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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


FOGO SOMBRIO / Christine Feehan
FOGO SOMBRIO / Christine Feehan

 

 

                                                                                                                                   

  

 

 

 

 

Quando Tempest foi à entrevista de trabalho, como mecânico, para o grupo músical Os Trovadores Escuros, o que procurava era um lugar seguro, uma forma de seguir adiante com sua vida solitária e tranqüila e não se ver amarrada a um homem dominante que insistia em fazê-la sua e introduzi-la em sua família. Ou não era um homem? Os estranhos costumes de seus companheiros de viagem a intrigam, mas ocultando ela mesma, um segredo, acredita que possa passar despercebida.

Darius era um homem duro acostumado a controlar a todos e tudo o que o rodeava até a chegada desta pequena ruiva humana, nascida para ser sua companheira e que parecia inclinada a se meter em toda classe de problemas, quando está sozinha.

Se atreverá ele, a correr o risco da conversão dela e perturbar ainda mais sua vida?

 

 

 

 

Lanterna e chave elétrica na mão, ela saiu arrastando-se sob o enorme ônibus turístico, quando captou a primeira olhada.

       Era pequena, quase infantil. A princípio, Darius estava seguro de que era uma adolescente, vestida com folgadas calças de trabalho e com o espesso cabelo avermelhado recolhido para trás, num rabo-de-cavalo. Estava com a face suja, manchada de óleo e sujeira. Então ela girou levemente o corpo e ele pôde ver seus seios firmes e túrgidos, contra a fina blusa de algodão sob o peitilho do macacão de trabalho.

Darius a olhou fixamente, extasiado. Mesmo à noite, seu cabelo vermelho ondulava como chamas.

       Poder dizer que seu cabelo era vermelho o aturdiu.

       Como escuro predador e imortal homem dos Cárpatos que era, não via nada em cores, só em branco e preto, a mais séculos dos que podia contar. Não havia compartilhado esta informação, que acompanhava à perda de emoções, com sua irmã menor, Desari, que permanecera a mesma durante séculos. Sempre Desari fora doce e compassiva, como toda mulher dos Cárpatos. Tudo o que ele não era. Desari dependia dele, como todos os de seu grupo, e não desejava provocar a pena dela, com o conhecimento do quão perto ele estava de encarar o amanhecer para dirigir sua própria destruição ou converter-se em vampiro, um não-morto em vez de um imortal.

Que esta estranha mulher, de calças enormes, tivesse captado sua atenção o surpreedera. Mas seu movimento de quadris tinha provocado uma profunda necessidade em seu interior. Conteve o fôlego e a seguiu, à distância, enquanto ela rodeava o ônibus para desaparecer de vista.

- Deve estar cansada, Rusti. Esteve trabalhando todo o dia! - Exclamou Desari.

Darius não podia ver Desari, mas como sempre, era capaz de ouvir a voz de sua irmã. Uma melodia de doces notas, que fazia voltar cabeças ao ouví-la e influir em todas as coisas vivas.

- Pegue um pouco de suco da geladeira no trailer e relaxe um pouco. Não pode arrumá-lo em um dia. - Continuou ela.

- Só um par de horas mais e o terei pronto e em marcha. - Respondeu a pequena ruiva. Sua voz, suave e rouca, tocou Darius em seu íntimo e enviou calor urgente por seu sangue.

       Ele manteve-se imóvel, transpassado pela inesperada sensação.

- Insisto, Rusti. - Disse Desari, gentilmente.

Darius conhecia esse tom, que assegurava que as coisas se fizessem a sua maneira.

- Por favor. Tem trabalho como nosso mecânico. É óbvio que é exatamente o que precisamos. Então, deixe-o por esta noite, está bem? Ver você trabalhar tão duro, me fazer sentir uma feitora.

Darius caminhou lentamente, rodeando a carcaça do motor, para a pequena mulher ruiva e sua irmã. Junto à alta, magra e elegante Desari, a pequena mecânica, a quem ainda não havia conhecido, parecia uma menina desalinhada, embora não pudesse afastar os olhos dela.

A mulher riu guturalmente, ele sentiu seu corpo doer. Mesmo a essa distância podia ver que seus olhos eram de um verde brilhante, com grandes e espessos cílios. Seu rosto era perfeito e ela possuía uma luxuriosa boca, que suplicava ser beijada.Antes que pudesse vê-la melhor, ela desapareceu, passando junto a sua irmã para rodear a parte de trás do ônibus, para a porta traseira.

Darius simplesmente permaneceu ali, congelado na escuridão. As criaturas noturnas estavam voltando para a vida, e Darius permitiu que seu olhar vagasse pelo campo, notando a variedade de cores a seu redor. Vívidos verdes, amarelos e azuis. Podia ver o prateado do ônibus, as letras azuis da lateral. O pequeno carro esportivo próximo era um artefato de cor vermelho fogo. As folhas das árvores eram de um verde brilhante. Ele inalou profundamente, embebendo-se significativamente da estranha essência dela para poder encontrá-la sempre, mesmo em meio a uma multidão, sempre saberia onde ela estaria.

       Extranhamente, ela o fazia sentir como se nunca fosse ficar sozinho, nunca mais. Sequer a havia conhecido ainda, mas simplesmente saber que ela estava no mundo, fazia que este fosse um lugar completamente diferente.

       Não, ele não contara a sua irmã, o ermo e vazio que havia sido sua vida ou o perigo que se tornara, mas seu olhar, quando descansou na ruiva, tinha sido intenso e possessivo. Algo feroz e primitivo em seu interior havia elevado a cabeça e rugindo, pedindo liberação.

       Desari se aproximou, decididamente, rodeando o ônibus, sozinha.

- Darius, não sabia que já tinha se levantado. Anda tão misterioso estes dias... - Seus grandes olhos negros o examinaram especulativamente. - O que é? Parece... – Dessari o olhou com dúvida, não sabendo se terminava a frase.

Perigoso. A palavra não pronunciada flutuou no ar, entre eles.

Darius assinalou para o ônibus.

- Quem é ela?

Desari estremeceu ante seu tom e esfregou as mãos pelos braços, como se sentisse frio.

- Discutimos a necessidade de contratar um mecânico que viajasse conosco, para manter os veículos em forma e assim poder proteger nossa privacidade. Falei para você que ia colocar um anúncio, com uma exigência especial, e você deu sua aprovação, Darius. Disse que se encontrássemos alguém a quem os felinos pudessem tolerar, permitiria. Esta manhã apareceu Rusti. Os felinos estavam aqui fora comigo, e nenhum deles opôs objeções.

- Como é que ela conseguiu chegar ao acampamento, atravessando nossas salvaguardas, as barreiras que nos protegem durante o dia? - Perguntou Darius com calma, embora com um toque ameaçador na voz.

- Honestamente não sei, Darius. Explorei sua mente procurando qualquer propósito oculto e não encontrei nada. Seus parâmetros cerebrais são diferentes dos da maioria dos humanos, mas só pude detectar sua necessidade de um trabalho. Um trabalho honesto.

- É mortal. - Disse ele.

- Eu sei. - Replicou Desari à defensiva, consciente do ar pesado e opressivo que indicava a censura de seu irmão. - Mas não tem família, e indicou a necessidade de manter sua própria privacidade. Não acredito que a importe que não estejamos pelos arredores durante o dia. Contei-lhe que, como trabalhamos e viajamos quase sempre à noite, com freqüência dormimos de dia. Ela disse que por ela, tudo estaria bem. E realmente precisamos dela para manter nossos veículos funcionando corretamente. Sabe que é certo. Sem eles perderíamos nossa fachada de normalidade. E podemos dirigir uma mulher humana, sem nenhum problema.

- Enviou-a ao interior do ônibus, Desari. Se ela estiver lá, porque não estão os felinos com voce? - Perguntou Darius, com o coração repentinamente na garganta.

- Oh, não! Deus meu! - Desari empalideceu. - Como pude cometer semelhante engano? - Horrorizada, correu para a porta da caravana.

Darius já estava lá, antes que ela. Abriu a porta de uma vez e saltou para dentro, agachando-se, preparado para lutar com os dois leopardos pelo pequeno corpo feminino. Ficou congelado, imóvel, com seu longo cabelo negro caindo sobre a face.

       A mulher ruiva estava enroscada na cama com as enormes panteras, de cada lado. Elas ganhavam em tamanho mas ainda assim, empurravam-se contra suas mãos da mulher, procurando atenção.

Tempest - Rusti- Trile ficou em pé rapidamente quando o homem irrompeu na cabine. Parecia selvagem e perigoso. Tudo nele gritava perícia e poder. Era alto, robusto como os felinos, e seu cabelo e negro era espesso e indomável. Os olhos, negros como a noite, eram grandes, hipnotizadores e tão penetrantes, como os das duas panteras. Sentiu que o coração saltava em seu peito e a boca ficou seca.

- Sinto muito. Desari me disse que podia entrar. - desculpou-se apaziguadoramente, tentando afastar-se dos felinos enquanto estes continuavam procurando sua atenção, quase golpeando sua pequena forma com os pequenos empurrões. Tentavam lamber suas mãos, o qual evitou, temendo que suas ásperas línguas levantassem sua pele.

Desari entrou na cabine do ônibus passando pelo homem e parou, com os olhos abertos, arregalados. Surpreendida.

- Graças a Deus que estas bem, Rusti. Nunca teria deixado que viesse sozinha, se tivesse lembrado dos felinos.

- É algo que nunca deveria esquecer.

Darius enviou a reprimenda, como um suave látego, através da mente de sua irmã, usando seu vínculo mental familiar. Desari fez uma careta, mas não protestou, consciente de que seu irmão tinha razão.

- Parecem bastante domesticados. - Aventurou Rusti hesitante, tocando pirmero a cabeça de um animala e depois a outra. O leve tremor de suas mãos delatava seu nervosismo. A causa era o homem, não dos leopardos.

Darius se endireitou devagar, erguendo-se em toda sua estatura. Possuía um aspecto intimidante, seus largos ombros pareciam encher a cabine, e Rusti retrocedeu. Seus olhos a olhavam diretamente, seu olhar a manteve prisioneira, escrutinando sua alma.

- Não são domesticados. São animais selvagens e não toleram o contato íntimo com os humanos.

- De verdade? - A picardia dançou por um momento nos verdes olhos da mulher, e ela empurrou o animal maior, afastando-o. - Não havia notado. Sinto muito.

       Ela não parecia nada afliginda, parecia estar divertindo-se dele.

De algum mode Darius soube, sem nenhuma sombra de dúvida, que a vida desta mulher estaria ligada à sua para toda a eternidade. Havia encontrado o que o companheiro de Desari, Julian Savage, dissera. Encontrara sua companheira. Deixou que o ardente desejo que sentia por ela, flamejasse brevemente em seus olhos e ficou satisfeito quando ela voltou a retroceder.

- Não estão domesticados. - Repetiu. – Poderiam ter destroçar em pedaços, qualquer pessoa que entrasse neste ônibus. Como conseguiu estar com eles e estar a salvo? - Exigiu com a voz profunda e firme de um homem, obviamente, acostumado à obediência imediata.

Os dentes de Rusti mordiscaram o lábio inferior, delprendendo seu nervosismo, mas elevou o queixo desafiante.

- Olhe, vejo que não me quer aqui, não há problema. Não assinamos nenhum contrato, nem nada parecido. Pegarei minhas ferramentas e irei embora daqui.

Ela deu um passo para a porta, mas o homem era uma sólida parede que bloqueava seu caminho. Olhou para o lado, medindo a distância até a porta traseira, perguntando-se se poderia chegar antes que ele a alcançasse. Não sabia como, mas estava com medo de que sua fuga ativasse os instintos predadores dele.

- Darius. - Objetou Desari gentilmente, colocando uma mão apaziguadora no braço dele.

Ele nem sequer girou a cabeça, seus olhos negros permaneceram sobre a face de Rusti.

- Deixe-nos. – Ele ordenou a sua irmã, com voz suave, mas ameaçadora. Até os felinos ficaram nervosos, aproximando-se da mulher ruiva, cujos olhos verdes brilhavam como jóias.

Este homem chamade Darius assustava Rusti como nenhum outro. Havia um brilho possessivo em seus olhos e uma sensual crueldade ao redor de sua boca. Uma intensidade ardia nele, que nunca vira antes. Observou como sua única aliada a abandonava relutantemente, obedecendo a seu irmão, abandonando a luxuosa cabine.

- Fiz-te feito uma pergunta. - Disse ele brandamente.

Sua voz provocou sensações por todo seu corpo. Era uma arma de veludo negro, a ferramenta de um feiticeiro e enviava um inesperado calor através de seu corpo. Sentiu a cor subir pelo pescoço e pela face.

- Todos fazem o que diz?

Ele esperou, tão imóvel como o leopardo, preparado para saltar, com os olhos sem pestanejar, fixos em sua face. Sentiu a estranha necessidade de o responder, de revelar toda verdade. O impulso golpeou sua mente e ela conseguiu reunir toda sua vontade, em protesto. Depois suspirou, sacudiu a cabeça, e tentou sorrir.

- Olhe, não sei exatamente quem é, mas acredito que cometemos um engano. Vi o anúncio de que buscavam um mecanico e pensei que este trabalho podia ser o que eu procurava, isto é, viajar com seu grupo pelo país. – Ela encolheu os ombros, lhe subtraindo importância. - Não importa. Posso ir embora, facilmente.

Darius estudou sua face. Ela estava mentindo. Precisava do trabalho. Estava faminta, mas era muito orgulhosa para dizer. Escondia bem seu desespero, mas precisava do trabalho.

Mesmo assim, nenhuma vez, os olhos verdes haviam vacilado frente a seu olhar, e seu corpo inteiro mostrava desafiou.

Moveu-se então, aproximando-se mais dela, tão rápido que não lhe deu oportunidade de correr. Podia ouvir os batimentos de seu coração, o correr de seu sangue, de sua vida, através das veias. Seu olhar descansou na pulsação que batia freneticamente em seu pescoço.

- Acredito que este trabalho a satisfará perfeitamente. Qual é seu verdadeiro nome?

Ele estava muito perto, era muito grande, intimador e poderoso. De perto, podia sentir o calor emanando de seu corpo, o magnetismo que exalava. Não a tocava, mas ela sentia o calor de sua pele contra a dela como se o fizesse. Teve o impulso de correr tão rápido e tão longe, como pudesse.

- Todos me chamam Rusti. - Soou desafiante, inclusive a seus próprios ouvidos.

Ele sorriu exasperante, como se soubesse que ela estava com medo dele. O sorriso não aqueceu o gelo negro de seus olhos. Ele inclinou sua cabeça lentamente para ela, até que pôde sentir sua respiraçã contra o pescoço. Sua pele ardia de antecipação. Cada célula de seu corpo estava em alerta e gritava uma advertência.

- Perguntei seu nome. - Sussurrou ele contra seu pescoço.

Rusti respirou fundo e se obrigou a permanecer completamente imóvel, firme. Se ele estava brincando, não ia cometer o engano de se mover.

- Meu nome é Tempest Trile. Mas todos me chamam Rusti.

Os dentes dele brilharam novamente. Parecia um predador faminto, espreitando a sua presa.

- Tempest. Vai bem. Eu sou Darius. Sou o chefe deste grupo. O que eu digo, aqui se faz. Obviamente, minha irmã a entrevistou. Desari. Conheceu os outros?

Darius sentiu uma estranha ira o atravessar, ante a idéia de que qualquer dos outros homens a rondasse. E nesse momento soube que até que fizesse Tempest sua, até ele seria extremamente perigoso, não só para os mortais, mas também para sua própria gente. Em todos seus séculos de existência, mesmo em seus anos mais amenos, quando a diversão e a dor ainda existiam para ele, nunca havia sentido tanto ciúme, tanta possessividade ou nenhuma outra emoção remotamente parecida. Não sabia o que era a raiva, até esse momento.

       Estava acalmando-se, assimilando quanto poder possuía esta mulher humana.

Rusti sacudiu a cabeça. Afastou-se de sua intensidade, da forma em que ele fazia seu coração pulsar alarmado, voltando o olhar ansiosamente para a porta traseira. Mas Darius estava muito perto para que pudesse levar a cabo sua fuga. Então, olhou os enormes felinos, depois se concentrou e apontou seus pensamentos para eles, um talento com o que havia nascido, embora nunca admitira em voz alta.

O menor dos dois leopardos, o de pele mais lustrosa, colocou-se entre ela e Darius e despiu seus afiados dentes, para adverti-lo. Darius pousou uma mão tranqüilizadora sobre a cabeça do animal.

- Fique tranqüilo, amiguinho. Não a ferirei. Ela quer nos abandonar. Sinto em sua mente. Não posso permitir. Você não o desejaria tampouco.

Em seguida o felino se moveu, colocando-se diante da porta traseira, deixando Rusti sem possibilidade de fuga.

- Traidor. - murmurou ela para leopardo, esquecendo-se de si mesma.

Darius esfregou a testa, pensativamente.

- É uma mulher incomum. Comunica-se silenciosamente com os animais?

Ela pareceu culpada. Baixando a cabeça, seus olhos se afastaram dele, enquanto pressionava o dorso da mão sobre a boca trêmula.

- Não tenho nem idéia do que está falando. Se alguém está se comunicando com os animais, é você. O leopardo está diante da porta. Todos o obedecem, não é?

Darius assentiu lentamente.

- Todos em meus domínios e isso inclui você agora. Não saia daqui. Não vá embora. Precisamos de você tanto como você de nós. Desari lhe mostrou algum lugar para dormir? – Darius, sentia-se não só e faminto, mas também fatigado. As emoções de o golpeavam, entrando nele, fazendo surgir cada protetor instinto masculino, voltava-o para a vida.

Rusti levantou o olhar para ele, pensando em suas opções. Em algum lugar em seu interior, sabia que Darius não lhe deixara opção. Não a permitiria partir. Sentiu, mais que viu, na implacável linha de sua boca. A resolução estava estampada em seus traços e em seus olhos desalmados. O poder colava-se a ele como uma segunda pele. Já havia estado em situações perigosas antes, mas estes sentimentos eram completamente diferentes. Queria correr... E queria ficar. Podia fingir se quizesse, não discutir com ele.

Darius estendeu a mão e levantou seu queixo para poder olhar diretamente nos olhos verdes.

Isso era tudo. Mas Tempest sentia como se ele tivesse aprisionando-a. Prendendo-os juntos, de alguma forma inexplicável. Sentiu o impacto de seu olhar ardendo em seu interior, marcando tanto a ela como a ele.

Umedeceu o lábio inferior com a ponta da língua. O corpo de Darius sentiu uma quente, dura e urgente demanda.

- Não vais fugir, Tempest. Não creio que conseguirá se afastar. Precisa do trabalho. Nós precisamos que fique. Simplesmente siga as regras.

- Desari disse que podia dormir aqui. - encontrou-se respondendo. Não sabia o que ia fazer. Seus últimos vinte dólares acabaram-se, tinha certeza de que este era o trabalho perfeito para ela. Era uma excelente mecânica, gostava deviajar, gostava de estar sozinha e amava os animais. E alguma coisa, nesse particular anúncio, a havia atraído, conduzindo-a a este lugar, a estas pessoas, como se tivesse algum significado. Estranhara. Foi quase como uma compulsão que não pôde resistir, a necessidade de encontrar essas pessoas e estava segura que o trabalho era para ela. Sabia que era demais perfeito. Sem pensar, suspirou baixinho.

O polegar de Darius acariciou ligeiramente seu queixo. Sentiu seu tremor, mas permaneceu firme.

- Sempre há um preço a pagar. - Observou ele, como se lesse sua mente. Suas mãos se moveram para o cabelo dela, e seus dedos se enterraram nos fios de ouro vermelho, como se não pudesse se conter. Rusti permaneceu totalmente imóvel, como um pequeno animal, surpreendido o em campo aberto, por uma pantera. Sabia que ele era extremamente perigoso para ela, mas só podia permenecer olhando-o, completamente indefesa. Ele estava hipnotizando-a com seus ardentes olhos negros. Não conseguia afastar o olhar. Não podia se mover.

- Como, alto é o preço? - As palavras surgiram estranguladas e roucas. Não podia tirar o olhar dele, sem importar o quanto sua mente lhe exigisse que o fizesse.

O corpo dele se aproximou até que sua dura forma pareceu imprimir-se na suavidade da dela. Ele estava em todas partes, rodeando-a, envolvendo-a até conseguir que ela fosse parte dele. Sabia que devia tentar se mover, romper o feitiço com que ele a envolvia, arrastando-a para ele, mas seu coração acelerava-se ante a gentileza de homem de tanto poder e força. Ele sussurrou algo suave e consolador. Algo que a compelia. A sedução de um feiticeiro.

Rusti fechou os olhos, o mundo súbitamente pareceu nebuloso, confuso como um sonho. Sentiu como se não pudesse se mover, como se não desejasse se mover. Esperou quase sem fôlego. A boca dele acariciou suas têmporas, moveu-se até a orelha, o canto de seus lábios. O hálito era quente, deixando pequenas chamas por onde quer que tocassem

Sentiu que se dividia em duas. Uma parte dela sabia o que era totalmente perfeito, totalmente correto; a outra a urgia a correr tão rápido e tão longe como aguentasse.

A língua atrevida, a acariciou cruzando seu pescoço numa carícia aveludada e que fez encolher os dedos de seus pés e enviou um calor em seu interior. Os dedos dele envolveram sua nuca, aproximando-a ainda mais. Sua língua a acariciou pela segunda vez. Uma sensação ardente furou sua pele, exatamente sobre a pulsação frenetica. A dor abriu passo em seu interior, cedendo terreno instantaneamente a um erótico prazer.

Rusti ofegou, encontrando alguma reserva de instinto de autoconservação e se retorceu, empurrando as mãos, contra os músculos do peito dele. Darius mudou de posição sutilmente, mas seus braços permaneceram firmes e inquebráveis. Uma sonolência deslizou sobre ela. Tempest sentia a necessidade de dar o que ele quisesse.

Estava dividida. Uma parte dela permanecia indefesa no escuro abraço, a outra observava tudo com surpresa e horror. Seu corpo estava quente. Ardia. Desejava. Sua mente aceitava o que ele estava fazendo. Tomar seu sangue, estabelecer sua reclamação sobre ela. De algum modo, sabia que ele não estava tentado matá-la, ele queria possuí-la. Sabia também que não era de forma alguma, um homem humano. Suas pálpebras caíram, e suas pernas dobraram.

Darius deslizou um braço sob os joelhos de Tempest e a levantou, embalando-a contra seu peito enquanto se alimentava. Ela era doce, suave e não se parecia com nada que tivesse provado antes. Seu corpo era fogo sobre ela. Ainda alimentando-se, levou-a para o sofá, saboreando sua essência, incapaz de evitar tomar o que era seu por direito. E ela era. Sentia, sabia e não aceitaria que a tirassem dele.

Só quando a cabeça dela caiu para trás, sobre o esbelto pescoço, compreendeu o que estava acontecendo. Amaldiçoando-se eloqüentemente, fechou os pequenos ferimentos do pescoço, deslizando a língua sobre a mesma e se inclinou para comprovar seu pulso. Havia tomado muito mais sangue, do que ela poderia se permitir dar. E seu corpo ainda pulsava com uma demanda impaciente e selvagem. Mas Tempest Trile era uma mulher pequena e não pertencia a sua raça. Não podia suportar semelhante perda de sangue.

Pior ainda, estava fazendo algo estritamente proibido, rompendo cada código e cada lei que conhecia. Cada lei que ele mesmo havia ensinado aos outros e exigia que seguissem. Embora não pudesse deter-se. Tinha que possuir esta mulher. Certo, ela era uma mulher mortal podia ser utilizada para praticar o sexo, um simples prazer para o corpo, se um ainda pudesse sentir tais coisas. E enquanto não drenasse completamente sua vida, uma mulher mortal também podia ser utilizada como sustento, para alimentar-se. Mas não para ambas as coisas e nunca ao mesmo tempo. Era tabu. Darius sabia que se ela não adoecesse pela perda de sangue, tomaria seu corpo também, uma vez e outra. E mataria qualquer pessoa que tentasse o deter. Que tentasse afastá-la dele.

O que estava acontecendo então? Estava se convertendo em um vampiro? A única coisa que todo homem dos Cárpatos temia... Estava acontecendo com ele? Não importava. O quesabia era que Tempest Trile era importante para ele, a única mulher que havia desejado em séculos de solitária e vazia existência.

Embalando-a em seu colo, começou a abrir a mão com os dentes. Mas algo o deteve. Não parecia correto alimentá-la desse modo. Lentamente abriu a imaculada camisa de seda e seu corpo inesperadamente se acendeu com antecipação. Uma de suas unhas se estendeu, convertendo-se em garra afiada e abriu um pequeno corte no peito. Depois pressionou a boca em cima. Seu sangue era antigo e poderoso e substituiria a perda rapidamente.

Ao mesmo tempo, delizou-se para a mente da mulher. Em seu estado inconsciente, foi relativamente fácil tomar o controle e a persuadir que fizesse o que ordenava. Ficou atônito e imóvel, pelo que descobriu. Desari tinha razão. A mente de Tempest não seguia os patrões normais dos humanos. Era mais parecida com a ardilosa inteligência dos leopardos que freqüentemente corria com ele. Não era exatamente o mesmo, mas definitivamente era diferente do cérebro humano normal. Mas no momento isso não importava, controlou-a com facilidade, ordenando que bebesse para repor o que ele havia tomado.

Chegado de alguma parte um canto ancestral encheu sua mente. Encontrou-se pronunciando as palavras de um ritual, sem estar seguro de onde provinham, mas sabendo que deviam ser pronunciadas. Murmurou-as na língua ancestral de sua gente, depois as repetiu em inglês. Inclinando-se sobre Tempest protetoramente, acariciando seu cabelo, repetiu com suavidade, as palavras a seu ouvido.

- Reclamo-te como minha companheira. Pertenço a você. Ofereço-te minha vida. Dou-te meu amparo, minha lealdade, meu coração, minha alma e meu corpo. Toma-os em mim para guardá-los. Sua vida, sua felicidade e seu bem-estar serão aprecidas e colocadas sobre os meus, sempre. É minha companheira e está unida a mim para toda a eternidade e sempre a meu cuidado.

       Enquanto pronunciava as palavras, Darius sentiu um curioso tremor percorrer seu corpo, e o aliviar de uma terrível tensão. Também sentiu as palavras tecendo diminutos fios entre sua alma e a dela, entre seu coração e o dela. Pertencia-lhe. E ela pertencia a ele.

       Mas não estava certo. Ela era uma mortal. Ele um Cárpato. Ela envelheceria, ele não envelheceria nunca. Embora, não importasse. Nada o importava, exceto ela que estava em seu mundo, que estava a seu lado. Isso, parecia correto. Ela se encaixava a ele, como se tivesse sido modelada para ele.

Darius fechou os olhos e a sustentou contra ele, saboreando a sensação de tê-la entre os braços. Fechou sua própria ferida e a deitou sobre as almofadas que cobria o sofá. Gentilmente, quase reverentemente, limpou-lhe o pó e a sujeira do rosto.

- Não se lembrará de nada quando despertar. Só saberá que conseguiu o trabalho e que agora é parte de nosso grupo. Não recordará nada de mim ou de que trocamos sangue.

Reforçou a ordem com um duro empurrão mental, mais que suficiente para convencer um humano.

Ela parecia tão jovem em seu sono. O cabelo vermelho dourado lhe emoldurava a face. Tocou-a, seus dedos foram possessivos, seus olhos negros ardiam ferozmente. Então se voltou para olhar os enormes felinos. - Vocês gostam dela. Pode falar com voces, não ée? Perguntou.

Pôde sentir a resposta, não em palavras, mas em imagens de afeto e confiança. Ele assentiu. - Ela é minha, e não a deixarei. Guardem bem ela, enquanto dorminos até a próxima sublevação. - ordenou-lhes silenciosamente.

Os dois felinos se esfregaram contra o sofá, tentando aproximá-lo máximo possível, da mulher. Darius tocou a face adormecida, mais uma vez, antes de abandonar o onibus. Sabia que Desari estaria lhe esperando, e seus olhos gentis seriam acusadores.

Ela estava de pé, apoiada contra a parte dianteira do trailer, com a confusão estampada em sua formosa face. No momento em que o viu, dirigiu seu olhar ansiosamente, para o ônibus.

- O que fez a ela?

- Mantenha-se fora disto, Desari. É de meu próprio sangue, uma das pessoas que mais amo e entesouro, mas... - Darius se deteve, assombrado de poder expressar a emoção honestamente pela primeira ver em séculos. Novamente sentia amor por sua irmã. A emoção o golpeou, forte e real. Seu alívio foi tremendo por não ter que retroceder no tempo para fingir emoções. Recuperou a compostura e continuou. - Mas não tolerarei sua interferência neste assunto. Tempest ficará conosco. É minha. Os outros não a tocarão.

A mão de Desari foi para a garganta, e ela empalideceu.

- Darius, o que fez?

- Não se atreva a me desafiar, ou irei para longe daqui e deixarei todos voces seguirem seu próprio caminho.

A boca de Desari tremeu.

- Estamos sob seu amparo, Darius. Sempre nos liderou e nós sempre o seguimos. Confiamos em você completamente, confiamos em seu julgamento. Sei que nunca faria mal a esta garota.

Darius estudou a face de sua irmã durante um longo momento.

- Não, não sabe, Desari e eu tampouco. Só sei que sem ela, levarei perigo e morte a muitos antes de ser destruído.

Desari ouviu-o trêmula, enquanto tomava fôlego.

- É tão mau, Darius? Tão perto está de...

Não precisou usar as palavras vampiros ou não-morto. Os dois sabiam muito bem do que falavam.

- Ela é tudo o que se interpõe entre a destruição de mortais e imortais por igual. A linha é frágil. Não interfira, Desari. É a advertência que sou capaz de te dar. - Disse com implacável e desumana resolução.

Darius sempre havia sido o líder reconhecido de seu pequeno grupo. Quando todos eram pequenos ele os tinha salvado de uma morte segura. Jovem, criara-os e protegera-os, entregando-se a eles. Era o mais forte, o mais ardiloso, e o mais poderoso. Tinha o dom de curar. Todos confiavam em sua sabedoria e sua perícia. Ele havia os conduzido com segurança durante séculos sem pensar em si mesmo. Desari só podia apoiá-lo, no que ele pedia. Não, ele não pedia. Exigia. Sabia que Darius não estava exagerando, nem mentindo, nem alardeando, nunca o fazia. Tudo o que dizia era sério.

Lenta e relutantemente, Desari assentiu.

- É meu irmão, Darius. Sempre estou com você.

Voltou-se, quando seu companheiro brilhava abruptamente até tornar uma figura sólida a seu lado. Julian Savage ainda lhe roubava o fôlego, com sua alta e musculosa forma, com os notáveis olhos de ouro fundido que sempre refletiam seu amor por ela.

Julian se inclinou para roçar a têmpora de Desari com a suavidade e o conforto de sua boca. Havia captado seu desassossego através do vínculo psíquico que compartilhavam e instantaneamente retornara de sua expedição de caça. Quando dirigiu seu olhar para Darius, seus olhos eram frios.

Darius enfrentou seu olhar, igualmente gelado.

Desari suspirou ante estes dois homens territoriais que mediam um ao outro.

- Os dois me prometeram...

Instantaneamente Julian se inclinou para ela, sua voz foi extraordinariamente terna.

- Há algum problema aqui?

Darius deixou escapar um som de desgosto, um profundo e retumbante grunhido em sua garganta.

- Desari é minha irmã. Sempre cuido de seu bem-estar.

Durante um momento os olhos dourados vibraram sobre ele, frios e com ameaça. Então os dentes brancos de Julian brilharam numa espécie de sorriso.

- É verdade, e eu não posso fazer outra coisa que agredecê-lo.

Darius sacudiu a cabeça ligeiramente. Ainda não estava acostumado a tolerar a presença de qualquer homem que não pertencesse a seu pequeno grupo. Aceitar o novo companheiro de sua irmã entre eles era uma coisa, que gostasse dele era outra muito distinta. Julian havia crescido nas Montanhas dos Cárpatos, sua terra natal, e embora se viu obrigado a levar uma existência solitária, possuía o benefício de anos de treinamento em seus costumes, da guia do Cárpatos adultos, durante seus anos de principiante. Darius sabia que Julian era forte e um dos mais hábeis caçadores de vampiros de sua raça. Sabia que Desari estava a salvo com ele, mas não podia renunciar ainda, seu papel de protetor. Foram muitos séculos de liderança, de aprender da forma mais dura, através da experiência.

Alguns séculos atrás em sua terra natal quase esquecida, Darius e outras cinco crianças Cárpatos, viram seus pais serem assassinados por invasores pensavam que fossem vampiros e deram cabo a seus macabros rituais. Fora um tempo aterrador e traumático, quando os turcos invadiram seu povoado, enquanto o sol estava alto no céu, justo quando seus pais estavam em seu momento mais vulnerável. Os Cárpatos haviam tentado salvar aos aldeãos mortais, permanecendo com eles para lutar contra a invasão apesar do fato de que o ataque tinha chegado quando os Cárpatos estavam mais débeis. Eram muitos e o sol estava alto. Quase todos haviam sido massacrados.

Os exercitos invasores haviam reunido as crianças mortais e imortrais, numa cabana e atearam fogo, queimando os pequenos vivos. Darius fabricara uma ilusão que cobrisse a presença de algumas poucas crianças ante os soldados. E quando notou que uma aldeã escapava do banho de sangue dos assaltantes, impos uma compulsão. Implantou na mulher uma profunda necessidade de fugir e levar com ela as crianças Cárpatos que tinha se salvado.

A mulher os levou descendo as montanhas até seu amante, um homem que possuía um navio. A idéia de navegar em mar aberto era rara naquele tempo, já que eram muitas as histórias a respeito de serpentes do mar e de cairem pela borda da terra, mas a crueldade dos invasores era um destino pior. Então, a pequena tripulação levou sua embarcação para longe da costa, fugindo do firme avanço do exercito invasor.

As crianças se amontoaram no precário navio, todos aterrorizados, todos traumatizados pela horrenda morte de seus pais. Desariainda um bebê, tinha sido consciente do que acontecera. Darius seguira adiante, insistindo em que podiam e que se mantivessem unidos. Levantou-se uma terrível borrasca, jogando pela amurada, à tripulação. O mar se elevou para reclamar os marinheiros e à mulher, tão eficientemente, como os turcos tinham massacrado os aldeãos. Darius se negara a deixar se arrastar por esse destino. Embora era ainda jovem, já tinha uma vontade de ferro. Mantendo a imagem de um pássaro na mente dos outros, obrigou as crianças, pequenas como eram, a mudar de forma com ele antes que o navio afundasse. Depois, pegara à pequena Desari entre suas garras, conduzindo-os à massa de terra mais próxima, as costas da África.

Darius tinha tido seis anos, sua irmã apenas seis meses. A outra menina, Syndil, um ano. Com eles havia três meninos, o maior estava com quatro anos. Comparado com o conforto familiar de sua terra natal, África parecia selvagem, indomável, um lugar primitivo e aterrador. Mesmo assim Darius se sentia responsável pela segurança das crianças. Aprendeu a lutar, a caçar e a matar. Aprendeu como exercer a autoridade, como cuidar de seu grupo. Os meninos Cárpatos ainda não possuíam os extraordinadores poderes dos maiores... Conhecer o oculto, para ver o invisível, para dobrar as criaturas e as forças naturais da Terra, para se curar. Tinham que aprender as técnicas de seus pais, estudar sob a tutela de quem os ensinaria. Mas Darius não permitiu que essas limitações o detivessem. Embora ele mesmo não era mais que um garoto, não perderia as crianças. Era simples para ele.

Não havia sido fácil manter com vida às duas meninas. As meninas dos Cárpatos não sobreviviam a seu primeiro ano de vida. A princípio, Darius esperara que outros Cárpatos viessem resgatá-los, mas enquanto isso, cuidaria deles o melhor que pudesse.

E quando passou o tempo, as lembranças de sua raça e seus costumes empalideceram. Assumiu algumas poucas regras impressas nele desde seu nascimento, o que podia recordar das conversas com seus pais, e ideou seus próprios costumes e seu próprio código de honra, de como viver.

Colheu ervas e caçou animais. Tentou cada recurso nutricional primeiro em si mesmo, envenenando-se com freqüência no processo. Mas com o tempo aprendeu os costumes da vida selvagem, convertendo-se num protetor mais forte, e finalmente o grupo crianças ficou mais unido que a maior parte das famílias. Os únicos como ele, em seu remoto mundo. Os poucos de sua raça que encontrara, se converteram em vampiros. Vampiros que se alimentavam da vida dos que os rodeavam. Sempre era Darius que tomava a responsabilidade de caçar e destruir os terríveis demônios. Seu grupo era ferozmente leal, ferozmente protetor uns com os outros. E todos seguiam a Darius sem duvidar.

Sua força de vontade os havia conduzido através de séculos de aprendizagem, de adaptação, e criação de uma nova forma de vida. Havia sido um choque descobrir, há poucos meses, que ainda existiam outros de sua raça, Cárpatos e não vampiros. Darius temia, secretamente, que todos os homens de sua raça houvessem se convertido, e o que seria de seus protegidos se ele o fizesse também.

       Perdera toda a emoção, séculos antes, um sinal seguro de que estava em perigo de se converter. Nunca falava disso, sempre temendo o dia em que se voltaria contra aqueles a quem amava, confiando que sua vontade de ferro e seu código de honra privada impediriam tal resultado. Na realidade, um dos homens já havia se convertido. Converteu-se no impensável. Darius se afastou de sua irmã e seu companheiro, pensando em Savon. Savon era o segundo em idade, seu melhor amigo e Darius acreditava nele com freqüência, para caçar ou vigiar os outros. Savon era sempre seu segundo no comando, e no que mais confiava, para vigiar suas costas.

Deteve-se durante um momento, junto um enorme carvalho e se apoiou contra o tronco, recordando o horrível dia, poucos meses antes, em que tinha encontrado Savon curvado sobre Syndil. O corpo dela era uma massa de marcas de dentes e manchas. Estava nua. Sangue e o sêmen gotejavam por entre suas pernas. Seus formosos olhos estavam enormes, pelo choque. Savon então atacara Darius, direto em sua garganta, rasgando e abrindo feridas quase fatais antes que Darius tivesse tempo de compreender que seu melhor amigo se convertera no que todos os homens Cárpatos temiam. Um vampiro. Um não-morto. Savon violara e golpeara brutalmente Syndil e agora tentava destruir Darius.

Darius não tivera outra opção que matar seu amigo e incinerar seu corpo e seu coração, aprendendo da forma mais dura, como destruir, apropiadamente, um vampiro. Porque o não morto podia se levantar, apesar das feridas mais mortais, a menos que se utilizassem certas técnicas. Darius não dissera a ninguém que se instruíra nessas técnicas, uma eternidade de instintos e enganos que tinha de corrigir. Após a terrível batalha com o Savon, Darius ficou algum tempo nas profundezas da terra, curando-se a si mesmo.

Syndil passou muito tempo em silencio nos seguintes meses, tomando com freqüência a forma de uma pantera para permanecer com os outros felinos, Sasha e Forest. Darius suspirou. Só agora podia sentir a profunda pena que o tomava, por Savon, a culpa e o desespero por ter sido incapaz de notar o que acontecia e encontrar a forma de ajudar seu amigo. Afinal, ele era seu líder, o responsável. E Syndil era como uma menina perdida, com tanta tristeza e cautela em seus belos olhos escuros. Havia falhado com ela, mais que a ninguém. Havia falhado em proteger um dos seus, pensando arrogantemente, que sua liderança mantesse a unidade que existia entre eles e evitaria em última instância, a degradação que sua espécie pudesse experimentar. Ainda não podia olhar Syndil diretamente nos olhos. Agora estava rompendo suas próprias leis. Mas, perguntou-se. Havia inventado essas leis para que sua - família- tivesse um código pelo qual reger-se? Ou seu pai falara de tais assuntos? Ou foram impressos nele, antes de seu nascimento, como tinham sido os outros conhecimentos? Se sua amizade com o Julian fosse mais estreita, poderiam compartilhar informações durante séculos Darius sempre aprendera por si mesmo, independente, reservado, sem perguntar a ninguém, aceitando as conseqüências de suas próprias ações e enganos.

A fome o mordia e ele sabia tinha que caçar. O lugar que escolheram para acampar estava no interior do parque estadual da Califórnia, pouco freqüentado, e neste momento, vazio. Havia uma estrada a curta distância, mas ele estendera uma rede invisível entre ela e o acampamento, criando uma sensação de opressão e temor para que os humanos não pensassem em parar ali. Não machucaria os humanos, mas os tornariam cautelosos.

Embora não houvesse dissuadide Tempest.

Darius pensou enquanto mudava de forma. Seu corpo se cortorceu e estirou. Músculos e tendões logo marcaram o compasso enérgico e agil da poderosa forma do leopardo, e Darius percorreu silenciosamente o bosque para um lugar mais popular situado perto de um profundo e limpo lago.

O leopardo cobriu a distância rapidamente, cheirando à presa, girando a favor do vento e inclinando-se entre os arbustos. Observou dois homens pescando e conversando um com o outro, em frases curtas.

Darius não prestou atenção a suas palavras. No corpo do felino, se arrastou furtivamente na terra. Colocou cuidadosamente cada pata, avançando para frente. Um dos homens voltou à cabeça para o som de uma gargalhada que provinha do acampamento. Darius se deteve, depois reassumiu seu lento progresso. Sua presa voltou à atenção novamente para o lago, e absolutamente silêncio, o leopardo se aproximou mais e se agachou, à espera.

Darius lançou uma silenciosa chamada, envolvendo ao mais novo dos dois homens, conduzindo sua presa para ele. A cabeça do homem se elevou, se voltou para o leopardo que esperava no arbusto. Deixou cair à vara de pescar no lago e começou a cambalear para frente, com os olhos embaciados.

- Jack! - O outro homem, retorceu-se para trás, para olhar a seu amigo.

Darius congelou os dois homens com um bloqueio mental e mudou de forma outra vez, enquanto - Jack- se aproximava. Era a coisa segura a fazer. Havia descoberto que era perigoso se alimentar, pois os instintos caçadores do felino eram mortais. Os agudos caninos do leopardo mordiam e matavam sua presa. Ocorrera-lhe vários episódios, de prova e engano em sua infância, quando não era tão poderoso ou hábil caçando. Quando tivera de aprender o que era aceitável e o que não. Até crescer, não tinha tido outra escolha, que usar aos leopardos e suas habilidades. E aceitou a responsabilidade por quantos africanos morreram, mas era a única forma de manter as crianças com vida.

Mantinha o outro homem tranqüilo e receptivo com a facilidade da longa prática. Um método que aperfeiçoara há muito tempo. Inclinou a cabeça e bebeu até se fartar, mas cuidando em não tomar muito. Não queria uma presa doente e atordoada. Ajudando o primeiro homem a se sentar junto a um arbusto, convocou ao outro até ele.

Finalmente satisfeito, lentamente permitiu que seu corpo recuperasse a forma anterior. O felino ronronou silenciosamente, seus instintos queriam o que pareciam ser cadáveres de cabeças de gado no profundo das árvores, para terminar de consumi-los. Sangue e carne. Darius lutou contra a urgência e avançou sobre as patas, de volta ao ônibus.

Seu grupo viajava unido. Como músicos e trovadores modernos, iam de cidade em cidade cantando, freqüentemente e como era possível, nos pequenos locais que Desari preferia. A viagem constante preservava seu anonimato, mesmo quando ela ficou famosa. Desari possuía uma formosa voz, irreal e hipnotizadora. Dayan era um estupendo compositor e sua voz também ganhava à audiência e os encantava. Nos velhos tempos, a vida de cantor permitia viajar de lugar em lugar, sem levantar suspeita, e ninguém podia notar ou comparar suas diferenças. Agora, com o mundo tornando-se cada vez menor, manter a privacidade frente aos fãs era quase impossível. Tinham que se esforçarem e parecerem - normais- até o ponto de utilizar ineficientes e imperfeitos automóveis para viajar. Daí, a necessidade de um mecânico para manter a caravana e os veículos em funcionamento.

Darius voltou para acampamento e mudou de forma enquanto entrava na casa de rodas, como chamavam o onibus, equipada com todo tipo de luxo. Tempest estava profundamente adormecida. Um descanso bem merecido estava seguro, pelo fato de que ele estivesse tão ávido de seu sangue. Deveria ter tentado se controlar, se despojar desse êxtase inesperado.

Só adimirá-la, fazia seu corpo doer por causa das inquietas e urgentes demandas que não iriam abandoná-lo. Ele e esta pequena teriam que aprender a estabelecer alguma classe de equilíbrio. Darius não estava acostumado à oposição. Todo mundo o obedecia sempre e sem o questionar. Não podia esperar que uma tempestuosa humana não fizesse o mesmo. Colocou a manta mais firmemente em volta dela e se inclinou para lhe roçar a boca com os lábios. Seu polegar examinou a suavidade da pele, e sitiou a sacudidela que atravessava seu corpo.

Darius dirigiu uma ordem firme aos leopardos antes de abandonar o ônibus. Queria que Tempest estivesse a salvo todo o tempo. Embora os felinos dormissem todo o dia, como Darius e sua família, os leopardos davam à companhia de viajantes, uma aparência de segurança, guardando o ônibus enquanto os membros do grupo descansavam e se restauravam nas profundezas da terra.

Dirigiu os instintos protetores dos felinos para cuidarem de Tempest.

 

Vampiro.

Tempest se sentou lentamente, cobrindo-a boca com o dorso da mão trêmula. Estava no ônibus de - Los Trovador Escuro- , no sofá cama, perdida entre muitas almofadas, com uma manta cobrindo-a. Os dois leopardos se apertaram contra ela enquanto dormia. A luz do sol tentava em vão, enfiltrar-se entre as cortinas escuras que cobriam as janelas. Já devia ser tarde, com o sol tão baixo. Estava fraca, trêmula. Tinha a boca seca e os lábios abrasados. Precisava de algo líquido. Quando tentou se sentar, enjoou-se antes de recuperar o equilíbrio. Lembrava de cada horripilante, da noite anterior, apesar de Darius lhe ordenar que esquecêsse tudo. Não restava a menor dúvida, de que ela era capaz de dirigir à maioria dos humanos para que fizessem sua vontade, mas de algum modo não tivera êxito com ela. Tempest sempre fora um pouco diferente, capaz de se comunicar com os animais, de ler seus pensamentos como eles podiam ler os dela. Esse dom devia havê-la provido de uma imunidade parcial ao empurrão mental de Darius, embora provavelmente, ele pensasse que havia destruindo suas lembranças de tudo o que havia feito e era capaz de fazer. Levou uma mão à garganta, procurando uma ferida, compreendendo que não era imune a seu evidente - sex appeal- . Nunca havia sentido semelhante química em sua vida. A eletricidade faiscara entre eles, fumegante. E era humilhante admitir que, por mais que gostasse de acreditar que sim, ele não era o único culpado. Ela tampouco fôra capaz de se controlar. O qual a surpreendia. Aterrorizava-a.

Está bem, de acordo.

O tipo, estava claro que era um vampiro e o mais importante , agora, era sair dali. Fugir. Colocar tanta distância, como pudesse, entre ela e esse maníaco, antes que caísse o sol. Quando supostamente se levantavam os vampiros. Agora, devia estar dormindo em algum lugar. Que Deus a ajudasse, se ele estivesse num ataúde, em alguma parte do ônibus. Não seria capaz de cravar uma estaca no coração de ninguém. Isso não ia acontecer.

- Vá à polícia. - Ordenou a si mesma, brandamente. - Alguém tem que saber disto.

Cambaleou ao abrir passo para a parte dianteira do ônibus. Olhando-se em um espelho para assegurar-se de que ainda tinha reflexo, fez uma careta a sua imagem. O vampiro dificilmente se levantaria para perseguir alguém que parecia a noiva do Frankenstein.

- Claro, Tempest. - Disse a sua imagem. – Conte à polícia... Oficial, um homem me mordeu no pescoço e me chupou o sangue. É o guardião... Uh, o guarda-costas... De uma cantora famosa e sua banda. É um vampiro. Por favor, vá prendê-lo. - Enrugou o nariz e aprofundou sua voz. - Certo, senhorita. Acredito. - E você quem é? Uma indigente, uma mulher sem um níquel, sem pai e nem mãe, com antecedentes por ter fugido de todos os lares adotivos que a colocaram. Digamos que vamos ter um agradável passeio até o manicômio. Além de tudo, passa muito tempo falando com os animais. – Ela fez um gesto com os lábios. - Se, isto funcionar.

Encontrou o banheiro, que achou assombrosamente luxuoso. Lavou-se rapidamente, em vez de admirar o que a rodeava, bebendo tanta água, como podia. Trocou-se, vestindo-se com jeans azuis descoloridos e um Blusa de algodão branco, que tirou da pequena mochila que sempre levava com ela.

Depois, se dirigiu à saída. Entretanto, os felinos elevaram as cabeças em alerta e fizeram ruidos de protesto.

Ela os enviou uma sensação de arrependimento, mas deslizou fora antes que pudessem detê-la bloqueando a porta com seus corpos. Podia sentir suas intenções, sabia que Darius havia dado instruções de retê-la, se despertasse. Ambos grunhiram de raiva para que parasse, mas não duvidou, fechou a porta atrás dela e fugiu para longe do ônibus.

Passou vários minutos tentando localizar a caixa de ferramentas que sempre levava consigo, mas não a encontrou em nenhuma parte. Amaldiçoando em voz baixa, dirigiu-se para a estrada e começou a caminhar. Logo que conseguiu colocar algumas milhas entre ela e a criatura, sentiu-se feliz. Quem diria que ela encontraria um vampiro? Provavelmente o único que existia.

Perguntou-se por que não adoecera com o susto. Não era todo dia que alguem envontrava um vampiro. E não podia contar a ninguém. Nunca. Iria morrer sendo o único humano vivo que sabia que os vampiros existiam realmente. Gemeu. Por que sempre estava se metendo em problemas? Era típico dela ir a uma simples entrevista de trabalho e encontrar um vampiro.

Caminhou outras três milhas, agradecendo que gostasse de andar, porque não vira um só carro em todo o tempo. Diminuiu o passo e e passou uma mão pelo cabelo umedecido de suor, para recolhê-lo num rabo-de-cavalo. Que hora era? Por que não tinha um simples relógio de pulso? Por que não tinha comprovado a hora antes de sair? Depois de outra hora ou pouco mais, andando e correndo, finalmente conseguiu que pegar carona. Sentia-se anormalmente cansada e terrivelmente sedenta. O casal que a tinha recolhido estava de boa vontade, mas a cansaram com sua energia, e quase agradeceu dizer adeus e reassumir sua caminhada. Embora desta vez, não conseguisse andar muito. Estava cansada e seu corpo não podia mais. A cada passo que dava se sentia andar sobre areias movediças.

Deixou-se cair abruptamente a um lado da estrada. A cabeça começava a martelar com alarmante força. Esfregou-se as têmporas e a nuca, esperando aliviar a dor.

Uma pequena caminhonete azul parou a seu lado. Foi com dificuldade que conseguiu ficar em pé e se aproximar da janela do motorista.

O homem beirava os quarenta anos e era compacto e musculoso. Sorria-lhe e seus olhos mostraram um pingo de lástima.

- Alguma coisa errada, senhorita?

Rusti sacudiu a cabeça.

- Não, só preciso de uma carona.

- Claro, suba. – Ele empurrou uma pilha desordenada de sacolas, do assento para o chão. - O carro parece um desastre.

- Obrigado. O tempo parace que vai ficar feio. - E era certo. Inesperadamente, nuvens negras tinham começado a flutuar pelo céu.

O homem levantou o olhar para cima através do pára-brisa.

- Que estranho. Os meteorolgistas informaram que o tempo prediziam claro e ensolarado. Possivelmente as nuvens são de passagem. Sou Harry. – Ele estendeu-lhe a mão.

- Tempest. – Ela deslizou sua mão na dele durante um breve segundo, mas no momento em que ele a tocou, seu estômago se revoltou e sua pele se arrepiou.

O polegar dele acariciou o dorso de sua mão, enviando um calafrio Mas Harry a soltou imediatamente e colocou a caminhonete em marcha, com os olhos na estrada. Rusti se encolheu tão longe dele, como foi possível, lutando por controlar a náusea e sua selvagem imaginação. Mesmo assim, no momento em que se apoiou contra o respaldo do assento, o cansaço a superou, e suas pálpebras caíram.

Harry a olhou com óbvia preocupação.

- Está doente? Poderia a levar no médico mais próximo. Acredito que há uma pequena cidade a umas poucas milhas por esta estrada.

Rusti tratou de se recuperar. Sacudiu sua cabeça latente. Sabia que estava pálida e podia sentir as pequenas gotas de transpiração que lhe cobriam a testa. - Andei durante horas. Acredito que só estou cansada. - Mas sabia que esse não era o problema. Por alguma razão, cada célula de seu corpo protestava pela distância que havia entre ela e Darius. Sabia. Sentia.

- Durma, então. Estou acostumado a conduzir sózinho. - Aconselhou Harry. – Normalmente, tenho o rádio ligado, mas se a incômoda, posso desligar.

- Não me incomoda. - Replicou ela.

Seus olhos não conseguiam permanecerem abertos. Estava exausta. Tinha adquirido algum vírus? De repente se endireitou. Podia, os vampiros, transmitirem a raiva? Convertiam-se em morcegos, certo? E não podia o morcego pegar raiva? Até que gostava dos morcegos, mas isso não significava que gostasse de vampiros. O que aconteceria se Darius a houvesse contagiado?

Notou que Harry a olhava fixamente. Provavelmente pensava que havia recolhido uma drogada. Deliberadamente, voltou a se recostar no assento e fechou os olhos. Podia uma pessoa se converter em um vampiro, com uma só mordida? Só uma pequena mordida? Estremeceu, recordando o escuro e sensual calor fervendo através de seu corpo. Bem, possivelmente foi uma grande mordida. A lembrança, a sensação da boca em seu pescoço, provocou sua pulsação e a fez arder em chamas uma vez mais. Notou que sua mão tremia subindo para a garganta para cobrir a marca, para sujeitar a erótica lembrança contra a palma de sua mão.

Quase gemeu em voz alta. Definitivamente, Darius a tinha infectado com, mas não era raiva. A debilidade continuou invadindo seu corpo, imobilizando suas extremidades, assim deixou de lutar e permitiu que seus olhos se fechassem.

Harry conduziu durante quinze minutos, lançando rápidos olhares à estrada. O coração pulsava ruidosamente no peito. A moça era pequena e curvilínea e havia caído em seu colo. A cavalo dado não se olham os dentes. Olhou seu relógio, satisfeito por ver que estava adiantado em seu horário. Tinha que se encontrar com seu chefe em algumas horas e sobrava tempo suficiente para permitir-se a uma fantasia com sua pequena ruiva.

As nuvens ameaçadoras se espessaram e escureceu. Ocasionalmente, emitiam pequenos relâmpagos e retumbavam com trovões. Mas ainda era cedo, perto das seis e meia e Harry viu um arvoredo onde podia sair da estrada até uma área privada e esconder-se dos carros que passavam.

Rusti despertou de repente, quando uma mão segurou torpemente seu seio. Seus olhos se abriram de repente. Harry estava inclinado sobre ela, arrancando sua roupa. Golpeou-o tão forte como foi capaz, nos pequenos limites da caminhonete, mas ele era um homem grande e seu punho a golpeou no ouvido, depois estralou contra seu olho direito. Durante um breve instante, ela viu estrelas, depois tudo se tornou negro, e se deslizou do assento.

A boca de Harry cobriu a sua, úmida e pegajosa. Uma vez mais lutou, o arranhando com as unhas.

- Pare! Pare!

Ele a golpeou uma e outra vez, enquanto sua outra mão apertava brutalmente seu seio, causando-lhe uma dor insuportável.

- Puta! Por que estaria aqui comigo? É isto o que desejas. Está bem... Eu gosto de rudeza. Lute comigo. Grandioso. Isso... Isso é o que quero.

Seu joelho pressionou com força sobre o quadril do Rusti, mantendo-a abaixo para poder rasgar seu jeans. A mão de Rusti encontrou o trinco da porta e a abriu, caindo sobre o chão. Retorcendo-se, ela tentou escapar.

Sobre suas cabeças os céus se abriram inesperadamente, e as nuvens negras se esvaziaram como uma cascata. Harry a agarrou pelo tornozelo e a atirou para trás, sobre o cascalho, para ele. Segurando seu outro tornozelo, lançou-a tão forte que o ar escapou de seus pulmões.

Um relâmpago estalou, crepitou e se arqueou de nuvem em nuvem. Rusti o viu tão claramente, como se estivesse olhando para o céu. A chuva caiu como um lençol chapeado, empapando-a. Fechou os olhos enquanto Harry a golpeava repetidamente, com os punhos fechados.

- Sente-se bem, sente-se realmente bem, verdade? - Disse com voz áspera. Seus olhos eram feios e duros, olhando-a com ódio e triunfo.

Tempest lutou com ele, com a força que ainda possuía, chutando quando podia liberar suas pernas, golpeava-o até que os punhos esfolaram e doeram. A chuva caía sobre ambos e o trovão grunhiu e sacudia a terra.

Não houve a mínima advertência. Em um momento, o peso de Harry a pressionava para baixo e no seguinte, foi atirado para trás, por uma mão invisível. Ouviu-se o ruído surdo que produziu seu atacante, ao aterrissar com força contra sua caminhonete.

Tempest tentou sentar, mas o estômago se revoltou. Todos os músculos doíam. Tentou ficar de joelhos, antes de vomitar violenta e seguidamente. Estava inchado seu olho, e com a chuva, o vento e a súbita escuridão, era difícil ver o que estava acontecendo.

Ouviu um barulho ameaçador e o som de um osso ao se romper. Engatinhou quase cegamente para uma árvore e se arrastou até ficar em pé, não muito firmemente, abraçando o tronco.

Então braços a rodearam, arrastando-a para um sólido peito. Instantaneamente voltou a lutar, retorcendo-se, gritando e agitando-se violentamente.

- Agora está a salvo. - Disse Darius, batalhando para controlar à fera enraivecida que habitava seu corpo. - Ninguém vai te machucar. Acalme-se, Tempest. Está a salvo comigo.

Nesse momento, não se importou que era Darius quem a tinha salvado. Segurou-se a sua jaqueta e se enterrou nela, tentando esconder-se da terrível brutalidade e desaparecer no refúgio de seu corpo.

Tempest estremecia com tanta força que Darius temeu que sofresse um colapso. Levantou-a em braços, mantendo-a perto.

- Se ocupe do mortal. - Falou ele sobre seu ombro, para Dayan, seu segundo homem ao comando.

Darius levou o pequeno e machucado corpo de Tempest ao comparativo refúgio das árvores. Ela estava um desastre. Seu rosto estava retorcido e arroxeado, as lágrimas fluíam por sua face. Ela abraçava-se, balançando-se para frente e para trás, igual a Syndil depois do ataque sofrido nas mãos de Savon. Darius a sustentou, permitindo-a chorar em seus braços fortes e confortáveis.

Antes de elevar-se, os felinos o advertiram que Tempest fugia. Havia atrasado-a o quanto pode, fazendo que se sentisse excessivamente cansada. Depois enviou nuvens para escurecer os céus e assim poder elevar-se antes sem que o sol ferisse seus sensíveis olhos, sem que queimasse sua pele de Cárpato. No momento em que pôde, lançou-se ao céu, ordenando a Dayan que o seguisse. Juntos, cruzaram o céu noturno para ela. Barack vinha atrás com o carro esportivo, por ordem de Darius.

Cada lágrima que ela derramava rasgava sua alma como nada havia feito.

- Tem que parar, pequena. - Sussurrou ele com suavidade, entre seu cabelo. - Ficará doente. Tudo está bem agora. Ele já foi. Nunca mais voltará a te fazer mal novamente.- Nem a ninguém mais.

Dayan destruiria toda evidência de que Tempest estivera na caminhonete azul. Seu atacante bateu contra uma árvore, quebrado o pescoço ao sair da estrada.

Darius notou que sua mão tremia quando acariciou o cabelo vermelho. Seu queixo esfregava contra a suavidade do cabelo dela, porque tinha que ser.

- O que a fez partir? Oferecemos um trabalho perfeito. E me terá para cuidar de voce.

- Pouca sorte. - Disse Rusti fracamente. – Preciso de uma aspirina.

- Precisa dormir e tempo para se curar. - Corrigiu ele amavelmente. – Venha para casa conosco. Tempest. Estará segura lá.

Tempest segurou a cabeça. Não havia um só lugar onde Harry não tivesse esmurrado ou feito mal, cada um era pior que outro. Odiava a idéia de que alguém a visse assim, e certamente não tinham intenção de ir a nenhum lugar com Darius, especialmente quando sua irmã e o resto do grupo seria testemunha de sua humilhação.

Empurrou a sólida parede do peito dele, fazendo uma careta quando doeram as palmas das mãos. Darius capturou suas mãos e as examinou cuidadosamente, depois as levou uma a uma à boca. Sua língua se moveu sobre os dedos e uma carícia áspera enviou um calafrio através do corpo de Tempest, e de forma bastante estranha, aliviou a dor.

- Não posso voltar, não assim.

Ele pôde ouvir a angústia em sua voz, a degradação e a vergonha que ela sentia. Notou que não levantava o olhar para ele.

- Isto não é sua culpa. - Disse. – Sabe disso, Tempest. Esse homem tentou te violar porque é um depravado, não porque você fizesse alguma coisa para o incitar.

- Estava pedindo carona. - Confessou ela em voz baixa. - Nunca deveria ter subido nessa caminhonete.

- Tempest, se ele não te encontrasse, teria encontrado outra garota, possivelmente uma que não tivesse ninguém que cuidasse dela. Agora me deixe ver seu rosto. Poderia me deixar avaliar o mal que ele fez? - Darius fez um esforço para aliviar o tom de sua voz, para facilitar as coisas.

Tempest não podia acreditar o quanto amável ele era. Podia sentir sua força, seu tremendo poder, ainda assim, sua voz era suave. Seus olhos se encheram de lágrimas. Havia fugido dele pensando que era um monstro, mas tinha sido ele quem a salvou do autêntico monstro.

- Simplesmente não posso olhar ninguém ainda. - A voz de Tempest soou amortecida contra seu peito, mas Darius pôde distinguir sua determinação. Estava preparando-se para seu próximo movimento.

Darius se voltou então, com ela embalada em seus braços e começou a caminhar para a estrada. A chuva golpeava implacável, mas ele não parecia notar. Levou-a para longe, para que ela não visse o que tinha feito com seu atacante.

- Preciso me sentar. - Objetou finalmente. - Em terra firme. - De repente notou que seu blusa estava em farrapos e sua pele nua, exposta. Ofegou em voz alta, atraindo a instantânea atenção dele. O olhar negro se moveu amplamente sobre ela.

Depois, ele sor riu brandamente, para acalmar sua ansiedade.

- Tenho uma irmã, céu. Vi um ou outro corpo feminino antes. - Mas já estava baixando-a ao chão e tirou a jaqueta. Gentilmente a envolveu com ela, aproveitando a oportunidade para olhar mais de perto. Os hematomas, já escurecidos danificavam a perfeição de sua pele clara e um fio de sangue saía pelo canto de sua boca. Darius teve que afastar o olhar da tentação. Olhou as marcas dos golpes sobre seus seios, por todo seu torso e no estômago plano. A raiva deslizou através dele, turbulenta e pouco habitual. Queria matar esse homnuma, sentir seu pescoço romper-se sob suas mãos. Queria rasgar sua carne, como os leopardos que tinha estudado, dos quais aprendera tanto. Reprimiu a fúria aniquiladora sob a superfície onde ela não pudesse vê-la.

Seu instinto natural era curá-la, usando o agente curativo de sua saliva, mas se refreou, não desejava alarmá-la ainda mais. Teria tempo quando a levasse para casa e a colocasse para dormir.

Tempest era consciencie de que Darius podia vê-la, inclusive na escuridão. Curiosamente, ele já não a amedrontava. Olhou fixamente suas sujas sapatilhas esportivas, sem ter ciência do que fazer. Estava doente e enjoada, doía-lhe tudo, e queria chorar. Não tinha dinheiro e nenhum lugar aonde ir.

Darius estendeu a mão, ignorando a forma em que ela se sobressaltou ante o movimento, e envolveu possessivamente com seus largos dedos, a nuca de Tempest.

- Vou levá-la para casa. Pode tomar um banho de banheira, prepararei alguma coisa para você comer, e ninguém te verá exceto eu. - Seu tom parecia esperar resposta, mas ela ouviu a ordem encoberta em sua voz.

- Temos que chamar a policia. - Disse ela. - Não posso deixar que esse monstro saia ileso.

- Ele não voltará a cometer semelhante atrocidade novamente, Tempest. - Murmurou Darius. Podia ouvir o motor do carro que corria para eles, e o identificou como um dos seus. - Minha irmã não a apresentou ainda aos outros membros da banda? - Perguntou, distraindo-a deliberadamente para que ela não continuasse fazendo perguntas.

Tempest se sentou onde estava, a um lado da estrada e em meio da chuva torrencial.

Darius se sentiu furioso, por exigir que a pusesse em pé quando sabia que ela estava muito fraca. Ignorou seus protestos e a voltou a pegá-la nos braços como se fosse uma menina. Tempest, por uma vez, não protestou, não disse nada. Voltou a face para a proteção do peito largo, achegando-se perto do firme e reconfortante batimento de seu coração, e ficou passivamente na segurança de seus braços, estremecendo pelo choque e a chuva fria.

Barack fazia o percurso em um tempo record. Gostava da velocidade dos carros modernos e aproveitava cada oportunidade que se apresentava para afinar suas habilidades como motorista. O mais jovem dos homens dos Cárpatos, ainda consevava reminiscências de sua juventude, em que todos eles eram tão unidos, até que Syndil foi atacada e então eles começaram a não confiar os uns nos outros, nem sequer em si mesmos.

Darius abriu a porta do carro e deslizou para dentro, sem relaxar o braço que sustentava Tempest. Ela tinha os olhos fechados, e não levantou o olhar, nem reconheceu o veículo. Preocupava-o.

- Ela está em estado de choque, Barack. Agradeço que tenha chegado tão rápido. Sabia que podia contar com você. Nos leve para casa com igual velocidade. - Darius falou com seu amigo pelo vínculo mental, em vez de em voz alta.

- Espero por Dayan? - Perguntou Barack, usando o mesmo vínculo mental que era familiar aos cinco de seu grupo.

Darius sacudiu negativamente a cabeça. Dayan iria mais rápido voando, mesmo em meio à tormenta. Como faria ele, se estivesse disposto a aterrorizar Tempest e causar sua morte, por levá-la pelo ar. Não estava. Certamente sabia que suas emoções, tão pouco familiares, alimentavam a intensidade da tempestade que havia criado.

Tempest não falou em todo o longo percurso até o acampamento, mas Darius sabia que ela estava acordada. Nenhuma só vez se mexeu. Imóvel, mantinha um controle tênue, no melhor dos casos e ele se conteve para não dizer ou fazer nada equivocado ou algo que pudesse fazê-la desejar fugir novamente. Não podia deixá-la partir. O ataque só lhe provara o quanto ela que também precisava dele, e a última coisa que queria fazer era criar uma situação em que ela o temesse ou desafiasse sua autoridade.

Julian Savage estava apoiado tranqüilamente contra o ônibus quando chegaram. Endireitou-se, com sua força casual, que revelava seu poder, enquanto Darius deslizava para fora do carro, com a pequena mulher ruiva segura de forma incrivelmente protetora em seus braços.

- Sei um pouco das artes curadoras. - Ofereceu Julian, embora suspeitasse que Darius rechaçaria sua ajuda. Ele sujeitava à mulher com feroz posse, nunca a entregaria a outro homem.

Darius olhou-o. Um rápido e escuro olhar que ardia vivo sobre Julian.

- Não obrigado. - Respondeu tensamente. - Eu me ocuparei de suas necessidades. Por favor, peça a Desari que traga a mochila de Tempest para o ônibus.

Julian cuidou em não permitir que um brilho de humor fosse visível em seus olhos. Darius tinha um ponto fraco. E seu ponto fraco possuía o cabelo vermelho. Quem teria suposto? Não podia esperar para contar a Desari. Com uma rápida saudação, afastou com tranqüilidade.

Darius abriu a porta e entrou. Gentilmente colocou Tempest sobre o sofá. Ela se enroscou numa bola, evitando confrontar-se com ele, que lhe tocou o cabelo. Sua mão foi ligeira, tentando ser consoladora. Depois ele ligou o aparelho de som, muito baixo, para que a voz de Desari enchesse o silêncio com sua curativa e reluzente beleza. A seguir, encheu a banheira de água quente e repleta de essências e acendeu velas especiais. O aroma também era para promover a cura.

Darius não acendeu as luzes. Podia ver perfeitamente sem elas, e Tempest não as queria.

- Vamos, carinho, entre no banheiro. – Disse ele, levantando-a com cuidado, mas rapidamente, sem lhe dar oportunidade de protestar. - As ervas da água arderão a princípio, mas depois se sentirá melhor. - Sentou-a na beirada da enorme banheira. – Precisa de ajuda com a roupa? - Manteve a voz estritamente neutra.

Rusti sacudiu a cabeça rapidamente, mas depois lamentou quando sua cabeça pulsou e teve que fechar os olhos.

- Posso cuidar de mim mesma.

- Não acredito que devemos conversar nisso agora. Não está preparada. - O tom ligeiramente zombeteiro de sua voz, surpreendeu a ele, mais que a ela. – Entre na banheira, céu. Voltarei com um roupão. Poderá comer quando terminar. – Ele inclinou-se para acender duas velas aromáticas mais e deixou que suas chamas dançassem sobre a água e as paredes.

Rusti se despiu lentamente, relutantemente. Doía se mover. Estava dura, muito ultrajada e traumatizada para se preocupar do que era Darius ou o que ele desejava dela. Sabia que ele acreditava ter obtido êxito em apagar suas lembranças, do que havia feito a noite anterior. Mesmo agora, com o horror do acontecera com ela, ainda sentia o ardente calor de sua boca no pescoço. Deslizou para o interior da banheira, ofegando quando a água embalou seu corpo machucado.

Por que as coisas mais estranhas aconteciam sempre a ela? Era cuidadosa. Deslizou sob a água e a ardência do olho e a boca roubou seu fôlego. Quando voltou a subir, recostou-se contra o lateral da banheira e fechou os olhos, descansando. Sua mente permanecia compasivamente em branco. Não podia pensar no Harry ou o que ela poderia ter feito para atrair seu vil ataque. Ele desejara lhe fazer mal e tinha feito.

- Tempest, está adormecendo... - Darius não mencionou que a ouvia gemer de angústia.

Endireitou-se rapidamente, cobrindo-os seios com os braços, e o movimento fez a água derramar fora da banheira. Um olho, de um vívido verde, levantou o olhar para ele com alarme, o outro estava inchado e vermelho. Uma imponente gama de cores cobrindo subia por seu rosto e corpo, prova de sua vulnerabilidade, embora tentasse parecer desafiante.

- Fora. - Exigiu ela.

Darius sorriu, um relâmpago de dentes brancos, que a lembrou o silencioso desafio de um predador.

Ele levantou as mãos, com as palmas abertas.

- Só estou tentando ajudar evitando que se afogue. O jantar está preparado. Aqui está o roupão.

- De quem é? - Perguntou ela.

- Meu. - Era e não era a verdade. Criara-o fácil e instantaneamente, de fibras naturais, um truque que aprendera através dos séculos. - Fecharei os olhos se isso a fizer feliz. Saia daí. – Ele estendeu-lhe uma enorme toalha.

- Não está fechando os olhos. – Acusou ela enquanto se encaminhava para ele. Ele olhava fixamente um hematoma particularmente horrendo em seu torso. Era embaraçoso que pudesse ver o dano que seu atacante havia infringido, não queria pensar por que não a envergonhava em que a visse nua.

Obedientemente ele fechou os olhos, mas a visão... Pequena, desamparada, ferida, e tão... Permaneceu com ele. Sentiu sua esbelta forma encerrada na toalha sob suas mãos antes de se permitir vê-la. Parecia mais aninhada que nunca. E por um momento Darius a tratou assim, secando seu corpo trêmulo, impessoalmente, fingindo não notar a suave e acetinada pele, suas curvas, seu diminuto torso e a estreita cintura. Secou com a toalha as vermelhas mechas de cabelo, agora escuros, por causa da umidade.

- Não posso deixar de tremer. - Disse Tempest, com um fio de voz.

- Comoção. - Disse ele mal-humorado. Desejava sustentá-la entre os braços, afastar de sua mente, o que havia acontecido. – Está com uma comoção. Passará. - Rapidamente a envolveu na suavidade do roupão, porque não podia continuar olhando a pele tão machucada. Odiava a forma em que os olhos dela evitavam os seus, como se tivesse feito alguma coisa errada e estivesse envergonhada.

- Ponha os braços ao redor de meu pescoço, Tempest. - Ordenou brandamente. Sua voz foi um sopro de rouco e hipnótico poder.

Rusti acessou-o contra a vontade e ele a levantou, obrigando-a a olhar seus negros e ardentes olhos. Quase gemeu. Poderia perder-se em seus olhos. Ninguém deveria ter olhos como estes.

- Quero que desta vez me ouça, Tempest. Isto não foi culpa sua. Não fez nada de errado. Se tiver que colocar a culpa sobre alguém, coloque sobre o homem que te atacou, coloque-a no lugar adequado, sobre meus ombros. Nunca teria partido se eu não tivesse te assustado.

Ela deixou escapar um som de protesto, de temor. Disse-se a si mesmo que era porque as velas se apagaram súbitamente, deixando o banheiro na penumbra, mas sabia que era mais que isso.

Sustentou seu olhar, sem permitir se liberar de sua hipnotizante posse.

- Sabe que é a verdade. Estou acostumado a dizer a todos o que têm que fazer. E me sinto muito atraído por você. – Darius fez uma careta, interiormente, ante o comedido comentário. - Deveria ter sido mais amável contigo.

Darius a levou nos braços até a cozinha e a colocou numa cadeira ante a mesa. Uma tigela de sopa fumegante esperava por ela.

- Coma, céu. Trabalhei como um escravo para voce.

Tempest se encontrou tentando esboçar um sorriso. Ardeu-lhe a boca. Ninguém, que pudesse lembrar, nunca a tratara com tanto carinho. Nunca haviam preparado uma tigela de sopa para ela.

- Obrigado por vir atrás de mim. - Disse ela, revolvendo o caldo, tentando, sem que percebesse, ver o que parecia.

Ele sentou em frente a ela, tirou-lhe a colher da mão, com um pequeno suspiro, enchendo-a de sopa, e soprando.

- Coma-a, não brinque com ela. - Repreendeu-a, sustentando a colher ante sua boca.

Aceitou relutantemente. Atônita, comprovou que estava gostosa. Quem teria suspeitado que um vampiro saberia cozinhar?

- É sopa de verduras. - Declarou, agradada. - E está muito boa.

- Tenho meus talentos. - Murmurou ele, recordando todos os caldos que havia preparado para as pequenas, tentando mantê-las com vida. Como os Cárpatos não comiam carne, tentara fazer os caldos com raízes, sementes e folhas, provando tudo antes, envenenando-se em mais de uma vez.

- Fale comigo. - Suplicou Tempest. - Não quero começar a tremer novamente e posso sentir que já começa.

Darius sustentou outra colherada de sopa ante sua boca.

- O que Desari contou sobre nós?

Ela sacudiu a cabeça confirmando, concentrando-se na sensação que lhe proporcionava a sopa.

- Viajamos muito dando concertos, já sabe. Dayan e Desari são nossos cantores. É a voz de Desari a que ouve agora. É muito boa, não?

Havia orgulho em sua voz.

Tempest gostava de sua forma de falar. Parecia do Velho Mundo, com maneiras que enchava extranhamente sexy.

- Tem voz preciosa.

- Desari é minha irmã menor. Recentemente encontrou seu... - interrompeu-se, e a tentou com outra colherada de sopa, antes de continuar. - Encontrou a um homem a quem ama muito. Seu nome é Julian Savage. Não o conheço muito bem, e algumas vezes temos problemas para nos dar bem. Suspeito que parecemos muito e esse é o problema.

- Mandões. - Ajudou-lhe Tempest acertadamente.

Os olhos negros descansaram possessivamente sobre sua face.

- Como?

Tempest sorriu. Fez mal, mas não pôde se conter. Suspeitava que ninguém desafiava ou zombava deste homem.

- Já me ouviu. - Os olhos dele arderam súbitamente com intensidade, com uma fome escura e perigosa que a deixou sem fôlego e a fez pensar nos leopardos que eram seus animais de companhia. Afastou o olhar. - Continue falando. Fale-me de todos.

Darius deslizou uma mão pelo cabelo úmido dela e encontrou a nuca. Seus dedos pousaram em volta do pescoço, desfrutando da forma em que ela encaixava na palma de sua mão. O desejo caiu de repente sobre ele, duro e inesperado, mesmo quando deliberadamente tentou vê-la como uma menina que precisava de seu amparo. Estava tentando se conter, a fim de confortá-la, mas não conseguia. Amaldiçoou-se por sua falta de controle. Precisava de contato com ela, precisava senti-la, saber que era real e sólida e não só fruto de sua imaginação.

- Barack e Dayan também tocam na banda. Ambos são músicos de grande talento, Dayan é um violonista sem igual. Também escreve muitas de nossas canções. Syndil... - Duvidou, inseguro do que revelar sobre Syndil. - Toca órgão e piano, na realidade, qualquer instrumento. Entretanto, recentemente, sofreu um trauma e está a algum tempo sem subir no palco.

O olhar de Tempest se fixou nele e captou sua pena antes que ele tivesse tempo de escondê-la.

- Ocorreu algo... Como o que me ocorreu.

Os dedos se esticaram em sua nuca.

- Não consegui chegar a tempo para detê-lo... Algo que lamentarei por toda a eternidade.

Ela piscou e olhou para outro lado rapidamente. Ele havia dito - por toda a eternidade- . Não - até que mora- ou nenhuma outra das expressões que costumava a usar os humanos. OH, Senhor. Não queria que a lembrança do que ele havia feito com ela fosse apagada, como ele queria. Mas e se ele tentasse novamente, funcionaria?

Uma batida na porta fez que Tempest pular na cadeira e seu coração bater forte no peito. Darius se levantou, totalmente consciente da presença de Syndil fora do ônibus. Moveu-se com fluída graça até a porta.

Tempest não podia afastar os olhos dele. Ele era incrivelmente gracioso e ágil, músculos robustos ondeando sob sua camisa de seda. E andava silenciosamente, como um de seus enormes felinos.

- Darius. - Syndil se negou a encontrar seu olhar. Olhava para os sapatos. - Ouvi o que... Acontecera e pensei que possivelmente poderia ajudar de algum modo. - Ofereceu-lhe a caixa de ferramentas e a mochila de Tempest. - Possivelmente me permitiria vê-la um momento?

- É obvio, Syndil. Obrigado por sua preocupação. Apreciarei qualquer ajuda que possa dar. - Darius retrocedeu para a permitir entrar. Não permitiu que a esperança de que ela se recuperaria, flamejasse nem por um instante, em seus olhos. Seguiu à mulher que estimava, como a uma irmã menor, até a mesa. - Tempest, esta é Syndil. Gostaria de conversar com você, se sentir capaz. Eu limparei a cozinha. Vocês duas estarão mais cômodas no dormitório.

Tempest tentou esboçar um pequeno sorriso.

- Essa é sua forma agradável de nos ordenar que saiamos daqui. Todos me chamam Rusti. - Disse para Syndil, sem se envergonhar, ante outra mulher ferida.

Quando passou junto a Darius, ele estendeu a mão e pegando seu cabelo, deu um suave puxão.

- Não todos, céu.

Ela lançou um olhar de reprimenda sobre o ombro, esquecendo-se por um momento do olho inchado e da boca machucada.

- Todos outros. - corrigiu-o.

Darius permitiu que o cabelo deslizasse entre seus dedos, saboreando o contato, tão leve como era.

Tempest caminhou cuidadosamente, não querendo mexer suas costelas arroxeadas. Syndil gesticulou para o sofá, e Tempest se deixou cair entre as suaves almofadas. Syndil examinou sua cara.

- Permitiste que Darius a curasse? - Perguntou.

Sua voz era formosa, suave cetim, misteriosa. Tempest soube imediatamente que ela também era uma criatura como Darius. Estava em sua voz e seus olhos. Mas era difícil, por mais que tentasse, detectar maldade em Syndil, só havia uma tranqüila tristeza.

- Darius é médico? - Perguntou.

- Não exatamente, mas têm talento para curar os outros. – Ela baixou o olhar a suas mãos. - Eu não permiti que ele me ajudasse, e isso nos machucoumais do que eu pudesse pensar ou dizer. Sei que você mais forte que eu. Permita-o fazer isto por voce.

- Darius chegou antes que me violassem. - Disse Tempest, secamente.

Os formosos olhos de Syndil se encheram de lágrimas.

- Me alegro tanto. Quando Desari me disse que você havia sido atacada pensei... - Sacudiu a cabeça. - Me alegro tanto. – Gentil, ela tocou um dos hematomas com a ponta de um dedo. - Mas esse homem te fez mal. Bateu em você.

- É pior estar ferida por dentro. - disse Tempest, colocando as almofadas em volta dela, como se colocasse uma parede que a manteria a salvo.

 

Syndil olhou fixamente para Tempest, durante um longo momento. Depois, seu fôlego escapou num longo gemido. Sentou-se e inclinou para frente tentando ler a expressão de Tempest.

- Também já passou... Não desta vez, mas em algum momento no passado... Sabe como é... O temor. A repulsa. - Seus olhos brilharam como gelo negro, como ônix. - Esfreguei-me durante horas, meses... Ainda não me sinto bem. – Ela esfregou os braços, com as mãos, a angústia se refletia em seus enormes olhos.

