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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


FOGO E GELO / Sherrilyn Kenyon
FOGO E GELO / Sherrilyn Kenyon

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

Uma princesa procurando uma maneira de poder evitar um matrimônio não desejado, e termina caindo nos braços de um legendário comandante cuja única missão é esquecer a vida que uma vez viveu. Ferido no
corpo e na alma, Adron Quiakides não deseja mais que terminar com sua existência. Vive em um mundo cheio de dor, mas uma desgraçada noite um anjo entra bruscamente em sua vida e lhe leva a caminho da redenção.
A obstinada e sempre esperançosa Livia Typpa Vista não é a classe de mulher que vai a busca de tudo o que ele possui para, posteriormente, lhe abandonar a sua sorte. É uma mulher que consegue capturar
seu coração e lhe ensina que a vida, inclusive com sua parte mais negativa, merece a pena vivê-la. Mas, poderá o amor de Livia salvar Adron de si mesmo?

 

 

 


 

 


Capítulo 1

-Assim é um fodido assassino, né? Não me parece grande coisa.
Adron Quiakides deteve sua bebida a metade de caminho para os lábios. O sangue correu pelas veias como lava ao estreitar o olhar sobre o robusto humano diante dele.
Seu treinamento militar de elite permitiu medir ao bastardo em um nanosegundo. Vestido de negro, porque pensou que assim o fazia parecer mais duro, o homem levava uma grande quantidade de armas
à vista, o que dizia que não sabia como usar apropriadamente nenhuma delas. O odioso idiota esperaria que só seu número dissuadisse a qualquer de jogar com ele.
Como se...
Suas roupas eram duas peças pequenas para mostrar os músculos que estavam fora de proporção com o resto, sem dúvida pelo abuso de esteroides. Ele se manteve em pé mostrando seu quadril, vangloriando
-se e gabando-se para um grupo de clingons, com as mesmas ideias, que ria de sua presepadas.
Valentão. Lixo. Assassino livre, muito incompetente em seu ofício para pagar suas próprias faturas.
Em resumo, não valia a pena o custo de uma carga de blaster para eliminá-lo do banco genético.
Dia de sorte dele ele, porque no passado, Adron não duvidaria em prestar esse serviço público.
Adron bebeu a bebida em um gole, continuando, serviu-se outra.
-Tem três segundos para evaporar ou vou espalhar seus miolos na turma atrás de ti.
O homem riu, ignorando o bastão negro com punho de prata apoiado contra a mesa.
-É um patético aleijado. O que pode fazer além de se embriagar e franzir o cenho? Surpreende-me que deixem entrar aqui alguém como você com o resto de nós -se voltou para seus amigos- Ajudem-me,
rapazes, ajudem-me. Têm que me proteger deste resto de bêbado. Tenho tanto medo. Por favor não me faça mal -ele zombou- Vê, estou chorando como a prostituta que violei ontem à noite.
A fúria do Adron desapareceu quando esse velho frio familiar se apoderou dele. Sem titubear, derrubou a mesa com um pontapé, batendo no homem. Apesar que o corpo gritou em agonia pelos movimentos,
levantou-se, pegou um dos blasters do cinturão do bastardo, e apontou entre os olhos.
"Um disparo. Um morto".
Esse era o credo do assassino, e fiel a sua promessa, despachou um pedaço mais de inseto fora de este plano de existência.
Pena que não o tivesse feito um dia antes que a escória encontrou sua última vítima.
Os gritos estalaram quando vários clientes se agacharam para cobrir-se ou correr para a porta. Outros simplesmente olhavam com curiosidade os respingos de sangue. Típico comportamento na Crona.
Adron lançou o blaster sobre o corpo do homem, logo, com calma voltou a sentar e ajustou a capa ao redor.
Edsel, o dono, era um homem de uns trinta anos, adiantou-se com um profundo suspiro enquanto olhava sobre o corpo. Pegou o bastão do chão e o entregou ao Adron.
-Perguntaria o que aconteceu, mas tenho uma ideia bastante boa. -Colocou a mesa em sua posição anterior- Não entendo como alguém, inclusive com um sozinho neurônio no cérebro, pode brigar contigo.
Não é como se não advertisse ao mundo que tem um pé neste lado de loucos procurando alguém para matar e aliviar seu aborrecimento -voltou o olhar para o corpo- Por outra parte, já não tem cérebro... agora.
Um disparo impressionante, por certo.
Adron estendeu o cartão, mas não falou. Não gostava de gastar saliva, e Edsel soube que o cartão significava que cobriria todos os danos e compraria bebidas para todos os desgostosos pelo derramamento
de sangue. Sem mencionar o pequeno feito de que falar os prejudicaria seriamente. Assim que ele aprendeu a manter os comentários ao mínimo quando tratava com essa gente.
Edsel tomou o cartão e continuou resmungando.
-Obrigado. -Sustentou o cartão entre o polegar e o índice - Esta e única razão pela qual ainda deixo você entrar aqui, porque sempre paga as bagunças que faz, a diferença dos outros vagabundos
bêbados. Apesar disso, o porquê, nas poucas vezes que está aqui, algum idiota tem que te desafiar, não o entenderei nunca. Refugos estúpidos. Se não puderem dizer que é letal, são muito idiotas para viver.
Inferno, considero isto um serviço público. Você provavelmente o faz, também - Edsel deu um passo atrás quando uma garçonete trouxe outra garrafa de Fogo Tondarion e a deixou diante do Adron.
Edsel fez gestos aos clientes que estavam olhando.
-Vamos, todos. Só um pequeno mal-entendido. Os foguetes se acabaram. Estão a salvo agora - logo acrescentou em voz baixa- Contanto que não fodam com um assassino de saco cheio. Idiotas.
Fez um sinal para que aproximasse sua segurança.
-Rapazes, limpem isso. Não quero vê-lo, e sei que ninguém mais quer. -Então mais forte, falou com a multidão de novo-. Bebidas grátis para qualquer que tenha cérebro no corpo ou a roupa. Pedimos
desculpas pelo transtorno. O que posso dizer? Este é um lugar excitante.
Edsel negou com a cabeça e se voltou para o Adron.
-Perguntaria se tem autorização para matar mas não quero acabar ao seu lado no chão. Não se preocupe. Às autoridades que venham direi que correu para a porta depois do tiroteio.
Adron se burlou enquanto tomava outro gole. Ele não corria de nada, que era exatamente o porquê de estar aqui esta noite.
Malditos idiotas de merda.
Edsel e os outros desapareceram na multidão.
Adron olhou os amigos do morto que se estavam rindo antes. Os rostos estavam pálidos quando viram o que ocorreu e a rapidez com que acabou seu doente colega com sua podre vida. Pode ser que quisessem
vingar ao homem morto, mas o sentido comum prevaleceu, e um a um se aproximaram do balcão para reclamar suas bebidas grátis.
A garçonete lançou um último olhar aterrorizado, logo escapuliu ao que ela considerou como uma distância segura. Anteriormente em outra vida, ele poderia rastrear até os limites mais afastados do
infinito e matá-la.
Mas esses dias se foram.
Adron serviu outra bebida e saboreou um pouco mais lentamente que as anteriores. Seus prazeres na vida eram mínimos, e consumir copos cheios do líquido alaranjado dava o consolo que sua maltratada
alma ansiava.
Porque esta noite, mais do que nunca, as lembranças doíam.
Jogou uma olhada a seu cronômetro e fez uma careta. Esta mesma hora assinalava o oitavo aniversário da noite em que tomou a nobre decisão pela qual pagaria pelo resto de sua vida.
Que se fodam todos.
Mas ao final, o único que estava realmente fodido era ele.
Adron agarrou a garrafa com a mão direita, sem poder acreditar que passou tanto tempo desde que caminhou sem mancar. Mover-se sem dor. Falar sem que a garganta doesse pelo esforço.
Oito anos desde que experimentou qualquer comodidade ou paz .
Deitou-se na cama durante horas tratando de dormir. Tratando de esquecer, e finalmente, deu-se conta que a única maneira de silenciar a seus demônios era afogando-os por completo. E nada funcionava
melhor que o Fogo Tondarion, pelo qual saiu de casa.
Esquecendo o copo e as maneiras que sua mãe ensinou, inclinou a grande garrafa nos lábios e deixou que o fogo caísse pela garganta.
-Ouça, querido - disse uma atraente ruiva quando caminhou para ele e apoiou o quadril contra a magra mesa- Quer companhia?
Ondeou a mão para apartá-la, mas ela não aceitou a indireta. Zangado por sua estupidez, esclareceu a garganta e se preparou para a dor de falar.
- Tenho companhia - disse ele, sua voz pastosa ressoando em seus ouvidos. - Eu, eu mesmo e eu.
Ela lançou um olhar faminto para seu corpo, depois se apoiou sobre a mesa para mostrar seus generosos seios.
- Está bem, tem bastante de mim para fazer aos três felizes.
Há um tempo, não teria duvidado em levá-la pra cima ante essa oferta.
Mas então a vida não era nada exceto mudança, e normalmente se modificava em um segundo.
Ela lambeu os lábios.
- Vamos lindo, me pague uma bebida.
Adron a olhou. Não era a primeira mulher que lhe fazia uma proposta essa noite. E na verdade o desconcertava que alguma mulher se desse ao trabalho apesar da cruel cicatriz de seu rosto. Mas então,
as mulheres do Golden Crona não eram críticas, principalmente quanto a dinheiro.
- Sinto muito - disse ele friamente. - Nenhum de nós está interessado.
Ela suspirou dramaticamente.
-De acordo, se algum de vocês mudarem de ideia, faça me saber.
Com uma última e triste olhada para ele se virou através da multidão de humanos e aliens que se moviam pelo bar lotado.
Adron mudou de posição com inquietude em seu banco enquanto a profunda dor em seu osso passava como um relâmpago por sua perna esquerda. Apertando os dentes, expressou um grunhido baixo em sua garganta.
Qualquer um pensaria que a quantidade de calmantes com os quais vivia, quando se combinassem com álcool esmagariam qualquer dor física. Mas apenas adormeciam seu tormento físico.
E nada fazia efeito com a agonia em seu coração.
-Maldito inferno - grunhiu baixo engolindo seu fôlego, e depois jogou a cabeça para trás e terminou sua bebida.
Agarrou uma garçonete de pele verde que passava e mandou que trouxesse mais duas garrafas.
Enquanto esperava que voltasse viu a outra mulher se dirigindo para ele. O feroz olhar encolerizado que lhe lançou a fez se escapulir.
Finalmente estava se divertindo. Esta noite tinha a intenção de ficar completamente isolado e se compadecia do primeiro estúpido que quisesse se aproximar dele. A menos que viesse carregado com mais
álcool.

Livia Typpa Vista tinha vivido toda sua vida com custódia policial. Mais refém que princesa, durante muito tempo se cansou com as ordens de todo mundo sobre seu comportamento, e à idade de vinte e
seis anos, já teve o suficiente.
Não era uma menina.
E não iria se casar com Clypper Thoran em duas semanas. Nem se fosse o último homem do universo.
- Fará o que te digo.
Sobressaltou-se com a ordem imperiosa de seu pai. A alta eminência em que ele poderia estar salvo ela. Não seu irmão mais velho, tinha herdado sua obstinação. Sem importar o preço, se recusava a se
casar com um Governador Territorial dezesseis anos mais velhos que seu pai.
Desde que Clypper tinha ordenado a uma virgem para ser sua noiva, supôs que só tinha uma forma de frustrar a ambos.
Depois desta noite não continuaria sendo uma virgem.
Pela manhã, seu a mataria por isso. Mas melhor morrer que ser casada com um velho cruel, com cara de cabra que andava bolinando-a com suas mãos frias cada vez que estava perto dela.
O Golden Crona.
Enquanto a chuva caía sobre ela, Livia cravou os olhos no sinal acima de sua cabeça. Sua criada, Krista, tinha lhe falado sobre o clube. Dentro tinha todo tipo de heróis e todo tipo de vilões, embora
preferisse entregar sua virgindade a um herói, honestamente, não se importava. Contanto que fosse passavelmente atraente e agradável, seria bom o suficiente para a noite.
Reunindo sua coragem, Livia abriu a porta e parou em seco.
Nunca tinha visto algo assim. Um mar de aliens e humanos dançavam e oscilavam pra cima e pra baixo através do bar fumegante que cheirava a suor de muitas espécies, e bebida barata. A música horrível
era tão forte que fazia seus ouvidos pulsar.
Um homem grande, alaranjado e réptil franziu o cenho enquanto ela vacilava na porta.
- Dentro ou fora. - grunhiu ele.
Ela respirou fundo para fortalecer sua coragem. Isso, e mentalmente conjurou uma imagem das mandíbulas cheias de gordura de Clypper e seus olhos empapuçados, cheios de luxúria.
Se estremecendo, entrou e deixou a porta um pouco atrás.
- Vinte e cinco créditos. - exigiu o homem-réptil.
- Perdão?
- Vinte e cinco créditos. Pague ou te jogo lá fora sobre seu traseiro.
Livia arqueou uma sobrancelha. Tinham na ponta da língua as palavras para colocá-lo em seu lugar, mas então se lembrou que ele não sabia quem ela era. E devia continuar assim.
Se alguém soubesse que era uma princesa Vistan, seria devolvida ao hotel onde se hospedava.
Sem contar o fato de que tinha pouco tempo. Tinha que encontrar a um homem antes que alguém sentisse sua falta e começasse uma busca.
Tirando o dinheiro que tinha roubado de seu irmão, pagou o preço.
- De acordo - murmurou para si mesma enquanto examinava o bar cheio de gente. - Está na hora de encontrá-lo.
Passou entre as pessoas e se sobressaltou a medida que vários humanos sujos a olhavam com interesse.
Lívia rapidamente acrescentou a sua lista de coisas a procurar num homem, que tivesse tomado banho. Um alto, escuro humano lhe sorriu, exibindo um jogo de dentes pretos. De acordo, também tinha que
acrescentar que soubesse como se usava uma escova de dente. Enquanto cruzava o recinto, viu um moreno no bar que parecia promissor. Dirigiu se para ele. Mais logo que ficou próxima o suficiente congelou.
Ele era o corredor pessoal de seu pai.
Se soubesse como xingar definitivamente iria mal dizer a sua sorte.
Só deixe que me vá.
Caindo na multidão, Livia o vigiou tentando esquadrinhar a aglomeração procurando seu alvo. Certamente ali teria alguém que poderia...
Uma confusão na entrada chamou sua atenção.
Livia começou a olhar.
Oh não! Aterrorizou-se ao ver os guardas da família real entrando no bar. Imediatamente os soldados vestidos de cinza começaram a perguntar aos clientes enquanto se espalhavam para cobrir o bar o
quanto pudessem.
Tremeu. Para que eles estivessem aqui armados, Krista teria que ter dito voluntariamente sua posição, e sem dúvida, sua intenção. Livia gemeu ante tal pensamento. Como Krista poderia tê-la traído?
Sua criada tinha sido tão útil no planejamento e execução de seu plano. Mas por alguma razão, Krista vivia com medo do pai de Lívia e só um cenho franzido teria feito que sua criada contasse tudo.
Até o maior dos detalhes.
Lívia se encolheu de medo ao pensar na reação de seu pai. Mas ao menos Krista, diferente dela, não pagaria por sua afronta.
Krista estava protegida por suas leis. Só um homem de sua família poderia castigá-la, e Krista não tinha nenhum parente masculino vivo.
Lívia não tinha esta sorte, e era desnecessário dizer o que seu pai lhe faria pagar por isto.
A castidade era uma das virtudes mais importantes que qualquer mulher devia possuir em seu mundo. De fato, a homens e mulheres só eram permitido se misturar durante as refeições, funções puras, reais,
e quando os parceiros estivessem casados, realizariam suas funções maritais. Mas que uma mulher procurasse um homem que não tivesse laços de sangue com ela era extremamente proibido.
E se castigava duramente.
Estremeceu com medo. Sabia das consequências antes de colocá-las em ação. De uma maneira ou outra, pagaria por sua indiscrição, e se tivesse que pagar, então iria se assegurar de completar o plano.
Apertando os dentes, Livia esquadrinhou o recinto buscando um esconderijo. Na parte de trás do clube tinha uma linha de cabines. Dirigiu se para elas.
Desgraçadamente, todas às que olhou estavam ocupadas.
Maldição!
- Olá, bebê! - perguntou um homem grosseiro olhando-a, - quer companhia?
Ela o considerou até que ele estendeu a mão e lhe segurou o braço. Puxou a para ele, sua mão apertando ferozmente a carne da parte superior de seu braço.
-Vamos - disse com um brilhante sorriso enquanto passava a mão por seu cabelo molhado. - o que diz de mim e de minha cabeça?
Ela se afastou tropeçando antes que ele pudesse machucá-la mais.
-Não, obrigada.
Afastando-se, viu os guardas se dirigindo para ela à medida que passavam esbarrando nas pessoas.
Com seu coração martelando, correu até a última cabine e se sentou no banco vazio antes que o guarda a visse.
- Que diabo pensa que está fazendo aqui?
Ela passou seu olhar fixo do guarda ao homem sentado em frente a ela.
O fôlego ficou preso em sua garganta.
Ele era mais que passável.
De fato, nunca tinha visto um homem tão incrivelmente bonito. Seus traços bem definidos e rigidamente aristocráticos. Suas sobrancelhas escuras de cor café se arqueavam com precisão sobre os olhos
mais penetrantes e azuis que já tinha visto. Estava vestido completamente de negro, usava o cabelo loiro e grisalho comprido, preso em um rabo de cavalo. Bem barbeado e de banho tomado, o rodeava um ar
de refinamento e poder.
Mas seus olhos eram frios enquanto a olhava. Precavidos.
A aura de perigo se agarrava a ele e por causa da determinação em sua mandíbula, podia afirmar que não queria companhia. Ele atirou as luvas negras sobre suas mãos enquanto a olhava. Deveria se levantar
e ir, ainda mais que tinha uma cicatriz que corria ferozmente pela maçã do seu rosto, da raiz do cabelo até embaixo de sua mandíbula. Parecia que alguém tentou cortá-lo ali de propósito, o que a fazia
se perguntar que tipo de homem era simplesmente.
O que tinha feito para merecer semelhante ferida?
Mordeu os lábios indecisos, dirigiu de novo o olhar ao guarda quieto.
Que deveria fazer?
Adron arqueou uma sobrancelha para a mulher que ainda não tinha lhe deixado. Estava bêbado, mas não tão bêbado para não perceber que o ratinho molhado sentado na sua frente não deveria estar ali.
Podia cheirar sua inocência. E revolvia seu estômago. Seu cabelo café escuro estava solto, se espalhando sobre seus ombros magros em ondas.
Tinha olhos grandes, angelicais. Olhos verdes que enfeitiçavam. Eram completamente...
Cândidos e honestos.
Um calafrio o percorreu. Quem tinha nesta época olhos assim? E como o olhava tão diretamente com eles?
- Me escondo de alguém - confiou ela. - Está prestando atenção?
- Caramba, sim, estou prestando atenção.
Livia franziu o cenho ao desconhecido. Seu tom feroz a fez ir para trás, e se não fosse pelos guardas que vasculhavam as cabines, teria saído.
Pense em algo!
O guarda cobriu duas cabines e estendeu um holo-cubo1 aos estranhos sentados nela.
- Viram esta mulher?
Seu plano estava arruinado, só conhecia uma maneira de enganar a seu pai. Levantou se de seu banco e se sentou junto ao desconhecido.
Ele a olhou de cara feia.
Antes que pudesse falar alguma coisa, Livia se inclinou pra frente e o beijou.
Adron estava sentado em um silêncio atordoado enquanto ela colava fortemente seus lábios fechados sobre os dele. Era o beijo mais casto que lhe havia dado uma mulher não relacionada com ele.
Pela forma em que segurava sua cabeça entre suas mãos, ele podia dizer que ela acreditava que um beijo deveria ser dado assim.
Mas pior era a inocência que saboreava, foi perceber que não tinha beijado uma mulher em oito anos e a percepção dos lábios cheios contra os dele era mais do que sua mente bêbada poderia manejar.
E seu aroma... Deus, como tinha sentido falta do doce, embriagador cheiro de uma mulher. Fechando os olhos, soltou a garrafa, e colocou as mãos contra seu rosto enquanto dava tomava as rédeas do assunto.
Livia tremeu enquanto ele abria os lábios e deslizava a língua em sua boca. Tinha visto as pessoas se beijando assim em jogos e hesitações, mas ninguém nunca teve a insolência de fazê-lo com ela.
Saboreou a bebida, doce e aromática em sua língua, cheirou seu perfume quente, limpo, enquanto ele percorria com suas mãos as suas costas e a segurava tão suavemente que a fez tremer.
Ele era sem dúvida único pensou ela enquanto seu corpo ardia ante suas carícias. Este era o homem ao que daria sua virgindade. Um homem de atormentados olhos azuis e com um toque terno. Um homem que
a fazia ofegar e sentir-se frágil, e ao mesmo tempo quente e estranhamente poderosa. Entre seus braços, realmente se sentia como se estivesse no controle de sua vida. De seu corpo.
E gostava disso.

