Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites
FOLHA DE CARVALHO
Foram batidas leves e constantes que despertaram Will do sono profundo e tranquilo.
Ele não tinha uma idéia clara de quando começou a ouvi-las. O ruído parecia ter deslizado discretamente em sua mente adormecida, ampliou-se e aumentou em seu subconsciente até chegar ao mundo consciente e fazê-lo perceber que estava acordado e se perguntando o que poderia ser.
Tap-tap-tap-tap...
O barulho continuava, mas não tão alto, agora que estava acordado e ciente dos outros sons na pequena cabana.
Do canto, atrás de uma pequena cortina de estopa que lhe dava uma leve privacidade, ele podia ouvir a respiração regular de Evanlyn. Estava claro que as batidas não a tinham acordado. Escutou uns estalidos abafados vindos da pilha de carvão na lareira no fim do aposento e, quando ele ficou totalmente acordado, escutou quando os pedaços se assentaram com um leve farfalhar.
Tap-tap-tap...
O barulho parecia vir de perto dele. Will se espreguiçou, bocejou e se sentou na cama rústica que tinha feito com madeira e lona. Balançou a cabeça para afastar o resto de sono e, por um momento, o som quase desapareceu. Então recomeçou, e Will percebeu que vinha do lado de fora da janela. Os painéis de tecido impermeável eram transparentes e deixavam que a luz cinzenta de antes do amanhecer entrasse, mas ele não viu nada além de névoa. Ele se ajoelhou na cama e abriu a moldura, levantando-a e esticando a cabeça pela abertura para observar a pequena varanda da cabana.
Uma rajada de ar frio entrou no quarto e ele ouviu Evanlyn se mexer enquanto o vento percorria o aposento, fazendo com que a cortina de estopa balançasse para dentro e as brasas da lareira brilhassem com mais intensidade até que uma pequena língua de fogo amarela saltasse delas.
Em algum lugar entre as árvores, um pássaro cumprimentava a primeira luz do dia, e as batidas foram abafadas mais uma vez.
Então ele descobriu. Era água que pingava da ponta de um longo pingente de gelo pendurado no telhado da varanda e caía num balde virado que ficara ali no chão.
Tap-tap-tap... tap-tap-tap.
Will franziu a testa. Ele sabia que tinha uma coisa importante nesse acontecimento, mas sua mente, ainda confusa pelo sono, não conseguiu entender bem o que era. Ele se levantou, espreguiçando-se e tremendo levemente ao deixar o último calor da coberta, e se dirigiu para a porta.
Esperando não acordar Evanlyn, levantou o trinco e abriu a porta devagar, segurando-a de modo que as dobradiças de couro não deixassem a parte inferior raspar no chão da cabana.
Will fechou a porta atrás dele e andou nas tábuas ásperas da varanda, sentindo o frio gelado nos pés descalços. Foi até onde a água pingava sem parar sobre o balde e notou que outros pingentes pendurados no telhado também pingavam. Ele nunca tinha visto nada parecido e teve certeza de que aquilo não acontecia normalmente.
Olhou para as árvores por onde passavam os primeiros raios de sol.
Houve um baque surdo na floresta quando um monte de neve finalmente escorregou dos galhos de um pinheiro, onde tinha ficado durante meses, e caiu formando um monte no chão.
E foi nesse momento que ele se deu conta da importância das intermináveis batidas que o tinham acordado.
Atrás dele, ouviu a porta ranger. Ele se virou e viu Evanlyn, com os cabelos muito emaranhados, enrolada no cobertor para se proteger do frio.
— O que foi? — ela perguntou. — Aconteceu alguma coisa?
Ele hesitou um segundo, olhando para a poça que crescia ao lado do balde.
— O gelo está derretendo — ele disse finalmente.
Depois de um magro café da manhã, eles se sentaram ao sol que se estendia na varanda. Nenhum dos dois queria discutir a importância da descoberta de Will, embora tivessem encontrado mais sinais do degelo.
Pequenas manchas de grama seca encharcada apareciam na cobertura de neve na terra em volta da cabana, e o som da neve molhada escorregando das árvores para cair no chão estava se tornando cada vez mais comum.
É claro que a neve ainda estava espessa no chão e nas árvores, mas os sinais indicavam que o degelo tinha começado e que iria continuar incessantemente.
— Acho que temos que pensar em continuar viagem — Will disse finalmente, externando o pensamento que tinha estado na mente de ambos.
— Você ainda não está forte o suficiente — Evanlyn retrucou. Mal se tinham passado três semanas desde o dia em que ele se livrou dos efeitos entorpecedores provocados pela erva do calor, na qual se viciara quando escravo do pátio na Residência de Ragnak. Antes de conseguirem fugir, Will tinha enfraquecido por causa de comida e roupas inadequadas e um regime de trabalho fisicamente punitivo. Desde então, a alimentação insuficiente serviu apenas para conservar a vida, mas não para restaurar suas forças ou sua resistência. Eles tinham vivido do fubá e da farinha encontrados na cabana, de um pequeno estoque de legumes e da carne fibrosa de qualquer animal que Evanlyn e ele tinham conseguido caçar.
Havia pouca caça no inverno e os animais que tinham apanhado também não estavam em boas condições além de não serem muito nutritivos.
— Eu dou um jeito — Will disse simplesmente e ergueu os ombros. — Vou ter que dar.
E esse era o principal problema. Os dois sabiam que, assim que a neve nos altos desfiladeiros tivesse derretido, os caçadores voltariam a visitar as montanhas onde estavam. Evanlyn já tinha visto um deles: o misterioso cavaleiro no dia em que Will tinha recuperado a consciência. Felizmente, desde aquele dia, não viram mais sinal dele. Mas tinha sido um aviso. Outros viriam e, antes que aparecessem, Will e Evanlyn tinham que estar bem longe, descendo as passagens do outro lado da montanha para atravessar a fronteira para a Teutônia.
Evanlyn balançou a cabeça com ar de dúvida. Por um momento não disse nada, mas logo se deu conta de que Will tinha razão. Assim que o degelo tivesse realmente começado, eles teriam que partir, estando ele forte o bastante para viajar ou não.
— Mesmo assim — ela disse devagar — ainda temos algumas semanas. O degelo apenas começou e talvez ainda venha outra frente fria. Quem sabe?
"É possível", ela pensou, "Talvez não seja provável, mas pelo menos é possível." Will concordou com um gesto.
— Isso sempre pode acontecer — ele afirmou.
O silêncio caiu sobre eles como uma cortina de fumaça. De repente, Evanlyn se levantou, tirando a poeira da roupa.
— Vou dar uma olhada nas armadilhas — avisou e, quando Will começou a se levantar para acompanhá-la, ela o impediu.
— Fique aqui — ela pediu com delicadeza. — De agora em diante, você vai ter que conservar o máximo de força possível.
Will hesitou, mas acabou concordando, pois reconheceu que ela tinha razão.
Evanlyn apanhou o saco de aniagem que usavam para carregar a caça e o jogou sobre o ombro. Então, com um pequeno sorriso, afastou-se no meio das árvores.
Sentindo-se inútil e desanimado, Will começou a reunir os pratos de madeira que usavam nas refeições. "Só sirvo para lavar a louça", ele pensou tristemente.
As armadilhas vinham sendo colocadas cada vez mais longe da cabana nas últimas três semanas. Depois que pequenos animais, coelhos, esquilos e uma ou outra lebre da neve tinham caído nas armadilhas que Will tinha construído, os outros animais naquela área ficaram mais cuidadosos. Como resultado, eles eram obrigados a montar as armadilhas em novos locais, de tempos em tempos — cada qual um pouco mais longe da cabana que no dia anterior.
Evanlyn calculou que tinha que andar cerca de quarenta minutos na trilha estreita que subia a colina antes de chegar à primeira armadilha. É claro que, se pudesse caminhar em linha reta, o trajeto seria muito mais curto. Mas a trilha era sinuosa e dava voltas ao redor das árvores, mais do que dobrando a distância que tinha que percorrer.
Agora que tinha consciência do fato, os sinais do degelo estavam em toda a sua volta. A neve não rangia secamente quando andava. Ela estava mais pesada, úmida, e seus pés afundavam dentro dela. O couro de suas botas já estava encharcado do contato com a neve que derretia. Da última vez em que passara por esse caminho, a neve simplesmente tinha coberto as botas com um pó fino e seco.
Ela também começou a notar uma atividade maior entre a vida selvagem da região. Pássaros esvoaçavam entre as árvores em número maior do que antes, e ela assustou um coelho na trilha, fazendo com que corresse de volta à proteção de uma amoreira coberta de neve.
"Pelo menos, essa atividade extra pode aumentar as chances de encontrar alguma caça que valha a pena nas armadilhas", ela pensou.
Ela viu o sinal discreto que Will tinha feito na casca de um pinheiro e saiu da trilha para encontrar o lugar onde eles tinham armado a primeira armadilha. Ela se lembrou do alívio que sentiu quando ele se recuperou do vício da erva do calor. Suas habilidades de sobrevivência eram insignificantes e Will tinha oferecido seu bem-vindo conhecimento para criar e colocar armadilhas e complementar a alimentação dos dois. Aquilo fazia parte do treinamento que Halt tinha lhe dado.
Evanlyn se lembrava de como os olhos dele tinham ficado úmidos por alguns momentos e a voz embargada, quando ele mencionou o nome do velho arqueiro. E, não pela primeira vez, os dois jovens se sentiram muito, muito longe de casa.
Ao passar com dificuldade pelos arbustos cobertos de neve e ficar cada vez mais ensopada, ela sentiu uma onda de prazer. A primeira armadilha tinha pegado um pequeno pássaro. Eles já tinham caçado alguns e ela sabia que a carne era excelente. Do tamanho de uma galinha pequena, ele tinha colocado o pescoço descuidadamente no aro de metal da armadilha e ficou preso. Evanlyn sorriu tristemente quando pensou que antes teria protestado por causa da morte cruel do pássaro. Agora, tudo o que sentia era uma sensação de satisfação ao se dar conta de que teriam uma boa refeição naquele dia.
"É surpreendente como uma barriga vazia pode mudar a opinião da gente", ela pensou, enquanto retirava o aro do pescoço do pássaro e enfiava a pequena carcaça na sacola. Ela recolocou a armadilha e espalhou alguns grãos de milho no chão ao redor dela. Então se levantou, franzindo a testa aborrecida, ao perceber que a neve derretida tinha deixado duas manchas molhadas nos joelhos.
Evanlyn sentiu, mais do que ouviu, um movimento nas árvores atrás dela e se preparou para correr.
Antes que pudesse se mexer, sentiu algo agarrá-la com força pelo pescoço e, ao soltar um grito abafado de medo, uma mão calçada numa luva de pele com um cheiro terrível de fumaça, suor e sujeira lhe tapou a boca e o nariz, impedindo-a de gritar.
Os dois cavaleiros saíram do meio das árvores para uma campina aberta.
Ali, nos pés dos morros da Teutônia, a primavera que se aproximava estava mais visível do que nas altas montanhas que se elevavam à frente deles. A grama da campina já estava ficando verde e havia pontos isolados de neve em lugares normalmente cobertos de sombra na maior parte do dia.
Um espectador casual talvez se interessasse em observar os cavalos que seguiam os dois homens montados. De longe, os homens até poderiam ser confundidos com comerciantes que esperavam a primeira oportunidade de atravessar as passagens da montanha para a Escandinávia e, assim, se beneficiar dos preços altos que as primeiras mercadorias da estação teriam.
Mas uma inspeção mais atenta teria mostrado que aqueles homens não eram comerciantes. Eram guerreiros armados.
O menor dos dois, um homem barbado vestido com uma estranha capa verde e cinza que parecia mudar e ondular enquanto andava, levava um arco longo pendurado nos ombros e uma aljava com flechas no alto da sela.
Seu companheiro era um homem maior e mais jovem. Ele usava uma simples capa marrom, mas o claro sol da primavera fazia a armadura de malha de ferro brilhar no pescoço e nos braços, e a bainha de uma longa espada aparecia debaixo da capa. Completando o quadro, tinha o escudo redondo pendurado nas costas e que exibia a efígie de uma folha de carvalho um tanto tosca.
Cavalos combinavam tão mal quanto os homens. O jovem montava um baio alto: de pernas compridas, ancas e quartos fortes, o exemplo de um verdadeiro cavalo de batalha. Um segundo cavalo de raça, negro, trotava atrás dele preso a uma corda. A montaria do companheiro era consideravelmente menor, um cavalo desgrenhado de peito largo que mais parecia um pônei. Mas ele era robusto e parecia resistente. Outro cavalo, parecido com o primeiro, trotava atrás deles levemente carregado com o mínimo necessário para acampar e viajar. Ele seguia os outros obediente e de boa vontade.
Horace inclinou a cabeça para olhar a montanha mais alta que se elevava acima deles. Ele semicerrou os olhos por causa do brilho da neve que ainda formava uma camada grossa na metade superior da montanha e agora refletia a luz do sol.
— Você está dizendo que nós vamos passar por cima disso? — ele perguntou.
Halt olhou para ele de lado, com um leve sorriso nos lábios. Horace, porém, ocupado em analisar as formações montanhosas maciças à sua frente, nada percebeu.
— Passar por cima, não. Nós vamos atravessar.
— Lá tem um túnel ou alguma coisa parecida? — Horace indagou franzindo a testa.
— Uma passagem — Halt informou. — Um desfiladeiro estreito e sinuoso que contorna as montanhas e nos leva até a Escandinávia.
Horace pensou um pouco na informação. E logo Halt viu os ombros dele se levantarem, quando encheu os pulmões de ar, e previu que o movimento indicava mais uma pergunta. Ele fechou os olhos, lembrando-se de um tempo que parecia estar a anos de distância, quando estava sozinho e a vida não era uma série interminável de perguntas.
Então admitiu para si mesmo que, estranhamente, preferia as coisas como eram agora. Entretanto, ele certamente fez algum barulho involuntário enquanto esperava a pergunta, pois percebeu que Horace tinha fechado os lábios com firmeza e determinação. Estava claro que o rapaz tinha sentido a reação e resolveu não aborrecer Halt com outra pergunta. Pelo menos, não naquele momento.
O que deixou Halt num dilema estranho, porque, agora que a pergunta não tinha sido feita, não conseguiu evitar imaginar o que poderia ser. De repente, foi dominado pela sensação incômoda de que alguma coisa estava incompleta naquela manhã. Ele tentou ignorá-la, mas foi impossível. E Horace parecia mesmo ter dominado o desejo quase irresistível de fazer a pergunta que tinha lhe ocorrido.
Halt esperou um ou dois minutos, mas não ouviu nenhum som além do tilintar dos arreios e o ranger do couro das selas. Finalmente, o ex-arqueiro não aguentou mais.
— O quê?
A pergunta pareceu explodir de dentro dele com mais violência do que tinha pretendido. Tomado de surpresa, o baio de Horace estremeceu assustado e deu vários passos para o lado, como se estivesse dançando.
Horace deu um olhar magoado para seu mentor enquanto acalmava o cavalo e o controlava.
— O quê? — ele repetiu para Halt e o homem menor fez um gesto desesperado.
— É isso o que eu quero saber — respondeu irritado. — O quê?
Horace espiou para ele. O olhar era, evidentemente, do tipo que se dá a alguém que parecia ter perdido a razão e não ajudou muito a melhorar o humor, cada vez pior, de Halt.
— O quê? —Horace repetiu agora totalmente confuso.
— Pare de me imitar como um papagaio — Halt protestou. — Pare de repetir o que eu falo! Eu perguntei "o quê", portanto não me responda com outro "o quê", entendeu?
Horace pensou na pergunta por uns dois segundos e então, do seu jeito calculado, respondeu: "Não."
Halt respirou fundo. Sua testa estava profundamente franzida e, debaixo das sobrancelhas, seus olhos brilhavam de raiva. Mas, antes que pudesse falar, Horace se adiantou a ele.
— Que "o quê" você está me perguntando? — indagou, enquanto pensava em como deixar a pergunta mais clara. — Ou, melhor, por que está me perguntando "o quê"?
Sem esconder que estava se controlando com muito esforço, Halt resolveu continuar.
— Você ia me fazer uma pergunta — ele disse.
— Eu ia? — Horace retrucou franzindo a testa.
— Sim, ia. Eu vi quando respirou fundo para falar — Halt concordou.
— Entendo — Horace falou. — E sobre o que era a pergunta?
Por um breve momento, Halt ficou sem saber o que dizer. Ele abriu a boca, fechou-a outra vez e então, finalmente, encontrou forças para falar.
— Era isso o que eu estava perguntando para você — ele explicou. — Quando eu disse "o quê", estava falando sobre o que você ia me perguntar.
— Eu não ia lhe perguntar "o quê" — Horace respondeu, e Halt olhou para ele desconfiado.
Ocorreu a ele que Horace talvez estivesse querendo lhe pregar uma tremenda peça, que estivesse rindo dele internamente. Halt poderia lhe dizer que essa atitude não seria muito boa para sua carreira. Arqueiros não eram pessoas que gostavam de ser motivo de risos. Ele analisou o rosto franco do garoto e os olhos azuis inocentes e chegou à conclusão que sua desconfiança não tinha razão de ser.
— Então o quê, se é que posso usar essa palavra mais uma vez, você queria me perguntar?
— Eu esqueci — Horace falou depois de respirar fundo e hesitar. — Do que a gente estava falando?
— Esqueça — Halt murmurou e cutucou Abelard, fazendo-o andar mais depressa por alguns metros para ficar à frente do companheiro.
Zangado, continuou a resmungar em voz baixa, e Horace conseguiu ouvir algumas frases, incluindo "aprendizes tolos que não conseguem lembrar o que estavam dizendo de uma hora para outra". Depois disso, concluiu que Halt não estava nada satisfeito com a conversa confusa que tinham acabado de ter. Ele franziu a testa novamente, tentando se lembrar do momento em que tinha estado prestes a fazer a pergunta. Sentiu que, de certa forma, Halt merecia saber do que se tratava; o que é estranho, já que o arqueiro sempre suspirava e revirava os olhos quando ouvia uma pergunta.
"Às vezes, o arqueiro é um companheiro confuso", Horace pensou. E, como acontecia tantas vezes, no momento em que parou de tentar lembrar o fato que tinha suscitado a pergunta, ela voltou à sua mente.
Desta vez, antes que se esquecesse dela ou se distraísse, ele a deixou escapar.
— Existem muitas passagens? — perguntou a Halt. O arqueiro se virou na sela e olhou para trás.
— O quê? — ele perguntou.
Sabiamente, Horace resolveu ignorar o fato de que estavam se dirigindo para um território perigoso com essa palavra. Ele fez um gesto na direção das montanhas, franzindo a testa ao olhar para elas.
— Pelas montanhas. Existem muitas passagens para a Escandinávia pelas montanhas?
Halt verificou o passo de Abelard por um instante, deixando que o baio os alcançasse, e então retomou seu ritmo.
— Três ou quatro — ele informou.
— Mas então os escandinavos não as vigiam? — Horace quis saber. Parecia lógico que eles o fizessem.
— Claro que sim — Halt respondeu. — As montanhas formam a principal linha de defesa deles.
— Então como você planeja passar por elas?
O arqueiro hesitou. Aquela era uma pergunta que estava perturbando seus pensamentos desde que tinham tomado a estrada que saía do Chateau Montsombre. Se estivesse sozinho, não teria dificuldades em passar por elas sem ser visto. Com Horace em sua companhia montado num cavalo de batalha grande e irrequieto, a tarefa poderia ser mais difícil. Ele tinha algumas idéias, mas ainda não havia se decidido por nenhuma delas.
— Vou pensar em alguma coisa — ele afirmou para ganhar tempo.
Com sensatez e certo de que Halt iria mesmo encontrar uma solução, Horace concordou. No mundo dele, era isso o que os arqueiros faziam melhor, e a melhor coisa que um aprendiz de guerreiro podia fazer era deixar que o arqueiro continuasse a pensar, enquanto ele cuidava de derrotar qualquer um que precisasse ser vencido ao longo do caminho. Satisfeito com o que a vida tinha lhe reservado, ele se ajeitou na sela.
Halt também se sentiu livre da dúvida incômoda. Agora sabia qual era a pergunta que tinha desaparecido dos lábios de Horace sem ser feita.
Mas então a dúvida voltou, duas vezes mais forte. Talvez essa tivesse sido outra pergunta, e a original ainda não tinha sido feita. Ele não aguentava não saber.
— Era isso o que você ia perguntar?
Um pouco surpreso Horace olhou para ele.
— O q...? — ele começou e então substituiu a frase por um comentário mais adequado. — Quer dizer, o que você disse?
— A pergunta sobre as passagens — Halt ergueu os ombros constrangido. — Era isso o que ia me perguntar antes? — ele perguntou no tom de quem sabia a resposta, mas apenas queria ter certeza.
— Acho que sim — Horace respondeu em dúvida. — Não tenho mais certeza... Você me deixou um pouco confuso — ele concluiu sem convicção.
E, desta vez, quando Halt continuou a cavalgar, Horace teve a certeza de ouvir muitas palavras que simplesmente não valiam a pena repetir.
Erak Starfollower, capitão de navio e um dos principais jarls de guerra dos escandinavos, atravessou a residência de teto baixo e paredes revestidas de madeira até a Grande Mansão. A expressão em seu rosto era sombria. Ele tinha muito a fazer, agora que a temporada de pirataria da primavera estava se aproximando. Seu navio precisava de reparos e novos equipamentos. Acima de tudo, precisava dos pequenos ajustes que somente alguns dias no mar poderiam proporcionar.
Contudo, a convocação de Ragnak atrapalhou seus planos. Principalmente porque a convocação tinha vindo por meio de Borsa, o hilfmann, ou administrador do oberjarl. Se Borsa estava envolvido, certamente Ragnak tinha alguma pequena tarefa para Erak realizar. “Ou talvez não tão pequena assim", o capitão pensou aborrecido.
O café da manhã já tinha terminado fazia muito tempo, de modo que havia apenas uns poucos criados limpando a mansão quando ele chegou. No fundo do aposento, numa mesa rústica de pinho ao lado da grande cadeira de Ragnak — uma cadeira imensa de pinho que servia de trono para o governante escandinavo —, este e Borsa estavam sentados com as cabeças inclinadas sobre uma pilha de rolos de pergaminho, Erak reconheceu os rolos. Eram as declarações de impostos das diversas cidades e condados em toda a Escandinávia. Ragnak estava obcecado por elas. Na opinião de Borsa, a vida dele era totalmente dominada por elas. Ele respirava, dormia e sonhava com as declarações de impostos, e infeliz o jarl de uma cidade que tentasse enganá-lo ou reivindicar qualquer dedução que não passasse pelo exame minucioso de Borsa.
Erak somou dois mais dois e suspirou baixinho. A conclusão mais provável a que a convocação e a pilha de impostos o fizeram chegar era que ele estava para ser mandado para outra missão de cobrança.
Cobrar impostos não era algo de que Erak gostasse. Ele era um saqueador e um lobo do mar, um pirata e um lutador. Como tal, estava mais inclinado a ficar do lado dos sonegadores de impostos do que do oberjarl e seu hilfmann avarento. Infelizmente, nas ocasiões em que Erak tinha sido enviado para cobrar impostos atrasados ou não pagos, ele tinha obtido êxito demais para seu próprio bem. Agora, sempre que havia a menor dúvida sobre a quantia de impostos devida por uma vila ou condado, Borsa automaticamente pensava nele como a solução para o problema.
Para piorar as coisas, a atitude e a abordagem de Erak em relação ao serviço só o tornavam mais desejável aos olhos de Borsa e Ragnak. Entediado com o trabalho e considerando-o constrangedor e humilhante, ele procurava realizá-lo o mais rápido possível. Não eram para ele as tortuosas discussões e cálculos sobre quantias devidas depois de todas as deduções terem sido aprovadas e acordadas. Erak optava por um caminho mais direto que consistia em pegar a pessoa investigada, apertar a acha debaixo de seu queixo e ameaçar machucá-la se todos os impostos, cada um deles, não fossem pagos imediatamente.
A reputação de Erak como lutador era bem conhecida em toda a Escandinávia. Infelizmente, nunca lhe pediram para cumprir as ameaças. Os teimosos que visitava invariavelmente entregavam sem discutir ou hesitar o valor devido e, muitas vezes, uma quantia extra que nunca tinha sido cobrada.
Os dois homens sentados à mesa olharam para ele quando andou entre os bancos até o fim do aposento. A Grande Mansão servia para mais de um objetivo. Era ali que Ragnak e seus seguidores mais próximos faziam as refeições. Era também o local de todos os banquetes e reuniões oficiais do simples calendário social da Escandinávia. E o pequeno anexo aberto onde Ragnak e Borsa analisavam as declarações de impostos naquele momento também era o escritório do oberjarl.
Não era exatamente reservado, visto que qualquer membro do conselho interior ou exterior de jarls tinha acesso à mansão a qualquer hora do dia. Por outro lado, Ragnak não era do tipo que precisava de privacidade. Ele governava abertamente e fazia todas as suas declarações políticas para o mundo todo.
— Ah, Erak, você está aqui — Borsa comentou e Erak pensou, não pela primeira vez, que o hilfmann tinha o hábito de fazer afirmações absolutamente óbvias.
— Quem é desta vez? — ele perguntou num tom resignado.
Ele sabia que não havia sentido em tentar encontrar um meio de fugir à missão, portanto decidiu ficar calado e fazer o que era preciso. Com sorte, seria uma das pequenas cidades da costa e ele também teria a oportunidade de fazer a tripulação trabalhar no barco ao mesmo tempo.
— Ostkrag — o oberjarl contou, e as esperanças de Erak de salvar algo de útil desse trabalho caíram por terra.
Ostkrag ficava bem no interior, a leste. Era um povoado pequeno no lado oposto de uma cadeia de montanhas que formava o terreno irregular da Escandinávia e ao qual se podia chegar apenas atravessando as montanhas ou uma das várias passagens tortuosas que abriam caminho entre elas.
Na melhor das hipóteses, isso representava uma jornada desconfortável de ida e volta num pônei, um meio de transporte que Erak detestava. Ao pensar na cadeia de montanhas que ficava atrás de Hallasholm, lembrou brevemente dos dois escravos araluenses que tinha ajudado a fugir alguns meses antes. Ele se perguntou o que teria acontecido com eles, se tinham chegado à pequena cabana de caça no alto das montanhas e se tinham sobrevivido aos últimos meses de inverno. De repente, percebeu que Borsa e Ragnak estavam esperando sua reação.
— Ostkrag? — ele repetiu.
Ragnak assentiu com impaciência.
— Eles estão devendo o pagamento trimestral. Quero que você vá e dê um jeito neles — o oberjarl disse.
Erak notou que Ragnak mal conseguia ocultar a expressão avarenta que tomava conta de seus olhos sempre que falava sobre impostos e pagamentos. Erak não conseguiu evitar soltar um suspiro exasperado.
— Eles não podem estar atrasados mais que uma semana — ele contemporizou, mas Ragnak não era do tipo que se convencia e balançou a cabeça com violência.
— Dez dias! — ele disparou. — E não é a primeira vez! Eu já avisei eles antes, não é verdade, Borsa? — ele perguntou virando-se para o hilfmann, que concordou.
— O jarl de Ostkrag é Sten Hammerhand — Borsa contou, como se essa explicação fosse suficiente.
Erak olhou de modo inexpressivo para ele.
— Ele é um homem difícil — ele continuou com sarcasmo. — Os pagamentos já ficaram colados em seus dedos antes e, mesmo quando paga tudo, ele sempre nos faz esperar muito tempo além do prazo. Chegou a hora de ensinarmos uma lição a ele.
Erak sorriu com alguma ironia para o pequeno e franzino hilfmann. "Borsa pode ser uma figura muito ameaçadora", ele pensou, "quando tem outra pessoa disponível para cumprir suas ameaças."
— Você quer dizer que chegou à hora de eu lhe ensinar uma lição, certo? — ele sugeriu, mas Borsa não percebeu o sarcasmo em sua voz.
— Exatamente! — ele replicou com alguma satisfação. Ragnak, contudo, foi um pouco mais incisivo.
— Afinal, é meu dinheiro, Erak — ele afirmou de um jeito quase petulante.
Erak encarou-o com firmeza. Pela primeira vez, percebeu que Ragnak estava ficando velho. Os cabelos, antes de um ruivo vivo, estavam sem brilho e grisalhos. Aquilo foi uma surpresa para Erak. Ele certamente não sentia que estava envelhecendo, embora Ragnak não fosse muito mais velho do que ele e, agora que tinha tomado consciência do fato, percebeu outras mudanças no oberjarl. Os cabelos estavam embranquecendo, a papada estava maior e a cintura mais grossa. Ele se perguntou se também estava mudando, mas afastou o pensamento. Não tinha notado mudanças drásticas no próprio rosto e ele o examinava todas as manhãs em seu espelho polido de metal. Concluiu que deviam ser as pressões de ser o oberjarl.
— Foi um inverno muito rigoroso — Erak começou. — Talvez as passagens ainda estejam bloqueadas. Houve muita neve no final da estação.
Ele foi até o grande mapa da Escandinávia pendurado na parede atrás da mesa de Ragnak, encontrou Ostkrag e, com o dedo indicador, mostrou o caminho até a passagem mais próxima.
— A passagem da Serpente — ele disse quase para si mesmo. — É possível que toda essa neve tardia e o degelo repentino tenham provocado deslizamentos ali. — Erak se virou para Ragnak e Borsa, indicando a posição no mapa para eles. — Talvez os mensageiros ainda não tenham conseguido passar — ele sugeriu.
Ragnak negou com um gesto de cabeça e Erak, de novo, sentiu a irritação, o aborrecimento irracional que parecia tomar conta dele sempre que sua vontade era contrariada ou seu julgamento questionado.
— É culpa de Sten, tenho certeza — ele disse teimoso. — Se fosse outra pessoa, eu poderia concordar com você, Erak.
Erak concordou, apesar de saber muito bem que aquilo era mentira. Ragnak raramente concordava com alguém quando se tratava de mudar de opinião.
— Vá até lá e pegue o dinheiro. Se ele discutir, prenda ele e traga de volta. Ou melhor, prenda, mesmo se ele não discutir. Leve 20 homens com você. Quero que ele veja uma verdadeira demonstração de força. Estou cansado de ser tratado como um tolo por esses jarls sem importância.
Erak olhou para cima surpreso. Prender um jarl em seu território não era algo sem importância, especialmente por uma ofensa tão insignificante como o atraso do pagamento de impostos. Entre os escandinavos, a sonegação de impostos era considerada quase obrigatória. Era um tipo de esporte. Se você fosse pego, pagava e o assunto terminava aí. Erak não se lembrava de ninguém ser submetido à vergonha de ser preso por causa disso. Os escandinavos eram um povo de espírito livre, independente e tinham orgulho disso. E os seguidores de um jarl consideravam a lealdade ao superior imediato mais importante do que a fidelidade à Residência Central, que Ragnak dominava.
— Isso pode não ser muito sensato — ele disse calmamente, Ragnak o encarou e procurou o olhar do capitão por cima dos papéis espalhados na mesa à sua frente.
— Eu decido o que é sensato — ele disparou. — Eu sou o oberjarl, não você.
As palavras foram ofensivas. Erak era um jarl de posição elevada e, segundo um velho costume há muito estabelecido, ele tinha o direito de apresentar sua opinião, mesmo que fosse contrária à do líder. Ele reprimiu a resposta zangada que lhe saltou aos lábios. Não havia motivo para provocar Ragnak, ainda mais quando estava de mau humor.
— Sei que você é o oberjarl, Ragnak — ele respondeu com calma. — Mas Sten é jarl por merecimento e pode ter uma razão perfeitamente válida para ter atrasado o pagamento. Prender ele nessas circunstâncias seria uma provocação desnecessária.
— Estou lhe dizendo que ele não vai ter o que você chama de "razão válida", droga! — os olhos de Ragnak se estreitaram e seu rosto ficou tomado pela raiva. — Ele é um ladrão com quem não se pode contar e deve ser usado como exemplo para os outros!
— Ragnak... — Erak começou tentando ponderar mais uma vez. Desta vez, foi Borsa quem interrompeu.
— Erak, você recebeu as instruções! Agora cumpra as suas ordens! — ele gritou, e Erak se virou zangado e o fitou.
— Sigo as ordens do oberjarl, hilfmann. Não as suas.
Borsa percebeu seu erro. Ele recuou alguns passos, certificando-se que a mesa enorme estivesse entre os dois. Ele desviou o olhar e um silêncio pesado se instalou entre eles. Finalmente, Ragnak pareceu se dar conta de que era preciso recuar, mas apenas um pouco.
— Olhe Erak, apenas vá e consiga aqueles impostos de Sten — ele disse num tom irritado. — E, se ele estiver retendo o dinheiro de propósito, traga ele para cá para ser julgado. Certo?
— E se ele tiver um motivo válido? — Erak insistiu.
— Se ele tiver um motivo válido, o deixe em paz — o oberjarl concordou cedendo. — Assim está bom para você?
— Nessas condições, está tudo bem — ele concordou.
— Ah, é mesmo? — Ragnak, que nunca sabia quando abandonar um assunto retrucou com ironia. — Bem, isso é bom para você, jarl Erak. Agora, que tal ir andando antes que chegue o verão?
Erak assentiu rígido e se virou. Ele encontrara a saída que tinha procurado. Em sua opinião, o fato de Ragnak ser uma pessoa insuportável era motivo mais do que válido para não pagar os impostos no prazo. E, pensando bem, ele talvez tivesse que encontrar outra forma de dizer isso quando voltasse sem ter prendido Sten.
Will acordou com um sobressalto. Ele estava sentado ao sol na beira da varanda e percebeu que tinha cochilado. Desanimado, pensou em quanto tempo ele passava dormindo naqueles dias. Evanlyn disse que era de se esperar, pois ele estava recuperando as forças. Ele imaginou que ela tinha razão.
Também era preciso levar em consideração que não havia muita coisa para fazer na cabana onde eles passavam o tempo desde que tinham fugido da fortaleza escandinava. Ele tirou a mesa e lavou a louça do café da manhã, fez as camas e arrumou as poucas peças de mobiliário na cabana. Isso não levou mais que meia hora, então ele escovou o pônei na cobertura atrás da pequena cabana até o pêlo brilhar. O animal olhou para ele e depois para si mesmo com uma leve surpresa. Ele deve ter pensado que nunca alguém tinha passado tanto tempo cuidando de sua aparência no passado.
Depois disso, Will vagueou sem rumo em volta da cabana e da pequena clareira, inspecionando os pontos em que a grama marrom e úmida estava começando a aparecer pela cobertura de neve. Ele pensou em armar mais algumas armadilhas, mas descartou a idéia. Sentindo-se entediado e inútil, sentou-se na varanda para esperar a volta de Evanlyn. Em algum momento, ele deve ter cochilado afetado pelo calor do sol.
O calor já tinha desaparecido há muito. O sol tinha atravessado toda a clareira e agora os pinheiros lançavam longas sombras sobre a cabana. Will imaginou que devia ser o meio da tarde.
Uma ruga de preocupação apareceu em sua testa. Evanlyn tinha saído bem antes do meio-dia para verificar as armadilhas. Mesmo considerando que tinham instalado a linha de armadilhas ainda mais longe da cabana, ela tinha tido tempo de chegar até lá, verificar tudo e voltar. Ela devia estar fora há pelo menos três horas — talvez mais.
A menos que ela já tivesse voltado e, ao vê-lo dormir, tivesse decidido não acordá-lo. Ele se levantou, fazendo as juntas rígidas protestarem, e procurou dentro da cabana. Não havia sinal de sua volta. A sacola de caça e o grosso casaco de lã não estavam lá. Will franziu ainda mais a testa e começou a andar na pequena clareira, perguntando-se o que deveria fazer. Ele desejou saber há quanto tempo exatamente ela tinha saído e, em silêncio, censurou-se por ter adormecido. Sentiu uma vaga inquietação na boca do estômago ao se perguntar o que poderia ter acontecido com a companheira. Ele reviu as possibilidades.
Ela poderia ter se perdido e está andando entre os grossos pinheiros cobertos de neve, tentando encontrar o caminho de volta para a cabana. Era possível, mas improvável. Ele tinha deixado marcas discretas nas trilhas que levavam às armadilhas, e Evanlyn sabia onde procurá-las.
Talvez ela estivesse ferida. Ela podia ter caído ou torcido o tornozelo. Os caminhos eram acidentados e íngremes em alguns lugares e essa era uma possibilidade verdadeira. Ela podia estar deitada naquele momento, ferida e incapaz de andar, estendida na neve, vendo a tarde se transformar em noite.
A terceira possibilidade era que ela tinha encontrado alguém. E era provável que a pessoa com que tivesse se deparado naquela montanha fosse um inimigo. Talvez ela tivesse sido recapturada pelos escandinavos. O coração dele acelerou por um momento quando pensou nessa possibilidade. Ele sabia que eles mostrariam pouca compaixão por uma escrava fugitiva. E, embora Erak tivesse ajudado os dois antes, não era provável que o fizesse de novo. Mesmo que tivesse oportunidade. Enquanto pensava nessas possibilidades, ele tinha começado a se movimentar em volta da cabana, reunindo suas coisas e se preparando para procurar à amiga. Ele tinha enchido um dos cantis no balde com água do riacho que levava todos os dias para a cabana e enfiou alguns pedaços de carne fria numa sacola. Amarrou as grossas botas para caminhar, envolvendo as pernas com os cordões rapidamente até quase o joelho, e tirou o colete de pele de carneiro do gancho atrás da porta.
Considerando todas as possibilidades, a segunda era a mais provável. As chances eram de que Evanlyn estivesse ferida em algum lugar sem poder andar. A possibilidade de ela ter sido recapturada pelos escandinavos era muito pequena. Ainda era muito cedo para que as pessoas andassem pelas montanhas. A única razão para isso seria a caça. E, mesmo assim, ainda havia poucos animais para que valesse a pena atravessar a neve pesada que bloqueava o caminho em muitas partes da montanha. Não, considerando tudo, era mais provável que Evanlyn estivesse a salvo, mas incapacitada.
Isso significava que seria lógico pôr a sela e os arreios no pônei e levá-lo enquanto procurava pistas da amiga, para que ela pudesse voltar para a cabana montada quando a encontrasse. Will não tinha dúvida que iria encontrá-la. Ele já era ótimo em seguir pistas, embora ainda estivesse longe de Halt ou Gilan, e seguir uma garota num território coberto de neve seria uma tarefa relativamente simples.
Mas, mesmo assim... Relutou em levar o pônei com ele. O pequeno cavalo faria barulhos desnecessários e uma dúvida incômoda disse a Will que deveria ser cuidadoso. Era improvável que Evanlyn tivesse encontrado estranhos, mas não impossível.
Talvez fosse mais sensato viajar sozinho até descobrir o que realmente estava acontecendo. Quanto tomou essa decisão, tirou as cobertas das camas e com elas formou uma trouxa que pendurou no ombro. Talvez fosse preciso passar a noite ao ar livre e seria melhor estar preparado. Ele apanhou uma pedra de fogo de junto do fogareiro e a deixou cair num dos bolsos.
Finalmente, estava pronto para sair. Parou na porta e deu uma última olhada para ver se havia mais alguma coisa de que pudesse precisar. O pequeno arco e a aljava com flechas estavam recostados no batente da porta. Seguindo um impulso, pegou os objetos e pendurou a aljava no ombro junto com a trouxa de cobertores. Então ele teve outra ideia e foi até a lareira, onde apanhou uma vareta meio queimada do meio das cinzas.
Do lado de fora da porta, ele escreveu com letras malfeitas: "Procurando você. Espere aqui."
Afinal de contas, era possível que Evanlyn aparecesse depois que ele saísse, e Will queria ter certeza de que ela não iria sair às cegas para procurá-lo enquanto ele estivesse tentando achá-la também. Se ela voltasse, suas pegadas acabariam trazendo-o de volta à cabana.
Ele levou alguns segundos para colocar a corda no arco. A voz de Halt ecoou em seus ouvidos: "Um arco sem corda é só um peso extra para carregar. Um arco com corda é uma arma. Will observou o objeto com desdém. Aquilo não se parecia com uma arma, mas ele e a pequena faca na cintura eram tudo o que tinha. Will foi até a beira da clareira e procurou as pegadas de Evanlyn na neve. Elas estavam pouco nítidas depois de uma manhã de sol de primavera, mas ainda eram visíveis. Com passadas firmes, saiu para a floresta.
Will seguiu facilmente a trilha que subia tortuosa para o alto da montanha. Não demorou muito para que seu ritmo passasse de uma corrida regular para uma caminhada mais lenta. Ele respirava com dificuldade e percebeu que estava em péssima forma física. Houve um tempo em que podia correr durante horas. Agora, depois de quase vinte minutos, estava ofegante e exausto. Will balançou a cabeça desanimado e continuou a seguir as pegadas.
Naturalmente, seguir a pista ficava mais fácil porque ele já sabia a direção que Evanlyn tinha tomado. Ele a tinha ajudado a recolocar as armadilhas alguns dias antes. Will se lembrou de que naquele dia tinham andado mais devagar, parando com frequência para ele não se cansar demais. Evanlyn tinha relutado em deixar que ele fosse tão longe, mas tinha cedido diante do inevitável. Ela não sabia bem como montar as armadilhas onde eles teriam a melhor chance de pegar pequenos animais. Essa era uma área em que Will tinha experiência. Ele sabia como procurar e reconhecer os pequenos sinais que mostravam onde coelhos e pássaros se movimentavam, onde era mais provável que apontassem as cabeças confiantes para fora e as colocassem nos laços.
Evanlyn tinha levado quarenta minutos para chegar ao local naquela manhã. Will cobriu a distância em uma hora e quinze minutos, parando mais frequentemente para descansar e recuperar o fôlego. Ele sentia parar tanto, pois sabia que perdia a luz do dia. Mas não havia alternativa. De nada adiantaria se esforçar até ficar extremamente exausto. Ele tinha que ficar em condições de dar a Evanlyn qualquer ajuda de que ela precisasse quando a encontrasse.
O sol tinha se posto atrás do pico da montanha quando chegou à árvore queimada que marcava o início da linha das armadilhas. Ele tocou o tronco com uma das mãos e se virou para seguir a trilha entre as árvores quando viu algo com o canto do olho. Algo que fez seu coração parar de bater por um segundo.
Havia marcas nítidas de cascos de cavalo na neve. E elas cobriam as pegadas de Evanlyn. Alguém a tinha seguido.
Esquecendo o cansaço, Will correu meio agachado entre os grossos pinheiros até o ponto em que a primeira armadilha tinha sido colocada. A neve ali estava remexida e escavada. Ele ficou de joelhos, tentando interpretar a história que estava escrita ali.
Em primeiro lugar, a armadilha: ele viu onde Evanlyn tinha tornado a armar o laço, alisando a neve em volta e espalhando algumas sementes. Isso significava que havia um animal na armadilha quando ela tinha chegado.
Depois, uma olhada mais ampla o deixou ver outras pegadas se movendo por trás dela enquanto estava ajoelhada, concentrada na tarefa de armar o laço e provavelmente feliz pelo fato de ter pego alguma coisa. Will percebeu que as pegadas do cavalo tinham parado a uns 20 metros de distância. Obviamente, o cavalo tinha sido treinado para se mover em silêncio: do mesmo jeito que os cavalos dos arqueiros. Will foi dominado por uma sensação inquietante de receio. Ele não gostou da idéia de um inimigo que tinha esse tipo de habilidade, agora já sabia que estava lidando com algum tipo de inimigo. Os sinais de luta entre Evanlyn e quem quer que fosse estavam muito claros para seus olhos treinados. Ele quase podia ver o homem, pois imaginava ser um homem, movendo-se em silêncio atrás dela, agarrando-a e arrastando-a pela neve.
O chão remexido com violência mostrava que Evanlyn tinha chutado e lutado. Então, de repente, a luta tinha parado e dois pequenos sulcos na neve o levaram até onde o cavalo tinha esperado. Ele percebeu que eram as marcas dos calcanhares quando o corpo imóvel foi arrastado.
Inconsciente? Ou morta? E uma sensação de frio tocou seu coração ao pensar nisso. Mas ele afastou o pensamento com determinação.
— Não teria sentido levar ela embora se estivesse morta — ele disse para si mesmo.
E ele quase acreditou nisso. Mas uma incerteza incômoda ainda lhe apertava a boca do estômago quando seguiu as pegadas do cavalo até a trilha principal e depois na direção oposta da que levava de volta à cabana.
Ficou satisfeito por ter trazido os cobertores. Ia ser uma noite fria. Will também ficou contente por ter se lembrado de trazer o arco, embora desejasse estar com o poderoso arco recurvo que tinha perdido na ponte em Céltica. Era uma arma muito superior ao fraco arco de caça escandinavo. E ele teve a desagradável certeza de que iria precisar de uma arma muito em breve.
O mundo estava de cabeça para baixo e balançando. Gradualmente, à medida que os olhos de Evanlyn entravam em foco, ela percebia que estava pendurada de cabeça para baixo, e seu rosto a centímetros do ombro esquerdo de um cavalo. A posição invertida fez o sangue martelar dolorosamente em sua cabeça, um martelamento que era acentuado pelo trote firme e vigoroso que o cavalo mantinha. Ele era castanho, ela notou, e seu pêlo era longo e desgrenhado. A pequena área que ela podia ver era emaranhada com suor e lama seca. Alguma coisa dura batia na carne macia de sua barriga a cada passo balançante que o cavalo dava. Tentou se contorcer para aliviar a pressão e seus esforços foram recompensados com um forte golpe na parte detrás de sua cabeça. Ela pegou o aviso e parou de se contorcer. Virando sua cabeça para trás, ela podia ver a perna esquerda do seu seqüestrador. Abaixo dela a neve remexida da trilha passava rapidamente. Ela percebeu que seu corpo inconsciente tinha sido jogado sem a menor cerimônia na frente de uma sela.
Lembrou-se agora: o ligeiro ruído atrás dela, o borrão de movimento quando ela começou a girar. Uma mão, cheirando a suor, fumo e pêlos, tapando sua boca para impedi-la de gritar. "Não que houvesse qualquer pessoa ao alcance de sua voz para poder ouvir", ela pensou com pesar.