Tempest olhou para a cozinha para assegurar de que Darius não podia ouvi-las.

- Deveria procurar ajuda. Há lugares, Syndil, gente que pode te ajudar a voltar a represar sua vida.

- Isso foi o que fez você?

Tempest engoliu com força, sentindo a nauseia familiar que a tomava, a cada vez que essa porta, em particular, começava a abrir. Sacudiu a cabeça, pressionando o estômago com uma mão.

- Não estava em posição de procurar ajuda. Simplesmente tentei sobreviver. - Uma vez mais olhou para a cozinha, depois baixou a voz ainda mais. - Nunca conheci nenhum de meus pais. Minhas primeiras lembranças são de uma casa poeirenta, em que comia no chão e observava os adultos se cravar agulhas nos braços, nas pernas... Em todas as veias que podiam achar. Não sei qual deles era minha mãe ou meu pai. Ocasionalmente, as autoridades me recolhiam e me deixavam em casas de adoção, mas principalmente vivia nas ruas. Aprendi a lutar para me liberar dos traficantes de drogas, dos bêbados ou de qualquer outro homem que se aproximasse. Era uma forma de vida, e a conheci durante vários anos.

- Foi quando aconteceu? - Perguntou Syndil. Seus olhos estavam tão cheios de dor, que Tempest quis confortá-la em seus braços. Ao mesmo tempo queria correr, para não reviver novamente, esse momento de sua vida. Não podia suportar, não com o ataque de Harry...

- Não. Teria sido mais fácil se tivesse sido algum descarado ou um yonkie ou um bêbado, mas foi alguém em quem eu confiava. - Confessou Tempest em voz baixa, as palavras saíam vinculando-a, de alguma forma, a Syndil. Um vínculo forjado por um terrível trauma que ambas compartilhavam.

- Também para mim foi alguém a quem amava e em quem confiava. - Admitiu Syndil brandamente. - Como resultado disso, agora não sei em quem confiar. Sinto como se ele tivesse matado uma parte de mim. Não posso tocar com a banda. Adorava tocar. A música sempre esteve dentro de mim, e agora não posso suportá-la. Sinto-me morta sem ela. Não posso ficar só com nenhum dos homens. Cresci com eles, são homens que sempre amei, minha família. Sei que se preocupam comigo, mas não posso mudar o que ocorreu.

Tempest enredou o longo cabelo vermelho com um dedo.

- Tem que viver, Syndil, não simplesmente existir. Não pode permitir que ele roube sua vida, suas paixões.

- Mas foi o que fez. Isso é exatamente o que ele fez. Amava-o como a um irmão. Faria tudo por ele. Ainda assim foi tão brutal. Seus olhos eram tão vis, enquanto me fazia mal, como se me odiasse. - Syndil se afastou. - Isso mudou todos nós. Os homens se olham uns aos outros, com suspeita e desconfiança. Se semelhante transformação aconteceu com Savon, possivelmente poderia acontecercom eles também. Darius sofreu terrivelmente, porque como nosso líder, sente-se responsável. Tentei lhe dizer que não é, mas ele sempre nos cuidou e protegeu. Sei que se pudesse me sobrepor a isto, aliviaria seu sofrimento, mas não consigo. – Ela olhoupara as mãos. - Os outros não me tratam como antes. Barack, especialmente, não parece confiar em mim. Agora me vigiam todo o tempo, como se fosse culpa minha.

- Provavelmente a vigiam protetoramente. Mas você não é responsável pelo que sente nenhum outro, Syndil. Pode superar isto, como farão os outros no momento adequado e a seu próprio modo. Não o esqueça... Pode ter escurecido sua vida e suas relações... Mas pode ser feliz novamente. - Reconfortou-a Tempest.

- Nunca falei disto com ninguém, nem sequer com Desari. Sinto muito. Vim aqui a te ajudar, mas só falei de mim mesma. Quero gritar, chorar e me esconder em um buraco. É muito fácil falar com voce.

Tempest sacudiu a cabeça.

- Tem que encontrar a forma de continuar.

- Por favor, me conte o que aconteceu e como foi capaz de confrontá-lo.

Na cozinha, Darius se agitou, relutante em permitir que Tempest suportasse mais outro trauma. Mas queria saber, tinha que saber, e compreendeu que era importante para ambas as mulheres, serem capazes de discutir os traumáticos episódios que tinham sofrido.

- Conheci uma grande dama que trabalhava em uns dos refúgios onde me colocaram. Estava com dezessete anos. Levou-me a sua casa. Eu estava acostumada a roubar carros e ajustar os motores só por diversão. Ellen me fez compreender que eu podia usar melhor minhas habilidades mecânicas e mudar minha vida. Ajudou-me a conseguir me graduar no instituto, e depois me conseguiu um trabalho numa garagem com um amigo dela. Foi grandioso durante um tempo.

- Mas aconteceu... - Sugeriu Syndil.

Tempest se encolheu os ombros pragmáticamente.

- Ellen morreu e novamente eu não tinha nenhum lugar para onde ir. Logo que fiquei desprotegida, meu chefe mostrou sua verdadeira face. Acolheu-me. Confiava nele, pois era amigo de Ellen. Não suspeitava dele. - Fechou os olhos contra as vívidas lembranças que espreitavam em seu interior, a forma em que ele a tinha esmagado contra a parede, deixando-a sem ar, aturdida e completamente vulnerável a seu ataque.

- Fez mala voce?

- Não foi gentil, se isso for o que quer dizer, e eu nunca havia... Estado com ninguém. Decidi que não era algo que queria repetir. – Tempest encolheu os ombros, tentando não fazer uma careta quando suas costelas protestaram. - Ao contrário de você, nunca tive família. Estou acostumada a cuidar de mim mesma e me arrumar como sou. Sempre tive que aprender tudo, do modo mais difícil. Diferente de você. Você Tem vida, uma família. Sabe o que é amor.

- Não posso me imaginar com um homem nunca mais. - Disse Syndil tristemente.

- Tem que tentar, Syndil. Não pode se retirar, simplesmente, do mundo, de sua família. Isto tem que depender de voce. Ellen sempre me dizia que eu jogasse as cartas que a vida me havia dado, em vez de desejar que me dessem outra mão. Não pode mudar o que te aconteceu, mas pode conseguir que não destrua sua vida.

Ouvindo da cozinha, Darius se prometeu solenemente, que o grupo logo tocaria na cidade onde vivia o proprietário dessa garagem e ele o faria uma visita. Mesmo assim, esta era a primeira vez que ouvia Syndil falar com alguém sobre o que acontecera e sentiu uma sensação de grande alívio. Se ela podia falar com Tempest, possivelmente as duas se beneficiariam da experiência.

Podia sentir a debilidade de sua pequena ruiva. Seu corpo estava lastimável e maltratado. Ela estava exausta. Sabia que ela havia deslocado a grande distancia que conseguiu, entre eles, e não possuía dinheiro para comida ou hospedagem. Não queria interromper as mulheres, mas Tempest deslizava visivelmente para baixo, entre as almofadas do sofá, quando as olhou da porta.

Syndil o notou em seguida.

- Falarei contigo quando estiver mais descansada, Rusti. Obrigado por compartilhar suas experiências comigo, uma virtual desconhecida. Acredito que me ajudou mais, do que eu ajudei a voce. – Syndil saudou Darius enquanto saía do trailer.

Darius olhou para Tempest em silêncio.

- Agora vai à cama, céu. Não quero ouvir nenhuma discussão.

Tempest já estava deitada.

- Alguma outra pessoa, além de mim, sente a urgência de lhe atirar coisas? - Soava adormecida, nada combativa.

Darius se abaixou, para ficar ao nível de seus olhos.

- Não acredito. Se pensarem, não têm a audácia de me dizer.

- Bem, acredito que lançar alguma coisa em você é a única maneira de fazer você... - Disse-lhe Tempest. Os olhos já fechando e sua voz era fraca e triste, apesar de suas fortes palavras.

Darius acariciou o rico cabelo vermelho, afastando-o da face dela. Seus dedos massagearam o couro cabeludo.

- Seriamente? Possivelmente amanhã poderia ser melhor momento para tentar.

- Tenho boa pontaria. – Ela advertiu-lhe. - Seria mais fácil se deixasse de me dar ordens.

- Isso arruinaria minha reputação. – Objetou Darius.

Um sorriso curvou o canto da boca dela, enfatizando o diminuto corte vermelho de um lado do lábio. Darius resistiu o impulso de inclinar-se e encontrar o pequeno corte com a língua.

- Vá dormir, pequena. Farei tudo o que possa para aliviar algum de suas dores. Antes que adormeça sobre mim. Fiz uma beberagem de ervas que te ajudará a descansar melhor.

- Por que sinto, como se você estivesse tomando o controle de minha vida.

- Não se preocupe, Tempest. Sou muito bom dirigindo vidas.

Ela pôde ouvir a risada em sua voz e em resposta, um sorriso encontrou a forma de desenhar-se em sua boca.

- Vá, Darius. Estou muito cansada para discutir com voce. - colocou-se mais aconchegada entre as almofadas.

- Supõe-se que não tenha que discutir comigo. - Enfocou sua atenção no copo que estava sobre o balcão da cozinha e o mesmo flutuou até a palma de sua mão facilmente. - Sente-se, céu. Tem que beber isto, querendo ou não. - Deslizou um braço por suas costas e a levantou para poder lhe pressionar o copo contra os lábios

- O que é? - Perguntou ela, suspicaz.

- Beba, pequena. - Instruiu-a.

Ela suspirou brandamente.

- O que contém?

- Beba, Tempest, e deixe de protestar. - Ordenou, derramando o conteúdo do copo por sua garganta. Ela tossiu e cuspiu, mas conseguiu tomer a maior parte da mistura de ervas.

- Espero que não tenha droga nisso.

- Nãotem. É totalmente natural. Isto fará com que durma mais facilmente. Feche os olhos novamente. - Colocou-a de volta entre as almofadas.

- Darius?

Ela pronunciou seu nome suavemente, já meio adormecida e o som se espalhou no interior de sua alma e estirou seu corpo com uma urgente dor. Ele ergueu-se sobre a cabeça dela, até a prateleira de velas que sua família fabricava, procurando os ingredientes que produziriam os aromas que necessitava.

- O que, céu?

- Obrigado por vir atrás de mim. Não sei se poderia aguentar isso novamente. – Ela estava tão cansada, que as palavras lhe escaparam, revelando muito mais do que teria feito voluntariamente.

- Não foi nada, Tempest. – Darius recebeu o agradecimento seriamente. Recolheu umas poucas velas e apagou todas as luzes, deixando o ônibus em trevas.

Um pequeno grito de alarme escapou da garganta de Rusti.

- Acenda as luzes, por favor. Não quero que fiquem apagadas.

- Estou acendendo velas para você e não está sozinha, céu. Ninguém pode te fazer mal aqui. Relaxe, e deixe que a bebida faça efeito. Adormecerá e eu farei o que posso, para me assegurar de que desperte sem muito dor. Se quiser, posso trazer os leopardos para que lhe façam companhia.

- Não. Eu sempre estou sozinha. Assim é mais seguro. - Murmurou, ela muito cansada, para vigiar suas palavras. - Cuido de mim mesma e não respondo ante a ninguém.

- Isso é o que estava acostumada a fazer antes de me conhecer. - Corrigiu ele, gentilmente.

- Não o conheço.

- Conhece-me. Com as luzes acesas ou apagadas, me conhece. – Ele inclinou-se mais uma vez, para acariciar ligeiramente o cabelo dela com a boca. O coração de Rusti quase se parou, depois começou a bater.

- Tempest, abandone este medo desnecessário. Nunca te faria mal. Pode confiar em mim. Sinta em seu coração, em sua alma. As luzes não evitam que aconteçam coisas más. Também sabe isso. - Mas de toda forma, ele acendeu velas por toda parte, para que seu brilho tênue a reconfortassem e os aromas a apaziguassem.

A bebida de ervas que havia lhe dado, começava a fazer efeito, suas pálpebras já estavam ficando muito pesadas, para manter os olhos abertos.

- Darius? Odeio a escuridão. De verdade. - Ainda assim, ela deixou-se levar, sem se perguntar por que se sentia tão segura e reconfortada com ele, quando era tão desconfiada com o resto do mundo. E ele sequer era humano.

Ele acariciou se cabelo gentilmente, silenciosamente, dando-lhe um pequeno empurrão mental para o sono.

- A noite é um lugar formoso, Tempest. Quando se sentir um pouco melhor, mostrarei a você.

Suas mãos eram tranqüilizadoras e ela começou a relaxar sob os dedos acariciantes, respirando os aromas das velas. Darius começou um suave canto. Não era inglês, mas ela nunca tinha ouvido o idioma. As palavras pareceram derramar sobre ela, roçando sua mente como as asas de uma mariposa e não estava segura de que ele as estava sussurrando em voz alta ou não.

Darius continuou o canto, depois de que estar seguro de que Tempest estava profundamente adormecida. Só então se inclinou para inalar a fresca essência dela, para tomá-la sob seu cuidado. Sua boca se moveu sobre as têmporas, o mais ligeiro dos contatos, sobre o olho inchado. Sua língua tocou a pele machucada, com o agente curativo de sua raça. Finalmente, depois de longa espera, pôde encontrar a tentadora boca e tocar o corte com a língua. Tomou tempo, desfrutando de sua tarefa, sujeitando sua mente sobre ela, continuando o canto para mantê-la adormecida.

A palma de sua mão desceu pela garganta, depois deslizou pelo ombro, , deixando nua, a suave e acetinada pele. Sua língua encontrou um horrível hematoma e a traçou sobre a curvatura do seio. Tempest gemeu e se moveu inquieta, lutando contra o hipnótico transe. Ele era forte e sua mente extranhamente diferente, difícil de controlar enquanto usava suas energias para sanar.

Darius se sentia intrigado e assombrado por ela ser diferente dos outros humanos. Em todos os séculos de sua existência, nunca havia tropeçado com padrões mentais como os dela. Por causa de seu anterior intercâmbio de sangue, foi fácil permanecer entre as sombras de sua mente, seu vínculo era mais forte que antes. E também começou a compreender a enormidade de suas próprias emoções, das conseqüências de suas ações e de havê-la unido a ele com as palavras rituais.

Tempest não era uma mulher ordinária que simplesmente o atraíra sexualmente. Ia, além. Além dos limites que anteriormente aceitava em suas relações. Sua lealdade estava completamente com esta pequena mulher, até sobre a que devia a sua própria gente, aqueles a quem protegia, para os que caçara e matara, conduzindo-os através de séculos de águas turbulentas e mudanças.

Darius suspirou e tocou gentilmente com a língua, um enorme hematoma arroxeado, no torso de Tempest. Sabia que protegeria esta mulher acima de todos os outros. Traçou a delicada linha de sua mandíbula. O que estava acontecendo com ela, que o fazia sentir-se mais leal a ela, que a sua própria família, que a sua própria raça?

Na mente dela encontrou valor e uma tremenda capacidade de compaixão e compreensão. Estudou o corpo, frágil e delicado. Perfeito. Com um pequeno suspiro fechou o roupão e pegou a manta para cobri-la até o queixo.

Enviou-se para fora de seu corpo e no interior do dela. Algo que raramente tentara com um humano. Requeria muita mais concentração que com um de sua própria espécie.

Encontrou cada mácula nos órgãos internos e lentamente as reparou de dentro para fora. Estava se familiarizando intimamente com a mente dela, com seu corpo, como um amante, embora houvesse compartilhado seu corpo ou sua mente, como queria.

- Darius.

A chamada mental de sua irmã o levou de volta a seu próprio corpo.

- O que acontece? Respondeu.

- Sinto sua fome. Vá caçar. Nós cuidaremos de Rusti. Não se preocupe, irmão. Estará a salvo comigo.

- Só você.

A ordem escapou antes de poder censurá-la, mais por ciúmes que por temor a que algum dos seus pudesse fazer mal a Tempest. Quando sua irmã sorriu com alegria, a irreal beleza da voz roçou sua mente. Amaldiçoou-se por revelar sua perda de controle.

- Cale-se, Desari. - Disse sem rancor. Sua voz era uma mistura de afeto e hipnótica feitiçaria.

- Como caem os poderosos.

- Notei que esse eu homem te trás com rédea curta. - soltou ele em represália.

- Precisa se alimentar, Darius. Inclusive os felinos podem sentir sua fome. Só eu, vigiarei Rusti.

Darius suspirou. Desari tinha razão. Não podia arriscar-se, que os felinos se impacientassem. Poderiam tornar mortais e se alteravam facilmente. Levantou-se contra a gosto. Não queria deixar ao Tempest, porque sentia os pesadelos espreitando não muito longe dela, mas se dirigiu pausamente para a porta, onde Desari esperava do outro lado.

Saiu e inalou a noite, permitindo que o vento trouxesse informação das criaturas escondidas em suas guaridas e das presas humanas das imediações. Sasha e Forest se aproximaram, esfregando-se contra ele. Sentiu sua aguda insatisfação. Darius lhes assegurou automaticamente que caçaria, alimentaria-se. Estirou-se, relaxando os músculos e começou a correr, trocando de forma enquanto o fazia. Os dois felinos o flanqueavam, ansiosos por caçar. A banda logo entraria em movimento, para cumprir o próximo compromisso de sua agenda, mas enquanto estivessem na cidade, os leopardos tinham que comer comida, que para eles, preparavam seus companheiros Cárpatos. Apesar de que havia muitas presas a seu redor, os felinos eram proibidos caçar, exceto nos lugares selvagens. Esta era parcialmente a razão pela qual o grupo tentava acampar, com freqüência, em bosques remotos, parques e reservas, permitindo que os leopardos utilizassem suas habilidades naturais, mantendo-os calmos.

A forma de Darius bamboleou e estirou. Um focinho se alongou e se arredondou, enquanto ele se inclinava. Longos e robustos músculos deslizaram para cobrir seu corpo e estenderam-se como garras, para se retrair depois, até que as precisasse. Sua espinha dorsal se alongou e se tornou extremamente flexível. Os ombros se ampliaram, lhe dando maior equilíbrio. As patas acolchoadas permitiam correr silenciosamente. A pelagem negra causou coceira durante um momento, enquanto se estendia para cobrir rapidamente o musculoso corpo recém formado.

Os leopardos eram sempre rápidos e ágeis, ardilosos e extremamente perigosos. Com freqüência, o caçador de um leopardo se convertia em presa. De todas as espécies felinas, eram os mais inteligentes. Seu cérebro desenvolvido, conforme sabia Darius, era comparado com freqüência com o das doninhas, e adquirira o conhecimento de primeira mão, através dos séculos, de sua capacidade de raciocínio. Mas como sempre quando caçavam juntos, Darius os dirigia. Sasha e Foresf preferiam caçar dos ramos das árvores, saltando sobre as presas despreparadas de acima. Quando era menino, Darius aprendera e desenvolcera a paciência de sua espécie. Agora ele também podia esperar e vigiar, permanecer completamente imóvel e silencioso ou se arrastar sem ser detectado, através do bosque ou da selva, espreitando, com a barriga rente ao chão, polegada a polegada, com um incrível controle muscular. Quando saltava, o fazia com incrível rapidez, como aqueles com quem havia aprendido esta arte. Logo, entretanto, tornou-se patente para ele que, como homem dos Cárpatos predador como era, que não podia confrontar e seguir muito tempo no corpo do leopardo de instinto indômito e assassino. Ele cuidava em não destruir, simplesmente alimentar-se de sua - presa- .

Os leopardos estavam acostumados a ter longos e agudos caninos para agarrar, sujeitar, perfurar e rasgar. Suas garras alfiladas podiam deslizar através da carne como uma faca. Embora hábeis e intrépidos e incrivelmente inteligentes, seu humor mudava rapidamente, o que os tornava altamente imprevisíveis. Mesmo assim, suas mentes estavam sempre trabalhando, sempre procurando um desafio. Os homens dos Cárpatos estavam muito perto da espécie, em alimentar-se precisamente da mesma maneira, para dobrar à fera predadora que rugia enfurecida dentro deles, enquanto estavam no corpo do leopardo. Requeria-se que o homem recorresse a seu código de honra, seu conhecimento do que era bem ou mal, em vez da lei da selva. Para alimentar-se sem matar.

Darius sentia um grande respeito pelos leopardos, sabendo que eram tão perigosos como ele mesmo e que nunca perdia de vista suas selvagens tendências ou a dos felinos. Ambos eram silenciosos, predadores invisíveis e quando algo estava errado, igual fazia sua própria espécie, convertiam-se no mal encarnado.

Agora, com a noite os envolvendo, com a essência da caça fresca e abundante, sentia a alegria da caça, o único prazer que conhecera durante muitos anos.

Normalmente era um caçador solitário, mas fazia vários séculos Darius tinha aprendido a convocar vários felinos para que se reunissem e poder aprender as habilidades que precisava. Como menino que era, não tinha sido suficientemente forte para caçar sozinho e desenvolvera suas habilidades mentais, antes que sua força muscular. E isso o ajudara a pôr a ponto, a afiar sua habilidade para forçar mentalmente sua conformidade, as adquiridas habilidades do caçador.

De todos os felinos, os leopardos podiam ser os mais perigosos devoradores de homens. Com freqüência, se confrontavam com os caçadores profissionais que os espreitavam. Eram sigilosos e atrevidos. Sficientemente silenciosos, para entrar num acampamento e arrastar à força, uma vítima, com freqüência sem ser detectado. Por isso era necessário manter Sasha e Forest sempre sob controle. Havia muitos humanos acampando e passeando pelos bosques. Os felinos sabiam que ele caçava os humanos, obtendo seu sustento deles, embora também soubessem que estavam proibidos de abater uma presa tão fácil. Às vezes se sentiam descontentes e mal-humorados pelo regulamento que Darius os restringia. Dirigiu-lhes para os veados e outra fauna da área, desejando cometer a menor quantidade possível de enganos. Sasha e Forest deviam alimentar-se primeiro, assim estariam preocupados em devorar suas presas, enquanto ele procurava sangue fresco.

Moveram-se como uma unidade, explorando o terreno. Darius cheirou um pequeno grupo de veados alimentando-se tranqüilamente nas imediações. Como o sistema de radar móvel que eram, os leopardos procederam silenciosamente. Seus largos bigodes terminavam em pontas afiadas, lendo as correntes de ar e os objetos, assim os felinos e Darius podiam avançar implacavelmente para sua despreparada presa.

Darius escolheu o objetivo, procurando os dois animais mais fracos do grupo. O leopardo normalmente escolhia a morte mais fácil, a mais incauta, que vagava inadvertidamente perto da árvore que o leopardo estava utilizando.

Sasha protestou retorcendo os lábios, mas Darius a empurrou mentalmente inclusive enquanto empurrava seus ombros muito mais pesados contra ela em reprimenda.

A fêmea reagiu com um silencioso grunhido, mas saltou agilmente ao ramo de uma enorme árvore. Estirando seu comprido corpo, tendeu-se imóvel, com os olhos âmbar fixos em sua presa. A gama que se moveu para ela, era mais velha do que Sasha teria gostado, mas Darius era enorme, com umas boas duzentas libras de peso e ferozes músculos, nenhum dos felinos se atrevia a o desafiar.

Forest rondava em círculos a favor do vento para a presa atrasada do rebanho de veados que Darius havia selecionado para ele. Afundou-se entre os arbustos e sua pelagem pintalgada se confundia facilmente com a vegetação. O gamo era precavido, levantava a cabeça de quando em quando, procurando no ar, algum indício de perigo. Forest se moveu uma polegada, congelou-se, depois se moveu.

Darius se colocou em posição, perto dos dois veados, para conduzi-los de volta se, por alguma razão, escapassem. Sasha e Forest possuíam muita experiência para expor-se ou permitir que o vento levasse suas essências até a presa. Darius ajudou só em manter o vento imóvel, mantendo-o longe da presa até que Forest esteve a escassos pés de sua gama e a presa de Sasha, diretamente sob seu ramo da árvore. Os enormes felinos entraram em ação simultaneamente, sobressaltando o resto do pequeno grupo. Os veados fugiram em pânico total, dispersando-se através das árvores, mas as duas vítimas ficaram para trás.

Darius deixou os felinos, colocando um campo preventivo a seu redor, criando uma escura e opressiva sensação que espessasse o ar os mantivesse longe de qualquer campista humano ou caçador que pudesse vagar muito perto de onde eles estavam se alimentando. Sasha e Forest conheciam as regras, mas os instintos, tão velhos como o tempo, tinham-lhes regido muito antes que o fizessem, seus companheiros Cárpatos.

Dairus se moveu infalivelmente através dos bosques para o acampamento humano. Em sua presente forma podia saltar facilmente sobre os troncos caídos ou qualquer outro obstáculo que aparecesse em seu caminho. Celebrou a sensação de seus músculos nodosos sob a pelagem. Antes perder suas emoções, sempre amara a noite, e agora, podia desfrutar verdadeiramente dela, Não lembranças escurecidas ou obtidas através da mente de sua irmã, eram através de seus próprios sentidos.

       A terra úmida sob seus pés, a inquietação das criaturas noturnas, o poder surgindo através dele, o vento soprando entre as árvores, fazendo-os balançar e dançar a seu ritmo. Celebrou a fome implacável e dolorosa que invadia seu corpo.   Tempest.

Cores a seu mundo. Emoções. Ela o trouxera de volta à vida, da beira da morte. Permitiu-o sentir amor e a devoção por sua família, já não precisavam fingir uma fraca lembrança de emoção. Agora, quando levantava o olhar para Desari, seu coração se encolhia no peito. Quando via Syndil, era através dos olhos da compaixão, de um profundo afeto.

Mas o que ia fazer com Tempest? Ela era humana. Estava proibido de unir-se a ela. Embora pronunciara as palavras rituais que os uniriam. Havia compartilhado sangue com ela e o faria novamente. Sabia. A mera idéia, do sabor dela molhando sua boca, seu corpo endurecia com um desejo selvagem e implacável. Ela era aditiva, seu sangue saciava a terrível fome, como nada fizera, jamais. Sabia que quando seu corpo a reclamasse, ela deleitaria-se com seu sangue, desejaria ardentemente o intercâmbio entre eles. A idéia da boca dela contra sua pele era insuportavelmente erótica.

Empurrou sua mente com força, para longe da vívida imagem. Já tinha problemas para controlar sua urgência de unir-se a Tempest, de reclamá-la completamente. Devia pelo menos deixá-la que o conhecesse antes. Ainda assim, ela fora feita para ele, sua outra metade. Sentia em seu coração, em sua mente, em sua alma. Quando ela envelhecesse, escolheria envelhecer com ela e enfrentaria o amanhecer. Abandonaria tranqüilamente este mundo quando ela o fizesse.

Com a decisão chegou à paz. Desari tinha Julian e Barack e Dayan eram capazes de cuidar de Syndil. Ele teria seus anos com Tempest. Longos e felizes anos cheios de amor e risos e a beleza do mundo a sua volta. Sabia que sua decisão significava que já não poderia procurar a paz restauradora da terra. Já não poderia suportar separar-se de Tempest muito tempo. E ela precisava de seu amparo.

O aroma da presa se tornou agudo em suas fossas nasais. Uma tenda de lona se elevava ante ele, sob as árvores. Dentro, um homem deitado junto a uma mulher. O leopardo avançou até o interior do refúgio de lona, o aroma do sangue quente o enchia e sua fera interior rugia pedindo alívio. Agachado sobre o forte e saudável corpo do homem, Darius se concentrou em Tempest. Isso suavizou o predador interior e o permitiu tomar forma humana, para segurar o casal com um véu de sonho. O homem se voltou para ele e ofereceu sua garganta. Darius sentiu as familiares presas alongando-se contra a língua e inclinou a cabeça para beber.

O primeiro indício de ansiedade o golpeou enquanto fechava as pequenas incisões, assegurando-se de não deixar nenhuma evidência da que estivera ali. Mudou de forma, deslizando-se para fora da barraca, antes de liberar o casal, do transe de aceitação. A mulher gemeu suavemente, voltou-se, e se aproximou mais do homem em busca de amparo. Ele reagiu, mesmo em seu sono, deslizando um braço ao redor da cintura dela.

Darius começou a se mover rapidamente através da reserva, seu corpo se encolheu, tomou uma forma aerodinâmica e plainou silenciosamente através da espessa vegetação. Deteve-se a várias jardas de Sasha e Forest. O leopardo macho estava ainda fartando-se, agachado sobre sua vítima. Sasha estava já nas árvores, os restos de seu cadáver estava nos ramos, reservado para o dia seguinte.

Continuou plainando e em sua mente, ondeou inesperadamente, com as imagens de pesadelo. Um homem alto e corpulento de enormes braços e com uma intrincada tatuagem de uma cobra em seus biceps protuberantes. Quando o músculo se moveu, as presas da serpente se abriram de par em par. Lentamente o homem voltou à cabeça e seu sorriso era obsceno e cheio de triunfo. Era o proprietário da garagem que havia assaltado a Tempest.

Darius empurrou com sua mente para entrar na de Tempest. As imagens chegavam a ela, mesmo em seu profundo sono. Sua angústia era agora tão vívida, a emissão era tão forte, que os felinos atrás dele a captaram. Ouviu seus chiados familiares e estranhos e lhes enviou uma rápida ordem de silêncio, de seguir diretamente até o acampamento.

Requeria toda sua atenção sujeitar a mente de Tempest com a sua, mas séculos de aperfeiçomento de suas habilidades, o colocaram em forma. Consolou-a, dirigindo seus pensamentos para longe do pesadelo.

Desari já estava com porta aberta e se colocou a um lado, enquanto o enorme leopardo saltava com facilidade para interior do veículo, mudando de forma enquanto o fazia. Darius aterrissou solidamente sobre dois pés, avançando para o sofá.

- Está assustada. É, um pesadelo. - Estabeleceu com voz baixa, abaixando-se junto à esbelta figura. Dirigindo um olhar a sua irmã, falou: - Nos deixe.

Darius foi consciente de que Desari o olhava durante um longo momento. Sentiu seu desconcerto. Ele estava atuando de forma completamente alheia a seu caráter, com Tempest, e era óbvio o que sentia algo por ela. Sua postura gritava posse, amparo.

- É humana, irmão. - Disse Desari tranqüilamente.

Darius emitiu um grunhido baixo e retumbante de advertência, o som vibrou em sua garganta. Desari colocou uma mão protetora sobre a própria garganta e se voltou, com os olhos totalmente abertos para Julian, que se materializara instantaneamente na porta, no momento em que Darius emitiu sua advertência. Desari saiu apressadamente. A tensão permanecia entre seu irmão e Julian. Não podiam se considerar amigos. Ambos a protegiam, mas ambos eram homens fortes e poderosos que seguiam seu próprio caminho, forjando suas próprias regras. Como resultado, sua relação era tensa no melhor dos casos. Colocando uma mão no peito de Julian, Desari empurrou a seu companheiro para longe do ônibus. Ele respondeu enroscando os braços ao redor de sua cintura e levantando-a contra seu forte corpo, sua boca encontrou a dela, em seguida.

Darius ignorou toda a cena, sua atenção estava centrada completamente em Tempest. O cabelo dela se estendia sobre o travesseiro e sua mão, por própria vontade, moveu-se para capturar a espessa massa. Seu corpo se estirou, empurrado por uma emoção. Tempest parecia jovem e vulnerável em seu sono. Ela tentava parecer dura, mas Darius sabia que precisava de alguém que a protegesse e compartilhasse sua vida. Estava sozinha. Estava escrito em sua mente. Compartilhando seus pensamentos e lembranças como fazia, descobriu nela a mesma dolorosa solidão que morava profundamente em sua própria alma. Embora fosse diferente a dele, ela estava cheia de compaixão e amabilidade, tudo o que ele não era. Com todo o mal que lhe tinham feito, não tinha pensamentos de vingança, nem ódio amargo, só uma tranqüila aceitação. Também possuía uma firme resolução de se manter afastada de confusões, levando uma existência isolada e solitária.

Os padrões de sua mente eram interessantes. Preferia a companhia de animais. Podia entendê-los facilmente, sua linguagem corporal e seus pensamentos. Podia comunicar-se com eles sem palavras.

Darius inalou sua essência, tomando-a em seus pulmões e em seu corpo, sustentando-a ali. Ela era única entre os humanos, pela forma em que podia ler a mente de dos animais que a rodeavam. Não se afligia... Amava aos animais... Mas a reação dos humanos ante seu dom era sempre negativa. Darius se inclinou para deitar a cabeça junto a dela, refreando à fera interior que rugia clamando liberação. Todos seus instintos pediam que a reclamasse irrevogavelmente de uma vez por todas. Seu corpo precisava do dela, desesperadamente. O selvagem desejo de saboreá-la, o empurrava com força.

Mas ela precisava de descanso e cuidados. Merecia algum tipo de cortejo. Foi sua vulnerabilidade que manteve à fera atada. Darius se conhecia bem, suas virtudes e debilidades. Era tão implacável e duro como a terra em que havia crescido. Tão selvagem e implacável como os leopardos com quais havia se deslocado. Matava sem emoção, sem malícia, mas matava quando acharava necessário e nunca olhava para trás.

Tempest lhe pertencia. De algum modo, e não tinha nem idéia de como tinha acontecido, uma humana era sua outra metade. Sua alma se amoldava a dele como uma engrenagem. Afiados, eles se encaixavam perfeitamente. Sabia que o corpo dela estava feito para ele, que encontraria nela o mesmo fogo que ardia lento em seu interior.

- Durma profundamente, carinho, sem maus sonhos. Eu a vigiarei. - Murmurou as palavras com suavidade em sua mente, enchendo sua cabeça de sonhos prazeirosos, com coisas que recordava de sua infância. A beleza da savana, o mistério da monção, a abundacia de cores e dos animais.

       Conjurou a excitação de sua primeira caça com os leopardos. Tinha tentado pular dos ramos de uma árvore, como tinha visto fazer os animais mais velhos e tinha aterrissado diante de sua pretendida vítima, inadvertidamente, fazendo-a correr a toda pressa, para fora de seu alcance. Encontrou-se sorrindo ante a lembrança, sorrindo como estava fazendo ela, em seu sonho.

Sua mão se fechou sobre a dela enquanto enviava imagens da majestosa água espumosa caindo de centenas de metros de altura. Crocodilos, antílopes. O orgulho dos leões. Com os detalhes chegaram os aromas, a sensação e mormaço da África. Compartilhou tudo com ela, substituindo os terríveis eventos do dia, de seu passado, substituindo o pesadelo com algo formoso.

- É um homem notável, Darius.

Ele ficou imóvel. Ela havia conversado com ele, telepáticamente. Não pelo mesmo vínculo que estava acostumado a usar sua família. Este era diferente, mais íntimo. Mas era sua voz; não havia engano. De algum modo, no meio do sonho induzido pelas ervas e a compulsão, ela era consciente da presença dele no interior de sua mente. Era incrível que uma humana pudesse ter tais poderes.

Examinou sua mente mais uma vez. Não se parecia em nada com as mentes humanas que estava acostumado. Intrigavam-lhe, como se tivesse às coisas caprichosamente arquivadas e guardadas sob chave. Possivelmente, tinha sido muito complacente com ela.

- Pode ouvir-me? Perguntou em sua mente.

- Não quer que te ouça? Por que está me falando de todos esses lugares maravilhosos e essas lembranças excitantes, se não querer que te ouça?

Mais uma vez, notou o rouco veludo de sua voz, como uma carícia adormecida, como uma amante aconchegando seu corpo, sem sentir, contra o dele. Sempre soava assim? Ouviam os outros, a nota erótica e sexy, em sua voz?

- Esta forma de comunicação não te assusta? Perguntou.

- Estou sonhando. Não me importa sonhar contigo. Está compartilhando minha mente e eu estou compartilhando a tua. Sei que só deseja me ajudar a dormir sem pesadelos.

Podia ser assim, simples? Acreditava que tudo era só um sonho? Darius levou a mão dela a sua boca. Estava sorrindo quando beijou seus dedos. A mão ainda machucada pela luta. Conscientemente, acariciou com sua língua, às escuras marcas púrpuras e azuis.

- Durma, pequena. Durma profundamente e não se preocupe por nada. Deixa que seu corpo se cure.

- Boa noite, Darius. Não se preocupe tanto por mim. Sou como um gato, sempre aterrisso em pé.

 

Tempest despertou lentamente, como se emergisse de um leito de preguiçosas nuvens. Estava dolorida. Cada músculo de seu corpo protestou quando se moveu, embora nem de perto como havia esperado. Sentou-se, olhando cautelosamente a seu redor. Seu corpo estava vivo, sua pele sensível além de toda crença. Recordava o horror do ataque que sofrera, como um vago pesadelo. Conseqüência vívida e aguda, com cada detalhe impresso para sempre em sua mente, era a lembrança da língua de Darius acariciando cada ferimento, afastando a dor e o medo, substituindo-o com ardente e erótico prazer. Queria acreditar que, como alguém era um pesadelo e o outro, um sonho romântico, mas Tempest sempre enfrentava a realidade cara a cara. Esse era seu estilo de vida, a forma em que sobrevivia. Poderia mentir a qualquer pessoa que fosse necessário, mas nunca a si mesmo. As coisas que Darius fazia em seu mundo de sonhos, haviam sido também reais. Tinha estado sob alguma espécie de transe, meio acordada, meio dormindo. E se tinham falado o um ao outro, sem usar outra coisa que suas mentes, de forma muito parecida como se comunicava com os animais, utilizando palavras, não só imagens. Telepatia.

Respirou fundo e olhou a seu redor. Estava sozinha no luxuoso onibus, exceto pelos dois leopardos que abriram cada um, um olho, dormitando ante seu movimento, mas não pareceram inclinados a se levantar. Tempest passou uma mão pelo cabelo. Deveria seguir sua vida, por sua conta ou aproveitar a oportunidade, com qualquer que fosse a criatura com quem tropeçou?

Nunca tivera muita sorte com os humanos e sempre preferia a companhia dos animais. A noite anterior, quando sua mente estava conectada com a de Darius, reconhecera seus padrões cerebrais por ser como os de um animal em muitos aspectos. Tinha desenvolvido altamente seus instintos e sentidos, como os leopardos. Ela sabia que era um caçador formidável, mas não havia detectado maldade nele.

Darius podia havê-la matado em qualquer momento se quisesse. Podia tê-la utilizado como alimento, se isso era o que estas criaturas faziam. Mas não o fizera, tampouco. Havia ido atrás dela quando estava em problemas. Tinha a tratado com amabilidade e compaixão. E a tinha atendido meigamente para curar seu corpo machucado e afastar a pior parte de suas lembranças.

O custo não havia sido pequeno para ele. Darius a desejava. Havia sentido o ardor nele. Tinha sido tudo, menos inofensivo, embora não tivesse atuado para acalmar as exigências de seu corpo. Havia sentido sua enome energia, sair dele e entrar nela, enquanto a curava. Saíra extremamente cansado, depois de usar sua força para aliviar seu sofrimento e ainda assim, ela havia sentido um anseio, uma fome mordaz e insaciável. A mente dele unindo-se à sua, e não esteve segura de onde terminavam seus sentimentos e começavam os dele.

Suspirou e se colocou o cabelo para trás, que caiu soltando-se da grossa trança que ele havia tecido. Ninguém nunca a tratara como fazia Darius. Era amável e cheio deconsideração, terno, mas com tudo, não era um homem fácil de se ter ao lado. Especialmente quando ela estava tão acostumada a fazer tudo a sua maneira. Sua arrogância, sua completa confiança em si mesmo e suas habilidades, tendiam a provocá-la. Obviamente, estava acostumado a que todos obedecessem a seus desejos. Ela estava acostumada a ser completamente independente. Mordeu o lábio, enquanto pensava.

Darius não era só arrogante por esperar que o obedecesse. Era muito mais que isso. Uma dura posse iluminava as profundezas de seus olhos, dando uma ardente intensidade, revelando um desejo só por ela.

- Não... Não, Rusti. - Sussurrou em voz alta. - Este maníaco está acostumado a proteger e controlar a todos os que o rodeiam, assim não deixe que seus hormônios comecem a correr por aí. E os vampiros estão fora de questão. Não quis te amarrar com o bêbado do bairro e não acredito que esta seja uma escolha melhor. Tenho que sair. Desvanecer-me. Correr.

Embora sabia que ia ficar. Emitindo um pequeno gemido, cobriu-se o rosto com as mãos. Não tinha dinheiro, nem família, nem casa. Possivelmente, se Darius dormia durante o dia e ela dormia toda à noite, poderiam se arrumar. Espiou por entre os dedos.

- Como se acreditasse que isso aconteceria. Esse homem quer dirigir o mundo. Seu próprio império privado. - Franziu o nariz e forçou a voz. - - Meus domínios, Tempest- . Lembre-se que ele controla tudo e a todos em seus domínios. - disse-se a si mesmo.

Ela olhou para o relógio da parede. Eram as três da tarde. Se quisesse colocar em marcha os outros veículos e ganhar seu sustento, tinha que fazer logo.

Gemeu em voz alta, quando seus músculos protestaram, saiu debaixo da manta e se abriu passo até o banheiro. A ducha fez maravilhas a seu corpo dolorido e a ajudou a esclarecer sua mente. Como sempre fazia, recolheu o cabelo para que não a incomodasse e se vestiu com uma camiseta e jeans, colocando em cima um macacão, para mantê-los limpos enquanto trabalhava.

Surpreendeu-se em encontrar a geladeira completamente cheia de verduras e fruta fresca. Também divisou vários pães e massas. De algum modo, sabia que Darius era o responsável pelo abastecimento.

Tendo aprendido, desde pequena, a improvisar sua comida, fez-se um molho de alcachofra e cogumelos para servir sobre a massa e comeu devagar embora com moderação, seu estômago ainda estava alterado pelos eventos do dia anterior. Finalmente limpou a cozinha e saiu para dar uma olhada nos carros, caminhões e trailers do grupo.

O sol da tarde provocava calor e havia umidade mesmo sob a cobertura das árvores onde estava trabalhando. Mesmo assim, desfrutava da paz dos bosques. Uma ligeira brisa se levantou uma hora depois que começou a trabalhar, o que aliviou um pouco seu desconforto. A maior parte do tempo estava tão concentrada no que estava fazendo que não pensava em nada mais. Terminou seus ajustes às cinco em ponto e tirou um pequeno descanso, para tomar d água fresca e comprovar aos felinos.

O carro vermelho, basicamente precisava de alguns ajustes e o grupo parecia levar um pequeno carregamento de peças de reposições com eles. Pôde encontrar o que precisava facilmente. Tempest desfrutou trabalhando no pequeno carro e estava satisfeita quando ronronou ao arrancá-lo. Levou-o por uma sinuosa estrada, colocando várias marchas, conduzindo como se estivesse numa corrida. A poucas milhas do acampamento, parou no acostamento, para ajustar o motor.

Estava sobre o motor, ouvindo-o, quando a primeira onda de desassossego a tomou. Mantendo a cabeça sob o capô, levantou os olhos e explorou a área a seu redor. Alguém a estava observando. Sabia. Não fazia idéia de onde chegava à intensa certeza, mas sabia que tinha razão.

- Tempest? - A voz era, como sempre, calma e tranqüila. Mas Darius estava longe. - Tempest, o que é?

Seus dedos se fecharam ao redor da pequena ferramenta que segurava na mão. Não iria fingir que não eram conscientes um do outro. Não podiam deixar acontecer como um sonho.

- Alguém me está observando, respondeu. Sinto... – Ela deteve-se, procurando a palavra para descrever sua inquietação. Quando nenhuma outra se fez em sua mente, fez o que fazia com os animais. Enviou uma impressão de suas emoções.

Um pequeno silêncio se instalou, enquanto Darius avaliava a situação. -      -      - Também me incomoda. Não está dentro do perímetro em que a coloquei. Não sentiu a opressão quando passou através dele?

Rusti franziu o cenho.

- Colocou um perímetro para mim? E isso o que significa? Existe uma distância determinada, que permite me afastar? – Ela sentia-se ultrajada, esquecida por um momento, de seu observador indeseado.

- Não me dê problemas, céu. Faça o que te digo. - Havia um indício de divertida exasperação em seu tom. - Soube que me darias problemas, no minuto em que coloquei meus olhos em você. Faça uma lenta observação do lugar em sua volta. Bem lenta. Olhe com atenção. Eu verei o que você vê.

Rusti fez o que ele ordenava, porque sentia curiosidade por ver o que poderia acontecer. Sua visão era boa, seus sentidos estavam alerta, embora não descobriu o que a intranqüilizava. Era uma sensação estranha, compartilhar sua mente e olhos com outro ser. Desejou ter levado os felinos com ela.

- Muito tarde para mostrar sentido comum, Tempest. Deveria ter ficado onde estava, fora de perigo, como supõe que devia ser. Há um homem com um par de binoculares, observando do pequeno arvoredo a sua esquerda. Posso divisar o pára-choque de seu carro. Tempest, sinto que seu coração bate com alarme. Não há razão para temer. Estou contigo. Não seria possível ele te fazer mal.

- Mas e se ele se aproximar? Sei que está muito longe. Sinto muito.

Darius enviou uma onda de tranqüilidade, uma corrente de calma e força a seu interior. Nunca permitiria que outro homem a tratasse como Harry havia feito. Nunca mais. Uma promessa que fizera a si mesmo. Uma promessa a ela. Rusti juraria que pôde sentir-se envolta por um braço protetor. Não deixava de pensar que não era boa idéia apoiar-se tanto em sua força, quando devia sentir-se ressentida por suas maneiras dominantes. Permitiu-se respirar novamente, permitindo que seu coração reduzisse a marcha, a seu ritmo normal.

- Segue trabalhando, céu. Ele está a ponto de se aproximar. Só atue normalmente. Saberei, se precisar de minha intervenção.

Ela respirou fundo, permitindo que o ar escapasse lentamente e se inclinou uma vez mais, para a peça que estava ajustando. Obrigou-se a não levantar o olhar, até que ouviu o carro do homem. Era um Mustang azul pálido com o motor trucado. Podia saber, élo ronco Fechando o capô, sorriu ao visitante.

- Essa coisa tem potência, heim?

O homem saiu do assento do motorista do Mustang e sorriu. Uma câmara enorme estaga pendurava em seu pescoço. Estava vestido com um terno amarrotado e a gravata estava frouxa

- É a coisa mais rápida que tive em anos. Sou Matt Brodrick. - Estendeu a mão para ela.

Por alguma razão Rusti foi relutante em lhe tocar. Podia sentir o medo tomando força, afligindo-a. Obrigou-se a sorrir e limpar a palma da mão nos jeans.

- Sinto muito. Estou um pouco suxa de graxa. - Explicou.

- Esse parece um dos carros que pertence aos Trovadores Escuros. É membro da banda?

Havia uma curiosidade real em sua voz e um indício de alguma emoção que não pôde nomear. Rusti elevou o queixo, seus olhos verdes estavam limpos de suspeita.

- Por que lhe interessa?

- Sou um fã. Desari Tem voz que vem direto do céu. - Respondeu o home. Quando ela continuou o avaliando em silêncio, soltou um suspiro. - Sou um repórter.

Ela fez uma careta.

- Então já sabe que não sou membro da banda. - Levantou sua caixa de ferramentas. - Sou seu mecânico.

Ele olhou ao redor.

- Onde está o acampamento? Percorri todas estas estradas mas não o divisei. Sei que está em algum lugar por aqui perto.

- E acredita que assim sem mais nem menos, que oferecerei a informação pela bondade de meu coração? – els sorriu.

Mesmo no interior profundo da terra, a milhas de distância, Darius sentiu seu corpo estirar-se e endurecer, ante o som de sua risada. Ela era como uma menina despreocupada, vivendo cada momento, sem prestar atenção a nada que tivesse acontecido antes e a nada que pudesse ocorrer no futuro. A fera interior grunhia, lutando por liberar-se. As presas em sua boca se alongaram para se tornarem letais. Sabia que era perigoso, sempre soubera, mas agora, com Tempest perto de outro homem, ultrapassara o ponto do autocontrole. Não tinha outra razão para viver, e não a deixaria. Nunca.

- Por dinheiro então? - Agora os dentes do repórter pareciam brilhantes, seus olhos duros como pedras, havia algo ardiloso em sua expressão.

- Nem sonhe. - Rechaçou ela, instantaneamente, apesar de que certamente poderia utilizar os recursos. - Não traio as pessoas, nem por dinheiro nem por nenhuma outra coisa.

- Ouvi coisas estranhas sobre o grupo. Ao menos poderia confirmar ou negar alguma das informações?

Tempest guardou a caixa de ferramentas sobre o assoalho do pequeno carro esportivo.

- Por que se incomodar? Pessoas como você, inventa o que quer. Escreve e imprime sem pensar em quem pode fazer mal.

- Só algumas perguntas, de acordo? É verdade que dormem durante o dia e ficam acordados toda a noite? Que todos têm algum tipo de enfermidade, que os impossibilita de sair à luz do sol?

Tempest gargalhou.

- Isso que faz um repórter. Deve trabalhar para um desses asquerosos jornais sensacionalistas. Não posso dizer que tenha me encantado o conhecer, Senhor Brodick, mas agora tenho que ir.

- Espere um minuto. - Brodick segurou a porta do carro antes que ela pudesse fechá-la. - Se estou equivocado, diga. Não quero imprimir lixo.

- Se falo a verdade, realmente a imprimirá? Não inventará alguma história sensacionalista só para vender seu jornaleco? - Seus olhos verdes relampejaram para ele com puro desafio.

- Absolutamente.

- Neste mesmo momento, a banda e seu guarda-costas estão dando uma longa caminhada. Estiveram passeando pelas colinas a última hora ou algo assim. Temos que estar na estrada esta noite para que cheguem a seu próximo compromisso a tempo. Estão tomando uma última pausa. Depois jantaremos e sairemos daqui. Imprima isso, Senhor Repórter. É um pouco mundano, mas também colocam as calças por uma só perna, de uma vez, igual a todos os outros. - Rusti tinha um profundo sentido da lealdade e Darius e sua família, a haviam apoiado solidamente. Se um jornalista explorador como este, suspeitava de algo fora do normal neles, ela não contaria umas poucas mentiras para protegê-los, mesmo que possuísse suas próprias reservas sobre o grupo.

- Viu-os há algumas horas? - Exigiu Brodrick

Rusti olhou com mordacidade seu relógio.

- Quase duas horas. Espero que voltem a qualquer momento. E esperarão que os veículos estejam funcionando como um relógio para que possamos viajar. Duvido que nenhum deles se queime com o sol... Usam protetor solar como todo mundo pelo que sei... Mas a se queimarem... Chamarei voce. De acordo? - Fechou de repente a porta com desnecessária força. - Em caso de que esteja interessado, Desari é propensa às picadas de mosquitos. Usa repelente de insetos de nata solar. Você gostaria de saber a marca?

- Boa garota. - aprovou Darius. Seu orgulho por ela crescia.

- Vamos. - Protestou Brodrick, - Me dê um tempo. Só estou fazendo meu trabalho. Sabe que ela é notícia. Meu Deus! A mulher tem a voz de um anjo. Todas as grandes companhias suplicam por um contrato e ela contínua tocando em pequenos clubes. Poderia fazer milhões.

Rusti riu novamente.

- E o que o faz supor que não os tem? É tão terrível que se faça o que gosta? Ela é uma artista. Gosta da intimidade das pequenas multidões. Não é o mesmo num estádio enorme, onde não pode fazer a mesma conexão com o público. E não há nada semelhante a essa conexão num estudo de gravação. - Estava recolhendo informação diretamente da mente de Darius. Levantou o olhar para Brodrick. – Lamento por voce. Deve odiar seu trabalho, bisbilhotando a vida das pessoas, sem entender quem são na realidade. O dinheiro não o é tudo.

Brodrick segurou a porta com a mão.

- Me leve de volta contigo a seu acampamento. Apresente-me. Se conseguir uma entrevista exclusiva, conseguiria que meu chefe se sentisse contente comigo.

- Nem pensar. - Disse ela. - Não o conheço e faz muitas perguntas estúpidas. Nenhum repórter que valha a pena sairia com algo como se Desari dorme ou não durante o dia. Se tivesse uma atuação que terminaria às duas horas da madrugada, e depois atendesse às pessoas, incluindo repórteres, durante outro par de horas, provavelmente você também queria dormir todo o dia. Que classe de pergunta estúpida é essa? - Rusti injetou tanto desprezo em seu tom de voz, como pôde. - Vou te dizer uma coisa. Quando tiver algo bom, que perguntar, verei o que posso fazer por voce. Mas me nego a colocar em risco meu próprio trabalho por um idiota.

Depois lentamente manobrou o pequeno carro afastando do repórter. Pelo espelho retrovisor, manteve um olho nele enquanto conduzia.

- Ele poderia me seguir, Darius. Deveria o conduzir longe do acampamento?

- Venha diretamente a casa, Tempest. E da próxima vez não saia desprotegida.

Ela enviou uma imagem em que o retorcia o pescoço.

- Vivi sozinha toda minha vida e você está ultrapassando seus limites. Não preciso que ninguém me proteja e estou segura de que não pedirei permissão para ir a nenhum lugar. Já tem pessoas suficientes, a que dar ordens. Dê-me um tempo.

- Posso ver que precisarei fixar minha completa atenção em te manter a raia, céu. Felizmente, estou preparado para a tarefa.

Ele parecia muito seguro de si mesmo, mais do que ela teria gostado. A forma em que a voz dele vertia sobre sua pele como mel e enchia seu corpo como lava quante, acumulando maliciosamente em seu interior, era mais estranha do que já experimentara. Seu próprio corpo a traía. Havia algumas coisas que eram melhor manter a um lado na vida, os vampiros entre elas?

- Tempest. Fechou sua mente para mim. O que aconteceu? Acredita que sou tão formidável, que não deveria ouvir seus pensamentos, quando está zangada comigo? Isso não mudará nada.

- Não é nada, Darius. Como pode falar comigo desta forma, de todo modo? – Ela decidiu que a melhor defesa era um bom ataque. - É porque pode falar com os animais como eu? Acreditou que era melhor dar um golpe de graça.

- Agora admite. Pode ser que na realidade, chegamos a algum lugar.

Tempest olhou novamente pelo espelho retrovisor. Estava voando pela estreita e retorcida estrada, patinando nas curvas e deixando um ou dois rastros dos pneus. Não viu nenhuma nuvem de pó distante que indicasse que o repórter a seguia, mas tinha o pressentimento de que ele estava tentando e se negava a conduzir o de volta ao acampamento.

Darius sabia, que para que fosse completamente seguro, precisava de mais se uma hora mais antes de poder levantar. Encerrado na terra como estava, temia pela segurança de Tempest a menos que ela fizesse o que ele havia ordenado e voltasse para área dentro do perímetro que a colocara. Considerou impor sua vontade à força. Era tentador, já que ela se mostrava ridiculamente teimosa, mas a monitoraria a partir de agora. Só se fosse necessário a compeliria a cumprir suas ordens.

Gostava de sua mente. Gostava de sua independência, seu sentido de liberdade e seu espírito. Ela aprenderia que não podia sair o desafiando, mas por agora, queria dirigi-la tão delicadamente, como fosse possível.

- Darius?

Sua voz foi um suave e indeciso roçar em sua mente, como o toque de dedos sobre sua pele. Chamas deslizavam através de seu corpo, o colocando sobre o fogo. Tinha que tê-la logo. Estava-se descontrolando. Precisava desesperadamente dela.

- Estou contigo, pequena. Não está desamparada.

- Não é como sonho. - replicou ela, mas ele captou o eco de seus pensamentos. - Verdade?

- Volte para casa, céu. Tudo estará bem. Não tem que se empenhar em defender Desari deste repórter.

- Ele não é só um repórter.

Darius ficou em silêncio. Como ela sabia disso? Ele sabia. Houve várias tentativas contra a vida de Desari recentemente. Tinha visto a aura de Brodrick. Era enganador e cobria suas intenções letais, com o que supunha que era encanto. Tempest havia sido incapaz de ler, mas possuía um sentido oculto, que havia funcionado bem com o suposto repórter. Fizera também, um bom trabalho com o repórter. Tinha sido sincera e aberta, além de desafiante para dar autenticidade ao que havia dito.

- Não tem porque me acreditar, Darius. - Tempest soava ferida.

- É obvio que acredito, céu. Agora volte para cá e não faça que me preocupe com você. - Era claramente uma ordem.

Rusti suspirou pesadamente. Ele estava conseguindo. Não queria que ninguém se preocupasse com ela. Enquanto se aproximava, quase a uma milha do acampamento, sentiu um curioso estremecimento a seu redor; o ar parecia mais pesado e opressivo. Em seguida, compreendeu que tinha encontrado uma barreira de algum tipo. Criou uma sensação de temor nela, como se precisasse dar a volta. Por que a sentia agora? Darius tinha amplificado o perímetro que insistia que ela respeitasse?

Sacudiu sua juba de cabelos vermelhos e seus olhos verdes chamejaram desafiantes. Ele não ia dirigi-la como fazia com todos os outros. Tratavam-lhe como uma espécie de Deus Grego. Gemeu em voz alta. Por que tinha saído com essa analogia em particular? Só porque parecia e atuava como um? Estavam mais uma vez, frenéticos os seus hormônios.

Deliberadamente começou a pensar com coisas como pegar o pequeno carro vermelho voltar e pegar auto-estrada e se afastar de homens mandões. Pôde ouvir Darius sorrir tranquilamente, sem se preocupar que ela podia realmente roubar o carro e o desafiar.

- Não aposte nisso. – soltou, enquanto estacionava diretamente atrás do onibus e saía.

O caminhão de dupla tração era o seguinte em sua lista de coisas a fazer. Era mais importante que arrumar as bicicletas empoeiradas. Levantou o capô e como sempre que trabalhava, concentrou-se no que estava fazendo, bloqueando tudo e a todos.

Darius se levantou no preciso momento em que foi seguro, surgindo da terra com tanta força que a terra saltou para cima como um geiser. O céu era de um suave cinza, mesmo no completo escuro, mas as copas das árvores lançavam profundas sombras e ajudava a proteger seus olhos. Inalou, cheirando o ar a seu redor, tomando nota de cada detalhe, cada história que o vento tinha para lhe contar.

À fome sempre presente o mordeu. Mas desta vez seu corpo, duro e pesado, estava fazendo exigências implacáveis e pouco familiares, o enchendo com uma terrível necessidade, tão insaciável como sua fome. Obrigou-se a controlar à fera interior que rugia pedindo alívio e avançou para o ônibus. Divisou Tempest precariamente pendurada na parte frontal do caminhão, esgriminto uma chave mecânica que parecia tão pesada como ela. Enquanto se aproximada dela, seu pequeno corpo se balançou. Tratou de segurrar-se no capô, mas escorregou para trás, com um pequeno som em alguma parte entre o alarme e a ira. Claramente, esta não era sua primeira queda.

Darius se moveu com incrível velocidade para segurá-la, antes que caísse no chão. Ela aterrissou em seus braços.

- É mais problemática que nenhuma outra mulher. Estuda sobre a melhor forma de enlouquecer um homem?

Tempest golpeou os músculos de seu peito.

- Assustou-me. De onde sai? E coloque-me no chão.

Seu corpo saboreou a sensação do dela. Suave contra sua dureza. Sua face estaca com manchas de graxa, mas estava bonita.

- Meu coração não pode suportar nenhum incidente mais. O que acredita que está fazendo? - Disse Darius bruscamente.

Tempest se retorceu para o lembrar que a soltasse.

- Meu trabalho. – Ele era enormemente forte. Seu corpo era duro como um carvalho, mas sua pele era como veludo ardente.

Darius podia sentir o rugido do sangue através dela, ardente e necessitada.        Ela assustou-se. Empurrou-o com força. Darius não pareceu notar. Em vez disso, começou a caminhar, afastando-se do acampamento. O coração de Tempest começou a martelar. Ele lembrava um grande guerreiro reclamando seu prêmio. Segurava-a como se tivesse algum direito sobre ela, como se ela o pertencesse.

Darius levou Tempest para o interior dos bosques, longe dos espaços abertos, procurando as sombras mais frescas. Sua essência o golpeou e se encontrou enterrando a face contra a esbelta coluna de seu pescoço. A veia pulsava freneticamente, chamando sua atenção. O cabelo sedoso caía contra sua cabeça, roçando com chamas sua pele. Um som fluiu por sua garganta, enquanto seu controle baixava precariamente. Havia perigo nesta loucura. Sabia bem, mas não importava nada mais que tê-la.

Rusti sentiu a o hálito dele sobre sua pele. Sentiu o calor e seu corpo se encheu de expectativa. Rodeou-lhe a cabeça com os braços, o conduzindo mais para perto, sem sequer compreender que o estava fazendo. O desejo dele era imenso e o golpeava nele com tanta força, que podia sentir como a embargava, afligindo seu sentido de sobrevivência. Seu coração batia no ritmo do dela, forte e frenético. Ela sentiu a carícia de sua língua ao passar pelo pescoço e seu coração pulou, suas vísceras se derretiam de antecipação.

- Darius, não o faça. - Sussurrou as palavras, embora a intenção era dar uma ordem. Saiu, mas como uma súplica rouca de desejo.

A boca dele se movia sobre sua pele, enviando onda de fogo que a golpeavam.

- Não tenho escolha. É como se pedisse que tentasse deter o vento. Isto é inevitável entre nós. Aceite-me. Aceita o que sou.

Ela sentiu a gentil carícia de sua língua. Um erótico e hipnótico raspar de veludo. Sua cabeça se arqueou para trás, expondo a vulnerável curva da garganta. O calor subiu vertiginosamente através de seu corpo quando os dentes dele se afundaram profundamente na oferta e ele se alimentou avidamente, vorazmente, de sua doçura.

Nada mais voltaria a saciar sua fome. Nada. Seu corpo ardia de desejo e necessidade. Ela estava em seus braços, adormecida, num escuro e mágico mundo de sonhos, ardendo por ele.

Em algum lugar no interior dos bosques, uma coruja ululou. Dentro do ônibus um dos felinos rugiu intranqüilo, o som pareceu estranho na penumbra. Tempest tomou uma profunda e trêmula respiração, seus sentidos voltaram bruscamente para ele. Estava nos braços dele, num sacrifício voluntário e seu corpo se movia contra o dele com um desejo desconhecido. Sentia os seios inchados e doloridos, seus mamilos duros se empurravam contra seu a camiseta. Sentia-se adormecida e com os olhos pesados, embora pecaminosamente lasciva.

       Começou a lutar e seus punhos se agitaram para Darius.

Ele arrancou a si mesmo de um mundo de puros sentimentos, acariciando com a língua, o frágil pescoço para selar as pequenas evidências.

- Se acalme, céu. Não estou fazendo mal a voce. - Descansou sua testa contra a dela. - Apagarei este incidente de sua mente e desejaria poder fazer o mesmo com a minha também. - Ela estava tremendo em seus braços. Seus enormes olhos totalmente abertos pela surpresa, sua face estava pálida.

- Está bem, Darius. Foi só a surpresa. - Sussurrou. - Sei que não me faria mal. – Ela tentou novamente, escapar de seus braços.

Darius apertou sua garra sobre ela.

- Não vou deixar. Não posso. Não espero que entenda e não posso explicar adequadamente. Estive cuidado de outros, toda minha existência. Nunca tive nada para mim mesmo, pois nunca desejei ou precisei de alguma coisa. Mas preciso de voce. Compreendo que não possa aceitar o que sou, mas isso não me importa. Desejaria ser capaz de dizer... Não te deixarei nunca. É a única mulher que pode me salvar. Salvar os outros de mim. Mortais e imortais.

- O que é, Darius? - Tempest deixou de lutar com ele. Sabia que não tinha esperanças de se afastar, a menos que ele permitisse. Seu coração batia contra o peito dele, tão rapidamente, que temeu que pudesse explodir. Em seguida, os olhos negros capturaram e sustentaram os dela e se sentiu cair para suas escuras e insondáveis profundezas.

- Tenha calma, céu. Não há nada a temer. - Envolveu-a, em ondas de tranqüilidade. Um mar consolador e pacífico de tranqüilidade.

Por muito que desejasse, não podia afastar o olhar. Havia intensidade em Darius. Era tão firme e sólido como as montanhas, duro como o granito, embora gentil com ela. Quando a olhava, um ardente desejo iluminava seus olhos. Uma dura sensação de posse. Era sempre jovem. Eterno. Com uma vontade implacável. Nunca se desviaria do caminho escolhido. E tinha escolhido a ela.

Levantou a mão para tocar o pescoço palpitante.

- Por que eu?

- Em todo mundo, em todos estes séculos, desde que as emoções me abandonaram, estive só, Tempest. Completamente só. Até que você chegou. Só você me trouxe as cores e a luz de volta. – Ele inalou, tomando sua essência profundamente, no interior de seus pulmões. Precisava aliviar as implacáveis exigências de seu corpo.

- Não se preocupe, não se lembrará de nada disto.

Ainda cativa de seu olhar negro, Rusti sacudiu a cabeça lentamente.

- Lembro-me da última vez, Darius. Não apagou minha memória.

Seus olhos negros não flutuaram, não piscaram, enquanto aceitava o que era quase impossível, como um fato.

- Fugiu por que... O fiz. – Disse ele sem expressão, como se sua revelação não fosse de suprema importância.

- Tem que admitir que não é todos os dias que um vampiro te morde. – Ela tentou usar de senso de humor, mas seus dedos se apertaram compulsivamente na nos cabelo negro como o azeviche, traindo seu nervosismo.

- Então sou o responsável, por seu ataque. - Darius estava assimilando a possibilidade do que ela havia dito. Tinha que ser verdade. Os humanos normalmente requirían um pequeno esforço para serem controlados. Mas provavelmente com a diferença de padrões cerebrais dela, deveria ter usado um empurrão mental muito mais forte para induzi-la ao esquecimento. Que coragem ela tinha que ter, para enfrentá-lo novamente. Sabendo o que ele era e ficando esta noite, para o enfrentar.

- É obvio que não é responsável pelo que Harry fez. - Negou ela roucamente, desesperada por tirar seu olhar do dele. Estava se afogando nesses olhos, presa para sempre. Os braços dele eram pedaços de ferro a sua volta, prendendo-a a ele. Deveria estar mais temerosa dele, do que estava, na realidade. Tinha tido êxito em hipnotizá-la?

- Mesmo assim ficou, sabendo que eu havia tomado seu sangue. - Pensou em voz alta. - Não tentou partir, nem sequer acreditando que eu era algo tão malvado como um vampiro.

- Teria me servido de algo?

Darius não mostrou muito mais que uma leve piscadela. Seus traços estavam gravados em granito, sensuais embora imóveis.

- Não. - Respondeu ele, honestamente. – Teria encontrado você. Não há lugar neste mundo em que não possa a encontrar.

O coração dela voltou para bater forte. Pôde ouví-lo, pôde sentir a vibração ressonando através de seu próprio corpo.

Tempest tomou fôlego.

- Vai me matar? Eu gostaria de saber.

A mão dele se moveu sobre seu cabelo, numa lenta carícia, que provocou todo seu corpo.

- É a única pessoa, neste mundo mortal ou imortal, que posso dizer que tenho a completa convicção de que está perfeitamente a salvo. Daria minha vida para a proteger, mas não a deixarei.

Fez-se um pequeno silêncio, enquanto ela estudava seus traços implacáveis. Acreditava nele. Sabia que era tão implacável e perigoso como qualquer predador selvagem. Darius observou como a garganta dela trabalhava num pequeno e agitado gesto de engolir.

- De acordo. - Concedeu. - Então não tem muito sentido fugir, verdade?

Sua mente era um caos, o que tornava impossível pensar no que fazer. O que podia fazer? O que era mais importante, o que queria fazer? Mordeu com força o lábio inferior. Um pequeno ponto de vermelho rubi derramou sobre o luxurioso e tremente lábio inferior. Uma tentação. Um convite.

Darius gemeu em voz alta, o som provinha de sua alma. Ela não podia fazer isso, o tentar além do suportável e escapar ilesa. Inclinou a cabeça para a dela, com a boca dura e possessiva. Sua língua encontrou o diminuto ponto de doçura, saboreando-o. Pior ainda, não pôde se deter. Seus lábios eram suaves sob os dele. Tremulos. Incitantes. Deus! Desejava-a. Ardia por ela. Precisava dela.

- Abra a boca para mim, céu.

- Tenho medo de voce.

As palavras continham lágrimas, continham medo, embora estivesse completamente indefesa contra seu próprio ardente desejo. Tempest fez o que lhe ordenava.

O tempo se deteve para Rusti e o mundo desapareceu, até que restaram os braços de Darius, o calor de seu corpo, a amplitude de seus músculos e seus perfeitos lábios. Ele era uma mistura de dominação e ternura. Deslizou com ele, presa a um vertiginoso caleidoscopio de cores e sentimentos. Nada seria o mesmo. Ela nunca mais seria a mesma. Como poderia ser? Ele marcara seu coração. Marcara sua alma. Estava arrastando-se em seu interior e assumindo o controle para que não pudesse nem respirar sem ele.

Sua fome o golpeava, golpeava a ela. Ela era a única coisa em seu mundo que era só para ele. Dele. Era fogo, calor, ardente seda correndo por suas veias, e não queria que se detivesse nunca. Só quando ela ofegou, quando seus pulmões trabalharam laboriosamente, ele levantou a cabeça, seus olhos negros ardiam com posse sobre a face dela. Tempest estava muito pálida, seus olhos enormes, seus lábios sustentavam os dele.

Estava muito fraca e agradeceu que Darius ainda a estreitasse em seus braços. Sentia as pernas moles.

- Acredito que vou ser como uma dessas ridículas heroínas de uma novela de época e vou desmaiar. - Murmurou Tempest contra o pescoço dele.

- Não, não o fará. – Darius tentou sentir-se culpado... Tinha tomado seu sangue e ela era tão pequena e frágil, que qualquer perda de sangue a enfraquecia... Mas Darius não era dos que esbanjavam tempo em arrependimentos. Como podia arrepender-se do que era tão natural e inevitavel como a maré? Ela era dele. Seu sangue era dela. Seu coração e sua alma a pertenciam.

Gentil e meigamente, percorreu com uma mão, o cabelo sedoso. Seus dedos se apertaram lentamente em volta de seu pescoço, sobre a delicada linha de sua mandíbula. Desejava tocar cada polegada dela, explorar cada secreta e intrigante sombra e memorizar suas deliciosas curvas.

- Darius. - Os olhos verdes encontraram os olhos negros. - Não pode dizer que me possui. Pessoas não pertencem a ninguém. Não estou segura do que é, mas captei que não nasceu aqui ou sequer neste século. Eu sim. Valorizo minha independência. É importante para mim, tomar minhas próprias decisões. Não tem direito a tomar por mim. - Tentou escolher as palavras cuidadosamente, aceitando que ela era culpada de seu próprio comportamento, bem toda a culpa era de Darius.

Ela tinha desejado beijá-lo. Admitia. Tocou os lábios inchados, um pouco impressionada. Ninguém deveria ser capaz de beijar assim. Era como cair num precipicio de emoções e voando através dos céus, tocando o sol. Era como arder, prender-se em chamas, até que não houve em Tempest Trile, nenhum pensamento individual, só paixão.

- Darius entendeu o que eu disse?

- Entendeu você o que eu disse? - Rebateu ele, entre seus brancos dentes. - Sei que não é fácil aceitar a alguém como eu, mas tem minha eterna lealdade e amparo, e não é pouca coisa, Tempest. É para sempre.

- Não é que não possa aceitar o que é. Sequer sei o que é, na realidade. – Tempest se moveu, súbitamente. – Solte-me. Por favor. Sinto-me muito... - Interrompeu-se, não desejando admitir que se sentia indefesa, mas a palavra brilhou entre eles de igual maneira. - Por favor, Darius. Quero falar disto e não me sentir tão em desvantagem.

A dura boca dele se curvou, afastando o lado cruel e implacável, como se nunca estivera ali. Lentamente, ele a baixou para colocá-la em pé sobre a terra. Ela possuía a metade de seu tamanho e devia levantar o queixo para o olhar.

- Sente-se menos em desvantagem agora? - Perguntou brandamente, com diversão, em sua voz negra aveludada.

 

Tempest olhou para ele, seus olhos verdes brilhavam como esmeraldas.

- Muito divertido. Deixemos as claras, um par de coisas. Possivelmente tenha mais oportunidades aqui com você, que fora, mas não vais continuar me dando ordens. Temos que estabelecer algumas regras. Nada disto... Isto... Como é que o chame. - Ondeou a mão para abrangê-lo tudo. Beijar. Tomar seu sangue. Seduzi-la. Ordenar. Colocar limites. Tudo isso.

Os olhos negros nunca abandonaram sua face. Seus olhos estavam tão imóveis como os de um leopardo farejando sua presa. Ávidos. Ardentes. Intensos. Roubava-lhe a respiração, esses olhos. Hipnotizava-a. Lançavam feitiço sobre ela. Tempest afastou seu olhar do dele, da sedutora e negra armadilha de veludo.

- E deixa de fazer isso também. - Disse com decisão, apesar do fato de que a fazia sentir-se faminta por ele.

- Deixar de fazer o que?

- Deixa de me olhar desse modo. Está definitivamente proibido. Não pode me olhar assim. Isso é armadilha.

- Como estou te olhando? - Sua profunda voz baixou o tom, com uma cadência suave e rouca. Hipnotizadora.

- De acordo, isso proibido também. Não fale com esse tom de voz. - Declarou incondicionalmente. - E sabe muito bem o que estas fazendo. Atua normalmente.

Os dentes brancos reluziram para ela, quase parando seu coração.

- Estou atuando normalmente, Tempest.

- Bem... Então, está proibido também. Não atue normalmente. - Com ambos as mãos nos quadris, ela o olhou desafiante.

Darius afastou o olhar para esconder o súbito sorriso.

- Essas são muitas regras, todas as quais parecem impossíveis. Poderia idear um plano mais facíl.

- Sequer comece com essa revoltante superioridade masculina tua. Provoca-me ira. - Estava tentando retroceder freneticamente, pôr um pouco de espaço emocional entre eles para poder respirar. Precisava deixar de olhar o homem também. Isso ajudaria. Súbidamente se sentiu enjoada, deixou-se cair bastante abruptamente sobre o tapete de agulhas de pinheiro. Surpreendida, piscou para ele.

Darius abaixou, emoldurando seu rosto, com a mão.

- Só faz o que te peço e tudo estará bem, céu.

Ela segurou sua mão, para apoiar-se.

- Ouviu tudo o que falei?

- É obvio que sim. Posso repetir todas suas tolices, literalmente, se quiser. - Envolveu um braço em volta dela, para que ela pudesse apoiar-se no refúgio de seu corpo. - Só se sinta aqui um momento. Logo se sentirá melhor. Posso ter tomado muito, precisa substituir o sangue.

Os olhos verdes se abriram, surpresos.

- Nem pense, Darius. Tenho lido livros. Vi filmes. Nego a me converter num vampiro.

A boca dele sorriu uma vez mais. Sexy, íntimo, o pequeno gesto produzia uma rajada de calor em seu sangue e ela afastou o olhar dele para salvar sua alma. Ninguém tinha direito de olhar alguém, como ele o fazia.

- Não sou um vampiro, céu. O não-morto escolheu perder sua alma. Eu resisti, ainda vivo, todos estes longos séculos.

- O que é então? - Perguntou Tempest, relutante em ouvir sua resposta, embora agudamente curiosa.

- Sou da terra e do céu. Posso ordenar esses elementos, os elementos da natureza. Pertenço a uma antiga raça com poderes e propriedades que com freqüência equivocadamente associam com os vampiros. Mas não sou um vampiro. Sou um Cárpato. – Darius observou Tempest, antecipando as muitas perguntas que provavelmente se elevariam em resposta a sua declaração.

Ela inclinou a cabeça.

- Há muitas?

- Não entendo a pergunta. - Parecia genuinamente desconcertado

- Mulheres como eu. Coleciona mulheres para ter um fornecimento preparado de alimento? - Perguntou impertinente, porque sua proximidade estava fazendo arder seu sangue.

Os dedos dele se enredaram em seu cabelo.

- Não há outras mulheres. Não houve outras mulheres. Pertence-a. Só a você.

Não estava segura de acreditar que não tivesse outras mulheres, mas se encontrou desejando que fosse verdade.

- Que sorte tenho. - Disse ela. - Não é todos os dias me ronda um vam... Cárpato. Ocupei-me e cuidei que mim mesma desde que posso me lembrar, Darius, e é assim como eu gosto.

A mão dele deslizou até sua nuca, com a atenção fixa na suavidade de sua pele.

- Parece que não tem feito um trabalho particularmente bom nisso. Precisa de mim.

Ela segurou a mão que a acariava, afastando-a, temerosa do fogo que se acumulava em seu corpo. Ele não era seguro. Nada com ele era seguro. Sequer uma conversa casual.

- Não preciso de ninguém.

Os olhos negros arderam sobre sua face, numa dura posse.

- Então aprenderá, verdade?

O coração saltou em seu peito, ante a suave nota de advertência de sua voz. Podia soar tão ameaçador quando queria. O medo flamejou nos olhos dela, e o olhar verde se moveu errática, para longe do escuro.

- Darius, realmente te temo. - A admissão saiu muito baixa.

Durante um momento esteve segura de que ele não a tinha ouvido, mas então a mão se aquietou sobre sua nuca, ardente e possessiva.

- Eu sei, Tempest, mas não há necessidade. O superará.

Um revôo de raiva lhe deu coragem.

- Não esteja tão seguro de que simplesmente o deixarei tomar o controle de minha vida.

- Se sentir que não pode fazer outra coisa, que tentar me desafiar, será boas vindas a fazê-lo, mas advirto, não sou um homem fácil de enfrentar-se. - Sua voz era suave e ainda mais ameaçadora por isso. Havia uma dura força em seus dedos quando rodearam sua garganta.

- Dado que já te temo, isto não é exatamente novo, Darius. - Disse ela e seu coração pulsou ao ritmo de suas palavras. - Não é como se não tivesse sentido medo antes. Não é uma experiência exatamente nova para mim. Mas sempre acerto. – Ela elevou o queixo, desafiante.

Darius inclinou a cabeça mais perto, seus olhos cintilavam como gelo.

- Tem medo de perder a liberdade, Tempest, não de mim. Tem medo da indomável paixão que se eleva em voce para igualar à minha. É isso, e não a mim, o que teme.

Ela o afastou com ambas as mãos. Ele não se moveu.

- Bom, muito obrigado por essa análise. - Respondeu ela, no momento tempestuosa. - Que pensariam os outros, se eu dissesse que está atuando assim? - Desafiou ela. - Estão sob seu polegar que o ajudariam?

Darius encolheu os ombros, com casual e fluída graça. Reminiscências de um leopardo, estirando-se.

- Não me importaria nenhuma coisa, nem outra. Poderia romper nossa família e causar um banho de sangue, mas ao final, o resultado seria o mesmo. Não a deixarei, Tempest.

- Oh, te cale. - Disse ela, exasperada com ele. - Não haverá muito que você gostar de mim se chegar a me conhecer. Sempre estou metida em problemas. Simplesmente aconteça. Tirarei você do sério.

Sua mão se fechou sobre a frágil cintura, seu polegar procurou a pulsação, infalivelmente.

- Já me tira do sério. - Replicou Darius, com um sorriso. - Fará o que digo e então não terei que me preocupar tanto.

- Isso não vai acontecer... Em toda uma vida. - Anunciou ela, sorrindo. - E como eu só tenho uma, está a ponto de experimentar uma grande desilusão.

A risada dele foi baixa e divertida, amplificada pela zombeteira superioridade masculina, que dizia que ela seria fácil de dirigir.

- Vamos, céu. Os outros se elevarão logo. Temos que viajar esta noite para manter o calendário. Os felinos precisam se alimentar antes de sair. - Não acrescentou que toda sua família teria que fazer o mesmo.

Sentiu o profundo temor que ela tinha, de que ele fosse utilizá-la para se alimentar, de que possivelmente pretendia que os outros a utilizassem também. Queria tranqüilizá-la, mas sabia que as simples palavras não ajudariam.

Ela era inesperadamente ligeira para uma mulher com semelhante vontade de ferro e ele enormemente forte. Sentia que podia lançá-la para o céu, se não tomasse cuidado.

No momento em que esteve em pé, avançou, limpando-as palmas das mãos nos jeans, o olhando. Ele podia dar ordens a todos a seu redor, mas ela não ia ficar para suportar suas tolices. Não ia se converter no alimento de ninguém. E certamente, não ia ter nenhuma fantasia sobre uma figura masculina que dominasse sua vida. Pode ser que se metesse em problemas, mas não era estúpida.

Darius baixou o olhar a sua pequena face transparente e expressiva enquanto caminhavam de volta para acampamento. Ela não podia esconder mais seus pensamentos dele, agora que compreendia as diferenças de sua mente. O problemático inicio, serviam para ele ficar seguro de seus entendimentos com ela. Era uma mortal incomum, embora não houvesse considerado que tendia em aprofundar mais que o normal. Apesar de que pensava muito, Tempest tinha uma mente interessnte, uma forma de se concentrar numa coisa e bloquear todo o resto.

Ela tropeçou e ele deslizou um braço ao redor de seus ombros apesar de seu encolhimento para retirá-lo. Por natureza, Tempest aceitava aos demais. Também compreendia a forma em que os animais raciocinavam e seus instintos de sobrevivência. Assim requeria um passo ou dois, para ela aceitar a forma de vida dos Cárpatos.

Darius sabia que ela poderia aceitá-lo, se não tivesse que abandonar sua forma de vida. Tempest vivia como nômade. Era essencialmente a mesma forma em que vivia o grupo, mas ela preferia uma existência solitária. Compreendia a forma de vida dos animais, ela mesma tinha fortes instintos de sobrevivência, mas entendia menos às pessoas e as coisas que faziam. Crescer numa casa de drogados, com mães vendendo a seus filhos por droga, vendendo suas próprias almas por drogas, havia feito ela decidir, com pouca idade, que queria ter pouco a ver com essas pessoas e nada do que acontecera após, havia a feito mudar seu parecer.