Adron nunca havia saboreado nada melhor que a boca dela. Sentiu sua falta de experiência enquanto com vacilação esta tocava com sua língua a dele. E seu corpo rugiu a vida com uma batida bastante
esquecida que exigia mais que só seus lábios.
Oh, Deus, isso era o céu e ele tinha vivido no inferno durante tempo suficiente para ter esquecido o sabor e como se sentia assim.
- Perdão - disse um homem quando se deteve diante deles. - Olhe isto.
Adron se liberou do beijo só o tempo de dirigir um olhar aborrecido ao recém chegado.
- Saia ou morra.
O medo brilhou nos olhos do homem. Era uma visão que Adron estava acostumado.
Sem outra palavra, o homem se afastou deles.
Adron voltou a seus lábios.
Livia gemeu enquanto ele aprofundava o beijo.
Esquecendo-se dos guardas e de seus temores, ela suspirou de prazer. As estranhas emoções a rasgavam enquanto ele enterrava os lábios no seu pescoço e fazia que ardentes calafrios a percorressem.
Seus braços se ataram a sua cintura à medida que seus seios se inchavam.
Que pulsação era essa que ela sentia dentro dela? Esta dor insuportável?
Ele a deixava insensata e ofegante. E o queria desesperadamente.
-Você fará amor comigo?
Adron foi para trás surpreendido. Se não estivesse bêbado, a teria despachado, mas tinha algo nela que de algum modo lembrava algo que tinha esquecido há muito tempo atrás. Tinha passado uma eternidade
desde que tinha se deitado com uma mulher. Anos de solidão amarga e dolorida.
E agora ela se oferecia.
Aceite-a.
Mas não o fez. Em vez disso, levantando-a da cabine e conduzindo-a entre as pessoas. Livia não sabia para onde estava indo. No fundo de sua mente, estava aterrorizada. Não sabia nada deste homem.
Nem sequer seu nome. Nunca em sua vida tinha feito nada tão idiota. E ainda assim, instintivamente sabia que ele não a machucaria.
Havia dor em seus gelados olhos azuis, mas não crueldade.
Ele manteve seu braço sobre ela. E caminhou se apoiando pesadamente em uma bengala de ouro. Ela queria lhe perguntar o que tinha acontecido a seu rosto e perna, mas não se atreveu não que ele fosse
reconsiderar. Ele a guiou para fora do clube, a um transporte.
Depois de entrar, subiram três andares até um prédio de apartamentos de escala superior.
Livia relaxou um pouquinho enquanto entravam no grande vestíbulo. Ao menos não seria seduzida em algum lugar ou um canto escuro e sujo. Krista a tinha preparado para o que devia esperar. Até uma estimativa
de quanto tempo demoraria um homem em deixá-la ir. Tomando fôlego para arrumar coragem, Livia acreditou que estaria de volta em seu hotel pela meia noite. E ali não haveria dúvidas e finalmente seu pai
compreenderia a verdade.
Que Deus tivesse piedade dela. Mas tinha tomado sua decisão e uma vez que sua mente se empenhava em algo, ela ia até fim. Não seria convencida do contrário. Sem se falar, tomaram o elevador a um
andar mais alto. Ele a introduziu num apartamento quase do tamanho de seu quarto no palácio. E tão logo fechou a porta, puxou a para seus braços. Desta vez o beijo foi feroz. Muito exigente. Seu beijo
roubou seu fôlego enquanto ele a apertava contra a parede. Sua cabeça nublou ante a poderosa percepção de suas mãos vagando por ela.
Que está fazendo?
Silêncio lhe gritou sua mente, afastando a culpa e o medo.
Era sua vida e a reclamaria.
Com esse pensamento, começou a desabotoar sua camisa.
Adron inspirou agudamente ao sentir sua mão contra seu peito nu. Seu toque o queimou. Mal podia lembrar alguém, fora os médicos, enfermeiras ou terapeutas tocando sua carne. Para seu mérito, ela não
se encolheu assustada ou fez algum comentário sobre as múltiplas cicatrizes que dividiam seu corpo. Inclusive pareceu não notá-las.
Essa era a razão pela que não tinha estado com uma mulher durante tanto tempo. Não queria explicar as cicatrizes. Contar de onde vinham. Ter que enfrentar a sua amante ao amanhecer.
Quem sabe era por que tinha escolhido a uma desconhecida essa noite. Não lhe devia nenhuma explicação. Não lhe devia nada. Não queria ver piedade ou asco no rosto de uma mulher. Se ele vivesse para sempre,
nunca esqueceria a expressão se sua ex mulher quando o viu no hospital depois que foi ferido. "meu deus, transformaram você em um monstro. É repugnante!"

Mas não havia nada em seus olhos verde claros fora curiosidade ou fome. Ela não parecia julgá-lo de maneira nenhuma, e isso é o que ele precisava mais que tudo. Livia mordeu o lábio enquanto passava
a mão pelos músculos tensos de seu estômago e torso.