A luta tinha sido breve, com o seu agressor arrastando-a para trás para tirar-lhe o equilíbrio. Ela tentou se livrar chutando e mordendo. Mas a luva grossa do homem fez suas tentativas de morder inútil, e seus chutes foram ineficazes já que ela foi arrastada para trás. Finalmente, houve um instante de uma dor cegante atrás de sua orelha esquerda, e depois a escuridão.
Enquanto ela pensava no golpe, tornou-se ciente de que a área atrás de sua orelha esquerda era outra fonte de dor. O desconforto de ser carregada sem fazer nada já era ruim o suficiente. Mas a incapacidade de ver qualquer coisa, para ver o homem que a fez prisioneira era pior. Na posição de bruços em que estava não se podia ver todas as características da terra em que estavam de passando. Então, se ela fugisse, não teria a menor de idéia de qualquer ponto de referência que pudesse ajudá-la a refazer seus passos.
Discretamente, ela tentou torcer a cabeça para o lado, para obter um olhar do cavaleiro montado atrás dela. Mas ele obviamente sentiu o movimento e ela sentiu um golpe na parte de trás da cabeça. Apenas o que ela precisava, pensou tristemente. Percebendo que não havia futuro em contrariar seu captor, Evanlyn caiu para baixo, tentando relaxar os músculos e montar o mais confortavelmente possível. Era uma tentativa razoavelmente ruim. Mas pelo menos quando ela deixou cair à cabeça para baixo, o pescoço e músculos do ombro sentiram algum alívio.
O solo passou por baixo dela: a neve remexida pela frente cascos do cavalo, mostrando a grama encharcada marrom que estava por baixo. Eles estavam fazendo o seu caminho em declive, ela percebeu como o cavaleiro conseguiu controlar o cavalo para transformar a parte mais íngreme do que o normal da trilha em um passeio. Ela sentiu o cavaleiro se inclinar para trás longe dela, como ela deslizou para frente, viu seus pés avançando contra os estribos e como ele se inclinou para trás para compensar e ajudar no equilíbrio do cavalo.
Apenas à frente deles, visível de sua posição de bruços, tinha uma mancha de neve que havia derretido e novamente congelado. Era liso e gelado e os cascos do cavalo foram até lá antes que ela pudesse emitir qualquer som de aviso. O cavalo escorregou para baixo, não foi possível verificar o seu progresso. Ela ouviu um grunhido assustado do cavaleiro e ele se inclinou mais para trás, mantendo as rédeas tensas ainda para pânico do cavalo. Eles deslizaram. Em seguida, continuaram andando pela mancha de gelo e o cavaleiro fez com que o cavalo voltasse ao trote firme, mais uma vez.
Evanlyn registrou o momento. Se isso acontecesse novamente, poderia dar a ela uma chance de escapar.
Afinal, ela não estava amarrada no cavalo, percebeu. Ela estava apenas pendurada como uma trouxa de roupas velhas. Se o cavalo caísse, ela poderia estar fora e longe antes que o cavaleiro se recuperasse. Ou assim pensava ela.
Talvez felizmente para ela, pois não podia ver o arco pendurado nas costas do piloto, nem a aljava cheia de flechas que pendia do seu lado direito, o cavalo não caiu. Houve mais algumas seções íngremes, e um par de outras ocasiões quando escorregou. Mas em nenhuma dessas ocasiões, fez o cavaleiro perder o controle ou o cavalo fazer mais do que relincho de alarme e de concentração.
Finalmente, eles chegaram ao seu destino. Ela sabia que tinham chegado quando o cavalo escorregou até parar e ela sentiu uma mão em seu colarinho, levantando-a acima e mais, para mandá-la direto na neve úmida que cobria o chão. Ela caiu desajeitadamente, enrolando-se no processo, e aconteceu durante vários segundos antes que ela pudesse recuperar a sua presença de espírito e ter tempo para olhar ao seu redor.
Eles estavam em uma clareira onde um pequeno acampamento tinha sido criado. Agora ela podia ver seu seqüestrador quando ele desmontou da sela. Ele era um homem baixo e corpulento, vestido de peles, um casaco de peles, na cabeça um estranho chapéu cônico de peles.
Debaixo do casaco usava calças disformes feita de um tipo fino de feltro, com botas macias até o joelho.
Ele caminhou em direção a ela agora. Suas feições eram afiadas olhos amendoados que demonstrava que tinha anos de procura por longas distâncias na direção do vento e o brilho de uma terra dura. Sua pele era escura, quase marrom por causa da exposição ao sol, e as maçãs do rosto eram altas. O nariz era curto e largo, e os lábios eram finos. Sua primeira impressão foi que era um cara cruel. Então, ela alterou o pensamento. Foi simplesmente um cara insensível. Os olhos não mostravam nenhum sinal de compaixão ou mesmo interesse por ela, o cavaleiro estendeu a mão e agarrou a coleira, obrigando-a a ficar de pé.
— Levanta — ele disse.
A voz era grossa e gutural de sotaque, mas ela reconheceu a única palavra na língua Skandian. Foi basicamente semelhante à linguagem Araluen e ela passou meses com os Skandians em qualquer caso. Ela permitiu-se ser levantada. Ela era quase tão alta quanto o homem, notou, com uma ligeira sensação de surpresa. Mas, como ele era pequeno, a força no braço que a arrastou de pé era demasiado óbvia.
Agora, ela notou o arco a aljava, e foi instintivamente que não tinha surgido nenhuma chance para que ela tentasse fugir. Ela não tinha dúvida de que o homem era perito em arco e flecha. Havia algo totalmente capaz sobre ele, ela percebeu. Ele parecia tão confiante, tão no controle. O arco pode simplesmente ter marcado ele como um caçador. A espada longa e curvada montada em seu quadril esquerdo, disse que ele era um guerreiro.
Seu estudo sobre o homem foi interrompido por um coro de vozes do campo. Agora que ela teve tempo para olhar, viu outros cinco guerreiros, similarmente vestidos e armados.
Seus cavalos, pequenos e peludos, foram amarrados a uma corda pendurada entre duas árvores, e havia três pequenas tendas colocadas ao redor da clareira, feito de um material que parecia ser feltro. Um fogo crepitava em um pequeno círculo de pedras fixado no centro da clareira e os outros homens foram agrupando em torno dela.
Eles se levantaram em surpresa quando ela foi empurrada na direção a eles.
Um deles adiantou-se, um pouco à parte das outras pessoas. Esse fato, e o tom de comando na sua voz, marcaram-no como o líder do pequeno grupo. Ele falou rapidamente com o homem que tinha capturado ela. Ela não conseguia entender as palavras, mas o tom era inconfundível. Ele estava irritado.
Enquanto ele era, obviamente, o líder do partido pequeno, era igualmente óbvio que o homem que a trouxe aqui era também relativamente alto. Ele se recusou a ser intimidados por palavras com raiva do outro homem, respondendo em tom igualmente estridente e gesticulando em direção a ela. Os dois em pé, nariz com nariz, tornando-se cada vez mais alto na sua discordância.
Ela roubou um rápido olhar sobre os outros quatro homens. Eles haviam retomado os seus lugares ao redor do fogo agora, seu interesse inicial no cativeiro terem abrandado.
Eles assistiram a discussão com interesse, mas sem nenhuma preocupação aparente. Um deles voltou a virar alguns galhos verdes com carne fresca. A gordura e os sucos caiam da carne em direção as brasas, enviando assim uma nuvem de fumaça perfumada.
O estômago de Evanlyn roncou baixinho. Ela não tinha comido nada desde o café da manhã magro que tinha compartilhado com Will. A partir da posição do sol, à tarde deve ter atrasado até agora. Ela calculou que tinham viajado cerca de três horas pelo menos.
Finalmente, a discussão parecia estar resolvida e em favor de seu captor. O líder jogou suas mãos no ar zangado e se virou, caminhando de volta ao seu lugar pelo fogo e caindo numa posição de pernas cruzadas. Ele olhou para ela, em seguida, acenou com desdém para o outro homem. Seu destino, ao que parece, estava em suas mãos.
O cavaleiro retirou uma corda de couro cru de seu arco de sela e rapidamente correu duas voltas no pescoço. Então, ele arrastou-a para um grande pinheiro na borda da clareira e colocou a corda nele. Ela tinha espaço para se movimentar, mas não muito longe em qualquer direção. Ele virou-se para ela, empurrando-a, e agarrou suas mãos, forçando-os atrás das costas e cruzando os pulsos uns sobre os outros. Ela resistiu. Mas o resultado foi outro duro golpe em sua cabeça. Depois disso, ela permitiu-lhe que lhe amarrasse as mãos com um curto pedaço de couro cru. Ela estremeceu e murmurou um protesto como os nós foram dolorosamente apertado. Foi um erro. Outro golpe em sua cabeça ensinou-a a permanecer em silêncio.
Ela ficou indecisa, mãos amarrada e presa por seu pescoço numa árvore. Ela estava estudando a melhor maneira de se sentar quando o problema foi resolvido por ele. O cavaleiro chutou seus pés para fora e jogou-lhe na neve. Isso, pelo menos, trouxe um par de risadas baixa dos homens ao redor do fogo.
Para as próximas horas ela sentou sem jeito, com as mãos dormentes. Os seis homens, agora, pareciam lhe ignorar. Comeram e beberam. Quanto mais eles bebiam, mais violento se tornavam. No entanto, ela notou que, mesmo parecendo estar bêbado, sua vigilância não relaxava por um segundo. Um deles estava sempre em guarda, do lado de fora o brilho do fogo pequeno e que se deslocava constantemente para acompanhar o vento do campo de todas as direções. Os guardas revezavam a intervalos regulares, ela notou, sem qualquer dissidência ou necessidade de persuasão. Todos eles pareciam tomar um rumo muito igual.
Conforme cresce a noite, os homens começaram a retirar-se para as tendas pequenas de feltro. Eles estavam em forma de cúpula e quase na cintura, assim seus ocupantes tiveram que rastejar para eles através de uma entrada baixa. Mas, ela pensou com inveja, eles estariam provavelmente muito mais quentes do que ela estaria, sentada aqui fora.
O fogo morreu e um dos homens, não aquele que havia capturado-lhe, andou em direção a Evanlyn e jogou um pesado cobertor em cima dela. Era áspero e carregava o cheiro de seus cavalos, mas era grata pelo calor. Mesmo assim, não era suficiente para o conforto. Ela encolhida contra a árvore, o cobertor sobre seus ombros, e preparada para uma noite extremamente desconfortável.
Halt recostou-se e examinaram sua obra com um suspiro satisfeito.
— Não — ele disse. — Isso deve funcionar.
Horace olhou para ele com dúvidas, seus olhos se deslocaram da expressão satisfeita de Halt à aparência do documento oficial que ele havia acabado de forjar.
— De quem é esse selo? — Perguntou ele finalmente, indicando a impressão de um touro desenfreado que foi definido em um grande monte de cera no canto inferior direito do pergaminho. Halt tocou delicadamente a cera para verificar se tinha endurecido completamente.
— Bom. Acho que se é de alguém, é meu — admitiu — Mas eu estou esperando que os nossos amigos Skandian pensem que pertence ao rei Henri de Gallica.
— É nisso que o selo real se parece? — Horace perguntou, e Halt estudou o símbolo imprimido na cera com um olhar um pouco mais crítico.
— Quase — respondeu ele — Eu acho que o real pode ser um pouco mais magro no corpo, mas o falsificado, eu comprei por ter uma impressão muito indistinta para trabalhar.
— Mas... — Horace começou infelizmente, depois parou.
Halt olhou para ele, uma sobrancelha levantada rapidamente.
— Mas? — Repetiu, tornando a palavra em uma pergunta.
Horace apenas balançou a cabeça. Ele sabia que Halt provavelmente iria rir da sua objeção se ele expressasse isso.
— Oh, esqueça — disse por fim.
Em seguida, percebendo que o ex-arqueiro ainda estava esperando por ele para falar, ele mudou de assunto.
— Eu pensei que você disse que não há decisão judicial na Gallica — disse ele. Halt balançou a cabeça.
— Não há nenhuma decisão judicial efetiva — disse o jovem. — Rei Henri é o rei hereditário dos Gallicans, mas ele não tem poder real. Ele defende uma corte na parte sul do país e permite que os senhores da guerra locais façam o que quiserem.
— Sim, notei — disse Horace significativamente, pensando sobre o encontro com Deparnieux que tinha atrasado o seu progresso através da Gallica.
— Então, o velho rei Henri é algo de um tigre de papel — Halt continuou. — Mas ele é conhecido por enviar emissários para outros países ao longo do tempo. Assim, o presente. — Ele apontou para a folha de pergaminho que estava agitando suavemente no ar para que a tinta pudesse secar e o selo de cera pudesse endurecer. A visão do selo trouxe de volta todos os receios de Horace.
— Ele só não parece certo! — Ele deixou escapar, antes que ele pudesse parar.
Halt sorriu pacientemente para ele, soprando suavemente em algumas manchas de umidade da tinta.
— É tão certo quanto eu possa obtê-lo — disse ele suavemente. — E eu duvido que o guarda de fronteira média na Skandia vai ver a diferença, especialmente se você estiver vestido com a armadura Gallican que você tomou de Deparnieux.
Mas Horace balançou a cabeça obstinadamente. Agora que sua preocupação era a céu aberto, ele estava determinado.
— Isso não é o que eu quis dizer — disse ele, em seguida, acrescentou — e você sabe disso.
Halt sorriu com a expressão preocupada do jovem.
— Às vezes seu senso de moralidade me espanta — disse ele gentilmente. — Você não entende que temos que passar por guardas de fronteira se quisermos ter alguma chance de achar Will e a princesa?
— Evanlyn — Horace corrigiu-o automaticamente.
Halt acenou o comentário de lado.
— Tanto faz — Ele sabia que Horace tendia a referir-se a princesa Cassandra, a filha do rei Araluen, pelo nome que tinha assumido quando Will e Horace a viram pela primeira vez. Ele continuou: — Você percebe, não é?
Horace soltou um suspiro profundo.
— Sim, eu suponho que sim, é só que parece... Desonesto, de alguma forma.
As sobrancelhas de Halt subiram em um arco perfeito.
— Desonesto?
Horace prosseguiu, sem jeito.
— Bem, eu sempre fui ensinado que os selos das pessoas e crenças eram uma espécie de... eu não sei, sacrossanto. Quero dizer... — Ele apontou para a figura do touro impressa em cera vermelha. — Isso é a assinatura de um rei.
Halt mordeu os lábios, pensativo.
— Ele não é muito de um rei — respondeu ele.
— Esse não é o ponto. É um princípio, não pode ver? É como... — Fez uma pausa, tentando pensar em um argumento razoável e, finalmente, veio com — É como interferir com o correio.
Em Araluen, o correio era um serviço controlado pela coroa e não havia sanções proibidas para quem tentasse interferir com ele. Não que tais sanções nunca tenham parado Halt no passado, quando ele precisava fazer um pouco de manipulação nesse sentido.
Ele decidiu que não seria prudente mencionar a Horace agora. Obviamente, o código moral ensinada na Escola de Guerra Redmont é um negócio mais rígido do que o comportamento adotado pelo Corpo de Arqueiros. Naturalmente, os cavaleiros do reino foram encarregadas da proteção dos feudos, por isso era lógico que eles devem ter uma atitude tão entranha na primeira parte de seu treinamento.
— Então, como você sugeriria que lidamos com o problema? — Perguntou ele no passado. — Como você nos levaria além da fronteira?
Horace preferido soluções simples.
— Nós poderíamos lutar em nosso caminho — sugeriu com um encolher de ombros.
Halt ergueu os olhos para o céu com o pensamento.
— Então, é imoral passar com um documento oficial — ele começou.
— Um documento falso — Horace corrigiu. — Com um selo falsificado no fundo.
Halt admitiu o ponto.
— Tudo bem então, um documento falsificado, se quiser. Isso é condenável. Mas seria perfeitamente bem para nós ir até o posto fronteiriço e derrube todos à vista? É essa a maneira como você vê isso?
Agora que Halt colocava dessa maneira, Horace tinha de admitir que havia uma anomalia em seu pensamento.
— Eu não disse que devemos matar todos na vista — ele se opôs. — Nós poderíamos apenas lutar no caminho, é tudo. É mais honesto e eu pensei que é o que os cavaleiros deviam ser.
— Cavaleiros podem ser, mas os Arqueiros não são — Halt murmurou. Mas ele disse abaixo de sua respiração de forma que Horace não pôde ouvi-lo. Ele lembrou-se de que Horace era muito jovem e idealista. Cavaleiros vivem por um rigoroso código de honra e ética e os fatores foram enfatizados nos primeiros anos de treinamento de um cavaleiro aprendiz. Apenas mais tarde na vida que eles aprenderam a temperar seus ideais com um pouco de oportunismo.
— Olha — disse ele, num tom conciliador. — Pense nisso desta forma: se nós simplesmente intercalamos um meio de se dirigir para Hallasholm, os guardas da fronteira iriam enviar um aviso depois de nós. O elemento surpresa seria totalmente perdido e nós poderíamos encontrar-nos em grandes apuros. Se nos decidirmos a nossa forma de luta, a única maneira de fazer isso é deixando ninguém vivo para espalhar a palavra. Entendeu? — Horace assentiu com a cabeça, infelizmente. Ele podia ver a lógica no que Halt estava dizendo. O arqueiro continuou com a linha de raciocínio. — Dessa forma, ninguém se machuca. Você se coloca como um emissário do tribunal Gallican, em uma expedição do rei Henri. Você veste armadura negra de Deparnieux obviamente no estilo de Gallican e você mantenha seu nariz furado no ar e deixa a palavra para mim, seu servo. Esse é o tipo de comportamento que se esperaria de um importante nobre Gallican. Não há nenhuma razão para qualquer palavra ser enviada informando a Ragnak que dois forasteiros tenham atravessado a fronteira, afinal, estamos supostamente indo vê-lo de qualquer maneira.
— E pra que serve essa expedição? — Horace perguntou.
Halt não poderia resistir a um sorriso.
— Desculpe, mas isso é confidencial. Você não espera que eu vá violar o segredo do sistema de correio, não é? — Horace deu-lhe um olhar dolorido e ele cedeu. — Tudo bem. É uma questão de negócio simples, na verdade. Rei Henrique está em negociação para a locação de três navios da Skandians, isso é tudo.
Horace olhou surpreso.
— Isso não é um pouco incomum? — Ele perguntou, e pôr fim sacudiu a cabeça.
— Nem um pouco. Skandians são mercenários. Eles estão sempre se movendo para um lado ou outro. Estamos apenas fingindo que Henri pretende subcontratar alguns navios e tripulações para uma expedição contra a invasão Arridi.
— O Arridi? — Horace, franziu com incerteza.
Halt balançou a cabeça em desespero.
— Você sabe, talvez fosse mais útil se Rodney passasse menos tempo ensinando as pessoas a ética e um pouco mais de tempo a geografia. Os Arridi são os povos do deserto ao sul. — Ele parou e viu que esta informação não fez nenhuma impressão sobre o jovem.
Horace continuou a olhar para ele com uma expressão vazia.
— Do outro lado do mar Constant? — Acrescentou ele, e agora Horace mostrou sinais de reconhecimento.
— Ah, eles — disse ele com desdém.
— Sim, eles — respondeu Halt, imitando o tom. — Mas eu não espero que você pense muito sobre eles. Há milhões só deles.
— Mas eles nunca nos incomodam, pois não? — Disse Horace confortavelmente. Halt deu uma risada curta.
— Não tão longe — ele concordou. — É só rezar não decidirem.
Horace podia sentir que Halt estava à beira de entregar uma palestra sobre a estratégia internacional e diplomacia.
Esse tipo de coisa geralmente dói o lado esquerdo da cabeça de Horace após os primeiros minutos, quando ele tentou manter o contato com quem foi alinhado com quem e quem estava conspirando contra seus vizinhos e o que eles esperavam ganhar com isso. Ele preferiu o tipo de palestra de Sir Rodney: certo, errado, preto, branco, fora espadas, cortar e bater. A melhor maneira de fazer isso, ele tinha aprendido com a experiência passada, foi a de concordar com ele.
— Bem, eu suponho que você está certo sobre a falsificação — admitiu. — Afinal de contas, é apenas o selo de Gallican que estamos forjando, não é? Não é como se você estivesse forjando um documento do rei Duncan. Mesmo que você não iria tão longe, você faria?
— Claro que não — Halt respondeu suavemente. Ele começou a arrumar suas canetas e tinta e as ferramentas de falsificador. Ele estava feliz que ele tinha posto as mãos sobre o selo falsificado Gallican em sua embalagem tão facilmente. — Agora, eu sugiro que você vá vestir a armadura Gallican para os guardas de fronteira Skandian.
Horace bufou indignado e se afastou. Mas outro pensamento ocorreu a Halt, algo que estava em sua mente há algum tempo.
— Horace... — ele começou, e Horace voltou.
A voz do Arqueiro perdeu o seu tom e ele sentiu que Halt estava prestes a dizer algo importante.
— Sim, Halt?
— Quando encontramos Will, não conte a ele sobre o desprazer... Entre mim e o Rei, tudo bem?
Meses atrás, o rei tinha negado a permissão para Halt deixar Araluen em busca de Will, então Halt concebeu um plano desesperado. Ele tinha insultado publicamente o Rei e, como resultado, foi banido por um período de um ano. O subterfúgio de Halt causou uma grande angústia mental no mês passado. Como uma pessoa banida, ele era automaticamente expulso do Corpo de Arqueiros. A perda de sua folha de carvalho prata foi, possivelmente, o pior castigo de todos, ainda que ele suportasse voluntariamente para procurar seu aprendiz.
— Tudo o que você diz, Halt — Horace concordou.
Mas Halt parecia pensar que, desta vez, a explicação era necessária.
— É justo que eu preferiria encontrar a minha própria maneira de dizer a ele e na hora certa. Tudo bem?
Horace encolheu os ombros.
— Tudo o que você diz — ele repetiu. — Agora vamos falar com estes Skandians.
Mas não havia nada a se falar. Os dois cavaleiros, seguidos por sua pequena seqüência de cavalos, montaram através da passagem que em ziguezague entre as altas montanhas até o posto de fronteira ficou finalmente à vista. Halt deverá ser saudado da paliçada de madeira da torre em qualquer momento, como os guardas exigiriam que desmontasse e fossem a pé. Isso teria sido o procedimento normal. Mas não havia nenhum sinal de vida no pequeno posto avançado fortificado à medida que se aproximava.
— Porta aberta — Halt murmurou enquanto se aproximava e que pôde dar mais detalhe.
— Quantos homens guardam geralmente um lugar como este? — Horace perguntou.
O arqueiro encolheu os ombros.
— Meia dúzia. Uma dúzia talvez.
— Não há nada que pareça ser qualquer um deles por aí — observou Horace, e Halt olhou para os lados.
— Eu tinha percebido essa parte — respondeu ele, em seguida, acrescentou — O que é isso?
Havia um vulto aparente agora nas sombras apenas dentro da porta aberta. Agindo sobre o mesmo instinto, ambos incitaram seus cavalos num galope e fechou a distância entre eles e o forte. Halt já tinha certeza de que forma era.
Era um Skandian morto, deitado em uma poça de sangue que havia embebido na neve.
Dentro havia outros dez, todos eles morreram da mesma maneira, com múltiplas feridas em seus troncos e membros. Os dois viajantes cuidadosamente desmontaram e se moveram entre os corpos, a estudar a cena horrível.
— Quem poderia ter feito isso? — Disse Horace com uma voz horrorizada. — Eles foram esfaqueados repetidas vezes.
— Não foram esfaqueados — Halt disse. — Estes são feridas flechas. E, em seguida, os assassinos recolheram suas flechas dos corpos. Exceto por um presente. — Ele segurou uma flecha quebrada que permaneceu escondida debaixo de um dos corpos. O Skandian provavelmente tinha quebrado na tentativa de removê-lo da ferida. A outra metade ainda estava enterrada profundamente em sua coxa. Halt estudou o estilo da flecha e a identificação, marcas pintadas no final da flecha.
Arqueiros normalmente identificam seus próprios eixos de tal forma.
— Pode dizer que fez isso? — Horace pediu. Silêncio, olhou para cima e para ver o seu olhar. Horace viu uma expressão de profunda preocupação nos olhos do arqueiro.
Esse fato sozinho, mais do que a carnificina ao redor deles, enviou uma onda de mal-estar por meio dele. Ele sabia que era algo ruim para preocupar Halt.
— Eu acho que sim — disse o arqueiro. — E eu não gosto. Parece que os temujai estão em movimento de novo.
As estradas vão para leste. Como o cavaleiro desconhecido havia conseguido descer a montanha, já que ele seguiu o estreito, trilhas tortuosas através da espessura de pinho. Mas sempre, sempre que havia uma bifurcação na trilha, o cavaleiro escolheu o que acabaria por levá-lo para o leste, mais uma vez.
Esgotado antes da primeira hora, tropeçando na neve ao longo do tempo e, em ocasiões numerosas demais para contar, caindo se contorcendo de dor, gemendo. Seria tão fácil, pensou ele, apenas para ficar aqui. Para deixar as dores nos músculos pararem lentamente, para deixar o bater da pulsação nas têmporas acalmar e só... Resto.
Mas cada vez que a tentação chegava, ele pensava em Evanlyn: como tinha o arrastado para a montanha. Como ela o ajudou a escapar do estaleiro onde os escravos aguardavam a sua eventual morte. Como ela cuidou dele e curou-se da dependência da erva do calor. E como ele pensava nela e o que ela tinha feito por ele, de alguma forma, ele encontrou um minúsculo, reservatório oculto da força e efeito. E de alguma forma ele se arrastou até os pés de novo em busca das trilhas na neve.
Foi arrastando um pé após o outro, seus olhos baixos para as faixas. Ele viu nada mais, nada percebeu. Apenas as impressões das patas na neve.
O sol cair por trás da montanha e o frio instantâneo que acompanhou ate o seu desaparecimento através de sua roupa, úmido com o suor de seus esforços. Ele pensou que tinha sorte dele ter pensado em trazer os cobertores com ele. Quando ele finalmente parou durante a noite, a roupa úmida iria se tornar uma armadilha de morte em potencial. Sem o calor e a secura dos cobertores para casulo, ele poderia congelar até a morte em suas roupas úmidas.
As sombras se aprofundaram e ele sabia que o anoitecer não estava longe. Ainda assim, ele continuou, enquanto ele poderia distinguir as pegadas arranhadas na trilha. Ele estava exausto demais para observar as variações nas faixas de profundidade escavadas pelo cavalo bloqueado até as patas dianteiras quando tinha deslizado até as seções mais íngremes do caminho. Essas áreas foram apenas notáveis a ele pelo fato de que ele caiu mais freqüentemente. Ele não podia ler nenhuma das sutilezas e mensagens secretas que tinha sido treinado para ver. Foi o suficiente para que houvesse uma trilha clara a seguir.
Era tudo o que ele era capaz.
Foi muito tempo depois escuro e ele estava começando a perder de vista as faixas agora.
Mas ele continuou, enquanto não houve nenhum desvio possível, sem bifurcação da trilha onde ele pode ter que escolher uma direção em detrimento de outro. Quando ele chegou a um lugar onde devesse escolher, ele disse a si mesmo, ele iria parar e acampar durante a noite. Ele se enrolaria nos cobertores. Talvez ele possa até mesmo fazer uma pequena fogueira, onde ele poderia secar suas roupas. Uma fogueira traria calor. E conforto.
E fumaça.
Fumaça? Ele podia sentir o cheiro, mesmo que ele não tenha feito uma fogueira. Fumaça, o cheiro de vida na Skandia, a fragrância perfumada da queima do pinho que escorria da madeira e estalava nas chamas. Ele parou, balançando em seus pés. Ele tinha o pensamento de fogo e, instantaneamente, ele podia sentir o cheiro de fumaça. Sua mente cansada tentou correlacionar os dois fatos, então percebi que não havia nenhuma correlação, apenas coincidência. Ele podia sentir o cheiro de fumaça, porque, em algum lugar próximo à mão, houve uma fogueira.
Ele tentou pensar. Uma fogueira significava um acampamento. E isso quase certamente significa que ele tinha achado Evanlyn e quem a tinha raptado. Eles estavam em algum lugar por perto, parou durante a noite. Agora tudo o que tinha a fazer era encontrá-los e...
"E o quê?", Ele perguntou a si mesmo na voz engrossada pela fadiga. Ele tomou um longo gole de água do cantil que ele tinha pendurado no cinto. Por hora agora, todo o seu ser estava focado na tarefa de recuperar o atraso com o cavaleiro invisível. Agora que quase tinha conseguido isso, percebeu que não tinha nenhum plano, como o que fazer em seguida. Uma coisa era certa: ele não seria capaz de resgatar Evanlyn pela força bruta. Balançando com a fadiga, quase inconsciente, ele mal tinha forças para desafiar um pardal.
"O que Halt faria?", Ele perguntou. Esse se tornou o seu mantra nos últimos meses, quando ele encontrava-se incerto sobre um curso de ação. Ele iria tentar imaginar o seu antigo mentor ao lado dele, olhando-o intrigado, levando-o a resolver o problema na mão por ele mesmo. Para pensar sobre isso, então, tomar medidas.
Pesquise primeiro, Halt gostava de dizer. Em seguida, agir. Will assentiu.
"Pesquise", ele repetiu grossa. "Então, agir".
Ele deu a si mesmo um descanso de alguns minutos, agachou-se encostado no bole áspero de um pinheiro, então ele ficou ereto mais uma vez, seus músculos gemendo com rigidez. Ele continuou na pista, se deslocando agora com cuidado redobrado.
O cheiro da fumaça ficou mais forte. Agora era misturado com outra coisa e ele reconheceu o cheiro de carne assada. Poucos minutos depois, movendo-se com cuidado, ele poderia discernir um brilho alaranjado à frente. A fogueira refletida da brancura da neve ao seu redor, saltando e aumentando na intensidade. Ele percebeu que estava ainda um pouco à frente e continuou ao longo da trilha. Quando julgou que estava dentro de cinqüenta metros da fonte da luz, ele mudou-se silenciosamente para fora das árvores, a luta contra seu caminho através da neve espessa que chegou à altura do joelho ou superior.
As árvores começaram a desbastar, revelando uma pequena clareira e do acampamento montado ao redor do fogo. Ele deitou e avançou, permanecendo escondido nas sombras profundas sob os pinheiros. Ele podia ver agora tendas em forma de cúpula, três delas, dispostas em semicírculo ao redor do fogo. Ele não via nenhum sinal de movimento. O cheiro de carne assada ainda pairava no ar. Ele começou a avançar mais, quando um movimento por trás das barracas o deteve.
Ele congelou, absolutamente imóvel, um homem se adiantou na orla da lareira. Corpulento, vestido de peles, seu rosto estava escondido na sombra do chapéu de peles que ele usava. Mas ele estava armado. Will podia ver a espada curvada pendurados na cintura e a lança esguia que ele mantinha na mão direita, sua bunda plantada na neve.
Will olhou com mais detalhe. Cavalos, seis deles, presos entre as árvores para um lado. Ele supõe que isso significava seis homens. Ele franziu a testa, imaginando como ele poderia levar Evanlyn para longe dali, então percebeu que, até agora, ele não a tinha visto. Ele lançou seu olhar em volta do campo, pensando se talvez ela estava dentro de uma das barracas. Então ele viu.
Escondidos debaixo de uma árvore, um cobertor puxado até os ombros. Seus olhos doíam e esfregou as costas da mão entre elas, então apertou a ponte do nariz com dois dedos, tentando forçar os olhos para ficar focado. Foi uma batalha perdida. Ele estava exausto.
Ele começou a contorcer-se de volta à floresta, à procura de um lugar onde ele poderia se esconder e descansar. Eles não estavam indo em qualquer lugar esta noite, ele percebeu, e precisava descansar e recuperar sua força antes que ele pudesse realizar qualquer coisa. Cansado como estava, ele não poderia mesmo começar a formular um plano coerente.
Ele iria descansar, encontrar um local longe o suficiente para dar-lhe a dissimulação, mas não tão longe que não iria ouvir o acampamento mexendo na parte da manhã.
Pesaroso, percebeu que seus planos antes de uma fogueira já foram frustrados. Ainda assim, ele tinha os cobertores, que era alguma coisa.
Ele encontrou um buraco sob os ramos de um enorme pinheiro. Ele esperava que os cavaleiros não patrulhassem em torno de seu acampamento pela manhã e encontrassem suas pistas, então entendeu que não havia nada que pudesse fazer para impedi-lo. Desatou o enrolado cobertor.
Algum tempo depois da meia-noite, Evanlyn acordou, gemendo em agonia. Os laços apertados restringiram o fluxo de sangue e os músculos do ombro estavam doendo. A sentinela, irritado com o barulho, afrouxou os laços por alguns minutos, em seguida, coloco as mãos na frente dela para ter a tensão fora dos músculos do ombro. Era uma pequena melhora e ela conseguiu dormir irregularmente, até o som das vozes acordá-la.
Evanlyn tinha percebido o antagonismo entre os dois guerreiros na noite anterior. Mas na parte da manhã, ele atingiu um ponto crítico.
O pequeno grupo foi um dos muitos que haviam cruzado a fronteira com a Skandia. Algumas semanas antes, Evanlyn tinha realmente visto um membro de um partido mais cedo, perto da cabana onde ela e Will passaram o inverno.
O homem que tinha capturado ela, Ch'ren, era filho de uma família temujai do alto escalão. Era costume temujai ter os seus nobres jovens servirem como soldado comum um ano, antes de serem promovidos para a classe policial. At'lan, o comandante do grupo de escotismo, era um soldado de longo prazo, um sargento com anos de experiência. Mas, como um plebeu, ele sabia que nunca iria superar sua posição atual. É certeza que o arrogante, teimoso Ch'ren logo superará ele, assim como é certeza Ch'ren receber ordens de um homem que ele considera ser a sua inferioridade social. Um dia antes, ele tinha montado para fora das montanhas por conta própria, apesar de o sargento ser contra.
Ele tinha feito Evanlyn de prisioneira por capricho, sem qualquer pensamento real das conseqüências. Teria sido melhor se ele tivesse permanecido invisível e permitisse a ela para seguir seu caminho. O grupo estava sob ordens estritas para evitar a descoberta e eles não tinham ordens para levar os presos. Tampouco houve qualquer possibilidade de exploração ou de guardá-los.
A solução mais simples, At'lan tinha decidido, foi que a menina deve ser morta.
Enquanto ela estava viva, havia a chance de que ela iria escapar e espalhar a palavra de sua presença. Se isso acontecesse, At'lan sabia que ele iria pagar com a própria vida. Ele não sentiu nenhuma simpatia pela menina. Ele também não sentiu qualquer antagonismo.
Seus sentimentos sobre ela eram neutros. Ela não era do povo e tão pouco qualificada como um ser humano.
Agora, ele ordenou Ch'ren matá-la. Ch'ren recusou, não fora de qualquer consideração para Evanlyn, mas simplesmente para enfurecer o sargento.
Evanlyn assistiu ansiosamente como eles alegaram. Como na noite anterior, era óbvio para ela que ela era a razão da sua discordância. Foi igualmente óbvio, como seu argumento tornou-se cada vez mais aquecida, que sua posição foi se tornando cada vez mais precária. Por último, o mais velho dos dois retirou a mão e golpeou o homem mais jovem em todo o rosto, mandando-o a poucos passos. Então ele se virou e caminhou em direção Evanlyn, puxando o sabre curvo.
Ela olhou para a espada na mão para a expressão em seu rosto. Não houve nenhuma raiva, nenhuma expressão de ódio lá. Apenas o olhar determinado de quem, sem o menor remorso ou hesitação, estava prestes a terminar a sua vida.
Evanlyn abriu a boca para gritar. Mas o horror do momento congelou o som em sua garganta e ela agachada, de boca aberta, como a morte se aproximava dela. Era estranho, pensou ela, que arrastara até ali, deixou-a durante a noite e então decidiu matá-la.
Parecia uma forma inútil para morrer.
Halt examinou a confusão de trilhas na neve macia, franzindo para si mesmo enquanto tentava fazer as pistas fazerem sentido. Horace esperava, cheio de curiosidade.
Finalmente, Halt se levantou de onde ele tinha abaixado, examinando particularmente um pedaço de terra.
— Trinta deles, pelo menos — ele murmurou. — Talvez mais.
— Halt? — Horace perguntou experimentalmente. Ele não sabia se havia mais informações que Halt estava prestes a revelar, mas não podia esperar mais. O arqueiro foi se afastando da paliçada, no entanto, foi para outro conjunto de trilhas que levavam para as montanhas para além da passagem.
— Uma pequena parte, talvez cinco ou seis, passou para Skandia. O restante deles voltaram de onde vieram.
Ele acompanhou as direções com a ponta de seu arco. Ele estava falando mais para si do que para Horace, que confirma em sua própria mente o que os sinais no chão lhe dissera.
— Quem são eles, Halt? — Horace perguntou rapidamente, na esperança de quebrar a concentração do arqueiro. Halt moveu alguns passos adicionais na direção tomada pelo grupo menor.
— temujai — disse ele brevemente, sobre o ombro.
Horace revirou os olhos, exasperado. — Você já disse isso — ressaltou. — Mas quem são exatamente os temujai?
Halt parou e se virou para olhar para ele. Por um momento, Horace tinha certeza de que ele estava prestes a ouvir outro comentário sobre o triste estado da sua educação. Então um olhar pensativo atravessou o rosto do arqueiro e ele disse, em um tom mais suave que o habitual — Sim, eu suponho que não há nenhuma razão porque você deve ter ouvido falar deles, não é?
Horace, relutante em interromper, apenas balançou a cabeça.
— Eles são os cavaleiros das estepes do Leste — o arqueiro disse. Horace franziu a testa, sem entender.
— Estepes? — Repetiu, e Halt permitiu um ligeiro sorriso.
— Não etapas que você anda para cima e para baixo — disse ele. — Estepes, planícies e pradarias, a leste. Ninguém sabe exatamente onde o temujai originou. Em um momento, eram simplesmente um monte de tribos desorganizadas até Tem'gal junta-los em uma só tribo e se tornar o primeiro Sha'shan.
— Sha'shan? — Horace interrompeu hesitante, totalmente inconsciente do que a palavra pode significar.
— O líder de cada grupo era conhecido como o Shan. Quando Tem'gal se tornou o senhor, ele criou o título Sha'shan-o de Shan Shans, ou o líder dos líderes.
Horace assentiu lentamente.
— Mas quem foi Tem'gal — questionou, acrescentando às pressas — quero dizer, de onde ele era?
Desta vez Halt encolheu os ombros.
— Ninguém realmente sabe. Diz a lenda que ele era um menino simples. Mas de alguma forma ele se tornou líder de uma tribo, em seguida, uniu-os com o outro, e outro. O resultado foi que ele virou o temujai em uma nação de guerreiros de cavalaria, provavelmente o melhor a luz do mundo. Eles são destemidos, altamente organizados e absolutamente implacáveis quando se trata de batalha. Eles nunca foram derrotados, a meu conhecimento.
— Então o que estão fazendo aqui? — Horace perguntou, e Halt considerado-o gravemente, mordendo o lábio inferior como ele considerava uma possível resposta.
— Essa é a pergunta, não é? — Perguntou ele. — Talvez nós devêssemos seguir esse pequeno grupo e ver o que podemos descobrir. Pelo menos enquanto está indo na direção que queremos ir.
E atirando o arco por cima do ombro esquerdo, ele caminhou até onde estava Abelard pacientemente, rédea solta arrastando no chão. Horace apressou-se depois dele, balançando-se montado no cavalo de batalha preto que estava cavalgando para impressionar os guardas da fronteira. Tudo de uma vez, a elegância que ele vestiu a desempenhar o papel de um passador Gallican parecia um pouco incongruente. Ele cutucou o cavalo com o calcanhar e seguiu Halt.
Os outros dois cavalos seguiram, o cavalo de batalha e Puxão trotou calmamente ao lado sem qualquer necessidade de direção.
Halt inclinou-se na sela, estudando o terreno.
— Olha quem está de volta — disse ele, indicando uma trilha na neve. Horace cutucou o cavalo mais perto e olhou para o chão. Para ele, não havia nada evidente, que não seja uma confusão de pegadas, perder rapidamente a definição na neve, úmida e macia.
— O que é isso? — Perguntou ele finalmente.
Halt respondeu sem levantar os olhos da trilha. — O único cavaleiro que saiu por conta própria.
Alguns caminho de volta, a trilha tinha se dividido, um cavaleiro deixar o grupo e ir mais profundo em Skandia, enquanto o grupo principal tinha circulado para o norte, mantendo a mesma distância da fronteira. Agora, aparentemente, único cavaleiro que tinha voltado ao grupo.
— Bem, isso torna mais fácil. Agora não precisa se preocupar com a sua vinda atrás de nós enquanto estamos atrás dos outros — disse Halt. Ele avançou com Abelard, depois parou, os olhos em fenda de concentração.
— Isso é estranho — disse ele, e deslizou para baixo da sela e ficou com neve até os joelhos. Ele estudou o chão de perto, então olhou para trás no sentido de que um único cavaleiro que aderiu ao grupo. Ele resmungou, depois endireitou-se, espanando neve molhada dos joelhos.
— O que é isso? — Horace perguntou. Halt amarrou sua cara em uma careta. Ele não estava totalmente certo do que ele estava vendo, e isso o incomodava. Ele não gostava de incertezas em situações como esta.
— O cavaleiro só não se reuniu com o grupo aqui. Eles foram, pelo menos, um dia antes dele — ele finalmente disse. Horace encolheu os ombros. Houve uma razão lógica para isso, ele pensou.
— Então, ele estava se dirigindo de encontro para eles — sugeriu. Halt acordo com a cabeça.
— Mais do que provável. Eles são, obviamente, um grupo de reconhecimento e ele pode ter ido por si mesmo. A questão é quem o seguiam quando ele voltou?
Isso levantou as sobrancelhas de Horace. — Alguém seguiu? — Perguntou ele. Halt soltou uma inspiração profunda de frustração.
— Não é possível ter certeza — disse ele brevemente. — Mas parece que da maneira que a neve derreteu rapidamente e as faixas não são totalmente claras. É bastante fácil de ler as trilhas do cavalo, mas este novo jogador está de pé... Se ele realmente existe — acrescentou incerto.
— Então... — Horace começou. — O que devemos fazer?
Halt chegou a uma decisão.
— Nós vamos segui-los — disse ele, subindo mais uma vez.
— Eu não vou dormir confortavelmente até eu descobrir o que está acontecendo aqui. Eu não gosto de enigmas.
O enigma aprofundou uma hora mais tarde, quando Puxão, que discretamente seguia atrás dos dois cavaleiros, de repente, jogou a cabeça para trás e soltou um relincho alto. Foi tão inesperado que tanto Halt e Horace giraram em suas selas e olharam para o cavalo em espanto. Puxão relinchou outra vez, um tom longo, levantando-se que tinha uma nota de ansiedade nele. O cavalo de batalha de Horace relinchou em alarme também. Horace foi capaz de dominar uma resposta incipiente desde o preto que ele estava andando, enquanto Abelard, naturalmente, permaneceu imóvel.
Irado, Halt fez o sinal da mão do arqueiro de silêncio. Os outros aos poucos se acalmaram.
Mas Puxão continuou a estar na trilha, preparado pernas afastadas, cabeça erguida e narinas enquanto ele respirava o ar gelado em torno deles. Seu corpo tremia. Ele estava à beira de dar vazão a um daqueles gritos angustiados e só a disciplina e treinamento de todos os soberbos cavalos de arqueiros estava a impedir de fazê-lo.
— Que diabo... — Halt começou, então, deslizou para baixo da sela, mudou-se calmamente de volta para o cavalo angustiado, batendo no pescoço de Puxão delicadamente.
— Calma menino — murmurou ele. — Qual é o problema com você, então?
A voz calma e suave das mãos pareceu acalmar o cavalo pequeno. Ele colocou a cabeça para baixo e esfregou a testa contra o peito de Halt. O arqueiro acariciou suavemente as orelhas do cavalo pequeno, ainda falando com ele em um sussurro suave.
— Aí está você... Se você só poderia falar, né? Sabe de uma coisa. É algo sentido, não é mesmo?
Horace observou curiosamente como o tremor gradualmente foi diminuindo. Mas ele notou as orelhas do cavalo ainda estavam em alerta. Ele poderia ter sido acalmado, mas ele não estava à vontade.
— Eu nunca vi um cavalo de arqueiro se comportar assim antes — disse ele baixinho, e pôr fim olhou para cima, com os olhos perturbados.
— Nem eu — admitiu. — Isso é o que tem me preocupado.
Horace estudou Puxão cuidadosamente.
— Ele parece ter se acalmado um pouco agora — ele arriscou e Halt colocou a mão em todo o flanco do cavalo.
— Ele ainda está tenso como uma corda, mas acho que podemos continuar. Há apenas uma hora ou mais até escurecer e eu quero ver onde nossos amigos estão acampados durante a noite.
No abrigo do pinheiro, envolto no calor inadequado dos dois cobertores, Will passou uma noite vacilante, cochilar por curtos períodos, em seguida, ser acordado pelo frio e seus pensamentos.
Na sua mente tinha um sentimento de inadequação total. Diante da necessidade de resgatar Evanlyn de seus captores, ele não tinha absolutamente nenhuma idéia de como ele poderia realizar essa tarefa. Eram seis homens, bem armados.
Ele era um garoto, armado apenas com um arco de caça pequena e uma adaga curta.
Suas flechas eram boas apenas para um jogo com pequenos pontos feitos pelo endurecimento final da madeira no fogo e, em seguida, afiando-los. Eles não eram nada como a flecha afiada que carregava na sua aljava de arqueiro como um aprendiz. "O arqueiro usa a vida de duas dezenas de homens em seu cinto", é o velho ditado de Araluen.
Ele submeteu seu cérebro uma e outra vez durante os longos períodos de insônia.
