Criar um Site Grátis Fantástico
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


FILHA DA TEMPESTADE / Richelle Mead
FILHA DA TEMPESTADE / Richelle Mead

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT 

 

 

Series & Trilogias Literarias

 

 

 

 

 

 

Eu já vi coisas mais entranhas do que um tênis assombrando, mas não muitas.
O Nike Pegasus1 estava na mesa do meu escritório, inofensivo, colorido em tons de cinza, branco, e laranja. Alguns dos cadarços estavam soltos, e um pouco de sujeira estava presa na sola. Era o tênis esquerdo.
Quanto a mim, bem... por debaixo do meu casaco de couro, eu tinha uma Glock .222 carregada com balas contendo uma concentração de aço mais alta-que-o-legal. Um cartucho de prata estava no bolso do casaco. Dois athames3estavam guardados na minha outra perna, uma com a lâmina de prata outra de ferro. Preso no meu cinto, perto deles, estava uma varinha, talhada a mão de um carvalho e carregada com gemas de feitiço4 com o bastante para provavelmente explodir a mesa do canto, se eu quisesse.
Dizer que eu me sentia super-vestida era falar o óbvio.
"Então," eu disse, mantendo minha voz o mais neutra possível, "O que te faz pensar que o seu tênis está... uh, possuído?"
Brian Montgomery, quase quarenta, com uma linha de cabelo falhando seriamente, olhou o tênis nervosamente e molhou seus lábios. "Eu sempre tropeço quando estou correndo. Toda vez. E ele está sempre trocando de lugar. Eu quero dizer, eu nunca na verdade vi, mas... tipo, eu os coloco perto da porta, então eu volto e encontro esse perto da porta ou algo assim. E às vezes... às vezes eu toco, e ele parece frio... muito frio... como..." Ele procura por algo semelhante e finamente escolhe o mais banal. "Como gelo."

 


 


Seria esse tênis:
Um tipo de arma:
Uma espécie de punhal:
Gema nesse caso é no sentido de pedra preciosa Na net achei dois resultados:
Eu aceno e olho de volta para o tênis, sem dizer nada.
"Olha, Srta.... Odile...ou tanto faz. Eu não estou louco. Esse tênis é
assombrado. É do mal. Você tem que fazer algo, ok? Eu tenho uma maratona
se aproximando, e até isso começar a acontecer, esse era meu tênis da sorte.
E ele não foi barato, sabe. Eles são um investimento."
Soava loucura para mim ­ o que é dizer algo ­ mas não havia mal em chegar,
já que eu já estava aqui. Eu busquei no bolso do meu casaco, o que tinha
munição, e tirei meu pêndulo. Ele era simples, uma fina corrente de prata
com um pequeno cristal quartzo pendurado5.
Eu entrelacei a correndo na ponta dos meus dedos e mantive minha mão
sobre o tênis, clareando minha mente e deixando o cristal ficar pendurado
livremente. Um momento depois, ele começou a girar devagar de acordo
com sua própria vontade.
"Bem, nossa," eu murmurei, enfiando o pêndulo de volta no meu bolso.
Havia algo ali. Eu virei para Montgomery, tentando fazer uma cara de
fodona, porque era isso que o cliente sempre esperava. "Pode ser melhor
você sair da sala, senhor. Para sua própria segurança."
Isso era em parte verdade. Na maior parte eu só achava clientes que ficavam
rondando, chatos. Eles fazem perguntas idiotas e podem fazer coisas idiotas,
o que na verdade, me colocava em mais risco do que eles. Ele não reclamou
sobre sair dali. Assim que a porta se fechou, eu encontrei um jarro de sal em
minha bolsa, e derramei uma grande quantia, fazendo um circulo, no chão do
escritório. Eu joguei o tênis no meio e invoquei as quatro direções com o
athame de prata. Aparentemente o círculo não mudou, mas eu senti um
chamejar de poder, indicando que ele tinha sido selado. Tentando não
bocejar, eu peguei minha varinha e continuei segurando o athame de prata.
Tinha levado quatro horas para dirigir até Las Cruces, e fazer isso tendo
dormido tão pouco, tinha feito a distância parecer duas vezes maior.
Enviando um pouco da minha vontade para a varinha, eu a bati contra o tênis
e falei numa voz cantada. "Saía, saía, de onde estiver."
Só por curiosidade eu achei esse aqui na net :
Houve um momento de silêncio, então uma voz masculina alta falou, "Vá
embora, vadia." Ótimo. Um tênis com temperamento. "Por quê? Você tem
algo melhor para fazer?"
"Coisas melhor para fazer do que perder meu tempo com um mortal."
Eu sorri. "Coisas melhor para fazer em um tênis? Anda. Eu quero dizer, eu já
ouvi falar em visitar lugares menos afortunados, mas você não acha que está
forçando a barra? Esse tênis não é nem novo. Você podia ter conseguido algo
melhor."
A voz manteve seu tom irritante, não ameaçador, mas simplesmente irritada
com a interrupção. "Estou visitando lugares menos afortunados? Você acha
que não sei quem você é, Eugenie Markham? Dark- Swan- Chamada- Odile.
Uma traidora de sangue. Uma mestiça. Uma matadora. Uma assassina." Ele
praticamente cuspiu a última palavra. "Você está sozinha entre sua gente e a
minha. Uma sombra com cede de sangue. Você faz qualquer coisa por
qualquer um que te pague o bastante. Isso te faz uma mercenária. Isso te faz
uma vadia."
Afetou-me como uma frase chata. Eu já fui chamada da maior parte desses
nomes antes. Bem, exceto pelo meu próprio nome. Isso era novidade ­ e um
pouco desconcertante. Não que eu fosse o deixar saber disso. "Você
terminou de reclamar? Porque eu não tenho tempo de ouvir você enrolar."
"Você não está sendo paga pela hora?" ele perguntou nojentamente.
"Eu cobro uma única taxa."
"Oh."
Eu virei os olhos e toquei a varinha no tênis de novo. Dessa vez, eu
impulsionei toda a força da minha vontade nele, me afogando no vigor do
meu próprio corpo assim como do poder do mundo ao meu redor. "Sem
mais brincadeira. Se você sair por conta própria, eu não tenho que te
machucar. Pra fora."
Ele não podia suportar o comando e o poder nele. O tênis tremeu, e fumaça
saiu dele. Oh, Jesus. Eu espero que o tênis não pegue fogo durante o
processo. Montgomery não seria capaz de lidar com isso. A fumaça
aumentou, se aglutinando em uma grande e escura força cerca de 30 cm
mais alta do que eu. Com todo seu gracejo, eu meio que esperava uma
versão picante de um dos elfos do papai Noel. Ao invés disso, o ser diante de
mim tinha a parte superior do corpo cheia de músculos, enquanto sua parte
debaixo lembrava muito um pequeno ciclone. A fumaça se solidificou em
uma pele preto-acinzentada, e eu só tive um instante para agir enquanto eu
avaliava esse novo desenvolvimento. Eu troquei a varinha pela arma,
ejetando o pente enquanto eu a sacava. Nesse ponto, ele estava vindo na
minha direção, e eu tive que rolar para fora do caminho dele, confinada nos
limites do círculo.
Um Queres, um Queres macho ­ o que é mais raro. Eu previ algo
sobrenatural, o que requeria balas de prata; ou um espectro, o que não
requeria balas. Queres são espíritos da morte antigos originalmente
confinados em jarras de Canopo.6 Quando as jarras se desgastavam com o
tempo, Queres tendiam a procurar novos lares. Não havia muitos deles
sobrando nesse mundo, e logo haveria ainda menos.
Ele se abaixou para me pegar, e eu tirei um pedaço dele com a lâmina de
prata. Eu usei minha mão direita, na qual eu usava um bracelete de ônix e
obsidiana. Só essas pedras bastariam para derrubar um espírito da morte
como ele, sem a ajuda de uma lâmina. Certo o bastante, ele assoviou de dor
e hesitou por um momento. Eu usei esse atraso, lutando para carregar o
cartucho de prata. Eu não consegui direito, porque logo ele estava em cima
de mim de novo. Ele me atingiu com um daqueles braços massivos, me
empurrando contra as paredes do círculo. Elas podem ser transparentes, mas
elas eram tão sólidas quanto tijolo. Minha cabeça e ombro esquerdo
absorveram o impacto, e dor passou por mim e eu vi estrelas. Ele pareceu
bem satisfeito consigo mesmo, por causa disso, assim como vilãos super
confiantes geralmente são.
"Você é forte como dizem, mas você é uma tola por tentar me expulsar. Você
deveria ter me deixado em paz." A voz dele estava mais profunda agora,
quase empedrada.
6 Canopo é uma cidade egípcia.
Eu balancei a cabeça, tanto para discordar quanto para me livrar da tontura.
"Não é o seu tênis." Eu ainda não conseguia colocar a porcaria do cartucho.
Não com ele pronto para atacar de novo, não com as duas mãos cheias.
Ainda sim, eu não podia arriscar derrubar nenhuma das armas. Ele tentou me
pegar, e eu o cortei de novo. O ferimento era pequeno, mas o athame era
como veneno. Iria cansar ele com o tempo ­ se eu pudesse ficar vive tempo o
bastante. Eu me movi para acertar ele de novo, mas ele se antecipou e
segurou meu pulso. Ele o apertou, o colocando em uma posição nada natural
e me forçando a soltar o athame e gemer. Eu esperava que ele não tivesse
quebrado meus ossos. Convencido, ele me agarrou pelo ombro com as duas
mãos e me ergueu para que eu ficasse pendurada cara a cara com ele. Os
olhos dele eram amarelos com pupilas em fenda, muito parecidas com uma
cobra. O hálito dele era quente e fedia a decadência enquanto ele falava.
"Você é pequena, Eugenie Markham, mas você é adorável e sua pele é
quente. Talvez eu devesse ir mais devagar e te tomar você. Eu vou gostar de
ouvir você gritar embaixo de mim."
Ew. Aquela coisa tinha acabado dizer que queria transar comigo? E aí estava,
meu nome de novo. Como diabos ele sabia isso? Nenhum deles sabia isso. Eu
era apenas Odile para eles, nomeada pelo cisne negro no Lago Swan, um
nome cunhado por meu padrasto por causa da forma que meu espírito
preferia viajar enquanto visitava o Outro mundo. O nome ­ embora não
muito assustador ­ tinha pegado, embora eu duvidasse que qualquer
criatura que eu lutava soubesse a referência. Eles realmente não saiam
muito. O Queres estava com meus braços presos ­ eu ficaria com roxos
amanhã ­ mas minhas mãos e antebraço estavam soltos. Ele estava tão
seguro de si, tão incrivelmente arrogante e confiante, que ele não prestou
atenção em minhas mãos. Ele provavelmente só viu o movimento como um
esforço fútil de me soltar. Em segundos, eu pus o pente na arma. Eu consegui
desajeitadamente atirar e ele me soltou ­ não gentilmente. Eu tropecei para
recuperar meu equilíbrio de novo. Balas provavelmente não podiam matar
ele, mas uma de prata no centro do seu peito certamente iria doer.
Ele tropeçou para trás, meio surpreso, e eu me perguntei se ele já tinha
encontrado uma arma alguma vez. Eu atirei de novo, então de novo e de
novo e de novo. Os disparos eram altos; com sorte Montgomery não faria
algo idiota e entrar correndo. O Queres rugiu em dor e ultraje, cada tiro
fazendo-o ir mais para trás até que ele estava encostado nos limites do
círculo. Eu avancei nele, recuperando o athame brilhante na minha mão. Em
alguns rápidos movimentos, eu entalhei o símbolo da morte na parte do
peito dele que não estava ensangüentada devido às balas. Uma onda elétrica
imediatamente passou pelo ar dentro do círculo. Os cabelos da minha nuca
se ergueram, e eu podia sentir o cheiro de ozônio, como logo antes de uma
tempestade. Ele gritou e pulou para frente, renovado pela raiva ou
adrenalina ou o que quer que fosse que movimentava a criatura. Mas era
tarde demais para ele. Ele estava marcado e ferido. Eu estava pronta. Em
outro humor, eu poderia ter simplesmente banido ele para o Outro mundo;
eu tentava não matar se eu não precisasse. Mas aquela sugestão sexual tinha
sido demais. Eu estava irritada agora. Ele iria para o mundo da morte, direto
para o Portão de Persephone.
Eu atirei de novo para atrasar ele, minha mira um pouco ruim com a mão
esquerda, mas ainda boa o bastante para acertar ele. Eu já tinha trocado o
athame pela varinha. Dessa vez, eu não tirei poder desse plano. Com uma
bem praticada calma, eu deixei parte da minha consciência sair desse
mundo. Em segundos, eu passei para o Outro mundo. Essa era uma fácil
transição: Eu fazia o tempo todo. A próxima passagem foi um pouco mais
difícil, especialmente comigo estando enfraquecida por causa da luta, mas
ainda sim nada que eu não pudesse fazer automaticamente. Eu mantive meu
próprio espírito longe da terra da morte, mas eu a toquei e enviei aquela
conexão pela varinha. Ela o sugou, e o rosto dele se contorceu de medo.
"Esse não é o nosso mundo," Eu disse em voz baixa, sentindo o poder
queimar através de mim e ao meu redor. "Isso não é nosso mundo, e eu o
expulso. Eu te envio de volta para o portão negro, para a terra da morte
onde você pode renascer desaparecer em esquecimento ou queimar nas
chamas do inferno. Eu não dou à mínima. Vá."
Ele gritou, mas a mágica o pegou. Havia um tremor no ar, um
desenvolvimento de pressão, e então acabou bruscamente, como um balão
murcho. O Queres havia sumido também, deixando só um uma chuva de
faíscas cinza que logo viraram nada.
Silêncio. Eu afundei nos joelhos, exalando profundamente. Meus olhos se
fecharam por um momento, enquanto meu corpo relaxa e minha consciência
retornava para esse mundo. Eu estava exausta, mas exultante também.
Matar ele foi bom. Até mesmo emocionante. Ele teve o que mereceu, e fui
eu que o fiz.
Minutos mais tarde, parte da minha força retornou. Eu levantei e abri o
círculo, de repente me sentindo dura. Eu guardei minhas ferramentas e
armas e fui procurar Montgomery. "Seu tênis foi exorcizado" eu disse a ele.
"Eu matei o fantasma." Não tem porque explicar a diferença entre um
Queres é um verdadeiro fantasma; ele não entenderia.
Ele entrou no escritório devagar, pegando o tênis. "Eu ouvi tiros. Como você
usa balas em um fantasma?"
Eu dei nos ombros. Doeu onde o Queres tinha batido meu ombro contra a
parede. "Era um fantasma forte."
Ele acariciou o tênis como uma criança e então olhou para baixo em
desaprovação.
"Tem sangue no carpete."
"Leia a papelada que você assinou. Eu não assumo responsabilidade por
danos ocorridos a propriedade pessoal."
Com algumas caretas, ele pagou ­ em dinheiro ­ e eu fui embora. Verdade,
ele foi tão entusiástico com tênis, que eu provavelmente poderia ter
destruído o escritório.
No meu carro, eu desenterrei um Milky Way7 da minha porta malas. Batalhas
como essas requeriam açúcar e calorias imediatas. Enquanto eu
praticamente enfiava a barra de cereal na minha boca, eu liguei meu celular.
Eu tinha perdido uma ligação de Lara.
Assim que eu comi uma segunda barra e estava na estrada de volta a Tucson,
eu liguei para ela.
7 Barra de cereal
"You," eu disse.
"Hey. Você terminou o serviço do Montgomery?"
"Yup."
"O tênis estava realmente possuído?"
"Yup."
"Huh. Quem diria? Isso é meio engraçado também. Tipo, você sabe, almas
perdidas e solas em sapatos..."
"Mal, muito mal," eu falei. Lara pode ser uma boa secretária, mas eu só
posso agüentar até certa medida. "Então, o que aconteceu? Ou você só
estava checando?"
"Não. Eu acabei de receber uma estranha oferta de trabalho. Um cara ­ bem,
honestamente, eu achei que ele soava meio esquizofrênico. Mas ele alega
que sua irmã foi abduzida por fadas, er, gentry. Ele quer que você encontre
ela."
Eu fiquei em silêncio com isso, encarando a estrada e o céu azul à frente sem
ver conscientemente nenhum deles. Uma parte objetiva de me tentou
processar o que ela tinha acabado de dizer. Eu não recebia esse tipo de
pedido freqüentemente. Ok, nunca. Uma busca assim iria requerer que eu
fosse para o Outro mundo. "Eu não faço isso."
"Foi o que eu disse a ele." Mas havia uma incerteza na voz de Lara.
"Ok. Então o que você não está me dizendo?"
"Nada, eu acho. Eu não sei. É só que... ele diz que ela sumiu há quase um ano
e meio agora. Ela tinha quatorze anos quando desapareceu."
Meu estômago afundou um pouco com isso. Deus. Que destino terrível para
alguém tão jovem. Fazia o comentário baixo do Quere parecer bem trivial.
"Ele soava bem frenético."
"Ele tem provas de que ela foi levada?"
"Eu não sei. Ele não entrou nisso. Ele estava meio paranóico. Parecia pensar
que o telefone dele estava sendo rastreado."
Eu ri com isso. "Por quem? Os gentry?" "Gentry" é a forma que eu chamo os
seres que a maior parte da cultura Ocidental se refere a fadas ou sidhe. Eles
parecem com humanas, mas abraçam a mágica ao invés da tecnologia. Eles
achavam que "fada" era um termo depreciativo, então eu respeitava isso ­
mais ou menos ­ usando o termo que antigos camponeses Ingleses
costumavam usar. Gentry. Boa gente. Bons vizinhos. Uma questionável
designação, no máximo. Os gentry na verdade preferem o termo `os
brilhantes', mas isso era idiota. Eu não daria tanto crédito a eles.
"Eu não sei," Lara me disse. "Como eu disse, ele parecia um pouco
esquizofrênico."
Silêncio caiu enquanto eu segurava o telefone e passava um carro dirigindo
devagar na pista esquerda.
"Eugenie! Você não está realmente pensando em fazer isso."
"Quatorze, huh?"
"Você sempre disse que isso é perigoso."
"Adolescente?"
"Pare. Você sabe o que significa. Passar para o outro lado."
"Yeah. Eu sei o que você quer dizer."
Era perigoso ­ super perigoso. Viajar na forma de espírito ainda podia te
matar, mas as chances de você fugir de volta para o seu corpo terreno eram
melhores. Leve o seu próprio corpo, e todas as regras mudam.
"Isso é loucura."
"Ajeite tudo," eu disse a ela. "Não vai doer falar com ele."
Eu podia praticamente a ver mordendo o lábio para segurar o protesto. Mas
no fim do dia, era eu que assinava os contra cheques dela, e ela respeitava
isso. Depois de alguns momentos, ela preencheu o silêncio com informações
sobre alguns outros trabalhos e então mudou para tópicos mais casuais:
liquidação no shopping, um arranhão misterioso no carro dela...
Algo sobre a conversa alegre de Lara sempre me fazia sorrir, mas também
me perturbava que a maior parte do contato social viesse de alguém que eu
nunca vi. Ultimamente a maior parte das minhas interações cara a cara vinha
de espíritos e gentry.
Cheguei em casa depois do jantar, e meu colega de casa, Tim, pareceu estar
fora, provavelmente em uma evento de leitura de poesia. Apesar de um
fundo Polonês, os genes tinham inexplicavelmente dado a ele uma forte
aparência Nativo Americana. Na verdade, ele parecia mais índio do que
alguns dos locais. Decidindo que esse era seu passaporte para fama, Tim
tinha deixado seu cabelo crescer e tomado o nome de Timothy Cavalo
Vermelho. Ele viva lendo poesia faux- nativa, em bares locais e cortejando
turistas inocentes usando expressões como "meu povo" e "o Grande
Espírito" várias vezes. Era desprezível, para dizer o mínimo, mas fazia-oele
transar freqüentemente. O que não fazia era trazer muito dinheiro, então eu
o deixavaele viver comigo em troca de trabalhos domésticos e limpeza. Era
um ótimo negocio para mim. Depois de lutar com os mortos vivos o dia todo,
esfregar a banheira simplesmente parecia pedir demais.
Esfregar meu athame, infelizmente, era uma tarefa que eu tinha que fazer. O
sangue de Queres podia manchar.
Eu comi o jantar depois, então tirei a roupa e fiquei na sauna por um longo
tempo. Eu gostava de várias coisas da minha pequena casa no pé da
montanha, mas a sauna era uma das minhas favoritas. Pode parecer meio
sem sentido no deserto, mas o Arizona tem na maior parte um calor seco, e
eu gosto da sensação de umidade e água na minha pele. Eu me inclinei para
trás contra a parede de madeira, aproveitando a sensação de suar para longe
o stress. Meu corpo doía ­ algumas partes mais do que outras ­ e o calor
deixou um pouco dos músculos se soltarem.
A solidão também me tranqüilizava. Por mais patético que seja eu
provavelmente não tinha ninguém para culpar por minha falta de
sociabilidade a não ser eu mesma. Eu passo muito tempo sozinha e não me
importo. Quando meu padrasto Roland,começou a me treinar como shaman,
ele me disse que em muitas culturas, os shamans vivam essencialmente fora
da sociedade normal. A ideia me pareceu louca naquela época, estando no
primeiro ano, mas faz mais sentido agora que estou mais velha.
Eu não era uma completa anti-social, mas eu geralmente tinha dificuldades
de interagir com outras pessoas. Falar na frente de um grupo era horrível.
Até mesmo falar um-a-um tinha seus problemas. Eu não tinha bichos de
estimação ou crianças para falar sobre isso, e eu não podia exatamente falar
sobre coisas como o incidente em Las Cruces. Yeah, eu tive meio que um
longo dia. Dirigi quatro horas, lutei contra um antigo servo do mal. Depois de
algumas balas e ferimentos de faca, eu o destruí e enviei para o mundo da
morte. Deus, eu juro que não estou sendo paga o bastante para fazer essa
merda, sabe? Deixa para uma risada educada.
Quando eu saí da sauna, eu tinha outra mensagem de Lara me dizendo que o
compromisso com o perturbado irmão tinha sido marcado para amanhã. Eu
anotei em minha agenda, tomei um banho, e me retirei para meu quarto,
onde pus um pijama preto de seda. Por qualquer que seja a razão, bons
pijamas eram a única indulgência que eu me permitia em um estilo de vida
sujo e sangrento. A seleção de hoje tinha uma bata que mostra muita coisa,
se alguém estivesse aqui para ver. Eu sempre uso um robe perto de Tim.
Sentando em minha mesa, em esvaziei um novo quebra cabeça que eu
acabei de comprar. A figura era de um gato agarrando uma bola de barbante.
Meu amor por quebra-cabeças estava lado a lado com os pijamas em termos
de bizarrice, mas eles acalmavam minha mente. Talvez fosse o fato deles
serem tão tangíveis. Você podia segurar os pedaços na sua mão e fazer eles
se encaixarem, ao contrario das coisas não substanciais que eu normalmente
trabalhava.
Enquanto minhas mãos moviam as peças, eu continuei tentando tirar da
cabeça o fato de que o Queres sabia meu nome. O que isso significava? Eu fiz
muitos inimigos no Outro mundo. Eu não gostava da ideia deles poderem me
rastrear pessoalmente. Eu preferia continuar como Odile. Anônima. Segura.
Provavelmente não tem porque se preocupar, eu suponho. O Queres estava
morto. Ele não ia ficar contando histórias.
Duas horas mais tarde, eu terminei meu quebra-cabeças e o admirei. O gato
tinha um pelo castanho, os olhos quase azul-celeste. O fio barbante era
vermelho. Eu peguei minha câmera digital, tirei uma foto, e quebrei o
quebra-cabeça, o colocando de volta na caixa. Facilmente vem, facilmente
vai. Bocejando, eu deitei na cama. Tim tinha lavado as roupas hoje; os lençóis
pareciam lisos e limpos. Nada como o cheio de um lençol recém lavado.
Apesar da minha exaustão, no entanto, eu não consegui dormir. Meu espírito
podia sair do meu corpo e viajar para outros mundos. Ainda sim, por
qualquer que fosse a razão, dormir era mais elusivo. Doutores tinham
recomendando vários sedativos, mas eu odiava usar eles. Drogas e álcool
ligavam o espírito a esse mundo, e embora eu usasse de vez em quando, eu
geralmente gostava de adormecer sem perceber. Hoje a noite eu suspeitava
que minha insônia tivesse algo a ver com uma garota adolescente... mas não.
Eu não podia pensar sobre isso, ainda não.
Não até eu falar com o irmão. Suspirando, precisando de outra pessoa para
ponderar, eu rolei e fiquei encarando o teto, para as estrelas de plástico que
brilham no escuro. Eu comecei a contar elas, como eu tinha feito em tantas
outras noites sem dormir. Havia exatamente 33 delas, exatamente como da
última vez. Ainda sim, nunca doeu ter certeza.

Capítulo Dois
Wil Delaney estava com seus vinte e poucos anos, tinha cabelo amarelopalha
que precisava seriamente de um corte. Ele tinha uma pele branca e
usava óculos de armação. Quando apareci na casa dele na manhã seguinte,
ele teve que abrir as vinte fechaduras antes de poder abrir a porta, e mesmo
assim, ele espiou somente com a corrente da porta fechada.
"Sim?" ele perguntou suspeitosamente.
Eu coloquei minha cara de negócios. "Sou Odile. Lara marcou um horário?"
Ele me estudou. "Você é mais jovem do que pensei que seria." Um momento
depois, ele fechou a porta e abrir a corrente. A porta abriu de novo, e ele me
deixou entrar. Eu olhei ao redor enquanto entrava, vendo pilhas e mais
pilhas de livros e jornais ­ e uma definitiva falta de luz. "Meio escuro aqui."
"Não pode abrir as cortinas," ele explicou. "nunca se sabe quem está
espionando."
"Oh. Bem. E quanto às luzes?"
Ele balançou a cabeça. "Você ficaria surpresa na quantidade de radiação que
lâmpadas e outros aparelhos elétricos emitem. É o que faz câncer ser tão
extremo na nossa sociedade."
"Oh."
Ele sentou-se à mesa da cozinha, e explicou para mim porque ele achava que
sua irmã tinha sido abduzida pelos gentry. Eu tive dificuldades em esconder
meu ceticismo. Não era como se esse tipo de coisa nunca acontecesse, mas
eu estava começando a pegar a vibração `esquizofrênica' que Lara sentiu. Era
altamente possível que os gentry fossem um fragmento da imaginação dele.
"Essa é ela." Ele me trouxe uma foto 5x7 que mostrava ele e uma garota
bonita, inclinados um contra o outro em um plano de fundo gramado.
"Tirada logo antes da abdução."
"Ela é fofa. E jovem. Ela... ela... vivia com você?"
Ele acenou. "Nossos pais morreram cerca de cinco anos atrás. Eu fiquei com
a custódia dela. Não muito diferente do que costumava ser."
"Como assim?"
Amargor passou no rosto neurótico dele, e uma estranha justaposição.
"Nosso pai estava sempre viajando a negócios, e nossa mãe ficava traindo
ele. Então, meio que sempre foi Jasmine e eu."
"E o que te faz pensar que ela foi levada por gen ­ fadas?"
"O tempo," ele explicou. "Aconteceu no Halloween. Dia de Samhain. Essa é
uma das maiores noites para abdução e caçada, sabe. A data apóia isso. As
paredes entre os mundos se abrem."
Ele soava como se estivesse recitando um livro. Ou a internet. Às vezes eu
acho que o acesso a internet é como colocar armas nas mãos de bebês. Eu
tentei não virar os olhos enquanto ele falava. Eu não precisava de uma
explicação sobre esse tipo de coisa.
"Yeah, eu sei disso. Mas muitas pessoas assustadoras ­ humanos ­ andam no
Halloween também. E muitas outras vezes. Eu não suponho que você tenha
reportado isso para a polícia?"
"Eu reportei. Eles não foram capazes de descobrir nada, não que eu
realmente precisasse deles. Eu sabia o que tinha acontecido por causa da
nossa localização. O lugar que ela desapareceu. Foi isso que me fez saber que
foram as fadas."
"Onde."
"Num parque. Ela estava numa festa com uns colegas da escola. Eles fizeram
uma fogueira na floresta, e eles a viram sair sozinha. A polícia o rastreou até
uma clareira, e então eles simplesmente pararam. E você sabe o que tinha
lá?" Ele me deu um olhar dramático, evidentemente tentando me
impressionar. Eu não dei a ele a satisfação de perguntar o obvio, então ele
respondeu por mim. "Um anel de fada. Um círculo perfeito crescendo na
grama."
"Acontece. Flores fazem isso."
Ele levantou da mesa, incredulidade por todo o rosto dele. "Você não
acredita em mim!"
Eu trabalhei duro para manter meu rosto tão vazio quanto uma nova tela.
Você poderia ter pintado um quadro por cima.
"Não é que eu não acredite no que você está descrevendo, mas existem
várias explicações mundanas. Uma garota sozinha na floresta pode ter sido
levada por várias coisas ­ ou pessoas."
"Eles dizem que você é a melhor," ele me disse como se fosse algum tipo de
discussão. "Eles dizem que você chuta a bunda de coisas paranormais o
tempo todo. Que você é o negócio de verdade."
"O que eu posso ou não fazer não é relevante. Preciso ter certeza que
estamos no caminho certo. Você está me pedindo para cruzar fisicamente
para o Outro mundo. Eu quase nunca faço isso. É perigoso."
Wil sentou de novo, o rosto desesperado. "Olha, eu faço qualquer coisa. Eu
não posso deixar ela ficar lá com aquelas ­ com aquelas coisas. Diga o preço.
Eu posso pagar o quanto você quiser."
Eu olhei ao redor curiosamente, vendo os livros de Óvnis e do Pé grande.
"Uh.... o que exatamente você faz da vida?"
"Eu tenho um blog."
Eu esperei por mais, mas aparentemente era isso. De alguma forma eu
suspeitava que isso gerava menos dinheiro do que Tim ganhava. Hmphf.
Blogueiros. Eu ainda não entendi porque eles e seus irmãos pensam que
alguém no mundo quer ler seus pensamentos sobre... bem, nada. Se eu
quisesse ser ler discussão insignificante, eu iria assistir reality shows.
Ele ainda estava olhando para mim implorando, com grandes olhos azuis de
cachorrinho. Eu quase rosnei. Quando eu tinha ficado tão mole? Eu não
queria que as pessoas pensassem que eu era uma fria e calculista shaman
mercenária? Eu destruí um Queres ontem. Porque essa história triste estava
me atingindo?
Era por causa do Queres, eu percebi. Aquela estúpida sugestão sexual tinha
sido tão revoltante para mim que eu não consegui apagar a imagem da
pequena Jasmine Delaney sendo o joguinho de algum gentry. Porque era isso
que ela seria, embora eu nunca vá dizer isso a Wil. Os dentry gostam de
mulheres humanas. Demais.
"Você pode me levar para o parque em que ela desapareceu?" Eu perguntei
finalmente. "Eu vou ter uma ideia melhor se as fadas realmente estão
envolvidas."
É claro, acabou que eu o levei, porque rapidamente decidi que eu não iria o
deixar dirigir para qualquer lugar. Ter ele como passageiro já foi exigir
demais. Ele passou a primeira metade do caminho passando um protetor
solar. Eu acho que você tem que tomar precações quando você vive numa
caverna e finalmente emerge para a luz.
"Câncer de pele," ele explicou. "Especialmente com o enfraquecimento da
camada de ozônio. Salões de bronzeamento estão matando as pessoas. Não
tenho certeza se qualquer um deveria sair sem algum tipo de proteção ­
especialmente aqui."
Com isso eu concordava. "Yeah. Eu também uso filtro soltar."
Ele me olhou e então perguntou. "Tem certeza?"
"Bem, hey, é o Arizona. Difícil não pegar sol. Eu quero dizer, às vezes eu ando
até a caixa de correio sem protetor, mas na maior parte do tempo eu tento
colocar."
"Tenta," ele disse. "Ele protege contra os raios UVB?"
"Um, eu não sei. Eu quero dizer, eu acho. Eu nunca me queimei. E cheira
muito bem também."
"Não é bom o bastante. A maior parte dos protetores solares te protege
apenas dos raios UVA. Mas mesmo que você não se queime, os raios UVB
ainda podem passar. São eles que matam. Sem proteção adequada, você
provavelmente pode esperar uma morte cedo devido a melanoma ou alguma
outra forma de câncer de pele."
"Oh." Eu esperava que chegássemos ao parque logo.
Quando estávamos quase chegando, um sinal nos parou. Eu não achei nada
demais, mas Wil ficou nervoso.
"Eu sempre odeio ficar parado por causa deles. Você nunca sabe quando um
terremoto pode acontecer."
Eu de novo, busquei neutralidade. "Bem... faz um tempo desde o último
terremoto." Yeah. Tipo, nunca.
"Nunca se sabe," ele avisou preocupado.
Nossa chegada não poderia ter ocorrido um segundo cedo demais. O parque
era verde e cheio de árvores, uma tentativa idiota de desafiar as leis do clima
no Arizona. Provavelmente custava a cidade uma fortuna em água. Ele me
deixou no caminho que ia até onde Jasmine tinha sido levada. Enquanto nos
aproximávamos, eu vi algo que de repente me fez colocar mais fé na história
dele. O rastro cruzava com outro formando uma cruz perfeita. Uma
encruzilhada era normalmente um portão para o Outro mundo. Nenhum
circulo de flores crescia aqui agora, mas enquanto me aproximei do
cruzamento, eu podia sentir uma fina barreira entre esse mundo e o outro.
"Quem diria?" eu murmurei, mentalmente testando as paredes. Não era um
ponto muito forte, na verdade. Eu duvidava que alguma coisa pudesse passar
aqui de qualquer mundo. Mas em um dia como Samhain... bem, esse lugar
podia muito bem ser uma porta aberta. Eu tinha que avisar Roland para que
pudéssemos checar no próximo dia das bruxas.
"Bem?" Wil perguntou.
"Esse é um ponto quente," eu admiti, tentando descobrir como proceder.
Parecia que eu estava zero a dois para os dois últimos clientes, mas quando
90% das minhas perguntas eram pistas falsas, eu tendo a manter uma
saudável dose de ceticismo a mão.
"Você vai me ajudar então?"
"Como eu disse, isso realmente não é minha praia. E mesmo que a gente
decida que ela foi levada para o Outro mundo, eu não faço ideia de onde
procurar por ela. Ele é tão grande quanto o nosso."
"Ela está sendo mantida por um rei chamado Aeson."
Eu virei de onde estava encarando a encruzilhada. "Como diabos você sabe
disso?"
"Um espírito me disse."
"Um espírito."
"Yeah. Ele costumava trabalhar para esse cara, Aeson. Ele fugiu e queria
vingança. Então ele vendeu a informação para mim."
"Vendeu?"
"Ele precisava do dinheiro para dar entrada num apartamento em
Scottsdale."
Soava ridículo, mas não era a primeira vez que eu ouvia falar de criaturas do
Outro mundo tentado viver no mundo humano. Ou de pessoas loucas que
queriam viver em Scottsdale.
"Quando isso aconteceu?"
"Oh, alguns dias atrás." Ele fez soar como se fosse uma visita do cara da
UPS8:
"Então. Você foi contatado por um espírito e só pensou em dizer isso agora?"
Wil deu nos ombros. Um pouco de filtro solar que ele não esfregou brilhou
no queixo dele. Meio que me lembrava de massa do jardim de infância.
"Bem, eu já sabia que ela tinha sido levada por fadas. Isso apenas confirmou.
Na verdade foi ele que mencionou você. Disse que você matou um dos
primos dele. Então encontrei alguns locais que apoiavam a história."
Eu estudei Wil. Se ele não tivesse parecido tão miserável, eu quase não teria
acreditado em nada disso. Mas era verdade demais para ele estar
inventando. "Como ele me chamou?"
8 Correio.
"Huh?'
"Quando ele te falou sobre mim. Que nome ele te deu?"
"Bem... seu nome. Odile. Mas havia outra coisa também... Eunice?"
"Eugenie?"
"Yeah, era isso."
Eu andei irritada ao redor do cruzamento. O segundo de dois habitantes do
Outro mundo, a saber, meu nome em poucos dias. Isso não era bom.
Nenhum pouco bom. E agora um deles estava tentando fazer Wil me atrair
para o Outro mundo. Ou isso era realmente para me atrair? Espíritos não são
conhecidos por serem gênios do crime. Se eu matei o primo dele, eu
suponho que ele esteja esperando que outra criatura motivada me
derrubasse.
"E então? Você vai me ajudar agora?"
"Eu não sei. Eu preciso pensar, checar algumas coisas."
"Mas ­ mas eu te mostrei e contei tudo! Você não vê o quão real isso é?
Você tem que ajudar! Ela só tem 15 anos, pela amor de Deus."
"Wil," eu disse calmamente. "Eu acredito em você. Mas não é tão simples."
Eu falei sério. Não era tão simples, não importava o quanto eu quisesse que
fosse. Eu odiava a inferência do outro mundo mais do que eu odiava
qualquer outra coisa. Eu queria fazê-los sofrerem. Mas eu não podia cruzar
para o outro lado com armas brilhantes. Matar-me não faria bem nenhum a
nenhum de nós. Eu precisava de mais informação antes de prosseguir.
"Você tem que ­"
"Não," eu surtei, e dessa vez minha voz não era neutra. "Eu não tenho que
fazer nada, você entendeu? Eu faço minhas próprias escolhas e aceito meus
próprios serviços. Agora, eu sinto muito sobre sua irmã, mas eu não vou
pular nisso ainda. Como Lara te disse, eu geralmente não faço trabalhos que
me levam para o Outro mundo. Se eu aceitar esse, vai ser depois de
cuidadosa deliberação e interrogatório. E se eu não aceitar, então eu não
aceitei. Fim da história. Entendeu?"
Ele engoliu e acenou, acovardado pelo tom da minha voz. Não era diferente
da que eu usava com espíritos, mas eu me senti um pouco mal por ter
assustado Wil. Ele teve que se preparar para a bem provável possibilidade de
que eu não fosse fazer isso para ele, não importava o quanto nós dois
quiséssemos.
No caminho para casa, eu passei pela casa da minha mãe, querendo falar
com Roland. O por do sol lançava um luz alaranjada na casa deles, e o cheiro
do jardim de flores dela enchia o ar. Era o cheiro familiar de segurança e
infância. Quando eu entrei na cozinha, eu não a vi parte alguma, o que
provavelmente não era nada. Ela tinha tendência de ficar chateada quando
Roland e eu conversamos sobre trabalho.
Ele estava sentado na mesa, trabalhando em um modelo de avião. Eu ri
quando ele começou esse hobby depois de se aposentar do shamanismo,
mas recentemente me ocorreu que não era tão diferente de trabalhar com
quebra-cabeças. Só Deus sabe que tipo de coisa eu vou achar para me
manter ocupada quando eu me aposentar.
Eu tinha o sentimento inquietante de que eu seria uma boa candidata para
bordado. O rosto dele se quebrou num sorriso quando ele me viu, fazendo as
linhas de risada aparecer ao redor dos olhos do rosto arejado que eu amava.
O cabelo dele era de um brilhante branco acinzentado, ele conseguiu manter
a maior parte dele. Eu tinha 1,72 m e ele era apenas um pouco mais alto que
eu. Mas apesar da altura, ele era como rocha e não tinha perdido nenhum
músculo com a idade. Ele pode estar perto dos sessenta, mas eu tinha o
pressentimento de que ele ainda era capaz de causar sérios danos.
Roland olhou para meu rosto e gesticulou para que eu me sentasse. "Você
não está aqui para perguntar sobre Idaho." Eu não tinha realmente
entendido a escolha para férias deles, mas tanto faz. Dando a ele um rápido
beijo, eu mantive meus braços ao redor dele por um instante. Eu não amava
muitas pessoas nesse mundo ­ ou em qualquer mundo ­ mas por ele eu
morreria. "Não. Não estou. Mas como foi?"
"Bem. Não é importante. Qual problema?"
Eu sorri. Esse era o Riland. Sempre pronto para negócios. Se minha mãe
deixasse, eu suspeito que ele ainda estivesse lutando ao meu lado.
"Acabo de receber uma oferta de trabalho. Uma estranha."
Eu comecei a contar a ele sobre Wil e Jasmine, sobre a evidência que
encontrei sobre o seqüestro dela. Eu também acrescentei a informação de
Wil sobre esse cara, Aeson.
"Eu já ouvi falar dele," disse Roland.
"O que você sabe?"
"Não muito. Nunca o conheci, nunca lutei com ele. Mas ele é forte, disso eu
sei."
"Isso está ficando cada vez melhor."
Ele me olhou com cuidado. "Você está pensando em fazer isso?"
Eu o olhei de volta. "Talvez."
"Essa é uma má ideia, Eugenie. Uma ideia muito ruim."
Havia um tom negro na voz dele que me surpreendeu. Eu nunca soube dele
se afastando de qualquer perigo, especialmente quando um inocente está
envolvido.
"Ela é só uma criança, Roland."
"Eu sei, e nós dois sabemos que os gentry se safam de levar mulheres todo
ano. A maior parte nem é recuperada. O perigo é alto demais. Isso é o que
é."
Eu senti minha raiva crescendo. Engraçada como alguém dizer a você para
não fazer algo pode te convencer a fazer. "Bem, aqui está um do qual não
podemos nos afastar. Sabemos onde ela está."
Ele esfregou seus olhos um pouco, mostrando as tatuagens em seus braços.
Minhas tatuagens descreviam deusas; as dele eram de redemoinhos, cruzes,
e peixe. Ele tinha o seu próprio par de deuses para apelar também ­ ou nesse
caso, Deus. Todos nós invocamos o divino de forma diferente.
"Isso não é uma coisa de entrar e sair," ele avisou. "Vai te levar no coração
da sociedade deles. Você nunca esteve tão fundo. Você não sabe como é."
"E você sabe?" eu perguntei sarcasticamente. Quando ele não respondeu, eu
senti meus olhos se alargarem.
"Quando?"
Ele acenou com a mão, deixando o assunto para lá. "Não importa. O que
importa é que se você for com o seu corpo, você pode morrer ou ser
capturada. Eu não vou deixar você fazer isso."
"Você não vai me deixar? Anda. Você não pode me mandar para o meu
quarto mais. Além do mais, eu já fui lá várias vezes."
"Em espírito. Seu tempo total com o seu corpo provavelmente foi menos de
10 minutos." Ele balançou a cabeça de um jeito sábio e condescendente. Isso
me irritou. "Os jovens nunca percebeu o quão tolo algo é."
"E os velhos nunca percebem quando eles precisam sair e deixar os jovens e
mais fortes fazer seu trabalho." As palavras saíram antes que eu pudesse as
impedir, e eu imediatamente me senti maldosa. Roland meramente me
olhou.
"Você acha que é mais forte que eu agora?"
Eu nem hesitei. "Nós dois sabemos que eu sou."
"Sim," ele concordou. "Mas isso não te dá o direito de se matar por uma
garota que você nem conhece."
Eu o encarei surpresa. Nós não estávamos exatamente brigando, mas essa
atitude era estranha para ele. Ele casou com minha mãe quando eu tinha
três anos e me adotou logo depois. O laço pai-filha queimava em nós dois,
apagando qualquer traço do que eu poderia ter com meu pai biológico, que
eu nunca conheci. Minha mãe quase nunca falava dele. Eles tiveram uma
espécie de romance relâmpago, eu sabia, mas no fim, ele não quis ficar ­
nem por ela, nem por mim.
Roland faria qualquer coisa por mim, me manter longe de qualquer mal que
ele pudesse ­ a não ser quando se tratava do meu trabalho. Quando ele
percebeu que eu podia andar pelos mundos e expulsar espíritos, ele
começou a me treinar, e minha mãe o odiou por isso. Eles são o casal mais
amoroso que eu já conheci, mas essa escolha quase os separou. Eles ficaram
juntos no final, mas ela nunca ficou feliz com o que eu fazia. Roland, no
entanto, via como um dever. Destino, até mesmo. Eu não era como uma
daquelas pessoas tolas do cinema que podiam "ver pessoas mortas" e
ficavam loucas por causa disso. Eu podia facilmente ter ignorado minhas
habilidades. Mas até onde Roland sabia isso era pecado. Negligenciar um
chamado era um desperdício, especialmente quando significava que outros
sofreriam. Então ele tentou me tratar tão objetivamente quanto faria com
qualquer outra aprendiz, lutando contra seus sentimentos pessoais.
Ainda sim, por alguma razão agora, ele queria me segurar. Estranho. Eu vim
aqui em busca de estratégia e acabei na defensiva.
Eu mudei de assunto bruscamente, dizendo a ele sobre como o Queres sabia
meu nome. Ele me olhou, sem querer mudar do assunto Jasmine. O carro da
minha mãe apareceu, me dando uma vitória temporária. Com um suspiro e
um olhar de aviso, ele me disse para não me preocupar com o nome.
Acontecia às vezes. O dele, eventualmente tinha sido descoberto também, e
pouco tinha saído disso.
Minha mãe entrou na cozinha, e os assuntos shamamicos desapareceram. O
rosto dela ­ tão parecido com o meu, das formas até a alta estrutura óssea ­
deu um sorriso tão quente quanto o de Roland. Só que o dela estava cheio
com algo um pouco diferente. Ela sempre carregava uma preocupação
perpetua por mim. Às vezes eu pensava que simplesmente tinha a ver com o
que eu fazia para viver. Ainda sim, ela tinha essa preocupação desde que eu
era pequena, como se eu pudesse desaparecer a qualquer momento. Talvez
fosse uma coisa de mãe.
Ela colocou um saco de papel no balcão e começou a tirar as compras. Eu
sabia que ela sabia o que eu estava fazendo ali, mas ela escolheu ignorar.
"Você vai ficar para jantar?" ela perguntou. "Eu acho que você perdeu peso."
"Ela não perdeu," disse Roland.
"Ela está magra demais," reclamou minha mãe. "Não que eu me importasse
com um pouco disso."
Eu sorri. Minha mãe estava incrível.
"Eu como, tipo, três barras de doce por dia. Não estou me privando de
calorias." Eu andei até ela e a cutuquei no braço. "Observe, você está dando
uma de mãe. Uma mãe inteligente e profissional não deveria ser assim."
Ela me olhou. "Sou uma terapeuta. Eu tenho que ser como uma mãe em
dobro."
No fim, eu fiquei pro jantar. Tim era um ótimo cozinheiro, mas nada podia
substituir a comida da minha mãe. Enquanto comíamos, falamos sobre as
férias deles em Idaho. Nem Jasmine nem o Queres foram mencionados.
Quando eu finalmente voltei para casa, eu encontrei Tim se aprontando para
sair com um grupo de garotas risonhas. Ele estava agindo totalmente como
um pseudo-índio, completo com um adorno pra cabeça e um colete de pele.
"Boas vindas, Irmã Eugenie," ele disse, mantendo a palma erguida como se
estivesse em algum tipo de filme do Velho Oeste. "Se junte a nós. Vamos a
um show no Parque Davidson, para que possamos nos comunicar com o dom
do Grande Espírito da primavera enquanto deixamos a batida sagrada da
música passar por nossa alma."
"Não obrigado." eu digo, passando por ele e indo direto para meu quarto.
Um momento depois, ele vai atrás sem as garotas.
"Oh, anda, Eug. Vai ser ótimo. Temos cerveja e tudo."
"Desculpe Tim. Eu não estou com vontade de ser uma mulher bugra hoje à
noite."
"Esse é um termo depreciativo."
"Eu sei que é. Muito bem. Mas a sua pose lá não merece muito mais." Eu
olhei para ele desconfiadamente. "Nem pense em trazer uma delas para cá
hoje à noite."
"Yeah, yeah, eu sei as regras." Ele foi até minha cadeira de vime. "Então o
que você vai fazer? Compras pela internet? Quebra-cabeça?"
Na verdade eu estava pensando em fazer as duas coisas, mas eu não ia dizer
isso para ele.
"Hey, eu tenho coisas pra fazer."
"Porra, Eugenie. Você está se tornando uma eremita. Eu quase sinto falta do
Dean. Ele era um idiota, mas pelo menos ele saia da casa."
Eu fiz uma cara. Dean foi meu último namorado; terminamos seis meses
atrás. A separação foi meio inesperada para nós dois. Eu não esperava
encontrar ele fudendo com sua agente imobiliária, e ele não esperava ser
pego. Eu sabia que estava melhor sem ele, mas uma parte de mim ainda se
perguntava sobre o que tinha o feito perder o interesse. Não era excitante o
bastante? Bonita o bastante? Boa o bastante na cama?
"Algumas coisas são piores do que ficar em casa sozinha," eu murmurei.
"Dean é uma delas."
"Timothy?" uma das garotas chamou da sala. "Você vem?"
"Um momento, gentil flor," ele respondeu. Para mim ele disse. "tem certeza
que quer ficar aqui a noite toda? Não é saudável ficar longe das pessoas por
tanto tempo."
"Estou bem. Vá aproveitar suas flores."
Ele deu nos ombros e saiu. Uma vez sozinha, eu fiz um sanduíche e compras
na internet, exatamente como ele previu. Logo depois fiz um quebra-cabeça
de um desenho de M. C. Escher9. Um pouco mais difícil que o gato.
Na metade, eu me encontrei encarando o quebra-cabeça sem ver ele. As
palavras quietas e poderosas de Roland passavam na minha mente. Deixe
Jasmine Dalaney em paz. Tudo o que ele me disse tinha sido verdade. Deixar
9 Mauritus Cornelis Escher, nasceu em Leeuwarden na Holanda em 1898, faleceu em
1970 e dedicou toda a sua
vida às artes gráficas. Na sua juventude não foi um aluno brilhante, nem sequer
manifestava grande interesse pelos
estudos, mas os seus pais conseguiram convencê-lo a ingressar na Escola de Belas
Artes de Haarlem para estudar
arquitectura. Foi lá que conheceu o seu mestre, um professor de Artes Gráficas judeu
de origem portuguesa,
chamado Jesserum de Mesquita.
isso de lado era a coisa inteligente a se fazer. A coisa segura a se fazer. Eu
sabia que deveria ouvir ele... ainda sim, uma parte de mim continuava a
pensar no rosto jovem e sorridente que Wil tinha me mostrado. Irritada, eu
deixei as peças do quebra-cabeça de lado. Esse trabalho não deveria ser
sobre decisões morais cinza. Era preto e branco. Encontrar os bandidos.
Matar ou banir. Vá para casa no fim do dia.
Eu levantei, de repente sem mais vontade de ficar sozinha. Eu não queria ser
deixada com meus próprios pensamentos. Eu queria ficar com pessoas.
Esclarecendo: Eu não queria conversar com pessoas, eu só queria estar perto
delas. Perdida numa multidão. Eu precisava ver minha própria gente ­
humanos quentes, vivendo e respirando, não espíritos mortos vivo ou gentry
com mágica. Eu queria lembrar-me de qual lado da cerca eu estava. Mais
importante, eu queria esquecer Jasmine Delaney. Pelo menos por hoje à
noite.
Eu pus um jeans e o primeiro sutiã e camiseta que pude encontrar. Meus
anéis e braceletes sempre ficavam em mim, mas eu acrescentei um colar de
pedra da lua que estava pendura no decote em V da minha camiseta. Eu
escovei meu longo cabelo e o prendi num rabo de cavalo, esquecendo
algumas mechas. Um pouco de batom, e eu estava pronta. Pronta para me
perder. Pronta para esquecer.

Capítulo Três
Eu estava observando as pessoas há quase uma hora, então eu o vi assim que
ele entrou. Era difícil não ver. Os olhos de algumas outras mulheres no bar
mostraram que eu não fui à única que notou. Ele era alto e tinha ombros
largos, cheio de músculos, mas não de mais como o Arnold Schwarzenegger.
Ele estava usando calça social com uma camiseta azul marinho enfiada nela.
O cabelo preto dele ia até seu queixo, e ele o colocava atrás da orelha. Os
olhos dele eram grandes e escuros, e seu rosto era esculpido suavemente e
sua pele bronzeada. Tinha uma mistura étnica ali, eu suspeitei, mas nenhuma
que eu pudesse discernir.
Qualquer que fosse a mistura, funcionou. Extremamente bem.
"Hey, tem alguém sentado aqui?" Ele acenou para a cadeira ao meu lado. Era
a única vazia no bar.
Eu balancei minha cabeça, e ele sentou. Ele não disse mais nada, e a única
outra vez que eu o ouvi falar foi para pedir uma margarita. Depois disso, ele
pareceu contente em só de observar as pessoas, como eu. E honestamente,
era um ótimo lugar para fazer isso. O Alejandro´s era próximo a um hotel de
classe média e chamava clientes e turistas de todos os lados da escala
socioeconômica. As TV´s mostravam eventos esportivos, ou notícias ou o que
quer que fosse que o bartender estivesse afim de colocar. Algumas máquinas
de caça níquel estavam do outro lado do bar. Música ­ às vezes ao vivo, mas
não hoje a noite ­ forçavam as TV´s a ficar no mudo, e pessoas dançando
enchiam o pequeno espaço entre as mesas.
Era humanidade no seu melhor. Cheio de vida, álcool, entretenimento
descuidados e péssimas cantadas. Eu gostava de vir aqui quando eu queria
ficar sozinha sem estar sozinha. Eu gosto mais quando homens bêbados
idiotas me deixavam em paz. Eu não tinha certeza sobre os bonitos e
articulados. Uma coisa que eu logo descobri era que com o Alto, Moreno, e
Bonito sentado perto de mim, nenhum perdedor se aproximou.
Mas ele não estava falando comigo também, e depois de um tempo, eu
percebi que eu meio que gostava dele ­ não que eu tivesse alguma ideia do
que dizer. Com os olhares que ele continuava a me dar, eu acho que ele
sentiu a mesma coisa. Eu não sabia. Um tipo de tensão se construiu entre
nós enquanto eu bebia minha Corona10, cada um de nós esperando que o
outro fizesse algo.
Quando finalmente aconteceu, ele começou.
"Você é comestível."
Não era o inicio que eu esperava.
"Como é?"
"Seu perfume. É como... como... violetas e açúcar. E baunilha. Eu suponho
que é estranho pensar que violetas são comestíveis, huh?"
"Não tão estranho quanto um cara saber o cheiro de violetas." Também era
estranho, porque ele não podia sentir o cheiro. Eu coloquei perfume cerca de
dozes horas atrás. Com toda a fumaça e suor por aqui, era uma surpresa que
o olfato de alguém funcionasse por aqui.
Ele deu um sorriso torto, e fez um olhar que só podia ser descrito como sexy.
Eu senti meu pulso aumentar um pouco. "É bom saber que flor é o que.
Deixa mais fácil enviá-las. E impressionar mulheres."
Eu olhei para ele e então mexi na cerveja da minha garrafa. "Você está
tentando me impressionar?" Ele deu nos ombros. "Só estou tentando
conversar."
Eu ponderei, decidindo se eu queria jogar o jogo dele ou não. Perguntandome
se eu podia. Eu sorri um pouco.
"O que?" ele perguntou.
"Eu não sei. Só estou pensando sobre as flores. E impressionar as pessoas. Eu
quero dizer, o quão estranho é que nós trazemos os órgãos sexuais das
plantas para as pessoas que nos sentimos atraídos? Qualê disso? É um
estranho sinal de afeição."
Os olhos escuros dele se acenderam, como se ele tivesse acabado de
descobrir algo surpreendente e prazeroso. "É mais estranho do que dar
10 Marca de Cerveja.
chocolate, que é pra ser um afrodisíaco? E quanto ao vinho? Uma bebida
"romântica" que na verdade só ajuda a baixar as inibições das pessoas."
"Hmm. É como se as pessoas estivessem tentando ser sutis e grosseiras ao
mesmo tempo. Tipo, eles não vão levantar e dizer, "Hey, eu gosto de você,
vamos ficar juntos." Ao invés disso, eles dizem, "Aqui, tome a genitália de
uma planta e afrodisíacos." Eu tomei um gole de cerveja e pus o queixo na
mão, surpresa por me ouvir continuar. "Eu quero dizer, eu não tenho
problemas com homens ou relações, ou sexo, mas as vezes eu fico tão
frustrada com os jogos de atração dos humanos."
"Como assim?"
"É tudo mascarado em pose e truques. Não tem honestidade. As pessoas não
podem simplesmente aparecer e expressar sua atração. Tem que estar
obscuro por algum tipo de cantada ou um presente não-tão-sutil, e eu não
sei como jogar esses jogos tão bem. Ensinaram-nos que é errado ser
honesto, como se tivesse um tipo de estigma social com isso."
"Bem," ele considerou "pode ser bem grosso às vezes. E não vamos esquecer
sobre rejeição. Eu acho que isso também conta. Tem medo o disso."
"Yeah, eu acho. Mas ser rejeitado não é a pior coisa do mundo. E isso não
seria mais fácil do que perder uma tarde ou ­ Deus me livre ­ meses de
namoro? Nós deveríamos falar o que sentimos e nossas intenções
abertamente. Se a outra pessoa disser `vai se fuder', bem, então lide com
isso. Siga em frente."
Eu de repente olhei para minha garrafa de cerveja suspeitosamente.
"Qual problema?"
"Só estou me perguntando se estou bêbada. Essa é minha primeira cerveja,
mas eu acho que sôo um pouco desengonçada. Eu normalmente não falo
tanto."
Ele ri. "Eu não acho que você é desengonçada. Eu na verdade concordo com
você."
"Yeah?"
Ele acenou e pareceu incrivelmente sábio enquanto ele contemplava sua
resposta. Isso o deixou ainda mais sexy. "Eu concordo, mas eu acho que a
maioria parte das pessoas não agüenta a verdade bem. Elas preferem games.
Eles querem acreditar nas mentiras bonitas.
Eu terminei a Corona. "Não comigo. Dê-me honestidade a qualquer hora."
"Falou sério?"
"Sim." Eu solto a garrafa e olho para ele. Ele estava me olhando com
atenção agora, e olhar dele estava sexy de novo, escuro e sexy e quente. Eu
cai naquele olhar, sentindo a resposta dos nervos na parte debaixo do meu
corpo que eu pensei que estavam dormentes.
Ele se inclinou levemente para frente. "Bem, então, aqui vai um pouco de
honestidade.Eu fiquei muito feliz quando eu vi o assento ao seu lado vazio.
Eu acho que você é linda. Eu acho que ver o sutiã debaixo da sua camiseta é
muito sexy. Eu gosto da forma do seu pescoço e o jeito que as mexas do seu
cabelo ficam contra ele. Eu acho que você é engraçada, e acho que você é
inteligente também. Depois de apenas cinco minutos, eu já sei que você não
deixa as pessoas mexerem com você ­ o que eu também gosto. Você é bem
divertida de se conversar, e eu acho que você vai ser divertida de transar
tanto quanto." Ele sentou de volta na sua cadeira.
"Wow," eu disse, agora notando que eu pus uma camiseta branca contra
uma sutiã preto. Oops. `Isso é muita honestidade.'
"Eu deveria-me fuder agora?"
Eu brinquei com a borda da garrafa. Eu respirei fundo. "Não. Ainda não."
Ele sorriu e pediu outra rodada.
Apresentações parecia o próximo passo lógico, e quando a vez dele chegou,
ele me disse que o nome dele era Kiyo.
"Kiyo," eu repeti. "Legal."
Ele me observou, e por um momento, um sorriso surgiu na boca dele. Uma
ótima boca. "Você está tentando me sacar."
"Como te sacar?"
"O que eu sou. Grupo étnico. Tanto faz."
"É claro que não." eu protestei, embora eu estivesse tentando fazer
exatamente isso.
"Minha mãe é japonesa, meu pai latino. Kiyo é apelido para Kiyotaka."
Eu o examinei, agora entendo os olhos grandes e escuros com a pele
bronzeada. Genes humanos são incríveis. Eu adoro o jeito que eles se
misturam.
Que legal, eu pensei, ter uma ligação tão forte com seus ancestrais. Eu sabia
que o tipo de minha mãe muito de grego e Galês, mas havia uma mistura de
todo o tipo de coisa ali também. E pelo lado do meu pai... bem, eu não sabia
mais sobre a herança dele do que sabia sobre ele. Para todas as intenções e
propósitos, eu era tão mestiça quanto o Queres tinha me chamado mais
cedo.
Então eu percebi que estava encarando Kiyo há muito tempo. "Eu gosto dos
resultados," eu finalmente disse, o que o fez rir de novo.
Ele perguntou sobre meu trabalho, e eu disse que eu trabalhava em web
desing. Não era uma total mentira. Eu me formei em nisso e em francês. As
duas áreas tinham se mostrado completamente irrelevantes para o meu
trabalho, embora Lara jure que ter um site fosse melhorar os negócios. Nós
na maior parte confiamos no boca a boca, agora.
Quando ele me disse que era veterinário, eu disse, "Não, você não é."
Aqueles olhos sexys se levantaram em surpresa. "Porque você diz isso?"
"Porque... porque você não pode ser. Eu simplesmente não consigo ver."
Nem imaginar contar a Lara amanhã: então estive num bar ontem a noite e
encontrei um veterinário sexy... Não, esses conceitos simplesmente não se
encaixavam. Veterinários pareciam com Wil Delaney.
"É a verdade," Kiyo jurou, bebendo sua margarita. "Eu até levo meu trabalho
para casa comigo. Eu tenho cinco gatos e dois cachorros."
"Oh, meu Deus."
"Hey, eu gosto de animais. É por causa da honestidade. Animais não mentem
sobre como eles se sentem. Eles querem comer, brigar, e reproduzir. Se eles
gostam de você, eles mostram. Se não, eles não mostram. Eles não jogam
joguinhos. Bem, a não ser talvez pelos gatos. Eles são complicados às vezes."
"Yeah? Como você nomeou todos esses gatos?"
"Morte, Fome, Peste, Guerra, e Sr. Whiskers."
"Você nomeou seus gatos com o nome dos cavalheiros do apocalip ­ espera.
Sr. Whiskers?"
"Bem, só tem quatro cavalheiros."
Nós conversamos um pouco depois disso, sobre o que quer que tenha vindo
à mente. Uma parte era séria, uma parte era engraçada. Ele disse que estava
na cidade vindo de Phoenix, o que meio que me desapontou. Não era local.
Também falamos sobre as pessoas ao nosso redor, nossos trabalhos, vida, o
universo, etc, etc. Enquanto isso eu me perguntei por que isso tinha
acontecido. Eu não tinha notado o quanto eu vivia fora da sociedade? Ainda
sim, aqui estava eu, falando com um cara que eu tinha acabado de conhecer
como se eu o conhecesse há anos. Eu mal reconheci as palavras que saiam da
minha boca. Eu nem reconheci minha linguagem corporal: inclinando-me
perto dele enquanto nós conversávamos, as pernas se tocando. Ele não
usava colônia, mas cheirava como ele parecia: sedutor e sexy e quente. E
promessas. Promessas que diziam, Oh, baby, eu posso te dar tudo que você
sempre quis se você me der à chance...
Em certo ponto, eu me inclinei em direção ao bar para soltar minha garrafa
vazia. Enquanto eu fazia isso, eu de repente senti os dedos de Kiyo
deslizarem pelas minhas costas onde minha camiseta terminava. Eu recuei
enquanto eletricidade passava por mim, através daquele toque casual.
"Aqui vai mais honestidade," ele disse baixo. "Eu gosto dessa tatuagem.
Muito. Violetas de novo?" Eu acenei e sentei na minha cadeira, mas ele não
tirou sua mão. A tatuagem era uma corrente de violetas e folhas que se
espalhavam contra a parte mais baixa das minhas costas. Um grande
amontoado de flores Cox, e então pequenos caules se estendiam dos dois
lados, quase até meus quadris.
"Violetas meio que se tornaram minhas flores patronas," eu expliquei, "por
causa dos meus olhos."
Ele se inclinou para frente, e eu quase parei de respirar com a proximidade
da boca dele com a minha.
"Wow. Você tem razão. Eu nunca vi olhos dessa cor."
"Eu tenho mais três."
"Olhos?"
"Tatuagens."
Isso o deixou interessado. "Onde?"
"Elas estão cobertas pela camiseta." Eu hesitei. "Você sabe alguma coisa de
mitologia grega?"
Ele acenou. Um homem culto. Deixa para desmaiar.
Eu toquei meu braço. Minha manga cobria a pele. "Essa é a uma cobra
enrolada no meu braço. É para Hecate11, a deusa da magia e da lua
crescente." O que eu não acrescentei era que Hecate guardava a passagem
entre os mundos. Era ela que governava a transição para o Outro mundo e
além. Essa tatuagem era meu link com ela, para facilitar minha jornada e
chamar pela ajuda dele se necessário. Eu ergui meu braço esquerdo. "Essa é
uma borboleta cujas asas envolvem e se tocam atrás do meu braço. É
metade branca e metade preta."
" Psyché12?" ele perguntou.
11 Hécata é uma divindade, filha dos titãs Perses e Astéria. Hécate, em grego, significa
"a distante"
(embora alguns atribuam a origem do nome à palavra egípcia Hekat que significaria
"Todo o poder"),
mas era conhecida como a mais próxima de nós, pois se acreditava que, nas noites de
lua nova, ela
aparecia com sua horrível matilha de cachorros fantasmas diante dos viajantes que por
ali cruzavam. Ela
enviava aos humanos os terrores nocturnos e aparições de fantasmas espectros.
Também era
considerada a deusa da magia e da noite, mas em suas vertentes mais terríveis e
obscuras
12 A tatuagem seria parecida com o homem com asa de borboleta dessa estatua.
http://www.abmenterprises.
net/artgall2/cupid&psyche.jpg
"Bom palpite." Ele realmente era culto. A deusa Psyché era o sinônimo de
alma, o que a borboleta representa no mito. "Persephone."
Ele acenou. "Metade preto, metade branco. Ela vive metade da sua vida
nesse mundo e a outra metade no Submundo."
O que não é diferente da minha própria vida. Persephone guia a transição
para o mundo da morte. Eu não viajava lá, mas eu a invocava para mandar
outros.
"Ela governa a lua negra. E aqui" ­ eu bati no ponto atrás de mim onde meu
pescoço se conectava com minhas costas ­ "é uma lua com o rosto abstrato
de uma mulher. Selene, a lua cheia."
Os olhos escuros de Kiyo tinham um intenso interesse. "Porque não uma
deusa da lua mais comum, então? Como Diana?"
Eu hesitei na resposta. Em muitas formas, Diana teria servido para o mesmo
propósito. Ela, como Selene, estava ligada ao mundo humano e podia me
manter presa aqui quando eu precisava. "As outras são... deusas solitárias.
Até mesmo Persephone, que tecnicamente é casada. Diana é uma virgem ­
ela é sozinha também. Mas Selene... bem, ela não é tão conhecida, mas ela é
uma deusa mais social. Uma deusa sexual. Ela se abre para outras pessoas. E
experiências. Então eu a escolhi. Eu não achei que seria saudável ser
marcada por três deusas que são sozinhas."
"E quanto a você? Você é sozinha, Eugenie?" A voz dele era veludo contra a
minha, e eu podia ter me afogado naqueles olhos. Eles eram como chocolate.
Chocolate como um afrodisíaco.
"Não somos todos sozinhos?" eu perguntei com um sorriso triste.
"Sim. Eu acho que no fim, somos todos, não importa o que as músicas e
histórias felizes digam. Eu acho que só uma questão de quem nós
escolhemos para ser sozinho com a gente."
"É por isso que eu venho aqui, sabe. Para ficar sozinha com outras pessoas.
Tem isolamento em uma multidão. Você está escondida. Segura."
Ele olhou ao redor para a confusão, o mar de pessoas se movendo para o
bar. Elas eram como um bar nos cercando. Ali mas não ali. "Sim. Sim, eu
suponho que isso seja verdade."
"Não é por isso que você está aqui também?"
Ele olhou de volta para mim, sua expressão um pouco menos sexual e um
pouco mais pensativa. "Eu não sei. Eu não tenho certeza. Eu acho que talvez
esteja aqui por sua causa."
Eu não tinha nenhuma resposta para isso, então comecei a brincar com a
garrafa de novo. O bartender perguntou se eu queria outra, eu balancei a
cabeça.
Kiyo tocou meu ombro. "Você quer dançar?"
Eu tinha certeza que não dançava desde o ensino médio, mas uma força me
compeliu a aceitar. Nós entramos na multidão de péssimos dançarinos. A
maior parte estava simplesmente se mexendo com a música rápida com uma
batida pesada que eu nunca tinha ouvido antes. Kiyo e eu não éramos muito
melhor. Mas quando uma música lenta tocou, ele me envolveu, nos
pressionando juntos tão próximos quanto duas pessoas poderiam estar.
Bem, quase tão perto.
Eu não conseguia lembrar de nada disso acontecer com um cara que eu tinha
acabado de conhecer, um desejo por alguém que eu queria e não para
alguém quem estava disponível. O corpo dele era duro e perfeito contra o
meu, e minha pele ficava buscando formas de tocar a dele. Eu já estava
imaginando ele nu, imaginando como seria ter o corpo dele se movendo
contra o meu e dentro do meu. O que estava acontecendo comigo? As
imagens eram tão vividas e reais, que era de se admirar que meus
sentimentos não estivessem escritos no meu resto.
Então eu não me importei quando ele deslizou sua mão na minha nuca e
trouxe sua boca para baixo para me beijar. Também não era a tentativa de
um beijo. Não era um beijo de primeiro encontro. Foi o tipo de beijo que
significa algo, o tipo de beijo que diz, eu quero consumir cada centímetro de
você e ouvir você gritar meu nome. Eu nunca fiquei em lugares públicos, mas
parecia uma preocupação trivial enquanto aquele beijo queimava entre nós,
nossas línguas e lábios os contornos da boca um do outro.
Mas quando a outra mão dele deslizou o tocou meu seio, até eu estava
surpresa. "Hey," eu disse, quebrando o beijo levemente. "Tem pessoas ao
redor." Engraçado, eu pensei um segundo depois, que eu estivesse menos
preocupada com ele fazendo isso do que ser vista fazendo.
Ele beijou a lateral do meu pescoço, logo abaixo da minha orelha, e quando
ele falou, a voz dele esquentando minha pele. "As pessoas só notam se você
faz barulho sobre isso."
Eu deixei ele me beijar de novo e não disse mais nada sobre a mão que
continuava a acariciar a curva do meu seio e provocar meu mamilo até ficar
duro por debaixo da minha camiseta. A outra mão dele deslizou para minhas
nádegas e me empurrou para perto dele, me permitindo sentir exatamente o
que estava por baixo do jeans dele. O fato de estarmos fazendo isso em
publico de repente fez com que fosse ainda mais sexy.
Eu deixei sair um vagaroso e tremulo suspiro e então quebrei o beijo de
novo. Só que dessa vez, não era por causa de nenhum pudor que eu
estivesse sentindo. Meu corpo de repente sentia uma urgente excruciante
necessidade.
"Você está hospedado em algum lugar próximo?" eu perguntando, indicando
o hotel adjacente ao bar.
"Não. Estou no Monteblanca."
Eu deixei a surpresa se mostrar no meu rosto. Essa não era uma região nem
perto de onde eu vivia, no pé da montanha de Santa Catalina. "Isso não é um
hotel. É um resort. Um muito bom. Veterinários devem ganhar muito
dinheiro."
Ele sorriu e tocou seus lábios contra minha bochecha. "Você quer ver?"
"Sim," eu disse a ele. "Eu certamente quero."

