feito. E estava segura de que Violanti, seu Violanti furioso e instável, teria ignorado seu protesto, de toda forma. Abriu a boca. Tanto quanto pôde.

-Agora foda-me com a boca, doçura. – Ele ordenou-lhe rudemente.

Aerin sentiu-se obrigada a fazer uma pausa, juntar os lábios e beijá-lo primeiro. Seu próprio desejo e curiosidade irresistíveis suavizaram o momento, apesar de suas insistências duras e imperiosas. Tinha a pele quente e suave como o cetim. Tinha um perfume tão penetrante de amêndoa e canela, que ela se sentiu quase sufocada. Cada respiração era quente e densa, pelo delicioso perfume. Sentiu-se ansiada.

A argola prateada fazia um ruído seco contra seus dentes enquanto ela abria a boca sobre ele. Era tão grosso que não tinha possibilidade de fazer entrar muito dele entre seus lábios, mas se ajeitou bem para engolir a coroa até o fundo da garganta. A mão de Violanti se contraía no cabelo dela, logo levou a outra para lhe guiar a cabeça sobre seu corpo. Ao olhar para cima, só pôde ver os músculos grossos de seus braços e peito, que se avultavam e tremiam. O que lhe deu uma sensação de poder imensa.

Poder debilitar um homem tão forte como Violanti era realmente emocionante.

Estreitou mais os lábios sobre ele. Moveu-se, empurrando-o para dentro e para fora da boca, meio sugava e lambia cada centímetro que podia. Tinha gosto de amêndoas doces e açucaradas, como se tivesse se banhado com elas. Os sons úmidos, como goles, excitavam os dois, enquanto Aerin movia a boca uma e outra vez. Aerin nunca imaginou que esses sons primitivos e manifestos podiam acendê-la tanto, mas assim foi.

A cabeça grossa lhe golpeou o fundo da garganta e ele gritou, enquanto lhe esmagava a face com as mãos, até que quase o engoliu. –Sim... – Ele suspirou entredentes. - Assim. Oh, faz com que eu tenha vontades de transar você, doçura. Estive tão duro como uma pedra desde primeiro momento que ouvi sua voz.

O amante terno e considerado ao qual se acostumou já não existia. Em seu lugar estava este homem maravilhoso, primitivo e exigente, que a excitava dos pés a cabeça. O coração e o sangue de Aerin rugiam. Cada grunhido, cada queixa que ele emitia enquanto ela o sugava e lambia, enchia-a de êxtase.

-Me chupe, assim... Justo assim. Maledire. Sua boca é quase tão bem como seu sexo. – Ele encurvou os quadris contra ela e lhe cravou o membro tão profundo na boca dela que a fez ver estrelas.

Seu sabor a enchia. Seu perfume lhe alagava os sentidos, a deixava louca por ele. Nenhum homem tinha o direito de cheirar tão bem. Nenhuma mulher na terra poderia ter sentido seu cheiro, sem pensar em se arrastar por ele. E Aerin se prometeu que nenhuma mulher teria a oportunidade de saboreá-lo, não desta maneira. Nunca mais. Nenhuma mulher, exceto ela.

Ele a segurou pelos lados da cabeça com as mãos, com o fim de deixá-la quieta e obrigá-la a fitá-lo. Tinha os olhos prateado novamente, depois verdes, depois azuis e incrivelmente violetas.

-Vou acabar em sua boca.

Ela estremeceu pela promessa escura e desejou que assim o fizesse. Estava ansiosa para assim fosse. Estava sedenta. O calor de seu olhar a queimava. Ainda tinha o membro enterrado no fundo de sua garganta, com os lábios inchados a seu redor. Aerin o lambeu enquanto lhe sacudia as mãos contra a face.

-Tragará até a última gota, não é? – Ele soava quase como se necessitasse de seu consentimento. - Até a última maldita gota.

Para expressar sua conformidade, ela fez um gesto afirmativo com a cabeça, sem soltá-lo e se sentiu secretamente encantada ao lhe ver os olhos desvanecer para trás. Levantou as mãos e lhe segurou os testículos, enquanto se deleitava com o grito que saía entre os dentes apertados.

Então Violanti moveu-se e criou um ritmo constante que não lhe deixou outra opção mais que segui-lo. Novamente lhe enredou as mãos no cabelo e a segurava espasmodicamente a cada movimento que ela fazia.

Tinha todo o membro grosso quente dentro da boca, duro. Encantava-lhe. Queria mais e tomou mais, até que poderia ter se engasgado. Tinha um sabor tão incrivelmente bom.

-Minha Fottere, - sussurrou ele como em sonhos. –Foda-me, sim. Assim. Só um pouco… Mais... - Um impulso o estirou completamente enquanto Aerin seguia puxando-o, sugando-o. Uma doçura quente e úmida lhe encheu a boca e lavou o fundo de sua garganta. Violanti deu um grito longo e forte, até que o rugido da finalização ecoou nas paredes que os rodeavam. O sabor doce a canela era delicioso e Aerin engoliu com entusiasmo cada estalo que ele arrojava.

Ânsias ardentes, dolorosas e desejosas se apoderaram dela. Suas veias estavam em chamas, sedentas de algo que não podia nomear ou compreender. Com uma necessidade ansiosa, tratou-o com atenção sua ejaculação, como se fosse algum doce exótico do que nunca poderia comer o suficiente. Seu corpo se sacudiu. Sons estranhos e primitivos lhe escaparam da garganta e produziram vibrações em toda a longitude de Violanti, de maneira que ele se balançou contra ela, enquanto chegava com mais força às profundezas de sua boca sedenta. Enquanto o sugava e o bombeava com as mãos e a boca, ela dragou cada pouquinho de sua essência e reclamava mais.

E, mesmo assim, não era suficiente.

Violanti deixou sair um grito que pareceu um alarido, como se fosse um animal selvagem enfurecido em meio a agonia da paixão ou da dor ou uma mescla das duas. A última avalanche dele em sua boca foi doçura, comparado com a tormenta das primeiras erupções e ela o bebeu, até não restar nada. Nenhuma gota.

Frouxo e pesado, completamente esgotado, Violanti paralisou e terminou sobre o piso.

Enlouquecida pela luxúria, com uma ânsia aterradora para a qual não tinha um nome, Aerin engatinhou-se até ele, buscando-o com a boca. Mas ele a sustentou, com menos força, mas ainda muito pronta para poder resistir. Em troca, levantou-a e lhe pediu que participasse de um tipo totalmente diferente de banquete.

Aerin o montou. Ele estava com o membro tão duro como o mármore. Úmida e brilhante endureceu-se mais para ela, de maneira que Aerin se moveu com facilidade para atravessá-la toda. Dos lábios inchados de Aerin saíam gritos curtos e afogados, e ela não podia fazer nada para contê-los, à medida que se afundava sobre ele.

Grande. Ele era grande. Não era possível que o abrangesse tudo nesta posição.

Mas conseguiu. Ele a encheu tanto, tão profundamente, que poderia ter jurado que o sentiu no fundo da garganta.

-Dê-me Aerin. Dê-me todo seu ser.

E ela o fez.

Ela segurou-lhe firmemente os quadris com as mãos para guiá-la e ela começou a montá-lo. Montou-o, cravou-se para cima e para baixo sobre o membro quente e sentiu que ele a estendia até quase explodir. Cravou-lhe as unhas nas costas enquanto tentava se segurar, procurava qualquer sustento na violência da paixão e da luxúria. Violanti grunhiu, claramente desfrutando da dor de suas unhas cravadas na carne e empurrou-se para dentro. Empurrou-se profundamente e o suficientemente forte para machucá-la.

Aerin gritou.

Violanti imitou o grito.

Empurrou-a para baixo e com a boca tomou avidamente um dos mamilos que se balançavam. Violanti lhe cravou os dedos longos e fortes no traseiro e a baixava e levantava em um galope brusco. Sacudiu os quadris para dentro dela com força e levou um mamilo a boca, até machucá-la. Essa dor doce a fez ofegar. Enterrou o clitóris nele, esfregou-o com mais e mais intensidade, ricocheteando com a ajuda de sua incrível força.

O calor se estendeu pelo peito de Aerin. O coração se acelerava. Sentiu enjoada e desfalecida. Os soluços curtos se tornaram mais longos até converter-se em gemidos. Arranhou-o até lhe tirar sangre dos ombros e do peito, enquanto Violanti se sacudia sob dela.

Um impulsivo líquido e quente, como um batimento do coração, golpeou-a no fundo do útero. Banhou cada célula de seu corpo, alagou-a, levou-a para baixo, às sombras desumanas da dor, do prazer e do êxtase. – Violanti! – Ela gritou seu nome uma e outra vez. Ele moveu a boca do mamilo aos lábios de Aerin e bebeu os alaridos como se fossem gotas de sangue.

Os quadris se chocaram com os dela uma vez mais e sentiu, incrivelmente, o jorro do orgasmo, enquanto ele passava por outra liberação. Durante um momento lamentou a perda. Teria gostado tanto de tragá-lo novamente, mas se não podia bebê-lo com a boca, então pelo menos o útero o faria. Como imitando seus pensamentos, as paredes de sua vagina o absorveram, tragaram seus líquidos ardentes com ansiedade. Pegou-o, apertou-o e o fez se sacudir e soluçar.

Uma vez que se acalmou, ela caiu totalmente sobre ele, frouxa e pesada.

Ainda estavam unidos, os dois estavam úmidos e débeis pela paixão. Violanti lhe roçou gentilmente o ânus com a ponta dos dedos e cada carícia produzia outro tremor de seu corpo já exausto.

Enquanto descansava e ele brincava com os dedos, Aerin apoiou a face na curva do pescoço e sorriu. E se pôs a chorar de felicidade.

 

-Quase está amanhecendo, amor. - Sussurrou ele.

Deveriam estar assim no piso por um longo tempo. - Como sabe? – Ela murmurou sem energia, sem importar muito, simplesmente com a intenção de prolongar o momento.

-Posso sentir.

Essa afirmação soou como se ele quisesse que lhe perguntasse como podia senti-lo. Como era possível? Mas não perguntaria. Não queria perguntar. -Então, tenho que ir? Por favor, diga que não.

 

-Sim. – Ele agora soava cansado, talvez um tanto desiludido. Dela ou dos dois? Não sabia.

Sentou-a com facilmente. Muita facilidade. Estava surpresa de quão forte era. Sem sequer queixar da carga de seu peso, ele a levantou junto com ele, com um movimento fluido que fez com que sua cabeça desse voltas. Ela mostrou um sorriso débil e apoiou mais a face na curva do pescoço de Violanti.

-Se vista. - Disse-lhe brandamente, enquanto a baixava lentamente, resistente em fazê-lo. – Apure-se.

Ela se inclinou para pegar as meias do piso e imediatamente sentiu que Violanti lhe apoiava seu membro. -Maldição. Fique quieta. - Tremia-lhe a mão enquanto a apoiava contra as costas de Aerin, para mantê-la inclinada e enchê-la com um impulso que se deslizou profundo, úmido e abrasador.

Aerin gritou. Violanti a arremeteu três vezes, com embates intensos e que a acendiam, mas logo saiu de dentro dela, tão rapidamente como tinha entrado.

Ele inclinou-se atrás dela e lhe apoiou com os lábios entreabertos, o que a escandalizou. O veludo de sua língua a cobriu, cravou-a e depois, lambeu-lhe com ternura, com carícias eróticas.

 

-Ah! Meu Deus! - Gemeu ela.

Ele elevou a boca para cima e lhe lambeu o ânus, enquanto um dedo longo a cravou facilmente na vagina. Rápido como uma serpente, ele se levantou atrás dela novamente e a afastou para lhe lamber os lábios quando ela se voltou para enfrentá-lo. Ela estava sem fala.

-Por que se detém…?

-Deve te vestir. Está amanhecendo e não posso… Por favor, se vista doçura. Você me deixa louco de luxúria quando fica aí parada, nua e aturdida. Venha. Eu a ajudarei. – Ele se moveu e a ajudou.