Pensou-se amargamente de que ele era suposto ter uma reputação como um pensador e um planejador. Ele sentia que estava deixando Evanlyn para baixo com a sua incapacidade para chegar a uma idéia. E deixar as outras pessoas também. Em sua mente, meio dormindo e cochilando, ele viu o rosto barbudo de Halt, sorrindo para ele e pedindo-lhe para vir acima com uma planta. Em seguida, o sorriso desvanece-se, em primeiro lugar a um olhar de raiva, então, finalmente, de decepção. Ele pensou em Horace, seu companheiro na jornada através da Céltica e da ponte de Morgarath. O aprendiz de guerreiro fortemente armado tinha sido sempre o conteúdo para que Will pensasse para os dois. Will suspirou infelizmente como ele pensava como equivocada sua confiança tinha tornado. Talvez fosse um efeito da erva do calor a que tinha sido viciado. Talvez a droga apodreça o cérebro do usuário, tornando-o incapaz de ter pensamento original.
Uma e outra vez por aquela noite infeliz, perguntou-se: "O que Halt faria?" Mas a pergunta, tão útil no passado para dar uma resposta aos seus problemas, foi ineficaz. Ele não ouviu nenhuma voz respondendo profundamente dentro de seu subconsciente, trazendo-lhe conselhos e conselhos.
A verdade é, evidentemente, que, dada a situação e as circunstâncias, não havia nenhuma ação prática que poderia tomar. Praticamente desarmado, em menor número, em terreno desconhecido e, infelizmente, fora de forma, tudo que ele poderia fazer seria manter acampamento observando os estranhos e esperar alguma mudança nas circunstâncias, algumas eventualidades que possam fornecer-lhe uma oportunidade de chegar e levar Evanlyn para longe para as árvores.
Finalmente abandonou a tentativa de descanso, rastejou debaixo do pinheiro e reuniu os seus parcos equipamentos. A posição das estrelas no céu lhe disse que era um pouco mais de uma hora antes que ele pudesse esperar para ver a primeira luz do amanhecer de filtragem através da copa das árvores.
"Pelo menos essa é uma habilidade que eu lembrava", disse ele miseravelmente, falando em voz alta, como se tornou costume durante a noite.
Ele hesitou, então chegou a uma decisão e afastou-se por entre as árvores em direção ao acampamento. Havia sempre uma chance de que algo pode ter mudado. A sentinela pode ter dormido ou ido para a floresta para investigar um barulho suspeito, deixando o caminho livre para resgatar Evanlyn.
Não era provável, mas que era possível. E se essa oportunidade surgisse, era essencial que estivesse presente para tirar proveito dela. Pelo menos era um plano de ação definido para ele seguir, então ele mudou-se o mais silenciosamente possível, mantendo uma das mantas envolto em torno de seus ombros como um manto.
Demorou dez minutos para encontrar o caminho de volta para o acampamento pequeno.
Quando o fez, suas esperanças foram frustradas. Havia ainda um sentinela e patrulhamento, como observado, o relógio tinha mudado, com um novo homem assumiu o cargo, bem acordado e descansado. Andou em torno do perímetro do acampamento em uma patrulha regular, chegando a vinte metros do local onde o menino agachou-se escondido atrás de uma árvore. Não havia nenhum sinal de negligência ou desatenção. O homem manteve seu ponto de visão em movimento, buscando continuamente a floresta para qualquer sinal de movimento incomum.
Will olhou com inveja para o arco recurvo pendurada, flechas enfiadas, sobre o ombro direito do homem. Era muito parecido com o que Halt tinha dado quando ele tinha tomado o seu primeiro estágio com o sombrio arqueiro. Vagamente, lembrou Halt tinha dito algo sobre os guerreiros das estepes do Leste sabiam fazer essa curva no arco. Ele queria saber agora se esses homens eram alguns desses guerreiros.
O arco da sentinela era uma arma real, ele pensou, ao contrário do brinquedo que ele carregava. Agora, se ele tivesse um arco, como o da sentinela, e algumas das flechas que apareciam de sua aljava cheia de penas, ele poderia ser capaz de realizar algo. Por um tempo, ele jogou com a idéia de superar a sentinela e tomar o seu arco, mas ele foi forçado a rejeitar a idéia.
Não havia maneira de ele chegar ao alcance do homem sem ser visto ou ouvido. E, mesmo se ele pudesse conseguir isso, havia pouca chance de ele ser capaz de derrotar um guerreiro armado. A pequena adaga que carregava contra o saber do homem seria um suicídio. Ele poderia ter uma chance de jogar a faca, naturalmente, mas era uma arma mal equilibrada e mal adaptada para jogar, sem peso suficiente no cabo para conduzir o repouso da lâmina para o destino.
E assim ele encolhido na neve na base da árvore, assistindo e esperando por uma oportunidade que nunca veio. Ele podia ver a forma amassado de Evanlyn para um lado do campo. A árvore foi amarrada e era cercado por um espaço claro. Não havia nenhuma maneira que ele poderia se aproximar dela sem o sentinela vê-lo. Tudo parecia perdido.
Ele deve ter cochilado embalado pelo frio e pela noite agitada que havia passado, pois ele foi despertado pelo som de vozes.
Foi apenas após o amanhecer, e a luz da manhã atingindo indiretamente pelas brechas das árvores, lançando sombras longas em toda a clareira. Dois guerreiros estavam de pé, um pouco à parte das outras pessoas, discutindo. As palavras eram indecifráveis para Will, mas o tema do seu debate era óbvio, com um deles mantido apontando para Evanlyn, ainda amarrada à árvore, encolhida no cobertor que tinha sido dado, e agora bem acordada e atenta.
Como a discussão evoluiu, os homens se tornaram cada vez mais irritado, sua voz mais alta. Finalmente, o homem mais velho bateu o outro homem, mandando-o para longe. Ele acenou com a cabeça uma vez, como se estivesse satisfeito, então se virou para Evanlyn, largando a mão ao punho da espada.
Por um momento, Will permaneceu congelado. A maneira do guerreiro foi tão casual como ele tirou a espada e se aproximou da menina que parecia impossível acreditar que ele queria fazer qualquer mal a ela. Houve uma insensibilidade sobre todo o cenário que parecia desmentir qualquer intenção hostil. No entanto, foi a mesma insensibilidade e descontração que criou um crescente sentimento de horror em Will. O homem levantou a espada acima da menina. Evanlyn de boca aberta, mas nenhum som saia e Will percebeu que matá-la não significava nada, absolutamente nada, para o guerreiro.
Agindo sob sua própria vontade, as mãos de Will tinham pegado uma flecha assim que a mão do guerreiro caiu no punho da espada. A lâmina curva subiu e Evanlyn agachada na neve, uma mão levantada em uma tentativa inútil de afastar a lâmina. Will saiu de trás da árvore, trazendo o arco para si e com sua mente pensou rapidamente na situação.
Sua flecha não mataria. Era pouco mais de uma vara pontiaguda, mesmo que esse ponto tinha sido endurecido em um fogo. As chances eram de que, se ele visasse no corpo do guerreiro, as peles grossas e jaqueta de couro que ele usava iria parar a flecha antes que ela chegasse à pele. Havia apenas um ponto vulnerável onde o homem estava desprotegido e que foi, coincidentemente, que deu a Will a melhor possibilidade de interromper o curso da espada. O pulso do homem foi exposto assim que o braço subiu a carne nua mostrando no final da manga de pele grossa. Tudo isto foi registrado no tempo que levou para trazer o arco para perto do seu rosto. Seu objetivo passou sem problemas no pulso do homem, a ponta da flecha, subindo ligeiramente para permitir a queda. Ele checou a respiração automaticamente, em seguida, liberada.
O arco deu um leve solavanco e a flecha pulou para fora, enterrando na carne macia do pulso do guerreiro.
Ouviu o grito sufocado de dor enquanto suas mãos se moviam rapidamente para pegar outra flecha e mandá-la após a primeira. A espada caiu da mão do homem, silenciosamente na neve espessa e fazendo com que Evanlyn recuasse para não perder o braço. A segunda flecha bateu contra luva grossa do homem inofensivamente, ele agarrou seu pulso direito, o sangue escorrendo sobre sua mão.
Chocado e pego de surpresa, o homem olhou se instintivamente na direção de onde a flecha havia chegado e agora, vendo o movimento de Will quando disparou pela segunda vez, pôde distinguir a pequena figura através da clareira. Com um rosnar de raiva, ele lançou seu pulso ferido e agarrou um punhal longo de sua cintura com a mão esquerda. Por um momento, se esqueceu de Evanlyn e apontou na direção de Will para seus homens, gritando para que eles o seguissem, em seguida, começou a correr em direção ao seu agressor.
A terceira flecha retardou o homem baixo, uma vez que piscou passando pelo seu rosto, causando-lhe um desvio para lateral para evitá-lo. Mas então ele estava vindo de novo e dois de seus homens estavam a seguir. Ao mesmo tempo, Will viu um homem em direção a Evanlyn e seu coração afundou-se quando ele percebeu que tinha falhado. Ele enviou outra flecha em direção a ele, sabendo que o esforço foi em vão. Voltando-se para enfrentar o guerreiro em sentido contrário, deixou cair o arco inútil e pegou a faca em seu próprio cinto.
E então ele ouviu um som do passado, um som estranhamente familiar de horas gastas na floresta ao redor do Castelo Redmont.
O som profundo veio de algum lugar atrás dele, em seguida, o ar-silvo da divisão de um eixo pesado viajando a uma velocidade incrível, com uma força enorme por trás dele. Por último, ouviu um sólido smack.
A flecha aparecia no centro do peito do guerreiro. Ele caiu de costas na neve. Outro silvo e o segundo homem caiu. O terceiro virou e correu para os cavalos amarrados no outro lado do campo. Will pensou que os dois homens restantes já haviam fugido, indispostos a enfrentar a misteriosa precisão do arco.
Will hesitou, sua mente em um turbilhão. Instintivamente, ele sabia o que tinha acontecido. Logicamente, ele não tinha idéia de como tinha acontecido. Ele se virou e mal o viu visível, figura cinza disfarçada cerca de trinta metros atrás dele, o arco enorme ainda estava no ponto, outra flecha preparada.
— Halt? — Gritou, a voz embargada. Ele começou a correr em direção à figura, em seguida, lembrou. Evanlyn! Ela ainda estava em perigo. Quando ele virou, ouviu o raspar de aço sobre aço e viu que ela tinha conseguido pegar o sabre caído e afastar o primeiro ataque.
Mas isso só poderia ser um alívio momentâneo como suas mãos ainda estavam amarradas na frente dela e ela estava firmemente amarrada à árvore. Ele apontou para ela e gritou inarticuladamente, desesperadamente pedindo Halt para disparar, em seguida, percebeu que a visão do arqueiro da cena foi bloqueada por árvores.
Em seguida, outra figura foi em direção a garota lutando com seu agressor. Uma figura alta e bem definida que parecia estranhamente familiar, vestindo uma túnica branca com um símbolo estranho que parecia uma folha de carvalho estilizada.
Sua espada longa e reta interceptou a lâmina curva e a virou para baixo. Então, ele se interpõe entre Evanlyn e o homem que estava tentando matá-la, em uma série de golpes de espada que confundiu os olhos, ele dirigia o outro homem para se afastar da garota. Ele obviamente tinha o melhor do intercâmbio e seu adversário se retirou antes dele, os seus desvios e os cursos cada vez mais desesperado quando ele percebeu que estava totalmente derrotado. O homem atacou desajeitadamente com sua lâmina curva e foi desviado facilmente, fora de equilíbrio, estava para receber o golpe de retaliação.
— Não mate! — Halt gritou, bem a tempo, Horace torceu o pulso de modo que a parte detrás da lâmina, e não o fio da navalha batesse na lateral da cabeça do homem. Os olhos do homem reviraram e ele cedeu ao chão, inconsciente.
E muita sorte.
— Queremos um prisioneiro — o arqueiro falou suavemente. Então ele foi rechaçado pelo impacto de um corpo pequeno correndo de cabeça nele, e um par de braços que envolveram em torno de sua cintura, e Will estava chorando e balbuciando sem pensar como ele abraçou seu professor, mentor e amigo. Halt deu um tapinha no ombro suavemente, e ficou surpreso ao encontrar uma única lágrima deslizando pela sua face.
Horace cortou as cordas com a ponta de sua espada e gentilmente ajudou Evanlyn a ficar de pé.
— Você está bem? — Ele perguntou ansiosamente, então, convencido de que era ela, não podia deixar um enorme sorriso de alívio sair em seu rosto.
— Oh, Horace, graças a Deus você está aqui! — A menina chorou, e jogando os braços em volta de seu pescoço, ela escondeu o rosto no peito. Por um momento, Horácio ficou perplexo. Ele foi para abraçá-la em troca, percebeu que ele estava segurando a espada, e hesitou desajeitadamente. Então, chegou a uma decisão, plantou-a firmemente, o primeiro ponto no chão, e colocou os braços em volta dela, sentindo a suavidade dela e o cheiro do perfume de seu cabelo e pele.
Seu sorriso cresceu mais amplo, que ele não teria pensado que era possível. Ele decidiu que não há vantagens concretas para ser um herói.
— Você é realmente algum tipo de herói em Gallica? — Will perguntou, incrédulo, não é totalmente certo que Halt e Horace fossem falar que era algum tipo de brincadeira enorme. Mas o arqueiro grisalho balançava a cabeça enfaticamente.
— Uma figura de respeito — disse ele. Evanlyn virou-se para o guerreiro musculoso e inclinou-se para tocar a sua mão levemente.
— Não posso acreditar — disse ela. — Você viu a maneira como ele cuidou do soldado temujai que estava tentando me matar? — Seus olhos eram chamas com um calor incomum e Will, percebendo isso, sentiu uma pontada súbita de ciúmes de seu velho amigo. Então ele empurrou o indigno pensamento de lado.
Halt havia se indisposto a permanecer muito perto do acampamento temujai.
Não havia como dizer o quão longe a principal força poderia estar e sempre havia a possibilidade de que os dois homens que haviam escapado poderiam levar outras pessoas de volta para o local.
Eles tinham refeito o trajeto que Halt e Horace tinham seguido, se movendo em direção à fronteira, onde eles haviam descoberto a primeira evidência do assalto temujai. Em torno do meio do dia, eles encontraram um lugar no topo de uma colina com uma boa visão do terreno circundante e uma depressão em forma de disco voador que iria mantê-los escondidos de vista. Aqui, eles podiam ver sem ser visto, e Halt decidiu acampar lá.
Ele havia construído uma pequena fogueira, controlados através de um bosque de pinheiros jovens, e preparou uma refeição.
Evanlyn e Will caíram vorazmente no guisado saboroso que o arqueiro tinha preparado e por um tempo houve silêncio, quebrado apenas pelo som de uma alimentação específica.
Então os velhos amigos, começaram a acompanhar os acontecimentos que tiveram lugar desde o confronto final com o exército Wargal nas planícies de Uthal. A mandíbula de Will tinha caído com espanto como Halt descreveu como Horace tinha derrotado o terrível Lord Morgarath em um único combate.
Horace parecia envergonhado e devidamente Halt, percebendo isso, descreveu o combate em um tom alegre, brincando, o que implica que o menino tinha tropeçado e caído desajeitadamente nas patas do cavalo de batalha de Morgarath, ao invés de optar por fazê-lo como um deliberado último lance de dados para derrubar seu oponente. O guerreiro aprendiz corou e salientou que a sua manobra final de faca dupla de defesa tinha sido ensinado a ele por Gilan e que ele e Will passaram horas praticando a habilidade em sua viagem através da Céltica. Ele fez soar como se, de alguma forma, Will mereceu algumas partes do crédito para sua vitória. Enquanto ele falava, Will recostou-se confortavelmente contra o tronco e pensou o quanto Horace tinha mudado. Uma vez que era seu inimigo jurado, quando ambos estavam crescendo no castelo, Horace havia se tornado seu amigo mais próximo.
Bem, um de seus amigos mais próximos, ele pensou, quando ele sentiu uma cabeçada insistente contra o seu ombro. Ele girou em torno, estendendo uma mão para acariciar os ouvidos e coçar o local entre. Puxão soltou um relincho baixa de prazer com o toque da mão do seu senhor. Desde que eles haviam sido reunidos, o cavalo recusou-se a desviar mais de um metro ou dois da presença de Will.
Halt olhou para os dois agora, em toda a fogueira, e sorriu interiormente. Ele sentiu uma enorme sensação de alívio agora que tinha finalmente encontrado seu aprendiz. Um peso de auto-acusação foi retirado, porque ele tinha sofrido muito nos longos meses desde que ele tinha visto a vela longe da costa Araluen com Will a bordo.
Ele sentiu que não tinha o jovem, que de alguma forma o traiu. Agora que o menino estava de volta com segurança sob seus cuidados, ele foi preenchido com uma profunda sensação de bem-estar. É certo que os acontecimentos dos últimos dias também deixaram uma nova preocupação na parte traseira de sua mente, mas para o momento, que poderia esperar enquanto ele gozava da reunião.
— Você acha que poderia convencer ao seu cavalo de ficar com os outros cavalos por um minuto ou dois? — Disse ele com gravidade simulada. — Caso contrário ele vai acabar acreditando que ele é um de nós.
— Ele ficou louco na primeira vez que Halt encontrou as suas faixas — Horace falou — Ele deve ter pegado o seu aroma e sabe que foi você que estávamos seguindo, embora Halt não tenha percebido isso.
Nessa, Halt levantou uma sobrancelha.
— Halt não percebeu isso? — Ele repetiu. — E eu suponho que você fez?
Horace encolheu os ombros.
— Eu sou apenas um guerreiro — respondeu ele. — Eu não sou um suposto pensador. Deixo isso para vocês arqueiros.
— Devo admitir que me confundiu — Halt disse. — Eu nunca vi um cavalo de arqueiro se comportar assim. Mesmo quando eu pedi-lhe para se acalmar e ficar em silêncio, eu poderia dizer que havia algo em sua mente. Quando você saiu das árvores para me abraçar, eu pensei que ele ia se atirar em você.
Will continuou a esfregar a cabeça felpuda que se inclinou para ele. Ele sorriu largamente ao redor do acampamento. Agora que Halt estava aqui e ele foi cercado por seus amigos mais próximos, ele se sentiu seguro e protegido, uma vez mais, uma sensação que não tinha apreciado em mais de um ano. Ele sorriu para o arqueiro, aliviado que Halt havia ficado satisfeito com suas ações. Evanlyn havia descrito a sua viagem através do Mar Stormwhite, e a série de eventos que levaram à sua chegada Hallasholm.
Horace tinha olhado com admiração quando ela descreveu a forma como ela humilhou o capitão Slagor na cabine. Halt só tinha estudado seu aprendiz com um olhar aguçado e acenou com a cabeça uma vez. Esse movimento só queria dizer mais a vontade do que os volumes de elogios de ninguém, principalmente porque ele não estava muito orgulhoso da forma como as coisas tinham acontecido na Hallasholm, e seu vício posterior a erva do calor. Ele tinha pensado que Halt iria reprovar, mas quando Evanlyn havia falado de seu desespero, quando ela o encontrou no abrigo para escravos , cego e irracional. O arqueiro apenas acenou com a cabeça mais uma vez e soltou uma praga em voz baixa para as pessoas que infligir uma dessas substâncias em outras. Seus olhos encontraram Will ansioso através do fogo e vira uma tristeza profunda, profunda lá.
— Sinto muito que você teve que passar por isso — disse suavemente seu mestre, e Will sabia que tudo ficaria bem.
Eventualmente, eles tinham falado seu preenchimento. Haveria detalhes que poderiam ser preenchidos durante as próximas semanas, e lá foram os itens que eles tinham esquecido. Mas em termos gerais, eles foram atualizados um com o outro.
Houve, no entanto, um aspecto da história de Halt, que não tinha sido revelado. Nem Will nem Evanlyn sabiam do banimento de Halt, ou a sua expulsão do Corpo de Arqueiros.
Quando as sombras cresceram, Halt andou mais uma vez para o local onde seu prisioneiro estava amarrado de pés e mãos. Ele soltou os laços por alguns minutos, primeiro as mãos, em seguida, os pés.
O guerreiro temujai grunhiu uma apreciação sumária de alívio temporário. Halt já tinha feito isso várias vezes durante a tarde, garantindo que o homem não estava permanentemente incapacitado pela restrição do fluxo de sangue para as mãos e pés.
Ele também lhe deu uma oportunidade para se certificar de que o homem estava bem amarrado e que ele não conseguiu soltá-las ou fugir. Sabendo que não iria receber nenhuma resposta, Halt, perguntou ao homem o seu nome e sua unidade militar. Embora ele falasse a língua temujai com fluência razoável, tendo passado vários anos entre o povo, como eles chamavam a si próprios, não viu nenhuma razão para informar o prisioneiro desse fato. Como conseqüência, Halt usou uma linguagem comum a todos os povos do Hemisfério, uma mistura de gauleses, teutões e palavras temujai em uma simples estrutura da língua, pidgin, que não tomou conhecimento da gramática ou sintaxe do comerciante.
Como ele esperava, o Tem'uj simplesmente ignorou suas propostas. Halt encolheu os ombros e afastou-se, no fundo do pensamento. Horace estava sentado junto à lareira, cuidando da limpeza e lubrificação da espada. Evanlyn estava na posição de sentinela no alto do morro, vigiando a encosta abaixo deles. Ela seria substituída em meia hora, ele pensou preguiçosamente. Como Halt andou para frente e para trás, pensando sobre o problema que estava em sua mente, ele tomou conhecimento de outra presença ao lado dele. Ele olhou ao redor e sorriu ao ver Will ao seu lado, envolto no manto de arqueiro cinza malhada que Halt tinha levado com ele, juntamente com o arco que ele tinha feito e uma faca de Saxe. A dupla bainha da faca item do equipamento de arqueiro Halt tinha sido incapaz de encontrar um para o menino, já que fora expulso do corpo de arqueiros. Até agora, Will não havia comentado sobre o fato.
— Qual é o problema? — O jovem perguntou.
Halt parou de andar para enfrentá-lo, sua sobrancelha arcos em uma expressão que era familiar a Will.
— Problema? — Ele repetiu. Will sorriu para ele, recusando-se a ser adiado, recusando-se a ser desviado. Ele cresceu muito no ano passado, Halt pensou, lembrando-se que essa resposta teria uma vez ter deixado o menino confuso e desconcertado.
— Ao ritmo que você anda para lá e para cá como um tigre enjaulado, isso normalmente significa que você está pensando em algum tipo de problema — disse Will.
Halt mordeu os lábios, pensativo.
— E eu suponho que você já viu muitos tigres? — Perguntou ele.
Will arregalou os olhos um pouco.
— E quando você tenta distrair-me da minha pergunta fazendo outra pergunta, assim eu sei que você está pensando sobre algum problema — acrescentou. Halt finalmente cedeu. Ele não tinha idéia de que seus hábitos se tornaram tão fácil de interpretar. Ele fez uma nota mental para mudar as coisas, então se perguntou se ele não estava ficando velho demais para isso.
— Bem, sim — respondeu ele. — Devo admitir que eu tenho algo em minha mente. Nada grave. Não deixe que preocupe você.
— O que é? — Disse seu aprendiz sem rodeios, e Halt inclinou a cabeça para os lados.
— Você vê — explicou ele — quando eu digo "não deixe que preocupe você", quero dizer, não há nenhuma necessidade real para que possamos discuti-lo.
— Eu sei disso — disse seu aprendiz. — Mas o que é afinal?
Halt respirou fundo e depois soltou em um suspiro.
— Eu me lembro que uma vez eu tinha muito mais autoridade do que eu pareço ter estes dias — disse ele a ninguém em particular. Então, percebeu que ele ainda estava esperando ansiosamente, ele cedeu.
— São estes temujai — disse ele. — Eu gostaria de saber o que estão fazendo. — Olhou através de seu acampamento para onde o Tem'uj estava sentado, devidamente amarrado. — E eu tenho a chance de encontrar uma bola de neve em um incêndio florestal do que saber do nosso amigo ali.
Will que deu de ombros.
— É realmente uma das nossas preocupações? — questionou. — Afinal, certamente podemos deixá-los e os Skandians o combatem.
Halt considerou este, arranhando o queixo com o indicador e o polegar.
— Acho que você está pensando ao longo das linhas do velho ditado "O inimigo do meu inimigo é meu amigo”? — disse ele.
Will que deu de ombros novamente.
— Eu não estava pensando exatamente com essas palavras — disse ele. — Mas isso soma-se a situação muito bem, você não acha? Se os Skandians são mantidos ocupados lutando contra esses temujai, então eles não serão capazes de nos incomodar com as suas incursões costeiras, será que não?
— Isso é verdade, até certo ponto — Halt admitiu. — Mas há outro velho ditado: "Pelo contrário, o diabo você conhece." Alguma vez você já ouviu algo assim?
— Sim. Então você está dizendo que estes temujai poderiam ser muito mais um problema que os Skandians?
— Oh sim. Se derrotar os Skandians, não há nada para impedi-los de mover-se sobre Teutlandt, Gallica, e finalmente Araluen.
— Mas eles têm de vencer primeiro os Skandians, não? — Will disse. Ele sabia, por experiência em primeira mão, que o Skandians eram ferozes, guerreiros destemidos. Ele podia vê-los formando um tampão eficaz entre o temujai invadindo outras nações ocidentais, com ambos os lados acabando severamente enfraquecida pela guerra e não representem uma ameaça no futuro próximo. Era uma perfeita posição estratégica, ele disse-se confortavelmente. As próximas palavras de Halt fez sentir-se bem menos confortável.
— Oh, eles vão derrotá-los. Não se engane sobre isso. Vai ser um selvagem, sangrenta guerra, mas o temujai vai ganhar.
Após a janta, Halt juntou o pequeno grupo. O vento tinha aumentado com o início da noite e misteriosamente assobiou entre os ramos dos pinheiros. Era uma noite clara, e a lua brilhava acima deles.
— Will e eu estávamos discutindo antes — ele lhes disse. — E eu decidi que, a nossa discussão diz respeito a todos nós, e é justo lhes dizer o que eu estava pensando.
Horácio e Evanlyn trocaram olhares perplexos. Ambos tinham pensado simplesmente que o mestre e o aprendiz estavam matando o tempo perdido. Agora, ao que parece, havia outra coisa a considerar.
— Em primeiro lugar — Halt continuou, vendo que ele tinha toda a atenção deles — meu objetivo é fazer com que você, Will, e a Pr... — Ele hesitou, parando antes que ele usasse o título de Evanlyn. Todos tinham concordado que seria mais seguro para ela continuar com o seu nome falso até que voltassem para casa. Ele se corrigiu. — Will e Evanlyn, e Horace, é claro, atravessem a fronteira para fora da Skandia. Como fugitivos vocês estão em perigo considerável se os Skandians recapturarem vocês. E, como todos sabem, o perigo é ainda maior para Evanlyn.
Os três ouvintes acenaram. Will tinha dito a Halt e Horace sobre o risco de Evanlyn se Ragnak descobrisse sua verdadeira identidade como filha do rei Duncan. O Oberjarl tinha jurado um juramento de sangue para o Vallas, o trio de deuses selvagens, que governou a religião Skandian, no qual ele prometeu a morte de qualquer parente do Rei Araluen.
— Por outro lado — Halt disse — Estou profundamente preocupado com a presença do temujai aqui na fronteira da Skandia. Eles não chegaram a este ponto oeste, em vinte anos, e a última vez que eles fizeram, eles colocaram todo o mundo ocidental em risco.
Agora, ele realmente tinha a atenção deles, ele viu. Horace e Evanlyn endireitaram-se e inclinaram-se um pouco mais perto dele. Ele viu o olhar perplexo no rosto do jovem guerreiro na fogueira.
— Certamente, Halt, você está exagerando, não? — Horace perguntou.
Will olhou para o seu amigo.
— Isso é o que eu pensei também — disse ele calmamente — mas aparentemente não.
Halt balançou a cabeça com firmeza.
— Eu desejo que eu esteja — disse ele. — Mas se o temujai está movendo-se em vigor, é uma ameaça para todos os países, Araluen incluído.
— O que aconteceu da última vez, Halt? — Foi Evanlyn que falou agora, com a voz incerta, a preocupação evidente nela. — Você estava lá? Você quis lutar com eles?
— Eu lutei com eles e, eventualmente, contra eles — afirmou categoricamente. — Havia coisas que deveria aprender com eles e fui enviado para fazê-lo.
Horace franziu a testa.
— Tais como? — Perguntou ele. — O que os Arqueiros esperam aprender com um grupo de cavaleiros selvagens? — Horace, deve ter admitido ter uma idéia um pouco inflacionada do grau de conhecimento do Corpo de Arqueiros.
Simplificando, ele pensava que sabia quase tudo o que valia a pena conhecer.
— Você quis saber como eles fizeram os seus arcos, não é? — Disse de repente. Lembrou-se de ver as curvas realizadas pelos cavaleiros e pensou em como eles eram semelhantes às suas. Halt olhou para ele e assentiu.
— Isso foi parte dela. Mas havia algo mais importante. Fui enviado para fazer comércio com eles por alguns de seus garanhões e éguas. Os cavalos de arqueiros de hoje foram originalmente criados a partir dos rebanhos temujai — explicou. — Nós encontramos seu arco recurvo interessante, mas quando você considera o quão difícil e demorado que é fazer, e que não oferece nenhuma melhora significativa no desempenho do arco. Mas os cavalos eram uma questão diferente.
— E eles ficaram felizes com a troca? — perguntou Will. Enquanto falava, ele virou-se para estudar o cavalo alguns passos atrás dele. Puxão, vendo-o virar para olhar, relinchou uma saudação macia. Agora que Halt mencionou, havia uma clara semelhança com os cavalos que tinha visto no campo temujai.
— Eles não foram! — Halt respondeu com um sincero agitar da cabeça. — Eles guardavam zelosamente seu plantel. Eu sou provavelmente ainda um ladrão de cavalos entra a nação.
— Você os roubou? — Horace perguntou, em tom levemente reprovador.
Halt escondeu um sorriso, e respondeu.
Deixei o que eu considerava um preço justo — ele lhes disse. — O temujai tinha outras idéias sobre o assunto. Eles não estavam interessados em vender a qualquer preço.
— De qualquer forma, — Will disse impaciente, que indeferiu a questão de saber se os cavalos tinham sido comprados ou roubados — o que aconteceu quando o exército invadiu?
Halt agitou a pequena pilha de brasas entre eles com a ponta de uma vara carbonizada até que uma das poucas línguas da chama cintilou nas brasas.
— Eles estavam indo mais para o sul — disse ele. — Eles invadiram a nação Ursall e os Reinos Médio sem parar. Eles eram os guerreiros finais, rápidos, incrivelmente corajosos, mas acima de tudo, altamente disciplinados. Eles lutaram como uma grande unidade, sempre, enquanto os exércitos que os enfrentavam quase sempre acabavam brigando em pequenos grupos de talvez uma dúzia de cada vez.
— Como puderam fazer isso? — Evanlyn perguntou. Ela esteve entre o exército de seu pai, tempo o suficiente para saber que o maior problema enfrentado por qualquer comandante em batalha estava hospedado em manter controle efetivo e manter a comunicação com as tropas sob seu comando. Halt olhou para ela, percebendo o interesse profissional atrás de sua pergunta.
— Eles desenvolveram um sistema de sinalização que permite que o seu comandante central direcione todas as suas tropas em manobras concertadas — disse ele. — É um sistema muito complexo, baseando-se em bandeiras coloridas de diferentes combinações. Eles podem até funcionar durante a noite — acrescentou. — Eles simplesmente substituem as bandeiras por lanternas coloridas. Francamente, não havia nenhum exército capaz de detê-los, assim eles se dirigiram em direção ao mar.
— Eles cortaram o canto nordeste do Teutlandt, em seguida, através da Gallica. Cada exército que enfrentou, eles derrotaram. Suas táticas superiores e disciplina os fizeram imbatíveis. Eles estavam a apenas três dias da costa Gallican quando finalmente pararam.
— O que os impediu? — Will perguntou. Um arrepio perceptível tinha caído ao longo dos três jovens ouvintes como Halt havia descrito o avanço inexorável do exército temujai. Na questão, o arqueiro deu uma risada curta.
— Política — disse ele. — E um prato de moluscos de água doce.
— Política? — Horace bufou de desgosto. Como um guerreiro, ele tinha um desprezo saudável para a política e os políticos.
— Isso mesmo. Foi quando Mat'lik foi o Sha'shan, ou líder supremo. Agora, entre as pessoas como o temujai, essa é uma posição altamente instável. É tomado pelo mais forte contendor e poucos Sha'shans morreram em suas camas. Embora Mat'lik o tenha feito, foi como ele saiu — ele acrescentou, antes de continuar.
— Como resultado, é prática normal para qualquer um que possa contestar a posição ser atribuídas tarefas que mantê-los longe da casa. Neste caso, o primo, o irmão, e o sobrinho de Mat'lik foram os candidatos mais prováveis, de modo que eram mantidos ocupados com o exército. Dessa forma, não só não poderiam chegar até a maldade em torno dele, mas todos podiam manter um olho em um outro também. Naturalmente, eles não confiavam totalmente uns aos outros.
— Não era perigoso dar-lhes o controle sobre o exército? — Will perguntou. Halt assentiu, significava que a pergunta era uma boa.
— Normalmente, poderia ser. Mas a estrutura de comando foi projetada de modo que nenhum deles tinha o controle absoluto. O irmão de Mat'lik, Twu'lik era o comandante estratégico. Mas seu sobrinho era o tesoureiro e seu primo era o intendente. Todos eles tinham reivindicações muito iguais com a lealdade dos soldados. Dessa forma, eles poderiam manter um ao outro na linha.
— Então onde é que as amêijoas entram? — Horace perguntou. A comida era sempre uma questão de interesse para ele.
Halt recostou-se contra um tronco.
— Mat'lik adorava moluscos de água doce — ele lhes disse. — Tanto que ele tinha feito sua mulher lhe preparar um prato grande quando eles estavam fora de época. Parece que alguns deles estavam contaminados e ele foi tomado por um ataque terrível, enquanto comia. Ele gritou, apertou sua garganta, caiu e entrou em coma profundo. Era óbvio que ele estava muito perto da morte.
— Naturalmente, quando a notícia chegou ao exército, os três principais candidatos para o cargo não poderiam voltar para o tribunal Sha'shan rápido o suficiente. A sucessão era decidida por uma eleição entre os Shans sênior e sabiam que se eles não estivessem lá para distribuir as propinas e compra de votos, alguém poderia receber o prêmio.
— Então, eles simplesmente abandonaram a invasão? — Will perguntou. — Depois que eles tinham chegado tão longe?
Halt fez um gesto de desprezo.
— Eles eram um bando pragmático — disse ele. — Gallica não estava indo embora. Eles abriram caminho por lá uma vez, eles podem sempre fazê-lo novamente.
— Então o hemisfério ocidental foi salvo por um prato de amêijoas ruim? — Evanlyn disse.
O grisalho arqueiro sorriu sombriamente.
— É surpreendente como muitas vezes a história é decidido por algo tão trivial como marisco ruim — disse ela.
— Onde você estava quando tudo isso estava acontecendo, Halt? — Will perguntou ao seu mestre.
Halt sorriu novamente na memória.
— Acho que é um daqueles momentos que nunca esquecerei — disse ele. — Eu estava cavalgando para a costa, com um pequeno rebanho de... — ele hesitou, olhando de soslaio para Horácio. — ... bastante cavalos comprados, e uma patrulha de combate temujai estava bem atrás de mim. Eles ganhavam de mim. De repente, uma manhã, eles me assistiram galopar. Em seguida, eles simplesmente se viraram para trás e começaram a trotar até à sua pátria.
Houve um breve silêncio assim que ele terminou o conto. Halt poderia ter apostado que seria Will, que viria com a próxima pergunta, e ele não ficou desapontado.
— Assim quem se tornou o Sha'shan? — Perguntou ele. — O irmão, o sobrinho ou primo?
— Nenhum deles — respondeu Halt. — A eleição foi para um candidato azarão que teve projetos sobre os países a leste da terra indígena temujai. Os outros três foram executados por abandonar a sua missão no Ocidente. — Ele despertou o fogo novamente, voltando aos dias quando os cavaleiros que o estavam perseguindo subitamente desistiram da perseguição e deixou-o fugir.
— E agora eles estão de volta — disse ele, pensativo.
Eles levantaram acampamento cedo na manhã seguinte e começaram a descer em direção ao caminho que iria levá-los através da fronteira, mais uma vez. Horace tinha oferecido a Evanlyn o cavalo de batalha preto que havia pertencido a Deparnieux. Quando ela tinha protestado que este era um animal muito, ele sorriu timidamente.
— Talvez. Mas eu estou acostumado a Kicker. Ele conhece os meus caminhos. — E isso foi o fim da questão. O prisioneiro montou um dos cavalos que haviam tomado no acampamento temujai. O segundo foi levando as embalagens e materiais que, até agora, tinha sido levado por Puxão. Naturalmente, o cavalo de arqueiro era agora o orgulho de seu mestre há muito tempo desaparecido.
Quando chegaram mais perto de uma linha de árvores no fundo da colina, Puxão mostrou a sua felicidade, mais uma vez, jogando a cabeça e relinchando. Halt sorriu.
— Estou feliz que ele está feliz — disse ele. — Mas eu espero que ele não esteja pensando em manter isso todo o caminho.
Will sorriu em resposta e inclinou-se no pescoço do cavalo pequeno.
— Ele vai se estabelecer em breve — disse ele. Ao toque, Puxão dançou alguns passos e atirou a cabeça novamente. Surpreendentemente, Abelard copiou suas ações.
— Agora ele tem o meu cavalo fazendo isso também — disse Halt, mais do que um pouco surpreso. Ele acalmou Abelard com uma palavra quieta, então se virou para Will novamente. — Você parece ser popular entre os cavalos do mundo, de qualquer maneira. Eu pensei... — Sua voz foi embora e ele não terminou a frase. Will viu o seu corpo enrijecer em atenção e o arqueiro se torcer na sela, olhando para as árvores, as quais estavam agora perto dos dois lados.
— Merda! — Ele murmurou baixinho. Ele virou-se para Horace e Evanlyn, andarem para trás e levarem o cavalo do prisioneiro, mas antes que ele pudesse falar, houve uma briga de movimento nas árvores e um grupo de guerreiros armados saíram a público por trás deles, bloqueando sua retirada.
Halt virou rapidamente para frente mais uma vez, como um segundo grupo surgiu das árvores, abanando para os lados e se deslocando para cortá-los em todas as direções.
— Skandians — exclamou Will, como ele reconheceu os capacetes com chifres e escudos de madeira redondo. Os ombros de Halt caíram em um gesto de desgosto consigo mesmo.
— Sim. Os cavalos têm tentado alertar-nos, só eu não percebi isso.
Uma figura corpulenta, usando um capacete enorme com chifres e com uma acha de lâmina dupla jogada com negligência, por cima do ombro direito, adiantou.
Atrás deles, Halt ouviu o sussurro sinistro de aço em couro quando Horace desembainhou a espada. Sem se virar, ele disse:
— Ponha de volta, Horace. Acho que há muitos deles, até mesmo para você.
Como Horace tinha se movimentado, o machado enorme subiu de imediato para a posição pronta. Agora, que ele falou, Will reconheceu a voz familiar.
— Eu acho que nós queremos que vocês desçam dos cavalos, se você não se importa.
Incapaz de se conter, Will deixou escapar:
— Erak! — E o homem deu um passo mais perto, olhando a segunda figura envolta em frente dele. O capuz tinha obscurecido rosto e o Jarl não o reconheceu. Agora, ele podia distinguir as características do rapaz e ele franziu a testa quando ele percebeu que havia algo de familiar em outro dos cavaleiros.
Ele não tinha reconhecido Evanlyn, envolta em uma capa contra o frio. Agora, no entanto, tinha certeza era ela. Ele amaldiçoou silenciosamente sob sua respiração, depois se recuperou.
— Desçam — ele ordenou. — Todos vocês.
Olhou o círculo de homens de volta com os quatro cavaleiros desmontados. O quinto, ele notou com algum interesse, foi amarrado ao seu cavalo e não poderia cumprir. Ele apontou para dois de seus homens para obter o prisioneiro para baixo da sela.
Halt jogou para trás o capuz sobre a sua capa e Erak estudou a face sombria e barbuda.
Agora que ele desmontou, o homem era surpreendentemente pequeno, particularmente contra a própria forma de Erak, corpulento. Will foi jogar para trás seu próprio capuz, mas Erak o deteve com um gesto de mão.
— Deixe-o por um momento — disse ele em voz baixa. Ele não sabia quantos de seus homens poderiam reconhecer o ex-escravo que tinha escapado de Hallasholm meses atrás, mas por agora, alguma coisa lhe disse que quantos menos fizessem a ligação, melhor seria. Ele olhou advertidamente para Evanlyn.
— Você também — ele ordenou, e ela inclinou a cabeça em concordância. Erak voltou a olhar para trás para Halt.
— Eu já o vi antes — disse ele. Halt assentiu.
— Se você está dizendo Jarl Erak, nós nos vimos brevemente na praia pelos pântanos, disse ele, e o reconhecimento ocorreu nos olhos do Jarl. Não era o rosto do homem que tinha atingido um acorde em sua memória, e sim, a maneira que prendeu a si mesmo e o arco maciço que ele carregava ainda. Halt continuou: — Não era bem uma distância entre nós, se bem me lembro.
Erak resmungou.
— Eu me lembro que estávamos bem na linha de tiro doe arco — disse ele. Halt assentiu com a cabeça, reconhecendo o ponto. O rosto do Skandian escureceu com raiva quando ele olhou mais uma vez o arco e a aljava de setas penduradas no cinto de Halt.
— E agora você tem até o mesmo negócio sujo — disse ele. — Apesar o que esses dois têm a ver com isso, está além de mim. — Acrescentou em tom perplexo, empurrando um polegar a Will e Evanlyn.
Agora foi a vez de Halt olhar perplexo.
— O negócio sujo?
Erak deu um ronco enojado.
— Eu vi você com esse arco, lembra? Eu sei o que você pode fazer. E acabei de ver mais da sua obra na Passagem da Serpente.
Entendimento alcançou Halt. Lembrou-se da visão dos corpos abandonado no pequeno forte na fronteira. Esse deve ser o negocio sujo que este Skandian estava se referindo.
Desde que a guarnição havia sido morta pelos arqueiros e Erak sabia das habilidades de Halt com um arco, ele havia saltado para uma rápida, e não muito lógica conclusão.
— Não é o nosso trabalho — disse ele, sacudindo a cabeça. Erak aproximou-se dele.
— Não? Eu os vi lá. Todos tiro. E nós seguimos suas faixas de lá.
— Então, você pode ter — disse calmamente Halt — mas se você é algum tipo de rastreador, você saberia que havia apenas dois de nós. Encontramos a guarnição na passagem do morto. E nós seguimos as faixas de um grande partido que os mataram.
Erak hesitou. Ele não era um perseguidor. Ele era um capitão de mar. Mas um dos homens que tinham ido com ele era um caçador ocasional. Enquanto ele não tem as habilidades estranhas que um arqueiro havia desenvolvido para a interpretação de trilhas, Erak agora se lembrou que o seu homem tinha dito algo sobre a possibilidade de haver dois grupos.
— Então — disse perplexo com o rumo dos acontecimentos —se você não fez isso, quem foi?
Halt apontou um polegar ao prisioneiro.
— Ele e seus amigos — disse ele. — Ele estava em uma festa temujai ontem. Houve um grande grupo que atacou a guarnição da fronteira, em seguida, seis deles vieram para a Skandia.
— Temujai, você diz? — Erak perguntou-lhe. Ele sabia do povo guerreiro do leste, é claro, mas tinha sido há décadas que eles tinham vindo dessa forma em todos os números.
— Matamos um par deles — Halt disse a ele. — Dois escaparam e nós capturamos um presente.
Erak pisou para onde o preso estava as mãos amarradas na frente dele. Ele estudou o homem apresentado, face marrom de pele e as peles que o homem usava.
— Ele é um temujai, tudo bem... Mas o que eles estão fazendo aqui? — Perguntou, quase para si mesmo.
— Essa é a pergunta que eu estava me perguntando — Halt respondeu.
Erak olhou para ele com um lampejo de raiva. Ele odiava estar confuso. Ele preferia um simples problema simples, do tipo que ele poderia resolver com o seu Broadax.
— Para que a bagagem — ele retrucou — O que você está fazendo aqui?
Halt o encarou uniformemente.
— Eu vim pelo menino — disse ele calmamente.
Erak olhou para ele, então para a figura menor ao lado dele, o rosto ainda largamente ocultado pelo capuz cinza manchado. Sua raiva desvaneceu-se tão rapidamente como se tivesse queimado.
— Sim — disse ele, num tom mais calmo — Ele disse que você viria.
Como a maioria Skandians, Erak valorizava lealdade e coragem. Outro pensamento lhe atingiu e ele não perguntou por algum tempo.
— Na praia — disse ele. — Como você sabia onde encontrar-nos?
— Você deixou um de seus homens para trás — disse Halt — Ele me disse.
A descrença era evidente no rosto de Erak.
— Nordal? Ele teria cuspido em seu olho antes que lhe dissesse alguma coisa.
— Eu acho que ele pensou que me devia — disse calmamente Halt. — Ele estava morrendo e tinha perdido a sua espada, então eu dei de volta para ele.
Erak foi falar, então hesitou. Skandians acreditava que, se um homem morresse sem uma arma na mão, sua alma estaria perdida para sempre. Parecia que o arqueiro sabia sobre a crença.
— Então, eu estou em dívida — disse ele finalmente. Então, depois de uma pausa — Eu não tenho certeza de como isso afeta a situação atual, no entanto. — Ele esfregava sua barba, pensativo, olhando para o guerreiro temujai pouco feroz, para todo o mundo como um falcão amarrado. — Eu ainda gostaria de saber o que este rapaz e seu bando estão fazendo.
— Isso é o que eu tinha em mente — Halt disse a ele. — Eu estava planejando deixar os meus companheiros aqui na fronteira em Teutlandt. Então eu pensei que eu poderia voltar com o nosso amigo aqui e encontrar o resto do temujai e ver quantos deles existem.
Erak bufou.
— Você acha que ele vai dizer? — Perguntou ele. — Eu não sei muito sobre o temujai, mas eu sei quanto a isso: você pode torturá-los até a morte e nunca vão te dizer qualquer coisa que eles não querem.
— Sim. Ouvi dizer isso também — disse Halt. — Mas pode haver um caminho.