Capítulo Quatro
Estávamos um em cima do outro antes de sequer termos chegado ao quarto
dele. Se nossas ações na pista de dança tinham sido energéticas, nosso
agarra, agarra no elevador era para maiores de dezoito anos. Felizmente
ninguém subiu conosco, o que foi uma boa cosia, considerando o estado
desgrenhado de nossas roupas quando nós finalmente entramos.
Enquanto isso, uma voz razoável na minha cabeça sussurrava você não faz
esse tipo de coisa; Mas eu estava fazendo. E eu queria, muito.
Era um bom quarto o que não era surpreendente para um hotel tão bom.
Uma cama king-size, oferecia conforto em um quarto que li enluarado, e
além dele, uma porta de vidro de correr abria para uma sacada que tinha
vista para o deserto. Eu não tive tempo para admirar a vista porque Kiyo me
empurrou na cama, tirando minha camiseta ao mesmo tempo. Eu já tinha
feito um bom trabalho em soltar a calça dele no elevador, então eu tinha
uma vantagem na corrida.
Quando nós dois estávamos nus, eu o vi sentar e se inclinar ao da cama
mexendo na sacola de comprar que estava do lado da cama, no chão.
Tinhamos que fazer uma nada romântica ­ mas necessária ­ parada para
camisinhas. Eu estava tomando pílula, mas mesmo no calor da paixão, eu não
era tão tola em confiar em fazer sexo desprotegida com um estranho, não
importava o quão charmoso ele fosse. As mãos ansiosas de Kiyo
praticamente rasgaram a caixa, fazendo os pequenos pacotes se espalharem
no chão. Ele pegou um e abriu, e eu o ajudei a colocar. Eu sorri tanto da
reação dele ao meu toque e com o fato da camisinha ser de um escarlate
profundo. Quando estava colocada, eu admirei por um momento. Tudo
sobre ele era perfeito: a forma do seu corpo, os músculos esculpidos, a pele
bronzeada. Os olhos dele eram escuros e exigentes na luz fraca,
profundidades negras que queriam me envolver. Havia uma qualidade
intensa nele, algo primórdio e feral. Ele me observou me analisando logo
antes de me por na cama com ele, deitado seu corpo sob o meu.
Tudo o que ele fez foi me beijar, a princípio. Em toda parte. Ele provou meus
lábios de novo, e então meu pescoço, traçando suas formas com sua língua.
Meus seios tomaram a atenção dele por um longo tempo depois disso, mas
também, seios ocuparem a atenção dos caras é uma regra geral. Ele os
segurou e os beijou, mordendo os mamilos, mantendo os olhos trancados
nos meus o tempo todo. Para mim, era como se traços de fogo emanassem
debaixo da minha pele, como se o toque dele fosse um tipo de droga que
meu corpo precisava para sobreviver.
Quando o rosto dele se moveu entre minhas pernas, foi apenas para tocar
com o nariz a pele sensível do meu corpo. Ele inalou profundamente, se
enterrando contra mim, como se ele precisasse absorver mais de mim.
Ele voltou para cima, para que ficássemos cara a cara mais uma vez, o corpo
dele de novo em cima do meu. Meu próprio corpo estava em agonia, incerto
do porque não estávamos acelerando as coisas. Eu não sei qual o olhar do
meu rosto, mas ele sorriu para mim. Era um sorriso de sabedoria, um sorriso
animal.
"Não tem nada no mundo," ele disse em uma suave voz. "como o cheiro e o
olhar de uma mulher prestes a deixar você tomá-la."
"Tomá-la?" eu ri. "Você está me chamando de uma posse?"
"Somos todos posses durante o sexo, Eugenie."
E então eu o senti deslizar para dentro de mim, devagar a princípio como se
ele fosse entrar centímetro por centímetro e me pegar desprevenida,e então
enfiando tudo. Eu achei que a demora pelo tour do meu corpo teria deixado
ele menos duro, mas no máximo, ele ficou ainda mais duro e maior do que
quando eu pus a camisinha. Ele se moveu num ritmo bruto e rápido que em
qualquer outro homem provavelmente teria acabado com as coisas em trinta
segundos. De alguma forma, eu suspeitava que esse não fosse o caso.
E não foi.
Eu afundei minhas unhas nas costas dele, me arqueando como se eu pudesse
deixa-lo penetrar cada vez mais fundo em mim. Eu já estava quase cheia de
dor, mas era uma boa dor, do tipo que dança de prazer, transformado as
duas em algo inexplicável. Ele se movia com longas e rápidas estocadas,
observando meu rosto com cuidado para ver como eu reagia a cada
movimento e mudança de posição. Quando ele atingiu um ponto que fez
meus lábios se separarem e gemidos ficarem mais altos, ele empurrou com
mais força e furiosamente. Meus gemidos estavam na fronteira de se
transformarem em gritos, e ele moveu suas mãos para segurar meus pulsos e
impedir meu corpo de se mover. O pulso que estava machucado por causa
do Queres reclamou um pouco, mas isso foi perdido com a sensação que
aumentava cada vez mais entre minhas pernas, aquele líquido quente que
queimava, esperando para explodir através de mim. Além do mais, eu não
estava sendo gentil também. Eu soltei minhas mãos do aperto dele e apertei
as costas dele, deixando minhas unhas afundarem furiosa e profundamente,
quase com força o bastante para sangrar, eu percebi. Esse conhecimento não
me fez parar. No máximo, eu afundei mais fundo até ele prender meus
pulsos de volta e me segurar de novo. Foi o sexo mais pesado que eu já tinha
feito. E provavelmente o melhor.
"Não feche os olhos." ele me disse.
Eu nem percebi que tinha fechado. A visão parecia um sentido supérfluo no
momento, comparado com todo o resto que eu sentia.
"Olhe para mim." ele sussurrou. "Olhe para mim."
Nossos olhos se trancaram enquanto a pressão dentro de mim finalmente
explodiu, fazendo meu corpo se mover e tremer. Meus gritos desapareceram
num alto gemido, o único jeito que eu pude para dar voz aos sentimentos
passando por dentro de mim. É de se imaginar que Kiyo fosse diminuir a
velocidade depois disso, mas ele não o fez. Ele manteve o mesmo ritmo
ardente, ainda me segurando, e foi quase demais depois daquele orgasmo.
Eu podia ver pelo rosto dele que minhas reações o excitavam, o fazia ter mais
e mais vontade. Eu era posse dele naquele momento, assim como ele tinha
dito.
Meu instinto de combate e de lutadora aparecerem ali. Eu decidi que eu não
queria mais ser a posse dele. Domínio e poder comandavam meus dias; e
dominaria com sexo também. Eu movi minhas mãos das costas dele para
seus braços e ombros. Confiando no elemento de surpresa, eu o rolei,
usando minhas pernas para prendê-lo, as envolvendo ao redor dos quadris
dele. Uma surpresa agradável passou pelo rosto dele. Ele não esperava que
eu fosse tão forte. Ele se mexeu como se ele fosse tentar me jogar, e eu o
empurrei para baixo. Acabou sendo um movimento mais duro do que eu
esperava, mas ele não se importou. No máximo, fez a paixão do rosto dele
crescer.
"Você me obedecer agora." eu rosnei, pressionando minhas palmas no peito
dele. Um sorriso se torceu nos lábios dele. "Claro."
Eu o guiei de volta para dentro de mim, exultante por ser eu a controlar
agora. Eu movi meus quadris para cima e para baixo, me inclinando para
poder vê-lo deslizar para dentro e fora de mim. Meu cabelo, a muito já tinha
se soltado do seu rabo de cavalo, estava pendura por cima dele, esfolando
sua pele. Eu tinha o cabelo da cor de canela, um marrom amarelado que não
era escuro o bastante para ser moreno, nem claro o bastante para ser ruivo.
Nessa luz, no entanto, era apenas um véu escuro entre nós. Ele me acariciava
e pôs suas mãos gentilmente sob meus seios para que ele pudesse sentir o
movimento deles enquanto eu o montava. Foi incrível. Eu me movi mais
rápido e com mais força, trazendo ele comigo, observando e me ajustando
da mesma forma que ele tinha feito. Eu queria tanto vê-lo ele gozar, ver o
olhar no rosto dele quando ele perdesse o controle.
Eu sabia que estávamos perto quando as mãos dele soltaram meus seios e
agarram minha cintura e quadris. Os dedos dele se apertavam com força
contra minha pele, assim como os meus tinha feito antes. Ele manteve seu
olhar em mim, destemido e sem medo de que eu o visse no seu clímax. Eu
me movi com mais força, o encorajando, e então eu ouvi um suave e estático
som. Os olhos dele nunca deixaram os meus, e as mãos dele deslizaram para
os meus ombros, de repente raspando minha carne enquanto o seu corpo se
soltava no meu.
Eu gritei surpresa com a dor de onde ele tinha me arranhado. O quão afiada
eram as unhas dele? Ele tinha garras? Eu afundei nele também, mas nada
como o que ele tinha acabado de fazer em mim. Quando ele se recuperou, e
o arfar frenético dele voltou ao normal, ele pareceu perceber o que tinha
feito.
"Oh, meu Deus, desculpe," ele disse, a respiração dele muito pesada. Ele me
puxou até ele, colocando seus braços ao meu redor, tendo cuidado de evitar
o lugar que ele tinha arranhado. Eu descansei minha bochecha contra a
quente e suada pele do peito dele. "Eu machuquei você?"
Eu não sabia a que parte do sexo ele estava se referindo ­ provavelmente a
parte em que ele me arranhou ­ mas na verdade, não importava. "Não," eu
menti. "é claro que não."
Quando nós dois meio que voltamos a nós mesmos, nós remexemos a sacola
de compras de novo e pegamos o vinho barato que compramos junto com as
camisinhas. Tinha parecido hilário naquela hora, considerando nossa
conversa mais cedo sobre presentes de cortejo. Sentamos nus e com as
pernas cruzadas na cama, bebendo das taças que já estavam no quarto.
Conversamos um pouco, e embora a conversa tenha sido um pouco menos
substancial do que a do bar, eu ainda me sentia confortável. Era difícil ser
eloqüente depois da selvagem e animal experiência que eu tinha acabado de
ter.
Eu fui para o banheiro em certo ponto e espiei as minhas costas no espelho.
Ele não atingiu minhas tatuagens, mas definitivamente tirou sangue e rasgou
a pele. Era assustador. Eu molhei um pano e limpei o ferimento o melhor que
eu pude, e então pus um dos robes que estavam pendurados atrás da porta.
Kiyo ainda estava sentado na cama, me observando, mas eu o deixei lá e
tomei meu vinho na sacada.
Era uma noite linda. Os cactos e as outras plantas do deserto pintadas em
sombras e a luz da lua era lançada por uma lua prateada. Selena estava fora
hoje à noite, e eu acho que ela veio através de mim agora mesmo. Estrelas
cristalinas adornavam a escuridão. Eu tinha um telescópio em casa e meditei
de que seria uma boa noite para estudar os céus.
A não ser que parecia que o tempo ia mudar logo. Isso me surpreendeu,
considerando o quão claro ele tinha sido na maior parte do dia. Chuva é raro
nessa época do ano. Mas nuvens negras estavam se formando rapidamente
no céu, apagando as estrelas onde passava. No horizonte onde as nuvens se
formavam, eu vi o raio de luz de um trovão. O vento aumentou o tipo de
vento que aumenta e diminui numa batida. O vento estava quente e vivo
cheio de tensão e poder. Seria uma tempestade lúgubre e furiosa. O tipo de
tempestade que te deixa pasmo sobre o poder da vida e da natureza.
Eu me sentia viva também, naquele momento, tão agitada e selvagem como
a tempestade que estava prestes a chegar. Eu me sentia bem confiante de
que eu nunca tinha me aberto a ninguém tanto quanto eu me abri para Kiyo
agora pouco. Eu tinha me deixado agir. Foi assustador e emocionante ao
mesmo tempo.
Eu o ouvi entrar na sacada alguns minutos depois e então eu senti o braço
dele deslizar ao redor da minha cintura e sua bochecha se pressionar contra
minhas costas. Ele descansou seu queixo contra meus ombros. Tudo estava
quieto ao nosso redor. Estávamos longe da auto-estrada, e mais ninguém
parecia estar acordado. Só havia o som do vento soprando ao nosso redor e
do trovão que ficava cada vez mais alto.
As mãos de Kiyo se moveram para minha cintura e soltaram o nó. Então ele
puxou o robe para que ele caísse, me deixando nua para os elementos. Eu
comecei a me afastar, tímida, mas ele me segurou onde eu estava.
"Não tem ninguém lá fora," ele murmurou, passando suas mãos sobre o meu
corpo, tocando meus seios enquanto ele se movia mais para baixo. "e
mesmo que houvesse você não tem nada pelo que se envergonhar. Você é
linda, Eugenie. Você é tão incrivelmente linda."
Ele afundou seu rosto contra meu pescoço, e em me inclinei nele enquanto
ele me beijava. A mão dele deslizou entre minhas pernas e me acariciou
enquanto o vento acariciava minha pele. Quando eu choraminguei de desejo,
ele me soltou por um momento, e eu ouvi um barulho de algo se rasgando.
Ele trouxe camisinhas para fora com ele. Presunçoso bastardo.
Ele a colocou num segundo e então voltou a por suas mãos em mim, me
posicionando para que eu me inclinasse minhas mãos segurando o corrimão.
Ele pressionou atrás de mim, e então aquela grossura dura estava dentro de
mim de novo, mais uma vez alegando sua posse. Eu estava quase sendo
esfregada seca, por causa da nossa última vez, mas enquanto ele continuou
se movendo dentro de mim, eu eventualmente fiquei molhada de novo,
permitindo que a linha entre dor e prazer se misturasse mais uma vez.
Parecia loucura, fazer sexo aqui em público desse jeito, mas era o tipo de
loucura que era muito bom. Aparentemente ele tinha uma tendência a
exibicionismo. Mas não havia ninguém ali. Era apenas nós e o deserto e a
tempestade.
Eu não pensei que poderia gozar mais uma vez hoje à noite, mas ele provou
que eu estava errada assim que as primeiras gotas quentes de chuva
começaram a cair. Trovão e raios ocorriam juntos ao nosso redor agora; a
tempestade tinha nos alcançado, gritando em seu próprio ecstasy para a
terra. Ainda sim Kiyo se movia dentro de mim, indiferente ao tempo, sua
atenção apenas entre eu e ele. Finalmente, quando estávamos sob um total
aguaceiro, eu o senti tremer e dar umas últimas estocadas com força antes
de tirar.
Então ele me virou e entrou em mim de novo. Eu podia ouvir o coração dele
batendo em seu peito quase tão alto quanto o trovão ao nosso redor. O
deserto tremia e reluzia na luz do trovão, e a chuva ameaçava afogar nós
dois.
Mas nenhum de nós notou.
Eu adormeci rapidamente depois disso, deitada sob as cobertas nos braços
dele assim que nós dois nos secamos. Nenhuma insônia hoje à noite.
Ainda sim, eu acordei algumas horas depois, sem ter certeza do por que.
Então eu soube. A mão de Kiyo estava pressionada contra minha boca,
fazendo ficar difícil respirar. A tempestade tinha parado tudo estava
silencioso no escuro quarto.
Eu comecei a lutar, e então a boca dele estava na minha orelha, à voz dele
quase não era audível. "Shh. Tem algo aqui."
Eu acenei em entendimento, e um momento depois, ele me soltou. Nós dois
ficamos perfeitamente parados, e eu pensei sobre a escolha de palavras dele.
Algo, não alguém. Calafrios literais e figurativos de repente passaram por
mim. Seguindo o olhar de Kiyo, eu olhei para cima para a cabeceira de ferro e
vi cristais de gelo se espalhando ao redor como uma renda braça. Nossa
respiração saia em pequenas nuvens, e minha pele nua tremeu de frio. Uma
forma se moveu no meu campo de visão, brilhante no contorno da lua. Eu
sabia o que era antes de ver. Uma Elemental de gelo. Uma criatura
vagamente antropomórfica e composta por afiados e brilhantes cristais.
Tecnicamente, no entanto, era apenas um dos gentry. Alguns deles não
podiam passar fisicamente para nosso mundo, assim como alguns shamans
não podiam entrar fisicamente no deles. Gentry que não queriam vir como
espíritos, mas não tinham a força para cruzar com seu corpo intacto, às vezes
cruzam com uma forma alterada. Uma forma elementar.
É claro, o negócio é que, qualquer gentry que não é forte o bastante para vir
fisicamente para cá não é nem de perto forte como eu. Eu podia acabar com
qualquer elementar facilmente. Bem, se eu tivesse as ferramentas certas, é
claro.
Naquele momento, tudo o que eu tinha ­ fora minha força física ­ eram
minhas jóias, que eram mais defensivas do que ofensivas. Todas as minhas
armas tinham sido deixadas em casa, fora minha varinha, que estava na
minha bolsa. Infelizmente, minha bolsa estava perto da porta, onde tinha
sido largada imediatamente depois que entramos no quarto, para que não
impedisse que Kiyo e eu rasgássemos as roupas um do outro.
Um dilema, na verdade. Mas o elementar de gelo podia ver que estávamos
acordados agora, e um frio sorriso ­ sério ­ cruzou o rosto dele.
Que se foda isso. Eu ia ter que fazer um movimento para ir para a porta e
esperar que eu fosse mais rápida do que aquilo. Eu comecei a dizer a Kiyo
para ficar parado, mas de repente ele saiu da sua posição e atingiu o
Elemental com um chute direto no estomago.
O Elemental voou para trás, atingindo a parede, e por um momento, eu só
pude encarar. Eu mal vi Kiyo se mover. Num minuto ele estava comigo, no
outro ele estava no Elemental. E como ele estava em cima! Eu quero dizer,
eu era mais forte que muitas pessoas, mas eu não era capaz de acertar
aquele golpe. Eu conhecia poucos que poderiam. Era minha vontade ou
armas que lutavam com criaturas como essa, não meu corpo. Como Kiyo
tinha feito isso? Eu o encarei incrédula, e então percebi que estava perdendo
minha oportunidade.
Eu sai da cama, para longe do alcance de Kiyo. "Não, Eugenie! Fique longe!"
Eu consegui chegar até a porta, mas o Elemental estava levantando. Os olhos
dele focados em mim, e meu estômago se apertou, sabendo que eu tinha
atraído essa criatura para cá e possivelmente posto Kiyo em risco. O
Elemental deu uma pequena risada enquanto observava eu esvaziar minha
bolsa no chão.
"Sim, Eugenie Markham, fique longe. Fique longe, pequena swan." Ele deu
um passo em minha direção. Freneticamente eu procurei minha varinha. Da
onde toda essa merda na minha bolsa tinha surgido? "Como você sabe meu
nome?" eu perguntei, esperando distrair a coisa. Gentry, não importa sua
forma, adoram se ouvir falar.
"Todo mundo sabe seu nome. E todos querem você." Eu nunca pensei que
um pedaço de gelo ambulante podia parecer tão lascivo, mas esse conseguiu.
Eu tremi e não por causa do frio. "Mas eu vejo que alguém já provou você
hoje à noite. Não importa. Eu não me importo em ser o próximo, e nem serei
o último a abrir essas suaves pernas ­ "
A criatura estava tão fixada em mim e no queria fazer comigo que ela
esqueceu de Kiyo. Kiyo tinha passado pelo quarto durante a conversa, e eu vi
os olhos deles descansarem em um candelabro de ferro. Os olhos dele
brilhavam com um calor negro, quase assustador em sua ferocidade. Com e
Elemental distraído, Kiyo foi em direção do candelabro, de novo se movendo
com uma velocidade incrível, e então em um movimento, batendo contra o
Elemental, atingindo ele com a força de um tanque.
Um enorme pedaço de gelo se quebrou do corpo de Elemental, e ele rugiu de
agonia. Ferro ou aço sempre vão machucar os gentry, independente em qual
mundo eles andem. Eu me perguntei se Kiyo sabia disso. O Elemental se
lançou nele, e os dois lutaram no chão, rolando enquanto lutavam para
acertar um golpe. Kiyo lutou selvagemente, e cada vez que ele afundava seus
dedos no monstro, ele assoviava de dor.
Eu tinha minha varinha agora a avancei até onde os dois estavam. Eu a
empurrei para fora, fazendo com que fosse uma extensão do meu corpo.
Com o álcool ainda sendo metabolizado pelo meu corpo, assim estar
fisicamente exausta, eu sabia que eu não podia destruir o Elemental, mas eu
certamente podia mandar de volta para o Outro mundo.
O ar formigou ao meu redor, e de novo eu senti o cheiro de ozônio. O
Elemental percebeu o que eu estava fazendo e soltou Kiyo, tentando me
impedir. Kiyo não deixou a presa dele se soltar tão facilmente, no entanto, e
se moveu para frente, seu pé de novo se conectando com a criatura ­ dessa
vez nas costas. O Elemental enfraquecido tropeçou e caiu de joelhos.
Eu normalmente podia fazer expulsões sozinha, mas hoje a noite eu
precisava de um pouco de ajuda divina. "Pela graça de Hecate, eu te expulso
desse mundo. Pelo nome de Hecate, eu te devolvo para seu próprio reino." O
Elemental se quebrou numa explosão de gelo. Alguns dos cristais passaram
pela minha pele, cortando-a. Um espectador podia pensar que ele tinha sido
destruído, mas eu só tinha danificado a manifestação do Elemental. Ele tinha
voltado para o Outro mundo em seu próprio corpo. Eu podia ouvir o sangue
pulsando em minhas orelhas, adrenalina passando por mim. Outra criatura
sabia meu nome. E como o Queres, tinha parecido terrivelmente interessada
em mim... de um jeito bíblico. Bleh.
Mas eu tinha problemas mais urgentes. Devagar eu virei para encarar Kiyo
que estava me observando com igual cautela, absorvendo minha postura e a
varinha carregada em minhas mãos. Kiyo.
Escuro, sexo Kiyo, que tinha me cortejado no bar e tinha acabado de me dar
o melhor sexo da minha vida. O mesmo Kiyo que tinha acabado de lutar com
um Elemental com mais força e velocidade que eu jamais conseguiria ­ mais
do que qualquer humano conseguiria. Ele também não tinha se
transformado num idiota e tagarela humano chocado, como a maior parte
dos humanos teria feito ­ deveria ter feito ­ perto de Elemental. Ele já tinha
visto um antes. Ele sabia o que era assim como ele sabia o que minha varinha
e encanto eram.
O que tinha parecido como um encontro apaixonado para mim, de repente
se transformou. Medo passou pela minha espinha enquanto nos
encarávamos, nenhum de nós certos do que fazer. As palavras estavam nos
meus lábios, mas ele perguntou primeiro.
"O que você é?"
Capítulo Cinco
O fato de que estávamos tendo um empate, enquanto estávamos
completamente nus poderia ser hilário em circunstâncias normais. Mas essas
não eram circunstâncias normais, e mesmo o meu senso de humor
problemático tinha suas limitações.
"Eu?" eu exigi. "E quanto a você? Você não é um veterinário. Vetérinarios
dão a cães vacinas contra raiva. Eles não enfrentam Elementais."
Kiyo me olhou. "Uma web desing não bane Elementais para o Outro mundo."
"Yeah, bem, às vezes eu faço outro trabalho."
O fraco fantasma de um sorriso passou no rosto dele. Ele relaxou um pouco,
encontrou suas calças, e as colocou. Eu não. Eu continuei rígida e pronta para
atacar. Eu também estava me esforçando muito para pensar nele apenas
como uma potencial ameaça, não como o homem que eu tinha acabado de
dormir. Porque se eu pensasse nisso, eu podia desabar. Pior, eu podia ter
que enfrentar o fato de que eu tinha acabado de deixar uma criatura do
Outro mundo ­
Com suas calças no lugar, ele se aproximou de mim. "Precisamos falar sobre
isso ­"
"Não. Não se aproxime." Se eu pudesse disparar a varinha como uma arma,
eu o teria feito. "O que você vai fazer? Você não pode me expulsar. Não vai
funcionar."
Eu hesitei, pensando sobre isso. Ele parecia tão humano. Eu tinha sentido ele
como humano. Eu não senti nada vindo dele como eu teria com um gentry,
mas ainda sim, sua força e velocidade eram sobre humanas. E isso sem
contar o vigor dele. Isso deveria ter entregado ele imediatamente.
"O que você quer de mim? Porque você me trouxe aqui?"
As sobrancelhas dele se ergueram. "Eu achei que era óbvio. Eu queria transar
com você."
"Não, merda! Tem mais, além disso. O que está acontecendo? O que você
estava tentando conseguir de mim?" Meu comportamento estava se
aprofundando rapidamente. "Alguém te mandou?"
"Olha, Eugenie, só abaixe a varinha. Vamos conversar. Vamos entender isso
tudo."
"Eu pensei que você não podia ser expulso," eu o lembrei. "Porque você está
com medo da varinha? Talvez o Outro mundo não possa te machucar... mas
e quanto o Submundo?"
Ele não respondeu. Eu mandei minha vontade para a varinha e senti o ar se
quebrar com poder. Medo cruzou o rosto de Kiyo. Ele estava com medo. Isso
era tudo que eu precisava saber. As palavras estavam nos meus lábios para
mandar ele para o outro mundo, mas de repente ele se moveu com aquela
velocidade rápida que eu tinha visto antes. Ele se afastou para a porta de
vidro, a abriu, e então correu e pulou o parapeito da sacada.
Um pequeno grito de maldade escapou de mim. Estávamos no terceiro
andar. Eu soltei a varinha e corri até a sacada, olhando ao redor procurando
no chão por ele. De jeito nenhum ele poderia sobreviver tão ferido.
Ainda sim, nenhum sinal dele. Alguns morcegos voaram das pontas do
prédio, e do lado mais distante, eu vi o piscar de faróis. Um coiote uivou
distante no deserto, e um gato escapou das sombras. Havia vida ali, mas não
do tipo que eu procurava. Com muita manobra, eu me pendurei do lado da
sacada, me certificando de que ele não estava escondido debaixo dela, como
as pessoas nos filmes fazem. Não. Nada. Eu olhei de volta para o deserto, me
perguntando sobre o que podia ter acontecido com ele. Era possível que ele
tivesse "pulado" figurativamente para o Outro mundo. Ele tinha que ser um
poderoso gentry para fazer isso sem o menor sinal de marcas, mas também,
um forte gentry seria capaz de manter uma forte forma física nesse mundo.
Eu suponho que também seja possível que alguém tão forte se passasse de
humano. Eu nunca tinha encontrado nenhum que fosse tão forte.
Andando de volta para dentro, eu sentei na cama com as pernas cruzadas,
envolvendo meus braços ao meu redor. O gelo que tinha sobrado do
Elemental tinha derretido. A cama tinha cheiro de Kiyo e sexo, e eu engoli a
náusea que crescia dentro de mim. Oh Deus. O que eu tinha feito? Eu tinha
transado com um monstro? Eu tinha transado com o tipo de coisa que eu
caço e odiava e matava? Kiyo tinha falado comigo sobre honestidade, ainda
sim tudo parecia ser uma mentira. Pelo menos tinha sido sexo seguro.
O pior de tudo, eu gostei dele. Realmente gostei dele. Quando foi a última
vez que isso aconteceu? Dean e eu começamos a sair e dormir juntos
simplesmente porque nenhum de nós tinha nada melhor para fazer. Com
Kiyo, eu comecei a sentir uma verdadeira conexão. Uma química verdadeira.
A traição dele me magoou mais profundamente do que eu gostaria de
admitir.
Eu abri meus olhos, pensando. A maior parte dos gentry eram muito burros
tecnologicamente para funcionar no mundo humano, mas ainda sim ele
tinha navegado bem. Ele tinha um carro, um que ele me deixou dirigir. Ele
também tinha uma carteira e dinheiro para pagar pelas bebidas e
camisinhas. E se ele tinha se registrando num hotel, ele tinha que ter um
cartão de crédito. Cartões de crédito são rastreáveis. Se ele tinha uma vida
dupla no nosso mundo, eu deveria ser capaz de descobrir algo.
Eu peguei o telefone e disquei para recepção.
"Bom dia, Sr. Marquez," uma agradável atendente respondeu. Kiyo Marquz.
Era um começo.
"Um, na verdade é a Sra.Marquz. Eu estava me perguntando se você poderia
me dizer se meu... marido já pagou o quarto?"
Uma pausa enquanto ela procurava. "Sim, ele o fez no check-in. Ele deixou o
mesmo cartão preenchido em caso de incidentes."
"Você pode me dizer o número do cartão que ele usou?"
Uma longa pausa. "Desculpe, eu não posso dar isso para ninguém a não ser o
dono. Se você puder colocar ele no telefone, eu posso dizer a ele."
"Oh... eu não quero incomodar ele. Ele está no banho. Eu só queria me
certificar de que não estamos estourando o cartão errado."
"Bem... eu posso te dizer que é um Visa que termina em 3011."
Eu suspirei. Isso não faria muita diferença, mas eu duvidava de que fosse
conseguir mais com essa mulher. "Ok. Obrigado."
"Tem mais alguma coisa que eu posso fazer para ajudar?"
"Yeah... você pode me conectar com o serviço de quarto?"
Eu pedi um café no quarto do Kiyo então tomei um banho enquanto eu
esperava ele chegar. Eu precisava lavar o suor, lavar o cheiro do corpo dele
no meu. Quando a comida chegou, eu fui direto na torrada e vasculhei o
quarto para algum tipo de evidência. A carteira de Kiyo estava na calça dele,
então essa já era. Ele não tinha nenhum outro bem pessoal no quarto, a não
ser pelas roupas descartadas de ontem à noite. Eu explorei cada gaveta e
canto, só para o caso dele ter escondido alguma coisa.
O sol estava bem acima no horizonte quando eu finalmente sai do hotel.
Quando eu cheguei em casa, eu liguei para Lara e disse a ela o nome dele. Eu
pedi a ela para ver que conexões ela conseguia encontrar, Phoenix, e
veterinários. Ela é excelente nesse tipo de coisa, mas eu sabia que podia
levar alguns dias. Felizmente uma carreira em banir e destruir é uma ótima
forma de aliviar a tensão enquanto espero.
O primeiro serviço depois do incidente com Kiyo envolvia procurar Marids na
privada de alguém. Marids são um dos djinn ­ Gênios para a maior parte dos
americanos ­ e estão ligados com o elemento da água. Como os Queres e a
maior parte dos outros djinn, Marids tendem a ocupar um objeto físico. Só
que, ao invés de uma garrafa ou lâmpada, eles preferem um lugar molhado ­
digamos, como, um cano de pia.
Irritada por ter que lidar com uma tarefa tão idiota, eu lancei meu círculo em
um grande banheiro azulejado em preto e usei a varinha para arrancar o
Marid do cano. Ela se materializou diante de mim, parecendo muito como
uma humana, fora a pele pálida como a morte e o cabelo azul. Um vestido de
seda estava no corpo dela.
Eu a vi ficar tensa, instantaneamente pronta para me atacar com seu poder.
Então ela instintivamente pronta para lançar seu poder sobre mim. Então ela
olhou de novo, me olhando da cabeça aos pés. Um olhar engraçado passou
pelo rosto dela, e momentos mais tarde, ela se iluminou com um sorriso
enorme. Ela fez uma pequena reverencia. "Minha senhora," ela disse
gentilmente. "Como posso te servir?"
"Você não pode," eu disse a ela, segurando a varinha.
Ela manteve o sorriso, mas havia tensão ali. "É claro que posso. Eu tenho a
habilidade de conjurar riquezas e outras maravilhas. Eu posso fazer seus
sonhos ­ "
"Pare. Não vou cair nessa."
Os mitos sobre os djinn concederem desejos não eram completamente
falsos. Ela não era toda poderosa, mas ela podia definitivamente tirar uns
truques daquele chapéu. Quando enfrenta perigo, a estratégia mais comum
de um djinn é tentar barganhar com o inimigo. Infelizmente, os "desejos"
que eles concederam raramente acabam do jeito que se é esperado.
Inquieta, ela se afastou até a parede, ela atingiu a fronteira do circulo
primeiro. Olhando ao redor, ela percebeu que estava presa. O sorriso sumiu,
substituído por medo verdadeiro.
"Certamente não há necessidade para violência," ela disse. Os olhos dela se
alargaram. "por favor."
Eu a encarei. Eu raramente via criaturas do Outro mundo implorar por
misericórdia. Eu hesitei por um momento, então meu mau humor induzido
por Kiyo tomou conta. Eu enviei minha vontade para a varinha, pronta para
empurrá-la para o portão.
Ela sentiu a carga de poder no ar e mudou para o modo auto-defesa, agora
que ela havia percebido que a mudança de comportamento e tentar negociar
não iria funcionar. A mágica dela pingava no círculo. Ela me lembrava uma
nevoa ou neblina, uma suave umidade enchendo o ar. Eu pisquei surpresa.
Eu normalmente não sentia mágica desse jeito. Na maior parte, eu sentia os
poderes do Outro mundo como um formigamento ou uma pressão. Isso era
tangível.
Ela viu minha surpresa. Os olhos dela se alargaram com esperança. "Você vê?
Você não tem porque acabar comigo. Como um convite para gostar."
Gostar? Eu estava surpresa mais eu não hesitei em tomar vantagem na
distração dela. A magia dela podia ser mais fraca no meu mundo, mas eu
ainda não queria lutar corpo a corpo. Era mais fácil lidar dessa forma.
Um momento mais tarde, eu tinha feito minha conexão com o Submundo.
Ela ficou mais pálida quando ela percebeu que eu usei minha varinha para
prendê-la, e ela me implorou de novo por misericórdia. Cerrando os dentes,
eu pensei sobre a forma como Kiyo tinha me usado e fiquei com raiva. Não.
Sem piedade para as criaturas do Outro mundo.
E ainda sim... olhando para os olhos dela, eu lembrei da nevoa da mágica
dela. Como um convite para gostar. Eu não sabia o que isso significava, mas
tinha me atingido. No último segundo possível, eu decidi poupar ela afinal de
contas ­ pelo menos em parte. Não tinha como eu permitir que ela ficasse
nesse mundo. Ao invés disso, eu mudei meu foco para o Outro mundo e a
enviei para lá, ao invés de dar a ela uma morte instantânea no Submundo.
Quando tudo acabou, eu encarei o banheiro vazio, me perguntando o que
tinha se apoderado de mim. "Estou ficando mole," eu murmurei.
Lara levou um tempo, mas ela descobriu algo sobre Kiyo alguns dias depois,
no mesmo dia que eu decidi ver Roland e contar que eu tinha decidido ir
atrás de Jasmine.
Algo sobre o encontro com Kiyo e o Elemental no quarto me fez decidir que
eu não podia deixar aquela pobre garota a mercê daqueles do Outro mundo.
Rolando podia não gostar, mas ele não podia me impedir, não mais. Meus
poderes tinham passado os dele um tempo atrás. Eu também pretendia
perguntar a ele sobre meu novo status de solteira do ano no Outro mundo.
Pelo menos nos poucos dias desde que estive com Kiyo, não haviam ocorrido
nenhum outro ataque em que eu fosse o alvo. Wil tinha me deixado um
milhão de mensagens com Lara, mas estivemos deixando ele de lado. Eu só
tinha alguns trabalhos: um banir e alguns exorcismos. Eu quase podia dizer
que era uma semana fraca. Não tinha acontecido muito enquanto eu
esperava. O que também não estava acontecendo era à cura do arranhão nas
minhas costas. O sangue tinha secado e se espalhado um pouco, mas as
marca não sumiram. Elas permaneceram vermelhas e pareciam sérias,
embora não doessem. Toda manhã eu olhava para elas, esperando que elas
tivessem desaparecido. Elas nunca sumiram.
Eu esperava em segredo que se aqueles arranhões desaparecem, meus
sentimentos por Kiyo também sumiriam. Eu não conseguia parar de pensar
nele. Eu passei meus dias me expressando e espumando por causa dele, e a
noite, sonhos escandalosos passavam na minha cabeça, me fazendo acordar
quente e cansada. Eu não sabia o que havia de errado comigo. Eu nunca me
comportei desse jeito, especialmente com um cara que representava tudo
que eu era contra.
"Eu finalmente encontrei um Kiyo Marquez num hospital veterinário em
Phoenix," Lara me disse enquanto eu dirigia para a casa da minha mãe. "Eu
tive que ligar muito. Eles falaram que ele não trabalha tempo integral e que
ele está de férias pelas próximas duas semanas. Não consegui mais nada. O
endereço e telefone dele não estão na lista."
Eu a agradeci e ponderei sobre isso. Então Kiyo não tinha mentido
completamente. Ele tinha um trabalho, um bem humano. Eu ainda sim não
liguei com o que observei ou sabia. Eu vi minha mãe curvada no seu jardim
quando eu cheguei, fazendo com que eu espiasse lá para dentro para que eu
pudesse falar com Roland em particular. Eu o encontrei na cozinha, quase no
mesmo lugar que da ultima vez.
Nós trocamos cumprimentos, e então eu comecei a falar, decidindo deixar
Jasmine por último.
"Mais deles sabem meu nome. Eu lutei com dois deles que me conheciam
além de Odile. Eu também ouvi sobre um terceiro que sabe quem eu sou."
"Os ataques tinham você especificamente como alvo, então? Como ataques
de vingança?"
"Um era. Os outros era parte do trabalho. Por que? Eles foram procurar por
você quando seu nome vazou?"
"Um pouco. Um inconveniente, mas não era o fim do mundo."
"A coisa estranha aqui..."
"Sim?"
"Bem... eles meio que tem sido tipo, me solicitando..."
Ele ergueu as sobrancelhas. "Para sexo?"
"Yeah." Roland sem dúvidas tinha feito todo tipo de coisas sexuais em sua
vida ­ na maior parte com minha mãe, Deus me ajude ­ mas ele era o
bastante de uma figura paterna para que eu não me sentisse inteiramente
confortável ao discutir esse tipo de coisa com ele.
"Bem, você sabe como eles são com mulheres humanas. Se um estava
tentando se vingar de você... bem, estupro é um jeito bem comum de
retalhação."
"Ótimo. Eu prefiro que eles simplesmente me surrem até a morte."
"Não faça piadas assim," ele avisou. "Se o seu nome acabou de ser
descobertos, provavelmente está bem quente agora. Mas eu imagino que a
onda vai morrer eventualmente. Só espere. Enquanto isso tome cuidado ­
não que você já não tome. Faça as coisas de sempre. Mantenha sua cabeça
limpa. Fique armada o tempo todo. Não beba." Ele me olhou. "Fique longe
do peyote13."
Eu virei os olhos. "Qualê, eu não faço isso há anos."
Ele deu nos ombros. "Você tem outra coisa para descarregar. Eu posso ver
nos seus olhos."
"Bem... em falar sobre me cuidar..."
Eu levantei da cadeira e tirei a camisa com botões que eu usava por cima de
um top. Eu pus meu cabelo de lado e virei para que ele pudesse olhar minhas
costas.
Ele fez uma pequena careta quando viu os arranhões. "Eles parecem
horríveis. Você conseguiu numa luta hoje?"
13 É uma planta que causa alucinações.
"São de quatro dias atrás. Eles não curam."
"Eles doem?"
"Não."
"O que te eles?"
"Não tenho certeza. Ele parecia humano, mas... eu não sei." Eu soltei o
cabelo e virei, colocando a camisa de volta.
"Como ele te pegou nesse ângulo e posição?" Roland parecia surpreso. "Você
estava lutando?"
"Uh, isso não é realmente importante," eu disse duramente. "Você já viu
algo assim?"
"Não exatamente, não, mas eu vi o bastante para pensar não pensar que isso
é normal. Se havia mágica o bastante ou o que quer que ele tenha usado
para fazer eles, eles podem levar um tempo para curar."
Isso não me fez sentir bem, mas eu não estava disposta para elaborar meu
encontro com Kiyo.
Eu respirei fundo. "Tem mais uma coisa."
"Eu sei. Você vai atrás da garota."
E lá se foi minha proclamação dramática. "Como você soube?"
"Porque eu te conheço, Eugenie. Você é tola e cabeça dura com um senso
inocente do que é certo. Você é como eu." Não tinha certeza se isso era um
elogio ou não.
"Então você entende."
Ele balançou a cabeça. "Ainda é perigoso. E idiota. Você cruza com seu
próprio corpo e ­"
"E então o que?"
Nós dois olhamos para cima como duas crianças culpadas. Minha mãe estava
parada na entrada com um enorme chapéu e luvas cobertas de sujeira, mais
evidências da jardinagem. Eu tinha algumas plantas no meu jardim de pedras
que passavam como o meu quintal, mas ela mantinha um Oasis. Seu longo
cabelo acinzentado caía nas suas costas enquanto ela nos olhava. O cabelo
dela não tinha meu tom avermelhado, e os olhos dela eram apenas azuis,
não azuis violeta. Fora isso, todos diziam que nós nos parecíamos. Eu me
pergunto se eu vou envelhecer como ela. Eu espero que sim, embora eu
provavelmente fosse tingir qualquer grisalho.
"O que você está planejando fazer, Eugenie?" Ela perguntou em um tom
nivelado.
"Nada, mãe. São só coisas hipotéticas."
"Você está falando sobre ir até lá. Eu sei o que isso significa."
"Mãe ­ " eu comecei.
"Dee ­ " Rolando começou.
Ela ergueu a mão e parou nós dois. "Não. Eu não quero ouvir. Você sabe o
quanto eu já me preocupo com você nesse mundo, Eugenie? E agora você
quer entrar direto na casa deles? E você." Ela virou para Rolando, os olhos
dela brilhando. "Eu passei vinte anos me preocupando com você. Eu fico
deitada acordada, me perguntando qual noite seria a noite que você não iria
voltar para casa. Eu agradeci a Deus pelo dia em que você se aposentou, e
agora você está encorajando ela a ­"
"Hey, whoa, ele não está me dizendo nada aqui. Deixe-o fora disso se você
quer brigar com alguém. Isso é apenas eu. Ele não está envolvido."
Minha mãe virou para mim. "Não é pra você estar também! Porque você não
pode simplesmente se preocupar e manter eles longe daqui? Porque ir atrás
deles?"
Eu contei a ele. Ela manteve seu rosto orgulhoso e duro o tempo todo em
que eu falei, mas eu podia ver os olhos dela a traírem. A severidade da
situação não estava perdida nela, embora as palavras dela continuassem a
negar a verdade.
"Você é como ele. Muito nobre para o seu próprio bem." De repente ela
parecia mais velha do que sua própria idade. "Você está compensando por
algum tipo de falta de atenção quando era criança, não está?"
Ali estava ela, voltando para o modo terapeuta.
"Mãe, ela tem quatorze, quinze anos agora. Se isso fosse um sequestro local
você concordaria com qualquer método necessário para recuperar ela."
"Eu concordaria com as medicas que envolvessem apoio, não você sozinha."
"Eu não tenho ajuda."
"A não ser eu." Rolan se intrometeu.
"Não." minha mãe e eu falamos ao mesmo tempo.
"Você é minha única filha. Meu bebê. Se algo acontecer com você..."
Eu estava pronta para ela. "Jasmine é o bebê de alguém também, mesmo
que a mãe dela tenha morrido. Isso quase faz ser pior, na verdade. Ela
perdeu os pais. Ela não tem ninguém. E agora ela está presa, sendo mantida
refém por uns idiotas que pensam que está tudo bem seqüestrar e estuprar
garotas."
Minha mãe foi para trás como se eu tivesse batido nela. Ela olhou para
Roland. Eles trocaram um daqueles longos olhares que casais que estão
juntos há séculos são capazes. Eu não sei o que eles estavam comunicando,
mas ela finalmente desviou o olhar de nós dois.
"Quando... você a recuperar, a traga para mim. Não importa se são... gentry
ou humanos. Ela vai precisar do mesmo tipo de terapia que qualquer outra
vitima precisaria." Eu sabia que ela fazia esse tipo de terapia com os
pacientes o tempo todo, mas eu nunca pensei que ela faria o mesmo com
vitimas de gentry. Era muito normal alguém tentar fingir que o Outro mundo
não existia.
"Mãe ­" eu tentei.
Ela balançou a cabeça. "Eu não quero saber mais nada até tudo ter acabado.
Eu não posso saber."
Ela nos deixou, voltando para o jardim.
"Ela vai se recuperar," Rolando me diz depois de um momento de silêncio.
"Ela sempre se recupera."
Forçado a aceitar o fato de que eu iria, ele estava muito disposto a falar o
máximo de informações táticas possíveis. Eu fiquei tonta.
Em certo ponto, depois que eu recusei o terceiro pedido dele para ir comigo,
ele disse, "eu assumo que você vai levar sua outra ajuda."
O tom de voz dele mostrou um inegável escárnio para minha "outra
ajuda."Eu sabia que ele não aprovava, mas ele tinha que reconhecer os
benefícios. "Você sabe que ele é um trunfo."
"Assim como uma granada ­ até ela explodir na sua mão."
"Eles são melhor que nada."
Ele fez uma careta, mas não disse mais nada, ao invés disso discutindo mais
logísticas comigo: onde e quando cruzar e que armas levar. Nós decidimos
que seria melhor para eu esperar que a lua entrasse na fase crescente, para
que eu tivesse uma conexão mais forte com Hecate. Ela facilitava a transição,
particularmente para o Outro mundo, o que pode ser útil se eu precisar de
uma retirada apressada. Haveria uma ótima lua crescente em cerca de
quatro dias.
Eu deixei a casa deles sem ver minha mãe de novo. Eu esperava que ela não
descontasse seus sentimentos em Roland, e eu me perguntei o quanto deve
ser um saco amar alguém que está sempre em perigo. Eu decidi que se algum
dia eu casar, eu escolheria alguém com um emprego normal a quem eu
esperaria estar em casa em horários normais. Como um eletricista. Ou um
arquiteto. Ou um veterinário.
Ack.
Enquanto eu entrava no meu carro para partir, eu vi uma coisa estranha.
Uma raposa vermelha me observada das árvores do lado mais distante da
casa dos meus pais. O mais surpreendente do que ver ela me observar era o
fato de que era uma raposa vermelha. Elas não eram comuns no sul do
Arizona. É mais provável que você veja uma raposa cinza ou uma das raposas
do deserto. Eu encarei aqueles olhos amarelos amarronzados e tremi. Coisas
estranhas demais estavam acontecendo ultimamente comigo para mim me
sentir confortável com uma raposa que me estudava, não importa o quão
bonita era fosse.
Quando voltei para minha casa, eu sabia que era hora de solicitar a "outra
ajuda." Essa era uma das áreas onde meu caminho tinha se separado de
Roland. Ele foi meu mentor e tinha anos a mais de experiência, mas nós dois
sabíamos que eu tinha ficado mais forte. Ele nunca seria capaz de fazer o que
eu estava prestes a fazer. Se ele pudesse, ele talvez pudesse entender
porque eu confiava nesse tipo de ajuda.
Eu fechei a porta do meu quarto e então fechei as cortinas e persianas. A
escuridão caiu, e eu acendi uma vela, deixando-a ser minha única fonte de
luz. Eu era forte o bastante para fazer uma invocação sem os truques de
estágio, assim como eu era capaz de expulsar um espírito sem ajuda divina,
mas eu não queria desperdiçar a força extra hoje.
Eu produzi a varinha e toquei no cristal de quartzo, fortalecendo minha
conexão com o mundo espiritual. Fechando os olhos, eu me foquei no ser
que eu queria e então recitei as palavras corretas. Eu geralmente
improvisava palavras quando eu expulsava criaturas ­ daí o meu uso
freqüente de expletivas ­ mas normalmente não importava desde que
minha intenção e significado estivessem claros. Para uma invocação assim,
no entanto, tudo tinha que estar certo. Eu estava essencialmente invocando
um contrato, e como qualquer bom advogado sabia os detalhes são tudo.
O quarto ficou mais frio quando eu terminei o encanto, um frio diferente do
que o Elemental tinha causado. Uma pressão meio que passou ao meu redor,
e então eu sabia que não estava mais sozinha. Eu olhei ao redor e o
encontrei no canto onde ele normalmente aparecia, uma forma preta
escondida entre as sombras. Olhos vermelhos brilhando para mim no escuro.
"Estou aqui, mestra."

Capítulo Seis
Eu liguei a luz novamente.
"Hey, Volusian, como você está?"
Ele deu um passo para frente, piscando aborrecido com a luz, como eu sabia
que ele faria. Ele era mais baixo que eu, muito sólido e bem humano em
formato, o que indicava uma quantidade boa de poder. Ele tinha uma pele
brilhante e quase preta e aqueles olhos vermelhos estreitos que sempre me
deixavam um pouco nervosa. As orelhas dele eram levemente pontudas.
"Estou como sempre, mestra."
"Sabe, você nunca pergunta como estou. Isso magoa."
Ele respondeu meu sorriso preguiçoso com uma longa e sofrida carranca. "É
porque você está sempre igual. Você tem o cheiro de sangue e sexo. E
violetas. Você é um doloroso lembrete de todas as coisas que eu tive e que
nunca terei novamente." Ele pausou pensativo. "Na verdade, o cheiro de
sexo está mais forte que o normal. Minha patroa esteve... ocupada."
"Você acabou de fazer uma piada?"
Eu disse isso parcialmente para deixar de lado o assunto sobre sexo, mas
também para provocar ele. Volusian era tão censurável quanto uma alma
poderia ser. Eu não sabia o que ele tinha feito quando era vivo, mas tinha
sido maldoso o bastante que alguém o tinha amaldiçoado para que nunca
entrasse no mundo da morte. A alma dele nunca encontraria paz. Então ele
começou a freqüentar meu mundo e Outro mundo até que eu o descobri
atormentando uma família suburbana.
Ele era tão poderoso, assim como sua maldição, que eu não fui forte o
bastante para destruir e enviar ele para o mundo dos mortos. O melhor que
eu podia fazer era enviar ele para o Outro mundo, mas eu não tinha
garantias de que ele não fosse retornar. Então eu fiz a próxima melhor coisa
que pude: eu o escravizei. Ele estava ligado a mim até eu o libertar ou perder
controle. Desse jeito, eu detectava as ações dele. Eu normalmente o
mantinha no outro mundo, até que eu precisasse dele. Provocar ele era um
jeito de projetar confiança em meu controle, como se eu não estivesse
preocupada. Eu não podia mostrar fraquezas com ele. Ele tinha deixado
perfeitamente claro um número enorme de vezes que ele me mataria de
maneira horrível se ele se libertasse.
Ele não respondeu meu último comentário. Ele simplesmente me encarou.
Ele só era obrigado a responder perguntar diretas.
"Eu preciso de um conselho."
"Eu faço como minha mestra comanda." Havia um implícito "até que eu
possa sufocar o ar do seu copo" apesar da declaração servil.
"Eu vou cruzar para o Outro mundo em breve. Fisicamente."
Isso quase o surpreendeu. Quase. "Minha mestra é uma tola."
"Obrigado. Eu tenho que encontrar uma garota que algum gentry excitado
seqüestrou."
Ele reconsiderou. "Minha mestra é corajosa e tola."
"Ela foi levada por um cara chamado Aeson. Você o conhece?"
"Ele é o rei da Terra Alder. Poderoso. Muito poderoso."
"Mais forte que eu?"
Volusian ficou em silêncio, pensando. "Seu poder não diminui no Outro
mundo, como o de alguns humanos. Mesmo assim, ele ainda estará com
toda sua força. Vai ser uma batalha apertada. Enquanto você lutar nesse
mundo, não haveria uma competição. Ele seria muito mais fraco."
"Eu não acho que posso arranjar isso. E quanto a vocês? Eu vou levar você
junto. Você vai ajudar?"
"Eu temi que a mestra dissesse isso. Sim, é claro que vou ajudar. Você sabe
que minhas amarras me forçam a te proteger, não importa o quão angustia
me cause."
"Ay, não soe tão triste. Pense nisso como um trabalho como segurança."
"Não se engane, mestra. Eu posso proteger você agora, mas assim que tiver a chance,
eu vou rasgar a carne do seu corpo e quebrar seus ossos. Eu vou me assegurar que
você sofra tanto que você vai me implorar para morrer. Mas mesmo assim, sua alma
não encontrara alívio. Eu vou te torturar por toda a eternidade."
Ele falou num tom igual, não como uma ameaça, mas simplesmente falando
um fato. Honestamente, depois da minha semana de propostas, falar sobre
minha morte iminente era um jeito meio refrescante de voltar à
normalidade.
"Estou esperando ansiosa, Volusian." Eu bocejei e sentei na cama. "Você tem
mais alguma coisa construtiva para oferecer? Sobre resgatar a garota, eu
quero dizer."
"Eu suspeito que minha mestra seja muito... ligada a seu próprio jeito de
fazer as coisas, mas você poderia pedir ajuda."
"Pedir para quem? Eu não tenho mais ninguém para recorrer."
"Nesse mundo você não tem."
Levei um momento para entender o que ele estava dizendo. "Não. De jeito
nenhum. Eu não vou pedir ajuda de algum gentry ou espírito. Não é como se
eles fossem me ajudar mesmo."
"Eu não estaria tão certo disso, mestra."
Gentry eram pequenos e desonestos. Eles não têm preocupação com
ninguém a não ser eles mesmos. De jeito nenhum eu pediria ajuda de um. De
jeito nenhum eu confiaria em um.
Volusian me observou. Quando ele viu que eu não iria responder, ele disse:
"É como eu pensei. Minha mestra não vai ouvir nada que ela não queira. Ela
é muito teimosa."
"Não, não sou. Sou sempre aberta às coisas."
"Se você quiser, mestra."
O olhar no rosto dele de alguma forma conseguiu ser angelical e gritar "sua
hipócrita fudida" ao mesmo tempo. "Muito bem," eu disse impacientemente.
"fale."
"Existe outro rei, Dorian, que governa a Terra Oak. Ele e Aeson se odeiam ­
de uma forma política, é claro."
"Nenhuma surpresa aí. Estou surpresa que eles não estejam um em cima do
outro. Isso não significa que ele me ajudaria."
"Eu acredito que Dorian ficaria muito feliz de ver alguém aparecer e matar
Aeson. Especialmente se ele não próprio não tivesse que fazer isso. Ele pode
oferecer muita ajuda para você."
"Pode." sendo uma dúvida. Então você está sugerindo que eu apareça na
porta dele e peça ajuda?
Volusian inclinou sua cabeça de forma afirmativa.
"Eu já matei ou expulsei alguém do povo dele?"
"Provavelmente."
"Então eu acho que é "provável" que ele me mate no momento que eu
colocar os pés na terra dele. Eu não posso imaginar nenhum gentry
permitindo a maior assassina de sua gente na porta deles."
Eu não estava com meu ego lá em cima quando falei isso. Assim como as
ameaças de Volusian, eu simplesmente falei um fato. Eu conhecia meu
próprio valor e reputação no Outro mundo. Eu quero dizer, não era como se
eu estivesse alcançando níveis de genocídio nem nada disso; eu só tinha mais
divisas em meu cinto do que a maioria.
"Dorian tem... um estranho senso de humor. Ele pode achar divertido dar
boas vindas a um inimigo como você. Ele ia gostar da sensação que iria
causar entre os outros."
"Então ele me usa para diversão e aí me mata." Eu não conseguia nem
acreditar que Volusian estivesse sugerindo um plano como esse. Ele me
odiava, mas ele também me conhecia. Se ele não estivesse com uma cara
que dizia que ele estava falando sério, eu juraria que ele estava brincando
comigo. Ainda sim, a ligação dele o força a dar sua sincera palavra se eu
perguntar.
"Se ele te der sua palavra sobre a hospitalidade, ele está ligado à honra em
manter você segura."
"Desde quando gentry mantém sua palavra? Ou tem honra?"
Volusian me olhou com cuidado. "Posso falar livremente, mestra?"
"Ao contrário de sempre?"
"Seu ódio para com os gentry te cega para a verdadeira natureza deles. Você
também está cega a única coisa que pode te deixar escapar desse esquema
maluco, viva ­ não que eu fosse me importar de você ter seus ossos
quebrados pelo povo de Aeson. Mas seja o que for que você acredita, um
gentry vai apostar sua vida na sua palavra. Eles mantêm seus juramentos
melhor que os humanos."
Eu honestamente não acreditava nisso. Não importa o quanto eu possa
precisar de ajuda nisso, não valia a pena. Eu não faria um trato com o diabo.
"Não. Eu não vou fazer isso."
Volusian deu nos ombros levemente. "Como minha mestra desejar. Não faz
diferença que você acelere sua própria morte. Eu não posso morrer, afinal de
contas."
Eu encarei-o exasperada. Ele me encarou de volta. Balançando a cabeça, eu
levantei para fazer outra invocação.
"Ok, se isso é tudo, eu vou chamar o resto da gangue."
Ele hesitou. "Posso... perguntar a mestra uma pergunta antes?"
Eu virei surpresa. Volusian era o tipo de que não-fala-até-que-falem-comvocê.
Ele só respondia o que era perguntado a ele. Ele não procurava outras
informações. Isso era novidade. Wow. Que semana de eventos para mudar o
mundo.
"Claro, vá em frente."
"Você não confia em mim."
"Isso não é uma pergunta, mas não, não confio."
"Ainda sim... você me pediu conselhos primeiro. Antes de falar com os
outros. Por que?"
Era uma boa pergunta. Eu estava prestes a invocar dois outros servos. Eu não
confiava neles também, mas eles tinham mais motivos para mostrar lealdade
do que Volusian. Eles não descreviam minha morte gráfica tão regularmente.
"Porque não importa o que você seja, você é mais inteligente do que eles."
Eu podia ter elaborado isso, mas eu não o fiz. Isso realmente era tudo. Ele
pensou sobre isso por um longo tempo. "Minha mestra é menos tola do que
ela normalmente aparenta ser." Eu acho que era a o mais perto que ele
podia chegar de me agradecer pelo elogio ­ ou de dar um elogio.
Eu peguei a varinha e convoquei os outros dois espíritos. Eu não me
incomodei com velas ou escuridão porque eles eram fáceis de chamar ­
especialmente já que eu tecnicamente estava "pedindo" para eles virem, não
ordenando.
O frio e a pressão vieram de novo, e então duas outras formas apareceram.
Volusian ficou atrás de braços cruzados, sem parecer impressionado. Os dois
recém chegados olharam ao redor, vendo que eu tinha reunido todos eles.
Que eu visse os três nunca interagia muito, mas eu sempre me perguntei se
talvez eles andassem juntos tomando café ou algo assim no Outro mundo e
zoavam comigo. Parecido como quando as pessoas falam mal do seu chefe
depois de trabalharem durante o expediente.
Ainda afetando um controle despreocupado e preguiçoso. Eu desembrulhei
um Milky Way e sentei de volta na minha cama. Inclinando-me contra a
parede, eu avaliei meu time.
Nandi não era tão poderosa quanto Volusian, então ela tinha uma forma
menos substancial nesse mundo. Ela aparecia como uma figura translúcida e
opalescente que parecia ter uma vaga forma feminina. Séculos atrás, ela
tinha sido uma mulher Zulu acusada de feitiçaria pelo povo dela. Eles tinham
matado ela, como Volusian, e a amaldiçoado impedindo de encontrar a paz.
Diferente de Volusian, eu podia quebrar essa maldição e a enviar para o
mundo da morte. Eu a encontrei caçando nesse mundo, mais assustada do
que assustadora, e a liguei a mim em troca de uma paz eventual. Eu exigi três
anos de lealdade, ela já tinha cumprido um. Quando os outros dois
acabassem, eu a deixaria em paz. Enquanto Volusian sempre parecia mal
humorado e sarcástico, Nandi estava sempre triste. Ela era o pôster de uma
alma perdida. Uma verdadeira deprimida.
Finn, no entanto, era uma história diferente. Dos três, só ele parecia feliz ali.
Ele também não era poderoso o bastante para ter uma forma sólida. Ele se
traduzia nesse plano como pequeno e brilhoso, por pouco ali, assim como os
humanos percebem os pixels das fitas da Disney. Eu não era mestra de Finn.
Ele começou a aparecer porque ele me achava divertida. Então ele aparecia
de vez em quando, me seguindo, e geralmente vinha quando eu chamava. Eu
tinha o poder para forçar os serviços dele, mas ­ embora eu não gostasse de
todas as coisas do Outro mundo ­ eu era pressionada a fazer isso sem
provocação. Eu não confiava totalmente em alguém que oferecia ajuda assim
tão livremente, mas ele também nunca tinha me dado motivo para duvidar
dele. De fato, ele sempre foi muito útil. Eu não fazia ideia de qual era a
história dele, se ele também era um espírito amaldiçoado. Eu nunca
pressionei por detalhes.
O corpo brilhante dele se arrumou na minha cômoda. "Hey, Odile, qual a
novidade? Porque você está com cheiro de sexo? Você pegou alguém?
Porque estamos todos aqui?" Muita exposição ao meu mundo e a televisão
deu a ele uma ideia melhor das nossas gírias.
Eu ignorei a pergunta. "Hey, Finn, hey, Nandi." O espírito feminino mal
acenou respondendo minha saudação. "Então," eu disse com minha melhor
voz de apresentação, "tenho certeza que vocês todos estão se perguntando
por que chamei vocês aqui." Nenhum deles achou isso engraçado, então eu
continuei. "Bem, se segurem: eu vou visitar vocês. Em carne. O negócio de
verdade."
Nandi não mostrou qualquer reação. Finn pulou de excitação. "Verdade?
Verdade? Quando? Agora?"
Bom saber que alguém me apreciava. Eu os informei, contando a história.
Volusian se inclinou contra a parede, deixando a linguagem corporal dele me
dizer que enorme perda de tempo era para ele ter que ouvir tudo de novo.
O entusiasmo de Finn diminuiu um pouco. "Oh. Isso é intenso, mas também
meio..."
"Tolo," disse Nandi no seu tom tipicamente triste. "irá terminar em
desespero. Negro e amargo desespero. Você vai morrer, e eu nunca vou
encontrar paz. Meu sofrimento nunca vai acabar."
"Nunca pensei que fosse ouvir vocês dois concordar com Volusian."
Finn deu nos ombro. "É uma boa causa, honestamente. Mas você não pode
simplesmente entrar no castelo de Aeson e levar a garota. Não que eu esteja
dizendo que você não é durona o bastante nem nada disso. Mas você precisa
de um plano. Um muito bom. Yeah. Qual seu plano?"
"Hum, bem... entrar no castelo dele e pegar a garota."
Volusian suspirou alto. Era difícil dizer com aqueles olhos vermelhos, mas eu
acho que ele virou os olhos.
Eu olhei para ele com raiva. "Hey, é muito melhor que o seu plano. Você
gostaria de compartilhar com o resto da turma?"
Ele o fez.
Quando ele terminou, Finn disse. "Agora, isso é um bom plano."
Eu joguei as mãos para cima. "Não, não é. É um plano horrível. Não vou pedir
a nenhum gentry por ajuda."
"O rei Dorian pode ajudar você," disse Nandi. "embora a ajuda dele
provavelmente só trouxesse um brilho de esperança, o que faria a nossa
derrota muito mais trágica."
"Pare com a choradeira, Nandi." Eu desejei que eles fizessem um Prozac para
fantasmas. "De qualquer forma, é um ponto controverso. Vamos pegar o
Aeson diretamente. Fim da discussão."
Eu dei a eles a hora e a localização do nosso ponto de encontro, os obriguei a
ficarem em silêncio sobre o plano. Eu tinha que confiar que Finn não
comentaria nada, mas assim que ele percebeu que eu poderia dispensá-lo,
ele pareceu bem afim da ideia de manter segredo.
"Eu tenho mais uma pergunta para todos vocês antes de deixar vocês ir. Na
ultima semana, três seres do Outro mundo sabiam meu nome. O que está
acontecendo? Quantos deles sabem quem eu sou?"
Nenhum dos espíritos respondeu imediatamente. Finalmente, em uma voz
que soava como se ele não pudesse acreditar que eu estava perguntando,
Finn disse, "Porque, todo mundo. Bem, quase todo mundo. Todo mundo que
conta. É tudo que eles estão falando a duas semanas. Odile Dark Swan é
Eugenie Markham. Eugenie é Odile."
Eu encarei. "Todo mundo está falando sobre isso?"
Os três espíritos concordaram.
"E nenhum de vocês ­ nenhum de vocês! ­ pensou que valia a pena me
avisar?"
Mais silêncio. Finalmente Nandi, compelida a responder uma pergunta
direta, meramente disse, "Você não perguntou, mestra."
"Sim," concordou Volusian secamente. "Se você tivesse nos convocado e
perguntando, `meu nome agora está no Outro Mundo?'então teríamos
respondido."
"Espertinhos."
"Obrigada, mestra."
"Não foi um elogio." Eu passei a mão no meu cabelo. "Como isso
aconteceu?"
"Talvez alguém tenha adivinhado.' disse Finn.
Volusian olhou para ele. "Não seja um tolo maior do que você já é."O espírito
negro voltou sua atenção para mim. "Nem todas as criaturas vem pra esse
mundo para lutar com você. Alguns espionam. Para alguém discreto,
descobrir sua identidade não seria difícil."
"O que você está dizendo então? Todos eles vão tentar me matar?"
"Alguns sim," disse Finn. "Mas a maioria deles é fraco. Você provavelmente
pode derrubar eles numa luta."
"Infelizmente," acrescentou Volusian.
Ótimo. Isso não é boas notícias. Uma parte de mim esperava que só alguns
deles soubessem, mas agora parecia que minha identidade era a fofoca da
hora no Outro mundo. Eu me perguntei se valeria à pena encontrar um local
e colocar wards14 ao redor da minha casa. Eu também podia manter os
espíritos em serviço de guarda permanente, mas eu não sabia se minha
paciência ia agüentar grandes doses de idiotices.
"Muito bem, então. Fora. Voltem para onde estavam. Oh, e se algum de
vocês ouvir algo que possa ser útil sobre Aeson e a garota venha me dizer.
Não esperem até que eu explicitamente peça a vocês." Essas últimas palavras
foram um rosnado.
Finn desapareceu instantaneamente, mas Nandi e Volusian me observavam
com expectativa. Eu suspirei. "Por carne e espírito, eu liberto vocês de seus
serviços até a próxima vez que eu os chamar. Partam para o próximo mundo
em paz e não retornem até que eu os invoque."
Os espíritos desapareceram em nada, e eu fui deixada sozinha.
14 Palavra inglesa para proteção.

Capítulo Sete
Eu não consegui acreditar quando Wil me disse que também queria ir.
Porque de repente todo mundo queria entrar no que provavelmente era a
viagem mais perigosa de uma vida? Eu certamente nem queria ir. Porque
eles queriam? Se apenas eu pudesse ceder minha vaga.
"Não," eu disse a ele. "Você vai acabar sendo morto." Eu soava como Roland
agora.
"Yeah, mas você disse que eu não iria com meu corpo. Só meu espírito iria."
"Não importa. O espírito é sua essência, ainda está vinculado ao seu corpo.
Se alguém fizer dano o bastante, então o seu corpo está ferrado também."
Ele não pareceu se importar, o que eu achei irônico para um cara que parecia
ter tanto medo de tudo mais. O argumento final dele era que, Jasmine
estaria assustada e traumatizada; a presença dele iria confortar ela ao invés
de ver mais estranhos. Ele tinha razão, eu suponho, mas eu o avisei que ele
seria apenas uma reflexão naquele mundo, carregando pouca semelhança a
seu ser humano. Ela podia não reconhecer ele. Aceitando isso, ele
permaneceu destemido, e eu decidi que se ele queria se matar era problema
dele. Desde que ele não me arrastasse junto no processo.
Eu também me certifiquei que ele pagasse adiantado. É melhor não arriscar.
Quando a noite de ir, chegou, eu trouxe Tim comigo. Já que Wil não seria
capaz de ir fisicamente, ele precisava de alguém para cuidar do corpo dele.
Tim tratou como se fosse uma viagem para o acampamento de verão,
trazendo uma tenda e um tambor e tudo mais. Eu disse a ele que ele era um
idiota, mas ele tinha grandes planos sobre como, mais tarde, ele ia contar as
suas groupies que ele foi numa busca por uma visão. Da forma como ele via,
ele só estaria mentindo em parte. Eu podia ter trazido Roland e ter um pouco
menos de absurdo, mas eu não confiava nele para que não entrasse de
fininho atrás de mim. Então seria o Tim.
Dirigimos para fora da cidade, viajando pelas ruas cheias de curvas que
serpenteavam através do deserto. Wil esperou por nós em um ponto isolado,
longe das áreas de acesso público. Era uma noite linda, com as estrelas e a
lua imóveis no céu e cactus observando. Havia alguns outros pontos finos
entre os mundos que eu poderia ter usado, mas eu escolhi isso porque eu
gostava da privacidade e porque era o mais forte. Eu queria desperdiçar a
menos quantidade de poder possível na transição, particularmente já que eu
tinha que trabalhar para trazer Wil junto.
Acabou que tivemos problemas até em fazer-lo ficar em transe.
"Jesus," eu disse irritada, observando ele na fraca luz, "quanto café você
bebeu hoje à noite?" Ele provavelmente nem bebia café. Muito cancerígeno,
ou algo assim.
"Desculpe." Ele tentou ficar parado. "Só estou tão preocupado com ela."
Ele estava deitado num cobertor perto da nossa fogueira, o cheiro de salva
queimando estava no ar. Tim estava sentado para trás perto da tenda com
seu iPod, inteligente o bastante para me deixar em paz e fazer meu trabalho.
Com o jeito que Wil ficava se mexendo, eu duvidava que qualquer tipo de
Valium15 iria acalmar ele. Não que esse recurso fosse nos ajudar.
"Tem coiotes por aqui?" ele exigiu. "Alguns são conhecidos por atacar
humanos. Mesmo com uma fogueira. Eles podem ter raiva. E cobras ­"
"Wil! Você está desperdiçando nosso tempo. Se você não puder se acalmar
logo, eu vou sem você."
A lua crescente já tinha alcançado seu zênite16; eu não queria fazer a
transição muito tempo depois que ela descesse. Com o fim do meu
trocadilho, eu peguei o pêndulo e o pendurei diante do rosto de Wil. Eu
realmente não gostava de hipnose, mas eu tive bons resultados com os
últimos clientes que precisavam recuperar uma alma. Esperando que fosse
funcionar com ele, eu comecei a levar ele pelos estágios de inconsciência.
Funcionou. Ou talvez só minha ameaça de deixar ele para trás. Finalmente,
eu o vi cair no sono, a hora perfeita para a alma dele se soltar do seu corpo.
Segurando minha varinha, eu atraia o seu espírito para mim então ele se
15 Um tranquiliante.
16 É o ponto superior da esfera celeste, segundo a perspectiva de um observador
estacionado num plano
sobre a Terra, o exato ponto acima de sua cabeça projetado na abóboda celeste, ou a
interseção da
vertical superior do lugar com a esfera celeste.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hemisferio_celeste.svg
apegou como estática, eu sentia, mas não o via. Então, relaxando minha
própria consciência, eu deixei minha mente se expandir e tocar as paredes
deste mundo, forçando os limites do Outro mundo o máximo que eu pude.
Enquanto eu a expandia, eu me segurava a outra ciência do meu corpo,
trabalhando para trazer ele completamente. Diferente de tantos outros, eu
era até mesmo forte o baste para trazer outras coisas matérias ­ minhas
roupas, minhas armas.
A princípio nada pareceu acontecer então à paisagem ao meu redor tremeu
quase como se estivéssemos presos em uma miragem de calor. Meus
sentidos se embaraçaram, me fazendo sentir desorientada, e então meus
arredores clarearam. Eu era muito boa em cruzar mundos.
"Oh meu Deus," disse uma voz que soava vagamente como a de Wil.
Olhando para o meu lado, eu vi a representação dele no Outro mundo. Nem
poderosa o bastante para vir com sua forma Elemental, ele aparecia ao meu
lado muito parecido como um espírito do nosso mundo pareceria: forma
vaga, translúcida, e esfumaçada.
"Você conseguiu. Você realmente nos trouxe pra cá."
"Hey, eu vivo para servir."
"Na verdade, mestra, esse é o meu trabalho."
Eu virei e tentei esconder minha surpresa. Meus servos estavam diante de
mim, mas não como eu os conhecia no mundo humano. Nesse mundo, o
Outro mundo, eles eram mais corpóreos, aparecendo em sua forma natural e
não como uma projeção que eles enviavam.
Nandi estava parada alta e rígida, uma mulher negra com seus 40 e poucos
anos. O rosto dela tinha linhas e ângulos duros, lindo de um jeito real como o
de um falcão. Ondas de cabelos grisalhos emolduravam um rosto tão triste e
sem expressão como a versão em espírito.
Quando a Finn, eu esperava que ele fosse pequeno e como um espírito. Ele,
no entanto, era quase tão alto quando eu com um cabelo brilhante da cor do
sol que estavam para cima em ângulos estranhos. Sardas cobriam o rosto
dele, e o sorriso que ele me mostrou espelhou a diversão que eu
normalmente via quando estávamos juntos no meu plano.
Volusian parecia o mesmo de sempre.
Eu não sabia exatamente o que dizer, vendo eles desse jeito. Era meio
surpreendente. Eles me observaram silenciosamente, esperando por ordens.
Eu limpei a garganta, tentando parecer arrogante.
"Muito bem, vamos duma vez com isso. Quem sabe o caminho para a casa
do cara?"
Acabou que todos eles sabiam. Estávamos numa encruzilhada, igual a que
deixamos no meu mundo. O país ao nosso redor era lindo, quente e
agradável no crepúsculo da tarde, agradável de uma forma diferente do que
o de Tucson. Árvores de cereja cheias de flor estavam alinhadas com as
estradas, pétalas rosa esbranquiçado no chão enquanto uma brisa tocava
suas folhas.
"Estamos no gramado de Rowan, mestra," explicou Nandi. "Se seguirmos
essa estrada, eventualmente vamos alcançar a Terra Alder onde o Rei Aeson
vive."
Eu olhei para a estrada. "O que, não tem tijolos amarelos17?"
Nandi não entendeu a piada. "Não. O caminho é na terra. A jornada será
longa e deve ser feita a pé. É provável que você vá achar ela tediosa e
fatigante, te colocando em miséria e fazendo você desejar que nunca tivesse
começado essa busca."
"Que endosso."
Ela me encarou, surpresa. "Não foi um endosso, mestra."
Nós andamos, e eu descobri em cerca de cinco minutos que uma conversa
com esse grupo era sem sentido. Então, ao invés disso eu me foquei em
observar os meus arredores, como qualquer bom soldado faria. Eu tinha
cruzado com meu corpo algumas vezes, mas eu nunca havia ficado todo esse
tempo. A maior parte das minhas visitas tinha sido para caçar espíritos. Em
sempre entrava, fazia meu dever, e saía.
Com tamanha beleza, parecia inacreditável que os residentes daqui
quisessem entrar no meu mundo. Pássaros cantavam em despedida para o
17 Alusão ao Mágico de Oz.
sol que se punha. As paisagens que passávamos eram lindas e incrivelmente
coloridas, como uma pintura de vida real de Thomas Kinkade18. Quase
parecia surreal, como um Technicolor19 que ficou louco.
Também havia mágica aqui. Mágica forte. Ela penetrava o ar, cada flor, cada
grama. Fazia meu cabelo levantar. Eu não gostava de mágica, não desse tipo,
não a mágica que preenchia as coisas vivas. Isso era uma coisa dos gentry.
Humanos não têm a mágica dentro de si. Nós a pegamos do mundo com
ferramentas e encantos; ela não nascia conosco. Sentir ela tão pesada no ar
me agitou, quase dificultando minha respiração.
De repente cruzamos uma linha invisível, e um vento frio bateu contra minha
pele. Neve se amontoava nas laterais da estrada ­ que ficou milagrosamente
descoberta ­ e amontoados de gelo permanente se penduravam nas árvores
como ornamentos de natal.
"O que diabos aconteceu?" eu exclamei.
"A Terra Willow," disse Finn. "É inverno agora. Aqui, quero dizer."
Eu olhei para trás de nós. Uma paisagem fria se esticava até onde o olho
podia ver nenhuma árvore de cereja a vista. Eu envolvi meus braços ao redor
do meu corpo.
"Temos que vir por aqui? Está congelando."
"Você é a única com frio, mestra." disse Volusian.
18 Um pintor, esse é uma de suas várias telas:
http://imagecache5.art.com/p/LRG/26/2637/75IMD00Z/thomas-kinkade-dogwood-
chapel.jpg
19 Technicolor é uma marca norte-americana pertencente à Technicolor Motion
Picture Corporation em
que o processo consistia na coloração dos filmes. Foi utilizado até a década de 60.
A Technicolor era a segunda maior empresa de coloração cinematrográfica após a
britânico Kinemacolor
e a mais utilizada pelos estúdios de Hollywood de 1922 a 1952.
http://www.cinematographers.nl/Cameras/Technicolor2.jpg
"Yeah," disse inteligentemente Wil. "Eu não consigo sentir nada. O quão frio
está? Eu aposto que essas suas botas não vão te proteger de uma
hipotermia."
Eu virei os olhos. Espíritos idiotas. Todos eles. Vivos ou ao contrário.
"Quanto mais caminho por aqui?"
"Mais se ficarmos parados." disse Volusian.
Suspirando, eu me arrastei, puxando meu casaco mais apertado. Eu vestia o
meu mais usual, a calça verde-oliva que descia até meus joelhos. Eu o havia
posto principalmente para cobrir o arsenal debaixo, e ele parecia quente
demais ao voltar a Tucson. Agora parecia ridiculamente fino. Dentes
batendo, eu segui os espíritos, focando principalmente em pôr um pé na
frente do outro. Num curto espaço de tempo, nós atravessamos outro limite
imperceptível, e a grossa umidade me estapeava muito parecida com a
minha sauna. O calor nos cercava e dessa vez eu tirei minha jaqueta. Na
pouca luz, folhas de um verde profundo desmanchavam-se umas com as
outras, e cigarras cantavam nas árvores. As flores aqui eram diferentes
daquelas delicadas em Terra Rowan. Estas tinham cores mais ricas e
profundas, e seu perfume era enjoativo. Os serviçais informaram-me que nós
havíamos cruzado para dentro da Terra Alder. Eu me animei feliz por
descobrir que não era inverno aqui e que estávamos tão perto de nosso
objetivo.
Até que cruzamos de volta para o vale da Terra de Rowan.
"O que é isso? Estamos andando em círculos?"
"Não, mestra," disse Nandi. "Esse é o caminho para o Rei Aeson."
"Mas acabamos de sair da Terra Alder. Precisamos voltar."
"Não a não ser que você queira levar dias para chegar aqui. O corpo do seu
amigo não iria sobreviver todo esse tempo." Volusian inclinou sua cabeça em
direção a forma suave de Wil.
"Isso não faz sentido."
"O Outro mundo não mente como o seu," explicou Finn. "É difícil notar se
você não esteve aqui várias vezes. É mais obvio quando físico. A terra se
dobra, e às vezes o que parece mais tempo, é menos. E o que é mais curto, é
maior. Temos que cortar caminho por aqui para chegar a Aeson. Estranho,
mas é isso."
"Parece como um buraco negro," eu murmurei enquanto voltávamos a
caminhar.
"Vermes não viajam por aqui," disse Nandi.
Eu tentei explicar o que era um buraco negro, como alguns físicos teorizam
que o espaço poderia ser dobrado, fazendo com que fosse possível viajar
através dessas dobras e terminar no outro lado mais rapidamente. Assim que
eu cheguei à palavra "física," eu desisti, percebendo que estava lutando uma
batalha perdida.
Nós logo cruzamos a Terra Oak20, uma paisagem de tirar o fôlego de
laranjeiras e folhas espalhadas, destacada por um por do sol laranja. Aqui,
aparentemente era outono. Eu juro que podia sentir o cheiro de fumaça de
madeira e cidra no vento. Algo mais chamou minha atenção.
"Hey!" eu parei e encarei as árvores. Eu tinha acabado de ver uma forma
laranja passando, sua cauda branca reluzindo. "Era aquela raposa de novo.
Eu juro que era."
"Que raposa?" perguntou Finn. "Eu não vejo nada."
"Nem eu," acrescentou Wil.
"Minha mestra ficou louca finalmente," Nandi disse com um suspiro.
"Muito antes disso," murmurou Volusian.
"Tinha uma raposa me observando no meu mundo... e agora eu acabo de ver
outra."
"Os animais do Outro mundo são como os seus," disse Finn. "Provavelmente
é uma coincidência."
"Mas e se não for?"
"Bem, podia ser o espírito de uma raposa. Foi muito grande? Às vezes eles ­"
20 Só por curiosidade Oak seria essa árvore aqui :
http://texastreeplanting.tamu.edu/treepictures/oak_bur.jpg , que fica linda no
outono.

Volusian gritou em aviso logo antes dos cavalos chegarem batendo através
das árvores. Eu tirei minha arma e meu athame e um segundo, disparando
sem hesitar no primeiro assaltante que eu vi. Havia doze deles, homens e
mulheres, alguns armados outros não. Suas roupas pareciam com como algo
saído do Senhor dos Anéis. Todos eles estavam montando. Charmosamente
arcaicos.
O homem em quem atirei gritou. Balas de aço e carne gentry não se
misturam bem. Infelizmente, ele mudou de posição no último minuto, então
eu o acertei apenas no braço. Com minha visão periférica, eu vi Volusian
brilhou com uma luz azul; eu esperava que ele estivesse lutando do meu
lado. Um dos cavaleiros me atacou com uma espada de cobre junto com
magia. Meu athame de ferro o pegou, e nós ficamos parados trancados ali
por um segundo. Ferro, o emblema da tecnologia, lutou contra o metal que
tinha tornado obsoleto, mas no final a mágica dele foi mais forte. Havia
simplesmente mais nela, e o espadachim tinha mais força bruta.
Ele me empurrou para trás, eu tropecei em um dos meus servos que deve ter
saído de sua posição. Em um movimento fluído, eu recuperei meu equilibro e
cortei o homem com meu athame. Sangue flui pela camisa dele, e então eu o
bati na cabeça dele. Ele balançou e então outro golpe o derrubou.
Outro cavalheiro veio para cima de mim. Eu atirei, e ela foi para trás
enquanto as balas a atingiam no peito. Por debaixo da camisa, eu vi uma
armadura de couro e me perguntei o quanto dela tinha suavizado o golpe.
Em mirei em outro cavaleiro, e então uma afiada voz feminina me chamou.
"Pare humana. A não ser que você queira que seu amigo morra."
Olhando ao redor, eu vi uma mulher alta com um longo cabelo preto com
duas fitas. Ela inclinou sua cabeça em direção a um jovem cujo braço estava
estendido graciosamente para cima. Acima das palmas da mão, o espírito de
Wil flutuava. Um brilho dourado e viscoso o envolvia, dando a ele a
aparência de um inseto preso numa armadilha. Eu não fazia ideia de que tipo
de mágica era, mas eu sabia que ele estava preso. E em risco.
Merda. Essa era exatamente a razão do porque eu não queria que ele viesse.
Ele de fato tinha sucedido em fazer nós dois sermos mortos.

Eu olhei ao redor. Sete dos cavaleiros estavam feridos, inconscientes, ou
possivelmente mortos. Nada mal para nós quatro, eu pensei, enquanto eu
avaliava nossas chances de derrubar os últimos cinco. Minha arma ainda
estava mirada no alvo.
A mulher me deu um pequeno sorriso como se estivesse lendo minha mente.
"Você poderia matar ele, mas seu amigo estaria morto antes dos seus olhos
piscarem. E você também."
"Qual o problema? Você simplesmente vai matar nós dois mesmo. Pelo
menos dessa forma eu levo uma companhia comigo para o próximo mundo."
Uma nova voz falou: "Ninguém vai mandar ninguém para o outro mundo.
Ainda não."
Um dos cavaleiros sem cavalo levantou. Presumidamente, um dos meus
espíritos tinha lutado com ele, porque eu não o reconheci. Ainda sim... algo
nele me pareceu vagamente familiar. Cabelos brancos aloirados tocavam
seus ombros, e olhos azuis gelados me estudavam cuidadosamente. Ele se
aproximou devagar, um sorriso tolo se espalhando por seu rosto enquanto
ele chegava mais perto. Eu não sabia quem ele era e me perguntei que
vantagem tática eu ganharia ou perderia em apontar a arma para ele. Ele era
uma ameaça maior? Quando ele estava apenas alguns centímetros de
distância, o rosto dele se iluminou, e ele se perdeu numa boa e enorme
risada.
"Eu não acredito nisso. Eu não acredito nisso! O rato andou direto para o
gato. Inacreditável."
A mulher de cabelo preto se fixou nele com um olhar irritado. "Do que você
está falando, Rurik?"
Ele mal conseguia se conter. "Você sabe quem ela é? Essa é a própria Dark
Swan. Eugenie Markham, bem na nossa porta." Eu recuei com o uso do meu
nome, embora eu soubesse que não deveria mais estar surpresa. "Pelos
deuses, eu nunca esperei isso. Eu lutei com ela há uma semana, e agora aqui
está ela, se oferecendo a mim."

"Se você considera enfiar minha arma na sua goela se oferecer, então yeah,
eu suponho que estou." Eu olhei para ele curiosamente, e então eu soube.
"Foi você. Você era o Elemental de gelo do hotel."
Ele fez uma pequena referência. "E agora vou terminar o que comecei. Até
feliz. A visão do seu corpo nu assombrou meus sonhos por muitas noites."
"Yeah? A única coisa que eu lembro sobre você é como foi fácil chutar sua
bunda." Rukik sorriu. "Você vai lembrar muito mais quando eu terminar."
Atrás dele, alguns dos outros homens me olharam com interesse. Eu me
senti ficar rígida, apesar das minhas palavras corajosas.
A mulher de cabelos pretos olhou para Rurik desagradavelmente. "Se você
acha que eu vou deixar você ceder a suas... perversões aqui, você está
enganado. Você é tão ruim quanto eles."
"Pare de ser tão delicada, Shaya. Você sabe quem ela é."
"Não importa. Você pode ter ela depois, se o rei permitir, mas você não vai
fazer nada enquanto estamos em patrulha. Minha patrulha."
Eu não levei isso como uma solidariedade feminina, mas era melhor do que
nada. Eu estava esperando uma morte terrível, não uma gangue de gentry.
Wil pode não ser uma causa perdida, mas se eu atirasse em um dos caras,
meus servos provavelmente poderiam fazer danos sérios aos outros. Eu
fiquei tensa, pronta para atirar.
"Pare," Volusian disse de repente, se movendo para frente. "Não toque
nela."
"Ele não recebe ordens suas," respondeu Shaya.
Volusian não se incomodou. "Não, mas você recebe ordens do nosso rei, e
minha mestra tem negócios com ele."
Eu vi os homens congelarem. Eu também. Negócios com o rei? Ah, certo.
Estávamos na Terra Oak onde Dorian a governava, o reio que Volusian
originalmente queria que eu visse. De repente em me perguntei se esse
caminho era uma trama dele para chegar a Dorian, no final das contas. Se
fosse, eu me pergunto se ele imaginou nossa captura como parte do plano.

Shaya me olhou friamente. "O rei Dorian não tem nenhum negócio com ela."
Alguns dos homens pareciam estar duvidando disso, e eu me intrometi,
assim como o que Volusian tinha dito sobre Dorian mais cedo.
"Tem certeza?" eu sorri, mostrando a mesma confiança que eu usava com os
servos, mesmo enquanto meu coração batia com força no meu peito. Muitos
olhos em mim. Era como falar em público. "Viemos de muito longe para falar
com ele. Como você acha que ele vai reagir se ele descobrir que você me
matou antes que eu entregasse minha mensagem?"
"Diga-me sua mensagem," ela disse impaciente.
"Eu vou falar com ele. Sozinha. Eu não acho que ele ia gostar de você receber
a fofoca antes dele. Ou de não receber, se você me matar."
"Não vamos matar você," disse Rurik alegremente. "Temos várias outras
coisas que podemos fazer. Você ainda vai chegar até o rei... eventualmente."
Volusian fixou seus olhos vermelhos em Rurik. "E como você acha que Dorian
se sentira quando souber que você esteve com ela antes dele? O gosto de rei
é bem... particular." Em outra situação, eu teria quebrado Volusian. De que
lado ele estava mesmo? Pergunta idiota, eu percebi um momento depois. Ele
estava em seu próprio lado. Como sempre. Todos os gentry pareciam estar
parados. Eles pareciam como se realmente quisessem matar alguém. A
mulher mostrou o mesmo.
"Eles mataram nossa gente. Não podemos deixar isso sem punição."
Um dos cavaleiros a mulher caminhou para frente. "Não, na verdade. Todos
ainda estão vivos. Alguns por pouco... mas se conseguirmos um curandeiro
rápido o bastante, eles vão viver."
Todos vivos? E lá se foi o Time Eugenie. Eu sabia que gentry eram mais fortes
em seu próprio mundo, mas isso... eu não fui bem avisada para nosso galante
ataque em Aeson e sua gente. Da próxima vez eu vou mirar no rosto. Eu
duvido que eles voltem disso.
"Vamos matar o humano fraco mesmo assim," sugeriu um dos outros. "só
por diversão. Ainda podemos levar ela para o rei."

"O rei vai oferecer sua hospitalidade," eu informei a eles, ainda falando por
falar, "para meu grupo. Ele vai ficar irritado se vocês matarem ele. Vai fazerlo
parecer mal."
Eu estava mentindo, e Shaya parecia saber. "Você parece bem segura de si
Odile, mas não estou convencida."
A outra mulher cruzou os braços. "Temos que chamar um curandeiro.
Precisamos voltar para buscar ajuda, agora."
Shaya pensou nisso e então deu um aceno afiado. Ela delegou pessoas para
ficar com os feridos e outros para escoltar meu grupo de volta. Antes de ela o
fazer ela ordenou que eu fosse desarmada. Rurik fez um grande show disso,
me tocando muito mais do que era realmente necessário enquanto ele tirava
meus athames ­ cabo primeiro, é claro ­ e a varinha. Quando ele pôs os
dedos ao redor da parte de trás da arma, um olhar de choque cruzou o resto
dele enquanto ele a recolhia.
"Merda!" ele xingou esfregando a mão. "É... eu não sei o que é isso. Mas não
parece... certo."
Eu sorri docemente. Graças a Deus pelos polímeros. Quase tão efetivo
quando ferro. Os olhos da mulher comandante brilharam. "Alguém tire dela."
Ninguém se moveu.
"Muito bem, então, um dos seus espíritos. Vocês pegam."
Meus servos não se moveram.
"Eles não recebem ordens de você," eu disse, parodiando as palavras dela.
"Eles recebem de você. Ordene que um deles o faça, ou eu vou esmagar a
vida do seu amigo, independentemente da raiva do Rei Dorian."
Eu a estudei, tentando decidir se ela estava blefando. Vil de repente fez um
som queixoso, enquanto a aura dourada se apertava ao redor dele. Deus, eu
esperava que Volusian estivesse certo sobre essa coisa ridícula do Dorian.
"Nandi." eu disse simplesmente.
Ela se moveu para frente e tirou a minha arma. Um dos cavaleiros ofereceu
uma capa para que ela fosse guardada. Quando ela parecia um bebê

sufocado, ele relutantemente a pegou. Quando a mim, eu estava suspensa
no cavalo de Rurik para a viagem de volta a Dorin. Os espíritos não
precisavam de tal transporte.
Ele envolveu seus braços ao redor de mim, aparentemente para pegar as
rédeas, mas eu tinha certeza que ele não precisa tocar meus seios para fazer
isso. Ele me segurou com mais força.
"Eu não iria querer que você caísse," ele explicou.
"Eu vou cortar suas bolas na primeira chance que eu tiver," eu o informei.
"Ah," ele riu, fazendo o cavalo se mexer. "Mal posso esperar para você
conhecer o rei. Ele vai amar você."

Capítulo Oito
A guarda era como um cruzamento entre o Castelo da Bela Adormecida e
uma igreja gótica. Torres se espalhavam alegremente até alturas impossíveis,
criando manchas pretas através do anoitecer. Perdemos nossa luz agora, mas
eu ainda podia ver que muitas janelas pareciam conter vidro colorido. Eu
imaginei que eles fossem lindos com toda luz do sol. E emoldurando tudo, é
claro, estavam àquelas brilhantes árvores alaranjadas. Volusian tinha me dito
que as estações dos reinos dependiam dos seus governantes e podiam durar
por um tempo extremamente longo. Isso era lindo, mas eu não conseguia
imaginar viver em um lugar em que fosse outono sempre. Eu sabia que
alguns alegavam que no Arizona era sempre verão, mas as pessoas que
diziam isso não viviam lá. As estações eram sutis, mas estavam lá.
Eu tive que ficar me lembrando que eu não estava em algum tipo de filme
estranho, enquanto Rurik e sua gangue nos levavam através dos corredores
malucos iluminados por tochas. Pessoas passavam nos dando olhares
curiosos enquanto iam fazer o que quer que fosse que fizessem em um
castelo medieval. Fazer manteiga. Camponeses açoitados. Eu realmente não
sabia, e não me importava. Eu só queria sair dali.
"Esperem aqui," Rurik nos disse quando alcançamos um par de portas de
carvalho. "Vou falar com o rei antes que você entre na sala do trono."
Wow. Uma sala do trono de verdade. Ele desapareceu atrás das portas, e
alguns guardas nos observaram, mas manterão distancia.
"Volusian," eu disse suavemente "você nos trouxe aqui de propósito?"
"Meu único propósito, mestra, foi manter você viva. Estar aqui aumenta suas
chances."
"Você não respondeu a pergunta."
"Também vai aumentar sua chance," ele continuou, "se você foi gentil com o
Rei Dorian."
"Gentil? Eles acabaram de me atacar e ameaçaram me estuprar."
Ele me deu um olhar exasperado.
"O rei vai ver você agora," disse Rurik dramaticamente, retornando de
dentro da sala. Ele manteve as portas abertas para nós. Trompetes não
teriam me surpreendido.
A sala do trono não era o que eu esperava. Claro, havia um palco com uma
cadeira nele, bem como nos filmes, mas o resto da sala estava num estado
de desordem. Um largo espaço passava no meio, para danças ou procissões
talvez, mas o resto tinha quase um visual preguiçoso. Sofás pequenos,
carruagens, e cadeiras que estavam arrumadas ao redor de mesas baixas
arrumadas com taças e bandejas de fruta. Homens e mulheres, de novo
vestidos em um estilo gótico da renascença, estavam na mobília e em cima
um do outro, pegando as frutas preguiçosamente enquanto me observavam.
Veio-me a mente o jeito que os romanos costumavam jantar.
No entanto, mais do que gentry estavam ao redor. Espíritos e duendes e trols
e espectros também estavam presentes, assim como várias outras criaturas
do Outro mundo. Os monstros da imaginação humana, lado a lado com
refugiados mágicos que tinham imigrado para esse mundo. Eu me perguntei
se algum outro shaman tinha entrado tão profundamente na sociedade
gentry. Eu me lembrei do aviso de Roland, que eu podia ser levada direto
para o coração do mundo deles. Se apenas nossa gente tivesse algum tipo de
livro sobre o assunto. O Livro do Assassinato Shamanico e Encontros de Outro
mundo. Eu podia ter usado essa "pesquisa" para escrever um bom artigo
para partilhar com meus outros colegas de profissão.
As conversas baixam a um murmúrio enquanto o gentry se inclinava e
sussurrava um para o outro, olhos em mim. Sorrisos falsos e olhos feios
acendiam seus rostos igualmente, e eu coloquei uma expressão em branco
como eu fazia quando ia encontrar um novo cliente. Enquanto isso, meu
pulso acelerou e minha respiração se tornou um pouco difícil.
Volusian andava perto de mim em um lado enquanto Rurik andava do outro.
Wil e os outros andavam atrás de nós.
"Porque tanta gente?" eu murmurei para Volusian. "Ele está fazendo uma
festa?"

"Dorian é um rei social. Ele gosta de manter pessoas por perto, mas
provavelmente para que ele possa gozar deles. Ele mantém uma corte
completa e convidam nobres regularmente para jantar aqui."
Nós paramos. No trono sentava um homem, Dorian, eu presumi. Ele parecia
entediado. Ele se inclinou nos braços da cadeira dele, um cotovelo ali para
que ele pudesse descansar seu queixo na sua mão. Meio que fazia-o olhar
para nós em um ângulo. Cabelo moreno longo, que lembravam as árvores do
lado de fora, estava pendurado ao redor dele, com luzes de cada tom de
vermelho e dourado concebíveis. Ele poderia ser o outono encarnado. Ele
tinha a pele mais perfeita que eu já tinha visto em um ruivo tão vivido: suave
e marfim, com nenhuma sarda ou tom rosado. Uma capa de veludo verdefloresta
cobria uma calça escura comum, e uma camisa branca folgada. Ele
tinha ossos da bochecha com uma boa forma e feições delicadas.
"Se ajoelhem diante do rei," ordenou Rurik, "e se acostumem a ficar de
joelhos."
Eu dei a ele um olhar seco. Ele sorriu.
"Eu vou ficar feliz em te obrigar," ele avisou.
"Bah, chega. Deixe ela em paz," disse Dorian laconicamente. Ele não mudou
sua postura. Somente os olhos dele mostravam qualquer tipo de interesse.
"se ela esteve com você, pela última hora, ela merece um descanso. Vá se
sentar."
Rurik corou de embaraço, mas ele fez uma reverência diante do trono e se
afastou. Isso deixou Dorian e eu nos encarando. Ele sorriu.
"Bem, venha aqui. Se você não vai se ajoelhas, eu pelo menos quero dar uma
boa olhada no "terrível monstro" que eles me trouxeram. Todos eles
parecem ter medo de você. Eu confesso que não acreditei que realmente
fosse você quando eles me falaram. Eu achei que Rurik estivesse nos
cogumelos21 de novo."
"Você sabe quantos da nossa gente ela matou ou baniu forçosamente,
senhor?" exclamou Shaya de algum lugar atrás de mim. "Ela derrubou três
em menos de um minuto agora pouco."
21 Tomando Drogas

"Sim, sim. Ela é apavorante. Eu posso ver isso." Dorian olhou para mim com
expectativa.
Eu balancei a cabeça. "Não vou me mover até você oferecer hospitalidade."
Isso fez ele se sentar. Ele continuou sorrindo. "Ela é inteligente também,
embora, eu admita que pedir por hospitalidade antes de você cruzar nosso
humilde território teria sido mais inteligente, já que qualquer um dos meus
servos poderia ter atacado você agora." Ele deu nos ombros. "Mas chegamos
até aqui. Então, me diga Eugenie, porque ­ er, espere. Você prefere Eugenie
ou Srta. Markham?"
Eu considerei. "Eu prefiro Odile."
Aquele sorriso se contorceu. "Ah. Ainda estamos nos apegando a isso, não é?
Muito bem, então, Odile, me diga o que trás o inimigo mais temido dos
brilhantes a minha porta, pedindo por hospitalidade. Como você pode
imaginar isso é sem precedentes."
Eu olhei ao redor a todos que observavam e escutavam. Ignore-os, uma voz
interior sussurrou. Se foque em Dorian agora. "Eu realmente não queria falar
diante deles. Prefiro conversar com você em particular."
"Oh." Ele ergueu sua voz para a multidão. "Ora, ora. Odile quer falar comigo
em particular."
Eu corei, me odiando por fazer isso. Risadas nervosas percorreram a sala,
logo ficando mais fortes e mais confiantes conforme o rei ficava.
Interessante. Eu me lembrei do comentário de Volusian sobre Dorian, e as
hesitações dos seus soltados sobre a ira dele. Essas pessoas ao redor eram
ovelhas, obviamente, prontas para dançar ou rir ao comando de Dorian, mas
de repente eu me perguntei se eles eram ovelhas que também temiam os
caprichos de seu caprichoso pastor. Eu me perguntei se deveria estar com
medo também.
Eu mantive o meu silêncio, sem reconhecer a piada dele. Ele se inclinou para
frente, colocando os dois cotovelos nos joelhos, deixando seu queixo
descansar em ambas as mãos agora. "Se eu oferecer a você hospitalidade,
você deve ser recíproca em gentileza. Eu farei com que ninguém machuque
você em minha terra, mas em troca você não pode ferir ninguém sob o meu
teto."
Eu olhei para Volusian. "Você não mencionou isso."
"Oh, pelo amor de Deus," ele assoviou, mostrando uma rara perda de
paciência. "O que você esperava? Aceite antes que a sua morte iminente se
torne mais iminente e roube a chance deu mesmo matar você."
Eu virei de volta para Dorian. Eu não gostava dessa virada nos eventos. Eu
não gostava de estar em um ninho de gentry, e eu nem queria estar a mercê
dele. Porque eu estava aqui de novo? Eu minha cabeça, eu convoquei a
imagem da pequena Jasmine Delaney, imaginei ela sendo atormentada de
uma forma parecida na corte de Aeson. Só que ela seria alvo de mais do que
zombação.
"Eu aceito." eu disse.
Dorian me olhou em silêncio e acenou. "Assim como eu." Ele olhou para a
multidão.
"Odile Dark Swan agora está sob a proteção de minha hospitalidade.
Qualquer um que sequer puser um dedo sobre ela terá seus dedos cortados
e terá de comê-los." Ele fez a ameaça com tanta animação quanto Volusian
teria feito.
Um zumbindo se espalhou pela multidão, não completamente contente. "O
que impede ela de quebrar seu juramento?" eu ouvi alguém murmurar.
Outro disse alto, "Ela poderia matar todos nós!"
Os olhos de Dorian voltaram para mim. "Você tem alguma ideia de que
criatura de pesadelos você é por aqui? Mães contam a seus filhos que Odile
Dark Swan vira se eles forem maus."
"Hey, eu não os procuro. Eu só vou atrás deles se eles vierem atrás de mim
primeiro."
"Interessante," ele disse, arqueando as sobrancelhas. "mas se é como você
gosta, que seja. Eu sempre admirei mulheres que sabem o que querem no
quarto."