Livia nunca tinha visto o peito de um homem nu antes, ao menos em nenhum além de filmes. Fascinada por ele, correu suas mãos sobre a pele macia, leonada2 que se estirava duramente sobre os músculos
duros, morenos. Como veludo sobre aço. O contraste a assombrou.
- É tão maravilhoso te tocar. - respirou ela.
Adron foi para trás para olhá-la. Havia uma nota estranha de medo em sua voz, uma suave vacilação em suas carícias. E nesse instante, um sentimento de temor o consumiu. Estava bêbado, mas não tão
bêbado.
-Você é virgem?
Seu rosto ficou de uma cor vermelho forte.
-Merda! - grunhiu ele enquanto se afastava dela.
Sua ereção doía e todo seu corpo ardia. Estava certo de ter encontrado a única virgem que nunca tinha pisado no Golden Crona.
Agarrando sua bengala, coxeou até o bar e se serviu de outro copo. Mas adicionou água. O álcool não lhe fazia nada. De repente, ela estava atrás dele, se apoiando contra suas costas enquanto seus
braços finos rodeavam sua cintura. Ele estremeceu pelo gesto, da percepção de seus seios pequenos contra sua coluna vertebral. E nesse momento, precisou dela ainda mais.
-Quero fazer amor contigo. - sussurrou ela no seu ouvido.
- Ficou Maluca? - começando a olhar para ela.
Ela negou com a cabeça.
-Quero dar de presente minha virgindade. Não quero que me arrebatem.
-Arrebatada por quem?
Ela baixou seu olhar.
-Muito bem. Se não me quer, irei encontrar a alguém que me queira.
Sentiu a espetada de uma rara onda de ciúmes ao pensar em alguém que não fosse ele dentro dela.
O que importa pra você?
E ainda por uma razão desconhecida, estúpida, lhe importava.
Ele apanhou sua mão enquanto ela se afastava.
-Qual é seu nome?
-Livia.
-Livia - repetiu ele. Combinava com ela e esses olhos verde mar cândidos. - Porque se rebaixa com alguém como eu?
Livia fez uma pausa enquanto via o auto rechaço veemente nos olhos frios. Odiava a si mesmo. Era tão óbvio e quis lhe perguntar por que.
-Porque parece agradável.
Ele riu friamente em resposta.
-Agradável? Não sou simpático. Não há nada agradável em mim.
Isso não era verdade. Precisava ser mesquinho com ela. Ele sentia dor, supôs. E isso o deixava brusco.
Mas não o enfurecia.
-Tenho que ir. - disse ela mansamente, lamentando que não fosse ele depois de tudo. - Não tenho mais tempo antes que tenha que voltar, e devo me encarregar disto para amanhã.
- Por quê?
Livia mordeu os lábios enquanto sentia seu rosto enrijecer. Pela manhã, seria inspecionada pelos médicos de Clypper.
Se não encontrasse um homem essa noite, estaria condenada.
-Só tenho que fazer. - permitiu a si mesma que o olhar vagasse por seu corpo exuberante. Tinha ombros largos e um corpo magro, firme e musculoso. Seu cabelo branco contrastava fortemente com a roupa
negra que usava.
Ele era perfeito.
Mas não a queria.
Adron viu a dura determinação em seus olhos, ia encontrar outro homem para que se deitasse com ela. Ele sabia.
Deveria deixá-la ir e ainda...
Por que não eu?
Desde que tinha perdido sua agilidade, tinha evitado as mulheres. Teve medo de passar vergonha pela rigidez de seus movimentos. Mas ela não tinha com quem compará-lo.
Adron agarrou sua bengala. Lembrou um tempo em que poderia tê-la levado entre seus braços e ter corrido com ela para sua cama.
Mas esses dias tinham terminado para sempre.
-Meu quarto é por aqui. - disse ele, agarrando uma garrafa e se dirigindo ao vestíbulo abaixo.
Livia estremeceu enquanto percebia que a tinha convidado a se unir a ele.
Excitada e aterrada, o seguiu pelo corredor elegante ao um quarto no final dele. O quarto do senhor era tão grande quanto o dela. Uma cama de tamanho gigante estava colocada contra uma parede afastada,
com uma vista da cidade embaixo deles.
Ele colocou a garrafa sobre a mesinha de cabeceira, depois foi para uma cadeira ao lado da cama. Com seu rosto sem expressão, sentou se lentamente. Ela viu a dor em seu rosto enquanto ele dobrava
a perna e a movia para tirar as botas. Quis saber o que tinha acontecido, mas não se atreveu a perguntar com medo de aborrecê-lo. Então, ela se aproximou e pegou seu pé com a mão.
Ele olhou para ela, seus olhos alarmados enquanto ela tirava facilmente a bota
-Sabe, nunca fiz nada assim. - sussurrou ela.
-Já que é virgem, imagino que não.
Lambendo os lábios, ela tirou a outra bota.
-Não te machucarei. - ele a reconfortou.
Ela lhe dirigiu um sorriso que retorceu suas vísceras. Como desejava tê-la encontrado antes dessa noite desgraçada. Então, poderia ter sido o amante que ela merecia. Ele podia tê-la tomado lentamente
durante toda à noite. Brincando com ela.
Não sabia como seria agora. Mas tentaria lhe dar prazer. Faria a sua mais condenada tentativa para estar seguro que a primeira vez dela fosse uma boa recordação. Com sua virilha esticada, ele se levantou
e se moveu para a cama. Antes de saber o que ele faria, ela se sentou em seu colo e o beijou. Adron inalou a doçura de seu fôlego enquanto punha as mãos sobre ela. Nunca teria esperado uma virgem tão atrevida.
E era uma aprendiz muito rápida.
Ela aprofundou o beijo e brincou com sua língua.
Oh, sim, isto podia ser divertido!
Ele abriu os botões sua blusa para expor seu pequeno espartilho. Ela gemeu enquanto ele corria sua mão sobre o cetim que cobria seus seios e os apertou suavemente com as mãos. Livia estremeceu ante
o estranho pulsar entre suas pernas. E quando ele soltou a presilha nas suas costas e seu espartilho caiu aberto, tremeu. Ninguém nunca a tinha visto nua antes. Ele cravou os olhos em seus seios nus enquanto
corria suas mãos sobre os bicos endurecidos. Traçou lentos e ardentes círculos ao redor deles, fazendo que calafrios percorressem todo seu corpo.
-É tão linda- respirou ele. Depois, baixou sua cabeça e levou um seio a boca.
Livia estremeceu de prazer enquanto sua língua fazia redemoinhos ao redor de sua carne, sugando, lambendo.
Ela nunca sentiu nada igual.
Ela inclinou se para frente, embalando sua cabeça entre as mãos. Seu corpo ardia. Ele arrastou as mãos até suas costas, passando seus quadris e quando a tocou entre as pernas, ela gemeu.
Ele a contemplou, seus olhos aturdidos e famintos enquanto respirava trabalhosamente. Ele virou-a, colocando-a sobre o colchão, e apagou as luzes. Ela o ouviu tirar o resto de suas roupas na escuridão,
mas não podia ver nada.
Adron desejou vê-la nua, mas não quis nenhuma luz para que ela não pudesse ver seu corpo ferido. Sua virilha estava quente e palpitava por ela, desabotoou o aparato ortopédico duro, espinhoso de sua
perna esquerda e o deixou cair no chão. Depois tirou o mesmo da mão.
Depois, lenta e cuidadosamente, tirou as roupas dela.
Correu a mão na pele suave, quente, deleitando-se com os sussurros de prazer. Nunca antes tomou a uma virgem e ao saber que seria seu primeiro amante acrescentava mais excitação ao momento. Ninguém
a havia tocado. Ninguém além dele.
Inclusive com as asas quebradas e cortadas, se remontou com esse conhecimento. Livia gemeu enquanto ele a cobria com seu corpo largo, ardente. Nunca sentiu nada parecido no que se apoiar a dura força
que se estendia uniformemente por sua carne nua. Ele a beijou com voracidade enquanto separava suas pernas com o joelho. Depois pressionou sua coxa contra o centro de sua feminilidade, o pelo de sua perna
instigando-a intimamente. Ela correu as mãos por suas costas, sentindo a zona acidentada de suas cicatrizes, o músculo e a pele.
-Meu nome é Adron - ele respirou em seu ouvido segundo antes de seguir o contorno de sua orelha com sua língua.
-Adron - repetiu ela, testando as sílabas. Era um nome forte que lhe assentava bem.
Ele a acariciou com as coxas, com a língua e mãos. Arqueando-se, Livia deu boas vindas a seu contato. Era tão malvadamente erótico senti-lo em todos os lugares e não poder ver nada dele. Era como
um sonho. Uma fantasia da meia noite.
Levantando-se, ele colheu seus cabelos e os deixou cair ao redor de seu rosto, depois enterrou as mãos nas sedosas mechas. Ele se apoiou contra ela e pôs os lábios sobre a curva de seu pescoço lambendo
sua carne.
Adron engoliu enquanto se afastava, desejando afanadamente vê-la cara a cara. Em vez disso, levantou a mão para seguir seus contornos. Podia sentir o diminuto afundamento no queixo dela, imaginar
os brilhos verdes em seu rosto ovalado e pequeno, que se tinha introduzido em um coração que havia considerado morto. Ela era impressionante. E durante esta noite, era sua.
Toda sua.
Cerrando os olhos, se moveu baixando por seu corpo, depois amaldiçoou enquanto uma onda de dor aguda subia por sua perna e suas costas. Ela se endureceu embaixo dele.
-O que está errado?
Adron não pode responder. A dor em sua perna era tão intensa que no mesmo instante apagou seu desejo. Ele virou sobre suas costas e lutou por respirar.
-Adron?
A preocupação em sua voz o mexeu com ele.
- Minha perna- disse entre dentes fortemente apertados. - Preciso dos calmantes que estão na mesinha de cabeceira.
-Qual perna?
-Maldição, pegue meu remédio.
-Qual perna? - insistiu ela.
-À esquerda.
Adron amaldiçoou a medida que a dor o rasgava.
-Alto! - grunhiu ele.
-Só relaxe. - disse calmamente enquanto lhe massageava o joelho.
Um estranho calor saiu de suas mãos, penetrando na pele. Adron franziu o cenho enquanto a dor diminuía.
Então de repente, a dor se foi completamente.
Por um minuto inteiro, ficou ali, esperando que a dor voltasse.
Não o fez.
De fato, não doía nada. Nem o peito, nem o braço, nem o joelho. Nada.
- O que fez?
-É apenas temporário- sussurrou ela. - mas por algumas horas não sentirá dor em absoluto.
Adron não podia acreditar. Tinha aprendido a viver em um estado de dor constante, sem parar. A agonia física era tão severa que não podia dormir mais de um par de horas seguidas.
Até agora.
A ausência era inacreditável. Seu coração se encheu de alegria. Estava livre. Mesmo que fosse apenas temporário, ainda assim podia ter um momento pra recordar como foi antes que seu corpo fosse cruel
e vingativamente destroçado. E tudo isso por ela.
A puxou para seus braços e beijou seus lindos lábios.
Livia sentiu seu coração pulsando embaixo dela e ouviu o riso em sua voz.
- Obrigado.
Ela sorriu, Até que ele percorreu seu corpo com beijos. Livia gemeu enquanto o agudo prazer se rasgava por ela. Suas mãos e sua boca eram tão incríveis contra sua pele nua.
Isto era mais do que tinha esperado. Krista lhe disse que um homem que não a conhecesse se apressaria em terminar logo, depois a deixaria ir. Mas Adron tomava seu tempo. Parecia que realmente gostava
de saboreá-la. Era como se verdadeiramente estivesse fazendo amor com ela. E ela se perguntou, se ele era assim tão terno com uma desconhecida, e como seria se realmente a conhecesse? Mas esta noite seria
tudo o que teria para recordar. Quando tudo terminasse o deixaria, e este momento não seria mais que uma querida recordação que ela levaria consegue para o resto de sua vida. Esta noite, eram só eles
dois. E ela o apreciaria.
Adron sorveu o aroma e o sabor da pele enquanto mordiscava a carne nua de seu quadril. Seu sabor era aditivo, e seu cheiro... Podia aspirar à essência doce de flores para sempre. Suas mãos suavemente
acariciaram seu cabelo e seu pescoço de um modo que o fez arder. Nunca teve uma noite como esta. Uma noite sem demônios. Sem recordações.
Ela o absorvia e gostosamente se entregou a ela.
Era seu anjo de misericórdia, salvando-o de seus pecados. Salvando-o de sua tristeza e sua solidão. Guardaria este momento tranquilo como se fosse um tesouro para o resto de sua vida. O acalentaria
e acompanharia quando seu corpo voltasse a ser odioso. Seu coração estava enternecido por ela, separou as pernas e colocou seu corpo entre elas. Livia mordeu o lábio, esperando que entrasse em seu interior.
Não o fez. Em vez disso, beijou descendo por sua coxa enquanto a acariciava com as mãos no centro de seu corpo.
Ela exultou de prazer por seu toque. Era doce e pura felicidade. E levou seu tempo envolvendo-a com seus dedos, explorando, acariciando, acariciando.
- É assim- respirou ele contra sua perna enquanto ela se esfregava contra sua mão.
- Não se envergonhe.
Ela deveria estar, mas não estava.
Ao menos não até que ele a tocou com sua boca.
O cego êxtase a rasgou em pedaços.
-Adron? - perguntou ela, sua voz rouca e estranha. - Se supõe que deve fazer isso?
Ele deu uma longa e profunda lambida.
-Se sente bem?
-Oh, sim.
-Então se supõe que devo fazer. - sem outra palavra, a tomou com sua boca.
Livia se contorceu entre seus braços enquanto sua língua a atormentava. E quando ele deslizou um dedo dentro dela, pensou que morreria de prazer.
Krista disse que deveria esperar dor, mas não havia nada doloroso em suas carícias. Nada exceto o céu. Ela jogou sua cabeça para trás enquanto ele movia seu dedo em seu interior, se aproximando, se
aproximando, seguindo o ritmo com sua língua. Assaltada por fortes e fogosas emoções, Livia sentiu seu corpo tremer e se sacudir como se tivesse mente própria. Seu êxtase se remontou até que acreditou
que não poderia aumentar mais e depois quando esteve pronta para implorar que parasse, seu corpo se rompeu.
Livia gritou quando seu clímax chegou forte e rapidamente.
Mesmo assim ele continua jogando com ela. Seu dedo e sua língua lhe deram prazer até que sua carne se pôs tão sensível que não pode seguir suportando suas carícias.
-Por favor - chorou ela. - Por favor, tenha piedade de mim.
Adron riu ante seu tom, e se assombrou do som. Não podia se lembrar a última vez que tinha rido.
Se jogou para trás mais continuou com seu dedo dentro dela por mais um instante. Podia sentir seu hímen ainda intacto. Seu corpo ardia, exigindo tomá-la. Mas não podia fazer isso. Mas não tinha feito
nenhum mal verdadeiro. Uma vez que rompesse essa barreira, não teria volta atrás. Não ocorreria outra vez. Seria como quando decidiu...
Sobressaltou se ante a recordação. Sua vida tinha se arruinado por um ato impulsivo. Não deixaria que ela arruinasse a sua do mesmo modo. Ela era amável e doce. Um coração puro em um mundo de corruptos.
Não a deixaria perder isso. Cerrando os olhos, desconcertou se por ter piedade dela. Tinha feito o possível por voltar e reinar em seu corpo traidor. Tinham-se passado anos desde que tinha feito algo nobre.
Anos desde que tinha querido fazer algo nobre.
Abaixou se para pegar a manta e a cobriu.
Livia fez uma pausa enquanto ele deitava de costas e a mantinha perto. Adorou ao sentir seus braços a seu redor, mas não parecia que ele fosse fazer nenhum movimento para...
-Adron?
- Sim?
-Não chegamos até o fim, não é verdade?
Ele esfregou sua bochecha contra seu ombro.
-Te dei prazer, Livia. O que mais quer?
Ela começou a olhá-lo, mas na escuridão tudo que podia ver eram os vagos contornos de seu rosto.
-Mas você não... você sabe.
-Eu sei.
-Por quê?
-Livia, não acha que deveria esperar até encontrar alguém por quem se preocupe?
-Me preocupo por você.
Adron bufou.
-Ainda não me conhece.
Ela moveu seus braços e levou sua mão contra sua bochecha.
-Você está certo, não te conheço. Mas compartilhei meu corpo contigo. Quero que termine.
Ele se afastou dela.
-Livia...
-Adron. Se você não o fizer, então serei forçada em um casamento com um homem mais velho que meu pai. Não quero que ele me toque do modo que você o fará. Por favor, ajude-me. Se eu não for mais virgem,
rechaçará o matrimônio. Não posso me casar com ele. Não posso.

Suas palavras o tocaram. Uma imagem de Lia passou como um relâmpago por sua mente. Ele tinha se submetido ao costume andariano para se casar com ela. E ela lhe tinha mostrado um significado completamente
novo da palavra inferno. Era algo que não desejava a ninguém.
Livia roçou com sua mão a seu peito, baixou por seu estômago. Suas vísceras se apertaram ferozmente ante seu toque, Adron sentiu suas unhas roçando o pelo de suas pernas até que ela o prendeu em sua
mão. Sua virilha se endureceu e inclusive inchou mais. Nesse instante, supôs que estava perdido. E quando ela o beijou, todo seu mundo veio abaixo.
Livia não estava preparada para sua reação. Ele soltou um grunhido grave e a girou, imobilizando-a contra o colchão. Ele era selvagem e indômito enquanto beijava seus lábios, depois enterrou o rosto
em seu pescoço onde a lambeu e brincou com sua carne, queimando-a completamente. Ele alcançou a parte baixa dela entre ambos, acariciando-a até que ela perdeu a razão, toda a prudência.
Depois, ele abriu mais suas pernas. Ela sentiu a ponta de sua virilidade contra sua umidade.
Em um gesto doce, ele levou sua mão na sua e a segurou por cima de sua cabeça. A beijou ligeiramente nos lábios, depois se deslizou profundamente em seu interior. Enquanto a enchia, ela mordeu o lábio
inferior para evitar gritar pela dor inesperada que se meteu entre seu prazer. Ele era tão grande que seu corpo doía pela estranha sensação. Mas estava feito.
Já não era uma virgem.
Adron segurou seu desejo, esperando que o corpo dela se ajustasse a ele. A última coisa que queria era machucá-la, mas pelo forte apertão que ela mantinha em sua mão, sabia que ela o escondia. Também
tinha melhor critério que acreditar que alguém poderia sentir prazer e dor ao mesmo tempo. E se negava a ferí-la esta noite. A contra gosto, soltou sua mão e se levantou sobre seus braços para olhá-la
nos olhos. Estava acostumado a escuridão. Tanto que viu como seus olhos estavam fortemente apertados.
-Não tenha medo - sussurrou ele, em seguida baixou sua mão por seu corpo até tocá-la entre as pernas.
Livia suspirou enquanto sua mão acariciava seu clitóris. A dor diminuiu enquanto uma onda de prazer crescia.
-Assim - disse ele. Depois, lentamente, começou a mexer seus quadris contra ela.
Livia se arqueou enquanto o calor era eliminado por seu ardente contato. Era tão bom tê-lo dentro dela e cada golpe parecia chegar mais fundo enquanto ela se agarrava a seus ombros largos, musculosos.
Nunca teria imaginado que pudesse se sentir tão fantástica.
Adron observou seu rosto enquanto se entregava a ele. Apertou os dentes ante o sentimento incrível. Ela estava tão úmida e quente embaixo e ao redor dele. Tinha esquecido o prazer de estar entre os
braços de uma mulher. Tinha esquecido o sentimento incrível de alguém que simplesmente o segurava na escuridão. Ele baixou e a atraiu a seus braços onde acomodou sua cabeça entre suas mãos. Sua respiração
caiu contra seu ombro nu, queimando-o. Ela virou a cabeça para beijar seu pescoço enquanto corria suas mãos sobre suas costas.
Ele grunhiu, se colocou mais quente pelo prazer disso.
Livia passou sua perna ao redor de sua cintura fina. Ele a segurava com tanta ternura que tocou profundamente o interior de seu coração. Krista disse que ele a usaria sem nenhum sentimento por ela.
Mas não se sentia assim. Não pela forma em que ele a segurava, como se tivesse medo de deixá-la ir. Ele voltou a seus lábios e ela gemeu ante o sabor de sua língua. Acariciou mais rápido. Mais profundamente.
Mais duramente. Livia o segurou enquanto seu prazer começava de novo.
Oh, Deus! O que ele fazia para que ela se sentisse assim?
E esta vez , quando chegou seu clímax, ele se uniu a ela. Ele expressou seu prazer com um grunhido grave enquanto dava o último e profundo golpe, e estremecia entre seus braços. Adron se desabou
sobre ela. Completamente esgotado, se colocou ali, segurando-a enquanto começava a flutuar descendo do céu para seu corpo. Isso ao sexo sem sentido. Não teve nada sem sentido no que tinham compartilhado.
E o que mais o aterrorizou foi o fato de que não queria que ela fosse embora.
Não queria voltar ao vazio desocupado de sua vida. Esteve sozinho durante tanto tempo. Tinha vivido sem ninguém fora os empregados e a família. Mas ela tinha mudado isso. Ele não queria voltar.
-Isso foi assombroso. - respirou ela contra seu ouvido. - Podemos fazer de novo?
Ele riu, e ficou surpreso ao sentir que seu corpo já estava duro.
-Sim, podemos.
De fato, não pararia até que ela voltasse a suplicar por clemência.