— Ah, pode? — O Jarl perguntou com desdém. — E o que esse caminho poderia ser?
Halt olhou para o guerreiro a cavalo. Olhava a sua discussão com algum interesse. Halt sabia que ele falava a língua de negociação, mas não tinha idéia de quanto da língua comum pudesse entender. Como membro de um grupo de reconhecimento, era provável que ele tivesse algum domínio da língua. Ele pegou o braço do Jarl e levou-o a poucos passos de distância, fora do alcance da voz.
— Eu antes pensava que eu poderia deixá-lo escapar — disse ele suavemente.
Os dois homens estiveram no emaranhado de cabos deitado na neve. Erak mordeu os lábios, depois voltou a parar.
— Bem, até agora, você está certo — disse ele. — O mendigo escapou logo que Olak fingiu adormecer no dever de guarda. — Olhou para os lados para o Skandian grande que tinha sido designado para o turno passado. — Você fingiu adormecer, não é? — Acrescentou, com um toque de sarcasmo.
O guerreiro sorriu com facilidade para ele.
— Eu estava maravilhoso, Jarl Erak — disse ele. — Você nunca viu uma representação fiel de um homem dormindo. Eu deveria ter sido um jogador de viajar.
Erak grunhiu de ceticismo.
— E agora? — Perguntou ele para Halt.
— Agora, eu vou segui-lo enquanto ele me leva ao corpo principal do temujai — o arqueiro disse. — Como vimos na noite passada.
— Estive pensando sobre isso — respondeu Erak. — E eu decidi que vamos fazer uma mudança. Eu vou com você.
Halt estava andando em direção ao local onde os cavalos foram amarrados. Ele parou e virou-se para enfrentar o líder Skandian, um olhar determinado em seu rosto.
— Nós discutimos isso na noite passada. Nós concordamos que seria mais rápido e menos perceptível se eu fosse sozinho.
— Não. Nós não concordamos que isso. Está decidido que... — Erak se corrigiu. — E mesmo que você esteja certo, você só vai ter que se contentar por ser mais lento e mais ruidoso, e dar subsídios para o fato.
Halt desdenhou no ar para iniciar um protesto, mas Erak o antecipou.
— Seja razoável — disse ele. — Concordamos que as circunstâncias fazem-nos aliados temporários
— É por isso que você vai manter meus três companheiros aqui como reféns — Halt falou com sarcasmo, e Erak simplesmente deu de ombros.
— Claro. Eles são a minha garantia de que você vai voltar. Mas ponha-se no meu lugar. Se houver um exército temujai lá fora em algum lugar, eu não quero ter um relatório de segunda para o Oberjarl. Eu quero vê-lo por mim mesmo. Então eu vou com você. Eu posso precisar que você acompanhe o prisioneiro, mas posso fazer o meu próprio olhar.
Ele fez uma pausa, esperando para ver a reação de Halt. O arqueiro não disse nada, então Erak continuou:
— Afinal, os reféns podem assegurar que você volta. Mas eles não são nenhuma garantia de que você vai me dar um relatório preciso, ou mesmo um honesto.
Halt parecia pesar a declaração por alguns segundos. Então ele viu uma possível vantagem.
— Tudo bem — ele concordou. — Mas se você está vindo comigo, não há necessidade de manter os meus companheiros como reféns para garantir meu retorno. Deixe-os ir para o outro lado da fronteira, enquanto você e eu vamos encontrar o temujai.
Erak lhe sorriu e balançou a cabeça lentamente.
— Eu não penso assim — respondeu ele. — Eu gostaria de pensar que posso confiar em você, mas não há realmente nenhuma razão para que eu a não é? Se você sabe que os meus homens estão segurando seus amigos, poderia torná-lo menos provável acertar uma dessas facas em mim no minuto que nós estivermos fora da vista sobre o monte lá.
Halt estendeu as mãos em um gesto inocente.
— Você acha mesmo que um baixinho como eu poderia tirar o melhor de um grande lobo do mar, pesadão como você?
Erak sorriu tristemente para ele.
— Nem por um momento — disse ele. — Mas desta maneira eu vou poder dormir noites e virar as costas para você, sem me preocupar.
— Muito bem — Halt concordou. — Agora, podemos começar indo embora enquanto as faixas ainda estão frescas, ou prefere argumentar até que a neve derreta?
Erak encolheu os ombros.
— Você é o único que está nos fazendo discutir — disse ele.
— Vamos.
Halt olhou por cima do ombro para Abelard definir seus cascos de forma mais segura contra a encosta íngreme. Atrás dele, Erak balançava inseguro sobre o dorso do cavalo temujai. O prisioneiro tinha feito a sua fuga a pé, e Halt havia decidido que o pequeno pônei seria melhor para Erak montar do que qualquer um cavalo de batalha de Horace. Os guerreiros Skandian, como era seu costume, estavam viajando a pé.
— Eu pensei que você disse que podia andar — ele desafiou o Jarl que segurou nervosamente em sua montaria, segurando-se na sela mais pela força bruta do que qualquer sentido inerente de equilíbrio.
— Eu posso — respondeu Erak rangendo os dentes. — Eu não disse que eu podia andar bem.
Eles estavam seguindo o rastro do guerreiro temujai o dia todo. Depois de fazer o seu caminho através da passagem da Serpente, sua fuga tinha colocado de volta em um arco da fronteira Teutlandt e estavam cerca de trinta quilômetros em território Skandian mais uma vez. Halt balançou a cabeça, em seguida, voltou para perscrutar o chão na frente deles, procurando os rastros fracos que o Tem'uj tinha deixado para trás.
— Ele é muito bom — disse ele calmamente.
— Quem é esse? — Erak perguntou, a última palavra a ser rasgada por ele como seu cavalo cambaleou e caiu a poucos passos. Halt indicou o caminho que estava seguindo. O Skandian olhou, mas não podia ver uma coisa.
— O Tem'uj — Halt continuou. — Ele está cobrindo suas faixas. Eu não acho que qualquer homem teria sido capaz de segui-lo.
Esse foi o cerne da questão. Quando Halt e Erak concordaram em unir forças na noite anterior, tinha sido o resultado de sua necessidade mútua. Inclinação natural de Halt havia sido de ver o que o temujai estava fazendo. Erak tinha a mesma necessidade.
Mas ele também tinha necessidade das habilidades de monitoramento de Halt. Ele era muito consciente das limitações de seus próprios homens.
— Bem — disse ele aos trancos — é por isso que você está aqui, não é?
— Sim — Halt sorriu sombriamente. — A questão é, porque você está?
Erak sabiamente não disse nada. Ele concentrou seus esforços para ficar montado no cavalo conforme ele se esforçava na ladeira íngreme, sob o peso desacostumado do capitão de mar volumoso Skandian.
Eles vieram para o topo com uma pressa súbita, os seus cavalos lutando nos últimos metros, através da neve molhada. Encontraram-se olhando para baixo em um vale profundo, amplo, e, além disso, outra cadeia de montanhas.
Abaixo deles na vasta planície, uma massa de fogueiras enviando colunas de fumaça em espiral no ar final da tarde, espalhando-se tanto quanto os olhos podiam ver, milhares deles, cercado por milhares de feltro em forma de cúpula tendas. O cheiro da fumaça atingiu-lhes. Não é inebriante e perfumado, como o pinho de fumo, mas com cheiro acre e azedo. Erak torceu o nariz em desgosto.
— O que eles estão queimando? — Perguntou ele.
— Esterco de cavalo seco — Halt respondeu brevemente. — Eles exercem a sua fonte de combustível com eles. Olha.
Ele apontou para onde a manada de cavalos temujai podia ser visto, uma gigantesca massa amorfa que parecia fluir através do fundo do vale com os cavalos pastando procurando algo fresco.
— Caramba! — Erak exclamou, espantado com os números. — Quantos são?
— Dez mil, talvez doze — Halt respondeu brevemente. O Skandian deixou escapar um assobio baixo.
— Você tem certeza? Como você pode dizer? — Essa não era uma questão sensível, mas Erak foi esmagado pelo tamanho do rebanho de cavalos e ele fez a pergunta para dizer alguma coisa do que por qualquer outra razão. Halt olhou para ele secamente.
— É um velho truque de cavalaria — disse ele. — Você conta as pernas e dividir por quatro.
Erak devolveu o olhar.
— Eu estava só puxar conversa, arqueiro— disse ele. Halt parecia singularmente impressionado com a declaração.
— Então, não — respondeu ele em breve. Houve um silêncio em que estudou o campo inimigo.
— Você está dizendo que há dez a doze mil guerreiros lá embaixo? — Erak perguntou finalmente. O número era assustador. Na melhor das hipóteses, a Skandia poderia colocar uma força de mil e quinhentos guerreiros em campo para enfrentá-los. Talvez dois mil, no exterior. Significava que as probabilidades de seis ou sete para um. Mas Halt foi sacudindo a cabeça.
— Parece mais cinco a seis mil — estimou. — Cada guerreiro terá pelo menos dois cavalos. Há provavelmente outras quatro a cinco mil pessoas no trem de bagagem e colunas de abastecimento, mas eles não são combatentes.
Isso foi um pouco melhor, Erak pensou. As probabilidades tinham reduzido para cerca de três ou quatro para um. Um pouco melhor, pensou ele. Não muito.
— Espere aqui — Halt disse — Eu vou descer para olhar mais de perto.
— Para o inferno com o espera aqui — Erak disse a ele. — Eu vou com você.
Halt olhou para o Skandian grande, sabendo que seria inútil argumentar. Ainda assim, ele fez à tentativa.
— Suponho que isso não fará diferença se eu apontar que vou ter que ser o mais discreto possível?
Erak balançou a cabeça.
— Nem um pouco. Eu não estou levando de volta um relatório de para o Oberjarl. Eu quero um olhar mais próximo dessas pessoas, ter uma idéia do que estamos enfrentando.
— Eu posso dizer contra o que você está lutando — Halt disse sombriamente.
— Eu vou ver por mim mesmo — disse o Jarl teimosamente, e Halt deu de ombros, finalmente cedendo
— Tudo bem. Mas mova-se com cuidado, e tente não fazer muito barulho. Os temujai não são idiotas, você sabe. Eles têm piquetes nas árvores ao redor do campo, bem como sentinelas no perímetro.
— Bem, você acabou de me dizer onde eles estão e eu vou evitá-los — Erak respondeu, com um pouco calor. — Eu posso ser discreto quando eu preciso.
— Assim como você pode montar, suponho — Halt murmurou para si mesmo. O Skandian ignorou o comentário, dando continuidade ao brilho obstinadamente dele. Halt encolheu os ombros. — Bem, vamos logo com isso.
Eles amarram os cavalos em uma árvore, em seguida, começaram a trabalhar seu caminho através das árvores para o vale abaixo deles. Eles tinham ido a poucas centenas de metros, quando Halt se voltou para o Skandian.
— Existem ursos nestas montanhas? — Perguntou ele.
Seu companheiro assentiu.
— Claro. Mas é um pouco no início do ano para que eles se movam ao nosso redor. Por quê?
Halt soltou um longo suspiro.
— Só uma vaga esperança, realmente. Há uma possibilidade que, quando o temujai ouvir você bater em torno das árvores, eles possam pensar que você é um urso.
Erak sorriu, apenas com a boca. Seus olhos eram tão frios como a neve.
— Você é uma pessoa muito divertida — disse ele a Halt. — Eu gostaria de rachar seu cérebro com meu machado um dia.
— Se você conseguisse fazê-lo silenciosamente — disse Halt. Então ele virou-se e continuou a liderar o caminho para baixo do morro, um fantasma entre as árvores, deslizamento de um pedaço de sombra para o próximo, mal perturbando uma sucursal ou um galho quando ele passou.
Erak tentou, sem sucesso, coincidir com o movimento silencioso do arqueiro. Com cada um de seus pés deslizando na neve, cada chicote de um ramo que passava, os dentes de Halt trincaram. Ele tinha apenas determinado que ele teria que deixar o Skandian para trás uma vez que tem uma curta distância do acampamento temujai quando ele vislumbrou algo fora de sua deixada nas árvores. Rapidamente, ele levantou a mão para Erak parar. O Skandian grande, não compreendeu a natureza imperativa do gesto, mantida em movimento até que estava ao lado Halt.
— O que é isso? — Perguntou ele. Ele manteve a voz baixa, mas para Halt parecia um berro que ecoou entre as árvores.
Ele colocou sua própria boca próxima ao ouvido do Skandian e respirava, com uma voz quase inaudível;
— Listening Post. Nas árvores.
Era uma técnica temujai familiar: sempre que uma força acampava durante a noite, jogavam uma tela escondida, dois homens ficavam de guarda para dar o alerta precoce de qualquer tentativa de ataque surpresa. Ele e Erak acabaram de passar por tal posto, de modo que agora estava à sua esquerda e um pouco atrás deles. Por um momento, Halt brincou com a idéia de continuar a descer o morro, então ele descartou. A tela é geralmente implantada em profundidade. Só porque eles tinham passado um posto não quer dizer que não havia outros antes deles. Ele decidiu que poderia ser melhor cortar suas perdas e extrair-se o mais silenciosamente possível, confiando a escuridão para escondê-los. Isso significaria abandonar a idéia de olhar mais atento na força temujai, mas não poderia ser ajudado. Além disso, juntamente com Erak, era improvável que iria ficar muito mais perto sem ser visto, ou, mais provavelmente, de ouvido. Ele inclinou-se para o outro e falou baixinho, mais uma vez.
— Siga-me. Vá devagar. E preste atenção onde você põe os seus pés.
A neve debaixo das árvores foi coberto de galhos mortos e pinhas. Várias vezes, como eles fizeram o seu caminho em declive, ele estremeceu quando Erak tinha pisado, forte, em galhos caídos, quebrando-os com rachaduras.
Silenciosamente, Halt voava entre as árvores, movendo-se como um espectro, a deslizar para a cobertura depois que ele tinha ido algumas cinqüenta passos. Ele olhou para trás e acenou para o Skandian, assistindo com um momento de apreensão de como o grande homem movido, balançando sem jeito como ele colocou seus pés com um cuidado exagerado. Finalmente, incapaz de vê-lo por mais tempo, Halt olhou ansiosamente para a esquerda, para ver se havia algum sinal de que os homens no posto de escuta tinham visto ou ouvido falar deles.
E ouviu um estalo alto, seguido por uma praga abafada, a partir da colina abaixo dele. Erak pisou em, um ramo podre partido ao meio sobre a neve em frente a ele.
— Calma — murmurou Halt a si mesmo, na esperança desesperada de que o grande homem teria o sentido de permanecer imóvel. Em vez disso, Erak feito o erro fundamental que guerreiros treinados quase sempre faziam. Ele correu, na esperança de que a velocidade pudesse ajudá-lo, e que o movimento súbito lhe desse uma distância do temujai no posto de escuta.
Soou uma mensagem por cima e um vôo de flechas, se chocou com a árvore atrás da qual o Skandian tinha cobertura. Halt olhou ao redor de sua árvore. Ele podia ver duas formas na escuridão. Um deles foi se afastando, soando uma buzina. O outro estava pronto, uma flecha na corda do seu arco, olhos fixos no lugar que Erak estava se escondendo.
Esperando o Skandian se mover. Esperando para deixar o eixo voar mortalmente para ele.
De alguma forma, Halt tinha que dar uma chance de Erak escapar. Ele chamou baixinho:
— Eu vou sair e distraí-lo. Assim que eu fizer, você vai para a próxima árvore.
O Skandian assentiu. Agachou-se um pouco, se preparando para fazer uma corrida para ele. Halt chamou novamente.
— Só para a próxima árvore. Não mais — disse ele. — Isso é tudo que você vai ter de tempo antes que ele se volte em você. Acredite em mim.
Novamente, o Skandian assentiu. Ele tinha visto a velocidade e a precisão com que o sentinela temujai começou o primeiro tiro de distância. Ele questionou como ele iria ficar mais longe do que a árvore próxima. A manobra de distração do sentinela só funciona uma vez. Ele esperava que o arqueiro tivesse outra coisa em mente.
Desaparecendo agora, ele podia ouvir as notas da buzina soar o alarme quanto o outro sentinela correu para baixo, pedindo reforços. Seja o que Halt for fazer, pensou, é melhor fazê-lo em breve.
Erak viu a forma difusa do arqueiro quando ele entrou na clara atrás da árvore. Erak esperou um batimento cardíaco, depois correu, as pernas bombeando na neve, por último um mergulho de corpo inteiro atrás do grosso tronco de pinheiro assim que uma flecha assobiou por, pouco mais de sua cabeça. Seu coração era de corrida, apesar de ter abrangido mais de dez metros em sua corrida até a colina. Ele olhou em volta para Halt e viu o arqueiro, de volta a cerca de cinco metros mais longe. Ele tinha o seu próprio arco pronto agora, uma flecha pronta. Seu rosto estava amarrado em uma carranca de concentração. Sentiu os olhos do Skandian sobre ele e chamou através do espaço de intervenção.
— Dê uma olhada. Cuidadosamente, não lhe dê o suficiente de um alvo para atirar. Veja se ele está na mesma posição.
Erak balançou a cabeça e um olho afiado ao redor do fuste da árvore. O guerreiro temujai ainda estava de pé, onde tinha sido, o seu arco pronto. As questões em pé, ele segurou a mão superior, estando pronto para atirar quando um dos dois se mover. Halt, por outro lado, teria de passar para o claro, a visão do homem, objetivo e, em seguida atirar. Até o momento ele havia realizado as duas primeiras ações, ele estaria morto.
— Ele não mudou — Erak falou para o arqueiro.
— Diga-me se ele mudar — Halt falou baixinho no retorno. Deitado de barriga para baixo na neve, com apenas uma fração do rosto salientes ao redor da árvore, Erak assentiu.
Atrás de sua árvore, Halt encostou-se a casca áspera e fechou os olhos, respirou profundamente. Este teria que ser um tiro instintivo. Imaginou novamente a figura escura do Tem'uj, recortadas contra o fundo mais claro da neve. Lembrou-se da posição, fixando-a em seu cérebro, deixando sua mente assumir o controle de suas mãos, dispostas a mira e solte para tornar-se uma seqüência instintiva. Ele forçou sua respiração a se estabelecer em um ambiente calmo, o ritmo lento, sem pressa. O segredo da velocidade não era a pressa, ele disse a si mesmo. Em sua mente, ele observava o vôo da flecha como ele iria atirar. Ele imaginou que uma e outra vez até que parecia ser uma parte dele, uma extensão natural do seu próprio ser.
Então, em um estado quase de transe, ele se mudou.
Suavemente. Ritmicamente. Pisando fora para o claro, girando em um movimento fluido de modo que seu ombro esquerdo estava na direção do alvo, a mão direita puxou para trás a corda, mão esquerda empurrando o arco afastado até que ele estava pronto. Com o objetivo de atirar em memória. Nem mesmo viu a figura escura nas árvores até que a flecha já estava solta, já a divisão do ar no seu caminho ao alvo.
E, quando ele finalmente viu o arqueiro na sua visão consciente, sabendo que o tiro foi bom.
O eixo pesado foi para casa. O Tem'uj caiu de costas na neve, o seu próprio tiro de meio segundo mais tarde, foi inofensivo para os topos dos pinheiros.
Erak ficou de pé, a respeito da pequena, figura-cinza camuflada com algo próximo a admiração.
Ele percebeu que já havia uma segunda flecha na seqüência do arco. Ele ainda não tinha visto o arqueiro fazer isso.
— Pelos deuses — ele murmurou, soltando uma mão pesada no ombro do pequeno homem. — Eu estou contente você está do meu lado.
Halt sacudiu a cabeça brevemente, reorientando a sua atenção. Ele olhou com raiva ao Skandian grande.
— Eu disse que você prestasse atenção onde você põe os seus pés — disse ele acusadoramente. Erak encolheu os ombros.
— Eu fiz — respondeu ele tristemente. — Mas enquanto eu estava ocupado vendo o chão, eu bati o ramo com a minha cabeça. Quebrou-a em dois.
Halt ergueu as sobrancelhas. — Eu suponho que você não está falando sobre sua cabeça — ele murmurou. Erak franziu a sugestão.
— Claro que não — respondeu ele.
— Mais é uma pena — Halt disse-lhe, em seguida, fez um gesto até a colina. — Agora vamos sair daqui.
Quando eles chegaram ao monte, Halt parou para olhar para trás. Erak parou ao lado dele, mas ele agarrou o braço do homem maior e o empurrou em direção à cerca onde os dois cavalos estavam amarrados.
— Continue! — Gritou.
No vale abaixo deles, podia ouvir buzinas de alarme sonoro e, fraca, o som dos gritos.
Na encosta da colina abaixo, ele podia ver o movimento entre as árvores como as temujai que tinha sido escondida em postos de escuta em torno da encosta já quebraram s e dirigiam para cima em busca dos dois intrusos.
— Ninho de vespas — murmurou para si mesmo. Ele estima que deve haver pelo menos meia dúzia de cavaleiros no morro abaixo dele, a posição para cima. A maior parte era, obviamente, formando no próprio campo, tendo em vista a posição em torno da base do morro e pegar ele e Erak entre duas forças perseguindo.
Sozinho, e montado em Abelard, ele estava confiante de que ele pudesse fugir-los facilmente. Mas sobrecarregados pelo Skandian, ele não estava tão certo. Ele tinha visto a habilidade do homem como um cavaleiro, que era praticamente inexistente. Erak parecia permanecer na sela por força de uma enorme quantidade de força de vontade e de resto pouco mais. Halt sabia que ele teria de chegar a algum tipo de tática de adiar, para retardar a busca para baixo e dar-lhe tempo de Erak voltar para a força maior de Skandian.
Estranhamente, apesar de terem sido inimigos nominais até agora, o pensamento de abandonar o Skandian para os cavaleiros perseguidores temujai nunca lhe ocorreu.
Ele olhou para trás para onde tinham amarrado o cavalo de Erak, Abelard, é claro, não precisava amarrar. Ele viu com alguma satisfação, que o capitão conseguiu saltar para a sela e estava sentado desajeitadamente montado. Halt acenou uma mão agora em um gesto inequívoco para ele.
— Vamos! — Gritou. — Vai! Vai! Vai!
Erak não precisou de nenhum segundo a mais. Ele virou o cavalo para enfrentar descidas, balançando perigosamente fora de um lado, como ele fez para conseguir manter em seu lugar apenas por pegar na crina e agarrar com as pernas poderosas em torno do cavalo. Então, metade dentro e metade fora da sela, ele levou o cavalo a descer a encosta, derrapando e deslizando na neve macia molhada, desviando perigosamente entre as árvores. Em um estágio, Erak esqueceu de que o cavalo se conduzia para os ramos de um enorme pinheiro carregado de neve. Houve uma explosão de neve e tanto cavalo e cavaleiro surgiu revestido em pó branco e grosso.
Halt balançava suavemente na sela de Abelard e o cavalo pouco fiado ordenadamente. Halt sentou facilmente quando Abelard deslizou, marcou, derrapou e recuperou o equilíbrio, a ganhar sobre o outro cavalo e cavaleiro em cada passo.
Ele vai ter a sorte se sobreviver mais de cinqüenta metros, Halt pensou como Erak montava, meio fora de controle, desviou e derrapou e caiu entre as árvores. Parecia apenas uma questão de tempo antes que o cavalo e o cavaleiro colidissem com um dos grandes troncos de pinheiro.
Ele pediu Abelard a um maior esforço e o cavalo respondeu imediatamente. Ele empatou com o cavalo e cavaleiro mergulhando para parar, inclinando-se para um lado, foi capaz de agarrar as rédeas à direita. Erak há muito havia abandonado e foi agarrado a vida no arco de sela.
Agora, pelo menos, Halt poderiam exercer algum controle sobre o pequeno mergulho de cabeça do outro cavalo. Abelard, de pé firme e ágil, levou-os através das árvores e Halt deixou a escolha para ele inteiramente. O chumbo rédea empurrou e puxou seu braço, mas ele se agarrou a ela desesperadamente, forçando o outro cavalo a seguir as faixas de Abelard. Abelard, como tinha sido treinado para fazer, escolheu o mais direto e, ao mesmo tempo, o caminho mais claro abaixo da montanha. Eram dois terços da maneira para baixo agora e Halt estava começando a sentir-se mais otimistas sobre suas chances de escapar, quando ouviu gritos e o som dos cornos malditos por trás deles. Ele olhou rapidamente para trás, mas as árvores densamente crescentes obscureceram sua visão. No entanto, ele sabia que a súbita explosão de som anunciava o aparecimento da prossecução temujai no topo da montanha.
E ele sabia que era só uma questão de tempo antes que a revisão o alcançasse, assim como ele havia alcançado o Skandian volumoso sobre o cavalo pequeno.
Um ramo fino batido em seu rosto, trazendo lágrimas aos olhos e punindo-o por tirar sua atenção da direção que ele estava dirigindo. Ele balançou a cabeça para se livrar do acompanhamento da chuva de neve que o ramo tinha trazido com ele, então, vendo o caminho a seguir era clara, ele se virou de novo brevemente para fazer incentivo para Erak.
— Mantenha pendurado — ele gritou e o Skandian prontamente fez exatamente o oposto, liberando seu aperto com uma mão para que ele pudesse fazer uma confirmação.
— Não se preocupe comigo! — Gritou. — Eu estou bem!
Halt balançou a cabeça. Francamente, ele tinha visto sacos de batatas que poderia sentar-se um cavalo melhor do que Erak. Ele questionou a forma como o Skandian nunca conseguiu manter os pés no convés de um exigente navio. As árvores foram diluindo em torno deles agora, ele notou. Então ele ouviu a nota zurrar de um dos chifres temujai a sua esquerda e percebeu que o primeiro dos partidos próximos ao redor da base da montanha do acampamento devia estar próximo da posição deles. Seria uma coisa correr perto, ele pensou sombriamente. Seu ligeiro aumento na pressão do joelho enviado Abelard delimitadora ainda mais rápido. De trás, ouviu um grito assustado de Erak como ele quase perdeu a vaga novamente. Outro relance disse-lhe que o Skandian ainda estava montado, e que estourou no chão entre as montanhas.
Ele tinha razão. Era uma estreita corrida. O cavaleiro líder do partido temujai varrido em vista sobre o terreno plano entre as montanhas. Eram quase duas centenas de metros de distância. Halt arrastando o cavalo de Erak brutalmente, tocou Abelard com seus saltos e definir os dois cavalos a galope para trás ao longo da via que eles tinham seguido no início do dia. No solo mais claro agora, ele poderia olhar para trás mais facilmente. Ele viu pelo menos uma dúzia de cavaleiros a persegui-los. Por um momento, o arqueiro grisalho tinha um sentido diferente de déjà vu, sua mente corria de volta todo o ano para o momento em que ele estava dirigindo uma manada de cavalos roubados com outra parte da temujai uivando pelo seu sangue atrás dele. Ele sorriu. Obviamente que os cavalos tinham sido roubados. Ele simplesmente não podia suportar decepcionar Horace quando lhe contou sobre seu encontro precedente com os cavaleiros orientais. Ele sentiu no momento que o menino tinha sido bastante desiludido por um dia.
Agora ele aliviou Abelard, permitindo que o outro cavalo nivelasse com eles, e atirou as rédeas para o Jarl Skandian, que bateu e deu uma guinada na sela ao lado dele. Surpreendentemente, Erak pescou. Não havia nada de errado com seus reflexos, em todo caso, Halt pensou.
— Continue! — Ele gritou com o Skandian.
— ... O que você tem... ... ... em mente? — Erak respondeu com irregularidades, as palavras balançantes fora dele quando ele foi lançado e bateu na sela.
— Indo retardá-los — Halt respondeu brevemente. — Não pare para assistir. Basta manter-se tão duro como você pode!
Erak rangeu os dentes, como ele desceu pesadamente sobre a sela.
— Isso é tão difícil... ... Como eu posso! — Respondeu ele. Mas Halt já estava balançando a cabeça. O arqueiro tinha seu arco longo de todo os ombros e foi brandindo na mão direita.
Erak viu o que estava por vir, um momento demasiado tarde para fazer qualquer coisa sobre ele.
— Não! — Ele começou. — Não, você!
Mas então o arco batido para baixo em toda a garupa de seu cavalo com um estalo sonoro e a fera saltou para frente, picado.
A profanação que Erak estava preparando para Halt foi perdida na sua elaboração quando ele se agarrou na sela mais uma vez para manter seu equilíbrio. Por um segundo ou dois, ele ficou furioso. Então ele percebeu que ainda estava na sela, que ele poderia manter o seu lugar neste mesmo ritmo acelerado. Assim, quando o cavalo começou a abrandar a uma velocidade mais confortável, ele bateu a mão grande em toda a sua parte traseira por várias vezes, dirigindo-o.
Halt assistiu com satisfação como seu companheiro passou a frente, incitando o cavalo a maiores esforços. Em poucos segundos, varreu Erak em torno de uma curva no caminho que foi formado entre duas das colinas e estava fora de vista.
Então, em resposta a um bem-aprendidas sinal joelho, Abelard deu voltas sobre as patas traseiras, girando em um semicírculo, para que chegasse a parar em um ângulo reto com a direção que estava seguindo.
Em um instante, o cavalo tinha ido de um galope para executar uma paragem completa.
Agora ele ficou parado com o seu mestre em pé nos estribos, uma flecha na seqüência do seu arco enorme.
Ele lhes permitiu fechar-se um pouco mais longe, avaliando o ritmo a que eles estavam diminuindo a distância entre ele e os outros, estimando quando ele precisava libertar. Ele fez isso sem pensar, permitindo que os instintos e os hábitos arraigados de anos de prática interminável assumissem por ele. Quase sem perceber, ele lançou a flecha, navegando em um arco raso para os perseguidores.
Eram cento e cinquenta metros dele quando a flecha atingiu o cavaleiro. Ele deslizou para o lado para o chão, tentando manter a sua influência sobre as rédeas e fazer o seu cavalo ir para baixo. O cavaleiro diretamente atrás dele, totalmente tomado pela surpresa, não teve chance de evitar o cavalo caído de seu líder.
Ele e seu cavalo vieram abaixo, bem como, acrescentando que o emaranhado de pernas e braços e corpos que rolou em uma confusão de neve lançada.
Os cavaleiros atrás deles foram atirados na mais completa confusão, com os cavaleiros tentando arrastar seus cavalos para longe da confusão pela frente.
Cavalos mergulharam, ficando no caminho um do outro, deslizando na neve, rubrica em todas as direções para evitar o acidente. Com essa confusão, Halt já estava galopando para longe, o arredondamento da curva e indo atrás de Erak.
Lentamente, o temujai recuperou a ordem. O líder do cavalo tinha recuperado os seus pés e mancava em um círculo, soprando e bufando descontroladamente. O cavaleiro estava na neve no centro de um círculo de vermelho. Agora, os outros podiam ver a causa de todos os problemas: a pesada e preta flecha. Acostumado a usar o arco com habilidade mortal, eles não estavam familiarizados com a sensação de estar sendo alvos.
Talvez, eles perceberam, uma desvairada dos dois cavaleiros que fugiram não era uma boa idéia. O temujai não foram covardes. Mas eles não eram bobos também. Eles tinham acabado de ver a evidência clara da sua misteriosa precisão. Eles classificaram-se para fora e partiram em busca de novo, mas não tão ansiosamente quanto antes, e não tão rapidamente.
Atrás deles, segundo o piloto, que colidiu com o líder caído, foi deixado em uma vã tentativa de pegar o cavalo do líder. Seu próprio tinha quebrado o pescoço na queda. Ele não parecia em demasiada pressa para retomar a perseguição.
Halt parou duas vezes mais retardar os cavaleiros atrás deles. Ambas às vezes, ele desmontado, permitindo que Abelard trotasse na próxima curva da pista de modo que ele estava fora de vista. Então Halt esperava, de pé nas sombras profundas dos pinheiros, quase invisível no manto cinza e verde.
Quando os cavaleiros temujai surgiam por volta de uma curva na pista atrás dele, Halt lançava duas flechas no máximo, em um vôo parabólico. Cada vez, os cavaleiros estavam mesmo conscientes de que estavam a ser alvejados até que dois dos seus caíssem de suas selas na neve.
Halt escolheu suas posições de emboscada cuidadosamente. Ele escolheu lugares onde havia uma visão clara da pista atrás dele, mas ele não escolheu cada secção. Após o terceiro ataque, cada vez que o temujai abordava numa curva do caminho, que retardou sua perseguição, temendo que eles estivessem entrando em outra saraivada de flechas pretas descendo do céu para eles.
Nas duas últimas vezes, eles nem sequer viram Halt antes de ele se mover para remontar Abelard. Eles logo começaram a racionalizar, argumentando que não havia nenhuma necessidade real para capturar os dois homens que foram espiar o acampamento. Havia, afinal, de que dois homens poderiam fazer para prejudicá-los e se eles alertaram as forças Skandian, bem, o temujai tinha vindo aqui preparado para lutar de qualquer maneira.
Este foi o resultado que Halt tinha esperando. Após parar duas vezes, ele fez Abelard em um galope constante, logo ultrapassando Erak como ele balançou e balançou na sela do seu cavalo galopando agora. Erak ouviu o abafado dos cascos batendo atrás dele e balançou desajeitadamente na sela, meia à espera de ver um grupo de temujai chegando por trás. Ele relaxou quando ele reconheceu a figura-cinza camuflada do arqueiro. Seu cavalo, sem ninguém para continuar incitando-o, diminuiu o seu ritmo quando Abelard bateu ao lado.
— Onde é que... Você foi? — Erak perguntou, da mesma maneira irregular.
Halt apontou para a pista atrás dele.
— Comprar-nos algum tempo — respondeu ele. — Não seria possível que você mantenha seu ritmo de correr mais rápido do que isso?
Erak olhou insultado. Ele pensou que ele estava fazendo muito bem.
— Você sabe que eu sou um excelente piloto — disse ele com firmeza.
Halt olhou por cima do ombro. Não havia nenhum sinal de qualquer perseguição, mas não havia como saber por quanto tempo o temujai levaria a perceber que ele não estava esperando por eles em cada esquina. Se eles continuaram neste delicado, ritmo, os cavaleiros atrás de si que alcançaram a distância perdida a qualquer momento.
— Você pode acreditar que você é um excelente piloto — ele falou — mas há um grupo de temujai lá que realmente são. Agora vai!
Erak viu a ascensão do longo arco, começar a cair na garupa de seu cavalo, mais uma vez. Desta vez, ele não perdeu fôlego ou tempo gritando para Halt não fazê-lo. Ele pegou um punhado de crina assim que o cavalo fugiu de distância debaixo dele. Balançando na dor e requintado, consolou-se com o pensamento de que, quando este tivesse acabado, ele teria separado o arqueiro de sua cabeça.
Halt incitando o cavalo temujai a enviar maiores esforços, sempre que ele começou a diminuir. Os marcos em torno deles começou a assumir um aspecto familiar, então eles estavam a galope na Passagem da Serpente, chegando ao posto de fronteira abandonado. Lá, acampados fora dos muros do pequeno forte, vinte guerreiros Skandian e Evanlyn e os dois aprendizes estavam esperando por eles. O Skandians ficaram de pés rapidamente, pegando suas armas, quando os dois cavalos chegaram correndo.
Halt trouxe Abelard derrapando até parar ao lado de seus três companheiros. Erak tentou imitar a ação, mas seu cavalo bateu por mais de vinte metros ou mais e ele teve que se desajeitadamente em torno do balanço, balançando e escorregando na sela, como se viu, e fatalmente caindo em um monte de neve quando o cavalo, finalmente decidiu parar.
Dois ou três dos Skandians, imprudentemente, deixaram sair risos curtos, assim que Erak se levantou. Os olhos do Jarl varreram sobre eles, frio como gelo glaciar, marcando-os para referência futura. O riso morreu tão rapidamente como tinham surgido.
Halt jogou sua perna sobre a sela e deslizou para o chão. Ele acariciou pescoço de Abelard em gratidão. O cavalo foi pouco mal respirando com dificuldade. Ele foi criado para fazer isso todos os dias, se necessário. O arqueiro viu os olhares curiosos das pessoas ao seu redor.
— Você achou o grupo principal? — Will que, finalmente, perguntou.
Halt acenou sombriamente. — Encontramos todos eles direito.
— Milhares deles — acrescentou Erak, e o Skandians reagiu com surpresa a notícia. Erak silenciou-os com um gesto.
— Há uns cinco ou seis mil deles lá fora, provavelmente posição dessa maneira agora.
Mais uma vez, havia murmúrios de surpresa e consternação quando ele mencionou os números. Um dos Skandians adiantou.
— O que eles querem, Erak? — Perguntou ele — O que eles estão fazendo aqui?
Mas foi o arqueiro que respondeu à pergunta.
— Eles querem o que eles querem sempre — disse ele severamente — Eles querem suas terras. E eles estão aqui para tirar isso de você.
Sua audiência olhou de um para o outro. Então Erak decidiu que era hora de assumir o comando da situação.
— Bem, eles vão achar que somos um osso duro de roer — declarou ele. Ele pegou a sua arma destruidora de um pequeno arco para indicar o forte por trás deles. — Vamos manter o forte aqui e atrasá-los, enquanto um de nós leva a palavra de volta para Hallasholm — disse ele. — Pode haver cinco mil deles, mas eles só podem vir até nós, em pequenas quantidades através da passagem. Devemos ser capazes de mantê-los por quatro ou cinco dias pelo menos.
Houve um rosnado de parecer favorável do Skandians, e vários deles varreu seus eixos através do ar em padrões experimentais. O Jarl foi crescendo em confiança, agora que ele tinha um plano definido de ação. E era o tipo de plano, que apelou para o espírito Skandian: simples, descomplicada, fácil de entrar em vigor e com um grau de desordem envolvido. Ele olhou para Halt, que o observava em silêncio.
— Vou ter que utilizar seu cavalo de novo — disse ele. — Vou mandar um dos meus homens de volta para Hallasholm sobre ele para dar o alarme. O resto de nós vai ficar aqui e lutar. — Novamente, houve um rosnado selvagem da Skandians em resposta. O Jarl continuou: — Quanto a você, você pode ficar e lutar com a gente ou seguir seu caminho. É irrelevante para mim.
Halt balançou a cabeça, um olhar de amargo desapontamento em seu rosto.
— É muito tarde para irmos agora — disse ele simplesmente. Ele virou-se para seus três jovens companheiros e encolheu os ombros se desculpando. — A força principal temujai situa-se em todo o nosso caminho de volta para Teutlandt. Nós não temos escolha, senão ficar aqui.
Will trocou olhares com Evanlyn e Horace. Sentiu um afundamento no poço de seu estômago. Eles tinham estado tão perto de escapar, tão perto de ir para casa.
— É minha culpa — Halt continuou, dirigindo suas palavras aos dois ex-prisioneiros. — Eu devia ter te libertado imediatamente em vez de ir ver o que o temujai estava fazendo. Eu pensei, na pior das hipóteses, seria um reconhecimento em vigor. Eu não tinha idéia que era uma invasão.
— Está tudo bem, Halt — Will disse a ele. Ele odiava ver seu mentor se desculpar ou culpar a si mesmo. Aos olhos de Will, Halt não podia fazer nada de errado. Horace apressou-se a concordar com ele.
— Nós vamos ficar aqui e manter-los para trás com o Skandians — disse ele, e um dos guerreiros de lobo do mar por perto lhe bateu de coração nas costas.
— Esse é o espírito, rapaz! — Disse ele, e vários outros em coro a aprovação das intenções de Horace. Mas Halt balançou a cabeça.
— Ninguém deve ficar aqui. Não há nenhum ponto.
Isso trouxe uivos de raiva e escárnio do Skandians.
Erak silenciou-os e deu um passo à frente, olhando para o valor mínimo no manto cinzento.
— Sim, há um ponto — disse ele, em tom ameaçador silêncio. — Vamos mantê-los aqui até Ragnak poder reunir a força principal para aliviar-nos. Há vinte e um de nós. Isso deve ser mais do que suficiente para segurar os mendigos lá fora por um tempo. Não vai ser como quando abateram a guarnição aqui. Havia apenas uma dúzia de homens aqui então. Vamos mantê-los fora, ou nós vamos morrer na tentativa. É irrelevante para nós, enquanto nós os atrasamos por três ou quatro dias.
— Você não vai durar três ou quatro horas — disse categoricamente Halt, caiu um silêncio sobre o pequeno grupo. Os Skandians estavam muito chocados com a enormidade do insulto à sua resposta. Erak foi o primeiro a se recuperar.
— Se você acredita — ele disse sombriamente — então você nunca viu Skandians lutar, meu amigo. — As últimas duas palavras realizando um enorme peso de sarcasmo e demissão. Agora os outros Skandians encontraram suas vozes e um coro com raiva cresceu. O arqueiro esperou a gritaria morrer. Finalmente eles se calaram.
— Você sabe que eu tenho — disse ele, sem tirar os olhos de Erak.
O líder Skandian franziu a testa. Ele conhecia a reputação de Halt, como um homem de luta e um tático. O homem era um arqueiro, afinal de contas, e Erak sabia o suficiente sobre o misterioso Corpo de arqueiros que eles não estavam propensos a emissão insultos inúteis ou fazer observações irrefletidas.
— A questão é — Halt continuou — você viu a luta temujai?
Ele permitiu que a questão pendurar-se no ar frio entre eles. Houve um momento de silêncio a partir do Skandians. Nenhum deles tinha, claro. Vendo que ele tinha a sua atenção, Halt continuou.
— Porque eu tenho. E eu vou lhe dizer o que eu faria se eu fosse o general temujai.
Ele varreu o braço até abranger as encostas íngremes da passagem onde se erguia acima do pequeno forte.
— Eu ia mandar um grupo de homens até as paredes do passe lá acima de nós. Digamos, duzentos ou algo assim. E de lá, eu atiraria em qualquer um suficientemente corajoso de mostrar o seu rosto no aberto dentro do forte.
Os olhos do grupo seguiram a direção de seu braço apontando. Um dos Skandians falou com desdém.
— Eles nunca chegariam até lá. Estas paredes estão intransitáveis!
Halt se virou para ele, olhando-o nos olhos, querendo o homem a entender e acreditar que ele estava dizendo pela força de sua convicção.
— Não é intransitável. Muito difícil. Mas eles vão fazer isso. Acredite em mim, eu vi esses homens e o que eles podem alcançar. Pode custar-lhes cerca de cinqüenta vidas na tentativa, mas vão contar o custo mais barato.
Erak estudou os penhascos acima do forte, apertando os olhos para ver com mais clareza à luz desvanecendo-se rapidamente do fim da tarde. Talvez, pensou ele, o arqueiro estava certo.
— Eles nunca vão conseguir os seus cavalos lá em cima.
— Eles não vão ter necessidade de seus cavalos até lá — rebateu Halt. — Eles simplesmente sentarão e verão o fogo mergulhar em vocês. O forte pode comandar o passe, mas há alturas comanda o forte.
Erak ficou em silêncio por um longo momento. Ele olhou novamente até as paredes da passagem.
— Enfrentá-lo — Halt continuou — esta fortaleza nunca foi concebido como uma verdadeira posição defensiva. É um posto de controle para as pessoas que atravessam a fronteira, isso é tudo. Não é simplesmente concebidas ou colocadas para deter um exército de invasão.
Erak estudou o arqueiro. Quanto mais pensava nisso, mais sentido Halt estava fazendo.
Ele poderia retratar os perigos de ser pego no interior do forte, com uma centena de arqueiros situados nas falésias acima dele, e não há maneira de responder a seu ataque.
— Eu acho que você pode estar certo — disse ele lentamente. Ele foi honesto o suficiente para admitir que a experiência de Halt sobre estes cavaleiros orientais eram muito maior do que o seu próprio. Relutante, ele tomou a decisão final para passar o controle para Halt.
— O que você sugere que façamos? — Perguntou ele. Seus homens olharam para ele com surpresa e ele olhou-os ao silêncio. Halt acenou uma vez, reconhecendo a dificuldade da decisão, que o Jarl tinha acabado de chegar.
— Você estava certo sobre uma coisa — disse ele. — Ragnak tem que ser avisado. Não há nenhum ponto em desperdiçar mais tempo aqui. Vai demorar pelo menos metade de um dia para colocar todo o exército temujai em movimento. Mais tempo para que eles atravessem esta passagem estreita. Vamos usar o tempo que temos. Nós vamos andar e correr, como o inferno de volta para Hallasholm.
A noite teve lugar pouco depois de terem pondo-se a caminho de volta para Hallasholm. Mas eles continuaram a se mover, seu caminho iluminado por um período de três brilhantes luas crescente que navegaram acima deles no céu claro.
Halt, Evanlyn e os dois aprendizes montaram, enquanto o Skandians mantinham um constante movimento, liderado pelo Jarl. Halt tinha sugerido que Erak usasse o cavalo temujai capturado novamente, mas ele recusou a oferta, com uma certa dose de entusiasmo. Parecia agora que ele estava com os pés firmemente de volta no chão, que estava determinado a mantê-los dessa forma. Coxas e panturrilhas doíam das horas que passara na sela naquele dia, e sua bunda parecia ser um enorme hematoma. Ele estava feliz com a chance de andar para mandar as cãibras para fora de seus músculos.
Mesmo tendo em conta o fato de que o Skandians viajavam a pé, Halt estava satisfeito com o ritmo que estava mantendo. Os lobos do mar estavam em estado soberbo. Eles poderiam manter o seu movimento constante durante toda a noite, apenas com breves períodos de descanso a cada hora.
Horace manteve Kicker ao lado Halt.
— Não seria melhor andarmos? — Sugeriu. Halt levantou uma sobrancelha para ele.
— Por quê? — Perguntou ele. O rapaz encolheu os grandes ombros, não é completamente certo como articular o seu pensamento.
— Como um gesto de camaradagem — disse ele finalmente. — Vai dar-lhes um sentimento de camaradagem.
Camaradagem, Halt sabia, era algo que foi sublinhado nos primeiros anos de formação da Escola de Guerra. Fazia parte desse código inconveniente de cavalaria. Às vezes, ele desejou que Sir Rodney, o chefe da Escola de Guerra do Castelo Redmont, seria dar a sua cobra um curso de curta duração em praticidade também.
— Bem, isso vai dar mim uma sensação de pernas ferida — respondeu ele finalmente. — Não há nenhum ponto para ele, Horace. O Skandians não se importam se nós vamos a pé ou de carona. E quando não há nenhum ponto, a melhor idéia é não fazer isso.