"Hey, não é isso que eu ­" eu não tinha percebido o quanto da nossa gíria
tinha entrado no mundo gentry. "Eu te dei sua hospitalidade, agora venha
aqui. Eu quero ver o terror que caça a escuridão."
Eu hesitei, em desconfiança e desafio a zombaria dele. A voz de Volusian
sussurrou no meu ouvido. "Ele não vai ferir você agora que ele deu sua
palavra."
"Eu não sei se posso realmente acreditar nisso."
"Eu acredito." A voz do meu servo era calmamente séria. "Você sabe que não
posso mentir para você."
Virando de volta para Dorian, eu dei os passos até ficarmos no mesmo nível
da cadeira dele. Eu encontrei o olhar dele igualmente. "Olhe para esses
olhos," ele suspirou alegre. "Como violetas na neve. Você tem o cheiro delas
também."
Além de nós, eu ouvi outro aumento de murmúrios na multidão.
"O que os agitou?" Eles não podiam ouvir nossa conversa.
Os próprios olhos dele dançaram. Eles eram de um dourado amarronzado, a
cor das folhas de outono caindo das arvores. "Você quebrou protocolo. Eles
esperavam que você parasse um passo mais abaixo. Ao invés disso, você se
colocou no mesmo nível que eu. O fato de que eu não estou punindo você
significa que estou tratando você como igual, como realeza. Você deveria
estar lisonjeada."
Eu cruzei os braços. "Ficarei mais lisonjeada quando tivermos aquela
conversa privada."
Ele me reprovou. "Tão impaciente. Tão humana. Você pediu minha
hospitalidade. Você não pode esperar que eu não a de agora." Ele fez um
gesto com sua mão, e espíritos servos aparecendo, trazendo pratos de
comida. Por alguma razão, eu de repente comecei a pensar na música "Hotel
Califórnia." "Estávamos prestes a comer quando você tão gentilmente
apareceu. Jante conosco, e então teremos tão "encontros privativos" quanto
você quiser."

"Não sou idiota. Não vou comer nada do Outro mundo. Você tem que saber
isso."
Ele deu nos ombros, ainda espalhado no seu trono como um gato
confortável. "Sua perda. Você pode sentar e observar, então." Ele se ergueu
graciosamente e me ofereceu sua mão. Eu a encarei neutramente.
Balançando a cabeça com júbilo, ele simplesmente andou comigo descendo
os degraus, sem nos tocar.
"Onde está o resto do meu grupo?"
"Seus servos e amigo humano estão seguros, eu te asseguro. Demos a eles
suas próprias acomodações já que eles não têm um assento de convidadede-
honra em minha mesa, isso é tudo."
Ele acenou em direção a uma baixa e pólida mesa, um pouco mais larga do
que as outras na sala. Como o resto, estava cercada por cadeiras e sofás
suntuosos, padronizado com fios de ouro e veludo. Dorian estava sentado
em uma pequena namoradeira22 e deu tapinhas na vaga ao lado dele.
"Faz-me companhia?"
Eu não dignei isso com uma resposta, ao invés disso sentado na cadeira perto
do sofá dele. Era um único assento. Ninguém podia sentar comigo. Logo uma
dúzia de outros se juntaram a nós, incluindo Rukik e Shaya. Ela reportou a
Dorian que as pessoas que eu feri tinham sido curadas e estavam se
recuperando.
Eu juro, eu não comi nenhuma comida colocada diante de nós, mas eu
confesso, parecia muito bom. Galinha recheada. Pão fresco com vapor ainda
se saindo. Sobremesas as quais eu teria cometido assassinato para comer.
Mas eu não desisti. Uma das primeiras regras do jogo era nunca comer fora
do seu próprio mundo. Havia histórias e mitos abundantes sobre aqueles
tolos o bastante para ignorar essa precaução. Os outros que jantavam
tentavam fingir que eu não existia, mas Dorian estava fascinado por mim.
Pior, ele flertou comigo. Pelo menos ele não era tão grosso quanto todos os
22 Namoradeira é uma espécie de canapé para duas pessoas, de espaldar alto, famoso
no Barroco. O
móvel também é conhecido como marquesa.
http://2.bp.blogspot.com/_V2WcdJH5zTw/SiAObW5mDmI/AAAAAAAADhk/Sb0zUtBki
RI/s400/namorad
eira.jpg
outros gentry que encontrava, mas eu não cedi a nada daquilo ­ mesmo que
fosse charmoso às vezes. Eu absorvi tudo com um rosto estóico, o que
pareceu divertir ele demais. As outras mulheres na mesa foram menos
resistentes. Qualquer olhar, qualquer palavra, e elas praticamente se
derretiam em luxuria. Na verdade, muitas outras pessoas na sala pareciam
derreter de luxuria. Muito explicitamente. Durante e depois do jantar, eu
observei as pessoas ­ casais, normalmente, mas algo mais ­ se tocava
audaciosamente. Era como estar no colégio de novo. Alguns estavam se
beijando. Alguns estavam se agarrando ­ uma mão passando em um seio ou
acima da coxa.
E uma parte era...mais. Pela sala, eu vi uma mulher sentar num homem de
pernas abertas e, ficar se movendo para cima e para baixo. Eu tinha certeza
que eles não tinham nada debaixo daquelas volumosas dobras da saia dela.
Numa mesa ali perto, uma mulher estava de joelhos na frente de um
homem, e ela estava ­
Eu rapidamente desviei o olhar, voltando atenção de volta a minha própria
mesa. Eu encontrei o olhar de Dorian em mim e eu sabia que ele examinava
cada reação minha. Através de um comando não falado, uma loira deslizou
para o assento ao lado dele, o que eu tinha recusado. Ela envolveu uma
perna por cima do colo dele e pôs os braços ao redor dele, o beijando no
pescoço. Ele moveu sua mão para perna dela, puxando para cima a saia para
revelar uma pele suave, mas fora isso ele parecia indiferente a ele enquanto
ele olhava para mim e os outros convidados.
Fora o amor livre e os assentos ultra-medievais, tinha algo quase, bem,
normal, no lugar. Os gentry que eu encontrava estava sempre causando
problemas no meu mundo. Atraindo humanos. Usando mágica
indiscriminadamente. Mas isso era como qualquer outra ocasião social ou
uma festa. As pessoas se conheciam e se tratavam como amigos com calor.
Eles discutiam sobre amor e crianças e política. Verdade, eles ainda eram
estranhos para mim, mas eu quase podia ver eles como humanos. Quase.
Precisando fazer mais do que simplesmente ficar parada ali e encarar, eu pus
a mão no casaco e tirei um dos dois Milky Way que eu trouxe comigo.
Também era um movimento utilitário, já que eu estava com tanta fome de
ficar assistindo o banquete ao meu redor. Dorian imediatamente ficou
intrigado.
"O que é isso?"
Eu ergui. "É um Milky Way. É um... doce." Eu não sabia o que mais dizer. Eu
nem tinha certeza do que tinha nele. Nougat23 Eu nem fazia ideia do que
diabos era aquela coisa espumosa, a não ser que era deliciosa.
Ele olhou curioso, e eu quebrei um pedaço, jogando para ele. Ele pegou com
habilidade.
"Vossa majestade," exclamou um dos homens. "não coma. Não é seguro."
"Não vai me machucar aqui," respondeu Dorian irritado. "E nem comece
falando em veneno ou vou fazer Bertha a cozinheira fazer o que quiser com
você de novo."
O homem imediatamente calou a boca.
Dorian jogou o pedaço na boca, mastigando pensativo. Observar as
expressões que o rosto dele fez era quase hilário. Ele levou um tempo para
mastigar toda aquela grudenta delicia, e eu encorajei uma imagem
obrigatória dele com caramelo de água salgada.
"Divertido," ele declarou quando terminou. "O que tem nisso?"
"Eu não sei. Um pouco de chocolate e caramelo. Várias outras coisas que se
fundiram em outras coisas."
Uma mulher, o cabelo dela era encaracolado e castanho, se fixou em mim
com um olhar combatido. "Isso é tão típico deles. Eles reviram a natureza e
os elementos pelo bem de suas próprias criações pervertidas até que eles
não saibam mais o que fazem. Eles são uma ofensa ao divino, trazendo
monstruosidades e abominações que eles não podem controlar."
Uma resposta afiada se ergueu nos meus lábios, mas eu a segurei. Volusian
tinha me avisado para ser gentil. Em resposta a relativa civilidade deles na
janta, eu não podia fazer menos, então minha voz permaneceu calma.
23 Seria o nosso Torrone: http://www.frenchsource.com/blog/enclosures/Nougat.jpg
"Nossas monstruosidades fazem grandes coisas. Podemos curar ferimentos
que vocês não podem. Temos encanamento e eletricidade. Temos
transportes que fazem seus cavalos parecerem dinossauros."
"Como o que?" um dos homens respondeu.
"Analogia ruim," eu repliquei.
Shaya balançou a cabeça. "Podemos conseguir muitos dos mesmos
resultados com magia."
"Magia não fez muito contra minha arma mais cedo."
"Nosso povo sobreviveu. Somente um humano se gabaria sobre sua
habilidade de matar."
"E você em particular tem boa razão para isso," apontou Rurik. "nenhum
outro humana matou tantos de nós ­ espíritos ou brilhantes ­ como você.
Você teria me matado semana passada se você tivesse a força. Você teria
matado nossa gente na floresta hoje se você pudesse."
"Nem sempre eu mato. Eu até evito quando posso. Mas às vezes eu preciso,
e quando eu o faço... bem, então, é assim que é."
Brilhantes me olharam ao redor da mesa. Só o rosto de Dorian ficou
educadamente curioso. "Dizem os rumores que você matou sua própria
gente também," ele disse. "Você fica acordada a noite por ter tanto sangue
em suas mãos?"
Eu me inclinei para trás na minha cadeira, sempre tentando manter as
emoções longe do meu rosto. Às vezes me incomodava, mas eu não queria
que eles soubessem. Eu não tinha matado muitos humanos ­ só alguns, na
verdade ­ e na maior parte tinha sido em defesa própria. Eles eram humanos
que trabalhavam com gentry ou outras criaturas para fazer o mal no meu
mundo. Isso tinha justificado as mortes em algumas formas, mas eu nunca
podia ignorar que estava tirando uma vida. Uma vida humana. Uma vida
como a minha. Da primeira vez que eu vi a luz se apagar nos olhos de alguém
­ através da minha mão ­ eu tive pesadelos por semanas. Eu nunca contei a
Roland sobre isso, e eu certamente não ia contar para esse grupo.
"Na verdade, Dorian. Eu durmo muito bem, obrigado."

"É Rei Dorian," assoviou um homem na minha frente. "Mostre respeito."
Dorian sorriu. Os outros sorriram mais.
"Os deuses vão punir uma assassina como você," me avisou uma das
mulheres.
"Eu duvido. Eu não assassino ninguém. Eu defendo. Todos que eu matei
estavam causando danos ao meu mundo ou ­ no caso daqueles humanos ­
ajudando sua gente a causar. Aqueles que estão meramente invadindo eu
não mato. Eu só os envio de volta. Não é o mundo de vocês, então eu protejo
o meu. Isso não é um crime."
Dorian mandou a loira embora com um rápido movimento de sua mão e se
inclinou no sofá para que pudesse falar mais perto de mim. "Mas você sabe
que ele já foi nosso mundo também."
"Sim. E seus ancestrais o deixaram."
Shaya me olhou, as bochechas corando. "Nós fomos expulsos."
Dorian ignorou a explosão. "Vocês não nos deram opção. Já fomos todos um
povo só. Então seus ancestrais se revoltaram contra o poder dentro de si e o
libertaram. Eles construíram. Eles subjugaram a natureza. Eles criaram coisas
com suas mãos e os elementos que pensamos que apenas mágica fosse
capaz. Alguns até mesmo ultrapassaram o que a mágica pode fazer."
"E qual o problema nisso?"
"Diga-me você, Odile. Valeu à pena? Não dá para ter as duas coisas. A
habilidade de forçar "mágica" do mundo matou a mágica em si. Suas vidas se
encurtaram como resultado, em comparação a nossa. Seu senso de
maravilha desapareceu, longe de tudo que possa ser provado por números e
fatos. Seu povo logo não terá nenhum deus a não ser suas próprias
maquinas."
"E apesar de tudo isso," observou Shaya amargamente, "os humanos
continuam a florescer. Porque eles não foram amaldiçoados? Porque eles se
espalham como gatos e cachorros enquanto nossos números diminuem? Eles
são as abominações, não nós."

"Eles vivem pouco, a necessidade deles de criar antes de morrer, faz deles
assim. O corpo deles não pode fazer nada a não produzir vida tão
prazerosamente. Nós não sentimos essa urgência." Dorian sorriu.
"Bem, fisicamente sentimos, mas inconscientemente... nossas almas sabem
que temos tempo."
"Essa é outra maravilha da medicina moderna. Podemos ajudar com a
infertilidade."
Dorian franziu de novo mais curioso do que irritado. "Nos ilumine."
Eu hesitei de repente me arrependendo do meu comentário. Do jeito mais
breve que eu pude, eu expliquei a inseminação artificial e fertilização in vitro.
Até mesmo Dorian teve problemas para digerir essa.
"É assim que seus números crescem?" perguntou uma mulher perto de
Shaya. A voz dela era um sussurro.
"Só para alguns," eu disse a ela. "A maioria não precisa. Se tanto, acho que
temos bebês demais."
Vendo o rosto chocado deles, eu me senti um pouco mal sobre chatear eles
com isso. Afinal de contas, eu era muito a favor em respeitar culturas
diferentes. Ainda sim essa crença minha se balançava ao redor dessa gente.
Pode ser injusto, mas eu passei minha vida sendo ensinada que eles não
eram humanos. Eles poderiam parecer agora, mas eu não acreditava que um
Shaya balançou a cabeça, o rosto pálido. "Isso, então, é o que nos tirou da
nossa terra natal. Essas são as coisas que nos forçaram a sair do lugar que
viemos e entrar nesse mundo de espíritos e almas perdidas. Perdemos para
criaturas distorcidas que procriam com facilidade, que estupram e roubam a
terra em respeito a seus deuses metálicos."
"Olha, sinto muito se chateia tanto vocês, mas assim que as coisas são. Vocês
perderam. Vocês têm que lidar com isso. Vocês fizeram um bom trabalho em
lutar, eu acho. Vocês ainda aparecem em muitos contos de fadas e mitos.
Mas ainda sim vocês perderam. História como essa. Houve guerras, e
infelizmente, no fim, quem ganha e quem perdem, é mais importante de
quem está certo ou errado."

"Você está dizendo que seu povo está errado, então?" perguntou Dorian
baixo.
"Não," eu disse com certeza. "Absolutamente não."
"Você é leal a sua gente."
"É claro que sou. Sou humana. Não há escolha ­ especialmente quando seu
povo não faz nada a não ser causar problemas para o meu quando vocês
passam para lá."
"Olhe ao redor desta sala. Para todos que estão reunidos... eu poderia dizer
que menos de vinte visitaram seu mundo. E desses, só alguns "causaram
problemas." Vocês degeneraram seu mundo também. Ainda sim, você não os
usaria para definir toda a sua raça como os vilões."
"Não," eu concordei. "Mas ainda sim eles são punidos. Olha, talvez eu tenha
extrapolado com sua gente, mas de novo, os únicos que eu conhecia sempre
foram depravados. É difícil não julgar."
Dorian me encarou por um longo tempo, e eu não conseguia lê-lo. Todos os
outros pareciam como se teriam me matado num segundo, se a
hospitalidade não proibisse. Eu me perguntei se eu deixei Dorian irritado o
bastante para se arrepender do seu juramento.
O rosto pensativo dele mudou para sua expressão típica, a perpetuamente
divertida e preguiçosa. Ele se ergueu do seu sofá, balançando a capa atrás
dele. Todos os outros rapidamente fizeram o mesmo. Eu levei meu tempo
para levantar.
"Eu agradeço a todos pela adorável noite, mas eu devo sair agora." Ele falou
alto, para que suas palavras fossem carregadas além da nossa mesa. As
conversas na sala morreram. "Eu assumo que minha convidada está ficando
cansada e ansiosa por um pouco de privacidade, e eu odeio desapontar."
Os bajuladores riram alto em apreciação, e eu me segurei para não corar de
novo. Dorian olhou para mim enquanto andávamos devagar pelo corredor.
"Se eu te oferecer minha mão de novo, eu não suponho que você vá pegalo?"
"De jeito nenhum. Eu não quero dar a eles nenhuma ideia."

"Oh. Bem. Eu temo que seja tarde demais para isso, assim que eles verem
para onde estamos indo."
Eu dei a ele um olhar de aviso. "Onde estamos indo?"
"Ora, para o lugar mais privado. Meu quarto é claro."

Capítulo Nove
"Qual é a razão de um quarto? Eu quero dizer, vocês parecem ser mais afim
de sexo em público de qualquer forma."
Dorian gesticulou para eu virar e entrar na suíte dele ou ala ou o que fosse.
"O que fazemos é natural. Não escondemos. Além do mais, na verdade é
bem excitante saber que outros estão vendo. Você nunca fez?"
"Desculpe. Não sou uma exibicionista."
E ainda sim, assim que ele disse as palavras, eu pensei em Kiyo. Estamos um
em cima do outro no bar, e então fizemos sexo na sacada. Não tínhamos
chamado tanta atenção, mas poderíamos. Só de pensar nisso me fez
estremecer ­ de um jeito bom. Passamos por outro par de portas com dois
guardas parados do lado de fora. Eles tinham armas, mas eu sabia que a
mágica deles possuía a verdadeira ameaça.
Assim que Dorian fechou as portas atrás de nós, eu virei para olhar para o
quarto. "Meu Deus. Porque você faria sexo na sala de jantar quando poderia
fazer aqui?"
"Eu faço aqui. Eu faço lá. Honestamente, não importa. Eu gosto de
variedade."
O quarto se espalhava pelo que pareciam ser quilômetros, a parede mais
distante quase toda composta por uma janela. Provavelmente tinha uma
vista estelar durante o dia. Tudo desde a pintura até a cama coberta por
cetim estava pintado em tons de dourado e vinho. As tochas na parede
acrescentavam um toque charmoso, quase pervertido. De um lado eu vi um
quarto que devia servir como banheiro, a julgar pela enorme banheira de
mármore. Do lado oposto, uma sala alongada do outro lado do quarto. Ele
me chamou para lá até uma cadeira ornamentada com almofadas de veludo.
"Vinho?" ele perguntou, pegando uma jarra de cristal de uma pequena mesa.
"Você sabe a resposta para isso."
"Eu tenho certeza que uma pequena prova não vai machucar."

"Yeah, e Persephone pensou que algumas sementes de romã também não
fariam mal. Agora ela governa o Submundo."
Ele serviu para ele uma taça e sentou na cadeira na frente da minha. "Seria
tão ruim governar aqui?"
"Vou ignorar essa pergunta. Agora olha, eu preciso falar com você sobre um
cara chamado Aeson. Ele seqüestrou uma garota humana ­ "
Dorian acenou sua mão para me parar. "Nada de negócios ainda."
"Mas eu preciso recuperar ela logo ­ "
"E eu vou ajudar você, eu juro. Agora. Mais uma hora não importa. Sente
comigo, e eu vou te contar uma história."
"Uma história? Você está falando sério?"
"Minha querida Odile, eu te asseguro que estou sempre falando sério ­ bem,
não, na verdade isso é uma mentira. Na maior parte do tempo não estou.
Mas dessa vez, acontece que estou. Então se faça confortável."
Eu sentei, voltei com preguiça para minha cadeira, e peguei o outro Milky
Way. Vendo os olhos dele nele, eu quebrei no meio e entreguei a ele um
pedaço. Acenando em agradecimento, ele comeu com o vinho, nada que
parecesse ridículo e quase me fez sorrir.
"Agora. Diga-me uma coisa. Você já ouviu a história do Rei Storm24?"
"Não. Ele é um cara real?"
"Muito real."
"E daí, tem tipo, uma Terra Sotrm ou algo assim?"
"Não exatamente. Ele governava uma área vasta, mas o título era mais
honorário devido à habilidade dele de controlar tempestades e o tempo."
"Parece razoável."
Ele me deu um meio sorriso. "Eu acho que você não percebe o quão
importante isso é."
24 A palavra Storm significa em inglês tempestade

"Na verdade não. Eu quero dizer, todos vocês tem um tipo de mágica, certo?
Porque não tempestades?"
"Ah, mas para controlar tempestades e o tempo é literalmente controlar os
elementos. Água. Ar. O fogo do trovão. Ver ele em sua fúria era uma coisa
terrível e incrível. Ele podia chamar os próprios céus para destruir seus
inimigos. Poucos de nós têm tal força. Eu nunca vi ninguém igual a ele, e eu
vivo há quase dois séculos. Mesmo quando cruzava o seu mundo, o poder
dele não diminuía."
"O que seus poderes fazem?" Isso provavelmente era algo que eu deveria
saber antes de ficar sozinha com ele.
"Eu posso invocar e controlar materiais que vem da terra. Pó. Pedras.
Magma de vez em quando."
"O magma parece legal, mas o resto... bem, desculpe. Não é tão
impressionante."
Aqueles olhos dourados brilharam. "Eu poderia chamar as pedras que
construíram isso aqui e reduzir o prédio inteiro em uma pilha de destroços
em minutos."
Eu olhei ao redor. "Yeah. Ok. Isso é impressionante."
"Obrigada. De qualquer forma. Com poderes assim ele inevitavelmente
atraia seguidores. Naquele tempo, nós éramos mais divididos... em reinos
menores. Nossa divisão política e geográfica estava sempre mudando. O rei
Storm procurou remediar isso. Ele conquistou e uniu vários reinos menores,
tentando unir todos os brilhantes sob seu comando. Ele fez um progresso
incrível."
"Ele era um bom rei?" Eu estava me interessando apesar da minha
resistência.
"Depende de como você define "bom." Ele era um bom líder de guerra,
certamente. E ele era implacável ­ que é uma parte feia, mas necessária em
reinar. Mas, com tamanho poder, ele não tinha medo de pegar o que ele
queria ­ não importava o quão inconveniente fosse para outros. Aqueles que
o irritavam morriam sem dúvida. Se ele quisesse terra, ele pegava. Se ele
queria uma mulher, ele a tomava. Algumas dessas mulheres pensavam que

era uma honra, algumas eram tomadas a força." Dorian pausou me dando
um olhar estudioso e simpático. "Algumas eram humanas."
Eu me endureci. "Como Aeson."
"Infelizmente, sim."
"Infelizmente? Você é um deles. Você deve ter uma queda por humanos."
`É claro que sim. Todos temos ­ homens e mulheres igualmente. Todos vocês
cheiram a almiscareiro e sexo. Grita fertilidade. Chama nossos instintos mais
básicos e primordiais de reprodução. Para todas as pessoas cujos filhos estão
diminuindo, isso significa algo. "Então, sim, eu entendo os homens como o
Rei Storm e Aeson, mas" ­ ele deu nos ombros ­ "eu nunca estive com uma
mulher que não me quisesse, nunca tomei uma a força. Nem mesmo uma
humana."
"Você parece ser uma minoria."
"Não, como te disse antes, é apenas um pequeno grupo nosso que infringe
os humanos. Vocês têm seus próprios estupradores. Eles também são um
número pequeno."
Eu mudei de posição e inclinei minha cabeça contra o encosto da cadeira.
"Justo. Continue a história."
Ele pausou por um momento, parecendo surpreso, como se ele não pudesse
acreditar que eu tivesse dado razão a ele. Eu mal podia acreditar em mim
mesma.
"Muito bem. A ambição do Rei Sotrm se estendia além de conquistar esse
mundo. Ele queria conquistar o seu também."
"Isso é impossível."
"Não é. O desejo de retornar para nossa terra natal queima em nós; faria
muitos agir de forma extrema. Ele conseguiu muito apoio, exércitos
dispostos a cruzar para lá por causa desse sonho. Ele tinha o poder de fazer
isso acontecer. Ele planejou uma invasão massiva em Samhain, que consistia
em brilhantes e espíritos igualmente."
"O que aconteceu? Obviamente não funcionou."

Dorian se apoiou em seu cotovelo de novo, descansando sua mão em seu
queixo como ele tinha feito no trono. Aquele lindo cabelo estava pendurado
de um lado, um riacho de cobre derretido. "Vou te dizer em um momento.
Primeiro eu gostaria da sua opinião em algo. O que você acha do plano dele
em razão das suas recentes palavras nobres sobre conquista e como a
conquista deve simplesmente ser aceita como destino? Se nossas forças
derrubassem as suas em uma disputa justa, você aceitaria isso tão
facilmente?"
"Eu odeio perguntas hipotéticas."
Ele simplesmente sorriu.
"Ok, então. "Aceitar" é uma coisa engraçada. Eu quero dizer, eu acho que se
a infro-estrutura de nossos exércitos fosse destruída, teríamos que aceitar
em certo nível. Eu ia gostar? Eu ia deixar pra lá? Provavelmente não. Eu
provavelmente continuaria sempre lutando. Procurando um jeito de mudar
as coisas."
"Então talvez você entenda nossa atitude em relação ao mundo que você
vive."
"Yeah, mas... porque não deixar pra lá? Vocês têm um mundo perfeitamente
bom aqui."
"Você está se contradizendo."
"Bem, no cenário que você descreve, não temos nenhum mundo. Estamos
subjugados em seu novo."
"Isso faria diferença?"
Eu encarei uma das tochas. "Não. Provavelmente não. Eu não sei." Ele estava
fazendo em simpatizar com os gentry, e eu não gostei. Eu virei de volta para
ele. "O que aconteceu, então? Esse Rei Storm é alguém que eu deveria
caçar?"
"Não, nossa. Ele já está morto." Dorian me observou por um momento, me
avaliando para algum propósito que eu não conseguia entender. "Roland
Markham o matou."

Eu me arrumei. "O que?"
"Você não sabia disso."
"Não. É claro que não. Eu nunca nem ouvi falar desse Rei Storm até hoje à
noite."
Essa resposta fez Dorian ficar pensativo, momentaneamente parando com
sua alegria normal. "Isso me surpreende. O Rei Storm deve ter sido a maior
conquista da carreira de Roland Markham. Como você não sabe? Ele não é
seu pai?"
"Meu padrasto. Mas ele me treinou." Eu revirei a informação na minha
mente. "Eu não sei por que ele nunca me disse. Quando aconteceu?"
"Oh, cerca de... treze anos atrás. Talvez quatorze."
Isso era perto da época que Roland começou a me treinar. Coincidência?
Tinha a ameaça da invasão do Outro mundo assustando ele a ponto de fazerlo
desafiar os desejos da minha mãe?
Quando eu não disse nada, Dorian continuou: "Não surpreendentemente,
Roland Markham tem sua própria reputação por aqui. Mas alguns dizem que
com suas mortes, você o ultrapassou."
"Eu gostaria que vocês não me pintassem como uma vingadora com sede de
sangue."
"Preconceito funciona dos dois lados."
"Yeah, mas fala sério. Na metade do tempo, eu só mando eles de volta para
cá."
"Você matou o bastante para assustar a maior parte das pessoas no corredor
principal."
"Mas não é por isso que você está me contando essa história.
"Verdade." Ele serviu outra taça de vinho. "Você é brava Eugenie Markham.
Você é brava e forte e linda. Mas sua perspectiva e vista do mundo ­ mundos
­ é falha. Você não nos entende. Não nos comportamos como nos
comportamos por causa de uma natureza maligna. Temos razões para nossas
ações."

"Assim como eu tenho pelas minhas. Eu não mato porque eu gosto."
"Bem, eu me pergunto sobre isso, mas sim, eu entendo seu ponto. Você faz o
que faz por lealdade a sua gente. Você quer proteger eles e se certificar que
eles têm a melhor vida que puderem."
"É aqui que você diz que está fazendo exatamente a mesma coisa."
Ele riu alto, o som rico e melodioso. "Ora, Eugenie, nós acabamos ter um
momento de entendimento?"
"Você parou de me chamar de Odile." eu notei, evitando a pergunta.
"Não estamos em público. Não importa."
"Tanto faz. Então... quando o Rei Storm estava reunindo seu exército e
seguidores... você era um deles?"
A leveza de Dorian sumiu. "Sim. Eu era. Um dos maiores apoiadores dele, na
verdade."
"Você faria de novo? Se tiver a chance?"
"Em um segundo. Eu daria tudo para ver a visão dele realizada. Desde a
morte dele, profecias e presságios têm se fartando, sussurrando sobre outras
oportunidades que podem vir no futuro. Eu presto atenção nelas."
Eu não respondi.
"No que você está pensando?"
"Estou tentando decidir se eu deveria quebrar meu voto de hospitalidade e
matar você."
O bom humor dele retornou. "Você sabe o quão feliz estou por você ter
passado aqui hoje à noite? Eu não me divirto assim há anos. Mas você não
vai me matar. Não hoje à noite, pelo menos, e não é nem por causa da
promessa."
Eu olhei para ele de novo, um sorriso de repente aparecendo em meus
lábios. "Oh? E porque você está tão certo disso?"

"Porque eu te disse exatamente como me sinto. Se eu mentisse e dissesse
que não tenho nenhum interesse no mundo humano ou sobre seguir a visão
do Rei Storm, você não teria acreditado em mim. Estou te dizendo à verdade,
eu vou viver outra noite. Você pode não gostar de mim, mas eu acho que
honestidade deve ter comprado seu respeito."
"Pode ter." De novo, eu fiquei em silêncio. Dorian parecia incapaz de lidar
com isso.
"Agora o que você está pensando?"
"Que você quase parece humano."
Ele se inclinou em minha direção, um pouco mais perto do que eu me sentia
confortável. "Eu deveria estar lisonjeado ou insultado?"
Eu dei uma pequena risada. "Eu não sei."
"Você tem um adorável sorriso."
"Hey, não comece com isso. Eu não me importo com o quão honesto você é
ou o quão almiscarado é o meu cheiro."
Ele se inclinou de volta na sua cadeira. "Como você quiser."
Eu ainda não conseguia superar a ideia de uma invasão em massa. "Então, a
sua atitude em relação ao Rei Storm é comum? Outros sentem o mesmo?"
"Alguns sim, outros não. Maiwenn, rainha da Terra Willow, acredita que ele
era a encarnação do mal. Ela não se juntou a ele e achou que o seu plano nos
levaria a ruína. Outros desistiram após a derrota do Rei Storm. Se ele não
conseguia, ninguém conseguiria. Mas outros... bem, muitos outros ainda
carregam o sonho. Incluindo nosso rei Aeson."
Eu suspirei. "Finalmente chegamos aos negócios."
"Se precisamos. Então. Eu assumo que você quer tirar essa garota dele."
"Sim."
"E como você vai fazer isso? Com seus servos e aquele humano?"
"Sim."

Agora Dorian não disse nada.
"Hey, eu sei que é loucura, mas eu não tenho escolha."
"E é por isso que você veio até mim."
Eu acenei, e finalmente eu vi a sabedoria no plano de Volusian. Se Dorian
realmente podia destruir esse castelo, ele seria uma ótima vantagem para
nossa missão de resgate.
"Apesar da minha história sobre proteger minha própria gente, você
realmente acha que eu iria contra Aeson."
"Volusian ­ meu servo ­ me disse que vocês dois não se dão bem."
"Ele tem razão. Aeson é um dos nossos líderes mais fortes, mas eu não gosto
de jeito que ele reina ou como ele lida com os seus chamados aliados. Ainda
sim, isso não significa que eu posso ir até lá e me opor a ele abertamente."
"Mas você disse mais cedo ­"
"Que eu vou ajudar você. Eu ainda vou. Mas eu não vou em pessoa."
Quaisquer que fossem os sentimentos gentis que eu estava tendo em relação
a ele desapareceram. Minha voz ficou gelada.
"Ok, então o que você vai ser gás?"
"Eu tenho um servo aqui que costumava ser um dos homens de Aeson. Eu
vou enviar ele com você como um guia."
"E qual a vantagem nisso? Meus espíritos já sabem o caminho."
"Eles não conhecem os atalhos. Meu servo conhece intimamente o lugar. É
muito mais provável que ele faça você entrar lá sem ser vista. Eu não sei
muito sobre táticas humanas, mas eu imagino que mesmo em seu mundo,
um ataque súbito e firme seja mais seguro do que um aberto. Especialmente
quando você está em menor número."
Eu me encostei de volta na cadeira. "Eu suponho."
"Agora você está fazendo cara feia," ele provocou.

"Não, não estou."
"Eu não me importo. É encantador."
"Não, não é."
Ele tocou meu queixo e virou meu rosto em direção ao dele. "É. Mas ainda é
sem garantias. Você teria me ajudado mesmo um pouco, se eu tivesse chego
até você em um jeito similar?"
"Não." Eu nem tentei fingir o contrário.
Ele retirou sua mão, ainda sorrindo. "Todos somos honestos hoje à noite.
Bem, então. Eu suponho que devo te apresentar a Gawyn."
"Espere," eu disse. Eu levantei incerta. Toda essa conversa sobre
honestidade tinha feito eu pensar em Kiyo. Assim como a conversa sobre
sexo. Ok, tudo me fazia pensar em Kiyo ultimamente.
"Você tem outra pergunta?"
Eu estudei Dorian com cuidado. Ele era um dos gentry, mas algo sobre esse
breve encontro fez dele... bem, não exatamente digno de confiança, mas
também não alguém não confiável. E realmente, ele era a coisa mais próxima
que eu tive a uma verdadeira fonte gentry.
"Sim. Eu tenho."
Eu tirei minha jaqueta e então virei, olhando para longe dele. Eu não usava
nenhum top hoje e eu tive que tirar completamente minha camiseta de
manga cumprida. Depois de um momento de consideração, eu tirei meu
sutiã também.
"Oh," disse Dorian. "Eu acho que vou gostar dessa pergunta."
Eu envolvi meus braços ao redor dos meus seios, ainda me mantendo de
costas para ele. "Você vê os arranhões?"
"É claro."
"Você sabe o que eles são? Eu acho que algo do Outro mundo os fez."

Eu ouvi ele se levantar e se aproximar de mim. Momentos mais tarde, a
ponta dos dedos dele deslizou nas marcas, seguindo os rastros deles. O
toque dele era lento e considerava um que realmente buscava me sentir.
Não deveria ser erótico ­ por várias razões ­ mas foi mesmo assim. Os dedos
dele deslizaram pelos até a parte debaixo dos arranhões e então de volta
para cima.
"Eu não sei de dizer o que os fez," ele disse finalmente, "mas eu posso te
dizer que foram feitos com mágica.Se eu tivesse que adivinhar... eu diria que
você foi marcada."
"Marcada como?"
"Eu acho quem quer que foi ­ ou o que quer que foi ­ que fez isso, o fez para
rastrear você. Desde que isso esteja em você, quem te marcou pode te
encontrar."
Eu tremi, e não tinha nada a ver com o topless ou o fato dos dedos dele
ainda estarem em mim. "Você pode se livrar deles?"
"Não. Elas eventualmente podem desaparecer sozinhas, mas não sei te dizer
quando. Quem as fez?"
Eu hesitei. "Um homem."
Dorian espalhou seus dedos para que suas palmas estivessem em minhas
costas. "Tem que ter pressionado com força para te arranhar desse jeito
parado aqui. Eu precisaria estar com meus braços ao seu redor."
Eu não respondi.
Eu podia sentir a suave risada dele contra minha pele, e de alguma forma, ele
agora estava mais próximo. "Ora, Eugenie Markham, caçadora de gentry, o
que você fez?"
"Eu não sei."
Ele desceu suas mãos pelas minhas costas até elas descansarem no meu
quadril. "E isso está matando você, não está? Que você pode ter deixando
algo que você despreza te tocar assim. Você gostou?"

"Não é da sua conta. E você está próximo demais." Eu virei, ainda
envolvendo meus braços ao meu redor enquanto eu me afastava. "A
inspeção terminou."
"Se você deseja. Eu não tenho certeza que você realmente quer que ela
acabe."
"Eu não transo com..." eu parei.
"Gentry?" ele deu um passo para frente de novo, descansando suas mãos
nos meus braços, me segurando com mais força do que ele precisava ­ não
que ele ainda precisasse me tocar. Eu deveria ter socado ele, mas eu não o
fiz. Ele era consideravelmente mais alto que eu, mas ele teve que se abaixar
para diminuir a distância entre nossos rostos. Ele cheirava a canela. "Sabe,
apesar da sua reputação mortal, qualquer homem traria para você o mundo
para que você nossa amante. Venha a minha cama hoje à noite, e eu mesmo
levo você para Aeson. Eu vou lutar do seu lado."
Eu o encarei meio tentada. Eu precisava de ajuda. E ele não era muito difícil
de se olhar. Mas eu não podia fazer isso, não importava o quão razoável ele
tenha parecido hoje à noite. Eu tinha ido até Kiyo inconsciente. Eu não podia
transar com outro gentry, sabendo exatamente o que ele era. Esse instinto
não iria se mover.
"Não. Você tem várias mulheres lá," eu disse levemente. "Você não precisa
de mim."
"Nenhuma delas vai conceber como você. Seu corpo promete muitos filhos."
"Não é provável. Estou tomando pílula."
"O que?"
Eu expliquei para ele, e enquanto ele não se afastava de mim, os olhos dele
pareciam que ele queria. Ele suspirou. "Eu não entendo os humanos. Você
tem o dom da fertilidade, ainda sim você o suprime."
"O mundo está super populado. Não estou pronta para um bebê."
"Eu não entendo humanos," ele repetiu.

"E eu achando que tínhamos feito tamanho progresso. Eu acho que você
pode me soltar agora."
"Minha oferta ainda está de pé."
Eu senti minhas sobrancelhas levantarem. "Mesmo com nenhuma chance de
gravidez?"
"Não desconte seus charmes. Eu ainda dormiria com você por outras
razões."
"Como o que? Eu quero dizer, fora o fato de que você provavelmente
dormiria com qualquer mulher."
Ele olhou para mim e então de volta para o meu rosto, me dando a sensação
de que eu não estava cobrindo meus seios muito bem. "Eu não vou me
incomodar com as coisas obvias," ele disse.
"Honestamente a principal razão... bem, em uma noite, eu acho que talvez
tenha te convencido você de que nem todos os gentry são monstros. Talvez.
Você ainda tem muito caminho pela frente. Mas já ficou intimamente com
um ­ ou outra coisa desse mundo ­ e você não consegue parar de pensar
nisso. E não porque você odiou. Você mistura isso com o que você viu hoje à
noite, e então você realmente não vai saber o que pensar. Eu quero fazer
amor com você enquanto essa indecisão ainda te atormenta, enquanto você
ainda não está segura de que eu sou bom ou um monstro ou simplesmente
humano como você. Eu quero estar com você naquele último momento de
vulnerabilidade, quando o seu desejo batalha com seus instintos e cada
toque do meu corpo atiça medo e prazer em você."
"Medo? Você está ameaçando me estuprar como cada gentry que eu
encontrei ultimamente?"
"Não. Eu te disse, eu não tomo mulheres à força. Mas não importa. Você vira
para mim por escolha própria."
`Dificilmente."
"Oh,é muito provável. Sua própria natureza é conflitada, Eugenie. Você atrai
as coisas que você sabe que não deveria, mesmo que não perceba
conscientemente. Você gosta de brincar com o perigo ­ te excita. É por isso
que você luta com as criaturas desse mundo tão agressivamente. É por isso
que você veio atrás dessa garota ­ apesar do quão tolo você sabe que é. E é
por isso que você vai retornar para mim. Você não vai ser capaz de se
impedir. Você quer andar na linha, te colocar em risco, ver até onde você se
deixa ir. Você se protege tão furiosamente das coisas que você teme que a
Ideia de abaixar suas defesas e se submeter,excita você. Agora, você não vai
deixar alguém que você odeia ­ como Rurik ­ tocar você, mas eu? Você não
me odeia. Não bem. Eu sou a mistura perfeita. O jeito perfeito ­ o jeito
seguro ­ para ceder no que você quer."
"Você é maluco." Eu me afastei, empurrando ele com minhas mãos, sem me
importar que ele visse meio peito ou não. "E você fala umas merdas bem
loucas."
"Não mais loucas do que o seu próprio desejo."
"Você está errado. Além do mais, se eu fosse fuder com um de vocês, não
seria com um que planeja tomar meu mundo."
Ele deu nos ombros, observando enquanto eu colocava minhas roupas de
volta. "Se você diz. Você ainda quer minha ajuda?"
Eu hesitei. A pequena aproximação sexual dele me deixou nervosa ­ só que
eu não sabia exatamente por que. Eu ainda precisava da ajuda dele,
independentemente dos meus sentimentos confusos em relação a ele. Isso
estava se tornando cada vez mais claro.
"Yeah, eu ainda aceito seu servo."
"Então vamos apresentar você."

Capítulo Dez
Por minha conta, passamos um pouco mais do que duas horas com Dorian, e
quase uma hora para chegar até lá. Isso não me agradava. Nesse ritmo, não
iríamos chegar em casa até o amanhecer no nosso mundo. Se chegássemos
em casa.
O servo de Dorian, Gawyn, parecia ter 100 anos. Não, espera. Na verdade,
isso é bem jovem para um gentry. Ok. Ele parecia ter um milênio de idade. Eu
não sei. Ele era simplesmente velho, normal e simples. O cabelo grisalho ia
quase até os tornozelos dele, e assim que eu o vi caminhar para frente, eu de
repente imaginei nós três levarmos mais três horas para chegar até Aeson,
apesar do quão perto Dorian e os espíritos alegaram que era.
"Ele é antigo," sussurrou Dorian. "e ele parece meio... gasto."
Gawyn estava atualmente dizendo a Wil que lindas pernas ele tinha, apesar
do fato de Wil não ter nenhum na forma de espírito. Eu não tinha certeza
absoluta se Gawyn sequer percebeu que Wil era homem.
"A mente dele vai estar afiadíssima quando chegar ao castelo de Aeson.
Quanto à velocidade, eu te dou cavalos. Você parece ser capaz de cavalgar
em várias coisas excepcionalmente bem."
Eu ignorei a insinuação, na maior parte pensando como fazia anos desde que
eu montei num cavalo ­ sem contar minha captura, mais cedo. Cavalos
nunca tinham feito muito por mim. Eu não entendia porque garotinhas
queriam pôneis. Se eu cavalgasse mais hoje, eu provavelmente ficaria muito
dolorida amanhã. Quando minhas armas foram devolvidas, nós saímos.
Dorian acenou para nós, me dizendo que ele estaria ansioso para a minha
próxima visita. Eu me mantive profissional, simplesmente agradecendo ele
pela ajuda. Eu acho que isso o deleitou mais do que qualquer outra reação
que eu pudesse ter.
Os cavalos nos deram mais velocidade do que andar, e era o melhor que eu
poderia esperar em um mundo sem transporte mecânico. O cavalo que eu
cavalguei era negro com uma pequena estrela branca no nariz. O de Gawyn

parecia ser um Palomino25. Os espíritos e Will meramente deslizavam atrás
de nós.
Na escuridão, eu mal conseguia ver Gawyn olhando para mim. "Então você é
Eugenie Markham. A Dark Swan."
"É o que dizem."
"Eu conheci seu pai, uma vez."
"Oh?" eu não me incomodei em esclarecer o negocio do padrasto.
"Grande homem."
"Você acha?"
"Absolutamente. Eu sei que alguns não acham... mas, bem, você deveria se
orgulhar."
"Obrigada. Eu me orgulho."
Gawyn não disse mais nada, e eu poderei as palavras dele, me sentindo
surpresa. Considerando o que Dorian tinha me dito, eu não esperava que
Roland tivesse fãs no Outro mundo. Mas de novo, Dorian também tinha dito
que alguns ­ qual era o nome dela? Maiwenn? ­ tinham se oposto ao Rei
Strom. Eles podiam muito bem ver Roland como um herói.
Nós viajamos em relativo silêncio depois disso, quebrado ocasionalmente
quando Finn falava sobre que grande festa Dorian tinha feito. Como antes,
cruzamos para dentro e fora de vários reinos e suas mudanças climáticas. Eu
ainda achava que estávamos viajando em círculos. Mais de uma vez, Gawyn
nos fez parar, coçou sua cabeça, e murmurou algo para si mesmo. Eu não
achei isso muito confiante. Em um ponto, ele nos tirou da rua, para dentro
da floresta, e eu esperava que um dos meus servos falasse algo se nos
perdêssemos completamente. Tudo era tropicalmente quente e florescendo
aqui, então presumidamente estávamos na Terra Alder de novo. Gawyn
parou.
"Aqui," ele disse.
25 É um cavalo

Eu olhei ao redor. Insetos da noite cantavam em árvores ao nosso redor, e o
cheiro de terra, recém mexida, e plantas caídas estava no ar. Tinha estado
escuro antes, mas agora as coberturas de folhas apagaram até a luz das
estrelas. Gawyn desceu do seu cavalo, quase caindo no chão. Eu comecei a
descer para ajudar ele, mas ele logo se ajeitou. Andamos alguns passos para
frente e então ele bateu seu pé contra o chão. Um som forte e sólido
respondeu.
Eu desmontei também. "O que é isso?"
"Volusian, de volta numa forma com pernas, andou para frente." Um tipo de
porta. Construída no chão."
"Sim," disse Gawyn triunfante. "Construída para cerco. Mas não é mais
usada."
"Ela leva ao forte de Aeson?" eu perguntei.
"Leva ao porão. As escadas do porão levam até a cozinha. Da cozinha, você
pega a escada dos serviçais ­"
"Whoa, peraí."
Eu queria me certificar que eu tinha entendido tudo. Volusian criou uma luz
azul para lançar luz, e desenhamos um mapa em um ponto claro de sujeira
baseado nas lembranças de Gawyn. Eu podia ter duvidado das lembranças
dele, mas ele falou com certeza, e ele tinha conseguido nos levar até esse
lugar obscuro. Talvez Dorian estivesse certo sobre a "memória afiada".
Quando Gawyn achou que tínhamos decorado o caminho para a ala
residencial, ele nos disse que não iria se juntar a nós. Ele ia esperar aqui para
dizer a Dorian o que aconteceu conosco. Por mim tudo bem. Eu não
considerava Gawyn como uma contribuição para batalha ­ ou Wil, pra falar a
verdade. Diferentemente do velho, no entanto, a teoria fantasmagórica de
conspiração não aceitou muito bem ser deixado para trás.
"Mas eu te disse, eu preciso ajudar ela ­ "
"Não," eu disse firmemente. "Eu deixei você vir junto até aqui, e você quase
arruinou todo com aqueles cavaleiros. Agora você espera. Se Jasmine se
assustar, ela vai agüentar mais alguns minutos até trazermos ela até você."

Eu me preocupei em ter que prender ele ­ eu podia fazer isso já que ele
estava aqui em espírito, não em corpo ­ mas não foi preciso. Ele concedeu,
então entrei na porta escondida com apenas os meus servos.
"Na verdade," disse Nandi enquanto entravamos em um túnel escuro, "é de
se admirar que você não tenha morrido ainda, mestra."
"Bem, agüente firme. A noite é uma criança."
Volusian providenciou a luz de novo, e nós deixamos ele nos guiar pelo túnel
de pedras que cheirava a umidade. Ratos passaram correndo em um certo
ponto. Finn tinha razão. Aparentemente Outro mundo tinha sua cota de
animais e insetos.
Quando o túnel começou a subir, eu sabia que tínhamos chegado ao fim.
Uma porta de madeira no teto marcou nossa próxima entrada. Eu pedi aos
espíritos para entrar em uma forma não substancial.
Até aqui, eles andaram juntos parecendo humanos. Eu precisava que eles
ficassem obscuros.
Submissos, os três mudaram para o que parecia uma nevoa me cercando.
Eu abri a porta e saí, me encontrando em um pequeno lugar fechado. A
névoa que era Volusian brilhou mais uma vez, e eu desviei das formas de
bolsas e caixas. Se Gawyn estava certo sobre essa ligação a cozinha, então os
containeres provavelmente continuam comida e outros suprimentos. A 60
centímetros na minha frente, uma porta estava iluminada com luz brilhando
do outro lado. Eu andei cerca de dez passos e abri a porta.
Agora eu estava na cozinha, uma bem rústica em comparação a minha, mas
que igualava a que eu tinha visto no castelo de Dorian. Tudo estava
silencioso.
"Onde está todo mundo?" eu murmurei.
"Está tarde agora" Finn sussurrou de volta. "Não tem ninguém com fome. E
Aeson não gosta tanto de reuniões como Dorian."
Encontramos a escada de serviço exatamente onde Gawyn disse que estaria.

Infelizmente, quando eu abri a porta, eu encontrei um servo ali, prestes a
descer. Nós encaramos idiotamente, e eu tive apenas um segundo para
decidir como lidar com ele. Eu segurei tanto a arma quando o athame. Em
outro estado mental, eu provavelmente teria apenas matado ele. Mas algo
me segurou. Talvez fosse Dorian. Talvez fosse ver o povo dele e saber que
eles eram mais do que uma multidão sem rosto. O que quer que fosse eu
escolheu não matar dessa vez. Eu me estiquei, agarrei a arma, e dei um forte
golpe na cabeça dele, com meu punho e com a parte debaixo da arma. Os
olhos dele viraram, e ele caiu no chão.
Assim que ele estava seguramente colocado no sótão, nós continuamos o
nosso caminho. Não encontramos mais ninguém na escada, nem no
magnífico corredor que ela nos levou.
Enormes pilares de pedra suportavam um teto alto, e ricas pinturas a óleo de
várias paisagens transformavam as paredes em um mar de cores vivas.
Tínhamos chegado à ala residencial, como Gawyn disse. Se minha outra
informação estava correta, encontraríamos Jasmine Delany atrás de uma das
muitas portas alinhadas no corredor.
Felizmente, a camareira tinha decidido deixar a porta de todos os quartos
não ocupados, aberta. Enfiando minha cabeça dentro de alguns, eu podia ver
que nenhum deles era ocupado a um bom tempo. As camas não tinham
cobertas, e pó se amontoava em tudo. Apenas duas portas estavam mesmo
fechadas. Em certas formas, isso facilitou meu trabalho. Ainda sim, eu podia
ter aproveitado a emoção de abrir algumas portas falsas antes do prêmio
maior.
Com as armas prontas, eu abri à primeira. Levava a um quarto quase tão
grande quanto o de Dorian, mas não havia ninguém dentro dele. Tudo estava
escuro e parado. O fogo que crepitava era a única fonte de movimento.
Pausando por um momento, eu admirei a tapeçaria na parede e a cama em
uma abobada. Tinha uma boa aparência, quase circular, completa com
quartos adjacentes e teto alto. Fazia meu quarto em casa, parecer um
armário.
"Falta um." eu murmurei, saindo.

Viramos o corredor e nós para próxima da única porta fechada. A não ser que
Jasmine estivesse trancada numa masmorra, deveríamos encontrar ela li, de
acordo com o que ouvimos. Eu fui pegar a maçaneta, e hesitei.
"Abra você, Volusian."
Uma parte da nevoa se aglutinou numa forma física. Mais uma vez sólido
Volusian abriu a porta devagar e espiou para dentro. Parecia escuro. Eu
comecei a me mover para frente, mas ele ergueu a mão em aviso.
"Não, tem algo ­"
A luz se acendeu, e de repente fomos atacados. Eu tentei sair do quarto, mas
alguém me agarrou, me empurrando para o lado. Comigo em risco, os outros
servos entraram no quarto. Eles não tinham escolha, suas ordens de
prevenção sempre exigiam que eles cuidassem da minha segurança.
Este era um quarto, como nenhum outro, mas homens estavam parados ali,
armados com mágica e armas. Eu atirei no que me agarrou, mirando no rosto
e no pescoço agora que eu sabia que pouco efeito eu tive no povo de Dorian.
Foi sanguinário e uma bagunça, mas eu tinha certeza que nem a maior
mágica para curar ia curar esse cara. Quando me soltei dele, eu virei para o
próximo que se aproximou. Ele foi esperto o bastante para atacar a minha
mão em que estava a arma, tentando neutralizar a ameaça. Eu o cortei com a
outra mão, a que segurava o athame. Ele recuou ao sentir o ferro, e eu usei
aquele momento de fraqueza para agarrar ele e o empurrar contra a parede
com meu cotovelo. Ele caiu no chão, e um chute afiado no estômago se
certificou que ele ficasse caído. Eu vi os espíritos entrando numa batalha ali
perto, empurrando e lutando com uma força que era literalmente inumana.
Dois outros homens tinham sido subjugados e mortos, e agora eles lutavam
com um terceiro. Restavam dois. Um veio para cima de mim, eu atirei nele, a
arma fazendo um barulho alto no quarto pequeno. Ele caiu para trás, e eu
atirei de novo, ainda não confiando em gentry se curando em seu próprio
tempo.
Eu comecei a procurar pelo último cara quando eu ouvi um choro na parte
mais distante do quarto. Eu virei, pausando. Era ela. Jasmine Delaney.

Ela era menor e mais leve do que eu achei que ela seria. Um longo vestido
branco cobria o corpo dela, e ele se envolvia em dobras ao redor dela
enquanto ela se contraia no canto.
Cabelo loiro avermelhado quase cobria o rosto dela, mas não conseguia
esconder os olhos. Eles eram grandes e cinza, cheios de medo. Eles se
destacavam contra o rosto pálido e magro dela. Vendo que eu estava
olhando para ela, ela chorou ainda mais.
Raiva cresceu dentro de mim. E pena. Eu sabia que ela tinha quinze anos,
mas naquele momento, ela parecia ter dez. Ela era uma criança. E ela estava
presa aqui, levada contra sua vontade. Mais quente e poderosa minha raiva
cresceu. Eu precisava fazer os raptores dela pagar, faze-los saber que ele não
podia simplesmente ­ Meu momento de emoção me custou. Naqueles
segundos que eu passei olhando para ela, eu perdi o ultimo homem. Eu senti
uma lamina na minha garganta e percebi que eu o deixei passar
despercebido atrás de mim.
"Se você quer viver," ele disse "solte suas armas e chame seus servos."
Eu não achava que fosse viver se fizesse isso, mas eu tinha certeza que não
iria se não fizesse. Então eu fiz o que ele pediu.
Ainda sim, eu não tinha certeza do que esse cara podia fazer sozinho. Um
momento depois, eu tive minha resposta quando outro homem entrou.
Imediatamente, eu soube que ele era Aeson. Para ínicio de conversa, os
outros estavam usando um tipo de uniforme. Ele não. Ele usava calças vinho
enfiadas em botas feita de couro preto. Uma camisa preta de ceda cobria a
parte superior do seu corpo, brilhante e grande. O cabelo cinza amarronzado
estava puxado para trás em um rabo de cavalo, e um círculo dourado estava
na cabeça dele. O rosto dele era longo e estreito, com uma boca destinada
para boas zombações. Arrogante ou não, Dorian nunca tinha usado uma
coroa, eu percebi. Não havia necessidade. A posição dele era obvia para
todos.
Dois guardas seguiram Aeson, e ao ver a situação, ele mandou um para
ajudar. E estávamos indo tão bem apesar das chances.

"Se eu soubesse que você ia dizimar meus homens em minutos, eu teria
organizado toda guarnição aqui," Aeson disse. Ele se inclinou na minha
direção, tocando minha bochecha. "Realmente é você. Eugenie Markham. Eu
não posso acreditar que finalmente tenho você."
Eu tentei me desviar daquele toque, mas eu não teria onde ir, não com uma
lamina na minha garganta. Meus servos esperaram tensos, dispostos a fazer
o que quer que eu peça. Ainda sim, eu temia que os libertasse colocasse
Jasmine em risco ­ e minha própria garganta.
"Você a tem." disse uma voz tremula no corredor. "Eu fiz o que disse. Agora
me dê Jasmine."
Movendo meus olhos, eu encarei surpresa. Wil flutuou até a porta. Ele deve
ter nos seguido afinal de contas. Ele olhou para Aeson com expectativa. Um
sentimento de inquietação cresceu em mim, e tudo se encaixou.
"Seu traidor filho da puta!"
Ignorando meu ultraje, Wil virou seus olhos implorando para Aeson. "Por
favor. Eu trouxe Eugenie. Eu mantive minha parte do acordo."
"Sim," disse Aeson sem nem olhar para o outro homem. "Você manteve. E eu
vou manter a minha ­ momentaneamente."
Ele continuou me estudando como se eu fosse um tipo de tesouro ou
artefato. Como se eu fosse a oitava maravilha do mundo. Eu gostei do
incentivo ao meu ego, mas o olhar dele estava começando a me assustar.
"Aeson ­" Wil tentou de novo.
"Calado," surtou o rei, ainda me encarando. A mão da minha bochecha
desceu para tocar meu queixo. Ele sorriu, mas foi um sorriso frio, um que
não encontrou meus olhos. No canto, eu ouvi Jasmine fazer um som
distraído. "Depois de todo esse tempo, depois de tanta espera, eu posso
finalmente produzir o herdeiro."
A afirmação era tão ridícula quanto a minha rejeição.
"Ou você me mata ou me solta. Eu odeio essas idiotas conversas solilóquios."

O olhar hipnotizado no rosto dele de repente se afiou, e ele piscou. "Você...
você não faz ideia, faz?" Quando eu não respondi, ele começou a rir tanto,
que eu achei que lágrimas iam formar nos olhos dele. "Eu tentei tanto pegar
você, e você nem soube. Você realmente não sabe."
"Sabe o que?" eu perguntei impaciente.
"Quem é seu pai."
Eu não gostei do roteiro a la Star Wars. "Roland Markham é meu pai. E da
próxima vez que eu vir ele, vamos voltar e chutar sua bunda juntos. Se eu
não o fizer agora."
"Da próxima vez que você o vir você deveria perguntar a ele a verdade sobre
você e o Rei Storm."
"Eu não tenho nada a ver com o Rei Storm."
"Ele é seu pai, garota. Roland Markham é um assassino e um ladrão. Como
você não sabe?"
Ele podia muito bem estar falando uma língua estrangeira. "Talvez porque
você seja louco. E porque sou humana."
"Você é? Engraçado. Você funciona tão bem nesse mundo quanto os
brilhantes. Eu nunca conheci um humano que conseguisse isso."
"Talvez eu seja talentosa."
Eu tinha um rosto de vaca-vangloriada, mas as palavras dele estavam me
penetrando. Eu ouvi que almas geralmente reconhecem a verdade quando a
ouvem, mesmo que a mente não o faça. Talvez isso estivesse acontecendo.
Minha parte lógica ainda estava sendo teimosa, mas algo... algo nas palavras
dele acionaram minha mente. Era como se uma imagem estivesse ali,
coberta com um véu negro, esperando que eu o levantasse.
"Você é talentosa. Mais do que você imagina." Ele tirou o cabelo do meu
rosto. "Logo vou lhe dar o maior dom da sua vida. Eu vou te redimir de ser
uma traidora de sangue."

"Cala a boca." O Queres tinha me chamado de traidora também. "Você não
sabe do que está falando."
"Então porque você está tão pálida? Admita. Você sempre soube. Você
sempre esteve sozinha."
"Todos se sentem sozinhos."
"Não como você. Mas descanse em paz. Você não será solitária por muito
mais tempo. Eu teria te levado para minha cama mesmo que você fosse feia,
mas agora que te vi ­ "
Tem várias formas de ter sua fala maníaca diminuída, mas ser atacada por
uma raposa era novidade. Eu nem vi de onde ela saiu. Em um minuto, Aeson
estava falando sobre me tomar, e no próximo, uma raposa vermelha estava
saltando nele, garras e dentes expostos. Ela era do tamanho de uma ovelha
alemã, e atingiu Aeson como um tanque. Suas garras deixaram cortes em seu
rosto.
O guarda que me segurava me soltou para ajudar seu mestre, e eu recuperei
minha arma. Eu atirei nele quando ele estava prestes a tirar a raposa de
Aeson. Não foi um tiro mortal, mas distraiu-o, impedindo seu progresso. Eu
agarrei o guarda ferido e o joguei o mais longe que a diferença de peso dos
nossos corpos permitiu. Ele caiu numa pilha, e eu atirei nele de novo. Eu virei
em direção a Aeson para checar o progresso da raposa, mas a raposa não
estava mais segurando o rei no chão.
Kiyo estava.
Minha boca se abriu. Kiyo. O cabelo preto enrolado atrás das orelhas, e eu
podia ver os seus músculos se distendendo e ele lutou com Aeson, aos mãos
dele ao redor da garganta do rei. Fogo passou pela ponta dos dedos do rei, e
eu ouvi Kiyo gemer em resposta. Eu comecei a ir até ele sem pensar, mas ele
gritou para que eu pegasse Jasmine. Jasmine. É claro. Era o motivo deu estar
aqui.
Eu arrastei meus olhos para longe do rosto que eu estava obcecada há uma
semana, e me aproximei da garota no canto. Eu não achei que ela podia se
encostar ainda mais contra a parede, ainda sim ela pareceu fazer isso a cada
passo que eu dava.

"Jasmine," eu disse, me inclinando e tentando soar gentil apesar do pânico
que passava por mim. "Sou uma amiga. Estou aqui para ajudar ­ "
Com aqueles olhos apáticos e feições cansadas, eu esperei alguma
dificuldade em fazê-la levantar. O que eu não esperei e que ela de repente
saltasse e se avançasse em mim com as duas mãos.
"Nãoooooo!" ela gritou sua voz penetrante contra meus ouvidos. Eu recuei,
não por causa da ameaça que ela representava para mim, mas por causa do
dano que eu potencialmente podia causa a ela.
"Aeson!" ela correu para o homem que lutava e começou a bater os punhos
nas costas de Kiyo. Eu suspeito que isso teve o mesmo efeito como uma
mosca pousando nele. Ele se transformou numa raposa, e os socos dela
recaíram em Aeson. Eu me estiquei para pega-la naquele instante de
surpresa, mas ela muito pequena e muito rápida. Ela fugiu de mim e de todos
no quarto, e correu pelas portas antes de qualquer um de nós pudéssemos
impedir ela.
"Jasmine!" eu gritei, meus choros foram ecoados pelos de Wil, enquanto eu
corria para a porta. Kiyo e Aeson ainda lutavam, e uma parte distante de mim
notou como Kiyo mudava para a forma de humano e raposa enquanto Aeson
usava mágica de fogo contra ele.
"Eugenie," arfou Kiyo. "saia daqui. Agora."
"Jasmine ­" eu comecei.
"Pule agora. De volta para o seu mundo."
O barulho das botas batendo no corredor estavam quase nos alcançando.
"Eu não posso. Não daqui. Eu não tenho uma ancora."
"Sim, você tem."
Ele olhou para Wil, que estava parado ali, translúcido e inútil. Se dependesse
de mim, eu teria deixado Wil e seu traseiro traidor para serem destruídos,
mas de repente ele tinha um propósito.

Vendo meu olhar incerto, Kiyo disse, "Eu vou assim que você for. Eles estão
aqui!" E eles estavam. Homens entrando no quarto. Eu provavelmente não
deveria me importar com o que acontecesse com Kiyo, mas eu me
importava. Eu queria que ele saísse dali vivo. Eu queria encontrar Jasmine
trazer ela junto. Mas o melhor que pude fazer era salvar minha própria pele.
Invocando Hecate, eu mudei meus sentidos para longe desse mundo,
alcançando o meu próprio. Enquanto fazia isso, eu agarrei Wil, agarrando o
espírito dele comigo. Uma transição difícil como essa, sem encruzilhadas ou
pontos mais finos, teoricamente poderia me levar a qualquer lugar no
mundo. Mas eu tinha o espírito de Wil para me segurar. Eu não tive escolha a
não ser voltar para o corpo físico dele, no Deserto Sonora. Se eu fosse forte o
bastante. "Sigam-me!" eu gritei para os servos. Ou talvez fosse para Kiyo. Eu
não sabia. O mundo tremeu meus sentidos borrados. Cruzar os mundos em
um ponto conveniente era como cruzar através de uma parede feita de
plástico. Era fino, e era necessário um pouco de luta e se segurar, mas
eventualmente você podia passar. Pular sem um ponto normal para cruzar,
no entanto?
Bem, era como quebrar uma parede de tijolos.

Capítulo Onze
Alguém estava gritando no deserto, e eu não percebi que era eu até que Tim
correu para agarrar meus ombros.
"Jesus! Eugenie, o que foi?"
Eu me separei dele, cai de joelhos, e vomitei em um conveniente arbusto.
Isso logo cedeu para ondas de calor sem limite, o stress do meu corpo era
muito forte para parar. Quando eu finalmente terminei ­ tinha parecido que
levou horas, embora provavelmente só tenha levado minutos ­ eu passei a
mão pelo rosto. Eu sentia como se tivesse enfiado a cabeça pela janela,
cortando minha pele em pedaços.
Ainda sim, quando eu tirei minhas mãos, não havia sangue.
Aparentemente convencida de que eu tinha terminado de devolver tudo no
meu estômago, Tim cuidadosamente me entregou uma garrafa de água. Eu
limpei a boca com as costas da minha mão e então bebi gulosamente.
Quando eu entreguei a garrafa de volta, ele balançou a cabeça. "Fique com
ela. O que aconteceu?"
"Choque de transição," veio à voz de Volusian. "Você passou pelos mundos
com muita força e muito rápido, mestra."
"Você deveria estar morta," acrescentou Nandi. "ou pelo menos
segmentada."
"Segmentada?" perguntou Tim.
Eu acenei e bebi de novo. "Se você não é forte o bastante para fazer
funcionar, só o seu espírito volta para cá. O corpo permanece no Outro
mundo."
Ele me encarou. "Isso te mata?"
"Pior."
"O que é pior que a morte?" perguntou uma nova voz. Ou não tão nova.

Wil. Eu tinha o esquecido.
Eu levantei e girei em direção dele, com a arma na mão. Uma parte de mim
se perguntava se eu sequer tinha balas sobrando. Eu troquei o cartucho uma
vez no Outro mundo, mas eu não lembrava quantas vezes eu atirei contra os
homens de Aeson.
A boca de Tim se abriu. "Eugenie guarde isso!"
"Você não sabe o que ele fez. Ele é um fudido de um traidor."
Wil, sentado no cobertor em que ele tinha entrado em transe, congelou, com
muito medo para se mexer. Mas não com medo demais para falar.
"Eu precisei. Era o único jeito de recuperar Jasmine."
"Yeah, funcionou muito bem, huh?"
Ele soava prestes a chorar. "Eu passei um ano sem chance de recuperar ela.
Então aquele espírito fez um acordo. Disse que se eu fosse até ela, eles me
devolveriam Jasmine. Desculpe."
Eu não movi a arma. "Eu era sua única chance de recuperar ela. Se você não
tivesse nos levado aquela armadilha, você estaria aqui com ela agora."
Ele gemeu, enterrando seu rosto em suas mãos. "Eu não sabia. Eu só queria
tanto ela." Ele olhou para mim. "O que aconteceu? Porque ela fugiu? Ela
estava assustada?"
"Talvez. Ou poderia ser aquele negócio... qual nome? Onde as pessoas
ajudam seus seqüestradores? Síndrome de Estocolmo."
"O que, como Patty Hearst? Não. Jasmine não faria isso."
Eu não tinha tanta certeza. Ela era jovem e impressionável, e Aeson me
pareceu uma figura forte.
"Ele é muito patético para matar," observou Finn depois de estudar Wil por
um momento.
"Não machuca fazer isso mesmo assim," disse Volusian. "Mate ele e
escravize sua alma."

Os olhos de Wil ficaram ainda maiores.
"Eugenie!" Tim me olhou como se eu fosse maluca. "Você não está
realmente considerando isso."
Provavelmente não. Suspirando, eu baixei a arma. "Fora daqui, Wil. Eu não
quero ver você de novo."
Ele levantou o rosto baixo. "Mas Jasmine ­ "
"Você perdeu sua chance. Você estragou tudo. Entre no carro antes que eu
faça algo estúpido."
Wil hesitou, o rosto dele implorado e chateado. Então, sem palavras ele foi
em direção ao rastro que levava a área de estacionamento. Eu observei ele
sair, uma raiva amarga fervendo em mim. À distância, um trovão rugiu.
"Eugenie..." começou Tim hesitante. Uma rajada de vendo passou pelo
cabelo dele.
"Eu não quero conversar. Me leve para casa."
Ele reuniu suas coisas e andamos na direção que Wil tinha ido.
"Encontrem-me em casa." eu disse aos servos. Eles sumiram.
Tim tinha sentido o bastante para me deixar em paz no carro durante a
viagem para casa. Eu inclinei minha cabeça contra a janela, gostando da
sensação do vidro frio contra minha bochecha quente. Tantas coisas tinham
acontecido hoje à noite, que eu não fazia ideia do que pensar primeiro.
Jasmine? A traição de Wil? A acusação idiota de Aeson? Kiyo?
Sim. Kiyo provavelmente era o mais seguro, o que era dizer alguma coisa.
Meu coração pulou quando eu o vi de novo. Era idiota, considerando o jeito
que ele tinha me usado, mas minhas emoções não pareceram perceber isso
ainda. Por quê? Porque ele me tocava tanto quando eu mal o conhecia? Eu
não acreditava em amor a primeira vista.
E quanto ao negocio da raposa? Eu não conhecia nenhum gentry que podia
fazer isso, mas eu sabia que transmorfos enchiam o Outro mundo. Eu tinha
lutado com alguns antes, mas nunca com uma raposa. Parecia uma escolha
estranha. Talvez isso explicasse porque ele não parecia um gentry. Ele era

outra coisa, não era um gentry, mas ainda do Outro mundo. O que não era
uma melhora.
Eu deixei Tim assim que chegamos em casa, buscando a solidão do meu
quarto. Bem, o máximo de solidão que eu poderia ter com os três espíritos
esperando por mim. Eu me joguei na cama, me inclinando no canto onde a
cama ficava contra a parede. Exaustão passava por mim, e eu não fiz e nem
disse nada, olhando para a escuridão. Trovões soaram de novo, mas parecia
mais fraco agora, como se a tempestade tivesse mudado de ideia. Os
espíritos simplesmente esperaram e me observavam.
"Digam-me o que acabou de acontecer."
"Hum, qual parte?" perguntou Finn depois de um minuto.
"Todas. Digam-me o que Kiyo é. A raposa."
"Oh." Finn parecia aliviado por ser uma pergunta que ele podia responder.
"Ele é um kitsune. Um espírito japonês de uma raposa."
"Roland me falou sobre centenas de criaturas mágicas. Nunca ouvi falar de
um kitsune."
"Você não os encontra muito por aqui," explicou Finn. "E eles não são
realmente tão perigosos."
"Ele parecia perigoso o bastante para mim."
"Eles carregam traços animais em forma humana," disse Volusian. "Força.
Velocidade. Certo senso de agressão."
Eu pensei sobre o sexo com Kiyo. Aquilo tinha sido bem agressivo. Eu fechei
meus olhos.
"Porque ele iria me marcar e então me seguir?"
"Eu não sei."
Que surpresa.
"Mais alguma coisa eu deveria saber sobre ele? Sobre eles?"
"Eles normalmente são mulheres. Homens são raros. Talvez o sangue
humano dele tenha afetado isso." disse Nandi sem emoção na sua voz.

"Meio humano? Oh. Sua mãe era a kitsune." eu disse, lembrando como ele
falava sobre seus pais.
"Yeah," concordou Finn. "As mulheres supostamente são bem gostosas.
Como sereias. Realmente sedutoras. Os homens não conseguem ficar longe
delas."
"Como uma droga," acrescentou Volusian.
Eu abri meus olhos. "Ele poderia fazer isso também?"
"Possivelmente."
De repente minha obsessão parecia menos estranha e distorcida. Ele tinha
usado algum tipo de poder sexual para me atrair? Era por isso que eu não
conseguia parar de pensar nele?
"Eu acho que meio humano não é tão ruim," eu murmurei, falando em voz
alta sem querer. Eu não tinha ido para cama com uma criatura
completamente do Outro mundo.
"Nenhum pouco ruim," concordou Finn feliz. "Ele é como você."
"Pare," eu surtei. "Aquela coisa toda... o que Aeson disse... é idiota. Eu não
quero falar sobre isso."
"E como tanto, você ignora o que não quer ouvir. Ser a filha do Rei Storm não
é uma coisa pequena." Os olhos vermelhos de Volusian me olharam.
"Sua rudeza é tão terna." Meu estômago revirou, mas era agora ou nunca.
"Muito bem. Eu mordo a isca. Porque Aeson pensa isso?"
Nenhum deles respondeu imediatamente. A impressão que eu recebi deles
era mais surpresa do que ignorância.
"Porque você é, mestra." disse Nandi finalmente.
"Não, não sou. Eu sou humana."
Volusian cruzou os braços em seu peito. "Você é meio humana, mestra. E
como eu disse seu preconceito a cega de verdade."
"A acusação de um gentry não é a verdade. Onde estão os fatos?"
"Fatos? Muito bem. Aqui vão os fatos. Quem é seu pai?"
"Roland."
"Você sabe o que eu quis dizer, mestra. Quem é o seu pai de sangue?"
"Eu não sei. Não importa. Minha mãe sempre disse que ele era um bastardo
que não valia a pena conhecer."
Volusian me encarou com expectativa.
"Isso não prova nada."
"E quanto aos seus poderes? Você está rapidamente ultrapassando todos os
shamans humanos. Você é igual em força em ambos os mundos. Você acha
que é coincidência que a mais poderosa shaman lembrada da história tenha
crescida na casa da Roland Markham? Ele te levou lá, ele te tirou do Rei
Storm."
"De onde? Você está dizendo que eu nasci no Outro mundo?"
Volusian inclinou sua cabeça. "O rei Storm seqüestrou sua mãe e fez dela sua
amante. Ela deu a luz a uma criança. Você."
"Você parece ter muita certeza disso."
"Eu vi sua mãe quando ela vivia no Outro mundo. Eu a vi nesse mundo. Ela é
a mesma mulher."
"Você está mentindo."
"Pelo poder que nos liga, você sabe que não estou."
Ele tinha razão. Ele não podia mentir para mim ­ não tão abertamente, pelo
menos. Eu sabia disso, e reconhecer isso me forçou a colocar meu próprio
mundo em uma nova perspectiva. Podia explicar porque minha mãe odiava
tanto o Outro mundo. Porque ela e Roland foram incontroláveis em criar
aquele ódio em mim, se certificando que eu nunca tivesse qualquer simpatia
por um gentry ou qualquer outra coisa daquele mundo.
Eu engoli e percebi que estava prestes a chorar. Deus. Isso provavelmente
iria estragar o show de força que eu sempre tentava manter ao redor desses

caras. Nós precisávamos continuar essa entrevista. "Então, você está dizendo
que é por isso que Rolando eventualmente o matou? Para me proteger?"
"Entre outras coisas. A invasão do Rei Storm era iminente. Ele veio para
reivindicar você. Roland Markham o matou, para salvar você e impedir os
planos do Rei Storm."
"Então o que Dorian estava me dizendo ­ espere um minuto. Ele sabia!
Aquele bastardo. Ele ficou sentado lá e me contou aquelas coisas sobre o Rei
Strom, sabendo quem eu era!"
"Todos sabem quem você é, mestra." disse Nandi.
"Mas é bem recente," acrescentou Finn, vendo o olhar no meu rosto. "Isso
vazou apenas duas semanas atrás. Ao mesmo tempo em que todos
souberam seu nome verdadeiro."
"Como?" eu olhei para Volusian. Ele sabia quem eu era o tempo todo. "Você
contou a eles?"
"Não."
"Então porque você não me disse nada antes disso? Porque ninguém me
disse nada quando vazou?"
Eles me encararam.
"Porque você não nos perguntou," respondeu Nandi.
"Sim," concordou Volusian. "Se você tivesse perguntando, "eu sou a filha do
Rei Storm? "nós teríamos alegremente ­"
"Oh, cala a boca." Eu esfreguei meus olhos. Eu queria dormir. Eu queria
dormir para sempre e esquecer isso. Mas eu tinha quilômetros para
percorrer antes deu dormir, assim como dizia o poema de Robert Frost. "Se
todos pensam que o Rei Storm foi tão incrível, então porque eles estão vindo
atrás de mim? Eu não deveria ser algum tipo de heroína? Ao invés disso eles
querem me matar."
"A maioria não está tentando matar você, infelizmente. Eles estão tentando
dormir com você, mestra."
"Por quê?"

"Provavelmente por causa da profecia," disse Nandi.
"Profecia," eu disse secamente. "Maravilha. Agora tem uma profecia."
"Mestra," ela disse com pressa, "se você tivesse perguntando se havia uma
profecia ­"
`Yeah, yeah. Eu sei. O que ela diz? Que eu sou boa na cama?"
Finn hesitou. "Bem... diz que a visão do Rei Strom ira ser carregada pelo filho
da sua filha. Que o mundo humano será reconquistado."
"Você está brincando." Oh, Deus, eu queria dormir.
"Quando eles descobriram que você não tinha filhos ainda, todos ­ bem,
todos os caras ­ queriam entrar em ação. Ser o pai do herdeiro do Rei Storm
seria algo muito grande."
"Igualmente," acrescentou Volusian, "a profecia diz que a filha do Rei Storm
vai limpar o caminho para o seu filho. Ser o seu companheiro traria grande
prestigio."
"Hey, eu não estou limpando o caminho para nenhuma invasão. Não que eu
acredite em profecias. Não que eu acredite em nada disso! Na verdade, essa
profecia prova o quão idiota isso tudo é. Eu não me revoltaria contra minha
própria gente."
Eu juro que Volusian sorriu. "Sim, mas que pessoas realmente são sua gente?
Sua lealdade agora está dividida."
Minha raiva cresceu. "Não. Mesmo que seja verdade, e eu seja a filha do
gentry mais poderoso, eu sei onde está minha lealdade. Sou humana. Eu ajo
como humana. Eu não tenho poderes de gentry."
"Se você diz, mestra."
"Fora daqui. Todos vocês. Nada disso é verdade. Eu vou falar com meus pais
e esclarecer tudo."
Volusion fez uma reverência. "Uma sábia ideia, mestra."
Eu disse as palavras para mandar eles embora e deitei na minha cama. A
tempestade tinha se aquietado do lado de fora, mas uma tempestade

própria começou dentro de mim. Eu queria interromper meus sentimentos.
Eu queria esquecer tudo isso, porque não era verdade. Não podia ser. Eu
queria tomar uma das pílulas para dormir, mas eu não precisava dos avisos
de idiotas de Roland para saber o quão perigoso isso era. Se cada gentry de
repente queria me engravidar, eu não podia baixar minha guarda.
Eu não deveria ser capaz de dormir. Não depois da luta com os gentry e ver a
garota correr de volta para eles. Não depois de saber que a minha ficada de
uma noite era um kitsune. Não depois de descobrir que eu podia ser tudo
que eu odiava. Algo que me fez questionar tudo o que eu acreditava.
Não, eu não deveria ser capaz de dormir mesmo, mas meu corpo sabia mais
enquanto cansaço passou por mim. Meu corpo sabia que eu tinha estado
acordada a noite toda, que eu lutei e fui ferida. E o mais importante, eu sabia
que minha luta não tinha terminado. Nem de longe.

Capítulo Doze
Alguns dias depois eu reuni a coragem para ver minha mãe e Roland. Tim
tinha saído, mas ele aparentemente cozinhou de manhã. Um prato de
muffins26 de semente de amêndoa estava na mesa da cozinha, e eu peguei
dois pra viagem.
Minha habilidade de pensar claramente melhorou com descanso, mas
minhas raiva e dor não tinham realmente sumido. Eu ainda me sentia traída
e não apenas por Wil. No máximo, eu iria perdoar ele mais facilmente do que
qualquer outro. Ele não teve um segredo guardado por anos. As ações dele
foram abertas e desesperadas. Elas não tinham sido tão traiçoeiras quanto às
de Kiyo, minha mãe, e Roland. Quando eu cheguei a casa, eu não me
incomodei em bater na porta. A porta da frente estava aberta, e eu a
empurrei a batendo com força atrás de mim.
"Genie?" eu ouvi minha mãe chamar. "É você?"
Eu andei através do piso de madeira, meus passos ecoando na sala. Minha
mãe e Roland estavam sentados na mesa da cozinha, almoçando. Pão e frios
estavam separados, junto com vários condimentos. Parecia tão normal. Tão
pacifico e inocente. Minha mãe meio que se ergueu quando ela me viu.
"Graças a Deus você voltou. Estive tão ­ qual problema?"
Eu amava tanto essas pessoas, mas ver eles aumentou minha fúria, talvez
porque eu os amasse tanto. Por um momento, eu não consegui falar as
palavras. Eu só os encarei, olhando cara a cara.
"EUgenie?" ela perguntou.
"Quem é o meu pai?" eu exigi saber. "Eu nasci no Outro mundo?"
Eu a vi ficar pálida, os olhos dela se alargando de medo. Em um instante,
Rolande estava ao lado dela.
"Eugenie escute ­ " O olhar no rosto dele disse tudo.
"Eugenie?" ela perguntou.
26
http://www.smh.com.au/ffximage/2006/08/22/muffins22806_narrowweb__300x314,
0.jpg

"Eugenie, escute ­ " O olhar no rosto dele disse tudo.
"Jesus. É realmente verdade."
Eu vi a boca dele se abrir para protestar, mas então ele pensou melhor.
"Como você descobriu?"
Honestidade, finalmente. "Está por todo o Outro mundo. Todo mundo sabe.
Aparentemente estou na linha para destruição mundial."
"Isso não é verdade," ele disse. "Esqueça isso. Você não é como eles."
"Mas eu sou um deles, certo? Pelo menos metade?"
"Só meu sangue. Todo o resto... bem, para todas as intenções e propósitos,
você é humana. Você não tem nada a ver com eles."
"A não ser matar e banir eles. Como você pode ter feito eu fazer isso...s e eu
sou..."? Um deles, eu queria terminar. Mas eu não consegui falar a palavra.
"Porque você tem um talento para isso. Um que precisamos. Você sabe o
que eles podem fazer."
"Sim. E você se certificou que eu soubesse me dizendo as histórias de terror
quando eu estava crescendo. Mas tem muito mais do que isso. Eles são
estranhos, sim, mas não do mal."
Minha mãe de repente se juntou a conversa, os olhos selvagens e frenéticos.
"Sim! Eles são! Você não sabe do que está falando. Quando você teve essa
revelação? Um dia atrás? Uma semana trás? Eu vivi com eles por três anos,
Eugenie. Três anos." A voz dela baixou para um sussurro. "Três anos, e eu
nunca encontrei ninguém decente. Ninguém que fosse me ajudar. Ninguém
que me protegesse de Tirigan."
"Quem?"
"O Rei Storm," disse Roland. "Esse é o nome dele. Era o nome dele."
"Eles dizem que você salvou ela dele."

Ele acenou. "Eu estava lá caçando um kelpie27 quando ouvi rumores sobre
uma humana capturada. Eu fui investigar e a encontrei ela. Você era um
bebê. Eu tirei vocês duas de lá e escondi você."
"Mas Dorian... alguém que eu conheci... disse que o Rei Strom veio procurar
por nós."
"Ele veio. E ele encontrou você."
Eu franzi. Pelo que Dorian disse, eu deveria ser uma jovem adolescente nessa
época. "Eu não me lembro disso."
Roland acenou de novo. "Perto o bastante, ele podia chamar você. Ele te
invocou até ele. Quando eu te rastreei, você estava no deserto, muito perto
de uma encruzilhada. Você andou quilômetros para chegar até ele."
"Eu não me lembro disso." eu repeti. Em certas formas, o que Roland me
disse era mais louco do que o que eu soube com Aeson.
"A mágica dele falou com a sua. Ele queria levar você de volta com ele, e
você lutou contra ele. Você foi atingida por um raio no processo."
"Espere, eu sei que eu iria me lembrar disso."
"Não. Eu hipnotizei você e reprimi a memória. Eu o matei, mas sua mágica
ainda tinha sido acordada. Depois de ver o que tinha visto, eu tive medo que
você não pudesse controlar ela ­ que ela fosse te controlar."
"Eu não tenho mágica. Pelo menos não mágica gentry."
"Não que você saiba. Ela está escondida. Eu fiz você esquecer. Depois disso,
eu comecei a ensinar você à arte na esperança de te proteger. Eu não sabia
se outros iriam seguir ele ou se outra pessoa podia te acordar ou te
convocar. Eu precisava te dar as ferramentas que você precisava para se
defender." Ele de repente parecia cansado. "Eu nunca percebi o quão bem
você lidaria com elas."
Eu me sentia tão cansada quanto ele parecia, apesar de todo o sono. Eu tirei
uma das cadeiras e sentei; eles continuaram de pé. Então eu tinha conhecido
27 Espírito malévolo das águas com forma de cavalo que seduz as pessoas à morte por
afogamento
o Rei Storm. Eu tinha respondido a invocação dele. E eu tinha sido atingida
por um raio? Isso era interessante, porque em muitas culturas, shamans são
convocados através da arte de algum evento traumático. Um raio cair era na
verdade algo comum. Muito dos índios shamans locais ­ já céticos com a
doença da Nova Era de Shamans brancos ­ não me consideravam autêntica
já que eu não tive uma profunda iniciação. No final das contas eu tive. Ponto
para mim.
"Você me fez esquecer. Você foi dentro da minha cabeça, e você me fez
esquecer. E todo esse tempo... os dois sabiam e não me falaram nada."
"Queríamos proteger você," ele disse.
"E aí fazer o que? Vocês acharam que eu nunca iria descobrir?" O calor se
ergueu em minha voz de novo. "Eu tive que ouvir de um gentry. Eu preferia
ter sabido por vocês."
Minha mãe fechou os olhos, e uma lágrima foi derramada pela bochecha
dela. Roland me olhou com calma.
"Em retrospecto, sim, nós deveríamos saber mais. Mas nunca pensamos que
isso fosse vazar."
"Vazou," eu disse amargamente. "todo mundo sabe. E agora todo mundo
quer o premio dessa profecia ­ e de mim."
"Que profecia?"
Eu contei a eles. Quando eu terminei, minha mãe sentou e enterrou o rosto
das mãos, chorando suavemente. Eu podia ouvi-la murmurando "Aconteceu
com ela. Aconteceu com ela também."
Roland descansou sua mão no ombro dela. "Não dê tanto valor para
profecias gentry também. Eles inventam uma todo dia."
"Não importa, se eles acreditam. Eles ainda vão vir atrás de mim."
"Você deveria ficar conosco. Eu vou ajudar a proteger a você."
Eu levantei, olhando para minha mãe. De jeito nenhum eu iria expor ela a
mais gentry. "Não. Isso é problema meu. Além do mais, não leve isso a mal,"
­ eu me senti começar a engasgar ­ "mas eu realmente não quero ver vocês

por um tempo. Eu acho que vocês só queriam o melhor, mas... eu preciso...
eu não sei. Eu preciso pensar."
"Eugenie ­"eu vi dor no rosto dele. O choro da minha mãe ficou mais alto.
Eu levantei, evitando olhar para os dois. De repente, eu não podia mais ficar
ali.
"Eu preciso ir."
Roland ainda estava me chamando quando eu praticamente sai correndo da
casa. Mas eu precisava me afastar, ou eu iria dizer algo idiota. Eu não queria
magoar eles, embora eu provavelmente tivesse magoado. Mas eles me
machucaram também, e todos precisavam lidar com isso.
Enquanto eu abria a porta do meu carro, eu olhei para cima e vi a raposa
vermelha me observando do mesmo ponto que ela tinha observando da
ultima vez.
Eu fui em direção a ela, perto, mas não tão perto.
"Vá embora!" eu gritei.
Ele me encarou, sem se mexer.
"Eu falei sério. Não estou falando com você. Você é tão ruim quanto o resto
deles."
Ele deitou, descansando o queixo nas patas enquanto ele continuava a me
olhar solenemente.
"Eu não me importo com o quão fofo você seja, ok? Eu terminei com você."
Uma mulher trabalhando no jardim da casa ao lado me deu um olhar
nervoso. Eu virei minhas costas para a raposa, entrei no carro e dirigi para
casa. Ainda sim, enquanto eu o fazia, eu não consegui me impedir de sentir
alivio por Kiyo ter sobrevivido. Eu honestamente não sabia se ele iria. Por
mais forte e viril que ele seja, Aeson estava jogando fogo contra ele. A
pergunta era, Kiyo tinha meramente escapado? Ou tinha conseguido matar o
rei? O que aconteceu com Jasmine?