Capítulo 2


Adron despertou lentamente com o sentimento mais incrível que jamais tinha conhecido. Livia a seu lado. Ela jazia acomodada entre seus braços, com seu rosto para ele. Não estava muito seguro de que
horas dormiram. Tudo o que sabia é que nunca experimentou tanta paz. Tanto calor.
E não tinha dor. Nem físico e nem mental. Celebrando o momento, enterrou o rosto em seu cabelo, e inspirou o perfume fresco e doce dela. Seu corpo despertou imediatamente.
-Como?
Depois da noite que tinham compartilhado, deveria ter estado saciado por dias e ainda assim a desejava ardentemente de um modo quase desumano. Não entendia. Afastou se para beijar seu ombro, depois
ficou paralisado ao ver sua pele na luz débil da manhã. Franzindo o cenho, passou a mão sobre seu ombro nu e nas cicatrizes feias dela.
Ela tinha sido golpeada. Gravemente, pelo aspecto que tinham. Era uma escrava fugitiva? Ela suspirou alegremente e se aconchegou nele. Adron esqueceu as cicatrizes enquanto seu traseiro chocava em
sua ereção. Apertou seus braços ao redor dela enquanto abria suas pernas com suas coxas. Que Deus lhe ajudasse, mas queria mais dela.
Livia acordou com a sensação de Adron nas suas costas, enchendo-a de novo.
-Oh, meu Deus! - respirou ela enquanto ele se introduzia dura e profundamente em seu corpo.
Mordendo os lábios, exultou de prazer.
-Não se cansa nunca?
-De você, não.
Ela sorriu ante isso. Ninguém nunca a tinha feito se sentir tão querida. E tinha que admitir, uma mulher poderia se acostumar a acordar assim. Cerrando os olhos para saborear os golpes longos, deliciosos,
se entregou a ele. Chegou um instante antes dele.
Livia virou para ver um sorriso cortês em seu rosto enquanto cravava os olhos nela.
-Obrigado. - disse ele - por tudo.
Ela lhe devolveu o sorriso.
-Obrigada - colocou seus lábios contra os dele.
Os sentidos de adron se alvoroçaram enquanto colocava suas mãos contra sua cabeça. Definitivamente a manteria em sua casa durante o resto do dia.
-Adron, você não vai acreditar - declarou a voz de seu pai ao mesmo tempo que a porta de seu quarto se abria.
Olhando-os boquiaberto, deitados entrelaçados, seu pai se congelou. Depois se desatou o inferno. Livia se enfiou sob os lençóis no mesmo instante em que se ouvia a maldição pestilenta. Adron a olhou
assustada embaixo dos lençóis quando seis homens rodearam seu pai. Dois deles levavam as túnicas reais Vistan, marcando-os como o Imperador e seu herdeiro. Os outros quatro levavam o uniforme cinza escuro
dos guarda-costas imperiais.
-Eu disse pra vocês que era verdade - grunhiu o Vistan mais velho. Seus olhos café escuro se encheram de ódio enquanto inclinava a cabeça para contemplar ao pai de Adron. Com seis pés, e um antigo
assassino da Liga, seu pai não era do tipo de homem a quem se pudesse dirigir a palavra, salvo no mais reverente dos tons.
Não a menos que se quisesse morrer, de todos os modos.
-O informante estava certo quando disse que seu filho saiu com ela.
Adron arqueou uma sobrancelha ante a mofa desafiante na cara do homem. E foi depois que percebeu de que o Imperador Vistan tinha o mesmo tom e cor de cabelo que a mulher em sua cama. E enquanto examinava
ao Vistan mais velho, viu mais confirmação sobre quem era Livia realmente.
Merda!
-Puta! - disse o homem mais jovem enquanto empurrava os lençóis para trás e agarrava Livia.
Adron afastou a mão do braço dela e o jogou para trás com um empurrão.
- Ela não fez nada de errado.
Esquecendo sua nudez, Adron saiu da cama.
-Toque-a e te arrancarei o coração.
Havia fúria na cara do irmão dela, mas Adron viu o medo nos olhos do homem enquanto digeria a altura, constituição e cicatrizes brutais de Adron. Seu pai, sem dúvida, não estava tão intimidado.
- Agarrem - disse aos seus guardas.
Livia abaixou sua cabeça enquanto envolvia o lençol ao seu redor. Os guardas a levantaram da cama e a obrigaram a se levantar ante seu pai. Adron odiou a aparência assustada de seu rosto.
E a vista dos lençóis manchados de sangue deu um forte aperto no estomago. Não havia dúvida do que os dois tinham feito.
Ou de quão inocente tinha sido antes de que ele a houvesse tocado.
Seu pai a percorreu com um olhar furioso e mordaz.
-A modéstia não é para uma puta que abre suas pernas para um homem que encontra em um bar sujo.
Antes que Adron soubesse o que ia fazer, seu pai puxou bruscamente o lençol com que se cobria.
- Tirem e golpeiem.
-Maldito inferno- expressou Adron com um grunhido enquanto agarrava ao primeiro guarda e o afastava a empurrões de Livia.
A levou para trás de suas costas e recolheu o lençol do chão, depois o envolveu ao redor dos dois. Livia se levantou tão perto de suas costas que ele pode sentir seu estremecimento. E isso o enojou
mais. Se seu pai queria uma briga, estava pronto pra lhe dar. Ninguém iria ferí-la pelo que tinha feito. Não a menos que quisessem um sabor dele primeiro.
-Garoto - grunhiu seu pai - Este não é seu problema. Já causou bastante mal.
Seu pai deu um passo à frente.
-O que diz respeito a minha esposa, é da minha conta.
Livia ficou atônita logo que as palavras deixaram os lábios de Adron. À noite, ela não soube que ele era o herdeiro Andarion. Mas sabia que o Imperador Nykyrian Quiakides tinha chegado uns dias depois
dela e sua família.
Certamente, era comercializar com o pai de Adron o que os tinha levado a Kirovar pra começar. Agora que os dois homens estavam juntos, via as similaridades entre pai e filho. Nykyrian tinha o mesmo
cabelo loiro com fios grisalhos, a mesma mandíbula forte, esculpida. Também compartilhavam a mesma altura e robustez.
-É verdade? - exigiu seu pai encolerizado - É sua esposa?
Livia engoliu. Se dissesse que sim, a lei Andarion os reconheceria como casados.
-Adron - disse seu pai severamente - nos faça entender o que esta acontecendo.
Adron começou a confrontá-lo. Inclinou seu queixo para ele até que levantou seu olhar para seus frios olhos azuis.
-Depende completamente de você.
Consternada por sua oferta, cravou os olhos nela. Nunca tinha conhecido um homem tão honrado. Poderia tê-la deixado enfrentar a fúria de seu pai e ainda assim lhe oferecia um santuário.
-Está certo disso? - sussurrou ela.
-Não- disse ele com um indício de sorriso - mas então, nunca estive seguro de muitas coisas em minha vida.
Ela olhou a cara furiosa de seu pai, e a seu irmão. Se fosse para casa bateriam nela até que desmaiasse. Mas se ficasse... Ela não tinha ideia de como seria. O conhecido ou o desconhecido.
- Pegue-a. - ordenou seu pai.
Adron ficou entre eles.
-Nykyrian, diga a seu filho que se afaste. Interfere no negócio real Vistan.
Pela primeira vez, Livia notou as profundas cicatrizes, furiosas que dividiam o corpo de Adron. Suas costas estavam completamente cobertas com elas. Era como se alguém o houvesse cortado em pedaços
em algum momento. Depois, seu olhar se fixou na tatuagem de dragão e na adaga em seu ombro esquerdo que o marcava como um assassino da Liga.
Tremeu. Não sabia absolutamente nada dele. Nada além da doçura de seu toque. Nada além da forma em que tinha feito se sentir quando a beijava. A forma em que a fazia sentir amada. Segura.
E neste instante tomou uma decisão.
- O que acontece comigo é da conta de meu marido - disse ela tranquilamente.
O rosto de seu pai endureceu.
-Então sua relação com nossa casa esta cortada. - percorreu com o olhar o seu irmão. - Vem, Prinam.
Os traços de seu irmão se suavizaram um pouco antes que ele se contivesse. Sem falar, seguiu a seu pai para fora do quarto.
Nykyrian deu um passo à frente com uma luz divertida em seus olhos verdes.
- Há coisas que devem correr por nosso sangue.
Adron franziu o cenho.
-Perdão?
-Pergunte um dia a sua mãe como terminamos casados. - olhou a Livia. - Enquanto isso, bem vinda a nossa família, Vossa Alteza.
O cenho franzido de Adron se aprofundou enquanto olhava a seu pai com suspeita.
- Está entendo, o significado sobre isto. Deveria ter medo?
Nykyrian riu.
-Provavelmente. Espero que isto signifique que vá se incorporar ao mundo de novo. Sentimos sua falta.
Um tique começou na mandíbula de Adron. O rosto de seu pai era amável e não menos mordaz quando sorriu a Livia.
-Sabe, terá que trazê-la ao palácio para encontrar ao resto de seus irmãos caprichosos.
-E mamãe?
Ele inclinou a cabeça. Algo estranho cintilou pelos traços de Adron. Algo que Livia não podia definir, mas parecia que Adron queria evitar ver sua mãe.
-Quando?
-Esta noite.
-Jayce estará ali lá? - perguntou Adron.
-É seu irmão.
O ódio flamejou nos olhos de Adron.
-É teu filho. Deixou de ser meu irmão no dia que negou manter o código da Liga.
Nykyrian suspirou e depois olhou para Livia.
-Espero que saiba o que conseguiu.
O ruim era que não sabia. Nykyrian os deixou. Agora que estavam sozinhos, a realidade do que tinha feito caiu sobre ela com estrépito. Estava casada. Com um desconhecido.
-Muito bem, isto é interessante. - disse Adron, começando a olhá-la. - Não sei nada de você, mas quando fui ao Golden Crona ontem à noite, em nenhum momento tive a intenção de achar uma esposa.
Ela riu.
-Eu estava ali para evitar um marido, honestamente posso dizer que essa ideia nunca passou por minha cabeça, tampouco.
Ele aconchegou seu rosto em suas mãos e deu um sorriso ardente, com covinhas. E quando a beijou, ela estremeceu ante a ternura de seus lábios.
-Meu Deus, isto é tão bom. - disse ele enquanto mordia o canto de sua boca - Poderia te beijar para sempre.
O desejo a apunhalou com suas palavras.
-Sei que não é tão ruim.
Ele riu depois a ergueu nos braços. Livia ficou sem fôlego ante a percepção inesperada de seus fortes braços rodeando-a. Mas quando chegou à cama, ele cambaleou. A agonia deformava seus traços enquanto
a soltava e caía de joelhos.
-Adron? - perguntou ela, se agachando ao seu lado.
Ela podia dizer pelo seu rosto que ele sentia muita dor para falar.
-Aqui - disse ela. - deite-se no chão.
Ela o ajudou a se recostar, depois ergueu seu joelho com uma mão. Livia se esforçou ao exigir seus poderes, mas se negaram a vir.
Não!
Adron se deteve como se algo vil se cravasse em seu cérebro. Contorceu se pela dor e ela se doeu por não poder ajudá-lo. Com seu coração martelando, ela correu até a mesinha de cabeceira.
- O injetor- grunhiu ele do chão. - Há uma ampola pra isso na gaveta.
Livia os encontrou e os levou para ele.
Ele colocou a ampola no injetor depois a segurou contra seu estômago e puxou o gatilho. O suor empapava seu corpo enquanto estremecia. Livia o cobriu com uma manta e depois segurou sua cabeça em seu
colo. Adron tentou se opor a dor. O feria menos quando o fazia e mesmo assim o destroçava com algo parecido a uma furiosa tortura que o deixava fraco. Esgotado.
Ele ficou com o olhar fixo em Livia enquanto ela acariciava seu cabelo com a mão e o segurava. Ele nunca permitiu que ninguém se aproximasse dele quando estava assim. Não quando tinha escolha, de
qualquer forma. Mas tinha algo nela que apaziguava seu espírito. Melhor ainda, não via desprezo nem pena em seu rosto. Com uma calma tranquila fixava seus olhos verdes nele. Depois de alguns minutos, a
dor diminuiu o suficiente para que pudesse se mover de novo.
Endireitou se lenta e cuidadosamente, mas sentiu como se cada músculo em seu corpo fosse destroçado de novo. Se esforçou para levantar. Ela se moveu para ajudá-lo.
-Não o faça. - disse ele com mais rancor do que queria empregar. - Posso me levantar sozinho.
Ela aceitou seu tom brusco no ato.
-Posso te trazer algo?
-Uma garrafa de bebida- ele se pôs de pé contra a cama.
-Adron, é de manhã. Não deveria comer algo?
Ele se expressou com um olhar furioso que sempre fez sua família correr a toda velocidade se afastando dele.
-Me consiga algo para beber.
Ela se vestiu e voltou uns minutos depois com um copo de leite.
-Maldição, Livia! Não sou um menino.
-Então deixe de se comportar como um.
Antes que pudesse responder, a campainha da porta soou.
-Devo atender? - perguntou ela.
-Não me importa o que faça.
Livia suspirou ante seu tom hostil enquanto ele mudava de posição ligeiramente na cama. Foi até a porta e a abriu para encontrar uma morena alta e atraente, pouco vestida. A camisa curta e vermelha
e a apertada saia de couro preto teriam feito os pais de Livia arderem de vergonha. A mulher tirou os óculos escuros fazendo que Livia pudesse ver suas Iris vermelhas e pupilas brancas que a marcavam como
uma mulher Andariana de raça pura.
-Deve ser Livia. - disse ela alegre. - Sou Zarina.
Livia arqueou uma sobrancelha.
-Adron é meu irmão. - acrescentou ela. - Papai nos contou do casamento e tive que vir para te ver.
Duvidando do que fazer com esta estranha irmã, Livia a deixou entrar.
- É realmente bonita - disse Zarina enquanto entrava e deixava cair à bolsa no sofá de Adron. - Mas não te teria identificado como seu tipo.
-Perdão?
-Adron sempre sentiu fraqueza pelas mulheres loiras com pernas longas e a profundidade de uma folha de papel. Você parece que realmente tem cérebro e alma.
Livia arqueou uma sobrancelha pelas suas palavras.
-Deveria estar ofendida?
Zarina riu.
-Por favor, não fique. As únicas pessoas que eu ofendo a propósito são os meus irmãos. E falando deles, onde está o grande mal humorado? Papai disse que estava de pé e caminhando sem bengala.
Antes que Livia pudesse responder, um barulho estrondoso se ouviu do quarto. Foi correndo com Zarina a um passo atrás dela até Adron. Logo que entraram no quarto o viram se apoiando com uma mão na
mesinha de cabeceira. Livia ficou sem fôlego ao ver o sangue cobrindo-o, e cada vez que tossia mais sangue saía.
-Oh, Meu Deus! - disse Zarina ofegante, correndo para o comunicador.
Aterrorizada, Livia foi até seu marido. Ele abriu a boca para falar, mas só cuspiu mais sangue. Todo seu corpo tremia, caiu de costas na cama onde se contorceu em agonia. Quando ela tentou tocá-lo,
ele a afastou fortemente.
-Uma unidade med tech está a caminho. - disse Zarina no mesmo instante que se juntou a eles.
Livia fixou o olhar em Adron. Viu o tormento e a vergonha em seus olhos. Ele estava envergonhado. Mas por sua vida, não poderia imaginar por que.
Então caiu na conta. Ele, um orgulhoso assassino da Liga, estava nu e necessitado frente a sua irmã mais nova. Se todo o resto não era o bastante mau...
Ele tinha que sofrer a indignidade.
Ela jogou um olhar a Zarina.
-Pode nos dar uns minutos a sós?
Zarina vacilou antes de assentir com a cabeça.
-Vou chamar nossos pais e lhes informar -saiu do quarto e fechou a porta.
Adron franziu o cenho.
-O que está fazendo?
-Estou limpando você.
Ela viu a ira e o alívio em seus olhos antes de que deixasse de lutar contra ela. Ela pensou que a cólera era porque necessitava ajuda para limpar-se, e o alívio pelo fato de que não ia ser transportado
nu.
Algo que foi confirmado por seu débil e tímido agradecimento.
-Obrigado - sussurrou uma vez que ela o vestiu.
Ela acabava de entregar outra toalha limpa para evitar que manchasse a roupa, quando a med tech atracou. Zarina se reuniu com ela, enquanto Livia foi a um canto do quarto para deixar espaço para
trabalhar.
Inseriram um tubo na garganta de Adron e lhe dera outra injeção quando iniciaram a IV. Ele ficou ali, sua aceitação tranquila e as suas ações disseram a ela que estava muito acostumado a essas coisas.
Bom Deus, o que tinha acontecido com ele? Seria possível que foi pelo que eles fizeram? Ele ter feito sexo com ela quase o matou? O pensamento a horrorizou. Enquanto a maca passava, Adron lhe enviou um
olhar cansado, envergonhado, afastando-o depois.
-Vamos, - disse Zarina da porta- te levarei ao hospital.
Livia a seguiu até um veículo e entrou.
-O que aconteceu?
Zarina se sobressaltou como se as recordações fossem muito dolorosas para lembrar.
-Faz oito anos Adron era o assassino da Liga que foi designado para matar Kyr Omaindon.
Livia conhecia perfeitamente o nome. A crueldade sedenta de sangue de Kyr era de pesadelo. Tinha deixado um rastro de estupros e assassinatos durante os anos no setor Brimen.
Zarina passou a mão pelo cabelo.
-Quando Adron entrou na casa de Kyr para matá-lo, Kyr agarrou uma das servas e se fechou dentro de seu escritório. A mulher estava grávida, e Adron se culpou por deixar que a pegassem.
Livia lembrou o famoso fato por completo. Foi coberto durante horas pelos meios. E tinha acabado quando um assassino da Liga permitiu que o algemassem, e depois se trocou pela mulher grávida. Agora
sabia o nome e o rosto desse assassino. Pior, conhecia seu toque doce. Zarina percorreu os setores lotados.
-Kyr decidiu fazer de Adron um exemplo. Queria se assegurar que a Liga pensasse duas vezes antes de enviar outro assassino atrás dele. Então, torturou Adron durante dias inteiros, depois o cortou
como se fosse um assado. Uma semana depois que Adron desapareceu, meu irmão Jayce o encontrou meio vivo dentro de uma lixeira.
Livia piscou para afastar as lágrimas de seus olhos quando imaginou o que tinha sido para Jayce encontrar seu irmão nesse estado.
-Porque Adron odeia Jayce?
-Porque segundo o código da Liga, quando um assassino encontra a outro assassino que foi aleijado ou desfigurado, ele... se supõe que o mate. A ideia é morrer com honra e dignidade.
Livia clareou a voz enquanto suspirava por seu marido e sua família.
-Jayce não pode fazê-lo.
-Não, não pôde. Ambos eram muito próximos. Mas Jayce nunca nos teria enfrentado se o tivesse matado, ou o deixado morrer. - Zarina suspirou. - Queria que você pudesse ver Adron como era antes - ela
sorriu. - Sempre estava correndo de lá pra cá em grande velocidade, brincando, rindo. Agora, tem dias que não pode sair da cama pela dor.
Livia lembrou ter visto durante um momento esse Adron brincalhão à noite.
-O que sucedeu a Kyr?
O rosto de Zarina contraiu.
-Meu pai e meus tios fizeram pedaços. Literalmente. Esta é uma morte que só desejo a ele e a ninguém mais. Provavelmente ainda exista uma pobre pessoa da engenharia que encontre pedaços dele no
esgoto onde foi jogado.
Livia jamais tinha tolerado a violência de qualquer tipo, mas depois de ver Adron e a constante dor com o que vivia, compreendia suas ações. Inclusive como uma pacifista, ela teria feito um dano
grave a qualquer pessoa que ferisse seu filho assim.
Agora, ela só queria fazer o melhor para ele.
Sim como se ela soubesse como...
Mas uma coisa era certa, não ia deixar assim. Sozinho. Atormentado, Isolado. Devia muito para isso. Ele tinha dado uma nova vida, livre de restrições e castigos severos.
Formou um nó na garganta ao dar conta que pela primeira vez estava fora no mundo sem estar coberta de pés a cabeça, sem guardas que franzissem o cenho e sem velhas acompanhantes que advertissem
que não falasse nem tocasse nada.
Era livre porque Adron se pôs de pé diante dela pela simples razão de que era um ser humano decente. Um homem assim merecia a felicidade e o amor.
De algum jeito, ela o faria rir de novo. Mesmo que isso a matasse.