Aerin estava se zangando. Como ele podia excitá-la dessa maneira e depois se retirar? Estava claro que ele a necessitava, não havia possibilidade de que seu corpo escondesse. Então, por que não terminar? Suspirou zangada enquanto terminava de recolher as roupas e Violanti a acompanhou à porta, com uma mão nas costas.

Incrivelmente, Aerin pensava que ele sequer iria se despedir. Mas quando passou pela porta, ele a deteve com um beijo nos lábios que a atordoou. - Não tem idéia do quanto maravilhosa esteve esta noite, Aerin. Nem idéia do quanto necessitava do que me deu. Espero que retorne no próximo sábado a noite.

Uma necessidade intensa despertou dentro dela. A necessidade de machucá-lo, por que estava machucando-a com seu abrupto rechaço. Era mesquinho e grosseiro e era totalmente diferente dela. E por isso reagiu dessa maneira: - Não estou segura. Tenho planos para o próximo sábado. Além disso, realmente, não posso seguir pagando mais minhas vindas a este lugar. - Nem ela teria acreditado ser capaz disto, mas conseguiu sorrir totalmente indiferente e convincente, depois da mentira descarada.

Os olhos de Violanti se avermelharam imediatamente. O coração de Aerin quase paralisa no peito. O que significava isso? Ele tinha os olhos de um alienígena ou eram parecidos com os de um camaleão? Ele não parecia humano. De fato, parecia ser muito perigoso e mortal com os olhos dessa maneira.

-Mas não lhe cobraram por vir aqui. Não desde sua primeira visita.

Aerin se surpreendeu. - A que te refere? É obvio que sim. Madame Delilah...

-Não te cobrou a taxa, por pedido meu. Salvo em sua primeira visita, ela não te cobrou um centavo.

Que surpreendente! Ela daria uma olhada em sua conta bancária na primeira hora da segunda-feira, para ver se ele dizia a verdade. Por que Madame faria isso por Violanti? Eram muito amigos? Seria um favor para ele? Não compreendia.

-Cancele seus planos de sair.

Aerin zangou-se novamente. Estava um feixe de emoções nesta noite, confusa, mas igualmente liberta. - Não.

-Sim.

Por que estava discutindo? Sabia que voltaria. Ele devia saber também. Mas Aerin não podia parar. - Não me diga o que fazer Violanti. Te pago, recorda-se? Se alguém tem o direito de ser autoritário, deveria ser eu.

Ele abriu os olhos e a irritação fez com que lhe marcassem as linhas da boca. – Você não me paga. E eu sou maior, mais forte, mais rápido e mais velho que você. Isso me faz ser o que manda...

Aerin riu duramente, enquanto desfrutava e odiava de uma vez seus argumentos. - Doçura, você não é mais velho que eu. Nem perto disso. - Embora a agradasse que ele acreditasse, mesmo assim era um pensamento absurdo. Qualquer pessoa que os visse juntos saberia positivamente que ela era muito mais velha que ele. E, por algum motivo, isto a fazia sentir mais forte, talvez até um pouco superior a ele.

Ele se deu conta disso no momento. – Você é uma criança, quanto à experiência. Eu vivi mais em meus anos. Bem mais que você.

-Acredito. – Aerin disse com um olhar desafiante.

-Virá no sábado. - Não era uma pergunta.

-Pensarei. – Ela rendeu-se timidamente. - Adeus, Violanti.

Ele bateu a porta atrás dela e a irritação vibrou com o som horrivelmente forte que provocou.

Aerin não podia chegar ao automóvel com rapidez suficiente. Saiu do estacionamento com um chiado das rodas e se perguntou em que demônios se colocara, com um homem como Violanti.

Quer dizer… Se fosse um homem.

Tinha suas dúvidas a respeito disso. Muitas dúvidas.

 

A pintura chegou à quarta-feira a noite, depois de dois dias completos nos qual de algum jeito, uma vez mais, Aerin engenhou para esquecer o rosto de Violanti. Um adolescente, não muito mais alto que ela e tão delgado como um aspargo, trouxe o pacote envolto em papel marrom até a porta. Pensando que quem tocava a campainha da porta fosse Heather, pois elas iriam sair às compras outra vez, Aerin sequer observou antes de abrir a porta de par em par.

-Srta. Peters?

-Sim.

O jovem sustentava o grande pacote. -É para você.

Aerin surpreendeu-se e o pegou com o cenho franzido, desconcertada. Tinha comprado algo e havia esquecido? Não podia recordar, por nada do mundo. -De quem é? Você sabe?

-Não sei. Meu pai acaba de emoldurá-lo. Ele tem um negócio na Rua Terceira e a Principal e disse que quem havia encomendado a moldura, lhe deu mais dinheiro para que o trouxéssemos em pessoa assim que estivesse pronto.

-Está bem. Obrigado. – Ela pegou a bolsa de moedas sobre uma mesa perto da porta e tirou cinco dólares. Ofereceu-lhe a gorjeta e se surpreendeu ao vê-lo negar a recebê-la, com um sorriso.

-Não está bem. Meu pai me mataria se eu pegasse uma gorjeta, especialmente quando há um cliente tão endinheirado envolvido. Diria que foi um mau negócio. – Ele riu ao obviamente achar a filosofia comercial deste homem um pouco antiquada.

-Ah. Bem... Obrigado novamente.

-Não há problema.

Ele saiu sem pressa, na noite, subiu em uma moto que estava estacionado em frente à casa e partiu em uma manobra arriscada.

Aerin fechou a porta e rompeu com emoção o papel. Dentro havia uma pintura formosa, realizada principalmente em ricos tons leves de carmesim, dourado e negro. O olhar fixo e penetrante de Violanti estava dirigido a ela, da pintura. Ele estava deitado e atrás dela e havia uma representação sutil do corpo nu e amadurecido de Aerin.

Como uma onda de maré que a fazia balançar devagar, ela recordou tudo. A face e o corpo de Violanti eram tão formosos que lhe faziam doer o coração. Tão escuro como um anjo caído. Lúcifer, em seu melhor momento, nunca poderia ter sido tão bem dotado como seu enigmático amante italiano.

Os olhos… Nenhum humano podia ter olhos como os dele. Ela estremeceu e sentiu o sabor frio e metálico em toda a boca. Elas estavam vermelhas nos momentos de liberação. Carmesim. A cor do sangue fresco e úmido.

-Como pude ter me esquecido? - E isso era uma pergunta que escondia a chave em tudo o que a intrigava de Fetiche. De Violanti. Dela.

E sabia a resposta. Pelo menos, parte dela. Não tinha nada a ver com a menopausa. Ela fora ao médico na segunda-feira para se assegurar que tudo tinha saído bem, mas sim tinha a ver unicamente com ele. Com Violanti D’Arco, o homem mais estranho e sexy que jamais havia conhecido. Estava tão segura disso como estava de seu próprio nome. A perda da memória havia começado depois de conhecê-lo, depois de sua primeira ida a Fetiche. E ela só esqueceu as coisas diretamente relacionadas com o clube e seu amante enigmático.

Amante. Só a palavra fazia com que seus joelhos virassem geléia. Era tão decadente. Ainda não podia acreditar que ela, a pobrezinha da Aerin Peters, realmente tinha conseguido um amante. Mas então, não era tão pobrezinha. Já não.

Este era outra mudança que atribuía ao Violanti, entre outras.

Tinha perdido peso. Muito, sem sequer se dar conta. E fora Heather que finalmente lhe assinalou o quanto sua roupa nova estava grande para ela e nesse mesmo dia, durante o almoço que compartilhavam. Aerin não havia mudado sua dieta, não praticava esporte, pois odiava exercícios e não havia feito nada que a ajudasse a perder peso dessa maneira. Aerin havia se sentido confusa todo o dia pensando em como pôde perder tanto de peso e com tanta facilidade, depois de passar tantos anos provando dieta atrás de dieta, sem resultados ou quase sem obtê-los. Mas agora que fitava a pintura atrevida e absolutamente excitante, sabia que tinha algo a ver com o Violanti.

Agora que tinha as coisas mais claras do que jamais tivera, especialmente no último mês, apoiou com suavidade a pintura contra os almofadões do sofá e foi procurar o espelho de corpo, que estava no quarto de convidados.

Ativou o interruptor e uma luz brilhante encheu o aposento. O espelho estava quase escondido debaixo dos suéteres e calças que raras vezes usava, e quando o fazia era para provar e descartar a roupa antes de ir trabalhar. Tirou-o do meio da roupa amassada e se olhou. Realmente o fez, sob a luz violenta do aposento e se surpreendeu. Ver seu reflexo a fez dar um grito afogado e se aproximar do espelho, incrédula.

Quanto havia mudado! Era incrível que não se dera conta do quanto até agora. A transformação era incrível, milagrosa. Impossível. Mais de uma pessoa nas últimas semanas havia comentado sobre seu cabelo ou a roupa ou a perda de peso, mas era impressionante que não o tivessem feito com incredulidade bem assegurada. Apenas se via como era ela.

Já não tinha mais sobrepeso, nem cabelo murcho e sem vida, nem se via tímida. De fato, estava longe disso. Via-se saudável. Ossuda. Sempre seria de ossos grandes, mas estilizada e firme, o que é muito diferente a ser grande. Tinha as pernas longas e torneadas.

Já não tinha os ombros tão encurvados, mas sim se viam eretos e orgulhosos. Sua postura era impecável. Nunca possuíra uma boa postura, estava muito insegura de si mesmo. Mas ali estava, como uma amazona majestosa, sem sequer ter procurado o efeito.

Sua pele estava translúcida, ressaltava-lhe um brilho rosado nas maçãs do rosto e a nova concavidade nas faces. O rosto estava magro, sem imperfeições, macio e suave. A linha de seu queixo era quadrada... Quadrada! Pelo amor de Deus! Quando a última vez que realmente se examinou e seu queixo se via quase teimoso sob a curva suave de sua boca?

O cabelo tinha mais brilho; de maneira impossível, estava mais longo e mais grosso. Estava mais encorpado e com mais cor. O marrom habitual agora era azeviche, com reflexos de cor cobre e bronze que cintilavam calorosamente, inclusive na luz fria do teto do aposento. Quando o tocou, incrédula, deu-se conta dos dedos longos e finos.

Como não se dera conta disto? Gritou-lhe sua mente. Inclusive, como ninguém mais tinha conseguido se dar conta? Que diabos acontecia, que se via como esta bela estranha?

Sem saber o que fazer, ela foi em busca do telefone e quando o encontrou, marcou o número do clube. Madame Delilah estaria ali para responder se não havia ninguém mais; assim foi como estabelecera contato com Fetiche. Não sabia o que diria Madame, mas sabia que o que fosse que dissesse, tinha que convencê-la a deixar que falasse com Violanti.

Mas nesta noite ninguém respondia. Parecia que Madame não estava.

Ela bateu o telefone de um golpe soltando uma maldição.

Soou o timbre da porta. Aerin tentou controlar sua fisionomia, acalmar sua ira e a confusão e se dirigiu para saudar sua amiga. Ofereceu-lhe um sorriso forçado, mas Heather não pareceu se dar conta.

-Você não acreditará o que fiz esta tarde. - Heather entrou de um salto, sem fôlego.

-O que? - Aerin tentou relaxar, mas até a emoção atordoada que emanava Heather não podia fazê-la sentir-se melhor.

-Apresentei o aviso prévio de duas semanas. Vou ser uma escritora! - Heather se amparou imediatamente nos braços de Aerin e rompeu em um pranto de felicidade.

Aerin a abraçou e relaxou um pouco, apesar de que suas emoções a reclamavam. - Que boa notícia.

Heather aspirou com força e sorriu entre lágrimas. –Don te envia um abraço. Ele ainda está um pouco surpreso, de que eu não havia me dado conta de que queria que me dedicasse a escrever exclusivamente, de que você tenha tido que me dizer, para que me desse conta. Já está me ajudando arrumar um escritório, com um novo computador e tudo. Ai... Estou tão feliz. – Ela soluçou.