Tim ainda não tinha voltado quando cheguei em casa. Eu decidi que não
queria sair da minha casa naquele dia ou fazer qualquer fingimento de algo
produtivo. Eu queria tomar uma sauna, colocar o pijama, e então assistir
programas de TV ruins e comer Milky Ways. Parecia um plano bem sólido, e
eu me aprontei para fazer acontecer.
Vinte minutos depois, eu sentei imersa no vapor quente, envolvida em
unidade. Calor era ótimo para soltar os músculos, embora isso tenha me
feito perceber o quanto eles estavam doloridos. Pelo menos eu escapei viva.
Isso era um verdadeiro milagre, considerando o desastre que ontem a noite
tinha se tornado.
Eu não queria pensar muito em mamãe ou Roland, mas era difícil não pensar.
Parte de mim ainda acreditava ­ ainda esperava ­ que tudo isso fosse um
erro. Afinal de contas, não era apenas o que todo mundo dizia? É claro, de
alguma forma eu duvidava que meus pais fossem inventar isso. Mas fala
sério. Onde está o teste de DNA? As evidências fotográficas? Eu não tinha
nada tangível. Nada que eu pudesse ver para acreditar.
Exceto minhas próprias memórias. As memórias que Roland tinha suprimido
de mim. Hipnotismo não era incomum na nossa linha de trabalho. Era só
outro estágio de inconsciência. Shamans que serviam como líderes religiosos
e curandeiros usavam técnicas similares em seus seguidores e pacientes para
curar corpo e alma. Roland e eu, como "shamans freelancers" não tínhamos
muita necessidade para isso. Mas eu tinha feito algumas curas e
recuperações de alma, então eu sabia o básico. Inclinando minha cabeça
contra a parede, eu fechei os olhos e pensei na tatuagem de Selene nas
minhas costas. Ela era minha conexão com a terra, o que fundamentava meu
corpo e alma e mente nesse mundo. Eu me foquei na imagem dela e no que
ela representava enquanto alterava meu estado mental devagar. Ao invés de
ir para o outro plano, eu cruzei interiormente, de volta ao meu longo alcance
de mim mesma e as partes do meu inconsciente que estavam enterradas.
Eu provavelmente não levei muito tempo, mas naquele estado, tudo era
cuidadosamente devagar. Eu passei por partes de mim, tanto memórias e a
verdade escondida igualmente. Todas as coisas que faziam de mim Eugenie
Markham. Eu me concentrei em raios, esperando que chamasse minha

atenção. Certamente eu ser atingida por um raio não seria algo que iria ficar
enterrado para sempre.
Ali. Um fraco puxão. Eu mergulhei nele, tentando ligar aquilo com a
memória. Era difícil. A imagem era escorregadia, como tentar segurar um
peixe. Cada vez que eu achava que tinha conseguido, ela escapava. Roland
tinha feito um bom trabalho. Firmando-me, eu lutei contra as camadas,
arranhando e lutando até ­
Eu acordei na cama.
Mas não era a cama da minha casa. Era uma cama diferente, uma cama
menor coberta com um conforto rosa. A cama da minha infância. Eu estava
deitada nela, olhando para cima, para o teto coberto de estrelas de plástico
como o que eu tinha na minha vida adulta. Era o meio da noite, e eu não
conseguia dormir. Eu já tinha insônia naquela época, como tenho agora.
Dessa vez, no entanto, era diferente. Outra coisa além da minha mente
barulhenta estava me mantendo acordada. Em algum lugar, lá fora, eu podia
ouvir uma voz me chamando. Não, não era uma voz exatamente, mas era um
puxão. Um puxão que eu não consegui ignorar. Saindo da cama, eu pus meus
pés nos tênis sujos e pus uma jaqueta leve por cima do meu pijama. No
corredor, a porta para o quarto de mamãe e Roland estava fechada. Eu
passei por ela o mais silenciosamente possível, descendo as escadas e então
a sai pela porta da frente.
Lá fora, o ar ainda estava quente. Era verão. As temperaturas de mais cedo
tinham sido de trinta e sete graus. Mesmo agora, elas tinham caído para
apenas 26 graus. Eu andei pela rua silenciosa da nossa vizinhança, passando
por todas as ruas e carros familiares. A cada passo, o chamado ficava mais
alto. Eu o segui, meus pés se movendo sozinhos. O chamado me levou para
longe da nossa rua, nosso bairro, e mesmo o pequeno subúrbio em que
vivíamos. Eu viagem longe das estradas principais, movendo por caminhos
que eu não sabia que existiam.
Então, depois de quase duas horas, eu parei. Eu não sabia onde eu estava.
No deserto, obviamente, porque isso e montanhas eram tudo que cercavam
Tucson. Os pés das montanhas eram maiores que minha casa, então eu devia
ter ido para o norte. Fora isso, não tinha como distinguir a paisagem. Cactos
e cactos gigantes se espalhavam ao meu redor em uma silenciosa cautela.

De repente, eu senti o ar ao meu redor mudar. Havia uma presença comigo.
Uma pessoa. Eu virei e vi um homem me observando, muito mais alto do que
aos doze anos. As feições dele eram normais; eu não conseguia fazer elas se
revelarem não importava o quanto eu me esforçasse. Ele era apenas uma
forma preta, crepitando de poder.
"Eugenie..."
Eu mandei para longe o poder que tinha me trazido aqui. Desesperada, eu
percebi que eu tinha que me afastar o mais rápido que pudesse. Mas eu já
não sabia mais o caminho de volta. A trilha que eu segui era um borrão.
Então, eu me afastei para longe, mas ele continuou vindo, me chamando.
Meus pés tropeçaram, e eu caí. Eu podia ver uma coroa na cabeça dele,
brilhando em prata e púrpura. "Venha," ele disse, estendendo seu braço para
me ajudar a levantar. "É hora de ir."
Eu estava presa. Indefesa e sem saída e sem opções. Eu nunca me senti tão
desesperada na minha jovem vida. Eu estava aterrorizada. Eu decidi lá e ali
que se eu sobrevivesse a isso, eu ia me certificar de nunca ficar indefesa de
novo. A mão dele tocou meu ombro, e eu gritei. Enquanto eu o fazia, uma
parte de mim alcançou além do meu corpo e agarrou o poder parado ao
nosso redor ­
Eu pisquei.
Vapor saia ao redor de mim na sauna, e eu me sentei tonta. Eu estive ali
tempo demais; era de se admirar que eu não tivesse desmaiado. Levantando,
eu tive que me segurar na parede para me segurar e fechei meus olhos. Meu
coração estava batendo forte por causa da visão, a visão que finalmente me
convenceu que tudo era verdade. Eu sabia ­ sabia com absoluta certeza ­
que o homem negro tinha sido o Rei Strom, meu pai. Eu podia sentir dentro
de mim. Em minha alma.
Sobrepujada, eu voltei a sentar, precisando de mais alguns momentos para
considerar tudo isso e entender minha atitude.
Ainda sim, quanto mais eu ficava sentada ali, mais eu comecei a me
desesperar. O Rei Storm era realmente meu pai.

E quanto ao resto da minha vida... bem, as coisas estavam más. E elas só
iriam ficar piores. Cada gentry excitado queria me engravidar; o resto
provavelmente ainda queria me matar. Eu nunca teria um momento de paz
de novo.
Minutos se passaram enquanto eu pensava sobre tudo isso, ficando cada vez
mais deprimida ­ assim como exausta. Eu me sentia fatigada, muito apática
para me importar agora. Qual era o ponto? Eu tinha desprezado meus pais
hoje. Eu desapontei Jasmine Delaney. Eu não tinha nada para esperar a não
ser uma vida de lutas e fugas. E porque eu sequer deveria me incomodar em
lutar mais? Nada importava. Eu estava indefesa. Eu deveria simplesmente
cruzar para o Outro mundo e me entregar. Pelo menos ia parar a agonia de ­
Eu abri meus olhos e sentei direito. O que havia de errado comigo?As coisas
estavam ruins, mas isso... isso não era natural.
Eu pisquei rapidamente, tentando ganhar foco enquanto eu respirava fundo.
Ali estava. Eu podia sentir. Uma grossa e invisível escuridão se envolvendo ao
meu redor. Ela me tocava, subindo pela minha pele. Ela estava tentando me
deixar para baixo, sugar minha energia. Toda minha esperança. Levantando,
não mais tonta, eu tirei meu roupão do gancho e o coloquei. Devagar, eu abri
a porta da sauna e enfiei a cabeça para fora. Eu não vi nada preocupante,
mas aquele sentimento frio continuava a me cercar. A luz quase parecia ter
diminuído mais escura do que deveria para essa hora da tarde. Eu cerrei os
olhos, tentando quebrar a ilusão, porque era isso que ela era.
Saindo completamente da sauna, eu tentei descobrir a fonte. A sauna estava
no centro da minha casa. Virei à esquerda para ir até a cozinha e a sala,
direto para o banheiro e os quartos. Minhas armas estavam no meu quarto;
era lá que eu queria estar. Mas se a coisa estava na frente da casa, eu não
queria virar minhas costas para ela. Finalmente, eu me contentei em colocar
minhas costas contra a parede do corredor e andar assim até o meu quarto.
A distância não era muita, mas quando você tem que caminhar centímetro
por centímetro, tudo parecia quilômetros. Rastejando, eu passei pela porta
fechada do quarto de Tim, agradecida por ele não estar ali. Ele sabia sobre
minhas aventuras shanamicas, mas isso não significa que eu queria expor ele
a elas.

A seguir veio o banheiro. Yeah, o único banheiro. A coisa sobre casinhas fofas
era a parte do "casinhas". Eu adorava todo o resto do lugar, mas da próxima
vez, eu ia me certificar que minha casa tivesse pelo menos tantos banheiros
quanto ocupantes. Tim e eu tínhamos entrado em umas brigas horríveis
quando ­
Ele me alcançou por de dentro do escuro banheiro, mas eu vi chegar com
minha visão periférica. Eu me abaixei e deslizei pelo corredor enquanto ele
se mexia. Um Gray Man. Esse estava no meu top três culpados pela
negatividade que minha casa tinha se tornado. Gray Men lançam uma aura
de desespero ao redor deles, se alimentando de energia física e sentimentos
positivos. Esse era, bem, cinza, é claro. Fora isso, ele parecia mais ou menos
humano, com olhos escuros e cabelo desordenadamente branco. Ele tinha
até se vestido, o que eu achei um plus já que outros monstros e alguns
gentry Elementais geralmente usando tanga ou nada, dependendo da força
deles. Considerando o que todo mundo queria fazer comigo, eu estava bem
feliz em manter genitálias cobertas.
Eu tentei ir até o quarto, mas o longo braço dele me alcançou e me agarrou
pelo cabelo. Eu gritei enquanto ele me arrastava em direção a ele, me
pressionando em seu corpo. Pelo menos ele não disse nada sugestivo. Gray
Men era aparentemente fortes e silenciosos. Mas do jeito que ele agarrou
meu roupão deixou pouco para imaginar o que ele queria fazer. Lutando
contra o aperto forte dele, eu tentei me soltar, mas na maior parte só
consegui soltar ainda mais meu roupão. Xingando, eu decidi que se eu não
podia me afastar, então eu ia pelo menos atrasar as amorosas ações. Meu
joelho se sobressaiu em um duro movimento, acertando ele na virilha.
O aperto dele em mim se soltou, e ele gemeu enquanto uma mão
instintivamente foi para a o meio das pernas dele. Eu me afastei dele, ainda
tentando chegar ao meu quarto. Decidindo que ele podia ignorar a dor, ele
se lançou na minha direção, ele me empurrou contra a parede para que eu
ficasse olhando para ela. Usando aquela superfície como uma limitação, ele
me segurou com um braço contra ele enquanto o outro terminava de puxar
meu roupão.
Eu senti a língua dele lamber meu pescoço, mas a verdadeira natureza
nojenta daquilo não podia realmente penetrar. Eu estava no modo de

sobrevivência agora. Eu lutei contra ele, esperando dificultar para ele tirar
suas calças. Estar daquele jeito me deu algumas opções para escapar.
Movendo minhas mãos contra a parede, eu tateei por algo ­ qualquer coisa ­
que eu pudesse usar como arma.
Então minhas mãos tocaram um pequeno espelho decorativo que era da
minha avó. Não era muito grande, mas sua moldura tinha a forma do sol ­
com raios afiados de metal. Não apenas isso havia raios de prata. Agarrando
ele da parede, eu o segurei com minha mão esquerda, que não era minha
mão dominante, mas a mão que eu usava meu anel de ametista. A ametista
podia cortar através de mágica e glamour e também focar minhas próprias
intenções. Não era tão bom quanto uma varinha, mas ia ter que bastar.
Concentrando-me na pedra, eu deixei minha vontade entrar nela. A pedra
amplificou minha energia e então a enviou para a moldura de prata. Em um
tão movimento fluido quanto consegui confinar em meu estado, eu balancei
o espelho para trás, enterrando ele em qualquer carne que eu consegui
encontrar.
O Gray Man gritou, e eu senti o cheiro de algo queimando. Ele me soltou, e
eu virei, sem perder tempo, embora eu tenha percebido que eu joguei mais
energia naquela prata do que eu deveria ter sido capaz. O espelho tinha
ficado preso no lado dele e estava fumegando. Não ia matar ele, mas ter ele
preso ali era bem sério. Ele ergueu o braço com dedos hesitantes, sabendo
que ele tinha que tocar ele para tirar. Eu corri para meu quarto.
Ele estava a apenas segundos atrás de mim, mas foi tudo o que eu precisei
para me armar no quarto. Ele veio correndo atrás de mim, mas dessa vez fui
eu que ataquei. Eu usei o athame de prata para desenhar o símbolo da morte
no peito dele, conseguindo um grito tortuoso dele. Ferro era para banir os
gentry, mas qualquer que fosse a razão, prata feria todas as outras coisas do
Outro mundo. Eu não sabia por que, mas eu não questionei também.
Especialmente quando ela tinha se provado tão útil.
Ferido ou não, ele me empurrou para trás. Eu cai na minha cama, a cabeça
batendo contra a parede. Isso me atrasou, mas eu já tinha começado a me
conectar além desse mundo. Eu me estiquei, toquei o mundo da morte, e
enviei aquela conexão através da varinha. Ela foi até o Gray Man, o sugando.

Ele lutou, batendo como se sua ação física pudesse fazer uma luta. Não pode.
Um momento depois, ele desapareceu.
Quase imediatamente, o feitiço de desespero na minha casa desapareceu.
Era como emergir da água. Eu podia respirar de novo. Eu deixei meu corpo
desmoronar e relaxar. Eu queria inclinar minha cabeça contra a parede, mas
eu sabia que isso não seria muito bom depois do forte golpe que ela tinha
recebido.
Um som alto saiu da parte da frente da minha casa, como se a porta
estivesse sendo chutada para abrir. Eu levantei, adrenalina subindo para um
segundo round enquanto eu ouvi passos pelo corredor. Eu estava indo pegar
a arma quando uma voz familiar gritou. "Eugenie?" Relaxando ­ só um pouco
­ eu observei enquanto Kiyo entrava no meu quarto.

Capítulo Treze
"Você está atrasado," eu disse a ele, tentando agir como se meu roupão não
estivesse no chão do corredor. Ele olhou ao redor, e eu não consegui me
impedir de dar um pequeno suspiro de prazer. Cada pedaço dele estava
carregado e pronto, aquele corpo musculoso estava numa posição de luta.
Os olhos negros dele mantinham uma expressão dura e selvagem, enquanto
ele avaliava as ameaças. Ele era magnífico. Ele parecia ser capaz de sozinho,
derrubar qualquer exército lá e aqui. Eu envolvi meus braços ao meu redor,
nem por causa do frio e nem por causa da modéstia.
"Eu estava andando na sua garagem e senti algo... algo negro." O corpo dele
relaxou a fúria animal nos olhos dele substituída por uma sensualidade como
se ele tivesse notado pela primeira vez que eu estava nua.
"Um Gray Man. Ele teve que ir, ele tinha um compromisso com Persephone."
Os lábios de Kiyo se torceram em um sorriso. "Você estava no banho?"
"Sauna. Eu o empalei com um espelho."
"Boa."
Encaramos-nos, uma forte tensão crescendo no ar entre nós.
"Bem," eu disse finalmente. "Obrigado por checar. Você pode sair agora."
"Eugenie ­ "
Minha confusão e luxúria tomaram seus lugares atrás da minha indignação.
"Eu não tenho nada para dizer a você. Eu não quero dizer nada pra você.
Fora."
"Não até que eu tenho explicado tudo."
"Como o que? Como você queria que eu ficasse grávida como todo mundo?"
Ele piscou, claramente surpreso. "Eu ­ o que? Não. É claro que não. Pelo
amor de Deus, eu usei uma camisinha."

"Yeah, eu sei. Eu estava lá." Eu podia ouvir o mau humor irracional na minha
voz. "Porque outro motivo você teria feito aquilo, então?"
Os olhos dele viajaram do meu rosto para todo o meu corpo, e então de
volta para o meu rosto. "Porque você acha?"
Eu engoli, tentando ignorar o calor deixado por onde o olhar dele tinha me
tocado. "Ok. Eu entendo a mecânica disso. Mas você não pode ficar parado
aí e me dizer que você estar naquele bar foi uma coincidência."
"Não. Não foi." ele disse simplesmente.
Eu esperei por mais. "Só isso?"
Ele suspirou e se inclinou contra a parede. "Um amigo me pediu para te
encontrar e te marcar para que eu pudesse rastrear você. Eu não sabia
porque, eu não fazia ideia de quem era você na época."
"O que? Alguém te disse para dormir comigo?"
"Er, não. Isso foi eu mesmo, um, improviso. Eu podia ter marcado você de
outras formas." Ele sorriu significativamente. "Mas você era muito charmosa
e bonita."
"Hey! Não use essa mágica sexual de raposa comigo. Ela já causou problemas
o bastante. Quem te disse para fazer aquilo? Para me marcar?"
O sorriso flertador sumiu. Silêncio.
"Olha, você deveria ser o advogado super honesto. Se você não vai mais
jogar assim, então eu fui chutar sua bunda daqui."
Um vislumbre de divertimento passou pelos olhos dele. "Eu acho que eu iria
gostar disso." Ele pausou. Finalmente: "Ninguém que você conheça. O nome
dela é Maiwenn."
"A Rainha de Willow." Eu fiquei satisfeita em ver a surpresa dele. "Eu sei mais
sobre os gentry do que você pensa."
"Aparentemente. Quando ela descobriu quem você era, ela queria observar
você e descobrir onde você estava em seu destino ­ sobre a profecia do Rei
Strom."

Eu encontrei o olhar questionador dele com incredulidade. "Você está
realmente me perguntando? Você acha que eu quero ver os gentry tomar o
mundo?"
"Não, na verdade não. Mas Maiwenn queria ter certeza da sua posição. Ela
se opôs ao Rei Strom antes e não tem desejo de ver uma invasão. Ela prefere
colocar recursos no Outro mundo, em ficar lá e fazer de lá um lar."
"Moça inteligente," eu disse amargamente. "Eu queria que todos ficassem
lá."
"Não bata no Outro mundo. Ele tem suas vantagens."
"Yeah? E daí, o que, você se considera um deles?"
"Eu me considero parte dos dois mundos. É quem eu sou. É quem você é
também."
"Não. Eu não sou parte daquele mundo." Eu olhei Além dele sem realmente
ver nada, de repente me sentindo cansada. "Às vezes eu nem me sinto parte
desse mundo."
Ele cruzou a distância entre nós e sentou na cama. Aqueles olhos escuros
brilhavam de preocupação. "Não diga isso."
Eu desviei o olhar para que ele não visse meus olhos ficando molhados. "Eu
não sei mais o que está acontecendo. Tudo... tudo mudou. Eu não posso virar
sem alguém tentar me estuprar. Eu não posso confiar nas pessoas que eu
amo." Eu murmurei em resposta a ele. "Eu não posso confiar em você." A
mão dele se esticou e tocou minha bochecha. "Sim, você pode. Eugenie, eu
não dormi com você para te engravidar. Eu nem dormi com você só porque
você é gostosa ­ embora esse definitivamente tenha sido um motivo. Eu
gostei de você. Eu ainda gosto de você. Eu quero que a gente tenha algo."
Ele moveu suas mãos pela minha bochecha, para o meu ombro, e então para
meu braço. Os dedos dele preguiçosamente traçam as linhas da cobra de
Hecate. Calafrios passaram pela minha pele.

"Não olhe para mim assim. Eu não quero engravidar você."
"A tecnologia dos contraceptivos é uma coisa maravilhosa."
"Eu não posso me envolver com você."
"Porque não?"
As palavras doeram ao sair. "Porque... por causa do que você é..."
A mão dele caiu. "Sou o mesmo ­ "
"Eu sei, eu sei. O mesmo que eu. Kiyo, você tem que entender... eu tenho
muita coisa pra lidar agora. Eu só... bem, eu só não posso. Ainda não.
Talvez..." Eu olhei para ele, para a gentil e inteligente face dele, para o suave
corpo tão perto de mim. "Talvez algum dia, nós possamos..."
Algo em meu rosto deve ter revelado meus sentimentos, que não importava
o quão assustada eu estava por ficar tão perto dele, eu ainda gostava e
queria ele. Aquele velho sorriso travesso apareceu no rosto dele, e a mão
dele segurou meu queixo. Ele pressionou seus lábios contra minha bochecha.
"Então me deixe ser seu amigo," ele sussurrou.
Eu fechei meus olhos e deixei o calor dele me envolver. "Amigos não
respiram em minha orelha desse jeito."
"Vamos ser amigos especiais."
"Kiyo ­"
Ele se afastou um pouco, ainda sorrindo. "Sério, Eugenie. Se não podemos
ser amantes, eu ainda quero estar na sua vida. Eu quero te ajudar nisso. Eu
quero proteger você."
Eu endureci, e minhas velhas respostas inteligentes vieram na minha mente
através do veneno emocional. "Eu não preciso de proteção."
"Você faz ideia do quão ruim vai ficar pra você?"
"Eu lidei até agora. Eu vou lidar de novo."

"Deus, você é incrível." Ele falou em admiração. "Mas você também é
irritantemente difícil. Deixe alguém ajudar você. Deixe-me ajudar você."
Eu olhei para frente. A expressão dele escureceu.
"Eles vão vir atrás de você! Você acha que eu posso não fazer nada quando
pessoas estão tentando machucar e estuprar você?"
O calor na voz dele queimou em mim. Ele não estava bravo comigo; ele
estava bravo por mim. Ele me considerava de uma forma que ninguém tinha
considerado antes, uma expressão que dizia que eu significa tanto para ele
que ele enfrentaria o próprio inferno para me proteger. Essa intensidade se
envolveu ao meu redor. Animou-me. Assustou-me. Eu não sabia o que fazer
com ela.
De novo, ele leu meu rosto. Dessa vez, ele me puxou, esmagando meu corpo
contra o dele. Eu não lutei. "Deixe-me ajudar você." ele repetiu.
"Como? Você mora à uma hora e meia de distância."
Ele pressionou seu rosto contra meu cabelo. "Eu viajo."
"Oh pelo amor de Deu ­"
"Eu falo sério. Eu sei que não posso estar com você todo o tempo, mas vou
fazer o que puder."
"Você vai me rastrear como um guarda costas ou algo assim?
"Eu faço isso como uma raposa se te faz sentir melhor."
Eu ri apesar de mim mesma, segurando ele mais forte. Eu sabia que não
deveríamos estar nos abraçando daquela forma, mas honestamente... depois
de tudo que aconteceu, era reconfortante. E excitante também. Mas na
maior parte reconfortante.
"Como é afinal?"
"Como é o que?"
"Ser uma raposa. É estranho?"

"Eu não sei. Eu sempre fui assim. É a única coisa que eu conheço."
"Yeah, mas... porque não ficar humano o tempo todo?"
"Sou mais forte como raposa. É útil numa briga."
"Você não é muito surrado como humano."
"As mulheres acham raposas fofas."
"Não tão fofas." eu resmunguei. Eu podia sentir o sorriso dele.
"É uma boa coisa deixar seus instintos assumirem."
"Que instintos?"
Em um movimento, ele tinha me virado de costas. As mãos dele seguravam
as minhas para baixo enquanto o corpo dele pressionava o resto de mim.
Aqueles lábios estavam a alguns centímetros dos meus.
"Todos eles," ele rosnou.
Minha respiração estava rápida, e uma voz no fundo da minha cabeça estava
gritando, "Hey! Lembra como você não queria se envolver com pessoas do
Outro mundo?" Eu sabia que aquela voz estava certa, mas era meio difícil
prestar atenção quando meu corpo estava derretendo contra o dele e as
mãos dele tinham deslizado para o lado dos meus seios.
"Eu não acho que amigos deveriam ficar deitados desse jeito."
"Eu sei." ele disse.
"Ou guarda costas."
"Eu sei."
"Ou veterinários"
"Nisso eu discordo."
Ele esmagou sua boca na minha, e foi poderoso e faminto e furioso e
maravilhoso. Eu não conseguia pensar ou fazer nada coerente naquele
momento, só deixar que ele continuasse a me beijar e me beijar.

Finalmente ele se afastou. Ele sentou, e eu pude ver o corpo dele tremer. O
olhar dele ainda era faminto e ansioso, e havia uma luta visível dentro dele,
um aviso de duas metades. Uma deve ter ganhado, porque ele respirou
fundo, e aquela vontade animal dele sumiu ­ um pouco ­ dele.
"Eu preciso ir," ele disse finalmente. "Eu tenho que ir trabalhar por duas
horas."
"Ok."
Nós encaramos por um longo tempo. Eu puxei um lençol, o deixando e cobrir
parte de mim. Um sorriso iluminou os traços dele.
"Obrigado. Isso ajuda." Ele levantou e se moveu em direção à porta. "Hey,
você se importaria de se encontrar com Maiwenn? Ela quer falar
pessoalmente com você, ver como você é."
"Você parece bem intimo dela," eu disse. As palavras saíram mais afiadas do
que eu pretendia, mas ele parecia inabalável.
"Ela é uma boa amiga. Ela pode ser uma boa amiga sua também."
"Ela é forte o bastante para vir aqui?" ele acenou. "Se ela o fizer, eu encontro
ela. Eu não estou muito ansiosa para ir pra lá tão cedo."
"Eu vou dizer a ela."
Ele deu alguns passos para fora da porta, e dessa vez eu chamei ele. "Hey...
Kiyo."
"Yeah?"
"Todas aquelas pessoas e... coisas estão vindo atrás de mim porque eles
acham que eu vou ser a mãe de Damien28 ou algo assim... mas sério, você
28 Ela está se referindo ao filme The Omen (no Brasil e em Portugal, A Profecia) é uma
série de filmes
que se iniciou em 1976, no filme homônimo baseado no livro de David Seltzer. O
primeiro filme conta a
infância de Damien Thorn trocado após o seu nascimento pelo filho natimorto de
Robert Thorn,
embaixador americano no Reino Unido. Damien agora tem cinco anos de idade. O que
o diplomata e sua
família não sabem é que ele é na verdade filho de Satã, nascido de um chacal na sexta
hora do sexto dia
do sexto mês, e destinado a ser o Anticristo. Um padre que sabe da verdade sobre
Damien alerta um
cético Robert sobre o que seu filho realmente é. Robert só começa a acreditar no aviso
do padre após
acha mesmo que isso é verdade? Você realmente acredita que essa profecia
poderia acontecer? Roland ­ meu padrasto ­ diz que profecias são algo
comum no Outro mundo."
"Elas são." Kiyo disse devagar, uma leve ruga entre os olhos dele enquanto
ele pensava. "E a maioria não se torna realidade. Mas várias se tornam,
muito mais do que você acha, crescendo lá. O negócio sobre profecias é
que... bem, as pessoas as vezes lêem as coisas erradas nelas. Ou, tentando
impedi-las, só acabam fazendo a profecia virar realidade."
Eu tremi meio que desejando que ele tivesse dito que profecias era um
bando de mentiras. "Você quer dizer como Oedipus29? Como o pai dele se
livrou dele para poder derrotar a profecia?"
"Exatamente. Fazer isso só acabou a fazendo virar realidade." Vendo meu
olhar negro, ele sorriu.
"Hey, não se preocupe. Eu te disse a maior parte não se torna realidade. E
além do mais, você não está tentando ter filhos, então não tem nada para se
preocupar. Se concentre no agora."
Eu dei a ele um sorriso hesitante, desejando que ele tivesse razão.
"Obrigado."
Ele segurou meu olhar por alguns segundos antes de sair do quarto, só para
voltar um momento depois com um espelho queimado. Ele o colocou na
cômoda, o segurando com desprazer.
"Desculpe por não ter estado aqui mais cedo."
"Hey," eu disse, exibindo uma vangloria, "Eu te disse que posso cuidar de
mim mesma."
Aqueles olhos negros brilharam. "Eu sei. Você é uma mulher perigosa."
Eu não tinha certeza se ele tinha se referido a minhas habilidades de luta ou
outra coisa.
uma série de mortes bizarras de pessoas ligadas de alguma forma à Damien - a
começar pela sua
primeira babá, o próprio padre em questão e a esposa de Robert.
29 No Brasil conhecemos essa lenda como "Édipo", onde ele deveria ter morto por um
empregado de
seu pai, que por dó não o fez, por causa de uma profecia, no fim acaba matando o seu
pai, casando com
sua mãe.

Quando ele saiu, eu deitei na cama com um suspiro, pensando que talvez
não fosse me mexer por uma semana. As coisas estavam ficando cada vez
mais estranhas por aqui.
De repente eu senti uma fraca pressão crescer no quarto. Eu sentei direito.
Olhos vermelhos apareceram diante de mim eu um canto.
"Volusian? Eu não convoquei você."
"Você nos deu permissão para vir se tivéssemos informações."
"Yeah. Eu suponho que tenha dado. Eu não pensei que algum de vocês fosse
de fato me ouvir. O que aconteceu?"
"Eu venho te dizer que o interesse do Outro mundo em você aumentou."
Eu o encarei ele idiotamente por um momento, então apontei para o athame
com sangue que eu usei no Gray Man. "Você acha?"
Ele balançou a cabeça. "Mais do que esses ataques dispersos. Antes, outros
estavam interessados em você simplesmente por causa da sua herança.
Agora, depois de ver você... alguns estão ainda mais excitados. Eles acham
você... atraente." Eu percebi que o conceito era confuso para ele.
"Ótimo. Agora eu sou fértil e gostosa. Então o que isso significa? Eu deveria
esperar ataques diários?"
"Mais como... ataques organizados."
"Grupos?"
"Pior."
"Pior que um grupo de caras tentando transar comigo? Como?"
"Por agora, só criaturas e gentry que podem cruzar em forma física ou
Elemental vão tentar. Mas estamos a semanas do Beltane30, mestra. Quando
as portas se abrirem..."
"Jesus," eu perdi o fôlego. "Tudo com um pau vai vir procurar por mim."
30 Beltane é um festival da fertilidade, simbolizando a união entre as energias
masculina e feminina,
onde os pagãos comemoram o casamento dos Deuses.

Ele não se incomodou em responder. Mas quando eu não disse mais nada,
ele perguntou, "O que você vai fazer?"
"O que você acha? O mesmo que tenho feito. Eu vou lutar com todos eles."
Ele ficou quieto, mas eu podia sentir a desaprovação dele.
"O que mais você espera que eu faça? Submeta-me?"
"Eu espero que você não fique sentada esperando o inevitável. Você pode
muito bem estar prestes a ser capturada. Sempre ficar na defensiva não vai
te levar a lugar nenhum; eventualmente alguém vai dominar você."
Eu ri sem achar nada engraçado. "Então, o que, eu vou agir ofensivamente?
Ir até lá e começar a derrubar aleatoriamente gentry e espíritos?"
"Não. Você começa a reivindicar sua herança. Eles te atacam porque você
permite, porque você chuta um e então espera outro. No tempo dele, o
reino dele se expandia mais do que o de qualquer monarca atual. O reino
dele pode não existir mais, mas o legado dele te faz da realeza. Se você agir
assim, eles não te atacariam tão audaciosamente."
"Eu duvido que eles desistam de ser o pai do herdeiro do Rei Storm porque
eu comecei a me chamar de rainha ou princesa."
"Oh, eles ainda vão querer você, mas eles agiriam de forma diferente. Eles se
aproximariam de você com respeito. Eles iam tentar te cortejar. Agora eles te
tratam apenas com desdém. Eles te tratam como uma vítima ­ um pedaço de
carne ­ que você se deixou tornar."
Eu não gostava da ideia de um bando de gentry me trazer flores e chocolate,
mas eu gostava mais do que estupro.
"Yeah, mas brincadeiras de lado, eu não posso ir lá e dizer, "Hey, eu sou a
filha do Rei Storm, me tratem com respeito."
"Bem," ele disse secamente. "seria um começo. No entanto, você vai mostrar
sua conexão com ele quando você parar de confiar nisso." Ele apontou para
minhas armas. "Eles fazem de você humana."
"Eu sou humana."
"Você é meio humana. Se você quer que eles te respeitem como um gentry,
você precisa lembrar a eles quem você é. Você precisa tirar o poder de
dentro de você, do legado do seu pai."
Eu pensei no que Roland tinha dito, sobre como ele tinha enterrado meu
poder de propósito. Fracos rastros da visão voltaram para mim, como eu
busquei poder logo antes dela acabar. "Não. Eu não vou usar magia gentry."
Volusian suspirou. Ele apontou para o espelho queimado. "Mestra, porque
você o usou como arma?"
"Porque o Gray Man me pegou desarmada."
"Se você estivesse controlando totalmente sua mágica, você não precisaria
de armas. Você poderia ter destruído ele assim que ele cruzou o seu
caminho."
Eu subi o lençol ao meu redor. A ideia de poder assim me assustava... e ainda
sim, no fundo, eu via seu apelo. Eu não gostava de ficar indefesa aos vintee
seis anos tanto quanto não gostava de ficar doze. Volusian sentiu isso.
"Sua verdadeira natureza sabe que estou certo. Ela anseia para ser
realizada."
"Se eu ceder a essa natureza, eu vou me tornar uma gentry."
"Você nunca será totalmente gentry ou humana. Isso você deve aceitar. Você
simplesmente deve pegar o melhor um do outro."
"Mesmo que eu quisesse fazer isso" ­ eu engoli ainda incerta se eu queria o
tipo de poder que ele estava falando - "eu não saberia nada sobre dominá-la.
Roland não pode me ensinar sobre mágica gentry."
"Então você vai ter que encontrar um professor gentry."
"Onde eu vou encontrar um que não vá tentar me estuprar pra início de
conversa? Eu não tenho nenhum amigo lá."
"Não tem?" Ele olhou pra mim com expectativa.
"Você se refere a Dorian."

"De todos os governantes do Outro mundo agora, somente ele ordenou seu
povo a te deixar em paz."
"Sério? Mas por quê? Ele mesmo me disse que quer ver a invasão do Rei
Strom acontecer."
"A maioria acredita que ele deu a ordem simplesmente porque ele te quer
para si. Eu, no entanto, suspeito que ele também aja em algum ridículo senso
de altruísmo ­ e seu próprio orgulho. É claro, alguns do povo não vão prestar
atenção no aviso, mas você vai encontrar menos te atacando do que os
outros. Como Aeson e os seguidores dele, por exemplo." Aparentemente
Aeson estava vivo afinal de contas. Eu me esqueci de perguntar a Kiyo sobre
isso por causa de todo o drama.
"Ainda sim... Dorian fez uma tentativa, huh?" eu pensei no meu encontro
com ele. De todos os gentry, foi com ele que eu quase me senti confortável,
o que era assustador, considerando o quão estranho ele era. E ele tinha me
ajudado. "Mas eu sei que ele quer transar comigo também. Ele não fez disso
um segredo."
"É claro que ele quer. E é por isso que ele vai ajudar você. Ele vai te ajudar
porque ele pensa que vai te levar para cama dele. E porque ser próximo a
você irá impressionar os rivais a aliados dele igualmente. Eles vão pensar que
vocês são amantes, mesmo que não forem. Ele vai gostar disso."
Você vai voltar para mim. Você não será capaz de se impedir. Eu tremi, e
Volusian continuou: "Você também vai se beneficiar. Vá até ele como igual, e
ele vai te tratar como um. A atitude dele vai influenciar outros."
"Se eu fizer isso, eu vou ter cruzado um longo caminho entre ter sido temida
pelos gentry a me aconchegar com um por razões políticas. Esse é um belo
salto."
"Na verdade não. Não se você considerar o quão longe você chegou desde
sua viagem a Aeson."
"Isso é falar o óbvio." Eu esfreguei meus olhos. "Eu não sei, Volusian. Eu
ainda não sei se estou pronta para me aproximar de Dorian. Eu preciso
pensar."

"Como minha mestra desejar. Mas eu te aconselharia a pensar rápido.
Decida antes do Beltane. Se aliar com Dorian ira oferecer tanto benefícios
políticos quanto mágicos."
"Anotado. Obrigado pelo update. E pelo conselho."
Ele fez uma reverência, e eu levantei para mandar ele de volta. Antes de eu
fazer isso, eu não consegui me impedir de mexer com ele. Eu ainda estava
nua afinal de contas.
"Hey, Volusian, você não estava me checando, estava?"
Ele me deu o olhar que era sua marca registrada. "Eu te asseguro, mestra,
que o único sentimento que sua pele nua causa em mim é um lembrete do
quão fácil será cortá-la."
Eu ri. Se não pelo fato dele estava falando sério, ele era engraçado

Capítulo Quartoze
Eu vi Kiyo algumas vezes na semana seguinte. Uma dessas vezes, eu estava
fora em um serviço, fazendo um exorcismo que acabou sendo uma
armadilha. A casa que eu fui não tinha nenhum espírito, mas um Asag: uma
criatura demoníaca que literalmente tinha um corpo como de uma pedra.
Kiyo tinha aparecido no meio da luta, e embora eu achasse que estava
lidando bem com a situação, a ajuda dele apressou as coisas. Ele não usou
nenhuma arma como eu; ele só usava o corpo e força física. Observar ele se
mover era quase hipnótico, como admirar uma dança.
As outras aparições dele foram similares, aparecendo quando necessário e
então recuando se eu quisesse. Uma vez, eu relutantemente concordei em
me lançar numa luta. Ele me observou com aqueles olhos famintos o tempo
todo, mas todo o resto foi amigável e fácil entre nós. Foi como quando nos
conhecemos no bar, aquela provocação alegre e conexão - enfatizada por
tensão sexual.
Todas as outras vezes que eu vi ele, ele me seguia como uma raposa. E, por
mais que eu odiasse admitir... ele tinha razão. Ele era bem fofo.
A vida estava cheia agora. Enquanto que antes eu tinha talvez só um ou dois
trabalhos por semana, agora eu tinha pelo menos um todo dia.
Aparentemente os gentry e as outras criaturas que esperavam pegar um
pedaço de mim perceberam que ele não tinha que me procurar; eu iria até
eles se eles incomodassem os humanos certos. Era irritante, para dizer o
mínimo ­ e exaustivo. É claro, desde que essas lutas ocorriam através de
clientes e contratos de trabalho, eu era paga por elas. Tornaram-se algumas
semanas bem ricas, embora eu me sentisse um pouco mal já que meus
clientes nunca teriam que pagar se não fosse por mim.
Eu acordei algumas semanas antes do Beltane, dolorida e exausta. Eu tive
dois trabalhos e uma luta "não programa" ontem à noite. Encarnado meu
teto, o sol da manhã filtrado em formas engraçadas através da cortina, eu
sonolenta fiquei me perguntando se eu seria capaz de manter esse ritmo. Eu
iria perder para o Outro mundo não através de um encontro com alguém,
mas simplesmente via minha própria fadiga.

Eu andei com dificuldade até a cozinha e não encontrei nenhuma oferta
matinal de Tim. Ele deve ter passado a noite com suas groupies. Forçada a
fazer meu próprio café, eu coloquei dois Pop-Tarts31* de chocolate na
torradeira e fiz o café enquanto eles cozinhavam. Olhando para a mesa, eu vi
o display do meu celular mostrar que eu perdi ligações. Eu o desliguei,
porque as ligações eram sempre de Lara, e eu não estava mais a fim de ouvir
elas. Ela ou queria me oferecer outro trabalho ou me dizer que Wil Delaney
tinha deixado outra mensagem.
Eu estava na metade do meu segundo Pop-Tarts quando minha mãe
apareceu. Eu não a via desde o confronto. Por um momento, eu considerei
não a deixarela entrar, mas eu prontamente deixei essa ideia de lado.
Ela era minha mãe, afinal de contas. Ela me amava. Não importava o que
aconteceu eu não podia esquecer essa verdade. Foi ela que colocou antiséptico
nos meus arranhões quando eu era pequena ­ e não tão pequena ­ e
tentou sem sucesso me fazer interessar por compras e maquiagem quando
eu era adolescente. Ela tentou me proteger das verdades feias que todos
descobriam enquanto cresciam. Ela tentou me proteger do caminho que
Roland planejou para mim. E agora parecia que ela tentava me proteger do
meu próprio passado.
Olhando para trás, eu tentei juntar coisas que ela disse nas raras ocasiões
que eu conseguia a fazerela falar do meu pai biológico. Você está melhor
sem ele. Ele não era o tipo de homem que ninguém podia contar. Não
tínhamos uma relação saudável quando estávamos juntos. Tinha muita
emoção, muita intensidade... mas terminar foi melhor. Ele tinha ido embora
­ só aceite que ele nunca fará parte da sua vida.
Ela nunca mentiu exatamente, eu percebi, mas eu interpretei a história de
um jeito completamente diferente. Eu vi como um caso rápido, um em que
as emoções a cegaram. Como todas as coisas ruins que ela falou sobre o
caráter dele, eu simplesmente achei que um dia ele levantou e saiu incapaz
de lidar com as responsabilidades envolvidas em cuidar de mim. Mal sabia
que ele me queria de volta desesperadamente.
31 São pastéis totalmente assados e prontos para comer direto da caixa, ou pode
esquentá-los na torradeira.

Eu ofereci a ela um assento na mesa, entregando uma xícara de café ao
mesmo tempo. Ela a segurou com as duas mãos, entrelaçando os dedos com
um gesto nervoso. O cabelo dela estava trançado pelas costas dela hoje, e
ela usava uma blusa vermelha.
"Você parece cansada." ela disse depois de um longo silêncio.
Eu sorri. Era uma coisa tão de mãe dizer isso. "Yeah. Foi uma semana cheia."
"Você está dormindo o bastante?"
"Estou dormindo. Mais ou menos. É só muita correria quando estou
acordada, esse é o problema."
Ela olhou para cima, nervosamente encontrando meus olhos como se tivesse
medo do que podia encontrar.
"Ocupada... por causa do...?"
"Yeah," eu disse, sabendo ao que ela tinha se referido.
Ela olhou de volta para baixo. "Desculpe. Sinto muito sobre tudo isso."
Eu mergulhei um pedaço do meu Pop-Tart no meu café. "Não é sua culpa.
Você não decidiu ir para o Outro mundo."
"Não... mas você estava certa no outro dia. Foi errado esconder de você."
"Eu fui muito severa."
"Não." Os olhos dela encontraram os meus, estavam bem abertos e tristes.
"Eu acho que pensei... que se eu te mantivesse longe dele, talvez eu pudesse
fazer tudo sumir. Como se fingir o bastante fizesse que nunca tivesse
acontecido. Eu poderia esquecer também."
Eu não gostava de ver minha mãe triste. Eu não acho que ninguém gosta a
não ser que eles estejam tentando se vingar por alguma infância traumática.
Talvez a minha tivesse sido em certa extensão, mas refletindo, eu
provavelmente não podia comparar com o que tinha acontecido a ela. Eu
sabia que ela era mais velha quando foi levada, mas nos olhos da minha
mente, eu podia ver minha mãe parecendo como Jasmine, jovem e
assustada. Baseada nas histórias que ouvi sobre a notícia da paternidade do
Rei Strom, eu sempre imaginei minha concepção como o resultado de um

caso tórrido que meu pai, mais tarde abandonou. Mas não era isso. A
verdade era pior. Eu era uma criança de um estupro, nascida de violência e
abominação.
"Toda vez que você me vê... eu te lembro dele? Do que aconteceu?"
Compaixão passou pelo rosto dela. "Oh, baby, não. Você é a melhor coisa na
minha vida. Não pense assim."
"Eu pareço com ele? Todo mundo diz que puxei você."
Ela me estudou como se estivesse buscando a resposta, mas eu sabia que ela
já tinha que saber. "Seu cabelo, um pouco. Mas principalmente... seus olhos.
Você puxou os dele. Os olhos dele eram como..." Ela teve que limpar a
garganta para continuar. "Eles sempre mudavam. Eles eram de todo tom de
azul e cinza que você possa imaginar, dependendo do humor dele. Azul
celeste quando ele estava feliz. Azul escuro quando preocupado. Um cinza
profundo quando ele estava com raiva e prestes a lutar."
"E quanto à violeta?" eu perguntei.
"Violeta quando ele estava se sentindo... amoroso."
Eu nunca ouvi minha mãe ouvir essa palavra antes. Teria sido engraçado, mas
na maior parte me fez considerar acrescentar uma dose de whiskey no meu
café. Jesus. Eu tinha a cor dos olhos que meu pai tinha quando ele estava
afim. Tantas pessoas me elogiavam por meus olhos, ainda sim para ela, eles
tinham que trazer memórias que eram tudo menos amorosas, até onde ela
sabia.
"Desculpe mãe." Eu me mexi para pegar a mão dela, nosso primeiro contato
desde minha explosão na casa dela. "Deve ter sido tão horrível... mas havia ­
havia momentos, mesmo que poucos, quando você foi feliz? Ou pelo menos,
não tão infeliz?"
Certamente... certamente tinha que haver um momento quando nem tudo
foi ódio e pesar entre meus pais. Certamente eu não podia ter sido
concebida e nascido de tanta escuridão. Tinha que ter havido algo. Talvez ele
a tenha feito sorrir uma vez. Ou talvez ele tenha trazido a ela um presente...
como um colar recuperado depois de um saque ou pilhagem. Eu não sabia.
Só algo. Qualquer coisa.

"Não." A voz dela estava rouca. "Eu odiei tudo. Cada segundo."
Eu engoli o aperto na minha garganta, e de repente tudo que eu consegui
pensar foi em Jasmine. Jasmine. Mais do que cinco anos mais nova do que
minha mãe era. Jasmine foi submetida às mesmas coisas. Ela deveria ter
esses momentos de agonia também. Talvez a afeição deslocada dela por
Aeson fosse o único jeito de fugir. Talvez fosse melhor do que doer o tempo
todo. Eu não sabia. Eu fechei os olhos brevemente. Tudo o que eu podia ver
era minha mãe e Jasmine e Jasmine e minha mãe.
Eu abri meus olhos. "Não peguei Jasmine." Eu percebi que nunca disse a ela
quando eu fui conversar com ela. Brevemente, eu recontei os detalhes
essenciais. O rosto dela embranqueceu enquanto eu falava, e a dor crua dela
feriu algo dentro de mim. Jasmine como minha mãe. Minha mãe como
Jasmine.
"Oh, Deus," ela sussurrou quando eu terminei.
"Yeah, eu ­ "
Frio passou por mim. O mais fraco formigamento puxou minha pele
"Qual problema?" minha mãe perguntou, me vendo endurecer.
"Você pode sentir isso? O frio?"
Ela parecia confusa. "Não. Você está bem"?
Eu levantei. Ela não podia sentir porque não era uma coisa física. Era algo
além dos sentidos humanos. No balcão estava minhas athames, arma, e
varinha. Eu não ia a nenhum lugar na casa sem elas agora, nem mesmo para
o banheiro. Eu também não dormia em nada delicado demais. O topo ainda
era rendado e frágil, mas minhas calças de pijama era algodão com uma cinta
elástica. Eu soltei meu roupão na cadeira e considerei meu armamento.
Eu percebi que não era um gentry. Era um espírito ou demônio. Prata, então,
não ferro. A Glock já estava com um cartucho de prata, mas teria efeitos
questionáveis se o espírito tivesse pouca substância. Eu cuidadosamente a
coloquei sob o elástico da calça e então peguei o athame de prata e a
varinha.
"Fique aqui, mãe."

"Eugenie, o que ­ "
"Só fique aqui," eu comandei. "vá para debaixo da mesa."
Ela olhou para meu rosto e obedeceu. Eu acho que você não podia ser um
seqüestrado para o Outro mundo e casada com um shaman sem saber
quando levar esse tipo de coisa a sério.
Eu me movi devagar e firmemente em direção a sala porque era ali que a
sensação se centrava. Eu não ouvi nenhum barulho, mas o silêncio gritou
mais alto que qualquer som. Eu pus minhas costas contra parede, deslizando
por ela para espiar no canto. Nada.
O que quer que fosse não podia me ferir e permanecer invisível. Teria que
ficar substancial para causar algum dado. O estranho era que um espírito não
podia me engravidar, não como gentry ou alguns monstros podiam. Espíritos
estavam mortos, e era isso. Um me procurando parecia estranho.
Eu esperei as costas contra a ponta da porta enquanto eu espiava para sala.
O que quer que fosse acontecer ia acontecer aqui. Era como um vortex32.
Poder fluía para dentro e pra fora desse ponto.
Algo frio passou contra minha pele, e então uma mão se materializou, me
agarrando. Meus reflexos ganharam vida, e eu cortei o pulso do espírito com
o athame na minha outra mão. O espírito tinha substância o bastante para
sentir os efeitos do metal. Além do mais, o poder do athame se estendia
alem de desconforto tátil.
O espírito ­ uma coisa cinza parecida com uma bruxa ­ recuou, mas então eu
senti mais mãos frias atrás de mim e eu dei uma rápida olhada para trás.
Mais cinco espíritos ­ mais do que jamais tinha derrubado de uma vez. Eu
virei, mas a posição do meu atacante inicial era melhor, me segurando
solidamente. Eu não me soltei do aperto dele totalmente, mas eu lutei feito
louco, acidentalmente batendo numa mesa pequena com um vaso de
cerâmica nela. O vaso atingiu o chão e se espatifou em afiados fragmentos
coloridos.
O espírito me empurrou contra a parede, suas mãos esqueléticas apertando
minha garganta enquanto me encarava com olhos pretos vazios. Ele flutuava
32 Vortex é um programa de computador desenvolvido para a prática do Xadrez

de uma forma que, enquanto me mantinha presa, ficou fora do alcance do
athame. Mas não estava longe do alcance da minha varinha.
Seus companheiros fantasmagóricos se aproximaram, nos tocando,
enquanto meu oxigênio começou a acabar. Estrelas pretas brilhavam na
minha visão, e eu tentei me focar no que eu precisava fazer.
"Cuidado," avisou um dos que observava, "ou você vai matar ela."
Hecate, eu orei em minha cabeça, abra os portões. Prestes a desmaiar, eu
senti a cobra no meu braço formigar. Eu usei aquele poder, deixando os
limites da minha mente tocar o Outro mundo. As mãos na minha garganta
não me deixavam falar, mas as palavras de banimento queimavam em minha
mente. Era bom o bastante. O poder da varinha voou para o espírito que me
segurava. Ele percebeu tarde demais o que tinha acontecido e desapareceu
com um grito lastimoso. Um dos seus colegas começou a se mover em minha
direção e foi sugado do mesmo jeito. Os outros quatro mantiveram distância.
Enquanto isso, eu me afastei o máximo que pude. Eu precisava abrir os
portões de novo, mas meu corpo me informou que eu precisava de um
momento de recuperação antes de partir para segundo round. Minha
garganta doía por dentro onde o espírito tinha me sufocado, e a sala girava
enquanto eu me movia. Eu respirei fundo e abaladamente tentando
recuperar o que eu tinha perdido. Mas dois espíritos vieram para cima de
mim, mas hesitaram um pouco dessa vez, ainda mantendo espaço entre nós.
Eles me circulavam, como dançarinos os boxistas, cada um de nós
determinando o que o outro faria. E então, minha mãe saiu da cozinha
segurando meu athame de ferro. Gritando, ela o lançou contra as costas de
um dos espíritos, o cortando. Ferro feria gentry ­ não espíritos. Tudo que as
ações dela fizeram foi irritar aquilo. Ele virou levemente, e com um gesto
casual, a empurrou com força o bastante para jogá-la contra a parede mais
distante. Ela atingiu a parede e caiu sem se mexer.
Eu gritei em fúria, acusando os espíritos ao meu redor. Emoções fortes são
melhores que ataques físicos, mas não mentais, e eu perdi qualquer que
fosse o apego que eu tinha no Outro mundo. O athame causou algum dano
para um dos espíritos, mas o outro se esquivou. Ele me atingiu com força,
mas a adrenalina passando por mim não me deixou sentir. Ainda não. Eu
murmurei outro encanto para Hecate e senti o poder crescer de novo. O

espírito que tinha me jogado veio para frente. Os portões se abriram, e eu o
bani. Momentos mais tarde, seu companheiro ferido o seguiu. Sobravam
dois.
Um deles se lançou tentando me pegar. Eu me abaixei, acertando o chão,
onde eu meio que me arrastei meio que rolei para longe do aperto dele.
Minha conexão com o Outro mundo tinha escorregado de novo; eu precisava
dela de volta. Eu fiquei mandando eu me focar, mas então vi minha mãe
caída no canto. Eu não podia ignorar isso. Mas foi descuidado, e deu a uma
das mãos a abertura para agarrar minha varinha e me empurrar contra a
parede. A varinha caiu no chão. Um momento mais tarde, a outra mão do
espírito virou meu outro pulso até que eu soltei o athame também. O último
espírito flutuou para cima e me jogou contra a parede. As paredes estavam
me irritando ultimamente.
Eles me pegaram agora, presa e indefesa e ferida. Mas eu não sabia
exatamente o que eles podiam fazer. Mais cedo eles se preocuparam em não
me matar, ainda sim eles não podiam ter um interesse romântico em mim. O
que eles podiam ­
A porta do meu pátio se abriu, e um Elemental entrou. Um Elemental feito
de lama, entre todas as coisas. O corpo dele era bem sólido, bem humano, e
bem macho. Gotejando, uma lama marrom acinzentada caia no meu carpete.
Eu renovei meus esforços fúteis para me soltar dos espíritos. As palavras de
Volusian voltaram para me assombrar. Ataques mais organizados. Os
espíritos não podiam transar comigo, mas um gentry Elemental podia. Ele
tinha enviado seus servos para me subjugar primeiro. Inteligente.
"Onde estão os outros?" perguntou o Elemental, com um rosto quase
cômico, tamanha a surpresa dele enquanto ele olhava ao redor.
"Ela os baniu, mestre." sussurrou um dos espíritos.
"Você realmente é letal, não é?" O Elemental se aproximou. "Eu não
acreditei nas histórias. Eu pensei que mandar esses seis era exagero. Ainda
sim. Acho que até você tem seus limites." Eu zombei dele.

"Não fale comigo sobre limites. Você nem consegue cruzar para esse mundo
com forma completa."
Um olhar de desprazer cruzou o rosto daquele rosto pingando e enlameado.
Poder era uma questão de orgulho entre os gentry. A incapacidade dele de
cruzar completamente provavelmente era um ponto doloroso. Estuprar-me
era sem duvidas uma forma de compensar todas as deficiências.
"Não vai importar," ele disse. "Assim que produzir o herdeiro do Rei Storm,
todos os gentry passaram para esse mundo, castigando a raça humana."
"Ok, Sr. Velho Testamento. Eu não posso acreditar que você acabou de falar
"produzir" e "castigar" na mesma frase."
"Tão brava e tão ousada. Ainda sim não vai ­ ow!"
Eu não consegui soltar a parte superior do meu corpo, mas o Elemental
estava perto o bastante, então eu chutei o corpo. Eu estava mirando na
virilha, como eu tinha feito com o Gray Man, mas acertei a coxa dele. Os
espíritos seguraram minhas pernas.
O Elemental estreitou seus olhos. "Você dificulta as coisas. Isso seria muito
mais fácil se você se submetesse."
"Não segure o fôlego."
"Ela vai se submeter, mestre," falou o espírito. "a mãe dela está deitada ali
no chão."
Eu endureci no aperto do espírito. "Não toque nela."
O Elemental virou e andou em direção a onde minha mãe tinha caído. Quase
gentilmente, ele se abaixou a e pegou nos braços. "Ela ainda está viva."
"Deixe ela em paz, seu bastardo!" eu gritei. Eu lutei com tanta força, que eu
senti como se meus braços fossem se rasgar dos meus ombros.
"Solte-a." ordenou o Elemental.
"Mestre ­ "

"Solte-a. Ela não vai fazer nada, porque ela sabe que se ela sequer der um
passo nessa direção," ­ a mão enlameada deslizou para garganta da minha
mão, deixando um rastro sujo onde quer que ele se movesse ­ "então eu
quebro o pescoço dela."
Os espíritos me soltaram. Eu não me mexi.
"Eu vou matar você," eu disse. Minha voz estava rouca de gritar e ficar
sufocada. "Eu vou rasgar você em pedaços antes de te enviar pro inferno."
"Dificilmente. Não se você quer que essa sobreviva. Venha," ele disse para
um dos seus servos. "Pegue ela." Houve uma troca, e agora o espírito
segurava minha mãe. "Se Odile Dark Swan sequer parecer ameaçadora, mate
essa mulher."
"Odile Dark Swan sempre parece ameaçadora." O espírito falou em uma voz
impassível e nada sarcástica. Aparentemente os servos desse Elemental
tinham um senso de humor tão bom quanto o meu.
"Você sabe ao que me refiro," surtou o Elemental. Ele se aproximou de mim,
então apenas alguns centímetros nos separavam. "agora. Eu vou deixar você
viver. Eu vou deixar sua mãe viver. Tudo o que você tem que fazer e não lutar
contra mim enquanto eu faço o que vim aqui fazer. Quando eu terminar,
vamos partir em paz. Você entendeu?"
Raiva e fúria estavam em mim, e eu podia sentir as lágrimas queimando a
minha visão.
Eu queria atacar e arrancar os olhos dele. Eu queria chutar entre as pernas
dele até que ninguém mais soubesse que ele era homem. Eu queria entregar
ele a Persephone em uma pilha de partes do corpo.
Mas eu estava assustada. Tão assustada que se eu sequer piscasse errado,
eles quebrassem minha mãe. Ela já estava pendurada inútil nos braços do
espírito como uma boneca de pano. Até onde eu sabia, ela podia estar
morta, mas algo me disse que ela não estava. Eu não podia apostar se ela
pudesse sobreviver. Então eu acenei em reconhecimento ao Elemental e
senti uma das lágrimas rolas por minha bochecha enquanto eu fazia isso.
"Bom." Ele exalou, e eu percebi que ele estava com tanto medo de mim
quanto eu dele. "Agora. Tire as roupas."

Bile subiu para minha garganta. Eu não conseguia oxigênio o bastante de
novo; era como se o ar tivesse ficado mais pesado e grosso ao meu redor.
Outra lágrima saiu do meu olho, e eu devagar baixei minha calça do pijama,
removendo a arma que eu não fui capaz de usar. Ocorreu-me brevemente
que eu provavelmente seria capaz de atirar no Elemental agora mesmo, mas
não seria rápido o bastante para salvar minha mãe.
O que importava? Se ele estava falando a verdade, eu ainda estaria viva se
eu pudesse agüentar isso. Eu estava tomando pílula. Eu provavelmente não
engravidaria. Eu só tinha que ficar deitada ali passiva enquanto essa grande
antropomórfica pilha de terra me tomava. As coisas podiam ser piores.
Provavelmente.
Eu olhei para ele, imaginando aquelas mãos em mim. O ar ficou mais pesado
ao meu redor, fazendo ficar ainda mais difícil de respirar. A luz pareceu ficar
mais escura, como tinha acontecido quando o espírito me sufocou, e eu me
perguntei se eu ia desmaiar. Talvez fosse mais fácil. Menos para lembrar.
"O resto," ele disse impacientemente. Ele também estava respirando com
dificuldade.
Eu movi meus dedos para a beira da minha calcinha. Eu tinha colocado uma
calcinha cinza confortável que tinha o corte de um biquíni. Elas eram boas,
mas não sexys. Elas não combinavam com o sutiã rosa. É claro, não
importava o Elemental o que eu usava. Desejo nu brilhava no rosto dele. Eu
olhei o corpo desfigurado e me esforcei pra não chorar. Eu sabia o que tinha
que fazer, mas eu não queria. Oh, Deus. Oh, Selene. Eu não queria que ele
me tocasse. Eu não queria que ele se pressionasse contra mim. Náusea rolou
no meu estômago, e eu me perguntei desesperadamente onde Kiyo estava.
Eu sabia que ele não podia me seguir 27/7, e de repente eu me arrependi
pelo comentário sobre a proteção dele. Eu desejei que ele estivesse aqui
agora. Eu precisava dele. Eu nunca me senti tão indefesa na minha vida
inteira, nem naquela longa-perdida memória. Não era um estado mental que
eu gostava.
Quando eu estava prestes a descer minha calcinha, uma batida de madeira
no vidro nos fez pular. O Elemental virou sua cabeça, e eu segui o olhar dele.
A porta do pátio estava aperta, e o vento estava soprando para dentro,

espalhando papéis e outros objetos. Ainda sim, lá fora, o sol brilhava e o céu
azul celeste de uma tarde primaveril não refletia tal perturbação.
"O que....?" começou o Elemental.
Aquele som afiado meio que tinha me tirado da minha raiva e medo, e eu de
repente fui capaz de notar os detalhes mais afiadamente. Eu podia ver tudo
com uma nova claridade. O ar estava realmente denso, a luz realmente
escura. Eu não tinha imaginado aquelas coisas. O irritado vento aumentava e
diminuía com minha respiração. Luzes brilhantes quebravam a fraca luz, e
todos gritamos enquanto ela dançava de um objeto para o outro. Ao mesmo
tempo, um rugido desafiante de um trovão encheu a sala, muito grande
muito alto para um lugar tão pequeno. Eu cobri meus ouvidos e cai no chão.
O Elemental virou para mim. "Faça parar."
"O que...?"
"É seu! Pare, ou vai matar todos nós."
Eu olhei ao redor e percebi que ele tinha razão. Eu não conseguia explicar,
mas eu estava conectada a tudo que estava acontecendo ali. A umidade que
crescia. O vento passando ao redor, espalhando as coisas. A carga elétrica no
ar.
Eu podia sentir, mas eu não sabia o que fazer com ela. Você é meu, eu tentei
dizer para aquilo, mas nada aconteceu. Isso não era como tentar controlar
poderes com uma varinha e um athame. Isso estava tanto dentro de mim
quanto fora de mim. Eu não conseguia impedir ele tanto quanto não podia
me impedir de sentir alegria, tristeza ou ódio.
O vento aumentou ainda mais, sua fúria crescendo. Um pedaço de vidro
voou na minha bochecha. "Eu não consigo controlar," eu sussurrei. "eu não
consigo."
O Elemental entrou em pânico. Assim como os espíritos. Onde um momento
atrás eu tinha me sentido fraca e indefesa, o medo deles fez o meu sumir. O
medo deles alimentou minha raiva, e eu alimentei a tempestade que
aumentava. Eu não conseguia controlar a tempestade, mas ela estava se
expandindo para fora de mim. Mais alguma coisa me atingiu no ombro, e

momentos depois, eu mal desviei de um livro que voou em direção a minha
cabeça.
Eu não conseguia controlar isso. Eu não sabia como. Eu não sabia nada a não
ser que eu queria viver e queria que minha mãe vivesse também.
Escuridão cercou a nós todos enquanto grandes nuvens enchiam a sala. Mais
raios dançavam ao redor, indiferente de onde eles viajavam. O Elemental
tinha razão. Eu iria matar um de ­
O raio atingiu o espírito que segurava minha mãe a forçando a cair no chão.
Ele gritou e gritou. Foi o som mais horrível que eu já ouvi. Era mais do que o
sino da morte, mais do que um grito de tortura. Eu cobri meus ouvidos de
novo, observando enquanto ele ficava cada vez mais brilhante, e então ficou
preto, e então nada.
O Elemental se afastou de mim, medo palpável saindo dele. Um
formigamento na minha pele disse o que ele ia fazer. Ele estava tão
assustado, que ele ia tentar cruzar de volta para o Outro mundo. Aqui e
agora, sem encruzilhadas. Fazer isso quase tinha me rasgado ao meio. De
jeito nenhum ele ia conseguir, não quando ele nem conseguia transitar para
esse mundo em sua forma natural.
Ele não pareceu se importar, no entanto, e de repente eu entrei em pânico. E
se ele conseguisse? E se por algum milagre ele escapasse? Eu não podia
deixar ele se safar, não depois do que ele tinha feito aqui, não depois do que
ele tentou fazer. Minha necessidade, minha ansiedade... ambos cresceram,
mas eu não tinha como focar elas. Eu não fazia ideia do que tinha acontecido
a minhas armas na loucura. Um raio destruiu um alto falante ao meu lado, e
som feio fez minha orelha ficar surda.
Mais raios caíram tão forte e rapidamente que eu não sabia dizer o que era
real e o que era uma imagem atrasada. Em algum lugar, sobre o trovão, eu
ouvi o Elemental gritando, embora eu não conseguisse mais vê-lo. Não foi
tão horrível quanto o grito dos espíritos tinha sido, mas ainda fez minha pele
se arrepiar. Trovão acertou mais alguma coisa perto de mim, e os pedaços
afiados do que quer que aquilo fosse voaram no meu braço.

Eu iria morrer, eu percebi. Com os espíritos. Com o Elemental. Com minha
mãe. Quem ia imaginar que os espíritos que eu tinha acabado de banir para o
Outro mundo seriam os sortudos?
Eu enterrei meu rosto em minhas mãos tentando bloquear o que eu criei.
Não funcionou. Era quase como se os trovões e nuvens existissem em minha
mente tanto quanto na sala. Eu apertei meus olhos com mais força, tanto
que eles doeram. Mas nada mudou. O vento bateu contra mim, o trovão deu
choques na minha casa. Dominando tudo em escuridão ­ e em luz ­
enquanto o trovão e os raios vinham e iam.
Escuridão, luz.
Escuridão, luz.
Escuridão.

Capítulo Quinze
Eu não me importo com quantos anos você tem ou o quão durão você é.
Nada, absolutamente nada, pode substituir a sua mãe cuidar de você quando
você está doente.
Sentir uma fria e molhada toalha tocar minha cabeça, e o som familiar de um
sussurro mal penetrando meu cansado cérebro. Eu abri meus olhos e vi as
mesmas formas engraçadas formadas pelo sol através das minhas cortinas
no teto do meu quarto. Só que dessa vez, suas posições mudaram, suas cores
escureceram um laranja mais escuro.
A umidade de repente parou.
"Eugenie?"
"Mãe." eu resmunguei. Minha garganta parecia rasgada e seca.
Ela se moveu no meu campo de visão, o resto dela esticado em preocupação.
Eu não podia acreditar. Ela parecia quase completamente normal. O cabelo
dela tinha um visual um pouco escabelado, e eu podia ver alguns
hematomas. Fora isso, ela parecia bem, não como se ela tivesse acabado de
agüentar um ataca paranormal e um subseqüente redemoinho induzido por
mágica. Por apenas um momento, eu questionei minhas próprias memórias.
Eu tinha imaginado o que havia acontecido?Tinha sido um truque ou uma
visão? Não. Eu me sentia uma merda. Nenhuma ilusão podia causar essa dor.
"Você está bem?" eu perguntei em dúvida.
Ela acenou. "Bem. E quanto a você?"
Eu tentei fazer contato com os músculos em meu corpo. Eles me falar pra
deixar eles em paz.
"Estou com dor."
Ela ajustou a toalha em minha cabeça, deixando ela mais fracionariamente
perfeita. Enquanto ela se inclinava, uma mecha do cabelo dela deslizou para
frente, e eu vi marcas de dedo enlameadas no pescoço dela. Não.

Definitivamente não foi minha imaginação.
"Eu liguei para Roland. Ele estava em Flagstaff com Bill. Ele está vindo para
cá agora ­ deve chegar aqui em algumas horas."
"Mãe... como você se recuperou?"
"Como assim?"
"Você estava realmente machucada por causa daqueles espíritos. Você não
lembra?"
"Eu fiquei um pouco abatida, mas nada pior. Nada como você." Ela franziu
me dando um pequeno suspiro. "Deus, como eu queria que você fosse uma
advogada. Ou talvez farmacêutica."
"O que você lembra que aconteceu?"
"Não muito," ela admitiu. "Eu lembro ir atrás de uma daquelas... criaturas.
Depois disso, é um borrão. Eu devo ter entrado em pânico. Sua sala, uh,
provavelmente vai precisar de ajuda."
Eu fechei meus olhos, me sentindo cansada. Minha sala provavelmente iria
precisar ser nivelada com terra e reconstruída do zero. Não dava pra saber
como o resto da casa tinha se saído. Provavelmente podia desmoronar a
qualquer momento. Meu quarto parecia meio normal. Algumas coisas
estavam no chão, provavelmente casualidades das rajadas do vento.
"Tem pessoas aqui que querem te ver."
Eu abri os olhos. "Quem?"
"Ninguém que eu conheça. Um homem é uma mulher."
"O homem é uma raposa?"
Ela me encarou, confusa. "Uma raposa? Ele é bem bonito, sim, mas,
querida... talvez eu devesse mandar eles embora. Você não parece estar
melhor."

"Não, não, me deixe falar com eles." Eu tinha o pressentimento que os
pedaços que eu não sabia do que tinha acontecido durante e depois da
tempestade estavam com Kiyo. "E eu preciso falar com eles... sozinha."
Minha mãe parecia magoada.
"Não é pessoal. Negócios."
Ela começou a discutir, então balançou a cabeça e levantou. "Eu vou chamar
eles." Enquanto ela estava fora, eu fui avaliar minha aparência. Eu ainda
estava de calcinha e camisola. A parte de cima estava particularmente
rasgada e suja. Eu puxei as cobertas quase até meu pescoço e passei a mão
pelo meu cabelo e rosto. Eu podia sentir mais terra na minha pele além de
um ferimento na minha bochecha, um lembrete distância de um caco ou algo
assim voando e me cortando. Meu cabelo grudou em toda parte. Eu tentei
suavizar ele, mas então minha mãe voltou com Kiyo e uma mulher estranha.
"Vou estar na cozinha se precisar de mim," mãe disse protetoramente. Ela
puxou a porta atrás dela, fazendo um barulho.
O rosto de Kiyo me disse que eu precisava saber o jeito que eu parecia.
"Você deveria ver o outro cara," eu disse.
Um pequeno sorriso aparece no rosto dele. "Eu vi. Ele está em pedaços na
sala."
"Oh."
Ele chamou a mulher. "Eugenie, essa é Maiwenn, rainha da Terra Willow." Eu
encarei surpresa. Ela não parecia a Rainha de Willow. É claro, eu não tenho
certeza do que eu esperava exatamente ­ talvez algo como Glinda a Bruxa
deusa. Mas essa garota parecia a Barbie surfista. A pele dela brilhava em um
profundo brozeado. Cabelo loiro platinado caia em ondas como uma
supermodelo até a cintura dela. Os olhos dela eram da cor do mar no sol,
azul esverdeado com longos cílios. Ela usava um simples vestido azul, um
pouco fora de moda, mas nada que gritasse, "eu sou uma rainha das fadas."
Ele mais solto do que os vestidos que as outras mulher gentry pareciam
gostar,mas ainda era bem bonito.Meus sentimentos de estar com a
aparência inadequada aumentaram.

"Prazer em conhecer você." eu disse. Eu podia ouvir minha voz rouca. Kiyo
pode jurar que não, mas eu ainda fico muito apreensiva ao redor dos gentry,
monarcas ou não.
"E você também," ela disse. A voz dela era rica e doce, o rosto dela sereno.
"Desculpe por não poder curar você também."
"'Também? Oh... foi você? Você curou minha mãe? Ela não lembra de
nada..." Ela acenou.
"Eu não tive o poder para curar as duas. Ela estava mais ferida, e com sua
idade e virilidade ­ e seu sangue ­ bem, eu achei que você se recuperaria
melhor."
Eu pensei nos machucados e nas dores passando pelo meu corpo. Melhor?
Isso pode ser um termo subjetivo.
"Você fez a escolha certa. Obrigado. Vou ficar bem."
Kiyo enfiou as mãos nos bolsos e se inclinou na parede. "Eugenie não gosta
de admitir fraqueza. É uma das feições mais charmosas dela."
Eu olhei para ele, e Maiwenn ofereceu um pequeno e educado sorriso.
"Nada de errado nisso." Ele se aproximou de mim e estendeu a mão em
direção ao meu rosto. "Eu acho que tenho força o bastante para uma
pequena cura. Posso?"
Eu acenei, sem ter certeza absoluta do que eu estava concordando.
As pontas dos dedos dela tocaram minha bochecha, geladas, mas
gentilmente. Um formigamento passou por mim, e ela se afastou, de repente
parecendo pálida e cansada. Kiyo começou a ajudar ela quando ela tropeçou,
mas ela o dispensou. "Aí. Assim não fica cicatriz." Meus dedos examinaram o
lugar que ela tinha tocado. Não tinha mais um corte.
"Obrigado." Silêncio caiu, e eu olhei para o rosto dos dois. Comigo na minha
cama e eles parados tão casuais, eu não sentia que estava tendo uma
conversa com uma rainha. Era tudo tão informal. "O que aconteceu?"

Eles trocaram olhares de incerteza. "Não temos certeza," ele disse. "Você e
sua mãe estavam inconscientes. O Elemental estava morto, e sua sala.... está
meio ruim."
"Mas... foi só isso?"
As sobrancelhas dele se ergueram. "O que mais poderia haver?"
"Não havia uma tempestade quando vocês chegaram?"
Eles trocaram olhares conspiratórios de novo, e algo sobre a solidariedade
deles me irritou.
"Diga-nos o que você lembra." Maiwenn disse.
Eu disse, começando com o ataque dos espíritos e terminando com uma
horrível tempestade. Nenhum deles falou quando eu terminei. Kiyo suspirou.
"O que?" eu exigi. "O que aconteceu? Você obviamente sabe."
"É complicado."
"Tudo é complicado ultimamente. Deixe-me adivinhar. Foi à mágica, não foi?
O poder que herdei do Rei Storm?"
Ele não respondeu. Ela sim.
"Sim. Parece que foi passado para você afinal de contas.
"Eu posso parar ele? Manter ele preso para que ele não saia de novo?"
"Não é provável. Você pode ser capaz de enterrar ele para que não seja
usado conscientemente, mas... se está lá, é provável que exploda para fora
de novo quando suas emoções se descontrolam. Você vai ter o mesmo tipo
de resultado desastroso se você não aprender a controlar."
"Eu não quero." Eu gritei, lembrando daquela horrível escuridão e dos raios
mortais. Agitada, eu lembrei o que Volusian tinha me dito que abraçar minha
mágica me protegeria e aqueles que eu amo. Eu olhei nervosa para
Maiwenn, odiando o que eu estava prestes a pedir. "Mas eu também não
quero machucar ninguém. Você pode me ensinar a usar? Ou pelo menos
controlar"

Os olhos de Kiyo se alargaram. "Eugenie, não ­"
"O que você espera que eu faça?" Eu exigi. A expressão no rosto dele
espelhava o que eu sentia por dentro. "Não é como se eu quisesse fazer isso.
Mas você viu o que aconteceu. Eu destruí minha casa, e pior, eu quase matei
minha mãe. E eu mesma."
Ele suspirou, mas não discutiu. Maiwenn o observou com calma.
"Ela tem razão."
"Eu sei. Mas eu não tenho que gostar."
"Eu não sei se posso ou não te ensinar," ela murmurou, sua atenção de volta
em mim. "Sua mágica ­ mágica de tempestade ­ é muito física, um poder
exterior. Curar é mais interno. Menos agressivo. Uma parte do básico é o
mesmo, mas provavelmente vamos ter que encontrar pra você um professor
com poderes similares."
Como alguém que pode convocar terra e destruir um castelo, eu pensei. Eu
não dei voz a isso. Kiyo e eu podemos ser "amigos", mas eu imediatamente
soube que ele não ia gostar que eu me aproximasse de Dorian.
"Kiyo diz que você é contra uma invasão, que você não apoiou o Rei Storm."
"Sim. Essa é parte do motivo pelo qual eu queria conhecer você. Estou feliz
que você tenha sobrevivido hoje, Eugenie Markham, mas... a possibilidade
dessa profecia se tornar verdade me alarma. Eu passei anos acreditando que
o Rei Storm não tinha filhos. Sua existência causa todo tipo de complicação."
Ocorreu-me que Maiwenn talvez dormisse com mais tranqüilidade se eu
tivesse morrido hoje.
"Então é verdade?" ela perguntou. "Você não tem intenção de realizar a
profecia?"
"É claro que não."
"Virar as costas para tamanho poder não pode ser forte. Mesmo agora, você
está considerando a mágica dele."

"Isso é uma necessidade. Eu não quero. Além do mais, nada disso é sobre
poder. É sobre manter meu mundo seguro. Você esquece que até algumas
semanas atrás, eu não fazia ideia sobre nada disso. Na maioria ­ deixando de
lado eu ter feito uma tempestade ­ eu ainda me considero humana. Eu não
vou deixar um exército subjugar e destruir minha raça."
"Você vê?" Kiyo disse para ela. "Eu te disse."
Eu ainda podia ver a duvida no rosto dela.
"Estou falando sério. Eu não quero liderar uma terrível era de dominação
gentry. Eu com certeza não quero ser um brinquedo para cada homem
gentry. E mesmo que o pior aconteça" ­ eu tremi, lembrando da proximidade
do Elemental ­"bem, tem formas de me certificar que eu não fique ou
permaneça grávida." Eu não estava afim de explicar a logística para ela.
"Com sorte, eu vou continuar evitando. Eu não vou pular na cama de
ninguém tão cedo."
Simpatia substituiu a dúvida de Maiwenn. "Sim. Eu realmente sinto muito
pelo que você tem suportado. Enoja-me. Eu honestamente não consigo
imaginar. Você ultrapassou sua reputação de corajosa. Eu não poderia ter
lidado tão bravamente."
Eu pensei de novo no terror que tinha me enchido quando o Elemental tinha
me prendido. As lágrimas. O desespero. Eu não sabia o quão corajosa eu
realmente tinha sido. Os olhos de Kiyo encontraram os meus, e enquanto
Maiwenn parecia distraída pensando, eu acho que ele pode ter captado um
pouco da minha emoção. Afeição por mim queimou no rosto dele, e eu cai
nela. O momento se quebrou quando uma voz alta soou fora do quarto.
"O que diabos aconteceu aqui? De jeito nenhum eu vou limpar isso!"
Kiyo se ajeitou, alarmado, mas eu dispensei a preocupação dele. "Não se
preocupe. É só meu colega de casa."
Certa o bastante, Tim entrou, ultraje por todo ele. Ele usava calças de
camurça e um colete combinando por cima do peito nu. Penas decoravam o
cabelo preto dele. Contas estavam penduradas no pescoço dele. O rosto dele
caiu assim que ele me viu.

"Oh Deus, Eug. Você está bem?"
Eu comecei a dizer a fala do "outro cara," quando eu optei por simplicidade.
"Bem."
Ele apontou o polegar para trás dele. "Aquela sala está em pedaços."
"Eu sei. Não se preocupe. Eu vou limpar."
"O que aconteceu?"
"É melhor você não saber. Tim, esses são Kiyo e Maiwenn."
Lembrando de si mesmo, Tim ergueu a mão em um jeito de "Olá, homem
branco." "Sou Timoyhy Cavalo Vermelho. Que o Grande Espírito sorria para
vocês." Essa última parte parecia ser dirigida para Maiween em particular.
Ela sorriu formalmente. Kiyo pareceu oscilar entre hilaridade e nojo.
Saudações feitas, Tim andou até mim, balançando a cabeça. "Você está
metida numa merda louca."
"Você talvez queira encontrar outro lugar para ficar," eu disse séria. "Eu não
acho que é seguro por aqui."
"Você está brincando? Eu nunca vou encontrar um lugar tão bom. O que é
um pouco de morte e destruição?"
"Tim ­"
O rosto dele sossegou. "Não se preocupe, Eug. Eu sei o que fazer. Se as coisas
esquentarem, eu dou o fora."
"Você viu a sala? Está bem quente."
"Yeah, mas desde que a casa esteja de pé..."
"Você é mais difícil que eu." Eu lembrei que eu deveria encontrar uma bruxa
para aumentar as wards ao redor da minha casa. Eu tinha esquecido. Ao
invés disso, eu criei algumas wards próprias, mas elas não eram muito fortes,
como evidenciou minha recente invasão. Uma bruxa não podia manter tudo
fora, mas faria um trabalho melhor que eu.

Tim sorriu. "Bem, não vamos exagerar. De qualquer forma. Você parece estar
fazendo algo. Você quer alguma coisa? Sopa de galinha? Uma massagem no
pé?"
"Você pode me trazer um Milky Way. E ver se o meu Cd do Def Leppard33
sobreviveu a zona."
"Não crie esperanças nisso." Ele disse tchau para os outros e saiu.
"Um homem estranho." se divertiu Maiwenn.
"Você não faz ideia."
Ainda sim, enquanto Tim e eu conversávamos, eu notei Maiwenn e Kiyo
conversando baixo um com o outro no canto. Ela tinha descansando uma
mão no braço dele enquanto eles conversavam, e tinha algo quase... íntimo
na forma em que eles ficavam juntos. Como se eles tivessem confortáveis no
espaço pessoal um do outro. Muito confortáveis. Eu me lembrei do apoio
resoluto de Kiyo a ela, a alegação de que ele trabalhava com ela porque ele
acreditava na causa dela. Mas isso realmente era tudo? Ou tinha mais? Ela
era uma "boa amiga." Eles estavam separados agora, mas ciúmes, um
horrível sentimento queimou no meu peito. Ela finalmente se afastou dele e
me deu um pequeno e apertado sorriso. "Eu não quero ser rude, mas... eu
não estou me sentindo bem e devo voltar para casa."
"Não tem problema. Obrigada por vir, e... obrigada por curar minha mãe."
Maiwenn acenou, e eu percebi que ela estava muito mal. Cansaço estava
naqueles adoráveis olhos. "Também estou feliz. E estou feliz por termos
podido conversar. Você não faz ideia do quão aliviada estou por ver em que
pé estamos. Eu vou fazer o que eu puder para impedir outros de tentar...
tomar liberdades com você."
Os dedos de Kiyo tocaram no braço dela para impedi-la, e eu observei o
contato com um olhar critico. "Espere por mim lá fora."
33 É uma banda é uma banda de rock formada na cidade Sheffield, Inglaterra, em
1977. Fez parte da
geração chamada NWOBHM, porém é muito mais conhecida por suas incursões em
diversos estilos
como heavy metal, hard rock, rock alternativo. É considerada uma das bandas mais
populares do mundo
e já vendeu mais de setenta milhões de álbuns mundialmente.
http://www.zmemusic.com/wpcontent/
uploads/2008/01/def_leppard_pic1.jpg

Ela acenou e então saiu do quarto em toda sua beleza dourada. Kiyo andou
até minha cama e sentou, passando a mão na minha bochecha.
"Estou feliz que você esteja bem. Quando eu entrei... eu pensei que você
estava morta."
"Sou difícil de matar." eu disse levemente.
Ele sorriu, balançando a cabeça em exaspero. "Eu posso acreditar nisso."
Se abaixando, ele pegou minha mão e a trouxe nos lábios dele, olhos nos
meus. Ele hesitou um momento, e minha pele queimou onde ele me beijou.
Então cuidadosamente, gentilmente, ele soltou minha mão, entrelaçando
seus dedos com os meus.
"Eu vou me certificar de que ela cruze bem, e então vou voltar para ficar com
você."
"Você vai cuidar de mim? Uma massagem no pé e sopa de galinha?"
"O que você quiser," ele prometeu. "é isso que amigos fazem." Ele beijou
minha mão de novo e então levantou. "Volto em alguns minutos."
Eu ainda conseguia sentir onde ele tinha me beijado, mas pela primeira vez,
minha paixão por ele foi pra espera. Eu estava pensando na conversa que eu
tinha acabado de ter. Ainda me incomodava, mas eu falei sério. Confiar na
mágica gentry era a coisa mais assustadora ­ além de estupro por um
Elemental de lama ­ que eu conseguia imaginar agora. Ainda sim, eu não
queria mais tempestades na minha sala, nenhuma tempestade em nenhum
lugar que eu fosse incapaz de controlar.
E no final das contas, isso significava segurar meu poder. Eu sabia a quem eu
tinha que ir para esse controle, e isso tinham meu próprio terror. Mas era um
mal necessário. Eu não tinha escolha.
Então enquanto eu esperava o retorno de Kiyo, eu comecei uma lista mental
do que fazer. Convocar Volusian. Fazer uma estratégia. Compras sapato salto
alto...