Capítulo 3


Adron afastou a máscara de oxigênio de seu rosto.
Seu médico lhe dirigiu um olhar irritado.
-Deve deixar isto, precisa dele.
-Não posso respirar com isto na frente.
- Só respira e ponto. - Theo devolveu ao lugar a máscara de oxigênio.
Adron entrecerrou os olhos, mas como sempre, Theo não se importou. Nos últimos oito anos sua luta de vontades se tornou lendária na fábrica de intrigas do hospital.
Theo passou uma mão por seu cabelo negro com mechas grisalhas e o olhou de cara feia.
-Não posso acreditar que ainda tentou ter relações sexuais na sua condição. Em que estava pensando?
Adron tirou a máscara de um puxão.
-Não sou um eunuco frígido.
-Não, não é. - disse Theo, devolvendo a máscara a seu lugar. - É um homem cujos órgãos internos mal estão juntos. Sua funcionalidade é mínima no melhor dos casos, e qualquer tensão neles pode te
matar. Quantas vezes têm que dizer que não pode aplicar nenhuma pressão em seu abdômen?
-Está bem, se tenho que morrer melhor que vá numa boa explosão.
-Não é engraçado.
Sua garganta estava apertada, Adron fechou os olhos. Uma imagem de Livia navegou por sua mente, e a amaldiçoou. Theo fechou sua IV.
- Não usava a faixa do peito.
-Faz calor e me arde.
-Goste você ou não, Adron, uma queda mal dada e poderia quebrar e entrar em colapso a cada osso de seu peito.
-Adron retirou a máscara do rosto de novo.
-Não me importa. Não vou usar essa monstruosidade. Faz me parecer um fenômeno.
Theo revirou os olhos.
- Um dia essa teimosia te matará. - mais bruscamente que antes, Theo devolveu a máscara em seu lugar. - Desse modo, há uma razão porque não te dou um remédio que tire completamente sua dor. Precisa
dela para saber as limitações de seu corpo ferido. E diga a sua esposa que foi uma ideia bonita, mas que no futuro será melhor que não deseje te ajudar. Não a menos que queira se converter em meu convidado
permanente aqui no Hotel Inferno.
Theo parou na porta e se virou para enfrentá-lo.
-E da próxima vez que queira ter relações sexuais, melhor encontrar um modo de fazer sem aplicar nenhuma pressão em seu peito ou abdômen.

- Oi, irmão mais velho.
Adron abriu os olhos para ver Zarina recostada no quarto. Tentou dar um sorriso, mas não pode.
-Theo me disse que estava bem para te ver, Como se sente?
Zarina deu um passo indeciso dentro do quarto, e foi quando viu Livia atrás dela. O desejo por sua esposa fez os pelos de suas costas se arrepiarem. O vestido azul fazia sua pele resplandecer e esses
olhos grandes, felinos, que mostravam tanta ternura, o faziam doer. Adron apertou os dentes enquanto uma onda de desejo o agarrava. Não podia ter a oportunidade de vê-la, sabendo que era sua e que nunca
mais poderia tê-la. Era o golpe mais cruel de todos.
-Saia. - disse ele, virando a cabeça para não vê-las.
-Adron?
O som da voz suave de Livia o enrolou como uma terna carícia e o agarrou como glicerina num copo. Ela respondeu ao chamado e quando a sentiu tocar seu braço...
-Afaste-se de mim! - grunhiu ele, afastando-a com força. Dirigiu um olhar furioso a sua irmã enquanto os monitores soavam com estrondo.
-Leve-a a um advogado e nos divorcie. Agora!
Theo chegou correndo com dois enfermeiros atrás dele.
-Fora! - lançaram à ordem as duas mulheres. - Eu disse a vocês que não o contrariassem.
Livia sentiu uma onda de lágrimas ao ver o doutor forçando Adron a permanecer deitado e o som de Adron amaldiçoando a todos. Com a garganta apertada, olhou para Zarina.
-O que fiz?
-Não é você. - disse ela, abraçando-a quando deixaram o quarto e foram ao vestíbulo. - Adron somente te culpa pelo que Lia fez a ele.
-Lia?
-Sua primeira esposa.
Livia tropeçou.
-Ele foi casado antes?
Ela inclinou a cabeça.
-Sim. E ela foi uma verdadeira cadela. Já que era a herdeira Huris, seu pai tinha negociado o casamento entre eles quando tinham vinte anos. Lia só esteve de acordo porque queria um marido troféu
e como oficial de mais novo no cargo da história da Liga e herdeiro do império de meu pai, Adron era um candidato de primeira qualidade para ela.
-Mas nunca se deram realmente bem. Três semanas depois que tinha sido encontrado, meu pai, minha mãe e eu estávamos em seu quarto de hospital, tentando lhe dar motivos para viver. De repente, ela
apareceu com os papéis do divórcio. Entregou a ele e disse que era muito nova para ser sua babá.
Livia estava consternada.
-Como ela pode fazer algo assim?
-Não faço nem ideia, mas ainda que viva uma eternidade, nunca me esquecerei do olhar no rosto de Adron. Mas então, pessoalmente, acho que foi o melhor que podia acontecer. Só desejava que agora tivesse
escolhido um melhor momento. - Zarina se deteve e lhe dirigiu um olhar duro. - Então, vamos a um escritório de advogados?
Livia mordeu seus lábios indecisos. Adron chegou tão tarde que a final se perguntou se realmente ainda estava mentalmente são. As cicatrizes físicas que conhecia eram as únicas que não a assustavam.
Ela registrou os olhos de Zarina, em busca da verdade.
-Diga-me, ele é psicótico ou sádico?
-Não. Mas está zangado e amargurado. Nunca foi do tipo de pessoa que depende de alguém para qualquer coisa. O humilha cada vez que tem que pedir algo.
Ela podia entender isso.
-Então, leve-me para casa.
Zarina sorriu.
-Sabia que gostava de você por alguma razão.

Livia passou tanto tempo como pode se inteirando de coisas sobre Adron, enquanto esperava que voltasse para casa. Zarina e seus irmãos gêmeos, Taryn e Tiernan, foram uma fonte de informação. E nessa
tarde, trouxeram uma caixa cheia de discos de holo-cubo. Sentando-se sozinha no quarto, pegou um grupo de discos e os introduziu. O primeiro era de Adron com um homem alto, de cabelo esculpido. Parecia
andar pelos vinte anos. O cabelo longo de Adron estava solto, se espalhando por seus ombros enquanto ambos jogavam um jogo de tabuleiro.
Maldição, mal reconhecia seu lindo marido. Seu rosto intacto, seus olhos resplandecendo como fogo azul.
-Vamos, Devyn, mova-se.
-Deixe-me, Adron, estou pensando.
-Sim, posso ver a fumaça saindo de suas orelhas pela tensão.
Devyn sorriu debochadamente.
Antes que Devyn pudesse dizer algo, a água engolia os dois.
Adron estendeu as mãos.
-Que diabos?
Os homens olharam para uma menina, Zarina com dez anos, com uma mangueira.
-Oh, Rina - disse Adron com um falso grunhido. - Vai morrer.
Deixando cair à mangueira, Zarina gritou e correu, mas Adron a alcançou rapidamente.
-Traga-a Adron! - Livia reconheceu a voz como de Tiernan. Ele devia ser o que falava. - Faça-a pagar!
Adron jogou Zarina sobre um ombro enquanto corria pelo pátio com ela.
-Deixe-me no chão, valentão muito crescido.
-O recebeu. - disse no instante em que a lançou na piscina.
Zarina emergiu chispando.
-Oh, é assim! Taryn!
Taryn veio correndo. Quatro anos mais novo que Adron, Taryn tinha todas as extremidades longas. Seu cabelo de cor café escuro estava muito curto e seus olhos brilhavam com travessura. Agarrou a Adron
pela cintura e ambos caíram dentro da piscina. Adron rompeu a superfície da água, rindo. Taryn o segurou pelas costas e o molhou.
-Não! - a mãe de Adron, Kiara, gritou enquanto corria para a piscina. Seus olhos estavam abertos pelo medo, seu lindo rosto era severo. - Não, não brinquem assim! Um de vocês poderia se ferir.
-Está bem, mamãe. - disse Adron.
Kiara negou com a cabeça, fazendo sua longa trança se balançar sobre seu ombro.
-Não, não está. Não poderia viver se perdesse um de vocês. Agora, venham aqui e deixem de se divertir.
Submissos, os três saíram da piscina. Submissos até que Taryn subiu nas costas de Adron e baixou suas calças. Livia olhou boquiaberta a imagem de Adron completamente exposto. Então, seu marido nunca
tinha usado roupa de baixo. Sorriu sobre tal conhecimento. Com uma maldição, Adron subiu as calças com força e correu atrás de seu irmão.
-Adron! - gritou Kiara, mas o riso em sua voz tirou a severidade de seu tom. - Não o machuque.
-Não vou ferí-lo, vou matá-lo.
-Mamãe! - gritou Taryn. Chegou correndo a seu redor e colocou sua mãezinha entre eles.
-Socorro.
-Adron- disse ela agudamente.
Adron fez uma pausa enquanto olhava com fúria a seu irmão.
-Está bem. Em algum momento terá que dormir.
Livia riu de sua brincadeira carinhosa e enquanto via mais discos, se deu conta que Zarina estava certa. Adron era uma alma amável, amante da diversão. De algum modo, ia encontrar e trazer de volta
esse homem ao mundo.

Foram duas semanas, e três operações mais antes que Theo finalmente permitisse a Adron abandonar o hospital. Tudo que queria fazer era ir para casa e estar sozinho. Não queria ver a pena no rosto
cheio de lágrimas de sua mãe. Ver a culpa nos olhos de seu pai.
Só queria paz. Seu irmão, Tiernan, se moveu para ajudá-lo a se locomover. Adron lhe endereçou um cenho franzido que o fez ir para trás.
-Maldição, deveria engarrafar esse olhar. Conheço exércitos que pagariam uma fortuna por ter algo tão tóxico em seu arsenal.
Adron saiu com tranquilidade ainda que a tensão disso o fizesse suar.
-Porque está aqui?
-Papai quis se assegurar de que chegasse a casa seguro.
-Estou em casa, agora vá.
-Porque deveria fazê-lo? Digo maldição, Deus proíba que fique ao redor alguém que realmente goste de você.
Ignorando-o, Adron conseguiu chegar até o elevador e fez sua melhor tentativa para não se lembrar quem estava com ele na última vez que o tinha tomado.
Livia.
Seu nome e seu rosto ainda o enfeitiçavam, apesar de si mesmo, se perguntou onde estaria. Que estaria fazendo.
-Não me importa.
Tiernan entrou no elevador a seu lado.
-Que foi isso?
-Nada.
Adron não falou até que esteve de volta ao seu apartamento. Coxeou até o bar, e foi buscar algo para beber. Mas não havia nada ali.
-Maldição, qual de vocês fez isso? - ele grunhiu a Tiernan.
-Eu fiz.
Ele se congelou ante o som da voz de Livia as suas costas.
-O que faz aqui?
-Vivo aqui.
-Um inferno que vive. - ele se voltou a seu irmão. - A quero fora daqui.
Tiernan deu de ombros.
-Segundo suas palavras, ela é tua esposa.
-Tiernan. - disse ele em tom de aviso.
-Adron. - ele lhe devolveu o disparo.
Livia respondeu ao chamado e não parecia nem um pouco estremecida por sua cólera.
-Agradeço por trazê-lo até em casa, Tiernan. Creio que posso cuidar agora.
Tiernan arqueou uma sobrancelha em dúvida.
-Não sei se farei bem deixá-la só com sua misericórdia. Pode tirar sangue com essa língua.
-Estou acostumada a que as pessoas me insultem. - ela dirigiu um olhar significativo a Adron. - Assim como não ser desejada. Eu prometo, não há nada que Adron possa dizer que me faça chorar.
Nesse momento, Adron se sentiu deprimido. Nunca quis ferí-la. Dando meia-volta foi para o quarto. Livia disse adeus a Tiernan, e depois foi atrás de Adron. Apesar de suas palavras valentes, estava
aterrorizada. Mas então, estava acostumada a viver com medo, também. Pelo menos Adron não bateria nela. Ele estava deitado com os braços sobre seus olhos.
-Tem fome?
-Não.
-Então está bem.
-Quero ficar sozinho.
-Me parece que tem passado muito tempo sozinho.
-Maldição, porque ainda está aqui? Porque não fez o que te disse?
Ela inspirou profundamente, e contou para ter paciência.
-Porque não tenho nenhum lugar para ir. Meu pai me expulsou.
-Se for questão de dinheiro...
-Não quero dinheiro.
-Então o que quer?
-Você.
Ele baixou o braço lentamente e a olhou.
- Deve estar louca.
-Por quê? Porque quero estar com você?
-Sim.
Ela se moveu para se sentar na cama.
-Sabe, enquanto fazíamos amor, senti uma conexão contigo. Você sentiu também?
-Não.
-Não acredito. Foi muito terno. Ficou muito perto. Posso ser inocente, mas não sou estúpida. Sei que os homens não tratam as mulheres desse modo.
Ele lhe dedicou um olhar divertido.
-E como sabe disso?
-Zarina me contou.
Ele fez uma careta.
-OH, céus. Falou de sexo com minha irmã?
-Sim. Foi muito instrutiva.
O intestino apertou com a ideia de Zarina tendo qualquer tipo de relação sexual.
- Imagino.
-Também falei com sua mãe e disse...
Encolheu de dor, e por uma vez, não foi pelas lesões.
-Ah, Deus, Livia. Isso é inclusive pior! por que falou com minha mãe sobre sexo comigo?
-Não tinha a ninguém mais a quem perguntar.
Deixou escapar um fôlego pelo que ela fez. Como pôde? Acaso não tinha nenhuma vergonha?
-Podia procurar na internet, como fazem todos outros.
-Eu tentei, mas só consegui vídeos pornôs e foi... bem, foi um pouco brutal e não muito informativo. Só muitos bufos, ofegos e partes do corpo. Assim pensei que sua mãe e sua irmã poderiam ter algumas
ideia para me dar. Depois de tudo, sua mãe teve cinco filhos e...
-Alto! Nem sequer quero pensar em minha mãe tendo sexo com meu pai. Sei que foi inseminada artificialmente e que ele nunca a tocou. O avô Zamir me disse isso e eu acredito.
-Isso não é o que ela diz.
Ele gemeu em total sofrimento. Sim, estava sendo infantil, mas não era uma conversa que queria ter, e definitivamente não era algo que queria pensar.
-Já não tenho suficiente dor para que me torture com esta merda? O que fiz para que queira me matar?
-Por que está sendo tão criança com isto? Fui eu que foi mantida enclausurada.
-Porque minha mãe e minha irmã são seres sagrados, não corrompidas pelas mãos de um homem, e se fala algo diferente, especialmente no concernente a Zarina, juro Por Deus, que vestirei meu uniforme
de assassino e estriparei a qualquer bastardo que a toque.
Livia apertou os lábios para não rir dele quando era óbvio que estava mortalmente sério. E no mais profundo, suspeitava que poderia não estar tão zangado como atuava.
Decidindo dar um pouco de pausa, trocou de assunto.
-Então, simplesmente ficaremos sentados aqui dentro o dia todo?
-Não, vai sair.
-Sairei quando você o fizer.
Ele grunhiu.
-Faz ideia de quanta dor eu sinto? Dói inclusive respirar, de modo que não me prestou atenção, só quero ficar aqui deitado em silêncio.
-Estupendo. - ela se levantou e tirou um holo-cubo pequeno da mesinha de cabeceira. - Só deixe-me te mostrar isto.
Adron franziu o cenho enquanto ela colocava o cubo e o ligava. A estática se ouviu até que apareceu a imagem de uma mulher morena e uma menina loira.
-Olá comandante. - disse a mulher, segurando a menina nos braços. - Esta é minha filham Alycia. Não sei se lembra de mim ou não, mas sou a mulher que salvou de Kyr e esta é a filha que tive seis semanas
depois. Diga olá, Alycia.
-Olá, comandante. - a menina gesticulou com as mãos. - Obrigada por salvar minha mãezinha e eu.
Livia observou como a agonia percorria seu rosto à medida que a mulher e a menina falavam. Depois, ele grunhiu e jogou o holo-culo contra a parede, destroçando-o.
-Adron! - gritou ela, perdendo a paciência com ele.
Ele se virou para ela com um cruel grunhido.
-O que? Pensava que me mostrando isto faria que tudo ficasse bem? Acreditou que olharia para elas, depois choraria e diria o quanto estou alegre de que estejam vivas enquanto eu estou sofrendo assim?
E quanto aos meninos que eu desejava? - o sofrimento que amargava seus olhos a abrasou. - Meu Deus, Livia, só tenho vinte e nove anos, e tudo o que tenho para olhar é um futuro em que lentamente e dolorosamente,
me converterei em um inválido.
Suas palavras fizeram que as lágrimas surgissem nos olhos dela. Ingenuamente tinha acreditado que o faria sentir se melhor.
-Sinto muito. - sussurrou ela. - Eu só queria te ajudar. Mas não deixará que ninguém te ajude, verdade? - ela se virou e saiu correndo do quarto.
Livia não parou até chegar à sala de estar. Acomodou se no sofá enrodilhando-se como se fosse uma bola e mordeu os lábios para conter as lágrimas. Ela não iria chorar Mas em seu intimo ansiava por
isso. Doía ver o que ele foi uma vez. Inclusive agora podia vê-lo rindo e brincando com seus irmãos e irmã. Como desejava tê-lo conhecido.
De repente, ela sentiu uma mão na cabeça. Levantando olhar encontrou Adron de pé ao lado do sofá. Sua testa estava úmida e viu a brancura de seus lábios enquanto lutava contra a dor.
-Sinto - disse ele, sua voz rouca. - Sei que só queria ajudar. Mas ultrapassei o ponto de ajuda faz muito tempo.
Ele mudou de posição e se sobressaltou.
-Olha, sei sobre as pessoas e seus costumes, e sei que se criou dentro de uma jaula. A última coisa que precisa é ser encarcerada com um homem que mal pode andar. Porque simplesmente não vai e consegue
um lugar e vive sua vida? Ficarei encantado de te colocar em todas as minhas contas. Não vai querer outra coisa.
Era uma grande oferta que ele fazia. Mas ainda assim não podia aceitar.
-Não posso fazer isso.
-Porque não?
-Porque te amo.