Rusti se afastou um pouco do corpo de Darius. Não gostava da forma em que ele a fazia sentir, essas rajadas de faminta necessidade fora de controle. Ele era muito perigoso, muito poderoso e acostumado a fazer tudo a sua maneira. Ela gostava de sua vida tranqüila e independente. Gostava da solidão. A última coisa que precisava era ficar presa na louca troupe dos seguidores de Darius.

Suspirou, sem ser consciente de que o fazia. Não podia ficar com os Trovadores Escuros. O santuário que pareciam oferecer, rapidamente se convertera em algo que não estava preparada para dirigir.

Darius baixou o olhar para a cabeça inclinada, oara o olhar pensativo e remoto de sua face. Para a tristeza que refletiam seus olhos enormes. Entrelaçou seus dedos com os dela.

- Não há necessidade de se preocupar tanto, céu. Prometi a proteger e cuidar de voce. Não tomo fácil, tais juramentos.

- Não é exatamente o que uma pessoa possa preparar para si mesmo, Darius. Inclusive se for um... Um Cárpato em vez de um vampiro seja como for, não é completamente humano. Soube quando se comunicou mentalmente comigo.

- Você é segura que é completamente humana? Quando fundi minha mente com a tua, observei que seus padrões cerebrais são diferentes aos normais dos humanos.

Ela fez uma careta. Parecia que ele a golpeara.

- Sei que sou diferente. Acredite-me, não está me contando nada que não tenha ouvido antes. Não pode me chamar de nada que não me tenham chamado antes. Monstro. Mutação. Frígida.

Darius se deteve bruscamente, obrigande Tempest a fazer o mesmo. Levou a mão dela aos lábios.

- Não disse nesse sentido. Admiro o que você é. Se algum de nós é uma - mutação- da norma, Tempest, esse sou eu, não você. Não sou de nenhuma forma, humano. Sou um imortal. E posso te assegurar que você não é nem monstro nem frígida. Seu coração e sua alma simplesmente esperavam por mim. Não pode se entregar a qualquer um. Poucos sabem que dar o tesouro de seu corpo a um, sua intimidade, é sagrado, que é só para aquele que está feito para ser sua outra metade. Possivelmente, os que fizeram ou falaram isso de você, estavam ciumentos por esse conhecimento em você. Porque eles tiveram muita pressa para esperar ou porque se venderam demasido barato.

Ocultaram-se, os olhos esmeralda.

- Não sou virgem, Darius.

- Porque algum homem a forçou?

- Acredito que Tem falsa impressão de mim. Não sou um anjo, Darius. Roubei carros, mudava-os e os conduzia em corridas selvagens. Sempre me rebelei contra... Isso que chamam de figuras autoritárias, provavelmente porque algum que conheci, me deixou um gosto ruim na boca. Sempre me assombra como as pessoas mais arrogantes, as que sempre estão pregando e apontando os outros com o dedo, sejam as que, com freqüência fazem as coisas mais perversas e desonestas. Uma que vez pude me manter por mim mesma, criei meu próprio código de honra e com ele vivi. Mas não sou uma Santa e nunca o serei. O lugar de onde venho não nascem e nem se cria santo.

Darius estava familiarizando-se com cada matiz de sua voz. Soava ligeiramente triste, aceitando sua brutal infância, mas furiosa consigo mesma por confiar nos outros durante esses terríveis anos. Confiar neles e deixar que a deixassem marca. Por isso preferia a vida solitária que tinha escolhido e podia sentir sua decisão de não voltar a fazer, apesar de que precisava. O trabalho de mecânico para sua banda representava a possibilidade de manter-se a si mesma e estar livre das exigências da intimidade prolongada e o contato com outras pessoas. Ele estava tirando isso.

- Possivelmente seria mais fácil para você, se apagasse suas lembranças do que sou. Poderia fazê-lo apropiadamente, Tempest. - Ofereceu. Encontrou-se relutante em fazer, entretanto. De algum modo, queria que ela o aceitasse como era.

Ela sacudiu a cabeça inflexivelmente.

- Não. Se fizer algo assim, nunca seria capaz de confiar em nada que dissesse ou fizesse.

- Não o recordaria e acabaria com seus medos desnecessários. Não tem sentido que deva permanecer assustada de nós, quando lhe consideramos parte da família. - Disse razoavelmente.

- Não, não me faça isto. - Insistiu ela.

Durante um momento os olhos perigosamente predadores, se moveram sobre sua fece e uma chama vermelha cintilava em suas profundezas, fazendo ela recordar-se de um lobo, a um caçador implacável. O que sabia dele? Somente que não era humano, era um ser - Cárpato- , supostamente imortal. E que acreditava ter algum direito sobre ela. Sabia pouco dos poderes incomuns e as propriedades que mencionara, mas sentia que radiavam dele por cada poro. Podia adormecer-se em um falso sentido de segurança porque com freqüência a tratavam com amabilidade, com ternura.

Mas Darius era primeiro e acima de tudo, um predador, embora com a astúcia e o intelecto de um humano. Era escuro, misterioso, perigoso, poderoso, e muito sensual. Uma combinação formidável. Tempest quase gemeu em voz alta. Como ia se conseguir sair desta confusão? Por que se sentir tão atraída por ele? Especialmente se era mais fera que humano? Porque era o primeiro homem que a havia tratado com tanto cuidado? Era porque estava completamente só e necessitada?

- Deixe de pensar tanto, Tempest. - Repetiu ele brandamente com um indício de riso em sua aveludada voz. - Está pintando as coisas pior do que são. – Darius voltava a sentir-se tentado a apagar suas lembranças, apesar de sua negativa, só para aliviar seus medos. Embora também era egoistao bastante, para querer que ela soubesse o que ele era e tivesse a coragem de ficar com ele.

- Sim. - queixou-se ela. - Como se isso pudesse ocorrer.

Darius gostava da forma em que ela encaixava sob seu ombro. Desfrutava da forma em que ela o desafiava. Era consciente de que ela não fazia idéia do poder que ele esgrimia, das coisas que era capaz de fazer, mas se sentia completamente vivo com ela.

O vento os alcançou, alvoroçando o suave cabelo de Tempest ao redor de sua face. Ouviu o sussurro das árvores enquanto as folhas balançavam com a música da brisa. Encontrou-se sorrindo sem razão, quando tinha passado tantos séculos sem sorrir. Tinha esquecido a sensação de felicidade. Aqui, entre as árvores, com a noite sobre eles, o vento o chamava, selvagem e livre, e Tempest protegida sob seu ombro, sentia de uma vez felicidade e a sensação de pertencer a alguem.

Rusti levantou o olhar para Darius, um pouco aflita por estar atuando como se tudo fosse normal, quando deveria estar fugindo apavorada. A face dele era uma sensual obra de arte, esculpida com dureza, mas com formosas linhas. Se tivesse que o descrever a alguém, não estarïa segura de que dizer. Ele era o poder personificado. Perigo personificado. E incrivelmente sexy. Hipnotizador também.

Fechou os olhos. Bom, isso estava claro. Não podia o olhar. Ardia em chamas cada vez que o fazia.

- Por que não podia ser um homem agradável e normal?

- O que é normal? - Perguntou ele, divertido.

- Não tinha que ter esses olhos. - Acusou-o, lançando-lhe um rápido olhar. - Seus olhos deveriam ser proibidos.

Uma emoção suave balançou o coração de Darius, uma curiosa sensação.

- Então você gosta de meus olhos.

Imediatamente, os olhos dela velaram sua expressão.

- Eu não disse isso. É um presunçoso, Darius... Esse é um de seus maiores problemas. É arrogante e presunçoso. Por que fui gostar de seus olhos?

Ele riu brandamente.

- Você gosta de meus olhos.

Ela se negou a lhe dar a satisfação, a lhe conceder razão. O acampamento estava adiante, entre as árvores e já se podia ouvir a risada dos outros. A voz musical de Desari era inconfundível. Era suave e sonhadora, mais hipnótica que a dos outros. Tempest havia notado imediatamente, a mesma qualidade hipnótica na voz de Darius.

- Todos deveriam deixar de seguir suas ordens, Darius. - Falou ela duramente. Seus olhos verdes brilhavam. - É a única forma possível de o salvar. Ninguém te questiona nunca.

- Possivelmente porque confiam no que sei o que é correto. - Disse ele, gentilmente.

Ela o observou inalar, levar os aromas da noite a seus pulmões, e soube instintivamente que ele estava explorando a área, comprovando o acampamento, assegurando-se que estava seguro. Quando emergiram através das grossas árvores, a campo aberto, onde os outros esperavam, ela sentiu o impacto de vários pares de olhos sobre ela. Deteve-se. Seus dentes se afundaram no lábio inferior e seu coração se sobressaltou com alarme. Odiava ser o centro de atenção.

Darius se colocou diante dela, bloqueando facilmente o pequeno corpo. Inclinou-se para ela.

- Vá tomar um banho. Os outros precisam caçar esta noite antes de sair. Os felinos podem se alimentar, e logo nos separaremos e encontraremos outro lugar para acampar. Viajará comigo.

Ela quis discutir, mas antes de tudo, queria afastar-se dos outros. Afastar-se de seus olhares curiosos. Sem dizer uma palavra, deu a volta e se apressou para o onibus. Era como um santuário, como se fosse sua casa.

Demorou no banho, desfrutando a cascata de água sobre sua pele. Era difícil fechar a mente aos pensamentos de Darius, mas era a única coisa segura que podia fazer. Sabia que não seria capaz de permanecer muito com ele a sua volta, mas se pudessem conseguir cruzar o país, possivelmente as coisas funcionariam. E havia sido, depois de tudo, Desari que a tinha contratado, oferecendo um generoso salário. Desari pagaria seu dinheiro no minuto em que o pedisse. Podia dizer que a irmã de Darius era assim.

Quando reuniu suficiente coragem para deixar de se esconder no ônibus e enfrentar o grupo, o acampamento parecia vazio. Um ligeiro ruído a fez mudar sua primeira impressão. Cautelosamente, abriu passo até o pequeno carro vermelho. O homem que esquadrinhava dentro do capô aberto era o que havia o conduzido na noite anterior.

Estudou-o. Notou que era, típico nos outros membros da banda, incrivelmente belo. Tinha um cabelo longo e negro, um olhar travesso em seus olhos escuros e sua boca era de caprichosa sensualidade. Podia ver facilmente que este Trovador devia ser uma atração para mulheres de todas as idades, nas excursões.

Ele levantou o olhar e sorriu.

- Até que enfim nos conhecemos, Tempest Trile. Eu sou Barack. Começava a me sentir deixado de lado. Darius, Desari, Julian e Syndil falam muito bem de voce. Suponho que devem ter dito a você, que eu era o menino mau e que estiveste me evitando por causa disso.

Tempest se encontrou sorrindo. Como podia não sorrir? Sua cautela natural lhe ditava que se mantivesse à distância dele, mas seu sorriso era seriamente contagioso.

- Ninguém me advertiu, mas posso ver que deveram fazê-lo.

Ele aplaudiu o carro carinhosamente.

- O que fez para que ele ronrone assim? - Havia genuíno interesse em sua voz. - Liguei o motor e ele me soou feliz.

- Não trabalha nos carros? Mas acredito que pode conduzi-los.

Barack sacudiu a cabeça.

- Sempre pensei que havia tempo para aprender, mas há sempre tantas coisas que se fazer.

- Isso não é normal. - Disse Tempest antes de poder censurar suas palavras. - Nomalmente os motoristas sérios e entusiastas como você estão interessados no que há sob o capô.

Ela quis chutar-se a si mesmo pelo absurdo de seu comentário. Como Darius, Barack provavelmente dormia durante o dia e usava outros - poderes- à noite. Obrigou-se a olhar casualmente pelos lados.

- Onde estão os leopardos? Não os vejo há algum momento.

- Alimentando-se. Temos que estar na estrada esta noite, então Darius os permitiu caçar por sua conta. - Barack percorreu, apreciativamente com o olhar, à pequena ruiva. Era diferente das outras mulheres humanas. Sabia que era diferente, mas não podia dizer exatamente como.

Mas podia ouvir seu coração pulsando com força, o fluxo e vazante do sangue em suas veias. A fome estava presente, rasgando suas vísceras. Como os outros, deveria ter se afastado do acampamento se alimentado, mas queria comprovar o novo ajuste do carro que o tinha intrigado.

- Venha aqui, Tempest. - Sua voz foi baixa e complacente. Sorriu. Um relâmpago de dentes brancos. – Mostre-me o que fez com o motor. - A fome cresceu quando ele ouviu como se apressava o sangue em suas veias.

Ao Rusti já não gostava de seu sorriso. Não gostava da forma em que ele a estava observando. Olhou ao redor.

- Tenho que recolher minhas coisas e minhas ferramentas. Preparar-me para sair.

A surpresa registrou na face completamente assombrada. A Rusti, ocorreu que ninguém o havia rechaçado antes. Cada vez, compreendia mais o que se abatia sobre sua cabeça. Se Darius fosse o único com o que tivesse de tratar, talvez se saísse bem... Ao menos o suficiente para cruzar o país. Mas todos eram como ele. Começou a retroceder.

Barack instantaneamente pareceu constrito.

- Ei... Não tive intenção de te assustar. Não sou como o que te atacou. Desari te contratou. Isso significa que este sob nosso amparo. Sério, não me tenha medo. Nunca faço nada para que nenhuma mulher me tema.

Rusti se obrigou a ficar quieta e sorrir.

- Só estou um pouco nervosa depois de ontem. Assim que voltarem os outros, não estarei tão tensa. - Mas nesse momento se sentia como se tivesse tropeçado com um ninho de serpentes de cascavel.

- Somos amigos, Tempest. Vênha aqui. Mostre-me o que fez para que esta máquina ronronar.

Podia sentir que a mente dele se estendia para acalmar a sua, para obrigá-la a fazer sua vontade. O que era pior? Permitir que ele a usasse como recurso alimentício ou deixar ele compreender que sabia exatamente o que ele era? Mataria-a? Decidiu que podia ser perigoso, deixar ele saber que não a controlava. Então, se aproximou torpemente dele, o medo e a repulsão a estrangulavam. Não queria que este homem a tocasse como fazia Darius.

Por um momento, a interessante idéia formou redemoinhos em sua mente, para aplacar o temor. Por que a idéia de ser utilizada como alimento, a colocava doente e não se sentia igual, quando Darius lhe mordia o pescoço de forma tão erótica?

Deus! Tinha perdido completamente a cabeça, decidiu. Era a única resposta. Tinha que sair encontrar a forma de fugir. Inventar de um nada, uma tia repentinamente doente que precisasse.

Estava perto de Barack agora, seu corpo a acossava. Seu estômago se revolveu, sentia-se perto das lágrimas, tentando manter-se muito quieta. Ele estava murmurando alguma coisa, podia ouvir as palavras zumbirem em sua mente, mas não fazia sentido. Queria se afastar e correr. Não podia suportaro, não podia. Tentou racionalizar, acreditar que era só uma simples mordida de um animal, mas seu estômago se revolveu, e involuntariamente arqueou o pescoço longe do hálito quente.

As ondas de desgosto quase a estrangularam, quando os dedos dele rodearam seu braço. Era enormemente forte e reprimiu suas lutas com firmeza. Um pequeno som estalou, uma nota de terror, dentro de sua mente Tempest podia ouvir-se gritar, embora nenhum som emergiu de sua garganta. Estava em meio de um pesadelo real sem escapatória.

Então, sem adventencia, nem sequer um sopro de vento, uma enorme pantera negra golpeou Barack diretamente no peito, Força e fúria atiraram ao homem para trás e para longe de Tempest. Barack bateu na lateral do carro com força, o ar lhe escapou, depois aterrissou no chão sobre suas costas e o felino se dirigiu diretamente a sua garganta.

Vagamente consciente de que Desari, Julian, outro homem e Syndil começavam a emergir das árvores, mas se detinham, congelados com horror, Rusti lutou para acalmar o felino selvagem. Em sua mente encontrou uma neblina vermelha de fúria aniquiladora, como tinha encontrado antes, em outra ocasião. Correu para frente, ainda tentando acalmá-lo, murmurando. Só quando esteve perto de Barack, um Barack que nem sequer lutava por sua vida, que em vez disso jazia deitado submisso sob os terríveis dentes, compreendeu que o felino era Darius. Horrorizada, continuou aproximando-se.

- Rusti, saia para trás! - Desari a chamou. Ela tentava se mover para ajudar ao Barack, para deter Tempest, mas Julian a continha, literalmente levantando do chão. Seus fortes braços rodeavam sua cintura.

O terror na cara de Desari fazia eco em sua voz, o qual registrou Tempest, mas com seu próprio coração batendo com alarme, se aproximou de Darius passando por alto a fúria feroz do animal para encontrar o homem. Conhecia-o. Não estava exatamente segura de como, mas sabia que ele estava aí, em alguma parte dentro dessa raiva assassina.

- Darius. Acabou-se. Barack não fez nada mais que me assustar. Volte para mim.

Ela manteve seu tom suave, uma confiada súplica, parecida com a que utilizaria com um animal assustado. Consoladora, com a convicção de que ele a responderia. De algum modo sabia que Darius não responderia a nenhum dos outros e que se não o detesse, o felino podia muito bem terminar com a vida de Barack. Ehavia acontecido por causa dela. Esse conhecimento, como a identidade dele, chegou a ela aparentemente do nada, mas estava segura de que era correto, e sentiu um golpe de assombro porque alguém pudesse ter sentimentos tão profundos por ela.

- Por favor, Darius, por mim... Solte o Barack e volte para mim.

A pantera grunhiu, expondo seus compridos e agudos caninos, mas ao menos não estavam afundando na garganta de Barack. O felino abaixou viciosamente, seu corpo e se congelou na quietude absoluta, só a cauda se retorcia incansavelmente, furiosamente. Barack deitado sob ele, totalmente submisso, era bem consciente de quem o atacara. O silêncio estava cheio, só por sua pesada respiração e os grunhidos de raiva do felino.

- Darius.

Tempest estava a poucos passos, dos dentes do felino. Cautelosamente, ela pousou uma mão sobre os pesados músculos de seu lombo. Sua voz era suave.

- Estou totalmente bem. Olhe-me. Ele não me fez mal. Na realidade, não o fez.

Produziu-se um gemido coletivo, tanto pelo que ela sabia, como por sua coragem. Era óbvio para todos que ela conhecia a identidade do enorme felino. Desari apertou a mão do Julian na dela, súbitamente assustada. Nenhum humano podia saber de sua existência e continuar com vida. Colocava a todos em perigo. Como sabia Tempest Trile? Nem Darius nem Barack teriam sido tão descuidados para esquecer de destruir suas lembranças. Mas como podiam fazer semelhante coisa, sem destruir a mulher que tinha tanta coragem para salvar a vida de um deles, como estava tentando fazer Tempest?

A pantera negra se moveu. Somente uma leve mudança de seu peso, colocando o pescoço sob a palma de Tempest.

- Por favor, Darius, toda minha coragem pende por um fio. Ajude-me. Quero me afastar de tudo. Isto é muito atemorizante. Tudo isso. E não o entendo, Venha comigo e me explique.

Apesar se sua determinação em ser valente, sua mão tremia quando a colocou sobre as costas do enorme felino.

Tempest sentiu que o controle de Darius gotejava lentamente de volta a sua mente, sentiu o homem vencendo a fúria da fera. A pantera se moveu contra ela, inserindo-se entre ela e o homem deitado. Empurrou-a para longe da figura de Barack, mais à frente ainda, para as árvores e longe dos olhos curiosos de sua família. O leopardo caminhou atrás dela, dirigindo-a para as profundezas do bosque. Caminhavam tão silenciosamene, que ela sentia que podia ouvir as folhas cair.

Atrás, no acampamento o grupo soltou um comprido e coletivo suspiro de alívio. Dayan se moveu primeiro, agachando-se e colocando Barack sobre seus pés.

- Esteve perto! Que demônios fez? - Sua voz foi acusadora. Ninguém nunca enfrentava Darius.

Barack estendeu as mãos para cima.

- Nada. Juro-o. Ia alimentar me, isso é tudo. Não aconteceu nada de mais. Ele lançou-se como louco em mim.

A esbelta mão de Sundil foi para garganta.

- Poderia haver se convertido? Darius nunca perde o controle. Poderia ter acontecido?

- Não! – Gritou, Desari, em algum ponto entre o medo e o ultraje, pela idéia de traição.

- Não, Darius não se converteu. É muito forte.

Julian deslizou um braço em volta de sua cintura, com um ligeiro sorriso na face.

- Nenhum de voces o compreende, certo? Darius não se converteu. Nunca se converterá. Agora não mais. Ele encontrou sua companheira.

- Do que está falando? - Perguntou Dayan.

- Das coisas que ninguém nunca os ensinou. - Filosofou Julian, mais para si, que para os outros. – Voces não cresceram entre outros Cárpatos. O que para nós é uma segunda natureza, voces sequer sabem. - Sorriu ampliamente. - Darius não sabe. A vida vai se tornar bastante interessante por aqui, meninos e meninas.

- Deixa de dizer tolices, e nos conte que quer dizer. - Ordenou Desari. Seus olhos suaves e escuros começaram a arder. - Deveríamos proteger Rusti?

- A única que está a salvo aqui é Tempest. Todo homem dos Cárpatos deve encontrar a luz de sua escuridão. É sua única salvação. Sem a mulher, sua companheira, eventualmente se vê forçado a escolher o amanhecer e o eterno descanso ou sucumbirá à loucura do não-morto e perderá sua alma para sempre. Converte-se em vampiro. Há uma só mulher para cada homem, sua outra metade.

- Mas Tempest Trile é humana. - Objetou Dayan. - Isto não pode ser. Fomos conscientes de que existe a outra metade de nosso coração, de nossa alma, que está em alguma parte. Deve haver uma busca apropriada para encontrar a mulher ideal, como você encontrou Desari, Julian. Mas Tempest não é uma Cárpato.

- Há algumas mulheres humanas. - Respondeu Julian lentamente. - Que têm alguma forma de habilidades psíquicas e podem ser companheiras do Cárpatos. Não duvido que Tempest Trile é uma dessas mulheres. Vagou tranqüilamente até aqui procurando um trabalho, mas provavelmente se sentiu atraída a fazê-lo porque está conectada a Darius. - Explicou. - É curioso, não? Como o destino faz para unir duas almas? Não tentem intervir entre eles e, pelamor de Deus, não toquem nessa mulher. Se o fizerem, Darius será mais fera que homem. Todos os seus instintos o guiam a protegê-la e cuidar dela. Mantê-la longe de qualquer outro que puder ameaçar ela ou sua conexão com ele. É mais perigoso nestes momentos, que nunca. - Julian sorriu novamente. – Vamos deixar ele notar, imaginará cedo ou tarde.

- Deveria falar com ele, explicar-lhe. - Disse Desari.

- Não o ouvi pedir ajuda, certo? - Advertiu Julian, seus braços a arrastaram mais perto dele. - É melhor e mais seguro não inteferir no processo de união entre companheiros.

- Espere um minuto. - Barack inclinou sua larga forma contra o carro vermelho. - Perdi-me em algum lugar. Sei que Darius tomou seu sangue, cheirei sua essência nela. E está me dizendo que usaria seu corpo também? Não está essa combinação, estritamente proibida, com os mortais? O próprio Darius nos ensino isso.

- Tempest parece ser diferente. - Disse Julian. - Não pode ser classificada como uma humana normal e seja como for, a regra não é aplicável.

Os olhos de gama de Syndil, normalmente suaves e amorosos, estavam lançando fogo para Barack.

- Se alimentou dela? Isso é tão próprio de voce. Ela estava sob nosso amparo. É insensível, Barack. Sempre o playboy. Não pode deixar em paz às mulheres, nem sequer a que viaja conosco e é virtualmente da família. Rusti passou por uma experiência terrível ontem. Pensou nisso, quando se dispunha a satisfazer suas urgências?

- Syndil.

Barack parecia ferido. Syndil possuía uma natureza suave e amorosa e nunca se zangava, se incomodava com nenhum deles.

- Não me venha com - Syndil- , Barack. É tão preguiçoso que tinha que se alimentar de uma mulher que estava sob o amparo de nossa família? Suspeito, que acredita ter tanto encanto que ela deveria estar agradecida.

- Não foi assim. Simplesmente estava excessivamente faminto. Esperei muito para me alimentar. Não teria feito mal a ela. Não fazia ne idéia de que pertencia a Darius. Demônios! Ele ia me destroçar a garganta, Syndil. Deveria estar apiedada. Olhe meu peito. Arrancou-me a pele em tiras. Não vais me curar? - Barack mostrou sua mais implorante expressão de menino angustiado.

- Possivelmente, na próxima vez, pense duas vezes antes de andar atrás das mulheres. - Replicou Syndil e partiu rapidamente.

- Ei... Espere um minuto. - Barack foi atrás dela, tentando desesperadamente voltar a recuperar sua graça.

- Estamos todos loucos por aqui? - Exigiu Dayan. - A suave e doce Syndil atuando como uma arpía. Desari atuando como uma bezerra doente de amor. E não te conheço bem, Julian, mas posso ver que você se diverte ante o desconforto de Darius mais do que devia e o menino mau Barack está perseguindo Syndil como um mulherengo. Que, demônios, está acontecendo?

- Seu lider encontrou sua companheira, Dayan. - Disse Julian felizmente. - Não faz idéia, a mínima idéia, de como tratar ela. Encontrar sua companheira, faz você sentir como se alguém te desse um murro no estômago e te roubasse a prudência. Seu Darius estava acostumado a fazer as coisas a sua maneira, simplesmente ordenar algo que parecesse correto. Mas agora, suspeito que está a ponto de experimentar a sacudida que tanto se merece.

- Simplesmente, ele imporá sua vontade sobre Tempest. - Disse Dayan confidencialmente. - Então tudo voltará para a normalidade.

- Impor sua vontade a sua companheira, está na mesma categoria que cortar sua própria garganta. Não é boa idéia. Ainda assim, observar como o faz, será muito divertido. - Disse Julian com ar satisfeito.

 

Uma vez na espessa cobertura das árvores, os músculos da pantera se moldaram e tomaram forma, brilhando na escuridão azulada para converter-se na sólida forma de um homem.

Tempest observou, inclinando-se para apoiar-se contra o tronco de uma árvore, perguntando-se, se de algum modo havia encontrado a toca de coelho de Alice, em meio aos bosques do estado de Califórnia.

Darius notou sua expressão antinatural, o choque em seus enormes olhos. Sua boca tremia, e ela retorcia os dedos, agitada. Soube que não devia se aproximar dela. Ela correria.

- Sabe que não tem que ter medo de mim, Tempest. - Sua voz foi um sussurro na noite, uma parte da noite.

Tempest olhou ao redor. A noite era de um profundo azul, quase negro, mas mística e formosa. As árvores se elevavam como sombras para o céu cheio de estrelas, Pequenos látegos de névoa se formavam, à deriva, pelo chão do bosque.

- Por que parece como se fosse tão parte de tudo isto? - Perguntou ela. - Como se pertencesse à noite, mas algo formoso, não escuro e feio por que, Darius? - Perguntou ela, novamente.

- Não sou de sua raça. Não sou humano, tampouco fera ou vampiro.

- Mas pode converter-se num leopardo? - Um fato incrível, quase impossível de acreditar, embora visse com os próprios olhos.

- Posso me converter no camundongo que anda pelo campo, a águia que sobrevoa alto no céu. Posso ser a neblina, a névoa, o relâmpago e o trovão, uma parte da atmosfera mesma. Mas sou sempre Darius... Que jurou te proteger.

Tempest sacudiu a cabeça.

- Isto não é possível, Darius. Está seguro de que não adoeci, golpeei a cabeça ou algo assim? Será que nós não comemos algum cogumelo, e estamos compartilhando alguma viagem psicodélica. Isto não é possível.

- Posso assegurar isso fiz isto durante toda minha vida. E vivi quase mil anos.

Ela elevou uma mão para o deter.

- Uma coisa estranha de uma vez. Estou ouvindo tudo isto, mas meu cérebro se negar a processar.

- Sabe que não te faria mal, Tempest? Sabe de verdade? - Perguntou ele insistentemente. Seu negro olhar percorreu a face dela, como névoa.

No mais profundo de sua alma, além dos processos cerebrais humanos, Tempest sabia que só estava segura disto. Darius não lhe faria mal. Assentiu lentamente e viu alívio em seus olhos durante um momento. Então voltou a acalmar-se.

- Não foi minha intenção te expor aos apetites dos outros. Não me ocorreu que nenhum deles a usaria de semelhante forma quando estava sob nosso amparo. Inadvertidamente, te fiz passar um terrível momento, mas na verdade, não estava em nenhum perigo. Em defesa de Barack, devo dizer que, provavelmente pensou que poderia manipular suas lembranças, como geralmente é fácil de fazer com as presas humanas, mas não a teria feito mal ou a teria matado, simplesmente teria se alimentado. Como, cheirou minha essência em voce, assumiu que eu... Por favor, aceite minhas desculpas.

Sua voz a envolveu e encontrou seu coração.

Suspirou brandamente e tentou não pensar muito na palavra presa.

- Não tem importância. Não tenho que entender, porque não posso com isto. Agora pode notar, não é? Não posso continuar comisto. Seria melhor que me deixasse agora.

Os olhos negros dele não piscaram, não abandonaram sua face. Ela notou que seu coração pulsava mais rápido, ameaçada de alguma forma elementar que não compreendia.

- Não diria nada a ninguém. Encerrariam-me se o fizesse. Sabe que não têm que se preocupar.

Os olhos negros eram desumanos, enterrando-se mais e mais profundamente até que encontraram sua alma. Não podia respirar.

- Darius, sabe que tenho razão. Tem que saber. Somos duas raças diferentes tentando encontrar algum ponto em comum. Somos de duas espécies diferentes.

- Preciso de você.

Ele pronunciou as palavras, tão tranqüilamente, que apenas a ouviu. Fez a declaração rigorosamente, sem embelezá-la o mínimo. Não houve empurrão mental, nem outra forma de persuasão. Ainda assim, a forma em que as pronunciou foi como uma flecha que perfurou seu coração. Não havia defesa contra essas palavras. Não havia forma de combater a verdade nelas. A verdade que ouviu em sua voz.

Ela olhou-o fixamente durante um longo momento, então, sem advertência, recolheu um punhado de folhas e jogou nele.

- Não joga limpo, Darius. Tem esses olhos e essa voz, e agora vai e diz alguma como isso.

Um lento sorriso suavizou a dura linha da boca dele.

- Sabia que você gostava de meus olhos. - Soou imensamente satisfeito. Não pareceu mover-se, mas em seguida esteva inclinado sobre ela. Seu corpo, suficientemente perto, para compartilhar seu calor. A mão dele encontrou sua garganta e a palma de sua mão ficou imóvel para sentir a pulsação.

- Não disse que eu goste de seus olhos. - Corrigiu ela. - Acredito que deveriam ser declarados ilegais. São pecaminosos. – Ela elevou o queixo beligerantemente para ele, trprendendo de se manter firme, contra algo que sequer entendia.

- Desculpei-me a sério, céu. Nunca a colocarei em semelhante posição novamente. Assegurarei-me de que os outros sejam conscientes de que está sob meu amparo pessoal, todo o tempo. - Darius inclinou sua escura cabeça para a dela, arrastando-se na sedução de seus lábios de veludo.

O fôlego de Tempest ficou preso na garganta, e ela se tornou para trás, contra o tronco da árvore e levantou as mãos, empurrando o peito dele.

- Estou pensando que não deveríamos fazer isto. Darius, é mais seguro que simplesmente não nos toquemos.

O sorriso dele subiu aos olhos, extendendo calor através do corpo de Tempest.

- Seguro? Isso é o que acredita? Sempre é muito mais seguro fazer o que desejo.

Ele não se movera, nenhuma polegada, apesar da pressão que ela estava exercendo sobre seu peito. Tempest suspirou brandamente.

- Não deveria dizer isso. Pessoalmente, Darius, estou a ponto de fugir gritando pelo bosque, ou duvidar de minha própria prudência e minha confiança. Não me forçe muito.

- Acredita que poderia sustentar voce mesma sem o tronco da árvore te segurando? - A diversão matizava sua voz.

Tempest aplaudiu o tronco da árvore, relutante em deixá-lo. Era muito mais orgulhosa do que havia mostrado até agora. Nada de temores. Nada de histerismos. Nada das coisas que faria uma mulher sadia. Mas não queria cair de cara. Darius leu facilmente o débil senso de humor com que ela brincava consigo mesma, o desconcerto em sua face transparente a súbita determinação, antes de mudar de posição, para permanecer em pé por sua própria conta. Isso ele gostavanela. Seu senso de humor, sua habilidade para rir de si mesma, nas situações mais extremas.

Ela sorriu.

- Bom, funciona.

Ele estendeu uma mão.

- Vamos, céu. Podemos simplesmente passear e conversar.

Tempest o avaliou.

- Simplesmente passear e falar. Não é algum código para indicar alguma outra atividade estranha, certo?

Darius gargalhou. Seus dedos se enredaram com os dela, capturando sua mão, e atraindo-a contra o calor de seu corpo.

- Até onde chegará com suas tolices?

Seus olhos esmeraldas faiscaram para ele.

- Posso ser pior. Muito pior.

- Está tentando me assustar.

- Acredito que você faz um melhor trabalho, assustando as pessoas. Ganha por goleada. Inquestionavelmente.

O braço dele deslizou ao redor de sua cintura para levantá-la sobre um tronco caído. Não perdeu o passo, e ela não pôde deixar de o comparar com o felino, que sabia, ele podia se converter. Movia-se da mesma forma silenciosa, com a mesma graça.

- O que se sente quando troca assim?

- A um leopardo? - Darius se surpreendeu por sua pergunta. Não pensava no que sentia, a centenas de anos. O mistério. A beleza. A maravilha que era mudar de forma. A pergunta trouxe o regozijo total, o respeito que fazia sentido no menino, ao experimentar até aperfeiçoar a arte, até que pôde mudar de forma, no meio do ar, correndo e quando usava sua velocidade natural.

- É uma incrível sensação de poder e beleza, experimentar a essência do animal. Sua velocidade, sua energia e sigilo, tudo milagrosamente em meu próprio corpo.

Tempest se moveu ao ritmo dele, tão particular. Darius era tão perfeitamente proporcionado, seu corpo era um milagre, força e poder em cada músculo, em cada célula e o levava com uma casual facilidade que parecia ser sequer consciente.

- É fascinante quando me comunico com os animais. - Admitiu ela. - Eu adoraria ser capaz de ver através de seus olhos. De cheirar e ouvir as coisas como eles. Pode fazer isso? Ou é ainda realmente você?

- Ambos de uma vez. Posso usar seus sentidos, suas habilidades, embora também posso raciocinar, enquanto isso nada retém um instinto.

- Como um instinto de sobrevivência.

Darius baixou o olhar. A luz da lua se filtrava através das árvores, tocando o cabelo vermelho dourado até convertê-lo em chamas. Tempest era formosa e belíssima. Não conseguiu conter-se, percorreu com a mão acariciadora, as sedosas mechas.

- Isso é para mim. Um instinto de sobrevivência. Você sente também.

Os olhos dela se elevaram para que Darius captasse um brilho de vívido verde antes que afastasse o olhar.

- Não sei o que sinto. - Levantou as mãos e lhe lançou um rápido olhar de censura. - Não vamos por aí, Lembra-se? Fique a um passo de mim e não faça nenhuma dessas coisas que mencionei antes.

Sua resposta foi uma risada rouca, que enviou chamas ao sangue de Tempest. Olhou-a.

- A risada proibida também.

Ele capturou sua pequena cintura e a levantou facilmente até o alto de um enorme tronco, para que os dois permanecessem perto, suas mãos descansando levemente nos quadris de Rusti enquanto ela olhava para baixo. As samambaias nasciam abundantemente no chão do bosque, retalhos de tapete verde numa curiosa aquarela com o azul da noite.

O cenário era tão formoso que ela não podia encontrar voz, sequer repreender Darius por se esquecer de medir os centímetros entre eles. Tentou não ser consciente de sua mão sobre ela, tocando-a como se a pertencesse. Ele inclinou sua escura cabeça e seu fôlego ficou preso na garganta. Seu pescoço pulsou com antecipação, e as chamas começaram a crepitar, ameaçando, consumindo-a. Sentiu o calor de sua respiração, exatamente sobre seu pulso latente.

- Escute a noite. Está falando conosco. - Disse ele brandamente.

Durante um momento, ela só pôde ouvir o batimento de seu próprio coração. Golpeava em seus ouvidos, afogando por completo qualquer outro som. Cuidadosamente, ele deu a volta em seu corpo e a colocou de costas, sob o amparo de seu corpo.

- Quieta. Acalme-se. Está em sua mente, Tempest. Encontre primeiro a tranqüilidade. É aqui onde começa a aprender. - Sua voz sussurrava sobre a pele de Tempest como negro veludo. Hipnotizadora e perfeita. Pura magia.

Darius estava lançando um feitiço, tecendo-o firmemente a seu redor, não simplesmente com o poder hipnótico de sua voz, ou a força de seu corpo, era com a noite. Nunca havia notado que a escuridão tivesse tão vívidas cores. A lua brilhava através das copas das árvores, banhando o mundo com uma suave iridiscencia prateada. As folhas reluziam, enquanto a brisa soprava gentilmente através delas.

O leve suspiro do vento foi o primeiro som que pôde identificar claramente depois do de seu próprio coração. Os braços de Darius se apertaram a seu redor, encerrando-a contra seu corpo. Tempest tinha aversão a espaços fechados e sempre evitava estar muito perto dos homens, especialmente quando estava sozinha e eram fortes. Entretanto, em vez de fazê-la sentir-se ameaçada, Darius a fazia sentir-se a salvo e protegida.

- Escute-o, realmente, Tempest. Ouça com seu coração e sua mente, em vez de seus ouvidos. O vento está cantando brandamente, sussurrando histórias. Aqui, muito perto de nós... Ouve-o? O vento nos traz o som das correrias das raposas.

Ela inclinou o queixo, esforçando-se por captar uma simples nota do que ele podia ouvir. Corrida de raposas. Realmente podia saber isso? Como se lesse sua mente, Darius colocou os lábios contra sua orelha.

- Há três delas. Devem ser muito jovens, apenas se movem.

Tempest sentiu os lábios movendo-se em seu cabelo, como se fosse um toque acidental, contra as mechas de cabelo. Seu instinto de autoconservação finalmente apareceu, e tentou se afastar dele. Mas seu pé gravitou sobre o espaço vazio. Havia esquecido que estava no alto de um tronco. Os braços de Darius evitaram que caíssem.

Ele sorriu. Essa revoltante, masculina e zombeteira diversão.

- Correto. Precisa de mim. Necessita de um guardião.

- Não precisaria se você não me colocasse louca todo o tempo. - Acusou-o, mas se segurava nele.

- Me permita fundir minha mente mais completamente com a tua. Posso te ensinar a ouvir os autênticos sons da noite. Meu mundo, Tempest. - Baixou o olhar aos esbeltos dedos que se fechavam ao redor de seu braço. Era tão frágil, tão delicada, uma pequena, mas enormemente valente mulher. Havia nascido para ele. Seu coração e sua mente, sua alma reconheciam ela. Cada célula de seu corpo a buscava, recisando vorazmente, com uma intensidade que nunca se apaziguaria.

Dairus podia sentir o corpo dela tremendo levemente contra a dureza do dele. Um feroz instinto protetor se elevou nele, afligindo com sua pura força. Queria levá-la a sua guarida, mantê-la a salvo dos perigos cotidianos e do mundo a seu redor. Mantê-la e protegê-la todo o tempo. Mas compreendeu que, sem importar como forte fossem seus sentimentos, ela era mortal e havia crescido num mundo diferente, num mundo que ele não poderia retroceder e mudar para ela. Havia formado seu caracter tão certamente como a idade e os perigos que tinha confrontado, havia formado a ele. Não podia apressá-la muito. As exigências de seu corpo e alma tinham que ficar em segundo plano depois dos medos dela, por mais sofridos que pudessem ser.

- Se fundir sua mente completamente com a minha, será capaz de ler todos meus pensamentos? - Perguntou ela ansiosamente.

Darius lhe frisou o cabelo, com uma carícia afetuosa.

- Quer ver como faço já?

Os olhos esmeralda cjamejaram.

- Não pode ler todos os meus pensamentos. - Disse ela, decidida. Fez-se um curto e revelador silêncio. Ela inclinou a cabeça para trás para o olhar. - Pode? - A sua voz, definitivamente cambaleou Darius.

Darius quis beijar a expressão preocupada de sua face.

- É obvio que posso.

Os dentes dela morderam o lábio superior.

- Não pôde fazer. Não acredito que possa, Darius.

- Funde sua mente com a minha, cada vez que se comunica mentalmente comigo. Pôde levar alguns poucos minutos para esclarecer suas diferenças com outros, mas uma vez que o fizer, me permite deslizar dentro e fora de sua mente a vontade. - Seus dedos se fecharam amorosamente ao redor da nuca dela. - Se quiser, poderia compartilhar algumas de suas lembranças contigo. O pequeno callejon que você adorava depois do restaurante chinês. Sente afeto pelas coisas mais incomuns.

Tempest tentou se liberar, mas Darius a capturou firmemente, aprisionando-a dentro de seus braços.

- Não tão rápido, céu. Foi você que insinuou que eu estava mentindo.

Tempest ficou rígida.

- Ninguém está mentindo a ninguém. A idade finalmente está te afetando.

Darius sorriu novamente, assombrado que depois de séculos de solidão e absoluta falta de emoção, pudesse encontrar-se sorrindo tão facilmente. Havia alegria na noite, alegria no mundo, em cada ato de viver.

- Isso não foi muito simpático, Tempest. – Ele repreendeu-a, mas sua voz era tão amável, que fez que o coração de Tempest pulsar forte.

- Nada de uniões mentais, Darius. Acredito que deveríamos fazer algo seminormal. Como, simplesmente falar. Falar é bom. Nada estranho, só o normal. Conte-me algo de sua infância. Como eram seus pais?

- Meu pai era um homem muito poderoso. Com freqüência se referiam a ele como O Escuro. Era um grande curador entre nossa gente. Conforme soube, meu irmão mais velho tomou seu lugar entre nossa raça. Minha mãe era amável e adorável. Lembro-me dela sempre sorrindo. Tinha um sorriso espetacular. - As palavras conjuraram nele, a lembrança, o toque de suavidade.

- Deve ter sido maravilhosa.

- Se. Eu tinha só seis anos quando foi assassinada.

Os dedos de Tempest se apertaram sobre seu braço, com simpatia.

- Sinto tanto, Darius. Quero dizer, de haver trazido uma lembrança triste.

- Nenhuma lembrança de minha mãe pode ser ruim, Tempest. Quando tinha seis anos, os turcos invadiram o povoado próximo a nosso lar e mataram quase todos. Eu fui capaz de escapar... - Gesticulou na direção aproximada do acampamento. - Com uns poucos mais. Minha irmã, Desari, e Synidl, Barack, Dayan, e outro. Depois disso ficamos separados do resto de nossa gente.

- Aos seis anos? Darius, o que fez? Como sobreviveram?

- Aprendi a caçar com os animais que me rodeavam. Aprendi a alimentar aos outros. Foram tempos difíceis. Cometi muitos enganos, embora cada dia era uma nova e excitante experiência.

- Como ficou separado de seus pais, de sua gente?

- Havia uma guerra. Os humanos estavam sendo arrasados... Pessoas que nossas famílias consideravam como amigos. Nossos adultos decidiram permanecer com os humanos. Mas os soldados atacaram quando o sol estava alto, quando os Cárpatos estão em seu momento mais vulnerável, quando precisam ir para a terra. E havia muitos soldados, viciosos e cruéis, decididos a arrasar toda a região, a livrar-se de todos nós, que consideravam insetos, vampiros. Infelizmente, os adultos de nossa espécie não têm poder, nem força, quando o sol está alto, foi um massacre, um inútil esbanjamento de vidas. Assim muitos morreram nesse dia. Humanos e Cárpatos por igual, mulheres e crianças. Muitos de nossa raça foram submetidos ao ritual de morte dos - vampiros- ... Cortar a cabeça e uma estaca através do coração. Meus pais entre eles.

A voz de Darius era suave, melancólica e distante, como se uma parte dele estivesse há séculos dela. Em seus braços, Tempest se girou para elevar a mão e tocar os seus lábios, com a ponta dos dedos.

- Sinto muito, Darius. - Brilhavam lágrimas em seus olhos, iluminando os cílios densos. A pena por ele, pela perda de seus pais, pelo menino que havia sido, pulsava em seu coração.

Darius tocou uma lágrima, capturando-a com a ponta de um dedo.

- Não chore por mim, Tempest. Não quero que nunca haja lágrimas em seu coração. Sua vida foi dura também. Ao menos, antes de perder as emoções e as cores, minha vida foi cheia damor de minha família e depois de minha nova família, durante centenas de anos. O bote, no que eu e os outros escapamos de nossa terra destruída pela guerra, nos levou através do océno antes de afundar numa violenta tempestade. Ficamos abandonados a nossa sorte. Eu era o maior. Conseguimos alcançar a costa da África, e vivemos grandes aventura em todos aqueles anos... Antes que a escuridão se acumulasse em mim e se estendesse através de minha alma.

Tempest observou-o levar o dedo à boca, para saborear sua lágrima trêmula. Seus olhos negros eram sensuais e seus lábios perfeitos, alarmantemente tentadores. Engoliu convulsivamente, temendo que poderia se precipitar em seus braços, só para saborear esses lábios novamente e se perder para sempre na ardente intensidade de seus olhos.

- Que escuridão, Darius? Do que está falando?

- Não senti emoção ou sensação nenhuma, nestes últimos séculos. Depois de um certo ponto, evidentemente um homem dos Cárpatos perde suas emoções e corre o perigo de se converter em vampiro. Por causa dos outros, que dependem de mim, lutei com minha fera interior... Durante anos, não vi cores, nem senti alegria, nem desejo por uma mulher, nem risos e tampoucamor. Sequer senti culpa pelas mortes necessárias. Só a fome habitava em mim. Forte e terrível e sempre presente. A fera interior cresceu esteve sempre lutando para se liberar, em busca de alívio. Então, em meio a essa escuridão, chegou você, me trazendo de volta às cores, a luz e a vida. - Darius falava com honestamente, sentindo a emoção de cada palavra. Sua mão subiu para capturar a massa de cabelos vermelhos dourado, para apoiá-la em sua face e assim poder inalar sua fragrância. - Tenho mais necessidade de você, que de nenhum outro ser neste mundo. Meu corpo reclama o teu, como próprio. Meu coração reconhece o teu. Minha alma clama pela tua, e minha mente procura o toque de sua mente. É a única mulher que pode domar à fera e me manter nesta terra, no caminho da bondade e da luz.

Tempest mordeu, novamente, o lábio inferior. As coisas que ele dizia eram quase mais do que podia compreender. Deixavam-na nervosa, embora a faziam ser mais consciente de si mesma, como mulher desejável, do que tivesse feito alguem antes.

- Não vamos perder o controle, Darius. Estou de acordo em viajar com a banda por hora, mas salvar sua mente está um pouco além de minhas possibilidades. Posso trabalhar com uma chave inglesa e tudo o mais isso, mas evito as relações, totalmente.

Podia ser frívola em suas respostas, mas seu coração derreteu com cada uma das palavras dele. Sua elegância do Velho Mundo e seu encanto, de certa forma, parecia proporcionar um equilíbrio frente ao perigo que se pegava a ele como uma segunda pele. O magnetismo sexual era também uma segunda natureza para Darius, e Tempest não se enganava, pensando que era imune.

- Será melhor para todos, que permaneça livre de qualquer outra relação. - Disse ele com ar compenetrado.

Os olhos esmeralda cintilaram, de um verde brilhante, antes que se afastasse dele, muito tentada por sua boca perfeita para continuar olhando-o.

- Vamos caminhar, Darius. Acredito que é mais seguro que ficar aqui sobre esse tronco. Muito mais seguro.

O braço dele rodeou sua cintura, e ele se inclinou para frente. Seu hálito quente acariciou sua nuca.

- Corra, se deve, pequena, mas não há luhar aonde você ir, exceto, de volta para mim.

Ela afastou firmemente, o braço de volta de sua cintura, orgulhosa de sua decisão. Se o corpo dele continuasse em contato com o seu, ambos arderiam em chamas. A única coisa que podia fazer era pôr um oceano ou uma geleira entre eles. Possivelmente o círculo polar inteiro.

Sua gargalhada a seguiu, enquanto saltava do tronco e começava a se afastar.

- Ler sua mente, está se ficando muito interessante, céu. Sempre podemos nos estabelecer em um iglu.

- Nem pense. Derreteria a maldita coisa. Então onde estávamos? Disse-lhe que parasse de hipnotizar com os olhos. Possivelmente, eu deveria tentar levar uma máscara. Sua risada tinha que acabar também. Definitivamente tinha que acabar. - Fazia estragos em seu sangue. Esquentava-a, derretia-a. Diexava-a tão espessa e pesada, que temia se atirar sobre ele e suplicar, se não se detesse. Ele é que lamentaria. Voltou a fitá-lo.

- De acordo. Faz essa... Coisa de lagartos.

Ele estudou seu rosto.

- Coisa de lagartos? - Repetiu ele. Então um sorriso zombeteiro mudou a boca sensual. - Lamber sua pele? Encantado. Só tem que me dizer onde. – Deliberadamente, Darius se inclinou perto da garganta de Tempest. Seus olhos estavam em chamas, ardentes e o riso se apagava.

Tempest o empurrou, com força. Se o áspero veludo dessa língua tocasse sua pele, estaria perdida.

- Afaste-se de mim. - Deu dois passos fugidios, com crescente alarme. – Darius, teremos que conseguir uma carabina.

- Você me disse que queria que fizesse essa... Coisa de lagartos. - Sua mão segurou a dela, encadeando-a a seu lado.

- Quis dizer escamas. Precisa precisava ter escamas. Se fosse uma lagartixa, eu não sentiria que arrisco minha honra passeando pelos bosques com você. – Tempest gargalhava.

- Seeu mudasse minha forma, para a de um lagarto, correria gritando de volta ao acampamento. - Darius sabia que Julian e Desari já haviam partido no ônibus com os felinos. Dayan, Syndil e Barack, estavam nesse momento, apertando-se no pequeno e rápido carro que Barack tanto adorava. Podia ouvir Barack suplicando para que Syndil lhe dirigisse a palavra, tentando convencê-la de que não era um rato.

Darius aproveitou a vantagem da pausa temporária de Tempest para tomar posse de sua mão. Seus dedos se enlaçaram firmemente com os dela e ela a puxou de encontro ao corpo.

- Se eu mudasse de forma, iria querer me pavonear para você e conquistá-la.

Tempest permitiu que seu coração batesse acelerado, enquanto sua imaginação digeria essa idéia.

- Não tínhamos que ir a algum lugar esta noite? Penseu que tínhamos um apertado calendário para manter. Vamos deixar os pavões fora de cena. Já é suficientemente horripilante em sua forma humana.

Estavam voltando para acampamento, passeando através dos retalhos de névoa que se espessavam pelo chão. Era estranha e formosa, conviertia o bosques em lugar mágico e místico.

Tempest gostava da sensação de força da mão de Darius, o calor de seu corpo esquentando o seu, a fácil e fluídica forma em que se movia com a sugestão do poder contido. Mas, acima de tudo, adorava a forma em que seus olhos ardiam possessivamente sobre ela, a forma em que seus cinzelados e perfeitos lábios, a tentavam.

Darius parou bruscamente e ela tropeçou contra ele. Voltou-se para fitá-la e seus traços eram escuros e sensuais à luz da luz que abria passo. Era o senhor poderoso, um feiticeiro sem comparação. Tempest só pôde levantar o olhar para sua masculina beleza, perdida na fome de seus olhos.

Não podia respirar quando ele estava tão perto dela. Seus olhos se escureceram até tornarem-se implacáveis por causa do desejo, de uma crua necessidade. Suas mãos deslizaram pelos braços de Tempest para descansar em seus quadris, urgindo seu corpo, a que se aproximasse mais do dele. O azul do ar da meia-noite se misturava com o brilho prateado da lua e com o branco dos bancos de névoa que os envolviam, separando-os do resto do mundo.

Darius inclinou a cabeça lentamente para ela, empurrado por algum poder que não era o seu próprio, estava além de sua compreensão. Tudo o que importava era sentiros acetinados lábios dela sob os dele. Saborear o mel selvagem dela. Tomar o controle e terminar com a mútua miséria. Tinha que fazer.

Era tão necessário para ambos, como respirar.

Os lábios dele eram firmes, embora suaves, movendo-se sobre os dela, persuadindo gentilmente para que correspondesse. Sentiu-a mover-se sob suas mãos, deslizar-se para seu interior e apertar-se firmemente em torno de seu coração. Seus dentes mordicaram gentilmente, insistentemente, até que Tempest teve que aceitar sua muda demanda e abrir os lábios para ele.

A terra sob seus pés estremeceu alarmantemente, mas sua boca se apressou sobre a dela, transportando-a através do tempo e do espaço, para algum lugar onde nunca havia estado.

Conscientemente, Darius encontrou a mente dela com a sua e se fundiu, compartilhando suas fantasias eróticas, sua alegria ante a existência dela.

Compartilhar a forma em que seu corpo voltava para a vida e gritava por ela, como necessitava. Faminto por ela.

Puro sentimento. Estava voando alto, sem asas. Uma caída livre através do espaço e todo o tempo, as chamas aumentavam mais e mais altas. Estava perdido nela, sempre estaria perdido nela. Sua pele era suave e seu cabelo sedoso. Ela era o milagre da vida. Estava tudo ali e levava Tempest até o vórtice de sua paixão, captando o desejo dela e magnificando-o até que ela não soube mais discernir, onde terminava e ele começava. Tornaram-se um só ser, consumido por uma fome voraz. Não havia lugar para a preservação, não havia lugar para a modéstia. A necessidade dela estava igual ou maior que a dele.

Seus braços se apertaram possessivamente. Darius arrastara-a até o amparo de sua dura e masculina forma. No interior de seu corpo, o sangue se espessava como lava fundida. Uma tormenta de fogo varria todo seu sistema, até que sentiu que ia arder em chamas.

- Temos que parar.

As palavras roçaram sua mente como carícias eróticas, cheias da mesma fome e necessidade que ameaçava consumí-los, que ameaçava seu controle. Embora houvesse algo mais. Algo novo.

Por suas mentes estarem unidas, reconheceu o como o que era. Medo. Medo, tão elementar como o tempo.

Darius exigiu-se a voltar à realidade. Segurar as urgentes demanda de seu corpo, retrocedeu.

Tempest ardia. Já não era só ela, também fazia parte de Darius. Eram uma só e completa entidade. Segurou-se a ele, a única âncora segura numa selvagem tormenta de magia. Darius elevou a cabeça. Olharam-se um ao outro, afogando-se nos olhos, impressionados por poderem produzir semelhante conflagração, só com um beijo.

Tempest retrocedeu, numa sutil retirada feminina, tentando reencontrar-se e esfriar o terrível calor que chamuscava seu corpo. Tocou os lábios com a ponta dos dedos, incapaz de acreditar que ela tivesse ajudado a gerar tais chamas.

- Não diga nada, céu. Sei exatamente o que vai dizer.

Essa enfurecedora diversão masculina, matizava a voz rouca.

Tempest sacudiu a cabeça.

- Não acredito que ainda possa falar. Honestamente, Darius, você é fatal. Simplesmente não podemos fazer isto. É muito perigoso. Quase acreditei que um relâmpago estava se formando entre nós.

Ele passou uma mão nos cabelos negros.

- Juraria que fui golpeado por um raio. Ardente e dilacerador, rasgando diretamente a mim.

O sorriso dela foi uma tentativa, mas estava ali, apesar de tremulo.

- Estamos de acordo.

Darius enredou um braço em voltado corpo dela e notou o quanto ela estava tremendo.

- Acredito que mais disto é a resposta, Tempest. Temos que aprender a controlar. Quanto mais praticarmos, será melhor.

- Melhor? – Tempest pressionou uma mão sobre a boca, com os olhos enormes. - Não nos atreveremos a fazer o melhor que isso, Darius! Poderíamos fazer arder o mundo. Não sei você, mas eu não me sinto tão bem agora. - Seu corpo estava pesado e dolorido, sensível ante o mais leve toque. Cada vez que Darius se aproximava dela ou a tocasse, dardos de fogo corriam em seu interior. Precisava dele. Precisava sentir seu corpo. - Se tivéssemos um pouco de sentido comum, colocaríamos meio mundo entre nós.

Darius levou os dedos dela aos lábios e ficou intrigado pelas duas pequenas cicatrizes neles. Sua língua examinou as débeis marcas. Um lento e áspero calor.   Tempest fechou os olhos contra o puro desejo nos olhos dele, contra sua patente sensualidade. Estava com a certeza que a instantânea conflagração, não havia sido causada só por ela. Ela não fazia coisas como essa, não procurava a intimidade instantânea. Quando poderia imaginar que um toque tão pequeno, um olhar poderia reduzi-la a chamas e produzir uma dor que não se acalmava?

- Darius, temos que parar. – Ela estava meio sorrindo, mas bem perto das lágrimas. - Não tenho nem idéia de que fazer. Quer dizer, é um vampiro.

Ele sacudiu a cabeça.

- Um vampiro não, céu. Que Deus nos ajude. Isso nunca. Expliquei a você que o vampiro escolheu a escuridão eterna, escolheu perder sua alma. Você é minha alma, minha força, a luz de minha escuridão. Sou um Cárpato, embora não tenha crescido entre nossa gente e meus costumes sejam de algum modo, diferentes. Não conheço príncipe de nossa gente, o que trabalhou para evitar a extinção de nossa espécie. Sequer sabia que meu irmão mais velho ainda vice. Soube a poucas semanas.

Tempest começou a reir.

- Não há alguma coisa normal, sobre a qual possamos conversar? Como o tempo? Incomum o tempo que estamos tendo. - Se ele continuasse falando de coisas que seu cérebro se negava a compreender, Tempest temia perder a cabeça. Tudo estava andando muito rápido.

O sorriso dele foi zombeteiro.

- Você gostaria que eu criasse uma tempestade? Poderíamos fazer amor sob a chuva.

- Podemos procurar os outros e fingir que há segurança. - Sugeriu Tempest firmemente, ignorando a forma em que seu corpo se derretia ante a sugestão. - Posso ver qual de nós é a pessoa prática, e tenho a certeza de que não é você. – Ela pegou a mão dele e o conduzindo de volta para o acampamento.

Ele a seguiu durante alguns minutos em um silêncio. Finalmente, curioso, perguntou.

- Tempest? Aonde vamos exatamente? Não é que me importe... Seguirei você a qualquer lugar que queira ir... Mas pelo que posso recordar, este atalho conduz a uma ravina rochosa. É arriscado.

Ela pôde sentir a cor elevar-se sob sua pele e avançar para seu pescoço. Quando tratou de desenredar seus dedos dos dele, ele colou-se a ela. Sentiu vontade de empurrá-lo ou até de dar-lhe um tapa. Já estava sendo mau, em fazer arder seu corpo, mas agora estava completamente sobressaltada. Darius parecia com o tempo. Tranqüilo, implacável e completamente invencível.

- Então onde está o acampamento? - Exigiu através dos dentes apertados.

Durante um momento Darius a olhou fixamente. Então piscou, afastando a diversão, que tempest tinha certeza, dançava no fundo dos olhos negros. Avaliou-a com uma expressão perfeitamente sóbria que a fez desejar realmente, chutar sua canela.

- Não me exorte. Normalmente tenho algum sentido de direção. - Protestou. - Deve ter jogado um feitiço sobre mim ou algo assim. Simplesmente indique o caminho. E tire essa expressão de seu rosto, enquanto o faz, Darius.

Ele caminhou em silêncio. Seu corpo, inclinando-se protectoramente para o dela.

- Que classe de feitiço lancei sobre voce? - Perguntou ele, gentilmente. Sua voz era uma pura e hipnotizadora, e Tempest parecia não resistir.

- Como poderia saber? - Perguntou ela petulantemente. - Pode ter estudado com o Merlin. - Avaliou-o. - Não o fez. Fez?

- Na realidade, céu, ele foi meu aprendiz. - Disse ele.

Ela colocou as mãos sobre os ouvidos, seus dedos ainda enlaçados com os dele.

- Não quero ouvir isto. Nem sequer se está brincando, Darius. Não quero ouvir.

Alcançaram a clareira e Tempest parou para olhar o terreno vazio. Só restara o ônibus. Nada indicava que a caravana estivera ali, Estava destinada a estar sozinha com o Darius, quisesse ou não.

- Isto não é uma conspiração, verdade?

Darius sorrriu e abriu a porta do caminhão.

- Minha família provavelmente pensa que perdi a cabeça, mas nunca conspirariam contra voce.

- Mas conspirariam para voce. - Disse Tempest com uma inspiração repentina. Levantou a cabeça para ele. - O que fariam se o Príncipe de sua gente não gostasse de algo que eu fizesse?

Darius encolheu casualmente os ombros, com sua arrogância natural.

- Não gostaria que minha família fizesse outra coisa que se manter à margem. Há muito, cuido de mim e de meus assuntos. Não respondo perante a ninguém. Nunca fiz e seria incapaz de fazer após tanto tempo. - Suas mãos se entenderam para a cintura dela, e a levantaram sem esforço, depositando-a sobre o assento. - Feche o cinto de segurança, céu. Não gostaria que você saltasse, ao primeiro sinal de problemas.

Ela estava resmungando, enquanto ele sentava atrás do volante. Nos fechados limites do caminhão, parecia mais poderoso que nunca. A amplitude de seus ombros, suas coxas, o calor de seu corpo. Tempest engoliu o gemido que estava preso na garganta. Sua essência masculina tentava alguma emoção, selvagem e indomável, nela.

As pontas de seus dedos tamborilaram um ritmo nervoso, sobre a porta.

- Darius, possivelmente deveria tomar o ônibus.

Ele ouviu a sombra de desespero em sua voz e decidiu ignorá-la. Depois, ligou o motor, estendeu a mão para tocar sua pele só uma vez mais. As pontas de seus dedos percorreram a face dela.

O leve toque fez parar o coração de Tempest. Sabia que ele o ouvia, sabia que era consciente de que seu sangue se apressava em suas veias. Sabia que ele sentia que seu corpo estava preparado e pronto para ele. Com um pequeno suspiro se afundou no assento e apoiou a cabeça para trás, fechando os olhos.

 

Estava sozinha. Tempest pensou nisso enquanto jogava o cabelo para trás e olhava pensativamente o espelho no banheiro da caravana do grupo. A longa noite tinha sido como um formoso sonho, Darius lhe falando brandamente na intimidade da pequena cabine do caminhão, sua voz, tão perfeita relprendendo interessantes pedaços de história, fazendo-os voltar para a vida, para ela. Seus braços puxando-a para perto dele, assegurando-se de que seu cinto de segurança estava cômodo. A calidez de seu corpo penetrando no dela.

Conduziram durante horas, o céu noturno desdobrando-se ante eles, a faixa negra da auto-estrada, seu guia. Ela adormecera e sua cabeça caiu sobre o ombro dele e ficou ali. Não pretendera que o fato acontecesse, mas se sentia bem. Darius a fazia se sentir a salvo e apreciada. Estava em sua voz, no calor de seus olhos, na forma em que seu corpo protegia-a.

Tempest suspirou em voz alta. Não queria se acostumar à sensação. Nada durava para sempre e finalmente era melhor confiar em si mesma. Não queria cair numa armadilha sedutora, não importava quão sedosa fora. Em qualquer caso, Darius era muito poderoso inclusive para contemplar um ato tão temerário. Mas podia sonhar, e parecia como se o estivesse fazendo muito ultimamente.

Sentia-se sozinha sem Darius. Em muitos momentos de sua vida experientara a solidão, mas isto era diferente. Era como sentir que uma parte dela tivesse desaparecido, um negro vazio que não podia encher ou escapar dele.

Despertou tarde novamente, outro mau hábito que estava desenvolvendo. Eram mais de três da tarde. Estivera viajando toda à noite. Não era surpreendente que o grupo dormisse durante o dia. Como podiam manter um horário tão demencial?

Olhou fixamente seu reflexo no espelho. Roçou o olho que ainda deveria estar de um profundo púrpuro, inchado e feio, mas só restava uma débil sombra azul. Darius havia curado-a. A cor avançou por seu rosto e seu corpo saltou à vida enquanto se lembrava de como. Era fácil recordá-lo como um sonho erótico. Darius. Sentia falta dele enquanto dormia.

Desgostava-lhe a forma em que seus olhos brilhavam, separou-se do espelho. Já era o suficientemente ruim que estivesse vadiado no banheiro como uma mocinha apaixonada, sonhando com ele. Seus olhos. Sua boca. Sua voz. A forma de seu corpo.

- Oh, pelamor de Deus. - Olhou para o luxuoso interior da caravana. - Está atuando pior que uma adolescente. - Disse-se a si mesma. – Ele é arrogante e mandão, um estranho. Mantenha isso em mente quando estiver babando por seus olhares. É um homem. Isso já é suficientemente ruim. E ele é pior que um homem. É um.... - Procurou a explicação correta. - Alguma coisa. Algo do qual não quer tomar parte. Vá cuidar de seus afazeres. Algo mundano, comum. Algo ao qual está acostumada.

Antes do amanhecer ele a tinha levado nos braços até o ônibus que então tinham alcançado, depois de conduzir toda à noite. Se fechasse os olhos ainda podia sentir a força de seus braços, a forma em que os duros músculos de seu peito se sentiam contra seus seios. Nos raios prematuros da luz da manhã, pôde ver sua face sensual e formosa, embora dura como o próprio tempo. Ele levara-a gentil e cuidadosamente até o interior do ônibus e a tinha estendido sobre o sofá entre as almofadas. Sua ternura enquanto a cobria com uma colcha havia ficado gravada para sempre no coração. O beijo que tinha roçado sua têmpora ainda deixava vestígios de fogo.

E seu pescoço. Tempest pressionou uma mão sobre o pescoço, então se voltou para o espelho para olhar uma vez mais. Sua boca tinha deixado uma ardente marca, marcando-a como dele. Podia ver a evidência, a estranha marca que pulsava, ardia e clamava por ele. A cobriu com a palma da mão e prendeu o calor abrasador.

- Desta vez está num grande problema, Rusti. - Murmurou brandamente. - Nem sequer tenho idéia de como vou te tirar desta.

Tentou comer cereais frios mas notou que estava mais que faminta. Desejava a boca dele, seu sorriso, lento e sexy. Desejava ver o ardor negro de seus olhos. Os cereais estavam com sabor ruim. Por que era erótico que Darius tomasse seu sangue, quando a idéia de que qualquer outro fizesse algo semelhante a deixava doente? O que fez não foi repulsivo quando se inclinou para se aproximar enquanto seu corpo inteiro se esticava de antecipação com Darius? Tocou a marca com a ponta de um dedo.

- Não vais ficar sentada aqui sonhando acordada, Tempest. - Declarou incondicionalmente, vagamente surpreendida por estar chamando a si mesma com o nome que Darius insistia em utilizar. - Vá fazer algo, algo, mas deixa de atuar como uma estúpida.

Levou-lhe alguns minutos limpar e depois de acariciar os leopardos, antes de sair. As pesadas cortinas das janelas bloqueavam a luz de fora do ônibus, então o dia pareceu mais brilhante que nunca, e teve que semicerrasr os olhos contra seu brilho. A brisa era suave e brincalhona, brincando com seu cabelo e roupas, formando redemoinhos com as folhas e soprando agulhas de pinheiro aqui e acolá pelo novo acampamento.

O ar cheirava a fragrância de pinheiros e flores silvestres. Corria água em alguma parte perto dali. O vendo a fazia sentir-se mais só que nunca. As cores pareciam bem mais vívidas quando Darius estava perto. Tudo era mais vívido quando Darius estava ao redor.

Obsessão. Era isso o que era? Tempest encheu uma garrafa de água e a colocou em sua mochila. Daria uma longa caminhada, iria até o riacho e se refrescaria. Lavaria seu corpo. Cantarolando, colocou as mãos nos bolso e partiu, decidida que a presença de Darius não a perseguisse. Mas uma sensação de escura obsessão começou a curvá-la enquanto caminhava mais à frente do acampamento.

Tentou cantar, mas seu coração parecia pesado, suas pernas pareciam chumbo a cada passo que dava. Um terrível pesar crescia nela. Precisava ver Darius, tocá-lo, saber que estava vivo e bem. Encontrou o fino filete de água e o seguiu até que ele se ampliou e se converteu numa espumosa manta prateada sobre um afloramento de pedras. Tirou os sapatos e entrou nela. O frio da água lhe esclareceu cabeça o bastante para que pudesse raciocinar novamente.

Darius não estava morto ou ferido. Nada estava errado. A união entre eles estava crescendo porque ele fundia sua mente com a dela com freqüência. Compartilhavam uma intensa intimidade que não significada nada para os humanos. Sem a mente dele tocando a dela, sentia-se perdida. Isso era tudo. Era simples. Só teria que aprender a viver com isso. Tempest se introduziu mais na água, até que sentiu nos joelhos e a corrente a urgiu a seguir seu curso. Tomou consciência dos insetos no ar, com seu zumbido constante. Eram dardos coloridos, num redemoinho de asas. Ouviu como Darius lhe ensinara, completamente imóvel, com a água fluindo a seu redor e a mente centrada nas diminutas criaturas transbordantes de vida.

Tempest observou o azul brilhante de uma libélula revoando sobre a água. Lentamente olhou ao redor e viu mariposas que se reuniam. Tantas cores formosas, asas batendo o ar. Chegavam de todas as partes, roçando-se contra ela, aterrissando sobre seus ombros, seus braços. Ficou encantada com elas até que temeu que estivessem se reunindo em muitas. Subitamente elas a soltaram e começaram a elevar o vôo graciosamente.

Notas musicais se verteram em sua mente quando os pássaros começaram um concerto, uma rivalidade de sons. Várias espécies competiam nas ondas de ar e tentavam superar às outras. Ouviu intensamente, repetindo os sons em sua mente até que se sentiu segura de ter separado cada canção, cada significado, antes de lhes responder.

Um a um os chamou para ela. Estendendo os braços, cantou para eles, tentando-os, sua garganta gorgojeou atraindo os pássaros de seus ramos e ninhos. Eles voaram a seu redor, rodeando-a e mergulhando para inspecioná-la cautelosamente antes de pousar-se em seu braço.

Cantarolando, os esquilos os seguiram, apressando-se para frente para parar a beira da água. Lentamente, com grande cuidado, Tempest abriu passo para eles, todo o tempo conversando tranqüilamente com os pássaros. Eles revoavam a seu redor, arrulhando e cantando, trilando suas toadas favoritas para ela. Dois coelhos saíram a campo aberto, mexendo o nariz para ela. Tempest ficou quieta, estendendo-se só com a mente para incluí-los no círculo de comunicação.

Foi um pássaro, o primeiro que lhe advertiu do perigo. Voando na corrente alta sobre eles, seus olhos agudos captaram um movimento sigiloso num arbusto a várias jardas deles. Um alarme ansioso, advertindo os que estavam embaixo de que não estavam sozinhos. Tempest girou rapidamente enquanto os pássaros elevavam o vôo e os esquilos e o coelho corria para ficar a salvo. Ela ficou sozinha ainda na água. O homem, parcialmente oculto no espesso arbusto estava tirando uma série de fotografias. Parecia familiar e o pior, triunfante. Obviamente havia tirado fotos dos animais com ela.

Tempest suspirou e passou a mão pelo cabelo. Pelo menos não havia atraido nada maior ou exótico. Nem ursos, nem raposas e nem visons. Mas já podia ver o pequeno jornaleco com sua foto na capa, entitulado - A mulher pássaro dos Trovadores Escuros- . Que grande artigo ele iria conseguir. Como conseguiria se meter em semelhantes confusões?

- Olá novamente. Parece estar nos seguindo. – Ela saudou Matt Brodrick, esperando não soar tão assustada como se sentia. Odiava estar a sós com homens, e esta corrente serpenteando numa área remota do bosque estava estar bastante sozinha. - conseguiu alguma foto boa?

- Oh, sim. - Respondeu ele, deixando a câmara pendurada ao redor de seu pescoço e começando a se mover para ela, olhando cautelosamente ao redor. - Onde está o guarda-costas? - Perguntou com grande suspicacia.

Os pés de Tempest se moveram por própria vontade, retrocedendo no meio da água enquanto Matt Brodrick caminhava para ela.

- Pensei que esse guarda-costas estaria com você constantemente.

- De onde tirou essa idéia? Sou o mecânico, não um membro da banda. Ele está sempre com Desari, a cantora. Esse é seu trabalho. Posso lhe entregar uma mensagem na próxima vez que lhe ver, se você quiser. - Algo em Brodrick a deixava nervosa. Sabia que ele era mais que um repórter seguindo o rastro do grupo, mas o que queria, não podia imaginar.

- Alguém tentou matá-la a alguns meses. - Disse Brodrick, observando sua face cuidadosamente. - Contaram-lhe isso? Mencionaram que no atentado, dispararam em outros dois membros da banda também? Pode ser perigoso estar junto a este grupo.

Ela ficou congelada por dentro. Ele estava dizendo a verdade, podia sentir. Mas deliberadamente havia contado com a tranqüila solidão do bosque para surpreendê-la, para ver se podia sacudi-la. Tempest inalou ar fresco, empurrando fora o terrível medo. Começou a se mover em direção à corrente inclusive enquanto encolhia os ombros casualmente.

- Não tem nada a ver comigo. Arrumo carros, isso é tudo. Provavelmente você está bem mais em perigo que eu, se alguém tentar fazer mal a Desari. Você está sempre dando voltas ao redor. – Ela levantou o olhar para o céu. Era um dia claro e formoso e nuvens como bolas de algodão flutuavam serenamente no alto sobre eles. - Provavelmente algum fã enlouquecido. Já conhece esse tipo. Desari é sexy e bonita. Atrai todo tipo de atenção. Algumas vezes muita atenção não é coisa boa. - Algo da tranqüilidade da natureza banhou sua mente. Ou era Darius novamente? Ele estava longe dela e não podia sequer lhe tocar com a mente, que por sua conta, estendeu-se o buscando. Encontrou só o vazio, embora sentiu que ele estava ajudando-a. Podia sentir algo de sua característica calma entrando nela e ajudando-a a se tranqüilizar, para se sintonizar melhor com a natureza.

Brodrick estava caminhando para ela pela beira da água, cuidando em manter a ponta de seus pés secos.

- Mais que provavelmente alguém sabe o que eles são. - Seus olhos prenderam os dela. - Está me advertindo, verdade? Tenta me dizer que se ficar por aqui, posso sair ferido

- De onde tira uma idéia como essa? - Tempest desejou ter pensado nisso. Estava lhe permitindo intimidá-la, quando possivelmente ele só estava assustando-a. - Não leio jornais sensacionalistas, Brodrick, então talvez devesse me contar o que está procurando. Intuo que planeja usar essas fotos. Não sou uma celebridade, e em qualquer caso, qual seria a questão? Prefiro os animais às pessoas. Tenho uma afinidade com eles. Imprima isso e tudo o que fará será com que perca meu trabalho. Como isso vai te ajudar a obter o que quer?

Brodrick a estudou. Estava de pé com o sol atrás dela, então ele não divisou imediatamente a leva marca da mordida de amor em seu pescoço. Quando o fez, soltou um som estrangulado e afastou, alcançando apressadamente o interior de sua camisa para tirar uma cruz de prata. A colocou diante dela, enfrentando-a.

Tempest o olhou um momento sem compreender. Depois, quando o significado a golpeou, estalou em gargalhadas.

- O que está fazendo, idiota? É tolo! Realmente acredita no lixo que imprime, não é?

- Você é um deles. Tem a marca da fera. Agora é sua servente. - Acusou ele, histericamente. O sol brilhava sobre a prata deslumbrando-a. Tempest tocou o pescoço com a ponta dos dedos.

- Quem é ele? Que fera? Estou começando a pensar que você está louco. Meu noivo estava brincando e me deu uma pequena mordida. O que acreditou que era?

- São vampiros, todos eles. - Disse Brodrick, - Por que acha que dormem durante o dia?

Tempest riu brandamente.

- Por isso há tantos ataúdes no ônibus? Certo. Nunca pensei que fossem vampiros.

Brodrick amaldiçoou enfurecidamente, furioso por ela estar se divertindo a sua custa.

- Não rirá de mim quando provar ao mundo. Estamos sobre eles. Estivemos há algum tempo. Seguimos eles durante os últimos cinqüenta anos e não envelheceram nada.

- Quem são eles? Tem provas disso? – Ela sentia o coração na garganta, mas se obrigou a manter o sorriso zombeteiro em sua face. – Nem você parece ter cinqüenta anos, Brodrick. Então talvez seja um deles também.

- Não brinque comigo. – Vaiou ele, furioso. - Somos uma sociedade de cidadãos preocupados tentando salvar o mundo destes demônios. Nos colocamos em grande perigo. Alguns dos nossos foram assassinados na Europa, sabe... Mártires pela causa. Não podemos permitir que os vampiros continuem ameaçando à humanidade.

Os olhos dela se abriram. Ela estava olhando a um autêntico fanático, indubitavelmente se esforçava para matar Desari.

- Senhor Brodrick. - Tentou ser razoável. - Na realidade não pode acreditar no que está dizendo. Conheço esta gente. Dificilmente seriam vampiros. Um pouco excêntricos, sim. Viajam cantando como fazem a maioria das bandas. Darius me fez uma sopa de verduras outro dia. Desari tem reflexo no espelho... Eu mesma o vi. E estava brincando sobre os ataúdes. O ônibus é muito luxuoso, incluindo a área de dormitório. Por favor, acredite, só são pessoas com talento tentando ganhar a vida.

- Vi a marca. Eles utilizam humanos. Ninguém os viu ainda à luz do sol. Sei que tenho razão. Quase os pegamos da última vez. E o que ocorreu com nossos melhores homens... Os que enviamos para destruí-los? Desapareceram sem deixar rastro. Como escapou Desari? Como vive depois de que vários projéteis a atingiram? Diga-me. Dizem que foi ao hospital e um médico particular se encarregou dela. Capaz!

- Isso é bastante fácil de comprovar.

- O médico diz que esteve lá. Igualmente as três enfermeiras e alguns técnicos, mas ninguém mais. Uma cantora famosa em seu hospital e a maior parte do pessoal não posso se lembrar? E não encontrei nenhuma enfermeira que soubesse algo sobre isso. Dizem que toda a equipe de operação eram especialistas que vieram de fora.

-Os Trovadores Escuros são ricos, Brodrick. E gente rica faz coisas como quer. Mas você está dizendo abertamente que fez parte de um atentado contra a vida de Desari? – Ela se aterrorizou, pois tinha o pressentimento de que ele não se importaria de confessar a menos que planejasse se livrar dela também. Pela primeira vez temia por sua vida. Será que ele teria uma arma? Era possível. Pior, acreditava que Brodrick estava louco. Ninguém em são julgamento acreditaria em vampiros ameaçando à humanidade. Sempre acreditara que os vampiros fossem mito... até que viu Darius em ação. Este homem apoiava suas noções em estupidez e velhas lendas.

Parecia que Darius era mais de confiança que qualquer humano que ela tivesse conhecido antes. Não que lhe servisse de muito agora, onde quer que estivesse. Oh, Deus! Nem queria saber onde estava. E se realmente dormisse num ataúde? A idéia lhe deu resolução. Ele havia mencionado ir a terra. O que queria dizer com isso? - Nem pense nisso, Tempest. Ficará tão louca como este estúpido. Mantenha-se concentrada.

Matt Brodrick estava observando-a, com os olhos semicerrados.

- Sei que precisam de serventes humanos para vigiá-los durante o dia. Isso é o que você é. Onde estão?

- Você precisa de ajuda, Brodrick. Sério, precisa de terapia intensiva. – Ela perguntou-se se Darius sabia que o repórter estava envolvido no atentado contra a vida de Desari.

- Você é um deles. - Acusou-a Brodrick novamente. - Me ajude a encontrá-los enquanto dormem ou terei que te destruir.

Tempest vadeava mais rápido por dentro da água, enquanto Brodrick mantinha o passo ao longo da margem. Seu coração parecia correr tão rápido como a água.

- A verdade é que, já conversou demais, Brodrick. Não tem mais escolha que me matar. Não vou contar onde estão Darius, Desari ou os outros membros da banda, mas não estão em ataúdes e não vou te ajudar colocá-los em um.

Os lábios dele se abriram numa feia careta.

- Sabe que um dos membros da banda desapareceu há alguns meses? Acredito que eles o mataram. Provavelmente não era um deles e só o usavam para conseguir sangue, até que o deixaram seco.

- Tem mente doente, Brodrick. - Tempest olhava ao redor freneticamente procurando a forma de se livrar dele. Estavam tão isolados e ela estava segura de ter saído do perímetro de segurança que Darius sempre colocava a seu redor. Se ela saísse desta confusão, provavelmente ele lhe daria um sermão que nunca esqueceria.

Enviou sua mente a procurar pelo bosque, pelo céu, reclamando a ajuda dos animais dos arredores, precisando de informação, uma impressão de algum esconderijo perto.

Brodrick estava murmurando para si mesmo, zangado com ela por não fazer o que ele desejava. Lentamente, ele pegou um pequeno revolver.

- Acredito que seria melhor que o reconsiderasse.