Capítulo Dezesseis
Eu dormi o resto do dia e quase todo o dia seguinte. Somente os essenciais
me tiravam da cama - comida, banheiro, uma ligação, e uma reunião com
Volusian depois que Kiyo tinha partido para Phoenix.
Eu estava cochilando perto da hora do jantar no segundo dia quando a voz
irritada de Tim vinda da sala me acordou.
"Não! Eu não me importo. Ela precisa dormir ok? Eu vou dar a mensagem pra
ela, mas pare de ligar."
Eu tinha ouvido Tim usar aquele tom apenas com algumas pessoas, então eu
tinha uma boa ideia de com quem ele estava falando. Por qualquer que fosse
a razão, apesar de nunca ter encontrado ela, ele e Lara se odiavam.
Colocando meu roupão, eu entrei na sala e vi-o falando no meu celular. O
único progresso que tínhamos feito em limpar o entulho foi meio que fazer
um caminho para andar através dos destroços. Ele tirou o aparelho do rosto.
"É aquela vaca da sua secretária. Eu não teria atendido, mas ela fica ligando e
ligando. Eu disse a ela que você não pode pegar ­"
Eu ergui a mão para pegar o telefone. "Está tudo bem. Eu preciso falar com
ela."
Irritado, ele me entregou.
"O seu idiota do seu colega de quarto me chamou de vadia?" exigiu Lara. "Ele
não tem direito ­"
"Deixa pra lá," eu ordenei. "Diga-me o que aconteceu."
"Bem, eu recebi sua mensagem. Os sapatos chegaram?"
"Yeah, eles são ótimos. E quanto à bruxa?"
"Eu organizei tudo. Ele vai colocar o ward hoje à noite. Você precisa o deixar
entrar."

"Sem problemas. Eu não vou estar aqui, mas Tim estará."
"Ok, e quanto à outra coisa..."
"Yeah?"
Uma longa pausa. "Bem, eu não acho que ouvi direito a outra parte da
mensagem. Pareceu que você disse que precisava de um vestido também."
"Eu preciso de um vestido."
Silêncio.
"O que aconteceu? Eu não deixei com você meu tamanho?"
"Yeah, você deixou, é só que... um vestido? Eu quero dizer, você me pediu
para pegar você umas coisas bem loucas ­ e eu ainda estou um pouco
desconfortável sobre aquela vez com a nitroglicerina ­ mais isso é realmente
estranho, mesmo pra você."
"Oh, pare. Só cuide disso."
Eu também não era muito a fim de vestidos, mas Volusian tinha insistido
durante nossa sessão de estratégia. Se as coisas se encaixassem com Dorian,
eu iria a uma festa no Outro mundo durante o Beltane ao invés de esperar
por um ataque aqui. Volusian tinha insistido que eu começasse a fazer as
preparações. Em que tempos vivemos quando servos espíritos te dão
conselho de moda.
"Algum requerimento especial?"
Eu considerei. "Nada muito estilo de noiva ou baile de formatura. Pense em
um coquetel. Simples. Mas elegante."
"Sexy?"
"Moderadamente."
"Cor?"
"Desde que fique bem."
"Muito bem. Entendi. Semana que vem estarei com ele. Oh, yeah, Wil
Delaney ligou de novo."

"Você não tem que me avisar mais. Eu meio que levo com um fato certo
agora."
"Então você não quer ligar de volta?"
"Não."
Nós desligamos, e eu fui para o banho. A véspera do Beltane, a grande noite,
estava se aproximando. Hoje a noite era o esquecimento. A noite que eu ia
fazer meu acordo com o demônio.
Depois de catar o meu empoeirado secado de cabelo, eu sequei e escovei
meu cabelo até ele brilhar. Eu normalmente não usava maquiagem ­ não
tinha paciência ­ mas um pouco de base ajudou a esconder os pequenos
machucados no meu rosto do golpe de ontem. Eu considerei rímel um
supérfluo já que tinha cílios escuros, mas quando combinado com uma
sombra, ele fez meus olhos parecem maiores. Mais batom e eu mal me
reconheci. Eu não parecia uma vadia nem nada, mas certamente fazia um
longo tempo desde que eu parecia tão polida.
Eu considerei uma saia, mas não consegui ir tão longe. Ao invés disso, optei
por um jeans apertado e uma sandália meio salto alto. A blusa que eu escolhi
era verde oliva, a mesma cor do meu casaco de algodão, com finas tiras que
descansavam levemente fora do ombro. Cada tira tinha um fino franzido nas
beiradas, assim como o decote.
Examinando meu reflexo, eu não consegui segurar um desejoso suspiro. Eu
parecia melhor essa noite do que quando eu conheci Kiyo. Se ele pudesse me
ver agora.
Eu coloquei um perfume Violetta di Parma34, eu peguei meu casaco e armas,
e fui até a porta. Tim quase caiu na cadeira quando me viu.
"O que você está fazendo? Você vai sair? Você não pode fazer isso! Não
depois do que aconteceu ontem."
"Estou me sentindo melhor," eu menti. Na verdade, era apenas uma mentira
parcial. Eu me sentia bem? Não. Eu me sentia melhor que ontem? Sim.
34 http://www.luckyscent.com/images/products/12702.jpg

"Você é maluca."
"Desculpe. Tenho assuntos que não podem esperar."
"Vestida desse jeito?" ele respondeu ceticamente.
Ignorando ele, eu dirigi para fora do portão entrando no deserto. A transição
para o Outro mundo foi um pouco dura no meu estado físico enfraquecido,
mas eu dei um jeito. Volusian e Nandi esperavam por mim na encruzilhada
quando cheguei. Finn não teve vontade de aparecer. Era uma das
desvantagens de não ter ele ligado a mim. Nós caminhamos ao longo da
estrada. Rapidamente na caminhada, eu percebi que usar saltos era a Pior
Ideia do Mundo. Eu os tirei e os carreguei o resto do caminho. Se eu ia
continuar vendo Dorian, eu ia precisar deixar uma ancora no lugar dele para
facilitar o cruzamento.
"Não vá até ele sem pedir hospitalidade primeiro," avisou Volusian. "Eles vão
desarmar você antes que você possa entrar. Você não quer fazer isso sem
proteção."
Eu concordei, embora eu não goste da ideia de ser desarmada primeiro.
Ninguém me emboscou dessa vez, e eu praticamente andei até os portões
sem um incidente. Os guardas me reconheceram e entraram em um modo
defensivo, armas prontas.
"Nossa mestra vem em paz," disse Nandi tristemente. "Ela vai falar com o Rei
Oak e pedir a hospitalidade dele."
"Você acha que somos idiotas?" perguntou um dos guardas, me olhando
com cuidado.
"Não exatamente." eu disse. "Mas eu acho que você estava aqui da última
vez e viu que eu não causei nenhum problema. Talvez você também tenha
notado que eu passei muito tempo no quarto do seu rei. Confie em mim, ele
vai querer me ver."
Eles conversaram brevemente, e finalmente mandaram um deles verificar.
Ele voltou, minutos mais tarde, me concedendo entrada e hospitalidade ­
depois que me desarmaram. Eles me levaram pelo menos corredor de antes,
mas não até a sala do trono. Ao invés disso, entramos mais profundamente

na fortaleza até ficarmos diante de uma porta de vidro que levava a algum
jardim ou átrio.
"Nosso senhor está lá fora." explicou um dos guardas, que estava prestes a
abrir a porta.
Volusian bloqueou o caminho dele. "Chame um heraldo35. para anunciar ela.
Ela não é mais uma prisioneira. E use os títulos dela."
O homem hesitou, olhando para mim, e então ele chamou um heraldo
Momentos mais tarde, um homem vestido da cabeça aos pés entrou com
pressa. Ele olhou para mim e engoliu nervosamente antes de abrir a porta.
Várias gentry elegantes estavam no jardim, olhando para nossa entrada.
"Vossa majestade, eu apresento Eugenie Markham, chamada Odile Dark
Swan, filha de Tirigan o Rei Storm."
Eu recuei. Yikes. Eu não fazia ideia que eu tinha tantos anexos ao meu nome
agora. A suave conversa morreu. Aparentemente eu deveria me acostumar a
causar esse efeito enquanto comparecia a eventos sociais no Outro mundo.
De lá de dentro, eu esperava um pequeno jardim, mas ele parecia se esticar
infinitivamente. A grama ainda estava verde, mas as folhas de muitas árvores
eram laranja, amarelo, e vermelha. Nenhuma delas era do marrom morto de
um outono mais avançado. Elas mostravam os lindos tons que apareciam no
melhor do outono. Pesadas macieiras carregadas de frutas se amontoavam
nos cantos, e no ar, eu podia sentir o fraco cheiro de uma fogueira e ervas.
Era hora do crepúsculo, o céu pintado em tons de dourado e rosa que
revelavam o esplendor das folhas. Tochas estavam colocadas para oferecer
luz.
O grupo se separou, e Dorian caminhou para frente. O cabelo ruivo corria por
de trás dele, e por cima de uma simples camisa e calça, ele usava um tipo de
roupão feito de cetim cor de vinho e fios de ouro. Eu me aproximei dele, e
nos encontramos no meio. Meus espíritos esperaram perto da porta.
"Ora, ora. Que surpresa agradável. Não pensei que fosse a ver tão cedo."
35 Não achei referência na net, deve ser aquelas pessoas que vimos em filmes e
desenhos que anunciam
as outras.

Dorian tentou pegar minha mão, e dessa vez eu o deixei pegar. Um brilho de
uma travessa diversão passou nos olhos dele, com essa pequena concessão,
e eu sabia que já tinha acendido a curiosidade dele.
"Espero que você não se importe por eu aparecer assim."
Ele beijou minha mão do mesmo jeito que Kiyo tinha feito ontem. Só que o
beijo de Dorian era menos que esperar por você conseguir um beijo melhor e
mais um imagine meus lábios em outros lugares.
"De forma alguma." Ele afastou seus lábios e entrelaçou seus dedos nos
meus. "Venha. Junte-se a nós."
Eu reconheci alguns dos gentry parados ali para jantar. As outras duas
pessoas por perto pareciam servos esperando ansioso com longos martelos
de madeira em suas mãos. Eu olhei para eles, então para as bases espalhadas
no chão.
"Críquete36? Você está jogando críquete?"
O rosto de Dorian se quebrou num sorriso. "Sim. Você joga?"
"A anos que não." Os gentry jogavam críquete? Quem diria? Eu suponho que
seja tecnologicamente simples até onde jogos vão. Fazia mais sentido para
eles jogarem isso do que vídeos games.
"Você gostaria de jogar?"
Eu balancei a cabeça. "Você já está no meio. Eu vou só observar."
"Como quiser."
Ele pegou um bastão de um dos servos. Observando ele alinhar um golpe, eu
podia ver que ele pretendia atingir essa bola e tirar a bola do adversário
perto da janelinha. Uma fraca brisa passou pelo cabelo dele e as dobras do
roupão dele, ele precisou de um segundo para tirar o tecido do caminho
dele. Quando ele finalmente atingiu a bola, ela foi longe, consideravelmente
longe da bola do seu oponente.
36
http://2.bp.blogspot.com/_3S74Y1BA6GI/Sib8AFAZZWI/AAAAAAAABzA/0aznnMtC7ao
/S1600-
R/280_0_392949_32130jjjjjjjkkkkk.JPG

"Ah. Bem. Foi por pouco. Eu quase consegui você não acha Muran?"
Muran, um cara magro vestido na cor lavanda, pulou ao ser chamado. "Er,
uh, s-s-sim, vossa majestade. Muito perto. Você estava quase lá."
Dorian virou os olhos. "Não, eu não estava. Foi uma jogada abominável seu
pobre coitado. Deixe a Lady Markham jogar. De a ela seu taco."
Agora eu pulei. "Lady Markham?"
Mas o previamente mencionado Muran praticamente empurrou o negócio
pra mim. Hesitantemente, eu me aproximei da bola dele. Eu tinha certeza
que fazia dez anos desde a última vez que eu joguei, quando estava visitando
as tias da minha mãe na Virginia.
Lembrando do problema nas mangas com o roupão de Dorian, eu pausei
para tirar meu casaco. Um servo imediatamente correu para pegar ele de
mim, dobrando ele em seus braços. Eu virei de volta para a bola e o taco,
avaliando a tacada. Eu joguei meu cabelo para trás do meu ombro e bati. A
bola meio que sacudiu meio que rolou através da grama e vou direto para a
janelinha.
"Excelente." eu ouvi Dorian dizer.
Eu olhei de volta para ele e vi que ele não estava olhando a bola. Os olhos
dele estavam em mim. Eu tentei devolver o taco para o pobre Muran, mas
Dorian não deixou. Ele me fez terminar o jogo no lugar de Muran. Enquanto
jogávamos, eu imediatamente percebi algo peculiar.
Dorian era um terrível jogador ­ muito terrível para ser real. Ele obviamente
estava fingindo, mas seus súditos não faziam nada para ser melhor que o seu
rei. Então eles também fingiram um pavoroso jogo. Observar era cômico. Eu
sentia como se estivesse numa cena de Alice no País das Maravilhas. Sem ter
medo de ganhar, eu joguei normalmente, e mesmo com músculos doloridos
e nenhuma prática, eu vence bem fácil.
Dorian não poderia ter ficado mais feliz. Ele bateu palmas, rindo. "Oh, fora de
série. Esse é o melhor jogo que eu joguei em anos. Aquelas ovelhas não vão
saber o que fazer agora." E olhou para seus companheiros de jogo e acenou

para eles em direção ao prédio. "Vão, vão, seu pastor está cansado de todos
vocês."
Eu observei eles saírem. "Você não trata-los... com respeito."
"Porque eles não merecem. Você viu a forma como eles se portaram durante
o jogo? Agora imagine isso acontecendo a cada segundo, cada dia da sua
vida. É assim que é ser da realeza, viver numa corte entre puxa sacos. Fique
feliz por você não ter um trono ainda. É tudo sorrisos afetados e
conformação."
Eu quase ouvi um toque amargo na voz leve dele. Quase.
Uma serva me entregou de volta meu casaco, e Dorian se dirigiu a ela e
alguns guardas. "Lady Markham e eu vamos dar uma volta pela ala oeste. Já
que ela está vestida para tratar de negócios, eu imagino que ela queira
conversar em particular. Sigam, mas mantenham distância." Virando, ele me
ofereceu seu braço de novo e me levou pelo jardim, até um denso pomar de
maças. Como as outras árvores que eu vi, elas estavam cheias de frutas.
Ainda mais maças estavam no chão, redondas e vermelhas e esperando para
serem comidas.
Quando estávamos suficientemente sozinhas, eu disse: "Não estou vestida
para tratar de negócios, não nesses sapatos. Eu estava vestida para negócios
da última vez que estive aqui."
Ele me olhou de esguelha. "Mulheres que aparecem parecendo tão
adoráveis quanto você depois de quase não digerir minha presença não vem
por prazer. Elas vêm por negócios."
"Você é um cínico."
"Um pragmático. Mas, negócios ou prazeres se tornam você." Ele suspirou
feliz. "Eu queria que mais das nossas mulheres usassem calças como essa. Os
guerreiros geralmente usam, mas não tão apertadas."
"Obrigada... eu acho."
Andamos em um ritmo calmo enquanto o céu ficava laranja e escarlate.

"Então, eu imagino que você tenha mudado de outras formas desde nosso
último encontro. O simples fato de você ter vindo aqui tão simpática indica
isso."
"Sim." eu estreitei os olhos. "Sabe, eu não gostei de você ter me cantado a
história do Rei Storm, quanto o tempo todo você sabia que eu não sabia o
que estava acontecendo."
"Maldoso, talvez. Mas também divertido ­ se estivesse no meu lugar. Além
do mais, eu te fiz um favor. Eu providenciei as informações necessárias, Lady
Markham."
"Não diga `Lady Markham.' Soa estranho."
"Eu tenho que te chamar de algo. Nossas regras normais de etiqueta não se
encaixam exatamente na sua situação. Você é a filha de um rei sem um
reino. Você é da realeza, mas não tão real. Então você tem que ser chamada
como um nobre."
"Bem, então, só use em público. Ou fique com "Odile."
"E quanto à `Eugenie'?"
"Ótimo."
Silêncio caiu entre nós. O pomar parecia não acabar nunca.
"Você quer me dizer por que está aqui? Ou devo pensar em outro assunto
para conversar?"
Eu reprimi uma risada. Dorian bancou o exibicionista e disperso, mas ele não
era um tolo.
"Preciso de um favor."
"Ah, negócios afinal de contas."
Eu parei de andar, e ele parou comigo. Olhando para mim, ele esperou
pacientemente, o rosto dele agradavelmente natural. Eu tremi enquanto
outra brisa passava, e ele pegou meu casaco de mim, me ajudando a colocar.
Eu envolvi os meus braços ao redor de mim, agradecida pelo calor do casaco.
Sexy era frio.

"Eu conjurei uma tempestade ontem."
"É mesmo?" A voz dele tinha menos leveza e era mais calculada. "O que
aconteceu?"
Eu contei a ele a história, como eu tinha feito para Maiwenn e Kiyo.
"O que você estava pensando quando aconteceu?"
A princípio, eu pensei que ele estava me provocando. Tipo quando você faz
algo idiota e sua mãe pergunta Você está louca? O que estava pensando?
"Tipo, como eu me sentia? O que estava passando pela minha cabeça?"
Ele concordou.
"Eu não sei. Eu acho que passei por muitos sentimentos. Quando tudo
começou... eu quero dizer, eu senti o mesmo que qualquer outro ataque.
Planejei o que eu faria, me foquei em banir. Mas quando minha mãe se
envolveu... eu comecei a perder a cabeça."
"E quando Corwyn te prendeu?"
"Quem?"
"O Elemental. Ele era um dos homens de Aeson. Os espíritos que você baniu
voltaram contando histórias, embora eu admita ninguém tenha ouvido essa
parte, já que você não deixou nenhuma testemunha."
"Eu me senti... assustada. Fraca. Indefesa."
"Você não me parece uma pessoa que fica assustada sempre."
"Na verdade não. Estou sempre assustada. É idiota não estar. O que eles
dizem? Só os mortos não temem? Ou é esperança? Não sei. Naquele ponto,
eu com certeza ao tinha nenhuma esperança também. Eu senti como se não
tivesse muitas opções."
"Então você escolheu a única opção que sobrou."
"Eu não escolhi, exatamente. Não conscientemente."

"Não. Mas às vezes nossa alma e partes secretas da nossa mente sabem que
o que precisamos."
Andamos até uma grande macieira. Presumivelmente ela também tinha
aquelas lindas cores, mas a quase escuridão fez tal coisa ser impossível de
ver. Tirando seu roupão, ele o colocou no chão e sentou, deixando um
espaço para mim. Um momento depois, eu sentei também.
"Então o que você veio me pedir, Eugenie Markham?"
"Você já sabe. Eu posso ouvir na sua voz."
"Hmm. E eu queria um pretexto para ser astuto."
"Eu preciso que você me ensine a usar mágica. Para que não me tome de
novo. Eu não quero matar alguém da próxima vez que surtar."
"Ou," ele acrescentou, "você queira matar alguém com ela. De propósito."
"Talvez." Eu tremi. "Eu não sei."
Ele não falou imediatamente. A escuridão ao nosso redor ficou mais
profunda.
"O que você fez com Corwyn foi parecido a usar um tijolo para golpear uma
mosca quando métodos muito mais finos e simples serviriam. As
tempestades que você pode conjugar são grandes e poderosas,
absolutamente. Os deuses sabem que seu pai as usa efetivamente. Mas acho
que você vai descobrir que o seu poder verdadeiro está em controlar os
elementos da tempestade. Uma criança pode jogar tinta numa tela; um
mestre trabalha com os melhores pincéis. Você aprende as coisas menores, e
então as tempestades vão ser sua segunda natureza."
Eu respirei fundo. "Então você pode me ensinar? Você vai me ensinar?"
Mesmo no escuro, eu sabia que ele tinha um sorriso lacônico no rosto. "Se
alguém tivesse me dito durante nosso último encontro que teríamos essa
conversa, eu teria açoitado ele por insolência."
"Eu não tenho a mais ninguém a quem recorrer. Maiwenn se ofereceu, mas
ela não tem ­"

"Maiwenn?" ele interrompeu. O tom dele me surpreendeu. "Quando você
conversou com ela?"
"Depois do ataque." Eu expliquei as circunstaâcias do nosso encontro.
Quando ele não respondeu, eu fiquei na defensiva. "Não tem nada errado
com isso. No máximo, é meio bom ter alguém do meu lado que não quer me
ver grávida e tomar o mundo."
"E por essa razão, você não deveria confiar nela. Eu quero ver o herdeiro do
rei Storm nascer. Portanto, eu tenho um bom motivo para me certificar que
você fique viva. Ela não tem."
Eu me lembrei de ter pensando como Maiwenn teria muito menos para se
preocupar se eu tivesse morrido no ataque.
"Ela não parecia tão sinistra," eu respondi com hesitação, de repente
atingida pela ideia. Se a nobre filosofia de Maiwenn envolvia me matar,
então Kiyo iria seguir ela nisso?
"Os que são sinistros nunca parecem."
"Você só está tentando me influenciar para o seu lado."
"Bem, é claro. Eu vou tentar fazer isso independentemente do envolvimento
dela."
Eu suspirei. Era tudo tramas e postura afinal de contas. Acima de tudo mais,
Dorian ainda era um gentry. "Talvez eu ter vindo aqui tenha sido um erro."
"Vir aqui foi a coisa mais inteligente que você fez até agora. Então me diga, o
que você vai me dar por te ensinar a controlar seus poderes?"
"Você não consegue algo por nada, huh?"
"Oh, por favor. Não soe tão superior. Eu te ajudei da última vez sem pedir
por nada em troca, e agora aqui está você de novo me pedindo por mais.
Você exige demais de um gentry que você considera tão mesquinho."
"Justo," eu me inclinei um pouco contra a árvore. "se você me ajudar... eu
vou deixar...as pessoas pensarem que nós, você sabe..."

Houve uma pausa, e então a risada quente dele preencheu o pomar.
"Dormindo juntos? Oh, você realmente fez minha noite. Isso não é justo.
Nenhum pouco justo."
Eu corei furiosamente no escuro. "Você vai estar à frente de Aeson. Ele vai
pensar que estou por vontade própria dando a você o que ele tentou tomar a
força."
"E enquanto isso, eu não vou receber nada a não serem olhares tentadores
em roupas como essa."
"Eu me cubro mais se isso faz diferença."
"O que faria diferença é se você dormisse comigo de verdade."
"Isso também não é justo. Nem por algumas lições de mágica."
"Algumas?" Ele riu de novo, a voz dele carregando a incredulidade que
parecia divertir ao invés de chatear ele. Jesus. Nada incomodava esse cara?
"Minha querida, vão ser preciso mais do que `alguma' lições para dominar
essa sua tempestade, sem trocadilhos. Especialmente com seu
temperamento. Vai fazer com que fique difícil se concentrar."
Eu me senti indignada. "Hey, eu estive me concentrando desde que eu era
criança. Eu posso clarear minha mente no meio de uma luta para banir
espíritos. Eu entro em transe em segundos."
"Talvez," ele cedeu com raiva. "mas ainda não tenho certeza de que isso seja
justo. Você vai receber mais do que lições. Assumindo que você é minha
`amante' as pessoas vão hesitar em atacar você. Seu status vai crescer."
"Cristo. Nada passa por você, não é? Aparentemente Volusian e eu temos
muito mais para aprender sobre artifícios também."
"Quem?"
"Meu servo."
"Ah. O mau humorado com olhos vermelhos?"
"Sim."

Ele fez um barulho desaprovador com a língua. "Ele é perigoso e poderoso.
Você é corajosa por manter ele."
"Eu sei. Eu não consegui mandar ele para o Outro mundo, então o liguei a
mim."
"Se eu te ajudar, nós provavelmente poderíamos mandar ele pra lá."
A ideia me surpreendeu. Com Volusian seguro no mundo da morte, eu
provavelmente ficaria muito mais segura.
Como se tivesse lido minha mente, Dorian acrescentou, "As coisas vão ficar
ruins se ele se soltar de você."
"Eu sei. Ele me diz isso regularmente ­ em detalhes gráficos. Ainda sim, ele
tem sido bem útil. Eu acho que vou manter ele por aqui por um tempo."
Sentamos em silêncio na escuridão de novo. Eu percebi que a hora de jantar
no castelo deveria estar terminando. Parte do motivo para aparecer a essa
hora era para ser convidada para jantar. Como gentry se orgulham de sua
hospitalidade, Volusian achou que iria agradar Dorian mostrar seus recursos,
especialmente já que ser meio gentry significava que eu podia comer com
segurança nesse mundo. Finalmente, uma coisa boa nessa insanidade. Eu
meio que sorri imaginando um corredor cheio de gentry famintos, batendo
seus utensílios de prata na mesa. Com a forma que todo mundo agia de
acordo com o humor de Dorian, no entanto, eu não tinha dúvidas de que eles
esperariam por horas se fosse necessário.
"Se você vai fingir que é minha amante, vai envolver mais do que só você
falar. Você viu o quão livre somos em mostrar nossa afeição em público. Se
você manter distância de mim, ninguém vai acreditar."
Eu congelei de repente me lembrando do outro jantar. Eu não tinha
considerado totalmente as implicações.
Ele riu suavemente, um som baixo e perigoso ao meu lado. "Oh, sim, você
não pensou nisso, pensou?"
Ele tinha razão. Eu pensei que Dorian e eu desaparecendo no quarto para
aulas seria convincente o bastante. Mas agora eu tive a imagem de mim

sentada no colo dele, deixando ele me tocar e beijar. Eu tive problemas com
a imagem. Ele era um dos gentry, um ser que até aqui eu tinha mantido o
olho e rastreado a minha vida toda. Descobrir a natureza verdadeira de Kiyo
tinha sido um choque no meu sistema, um que eu devagar estava
começando a reconciliar. Como eu iria lidar com alguém que era
completamente do Outro mundo?"
Ainda sim... quando mais eu andava com Dorian, mas fácil se tornava pensar
nele como uma pessoa.
Estranho ou não, tinha algo confortável sobre ser vista com ele. Então, yeah.
Eu podia lidar com isso. Talvez. Era só um pouco de pegação, certo? Não era
sexo. E não era uma coisa pequena para garantir que eu não fosse rasgar
ninguém no meio sem querer?
"Eu não vou desce em você nem nada disso,' eu avisei, usando impertinência
para cobrir meu desconforto.
Ele riu de novo. "Por mais triste que isso seja, seria demais. Você é humana o
bastante para eles esperar alguma modéstia."
Pequenas bênçãos. "Muito bem. Eu faço minha parte você faz a sua."
"Bem, em distribuição, eu acho que eu vou fazer ¾ do trabalho aqui. Mas
sim, eu faço mesmo assim. Devemos apertar as mãos? Não é assim que
humanos fecham um acordo?"
Eu entendi minha mão na escuridão, e ele a pegou. De repente, ele me
puxou até ele e me beijou. Eu imediatamente me afastei, espantada.
"Hey!"
"O que? Você não espera que nosso primeiro beijo seja em público, espera?
Queremos ser convincentes, lembra?"
"Você é um bastardo sujo, sabia disso?"
"Se você realmente acredita nisso, então talvez você se sinta melhor
encontrando outro professor."
Eu pensei nisso. Então me inclinei pra frente e tentei encontrar os lábios dele
na escuridão. Eu não percebi que estava tremendo até as mãos dele pegarem
meus braços.
"Relaxe, Eugenie. Isso não vai doer."
Eu respirei fundo e me acalmei. Nossos lábios se encontraram. Os dele me
lembravam flores de pétalas, suaves e aveludadas. Enquanto o de Kiyo era
paixão animas e agressão, Dorian parecia mais... preciso. Eu de repente me
lembrei da metáfora dele sobre a diferença entre jogar tinta quando em um
quadro e usar pinceis.
Não me entenda mal, Dorian não era exatamente doce e casto. Havia calor
naqueles lábios suaves. Ele parecia querer aproveitar a experiência, quase de
um jeito provocador, tanto que eu me encontrei impaciente e ansiosa
quando a língua dele finalmente passou entre meus lábios.
Ele a empurrou mais para dentro da minha boca, o resto do beijo se
intensificando. Ele cheirava a canela e cidreira, como todas as boas coisas
numa noite de outono. Finalmente, ele se afastou.
"Você ainda está com medo de mim." ele notou, se divertindo com esse fato
como todo o resto. "Seu corpo ainda não relaxa."
"Sim." Eu engoli. Tinha sido bom, o tipo de bom que te envia ondas de calor
pelo seu corpo e faz seus dedos ­ e outras partes ­ se enrolar. Mas meu
medo tinha enfatizado tudo, aquele medo de gentry e pessoas do outro
mundo, que eu ainda não conseguia deixar pra lá. Era uma estranha
combinação, prazer físico combinado com medo. Muito diferente do jeito
que era com Kiyo ­ afeição, apesar da minha intranqüilidade com a herança
meio-kitsune dele. "Não posso evitar. Tudo ainda é estranho para mim. Parte
de mim diz que é errado. É difícil mudar o que eu sempre acreditei do dia
para noite, sabe."
"Você quer voltar atrás no trato?"
Eu balancei a cabeça. "Eu não volto atrás nos meus tratos."
Eu podia senti-lo sorrindo na escuridão. Ele se inclinou e me beijou de novo.

Capítulo Dezessete
Para crédito dele, ele não me tratou com muita grosseria naquela noite. No
jantar, ele pôs sua mão na minha ou um braço ao redor do meu ombro, mas
pouco mais do que isso. Como ele disse para mim num momento tranqüilo,
qualquer um podia fazer uma demonstração descarada de carne. O que
realmente indicava intimidade era como duas pessoas interagiam uma com a
outra, o que a linguagem corporal deles diz.
Então eu trabalhei em parecer confortável e feliz na presença dele, e pela
expressão chocada das pessoas, devemos ter feito um trabalho bem
convincente.
Ele me levou para o quarto dele depois disso, parecendo convencido e
presunçoso para aqueles que observavam. Mas quando chegamos lá, ele me
deu minha primeira aula. Honestamente, foi um pouco desapontadora. Eu
estava pronta para fogos de artifício. O que eu ganhei foi muita prática de
meditação silenciosa e concentração. Ele alegou que se eu não pudesse
controlar minha mente, eu não poderia controlar o poder.
Então eu passei as próximas oras com ele trabalhando nisso e encontrei meu
mais difícil desafio, era não entrar em transe ou para o plano astral. Esses
comportamentos vinham tão automaticamente para mim em momentos
assim que eu ficava recaindo. O tipo de meditação que ele queria que eu
fizesse envolvia virar meus sentidos para fora ao invés de pra dentro, o que
parecia estranho para mim já que eu fui ensinada que mágica vinha de
dentro.
Finalmente terminamos a lição com ele me dando um anel de ouro em que
ele colocou parte da sua essência. Era uma ancora. Agora se ele saísse do
Outro mundo por um ponto fino, ele podia fazer a transição para o meu sem
aparecer no ponto correspondente. Ele simplesmente iria viajar para onde o
anel estivesse. Iria poupar nos dois um enorme tempo de viagem.
O que também significava é que ele planejava vir ao meu mundo para
algumas lições. Eu tinha sentimentos misturados em relação a isso.
Certamente seria mais conveniente para mim. Mas o fato de que ele podia
pular com uma ancora isso indicava o quão poderoso ele era. Essa realização

foi só um pouco preocupante, assim como a ideia dele no mundo humano. E
mesmo assim, estando ali, o poder dele iria diminuir. Ele seria mais seguro ­
ou melhor, a humanidade estaria mais a salvo.
De volta em casa, os dias seguintes foram mais do mesmo: lutas, lutas, e
mais lutas. Ainda sim, como Dorian previu, uma parte diminuiu. Eu gostava
de pensar que isso era porque minha reputação como assustadora estava
ajudando. Mais provavelmente, minha nova conexão com o Rei Oak fez meus
atacantes pensar duas vezes sobre cometer um erro político.
Acabou que eu tive que lidar com meus próprios problemas em relação a
essa aliança ­ do Kiyo.
"Você está dormindo com Dorian?"
Ele estava parado na porta, o cabelo escuro dele iluminado pela luz da tarde.
Ele usava um avental branco de laboratório com KIYOTAKA MARQUEZ, DVM
no bolso. Ele deve ter dirigido pra cá direto do trabalho.
"Boas notícias viajam rápido" eu disse. "Entre."
Eu ofereci a ele uma bebida e uma cadeira na mesa da cozinha, mas ele só
ficou andando pra lá e pra cá agitado. Ele me lembrava um lobo ou um cão
de guarda. Eu não sabia nada sobre o comportamento de raposas.
"Bem?" ele perguntou.
Eu me servi uma xícara de café e deu a ele um olhar afiado. "Não use esse
tom comigo. Você não tem nenhum direito no que eu faço."
Ele parou de andar, e a expressão dele se suavizou. "Você tem razão. Eu não
tenho."
Não era exatamente uma desculpa, mas era quase. Eu sentei na cadeira,
dobrando minhas pernas. "Muito bem, então. Não. Não estou dormindo com
ele."
O rosto dele permaneceu o mesmo, mas eu vi um alívio visível cruzar os
olhos dele. Era pena, eu percebi, mas saber que ele teve ciúmes fez algo se
esquentar dentro de mim.

Agarrando uma cadeira, ele a virou e sentou para que o queixo dele
descansasse no encosto.
"Então qual é a das histórias?"
Eu contei a ele. Quando eu terminei, ele fechou os olhos e exalou. Um
momento depois, ele os abriu.
"Eu não sei o que me incomoda mais. Você recorrer à mágica ou recorrer ao
Dorian."
Eu chamei atrás dele. "Você viu minha sala? Não vou ser responsável por
fazer o Furacão Eugenie em Tucson."
Isso fez o sorrir. "Tucson já lida com Furacão Eugenie regularmente. Mas sim,
eu entendo seu ponto. O que me preocupa... eu não sei. Eu não uso mágica,
mas passei metade da minha vida perto de pessoas que usam. Eu vi como
afeta elas. Como pode controlar elas."
"Você está controlando meu autocontrole? Ou minha força?"
"Não," ele respondeu sério. "Você é uma das pessoas mais fortes que
conheço. Mas o Rei Storm... eu o vi uma vez quando era pequeno. Ele era...
bem, vamos colocar dessa forma. Dorian e Aeson e Maiwenn são fortes.
Comparados com outros gentry, eles são como tochas do lado de velas. Mas
seu pai... ele era mais como uma fogueira. Você não pode usar esse tipo de
poder e sair sem cicatrizes."
"Eu aprecio o aviso, Gandalf37, mas eu não sei se tenho escolha."
"Eu suponho que não. Eu só não quero ver você mudar, só isso. Eu gosto de
você do jeito que você é."
Um sorriso apareceu nos lábios dele e então desapareceu. "E quanto a
trabalhar com Dorian... bem, isso só piora a situação."
"Você parece estar com ciúme."
"É claro." Ele respondeu sem hesitar, sem estar envergonhado de seus
sentimentos. "Mas ele tem sede de poder também. Ele quer ver a conquista
37 Referência ao Mago do Senhor dos Anéis.

do Rei Storm acontecer. De alguma forma, eu duvido que ele vá ficar
contente de apesar fingir seu amante."
"Bem, hey, lembre-se que eu não tenho escolha nisso. Além do mais, a
tecnologia contraceptiva é uma coisa maravilhosa, certo?"
"Absolutamente. Mas Maiwenn diz ­"
"Eu sei, eu sei. Todo o tipo de coisa sábia e influente."
Kiyo me olhou cautelosamente. "O que é pra isso significar?"
"Nada. Só que eu acho engrado você falar de Dorian quando -"
"Quando o que?"
Eu soltei meu café e o olhei nos olhos. "Honestidade de novo?"
Ele retornou meu olhar sem piscar. "Sempre."
"Vocês dois parecem... mais do que amigos. Tem alguma coisa acontecendo
entre vocês dois? Romanticamente, quero dizer."
"Não." A resposta veio dura e certa.
Eu reconsiderei. "Tinha alguma coisa acontecendo?"
Isso o fez hesitar. "Não mais." ele disse depois de um momento.
"Entendo." Eu desviei o olhar e senti minha própria onda de ciúmes
passarem através de mim enquanto minha mente cruel o imaginava e aquela
mulher linda juntos.
"Acabou, Eugenie. Acabou faz um tempo. Somos apenas amigos agora, só
isso."
Eu olhei para cima. "Como você e eu somos amigos?"
Os lábios dele viraram travessamente, e eu vi a temperatura nos olhos dele
crescer alguns graus.
"Você pode chamar do que quiser, mas acho que ambos sabemos que não
somos `só amigos'."

Não, eu suponho que não. E de repente, depois de tanto tempo com ele e o
fato de que eu fiquei com um gentry completo, Kiyo ser um kitsune não era
mais um problema. As linhas que organizavam minha vida tinham todas se
embaraçado. Isso me assustava porque eu queria Kiyo, e de repente não
tinha nenhuma desculpa na frente. E honestamente, eu percebi, era muito
mais fácil ter desculpas. Desculpas significam que você não tem que
trabalhar ou se abrir para alguém e ficar vulnerável. Se eu realmente queria
ficar perto de Kiyo agora, eu iria ter que olhar além de sexo. Sexo era fácil ­
especialmente com ele. O que ia ser difícil era lembrar como me aproximar
de alguém e confiar nele.
Eu desviei o olhar sem querer que ele visse meu rosto, mas ele já tinha visto.
Eu não sei o que tinha nele, mas às vezes ele parecia me conhecer melhor do
que me conhecia.
Ele levantou e se moveu para o meu lado, suas mãos massageando as curvas
do meu pescoço e ombros. "Eugenie." foi tudo que ele disse a sua voz
quente.
Eu relaxei perto dele e fechei os olhos. "Eu não sei como fazer isso." Eu me
referi a ele e eu, mas considerei o resto da minha vida, aquela frase podia se
aplicar a um número de coisas.
"Bem, pare de lutar, para começo de conversa. Vamos parar com o resto e
sair."
"Agora? Como num encontro?"
"Claro."
"Assim simplesmente? É tão fácil assim?"
"Por agora. E realmente, só é tão fácil ou difícil quanto nós escolhemos que
seja."
Pegamos o carro de Kiyo, um Spider 1969, e fomos a um dos meus
restaurantes favoritos: Cozinha Indiana da Índia. O nome soava redundante,
mas a última parte foi uma adição necessária. Considerando todos os

restaurantes locais que serviam comida Indiana38, muitos turistas chegavam
esperando encontrar pão Navajo frito, não curry e naan.39
A tensão derreteu entre nós ­ o tipo hostil, pelo menos ­ embora tenhamos
tido um momento pensativo quando ele perguntou, "Muito bem, eu tenho
que saber. É verdade que você beijou ele?" Eu sorri enigmaticamente.
"Isso é tão fácil ou difícil quanto você escolher."
Ele suspirou.
Depois do jantar, ele dirigiu pela cidade, mas não disse onde estávamos indo.
Quase quarenta minutos depois, estávamos subindo uma colina alta. Kiyo
encontrou uma área com outros carros, mas viu que não havia vagas
sobrando, forçando ele a dirigir de volta para baixo e estacionar numa
distância considerável. O crepúsculo estava cedendo à noite, e era difícil
encontrar o caminho colina acima sem luz. Ele colocou sua mão na minha,
me guiando. Os dedos dele eram quentes, o aperto dele forte e seguro.
Levou quase meia hora, andando por aquele caminho até que finalmente até
que chegamos numa terra arada. Eu escondi minha surpresa. Estava cheio de
pessoas, a maior parte com telescópios e olhando para o céu limpo e cheio
de estrelas.
"Eu vi isso numa propaganda." Kiyo explicou. "É um grupo amador de
astronomia. Eles deixam o público andar com eles."
Certa o bastante, todos ali estavam mais que felizes em deixar a gente ver
seus telescópios. Eles apontavam sinais de sinais em particular e contaram
histórias sobre as constelações. Eu ouvi vários delas antes, mas gostei de
ouvir de novo.
O tempo estava perfeito para esse tipo de coisa. Quente o bastante para que
não fosse necessário casaco (embora eu ainda um para esconder armas) e
tão perfeitamente claro que você podia esquecer que poluição existia. O
Observatório Flandrau, na universidade, tinha fantásticos shows, mas eu
adorava a natureza casual desse.
38 De índios.
39 Pão indiano

Enquanto ouvia um homem mais velho falar sobre a Galáxia Andrômeda, eu
pensei sobre o quão vasta nossa existência realmente era. Tinha tanta coisa
que não sabíamos. O extenso mundo, o universo, crescendo para sempre.
Por tudo que eu sabia, o mundo interior de espíritos continuava tão longe
quanto. Eu só conhecia três mundos: o mundo onde eu vivia o mundo que os
mortos viviam, e o Outro mundo, que estava no meio de tudo. Muitos
shamans acreditam em mundo divino estava além de todos esses, um mundo
de Deus ou deuses que não conseguíamos nem imaginar. Olhando para as
estrelas, eu de repente me senti muito pequena no grande esquema das
coisas, com ou sem profecia.
Kiyo se mexeu ao meu lado, e eu senti o braço dele tocar o meu. Meu corpo
mantinha um registro exato de onde nos tocávamos, como um tipo de
sistema de rastreamento militar. Ele viu meu olhar, e sorrimos um para o
outro. Eu me sentia em paz, quase delirantemente feliz. Nesse momento,
tudo estava certo no mundo entre nós. Talvez eu nunca realmente
compreenda o que junta duas pessoas. Talvez seja como compreender o
universo. Você não conseguia medir nada disso. Era só o que era, e você fazia
seu caminho o melhor que podia.
"Obrigada," eu disse a ele mais tarde, enquanto descíamos a colina de volta
para o carro. "Isso foi realmente ótimo."
"Eu o telescópio na sua casa ­ er, o que sobrou dele pelo menos."
"Oh. Yeah." Ter estado ali meio que me tirou da realidade. Eu esqueci que
minha casa estava num estado desastroso. "O meu não dava para comparar
com nenhum desses. Talvez eu tenha que comprar um melhor agora."
Passamos pelos outros carros e finalmente terminamos a caminhada até o
carro dele. A temperatura esfriou um pouco, mas ainda estava bom. Kiyo
enrugou o nariz enquanto andávamos.
"Aqui tem cheiro de... peixe morto."
Eu respirei profundamente. "Eu não sinto cheiro de nada."
"Se considere com sorte. Você provavelmente não conseguia sentir o cheiro
de quantas pessoas não tomaram banho lá atrás também."

Eu ri. "Eu lembro como você sentiu o cheiro do meu perfume no bar aquela
noite. Eu pensei que fosse loucura. Então super-olfato é outro truque
kitsune?"
Ele balançou a cabeça. "Depende do que você está cheirando."
Entramos no carro. Ele começou a por a chave na ignição, mas decidiu que
ele queria seu casaco.
"Você consegue pegar ele? Está atrás do meu banco."
Eu tirei o banco e virei praticamente me pendurando no banco para alcançar
o casaco dele. Ele estava abarrotado e caído no chão.
"Jesus." o ouvi dizer.
"Você está olhando minha bunda?"
"Ela está praticamente no meu rosto."
Eu peguei o casaco problemático e me inclinei de volta, mas o braço dele me
pegou e me puxou para o colo dele. Virou-me numa posição constrangedora,
e eu lutei para ajeitar minhas pernas. Eu finalmente acabei meio o
fazendoele sentar de perna aberta.
"Eu não acredito que você me deu um sermão sobre os perigos de perder o
controle." eu provoquei.
As mãos dele deslizaram para o traseiro que ele admirou.
"O que eu deveria fazer?"
"Hey, não estou reclamando. Só surpresa, só isso."
"Eu acho que é a raposa em mim."
"Nunca ouvi essa desculpa antes."
"Não, é verdade. Você ficaria surpresa sobre o quão simples são os instintos
­ e o quão errados. Às vezes eu tenho que lutar para não lutar em toda
mulher que eu vejo. E então eu sempre quero comer. Como se eu tivesse
essa paranóia de que se eu não comer o bastante agora, eu vá passar fome
mais tarde quando o inverno chegar. É realmente estranho."

Era atraente também, mas envolvida contra ele, eu percebi que essa
conversa era perder um bom tempo para ficar. Eu soltei o cinto dele e pus
minhas mãos nas bochechas dele. Inclinando-me para frente, eu o beijei, me
empurrando com mais força no colo dele. Ele me segurou com mais força.
"Eu pensei que você não queria se envolver com um kitsune."
"Bem... acontece que acho que raposas são fofas."
Eu tirei meu casaco e então e minha blusa, nenhum dos dois foi fácil de fazer
com o volante atrás de mim. Eu me ergui um pouco, colocando meus seios
perto do rosto dele. A boca dele beijava minha clavícula enquanto as mãos
dele tentavam soltar meu sutiã.
Enquanto isso, minhas mãos soltavam o botão da calça dele. Eu abri e
deslizei minha mão na sua cueca.
"Eugenie...." ele perdeu o fôlego. Ele conseguiu combinar um tom cauteloso
e me excitar. "Não temos camisinhas."
Eu movi minha mão mais longe, de repente muito excitada pela ideia de não
ter nada entre nós. "A pílula lembra? Além do mais, a tecnologia
contraceptiva é uma ­ "
O carro de repente de lançou perigosamente para o lado em que estávamos
sentados. Minhas costas bateram no volante, e nós meio que batemos do
outro lado. Os braços de Kiyo foram ao meu redor, me puxando em direção a
ele em um esforço de me proteger com o corpo dele e me impedir de cair.
Acho que eu não deveria ter soltado o cinto dele. Felizmente, o carro não
virou completamente, e um momento depois, ele bateu de volta para o lado
que nós estávamos sentados com uma batida de quebrar a mandíbula.
"O que diabo ­" eu comecei.
No escuro, eu mal conseguia discernir os olhos largos de Kiyo encarando
além de mim, através do pára-brisa. "Eu acho que devemos sair do carro" ele
disse baixo, assim que algo sólido e pesado bateu no capo atrás de mim. Eu
ouvi os faróis quebrarem. O carro todo balançou.

Não precisou falar duas vezes. Nós rapidamente abrimos a porta do
motorista, e eu sai. Eu senti cheiro de peixe podre. Kiyo começou a me
seguir pra fora, e então o carro foi erguido pela frente e bateu o parte de trás
no chão. Vidro e metal triturados enquanto o movimento jogou Kiyo de volta
no carro. O pára-brisa trincou como uma teia de aranha.
Medo por ele passou por mim, mas então eu finalmente vi o responsável, e
medo por mim passou por mim.
Parecia um fuaths 40, eu pensei. Talvez um fachan41. Se fosse, ele estava
muito longe de casa já que eles eram nativos da Irlanda e Escócia. Ainda sim,
o Outro mundo tinha se tornado tão global quanto o mundo humano, e
nunca se sabe o que pode aparecer por aqui.
Ele parecia com algo que você conseguiria se o Pé Grande transasse com um
ciclope e a prole deles se mudasse para o sol e procriassem entre si por um
século. Ele tinha quase 2,4m e cada parte do corpo musculoso dele estava
coberto de cabelo ­ cabelos cheios de nós e fedidos, que precisava ser
lavados. Um olho gigante, sua cor indeterminada na luz das estrelas, e uma
perna extra, saia do quadril dele. A perna não parecia ajudar ele a andar; eu
me perguntei se aquilo e o braço extra fazia qualquer coisa ou só serviam pra
efeito.
Vendo-me, ele soltou o carro e começou a caminhar pra frente. Com sorte
Kiyo ia ser capaz de sair agora. Eu fui pegar minha arma e descobri que ela
tinha sumido. Filho da mãe. Tinha caído do estojo ou por ficar me agarrando
com Kiyo ou quando o carro tinha balançado.
"Pegue a minha arma!" eu gritei em direção ao carro.
Enquanto isso, eu dei alguns passos cautelosos para trás, avaliando como
lidar com o fachan. Fachans, apesar de viverem na terra, são originários do
Outro mundo. Portanto ele podia ser banido para de volta para lá. Em tinha
os dois athames no meu cinto. Prata teria mais efeito, mas ferro
40 Vivem na água. Normalmente são verdes e tem a crina e o rabo de um cavalo. Não
tem nariz, mas
tem olhos muito bons. Eles afogam mergulhadores usando suas enormes mãos e pés.
41 Criaturas feias, uma mão saindo do peito, um olho, cabelo espetado. Seduzem
camponeses para
comer sua carne.
provavelmente também faria um bom dano. Ok. Eu só tinha que pegar uma
delas enquanto o impedia de me pegar. Sem problema.
Ele balançou seus braços fortes e quase constrangedores de se olhar, e eu o
interceptei, esfaqueando ele na mão com o athame de prata. Eu o empurrei
com mais força que pude, enfiando através dos tendões e ossos. A criatura
tremeu e afastou sua mão. Minha varinha estava no cinto, mas ele se movia
rápido e forte demais. Ele levou o athame com ele. Merda.
"Kiyo!" eu gritei.
Eu peguei o athame de ferro e o me lancei do lado direito dele, o lado oposto
ao carro. O fachan era maior, mas eu era menor e, portanto mais rápida...
certo? Minha lamina se afundou profundamente na pele suave do estômago
dele. Dessa vez eu me assegurei de pegar o athame de volta comigo antes
que ele se movesse e levasse esse também. Sangue, parecendo preto na luz
fraca, saiu de onde eu cortei. Eu pus uma distância entre nós. Eu só precisava
atrasar ele para ter alguns momentos de concentração e banir ele.
Mas ele não estava mais devagar. Ele não pareceu feliz com os ferimentos,
mas ele continuou vindo pra cima de mim. Eu mantive distância entre nós,
querendo ferir ele sem chegar ao alcance dele. Era meio difícil quando
parecia que os braços dele eram mais longos que meu corpo.
Ele balançou seu punho não ferido primeiro, e eu me abaixei, usando a
oportunidade para tirar sangue de novo. Quando eu o fiz, algo me ocorreu. O
golpe dele, se tivesse me acertado, teria feito um dano sério. Muito sério.
Aquilo não tinha propósito, a não ser causar o máximo de dor possível. Eu
conseguia entender a vantagem tática de me deixar inconsciente antes do
sexo, mas estar em coma ­ ou morta ­ podia complicar a profecia um pouco.
Minha lamina perfurou ele de novo, e eu dei um chute forte do lado dele, me
desviando no último minuto. Nós logo desenvolvemos uma pequena dança.
Os braços grandes e musculosos dele balançavam para mim, e eu desviava e
cortava ou chutava. Considerando que minha luta com o Elemental de lama
tinha sido há dois dias eu não estava em uma condição total ainda, mas ainda
sim senti que meu desempenho aqui não estava muito pobre.

Pelo menos até eu me mover devagar demais, e me pegar com uma das suas
mãos ­ sua mão extra. Aparentemente ela não era inútil afinal de contas.
Foi um golpe no ângulo, mas eu voei para trás, batendo no capo teto do
carro, e no caindo no pára-brisa. O vidro ­ embora já estivesse trincado e
quebrado ­ se despedaçou no impacto, e uma dor afiada e excruciante
queimou do lado do meu estômago. A pele ali ainda estava nua e descoberta
por causa do meu stripp no carro. Minha cabeça parecia como se um
personagem de desenho animado tivesse jogado uma bigorna nela, e por
alguns segundos, eu não consegui fazer meu corpo fazer nada que eu
quisesse.
O fachan se lançou na minha direção, seus membros e seus enormes
músculos balançando, e eu não tinha para onde ir. Ele me agarrou pelo meu
ombro e me levantou alto. Eu soube num daqueles segundos que passam em
câmera lenta que ele ia me acertar e que eu ia morrer. Só o movimento de
me erguer meu esgotado cérebro gritar.
De repente, a cabeça do fachan virou para trás, e um olhar de agonia cruzou
o rosto dele. Ele me soltou, eu cai no capo. Foi bem menos doloroso do que
ele teria feito, mas ainda doeu. Eu tentei sentar freneticamente e ver o que
estava acontecendo, mas tudo girava.
Um lobo estava atacando o fachan. Não, não era um lobo. As cores e forma
não estavam certas. As orelhas eram mais definidas, e rabo era grande e a
ponta era branca. Era uma raposa. Era Kiyo. Mas ele estava maior do que eu
já tinha visto, e é por isso que o confundi com um lobo. Ele estava enorme,
musculoso e poderoso, e os dedos dele estavam rasgando as costas do
fachan.
O fachan virou e o empurrou para longe. Kiyo recebeu o golpe com graça:
sendo atingido, rolando, e então levantando imediatamente. Eu queria poder
fazer isso.
Eu ainda me sentia uma merda, mas minha visão se acertou. Olhando para
dentro do carro, eu vi onde minha arma tinha rolado pelo banco do
passageiro e se alojada entre a porta. Além de mim, eu ouvi golpes e latidos
enquanto Kiyo e o fachan continuavam a luta.

Cuidadosamente, eu comecei a rastejar de volta para o carro,
cuidadosamente evitando os cacos de vidro que ainda sobravam do párabrisa.
Eu não fiz um bom trabalho de jogar para longe os pedaços de vidro.
Eles rasgaram minha pele. Pior, eu não pude fazer muito para proteger
minhas mãos quando eu fui forçada a rastejar por cima dos pedaços
quebrados que cobriam o painel. Pelo menos eu consegui entrar e pegar a
arma. Agarrando ela, eu passei pelo lado do motorista e mirei no fachan
ainda brigando com Kiyo. Só que, minha mão mal conseguia segurar a arma.
Isso não era bom. Ou me mexi e segurei a Glock com as duas mãos. Meus
braços ainda tremeram, mas eu estava mais firme agora.
Eu observei eles se mexerem e atacar, se movendo rápido. Rápido demais,
eu me preocupei. Era possível que eu atirasse em Kiyo no processo. Mas eu
tinha que tentar. Nada estava ferindo essa coisa. Ela era impossível de ser
parada. Eu não quis tentar banir ele com toda força, particularmente já que
eu nunca cheguei perto o bastante dele para fazer o símbolo da morte nele e
acelerar a passagem dele. Então eu precisava dele ferido e fácil de enviar.
Mirando, eu esperei pela minha oportunidade, por um alvo grande no
fachan. Ali. A bala atingiu as costas dele, e ele pulou surpreso. Ela o fez ficar
devagar o suficiente. Eu atirei de novo. Eu continuei atirando até eu
descarregar todo o cartucho nele. Ele fez horríveis barulhos e ficou
levemente chocado. Eu meio que esperei que ele continuasse vindo pra
cima, mas então Kiyo a raposa gigante pulou no peito dele e o derrubou no
chão, dentes rasgando o que parecia ser a garganta do fachan. Ew.
Minha varinha estava no carro. Eu a troquei pela arma, eu chamei Hecate,
me concentrando na cobra ao redor do meu braço. Minha mente saiu desse
mundo, abrindo os portões, e eu mirei no espírito do fachan. Minha vontade,
passando pela varinha, o segurou e abriu um buraco entre o Outro mundo e
meu mundo. Foi mais difícil que o normal. "Mente sobre a matéria." Podia
ser a vantagem, mas a mente estava relutante em obedecer quando o corpo
estava tão fraco e tinha tido sua cabeça jogada contra um pára-brisa.
Meu caminho para o Outro mundo estava limpo. Mas então, o vendo
começar a levantar, apesar do batida de Kiyo, eu decidi que não queria ele
possivelmente voltando. Então fiz minha mente passar o Outro mundo,
abrindo os portões do mundo da morte. Eu senti Persephone olhar no meu
braço enquanto eu me conectava com o domínio dela. O fachan rugiu em

reconhecimento ao puxão. Ele resistiu, o corpo e espírito dele se
apresentando um formidável rival contra o meu.
Eu me concentrei ainda mais, enviando cada gota de mim forçando ele a
passar pelo portão negro. Eu chamei ­ não, eu implorei ­ a Persephone que o
levasse.
Finalmente ele passou seu corpo físico se desintegrando enquanto o
Submundo puxava seu espírito.
Só que estava puxando mais do que só ele.
Eu puxei tanto que meu espírito tinha tocado mais o mundo da morte que eu
normalmente permitia. No meu estado fraco, meu foco não estava tão afiado
em me manter fora. Minha mente parecia estar sendo sugada por um
furacão, e eu tive a impressão que mãos fantasmagóricas e esqueléticas
estavam me puxando.
"Não, não, não, não!" Qualquer que fossem as palavras que estavam nos
meus lábios ou na minha cabeça eu não sabia. Eu lutei contra as mãos,
tentando me segurar no mundo humano. Eu teria me contentado até com o
Outro mundo. Metade de mim rezou para que Hecate me puxasse volta dos
portões enquanto a outra metade rezava para que Persephone me
bloqueasse.
Finalmente eu cai pra trás com um tropeção, meu espírito voltando
firmemente para meu corpo físico. Meus sentidos físicos e mentais
queimaram. Quase imediatamente, eu tropecei para frente, incapaz de me
suportar. Somente minha mão na beirada do volante me impediu de cair do
carro.
Eu me sentia nauseada e tonta, com partes demais do meu corpo doente
para contar. Kiyo, ainda uma raposa gigante, parou ao lado, olhos brilhantes
sérios me olhando.
"Hey," eu disse, esticando minha mão. O pelo dele era tão suave quanto
ceda. Eu o acariciei com cuidado, meu controle motor ainda não era o que
podia ser. Aqueles pelos tocaram minha pele como pequenos beijos. "Esse é
um belo truque. Como você faz?"

Ele nem respondeu nem mudou de forma, meramente cheirando minha mão
com seu nariz. Eu sorri, mas então me senti cansada demais para continuar a
manter meu braço erguido. Eu derrubei minha mão no me lado, sentindo
algo molhado e grudento. Erguendo meu braço, eu vi sangue cobrindo meus
dedos, escuro e brilhante.
"Ah, cara," eu murmurei. O mundo tinha voltado a brilhar; manchas pretas
dançaram na minha frente. "Precisamos... ir... a algum lugar. Faça algo. Volte
ao normal; eu não posso dirigir."
Ele continuou me olhar, olhos solenes e decididos.
"Eu falei sério. Porque você não está voltando ao normal? Você está ferido?"
Ele descansou o queixo no meu joelho, e eu o acariciei de novo, embora eu
tivesse manchando o pelo dele com sangue. Eu não entendi porque ele não
estava mudando. Ele não conseguia me ouvir nessa forma? Não, ele sempre
me entendeu antes.
Bem, se ele não ia ajudar, eu precisava de alguém que fosse. Eu tinha um
celular no carro em algum lugar. Eu podia ligar para Roland ou Tim. Mas
onde estava o telefone? Eu não podia subir no banco de trás, não nesse
estado. Raposas podem trazer coisas?
Talvez eu pudesse convocar um espírito para me ajudar. Não Volusian, não
desse jeito. Mas talvez Finn? Quais eram as palavras? Como eu o chamava?
De repente estava muito difícil de pensar.
"Ajude-me..." eu sussurrei para Kiyo. "Porque você não me ajuda?"
Pontos brancos agora dançavam nos pretos. Eu fechei os olhos, não
melhorou.
"Eu vou deitar agora," eu disse a ele, me esticando para trás. "Só por um
minuto, ok?" eu descansei minha cabeça no banco do passageiro, deitada
perpendicularmente nos assentos.
Eu ouvi um suave choro quase como de um cachorro. Ele deve ter levantado
em duas pernas, porque eu senti as patas e uma cabeça descansando no meu
joelho.

"Porque você não me ajuda?" eu perguntei de novo, sentindo lágrimas
escorrerem pelos meus olhos. "Eu preciso de você."
Eu ouvi o choro de novo, triste e pesaroso. Minhas mãos se esticaram,
segurando o pelo suave. Eu segurei firme com as mãos como se elas
pudessem me manter viva. Então, os dedos se soltaram e minha mão caiu

Capítulo Dezoito
Era como déjà vu. Duas lutas, dois desmaios, e duas "manhãs seguintes" de
volta na minha própria cama. Em falar em tédio.
Só que dessa vez, eu não estava sozinha na cama. Eu sabia que Kiyo estava
comigo mesmo antes deu abrir meus olhos. Eu reconheci o cheiro dele, a
forma como os braços dele se envolviam ao meu redor. Eles me seguravam
delicadamente agora, sem a fúria que normalmente estava com ele.
"Você não desiste," eu murmurei, piscando para tirar o sono dos meus olhos.
"Mesmo ferida, você ainda está tentando me levar de volta pra cama."
"Eu já te tenho aqui." Ele estava deitado no lado dele, olhos encarando os
meus. Sorrindo, ele passou a mão pelo meu cabelo, o colocando para trás.
"Estava tão preocupada com você."
Eu me aninhei contra ele, devagar me lembrando dos eventos de ontem a
noite. "Também estava preocupada com você. O que aconteceu? Porque
você não mudou de volta?"
"Eu mudei... eventualmente."
Bem, isso era obvio. Eu esperei na expectativa, precisando de mais.
"Ser um kitsune não é só sobre a habilidade de transformar em raposa. É
mais do que isso. É como... eu não posso me transformar - eu não sei ­ no
deus raposa. Não. Isso não está certo. Eu não sei como descrever."
"Uma super raposa?"
O riso suave dele vibrou contra minha testa e ele beijou minha pele ali. "Isso
também não está bem certo. As raposas do Outro mundo são como as
progenitoras das raposas mortais desse mundo. Elas são mais fortes, mais
poderosas, mais selvagens. Eu posso mudar pra uma dessas, mas para fazer
isso... eu quase tenho que desistir da minha humanidade. Eles são muito
animais... muito... eu não sei primordial. Quando sou uma raposa vermelha
normal, eu ainda sou basicamente quem eu sou a não ser que eu fique muito
tempo nessa forma. Então a parte humana de mim começa a sumir. Mas pra
a sua "super raposa," eu já entrei em uma transformação. Eu posso me

segurar a apenas alguns instintos humanos ­ eu tinha que lutar com aquela
coisa e proteger você."Eu absorvi tudo, franzindo. "Mas isso não explica
porque você não mudou de volta."
"Leva tempo para sair daquela forma. A mudança é mais física. Eu tenho que
desistir da minha natureza humana para entrar, e minha natureza de raposa
sai. As duas são difíceis. É por isso que me levou um tempo para ir te ajudar.
Eu tive que fazer uma rápida chamada, embora eu tenha te deixado indefesa.
Eu pensei que faria mais dano na outra forma."
"Yeah, você fez um bom trabalho. Mas você me assustou." Eu caí em silêncio
lembrando-me daqueles terríveis momentos de incerteza enquanto em
sangrava sob mim mesma. "Quando você finalmente mudou de volta?"
"Não muito depois que você desmaiou, eu acho."
"Isso explica porque ainda estou viva."
Ele acenou. "Você perdeu muito sangue. Você precisou de dez pontos."
Eu pisquei. "Você me levou a um médico?"
Ele sorriu. "Pode aposta que levei."
Eu levei um momento para entender. Eu puxei as cobertas e ergui minha saia
e um das minhas camisolas raramente utilizadas ­ como eu me vesti assim? ­
e vi pontos pretos se destacando contra minha pele, do lado do meu
estomago.
"Você fez isso?" Eu exclamei. "Você me costurou? Sem um médico?"
"Eu sou um médico. Eu faço isso o tempo todo."
"Yeah... eu gatos e cachorros. Não em pessoas."
"É exatamente a mesma coisa. Somos animais também."
Eu olhei os pontos agitada. A pele ao redor deles estava vermelha. "Tudo foi
higienizado?"

Ele fez um som depreciativo na garganta. "É claro que sim. Os padrões são os
mesmos. Anda, pare de se preocupar. Era ou isso ou te deixar sangrar até a
morte no carro. Eu tinha um kit na porta malas e eu usei."
"Como você conseguiu luz o bastante?"
"A lâmpada de cima ainda funcionava."
Eu não acredito que ele me costurou num carro esmagado com um kit de
veterinário. Improvisação no seu melhor. "O carro ligou?"
"Mais ou menos... levou-nos de volta para auto-estrada antes de morrer. Eu
encontrei seu celular e liguei para Tim."
"Pobre Tim. Quando eu disse a ele que era um shaman, eu acho que ele
pensou que era tão falso quando o personagem índio dele."
"Espera ­ ele não é índio? Eu tenho tentando há séculos descobrir de que
tribo ele é."
"Ele é da tribo Tim Warkoski. É ridículo, mas ­"
O ar no quarto ondulou a pressão aumentando. Eu tive que piscar algumas
vezes para me assegurar que a luz tremula ao nosso redor não estava na
minha cabeça.
Kiyo se levantou, alerta e pronto.
A pressão de repente sumiu. Uma passagem do Outro mundo se abriu na
nossa frente, e de repente Dorian estava parado em cima da mesa do canto.
Não surpreendentemente, ela quebrou devido ao peso, fazendo um horrível
som enquanto os pedaços, e o que havia em cima caia no chão. Para crédito
dele, ele fugiu do desastre bem graciosamente, pousando devagar com os
dois pés no chão. Eu recordei, vendo o anel ancora caído entre os destroços.
Eu o coloquei na mesa, sem considerar as conseqüências de Dorian chegar
exatamente onde ele estava.
"O que diabos ­" Kiyo começou a sair da cama, mas eu estava na frente dele.
Eu pus a mão no peito dele o contendo.
"Não, está tudo bem. Ele está aqui pra nossa próxima aula. Jesus... eu não
acredito que já está na hora." Eu perdi muito tempo desde o carro.

Dorian estava usando como sempre roupas simples, mas finas, coberto por
outro roupão elaborado. Esse era de cetim preto, com pontas de prata e
pequenas perolas. Se as circunstâncias presentes o surpreenderam, ele não
mostrou. Ele manteve seu rosto tipicamente não impressionado e sardônico.
O sorriso dele aumentou enquanto ele nos olhava.
"Eu posso voltar mais tarde se for mais convenente. Eu odeio interromper."
"Não, não," eu disse apresadamente, sentando e virando minhas pernas na
ponta da cama. O movimento puxou desconfortavelmente a pele ao redor
dos pontos. "Nós estavamos apenas, um... descansando."
Dorian arqueou uma sobrancelha. "Você descansa nisso?"
Eu olhei para baixo, corando. Eu usei isso exatamente uma vez, quando Dean
e eu fomos ao México num final de semana. A camisola era de um verde
pálido, ela tem bainha ornamentada com uma elaborada manga verde e
pequenas flores rosa. A saia que ia até metade da coxa era transparente.
Nota para si mesma: Nunca deixe Kiyo te vestir de novo, apesar de estar
inconsciente.
Tim escolheu aquele momento para entrar, convocado pelo barulho. "Eug, o
que..."
A boca dele se abriu ­ e não só por causa de mim. Ele olhou para nós: eu de
camisola, Kiyo com o peito nu, Dorin com suas roupas extravagantes, e Tim
na sua roupa nativa.
"Deus," eu murmurei levantando, "parecemos com o Village People42 ."
Eu coloquei um roupão por cima de mim, me perguntando como eu sempre
parecia estar seminua ultimamente. Tim continuou a encarar, com aquele
olhar chocado de alguém que tinha acabado de pegar seus pais fazendo sexo.
"Está tudo bem," eu disse a ele. Ele ainda sim não se mexeu, e eu acenei com
a mão na frente do rosto dele. "Hey, acorde. Você acha que consegue fazer
café da manha?"
42 Uma banda. Uma de suas musicas famosas foi Macho Man. http://userserveak.
last.fm/serve/_/21953693/Village+People+538840653_452839dd1c_o.jpg
Ele piscou. "São três da tarde."
Eu dei a ele um olhar apático. A familiaridade dele pareceu o fazer voltar ao
normal. Ele nunca conseguia resistir. Isso, ou ele sentia que me devia comida
em troca de um aluguel de graça.
"O que você quer?"
"Ovos e torrada."
"Torrada saudável ou não?"
Eu considerei. "Saudável."
"Você, uh, seus amigos vão comer também?"
Eu olhei para os dois homens.
"Eu adoraria," respondeu Dorian com uma cordial semi-reverência.
"Obrigado."
"Faminto." disse Kiyo, os olhos ainda estreitos para Dorian.
"Obrigado, Tim, você é o melhor." Eu praticamente o empurrei para fora.
"Homem encantador," disse Dorian educadamente. Ele olhou ao redor. "e
quarto encantador."
Fora a mesa quebrada, os outros móveis do quarto incluíam: uma pilha de
roupa para lavar, uma cadeira, uma caixa de munição, uma cômoda, e uma
mesa pequena com meu laptop e um quebra cabeça pela metade da Torre
Eiffel. O quarto não tinha muito espaço, então tudo estava apertado. Tudo
parecia tão brega em comparação a riqueza do quarto dele. Kiyo também
saiu da cama, usando só um jeans. "Você quer me dizer de novo o que está
acontecendo?"
"Eu já disse." Eu abri minha cômoda e tirei um jeans e uma camiseta que
dizia: EU VOU TE DAR ALGO PARA CHORAR. "Vamos fazer minha próxima
lição."

"Hoje ela não pode," Kiyo disse a Dorian. "Ela esteve em uma luta ontem à
noite."
"A não ser que eu esteja enganado, ela se mete numa luta todo dia."
"Essa foi ruim. Ela foi ferida. Você não viu os pontos."
"Meus olhos humildes tem coisas melhor a fazer do que se ocupar com os
pontos dela."
"Hey, gente?" eu surtei. "Ainda estou aqui, sabe. Parem de falar de mim na
terceira pessoa."
Kiyo andou e tocou meu braço. "Eugenie, isso é loucura. Você precisa voltar
para cama."
"A lição de hoje não requer força física." disse Dorian com exatidão.
"Aí, você vê?" eu disse. "Eu tenho que continuar com nosso trato."
Kiyo olhou ameaçadoramente de mim para Dorian. "Seu trato não parece
esta fazendo muito bem. Eu pensei que fosse manter seus estupradores
longe."
Eu virei minhas costas para eles, abri o roupão, e comecei a colocar minha
jeans. Eu congelei, considerando.
"O fachan não estava tentando me estuprar," eu disse devagar. "Ele queria
me matar."
"Tem certeza?"
"Ele tentou me jogar através de um pára-brisa. Isso não é muito romântico."
"Um fachan?" perguntou Dorian.
Eu protegi o roupão e a camisola e coloquei a camiseta por cima da minha
cabeça antes de virar para olhar para eles. Eu dei a Dorian a versão resumida
do que tinha acontecido.
Ele levantou de onde estava inclinado contra minha mesa e foi até a janela,
as mãos atrás das costas.

"Um fachan," ele meditou. "Aqui. Curioso."
"Na verdade não. Não comparado com tudo mais que aconteceu comigo," eu
lembrei ele.
Ele apontou para janela. "Você vive no deserto. Fachans gostam de água.
Você tem muitos inimigos, minha querida, mas eu duvido que qualquer
fachan te odeie o bastante para aparecer lá em sua própria vontade."
"O que você está dizendo?" perguntou Kiyo.
"Que alguém passou por problemas consideráveis para convocar ele aqui.
Alguém ou com muito poder ou simplesmente uma afinidade com criaturas
da água."
"Quem poderia fazer isso?" eu perguntei.
"Muitas pessoas. Maiwenn poderia."
Kiyo deu alguns passos perigosos em direção a ele. "Maiwenn não fez isso."
Dorian sorriu inabalável com a presença intimidante de Kiyo. Eles eram da
mesma altura, Dorian era magro e fino e Kiyo mais largo e musculoso.
"Você provavelmente tem razão" Dorian disse depois de vários momentos
tensos de silêncio. "Particularmente já que ela tem estado debaixo do tempo
ultimamente." O rosto de Kiyo ficou ainda mais escuro.
Eu olhei para frente e para trás agitada, incerta do porque eu estava no
meio. "Vocês se conhecem?"
Dorian extendeu a mão para Kiyo, calmo e controlado. "Eu sei de você, mas
não acredito que fomos propriamente apresentados. Sou Dorian, rei da Terra
Oak."
Kiyo rancorosamente apertou a mão dele. "Eu sei quem você é."
"Esse é Kiyo." eu disse.
"Encantado em conhecer você. Você é um... kitsune."
Dorian disse as palavras num tom estranho. Não era exatamente
desrespeitoso, mas claramente deixava implícito que eles não eram iguais.

Eu segurei o braço dos dois e os separei. "Nenhuma competição de briga.
Anda. Tim só vai levar cinco minutos para preparar a comida."
Qualquer que fosse o antagonismo que existia entre Kiyo e Dorian, ele parou
enquanto o rei gentry se entretinha com o resto da minha casa. Ele era como
uma criança, incapaz de manter suas mãos fora de tudo. Bem, tudo que não
era feito de plástico ou ferro. Minha sala era um verdadeiro paraíso, com
tudo convenientemente amontoado para ele explorar.
"Qual o propósito disso?"
Ele segurava um Slinky43*, jogando de um lado para o outro para não tocar
muito o plástico. Minha impressão era que gentry podiam toca as
substâncias proibidas em pequenas doses com apenas um pequeno
desconforto; exposição prolongada era muito mais desconfortável.
Carregue com poder, poderia matar eles.
"Não tem um propósito," eu decidi. "É só para... brincar quando você está
entendido."
Ele jogou para frente e pra trás, observando ela espalhando seus arcos.
"Deixe-me ver," eu disse.
Eu a segurei, fechando meus olhos. Meu foco estava de volta agora com a
dor excruciante conquistada. Eu me concentrei no Slinky, colocando uma
pequena parte da minha essência nela. Eu a entreguei de volta. "A enrole e
leve com você. Vai ser minha ancora."
Ele sorriu. Com tantas outras distrações, eventualmente tivemos que arrastar
ele para mesa da cozinha quando a comida estava pronta.
"Você nunca esteve no mundo humano antes?" eu perguntei quando
sentamos.
43 São essas molas coloridas:
http://petewarden.typepad.com/photos/uncategorized/2007/10/19/slinky.png

"Aí vai você de novo, assumindo que todos vagam por aqui sem nenhuma
boa razão."
"Então você não esteve."
"Bem, na verdade, eu fiquei de férias aqui várias vezes. Não nesse lugar
desolado, é claro, mas em vários outros bons pontos."
Eu virei os olhos e coloquei manteiga na minha torrada. Era feita de um bom
e puro pão, feito de trigo e um zilhão de outros grãos. Você podia usar esse
negocio como lixa.
Eu tomei meu café com açúcar e creme, tomando também um ibuprofen44.
Eu posso não estar mais morrendo, mas dor e músculos duros cobriam meu
corpo. Eu não achava que podia agüentar ter lutar de alta magnitude toda
noite.
Quando o negócio sobre a profecia surgiu, eu tinha brincado dizendo que eu
preferia tentativas a minha vida, do que sexuais. Eu não acreditava mais
nisso. Pelo menos quando os bandidos iam para tirar minhas roupas, eu
ganhava tempo. Aquele fachan, no entanto, tinha como intenção apenas me
esmagar. E ele tinha feito um bom trabalho. Eu nunca tinha lutado com algo
tão durão antes. A maior parte das minhas lutas, antes disso tudo começar,
tinha sido com Espíritos e Elementais. Eu podia derrubar eles sem quase me
esforçar. O fachan era de uma liga diferente. O exército espírito do outro dia
também era novidade. As palavras de Dorian voltaram pra mim. O fachan
tinha sido enviado deliberadamente. Mas por quem? Um dos muitos que
tinham ódio de Odile? Alguém como Maiwenn que queria ver a profecia
falhar? A própria Maiwenn? O último ainda me incomodava. Ela tinha
parecido mais ou menos de confiança, apesar da personalidade branda. Se
ela virou inimiga, isso iria criar um sério atrito entre Kiyo e eu.
Terminamos o café, e Dorian declarou que tínhamos que ir lá fora para a
aula. Eu olhei para ele e para o sol escaldante e vi um perfeito desastre para
aquela pele de alabastro. Achando que ele não ia querer meu protetor solar
com cheiro de baunilha, eu enfiei nele um chapéu com aba larga de Tim que
parecia apenas meio ridículo.
44 Um remédio que é utilizado para alívio dos sintomas de artrite, febre, e como um
analgésico,
especialmente quando existe uma inflamação componente

"Você vai ser capaz de fazer isso?" eu perguntei, levando Dorian meu pátio
de trás. Tim tinha saído para aula de tambor, mas Kiyo nos seguiu, ainda nos
observando. "Sua mágica enfraquece desse lado."
Dorian soltou seu roupão elegante numa cadeira de gramado. "Não sou eu
que precisa fazer a mágica. E na verdade, eu duvido que você também faça.
Não do jeito que você está pensando. Hmmm... sim, essa área pode
funcionar melhor do que eu esperava."
Ele inspecionou a área e o pequeno jardim sem grama cercado por um muro
de estuque. Arrastando outra cadeira, ele sentou perto do centro do pátio,
de frente para casa, e me chamou. Eu sentei.
"E agora o que? Mais meditação?"
Ele balançou a cabeça. "Agora precisamos de uma tigela de água."
"Kiyo? Você pode pegar uma? Tem uma tigela grande de cerâmica no meu
armário.
Kiyo concordou silenciosamente, parecendo como se nos deixar por mesmo
que um minuto iria resultar em Dorian tentar alguma coisa. Eu achei aquela
proteção um pouco exagerada.
E então Dorian tentou algo.
"O que é isso?" eu exclamei.
"Pense neles como... uma ajuda para treinar."
Ele tinha produzido um punhado de cordas dos bolsos do roupão dele, todos
de cores diferentes.
"O que você ­ não. Você não está falando sério."
Ele tinha se movido por de trás da minha cadeira e prendido minhas mãos.
Eu me afastei.
"Você está tentando me amarrar."
"Não é para propósitos sinistros, eu te asseguro, embora se você quiser
experimentar mais tarde, eu vou ficar feliz em te mostrar todos os vários
usos. Por agora, simplesmente confie quando digo que eles vão ajudar."

Eu continuei a olhar as cordas com desconfiança. Ele balançou a cabeça,
sorrindo. Se movendo para trás de mim, ele gentilmente passou suas mãos
pelos meus braços. "Você ainda não confia em mim. E ainda sim você confia.
Uma mistura interessante. Você tem medo de mim, mas quer se conectar
comigo. Você se lembra do que eu disse na noite que nos conhecemos?" Ele
se ajoelhou, falando suavemente no meu ouvido. "Vai ser exatamente assim
quando você for para minha cama. Você vai se render, e embora vá te
assustar, vai te exultar também."
"Eu acho que você está imaginando mais coisas do que há no nosso trato. E
eu não me vejo ficando exultante por estar amarrada..."
"Você já tentou?" Os dedos dele deslizaram para cima pelas mangas da
minha camiseta, como borboletas na minha pele. Foi... bom. Eu o afastei.
"Não. E eu não preciso. Além do mais, quaisquer que sejam suas intenções
pervertidas, não importam. Eu tenho algo com o Kiyo."
"Ah. É claro que tem. Pelo que eu ouvi, ele sempre `tem algo acontecendo. '"
Eu endureci. "Não tente causar problemas."
"Não estou tentando nada disso. Só dizendo um fato. Um homem com
sangue humano é tão atraente para nossas mulheres quanto você é para
nossos homens."
"Eu já sei sobre Maiwenn."
"Eu vejo. O que você sabe?"
"A verdade. Eles costumavam estar envolvidos. Agora não estão."
"Ah. E isso não te incomoda? Especialmente considerando que é provável
que ela tente te matar algum dia?"
Eu virei o máximo que pude e olhei para ele. "Eu falei sério: Não tente
começar uma briga. Eu confio no Kiyo, e eu gosto de Maiwenn. Fim da
história. Agora se você vai me amarrar, só faça isso duma vez."

Ele se levantou a sensualidade fora da sua voz enquanto ele começou a me
amarrar. "Eu nunca sonharia em começar uma briga. Sua raposa de
estimação vai quebrar meu pescoço se eu sequer te olhar do jeito errado."
"Não haja como se você estivesse com medo dele. Você supostamente pode
demolir prédios." Eu relaxei na cadeira e o deixei amarrar minhas mãos atrás
de mim. Ele levou tempo fazendo isso, como se ele estivesse tecendo ou
trançando.
"Ora, Eugenie, você está dizendo que apostaria em mim numa luta? Estou
tocado. Muito tocado. Embora, eu tenha ouvido que as raposas têm garras
bem afiadas. Como vão aqueles arranhões nas suas costas, aliás?"
Kiyo chegou, carregando a tigela de água. Ele congelou quando ele viu Dorian
amarrando uma acorda acima dos meus seios e ao redor dos meus braços.
"O que é isso?"
"Um despertar." disse Dorian.
"Está tudo bem," eu disse. "coloque a água ali."
Kiyo colocou e então parou perto de mim, braços cruzados e os olhos no rei
gentry. De novo, Dorian demorou em amarrar meu braço. Ele usou várias
cordas, e conseguindo ver melhor dessa vez, eu percebi que ele estava
mesmo tecendo elas em um intrincado padrão.
Estético e funcional.
"Aí." Com um último nó apertado, ele se ajeitou e contemplou seu trabalho.
"Nada mal. Parece que eu não me esqueci de amarrar um nó decentemente
afinal de contas. Mais uma coisa, e estamos prontos."
"Mais uma coisa" acabou sendo uma venda.
"De jeito nenhum." eu disse.
"Eugenie, minha querida, seus protestos de ultraje são adoráveis, mas eles só
continuam a nos atrasar. Se você quer que eu te ajude, então me deixe
ajudar. Se não, então me leve para um daqueles lugares onde mulheres
humanas usam pouca roupa e rapidamente perdem sua virtude por causa do
álcool."

Eu o deixei vendar, me sentindo agitada. Eu confiava em Kiyo e meio que
confiava em Dorian, mas as amarras já tinham me deixado agitada. Eu não
gostava de ficar presa ou a mercê do controle de outra pessoa. O mundo
brilhante ficou escuro enquanto o tecido cobria meus olhos.
"Isso tudo está me dando um mau pressentimento." Kiyo disse ali perto.
"Pelo contrário," disse Dorian. "está me dando um sentimento muito quente
e agradável. Mas eu suponho que devemos voltar para a aula, hmm?"
"Essa é a parte em que você explica porque me amarrou?" eu perguntei. "Ou
eu descubro que você só fez isso por diversão."
"Não, não. Por mais hilário que seja eu tenho meus motivos. Agora. Eu vou
pegar essa tigela de água que Kato tão gentilmente pegou ­"
"É Kiyo," veio uma irritada resposta.
"Sinto muito. De qualquer forma, eu vou colocar ela em algum lugar nesse
paraíso em miniatura, e você vai-me dizer onde está."
"Oh. Entendi. Eu devo tipo, trabalhar com meus sentidos não visuais? Ouvir
onde ela foi colocada?"
"Você não vai usar nenhum sentido físico."
Eu ouvi ele se afastar, presumidamente com a água, mas eu não consegui
saber onde ele tinha o colocado. Ele andou e andou em círculos, chutando
pedras e fazendo barulho com os sapatos então eu não fazia ideia da onde
estava quando ele retornou. Quando ele falou a seguir, as palavras dele
foram diretas em meu ouvido de novo.
"Agora, dando liberdade, mesmo com apenas uma venda, você iria ficar
inclinada a se mexer e querer usar algo ­ qualquer coisa ­ para encontrar a
água. Você iria virar e cheirar o ar, tanto faz. Agora você vai ter que aceitar
que tudo isso se foi. Você não pode confiar no que você geralmente confia.
Você está presa e sem poderes ­ mais ou menos. Seda a isso. Se abra ao que
vier. Encontre a água."
"Como?"

"Alcançando ela. Procure em sentidos diferentes dos cinco normais. Lembrese
dos exercícios que fizemos da última vez, sobre alcançar além de você ­
nesse mundo, não dos espíritos."
"Eu pensei que a mágica era congênita. Não é isso que separa humanos de
gentry?"
"É congênita. E sua mágica interior convoca e controla tempestades. Para
fazer isso, você deve convocar e controlar os elementos apropriados. E para
fazer isso, você deve ser capaz de encontrar eles. Então, se foque no
exterior."
"Como faço isso?"
"Só se concentre. Mas relaxe também. Pense na água. Como você a sente,
como é. Espalhe sua consciência ao nosso redor, mas não entre em transe e
deixe seu espírito sair. Isso seria trapaça."
"Quanto tempo leva?"
"O tempo que você precisar."
Ele se afastou, e eu sentei ali e esperei por alguma revelação. Ok. Em algum
lugar ao meu redor tinha uma tigela de água. E em algum lugar dentro de
mim, eu deveria ser capaz de senti-la. Eu não teria acreditado em nada disso
se a sala do outro lado da porta não fosse prova dos meus poderes
sobrenaturais. Mas eu não tive que pensar para causar a tempestade. Isso
era diferente.
E eu quase a senti, a princípio, como meu próprio corpo. As amarras de
Dorian não tinham me machucado, mas elas estavam apertadas. O corte com
os pontos doeu um pouco. A minha cabeça doía. Os músculos da minha
perna pareciam torcidos e inflamados. Eu devagar fiz um inventário de cada
parte de mim, avaliando como cada um estava. Eu sentia a batida do meu
próprio coração, a firmeza da minha respiração.
Depois disso, eu comecei a me concentrar nas coisas ao meu redor. Eu ouvi
alguém, Dorian talvez, pegar uma cadeira e sentar. Um avião passou no céu.
Um dos meus vizinhos tinha um alimentador de pássaros, e pardais
regularmente apareciam ao redor. Os duros choros de pássaros, menos

melódico soavam a distância. Minha rua tinha poucas casas e era longe do
transito, mas a uma quadra mais ou menos, um carro ligou e então saiu.
Eu pensei sobre água, sua apelação crescendo enquanto o sol brilhava. Eu
tinha colocado protetor solar e fiquei alegre por isso. Ainda sim, eu podia
sentir o suor saindo de mim. Água seria bom, refrescante. "A casa de minha
mãe tinha piscina, e de repente eu não queria mais nada do que mergulhar
naquela superfície cristalina."
Eu pensei na tigela de água, pensando na temperatura fria dela, a minha pele
molhada. Eu tentei sentir, tentei chamar por ela.
"Ali," eu disse finalmente. Eu não sabia quanto tempo tinha passado. Um
pouco.
"Onde?" perguntou Dorian.
"Às quatro horas."
"O que?"
"Ela quer dizer por ali," eu ouvi Kiyo dizer. Presumidamente ele apontou.
"Não," disse Dorian.
"O que?"
"Desculpe."
"Foi por pouco?"
"Não."
"Nem um pouco?"
"Não."
"Mas que merda! Solte-me." Eu lutei contra minhas amarras.
"Dificilmente." A voz de Dorian tinha certa surpresa. "Devemos tentar de
novo."