Horace balançou a cabeça várias vezes. Verdade seja dita, ele ficou aliviado que Halt havia rejeitado a sua sugestão. Ele era muito mais ficar na sela do que vagar pela neve. E, agora que ele pensava sobre isso, o Skandians não pareceu ressentir-se do fato de que os quatro Araluenses estavam a cavalo, enquanto caminhavam.
Durante uma das paradas breves, Halt chamou a atenção de Will e fez um gesto quase imperceptível para o menino segui-lo. Eles caminharam uma distância do resto do grupo, que se alastrou à vontade na neve. Alguns dos Skandians os assistiu com leve interesse, mas a maioria ignorou.
Quando julgou que não havia ninguém ao alcance da voz, Halt chamou Will para perto dele, a mão no ombro do menino.
— Erak — disse ele. — O que você acha dele?
Will franziu a testa. Pensou sobre a forma como tinha tratado Erak desde que foi capturado na ponte em Celtica. Em primeiro lugar, ele protegeu-os de Morgarath, recusando-se a entregá-las ao líder rebelde. Então, a viagem através do Mar Stormwhite, e durante a sua estadia em Skorghijl, tinha mostrado uma certa bondade. Finalmente, é claro, tinha sido fundamental na sua saída de Hallasholm, fornecendo roupas, alimentos e um pônei, e dando-lhes indicações para a cabana de caça nas montanhas.
Houve apenas uma resposta possível.
— Eu gosto dele — respondeu ele. Halt assentiu.
— Sim — disse ele — Eu também. Mas você confia nele? Isso é uma questão diferente de gostar.
Desta vez, Will imediatamente abriu a boca para responder, em seguida, fez uma pausa, perguntando se a sua resposta não pode ser muito impulsiva. Então ele percebeu que a confiança sempre foi impulsiva, e foi em frente.
— Sim — disse ele. — Eu confio.
Halt esfregou o queixo com o dedo indicador e o polegar.
— Devo dizer, que concordo com você.
— Bem, ele nos ajudou a escapar, você sabe, Halt Will apontou, e o arqueiro acenou com o reconhecimento desse ponto.
— Eu sei — disse ele. — Isso é o que eu estava pensando.
Ele estava consciente do olhar curioso do garoto, mas ele não disse mais nada. Como os membros do pequeno grupo retomaram o seu progresso em direção ao litoral, Halt lutou com o problema de como proteger Will e Evanlyn quando eles voltassem para Hallasholm. Eles podem ser considerados como aliados para o momento, apenas pela força das circunstâncias. Mas uma vez que eles estavam de volta ao Skandians, as coisas poderiam ir mal para os dois escravos fugidos. As coisas poderiam ser ainda pior para Evanlyn se a sua identidade real se tornar conhecido ao Oberjarl Skandian.
No entanto, por mais que tentasse, o arqueiro não conseguia pensar em outra alternativa possível para o seu curso atual. O caminho para o sul foi barrado por milhares de guerreiros temujai e não havia nenhuma chance de que ele poderia fazer isso através de suas linhas com os três jovens. Ele e Will poderiam fazê-lo. Mas foi um grande talvez. E ele sabia o suficiente sobre o temujai para saber que, com Horace e Evanlyn, que nunca iria evitar a detecção.
Então, por enquanto, pelo menos, eles não tiveram escolha, senão ir em direção a Hallasholm. Na parte traseira de sua mente não era uma idéia formada, em parte, que pode ser capaz de roubar um barco. Ou até mesmo prevalecer sobre Erak para transportá-los para a costa ao sul, ultrapassando a linha do avanço do exército temujai.
De alguma forma, algum dia, ele teria de chegar a algum tipo de acomodação com o Jarl Skandian, ele sabia.
A oportunidade veio na próxima parada para descansar.
Como o Skandians permitiu-se a expansão no chão sob os pinheiros, Erak, aparentemente casual, se aproximou do local onde Halt estava derramando a água de seu cantil em um balde de lona desmontável de Abelard. O cavalo bebeu ruidosamente quando o comandante dos Lobos do Mar apoiou e assistiu. Plenamente consciente de sua presença, Halt continuou com o que ele estava fazendo.
Então, quando o cavalo parou de beber, disse ele, sem olhar para cima:
— Alguma coisa em sua mente?
O Jarl deslocou desajeitado de um pé para outro.
— Precisamos conversar — disse ele finalmente, e Halt deu ombros.
— Parece que estamos fazendo isso. — Ele manteve a voz neutra. Ele podia sentir que o líder Skandian queria alguma coisa com ele e ele sentiu que essa poderia ser a sua oportunidade de ganhar algum tipo de vantagem de negociação.
Erak olhou em volta, certificando-se que nenhum dos seus homens estava no alcance da voz. Ele sabia que não gostaria da idéia de que ele estava prestes a propor. Mas, mesmo assim, ele sabia que a idéia era boa. E uma coisa necessária.
— Foi você, não foi, na batalha do Thorntree? — Disse ele no passado. Halt virou-se para enfrentá-lo.
— Eu estava lá — disse ele. — E assim foram algumas centenas de outros.
O Skandian fez um gesto impaciente. — Sim, sim — disse ele. — Mas você era o líder tático, não era? Halt encolheu timidamente.
— Isso mesmo, eu acho— disse ele com cuidado. A batalha na floresta Thorntree tinha sido uma derrota para o Skandians. Ele queria saber agora se Erak pode estar procurando algum tipo de vingança sobre o homem que liderou as forças Araluen. Não parecia ser de caráter com o que ele sabia do Skandian, mas você nunca poderia dizer.
Erak, porém, foi cuidadosamente acenando para ele. Ele agachou-se na neve, pegando um galho de pinheiro e fez marcas aleatórias no chão com ele.
— E você sabe sobre estes temujai, não é? — Disse. — Você sabe como eles lutam, como eles organizam seu exército?
Foi a vez de Halt balançar cabeça.
— Eu disse a você. Eu vivi entre eles por um tempo.
— Então... — Erak pausou e Halt sabia que ele estava chegando a parte crucial da sua conversa. — Você conhece os seus pontos fortes e suas fraquezas?
O arqueiro latiu uma risada curta e sem graça.
— Não há muitos desses — disse ele, mas Erak persistiu, apunhalando o mais profundo galho na neve enquanto falava.
— Mas você sabe como combatê-los? Como vencê-los?
Agora Halt começou a ter um vislumbre sobre essa conversa. E, com isso, sentiu um aumento ligeiro de esperança. Ele só poderia estar prestes a entregar o instrumento de negociação que teria necessidade de proteger Will e Evanlyn.
— Lutamos como indivíduos — disse o Jarl suavemente, parecendo falar quase para si mesmo. — Nós não estamos organizados. Nós não temos nenhuma tática. Nenhum plano mestre.
— Vocês Skandians ganharam a sua quota de batalhas — Halt apontou suavemente. Erak olhou para ele e Halt podia ver o quanto o lobo do mar não gostava do que estava prestes a dizer.
— Em um confronto direto. Um a um. Ou até mesmo contra todas as probabilidades de dois para um. Um conflito direto, sem complicações. Basta um simples teste de armas. Esse tipo de coisa que nós podemos segurar. Mas isto... Isto é diferente.
— A força temujai são provavelmente os mais eficientes de combate do mundo — Halt disse a ele. — Com a possível exceção do Arridi nos desertos do sul.
Houve um silêncio entre eles. Ele viu a entrada de ar, então Erak disse:
— Você poderia nos mostrar como vencê-los.
Foi no aberto agora exatamente o que Halt tinha começado a esperar. Cuidadosamente, como um homem tocando uma truta que ainda estava por ser viciado, ele respondeu, garantindo que nenhuma sugestão da ansiedade que sentia mostrasse em sua voz.
— Mesmo se eu pudesse, eu duvido que ia me ser dada essa oportunidade — disse ele, tentando soar tão insensível quanto possível. Erak empurrou a cabeça para cima, um pequeno surto de raiva em seus olhos.
— Eu poderia dar a você — disse ele. Halt encontrou o homem olhar do outro, recusando-se a ser intimidado pela raiva lá.
— Você não é o Oberjarl — afirmou categoricamente. Erak balançou a cabeça, reconhecendo a declaração.
— Isso é certo — disse ele. — Mas eu sou um líder de guerra sênior. Eu carrego uma certa quantidade de peso em nosso Conselho de Guerra.
Halt parecia convencido. — O suficiente para convencer os outros a aceitar um estrangeiro como líder?
Erak balançou a cabeça de forma decisiva.
— Não como um líder — disse ele. — Skandians nunca iria seguir suas ordens diretas. Nem qualquer outro estrangeiro. Mas, como um conselheiro, um estrategista. Há outros no conselho que sabemos que precisamos de táticas. Quem vai entender que precisamos lutar como uma unidade coesa, e não como um milhar de indivíduos. Borsa, por exemplo, vai concordar comigo.
Halt levantou uma sobrancelha.
— Borsa? — Ele sabia alguns dos nomes dos líderes Skandian. Este foi um desconhecido.
— O hilfmann de Ragnak Chamberlain — Erak o disse. — Ele não é guerreiro mesmo, mas Ragnak respeita suas opiniões, e seu cérebro.
— Deixe-me ver se entendi — Halt disse lentamente. — Você está me pedindo para vir a bordo como conselheiro tático e ajudá-lo a encontrar uma maneira de vencer o temujai. E você acha que pode convencer Ragnak para ir junto com a idéia, e não simplesmente me matar na hora.
Parecia uma pergunta para Erak. Halt continuou.
— Sei que ele não tem amor por Araluen. Seu filho morreu em Thorntree, depois de tudo.
— Você ficaria sob minha proteção — Erak disse finalmente. — Ragnak teria de respeitar isso, ou lutar contra mim. E eu não acho que ele estará pronto para fazer isso. Se eu conseguir convencer o conselho ou não, e acredito que serei capaz de te manter seguro, enquanto você estiver em Hallasholm.
E ali, foi a oportunidade que Halt estava esperando.
— E os meus companheiros? — Perguntou ele. — Will e a menina são escravos fugidos.
Erak acenou o assunto de lado, displicentemente.
— Essa é uma pequena questão em relação ao fato de que estamos prestes a ser invadido — respondeu ele. — Seus amigos vão estar seguros também. Você tem a minha palavra.
— Não importa o quê? — Halt insistiu. Ele queria que o Skandian se comprometesse totalmente.
Ele sabia que um Jarl jamais iria voltar atrás em um voto de juramento de proteção.
— Não importa o quê — Erak respondeu, e estendeu a mão para o arqueiro. Eles apertaram as mãos com firmeza, selando o negócio.
— Agora — disse Halt — tudo o que tenho a fazer é trabalhar n uma maneira de derrotar estes demônios da equitação.
Erak sorriu para ele.
— Isso é coisa de criança — disse ele. — A parte difícil será convencer Ragnak sobre isso.
Como foi verificado, a tarefa era muito mais fácil do que Erak ou Halt teria imaginado possível. Ragnak era muitas coisas, mas ele não era bobo. Quando o pequeno grupo voltou a Hallasholm, trazendo a notícia de que um exército de cerca de seis mil cavaleiros temujai estava pronto para invadir seu país, ele fez a mesma aritmética mental que Erak tinha feito. Ele sabia bem como Erak que ele conseguiria reunir uma força de mais de mil e quinhentos guerreiros, possivelmente menor, considerando que algumas das povoações remotas perto da fronteira provavelmente já havia sido superada e vencida já.
Como a maioria dos Skandians, Ragnak não tinha medo de morrer em batalha. Mas ele também não acredita que se deve procurar tal fim, sem primeiro tentar todas as outras alternativas. Se houvesse uma maneira de derrotar os invasores, ele iria examinar. Por conseguinte, quando Erak lhe disse do conhecimento de Halt sobre o temujai, e seu acordo para emprestar seus serviços e, quando Borsa e vários outros membros do conselho são favoráveis à idéia, ele aceitou seus argumentos com não mais resistência simbólica. Quanto à questão dos escravos recapturado, ele descartou a questão inteiramente. Em tempos normais, ele pode procurar para punir fugitivos, como forma de desencorajar mais a escaparem. Mas estes não eram tempos normais, e com um exército invasor em sua entrada, a questão de dois escravos recapturados era de pouco interesse para ele na melhor das hipóteses.
Ele queria, no entanto, ver Halt em seus aposentos particulares, sem mais ninguém presente.
Ele sabia o suficiente sobre os Arqueiros e respeitava as suas habilidades e sua coragem como um grupo. Mas ele queria a chance de apreciar este homem como um indivíduo. Ragnak tinha a capacidade para formar tais avaliações dos homens, tinha sido uma das suas principais qualidades como líder do Skandians.
Uma evidência de sua habilidade era o fato de que ele habitualmente escolhia Erak para lidar com as tarefas mais difíceis.
Halt estava num lugar de teto baixo, forrado de madeira, a sala onde Ragnak passa a sua hora privada e estes dias, o Oberjarl observou com tristeza, havia sido um dos poucos desses. O quarto era como de todos os Skandians, altos quartos, aquecido por uma fogueira de pinho, com peles de urso, a apresentação da madeira do pinheiro mobiliário, decoração com os resultados poliglota de anos de pilhagem das aldeias costeiras e outros navios.
A peça central da sala era um imenso lustre de cristal, tirado de uma abadia na costa do Mar Constant anos atrás. Sem limite de altura para pendurá-lo, Ragnak tinha escolhido deixá-lo descansando em uma mesa de pinho em bruto.
Para ele, representava a arte no seu mais elevado. Era um objeto de rara beleza, incongruente como poderia ser, neste contexto, e por isso ele deixou lá.
Ele olhou por cima de um pergaminho que estava lendo quando Halt bateu à porta e entrou, como tinha sido dito para fazer. Ragnak franziu a testa. Ele igualou a proeza em batalha com a força física e tamanho. O homem antes que parecia bastante rijo, mas sua cabeça mal teria passado do ombro do Oberjarl, se ambos estivessem de pé. Ele era um homem pequeno.
— Então, você é Halt — disse ele, não soando muito interessados no fato. Ele viu o pequeno homem levantando a sobrancelha direita momentaneamente.
Então o homem repetiu, exatamente com mesmo tom:
— Então, você é Ragnak.
As sobrancelhas grossas de Ragnak se transformaram em uma expressão de raiva. Mas interiormente, sentia um rápido piscar de respeito pelo homem na frente dele. Ele gostava de resposta instantânea, gostava da maneira como o arqueiro estava mostrando nenhum sinal de ser intimidado.
— As pessoas me chamam como Oberjarl — disse ele em um tom ameaçador.
Halt deu apenas um ligeiro encolher de ombros.
— Muito bem, Oberjarl — respondeu ele. — Eu vou fazer o mesmo.
Halt estudou o Oberjarl com um olhar afiado. Ele era enorme, mas era bastante normal para Skandians. Ele não tem a musculatura, clássica esculpida como uma pessoa como Horace iria conseguir, nos próximos anos, com ombros largos e quadris estreitos. Pelo contrário, como todos os Skandians, ele era volumoso, todo o seu corpo, construído como um urso.
Os braços e as pernas musculosas e maciçamente o rosto barbado, com a longa barba cuidadosamente separada em duas massas de varredura. O cabelo tinha sido originalmente vermelho, mas agora no início dos anos foi transformando na cor das cinzas em uma lareira fria.
Havia uma cicatriz na face desbotada, estendendo-se logo abaixo do olho esquerdo até o ponto do queixo. Halt adivinhou ser uma lesão antiga. Mais uma vez, havia poucos comentários a fazer sobre isso. O Skandians escolhia seus dirigentes das fileiras de guerreiros, e não dos administradores.
Acima de tudo, Halt observou os olhos. Ele reconheceu a antipatia que via lá. Ele estava esperando para ver isso. Mas os olhos eram profundos e ele poderia ler uma inteligência e astúcia lá também. Por isso, ele ficou grato.
Se Ragnak fosse um homem estúpido, a posição de Halt poderia ser insustentável aqui. Ele sabia da aversão do Oberjarl para os arqueiros, e conhecia as razões por trás disso. Mas um líder inteligente estaria ciente da utilidade de Halt para ele, e estava preparado para anular sua antipatia pessoal para o bem maior de seu povo.
— Eu não tenho amor a sua espécie, arqueiro — o Oberjarl disse. Sua mente estava, obviamente, rodando em linhas semelhantes às de Halt.
— Você tem pouca razão para — Halt concordou. — Mas você pode muito bem encontrar um uso para mim.
— Então, me disseram — respondeu o líder Skandian, mais uma vez encontrando-se a admirar a franqueza Ranger.
Quando ele ouviu pela primeira vez da morte de seu filho em Thorntree, Ragnak tinha superado sua tristeza com raiva, pelos Araluenses, arqueiros e, em especial, a do rei Duncan.
Mas isso tinha sido uma reação imediata e espontânea a sua dor. Um realista, ele sabia que seu filho havia arriscado a morte por se juntar a uma aventura malfadada com as forças de Morgarath e, na verdade, a morte em combate era comum entre os Skandians, que vivia de invasão e pilhagem. Como resultado, durante os meses de intervalo, a raiva de Ragnak, se não a sua tristeza, havia desaparecido. Seu filho tinha morrido com honra, com uma arma nas mãos. Isso era tudo que qualquer Skandian poderia pedir. Isso não era para dizer que sentia nenhuma afeição por arqueiros, mas ele poderia respeitar as suas habilidades e sua coragem e seu valor como adversários.
Ou até mesmo, eventualmente, como aliados. Ragnak contra o rei Duncan e sua família era outra questão. As possibilidades de que, se ele tivesse esperado, o seu ódio poderia muito bem ter diminuído e uma atitude mais razoável, poderia ter prevalecido. Mas, agindo por impulso, tinha jurado um voto ao Vallas, a divindade tríplice que governa religião Skandian, e que o voto era inviolável.
Ragnak pode ser capaz de aceitar Halt como um aliado. Ele pode ser capaz de reconhecer que essas mesmas qualidades que fizeram o arqueiro um oponente perigoso também pode torná-lo um aliado útil para a próxima batalha contra os invasores temujai. Essa seria a sua escolha pessoal. Mas sua Vallasvow contra Duncan era irrevogável.
— Então — disse Ragnak abruptamente. — Você pode nos ajudar?
Halt respondeu sem qualquer hesitação.
— Estou disposto a fazer tudo o que puder — disse ele. — O que poderia ser, não faço idéia ainda.
— Não faço idéia! — Ragnak repetiu com desdém. — Foi-me dito que os arqueiros estão sempre cheios de idéias.
Halt balançou a cabeça.
— Preciso avaliar seus pontos fortes e fracos em primeiro lugar. E então eu preciso de mapas da paisagem circundante — disse ele. — Teremos que encontrar um local que irá compensar a sua superioridade de números, na medida do possível. Então eu vou sair para dar um outro olhar nos temujai. A última vez que os vi, eu tinha que manter Jarl vivo. Então, depois de eu ter feito tudo isso, eu poderei ser capaz de responder a sua pergunta.
Ragnak mastigou uma das extremidades de seu bigode, recolhendo o que o arqueiro tinha dito. Ele ficou impressionado, apesar de tudo. Sua habilidade para planejar uma batalha geralmente atingia a expressão "Todo mundo pronto? Siga-me!" Antes ele liderava o caminho em um ataque frontal.
Talvez, pensou, este arqueiro possa ser útil depois de tudo.
— Esteja ciente de uma coisa, porém, Oberjarl — Halt continuou. Ragnak olhou para ele, surpreso com o tom de comando inflexível em sua voz. — Eu vou estar a fazer perguntas sobre o seu estabelecimento, seus homens de combate, seus números. São perguntas que podem me dar uma vantagem no futuro, qualquer divergência entre os nossos dois países.
— Eu vejo... — disse Ragnak lentamente. Ele não gostou da direção que conversa estava tomando. — Você vai ser tentado a mentir para mim. A exagerar seus números e suas habilidades. Não faça isso. — Uma vez mais, o Oberjarl foi surpreendido com o tom peremptório de comando. Mas o olhar de Halt era inabalável.
— Se for para ajudá-lo, você precisa ser honesto comigo. E assim será o seu jarls.
Ragnak considerou a declaração por um momento ou dois, depois assentiu com lentidão.
— Concordo — disse ele — Mas — ele acrescentou — os cortes de machado são de duas maneiras. Você também estará nos mostrando como você pensa e planeja uma batalha.
E mais uma vez, o traço de um sorriso pairou ao redor da boca de Halt quando ele reconheceu o ponto do Oberjarl.
— É verdade — disse ele. — Acho que se quisermos vencer, ambos temos de estar dispostos a perder um pouco.
Os dois homens se estudaram mais uma vez. Cada um decidiu que gostou do que viu nos olhos do outro. Abruptamente, Ragnak apontou para uma das poltronas de pinho maciço.
— Sente-se! — Disse ele, indicando um garrafão de vinho Gallican sobre a mesa entre eles, quase perdido no arranjo de cristal brilhante do lustre.
— Pegue uma bebida e me diga isso. Porque você acha que esses temujai optaram por fazer-se um incômodo na Skandia? Certamente, o caminho teria sido mais fácil para ele se mover para o sul, através de Teutlandt e Gallica.
Halt serviu-se de um vidro do vinho vermelho brilhante e bebeu profundamente. Ele levantou uma sobrancelha em apreciação. Ragnak certamente conhecia os vinhos direito de roubar, ele pensou.
— Eu estive pensando o mesmo — disse ele no passado. Desejou que a cadeira em que estava sentado fosse feita por alguém menor do que o normal para os Skandian. Seus pés mal chegavam ao chão, sentado ali, se sentia como um menino pequeno no estudo de seu pai.
— Mesmo que eles ganhem aqui, eles devem saber que você vai ser um osso duro de roer. Certamente, mais resistente do que os Teutlanders.
Ragnak bufou em desprezo à menção da desorganizada, raça ao sul. Na verdade, se as ambições dos Skandian jazera nesse sentido, Ragnak teria se sentido confiante que ele poderia ter dominado o país com seu pequeno exército de guerreiros.
— E os Gallicans são quase tão ruim — continuou Halt. —Eles seriam quase incapazes de chegar a um acordo sobre um líder global para assumir o comando. Então me perguntei o que foi que fez o balanço do norte temujai e risco de um nariz sangrando aqui na Skandia.
— E? — O Oberjarl solicitou. Halt tomou outro gole de vinho e franziu os lábios, pensativo.
— Eu me perguntava o que tinha que fazer o risco vale a pena — disse ele. — E só havia uma coisa que eu poderia imaginar.
Ele fez uma pausa. Era uma coisa teatral para fazer, ele sabia, mas ele não podia resistir a ela. Como ele tinha certeza que aconteceria, o Oberjarl inclinou para frente.
— O que foi? Quais são eles?
— Navios — respondeu Halt — Os temujai querem o controle dos mares. E isso significa que as suas ambições não param aqui. Eles estão planejando invadir Araluen também.
Evanlyn estava assistindo Will praticar seu arco e flecha. Era algo que tinha Halt tinha insistido, depois de atingirem a segurança relativa do Hallasholm. A velocidade e precisão de Will tinham caído muito abaixo dos níveis que Halt considerada aceitável e não desperdiçou tempo fazendo seu aprendiz ciente do fato.
— Lembra-se da regra de ouro? — Ele disse depois que ele assistiu Will disparar uma dúzia de flechas em alvos diferentes, instalados em um semicírculo na frente dele, em intervalos que variavam entre cinqüenta metros e duzentos. A maioria das flechas voou para longe nos alvos mais distantes, e levou muito tempo para fazer o conjunto de doze tiros.
Will olhou para o seu mentor, sabendo o quanto ele tinha disparado. Halt franziu a testa e balançou a cabeça levemente. Ele fez as coisas piores porque Horace e Evanlyn tinham escolhido esse momento para entrar e assistir.
— Prática? — Ele respondeu sombriamente, e Halt assentiu.
— Prática— afirmou. Assim eles tinham saído para recolher as flechas que ele tinha lançado, Halt tinha deixado cair um braço em volta dos ombros consolador do menino.
— Não se sinta muito mal com isso — disse ele. — Sua técnica ainda é boa. Mas você não pode esperar passar o inverno fazendo bonecos de neve nas montanhas e conservar sua vantagem.
— Fazendo bonecos de neve? — Will respondeu indignado. — Você sabe que as coisas eram muito ásperas nas montanhas... — Ele parou quando ele percebeu que Halt estava puxando a perna. Ele teve que admitir que o arqueiro estava certo, no entanto. A única maneira de atingir a precisão quase instintiva e velocidade com o arco que eram as características de um arqueiro é na prática, em constante e assiduamente.
Durante o dia seguinte, foi para a área de prática e entregou-se à tarefa de aperfeiçoar suas habilidades mais uma vez. Assim que sua velha habilidade voltava, juntamente com sua força e resistência, uma pequena multidão o assistia. Apesar de Will não poder se gabar dos níveis de habilidade de um arqueiro, sua capacidade era muito superior ao de arqueiros normais e ele foi considerado por Skandians e alguns dos escravos, com um acordo de respeito.
Evanlyn e Horace, no entanto, parecia encontrar muitas outras coisas para encher seus dias de equitação e caminhadas na mata nas proximidades, ou às vezes tendo um pequeno bote para fora na baía. É claro que eles pediram para Will se juntar a eles, mas cada vez, ele respondeu que deveria estar praticando.
Houve momentos em que ele poderia ter ido. Mas mesmo nessas ocasiões, os seus sentimentos feridos, ele não aceitou, alegando a necessidade de sessões de trabalho extra.
Os treinos foram intensificados quando Erak devolveu a bainha da faca duplo que estava usando quando ele e Evanlyn tinham sido capturados pela Skandians. Erak, mantinha as armas e agora entendeu a devolvê-los ao seu legítimo proprietário. Uma palavra de Halt, e Will sabia que ele iria em breve ser testado para sua habilidade de arremesso de faca. A experiência havia ensinado a Will agora que os longos meses sem prática teriam corroído suas habilidades nessa área também. Então ele começou a restaurá-los. O município de Hallasholm logo reconheceu a batida repetitiva de sua faca sendo jogada.
A cada dia que passava, sua precisão e velocidade melhorava tanto com o arco e as facas. Ele estava começando a recuperar a ação, uma fluidez que Halt tinha perfurado com ele durante tantas horas na floresta fora Castle Redmont.
Agora ele mudava de alvo facilmente ao destino, o seu braço levantava ou abaixava para ajustar as variações de distância, com os olhos bem abertos, vendo uma imagem de observação total, que incluía o arco, a flecha e o alvo final. Ele ficou satisfeito que Evanlyn tinha escolhido hoje para vir e assistir a sessão de prática. Ele sentiu uma alegria selvagem quando flecha após flecha caía nos objetivos, quer em flagrante no centro ou perto o suficiente para fazer diferença nenhuma.
— Então — disse ele casualmente quando ele lançou duas flechas em dois objetivos muito diferentes em rápida sucessão. — Onde Horace está hoje?
As flechas caíam, um após a outra, em suas respectivas metas e ele acenou com a cabeça para si mesmo.
A menina deu de ombros.
— Acho que você o fez se sentir culpado — respondeu ela. — Ele pensou que seria melhor começar alguma prática. Ele está trabalhando com alguns dos Skandians da tripulação de Erak.
— Eu vejo — respondeu Will, em seguida, uma pausa para colocar uma flecha em um dos alvos mais distantes, observando suavemente através do ar antes de enterrar o seu ponto no centro do anel.
— E por que você não foi junto para vê-lo? — Ele sentiu um pouco de prazer que Evanlyn tinha escolhido, por fim, para ver como ele estava se tornando proficiente e não se preocupou em prestar atenção a sua companhia constante dos últimos dias. Suas palavras próximas tracejada que brilham pequenas de prazer, no entanto.
— Eu fiz — respondeu ela — Mas depois que você ver duas pessoas baterem uns aos outros por alguns minutos, você desenvolve uma sensação de déjà vu. Pensei em vir e ver se você tinha melhorado desde o outro dia.
— Ah, é? — Will respondeu, um pouco duro. — Bem, eu espero que você não sinta que tenha perdido o seu tempo.
Evanlyn olhou para ele. Ele estava de costas para ela, disparando uma seqüência de tiros em três objetivos de um de cinqüenta metros, uma em setenta e cinco e uma em cem. Ela podia ouvir o tom duro em sua voz e se perguntou o que estava o incomodando. Ela decidiu não responder a pergunta. Em vez disso, ela comentou sobre a seqüência de três tiros, como todas as três setas encontraram suas marcas.
— Como você faz isso? — Perguntou ela. Will parou e virou na direção dela. Havia uma nota verdadeira de instrução em sua voz.
— Fazer o quê?
Ela apontou para os três alvos.
— Como você sabe o quão longe de levantar o arco para cada distância? — Perguntou ela. Por um instante a questão deixou-o perplexo. Finalmente, ele deu de ombros.
— Eu apenas sinto... — ele respondeu hesitante. Em seguida, franziu a testa — É uma questão de prática. Quando você faz isso repetida vezes, torna-se espécie de... Instinto, eu suponho.
— Então, se eu levasse o arco, você poderia me dizer o quão alto segurá-lo para acertar a meta do meio, por exemplo? — Ela perguntou, e ele levantou a cabeça para um lado, pensando a questão completamente.
— Bem... Não é apenas isso. Acho que eu podia, mas... Há outros fatores.
Ela se inclinou para frente, o rosto de consulta, e ele continuou.
— Como a sua liberação... Tem que ser liso. Você não pode agarrá-lo ou a seta sai da linha. E elaborar o seu peso, provavelmente varia.
— Elaborar seu peso?
Ele indicou a tensão na corda quando ele puxou de volta — Quanto mais tempo, maior peso que você colocará na flecha. Se você não chamar exatamente a mesma distância que eu fiz, o resultado pode variar.
Ela pensou na resposta. Pareceu-lhe lógico. Apertou os lábios e balançou a cabeça pensativamente uma ou duas vezes.
— Eu vejo — disse ela. Houve um ligeiro tom de desapontamento em sua voz.
— Existe algum tipo de problema? — Will perguntou, e ela suspirou profundamente.
— Era uma espécie de esperança de que talvez você poderia me mostrar como dar um tiro para que eu possa realmente fazer alguma coisa quando o temujai aparecer aqui — respondeu ela, um pouco abatida. Will riu. — Bem, talvez eu pudesse, se tivéssemos um ano de antecedência.
— Eu não quero ser um especialista — disse ela. — Eu pensei que talvez você poderia me mostrar apenas uma ou duas coisas básicas para que eu pudesse... Você sabe... — Ela falou com incerteza.
Will balançou a cabeça, desculpando-se, lamentando o fato de que ele rira dela.
— Receio que o verdadeiro segredo é um monte de prática — disse ele — Mesmo se eu lhe mostrar o básico, não é algo que você pode aprender apenas em uma semana ou duas.
Ela deu de ombros novamente.
— Acho que não. — Ela percebeu que seu pedido tinha sido irrealista. Sentiu-se tola agora e aproveitou a oportunidade para mudar de assunto. — Quando Halt pensa que vão chegar aqui, uma semana ou duas? Will disparou a flecha passando no conjunto e colocando o seu arco para baixo.
— Ele disse que eles poderiam estar aqui. Mas ele acha que vai demorar um pouco mais. Afinal, eles sabem o Skandians não estão indo a lugar algum. — Ele fez um gesto para ela acompanhá-lo quando ele recolheu suas flechas e começaram a cruzar o campo de prática em conjunto.
— Você ouviu a sua teoria? — Perguntou ela. — Sobre o ataque aqui, porque eles querem os navios Skandians?
Will assentiu.
— Não faz sentido quando você pensa sobre ele. Eles podem superar Teutlandt e Gallica quase como que eles escolherem. Mas eles estariam deixando um perigoso inimigo por trás deles. E o Skandians poderia atacá-los em qualquer lugar ao longo da costa, bater-lhes onde e quando quiserem.
— Eu posso ver isso — respondeu Evanlyn, puxando uma das flechas da meta de cinqüenta metros. — Mas você não acha que sua teoria sobre Araluen um pouco exagerado?
— Na verdade não — respondeu Will. — Mantenha-os perto da cabeça quando você retirá-los — disse ele, indicando a flecha ao lado quando ela pegou para ele. — Caso contrário, você vai quebrar o eixo, ou deformar-lo. Não há nenhuma razão para que a temujai deva parar no litoral Gallican. Mas se eles tentaram o seu exército de transporte por navio, sem cuidar da Skandians primeiro, eles poderiam estar em apuros.
Evanlyn ficou em silêncio por alguns segundos.
— Eu suponho que sim — disse ela finalmente.
— É só uma teoria, afinal — Will respondeu. — Talvez eles estejam apenas certificando-se de que seus flancos são seguros antes de se mover em Teutlandt. Mas Halt diz que você deve sempre pensar no pior. Então você não pode ficar desapontado.
— Eu acho que ele está certo sobre isso — respondeu ela. — Onde ele está, afinal? Eu não o vejo a alguns dias.
Will assentiu com a cabeça em direção ao sudeste.
— Ele e Erak tem ido ver o avanço temujai — disse ele — Eu acho que ele está procurando uma maneira de reduzir a velocidade.
Ele coletou a última de suas flechas e os colocaram na sua aljava. Então ele esticou e forçou os braços e dedos.
— Bem, acho que vou fazer outro jogo — disse ele. —Você vai ficar para assistir?
Evanlyn considerou por um momento, depois sacudiu a cabeça.
— Eu vou ver como Horace está indo — disse ela. — Eu vou tentar espalhar o incentivo ao redor. — Ela sorriu para ele, balançou os dedos em despedida e saiu do outro lado do campo, em direção à paliçada. Will assistiu sua figura, se afastar.
— Você faz isso — murmurou para si mesmo. Mais uma vez, ele sentiu uma vibração de ciúmes quando ele pensava nela assistindo Horace. Então, ele balançou a sensação para fora, como um pato sacode a água fora. Cabisbaixo, ele começou a andar de volta à linha de fogo.
— Mulheres — murmurou para si mesmo. "Elas não são nada além de problemas".
Uma sombra caiu sobre o chão ao lado dele e ele olhou para cima, pensando por um momento que Evanlyn poderia ter mudado de idéia. Afinal, a perspectiva de ver dois musculosos hulks bater uns aos outros com armas prática era um pouco chato, pensou. Mas não foi Evanlyn, foi Tyrelle, loira, bonita, de quinze anos de idade e sobrinha do Svengal. Ela sorriu timidamente para ele. Seus olhos eram incrivelmente azuis, ele percebeu.
— Posso levar suas flechas de volta para você, arqueiro? — Ela perguntou, e ele deu de ombros magnanimamente, soltando o quiver e entregando a ela.
— Por que não? — Disse ele, seu sorriso alargado. Afinal, pensou ele, teria sido indelicado recusar.
A árvore havia caído vários anos atrás, finalmente derrotado pelo peso da neve em seus galhos, a podridão insidioso no cerne de seu tronco maciço e os vendavais vigorosos do inverno. Mesmo na morte, no entanto, os vizinhos tentaram apoiá-lo, mantendo-o da ignomínia do chão, segurando-a nas garras de seus galhos emaranhados de modo que ele estava em um ângulo de trinta graus com a horizontal, aparentemente apoiado entre o céu e a terra pelos seus companheiros de perto embalados. Halt inclinou-se agora na casca áspera que ainda revestia seu tronco morto e olhou para o vale abaixo, onde a coluna temujai se movia lentamente.
— Eles estão tomando todo o tempo — disse Erak, ao lado dele. O arqueiro se virou para olhar para ele, uma sobrancelha levantada rapidamente.
— Eles estão sem nenhuma pressa — respondeu ele. — Vai levar algum tempo para obter os seus vagões de trem e de abastecimento através de passes. Os cavalos não gostam de espaços confinados. Eles são usados para as planícies das estepes.
O exército de cavalaria continuou seu avanço lento. Não parecia que sua marcha tinha ordem, Halt pensou, carrancudo. Não houve batedores, nem patrulhas de triagem nos flancos da multidão de homens, cavalos e carroças como eles fizeram no seu caminho em direção a Hallasholm, noventa quilômetros ao norte.
Halt, Erak e um pequeno grupo de Skandians tinham vindo do sudeste, se deslocaram sobre as montanhas ao longo de íngremes, caminhos estreitos, onde a cavalaria temujai tivera mais dificuldade para se mover, para espiar o progresso dos invasores. Agora, com Halt a assisti-los, um pensamento lhe ocorreu.
— Veja bem, nós poderíamos ter certeza de nos mover um pouco mais lento — disse ele suavemente. Erak encolheu os ombros, impaciente com a idéia.
— Por que se preocupar? — Perguntou secamente. — Quanto mais cedo se entender com eles, mais cedo resolvemos isso.
— Quanto mais tempo eles tomam, mais tempo temos para nos preparar — disse-lhe Halt. — Além disso, incomoda-me a vê-los apenas junto, sem tomar precauções, andando sem nenhuma ordem. Isso é muito arrogante.
— Eu pensei que você disse que eles eram inteligentes? — O Skandian consultou, e foi a vez de Halt encolher os ombros.
— Talvez seja porque eles esperam que você simplesmente entre na cabeça deles quando eles finalmente chegarem a Hallasholm — sugeriu.
O líder da guerra Skandian considerou o pensamento, olhando um pouco ofendido com isso.
— Não nos dão qualquer crédito para a estratégia?
Halt tentou esconder um sorriso.
— Como você pretende combatê-los?
Houve uma pausa, então Erak respondeu relutantemente:
— Suponho, simplesmente esperar até que cheguem a nossa posição, então... atacá-los de frente. — Ele olhou atentamente para o mais curto homem, mas Halt estava a ser muito óbvio de não dizer mais nada. Finalmente, Erak acrescentou, em um tom ofendido: — Mas não há nenhuma necessidade para que eles simplesmente assumissem isso.
— Exatamente — respondeu Halt — Assim, talvez devêssemos dar-lhes algo em que pensar. Alguma coisa para colocá-los um pouco fora de equilíbrio e talvez colocar uma dúvida em suas mentes.
— Isso é uma boa estratégia? — Erak perguntou. O arqueiro sorriu para ele.
— É uma boa terapia para nós — respondeu ele. — E, além disso, um inimigo com uma dúvida em sua mente é menos provável que faça algo ousado e inesperado. Quanto mais pudermos dissuadi-los de fazer o inesperado, melhor será para nós.
Erak pensou sobre a questão. Pareceu-lhe lógico.
— Então o que você quer fazer? — Perguntou ele. Halt olhou ao redor dos vinte guerreiros que os acompanhou.
— Este Olgak — disse ele, indicando que o jovem líder da tropa. — Ele é capaz de seguir ordens, ou ele é um típico guerreiro Skandian?
Erak franziu os lábios.
— Todos são guerreiros Skandians, dadas as condições adequadas — respondeu ele. — Mas Olgak seguirá as ordens, se eu lhes der.
Halt acenou com a compreensão.
— Vamos conversar com ele depois — disse ele.
Erak acenou para o homem mais jovem se juntar a eles. Olgak, vendo o sinal, mudou-se para a frente, balançando seu machado facilmente em sua mão direita, o seu grande escudo circular em seu braço esquerdo. Ele olhou expectante em Erak.
— Ouça o que o arqueiro tem a dizer — ele ordenou, e o olho do rapaz virou-se para Halt. O arqueiro estudou-o por alguns instantes. Seus olhos azuis eram sinceros e direto. Mas ele viu uma luz de inteligência lá. Halt acenou para si mesmo, em seguida, apontou para o exército temujai abaixo deles.
— Vê o exercito lá embaixo? — Perguntou ele, e quando o jovem assentiu, continuou, — Eles estão montados sem formação, sem batedores de cobertura, e com vagões de abastecimento e pessoal de apoio misturado com os seus guerreiros. Eles não costumam viajar dessa maneira. Você sabe por que eles estão fazendo isso?
Olgak hesitou, então balançou a cabeça, franzindo ligeiramente. Não só ele não sabe, mas ele não sabia por que deve ser importante para qualquer um saber uma coisa dessas.
— Eles estão fazendo isso porque eles se sentem seguros — Halt continuou. — Porque eles acreditam que Skandians estão indo simplesmente esperar por eles e atingi-los de frente.
Olgak assentiu com a cabeça agora. Eles haviam chegado a um ponto que ele entendeu.
— Estamos... Não estamos?
Halt trocou um olhar com Erak. O Jarl encolheu os ombros. Skandians tem uma visão simples das coisas.
— Bem, sim, você esta — admitiu Halt. — Eventualmente. Mas, por agora, seria bom para torná-los um pouco menos confortável, não? — Ele fez uma pausa, depois acrescentou, com uma ligeira vantagem em sua voz
— Ou você gosta de vê-los através de seu país, como se voltassem de férias?
Olgak mordeu os lábios, olhando para os invasores. Agora que o arqueiro tinha mencionado isso, eles não parecem ter um time completamente muito fácil das coisas, ele pensou.
— Não — respondeu ele. — Eu não posso dizer que gosto de ver isso. Então o que vamos fazer sobre isso?
— Erak e eu estamos indo de volta para Hallasholm — Halt disse-lhe, sentindo o endurecer do líder Skandian ao lado dele quando ele disse isso. Obviamente, o Jarl estava olhando para frente a uma escaramuça pouco e ele não estava emocionado ao ouvir que ele ia perder isso.
— Mas você e seus homens vão atacar suas linhas a noite e queimar os vagões.
Ele apontou com o fim do seu arco para uma meia dúzia de vagões de abastecimento, descuidada junto à beira do exército. Olgak sorriu e acenou com a aprovação da idéia.
— Parece bom para mim — disse ele. Halt estendeu a mão e colocou uma mão firme em seu antebraço muscular, o homem mais atraente para cumprir o seu olhar firme.
— Mas me escute, Olgak — disse ele intensamente.
— Você está indo bater e correr. Não fique enroscado em uma luta prolongada, entendeu?
O Skandian jovem foi menos feliz com esse comando. Halt sacudiu violentamente o braço para dar ênfase.
— Entendeu? — Ele repetiu. — Nós não queremos que você e estes vinte homens para ir lá para baixo em um momento de glória quando você queimar os vagões. E sabe por quê?
Olgak sacudiu a cabeça num movimento pequeno, relutante. Halt continuou.
— Porque amanhã à noite, eu quero que você se mova ao longo da coluna e queime mais vagões temujai e mate um pouco mais, enquanto você está nisso. — A idéia era começar a apelar para o jovem agora.
— E se você está morto na primeira tentativa, não importa quão gloriosos que possa parecer, no momento, até amanhã os temujai simplesmente continuaram como estão, não é? — O arqueiro perguntou-lhe.
Olgak acenou com a compreensão.
— Então, a cada noite, eu quero que você bata uma parte diferente da coluna. Queime seus fornecimentos. Solte os cavalos. Mate suas sentinelas. Entrar e sair rápido e não deixe que eles prendam vocês em uma batalha permanente. Fique vivo e manter a assediá-los. Entendeu?
Olgak assentiu novamente, agora mais convencido do bom senso por trás do plano.
— Eles nunca sabem onde nós estamos indo bater-lhes ao lado — disse com entusiasmo.
— Exatamente — disse Halt. — O que significa que eles terão de definir os guardas ao longo de toda a coluna. Eles vão ter que pôr sentinelas extras durante a noite. E tudo isto vai abrandar para baixo.
— É como invadir costeira, não é? — o jovem Skandian disse, pensando em como o Lobo do Mar parece de todo o horizonte sem aviso em uma costa inimiga e os ataca. — Você só quer que nós o façamos durante a noite? — Acrescentou.
Halt pensou por um minuto.
— Para o primeiro par de dias, sim. Em seguida, escolha um local onde você possa se retirar rapidamente para as árvores e para cima em algum lugar onde os cavalos não vão segui-lo com facilidade na luz do dia. Talvez no final do dia ou o começo.
— Mantendo-os a adivinhar? — Olgak disse, e Halt bateu o braço em aprovação.
— Você tem a idéia — disse ele, sorrindo para o jovem. — E lembre-se a regra de ouro: bater onde eles não estão.
Olgak ponderou que.
— Batê-los onde eles não estão? — Perguntou ele finalmente, parecendo incerto.
— Ataque nos lugares onde suas tropas estão espalhadas mais fino. Fazê-los vir até você. Em seguida, desapareça antes de realmente fazer o contato. Lembre-se que a parte mais importante de todos. Sobreviver.
Ele podia ver o homem mais jovem entendido. Olgak repetiu a palavra para si mesmo.
— Sobreviver — disse ele. — Eu entendo.
Halt virou e olhou para Erak, levantando uma sobrancelha.
— Existe alguma razão pela qual você deva fazer uma ordem para que Olgak não comece uma luta, Jarl? — Perguntou ele. Erak voltou a pergunta para o homem mais jovem.
— Bem, Olgak, entendeu? — Disse ele, e o líder da tropa balançou a cabeça.
— Eu entendo o que você tem em mente, arqueiro — disse ele. — Confie em mim. É uma boa idéia.
— Bom homem — Halt disse baixinho, então se virou para enfrentar a questão que ele sabia que estava vindo de Erak.
— E o que nós vamos fazer enquanto Olgak e seus homens estão tendo toda a diversão? — O Jarl perguntou.
— Nós vamos voltar para Hallasholm para começar a preparar uma recepção para os nossos amigos lá — Halt disse a ele. — E enquanto nós estamos nisso, podemos enviar outra meia dúzia de partidos fora para perseguir a coluna como Olgak estará fazendo. Tudo o que podemos fazer para diminuí-los irá nos ajudar.
Erak arrastou os pés na neve. Ele parecia, Halt pensou, notavelmente como uma criança que tinha sido dito que ele deveria entregar o seu brinquedo favorito.
— Você poderia fazer isso — disse ele finalmente.
— Talvez eu devesse ficar e dar a Olgak e seus homens uma mão. — Mas Halt balançou a cabeça, o fantasma de um sorriso tocando nos cantos da boca.
— Eu preciso de você atrás de mim — ele disse simplesmente. — Eu preciso de sua autoridade por detrás de mim se eu vou ser capaz de conseguir as coisas organizadas.
Erak abriu a boca para responder, mas Olgak interrompeu.