Tempest podia sentir o impulso da corrente em suas pernas. Era bem mais forte agora, a água mais ruidosa e mais agressiva. Não queria correr até alguma inesperada cascata e se estava temendo isso, era o que lhe esperava mais adiante. Avançou para o lado oposto a Brodick, embora ainda dentro do alcance de sua arma. Estava ainda descalça, com os sapatos pendurados no pescoço pelos cordões presos. Que forma de morrer tão atraente, pensou. Quem mais seria pego descalço quando tinha que fugir através de terreno rochoso e acidentado? O que havia nela que atraía tanto problemas?

No alto, os pássaros começaram a trinar novamente, de um jeito incomum. Instantaneamente ela recebeu a impressão de um escarpado. Estava fora da água, retrocedendo rapidamente, mantendo os olhos cautelosamente sobre a arma, que não desviou de seu coração, embora Brodrick não a seguisse através do rápido movimento da corrente. Evidentemente não queria molhar seus brilhantes sapatos.

Seu primeiro disparo reverberou ruidosamente. Uma bala passou perto de seu ouvido e salpicou sujeira e agulhas de pinheiro vários passos atrás dela. Tempest tropeçou para trás mas se negou a correr. As pedras sob seus pés eram afiadas, ferindo sai carne. Mal registrava as lacerações, quando um segundo disparo a fez retroceder novamente, movendo-se tão rápido como podia, com seu olhar fixo na pequena arma horrível.

O tempo pareceu parar. Podia ver as folhas murmurando no débil vento, ouviu o pássaro sobre sua cabeça gritando sua advertência. Sequer notou a forma em que os olhos de Brodrick se tornaram planos e frios. Continuou movendo-se para trás.

- por que faz isto? Você está equivocado? Mataria uma pessoa inocente porque acha que ela que viaja na companhia de vampiros. Estou aqui fora no sol ardente, a plena luz do dia. Isso não te diz nada? - Tentou ganhar um pouco de tempo.

- Essa marca sobre você é toda a prova que necessito. - Explicou Brodrick. - É sua servente humana.

- Então, a metade dos adolescentes da América é escrava de vampiros. Não seja estúpido, Brodrick. Sou uma mecânica, nada mais. - As pedras cortavam seus pés, e Tempest estava começando a se desesperar. Tinha que haver uma forma de sair desta confusão.

Atrás dela, sentiu o espaço vazio. O espaço rochoso terminava abruptamente sobre a beira do escarpado. Deteve-se, a campo aberto. Podia sentir o chão instável sob seus pés desmoronando-se. O pássaro gritou outra vez e desta, bem mais perto, mas ela não se atreveu a afastar os olhos de Brodrick e levantar o olhar ao céu, atrás dela.

- Pule. - Ordenou ele sorrindo, ondeando a arma. - Se não saltar, vou ter o grande prazer de disparar.

- Pode ser preferível. - Disse Tempest, desagradavelmente. Uma queda mortal não lhe parecia altamente desejável.

- Tempest, posso sentir seu medo. - A voz era tranqüila e firme, sem o menor mínimo indício de pressa ou emoção. Seu coração pulsou muito rápido. - Olhe firme para o que teme, assim eu poderei ver também no que se colocaste. - Darius soava longínquo, a milhas de distância, uma voz imaterial.

Ela manteve os olhos fixos em Brodrick. - Estou segura de que ele é parcialmente responsável pelo atentado contra a vida de Desari. – Ela falou, cravando os olhos na arma.

Brodrick puxou o gatilho, a bala caiu a polegadas do pé de Tempest, ziguezagueou até uma pedra e voou pelo ar. Tempest gritou, perdendo seu precário equilíbrio, seus braços se balançaram violentamente tentando recuperar o equilíbrio.

Não viu a arma se voltar lenta, mas certamente, para a têmpora de Matt Brodrick. Não viu seu dedo apertar o gatilho. Não foi testemunha das gotas de transpiração que molhavam sua testa ou o horror de seus olhos. Tempest não viu a estranha batalha com o oponente invisível de Brodrick ou a luta pelo controle da arma.

No presente estado de Darius, com sua grande força diminuída nas horas diurnas, teve que utilizar seus tremendos poderes mentais para superar a força do humano. Ela ouviu a detonação da pistola enquanto caía pela beira do escarpado.

Darius amaldiçoou, profundamente no interior da terra. Tempest se meteria em problemas todo o tempo. Ainda era cedo para se elevar; estava débil e vulnerável, incapaz de estar pessoalmente a seu lado. Poucos, exceto os mais fortes, os mais antigos de sua raça, poderiam ajudar em tais momentos. Só sua vontade de ferro, forjada por séculos de resistência e sua terrível necessidade lhe permitiram lutar com o humano que a ameaçava. Com o sol alto, com a terra lhe cobrindo, ainda prevaleceria.

As unhas de Tempest mordiscaram freneticamente o escarpado, procurando um porto seguro que pudesse evitar que caísse. Deslizou, a terra que desmoronava e as pedras golpearam suas mãos e lhe quebraram as unhas enquanto lutava, procurando algo ao qual se agarrar. Foi uma raiz de árvore que surgia das rochas escarpadas, o que evitou sua queda. Golpeou-a diretamente no estômago, extraindo o ar de seus pulmões. Ainda assim, aferrou-se a ela com as duas mãos, agarrando-a com todas as suas forças enquanto ofegava e lutava em busca de ar.

Mesmo seu pouco peso fez com que a raiz balançasse precariamente, tanto que gritou e enredou os braços ao redor dela, com as pernas esperneando inutilmente no ar. Sobre ela, ouviu uma rajada de vendo, asas batendo com força enquanto o enorme pássaro se aproximava dela, dirigindo-se diretamente a sua face. Tempest enterrou os olhos no oco do braço e permaneceu tão imóvel como foi capaz, aterrorizada por estar perto do ninho do enorme pássaro. Nunca tinha visto uma águia, mas o pássaro era demasiado grande para ser nada mais. Os olhos eram negros e claros, o bico curvado e com aspecto malvado. A envergadura das asas era enorme. Tempest estava segura de que devia estar perto de seu ninho.

- Sinto muito, sinto muito. - Repetiu como uma letanía.

O pássaro elevou o vôo e uma vez mais dava voltas, baixando enquanto o fazia. Tempest deu um cauteloso olhar ao redor. A queda era pronunciada e longa, de várias centenas de pés. Não sobreviveria. Elevou o olhar, tentando decidir se tinha ou não uma oportunidade de escalar. De um momento para outro esperava ver Brodrick inclinado sobre o precipício, tentando lhe disparar outra vez.

Sobre ela, o escarpado era bem pronunciado e ela não podia ver uma só cornija para tentar colocar a ponta dos dedos. Quando poderia agüentar? Darius viria por ela, mas não até a queda da noite. Quantas horas poderia agüentar suspensa ali? E a raziz agüentaria? Podia ver a terra desprendendo-se na base e a raiz estava podre e seca. Seus braços sujeitaram a fina raiz numa garra mortal.

- Tempest. O pássaro dará outra volta perto de você. Quando ele se aproximar, solte a raiz.

Como sempre, Darius soava tranqüilo. Poderiam estar discutindo sobre o tempo.

- Se a soltar, cairei, Darius. - Fez o que pôde para não soar histérica, mas se em algum momento em sua vida sentiu pânico, figurava-se que era este.

- Confia em mim, céu. Não permitirei que morra. O pássaro te levará para a segurança.

- Não é o suficientemente forte. Peso até bastante.

- Eu ajudarei. Faça o que digo, Tempest. Lance-se agora.

Sentiu mais que a memorizou a hipnótica persuasão de sua voz. Darius estava empurrando-a mentalmente. Sentia a necessidade, a compulsão de lhe obedecer. Era implacável em sua resolução. Ninguém desafiava Darius.

Tempest ouviu o longo e inteligente chiado enquanto a ave de rapina caía para ela. Podia sentir seu coração golpeando com alarmante força contra o peito. Embora soasse perigoso, estava fazendo o que Darius havia ordenado. Não podia deter a si mesma. Na realidade a necessidade de obedecer estava acima dela, soltou sua garra mortal sobre a raiz que nunca poderia ter soltado se Darius não lhe tivesse ordenado que o fizesse.

O pássaro correu para ela, com as garras estendidas. Com um grito inarticulado, Tempest saltou. Instantaneamente estava caindo através do espaço. A ave era uma visão aterradora que vinha para ela, com suas plumas se movendo com as rajadas de ar enquanto descia, a uma velocidade incrível. No último momento Tempest fechou os olhos. As garras afiadas a pegaram em meio ao ar, enterrando através da roupa em sua pele, cravando dolorosamente. Então descenderam juntos, as enormes asas do pássaro batiam com força para mantê-los no alto, para compensar o peso extra de sua carga. Os sapatos que estavam pendurados em seu pescoço e quase a enforcaram e ela teve que soltá-los para evitar ser estrangulada pelos cordões.

A dor queimava através dela, suas as costelas ardiam. Gotas de sangue deslizavam para baixo, para seus quadris. A águia a aferrava com força com as garras enquanto lutava por colocá-la a salvo. Foi incapaz, sequer com a ajuda de Darius, de elevá-la sobre o escarpado, então abriu passo para o blusao mais próximo, atirando-a sobre o chão. Mas suas garras estavam presas em suas costelas e suas asas bateram com força num esforço de liberá-la. Tempest tentou ajudar, extraindo as afiadas garras que rasgavam seus músculos. Depois desmaiou sobre uma pilha de agulhas de pinheiro, terra e pedras enquanto o enorme pássaro se elevava alto e voava longe.

Tempest pressionou a mão contra o flanco e a palma empapou de sangue. Tossiu várias vezes para aliviar a pressão de sua garganta. Ainda assim, não havia dúvidas em sua mente de que este era melhor destino que se fosse disparada ou caisse para morrer sobre as rochas lá embaixo. Lutou para sentar e tentou avaliar o dano feito a seu corpo e onde podia estar. Apesar do que havia dito a Darius, tinha um terrível sentido da direção.

- Eu sei. Fique onde está.

Tempest piscou, insegura de que realmente tinha ouvido sua voz ou que simplesmente desejava ouvi-la. Ele estava tão longe dela. Tentou se levantar, concentrando-se no som da água. Onde estava Matt Brodrick? Fraca como estava, não poderia fugir dele, mas precisava chegar até a água.

- Espere-me, Tempest. - A voz era forte esta vez. Uma ordem, se é que alguma vez tinha ouvido alguma.

Ele se achava no direito de soar imperioso quando sempre tinha que salvá-la, mas a irritava de todas as formas. Tempest cambaleou para a água, ignorando seus músculos doloridos, o som do pássaro que foi à chamada de Darius e o temor de que Brodrick pudesse cair sobre ela a qualquer momento. A única coisa que lhe importava era alcançar a água.

O arroio estava gelado e ela ficou nele, totalmente estirada, desejando que a água aliviasse os cortes ardentes de sua pele, que a embotasse o suficiente para que pudesse pensar novamente. Levantou o olhar para o céu azul e só viu o pássaro agitado. Sentou-se, se endireitando lentamente. O vento combinado com a água gelada começou a invadi-la e ela começou a tremer.

- Deveria ter permanecido dentro do perímetro que coloquei para você. - Disse Darius tranqüilamente, só com o mais ligeiro toque de sua voz.

- Feche a boca com seus estúpidos perímetros. – Respondeu, ela. Embora pensasse que o esperava, não podia suportar ser lecionada sobre algum repórter idiota que pensava que estava sobre um ninho de vampiros. Ao inferno com isso. - O que está dizendo? - perguntou-se em voz alta. - Há um ninho de vampiros. Ou possivelmente o chamaríamos um aquelarre do Cárpatos. Não, os aquelarres são de bruxas. Mas seja o que for, não é culpa minha que algum pirado queira disparar em todo mundo.

Seu pescoço e flanco palpitavam. Ao igual às solas de seus pés. Examinou-se, fez uma careta e os colocou outra vez na água.

- Não há nada seguro ao seu redor, Darius. As coisas simplesmente ocorrem. Coisas estranhas.

- É muito seguro estar a meu redor, mas você não conhece seus limites, e parece ter problemas para atender a razões. Se tivesse ficado onde pedi que deveria estar, nada disto teria ocorrido.

- Oh! Vá para o diabo. - Murmurou em voz alta, seguro que possivelmente ele não poderia ouvi-la. Ele tinha que ser tão condenadamente superior todo o tempo? Doía-lhe tudo e a última coisa que queria era ouvir um homem irritante. Não que não lhe agradecesse a ajuda. Podia dizer por sua voz, pelo fato de que estava muito longe, que sua intervenção havia sido complicada. Ainda assim, isso não lhe dava direito de castigá-la, certo?

- Tenho direito porque me pertence e não posso fazer outra coisa que cuidar de sua segurança e felicidade. A voz era tranqüila e bem masculina, mantendo uma escura promessa na qual não queria pensar.

- Não pode fazer outra coisa que fechar a boca. – Ela murmurou ressentida. Apertando os dentes por causa da dor, tirou os sapatos do pescoço. Não queria que Matt Brodrick irrompesse no acampamento e disparasse em Desari ou Darius de algum arbusto.

- Não posso. - Disse Darius tranqüilizador. Desta vez havia um toque de riso em sua voz, ante sua rebelião.

- Vá dormir ou o que quer que faça. – Sibilou, ela. Assegurar-me-ei de que ninguém possa te fazer mal. – Ela acrescentou o último entre dentes.

Imediatamente recebeu a impressão de dentes reluzentes de um sorriso predador e olhos negros que ardiam com a promessa de represálias. Tempest empurrou sua mente longe da dele, em sua maior parte porque ele podia intimidá-la mesmo à distância, o que não era justo. Fazendo caretas, colocou os sapatos sobra às úmidas e danificadas solas dos pés e ficou em pé cautelosamente.

Cambaleou. Cada músculo retorcido estava protestando, por suportar seu próprio peso. Com um suspiro, seguiu a água, esperando encontrar o caminho de volta ao acampamento. Não foi fácil, pois o terreno era difícil em alguns lugares enquanto ascendia firmemente por seu leito. Duas vezes sentou para descansar, mas finalmente alcançou as árvores onde tinha divisado Brodrick pela primeira vez.

Tempest olhou ao redor cautelosamente, certamente estava no ponto correto, mas o homem não estava à vista. Uma pluma negra caiu flutuando do céu, com um lento redemoinho de brisa o que dirigiu sua atenção ao céu. Vários pássaros enormes voavam em círculos sobre as árvores, reunindo-se inclusive mais enquanto observava. Seu coração quase parou. Abutres.

Sentou-se bruscamente sobre uma rocha, seu coração pulsava ruidosamente. Darius? Mesmo em sua própria mente, sua voz tremeu e vacilou, soando desamparada e perdida.

- Aqui estou, céu. - Ele soava forte e reconfortante.

- Ele está morto? Não quero encontrar seu corpo. Mataste-o, não éverdade? - Estava lhe suplicando, esperando que não o tivesse feito, mas subitamente lhe ocorreu porque ele havia lhe assegurado de que Brodrick não lhes haveria dano e por que, antes, não havia necessidade de ir a policia e informar sobre o ataque de Harry. Por que tinha sugerido que nenhum de seus assaltantes incomodaria a ninguém novamente. Tinha-o sabido sempre? Simplesmente havia fingido frente a si mesma, que Darius sempre era doce e amável, embora um pouco imperioso? Todo o tempo sabia que ele era um predador perigoso, tinha contado muito de si mesmo. E quando disse que ela estava sob seu amparo, falava a sério. Darius não era humano. Tinha seu próprio código e vivia de acordo com ele. - Mataste-o, Darius?

Houve um curto silêncio. – Ele morreu por sua própria mão, Tempest. - Replicou finalmente.

Ela cobriu a face com as mãos. Poderia ter obrigado Darius, de algum modo, a fazer tal coisa? Não sabia. Como ele era poderoso para tanto? Podia mudar de forma. Convencer uma ave de rapina a resgatá-la de um escarpado. Que mais podia fazer? E queria saber? – Você é muito perigoso, não é?

- Não para você, céu. Nunca para você. Agora vá para o acampamento e me permita descansar.

- Mas o corpo. Alguém tem que chamar a policia. Temos que levar o corpo às autoridades.

- Não podemos, Tempest. É membro de uma sociedade de assassinos. Os chamados caçadores de vampiros iriam à primeira palavra sobre sua morte prematura e todos nós estaremos em perigo. Deixe-lhe para que algum excursionista o encontre mais tarde, depois que tenhamos saido. Ele esteve instável ultimamente. Decretarão suicídio, como deve ser.

- Foi mesmo o que aconteceu? – Ela procurava tranqüilidade.

- Qualquer deles que venha atrás de mim ou o do que é meu é um suicida. – Respondeu ele, enigmaticamente.

- Não ia tocar nesse assunto. E o outro homem que me atacou? Está vivo?

- Por que pensa que um homem semelhante deveria viver, Tempest? Ele judiava de mulheres durante anos. Para que o mundo necessita de tal pessoa?

Oh, Deus, não podia pensar nisto. Por que não tinha considerado as conseqüências de permanecer com uma criatura como Darius? – É errado matar.

- É a lei da natureza. Nunca matei injustificada ou indiscriminadamente. Isto é exaustivo, Tempest. Não posso sustentar esta comunicação muito mais. Volte para o acampamento e continuaremos esta discussão quando me levantar.

Ela reconhecia uma ordem quando a ouvia.

 

Tempest tinha ido embora. Sob a terra, os olhos negros se abriram de repente, ardentes de fúria. A terra se moveu ligeiramente, num ameaçador ondeio através da superfície do parque. Então Darius se levantou, explodindo no meio do ar, a terra vomitou como um geiser a seu redor. Sentiu o curioso e desorientado puxão, depois a entristecedora perda de sentido, a mancha negra estendendo-se através de sua alma.

Seu fôlego chegava em dolorosas e difíceis baforadas. Chamas vermelhas titilavam e dançavam em seus olhos. Havia um batimento em suas têmporas e outro em seu interior. A fera rugia e rabiava, exigindo ser desatada.

Darius tentou recuperar uma aparência de autocontrole. Tempest não entendia seu mundo, a necessidade de matar. No mundo ao qual ela pertencia, apegava-se à crença de que aquele que matava era ruim. Lutou com sua própria arrogância, atrevendo-se a lhe desafiar, atrevendo-se a lhe deixar. Mas sobretudo, lutou com a fera interior, forte agora e exigindo que reclamasse aquilo ao qual tinha direito.

- Todos se levantem e venham para mim agora. - Enviou a ordem a sua família, sabendo que obedeceriam.

Logo, eles se reuniram a seu redor, com as fisionomias sérias. Só algumas poucas vezes ao correr dos séculos, Darius os chamara desta forma. A fúria de Darius tinha esculpido linhas duras em sua face. Havia um rictus cruel na beleza de sua boca.

- A Traremos de volta. Antes de tudo, retornará.

Desari olhou ansiosa para seu companheiro.

- Talvez não deveríamos, Darius. Se Rusti fugiu pela segunda vez, é que não deseja ficar conosco. Não podemos obrigá-la. Vai contra nossas leis.

- Sinto sua desolação me golpeando. - Declarou Darius, sua fúria se acumulava. Era mais perigoso nesse momento do que nunca tinha sido antes. – Ela teme-me. Teme nossa vida, juntos. É consciente do que somos.

Houve um ofego coletivo. Os membros de sua família olharam fixamente uns aos outros. Barack rompeu o assombrado silêncio.

- Certo, há coisas pouco normais nela, mas não posso acreditar que saiba tudo, Darius.

Darius os avaliou impacientemente.

- Ela soube no primeiro dia. Não é uma ameaça para nós.

- Qualquer humano que não possa ser controlado é uma ameaça para nós. - Disse Barack, cautelosamente. Moveu-se sutilmente para colocar seu corpo diante de Syndil.

- Rusti não é uma ameaça. - Falou Syndil, brandamente. - Estava bastante ansioso por utilizá-la para te alimentar, apesar do fato de que viajava sob nosso amparo.

- Aaahhh, Syndil, não comece outra vez. – Suplicou, Barack. - Não se exalte outra vez.

Darius ondeou uma mão impacientemente, descartando a discussão.

- Não posso sobreviver sem ela. Ela deve ser encontrada. Sem ela estou perdido, converterei-me no não-morto. Ela é o que importa em meu mundo, e devemos recuperá-la.

- Não. - Ofegou Desari, incapaz de acreditar que seu irmão pudesse estar tão perto de se converter.

Foi Julian quem encolheu os ombros, casualmente.

- Então não podemos fazer outra coisa que devolvê-la a nossa família. É jovem Darius, e humana. É natural que tema o que somos, que tema sua força e poder. Não é um homem fácil de levar. Precisa de paciência.

Os ardentes olhos negros se estabeleceram sobre a face de Julian durante um momento. Então algo da tensão se aliviou nos ombros de Darius.

- Está ferida e sozinha. Não entende que precisa fundir sua mente com a minha. Luta continuamente consigo mesma. Estou preocupado por sua saúde. - Darius suspirou brandamente. - E parece ser um ímã para os problemas.

- Isso, eu temo que seja coisa de mulheres. - Declarou Julian com um sorriso sardônico.

Desari esmurrou o peito de Julian.

- Onde ela está, Darius?

Tempest estava no assento do lado da janela, esquadrinhando a paisagem campestre que passava rapidamente. Tinha tido a sorte de parar um ônibus, desta vez pôde abrir-se passo até a estrada principal, ainda mais afortunada de que o condutor lhe tivesse permitido entrar. Mas quando mais se afastava de Darius, mais pesado se tornava seu coração. Agora era como um peso em seu peito. A dor pressionava-a. Pesar. Como se por lhe haver deixado, Darius tivesse morrido. Intelectualmente sabia que não era assim, mas em sua resolução de partir, obrigou-se firmemente a permanecer longe do vínculo com a mente dele. E isso a deixava mais só e solitária.

Podia ouvir pequenos retalhos de conversa flutuando a seu redor. Um homem, duas filas atrás, roncava ruidosamente. Vários jovens riam juntos, contando histórias de viagens. Pelo menos havia quatro soldados no ônibus, voltando de licença para suas casas. Tudo parecia flutuar a seu redor como se ela não estivesse ali, como se ela já não estivesse viva.

Tempest sabia que o sangue gotejava das feridas de seu torso e provavelmente dos arranhões de suas costas. Alguém ia notar se não parasse logo. Tratou de inventar uma história verossímel, mas não podia manter sua mente em algo que não fosse Darius. Levou-lhe cada esforço, cada pedaço de concentração e controle não chamá-lo, não se estender para ele quando lhe necessitava tão desesperadamente. Seus sapatos estavam empapados com seu próprio sangue. Se alguém a olhasse realmente, provavelmente a entregariam às autoridades. Se encolheu ainda mais no assento. Só desejava desaparecer, tornar-se invisível. Inclusive suas roupas estavam úmidas por seu mergulho. Não tinha voltado para acampamento, então não tinha dinheiro e nem planos. Mais que tudo, desejava sentir Darius a seu lado.

As milhas que se acumulavam entre ela e Darius aumentavam mais a tensão. Podia sentir as lágrimas em seus olhos. Estava se tornando difícil respirar. Inclusive sua pele estava sensível, precisando sentir a dele. Tempest fechou os olhos firmemente contra o batimento de seu coração, a constante tensão de evitar que sua mente se estendesse para a dele.

- Parece que estamos entrando numa estranha tempestade. - Anunciou o condutor, esquadrinhando o céu através do pára-brisa.

O tempo certamente mudava rapidamente. Levantando-se diretamente ante eles estava uma enorme nuvem com a forma de uma escura e antiquada bigorna de ferreiro. Quase instantaneamente o ônibus golpeou uma cortina de chuva, tão espessa e forte, que era quase impossível ver alguma coisa. Amaldiçoando, o condutor reduziu a velocidade significativamente. A chuva se tornou uma ameaça branca. O condutor se agachou instintivamente quando o granizo golpeou o teto e o pára-brisa. O som era alarmante, como o estalo de uma metralhadora.

O granizo logo reduziu a visibilidade do condutor a zero e ele diminuiu ainda mais, tentando alcançar o lado da estrada. A única advertência que tiveram os passageiros foi que os cabelos de suas nucas se arrepiaram, antes que o estalo do relâmpago golpeasse diretamente diante do ônibus. O trovão estalou sacudindo o gigantesco ônibus, fazendo tremer as janelas. Houve um silêncio de possivelmente dez segundos, depois várias garotas gritaram e um menino começou a chorar. Tão subitamente como tinha começado, o granizo parou.

O condutor olhou para fora, tentando ver onde estacionava o ônibus, esperando não sair da estrada. Um relâmpago se arqueou de nuvem em nuvem e o trovão estalou novamente. Olhando fixamente para fora pelo pára-brisa, encontrou-se agachando-se enquanto um enorme pássaro voava diretamente saindo da cortina de chuva.

- Que é isso? – gritou quando a criatura virou no último momento possível. Pensando que era seguro, o condutor se inclinou para frente para comprovar a visibilidade. Instantaneamente um segundo pássaro, depois um terceiro, voaram diretamente para o pára-brisa. Os pássaros eram enormes e pareciam mal-encarados. Ele gritou e seu cobriu a face com os braços.

Houve outro estranho silêncio, quebrado só pela chuva. Então o condutor se encontrou estendendo a mão para abrir a porta. Juraria que viu um brilho de um enorme gato da selva em meio à chuva e um surpreendente terror fazia pulsar seu coração, e ainda assim sua mão continuava abrindo a porta. Não podia deter-se, não importava o muito que o tentasse. Sua mão tremia quando pegou o bracelete. Fora podia ouvir o bater de asas, forte e ameaçador. Podia ouvir sussurros, sussurros, insidiosos, lhe urgindo a abrir a porta. Embora sentisse que quando o fizesse, estaria deixando entrar em diabo em pessoa.

A sólida forma de um homem enchia a entrada. Era alto, musculoso, sua face estava entre as sombras. Por mais que tentasse, o condutor não podia ver seus olhos. Só teve a impressão da enorme força e grande poder. O escuro estranho vestia um longo sobretudo negro que esvoaçava a seu redor e acrescentava seu mistério. Só seus olhos, ardendo com fogo e raiva reprimida, brilhavam com o olhar de um predador, na face escurecida. O homem ignorou o condutor e voltou seu negro e implacável olhar aos passageiros.

Esta vez o silêncio foi completo. O vento e a chuva cessaram, como se a natureza estivesse contendo o fôlego. Tempest espiou a imponente figura através dos dedos. Apesar de sua elegância do Velho Mundo, ele dava toda a impressão de ser um ganster dos dias atuais. Ninguém no ônibus se atreveria a desafiar a impressionante figura que gotejava poder. Se encolheu, tentando converter-se numa pequena bola, embora seu traiçoeiro coração se regozijasse e seu corpo traidor instantaneamente ardeu em chamas ante a visão dele. Era incrivelmente sexy. Tempest desejou não pensar. Os ardentes olhos negros se fixaram infalivelmente sobre sua face.

- Podemos fazer isto de qualquer das duas formas, céu. Pode sair, tranqüilamente, por seus próprios pés ou posso te levar, gritando e esperneando, sobre meu ombro e te tirar para fora. - Sua voz era baixa, mas um ronronar ameaçador, uma mistura de ferro e negro veludo. Feiticeiro. Escura persuasão.

Todas as cabeças do ônibus se voltaram para ela. Todos os olhos estavam sobre ela, todos os ouvidos esperando sua resposta. Tempest se sentou durante um momento em silencio antes de se mover. Queria fingir que podia resistir a ele, mas a verdade era, que desejava estar com ele. Só estava reunindo forças.

Levantando-se com um suspiro exagerado, só para demonstrar que se incomodava, abriu passo pelo estreito corredor até a parte dianteira do ônibus, tentando não fazer caretas a cada passo quando os cortes de seus pés ardiam.

Quando Tempest se aproximou do condutor, o homem se agitou. Ela parecia muito pequena e frágil para ele, com as roupas rasgadas e sujas de sangue.

- Está seguro de que estará bem, senhorita? - Cuidadosamente evitou olhar ao homem que se elevava junto a ela.

Os olhos negros subitamente abandonaram a face de Tempest e se fixaram na do condutor. Olhos frios como o gelo, de ultratumba. Tempest empurrou o peito de Darius, lhe jogando para trás, para longe do condutor.

- Estarei bem. - Assegurou ao homem. - Obrigado por perguntar.

Darius a colocou sob o amparo de seu ombro, seu braço rodeou a esbelta cintura. Parecia como se fosse a cair se permitisse manter-se por seus próprios pés muito tempo.

O condutor os observou descender os dois degraus. Depois deles as comportas se fecharam de repente. Uma cortina de chuva caiu do céu, obscurecendo sua visão. Piscando com força, ele olhou pelo pára-brisa, mas não pôde ver ninguém. O misterioso gangster e a mulher se foram como se nunca tivessem estado ali. Não havia nada parecido a um carro por perto.

Snuma palavra, Darius recolheu Tempest em seus braços e cobriu a distância até sua família que esperava, usando sua velocidade sobrenatural, rabiscando suas imagens.

Tempest recostada contra a solidez do peito dele, embalada em seus braços, olhou para o grupo que subitamente se amontoavam a seu redor.

- Você está bem? - Perguntou Desari amavelmente.

- Ela está bem. - Respondeu Darius antes que Tempest pudesse falar. - Reuniremo-nos com vocês na próxima sublevação.

- Não temos muitos dias mais antes de nosso próximo concerto. - Recordou Dayan. – Precisaremos de você lá.

Os olhos negros flamejaram.

- Alguma vez deixei de estar perto quando precisavam? - Era uma clara reprimenda.

Tempest apertou os dedos ao redor das lapelas do casaco de Darius.

- Está zangado comigo, Darius, não com eles. - Sussurrou as palavras, esquecendo que todos eles tinham a mesma incrível audição.

- Não fale mais nada, Tempest. Estou mais que zangado contigo. Estou furioso.

- Miúda surpresa. - Resmungou Tempest ressentida.

- Não está nem de perto tão assustada como deveria estar agora. – Ele repreendeu-a com voz suave embora intimidante.

Tempest não estava impressionada por sua postura. Intuitivamente sabia que ele nunca lhe faria mal. Provavelmente era na realidade a pessoa mais segura sobre a terra. Simplesmente se colocou mais perto dele, lhe rodeando o pescoço com os braços. Ele podia mantê-la cativa, mas não podia fazê-la sentir medo dele. Não dele. Possivelmente de sua posse sobre ela. De suas intenções, talvez. Mas não de Darius como homem. Ele nunca lhe faria mal.

- Não esteja tão segura, poderia não tolerar seu desafio infantil. - Ele disse severa e rudemente. Depois se voltou e a levou para o interior da escura noite.

- Tem-me feito mal. - Anunciou ela tranqüilamente contra sua garganta.

- Crie que não sinto sua dor me golpeando? - Exigiu ele. – Pior por não poder te ajudar como deveria?

- Não estou morta. - Apontou ela.

Ele amaldiçoou eloqüentemente, alternando o inglês com um idioma antigo.

- esteve perto, céu. Brodrick tinha intenção de te matar. Por que insiste em deixar as áreas seguras que preparo para você?

- Eu lhe disse, - ela replicou honestamente, - que tenho problemas com pessoas de autoridade.

- Supere-o. - Ordenou Darius firmemente e sério esta vez. Ela estava conduzindo-o ao beira da loucura. - Tem alguma idéia do que é despertar quando estou confinado na terra, cheio de seu medo, sabendo que minha força está em seu ponto mais baixo e sou incapaz de te ajudar?

Ele caminhava a passos largos por um campo cheio de flores esmagadas pela chuva de granizo. A chuva os ensopava. Sobre suas cabeças, os relâmpagos brilhavam de nuvem em nuvem e o trovão rugia ameaçadoramente.

- Você veio em minha ajuda. - Recordou-lhe ela.

- Tive que usar um animal que sem querer te fez mal no processo, embora agradeça a Deus que estivesse lá para utilizá-lo. Por que faz essas coisas?

- Não é como se fosse e me buscasse isso, Darius. – Objetou, ela. - Não tinha nem idéia de que Brodrick estivesse pelos arredores. – Ela elevou o olhar até os olhos dele, depois tocou com a ponta de um dedo a dura linha de sua boca perfeita na intenção de lhe apaziguar. Estava captando a mente dele, no interior da névoa vermelha de medo e raiva.

- Isto não pode continuar, Tempest. É perigoso, não só para nós dois mas também para todos os mortais e imortais. Não pode me deixar. O que te fez fazer semelhante estupidez?

Havia uma nota de dor misturada com a beleza do severo tom de sua voz? Não tinha querido lhe fazer mal.

- Somos muito diferentes, Darius. Não entendo seu mundo. Nem sequer sei que quer dizer estando confinada na terra e nunca me explicou esse assunto! Não sei tudo o que é capaz de fazer ou não, quer dizer, pode matar na realidade alguém à distância. Tudo é tão... Enervante, para dizer com tranqüilidade.

Tempest tremia em seus braços, atraindo sua atenção para a chuva. Darius inalou profundamente para centrar-se e acalmar a fúria da tormenta que tinha utilizado para atrasá-la. No momento a chuva se reduziu a uma leve garoa. No alto as nuvens começaram a se afastar. O vento se elevou para ajudar a empurrar longe a neblina.

- Está ferida, Tempest. Em vez de esperar por mim... E sabia que iria te procurar no instante em que me elevasse... Você fugiu de mim. – Ele deu um salto no ar sem esforço, mudando de forma enquanto o fazia.

Tempest ofegou e se aferrou a seu corpo. Fechou os olhos contra a terra que se afastava dela, contra o vento que soprava a seu redor. Sentia-se a salvo e protegida em seus braços, por estranhos que esses dois apêndices parecessem. Era assombroso que ele pudesse mudar de forma, voar através do ar e esperar que ela aceitasse como coisa de todos os dias.

Darius os levou depressa através do céu, precisando senti-la perto dele. Levou-a sobre uma montanha e de volta a um terreno elevado perto de uma cascata. Parecia como se sobrevoassem sozinhos pelo teto do mundo. Embaixo, a névoa se elevou para encontrá-los, os vapores da cascata se elevaram para abrangê-los, para rodeá-los numa nuvem.

Quando as enormes garras do dragão tocaram a terra, Darius mudou de forma novamente. Num momento Tempest estava olhando fixamente a cabeça cuneiforme inclinada para ela, reconhecendo só a fome familiar que ardia nos olhos negros. Então, enquanto a cabeça se aproximava, o dragão se converteu em Darius, seus lábios perfeitos a poucos centímetros dos seus. Sua respiração prendeu na garganta, e seu coração golpeou alarmado.

- Não pode. - Respirou contra seus lábios.

- Tenho que fazer. - Rebateu ele, sério. Não havia outra escolha para ele. Tinha que saboreá-la, possuí-la completamente. Tinha temido tanto isto, em sua excitação, sua mente e seu corpo não podiam aceitar outra coisa mais que a culminação do ritual, fazê-la irrevogavelmente sua. Já não lhe importava que fosse contra sua lei, contra todo aquilo em que acreditava. Tinha que ter o direito de mantê-la a salvo sempre.

Seus lábios se moveram sobre os dela, gentilmente a princípio, numa doce persuasão que rapidamente mudou enquanto apressava sua boca sobre a dela, avidamente.

Tempest sentiu as chamas apressando-se através de seu corpo. Ele tinha começado um fogo que não havia forma de extinguir. Um fogo que os consumiria. Embora a Tempest não importava. Seu coração podia pulsar com uma mistura de medo e excitação, mas nada mudaria o que seria. E sabia o que seria. Pertenceria a Darius para sempre. Uma vez ele a possuísse, nunca a deixaria partir.

- Nunca te deixaria partir de qualquer maneira, céu. - Murmurou ele contra sua garganta. - Nunca.

Ele estava levando-a com sua casual força pelo caminho que conduzia ao alto da cascata

- Está planejando me atirar lá de cima? - Perguntou ela, divertida pela intensidade das profundezas de seus olhos, pelo fogo que corria através de seus corpos.

- Se tivesse um pouco de sentido comum, deveria fazer. - Replicou ele, resmungão.

Havia uma caverna sob a cascata e ele a levou entre a névoa e a umidade. A caverna era estreita, inclinando-se para baixo, para o interior da própria montanha.

- Mencionei a você que tenho um problema com espaços pequenos? - Perguntou ela, tentando não lhe estrangular o pescoço.

- Mencionei a você que tenho um problema com gente que me desobedece? – Contra atacou ele, detendo-se no túnel para encontrar sua boca novamente.

Possivelmente, Darius pretendeu que o duro beijo fosse um castigo, mas a terra estava se movendo realmente sob seus pés, o mundo girou, deu voltas enlouquecidamente no momento em que ele tocou seus lábios. O desejo foi uma sensação que os alimentavam mutuamente. Quando levantou a cabeça, seus olhos escuros flamejavam para ela.

- Se não a tiver logo, pequena, o mundo arderá em chamas.

- Não é minha culpa. - Tempest se absolveu, tocando-lhe a boca com o dedo, com temor. – Você é letal, Darius.

Ele se encontrou sorrindo. Apesar da urgência, das dolorosas demandas de seu corpo e o temor que o contagiara, apesar de sua fúria por tentar deixá-lo, ela conseguia fazê-lo sorrir. Podia fundir seu coração. Ali estava ele, o líder de sua gente, um antigo de enorme força e tremendo conhecimento, sua palavra era lei e suas ordens eram obedecidas sem questionar. Ela, uma pequena e frágil mulher humana e ele era massa em suas mãos.

O túnel conduzia as profundas vísceras da terra. Era quente e úmido, o som da água sempre presente. Gotejava pelas laterais do túnel e do teto curvado sobre suas cabeças. Tempest inspecionou o que a rodeava cautelosamente, não gostava do fato de estar numa cadeia de montanhas vulcânicas e que estavam decididamente em ativo.

- estiveste aqui antes?

Ele ouviu a nota de nervosismo em sua voz.

- É obvio, muitas vezes. Passamos grande quantidade de tempo clandestinos. A terra nos fala de seus lugares secretos e compartilha sua força curadora e grande beleza conosco.

- Ocorreu dela mencionar que isto era um vulcão enquanto te sussurrava? - Perguntou ela, enquanto seus olhos verdes percorriam o túnel freneticamente procurando sinais de lava. Podia cheirar o sulfureto.

- Você tem uma grande boca mulher. - Observou Darius, tomando à direita na bifurcação que conduzia mais profundo na montanha.

Em seguida a débil luz que chegava da entrada da caverna desapareceu, deixando-os em completa escuridão.

- Pensava que você gostava de minha boca. - Replicou Tempest, fazendo todo o possível para não gritar histericamente por estar neste escuro e sulfúrico buraco. - Em caso de que não o tenha notado Darius, dá a sensação de que estamos entrando no inferno. Embora já tenho a ligeira impressão de que você poderia ser o demônio me tentando, este não está na melhor seleção de hotéis. - A umidade era espessa, quase a afogava e ela se sentia como se não pudesse respirar. O negro profundo do interior a esmagava, sufocando-a.

- É seu temor que te sufoca. – Disse ele, brandamente. - O ar é perfeitamente respirável aqui embaixo. A montanha não te esmagará. Seu temor ao que farei é o que te amedronta. - Seu polegar roçou ligeiramente o pulso da mão dela, numa gentil carícia terna mas eloqüente.

Os olhos verdes eram enormes em sua pálida face.

- O que fará, Darius? - Seu coração estava pulsando no confinado espaço, a um ritmo frenético.

Ele inclinou a cabeça para ela, seus olhos negros arderam com posse, com uma fome intensa, com um desejo agudo.

- Colocarei sua vida e sua felicidade sobre a minha. Não tem necessidade de temer sua vida comigo. - Sua voz era negro veludo, fazendo com que lhe desse um salto no coração, com sua ternura.

Tempest apertou-se ao redor do pescoço dele, apoiando-se mais perto, insegura pela necessidade e medo. Estava prendendo-se a uma criatura cujos poderes não conhecia realmente. De acordo com que código vivia?

A resposta de Darius foi deslizar-se para baixo por um estreito túnel e emergir para o que parecia ser um sólido beco sem saída. Ela sabia que era sólido porque estendeu a mão e o tocou com a palma. Mas Darius ondeou sua mão e a barreira simplesmente se afastou. Um simples som estrangulado escapou da garganta de Tempest. Havia algo que ele não pudesse fazer? Como podia atar-se a uma criatura que esgrimia tal poder?

- É fácil, Tempest. - Disse brandamente, lendo sua mente, suas dúvidas. - Assim, simplesmente assim. - Sua boca tomou a dela, dura e exigente, tentando e incitando, levando-a voltas e voltas fora da escura caverna até um mundo de cores e luz. Roubou-lhe a própria prudência até que restou só ele. Somente Darius com seus olhos resplandecentes e seus lábios perfeitos e voz hipnotizadora. Seu corpo firme e os fortes braços. Ele levantou a cabeça e uma vez mais ondeou uma das mãos. Logo saltaram centenas de chamas, acendendo velas ao redor da enorme câmara subterrânea.

- Nestes últimos séculos, todos nós encontramos nossos próprios retiros. Este é o meu. As velas são feitas em sua maior parte, de elementos curadores da natureza. Aqui a terra é particularmente acolhedora para nossa raça.

Tempest olhou ao redor, para a beleza da câmara. E era formosa, onde cada parede era uma elaborada obra de arte natural. Piscinas naturais e cheias brilhavam à luz das velas. Cristais desciam do teto e os diamantes incrustados nas paredes reluziam, refletindo as chamas dançantes.

Tempest começou a lutar em busca de ar. Darius era muito poderoso, capaz de criar e dominar forças das quais ela não tinha nenhum conhecimento. O terror tomou o lugar da escura sensualidade.

Darius simplesmente apertou seu abraço e lhe deu uma pequena e gentil sacudida.

- Ainda não nota, não é? Tente imaginar a vida sem nenhum sentimento, Tempest. Nada mais que a crua e horrível fome te roendo constantemente. Uma fome que nunca pode ser saciada. Só a vida no sangue de sua presa te murmurando sobre o poder. Nenhuma cor brilha em sua vida, tudo é em negro, branco ou sombras de cinza. Nem texturas ou riquezas. - Seus longos dedos lhe acariciaram a pele, leves sobre a acetinada suavidade. – Nunca pedi nada nesta vida para mim mesmo. Você é a luz de meu mundo de escuridão. Minha riqueza quando não possuia nada. Alegria onde havia vazio. E não te deixarei porque não possa se sobrepor a seu medo. Teríamos acabado juntos pela primeira vez em meio a uma luta violenta? Confie em mim como seu coração te diz que deve fazer.

Em seus braços o esbelto corpo tremia descontroladamente.

Ela enterrou a face no ombro dele.

- Sinto muito... Sou tão covarde, Darius. Não quero ser. Tudo é tão assustador. A intensidade de seus sentimentos é assustador. Quando vivia sozinha, conhecia as regras e eu gostava assim.

Ele a levou mais à frente dentro do coração da câmara, para os brilhantes charcos.

- Não, não é certo, Tempest. Conheço sua mente, viajei nela com freqüência. Você me deseja.

- O sexo não o é tudo, Darius.

Ele a colocou numa rocha lisa e plaina perto de um charco fumegante.

- Deseja-me Tempest, e tem pouco a ver com o sexo.

- Isso você acha. - Murmurou ela, enquanto o calor corria por suas pernas quando tirou os sapatos para inspecionaa sola de seus pés. Os dedos dele lhe sujeitaram os tornozelos, firmes e fortes, embora inevitavelmente gentis. Sentiu um curioso toque perto do coração. Darius franzia o cenho enquanto examinava as lacerações.

- Deveria ter mais cuidado, Tempest. - Sua voz foi escura e átona, seus olhos negros subitamente se elevaram para encontrar os verdes dela.

A língua de Tempest encontrou seu lábio inferior seco e o pulso lhe acelerou. Com as mãos tão gentis sobre ela, seu olhar faminto e ardente de agudo desejo, Como sabia que estava furioso? Uma vez mais o conhecimento se espalhou sobre ela, mais peças do quebra-cabeças começaram a encaixar. A terrível fúria da tormenta tinha sido sua raiva. Uma raiva vulcânica que se rebulia sob a superfície que parecia estar perfeitamente tranqüila. Deslumbrou-a quando sua memória procurou a dele inadvertidamente, tocando sem intenção ou sem que fosse consciente.

Tempest soltou o fôlego. Ela tinha feito isto. Onde nada durante séculos de vida as tinha conseguido sacudir sua calma absoluta, ela fizera.

- Darius. - Sussurrou seu nome na beleza da caverna, sua voz dolorida pela dor. - Nunca quis te fazer mal.

As mãos dele emolduraram sua face.

- Já sei. Agora estou aqui. Posso curar estas feridas. Mas não descuide outra vez de sua saúde, pequena. Não estou muito seguro de que meu coração pudesse resistir. – Ele deixou que suas mãos caíssem para a blusa de algodão.

Ao primeiro toque dos dedos contra a pele nua de seu estômago, o fôlego parou em sua garganta e seu corpo ficou imóvel. Darius tirou sua blusa pela cabeça com um só movimento fluido, deixando-a vulnerável e exposta. O soutien não agüentou um momento, pois uma unha afiada se desfez dele. Sua atenção estava nos ferimentos agudos e nos arranhões das costas.

Ele amaldiçoou. Ela sabia que era isso o que ele estava resmungando embora não entendesse o idioma. E então ele inclinou a cabeça, seus cabelos negros como a noite lhe roçou as costelas, enviando dardos de fogo sobre sua pele. Ao primeiro toque da língua, ela fechou os olhos, incapaz de acreditar na deliciosa beleza do momento. Sentiu o toque dele, antes de áspero toque sobre a pele danificada, uma mistura de tranqüilizadora sensualidade.

Mesmo enquanto a cuidava e com grande cuidado examinava as feridas do corpo dela, as roupas que lhe cobriam se tornaram insuportáveis, confinando seus músculos, empapando-o de suor. Ele livrou-se da camisa facilmente, como fazia tudo. Com um só pensamento se desfez do desconforto. Seu corpo se moveu contra o dela, ardente e agressivo enquanto se inclinava para sua tarefa. Suas mãos a inclinaram para trás para conseguir um melhor acesso aos ferimentos das costelas.

Seu cabelo roçava a parte baixa de seus seios e ela saltou como se ele a tivesse atrasado. Ele elevou seu ardente olhar para encontrar o dela, que ficou afligida por sua fome, por seu desejo. Estava ali, em seus olhos.

Ele observou a garganta dela se mover compulsivamente enquanto tragava um apertado nó de medo. Gentilmente, com infinita ternura, a mão dele se estendeu ao longo da garganta dela, até que a pulsação se mostrou na calidez de sua palma.

- Se entregue a mim, Tempest. - Sussurrou brandamente, sua voz tão formosa que lhe enroscava ao redor do coração. - Esta noite, venha a mim como minha autêntica companheira. Fique comigo da forma que anseio. Entregue-me este presente sem o qual vivi durante minha vida inteira.

Seus lábios estavam a poucos centímetros dos dela e cada célula de seu corpo exigia que percorresse essa diminuta distância. Como podia lhe negar alguma coisa quando sua necessidade era tão grande? Moveu-se até que seus lábios estiveram contra os dele.

- Eu quero o que você quiser, Darius. - Enquanto o consentimento se introduzia em sua mente, ela formava as palavras, respirando dentro dele, seu coração saltou, perguntando-se o que se comprometia a fazer. Realmente confiava tanto nele? Ou era sua necessidade que alimentava a dela, a fome urgente que palpitava nele, afligindo-a quando tocava sua mente com a dela?

Os beijos dele eram gentis, ternos, uma reverente exploração que só aumentava seu grande desejo por ele.

- Quero que a água te cure, céu. - Disse ele, brandamente. - Não quero nada mais que agradar você esta noite. - Suas mãos encontraram zíper da calça jeans dela. Seu olhar sustentou o dela enquanto lentamente ele desceu o tecido sobre seus quadris.

Então a levantou em seus braços.

- A água está quente pequena, mas ajudará a cura. – Ele estava-a sujeitando sobre a água fumegante. - Acredito que desta vez compreende que não serei desafiado nunca mais. Está sob minha proteção, Tempest. Cada vez que durmo, você se mete em problemas. Não permitirei que isto continue.

Sua arrogância a fazia apertar os dentes, mas no momento estava mais que preocupada com o quanto estava quente a água, na realidade. Ele estava baixando seus pés perto da superfície. Cheirava a sulfureto. Tempest se aferrou aos ombros nus dele, as unhas se enterraram em sua carne.

- Sabe, Darius, tenho aversão à água mineral. - O corpo dele era poderoso e masculino, sua ardorosa plenitude pressionou agressivamente contra sua pele nua, quando a inclinou para o charco.

- Acredito que precisa confiar mais em mim, Tempest. - Darius colocou seus pés na água. Ela ofegou e seus dedos se fecharam ao redor dos músculos dele, sujeitando-se em busca de segurança. E teve que levantar as pernas ao redor dele para evitar tocar a água. Instantaneamente o ato a fez encostar o coração de sua feminilidade, líquida e desejosa, pressionando-se completamente contra a grossa e feroz ereção dele.

Darius gemeu em voz alta, todo pensamento cordato, toda boa intenção, saiu voando de sua cabeça. Em seu lugar ficou uma necessidade tão forte e urgente que apressou sua boca ferozmente sobre a dela. Numa primitiva, tempestuosa e quase violenta posse. Sua boca se alimentou da dela.

Tempest deslizou-se longe da montanha, da dor de seus ferimentos e da água fumegante. Podia sentir as mãos dele deslizando-se possessivamente sobre sua pele, lenta e deliberadamente, como se estivesse gravando cada curva na memória. Podia sentir a suave terra pressionando-a quando a Darius a prendeu sob ele. Seu corpo, grande e forte, cobrindo-a. Seus lábios parecendo lhe roubar a vontade e levando-a além dos limites humanos do desejo.

Tempest notou que suas mãos acariciavam os cabelos dele, sujeitando-se para salvar a vida enquanto a tormenta rabiava ao redor e através deles. As mãos dele acariciavam seus seios túmidos, deslizando-se ao longo das costelas até o estômago, encontrando o triângulo de pelos entre suas pernas e acariciando suas coxas. Em cada lugar que tocava ele deixava chamas sobre sua pele, dentro de seu corpo, até que desejou gritar procurando alívio.

Pensou que teria medo de da enorme força, mas em vez disso ficou devastada por uma gigantesca onda de paixão quando a palma da mão dele pressionou em seu calor. Só deixou escapar um ruído, um gemido de sua garganta que acendeu o foco de chamas nele. A boca de Darius deixou a sua pela primeira vez, traçando um caminho de fogo para baixo, pelo pescoço e descendo até seus mamilos.

Tempest gritou, arqueando-se para ele, quase explodindo quando os dedos encontraram sua ardente e apertada entrada e seus dentes mordiscaram a plenitude de seus seios. O joelho pressionava para abrir passo enquanto a língua percorria o vale entre seus seios. Ele estava sobre ela, sua face dura embora sensual, seus olhos negros, ardentes, queimando como brasas.

Estava ocorrendo muito rápido. Fora de controle. Tempest lhe sentiu, grosso e agressivo, pressionando dentro dela. Ele parecia grande demais para que o acolhesse. Presa sob o corpo dele, não podia se mover, quase não podia respirar. Os dentes de Darius mordiscavam sensualmente seu seio direito, numa erótica tentação que a fez arquear-se para sua boca. Mas o medo a golpeou quando ele a penetrou, seu corpo cravando-se no dela, invadindo-a, tomando posse como se tivesse todo o direito. Sentia-se como se ele tivesse invadido sua alma, introduzindo-se tão profundamente em seu interior que nunca conseguiria lhe tirar. Instantaneamente ficou rígida, choramingando no ombro dele. Sentiu os dentes dele perfurando seu seio e sentiu estendendo-se um calor ardente, afundando-se possessivamente em sua pele enquanto o corpo dele se enterrava no dela.

Sua mente empurrou para entrar na dela, rompendo toda barreira até que ficou completamente um só ser. Ela sentiu o calor de sua própria pele, o delicioso êxtase de seu apertado, ardente e aveludado sexo lhe aferrando, lhe liberando, deslizando-se sobre ele, seu sangue quente de vida e luz fluindo nele, a alegria e as chamas que chamuscavam e sua insaciável fome, terrível necessidade. Viu as imagens eróticas na cabeça dele, as coisas que ele lhe faria, as coisas que queria que ele lhe fizesse. Viu sua vontade de ferro, sua implacável resolução, mas também sua crueldade, sua natureza predadora. E ele viu seu medo, sua modéstia. Sua fé cega nele e também sua necessidade de fugir. Sentiu o leve desconforto de seu corpo ante sua posse e instantaneamente mudou de posição para acomodá-la. Alimentou sua paixão com a própria, construindo o fogo entre eles até que rabiou fora de controle. Darius estava em cada lugar que estava ela. Em seu corpo, em sua mente, em seu coração e alma. Compartilhavam o mesmo sangue. E que Deus a ajudasse, não podia lhe negar nada. Não quando ele estava sobre ela, tomando-ae apaixonadamente, com seu corpo, com sua boca em um frenesi de fome e desejo. Era a coisa mais erótica que já sentira. Tempest não importava se nunca voltasse a ser ela mesma. Estava voando, remontando-se, saciando a terrível fome dele pela primeira vez em todos seus séculos de vida.

A sensação de poder que lhe dava era incrível. Estava na mente dele, sabia que lhe estava dando uma doce agonia, fundindo-o. Conhecia a raiva de seu interior como se estivesse nela. Rendeu-se a ele completamente, não se reservando nada, suas unhas nas costas dele, seus suaves gemidos, lhe suplicando por mais. Queria compartilhar tudo com ele, desejava lhe dar esta doce tortura.

Suas pálpebras revoaram e embalou a cabeça dele. Seu corpo se moveu com o dele, mais rápido e mais duro até que estremeceu de prazer, explodindo, fragmentando-se.

Ele passou a língua nas pequenas marcas em sua pele, fechando-as. Marcas diminutas que suas presas tinham deixado. Seu corpo tenso e rabiando em busca de alívio, ardendo com uma terrível necessidade que só ela podia encher. Estava em sua mente e tomou o controle, ordenando-lhe que fizesse sua vontade, sem lhe permitir que pensasse ou soubesse o que estava pedindo.

Ao primeiro toque da boca dela sobre seu peito, seu corpo estremeceu pelo esforço de manter o autocontrole. Tinha que fazer. Ela tinha que completar o ritual, entreder-se a sua custódia para sempre. A pequena lingua dela saboreou sua pele, o toque foi tão erótico, com as mãos lhe elevou os quadris para poder estar mais profundamente dentro dela e até com mais dureza que antes. Os dentes arranhavam, provocavam e ele pôde ouvir o próprio grito rouco. Mil anos de desejo. Desta vez tinha que ser dela.

Darius alongou a unha para cortar o peito, depois capturou a nuca dela e a pressionou contra ele. A boca dela se moveu como ele havia ordenado. O ardente e lubrificado sexo o apertava, exigindo. Apertando até que o corpo dele se enrijeceu mais ainda e ele a penetrou agressivamente, pulverizando sua semente profundamente dentro dela, reclamando-a para sempre.

Pronunciou as palavras rituais. Precisava dizer em voz alta. Precisava prendê-la a ele, fazê-los um só. Sua necessidade de cantar as palavras era tão urgente como tinha sido tomar seu corpo. Tão primitiva e instintivamente igual, a fome por tomar a força vital dela em seu corpo e lhe dar a sua em troca.

- Reclamo-te como minha companheira. Pertenço a você. Ofereço-te minha vida. Dou-te meu amparo, minha lealdade, meu coração, minha alma e meu corpo. Tome os teus em mim para guardá-los. Sua vida, sua felicidade e seu bem-estar serão apreciados e colocados sobre os meu sempre. É minha companheira e está unida a mim para toda a eternidade e sempre aos meus cuidados. - Murmurou as palavras sobre a cabeça dela enquanto a embalava contra ele, enquanto seu sangue poderoso e ancestral fluía no corpo dela, enquanto sua semente entrava profundamente dentro dela. O poder das palavras ancestrais a rodearam, vertendo-se nela para selar sua alma, sua mente e seu coração com os dele, unindo-a a ele irrevogavelmente.

 

Tempest abriu os olhos lentamente, sexy. Darius lhe sorriu, tocando seus lábios machucados gentilmente com o dedo, capturando uma gota rubi de seu próprio sangue com e levando-o aos lábios. Ela piscou para lhe enfocar. Seu corpo estava unido ao dele, podia lhe sentir, grosso e duro profundamente dentro dela. Seu sorriso era preguiçoso e satisfeito, seus olhos negros repletos de satisfação por ter feito bem mais que simplesmente agradá-la. Pareciam como se ele pudesse começar a fanfarronear sobre suas proezas.

Tempest encontrou seu sorriso sobrevoando bem perto da superfície. Ele se movia com lentas e lânguidas investidas que mantinham o calor abrasando seu corpo, mantinham seus mamilos pressionados com os músculos do peito dele. As luzes ondearam das centenas de velas iluminando a fina camada de suor sobre a pele dele. Seu cabelo estava úmido, caindo ao redor de sua face, lhe dando a aparência de um pirata. Ela levantou a mão e gentilmente acariciou a dura linha de seu queixo.

Darius lhe segurou a mão, levando-a aos lábios para beijá-la, depois entrelaçou os dedos aos dela. Estirou os braços acima da cabeça e os sustentou, deixando seu corpo livre e vulnerável para que continuasse sua invasão. Já não tinha mais medo dele. Ele havia sido selvagem e insaciável, rude às vezes, mas havia assegurado o prazer dela antes do próprio. Podia ler a satisfação nos olhos dele, a luz em sua alma e agradecia ser capaz de aliviar sua interminável e vazia existência.

Darius saboreou a cálida umidade dela, a perfeição de sua pele acetinada, sua sedosa cabeleira. A ferocidade inerente em sua natureza corria profundamente nela. Sua paixão igualava a dele. Ela era feita para ele e no fundo de seu coração, de sua alma, sabia com certeza. Inclinou a cabeça para deixar um beijo no tentador ombro dela. Era incrível que estivesse ali com ela e que não fosse nenhum sonho que sua memória havia criado para apaziguar sua alma.

Onde antes havia ferocidade e agressividade, agora era lento e gentil, movendo-se em longas prazerosas investidas. Seu olhar prendendo o dela para poder ver o prazer que lhe dava em seu expressivo olhar. Os olhos dela estavam nublados pela paixão, os lábios separados enquanto respirava em pequenos gemidos de surpresa. Ela era tão formosa, que destruía sua tranqüilidade. A calma absoluta que havia adquirido por tanto tempo, agora o deixava indefeso e fora de controle como um rapazinho. Desejava-a todo o tempo. Não durante os curtos anos que teriam, mas por toda uma eternidade. Queria-a toda.

Darius fechou sua mente a essa possibilidade, a essa tentação e se inclinou para tomar a boca dela, sua língua lutando com a dela, deslizando-se sobre os dentes, explorando o úmido interior, exigindo que ela fizesse o mesmo. Estremecia pelos mais diminutos detalhes. O brilho de seu cabelo, a curva de sua face... Toda uma abundância de riquezas que seguiam à sensação de seu corpo lhe rodeando. Ardente veludo lhe aferrando, lhe arranhando.

Sentiu-a apertar-se a seu redor, seus músculos ondeando com a intensidade de seu prazer e permitiu que as sensações da mente e do corpo dela se convertessem nas próprias. Sentiu as profundas ondas começando como um terremoto, crescendo até que se liberaram. Ela estava fazendo pequenos sons com a garganta, seus braços tensos enquanto se contorcia sob ele, tentando liberar-se, mas ele a sustentou, observou e experimentou a força e o poder de seu corpo unido ao dela, a gigantesca onda atravessando-a, fragmentando sua mente. Só então, ainda sustentando a mente dela firmemente com a sua, permitiu-se reconstruir sua própria conflagração, a fim de que ela pudesse sentir o prazer que lhe dava.

Seu corpo afundou com mais força no dela, cada investida mais dura e mais longa, até que se tornaram completamente um só ser. Queria que ela soubesse o que era para ele, a beleza de um dom de incalculável valor. A pressa o arremeteu, consumindo sua mente, consumindo seu corpo, até que cada músculo estalava de desejo. Embora lhe sustentasse o olhar para que ela pudesse ver a tensão em sua face, a selvageria de seus olhos, à fome e o êxtase, a doce agonia que seu corpo lhe dava. Desmanchou-se nela, uma e outra vez em erupção, num fogo ardente e a terrível escuridão de sua alma. Ela estava lhe trazendo de volta à luz e sentia a pureza enquanto seus gritos de alegria ressonavam roucamente através da caverna.

As pernas de Tempest lhe abraçaram com força, quase tão possessiva como ele. Seus corações pulsavam ao mesmo ritmo selvagem, suas respirações dificultadas. Finalmente ele se soltou e jazeu com a cabeça sobre seu peito, embora seus cotovelos sustentassem seu peso para não esmagá-la. Ela podia sentir sua língua lambendo as pequenas gotas de suor que ficavam em seu peito e cada carícia enviava um tremor secundário através dela. Baixou as mãos para enredar nos despenteados cabelos dele, para simplesmente lhe sustentar. Tendidos assim, seu silêncio falava mais que qualquer palavra.

Darius tomou suas essências conbinadas no interior de seu corpo, a sensação da pele ardente dela, o seio sob sua face, as sedosas mechas de cabelo contra sua pele sensibilizada. Cada sensação parecia intensificada, parecia ecoar através de seu corpo e se atrasar ali. O sabor dela, rico e cheio de vida, estava em sua boca e seu coração e pela primeira vez que pudesse recordar, seu terrível desejo de sangue estava momentaneamente saciado. Nunca estaria novamente temendo matar para sentir a rajada de poder, como alguém que estava perto de se converter sentia com freqüência, quando sustentava a satisfação última em seus braços.

Trocou de posição então.

- Não te curei apropriadamente.

Imediatamente estava fora dela, deixando-a privada de algo. Ela também se sentia preguiçosa e adormecida, o asfixiante calor da caverna e seu desinibido ato de amor a tinha esgotado.

- Não me importo. Quero dormir. Pode me curar depois. - Suas feridas não doíam, quando antes estavam ardendo e pulsando. Ele tinha introduzido seu corpo exitosamente a outras mais agradáveis sensações.

Darius ignorou sua ordem sonolenta e a levantou facilmente em seus braços.

- fui mais que egoísta. Deveria ter atendido seu primeiro desconforto, antes do meu.

Tempest riu brandamente antes sua expressão séria. A ponta de um de seus dedos alisou a dura linha da boca dele, com uma gentil carícia.

- Isso é o que sente? Desconforto. Ummmm. Possivelmente deveria te fazer sentir assim com mais freqüência.

Ele grunhiu... Uma advertência ou assentimento, não estava segura... Mas riu dele de todo jeito.

- Se sentir algo mais por você, pequena, arderei em chamas. - Admitiu ele e passeou descalço até o charco fumegante.

Ela se agarrou a seu pescoço, franzindo o cenho.

- Na realidade eu não gosto de ser inundada em água fervendo, Darius.

- Não está fervendo. Está à mesma temperatura que uma banheira.

Ela sustentava uma garra mortal sobre seu corpo.

- A mim parece fervendo. Não quero entrar. E de toda maneira, nunca gostei de banheira. Todo mundo quer sempre se despir e não conheço tão bem a ninguém.

- Agora não vestimos nada de roupa. - Assinalou ele, entrando de cheio no charco. Estava tentando não sorrir enquanto ela engatinhava mais alto em seus braços.

- Está muito quente. Como pode respirar aqui? Sabe, Darius. - Acrescentou seriamente. - Este é honestamente um vulcão como Deus manda. A lava poderia encher esta caverna a qualquer momento. - Esquadrinho o interior do charco. - Provavelmente está emergindo através do chão agora. Vê essas bolhas? É lava.

- Que bebê. Coloque os pés na água. - Instruiu ele, a diversão escalou de sua voz até seus olhos.

Os olhos dela começaram a lançar faíscas, seu gênio se mostrava.

- Não quero entrar, Darius.

- Pequena, isto é bom para você. - Logo ele a colocou seus pés no interior da água fumegante.

Tempest tentou sacudir os pés longe da água mineral quente, mas ele a afundou ainda mais, até as pantorrilhas, depois até as coxas, inundando-a. Ela ofegou.

- Está quente, seu bruto! Deixe-me sair! - Mas a água estava já fazendo seu trabalho, aliviando as lacerações de seus pés, acalmando os músculos duros, embora não ia lhe dar a satisfação de ouvi-la dizer.

O olhar dele estava sobre as gotas de transpiração que corriam entre seus seios e desapareciam sob a superfície da água. Baixou-a até que seus pés tocaram o fundo e a água lhe alcançou a cintura, então suas mãos puderam encontrar os quadris e mantê-la imóvel para sua inspeção. Inclinou a cabeça para a parte inferior de um seio e capturou uma gota com a boca.

- Tem que ser tão condenadamente formosa? - Murmurou brandamente.

Os dedos dela se entredaram em seu cabelo e arrastaram sua cabeça até seu seio para poder se arquear ante a cálida umidade de sua boca. A água lambeu sua pele. Borbulhava ao redor dela. O vapor se elevava.

- Você tem que ser tão condenadamente sexy? – Contra atacou ela, desejando a sensação de sua boca alimentando-se eroticamente sobre ela.

As mãos de Darius percorreram os quadris dela numa ligeira e possessiva carícia. Gostava de saber que podia tocá-la desta forma, que era dele. Gostava que ela o tocasse. Pela primeira vez em todos seus séculos de existência, estava realmente vivo. Sua suave pele, tão acetinada, roçando contra seu corpo. Seu cabelo sedoso lhe roçando o ombro, enviando ondas de calor através de seu corpo.

Sua boca vagou mais abaixo para encontrar o lugar onde as garras do pássaro haviam perfurado sua pele. Fazendo uma careta, recordou a sensação de estar estendido clandestino e inútil, enquanto ela lutava por sua vida.

- Deu-me um susto de morte. - Disse-lhe brandamente, sua língua banhou as feridas agudas.

Tempest se pressionou mais perto de seus cuidados tranqüilizadores.

- Tem um agente curativo na saliva, não é? - Perguntou, compreendendo-o subitamente. Tinha sim. Era como fechava como fechava as pequenas aberturas que suas presas lhe faziam no pescoço, sem deixar nunca evidência a menos que quisesse marcá-la. Era como seus ferimentos se curavam tão rápido. Darius. Tão terno e gentil, curando cuidadosamente cada laceração, cada machucado. - E deve ter um anticoagulante em seus dentes. - Era uma hipótese, mas uma medianamente segura.

Ele elevou a cabeça, seus olhos escuros ilegíveis e sem expressão.

- Posso te curar completamente, mas deve ficar muito quieta e aceitar o que faço.

Ela assentiu solenemente. Eram formosos, de uma forma puramente masculina. Adorava os ossos de sua face, a profundidade e a pureza de sua voz, o ondeio de poder sob sua pele. Sua formosa face agora mostrava uma intensa concentração. Retirou-se dentro de si mesmo. Tempest achou apetitosamente fascinante a forma em ele que moviam seus quadris. Ele era fisicamente perfeito. Suas mãos, por própria vontade, estenderam-se para tocar as extensões lisas.

A sensação de sua pele sob os dedos enviava chamas a todo seu corpo. Explorou mais à frente, suas mãos deslizaram sobre suas musculosas nádegas. Um som escapou de sua garganta dele, um suave grunhido de advertência e suas mãos seguraram as delas, lhe sujeitando as palmas contra ele.

- O que está fazendo?

Os grandes olhos verdes levantaram o olhar inocentemente até os insondáveis negros.

- Tocando você. - Suas mãos pressionaram mais perto. - Eu gosto de te tocar.

- Talvez não possa me concentrar se continuar, Tempest. – Ele repreendeu-a a sério, mas uma das mãos dela se liberou e explorava sua pele e uma erótica fantasia começou a se formar na mente de Darius. Suas necessidades sexuais eram bem maiores que as dela.

Era um homem dos Cárpatos com uma necessidade elementar como o tempo, de tomar companheira. Prometeu a si mesmo que se lembraria de que ela era humana e lhe daria tanto espaço quanto sua natureza permitisse, mas ela não estava lhe ajudando nesse momento.

Seu corpo se endureceu com uma selvagem e dolorosa rajada de fogo que se acrescentou ao calor da caverna e do charco. Seus dedos roçaram contra ele sob a água, deslizando-se por seu membro, estabelecendo-se nele como uma luva. empurrou-se contra ela, desejando a ardente sensação dela lhe rodeando.

- Isto não ajudará na minha concentração. - As arrumou para assinalar.

- Seriamente? E eu acredito que é bastante bom bloqueando todo tipo de coisas, Darius. - brincou ela, lhe explorando mais completamente, mais atrevidamente.

Ele inclinou a cabeça para o ombro dela e seus dentes a mordiscaram. Sob a água fumegante, sua mão deslizou para a união entre as coxas. Tempest lhe acomodou, empurrando-se contra sua mão. Os dedos dele deslizaram dentro dela, urgindo-a a que subisse com ele.

- Quero que precise de mim como eu necessito de tí. - Sussurrou ele contra sua garganta.

- Como é isso? - Perguntou ela através dos dentes apertados. Em sua mão ele cresceu inclusive mais duro e grosso, veludo sobre ferro. Os dedos dele a estavam deixando louca, levando-a mais perto da beira do escarpado. A água formou redemoinhos ao redor deles, revolvendo-se e borbulhando contra suas peles.

Darius a levantou nos braços.

- Coloque as pernas ao redor de minha cintura, Tempest. - Ordenou roucamente, quase não conseguindo expressar as palavras. Seu corpo clamava pelo dela. Agradou-lhe e lentamente a baixou sobre sua ansiosa ereção. Ante sua ardente e úmida entrada, deteve-se, observando a expressão da face dela. Ele parecia enorme e intimidante para ela, mas seu sexo era apertado e suave, aferrando e lhe envolvendo. O êxtase a envolveu, aceitando lentamente sua invasão. Era mais do que podia suportar.

O calor da caverna tornava quase impossível Tempest respirar. Ou possivelmente era a forma em que Darius a baixava com extrema lentidão sobre ele. Apoiou a testa contra o peito dele, ofegando enquanto seu corpo a invadia, profundo e o vapor os rodeava como fumaça do fogo que estava criando seus corpos.

Os dedos dele se apertaram em sua cintura enquanto ela se acomodava a seu redor, tomando-o completamente. Ela se moveu então. Foi ela, não ele, quem se moveu. Podia sentir o prazer da mente dele, nela, tão intenso que estava perto da dor. Tomou-o lentamente e a beleza do momento ficaria para sempre gravada em sua mente. A beleza da face dele enquanto a tomava, retirava-se dela e depois voltava. Era erótico ver o prazer que lhe proporcionava. Sabia precisamente que fazer para realçar o prazer da mente dele fundida a sua. Extraiu imagens de sua mente e fez alguns ligeiros ajustes, arqueando-se para trás para que seus seios se deslizassem sobre a pele úmida dele, deixando que seu cabelo caísse sobre os ombros, sensações que ele achava muito sensual. Deliberadamente prolongou o momento do êxtase, movendo-se lentamente, depois mais rápido, repetindo-se sempre até que seus músculos se apertaram ao redor dele e relutantemente o soltou, lhe capturando rapidamente uma vez mais.

Enquanto o sentia aumentar de tamanho dentro dela, ouvia-o lutar para respirar, seu coração pulsando contra o dela, sentiu seu próprio corpo começando a subir até as estrelas. Não podia se concentrar no prazer dele quando se sentia começar a fragmentar-se. Logo Darius tomou o controle e suas mãos conduziram os quadris dela, empurrando-se em seu interior com seguras e firmes investidas, empurrando-a mais e mais alto levando-a com ele. Fizeram o vôo juntos, liberando-se e seus gritos encheram a caverna. O vapor os envolveu como um corpo, uma mente, uma pele.

No final, Tempest estava totalmente exausta. Fechou os olhos e descansou a cabeça sobre o ombro dele.

- Não posso me mover, Darius. Não me peça que para me mover.

- Não o farei, pequena. - Murmurou ele meigamente, levantando o cabelo úmido de seu ombro para beijar a pele nua. Ele levou-a da água quente para o seguinte charco onde a água estava vários graus mais fria. Ela surgia do exterior da montanha. Darius entrou na água, levando-a com ele.

Ela sentiu o instantâneo alívio e relaxou sua garra sobre o corpo de Darius e prazerosamente flutuou para longe dele. Se mantesse os olhos fechados, poderia fingir que estavam a campo aberto, com o céu sobre ela e as árvores os rodeando. A opressiva camada de terra e rocha simplesmente desapareceu de sua mente. Pior que não podia manter os olhos fechados para sempre. Tentou se concentrar em como Darius a fazia sentir, na beleza da caverna, nos brilhantes diamantes que o vulcão tinha produzido através dos compridos séculos.

- O que acontece? - Perguntou ele brandamente.

- Estar nesta caverna me faz sentir como um morcego. É formoso, Darius...Não me interprete mal. - Acrescentou ela apressadamente, não desejando ferir seus sentimentos. - Mas estamos aqui embaixo e há muita umidade.

Darius nadou para ela, seu corpo ondeava poder, seu longo cabelo úmido e negro como a meia-noite.

- Você se acostumará, céu.

Ela sentiu o coração saltarem seu peito. O que significava isso? Não queria permanecer enterrada o bastante para se acostumar. Mordendo o lábio inferior obrigou sua mente a afastar-se do assunto e nadou algumas braçadas, desfrutando-se do prazer de simplesmente observar Darius nadar, na forma fluída em que se movia seu corpo. Bocejou, o cansaço acomodando-se em seu corpo. Era impossível ter uma sensação real de tempo em sua mente

- Você teve um dia duro. - Disse Darius enquanto saía à superfície, muito perto dela. Suas mãos lhe capturaram a cintura e a puxou para ele.

- Quero que descanse enquanto efetuo o ritual da cura contigo.

- O que é isso? – Ela era cautelosa, mas a fadiga havia sido mais condescendente com as demandas dele.

Darius estudou sua face, as sombras sob seus olhos. Ela estava encurvada pelo cansaço. Não lhe pediu seu consentimento, simplesmente a levantou nos braços e a levou a um pequeno local onde a rica terra era pura e lhes dava a boas vindas. Ondeou uma mão para que um lençol de algodão flutuasse até cobrir o solo e depois a estendeu com grande cuidado.

- Acaba de fazer este lençol, não é? - Murmurou ela, levantando o olhar para ele.

Ele afastou para trás o cabelo úmido de sua testa.

- Surpreenderia-se com as coisas que posso fazer. - Disse ele brandamente.

- Não acredito que possa. - Rebateu ela.

- Não me distrairá de minha tarefa esta vez, Tempest. Liberarei-me de meu corpo e minha energia entrará no teu. Posso curar suas feridas de dentro para fora. O processo curador é bem mais rápido e se tiver qualquer infecção, posso liberar seu corpo dela. Mas não posso ser consciente de meu próprio corpo durante esse tempo. Minha concentração deve permanecer no que estou fazendo. Entende? Não posso voltar a entrar em meu próprio corpo abruptamente quando estou no teu. Então não me distraia.

Ela ficou quieta, observando a face dele. Ele estava afastando-se dela... Podia vê-lo. Afastando-se do mundo no qual estavam. Voltou toda sua atenção para dentro. Quis lhe tocar a mente.

Estava se tornando mais fácil, mas não queria se arriscar a lhe distrair, o que ele precisamente havia dito que não fizesse.

Tempest o sentiu então. Sentiu-o entrar em seu corpo, pura energia movendo-se através dela, como uma luz interna, examinando-a, cálida e reconfortantmente. Em sua mente ouviu uma voz, suave e tranqüilizadora. As palavras não se pareciam com nenhuma que conhecesse. Mesmo assim, sabia que já as ouvira antes. Um cântico. Tentou distinguir os sons individuais, mas foi impossível. Recebeu somente impressões, como campainhas prateadas, como água saltando sobre rochas em um arroio, como uma gentil brisa flutuando através das folhas das árvores.

Sua pele era cálida. Suas vísceras eram cálidas. As solas de seus pés cessaram de picar e ela já se sentia bem. O que Darius estava fazendo obviamente funcionava e ela se perguntava como ela era capaz de curar como o fazia. Nesse momento lhe parecia um perfeito milagre.

Darius voltou para seu próprio corpo e baixou o olhar para a bela face de Tempest. Ela parecia muito jovem e ele se sentiu como um criminoso, sabia que ela não tinha forma de lutar com ele, nem forma de lutar contra sua reclamação sobre ela. Fazia justamente isso. Ela não tinha nem idéia do que o que o ritual encerrava, e possivelmente a verdade era, que ele tampouco. Mas Darius sentia a diferença em si mesmo, a diferença que fazia as palavras que havia pronunciado, unindo-os.

Darius lhe tocou a face com a ponta dos dedos gentilmente.

- Sente-se melhor, Tempest? - Sabia que sim. Sua mente estava se acostumando a deslizar dentro da dela e podia sentir o alívio de seu corpo. Havia inclusive aliviado sua ardência feminina, de forma que seu selvagem e bastante primitivo modo de fazer amor não deixasse marca.

Ela assentiu solenemente.

- É incrível que possa fazer tal coisa. Pode imaginar o que significaria para o mundo se os humanos pudessem aprender a curar assim? Possivelmente poderíamos curar o câncer. Pensa no bem que poderia fazer. Não necessitaríamos de drogas, Darius.

- Não é uma forma humana de curar, Tempest.

- Mas me curaste, então pode fazer isso aos humanos. Talvez pudesse ser médico em vez de guarda-costas. Poderia ajudar muita gente que sofre.

Ela falava sério. Sua compaixão ultrapassava seu sentido comum. Darius se recostou sobre ela e estendeu a mão por sua garganta possessivamente.

- Não sou humano, amorzinho. Se essa gente a quem quer que eu cure me conhecesse como sou, atravessariam-me o coração com uma estaca. Sabe que é assim. Não posso ter contato íntimo com humanos. Nem encontros próximos. Desari entretém humanos porque tem a voz de um anjo e não pode fazer outra coisa. Deixar de fazê-lo-a faria infeliz, assim devo protegê-la, mas não tenho entendimentos com essa gente.

A mão dela deslizou sobre a dele e um pequeno sorriso curvou sua boca, formando uma covinha em sua bochecha.

- Eu sou humana Darius e você se acerta bastante bem comigo.

- Você é diferente.

- Não, não sou. - Protestou ela. - Sou exatamente como todos outros.

- Em primeiro lugar viu a fera em mim, Tempest. Lida com os animais. Instintivamente aceita minha natureza primitiva. Sabe que sou um predador, mais animal que homem. Nós os homens dos Cárpatos somos uma combinação dos dois. Só você entre os humanos entenderia e aceitaria isso.

- Você pensa e raciocina como um humano. - Disse ela, sentando e afastando os cabelos para trás, que estava pesado pela umidade da caverna. Estava suando novamente, como gotas de suor dedilhando sua pele. Olhou ao redor procurando sua roupa, tão cansada que não podia recordar o que tinha feito com elas. - É mais parecido um humano do que acredita, Darius.

Darius a aproximou mais dele e a abraçou com suavidade.

- Desejas que seja humano porque seria mais fácil para você lidar com essa idéia. - Uma nota de censura matizou sua voz.

Tempest empurrou seu peito.

- Não me venha com essa atitude. Sabe que me importaria se fosse alguma estranha criatura desta câmara subterrânea do inferno. Sei que sabe. Estiveste em minha mente do mesmo modo que eu estive na tua. Sabe o que penso de você. Acho-o intrigante. E na realidade não é tão mau.

- Acha-me sexy. - Corrigiu ele e lhe beijou o nariz.

Ela empurrou-o longe e ficou em pé, cambaleando-se um pouco pela debilidade.

- Não deixe que te suba à cabeça. – Ela estava vagando pelos arredores da caverna, aparentemente inspecionando o chão.

Darius se levantou com um suspiro e a seguiu.

- O que está fazendo?

- Procurando minha roupa.

- Não precisa de roupa. - Disse muito decidido.

- Darius, se me fizer amor mais uma vez, acho que simplesmente teria que morrer. Já que não podemos fazer isso é muito mais seguro encontrar minha roupa.

Ele pegou-lhe a mão e a conduziu de volta.

- Nem sequer sabe que estas dizendo ou fazendo. - Outro ondeio de sua mão produziu dois travesseiros.

Tempest bocejou.

- Na realidade estou cansada, Darius. Adoro conversar contigo, mas precisamos dormir para enfrentar os fatos. Inclusive se você não é humano, eu sou. Não tenho idéia de que hora é, mas preciso dormir.

Ele sorriu-lhe. Um zombeteiro relâmpago de dentes.

- Para que acha que fiz esta cama? Este é um dos meus refúgios. Eu durmo aqui.

- Isso me parece bem. Mas tem que me levar de volta.

- De volta aonde?

Algo em sua voz a advertiu. Seus olhos verdes fixaram sobre a face dele. Havia ali uma imobilidade que não gostou. Podia ouvir o batimento de seu coração.

- Quero sair daqui. Você pode dormir aqui,e eu dormirei no acampamento, em qualquer dos veículos que nos tenham deixado. Não me importa. Posso dormir sob uma árvore.

- Não há opção, céu. Não deixarei você dormir longe de mim. – Ele falou casualmente, como se não fosse muito dormir no interior de uma montanha... De um vulcão... Esmagando-a. Ele estendeu a mão e segurou a dela. Não com força. Ligeiramente. Um bracelete solto de dedos, não mais, mas uma advertência de todos os modos.

- Não pode querer a sério que durma aqui. - Protestou Tempest, tentando se afastar dele. - Ficar aqui todo o dia enquanto você dorme? Não posso, Darius. Sequer por ti.

- Dormirá junto a mim onde sei que está a salvo, Tempest. - Disse ele em sua suave e implacável forma.