"Oh, deus do céu. Isso pode ser ainda mais chato do que meditação," eu
reclamei. "Posso pelo menos tomar alguma coisa?"
Ele hesitou. "Na verdade, eu acho que suas chances vão aumentar se você
estiver com sede."
"Oh, qual é ­ "
"Vamos lá," disse Dorian. Eu o ouvi levantar e caminhar de novo, e mais uma
vez eu não sabia dizer onde ele tinha soltado a tigela.
Quando ele voltou para cadeira dele, eu tentei de novo. Mais tempo passou
enquanto eu concentrava meu coração nisso. Em um ponto, eu ouvi alguém
se levantar e andar até a porta.
"Quem foi esse?"
"Eu," disse Dorian. "Estou entediado."
"O que? Você é meu professor."
"O kitsune vai ligar se você precisar de mim."
"Eu não acredito nisso," eu disse quando ele saiu.
"Hey, foi sua ideia," disse Kiyo.
Eu ouvi ele se mexer na cadeira, ficando confortável.
Eu estava prestes a dar um palpite de novo quando Dorian voltou para fora.
"Ali. Nove horas."
Kiyo deve ter apontado de novo.
"Não," disse Dorian.
Ele me fez fazer de novo, e então, eu estava furiosa. Meus músculos
doloridos, que já tinham passado por bastante, estavam ficando duros por
causa da falta de movimento. O calor era insuportável. Para piorar, Kiyo
perguntou se Dorian queria algo para beber e então entrou. Ele voltou, e eu
ouvi o som de duas cocas se abrindo, seguido por dois copos se enchendo.

Depois disso, eles começaram uma conversa casual.
"Eugenie vai ao meu baile Beltane," Dorian explicou,"como minha convidada
especial."
"Parece ótimo."
"Seu entusiasmo é palpável."
"Não é minha coisa, só isso."
"Ah, pena. Porque se você quisesse ir, ficaria feliz em estender o convite."
"Eu não quero que você tenha problemas."
"Não é problema. Você poderia ir com Eugenie. Eu sempre faço arranjos
especiais para dignitários, companhias e servos."
"Vocês dois podem calar a boca?" eu perguntei. "Estou trabalhando aqui."
Eles ficaram quietos.
Água, água. Eu precisava daquela droga daquela água para que Dorian me
desamarrasse e eu pudesse voltar para o ar condicionado. Eu também iria
beber um galão de água enquanto eu estivesse lá. Talvez dois ou três. Na
verdade, quando eu encontrasse aquela tigela idiota, eu ia jogar ela por cima
da minha cabeça.
Suor se acumulou na minha camiseta e onde as cordas e venda se
pressionavam contra minha pele. Eu provavelmente tirei o protetor de tanto
suar e ficaria queimada. Como se meu corpo não tivesse passado por coisas o
bastante. Onde diabos estava aquela água? Porque eu não conseguia
encontrar?
Eu pensei na piscina da minha mãe, prometendo que ia fazer uma visita a ela
amanhã. Deus estava quente. Eu só queria ficar mais fria. Água, água, água.
Eu me sentia como Helen Keller45. Ou talvez uma daquelas pessoas Lakota
45 Helen Adams Keller foi uma escritora, conferencista e ativista social estadunidense.
Nascida no
Alabama, foi dos maiores exemplos de que as deficiências sensoriais não são
obstáculos para se obter
sucesso. Helen Keller foi uma extraordinária mulher, triplamente deficiente, que ficou
cega e surda,
desde tenra idade, devido a uma doença diagnosticada na época como febre cerebral
(hoje acredita-se
que tenha sido escarlatina). Superou todos os obstáculos, tornando-se uma das mais
notáveis
personalidades do nosso século. Ela sentia as ondulações dos pássaros através dos
cascos e galhos das
árvores de algum parque onde ela passeava.

que dançavam para o sol onde excessivo calor causava alucinação. Talvez eu
pudesse imaginar água.
Eu suspirei, e então, de alguma forma, eu senti algo frio me tocar. Ele
suavizou o calor. Eu me endireitei o máximo que eu pude. Eu tinha
conseguido? Era assim que era o toque da água? A terceira vez era sortuda.
Sim. Ali estava de novo. Como um ar frio e úmido soprando do leste. Eu
podia sentir o gosto da umidade, ao meu redor como a umidade de uma
sauna.
Eu inclinei minha cabeça na direção que eu senti o ar frio. "Eu consegui. Às
três horas."
"Não."
"Diabos que não está!"
Eu ouvi Dorian levantar. Ele suspirou. "Eu acho que é melhor pararmos por
hoje."
"Mas eu juro que consegui! Eu posso sentir! Eu estava pensando tanto sobre
água."
"Eu sem que estava."
Ele tirou a venda, e eu olhei para cima. Nuvens ondeadas, colorida como
chumbo, manchando o céu. Vento soprou em mim vindo do leste ­ não
imaginado afinal de contas ­ ficando mais forte.
Ótimo, pingos fortes caíram ao nosso redor, caindo com barulho forte.
Água afinal.

Capítulo Dezenove
Dorian não estava nem de perto tão impressionado com a tempestade
quanto ele deveria estar.
"Você não pode controlar," ele me disse. "não te fez bem nenhum. Até você
dominar as coisas pequenas, você nunca vai controlar as grandes. Eles te
controlam."
Ele não parecia chateado; ele simplesmente mostrou aquela paciência
infinita e atitude de boa natureza que ele sempre tinha. Ainda encantado
com as coisas humanas, ele queria que a gente levasse ele para cidade e
mostrasse a ele entretenimento ­ particularmente as mulheres com baixa
inibição. Considerando que a viagem de carro teria literalmente matado ele,
pedimos pizza.
Dava pra ver que meio que era decepcionante para ele, mas ele ainda
aproveitou. Ele encontrava deleito em tudo, eu percebi. Bem ­ exceto por
aqueles momentos extremos de tédio que parecia atormentar ele, embora
mesmo nesses, ele ainda conseguisse encontrar algum tipo de piada. Eu não
conhecia muitas pessoas assim.
Eu vi mais uma vez aquela semana, dessa vez no lugar dele. Ele me fez
repetir o experimento chato com a água cinco vezes, mas só tivemos
exatamente o mesmo resultado. Pelo menos dessa vez não conjurei
nenhuma tempestade. Quando perguntei se podíamos fazer outra coisa da
próxima vez, ele riu e me mandou para casa.
No dia antes do baile de Dorian, eu juntei coragem para fazer algo que eu
estava pensando em fazer a um longe tempo agora: visitar Wil Delaney.
Ele ainda deixava mensagens com Lara quase todo dia, mas não foi isso que
me fez finalmente ver ele de novo. Desde a visita da minha mãe, eu não fui
capaz de esquecer a ideia dela presa, miserável e sozinha, no castelo do Rei
Storm. A dor daquela imagem foi transferida para minhas impressões de
Jasmine, e não importava o quão relutante a garota tinha sido em partir, eu
sabia que ela ainda era uma vítima. Eu queria fazer algo ­ qualquer coisa ­

para ajudar ela, mas não fazia ideia de onde começar ou sequer como fazer
isso, considerando o desastre da última fez. Falar com Wil de novo parecia à
coisa semi-razoável para começar.
Kiyo foi comigo, dirigindo o carro alugado já que o pobre Spider46 dele saiu
de comissão. Esse caro é um Toyota Camry47 novo que parecia bem bom
para mim, embora estivesse obviamente causando stress a ele.
Quando batemos na porta, Wil não respondeu imediatamente.
"Tem certeza que ele está aqui?" Kiyo perguntou.
"Yeah. Eu acho que ele nunca sai. Provavelmente estamos sendo escaneados
termicamente ou algo assim."
Kiyo me deu um olhar interrogativo.
"Só espere." eu avisei.
Um minuto mais tarde, eu ouvi várias fechaduras e fechos se abrindo, e o
rosto de Wil apareceu.
"Oh, meu Deus," ele arfou o rosto se iluminando. "Você voltou. Espere.
Quem é esse?"
"Um amigo. Agora deixe a gente entrar."
Wil deu a Kiyo um olhar hesitante e finalmente abriu mais a porta. Enquanto
entravamos, eu percebi pela expressão de Kiyo que ele estava tendo
exatamente à mesma reação de estranheza a casa de Wil. Ele pausou em
particular numa revista colocada numa mesa. No título de artigo lia-se:
ELES ESTÃO USANDO SEU DNA PARA RASTREAR VOCÊ! USE UMA TOUCA
QUANDO SAIR DE CASA!
"Eu sabia que você ieia voltar," Wil disse, nos levando até a cozinha.
"Quando vamos voltar?"
"Não sei se vamos, Wil."
46 Esse modelo de carro http://www.terra.com.br/economia/carro-mais-
caro/img/ferrari-f430-spiderf1.
jpg
47 Esse modelo de carro http://autobrasil.files.wordpress.com/2009/01/toyota-
camry.jpg

"Então porque ­"
Eu ergui minha mão e o silenciei. "Agora eu só quero conversar, só isso."
O rosto dele caiu, mas ele acenou e andou até a geladeira. "Quer algo para
beber?"
"Claro. O que você tem?"
Ele abriu a geladeira. Dentro havia dez jarros de água cujos rótulos garantiam
uma ultra-ultra-ultra purificação e refinamento contra impurezas.
"Água," nós dissemos. "a maior parte das bebidas está cheia de ­"
"Água está bom."
Ele serviu três copos de água e sentou conosco, me observando com
expectativa.
"Eu quero saber mais sobre Jasmine," eu expliquei. "Se formos capazes de
voltar..."
De novo, o rosto pálido dela apareceu em minha mente. Eu engoli. "Pode
não nos ajudar se ela não quiser sair. Tem algo sobre ela... qualquer coisa
que talvez explique isso?"
O fanático brilho sumiu dos olhos dele, substituído por algo sóbrio e triste.
"Eu não sei. Eu quero dizer, eu acho que uma parte disso é por ter quatorze
anos, sabe? Não que ela tenha parecido tão impressionável. Eu acho que
podem ter feito lavam cerebral nela. Tem vários documentos sobre isso.O
governo faz isso o tempo todo. Eu imagino que até mesmo fadas tem suas
técnicas de condicionamento..."
Ele começou a tagarelas sobre isso, e eu senti a mão de Kiyo descansar na
minha coxa debaixo da mesa e dar um leve aperto. Era uma coisa menos
sensual e mais um No que diabos você nos meteu?
Mantendo minha expressão neutra, eu finalmente interrompi o discurso de
Wil. "Você pode nos dar qualquer informação sobre ela? Tipo... o que ela
gostava? Gosta? Desgosta? Se tivermos algumas idéias disso, pode nos
ajudar a entender ela melhor."
"Bem," ele disse com dúvida. "Eu podia mostrar a você o quarto dela."

Ele nos levou mais para dentro da casa, que era tão escura quanto à cozinha,
e para dentro de um pequeno quarto que cheirava a poeira e desuso.
Provavelmente fazendo um grande sacrifício em relação a seus valores, ele
ligou as luzes. Por meio segundo, eu fiquei aliviada pelo quarto de Jasmine
não espelhar o resto da existência maluca de Wil. Parecia o quarto normal de
uma adolescente.
A princípio.
E então eu vi os pôsteres de fadas.
Eles eram intercalados com outras fotos de fantasia ­ unicórnios e paisagens
sonhadoras ­ mas fadas definitivamente eram o tema principal espalhado
contra aquelas paredes rosa.
Aquelas imagens não eram representações precisas dos gentry muito
parecidos com humanos, mas mostrava mais do que a cultura pop via como
as fadas deveriam ser: pequenas e com asas, brincando com flores e
vagalumes. Esses tipos de seres existiam no Outro mundo, embora
tecnicamente eles fossem duendes.
"Você não achou que isso fosse relevante?" eu sussurrei, olhando ao redor.
"Isso é fofo," disse Wil. "Coisas que garotas gostam. Ela gosta dessas coisas
desde pequena."
Eu entrei mais no quarto e ajoelhei na frente de uma pequena estante de
livros. J.R.R Tolkien48. C.S Lewis49. J.K Rowling50. Mais e mais títulos de
fantasia. Um santuário para escapismo.
Olhando ao redor, Kiyo parecia estar pensando o mesmo que eu. "Tem
alguma foto? Algum amigo dela?"
Wil balançou a cabeça. "Ela não tinha muitos amigos." Ele sentou na cama
rosa e encontrou um pequeno álbum no chão. "Tem algumas fotos."
Kiyo e eu sentamos perto dele. O álbum era meio que um registro da infância
de Jasmine. Havia algumas fotos de bebês e algumas fotos dela quando
48 Autor do Senhor dos Anéis.
49 Autor das Crônicas de Nárnias.
50 Autora do Harry Potter

criancinha. Wil estava em muitas daquelas fotos, mas vimos pouco dos pais
deles. Eu me lembrei do comentário amargo sobre a ausência crônica deles.
Encontramos fotos dela com outras crianças, mas conforme ela foi ficando
mais velha, esse tipo de foto se tornou rara. Na maior parte essas pareciam
ser fotos que alguém ­ Wil, provavelmente ­ tinha tirado enquanto ela
estava ocupada com algo. Uma mostrava ela lendo um livro, outra deitada
numa rede no quintal enquanto o sol iluminava o cabelo loiro avermelhado
dela. Ela tinha notado o fotografo e olhou para a câmera com um triste e
doce sorriso.
"O que ela fazia para se divertir?" eu perguntei quando Wil fechou o algum.
"Hobbis? Esportes?"
Ele gesticulou em direção as prateleiras. "Ela gosta de ler, obviamente. E ela
gostava de ficar lá fora. Ela dava algumas caminhadas, às vezes plantava
flores. Não gostava de nenhum esporte nem nada disso.
"Ela deveria ficar com outras pessoas," eu apontei. "Você não disse que ela
estava numa festa quando foi levada?"
"Yeah... o que é meio surpreendente, na verdade. Mas ela ia a coisas assim
de vez em quando. Não era sempre. Mas às vezes. Eu quero dizer, ela fazia
coisas comigo às vezes também. Fomos para a Disneylandia uma vez. Vimos
filmes. Mas na maior parte ela era sozinha."
"Você sabe por quê?"
"Não. Eu acho... eu acho que ela tinha problemas para se relacionar com
pessoas da idade dela. Ela era inteligente, sempre meio que a frente do seu
tempo."
A voz dele era desejosa, e eu percebi que não importava o quão instável ele
era em certas coisas, ele realmente amava e sentia falta da sua irmã.
"Ela era tão reclusa antes dos pais morrem?" perguntou Kiyo gentilmente.
"Yeah. Ela sempre foi desse jeito."
Depois de um pouco mais de investigação no quarto, finalmente saímos. Wil
insistiu sobre o que eu iriaa fazer sobre Jasmine, mas eu não tinha resposta
para dar a ele.

"Bem," Kiyo disse depois de alguns minutos na estrada. "Isso foi
deprimente."
Eu não respondi imediatamente enquanto encarava a estrada a nossa frente.
"Eugenie? Você está bem?"
"Não. Na verdade não." Eu suspirei. "Aquela pobre garota."
"Mas começa a fazer mais sentido, não é?"
"Yeah. Isolada do mundo real, ela começa a viver em um mundo fantasioso.
Então de repente Aeson da a ela a chance de fato viver em um."
Ele acenou concordando. "É claro, seqüestrar e estuprar provavelmente não
era a forma que ela imaginou escapar para o mundo das fadas."
Eu encarei de novo por um tempo. "Ela me lembra de mim."
O olhar que ele me deu foi destorcido. "Você dissociava a um mundo faz de
conta em que tinha esperanças que fosse real?"
"Não. Mas eu sempre fui meio sozinha também. Eu acho que tinha mais
amigos que ela, eu admito, mas eu sempre tive problemas para me
relacionar com outros. Ficou pior quando Roland me fez aprendiz dele. Era
difícil ficar excitada com banda de garotos quando você está aprendendo a
exorcizar fantasmas."
"Eu não acho que você perdeu alguma coisa."
Eu o premiei com um sorriso enquanto continuei falando. "Embora eu não
tivesse muitos amigos, eu sempre os quis, quis ser notada. Se Jasmine é
igual, então ela provavelmente gosta de ser amante de Aeson, por mais
enjoativo que isso seja. Ele provavelmente dá atenção a ela."
"Você tem razão... embora eu me pergunte se tenha mais, além disso."
"Como assim?"
"Eu acho que muitos adolescentes se sentem desconectados as vezes, como
se ninguém entendesse eles. Eu quero dizer, eu me senti desse jeito várias

vezes. Não tenho certeza se teria considerado o que acontecer com ela como
um tipo de salvação."
"Nem eu. Mas eu suponho que todos nós pensamos de forma diferente. Eu
assumi coisas solitárias. Correr. Nadar.
"Quebra cabeças?"
"Hey," eu disse. "Como você sabe sobre isso?"
"Porque você tem cerca de cem deles no armário."
Eu ri, então considerei algo que ele tinha dito. "Como foi para você, crescer?
Você sabia desde o início o que você era certo?"
"Yeah. Meus pais nunca fizeram segredo disso. Eles aceitaram que era de
mundos diferentes ­ literalmente ­ e não lutaram contra isso. Eu gosto dos
dois mundos, o que é o motivo deu não querer ver alguém conquistar esse. É
claro, eu tive vários momentos na minha vida, principalmente quando eu era
jovem e mal humorado, que eu ficava bravo com meus pais. Então eu jurava
que ia ser totalmente kitsune ou totalmente humano, dependendo de quem
me irritava."
"Sua raiva adolescente deve ter sido uma coisa terrível," eu provoquei.
"Você não faz ideia."
"Seus pais ainda estão juntos?"
"Não. Ainda amigáveis. Minha mãe finalmente ficou no Outro mundo de vez
quando eu fiquei mais velho. Eu a vejo de vez em quando. Quebrou o
coração do meu pai ­ ele era maluco por ela ­ mas ele casou de novo e
parece estar melhor."
Eu me inclinei contra meu assento. "Agora que eu sei o que sou... eu meio
que queria ter sabido antes. Eu gostaria de ter começado mais cedo com
minha mágica e ir destruir o castelo de Aeson e trazer Jasmine de volta."
"Você não sabe se consegue fazer isso." ele avisou. "Você é meio humana.
Você pode não ter conseguido todo o poder dele."

"Você tem tudo que sua mãe tem?"
Ele hesitou. "Sim."
"Eu não posso deixar Jasmine lá. Não sabendo o que eu sei. Mas eu não sei
como trazer ela de volta."
Kiyo se esticou e tocou minha mão. "Vamos pensar em algo. Não se
preocupe." Era um pouco reconfortante, mas acho que nós dois sabíamos
que era o tipo de palavras vazias que você diz para fazer alguém se sentir
melhor. Eu duvidava que ele tivesse idéias melhores de como resgatar
Jasmine.
Kiyo não tinha que trabalhar até a manhã seguinte, então decidimos ir
caminhar no Canyon Sabino. Esforço físico parecia ser um jeito bom de
esquecer garotas seqüestradas, e foi. A temperatura pulou para três
dígitos51, e estávamos exaustos e suados quando finalmente fizemos a
viagem de volta, nós dois bebendo das garrafas gulosamente. Eu vi ele me
observando em certo ponto quando paramos para descansar. Havia uma
expressão contente e de admiração no rosto dele, não puramente sexual
para variar.
"O que?" eu perguntei.
"Seu cabelo. Eu nunca percebi o quão vermelho é. O sol o ilumina como
fogo."
"Isso é uma coisa boa?"
"Muito boa."
O olhar confortável no rosto dele mudou, e eu vi o familiar brilho de
necessidade surgir. Não falamos muito depois disso. O resto da nossa
caminhada e subseqüente volta para casa se procedeu em silêncio, mas o ar
queimava entre nós, mais quente do que sentimos lá fora. Tim não estava à
vista quando chegamos em casa. Que bom. Eu liguei o chuveiro, ansiosa para
tirar o suor e a sujeira, e Kiyo entrou comigo.
51 Nos EUA a temperatura é medida em Fahrenheit e não em Celsius.

"Estamos aqui para nos limpar," eu avisei.
"Claro," ele disse, me empurrando contra a parede.
Água caia em nós enquanto nos beijávamos e tocávamos e tentávamos
alguma coisa parecida com nos lavar. Não sei o quão bom foi nosso trabalho.
Eu acho que algumas partes foram significativamente mais ensaboadas que
outras.
Eu não teria me importando com sexo no banho, mas não tínhamos
camisinhas ali. Às vezes eu achava que o controle de natalidade duplo era um
exagero; oito anos, e eu nunca tive problemas com a pílula. Mas nós dois
sabíamos o quão alta estavam às apostas. Uma camisinha era uma coisa
pouca para pedir. Caímos na minha cama, ainda meio escorregadios e
ensaboados. Ele colocou a camisinha em tipo, dois segundos, e eu me movi
em cima dele. Preliminares aparentemente não iam não ter um grande papel
na nossa relação. As mãos dele agarram meus quadris, me parando por um
momento.
"Você tomou sua pílula hoje?"
"Sim, sim," eu assegurei ele.
Ele relaxou e me soltou, deixando eu me mover para baixo e colocar ele
dentro de mim. Um som suave, meio gemido e meio suspiro, escapou dos
lábios dele. Ele abriu os olhos e sorriu para mim.
"Você é...a coisa mais certa no meu mundo."
Eu sorri em resposta, sabendo exatamente ao que ele se referia. Era bom e
certo ficarmos juntos, como se a tensão do mês passado não tivesse existido.
Estávamos onde deveríamos estar continuando de onde paramos na nossa
primeira noite juntos.
As mãos dele agarram os meus lados, as unhas dele tocando minhas costas
enquanto meu corpo subia e descia. Uma sensação de apreensão passou por
mim sempre que aqueles dedos voltavam para perto das minhas costas, mas
ele continuou a mostrar controle. Os arranhões finalmente estavam sarando,
cedendo devagar.

Ele me deixou ficar por cima só por um minuto mais ou menos, antes de me
virar e me tirar daquela posição, com toda paixão agressiva e furiosa. Eu
tentei nos mudar uma vez, e ele brincando me colocou de volta no lugar.
Talvez fosse uma coisa de raposa, ou talvez fosse à natureza humana dele,
mas algo nele gostava de ser o dominante. Eu decidi não lutar contra isso,
muito ocupada nadando na brisa e no fogo dele se movendo dentro de mim.
Quando terminamos, ele rolou e me puxou para perto dele. Feliz, enterrei
meu rosto contra o corpo dele, bebendo o cheiro dele e me sentindo
intoxicada. Agarrados um ao outro, ouvimos nossa respiração acelerada se
acalmar. Pela primeira vez há um tempo, eu me senti segura e em paz.
As coisas eram exatamente o que elas costumavam ser.
Ele ficou comigo aquela noite, e nossos corpos se envolveram ao redor um
do outro na escuridão. Meu corpo caiu nos velhos hábitos e eu me encontrei
deitada acordada muito depois dele ter adormecido. Eu me remexi, contei
estrelas no meu teto e tentei forçar minha mente a se acalmar.
Eu tentei demais, aparentemente, porque minha mente entrou em transe,
minha consciência não estava nem acordada nem dormindo. Reconhecendo
isso, eu comecei a sair dela até que imagens apareceram na minha mente,
uma familiar com uma barreira que eu não reconhecia e uma figura negra
parada perto de mim.
A memória que eu tinha meio que começado na sauna voltou, flutuando pelo
olho da minha mente. Eu de repente me encontrei olhando para cima, para o
Rei Strom. O medo estava ali, o medo de que eu não poderia escapar dele e
de que ele me levaria pra longe.
Então, assim como antes, eu busquei por algo tanto interior quanto exterior.
Poder passou por mim, e o ar ficou mais pesado. Nuvens negras se formaram
do nada, cobrindo o céu. Suaves trovões ecoaram ao nosso redor. Eu ainda
não conseguia ver o rosto dele nessa memória, mas eu podia sentir a
diversão dele.
"Você vai tentar lutar comigo, pequenina?" Um poder diferente se reuniu ao
nosso redor enquanto ele reunia o poder dele. "Eu gosto da sua atitude ­
embora você esteja lutando uma batalha perdida. Por agora, pelo menos.
Venha comigo, e eu vou te mostrar como você pode realmente usar seus
dons."
Ele gentilmente empurrou seu poder contra mim, tentando dominar o meu.
Eu suguei mais da minha mágica, deixando-a correr por mim. Ela queimou,
mas era maravilhosa. Incrível. Como nada que eu tivesse sentido antes ou
pudesse ter compreendido. Eu era mais do que uma humana naquele
momento, mais do que Eugenie Markham, mais do que um deus. Ela me
encheu, mas mesmo ali, eu não podia controlar ela. Ainda não. Raios caiam
acima de nós, seguido imediatamente por trovões. O Rei Storm ainda estava
se empurrando contra mim. Eu não acho que eu fosse realmente uma rival
para ele, mas ele não estava esperando tanta luta. Eu tentei focar meu
poder, segurar ele e usar contra ele. Mas era escorregadio; eu não conseguia
segurar.
Raio brilhou de novo, e eu tentei segurar ele com minha mente, querendo
atingir ele.
Só que minha mira foi ruim. Eu me atingi.
Eu gritei dor passando por mim enquanto eu me tornava o condutor do raio,
seus meios de me aterrar. Mas ele não podia me matar; não podia nem me
machucar ­ tanto.
Eu era um com a tempestade, e a mágica que eu invoquei era minha. Ela
passou pelo meu corpo, terrível e magnífica, uma dor que queimava
introduzida com prazer, um ecstasy que eu nem queria soltar...
Eu sentei direito na minha cama, buscando ar. Imediatamente, Kiyo estava
ao meu lado, perguntando o que havia de errado. Eu não consegui responder
imediatamente. Aquele furioso e exultante poder estava enfeitado na minha
memória. Ainda sim, mesmo enquanto eu estava sentada ali, eu podia sentir
a memória desaparecendo, as sensações recordadas indo com ela. Uma
parte de mim gritou por ela, querendo que ela ficasse. Mas ela estava indo.
"Eugenie?" eu acho que foi a centésima vez que ele falou meu nome. "Qual
problema?"
"Um sonho," eu murmurei, fechando os olhos. Mesmo com a mágica tendo
sumido ­ sumido há anos, na verdade ­ meu corpo tremeu de prazer. Eu me

senti viva, minha pele formigando reconhecendo tanto a mágica em si
quando o mundo ao redor de mim. Eu abri os olhos e virei para Kiyo,
colocando minhas mãos nos braços dele, apertando meus dedos na pele
dele.
"O que ­ hmmm."
As palavras dele foram engolidas pelo meu beijo. Minha boca se alimentou
tão ferozmente que eu senti o gosto de sangue onde eu tinha mordido o
lábio dele. Em um instante, eu senti a luxuria animal dele responder a minha
própria quando as mãos dele agarraram meu quadril e ele tentou me puxar
para baixo. Mas eu já estava empurrando ele pra baixo, me movendo para
cima dele.
"Não lute comigo nessa," eu rosnei, afundando minhas unhas contra ele.
Ele sorriu. Eu acho que ele pensou que eu estava brincando, sabendo pouco
do poder e agressão que de repente estava passando por mim. As mãos dele
deslizaram para os meus pulsos. Segurando eles com força, ele rolou para
cima de mim, pressionando todo o seu peso no meu corpo. "Um pouco de
luta não é ruim," ele provocou.
"Não." Minha palavra foi feroz. Imutável. Ainda envolvida pelo poder do
sonho, eu surpreendi a nós dois e o virei para ficar por cima. Foi como
quando fizemos sexo mais cedo, só que agora os papeis estavam invertidos.
Minha própria força me surpreendeu.
"Não lute comigo," eu repeti, minha voz baixa e perigosa.
Os olhos dele se alargaram na quase escuridão. Só houve um segundo de
pausa. "O que você quiser." Ostensivamente, ele soava excitado e divertido,
mas havia uma corrente de nervosismo ali também.
Queimando e exultante, eu movi minha boca e quadris para baixo. Nós dois
arfamos enquanto eu o colocava dentro de mim. Nenhuma camisinha, nada
entre nós. Eu tremi com o contato, gemendo de excitação como se a ideia de
que ele me sentir diretamente e eu toda molhada. Pele contra pele. Talvez
eu devesse ter me movido devagar, deixa-lo saborear essa nova sensação,
mas meu corpo estava impaciente demais.

Eu montei nele o tão furiosamente quanto ele tinha feito antes, algo dentro
de mim precisava afirmar minha dominância e posse dele como meu. Minhas
unhas tiraram sangue, e ele gemeu alto toda vez que nossos quadris se
bateram. Eu me senti poderosa, em controle. Como se eu pudesse fazer tudo
ou conquistar qualquer um. O calor e felicidade do orgasmo começou a
crescer dentro de mim, e uma pequena parte de mim se perguntou se eu
estava me excitando porque eu estava empurrando ele para dentro de mim
ou simplesmente por causa da adrenalina da dominação. E se fosse o último,
sobre quem eu estava exercendo controle? Kiyo? O Rei Storm?
O ecstasy na parte inferior do meu corpo ficou mais intenso, mais urgente.
Eu deixei de lado a especulação e me deixei levar por meus próprios desejos
egoístas. Eu olhei para Kiyo; ele olhou de volta como se ele estivesse
assustadoramente me reconhecendo.
"Meu," eu arfei, segurando meu orgasmo. "Agora, nesse momento, você é
meu."
Kiyo fez um barulho estranho de prazer, a cabeça virada para trás.
Eu estava prestes a vir; eu não ia conseguir segurar meu corpo por muito
mais tempo. Eu não queria segurar por muito tempo. Eu era a poderosa aqui.
Eu estava pegando o que eu queria. Mas primeiro, eu precisavam me
certificar que ele sabia disso.
"Diga," eu disse a ele entre a respiração pesada. "Diga que você é meu. Diga
para mim, e eu deixo você gozar. Eu deixo você gozar em mim. Eu deixo você
explodir em mim."
"Eugenie..." ele gemeu quando eu comecei a diminuir o ritmo.
"Você é meu." eu disse a ele de novo. A adorável agonia entre as minhas
cochasas era quase demais para suportar. Eu iria perder o controle.
Mas Kiyo perdeu o controle antes. "Sim... sim. Oh, Deus, Eugenie. Sou seu."
O poder daquela admissão me excitou, física e mentalmente. Gritando alto,
eu joguei para trás minha própria cabeça enquanto eu vinha. Eu não precisei
ver o rosto dele para saber que ele estava gozando também. Eu podia sentir
o jeito que o corpo dele tinha espasmos dentro do meu. Apertando ele com
mais força, eu ganhei outro gemido de prazer dele e outro orgasmo para
mim. Foi glorioso.
Nós dois trememos com a força da nossa reação.
Quando finalmente nos separamos, suando e respirando com força, nenhum
de nós pode dizer uma palavra. Finalmente Kiyo descansou sua cabeça no
meu peito como se estivesse buscando conforto ou proteção.
"Seu." ele murmurou finalmente, logo antes de adormecer.

Capítulo Vinte
Eu me tornei meramente mortal na manhã seguinte, as últimas memórias da
mágica lembrada apenas em teoria, não em sentimento. Eu queria tentar
explicar a memória-sonho para Kiyo, como eu pelo menos tinha lembrado o
que aconteceu entre o Rei Storm e eu antes de Roland o matar. Mas eu não
sabia como explicar. Eu mal entendia mágica e eu encontrei que passar
aqueles aterrorizantes, mas gloriosos sentimentos eram quase impossíveis.
Além do mais, eu tinha outras coisas para me preocupar hoje. Era véspera de
Beltane. Eu me encontrei ocupada quase do amanhecer ao anoitecer.
Beltane ­ ou May Day - liderava o retorno da vida ao ano; muitas culturas
européias ocidental consideravam o dia de pico para fertilidade e concepção.
Aparentemente muitas criaturas do Outro mundo também. Como Halloween
­ ou Samhain ­ os portões entre os dois mundos se abrem, facilitando a
passagem entre humanos e coisas do Outro mundo igualmente. Meia noite
do dia primeiro de maio a abertura final, mas as passagens aumentavam
durante o dia trinta 30 de abril.
Já que minha presença na festa de Dorian hoje a noite é de conhecimento
comum, muitos devem ter decidido esperar sua chance antes deu sair do
mundo humano. Felizmente, a maior parte desses mesmos gentry e criaturas
eram aqueles que não poderiam passar sob outras circunstâncias. Isso
significa que eles eram consideravelmente mais fracos, portanto mais fáceis
de banir ou destruir. Infelizmente, quando eles vinham em ondas, eles
também se tornavam uma enorme e exaustiva irritação.
Eu cheguei em casa perto da hora da jantar, não muito antes do horário que
eu deveria aparecer no Outro mundo. Rapidamente, eu tirei minhas roupas
suadas e tomei o banho mais rápido do mundo. Depois, eu consegui fazer
uma maquiagem rivalizando a última, mas me custou tempo. Com os
minutos passando, eu coloquei o vestido que Lara tinha comprado e escovei
meu cabelo. Não havia mais nada pra fazer. Eu coloquei um pouco de
mousse para evitar frizz, e então sai pelo deserto.
Dorian tinha sabiamente colocado minha ancora Slinky em um lugar mais
seguro do que uma mesa. Eu apareci em uma pequena câmara onde um

servo aguardava minha chegada. Ele me deu uma reverência educada e me
levou direto para o quarto de Dorian. Lá dentro, eu encontrei um
pandemônio. Servos, homens e mulheres corriam, fazendo só Deus sabe o
que. Dorian estava parado na frente de um espelho gigante, se olhando em
um roupão azul celeste. Um homem robusto rondava por perto com uma
dúzia de outros roupões pesados nos braços dele. Era o mesmo homem, eu
percebi, cujo lugar eu tinha substituído no críquete.
"Eugenie Markham." anunciou minha escolta.
Dorian me deu um meio olhar. "Lady Markham, tão bom ­ meus deuses. Ela
está usando bege."
Eu olhei para baixo. Lara tinha encontrado para mim um vestido de ceda
num tom que ela chamou de "champagne": um tom marfim colorido com
dourado. Eu não teria pensando que a cor funcionava pra mim, mas ela
aparentemente sabia melhor do que eu. O espartilho sem alças estava
reunindo e decorando com um pouco de contas que brilhavam de todas as
cores, cujo objetivo era imitar os botões do meio. Da cintura pra baixo, a saia
caia em suaves e brilhantes dobras. Ela caia com conforto contra minha
silueta, brilhando levemente somente quando batia nos meus tornozelos.
"É champagne," eu corrigi. "e qual o problema?"
"Nada. É adorável." Ele virou freneticamente para o criado. "Eu não vou
combinar com nenhum desses, Muran. O que mais você tem?"
Muran mordeu os lábios. "Tem o de veludo verde, majestade. Os
ornamentos dele têm essa cor. Junto com uma camisa marfim, ficaria muito
bonito."
Dorian fez uma cara. "Ceda ou cetim seria melhor. Pegue mesmo assim, e
veja se tem algo faltando. Oh, e envie alguém para cuidar do cabelo de Lady
Markham."
"Qual problema com meu cabelo?"

"Nada, onde você se espalhou na minha cama depois de uma noite de
paixão. "Uma jovem mulher correu para frente, e ele apontou sua cabeça em
minha direção. "Cuide dela, Nia."
Nia, uma coisinha pequena com pele de oliva, fez uma reverência para mim e
me levou até o lugar onde Dorian e eu tínhamos conversado pela primeira
vez. Eu não conseguia ver o que ela estava fazendo, mas os dedos dela
trabalhavam com habilidade e intrincavam meu cabelo como Dorian tinha
feito quando prendeu as cordas ao meu redor. Eu só tinha feito meu cabelo
com um cabeleireiro apenas uma vez, e tinha sido para um casamento que
uma amiga cruel tinha exigido que eu usasse um laranja tafetá. O evento
ainda me acordava em pesadelos.
Um fraco formigamento ocasionalmente tocava minha pele enquanto Nia
trabalhava, e eu percebi que ela deveria estar usando mágica para prender.
Eu suponho que seja mais útil do que um prendedor de ferro, mas nossa.
Que desapontamento descobrir que você tem a mágica equivalente a uma
cosmetologista quando outros gentry sabem curar e tem a habilidade de
derrubar prédios.
"Aí está você, minha lady."
Ela me deu um espelho, nervosamente avaliando minha reação. Tranças
dispersas estavam na parte de trás da minha cabeça onde o resto do meu
cabelo tinha se reunido em um rabo de cavalo alto. Ela amaciou e
encaracolou a maior parte do meu cabelo preso, mas algumas mechas
pequenas estavam soltas aqui e ali. Longas e suaves mechas emolduravam
meu rosto, curvando levemente nas pontas. Violetas e botões de rosa
marfim adornavam algumas das tranças.
"Wow." eu disse.
Nia tirou suas mãos. "Minha lady gosta?"
"Muito."
Ela riu de alegria. Com sua estatura pequena e rosto suave, ela parecia ter 16
anos, mas provavelmente passava de um século. "Eu não sabia como
humanos usavam."

Eu sorri e dei no braço dela um tapinha. "É maravilhoso."
Ela parecia pronta para desmaiar de alegria, e eu me lembrei do quão
avidamente os empregados de Dorian sempre pulavam para obedecer aos
comandos dele. Eu estava inspirando esse tipo de lealdade? Ou medo?
Dorian entrou no quarto, resplandecente em um roupão verde floresta, feito
de ceda. As pontas continham um intricado padrão em marfim, marrom, e
dourado, junto com a calça preta e a camiseta por baixo.
"Muito melhor," ele disse, pegando minha mão. "Venha, estamos
atrasados."
Muran e alguns outros nos seguiram enquanto nos dirigíamos para sala do
trono. Dorian não correu, mas uma urgência enfatizava seus movimentos.
"Porque a presa?" eu perguntei. "Eles não esperam a cada prazer seu?"
"Certamente. Mas eu tenho que estar lá antes dos outros monarcas
chegarem, ou vai criar uma complicação de etiqueta. Todos vão reverênciar
quando entrarmos, mas ou outras monarcas não precisam. Se eles estiverem
ali antes de mim, vai ser constrangedor."
"Como assim "reverênciar? Isso significa ­ "
Um Heraldo correu para abrir as portas duplas e anunciar com rugido: "Sua
alteza real, Rei Dorian da casa Casa dos Arkady, invocador da Terra, protetor
da Terra Oak, abençoado pelos deuses."
"Whoa," eu sussurrei. Dorian apertou minha mão.
"- com Eugenie Markham, chamada Odile Dark Swan, filha de Tirigan o Rei
Storm."
Eu não achava que algum dia iria me acostumar a ser chamada pelo título,
mas minha surpresa por causa dele sumiu comparada ao que aconteceu em
seguida. Todos no salão se viraram em nossa direção e ficaram de joelhos, as
cabeças abaixadas. Um silêncio morto caiu. Devagar, quase como um deslize
nós andamos até o centro da ilha, e eu tentei olhar direto pra frente e não
para o mar de reverências. Civilizações se ergueram e caíram com o tempo
que levamos para chegar ao trono. Quando chegamos, Dorian nos virou para
olharmos a assembléia e fez um pequeno gesto indescritível. Eu não sei

como os outros viram com as cabeças tão baixas, mas todos eles se
ergueram e a zumbido e a musica voltaram. As pessoas se mexiam de novo,
se misturando e rindo. Servos passavam com bandejas de comida e bebida.
Podia ter sido qualquer festa humana, a não ser pela ocasião em que os troll
e o fantasma derrubaram vinho. Os homens vestido em várias variações de
um visual da Renascença parecia favorecer Dorian, mas os vestidos das
mulheres tinham mangas grandes e agasalhos gregos e tecidos
transparentes.
"E agora, minha querida, devemos nos separar."
Eu tirei meus olhos da multidão. "Do que você está falando?"
Ele acenou sua mão. "Esses são os maiores nobres do meu reino, sem
mencionar dos outros reinos. Eu devo me misturar ouvir a conversa deles,
agir como se eu me importasse. Você sabe como é."
Pânico se apoderou de mim enquanto eu olhava para o rosto de todos
aqueles gentry. "Porque não posso ir com você? Eu quero dizer, estamos
juntos e tudo mais."
"Porque se eu te mante-la no meu braço o tempo todo, eu vou parecer
possessivo e inseguro. Deixar você sozinha mostra que eu tenho absoluta
confiança que você vai sair comigo hoje a noite, independente de outras
solicitações."
"Oh, meu Deus... eu vou ser cantada a noite toda."
Ele riu. "Não se preocupe, é o que eles fazem ­ a não ser que você deseje ao
contrário. Qualquer um que tocar você contra a sua vontade vai causar a si
mesmo a ira de toda a guarda, sem mencionar a maior parte dos convidados.
Seria um insulto chocante."
"E ainda sim, eu posso aparentemente sair com qualquer um se eu quisesse."
"É claro. Você é livre para escolher como desejar."
"Isso não seria um insulto a sua masculinidade ou algo assim?"
"Um pouco. Mas então eu levaria umas cinco mulheres para minha cama e
me redimiria bem rápido."

"Whoa. Eu sinto como se estivesse te segurando."
"Não se preocupe. Eu me recupero quando você não estiver aqui amanhã."
Eu engoli e olhei ao redor, as piadas incapazes de relaxar minha ansiedade.
"Eu nem conheço ninguém."
Ele virou para mim e deu um suave beijo nos meus olhos. Eu tive que
conscientemente trabalhar para manter meu corpo relaxado. Ainda era um
choque toda vez que ele fazia isso.
"Então você vai ter que conhecê-los." ele disse.
Ele foi em direção ao primeiro grupo de pessoas que ele viu, e eu ouvi
exuberantes saudações quando ele se aproximou. Sentindo-me idiota e
constrangida, eu me perguntei onde eu deveria ir e com quem eu deveria
conversar. Eu não gostava de festas grandes. Muito do meu tempo era gasto
em solidão para que eu saiba como interagir com um grupo como esse. Isso
sem nem levar em consideração eles eram todos residentes do Outro
mundo. Duas das minhas maiores fobias combinadas em uma noite.
"Vinho?" perguntou um servo que de repente apareceu do meu lado.
"Sim, por favor."
Eu peguei uma das taças da bandeja dela e tomei um gole apressado do
vermelho doce e frutífero. Escolhendo uma direção ao acaso, eu dei cinco
passos e fui imediatamente interceptado por um gentry alto usando um
veludo vermelho. Ele tinha cabelo preto e uma barba arrumada.
"Lady Markham," ele disse, tomando minha mão livre e a beijando. "É um
prazer finalmente conhecer você. Sou Marcus, lorde de Danzia da Terra
Rowan."
"Olá," eu disse, sabendo que eu nunca mais iria lembrar o nome dele quando
ele saísse. Ele continuou a segurar minha mão e passou os olhos em mim da
cabeça aos pés. Eu de repente desejei que o vestido não fosse tão apertado e
o decote tão baixo.
"Eu devo dizer," ele murmurou, "eu ouvi falar da sua beleza, mas eles não
têm valor comparado à realidade."
"Obrigado."
Eu tentei tirar minha mão, mas ele a segurou.
"A nobreza da minha família se estende até a época de imigração para esse
mundo. Nós somos renomados por nossos poderosos guerreiros. Mágica
corre forte no nosso sangue, normalmente chamando um dos elementos.
Minhas próprias inclinações são de controlar o ar."
Então eu percebi que ele estava mostrando seu pedigree para mim, rápida e
eficientemente, como um criador mostra seu cachorro campeão nos jornais.
Eu abri minha boca, pronta para dizer a ele que não estava interessada, mas
ele simplesmente continuou falando.
"Alguns homens temem ter um consorte guerreiro. Eles iam procurar
controlar você e usar o poder para suas próprias vontades." Ele inclinou sua
cabeça tão sugestivamente em direção a onde Dorian conversava com uma
alta e magra mulher. "Eu não. Eu não te usaria para meus próprios
propósitos. Você reinaria ao meu lado como igual, dividindo o comando dos
nossos filhos."
Yikes. Esse não era nem nosso primeiro encontro. Eu consegui soltar minha
mão da dele. "Obrigada, mas isso é meio repentino. Mas foi muito bom
conversar com você."
Ansiedade passou pelo rosto dele. "Mas eu nem te contei sobre minha
reputação como um amante ­ "
"Eu tenho um compromisso agora. Desculpe."
Eu dei dois passos para trás, virei, e praticamente dei um encontrão em
outro homem. Além dele, alguns outros tentavam se aproximar
discretamente. Na verdade esse, eu percebi, estava simplesmente esperando
eu rejeitar Marcus. Ele me deu um sorriso encantador.
"Lady Markham, é um prazer finalmente conhecer você..."
Eu meio que perdi noção um tempo depois disso. Eu nunca cheguei muito
mais longe do que naquele ponto e o meu vinho permaneceu esquecido e

intocado. Ouvindo educadamente a cada cantada, eu me diverti
considerando o quanto eu poderia puxar os limites da regra da hospitalidade
antes de ter problemas com Dorian. Ainda sim, não importava o quão
irritante cada cara fosse eu segurei meus instintos rebeldes e mantive um
bom comportamento.
Depois de algumas horas, eu vi Shaya, a mulher de cabelos pretos que tinha
me capturado na primeira noite. Ela andava sozinha no salão. Deixando de
lado meu pretendente atual, eu fugi do próximo e corri até ela.
"Hey, Shaya, como você está?"
Ela me olhou surpresa, o que não era de se surpreender considerando que eu
não falava com ela desde que fui capturada. O vestido dela era de um veludo
azul meia noite, cumprido, mangas justas, e um decote alto. Eu não entendi
todo o histórico dela, mas aparentemente ela era a filha mais nova de algum
nobre e tinha acabado na carreira militar como parte da guarda de Dorian.
"Lady Markham," ela respondeu. Curiosidade se mostrou no rosto dela. "O
que posso fazer por você?"
"Oh, nada. Eu só pensei que nós podíamos... você sabe conversar."
Uma sobrancelha delicada se ergueu. Ela olhou para todos os homens
ansiosos e voltou a me olhar com um meio sorriso. "Parece que você tem
muitos convidados para conversar."
"Por favor," eu sussurrei. "eu sei que não somos amigas, mas só fale comigo
como se fosse. Só por um minuto. Eu não agüento isso. Eu preciso de um
tempo. Estou tão cansada de ouvir sobre o quão grande são os bens de cada
um... sem mencionar outras coisas."
Ela riu o som rico e doce. Ligando seu braço ao meu, ela caminhou comigo,
como se fossemos de fato amigas.
"Eu ouvi histórias sobre as coisas que você enfrentou. E ainda sim, no fim, é
um grupo de nobres desesperados que te derrotam."
Ela me permitiu alguns minutos de solidão, e conversamos sobre coisas
triviais. Enquanto fazíamos isso, eu percebi algo: Ela era muito engraçada. E
inteligente. E...gentil. Eu a vi como uma gentry vadia quando nos

conhecemos, minha atitude abastecida por minha captura e particularmente
por causa do meu antagonismo. Mas ali estava ela, andando comigo como
qualquer pessoa faria os comentários dela tanto inteligentes quanto astutos.
"Eu preciso ir. Rurik está procurando por mim," ela disse finalmente, me
deixando ir. Ela sorriu de novo, divertida e com compaixão. "Agüente eles
mais um pouco. Eles não são nada mais do que chateação."
Eu balancei a cabeça. "Eles são tão bruscos e diretos. É estranho." Kiyo e eu
uma vez tínhamos zombado dos encontros de faz de conta, mas agora, um
pouco menos de honestidade parecia atraente.
"Então seja direta também. Se você for gentil demais, eles vão achar que tem
uma chance e tentar de novo. A maioria agora considera você uma nobre de
alto escalão; arrogância é esperada. Eles não vão achar que você é grossa."
Eu agradeci a ela e a observei partir, assim que uma mão deu um tapinha no
meu ombro. Eu suspirei. Hora de enfrentar os lobos de novo.
Uma raposa, como acabou sendo.
"Hey." eu disse. "Bonitas correntes."
Kiyo estava diante de mim em um lindo terno, suas linhas limpas em preto e
branco faziam um contraste ao lado das roupas coloridas dos outros homens.
"Eu estou usado por você. Achei que você iria gostar de uma mudança do
veludo e ceda. E quanto a você..." Os olhos dele me avaliaram rapidamente.
"Estive ouvindo muitos caras babarem sobre o seu vestido hoje à noite."
"Você está aqui há um tempo? E não foi falar comigo?"
Ele sorriu. "Você parecia ocupada."
"Bem, fique comigo agora. Talvez eles me deixem em paz se acharem que
estou ocupada com alguém."
Encontramos um banco com dois assentos e almofadas bordadas contra uma
parede. Eu suspirei e inclinei minha cabeça contra o ombro dele. Ele colocou
um braço ao meu redor.
"Eu gostaria de estar fazendo ronda como normalmente faço a noite. Lutar
com espíritos e coisas a assim não é nem metade exaustivo quanto isso."

"Então Tucson está indefesa, eh?"
"Roland está cuidando disso, para o desgosto da minha mãe. Eu só espero ter
atraído muita da ação para cá ao invés de lá."
Sentamos em silêncio por um tempo, observando a festa. Ela me lembrou o
bar. Sozinha, mas não sozinha. Como em qualquer outra festa, pessoas
estavam ficando mais bêbadas enquanto a noite progredia. Aquele contato
sexual descarado apareceu mais e mais freqüentemente, e várias pessoas
dançavam onde encontravam espaço. Eles se moviam em graciosos passos
largos, me lembrando os passos dos estilos das danças de salão que eu
conhecia.
"Estive pensando... sobre ontem a noite."
Eu olhei para ele. "Yeah. Eu também pensei sobre isso algumas vezes."
"Você estava... eu não sei. Eu nunca te vi daquele jeito. Não que a gente
tenha feito muita coisa, mas... wow. Você me marcou muito bem."
"Isso é uma coisa ruim"?
Ele sorriu. "Não. Eu acho que não." Os dedos dele tocaram meu queixo e
ergueram meu rosto. "Mas o que aconteceu? Como um pesadelo trouxe
aquilo?"
Eu virei meu rosto para longe. "Não foi exatamente um pesadelo."
"O que, então?"
"Só um sonho... ou uma memória. Foi sobre meu pai. E magia."
"O que aconteceu?"
"Eu... bem, é difícil explicar."
"Eugenie ­"
Eu mantive meu comportamento leve e brincalhão. "Esqueça isso. Pelo
menos hoje a noite, ok? Agora não é a hora. Podemos conversar mais tarde."

Ele hesitou, então concordou. Eu movi meu rosto mais para perto, e ele
passou seus lábios contra minha testa, descendo para minha bochecha. Eu
fechei meus olhos e suspirei, aproveitando enquanto os lábios dele se
moviam delicadamente até o lado do meu pescoço. Viramos em direção um
do outro, nossas bocas atraídas por uma força invisível. E enquanto nós
beijávamos, eu esqueci tudo sobre as propostas malucas de hoje à noite. Só
havia isso. Eu e Kiyo.
"Nada de se agarrar," eu avisei, vendo a mão dele deslizar para áreas
proibidas. "Eu não me importo com quantas outras pessoas estão fazendo
isso. Ou quanta atenção a gente não vai chamar fazendo isso."
"Então vamos a algum lugar privado," ele murmurou, fazendo um rastro de
beijos no meu ombro.
"Não posso. Você sabe que tenho que sair com Dorian. Nada vai acontecer,"
eu acrescentei, vendo a boca dele se abrir. "É só pelas aparências. Podemos
ficar juntos amanha."
Ele considerou e concordou. "Muito bem. Mas vou te dar um bom show hoje
à noite."
Ele se moveu de volta, e continuamos a nos beijar por um tempo até uma
voz dizer. "Os deuses sabem que eu já vi coisas entranhas na minha vida, mas
eu nunca esperei encontrar um kitsune tentando se faze-lo comandante de
todos nós."
Nós olhamos para cima surpresos. Eu não esperava outro pretendente
enquanto estava claramente ocupada com Kiyo.
Aeson estava parado ali.

Capítulo Vinte Um
Eu levantei, raiva passando pelo meu corpo enquanto eu olhava para aquele
rosto convencido. Uma pesada coroa enfeitada estava no topo do cabelo
castanho dele, e ele usava uma jaqueta justa de cetim preto.
"Não olhe para mim desse jeito, Lady Markham," ele me disse numa voz que
ela tanto agradável quanto hostil. "Dorian não vai te proteger se você causar
problemas na casa dele, não importa o quão vantajosa você seja como
amante dele."
"Muito bem. Eu só vou ter que matar você em outro lugar."
"Seu plano não funcionou tão bem da última vez."
"Nem o seu."
Ele olhou atravessado. "Esse vestido é excelente, sabe. Os contornos de cada
parte do seu corpo são lindas."
Eu cruzei meus braços instintivamente. "Não desperdice meu tempo com
elogios."
"Só jogando meu próprio lance por seu corpo, como todo mundo aqui."
"Yeah? Você não prestou atenção? Nenhum dos elogios dele funcionou
também."
"Bah. Eles são patéticos lordes e sanguessugas procurando poder." ele disse
com uma cara feia. "O consenso geral é que você recusa todos simplesmente
porque ainda não foi abordada por ninguém digno." Ele olhou para Kiyo
enquanto falava.
"Ou talvez porque eu estou com Dorian. Não que isso faça diferença. Eu ia
fuder aquele troll ali antes de chegar perto de você."
"Eu acho que gostaria de ver isso, especialmente considerando que ele chega
aos seus joelhos."

"Se essa é a parte onde você me diz o quão favorecido você é, poupe-me.
Não tem nada que você vá dizer que me levaria para qualquer lugar perto da
sua cama, então apenas desista e vá embora."
As feições dele endureceram, um sorriso frio e sádico se formando nos lábios
dele. "Eu suponho que não possa discutir com isso. Não que isso importe.
Não estarei sozinho hoje à noite."
Ele deu um passo para o lado, só um pouco, e inclinou sua cabeça. Eu segui o
movimento através da sala. Jasmine Delaney estava parada entre um grupo
de nobres gentry. Ela estava nos observando, um olhar ilegível no rosto dela.
Um vestido longo, cheio de bordados e jóias, cobria a forma fina dela, e os
olhos cinzentos dela pareciam ainda mais enormes do que da última vez.
Eu fechei os punhos, lembrando do rosto da minha mãe quando ela
descreveu o cativeiro dela. A imagem de Wil de uma garota sozinha, perdida
no seu mundo de fantasia, circulou na minha mente.
"Eu vou matar você, seu bastardo. Mas primeiro eu vou me certificar que
você implore por isso," eu soava como Volusian.
"Eugenie," murmurou Kiyo, colocando a mão no meu pulso. A voz dele era
firme e cautelosa. Ele aparentemente temia que eu fizesse algo idiota. Era
um bom medo.
Aeson parecia despreocupado. "Essas são medidas meio extremas, não acha?
Especialmente quando existem outras tão simples."
"Como?"
Ele deu nos ombros. "Eu entrego ela pra você hoje à noite."
"Deixe-me adivinha. Se eu vou viver com você?"
"Não é necessário tal compromisso. Venha comigo só pelo Beltane. Uma
noite, e tanto você quanto ela saem livres. Não é uma má oferta,
especialmente considerando que ainda tem vários homens lá tramando para
levar você por um período extenso. Considerando o outra baboseira que se
aproxima de você, você poderia fazer bem pior. Sou poderoso. Influente. Um
consorte digno."

Eu olhei para Aeson da cabeça aos pés, olhei para Jasmine que ainda
observava, e então virei de volta para ele. "Eu acho que eu prefiro matar
você."
Ele fez uma reverência zombadora, o rosto ainda duro. "Espero ansioso você
tentar." Ele começou a se afastar, então deu a Kiyo um olhar de
consideração. "Eu suponho que você poderia escolher homens piores para
ser pai da sua criança. Esse já provou que é capaz."
Aeson se afastou de nós e voltou para seu grupo. Colocando um braço
possessivo ao redor de Jasmine, ele se inclinou e a beijou forte, pressionando
o corpo dela contra o dele. Com a diferença de altura deles, ele parecia estar
molestando uma criança pequena ­ o que, eu suponho, era o que estava
acontecendo. Dane-se a puberdade.
A raiva que aquela visão me inspirou se solidificou como gelo quando eu virei
para olhar para Kiyo. O olhar dele fez algo dentro de mim se curvar como
uma bola.
"Do que ele estava falando?"
Ele começou a abrir a boca e então parou, aparentemente considerando o
que ele queria dizer. Minha incredulidade explodiu.
"Kiyo! É aqui que você me diz que ele só falou merda e que você não faz ideia
do que ele está falando."
"Eu genie..." ele começou devagar.
"Oh, meu Deus." Eu virei. O gelo dentro de mim derretou e me fez enjoar.
"Você tem um filho e nunca me contou. Você tem um filho em algum lugar."
"Não. Ainda não."
Eu virei. "O que diabos isso quer ­" eu parei. "Maiwenn. Maiwenn está
grávida."
Pobre Maiwenn. Pobre doente e fraca Maiwenn. Eu fiz vários comentários
sobre a condição dela e nunca questionei. Era um sinal de minha distração do
último mês. Gentry não ficavam doentes. Eles podiam ser mortos em
batalha, morrer de uma ferida infectada, ou morrer de velhice. Era só isso.

Mesmo agora, olhando pelo salão, eu a vi sentada e conversando com alguns
outros. Ela estava sorrindo, mas parecia pálida sob o bronzeado. O vestido
que ela usava estava solto e volumoso. O que ela usava na minha casa era
similar, embora não fosse feito de seda. Ela não estava atualmente exibindo
seu corpo.
"Você deveria ter me dito," eu sussurrei.
"Sim," ele disse simplesmente. "eu deveria."
"Você deveria ter me dito!" eu repeti minha voz mais alta e contida. A maior
parte do barulho do salão abafou meu grito, mas algumas pessoas por perto
nos olharam com curiosidade.
"Shh." Kiyo pegou meu braço e nos dirigiu até a parede. "Eu estava
esperando. As coisas eram tão incertas entre nós. Eu queria ter uma firme
fundação antes de contar."
"Você considerou que me contar agora fosse ajudar `firme fundação'? O que
aconteceu com toda aquela história de honestidade?"
"E como você teria reagido?" ele perguntou baixo. "Você já teve problemas
em saber que ela e eu estivemos juntos."
"Não, eu não tive."
"Eugenie, eu vejo no seu rosto toda vez que o nome dela é mencionado."
"Não importa. Isso é importante."
Ele balançou a cabeça. "Aconteceu no passado. Ela e eu não estamos juntos.
Somos amigos agora. Você e eu estamos juntos."
"E daí? Você não vai ter nada a ver com esse bebê porque vocês não estão
mais juntos?"
"Não! É claro que não. Estarei lá pelo bebê, e vou apoiar Maiwenn tanto
quanto for necessário."
"Então isso não é o passado," eu surtei. "esse é o seu futuro. Meu futuro
também se você estava planejando ficar comigo."

O rosto dele se tornou ainda mais sóbrio do que tinha estado. "Você tem
razão," ele disse depois de vários segundos. "Foi errado da minha parte.
Desculpe. Eu achei que estava protegendo você."
Eu dei uma risada dura que estava perigosamente na fronteira de ser um
choro. "Yeah. Todo mundo quer me proteger ultimamente. Meus pais
também. Vocês acham que se eu não ouvir coisas ruins, então elas não vão
mais existir. Mas quer saber? Elas ainda existem, e eu acabo sabendo delas. E
eu queria poder saber delas pelas pessoas que eu amo primeiro."
Eu virei e comecei a me afastar. Kiyo agarrou meu ombro. Eu tentei me
afastar do aperto dele.
"Não me toque," eu avisei. "Nós terminamos aqui."
"O que você está dizendo?"
"O que você acha? Você acha que eu vou sorrir e perdoar tudo isso? Eu mal
consigo perdoar meus pais, e eu os conheço a minha vida toda. Eu mal te
conheço há um mês. Isso não conta para muito."
Ele recuou. A mão no meu ombro caiu.
"Eu entendo," ele disse duramente, o seu rosto escurecendo. "Então acho
que terminamos aqui."
"Yeah."
Nós ficamos nos olhando, e onde calor uma vez tinha estado entre nós, só
um abismo solitário restou. Eu me virei de costas e sai andando pelo salão
sem nem saber onde estava indo. Homens ansiosos se aproximaram de mim,
mas eu passei por eles, aparentemente mostrando a arrogância disse que
eles esperariam de mim. Eu só não podia lidar com eles agora.
Era demais. Tudo isso. As proporções malucas. Meu tão chamado legado.
Aeson e Jasmine. Maiwenn e Kiyo.
Oh, Deus, Kiyo. Porque ele tinha feito isso comigo? Eu tentei afastar ele
depois da nossa primeira noite juntos, e ele fez eu me importar com ele de

novo. Agora só doía duas vezes mais. As palavras de ontem à noite voltaram
para mim.
Você é meu.
Aparentemente não.
Eu parei no meio do salão cheio sem ter ideia de onde estava indo. Eu fiquei
desorientada de alguma forma e esqueci onde era a saída. O trono estava
pra lá, então isso significava ­
"Yo, Odile. Que festa, huh?"
Minhas tentativas de navegação foram interrompidas com a aproximação de
Finn. Eu ainda não tinha me acostumado a ver ele em sua forma mais
humana no Outro mundo.
"Finn! Eu preciso que você me tire daqui."
Ele franziu. "Você não pode ir embora ainda. Etiqueta diz ­ "
"Foda-se a etiqueta," eu rosnei. "Tire-me daqui. Eu quero ficar sozinha."
A expressão normalmente alegre dele sumiu. "Claro. Venha comigo."
Ele me levou não pelas portas principais, mas sim através de uma pequena
porta que estava num canto. Um cheiro delicioso saia dela. Isso era meio que
uma porta dos fundos que dava para cozinha. Um número de servos nos
olhou surpresos enquanto passamos através dos corredores e fornos, mas
Finn movia-se com propósito, nunca hesitando. As pessoas tendem a não
fazer perguntas se elas acham que você sabe onde está indo.
Com um abano, ele gesticulou para eu entrar numa pequena alcova longe da
confusão dos cozinheiros. Ganchos com casacos e capas cobriam as paredes,
e eu percebi que nós deveríamos estar onde os empregados deixavam suas
coisas pessoais. Um pequeno banco estava abaixo dos ganchos.
"Bom o bastante?" Finn perguntou.
"Sim. Obrigado. Agora vai embora." Eu sentei e envolvi os meus braços ao
meu redor.
"Mas eu não deveria ­ "

"Só vá, Finn." Eu podia ouvir as lágrimas na minha voz. "Por favor."
Ele me deu um olhar triste, quase magoado e então se afastou.
As lágrimas demoraram para chegar, e mesmo assim, elas o fizeram
relutantemente. Só alguns rastros nas minhas bochechas. Eu tinha me
sentindo indefesa com o Elemental de lama, mas esse era um tipo diferente
de indefesa, uma com conseqüências mentais e não físicas.
Meu coração doía por Kiyo, e meu estômago queimava de fúria contra
Aeson. Nenhum deles parecia que ia ter um remédio tão logo.
Eu não sei quanto tempo fiquei sentada ali antes de Dorian chegar. Eu só
consegui distinguir a forma dele com minha visão periférica, mas o cheiro de
canela o delatou. Ele sentou ao meu lado por um longo tempo, sem dizer
nada. Finalmente, eu senti os dedos dele tocarem gentilmente minha
bochecha e limpar uma das minhas lágrimas.
"O que posso fazer?" ele perguntou.
"Nada. A não ser que você me deixe quebrar a hospitalidade e ir fazer uns
danos."
"Ah, querida, se isso fosse possível, eu teria à muito tempo estrangulado
vários dos meus nobres, ao invés de ser forçado a ouvir as conversas idiotas
deles."
"Então qual é o ponto de ser um rei?"
"Não tenho certeza que tenha uma. A comida talvez."
"Você faz piada de tudo."
"A vida é muito dolorosa caso contrário."
"Yeah. Eu suponho que sim."
Ficamos em silêncio até Dorian chamar o nome de alguém. Um momento
depois, um servo pequeno apareceu. "Traga-nos aquele bolo de chocolate
que Bertha fez. Dois pedaços." O homem saiu correndo.
"Não estou com fome," eu murmurei.
"Você ficará."

O bolo chegou. Era um daquele tipo sem farinha, então era mais um bolo de
chocolate do que um chocolate de bolo. Molho de framboesa estava ao
redor. Eu me encontrei comendo cada pedaço.
"Melhor?" Dorian perguntou.
"Yeah."
"Você viu? Eu te disse que era a comida."
Eu soltei o prato no chão e tentei dar voz a uma ideia que tinha aparecido
devagar na minha mente. Uma ideia que provavelmente não teria se
atrevido a surgir se eu não tivesse ficado tão furiosa com Aeson e Kiyo hoje à
noite. De fato, foi à proposta de Aeson que tinha me lembrado dela.
"Dorian?"
"Sim?"
"Quando nos conhecemos... você me disse que se eu dormisse com você,
você iria comigo resgatar Jasmine. Essa oferta ainda está de pé?"
O primeiro olhar de surpresa que eu já tinha visto cruzou o rosto dele. Eu
fiquei um pouco orgulhosa por perceber que finalmente tinha o pego
desprevenido.
"Ora, ora," ele disse suavemente. "Isso é inesperado. Então. Desespero e
fúria conseguiram o que todo o meu charme não conseguiu hmmm?"
Eu corei. "Bem, não... não é como se ­"
"Não," ele disse bruscamente. "A oferta não está mais de pé."
"Mas eu pensei - "
"Eu vi você brigar com Aeson e o kitsune. Eu não vou ter você na minha cama
por causa de um senso distorcido de vingança contra os dois."
De certa forma ele tinha razão, eu percebi. Esse era o meu meio de me vingar
dos dois. Aeson por exibir Jasmine. Kiyo por quebrar meu coração.
"Por favor," eu disse. "Eu faço. Eu ­ eu não me importo. E de qualquer
forma... eu tenho que resgatar Jasmine. Eu não posso mais agüentar ela ficar
com ele."

Dorian ficou em silêncio por um longo tempo. Finalmente ele disse, "Muito
bem."
Eu virei minha cabeça em direção a ele. "Você fala sério?"
"Certamente. Vamos voltar para o meu quarto e ver como você se sai."
"Ver como - ?" O que isso deveria significar? O trata tinha a ver com o quão
boa eu era na cama?
Ele sorriu. "Eu vou fazer Nia levar você de volta. Eu tenho que me misturar
um pouco mais e me junto a você em breve."
Nia chegou como mágica e fez exatamente o que ele disse. Quando fiquei
sozinha no enorme quarto, eu andei pra um lado e para o outro, me
preparando para sexo com um gentry completo. Seria fácil. Não tinha nada
demais. Eu só tinha que ficar deitada ali. Gentry não carregavam doenças
como humanos. Eu não podia ficar grávida. Uma noite, e eu podia finalmente
me vingar daquele bastardo do Aeson e da presunção no rosto dele. E sim,
Dorian tinha razão; eu ia me vingar de Kiyo também. Quem diria? Talvez
dormir com Dorian preenchesse o terrível e doloroso buraco que a traição de
Kiyo me deixou.
"Admirando a vista?" perguntou Dorian quando ele finalmente entrou. Eu
estava parada na enorme janela, olhando meu próprio reflexo no vidro
escuro.
"Nunca estou aqui durante o dia. Eu nunca vi como é a vista."
"É adorável. Você vai ver de manhã."
Eu suponho que iria. Ele tirou o roupão pesado, serviu uma taça de vinho, e
se espalhou na pilha de travesseiros na cama dele. O movimento pareceu
menos como uma iniciação de sexo e mais como uma expressão de fadiga.
Ele parecia bem normal. Bem humano.
"Você parece cansado." Eu me inclinei contra a perna da cama, observando
ele. Ele exalou profundamente. "É difícil trabalhar em divertir os admiradores
­ como você sem duvidas pode atestar. Você gostou da sua primeira festa da
realeza? Diga-me com quem você falou. Sua noite deve ter sido mais tediosa
que a minha."

Cuidadosamente, eu sentei na beira da cama e contei minha noite para ele.
Eu dei minha opinião e ofereci todos os detalhes que pude sobre minhas
cantadas. Eu não lembrava os nomes, mas Dorian conseguia identificar os
culpados facilmente baseado em outra informação de identificação. Ele riu
tanto com meus causos e opiniões, que eu pensei que ele tinha começado a
chorar.
Se balançando graciosamente, ele deslizou nas cobertas de cetim para sentar
ao meu lado. "Sua pobre, pobre coitada. Não é de se admirar que você goste
de nos caçar. Embora, eu confesso que depois da minha experiência
igualmente vazia de hoje à noite, eu devo ter alguns nomes para dar a você."
"Você não deveria dizer coisas assim."
Ele balançou a cabeça e riu. "Fique aqui tempo o bastante, e você vai dizer
eles também."
Aqueles olhos dourado e verde me observaram, brilhando tanto de afeição
quanto de desejo. Por um momento, eu quase pude acreditar que Dorian me
queria não por minha fertilidade humana e nem pela minha conexão com a
profecia.
Colocando suas mãos na minha nuca, ele me beijou, e eu não tive mais
tempo para perguntas. Nós nos beijamos muito agora, e os lábios dele ainda
tinham aquela suavidade aveludada, aquela cuidadosa pressão e controle. Eu
estava acostumada a isso, e ela esquentou cada parte de mim, mas as
conclusões inevitáveis de hoje à noite apareceram diante de mim. Meus
lábios vacilaram, mas eu ainda consegui beijar ele de volta. Eu podia fazer
isso. Era fácil... certo?
Ele gentilmente me deitou na cama, ainda me beijando enquanto ele
descansava parte do seu corpo em cima do meu. Aquele calor e o peso dele
engatilharam algo agradável dentro de mim, mesmo que uma parte do meu
cérebro de repente tenha começado a buscar Kiyo e a lembrar todas as
coisas ruins que eu havia sido ensinada sobre gentry. Minha respiração
acelerou, mas não de paixão. Não, não, eu me castiguei, forçando meu corpo
a não ficar rígido. Esse é Dorian. Não tem nada para se temer. Mas eu estava
com medo. Isso não parecia certo. Eu não conseguia me permitir fazer isso,
embora eu soubesse que não havia porque não. Eu andava com gentry

agora. Eu tinha títulos. Eu queria aprender a mágica deles. Eu queria matar
Aeson. E ainda sim, de alguma forma, uma parte de mim se recusava a ceder
nesse resultado ­
Dorian se separou de mim e sentou. "É como eu pensei. Você não quer
realmente fazer isso. Você está com medo de mim."
Eu meio que sentei, me apoiando com os cotovelos. Engolindo, eu tentei
respirar mais firmemente. "Você não disse uma vez que você queria que eu
estivesse com medo?"
"Não tanto. Além do mais, seu coração está um pouco confuso esta noite."
Ele se ergueu da cama e serviu outra taça de vinho. Bebendo dela, ele andou
até a cozinha e olhou para o nada, como eu tinha feito mais cedo.
"O que- o que você está fazendo?"
"Eu te disse antes. Eu não tomo mulheres que não me querem." Ele manteve
suas costas para mim, mas a voz dele tinha o tom leve de sempre. Como se
tudo ainda fosse uma piada. Eu me perguntei se ele estava chateado. Eu não
conseguia ler ele.
"Er, espere..." Eu saia da cama e agarrei o braço dele, quase derrubando o
vinho. "O que você está dizendo? Temos que fazer isso. Eu juro, não importa.
Eu quero fazer isso. Verdade."
"Talvez. Você não olha para mim como olha para o kitsune, mas eu senti seu
desejo antes. É uma coisa passageira, e eu não consigo ganhar daquela parte
sua que diz para não se submeter para um dos brilhantes."
"Talvez possamos ignorar essa parte."
Ele riu e tocou minha bochecha. "Eu adoro você, sabia disso? Estou tão feliz
por ter te encontrado."
Eu engoli, ansiosa e desesperada. "Por favor, Dorian. Eu quero resgatar
Jasmine. Temos que fazer isso."
"Não vamos fazer nada disso. Não hoje à noite, eu temo." Ele se afastou e
sentou de volta na cama perto da cabeceira, como eu tinha feito antes. "Eu
vou, no entanto, fazer um trato. Vamos adiar nosso trato até que você esteja

pronta. Em troca desse período, eu vou acrescentar a incumbência de que
não vamos ir até Aeson até que você tenha feito um progresso considerável
com sua mágica."
Eu pensei sobre nossas duas últimas aulas. "Isso pode levar um tempo..."
"Então vai levar um tempo. Sério, se você quer toda vantagem possível para
derrotar ele, você vai estar melhor sabendo algo sobre seus poderes, mesmo
que seja pouco. Suas armas são fortes, mas se elas sumirem... então elas
sumiram."
Eu queria discutir com ele sobre isso, dizer a ele que eu não podia esperar
tanto tempo. Foda-se a mágica. Foda-se minha resistência pudica.
Deveríamos fazer sexo duma vez e ir buscar Jasmine.
Mas eu sabia que ele tinha razão. Em todos os níveis. Ele não merecia meu
corpo sem minha mente estar nele, eu precisava de todas as vantagens
possíveis.
"Bem, então... podemos praticar hoje à noite? Já que nada mais vai
acontecer?" Se eu me distraísse, talvez eu parasse de doer por causa de Kiyo.
"Não tem porque se incomodar com a educação, eh? Muito bem, então,
vamos ver o que conseguimos."
Eu arrastei uma cadeira para o meio do quarto enquanto Dorian produzia
mais cordas do seu suplemento infinito.
"Bege e violeta," ele disse, as segurando. "Para combinar com seu vestido."
"É champagne."
Ele não amarrou minhas mãos dessa vez, mas ele prendeu meu torso
completamente. De novo, ele usou padrões intricado enquanto trabalhava,
integrando em tranças únicas. A seda púrpura se cruzava ao redor dos meus
seios, e cada vez que ele tocava numa parte sensível, uma excitação secreta
passava pelo meu corpo. Qual era o meu problema? Se eu podia ter essas
reações físicas, então porque eu não podia transar com ele?
Ele me amarrar levou uma eternidade, como sempre. Deixou-me impaciente,
mas Dorian claramente gostou. Ele trabalhou com uma paciência infinita,

tendo cuidado com cada cruzamento e nó. Quando ele finalmente terminou,
ele se afastou e avaliou como ele tinha feito das últimas duas vezes.
"Muito bom" ele sibilou seus os olhos me absorvendo.
Uma ideia estranha me ocorreu enquanto estávamos sentados ali. Eu o
deixava por vontade própria fazer isso comigo, mas na verdade, era uma
questão de fé. Meus braços podiam estar livres, mas enquanto ele estava de
pé sobre mim, eu percebi o quão indefesa eu estava. Como estava
totalmente no poder dele, se ele quisesse abusar dele.
Mas ele não o fez. Ele nunca fez. Depois de me vendar, eu o ouvi trazer a
água do outro quarto. Quando estava aparentemente escondida, ele voltou
para cama. Eu ouvi a cama ceder sobre o peso dele, o som de mais vinho
sendo servido.
"É todo seu." ele disse.
Eu me foquei como tinha feito das últimas duas vezes. Minha mente se
expandiu, alcançando o quarto, tentando encontrar a água que eu
supostamente tinha uma afinidade. Eu repeti os mesmos exercícios,
visualizando umidade e algo molhado. O jeito que eu sentia ela e o seu gosto.
Ainda sim, quando eu apontei para onde eu achava que a água estava, ele
me disse que eu estava errada. Então eu tentei de novo. Mais três vezes para
ser precisa. Falhando toda vez.
Eu o ouvi bocejar. "Você gostaria de terminar por hoje? Eu me atrevo a dizer
que essa cama é grande o bastante para que a gente durma
confortavelmente. Ou, se você quiser, não tenho problemas sobre dormir no
sofá no outro quarto."
"Não," eu disse teimosamente. "eu quero tentar de novo."
"Como quiser."
De novo, eu passei pelas emoções, as odiando e ainda sim queimando de
necessidade. Eu queria fazer isso. Eu queria controlar o poder. Eu posso ter
falhado no sexo hoje à noite, mas eu não ia falhar ­
"Está ali," eu disse de repente.

"Onde?"
Eu apontei, e na minha mão esticada, eu podia quase sentir algo molhado.
Era tão fácil. Como eu não notei isso antes?
"Está bem ao seu lado. Muito perto. Se você ainda está deitado na cama, eu
diria... nível do cotovelo. Talvez na mesa."
Ele ficou quieto.
"Bem? Estou certa, não estou?"
"Cheque o resto do quarto."
Minhas esperanças desmoronaram. "Eu estava errada de novo."
"Só cheque. Veja se tem água em outro lutar."
Eu não entendi o jogo dele. Porque tão vago? Eu tinha encontrado ou não?
Mas então eu tentei de novo, buscando no quarto. Aquela área quase fazia
meus sentidos pulsar. A água estava ali, eu sabia. Então o que era tudo isso?
Outro ponto de repente me chamou? Eu me estiquei para pegar ele usando
minhas mãos dessa vez, e aquele mesmo pulso forte me alcançou em
resposta. E com aquela sensação veio um leve formigamento, só uma faísca,
mas ele sussurrou o poder que eu senti no meu sonho-memória.
"Ok. Perto da porta. No chão, eu acho."
"Sim." A resposta foi surpreendentemente simples e claro. Nenhuma
brincadeira ou piada.
"Certo? Estou certa? Verdade? Você não está só zombando comigo para que
possamos ir dormir?"
Eu ouvi uma suave risada enquanto ele andava pela porta e se aproximava
de mim. Pegando minha mão, ele a afundou minha mão numa vasilha de
cerâmica, e eu senti uma água fria na minha mão. Eu ri, extasiada e
poderosa. Eu sentia vontade de respingar aquilo em nós dois.
"Então o que eu encontrei na primeira vez então? Perto da cama? Deve ter
sido algo, a julgar pela sua reação."

"De fato foi."
Ele tirou a venda, andou em direção a cama, e voltou até mim. Eu senti os
braços dele se moverem em minha direção, e então o cheiro de algo forte de
fruta tocou meu nariz.
"O vinho," eu percebi. "Eu encontrei o vinho."
"Sim. O que é bem impressionante, considerando que eu bebi quase tudo."
Ele soltou a jarra e a venda. "Agora, minha querida, é hora de ir dormir."
Ele se ajoelhou diante de mim e começou o tedioso processo de me
desamarrar de todos aqueles nós. Eu acenei minha mão livre.
"Quer ajuda?"
Ele balançou a cabeça. Eu podia sentir o cheiro de vinho nele. "Não. Deixeme
meu simples passatempo, por favor."
"Você está bêbado?"
"Provavelmente."
Ele trabalhou firmemente em me soltar das cordas, seus dedos um pouco
menos precisos do que tinham sido mais cedo. De novo eu senti o estranho
calafrio por ter ficado tão presa.
Solta finalmente, eu levantei e me estiquei. "Posso tomar um pouco?"
Eu queria celebrar, e depois de semanas de bom comportamento, eu percebi
que estaria segura bebendo aqui. Engraçado que o lugar mais seguro para
mim agora fosse junto com um gentry.
Ele ergueu a jarra. Provavelmente só havia uma taça sobrando. Ele olhou
para ela pediu um momento e então tirou a camisa. Perplexa, eu observei ele
andar até a porta e colocar a cabeça para fora.
"Sim, Sr?" eu ouvi uma voz dizer.
"Precisamos de mais vinho!" Declarou Dorian em um rugido. "Lady
Markham e eu temos muito mais para fazer hoje à noite."
"Imediatamente, majestade!"

"Rápido, homem. Você não faz ideia do quão exigente ela é. Eu mal consigo
manter ela satisfeita do jeito que é."
Eu ouvi botas correndo no piso de pedra. Dorian fechou a porta e virou para
mim.
"Seu vinho vai estar aqui em breve, e minha proeza sem duvidas vai ser
proclamada através do castelo."
Eu virei mais olhos para o show dele. "Então eu passei no teste?"
"Hmm?"
"Você disse que eu tinha que fazer progresso com a mágica antes de
podermos ir buscar Jasmine."
"Oh. Isso. Bem, isso não foi exatamente um progresso."
"Pro inferno que não foi."
Ele sentou perto de mim na cama. "Você encontrou a água. Agora você
precisa fazer algo com ela. Seus inimigos não vão ficar impressionados
quando você os informar que existe um lago na próxima colina."
Eu suspirei. Ótimo. "Então qual o próximo passo?"
"Agora você faz a água vir até você."
"Huh. Bem. Isso pelo menos soa mais excitante."
"Na verdade não. Na maior parte fazemos exatamente a mesma coisa só que
você vai ficar sentada tentando mover ela."
"Você é o professor mais entediante do mundo."
Ele sorriu e me deu um rápido beijo na bochecha, assim que uma batida soou
na porta.
"Tudo depende do que você quer que eu te ensine."

Capítulo Vinte Dois
Eu não dei a Lara todos os detalhes no dia seguinte, só que eu tinha
terminado com um cara. "Sorvete," ela me aconselhou pelo telefone. "Muito
sorvete. E tequila. Essa é a chave."
"Eu não posso beber muito agora."
"Hmm. Bem, talvez um daqueles sorvetes com gosto de bebida. Como com
Kahlúa52 ou sorvete Irlandes."
"Alguma outra dica quente?"
"Filmes de garota."
"Meu Deus. Vou desligar agora."
"Bem, então, tente isso." Ela soava ofendida. "Acabei de receber uma ligação
de um cara que acha que tem um troll no porão dele. Parece que bater num
desses seria terapêutico."
"Lara é cheia de merda." Tim me disse mais tarde quando eu contei sobre a
ligação. "Porque as mulheres recorrem a sorvete? As faz ficarem gordas, e
daí elas se odeiam e começam a falar sobre como nunca vão encontrar
ninguém, blá,blá. É idiota. Agora, se você tem um peyote53 escondido, daí é
diferente."
"Não," eu disse. "Nada de peyote. Não depois do que aconteceu da última
vez."
Ele fez uma cara. "Muito bem então. Meu melhor conselho? Não ligue pra
ele. Ele provavelmente está passando por algum tipo de arrependimento ou
culpa. Você liga para ele, ele se sente melhor e começa a se defender. O
deixe ferver por um tempo, e ele vai te ligar."
52 Kahlúa é uma marca de licor feito à base de café mexicano
53 O peyote (Lopophora Williansi) é uma planta nativa da América Central,. É um
cacto, que era utilizado
pelos índios do México em rituais religiosos e por eles chamado de Hikuri. Supõe-se
que o Peyote já era
conhecido e utilizado pelos índios da América Central há pelo menos 2000 anos.

"Eu não quero ligar para ele."
"Claro, Eug."
Eu acabei derrubando o troll mais tarde naquele dia, mas não fez muita
diferença. Nem o quebra cabeça do Kiss que eu montei aquela noite. Com
minha depressão aumentando, eu só fiquei feliz quando minha aula com
Dorian chegou no outro dia.
Considerando a fascinação dele com coisas humanas e descobertas em geral,
eu achei que ele iria gostar de comer fora em algum lugar. Talvez eu me
sentisse culpada com o negocio do sexo. Talvez eu estivesse solitária. Depois
de uma rápida viagem, eu cheguei ao Catalina Lodge, um hotel a uma milha
do Parque Estadual Catalina. Eu estacionei num lugar remoto, com sorte
longe dos olhos atentos, e sentei no chão com as pernas cruzadas. O anel
estava ao meu lado no asfalto. Colocando meus óculos de sol eu me apoiei
contra o carro e esperei.
Meu timing não poderia ter sido mais perfeito. Alguns minutos depois, eu
senti pressão e formigamento, e então Dorian se materializou ao meu lado.
Ele deixou o roupão e as capas em casa, usando apenas calça escura e uma
camisa cor de folhas secas e parecia moderadamente deslocado. Ele olhou
para a luz brilhante do sol e então me notou no chão.
"Nunca tem nuvens nesse lugar infernal?"
Eu me ajeitei, e ele me ofereceu a mão para me ajudar a levantar. "Eu
poderia arranjar isso se você quisesse."
"E arriscar você aniquilar metade da sua cidade? Não, obrigado."
"Achei que você iria gostar disso. Vai fazer a dominação do seu mundo mais
fácil. Um lugar a menos para conquistar."
"Não. Eu preciso desse lugar intacto. Eu pretendo manter prisioneiros e exilar
inimigos aqui. Onde estamos exatamente hoje?"
"A meros passos de distância da melhor comida da sua vida, se os rumores
forem verdade."

Ele me deu um dos sorrisos que são sua marca registrada. "Prazer antes dos
negócios? Ora, ora, você nunca falha em me surpreender."
"Diabos, espere até você me ouvir identificar todas as fontes de água no
restaurante." Isso, pelo menos, tinha sido uma boa coisa que saiu do Beltane.
Eu agora podia sentir cactos, poços, e qualquer outra fonte de água a certa
distância. Eu podia até sentir as pessoas agora já que o corpo humano
supostamente é feito 65% de água? Isso significa que ninguém podia me
pegar desprevenida.
Lá dentro e sentado, Dorian achou que observar os arredores era muito mais
fascinante do que qualquer coisa no menu.
"Escolha algo para mim," ele disse distraidamente, observando uma família
sair com seus quatro filhos pequenos. Ele ergueu a sua cabeça curioso.
"Pelos deuses, todos aqueles pequeninos pertencem a eles?"
Eu olhei para cima. "Provavelmente."
"E a mãe deles parece estar grávida de novo. Incrível. Em casa, essas pessoas
seriam adoradas como divindades de fertilidade. Uma família com dois filhos
já é bem incrível."
O garçom voltou. Eu pedi ravióli de espinafre para mim e uma galinha
apimentada para ele.
"Muitas famílias de classe media e alta tem apenas dois filhos. E vários deles
E muitos deles nem começam até que sejam mais velhos que eu."
"Que confuso." Ele colocou os cotovelos na mesa, descansado o queixo na
mão. "Uma mulher da sua idade poderia já ter tido muitos filhos."
"Hey, eu tenho vinte e seis anos. Não sou tão velha. Eu nem aparento minha
idade."
"É o sangue do seu pai. E não estava insultando sua idade ­ meramente
fazendo uma observação." Ele suspirou. "Eu desistiria de metade do meu
reino por apenas um filho."
Eu sorri preguiçosamente. "E a chance de ser o pai do neto do Rei Storm?"

"Eu ficaria tão feliz quanto ser o pai da neta dele. Eu ficaria feliz em ser pai de
qualquer um."
"Então porque você não encontra uma garota e faz isso?"
"Acredite, não é por falta de tentativa." O rosto dele tinha uma seriedade
rara, mas então a expressão desapareceu tão rapidamente quanto surgiu.
"Ah, agora ali está uma mulher atraente."
Seguindo o olhar dele pelo restaurante, eu vi uma alta mulher loira sair do
restaurante. Ela estava com um vestido de spandex54, o peito dela quase
saindo pra fora. Eu não tive coragem de dizer a Dorian que provavelmente
tinha muito silicone ali. Os olhos dele se demoraram nela, então o alarme de
charme dele deve ter disparado por temer ter me negligenciado. Ele virou de
volta.
"Não que você não esteja linda hoje."
"Você não tem que me elogiar." Eu ri. "Você pode olhar outras mulheres."
Nossa refeição procedeu bem, e tudo sobre ela continuou a encantar Dorian.
O cartão de crédito que eu usei para pagar o cativou especialmente.
"Tem informações sobre mim guardada nele," eu tentei explicar. "Essa
informação permite deixar o restaurante pegar dinheiro de mim."
Ele pegou o cartão devolvido cuidadosamente, virando ele nos seus dedos.
"Intrigante. Eu imagino que isso tenha a ver com eletricidade? O sangue da
sua cultura?"
O tom amargo dele me fez sorrir. "Algo desse tipo."
Não foi até estarmos a uma milha e meia distância do Parque Estadual
Catalina que as coisas ficaram um pouco tensas.
"Ouviu algo do kitsune ultimamente?"
"Ele tem nome," eu surtei.
54 Seria uma espécie de tecido que gruda na pele, sabe aqueles uniformes de super-
heróis de filme
trash.