A pesar do torvelinho interno, Aerin riu pelo espetáculo desta mulher, que soluçava tão descuidadamente que um espectador podia acreditar que ela retornava de um funeral. Aerin lhe ofereceu uma caixa de lenços e sorriu novamente, quando Heather limpou o nariz escandalosamente.

-Sou muito sensível, eu sei. É simplesmente que não posso acreditar que esteja acontecendo tudo isto, finalmente. Agora não importa se publicam ou não, mas tenho a oportunidade de continuar em tempo completo, sem ter que me preocupar com o aluguel ou as dívidas, ou com o que seja.

-Me alegro muito por ti-, murmurou Aerin. E era certo. Mas havia uma parte egoísta dentro dela que não queria ver partir sua amiga e que sentiria saudades em compartilhar os almoços que se converteram em algo tão querido em tão pouco tempo. Provavelmente, o casamento faria com que Heather se afastasse dela, não a veria muito depois de casada e Aerin sabia. Mas ignorou essa parte egoísta dentro dela e realmente se sentiu feliz por sua amiga.

-Só me deixe me lavar o rosto, para podermos sair. - Heather, que já se acostumara à pequena casa de Aerin, tomou o rumo do banheiro enquanto falava.

-Heather? – Aerin a chamou com um tom que esperava que fosse despreocupado, enquanto se perguntava se poderia enganar a uma amiga.

-Sim? - O som da água que corria cobria a voz de Heather.

-Você se deu conta de meu novo corte de cabelo? - É obvio que não cortara o cabelo, mas Aerin queria saber o quanto era observadora sua amiga e o drástico de sua nova aparência para alguém próximo a ela.

-Cortou o cabelo? Desculpe-me, não tinha dado conta. – Ela voltou para o living, com a face rosada e feliz. - Cresce-te tão rápido que imagino que deve cortar bastante seguido.

Então, pelo menos ela tinha notado algo diferente. Ela tinha notado que seu cabelo crescia rapidamente… Mas o que não sabia era que o cabelo de Aerin nunca tinha crescido com essa rapidez. Que havia começado neste mês. - Bem, na realidade não cortei. Penteei-me.

- Nota-se bem. Mas sempre está bem. Você tem um cabelo fantástico, tão suave e brilhante. Não está diferente hoje. Não deve ter mudado muito.

-Sim. - Murmurou, sem prestar atenção ao que dizia sua amiga. Estava muito ocupada preocupando-se. Que diabos está me acontecendo?

-Você está um pouco preocupada esta noite.

-Só pensativa.

-No que pensa? - Heather a pressionou, curiosa como um gato.

-Sobre o peso que perdi. – Aerin disse ao mesmo tempo em que se perguntava o quanto podia mencionar de tudo o que estava lhe incomodando, sem arruinar o humor eufórico de Heather.

-Quer dizer que não tem se controlado ultimamente? A dieta que está fazendo está dando bons resultados, eu diria que passa sobre a balança pelo menos cinco vezes ao dia. Sei que eu faria isso. Deus, se pudesse perder de peso com a mesma rapidez que você, eu viveria exclusivamente a bolos de nata e caramelos.

-Estou segura de que o recuperarei e voltarei a ser uma baleia roliça em poucas semanas. Mas, realmente acreditava nisso? Já não sabia o que pensar.

Heather grunhiu. - Não pense assim e não diga isso. Nunca foi uma baleia roliça. Mas se estilizaste um pouco e está muito bem, realmente. Está mais feliz, ultimamente. Mais saudável. Que tipo de dieta faz? Admito. Não prestei muita atenção no que esteve comendo. Estava muito concentrada com meu casamento e com a renúncia de meu trabalho e todas essas coisas. Desculpe-me.

-Não. Não se sinta assim. E não estou fazendo um tipo de dieta específica. - Só o tipo de dieta que a fazia esquecer coisas como o rosto de seu primeiro e único amante, inclusive apesar de que estava obcecada por ele, dia e noite. O tipo de dieta que a fazia baixar mais de vinte e dois quilos em um mês e que não podia ser nada boa para seu coração, por esses dois motivos. Mas se sentia bem, de fato. Sentia-se melhor do que se sentira jamais. - Estou perdendo o que resta do sobrepeso que me deixou a gravidez. – Aerin sorriu. Não tivera peso para perder por causa de uma gravidez, nos últimos quinze anos.

Elas estavam prontas para sair, quando Heather descobriu a pintura sobre a poltrona. Era grande e Aerin se surpreendeu de que ela não a tivesse visto até agora. Mas, logo se preocupou.

-Nossa, que surpresa! É impressionante. - Disse Heather, com um grito afogado. - Ai, Meu deus, é você! Quem pintou, pícara?

-O homem no quadro. - Aerin se sentiu orgulhosa ao dizer isso. Violanti se via tão formoso na pintura como era na vida real e era seu amante. Isso não escandalizaria Heather? Demônios. Ficaria assombrada se Heather soubesse que ela ficara dura durante quase uma semana, como prova do tempo que passara com ele na cama.

Heather se voltou com o cenho franzido, desconcertada. - Que homem?

Aerin riu entredentes, pelo que supôs ser incredulidade da amiga. - Esse homem. – Ela estirou o braço e quase tocou os planos exóticos do rosto cor bronze de Violanti.

Heather franziu mais o cenho. - De quem você fala? É um quadro seu, não?

-Sim. E o homem que pintou é o que está recostado sobre essa cama, atrás de mim. Chama...

- Não há nenhum homem, Aerin.

-O que? Do que fala? É obvio que há um homem aí! - Aerin insistiu, incrédula. Colocou a mão sobre a pintura, enquanto assinalava as linhas do corpo de Violanti, parcialmente escondido na sombra que arrojava seu corpo, também recostado. - Está justo aqui.

- Você está brincando, não?

-Não a entendo. – Agora foi à vez de Aerin franzir o cenho.

-Parece-me que precisa se lembrar, Aerin. Algo está errado.

-Está cega? Não o vê?

Brilharam lágrimas nos olhos de Heather, mas já não eram lágrimas de felicidade. - Não há ninguém aí, Aerin! – Ela sussurrou e seus lábios tremiam.

-Como pode dizer isso? Ele está aqui! – Aerin levantou a voz estridentemente, à defensiva, enquanto gesticulava com agitação, em direção ao quadro, no qual o olhar de Violanti parecia queimá-la com uma advertência perigosa.

Heather se afastou claramente preocupada e nada assustada. -A única pessoa nesse quadro é você, encanto. Só você. Ninguém mais. Não há nenhum homem pintado aí.

 

Aerin golpeou fortemente a porta do clube uma vez mais, sabendo que era em vão, que ninguém responderia.

-Demônios! – Ela gritou na entrada de paralelepípedos que conduzia à porta de carvalho firmemente fechada. Protegeu os olhos do resplendor do sol da manhã e olhou para cima da alta extensão de pedra, como se esperasse ver alguém a olhando de um dos balcões. Não esperava encontrar algo assim, estava profundamente decepcionada. A mansão parecia deserta.

Bem, não havia perdido o dia no trabalho para nada e certamente não sairia deste lugar antes de obter algumas respostas para algumas perguntas muito importantes.

Como por exemplo, por que de repente começou a se ver como o sonho úmido de qualquer homem jovem, tornar realidade. Ou, por que tinha a memória cheia de vazios, todos relacionados com este estranho lugar. Ou, por que a pintura... A formosa pintura que seu bonito amante havia pintado para ela, tinha um fantasma que ninguém mais que ela podia ver?

E realmente... Realmente queria saber por que tinha aberto o jornal naquela manhã, como fazia qualquer manhã normal, com a única diferença de que se encontrara olhando uma fotografia de um homem que ela tinha visto uma das salas de Fetiche.

Um homem que agora estava misteriosamente morto.

O homem era Joseph Tayler. Era o mesmo estranho de cabelo escuro e olhos azuis com o qual trocara olhares em sua segunda visita ao clube. Acreditava-se que o pobre senhor Tayler fora assassinado, embora não houvesse uma teoria real ainda, sobre como. Não tinha ferimentos e nem machucados, nada dessas coisas que demonstram um final violento. Mas não havia sangue em seu corpo, absolutamente nada. E isso era o bastante estranho para justificar as especulações, nada boas.

O corpo de Tayler tinha sido deixado na porta da casa de seu irmão, a quem fazia muito tempo que não via, no domingo pela manhã, mas não havia suspeitos nem pistas sobre como havia chegado o corpo ali. A morte de Joseph Tayler era uma história muito pequena em uma cidade tão grande para justificar mais de um artigo de dois parágrafos na seção de notícias da edição de quinta-feira.

Mas Aerin o vira. E Aerin tinha ligado imediatamente para o escritório, a fim de tirar o resto da semana de folga e usar dois dos tantos dias de férias que restavam para questões pessoais. Ela necessitava de respostas e estava decidida a tê-las.

Não havia acreditado que o lugar pudesse estar deserto. Tão silencioso como um mausoléu em um cemitério antigo. Um arrepio de mau pressentimento lhe percorreu as costas, como a carícia do dedo de um esqueleto.

-Ao Diabo com o melodrama. Só encontre uma forma de entrar estúpida. – Ela grunhiu em voz alta.

O som de sua voz quase a sobressaltou, mas era o ímpeto que necessitava para afastar-se da porta e percorrer o edifício. Verdadeiramente era um grande castelo e devia perguntar quantos aposentos possuía. Olhou para um dos lados do edifício, que se estendia ao longo e se deu conta de que só havia visto uma pequena porção dele.

Golpeou a janela mais próxima e gritou. - Olá? Há alguém aí? – Ela apoiou a face contra o vidro, agradecida porque seria fácil ver o interior através das cortinas transparentes.

-Merda. – Logo ela conteve um grito afogado, ao se afastar, tropeçar e cair sobre o traseiro com uma força dolorosa.

Não podia acreditar no que tinha visto! Ela pensou que sua mente estava lhe pregando peças horríveis. Parou rapidamente outra vez e olhou novamente pela janela. - Ai meu Deus... Ai meu Deus, ai meu Deus.

Uma parede simples de tijolos cobria completamente o outro lado da janela e bloqueava a visão para dentro da casa. Levantaram-na justo em frente à janela, o bastante perto para evitar que entrasse a luz do sol, mas de uma vez, o bastante longe para que não fosse facilmente visível ao apoiar contra o vidro.

Mas, por que a murariam e danificariam o valor total da propriedade, quando cortinas pesadas bastariam para atenuar os raios mais duros do sol?

Talvez porque a luz do sol, sem importar quão tênue fosse era inaceitável para seus habitantes.

Um instante de lembrança dos olhos carmesim brilhantes de Violanti em frente a ela, enquanto movia os lábios no corpo dela, com violência moderada, tirou-lhe um grito de pânico dos lábios. - Saia daqui, Aerin. Saia daqui agora!

 

Mas não podia. Não sem antes olhar outras janelas mais. E todas tinham o mesmo muro de tijolos firmemente contra o sol. Com a respiração entrecortada e trêmula como uma folha em meio a uma tormenta, ela se voltou pelo espanto e correu para a frente da mansão.

Havia uma porta de ferro que proibia a entrada ao pátio do clube, que dobrava para o estacionamento, mas Aerin não deixou que isso a dissuadisse quando entrou e a faria dissuadir agora. Deslizou por entre as barras, pois estavam o bastante separadas para permitir passar seu novo corpo magro e correu rapidamente para o automóvel, enquanto procurava as chaves para escapar do lugar.

Ela se acalmou enquanto se afastava. O temor e o pânico amainavam até que começou a se perguntar o que a assustou tanto. Qual era o problema? Tinha visto janelas com muros de tijolos. Era uma casa grande e provavelmente havia correntes em todas essas janelas. Quem havia desenhado as janelas desse lugar? Obviamente não eram necessárias, se os habitantes as bloqueavam dessa maneira. Que merda acontece comigo? Essas janelas foram muradas por um motivo e só um motivo. Para apagar todo rastro da luz solar! E eu sei por que. É obvio que sei, depois de estar com Violanti e seus olhos brilhantes de camaleão. Depois de ler sobre o corpo sem sangue do senhor Tayler. Porque as pessoas que trabalham e vivem ali são vampiros, provavelmente todos!