— O arqueiro está certo, Jarl — disse ele. — Você vai ser mais valioso em Hallasholm. E, além disso, você está ficando um pouco velho para este tipo de trabalho, não é?
Erak arregalou os olhos com raiva e ele começou a dizer alguma coisa. Então ele notou que estava Olgak estava sorrindo amplamente e percebeu que o jovem estava brincando. Ele balançou a cabeça de advertência, olhando para seu próprio Broadax.
— Um dia desses, eu vou lhe mostrar o quão velho estou — disse ele de forma significativa. Os olhos de Olgak se arregalaram. Halt considerou os dois por um momento, então, atirando o seu arco por cima do ombro direito, ele se virou e abriu o caminho de volta para onde Abelard foi amarrado, juntamente com o pônei que Erak tinha relutantemente montado quando chegaram nesta expedição de reconhecimento. Ele reuniu as rédeas de Abelard em uma mão e voltou para o líder da tropa.
— Tenho certeza que você vai fazer um bom trabalho, Olgak — disse ele. Então, olhando de soslaio para o Jarl ainda indignado, acrescentou calmamente: — Você é obviamente um homem muito corajoso jovem.
General Haz'kam, comandante da força de invasão temujai, olhou por cima de sua refeição quando seu adjunto entrou na tenda. Mesmo Nit'zak não sendo um homem alto, ele teve de vergar-se para passar através da baixa abertura. O general fez um gesto para as almofadas que estavam espalhadas no tapete no chão e Nit'zak abaixou-se para se sentar em uma delas, soltando um suspiro de alívio. Ele tinha ficado na sela nas últimas cinco horas, verificando acima e abaixo o comprimento da coluna temujai.
Haz'kam empurrou a tigela perfumada do cozido de carne que tinha comido para o outro homem e indicou para ele ajudar a si mesmo. Nit'zak acenou em agradecimentos, pegou uma tigela menor no tapete entre eles e escavou vários punhados para ela, estremecendo ligeiramente a mão em contato com a comida quente. Ele selecionou um grande pedaço e colocou em sua boca, mastigando com vontade e acenando com apreciação.
— Bom — disse ele finalmente.
O general Haz'kam nunca trouxe nenhuma de suas três esposas de campanha com ele, era um excelente cozinheiro. O general considera essa capacidade de maior importância durante uma campanha do que qualquer beleza física. Ele acenou com a cabeça agora, arrotando baixinho e empurrou sua própria tigela para longe. A mulher avançou rapidamente para frente para removê-la, em seguida, retornou a sua posição contra a parede curva da tenda.
— Então — perguntou o general. — O que você achou?
Nit'zak transformou seu rosto uma expressão de desagrado, não pela comida, mas o assunto sobre o qual estava para reportar.
— Eles bateram-nos outra vez esta noite — ele respondeu. — Desta vez, em dois lugares. Uma vez na cauda da coluna. Eles soltaram um pequeno rebanho de cavalos lá. Vai durar a metade do dia de amanhã para recuperá-los. Em seguida, outro grupo entrou do lado costeiro e queimaram umas meias dúzia de vagões de abastecimento.
Haz'kam olhou com surpresa.
— A partir da costa? — Ele perguntou, e seu adjunto assentiu.
Até agora, as incursões montada pelo Skandians havia sido iniciado a partir das colinas densamente arborizadas das estreitas planícies costeiras. Os invasores atacavam uma parte indefesa da coluna, em seguida, retiravam-se para a cobertura das florestas e os montes onde a perseguição seria demasiado arriscada. Esta nova eventualidade complicaria as coisas.
— Eles parecem ter vários de seus navios no mar — o deputado disse a ele. — Eles ficam fora de vista durante o dia, depois quando escurece nos roubam e as tropas de terra nos atacam. Então eles se retiram para o mar.
Haz'kam sondou com a língua um pedaço de carne entalado entre dois dentes de trás.
— Sempre, é claro, não podemos segui-los — disse ele.
Nit'zak assentiu.
— Isso significa que agora vamos ter de cobrir ambos os lados da coluna — disse ele. Haz'kam murmurou uma maldição baixa. — E nos atrasando — disse ele.
Todas as manhãs, as horas foram desperdiçadas formando a grande coluna em fileiras disciplinadas para marchar. E, claro, uma vez que a marcha começava, o ritmo era limitado pelas lentas seções da coluna, que eram os carros de abastecimento e o comboio de bagagem. Tinha sido muito mais rápido simplesmente mover-se como uma grande massa.
Nit'zak concordou.
— Esse é o problema de ter a tela do campo a cada noite.
Haz'kam tomou um gole profundo da bebida fermentada de cevada, em seguida, entregou o cantil de couro para Nit'zak.
— Não é o que eu esperava — disse ele. — Eles estão muito mais organizados do que nossa inteligência levou-nos a crer.
Nit'zak bebeu profundamente em gratidão. Ele deu de ombros. Em sua experiência, a inteligência era geralmente imprecisa no melhor e no pior dos casos absolutamente errada.
— Eu sei — disse ele. — Tudo o que tinha ouvido falar sobre essas pessoas levou-me a acreditar que eles simplesmente nos atacariam em um ataque frontal, sem qualquer estratégia global. Eu meio que esperava que seria concluída com eles até agora.
Haz'kam ponderou.
— Talvez eles ainda estejam reunindo a sua força principal. Acho que não temos alternativa senão continuar como estamos. Eu imagino que eles vão finalmente fazer um carrinho quando chegarmos a sua capital. Apesar de agora vamos ter mais tempo para fazer isso.
Nit'zak hesitou por um momento com a sugestão seguinte. Então ele disse:
— Claro, General, nós poderíamos simplesmente continuar como estamos, e aceitar as perdas que seus ataques estão causando. Eles são bastante sustentável, você sabe.
Foi uma sugestão temujai tipicamente insensível. Se a perda de vidas ou suprimentos poderiam ser compensadas por uma maior velocidade, ele poderia muito bem valer a pena optar por esse curso. Haz'kam balançou a cabeça. Mas não por qualquer sentimento de cuidado para as pessoas sob seu comando.
— Se nós não respondermos, não teremos uma forma de saber quando eles vão nos bater com um grande ataque — ressaltou. — Eles poderiam ter centenas de homens nas montanhas e se eles escolheram a mudança de ataques de picada de agulha para um grande ataque, estaríamos em apuros. Estamos muito longe de casa, você sabe.
Nit'zak acenou com aquiescência. Essa idéia não tinha ocorrido a ele. Ainda assim, ele hesitou um pouco.
— Isso não é o tipo de coisa que nós fomos levados a acreditar que eram capazes de fazer — ressaltou ele, e os olhos de Haz'kam encontraram o seu.
— Nem é — disse ele baixinho, e quando os olhos do jovem desviaram, ele acrescentou — faça os homens continuarem na formação em cada dia de marcha. E suponho que agora é melhor colocar sentinelas na direção do mar durante a noite também.
Nit'zak murmurou o seu assentimento. Ele hesitou alguns segundos, se perguntando se este era um daqueles momentos em que seu comandante queria continuar a falar e passar a beber por algumas horas. Mas Haz'kam mandou-o embora com um gesto de mão. Nit'zak pensou que o general parecia cansado. Por um momento, ele pensava sobre os anos que passaram juntos em campanha e percebeu que Haz'kam já não era um homem jovem. Nem ele era, ele pensou, como a dor nos joelhos, testemunhou. Ele abaixou a cabeça em uma saudação perfunctória, levantou-se com outro gemido mal suprimido, agachando-se, para a entrada da barraca. Ao longe, ouviu homens gritando. Olhando em direção de onde veio o barulho, viu uma brilhante queima de fogo contra o céu da noite. Ele amaldiçoou suavemente. O Skandians condenados estavam invadindo novamente, ele pensou.
Uma tropa de cavaleiros passou por ele ruidosamente, dirigindo-se para o local do ataque. Ele viu-os ir, tentado por um momento a se juntar a eles, mas resistindo à tentação quando ele percebeu que o tempo que eles levariam para atingir o ponto do ataque, o inimigo estaria muito longe.
O Conselho de Guerra Skandian estava reunido no Grande Hall. Will sentou ao lado, ouvindo como Halt dirigia-se ao líder Skandian e seus principais conselheiros. Borsa, Erak e outros dois jarls sênior, Lorak e Ulfak, ladeado pelo Oberjarl em torno da mesa onde o Halt tinha espalhado um mapa imenso da Skandia. O arqueiro bateu um ponto no mapa com o ponto de sua faca de Saxe.
— Ontem à noite — disse ele — o temujai estava aqui. Talvez sessenta quilômetros de distância de Hallasholm. As invasões para atrasar estão tendo exatamente o tipo de efeito que queríamos. O avanço é de trinta quilômetros por dia.
— Não deveria uma cavalaria movesse mais rápido do que isso? — Perguntou Ulfak. Halt empoleirado numa perna do banco ao lado da mesa balançou a cabeça.
— Eles vão se mover rápido o suficiente quando estiverem lutando — disse-lhes. — Mas agora, eles estão conservando a força de seus cavalos, deixando os animais se moverem com facilidade. Além disso, agora que os homens de Olgak foram reforçados com mais meia dúzia de grupos de invasão, vai levar a metade do dia para simplesmente se formar, em seguida, montar um acampamento de novo à noite.
Ele olhou para Erak e acrescentou:
— Sua idéia de enviar um navio para invadir seu flanco foi muito boa.
O Jarl assentiu.
— Parecia lógico — ele respondeu.
— É o que nós somos bons, apesar de tudo.
Ragnak bateu um punho maciço no pinho das tábuas que formavam a mesa.
— Eles não conseguir nada! É hora de batê-los com a nossa principal força e resolver isso de uma vez por todas — declarou ele, e três do seu Conselho rosnou em acordo.
— Haverá muito tempo para isso — advertiu Halt.
— A coisa mais importante é envolvê-los em um lugar que nos convenha, um que nós escolhemos.
Novamente, o Oberjarl rosnou. Ele sabia que ele concordou em ouvir os conselhos de Halt. Mas esses malditos invasores tinham se exibido em seu país por várias semanas. Foi uma afronta a ele e a todos os Skandian e queria limpar a afronta logo, ou morrer na tentativa.
— Qual é a diferença onde nós os combatemos? — Disse. — Uma luta é uma luta. Nós ganhamos ou perdemos. Mas, se perder, nós vamos tomar muito deles com a gente!
Halt tirou o pé do banco e pôs-se em linha reta, forçando a faca Saxe para trás em sua bainha.
— Oh, não se preocupe — ele disse friamente. — Há todas as chances que nós vamos perder. Mas vamos certificarmos de levarmos muitos deles com a gente, não? — Os Skandians, foram surpreendidos com a sua avaliação fria de suas possibilidades de sobrevivência, como ele pretendia que fossem.
— Eles estão de cavalaria — continuou ele. — Eles ultrapassam-nos, pelo menos, quatro para um. Eles podem passar a perna em nós, fugir de nós. E eles olham para frente mais ampla possível para nos envolver. Dessa forma, todas as vantagens estão com eles. Eles flanqueiam-nos, nos cercam e, se puderem. — Ele viu que tinha a atenção. Eles não estavam felizes com a situação, mas pelo menos eles estavam preparados para ouvir.
— Como eles vão fazer isso? — Erak perguntou. Ele e Halt tinham discutido isso no dia anterior. O arqueiro olhou rapidamente para Erak, mas dirigiu a sua resposta para todos do grupo.
— É uma tática padrão deles — disse ele. — Eles vão atacar em uma frente ampla, investigando, batendo e se apossando. Em seguida, eles aparecem para se tornar totalmente engajados em um ou dois pontos. Eles vão parar sua tática de bater e correr, e lutar uma batalha campal, justamente o tipo de coisa que vai servir aos seus homens — acrescentou ele, olhando para Ragnak. O Oberjarl assentiu.
— Então — continuou Halt — eles vão começar a perder. Seu ataque vai perder a sua coesão e eles vão tentar se retirar.
— Bom! — Disse Borsa, e os dois outros jarls resmungaram em acordo. Ragnak, no entanto, percebeu que havia mais por vir. Ele não fez nenhum comentário no momento, mas fez um gesto para Halt continuar.
— Eles vão ceder terreno. Lentamente, a princípio, depois mais e mais rápido quando o pânico parece ajustar-se dentro, de alguma forma eles nunca se movem tão rápido que os homens perdem o contato com eles. Gradualmente, mais e mais dos seus guerreiros será retirado de nossa linha, longe do escudo, longe das nossas defesas. À medida que prosseguir o inimigo, o temujai se tornará cada vez mais desesperado. Pelo menos, eles pareceram. Então, no momento certo, eles vão virar.
— Virar? — Disse o Oberjarl. — O que você quer dizer?
— Eles vão parar de recuar. De repente, vocês vão se encontrar cercado pela cavalaria temujai. E lembre-se, cada um de seus cavaleiros é um perito arqueiro. Eles não vão se preocupar em matar. Eles podem escolher os homens que querem matar. E quanto mais eles matam os líderes, mais enfurecidos vão se tornar. Seus amigos vão estar rodeados por sua vez. E exterminados.
Ele fez uma pausa. Os cinco Skandians todos olharam para ele, e o silêncio os atingiu. Eles poderiam imaginar o cenário que ele descreveu. Eles sabiam que o temperamento de seus homens e ver a facilidade com que tal poderia suceder um estratagema contra eles.
— Isto é como eles lutam? — Ragnak perguntou finalmente.
— Eu os vi, Oberjarl. Eles não estão preocupados com glória na batalha. Apenas matando eficiente. Eles vão desafiar os nossos guerreiros a única luta, então emboscada-los com dez ou vinte guerreiros de uma vez. Se eles não podem atirar para matar logo, eles vão disparar para desativar. Mesmo os seus mais fortes guerreiros não podem continuar com dez a quinze flechas nas pernas. Então, quando eles estão desamparados, os temujai irão matá-los.
Ele varreu seu olhar em volta da mesa. Ciente de que todos podiam ver o perigo que eles enfrentavam, sentou-se, abrangendo o banco. Finalmente, foi Borsa, o Hilfmann, que quebrou o longo silêncio que havia caído na sala.
— Então... Onde quer envolvê-los? — Perguntou ele. Halt estendeu as mãos em um gesto amplo de questionamento.
— Por que envolvê-los em tudo? — Perguntou ele. — Temos tempo para se retirar antes de eles chegarem. Nós poderíamos avançar para as montanhas e as florestas e continuar batendo neles como eles vêm mais e mais ao longo da planície costeira aqui.
— Fugir, você quer dizer? — Ragnak perguntou, seu tom irritado.
Halt assentiu com a cabeça várias vezes.
— Sim. Fugir. Mas continuam a bater-lhes a vinte ou trinta ou cinqüenta pontos ao longo da sua coluna. Matá-los. Queime seus fornecimentos. Atormentá-los. Faça a sua vida uma miséria, muito insuportável até que eles percebam que essa invasão foi uma má idéia. Então assediá-los de volta para a fronteira até que eles se vão. Ele fez uma pausa. Ele sabia que havia pouca chance de ganhar. Mas ele tinha que tentar. Foi o melhor curso que lhes abre. Seu coração afundou quando Ragnak balançou a cabeça. Mesmo Erak, os lábios estavam comprimidos em uma linha fina, desaprovando.
— Abandonar Hallasholm para eles? — Perguntou Ragnak.
Halt encolheu os ombros.
— Se necessário. Você pode sempre reconstruir.
Mas agora todos os Skandians estavam balançando a cabeça e ele sabia o que estava por trás dele.
—Abandonar tudo em Hallasholm para eles?
Ragnak persistiu. Desta vez Halt não deu resposta. Ele esperou o inevitável.
— Nosso saque, os resultados de centenas de anos de incursões, deixar isso para eles? — Ragnak perguntou.
E que, Halt sabia, era o cerne da questão. Na Skandian jamais abandonar o que tinha guardado ao longo dos anos, o ouro, a armadura, as tapeçarias, os lustres, os mil e um artigos que acumulou e mantidos e regozijou-se mais em seus depósitos. Ele chamou a atenção de Will e encolheu os ombros levemente. Ele tentou. Halt mudou-se para o mapa, mais uma vez e indicou a um ponto com a faca.
— Alternativa — disse ele — nós os detemos aqui, onde os contratos de planície costeira ao seu ponto mais estreito.
Os Skandians esticaram para olhar novamente. Eles assentiram em aprovação cautelosa, já que Halt tinha retirado a sugestão de que eles deveriam abandonar Hallasholm e seu conteúdo para os invasores.
— Dessa forma, eles não podem atacar em uma frente ampla. Eles vão ser apertados. E nós podemos esconder os homens nas árvores aqui e até mesmo em uma das dependências ao longo da costa.
Lorak, mais velho dos dois jarls, franziu a testa com a sugestão.
— Não enfraqueceria nossa defesa?
Halt balançou a cabeça.
— Não visivelmente. Nós vamos ter mais do que os homens o suficiente para formar uma sólida posição defensiva aqui onde a terra é mais restrita. Então, quando o temujai tentar seu truque de cair para trás e trazer os nossos homens, juntamente com eles, nós vamos aparecer para ir junto com ele.
Erak avançou para inspecionar a faixa estreita de terra que Halt estava apontando.
— Quer dizer que nós vamos fazer o que eles querem? — Perguntou ele.
Halt empurrou para fora o lábio inferior e inclinou a cabeça para um lado.
— Vamos fazer parecer — admitiu — Mas em vez de parar e retirar o contra-ataque, vamos fazer nossas forças de emboscada sair da clandestinidade e batê-los por trás. Se tudo correr corretamente, podemos tornar a vida muito desagradável para eles.
O Skandians estavam pé, olhando para o mapa. Borsa, Lorak e Ulfak pareciam brancos quando eles tentaram visualizar o movimento. Erak e Ragnak, Halt estava contente de ver, foram lentamente balançando quando eles entenderam a idéia.
— Nossa melhor chance — continuou ele — é forçá-los para o tipo de envolvimento que se adapte às seus homens mais perto, lado a lado, cada um por si. Se nós pudermos pegá-los dessa forma, seu machado terá um pesado tributo sobre eles. Os temujai dependem da velocidade e do movimento para a proteção. Eles estão apenas levemente armados e blindados. Se tivéssemos uma pequena força de arqueiros, poderia fazer uma enorme diferença — acrescentou. — Mas eu acho que não podemos ter tudo. — Halt sabia que o arco não era a arma Skandian. Não adiantava desejar coisas que não podia ser. Mas em sua mente, ele podia ver a devastação que um grupo organizado de arqueiros poderia causar. Ele deu de ombros, empurrando o pensamento de lado. Erak olhou para o arqueiro cinza camuflado. Ele é pequeno, ele pensou, mas pelos deuses, ele é um guerreiro para reconhecer.
— Nós temos que depender de nossos homens para manter suas cabeças — disse ele. — Então, temos que no tempo certo, mover para a direita, caso contrário, os homens provenientes da floresta e as dependências serão expostos. É um risco.
Halt encolheu os ombros.
— É a guerra — respondeu ele. — O truque é saber quais os riscos tomar.
— E como você sabe disso? — Borsa perguntou-lhe, sentindo que o pequeno, barbudo estrangeiro havia ganhado a confiança e a aceitação dos Oberjarl e seu Conselho de Guerra. Halt esfaimadamente sorriu para ele.
— Você espera até que acabe e veja quem ganhou — disse ele. — Então você sabe que aqueles eram os riscos certos a tomar.
— Halt — Will disse pensativo enquanto se afastava do Conselho com Halt e Erak. — O que você quis dizer quando disse que precisava de arqueiros?
Halt olhou para os lados de seu aprendiz e suspirou.
— Poderia fazer uma grande diferença para o resultado — disse ele. — Os temujai são arqueiros em si. Mas eles raramente têm de enfrentar um inimigo com uma habilidade especial com o arco.
Will assentiu. O arco era tradicionalmente uma arma Araluen. Talvez por causa do isolamento do reino em uma ilha e os países em uma massa de terra Oriental, que havia feito Araluen peculiar. Outras nacionalidades pode usar arcos de caça ou mesmo esporte. Mas só nos exércitos de Araluenses iria encontrar o laminado grupos de arqueiros que poderia fornecer uma devastadora chuva de flechas sobre uma força de ataque.
— Eles entendem o valor do arco como uma arma estratégica — disse ele. — Mas eles nunca tiveram que lidar com ele. Eu tenho uma vaga idéia porque quando Erak e eu estávamos correndo deles para perto da fronteira. Uma vez que eu ia atirar flechas, eles foram decididamente relutantes em vir correndo em torno de todos os cantos cegos.
O Jarl riu discretamente na memória.
— Isso é bastante verdade — ele concordou. — Uma vez que você matou alguns deles, eles abrandaram consideravelmente.
— Você sabe, eu estive pensando... — disse o menino, e hesitou. Halt sorriu silenciosamente para si mesmo.
— Sempre um passatempo perigoso — disse ele gentilmente.
Mas Will continuou:
— Talvez devêssemos tentar reunir uma força de arqueiros. Mesmo uma centena ou mais poderia fazer a diferença, não poderiam eles?
Halt balançou a cabeça.
— Nós não temos tempo, Will — respondeu ele. — Eles estarão sobre nós dentro de duas semanas. Você não pode treinar arqueiros nesse curto espaço de tempo. Afinal, os Skandians não têm nenhuma habilidade com o arco, para começar. Você teria que ensinar o básico, entalhe, desenho, libertando. Isso leva semanas, como você sabe.
— Há uma abundância de escravos aqui — Will persistiu. — Alguns deles sabem o básico. Então, tudo o que nós teríamos que fazer é controlar seu alcance.
Halt olhou para o aprendiz novamente. O menino estava falando sério, ele podia ver. Um pequeno franzir da testa enrugada de Will quando ele pensava sobre o problema.
— E como você faria isso? — Perguntou o arqueiro. A carranca aprofundada por alguns segundos, enquanto Will reunia seus pensamentos.
— Era algo que Evanlyn pediu-me, que me surgiu isso — disse ele. — Ela estava me observando praticar e ela ficou perguntando como eu sabia da elevação quanto para dar um tiro especial, e eu lhe disse que era apenas uma experiência. Então eu pensei que talvez pudesse mostrar a ela e eu estava pensando, se ensinasse as quatro posições básicas...
Ele parou de andar e levantou o braço esquerdo como se estivesse segurando um arco, em seguida, mudou-se através de quatro posições, com início na horizontal e, finalmente, elevando-a para um máximo de quarenta e cinco graus.
— Um, dois, três, quatro, como aquela — continuou ele. — Você pode fazer um grupo de arqueiros assumirem essas posições, enquanto alguém lhes diz o intervalo. Eles não precisam ser tomadas muito boas, desde que a pessoa que os controlam possam julgar o intervalo — concluiu.
— E deflexão — Halt disse pensativo. — Se você sabe que na segunda posição seus eixos iriam viajar, digamos, duzentos metros, você pode liberar o seu tempo para que o inimigo que se aproximasse chegasse a esse ponto assim como a tempestade de flecha.
— Bem, sim — Will admitiu. — Eu não tinha pensado tão longe. Eu só estava pensando em definir o intervalo e com liberação de todos ao mesmo tempo. Eles não precisariam apontar para alvos individuais. Eles poderiam apenas atirar na massa.
— Você precisa antecipar — Halt disse.
— Sim. Mas essencialmente, seria o mesmo como se eu estivesse disparando uma flecha para mim. É só que, quando liberada, seria chamada uma centena de outras flechas.
Halt coçou a barba. Olhou para o Skandian.
— O que você acha, Erak?
O Jarl apenas encolheu os ombros maciços.
— Eu não entendi uma palavra do que você está dizendo — admitiu alegremente. — Defraxão...
— Deflexão — corrigiu-o Will, e Erak encolheu os ombros.
— Seja qual for. É tudo um enigma para mim. Mas se o menino acha que poderia ser possível, bem, eu penso que ele poderia estar certo.
Will sorriu para o grande líder de guerra. Erak gostava de manter as coisas simples. Se ele não compreendesse um assunto, ele não gastava energia pensando sobre isso.
— Tenho a tendência a pensar da mesma maneira — Halt disse calmamente, e Will olhou para ele com surpresa. Ele estava à espera de seu mentor para apontar a falha fundamental em sua lógica. Agora, ele viu que Halt estava considerando seriamente a sua proposta. Então ele percebeu o olhar de desespero que crescia no rosto de Halt quando ele descobriu a falha.
— Arcos — disse o arqueiro, o desapontamento em sua voz. — Onde é que nós encontraremos uma centena de arcos? Não há, provavelmente, vinte no total em Skandia.
O coração de Will afundou. É claro. Havia o problema. Levava semanas para moldar e fazer um único arco. Era um trabalho de artesão e de nenhuma maneira teriam tempo para fazer os cem arcos que seria necessário. Desconsolado, ele chutou uma pedra em seu caminho, então gostaria que não tivesse. Tinha esquecido que ele estava usando botas de pano.
— Eu poderia deixar você ter uma centena — disse Erak no deprimente silêncio que seguiu a declaração de Halt. Ambos se viraram para olhar para ele.
— Onde você encontrou uma centena de arcos longos? — Halt perguntou-lhe. Erak encolheu os ombros.
— Eu capturei um sabugo de dois mastros na costa Araluen três temporadas atrás — disse-lhes. Ele não tem que explicar que uma temporada Skandian era uma temporada de ataques. — Ela tinha um porão cheio de arcos. Eu os mantive na minha despensa até que eu pudesse encontrar um uso para eles. Eu estava indo usá-los como cercas — ele continuou — Mas eles pareciam um pouco flexíveis para o trabalho.
— Os arcos tendem a ser assim — disse Halt lentamente, e quando Erak olhou para ele, sem compreender, ele acrescentou: — Mais flexível que a cerca. É uma das qualidades que procuramos em um arco.
— Bem, eu suponho que você saiba — disse Erak casualmente. — De qualquer forma, eu ainda os tenho. Deve haver milhares de flechas lá também. Eu pensei que seria útil um dia.
Halt alcançou e colocou uma mão no ombro maciço.
— E como você estava certo — disse ele. — Graças aos deuses o hábito Skandian de guardar de tudo.
— Bem, claro que guardamos — Erak explicou. — Nós arriscamos nossas vidas para levar o material em primeiro lugar. Não há nenhum sentido em jogá-la fora. Enfim, você quer ver se você pode usá-los?
— Vamos lá, Jarl Erak — Halt disse, sacudindo a cabeça maravilhado e levantando uma sobrancelha à Will. Erak os levou para o armazém, onde ele mantém a maior parte de sua pilhagem.
— Excelente — disse ele feliz, esfregando as mãos. — Se você decidir usá-los, eu vou ser capaz de cobrar a Ragnak.
— Mas esta é uma guerra — Will protestou. — Certamente você não pode cobrar a Ragnak para fazer algo que vai ajudar a defender Hallasholm?
Erak virou o seu sorriso encantado ao jovem arqueiro. — Para um Skandian, meu filho, toda a guerra é um negócio.
Evanlyn estava esperando Halt e Will deixarem o Conselho de Guerra de Ragnak. Assim que as duas figuras de cinza camuflado, em companhia do corpulento Jarl Erak, surgiu a partir do Grande Salão e atravessou o campo aberto, ela começou a andar para interceptá-los. Então ela parou, sem saber como proceder. Ela esperava que Will pudesse sair sozinho. Ela não queria abordá-lo na frente de Erak e Halt.
Evanlyn estava entediada e infeliz. Pior, ela estava se sentindo inútil. Não havia nada de específico que poderia fazer para contribuir para a defesa de Hallasholm, nada para manter sua mente ocupada. Will obviamente faria parte do círculo íntimo da liderança Skandian, e mesmo quando ele não estava em reuniões com Halt e Erak, ele estava fora a praticar com seu arco. Às vezes parecia que ele usava suas sessões de prática para evitá-la. Ela sentiu um pequeno surto de raiva, ela lembrou sua reação quando ela lhe pediu para ensiná-la a atirar. Ele riu dela! Horace não era melhor. Inicialmente, ele tinha sido feliz para lhe fazer companhia. Mas depois, vendo Will constantemente praticando, ele se sentiu culpado e começou a passar tempo no campo de prática para aperfeiçoar suas próprias habilidades com um pequeno grupo de guerreiros Skandian.
Foi tudo culpa de Will, ela pensou. Agora, quando ela o viu conversando com seu antigo professor, e viu os dois parar, ela percebeu com um sentimento de tristeza que havia uma parte da vida de Will de que ela seria sempre excluída. Jovens como ele era, ele já era parte do misterioso e unido clã dos Arqueiros. E Arqueiros, lhe tinha sido dito desde que ela era pequena, mantinham-se unidos. Mesmo seu pai o rei tinha sido frustrado de vez em quando pela natureza fechada do Corpo de Arqueiros. Quando essa verdade lhe atingiu, ela se virou, infelizmente, deixando os dois arqueiros, mestre e aprendiz, na sua discussão com o Jarl Skandian. Morosamente, ela chutou uma pedra no chão em frente dela. Se ao menos houvesse algo para ela fazer! Ela ficou hesitante, indecisa sobre onde ir em seguida. Virou-se bruscamente para ver se Will e Halt ainda estavam onde ela tinha visto pela última vez. Eles haviam se movido, mas sua volta repentina colocou em contato com os olhos inesperados de um familiar, embora não desejados, figura.
Slagor, os lábios finos, olhos apertados, o capitão de quem tinha visto pela primeira vez na ilha rochosa de Skorghijl, tinha acabado de emergir de um dos edifícios menores do Grande Salão de Ragnak. Levantou-se agora, olhando para ela. Havia algo em seu olhar que a incomodava. Saber algo, algo que faria mal para ela. Então, quando ele percebeu que ela tinha visto, ele se virou, caminhando rapidamente para o beco escuro sombreado entre os dois edifícios. Ela franziu para si mesma. Havia algo suspeito sobre a maneira Skandian, ela pensou. Metade porque ela queria saber mais, e metade porque ela estava entediada, sem nada de construtivo a fazer, ela partiu atrás dele.
Havia algo na maneira como ele olhava para ela, que lhe disse que poderia ser melhor se ele não sabia que ela o estava seguindo. Mudou-se para o final do beco e olhou ao redor cautelosamente, apenas ao vê-lo quando ele virou à direita na parte traseira do edifício. Ela estava paralela a sua trajetória, movendo-se cautelosamente para o beco próximo, a pausa, seguida de troca de tráfego em torno de novo. Mais uma vez, ela pegou um vislumbre rápido do Slagor e ela adivinhou em sua direção geral de que ele estava indo para o cais, onde os navios estavam ancorados. Percebendo que suas próprias ações poderiam parecer altamente suspeitas, ela olhou rapidamente em volta para ver se alguém podia estar olhando para ela. Aparentemente não, ela decidiu. Ainda assim, ela cruzou de volta para o outro lado da rua antes de seguir na perseguição do capitão.
Conforme ela deslizou discretamente de um prédio a outro, viu-o várias vezes, confirmando a primeira impressão que ele estava indo para o cais. Isso era lógico. Presumivelmente, o seu navio estava entre a frota amarrada lá. Provavelmente Slagor tinha algum negócio de navio para atender, ela pensou. A maneira suspeita de que ela havia notado, provavelmente nada mais do que sua atitude normal.
Então ela lançou as dúvidas de lado. Havia outra coisa: algo a saber. Algo ruim.
Evanlyn foi, naturalmente, sempre consciente de sua situação precária aqui no Hallasholm. Ragnak poderia não ter nenhum interesse em punir um escravo recapturado. Mas se a sua identidade real passasse a ser conhecida, sua reação seria precipitada. Ele tinha jurado matar qualquer membro da família real Araluen. Agora parecia importante para ela descobrir o que estava por trás do olhar de Slagor. Ela acelerou o passo e correu por uma das vielas estreitas de conexão, emergente na avenida que Slagor havia tomado.
Tinha vinte metros à frente dela quando ela olhou com cautela em torno do fim do prédio. Ele estava de costas e ela percebeu que ele não tinha idéia de que ela o tinha seguido. À esquerda, os mastros do navio atracado formavam uma floresta de mastros nus, balançando e balançando com o movimento da água. No lado direito da rua, tinha uma série de tabernas. Foi em direção a uma destas que Slagor foi correndo, ela percebeu.
Algum instinto a fez se esconder. Foi bom ela ter feito, porque ele virou-se e olhou para trás assim que chegou à taberna, aparentemente, para verificar se alguém o tinha seguido. Ela franziu para si mesma quando se encolheu nas sombras. Por que Slagor deveria estar nervoso, aqui no meio do Hallasholm? Certamente ele era um dos capitães menos populares, mas era improvável que alguém iria realmente fazer-lhe mal. Havia obviamente alguma coisa acontecendo, pensou ela, e decidiu ir ao fundo do mesmo. Perto, atracado a um dos cais de madeira, ela viu o navio de Slagor, Wolf Fang. Ela reconheceu a figura esculpida. Não há dois navios com a mesma figura e lembrou-se muito bem do dia em que o Wolf Fang chegou mancando no ancoradouro em Skorghijl. Com ele veio a notícia de Vallasvow Ragnak contra seu pai e ela, então ela tinha boas razões para lembrar o ícone grotescamente esculpido.
Por um momento, ela hesitou na porta. Então, a porta atrás dela se abriu e duas mulheres Skandian surgiram, cestas de compras na mão. Elas encararam o estranho à sua porta e ela pediu desculpas às pressas e se afastou. Atrás dela, ouviu os comentários com raiva das mulheres que se dirigiram para a praça do mercado. Era demasiado óbvio aqui, ela percebeu. Qualquer momento, Slagor podia surgir a partir da taberna e vê-la. Ela olhou incerta para o navio, em seguida, chegou a uma decisão e, movendo-se, ela fez seu caminho para baixo a beira-mar para o cais onde Wolf Fang estava atracado. Era razoável supor que Slagor poderá eventualmente vir aqui, e então ela poderia ter uma vaga idéia do que estava acontecendo.
Havia um guarda a bordo, é claro. Mas era apenas um homem e ele estava na popa, inclinando-se sobre a amurada, olhando para o porto e para o mar além. Abaixando-se abaixo do nível da proa elevada, ela se aproximou do navio e abobadado levemente sobre os trilhos, os seus pés calçados fazendo praticamente nenhum som assim que ela pousou sobre as tábuas do convés. Ela caiu de imediato para o lugar dos remos, fixado abaixo do convés principal, onde a equipe de remo, normalmente senta-se para exercer a sua pesada tarefa, remos de carvalho branco. A área estava deserta, no momento, e ela estava escondida da vista do guarda solitário na popa. Mas era apenas um esconderijo temporário e ela olhou agora para um melhor. À direita na proa do navio havia um pequeno espaço triangular, escondido por uma tampa de lona. Era grande o suficiente para acomodá-la e se agachou, moveu-se rapidamente para ele agora, deixando cair a tela de lona de volta no lugar atrás dela. Ela se encontrava sentada em rolos de corda, duro grosseiro, algo difícil e espetado em seu lado. Mudando para uma melhor posição, ela percebeu que tinha sido o verme da âncora, e os rolos de corda pesados foram o cabo de ancoragem. Com o navio atracado no cais, eles não estavam em uso. Isso seria como um bom lugar para se esconder como qualquer outro, ela pensou. Então ela perguntou se ela não podia estar desperdiçando seu tempo aqui. As chances era que Slagor, simplesmente, chegara esse caminho para visitar a taberna e que depois que ele tinha bebido o preenchimento dos espíritos dos Skandians favorecidos, ele provavelmente voltaria para seu alojamento.
Ela encolheu os ombros melancolicamente. Ela não tinha nada melhor para fazer com seu tempo. Ela poderia muito bem dar-lhe uma hora ou mais e ver se nada acontecia. O que poderia ser qualquer coisa, ela realmente não tinha idéia. Ela seguiu Slagor em um impulso. Agora, seguindo o mesmo impulso, ela estava agachada aqui, esperando para ver o que ela podia ouvir, se e quando ele viesse a bordo.
Estava quente nos confins do pique e, uma vez que ela se movimentou algumas vezes, a corda se tornou um lugar relativamente confortável para descanso. Ela contorceu-se em uma posição melhor e descansou o queixo sobre os cotovelos, olhando através de um pequeno espaço na tela para ver se algo estava acontecendo lá fora. Sentiu os passos do sentinela quando ele cruzou para o lado da terra do navio, dando o seu controlo do porto, e ouviu-o chamar alguém na praia. Havia uma voz eletrônica, mas as palavras eram demasiado abafadas para ela ouvir. Provavelmente apenas uma saudação casual a um amigo que passa, ela pensou. Bocejou. O calor estava fazendo-a sonolenta. Ela não tinha dormido bem na noite anterior, pensando em Will e como a sua amizade parecia estar corroendo a cada dia que passa. Ela tentou culpar Halt, pelo distanciamento súbito entre eles. Mas ela não podia. Ela gostava do pequeno, arqueiro barbado. Havia um senso de humor seco sobre ele que recorreu a ela. E depois de tudo, ele a resgatou dos temujai. Ela suspirou. Não era culpa de Halt. Nem Will. Era assim que as coisas eram, ela adivinhou. Arqueiros eram diferentes de outras pessoas. Mesmo princesas.
Especialmente princesas.
Ela acordou de repente, pensando que ela estava caindo. Ela não tinha percebido que tinha dormido, deitada nos rolos de corda. Mas ela sabia o que a tinha acordado. O deck abaixo dela caiu de repente quando o Wolf Fang soltou-se ao mar. Agora ela podia ouvir o ranger e o baque dos remos e percebeu, com um sentimento de naufrágio terrível, que Wolf Fang tinha ido para o mar e ela ficado preso a bordo.
Entre eles, Halt e Will se encontravam no meio de uma centena de escravos que afirmavam ter algum nível de habilidade com o arco. Encontrá-los foi uma questão. Convencê-los de que eles deveriam se voluntariar para ajudar a defender Hallasholm era outra coisa. Quando o silvicultor Teutlander corpulento, que parecia ter assumido o papel de porta-voz deles, disse aos dois Arqueiros.
— Por que devemos ajudar o Skandians? Eles não fizeram nada além de nos escravizar, nos derrotar e nos dão muito pouco alimento.
Halt olhou amplamente para o homem. Se alguns dos escravos eram desnutridos, este dificilmente poderia se passar por um deles, pensou. Ainda assim, ele decidiu deixar esse assunto passar.
— Você pode achar que é mais agradável ser um escravo dos Skandians do que cair nas mãos dos temujai — disse-lhes sem rodeios.
Outro dos homens reunidos falou. Este era um Gallican do Sul e o seu sotaque estranho fez suas palavras quase indecifráveis. Will finalmente decifrou os sons de modo suficiente para saber o que o homem tinha perguntado.
— O que o temujai fazem com seus escravos? Halt virou um férreo olhar no Gallican. — Eles não mantêm escravos — disse ele uniformemente, e um murmúrio de expectativa percorreu os homens reunidos. O Teutlander deu um grande passo à frente de novo, sorrindo.
— Então por que você espera que nós lutemos contra eles? — Perguntou ele. Se eles baterem os Skandians, eles nos libertaram.
Houve um murmúrio alto de consentimento entre os outros atrás dele. Halt levantou a mão e esperou pacientemente. Eventualmente, a agitação desapareceu e os escravos olharam para ele na expectativa, querendo saber o incentivo a mais que ele poderia oferecer-lhes o que eles consideram ser mais do que a perspectiva de liberdade.
— Eu disse — ele entoou de forma clara, para que todos pudessem ouvi-lo — eles não mantêm escravos. Eu não disse que os libertam. — Fez uma pausa, depois acrescentou, com um ligeiro encolher de ombros — Embora os religiosos entre vocês possam considerar que a morte é a suprema liberdade.
Desta vez, a comoção entre os escravos era ainda mais alta. Finalmente, o autonomeado porta-voz adiantou novamente e perguntou, com uma afirmação pouco menor.
— O que você quer dizer, Araluen? Morte? — Halt fez um gesto descuidado.
— O costume, suponho, a suspensão brusca da vida. O fim de tudo. Partida para um lugar mais feliz. Ou esquecimento, dependendo de suas crenças pessoais.
Novamente um zumbido correu pela multidão. O Teutlander estudou Halt de perto, tentando ver algum indício de que o Arqueiro estava blefando.
— Mas... — Ele hesitou, não tendo certeza se deveria fazer a próxima pergunta, não tendo certeza de que ele queria saber a resposta. Em seguida, pediu a seus companheiros, ele prosseguiu
— Por que esses temujai querem nos matar? Nós não fizemos nada para eles.
— A verdade da questão é — disse Halt a todos eles — vocês não querem dizer nada para eles também. Os temujai se considera uma raça superior. Eles te matam porque você não pode fazer nada por eles, mas se te deixarem para trás, você pode constituir uma ameaça.
Um silêncio nervoso constante caiu sobre a multidão. Halt deixo-os digerir o que tinha dito, então falou novamente.
— Acredite em mim, eu vi o que essas pessoas são
— Ele olhou para o rosto da multidão. — Eu posso ver que existem alguns Araluenses entre vós. Eu vou dar a minha palavra como um Arqueiro que eu não estou blefando. Sua melhor chance de sobrevivência é a luta com a Skandians contra estes temujai. Vou deixar vocês meia hora para considerar o que eu disse. Você Araluenses poderia dizer aos outros o que a palavra do Arqueiro significa — acrescentou. Em seguida, acenando para Will o seguir, ele virou as costas e caminhou a uma certa distância, fora do alcance da voz.
— Nós vamos ter que lhes oferecer mais — disse ele quando os outros não podiam ouvi-lo. — Recrutas relutantes serão quase inúteis para nós. Um homem tem que ter algo que vale a pena lutar, se ele vai fazer o seu melhor. E é isso que nós vamos precisar deste grupo, seu melhor.
— Então o que você vai fazer? — Will perguntou, quase correndo para acompanhar o passo urgente de seu professor.
— Nós estamos indo ver Ragnak — Halt disse a ele. — Ele vai ter a promessa de libertar todos os escravos que lutarem por Hallasholm.
Will balançou a cabeça em dúvida. — Ele não vai gostar disso — disse ele. Halt olhou para ele, um sorriso fraco tocando no canto da boca.
— Ele vai odiar — ele concordou.
— Liberdade? — Ragnak explodiu — Dar-lhes sua liberdade? Uma centena de escravos? — Halt encolheu os ombros com desdém.
— Provavelmente perto de três centenas — respondeu ele. — Muitos deles vão querer levar as mulheres e as crianças com eles.
O Oberjarl deu uma enorme gargalhada incrédula.
— Você está louco? — Perguntou ao Arqueiro. — Se me derem três cem escravos a liberdade, nós não vamos ter praticamente nenhum escravo. O que vou fazer, então?
— Se você não fizer isso, você pode achar que não têm pátria esquerda — Halt respondeu. — Quanto ao que você iria fazer em seguida, você poderia tentar pagá-los. Torná-los empregados, em vez de escravos.
— Pagá-los? Para fazer o trabalho que estamos fazendo agora? — Ragnak bufou indignado.
— Por que não? Os deuses que você puder pagá-los suficientemente bem. E você pode achar que eles fazem um trabalho melhor, se tem algo mais do que uma surra no final do dia.
— Para o inferno com eles! — Ragnak disse. — E para o inferno com você, Arqueiro. Concordei em ouvi-lo, mas isso é ridículo. Você vai me transformar em um mendigo se eu deixar você no meu caminho. Primeiro você quis que eu abandonasse Hallasholm a esta turba de cavaleiros. Agora você quer me enviar todos os meus escravos de volta para onde vieram. Para o inferno com você, eu digo.
Ele olhou para o arqueiro por alguns segundos e, em seguida, com uma onda de desprezo de sua mão, ele virou-se, recusando-se a fazer contato visual. Halt esperou alguns segundos e, em seguida, falou a Erak, que estava com um olhar desconfortável em seu rosto.
— Estou lhe dizendo, precisamos desses homens — disse ele com força. — Mesmo com eles, nós ainda podemos perder. Mas com eles lutando de bom grado para nós, teremos uma chance. — Ele apontou um dedo na direção do Oberjarl. — Diga a ele. — disse ele finalmente, depois virou as costas e saiu da sala do Conselho, Will foi correndo atrás dele.
Quando saíram da sala, Halt disse, quase para si mesmo, mas alto o suficiente para Will ouvir.
— Eu me pergunto se lhes ocorre que, se os escravos concordarem a contragosto de lutar por eles, e se, por algum infortúnio louco, o que fizermos vencer, não há nada para parar os escravos de virar as suas armas no Skandians. — Esse pensamento tinha ocorrido a Will. Ele acenou em acordo.
— Por isso — Halt continuou — nós temos que dar-lhes algo vale a pena lutar.
Eles esperaram no campo de treinamento por mais de uma hora. Os escravos tinham vindo com uma decisão, concordando em lutar contra o temujai. No entanto, um olhar matreiro poucos entre o grupo disse a Will e Halt que uma vez que a batalha houvesse terminado, os homens armados recentemente não estavam indo para voltar humildemente à escravidão.
Houve um murmúrio de expectativa quanto Erak chegou. Ele caminhou até Halt e Will, que estavam um pouco além dos arqueiros.
— Ragnak concorda — disse ele calmamente. — Se eles lutarem, ele vai libertá-los.
Halt balançou a cabeça, agradecido. Ele sabia que o verdadeiro impulso para a decisão Ragnak tinha vindo.
— Obrigado — disse ele simplesmente a Erak. O Skandian encolheu os ombros e virou-se para Will.
— Eles vão ser os seus homens. Eles precisam se acostumar a receber ordens de você. Você diz a eles.
Will hesitou, surpreso. Ele tinha assumido que Halt iria falar. Então, em um gesto de incentivo de seu mestre, ele avançou, erguendo a voz.
— Homens — ele chamou, e o baixo murmúrio de conversa entre o grupo teve morte instantânea. Ele esperou um segundo ou dois para ter certeza que ele tinha a sua atenção, em seguida, continuou. — Ragnak decidiu. Se vocês lutarem pela Skandia, ele vai te libertar.
Houve um momento de silêncio atordoado. Alguns desses homens foram escravos durante dez anos ou mais. Agora, aqui foi este jovem franzino dizendo-lhes que o fim de seu sofrimento estava à vista. Em seguida, um poderoso rugido de triunfo e alegria varreu-os, sem palavras na primeira e incipiente, mas rapidamente na resolução de um canto rítmico de uma palavra de cem gargantas:
— Livre! Livre! Livre!