Capítulo 4


Adron não estaria mais aturdido mesmo se ela tivesse se levantado e o tivesse esbofeteado.
-Como poderia? Não me conhece ainda.
-Sim, conheço. Tenta esconder o que é, mas eu o vejo. Brilha através de você.
Ele a olhou de cenho franzido.
-E isso o que é?
-Que tem bom coração.
-Não tenho nenhum coração. O que tenho é um substituto mecânico que bombeia sangue num corpo quebrado.
Ela se levantou do sofá.
Adron se sobressaltou quando ela o tocou. Meu Deus, como desejava beijá-la. Ela o pegou pela mão e fez que olhasse o lugar.
-Zarina me disse que inclusive algumas vezes sente dor ao sentar, de modo que pensei em fazer algumas modificações.
Ele cravou os olhos no pequeno sofá novo. Era duas vezes maior que o antigo e se parecia com uma cama pequena. Ela tinha amontoado algumas almofadas nele. Adron se sentou e se apoiou nas almofadas,
assombrado do quanto se sentia assim.
Até que Livia se sentou a seu lado. No mesmo instante seu corpo reagiu a sua proximidade.
-Me mata. - sussurrou ele.
-Não quero te matar. - ela se inclinou para frente e capturou seus lábios com os seus.
Cerrando os olhos, ele saboreou seu sabor. Nas últimas semanas tinha feito pouco mais que sonhar com seus beijos. Sonhar em tocá-la. Ela percorreu seu corpo com suas mãos, o fazendo arder ainda mais.
E quando ela tocou sua ereção, amaldiçoou.
-Livia, pare. Não posso fazer amor contigo.
Ela sorriu docemente.
-Não tem problema. Eu faço amor com você.
Ele franziu o cenho enquanto ela começava a desabotoar sua camisa.
Adron abriu a boca para protestar, mas então ela baixou a cabeça em seu pescoço. Sorriu ao sentir sua língua lambendo sua pele. E enquanto mordia e chupava sua carne, ela desabotoou suas calças deslizando
a mão para baixo, e colheu com sua mão seu membro inchado. Com a cabeça leve, não poderia falar enquanto ela o acariciava. Nem se mover.
Adron tremeu enquanto ela deixava um ardente rastro em seu peito com sua boca. Lentamente, cuidadosamente, suas carícias deixavam um rastro de fogo em sua pele. Tocavam sua alma. Com seus olhos entrecerrados,
observou enquanto ela lambia e mordiscava a carne de seu estômago, e quando o levou a sua boca, pensou que morreria de prazer. Seu cabelo escuro estava derramado em seu colo e enterrou a mão em seus cachos
macios. Adron apertou os dentes enquanto sua língua e boca lhe massageavam. Ela era implacável saboreando-o.
Porque fazia isto por ele?
Te amo.
As palavras o rasgaram. Nenhuma mulher nunca lhe falou isso. Só ela. E por sua vida, não podia entender o que tinha nele que ela achava amável. Ou simplesmente desejável. A mulher estava maluca. Mas
ela o tocava em um nível que era difícil explicar. Um nível nunca antes tocado. Jogando a cabeça para trás contra as almofadas, Adron grunhiu enquanto gozava dentro de sua boca. Ainda assim, ela não se
afastava. Não até que ele esteve completamente fraco e esgotado.
Ele fixou os olhos nela, temerosos.
-Não posso acreditar que fez isso por mim.
-Eu te disse Adron, te amo. Faria qualquer coisa para fazer você feliz.
-Então beije-me.
Ela o fez.
Livia gemeu enquanto ele introduzia a mão por baixo de sua camiseta e suavemente apertava seu seio. Reforçando seus braços a cada lado dele, cuidadosamente o montou a cavalo, assegurando-se de não
exercer nenhuma pressão em seu peito ou abdômen. O doutor foi explícito nas advertências. Adron colocou a mão na parte de trás da cabeça dela enquanto soltava sua proteção.
-Amo a forma que te sinto em meus braços. - sussurrou contra seus lábios. - Amo o modo em que suas bochechas se ruborizam e seus olhos brilham.
A mão dele baixou roçando seus seios, seu estômago plano e os pelos onde ela o desejava.
-E amo o modo em que se vê quando goza por mim.
Ele deu um terno sorriso.
-Faz que me sinta um homem de novo, Livia. Me cura.
Despudoradamente, ela se esfregou nele. E quando ela gozou, gritou.
Adron sorriu então e a segurou bem perto dele.
Passaram o resto do dia na cama, nos braços um do outro, acariciando e sendo acariciados, e falaram de coisas sem importância. Foi o melhor dia da vida de Adron, e a manteve abraçada até as últimas
horas da manhã, com medo que acabasse.

Há esse dia, seguiram mais três de alegria.
Adron estava todo o tempo assombrado com o destino que tinha deixado cair esta milagrosa mulher em sua vida. Ela era divertida, inteligente e incrível de um modo que lhe causava dor. Como desejava
ser o marido que ela merecia. O atormentava pensar como passaria o resto de sua vida amarrada a ele.
-Olá.
Levantou o olhar do livro que estava lendo para vê-la na porta. Seu cabelo ainda estava molhado do banho e seus olhos brilhavam de travessura.
-Olá, - disse ele reservadamente, duvidando do que poderia prever o olhar para ele. Ela andou para a cama lentamente.
-Gostaria de sair um pouquinho hoje?
Sim, ele gostaria. Mais do que ela jamais saberia.
-Não posso.
-Vamos, Adron. Disse que seu terapeuta falou que precisava de exercício.
-Hoje não. Minha perna está muito rígida. Porque não chama a Zarina?
-Porque prefiro estar contigo.
A mulher era a maior idiota que jamais conheceu.
Sentou-se na cama ao lado dele.
-Aqui. - colocou as mãos no joelho dele.
Adron ficou tenso enquanto o calor penetrava em sua perna.
-Como faz isso? - perguntou enquanto a dor diminuía.
-Minha mãe me ensinou. Vem de uma longa linhagem de curadores. - suavemente massageou seu joelho e sua perna. - Desejaria levá-lo até ela. Poderia te curar em um segundo.
-De verdade?
Ela o olhou de lado.
-Não acredita em mim?
-Só deixe-me dizer que tenho uma grande dose de ceticismo. Tenho três amigos Trisani e nem sequer eles puderam me curar.
-De verdade?
Ele assentiu.
-Sim. Nem sequer Nero, que é o Tris mais poderoso que eu tenha ouvido falar. Esteve doente durante dias depois de tentar me curar. Depois disso, deixe de acreditar em qualquer outra coisa.

Ela revirou os olhos.
-Se sente melhor agora?
-Sim.
-Então, vem comigo.
Como poderia dizer não? Além do mais, odiava estar todo o tempo em casa. Deixou a cama, mas não tinha ido muito longe quando ela o deteve.
-Ainda tem que usar a bengala. Não quero que volte para o hospital.
Ele grunhiu enquanto ela o entregava.
-Odeio essa coisa.
-Eu sei. - ela o envolveu em seus braços e o puxou pela primeira vez desde que voltou do hospital.
-Então onde vamos? - ele quis saber.
Ela chamou um transporte.
-Quero ir ao parque.
-Por quê?
-Porque eu sei que esta é uma ideia nova para você, mas na verdade poderíamos nos divertir.
Ele tocou sua bochecha e olhou seus olhos que brilhavam de vida.
-Nunca permiti a ninguém falar comigo como você fala.
-Isso é o que Zarina me disse ontem à noite. Também disse que estava espantada de que ainda estivesse vivo.
Ele ri quando o transporte parou. Era certo. Como um assassino, teve um controle muito curto sobre seu temperamento. Mas por alguma razão, ele tolerava suas gentis brincadeiras.
Ela deslizou primeiro no transporte, e ele se atraso um pouco mais. Enquanto ele ajustava o escudo, ela teclou a direção no monitor. Seu sorriso lhe esquentou quando o carro partiu e pegou sua
mão.
Deuses, a mão dela era tão pequena em comparação com a sua. Tão frágil. Entretanto, ela permanecia firme contra ele quando ninguém mais o fazia. Seu temperamento não a assustava.
Nada o fazia. E isso o surpreendeu ainda mais.
Uma vez que chegaram ao parque, permitiu a Livia leva-lo ao lago onde os meninos e adultos estavam pescando, nadando e saltando as ondas. Ele não tinha ido neste lugar durante a última década.
Mas a um tempo atrás, ele, Jayce e Devyn perderam muitas horas perseguindo alguma mulher ou jogando aqui.
Livia parou junto a uma loja de aluguel.
-Te agrada provar um "Vapor de rodas"? - perguntou ela.
-Estou muito velho para um "vapor de rodas".
- Tem vinte e nove anos, Adron. Não é um velho nem com a imaginação mais exagerada.
-Sou muito velho para "vapor de rodas" - repetiu ele. - E se fosse contigo, de qualquer forma não poderia manejar os pedais.
-Eu o farei.
-Não estou indefeso.
Ela o olhou furiosa.
-Eu sei. É bom que outras pessoas te ajudem de vez em quando, Adron. Porque tem tanto medo disso?
Ele apertou os dentes com força, e afastou o olhar. Ela pegou seu queixo com a mão e girou sua cabeça para encontrar seu olhar inquisitivo.
-Me responda.
A fúria nublou sua visão enquanto a agonia em seu interior se enroscava.
-Quer saber o que temo? Tenho medo cada manhã quando acordo de que esse seja o dia em que já não possa me mover. Sei que esse dia vai chegar. É só questão de tempo até que não fique outro remédio,
que ter alguém que me vista, me alimente. Que troque minha fralda. E não posso suportar isso.
-Então, porque não se mata?
-Porque cada vez que penso em fazê-lo, posso ouvir minha família rezando por mim enquanto estava no hospital. Ouvi minha mãe chorando, meu pai implorando que não morra - ele engoliu. - Nunca os feriria
propositalmente dessa maneira.
O amor que havia em seus olhos o queimou.
-É o homem mais forte que conheci.
-Quer dizer o idiota mais fraco.
Ela negou com a cabeça e lhe deu um sorriso terno.
-Vem, marido - ela o levou até os vapores de rodas.
A contra gosto, ele subiu em um e deixou que ela os levasse ao centro do lago.
-É um lindo dia, não? - perguntou ela. Adron se tombou e fixou os olhos no céu. O azul claro estava coberto de nuvens suaves, brancas e se sentia bem com o calor do sol em sua pele.
-Está bom.
Ela revirou os olhos.
-É um grande pessimista.
Ele percorreu com uma mão o braço dela que se encontrava descoberto graças a seu vestido sem mangas. Tocou a cicatriz fraca e franziu o cenho.
-Quem te batia?
-Meu pai.
-Por quê?
Ela se inclinou para frente e sussurrou como se estivesse compartilhando um grande segredo com ele.
-Não estou acostumada a fazer o que as outras pessoas querem que faça.
-Percebi - passou a mão pelo cabelo dela. - Mas creio que gosto disso em você.
Ela sorriu, e neste momento o dia ficou ainda mais luminoso.
Ela observou como Adron se encontrava recostado sobre os cotovelos enquanto olhava para ela. Sua camisa branca estava apertada sobre os músculos de seu estômago e peito. Seus ombros largos estavam
jogados para trás e seus bíceps flexionados com a promessa de força e poder. O vento jogava com seu rabo de cavalo loiro com mechas grisalhas. Deus, ele era tão lindo até com a cicatriz em sua bochecha.
-Diga-me - perguntou ela enquanto parava de pedalar. - Porque um herdeiro real estava na Liga?
Ele suspirou.
-Não fui um herdeiro até depois de me alistar.
O conhecimento a assombrou.
-Não?
-Tinha uma irmã mais velha - a dor em seu rosto era profunda, inclusive parecia maior por causa de seu corpo ferido.
-Eu lamento. O que aconteceu?
-Ela e meu pai brigaram sobre a escolha do marido de Thia. Em um momento de fúria ela saiu do palácio e desapareceu. Meu pai tentou encontrá-la durante todos estes anos, mas ainda não tivemos nenhuma
notícia sua. Não sabemos se casou com ele, morreu, ou o que passou.

Agora tudo fazia sentido para ela. Essa era a verdadeira razão de que não tivesse se suicidado. Sua família já tinha perdido a um deles. E tinha visto sua tristeza em primeira mão. Havia sentido o
mesmo.
-Sente sua falta. - disse ela, notando a agonia em seus olhos.
-Bastante. Ela estava acostumada a me jogar no chão.
Ela sorriu ante o tom zombador na voz dele.
Ele suspirou.
-Era a melhor confidente que tive enquanto crescia. Podia lhe contar qualquer coisa e saber que nunca chegaria aos ouvidos de meus pais.
Ela estendeu a mão e segurou a dele.
-Conte-me algo, Adron. Algo que nunca compartilhou com outra pessoa. Nem sequer com Thia.
-Sou quem Zarina pegou no vaso quando ela tinha sete anos.
Livia se pôs a rir.
-Falo sério.
-Eu também. Tinha a intenção de atrair a Jayce, mas ela saiu correndo do banheiro e se topou com ele antes de fazê-lo. O pobre Taryn terminou levando a culpa do resto.
-E nunca confessou?
-Se tivesse visto meu pai zangado alguma vez, saberia a resposta disso. Tinha só treze anos e meu pai era então um gigante para mim.
-E aí, o que aconteceu a Taryn?
- Foi proibido de jogar bola durante todo o verão.
Livia franziu o cenho.
-Esse não parece um castigo tão ruim. Porque teria medo de reconhecê-lo?
-Sabia que meu pai me castigaria o dobro não só por fazê-lo, mas sim por deixar que outra pessoa carregasse minha culpa. Meu pai é um verdadeiro crente na justiça. - apertou sua mão. - Foi uma coisa
covarde, eu sei, e passei todo o verão ficando em casa com Taryn para ressarci-lo.
-Supôs que você tinha feito?
Ele negou com a cabeça.
-Não. Esse sempre foi meu segredo.
E também agora era dela
- E você? - perguntou ele. - Diga-me o que te fez ir ao Golden Crona.
Seu rosto enrijeceu.
-Foi horrível. Meu pai ia me casar com Clypper Thoran.
-O Governador de Giradonal?
-Sim.
Adron franziu o cenho enquanto olhava nos olhos nela.
-Meu Deus, ele tem quanto?... cem anos?
-Oitenta e dois.
Seu queixo caiu enquanto estremecia.
-Seu pai ia te casar com um homem de oitenta e dois anos?
Ela assentiu com a cabeça.
-Quer um acordo comercial com eles, e Clypper queria uma esposa jovem.
-Não é de estranhar que não se preocupou em como eu estava. - disse Adron com um bufo. - De uma maneira ou de outra iria terminar como babá de algum homem.
Então perdeu as estribeiras com ele.
-Sabe, estou cansada de que tenha pena de si mesmo, Adron. Em vez de pensar em todas as coisas que não tem, deveria se concentrar nas que tem.
-E o que é isso?
-Uma família que te ama. E embora seu corpo esteja machucado, sua mente não está.
-Sim, certo, mas estar preso em um corpo inválido é meu pior pesadelo.
Livia olhou para ele furiosa.
-Pior é estar ruim da cabeça. Meu maior medo é terminar como um vegetal em um corpo inteiro, saudável. Então, de onde estou sentada creio que não tem muito pelo que se queixar.
Seu cenho se fez mais profundo.
-Porque temeria algo assim?
-Vi minha avó morrer dessa maneira. Foi terrível. Ela ficou presa em uma cama de hospital, atada em monitores e máquinas durante quase um ano até que a deixaram morrer.
-Porque o fizeram?
-Porque não podiam deixá-la ir. - seu olhar ficou mais intenso. - Se sua mente se for, Adron, já não poderá estar comigo. Não poderia ver o céu, nem ouvir aos meninos rirem, nem nada. Estaria preso
em uma escuridão fria e horrível.
-Certo! - disse ele, desejando que a conversa terminasse. Era muito horrível para pensar nisto. - Me mostrou um bom ponto de vista. - Ela obviamente tinha pensado muito sobre assunto. - Está certa,
sou um bastardo sem coração. Mas me esforçarei em ser menos.
-Promete?
- Contanto que esteja comigo, sim.
-Bem, porque não tenho intenção de te deixar.
Adron franziu o cenho diante das palavras. Não é que ele duvidasse dela, era só que o destino tinha uma maneira estranha de levar todas as boas intenções, e um estranho pressentimento passou pela
mente.
Um dela morrendo, e isso era o único que ainda podia assustá-lo.