Ela retrocedeu afastando-se dele, visivelmente pálida.

- Não posso, Darius. Quando está me distraindo, não sinto como se me asfixiasse, mas nunca poderia me deitar aqui na mais absoluta escuridão e tentar dormir. Não posso ver como você. Se as velas se acabarem, ficarei louca. Sentiria-me enterrada viva. Eu não sou como você. Sou humana.

- Não a levarei a superfície e a deixarei por sua conta. Cada vez que te permito liberdade, algo aconteçe. - Seu medo estava lhe machucando. Tocou sua mente, encontrou desespero, pânico. - Não estará consciente, Tempest. Crie que não posso me assegurar disso? Posso ordenar à própria terra se assim quiser. Posso criar tormentas, ondas gigantescas, lava fervendo. Por que seria incapaz de cuidar de que descanse junto a mim sem ser perturbada?

A ponta da língua dela tocou o lábio inferior. Seus olhos estavam selvagens pelo medo.

- Precisamos nos encontrar com os outros, Darius. Posso conduzir todo o dia. Você pode dormir e me encontrar onde estuver o acampamento. Estarei lá, prometo-o.

Ele se levantou lentamente, seu corpo implacavelmente masculino. Moveu-se com fluída graça, o ondeio o poder de um predador. Ela já retrocedia afastando-se dele, sua mão se elevou entre eles como amparo. Darius parou imediatamente, seu olhar negro sobre a pequena e frágil mão. Estava tremendo.

Suspirou lentamente.

- Não posso permitir que isto continue, Tempest. Tentei te permitir tanta liberdade como necessita, mas temos que estabelecer um equilíbrio entre nós. Não posso arriscar sua vida, embora quando te peço permissão, dou-te explicações, seu temor só cresce. Se a tivesse controlado como deveria, não sentiria medo, nem apreensão. Note que não me está dando outra escolha?

Moveu-se então, sua velocidade tão cega que esteva sobre ela antes que piscasse, antes de ser consciente do perigo iminente.

- Como pode fazer isto depois do que compartilhamos? - Exigiu ela, sua voz tão espantada que ele sentiu que seu coração se derretia.

Detestava assustá-la, embora sabia que era para seu próprio amparo. Nada lhe aconteceria ali. A montanha não a esmagaria. Poderia respirar ar sem problema. Seus golpes frenéticos não eram para ele mais que o bater de asas de mariposa, embora cada golpe alcançava seu coração.

- Disse que não me faria mal. – Ela continuou mesmo enquanto ele a envolvia em seus braços e a confortava, - Disse que sempre olharia por minha felicidade. Mentiu-me, Darius. A única coisa que acreditei foi que poderia confiar sempre em ti, confiar em sua palavra.

As palavras dela eram como pequenos golpes contra sua alma. Acreditava ela nisso, que mentiria para ela? Odiava que ela estivesse assustada, mas que outra escolha possuía?

- Não te menti. É meu dever cuidar de sua saúde, cuidar de seu amparo. Não posso fazer outra coisa que assegurar sua segurança.

- Darius, não me importa o que é ou a classe de poder que esgrime. Lutarei contigo com meu último fôlego por minha liberdade. Não tem direito de me dar ordens, mesmo em questões de segurança. Não você. Não pode - me permitir- fazer nada. É minha livre escolha. Não o deixarei.

Darius examinou a face zangada, serenamente. Ele simplesmente manteve suas mãos presas, aparentemente equânimes por seu acesso. - Fique tranqüila carinho e respire profundamente. Seu medo de estar sob a montanha vence sua razão.

- Não ficarei aqui contigo, Darius. Estou falando sério. Irei a um lugar onde nunca me encontrará. - Ela o ameaçou, seus olhos esmeraldas nadando em lágrimas, faiscando como gemas.

Sua face perceptivelmente endurecida, sua boca perfeita, ao mesmo tempo afiada com crueldade. - Isso nunca ocorrerá, Tempest. Não há nenhum lugar onde possa se esconder e que não possa te encontrar. Eu iria atrás de você e nunca me deteria até que a recuperasse. É o ar que respiro. Minha luz. As cores em meu mundo. Não há vida sem você. Nunca me remontarei à escuridão. Se estamos presos, então é que não temos alternativa a não ser encontrar a maneira de fazer isto funcionar. Estou falando claro?

- Perfeitamente. Você tem a intenção de ser um ditador e espera que eu seja uma boneca. Não vai acontecer, Darius. Eu não vou estar a seu cargo como todos os demais; e voce não é dos tipos que pegam uma mulher porque esta lhe desafia.

Sua mão livre deslizou pela nuca de Tempest como uma carícia, um suave toque que enviou um tremor por sua coluna vertebral. Ela sentiu-se zangada por ele poder fazer isso com um simples toque. Envolver seu corpo em chamas, ao mesmo tempo, que negava seus direitos. Ela não podia lhe deixar fazer isto, ela não podia fazer-se débil.

- Não tenho que bater numa mulher para fazê-la fazer o que é mister para seu amparo. - Ele disse brandamente, sua voz era suave, hipnótica. - Não é minha mão e nunca quereria que fosse. Não se dá conta de que admiro sua coragem? Mas não posso deixar que se coloque em perigo. - Suas mãos a envolveram, rodeado seu corpo magro e a manteve apertada contra ele. - Já é tarde, Tempest. Preciso dormir. Quero que deite a meu lado e durma. Nada a despertará. Nada fará mal a você.

- Não posso respirar aqui embaixo. - Disse Tempest desesperadamente,com lágrimas descendo por sua face. - Darius, deixe-me ir. Por favor deixe-me ir.

Ele levantou seu corpo como se ela não fosse mais que uma criança e escondeu a face em seu pescoço por um momento, saboreando seu perfume, a percepção de sua pele. - Não há necessidade de temer este lugar, mel. É um lugar de cura. - Sua voz baixou, num ritmo urgente, hipnótico. - Dormiras em meus braços. Dormirá até que eu a chame e a desperte.

Darius levantou sua cabeça, a fim de que seus olhos pudessem ficar diretamente nos olhos verdes dela, a fim de que ele pudesse prender seu olhar em seu gelo negro. Fascinando. Implacável. Ela não poderia afastar seu olhar, não importava o quão forte fosse sua vontade. Ele sentiu sua resistência e a admirou, mas foi inquebrável. Desta vez não podia deixar que ela saísse com a sua. Ele teria que confrontá-la na seguinte sublevação, mas neste dia ela estaria a salvo.

 

-Isto é tudo o que temos. - A fotografia caiu sobre a mesa. Mostrava a uma jovem esbelta de cabeloS vermelhos, de pé em meio à água e com os braços estendidos. Estava sorrindo, com a face voltada para o sol, enquanto centenas de mariposas revoavam a seu redor.

-Matthew Brodrick está morto. A polícia diz que não há dúvida de que foi um suicídio. Mas eu não acredito. Matt era um de nós. Sábia que estava na pista. Não teria tirado fotografias de qualquer um. - Brady Grand acariciou com os dedos a foto, depois a golpeou duas vezes. - Esta mulher sabe de alguma coisa. Este riacho é o mesmo onde o corpo de Matt foi encontrado.

- Vamos, Brady. - Protestou Cullen Tucker. - Olhe essa foto. Está em meio ao sol. A plena luz do dia. Não há forma de que essa mulher seja um vampiro.

Os olhos frios de Grand viajaram ao redor do círculo de homens.

- Não disse que é, só que sabe algo. Por isso sei que podia estar ajudando Matt. Encontre-a e saberemos a verdade.

- A verdade é que não temos nada. – Disse Cullen. – Você diz que esta banda é um grupo de vampiros. A única prova que nos ofereceste até agora é uma escura referência apoiada na palavra de Desse, referindo-se a cantora do grupo, Desari.

Um murmúrio de aprovação percorreu o aposento. Depois os outros mudaram de posição nervosamente. Ninguém queria se enfrentar diretamente Brady Grand. Com ele não havia meio termo, mas tinham perdido seis homens na primeira tentativa contra a banda, excelentes atiradores e agora tinham perdido Matt Brodrick.

Brady os olhou a todos.

- Isso é o que pensam? Que estou equivocado sobre estas criaturas? O que há do fato é que enviamos seis assassinos militarmente treinados para matar civis supostamente indefesos e todos nossos soldados terminaram mortos, enquanto as criaturas ainda estão sãs e salvas? Diga-me como aconteceu isso, Cullen. Diga-me como um simples guarda de segurança desarmado acabou com seis de nossos homens. Tinham uma rota de fuga, mas desapareceram. Varreram o cenário de balas, embora os membros da banda tenham ficado relativamente ilesos. Explique-me isso, Cullen. Porque eu não vejo como é possível.

- A banda tem sorte. Possivelmente seu guarda-costas é melhor do que acham, um paramilitar. O que sabe sobre esse tipo? Não muito. É possível que a equipe possuísse uma informação pobre? Talvez foi você que apontou muito acima?

O punho de Brady se apertou firmemente até que seus dedos ficaram brancos. Um músculo tremeu em sua mandíbula.

- Estou seguro de que a cantora é um vampiro. Sei disso, Cullen. A equipe sabia também ou nunca tentariam dar o golpe. Queríamos sangrá-la o máximo possível, debilitá-la e pegá-la viva. Nossa gente deseja um espécime vivo para estudá-lo durante anos. Mas se a única coisa que podemos conseguir é um morto, que assim seja.

- Tudo o que conseguimos por agora é fazer com que o mundo ache que somos um bando de loucos fanáticos. - Objetou Cullen. - Disse que deveríamos nos fixar em outra pessoa, alguém não tão popular. Os policias adoram Desari. Os comerciantes de cada cidade a adoram. A audiência a adora. Se a matarmos, nos caçarão como cães.

-Esse é seu problema, Cullen. Não tem sentido do compromisso. Isto é uma guerra. Nós contra eles. Acha que eles existem? Com todas as provas que te dei, realmente não acredita? - Exigiu Brady. - Depois de que o viu com seus próprios olhos? Ou foi só uma história para conseguir entrar em nosso grupo?

-Demônios! É claro que acredito que os vampiros existem. - Disse Cullen. - Mas não esta cantora. Ela é somente uma mulher com uma formosa voz e um guarda-costas tão letal como ninguém que tenhamos visto jamais. E que dorme durante o dia. O que espera? Trabalham toda à noite. Então não podemos encontrar seus acampamentos nem quando os perseguimos todo o tempo. São muito cuidadosos, reservados. Mas ninguém morre nunca. Nenhum menino assassinado. Nunca deixam uma pista de cadáveres secos atrás de si. Se forem vampiros que se alimentam de pessoas, onde estão os corpos? Todos os vampiros dos quais já ouvi falar deixam mortos. A razão pela qual não podemos encontrar esta gente quando acampa é porque seu guarda-costas é bom. Por isso é que não há fotos, não porque não saiam no filme. Este tipo faz seu trabalho e o faz bem. Quer dizer, nada de fotos não autorizadas.

- E os leopardos? - Exigiu Brady.

- Parte do show, da mística. Estão no espetáculo, Brady. Todo mundo tem algum truque. Eles têm leopardos. Genial. Os vampiros gostma dos lobos e morcegos não é isso o que dizem? - Cullen fez prevalecer seu ponto de vista.

O homem que estava mais perto de Cullen se esclareceu garganta. Era um pouco mais velho que os outros e geralmente muito calado.

- É possível que Cullen tenha razão neste caso, Brady. - Disse brandamente. - Não há evidência de que ninguém deste grupo tenha estado alguma vez nas Montanhas dos Cárpatos ou seja sequer originário dessa zona.

- Wallace. - Protestou Brady. - Sei que tenho razão com respeito a esta cantora. Eu sei.

O homem maior sacudiu a cabeça.

- Não ajuda que os vampiros pareçam ser tão pendentes de suas mulheres, possuindo-as completamente. Embora esta cantora recentemente se juntou com alguém do mundo exterior.

- Isso prova meu ponto de vista. - Disse Brady triunfantemente. – Ela uniu-se a Julian Savage. Ele é da região onde há muito suspeitamos existem vampiros. E esteve sob suspeita há muito tempo. Subitamente aparece e a cantor se apaixona por ele? A mim parece muita coincidência. - Brady se deixou cair, sabendo que ganhara um ponto. Julian Savage definitivamente estava no alto na lista de suspeitos da sociedade e estivera durante longo tempo, embora tenha evitado seus caçadores a cada passo.

Houve um curto silêncio. Todo mundo olhava para o homem mais velho e de voz suave, William Wallace. Ele havia sido membro da sociedade caçadora de vampiros há muito mais anos que os outros. Havia perdido todos os membros de sua família nas mãos dos vampiros. Havia caçado-os na Europa e quando falava, todo mundo, incluído Brady, fazia o que ele dizia.

- É verdade. - Murmurou Wallace brandamente. - Aonde quer que vá Julian Savage, a morte o segue, embora nunca esteve sob suspeita da polícia. Tem casa no Bairro Francês de Nova Orleans, e vários membros de nossa sociedade se desvaneceram ali, nunca foram encontrados. Não podemos provar que ele estava residindo lá, pois parece ter vendido a casa... Mas até os vampiros podem gerar falsa papelada e créditos.Ele viaja com freqüência de país em país, é um homem muito rico. - Continuou Wallace. -Agora viaja com um grupo de cantores. Certamente suspeito. – Ele inclinou-se para olhar a foto. - Está seguro de que foi tirada no mesmo lugar no que morreu Brodrick?

Brady assentiu.

- Eu pessoalmente inspecionei o lugar. É o mesmo lugar. Matt tirou uma série de fotos desta mulher.

- Viram-na antes? - Perguntou Wallace.

Todos sacudiram a cabeça.

- Matt não tinha noiva. - Interveio um jovem com a face coberta de espinhas. Era o voluntário mais recente da sociedade e desejava se fazer notar. - Se conheceu recentemente uma mulher e tirou todas estas fotos no lugar onde os Trovadores se que acampam, ela deve ter alguma conexão com o grupo.

- Alguma das outras fotos mostra sua face mais de perto? - Perguntou Wallace.

- Esta é a melhor. Está olhando diretamente para a câmara. Diria que se encontrarmos esta garota, conseguiremos algumas respostas. - Replicou Brady.

- Possivelmente. - Disse Wallace. - Devemos investigar um pouco mais. Se esta garota souber de alguma coisa, não deve ser muito difícil saber. Encontrem-na e tragam para nosso quartel geral, para interrogá-la.

Cullen Tucker parecia nervoso.

- E se não souber de nada? Possivelmente é só uma garota que Matt achou fotogênica. Se a trouxermos aqui e averiguar o que procuramos, estaremos expostos ao mundo.

Wallace encolheu os ombros casualmente.

- Algumas vezes são necessários pequenos sacrifícios. Com grande pesar a jovem dama terá que ser sacrificada para proteger nossas identidades.

Cullen olhou fixamente os outros, estudando suas faces, procurando alguém que protestasse com ele. Mas as fisionomias estavam vazias. Rostos de fanáticos. A prudência ditava que mantivesse a boca fechada.

- Tem algum problema com isso? - Grunhiu Brady, seus olhos frios subitamente voltaram para a vida com o ardor do sangue.

Cullen encolheu os ombros.

- Não mais que qualquer outro. - Contemporizou. - Não tem que gostar, Brady, só porque é necessário. Começarei a procurá-la no próximo concerto da banda. É no norte da Califórnia. Estou seguro de que agora estão a caminho. Não deve ser difícil de localizá-la, mas se por acaso estiver equivocado, enviarei alguém de volta ao parque. Talvez seja uma garota local ou uma campista. Os guardas florestais devem tê-la visto.

Brady Grand ficou em silencio durante um momento, aquietado o anseia de lutar. Assentiu.

- Murray vai contigo. É mais seguro se forem os dois. - Assinalou ao jovem, sabendo que o menino estava ansioso por um pouco de violência, para provar-se ante o grupo.

- Sempre trabalho só... Sabe disso. - Protestou Cullen. - Dois de nós atrairá a atenção do guarda-costas. Não podemos subestimá-lo. Apostaria que foi ele sozinho que acabou com nossa equipe.

- Talvez. - Murmurou Wallace. - mas acredito que provavelmente foi Savage. Apareceu ao mesmo tempo. Acho difícil acreditar que o guarda-costas de Desari seja uma ameaça para nós... A menos é obvio, que seja um deles.

Cullen refreou sua aguda réplica. De que serviria? Brady Grand se tornara tão fanático quanto Willian Wallace, nos últimos anos. Usavam armas constantemente e treinavam um pequeno exercito. Ambos pareciam acreditar que estavam lutando numa guerra. Cullen simplesmente acreditava que se algo tão malvado como um vampiro existisse, devia ser exterminado. Acreditava, pelo que tinha visto em São Francisco anos antes, quando um assassino estava à solta. Só que não era um assassino em série. A criatura havia assassinado à noiva de Cullen diante dele, drenando seu sangue e gargalhando enquanto o fazia. A polícia não lhe acreditou... Ninguém o fez. Até que Brady Grand o encontrou. Agora Cullen não estava seguro de se alguém estava mais sedento de sangue que Grand e Wallace ou de que fossem muito diferentes dos vampiros.

Uma vez mais Cullen olhou fixamente a foto da risonha ruiva. Era formosa, em calidez e a alegria em seu sorriso, compaixão em sua face, uma doce inocência em sua postura. Além do corpo esbelto e o rico cabelo vermelho, via alguém com algo que valia a pena. Viu uma mulher com a mesma bondade natural que sua noiva havia possuído. Suspirou e guardou a foto no bolso. Assombrava-lhe que os outros não pudessem ver a inocência em sua face. Ela não tinha nada a ver com vampiros.

- Sairei agora. - Disse. - Chamarei se ver se alguém conseguir qualquer pista.

Brady o avaliou estranhamente. Seu assentimento foi lento e seus frios olhos de serpente seguiram Cullen enquanto ele saía para a porta. Cullen inalou o fresco ar noturno profundamente, desejando livrar-se do mau cheiro do fanatismo. Havia seguido os membros da sociedade por uma necessidade de vingar a horrorosa morte de sua noiva. Agora a necessidade não parecia tão grande. Desejava livrar-se da raiva e do ódio e começar sua vida novamente. A foto parecia arder abrindo um buraco em seu bolso. O mais inteligente que podia fazer seria desaparecer. Ocultar-se. Mas conhecia Brady Grand. O homem gostava de matar e na sociedade tinha encontrado uma saída legítima para suas tendências psicóticas. Inclusive o exército dos Estados Unidos tinha afastado-o, desenganchando por seu repetitivo vício de atacar os novos recrutas e civis. Houvera dois incidentes em sua ficha, duas mortes suspeitas que nada puderam provar que fossem assassinatos. Cullen sabia de tudo pois possuia um amigo com acesso aos arquivos militares. Brady Grand não era a classe de inimigo que queria que lhe perseguisse o resto de sua vida.

O Jipe do Cullen arrancou facilmente, mas a foto continuava ardendo em seu bolso. De repente amaldiçoou. Não podia deixar simplesmente à ruiva para que a pegassem. Tinha que encontrá-la e adverti-la. A cantora também. Podia ter o melhor guarda-costas do mundo, mas se Brady Grand era o bastante persistente, antes ou depois a sociedade a alcançaria.

Golpeando o volante, cheio de frustração, Cullen girou o veículo para o norte.

Muito longe, profundamente dentro das vísceras da terra, Darius sustentava Tempest contra ele.

Algo estava se movendo através de sua mente, num sinal de advertência que lhe tinha mantido no bom caminho durante muitos séculos. Era o bastante forte para trazer para a vida, sua fera rugiente. Na boca sentiu o alongamento ameaçador de suas presas. Elevou a cabeça e seu olhar gelado percorreu o interior da câmara. Lentamente voltou a cabeça para o sul, para o perigo. Algo ameaçava Tempest, algo que vinha dessa direção. Nada faria mal a mulher que estava em seus braços. Nada, jurou.

Baixou o olhar para sua face, tão jovem e vulnerável em seu sonho. A luz das velas acariciava sua pele amorosamente, lançando sombras tentadoras através dela, convidando seu toque. Darius sentiu surgir o desejo em seu corpo e permitiu que acontecesse. Levaria séculos para saciar seu apetite. Séculos. Mas ele escolheraito outra coisa. Escolhera mantê-la humana e morrer com ela quando chegasse o momento. Então teria que ser mais cuidadoso quando a possuísse, não podia seguir tomando seu sangue durante o ato de amor.

Ficava fora de controle quando seu corpo demandava o dela e era perigoso para ambos. Mas a desejava. Nunca deixaria de desejá-la. Uma sensação selvagem e primitiva, embora terna e gentil. Mas ele não era um homem gentil. Os longos séculos se ocuparam disso, moldando seu lado rude, sua natureza predadora. Embora sentisse que quando a olhava, era diferente. Algo em seu interior se fundia, suavizava-se.

Durante séculos de existência sabia o momento exato no que o sol se elevava ou baixava, a noite envolvia a terra sobre eles. Seu momento. Seu mundo. Darius se estirou prazerosamente e voltou a percorrer com uma mão, possessivamente, a pele acetinada de Tempest. Não tinha dormido na terra amorosa, não tinha dormido o sonho rejuvenescedor de sua gente, porque se algo acontecesse, não queria que Tempest despertasse sozinha sob a montanha com o que pareceria ser seu corpo morto junto a ela.

No sono dos Cárpatos, detinham seu coração e pulmões... Uma coisa útil, um processo rejuvenescedor, algo que seus corpos precisavam para mantê-los em plena força, mas que aterrorizava os humanos.

Sem completar o processo, o sono de Darius tinha sido inconstante e inquieto. Mas Tempest era jovem e estava acostumada, então havia sacrificado seu descanso restaurador para assegurar a segurança dela. Passou os dedos pelas mechas vermelhas. Cabelo vermelho e olhos verdes. Temperamento ardente. Vontade forte. Sua pele era cálida e atraente. Em seu sonho induzido seu coração pulsava forte e sua respiração fazia subir e baixar seus seios.

Darius inclinou a cabeça para saborear sua pele enquanto lhe dava a ordem de despertar. Sua mente captou a dela enquanto estava adormecida, alimentando sua urgente fome, construindo imagens eróticas de desejo na mente dela. Moveu a boca lentamente, languidamente seus dentes mordiscaram ocasionalmente, reclamando cada parte dela. Podia sentir o ritmo de seu coração mudando para se compassar ao dele. Seu membro endureceu, exigindo. O sangue apressando-se com ardente desejo. Sentiu como respondia ao corpo dela enquanto o sangue quente surgia através das veias, carregada de chamas, de desejo.

Antes que estivesse completamente acordada, totalmente consciente do que a rodeava, envolveu-a numa fantasia erótica de Darius saboreando a calidez de sua garganta, sua mão se moveu para embalar um seio possessivamente. Embora fosse de pequena estatura, de ossos delicados, seus seios eram fartos, encaixavam na palma de sua mão como se fossem moldados para ele. Sentia uma alegria quase selvagem na forma em que seu corpo se endurecia numa agressiva resposta.

Moveu a boca sobre seu ombro, detendo-se para na pequena curva. A língua acariciou gentilmente, insistentemente, traçando o vale entre seus seios, prestando especial atenção a cada mamilo, numa tarefa que enviou fogo através de seu próprio sangue. Fechou os olhos durante um breve momento saboreando a textura de sua pele, o fogo que se estendia através de seu próprio corpo.

As mãos se moveram ainda mais embaixo, na curva de seus quadris, acariciando a acetinada pele. Sob as palmas de suas mãos, ela se moveu inquietamente, ainda adormecida, mas parcialmente consciente do que estava fazendo. Mas seu corpo estava vivo de desejo por ele. Compartilhou, conectando com sua mente. Darius sorriu para si mesmo, desfrutando de saber que em cada ataque ela estaria com ele, seu corpo suave e lhe dando a boas vindas.

As pernas dela se moveram e ele começou com as mãos, uma lenta carícia em suas coxas. Um suave e pequeno som escapou de sua garganta enquanto tentava decidir se era alguma fantasia erótica ou era real. Ela não era consciente de onde estava, só dos lábios que se moviam preguiçosa mas concietemente sobre cada centímetro de seu corpo.

Darius desceu a mão para os pelos macios de seu sexo, sentindo seu calor pulsante. Quando ela pressionou-se mais perto, ele baixou a cabeça para saboreá-la. Tempest gemeu em entre o alarme e o prazer, atraindo-o para mais perto. Ardor branco, relâmpago azul atravessou-a e entrou nele. A sensação era surpreendente, Darius sentiu a forma em que o corpo dela se retorcia de prazer.

Seu próprio corpo estava brutalmente inquieto, tão cheio e duro que temia que pudesse rompê-la se movesse ferozmente. Enquanto compartilhavam o tremulo alívio dela, as mãos de Tempest passearam sobre os músculos das costas de Darius para descansar sobre seus quadris. Darius elevou a cabeça e seus olhos arderam para ela.

Normalmente modesta, Tempest deveria ter se sentido tímida. Mas captou imagens da mente dele, seu faminto desejo e sentiu uma tentadora luxúria... Que gostou. Empurrou-o para trás, para que ficasse de costas e suas mãos acariciaram o peito dele. Sorrindo, inclinou a cabeça para tocar gentilmente com a língua, a pele ardente. Com a mente dele firmemente entrincheirada na sua, podia sentir o fogo que corria por seu sangue, sentir o inquieto e doloroso desejo de seu corpo. Deliberadamente permitiu que seu sedoso cabelo caísse sobre a sensível pele dele, incrementado a sensação ainda mais.

Darius sussurrou seu nome. Os dentes brancos se juntaram impotentemente. Ela estava tomando seu doce tempo, deixando-o louco de ânsia, os lábios viajando lentamente para seu abdomem plano procurando as linhas de seus quadris. Sua mão lhe roçou e o corpo lhe enrijeceu mais ainda. Ele gemeu seu nome uma vez mais, desta vez numa ordem, mas Tempest se negou a ouvi-lo. A língua dela o saboreava numa longa e lenta carícia que fez com que suas mãos se elevassem para segurá-la, obrigando-a a aproximar sua cabeça.

Tempest teve a audácia de rir dele, seu fôlego quente se acrescentou à conflagração que aumentava em seu corpo, acariciando de acima abaixo, seu membro. E ele deixou escapar um grito rouco. A sensação de sua boca sobre ele era incrível. Calidamente apertada e úmida. Ela sabia o que ele gostava pelas imagens de sua própria mente e Darius estava perdido para o mundo. Perdido na beleza do que compartilhava com ela.

E ela o torturava, deleitando-se em seu poder sobre ele. Darius agüentou tanto quanto foi capaz e depois a puxou para cima, pelos cabelos vermelhos. Não importava se estava sendo brutal, pois era a única coisa que era capaz de fazer nesse momento. Pegou-a pela sua cintura e a sentou sobre ele.

Tempest achava assombroso saber exatamente o que ele desejava. Começou a se mexer lentamente, mas depois se converteu num movimento frenético, com seus músculos se estiraram ao redor dele, tomando-o profundamente em seu interior. As mãos dele se moveram sobre seu corpo, inspecionando a pequena cintura e os seios cheios. Então se elevou para ela, num lento e inexorável movimento que quase lhe deteve o coração. Podia sentir o desejo nele, a necessidade de tomar seu sangue... Mais uma urgência sexual que uma fome física. Tinha-o feito muitas vezes, mas ela nunca tinha visto seus dentes tão bem. Agora ele não tentou esconder o alongamento de seus incisivos, enquanto inclinava a cabeça para sua garganta.

Lançou-se para frente, enterrando-se profundamente em seu interior enquanto os dentes de afundavam na suave garganta. Compartilhou a sensação última com ela, seus corpos e mentes unidos, compartilhando a mesma essência da vida juntos. Seu corpo ardia, a conflagração aumentava mais e mais até que ela já não podia controlá-lo. Arrastou-a com ele até que ambos explodiram e a terra tremeu sob eles.

Darius se obrigou a parar, não tomando mais sangue, para satisfazer seu insaciável desejo por ela. Já havia notado diferenças nela, como sua habilidade de ouvir e ver que estava se tornando bem mais aguda. Inadvertidamente estava realçando seus sentidos. Alterando a humanidade nela, que tinha jurado preservar. Darius deslizou os braços protetoramente a seu redor. Nada ia lhe fazer mal. Nunca. Nem sequer ele.

Tempest se contentava em estar sobre a dura longitude do corpo dele, sentindo-se protegida e profundamente amada. Ele era um amante perfeito, cuidadoso com ela mesmo em seus momentos mais rudes. Podia ouvir seus corações pulsando em perfeito ritmo e ficou parada durante um momento, recuperando o fôlego. Enquanto respirava lentamente, sentiu o opressivo calor. Seus dentes se afundaram no lábio inferior enquanto olhava a seu redor.

Ainda estavam na caverna. A humilhação a alagou. Ele a distraíra fazendo amor, não tinha considerado sequer onde estavam. Duvidava que tivesse notado se estivessem no meio da rua. Onde estava seu orgulho? Este homem virtualmente a tinha seqüestrado, mantendo-a no centro da terra sem o mais ligeiro remorso, e depois tomara vergonhosas liberdades com ela.

Tempest elevou a cabeça e suas pálpebras velaram seus olhos antes que ele pudesse ler sua expressão. Mas Darius se convertera numa sombra em sua mente, sentindo sua culpa e raiva com si mesmo, sua humilhação por ter permitido o que acontecera, quando estava tão zangada com ele.

Imediatamente rodou para colocá-la sob ele, prendendo o corpo esbelto com sua forma. Enredou uma mecha do cabelo brilhante e sedoso e levou-o a boca.

- Devo me desculpar por me aproveitar de você enquanto dormia. Foi mal de minha parte quando havia assuntos sem resolver entre nós. Mas você é muito formosa, Tempest. Perdi o controle.

As pálpebras dela se elevaram, revelando os olhos verdes que ardiam de fúria para ele. O empurrou, com a palma da mão golpeando com força seu peito. Estava tão surpreso por sua reação que se obrigou a se mover, fingir que sentia o empurrão. O calor aumentou nele, numa onda de desejo tão forte que quase beijou a boca zangada dela.

- É muito modesto, Darius. Nem pense que pode me enganar com uma história como essa. Você não perde o controle. Sabe exatamente o que está fazendo. Quer ter sexo, então o faz. E eu sou tão tola que deixo, como uma dessas estúpidas heroínas das novelas. - Notou que não havia lhe movido com seu empurrão e isso aumentou sua zanga.

- Queria te fazer amor. – Corrigiu ele, sua voz aveludada.

Só o som de sua voz enviava uma rajada de calor em sua corrente sangüínea. Requereu-lhe um tremendo esforço se afastar da ardente intensidade dos olhos dele. E Deus teria que salvá-la se olhasse outra vez para a boca perfeita. Tudo acrescentou combustível ao fogo.

- Acha que pode me seduzir Darius, mas não funcionará. Eu não gosto muito de mim nestes momentos e sei que tudo foi tua culpa, mas me deixe te dizer antes que infle muito seu ego, que não te respeito nem de perto tanto como te respeitava ontem. - Fez uma pausa. - Se é que foi ontem.

- Pode se lavar no charco. – Ele tentou não converter numa ordem. Seu corpo parecia responder ao mínimo toque dela. Não atrevia a começar nada com os olhos verdes ardendo com fogo e o cabelo vermelho faiscando em chamas.

-Está me dando sua permissão? - Perguntou ela, sarcasticamente.

Inclinou a cabeça e sua boca encontrou a dela e saboreou o cálido mel, mesmo em meio a seu aborrecimento, que o tocava sempre no coração.

- Nem me surpreende que sempre se meta em problemas. – Murmurou e seu beijo deslizou sobre os lábios e desceu para encontrar o queixo, depois a garganta. A pulsação saltava sob seus lábios, aumentando sua fome. Veio de nenhuma parte, afligindo-o com a mesma rapidez e intensidade enquanto seu corpo se endurecia, urgindo-lhe a tomá-la outra vez.

Tempest se afastou, com seus olhos esmeralda cautelosos, uma vez mais. Ele era forte, seu poder sobressaltava, enquanto ela não tinha nenhum controle absolutamente sobre a situação. Era sua cativa, estava escondida onde ele a manteria por todo o tempo que quisesse. A idéia não lhe tinha ocorrido até esse momento e lhe roubou a cor da face instantaneamente.

- Darius? - O nome surgiu estrangulado, numa súplica para que a tranqüilizasse.

Ele tocou-lhe a mente, encontrando o medo facilmente. Seu braço a envolveu. - - Logo que tome seu banho, iremos à superfície. Preciso me alimentar. Você necessita de comida.

O alívio foi tremendo e ela acreditou na pureza da voz dele. Apesar de estar furiosa com ele, agarrou-se a ele por um momento, esperando que seu coração deixasse de bater tão violentamente.

- Darius. - Confiou-lhe. - Realmente me dá medo estar aqui embaixo.

Darius apertou seu abraço, colando o corpo esbelto ao seu. Não conhecia o significado real da palavra medo, até que ela havia entrado em sua erma existência. Ela havia trazido essa definição para ele. Temia perdê-la, temia que alguém ou algo pudesse fazer mal. O temor o elevava ao limite e o tornava perigoso, como os felinos um seu mais imprevisível estado de ânimo.

- Todas estas são diferenças menores nas quais podemos trabalhar, Tempest, - Assegurou-lhe. - Nenhum obstáculo entre nós é insuperável.

Ela respirou fundo.

- Concordo, Darius. Estou totalmente a favor. Mas não me controle. Eu gosto de minha liberdade. Eu sou assim.

- O que é minha outra metade, como eu a tua. - Disse ele.

Ela saiu de seus braços e lhe voltou às costas, afastando-se dele para não sucumbir ao desejo de lhe chutar. Ele era tão arrogante, cuspindo suas tolices do Velho Mundo, que desejava atirá-lo no charco e vê-lo perder sua magnificência e essa frieza, tão irritantes.

Darius ocultou seu sorriso. Não podia evitar dizer as coisas somente para provocá-la. Gostava de observar os olhos verdes brilhando como pedras preciosas, o resplendor de fogo que inadvertidamente deixava exposta sua natureza profundamente apaixonada, igual a seu gênio.

Tempest entrou no charco e achou a água clara sobre sua pele mais erótica do que gostaria. Sabia que os olhos negros ardiam sobre ela enquanto nadava e algo feminino e selvagem pareceu apropriar-se dela. Enxaguou o cabelo lentamente, voltando-se para lhe proporcionar uma boa vista e que a água acariciasse a cintura e caisse sobre os seios expostos. Fez-lhe gestos. Zombando e brincando com ele.

Com a acuidade auditiva incrementada, captou o juramento dele. Um sorriso curvou a suavidade de seus lábios e toda fúria desapareceu quando deu uma olhada no corpo masculino que a exigia, com a ereção impossível de esconder. Deliberadamente se inclinou, enxaguando o cabelo pela segunda vez, dando-lhe uma boa visão da curva dos seus quadris e de suas nádegas.Ele merecia sofrer um pouquinho e ela estava adorando provocá-lo.

Pequena bruxa ruiva. Ela estava lhe enlouquecendo deliberadamente. Sabia. Também sabia que ela estava se divertindo, recuperando a sensação de controle e poder. Darius deixou escapar um gemido baixo e rouco, de frustração. A resposta dela foi uma risada afogada, apressadamente apagada pela água. Pequena atentada. Todo homem tinha um limite. Em qualquer caso, a fome estava turvando seu bom julgamento, e nada sabia de como que conseguia de seus eróticos encontros. Ainda assim, não podia confrontar tomar muito sangue dela. Substitui-la com o dele era perigoso, alterava-a de forma da qual não estava seguro. As poucas vezes através dos séculos nas quais havia encontrado mulheres humanas convertidas, elas se converteram em vampiras e perdido à razão, alimentando-se de crianças. Viu-se forçado às destruí-las.

A idéia o aterrorizava. O que aconteceria de alguma forma, se levasse Tempest ao mesmo limite? Suas mentes estavam continuamente procurando o contato um do outro. Podia tê-la exposto ao perigo? Teria Julian resposta para isto? Orgulhoso como era, teria que perguntar ao companheiro de Desari sobre seu conhecimento neste assunto. O orgulho não significava nada se Tempest pudesse estar em perigo.

Voltou a fitá-la novamente. Ela era deliciosa. Tudo nela o afetava, tirando a luz sentimentos intensos, fossem protetores, sexuais ou emocionais. Encontrou-se fascinado pela linha de sua garganta, por sua cintura, pelas curvas de seus seios e seu traseiro.

Tempest torceu o cabelo cuidadosamente e saiu do charco. Estava a poucos pés de Darius antes que farejasse a rouca chamada do corpo dele, de que sentisse o calor que emanava de sua pele. Sorriu-lhe, num zombeteiro desafio, ante seu óbvio desconforto.

- Está com algum problema? - Brincou-se em voz alta.

Ele era magnífico. Não lhe dirigiu nenhuma outra palavra. E a assombrou poder provocar tal reação numa criatura tão poderosa e controlada como Darius. O ato de poder lhe fazer perder o controle a desconcertava, embora a excitasse. Era como saltar sobre as costas de um tigre, com sua vida por um fio.

Darius esperou até que ela passou a seu lado antes de se estender para reclamar o que era dele. Simplesmente lhe colocou os braços para trás, depois a moveu para frente colocando suas mãos sobre a superfície plaina de uma rocha. Logo seu corpo prendeu o dela, encostando-se agressivamente contra o traseiro arredondado, enquanto seus dedos curiosos se asseguravam de que ela estava pronta para ele, por seu próprio desejo. Segurou-lhe o quadril firmemente e se introduziu no sexo apertado e escorregadio. Ela estava escorregadia e quente, esperando-o. Darius se permitiu sentir o natural instinto dominante dos homens de sua raça. Seus dentes a encontraram e a imobilizaram enquanto a penetrava com fortes e seguras investidas.

Tempest sentiu a doce rajada de fogo consumindo-a, a força das mãos que seguravam seu quadril, seu membro rijo entrando nela, retirando-se e voltando a entrar em seu corpo. A sensação da boca dele sobre sua pele, o calor branco quando seus dentes se enterraram profundamente e a sujeitou em posição total. Uma parte dela se sentia intensamente vulnerável, mas ele ajustou sua posição para se acomodar em seu corpo e todo o tempo o fogo aumentava. Tempest podia sentir seu corpo arrepiando-se, começando experimentar as incirveis sensações que marcavam a chegada do êxtase. Não desejava que acabasse logo, rápido. Desejava este momento com ele, temendo que nunca acontecesse novamente, quando voltassem para seu mundo, o mundo que conhecia e ao qual pertencia. Ele era muito. Muito fogo e muitos sentimentos.

- Darius. - Gemeu seu nome com um suspiro, entre a agonia e o êxtase.

- Sou Darius. - Grunhiu ele contra sua pele. – E você é minha. - Em algum lugar em seu coração sabia que ela ainda pensava neles, separados. Que ele não ficaria com ela, que ela poderia dar meia volta e partir, que partiria a qualquer momento. Desejava-lhe embora a aterrorizasse precisar dele, ser parte dele. Que não houvesse Darius sem Tempest, nem Tempest sem Darius. Ele, por outro lado, aceitara isso quase do primeiro momento que pousou seus olhos nela. Seu corpo se inchou, ardente e escorregadio, aço aveludado e ficou imóvel, desejando prolongar o momento, desejando levá-la ao ponto máximo.

Ele desejava ouvir os pequenos ruídos suaves que ela fazia com a garganta. Gemidos que lhe fundiam o coração e enviava flechas que atravessavam sua alma. Esses pequenos gemidos que o deixavam louco. Em sua boca estava o delicioso sabor dela e contra sua pele estava a sensação da dela, nua e suave. Vulnerável, ela era tudo para ele. Saboreou o momento, prolongando-o, elevando-se mais e mais alto até que o corpo dela se apertou a seu redor, espremendo sua essência, extraindo uma explosão de calor e chamas, numa tormenta de fogo, de prazer estático que os consumiu.

A respiração dela chegava em pequenos gemidos e ele teve que sujeitá-la para evitar que suas pernas trêmulas cedessem. Voltou à cabeça para fitá-la. Seus olhos brilhavam como jóias.

- Não sabia que tudo pudesse ser assim, Darius. É incrível. – ela disse com sinceridade. Tinha lido livros... Quem não? Vivera nas ruas, crescera rodeada de prostitutas. Naturalmente fizera umas poucas perguntas. Ninguém havia lhe descrito nada como as sensações que Darius lhe provocava. A mecânica, possivelmente, mas não a beleza e a paixão.

- Somos nós. Nós dois juntos. - Explicou ele pacientemente, desejando que ela compreendesse. Tempest estava tão programada para viver sozinha, para viver uma vida solitária, que sua mente se negava a compreender o verdadeiro significado de sua união.

- Não se sente desta forma quando faz amor com outras mulheres? – Ela perguntou, lutando para acreditar que um homem tão viril, um homem que para amar com tanta freqüência e tão vigorosamente como Darius, não tivera centenas de amantes no passado. Como podia alguma mulher fazer frente a suas demandas, lhe satisfazer? Não tinha nenhuma experiência real. Como podia lhe manter feliz?

Ele se encontrou franzindo o cenho enquanto lia os pensamentos dela. Darius a deslizou em seus braços e se dirigiu de volta ao charco uma vez mais.

- Você satisfaz cada uma de minhas necessidades. - Assinalou. - E me satisfaz perfeitamente. Não pode haver nenhuma outra mulher, Tempest. Pode tocar minha mente com a tua. Não posso te mentir. Leia meus pensamentos. Digo a verdade. Só você está em meu coração. Seu corpo é o único que meu corpo aceitará. Nunca haverá outra. É para sempre.

- Eu me tornarei mais velha e morrerei, Darius. – Assinalou, ela. – Em outros cem anos encontrará alguém mais. - Riu brandamente, ante seu próprio ego. - Preste atenção em que te dei abundante tempo para se lamentar por mim.

- Coloque os braços ao redor de meu pescoço. Olhe-me. - Ordenou ele, desejando sua completa atenção. – Amo você, Tempest. E nenhuma outra mulher. Não é o amor dos humanos, é mais envolvente e violento, embora mais puro e apreciado.

Ela sacudiu a cabeça.

- Não me conhece o suficiente para me amar realmente. Sente-se atraído sexualmente por mim, isso é tudo. – Ela soava desesperada mesmo a seus próprios ouvidos.

- estive no interior de sua mente, incontáveis vezes Tempest. Sei tudo de ti. Cada lembrança de sua infância, boa e má. Conheço seus pensamentos secretos, pensamentos que outros nunca compartilham. Sei as coisas que você gosta. Conheço suas forças e o que considera suas debilidades. Sei mais de ti no tempo que passamos juntos do que qualquer homem poderia saber em toda uma vida. Amo você completamente.

Suas mãos se moviam para lavar a evidência do ato de amor compartilhado, com seus dedos consoladores e gentis.

- Sei que acha que sou o homem mais sexy que conheceste. Acha que sou bonito. Adora o som de minha voz. Particularmente gosta de minha boca e meus olhos e da forma em que a olho. - Seu olhar negro se moveu sobre a face dela, seu débil humor vacilou enquanto continuava. - Teme meus poderes, embora os aceita assim como minhas diferenças, com surpreendente facilidade. Faço-a se sentir a salvo e protegida e você teme essa sensação porque não confia em semelhante conceito. Não quer te prender a mim completamente porque não confia em poder se sujeitar a um homem tão poderoso como eu e não pode se permitir a dor de me perder.

Ela estava tentando liberar os braços, mas a Darius sustentava firmemente, então o olhou fixamente.

- Enquanto inspecionava o interior de minha mente, descobriu o que desejo te fazer a metade do tempo?

A boca dele se suavizou com zombeteiroa diversão.

- Quer dizer quando não está desejando meu corpo dentro do teu?

Furiosa, ela assentiu.

- Como agora, por exemplo.

A palma da mão de lhe afastou mechas úmidas de cabelo da frente. Seus olhos ardiam nos dela.

- Tem assombrosa inclinação à violência. – Comentou, ele.

- Estou começando a pensar que a violência é a única forma de te dirigir. - Tempest inseriu uma mão entre si mesmo e o peito dele e firmemente incrementou a pressão até que perdeu as forças. Se ele não notava os sutis indícios para deixá-la ir, recorreria à violência e então se lamentaria. Uma luta só poderia inflar seu ego masculino ainda mais. Olhou-o novamente, esperando lhe congelar.

- Não acredito no amor. É um mito. A gente o usa quando quer. Não existe tal coisa. É simplesmente atração física.

- Realmente acredita na tolice que cospe? Eu sou a escuridão. Você a luz. Sou um predador. Você guarda compaixão e bondade em seu interior. E ainda assim eu devo te ensinar o que é amor?

- Seu ego se mostra novamente. - Declarou ela, com uma débil arrogância na voz. - Darius, não é necessário que pensemos ou acreditamos nas mesmas coisas. Não tenho que ver tudo a seu modo.

Algo profundo, escuro e aterrador flamejou nas profundezas dos olhos dele e Tempest conteve o fôlego. Ele piscou e a ilusão se foi, deixando-a perguntando-se se tinha visto só as chamas das velas refletidas nos olhos dele.

- Tem roupa aí. Vista-se, Tempest. Devo me alimentar.

No momento em que ele pronunciou as palavras, ela foi consciente de que o coração lhe pulsava com força. Soava excessivamente forte a seus ouvidos, como o retumbar de um tambor. Pior ainda, podia ouvir os batimentos do coração dele. A água gotejava das paredes também, quase ensurdecia, considerando que antes dificilmente notaria. E ouvia algo mais... Um som ameaçador longínquo e agudo que imaginava ser o que um grande número de morcegos poderia fazer.

Tempest respirou e seus dentes morderam nervosamente o lábio inferior. Não gostava que Darius usasse a palavra alimentar. Ela não gostava do fato de que subitamente se tornara tão estranhamente aguda de ouvido. O que significava tudo isso? Ele a mordera várias vezes. Podia infectá-la para que se tornasse uma criatura semelhante? Lentamente vestiu as roupas como ele tinha pedido... Algo que tampouco queria examinar muito de perto. Não era sua roupa. De onde tinham vindo?

- Está se aprofundando muito desta vez, Rusti. - Murmurou em voz alta.

Darius estava a seu lado, imaculado, elegante e poderoso.

Revolveu-lhe o cabelo afetuosamente.

- Deixe de falar sozinha.

- Eu sempre falo comigo mesma.

- Já não está sozinha. Tem a mim. Então não há necessidade de continuar com este hábito. Está preparada? - Seus olhos negros vagaram pela pálida face dela, instalando-se por um momento sobre a boca trêmula. Divertia-lhe saber que periodicamente ela se assustasse com suas idéias e ansiedades. Assombrava-o que não estivesse sempre com medo dele, que aceitasse suas diferenças, da mesma forma em que aceitava as diferenças de pele, cor ou religião. Da mesma forma em que aceitava os animais.

Tempest ergueu a mão inesperadamente e tomou a dele.

- Embora seja o ser mais arrogante que jamais encontrei, obrigada pela última noite. Foi linda, Darius.

Era a última coisa que esperava e o comoveu como nada mais podia. Voltou à cabeça longe dela para que ela não pudesse ver o brilho das lágrimas que subitamente tocou seus olhos. Era um pequeno milagre. Não se acreditava capaz de chorar embora desejasse chorar pelo agradecimento dela. Apesar de estar zangada com ele, de temer seus poderes e o lugar em que estavam, a noite que passaram juntos tinha significado o suficiente para ela para que tivesse pensado em agradecer-lhe.

Enquanto a levava de volta à superfície da montanha compreendeu que era a primeira vez que alguém lhe agradecia por alguma coisa. Seu rol de protetor da família tinha ficado estabelecido há muito e já se dava como obvio. Esta jovem, tão delicada embora valente, o fazia recordar a razão pela que tinha escolhido o papel de e protetor.

 

A noite era a coisa mais incrível que Tempest já tinha visto. Estava limpa e ligeiramente fresca e sobre sua cabeça, milhares de diminutas estrelas tentavam competir em brilho umas com as outras. Inalou a essência de pinheiro. Uma ligeira brisa levou até ela o odor de flores silvestres. A neblina da cascata limpava o ar a seu redor. Quis correr descalça através do bosque e celebrar a beleza da natureza. Durante um momento esqueceu até de Darius enquanto levantava os braços para a lua, numa silenciosa oferenda de alegria.

Darius observou seu rosto, sentiu a felicidade que a consumia. Tempest se concentrava em tudo o que fazia a cada momento, tomando-o em mente e corpo, desfrutando-o com plenitude. Parecia saber como viver realmente. Era porque tinha tido tão pouca alegria em sua vida? Porque tinha tido que lutar tão duro para sobreviver? Tocou sua mente, numa sombra silenciosa e vigilante escondida na retaguarda, assim poderia compartilhar a intensidade do momento com ela.

E o fez. Viu tudo como ela via. Cada detalhe único e vívido de admiração. A deliciosa beleza das folhas banhadas pela luz prateada. As gotas individuais de umidade cintilando como diamantes ao redor da cascata. O prisma de cor fluindo da espumosa água. Os morcegos giravam e se lançavam para inumeráveis insetos. Darius podia inclusive ver a si mesmo, alto e poderoso, intimidante e intensamente masculino. Seu cabelo longo flutuando sobre os ombros e sua boca era... Deteve-se com um sorriso nos lábios. Definitivamente Tempest gostava de sua boca.

Tempest lhe golpeou com força no peito.

- Tire esse sorriso presumido de sua face. Sei exatamente o que está pensando.

A mão dele pousou sobre as delas e apertou-as contra o próprio peito.

- Vejo que não tenta negar.

Os olhos verdes faiscaram com um desafio zombeteiro.

- por que deveria? Tenho bom gosto. Quase todo o tempo. - Adicionou com mordacidade.

Ele grunhiu, um som que pretendia intimidá-la, mas ela sorriu.

- Calma, menino. Qualquer um com sua arrogância pode agüentar uma bronquinha.

Ele levou a mão dela aos lábios e mordiscou os dedos ameaçadoramente, ela riu mas logo mudou para um brusco gritinho de alarme.

- Não conte com isso. - Advertiu ele, seus dentes brancos brilharam como os de um predador. - Sou como qualquer homem. Espero que a mulher que amo me adore e acredite que sou perfeito.

Ela soltou um gemido nada elegante.

- Terá que se esmerar muito para isso.

Os olhos negros dele, tão exigentes, ardiam sobre sua face.

- Não acredito que seja para tanto, céu.

- Busque um pouco de comida. Temos que nos encontrar com os outros. - Disse Tempest, rapidamente. Ele não podia olhá-la dessa forma. Simplesmente não podia.

- Se vou, o que fará você por mim? - Propôs ele, esfregando os dedos dela contra seu queixo escurecido. A sensação enviou fogo através de seu sangue.

- Serei uma boa garota e esperarei por você aqui mesmo. –Ela o enfrentou. - - Não se preocupe tanto, Darius. Na realidade não sou do tipo aventureiro.

Ele gemeu ante tão flagrante mentira.

- Meu coração não poderia suportar se fosse algo mais aventureira. - Seus olhos negros a atravessaram. - Me obedeça, Tempest. Não quero voltar e te encontrar encarrapitada em outro escarpado.

Ela ergueu os olhos para o alto.

- Em que problema posso me meter aqui? Não há ninguém a várias milhas em volta. De verdade Darius, você está se tornando completamente paranóico. – Ela avançou a grandes passos para uma enorme pedra, no alto. – Sentarei aqui e contemplarei a natureza até que volte.

- A outra alternativa que tenho é te prender a uma árvore. - Considerou ele com seriedade.

- Tente. - Desafiou ela. seus olhos verdes cuspiam fogo.

- Não me tente. - Devolveu ele, sério. E examinou pedra por pedra a sua volta. Com Tempest, tudo era possível. Uma serpente sob a rocha, um cartucho de dinamite explodindo.

Tempest riu.

- Vá logo. Não tem nem idéia do quanto está pálido? Temo que em qualquer momento decidirá que sou seu aperitivo da meia-noite. – Ela disse enquanto balançava uma perna cruzada para frente e para trás, fingindo indiferença, desejando poder retirar as palavras. Não queria lhe dar nenhuma idéia. - Tem idéia do quanto realmente extravagante é tudo isto?

Ele se abateu sobre ela, alto e enormemente forte.

- Só sei que será melhor que esteja sentada aqui quando voltar. – Ele converteu numa ordem. - Nada de agrados desta vez. - Disse entre dentes para lhe mostrar que falava a sério.

Tempest lhe sorriu, toda inocência.

- Não posso pensar no que mais poderia fazer.

Ele beijou-a porque estava tão diabolicamente tentadora que pensou que poderia incinerar-se se não a beijasse. Sua boca era incrivelmente suave, tal mistura de doce fogo e mel ardente que teve problemas para se afastar. A fome pulsava em seu interior estendendo-se, que ele temia se colocar contra a garganta dela e procurar o seu sabor, rico e quente, fluindo até seu próprio corpo. Sentiu como suas presas se alongavam ante a idéia e rapidamente se afastou. Um sonho inquieto e uma longa noite de atividades sexuais tinham esgotado seu controle. Precisava se alimentar.

Um momento antes Darius estava beijando-a como se nunca a fosse deixar e no seguinte, simplesmente desapareceu. Em seu lugar ficou um rastro de vaporosa névoa, afastando-se dela para as profundezas dos bosques. Tempest observou fenômeno similar à cauda de um cometa quase ociosamente, sem estar segura de que era realmente Darius ou algum efeito estranho criado pela atmosfera sublime da cascata. Era formoso, um prisma de cores e luzes ondeando como incontáveis vaga-lumes através das árvores. Perguntou-se se ele tinha cheirado a sua presa e estremeceu ante a escolha de palavras que tinham ido a sua mente.

Inalou então, tomando as essências da noite em seus pulmões. Eram assombrosas as histórias que os aromas podiam proporcionar. Darius tinha razão. Era somente uma questão de manter-se absolutamente imóvel e ouvir como um só ser. Encontrando-se. As árvores, a água, os morcegos, os animais. Aplaudiu a pedra, satisfeita por senti-la tão sólida. Sentia-se como se Darius a tivesse despertado a levado-a às vísceras da terra para redescobrir a beleza da natureza.

Algo desafinava ligeiramente inserindo-se em seu mundo mágico, mas foi tão lento, tão insidioso, que apenas o notou. Tudo a seu redor era tão excitante, vendo com novos olhos, um autêntico despertar. A cor da água particularmente captou sua fascinação, a forma em que o vento jogava com a superfície, empurrando e dando forma à espuma. Mas a fastidiosa intrusão era persistente, uma nota triste, uma briga, como se algo não encaixasse com a correção de tudo o que estava vendo.

Tempest franziu o cenho e se esfregou a testa. Começou a doer, pulsando e piorando se ficasse quieta. Ficou em pé, mudando seu peso de um pé a outro, e cuidadosamente avaliou os arredores, tentando ver sem as vívidas cores e detalhes, perceber a realidade a seu redor.

Seus pés começaram a doer e ela tirou os sapatos e se ajoelhou no chão. Mas a dor não procedia de uma ferida. Estava profundamente em seus músculos e ela sabia que não era sua dor; estava sentindo o eco de algo ou de alguém ferido. Uma súbita imobilidade pareceu cair sobre o bosque, aquietando a fauna selvagem. Ouviu o roçar de asas e pensou que entendia o súbito silêncio. Uma coruja de caça manteria ratos e pequenos animais escondidos em suas tocas. Embora os morcegos permanecessem ocupados com os insetos sobre sua cabeça. Pensativamente se voltou a colocar os sapatos e se endireitou. Um pequeno rastro de veado a conduziu ao interior de uma região de troncos dispersos. Vagou entre eles, algo a empurrava nessa direção. Não iria longe, só queria encontrar a nota discordante que se intrometia na beleza da natureza. A sensação persistiu inclusive enquanto seguia o débil rastro. Algumas vezes desembocava em matagais e arbustos. Sentiu a presença de coelhos escondidos sob os espinheiros. Permaneciam imóveis, só sacudindo os bigodes.

A nova intensidade das cores da natureza e os detalhes começaram a sobrepor-se à necessidade de encontrar o som amortecido que se penetrava em seu cérebro. Encontrou-se olhando o céu iluminado e voltando-se ocasionalmente para admirar o bosque. As samambaias se tornaram mais altas quando se internou mais no interior. O musgo cobria os troncos das árvores que se elevavam para o céu. Tocou a casca de uma delas com respeito ante a complexa mistura de texturas.

Ocorreu-lhe que suas sensações se viam aumentadas por alguma droga que alterava a mente. Separou-se do rastro durante um momento para poder estudar uma formação rochosa incomum. As pedras estavam cobertas por um lado com um líquen e diminutas formas de vida, minúsculos insetos criando seu próprio mundo. Tempest levantou o olhar ao céu novamente, assombrada de poder ver tão claramente inclusive entre as profundas sombras das árvores.

Estava-se internando na espessura do bosque, onde estava muito mais escuro, embora pudesse ver bastante bem, sua visão era tão intensa como sua audição. Voltou-se a concentrar em seu recém encontrado sentido interior. Seu estômago estava ligeiramente alterado. Sentia-se cheia e a idéia de comida a fazia sentir-se levemente doente, embora estivesse faminta. Foi consciente do som do riacho borbulhando alegremente para a cascata. Inclinou-se para a água, através dos arbustos.

Quando se ajoelhou no beira do arroio, foi consciente da nota discordante novamente. Ouvia-se mais alto desta vez, sacudindo-a, fazendo que lhe doesse a cabeça. Em algum lugar perto dali havia algo que não estava bem. Algo que sentia dor.

Inundou a mão na água e a levou a sua boca desidratada. Sua mente se voltou para a de Darius, buscando-o automaticamente. Necessitava do contato. Tempest não sabia por que, mas se não o alcançasse, não o encontrasse, por um momento, sabia que estaria aterrorizada. Precisava dele.

A idéia de a alarmava, mas, infalivelmente, sua mente o tinha encontrado o. Foi o mais ligeiro dos toques, não foi mais que uma pálida sombra deslizando-se dentro da mente dele, buscando o conforto de saber que estava vivo e bem, de que estava saciando sua fome voraz. Pulsou-lhe o coração durante um momento. Retirou-se imediatamente, irritada consigo mesma por lhe necessitar, irritada por seu primeiro pensamento ter sido perguntar se ele estava procurando sustento de uma mulher. Deveria estar preocupada com sua presa, não com ciúmes dela, pelo menos momentaneamente.

Tempest piscou e se voltou a se concentrar. Onde estava? Como tinha chegado ali? Nada parecia familiar. Onde estava o rastro dos veados? Seguiria-o de volta à pedra onde tinha prometido esperar.

- Tornaste a fazer, Rusti. – Censurou-se, preocupada com que Darius pudesse poder tocar sua mente e sentir sua confusão. Lentamente se endireitou e deu um bom olhar ao redor.

Não via o rastro por nenhuma parte.

- Por que não tem nenhum sentido da direção? - Murmurou para si mesma, sem desejar que Darius recolhesse seus pensamentos não expressos. Não ia sair viva desta a menos que encontrasse o caminho de volta antes que ele retornasse. Decidiu seguir a corrente. Sabia que terminava na cascata a vários pés sobre o pequeno claro que dominava os escarpados. Se saísse sobre a cascata, poderia descer a clareira. Tudo tinha perfeito sentido.

Soltando um suspiro de alívio, começou a andar energicamente pela borda do enrolo que corria rapidamente. O problema se fez patente em seguida. A corrente voltava atrás em vários lugares, parecia correr sem rumo a traves das partes mais espessas do bosque. Os matagais rasgaram seu jeans e a vegetação que a rodeava pareceu surgir ameaçadoramente com proporções de uma selva.

Enquanto avançava firmemente para frente, a nota discordante que a tinha conduzido longe em primeiro lugar pareceu incrementar-se. Sabia que estava perto do que quer que fosse aquilo.

Um animal que sofria. Soube com súbita claridade. Um animal grande e estava sofrendo terrivelmente. Estava ferido, a laceração infectada e a pata doía quando pressionava sobre a terra ao tentar caminhar. Bramou ruidosamente e as vibrações no ar noturno encontraram nela um receptor.

Não era que o animal estivesse fazendo algum som real, mas que Tempest tivesse sido sempre capaz de comunicar-se com os eles e podia ouvir, em sua mente, um silencioso grito de dor. Tentou ignorá-lo, inclusive deu vários passos mais com o passar do banco de areia do riacho, mas o nível de angústia do animal era assustador.

- Simplesmente não posso deixá-lo assim. - Argumentou. - Pode estar preso numa armadilha. Um daquelas horríveis armadilhas de aço que amassavam a pata do animal e lhe faziam sofrer uma morte horrenda. Seria tão culpada como quem colocou a estúpida armadilha. - Já estava voltando atrás, seguindo decididamente as vibrações de sua cabeça.

Não teve advertência real de estar virtualmente sobre o animal até que afastou alguns arbustos e viu um enorme gato montês sobre ela, numa cornija rochosa. Seus olhos amarelos olhavam para ela com malevolência. O gato era muito musculoso, um pouco magro nos flancos e tão sobressaltado pela fome como pela dor. Por que não o notara antes?

Tempest afundou os dentes no lábio inferior com agitação. Certo, aí estava. Era o cúmulo. Ia estar em muitos mais problemas quando Darius se inteirasse disto. O gato montês a olhava fixamente, congelado-a em seu lugar. Sua cauda ondeava de um lado a outro. Tempest pensou em fugir, mas sabia que o animal definitivamente a atacaria se fosse tão estúpida. Estendeu-se para a mente do felino.

Fome e fúria. O gato montês estava dolorido e de humor caprichoso. Tinha algo na pata. Algo que se enterrava e doía cada vez que tentava caçar. O felino mordera a fim de tirá-lo mas não tinha tido êxito. Não comia há vários dias e a fome estava lhe cobrando. E agora estava olhando para uma presa fácil com óbvia satisfação.

Tempest tentou apaziguar o gato montês, tentou enviar a impressão de que o ajudaria. Poderia tirar o doloroso espinho, poderia lhe proporcionar carne fresca. Os olhos amarelos continuaram olhando para ela, num estranho presságio de morte. Tempest obrigou sua mente a se afastar da possibilidade de um ataque e continuar enviando impressões de ajuda ao felino. Manteve o medo longe de sua mente para que o animal não saltasse sobre ela.

O gato montês sacudiu a cabeça, desconcertado. Tempest sentiu a confusão, uma necessidade de se alimentar, embora o animal a achasse estranha, pouco familiar e desconcertante. Precisava tirar o espinho e Tempest se concentrou nisso. Imagens do espinho tirado, da pata curada. Se não ajudasse à criatura, seria incapaz de caçar e pereceria. O gato montês era jovem, uma fêmea e poderia reproduzir. Tempest sabia que o felino era extremamente perigoso. A fome e a dor poderiam forçar ao animal a tomar uma resolução. Ela sempre conseguia controlar cães grandes. Uma vez um tigre num zoológico se uniu a ela.

Ficou em pé tranqüilamente, observando o animal de perto procurando sinais de aceitação. Tinha uma paciência infinita. Seu dom era divino e acreditava nele implicitamente. Os outros podiam chamá-la de monstro, mas sabia que podia ajudar os animais, realmente ajudá-los em ocasiões como esta. Falou tranqüilamente, confortando em sua mente, enviando imagens do espinho tirado, da pata sentindo-se muito melhor. Encheu-a com as imagens, mantendo o animal distraído.

A maior parte dos gatos eram curiosos por natureza e este não era diferente. Ela grunhiu baixinho, mas a resolução em sua mente de matar e de alimentar-se instantaneamente estava decaindo. Desejava que saísse o espinho, que desaparecesse a dor. Tempest aproveitou a vantagem, procurou expendir as imagens e vibrações mentais de boa vontade. O felino relaxou mais, os olhos amarelos se semicerrando, não mais fixos e implacáveis.

Tempest se permitiu respirar profundamente e aproximar-se cautelosamente, com o olhar sobre a pata ferida. Estava bastante machucada e infeccionada.

- Pobre pequena. - Cantarolou brandamente. - Precisamos tirar essa coisa daí. – Ela dizia enquanto formava imagens do animal aceitando que ela extraísse o espinho. - Pode doer, então acredito que deveríamos decidir que não perderá a cabeça e me comerá. A longo prazo, será melhor para você que simplesmente me deixe tirar o espinho. - Estava bastante perto agora, o bastante para tocar o animal.

A ferida era pior do que parecera a primeira vista, pois a infecção já se instalara. Era possível que não pudesse ajudar. Tempest suspirou. Não se renderia. Sempre havia uma possibilidade se pudesse tirar o objeto estranho profundamente encravado na pata e o felino poderia sobreviver. Era mais aceitável para ela, curioso que pudesse comunicar-se, entender a dor e a fome assustadora, no momento, que o desejo e a necessidade de alimentar-se.

Deliberadamente Tempest trocou seu enfoque, instintivamente sabia que quando o gato montês sentisse a intensa dor ao mover o objeto, poderia rasgar quem estivesse mais perto. Ampliou a sensação de curiosidade.

- Desafortunadamente, pequena, essa sou eu. Não acha que sou bastante interessante? Não viu muitas como eu pelos arredores, certo? - Cantarolou Tempest brandamente. Tomando um profundo fôlego, inclinou a cabeça para examinar a cruel ferida. A primeira vez que tentava à sorte afastando os olhos da cara do animal.

Terror. Puro e sem adulterar. Não havia nenhuma outra palavra para descrever a emoção. Darius podia sentir seu coração martelando tão forte que estava em perigo de explodir fora de seu peito. Tinha deixade Tempest sentada pacificamente sobre uma pedra na cascata. Por que esperara que ela ficasse ali quieta? No meio do terror jazia a compreensão de que não o tinha esperado realmente. Conhecia-a muito bem. Os problemas a seguiam em todas as partes. Não, era mais que isso. Buscava-os.

Fúria. Negra e terrível. Uma feroz onda de raiva ameaçava lhe consumir. Lutou por sufocá-la e permaneceu quieto, convertendo-se em parte da noite, como só ele podia fazer. Seu ardente e fixo olhar não abandonou o gato montês vigiando-o em busca do primeiro sinal de agressão. Sabia o quanto rápido que podia se mover um gato montês. Ferido, era inclusive mais perigoso. Poderia matá-lo de onde estava. Podia controlar o animal, mantê-lo indefeso enquanto ela trabalhava. Tinha opções. Era inclusive o bastante rápido para poder tirar Tempest do perigo antes que ela ou o felino soubessem sequer que estava perto. Não fez nenhuma dessas coisas. Darius ouviu a voz dela. Suave. Apaziguadora. O estilo trazia reminiscências do canto curador. Realmente ela estava falando com gato montês para que lhe permitisse ajudar.

Orgulho. Fluiu para ele, de nenhuma parte. Puro orgulho. Ela estava aterrorizada pela situação, igual se assustava de seu poder, de sua selvagem e indomável natureza. Embora estivesse decidida a salvar o animal. Darius estava em sua mente, uma sombra escura imóvel e quieta para não distraí-la, embora estivesse ali e a concentração dela era absoluta. Estava decidida a dar ao felino uma oportunidade de sobreviver.

Algo nele que não sabia que existia, algo longamente sepultado ou esquecido, fluiu para fora, forte e assustador. A emoção foi tão intensa que o sacudiu com a revelação. Amor. Se não a tinha amado antes, agora sabia que a amava demais.

Tinha passeado através de sua existência árida sem sentir realmente outra coisa que obrigação de proteger e preservar sua pequena família. Ela tinha lhe dado uma vida e um propósito mais profundo, uma alegre razão para percorrer o mundo, para existir. Admirava sua coragem enquanto jurava silenciosamente que ela nunca voltaria a lhe desobedecer, que nunca se colocaria outra vez em perigo desta maneira.

Admirava-a. A revelação o surpreendeu. Admirou a forma em que ela vivia, aceitando às pessoas como eram sem julgá-los, sem expectativas. Admirava sua tremenda coragem e seu senso de humor. Qual era a melhor forma de ajudá-la? Darius estudou a situação cuidadosamente. O puma estava definitivamente imprevisível, assustado, dolorido e faminto. Imediatamente Darius começou a somar sua força mental a de Tempest. Deu-lhe um controle adicional sobre a fera.

- Quando eu tirar o espinho Darius, pode liberar a pobre da infecção! - Apesar do fato de que estava sustentando um rígido controle sobre o animal, sua voz era suave mas firme na mente dele.

Deveria saber que ela sentiria sua presença imediatamente. O mais ligeiro toque atraía sua atenção. Estava sintonizada com ele agora, em mente e corpo, coração e alma. Ele os unira. Ela podia lhe encontrar muito mais facilmente que antes. E era sensível, muito mais que a maior parte dos humanos que tinham entrado em contato com ele. Ainda assim, mantinha a concentração sobre o animal ferido. Era assombrosa.

Ajudar um animal? Faria-o porque ela pedia, porque sabia que se não fisesse ela tentaria encontrar outra forma de curar o puma. - Não precisa de mim para isto. - Murmurou brandamente, compreendendo que era verdade. Ela era capaz de controlar à dolorida criatura enquanto trabalhava. Podia sentir sua força, sua determinação e era como a própria.

Tempest não olhou ao redor para ver Darius. Sabia instintivamente que ele estava ali. Um pequeno sorriso tocou seus lábios, revelando a pequena covinha intrigante que sempre o deixava louco. Podia sentir a força de sua vontade entrando em torrentes nela, dobrando seu controle. Deveria tê-la feito sentir menos confiança em si mesmo, mas Tempest sempre sabia quando tinha um animal na palma de sua mão. Este puma era receptivo e apoiou uma mão sobre a pata para deixar que se acostumasse a sua percepção.

Derramou sua tranqüilidade no interior do gato montês enquanto examinava a cruel ferida. O felino tremeu sob seus cuidados, sua pelagem se escureceu para uma cor marrom escura. Respirou pelo animal, por ambos, enquanto escavava em busca do ofensivo espinho. Estava profundamente na carne, toda a área estava machucada e com mau aspecto. Era mais difícil manter seu domínio sobre o puma enquanto segurava o espinho e começou a extraí-lo.

Darius vigiou o felino de perto, sua expressão e as imagens de sua mente. Queria sair dali, que terminasse a terrível dor, mas Tempest estava no comando. Ela tirou o grosso espinho, de uma boa polegada de comprimento e deixando um horroroso buraco, saindo da pata.

O puma sacudiu, uivou, mas permaneceu imóvel. Darius não pôde lhe ajudar. Embora soubesse que Tempest controlava tudo completamente, imobilizou o animal, capturando sua mente e sujeitando-a indefesa com seu controle implacável.

Tempest o olhou em seguida, mas não protestou. Podia sentir a necessidade incontrolável de Darius de protegê-la. Teria sido o mesmo que lhe pedir que apontasse uma arma para sua cabeça e a deixasse que se arrumasse. Ficou agradecida quando ele se concentrou na pata do puma e usou sua energia para extrair o veneno até que este saiu da horrenda ferida. Tempest o viu correr por baixo, pela pelagem do felino, para a terra.

- Agora retroceda, Tempest. - Exigiu Darius firmemente. Isto era tudo que seu coração podia suportar.

- Ela está muito faminta. Pode lhe encontrar alguma presa?

- Retroceda, Tempest. – Ele cuspiu as palavras, numa ordem imperiosa e crispada.

Tempest ergueu os olhos para o alto, com exasperação. Este homem ia enlouquecê-la. Afastou-se, retrocedendo contra vontade, lentamente, cuidando em não provocar o instinto do felino. - Tente não soar como o rei do castelo. É muito irritante.

Deslizou para o interior do arbusto e começou a caminhar lentamente ao longo de seu rastro para a parte alta da cascata. Darius estava convocando um velho gamo para o puma. O animal estava ferido, sua boca estava cheia de chagas, deixando-a incapaz de comer. Tempest alegrou-se de que ele tivesse encontrado um animal que estava sofrendo em vez de um animal jovem e são.

- aonde vai? - Darius se materializou a seu lado, seus passos largos se ralentizaram para compassar o dela. Seu corpo apenas a roçava, mas ela foi agudamente consciente dele.

- De volta à cascata. Aonde acreditava que ia?

Darius sacudiu a cabeça.

- Acredito que vou te conseguir uma bússola.

Tempest parou bruscamente, com um sorriso travesso.

- Nunca precisei de uma. Quer dizer, sei que a agulha aponta para o norte e tudo isso, mas o que adianta? Eu nunca sei onde está o norte.

Ele arqueou as sobrancelhas.

- Um mapa? - Ela estava já sacudindo a cabeça, com um amplo sorriso que lhe parava o coração. - Não pode ler um mapa? – Darius gemeu. - É obvio que não pode ler um mapa. No que estava pensando? - Sua mão encontrou o cotovelo dela. - Está se afastando da cascata, Tempest.

- Não pode ser. Estou seguindo o riacho. – Ela assinalou com um ar fracamente arrogante.

Uma vez mais ele arqueou uma sobrancelha e olhou a seu redor.

- O riacho?

Ela encolheu os ombros.

- Está por aqui em algum lugar.

Darius estalou em gargalhadas, seu braço lhe rodeou os ombros.

- É muito bom que me tenha para cuidar de você.

Os olhos verdes cintilaram para ele. As estrelas da noite pareciam estar presas neles, faiscando e reluzindo.

- Isso diz você.

Sua boca encontrou a dela, um pouco rude, um pouco terno, entre a risada e uma marca patente. Ela se fundiu no interior dele, aceitando suas emoções. Rodeou-lhe o pescoço com os braços e seu corpo, suave e flexível pressionou-se contra o dele.

Darius simplesmente a levantou, sua boca presa a dela.

- Devo te levar com os outros esta noite. Precisa de comida.

As palavras foram murmuradas na boca dela, a sensação foi cálida e sensual, embora Tempest não estivesse faminta.

Mas já podia sentir a mudança lhe sobressaltando. Começou primeiro em sua mente. Viu a vívida imagem. Roubava o fôlego, real, cada pequeno detalhe perfeito. Darius levantou a cabeça, rompendo o beijo contra vontade enquanto seu corpo começava a mudar de forma. Ela o observou-lhe com respeito reverencial, ainda assombrada de que ele pudesse realmente fazer tal coisa. Embora sua mente se fundisse a dele para que ela pudesse examinar suas emoções.

A sensação de liberdade era assustadora. As poderosas asas se estenderam, enormes. – Suba na minha costa.

Tempest sacudiu a cabeça, temendo lhe fazer mal.

- Darius, você é um pássaro. Sou muito pesada para que me leve.

- Nego-me a discutir contigo.

Ela captou uma ameaça não expressa. Estava em sua mente. Ele obrigá-la-ia a obedecer. Apesar do fato de que fosse um pássaro, Darius era tão poderoso como sempre.

- Você me lembra a um menino mimado, sempre tem que ser como quer. - Disparou indignada. Mas estava obedecendo-o, sem se atrever a lhe dar oportunidade de impor sua vontade sobre ela. Certas coisas não podia a aceitar. A concordância forçada era definitivamente uma delas.

A coruja era tremendamente forte. Podia sentir sua força sob as pernas. O mover das asas era gracioso, mas poderoso, as rajadas de vento quase a faziam cair para trás. O solo se afastou rápidamente quando a coruja acelerou o vôo. Tempest ofegou, o fôlego lhe estancou nos pulmões e seu coração quase se parou. As plumas eram suaves e o silêncio completo. Estava em outro mundo completamente distinto.

Tempest olhou para baixo, viu as copas das árvores e rapidamente fechou os olhos com força enquanto a coruja voava mais alto. Levou alguns minutos se lembrar de que precisava respirar. Várias respirações profundas a acalmaram o suficiente para que fosse capaz de olhar ao redor.

- Tudo está bem, Rusti. – ele disse.

- Não é real. Sabe que não é. É algum tipo de estranha fantasia que o rei do castelo te colocou na cabeça. Só isso. Nada mais.

- Todo mundo quer voar. Desfrute da alucinação.

Não podia ouvir suas próprias palavras. O vento as levava longe de forma que caíam no silêncio atrás deles.

- Ainda acha necessário conversar sozinha. Estou aqui. Pode falar comigo.

- Você não é real. Eu te criei.

A risada zombeteiroa lhe roçou as paredes da mente, enviando calor como lava fundida através de seu corpo.

- por que crie isso? Perguntou.

- Porque nenhum homem real teria seus olhos. Ou sua boca. E possivelmente nada possa ser tão arrogante e seguro de si mesmo como você.

- Tenho toda a razão para estar seguro de mim mesmo, pequena. – ele brincou.

A mofa masculina a fazia apertar os dentes.

- Alguma vez o depenaram? - Foi a melhor ameaça que pôde lhe ocorrer em tão pouco tempo. – Acho que deve ser extraordinariamente doloroso.

Sua gargalhada a fez sorrir. Sabia que não ele ria com freqüência. Era o homem mais sério que já encontrara, embora parecesse estar descobrindo seu senso de humor. Pelo menos com ela.

Notou, passado um tempo, que desfrutava da sensação de voar. À noite a envolvia, as estrelas enfeitavam o céu sobre suas cabeças. A lua tingia a paisagem de baixo com aguda definição. A sensação de liberdade era incrível. Relaxou mais, notando que se tornava leve, parte da coruja, parte de Darius.

Cobriram centenas de milhas, a força da coruja era enorme. O ar era fresco contra sua pele, à noite tachonada de jóias, uma paisagem perfeita para a revoada de sua vida. Sentia-se como se lhe tivessem dado um grandioso presente. Darius. Deixou escapar seu nome na noite, tomando-o em seu coração. Ele era mágico. Só por um momento se permitiu desejar que sua união durasse para sempre. Que fosse real. Um conto de fadas. Ele a fazia acreditar que podia ser possível.

Darius nunca abandonou realmente sua mente. Era muito mais seguro assim. Tempest, fora de sua vista, era mais perigoso. Sabia que ela podia se convencer da realidade de sua relação de um momento para outro. Dentro do corpo da coruja, sorriu, um pequeno, secreto e masculino sorriso. Ela não fazia idéia de seu poder. Essa era sua Tempest. Aceitava sua natureza, seus talentos especiais, mas não estava em sua natureza questionar as coisas que não entendia. Isso significava que nunca passaria por sua mente a idéia de que ele tivesse falando sério. Não podia conceber que a desejasse da forma em que afirmava. Que precisasse dela.

Sob deles, os vinhedos começaram a tomar forma. Tempest podia divisar as montanhas elevando-se majestosamente sob o rico vale verde. Um lago reluzia na distância, refletindo o brilho prateado da lua. A coruja pareceu tomar rumo para essa extensão de água, descendo em círculos, descendo para o amparo de um arvoredo de pinheiros. Parecia estar muito escuro sob as árvores, embora Tempest fosse capaz de ver mais claramente do que tinha sido possível na noite anterior.

Divisou o acampamento do grupo escondido pulcramente no interior das árvores. Estacionados ali estavam a enorme caravana, o caminhão e o carro esportivo vermelho. Seu coração bateu de forma inesperada. Pensou que era bastante tola sentir-se triste quando acabava de voar pelo céu sobre uma coruja. Poucas pessoas não deveriam desanimá-la, no mínimo.

- Não, céu, eles não devem te incomodar. Disse a você repetidas vezes que está sob meu amparo. Não entende que te protegerei com minha vida?

A voz de Darius era suave e tranqüilizadora em sua mente.

A coruja desceu e as asas se estenderam amplamente. Deu um pequeno salto, e esperou a que ela descesse. Tempest tocou as plumas ligeiramente, com pesar, uma última vez enquanto começavam a desaparecer. Logo apareceram músculos sob a pele. Sentiu a familiar onda de calor quando o braço de Darius lhe rodeou os ombros e seu espesso cabelo negro lhe acariciou a face.

- Esta gente é minha família, Tempest. - Sua voz era suave, hipnotizadora. - Isso os faz sua família.

Ela voltou à face para longe dele, fechando a mente a essa possibilidade. Seus enormes olhos buscaram rastros automaticamente, como se procurasse uma rota de fuga. Darius esticou os braços, guiando-a para o acampamento. A suave risada de Desari flutuou até eles, mas não conseguiu acalmar o selvagem batimento do coração de Tempest.

Enquanto entravam no círculo, Desari sorriu em boas vindas. Tempest notou que Julian estava perto, com a postura protetora de um companheiro.

- Rusti, estou tão contente de que esteja aqui. Não acreditará o que ocorreu. Alguém sabotou o caminhão. Acredito que a idéia era nos atrasar. Provavelmente foi um desses aborrecidos repórteres que sempre bisbilhotam ao redor ou inventam histórias descabeladas sobre nós.

O alívio de Tempest foi grande. Rusti podia encaixar no grupo bem mais facilmente como mecânico, que como a noiva de Darius.

- Noiva? - As sobrancelhas dele se arquearam. - Isso é o que acha que é? - A zombeteiroa risada masculina chegou até ela.

Olhou-o fixamente. - Não, isso é o que você acha que sou. Eu me conheço melhor. - Sua voz foi deliberadamente arrogante.

Darius estalou em gargalhadas. Sua família se voltou para ele, sobressaltados pelo estranho som. Ele os ignorou para se inclinar, com seu hálito quente contra a orelha de Tempest, falando brandamente embora fosse bem consciente de que os outros, com seus agudos sentidos, podiam ouvir-lhe perfeitamente.

- Quero que coma antes que faça alguma coisa. Pode dar uma olhada no caminhão depois.

Os olhos de Tempest cuspiram fogo para ele.

- Você pode golpear sua pequena cabeça de coruja na árvore mais próxima também. - Vaiou furiosa. - Por que acha que pode sempre me dar ordens?

Darius sorriu abertamente, nada arrependido.

- Porque sou bom nisso. - Seus olhos pousaram em Syndil. Ajude-me aqui. Ela deve comer.