Will os deixou comemorar um pouco mais. Então, ele subiu em um tronco de árvore onde ele podia ser visto por todos eles e agitava os braços pedindo silêncio. Aos poucos, o canto desapareceu e eles lotados mais em torno dele, ansiosos para ouvir o que mais ele tinha a dizer a eles.
— Isso é tudo muito bom — disse ele quando tinham acalmado. — Mas primeiro, há a matéria pequena de bater o temujai. Vamos começar a trabalhar.
Halt e Erak viram como Will supervisionou a emissão de flechas para homens. Inconscientemente, os homens balançaram em aprovação ao menino. Em seguida, Erak virou-se para Halt.
— Eu quase esqueci, Ragnak tinha uma mensagem para você. Ele disse que se nós perdemos essa batalha e ele perdeu seus escravos, bem, ele vai matá-lo por isso — disse ele alegremente.
Halt sorriu sombriamente.
— Se nós perdemos essa batalha, ele pode ter que entrar na fila para fazer isso. Haverá alguns milhares de cavaleiros temujai na frente dele.
Will chamou o último grupo de dez homens para frente da linha de tiro. O grupo anterior, mudou-se para trás das fileiras de espera e sentou para assistir. Ele estava trabalhando os homens em pequenos grupos nesta fase. Isso lhe dava um grupo para trabalhar para testar a sua capacidade para seguir suas ordens e atirar em uma altitude pré-determinada.
— Pronto! — Chamou. Cada um tomou uma flecha da bandeja na frente dele e colocou no arco. Eles estavam prontos, com as cabeças voltadas para ele, esperando sua próxima ordem.
— Lembrem-se, — disse ele — não tente julgar o tiro você mesmo. Basta ir para a posição que eu falar, fazer uma tração integral e uma versão suave quando eu chamar-lhe.
Os homens acenaram. Inicialmente, eles não tinham gostado da idéia de ter seu disparo controlado por alguém tão jovem como Will. Então, depois que Halt tinha incentivado seu aprendiz a dar uma demonstração de alta velocidade, eles tinham concordado relutantemente seguir Will.
Will respirou fundo, falou então firmemente:
— Posição três! Agora!
Dez braços segurando arcos subiram para uma posição de cerca de quarenta graus em relação à horizontal. Will olhou rapidamente para baixo da linha para ver que cada homem tinha lembrado da posição correta. Ele tinha feito a perfuração de quatro elevações diferentes em todos os dias. Satisfeito, e antes que a cepa de exploração dos arcos em desenhar faixa tornou-se demasiado grande, ele chamou:
— Disparar!
Quase como um, houve um deslizar rápido de arcos liberados e um silvo das flechas de arco através do ar. Will assistiu ao vôo pequeno para cima, em seguida, nariz longo e mergulhou para baixo para enterrar-se até metade do seu comprimento no relvado. Mais uma vez ele chamou a fila de espera dos homens:
— Posição três, pronto!
Como antes, os dez homens colocaram flechas nas cordas, aguardando a próxima chamada de Will.
— Preparar... Atira!
Novamente houve a batida de arcos acertando o braço, e o som das hastes de madeira raspagem passado os arcos que foram lançados para o ar. Assim que as flechas desceram, Will mudou de comando.
— Posição dois... Pronto!
A linha de armas esquerda segurando os arcos estendido e inclinado para cima a um ângulo de trinta graus.
— Preparar... Disparar!
E outras dez flechas estavam a caminho. Will assentiu aos dez homens, que estavam na expectativa de vê-lo.
— Tudo bem — disse ele. Vamos ver como vocês foram.
Ele começou a andar por todo o campo aberto, seguido dos dez homens que tinham acabado de atirar. Havia marcas estabelecidas no meio do campo, marcando 100, 150 e 200 metros de distância. A posição três, com os braços elevados com o arco em quarenta graus em relação à horizontal, deverá ter igualado o marcador de 150 metros. Quando eles se aproximaram do marcador, Will assentiu com satisfação. Havia dezesseis flechas inclinando-se na relva dentro de uma tolerância de dez metros da marca. Dois tinha ido muito além, ele percebeu, e mais duas havia caído antes. Ele estudou os tiros longos. Os eixos foram numerados de modo que pudesse avaliar como cada membro da linha de tiro tinha realizado. Ele viu agora que os dois pertenciam a dois arqueiros diferentes.
Movendo de volta para as flechas que tinha o alvo inferior, ele franziu ligeiramente. As flechas foram marcadas ambos com o mesmo número. Isso significava que o mesmo arqueiro tinha deixado cair seu tiro mais curto que a marca duas vezes. Will tomou conhecimento do número, em seguida, voltou para ver os resultados do final. A carranca aprofundou quando ele viu que eram nove flechas bem agrupadas, com uma pequena queda pela mesma margem. Ele realmente não precisava verificar, mas um olhar rápido mostrou-lhe que, mais uma vez, o mesmo arqueiro teve a distância inferior. Ele resmungou pensativo.
— Tudo bem — ele chamou. — Recuperar as suas flechas. — Então, ele abriu o caminho de volta ao ponto de disparo, a seguir os dez homens atrás dele. Quem ficou em posição de número quatro? — Perguntou ele.
Um dos arqueiros avançou, hesitante segurando a mão e olhando como um aluno na escola nervoso. Ele era um homem corpulento barbudo de cerca de quarenta anos, Will notou, mas sua atitude mostrou que ele estava totalmente no temor do jovem arqueiro à sua frente.
— Era eu, a sua honra — disse ele. Will acenou-lhe mais perto.
— Traga o seu arco e duas ou três flechas — disse ele. O homem pegou seu arco, e selecionou duas flechas da bandeja que estavam com sua posição de tiro. Ele estava nervoso por ter sido escolhido e rapidamente deixou cair as flechas, lutando sem jeito para recuperá-las.
— Relaxe — Will disse a ele. — Eu só quero verificar a sua técnica.
O homem tentou sorrir em retorno. Ele tinha visto que suas flechas tinham caído antes e ele assumiu que estava prestes a ser punido. Essa era a forma como era a vida de um escravo em Hallasholm. Se você fosse dito para fazer algo e você não fez isso, você era punido. Agora, o jovem de cabelo castanho que dirigia a sessão estava sorrindo para ele e dizendo-lhe para relaxar. Foi uma experiência nova.
— Tome uma posição — Will disse ao homem e ficaram lado a lado no campo de tiro, o pé esquerdo estendido, mão esquerda segurando o arco na altura da cintura.
— Posição três — Will disse calmamente, e o homem assumiu a posição que havia sido perfurado com ele todos os dias anteriores, o seu braço esquerdo segurando o arco em quarenta graus e distância quase máxima. Will estudou. Parecia haver pouco errado com a postura do homem.
— Tudo bem — disse — Preparar, por favor.
O homem estava usando o músculo do braço muito e não o suficiente de seus músculos das costas para desenhar a curva, Will pensou. Mas isso era uma falha menor. Não haveria nenhuma maneira de mudar isso no momento em que tinha deixado.
— E... Atirar.
Lá estava, Will pensando. Uma fração de segundo antes que o homem lançasse seu tiro, relaxou o comprimento tirando um pouco deixando a flecha para baixo aliviando um pouco antes de realmente deixar os dedos escapar da corda. Isso significava que, no momento do lançamento, a flecha estava em algo menor do que a faixa, o que significava que estava a receber menos do que todo o poder do arco. Halt e Will tinham testado todas as curvas para se certificar de que eles foram semelhantes em peso e as flechas estavam todos exatamente no mesmo comprimento para garantir resultados tão consistentes quanto possível. A principal causa para a variação seria poucos erros técnicos como este.
Ele olhou para o intervalo para onde os vôos da flecha eram visíveis contra a grama, marrom encharcado do degelo da primavera. Como havia suspeitado de que era curto de novo.
Will explicou o motivo do problema para o homem, vendo a partir da expressão de surpresa que ele não tinha idéia de que ele estava relaxando no lançamento, no momento crucial.
— Trabalhe com isso — disse ele, dando-lhe uma bofetada encorajadora sobre o ombro. Halt tinha dito a ele o fato de que um pouco de incentivo em questões como estas eram melhores do que a crítica mordaz. Will ficou surpreso quando Halt o tinha colocado na carga de treinamento dos arqueiros. Mesmo sabendo que ele estaria dirigindo os arqueiros durante a batalha, ele assumiu que Halt iria supervisionar a sua formação. Mas o arqueiro tinha reiterado seu sentimento anterior.
— Você é a pessoa que estará dirigindo-las uma vez que estivermos lutando. Assim se acostumaram a seguir suas ordens, desde o início.
Will lembrou outro conselho do Arqueiro. “Os homens trabalham melhor quando eles sabem o que você tem em mente”, disse ao jovem aprendiz. “Então se certifique de dizer-lhes, tanto quanto possível”.
Ele subiu em uma plataforma elevada, que tinha sido colocado ali com a finalidade de tratar todo o grupo.
—Está bom por hoje — disse em uma voz elevada. — Amanhã vamos atirar como um grupo. Então, se eu peguei todas as falhas técnicas em seus tiros de hoje, trate de se livrar deles antes da refeição da noite. Então, um bom descanso e boa noite. — Ele começou a se afastar, em seguida, virou-se, lembrando de mais uma coisa. — Bom trabalho, todos vocês — ele disse. — Se vocês continuarem assim vamos dar a esses temujai uma surpresa muito desagradável.
Um rugido de prazer ressuscitou dos cem homens. Em seguida, eles romperam, voltando para o calor dos salões e lojas. Will percebeu que era mais do que ele pensava. O sol estava tocando os topos das colinas além de Hallasholm e as sombras se alongavam. A brisa da noite estava fria e ele tremia, alcançando o manto que tinha pendurado no parapeito da plataforma quando ele dirigiu o treino.
Meia dúzia de rapazes tinham sido atribuídos para ajudar e sem as ordens dele se reuniram para pegar as flechas, colocando-os sob a tampa em um dos galpões da loja de frente para o campo de prática. Não pôde deixar de notar os olhares admirados que lançavam em seu caminho quando andavam sobre seu trabalho. Ele era apenas alguns anos mais velhos do que eles, no entanto, lá estava ele, dirigindo uma força de cem arqueiros. Ele sorriu para si mesmo. Ele não seria humano se não tivesse apreciado o seu culto do herói.
— Você está satisfeito com si mesmo — disse uma voz familiar. Ele se virou e percebeu Horace que devia ter chegado enquanto ele estava a falar com os homens. Ele deu de ombros, tentando agir tímido.
— Eles estão indo muito bem — disse ele — Foi um dia proveitoso.
Horace acenou.
— Percebi — ele disse. Então, em um tom preocupado, ele continuou — Evanlyn não esteve aqui com você, ela esteve?
Will olhou para ele, de imediato, na defensiva.
— E se ela esteve? — Ele perguntou, um tom argumentativo rastejando em sua voz. Imediatamente, ele viu o olhar preocupado no rosto de Horace e percebeu que ele interpretou mal o motivo da pergunta do amigo.
— Então, ela esteve aqui? — Horace falou. — Isso é um alívio. Onde ela está agora?
Agora foi a vez de Will franzir.
— Um momento — ele disse, colocando a mão no antebraço muscular de Horace. — Por que é um alívio? Há algo de errado?
— Então ela não está aqui? — Horace perguntou, e seu rosto voltou a cair quando Will balançou a cabeça.
— Não. Pensei que você estava com... você sabe ...
— Will estava prestes a dizer com ciúmes, mas ele não conseguia controlá-lo. A idéia de que Horace poderia ter ciúmes tinha um sentido de vanglória sobre ele. Ele viu imediatamente que esses pensamentos estavam longe da mente de Horácio. O aprendiz de guerreiro mal parecia notar a hesitação de Will.
— Ela está desaparecida — disse ele, no mesmo tom preocupado. Ele jogou as mãos para fora e olhou ao redor do campo de prática vazio, como se de algum modo esperasse vê-la aparecer ali. — Ninguém a tinha visto desde o meio da manhã de ontem. Eu olhei em todos os lugares por ela, mas não há sinal.
— Desaparecida? — Repetiu, sem entender muito. — Desaparecida onde?
Horace olhou para ele com um repentino surto de aspereza.
— Se soubéssemos disso, ela não estaria desaparecida, estaria?
Will colocou as mãos em um gesto de paz.
— Você está certo! — Disse ele. — Eu não tinha percebido. Eu fiquei um pouco ocupado organizando os arqueiros. Certamente alguém deve tê-la visto na noite passada. Seus servos, por exemplo?
Horace balançou a cabeça miseravelmente.
— Eu perguntei-lhes — disse ele. — Eu estava na patrulha de ontem, mantendo um olho na abordagem temujai. Nós não voltamos para Hallasholm até bem depois da hora do jantar, então eu não sabia que ela não estava por perto. Foi só hoje de manhã, quando fui encontrá-la que eu descobri que ela não estava em seu quarto na noite passada e que ninguém a tinha visto hoje. É por isso que eu esperava que talvez você... — A frase travou e Will balançou a cabeça.
— Eu não vi nem um fio do cabelo dela — disse o amigo. — Mas é ridículo! — Exclamou depois de um breve silêncio. — Hallasholm não é um lugar grande o suficiente para alguém desaparecer. E não há outro lugar que ela poderia ter ido. Vamos encontrá-la, ela não pode simplesmente desaparecer... Pode?
Horace encolheu os ombros.
— É isso que eu continuo dizendo a mim mesmo — disse ele melancolicamente. — Mas de alguma forma, parece que ela pode.
Unidos agora na sua preocupação com Evanlyn, os dois aprendizes procuraram por Halt. Todos do partido Araluen tinha sido atribuído quartos no salão principal. Como Halt era seu líder, tinha sido dada uma pequena suíte de três quartos. Na porta, Will bateu superficialmente e ouviu a resposta ríspida de Halt.
— Entre.
Quando entraram, ele pegou o fato de que Erak estava no quarto com Halt. Foi difícil perder o Skandian volumoso. Ele parecia preencher mais os espaços que ocupava. Ele estava esparramado em uma das confortáveis poltronas de madeira esculpida que decoravam a sala. Halt estava parado perto da janela, emoldurado contra a luz de baixo ângulo da tarde. Ele olhou interrogativamente para a porta, quando os dois rapazes entraram apressadamente.
— Halt — Will começou com urgência — Evanlyn desapareceu. Ela está...
— Segura e de volta a Hallasholm. — Uma voz familiar terminou a frase para ele. Ambos os meninos viraram para a voz. De pé um pouco atrás, nas sombras da sala, ela não tinha sido evidente quando eles tinham entrado.
— Evanlyn! — Horace exclamou. — Você está bem!
A menina sorriu. Agora que seus olhos estavam se acostumando com a parte mais escura da sala, Will podia notar que seu rosto e roupas estavam sujos de graxa e sujeira. Seus olhos se encontraram e ela sorriu para ele, um pouco melancolicamente. Então, ela despejou o frasco de suco que tinha na mão e bebeu avidamente.
— Aparentemente — disse ela — Embora eu tenha uma sede que duvido que possa matar. Tudo que eu tinha para beber a dezoito horas atrás era um pouco de água da chuva que fez o seu caminho através da tela de cobre sobre o... — Ela hesitou e olhou para Erak para suprir a palavra que lhe foi dita anteriormente. O Jarl completou.
— Pique — disse ele, e Evanlyn repetiu a palavra.
— Pique, exatamente, do navio de Slagor — ela disse. Will e Horace trocaram olhares perplexos.
— O que em nome do diabo que você estava fazendo lá? — Will perguntou. Halt respondeu por ela.
— O nome do diabo é certo — disse ele. — Parece que nosso amigo Slagor se vendeu aos temujai e ele está planejando trair Hallasholm.
— O que? — Perguntou Will, a voz dele com surpresa. Ele olhou para Evanlyn. — Como você sabe?
A menina encolheu os ombros magros.
— Porque eu o ouvi discutir com o líder temujai. Estavam apenas dois metros de mim.
— Parece — Halt falou, a título de explicação — que seu velho amigo Slagor navegou pela costa ontem para um encontro com o Shan-temujai um Haz'kam. E como o nosso traidor, obviamente, não confia em seus novos aliados, ele insistiu em todas as negociações sendo realizadas a bordo do seu navio, apenas para manter retentores Haz'kam em uma distância.
— Qual é a forma como cheguei a ouvi-lo — Evanlyn acabou. Mas agora Horace estava coçando a cabeça na confusão.
— Mas... O que você estava fazendo no navio? — Disse.
— Eu disse a você — respondeu Evanlyn. — Espionando Slagor e o temujai.
Horace fez um gesto impaciente.
— Sim, sim, de modo que você disse. Mas por que você estava lá em primeiro lugar?
Evanlyn foi responder, hesitou, então parou completamente. Todos os olhos no quarto eram nela agora e ela percebeu que realmente não tinha uma resposta lógica para essa pergunta.
— Eu não sei — disse ela finalmente. — Eu estava entediada, eu acho. E o sentimento de inútil. Eu estava procurando algo para fazer. E além disso, Slagor olhou como uma espécie de... Matreiro.
— Slagor sempre olha como uma espécie de matreiro — pôs Erak, servindo-se de frutos de uma bacia em cima da mesa na frente dele. Evanlyn pensou sobre isso e, em seguida admitiu o ponto.
— Bem, isso é verdade, eu suponho. Mas ele parecia ainda mais matreiro do que o habitual — disse ela. — Então, eu decidi que alguém tinha que ficar de olho nele e ver o que ele estava fazendo.
Verdade seja dita, Evanlyn estava se divertindo muito agora. Ela tinha ido de sentimento de inútil e desnecessária para ser o portador de uma importante, até mesmo vital notícias para Halt e Erak. Ela não podia deixar de se orgulhar, só um pouco. A reação de Horace era exatamente o que ela esperava.
— Mas... Você poderia ter sido machucado! E se tivessem te encontrado lá? Eles teriam te matado — disse ele, sua preocupação evidente no tom da sua voz. Esse pensamento tinha ocorrido a Evanlyn em mais de uma ocasião, ela se agachou no espaço úmido na proa do navio. Uma vez ela teve idéia da situação em que estava, sua pele tinha entrado com o medo da descoberta a cada segundo. Mas agora ela tinha um ar displicente sobre o episódio inteiro.
— Eu suponho que sim. Mas vamos enfrentá-lo, alguém tinha de fazê-lo.
Ela ficou encantada ao notar que Horace estava olhando para ela com algo próximo do temor. Ela olhou rapidamente para Will, na esperança de ver o mesmo olhar de admiração lá. Suas próximas palavras acabaram com a esperança.
— Tudo bem — disse com desdém. — Mas o importante é que Slagor está planejando a trair-nos. Como ele planeja fazê-lo?
— Esse é o ponto, é claro — Halt concordou. Ele indicou um gráfico da costa Skandian que ele e Erak tinha espalhado sobre a mesa entre eles. — Aparentemente, Slagor tem planos de colocar o mar em silêncio depois de amanhã e fazer o ponto de encontro mesmo ao longo da costa. Só que desta vez, haverá duzentos e cinqüenta guerreiros temujai a espera. Ele vai levá-los a bordo e trazê-los de volta aqui para Hallasholm.
— Nunca vão caber duzentos e cinqüenta homens em um navio! — Will interrompeu.
Halt assentiu.
— Aparentemente, ele tem mais dois navios esperando por ele por trás desta ilha, a meio caminho para o encontro.
— Eles deixaram uma semana atrás — Erak falou — Supostamente, eles estavam indo atacar por trás das linhas temujai. Parece que os capitães estão em conluio com Slagor e eles estão esperando neste ponto combinado.
— Bateu o mapa com o punhal, com a qual ele tinha descascado frutas. Algumas manchas de suco de maçã caíram sobre o pergaminho. Halt levantou uma sobrancelha para ele e enxugou-os quando o Jarl continuou. — Com três navios, eles carregam duzentos e cinqüenta homens facilmente.
— Então o quê? — Horace perguntou. Evanlyn, que tinha a atenção desviada, pulou de volta para a conversa.
— Eles serão capazes de atacar as nossas forças por trás — explicou ela. — Pense nisso, cento e cinqüenta homens, com o elemento surpresa, aparecendo de repente atrás de nossas linhas!
— Isso poderia ser muito desagradável mesmo — disse Horace pensativo. — Então o que vamos fazer?
— Nós já demos o primeiro passo — Erak disse a ele. — Mandei Svengal com dois dos meus navios para ilha Fallkork aqui. — Novamente ele bateu a faca manchada de suco no mapa e novamente Halt ergueu os olhos para ele. — Para se certificar de que os outros dois navios de Slagor não vão a qualquer encontro.
— Dois a dois? — Will perguntou. — Isso é suficiente?
O Jarl inclinou a cabeça para um lado e sorriu para ele.
— Considere-se sortudo que Svengal não esteja aqui para ouvir você dizer isso — respondeu ele. — Ele considera sua equipe sozinha apenas um jogo para os dois barcos cheios de seguidores de Slagor. Mas, na verdade, os navios de Slagor terão equipes de remo só. Eles precisam de todo o espaço que têm para levar os temujai a bordo com elas.
— Mas o que vamos fazer sobre Slagor? — Will perguntou, e desta vez foi Halt que respondeu.
— Esse é o problema. Se ele ficar sabendo que nós sabemos o que ele está fazendo, ele vai simplesmente abandonar o plano. Não vamos ser capazes de provar nada. Vai ser sua palavra contra a palavra de um ex-escravo. — Ele sorriu para Evanlyn para mostrar que ele não pretendia insultar, mas eram apenas os fatos. Ela acenou com a compreensão.
— Mas se Slagor encontra os outros dois navios na ilha, certamente isso prova? — Horace interveio. Halt balançou a cabeça.
— Prova de quê? As tripulações dificilmente irá admitir que estavam esperando para ir buscar o temujai — disse ele.
Horace sentou, franzindo a testa. Isso estava ficando complicado demais para ele.
— Então o que podemos fazer? — Will perguntou. Mas, naquele momento, houve uma batida forte na porta. Eles todos olharam com surpresa. A natureza clandestina da sua discussão tinha feito eles falarem em tom baixo e à interrupção repentina fez todos eles se sentirem culpados, como se tivessem descoberto.
— Alguém espera visitas? — Halt perguntou — e como os outros balançaram a cabeça, ele chamou
— Entre.
A porta abriu-se para admitir Hodak, um dos seguidores de Erak. Olhou pela sala, observando as identidades de todos os presentes. Ele parecia desconfortável quando notou Evanlyn.
— Pensei que poderia encontrá-lo aqui — disse a Erak. — Ragnak está chamando um conselho especial no Grande Hall. Ele quer que você esteja lá, Jarl. — Indicou Evanlyn. — E é melhor você levar a menina com você.
— Evanlyn? Por que ela deveria ir? — Halt perguntou. Ele viu a garota recuar do Skandian jovem. Talvez ela tivesse alguma premonição do que estava por vir.
— O conselho é sobre ela — disse Hodak desajeitadamente. — Slagor invocou Ragnak Vallasvow. Ele diz que a menina é realmente a princesa Cassandra, filha do rei Duncan.
— Tragam-na aqui! — a voz massiva de Ragnak, usada para dominar os ventos uivantes de Stormwhite, explodiu dolorosamente no teto do Hall. Evanlyn encolheu instintivamente, depois se recuperou quando Halt tocou seu braço e encontrou seus olhos com um sorriso tranqüilizador. Ela endireitou os ombros. Will assistiu em admiração quando ela desceu no espaço livre no centro do salão. Halt, Erak e os dois aprendizes seguiram logo atrás dela. Horace, Will percebeu, continuamente tirava a sua espada da bainha, levantando-a, em seguida, permitindo-lhe cair novamente. A própria mão de Will desceu para o cabo da faca de arremesso. Se as coisas corressem tão mal quanto todos temiam, ele decidiu que era para Slagor a faca, que estava ao lado e ligeiramente atrás de Ragnak. Uma vez antes, em Skorghijl, Will tinha demonstrado sua habilidade com a faca para Erak e a tripulação de Slagor, jogando-a através do quarto e acertando em um pequeno barril de madeira ao lado da mão de Slagor. Desta vez, não haveria nenhum barril.
O quarto assistiu em silêncio absoluto quando Evanlyn parou antes do tablado levantado de Ragnak. Ela olhou o Oberjarl com uma calma, composta em seu rosto. Mais uma vez, Will encontrou-se admirado pela sua coragem e serenidade. Slagor sinalizou para um par de atendentes em uma porta lateral.
— Traga o escravo — ele chamou. Sua voz era suave e sedosa, totalmente diferente de Ragnak. Ele parecia muito satisfeito com o turno atual dos acontecimentos, Will pensou. Os dois homens, os remadores da equipe de Slagor, abriram a porta e arrastaram uma figura, chorando. Era uma mulher de meia idade, seus cabelos grisalhos e seu rosto marcado antes do seu tempo com a tensão do trabalho incessante, alimentação pobre e a constante ameaça de punição, que era o lote de um escravo no Hallasholm. Os marinheiros arrastaram-na para frente e lançou-a para baixo no chão na frente de Evanlyn. Ela agachou-se miseravelmente, com os olhos para baixo.
— Olhe para cima, escravo — disse Slagor nessa mesma voz calma. Ela continuou chorando e ela balançou a cabeça, os olhos continuaram a olhar para o chão. Slagor moveu-se rapidamente, deixando o cargo a partir da plataforma e desembainhando a faca Saxe em um movimento suave. Ele segurou a lâmina afiada abaixo do queixo da mulher, pressionando-o para a carne de seu pescoço com força, mas não o suficiente para romper a pele.
— Eu disse, olha para cima — ele repetiu, e aplicou pressão na faca para levantar os olhos dela até que ela estava olhando para Evanlyn. Quando ela viu a menina, a mulher começou a chorar ainda mais alto.
— Cale a boca — Slagor disse a ela. — Cale a boca e diga ao Oberjarl o que você me disse.
Havia escoriações em todo o rosto da mulher. Obviamente, ela tinha sido recentemente espancada. Seu rosto foi rasgado em vários pontos, bem como, marcas vermelhas eram visíveis em seu corpo através das aberturas. Em alguns lugares, tinha encharcado de sangue através do material fino. Seus olhos cheios de lágrimas imploraram a Evanlyn.
— Desculpe, minha senhora — disse ela, com voz embargada. — Eles me bateram até que eu dissesse.
Evanlyn deu um passo involuntário em sua direção. Mas a faca de Slagor oscilou para cima e voltou para confrontá-la e impedi-la de se aproximar. Ao lado dele, Will ouviu a rápida respiração de Horace e viu cair sua mão ao punho da espada mais uma vez. Ele colocou sua própria mão sobre a de Horace, para ele parar de sacar a espada. O forte aprendiz olhou para ele, surpreso. Will balançou levemente a cabeça. Ele percebeu que o movimento de Horace tinha sido uma reação de reflexo e ele sabia que neste ambiente barril de pólvora, se o amigo sacasse a espada isso poderia significar o fim de todos eles.
— Ainda não. — Ele cochichou. Se chegasse a hora, ele estava disposto a aderir a Horace em um ataque a Slagor e Ragnak. Mas, primeiro, pensou, eles deveriam ver se Halt não podia falar para sair desta situação.
— Deixe-me — o arqueiro lhes havia dito antes que deixassem o seu apartamento. — E não façam nada até que eu diga. Claro?
Os dois meninos acenaram a cabeça. Então Halt tinha acrescentado
— Isso coloca um ponto de vista completamente diferente do nosso, acusando Slagor, claro.
— Mas, certamente, você ainda vai dizer? — Will explodiu. Halt balançou a cabeça em dúvida.
— O problema é que ele chegou em primeiro lugar. Se fizermos uma acusação agora, vai parecer que estamos simplesmente fazendo isso para salvar Evanlyn. As possibilidades são, Ragnak irá ignorá-lo completamente.
— Mas você não pode deixá-lo fugir com... — Will começou, mas Halt ergueu a mão para silenciá-lo.
— Não vou deixá-lo fugir com nada — tranqüilizou.
—Nós apenas temos que escolher o momento certo para trazer o assunto, isso é tudo.
Agora Slagor voltou para a mulher no chão.
— Diga ao Oberjarl — repetiu ele.
A mulher não disse nada e Slagor virou-se para Ragnak em exasperação.
— Minha escrava ouviu ela falar a alguns dos outros — explicou — Ela é originalmente Araluen e ela disse que reconhecia esta menina aqui — ele empurrou um polegar em direção de Evanlyn — como a princesa Cassandra filha de Duncan.
Os olhos de Ragnak se estreitaram e ele virou um pouco para inspecionar Evanlyn. Queixo subiu e ela ficou um pouco mais alta em seu olhar.
— Ela tem algo do olhar de Duncan sobre ela — disse ele, desconfiado.
— Não! Não! Eu estava enganada! — A escrava explodiu de repente. De joelhos, estendeu as mãos para Slagor em súplica. — Agora eu a vejo de perto, eu percebo que eu estava errada, Senhor Slagor. Eu estava enganada!
— Você chamou-a de minha senhora — Slagor lembrou.
— Foi um erro, isso foi tudo. Um erro. Agora eu vejo corretamente, posso dizer que não é ela — insistiu a mulher.
Slagor considerou com uma expressão de dor no rosto. Ele virou-se para Ragnak novamente.
— Ela está mentindo, Oberjarl — disse ele. — Eu vou fazer o meu homem bater a verdade para fora dela.
Ele fez um sinal para os dois homens novamente e um deles veio para frente, desenrolando um chicote curto e grosso quando ele veio. A mulher se encolheu longe dele.
— Não! Por favor, meu Senhor, por favor! — Sua voz era estridente, com medo que ela tentou rastrear de distância. O homem de Slagor agarrou um punhado de seu cabelo para detê-la e ela gritou novamente, na dor, assim como o medo. Ele levantou o chicote olhando por cima de sua cabeça, pronto para derrubá-lo.
— Deixe-a em paz! — Evanlyn gritou, e sua voz congelou o marinheiro onde ele estava. Ele olhou incerto para Slagor, mas o capitão estava assistindo Evanlyn, esperando por ela para dizer mais.
— Tudo bem — disse calmamente — Não há nenhuma necessidade para torturá-la ainda mais. Eu sou Cassandra.
O silêncio na sala era quase uma força física. Em seguida, um zumbido animado eclodiu entre a multidão reunida. Will distintamente ouviu a palavra Vallasvow de várias fontes diferentes.
— Silêncio! — Ragnak rugiu, e imediatamente o barulho cessou. Ele se levantou e avançou para enfrentar Evanlyn, olhando para ela. — Você é filha de Duncan? — Ela hesitou, depois respondeu.
— Eu sou filha do rei Duncan — ela disse, com uma leve ênfase em seu título. — Cassandra, princesa de Araluen.
— Então você é meu inimigo — disse ele, cuspindo as palavras para fora. — E eu jurei que você deve morrer.
Erak adiantou.
— E eu jurei que ela estará segura aqui, Oberjarl — disse ele. — Eu dei minha palavra quando eu pedi o arqueiro para nos ajudar.
Ragnak olhou com raiva. Novamente houve um zumbido de conversa através do quarto. Erak era um Jarl popular entre os Skandians e Ragnak não tinha contado ter de lutar com ele sobre este assunto. Com um exército invasor só um dia longe de seu reduto, ele sabia que não podia vencer sem o seu chefe de guerra sênior.
— Eu sou o Oberjarl — disse ele. — Meu voto é de maior importância.
Erak cruzou os braços sobre o peito.
— Não é para mim — disse ele, e havia um coro de acordo entre a multidão.
— Erak não pode te desafiar assim! Você é o Oberjarl! — Slagor interrompeu de repente. — Queremos que ele seja preso! Ele está desafiando o seu voto ao Vallas!
— Cale a boca, Slagor — Erak disse em uma voz sinistramente calma. Então ele se aproximou de Ragnak. — Eu não pedi-lhe para tomar o seu voto a morte, Ragnak — disse ele. — Mas se você quiser executá-la, eu temo que você terá que passar por mim para fazê-lo.
Agora Ragnak desceu do pódio e andou mais perto de onde estava Erak. Eles eram da mesma altura, ambos construídos massivamente. Ele enfrentou seu velho companheiro, a queima de raiva em seus olhos.
— Erak, você sabia? Você sabia quem ela era quando você a trouxe aqui?
Erak balançou a cabeça. Slagor bufou de desgosto.
— Claro que ele sabia! — Gritou, em seguida, parou de repente quando o ponto de punhal Erak apareceu debaixo de seu nariz.
— Eu vou repetir apenas uma vez — Erak disse — Fale isso de novo, e você é um homem morto.
Sem palavras, Slagor afastou do grande homem, colocando uma distância segura entre ele e a ponta da faca. Erak embainhou a faca e voltou para Ragnak.
— Eu não sabia — disse ele. — Caso contrário, eu nunca a teria trazido aqui, sabendo do seu voto. Mas a verdade é, eu jurei por sua segurança e minha palavra é muito importante para mim, como a sua é para você.
— Droga, Erak! — Ragnak gritou. — A marcha temujai é apenas três ou quatro dias, a partir daqui! Não podemos nos dar ao luxo de estar lutando entre nós agora!
— Seria uma vergonha se tivessem que enfrentar o temujai com pelo menos um e, possivelmente, os dois, de seus melhores líderes mortos — Halt colocou, e o Oberjarl arredondou a ele em uma fúria.
— Cale a boca, arqueiro! Eu estou a metade de uma mente para acreditar que tudo isso é trama sua! Nada de bom veio de lidar com do seu tipo!
Halt encolheu os ombros, impressionado com a fúria do Skandian.
— Seja como for — ele disse — ocorre-me que poderia haver uma solução para o problema, por enquanto, pelo menos.
O zumbido de conversa através do quarto foi cortado quando Ragnak balançou seu olhar ao redor com raiva. Ele assistiu Halt com os olhos apertados, esperando algum truque ou algum tipo de subterfúgio.
— O que você está falando? Meu voto é obrigatório — disse ele. Halt assentiu com a cabeça.
— Eu entendo isso. Mas há qualquer fator tempo envolvido? — Perguntou ele. Agora Ragnak parecia confuso, bem como suspeito.
— Fator tempo? O que é que você quer dizer?
— Se aceitarmos que você pretende fazer o seu melhor para matar Evanlyn, sabendo que Erak irá tentar pará-lo sem mencionar o fato de que, se não, eu certamente irei fazê-lo, você especificou o momento? — Halt continuou.
A expressão perplexa no rosto Ragnak cresceu mais intensa.
— Não. Eu não especifiquei o momento. Eu apenas fiz o voto — disse ele, finalmente, Halt assentiu com a cabeça várias vezes.
— Bom. Assim, na medida em que estes Vallas estão em causa, eles não se importam se você tentar cumprir o seu voto hoje, ou se você optar por esperar até, digamos, depois e enviarmos a embalagem temujai?
Entendimento estava começando a aparecer no rosto do Oberjarl.
— Certo — ele disse lentamente. — Enquanto a intenção é a mesma, o Vallas estará satisfeitos.
— Não! — Uma voz estridente cortou. Foi Slagor. — Você não vê, Oberjarl, ele está tentando enganá-lo? Ele tem algo em mente. A menina tem de morrer e ela deve morrer agora! Caso contrário, a sua palavra de juramento é inútil! — A raiva de Slagor e seu desejo de longa data de vingança sobre Evanlyn para os eventos que ocorreram em Skorghijl o levaram a ir longe demais. Ragnak olhou para ele agora, uma chama de raiva queimando em seus olhos.
— Slagor, eu aconselho você a se livrar deste hábito irresponsável de dizer que seus colegas são mentirosos — disse ele, e imediatamente o capitão retratou sua acusação.
— Claro, Oberjarl. Eu não quis dizer... — Ragnak o interrompeu.
— Minha primeira preocupação é com a segurança da Skandia. Com estes temujai à nossa porta, Erak e eu não podemos nos dar ao luxo de estar a lutar. Se ele concordar em adiar as nossas diferenças, até depois que tivermos resolvido com eles, então eu também.
Erak assentiu em acordo instantaneamente.
— Soa como um bom compromisso para mim. — Havia ainda um fio de suspeita na mente de Ragnak. Ele voltou a interromper, as sobrancelhas pesadas juntas em uma carranca.
— Eu não posso deixar de imaginar o que você ganhará, arqueiro. Tudo o que fizemos foi ganhar um adiamento.
Halt inclinou a cabeça ligeiramente para um lado, quando ele considerava a questão.
— Verdade — respondeu ele. — Mas muita coisa pode acontecer nos próximos dias. Você pode ser morto na batalha. Ou Erak. Ou eu. Ou nós três. Além disso, a minha prioridade imediata é o mesmo que a sua: ver estes temujai rechaçados. Afinal, se eles ganharem aqui, não será muito antes que eles estarão invadindo Araluen também. Eu tenho um dever solene para tentar impedir isso. — Ele sorriu tristemente. — Esse é outro daqueles votos que todos parecem ter pressa em torno de tomar.
Ragnak virou-se e afastou-se para a sua cadeira no Conselho maciça.
— Nós estamos em acordo, então — disse ele. — Vamos resolver a questão temujai primeiro. Então nós vamos voltar a este problema.
Erak e Halt trocaram olhares, depois os dois homens concordaram. Apenas Slagor parecia estar em desacordo com o compromisso. Ele murmurou uma maldição sob a sua respiração. Halt tomou o braço de Evanlyn e começou a guiá-la a partir do Grande Salão, seguido dos dois aprendizes e Erak. Eles não tinham ido uma meia dúzia de passos, quando Halt voltou para Ragnak.
— Naturalmente, há mais uma pergunta que eu gostaria de ouvir a resposta Slagor — disse ele. Como ele esperava, a menção de seu nome, todos na sala involuntariamente olharam para Slagor. Então, quando todos os olhos estavam sobre ele, Halt continuou. — Talvez ele possa nos dizer o que os seus navios estão fazendo na ilha Fallkork?
Todos viram a cara de surpresa de Slagor quando Halt mencionou o nome da ilha. Slagor recuperou rapidamente, mas o momento tinha estado lá e tinha sido testemunhado.
— Eu não estou aqui para responder a você, arqueiro! — Ele vociferou furioso. — Você não tem autoridade neste Conselho!
Erak deu um passo à frente, balançando em seus calcanhares, seu rosto a centímetros de Slagor.
— Mas eu tenho — disse o outro homem. — E eu gostaria de ouvir a sua resposta.
— Que história é essa, Erak? — Ragnak interrompeu antes que Slagor pudesse responder. Erak manteve seu olhar fixo em Slagor.
— Dois dos navios de Slagor estão atualmente na ilha de Fallkork — respondeu ele. — No outro dia, ele planeja encontrar com eles e navegar pela costa de Sand Creek Bay.
Erak viu a cor do rosto de Slagor drenar quando ele percebeu que seu plano tinha sido descoberto. Ele continuou inexoravelmente, elevando a voz em volume quando Slagor tentou falar — Lá, ele pretende embarcar cento e cinqüenta guerreiros temujai e trazê-los atrás de nossas linhas para nos atacar por trás.
A sala explodiu quando as pessoas começaram a gritar de uma vez. Em vão abuso Slagor, cuspiu em Erak e protestou a sua inocência. Seus seguidores no corredor, e havia mais do que alguns, gritou seus protestos, enquanto aqueles que favoreceram Erak rugiram de volta, pedindo a cabeça de Slagor. A confusão continuou durante um minuto inteiro até Ragnak se levantar do assento.
— Silêncio! — Ele gritou.
No silêncio que se seguiu, você poderia quase ouvir um alfinete cair.
— Como você sabe disso? — O Oberjarl perguntou. Ele não gostava Slagor. Muitos dos Skandians também. Mas o conceito de traição, era tão absolutamente abominável ao simples código de conduta Skandian que Ragnak achou impossível acreditar que qualquer um, mesmo Slagor.
— Seus planos foram ouvidos, Ragnak — Erak disse. Instantaneamente Slagor estava gritando a sua inocência.
— Isso é mentira! É um monte de mentiras imundas! Quem me ouviu? Quem diz que eu sou um traidor? Mostre-me agora!
— Por uma questão de fato, Ragnak — disse Halt, levantando a sua voz de modo que ele foi ouvido claramente, em cada canto da sala, — o informante está aqui conosco.
Essa notícia acalmou os protestos de Slagor imediatamente. Ragnak olhou o arqueiro com desgosto. Desde que ele chegou a Hallasholm, as confortáveis ordens das coisas havia sido continuamente perturbada.
— Então, vamos ouvi-lo — disse o Oberjarl.
— Não ele, Ragnak. A ela. O informante é Evanlyn. Talvez por isso Slagor esteja tão interessado em tê-la desacreditada e morta.
Tumulto, mais uma vez encheu a sala e Will percebeu como inteligente Halt tinha jogado esta mão. Na confusão do momento, ninguém fez a pergunta óbvia: como poderia Slagor ter sabido que Evanlyn havia descoberto seu plano? Porque, se ele não sabia, ele não teria nenhuma razão para tentar desacreditar a menina. Mas agora que Halt tinha plantado a semente, os Skandians todos acreditaram que as ações de Slagor foram destinadas a prevenir Evanlyn, ao invés do contrário. A essa luz, sua acusação não pode ser posta de lado. Tinha que ser investigado.
— Prova! — Slagor estava gritando agora, e alguns de seus seguidores, percebendo que seus próprios pescoços estavam perto de serem cortadas, gritavam também. — Qualquer um pode acusar-me! Mas onde está a prova?
Ragnak silenciou a gritaria com um gesto.
— Bem, arqueiro— ele perguntou a Halt — você pode nos oferecer uma prova dessas acusações?
Erak apressadamente entrou na violação, antes de Halt responder.
— Svengal está trazendo os dois navios da Fallkork — disse ele. — Ele deveria estar no porto de amanhã.
Mas agora Slagor viu o caminho para sair, viu que não havia provas concretas do plano.
— Então, dois dos meus navios aguardam em Fallkork? — Ele gritou, sua voz estridente, mais uma vez. — O que isso prova? Como isso faz de mim um traidor? Não, não é, Erak?
Alguns daqueles no salão começaram a ecoar o seu pensamento e não apenas seus próprios seguidores. Como Halt tinha apontado anteriormente, a mera presença de navios no encontro, não indicava provas da traição de Slagor. Encorajado agora, Slagor pisou em direção à multidão.
— Eles me acusam de traição! Eles difamam-me! Eles levam a palavra de um inimigo deste país, o inimigo de nosso Oberjarl! No entanto eles não provar as suas alegações vil! Que justiça Skandian é esta? Deixe-os encontrar uma maneira de provar isso, eu digo.
Um coro crescente de vozes concordaram com ele. Então, como se ele estivesse conduzindo um coro, Slagor sinalizou para o silêncio e voltou-se para Halt.
— Você pode, arqueiro? — Disse ele, cuspindo a última palavra, como se fosse um insulto. — Você pode mostrar algum tipo de prova?
Halt hesitou, sabendo que tinha perdido o impulso e o sentimento da multidão. Sabendo que tinha perdido. Will avançou para ficar ao lado de seu mentor e amigo.
— Há um caminho — disse ele.
Demorou muito para calar uma multidão barulhenta de Skandians, mas a declaração de Will conseguiu fazer o truque. As vozes desapareceram como se cortado com uma faca e todos os olhos voltaram para a pequena figura, estando agora entre Halt e Erak. Como Will poderia ter adivinhado, foi Ragnak mesmo quem quebrou o silêncio.
— Como? — Disse ele simplesmente.
— Bem, os navios de Slagor, nesta ilha, considerada por si só, pode não haver prova da sua intenção de nos vender ao temujai — disse Will com cuidado, pensando nas suas palavras antes de falar em voz alta, sabendo que toda a sua segurança dependia da forma como ele expressasse a sua idéia. Ele viu Ragnak tirar fôlego para falar e apressou-se antes do Oberjarl poder interrompê-lo.
— Mas... Se Erak fosse até Sand Creek Bay, e se acontecesse de encontrar, digamos, cento e cinqüenta guerreiros temujai lá esperando para embarcar, é uma indicação concreta de que alguém está planejando te trair, não é?
Houve um murmúrio de concordância entre a multidão reunida. Ragnak franziu a testa enquanto pensava com a idéia. Ao lado de Will, Erak murmurou
— Bem pensado, rapaz.
— É verdade — Ragnak disse finalmente. — Isso mostra que há traição foi planejado. Mas quem pode dizer que Slagor está envolvido?
Will mordeu o lábio enquanto pensava sobre isso. Mas agora Halt falou.
— Oberjarl, há uma maneira simples de descobrir. Vamos levar não um navio, mas três. Afinal, esse é o número que os temujai estão esperando para ver. Então, ele pode falar com o líder do temujai que pode acontecer de estar lá e dizer-lhes que Slagor foi detido e lhe enviou em seu lugar. Se o líder temujai responder com palavras ao longo das linhas "Quem diabo é Slagor?", Então o nosso amigo aqui é tão inocente como ele afirma ser. — Ele parou e viu que Ragnak estava concordando enquanto considerava a idéia. Em seguida, ele acrescentou, mais deliberadamente, — Por outro lado... Se o nome Slagor parecer familiar para o inimigo, então há todas as provas que você precisa.
— Isso é ridículo! — Slagor explodiu. — Eu te juro, Oberjarl, que eu não sou um traidor da Skandia! Esta é uma parcela cozida por estes Araluens. — Ele fez um gesto de desprezo a Halt e Will. — E de alguma maneira eles parecem ter enganado Erak também.
— Se você é inocente — disse Ragnak fortemente — então você não tem nada a temer de tudo isso, não é?
Ele olhava fixamente para Slagor agora, observando o brilho de suor na testa do outro, observando o tom estridente que permeou todas as suas declarações agora. Slagor estava com medo, ele pensou. Quanto mais ele viu, mais ele estava preparado para acreditar que o homem era um traidor.
— Eu não vejo nenhuma razão pela qual — Slagor começou, mas Ragnak o interrompeu com um gesto.