Capítulo 5


As semanas se passaram enquanto Adron tentava manter a palavra que havia dado a ela. Uns dias eram mais fáceis que outros. E hoje era especialmente difícil.
-Vamos, Adron - disse sua terapeuta enquanto aumentava o peso na perna. - Pode levantá-lo.
Rangendo os dentes contra a dor, odiou o tom super protetor que Sheena usava sempre. Como se fosse uma mãe persuadindo a uma criança com súplicas.
-Assim. Está indo bem. É um bom garoto.
-Vá pro inferno. - grunhiu ele.
-Adron! - Livia disse bruscamente enquanto se levantava a seu lado. - Comporte-se.
Adron franziu os lábios. Esta era a primeira vez que tinha permitido que Livia o acompanhasse a terapia no hospital. E se ela continuasse com esse tom seria a última.
-Está bem. - disse Sheena. - Me disse o bastante.
Livia estendeu sua mão e pegou a dele. O coração de Adron pulsou acelerado ante a doçura de seu contato. Meu Deus tinha chegado a precisar muito dela. Estava dependente dela e apavorado por qualquer
coisa.
-Seja agradável. - disse ela.
Parando sobre seu coração, ele assentiu com a cabeça. E então levantou a perna.
-Olha, sabia que podia fazer isso.
Ignorou a Sheena.
-Certo, vamos tentar alguns alongamentos.
Adron soltou a Livia e se endireitou lentamente. Mas antes que estivesse esticado, sentiu o familiar ardor no peito. Dois segundos depois, seu nariz começou sangrar e cuspiu sangue.
-Maldição. - grunhiu ele enquanto Sheena segurava uma toalha.
Ele voltou a se deitar enquanto Sheena corria em busca de Theo.
Livia afastou seu cabelo úmido de sua testa. A ternura de sua carícia e seu olhar o queimou, e o faziam desejar amá-la como ela merecia.
-Está bem? - perguntou ela.
-Simplesmente destrocei outro órgão interno. Quem sabe qual? Se levarmos em consideração que todos estão em desfeito, poderia ser...
Sua voz se cortou enquanto Theo entrava com uma maca e três enfermeiros.
-Sabe Adron - disse Theo enquanto ordenava que o pegassem e colocassem sobre a maca - se quiser passar a noite comigo, tem modos mais fáceis de conseguir. Só precisava pedir.
Ele não achou graça da brincadeira de Theo.
-Quero ir pra casa.
-Quem sabe amanhã. - Theo lhe colocou a máscara de oxigênio.
Adron a arrancou. Livia voltou a colocar. Adron encontrou seu olhar.
- Chamarei os seus pais. - Ele segurou a mão dela. Ela caminhava ao lado da maca enquanto Theo empurrava pelas salas familiares.
Quando chegaram à sala cirurgia, Adron a soltou a contra gosto. O coração de Livia estava pesado enquanto observava como se fechavam as portas atrás dele. Sua mãe poderia curá-lo completamente. Ela
também poderia. Porém, ao fazê-lo o perderia para sempre.
Ele vive em constante dor...
E isso quebrava o coração, mas não tanto como quebraria se ele vivesse uma vida inteira sem ela.

Adron estava na cama, escutando os zumbidos e assobios dos monitores. Era uma absoluta miséria estar prostrado nesse frio e estéril lugar.
Sozinho.
Não havia nada que odiasse mais que os hospitais. Pior ainda, Livia o tinha deixado para dar uns recados que tinha jurado não podiam esperar.
Aborrecido, observou seus sinais vitais piscar na tela. Observava os monitores porque aí não havia nada mais. Gah, o tempo passava muito lentamente quando não tinha nada para fazer. Seu pai estava
em uma reunião. Sua mãe com sua irmã.
Ninguém sabia onde estavam seus irmãos, e ele ficou só.
Deixa de sentir pena de si mesmo.
Era mais fácil de dizer que fazer quando não havia nada mais que fazer. E durante os últimos oito anos, isso era o que estava fazendo a maior parte de sua vida.
-Maldita seja, o que fez com ele?
Adron franziu o cenho quando ouviu uma das vozes dos gêmeos. Ele olhou para a porta para ver ambos, Taryn e Tiernan, chegarem com a Livia. Todos tinham seus braços cheios com bolsas e caixas.
Ela pôs as bolsas no chão.
-Eu não fiz nada -falou Taryn, cujo cabelo era mais longo e caia na parte posterior de sua cabeça- Ele me prometeu que se comportaria.
Tiernan se pôs a rir quando colocou a caixa na cadeira junto à cama.
-Como se isso fosse acontecer.
O cenho do Adron se aprofundou.
-O que estão fazendo aqui?
Os dois assinalaram a Livia.
-Ela fez -disseram ao uníssono.
-O que?
Ela respondeu abrindo uma das caixas nas mãos do Tiernan.
-Vocês dois ocupem de acomodar esta enquanto eu me encarrego da outra caixa.
Adron bufou quando eles ignoraram, até que se deu conta do que estavam fazendo.
Estavam transformando seu quarto de hospital no que parecia um hotel.
Tiernan pendurava cortinas escuras, enquanto Taryn instalava um abajur de leitura junto à cama. Livia lhe entregou seu leitor.
Sem poder falar pelo nó na garganta diante a consideração, ele a atraiu para ele para poder beijá-la.
-Ah, gente, por favor. Estamos aqui. Importa-se? Poderiam não ser tão carinhosos até que partamos?
-Sim -assentiu Taryn- Tenho que fazer um embarque esta noite e não posso me permitir estar cego por ver meu irmão maior manuseando a sua esposa -tremeu- Me recorda as saídas com o Jayce quando era
adolescente, saindo da ducha. Ainda tenho violentas retrospectivas.
Tiernan soprou.
-Por favor. Isso poderia assumir. Volta a entrar com a Thia no cárcere. Juro que tratei de obrigar o Nero que apagasse isso da memória.
Taryn arqueou uma sobrancelha.
-por que não o fez?
-Tentou-o. Em lugar disso, perdeu três semanas de lições de química. E maldita seja, fui suspenso por isso.
Tiernan caiu sobre a cadeira rindo maliciosamente.
-Conhecendo o Nero, provavelmente fez de propósito.
Os olhos da Livia brilharam.
-São eles dois tão divertidos sempre que estão juntos?
-Depende.
-De?
-Sempre que não estejam conspirando contra você. Taryn é como uma ferida na cabeça. Só é divertido quando acontece algo a alguém mais. E Tiernan... acredito que agora há um furacão no Chrinon VI
que leva seu nome.
Ela começou a rir.
Os gêmeos eram soberbos.
Taryn dirigiu um olhar incrédulo.
-Obrigado, Livia.
-Por que?
Tiernan respondeu por ele.
-Por fazer do Adron um humano de novo. Já faz muito tempo.
-Que se fodam, Tier -mas Adron deu crédito, também. Passou muito tempo desde que relaxou assim com sua família ou alguém mais.
-Sim, irmão, desde quando Adron foi alguma vez humano? Era mais como alguma espécie inflamada de algum tipo. Ao igual a um grão no traseiro de um javali.
Adron jogou um travesseiro no Taryn, que pegou e riu.
-Será melhor que esteja feliz do que na cama.
Taryn lhe lançou o travesseiro de volta.
Esta bateu na cabeça. Adron gritou deitou como se doesse.
Os três correram a seu lado.
Taryn chegou primeiro.
-Precisa que chame uma enfermeira?
. Adron riu deles quando o rodearam com o terror refletindo em seus olhos.
-Todos vocês são tão ingênuos.
Tiernan deixou escapar um som de extremo desgosto.
-É um bode. Pensei que estava ferido.
Taryn pegou o travesseiro e bateu ao Adron com ele.
-Odeio você.
Adron tirou o travesseiro de suas mãos.
- Eu também -enquanto tratava de pôr o travesseiro de novo detrás dele, Livia tirou de suas mãos e o pôs onde ele queria.
-São terríveis. Sinto por sua pobre mãe ter que servir de árbitro entre todos vocês. É um milagre que ainda fique um pouco de prudência.
Taryn sorriu.
-Pessoalmente, não estou seguro disso.
De repente esgotado pela atividade, Adron deitou para trás e viu como eles arrumavam a sala juntos. Quando terminaram, seus irmãos foram e Livia aproximou uma cadeira da cama.
-Precisa algo mais?
-Sim. Que não vá.
-Estou aqui, querido, e não há nenhum outro lugar onde prefira estar.
E aí ficou durante a semana que esteve condenado a esse inferno. E embora era egoísta de sua parte, ele adorava, e sua presença aí fez que o tempo voasse como nunca antes tinha passado.
Uma vez que se terminou e retornaram para seu apartamento. Ele a levou a cama e não a deixou sair, salvo para atender suas necessidades básicas, comida e bebida.

Livia despertou lentamente. Piscou para clarear sua visão, para se encontrar deitada na cama envolvida nos braços de seu marido. Adron ainda dormia, mas mesmo assim a segurava fortemente como se tivesse
medo que ela desaparecesse. Sorrindo pegou sua mão e depositou um beijo em seus nódulos com cicatrizes. Depois escutou alguém no outro quarto. No princípio pensou que era a mulher da limpeza que vinha
duas vezes por semana, até que ouviu que Taryn chamava Adron.
-Escuta, flor- disse ele abrindo a porta - preciso... - Taryn viu os dois deitados na cama nus e se virou dando as costas a eles. - Sinto muito, Livia. - disse ele - Imaginei que às três da tarde
ambos estariam levantados.
Adron esfregou a bochecha contra o ombro dela enquanto despertava.
-Tenho que aprender a fechar minha porta. - disse ele.
Ela riu.
Taryn bufou.
-Vou sair e esperar até que se vistam.
Adron passou a mão pelo seu cabelo e ela sentiu sua ereção contra seu quadril.
-Porque continua andando até que chegue ao outro lado da porta principal?
-Tá - disse Taryn enquanto fechava a porta. - A propósito, sua esposa tem um corpo lindo.
O calor estalou em seu rosto. Adron a olhou de cara feia.
-Dê a ordem e o matarei para você.
Ela lhe sorriu.
-Está bem, se o fizer Tiernan sentirá sua falta.
-Dificilmente. Ele provavelmente cairia em sinal de gratidão. Você sabe, quando eram bebês, Tiernan o empurrava e tirava a mamadeira, então bebia.
-Não, não o fazia. Tiernan é muito doce para fazer algo assim.
Ele se burlou.
-Não deixe que a amabilidade e a atitude afável do Tiernan enganem. Ele é tão letal como Taryn, e bate mais duro. Aceita de alguém com a experiência. A única divergência é, que a diferença do
Taryn e seu traje de pirata, Tiernan entra em jogo quando corta a garganta. Não é que seja um embaixador do mal mas acredite, Tiernan não é um pacifista. Eu o compararia com qualquer assassino treinado
da Liga... incluindo a mim mesmo no melhor momento.
Ela ainda tinha dificuldades para acreditar. Havia uma aura ao redor de Taryn que dizia que podia ser perigoso se provocado. Mas Tiernan... ele era como um irmão menor que nunca perdia a paciência
com ninguém. Nem sequer com Zarina.

Adron se virou lentamente e tentou alcançar sua injeção e seu remédio na mesinha de cabeceira. Livia se encolheu de medo ao ver como ele se aplicava no estômago. Como desejava que não tivesse que
fazê-lo em todas as poucas horas. Por desgraça, teria que fazê-lo o resto de sua vida. Com seus traços tensos, ele abandonou a cama e se vestiu. Enquanto ele ia falar com seu irmão, ela foi ao banheiro
tomar um banho. Sem pressa, foi deixando que a água quente caísse sobre ela até que sentiu alguém a olhando. Virando-se, viram Adron apoiado na parede, os olhos fixos nela.
-Me assustou. - disse ela enquanto a água quente deslizava contra suas costas.
-Sinto muito, só desejaria poder me juntar a você.
A assombrava o bem que sentia quando estava perto dele. Havia muito que tinha deixado de incomodá-la ficar nua na frente dele. Como ele fazia com ela. De fato, tinha aprendido cada fenda e cada curva
de sua leonina carne. Cada cicatriz. Olhou para a banheira que estava a uns passos.
-Quer que me junte a você?
Ele sorriu.
-Sim.
Livia fechou a água, depois encheu a banheira de água. Adron entrou primeiro, depois a puxou sobre ele.
-Cuidado! - ela o avisou enquanto o medo a transpassava. - Não quero te ferir.
-Nunca poderia me ferir. - disse ele, então reclamou seus lábios com os dele.
Livia gemeu. Oh, mas nunca se cansava de seus beijos. Suas carícias. Jogando-se para trás, Adron cravou os olhos nela temeroso. Seus lábios estavam inchados por seus beijos, e suas bochechas avermelhadas
por sua barba. Ele percorreu com sua mão sua pele machucada.
-Sinto. - disse ele, tentando pegar sua lâmina de barbear da cavidade na parede que tinha sobre sua cabeça.
Ela se sentou a seu lado, observando como se barbeava de cara franzida.
-Não seria mais fácil com um espelho?
-Provavelmente.
-Então, porque não usa um?
Ele parou e afastou o olhar dela.
-Não gosto de me olhar no espelho e juro que não é o quero fazer na primeira hora da manhã.
Ela pegou a lâmina de barbear de sua mão e ele ficou quieto, enquanto ela barbeava o lado de seu rosto que tinha uma cicatriz.
- É incrivelmente lindo.
Adron cravou os olhos nela duvidoso.
-Quando era jovem, realmente era superficial com isso. Zarina brincava comigo dizendo que um dia a besta Tourah iria vir e roubar meu rosto - baixou o olhar ao chão - Imagino que estava certa. Ele
o fez.
Livia enxaguou o sabão de seu rosto.
-Sabe, tem uma parte boa em tudo que você sofreu.
-E é?
Ela vacilou enquanto ordenava seus pensamentos.
-Diga-me a verdade, Adron. Se Kyr não tivesse te deixado essa cicatriz, teria me levado a noite do Golden Crona para sua casa? Inclusive olharia para mim?
Adron abriu a boca para negar, mas não pode. Ela estava certa. Era bela para ele agora, uma parte vital de sua vida, e mesmo assim nunca teria olhado duas vezes para ela antes de Kyr lhe ter deixado
lesado. Esse pensamento cortou sua alma.
-Queria poder estar inteiro pra você - sussurrou ele. - Desejo poder dançar contigo, te levar em meus braços e te fazer amor da maneira que desejo.
-E eu estou simplesmente agradecida por tê-lo por completo. Não é seu corpo ou seu rosto que eu amo Adron. É seu coração, sua alma e sua mente.
Ele tremeu ante suas palavras, depois a puxou para ele e a beijou. Ela se moveu com cuidado em seu colo. Adron mordiscou seus lábios enquanto sentia como sua mão se deslizava sobre seus ombros, baixando
por seus braços. Ela levantou os quadris, introduzindo-o em seu corpo.
Gemeram ao mesmo tempo. Firmando suas mãos nas bordas da banheira, ela o montou rápido e firme, cegando seu corpo a tudo menos ao prazer que a rodeava. E pela primeira vez, esteve agradecida a Kyr.
Graças a ele tinha encontrado a Livia. Que Deus o ajudasse se algo acontecesse a ela. Era a única coisa que nunca poderia perder. A única que realmente poderia destruí-lo. Sua garganta estava apertada,
observou enquanto ela chegava ao clímax nos seus braços. O prazer em seu rosto o rasgou. E enquanto sentia seu corpo esticado ao seu redor, se entregou a próprio gozo.
Livia caiu esgotada contra seu peito, se refreando para não machucá-lo. Ela sorriu para ele, mas viu o modo que seu olhar se transformou, como seu corpo ficava rígido. Sempre o feria ao se dar conta
do débil que era seu corpo. Daria qualquer coisa para tirar essa imagem dele para sempre.
Sacrificaria sua vida?
-Te amo. - disse ela.
Como sempre, ele não disse nada enquanto saía dela.
Livia suspirou. Não queria ferir seus sentimentos. Mas era muito tarde, ele tinha voltado a se fechar para ela.