O terror se apoderou dela novamente e quase ela se desvia do caminho. Violanti podia ser um vampiro? Mais lembranças a assediaram, levadas a superfície pelo temor mesmo da possibilidade. Lembranças da boca de Violanti em sua garganta, da dor aguda e da maciez fluída que se seguiu. Ele havia bebido seu sangue? Era possível isso? Aerin queixou lastimosamente.

E quase imediatamente, enquanto o automóvel tomava mais velocidade e colocava mais distancia entre ela e a propriedade de Fetiche, tranqüilizou-se novamente.

Mas desta vez, apesar de recuperar a estranha e inquietante tranqüilidade, sua mente não pôde apagar a imagem da boca de Violanti em sua garganta. Ou dos movimentos que havia feito com a boca enquanto tragava alguma coisa. E engolia.

 

Soou o telefone e Aerin se assustou em meio ao atordoamento. Quanto tempo havia permanecido sentada na escuridão do living? Não sabia. Tampouco sabia como tinha chegado a sua casa, depois da fuga enlouquecida de Fetiche e de todas as perguntas aterradoras que a viagem da manhã tinha suscitado em seu coração e sua mente. Realmente, não podia recordar nada depois dessa manhã, por isso provavelmente tinha ficado sentada ali todo o dia, perdida em uma bruma de quietude e sem sentido.

O telefone soou novamente.

Aerin se aproximou e pegou, levou-o a orelha com a lentidão de um zumbi, para não tremer.

-Aerin?

Seu coração chegou às profundezas de seu estômago gelado. Engoliu a saliva com dificuldade. -Violanti?

- Você esteve aqui hoje.

Ela engoliu saliva com dificuldade, por causa de um nó em sua garganta.

-O que aconteceu? Está machucada?

-Não. - A voz de Aerin soava morta, inclusive para seus próprios ouvidos. Apesar de que sabia que o alarmaria mais, o faria pensar. Não podia evitar. De toda forma, não importava. Por suas palavras era óbvio que já sabia que tinha ido ao clube esse dia.

-Vou...

-Não!

-Preciso te explicar algumas coisas. Se esconder de mim não ajudará.

-Vou chamar à polícia, isso me ajudará. Mantenha-se afastado de mim. – Ela gritou no telefone. Nunca tinha falado com ninguém desta maneira em toda sua vida e não reconhecia esta violência, esta mistura de ira e temor dentro dela.

-Por que faria isso, Aerin? O que fiz para te assustar. Pode me dizer?

-Não é… Não é… - Sua voz se reduziu a um sussurro. - Não é humano.

Sua voz de veludo pareceu se estender e acariciá-la pelo telefone. - Bebê, se dissesse algo assim à polícia, lhe acreditariam?

Aerin apertou os dentes e apertou o telefone, até que temeu rompê-lo com as mãos. - O que me fez?

-A que se refere? Não fiz nada. Não te machucaria, Aerin. Você sabe disso. Você esteve em meus braços, em minha cama. Não importa o que pense de mim, lembre...

-Cale-se. – Ela deu um grito estridente. - Não me diga isso, Não o faça. Não quero falar contigo. Não quero vê-lo nunca mais. Mantenha-se longe de mim.

-Sabe que isso não acontecerá. - O veludo se converteu em aço. - -Nem agora e nem nunca. A partir de agora deverá se acostumar a algumas coisas. Não sei como sabe tanto sem que eu lhe dissesse isso, mas é óbvio que não sabe o bastante. De outro modo, não se atreveria a me pressionar desta maneira.

-Está me ameaçando? – Ela estava com a garganta seca como a areia.

O veludo voltou para sua voz, mas o aço ainda permanecia ali, coberto pela suavidade. –Doçura... Não sou muito ameno...

-Então, me deixe tranqüila. – Ela gemeu com a voz entrecortada.

-Prometo. – Ele terminou de dizer. - Prometo que se tranqüilizar e me ouvir, compreenderá que nada mudou.

-Tudo mudou, maldito mentiroso. Você mudou tudo em mim.

-Você se mudou, Aerin. Eu só te dei o poder para fazê-lo. – Ele soava tranqüilo e em calma, duro e inflexível.

-Esse acidente da outra noite, que você foi atender. Não foi um acidente, não? Foi um assassinato. – Ela levantou a voz e se quebrou. -Morreu um homem em Fetiche no sábado, verdade? E você estava relacionado com isso...

-Vou para lá.

-Não! E o matarei se fizer isso. Juro por Deus que o matarei. – As palavras se misturavam ao pânico, no apuro de falar.

-Como? – Ele não havia se alterado pela ameaça, mas pela curiosidade.

-Vá à merda, Violanti! Vá a merda, não tente vir aqui.

Aerin sentiu o telefone ser desligado. Sentiu um silêncio ensurdecedor na linha. Deu um grito desesperado e correu pela casa travando portas e janelas, apesar de estar cega de ira e aterrorizada pelas lágrimas.

Não tinha nenhuma pistola, nem uma arma, exceto uma faca de que tirou de uma gaveta da cozinha. Acendeu todas as luzes de toda a casa, enquanto tentava pensar em um plano para manter Violant afastado. Sabia que não podia chamar à polícia e dizer o conto absurdo de vampiros, assassinato e sexo. Ninguém lhe acreditaria e se tivesse sorte, simplesmente a ignorariam e não a encerrariam em algum manicômio. Estava sozinha.

Sozinha para enfrentar o demônio ou o vampiro. Ou o que fosse.     -Espere um minuto. Se for um vampiro, não pode entrar aqui, a menos que o convide. Certo? – Ela buscou na memória e tentou recordar todos os filmes de vampiros que se obrigara a assistir. Todos os filmes de terror que se atrevera a assistir e ler sobre o assunto. Estava segura de que a única regra em todos esses contos macabros era que os vampiros não podiam entrar em uma casa sem a permissão do proprietário.

Uma risada histérica e triunfante lhe estalou dos lábios. Ficaria ali sentada e esperaria sua chegada. Ela nunca o convidaria, sem importar quanto tempo batesse em sua porta. Isso importava. Podia jogar alho ali na porta. Ela não ia deixar que ninguém entrasse na casa naquela noite.

 

Em algum momento de sua longa vigília, deve ter adormecido. Estava em meio de um sonho tão delicioso que não queria sequer pensar em despertar dele.

Lábios tranqüilos de seda percorriam sua camiseta sem mangas. A ponta de uma língua perversa lhe umedecia a ponta do mamilo antes de tragá-lo com a boca e começar a sugá-lo brandamente.

Dedos se alojaram e acariciaram o púbis em seu sexo através da calça, uma barreira fina contra uma determinação tão sensual. Aerin gemeu e deixou que o sonho a levasse mais profundamente…

 

Violanti sorriu contra o mamilo, consciente que ela estava muito adormecida para despertá-la. Não a deixaria despertar. Gostava como ela estava sonhando em seus braços, sem temor ou medo, mas totalmente aberta a seu tato, como uma flor radiante no calor de uma manhã úmida do verão.

Separou os lábios para deixar sair outro gemido, o qual fez com que ele abrisse os olhos. Ah, as coisas que queria fazer a essa boca e faria antes que a noite terminasse. Então, ela sabia seu segredo agora, alguns deles e não se importava. Pela primeira vez em cinco séculos, um humano sabia quem e o que ele era e não importava nada mais, desde que ela não se afastasse dele. Que não fugisse.

Tudo o que pediria seria um pouco de convencimento. Estava seguro, para evitar que ela saísse correndo. Ela era uma escrava de sua sensualidade, de seu encanto e ele o usaria a seu favor como uma arma, até conseguir o que queria.

Mas, o que queria dela? Vida longa, não sabia. Desconcertava-o e talvez, alarmava-o um pouco esta estranha incerteza nele, mas isso não importava. Havia brincado com fogo desde primeiro momento em que cruzara seu olhar com o desta mulher. Havia subido a aposta ao lhe dar sua pintura, sabendo que a liberaria do feitiço do esquecimento que ele havia depositado em Fetiche, cada vez que ela aparecia. Era consciente que ela suspeitaria de algo, cedo ou tarde, depois de receber o presente, depois de recebê-lo em seu lar.

E ela aceito o presente e dessa forma convidara-o a sua casa sem se dar conta, algo que sabia que ela tinha decidido não fazer esta noite, já que não todas as ficções de Hollywood estavam longe da norma. Era por isso que ela o esperara esta noite, em vez de fugir. Esperara-o com uma arma mísera e insuficiente fortemente presa em suas mãos, até que ele a levou em um sonho profundo e a levou facilmente à cama. Ele jurou que esta noite lhe mostraria quão inútil eram todas as defesas contra ele e, também levaria a fim o temor infundado que Aerin sentia por ele.

E ela amaria cada minuto intenso.

Sua doçura não era uma humana tola, apesar de ser um pouco inocente. Que tenha descoberto sua natureza ou ao menos sua essência, comprovara-a.

E, depois da conversa no telefone, se essa falsa de briga podia chamar de conversa, estava muito claro que ela já não era tímida ou vergonhosa.

De fato, Aerin tivera a coragem de lhe dizer que se calasse. Diabos! Ela havia gritado. Nunca ninguém lhe dera uma ordem e muito menos de se calar. Ela havia mudado de tanta maneira, que já não era inocente e assustadiça, como a conhecera. Era atraentemente irritante. Tudo sobre ela era o fazia ficar duro como uma rocha, de saber que havia ajudado-a a abrir as asas, igual às pernas.

Levantou-a e lhe beijou a boca, com força. Deus! Ela possuía a boca mais sexy que tinha visto.

Ela era uma ameaça.

O mais sensato seria se levantar, apagar sua memória, pegar a pintura e partir. Mas sabia que não podia fazer isto. Não mais do que podia matá-la, sem se matar. Amava-a muito.

E quando se apaixonara por ela?

Desde a primeira noite, quando ela o comeu com o olhar inocente, enquanto lançava toda sua carga sobre o ventre? Ela ficou sem fôlego, tremendo. E tão umidamente excitada, que realmente ele podia cheirar os rastros mais fracos do sangue de sua menstruação mais recente no calor entre as pernas. Ah... Ai... Sim, ele a amava e sabia muito bem que estava destinado a lhe dizer tudo cedo ou tarde, quisesse ela ouvir ou não.

Sabia que devia deixá-la despertar. Também sabia que ela deveria superar a ira e o temor antes de poder obter algo mais desta relação. Mas, primeiro… A boca de Aerin atraiu seu olhar e ele lambeu os lábios como o predador perigoso que era.

Levou os dedos longos ao zíper da calça e Aerin deu um suspiro profundo em meio ao sonho.

 

-Acorde Aerin. É hora de conversarmos.

A água fria não poderia tê-la feito despertar exaltada mais rápido que as palavras sorridentes da boca de Violanti. Ela deu um grito e se afastou para trás na cama. Estava com a boca cheia de uma doçura estranha e duradoura, com a cabeça afligida e se perguntava que diabos estava fazendo na cama com ele, quando minutos atrás…

-Você me fez dormir.

Os lábios pecaminosos se estiraram em um sorriso grande e malvado.

-Sim.

-Entrou em minha casa.

-Sim. O sorriso se tornou maior, cintilante pelo brilho dos dentes sob a luz da lua. Ele tinha apagado a luz do aposento, ela se deu conta, embora não parecesse importante nesse momento. Provavelmente para desequilibrá-la.

Quando enfocou totalmente os olhos na escuridão... Onde havia deixado as lentes de contato? Ela se deu conta de que ele estava deliciosamente deitado a seu lado. Estava com a calça aberta e o membro, brilhante, úmido e duro saía para cima em direção ao umbigo. Ele estava com a camiseta levantada sobre o estômago.