Dayan parecia estar tendo um acesso de tosse. Desari e Julian riam abertamente. Syndil empurrou Barack fora de seu caminho, olhando-o de forma que o fez gemer em voz alta.

- Vamos, Rusti. Não preste a mínima atenção a estes homens. Pensam que podem nos dar ordens, mas na realidade é justamente o contrário. - Enquanto falava, ela continuava olhando mordazmente para Barack.

- Vamos, Syndil. – Suplicou, ele. - Não pode me reprovar um único engano para sempre. Supõe-se que é compassiva.

- Sempre que puder. - Disse ela docemente enquanto guiava Tempest para o ônibus.

Barack amaldiçoou, agachou e recolhendo uma pedra e lançou-a longe, cheio de pura frustração. A pedra incrustou-se até a metade no tronco de um pinheiro.

- Essa mulher é a criatura mais orgulhosa do mundo. - Disse a ninguém, em particular.

Darius avançou para Julian.

- Preciso de sua ajuda. - Disse formalmente, esmagando seu desgosto em fazer tal coisa. Tudo o que importava era a segurança de Tempest.

Julian assentiu e ficou em pé junto a seu cunhado.

- É óbvio, Darius. – Replicou ele, igualmente formal. - Somos uma família.

- encontrei mulheres humanas convertidas por vampiros. Haviam perdido a razão, alimentando-se de crianças humanas. Vi-me obrigado a destruir essas abominações. Agora temo estar colocando Tempest em semelhante perigo. Como mudaram essas mulheres? Sei que ela já está mudando. Sua audição e visão estão mais agudas e ela está tendo problemas para comer comida humana.

- Requer três intercâmbios de sangue converter uma mulher humana. Obviamente não completaste o ritual, pois é um processo muito doloroso. Se tal coisa acontecer, teria que enviá-la a dormir em seguida. É o mais seguro para que seu corpo se converta sem padecer muita dor.

- Perderia a razão? - Darius estava preocupado. Já a tinha colocado em perigo, intercambiando sangue duas vezes com ela. - Houve alguma vez em que uma mulher humana sobrevivesse intacta a tão dura experiência? - Não tinha a intenção de se arriscar, mas precisava da informação em caso de um desafortunado acidente.

- O Príncipe Mikhail, o líder de nossa gente, converteu com êxito sua companheira. Sua filha é a companheira de seu irmão mais velho, Gregori. Meu próprio irmão, meu irmão gêmeo, acidentalmente completou uma conversão começada por um vampiro. Alexandria é sua companheira. Se uma humana tiver habilidades psíquicas, parece ser capaz de atravessar a conversão por seu companheiro Cárpato. E Tempest inegavelmente é sua companheira.

- Quando você fala assim, parece ser. - Disse Darius. - Preocupa-me. Não gostaria de me arriscar a fazer mal a Tempest.

- Qual é a alternativa, Darius? - Perguntou Julian, amavelmente. - Ela te devolveu à luz. Se a perder, seria sua perdição. Sabe que nunca sobreviveria. Converteria-se em vampiro, o não-morto. Perderia sua alma.

- escolhi envelhecer e morrer com ela. - Anunciou Darius.

Julian captou o eco do gemido de sua companheira. Desari estava atordoada e entristecida pela comoção. Julian conteve seu próprio protesto ante tal decisão.

- Conhece o perigo no qual se encontra nossa raça. Somos muitos poucos para assegurar a continuação de nossa gente. Não podemos confrontar a perda de sequer um casal. E certamente não a um que envolva uma moça sadia e capaz de ter filhos.

Darius sacudiu a cabeça.

- Sei tão pouco de nossa raça, Julian.

- É necessário que cada homem dos Cárpatos encontre sua companheira. Se não puder, deve escolher enfrentar o amanhecer e terminar com sua vida antes que seja muito tarde e perca sua alma, convertendo-se no não-morto. Somos predadores, Darius. Sem uma companheira que dê significado e luz a nossa escuridão, que nos complete, converteremo-nos em vampiros. Mas são tão poucas as mulheres que sobrevivem à infância que a maior parte de nossos homens já estão se convertendo e devem ser destruidos. Antes de encontrar Desari, eu já estava afeito à idéia de terminar com minha vida. O Príncipe Mikhail, através de Gregori, enviou-me para adverti-los que estavam em perigo por causa da sociedade humana de caçadores de vampiros. É obvio, não tínhamos nem idéia de que vocês estavam ainda vivos depois do massacre em nossa terra natal. Pensamos que Desari era humana e a sociedade humana se equivocara. Mas quando vi cores em sua presença, soube que era minha companheira e que devia estar comigo.

- Então Dayan e Barack devem encontrar a suas companheiras logo ou estarão em perigo de se converterem, como eu estava. - Assinalou Darius pensativamente, preocupado.

Julian assentiu sobriamente.

- Não há dúvida, Darius. Por isso aqueles de nós que podem, devem tentar ter filhas mulheres. É a única forma de que nossa raça tenha uma oportunidade de sobreviver. Mesmo assim, pode ser muito tarde. Quase todas as mulheres dos Cárpatos dão a luz a meninos. Se nascer uma menina, deve lutar para que sobreviva a seu primeiro, mais perigoso e difícil ano.

Darius estava se lembrando do quanto difícil tinha sido manter com vida às duas frágeis e pequenas Desari e Syndil há tantos séculos.

- É necessário tentar proporcionar companheiras a nossa raça, a nossos irmãos e amigos. - Seguiu Julian tranqüilo, persuasivamente. - Entretanto, também deve considerar que se você se unir a Tempest sem convertê-la, como todo companheiro, nenhum dos dois será capaz de suportar qualquer separação física ou mental. Você, um Cárpato, deve dormir profundamente na terra. Ela precisará de ar. Quando dormir o autêntico sono de nossa gente, ela será incapaz de te alcançar. Nenhum companheiro pode suportar isso durante um tempo prolongado. Não funcionará.

- Tempest já está unida a mim e não posso suportar nenhum tipo de separação dela. Isto é algo que ela não entende, ainda. Ela pensa em termos humanos. - Admitiu Darius com um suspiro.

- Isso não pode continuar. - Disse Julian. - Estamos sendo caçados. Embora estejamos sendo caçados há séculos. Não somos invulneráveis, apesar de nossos muitos dons. Ela deve ser protegida como um dos nossos.

Darius sacudiu a cabeça.

- Dei-lhe muitas voltas estes últimos dias. Não lhe pediria isto... Esta conversão... Também.

- Antes que feche a porta à alternativa Darius, considera-a. As outras mulheres com as que falei estão felizes com suas vidas. Requer alguns ajustes e não direi que não sofram, mas no fim aceitam o inevitável.

- Porque não tiveram escolha. - Assinalou Darius brandamente. - A última coisa que quero causar a Tempest é mais sofrimento. Já teve bastante em sua jovem vida.

 

Tempest suspirou e baixou a chave inglesa que tinha usado em suas comprovações. Não queria cometer nenhum engano e deixar de comprovar algo que pudesse precisar depois. Parecia haver um calor incomum. Limpou o suor da face, e pensou na noite anterior. Syndil tinha sido tão doce. Enquanto falavam, tinha preparado um caldo de verduras para ela. O estômago de Tempest pareceu rebelar-se contra o caldo, mas não queria ferir os sentimentos de Syndil, então tentou comer. Mesmo assim, sem Darius ajudando-a provavelmente não teria conseguido.

Darius estava calado quando se uniu a ela. Observou-a trabalhar no caminhão, claramente descontente quando fez uma lista das coisas que precisavam e que não tinham. Isso queria dizer que ela teria que fazer uma viagem na cidade mais próxima durante as horas diurnas. Ele não havia discutido, mas lhe disse que dormiria o sono dos humanos, não o dos Cárpatos e estaria disponível se ela precisasse.

Tempest se limpou cuidadosamente enquanto considerava o que poderia Darius ter falado. Qual era a diferença? Isso faria algum dano? Sabia que nenhum dos membros de sua família estava de acordo com a decisão, nenhum deles gostava, embora ninguém discutisse com ele ou fizesse o mínimo protesto. Seu desassossego a inquietou. Podia dizer que nenhum deles a culpava pela decisão de Darius, embora soubesse que estavam preocupados com Darius e o que estava fazendo.

O dinheiro que lhe tinham dado casualmente era bastante substancial. Dobrou-o, colocando-lhe no bolso e resolutamente subiu no pequeno carro esportivo. Tinha um mau pressentimento, como se algo fosse fazer mal a Darius, então não iria se arriscar a se perder. A noite passada tinha percorrido a rota até a cidade duas vezes com Darius a seu lado, só para lhe assegurar de que seria capaz de fazer o caminho de ida e volta sem problemas. Ainda assim, a sensação de temor persistia. Simplesmente parecia atrair os problemas a qualquer lugar aonde fora.

Tempest desfrutou da solidão de dirigir. A estrada serpenteava descendo a montanha, as curvas fechadas, a velocidade e suavidade do veículo, mas havia um peso em seu coração, crescendo e tornando-se muito difícil de ignorar. Encontrou-se precisando tocar a mente de Darius. Na realidade sentia dor em seu interior, pensamentos ruins. Algo tinha acontecido a Darius. Ele estava ferido, em algum lugar. Estava em perigo. Era uma estupidez, seu cérebro dizia, mas não obstante, se encontrou desejando chorar descontroladamente.

Calistoga era uma cidade coquete, bastante famosa por seus banhos minerais e de barro. Encontrou a loja de peças sem incidentes, comprou as peças que necessitava e saiu. Pensando em Darius em vez de olhar por onde andava, quase tropeçou com o homem que estava apoiado no pequeno carro vermelho estacionado na calçada. Ele a ajudou a recuperar o equilíbrio enquanto tirava as peças de seus braços e os colocava no carro. Tempest piscou para ele. Ele estava olhando-a como se a conhecesse. Não era particularmente de chamar a atenção, mas era bonito e louro, do tipo surfista.

- Conheço-o? - Perguntou, incapaz de lhe localizar.

- Meu nome é Cullen Tucker, senhorita. - Arrastava o mais ligeiro sotaque sulino. Ele tirou uma fotografia do bolso.

Mordendo o lábio, ela compreendeu que este era o problema que estivera esperando. Tempest olhou para a fotografia dela mesma.

- Onde conseguiu isto? - Tinha uma grande semelhança com ela, com as mariposas que enchiam o ar, pousando-se sobre sua cabeça e ombros. Estava com os braços estendidos, sorrindo. O sol estava a suas costas e estava com os pés no riacho.

Cullen examinou sua expressão.

- Conhece o homem que tirou esta fotografia?

- Não. Certamente não pousei para ela. - Tempest o rodeou, dispondo-se a sentar no assento do motorista. Era uma motorista excelente, depois de sua juventude em que dirijira escapando da polícia. Tinha confiança no carro também.

- Não se assuste. - Disse ele, brandamente. - Na realidade estou tentado ajudá-la. Podemos ir a alguma parte para conversar?

- Estou em meio a um grande trabalho. – Ela respondeu.

- Por favor, é importante. Alguns minutos e iremos a algum lugar público, então não teria medo de mim. Não quero soar dramático ou estúpido, mas é uma questão de vida ou morte. - Insistiu ele.

Tempest fechou os olhos durante um momento, suspirando com resignação. É obvio que era uma questão de vida ou morte. Do que outro modo poderia ser, quando ela estava envolvida? Finalmente se apresentou, lhe oferecendo a mão.

- Sou Tempest Trile. - Havia algo em Cullen Tucker que não podia definir, mas acreditava que ele era sincero. Simultaneamente desejou gemer em voz alta ante sua própria apresentação. Darius a tinha feito pensar em si mesmo como Tempest, em vez de Rusti. Era penoso que não pudesse escapar de seu feitiço nem sequer por um momento.

Cullen lhe sacudiu a mão gentilmente.

- Importa-te se pedirmos algo para comer? Estive viajando há vários dias e não tive muito tempo livre.

Tempest caminhou a seu lado, aliviada de que houvesse tanta gente na rua. Cullen não lhe provocava as más vibrações que lhe haviam produzido Matt Brodrick, mas ainda assim preferia não ficar a sós com ele.

Cullen esperou até que ela pediu sua comida num café que tinham encontrado antes de começar sua explicação.

- vou te contar algumas coisas bastante extravagantes. Quero que me escute antes de decidir que estou louco. – ele mostrou à fotografia dela com a ponta do dedo. - Faz algum tempo que me uni a uma sociedade secreta que acredita que os vampiros existem realmente.

Tempest sentiu que a cor abandonar sua face e se recostou para trás na cadeira, precisando de apoio. Antes que pudesse responder, Cullen levantou uma mão para detê-la.

- Só ouça-me. Acreditar ou não o que haja vampiros entre nós não é a questão mais importante. O que importa é que essa gente a qual me uni acredita e estão decididos a capturar, dissecar e destruir a qualquer um que possam encontrar. Alguns deles perderam totalmente a cabeça. A cantora com que viaja... E não negue que está com ela, pois fiz meus deveres dirigidos pela sociedade. Já tentaram atentar contra sua vida e acreditem que tentarão novamente.

Tempest tamborilou com os dedos nervosamente sobre a mesa.

- por que não vai à polícia? Por que me conta isso?

- A polícia não acreditará em mim, sabe disso. Mas posso tentar te ajudar e possivelmente a sua amiga a cantora. Esta foto foi tirada no mesmo lugar no quam encontraram o corpo de Matt Brodrick. Ele fazia parte da sociedade e infelizmente para você, esta foto a condena a seus olhos. Enviaram-me para te seguir e te levar com eles para ver se pode aprender alguma coisa de seu grupo antes de... Dispor de você. E estou seguro de que não sou o único que enviarão. Quero te tirar daqui, te levar a algum lugar seguro, onde possa te esconder até que percam o interesse em ti.

Tempest sacudiu a cabeça.

- Assim simplesmente? Acredita que devo acreditar e partir contigo? Se tudo for verdade, a única coisa que posso fazer seria advertir Desari e a banda, ir à polícia e esperar que peguem esses tipos.

- Não seja tão malditamente orgulhosa. - Disse Cullen, inclinando-se através da mesa, sua face a centímetros da dela. - Estou tentando te salvar a vida. Essa gente é perigosa. Acreditam que Desari é um vampiro e provavelmente seu novo noivo também. Estão a ponto de capturá-la e destruí-la. Matá-la seria lhe fazer um favor, dado o que eles têm em mente como alternativa. Mas você é a primeira na lista, porque eles a vêem como uma fonte de informação sobre ela e seu grupo. Tem que se esconder, pôr um inferno entre você e a banda. É sua única escolha, Tempest.

- Acreditam que sou um vampiro? Pelo amor de Deus, têm uma foto de mim a campo aberto à plena luz do sol, exasperada mas um pouco assustada. - Darius iria matá-la quando compreendesse que estava a sós com um homem envolvido com caçadores de vampiros humanos e Matt Brodrick. Possivelmente não deveria voltar com a banda. Possivelmente conduziria o inimigo diretamente para eles.

- Você não é um vampiro. - Disse Cullen. - Eu vi um vampiro, um autêntico. Estes idiotas da sociedade não têm nem idéia do que um desses não-mortos é verdadeiramente capaz de fazer. Desari não é um vampiro tampouco. Mas já suspeitam de mim, então vou ter que me esconder também. Provavelmente enviarão seus soldados atrás de mim porque sei tudo sobre eles e suas identidades. Vi suas faces e estive em suas reuniões secretas. Tem que vir comigo, Tempest.

Tempest inclinou a cabeça para um lado. Não era um vampiro, mas havia algo definitivamente diferente nela. Podia ouvir o batimento do coração de Cullen Tucker. Um ruidoso, forte e saudável batimento que ressoava através de sua corrente sangüínea. Podia ouvir o correr da água na cozinha, o tinido de cada prato, o murmúrio da conversa entre o cozinheiro e um garçom. Do outro lado, um casal tinha uma discussão sussurrada. Distinguia o aroma da comida, vários perfumes e colônias, tudo misturado, sobrepondo-os uns aos outros até que seu estômago se revolveu.

As cores eram vívidas e brilhantes, quase como quando estava com Darius. Advertiu as diminutas veias das folhas da margarida que havia no vaso de cristal sobre a mesa, as extraordinárias pétalas rodeando o centro de pólen. Fixou o olhar, centrada na incomum beleza da flor, na precisa criação da natureza.

- Tempest! - Vaiou Cullen através da mesa para ela. - Está-me escutando? Pelo amor de Deus, tem que acreditar no que digo. Não sou um louco. Estamos sendo caçados. Deixe-me ao menos te levar a um lugar seguro. Tentarei te proteger, embora provavelmente esteja a salvo sem mim. Pode ser que queiram me matar mas quando souberem que os traí, nunca se deterão até me apanhar. Tem que se esconder durante uns poucos meses. E é imperativo que se distancie deste grupo.

- E Desari? Ela não tem feito nada mal. Se for contigo, esses loucos perigosos ainda estarão atrás dela. Possivelmente desta vez a matem. - Tempest sacudiu a cabeça. - Não posso fugir e deixá-la a mercê deles.

Cullen queria estender-se através da mesa e sacudi-la, agarrá-la e tirar seu pequeno traseiro fora dali. Tinha visto morrer a outra mulher, uma a qual amava, uma com a mesma inocência nos olhos.

- Demônios, você é orgulhosa. Vão pegar você, Tempest. Se ainda estivesse com eles, na realidade já estaria de caminho a seu esconderijo. - Frustrado, ele olhou para fora pela janela, tentando pensar em algo que pudesse convencê-la de sair com ele. Se não fosse, teria que ficar e tentar protegê-la. E isso significava que morreria. Não teria nenhuma possibilidade absolutamente.

Tempest permaneceu em silêncio enquanto o garçom colocava seus pratos diante deles.

Imediatamente seu estômago se rebelou ante o aroma da comida. Já não era capaz de comer sem a ajuda de Darius. Seu organismo havia mudado de algum modo. Não sabia como sabia, mas sabia. Era o mesmo que incrementava sua vista e audição.

- Não sei por que mas noto que não está surpreendida e horrorizada pela idéia de ter caçadores de vampiros atrás de ti. Por que? - Os olhos azuis de Cullen eram sérios, quase acusadores. - Por que não está rindo da idéia da existência de vampiros? - Exigiu.

Tempest assinalou a foto.

- Brodrick sempre tentava me intimidar com a idéia de que Desari era uma vampira. Eu pensava que era um lunático isolado, mas agora vejo que era parte de uma organização maior. Por que demônios se fixaram em Desari? É tão doce com todo mundo. Por que acreditar numa coisa tão estranha sobre ela?

- Seus hábitos noturnos. Sua voz hipnotizadora. E quando enviaram um esquadrão de paramilitares atrás dela, de algum modo conseguiu escapar, enquanto os soldados morreram ou desapareceram. Essas pessoas eram assassinos profissionais. Varreram o cenário com armas automáticas, embora ela escapasse da morte.

- Por isso é um vampiro? - Queria acreditar que ele fazia parte de todo o assunto, mas sabia, no fundo de seu coração, que não era assim.

- Fica acordada toda à noite, ninguém nunca a viu durante o dia.

- Eu a vi durante o dia. - Mentiu Tempest, corajosamente. Estava ficando nervosa. Não podia se permitir ficar nervosa. Darius estava muito sintonizado com ela, sabia que perturbaria seu sono e estava preocupada com sua saúde desde que tinha observado a preocupação de sua família.

Cullen mudou de posição na cadeira e a avaliou com firmeza. Sacudiu a cabeça e suspirou enquanto pegava seu garfo.

- vai morrer, Tempest. E não será uma morte fácil. Demônios, por que não me ouve? Juro-lhe que estou dizendo a verdade.

- Acredito em você. Não sei por que acredito em você. É absurdo, mas acredito. Estou inclusive meio segura de que não está tentando me enganar para colocar as mãos em mim.

Tempest esvaziou seu copo de água. Estava começando a suar. Doía-lhe a cabeça. Precisava tocar Darius. Só por um momento, só para assegurar-se de que ele estava realmente vivo e bem.

- por que não me permite te esconder então? Podemos advertir Desari se acha que ajudará, mas não pode voltar para klá. Fique longe deles. - Suplicou-lhe Cullen.

- por que faz isto? - Perguntou Tempest. - Se me está contando a verdade, sua gente nunca o perdoará por isso. Por que arrisca sua vida por mim?

Cullen ficou olhando a comida em seu prato.

- Há muito estava comprometido com a mulher mais maravilhosa da terra. Era amorosa e gentil... Não havia ninguém como ela. Estávamos em São Francisco, fazendo turismo. Foi assassinada.

Tempest sentiu sua dor, como uma faca.

- Sinto muito, Senhor Tucker. - Lhe encheram os olhos de lágrimas, enredando-se em suas largas pálpebras. - Que horrível.

- A policia pensou que o assassino era um psicopata que estava aterrorizando à cidade, mas eu vi como aconteceu. A criatura afundou seus dentes no pescoço dela e drenou seu sangue. Depois atirou seu corpo como se não fosse mais que lixo. Seu sangue manchava seus dentes e o queixo. Olhou-me diretamente e sorriu. Sabia que iria me matar a seguir.

- Mas não o fez. – Ela tocou-lhe a mão, desejando confortá-lo.

Cullen sacudiu a cabeça. Quando a olhou, seus olhos refletiam uma profunda e lacerante dor.

- Durante muito tempo desejei que tivesse feito. Mas algo ou alguem o assustou antes que pudesse tentar. Uma luz, como um cometa, chegou cruzando velozmente o céu, para nós. O vampiro vaiou e voltou à cabeça para ela. Foi como observar o movimento do mais repulsivo dos répteis, esse lento e ondulante movimento das serpentes. Depois literalmente se dissolveu ante meus olhos e se esfumou longe da luz que vinha para nós. Observei a perseguição cruzando o céu para o oceano. Era a coisa mais fria e cruel que vi. Queria vingança. Queria caçá-lo, caçar algo que se assemelhasse a ele.

- Posso entender isso. - Murmurou Tempest, amavelmente.

Cullen sacudiu a cabeça.

- Não, não pode e essa é a questão. Você me lembra a ela. Possuia uma grande compaixão, igual a você. Ela nunca teria procurado vingança. Teria tentado procurar uma forma de perdoá-lo. Acredito que é o que faria você. – ele suspirou e removeu a comida no prato. – Irão te torturar para te tirar informação. Mesmo se a der, irão matá-la. Por Deus, Tempest, não vê? Não posso viver com isso.

Tempest sacudiu a cabeça.

- Darius não permitirá que me peguem.

As sobrancelhas de Cullen se arquearam.

- Darius? Deve ser o guarda-costas. Admito que o homem é bom, mas não importa quão bom seja. Pegarão você. Eles a encontrarão e a raptarão. Não entende... Essa gente vai a sério.

Ela se inclinou para lhe olhar diretamente nos olhos, assim ele saberia que falava absolutamente sério.

- Não Cullen, é você que não entende. Eles não entendem. Darius viria atrás de mim. Ninguém poderia detê-lo. Nada neste mundo poderia lhe deter. É completamente implacável. Desumano. Tão silencioso como um leopardo e se move como o vento. Não o veriam, não o cheirariam, enquanto andasse através do tempo e o espaço. E nunca o deteriam, não até que me encontrasse e tivesse terminado com qualquer ameaça para mim, para sempre. Esse é o tipo de pessoa com o que estão se metendo.

Cullen se afastou para trás, como se fosse golpeado. Sua face empalideceu visivelmente.

- Não é humano? Está-me dizendo que este guarda-costas é um vampiro?

- Senhor Tucker, tem se metido com esses lunáticos e vampiros. É obvio que Darius não é um vampiro. Pareço o tipo de mulher que sairia com um vampiro?

- O guarda-costas é seu noivo? - Perguntou Cullen, incrédulo. - Ele... - obrigou-se a parar bruscamente. - Está segura do que está fazendo? Soa como se fosse um tipo perigoso, Tempest. Muito perigoso. Pensei que talvez tivesse algo a ver com a cantora.

- E tem. Darius é o irmão mais velho de Desari. - Tempest jogou o cabelo para trás, perguntando-se de repente com que aspecto estava. Estivera trabalhando toda a manhã e não tinha pensado em se lavar antes de ir à cidade. Também estava cansada. Estivera acordada toda a noite com a banda e Darius e agora o Sol estava judiando-a. Inclusive se sentia como se ardessem os olhos e a pele. As queimaduras de sol não eram estranhas a uma ruiva, mas o ardor era diferente. Profundo. Tentou não se alarmar.

- O guarda-costas não é invencível, Tempest. - Disse Cullen. - Inclusive se for tão assombroso como você e a sociedade de caçadores de vampiros acreditam.

- Quero te agradecer por se arriscar tanto para nos advertir. - Disse Tempest brandamente, e pousou gentilmente sua mão sobre a de Cullen. - Lamento terrivelmente sua perda, mas, por favor, não se preocupe por mim. Darius cuidará de todos nós.

- Afaste sua mão desse homem agora, Tempest! Se valoriza sua vida, faça o que digo.

Tempest afastou a mão rapidamente e baixou a cabeça para esconder o fogo de seus olhos. - Não tem direito a me dar ordens. Não tem nem idéia do que está acontecendo aqui, Darius.

- Sei que está com um homem.

- Bem, yupi. Isso é crime? - O sarcasmo gotejou em sua voz.

- Tempest? - Cullen atraiu sua atenção de volta a ele. - Algo está errado? - Não sabia porque mas notou que ela estremeceu, sua boca se apertou como se estivesse irritada.

Ela encolheu os ombros.

- Não muito. Somente estou com uma extravagante organização de caçadores de vampiros desejando me raptar, me torturar e me matar. Não está muito mal. Posso dirigir isso. O que mais me preocupa é Desari. Ela não merece outro trauma.

- Desejaria que me ouvisse. E se for contigo e falar eu mesmo com o guarda-costas? Se for tão bom como diz, poderia usar a informação que eu possa lhe dar. - Aventurou Cullen, sem estar seguro do por que se oferecia. Sabia que seguiria Tempest, tentaria protegê-la o melhor que pudesse. Mesmo se fosse na realidade ao acampamento, tentaria evitar que os outros fossem atrás dela.

Tempest estava sacudindo a cabeça.

- Traga-o contigo. - Chegou à ordem de Darius.

- Não o farei, Darius. Não tenho idéia do que fará com ele e este homem já sofreu o bastante.

- Deve confiar em seu companheiro.

- Se tivesse um. - Contra-atacou. - Tudo o que tenho é um homem mandão que acredita que pode me dar ordens. Volte a dormir.

- Você é muito valente quando acha que não posso te tocar, céu. - Toda fúria havia desaparecido de sua voz e fora substituída por diversão. Ela sentiu o toque de seus dedos lhe rodeando a gargantam que lhe enviou a familiar onda de calor através de sua corrente sangüínea. Ninguém mais poderia fazer isto, tocá-la fisicamente sem estar presente. Sabia que Darius estava longe, pois sentia a distância entre eles.

- Tempest? - Cullen teve medo de estar perdendo-a. Ela estava ensimesmada, concentrada em algo mais que o perigo no que se encontrava.

Tempest elevou o queixo.

- por que quer se colocar num perigo ainda maior, Senhor Tucker? Está correndo um grande risco ao se unir a nós? Sua gente poderia não notar que me advertiu, mas se de verdade for ao acampamento, pensará que mudou de lado.

- Eu sei. - Admitiu Cullen, subitamente. - Sinto que devo algo a cantora. Não sabia que haviam ordenado matá-la até que foi tarde, mas formei parte desse grupo de loucos durante um tempo e me sinto culpado. - Seus olhos foram para a janela, a porta, comprovando continuamente no caso de Brady Grand tivesse enviado alguém atrás dele.

- A culpabilidade não é uma boa razão para brincar com a vida. - Assinalou Tempest.

- Deixe de discutir com o homem e o traga aqui.

- Não quero que saia ferido.

- Se está dizendo a verdade, ninguém lhe fará mal. - Assegurou-lhe Darius.

- Não posso deixar que essa gente a mate, Tempest. - Discutiu Cullen. - Matt Brodrick estava com sua foto em sua câmara quando morreu, seguindo à banda. Sabem que aspecto você tem e virão detrás de ti. - Cullen Tucker se deteve. - Como ele morreu? Ao que parece disparou em si mesmo, mas você não estava lá? - Cullen mostrou a foto uma vez mais. - Este é o ponto exato onde seu corpo foi encontrado.

- Não tenho nem idéia. Não sabia que tinha tirado esta foto. Devia estar escondido entre os arbustos próximos. É uma área de espesso arvoredo. - Tempest tentou afastar Cullen de sua improvisada explicação.

- Isso não estabelece a razão, Tempest. - Disse Cullen, tranqüilamente. - De que Matt tivesse tirado a foto para voltar logo a cabeça. A polícia aceitou porque não havia evidências de que ninguém mais nos arredores, mas eu conhecia Matt. Era um filho da puta sádico. Nunca teria se suicidado.

Durante um momento Tempest não pôde respirar, recordando a forma em que o repórter a tinha cuidado com olhos frios e calculadores.

- Aqui estou eu, céu. - Confortou-a Darius. - Este homem faz muitas perguntas, mas não pressinto uma armadilha.

Tempest respirou fundo e começou a contar a Cullen Tucker a verdade.

- Não o vi se suicidar. Estava a ponto de disparar em mim, mas caí para trás por um escarpado, pela ravina. Ouvi o disparo, mas não faço idéia do que aconteceu, na verdade.

- Não havia ninguém mais lá? - Particularizou Cullen.

- Não vi ninguém mais. - Repetiu Tempest, honestamente.

Cullen suspirou brandamente.

- Saiamos daqui. Quando mais ficarmos pelos arredores, mais certo seremos divisados. Por que tem que conduzir um carro tão chamativo?

- Tem razão. – Ela concordou. - Ninguém teria se fixado num ônibus com as enormes letras dos lados.

Ele sorriu amplamente, e Tempest notou que era a primeira vez que o via sorrir.

- Acredito que você dá mais problemas a esse guarda-costas que toda a banda junta, certo? – Ele brincou.

Ela levantou o queixo, ignorando a silenciosa risada de Darius.

- Por que diz isso?

- Porque conheço pessoas como ele. E este é claramente poderoso, possivelmente mortal. Diria que é dominador, agressivo e extremamente ciumento, do tipo possessivo quando se apaixona por uma mulher.

- Que interessante colocação. – Ela procurou Darius e acrescentou alegremente. – Ele sequer a conhece ainda,e sabe exatamente como é. Uma descrição bastante interessante, não acha?

- O que acredito, é que será melhor que traga seu adorável traseiro para casa rápidamente, céu ou eu posso ficar tentado a lhe surrar.

- Será bem-vindo a tentar. - Disse ela arrogantemente, sabendo que estava perfeitamente a salvo.

Cullen ficou em pé, colocou um pouco de dinheiro sobre a mesa, e depois a ajudou com a cadeira. Ela suspirou. Sua agradável e solitária existência costumava ser tão simples e tranqüila. Ouviu o baixo e agressivo grunhido de Darius quando Cullen a guiou para a porta com a palma da mão em suas costas e suspirou novamente. As palavras ressonaram em sua mente em outra língua, uma com a qual não estava familiarizada, mas o tom abrasador lhe disse que Darius estava amaldiçoando.

- Afaste-te dele. Não tem por que colocar suas mãos sobre ti.

- Ele simplesmente está sendo cortês.

Cullen gemeu, afastando a mão dela para levar aos lábios.

- Algo me picou.

- Seriamente? Não vi nenhuma abelha. - Tempest pareceu tão simpática como podia sob as circunstâncias, mas sentia uma inesperada urgência de rir. – Mimado rei do castelo.

- Aprenda um pouco de respeito, céu. - Ordenou Darius.

Cullen lhe abriu a porta do carro, depois gritou pela segunda vez quando lhe segurou o cotovelo para lhe servir de apoio. Franziu o cenho.

- Que demônios está acontecendo?

Tempest procurava lojas de óculos de sol. O Sol parecia estar lançando pedaços de vidro a seus olhos. Estavam inchados e vermelhos, ardendo em resposta ao ardor da luz.

- Não imagino o que quer dizer. - Disse a Cullen.

Conduziu de volta ao acampamento a um passo bem mais tranqüilo do que tinha usado para chegar à cidade. Consciente de que Cullen a seguia, cuidou em respeitar os limites de segurança, embora irritada. A estrada era feita para carros esportivos. Era serpenteante, estreita, costa acima, caídas escarpadas de um lado e a montanha elevando-se do outro. Tinha que lutar contra o desejo de soltar a rédea e desfrutar do que o carro. O que podia fazer realmente.

Uma vez no interior do bosque, abriu-se passo através da rede de estradas de terra, como uma profissional. Cullen não precisava saber que havia praticado percorrendo a rota para não se perder. Manobrou através do labirinto de estreitos caminhos, selecionando um caminho à direita. Em segura sentiu uma curiosa e estranha sensação, a escura opressão de entrar numa zona maligna... Os perímetros que Darius tinha colocado ao redor do acampamento para manter os outros fora. Ela era mais sensível a eles do que tinha sido antes. Não era tão ruim que não pudesse dirigir através da barricada, mas temeu que Cullen pudesse ter problemas.

Ele parou atrás dela, sem passar completamente a barricada.

- Qual é o problema? - Chamou.

Ela adiantou seu carro, esperando por ele para ver o que acontecia. Cullen conduziu por volta dela durante uns poucos metros, então parou bruscamente, sem fôlego. Tempest olhou pelo retrovisor e notou que ele estava tremendo, gotas de transpiração gotejavam por sua frente. – Ele pode transpassar as salvaguardas? Fica pior?

- Durante uma milha ou assim. Pode conseguir.

- Pode desfazê-las?

- Conduza-o através delas. - Darius era implacável. Não baixaria a proteção quando sabia que estavam sendo caçados, quando era consciente de que Tempest podia estar em perigo.

Murmurando sobre homens estúpidos, Tempest saiu do carro esportivo e retrocedeu até Cullen. Sua respiração era trabalhosa e ele apertava o peito com a mão.

- Acredito que estou tendo um ataque ao coração. – ele conseguiu falar.

- Mova-se. - Disse ela. - Eu conduzirei. É só uma espécie de medida de segurança que Darius inventou. Ele é um gênio, sabe. - Disse energicamente. - Mantém as pessoas longe da região.

- Dá uma sensação de maldade, como se algo estivesse esperando para nos arrastar para o inferno. - Disse Cullen, mas obedientemente se moveu.

- Sim, bem, depois de que conhecer Darius, pode ser que pense que é isso o que aconteçeu. – Replicou ela, desagradavelmente. - Que Deus o ajude, Cullen, se não for totalmente sincero. Darius não é alguém a que desejaria mentir.

- Se inventou este sistema de segurança tão particular. - Disse Cullen com um certo grau de admiração e respeito. – Acredito em você.

- Você consegue ir? - Perguntou esperançada. Não queria deixar o carro esportivo onde alguem pudesse encontrar e delatar sua posição e estava quente para conduzi-lo até o acampamento e caminhar de volta para recuperar o carro.

- Sim. Sei que não estou tendo um ataque do coração. Posso te seguir. Só nos tire disto tão rápido como possa. - Suplicou.

Tempest lhe tocou o ombro e deslizou fora do carro de Cullen para voltar para o próprio. Levou-lhes bastante tempo entrando e saindo da estrada. Cullen virtualmente estava em seus calcanhares.

O acampamento estava deserto quando chegaram. Tempest sabia que a banda e Darius estavam dormindo em algum lugar, a salvo. Os felinos, sentindo o cheiro do estranho, imediatamente começaram a rugir sua oposição ante tal invasão. Cullen se negou a sair do carro, ouvindo o que soava como centenas de leopardos famintos e decididos a tê-lo como almoço. Tempest passou alguns minutos silenciando-os, exasperada porque Darius tinha escolhido esse momento para deixar de se meter e deixá-la por sua conta.

- Onde está todo mundo? - Exigiu Cullen, finalmente saindo de seu carro e olhando cautelosamente ao redor do acampamento deserto. Seguiu Tempest até o caminhão.

- Darius está em algum lugar no bosque. Gosta de pendurar uma rede entre duas árvores, afastar-se de todos nós e ter o que o chama carinhosamente um momento tranqüilo.

- Muito divertido, céu. Era a pior mentirosa que conheci. E deixe de tocar nesse homem. Se me deixar mais ciumento, serei eu que terei um ataque do coração.

- Volte a dormir. Está me incomodando. - Disse Tempest severamente e se voltou e sorriu brandamente a Cullen.

- Ele é tão caprichoso.

- E Desari? Onde está? – Ele percorreu a caravana com um olhar ansioso.

Tempest captou seu olhar e estalou em gargalhadas.

- Está num ataúde no ônibus. Você gostaria de vê-lo? Posso deixar que os felinos saiam enquanto dá uma olhada.

Cullen pareceu tímido.

- Acho que estou sendo bastante tolo. Mas esses felinos são a outra razão pela qual Desari é alvo da sociedade. - Ausentemente ele estendeu a Tempest uma ferramenta que ela mostrou. - Acreditam que os vampiros têm algum animal do inferno que vigia-os durante o dia. Esses felinos encaixam na descrição.

Tempest riu com ele.

- Na realidade, o ônibus está vazio exceto pelos felinos. Eu o uso mais que os outros. Eles ficam acordados a noite toda, seja ensaiando, atuando ou conduzindo a seu próximo destino. Eu cuido dos veículos, vou à cidade, faço as compras e me ocupo dos recados. Desari e Julian provavelmente já se levantaram. - Improvisou. - Gostam de dar longas caminhadas. Pessoalmente, acredito que essa é uma desculpa para ficarem um com o outro sem ninguém ao redor.

- Julian Savage? Ele está alto na lista de alvos da sociedade. Tem bastante reputação. Alguns deles acreditam que ele é a razão de que Desari tenha escapado dos tiros. - Confessou Cullen.

Tempest apertou ruidosamente os dedos, murmurando poucas palavras escolhidas e se inclinou de volta a sua tarefa.

- Ouvi dizer que ele lhe salvou a vida.

- Matou todo o esquadrão? - Perguntou Cullen, curioso.

- Não sei. Quando os conheci já havia acontecido o fato. E apenas leio os jornais. - Disse ausentemente, como se não tivesse ouvindo.

- Não acredito que foi Julian. - Disse Cullen cuidadosamente, estudando-a atentamente. - Acredito que o guarda-costas os matou.

Ela não só apertou os nódulos esta vez mas também a testa. Voltou-se para fitá-lo.

- Tenho trabalho a fazer. Saia de minha vista um momento, está bem? Vá percorrer o bosque procurando à banda. Dayan tem dessas pequenas barracas de campanha. Entretanto não o desperte se está dormindo, pois fica irritado se lhe incomodar antes que tenha conseguido dormir suas oito horas. Syndil pode estar no ônibus com os felinos, se quer olhar. - Ofereceu, sabendo perfeitamente que não tomaria a palavra.

Cullen sacudiu a cabeça.

- Isso não é necessário. Não quero incomodar ninguém. Simplesmente darei uma volta para ver se posso ver se é boa a segurança dos arredores.

- Oh, não. Isso é o que necessitamos. Outro homem arrogante nos dizendo o que temos que fazer. - Murmurou Tempest.

- Estou impressionado por sua habilidade para criar a ilusão de que estamos vagando por aí, sob o sol.

- Está vendo? Posso ser uma mentirosa convincente quando é preciso. - Disse ela. – Acho que pelo tipo de vida que tive quando era menina, poderia ser bom se esses maníacos pusessem suas garras sobre mim.

Darius pôde ouvir o eco de medo em sua voz. Ela estava tentando fingir corajosamente que as coisas que Cullen lhe tinha revelado não a assustavam, mas ele morava em sua mente e sabia que estava assustada. Torturar e matar. Essas eram as palavras que Cullen Tucker tinha usado e Tempest tinha uma vívida imaginação. – Você está sob meu amparo. - Reconfortou-a amavelmente.

Tempest sorriu ante sua arrogância. Ele sabia que seu comentário a faria sentir-se melhor instantaneamente, mas costumava confiar em si mesma, não no amparo de algum homem.

- Algum homem? - Repetiu Darius.

Podia ouvir sua risada, a brincadeira amável que sempre conseguia fundir seu coração.

- Estou tentando trabalhar, Darius. Vá embora.

- Realmente você tem problemas com pessoas de autoridade.

- E você tem problema com qualquer um que te diga não, certo? – Ela rebateu e rapidamente fechou os dedos outra vez. - Demônios, Darius, você está me distraindo. Olhe o que me fez fazer?

- Preste atenção a seu trabalho e deixe de olhar para esse homem.

- Não estou olhando para ele. - Negou ela ardorosamente, levantando o olhar para ver onde estava Cullen. Não queria que ele bisbilhotasse ao redor do ônibus e os dois leopardos o comessem. Podia inclusive acontecer que o fizessem por ordem de Darius.

Uma risada zombeteira ressoou em sua mente. – Está olhando novamente. Preste atenção no que faz ou poderíamos ter que te despedir.

- Desari não deixaria. Volte a dormir enquanto o sol está ainda alto.

 

Syndil emergiu do reboque, confirmando a crença de Rusti de que Darius era capaz de se comunicar em particular com cada membro de sua família como fazia com ela. Devia te-los colocado a par do que tinha acontecido durante seu sono e quais desculpas Tempest tinha dado para cada um deles.

Cullen quase caiu para trás enquanto observava a aproximação de Syndil. Sua boca realmente se abriu desmesuradamente e seu olhar deslizou pelos quadris arredondados e o brilho do cabelo azeviche. Syndil sorriu para Cullen com seu estilo doce e tímido quando Rusti os apresentou. Parecia inusualmente formosa, numa beleza tão exótica que podia deixar um homem sem fôlego. Certamente, Cullen estava com o aspecto de alguém que havia sido golpeado na cabeça , enquanto gaguejava.

- Que agradável de sua parte unir-se a nós, Senhor Tucker. - Disse Syndil brandamente, sua voz tão suave e gentil como a brisa que os rodeava. - Espero que Rusti tenha se ocupado de todas as suas necessidades. Temos bebidas no ônibus.

Cullen passou a mão pelo cabelo louro, despenteando-o mais do que havia feito seu longo passeio.

- Oh, sim. Claro que sim.

- E o caminhão está pronto, Rusti? - Perguntou Syndil cortês, tentando não sorrir ante a reação de Cullen para com ela. Já havia passado bastante tempo desde que alguém a tinha feito sentir-se formosa e desejável. Sabia que era culpa dela, por estar se escondendo do mundo, mas agora com Cullen Tucker fazendo-a sentir-se viva novamente, estava subitamente feliz.

- Sem problemas. – Replicou, Tempest.

Syndil estendeu uma mão e capturou a de Tempest, voltando-a para examinar os dedos raspados. - Está sangrando. Machucou-se. - Havia uma tremenda preocupação em sua voz, em sua face expressiva. Levantou o olhar para Cullen, com um sorriso sexy e travesso nos lábios enquanto cobria com a palma da mão os dedos de Tempest, aliviando os arranhões. - Darius sabe que temos visita?

Tempest sentiu que a cor abandonava seu rosto. Syndil sabia muito bem por que Cullen Tucker estava ali. Só estava brincando sutilmente com ela. Syndil sorriu para Cullen.

- Darius está louco por Rusti e é um homem muito ciumento. Talvez eu deveria pegar você para mim, para que possa te oferecer meu amparo.

Cullen parecia contente com essa idéia.

- Acredita que necessito de amparo?

- Oh, absolutamente. - Assegurou-lhe Syndil, flertando descaradamente. - Darius nunca permite que ninguém se aproxime de Rusti.

- Isso não é verdade, Cullen. - Pelo menos Tempest esperava estar dizendo a verdade. Darius permitia outras mulheres a seu redor. Ao que parecia só colocava objeções aos homens.

- Isto é uma festa? - Dayan saiu a passos largos do bosque, com uma mochila sobre os ombros e uma pequena barraca pulcramente num saco, nas mãos. - Por que não fui convidado?

- Porque fica muito bravo quando tentamos te despertar. - Saudou-lhe Syndil, piscando um olho para Tempest. Ficou nas pontas dos pés e roçou o queixo de Dayan com um beijo. - Está bem. Perdoamos-lhe. Pode se unir a nós se quiser. Rusti convidou um amigo.

Dayan instantaneamente ofereceu sua mão livre a Cullen, com um sorriso de boas vindas no rosto.

- Meu nome é Dayan. Qualquer amigo de Rusti é nosso amigo. - Esfregou o queixo pensativamente, seus olhos vagaram de Cullen para Tempest e novamente de volta. - Darius sabe que ele está aqui? Conheceste-o?

Cullen olhou intranqüilo para Tempest.

- Começo a pensar que vir aqui não foi tão boa idéia. É muito ciumento este guarda-costas?

Dayan riu brandamente.

- Darius tem suas manias com seu pequeno amorzinho.

- Não sou o pequeno amorzinho! - Negou Tempest, ardentemente. - Não sou nada dele.

- Sei que pode ouvir cada palavra que está sendo dito aqui . Está fazendo Cullen sofrer deliberadamente. Vêm aqui agora mesmo! - Queixou-se Darius.

- Não é só Cullen Tucker que parece estar nervoso. - Respondeu Darius complacentemente. - Ela é minha, toda minha.

- Realmente precisa abandonar a terra da fantasia, Darius.

Dayan teve a audácia de despentear o cabelo de Tempest como se fossem velhos amigos.

- Definitivamente ela é o único amor de Darius e ele não é muito bom em compartilhar.

Syndil assentiu solenemente.

- Verdade. Não acredito que tenha aprendido quando era menino. - Seus olhos escuros estavam iluminados com travessura, algo que todos os que a rodeavam estavam felizes em ver. - Na verdade, Senhor Tucker... Ou posso te chamar Cullen?... Eu o protegerei.

Cullen voltou a passar a mão pelo cabelo.

- Nenhum homem está disposto a compartilhar à mulher que ama, Syndil. Mas Tempest e eu nos conhecemos somente há algumas horas na cidade. Trago-lhes notícias que todos vocês deveriam ouvir. Mas o guarda-costas não tem nada com o que se preocupar. Não estava cortejando-a.

Os olhos de Dayan se tornaram subitamente duros e frios.

- Espero que não lhe tenhamos dado uma falsa impressão de Darius. Ele nunca se preocuparia. Não é seu estilo. - A voz, inclusive mais que as palavras, carregavam uma ameaça.

Tempest gemeu em voz alta, desejando conhecer Dayan o bastante para lhe bater na cabeça. Estendeu a mão para tranqüilizar Cullen, que parecia como se tivesse tropeçado com um ninho de víboras. Dayan se moveu de repente, colocando deliberadamente seu corpo sólido entre Tempest e o humano. Syndil pegou o braço de Cullen e o conduziu para as cadeiras colocadas sob as árvores.

A escuridão caía rápidamente. Os morcegos começaram seus rituais de cada noite, assaltando os insetos, fazendo acrobacias no céu. Uma brisa fresca fez sussurrar amavelmente as folhas nas árvores. Desari e Julian, completamente paramentados com botas de excursionistas e mochilas, aproximaram-se de mãos dadas, para o interior do círculo. Ambos pareceram surpreender-se de ver um visitante, mas Tempest sabia que sua surpresa era fingida. Julian colocou seu corpo protetoramente diante de Desari enquanto oferecia a mão a Cullen, ao serem apresentados. Cullen parecia nervoso enquanto murmurava uma saudação.

Este era o homem que a sociedade acreditava absolutamente que era um vampiro. Cullen o estudou atentamente, recebendo a impressão imediata de puro poder. Julian Savage era enormemente forte, quase cuidadoso em não esmagar os ossos de Cullen quando se estreitaram as mãos. Era impossível dizer sua idade, pois sua face parecia intemporal. Fisicamente era quase belo, de uma forma puramente masculina, como as estátuas gregas dos deuses.

- É um fã do talento de minha mulher? – Aventurou, Julian.

- Ele veio com Rusti. - Ofereceu Dayan com um sorriso.

As sobrancelhas do Julian se arquearam.

- Com Rusti? Então não conheceu Darius ainda, Senhor Tucker.

- Não comece. - Disse Tempest. – Estou falando sério, Julian. Darius não é na realidade o ogro que todos vocês pensam. Não poderia lhe importar menos se tiver a uma dúzia de homens aqui de visita.

- Nem sequer se arrisque com este, meu amor. - Disse Darius brandamente em sua mente, o rangido de seus dentes brancos era audível.

- Quer que aconteça uma matança? - Brincou Dayan.

Tempest levantou o queixo com desafio.

- Darius não é assim, absolutamente.

Darius chegou, saindo a passos largos do bosque. Alto e elegante, o poder personificado. Cullen na realidade já estava se colocando em pé. O guarda-costas era o homem mais impressionante que já tinha visto. Seu corpo ondeava com força contida. O poder gotejava de cada poro. Seu cabelo negro como a noite, estava penteado para trás e preso na nuca. Os duros ângulos de sua face pareciam esculpidos em granito. Sua boca sustentava uma latente sensualidade e um toque de crueldade. Seus olhos negros o filmavam tudo, até os detalhes menores, embora nunca deixassem a face de Tempest.

Darius avançou silenciosamente, como uma pantera à espreita, diretamente junto a Tempest e seu braço a rodeou possessivamente, puxando-a sob seu ombro. Inclinou a cabeça para encontrar sua boca trêmula, com a dele.

- Parece cansada, pequena. Talvez devesse se deitar e descansar antes que nos coloquemos em marcha esta noite. Esteve trabalhando todo o dia.

Nesse momento seus lábios tocaram os dela e Tempest esqueceu suas brincadeiras e se abandonou à química que faiscava entre eles. Seu braço deslizou lhe rodeando a cintura, seus dedos se seguraram em sua camisa.

- Estou bem, Darius. Esse caminhão está pronto. Podemos sair logo que precisarem. Trouxe aqui este homem para falar contigo.

Os olhos negros em seguida descansaram sobre a face de Cullen Tucker. Involuntariamente Cullen estremeceu sob o olhar gelado. Era como olhar uma tumba. Eram os olhos da morte.

Cullen sentia como se o guarda-costas pudesse ler todos os seus pensamentos e estivesse julgando-o digno ou indigno.... E era sua vida mesma que estava pendendo por um fio. Viu como o guarda-costas cuidadosa e deliberadamente levava a mão direita de Tempest aos lábios e sua língua se movia lentamente, quase eroticamente sobre os dedos arranhados. E os olhos negros e ardentes não abandonaram a face de Cullen. Cullen podia sentir Syndil a sua direita, perto embora sem lhe tocar. Era consciente de que ela estava contendo o fôlego.

- Sou Cullen Tucker. – Ele apresentou-se a, agradecido de ainda ter voz. Tempest estivera dizendo a verdade sobre este homem. Ele iria atrás de qualquer um que tentasse afastá-la dele e nunca se deteria. O guarda-costas, como tinha suposto antes, era o tipo de homem que era mais que implacável, que não tinha misericórdia.

- Darius. - Replicou o guarda-costas brevemente. Suas mãos caíram sobre os ombros de Tempest e a empurraram para seu cunhado. - Julian, acho que deveria levar às três mulheres enquanto falo com este cavalheiro. Desari, por favor cuide das necessidades dos felinos e se assegure que Tempest coma antes que vá para a cama.

Syndil se aproximou mais de Cullen, desafiando Darius pela primeira vez em sua vida. - Ficarei aqui e ouvirei. – Ela levantou o queixo, beligerantemente.

Sem se advertir que Barack estava ali e sua face era uma retorcida máscara de fúria. Ele literalmente afastou os outros homens e segurou o braço de Syndil, puxando-a bruscamente para afastá-la do humano. Seus olhos ardiam de raiva.

- No que está pensando Darius, para permitir que este homem venha a nosso acampamento enquanto nossas mulheres estão desprotegidas? - Exigiu, obrigando Syndil a retroceder, apesar de sua resistência. Seu corpo era uma sólida muralha de músculos, pressionando o dela para longe do grupo.

- Como se atreve a me tratar deste modo! - Vaiou Syndil, ultrajada.

Barack voltou à cabeça e seu negro olhar ardia.

- Fará o que ordeno nesta questão. Tem bastante sentido comum para não se colocar numa posição vulnerável.

- Barack, você perdeu a cabeça? - Exigiu Syndil.

Ele grunhiu. Uma baixa advertência que retumbou no ar e seus dentes brancos se apertavam como os de um predador.

- Nego-me a discutir contigo. Se não quer suportar a vergonha, Syndil, fará o que digo agora. Acha que não sei que procurou ativamente a companhia deste homem?

Syndil retrocedeu para o amparo das árvores, em parte porque Barack não lhe estava dando escolha e também porque esta atônita. Barack era o mais informal de todos os homens. Tendia a achar tudo divertido e flertava vergonhosamente com todas as humanas, desfrutando de sua imagem de playboy da banda.

- Não tem direito de me dizer o que fazer, Barack. Se desejo procurar mil homens, é meu direito.

- Ao inferno com isso. - Barack literalmente a elevou pela cintura e a levou para o fundo do bosque.

- Quem é este homem, que de repente deseja estar com ele? Nunca antes mostraste interesse por homens humanos.

O queixo do Syndil se elevou.

- Bem, talvez isso tenha mudado.

- O que mudou? Que fez este homem, te enfeitiçar? Advirto-lhe, Syndil. Não estou com humor para esta tolice. Você o tocou. Colocou a mão em seu braço e flertou com ele. - Seus olhos ardiam.

- E isso é um crime? Devo te lembrar de todas as vezes que soube que estava com humanas? Não se atreva a julgar meu comportamento. Este homem me faz me sentir linda e desejável, como uma mulher, não como uma sombra ignorada. Ele olha-me e me sinto viva novamente. - Defendeu-se Syndil.

- Essa é a razão? Eles a faz se sentir viva? Qualquer homem pode fazer isso, Syndil. - Soltou Barack.

- Bem, ele é o que quero. - Disse ela, desafiante.

A mão dele se fechou sobre sua garganta, seus olhos estavam escuros furiosos.

- esperei pacientemente que se recuperasse, fui tão amável como sabia que devia ser. Mas isto, não permitirei. Se você se atrever a se aproximar desse homem, farei-lhe em pedaços com minhas mãos. Agora entre no trailer, onde sei que está a salvo e fique longe dele.

Syndil piscou, surpreendida e abriu os olhos ante sua estranha explosão.

- Vou, mas não porque me ordene. Não quero fazer uma cena diante de um estranho.

Barack a empurrou para o ônibus.

- Não me importa por que estúpida razão, faça o que te ordeno. Agora. Sério!

- De onde tiraste a idéia de que é meu amo e senhor? – Ela lançou-lhe indignada, enquanto se dirigia à caravana.

- Simplesmente se lembra do que o sou, Syndil. - Vaiou ele e cuidou de assegurar-se de que ela fazia o que ordenava antes de voltar a unir-se aos homens, que interrogavam Cullen.

Rusti e Desari encontraram Syndil na porta do ônibus. Desari passou um braço ao redor dos ombros de Syndil.

- Barack estava muito zangado?

- Você não lhe conhece, - disse Syndil. - como eu. No que ele estava pensando para me ameaçar desse modo? Como se eu fosse sua filha, sua pequena irmãzinha. Têm idéia de com quantas mulheres ele esteve? É asqueroso, isso é o que é. Deixa-me doente, a forma em que os homens têm semelhante atitude... Uma para seu próprio comportamento e outra para o nosso. A única razão pela qual lhe jogo caso é porque este assunto concerne a sua segurança, Desari. De outro modo lhe diria que fosse direito ao inferno. Pode ser que ainda digo. De fato, pode ser que simplesmente eu vá embora depois de seu próximo concerto. Preciso de umas férias desse idiota.

- Talvez devesse ir contigo. – Aventurou, Tempest. - Darius é pior que Barack. O que acontece com estes homens?

Desari riu brandamente.

- São mandões e dominadores e com freqüência um pé no traseiro. Julian sempre está tentando me impor sua lei.

Syndil passou uma mão pelo cabelo, com agitação.

- Rusti e você talvez, mas eu não pertenço a ninguém. Deveria poder fazer o que desejasse.

Tempest se afundou numa profunda cadeira acolchoada. Os dois leopardos se enredaram imediatamente ao redor de suas pernas.

- Eu não pertenço a Darius. De onde tira todo mundo a idéia de que sou sua noiva? E inclusive se assim fosse, não teria porque fazer uma maldita coisa que dissesse.

- Rusti. - Disse Desari, gentilmente. - Não pode desafiar Darius. Ninguém pode, nem sequer um de nós e somos muito poderosos. Encontrar seu companheiro não é como um matrimônio humano. Os instintos mais poderosos ficam em marcha. Cada um de nós tem um único e autêntico companheiro, como você é a de Darius. Deve ser a outra metade de sua alma. A luz de sua escuridão. Não pode mudar isso simplesmente porque o teme.

Syndil assentiu mostrando sua concordância. Pegando uma escova, começou a mexer no cabelo de Tempest e poder desfazer a grossa trança vermelha.

- Darius é sempre tão gentil contigo, mas há uma escuridão nele. Deve entender o que ele é. Não pode pensar nele como humano. Ele não é humano. É bastante capaz de te impor sua vontade em questões que afetem sua saúde e segurança. Os homens sempre protegem às mulheres.

- por que? Por que são tão dominadores? Deixam-me nervosa.

Desari suspirou brandamente.

- Darius salvou nossas vidas várias vezes. A primeira vez eu só tinha seis anos. Fez coisas milagrosas, mas fez. Teve que acreditar implicitamente em seu próprio julgamento e com isso chega uma certa arrogância.

Tempest soltou um gemido pouco elegante, mas uma parte dela era consciente de que Desari estava dizendo a verdade. Tinha visto retalhos da vida de Darius em suas lembranças, ouvira algumas de suas histórias que a deixavam atônita. Sua implacável resolução por manter com vida sua família.

- Julian me contou que a raça dos Cárpatos se extingue. - Continuou Desari. - Há poucas mulheres... Pouco menos de vinte, contando Syndil e a mim mesma. Nós somos o futuro de nossa raça. Sem nós, os homens não têm nenhuma possibilidade de sobreviver. Estava acostumado a acontecer que uma mulher esperasse um século antes de se estabelecer com seu companheiro e inclusive mais para ter filhos. Mas agora os homens não têm mais escolha que reclamar suas companheiras quando são simples principiantes. Deve ver por que é de vital importância para todos eles que estejamos protegidas. - Disse Desari.

Tempest sentiu que seu coração saltava um batimento. Era mais fácil não pensar muito no que se colocara. Quando Desari pronunciou as palavras em voz alta, conheceu o terror que estava esperando para reclamá-la. Mordeu com força o lábio inferior. Ambas as mulheres ouviram o repentino batimento de seu coração. Era humana, não uma Cárpato e não se sentia a salvo em seu mundo.

Desari se ajoelhou diante de Tempest.

- Por favor, não tenha medo de nós. - Disse suavemente, persuasivamente. - É nossa irmã, uma de nós. Ninguém de nossa família te faria mal. É mais, Darius daria sua vida por você. Está dando sua vida por você. - Seus olhos escuros se encheram de lágrimas.

Os olhos verdes de Tempest se abriram desmesuradamente diante do óbvio desassossego de Desari, ante sua escolha de palavras.

- O que quer dizer com que ele está dando sua vida por mim?

- Os Cárpatos têm grande longevidade, Rusti. É de uma vez nossa bênção e nossa maldição. Devido que você seja sua companheira, embora mortal, Darius escolherá a forma humana de fazer as coisas. Envelhecerá e morrerá contigo em vez de permanecer imortal. - Explicou Desari, gentilmente.

- Ele já mostra sinais de cansaço. - Acrescentou Syndil. - Nega-se a ir à terra para dormir apropriadamente.

- O que quer dizer? - Perguntou Tempest, curiosa. Darius utilizava com freqüência essa frase, mas ainda não estava segura do que significava.

- A terra é curadora para nossa gente. - Disse Desari. - Nossos corpos precisam dormir de um modo diferente do seu. Devemos deter nosso coração e nossos pulmões para rejuvenescer. Sem fazer isto, não mantemos toda nossa força. Darius é nosso protetor. É um dos que devem enfrentar os assassinos humanos e caçar o não-morto que nos ameaça. Ao menos que vá para a terra como débito, perderá seu grande poder.

Tempest sentiu que seu fôlego parou nos pulmões. A idéia de Darius em problemas era atemorizante.

- por que não vai simplesmente dormir como tem que fazer? Passa horas inteiras me deixando louca, falando sempre e acrescentando uma ameaça ou duas só para manter as coisas interessantes.

- Darius nunca a deixaria desprotegida. Não pode. É sua companheira. Não pode separar-se de você.

Tempest suspirou, desfrutando da forma em que as duas mulheres a faziam sentir, como se pertencesse ao círculo familiar.

- Bem, terá que superá-lo já. Insistirei que vá dormir da forma em que deve. Se não o fizer, não terei mais escolha que abandoná-lo.

Desari sacudiu a cabeça.

- Ainda não entende. Darius não pode estar nunca longe de você. Destruiria-lhe. Não acredita que mudará alguma coisa se tentar lhe deixar. Só apertará mais as rédeas, Rusti. Nenhuma só vez, em todos os séculos de sua existência, ele desejou algo para si mesmo. Mas quer a você. Ele precisa de você.

- Talvez eu não o queira. - Disse Tempest. - Eu não tenho direitos?

Syndil e Desari sorriram, as notas soaram como sinos de prata, como água trilhando sobre as pedras.

- Darius não pode fazer nada mais que te fazer feliz. Ele mora em sua mente. Se não o quisesse, ele saberia. Não pode entendê-lo, Rusti? - Perguntou-lhe Desari. – Já não pode estar sem ele e ele não pode estar longe de você. Não o sente quando estão separados? Quando ele dorme o sono dos mortais?

Tempest baixou a cabeça e a lembrança desse desconforto em estava firmemente gravado em sua mente. Durante um momento se sentiu perto das lágrimas. Em seguida ele estava em sua mente.

- Tempest? Estou aqui. – Ele a inundou com calidez, com confiança.

- Estou bem, só estou agindo como uma tola.

- Irei a a você, se precisar.

- Seu toque é suficiente. - E era. As duas mulheres tinham razão. Necessitava-lhe tanto tinha ou não à vontade de admitir a alguém que não fosse ela mesma. Sentiu o toque dos dedos dele, numa terna carícia que passou por sua face e baixou até seus lábios. Pôde sentir a instantânea resposta de seu corpo, a calidez e o ardor. Sentiu o desassossego quando o contanto diminuiu gradualmente, contra a vontade.

- Rusti? - Perguntou Desari, brandamente. - Está bem? – Ela ergueu a mão de Tempest para examinar os dedos esfolados. - Como fez isto? Darius já viu? - Fechou a palma da mão sobre os raspões da mesma forma que tinha feito Syndil. Logo Tempest pôde sentir o quente alívio.

- É claro. - Admitiu Tempest, ruborizando-se ligeiramente enquanto recordava a sensação da boca de Darius sobre sua pele. - Não perde nada. O que é exatamente o não-morto? Disse que Darius caçava o não-morto. Está falando de vampiros?

- Se nossos homens não encontrarem uma companheira, com o tempo cedo ou tarde perdem sua alma ante a escuridão de seu interior. Convertem-se em vampiros, caçando nossa gente, igual os humanos. Devem ser destruídos. - Respondeu Desari.

Syndil tocou o ombro de Tempest para atrair sua atenção.

- O que me atacou, que cresceu como meu irmão, como minha família, meu protetor... E converteu-se em vampiro. Quase matou Darius. Se Darius não fosse tão poderoso, poderia ter tido êxito. Ainda assim, Darius ficou severamente ferido. Eu também teria morrido e possivelmente Desari também. Quem sabe?

- Cullen me contou que tinha visto um vampiro em São Francisco. Que a mulher com quem tinha intenção de se casar foi assassinada por um deles. - Disse Tempest. Ela estendeu-se para colher a mão de Sindyl, para que todas estivessem conectadas. – Darius poderia converter-se ainda? - Havia uma nota de medo em sua voz.

- Não, a menos que aconteça algo a você. - Desari examinou os dedos de Tempest novamente. - Terá que limpar estes arranhões.

- Existe a possibilidade de um filho? Podemos ter filhos juntos? - Agora havia um tremor distinguível na voz de Tempest.

Desari intercambiou um longo olhar com Syndil.

- Não sei com certeza, Rusti. - Respondeu Desari, honestamente. - Julian me contou algo sobre uma mulher que nasceu de uma mãe humana e um pai Cárpato. Não cresceu entre nós e passou mal para sobreviver. Não houve ninguém que a ensinasse, que a amasse, que a ajudasse a crescer apropriadamente, porque sua mãe se suicidou e seu pai se converteu num vampiro. A menina sobreviveu, entretanto, e eventualmente descobriu seu verdadeiro companheiro.

Tempest fechou os olhos, cansada, sua cabeça subitamente latente.

- Assim acredito que se ficar com Darius.. E não parece que tenha muita mais opção... Poderia ou não poderia ter um filho. Nunca considerei realmente que teria todo o conto de fadas.

- Darius está dando sua vida por ti. - Assinalou Syndil, gentilmente. - Quando o sol está alto, os membros de nossa raça são vulneráveis. Mesmo Darius. Na terra, poucos poderiam nos fazer danos, mas enquanto ele dorme o sono dos mortais, não pode ir a terra. Qualquer um que encontre seu lugar de descanso pode matá-lo facilmente. À medida que passe o tempo e ele perca mais e mais o sono rejuvenescedor, sua grande força debilitará substancialmente.

- O que posso fazer para remediar a situação? Eu não quero isto. Nunca lhe pedi isto. Não poderia suportar que lhe acontecesse alguma coisa, porque está tentando cuidar de mim. É uma loucura que descuide de suas necessidades para velar por mim.

Tempest não pensava mais que nisso. Tudo isto era muito entristecedor. - Uma mulher humana joa foi alguma vez antes, companheira de alguém de sua raça? Certamente não posso ser a única. Deve haver alguém que saiba o que fazer. Não posso deixar que Darius fique em perigo. - A idéia de algum assassino ou vampiro tropeçando acidentalmente com Darius quando estivesse vulnerável era aterradora.

Desari apertou sua mão sobre a mão de Tempest.

- Julian me contou que a companheira de seu irmão era humana.

Tempest afastou a mão de um puxão, não querendo que Desari sentisse seu elevado pulso. Desari tinha usado o tempo passado.

- Está morta?

- Não! Oh, não! Agora ela é uma de nós. É como nós. - Desari olhou fixamente Syndil, bem consciente de que Darius não lhes agradeceria que repartissem esta informação e preocupassem Tempest.

Syndil abraçou Tempest gentilmente.

- vou preparar-te mais caldo de verduras. Você está bastante pálida.

Tempest sacudiu a cabeça, respondendo quase ausentemente. Claramente sua mente estava em outra parte.

- Não tenho fome. Embora obrigado, Syndil. O que significa que, agora é uma de vocês? Como é possível isso?

- Darius pode te converter. - Admitiu Desari, cuidadosamente. – Mas disse que não o fará. Que nunca correria o risco de que algo possa sair errado. Fechou-se à idéia de viver como um humano até sua morte. Então partirá contigo.

Tempest ficou em pé, afastando aos leopardos, passeando inquieta.

- Como se faz? Como me converteria?

- Ele deve completar três intercâmbios de sangue contigo. É óbvio que completou pelo menos um, possivelmente dois. - Desari a observou passear, nervosa por ter dito coisas que Darius guardou de propósito, para si mesmo. - Mas Darius nem sequer considerou a idéia. Sente que é muito arriscado e só um par de mulheres sobreviveram a semelhante conversão... Intactas.

Tempest se esticou.

- Intercâmbio de sangue. Ele tomou meu sangue. O que é um intercâmbio?

Houve um pequeno silêncio revelador. E de repente ela não quis que ninguém dissesse nada. O conhecimento estava já entrando lentamente através de seus poros, de seu cérebro. Tempest apertou a mão contra a boca. A idéia era tão aterradora, que a empurrou fora de sua mente na intenção de entender o que as mulheres estavam lhe dizendo. - Por isso vejo e ouço as coisas de forma tão diferente. - pensou em voz alta, olhando às outras em busca de confirmação.

- E por isso está tendo problemas para comer comida humana.

Houve outro silêncio enquanto Tempest digeria o que haviam dito. Sua mente trabalhava a todo vapor.

- Então se me converter, terei que beber sangue.

Syndil passou uma mão ligeira e consoladora por seu cabelo.

- Sim, Rusti. Seria como nós em todos os sentidos. Teria que dormir nosso sono, se manter longe do sol. Seria tão vulnerável e tão poderosa como nós. Mas Darius se nega a fazer essa escolha. Pegou-se à idéia de guardar o risco para si mesmo.- Disse ela gentilmente, sua voz numa formosa mistura de notas consoladoras. Eembora não ajudou.

As laterais do trailer se estavam fechando subitamente sobre Tempest, sufocando-a, esmagando-a como fizera a montanha. Tempest se afastou das duas mulheres e se encaminhou para a porta. Tinha que respirar; precisava de ar. Lançou-se para fora do ônibus, desejando correr para o interior da noite, correr em liberdade.

Darius captou sua pequena figura quando desceu os degraus e se jogou nà segurança de seus braços.

- O que acontece, pequena? - Murmurou brandamente contra seu pescoço. - O que te assustou? - Não invadiu sua mente, porque queria que ela confiasse nele o bastante para lhe contar-lhe por si mesma. Se ela se negasse a contar-lhe alguma coisa, sempre podia fundir suas mentes.

Tempest enterrou a face no pescoço dele.

- Me tire daqui Darius, por favor. Leve-me a campo aberto.

Ele levantou os olhos, negros e furiosos, para encontrar o olhar culpado de sua irmã antes de se voltar e se afastar do acampamento. Uma vez fora da vista de olhos curiosos, aumentou a velocidade, correndo tão rápido que as árvores ao redor se converteram em borrões. Quando parou, estavam numa clareira rodeada por um arvoredo.

- Agora me conte, céu. - Ainda pensava lhe permitir pronunciar as palavras em vez de ler sua mente. Queria sua confiança. Queria que ela lhe dissesse voluntariamente o que havia causado seu medo. - Está sob o céu aberto. Só com as estrelas olhando para nós. – Ele acariciou a face dela, a garganta, deslizou a mão por seu braço, para encontrar sua mão. Gentilmente levou os dedos dela a calidez de sua boca, ao alívio e a cura que provia sua língua aveludada.

Ela fechou os olhos firmemente, saboreando a sensação. Havia sentido falta dlee nestas poucas horas passadas. Sequer se sentia viva a menos que ele estivesse chateando-a.

- Não sei como ser parte de alguma coisa Darius, parte de você. – Ela pressionou a testa contra seu ombro, temerosa de olhar para ele. - Vivi sozinha toda minha vida. Não conheço outra vida.

Darius a manteve perto, aquecendo-a.

- Temos todo o tempo do mundo, céu. Aprenderá a se sentir cômoda com uma família e se for muito neste momento, levarei-a para longe dos outros até que aprenda a ser parte de mim. Não tem que fazer frente a todo o grupo de uma vez, se acha difícil.

- O que acontece se não puder, Darius? O que acontecerá se simplesmente não posso?

A mão dele encontrou sua nuca, os dedos se moveram numa lenta massagem, aliviando sua tensão.

- Pequena. – Darius disse com sua voz aveludada, a que podia dar ordens ao vento e às forças da natureza. A que lhe acelerava o pulso e fazia arder cada terminação nervosa em seu corpo. - Não há nada a temer. Não posso fazer outra coisa que assegurar sua felicidade. Confie em mim.

- Poderia te perder, Darius. Sei que posso te perder. É muito mais fácil estar sozinha que perder alguém. - Sua voz era baixa e trêmula, fazendo com que o coração dele desse um pulo. - Já está se descuidando. Você se aproveita de minha ignorância em suas necessidades, em seus costumes. Algo poderia te acontecer por minha culpa. Não o fez? Não suportaria.

Silenciosamente Darius amaldiçoou sua irmã. Sentiu o medo e a fadiga de Tempest pulsando nela, nele. Seu corpo precisava de nutrição, embora não pudesse comer. Era culpa dele. Tinha-lhe feito mal.

- Que tolice esteve contando minha irmã? Você não é responsável por minhas escolhas. Quero estar contigo. Viver contigo, amar você. Formar uma família contigo.

Tempest sacudiu a cabeça, depois se afastou para olhar nos olhos dele.

- Sabe que nunca poderia ser. Não permitirei isto a você, Darius... Desperdiçar sua vida, se tornar vulnerável, possivelmente adoecer. Sei que dormir sobre a terra da forma em que durmo, com o tempo se debilitará. Não permitirei. Por que fazer alguma coisa? Não preciso de amparo constante. Cuido que mim mesma a muito tempo.

Darius respondeu-lhe da única forma que sabia, buscando os lábios macios. A rajada estava ali, arqueando-se instantaneamente entre eles, fumegando e faiscando enquanto a fome se elevava agudamente e as chamas começaram a lamber sua pele. Darius verteu tudo o que sentia por ela nesse beijo de fogo. A fome e a necessidade, seu compromisso absoluto para com ela. Depois lhe emoldurou a face com as mãos mantendo-a imóvel para seu olhar escrutinador.

- me olhe, céu. Quero que me encontre. Une sua mente à minha e assim saberá que o que digo é certo. O que desejo. Não tenho reservas, nenhuma absolutamente. Quero passar minha vida contigo, envelhecer e morrer contigo. Seria um maravilhoso milagre ter séculos juntos, mas aceito que não pode ser e não desejo outra coisa. – Ele inclinou-se para beijar o cantinho dos lábios dela. - Não tema nossa união. É o que quero com cada célula de meu corpo. É a única coisa que desejo. Serei feliz com nossa vida juntos.

Tempest se ergueu para lhe rodear o pescoço com os braços, buscando-o desesperadamente para lhe beijar, movendo-se contra seu corpo inquieta, precisando dele quase com uma fome dos Cárpatos.

Ele pôde sentir as lágrimas sobre a face dela e soube que estava chorando por ele, soube que tinha medo de lhe causar mal, soube que de um momento para outro poderia estar tão afligida pela idéia de compartilhar sua vida, que poderia escapar.

- Por que não me contou o que estava fazendo a você mesmo, Darius? - Murmurou ela contra sua garganta. Os dedos dele se moveram sob a blusa dela, levantando as bordas para encontrar a pele sedosa, as palmas de suas mãos ardentes e invitadoras, acariciando-lhe o seio. Ela não conseguia pensar com o fogo que corria através dela e a fome dele rabiando em sua alma. - Tem que me prometer que nunca voltará a fazer isto. Posso cuidar de mim mesma enquanto você está na terra. Ficarei qualquer lugar que me peça que faça. Prometo que farei, Darius.

Sua boca estava agora sobre seu seio e Tempest embalou sua cabeça contra ela, seus dedos se enredaram através do espesso cabelo dele enquanto o calor percorria seu corpo.

Ela era seda, cálida como o mel, limpa e fresca essência da noite que ele tanto amava. Era tudo de bom e formoso no mundo, tudo o que podia desejar.

Darius estava consumido pela fome dela, com uma feroz necessidade de enterrar-se na perfeição de seu corpo. Precisava de seu ardente e tenso sexo lhe envolvendo para afastar o terrível temor por sua segurança, que não podia acudir de todo. Afastou os jeans dela para longe dos esbeltos quadris, acariciando-a, moldando seu corpo com as mãos, embalando seu traseiro para poder apertá-la contra ele, pressionando-a contra seu membro duro e pulsante.

Gemeu ante a sensação dela, úmida e quente chamando-a. A selvagem essência de seu corpo lhe reclamava.

Ela parecia tão frágil que tinha medo de esmagá-la, de perder tanto o controle que se esqueceria de sua força descomunal e lhe fazer mal. Tentou ser gentil com ela, ocupar-se de sua satisfação antes da própria, mas o aroma e a sensação dela era tão excitante que seus instintos animais ameaçavam tomar o controle.

- O que vou fazer contigo, Darius? - Murmurou brandamente contra o peito nu dele. Sua boca se movia sobre ele, saboreando a pele tão avidamente como ele saboreava a sua. Havia dor em sua voz.

A boca dele imediatamente se apressou a cobrir a dela num beijo longo e embriagador que alimentou as chamas ainda mais.

- Me ame em troca, Tempest. Necessite-me da mesma forma em que eu preciso de você.

Ele estava em todas as partes, seus ombros largos bloqueavam o céu noturno, sua respiração roubava a dela, seu corpo se amoldava ao redor do dela, trazendo-a a seu próprio mundo onde nada mais se entremetia. - Sabe o que me faz passar com sua desobediência. - Sua boca estava sobre a garganta dela, sobre os seios, numa fome frenética que parecia não conhecer limites. - Deve aprender a me obedecer. – Seu dedo se introduziu entre os músculos internos, encontrando sua ardente e úmida aceitação. Ouviu seu próprio gemido quando seu corpo se endureceu ainda mais, numa doce agonia que só ela podia aliviar. - Por Deus pequena, vou explodir se não a tomar agora. - Seus dedos acariciaram o sexo feminino, explorando, tentando-o, deixando-a louca por ele.

Tempest estava lhe beijando o ombro, e dando-lhe pequenas e suaves mordidas que não podia evitar. Seu corpo se movia inquietamente com excitação, exigindo.

- Darius, por favor, deixe de dar ordens pelo menos uma vez e simplesmente faça amor comigo.

Ele a encontou contra uma árvore, voltando-a em seus braços para que pudesse apoiar as mãos contra o enorme tronco. Acariciou-lhe o traseiro, acariciando os ângulos, a fenda, as duas pequenas covinhas na parte baixa de suas costas. Impacientemente, Tempest empurrou-se contra ele e instantaneamente ele se endureceu de desejo. Suas mãos firmaram aos quadris para sustentá-la imóvel, e quando pressionou a ponta aveludada de seu membro na ardente entrada, o ar abandonou seus pulmões.

- Darius! - Gemeu ela, tentando empurrar-se mais para trás, para tomá-lo todo profundamente nela.

- prometa-me.- Gemeu ele brandamente. Suas mãos acariciavam os quadris dela, deslizando-se sobre seu traseiro para deliberadamente inflamá-la mais. A vista dela, tão pequena e perfeita, enviava relâmpagos em seu interior.

- Prometo. – Ela respondeu bruscamente, incapaz de pensar claramente.

Darius estendeu os braços envolvendo-a para acariciar seus seios com as palmas das mãos, possessivamente. Empurrou-se para entrar em sua mente mesmo enquanto investia profundamente dentro dela. Ela estava mais ardente, suave e apertada do que se lembrava. Esfregou o nariz contra o pescoço dela e seus dentes a mordiscaram eroticamente. Sentiu o sexo dela lhe apertando duramente com antecipaçãoe apesar de todas suas boas intenções, a ferocidade em seu interior tomou o controle. Suas presas se alongaram e cravaram no pescoço dela.

Tomou com força e rápido, penetrando-a profundamente, seu corpo rodeando o dela como o dela o dele. Estava em sua mente, alimentando suas imagens eróticas. Em sua natureza selvagem e primitiva surgiu um lobo reclamando sua companheira, um leopardo sujeitando à fêmea em posição total.

Ao mesmo tempo era Darius, levando-a mais e mais alto, empurrando seu prazer compartilhado além do êxtase humano. O corpo dela se estremeceu com a liberação, lhe conduzindo sobre o limite de forma que sua cálida semente erupcionó uma e outra vez nas profundezas dela.

Manteve-a imóvel, obstinado a ela, não desejando abandonar sua conexão física, o sabor dela. Relutantemente se obrigou a fechar as marcas de seu pescoço. Alimentara-se bem antes de se aproximar do acampamento, sabendo que tomaria antes que terminasse a noite, sabendo que ainda poderia, embora relutantemente, ter que matar Cullen Tucker. Não desejava se arriscar inadvertidamente em converter Tempest, em que algo pudesse sair errado.

Acariciou seu corpo, explorando cada curva. Sua boca seguiu a linha da espinha dorsal, beijando suas costas.

- Tem alguma idéia do que sinto por você, pequena? Alguma idéia absolutamente? - Grunhiu ele.

As pernas de Tempest pareciam de borracha. Queria estender-se em algum lugar. Estiveram toda a noite anterior, acordados e não tivera um momento para uma sesta. De repente, com toda a intriga, o trabalho e o selvagem ato de amor compartilhado, estava exausta.

Darius soube instantaneamente. Lentamente se retirou de seu corpo, sentindo-se ligeiramente despojado. Envergonhava-se de que pudesse precisar tanto dela, de ansiar seu sangue, o sabor de seu corpo, a sensação da tê-la envolvendo-o. Tinha que encontrar a forma de manter um equilíbrio entre o amável para evitar assustá-la e lhe impor sua vontade, para poder mantê-la sempre a salvo e a seu lado.

Darius carinhosamente a puxou contra seu corpo, onde Tempest caiu rendida, ruborizando-se por ter sido tão desenfreada, lhe suplicando que tomasse. Passou as mãos pelo cabelo e logo as mãos dele cobriram seus seios empinados, enviando fogo aos mamilos sensíveis e novamente de volta a ele. Enterrou a face contra seu peito, muito cansada para manter-se em pé por si mesma e Darius instantaneamente a recolheu em seus braços. Tempest fechou os olhos enquanto viajavam num borrão através do tempo e do espaço.

Não sabia o que ele havia dito aos outros, algo que tivesse feito acontecer, estava agradecida pelo acampamento estar vazio, exceto pelo ônibus quando voltaram, totalmente nus. Quando fazia amor com Darius, sentia-se totalmente livre, totalmente desinibida. Mas uma vez estavam de volta ao mundo real e sua natureza reservada se reacomodava. Sentia dolorosamente tímida.

Darius a levou até o sofá cama do trailer, colocando-a entre as almofadas

- Agora você descansará, Tempest. - Era um decreto. Uma ordem com uma voz que exigia ser obedecida.