Capítulo 6


Quando estiveram vestidos quase era hora de jantar.
-Quer sair para comer?
A pergunta de Adron a sobressaltou.
-Não, está bem.
Ele a olhou com ceticismo.
-Vamos, não pode passar sua vida fechada nesse apartamento.
-Está certo que se sente bem para isso?
-A verdade? Odeio ficar aqui dentro o tempo todo, Nunca fui caseiro.
Não foram longe, somente algumas quadras até um restaurante antigo e chamativo. Adron se sentou a seu lado com seu braço ao redor dela enquanto esperavam sua comida.
-Não acredito.
Adron ficou rígido ao ouvir a voz.
Livia viu um homem quase tão bonito quanto seu marido, acreditou que fosse Jayce. Os olhos verdes de Jayce tinham um olhar calorosamente amistoso. Estendeu a mão para ela.
-Deve ser Livia.
Antes que ela pudesse se mover, Adron bateu em seu braço.
-Não é bem vindo aqui. Porque não volta ao buraco de onde saiu se arrastando?
-Oh, isso é muito original. Olha, não podemos deixar isto para trás?
A resposta de Adron foi tão crua que enrijeceu seu rosto.
Jayce se enfureceu.
-Maravilhoso, se revolve em auto-compaixão.
Ele começou a ir.
-Igual - grunhiu Adron - me dê às costas, covarde. É o que sempre fez de melhor.
Jayce se virou e levantou a cadeira de Adron. Livia ficou sem fôlego enquanto se levantava.
- Não volte a me chamar de covarde. Você, de todos os homens, sabe que me oponho a essa palavra.
-Porque não? É verdade, não? Atreve se a usar o uniforme da Liga mais rompeu o juramento deles e rompeu seu juramento a mim. Não é senão um covarde.
Depois disso, tudo aconteceu tão rápido que foi como um borrão. Jayce gritou, depois virou. Adron o evitou e lhe deu um poderoso soco na mandíbula. Adestrado e afiado como um assassino, Jayce agiu
por instinto enquanto devolveu o golpe a ele. Um murro direto no coração de Adron.
Livia ouviu o terrível som de ossos se partindo. A força do golpe empurrou Adron contra a mesa. Antes que chegasse ao chão, Livia supôs que estava gravemente ferido.
-Oh, meu Deus, Adron. - Jayce ficou sem fôlego, enquanto se ajoelhava a seu lado. - Eu sinto tanto. Eu não quis te fazer isso. Foi sem querer. Oh, meu Deus, sinto muito.
Adron não podia responder. Livia observou horrorizada a palidez do rosto de Adron enquanto seu fôlego sacudia seu peito. Nunca tinha visto medo nos olhos de Adron, mas o viu agora e isso a assustou
mais que qualquer coisa. Jayce solicitou uma unidade med tech, mas era muito tarde. A respiração de Adron ia ficando mais fraca.
Começou a cuspir sangue. Livia colheu seu rosto em suas mãos. Adron tocou seu braço e tentou memorizar seus traços antes de morrer. Nunca deveria ter provocado a Jayce. Seu irmão sempre tinha deixado
que seu gênio pudesse com ele. Mas agora era muito tarde. Jayce finalmente fez o que deveria fazer quando o encontrou morrendo. O havia matado. Adron levantou e pôs uma mão no rosto de Livia. Seu anjo
de misericórdia. Quando desejava morrer, ela tinha dado uma razão para viver. Não queria deixá-la. Não podia suportar o pensamento de não tê-la com ele. Mas queria dizer o que significava.
Seu rosto desapareceu então tudo ficou negro.
-Não! - gritou Livia enquanto sua mão caía de seu rosto. - Não se atreva a me deixar.
Jayce se pôs no chão e se dispôs a fazer uma reanimação.
-Maldição! - o grito angustiado se desgarrou dela enquanto Jayce percebeu que não poderia fazer uma reanimação cardiopulmonar. O corpo de Adron não poderia resistir a isso.
Nesse instante, Livia fez a única coisa que poderia fazer. Introduziu se profundamente no interior de Adron e exigiu todo o poder que tinha. Não lhe importava o preço. Não podia viver sem Adron. E
se significasse sua própria vida, que assim fosse. Quase nesse instante, suas mãos arderam. Mais quentes do que jamais tinham estado. Colocou suas mãos contra o peito de Adron e deixou que sua força vital
entrasse nele. Jayce ficou atrás enquanto um resplendor laranja e cicatrizante rodeava Adron.

Adron despertou com uma leve sacudida. No princípio pensou que estava morto. Não tinha dor em nenhuma parte de seu corpo. Sentia seu corpo estranho, diferente. Se sentia inteiro. Então se deu conta
de que Jayce estava tocando seu rosto e de que tinha um estranho peso sobre seu peito.
-Adron? - Jayce ficou sem fôlego pela surpresa.
Baixando o olhar, Adron percebeu que o peso em seu peito era Livia. Seu coração pulsava rapidamente, se endireitou com uma agilidade que não tinha que não teve por oito anos. E nesse instante, supôs
o que ela tinha feito. Ela o curou completamente. Enquanto olhava para ela sobre seu peito, viu sua mão coberta de sangue. As cicatrizes tinham ido desaparecido completamente. Nem sequer ficaram as cicatrizes
dos nódulos.
-Livia? - perguntou ele, segurando-a contra ele.
Ela não respondeu. Os med tech entraram e a soltou com cuidado. Mais assustado do que jamais havia estado, os seguiu desde o restaurante.

Pela primeira vez em anos, Adron se encontrou na anticéptica sala de espera enquanto Livia era atendida por Theo. Finalmente entendeu em parte o que seus pais sentiam durante suas várias operações.
O medo e a incerteza o destroçavam. Quão pior teria sentido sua mãe?
-Adron?
Levantou o olhar enquanto sua mãe e seu pai se uniam a ele. Kiara colheu seu rosto e olhou sua bochecha.
-O que aconteceu a sua cicatriz?
-Livia o curou. - respondeu Jayce. - Não sei como o fez, mas num minuto ele estava praticamente morto e no seguinte, estava perfeitamente bem.
-O que disse o médico? - perguntou sua mãe.
-Vai me fazer uns exames depois - não lhe importava nem um pouco o mesmo.
Livia era a única que importa.
-Chamou a seus pais? - perguntou sua mãe.
Seu peito se apertou ao lembrar.
-Tentei. Seu pai me disse que ela não era mais da conta dele.
Kiera o olhou de cenho franzido.
-Como pode?
Adron deu de ombros. Realmente não queria falar sobre o assunto neste momento. Sem dúvida, Livia era a única pessoa com que ele gostaria de falar, e ponto. Seu pai sorriu enquanto seu olhar ia de
Adron a Jayce. Jayce se afastou dando a volta. Seus pais foram buscar algo para beber.
-Lamento tudo isto. - disse Jayce quando ficaram sozinhos.
Adron o olhou furioso. Estava cansado das desculpas de Jayce.
-Se tivesse me matado quando pedi nada disto teria acontecido.
Jayce franziu os lábios enquanto seus olhos despediam uma forte fúria.
-Me diga de verdade, você teria me matado se me encontrasse meio morto e indefeso?
-Em vez de ver seu sofrimento, sim.
-Então é melhor assassino que eu. Porque nunca poderia viver comigo mesmo se tivesse matado meu irmão.
-Adron?
Ele levantou o olhar enquanto Theo se unia a eles.
Theo vacilou diante dele.
-Isto não é estranho? Não estou acostumado a falar contigo enquanto está vestido e de pé.
-Não tem graça.
Theo parecia nervoso.
-Sinto muito, estou nervoso - pigarreou e o terror se deslizou sobre Adron. Theo evitava dizer algo ruim.
-Então? - Apressou lhe Adron.
-Ela está em coma. O que for que você tenha feito causou um dano neurológico. Honestamente, nunca vi nada assim. É como se seu cérebro tivesse queimado.
Adron evitou um soluço enquanto pensava sobre a conversa que tiveram. Este era seu maior medo. Porque o teria feito ela? Por ele... Oh, Deus, não podia respirar pela agonia que sentia seu coração.
Desejava gritar pela injustiça disto. Lançar seus insultos contra o mundo e todos.
Olhou furioso para Theo.
-Vai acordar?
-Honestamente, não. O dano foi muito grande. Neste momento o único que a mantém com vida são as máquinas.
Theo lhe deu um duro olhar.
-Minha opinião como profissional é que deveríamos desligá-las e deixar que a natureza siga seu curso.
Adron se jogou contra a parede enquanto seu coração se rompia em mil pedaços. Sentiu as lágrimas em seus olhos, sentiu a amargura, que inflava o sofrimento dentro dele. Não podia deixá-la ir. Mas
então, tampouco podia deixá-la viver sabendo que ela não desejava isso. E tudo o que sentia era uma dor tão profunda, tão grande, parecia ridículo no que tinha que aprender a conviver.
Agarrou a Theo pela camisa.
-Não se atreva a deixá-la morrer. Me ouviu?
Theo parecia consternado.
-Sua mente já se foi.
-Só a metade, não?
-Bem, sim.
-Então ainda há uma possibilidade- e inclusive meia possibilidade era melhor que nenhuma, - Mantenha seu coração batendo até que eu volte.
-Farei o melhor que puder.
E o mesmo faria ele.
Soltando a Theo, Adron saiu correndo do hospital com uma força e habilidade que não teve em anos. Livia tinha dado a ele uma oportunidade para sobreviver, e custasse o que custasse, ele iria dar uma
a ela.

-O que faz aqui? - exigiu saber o pai de Livia quando Adron entrou a força na sala do trono onde supervisionava seus conselheiros.
Sem se preocupar pelo local cheio de homens que o olhavam boquiaberto, Adron se aproximou de seu sogro.
-Tenho que ver a mãe de Livia.
-É proibido.
-Um inferno. Livia está morrendo e sua mãe é a única que pode salvá-la. - o rosto do pai era estoico, parecia que não se importasse com as notícias.
-Se morrer, que assim seja. Desonrou-nos com sua desobediência. Disse a você e a ela que nunca retornasse a nós.
-Precisa ver sua mãe.
-Guardas! -- chamou ele. - Leve-o daqui.
Adron lutou contra os guardas, até que pediram reforços. Seriamente superado em número, lutou o melhor que pode, mas finalmente o agarraram.
-Não pode deixá-la morrer. - disse Adron enquanto lutava para se libertar.
- Se queria que vivesse, não deveria tê-la envergonhado.
-Maldito!
Contra sua vontade, Adron foi retirado da sala do trono, mas enquanto lutava contra os guardas, viu a jovem filha de uns criados observando-o com preocupação e compaixão no rosto.
Adron encontrou seu olhar assustado.
-Diga a sua mãe que Livia precisa dela. Por favor.
-Krista! - gritou o pai de Livia. - Saia daqui.
A garota foi correndo, e os guardas o jogaram do palácio.
Adron golpeou a porta fechada com o punho. Bramou furioso.
-Ajude-me, porque se ela morrer, eu os verei a todos em suas sepulturas.
Mas ninguém o ouviu. Derrotado, se virou e foi passar tanto tempo com Livia como fosse possível antes que a morte a roubasse.

Adron se deteve na porta do quarto enquanto ouvia os sons familiares dos monitores. Só que desta vez não estavam conectados a ele. Supôs por experiência que ela podia ouví-los. Supôs que ela sentia
jazendo ali sem poder se comunicar. Sozinha. Assustada. Desejou gritar. Sua garganta estava esticada, cruzou o quarto e se sentou sobre a cama a seu lado.
-Oi, doce. - sussurrou ele, tocando sua mão fria. Acomodou sua outra mão contra o rosto dela e se inclinou para roçar com seus lábios a fria bochecha. - Por favor, abre os olhos, Livia. - sussurrou
enquanto as lágrimas lhe cegavam. - Abra os olhos e olha o que fez. Na verdade estou sentado aqui sem fazer um gesto de dor. Não tenho nenhuma dor. Mas você sabe, não é verdade?
Seguiu o contorno de seu queixo. E então fez algo que não fez durante muito tempo. Rezou. Rezou e desejou poder sentir seus doces braços o abraçando. Ouvir o belo som de sua voz pronunciando seu nome.
As horas foram passando enquanto Adron ficava o seu lado, falando mais do que jamais tinha falado. Sentado a seu lado, segurou sua mão contra seu coração e desejou que despertasse.
-Não sei o que fez comigo, Livia. Deus sabe, não valia à pena. Mas não quero que me deixe sozinho agora. Preciso de você. Por favor, abra os olhos e olhe para mim. Por favor.
-Pode te ouvir.
Adron se crispou ao ouvir a voz as suas costas.
Assumindo que era uma enfermeira, não se deu ao trabalho de olhar para ela.
-Eu sei.
-Vai desligá-la?
Ele se sufocou ante tal pensamento. E pela primeira vez, entendeu exatamente o que sentiu Jayce quando o encontrou. Meu Deus foi um idiota por odiar seu irmão por amá-lo.
-Não posso deixá-la ir. - disse entre dentes. - Não enquanto tenha uma possibilidade.
-É o que ela quer.
-Eu sei. - o sabia melhor que ninguém. Tinha estado ali. A enfermeira respondeu e pôs uma mão sobre seu ombro.
-Ela quer que te diga que está contigo. E que tenha coragem para isto.
Franzindo o cenho, se virou para se encontrar com uma pequena mulher coberta por uma capa que escondia por completo sua identidade.
-Quem é você?
Ela baixou o capuz. Reconheceu seus traços angelicais no mesmo instante. Era a mãe de Livia.
E viu os olhos verdes prateados de uma raça que era mais mito que realidade.
-É Trisani?
Ela assentiu com a cabeça.
Adron ficou boquiaberto ao saber. Os Trisani eram lendários por suas habilidades psíquicas. E foram caçados quase até a extinção. Os que sobreviveram permaneciam cuidadosamente escondidos afastados
das grandes populações onde poderiam escravizá-los ou matá-los, aqueles que temiam seus poderes ou os desejavam. Ela deu um passo para Livia e tirou o IV de seu braço. Então, lentamente, um a um, desconectou
todos os monitores.
-É hora de levantar, florzinha. - sussurrou ela. Pôs uma mão sobre a testa de Livia.
Aturdido, Adron viu como os olhos de Livia se abriam.
-Mamãe? - perguntou ela.
Sua mãe sorriu então a beijou na testa. Passou uma mão sobre o corpo de Livia.
Adron se sentia débil enquanto o alívio e a alegria se propagavam por seu corpo. Livia estava viva! Sua mãe colheu sua mão e a de Livia e as manteve juntas. O coração de Adron pulsou fortemente quando
sentiu o calor e a carícia que acreditou perdida para sempre.
Livia passou o olhar dele a sua mãe.
-Fez que Krista me enviasse ao Golden Crona, não?
Sua mãe assentiu com a cabeça;
-Estavam destinados. - olhou a Adron. - E para responder a sua pergunta, sim, é permanente. Livia te curou, mas... - olhou furiosa a sua filha. - Não deve voltar a utilizar seus poderes. Tua parte
humana não é o suficiente forte para eles.
-Eu sei, mas não podia deixá-lo morrer.
Sua mãe inclinou a cabeça.
-Agora, tenho que voltar antes que percebam que não estou.
Deteve se um momento na porta e se virou.
-A propósito, é um menino.
-O que é um menino?
-O bebê que ela espera. Felicitações, Comandante. Em sete meses será pai.


Epílogo


Um ano depois

Livia se deteve na porta enquanto olhava Adron dando o alimento às três da manhã.
Apoiado contra as almofadas, Adron estava sentado na cama, nu, exceto pelo lençol colocado modestamente sobre seu colo enquanto segurava o bebê e ficava olhando fixa e com adoração a Jayce... chamado
assim por causa do cara que foi essencial para que eles estivessem juntos.
-Te tenho, pequenino - sussurrou ele. - sim, o tenho.
Ela riu.
Adron levantou o olhar e sorriu.
-Não sabia que tinha voltado.
-Posso ver - ela se moveu para se sentar com os dois. Depois, se apoiou na perna levantada de Adron para cravar os olhos no lindo bebê contra seu peito sem cicatrizes.
Ela arrulhou a Jayce enquanto ele cerrava seu dedinho ao redor de seu dedo. Adron passou a mão carinhosamente pelo cabelo macio, desordenado de Livia. Graças a ela, tinha feito um grande progresso
de bêbado amargo, que ela encontrou bebendo na parte de trás do Golden Crona.
Ela tinha encontrado um homem destroçado, sangrando e o tinha curado. Não só o corpo, mas também seu coração. O tinha reunido com sua família e com sua alma.
No último ano, tinha observado engordar com o bebê e havia congelado enquanto ela lutava para trazer Jayce ao mundo. A vida tinha se acendido num segundo. Sempre soube, mas uma noite chuvosa fria
em um local traseiro de um lugar sujíssimo, sua vida tinha tomado uma curva fechada no céu.
Livia olhou para o bebê.
-Em que está pensando?
Ele seguiu o contorno de seus lábios com a ponta do dedo.
-Penso que estou muito feliz de me ter trocado por essa mulher. Que feliz estou de que meu irmão não pode me matar. Mas sobre tudo, penso somente no quanto estou agradecido porque viu algo em mim
que valia a pena salvar.
Ele se jogou para frente e a beijou suavemente nos lábios.
-Agradeço por meu filho, Livia, e por minha vida. Te amo. Sempre o farei.

 

 

                                                                  Sherrilyn Kenyon

 

 

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