"Você ouviu algo do Kiyo ultimamente?"
"Não."
"Verdade? Ele não tentou te contatar e implorar por perdão?"
"Não," eu respondi com os dentes cerrados. Algo sobre a forma como ele
disse fez soar como se aquilo fosse um grande insulto.
"Estranho. Eu acho que é isso que eu faria se ofendesse minha amante. É
claro, eu suponho que quando um homem passa metade da sua existência
como um animal, você não pode esperar que ele não aja como um."
Eu parei e virei para Dorian. "Pare. Só pare ok? Pare de tentar me envenenar
contra ele."
"Você não precisa que eu faça o que ele já fez."
"Merda, Dorian. Estou falando sério."
Começamos a andar de novo, mas fui eu que toquei no assunto de novo
depois de vários minutos de silêncio. "Você sabia. Você sabia que Maiwenn
estava grávida e não me disse."
"Não era meu segredo para contar. Além do mais, eu tive problemas da
última vez que falei mal dela. Você me acusou de tentar virar você contra
ela."
"Não tenho certeza de que isso é a mesma coisa. Estamos falando de Kiyo
agora. Da última vez foi de Maiwenn querer me matar."
"E você não acha que é a mesma coisa?"
Eu parei de andar. "Como assim?"
"Kiyo é amigo dela, ex -amante, e agora o pai do filho dela. Ele fica firme com
ela contra a invasão do Rei Storm. Ainda sim, onde ele se colocaria se fosse
necessária uma escolha entre você ou ela? E se Maiwenn decidir que você é
uma ameaça muito grande? O que ele faria? O que ele faria se você
acidentalmente ficasse grávida?"
Um calafrio passou por mim com as palavras dele. Eu bruscamente virei e
mal reconheci minha própria voz quando eu falei.

"Eu não quero mais falar sobre isso."
Ele ergueu a mão num gesto pacifico o seu rosto estava calma e afável. "Eu
honestamente não pretendia nenhum mal. Escolha outro tópico. Vamos
conversar sobre o que você quiser."
Mas eu não estava mais a fim de conversar, então o resto da caminhada
procedeu em silêncio. Quando finalmente entramos no parque, o sol estava
se pondo. Nós ainda tínhamos bastante luz e fomos escolher um bom lugar
para trabalhar. Acabamos seguindo o caminho menos denso e então
desviamos de uma área semi-florestada. Não tínhamos nada nem perto de
uma cobertura densa, mas a rocha com uma entrada, e alguns pinheiros, e a
distância do caminho nos prometeu uma relativa privacidade.
A rotina se provou ser a mesma. Dorian me sentou no chão, inclinada contra
uma rocha. Ele tinha outro estoque daquelas cordas coloridas e de novo
prendeu elas ao meu redor. Ele as ligou no meu pulso. Naturalmente, ele fez
seu trabalho artístico nelas, intrincando as cordas azuis e vermelhas juntas.
Quando ele foi colocar as cordas ao redor do meu peito e braços, os olhos
dele passaram nos meus e então ele voltou a seu trabalho. "Você não vai
ficar com raiva de mim pelo resto do dia, vai?"
"Não estou com raiva."
Ele riu. "É claro que está. Você também é uma terrível mentirosa. Se incline
para frente, por favor." Eu o fiz, permitindo que ele amarrasse os nós atrás
de mim.
"Eu só não gosto de você jogando joguinhos, só isso. Eu não confio deles."
"E que jogos estou jogando?"
"A metade do tempo eu nem sei. Jogos de gentry, eu suponho. Você fala a
verdade, mas sempre tem um motivo por trás."
Ele me inclinou gentilmente contra a pedra e ficou de joelhos para olhar para
me no rosto. "Ah, mas eu falo a verdade."

"Eu só não consigo saber o que você quer às vezes, Dorian. Quais são seus
planos. Você é difícil de ler."
Aquele sorriso de deleito se espalhou no rosto dele. "Sou difícil de ler? Isso
vindo de uma mulher que odeia e fode com seres do Outro mundo? A
mesma mulher que alega não confiar em mim enquanto eu a amarro,
deixando ela completamente a minha mercê?"
Eu me balancei até os ossos. "Bem, eu confio em você com isso."
"Tem certeza?"
Ele pressionou um forte beijo contra meus lábios. Assustou-me, mas eu não
podia fazer nada. Esse homem, esse gentry ­ que poderia estar ou me
ajudando ou me usando ­ me tinha presa. Eu não podia fazer nada a não ser
deixar ele me beijar. A realização disso disparou uma resposta em mim que
foi bem surpreendente, considerando meus problemas com controle e ficar
indefesa. Fez-me sentir vulnerável... e excitada.
Eu virei minha cabeça para o mais longe que pude, tentando me livrar do
beijo dele. "Pare com isso."
Ele se inclinou para trás. "Só estou fazendo um ponto."
"Não, você não estava. Você só estava tentando me beijar."
"Bem, sim, você me pegou nisso. Mas o fato permanece: Amarrada ou livre,
você pode confiar em mim. Eu não faço nada que eu não acredite
firmemente ser do interesse do nosso bem estar. O mesmo mantém a
verdade para casuais comentários sobre sua vida amorosa. Então agora." Ele
levantou. "Vamos começar essa lição?"
"Sem venda?" Eu perguntei ainda abalada.
"Não tem necessidade. Você sabe onde está a água. Ou vai saber em um
segundo."
Ele pegou o cantil que eu trouxe junto e tirou sua tampa. Observando a área,
ele encontrou uma pedra grande, que alcançava quase os ombros dele. Ele
colocou o cantil aberto no topo e então escolheu um lugar para ele mesmo
perto de uns arbustos onde ele tinha uma vista clara de mim e do cantil.

"Você sente a água?"
"Sim."
"Se certifique bem. Se você acidentalmente alcançar uma árvore e conseguir
chamar a água, você vai matar a coitada."
Eu expandi meu senso, considerando o que ele disse. Depois de alguns
momentos, eu tinha certeza que eu tinha diferenciado as fontes de agora.
"Não, eu peguei."
"Muito bem, então. Chame por ela."
"Eu deveria fazer o cantil se erguer ou algo assim?"
"Não. Você não tem conexão com ele. Mas você se conecta com a água. Você
a sente. Você toca nela com sua mente. Agora a coaja a vir até você, a sair do
contêiner. Você já fez isso com as tempestades. O truque é fazer num
pequeno e específico nível. Esqueça o seu corpo ­ é inútil agora. Isso está
tudo na sua mente."
"Essas são todas as instruções que eu vou ter, técnico?"
"Temo que sim."
Ele se esticou, rolando para o lado confortavelmente. Para alguém que tinha
tanto cuidado com suas roupas, ele parecia indiferente a deixar elas sujas. Eu
suponho que lavar roupa suja seja uma preocupação pequena quando você
tem toda uma equipe para cuidar disso.
Suspirando, eu voltei minha atenção para o cantil. O que eu estava tentando
parecia ridículo ­ mas, de novo, sentir a água também tinha parecido. Então,
eu segui o que ele disse da melhor forma que pude. Meu aperto a água era
tão forte, que eu podia muito bem já a ter na minha mão. Mas não
importava o quão forte minha concentração se focava, eu não conseguia
fazer a água se mover. Ela me lembrou do vento. Eu podia sentir, mas não
controlar. Bem, na verdade, se meu treinamento progredisse, eu poderia ser
capaz de controlar ele algum dia. Mas a analogia permanecia, apesar de
tudo.
O tempo se arrastou. Extensivamente. Eu tentei e tentei ordenar a água, mas
ela se recusou a obedecer.

Mais tempo passou. Ela se arrastou.
Eu finalmente decidi que era uma boa coisa as cordas cobrirem meu relógio
porque eu ficaria irritada se descobrisse quanto tempo tinha passado. Horas
tinham passado; eu tinha certeza. A luz ficou cada vez mais fraca. Olhando
para Dorian, eu jurei que ele estava dormindo.
"Hey," eu disse. Nenhuma resposta. "Hey."
Ele abriu um olho.
"Não estou chegando a lugar nenhum com isso. Deveríamos parar."
Ele sentou. "Já está desistindo?"
"Milagres não acontecem do dia pra noite. Essas coisas levam tempo."
"Quando tempo? Estou começando a me perguntar se você fez essa regra de
mágica só para procrastinar em ir buscar Jasmine."
"Bem. Você pode acreditar nisso se facilita as coisas pra você. A verdade ­ se
você confia em mim o bastante para ouvir ­ é que isso é para sua própria
proteção. Em um mundo perfeito, nós iríamos buscar a garota em silêncio.
No mundo real, provavelmente vamos lutar com os guardas de Aeson e o
próprio Aeson. Eu prefiro que nós dois saiamos de lá vivos. Você não foi tão
bem da última vez."
"Isso vai levar uma eternidade. Esse treinamento."
Eu sabia que estava sendo reclamona e petulante, mas minhas costas doíam,
e mosquitos tinham aparecido. Pelo menos em identificar a fonte de água, eu
era capaz de dar palpites. Aqui eu não conseguia fazer nada mais do que
esperar e encarar. Se nada acontecesse, nada acontecia.
"Desculpe," eu disse a ele. "Só estou cansada, só isso. Não queria ser grossa
com você."
Ele parecia despreocupado com minha reação, como sempre. De fato eu
podia ver o rosto dele me observando gentilmente no crepúsculo. "Sem
problemas. Vamos então."

Ele andou até o cantil e o pegou. Fechando meus olhos, eu inclinei minhas
costas contra a pedra e esperei ele me soltar. Enquanto eu fazia isso, eu senti
algo frio e molhado, como nevoa, se espalhar pelas minhas costas e pescoço.
Para meus novos sentidos de água, não parecia... certo. Momentos mais
tarde antes deu conseguir ponderar a diferença, a nevoa se aglutinou contra
minha pele.
"Dori ­ "
Meu grito foi cortando por mãos frias. Um cobriu minha boca, o outro minha
garganta. Dorian tinha virado antes deu gritar, me fazendo pensar que ele
tinha sentido algo antes de mim. Ele pulou na minha direção, mas quatro
formas humanas molhadas se materializaram no ar diante dele, bloqueando
sua passagem. Nixies. Espíritos de água.
Dois eram homens; dois eram mulheres. Dizia à lenda que eles podiam
mudar de forma para aparências mais bonitas, mas aqui eles pareciam
desmazelados. Pele viscosa e cinza. Roupas molhadas e pingando. Cabelo
como algas marinhas. O que estava me segurando me empurrou para o chão,
o que foi melhor para cortar meu oxigênio muito mais rápido. Água pingava
em mim do cabelo dela, e os olhos dela brilharam em uma luz de aviso num
tom verde doentio. Ela assoviou de prazer e me pressionou com mais força
enquanto eu avaliava o que fazer. Eu terminei de avaliar rapidamente porque
eu não tinha opções. Eu estava completamente armada, mas incapaz de
alcançar nada por causa do fetiche fudido de me amarrar. Cobrir minha boca
me impediu de convocar meus servos. O mundo vacilava com estrelas
enquanto meu ar começava a desaparecer. Meus pulmões e garganta se
levantaram, tentando desesperadamente respirar. As garras dela se
afundaram na pele do meu pescoço, e eu meio que me perguntei se ela iria
cortá-lo ao invés de esperar eu sufocar.
Minha única esperança era Dorian, mas ele não iria chegar até mim tão cedo,
não com seu próprio exercito de ­
Cada pedra e pedregulho na área derepente se ergueu do chão.
Imediatamente as pedras grandes e rochas também seguiram. As que eram
grandes explodiram, se quebrando em milhares de pedaços. Todos aqueles
pedaços pequenos de pedra se ergueram mais alto, se juntando, devagar
virando no sentindo do relógio.

O aperto do meu captor diminuiu levemente, provavelmente por causa da
surpresa. Não devolveu meu ar, mas eu virei minha cabeça o bastante para
ver Dorian parado com seus braços para cima como se fosse algum maestro.
Acima dele, aquelas pedras em forma de ciclone se mexiam cada vez mais
rápido, um borrão para o olho. Então, como se estivesse fazendo o grandfinale
da música, ele baixou os braços afiadamente.
E as pedras desceram.
Uma parte desse redemoinho desceu e subiu, eles eram os primitivos
antecessores das balas. A princípio o movimento deles parecia caótico, e eu
temi ficar na frente deles. Mas acabou que cada pedra tinha seu próprio
plano, seu próprio alvo. Os pedaços afiados foram em direção a nixie me
segurando, perfurando e cortando com uma poderosa precisão. Ela abriu a
boca em um grito silencioso enquanto sangue caia em mim, e o corpo
rasgado dela caiu em uma pilha sangrenta e molhada. Eu sai debaixo dela,
respirando fundo.
Além dela, Dorian baixou os braços de novo, incitando sua orquestra para o
momento climático. As pedras atingiram outro nixie, o cortando em pedaços.
Então outra... e outro... até que os nixies não eram nada mais do que pilhas
de sangue e gosma. Sua tarefa completa, as pedras gentilmente caíram na
terra, tão suaves e quietas como pingos de chuva. Todo o contra ataque
tinha levado menos de um minuto.
Imediatamente, Dorian se ajoelhou do meu lado, me ajudando a sentar
enquanto eu arfava meu caminho de volta a vida.
"Calma, calma," ele avisou. Sangue nos cobria. "Respire devagar."
"Desamarre-me! Tire-me disso!"
Ele puxou o athame de prata do meu cinto. Em segundos, ele cortou as
cordas, libertando meus braços e mãos. Eu me afastei minha adrenalina
ainda agitada. Ele se esticou para me pegar, mas eu o afastei.
"Maldito seja você! Você quase me fez ser morta!" eu gritei, ouvindo a
histeria na minha voz. "Você quase me fez ser morta!"
Ele agarrou meus braços com uma força solida, me puxando até ele e me
forçando a ficar parada. "Eugenie se acalme. Eugenie!"
Ele me balançou ­ com força ­ onde eu ainda lutava, e eu parei
bruscamente, vencida pelo som duro da voz dele e a ferocidade de seu
aperto. Eu não conseguia mais ver aquele bobo e frouxo rei. Havia um
estranho me segurando, seu rosto duro e controlado.
"Você acha que eu deixaria alguma coisa acontecer com você?" ele exigiu,
quase gritando. "Você achou que eu deixaria alguma coisa te ferir?"
Eu engoli, ainda com dor por causa das garras da nixie na minha garganta, e
percebi meu corpo tremendo. O aperto dele era tão forte, que eu podia
muito bem estar amarrada de novo. Ele me assustou, tendo se transformado
em outra coisa. Algo mais poderoso e inspirado. Olhando nos olhos dele e
vendo suor no rosto dele, eu percebi que o medo não tinha tocado apenas a
mim. Ele também estava com medo, não por si mesmo, mas pelo que tinha
quase acontecido comigo. Algo dentro de mim se acalmou, e eu quase
tropecei nele.
"Eu não acredito no que você fez." eu sussurrei. Eu matava todo o tempo
sem pensar muito ou me esforçar, mas isso... isso tinha sido algo
completamente diferente. E ele não estava nem com toda sua força nesse
mundo. "Você os massacrou."
"Eu fiz o que precisei fazer." O calor na voz dele sumiu, substituído por uma
calma mortal. "E você será capaz de fazer o mesmo algum dia." Uma das
mãos dele me soltou e se moveu para minha cabeça, colocando meu cabelo
pra trás. Ele pressionou nossos corpos juntos e descansou sua bochecha
contra mim então suas palavras suaves foram para meu ouvido. "Você vai me
superar, Eugenie. Seu poder vai ser tão grande, que ninguém vai se opor a
você. Exércitos e reinos vão cair, e eles vão se curvar diante de você."
Eu me encontrei tremendo de novo, sentindo mesmo medo e excitação que
tinha me preenchido durante nosso último beijo. Só que dessa vez, eu não
sabia se eu estava sentindo isso por causa da proximidade do corpo dele... ou
da promessa de poder que ele oferecia.

Capítulo Vinte Três
As similaridades entre o ataque do fachan e dos nixie não foi ignorada por
mim. Os dois tipos eram criaturas de água, e todos pareciam muito mais
interessados em matar a filha do Rei Storm do que ser o pai do filho dela.
Lembrando de como Dorian tinha dito a alguém poderoso teria que força-los
a vir ao deserto, eu decidi que descobrir quem era ele tinha que ir para o
topo da minha lista de prioridades. Estupro era horrível. Morte era... bem,
final.
Infelizmente eu não tinha certeza se confiava nos meus novos contatos
gentry para me dar conselhos. Então eu me voltei para minha próxima fonte
quase neutra.
Como sempre, meus servos espíritos levaram um longo tempo para
responder minha pergunta. Nandi e Volusian estavam compelidos a
eventualmente responder, mas eu acho que eles sempre tentam esperar o
outro falar. Dessa vez, foi Nandi que finalmente cedeu.
"Mestra, tem muitos entre os brilhantes que podem convocar tais criaturas.
Muitos para você caçar ou investigar. Fazer isso seria como contar os grãos
de areia numa praia. A tarefa é impossível. Se você fosse tentar, cairia em
desespero tão negro e profundo que sem dúvidas iria destruir sua mente e te
forçar a insanidade."
Volusian suspirou alto e se misturou para que ele ficasse parado longe das
sombras do meu quarto. "Metáforas de lado, mestra, ela tem razão. Talvez
não tenham tantos suspeitos, mas ainda são o bastante para dificultar muito
a busca."
Finn, se movendo no meu quarto em círculos preguiçosos, parou zombou.
"Porque está perdendo tempo com essas outras pessoas? É obvio quem está
fazendo isso. Maiwenn."
Eu estava sentada com as pernas cruzadas na cama e engoli um pedaço do
meu Milky Way. "Maiwenn não pode controlar água. Além do mais," eu
acrescentei amargamente, "todo mundo fica falando sobre o quão fraca e
doente ela está ultimamente." Eu honestamente não entendia porque ela
estava tão debilitada com a gravidez. Eu trabalhei num restaurante no ensino
médio, e tinha uma garçonete lá que ficou de pé até o dia em que ela deu a
luz.
"Maiwenn não tem que fazer isso em pessoa," discutiu Finn. "Ela é um gênio.
Outras pessoas odiavam o Rei Storm. Ela provavelmente está colaborando
com eles e direcionando eles a te atacar."
"Isso parece meio elaborado."
Eu juro Volusian quase sorriu. "Passe mais tempo nas cortes gentry, mestra,
e você irá descobrir que um plano assim seria infantilmente simples. Mesmo
assim, eu acho improvável que a Rainha Willow esteja envolvida. Não é da
natureza dela. Ela não mataria sem provocação. É mais provável que ela
espere e observe do que tome partido."
"A não ser que tenha algo mais pessoal envolvido," disse Finn com malícia.
"Você sabe, talvez um pouco de inveja..."
Aparentemente minhas dificuldades românticas não eram segredo.
Honestamente, eu não entendia como fofoca se espalhava tão rápido no
Outro mundo, particularmente considerando como eles não tinham telefone,
Tv ou internet.
Eu olhei para ele. "Ela não tem nada para ter ciúmes. Não mais."
"Concordo," disse Volusian. "além do mais, a Rainha Willow não é uma
adolescente que arriscaria seu reinado para fazer uma vingança patética. Ela
­ como aparenta ­ é inteligente demais. E cruel."
Finn cruzou os braços e olhou para Volusian. Era meio que um movimento
ousado, considerando que Finn parecia um personagem de desenho
animado e Volusian parecia que comia a alma de crianças pequenas.
Por tudo que eu sabia, ele provavelmente comia.
"É claro que você diz isso. Você está tentando tirar Odile para fora do rastro
de Maiwenn. Facilitar as coisas, não é? Então os assassinos de Maiwenn
podem fazer o trabalho sujo para você. Todos nós sabemos que você está só
esperando para matar ela." Finn apontou o dedo na minha direção.
Volusian ficou rígido, os olhos dele se estreitando. "Não se engane. Quando
eu matar nossa mestra ­ e eu vou ­ eu não vou depender de algum gentry
para fazer isso. Eu mesmo vou rasgar a carne dela e destruir a alma dela."
Silêncio caiu.
"É verdade, mestra," Nandi disse finalmente. "é de se admirar que você
tenha tido a vontade de continuar em frente."
"Chega," eu rosnei, esfregando os olhos.
"Ficar perto de vocês é como estar no programa do Jerry Springer55, às
vezes.Por mais que odeie admitir, concordo com Volusian."Finn começou a
falar, e eu o cortei com um gesto.
"Mas eu ainda quero falar com Maiwenn. Se ela é culpada, talvez eu possa
descobrir. Se ela não é, talvez ela me ajude a descobrir quem é."
"Você é louca," explicou Finn. "Você está se jogando direto das mãos dela."
"E sua opinião foi anotada e registrada. Não preciso mais ouvir."
Ele desapareceu com um estopim. Eu virei minha cabeça e virei para os
outros.
"Mostrem-me onde é o cruzamento mais perto da casa dela."
Acabou sendo à uma hora e meia de distância de Tucson, mas considerando
o quanto eu ia ter que viajar no Outro mundo se cruzasse em outro lugar, eu
não me importei. Isso se provou duplamente verdade quando o cruzamento
para a Terra Willow me colocou a vista do castelo dela.
Era apenas um pequeno consolo, considerando que ainda estava congelando
na terra dela. Em casa, o tempo era quente e perfeito. O pior de tudo, hoje
era Cinco de Maio. Eu deveria ter passado o resto do dia bebendo
quantidades consideráveis de tequila, seguido por um abençoado desmaio
embaixo de uma mesa em algum lugar.
Pelo menos não havia vento agora, mas o ar era mantinha um afiado calafrio.
Estava muito seco também; eu podia sentir a falta de umidade. Gelo e neve
55 É tipo o programa do Ratinho.
se moviam com beleza cristalina na luz do sol invernal, mas era quase uma
beleza perigosa. Se você olhasse o cobertor branco por tempo demais, você
podia quase receber imagens posteriores do brilho.
Eu andei pela fria estrada, admirando o castelo apesar de tudo.
Diferente de Aeson e Dorian, ele não tinha aquele visual de fortaleza. Era
ela... bem, bonito. A estrutura toda tinha um curvado, quase sinuosa
aparência, como uma flor copo-de-leite. Eu me perguntei se isso era
simplesmente o resultado da diferença entre monarcas homens e mulheres.
Talvez Maiwenn só tivesse um gosto melhor.
Os guardas ficaram alarmados quando eu informei quem eu era. Eles
tentaram me atrair para dentro enquanto esperava pela admissão de
Maiwenn, mas eu me recusei a dar um passo antes deles pedirem
hospitalidade para mim. Levou um tempo ­ durante o qual o número de
guardas dobrou ­ mas Maiwenn finalmente respondeu que eu podia ver ela
e estaria sobre a proteção da casa dela.
Uma lady-em-espera me guiou até Maiwenn, e ela deixou claro tanto com
linguagem corporal como em palavras que eu não tinha porque perturbar a
rainha. Ela me levou através dos corredores, pelo menos me deixando em
uma sala brilhante e aconchegante. Maiwenn estava descansando em uma
confortável cadeira, cheia de travesseiros. Um vestido pesado cetim se
envolvia ao redor dela, e alguém tinha colocado um cobertor no colo dela.
Mesmo com a pele pálida e o cabelo bagunçado, ela parecia linda.
Ela sorriu para mim e gesticulou para o servo sair. "Lady Markham, que
surpresa agradável. Por favor, sente-se."
Inquieta, eu sentei na cadeira rosa. "Chame-me de Eugenie."
Ela acenou, e nós duas ficamos sentadas ali constrangidas. Observando-a,
tudo o que eu podia pensar era como ela estava carregando o bebê de Kiyo.
Iria criar um vínculo para vida toda entre eles que eu nunca poderia cortar.
Não que eu quisesse nada assim, é claro. Kiyo estava fora da minha vida. O
senso de propriedade de Maiwenn, sendo melhor que o meu, logo tomou
conta. "Estou feliz em receber você, mas suspeito que isso não seja uma
visita social."
"Não... sinto muito. Eu queria falar com você sobre..." Eu hesitei de repente
me sentindo uma tola. O que eu estava pensando ao vir aqui e perguntar a
ela se ela queria me matar? Bem, era muito tarde para desistir. É melhor ir
em frente. "Eu tive alguns ataques bem ruins ultimamente. Ataques cujo
objetivo era me matar. E eu estava imaginando se... se talvez você saiba algo
sobre eles..."
Os olhos turquesa dela me olharam com consciência. "Ou mais ao ponto,
você quer saber se eu tive algo a ver com eles."
Eu desviei o olhar. "Sim."
"Não é de se admirar que Dorian goste tanto de você. Sua cegueira deve
divertir ele no final." Ela suspirou e inclinou a cabeça na cadeira. "Você pode
ou não acreditar em mim, mas a resposta é não. Eu nem ordenei e nem sei
nada sobre nenhuma tentativa contra sua vida. O que aconteceu?"
Achando que não doer independentemente do envolvimento dela, eu disse a
ela tudo sobre o fachan e os nixies. O rosto dela ficou na maior parte em
branco, embora eu tenha visto surpresa passar nos olhos dela algumas vezes.
Quando terminei, a resposta dela não foi o que eu esperava.
"Porque você vive em um deserto afinal de contas? Ainda mais por vontade
própria?"
Eu senti surpresa cruzar o meu próprio rosto. "É meu lar. Não é tão ruim."
Ela deu nos ombros. "Se você diz. Mas Dorian está certo na avaliação dele
sobre levar aquelas criaturas até você. Alguém poderoso e motivado tem que
estar fazendo isso."
"Você sabe quem?"
"Não. Como eu disse a você não tem motivo para acreditar em mim, mas não
tenho nada a ver com isso." Ela tinha razão. Eu não tinha razão para acreditar
nela. E ainda sim... uma parte de mim notou que Kiyo confiava nela.
Qualquer que fosse a raiva que eu sentia sobre ele ter escondido
informações, eu tinha que acreditar que ele não era alguém totalmente falho
em julgar caráter.
"Você pode me dar o nome das pessoas que podem fazer isso?"
"Podia te dar dúzias. Não iria ajudar muito."
Eu olhei com raiva e me mexi com preguiça na cadeira. A mesma resposta
que a dos espíritos.
"Sinto muito por não poder ajudar mais." Ela soava sincera. "Eu não vou
mentir: A ideia de você ter o neto de Tirigan me aterroriza. Mas eu não
acredito em punir você sobre algo que ainda não aconteceu ­ especialmente
quando você está tentando fazer com que não aconteça. No entanto..." A
expressão plácida se tornou excitante. "Posso te fazer uma pergunta?"
"Claro."
"Eu sei o que você me disse, e ainda sim... bem, eu ouço mais e mais histórias
sobre o seu envolvimento com Dorian. Kiyo diz..." Ela tropeçou no nome
dele. "Kiyo diz que eu não tenho nada para me preocupar."
"Você não tem. É uma atuação. Dorian está me ensinando a usar minha
mágica, e em troca, eu banco a namorada dele." Não tinha porque
mencionar nosso trato recente.
Ela considerou. "Então você decidiu abraçar sua herança afinal de contas."
"Só o bastante para não fazer algo idiota."
"Você tem razão em fazer isso... embora eu me sentisse melhor se você
tivesse outro professor. Seu trato pode parecer seguro o bastante por
agora... ainda sim eu duvido que ele vá permitir que fique tão simples por
muito tempo. Não deixe o charme dele cegar você sobre o objetivo dele. Ele
está acostumado a conseguir o que ele quer ­ e ele quer a profecia
cumprida."
"Hey,eu posso lidar com Dorian. E o charme dele."
"No entanto tem mais nisso do que apenas isso. Sua própria vida pode estar
em risco."
"Por causa de Dorian? Eu duvido."
"Por causa dos inimigos dele."
Isso era novidade. "Eu não sabia que ele tinha algum a não ser...bem, você e
ele diferem em opinião... e eu acho que ele e Aeson não se dão também." Eu
sentei direito. "Você acha que os inimigos dele é que estão tentando me
matar? Para se vingar dele?"
"Várias pessoas podem estar tentando matar você. A lista de inimigos dele
não é menor do que a que eu me referi antes. A maioria deles não tem nada
a ver com o papel dele na profecia. Ele é poderoso, e muitos temem isso ­
com bom um motivo. Quando essa parte do Outro mundo se acertou, ele
lutou para conseguir muito mais do que ele tem. Só no último minuto
Katrice, rainha da Terra Rowan, apareceu para conter e dividir mais. A terra a
reconheceu e permitiu a ela uma porção, cortando um grande território de
Dorian."
Eu tremi. Eu tinha ouvido Roland falar sobre a subjetividade do outro mundo,
como ele continua sempre a mudar e formar fronteiras. Ainda sim. A ideia de
"permitir" alguém a fazer algo me assustava.
"Muitos sabem que ele nunca aceitou esse resultado," ela continuou. "Ele
iria gostar de se expandir, e eles te vêem como um meio para fazer isso. Seus
poderes humanos foram temidos por anos. Se você manifestar o Rei Storm
também, eles vão acreditar que você e Dorian vão conquistar os outros
reinos. E possivelmente além."
"Todo mundo é obcecado com conquista," eu resmunguei. "Porque eles não
podem simplesmente deixar as coisas do jeito que estão?"
"Eu temo que seu rei tenha planos maiores que isso."
Eu me perguntei, não pela primeira vez, quem estava recebendo mais nesse
trata que Dorian e eu tínhamos feito. Para que ele realmente me queria?
"Então nem as pessoas que concordam com a profecia necessariamente
gostam dele."
Ela concordou. "Eles prefeririam ver o pai do seu filho ser alguém menos
ambicioso ­ alguém que eles podem controlar. Essas mesmas pessoas
poderiam muito bem tentar remover Dorian. Ou, outros que queriam que o
Rei Storm tivesse sucesso em sua teoria secretamente não acreditavam que
iriam acontecer então agora eles simplesmente estão preocupados com a
ameaça que você representa para os outros reinos aqui."
Esse novo desenrolar, que eu era uma ameaça porque eu queria conquistar o
Outro mundo, era quase tão ridículo que a profecia. "Porque diabos eu ia
querer reinar nesse mundo? Eles não notaram que eu sou humana? Ou pelo
menos meio? Eu não tenho nenhum apego ao estado real dos gentry. E eu
não quero nenhum."
"Os brilhantes vêem as coisas diferentes dos humanos. Humanos sempre
sentem a necessidade de apontar qualquer gota de sangue estrangeiro em
uma pessoa. Até onde nos importamos, você tem nosso sangue, e isso é o
bastante. Você pode ter uma mãe humana, mas para todas as intenções e
propósitos, a maioria de nós agora olha para você como uma de nós."
Eu pensei sobre o quão comum o rotulo de "estrangeiro" era no meu mundo:
Afro-americanos, americanos asiáticos, etc. Ela tinha razão. As pessoas
normalmente chamam atenção ao sangue "estrangeiro."
"Yeah, mas deixando isso tudo de lado, eu fiz uma carreira em caçar eles.
Isso não incomoda alguém ou parece estranho para uma rainha em
potencial?"
"Alguns, sim," ela concedeu. O leve olhar de desgosto no rosto dela me
informou que ela estava entre eles. "E eles não vão superar isso tão cedo.
Mas na verdade ­ para todos os outros ­ bem, como eu disse, a maior parte
considera você como uma de nós agora, e matar liberadamente não é tão
incomum para um líder poderoso. Nada que Tirigan ou Aeson ou Dorian não
tenham feito."
Eu exalei alto. "Isso não me faz sentir melhor. Eu de repente sinto que tenho
mais inimigos do que antes."
"Sinto muito. Se é algum consolo, os inimigos de Dorian podem te procurar
por causa da sua conexão com ele, mas essa mesma conexão o compele a te
proteger por qualquer meio que ele tenha. Cúmplice ou não, ele é um
poderoso aliado."
Outro silêncio desconfortável desceu, e nós ficamos sentadas ali observando
uma a outra. Independente o quão exagerado eu achasse que era a condição
dela, ela parecia bem exausta. Eu não tinha decidido se ela era um inimigo ou
não. Honestamente, eu recebi mais coisas para me preocupar do que
qualquer tipo de resposta com essa visita.
"Bem," eu disse idiotamente. "Obrigado por a..ajuda.Eu acho que devo ir."
Ela acenou e me deu um fraco e cansado sorriso. "Você é bem vinda aqui a
qualquer hora."
"Obrigada."
Eu levantei e fui para a porta. Minha mão estava na maçaneta quando ela
chamou meu nome.
"Eugenie..."
Eu virei. Um olhar de dor cruzou o rosto dela, um que não tinha da a ver com
desconforto físico.
"Ele ama você," ela disse com hesitação. "Você deveria... você deveria
perdoar ele. Ele não queria magoar você."
Eu segurei o olhar dela por vários dolorosos segundos e então eu sai sem
dizer mais nada. Eu não queria pensar em Kiyo.
E então, ironicamente, eu me encontrei com ele quando estava na metade
do caminho para fora do castelo. O universo era duro às vezes. Quaisquer
sentimentos que as palavras dela tinham acendido em mim, secaram quando
eu pensei que ele estava vindo visitar ela. O olhar no rosto dele implicou que
eu era a última pessoa que ele esperava ver aqui.
Eu me forcei a manter minha expressão fria, tentando não mostrar o quanto
eu estava aproveitado o aparecimento e a presença dele. Ele estava mais
lindo do que nunca com aquela pele bronzeada e cabelo preto sedoso atrás
da orelha. Eu queria passar minhas mãos nele. O casaco pesado que ele
usava não conseguia esconder aquele gracioso e atlético corpo.
"Eugenie," ele disse suavemente. "O que você está fazendo aqui?"
"Eu queria conversar com Maiwenn. Você sabe, conversa de garotas." Eu
esperei que meu tom tivesse deixado claro que eu não queria elaborar sobre
nossa conversa. Ele pegou a dica.
"Bem. É bom ver você. Você parece... bem. Como estão as coisas... quero
dizer, você tem estado bem?"
Eu dei nos ombros. "O de sempre. Cantadas. Tentativas contra minha vida.
Você sabe como é."
"Estou preocupado com você."
"Estou bem. Posso cuidar de mim mesma. Além do mais, eu tenho ajuda."
Aqueles olhos escuros se estreitaram só um pouco. "Eu suponho que você se
refira a Dorian."
"Ele me salvou de um ataque bem ruim no outro dia e," eu acrescentei, me
sentindo maldosa, "ele vai me ajudar a pegar Jasmine."
"Essa é uma má ideia."
"Qual parte? Pegar ela ou confiar em Dorian?"
"As duas."
"Bem, você sabia que eu iria atrás dela um dia desses. Melhor antes do que
depois." Eu comecei a passar por ele, e ele pegou meu braço. Mesmo através
do casaco, o toque dele mandou ondas de choque pelo meu corpo.
Ele se inclinou perto de mim. "Eu quero ir com você."
"Não preciso da sua ajuda."
"Você precisa de toda ajuda que conseguir."
"Não." Eu me soltei do aperto dele.
Ele se moveu e bloqueou meu caminho de novo. Eu podia sentir uma parte
daquele instinto animal irradiando dele. "Da última vez você não quis ajuda
gentry porque feria seu orgulho. Você está fazendo o mesmo comigo pelas
mesmas razões, e não tem por que. Esqueça o quanto você me odeia, e se
preocupe com o que é melhor para garota. Eu vou com você." Ele tinha razão
sobre o que era do melhor interesse de Jasmine, mas a atitude dele me
incomodou.
"O que, você acha que pode fazer algo acontecer só por me dizer que vai?
Você não vai, então supere."
"Não tem nada para superar. Se você está em perigo, eu vou proteger você.
Eu estarei lá."
"Bem, eu acho que você vai ter que rondar Aeson 24/7, porque eu com
certeza não eu vou deixá-lo entra na reunião secreta de planejamento."
Uma parte do comportamento feral dele sumiu, e ele de repente parecia o
relaxado e controlado Kiyo de novo.
"Tem reuniões secretas? O que vocês são agora, os Super Amigos?"
Eu virei meus olhos e passei por ele, de volta para a encruzilhada e o calor do
Arizona. Eu odiava o que tinha acontecido conosco, mas eu não sabia como
consertar. Eu não sabia como perdoar Kiyo.
Eu tentei colocar minha mente em outra coisa enquanto dirigia pra casa,
como planejar a logística da próxima missão de resgate de Jasmine. Ou,
considerando a resistência dela, talvez fosse mais seqüestrar ela.
Independentemente, eu estava ansiosa para acabar com isso. Maldita
clausula de Dorian sobre minha mágica. E sua idiota nobreza sobre sexo.
Eu estava quase em casa quando passei por uma Barnes & Noble56. E uma
ideia veio a minha cabeça, uma estranha eu admito, mas uma que não ia
causar mal.
Eu não conseguia para de pensar sobre o quanto de potencial eu
supostamente tinha com mágica. Por anos, eu confiei em mágica humana ­
ou melhor, a habilidade humana de extrair mágica do mundo. Eu podia banir
espíritos e monstros. Eu podia andar entre mundos. Mas esse chamado
poder dentro de mim oferecia muito mais, de acordo tanto com Dorian e
Maiwenn ­ sem mencionar minhas mal lembradas memórias. Eu tinha
resistido a principio, mas agora... agora eu queria tanto avançar a níveis mais
altos. Dorian e eu nos encontraríamos amanhã para outra sessão, e eu
56 Uma livraria famosa.
odiava a ideia de mais inatividade. Ele me disse que eu tinha uma vida para
alcançar à mágica, mas eu não queria esperar tanto tempo. Eu queria fechar
a lacuna.
Naturalmente, a livraria não tinha livros sobre magia de verdade. Eles só
tinham as coisas bobas e comerciais. Mas eles tinham uma sessão cientifica,
e nela, eu encontrei algumas prateleiras sobre tempo e meteorologia.
Eu duvidava que esses livros fossem me fazer dominar mágica de um dia para
o outro, mas saber a ciência por trás do que eu trabalhava tinha que ajudar.
Era algo tangível, algo com que eu tinha mais experiência do que com a
estranha e exotérica natureza da mágica em si. Volusian uma vez tinha
comentado que como uma criança de ambos os mundos, eu podia pegar o
melhor de cada um. Eu era tanto gentry quando humana. Mágica e
tecnológica.
Eu passei mais de uma hora buscando livros sobre tempestades, e atmosfera,
e sobre o fenômeno do tempo. Quando a loja anunciou que ia fechar, eu mal
conseguia acreditar. O tempo tinha voado. Pegando os livros que achei mais
úteis, eu paguei e fui para casa.
"Leitura é quente." Tim me disse quando entrei pela porta com uma sacola
pesada. Eu o ignorei e fui pra meu quarto. Jogando os livros na cama, eu
peguei o que parecia útil e sentei na minha mesa, onde a Torre Eiffel ainda
não estava terminada. Eu não tinha tempo para quebra cabeças
ultimamente. Com um olhar desejoso, eu coloquei as peças na caixa e o
guardei. A torre teria que esperar.
Mudando minhas pernas para uma posição confortável, eu comecei a ler o
glossário colorido do livro. Pulando entre as páginas título e introdução, eu
finalmente encontrei o tema do livro.
Capítulo Um: Umidade e Atmosfera.

Capítulo Vinte Quatro
Qualquer comentário falso que Dorian e Maiwenn podem ter feito, Tucson é
o melhor lugar no mundo para se viver.
Parada na passagem do deserto na manhã seguinte, eu parei por um
momento para absorver meus arredores antes de cruzar. O reino de Dorian
certamente era lindo, mas não era a mesma coisa. Não era meu lar. Um
vento suave cortou o ar seco, despenteando meu cabeço e sussurrando que
a primavera iria ceder para o verão logo. A brisa carregou todos os deliciosos
cheiros do deserto, e eu senti o doce cheiro de mesquite57 ­ não o tipo para
churrasco, mas o delicado perfume emitido pelas flores amarelas. Acima de
mim, o sol batia sem remorso, avisando os fracos para sair. A estação de
turismo tendia a diminuir com o aumento nas temperaturas, mas eu adorava
essa época do ano.
E ao meu redor, nesse calor seco e sem perdão, eu podia sentir a água que
não estava avista. Estava no nos cactos gigantes e nos ninhos de cambaxirra
e na raiz das árvores. Havia até pequenas particulas no ar, apesar da
ostensiva aridez. Em todo lugar havia vida, havia água. Sentir ela era agora
minha segunda natureza. Chamar ela ainda permanecia um desafio.
Fechando meus olhos, eu deixei minha mente alcançar as fronteiras e me
mandar para o Outro mundo. Praticar realmente deixava perfeitas essas
transições; eu não fazia esforço agora, assim como sentir a água. Meu corpo
deslizou por ela, puxado pelo ponto fino correspondente a casa de Dorian.
Antes deu conseguir chegar lá, no entanto, eu busquei o Slinky, usando
minha essência guardada como um imã para me puxar para lá ao invés da
estrada.
Momentos depois, eu apareci na cama de Dorian.
"Presunçoso," eu murmurei, saindo e levantando. Eu peguei o Slinky e o
joguei, observando seus anéis se arquearem e caírem.
57 Seria essa árvore:
http://texastreeplanting.tamu.edu/treepictures/mesquite_honey.jpg
"É você, minha lady?" eu ouvi uma voz me chamando. Segundos mais tarde,
o rosto jovem de Nia espiou da outra sala. "Vossa majestade está no
conservatório. Se você pode me seguir?"
Wow. Eu nunca ouvi falar de alguém ter um conservatório a não no jogo
Detetive. Quando Nia me levou para dentro, eu encontrei Dorian parado na
frente de uma tela com uma palheta e pincel na sua mão. Dorian, no
conservatório, com um candelabro, eu pensei. Er, pincel.
Ele sorriu quando me viu. "Lady Markham, você chegou bem a tempo. Talvez
você possa entreter Rurik. Ele se tornou terrivelmente não razoável."
Eu olhei para o lado do aposento onde Rurik, o guerreiro massivo com cabelo
loiro platina, sentava num delicado sofá estofado com veludo cor de lavanda.
Ele usava uma armadura de couro e cobre, e toda a justaposição me fez
recuar.
"Eu não quero não ser razoável, vossa majestade." Ele falou através dos
dentes cerrados. "Mas ficar sentado aqui sem me mexer ­ usando armadura
­ não é tão fácil."
"Bah, você está reclamando. O que não é adequado para um homem do seu
posto. Ora, Lady Markham venha ficar parada por algumas horas ­ e em
circunstâncias bem mais desconfortáveis também, eu devo acrescentar."
Rurik olhou para mim, tanto impressionado como intrigado.
"Não se mova! Olhe de volta para cá."
O olhar malicioso de Ruruk sumiu quando ele voltou sua atenção de volta
para o rei. A tela de Dorian estava do outro lado, então eu não fazia ideia de
como a obra de arte dele parecia. Eu comecei a andar e olhar, mas ele me
afastou com o pincel.
"Não, não. Não até eu terminar."
Dando nos ombros, eu peguei outra cadeira cor de lavanda ­ todo o
aposento era dessa cor, na verdade ­ e excessivo. Dorian falou sem tirar os
olhos do seu trabalho.
"Então o que você fez hoje, minha querida? Algo divertido?"
"Na verdade não. Dormi. Bani um shade. Na verdade eu li a maior parte do
dia. Meio chato."
"O que você estava lendo? Eu realmente gosto disso nos trabalhos
humanos... oh, eu esqueço o nome dele. Ele foi muito popular por um
tempo. Shakemore?"
"Shakespeare?"
"Sim, esse mesmo. Ele escreveu algo novo?"
"Um, não em tipo, quatro ou cinco séculos."
"Ah, pena. Então, sobre o que você leu?"
"O tempo."
Ele pausou na metade da pincelada. "E o que você aprendeu?"
"A formação de tempestades e coisas assim. Como as moléculas do tempo
crescem e se condensam e como as particulas carregadas descarregam na
forma de trovão. Oh, e tinha mais uma coisa sobre pressão alta e baixa, mas
vou ter que ler de novo. Meio confuso."
Os dois homens me olharam com olhos vazios, e então Dorian voltou para
seu trabalho. "Eu vejo. E você acha que isso vai facilitar seu aprendizado?"
"Não tenho certeza. Mas eu meio que gosto de como o resultado final é pra
ser.
Silêncio caiu enquanto Dorian continuava a pintar. Rurik persistiu em parecer
miserável, ocasionalmente suspirando alto para expressar seu
descontentamento. Eu nunca o perdoei totalmente pelo negócio com o
Elemental de gelo, então vê-lo sofrer tinha seu lado bom. Infelizmente, ficou
chato depois de um tempo. Eu cruzei os braços e afundei mais na minha
cadeira, vendo que ele notou.
"Senhor, sua dama está impaciente. Eu tenho certeza que você tem coisas
mais interessantes para fazer com ela. Nós podemos trabalhar nisso outra
hora, eu não me importo."
"Bobagem. Estou quase terminando."
A primeira expressão de felicidade que eu vi no rosto de Rurik apareceu. Ela
sumiu quando Dorian virou a tela para mostrar o trabalho dele.
Nós encaramos.
"Senhor, eu estou... usando uma tigela?"
Eu virei minha cabeça. "Meio que parece isso. Mas o resto... cara, isso na
verdade é muito bom. Eu não sabia que você podia fazer rostos tão bem."
Dorian brilhou. "Ora, obrigado. Eu também posso pintar você um dia se você
quiser."
"É uma tigela," protestou Rurik.
Dorian olhou para a tela, e então para o guerreiro. "Combina com a
carruagem. Eu tive que acrescentá-la; caso contrário vocês teriam se
chocado."
De volta no quarto dele, Dorian fez seus movimentos de sempre, tirando sua
capa prateado-cinza e servindo uma taça de vinho. Ele bebeu algum tipo de
rubor hoje à noite.
"Pronta pra começar?"
Eu acenei, sentando na cadeira no meio do quarto. Como eu disse, eu não
achava que os livros de meteorologia iriam me dar muita vantagem ainda,
mas eu me senti mais em controle depois de ler. Como se eu estivesse
começando a tomar meu treinamento em minhas próprias mãos. Ele tomou
outro gole do vinho, pegou mais cordas, e se aproximou de mim. Colocando
uma mão no quadril, ele me olhou cuidadosamente, não diferente de como
ele avaliou sua tela.
"Essa camisa é muito bonita." Eu olhei para baixo. Era um top preto com uma
corrente de margaridas vermelhas bordadas perto do topo. "Hmmm. Vamos
tentar isso."
Ele abandonou as cordas de cor pastel e as substituiu por um vermelho e
preto. Colocando meus braços contra os braços da cadeira, ele prendeu cada
um com o preto primeiro formando padrões em X. O estilo me lembrou da
forma como as sapatilhas da bailarina se prendiam. Quando ele terminou,
ele usou vermelho em cada braço.
"Esses são mais como faixas do que os normais," eu observei. "ou talvez
cintos. Você é dono de cada possível forma de constrangimento conhecidas
pelo homem?"
"Quase." ele disse. "Muito bem. Vamos começar. A água está ali."
Ele indicou a mesa perto da janela onde o meu velho amigo, o jarro, estava,
mas eu já sabia onde ela estava. Sentando o mais confortavelmente que
podia na cadeira, eu encarei o jarro e imediatamente deixei minha mente
alcançar a água. Ela queimou como uma fonte de inspiração pra mim. Além
dela, eu podia sentir todas as outras águas no quarto. Eu e Dorian, o vinho,
vapor de água. Eu dirigi minha atenção ao jarro de água.
Eu posso sentir você, agora venha até mim.
Mas, como muitas praticas já tinham demonstrado querer não fazia
acontecer. Deus, isso me irritava. Eu honestamente não sabia como Dorian
agüentava ficar esperando em todas essas aulas. Tinha que ser um inferno de
chato. Eu estava entediada, e eu consegui fazer algo. Mais ou menos.
Não, não. Essa era uma atitude ruim. Esqueça o tédio. Se foque na sua tarefa.
As horas se passaram de novo. Se Dorian ainda estava acordado ­ o que eu
duvidava ­ eu saiba que ele iria terminar essa sessão logo. Saber isso me
irritou, mas eu entendi. Eu já estava me sentindo cansada, meus olhos
estavam turvos. Eu fiquei piscando muito para recuperar o foco e impedir
eles de morrer. Eu acho que isso me fez notar o que aconteceu em seguida.
"Dorian, olhe para o jarro."
Ele sentou imediatamente e seguiu meu olhar. Um momento depois, ele
andou até o jarro e o tocou, passando seus dedos na lateral. Água caia da
lateral em cerâmica, se fundindo na superfície da mesa. Um sorriso devagar e
de deleite se espalhou no rosto dele.
"Você a pegou. Ela te ouviu. Agora faça-a ir mais longe ­ todo o caminho
para fora do jarro."
Com progresso tangível diante de mim, minha excitação cresceu. Eu pensei
no que eu estava fazendo, tentando repetir. Cerca de um minuto depois, eu
podia ver a água se derramando pelas laterais da jarra, muito mais rápido e
em muito mais quantidade. A poça na mesa cresceu, pingando no chão.
"Estou arruinando seu tapete."
"Esqueça o tapete. Traga mais para longe." Eu podia ouvir a antecipação na
voz dele. Uma parte lógica de mim viu o carpete como um terreno para
navegar, e o progresso da água diminuiu. Logo, eu decidi que isso só estava
na minha cabeça. O carpete não tinha nada a ver com nada. Só o meu
controle sobre a água importava.
Assim que eu percebi isso, a água passou pelo carpete com um riacho
curvado, quase como uma cobra. Ela alcançou meus pés, e eu conseguia
senti-la esperando por mais instruções. Só que eu não sabia o que dizer. Eu
simplesmente queria que ela viesse até mim.
Eu mal tinha dado forma a esse pensamento quando a água se espalhou
diante de mim e pairou no ar. Minha boca abriu, eu observei ela se dividir em
centenas de gotas. Elas ficaram ali, suspensas como contas de cristal. Eu
observei, fascinada, mas não fazia ideia do que fazer em seguida. Só então
meu apego se soltou, e as gotas se desintegraram em uma fina fumaça.
Segundos mais tarde, a nuvem se dispersou, evaporando no resto do ar.
Enquanto elas sumiam, o sentimento eufórico que corria pelo meu corpo
também sumia.
Nem Dorian nem eu fizemos nada imediatamente. Então, eu comecei a rir. E
eu não consegui parar. Era muito maravilhoso. Eu queria fazer de novo e de
novo, mas não tinha mais água. O vinho faria muita bagunça.
Uma ideia me ocorreu. Sentindo a umidade no ar, eu mandei meu poder pelo
ar bem na minha frente. De repente, pequenas particulas de água se
condensaram na minha pele, como se eu tivesse recebido um spray de uma
nevoa leve. Eu ri de novo.
Dorian, sorrindo tão abertamente quanto andou até mim e passou seus
dedos nas minhas bochechas. Tocando seus dedos juntos, ele esfregou a
água na pele, quase como se estivesse testando se ela era real.
`Eu consegui."
"Você realmente conseguiu."
Os olhos dele brilharam com um prazer puro. Você podia pensar que era ele
que tinha feito isso. Engraçado ele ficar tão alegre com isso, eu pensei,
quando era uma coisa sem valor, comparado com a mágica dele. Ele me
desamarrou e segurou minhas mãos para me ajudar a levantar.
"Eu acho que precisamos celebrar." Ele serviu outra taça de vinho e entregou
para mim. Batemos nossas taças juntas. "Aos pupilos inteligentes."
"Com bons professores."
Tomamos um gole. "Dificilmente. Eu na verdade dormi a maior parte da
noite."
Eu ri e bebi. "Você... quando você usa sua mágica, você sente agora... eu não
sei algo queimando dentro de você? Como prazer ou alegria... e não só da
satisfação mental..."
Eu não conseguia descrever, mas o rosto dele me disse que eu não precisava.
"Sim. Eu sei exatamente o que você quer dizer. Maravilho, não é?"
Eu bebi mais vinho. "Sim. Sim, é."
"Só espere. Você só teve um pouco. Quando você começar a usar todos os
seus poderes, você não vai saber como viveu sem."
Eu sorri para ele. Eu me sentia tão satisfeita comigo e com a vida, que eu mal
conseguia suportar.
Quando eu estive assim tão feliz? Fora quando estava com Kiyo? E se eu tive
esse tipo de reação agora, o que iria acontecer quando eu realmente
estivesse numa liga maior? Dorian falou como um viciado, mas certamente
soava como um bom.
Olhando para cima, eu vi os olhos dele em mim. Ele soltou sua taça e falou
numa voz suave, quase assombrosa. "Você brilha... sabia disso? Poder fica
bem em você."
Ele me fez tão feliz quanto tudo mais no mundo bem ali. Calor cresceu no
meu peito e irradiou para o resto do meu corpo. Eu não sei como aquele
sentimento se expressou no meu rosto, mas deve ter mostrado algo porque
ele se inclinou e me beijou.
Eu podia sentir o gosto do vinho naquele beijo suave, vinho e calor. Uma das
mãos dele me puxou contra ele enquanto a outra cuidadosamente pegava
minha taça. Ainda nos pressionando juntos, ele me levou para cama. Eu
respondi o beijo doce e provocador dele com beijos fortes e exigentes. Ele
não levou muito tempo para se ajustar a essa mudança de estilo. Ele me
rolou de costas e deitou em cima de mim, passando uma mão no meu
cabeço para segurar minha cabeça no lutar quando uma ansiosa necessidade
de repente encheu os beijos dele. Ele consumiu minha boca com eles
enquanto sua outra mão deslizava sem vergonha por entre as minhas coxas,
me esfregando por cima do jeans.
Meu corpo se arqueou contra o dele, e eu senti um choro se formar na
minha garganta, só para ser perdido com a pressão da boca dele na minha.
Eu soube então que finalmente iria acontecer. A perigosa atração disso... o
esoterismo de dormir com alguém que ainda era tão desconhecido... tudo
me inflamou muito mais. Íamos fazer isso. Íamos ficar juntos, e eu me
entregaria a ele.
Entregar-me a ele.
Meu peito ficou apertado, conflitando com o prazer que queimava no resto
do meu corpo. O toque dele me fez desejar mais, quase me fez implorar, e
ainda sim aquela parte irritada no fundo da minha cabeça estava gritando de
novo. Ela me disse que se eu fizesse essa escolha, se eu deliberadamente
escolhesse fazer isso com ele, então eu estava cedendo ao inimigo. Eu não
sabia exatamente quem era esse inimigo, mas não importava. O instinto
pulsou através de mim, defensivo e com medo. Ela guerreou contra o resto
de mim, contra as necessidades do meu corpo e mesmo contra meus
próprios desejos conscientes. Eu conhecia e gostava de Dorian. Porque eu
não conseguia superar aquele medo? De certa forma, o medo era excitante.
Eu tinha o pressentimento que eu se eu pudesse simplesmente superar
aquela primeira crista de dificuldade, os problemas iriam sumir.
Mas merda, aquele era um pico alto para superar.
E como da última vez, Dorian virou seu rosto do meu, e eu vi emoções que eu
nunca vi antes. Frustração. Infelicidade.
"Dorian..." eu disse. "Dorian... sinto muito..."
Ele esfregou o rosto com as duas mãos e exalou. A voz dele era chata quando
ele falou. "Está tarde, Eugenie. Muito tarde para você ir embora." Ele se
levantou e se esticou, e quando ele finalmente virou, ele também tinha
limpado seu rosto de todas as expressões escuras. A feição alegre dele
também estava desaparecida; ele simplesmente parecia cansado. "Eu fico
com o sofá no salão; você fica na cama."
"Não, eu ­"
Ele me dispensou enquanto andava até o outro quarto sem olhar para trás,
dizendo apena: "Aceite. Será a sua melhor noite de sono."
Elaboradas portas francesas ligavam os dois aposentos. Ele as fechou, me
deixando a minha própria miséria.
Eu sentei na enorme cama, tentando resolver a confusão de emoções. O que
havia de errado comigo? Porque eu não conseguia fazer isso funcionar? Eu
dormi com caras que eu gostava bem menos do que Dorian. Porque eu não
conseguia cruzar essa última linha? Porque continuar lutando?
Eu apaguei todas as velas e tochas do quarto antes de tirar meu jeans e
deslizar para dentro das cobertas. Dorian tinha razão. Essa tinha que ser a
cama mais confortável em que estive. Infelizmente, eu não conseguia dormir.
Eu fiquei pensando na minha elevação mágica, o desejo ansioso, e a
subseqüente separação. Meu corpo o queria. Minha mente também. Só
meus instintos lutavam.
A cama mais confortável do mundo deve ter se insultando com de tanto que
me mexi. Pelo menos seu tamanho me deu todo o espaço que eu podia
querer. Meus olhos ficaram acostumados com a escuridão muito
rapidamente, e eu podia discernir as formas da mobília e os cantos na parcial
luz da lua. Fora da gigante janela, estrelas brilhavam ­ milhares mais do que
eu vi na noite com os astrônomos. Perdemos as estrelas do mundo humano,
apesar do nosso sucesso em alcançá-las. Humanos e gentry provavelmente
eram dois lados da mesma moeda, cada um suprindo o que faltava para o
outro.
A resposta para meu problema com Dorian estava longe de vir, mas chegou.
Ainda estava escuro quando eu finalmente levantei e fui até o quarto
adjunto. As portas se abriram silenciosamente, e eu pausei quando o
alcancei. Ele não cabia direito no sofá, então as pernas dele estavam sem
apoio na ponta. Ele ainda usava as mesmas roupas e tinha colocado um
cobertor frágil sobre seu corpo. Ele olhava para a direção em que eu estava
com os olhos fechados. Uma mão caiu sobre ele, e seu cabelo que caia até
suas bochechas, em uma cor de fogo discernível apenas na pouca luz.
Ele era um rei, com centenas de pessoas que respondiam a ele, ainda sim ele
estava deitado apertado nesse sofá por minha causa. Eu tinha magoado
alguém que eu não achava que podia se magoar. Eu fique parada ali
pensando sobre isso no quarto escuro antes de finalmente me ajoelhar ao
lado dele. Eu tentei pegar uma mão, mas os olhos dele se abriram antes deu
fazer contato. "Qual problema?" ele perguntou. Ele soava alerta,
preocupado.
Eu não consegui responder imediatamente. Silêncio ficou tão profundo
quanto à escuridão ao nosso redor. Ele nem se moveu nem falou enquanto
eu pensava; ele simplesmente observou e esperou.
"Eu quero que você me amarre."
Essa era a melhor coisa sobre Dorian. A maioria das pessoas teria hesitado ou
feito perguntas. Ele não. Ele me seguiu até o outro quarto e prontamente
pegou as mesmas fitas que ele usou mais cedo, na cadeira.
Eu me sentei na cama, incerta de onde posicionar meu corpo, mas ele me
ajustou gentilmente. Ele começou a estender meus braços acima da minha
cabeça,mas então ele parou. Movendo suas mãos pelo meu estomago, ele
sentiu a beira da minha camiseta e me deu um olhar questionador. Eu
acenei, e ele cuidadosamente a tirou por cima da minha cabeça. Voltando
para meus braços, ele os ergueu acima da cabeceira e amarrou meus pulsos
juntos, ele ainda incapaz de apressar sua cuidadosa amarra. Com a outra fita,
ele ligou meus pulsos a intricadas ondas da cabeceira e então usou outra
para reforçar a amarra. Quando ele terminou, meus braços estavam
relaxados num travesseiro acima de mim, mas minhas mãos estavam
apertadas e seguras. Estranhamente, algo dentro de mim se acalmou ao
perceber que eu estava presa.
A extensão do processo de me amarrar me surpreendeu. Eu pensei que ele
iria querer acelerar as coisas, mas a paciência dele parecia infinita. Ele sentou
para trás, nos joelhos, e me estudou, como ele sempre fazia depois de
amarrar seus nós. Quase escuridão ou não, eu me senti exposta com apenas
minha calcinha e sutiã e me perguntei se era minha pele nua ou os laços de
ceda que o cativaram. Provavelmente a combinação dos dois.
Ele saiu da cama e levantou para que pudesse tirar suas próprias roupas.
Enquanto elas caiam no chão, mais e mais do seu corpo era revelado. A luz
da lua pegou sua pele branca, e ela praticamente brilhou. Ele me lembrava
alguma antiga estatua grega ou romana, toda feita de mármore com linhas
suaves.
Ele subiu de volta na cama, olhando para mim, e meu coração começou a
bater forte de novo. Sombras o escondiam agora que ele estava longe da luz
da janela, e ele parecia maior e mais poderoso comparado a mim. Eu não
tinha como sair disso a não ser que eu tentasse umas manobras malucas.
O tempo e a tensão se esticaram entre nós. Deixou-me ansiosa,mas
estimulada também. Porque a demora? Porque ele não me tocava? Porque
ele ficava olhando para mim daquele jeito? Finalmente, ele se ajoelhou aos
meus pés e beijou meus dedos. Um toque tão pequeno, mas fez meu corpo
tremer depois de toda aquela espera. Ele alternou entre os dois pés, os
lábios dele acariciando dedos e tornozelos antes de subir pelas minhas
pernas. Kiyo tinha feito uma exame físico similar durante nossa primeira
noite juntos. Eu me perguntei se havia algum tipo de analise física ou de
personalidade que você podia fazer baseada por onde o cara começava, em
cima ou embaixo.
Para cima, para cina, A boca de Dorian se moveu. O músculo da minha pélvis
apertado em antecipação, e eu senti ficar ainda mais molhada entre minhas
pernas. Mas então, ele simplesmente passou por minha calcinha,
continuando com meu estômago. Ele passou sua mão na pele suave, ainda
sem pressa, tomando cuidado com o corte que ainda estava se curando
devido ao ataque do fachan. Quando ele terminou ali, ele se moveu para o
meu pescoço, passando meus seios. Meu pescoço era bem sensível também,
e a intensidade da boca dele tinha aumentando. A sensação forçou minha
respiração em arfadas ansiosas e irregulares, mas uma frustrada reclamação
escapou mesmo assim.
"Porque você está pulando todas as partes boas?"
Ele pausou, mal erguendo seu queixo da minha pele. "Você quer que eu
volte?"
Eu mordi meu lábio. Ele estava tentando me fazer ditar os termos aqui, mas
não era isso que eu queria. Pela primeira vez, eu não queria o poder. É por
isso que eu pedi para ser amarrada. Eu queria a escolha tirada de mim. Eu
fiquei quieta.
Ele voltou para o meu pescoço, movendo sua boca pela minha clavícula e
ombros, então para cima no meu pescoço e orelhas. Nossos lábios logo
ficaram juntos de novo, mas eu tentei canalizar minha vontade e paixão
naquele beijo, como eu tinha feito mais cedo. Mas agora ele se manteve fora
de alcance, só o bastante para provocar, mas não cumprir. Eu ergui meu
corpo, tocando o máximo que pude no dele. Assim também ele se afastou
levemente. Era frustrante, e em minha necessidade, eu esqueci quem
deveria estar em controle.
"Ok ­ volte."
Ele respondeu tão eficientemente e rapidamente quanto ele tinha feito
quando pedi para ser amarrada. Suas mãos e dedos delicados acariciavam
meus seios, os segurando e colocando na sua boca. Eu fechei meus olhos e
coloquei meu pescoço para trás, perdida naquele redemoinho da língua dele
enquanto ele acordava os nervos da minha pele e delicadamente sugava o
mamilo. Quando ele finalmente se afastou, eu fiz um suave som de protesto
até que percebi onde ele foi a seguir.
Colocando seus dedos dos lados da minha calcinha, ele a abaixou, parando
bruscamente quando eles chegaram à metade da coxa. Por um momento, eu
pensei que era mais da provocação dele quando eu de repente entendi o
problema.
"É, um, se chama depilação brasileira," eu expliquei voz ainda fraca.
"Oh." A própria voz dele tinha admiração. "Oh meu."
Os dedos dele passaram por aquela delicada área, tanto por sensualidade
quanto sua curiosa exploração. Com um suspiro feliz, ele removeu
totalmente a calcinha e cuidadosamente separou minhas coxas. Então, sua
boca estava em mim, sua língua passando pelos pontos mais sensíveis em
um movimento suave.
Era como uma faísca para um barril de pólvora. Todo o meu corpo se ergueu
então calor explodia através de mim, e eu fiz um som vagamente parecido
com uma lamuria. As duas mãos dele deslizaram e me mantiveram firmes no
lugar, me lembrando de novo que eu tinha desistido do poder aqui. Essa
mesma mistura conflitada de medo e necessidade passou por dentro de
mim, assustada que ele pudesse fazer o que quisesse comigo e meio que
esperando que ele fizesse.
Quando ele se convenceu que eu não iria mais me mover, ele deixou uma
das suas mãos deslizarem de volta para minha coxa. Sua boca nunca tinha
parado sua fervente alimentação, e agora seus dedos se moviam para
dentro, entrando em mim com movimentos suaves para trabalhar com sua
boca. Eu gemi contra o toque dele, minha cabeça jogada para trás e meu
corpo arqueado. Ele tinha um misterioso talento para se afastar cada vez que
um orgasmo estava prestes a acontecer. Então, quando ele finalmente
permitiu que eu me soltasse, quase me pegou de surpresa.
Minha pele incendiou elétrica e gloriosa. Eu tremi enquanto meus músculos
se contraíram, enquanto aquele ecstasy passava pelo meu corpo. Mesmo
quando o laço quebrou, ele manteve sua boca lá embaixo lambendo e
sondando até que eu implorei para ele parar, muito sobrepujada pela onda
de sensações. Ele levou tempo para obedecer ao pedido, finalmente se
afastando e deitando seu corpo contra o meu.
Cada parte dele se pressionou contra mim, duro e maravilhoso, e eu me torci
debaixo dele, ansiosa por mais. Ele moveu suas mãos de volta para meus
braços, me prendendo firmemente de novo no lugar. Sua boca esmagou a
minha, me forçando a sentir meu próprio gosto nos lábios dele. Lutar não fez
nada de bom.
Quando ele me soltou do beijo finalmente, o rosto dele se afastou apenas
uma fração de centímetro para longe do meu.
"Eu sei por que você está fazendo isso," ele disse. "Porque você quer é
presa. É porque você quer a decisão tirada das suas mãos. Você sabia que
assim que estivesse aqui, não havia volta. Você não teria que carregar o
fardo de decidir por vontade própria vir junto comigo. Você não teria escolha
no assunto, portanto iria se aliviar de qualquer culpa ou antecipação."
Ele beijou minha bochecha e se demorou na minha orelha um pouco. "Em
um momento, eu juro que posso roubar e tomar o quanto você quiser, se
isso facilita. Mas sua escolha ainda não sumiu. Podemos parar se você quiser.
Ou eu posso desamarrar você. Você pode-me dizer que quer fazer isso e se
juntar a mim, não em submissão, mas como igual."
As palavras estavam nos meus lábios. Sim, me desamarre. Faça amor comigo.
Foda-me. Eu quero estar com você. Eu poderia ter dito várias coisas para
mudar a balança de poder. Eu podia ter ganhado controle e liberdade de
novo. Ainda sim, eu não disse nada. Talvez fosse porque era o único jeito que
eu podia passar por isso. Ou talvez fosse porque eu queria assim. Talvez eu
até gostasse. Independentemente, eu fiquei quieta, e ele leu a resposta
nisso.
Ele se ergueu se aproximando de mim. Ele era um conquistador, vindo para
pegar, e eu era o premio, carne aberta esperando para ser possuída. Aquele
medo cresceu em mim, e eu gostei dele. Era delicioso. Excitante. Eu desisti
do meu poder. Eu me entreguei a ele.
Quase de joelhos, ele abriu minhas pernas e enfiou. Eu gritei, mais quase por
causa das sensações mental do que física, meus braços presos e inúteis
contra as amarras. Ele me preencheu, pontuando cada poderoso movimento
em mim com um suave gemido em sua garganta que eu pensei que nem ele
estava ciente.
Eu queria me estender e enrolar meus braços ao redor dele, puxar ele contra
mim. Mas tudo o que eu podia fazer era ficar deitada ali, e deixá-lo empurrar
para dentro de mim de novo e de novo, o inimigo que de alguma forma eu
comecei a desejar.
Ele mudou a posição do seu corpo para que ficasse completamente em cima
de mim, ainda se movendo urgentemente e possessivamente, a não ser que
agora eu conseguia me mover ainda menos do que antes. Ele me segurou
para baixo, me segurando com força. E eu? Minha pele doía e queimava, o
deixando levar o que quer que fosse que ele queria de mim. Eu flutuei um
passo quente e líquido. Era como ficar presa numa seda dourada, uma
benção derretida se espalhando por todo meu corpo.
"Eu te disse," ele disse através da respiração. "eu disse que você viria até
mim. E agora... agora eu percebo que eu podia simplesmente te tomado no
instante que te amarrei. Você não precisava de nada do resto. Você tinha
esse desejo e nem sabia... esse desejo de simplesmente ser possuída de
qualquer forma que seu amante queira." Ele pausou um momento,
engolindo e recuperando o fôlego. "Estou certo, não estou? Eu podiria te
mover para qualquer posição que eu queira e fazer amor com você em
qualquer lugar que eu queira, e você vai amar cada momento..."
Eu não conseguia dar nenhuma resposta coerente, e a maior parte dos meus
barulhos tinham se tornando choros inteligíveis e primitivos. Tudo que eu
queria me concentrar era estarmos juntos, em como eu sentia ter ele dentro
de mim. Eu deslizei na cama; minha cabeça praticamente perigando bater a
cabeceira logo.
De repente, ele tirou bruscamente e pairou de novo em cima de mim. Os
olhos dele, escuros com essa luz, me observaram, e eu senti aquela lacônica
e brincalhona expressão no rosto dele. Nós dois ofegávamos. Eu esperei por
ele voltar, me sentindo irada com a interrupção dele. Eu estava prestes a
gozar de novo. De alguma forma, eu suspeitei que ele soubesse disso.
"O que você está fazendo?"
"Esperando. Esperando para você me dizer para continuar."
Ele não estava sendo cruel ou maldoso. Ele estava me provocando,
brincando comigo do jeito que ele gostava de brincar com as pessoas daqui.
"Seu bastardo fudido," eu disse. De alguma forma a profanação carregou
afeição.
Ele riu. "Devo entender que isso significa que você quer que eu continue?"
"Você sabe que eu quero."
"Então fale direito. A não ser que você mesma vá me tomar."
"Eu mencionei que você é um bastardo?"
"Diga-me que você não quer parar. Implore. Implore, e vamos fazer isso pelo
resto da noite."
Era meramente um jogo, outra dimensão desse jogo de poder e a dominação
dele sobre mim. E, para meu desgosto, era excitante.
"Por favor," eu sussurrei.
"Por favor, o que?"
"Por favor... não pare. Eu quero... eu quero que você continue..."
"Continue o que?"
Eu suspirei. "Eu quero que você continue a me fuder."
Ele estava de volta em mim quase antes das palavras saírem da minha boca.
Eu gritei momentos mais tarde, o orgasmo atrasado explodiu dentro de mim.
Ele me chocou e queimou enquanto aquela maravilhosa sensação passava
por mim. Enquanto isso nossos corpos continuaram a se mover juntos. O
rosto dele estava perto do meu, observando com prazer enquanto eu
ofegava e lutava contra a alegria que era quase intensa demais.
"Eu odeio você," eu falei.
Ele riu e beijou meu rosto. "Não, não odeia."
Ele tinha razão.