Ela seguou-o enquanto ele se movia para se afastar dela, trazendo-o de volta à cama, a seu lado. Sua mão acariciou os duros ângulos da face dele, numa gentil carícia que o desarmou totalmente. Darius ficou instantaneamente perdido na satisfação, no puro prazer de tê-la a seu lado. Estendeu-se junto a ela, por poucos minutos e a puxou para seus braços.

 

- O que vamos fazer com essa gente que espreita Desari? - Perguntou Tempest enquanto se acomodava na curva do braço de Darius.

Ele baixou o olhar para ela, sua boca lhe roçou a testa meigamente.

- Nós? O que significa, nós? Pelo que entendi, o primeiro objetivo da sociedade é conseguir você. Vais fazer exatamente o que prometeste. Obedecer-me ao pé da letra.

- Na verdade, - disse Tempest tranqüilamente, ignorando o tom abrupto dele, - acredito que Cullen Tucker disse que a sociedade considerava que Julian era um vampiro. Eu diria que ele é o primeiro objetivo.

- A segurança é um assunto de homens Tempest, não teu. De agora em diante, fará o que eu disser e se manterá longe dos problemas.

Tempest estava adormecendo, feliz de estar em seus braços e sorriu para a fúria negra que se acumulava nos olhos dele. Tocou-lhe os lábios numa ligeira carícia surpresa com a perfeição de seus lábios.

- Adoro sua boca. - Admitiu antes de poder censurar as palavras.

Darius se encontrou instantaneamente distraído de sua fúria. Um toque dela e já não podia se lembrar do próprio nome, muito menos de um sermão. Beijou-a com força, possessivamente, demorando-se em explorar sua doçura, para lhe mostrar exatamente a quem pertencia. Quando levantou a cabeça, os olhos esmeralda estavam aturdidos, formosos e tão sexys que ele se encontrou gemendo em voz alta.

- Descanse enquanto preparo algo para você comer. - Ordenou.

As pálpebras dela caíram e seus suaves lábios só pediam para serem beijados novamente. Darius tinha que afastar o olhar dela ou não teria forças para deixá-la.

Segurou-lhe a mão.

- Na realidade não tenho fome, Darius. Não se incomode em preparar nada. Será uma perda de tempo. Na verdade, sinto-me ligeiramente doente.

A culpa o varreu. Era culpa dele que ela estivesse tendo problemas para comer. Tocou-lhe a face. Seu coração fundiu.

- Comerá o que eu preparar, céu. Assegurarei-me de que fique em seu estômago. – Mas, estava falando consigo mesmo, já estava adormecida.

Darius passou alguns minutos olhando-a, absorvendo o ritmo de sua respiração em seu próprio corpo. Sua vida reduzia-se a isso. Esta delicada e frágil criatura era sua vida, seu mundo. Precisava cuidar melhor dela, colocar atenção em sua saúde e segurança. Tempest parecia passar de uma crise para outra. Teria que conseguir algum controle sobre ela. Começaria fazendo-a dormir a sesta pelas tardes, para recuperar as forças.

Ausentemente Darius fabricou um par de jeans e os vestiu, fechando-o descuidadamente enquanto passeava descalço até a porta do ônibus. Os leopardos estavam no bosque e ele se advertiu para que animais voltassem para a segurança do acampamento. Enquanto abria a porta, a brisa noturna ondeou sobre ele, levando-lhe as essências e sons de várias milhas a sua volta.

Logo seus olhos negros se tornaram frios e desumanos. Um pequeno som escapou de seus lábios enquanto exalava bruscamente. O inimigo os encontrara. Estavam em dois e se seu agudo sentido do olfato não lhe falhava, virtualmente um exército os rodeava. Os homens se moviam lentamente através do bosque, rodeando o acampamento. Cheirou seu temor, sua adrenalina e seu suor. Cheirou sua excitação. Leu suas intenções e a ânsia de matar.

Um grunhido retumbou em sua garganta em resposta à ameaça. Estava dividido entre o trailer e Tempest, incapaz de agir como teria feito se estivesse sozinho. Uma careta retorceu seus lábios, revelando os caninos alongados. A verdade era simples. Daria boas-vindas à briga. Já havia suportado ameaça o bastante contra sua família, e sempre fora homem de ação. Enviou um chamado ao leopardo, advertiu aos outros e se voltou para despertar Tempest.

Surpreendeu-lhe, vê-la ouvindo sua explicação e vestindo as roupas que lhe tinha dado, sem perguntaa.

- Tem alguma arma por aqui? – Ela perguntou finalmente.

As sobrancelhas dele se elevaram.

- Como que armas?

Ela riu.

- Criei-me nas ruas, Darius. Não permita que o fato de que me tenham atacado um par de vezes, o confunda. Pegaram-me despreparada. Se a gente não pressente é um pouco difícil se defender.

- As armas estão na gaveta dentro do armário. Mas só se for absolutamente necessário. Para seeixe proteger. Deixe que eu me ocupe destes idiotas. - Advertiu ele, cautelosamente. Tempest com uma arma na mão era uma proposta arrepiante.

- Onde estão os outros?

- Estão indo para nossa seguinte parada, levando ao Cullen Tucker com eles. – Respondeu ele, aparentemente atento.   Darius sentiu a vibração.

Enviou-se a procurar na noite, enquanto ela apressadamente preparava o ônibus para uma viajem rápida. Descobriu um homem aproximando-se pelo lado norte, com um comprido rifle em suas mãos. Um franco atirador camuflado. Darius dirigiu o leopardo macho no encalço dele. A fêmea havia sido enviada depois, para o homem mais próximo do franco-atirador, a poucos passos a sua esquerda. Estavam entre os espessos arbustos, objetivos fáceis para os felinos, e Darius sabia que suas mortes seriam rápidas e silenciosas.

Sentia-se preso, entre permanecer em sua presente forma, proteger Tempest ou internar-se no bosque, onde poderia trabalhar melhor.

- Vá. - Disse ela baixinho, carregando a arma que havia pegado da gaveta. - Sei que não estará longe se eo precisar.

Darius se inclinou para beijar sua boca. Havia sombras nos olhos dela, e estava tremendo ligeiramente, mas o olhava diretamente aos olhos, e podia sentir a resolução em sua mente.

- Não permitirei que aconteça nada, Tempest. Pelo bem de todos os mortais, cuide acima de tudo de sua segurança. - Olhou fixamente o arsenal que ela estava preparando. - Não dispare em mim, quando voltar.

- Resistirei à tentação. - Sua mão acariciou o pescoço dele. - Se ocupe em voltar para mim. - A dor de seu coração era real e forte.

Medo. Saboreou-o em sua boca.

Ele desapareceu.

Num momento era real e sólido, em pé diante dela e no seguinte, já não estava mais ali. Tempest não fazia idéia de como ele havia se dissolvido em vapor ou movido tão rapidamente que não o tinha visto. Fora na escuridão, o vento começou a aumentar, emitindo um baixo e arrepiante gemido. Falava de morte. Tempest estremeceu, perguntando-se como sabia, mas sabia de todas formas.

O vento era morte. Darius era o vento.

Viu-se no espelho. Pálida, despenteada e com os olhos totalmente abertos pelo medo. Via uma mulher pequena, com jeans azuis e camiseta, carregando com uma arma enorme, mas havia uma sombria determinação estampada em sua face. Estava descalça e o remediou rapidamente, segura de que teria que abandonar a ilusão de segurança que proporcionava o trailer. Sentou-se no chão, com uma arma no colo e outras duas junto a ela, fáceis de alcançar e esperou.

Darius cruzou velozmente o céu, anotando a posição de cada atacante. Havia dezessete homens, todos armados. O acampamento estava rodeado, havia caminhões pesados colocados no meio do caminho que conduzia à auto-estrada principal, para evitar que o ônibus saísse. Forest arrastava o corpo do oitavo decimo homem através do espesso arbusto. O leopardo macho se movia silenciosamente, seu poderoso corpo enérgico e mortal, indetectável para os caçadores que se arrastavam para frente, a poucos passos dele.

Darius se materializou depois de um homem enorme armado até os dentes. Rompeu o pescoço dele como se fosse um palito. Não houve tempo de escapar nenhum som, só a rajada de vento que levou Darius até o seguinte assaltante da fila. Este estava abaixado, olhando entre as árvores, tentando captar algum movimento do ônibus prateado. O vento o apanhou numa garra mortal, como uma enorme mão em sua garganta, e lentamente o estrangulou, acabando com sua vida, enquanto o corpo caía impotentemente sem cerimônias, no chão do bosque.

- Murphy? - Uma voz sussurrou à direita de Darius. - Não posso ver nada. Onde está Craig? Devia estar aqui perto.

Darius se ergueu. Maior que a vida, seus traços duros e implacáveis, seus olhos negros, ardentes carvões de fúria. Longos caninos brancos se revelaram quando sorriu.

- Ambos se perderam. - Suas palavras foram suaves e hipnotizadoras.

O homem se congelou com o horror, incapaz de levantar sua arma, quando a aparição se moveu para ele com cegadora velocidade. O caçador caçado, sentiu o impacto em seu tórax e baixou o olhar, com horror, para o buraco aberto ali. Queria gritar, mas não surgiu nenhum som. Morreu em pé, olhando para Darius, com a face convertida numa máscara de surpresa.

Tão implacável como o próprio vento, Darius deslizou para o seguinte atacante. Este era jovem, de bigode e pintura de camuflagem no rosto. Respirava trabalhosamente, a adrenalina bombeava através de seu corpo. Seus dedos acariciavam continuamente o gatilho de sua arma automática. Darius passou junto a ele. Uma ondulada de músculos e tendões, garras afiadas que lhe rasgaram a garganta.

A alguma distância, disparou-se uma arma, cuspindo chamas vermelhas na escuridão. O agudo grito de um homem se misturou com o inconfundível lamento do leopardo fêmea. Darius se dirigiu para o som. Várias armas dispararam grosseiramente, varrendo a área de onde havia chegado o lamento, até que uma voz autoritária a várias jardas a sua esquerda, lançou uma ordem.

Tempest ficou em pé, seu primeiro pensamento foi para Darius. Automaticamente, se estendeu para ele, fazendo uma careta quando sentiu a neblina vermelha de fúria assassina em sua mente. Rompendo o contato, procurou a causa do lamento. Instantânemente soube que o leopardo fêmea estava em perigo. Amaldiçoando-se, tentou acalmá-la, o suficiente para decidir o que fazer. Sasha estava ferida, podia sentir a dor e a fúria do felino como se ela mesma estivesse se arrastando através da folhagem de volta ao ônibus e a sua companheira humana.

Tempest duvidou só um segundo antes de colocar uma pistola na cintura, pegar a automática e correr para as árvores. Enviou a Sashá a rápida segurança de que estava a caminho. Ajudaria a felina se salvar e acabaria com sua dor.

Houve outro grito, bem mais perto do que gostaria, seguido por uma rajada de disparos. Novamente, Tempest se estendeu para tocar a mente de Darius, aterrorizada de que ele pudesse estar ferido. Ele estava em meio a uma mudança de forma e seu corpo acomodava a forma musculosa de uma pantera, enquanto saltava do galho de uma árvore. Lançou-se sobre um atirador postado que se arrastava sobre a barriga, através da vegetação. A arma do atirador apontava para Forest, enquanto o leopardo se aproximava para outro intruso, que estava disparando em Sasha, enquanto ela se retirava.

Tempest ofegou em voz alta enquanto compartilhava a mente de Darius. Ele estava além da piedade, de qualquer emoção. Estava parecia calmo e frio, implacável em sua perseguição aos membros de sua família. Saltou sobre o franco atirador silenciosa, implacável e mortalmente. Enquanto seus caninos se afundavam profundamente na garganta do homem, Tempest fugiu, não querendo presenciar como Darius matava seu adversário.

Tempest se abaixou sob o dossel de ramos baixos, tentando com todas suas forças permanecer tranqüila e sem mover nem um arbusto. Por ser pequena, foi capaz de se mover facilmente pelo caminho aberto pelos animais pequenos, ainda assim quase caiu sobre a silenciosa e ferida pantera. Sasha estava agachada e imóvel entre as grandes samambaias que cresciam sob as árvores. Tempest estendeu uma mão consoladora sobre as costas do felino e enviou ondas de tranqüilidade, enquanto se ajoelhava para inspecionar a ferida.

A pata traseira direita do leopardo estava coberta de sangue. Tempest resmungou maldições impróprias para uma dama. O felino era muito grande para que ela o levantasse. Envolveu um braço ao redor da barriga e a levantou, o suficiente para permitir que Sasha se arrastasse para frente. O terreno era acidentado e a panterra sofria, apoiando mais o peso sobre Tempest, enquanto coxeava para o ônibus.

Súbitamente Sasha girou a cabeça à direita, retorcendo a boca, numa careta de advertência, depois ficou congelada. Tempest se deixou cair no chão e seus olhos imediatamente, inspecionavam a área a sua direita. Um homem surgiu, com a cabeça voltada para longe dela, ele trazia uma arma nos braços e outra pendurada no ombro. Estava vestido com roupas negras e sua face estava pintada com raias negras. Parecia um gorila saindo da névoa.

Enquanto a noite esclarecia, a névoa corria rápido, formando redemoinhos, com um vapor branco e estranho sobre o chão do bosque. Tempest se deitou junto à pantera ferida, tremendo de medo. Sentia-se fraca pela falta de comida e estava exausta. Até a arma estava pesada em suas mãos. Parecia uma tarefa impossível conseguir levar a leopardo de volta à comparativa segurança do ônibus.

O homem desapareceu entre as árvores, a névoa os rodeou. Tempest ficou em pé, seus joelhos pareciam de borracha estava com a boca seca. Sasha se arrastou para frente, com a ajuda de Tempest. Avançaram pouco a pouco e com dificuldade sobre o chão... Um lento e doloroso processo que parecia interminável. Pesada, a névoa foi seu único amparo uma vez emergiram para o acampamento. Tempest enviou uma silenciosa prece de agradecimento ao espesso vapor que evitava que sua presença fosse detectada.

Darius sentiu a perturbação adiante. Abriur passo através da linha de intrusos, o leopardo macho chegou do lado oposto para encontrar com ele no acampamento. Duas vezes, usara Darius, a pesada névoa para envolver um franco-atirador em sua garra mortal, estrangulando a vida do intruso. Não havia deixado para trás, nenhum inimigo vivo e sabia que Forest fizera o mesmo. O número de competidores reduzira significativamente. Sasha matou dois antes que a disparassem.

Darius era consciente de onde estava Tempest, a cada momento e o que estava fazendo. Não tentara evitar que ela fosse para o felino, porque teria que forçar sua obediência. De todas as formas, estava aterrorizado por ela e o medo quase estava o paralisando. Sentiu o homem sair precipitadamente da névoa para ela, sua arma apontava para a pequena cabeça. Sasha tentou atirar-se sobre Tempest, protegendo-a por ordem de Darius, enquanto ele tomava o controle da arma, utilizando sua mente e os olhos do leopardo, para obrigar o canhão a retroceder para o assassino.

O homem gritou horrivelmente, quando a arma que segurava, por vontade própria, girou lenta e inexoravelmente para sua própria cabeça. Enquanto tentava dizer a seu cérebro que se detivesse, sentia seus próprios dedos apertar o gatilho. Darius que se movera com velocidade sobrenatural e chegou à cena quando o homem caía. Saltou para Tempest, empurrando-a a terra.

Uma bala acertou seu ombro, ardendo e rasgando através de seu corpo, roubando seu fôlego.

Darius queria descançar um momento, mas o homem que tivera êxito ao lhe disparar, estava se movendo em busca da morte. Jogando para um lado a dor, concentrou sua vontade sobre o inimigo. Entretanto, ele já estava se dirigindo para o leopardo macho. Avivando o vento e criando a densa névoa, agora que estava fraco, sua grande força diminuída pela perda do sangue, de sua vida que derramava sobre o chão.

Ainda assim, levantou-se como uma aparição, seu corpo se contorceu e as presas explodiram em sua boca, enquanto o lobo surgia para frente e rasgava o peito do homem. O inimigo estava tão congelado pelo terror da visão de algo que era meio homem e meio lobo, que só pôde ofegar com horror.

Tempest tinha se atirado ao chão com tanta força, que quase perdeu o fôlego. Durante um momento só pôde ficar deitada ali, tentando recompor seus sentidos. Não estava segura de quem a tinha empurrado. Tinha sido Sasha que arrojara à ação, com seus lamentos e doloridos chiados e as imagens de carne rasgada. Tempest girou para ver o Darius atirar um corpo ao chão. Gritou uma advertência, e instantânemente, ele se voltou e encontrou a um enorme atacante lançando-se para ele, com um facão na mão.

Ele segurou o braço elevado do homem com sua força e o olhou durante um momento. Seus olhos se mantiveram sobre o cativo. Lentamente inclinou a cabeça e bebeu, precisava substituir sua própria perda, Precisava da nutrição e do poder do sangue carregado de adrenalina. A ânsia o golpeou com força em seu fraco estado, mas ele bebeu vorazmente.

- Darius! Murmurou Tempest com urgência. Algo em seu interior soube que tinha que o deter. Não entendia por que, mas sabia que ele já havia matado, mas não desta forma, nunca desta forma.- Darius, preciso de você, agora.

Sua suave e formosa, a voz penetrou na mente dele, subjugando a raiva, a fera, apaziguando o selvagem anseio de morte e sangue. Obrigou seus dentes a deixar sua presa e deixou cair o homem no chão, enquanto ainda estava vivo. Sem olhar para o bosque, enviou uma mensagem ao leopardo macho. O homem devia ser destruído, sem deixar testemunhas do que acontecera ali.

Era necessário para a sobrevivência de sua raça.

- Eu levarei Sasha. - Disse Darius grunhindo. A fera ainda era forte nele, vermelhas chamas, ardiam ferozmente em seus olhos.

Tempest ofegou quando viu o sangue correndo pelas costas de Darius.

- Vá. Eu te cubro.

- Venha pela direita. - Disse ele, empurrando-a diante dele, inclinando-se para levantar o enorme felino.

Ela caminhou atrás dele e lançou uma rajada de disparos com a automática, as balas assobiaram cruelmente, dando tempo para levarem Sasha para o ônibus. Tempest retrocedia para ele quando a capturou em seus braços, tirando a arma de suas mãos. Darius era consciente de que ela não estava disparando em ninguém, só os mantendo longe. Tempest não possuía instinto assassino. Coragem, lealdade, sim... Nunca abandonaria a ele ou aos felinos e faria tudo o que pudesse para protegê-los, mas passaria um mau momento se chegasse a matar a outro ser humano.

Com certa rudeza, tirou a decisão de suas mãos.

- Cuide da Sasha. Use as ervas do armário.

Literalmente, ele a lançou para interior do ônibus, afastando-a antes que tivesse tempo de protestar.

Em seguida começou a chover. Um verdadeiro dilúvio desceu do céu, empapando o bosque e o acampamento, como se derramasse um oceano inteiro sobre eles. Tempest se concentrou em sua tarefa. Sasha meneava a cauda com agitação. Um baixo e ameaçador grunhido saía de sua garganta.

Darius protegia o ônibus, defendendo-o dos caçadores ocultos que agora se converteram em sua presa. Sua forma, real e sólida, reluziu tenuemente entre a erva brevemente, depois simplesmente evaporou. Entre a cascata prateada do aguaceiro, gotas vermelhas caíam ocasionalmente sobre o chão.

O vento se elevou até um ponto frenético, chiando através das árvores, afiado como faca. O leopardo macho era um vergitinoso borrão de garras e presas, um instrumento de vingança. Durante um breve momento o bosque esteve vivo com gemidos e gritos, horror e o cheiro da morte. Quando tudo terminou, só o som do vento e a chuva permaneciam.

Darius se ajoelhou por um momento, na chuva. Estava fraco e ferido, convulsionado pela necessidade. Deixou cair à cabeça enquanto a água começava a fluir em pequenos rios a seu redor. Os corpos estavam com o aspecto de terem sido atacados por animais selvagens, embora se fossem estudados, levantaria interesses em meio mundo. Não podia permitir isso.

Passou considerável tempo arrumando a área de forma que os humanos o aceitassem sem muitas perguntas. Havia explodido uma batalha entre facções de fanáticos de guerrilhas de fim de semana e se mataram uns aos outros e seus corpos haviam sido perturbados por vários animais carnívoros. Cuidou em eliminar qualquer rastro da presença de sua família na área. Não poderia deixar, sequer marcas de pneus no acampamento. A água acumulada se ocuparia por ele. Podia esconder o ônibus, nublá-lo a olhos curiosos, até que estivessem na auto-estrada principal.

Exausto, chamou Forest. Homem e felino voltaram para ônibus juntos. Sasha estava deitada tranqüilamente e o enome leopardo macho foi para seu lado e a tocou várias vezes, examinando a ferida já costurada e enfaixada. Tempest se voltou para olhar Darius, com o coração nos olhos. Ele se sentiu como se chegasse em casa, sua debilidade desapareceu, o cheiro da morte foi substituído por sua luz acolhedora.

- Está sangrando. - Disse ela brandamente.

- Viverei. - Respondeu. Sua raça detinha o coração e pulmões para preservar seu sangue, mas Tempest não estava a salvo ainda. Ainda tinham que fugir do cerco de caminhões que bloqueavam todos os acessos para a auto-estrada e Darius sabia que haveria outros nesses caminhos, esperando.

- Me diga o que precisa. - Disse ela, consciente de que seu corpo curava de forma diferentes do dela.

- As ervas e a terra que preciso estão no armário sobre o sofá.

Ele estava cansado e isso a aterrorizava. Afastou o olhar, cuidando em evitar encher os olhos com as lágrimas que teimavam em aparecer. A visão de Darius, molhado e fraco, sujo de sangue e barro, com o cabelo negro grudado na cabeça, quase rompeu seu coração.

Ocupou-se dele rapidamente. Foi mais fácil do que imaginara. A bala saíra de seu corpo e ele começava a fechar as feridas de dentro para fora. Mas requeria tremenda energia de sua parte, curar seu interior sem o benefício da terra e do sono rejuvenescedor. Tempest cobriu suas feridas com uma mistura da saliva curadora dele, de terra e ervas. Foi estranho seguir as diretrizes para misturar terra com sua saída, mas aceitou sua explicação de que os Cárpatos eram da terra e aproveitavam a vantagem de suas propriedades curadoras. Sua mão acariciou o pescoço dele. As pontas de seus dedos comunicaram seu crescente amor, quando ainda não podia expressar em voz alta.

Darius capturou sua mão e a levou a boca.

- Sinto muito, Tempest. Nunca teria te exposto voluntariamente a este aspecto de nossa vida. Com freqüência, somos caçados pelos mortais. Através dos séculos, muitos de nós foram massacrados. Desejaria ter conseguido poupar você disso.

- Não adoecerei ao Sol, Darius ou me derreterei sob a chuva. Sou dura, já sabe. Agora me deixe no conduzir para fora daqui. Vá dormir. Dormir de verdade. Sei que não pode ir para a terra, mas pode dormir como se deve e confiar em que eu cuidarei de voce. - Seus olhos verdes capturaram o olhar negro dele e o mantiveram. - Confia em mim, não é Darius?

Ele sorriu. Entre a neblina de sangue e de morte, da dor e debilidade, ela o fazia sorrir.

- Com minha própria vida, pequena. - Respondeu, e sua voz suave a provocou. Ele sugurou o queixo dela, com a palma de sua mão. – Prometo a você que descansarei quando souber que estamos a salvo.

A resignação se arrastou nos olhos dela. Não adiantava nada discutir com Darius quando ele tinha tomado uma decisão.

- Me diga o que faço.

- Terá que conduzir o ônibus. A tempestade está em seu ponto baixo. Devemos aproveitar essa vantagem. A água fluirá em arroios porque a terra não pode retê-la, haverá inundações. Temos que chegar a tempo para atravessar a ponte antes que a parede de água a leve. Não podemos usar as estradas enquanto eles as bloqueiam. - Explicou ele.

Ela se mordeu com força, o lábio inferior, mas essa foi seu único sinal de apreensão. Quadrou os ombros e se voltou resolutamente, para caminhar até o assento do motorista.

Darius a abraçou e procurou apressadamente seus lábios. Saboreou seu medo, sua doçura, sua compaixão. Saboreou seu amor por ele, crescendo indevidamente, a cada momento que compartilhavam. Beijou-a ferozmente, possessivamente, saboreando sua cercania. Depois, elevou a cabeça, contra a vontade.

- Devemos nos colocar em marcha, céu. - Os olhos dele escureceram mais, enquanto estudava sua expressão ligeiramente aturdida. Tempest era dele. Uma pequena e formosa mulher, para ele. A cor havia voltado em seu rosto, e seus lábios estavam ligeiramente separados, um convite que não podia resistir. Beijou-a novamente, desta vez com força e brevidade.

Tempest se acomodou ao volante do ônibus. A dilúvio golpeava o pára-brisa, reduzindo ao mínimo sua visibilidade. Lançou um olhar para trás, para Darius, insegura por um momento, mas ele esquadrinhava o céu através da janela, dirigindo a violência da tormenta. Leu a segurança que havia nele, em relação a ela e em que podia fazer o que ele pedia. Darius acreditava nela absolutamente.

- Há um caminho, Darius. - Chamou ele. - Desaparece sob a água, mas acredito que posso segui-lo. - O ônibus se moveu pelo caminho enlameado, cheio de galhos podres, que flutuavam na água, batendo contra as laterais.

- Não utilize as luzes. - Advertiu Darius.

- Preciso delas, Darius. Não posso ver bem na escuridão. - Objetou ela. - Se a água for profunda, afundaremos.

- Pode ver. Vejo através de seus olhos. É sua mente humana que se nega a confiar em seus próprios sentidos. - Corrigiu ele ausentemente, como se seus pensamentos estivessem em outro lado.

Tempest exalou lentamente. No momento, se sentia tranqüila e controlada, movendo o enorme veículo, cuidadosamente, através da água que se formava redemoinhos. Sua mente estava pregando peças nela, pois jurava ter tinha longas raias de sangue vermelho, na profunda correnteza. Mas a chuva estava tão forte, que a impedia de ver melhor. Os limpadores de pára-brisas não triunfavam, contra o dilúvio que caía do céu.

Tempest sentiu Darius em pé atrás dela, a suavidade de seu corpo derramando-se sobre o frio do dele. Ele se estendeu para emoldurar sua face com as mãos. As pontas de seus dedos afastaram as lágrimas.

- Chora pela morte desses assassinos. - Estabeleceu um fato, nem bom nem mau. Podia sentir a intensidade de sua pena, palpitando nele.

- Sinto muito, Darius. - Sua voz era baixa, estrangulada pela angústia. - Possuíam famílias, mães, esposas. Irmãos e irmãs. Filhos.

- Teriam matado você, céu. Pude ler a intenção em suas mentes. Alguns deles desfrutariam seu corpo, antes de te conceder a morte. Teriam matado minha irmã e destruído seu companheiro. Não podia permitir semelhante atrocidade. - Disse ele, tranqüilamente.

- Eu sei. – Tempest concordou. - Não o culpo por isso. Compreendo a posição em que o colocaram, mas mesmo assim, sinto tristeza por suas famílias e o desperdício de suas vidas. Possivelmente, alguns deles acreditavam que estavam fazendo o certo. Isso não o faz correto, mas eram seres vivos.

Darius afastou os cabelos dela da nuca e se inclinou para beijar a pele exposta.

- Não tem que me explicar o que já sei, meu amor. Moro em você, como você pode fazer em mim, no momento em que escolher fazer. - Suas mãos descansaram brevemente sobre os ombros dela.

A intensidade de seu amor por ela o estremeceu. Elevou um fluxo de emoção que ameaçava tomá-lo, ali onde estava. Teve de voltar-lhe as costas, antes que a necessidade de arrastá-la para ele, de sentir sua pele contra a dele, a sobressaltasse. Aspirou profundamente para se controlar e deliberadamente, colocou distância entre seus corpos.

Tempest conduziu através da água enlameada, enquanto esta continuava crescendo. Duas vezes cruzou uma estrada pavimentada e encontrou outro caminho de terra. Outra vez, esteve perto de um enorme caminhão, estacionado em meio da estrada, um de seus ocupantes, fumava um cigarro. Mordeu o lábio, preocupada, mas conseguiu passar ao caminhão sem incidentes. Olhou para trás, para Darius, notando sua cor. Ele estava cinza e apagado, as linhas esculpidas profundamente em sua face. A tensão de mascarar com uma ilusão um objeto tão grande como o ônibus era enorme. Em seu fraco estado, ele já estava tremendo.

Tempest apressadamente evitou seus olhos, seu coração batia como se pudesse explodir no peito, a qualquer momento. A idéia de que algo acontecesse a ele, era aterradora. Conduziu tão rápido como atreveu, sobre um terreno pouco familiar, mas sempre avançando com cuidado, concentrando sua mente nos perigos que apresentava o volume de água. Havia escolhido um caminho tão estreito que os ramos das árvores mordiscaram as laterais do trailer com um som metálico.

Quando a ponte surgiu ante eles, Tempest limpou o rosto, esperando afastar o véu que o fazia difícil ver. Entre a chuva e a névoa, sentia como se conduzisse às cegas. Sentiu a ponte balançando-se sob o ônibus e instintivamente levantou o pé do acelerador, quase cedendo ao pânico.

Em seguida, Darius estava com ela e seu pé cobriu o dela, pressionando o acelerador, fazendo que o ônibus serpenteasse antes que os pneus encontrassem tração.

- Contínue, pequena. - Disse ele com tranquilidade.

Não lhe deu escolha, seu pé cobriu firmemente o dela. Tempest sustentou firme o volante, com o coração na garganta. A água golpeava a estrutura, empurrando o ônibus com força, forçando-a a lutar para mantê-lo sobre o ponte. A água queria levantar o trailer e levá-lo com a corrente. Só permitiu-se respirar, quando o veículo passou a ponte. Então empurrou a perna de Darius, levantando-a do acelerador. Estava tremendo tão violentamente, que batiam seus dentes.

- Esteve genial, céu. - Sussurrou Darius. Sua mão acariciou o brilhante cabelo dela. – Quase saímos desta.

- Quase? – Ela voltou à cabeça para lhe olhar. - Há mais? Estou me cansando, Darius. – Tempest sentiu tola ao falar, quando ele estava ferido e precisava de descanso, mais que ela. - Acredito que já tive aventura suficiente por uma noite.

Ele revolveu seu cabelo com afeto. Para ser um homem meio fera e todo predador, Darius possuía um lado totalmente inesperado.

Tempest o fazia abrandar-se por dentro.

- Mantenha-se aí, céu. Enfrentaremos uma mais barreira e depois alcançaremos a estrada.

Ela ouviu um rugidamortecido e se acautelou ao ver a parede de água que surgia, empurrando tudo a seu passo. Imediatamente começou a mover o veículo para frente, abrindo passo centímetro a centímetro através do pesado vapor e da chuva. Sem advertência um caminhão surgiu a poucos metros, diretamente em seu caminho. Um homem estava inclinado sobre a porta, com os óculos de visão noturna pressionadas sobre seus olhos.

Um relâmpago estalou, iluminando a noite como se fosse de dia. O homem deixou cair os óculos no barro, com as mãos sobre os olhos enquanto ela virava para sair do caminho, esquivando-se por pouco, de uma enorme árvore. Apertando os dentes, Tempest lutou para controlar o pesado ônibus, levando o de volta à estrada, à frente do caminhão estacionado.

Darius se deixou cair no assento a seu lado. Sua face estava tão cinza e pálida que ela quase pisou nos freios.

- Vá se deitar, Darius. - Ordenou ela, temendo sua perda de cor. - Conseguirei chegar onde está Desari. Está em algum lugar perto de Clearlake. Posso encontrá-la. - A rota estava bem marcada e era fácil de seguir, esperava. Era mal com as direções, mas certamente poderia seguir os sinais da estrada.

Darius saiu cambaleando para a parte traseira do ônibus sem discutir e se deitou sobre o sofá. O leopardo ferido estava sobre o chão, à curta distância.

- Sei que sem um guia podemos nos perder, amorzinho.

Tempest sentiu o coração se contrair, ante a nota de ternura em sua voz. Queria que ele dormisse o sono rejuvenescedor de sua gente, para curar-se na terra e assim estar em plena forma novamente. A dor de seus ferimentos continuava nele, a perda de sangue o abatia, mas quando tocou sua mente encontrou só pensamentos para ela, por sua segurança.

- Simplesmente pensa que é indispensável. – Provocou-o, deliberadamente sarcástica. - Sou perfeitamente capaz de encontrar o caminho até o hotel e o acampamento onde planejam estar esta noite. Agora vá dormir. Despertarei você, se precisar de um guerreiro ferido.

- Nem pense em tentar me abandonar novamente, Tempest. - Murmurou Darius, tão brandamente, que ela logo captou as palavras. Havia dor em sua voz, que provocou lágrimas em seus olhos.

Em toda sua vida, jamais alguem a amara. Ninguém havia precisado dela. Certamente ninguém a tinha amado e cuidado tanto dela. Apesar de suas maneiras arrogantes e dominadoras, não podia dizer que Darius não a colocasse no alto. Não podia dizer que seu coração não estivesse totalmente cativado. Ele a enfeitiçara tão fortemente, que não acreditava que o nó pudesse se romper, nunca.

Enquanto conduzia pela auto-estrada, a chuva começou a diminuir, até se converter numa garoa. Fez o que pôde, para manter sua mente longe do que havia acontecido. A idéia de todos aqueles homens desperdiçando suas vidas, atacando a pessoas, de quem não sabiam nada, era devastador. Não fazia idéia de quantos adversários eram, mas sabia que os felinos haviam despedaçado dois humanos. Tinha captado as imagens em suas mentes. Darius matara os outros, mas não tinha nem idéia de quantos, e não queria saber. Era melhor não saber, não se permitir pensar muito na loucura do que estava acontecendo em sua vida.

Cárpatos. Vampiros. Caçadores de vampiros. Era todos muito extravagantes.

 

Tempest conduziu o ônibus para acostamento e descansou a cabeça contra o volante. Sentia-se como se dirigisse toda uma vida, mas foram às condições da estrada e conduzir sob a chuva, que finalmente derrotara sua pouca força, não as horas noturnas. Exausta, lutou para manter os olhos abertos. Manteve-se na auto-estrada até encontrar uma confusa bifurcação na estrada. Havia tomado à direita no cruzamento, esperando que estivesse certa. Seus olhos piscavam, sentia-se desfalecer.

Seu coração quase parou, quando uma nuvem de vapor passar através da janela que estava um pouco aberta, esperando que o ar frio a reavivasse. Julian Savage apareceu de repente, em estado sólido a seu lado, em seguida caminhou para o Darius, com a preocupação esculpida em sua face. Tempest apoiou a cabeça para trás contra o assento, muito cansada para o questionar.

- Quanto tempo faz que ele está assim? - Exigiu Julian.

- Disparam nele. - Disse Tempest sem abrir os olhos. - Disse-lhe que dormisse, que eu os encontraria.

Julian se inclinou perto de Darius e rasgando sua própria mão com os dentes, pressionou-a firmemente sobre a boca de Darius.

- Tome o que livremente te ofereço, para que possam viver juntos, você e sua companheira. – Ele foi inesperadamente gentil. Sua voz continha uma mistura de preocupação e hipnótica compulsão.

Dairus se moveu então, pela primeira vez em horas, sua mão se elevou fracamente, para segurar a mão de Julian e mantê-la em sua boca.

Julian começou o ritual do canto curador e em várias milhas de distância, o resto dos homens e mulheres Cárpatos, enlaçados como estavam com sua telepatia única, uniram-se a ele. Todos eles sentiam a debilidade e a dor de Darius. Todos eles sabiam que ele não poderia ir para a terra, como precisava.

Tempest se empurrou para fora do assento do motorista e cambaleou pelo trailer até cair de joelhos junto a Darius.

- Ele vai estar bem, Julian?

- Está fraco. Foi para a batalha já com sua força diminuída. Utilizou sua energia mental para criar a tempestade e ocultar o ônibus. - Julian parecia preocupado, seus olhos estavam cheios de preocupação. - Deve ir para terra e se curar. Precisa dormir o sono de nossa gente.

Darius se elevou, o sangue de seus ancestros fluía forte em suas veias.

- Estava perdida novamente?

- Não estava perdida. - Protestou Tempest. - Simplesmente procurava um bom lugar de descanso.

Julian encolheu os ombros.

- Tomou um desvio equivocado faz umas poucas milhas. Conduzirei-os até os outros. Deve dormir, Darius.

- Devo proteger Tempest. - Era uma declaração implacável, uma ordem emitida por alguém que acostumava a ser obedecido.

Tempest apoiou a cabeça contra a perna dele.

- Agora mesmo, não pode oferecer amparo algum, Darius. Eu protejo você. - Mas ela não tinha a energia necessária para levantar a cabeça. - Vê? Por uma vez sou eu a responsável.

Julian sacudiu a cabeça para eles.

- Têm os dois um aspecto lamentável. Não tenho outra escolha que oferecer meu amparo a voces. Eu os conduzirei. Voces dois descansem.

- Boa idéia. - Disseram Darius e Tempest simultaneamente.

Darius baixou a mão até encontrar a de Tempest e entrelaçou os dedos com os dela, conectando-os. Ficaram em silencio durante um momento, o balanço do ônibus estava curiosamente reconfortante. Então o polegar de Darius começou a se mover, um toque gentil como uma pluma.

- Preciso sentir seu corpo junto ao meu. - Murmurou ele em voz sussurrada, mas urgente.

Tempest ouviu a urgência de sua necessidade, em sua voz. Ele nunca tentava se esconder para ela e ela não se preocupava em sentir-se vulnerável. Estava exausta, tanto que foi um esforço levantar-se até o sofá. Deslizou-se para junto a ele, encaixando seus corpos. Darius enredou instantaneamente um braço ao redor dela. Tempest se sentiu como se estivesse em casa, a salvo e protegida, onde pertencia. Fechou os olhos e dormiu, sem notar que Darius havia dado-lhe um leve empurrão mental para ajudá-la a cair no sono, pacificamente.

Tempest despertou só uma hora mais tarde enquanto Julian estacionava o trailer no lugar escolhido e abria a porta para os outros.

Desari entrou rapidamente e um grito de alarme escapou de seus lábios, quando viu seu irmão e Tempest. Sua mão foi para a garganta.

- Julian? - Sua etérea voz vacilou durante um momento enquanto procurava ser tranqüilizada por seu companheiro.

- Ele precisa de mais sangue e da terra para se curar. - Ofereceu Julian.

Darius se sentou. Seus olhos negros percorreram a família reunida a sua volta.

- Não fuiquem tão preocupados. Não é a primeira vez que me vêm ferido. Não é nada. - Voltou-se para olhar Tempest.

Ela simplesmente não tinha energias para se mover, seu corpo pesava como chumbo, só olhou amorosamente para a face dele. A mão dele acariciou sua face, depois se colocou em volta de seu pescoço.

Darius a olhava, como se ela fosse seu mundo.

Desari afastou o cabelo de Tempest do rosto.

- Você é maravilhosa, Rusti, valente. Posso sentir a terrível fragilidade de seu corpo.

Tempest tentou mostrar um sorriso macilento.

- Não me diga que Darius estava fazendo um relatório detalhado, enquanto acontecia tudo.

- É obvio. Precisávamos saber, no caso de alguma coisa sair errada e tínhamos que voltar para ajudar. - Explicou Desari. - Para ajudar com a ilusão. Criamos nas mentes dos que nos viram viajando pela auto-estrada, a lembrança do trailer viajando conosco. Se as autoridades perguntarem a qualquer um, dirão que todos os veículos viajaram juntos a noite passada, muito antes da horrível batalha que aconteceu no acampamento.

- Uma comentarista esportiva habitual, Darius? - Perguntou Tempest, irritada por ele ter usado mais energia do que ela pensara, a princípio. Não a assombrava que ele parecesse tão cinza e cansado. - O levem para onde ele precisa ir e o enviem a dormir e me deixem descansar.

A mão de Darius se apertou ao redor de sua nuca.

- Não podemos nos separar. Tem que comer alguma coisa antes de dormir, Tempest. Não comeu e nem bebeu nada, nas últimas vinte e quatro horas.

As sobrancelhas dela se arquearam.

- Oh, entendo. Você não tem que cuidar corretamente de voce mesmo, mas eu sim. Assim não vai funcionar, Darius. Pode me falar tudo o que quer, mas se insistir em me impor esta relação à força, bem poderia cuidar de secupar de você, para que não haja possibilidade de que me deixe sozinha.

Darius sentiu o curioso derretimento em certa região de seu coração que ela sempre causava. Tempest estava tentando seriamente exortá-lo, mostrar-se dura, mas sua voz vacilava, o temor por seu bem estar estava claramente evidente. Inclinou-se para roçar um suave beijo em sua boca.

- Fará o que digo, céu, como prometeu.

Os olhos de Tempest flamejaram como fogo.

- Um de voces, por favor, me tragam um martelo. Um bem grande. Este homem, claramente precisa que alguém lhe bata na cabeça, para que recupere o sentido comum. Deve tê-lo perdido em alguma parte do bosque. Bobo, não sou sua filha para que me dê ordens. Sou uma mulher adulta e perfeitamente capaz de tomar minhas próprias decisões. Agora por favor, deve ir para a terra ou algo parecido.

Julian cometeu o engano de permitir que escapasse uma risada, depois apressadamente tentou cobri-la com uma tosse.

Darius levantou o olhar para ele, notando que os olhos dele sorriam abertamente.

- Estou seguro de que todos voces, têm coisas a fazer. - Assinalou com mordacidade.

- Na realidade não. - Respondeu Barack.

Dayan sacudiu a cabeça.

- Isto é muito mais divertido, Darius. Já sabe, ainda estou estudando essa coisa de relações, então é necessário que observe bem de perto.

Syndil escolheu uma aproximação mais inocente.

- Naturalmente nossa preocupação é por você e por Rusti, Darius. Nada é mais importante que os ajudar.

Julian sorriu zombeteiramente.

- Isto é iluminador. Uma escola. Sou novo nisto, Darius e não me importa aprender como dirigir às mulheres, apropiadamente, quando elas se negam a ser obedientes.

As sobrancelhas do Desari se elevaram.

- Já te mostrarei alguma obediência? - Ameaçou.

Darius gemeu.

- Saiam todos.

- Saia você também. - Ordenou Tempest, acomodando seu corpo entre as almofadas. - Preciso dormir.

Ele podia ouvir além da debilidade de sua voz.

- Não é seguro, pequena. Não podemos ficar aqui. Estamos sendo caçados, e nenhum de nós pode permanecer sobre a terra em nossas horas de debilidade. Há cavernas aqui perto. Estará cômoda lá, prometo a você.

Os olhos dela revoaram por um momento e o batimento de seu coração foi audível a todos eles.

- É essa coisa de morcegos novamente, não? - Forçou o humor em sua voz. - Acredito que vou ter que fazer terapia, se vamos continuar fazendo essas coisas. Os lugares fechados não são de meu agrado.

- Farei você dormir. - Disse Darius gentilmente.

- Faça então. – Ela elevou as pálpebras o suficiente para captar a preocupada expressão de Desari. Quando olhou para outros, pôde ler a preocupação em suas faces. - O que está acontecendo? O que está errado?

Os olhos negros de Darius, súbitamente voltaram para a vida, ardendo com feroz amparo. Seu olhar se deslizou sobre sua família.

Tempest suspirou pesadamente e se sentou, empurrando sua massa de cabelo, que estava enredada por toda parte.

- Darius, estou muito cansada para imaginar, o por que, de estar todo mundo preocupado? É injusto me manter na ignorância só porque não estou familiarizada com suas necessidades.

- Ele deve dormir nosso sono na terra. - Balbuciou Syndil, sem se atrever a olhar para Darius.

- Não é isso o que vamos fazer? Vou a essa caverna. Dormirei enquanto ele está na terra. - Disse Tempest. - Esse é o plano.

Syndil sacudiu a cabeça, ignorando o grunhido de advertência de Darius.

Tempest pôs uma mão sobre a boca de Darius para o silenciar.

- Me conte.

- Ele não irá para a terra. Dormirá como um mortal com você, sobre a terra, porque teme te deixar vulnerável a um ataque.

Houve um silêncio enquanto Tempest digeria a informação. Estava claro que Darius não estava contente com a interferência de Syndil. Gentilmente, Tempest acariciou o pescoço dele, com dedos amorosos, aliviando enquanto pensava em tudo. Finalmente encolheu os ombros.

- Então me coloque para dormir e nós dois podemos ir para terra. - A idéia revolvia o estômago, soava como um enterro. Mas se estivesse completamente inconsciente, era um pequeno inconveniente, se isso ajudasse Darius.

Sua calma declaração arrancou um gemido coletivo de admiração.

- Faria semelhante coisa, voluntariamente, por Darius? - Perguntou Desari, apertando a mão de Tempest. - Sofre muito nos espaços confinados. Darius nos contou isso.

- Não sofrerei se estiver dormindo. - Assinalou. – Faça já, Darius, estou cansada.

E estava. Seu corpo se sentia pesado e incômodo. Não o olhou, não queria que ele visse a repulsão e o horror, que a idéia de ser enterrada viva refletisse em seus olhos.

Os braços de Darius se deslizaram em volta dela e levaram seu pequeno corpo junto ao dele, seu coração se inchou de orgulho por ela. Não precisava ver sua expressão para ler seus verdadeiros pensamentos. Uma parte dele morava em sua mente como uma sombra. O terror que o enterro e as cavernas eram para ela, estava claro, embora estivesse disposta a fazer o sacrifício pelo bem de sua saúde.

- É um grandioso presente o que me oferece, Tempest, mas é impossível. Meu corpo pode deter o batimento de meu coração e meus pulmões. O teu não. Asfixiaria-te na terra. Pode que demore um pouco mais, mas meu corpo finalmente se curará. - Assegurou-lhe.

Sobre sua cabeça, os olhos negros de Darius flamejaram para sua família. Ninguém se atreveu a desafiar esse olhar, exceto Julian, que lhe sorriu. Desari manteve uma garra mortal sobre a mão de Julian para impedir que seu companheiro irritasse ainda mais seu irmão.

- Por favor, prepara ao Tempest uma sopa de verduras. - Instruiu Darius a sua irmã.

Tempest sacudiu a cabeça com decisão.

- Já não posso comer nada, Desari, mas obrigado. Só quero dormir uma semana ou assim.

Darius olhou fixamente para sua irmã, um rápido e firme olhar que ela pôde interpretar facilmente.

Desari assentiu quase imperceptivelmente.

- Vamos, deixemos que eles se arrumem um pouco.

Barack deixou escapar um grunhido baixo.

- Syndil, Sasha necessita seus poderes curadores. Eu a levarei, e você traz as ervas.

As sobrancelhas de Syndil se elevaram.

- Esquece que tenho um amigo a entreter? Ia preparar o jantar e depois passear com ele.

Barack a segurou pelo cotovelo.

- Não me provoque, Syndil. Não tenho muita paciência.

Ela o lançou um olhar arrogante.

- Não tenho que responder ante voce, bárbaro. Nem agora, nem nunca.

- Dayan pode passear com seu precioso convidado pelos bosques. Enviarei Forest para o caçar. - Soltou Barack. - Você ficará comigo.

- Acredito que você passou dos limites, Barack. - Syndil o olhou fixamente. – Vou partir por um tempo, tirar umas férias.

Houve um silêncio momentâneo. A cabeça de Darius se elevou, seus olhos negros ardiam, mas refreou o violento protesto que fluía dele. Dayan se deteve no ato de dirigir o ônibus, sua face ao mesmo tempo se tornou de pedra. Julian se congelou quando Syndil deixou cair à bomba.

- Com esse humano? - Sussurrou Barack maciamente, entre os dentes.

Syndil levantou o queixo beligerantemente.

- Não é assunto seu.

A mão de Barack deslizou pelo braço dela até a nuca. Segurou seu queixo com a mão, mantendo-a imóvel enquanto inclinava a cabeça para ela. Sua boca se lançou sobre a dela ali, diante de todos. Quente. Ardente. Varrendo tudo o que havia havido antes e substituindo com seu calor, com fogo vermelho vivo. Depois, levantou a cabeça.

- Você é minha, Syndil. Ninguém mais a terá.

- Você não pode decidir isso. - Sussurrou ela, pressionando a boca com a mão. Os olhos totalmente abertos pela surpresa.

- Não? – Barack colocou as mãos sobre seus ombros. - Na presença de nossa família, reclamo você, Syndil. Reclamo-te como minha companheira. Pertenço a você. Ofereço-te minha vida. Dou a você, meu amparo, minha lealdade, meu coração, minha alma e meu corpo. Tomo em mim os teus, para protegê-los. Sua vida, sua felicidade e seu bem-estar serão apreciados por mim e colocados sobre meus, sempre. É minha companheira e está unida a mim para toda a eternidade e sempre a meu cuidado. – Ele pronunciou as palavras em voz alta, com decisão, furioso por ela negar o conhecimento de seu direito sobre ela.

- O que fez, Barack? - Gemeu Syndil e olhou para Darius. – Ele não pode fazer isto. Uniu-nos sem meu consentimento. Não pode fazer. Diga-lhe Darius. Ele tem que te obedecer. – Ela estava quase histérica. .

- Alguma vez se perguntaste, Syndil, por que Barack não perdeu seus sentimentos como Dayan e eu? – Perguntou Darius amavelmente. – Ele sorria quando nós não podíamos. Sentia desejo quando nós não sentíamos.

- E toda essas mulheres humanas, que ficava de olho. Não quero semelhante companheiro. - Disse Syndil firmemente. - Retire, Barack. Retire, agora mesmo. Retire-o.

- Sou seu companheiro e sei disso há algum tempo. Simplesmente, você se nega a ver.

- Não quero um companheiro. - Protestou Syndil. - Não terei nenhum homem pomposo dirigindo minha vida.

As duras feições de Barack se suavizaram. A sensual beleza masculina voltou a sua face.

- Felizmente para voce, Syndil, não sou pomposo. Preciso discutir isto com você a sós. Venha comigo.

Ela ainda estava sacudindo a cabeça, enquanto ele a arrastava para fora.

Quando saíram, Desari voltou-se para o irmão.

- Sabia? Todo este tempo, você sabia?

- Suspeitava. - Respondeu Darius. - Barack via cores. Reteve-as muito tempo, depois de que Dayan e eu as perdemos. Quando Savon atacou Syndil, Barack se converteu num monstro, como nenhum outro que eu tenha tentado controlar. Esteve enfurecido durante semanas, tanto que Dayan teve que me emprestar suas forças para o manter sob controle.

- Não notei. - Disse Desari brandamente.

- O isolamos. Ele estava violento e zangado, preocupava-nos, sua prudência. Depois de perder Savon, não podíamos nos preocupar com a possibilidade de perder Barack também. Compreendi que ele estava experimentando não só a necessidade masculina de proteger, mas também a culpa e a raiva pela violação e traição que sentia Syndil.

- Foi para a terra durante algum tempo. - Recordou Desari.

- Enviei-o a dormir, para manter a salvo, os mortais e imortais. Estava tão perturbado, sentia tanta dor, que não pude fazer outra coisa. Syndil precisava de tempo para permitir que a horrível experiência enfraquecesse o suficiente, para que Barack pudesse fazer frente a sua dor.

- É por isso que ele está tão calado, tão desgostoso consigo mesmo, estas últimas semanas. - Desari deu uma cotovelada em Julian. - Por que ele esperou tanto para reclamá-la?

Julian encolheu os ombros com sua graça elegante e casual.

- Faz muito que não temos mulheres que nascem perto de seus companheiros. Não conheço nenhum caso como este, então, não posso responder. Possivelmente a proximidade permita ao homem mais anos de liberdade.

- Liberdade? - Desari o olhou fixamente. - Não me fale de liberdade masculina, companheiro. Você roubou minha liberdade do mesmo modo que Barack roubou a de Syndil.

Tempest comovida interveio na conversa.

- Ela não pôde o rechaçar, certo? Quero dizer, estes são tempos modernos. Os homens não podem levar uma mulher à força, contra sua vontade, verdade?

- Quando um homem dos Cárpatos recita as palavras rituais para sua autêntica companheira, estão unidos. Alma com alma. Ela não pode escapar dele. - Disse Julian, tranquilo.

- Por que? - Perguntou Tempest, voltando a cabeça para oferecer a Darius, o pleno benefício de seus censores olhos verdes.

Darius não pareceu arrependido. Nem se dignou a responder, ao contrário, teve a audácia de parecer divertido.

- Um autêntico companheiro é a outra metade perdida de nossa alma. As palavras rituais unem as partes da alma novamente. Um não pode existir sem o outro. É muito... - Julian procurou por um momento a palavra correta. - Incômodo estar afastado de seu companheiro.

- E o homem pode escolher unir a ele à mulher, sem importar se ela quer ou não?

Tempest se sentia ultrajada. Não estava inteiramente segura se acreditava, mas se fosse, era bárbaro. Totalmente bárbaro.

Darius rodeou seus ombros, com o braço sadio.

- Só na prática, céu. As mulheres, poucas vezes conhecem suas próprias mentes. Mas uma mulher não pode escapar da necessidade de seu próprio companheiro tampouco. Ele é sua outra metade também.

Sem cuidar seu ferimento, Tempest o empurrou para longe dela. Ele não se moveu um centímetro. Sentia Darius estava zombando dela, embora sua face permanecesse perfeitamente inexpressiva.

- Bom, não acredito que de qualquer maneira eu seja Cárpato, então comigo não funciona. E vou falar com o Syndil sobre todas estas tolices.

Darius beijou o lateral de seu pescoço. Não foi um beijo breve e elusivo. Foi um beijo demorado. Desses que provocavam pequenos arrepios, por sua coluna vertebral, enviando fogo através de suas veias. Tempest olhou-o fixamente.

- Acreditava que estávamos de acordo. Não tivemos uma longa discussão sobre isto?

Os dentes de Darius mordiscaram sua clavícula e seu queixo roçou o decote em seu caminho, procurando a pele nua.

- Seriamente? Não posso recordar.

- Recorde todo o resto. - Tempest fez o que pôde por soar severa, mas era difícil quando a eletricidade se arqueava entre eles. - Darius, você está ferido. Atua como tal, certo? Precisamos de uma ambulância, macas e...

Darius se moveu, com sua fácil e familiar graça, sustentado pela força do sangue de um antigo, que fluía em suas veias. Seus braços eram rocha dura em volta da cintura dela, levando-a com ele, para o banho.

- Preciso limpar o cheiro da morte em mim, Tempest, antes de poder tocar você, apropiadamente.

Chegou inesperadamente, como uma confissão. Tempest tocou sua mente, atônita, ante a facilidade com que podia obter a façanha. Ele sentia pena. Não pelos que havia despachado na batalha. Ele era pragmático sobre isso. Darius fazia o que era necessário por sua gente e voltaria a fazê-lo, se precisasse novamente. Protegeria Tempest sem sentir remorsos ou tristeza daqueles ameaçavam. Mas sentia pena por sua falta de habilidade para ir a ela, como um homem inocente. Não queria que ela o visse como uma fera, um assassino indisciplinado. Queria que entendesse que ela era um justiceiro, necessário para sua gente.

Colocou-a na banheira com ele e a água estava fria sobre sua pele ardente, levando um pouco de vida ao corpo esgotado.

Cuidadosamente, ela lavou o sangue dos ombros e das costas dele, fazendo uma careta ante a visão das horríveis feridas. Despejou xampu nas mãos e espalhou pela vasta cabeleira negra, massageando o couro cabeludo com dedos gentis. Darius inclinou a cabeça para trás para facilitar seu trabalho.

Apesar de estar exausta, encontrar-se nua e pressionada contra ele, seu pulso estava acelerado como um foguete.

O corpo dele voltou para a vida, mostrando-se duro e grosso contra ela.

- Não podemos. - Sussurrou ela. Mas sua língua brincou e captou as gotas de água que corriam por seu estômago. Desceu o caminho ainda mais, sentindo o corpo dele estirar-se. Suas mãos, por vontade própria, deslizaram sobre os quadris masculinos, massageando-os, acariciando, traçando os firmes músculos de suas nádegas.

Adorava a sensação do toque da pele peluda, contra a dela. A fazia sentir-se formosa e feminina, ardente e erótica. Faminta e sexy. A fazia sentir-se a salvo, como se nunca fosse estar sozinha outra vez. Segurou-se nele, pressionando-se para perto do amparo de seu corpo.

Darius obrigou sua mente a se afastar da boca tentadora. Ela estava esgotada. Poderia tê-la... Ela não se negaria e sabia que podia agradar... Mas seu corpo reclamava descanso e nutrição. Acima de tudo, estava a necessidade de cuidar dela, de sua saúde e amparo.

Afastou-a para poder beijá-la gentil e meigamente.

- Tem razão, pequena. - Sussurrrou. - Não podemos até que tenha descansado. Quero que você durma.

Darius sustentou-a contra ele, com o braço sadio, enquanto a água caía sobre eles, lavando o cheiro de sangue e morte.

- Me faça como você.

As palavras dela soaram baixas, até para sua aguda audição e Darius não estava seguro de tê-la ouvido corretamente. Sua mente poderia estar lhe pregando uma peça.

- Tempest? - Pronunciou seu nome contra o pescoço dela, seu coração batia forte, ante a tentação. Fechou os olhos, pedindo por forças para resistir a aveludada sedução das palavras dela.

Ela levantou a cabeça para que seus olhos esmeraldas pudessem alcançar a face dele.

- Pode fazer. Faça-me como você. Depois poderá descansar sem se preocupar. Dormir da forma que deve dormir. Faça, Darius. Tome meu sangue e me dê o teu. Quero que viva.

Havia resolução em sua voz, em sua mente, embora seu corpo esbelto estava tremendo ante a enormidade do que ia fazer. Seus pensamentos estavam centrados nele, em seu bem-estar. Darius gemeu, lutando contra a fera egoista, a que queria tudo... Sua companheira, os fogos do êxtase ardendo entre eles para toda a eternidade. Tempest não compreendia o custo que seria para ela. O Sol. O sangue. Os caçadores. A humanidade abominava, no que se converteria. Inclusive, havia o perigo de tal experiência.

Seus dedos seguraram o cabelo dela entre as mãos.

- Não podemos, Tempest. Nem sequer podemos considerar uma ação semelhante. Não a mencione novamente, não sei se teria à força de repelir semelhante tentação.

A mão dela acariciou a face dele, enviando chamas vivas para seu corpo até que ele não pode pensar em mais nada, que em possuí-la.

- Pensei muito nisso, Darius e é a única maneira. Se eu fosse como você, não haveria necessidade de que se preocupasse por minha segurança. Poderia estar com voce na terra.

Ele sentiu o duro golpe do coração dela. Viu na mente de Tempest, a imagem mental da terra fechando-se sobre sua cabeça, de ser enterrada viva. Ela empurrou longe a idéia, mas seu pulso continuava acelerado.

Prendeu sua mão, para imobilizar seus dedos acariciadores, antes que o fizesse perder todo o sentido comum. Sua essência estava chamando e seu corpo estava duro e cheio de desejo. Sua boca podia saboreá-la, o ardente e tentador sabor especial de seu sangue. Nunca havia desejado mais.

- Nem sequer considerarei tal coisa, Tempest. O perigo para você é grande. Tomei a decisão de viver segundo os costumes humanos tanto como me seja possível. Voluntariamente, envelhecerei como você e morrerei quando você morrer. Convertê-la, é um risco que não correrei, voluntariamente.

- Notar como sua saúde e sua força, minguam lentamente, não é algo que esteja disposta presenciar, Darius. – Protestou ela, abraçando a cintura dele.  Seus dedos pousaram sobre as nádegas dele e começou lentamente um erótico movimento que o ameaçou virar do avesso.

- Não estou tomando uma decisão impulsiva sem pensar. Já dediquei uma boa quantidade de tempo, considerando. É a única resposta para nós. A única coisa que podemos fazer, que tem sentido. - Sua boca deslizou sobre o peito, sua língua lambeu os mamilos, bebendo prazeirozamente uma gota de água até seu estômago plano, formando redemoinhos-se ao redor do umbigo, até que cada músculo de seu corpo, clamou por ela.

- Não pensaste atentamente. - A voz dele foi um rouco gemido de necessidade. Incapaz de se conter, sua mão deslizou sobre a pele acetinada, movendo-se para acariciar a suavidade de um dos seios, seu polegar acariciou o mamilo ereto até que ela tremeu e se pressionou contra ele. - Não pode suportar os espaços fechados. A idéia de ser enterrada na terra é repulsiva para você. Sua mente não pode suportar a idéia de beber sangue.

Darius quiz sobressaltá-la com a imagem deliberadamente gráfica, mas ela parecia preocupada em apanhar uma gota de água que deslizava pela ponta de sua palpitante ereção. A língua enviou uma tormenta de fogo que surgiu de seu interior, como um vento selvagem fora de controle. Sua boca era apertada e ardente e tão deliciosa, que segurou o cabelo dela entre suas mãos, mantendo-a ali durante um longo momento, em algum lugar entre a agonia e o êxtase.

Ele sentiu sua fome elevar-se, a necessidade de dominar, de tomar o que era dele, de alimentar-se dela vorazmente, de sentir seus lábios bebendo em seu corpo como devia fazer uma verdadeira companheira. Suas presas se alongaram perigosamente, e a fera tentou se liberar. Tempest se oferecia a ele. Era vontade dela. Podia tomá-la sem culpa, atrai-la a seu mundo e tê-la para sempre. A tentação era grande, mas obrigou-se a levantar a cabeça. Suas mãos procuraram a suavidade da garganta vulnerável e aberta a seu assalto.

Ela foi a ele voluntariamente, sem temor, elevando o queixo para lhe dar um melhor acesso. Darius a girou para que ela ficasse de costas a ele. Apanhando-a com um braço forte, enterrou a face em seu ombro, respirando com dificuldade, afastando a tentação que o golpeava com ferocidade.

Pela segunda vez, que recordava, as lágrimas deslizaram por sua face e se misturaram com a água que corria pelos ombros dela. Desejava possuí-la, saboreá-la, ensinar seus costumes. Mas, sentia-se humilhado por ser ela que fizera tal oferta. Que pudesse o amar tanto, para entregar voluntariamente sua vida.

Não que ela aceitasse ou admitisse que o amava. Nem sequer compartilhava sua mente, para o conhecer como ele a conhecia. Isso era o que fazia seu presente tão incrível para ele. Sua completa aceitação, sua vontade para colocar sua vida, sua segurança, antes que da própria. Ele conhecia cada um de seus temores. Morava em sua mente. Mesmo assim, ela estava disposta a abandonar tudo o que conhecia para que ele vivesse seguro, como ela supunha que devia ser. Nunca alguem pensara em o proteger ou colocar suas necessidades antes da dele. Não em todos seus séculos de existência. Duvidava de que alguém tivesse pensado alguma vez em seus desejos. Era sua obrigação prover os outros. Caçar, proteger, guiar e controlar. Tempest estava oferecendamor incondicional. Ela não o reconhecia como o que era, não pensava nisso. Ele precisava e ela estava decicida a mover céu e terra para proporcionar o que ele quisesse. Via sua determinação, facilmente. E ela era bastante capaz de o seduzir para se convencer. E ele a desejava. Necessitava, morria por isso.

- Pequena. - Sussurrou, seus dentes mordiscavam a suave tentação de sua pulsação. - Não a colocarei em perigo. Não posso arriscar sua vida. Se o fizesse e algo saísse errado, estaríamos perdidos. Agradeço sua intenção de me entregar enorme presente, mas não posso aceitar. Não posso. – Darius sentia-se humilhado por ela, humilhado por seu amor entristecedor para ela.

- Se temer minha reação, então vamos arrumar soluções. Poderia me fazer dormir antes de irmos à terra, ao menos até que meu cérebro aceite sua forma de vida.

Resolutamente, Darius saiu da água. Precisava de uma pausa, da sedução que ela oferecia.

- É certo, Tempest, mas...

- Espere antes de protestar. Já me deste seu sangue duas vezes e eu sequer sabia que tinha feito. Pode prover para mim enquanto aprendo seus costumes. Não deveria ser difícil. - Enquanto o secava com uma toalha, apanhou as pequenas mãos e sustentou as sustentou contra o peito. - Já estou metade em seu mundo e metade no meu, não pertenço a nenhuma dos dois. Você não pode viver sem sua força, e eu não posso suportar ver como você enfraquece. Não é esse seu destino. Há grandeza em voce, Darius.

Ele sorriu e seus olhos negros suavizaram sua boca.

- E você? Pensa que você é menos que eu e por isso deve se sacrificar tanto por mim?

Ela sacudiu a cabeça apressadamente, negando a idéia.

- É obvio que não. É claro que acredito que você precisa de mim para evitar que se converta num arrogante e dominante ditator, para o manter direitinho o vigiar estreitamente.

- Dominante ditador? - Repetiu ele. O riso deslizou no timbre aveludado de sua voz. Acariciou com o nariz, a nuca dela.

- Exatamente. - O sorriso desapareceu da face dela, deixando-a solene. - Eu não gosto do resto das pessoas, Darius. Nunca encaixei com eles. Não sei se isto funcionará entre nós, mas se pode fazer e você não tentar controlar cada aspecto de minha vida, eu estou disposta a tentar. Sei que quero estar com você. Sei que não tenho medo de voce ou de sua gente.

As sobrancelhas dele se arquearam ante a flagrante mentira.

- Oh... – Tempest atirou a toalha nele. - Não me olhe assim. Sei que nunca me faria mal. Nunca, Darius. Não acredito em muitas coisas, mas acredito em voce. – Ela olhou em volta, procurando roupa limpa e ficou desiludida, quando compreendeu que não trouxera nada. A fadiga se acumulava em seu interior, impulsionando sua necessidade de se convencer. Queria deitar e dormir durante uma semana.

- Prometa que pensará nisto, Darius. É a única solução sensata para nosso caso. E se não funcionar, deverei ser capaz de cuidar de mim mesma. – Ela sentou-se na beirada da banheira, muito fraca para permanecer em pé mais tempo.

Darius esmagou sua fome, seu raivoso desejo e as emoções que estavam nublando seu julgamento. Pegou o roupãoque fizera para ela um dia ou dois antes. Estava pendurada na porta. Envolveu-a em sua suavidade.

- Vamos comer, céu. Depois dormiremos. Podemos discutir isso em nossa próxima sublevação.

- Não é o primeiro dia de atuação de Desari? Quem enviou aqueles homens atrás dela, tentará novamente. Vai estar vulnerável, Darius. Temos que resolver isto antes que ela suba no palco.

Ele podia sentir sua debilidade. Grudava-se a ela como uma segunda pele. O homem dos Cárpatos não podia fazer outra coisa que proteger sua companheira, vigiar cada aspecto de seu cuidado. Então, pegou-a pelo braço e sem mais conversa, conduziu-a a cozinha e a sentou ante a mesa.

Desari havia preparado uma terrina fumegante, de sopa de verduras. O aroma enchia o ônibus, mas Tempest pressionou uma mão contra o estômago e tentou não vomitar.

- Está vendo, Darius? Não posso comer. Não posso ter um pé em meu mundo e outro no teu. Confrontarei o risco da conversão pela oportunidade de um futuro com você.

Ele ignorou sua suave e persuasiva voz e empurrou sua mente deliberadamente dentro da dela. Não foi gentil, tomou o controle firmemente, sem lhe dar tempo de lutar contra ele.

- Comerá a sopa e ela ficará em seu estômago, a alimentará.

Foi uma ordem. E a obrigou a obedecer, embora seu estômago se rebelasse, tentando se desfazer, ele mesmo, da comida.

Tempest piscou para ele, ao descobrir a terrina de sopa vazia. Afastou o cabelo úmido do rosto e suas largas pálpebras caíram cansativamente.

- Só quero dormir, Darius. Vamos para a cama.

Ele envolveu-a, levantando-a facilmente e a tirou do trailer, para o interior da noite. Pareciam guerreiros e cativos, mas a Tempest não importava. Fechou os olhos e se acomodou contra seu peito.

O tunel que ele escolheu conduzia a terra, que estava morna pela atividade geotérmica. Tempest ficou sem fôlego, induzindo uma sensação de sufoco. Tentou esconder de Darius. Não desejava que ele soubesse o quão incômoda se sentia. Enterrou-se mais perto dele, procurando seu amparo. Sabia que ele não iria a terra porque ela não podia ir. Ele construiria uma zona para dormir na segurança da terra onde ela pudesse dormir o sono dos humanos e faria o que pudesse para fazê-la sentir-se cômoda. Mas ele precisaria da terra rejuvenescedora, especialmente agora que estava ferido. Precisava deter seu coração e pulmões e dormir ao estilo dos Cárpatos. Tempest sorriu contra seus pesados músculos, confiando de repente em sua habilidade para o persuadir e fazer que pensasse como ela. Só precisava descansar antes de renovar seu ataque. Darius não resistiria para sempre. Havia estado em sua mente, sentiu sua vulnerabilidade. Ele se renderia se ela persistisse. Ele desejava sua conversão, com cada célula de seu corpo.

Sabia que Darius sentia que tinha que protegê-la, que ela era frágil e delicada. Mas Tempest sabia que não era. Possivelmente, fisicamente era fraca em comparação a sua raça, mas tinha uma tremenda força de vontade. Igualava a dele. Encontraria uma forma de o manter a salvo, de o proteger da mesma forma feroz, com o mesmamor feroz que Darius mostrava por ela.

 

O Konocti Harbor Inn, famoso por sua comida e concertos, estava construído à beira de um enorme lago, aninhado nas montanhas e sombreado por majestosos pinheiros. O hotel arrastava enormes multidões a seus concertos, devido seu enorme anfiteatro e o mais esplendido interior, onde os visitantes podiam jantar e ver seus artistas favoritos. As festas eram legendárias e atraíam a visitantes de todo o país. Era um dos lugares favoritos de Desari para fazer sua apresentação e o calendário de concertos a conduzia ali cada vez que estava na Califórnia. Para Darius e Julian, a segurança era um pesadelo de logística.

O chefe de segurança parecia estar na casa dos quarenta e possuía ser um homem que conhecia seu trabalho e podia dirigir qualquer situação que se apresentasse. Ele ouviu com atenção, os problemas especiais do grupo. Já estava consciente do atentado contra a vida de Desari, poucos meses antes e habia feito preparativos adicionais por sua própria conta. Ainda assim, estava aberto a suas idéias e se mostrou mais que cooperativo. Darius descobriu que gostava do homem, chegou a lhe conceder o respeito que geralmente reservava aos de sua espécie. Darius esperava cooperação, fosse através do consentimento ou da compulsão. Era mais fácil quando tinha plena cooperação de sua equipe de segurança.

Desari ia se apresentar a portas fechadas. Os três homens estavam de acordo. Era mais seguro e o ambiente bem mais fácil de controlar. O chefe da segurança mostrou os arredores, repassando as recentes reforma com eles, mostrando os planos e cada possível entrada e saída. Era fácil trabalhar com ele que possuía um pessoal medianamente competente para o hotel. Ainda assim, para a classe de problemas que esperavam, todos sabiam que não seria suficiente.

Aldeãos, principalmente jovens, estavam empregados como pessoal de reforço e eram muito inexperientes para dirigir a classe de ameaça que supunham os inimigos de Desari. Darius e Julian sabiam que teriam que comprovar as entradas, eles mesmos, comprovando cada pensamento individual, enquanto as pessoas atravessavam as portas. Dayan e Barack seriam capazes de ajudar até que estivessem atuando. Com a habilidade de mascarar suas aparências a vontade, poderia se confundir com o pesonal de segurança, sem a aparência de membros da banda.

Enquanto os homens estavam ocupados com os acertos de segurança, anteriores ao show, Tempest desfrutou de uma ducha na suíte proporcionada pelo hotel. Darius havia chegado com um guarda-roupa para ela. Nunca tivera tanta roupa em sua vida. Os jeans não tinham buracos, os vestidos eram ajustados e tudo se encaixava perfeitamente. Durante um momento quase não aceitou, sentindo-se como uma amante, mas depois não pôde resistir. Era parte do grupo, gostasse ou não. Desari e Syndil eram mulheres elegantes e atraentes. Não podia ir de um lado para outro, com elas, toda suja e desarrumada. Saiu para o ar noturno, lembrando-se que devia colocar o crchá que a identificava como membro do pessoal da banda. Vagou pelos arredores, inalando a essência dos pinheiros e flores. O lago estava a calmo e os barcos atracados em filas. As ondas lambendo a borda. O lago a chamava, a brisa soprava gentilmente em sua face.

Tempest se sentiu livre passeando sozinha, embora pensou que Darius teria um ataque. Ele estava cada vez mais e protector com ela. Tanto, que estava pensando em escapar da prisão durante algumas poucas horas, possivelmente durante o concerto. Darius estaria ocupado e não seria consciente de que ela não estava.

- Não conte com isso, meu amor. Não deve vagabundear pelos arredores sem escolta. Volte para a suíte, enquanto eu estou trabalhando. Depois pode vir ver o concerto.

Sua voz carregava magia. Como ele podia fazer isso à distância? Como podia roçar seu pescoço com seus perfeitos lábios e percorrer sua garganta com a palma da mão. Como ele podia fazer seu pulso se acelerar e seu sangue se converter em lava fundida?

- Que honra que me dê sua permissão, Darius. - Replicou ela. – Concentre-se em seu trabalho, Darius. Só estou olhando o lago. Em que problema poderia me colocar?

A risada dele, baixa e carregada de diversão, ressoou em sua mente, como asas de mariposa.

- Não me surpreenderia que tentasse afundar tudo. Se alguém houvesse dito que você estava sozinha e tentando resgatar sete vítimas de afogamento, não levantaria nem a sobrancelha. Nada de heroísmos, nada de planadores, nem corridas de lanchas ou barcos a motor. Nem flertes. Proíbo-te absolutamente de ajudar à equipe de segurança a lidar com bêbados e qualquer outra situação. Volte para a suíte.

- Não sou tão má, Darius. - Repreendeu ela, indignada. – Cuide do que está fazendo e me deixe em paz.

- Não desejo te impor minha vontade, céu. Era uma clara ameaça.

- Mas fará se eu não obedecer. - Seu ardente temperamento surgiu de repente. Se ele estivesse ali, com seu traje elegante, o teria empurrado na água. - Não tem direito a me dar ordens, Darius. Se por acaso esqueceu, estamos na era moderna. As mulheres têm direitos. E você está me irritando.

- Não tenho tempo para esta discussão tola. Agora vá.

Havia um ligeiro tom de resignação em sua voz, em sua mente, que a fez sorrir. Darius era lento, mas certamente captaria a mensagem, de que lhe dar ordens, não equivalia necessariamente ela ter que obedecer.

Ela estava começando a enteder sua necessidade de protegê-la. Mais e mais, estava compartilhando sua mente, incluindo as lembranças de sua infância e sua vida.

- Tempest! - A voz de Cullen Tucker quase a fez saltar. - Tem que admitir que é toda uma surpresa ver você sem Darius.

Ela virou os olhos para cima, com exasperação.

- Está me vigiando? Vamos, Cullen. Por que preciso de uma escolta a todo o momento? - Sabia que soava beligerante, mas depois do pequeno sermão de Darius, estava irritada com toda a população masculina da terra.

Ele instantânea e prudentemente, elevou uma mão em sinal de rendição.

- Ei... Tempest! Pode deixar de lado todo esse temperamento ruivo. Eu não acredito que precise de um guarda-costas a cada momento, mas Darius parece gostar de manter vigiada de perto, sua propriedade.

As sobrancelhas dela se elevaram, a fúria encheu seus olhos verdes.

- Para sua informação, Senhor Tucker, não sou propriedade de ninguém. E menos ainda de Darius. Não o anime.

- Definitivamente, é minha propriedade. - disse Darius, com o riso em sua voz.

- Cale-se... - Sussurrou ela docemente.

- De acordo. - Disse Cullen para aplacá-la. A discrição era à parte do trabalho. Mostrou com a mão, o reluzente lago. - É lindo, não?

Tempest assentiu, com os olhos sobre as ondas. Havia algo apaziguador na água.

Cullen gesticulou para um barco, que devia estar no Rio Mississippi.

- Que embarcação! Ouvi dizer que a gente pode alugá-lo para festas privadas ou fazer um tour de 3 horas em volta do lago. Há uma grande despedida de solteiro esta noite. Darius me deu à lista de convidados, para ver se eu reconhecia os nomes.

Tempest arqueou uma sobrancelha e lançou um pequeno sorriso para ele.

- Uma despedida de solteiro? Uma despedida de solteiro de verdade, com uma striptease saindo de um bolo?

Cullen riu.

- Quem sabe? – O homem suspirou. - Sabe, tinha razão sobre isto de dirigir e trabalhar de noite. Normalmente sou uma pessoa madrugadora, mas depois de viajar toda à noite, achei que não poderia levantar hoje. Quando consegui acordar e me arrastar para fora da cama, eram sete horas e todo mundo estava já havia levantado. Inclusive Julian. – O homem olhou ao redor, para se assegurar que ninguém estava ouvindo às escondidas. - Para falar a verdade, tinha minhas suspeitas, que ele fosse um eu-sabes-o-que, mas o vi jantar com Desari ontem à noite. Quase haviam teminado, quando entrei no restaurante. Eu mesmo o vi comer.

- Como pode ser?

Exigiu Tempest, totalmente consciente de que Darius estava monitorando cada palavra da conversa. - Intrometido. – Provocou.

- Podemos comer. Simplesmente expulsamos a substância ofensiva de nossos sistemas, logo que é possível.

- Que asco! - Tempest afastou a imagem mental e voltou sua atenção a Cullen.

- Toda a idéia era um pouco descabelada.

- Vi um vampiro. - Soltou Cullen à defensiva. – Vi ele matar minha prometida em São Francisco. Não foi uma ilusão.

Ela colocou a mão no braço dele, em consolo.

- Cullen. Acredito em você. Estive falando com Desari. É tão doce e boa com todo mundo. Por que pensaria alguém que é um monstro semelhante? É algo que não posso imaginar.

Dayan e Barack apareceram de repente, do nada, colocando-se casualmente, dos lados de Tempest, inserindo seus enormes corpos entre Cullen e ela. O movimento foi sutil, mas definitivamente afastaram sua mão do braço de Cullen. Tempest soltou um exagerado suspiro, totalmente consciente de que os dois Cárpatos haviam sido enviados por Darius, para levar a de volta.

- É uma cobra, sabia? – Repreendeu ela, mas teve que fazer esforço para manter o riso fora de sua voz. Deveria ter antecipado seu movimento.

- Sei que não precisa tocar em outros homens. Disse que voltasse para a suíte, onde sei que está a salvo.

- Já ia.

- Não o bastante rápido para mim.

Barack tomou posse do braço de Tempest. Não firmemente, mas ela sabia que não poderia tirar sua mão. Estava fazendo tudo o que podia para não explodir em gargalhadas.

- E Barack não é um homem?

Um suave grunhido foi à única resposta de Darius ante sua brincadeira.   Deliberadamente sorriu ao Cullen.

- Acredito que poderia ser perigoso para você, estar assim a campo aberto. O que acontece se a sociedade envia alguém aqui e o descobrem?

Cullen encolheu os ombros.

- Espero os descobrir eu primeiro. É o menos que posso fazer, nessas circunstâncias.

Barack estava aplicando pressão, empurrando-a lentamente para longe do humano, de volta a suíte.

- Darius a quer com Desari e Syndil, irmazinha. É muito insistente. - Ele também ouvira o grunhido.

Dayan se dirigiu diretamente a Cullen, sorrindo afavelmente.

- Darius é muito mau com esta mulher. A mantém estreitamente vigiada e Tem veia protetora, de uma milha de distância.

- Parece com todos vós.

- É nosso costume. Você fica comigo, o solteiro.

Dayan foi com ele para a sala de concertos. Darius ordenara que cuidassem de Tucker. Podia não ser um Cárpato, mas o havia advertido do perigo com grande risco para si mesmo e Darius não ia permitir que morresse. Dayan entendia alguns dos sentimentos de Cullen. O homem se condoía por seu amor perdido e se sentia completamente sozinho e Dayan conhecia essa sensação muito bem. Mais ainda, quando os outros podiam sentir emoções.

A escuridão se estendia nele. Uma mancha que parecia não poder arrancar. Podia tocar os outros e momentaneamente sentir as emoções entre eles, mas isso só aumentava o vazio de sua existência, quando deslizava por suas mentes.

Tempest seguiu Barack, irritada porque Darius estava impondo sua vontade. Barack não parecia notar seu andar beligerante, simplesmente a levava com ele à suíte de Desari. Abriu a porta, fez tudo, menos empurrá-la ao interior. Ela o olhou fixamente.

- Barack, poderia tomar algumas lições de boas maneiras.

- Provavelmente tenha razão. – Ele concordou. – E você poderia tomar algumas lições de obediência.

Syndil fechou a porta em seu nariz.

- Este homem é um bruto total. Não sei de onde tirou a idéia de que pode nos manipular. Juro que é por estar ao lado de Darius muito tempo.

Do outro lado da porta, ouviram a risada zombeteira de Barack. Syndil jogou seu sapato na porta.

- Estúpido! – Ela o xingou e deixou-se cair na cadeira. Levantou o olhar para Desari. - Como você se acerta com Julian?

- Não é muito facil. - Admitiu Desari. - Quando ele se descontrola, simplesmente o ignoro. É muito mais fácil que investir de cabeça contra ele.

- Com gosto, eu investiria de cabeça contra Barack. - Disse Syndil. - Deveria o ouvir. Acredita que pode me dar ordens só porque foi tão idiota em nos unir.

Desari sorriu.

- Não poderia os unir, se não fossem autênticos companheiros, Syndil. Sabe muito bem.

- Sei que andou por séculos, se deitando com mulheres. Quem iria querer? – Mal humora, ela jogou outro sapato na porta, desejando que o painel de madeira fosse à cabeça dele. - E deveria o ver falar de meus flertes e dos outros homens que me desejam. Por mim, ele pode se lançar de cabeça no lago.