-O que fez? – Aerin sentiu um comichão na boca.

-A que se refere?

Seu olhar inocente não a enganou um segundo. O sabor doce que persistia em língua pareceu repentinamente indicativo. - Por que está assim? – Ela disse em referência a seu cabelo despenteado.

-Por que acreditas? - Essa voz tão sinistramente sinuosa a fez ficar louca de luxúria, apesar que lutava terrivelmente contra.

Sentia a boca torcida, sexy e machucada. Isso, combinado com o sabor persistente nela… Então soube exatamente o que ele havia feito.

-Porco! Eu estava dormindo. – Ela deu um grito de indignação, mesmo enquanto saboreava o gosto descontrolado. E realmente o saboreava, apesar das circunstâncias e dela mesma.

Ele riu. - Eu não estava dormido. Além disso, você gostou. – Violant se inclinou e se aproximou de maneira conspiradora, com os olhos resplandecentes à luz da lua, que brilhava através da janela do aposento. – Você gemia perto de mim.

-De asco!

-Mentirosa. Engoliu-me como se fosse uma mulher que morria de sede. Lambeu-me com essa língua que tem e ronronou como um gatinho a cada jorro.

-Por que, estúpido... – Aerin se atirou contra ele, além do medo, farta de sua total desfaçatez impenitente.

Ele deixou que ela o golpeasse, enquanto sorria despreocupadamente como um louco, de uma forma que ela nunca tinha ouvido antes. Sem sequer tentar se esquivar dos golpes, como se as bofetadas e murros não o machucassem, absolutamente.

E então Aerin se deu conta de que, provavelmente, não o machucavam. Não, se ele era um vampiro. Era muito forte para isso.

Ela se deteve, com as veias geladas. -Veio me matar?

Ele ficou sério instantaneamente. - Não seja tola. Poderia ter te matado mil vezes e você sabe disso.

-Então, por que não o fez? – ela sentou-se novamente na cama, olhando-o com cautela.

O olhar impaciente de Violanti estava tão cheio de exasperação, que ela queria golpeá-lo novamente e o teria feito, r porque pensou que ele não se alteraria. -Sabe por que. Simplesmente não quer aceitar. Não sou um assassino, Aerin.

-Mas é um vampiro. Não? - Nem em um milhão de anos ela teria imaginado que teria uma conversa como esta, em frente a um homem nu e sensualmente repleto de seus abusos, à luz da lua. Era tudo muito absurdo. Ela quase se pôs a rir, mas não o fez, devido que sabia que soaria histérico.

Os olhos de Violanti brilhavam na luz tênue, de prateado a azul, a verde, a um carmesim brilhante e ardente e ela soube que ele fazia a propósito. Para que ela entendesse como ele era. - Sim, sou-o. Mas não como o vampiro habitual de Hollywood. – Ele levou uma mão ao membro e brincou com a argola prateada que lhe transpassava a carne ainda endurecida.

Aerin tentou desviar o olhar, embora sabia que era um esforço impossível; Então olhou cada um de seus movimentos com entusiasmo, a pesar do temor.

-A prata não é ruim para os vampiros ou algo assim? – Ela perguntou, com a boca seca e a voz áspera.

Os olhos de Violanti eram diabólicos e cúmplices. - Imagino que poderia se dizer que sou alérgico à prata. Ela queima, – ele puxou brandamente a argola prateada com os dedos e vaiou entre os dentes. - bastante. Da cabeça de seu membro emanou uma lágrima solitária de excitação. – Eu adoro a dor leve; ela realça o prazer.

Aerin respirou fundo, de forma entrecortada. Tentou recordar por que estavam ali, por que estavam tendo esta conversa. Tentou, com toda vontades, ignorar suas próprias necessidades, sua própria excitação. Não era como os vampiros de Hollywood... Então, o que era?Devia saber.

Ele deixou de mover os dedos e arrumou a roupa com decisão. Aerin poderia ter começado a chorar quando ele voltou a fechar a calça. – Você me ouvirá? Realmente ouvirá o que tenho para te dizer? – ele perguntou-lhe.

-Sim. Conte-me.

-Muito bem. Aerin, meu amor. Direi algo que jamais disse a outro ser humano em mais de quinhentos anos...

 

Florência, Itália. 1497

-Violanti, menino tolo, me traga as gemas de ovos e se apure.

Violanti retorceu os lábios de raiva. Já não era um menino, não aos vinte e três, mas seu professor insistia em chamá-lo assim e o faria até que morresse ou Violanti o matasse. E Violanti D’Arco sabia que podia matá-lo, estava farto das petições incessantes do ancião.

E depois, seu nome significava algo como violenta escuridão. E depois de tudo, sua natureza era a muito tempo, de causar estragos de alguma forma. Não havia dito sempre o bêbado e canalha de seu pai, a maioria das vezes com uma bofetada? Se alguém sabia sobre essa violência no coração, seria seu pai, que tinha o mesmo sangue escuro.

A família D’Arco descendia de feiticeiros, praticantes das artes brancas desde antes mesmo de Merlin. Ou dizia a história.

Não surpreenderia a ninguém o fato de que ele escondesse pensamentos tão perigosos como matar a golpes seu professor. Mas não faria. Sabia que não o faria. Apertaria os dentes, enterraria sua ira e se encarregaria dos pedidos do velho.

E depois, Violanti queria converter-se em seu próprio professor e a única forma de fazê-lo era permanecer com seu professor e aprender as últimas lições que aperfeiçoariam sua arte. Estivera aprendendo durante toda a vida, estudando e produzindo, mas seu professor atual, um estudante de Lorenzo o Grande, lhe ensinaria coisas que nenhuma escola, livro ou professor poderiam ter lhe ensinado até agora. Por isso viera até ali há três anos, passados já vinte anos, para esta cidade, tão longe de seu lar rural ancestral, para aprender com um dos melhores pintores de Florência.

A pintura era o único que importava a Violanti. A pintura e as mulheres. E era um artista dotado com ambos os meios. Havia pintado durante toda sua vida e tinha levado para cama muitas mulheres desde seu aniversário de treze anos e este lugar, finalmente era sua possibilidade de aperfeiçoar ambas as habilidades. Ali, no epicentro da aprendizagem renascentista que era Florência.

-Se apure, menino. - O ancião grunhiu outra vez, impaciente e com cara feia.

Violanti apertou os dentes enquanto seu professor lhe pedia as coisas e abriu sua mente para receber a lição que aprenderia quando o ancião pusesse o pincel no tecido, no ar sufocante do verão do palácio.

Horas depois, enquanto o sol se escondia, Violanti olhava o fruto de seu trabalho. Uma pintura vibrante, uma cena de estátuas de mulheres gordinhas realizada em mármore, entre as folhas de uma parreira retorcida e cerâmicas rotas. A peça agradaria seu mecenas e Violanti ganharia muitos florins pelo esforço. Ele estava feliz. Ainda não havia obtido a perfeição, sequer era o bastante bom para aplacar sua demandante sede pela excelência, mas no momento, estava bastante perto.

-Vai levá-lo a Signora esta noite.

Violanti franziu o cenho. - Ainda não está seco. Levará vários dias para que os pigmentos se assentem...

- Oh, menino, mas ela ordenou que lhe entregasse na mesma noite em que estivesse terminado, sem demoras.

Bom, a mulher nobre, rica e pomposa que tinha encomendado a peça podia tê-la quando quisesse, enquanto pagasse a Violanti as moedas que havia prometido. Ele concordou com o ancião, que mostrou cara feia pelo que acreditava, sem dúvidas, que era uma amostra de insolência intolerável em um aprendiz. – Vou levá-lo. - Murmurou Violanti.

-Depois do entardecer e não antes.

É obvio. Ele recordou a solicitude excêntrica da Signora de realizar a transação só nas horas da noite iluminadas pela lua. Como podia esquecer com esse moedeiro tão carregado pelo meio? Quando o sol se colocou sobre o horizonte, ele pegou sua preciosa carga e se dirigiu à casa da Signora.

Caminhar pelas ruas de Florência durante a noite era uma experiência que Violanti desfrutava muito. Tantos caminhos diferentes de vida se misturavam ali, em busca de conhecimento, em busca de arte. A política se debatia aberta e intensamente e era a alma da cidade. O ar estava cheio de poesia e de música. A comida e o vinho circulavam; as mulheres bonitas abriam as pernas ansiosas diante de qualquer homem com rastros de tinta sob as unhas. Era um lugar encantador e mágico, Florência.

-Olá, formoso. - Chamou-o uma voz sensual da entrada de uma casa.

-Maria, minha flor.

A mulher riu, pavoneando com um sorriso prometedor nos lábios. -Pensou que podia passar sem que eu te visse? Diabinho. Não sou tão fácil de enganar. Maria suspirou e passou a língua pelos lábios, da maneira em que o fazia uma libertina como ela. -Desejo-te esta noite, meu semental. Ficaria comigo uma hora?

Violanti, cuidadoso com a pintura, beijou-a fortemente nos lábios com um estilo galante. - Agora não, minha flor. Tenho que entregar uma pintura a seu novo dono e não pode esperar.

Seu olhar se acendeu com um fogo repentino e se dirigiu para o tecido que ele sustentava de maneira tão protetora. - Posso ver…?

Ele deu um passo para trás. - Não. Ainda está úmido. Levo-o assim, sobre a cabeça, - ele apertou as mãos, - de maneira que a pintura não se manche ou escorra.

Ela fez uma careta e Violanti teve que admitir que era uma careta realmente cativante. – Você é cruel, Violanti. Eu adoro suas pinturas, mas não compartilha esta comigo. Deve-me muito por isso, - ela brincou. -Virá esta noite?

-Voltarei. – Ele prometeu, sem saber que nunca voltaria a ver a formosa Maria novamente.

-Me beije outra vez, assim acredito em você.

Ele abriu a boca para deixar passar a língua dela e sentiu que seu membro lhe endurecia com a promessa do beijo. Separar não era muito difícil, mas tampouco era completamente fácil.

Com um movimento desenvolto de andar, finalmente ele se dirigiu à casa da Signora. Estava escura por dentro, diferente das centenas de outras casas que se acendiam a noite, com as numerosas velas coloridas. Ele perguntou-se despreocupadamente se a mulher estava em casa. Não queria ter que retornar com a pintura ao palácio. Queria se deter no caminho e passar uma hora, ou três, nos braços da sedutora Maria.

-Boa noite Signora Laggia. Há alguém em casa?

Não havia resposta. Mas uma sensação quente e lânguida se filtrou em seu corpo, não muito diferente do calor doce do desejo. –Olá. – Ele chamou novamente, surpreso de que sua voz pudesse soar tão fraca. Tão longe.

De repente, uma luz se prendeu na janela, convidando-o a passar.

Estava escuro dentro da casa. Violanti colocou com cuidado a pintura com esculturas de estilo grego em frente à lareira. Um ruído atrás de si o fez se sobressaltar e se voltar.

-Assustou-me, Signora.

- Seriamente, Signore D’Arco? - A voz da mulher era áspera, mágica e excitante como recordava.

-Sim. Assustou-me.

-Então, peço-te desculpas. - A luz titilava dos candelabros que ela sustentava e projetava sombras estranhas, mas formosas sobre a face dela.

Por algum motivo que não podia explicar, ele se sentiu encurralado, preso pelo olhar brilhante. E não era nada desagradável. Violanti estava tão duro como o mármore por esse motivo. - Trouxe sua pintura.

-Certamente está esperando seu pagamento, não é assim meu formoso artista?

Ele estava se afogando nos olhos da senhora. A mão dela, tão calma e suave, flutuou para lhe acariciar o rosto áspero pela barba.

-Tanto talento em alguém tão jovem. Você gosta desta vida, Violanti? Você gosta de ser o servente de um velho senil que não tem nem a metade do talento que jaz latente dentro de ti?

Sobressaltado e incômodo, Violant engoliu saliva enquanto a senhora aproximava a boca da dele.