Capítulo Vinte Cinco
"Eu sei o que você está pensando."
Eu estiquei meus braços acima de mim, enfiando minhas mãos entre minha
cabeça e o travesseiro.
A luz do sol vertia em mim vinda da gigante janela, mas fez pouco para
ajudar meu problemático humor. Eu estive mau humorada e quieta a manhã
toda. "Não é provável."
Dorian se esticou até uma bandeja de todo tipo de bolos e doces que estava
na cama quando acordamos. Isso e o novo fogo acesso eram apenas alguns
sinais que servos tinham estado aqui. A presença deles não deveria ter me
incomodado; todo mundo já acreditava que Dorian e eu estávamos
dormindo juntos. Ainda sim, saber que outras tinham se movido ao nosso
redor enquanto dormíamos ainda parecia estranho.
Ele enfiou uma tortinha recheada de marzipan58 na minha boca. Eu fiz um
som de surpresa, mas comi mesmo assim. Ele tinha cozinheiros excelentes.
"Bem, então, me deixe adivinhar mesmo assim. Eu adoro tentar entender
seus pensamentos."
Ele sorriu para mim, cada centímetro daquele homem alegre e fácil que eu
conhecia. Ele não trazia quase nenhum traço do amante apaixonado de
ontem à noite, o que me disse repetidamente, detalhes do que podia fazer
comigo se ele quisesse ­ e então provou que ele poderia.
Eu virei para o meu lado, ficando de costas para ele. "Divirta-se."
58
Marzipã, marzipan ou maçapão é um doce de origem árabe, preparado a partir de uma
pasta feita
de amêndoas moídas, açúcar e claras de ovos, que pode ser moldada em praticamente
qualquer
formato. Também podem ser adicionadas essências.
Conhecido no ocidente a partir do século 13, aproximadamente, o marzipã é servido
geralmente com a
forma de bolinhas ou figurinhas, pintadas com anilina ou em sua cor natural, e ainda
com cobertura
glaceada ou de chocolate.
"Muito bem. Você agora está percebendo que o que fez foi impensado. Você
fez amor comigo ­ um dos brilhantes. Você cruzou aquela linha invisível, e
agora o horror e arrependimento está te comendo por dentro."
"Não."
"Não?"
"Não, não é nisso que estou pensando."
"Oh."
Eu ouvi ele se mexer de novo e então senti um cookie balançar
delicadamente no meu braço. Eu esbarrei e o comi, derrubando migalhas no
lençol enquanto ele reconsiderava. Limonada.
"Muito bem. E quanto a isso: Você está pensando no kitsune. Em Kiyo. Você
sente falta dele e lamenta que isso tenha acontecido. Ficar comigo te faz
sentir culpada."
Eu não estava pensando em kiyo, mas mencionar ele de repente me trouxe
ele a mente. Eu sentia falta de Kiyo. Eu sentia falta da forma fácil que
interagíamos, sua presença sólida e firme. Eu sentia falta do jeito que ele me
segurava e me fazia sentir segura.
"Não."
"Hmm. Bem, então. Minha percepção parecia estar um pouco ruim está
manhã. É conhecido por acontecer uma ou duas vezes."
Eu olhei para janela, as emoções de preocupação se revirando em mim.
Finalmente, eu disse, "estou incomodada por... como foi ontem à noite. O
qual duro foi."
"Verdade? Eu realmente não te conheço tão bem. Eu pensei que você tinha
gostado."
"Eu gostei."
Ele esperou uma batida. "Perdoe-me, então, mas não entendi sua
preocupação."
Eu rolei de volta em direção a ele, e eu falei tudo. "Você não entende? Todo
esse tempo estive tentando evitar multidões de gentry e monstros de me
estuprar. E ainda sim... isso essencialmente aconteceu ontem à noite. Eu
deixei você... eu deixei você ser agressivo e possessivo. E então eu gostei. O
que isso diz de mim? O que tem de errado comigo?"
O rosto de Dorian mudou para aquele rosto raro e seriamente preocupado
que às vezes ele fazia. Ele se esticou e tocou meu rosto com as duas mãos.
"Oh, deuses, não. É isso que te chateia? Eugenie, Eugenie. Isso não é estupro.
Estupro é brutal. Estupro é feito contra sua vontade, normalmente com
alguém que você odeia ­ ou pelo menos gosta um pouco menos do que eu.
O que fizemos ontem à noite... aquilo foi um jogo. Eu acreditei, inicialmente,
que ele ia te ajudar a quebrar seu bloqueio mental, mas depois daquilo... não
foi nada violento ou ruim. Foi... um jeito desconhecido de se aproximar do
sexo. Você concedeu. Não tem nada de errado com você por ter gostado."
Talvez ele estivesse certo, mas tudo ainda me fazia sentir estranha. "Eu só
nunca fiz nada assim. Eu fiz sexo selvagem antes, mas nada tão... pervertido."
"Pervertido. Uma palavra fantástica. Sempre levamos um tempo para
alcançar seu mundo de gírias."
"Deixa as coisas estranhas entre nós. Eu quero dizer, mas estranhas do que o
normal."
Ele passou sua mão na minha bochecha e através do meu cabelo. "Então me
diga como acertar as coisas."
"Eu não sei."
"Talvez isso anime você: Estamos prontos para ir até Aeson agora."
"O que?" Isso não me animou tanto quanto me surpreendeu. Da onde isso
tinha vindo?
"Podemos ir quando você quiser."
"Você está cedendo porque eu tenho arrependimentos da manhã seguinte?"
"Estou `cedendo' porque você cruzou o ponto que eu queria que você
cruzasse com sua mágica."
Eu zombei e virei os olhos. "Mentira. Eu posso fazer água aparecer no ar. De
alguma forma eu duvido que essa seja a diferença vida-ou-morte que
precisamos para essa missão."
"O fator vida-ou-morte aqui é que você pode controlar uma boa porção da
sua mágica agora. Eu precisava que isso acontecesse antes de me sentir
confortável nessa aventura. Eu não podia arriscar suas emoções se
incendiando e criando uma tempestade que poderia nos matar. Agora, você
muito bem ter algum tipo de surto mágico, mas acredito que com suas
habilidades atuais você vai conseguir pelo menos minimizar o impacto."
"Então o que você disse antes ­ sobre ela ser uma proteção em caso em
ficasse indefesa..."
"Sim. Eu temo que essa tenha sido uma artimanha. Eu esperava que a ideia
fosse te estimular a tentar com mais afinco."
Típico do Dorian. A absurdidade dele me fez dar um meio sorriso.
"Você está mais feliz agora?" ele perguntou.
"Eu não sei se feliz é a palavra certa, mas ficarei quando o negócio da
Jasmine tiver terminado."
"Excelente. Venha aqui."
Ele me chamou para seu braço esticado, e por um momento, eu esperei um
avanço. Como um Hey, baby, eu vou deixar você mais feliz. Eu me movi
tentativamente, e ele só colocou seus braços ao meu redor. Assim tão
simples. Sem brincadeira. Sem perversão. Só um simples abraço entre duas
pessoas, duas pessoas íntimas o bastante para ter chacoalhado a cabeceira
ontem a noite. Eu me confortei nele, relaxando em seu calor e segurança. Ele
não era Kiyo, mas era bom. Finalmente ele afastou seu rosto para que
pudesse olhar para mim. "Muito bem, então. Diga-me como você gostaria
que isso se desenrolasse."
Encenar um assalto acabou precisando um planejamento um pouco maior e
ele não se desenrolou até mais tarde no outro dia. Nós reunimos meus três
servos em um dos lounges59 de Dorian. Eles esperaram pacientemente por
59 Cargo medieval
ordens, cada um deles me observando enquanto suas mentes sem dúvidas
girando com todo tipo de neurose. Como Volusian tinha apontado uma vez,
eles tinham pouco a perder. Eles não poderiam morrer. Quando Dorian
chamou Shaya para se juntar a nós, eu não consegui segurar uma
exclamação de surpresa.
"Lembra da distração que discutimos?" ele me perguntou.
Eu lembrava. Antes de sairmos da cama, nós tínhamos bolado um plano.
Parte dele era incluir uma enorme distração perto da casa de Aeson, o
bastante para atrair atenção dos guardas dele para que pudéssemos entrar
sem ser vistos. Meus espíritos já tinham a muito verificado que o túnel
escondido tinha sido bloqueado.
Shaya, ele explicou, seria nossa distração. Ela tinha o poder de comandar
pequenas porções de vegetação. Em particular, ela podia convocar e mandar
em árvores ­ algo que ela aparentemente tinha feito antes para um grande
efeito. A ideia de Dorian era que Shaya faria um pequeno regimento de
árvores atacarem a parte oeste da fortaleza de Aeson. Do lado leste,
sabíamos que havia uma entrada para servos que poderíamos entrar.
Normalmente, isso seria muito exposto, mas não se a segurança do castelo
estive ocupada em outro lugar.
Eu acenei, pensando que era um bom plano. Shaya cruzou seus braços e
pareceu descontente.
"Você tem algum problema com isso?"
"Não acho que seja da nossa conta intervir com os assuntos de Aeson, e nem
sinto que vale a pena arriscar minha vida por isso."
Eu olhei para ela e Dorian agitada. "Então você não o fará?"
"É claro que vou. Meu rei dá uma ordem, e eu obedeço. Estou meramente
expressando minha opinião sincera primeiro. Caso contrario, estaria fazendo
um dano."
Dorian tocou o peito dela, sorrindo da expressão firme dela. "E é por isso que
você é tão valorizada."
"É uma ideia ruim," Finn disse de repente.
Todos nós viramos para ele.
"Como assim?" eu perguntei.
"O que são algumas árvores? Elas gritam, `Hey, olhe para a distração óbvia.'
Vai fazer eles ficarem suspeitosos. Você quer realmente chamar atenção
deles, envie ele." Ele inclinou sua cabeça em direção a Dorian. "Um pouco
daquele negócio com as rochas, e todos eles vão pensar que tem um ataque
acontecendo."
"Não podemos. Eu preciso dele como meu reforço," eu discute. "e proteção
para Jasmine. Shaya pode fazer o negócio dela e sair de lá rapidamente. Se
eu entrar sem ele, então estaremos exatamente na mesma situação que
antes."
"Só que o exército não estará esperando você," disse Finn.
Shaya balançou a cabeça, mechas pretas balançando. "Eu não gosto da ideia
do meu rei ser deixado sozinho."
"Ele entra e sai, sem problemas. E se ele tiver que enfrentar, ele pode
derrubar qualquer um dos homens de Aeson."
"A não ser o próprio Aeson," meditou Dorian.
"Ele é mais forte que você?" eu perguntei.
"Nós nos comparamos."
"Huh. Isso me surpreende. Eu quero dizer, Kiyo saiu de luta com ele vivo."
"Rei Aeson não estava usando todo seu poder," disse Nandi. "Mais
provavelmente ele temia queimar sua casa." Vendo meu olhar surpreso, ela
continuou. "Teria criado um terrível inferno do qual você não teria escapado.
Sua pele teria derretido, e só seus ossos sobrariam."
"Então você está dizendo que se ele não teria que se preocupar com o lado
de fora. Que ele poderia libertar o quanto de magia quisesse." Algo me
atingiu, e eu virei de volta para Dorian. "E quanto a você? Você fica limitado
do lado de dentro?"
"Hipoteticamente não. Na verdade? Bem... Eu ainda tenho que operar de
uma forma que não nos enterre vivos." Ele sorriu, vendo minha
consternação. "Não se preocupe, minha querida. Eu ainda vou ser útil para
você."
"Mais útil do lado de fora," disse Finn. "não vamos nem precisar de um apoio
extra, não se ninguém do lado de dentro nos encontrar."
Eu suspirei e esfreguei os olhos. Eu fui até Aeson com bem menos
planejamento da última vez, e tolo ou não, tinha sido muito mais simples que
isso. Eu virei para o canto mais escuro do salão, que estava silencioso até
agora.
"Volusian?"
Ele se ajeitou de onde ele estava preguiçosamente nas sombras. "Vai ser
muito surpreendente se emergirmos disso sem nenhum tipo de confronto,
independente de quem criar a distração inicial. Se eu devo ser honesto em
responder o que vai te manter viva," ­ ele suspirou obviamente infeliz sobre
o resultado. Eu suspeito que a descrição horrível de Nandi da minha morte
por fogo tinha criado sentimentos quentes e reconfortantes nele ­ "então
sim, traga os esforços do Rei Oak para mais proteção para você e a garota,
mestra."
"Então está decidido."
Finn fez uma cara irritada e virou suas costas para nós, andando de um lado
pro outro com mau humor.
Depois disso, se tornou simplesmente uma questão de espera. Queríamos ir
sob a cobertura da escuridão. Dorian e Shaya saíram para fazer arranjos, e os
espíritos saíram para fazer o que quer que eles façam. Isso me deixou com
muito tempo livre. Eu andei pelo castelo, repassando as mesmas coisas:
Kiyo,o ataque que estava por vir, e a profecia.
A hora marcada chegou, e nosso time de ataque se reuniu para uns detalhes
de último minuto. A maior parte era simplesmente uma repetição do que já
sabíamos. Os espíritos se arrastaram junto, mas o resto de nós montou em
cavalos. Shaya andou com uma graça física que permeava seus movimentos
normais, mas eu fiquei surpresa por ver o qual agilmente Dorian também
montava. Ele parecia tão languido e confortável em suas tarefas diárias que
eu nunca pensei nele como se tivesse habilidades atléticas, fora suas proezas
na cama.
Nós fomos e voltamos em todos os reinos. Pareceu levar mais tempo do que
da última vez, e Volusian afirmou isso para mim.
"A terra mudou seu layout." ele explicou.
"Ela faz isso," disse Dorian, vendo meu rosto em pânico. "É normal. Estamos
no caminho certo."
"Yeah, mas vamos chegar lá antes do sol nascer?"
"Certamente."
Ele sorriu muito amplamente, e eu percebi que ele não sabia com certeza. Eu
olhei para cima. Agora tínhamos uma escuridão perfeita, iluminada apenas
pelas estrelas. A lua estava escura hoje à noite. A lua de Persephone. Eu
podia sentir o formigamento da borboleta do meu braço e me senti segura.
Antes, eu precisei de Hacate para escapar para meu próprio mundo. Aqui,
isso não era um problema. Ficar viva e mandar os meus inimigos para
morte,era a questão agora, então não me incomodei com aumentar minha
conexão com o Submundo.
"Quão mais longe?" eu perguntei um tempo depois. Eu me sentia uma
criança numa viagem, mas não conseguia impedir a ansiedade no meu
cérebro. Eu posso ter imaginado, mas eu jurava que o céu agora parecia mais
de um púrpura profundo do que preto.
"Não muito longe," disse Shaya, sua voz calma.
Certa o bastante, nós paramos e deixamos os cavalos em segurança, indo o
resto do caminho a pé, viajando por árvores e pequenos arbustos. Eu não
conseguia ver nada, mas logo chegamos a um ponto significativo. Shaya se
separou de nós e foi fazer o negócio dela. Dorian apertou o braço dela antes
dela sair, e ela fez uma reverência solene em reconhecimento. Eu observei
ela desaparecer antes de virar e me juntar aos outros para continuar em
frente.
A fortaleza de Aeson finalmente apareceu diante de nós, enquanto
chegávamos à beira da linha de árvores. Só conseguia ser percebido através
apenas das estrelas. Fora isso, ele aparecia quase preto como o céu além.
Paramos logo antes do terreno clarear, ficando sob cobertura. Estudando
mais o prédio, eu pude distinguir pequenas figuras pretas se movendo para
frente e pra trás na frente do muro. Guardas. Presumidamente havia vigias
nas torres também.
"Agora esperamos." eu murmurei. Eu estava cansada de esperar. Eu queria
ação.
Do lado quase oposto ao nosso, do outro lado da floresta, Shaya devia estar
se preparando para convocar as árvores guerreiras. Ela e Dorian juraram que
seria algo barulhento, então não tinha necessidade de um contagem secreta
nem nada disso. O castelo estava muito distante para eu identificar traços,
mas os espíritos indicaram onde estava a porta lateral.
Os minutos se arrastaram, e eu imaginei todo tipo de destino horrível para
Shaya. Oh, Deus. E se eles pegassem e a matassem? Ela veio aqui por
lealdade a Dorian, e não importava o que tinha acontecido, eu passei a
respeitar ela imensamente. Eu não queria que ela morresse por causa disso.
Dorian se aproximou do meu lado e colocou um braço ao meu redor. "Não se
preocupe. Isso vai terminar antes de você perceber. Ah ­ ali estão eles."
À distância, eu ouvi. Barulho de madeira e quebrando e partindo. Um baixo
rugido. Gritos fracos de alarme carregados pelo ar, e os guardas na nossa
vista correram em direção ao barulho. Esperamos até que a área estava
limpa.
"Agora é nossa hora," murmurou Volusian. "Vão."
Passamos pela área aberta, em direção a porta. Eu podia ouvir o barulho do
outro lado. O som de algo quebrando. Mais gritos. O plano de Shaya eram
mandar cerca de uma dúzia de árvores massivas para baterem nos muros de
lá. Que alarme para acordar isso deve ter sido.
"E-esperem! Parados!" Eu de repente gritei.
Os espíritos pararam instantaneamente. Dorian levou um tempo maior para
diminuir a velocidade e me deu um olhar estranho. "Qual o problema?"
Eu olhei ao redor. Meus sentidos formigaram. Eu podia sentir água, muita
água. Da forma que eu sentia em multidões ou em Dorian. Água em um
amontoado condensado. A água que era a fonte de pessoas. Várias delas.
Era uma armadilha. De novo.
"Porra!"
Eles pareciam ter saído de todos os lugares, embora eu soubesse que eles
tinham que estar escondidos na vizinhança do castelo ou eu teria sentido
mais cedo. Eles saíram dos telhados, da porta que estávamos indo entrar, e
dos cantos. E de alguma forma eu sabia que os que tinham ido para o outro
lado tinham corrido para voltar.
Eu ouvi Dorian gritar, "eles não vão matar você ­ não se não tiverem que o
fazer!" Então, o lado do castelo explodiu em pedras enormes, fazendo que
aqueles acima e que ainda estavam escalando a parede caírem para morrer
ou pelo menos se ferir seriamente. Outros parados perto foram enterrados.
Meus espíritos tinham ordens para atacar qualquer um que nos atacasse, e
eu os vi irem para batalha. Quanto a mim, eu trouxe duas armas hoje à noite,
de novo, cortesia de Lara. As duas tinham cartucho de ferro, e meus bolsos
tinham mais cartuchos, além de uns de prata. Eu mantive a distância que
consegui da briga e atirei, mirando na cabeça e rostos de quem eu podia,
mas ficando feliz em derrubar qualquer um.
Treinar regularmente valeu à pena, e eu atingi quase todo mundo em que
mirei. Ninguém conseguiu se aproximar de mim. Os espíritos ignoraram. Eles
não podiam morrer, e só outro Shaman ou a mágica do calibre de Dorian
podiam usar sua mágica para banir eles.
Depois da sua espetacular demolição do muro, Dorian tinha recorrido a um
método mais conveniente: uma espada de cobre que ele mantinha debaixo
da capa. Ela brilhava em vermelho na escuridão, e eu percebi que ele podia
aumentar seu poder já que o cobre vinha da terra. Ele não lutou com força
bruta, mas ele se moveu com velocidade e habilidade, me surpreendendo
tanto quanto a montaria tinha feito. Eu não teria me importado com outro
show daquele poder sobre a terra, mas toda mágica tinha seu limite. Não
faria bem nenhum para ele se cansar ainda.
De repente, eu vi um dos guardas se movendo até ele, fora da linha de visão
de Dorian. Eu comecei a gritar um aviso, e então uma forma grande de
quatro pernas correu para frente, rosnando enquanto jogava seu peso no
guarda. Dorian olhou rapidamente surpreso, mas rapidamente voltou para a
luta. Eu não consegui me recuperar tão rapidamente e só consegui encarar
enquanto Kiyo, naquela forma de "super raposa", arranhava e rasgava sua
vitima.
O homem conseguiu cortar o lado de Kiyo, me fazendo recuar, mas a raposa
parecia não ter sido afetada. Balançando a cabeça, sabendo que não podia
me preocupar nem como ele tinha aparecido e nem com a segurança dele,
eu voltei para minhas próprias batalhas.
Fiz algumas vítimas. Depois que eu tinha outra mira, senti outra forma atrás
de mim. Eu me virei, mas não foi rápido o bastante. Ele agarrou meu braço e
desviou a arma para longe dele, me forçando a ir para o chão. Com minha
mão esquerda, eu consegui pegar a outra arma. Eu fui mais ou menos
sufocada enquanto o corpo dele tentava prender o meu, e eu não tinha um
alvo. Não importou. Eu só meio que mirei para cima e atirei. Ele gritou e se
afastou o bastante para que eu o empurrar e poder atirar de novo com maior
precisão.
Mais alguém se aproveitou da minha distração e me agarrou por trás. Eu
enfiei a arma extra de volta na minha calça e agora lutei contra ele com a
primeira arma quando ela de repente ficou quente na minha mão. Muito
quente. Eu gritei e a soltei, olhando para ela enquanto caia no chão,
brilhando em um fraco laranja.
Eu nem tive que ouvir a voz dele para saber quem segurava.
"Eugenie Markham, que adorável você me fazer uma visita."
"Eu vou matar você," eu assoviei.
"Sim, sim, você me disse antes, e ainda sim, eu não vejo isso funcionando.
Você deveria ter aceitado minha oferta." Ele gritou e mandou o guarda de
perto que correu até nós. "Desarme ela antes que ela mate mais alguém."
Com toda confusão, nenhum dos meus outros aliados notou o que estava
acontecendo. Eu abri a boca e comecei um ritual para trazer os espíritos. Eles
estavam atualmente muito longe para simplesmente ouvir meu grito.
Percebendo o que eu estava tentando, Aeson me jogou no chão, usando o
peso do seu corpo para me manter no chão enquanto uma mão cobria minha
boca.
"Rápido!"
O guarda removeu meus athames e varinha. Quanto à arma extra, ele
envolveu sua mão na cama que ele usava e a pegou a jogando para longe.
"Você é uma perturbação ­ e uma perturbação mortal," murmurou Aeson.
"Manter você viva por nove meses pode ser mais problemas do que ­ ow!"
Eu não vi o que aconteceu com ele, mas ouvi uma batida acima de mim.
"Você usou seu poder para jogar uma pedra em mim?" ele exclamou um tom
quase cômico de incredulidade em sua voz.
"Pelo contrário," eu ouvi Dorian dizer agradavelmente. "Eu não usei mágica
pra isso. Eu só a joguei."
Aeson me jogou em direção ao seu guarda, enquanto chamas se erguiam do
chão. Na escuridão, a luz brilhante machucou meus olhos, me forçando a
desviar o olhar. Calor saiu daquela parede laranja, instantaneamente
esquentando minha pele. O guarda tentou se afastar e me segurar ao mesmo
tempo, fazendo um trabalho mediano nas duas tarefas, embora ele tenha
conseguido ­ por pouco ­ continuar a me segurar.
Meu olhar ficou nas cores do fogo até que eu de repente senti o chão
tremer. Erguendo minha cabeça o máximo que o homem que me segurava
permitiu, eu vi nuvens de escuridão se ergueram sobre as chamas. Ela desceu
como a palma da mão de alguém, e o fogo se apagaram bruscamente,
extinguindo ele enquanto quilos de terra batiam contra o chão.
Sem perder um segundo, Dorian gesticulou para o ponto onde Aeson estava.
Eu senti a terra balançar de novo e vi a terra se rasgar, como se uma onda de
água tivesse se movido debaixo de sua superfície. Fez Aeson perder o
equilibro, e então uma tempestade de pedras se despedaçou ­ como eu
tinha visto com as nixies ­ balançando ao redor, mirando. Ainda no chão,
Aeson ergueu suas próprias mãos. Ondas de calor jogaram as pedras para
longe, espalhando elas em todas as direções. Algumas derreteram, voltando
para a terra como um banho derretido.
Cinzas encheram o ar, e eu podia ouvir Aeson tossindo enquanto ele se
levantava. O chão tremeu de novo, o fazendo cair de joelhos novamente. Ele
se suportou com uma mão e deu uma risada ríspida e abatida.
"Não tinha que chegar nisso," ele disse. "Se você tivesse compartilhado ela,
ela poderia já estar grávida."
Um chuveiro de pedras gotejou em Aeson enquanto Dorian caminhava para
frente. Elas não eram afiadas como uma lâmina, mas elas pareciam
machucar. O rei Alder recuou e protegeu seu rosto.
"Eu não divido." Dorian disse. A terra perto de Aeson se aglutinou em cordas
de sujeira, se colocando ao redor dos membros dele. Primeiro ponto para o
fetiche de ficar preso.
"Que pena. Você poderia ter vivido se agisse diferente."
Aeson de repente se levantou, quebrando o aperto da terra. Enquanto ele
fez, fogo surgiu de todo lugar ao redor dele, delineando ele e então indo para
frente. Meu grito foi suavizado na mão do homem que me segurava
enquanto vi Dorian voar para trás. Aeson foi para frente e suas mãos
controlando e moldando as chamas em um anel ao redor da forma abaixada
de Dorian. As paredes de fogo aumentaram altas e grossas, tão quente que
elas brilhavam em um azul e branco. Eu não achei que Dorian podia
sobreviver a esse inferno, mas Aeson continuou falando com ele como se ele
ainda estivesse vivo.
"Muito teatro, Dorian, e não você não tem força o bastante sobrando para se
soltar."
Eu olhei ao redor desesperadamente. Não havia muitos guardas sobrando. À
distância, eu vi Kiyo acertar alguém eficientemente ­ o grito cheio de dor do
homem afirmou isso ­ mas ele estava muito longe para ajudar, assim como
os espíritos. Eu percebi que o aperto do meu guarda tinha diminuído; ele
aparentemente estava transfixo na sombra do seu mestre. Outros, tão
cativados quanto, pararam para olhar.
Tomando vantagem da falta de atenção do guarda, eu enfiei meu cotovelo
no estômago dele tentando me libertar. Eu não esperava conseguir, mas ele
descobriu minha boca. Eu falei as palavras para convocação, e Nandi e
Volusian apareceram.
"Peguem Aes ­ "eu comecei, logo antes da minha mão se colocar na minha
boca de novo. Outro guarda se juntou ao meu para ajudar no meu
confinamento.
Os espíritos mudaram de uma forma humanóide para outra coisa, ainda
vagamente antropomórficos, mas mais como uma nuvem de energia. Eles
foram em direção a Aeson, um azul brilhante, o outro preto e prata.
Ele os refletiu com chamas enquanto ainda mantinha as paredes em Dorian.
Um instante depois, eu vi uma varinha nas mãos dele. Não. Ele não podia ­
Ele falou palavras de banimento, e eu senti a onda de poder no ar enquanto
ele abria um buraco para o Outro mundo. A forma que era Nandi tremeu e
então explodiu, desaparecendo em faíscas. Ela encontrou sua paz finalmente
­ e sem outros dois anos de serviço para mim. "Chame o outro," surtou
Aeson, "a não ser que você queira perder ele também."
A mão na minha boca se ergueu. Eu hesitei. Eu não tinha nada para perder se
Volusian ganhasse ou perdesse. Na verdade, o pedido de Aeson
provavelmente indicava que ele não podia banir o espírito para a terra da
morte. Gentry raramente tinham esse tipo de poder mesmo, então Aeson
provavelmente não podia fazer o que eu tinha sido capaz de fazer. Mas se ele
lutasse com Volusian era possível que ele tivesse força o bastante para
quebrar meu controle e o escravizasse como um servo. Essa não era uma
opção. Melhor para o espírito ser destruído do que se virar contra mim.
"Pare Volusian."
Ele se afastou imediatamente, se aglutinando de volta em sua forma normal.
Aeson virou para Dorian. O rei Alder ergueu sua varinha e juntou seus dedos
em punho. As paredes de chama contrariam, parecendo mais um casulo do
que um cilindro agora. Através das chamas, eu ouvi Dorian gritar.
Indefesa sufocou meu coração. Como tinha feito com o Elemental de lama.
Como tinha acontecido com as nixies. Eu não tinha armas e nem liberdade.
Esse era exatamente o tipo de situação que Dorian ficava falando. A hora em
que a mágica seria útil. Mas eu não podia usar ela. Minhas habilidades
incluíam só a manipulação minúscula gotas de água e tempestade fora do
controle e suas conseqüências.
Ainda sim, de repente, eu não me importei com as conseqüências. Eu queria
convocar uma enorme tempestade, uma tempestade que devastasse toda
essa área. Talvez matasse meus amigos e eu, mas as coisas não pareciam
boas para nós mesmo. Focando minha mente nisso, eu tentei chamar a
tempestade irritada que eu tinha criado antes.
Só que... não funcionou. Talvez fosse porque eu nunca tinha
conscientemente feito tal coisa antes. Ou talvez fosse porque eu não
conseguia mais ver tempestades como um todo. Havia pressão e partículas
carregadas e ­ mais importante ­ água. Dorian tinha me ensinado a
compartimentar e mentalizar os elementos, e isso era tudo que eu podia
fazer agora. Eu pensei nas tempestades, mas tudo que minha mente
alcançou e tocou eram as fontes de água por perto. Merda. Encontrar água
não fazia bem nenhum, não a não ser que eu pudesse mover todo um lago e
apagar o fogo. Eu duvidava que pudesse comandar tanta água, mesmo que
eu tivesse uma fonte por perto.
Mas não precisava ser uma tão forte.
Eu só precisava convocar uma pequena fonte de água, uma que meus
poderes podiam lidar. Eu me foquei novamente. Minha mágica alcançou,
segurando e se conectando com as moléculas de água que eu queria. Elas me
reconheceram e eu as chamei pra frente. Elas resistiram um pouco. Tinha
mais delas aqui do que tinha na jarra.
Obedeçam! Eu gritei para elas. Venham até mim! Eu sou sua mestra.
Só alguns segundos se passaram enquanto eu lutava por controlar a água.
Enquanto isso, Aeson ainda estava mantendo seu braço erguido, fazendo as
paredes caírem devagar no que provavelmente era um esforço sádico de
prolongar a dor de Dorian. Ainda sim, eu precisei da demora enquanto eu
puxava e puxava a água mais furiosamente.
Um olhar estranho cruzou o rosto de Aeson então, e ele olhou ao redor,
como se tivesse tentando encontrar algo. Ainda sim, ele não sabia o que era.
Venham até mim!
Eu podia sentir a água se libertando, incapaz de resistir ao meu comando.
Um olhar de horror se torceu no rosto de Aeson. Suas mãos caíram e
seguraram sua cabeça, quase como se ele pudesse mandar para longe. Atrás
dele as chamas ao redor de Dorian desapareceram bruscamente, quase
como se um lago tivesse caído nelas afinal de contas.
Mas como eu tinha notado, eu não precisava de um lago. Eu só precisava de
uma fonte pequena. Eu precisava de Aeson. A água nele era de um tamanho
que eu podia controla-la, a fonte que eu chamei e comandei. Afinal de
contas, o corpo dos humanos ­ ou gentry ­ possuem cerca de 65% de água.
E um momento mais tarde, toda ela saiu. Os outros 35% não.

Capítulo Vinte Seis
A explosão de um rei fada meio que chama atenção de todo mundo.
Eu não sei como todos eles sabiam que eu era responsável, mas de repente,
os olhos dos meus aliados e inimigos estavam em mim enquanto a luta
terminava. O cara me segurando me soltou, se afastando para longe. Medo
brilho nos olhos dele. Ocorreu-me então que eu quase esqueci sobre meu
cativeiro enquanto trabalhava com a mágica. A experiência tinha sido incrível
como quando Dorian me manteve amarrada. Talvez houvesse mais nesse
método do que as próprias tendências pervertidas dele.
Nenhum dos guardas de Aeson ­ os poucos que restavam ­ se moveu de
onde eles estavam. Eu me perguntei se isso era como naqueles filmes em
que matar o zumbi chefe fazia tudo parar. Kiyo trotou até mim. Sangue e
sujeira se espalhavam no pelo dele, mas olhos dele brilhavam com ansiedade
e antecipação, como se ele pudesse ter lutado a noite toda. Volusian estava
parado ali perto, observado tudo com uma expressão ilegível no rosto.
Olhando ao meu redor, eu recebi o impacto completo do que eu tinha feito.
O que não era água no corpo estava espalhado um amplo raio de onde Aeson
tinha estado. Eu reconheci sangue e pedaços de ossos, mas a maior parte dos
destroços consistia de pequenas e indescritíveis bolhas. Bile se ergueu até
minha garganta, e eu trabalhei para engolir. Deus, que bagunça. Não era de
se admirar que os guardas estivessem olhando para mim como se eu fosse
um tipo de monstro. Eu tinha chamado a força que herdei do Rei Storm, mas
isso... bem, eu não sabia se podia lidar com isso regularmente.
"Senhor!"
Shaya veio chorando através das árvores, até a clareira. Ela parecia
incrivelmente limpa comparada ao resto de nós, mas também, ela
provavelmente passou a maior parte da nossa batalha correndo de volta até
nós, assim que ele colocou as árvores em movimento. Ela se ajoelhou do lado
de Dorian, segurando a cabeça dele. Eu quase o esqueci depois da luta.
Correndo, eu corri e cai ao lado dela. Para minha surpresa, ele parecia mais
sujo do que queimado. A pele dele parecia ter a pior queimadura de sol da
vida dele, e as roupas dele tinha derretido em alguns lugares. Ele parecia
exausto, como se ele fosse desmaiar a qualquer segundo, mas ele ainda tinha
força para empurrar Shaya para longe quando ele me viu.
"Estou bem, estou bem." Ele lutou para sentar. "Eugenie ­ "
"Como diabos você sobreviveu a isso?" eu exclamei.
"Escudo da terra. Não é importa. Escute-me, você tem ­ "
"Majestade, temos que te conseguir um curandeiro. Não podemos ficar
aqui."
Eu acenei concordando. "Ela tem razão -"
"Merda! Vocês duas são bem vindas a fazer confusão por causa do meu
corpo o quanto quiserem mais tarde. Agora, você tem que agir." Ele pegou
meu braço, os dedos afundando dolorosamente para fazer seu ponto. "Você
tem que agir agora se você quiser colocar Aeson em seu descanso."
Eu olhei para a gosma. "Ele está bem descansado. E eu não sinto a matriz
dele. Ele se foi." Dorian balançou sua cabeça. "Escute-me. Encontre o sangue
dele, er, o que meio que passa por isso." Ele escaneou e viu uma pequena
poça de água que parecia ter uma bolhas escuras naquela pobre luz. "Ali.
Toque, e então enfiei sua mão no chão." Shaya fez um pequeno som de
surpresa.
"Porque...?" Já era ruim o bastante eu ter feito essa sujeira.Agora eu tinha
que tocar?
"Só faça isso, Eugenie!" A voz dele era áspera, mas cheia de força, e ele me
lembrou de quando lutou com o nixies, com força e furioso.
"Ele tem razão," veio o tom mais subjugado de Volusian. "você deve terminar
o que começou?"
Ainda sem entender, eu fiz o que eles pediram. O líquido ainda estava
quente, e eu senti meu estômago revirar de novo enquanto eu afundava
minha mão naquilo. Eu senti a tensão dos guardas de Aeson enquanto eles
observavam, mas nenhum deles interveio.
"Agora coloque sua mão na terra," disse Dorian.
Franzindo, eu tentei. "Eu não posso enfiar fundo. O chão é muito duro."
E então não era. Meus dedos afundaram. Era fácil demais. A terra antes dura
tinha se tornado suave quase como areia movediça, puxando minha mão até
que estava funda até meu pulso. Eu me perguntei se Dorian tinha feito algo
mágico.
Ele virou para mim. "Diga-me o que você sente."
"É... é suave. E, bem, é terra."
"Mais nada?" A voz dele me surpreendeu. Ansiosa. Desespera.
"Não, só ­ espere. Ela está... esquentando. Quase quente. Como se estivesse
se movendo... ou viva." Eu olhei para ele assustada. "O que está
acontecendo?"
"Escute-me, Eugenie. Eu preciso que você pense sobre... vida. Vitalidade.
Imagine na sua mente. O que quer que faça você sentir viva quando você
está na rua, o que te faz sentir conectada com o resto do mundo. Frio.
Chuva. Flores. O que quer que seja, visualize o mais profundamente que você
conseguir. Para mim, essa vida é o outono no meu pais natal, quando os
carvalhos estão laranja e as maçãs estão maduras. Para você, vai ser algo
diferente. Busque isso. Como parece, qual seu cheiro,como você a sente.
Mantenha essa imagem na sua cabeça."
Ainda assustada, eu tentei focar minha mente em uma imagem coerente. Por
um momento, a visão dele ficou na minha mente, a brisa suave e as cores
brilhantes da terra dele. Mas não, não era isso que me fazia sentir viva.
Tucson fazia. Calor seco. O perfume do deserto. O sol caindo nas montanhas
de Santa Catalina. A cor dupla da areia seca adornada com pontos verdes das
plantas e arbustos. As cores e tonalidades dos cactos que floresciam depois
da chuva.
Isso era vida. O mundo em que eu cresci e que eu ansiava sempre que estava
longe dele. Essas imagens queimaram na minha mente, tão reais que eu
quase podia tocar elas.
O chão abaixo de mim tremeu. Assustada, eu tirei minha mão da terra, mas o
tremor não parou. A terra rugiu, e diante dos meus olhos, ela se torceu e
deslocou. Os gritos baixos de medo dos guardas vieram aos meus ouvidos, e
ali perto, Shaya murmurou algo que parecia com uma reza. As árvores da
floresta atrás de mim derreteram, afundando no terreno em que elas se
espalhavam. A grama verde em que lutamos sumiu, substituída por uma
terra empedrada. Um momento depois, arbustos apareceram daquela terra,
junto com pequenas e desordenadas plantas. Cholla60. Agave61. A terra além
do castelo se ergueu, formando ângulos afiados e planaltos, como o pé de
uma montanha. Pinhos finos cresceram naqueles planaltos, cobrindo ele de
manchas. Os cactos vieram, aparecendo por toda parte, e eles estavam
cobertos de flores. Flores de mais para ser real. Nunca tivemos esse tipo de
florescer, mas ainda sim aqui estava ele, um rio de cores vivas, a parente
mesmo na fraca luz do amanhecer, os cactos gigantes se espalhavam entre
os cactos floridos, e em questão de segundos atingiram o tamanho que
normalmente levava centenas de anos para alcançar.
A terra ficou quieta, a não ser pelo ponto ao meu lado. Ele tremeu com a
força de algo tentando sair. Eu sai do caminho para que não me empalasse.
Momentos mais tarde, uma árvore saiu da terra, se espalhando com uma
velocidade irreal. Alcançando quase seis metros no ar, seus galhos cheios de
espinho se espalharam. Flores púrpuras se espalharam por toda ela como
uma nuvem ou um véu.
Então tudo ficou quieto. Eu fiquei de boca aberta. Havia um verão de Tucson
aqui. Só que era melhor. Era o tipo de verão que você sempre desejava, mas
raramente conseguia.
Todos nós ficamos parados ali, congelados, olhando ao redor para ver o que
iria aparecer em seguida. Somente Dorian e Volusian pareciam indiferentes.
"O que são essa árvore?" Dorian perguntou suavemente, olhando para cima.
60
http://www.carto.net/neumann/travelling/joshua_tree_np_gettys_2003_11/22_choll
a_cactus.jpg
61
http://www.botanik.unikarlsruhe.de/garten/fotosknoch/Agave%20attenuata%20Drac
henbaum-Agave%201.jpg
Eu engoli. "É... é uma smokethorn62. Minha mãe tinha algumas delas no
quintal.
"Uma smokethrn," ele repetiu, os lábios se erguendo de deleite. Eu o
encarei ainda em choque.
"O que... o que acabou de acontecer?" eu consegui dizer. O doce cheiro do
mesquite veio até mim numa suave brisa, emocionante e deliciosa.
"Ele te deu um reino," disse uma clara voz soprano. "Você roubou o que eu
deveria ter conseguido."
Jasmine Delaney estava parada ali na margem da nossa pequena reunião.
Ela parecia subnutrida na luz da manhã. O cabelo loiro-morango dela estava
solto e um vestido azul cobria o corpo magro dela. Seus enormes, enormes
olhos cinza pareciam negros sem a iluminação total. Finn estava perto dela.
Eu me ergui. Ao meu lado, Dorian fez o mesmo, embora de forma estranha.
Ele tocou meu braço. "Cuidado."
Tinha algo errado aqui, mas eu não sabia exatamente o que ainda.
"Jasmine..." eu disse idiotamente. "Viemos levar você para casa."
Os lábios dela formaram uma linha chata, não exatamente um sorriso e não
exatamente uma careta. "Estou em casa. Depois de agüentar os humanos
todo aquele tempo, eu finalmente estou onde deveria."
"Você não sabe o que está dizendo. Eu sei que você pensa que quer ficar
aqui, mas é errado. Você precisa ir para casa."
"Não, Eugenie. Estou dizendo o que você deveria estar dizendo o tempo
todo. Eu reconheci meu direito de nascença, e eu vim por ele. Enquanto
você..." Ela balançou a cabeça, raiva aparecendo nas palavras dela. A
intensidade daquele ódio pareceu absurdo vindo da voz tão jovem dela ­
assim como o fato dela ter usado a palavra `direito de nascença. ' Tempo
demais com os gentry. "Você se tornou a maior estrela de rock por aqui.
Você poderia ter tido tudo, mas você não conseguiu lidar com isso. Você
62 Não achei foto, e nem tradução pra isso então aqui tem um desenho
http://arizonensis.org/images/plantae/dalea_spinosa.jpg
passou todo tempo reclamando e xingando, agindo como se fosse tão difícil
ser você. Foi idiota, mas todos eles engoliram. Até mesmo Aeson."
Ela soava estar à beira de lágrimas, e um caroço se formou na minha
garganta. Não porque eu sentia pena dela, mas porque eu sabia com certeza
absoluta o que ela ia dizer.
"Ele pensou que porque você era a mais velha e tinha essa idiota coisa de
guerreiro seria você que teria o herdeiro, não eu. Ele ia me deixar de lado,
embora eu tenha sido fiel a ele o tempo todo ­ mesmo antes dele te trazer
até mim. Nem importou. Ele estava pronto para se livrar de mim por você."
Eu fechei meus olhos por um momento, tentando bloquear os olhos dela.
Aqueles olhos cinza enormes, cinzas como o céu num dia de chuva. Assim
como os meus eram violetas como quando as nuvens de tempestade se
aproximavam.
As palavras de Wil voltaram para mim, lamentando a infância dela: Nosso pai
sempre estava longe em alguma viagem de negócios, e nossa mãe estava
sempre traindo ele. A mãe dele tinha mesmo dormido com alguém ­ com um
dos gentry, em umas das viagens do Rei Storm ao mundo humano. Havia
uma razão do porque Jasmine me lembrou eu mesma.
"Jasmine... por favor. Podemos lidar com isso..."
"Não. Estou cansada de você, Eugenie. Você é a pior irmã do mundo, e não
vai ser você que vai ter o herdeiro e começar a conquista. Vai ser eu."
Eu olhei para a forma magra ao lado dela. "Finn...?"
Ele deu nos ombros, mais barato do que nunca. "Desculpe Odile. Eu te dei
uma chance. Eu espalhei sua identidade, esperando ver sua reação. Você
pensou que eu queria ser o brinquedo de um shaman? Eu escolhi você
porque pensei que você iria a algum lugar. Você estragou tudo, então eu me
comprei."
Meu choque por causa daquele desenvolvimento se tornou raiva. Finn tinha
nos traído. Ele avisou Aeson que estávamos indo. Ele até tentou diminuir
nossas chances dando a ideia de separar Dorian de mim.
Antes que eu ­ ou qualquer outro ­ percebesse o que eu estava fazendo, eu
fui até onde meu captor tinha jogado minhas armas. Em um segundo, eu
segurei a varinha. Eu toquei o portão de Persephone e disse as palavras de
banimento. A boca de Finn se abriu em surpresa, mas ele era um espírito tão
fraco ­ que não foi feito para ser mais do que um servo, afinal de contas ­
que a resistência dele foi quase nula. Minha vontade, canalizada pela
varinha, puxou ele pelo caminha que eu criei. Um momento depois, ele
sumiu transportado para o Outro mundo.
Banir ele não consertou a bagunça em que eu estava, mas me fez sentir
melhor. O rosto de Jasmine escureceu os olhos dela se estreitando com
amargura e ódio por mim. Cristo. Eu ainda não conseguia acreditar nisso. Ela
era só uma criança.
"Seus servos diminuirão." eu disse a ela.
"Eu tenho mais."
Eu senti uma explosão de água no ar quando uma dúzia de formas
translúcidas e felinas apareceu ao lado dela. Eles me lembravam leões, mas o
corpo deles se movia como água se mexendo dentro deles, dinâmica e
incansável, abaixo da pele translúcida deles. Os olhos deles brilhavam em um
azul quase neon, e os dentes e garras deles pareciam cerca de dez vezes mais
afiadas do que de um leão normal.
"Yeshin," Dorian murmurou no meu ouvido. "mais criaturas da água."
Eu entendi o que a mensagem implicou. Maiwenn não tinha nada a ver com
o fachan ou os nixies. Jasmine tinha enviado eles, usando o poder que ela
herdou do nosso pai para tentar me matar. Ela queria que eu saísse do
caminho para que ela fosse à única na linha para cumprir a profecia maluca.
Talvez eu devesse-me sentir ultrajada, mas eu sentia ciúmes. Jasmine podia
convocar habitantes da água, e eu não conseguia.
O yeshin se moveu em minha direção com uma graça sinuosa, saliva ­ ou
aquilo era simplesmente água? ­ pingava das presas deles. Por um
momento, não consegui agir. Então Kiyo se moveu eu um ataque laranjadourado
ao meu lado, derrubando um dos yeshin no chão. Os membros e
garras deles mordiam um ao outro enquanto eles lutavam, rolando sobre a
terra.
Eu ganhei vida, buscando minha arma no chão. Encontrando ela, eu ejetei o
pente e peguei outro no bolso do meu casaco até encontrar um de prata.
Enquanto isso, outros quatro yeshin avançaram. Dorian acenou sua mão, e
uma poeira pequena se ergueu e entrou nos olhos das criaturas. Com sua
outra mão, ele apontou para mim e gritou para os guardas.
"Todos vocês! Vocês sabem seu dever. Defenda-a."
Os guardas ficaram parados, encarando agitados eu e o yeshin. Então, um
deu um passo para frente, sua espada erguida. Ele deu um grito de guerra e
foi para cima do yeshin mais perto dele. Um momento mais tarde, os outros
seguiram.
"Fique longe disso, vossa majestade," eu ouvi Shaya dizer. "Você está fraco
demais agora."
Ela tinha razão. Dorian estava pálido sobre suas queimaduras, mal sendo
capaz de se manter de pé.
Dando-me um breve olhar, Shaya fechou os olhos em concentração.
Segundos mais tarde, dois saguaros saíram da terra e foram em direção ao
yeshin. O peso e aperto deles imobilizando ele. Eu mirei e atirei até o yeshin
não se mexer mais. Se erguendo pra cima, o saguaros foi para sua próxima
vitima. Eu o segui pronta para repetir o processo.
Por perto, Kiyo parecia estar no seu terceiro yeshin. Eu observei enquanto
ele prendia aquilo pra baixo, seus dentes afiados entrando na carne. Líquido
vazou, não era nem sangue nem água. Ainda sim, ele fez um esforço para
lutar contra ele, uma pata com unhas afiadas agarrando o lado dele. Sangue
apareceu nele, mas não pareceu afetar ele. Ele continuou se movendo,
rasgando a besta até ela morrer.
Então, sem hesitar, ele foi para a próxima.
Os guardas ­ meus guardas? ­ lutavam com yeshin em grupos pequenos
enquanto Volusian usava sua mágica. Shaya moveu outro par de saguaros,
mas ela parecia cansada. A espada dela estava arrastando sua espada e
pairava perto de Dorian, vigilante e protetora apesar da fadiga.
Os saguaros prenderam outro yeshin. Eu atirei e ouvi apenas um click. Eu
tinha ficado sem balas. Esse era meu segundo pente; eu não trouxe mais.
Xingando eu guardei a arma e tirei minha varinha. Fixando-me no yeshin que
o saguaros prendia, eu mandei a criatura para longe desse mundo. Foi
preciso mais energia do que atirar com a arma. Usar minha mágica
aparentemente tinha me cansado. Não era de se admirar que Dorian e Shaya
estivessem fracos.
Sobravam três yeshin. Kiyo estava indo pra cima de um deles; eu juro que ele
derrubou metade do grupo sozinho. Ele estava coberto de sangue, mas ele
mostrou os dentes e se lançou no próximo inimigo.
Um dos saguaros caiu com o ataque do yeshin, mas os cactos se partiram
distraindo o gato o bastante para ser banido. Os guardas tinham cercado o
terceiro e estavam tendo problemas. Um deles foi jogado para trás,
pousando dura e dolorosamente. Outro caiu de no caminho das garras do
yeshin e gritou.
Eu ainda não entendia porque eles lutavam por mim, mas eu me movi para
ajudá-los, tentando ter uma boa posição. De repente, enquanto me
aproximava, eu ouvi um terrível choro estrangula de onde Kiyo lutava. Eu
sabia que não era o yeshin, mas eu não podia virar. Eu já tinha o yeshin dos
guardas à vista e tinha começado com as palavras. Forçando-me a ficar na
tarefa, eu o tirei desse mundo. Os guardas viraram para mim surpresos.
"Obrigado, majestade" um disse agradecido. Eu não entendi o porquê deles
estarem agradecendo Dorian.
O último yeshin estava se afastando de uma forma inerte ­ uma forma de
raposa. Meus guardas estavam em cima do gato num segundo, e ele
sucumbiu quase imediatamente. Ele já tinha sido muito enfraquecido.
Jasmine, mal a notando, não estava à vista.
Sem pensar nela de novo, eu cai ao lado de Kiyo. Ele não estava se movendo.
Eu o virei de barriga para cima, tentando sentir o pulso ou uma respiração.
Nada. Eu gritei o nome dele, me perguntando o que fazer. Eu podia fazer
ressucitação numa raposa? Desesperada e histérica eu o chacoalhei, dizendo
o nome dele várias vezes. Uma mão tocou meu braço, movendo para longe.
"Ele se foi, Eugenie," Dorian disse baixo. Shaya se ajoelhou ao lado dele, o
rosto sóbrio.
"Não," eu sussurrei. "Não."
"Você consegue sentir? O espírito dele deixou esse corpo. Ele viajou para o
próximo mundo."
Eu pisquei, de repente de volta em controle. Viajou. Talvez ainda não. Um
banimento levava os espíritos para lá instantaneamente. Morte de verdade é
um pouco mais atrasada; era assim que as pessoas tinham experiências de
quase morte.
"Mas ainda não chegou lá," eu disse, relaxando meu corpo e clareando a
minha mente. A borboleta queimou enquanto eu alcançava Persephone. Eu
já estava no Outro mundo, um passo mais perto do mundo além.
Dorian me deu um olhar alarmado, reconhecendo o que eu estava fazendo.
Ele se entendeu para me pegar. "Merda, não ­"
Ele parou bruscamente, percebendo que eu já tinha partido. Perturbar-me
naquele estado seria mortal. Eu vagamente vi a mão dele cair enquanto ele
olhava sem poder fazer nada para meu corpo, o corpo que não tinha mais
meu espírito.
Eu tinha seguido em frente ­ entrado na terra da morte.

Capítulo Vinte Sete
Viajar como espírito é diferente do que viajar com o corpo. O corpo te da
mais força ­ e mais risco ­ mas o espírito pode ver coisas além dos sentidos
físicos. Enquanto eu me saia do Outro mundo, eu vi toda sua beleza e poder.
Pessoas e objetos estavam envoltas em luz, algumas mais brilhantes que
outras ­ como Dorian, que brilhava como um pequeno sol. Ao redor deles, a
Terra Alder brilhava com sua própria aura, uma aura que me chamava de um
jeito engraçado. Deixar ela parecia estranho, como se parte de mim estivesse
sendo abandonada lá.
Quanto a mim, cresceram asas em minha alma e eu cruzei para o Submundo.
Eu estava escura, quase preta, e usava uma forma graciosa de ave. Eu era o
Dark Swan63, meu totem, a forma que meu espírito naturalmente
atravessava os mundos. Eu não usava essa forma há algum tempo. A
princípio eu o tinha desenvolvido para cruzar para o Outro mundo em
espíritos usando uma forma quase idêntica ao meu corpo físico; mais tarde
aprendi a passar com todo meu corpo.
Mas isso não era como o Outro mundo, eu precisava da proteção em minha
força de cisne. A terra da morte não gostava de devolver almas, e quanto
mais perto que se chegava, maior era o risco. Eu podia apenas rezar para que
Kiyo não tivesse entrado completamente ainda.
Sentir ele era fácil. Meu corpo físico estava perto dele, e ele e eu tínhamos
um lanço mental e corporal o forte o bastante para que eu pudesse rastrear
ele. Mas, acabou que, ele estava muito na minha frente. Muito além. Ele
tinha cruzado o portão negro. Se eu quisesse segui-lo, eu teria que entrar na
terra da morte completamente. Meu retorno era uma duvida.
E ainda sim... eu não podia deixar ele ir. Ainda não. Não quando ele morreu
por minha causa. Não quando ele ainda me seguiu, apesar da minha rejeição.
Não depois do que compartilhamos.
Adiantando-me eu voei minhas asas varrendo as correntes de poder. Eu não
vi nem um portão por si, mas eu senti quando o cruzei. A conexão com meu
63 Cisne negro
corpo físico tremeu, eu sabia que eu tinha acabado de me colocar em perigo.
Tempo demais aqui, e ia me separar completamente. Com essa realização
outra sensação passou por mim, uma tão afiada e repentina que eu podia
muito bem ter levado um tapa no rosto. Eu senti como se tivesse batido de
barriga numa piscina gelada ­ incrível, considerando que a alma não sente
sensações físicas. Bem, pelo menos foi isso que me ensinaram. Eu nunca
conheci nenhum shaman que cruzou e sobreviveu para contar. Uma vez que
eu entrei nesse mundo, eu fui repentinamente sobrepujada por sensações
físicas. Calor passou ao redor, misturado com aquele frio.
Por um instante, eu vi um mundo tão lindo, que me fez doer por dentro. Cor
e luz e maravilha. Vislumbrando isso, eu senti minha conexão com algo muito
maior do que eu mesma, uma felicidade que queimava e fez a euforia da
mágica parecer trivial. E por um segundo, eu quase me segurei no significado
da vida e da morte.
Então, em um piscar de olhos, tudo sumiu, e eu mergulhei em escuridão. Eu
silenciosamente chorei, ansiando pelo retorno daquela beleza. Onde ela
tinha ido? Porque ela não voltava? Uma voz me respondeu, vagamente
familiar. Ela falou em minha mente, vibrando através de mim e meu ser.
"Esse mundo se torna o que você trás a ele. O que você trás?"
A escuridão mudou e se tornou sólida. Eu não vi nenhuma fonte de luz, ainda
sim eu conseguia, por pouco, distinguir uma forma na minha frente. Chão
apareceu frio e morto. Pedras pretas se juntavam em ângulos estranhos,
afiadas e feias. Um calafrio passou por mim. Meu campo de visão estava
limitado naquela estranha iluminação. Tudo além estava em uma insondável
escuridão. Na minha frente, eu via uma profunda escuridão, cercada por um
fraco contorno cinza. Uma porta ou um túnel.
Isso era o que era? Eu tinha moldado meus arredores em uma fria escuridão?
A voz falou de novo: "Esse mundo é o que você faz dele."
Dentro do túnel, eu podia sentir Kiyo. Sem pensar mais, eu voei de novo, me
movendo para frente.
A escuridão me engoliu mais uma vez. Então eu emergi em uma terra limpa.
Parecia que eu estava numa caverna, cercada por toda aquelas pedras frias.
Uma fonte indeterminada iluminava o lugar com uma luz absoluta. Não havia
saída. Eu senti Kiyo mais a frente, mas não tinha como chegar até ele. Atrás
de mim, o caminho pelo qual eu tinha entrado sumiu.
E então eu não estava mais sozinha. Formas se materializaram diante de
mim. Eu reconheci quase todas elas. O Queres. O fachan. Finn. Alguns dos
yeshin. Uma reunião de espíritos. Incontáveis outros monstros. Incontáveis
gentry. Cada ser que eu tinha banido para esse mundo. Eles preencheram
quase todos os espaços na clausura, me cercando. O rosto deles eram
horríveis. Reflexos retorcidos do que eu costumava conhecer. Eles abriram
suas bocas, gritando seu terror e dor, revivendo quando eu tinha matado ou
banido eles. O grupo se aproximou mais, as mãos estendidas. Eles me
amontoaram, tentando me pegar e arrancar minha pele.
Pele?
Minhas penas sumiram. Eu estava em minha forma humana, com roupas
bem comuns. As mãos e rostos se aproximaram mais apertado, e eu gritei
enquanto multidão me rasgava. Agonia passou por cada parte de mim, uma
dor terrível que me consumiu. Eu afundei no chão, tentando afastar eles.
"O que você nos dará?" Eles pareciam perguntar. O que você nos dará para
deixar você passar?
"O que você quer?"
"Você nos mandou para cá sem pensar. Você rasgou nossa essência de um
mundo e colocou em outro. Você sabe como isso é? Ter sua essência
divida?"
"Mostre-me," eu sussurrei.
Eles mostraram.
Começou dentro de mim. Como uma pequena faísca, notada apenas por um
fraco formigamento. Como levar um choque elétrico. Então cresceu, se
espalhando como uma massa de vermes rastejantes, me comendo de dentro
para fora. Só que era mais do que físico.
Era como... um câncer espiritual. Eu podia sentir tudo em mim
desintegrando. Primeiro, todas as coisas superficiais. Meu amor por pijamas
e Def Leppard. Isso foi seguindo pela remoção das coisas que me
identificavam, que me faziam única: minhas habilidades físicas, meus
poderes shanamicos, até minha recém descoberta magia. A seguir, minhas
conexões emocionais foram levadas, me fazendo esquecer todos que eu
conhecia ou amava. Meus pais, Kiyo, Dorian, Tim, Lara... todos eles sumiram,
suas memórias soprada pelo vento. Finalmente, minha essência básica
desapareceu. Eu como um ser físico e mental. Eugunie Gwen Markham. Uma
mulher. Meio humana, meio brilhante. Tudo sumiu, e eu não era nada. Eu
queria gritar, mas não tinha como fazer isso.
E então, tudo voltou.
Eu estava deitada enrolada como uma bola, sozinha na caverna.
Desdobrando-me, eu vi que estava inteira. Minha autoconsciência tinha
voltado. Ainda tremendo, eu olhe pra cima e vi que uma porta tinha se
aberto. Era a saída, um jeito de chegar a Kiyo.
Eu entrei no próximo túnel, de novo entrando na escuridão. Quando eu
emergi, me encontrei numa caverna exatamente igual à outra. Só que dessa
vez, eu não estava sozinha. Um homem estava na parte mais distante, suas
costas para mim enquanto ele estudava o muro. Sentindo minha presença,
ele virou. Ele tinha um cabelo avermelhado, misturado com grisalho e que
por pouco tocava seus ombros. As feições em seu rosto eram
surpreendentes, uma mandíbula quadrada e ângulos agudos. Lindo em um
jeito duro. Ele usava roupas como dos gentry, a maior parte dele coberta por
uma capa tão rica quanto qualquer uma que era de Dorian. Um veludo
púrpura. Jóias estavam nas pontas. Uma coroa estava em sua cabeça, feita
de um metal muito brilhante para ser prata. Platina, eu pensei. Era uma obra
arte da na arte de trabalhar com metais, pontas esculpidas e fluidas, como
um círculo de nuvens entalhadas. As pontas se encontravam em um pequeno
ponto no topo da sua cabeça, como o pico faux widow64. Diamantes e
ametistas estavam colocados entre as curvas brilhando na luz estranha.
Mas foram os olhos dele que me capturaram. Eles não mantinham uma única
cor. Eles mudavam como nuvens em um dia de vento. Azul safira. Um cinza
prateado. Um rico violeta.
"Olá, pai." eu disse.
Os olhos se mantiveram um firme azul profundo enquanto ele me olhava.
"Você não é o que eu esperava."
"Desculpe."
"Não importa. Você serve. No fim, você é apenas um vaso mesmo. Sua
mágica vai crescer, e aqueles ao seu redor vão eventualmente ver que o que
precisa ser feito vai ser conseguido, quando seu filho nascer."
Eu balancei minha cabeça. "Não vou ter seu herdeiro."
"Então você não passara. Você vai morrer aqui."
Eu não disse nada. A raiva endureceu suas poderosas feições, e qualquer que
seja a atração que eu notei nele antes sumiu. Eu me lembrei da reação da
minha mãe, o ódio puro dela contra ele. Os olhos dele mudaram de novo, se
tornando de azul para um cinza escuro que parecia quase preto.
"Você é uma garota idiota e tola que não faz ideia do que está fazendo. O
destino dos mundos está em sua mão, e você é ignorante demais e fraca
demais para fazer alguma coisa sobre isso. Não importa. Você não é a única
que pode carregar o sonho."
"O que, você se refere à Jasmine?"
Ele concordou. "Ela não tem seu poder e instintos de guerra, mas de novo,
ela é apenas um vaso. Mais importante, ela está disposta. Aeson se certificou
disso. Ele a visitou antes de finalmente a pegar. Ela sabe seu dever. Ela vai
cumpri-lo."
64 A tradução literal seria pontos de viúva, para explicar melhor seria esse tipo de
coroa que ela está se
referindo: http://thumbs.dreamstime.com/thumb_291/12164195135000wf.jpg
Um frio e pesado bloco se formou no meu estômago. Eu tinha saído do meu
caminho para evitar gravidez, mas Jasmine não o faria. Ela procuraria isso,
propositalmente tentando ter um herdeiro do Rei Storm. Todas as minhas
práticas contraceptivas não iam significar nada.
O Rei Storm leu meus pensamentos. "Talvez se fosse você, você poderia
controlar a situação. Talvez não seja tão ruim se você for à mãe do herdeiro.
Se for sua irmã, não haverá alívio."
"Não foda comigo só para ter o que você quer. Não vai funcionar."
Os olhos dele enegreceram ainda mais. "Como você quiser, então. Não faz
diferença se você morrer aqui e ficar comigo."
Eu encarei a parede distante, desejando que a pedra se abrisse. Além dela eu
podia sentir Kiyo se afastando de mim. Meu coração ­ se eu tinha um nessa
forma ­ bateu mais rapidamente. Eu fechei meus olhos. "O que você quer
que eu faça?"
Mãos me alcançaram por trás, se fechando ao redor da minha cintura.
"Se submeta apenas uma vez," Aeson disse no meu ouvido. "Se submeta só
uma vez a mim, e você pode passar."
Suas mãos me puxaram contra ele, e eu tentei oprimir a náusea que crescia.
Uma parte razoável de mim disse que não importava. Nada disso importava.
Eu não estava aqui em corpo. Eu não podia ficar grávida. Isso não estava
realmente acontecendo.
Ainda sim... parecia tão real. E para todas as intenções e propósitos, era. As
mãos dele estavam em mim. Sua respiração contra meu pescoço. Eu sentia
exatamente como sentiria em forma física, e eu sabia que essa era a
intenção.
Eu abri meus olhos e vi meu pai me observando. Além dele, Kiyo se moveu
ainda mais para longe.
"Muito bem." Eu disse, mal reconhecendo minha própria voz.
Aeson me virou e me beijou, com força e me machucando, sem se importar
que meus lábios ficaram parados e não o beijaram de volta. Ele me colocou
no chão, colocando minhas costas contra uma pedra afiada. A última coisa
que eu vi antes de tudo ficar escuro foi o Rei Storm olhando para mim, seu
rosto frio e sem se importar. Eu fechei meus olhos, tentando ignorar a dor
física e mental.
Quando eu me permiti ver de novo, eu estava sentada no chão, minhas
palmas tocavam uma superfície dura. Como antes, eu não senti mais dor, e
eu percebi que minhas roupas estavam inteiras novamente.
Outra ilusão... uma que meu corpo não tinha memória mas que ficaria na
minha mente por algum tempo, eu suspeitei. Levantando, eu me movi para
frente, em direção a Kiyo.
Mais alguém estava esperando por mim na próxima câmara, um homem que
nunca vi antes. Ele era pequeno e magro, vestido em um veludo escarlate
beirando a ser estranho. Ele segurava uma pequena capa enrolada em sua
mão e andava para lá e para cá nervosamente. Quando ele me viu, seu rosto
brilhou de alivio.
"Aí está você, majestade!" ele exclamou. "Estive esperando."
"Esperando pelo que?"
Ele ofereceu o pacote diante de mim. "Para te dar sua coroa. Você tem que
colocar ela."
Eu olhei o pacote nervosamente e então olhei para a parede em branco
entre Kiyo e eu. "É isso que eu preciso fazer para passar? Colocar a coroa?"
Ele concordou, mudando seu peso de um pé para o outro. "Rápido. Estamos
ficando sem tempo."
Eu sabia para que era a coroa. Eu sabia o que Dorian tinha feito do lado de
fora da fortaleza de Aeson. De alguma forma, de algum jeito, eu ganhei a
Terra Alder. Eu tinha me tornado rainha. Eu com certeza não a queria. Se eu
conseguisse sair daqui viva, eu definitivamente ia retificar o problema.
Mas se eu usar a coroa aqui era o que eu precisava fazer esse tormento
sádico, então eu o faria. Era muito mais fácil do que todo o resto que eu
passei.
"Tudo bem. Dê-me ela."
Ele me entregou o pacote. Eu o desenrolei e quase derrubei quando eu vi o
que estava dentro. Aeson usava um circulo dourado. A coroa de Dorian, que
ele usava raramente, era simples também. Ela lembrava um anel de folhas,
feita de diferentes metais: prata, outro, e cobre. Presumivelmente Maiwenn
e o resto dos monarcas do Outro mundo usavam itens similares.
Mas isso... isso não era um círculo simples. Era pesado e de platina, e tinha
voltas intrincadas de metal colocadas entre diamantes e ametistas. A coroa
do Rei Storm. Só que era menor. Um pouco mais delicada. Desenhada para
uma mulher.
"O que é isso?" eu exclamei.
O homem me deu um olhar surpresa. "Sua coroa."
"Essa não é a coroa da Terra Alder. Essa é a coroa do meu pai."
"O que mais você iria usar majestade?"
Eu tentei devolver para ele, mas ele se afastou. "Eu não quero. Eu não vou
usar."
"Você precisa. É a única forma."
Ele me olhou implorando, quase como se ele quisesse que eu fosse para o
próximo nível desse jogo tanto quanto eu. Eu não precisava da suplica dele.
Eu também queria seguir em frente. Muito. O bastante para finalmente
erguer a coroa e com dedos trêmulos a colocar na minha cabeça.
Instantaneamente, eu não estava mais na câmara. Eu estava num pico alto e
grande, olhando todos os vastos planos. O céu estava escuro e cheio de
nuvens, e um trovão dançou entre eles. Abaixo, nos planos, exércitos se
esticavam até onde o olho conseguia enxergar. Exércitos de gentry e
espíritos e criaturas que viviam no Outro mundo. A coroa parecia pesada na
minha cabeça, e ainda sim fez um trabalho pobre de segurar meu cabelo
enquanto o vento passava ao redor. Um vestido de veludo índigo abraçou
meu corpo, e uma capa preta e prateada envolveu meus ombros. Em minha
mão esquerda, eu segurava minha varinha, e na curva do meu outro braço,
eu segurava um bebê.
Ele estava envolvido num cobertor branco, seus olhos fechados. Um cabelo
enevoado, sua cor indistinta, saída cabeça dele. Eu não fazia ideia de quem
era o pai ­ eu não sabia nem se era um menino ou uma menina ­ mas uma
parte instintiva de mim me disse que ele era meu. Tentativamente, eu
estiquei meus dedos para tocar aquele cabelo. Eu o sentia como a mais suave
seda. O bebê se moveu levemente com meu toque, ele se aninhou contra
mim, e algo dentro de mim também se aninhou.
Eu pulei quando uma mão circulou minha cintura, e um corpo quente se
moveu perto do meu. Dorian. Uma espada estava ao seu lado, e uma nova
coroa estava em sua cabeça, mais elaborada do que aquela de folhas. Era
feita de ouro puro, cheia de jóias, incrível de se contemplar. Mas não era tão
grande como a minha.
"Eles estão esperando sua ordem," ele disse.
Eu segui o olhar dele para o mar de pessoas e vi que eles todos estavam
ajoelhados diante de mim, suas cabeças tocando a terra. Acima deles, ouvi
um trovão enquanto a tempestade se envolvia incansável.
"Eu não sei o que fazer," eu disse a ele.
"O que você precisa fazer."
Como se estivesse se movendo a sua própria vontade, a mão segurando a
varinha se ergueu no ar. Os exércitos se ergueram, como se eu fosse um
ventríloquo dando vida as marionetes. Um grande rugido saiu deles, espadas
batendo em escudos e mágica reluzindo em saudação. Baixando o braço, eu
sabia que eles marchariam. Um movimento meu, e eu libertaria o próprio
inferno. O rugido se intensificou. O corpo de Dorian se moveu mais para
perto. O bebê se moveu de novo. Minha mão parecia pesada e começou a
cair....
Eu estava sozinha numa câmara de pedra. Nenhum homem. Nenhuma
multidão. Uma porta tinha parecido, e eu entrei nela.
A escuridão me engolfou, e eu juro que o túnel ficou mais estreito do que
antes.
Ainda sim eu progredi. Eu podia sentir Kiyo ficando cada vez mais perto. Eu
corri, precisando encontrar ele, precisando alcançar ele, precisando ­
E lá estava ele.
Ele estava deitado em um pequeno palco nessa nova câmara, usando sua
forma humana. Ele estava de costas, inteiro e perfeito, suas mãos sob seu
peito como se fosse uma princesa adormecida de contos de fada.
Eu me movi em direção a ele, e uma mulher se moveu na minha frente.
Eu não sabia como não a tinha visto antes. A aparência dela ficava mudando.
Num instante ela era dourada e adorável, um cabelo loiro igual ao mel que
chegava até seus tornozelos. No outro ela estava tão pálida quanto à morte,
seu cabelo preto balançando atrás dela como uma mortalha de funeral,
ainda sim linda e assustadora de certa forma.
A própria Persephone bloqueou meu caminho, e eu sabia que não havia
como eu passar por ela.
"Deixe-me ter ele. Por favor. Eu passei em todos os testes, como você
queria."
"O que eu queria?"
Era a mesma voz que eu tinha ouvido antes, só que agora tinha um toque de
diversão.
"Nada disso importa para mim. Não foram meus testes. Esse mundo é o que
você trás. A maior parte dos mortos trás culpa e arrependimento. Você
trouxe seus medos."
Eu olhei além dela para Kiyo, minha alma gritando pela dele
"O que você quer? O que eu preciso fazer para pegar ele?"
"O que te faz pensar que eu vou dar ele para você? Ele é meu. Eu o ganhei de
forma justa. Os mortos não deixam meu reino."
Eu contestei meu cérebro, repassando as histórias ou mito que eu tinha
ouvido.
"E quanto a Orfeu? Você o deixou levar Eurídice."
"Mas no fim, ela não partiu. Ele não foi forte o bastante. Ela ficou."
"Você não precisa dele, especialmente já que te mandei tantas outras
almas."
Foi realmente para mim? Ou para seu próprio benefício?
"Importa?"
Talvez não. Mas agora eu tenho mais dois e não preciso desistir deles.
"Então o faça como um favor;" eu implorei.
"Um favor?" A diversão dela aumentou. "E porque eu faria isso?"
"Porque eu servi você fielmente. E porque somos a mesma coisa. Estou presa
em dois mundos também, e eu não acho que posso escapar disso. Estou
dividia em dois para sempre."
Eu toquei a tatuagem de borboleta no meu braço, metade preta e metade
branca. Como Persephone, que passa metade de sua existência como a
deusa da primavera e metade como a governante da morte. Como eu,
metade humana metade gentry. Metade amante, metade assassina. No Lago
dos Cisnes, Odile é um cisne negro e Odette é o cisne da luz, e ainda sim as
duas dançam da mesma forma.
Ela apenas encarou, mas eu desesperadamente tentei pensar em algo. "Você
disse que esse mundo é o que trazemos. Eu trouxe amor também. Isso não
conta pra nada?"
Ela considerou. "Depende. Você desistira do seu amor? Sacrificara ele para
mim? Prometa que vai ficar longe dele para sempre, que você vai abandonar
seu amor."
Eu olhei para forma inerte de Kiyo, pensando em como seria nunca ver ele de
novo. Algo dentro de mim morreu com esse pensamento, mas eu não
hesitei.
"Muito bem. Concordo."
Persephone me olhou por um momento, e então Kiyo sumiu.
"Está feito."
"Você mandou a alma dele de volta? Ele vai viver?"
"Se o corpo dele for curado logo, então sim, ele vai viver."
Ela continuou a me olhar, e eu percebi que eu não fiz garantias sobre meu
próprio retorno. Na verdade, eu não conseguia mais sentir aquela conexão
brilhante com meu próprio corpo.
"Você está presa aqui" ela afirmou.
"Eu sei. Está tudo bem. Valeu à pena." E eu falei sério. A vida de Kiyo
significava mais do que a minha. Os olhos azuis-para-preto-para-azuis me
contemplaram. Então, por mais improvável que possa parecer, ela suspirou.
"Volte. Volte para sua existência dupla. Eu vou te ver de novo algum dia, e
então você ficara aqui."
Os dedos dela tocaram minha testa, e uma dor queimou através de mim.
Minha forma desapareceu em penas e asas pretas, e eu me senti sendo
puxada para fora desse mundo. Logo antes deu sair completamente, ela
falou de novo. A voz dela estava cansada e talvez só um pouco triste.
"Fique com seu amor. Eu não tenho mais uso para ele".
Um instante depois, eu acordei no meu corpo físico, arfando e buscando ar
enquanto eu retornava a vida.
Capítulo Vinte Oito
Cerca de dois dias passaram antes deu conseguir ficar tempo o suficiente
com consciência para sair da cama. Eu tinha uma fraca lembrança de uma
comoção do lado de fora do palácio de Aeson depois de voltar para o meu
corpo aquela noite, mas pouco, além disso. Shaya tinha carregado em seus
braços. Dorian tinha gritado por um curandeiro. Mas o melhor de tudo, ao
meu lado eu vi Kiyo se mexer.
Agora eu acordei em um dos muitos quartos de visita de Dorian. Era menor
que o dele, mas tão ricamente decorado como tudo por aqui. Eu acordei
algumas vezes antes disso, mas só agora encontrei a força para levantar. Nia,
que estava ao meu lado o tempo todo, permaneceu pouco convencida.
"Você não deveria... você precisa dormir mais..."
Eu estava tirando a camisola longa que eles colocaram em mim, trocando por
roupas recém lavadas. "Se eu dormir mais, eu vou estar morta, e eu já
cheguei bem perto disso. Onde está Dorian? Eu preciso falar com ele."
"Tenho certeza que ele vira até você, majestade."
Eu recuei por causa do titulo. "Não. Só me leve até ele."
Apesar dos protestos dela, o seu senso de dever não podia desobedecer à
ordem. Ela me guiou pelos corredores onde recebi vários olhares curiosos
dos vários ocupantes. Desde minha chega inicial, eu me tornei uma presença
fixa por aqui, aceita e ignorada. Agora as pessoas me olhavam com a mesma
curiosidade assustada que eu recebi da primeira vez.
Lá fora, encontramos Dorian em um dos jardins, parado perto de um
pequeno e peludo cachorro.
Muran estava por perto, e entre eles, estava um cachorro que eles tentavam
sem sucesso coagir a deitar e rolar. Ele estava meramente olhando para eles,
o rabo balançando.
Dorian me notou primeiro, seu rosto se abrindo num enorme sorriso. Os
curandeiros trabalharam nele também; não havia traço das queimaduras.
"Rainha Eugenie, que adorável ver você recuperada."
Muran quase caiu por cima de si para fazer uma reverencia. "V- vossa
majestade."
"Nós precisamos conversar," eu disse a Dorian firmemente. "Sozinhos."
"Nunca me canso de ficar sozinho com você. Nia, leve essa besta irracional
com você. E leve o cachorro também." Ele os dispensou.
Uma vez sozinha com ele, eu exigi, "O que diabos você está pensando?"
"Tem muitos incidentes aos quais você pode estar se referindo, eu nem sei
por onde começar."
"Sim, você sabe. Você me fez Rainha do reino de Aeson."
"Seu reino agora, minha querida."
Eu andei pela grama irritada. Era o meio do dia, fresco e ensolarado. "Eu não
queria. Você não tinha direito de fazer isso."
"Está feito. Além do mais, se eu não tivesse, outra pessoa teria. Você teria
gostado de ver sua encantadora irmãzinha no trono?"
Isso me fez parar. Buscas extensivas não tinham encontrado nem sinal de
Jasmine. Ela parecia ter escapado durante a luta com os yeshin.
"Dê para outra pessoa. Tem que haver uma escolha melhor do que Jasmine
ou eu."
"Dar?" Ele riu com sua risada melódica, aquela que declarava o mundo como
uma piada. "A terra reconheceu você. Você não pode voltar atrás nisso. É seu
para sempre... bem, até você morrer. Ou passar para um herdeiro."
"Ótimo. Aqui vamos nós de novo. Eu devia saber que você ia começar a
insistir nisso."
"Eu não fiz tal coisa, mas... já que você tocou no assunto..."
Eu parei de andar e olhei para ele. "Desista. Eu não quero falar sobre isso. Eu
nem quero pensar nisso."
Um pouco do humor sumiu. "Talvez você devesse. Jasmine certamente irá.
Se ela tiver um filho primeiro, todas as suas boas intenções não vão importar.
Você diz que não quer, mas você sabe... tudo poderia ser diferente se você
fizer isso antes dela."
Era tão alarmante parecido com o que o Rei Storm tinha me dito no
Submundo que eu nem soube o que dizer a princípio. Isso era uma
coincidência? Eu tinha muita certeza que o que eu vi tinha sido uma ilusão,
para testar minha resolução e me fazer enfrentar meus medos.
"Qual problema?" Dorian perguntou, vendo meu rosto. Não havia nada
astuto ou sábio em sua expressão, só preocupação.
"Nada. Olha, esqueça a profecia um minuto. Volte para o negócio da Terra
Alder. Se você estava tão preocupado sobre ela cair nas mãos erradas,
porque você mesmo não a tomou?"
"Ora, Eugenie, você acha que tenho tanta fome de poder?"
"Sim. Eu acho. Eu ouvi e vi isso. Quando os reinos foram formados, você
queria mais. E você teve sua chance quando Aeson morreu." Ele não
respondeu, e eu continuei, sabendo que eu tinha razão. "Mas isso teria
chateado muitas pessoas, não é? Maiwenn e os outros poderiam se voltar
contra você. Mas me fazendo a Rainha Alder... você conseguiu alguém para
segurar seu lugar. Ninguém pode dizer nada porque derrotei Aeson numa
batalha justa, e agora você tem acesso fácil ao mesmo poder. Seu plano é me
usar e esse título fudido para estender seu controle."
"Você tem uma opinião bem baixa sobre mim. Não é de se admirar que você
esteja chateada."
"Qual é. Porque outro motivo você faria isso?"
Ele encarou surpreso. "Ora, porque eu amo você." Ele disse como se fosse à
coisa mais razoável do mundo. Como se eu já devesse saber.
"Você mal me conhece."
"Nós nos conhecemos a quase tanto tempo quanto você conhece o kitsune,
e eu sei que você está apaixonada por ele. Seu pequeno truque aquela noite
demonstrou isso. Pelos deuses, aquela foi uma das coisas mais tolas que eu
testemunhei. Você parou de respirar. Eu pensei que você estava morta."
Eu ouvi a sugestão na voz dele, e me acertou que ele poderia me amar afinal
de contas. Deu-me um sentimento estranho, um que eu não sabia como
lidar. Dorian amar uma pessoa era quase incompreensível. Eu o via amando
apenas suas próprias diversões e ambições.
"Eu amo Kiyo," eu disse baixo. "E se a gente puder se acertar... eu vou ­" Ele
deu nos ombros, leve e relaxado de novo. "Não importa. Eu não me importo
em dividir você."
"Você disse a Aeson que você não partilha."
"Como regra geral, não ­ e certamente não com gente do tipo dele ­ mas
não acho que você vai me dar exclusividade, então eu devo abrir uma
exceção."
"Não vai haver nenhuma exclusividade ou compromisso."
"É o que você diz. Você também disse que nunca viria pra minha cama. Ou
que nunca ia usar mágica. Você provavelmente diz uma dúzia de outras
coisas também. Todos nós vimos como isso acabou."
"Pare. Estou falando sério sobre isso."
"E eu também. Você é uma rainha. Você controla parte desse mundo. Se alie
a mim, e seremos o maior poder desde o seu pai."
"Eu não quero poder ou a Terra Alder."
"É a terra Thorn agora."
"Eu ­ o que?"
"A terra se conforma com você. A Terra Alder era o domínio de Aeson. O seu
é a Terra Thorn. Você é a Rainha Thorn."
"O smokethrorn65," eu lembrei. Se alguém tentasse enfiar uma coroa de
espinhos em mim, isso ia ser seriamente fudido.
65 Seria algo como fumaça/ ou cigarro de espinhos, como fica estranho deve ser
referência ao cacto,
planta típica do deserto ( Thorn é espinho em português)
"Muito apropriado na verdade. Uma árvore coberta em beleza e ainda sim
possuindo um núcleo afiado e mortal."
Eu balancei a cabeça. "Não me importo com metáforas. Eu não quero reinar
esse reino."
Ele se moveu em meu espaço, algo apaixonadamente gentil naqueles olhos
dourado esverdeado. "E daí? Você acha que pode simplesmente ignorar?
Fingir que vai sumir? A terra se conformou com você! Você não pode virar as
costas para isso. Sua sobrevivência depende de você ­ particularmente já
que, por razões que só os deuses sabem você a transformou num terreno
baldio."
Eu vacilei. "Bem... eu vou conseguir uma daquelas pessoas... você sabe
alguém que reina no seu lugar..."
"Um regente? Isso só funciona por um tempo. Você não pode evitar a terra.
Você tem que voltar e visitar ela, ou ela vai morrer. Vocês estão conectados
agora."
"Eu não queria isso, Dorian." Eu me sentia cansada. Talvez eu ter levantado
não tenha sido uma boa ideia afinal de contas. "Você não deveria ter feito
isso."
"Vamos ter que concordar em discordar nisso, mas vou fazer o que puder
para compensar. Leve Shaya. Ela será uma excelente regente. E eu vou te dar
Rurik e Nia e qualquer outro servo que você razoavelmente goste."
"Eu não gosto de Rurik."
"Não, mas ele será tão leal quanto o cachorro que eu tinha. Mais, na
verdade, considerando o quão irracional o pequeno bastardo era. Rurik vai
penetrar no que resta da guarda de Aeson e manter aqueles que forem
apoiar você."
"Você quer dizer aqueles que apóiam o Rei Storm."
"É o melhor que posso fazer," ele disse com um encolher de ombros. "você
pode aceitar ou não. E você ainda vai ter que preencher outras posições você
mesma. Nia vai servir bem como uma lady-em-espera, mas ela não tem
muitas condições de ser uma senescal66. Você vai precisar de um desses. E
um Heraldo também."
Ele falou como se estivesse listando coisas que eu precisava comprar do
super. "Oh, Deus. Estou presa na fudida Crônicas de Nárnia. "
"Eu tenho certeza que essa seria uma referência divertida, se eu entendesse.
Por agora, não posso fazer mais. Estou abrindo mão de alguns dos meus
favoritos para você. O resto está em suas mãos." Havia um sorriso no rosto
dele, mas seus olhos estavam sérios. "Não importa o que você pensa de mim
e minhas motivações, eu juro a você que eu não teria feito você tomar a
terra de Aeson se eu não achasse que você é digna. Tem poder queimando
dentro de você, Eugenie. Eu falei sério quando disse que você vai superar
todos nós."
Eu balancei minha cabeça e virei incapaz de ouvir isso. "Estou partindo agora.
Eu realmente não quero ver você de novo. Nada pessoal. Bem, yeah, na
verdade é." Eu comecei a andar em direção a porta.
"E quanto as suas lições de magia?"
Eu congelei. "O que têm elas?"
"Você não quer continuar com elas?"
Eu me virei devagar. "Eu tenho algum controle agora. Não é grande o
bastante para me impedir de fazer algo idiota."
"E isso é bom o bastante para você?" Ele deu alguns passos em minha
direção. "Você matou um dos maiores utilizadores de mágica desse mundo
com um controle novato de água. Imagine quando você a controlar ­ e os
outros elementos."
"Não. Eu não vou. Eu não preciso."
"Eu pensei que você gostava do jeito que te fazia sentir."
66 Um Senescal era um oficial nas casas de nobres importantes durante a Idade Média.
No sistema administrativo
francês medieval, o Senescal era também um oficial real, encarregado da aplicação da
justiça e do controle da
administração nas províncias do sul, equivalente ao '"bailio" do norte da França. A
função mais básica de um
Senescal era a de supervisionar festas e cerimônias domésticas; neste particular, eram
equivalentes aos reitores e
mordomos. Por vezes, aos Senescais foram atribuídas responsabilidades adicionais,
incluindo a administração da
justiça e altos comandos militares.
A fantasmagórica memória do poder apareceu em minha mente, e eu engoli,
com vontade que ela fosse embora. Eu balancei a cabeça para ele. "Adeus,
Dorian."
Eu comecei a virar de novo, mas ele me pegou pelo ombro e me puxou para
um beijo. Ele merecia levar um tapa, mas o beijo foi incrível, como todos os
beijos dele. E sentir ele contra mim me lembrou da noite que estivemos
juntos, como ele me trouxe para uma selvageria que eu não achei que fosse
capaz.
"Essa é a última vez que você vai me beijar." eu avisei quando terminou.
Ele sorriu sabiamente, e nós seus olhos, eu podia ver as próprias memórias
dele daquela noite. "É o que você diz."
Eu o deixei e voltei para o meu mundo.
Kiyo me encontrou alguns dias depois, como eu sabia que ele faria. Estive
fazendo tarefas e voltei para casa e vi-o sentado nos meus degraus, em
forma humana. Ele usava uma camisa de algodão branco, enfiada em uma
calça social. O cabelo preto estava escovado para longe do rosto dele, e os
olhos escuros dele estavam mais suaves e sensuais do que nunca. Ele parecia
bem ­ e saudável. Como Dorian, ele aproveitou os benefícios da cura mágica
dos gentry. Na verdade, Kiyo tinha recebido o melhor: Maiwenn tinha
cuidado dele durante sua recuperação.
"Entre." eu disse, destrancando a porta.
Ele entrou sem dizer nada, me seguindo e esperando até eu guardas as
chaves e a bolsa. Eu ofereci a ele chá gelado e entrei sentei com ele no sofá,
querendo dizer tanta coisa e sem saber por onde começar.
"Você parece melhor do que da última vez que te vi." eu finalmente disse.
Os dentes dele apareceram em um adorável sorriso. "Não foi preciso muita
coisa."
Eu desviei o olhar. "Maiwenn fez um bom trabalho."
Eu senti as mãos dele me alcançarem e virarem meu rosto em direção a ele.
Aqueles dedos tinham o mesmo calor que eu me lembrava, o mesmo
formigamento elétrico.
"Pelo que ouvi, foi mais você do que ela."
"Eu não fiz muita coisa."
Ele me reprimiu. "Honestamente, Eugenie."
"Muito bem, foi ruim. Muito ruim. Mas eu faria de novo."
"Sua mulher maluca e maravilhosa. Não posso retribuir o que você fez."
Eu o encarei. "Não tem nada para retribuir. Porque diabos você pensaria
isso?"
"Porque eu não merecia. Não depois do jeito ­ "
"Não. Esqueça. Eu... eu não deveria ter surtado. Não por algo que aconteceu
antes de você me conhecer." O que eu não acrescentei era que eu de
repente podia simpatizar com o quão perigosas certas informações podem
ser em um relacionamento. Como, digamos revelar como o rei gentry tinha
te iniciado numa ligação sexual.
"Eu ainda deveria ter te contado."
"Yeah," eu concordei. "você deveria. Mas está feito. Eu posso viver com
isso."
Os braços dele se enrolaram ao meu redor naquele jeito sutil que ele tinha.
"O que você está dizendo?"
"Você sabe o que estou dizendo. Tem muita coisa entre nós... não estou
pronta para desistir disso ainda."
O braço me puxou mais para perto, e havia um pequeno tremor na voz dele
quando ele falou. "Oh, Deus, Eugenie. Eu senti tanto a sua falta. Você é como
uma parte de mim."
"Eu sei."
Nós nos seguramos por um momento silencioso, e então eu o ouvi dizer em
um tom cuidadoso, "Ouvi falar que você é uma rainha agora."
"É o que eles dizem."
"Como se sente sobre isso?"
"Use sua imaginação."
"Dorian não tinha direito de fazer aquilo." Havia um rosnado na voz de Kiyo.
"Você está pregando para o padre. Eu já discuti isso com ele. Ele não vê que
foi errado. Ele acha que eu deveria continuar a progredir na mágica
também."
A mão acariciando meu rosto parou de se mover. Ele se afastou levemente
para que pudesse olhar nos meus olhos. "Essa ideia é ainda pior. Você não
vai, vai? Eu quero dizer, você pegou o que precisava dele, certo?"
"Certo."
Ele visivelmente relaxou, de novo tocando minha bochecha com um langor
sensual. "Vamos fazer você passar por essa coisa de rainha. Não vou deixar
nada acontecer com você."
"Ai vai você de novo com essa proteção masculina. Quem trouxe quem dos
mortos?"
"Ponto justo."
Eu dei voz a algo que eu pensava há um tempo. "Como... como você sabia
quando eu ia para Aeson, de qualquer forma? Você realmente fez vigia no
lugar dele e esperou por mim?"
Os olhos dele brilharam com uma malicia sedutora. Movendo suas mãos para
minhas costas, ele deixou seus dedos tracejarem a cicatriz ainda se curando
de onde ele tinha me arranhado. "Não tem lugar que você vá que eu não
possa de encontrar."
Eu gemi. Eu me esqueci disso. "Essas porcarias vão sarar uma hora dessas."
"Eu farei mais."
Nós nos beijamos, e bem assim, as coisas estavam resolvidas entre nós. Não
precisávamos de muitas palavras para expressar o que sentíamos. Talvez seja
assim que é quando você realmente ama alguém, alguém com que você se
conecta. Isso não era dizer que não teríamos resmas de conversa para fazer
no futuro, não se fossemos tentar algum tipo de relacionamento.
Mas por agora, o beijo cobriu o bastante. Foi uma troca de calor, uma troca
de amor, e eu senti como se tivesse vindo pra casa.
"Eu ainda tenho que me redimir," ele me disse seus lábios uma fração de
centímetro longes do meu, "não importa o quão magnânima você esteja se
sentindo. Você sabe o de sempre. Chocolate. Flores."
"Tanto faz. Eu não preciso que você cubra os sinais para saber que você quer
transar comigo. Tem vários sinais mais óbvios."
"Como o que?"
"Como sua mão no meu seio."
"Não. Isso ainda é sutil." Ele puxou meu corpo no dele, nos entrelaçando.
"Agora, quando minha boca estiver lá, então você vai saber ­ "
"Você é uma aberração. Sexo nos trouxe nessa bagunça. Eu não sei se é
saudável confiar nele para consertar tudo."
"Só tem uma forma de descobrir."
Com autoridade de uma rainha, ou não, eu não fiz um bom trabalho em
protestar. E quando ele me puxou para o sofá, eu não fiz um bom trabalho
em protestar que deveríamos ir para o quarto. Felizmente, Tim nunca veio
para casa, então não choquei a sensibilidade dele de novo.
Quaisquer que sejam as palavras que reteve em nossa conversa escaparam
enquanto Kiyo fazia amor comigo, me dizendo que ele me queria, iria me
amar para sempre, e faria qualquer coisa no mundo por mim. Elas são o tipo
de promessa que as pessoas fazem quando estão apaixonadas, mas isso não
fazia delas menos poderosas. Eu flutuei nelas muito depois dele ter partido
aquela noite, inundada em emoção, contentamento e luxuria residual.
Eu estava me vestindo no meu quarto quando uma voz atrás de mim disse:
"Ele é um erro, sabe. Assim como o Rei Oak. Você está melhor sem eles."
Eu pulei e virei com raiva de Volusian. "Não me assuste assim! Cristo. Você
estava me observando? Qual é a de vocês seres do Outro mundo e seus
fetiches? Exibicionismo e atar as pessoas e voyerismo. Meu deus."
Os olhos dele me observaram enquanto eu terminava de colocar minha
camiseta. "Eu não estava brincando, mestra."
"Sobre Dorian e Kiyo? Qual o problema com eles? Bem, o de Dorian é meio
obvio, mas Kiyo não tem problema."
Ele balançou a cabeça. "Dificilmente. Ele é uma raposa, e parte dele pensa
como um. Ele te considera como parceira dele, e isso é uma coisa perigosa.
Ele e Dorian ambos são invejosos de seu próprio jeito. Eles estão em pontas
diferentes do espectro, talvez, mas os dois acreditam firmemente em suas
crenças. Cada um deles terá seu próprio plano para você ­ mesmo o kitsune,
cujas crenças você tende a concordar. Cada um deles vai tentar dominar você
e fazer você pensar que é sua ideia."
Por um momento, eu pensei sobre como o sexo tinha sido com cada um
deles. Agressivo. Controlador. Eu tive pequenas partes de controle, mas no
fim, eu sempre fui empurrada a submissão, uma submissão que eu dei boas
vindas. Só havia a única noite com Kiyo ­ a noite que eu acordei depois de
me lembrar do poder ­ em que eu fui à verdadeira dominante.
"Você faria melhor se encontrasse alguém mais brando e maleável. Alguém
menos ambicioso."
Eu considerei as palavras dele. Talvez ele tivesse razão. Talvez. "Homens sem
ambição são chatos."
"E essa atitude, mestra, é o porquê das mulheres da sua raça continuam a
lutar por igualdade. E porque elas continuam a falhar."
Eu sentei na cama e bati minhas mãos na minha frente. "Eu não invoquei
você. Isso é tudo que você veio me dizer, Dr. Amor?"
"Não. Eu vim te dizer que você precisa visitar seu reino logo. As pessoas
estão nervosas e agitadas. Você é a rainha deles e isso significa algo, não
importa o quanto você não goste. Seu povo precisa ver um monarca forte
imediatamente."
"Eu estava esperando deixar isso de lado." Meu povo, huh?
"Eu não recomendaria. A não ser que você queira um desastre em suas
mãos."
"Então eu deveria apontar você como um dos meus conselheiros agora?"
"Você pode fazer como quiser. Quanto a mim, eu tendo a partilhar o modo
de ver de Finn. Se eu não posso te rasgar ao meio ainda e devo ser
escravizado por alguém, eu prefiro que seja a alguém mais importante do
que um shaman humano."
Eu estive provocando ele, mas meus sentimentos eram sóbrios com o
pensamento de Finn e a pobre Nandi.
"Você é o último homem de pé, Volusian. Quem diria?"
"Eu, mestra." O olhar incrédulo no rosto dele lembrava o que Dorian tinha
feito quando disse que me amava. "Nunca houve dúvida. Eles eram
inferiores."
Eu ri. "Eu nunca pensei que diria isso, mas depois de tudo que aconteceu
você é a única coisa normal que posso contar."
Ele não respondeu.
"Volte para o Outro mundo e fique com Shaya. Diga a ela que logo estarei lá.
Só venha pra cá se houver uma mensagem que eu precise saber."
"Como a Rainha Thorn desejar."
"Oh, cala a boca."
Eu falei as palavras de banimento e mandei-o embora. Depois disso, eu me
estiquei na minha própria cama e tentei avaliar as guinadas da minha vida.
Eu ainda era uma shaman, uma das mais poderosas, se as histórias eram
verdade. Eu possuía meios humanos de trabalhar e controlar mágica, usando
ela para lugar e banir qualquer coisa ruim que vinha para esse plano. Mas eu
também era gentry, a filha do maior tirano do Outro mundo, e eu
supostamente podia ser aquela a realizar uma terrível profecia ­ contanto
que minha irmã criança-mulher não a realizasse primeira. Eu estava
namorando um cara que podia se tornar uma raposa e podia muito bem se
revoltar contra mim se eu ficasse grávida. Eu tinha o amor de um rei que
podia atar uns ótimos nós e queria minha ajuda para tomar seu mundo e o
meu mundo. De alguma forma eu desenvolvi o poder de chamar
tempestades e explodir pessoas. Eu estive na terra da morte e retornei. E
finalmente, eu era uma rainha: a Rainha Thorn67, o que não soava
exatamente lisonjeiro. Porque eu não podia ser a Rainha Viole68 ou algo
assim? Porque árvores e não flores? Não tinha como entender o gosto do
Outro mundo.
Eu precisava de tequila e Def Leppard imediatamente.
Eu andei até a cozinha, esperando conseguir um, mas não encontrei nenhum
dos dois. Ao invés disso, eu me conformei com água de uma jarra grande que
mantínhamos na geladeira. Eu servi um copo e então fui encher a jarra
enquanto minha mente girava.
Porque tudo tinha ficado tão confuso? Eu não queria nada disso. Eu só queria
Kiyo e um exorcismo ocasional. Amor e um jeito de pagar a hipoteca. Era
isso. Eu não precisava de toda essa confusão do Outro mundo ou dos gentry
e seus jogos. Eles não me ofereciam nada. Eu não queria nada de nenhum
deles.
Com raiva, eu fechei a torneira e virei em direção à geladeira. Eu não percebi
o quão molhados estavam meus dedos até que a jarra de vidro escorreu da
minha mão. Tudo depois disso aconteceu em questão de segundos. A jarra
caiu. Ela bateu no chão. Despedaçou-se. Sem pensar, meus sentidos
buscaram pegar a água, ordenando que ela ficasse onde estava. Não havia
nada a ser feito pelo vidro ­
Ainda sim, ele não se moveu. Os pedaços estavam congelados no ar, como a
água, suspensos no padrão criado pelo impacto. Eu o encarei, boca aberta,
até que uma brisa fraca tocou minha pele e eu percebi que os fragmentos
tremeram levemente. Esticando-me ainda, eu podia sentir as correntes de
poder passando de mim para o espaço ao redor do vidro. O ar se mexia ali
enquanto as moléculas lutavam para impedir os pedaços de cair. De alguma
67 Rainha Espinho
68 Rainha Violeta
://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=25399156
forma, sem saber como, eu fiz o ar me obedecer, como eu tinha feito com a
água.
Só que isso era muito mais difícil. Eu gradualmente me tornei ciente de
exatamente como eu afetava as moléculas de ar, e quanto mais tempo eu
fazia isso, o mais difícil era. Os pedaços de vidro caíram como tijolos, o peso
dele pesado em meus sentidos enquanto eu continuava a segurar eles. Com
um pensamento casual, eu mandei a água para minha pia. Forçar toda a
minha atenção no vidro me deu um pouco mais de força, mas eu sabia que
meu controle ia ceder logo. Ainda sim, eu o segurei. Eu de repente queria
dominar o ar, entender como ele funcionava e o que eu precisava fazer para
comandá-lo.
Imagine quando você o dominar ele ­ e os outros elementos.
Enquanto me conectava com o ar, eu senti aquele sentimento glorioso
queimando através de mim. Ainda tinha que superar vários níveis para se
igualar a minha memória-sonho, mas a onda que eu senti agora era mais
forte e doce de tudo o que senti ao controlar apenas a água.
Tim entrou, congelando quando me viu. "Eugenie?"
Fadiga passou pelos meus músculos, e suor passou pela minha sobrancelha.
O vidro ia cair a qualquer momento agora, e quando caísse, a onda mágica ia
desaparecer. Eu lutei o máximo que pude, mas quando o vidro começou a
tremer violentamente, eu rapidamente ordenei o ar a carregar os pedaços
para uma lixeira ali perto. Meu controle era desajeitado; só uma parte do
vidro conseguiu chegar.
Eu pensei que você gostava de como te fazia sentir.
Ofegando, eu sentei na cadeira, encarando o vidro no chão. Tim estava me
encarnado.
"Eug... o que acabou de acontecer?"
A euforia do poder brilhou brevemente enquanto eu desesperada tentava
convocar o ar de novo. Não tive sorte. Uma parte da minha alma gritou por
ele quando desapareceu, implorando que voltasse, jurando que eu faria
qualquer coisa para ele retornar. Eu fechei meus olhos e engoli.
"Eugenie," Tim tentou de novo. "o que foi isso?"
Eu abri meus olhos e segui o olhar dele até o vidro que ainda estava no chão.
Eu levei um momento para encontrar minha voz, e quanto encontrei, ela saiu
suave e rouca.
"Eu não sei. Mas eu acho que a quero."

 

 

                                                   Richelle Mead         

 

 

 

                          Voltar a serie

 

 

 

 

      

 

 

O melhor da literatura para todos os gostos e idades