- Não fez a última reclamação. - Observou Desari.

Se Barack tivesse feitamor com Syndil, todos saberiam imediatamente, como saberiam que Darius tinha reclamade Tempest.

- Rechacei-o. - Syndil ergueu as mãos, limpando as lágrimas. – Ele esteve com tantas mulheres e eu só com o Savon, e ainda foi uma violação. Foi horrível e me fez mal. Não posso me arriscar. Quase o desejo, mas não me atrevo. Não posso me obrigar o aceitar deste modo...

Desari abraçou a amiga, trazendo-a para perto.

- Oh, Syndil, não tem que ser assim. Deveria compartilhar seus medos com Barack.

Syndil sacudiu a cabeça com agitação.

- Não posso. Fecho minha mente para ele.

Tempest entrelaçou seus dedos com os de Syndil.

- Savon cometeu um violento crime contra voce, Syndil. Quando está com alguém a quem ama, a gente cuida em agradar por cima de tudo. Se Barack a amar e quer estar com voce sempre, tratará-a com gentileza.

- E se não o agrado? Que vai acontecer, seu não conseguir quer ele me deseje? Pensei nisso, desejo-o, mas então vem a lembrança e não acredito que possa suportar suas mãos ou seu corpo sobre o meu. - Explicou Syndil miseravelmente. Soava como se fosse romper seu coração.

Desari acariciou seu cabelo.

- Um companheiro mora em sua mente do mesmo modo que em seu coração e sua alma. Ele verá suas necessidades, ajudará você a sobrepor seus medos. Deve se dar uma oportunidade de ser feliz, Syndil. Não deveria permitir que o que Savon fez, destrua sua vida e a de Barack. Lembre-se de que o que acontece com você, acontece com ele.

- Por que têm eles que nos colocar tão alto? - Perguntou Tempest. - Atuam como se devêssemos estar num convento, quando não estamos com eles.

- Têm valores antiquados, Rusti. - Disse Desari. - nasceu há séculos. E há poucas mulheres Cárpatos. Não pode os culpar, realmente, por querer nos proteger.

- Nunca compreenderei. - Disse Tempest tristemente. – Se eu conseguir convencer Darius para que me converter, sei que nunca serei capaz de fazer o que ele me ordene que faça. - Seus sentimentos pelo Darius estavam crescendo a um ritmo alarmante, afundando-se profundamente em seu coração e alma, desde que o viu com todas as suas escuras lembranças, desde que o viu como o homem que realmente era. Precisava amar e o proteger do mesmo modo que ele precisava amá-la e protegê-la.

Syndil e Desari trocaram um longo olhar.

- Pediu a Darius que a convertesse? - Perguntou Desari, surpreendida.

Tempest encolheu os ombros.

- Ele não o fez. Diz que é muito perigoso. Aguem sabe se é?

- Perguntei Julian. - Disse Desari ansiosamente. - Diz que voce deve ter alguma habilidade psíquica. De outra forma, como humana, não poderia ser a companheira de Darius. E me acredite, Rusti, está bastante claro que você é sua verdadeira companheira. Nunca vi meu irmão assim.

- Eu não tenho nenhuma habilidade psíquica. - Protestou Tempest, com aspecto confuso. – Seriamente, não.

- É obvio que tem. - Disse Syndil. – Você se comunica com os animais.

- Oh, isso. - Tempest encolheu os ombros, novamente. - Isso não é nada especial.

- Isso a capacita para entender a natureza predadora de Darius. - Explicou Desari, excitada. - A conversão funcionaria, sei que funcionaria.

- E se não? - Propôs Tempest.

Desari mordeu o lábio inferior nervosamente, seu olhar deslizou para longe do de Tempest.

- A converteria numa vampiresa louca e teria que ser destruída.

Produziu-se um pequeno silêncio.

- Uma vampiresa louca? - Disse Tempest sarcásticamente. - Não me surpreende que Darius não queira se arriscar. – ele inclinou-se, para encontrar os olhos de Desari - O que mais me esconde?

Desari olhou para Syndil, quem assentiu.

- Julian diz que o processo de conversão é muito doloroso.

Tempest afastou o cabelo do rosto.

- Oh, genial. Doloroso. Sabiam o que significaria para mim, pensar nisto, certo?

Desari parecia culpada.

- Sinto muito, Rusti. É quero bem a meu irmão e posso ver a tensão que ele sofre. Ele nunca se esquivaria de sua obrigação. Embora sua força se visse diminuída, continuaria lutando com aqueles que nos ameaçam. Estava pensando nele, não em você. Peço que me perdoe.

- Darius estava furioso conosco. - Admitiu Syndil. - Não levantou a voz... Não tem que levantar... Mas tremia de raiva.

Tempest andava apressada pela suíte.

- Que classe de dor?

Uma onda de remorso e deslizou por Desari. Por mais que desejasse que seu irmão vivesse, ele se enfureceria com esta conversa. Por mais que Syndil e Desari usassem os sentimentos de Tempest para persuadi-lo.

- Não pode falar a sério. - Desari se levantou de um salto e a sustentou pelos ombros. - Foi um engano de minha parte sugerir tal coisa. Vai contra os desejos de Darius. Ele me disse, que tomou a decisão de envelhecer e morrer com você e não lamenta. Devo aceitar sua vontade, embora seja difícil.

Syndil assentiu.

- Darius diz que a mulher não deveria ter que arriscar a vida por um homem. - Baixou o olhar para seus dedos, lembrandp-se do castigo de Darius. - Disse que já era ruim a tee haver afastado de seu anterior estilo de vida e que nunca arriscaria voluntariamente sua vida. - Havia dor em seus olhos, quando ela os elevou até os de Tempest. - Não deveríamos continuar discutindo isto.

- Mas então, na realidade, não é seu risco nem sua decisão, certo? - Perguntou Tempest, suave. - Tenho todo o direito de me preocupar com sua saúde e seu bem-estar.

- É tarefa do homem cuidar da saúde e segurança de sua companheira. - Assinalou Desari. - Não pode fazer outra coisa.

- Minha felicidade. - Repetiu Tempest, quase para si mesma.

O som de uma batida na porta fez seu coração bater forte. Em seu interior, produziam-se revelações. Poderia tentar? Se arriscar? Teria esse tipo de coragem? As palavras vampiresa desenquadrada não conjuravam uma visão agradável. Não gostava de seu som, absolutamente. Mas a idéia de Darius perdendo sua enorme força, envelhecendo quando não tinha por que, era um peso em seu coração.

Acreditava nos contos de fadas? Darius podia acreditar que envelheceria com ela, mas possivelmente logo se cansaria dela, como faziam os homens com freqüência, com suas mulheres. Nenhum homem poderia ser tão devoto a uma mulher para sempre. Certamente não para toda a etenidade. Ela era uma solitária. Solitária por natureza. Embora a idéia de uma eternidade de solidão não era nada atraente. A Tempest não importava dar voltas toda uma vida, mas fazê-lo uma e outra vez não soava de tudo bem. E depois estava todo esse assunto do sangue.

Tempest fez uma careta. Chupar o sangue do pescoço de alguém, era uma idéia doentia.

- Pequena, tem cada idéia deprimentes. Tire tudo isso da cabeça. Estarei bem, não me cansarei de você e nunca permitirei que lhe chupe o sangue de ninguém. Eu, entretanto, terei o prazer de chupar teu pescoço e outras partes de sua anatomia, tão freqüentemente como é possível. Depois, estrangularei minhas irmazinhas e tudo estará bem.

- Não tem que estrangular ninguem. Fui eu que perguntei.

- Não te abandonarei, meu amor.

Sua voz foi uma suave carícia, mas carregada de uma convicção total. Quando suas mentes se fundiram, pôde ver claramente seus pensamentos, suas crenças e suas lembranças de antes. Ele vivia uma existência vazia e árida. Ela era seu mundo. Sempre seria seu mundo. Ele acreditava implicitamente.

- Preciso encontrar coragem. - Sussurrou em voz alta para si mesmo.

Desari se apoiou nela.

- É nossa irmã, amada pelo que deste a Darius. Já mostrou uma grande coragem. É valente só por estar com ele. Não permita que nós a inquietemos. Darius escolheu. Que assim seja.

- E acredita que isto a liberará da responsabilidade de fazer minha companheira temer por mim, irmazinha? - Exigiu Darius.

Desari sacudiu a cabeça como se ele pudesse vê-la. A batida soou novamente, assinalando que era o momento de que a banda entrasse no palco.

- Venha conosco Rusti. – Convidou Desari.

Tempest retrocedeu, súbitamente tímida. Nunca gostara de multidões, e definitivamente preferia o anonimato.

- Ouvirei a distância. Boa sorte, às duas.

Syndil ia tocar com a banda, pela primeira vez, depois do trauma de sua violação.

Fora, no vestíbulo, Barack e Dayan estavam esperando, com o pessoal de segurança e do evento, para escoltá-las. Julian e Darius estavam nas entradas. A segurança permaneceria firme durante o concerto, e não haveria a mínima oportunidade de que os patrocinadores vagassem pelo auditório sem serem observados.

Tempest seguiu à banda a curta distância, olhando em volta, em busca de Darius. Quando não pôde lohe encontrar, encostou-se na porta. O rugido aumentou, assinalando que Desari estava sobre o palco. A banda começou uma lenta e caprichosa balada, uma particularmente adequada para a voz de Desari, que dominou a sala e se espalhou, sonhadora, sexy, mística.

Tempest tocou a porta com dedos reverentes. Ninguém possuía uma voz como a de Desari. Assim que a ouvira, não conseguia esquecer. Conjurava sonhos, fantasia, evocava intensas emoções em tudo o que o ouvia. Tempest sentiu uma onda de orgulho em seu interior. De algum modo, havia se convertido em parte de todos eles. Fora aceita e era respeitada.

Um membro de sua peculiar família.

Cullen chegou apressadamente, obviamente sem fôlego. Seu coração pulsava com força como se fosse para que Tempest o ouvisse.

- Onde está ele? Onde está Darius?

- Na entrada do balcão, acredito. - Replicou ela.

- A festa do navio do rio... A despedida de solteiro. Vi Brady Grand entre os passageiros que embarcavam, mas não acredito que tenha subido a beira. Se for ele, um dos que alugaram o navio, é uma armadilha. Tem equipe aqui.

- Quem é Brady Grand? - Tempest avançava junto a Cullen que corria para as escadas para encontrar Darius.

- É alguém a quem não quer conhecer. Encabeça a sociedade aqui na Costa Oeste. Demônios! Onde está Darius? - Cullen começou a subir as escadas, mas foi detido por um guarda de segurança uniformizado. Assinalou impacientemente, para sua identificação e empurrou ao homem.

Tempest se voltou e correu para a porta, apressando-se para fora, correndo ao redor do edifício, para o embarcadero. O navio estava ainda parado no lago. Os homens gargalhavam e se empurravam os uns aos outros enquanto subiam para abordar o navio. Não tinha idéia do que eles estavam procurando. Todos lhe pareciam pessoas normais. Manteve-se muito quieta, tentando divisar algo que não encaixasse, que desafinasse. Os convidados continuavam abordando o navio com suas piadas lascivas, empurrões brincalhões. A maioria dos homens, pareciam ter estado em alguma festa, antes de chegar.

Sacudiu a cabeça e se afastou dos arbustos para o armazém do embarcadero. Imediatamente, sentiu um objeto apoiado em suas costas. Pensando que era um galho ou algum ramo, começou a se voltar. Viu um borrão que se aproximava de sua cabeça, nada que pudesse identificar, mas não teve oportunidade de levantar os braços para se proteger. Foi golpeada com força, na cabeça e desmaiou.

Dentro do edifício Darius se congelou no lugar em que estava. Nenhum músculo se movia. Foi como se deixasse de respirar. Então, se moveu. Muito rápido para o olho humano. Saiu como uma explosão do edifício, a fera em seu interior, pedindo libertação. Ele sentia como ela crescia, mais forte e letal, em seu interior. Permitiu o dominio, deixou ela o consumir e sair, fazer desaparecer o verniz de civilização.

O selvagem predador foi liberado, e não restou misericórdia em sua alma.

Tempest.

O nome foi um sussurro de prudência em sua mente, a única coisa que podia evitar que se convertesse num mostruo enfurecido. Não podia matar tudo o que cruzasse em seu caminho. Tinha que se manter concentrado. Ela, sua companheira, havia sido arrebatada. Mas que ela não respondesse a sua chamada, não significava que a tivesse perdido para sempre. Se estivesse morta saberia. Sua alma saberia. Não, deixaram-na fora de combate, o que tornava impossível sua mente alcançar a dela. Haviam tecido uma armadilha e em sua arrogancía, ele deitara-se nela. Pensando que Desari fosse o objetivo principal, havia concentrado seu amparo nela. Cullen estava com a razão todo o tempo. Queriam Tempest.

- Julian, pegaram Tempest. Fique e cuide de Desari e Syndil. Alerte Dayan e Barack. Eu irei atrás dela.

- É uma armadilha.

- É obvio. Por que razão a pegariam, quando todos estavam aqui? Utilizam-na como isca. Irei atrás dela.

Darius se moveu velozmente, precisando de espaços abertos. Enviou uma chamada de noite, enviou o vento em busca de respostas. Ele trouxe a essência de sua presa, aguda em suas fossas nasais. Darius se lançou para o céu, mudando de forma enquanto o fazia. Seu corpo se converteu no de um caçador alado, da noite. Embaixo ele viu a sinuosa linha da auto-estrada e o carro, a toda velocidade, pela estrada da montanha. Levariam-na a algum lugar próximo. O conduzindo à armadilha.

Darius mergulhou, cruzando o céu para o pára-brisa do carro, suas enormes asas se estenderam completamente. O pássaro eclipsou totalmente o cristal e o motorista gritou e instintivamente se abaixou. No último momento, Darius se elevou e desapareceu como se nunca houvesse estado ali. O carro virou rapidamente, recuando perigosamente para perto do escarpado. A parte traseira deslizou e lançou terra e rochas para o precipicio, depois escorregou vários metros, antes que o motoriata recuperasse o controle do veículo.

Brady Grand amaldiçoou enquanto se segurava no assento dianteiro.

- Que demônios está fazendo, Marin? Quase nos mata. Freie se tiver que fazer. Wallace disse que ela tem que estar viva. Precisamos de informação e a única forma de atrair um deles é através de uma mulher.

- Viu...? - Martin limpou o suor da face. - Era uma coruja. A mais condenadamente grande que já vi.

- Não havia nada aí. - Soltou Brady. – Você é um medroso. Tudo o que tem que fazer é conduzir. - Brady jogou para trás o cabelo vermelho que caía sobre a face de Tempest para poder examinar o feio corte onde Martin a golpeara com o pedaço de madeira. – Bateu muito forte, maldito seja. Ela está sangrando como um porco.

Uma rajada de vento golpeou a lateral do carro, fazendo-o voar vários centímetros sobre a faixa. Ante eles, ameaçadoras nuvens negras se acumulavam. Veias de relâmpagos corriam de nuvem a nuvem e o trovão estalou tão ruidosamente, que sacudiu o carro. Martin se abaixou novamente e amaldiçoou em voz alta.

- Isto está nos escapando das mãos, Brady. Digo que isto é uma advertência de alguma classe. Se alguem está fazendo isto, não quero o desafiar.

O carro estava diminuindo a marcha e estacionando a um lado da estrada. Brady golpeou a parte de atrás da cabeça do Martin com força.

- Conduza, homem! Isto é o que querem eles. Seja quem for que está fazendo isso, seguirá-nos. Temos um veneno que o deixará indefeso. Simplesmente conduza o carro.

Uma nuvem, negra e sinistra, entrou no carro através da janela traseira que estava aberta. Fluiu para o interior, estendendo um vapor negro que escureceu a visão. Brady segurou à mulher, mas sentiu que algo a tirava, afastando-a dele.

- De maneira nenhuma! Matarei-a! - Apontou sua arma e apertou o gatilho tão rápido como pôde. Foi tarde. O vapor já havia enredado em sua garganta e estava apertando. Sentiu que sua cativa deslizava para o chão e tentou apontar a arma para sua cabeça, apertando o gatilho mais uma vez, amaldiçoando. As reverberacões dos disparos se ouviram com força, nos limites fechados do carro.

- Acreditou poder afastar minha mulher de mim. - Disse Darius moderadamente.

O venenoso vapor negro súbitamente pareceu real. Como um sólido nó corrediço, uma corda cortou profundamente a garganta de Brady, deslizando através da carne, até que seu sangue correu como um rio por seu pescoço, até molhar sua imaculada camisa branca. Ainda amaldiçoava enquanto morria.

Darius grunhiu silenciosamente quando o cheiro da pólvora saiu à deriva pela janela e a nuvem negra se solidificou lentamente. O sangue gotejava de sua coxa esquerda, e outra bala o tinha alcançado perto do quadril quando se atirou sobre o corpo de Tempest para protegê-la. Ela não se movia e isso assustava. O motorista estava morto. Grand o acertara com sua selvagem rajada de balas.

Meigamente, cuidadosamente, tirou o corpo imóvel de Tempest do carro cheio de sangue. Controlou com força a própria dor, tomando tempo para examinar cada centímetro dela antes de lançar-se para o céu. Gotas de sangue salpicavam a terra enquanto voavan, misturando-se com a terra. Levou-a para a caverna.

- Um de vós tem que se ocupar do carro. Deve ser destruído e devemos encontrar o cabeça desta organização que continua caçando Desari e a nós. Não podemos correr nenhum outro risco com eles, Julian. Devem ter um esconderijo perto.

- Você está ferido. Irei até você e o ajudarei.

- Não deixe às mulheres, até que seja seguro.

A voz de Darius carregava autoridade. Sabia que Julian não era como os outros. Eles estavam acostumados a seguir suas ordens, enquanto Julian fôra durante muito tempo, um solitário, que não respondia ante ninguém, exceto nas estranhas ocasiões em que tinha contato com seu Príncipe ou com o Escuro, o curador de sua gente. Julian sempre escolhia seu próprio caminho. Provavelmente ignoraria Darius e acessaria aos desejos de Desari, que ajudasse a seu irmão. Deixou escapar o fôlego lentamente, consciente de que Julian tomaria suas próprias decisões.

- Não posso protegê-los desta vez e estou confiando em voce. Logo que termine o concerto, coloque-as a salvo e encontre todos comigo, para descobrir este predador.

Produziu-se um pequeno silêncio. - Está a salvo?

- Estou-o.

Darius não estava seguro se dizia à verdade. Não estava em plena forma, e havia perdido sangue. Ordinariamente, teria detido instantaneamente seu coração e pulmões para preservar o precioso fluído até que os seus chegassem para o prover. Mas não dispunha do tempo ou o luxo de fazê-lo. Tempest estava ferida.

Tempest se removeu e gemeu baixinho, levantando uma mão trêmula até o ferimento da cabeça.

- Oh. – Seus olhos se agitaram e elevaram-se. Sorriu. - Sabia que viria, Darius, mas tenho uma diabólica dor de cabeça.

Ele se inclinou sobre ela e pressionou um pano molhado sobre sua cabeça.

- Feche os olhos, céu e fique aquieta para que eu possa ver o que posso fazer com isto.

- Queriam que um de voces os seguisse, verdade? - Murmurou, ela antes de fechar os olhos. Sentia-se doente.

- Tem ligeira comoção, Tempest. - Darius sabia que sua voz refletia debilidade. Estava impossível esconder sua força debilitada no momento. Felizmente ela ainda não se recuperara o suficiente, para notar que estava ferido. Recolheu punhados de rica terra, misturando-os com sua saliva curadora e cobriu as feridas abertas de seu próprio corpo.

Darius se enviou para o interior de seu corpo e depois do dela. Era difícil se concentrar completamente, como devia, enquanto sua força e energia minguavam. Tentara ralentizar o batimento de seu coração, ralentizar a perda de sangue, esperando dar-se mais tempo. Podia sentir o medo dela, o batimento do coração e de sua dor de cabeça. Ela tinha perdido sangue, mas não a copiosa quantidade que acostumava provocar, os ferimentos na cabeça. Não precisaria que fosse substituído.

Comprovou o machucado. Meticulosamente trabalhou em curar dentro de seu crânio e depois fora, até que a ferida fosse fechada. Afastou a dor de cabeça dela e se retirou, deixando-se cair fracamente sobre o chão.

Durante um momento se ouviu só o som dos batimentos de seus corações. Tempest estava flutuando numa espécie de estado de letargia. Depois de algum tempo, foi consciente das diferenças dos ritmos de seus corações. Sempre pulsavam no mesmo ritmo quando estavam perto um do outro, embora o coração dele pareceu desacelerar, quase perder o compasso. Tempest se levantou energicamente. Voltou à cabeça lentamente para o Darius e para seu horror, encontrou-o caído para trás, numa torpe posição contra uma rocha. Sua face estava cinza e salpicada de encarnadas gotas de sangue.

Ofegando com alarme, ela ajoelhou e tentou chegar até ele. Sua camisa e calças estavam empapadas de sangue.

- Por Deus, Darius! - Murmurou, horrorizada.

Não houve resposta. Pegou sua mão para comprovar o pulso, encontrando-o débil e superficial. Tempest soube imediatamente, que ele se ocupara de suas necessidades, antes das próprias.

Estava inconsciente. Perdera muito sangue. Temia que ele estivesse morrendo. Estavam enterrados na terra. Não havia forma de que pudesse tirar seu corpo fora da cova e conseguir ajuda a tempo.

Tempest se obrigou a não ceder ao pânico. Ele não era humano. O que podia fazer para o reviver com o que tinha à mão? Não tinha forma de entrar em contato com os outros, não sabia como era o vinculo mental deles. O caminho mental privado que usava a família só funcionava entre eles. Notou a terra que cobria os ferimentos dele. Darius tentara deter a hemorragia usando a riqueza da terra. Rapidamente olhou ao redor, procurando a terra que ele dissera que estava cheia de minerais e agentes curativos. Fez um emplastro fresco e o estendeu sobre as feridas.

- Darius, me diga que fazer. - Sussurrou, sentindo-se mais só do que nunca. Acariciou-lhe o cabelo com dedos suaves. De alguma forma se apaixonara por ele. Ele não era humano. Era arrogante e autoritário. Provavelmente não haveria nenhuma maldita possibilidade de que funcionasse, mas não ia falhar com ele.

No curto tempo em que estiveram juntos, Darius havia se convertido em sua outra metade, mais importante para ela, que sua própria vida. Compartilhara sua vida e suas lembranças, com ela. Sorrira com ela, cuidara de seus ferimentos, antes que dos próprios. Mostrara-lhe de várias formas que a amava. Apesar de suas maneiras arrogantes, cuidara dela, cozinhava para ela, ocupava-se de cada uma de suas necessidades. Sentia seu amor.

Mais importante ainda, através de suas lembranças, quandos suas mentes estavam unidas, vira sua grandeza. E sabia absolutamente que estava decidido a envelhecer e morrer por ela.

Bom, então não ia perdê-lo. Tempest o baixou na rocha, para que ele se sentisse mais cômodo. Não havia ninguém a sua volta, para lhe dar a única coisa que realmente precisava. Deitou ao seu lado, voltando-se para apoiar a cabeça em seu ombro.

- Este é o trato, meu amor. - Sussurrou. - Vou te dar meu sangue, tanto que precise, para se curar. Se funcionar, despertará e me salvará a vida. Com sorte, não ficarei louca. – Ela fez uma careta. – Realmente não quero ficar louca. Não pensemos muito nisso. De acordo? Esta é minha decisão. - inclinou-se para ele e roçou o pescoço com a boca. - Entende-me, Darius? Esta é minha decisão, minha livre vontade. Quero fazer isto por voce. Tome meu sangue. Ofereço minha vida a você. Acredito que é um grande homem, que a merece.

Tirou uma navalha dos jeans e mordendo o lábio com força, fez-se um enorme corte na mão, pressionando-a instantaneamente contra a boca dele.

- Beba, meu amor. Beba por nós dois. Viveremos ou morreremos, juntos.

Sem dúvidas, sem arrependimentos, Tempest falava sério.

Mas doía como o demônio.

Ao princípio sentiu seu próprio sangue fluindo na boca dele. Então ele se moveu fracamente, levantando a mão para segurar a dela, pressionando-a firmemente contra sua boca. Seus lábios se moveram, introduzindo o precioso líquido em seu corpo debilitado, seguindo cegamente o instinto de sobrevivência.

Tempest fechou os olhos, permitindo que a escuridão a engolisse.

 

A água gotejava lentamente do teto da caverna e escorregava pelas paredes, formando pequenos veios ao passar do chão. Misaturava-se com a rica terra vermelha, fazendo que parecesse sangue, sobre a fumegante superfície. Em algum lugar longínquo caíram rochas, tamborilando contra outras rochas. Depois fez silêncio.

Darius tomou ciência de estar deitado no chão, com o corpo pesado e incômodo. A fome era raivosa, uma ferida aberta em seu estômago. Era consciente da dor, que parecia estar flutuando nele. Algo o sustentava, parecido a terra, mas não fazia idéia do que havia acontecido ou onde estava. Girou a cabeça lentamente, surpreso, do quanto difícil era o movimento. Sua mente parecia estar nublada, movia-se lentamente. Levou alguns segundos para enfocar os olhos. Quando o fez, a mão que cobria sua boca caiu fracamente sobre seu peito.

O grito de dor e medo rasgou sua alma.

Ressonou na caverna várias vezes, atormentado e profundo, reverberando até os céus. Darius pegou a mão de Tempest e apressadamente selou a terrível ferida que havia salvado sua vida.

- Pequena, pequena, o que fez? - Arrastou-a para mais perto e sua mão cobriu o coração balbuciente. Estava lutando para respirar, seu coração trabalhava com pouca força. A perda de sangue era mortal. Tempest estava morrendo.

Sem pensar um segundo, abriu um corte na mão e a forçou sobre sua boca. Uma pequena quantidade de seu sangue a manteria viva até que tivesse oportunidade de se alimentar e subministrar uma transfusão. Sua mente estava em branco. Só ficou a letanía de uma prece. Ela não podia morrer. Nunca a deixaria partir. Tempest não podia morrer. Amaldiçoou a si mesmo. Enviou-a para dormir, ordenando-a seguir com vida, introduzindo a ordem em seu cérebro, com sua vontade de ferro. Deixou claro que ela não se atrevesse a desafiá-lo.

Quando foi capaz, deixou-a, lançando-se ao céu para caçar. Não foi suscetível com sua presa, alimentou-se rápido e vorazmente, com rudeza deixou cair suas vítimas uma a uma, sobre o chão. Sua mente estava tomada pela necessidade de voltar para Tempest. Nada mais tinha importância para ele. Em sua vida, só havia lugar para ela. Sua vontade estava empenhada em mantê-la na terra com ele.

Ao voltar, com sua renovada força, embalando-a contra o peito, abriu um corte sobre seu próprio coração. Alimentou-a amorosamente, assegurando-se de que ela tomasse o suficiente para viver. Quando seu corpo começou a responder à substância, ela tentou afastar-se dele. Darius a obrigou a aproximar-se mais, segurando-a com força. Ela o obedeceria. Estava claro que o faria. Havia dado a ela, mais liberdade que acreditara possível, quando poderia ter imposto obediência, mas agora não lhe dava escolha. Era pela vida dela, por sua própria alma. Se ela morresse, estava condenado. Não iria tranqüilamente para o Sol. Emprenderia uma vingança contra o mundo. Deliberadamente escolheria esse curso de ação para apanhar os que a haviam arrebatado.

Quando Darius se assegurou de que ela estava completamente recuperada, gentilmente inseriu a mão entre a boca dela e seu peito, fechando a laceração, e a deitou no chão. Teria que limpar o sangue dos dois, antes que ela despertasse.     Fechou os olhos, entrando no interior de seu corpo, para se reparar. O ferimento do quadril estava mal, a bala havia despedaçado o osso e fizera mais mal que pensara. O ferimento da coxa era mais fácil de curar. Foi capaz de arrumá-lo e fechar todas as veias e artérias sem muito esforço. Depois, se banhou na piscina fumegante, antes de substituir os emplastros sobre suas feridas. Misturou ervas com a terra e a saliva e colocou-os no corpo.

Tempest começou a se mover, inquietamente. Darius foi até ela imediatamente, deitando-se junto a ela para aconchegá-la nos braços, levantando-a para que pudesse descansar a cabeça contra seu peito. Suas pálpebras revoaram, mas não as elevou. Darius acariciou sua face e deslizou a palma da mão sobre sua garganta para sentir a pulsação em seu interior.

- Acorde, céu. Preciso que abra os olhos. - Rogou suavemente.

- Estou pensando primeiro. - Respondeu ela cansada.

- Pensando? - Repetiu ele. – Arrancaste séculos de minha vida e está pensando antes de abrir os olhos?

- Me conte que aspecto eu tenho, antes. - Sua voz foi um simples fio.

- Está falando sem sentido. - A voz dele uma carícia.

- Cresceram meus dentes? Pareço uma bruxa? Não me sinto louca, mas nunca se sabe. - Suas pálpebras se elevaram, e ela levantou o olhar para ele, com o riso dançando nos olhos verdes. - Poderia ser, sabe disso.

- Poderia ser o que?

Ela era tão formosa, que lhe roubava o fôlego.

- Que esteja louca. Não está me ouvindo? Apesar de tudo, me decidi por uma vida de chupar sangue do pescoço dos homens.

- Do pescoço dos homens? – Ela podia respirar novamente, respirar de verdade. Seu coração podia pulsar novamente com segurança. - Nunca, em nenhum momento, chupará o pescoço de nenhum homem, a menos, é obvio, que seja o meu. Sou um homem muito ciumento.

- Por que não me sinto como se quisesse sangue? Não deveria ter desejos? - Girou a cabeça para levantar o olhar para ele. A cor de seu rosto havia voltado e suas roupas estavam imaculadas. Como ele conseguira? Bem, não importava. Estava tão cansada, que só queria dormir. – Sigo sem gostar de lugares fechados. Pensei que despertaria desejando me pendurar de cabeça para baixo como um morcego ou algo parecido. – Tempest tentou brincar.

Ele captou a nota preocupada de sua voz. A que tão desesperadamente, ela tentava ocultar. Enredou os dedos no cabelo vermelho, numa massagem tranqüilizadora.

- Passaremos por isso, Tempest. Não posso acreditar que se arriscasse tanto com sua vida. Terei muito que dizer a você, quando se sentir melhor. Disse a você, que a decisão estava tomada e ainda assim deliberadamente, você decidiu pôr sua vida em perigo. Não sobreporei a isto em séculos. - Nunca conseguiria sobrepor-se à coragem dela, ao ato de puramor que ela tivera por ele. Por ele. Seu coração se derretia enquanto pulsava, com uma espécie de terror pelo que seguiria.

- Não me exorte, Darius. - Disse ela, pressionando o estômago com a mão. Suas vísceras estavam começando a arder, incômoda, como se súbitamente se retorcessem e se contorcionassem.

- Oh, Deus, estou doente.

Instantaneamente ele colocou sua mão sobre o estômago dela e sentiu a contorção dentro de seu corpo e as crescentes ondas de calor. Amaldiçoou-se.

A Tempest escapou a respiração, arrancando um grito de dor de sua garganta. Levantou-se cambaleante, depois caiu para trás contra ele. Darius entrelaçou seus dedos com os dela.

- Começou, meu amor. Você está passando pela conversão. - Fundiu sua mente com a dela, concentrando-se, tomando sua dor, como foi capaz.

A primeira onda de dor durou vários minutos. Uma eternidade. Darius estava suando e amaldiçoando em todas as línguas que conhecia. Quando ela se aquietou, limpou as gotas de sangue de sua face, com dedos trêmulos.

Tempest umedeceu os lábios. Os olhos verdes estavam nublados e surpresos.

- Se depois disto, você me deixar neste primeiro século, Darius, juro que caçarei você, como a um cão sarnento. Elas disseram que era doloroso. Recorde-me de dizer a elas que é horrivel.

- Pode ser que elas não vivam para que eu conte. - Ameaçou ele, afastando as sedosas mechas de cabelo, agora úmidas e grudadas no pequeno crânio. Queria estrangular Syndil e Desari por sua interferência.

Ela apertou sua mão sobre ele, seus músculos ficaram rígidos. Darius teve que sujeitá-la enquanto seu corpo se estirava e se contorcia e o fogo percorria músculos e ossos. Apertava seu coração e pulmões, reestruturando-os, mudando seus órgãos. A dor era tão intensa que tirou toda cor de seu rosto, apesar de que ele compartilhava sua agonia.

Por fim, a onda desapareceu lentamente, dando outra pausa. Suas unhas estavam enterradas nos braços de Darius.

- Não pode parar isso, Darius? - A súplica saiu, embora ela não queria perguntar. Conhecia-o bem, para saber que ele deteria qualquer sofrimento seu, no momento em que fosse capaz. - Sinto muito. Não quis dizer isso. - Sussurrou as palavras roucamente, levantando a mão para tocar os lábios dele, com dedos trêmulos. - Posso aguantar. Sei que posso. - Mas estava alongando o corpo mais uma vez ante o fogo que ameaçava sua prudência.

Darius não podia acreditar que ela estivesse tentando consolá-lo, em meio a tanta agonia. Só podia sustentá-la, sentindo-se um inútil, com lágrimas nos olhos. Uma súplica de misericórdia tomou sua alma. Uniu sua mente tão fortemente a dela, como conseguiu.

Tempest quis gritar, mas não surgiu nem um som. Sentia-se doente e algum farrapo de modéstia, automáticamente a fazia tentar cegamente, se afastar de Darius. Mas ele estava tão firmemente fundido a ela, que podia ler as necessidades de seu corpo, que estava tentando desesperadamente, se livrar das toxinas, dos últimos restos de sangue e vestígios humanos.

Ele sustentou-a entre os braços. Lágrimas de seu sangue vermelho sulcavam os traõs de seu rosto.

Nunca quisera isto para ela. Nunca quisera que ela sofresse os fogos da conversão. Descobriu-se, protestando contra a dor que ela estava suportando, por seu bem. Parecia tão pequena e frágil em seus braços, tão perto de se fazer em pedaços.

- Fique comigo, meu amor. Em alguns minutos será seguro eu enviá-la para dormir, onde a dor não possa te alcançar. Por favor, fique comigo.

Enquanto o fogo corria através dela, convulsionado seus músculos e seu corpo, ela ainda fez uma tentiva de confortá-lo. As pontas de seus dedos roçaram o pescoço dele, numa ligeira carícia, antes de cair.

Darius chorou, com o peito tão estrangulado que sentiu seu coração partir-se em dois.

No momento em que notou, que já não havia mais possibilidade de Tempest se engasgar ou morrer, vítima de seu próprio vômito ou sangue, Darius a enviou para um sono profundo, para que seu corpo pudesse terminar o trabalho por sua própria conta. Sustentou-a com força entre os braços, uma parte dele ainda presa a ela, assegurando-se de que nada pudesse acontecer de errado. Só quando esteve seguro de que a conversão estava completa e ela a salvo, se desfez das roupas sujas que cobriam seu corpo e a lavou gentil e amorosamente.

Sentou-se por um longo momento. Estava exausto e maltratado pela dura experiência de Tempest, que tinha passado com ela. Sua mente, normalmente tranqüila, parecia um caos. Nunca imaginara que alguém pudesse o amar, e o pior, que sofresse os fogos do inferno por ele. Sentia-se humilhado pelo sacrifício. Beijou-a, com um toque tenro e reverente, antes de abrir a terra.

Depois, impôs a Tempest o sono dos Cárpatos, fechando a terra sobre ela para que o solo pudesse rejuvenescê-la.

Enquanto a terra se fechava sobre o pequeno corpo, Darius voltou à cabeça lentamente para o túnel que conduzia de volta à superfície. Seu negro olhar era frio, impiedoso. Sentia à fera se elevar não tentou detê-la. Vermelhas chamas ondulavam em seus olhos negros. Não rastreara e destruíra os assassinos, quando haviam atacado pela primeira vez sua irmã. Seus instintos diziam para encontrá-los e destrui-los todos, mas sua raça sempre tentara se encaixar no mundo civilizado, evitando chamar a atenção sobre eles mesmos e suas atividades.

Neste momento, entretanto, não houve vacilações, não havia um farrapo de civilização em seu corpo ou sua alma.

Protegeu a caverna com as mais fortes proteções. Salvaguardas que nunca precisara utilizar, decidido a que ninguém humano ou Cárpato se aproximasse de Tempest enquanto ela dormia. Ninguem poderia entrar ali e continuar vivo. Depois, cruzou velozmente o tunel e saiu para o céu noturno. Sua mente uma neblina vermelha de vingança.

O concerto havia terminado, Desari e Syndil estavam a salvo numa suíte fortemente guardada. Cullen estava com o grupo.

De repente, todos ficaram imóveis, trocando longos e conhecedores olhares. Julian olhou fixamente o céu.

- Ele se levantou e não haverá nenhuma calma nele. Está inclinado e vai acabar por destruir aos que se levaram Tempest. – Ele soava tranquilo e sem pressas. Inclinou-se para beijar Desari. Depois com o Dayan e Barack, saiu para o pequeno balcão da suíte.

Dayan deu um salto e se lançou no céu.

- Não é extremamente irônico, que agora deixemos um humano com nossas mulheres? – Ele mudou de forma incluso enquanto falava. Ondearam plumas ao longo de seus braços estendidos.

- Nossas mulheres podem dirigir o humano. - Grunhiu Barack enquanto se unia a Dayan, também escolhendo o corpo da coruja noturna para cruzar a distância, tentando alcançar seu líder. Antes de lançar, entrou na mente de Syndil.

- Fique do outro lado da suíte e longe desse coquete humano loiro. Se te pego olhando para ele...

- OH, agora posso me dirigir a um humano como este. Se me der vonta de levá-lo ao quarto mais próximo, não tem nada a dizer. – Ela respondeu, irritada.

- Não me obrigue a matar este humano, Syndil. Daríus sente predileção por ele, embora não posso imaginar por que.

- Barack? – Fez-se uma pequena pausa enquanto Syndil considerava como se expressar.- Por favor, tome cuidado. Não quero que Desari lamente por voce.

Ele sorriu, numa mistura de humor e ternura, uma carícia aveludada na mente dela.

- E você quer que eu acredite que você não? Nunca pensei em mim como um anjo, mas minha paciência certamente pode se qualificar de santa.

- Não posso imaginar que alguém o considere um anjo ou um santo. – Outra vez, houve uma leve duvida. - Tome cuidado, Barack, sinto a intensidade de Darius. A escuridão nele. Não retrocederá, seja qual for o perigo.

- A companheira dele, escolheu nosso caminho. Não sente a pena dele ante seu sofrimento? A voz do Barack carregava uma nota de censura. Em seguida, pôde sentir as lágrimas descerem pelo rosto dela.

- Nem me lembre disso. Ele compartilhou conosco o que tínhamos provocado com nossa conversa. Ela sofreu muito por ele.

- Parece, meu amorzinho. – Barack sentiu que amoleceu seu coração, havê-la feito chorar. - Terminaremos com a ameaça para você e para Desari e todos estaremos bnuma vez mais. - Barack foi tranqüilizador.

- Darius está verdadeiramente zangado conosco. Não nos perdoará durante muito tempo e nem tão facilmente.

Barack quis retornar e reconfortar Syndil. Em vez disso, enviou-lhe ondas de conforto, ternura e amor. Sabia que Darius estava furioso. Friamente furioso. Também sabia, que Darius era capaz de coisas que nenhuma mulher podia conceber. Ele era um inimigo duro e incomparável. Sua mulher, a única a que estimava com toda sua alma, havia sofrido as agonias da morte, esta noite. Não perdoaria facilmente. Barack voou mais rápido, cruzando velozmente o escuro céu, para alcançar o caçador.

Quando os três Cárpatos encontraram Darius, Julian fez gestos para que aterrisassem. Queria ver por si mesmo, em que condição estava Darius. Os três homens tinham toda a intenção de proteger Darius. Sabiam que ele estava ferido. Impacientemente os olhos frios de Darius, deslizaram sobre Julian.

- O que está acontecndo?

Estavam não muito longe de onde Darius atacado o carro que levava Tempest. Julian jogara o carro de grande altura. Os veículos da polícia e os bombeiros, já estavam abandonando o local.

- Cullen me disse que um homem chamado Wallace veio da Europa e instigou Brady Grand contra o grupo e contra Julian e Desari, em particular. - Falou Dayan, enquanto estudava a fisionomia de Darius.

Darius parecia decidido e duro. Havia uma mancha de sangue em seu quadril e outra mancha enorme sobre sua coxa. Dayan olhou inquieto para Julian e Barack, mas evitou fazer algum comentário.

Havia uma fúria fria nos olhos de Darius. Uma estranha incandescência escarlate, parecia provir da lua vermelha como o sangue, refletida nos olhos negros. Era uma estranha chama de riva selvageria, tão primitiva como o próprio tempo. Nada deteria Darius esta noite. Ele era predador e sua presa nunca poderia escapar dele.

- Já ouviu falar deste Wallace? - Perguntou Darius a Julian.

- Há alguns anos atrás, houve um homem que caçou nossa gente, nosso Príncipe, sua companheira e seu irmão. Torturou e matou, a humanos e imortais. Esse homem chamava Wallace, mas foi destruído. Sei que pertencia a uma sociedade de fanáticos. Só posso imaginar que os dois Wallace são parentes, especialmente se vier da Europa. Ele deve ser agora, o cabeça da sociedade.

- Estes lunáticos são como Medusa, a mulher serpente. Corta-se uma cabeça e outra cresce em seu lugar. Se arrancarmos esta, podemos esperar, que ao menos se vejam obrigados a se reagrupar, durante um tempo. - Disse Darius. – E nos dará tempo para reunir mais informação sobre eles.

Julian assentiu solenemente.

- Os caçadores de vampiros humanos foram à praga de nossa gente durante milhares de anos. Enquanto nossos homens se convertam, existirão humanos que continuarão caçando a nós todos.

- Possivelmente, a solução seja averiguar mais sobre estes fanáticos e caçá-los ativamente. - Sugeriu Darius, ameaçadoramente.

- Temos alguns dos nossos reunindo informação sobre eles. Estou sabendo que desenvolveram uma toxina em um de seus laboratórios. Injetada no corpo de um Cárpato, pode o paralisar. – Informou Julian. - Nosso curador... Seu irmão, Darius... Encontrou um antídoto. Mas estes são homens decididos. Mesmo se acabarmos com este Wallace, virão outros e continuarão desenvolvendo novos e mais letais venenos contra nós.

- Não, Julian. - Darius voltou com ameaça. - Destruirei este homem. Se isso der uma pausa para nossa gente, que assim seja. Se não, não retrocederemos ante nosso dever.

- Tem o cheiro de nossa presa? - Perguntou Julian.

- Seu cheiro está em minhas fossas nasais. Não pode escapar a seu destino esta noite.

- Sua companheira ainda vive. - Disse Dayan brandamente.

A cabeça de Darius voltou-se. Seus olhos resplandeciam fogo.

- Sou bem consciente do estado em que se encontra minha companheira, Dayan. Não há necessidade de que me recorde.

- Tempest é uma dessas mulheres incomuns, que nunca guardam rancor. - Disse Julian a ninguém em particular. - É difícil imaginá-la mprendendo uma mosca.

- Obrigado por me assinalar isso, Julian. - Resmungou Darius e se lançou diretamente para cima.

Poucos poderiam obtêm tal proeza. Ele já estava no céu, uma rajada de vapor movendo-se a grande velocidade através do tempo e do espaço. Julian sorriu macia e enviezadoramente e o seguiu, não querendo se ver superado por seu cunhado. Dayan encolheu seus ombros, sorrindo para o Barack, e saltou.

Barack sacudiu a cabeça e foi atrás deles. Alguém tinha que ter um pouco de senso comum.

Às escuras e ameaçadoras nuvens se tornaram mais pesadas quando as correntes separadas de vapor se acumularam, juntaram-se e se moveram rapidamente no alto, apagando as estrelas a seu passo. Embaixo, os animais correram a toda pressa, para a proteção das árvores ou suas tocas. Eles sentiam os escuros predadores movendo-se rapidamente no alto e preferiram permanecer tão pequenos e imóveis como fosse possível.

A nuvem se deteve abruptamente, como se o vento tivesse cessado. Darius permitiu que a brisa soprasse a sua volta e através dele. Indicou aos outros, exatamente aonde queria ir. Tinha o odor dos companheiros de Brady Grand. Reconheceria-os em qualquer parte. Muito abaixo, coberta pela ladeira de uma colina, uma casa, no estilo rancho de fazenda, se estendia em forma do L. A primeira vista parecia deserta, mas não havia forma de deter o vento que levava o odor de sua presa até os Cárpatos. A nuvem se moveu lentamente, estendendo uma escura mancha sobre a colina. O vento, agora soprava com força e deveria ter levado para longe a nuvem escura, mas esta permanecia orgulhosamente no alto. Um portento de morte e destruição.

O vento empurrou as janelas da casa, tentando entrar, procurando um ponto fraco. Soprou mais forte, sacudindo ruidosamente os painéis de cristal, abrindo e fechando as portinhas insistentemente. Então se produziu um movimento na ala sul da casa. Alguém abriu uma das janelas do térreo e estendeu os braços para a noite, tentando fechar as portinholas de vidro que batiam.

A ameaçadora nuvem negra golpeou dura e com rapidez. Atravessou o céu e entrou em torrentes na casa, através da janela aberta, enchendo-a, como fumaça sofocante. Um homem caiu para trás, sua boca abriu de par em par, com um silencioso grito. O som não chegou a emergir, amortecido pelo espesso vapor, enquanto este se movia através de seu corpo, tirando seu fôlego, tirando seu.

Um por um os Cárpatos brilharam tenuemente até formas sólidas. Darius já estava se movendo. Podia ouvir cada som da casa. Quatro homens jogavam num salão, três portas a sua direita. Outros dois se moviam. Alguém estava vendo televisão nun doa quartos, escada acima e a sua esquerda. Darius deslizou através da casa. Um silencioso predador espreitando a sua presa.

No andar de baixo dois homens permaneciam em outro aposento, falando em voz baixa.

Os soldados. Esperavam Tempest. Esperavam uma mulher indefesa para poder torturar, utilizar para arrastar os Cárpatos para eles. Cada um desses soldados carregava uma seringa. Darius estava seguro disso. Não o importava. Nada o importava, exceto os homens que tinham tentado fazer mal a sua companheira e a sua irmã. Nada o deteria.

Ele ficou e, pé, ante a porta aberta do salão, seus olhos brilhavam de um vermelho feroz, seus dentes brancos brilhavam. Os homens se voltaram, um por um, numa lenta pirueta orquestrada por um condutor implacável e interpretada com a graça de um balé. Um a um, seguraram cabeça, colocando as mãos firmemente sobre os ouvidos. Darius soltou um ameaçador sorriso de zombaria. Exerceu pressão, uma firme e implacamente aplicação de dor, enquanto um a um caíam de joelhos.

- Cavalheiros acredito que me buscavam. – Disse ele, macio e petulante, mas a dureza em sua face era implacável, suas emoções frias como o gelo. Observou-os morrer desapaixonadamente, com um pensamento fugaz para o médico legista que teria que tentar explicar como haviam morrido quatro homens de um aneurisma cerebral, todos exatamente ao mesmo tempo. Instantaneamente, as vítimas foram despachadas de sua mente.

Julian, Dayan e Barack poderiam cuidar de outros. Darius se moveu como um frio vento assassino à outra ala da casa, onde sabia que encontraria a cabeça do monstro. Moveu-se tão rápido, que um dos soldados que descia para o vestíbulo, tropeçou nele sem se dar conta com o que havia blusaado. O homem cambaleou para trás, olhou em volta, coçou cabeça e continuou descendo para o salão. Darius não se importou com ele como se já estivesse morto.

Julian havia presenciado o primeiro atentado contra a vida de Desari, quando homens como esse, varreram o palco, com armas automáticas, quase a mprendendo. Apesar de seu excêntrico senso de humor e suas maneiras sardônicas, Julian era tão letal como Darius, mas simplesmente ele escondia melhor. Julian não permitiria que nenhum destes assassinos escapasse.

A enorme sala contava com pé direito alto e lareira de pedra numa parede, com uma enorme área para conversar a sua volta. Dois homens descansavam em poltronas macias tomando café, enquanto esperavam sua vítima. A enorme forma de Darius encheu a soleira da porta. Ficou ali em pé, esperando.

O mais velho tinha que ser Wallace. Era de constituição média, cabelo cinza, de traços até belos e olhos vazios. Seu companheiro era mais jovem, de cabelo escuro e uma óbvia ansiedade de provar-se a si mesmo.

Darius tocou suas mentes. Em Wallace encontrou uma doentia e perversa natureza, um homem cruel com animais e as mulheres. Gostava de fazer mal aos outros, encontrando prazer em observar seu sofrimento. O Wallace mais velho, homem morto na Europa pelos Cárpatos poucos anos antes, obviamente passara seu legado para o filho. O ódio corria profundo e forte dentro dele e previra uma longa e prazeiroza sessão com Tempest. As perversas fantasias de sua cabeça excitaram o demônio interior de Darius até um ponto quase incontrolável.

Darius lutou por controlá-lo e vencê-lo.

Como nenhum dos homens levantou o olhar, uma situação que ele achou engraçada, nas pressentes circunstâncias, Darius limpou a garganta brandamente para atrair a atenção.

- Soube que solicitam minha presença aqui. Era completamente desnecessário o tipo de convite que me enviaram. Embora agora que vejo e observo a putrefação de suas mentes, compreendo porque o fizeram. - Sua voz era formosa, uma escura arma mágica que esgrimia facilmente. - Por favor, não é necessário que se levante. – Ele acrescentou ao jovem que tentava se levantar da poltrona. - Tenho negócios com seu chefe.

Levantou uma mão e descuidadamente, empurrou o jovem de volta a seu assento, mantendo-o escravizado sem dificuldade.

Willian Wallace olhou fixamente para o homem alto e elegante que enchia a soleira de sua porta. Seu cabelo negro como a meia-noite flutuava até os ombros. Seus olhos sustentavam a chama vermelha de um demônio. O poder se grudava a ele e seus dentes brancos brilhavam quando sorria. Era extraordinariamente cortês, mas Wallace sentiu a ameaça sob a superfície. Fisicamente, ele era um especime bonito e intensamente homem, com uma sensualidade que rodeava sua boca igualada só por seu lado de crueldade.

Wallace sentiu que seu coração começava a bater com alarme. Seus dedos se fecharam.

- Quem é você?

- Acredito, que o assunto é... Mas bem... O que sou? Conheceu alguma vez algum um vampiro, Senhor Wallace? - Perguntou Darius cortesmente. - Como tomou tantas providências para convidar a um a sua casa, esperaria que tivesse a ligeira idéia de com que está falando.

Wallace olhou fixamente para seu companheiro, congelado no lugar, pela mente do intruso.

Decidiu ser cortês como seu convidado, esperando pegá-lo com a guarda baixa. A casa estava tomada por seus homens. Mais cedo ou mais tarde, viriam socorrê-lo. Em qualquer caso, possuía uma arma secreta, se conseguisse se aproximar do vampiro.

- Entre. – Com a mão, amplamente ele assinalou para uma cadeira próxima. Darius sorriu, uma amostra de dentes branquíssimos, um salto de chamas em seus olhos, mas não se moveu.

- Sejamos civilizados, então. Estou seguro de que é isso o que tinha em mente quando enviou a seus assassinos atrás de minha mulher. Não se incomode em negar suas intenções. Posso ler seus pensamentos facilmente.

Wallace decidiu responder com descaramento.

- O mal chama o mal. Conheço sua raça e do que são capazes. Outros como você mataram a meu próprio filho, assassinaram dois de meus cunhados. Se, eu tinha intenção de tomar meu tempo desfrutando da mulher. É bastante bonita. Teria sido... Delicioso.

Darius estendeu a mão e com aparente calma, estudou as imaculadas unhas. Uma a uma, garras afiadas brotaram de suas pontas. Sorriu deliciado, mas com a ameaça de um predador. Uma vez mais, seu negro olhar tocou o homem mais velho. Foi como um golpe físico, uma pontada que pareceu sacudir o cérebro de Wallace, provocando que ele segurasse a cabeça dolorida, sentindo o tremendo poder do visitante. Suas vísceras se retorceram.

Darius deslizou pelo interior do aposento, fluía. Seus flexíveis músculos ondeando poderosos sob sua elegante camisa branca. Parecia encher o aposento inteiro com sua presença e sugar todo o oxigênio do ar.

- Vejo que decorou as janelas com alho. Acredita que esse condimento me Incômoda? Possivelmente, que debilita meu poder?

- Não é assim? - Rebateu Wallace, engasgando-se por um momento.

O brilho dos dentes brancos foi sua resposta. Darius se aproximou da lareira, estendeu a mão e tocou a enorme cruz de prata que havia ali.

- Parece que tem toda a parafernália para espantar um vampiro.

Wallace estava horrorizado. Olhou fixamente para a porta, súbitamente consciente do profundo silêncio da casa.

Darius deslizou para mais perto.

- O que é exatamente o que deseja aprender comigo, Senhor Wallace? Esta é sua oportunidade.

Wallace tirou rapidamente, a seringa cheia de toxina e a enterrou profundamente no braço de Darius. Saltou para trás, sorrindo triunfante.

- Ah... Esse é o veneno que trabalharam tão duro para desenvolver. - Disse Darius. Com voz formosa e despreocupada, como sempre. - É difícil saber se vai funcionar realmente, a menos que tenha a oportunidade de prová-lo. Observemos juntos os resultados. - Os olhos sem alma encontraram os de Wallace. - Considera-se um cientista, não é assim, Senhor Wallace?

Wallace assentiu lentamente, olhando o homem que pensava ser um vampiro. Darius lentamente enrolou a manga da camisa de seda, expondo os músculos firmes de seu braço. Cravou os olhos em sua pele, provocando que chamas vermelhas fluísse, se movessem trêmulamente e dançassem. Wallace quase gritou quando gotas douradas do líquido venenoso começaram a gotejar pelos poros de Darius e correram por sua pele para gotejar até o chão.

- Interessante, não? - Inquiriu Darius em um tom levemente ameaçador. - Deveria conhecer melhor o inimigo que pretende desafiar, Senhor Wallace. É mau negócio caçar sem ter conhecimento de sua presa.

- Onde está agora a mulher?

As sobrancelhas de Darius se arquearam.

- Realmente é tão arrogante para acreditar que permitiria que seus ridículos assassinos arrebatassem o que é meu? Suspeito que está você mais interessado pelo paradeiro de seus homens.

Wallace suspirou e percorreu com a mão, o cabelo grisalho, arrepiando-o.

- E onde estão?

- O que restou deles, pode ser reclamado no necrotério local. - Respondeu Darius despreocupadamente.

- Suponho que o resto de meus homens, também foram destruídos. - Aventurou Wallace.

Darius enviou sua mente a procurar pela da casa, depois sorriu com satisfação.

- Devo admitir, que não parecem gozar de boa saúde. Deveria ter escolhido seus companheiros mais cuidadosamente, Senhor Wallace.

Os olhos descoloridos de Wallace relampejaram com súbita malícia.

- Vejo que você não saiu ileso. Está sangrando.

Os dentes brancos brilharam outra vez.

- Não é nada, um simples arranhão. Meu corpo se curará sem dificuldade, mas obrigado por sua preocupação.

Wallace sussurrou entre dentes.

- Tem intenção de me matar.

Os olhos de Darius, agora vermelhos, se fixaram nele, como lava fundida.

- Com grande prazer, Senhor Wallace. Eu protejo o que é meu. Permiti que saísse livre depois da última ameaça a minha família, mas insiste em pedir que eu o libere de sua miserável vida. Não posso fazer outra coisa, que o agradar.

- Voltarei para a Europa... O deixarei em paz.

Darius sacudiu a cabeça lentamente.

- Ela, minha mulher, foi tocada por seus asquerosos serventes. Você tinha intenção de violá-la, torturá-la. Não porque pensasse que ela era um vampiro, mas porque isso te proporcionaria prazer. Você me queria aqui, Senhor Wallace e agora tem justo o que desejava.

Wallace olhou para seu jovem companheiro, o único que havia escolhido como seu protegido, porque encontrara no jovem, a mesma natureza sua.

Darius recolhera facilmente, os pensamentos de ter o papel principal no filme de Tempest, da cabeça do jovem. Sabia que ele não acreditava em vampiros, mas se sentia atraído pela violência e pelo anseio sexual que a sociedade de caçadores de vampiros prometia proporcionar. Seus olhos negros estidavam o jovem, enquanto contemplava a maldade que existiam em ambos os mundos. O seu e o dos humanos. Liberou o jovem da sugestão mental. Instantaneamente, ele se lançou para Darius, aparentemente muito estúpido, para entender que Darius estava o controlando.

Darius permaneceu tão imóvel que pareceu ser parte dos móveis, da terra. Silencioso, vigilante e imóvel.

No último segundo, quando o homem estendia as duas mãos para ele, Darius brilhou até se converter em vapor, dissolvendo-se e reaparecendo depois do jovem.

- Daniel, atrás de você! - Advertiu Wallace.

Daniel tentou tirar a arma da cintura, enquanto se voltava. Enquanto captava um olhar do intruso, a face dele ondeou, se contorceu e alargou. Explodiram dentes, afiados como navalhas em sua boca e mandíbulas batendo-se, para enterrar diretamente em seu peito, rasgando um buraco para alcançar o coração latente.

Wallace saltou fora de sua cadeira, derrubando-a enquanto tentava chegar à porta. A elegante figura se moveu. Um borrão deslizando-se para lhe cortar a retirada.

Uma vez mais, Darius parecia um homem arrumado, de negros olhos impassíveis e boca formosa, cruel. Não havia nenhuma mancha em sua imaculada camisa, embora uma poça de espesso e pegajoso sangue se reunia ao redor do corpo de Daniel. Ela parecia um boneco de trapo atirado sobre o chão.

Wallace ficou congelado, sem se atrever a se aproximar mais do terrível demônio que o ameaçava.

- Não notou ainda? – Ele gemeu. - Eu sou como você. Poderia te servir. Faça-me como você... Um imortal.

Darius arqueou uma sobrancelha.

- Adula-se, acreditando que é de algum modo, como nós. Existem alguns dos meus, que se converteram em seres malvados, retorcidos. Podres seres como você. Eles poderiam te conceder um pequeno adiamento na execução, permitindo você viver um tempo alimentando-se da carne morta, enquanto você servisse a seus escuros propósitos. Mas eu não sou desses.

- Quem é então? - Sussurrou Wallace. Agora podia ouvir algo mais. Não o silêncio total desta casa de morte. Não o som de seus homens vindo em sua ajuda. Eram insidiosos murmúrios que assaltava seus ouvidos. Tentou reprimi-los, sem entender o idioma, mas sabendo que havia mais criaturas perto, que a que estava a sua frente.

Esperavam, haviam sido chamados por este, para terminar com Wallace, para se unir a eles.

- Sou um instrumento de justiça de meu povo. Vim para o enviar deste mundo para outro, onde deverá responder por seus terríveis crimes contra mortais e imortais. - Darius pronunciou as palavras brandamente, quase gentilmente.

Wallace sacudiu a cabeça.

- Não... Não pode fazer isso. Não pode. Sou um líder. Tenho um exército atrás de mim. Ninguém pode me derrotar. – Ele elevou a voz histéricamente. - Onde estão? Venham todos, estou em perigo. Protejam seu líder!

Os terríveis olhos sem alma nunca abandonaram a face do Wallace. Esses olhos negros estavam completamente vazios, sem qualquer tipo de sentimento. Então pequenas chamas vermelhas começaram a flamejar em suas profundezas, alimentando o temor de Wallace.

- Não resta mais ninguém. - Disse Darius. - Só você. E o sentencio a morte por seus crimes contra a humanidade. Por favor, me agrade, senhor. - Darius gesticulou para o vestíbulo. Wallace sentiu que não podia lutar contra a compulsão.

Passo a passo macabro, moveu-se. Seu corpo avançou como uma marionete, enquanto percorria o vestíbulo para as escadas. Wallace tentou gritar, mas não surgiu nenhum som. Seu corpo continuou obedecendo às ordens do demônio que havia convocado a sua casa. Na escada, a criatura continuou gesticulando para que ele avançasse. Centímetro a centímetro, passo a passo, incansavelmente, implacavelmente, Wallace foi conduzido para a sala.

Ofegou quando viu os quatro homens sem vida, no meio do chão. Não tinham sequer uma marca neles. Então a compulsão o empurrou para a porta do balcão. Embaixo, havia uma cerca de ferro forjado e cada haste separada, terminava em numa estaca afiada. Wallace ficou com o olhar fixo nas letais estacas e tentou deter seu próximo passo, mas sentiu o espaço vazio sob seu pé, depois o ar. E então caiu, livre do domínio do demônio para que seu grito ressonasse na noite.

Darius baixou o olhar para o corpo pendurado. Uma estaca atravessara diretamente o coração. Permaneceu ali, lutando para reprimir à fera que ainda exigia se libertar. Ainda clamava retribuição e sangue.

Tempest.

Deliberadamente pensou nela, tomou-a em seu corpo e sua alma, permitindo que sua luz acalmasse a terrível fera. Sem eguida, restabeleceu o equilíbrio entre o homem intelectual e o predador instintivo. Já não o dominava mais, o instinto selvagem, exigindo sangue e vingança, e fora ela. Uma vez mais, ela sua outra metade, o ajudara.

Agora, só poeria voltar para ela tão rapidamente como fosse possível.

Voltou à procura de sua família, de volta a sua gente.

Julian suspirou baixo.

- Deve tomar meu sangue, Darius, e depois ir para a terra para curar suas feridas.

- Suponho que devo te conceder a razão.

- E quase te mata admitir. - Julian sorriu.

Um lento sorriso tocou os olhos e a boca de Darius.

- Oh, cale-se. - Disse cansativamente, mas com um brilho de humor autêntico em seus olhos.

 

Darius se elevou dois dias mais tarde, com seu corpo totalmente recuperado. Com o apropriado descanso rejuvenescedor, o sangue de um antigo e a rica terra, sua força total estava renovada.

Em seguida procurou notícias de sua família. Comprovou mentalmente a cada um deles para assegurar-se de que estavam bem e a salvo. Assegurou-lhes, em troca, que estava completo e curado e logo despertaria Tempest.

Darius se levantou, vorazmente faminto e soube que se tudo tinha estado bem com Tempest, ela estaria também. Caçou, escolhendo presa perto da caverna, alimentando-se vorazmente, bebendo pelos dois. Quando retornou, preparou seu despertar.

Amassou ervas para encher o ar com um aroma consolador, colocou dezenas de velas para que as pequenas chamas dançassem sobre as paredes, incitantemente. Formou uma cama macia com suaves lençóis de linho, para lhe dar boas vindas.

Darius desceu até ela e a embalou nos seus braços. Flutuou para fora da terra e fechou o profundo buraco para que não restasse sinal do que podia parecer para ela, uma tumba.

Tempest luzia formosa em seu sono. Mais formosa do que ele lembrava. Sua pele imaculada, seu cabelo uma massa de espessa seda vermelha, espalhada em volta do rostinho belo. Levou-a ao fumegante lago mineral e a despertou enquanto a introduzia na água.

Inclinou a cabeça para sua boca, capturando seu primeiro fôlego, enquanto ela introduzia ar em seus pulmões e exalava. Tempest estava com sabor de luz e bondade. Sábia como o desejo e a chama. Seus olhos revoaram, depois se elevaram e ele ficou olhando fixamente para seus vívidos olhos verdes.

Um débil traço de humor crepitou nas profundas esmeralda. Era assombroso o que ela fazia a seu coração, derretia-o e simultaneamente, o espremia com força. Seu peito se sentia desproporcionalmente apertado, seu coração pulsava de medo pelas conseqüências de sua valorosa escolha.

- Bem... Por sorte, a coisa da loucura não funcionou por aqui. Não sinto o louco desejo de me transtornar e pendurar pelos pés, como um morcego, mas definitivamente estou com fome.

A sedutora carícia de sua voz arrepiou a pele dele. Sua mente, quando a tocou, era uma mistura de medo e humor, como se não pudesse decidir-se por nenhum deles.

- É natural estar faminta, céu. - Tranqüilizou-a, enquanto sua mão afastava sedosas mechas de cabelo de seu pescoço. A água lambia sua pele, estalavam pequenas bolhas sobre e em volta do corpo deles, criando uma sensação de intenso prazer.

- Um pouco repulsivo, acredito. – Tempest tentou ser analítica.

- Você acredita? – Darius inclinou a cabeça para encontrar a pulsação em sua garganta. A língua acariciou uma marca, sentindo a súbita e impaciente excitação. - Isso é o que se sente quando a beijo assim?

Ela estava roubando seu fôlego, sua prudência. Estava despertando seu corpo para a vida, provocando uma chama viva de desejo.

- Já sabe. - Acusou ela.

Os dentes mordiscaram ligeiramente seu corpo. Os músculos de seu estômago se apertaram com antecipação. O calor se recolheu imediatamente em seu interior, baixo e urgente.

- É isso o que quer, Tempest? - Persistiu ele, a respiração era quente sobre sua pele.

Ela arqueou o pescoço para lhe dar melhor acesso, seu corpo inteiro ardia pelo erótico êxtase de sua mordida.

- Já sabe, Darius.

A boca dele se moveu para encontrar a dela, num um lento e lânguido beijo, que ele precisava mais que qualquer outra coisa.

Esse beijo roubou de Tempest, a habilidade de pensar com prudência, de pensar em nada que não fosse ele.

- Isso é o que eu sinto. - Disse Darius. - Quando sua boca se move sobre minha pele, quando seus dentes me encontram e meu sangue flui em seu interior. É formoso e erótico e meu corpo deseja ardentemente, compartilhar, como faz o teu.

Darius moveu as mãos sobre sua pele, uma lenta exploração de suas sombras e curvas, lavando os restos de terra.

A sensação das mãos dele, deslizando-se sobre a pele nua, acariciando seus seios, descendo por seu estômago, por entre as pernas, procurando o cremoso calor que a queimava, provocava uma faminta demanda que ela não conhecia. Lentamente, ele introduziu um dedo em seu interior. Um segundo. Explorando seu aveludado interior, sabendo que ela pulsava de vida e desejo só por ele. Tempest empurrou-se contra a mão atrevida, procurando alívio para o fogo acumulado. Podia sentir afastar suas inibições, enquanto seu corpo iniciava suas próprias urgências.

Começou a acariciá-lo. Explorou os músculos de seu peito, a definição de seu abdômen, depois se moveram mais abaixo para embalar seu membro na palma da mão, onde seus pequenos dedos desapareciam, percorreram sua dura longitude. Darius a levantou nos seus braços, saindo do pequeno lago da caverna, para deitá-la sobre a cama que hvia feito para ela e cobriu seu corpo, com o próprio.

Tempest sorriu e rodeou sua cabeça com os braços, suas mãos acariciavam o cabelo espesso.

- Até que enfim, uma cama. Será que nós...

- Ah... Céu... Pequena. Acredito que não tem nada de que se preocupar. Sei exatamente o que fazer. – Darius sussurrou contra sua garganta. O corpo dela estava solto, o cabelo como seda. Como podia ser algo tão endemoniadamente suave? Saboreou sua pele, seu doce mel e permitiu que seu dedo a penetrasse, numa feroz onda de desejo. A necessidade o pegou, forte e urgente, numa fome implacável que só o corpo dela podia saciar.

Tempest foi presa pela sensação da dominação do corpo duro e a agressiva dominação masculina. Sua força bruta, a resposta trêmula que seus dedos podiam induzir. Sorriu, sua língua saboreou o pescoço dele, deleitando-se na rica textura da pele. Seus seios estavam sensíveis, cheios de desejo, doloridos de prazer e pressionados contra o poderoso peito dele. E então foi consciente batimento de seu coração. O fluxo vazante de seu sangue, como as ondas do mar avançando e retrocedendo.

A chamada, a fome, a fome que a tudo consumia. Instantaneamente, se estirou e lutou para se liberar do peso do corpo dele.

Darius capturou sua esbelta cintura e ergueu os braços dela, sobre a cabeça, dominando-a facilmente.

- Shh, meu amor, calma. Sabe que pode fazer. Já estava ouvindo as coisas magnificadas e aprendeu a lidar com isso, facilmente.

Ela sacudia a cabeça de um lado para outro, tentando bloquear o som e o aroma do sangue, a fome turgente e raivosa que parecia assumir o controle de todo seu ser.

Darius a sustentou firme, mas calmamente.

- Me olhe, Tempest. Abra os olhos e olhe os meus. Respire comigo até que se acalme. Podemos fazer isto juntos. Podemos. Confia em mim para decidir que é o correto. Olhe-me.

Engolindo com força o nó de medo e repulsa, Tempest lutou para abrir as pálpebras e instantaneamente foi capturada e sujeita pelo hipnotizador olhar negro. Acalmou-se como nada mais podia fazer. Confiava nele, acreditava nele. Amava-o totalmente e sem reservas. Mais que a sua própria vida. O terrível palpitar de seu coração se apaziguou. Seu olhar se aferrou a ele, seu salvador, na loucura em que se colocara.

Darius sorriu para ela, com completa confiança.

- Podemos fazer isto juntos, céu. Você e eu. Somos um. Nossos corações, nossas almas, nossas mentes, e nossos corpos.

A mão dele se deslizou novamente por entre suas coxas, os dedos comprovando se ela estava preparada. Pressionou a ardente e palpitante ponta de seu sexo, no interior da abrasadora entrada, para que ela pudesse sentir sua necessidade, o membro grosso e duro, da necessidade que ele estava.

- Isto somos nós, Tempest, você e eu. Nossos corpos desejam ardentemente um ao outro. Sinta-me exigindo, ardendo de desejo por você. – Ele penetrou-a mais um pouco, com delicioso cuidado, observando como os olhos dela se abriam em resposta. Sentindo seu calor se fechar, apertando e prendendo, em reação a sua invasão. A doce agonia fez que aparecer gotas de transpiração em sua testa.

Tempest gemeu, seus quadris se moveram pela própria necessidade. Darius a manteve imóvel, seu corpo ainda mais inchado, enchendo-a completamente, conduzindo a seu estreito canal, as demandas de seu próprio corpo.

- Funda sua mente a minha. Quero estarmos juntos como deve ser. - Seu sussurro foi pura sedução, pura magia. - Meu corpo está profundamente no interior do seu. – Ele retirou-se e a tomou novamente, numa poderosa penetrada que se enterrou mais profundamente nela. Os braços dela tentaram se libertar, mas ele a manteve sob baixo ele.

Darius inclinou a cabeça, para a tentação dos seios dela e sorriu quando o corpo de Tempest se arrepirou de prazer. A língua acariciou amorosamente um mamilo antes de tomar o acetinado e suave biquinho, no calor de sua boca. Ela gemeu, arqueando-se para ele. Os quadris dele se moveram num ritmo lento e preguiçoso deixando-a louca, por que não podia se mover, presa como estava. Darius pôde arrastá-la a um ponto febril, explorando seu corpo sua consciência.

Ela sentiu a respiração dele sobre seu peito e uma sensação selvagem em seu interior, pareceu liberar-se.

- Por favor, Darius. - ouviu-se gemer, e soube o que desejava. Estava elevando-se da cama, oferecendo seu corpo para a boca que a provocava. - Por favor, não me faça esperar. - Sussurrou as palavras em meio a uma agonia de antecipação. Então sentiu o corpo dele responder à urgência de sua súplica, inchando-se, endurecendo-se, movendo-se com longas e profundamente em seu interior. Sentiu os dentes dele mordiscando, raspando gentilmente sua pele, sua língua seguindo a áspera carícia e depois gritou quando um calor branco a envolveu, dominou-a, enquanto os dentes dele se introduziam profundamente e a boca se movia eróticamente contra seu seio. Darius estava alimentando-se dela. Sentiu o calor abrasando-a. Rodeando-a. Desejava que ele continuasse para sempre. Que não se detivesse nunca. Desejava segurar sua cabeça contra ela e o obrigar a tomá-la sempre deste modo, para sempre.

O calor. O fogo. O êxtase.

Darius fechou os olhos e se abandonou. Ondas de prazer tomavam seu corpo, consumindo-o. Então sua mente empurrou para entrar na dela com as mesmas demandas que seu corpo impunha ao corpo dela.

- Assim é como o sinto, céu. Necessito que você faça o mesmo por mim.

Sua voz roçou a mente dela criando ondas de fogo.

Sua língua acariciou o seio.

- Faça-o por mim, meu amor. Tome o que eu te dou. - Foi pura e flagrante sedução, a tentação do diabo.

Darius empurrou os quadris, achegando-se mais ainda a ela, provocando-a incessantemente, a cada investida. Enlouquecendo-a. Seu peito estava sobre a cabeça dela, pressionando contra a boca inquieta. A língua encontrou sua pele. Sentiu o impulso através de sua mente. Sentiu seu corpo pulsando dentro do dela. Os dentes dela movendo-se seu coração latente. A fome a consumia. A necessidade de dar o que ele desejasse. Com a mão enorme, capturou seu traseiro, levantando os quadris dela para poder enterrar-se nela e a outra seguiu até a nuca, sujeitando-a firmemente contra seu peito.

- Faça, pequena. Está-me mprendendo. Faça por mim. Preciso de você, como nunca precisei de nada em minha vida. Por favor, pequena. - As palavras saíram com crua necessidade, entre os dentes apertados. Seu corpo se esforçava por convencê-la.

Então o grito rouco encheu a caverna. Sua cabeça caiu para trás em meio ao puro êxtase. Os dentes de Tempest perfuravam sua carne.

Ela o sentia, sentia a intensidade de seu prazer enquanto seu sangue fluía para dentro dela, ardente e rico com a essência da vida e a paixão. O corpo dele começou a investir nela, mais ardente e mais rápido, inchando e endurecendo-se, até que Tempest sentiu-se tão apertada que a sensação a ameaçou enviando a ambos às chamas do êxtase.

Darius sentiu o corpo dela se contrair, apertando-o com mais força até que derramou sua ardente semente dentro dela. Encheu a mente, corpo e as veias de Tempest, com sua vida.

Darius gemeu, temendo se desfazer em pedaços por causa do prazer, temendo que acontecesse o mesmo com ela.

- Reclamo-te como minha companheira. Pertenço a você. Ofereço minha vida. Dou-te meu amparo, minha lealdade, meu coração, minha alma e meu corpo. Tomo em mim os teus para guardá-los para sempre. Sua vida, sua felicidade e seu bem-estar serão apreciados e colocados sobre os meus, sempre. É minha companheira e está unida a mim, para toda a eternidade e sempre a meu cuidado. - Ele obrigou a cada palavra a sair entre seus dentes, entre cada pulsar de seu coração, para que não pudesse haver engano, nunca, de nenhuma forma, de que o ritual fôra completado. Queria que ela sentisse cada palavra com sua alma unida a ele, seu corpo unido ao dele, sua mente e seu coração, ao dele. Ela era dele, e ele pertencia a ela. Nunca renunciaria a ela, nunca a deixaria partir, nunca permitiria que nada, ninguem a fizesse mal.

Darius a manteve nele, seu corpo ainda ardente e duro no interior do fogo aveludado dela.

Ela estava molhada com sua semente. Fechou as incisões sobre o coração de Darius. Seu corpo estava tão exausto que não podia se mover.

Darius rolou de cima de Tempest, levando-a com ele, mantendo seus corpos unidos.

- Obrigado, Tempest. Não a mereço, mas obrigado.

Ela ficou deitada ouvindo o ritmo de seus corações, descansando na mente dele. Viu sua implacável resolução de protegê-la, os profundos laços entre eles que nunca poderiam ser rompidos e se sentiu segura de seu futuro. Viu que o ritual de emparelhamento Cárpato só incrementava com o passado do tempo. Não podia imaginar como era possível ter maior sensação, sem provocar uma parada cardíaca, mas o aceitou. Podia também ver além da posse e da ardente fome dele, por seu corpo. Darius a amava. Amava-a tão profundamente, tão completamente, que esse amor enchia todo seu ser. Amava-a o suficiente para entregar sua vida por ela. Amava-a sem reservas, incondicionalmente.

Deitada em seus braços, saboreou a sensação de o ter sobre ela, forte e real.

- Eos outros, estão bem, Darius?

Ele acariciou seu rosto, totalmente fixado em seus olhos verdes. Demorou alguns segundos para responder.

- Sim. Julian tem um irmão gêmeo, Aidan, que vive em São Francisco com sua companheira, Alexandria. Julian levou Desari para conhecer sua família. - Darius mordiscou a pele arrepiada do pescoço de Tempest, e sua língua brincou depois, para aliviar qualquer dor. Então sorriu contra seu pescoço. – Levaram os leopardos com eles, o que deve significar que Aidan tem trabalhadores humanos e Alexandria tem um irmão pequeno.

- E Sindyl? - Seu corpo estava reagindo ante o toque dos dentes de Darius, com sensações internas de prazer. Suas mãos encontraram os quadris dele e começaram a acariciar as curvas definidas de seus músculos. Em seguida, o corpo dele respondeu a seu toque ecomeçou a alongar-se, endurecendo-se.

- Barack e Syndil estão juntos, trabalhando em sua relação. Syndil me pareceu mais feliz e com muito mais confiança, ao descobiri seu temperamento. Envia-me uma saudação muito calorosa para voce. Estão viajando para a Europa antes da nova excursão, com a esperança de conhecer príncipe de Julian e a outros como nós.

Tempest inclinou a cabeça em seu peito, seus dedos dançaram sobre ele em resposta às fantasias que lia em sua mente. Estudou sua face e sentiu seu calor, sua paixão elevando-se sob as carícias.

- E Dayan e Cullen? – Tentava pensar, enquanto a mente de Darius estava tomada com todas as possibilidades eróticas.

- Com todos nós encontrando nossas companheiras, a escuridão se estende em Dayan. Precisa de tempo para se ajustar. - Ela sentiu mais que ouviu a preocupação em sua voz. - Todas estas emoções intensas estão o perturbando. Ele e Cullen Tucker vão para o Canada. Viajarão juntos durante algum tempo e Dayan ajudará a assegurar a segurança de Cullen, o que também deve assegurar a sua própria. Quando a banda voltar a se reunir, para a próxima temporada, voltarão. - Houve uma nota rouca em sua voz, que Tempest não pôde ignorar. Antecipação.

Captando a imagem bastante gráfica dela na mente dele, Tempest lentamente se levantou e o montou. O movimento a encheu com o grosso calor dele e abriu os olhos verdes com surpresa. Entretanto, jogou o cabelo para trás e começou uma lenta e erótica cavalgada, com um sorriso de satisfação em sua boca.

Darius estendeu os braços, para envolver a cintura estreita com as mãos. Seus polegares roçaram a carne dela e ela não pôde resistir.

Tempest estava lindíssima, com seu cabelo vermelho alvoroçado de forma tão sexy, sua boca luxuriosa e os enormes olhos verdes, estavam tomados de desejo por ele. O corpo dela, apesar de pequeno, fôra feito para ele. Suas mãos enfatizaram a cremosa e plena carne de seus seios. Segurou-a firmemente, para poder penetrá-la profundamente, para poder observar como os olhos dela se escureciam de prazer, e a encontrou sorrindo, também.

- Enquanto o tenho onde quero. - Disse ele gemendo. - Eu gostaria de te lembrar que poderia ter morrido facilmente por causa de seu sacrifício. Um bom número de coisas poderiam ter saído erradas.

Tempest sentiu o medo repentino que atacou o peito dele, a onda de cólera que rodou nele como uma maré. Deliberadamente, levou os dedos dele até a úmidade de seus lábios e apertou seus músculos internos para prender a dura ereção, enquanto serpentava sobre o membro duro. Encontrou uma certa satisfação em saber que o havia distraído momentaneamente de sua acalorada intriga masculina. Os quadris dele se elevaram, procurando por ela. Seus olhos se obscureceram de desejo.

Tempest lhe sorriu, seu corpo o encontrava em cada movimento. Darius se levantou de repente e seus braços deslizaram pela cintura dela, sua boca se alimentou vorazmente de um seio, antes de tomar o controle da situação uma vez mais.

- Ouvirá o que tenho a dizer, céu, e me obedecerá. Nunca mais voltará a se colocar em perigo. Entendeu? – Ele grunhiu as palavras de um homem dos Cárpatos, impondo a lei a sua irresponsável companheira.

Tempest deslizou os braços ao redor do pescoço dele e sua língua encontrou o ponto sensível depois de sua orelha, distraindo-o. Sua boca se arrastou travessa, em volta do pescoço dele e abriu caminho a fogo, pela garganta, enquanto seu próprio corpo apertava-se e remontava-o de prazer.

Darius tentou manter sua disciplinada mente sob controle. Ela o obedeceria, tinha que prometer que o obedeceria. Mas sua boca estava sendo consumida pelos lábios desejosos e sequiosos, dela e as pernas sedosas mudaram de posição, para rodear sua cintura e poder o arrastar mais profundamente em seu interior.

Nesse momento, tudo o que pôde pensar, tudo o que o importava era que estava ardendo em chamas com ela, rompendo-se em milhões de fragmentos, envoltos um nos braços do outro.

Suaves sussurros encheram a caverna, risadas baixas, som de corpos movendo-se juntos e a essência do ato de amor. Desfrutavam-se em seu amor recente, insaciáveis em seu apetite, um do outro.

Quando Darius finalmente pôde exortá-la, havia passado várias sublevações e ele não pode transmitir todo o impacto que originalmente haviaendido. Mas já importava, sabia que seu futuro estava selado.

Tempest era dele para a eternidade e sempre seria sua exitante e selvagem Tempest, violando suas ordens e o atormentando com suas pequenas fugas, e sempre, sempre lhe amando. 

 

                                                                                                    Christine Feehan

 

 

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