Ele quase perdeu o controle, quase derramou seu sêmen ali mesmo, nesse momento.

-Você tem muito potencial. Se somente soubesse. Se tão somente tivesse o tempo para encontrá-lo dentro de ti...

-Q... O que está fazendo Signora?

-Estou sozinha, cansada e decadente. Mas você tem muito fogo e paixão. Tomaria essas coisas de ti. Deseja-me Violanti D’Arco, filho de feiticeiros, filho do homem, professor de pintores? - Seu olhar o queimava.

O ego de Violanti se alargava junto com o membro, mesmo enquanto lhe enchia a boca do sabor metálico do temor. Ele não podia mentir a ela, não podia encontrar a vontade. -Sim.

-Compartilhará seu sexo comigo?

Ela sustentou-o meigamente com a mão e ele caiu de joelhos com um gemido. Ela o seguiu para baixo, com um sorriso enigmático. -S-sim.

-Compartilhará seu sangue comigo?

Nesse momento, ele poderia ter perguntado tudo, que ele teria respondido afirmativamente. -Sim.

-Compartilhará seus longos anos comigo? Aprenderá de mim até que seja o bastante forte para sair e provar o mundo por seus próprios meios? Um professor de seu próprio destino.

O que ela estava lhe perguntando? De alguma forma, tinha lhe tirado toda a roupa sem que ele desse conta, sem sua ajuda, e estava acomodando para montar seu membro pulsante e ansioso. -Sim. Sim a tudo. Sim mil vezes. – Ele sussurrou enquanto ela se afundava sobre ele como uma luva úmida e ardente.

A Signora Laggia sorriu e mostrou um par de incisivos malvados e finos e logo arremeteu.

E o destino de Violanti ficou escrito. Já não era um homem com vida, submetido à mulher que tomou e o converteu em um íncubo. Um ser de sangue e paixão, imortal e belo para sempre. Amou-o a cada segundo de sua morte, gritou seu êxtase pela volta do céu e renasceu nos longos anos da eternidade.

 

-Então, você se alimenta de sexo e sangue.

-Sim. E essas coisas se devem dar por vontade própria ou não têm valor duradouro.

-Como a comida rápida comparada com um banquete, não?

Ele sorriu, inclinou-se contra a parede como se estivesse cansado depois de lhe contar sua história. -Algo assim.

-O que aconteceu a mulher que te criou, a Signora Laggia?

-Cansou de mim rapidamente e eu dela. Éramos muito independentes para estar muito tempo juntos e teimosos, muito concentrados nossos próprios prazeres.

-Amava-a?

-Ela era minha mãe. Minha amante. Ainda é minha amiga, embora não falo e não a vejo em quase um século.

-Não me respondeu.

-Soas ciumenta. – Ele burlou. -Está com ciúme?

-Só responde a maldita pergunta.

-Ninguém que pudesse te ouvir agora acreditaria que tão somente a um mês era tão tímida como um camundongo.

-Grrrr!- Aerin exclamou exasperada.

Violanti riu. -Se acalme. Não. Eu não a amava. Eu não a amo. Nosso vínculo não é tão forte ou complicado como isso.

Eles ficaram em silencio durante um momento longo.

-O que aconteceu Joseph Tayler? – Ela tinha que saber. Devia ouvir de seus lábios. Acreditaria-lhe, sem importar o que dissesse.

Não havia simulações entre eles agora. Sequer se incomodava em aparentar que não sabia do que estava falando.

-O Sr. Tayler ficou sem sangue por culpa de seu amante, um novato do clube que não teve nada melhor a fazer e que não podia se controlar. Ele também morreu, preso pela morte com seu amante humano.

-Você não teve nada que ver com isso?

-Dei a ordem de desfazer dos corpos. E instruções de que deixassem o Sr. Tayler junto com uma bolsa com quase meio milhão de dólares para repartir entre os familiares ou amigos sobreviventes que pudesse ter. Mas não matei nenhum dos dois.

Meio milhão de dólares! Ela não tinha lido nada disso no jornal. Sem dúvida, o irmão se esqueceu convenientemente de mencionar sua existência às autoridades. - Espere um minuto. Você deu a ordem?

-Sim.

-E Madame Delilah, ela sabia a respeito disto?

-Está cheia de perguntas tolas esta noite, meu amor. Sim. Delilah sabia a respeito disto. Sim. Ela ajudou a levar a cabo minhas ordens.

-Mas, por que faria isso?

Violanti lhe lançou um olhar desconcertante e depois sorriu, quando se deu conta do que lhe causava tal confusão. - Porque sou o dono do Fetiche.Todos os que vivem no clube me devem o sustento de suas vidas. De fato, devem-me suas próprias vidas. Fazem o que eu lhes digo, sem questionar.

-O clube é teu? - Ela se sentiu como um papagaio.

-Sim.

-Por isso Delilah não me cobrou as visitas, sequer a primeira vez.

-Fixou-te, não? - Brilharam-lhe os olhos. -Sim, por isso. Embora de todo modo, temos por regra não cobrar nossos clientes depois de sua primeira visita. Não em dólares. Cobramos o preço da paixão e do sangue. Serve-nos muito mais que o dinheiro, de toda forma. Eximi-te da tarifa por completo. O que tirei de ti foi bem mais precioso para lhe pôr um preço.

Aerin fez caso omisso. - O que me diz da pintura? Minha melhor amiga acredita que os hormônios da menopausa me fez enlouquecer porque posso ver um homem nessa pintura, enquanto ela insiste que não há ninguém. Por que ninguém te pode ver, exceto eu?

-Porque eu quis assim. Misturei os pigmentos da pintura com meu sangue e com isso a enfeiticei. Esta pintura permitiu que recordasse coisas sobre mim e Fetiche, mas também evitou que outras pessoas vejam claramente os segredos que se devem guardar dos estranhos. Minha própria existência é secreta; nenhum humano fora do clube deve reconhecer a mim ou aos outros membros de meu aquelarre. É uma precaução necessária. Não somos humanos. Se tirasse o chapéu nossa existência, seria um caos total.

Acelerou-lhe a respiração, em sopros curtos, nervosos e entrecortados. -Não posso acreditar que esteja acontecendo isto.

Violanti se aproximou dela e lhe apoiou as mãos brandamente sobre os ombros. -Respira lentamente. Está se hiperventilando.

- Idiota! - A irritação ajudou a lhe acalmar o pânico de alguma forma, mas ainda estremecia com cada respiração.

Em diferentes circunstâncias, o susto em seus olhos a teria feito sorrir.

-Ninguém havia me chamado idiota antes. – Violant disse a palavra com um ar depreciativo, como se a sensação da palavra em seus lábios fosse detestável.

-Bom, você é. Um grande idiota, peludo e cheiroso.

O véu longo e escuro dos cílios de Violanti se movera, pela surpresa. – Sente-se melhor agora?

-Sim.

-Amo você, sabe? – Ele disse ele sem rodeios.

Aerin choramingou e o pânico a alagou novamente. -Não, não me ama.

Ele somente a olhou.

-É um vampiro!

-Um íncubo. Espere, não. Isso tampouco é completamente exato. Tecnicamente, não sou um vampiro nem um íncubo, esses são simplesmente termos pensados por humanos para classificar algo que está além da compreensão dos mortais. Só somente o que sou.

-Não discutamos semânticas. Você me mordeu. Tomou meu sangue. Sei que o que fez. Isso o converte em um vampiro, o fato de que tenha bebido meu sangue.

Ele tinha o olhar intenso e brilhante, cheios de pequenos pontos carmesins, na escuridão. - E foi o mais doce que jamais provei.

-Eu não o amo, - ela disse finalmente.

-É uma grande mentirosa. – Violant disse fazendo um gesto irônico com os lábios.

-Não te amo! – Aerin deu-lhe um murro no braço sem sequer dar conta de que quisera.

Ele suspirou. -Então admita que ame ou não. Tem que escolher, doçura.

Um assobio de temor a fez ficar imóvel. - Ah, sim? E - escolher o que?

- Aceitar-me. Aceitar o que sou. E tudo o que isso significa. Ou limpe minha lembrança de sua memória, de Fetiche e de todos os que ali vivem e te deixo morrer uma morte natural, ignorando estes acontecimentos.

-Não compreendo. Por que não posso prometer não dizer a ninguém? E a que se refere com morte natural? Do contrário me mataria?

- Se você se decidir se afastar de mim tomarei sua lembrança de mim e a minha de ti. Não colocarei em risco meu aquelarre por amor, nem sequer por ti. Mas se me escolher, aceitando tudo a respeito de mim, então tomarei sua morte de mortal e a converterei em minha esposa. Algo que nunca tentei fazer com outra pessoa. Em todos meus anos, nunca havia pensado. Será a primeira e a única para mim. Minha filha de sangue. Te darei uma vida eterna e estarei a seu lado para sempre.

Aerin saltou da cama, mas Violanti era muito rápido para ela. Moveu-se com mais rapidez do que pudesse seguir sua visão e a segurou. Levou-a novamente perto dele e lhe deu um beijo febril no pescoço. Ela gemeu, sem estar segura de que era temor ou desejo. Se ela fosse honesta com ela mesma, deveria admitir que era uma mistura muito forte dos dois. Ele segurou um seio com a mão firmemente. Deixou-a sentir como raspava os dentes perigosos em sua pulsação.

-Não me tem medo, doçura. Tem medo de ti mesma e do que suas paixões a farão fazer. – Ele disse com um grunhido.

-Me solte.

-Não me tema Aerin. Nunca te machucaria voluntariamente. Sabe disso. Por que seguir com esta briga?

-Porque estou confusa! Porque faz menos de um mês era uma virgem gorda e de meia idade, que tinha medo da idéia de mudar qualquer dessas coisas. Agora, olhe para mim. Só me olhe! Olhe o que fez comigo?

Ela virou em seus braços e ele a soltou, lhe recriminando com ira e desespero. – Você é formosa. Como sempre foste. Dava voluntariamente toda a magia que tinha nas noites que passamos juntos. Para que pudesse encontrar em seu corpo a beleza que combine com a que já tinha, mas nunca pôde ver. A beleza que sempre vi e desejo de ti.

-Nunca fui bela. Agora sou, mas não sou assim, este corpo não é meu.

-Mas é. É o florescimento de sua confiança, de sua sensualidade, seu poder como mulher, que agora vê no espelho quando se interessa em olhar. Minha magia só te permitiu conhecer essas ferramentas necessárias para suscitar tal mudança. Meu poder não te deu as ferramentas. Elas sempre estiveram dentro de ti.

-Não se te amar ou te odiar, maldição.

-Você tem até sábado para que pense, já que não sabe o que pensa. Vá a Fetiche sábado de noite com sua decisão. - Havia um sotaque de irritação em seu tom de voz, mas seu rosto permaneceu imperturbável.

-Isso não é tempo bastante.

-Terá que ser, doçura. Você goste ou não, até sábado é tudo o que posso te dar. Pense. Pode ter uma eternidade comigo, ou pode perder quatro semanas dignas de sua lembrança. É sua escolha.

Ele pareceu desaparecer em frente a ela e somente o golpe da porta dianteira a convenceu de que ele não tinha o poder de aparecer e desaparecer a seu desejo. Não tinha que fazer. Movia-se muito rápido.

-Maldito seja… Vampiro! Grrr.

 

O sábado chegou e passou e Aerin deixou que passado ao largo, sem reparos. Não foi a Fetiche. Não saiu da casa. Queria saber o que faria Violanti se ela não fosse ao clube como tinha ordenado de maneira tão arrogante.

Surpreendeu-se ao ver que ele não tomou atitude.

Não teve chamadas telefônicas e nem visitas, nada. Somente um silêncio interminável e com maus pressentimentos. O que a fez se preocupar. Mas também a aliviou um pouco. Tinha necessitado de mais tempo para estudar atentamente as coisas.

Foi fácil faltar à semana no trabalho. Até Heather tinha fomentado sua decisão, porque ainda acreditava que sua amiga estava enfadada de trabalho e de tensões depois da derrota da pintura. Aerin se perguntou se as coisas seriam sempre iguais entre elas. Até se perguntou se isso importava. Se fizesse como Violanti dizia, ela estaria para sempre com ele ou perderia uma porção da memória e ambos os panoramas não deixavam muito espaço para a amizade de Heather em sua vida, sem importar quanto a teria querido.

As coisas saíram de controle rapidamente e não havia nada que Aerin pudesse fazer para evitar.

Suas emoções eram tão intrincadas e confusas que não podia tomar uma decisão. Durante dias, percorreu os cômodos da casa, pensando em tudo e nada, perguntando quando e se Violanti viria. Perguntava-se se queria que Violanti viesse. Com um sentimento parecido ao horror, deu-se conta de que sim. Que queria, mais que tudo. Isso lhe arrepiou os cabelos.

Estava apaixonada pelo vampiro.

Mas, estava pronta para renunciar sua vida por ele? Para estar eternamente com ele? Ele lhe prometera que seria para sempre. Aerin acreditava que ele cumpriria tal promessa. E enquanto uma eternidade nos braços de seu verdadeiro amor parecesse mágico e correto sobre a superfície, ela temia a correnteza que fluía sob ela.

Se ela escolhesse ficar com ele, se converteria em alguém como ele. Teria que beber sangue. Teria que se alimentar de prazer, como havia dito Violanti? Essa energia dourada que os humanos derramavam quando compartilhavam o sexo? A força da vida. Teria que tomar a força da vida dos humanos para poder viver. Mas realmente podia fazer algo como isso, com plena consciência?

Os pensamentos giravam em sua mente. Não podia comer, quase não dormia e tinha muitos sonhos, mas tudo o que podia fazer era pensar.

E olhar fixamente a pintura de Violanti.

Sentava-se no living durante horas e olhava a tela com um sorriso sonhador na face. Às vezes, podia jurar que os olhos de Violanti realmente a olhavam do quadro, que podia vê-la ali sentada, de onde ele estivesse. Aerin supôs que não era impossível. Tinha visto e aprendido tantas coisas incríveis desde que conhecera Violanti que não sentiria falta deste tipo de magia de sua parte.

Tanto pensar e perguntar não estavam lhe fazendo nada bem, embora tivesse esperado o momento em que pudesse agradar seus pensamentos intrincados. Seguiu pensando que talvez, não restasse outra opção, talvez nunca houvesse desde o primeiro momento em que tinha cruzado o olhar com o dono de Fetiche.

Não foi a não ser na quinta-feira a noite que teve notícias. E não era Violanti quem a buscava. Era Madame Delilah.

Aerin ficou muda ao ver a mulher esperando pacientemente que ela lhe abrisse a porta e lhe permitisse passar. Teria esperado qualquer pessoa, menos a ela.

-Posso entrar?

Sem palavras, Aerin lhe disse que sim, com a cabeça.

Madame sorriu. - Não funciona dessa maneira. Você deve dizer em você alta. Ou deve tomar algo meu, mas temo que não tenho nada para te dar.

-Entre.

Com uma graça elegante, a mulher mais alta que ela transpassou a soleira e entrou na casa de Aerin, com uma tranqüilidade serena que, de alguma forma, serviu para fazer com que Aerin se sentisse cômoda. -Tem uma casa muito bonita. - Disse Madame depois de observar detalhadamente o aposento. -Não entro na morada de um humano desde década de 1940, quando eu era humana.

Aerin se surpreendeu. -Tanto tempo?

Delilah sorriu, -Oh, sim.

-Como-, Aerin engoliu saliva, - como se converteu no que é?

-Meu amante. Apaixonou por mim e por ele. Não podíamos suportar ficar separados. Então, fez-me ser como ele, para que pudesse viver com ele para sempre.

-Onde está agora? - Certamente, esta seria a resposta que influiria em sua decisão para fazer uma coisa ou a outra. Em tantos livros, os vampiros se cansavam com facilidade de seu amante e a eternidade era um tempo muito longo para compartilhar com qualquer pessoa.

-Vive em Fetiche, ajuda-me com a contabilidade da casa. Está tão apaixonado por mim, como eu por ele. Nossas paixões e corações nunca se debilitaram, um para o outro. Delilah sorriu. – Você parece surpresa por isso. Não acredita que os imortais tenham resistência no coração? Preocupa-se que Violanti se canse de ti, não é certo?

Sem dúvidas, a mulher podia ler sua mente. -Sim, preocupa-me. - Aadmitiu Aerin, enquanto se sentava fortemente no sofá.

Madame se sentou com ela, cheia de elegância em cada movimento que fazia. - Não fique preocupada. Violanti é um desses seres estranhos que só podem dar seu coração uma só vez. É por isso que nunca levou outro humano no sangue. Não pode dar imortalidade sem se dar em troca. Esperou-te um longo tempo. Muito tempo. – Ela a fitou com olhos de censura. Sem dúvida, devido por que Aerin estava alongando todo o assunto.

-Não posso comer pessoas. Simplesmente não posso.

-Você não come nada, estúpida. - O insulto soou tão estranho e tão fácil nos lábios elegantemente pintados da mulher. - Os humanos não são como gado para nós, não importa o que a literatura popular a tem feito acreditar. São criaturas sensuais, sagradas e doces. Alimentamos-nos deles ou, melhor dizendo, de sua força de vida, de seu sexo e de seu sangue. Não há nada vergonhoso nem errado nisso. Eles estão dispostos, do contrário, não incomodamos.

-Mas não são conscientes. É como roubar.

-Não sabe nada do que fala. Simplesmente supõe. Não obrigamos ninguém a vir a Fetiche. Vêm por própria vontade. E o que tiramos deles se devolve multiplicado por dez. Damos sexo e prazer, e nos casos como o teu, a primeira vez que se aproximou te damos esperança. Não pode me mentir e dizer que não se beneficiaste em nos conhecer.

-Tem razão. Mas isso não significa que eu poderia levar a vida que vocês levam. Não poderia compartilhar Violanti com ninguém, não poderia estar com ninguém que não fosse ele. Não aceitarei nada menos que a monogamia entre nós, não poderia.

-Posso te provar? – A mulher perguntou-lhe abertamente.

-Não sou comida. - Aerin se afastou dela.

-Não, não é. Mas te mostrarei que pode se alimentar dos humanos, sem compartilhar Violanti ou a você mesma da maneira que supõe. Permita-me que lhe demonstre. Por favor.

Sem esperar sua aceitação, Delilah se aproximou e colocou os braços brandamente a seu redor. Os lábios da mulher estavam impassíveis sobre sua face, agradáveis. - Não a machucarei.

-Todos vocês dizem o mesmo, mas isso não me facilita as coisas.

Delilah riu com um sopro. -Só uma pequena mordida. Violanti me permitiria isso sob estas circunstâncias, creio. – Ela murmurou.

Aerin se sentiu ansiada. De repente, ébria, lânguida e totalmente cômoda. -O que está me fazendo?

-Estou-te provando.

-Não compreendo.

-Já verá. - Madame apoiou levemente a testa sobre o ombro de Aerin.

Um prazer quente e lânguido se infiltrou até a medula de seus ossos. Delicioso e encantador, mas de maneira nenhuma ameaçador ou muito sexual. Era maravilhoso e rejuvenescedor, um doce alívio para Aerin, que não havia dormido durante dias e estava completamente exausta.

Delilah tomou sua mão e levou a pulsação para seus frescos lábios de seda. Uma picada profunda e cortante assinalou a mordida e Aerin deu um grito suave. Mas não tinha a força e nem vontade de lutar. Um pequeno gole. A respiração quente de Delilah fechou as pequenas aberturas, curou-as e Aerin recuperou a consciência com uma tranqüilidade que não tinha sentido em dias.

-Este é somente uma pequena mordida, mas depois de muitos como estes, de diferentes pessoas que estão mais que dispostas a compartilhar é mais que suficiente para nós. E não compromete os laços com nossos casais de maneira alguma. Não há nada que temer quanto a isso, vê?

-Isto é tão estranho.

-A vida sempre é estranha. Para nós, igual aos humanos. Realmente, não somos tão diferentes em muitos aspectos. Alguns de nós somos bons, outros são maus; temos nossas debilidades e fortalezas. Amamos. Ai... Como podemos amar... Nós, criaturas do sangue. Talvez, até com mais paixão que os humanos, que são conhecidos pela fortaleza de seus corações.

-Onde está Violanti? Por que não veio?

Os olhos de Madame se obscureceram. - Ele é inclusive mais teimoso que você. Eu acreditei que destroçaria o lugar quando você não chegou no sábado à noite. Confinou-se em seus aposentos e não nos dirige a palavra. Creio que está esperando que você dê o primeiro passo. Mas eu sabia que necessitava de um empurrão e com ou sem a aprovação de Violanti, por isso vim.

-Não sei o que fazer. – Aerin levantou os óculos, já que tinha perdido uma das lentes de contato o dia em que fora a Fetiche e não se incomodara em pedir uma substituição.

-Decida-se. Escolha entre uma vida imortal de amor com Violanti e uma vida mortal de anos curtos e solitários sem ele. E sem sua lembrança para te consolar. Já que, apesar de que Violanti pode não ter a coragem para seguir adiante e tirar as lembranças de sua mente, asseguro-te que eu não tenho o menor escrúpulo em fazê-lo.

Aerin estremeceu, enquanto ouvia a vontade fria e dura no tom de voz refinado de Delilah, sabendo que ela cumpriria a promessa sem duvidar. – Preciso de tempo.

-Já não tem mais tempo. Já demorou demais. Darei-te até manhã a noite. Então abriremos as portas de Fetiche para você e pode ir onde está Violanti para começar uma vida juntos ou para cortar o laço por completo. Tudo depende de você, minha estimada moça. Espero que seja o bastante valente para fazer essa escolha. Não quero ter que te perseguir.

Como desafio funcionou para fazer que a nervura teimosa de Aerin elevasse a cabeça em um gesto insolente. Como ameaça, também funcionou e uma sensação de temor a fez tremer.

-Amanhã à noite estarei lá.

Delilah sorriu. -Sabia que iria.

 

A porta era vermelha. Uma cor rubi tão escuro e profundo como se fosse uma gota de sangue reluzente. A porta a conduzia, Delilah lhe assegurou, aos aposentos privados de Violanti. Seu lar.

Pensou em bater, mas decidiu não fazê-lo. Que o surpreendesse, era possível, quando ela simplesmente atravessasse a porta. Quer dizer, se não estivesse fechada com chave.

Não estava.

O aposento estava decorado como o resto da mansão. Abundava o vermelho, o dourado e a madeira pesada e escura, em meio a tecidos e texturas suntuosas que a acolhiam, atraíam-na e a relaxavam. O grande living conduzia a uma pequena cozinha, embora Aerin não tivesse idéia de que um vampiro necessitaria de uma e o final da casa havia outra porta, aberta para lhe permitir o ingresso ao amplo dormitório.

-Violanti?

Seu aposento estava cheio de sombras. Só ardia a luz das velas, quente e sedutora e ela não o viu a princípio, já que ele estava sentado em meio à luz tênue. Não tinha idéia de como pôde não tê-lo visto na cama incrivelmente grande. Estava recostado e lhe dirigiu um olhar preguiçoso que a acendeu da cabeça aos pés.

A cama era tão grande como todo o aposento dela. Como Violanti encontrara a roupa da cama devia ter sido uma façanha incrível. Mas então, não havia dúvidas de que era o suficientemente rico para se permitir ter lençóis de linho especialmente fabricados. Ou de seda, como parecia ser o caso, porque esse era o material que cobria a cama. Sedas, cetins e peles em tons de dourado, negro e carmesim. As mesmas cores de sua pele, seu cabelo e seus olhos.

Ele estava deliciosamente nu.

 

-Por que veio? – Ele soou agressivo. Não ia facilitar as coisas para ela. –Vá enquanto eu possa te deixar ir.

-Não.

Ele se levantou sobre a cama e colocou os braços sobre os joelhos flexionados, com uma graça despreocupada.

-Por que está aqui? - Perguntou outra vez.

Era o momento da verdade, da coragem. E Aerin se perguntava por que havia demorado tanto em vir, depois de tudo.

-Por que veio? Não quero saber de nada mais contigo. – Ele passou uma mão pelo cabelo e cada movimento era tão erótico como um beijo.

-Está mentindo. – Ela disse brandamente. - Você me queria aqui, então vim.

-Chegou tarde. Eu lhe disse que se não viesse no sábado, eu me sentiria obrigado a limpar sua memória. E farei isso, - ele disse finalmente.

-Não faça. – Aerin odiava ter que ouvir a irrevogabilidade dura como o ferro em sua voz.

Odiava pensar que ele podia estar dizendo a verdade, que não lhe daria outra oportunidade. - Por favor, não faça.

Em um abrir e fechar de olhos, ele se colocou diante dela e quando Aerin piscou perdeu seu movimento. Ele colocou os dedos no queixo de Aerin e lhe sustentou a face firme, para examiná-la. - Me diga por que não deveria.

-Estou aqui agora. Eu vim. – Ela afirmou.

-Não. Diga-me por que veio. – Ele aproximou a face, mas nem seu olhar e nem sua voz se abrandaram.

-Ainda me ama. – Ela disse, embora uma pontada de dúvida lhe escurecesse o coração.

-Não deveria. - Disse ele e Aerin quase gritou de alívio. Mas fez pedacinhos desse alívio quase em seguida, ao ouvi-lo adicionar: - E isso não muda nada.

-Por favor, - ela tremia.

-Por favor, o que? - Os dedos de Violanti quase a machucavam.

-Sinto muito.

-Eu também. Sinto que está muito assustada para ouvir seu próprio coração. Sinto que não te posso fazer recordar que esteve perto da verdadeira felicidade.

-Violanti, não diga isso. Você me ama.

-E você me ama. – Ele levou a mão sobre um ombro de Aerin e a sacudiu até lhe fazer soar os dentes. - Me diga que me ama e tudo poderá ser perdoado.

-Não. – Ela protestou, assustada pela violência dele. Ela o amava, sabia, mas pronunciar as palavras e ele mesmo assim decidisse abandoná-la e apagar sua memória a teriam matado no instante.

-Diga, demônios. - Agora os dedos a machucavam, apertavam-na brutalmente. Os olhos tinham um brilho carmesim e a boca estava tensa, como uma linha pálida. - Por que está aqui? Diga-me por que está aqui, Aerin.

Escapou-lhe um soluço traidor. - Porque te amo. – Ela animou-se a sussurrar.

Violanti se afastou dela e se voltou para a cama. Aerin sentiu o coração gretar ao ver que ele lhe dava as costas.

- Eu te amo, Violanti. – Ela disse novamente, desta vez mais forte.

Ele se voltou para fitá-la com frieza. Aerin sentiu que terminava seu mundo. Encheram-lhe os olhos de lágrimas. Com uma irrevogabilidade dolorosa, deu-se conta de que ele não cederia. Ele lhe apagaria a memória. Ela tinha esperado muito. Havia colocado muito em jogo e agora o perderia para sempre.

-Por favor, Violanti. Não se comporte assim. – Ela soluçou. - Lamento não ter vindo antes. Mas tinha medo. Não sabia o que fazer, o que pensar. Alguma vez sentiste medo?

Ele separou os cílios e lhe estalou o olhar brilhante e quente. –Venha aqui.

Aterrorizada, consciente de que era tolo fazer o que ele pedia, se aproximou.

-Espere.

Ela se deteve, as lágrimas caíam de maneira incessante.

-Tire primeiro a roupa.

Aerin estremeceu. Obedeceu. Ele seguiu cada movimento dela com os olhos, absorveu seus mamilos duros, a curva do ventre, a elevação perfeitamente sem pelos de seu sexo.

Aerin subiu à cama e engatinhou-se para ele.

-Deixe de chorar e se recoste. – Ele ordenou-lhe, friamente.

-Confio em ti, Violanti. – Ela sussurrou trêmula, recostada sobre os lençóis frescos de cetim. –Amo você. Sempre te amarei, mesmo que desapareça de minha memória. Sempre te recordarei, no fundo de mim. Sempre saberei que também me ama. – Ela engasgou, chorando abertamente e sem vergonha, segura de que cada palavra que dizia era verdade. Com a esperança de que ele também acreditasse.

Somente havia uma pequena vacilação nela agora. Confiava nele, sabia que a amava, sabia que esse amor era correspondido. Não havia magia que pudesse apagar essa verdade.

- Separe as pernas.

Ela as separou, bem abertas, consciente de que ele estava olhando-a.

Passou-se um momento longo. Aerin sentiu acelerar seu coração. Violanti não se aproximou dela, mas ela podia sentir seu desejo. Envolvia o aposento e a esquentava. Ela sabia que ele estava percorrendo seu corpo nu e agitado com os olhos, sabia que ansiava estar sobre ela.

-Diga-o outra vez. – Ele disse finalmente. – Diga que me ama.

Ela sorriu entre as lágrimas, enquanto esperava que ele tivesse piedade. - Realmente te amo. Agora e para sempre.

-Para sempre é o que quero de ti, Aerin. – Violant disse com uma voz pouco clara. Estirou os braços e secou suas lágrimas com as mãos. -Então, decidiu? Estará comigo ou não?

Ele não ia lhe tirar a possibilidade de escolher e ela sentiu que seu coração se regozijava em saber. Engoliu um sorriso frívolo de alívio e centrou em sua presença, na pergunta. Não havia volta atrás na escolha. Nunca tinha existido essa possibilidade. - Estarei contigo para sempre. – Ela prometeu e se sentiu perfeita. Sentiu-se bem.

-Tire os óculos. Não necessitará mais deles.

Aerin tirou e jogou-os despreocupadamente para o lado da cama, onde ricochetearam, deslizaram e caíram no piso com um golpe seco.

- Abra mais as pernas.

Tremendo e emocionada, ela obedeceu.

Ele a cobriu e a sacudiu com seu entusiasmo por retê-la ali sob dele. Sem sequer tocá-la, ela já estava úmida e pronta e ele se deslizou totalmente dentro dela. - Esta noite, a lição é fazer amor.

Brotaram-lhe mais lágrimas dos olhos, à medida que ele a amava lentamente e em silêncio. Cobriu-lhe o rosto de beijos, o pescoço, os seios. Não havia uma polegada do corpo de Aerin que ele não havia tocado ou que suas mãos não teriam acariciado. Um prazer líquido e quente a alagou. Enquanto gemia e se estendia para tocá-lo, envolveu-o com as pernas, respondendo a cada movimento dele com um dela.

Dançaram juntos, unidos, com um carinho tão doce e total, que logo Aerin começou a chorar pela beleza do ato.

-Shh, doçura. Não chore. – Ele bebeu suas lágrimas, absorveu-as delicadamente na pele de suas pálpebras. - Lamento ter te assustado. Estava zangado. Atreveu-se a me desobedecer.

-Eu também sinto. – Ela se colou a ele com mais firmeza, desesperada. - Não me deixe. Nunca me deixe sem isto.

-Nunca. – Ele jurou, enquanto arremetia profundamente.

-Realmente te amo. – Ela tinha que falar. Que contar-lhe

Aerin mordeu-o pelo que disse. A risada de Violanti se converteu em um grunhido. Colocou o membro com mais força dentro de seu corpo úmido. Profundamente. – Faça outra vez.

Ela mordeu-o com força, sabendo que ele gostava.

Balançaram-se na enorme cama e se enredaram nos lençóis. Depois de centenas de beijos e centenas de investidas profundas, Aerin sentiu que a inconsciência suave e doce do orgasmo a percorria com uma onda úmida, rítmica e crescente.

Não sentiu que ele lhe cravava os dentes. Não sentiu que ele extraía seu sangue, quase até chegar à morte. Mas ela saboreou o sangue de Violanti quando ele cortou o peito e deixou correr seu sangue para sua boca aberta e à espera. Era doce e quente e a saciava como a luz do sol, queimava-a do alto da cabeça até a ponta dos dedos dos pés.

O jorro fervendo da ejaculação de Violanti a saciou, queimou-a e mesmo assim, ele não deixou de investir. Aerin acabou outra vez e experimentou a morte como mortal no abraço protetor de Violanti. A escuridão se apoderou dela, enquanto Violanti seguia unido a ela, balançando-se em seu interior. Levando-a para as sombras de sua morte com um sorriso no rosto.

Passaram-se três dias até que ela despertou novamente. Nasceu do sangue, mais forte do que jamais tinha sido. E Violanti estava ali, no fundo de seu corpo, lhe dando um orgasmo atrás do outro. Amando-a. Mantendo-a segura. Durante esses três longos dias e noites, ele não a tinha abandonado. Nem uma vez.

Prometeu a ela e prometeu a sim mesmo que nunca o faria. Nunca mais.

 

A boca de Aerin se movia sobre seu membro, enquanto saboreava o gosto magicamente doce de seu sêmen. Sempre a surpreendia, o sabor doce, uma mistura de sêmen, sangue e magia. Encantava-lhe. Adorava tudo dele.

-Não posso. Não mais. Você está me voltando louco, mulher! Já são três vezes. Esvaziaste-me. Não tenho mais para dar.

Aerin levantou o olhar para encontrar o dele, duvidosa e incrédula. Trabalhou com a boca sobre ele e deixou que visse seus esforços, sabendo que o deixaria louco de luxúria.

 

- Faça. Rapidamente. – O membro inchou em sua boca, quase a engasgando. Sacudiu-a. - Me desate para que eu possa te amar como corresponde, pícara.

Aerin sorriu e o liberou com um beijo ruidoso e úmido. Pegou os laços de couro que o sustentava totalmente consciente de que Violanti tinha toda a força para rompê-los, mas feliz pela vontade de ferro de seu controle em não fazê-lo. Ele tinha prometido não fazer armadilha esta noite. Tinha prometido permanecer no aposento negro, amarrado enquanto ela se desforrava nele. Ele havia mantido sua palavra.

Mal desatou a última corda, Violant a jogou sobre suas costas e a cobriu completamente com seu corpo. Com uma investida longa e calma, estava profundamente dentro de sua acolhedora maciez.

-Você é doce, meu amor. Doce. - Disse Violanti em seu ouvido, com um sotaque forte e musical.

Aerin lhe mordeu o ombro e fez sair sangue com suas presas. Violanti rugiu de prazer e lhe devolveu o agrado. Morderam e arranharam um ao outro. As ínfimas dores deliciosas de seus ferimentos realçavam a excitação. Logo, estavam cobertos por um brilho suave de sangue e suor, rolando pelo piso.

Violanti se colocou acima dela, investiu violentamente nas profundezas de seu corpo, enquanto seus testículos lhe golpeavam fortemente o traseiro e o membro estava tão dentro dela, que Aerin pensava que podia se afogar. A força de suas investidas era tal, que ela se deu conta de que teria destroçado os ossos de qualquer humano. Mas ela era o suficientemente ditosa em não ser mais humana e enfrentava a força das investidas com sua própria força.

Girou junto com ele, que a deixou tomá-lo profundamente, escarranchada sobre ele. Cravou as mãos nos quadris acolchoados e a guiou. - Não posso acreditar! – Ele disse surpreso, segundos antes de enchê-la com seu líquido.

O grito fez vibrar as paredes.

Aerin ricocheteava e o montava, desfrutando do passeio, enquanto ele se retorcia sob dela na agonia de um orgasmo violento. Investiu-a com especial força, enquanto a fazia baixar, com as mãos em seu quadril e ela o seguia ao êxtase e gritava surpresa e eufórica.

Desabaram.

-Não está mal para nosso qüinquagésimo aniversário. Não é assim, doçura?

Aerin sorriu. E rapidamente se colocou outra vez sobre ele, só para se assegurar de que não restasse dúvidas.

 

                                                                                Sherri L. King  

 

 

                      

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