— Eu faço! — Ele agarrou. — Erak, tome três navios para Sand Creek Bay imediatamente e faça como o arqueiro sugere. Uma vez que você estabeleça ou não se Slagor está envolvido nesta trama, volte aqui e relate. Quanto a você... — Ele virou-se para Slagor, que estava começando a ir em direção à porta lateral da sala. — Não tente ir a qualquer lugar. Quero onde eu possa vê-lo até a volta de Erak. Ulfak, consulte ele! — Ele abordou este último comentário a um de seus outros jarls sênior, que acenou com a cabeça e se mudou para ficar ao lado de Slagor, colocando a mão em seu braço.
— Uma coisa, Oberjarl — disse Erak, e o líder Skandian virou para ele novamente. — Quando eu tiver estabelecido que Slagor está envolvido, está tudo certo, se reduzir o número temujai um pouco? Isso vai ser um pouco menos temos de lutar aqui, pelo menos.
— Boa idéia — disse Ragnak. — Mas não corra riscos. Eu preciso saber a identidade do traidor e você não pode me dizer se o temujai estiver morto.
— Por que não ir adiante com o plano que está esperando? — Disse Will, antes que ele pudesse parar. O líder Skandian considerou como se ele estivesse louco.
Você está fora de sua mente? — Disse. — Você está sugerindo que Erak realmente traga o temujai de volta aqui como prisioneiros? Teríamos de subjugá-los e preservá-los e isso levaria os homens longe de nossa própria linha de batalha.
Não que volte aqui — Will disse, virando-se para apelar a Erak. — Mas você não poderia encontrar algum pretexto para fazê-los sair com os navios desta Ilha Fallkork, em seguida, basta deixá-los lá?
Novamente um silêncio, quebrado desta vez por uma risada, profundamente gutural de Erak. — Oh, a idéia de prêmio! — Disse ele, sorrindo carinhosamente à Will. — Se tomarmos esses cavaleiros... através dos estreitos de Vulture, tenho certeza que podemos ter-lhes implorando para chegar em terra por algumas horas. Os mares são terríveis nesta época do ano para fazer qualquer velejador inexperiente enjoar!
Ragnak esfregou o queixo, pensativo.
— Eu tomo que os temujai não estão habituados a vela? — Perguntou ele a Halt.
O Ranger acenou.
— Totalmente, Oberjarl.
Ragnak olhou de Halt ao seu jovem aprendiz.
— Este menino mostra um certo talento para o tipo de pensamento tortuoso que esperamos de vocês arqueiros.
Halt caiu levemente uma mão no ombro de Will, e disse, com um rosto completamente em linha reta.
— Estamos muito orgulhosos dele, Oberjarl. Achamos que ele vai longe.
Ragnak balançou a cabeça, cansado. Esse tipo de enredo e contra plano foi além dele. Ele acenou uma mão a despedir de Erak.
— Pegue os navios e vá embora — disse ele. — Depois de despejar esses temujai na Ilha de Fallkork, volte aqui. — O assunto foi feito na medida em que ele estava preocupado, mas Slagor tinha uma objeção, última e desesperada.
— Oberjarl! Estas são as pessoas que me acusam! Eles estão todos no mesmo barco! Você não pode enviá-las para verificar as suas próprias taxas!
Ragnak hesitou.
— O ponto é justo. — Virou-se para seu hilfmann. — Borsa, você vai com eles como um testemunho independente. — Então, voltando o olhar para Slagor, ele concluiu — Quanto a você, é melhor esperar que não haja temujai em Sand Creek Bay.
Erak olhava para a figura ao lado dele na popa do navio e, pela centésima vez, foi incapaz de evitar um largo sorriso sair em seu rosto. Halt percebeu o olhar e o sorriso, e disse em tom azedo
— É preciso perder o seu fascínio depois de um tempo, certo?
O Jarl balançou a cabeça, ampliando o seu sorriso.
— Não para mim — ele respondeu alegremente. — Toda vez, é tão fresco quanto a primeira.
— Estou tão contente que os Skandians têm um sentido tão animado de humor — o arqueiro disse, carrancudo. Não servia o seu mau humor nada melhor do que ver que vários dos Skandians rindo também. Na verdade, ele era uma figura cômica. Ele tinha abandonado o manto de arqueiro e suas roupas e estava vestido com roupas Skandian, colete de pele de carneiro, um manto de pêlo curto e calças de lã, enrolado com encadernações de couro dos joelhos para baixo. Pelo menos eles deveriam evitar feridas dos joelhos para baixo. De fato, Halt era consideravelmente de menor estatura do que qualquer Skandians adulto, as caneleiras foram atadas em suas coxas para baixo, os calções e o colete de carneiro pendurados livremente sobre ele, aparentemente, com espaço para uma outra pessoa de sua própria dimensão interior.
— É sua própria culpa — Erak respondeu. — Para tomar a decisão de tentar disfarçar-se como um de nós.
— Eu lhe disse — Halt murmurou. — O temujai deu uma boa olhada em mim quando eles estavam perseguindo-me perto da fronteira, e mesmo sem isso, eles não têm razão para amar alguém vestido como um arqueiro.
— Assim eu ouvi — Erak disse, ainda sorrindo. Inclinou-se para a bússola antes de avistar-lo, verificou a posição do ímã flutuante e ajustou em sua vista para se conformar com isso.
— Um pouco a leste do sul — disse para si mesmo, então, levantou a voz, chamou os seus homens — Olho vivo agora! Sand Creek Bay está logo além.
Houve um barulho expectante no convés do navio quando os Skandians asseguraram que as suas armas estavam perto, embora não ficasse obvio. Em um aceno de Erak, o vigia do mastro retransmitiu a mensagem para os outros dois navios fechar com eles. Muito obviamente fazendo um esforço para não sorrir, o capitão cutucou Halt nas costelas com um cotovelo não muito gentil.
— É melhor você colocar seu capacete — disse ao arqueiro, cujo rosto ainda mais escuro do que antes, quando ele chegou para o capacete com chifres enormes que cada guerreiro Skandian usava.
Esta era a parte mais controversa do equipamento. Erak sustentou que nenhum Skandian jamais iria aparecer em público sem capacete, e que não havia nenhuma pergunta de Halt não está usando um. No entanto, os tamanhos eram imensos em comparação com que Halt considerava ser dimensão da sua própria cabeça perfeitamente normal. Até mesmo o capacete menor que Erak poderia encontrar vacilou livremente em Halt, e desceu sobre os ouvidos e os olhos. À custa de muito preenchimento com panos, eles finalmente conseguiram que o capacete senta-se mais ou menos firme em sua cabeça. Mas ainda cobria surpreendente toda a volta. O Skandian olhou com uma mal disfarçada diversão quando Halt cuidadosamente colocou o capacete na cabeça. Borsa, que se juntou à expedição a ordens de Ragnak, balançou a cabeça e riu. O hilfmann, que nunca tinha visto um dia de batalha em sua vida, sabia que ele parecia mais a parte do que Halt.
— Mesmo que este acabe por ser um ganso selvagem — disse ele alegremente — que terá valido a pena ver isto.
Halt virou-se irritado. Foi um erro. Com movimentos rápidos de cabeça, o capacete ficou desalojado e derrubou sobre os olhos. Ele amaldiçoou a si mesmo em silêncio, ajeitou o capacete ridículo e resignou-se ao riso abafado do Skandian.
Eles haviam vindo com um vento de popa, mas agora, quando Erak preparou para trazer o navio ao redor do promontório, e através do vento, houve uma enxurrada de atividades a bordo quando a vela principal foi recolhida. O longa, remos pesados ruidosamente em sua Thöles quando a tripulação correu para fora, e antes que o navio perdesse a forma, eles começaram a afagar suave e rítmica. Olhando para trás, Halt viu que os outros navios haviam seguido o exemplo. Mais uma vez, o capacete inclinado desajeitadamente em sua cabeça e, com um gesto de desgosto, tirou-o e deixou-o cair ao convés. Ele olhou para Erak, ousadia Skandian a grande para fazer algum comentário. O Jarl apenas encolheu os ombros e sorriu.
Haviam passado quase todo o promontório agora e sem quaisquer direitos envolvidos na manutenção do navio em movimento e em curso ansiosamente para ver se a praia estaria vazia, ou se haveria uma festa de guerra de guerreiros temujai esperando por eles. Tentativo com lentidão, o barco rastejou após o promontório, gradualmente, revelando a faixa de praia além. Halt sentiu uma sensação de afundamento no poço de seu estômago, quando a primeira vista da praia, não mostrou nenhum sinal de qualquer temujai. Mas eles estavam apenas olhando para o extremo sul da praia, e quando eles chegaram mais perto, havia um suspiro suave do que nos observam e do sentimento de naufrágio no estômago Halt virou-se com uma chama de alegria feroz.
Há, elaborado no centro da praia, foram três esquadrões de cavalaria temujai.
Barracas foram armadas em linhas perfeitamente ordenadas. Os cavalos foram amarrados em um pasto de grama onde a praia acabou. Havia sessenta homens em uma esquadra, Halt sabia. Ele presume cada esquadra estaria deixando dez homens para cuidar dos cavalos, o que, evidentemente, não podia viajar no navio. O som discordante de um chifre temujai na praia disse-lhes que tinha sido avistado.
Borsa balançou a cabeça, infelizmente, as evidências de traição Slagor.
— Eu tinha esperança de que esta seria uma busca vazia — disse ele amargamente. — O pensamento de qualquer traidor Skandian é amargo de enfrentar.
Ele afastou-se de Halt e Erak e os dois homens trocaram olhares. Erak encolheu os ombros. Ele tinha um temperamento mais cínico do que o hilfmann, e ele tinha um melhor conhecimento do caráter de Slagor.
— Hora de fazer absolutamente certo — disse ele calmamente, e soltou leme para fazer o navio ir em linha reta em direção à praia. Como combinado, os dois outros navios, os remadores mantiveram um curso lento, relaxado para segurá-los na posição contra o vento e de maré, cerca de duzentos metros da praia. Eles ainda estavam dentro de lançamento de flecha, mas o enorme, circular escudos Skandian que foram variando ao longo da amurada deu a proteção contra qualquer ataque de marinheiros temujai.
Aqueles no principal não foram tão afortunados. Eles estavam indo direto a costa, cada movimento dos remos tornando-as mais vulneráveis a uma saraivada de flechas temujai súbita.
— Mantenha sua cabeça para baixo — resmungou Erak aos remadores. Foi um aviso desnecessário. Eles estavam curvados para baixo, tanto quanto poderiam estar, tentando impedir que qualquer parte de seus corpos de mostrar acima dos baluartes de carvalho. Halt notou que a mão direita do Jarl que estava no leme, se afastou quase inconscientemente contra o machado de batalha que estava inclinado por perto.
A atividade na praia estava a crescer agora, e um grupo de meia dúzia de temujai havia se mudado para a beira da água. Atrás deles, as ordens estavam sendo gritadas e esquadrões estavam se formando quando líderes de sua tropa se preparavam para embarcar nos três navios. A água profunda continuou em muito perto da praia. Evidentemente, os navios foram projetados para a praia em água tão rasa quanto um metro, mas a temujai não estavam cientes do fato e Halt e Erak tinham concordado que fazia mais sentido manter o inimigo à distância. Vinte metros da beira da água, Erak deu uma ordem breve e os remos de um lado do navio apoiado, enquanto os outros foram em frente, balançando a embarcação estreita em noventa graus, praticamente em seu próprio comprimento.
Erak acenou para o seu segundo em comando, que correu para o leme. Então o Jarl pisou em direção à praia ao lado do navio e levantou a voz em sua tempestade familiar.
— Ola! — Ele chamou, e Halt, de pé perto, mudou-se apressadamente alguns passos mais longe. A pé Tem'uj no centro do pequeno grupo na praia com as mãos em concha chamou de volta.
— Eu sou Or'kam, comandante desta força — ele chamou. — Onde está Slagor?
Atrás dele, Halt ouviu uma entrada rápida de ar e se virou para ver Borsa sacudindo a cabeça, infelizmente, com os olhos baixos. Vários dos outros Skandians também trocaram olhares nesta confirmação que Slagor tinha sido envolvido no plano.
— Fiquem quietos! — Halt advertiu-os, e os homens mascararam apressadamente as suas reações. Erak estava respondendo agora, com a história que ele, Borsa e Halt tinham concordado.
— Oberjarl Ragnak estava crescendo a suspeita de nossos movimentos. Era demasiado perigoso para Slagor entrar nesta expedição. Ele vai se juntar a nós na Ilha de Fallkork.
Houve uma consulta apressada entre os líderes temujai.
— Eles não gostam disso — resmungou Erak pelo lado da boca.
— Eles não têm que gostar. Eles só têm que acreditar — Halt disse a ele no mesmo tom. Após vários minutos de discussão, Or'kam se afastou do grupo e chamou novamente.
— Esperávamos Slagor. Como podemos ter certeza de que podemos confiar em vocês? Será que ele deixou alguma mensagem? Alguma senha?
No navio, os homens trocaram olhares preocupados. Esta era uma eventualidade que eles temiam. Se Slagor tinha arranjado uma senha com o temujai, então seu plano estava estragado. Naturalmente, o seu principal objetivo já foi alcançado. Eles provaram a cumplicidade de Slagor na trama. Mas agora que eles estavam aqui, a chance de levar 150 homens para fora da linha do inimigo na batalha, sem nenhuma perda de suas próprias forças, era tentador ao extremo.
— Blefe — disse Halt rapidamente. — Ele já disse que estava esperando Slagor, então eles não precisam de uma senha. — Erak assentiu. Fazia sentido.
— Olha, cavaleiro — Erak berrou novamente. — Eu não preciso de uma senha. Estou aqui para buscá-lo. E eu estou arriscando o pescoço para fazê-lo! Agora, se você escolher vir a bordo, faça-o. Se não, eu vou embora e deixar você e Ragnak com sua pequena guerra. Agora você escolhe!
Mais uma vez houve uma consulta de urgência na praia. Eles podiam ver Or'kam relutante em seus movimentos, mas igualmente, podiam vê-lo pesando suas opções, e depois de um olhar, muito minucioso no navio, obviamente, ele decidiu que ele não tinha nada a temer da tripulação de esqueletos de remadores nos três navios.
— Muito bem — ele chamou. — Traga os seus navios aqui e nós vamos.
Mas agora Erak balançou a cabeça.
— Nós vamos levá-lo de bote — ele chamou. — Nós não podemos atracar na praia.
Or'kam fez um gesto irritado. Obviamente ele não gosta quando as coisas não vão exatamente de acordo com seus desejos.
— O que você está falando? — Gritou. — Slagor já trouxe seu navio aqui. Eu o vi fazer isso!
Erak mudou-se para o baluarte e levantou-se sobre ele, completamente exposto.
— Cuidado — Halt murmurou, tentando não deixar que seus lábios se movessem.
— E me diga, cavaleiro — Erak disse, sua voz carregada de sarcasmo —Slagor carregou cinqüenta homens a bordo de seu navio e levou-os para fora da praia?
Houve uma pausa quando o líder temujai pensou através do raciocínio que Erak tinha dito. Erak viu a hesitação e pressionou.
— Se formos a praia agora e carregar os seus homens a bordo, nós nunca vamos tirá-lo novamente. Especialmente com a maré caindo do jeito que está.
Isso pareceu funcionar. Or'kam relutantemente sinalizou o seu acordo.
— Muito bem — ele falou. — Quantos você pode levar de uma vez?
Erak resistiu à tentação de dar um suspiro de alívio.
— Três botes, oito homens cada um — ele falou. — Vinte e quatro de cada vez.
Or'kam assentiu.
— Tudo bem, Skandian, envie-nos os botes.
— Posição dois... atirar! — Will gritou, e os cem braços dos arqueiros se ergueram no mesmo ângulo, prepararam e atiraram mais ou menos ao mesmo tempo.
O assobio forte foi aumentado uma centena de vezes e Will e Horace olharam com satisfação a nuvem escura de flechas que formou um arco sobre o espaço que as separava do alvo que tinha saltado para cima de repente.
Evanlyn estava sentada numa velha carroça quebrada, alguns metros atrás da linha de arqueiros, observando a cena com interesse.
Eles podiam ouvir o baque característico e macio das flechas batendo na grama ao redor do alvo, e o estalo mais forte e claro das flechas que realmente o atingiam.
— Escudos!
Horace gritou c. ao lado de cada arqueiro, um peão se adiantava com um escudo retangular de madeira no braço esquerdo e se posicionava para cobrir a si mesmo e o arqueiro enquanto este recarregava. Aquela tinha sido uma ideia do aprendiz de guerreiro enquanto assistia às sessões de treinamento anteriores. Will adotou a melhoria imediatamente. Com apenas cem arqueiros, ele não podia se dar ao luxo de perder nenhum para o contra-ataque certo dos temujai quando vissem seus homens em ação.
Will olhou rapidamente ao redor para se certificar de que seus homens estavam preparados para o próximo tiro. Ele então se virou para o campo de treino, esperando que o próximo alvo aparecesse Pronto! Quando a equipe de homens atrás dele puxou um conjunto de cordas, outro quadro saltou da grama. Mas, enquanto esperava para ver se os arqueiros estavam prontos, ele quase tinha perdido o movimento. E sentiu uma pontada de pânico. As coisas estavam caminhando depressa demais.
— Afastar! — ele gritou, desejando que sua voz não tremesse quando o fazia, e os rapazes que seguravam os escudos recuaram.
— Meia direita! Posição três... disparar!
Novamente eles ouviram o assobio deslizante e outra nuvem de flechas lançou sua sombra fugidia sobre o campo e crivou a área ao redor do alvo. No mesmo momento, outro alvo estava se levantando da grama, desta vez muito mais perto.
— Escudos! — Horace gritou novamente e mais uma vez os arqueiros ficaram abrigados do contra-ataque.
Quando deu a ordem, Horace fez a mesma coisa, escondendo Will atrás de um dos grandes escudos.
— Vamos, vamos — Will murmurou equilibrando-se ora num pé, ora noutro enquanto via os homens escolherem novas flechas e ajustarem-nas na corda.
Os arqueiros perceberam a pressa e correram para recarregar. A pressa exagerada deixou-os desajeitados. Três deles deixaram as flechas cair, outros remexeram nelas como principiantes. Frustrado, Will se deu conta de que linha que se contentar com os homens que estavam prontos. Ele olhou o alvo, mas os homens nas cordas o estavam puxando para que deslizasse na direção deles sobre as roldanas, numa velocidade igual ao avanço de um inimigo. A distância tinha diminuído depressa demais para que ele pudesse avaliar a situação. Enquanto observava os homens, perdeu concentração e a noção do campo de batalha.
Zangado, ele desceu da posição de comando, uma plataforma baixa construída no fim da linha de arqueiros.
— Parem! — ele pediu. —Vamos fazer uma pausa.
Ele percebeu que estava suando muito por causa da tensão e enxugou a lesta com a ponta da capa. Horace soltou o escudo enorme e se juntou a ele.
— Qual é o problema? — ele quis saber.
— Não tem jeito — Will respondeu derrotado. — Não consigo vigiar os alvos e os homens ao mesmo tempo. Perco a noção do que estou fazendo. Você vai ter que observar os homens e me dizer quando eles estiverem prontos.
— Eu poderia fazer isso — Horace concordou, franzindo o cenho. — Mas acho que no dia vou estar um pouco ocupado protegendo vocês do revide. Eu também preciso ficar de olho no inimigo. A menos que você queira se transformar numa almofada para alfinetes.
— Bom, alguém vai ter que fazer isso! — Will retrucou zangado. Nós nem começamos a praticar contra os kaijin e tudo já está indo pelo ralo!
Halt tinha contado a eles sobre os kaijin. Eles eram peritos atiradores e cada grupo de 60 temujai levava um com ele. Os kaijin tinham a função de atirar nos líderes de cada grupo inimigo. Will teria a tarefa de neutralizá-los e para isso tinha criado um exercício com alvos extras e menores colocados no campo, prontos para surgirem inesperadamente. Mas, se Will eslava dividindo a atenção entre os próprios arqueiros e o inimigo, as chances de anular os peritos do inimigo seriam realmente muito baixas.
Por outro lado, sua chance de ser atingido por um deles era consideravelmente maior.
— Eu posso fazer isso — Evanlyn ofereceu, e os dois garotos se viraram.
Ela viu a dúvida na expressão dos dois.
— Eu posso fazer isso. Posso ficar de olho nos arqueiros e avisar quando estiverem prontos.
— Mas isso vai pôr você na linha de batalha! — Horace protestou no mesmo instante. — Vai ser perigoso!
Evanlyn discordou com um gesto e percebeu que Will ainda não tinha objetado. Ela notou que ele estava considerando a idéia. Evanlyn se apressou a continuar antes que ele pudesse vetar a sugestão.
— Os arqueiros não estão realmente na linha de frente. Vocês estariam atrás dela protegidos por uma trincheira e um monte de terra. Você poderia construir um abrigo numa das pontas, abaixo de sua posição de comando. Lá vou ficar a salvo de flechas. Afinal, não preciso ver o inimigo, apenas os nossos homens.
— Mas e se os temujai atravessarem nossa linha? — Horace argumentou. — Você vai ficar bem no meio dela!
— Se os temujai atravessarem, não vai fazer diferença onde eu estiver. Todos nós vamos morrer. Além disso, se todos estão se arriscando, por que eu também não posso?
Horace era esperto o bastante para não responder "porque você é uma garota". E ele tinha que admitir que ela estava certa. Mas não estava convencido e se virou para Will.
— O que você acha, Will? — ele indagou, esperando que o aprendiz de arqueiro concordasse com ele, mas ficou surpreso quando Will não respondeu imediatamente.
— Acho que talvez ela tenha razão — o garoto disse devagar. — Vamos tentar.
— Pronto! — Evanlyn disse com calma.
Ela estava agachada embaixo da plataforma onde Will e Horace se encontravam.
— Afastar! — Horace gritou, e quem segurava os escudos se ajoelhou ao lado dos arqueiros. — Esquerda, esquerda! Posição um... atirar! Os tiros foram imperfeitos e Will sabia que tinha sido culpa dele. Ele tinha proferido a ordem de atirar um pouco rápido demais e alguns dos homens ainda não Unham esticado a corda do arco completamente. Mentalmente, deu-se um chute. Escutou Horace pedir os escudos novamente c viu as flechas que tinham atingido o alvo e também as que tinham caído no chão.
Mas, outro perigo os ameaçava. Quando o próximo alvo grande saltou e começou a se mover na direção deles, outro menor saiu de dentro do alvo que tinham acabado de preparar. Tratava-se de uma figura do tamanho de um homem, e era responsabilidade de Will atingi-lo. Ele armou o arco, soltou a flecha e a viu atingir o alvo no exato momento em que Evanlyn gritou "pronto" mais uma vez. Ele voltou a atenção rapidamente para o alvo principal quando Horace mandou os que seguravam os escudos se abaixarem.
— Esquerda! Posição três... — ele esperou e então corrigiu. — Para baixo meio...
Ele se obrigou a esperar um pouco e então acrescentou:
— Atirar!
Desta vez, as setas foram disparadas ao mesmo tempo e a maioria atingiu o alvo ou caiu muito perto. Se fosse um grupo de cavaleiros no ataque, os arqueiros teriam derrubado uma grande quantidade.
— Escudos! — Horace gritou, e o padrão começou a se repetir. Mas Will acenou com a mão cansada.
— Descansar — ele disse, e Horace repetiu a ordem em voz mais baixa.
Os arqueiros e os escudeiros, que tinham treinado esse exercício nas últimas duas horas com apenas pausas rápidas, agradecidos deixaram-se cair na grama para descansar. Horace sorriu para Will.
— Nada mal — ele disse. Acho que, de 25 alvos, 20 foram atingidos. E você derrubou todos os kaijin.
Os alvos menores presos a cada um dos grandes representavam os kaijin. Sem precisar verificar os seus homens e os inimigos, Will tinha dado conta do recado com facilidade.
— É verdade — Will concordou respondendo ao comentário do amigo. — Mas eles não estavam revidando o ataque.
Secretamente, estava satisfeito com seu desempenho. Ele tinha atirado bem, apesar das distrações envolvidas em avaliar a distância e a trajetória para um grupo maior.
Ele sorriu para Horace e Evanlyn. Era bom sentir que um pouco do velho companheirismo tinha voltado.
— Bom trabalho, todos vocês — ele elogiou e ergueu a voz: — Vamos fazer uma pausa de meia hora.
Houve um murmúrio de satisfação por parte dos arqueiros e eles foram para o lado da área de treino onde havia barris de água potável. Atrás de Will, ouviu-se uma voz conhecida.
— Descanse o resto do dia. Você fez o bastante por hoje.
Os três jovens araluenses se viraram ao som da voz de Halt. No mesmo instante, Will se sentiu revigorado e explodindo de curiosidade sobre os acontecimentos na baía de Sand Creek.
— Halt! — ele exclamou ansioso. — O que aconteceu? Os temujai estavam lá? Vocês conseguiram enganar eles?
Mas Halt ergueu uma das mãos para interromper a enxurrada de perguntai que sabia que iria enfrentar. Ele estava preocupado com o que tinha acabado de ver ao se aproximar.
— Por que você envolveu Evanlyn nisso, Will? — ele indagou. Ele viu a hesitação nos olhos do rapaz e depois seu maxilar se cerrar determinado.
— Porque eu precisava dela, Halt. Eu precisava de alguém para ficar de olho nos homens e me avisar quando estivessem prontos. Sem isso, nosso sistema não funciona.
— Não havia mais ninguém para fazer isso?
— Não consigo pensar em mais ninguém em quem confio. Quero alguém que não entre em pânico. Alguém que mantenha a cabeça no lugar.
— E como você sabe que Evanlyn não vai entrar cm pânico? — Halt perguntou coçando a barba, pensativo.
A resposta veio imediatamente.
— Por que foi o que aconteceu em Céltica, na ponte.
Halt olhou para os três rostos jovens à sua frente. Firmes. Determinados. Ele sabia que Will tinha razão. Ele iria precisar de alguém em quem pudesse confiar.
— Tudo certo, então — ele concordou. Mas não fiquem tão felizes com isso. — ele acrescentou, quando os três olharam contentes para ele.
— Eu é que vou ter que contar ao pai dela se ela for atingida.
— Mas e os temujai? — Will quis saber. — Vocês encontraram eles na baía de Sand Creek?
Diante da menção da trama de Slagor, o sorriso desapareceu do rosto de Evanlyn e foi substituído por uma expressão ansiosa.
— Eles estavam lá — Hall contou depressa afastando os piores temores da garota. — E eles deixaram claro que estavam esperando ver Slagor.
Ele fez um gesto de cabeça para a garota quando ela soltou um forte suspiro de alívio.
— No que se refere a você, isso muda bastante as coisas, princesa — ele ajuntou.
— Ragnak ainda tem o juramento — ela disse desanimada.
— É verdade o arqueiro concordou. — Mas ele concordou em não agir até nos livrarmos dos temujai.
Evanlyn fez um pequeno gesto hesitante com as mãos.
— Isso só serve para adiar as coisas.
— Problemas adiados costumam se resolver sozinhos com muita freqüência — Halt lhe disse e colocou um dos braços ao redor dos ombros magros da garota.
Evanlyn sorriu para ele com tristeza.
— Se você diz... — ela respondeu. — Mas, Halt, por favor, não me chame de "princesa". Não tem sentido lembrar Ragnak disso a toda hora.
— Você tem razão — o arqueiro concordou. — Por falar nisso, não tem necessidade de contar para ele, mas não fique surpresa demais se o navio de Erak ficar ancorado por perto para tirar você daqui assim que nos livrarmos desses temujai — ele acrescentou em voz tão baixa que apenas Evanlyn escutou.
A garota o filou com o olhar cheio de esperança. Hall a encarou e fez um gesto significativo com a cabeça. Evanlyn olhou para ele e depois para o robusto jarl escandinavo, que estava se aproximando pelo campo, e então se inclinou e beijou o arqueiro de leve no rosto.
— Obrigada. Halt — ela disse com suavidade. — Agora sei que existe uma alternativa.
O arqueiro deu de ombros e sorriu para ela.
— É por isso que estou aqui — ele replicou satisfeito por ver a luz da esperança voltar aos olhos dela.
Evanlyn sorriu para ele outra vez e se afastou na direção de seus aposentos. De repente, dominada pela sensação de alívio por Halt ter encontrado uma saída para seu problema, ela sentiu necessidade de ficar sozinha por alguns momentos.
Quando Erak se aproximou, alguns escandinavos que tinham trabalhado com os alvos o chamaram, pois queriam saber o que tinha acontecido na baía de Sand Creek. Quando o jarl confirmou a traição de Slagor, houve murmúrios zangados e olhares sombrios na direção do alojamento onde Slagor estava sob vigilância.
— E o que aconteceu com os temujai, Erak? — Will perguntou. — Como vocês convenceram eles a desembarcar na Ilha Fallkork?
O riso de Erak tomou conta de todo o campo de treino.
— Nós quase tivemos que lutar com eles para que não descessem! — ele contou para os ouvintes ali reunidos. Eles caíram uns sobre os outros para voltar para terra firme.
Os escandinavos na multidão parada em volta dele riram enquanto ele continuava.
— Consegui encontrar um lugar onde o vento soprava de trás, um mar violento à nossa frente e a maré alta pelo estreito ao mesmo tempo. Algumas horas depois, nossos fortes soldados montados pareciam carneirinhos. Carneirinhos doentes.
— Não foram só eles — Halt respondeu um pouco aborrecido. — Já viajei em mares tempestuosos, mas nunca senti nada parecido com o balanço que você nos fez enfrentar.
Mais uma vez, Erak estourou numa gargalhada.
— O seu mestre aqui ficou quase tão verde quanto a sua capa — ele contou para Will.
— Mas finalmente encontrei uma utilidade para o maldito capacete — Halt contou levantando uma sobrancelha e fazendo Erak parar de rir.
— Sim. Não sei bem o que vou contar a Gordoff sobre isso — Erak falou. — Ele me fez prometer que eu cuidaria desse capacete. É o seu favorito e está na família há muitos anos.
— Bem, ele certamente tem um toque diferente, agora — Halt ajuntou e Will notou que havia um quê de prazer maldoso em seus olhos.
O arqueiro fez um gesto de cabeça para o grupo de arqueiros que estavam assistindo à conversa.
— Parece que você está conseguindo bons resultados com esse grupo — ele disse.
Will ficou absurdamente satisfeito com o elogio do mentor.
— Ah - ele disse tentando parecer casual. — Até que estamos nos saindo bem.
— Pelo que eu vi, é bem melhor do que isso — Halt continuou. — E eu estava falando sério, Will — ele disse repetindo a sugestão anterior. Diga para eles tirarem folga o resto do dia. Você também. Você merece um descanso. E, a menos que eu esteja enganado, nós vamos precisar de todo o descanso que pudermos nos próximos dias.
O som era abafado. "A arrebentação numa praia longínqua ou talvez o ribombar de trovões distantes", Will pensou. Exceto pelo falo de que trovões nunca tinham esse som. Aquele ruído parecia nunca começar, nem nunca terminar. Ele apenas continuava, sem fim, repetindo-se constantemente.
E, aos poucos, aumentava.
Era o som de milhares de cavalos trotando lentamente na direção deles.
Will esticou a corda de seu arco várias vezes a fim de testar a sensação e a tensão. Seus olhos estavam presos no ponto onde todos sabiam que o exército temujai iria aparecer: a um quilômetro dali, onde a estreita faixa do litoral entre as colinas c o mar se projetava para fora e formava o promontório, temporariamente bloqueando a visão do exército que se aproximava. Ele se deu conta de que sua boca estava seca ao tentar engolir sem sucesso.
Will estendeu a mão para o cantil que estava pendurado na aljava e não viu quando os primeiros cavaleiros temujai viraram a curva.
Os homens à sua volta soltaram um grito involuntário. Os cavaleiros galopavam lado a lado formando uma longa linha contínua, cada cavalo trotando com facilidade, acompanhando o ritmo do animal ao lado.
— Deve haver milhares deles! — um dos arqueiros disse, e Will sentiu o medo em sua voz.
O mesmo murmúrio ecoou em vários outros pontos ao longo da linha. Das fileiras de guerreiros escandinavos atrás deles, não veio nenhum som.
Agora, além do retumbar abalado dos cascos, eles ouviram também o retinir dos arreios, um leve contraponto para o rugir dos cascos batendo no chão. Os cavaleiros continuavam a cavalgar e se aproximavam das fileiras dos silenciosos escandinavos à espera. E então, a um único toque da cometa, eles puxaram as rédeas e pararam.
O silêncio, depois do retumbante ruído de sua aproximação, era quase palpável.
Nesse momento, um rugido forte surgiu das gargantas dos guerreiros escandinavos parados junto de suas defesas. Um rugido de desafio e provocação acompanhado pelo ensurdecedor choque dos machados e espadas nos escudos. Aos poucos, o som desapareceu. Os temujai ficaram sentados em seus cavalos encarando os inimigos.
— Fiquem quietos! — Will grilou para seus arqueiros.
Agora que ele tinha visto a linha de frente dos temujai, seu grupo parecia ridiculamente pequeno. Devia haver 600 ou 700 guerreiros cavalgando lado a lado na fileira da frente. E, atrás deles, havia 5 ou 6 vezes esse número. No centro do exército, onde o comandante montava seu animal, uma seqüência de bandeiras coloridas de sinalização oscilava. Outras respondiam de posições na linha de cavaleiros. Ouviu-se outro toque de corneta, uma nota diferente desta vez, e a linha de frente começou a fazer os cavalos avançarem. O tinir dos arreios ficou evidente mais uma vez e então um som metálico e forte encheu o ar, e o sol fraco brilhou em centenas de lâminas de sabre quando foram empunhadas. - Eles vão partir para a luta direta — Horace disse devagar ao seu lado.
— Você se lembra do que Halt nos disse? — Will retrucou concordando. — A primeira manobra vai ser um estratagema: um ataque e depois uma falsa retirada para atrair os escandinavos para trás de suas defesas. Eles só vão partir para o verdadeiro ataque depois que os escandinavos tiverem iniciado a perseguição.
Os 1.800 escandinavos estavam distribuídos em três fileiras numa estreita faixa de terra plana entre o mar e as colinas fortemente arborizadas. Eles esperavam atrás de defesas cuidadosamente construídas. As proteções em declive voltadas para os temujai estavam fortemente rodeadas por estacas afiados, de comprimentos variados, desenhadas para cravarem nos cavalos do inimigo.
Halt linha instalado sua principal posição de defesa na parte onde a faixa de terra era mais estreita e os flancos eram protegidos à esquerda por montanhas íngremes e cobertas por bosques, e à direita pelo mar. Hallasholm ficava uns 200 metros atrás de sua linha. O grupo de arqueiros de Will estava numa trincheira à direita, alguns metros atrás da principal linha de defesa. Naquele momento, proteções de vime cobertas de terra mantinham os arqueiros escondidos enquanto ficavam agachados atrás delas.
Halt, Erak e Ragnak estavam na posição de comando, mais ou menos no centro da linha escandinava, num pequeno outeiro.
Agora se viam mais bandeiras de sinalização, e a cavalaria que avançava irrompeu num trote e começou a girar ligeiramente na direção do flanco esquerdo escandinavo.
Houve um movimento entre os arqueiros agachados atrás das defesas. Vários colocaram a mão nas caixas de flechas à sua frente, instintivamente sentindo a necessidade de se armar.
— Fiquem abaixados! — Will ordenou desejando, mais que nunca, que sua voz não tremesse.
Halt não iria querer que ele revelasse a presença dos arqueiros até os escandinavos terem realizado alguns de seus ataques de sondagem habituais.
— Espere ate eles se envolverem num ataque total, e então nós vamos fazer uma surpresa para eles — ele tinha dito ao aprendiz.
A linha de arqueiros se virou para olhar o jovem comandante. Will se obrigou a sorrir e então, fingindo uma indiferença que certamente não sentia, apoiou seu arco à sua frente, mostrando que os arqueiros não precisariam agir ainda por algum tempo.
Alguns dos outros homens o imitaram.
— Ótimo trabalho — Horace disse baixinho ao lado dele. — Como você pode ficar tão calmo?
— Isso ajuda quando se está apavorado — Will respondeu pelo canto da boca.
Ele estava surpreso com a pergunta do aprendiz de guerreiro. Horace parecia ser a típica imagem da tranquilidade, totalmente despreocupado e aparentemente indiferente, mas sua próxima declaração apagou essa impressão.
— Sei o que você quer dizer — ele disse. — Eu quase deixei a espada cair quando eles apareceram naquela curva.
A investida dos temujai estava ganhando velocidade, passando para um trote rápido e logo para um galope. A medida que se aproximavam da linha escandinava, uma parte significativa virou para o lado, aparentemente detida pelas fortificações e as estacas afiadas. Eles viraram os cavalos para que corressem paralelamente a linha dos escandinavos por alguns segundos e então começaram a descrever uma curva de volta para o próprio exército. Os escandinavos gritaram para eles, ofendendo-os e zombando deles. Uma chuva de lanças, pedras e outros mísseis surgiram da linha escandinava. A maioria caiu longe dos cavaleiros a galope.
Um grupo menor, talvez com menos de cem pessoas, continuou a se aproximar da ala esquerda da linha escandinava. Inclinados sobre os estribos, proferindo gritos de guerra, eles obrigavam as montarias desgrenhadas a investir contra as proteções cobertas de terra, ignorando os gritos dos cavalos que eram feridos pelas estacas. Cerca de dois terços conseguiram chegar à linha escandinava e desceram das selas, desferindo golpes à direita e à esquerda com os sabres longos e curvos.
Os defensores escandinavos se juntaram ansiosamente à batalha. Enormes machados se levantaram e caíram, e mais cavalos foram derrubados com gritos de agonia. Will tentou fechar os ouvidos diante do som de sofrimento dos animais. As pequenas montarias desgrenhadas temujai eram muito parecidas com Puxão e Abelard, e era fácil demais imaginar seu cavalo sangrando aterrorizado, assim como acontecia com os cavalos do inimigo. Obviamente, os temujai encaravam seus cavalos como um meio para atingir um fim e tinham pouco afeto por eles.
A violenta batalha ocupava um lado da linha escandinava. Por alguns minutos, parecia não haver uma imagem clara do que estava ocorrendo. Então, aos poucos, com gritos de pânico, os temujai começaram a recuar e a descer das trincheiras íngremes, virando os cavalos e se afastando, deixando que os escandinavos os perseguissem com crescente ansiedade.
No entanto, para observadores mais distantes, era óbvio que o inimigo em retirada não se movia tão rápido quanto poderia. Mesmo aqueles ainda montados não se esforçavam realmente para galopar... Em vez disso, eles se afastavam aos poucos, mantendo contato com os primeiros perseguidores, atraindo-os para longe das posições defensivas que ocupavam e para terreno aberto.
— Olhem! — Horace avisou de repente, apontando com a espada.
Em resposta a mais sinais das bandeiras que não foram vistos
pelos defensores no flanco esquerdo, várias centenas de cavaleiros do primeiro grupo temujai tinham agora feito um círculo completo c estavam voltando para ajudar os companheiros.
— Exatamente como Halt disse que fariam — Horace murmurou e Will assentiu sem falar.
No comando do posto perto do centro da linha escandinava, Erak estava dizendo praticamente a mesma coisa.
— Ali vêm eles, Halt, como você disse — ele murmurou. Ragnak, parado ao lado do arqueiro, espiou ansiosamente os seus homens expostos por sobre as trincheiras. Cerca de cem escandinavos tinham se espalhado para fora das defesas e estavam em luta com os temujai.
— Você estava certo, arqueiro — ele concordou.
De sua posição remota, ele via a armadilha que eslava para ser lançada. Se tivesse assumido seu lugar habitual no meio da luta, não teria conseguido perceber a tática.
— Podemos confiar que Kormak mantenha a calma lá fora e não deixe seus homens perderem o controle? — Hall perguntou ao oberjarl.
Ragnak franziu o cenho diante da pergunta.
— Vou matar ele se ele não fizer isso — ele disse simplesmente. O arqueiro ergueu uma sobrancelha.
— Você não vai precisar — ele retrucou.
Então, virou-se e fez um gesto na direção de um dos sinalizadores que se encontrava perto com uma enorme corneta de chifre de carneiro na mão.
— Prepare-se — ele disse, e o homem levou o chifre â boca, apertou os lábios para atingir a forma correta a fim de criar a nota triste, mas penetrante.
Era um jogo de gato e rato. O grupo menor de temujai fingia recuar no mesmo tempo em que continuava a lutar com os lideres escandinavos que os perseguiam. Eles, por sua vez, simulavam uma perseguição impetuosa e indisciplinada, afastando-se cada vez mais das próprias linhas. E, de repente, a primeira força temujai se virou para investir contra os escandinavos desprotegidos.
Havia apenas mais um elemento no jogo que era desconhecido para os líderes temujai. Antes do amanhecer, Halt linha feito uma centena de guerreiros escandinavos armados de machados tomar posição na margem da colina coberta de bosques que cercava o vale. Escondidos em trincheiras rasas cavadas às pressas e atrás de troncos caídos, eles esperavam o sinal que lhes diria para realizar um ataque-surpresa aos temujai que planejavam surpreender seus companheiros.
— Sinal Um — Hall disse com tranquilidade, e a cometa de chifre de carneiro emitiu uma nota longa que ecoou pelo vale.
No mesmo instante, os escandinavos que os perseguiam, dispostos numa longa fila atrás dos temujai que recuavam, romperam o contato com o inimigo e correram para criar um circulo defensivo formando uma parede impenetrável com os escudos redondos. O movimento ocorreu no momento certo, pois uma segunda onda de cavaleiros temujai estava praticamente em cima deles. Quando os cavaleiros do lado leste se aproximaram, ficaram surpresos ao ver que o inimigo já eslava numa formação defensiva e obviamente os aguardava. O ataque se desfez contra a muralha de escudos, e outra escaramuça agitada e difícil se formou onde cem escandinavos se defendiam desesperadamente de um inimigo pelo menos cinco vezes mais numeroso.
Haz'kam, comandante geral da força invasora temujai, franziu o cenho em sua posição de comando ao ver o movimento bem ensaiado e coordenado dos escandinavos quando eles formaram a muralha de escudos.
— Não gosto do que estou vendo — ele murmurou para o segundo no comando. — Não é assim que esses selvagens deveriam reagir.
E então a corneta de chifre de carneiro tocou novamente, desta vez emitindo três notas curtas e em staccato que pareceram socar o ar. O comandante percebeu que era alguma espécie de sinal. Mas para quê? E para quem?
A resposta não demorou a chegar. Houve um ruído forte vindo das principais fileiras de escandinavos quando um grupo de soldados a pé surgiu do abrigo fornecido pelas árvores e correu para atacar pelas costas os cavaleiros que rodeavam seus companheiros. As achas escandinavas tiveram um pesado impacto nos surpresos temujai, que se viram repentinamente presos entre o martelo de uma nova força atacante e a bigorna da muralha de escudos. Surpresos e confusos e com o fôlego do ataque gasto há muito, os cavaleiros eram alvos fáceis para os selvagens guerreiros do norte. Em questão de segundos, Haz'kam calculou que tinha perdido pelo menos um quarto de sua força de ataque. Era tempo de reduzir o prejuízo, c ele se virou para seu corneteiro.
— Recuar — ele disse depressa. — Separar e recuar.
As notas nítidas da corneta se espalharam pelo campo de batalha e atingiram a mente da altamente disciplinada cavalaria temujai. Desta vez, enquanto se retiravam, eles não fingiram manter contato com os escandinavos. A maneira rápida como se separaram mostrou como tinha sido falsa a aparente retirada anterior. Em questão de minutos, os cavaleiros voltavam para as próprias linhas.
Por um momento, parecia que a disciplina e a razão tinham abandonado os escandinavos. Ragnak se deu conta de que, no calor do momento, eles estiveram a um passo de perseguir os temujai em retirada até suas linhas. E para a morte certa. Rapidamente, ele saltou sobre as defesas e gritou o mais alto que pode com a voz retumbante:
— Kormak! Volte para cá! Agora!
Não havia necessidade de que a corneta de chifre de carneiro reforçasse a ordem. A voz do oberjarl chegou com clareza aos escandinavos e, como se fossem um só, eles correram para o abrigo das fortificações. Percebendo tarde demais o que estava acontecendo, alguns dos temujai embainharam os sabres e se viraram para enviar uma saraivada de flechas na direção dos escandinavos.
Mas não foi o suficiente e era tarde demais. Além de alguns pequenos raspões na pele, não houve feridos.
Will e Horace trocaram olhares. Até aquele momento, as coisas tinham saído muito bem como Halt tinha previsto. Mas eles não achavam que os temujai iriam tentar o mesmo truque outra vez.
— Logo vai ser a nossa vez — Will disse.
O general Haz'kam fez o cavalo trotar ao longo da linha dianteira de seu exército e observou o primeiro grupo de combate voltar para suas linhas.
Talvez ele tivesse perdido 200 homens, entre mortos e feridos, nesse primeiro confronto. E, talvez, metade dessa quantidade de cavalos. Com um exército de 6 mil homens, esses números não eram muito significativos.
O que era importante, contudo, era o comportamento dos escandinavos. Aquele primeiro ataque tinha sido planejado para reduzir os números do inimigo em várias centenas, e não os dele. Na verdade, tinha havido até a leve esperança de que a maioria dos escandinavos fosse atraída para fora de suas posições de defesa, para terreno aberto, onde eles seriam presa fácil para seus arqueiros montados.
O general puxou as rédeas quando alcançou um grupo de oficiais. Entre eles, reconheceu o coronel Bin'zak, chefe da inteligência. O coronel eslava decididamente pouco a vontade. Exatamente como deveria estar.
Haz'kam o encarou e apontou as defesas escandinavas com um gesto de cabeça.
— Não foi isso que me fizeram esperar — ele disse num tom de voz enganosamente suave.
O coronel impeliu o cavalo alguns passos para a frente e o saudou quando emparelhou com o comandante.
— Não sei o que aconteceu, shan Haz'kam — ele replicou. — Parece que eles conseguiram perceber a armadilha. Não esperava que reagissem desse jeito, É... — ele começou procurando as palavras adequadas. — Esse comportamento é totalmente contrário ao que os escandinavos costumam fazer - ele disse finalmente desanimado.
Haz'kam assentiu várias vezes. Ele controlou a raiva com esforço. Era indigno para um comandante temujai demonstrar emoções num campo de batalha.
— Será que lhe ocorreu — ele começou, por fim, quando teve certeza de que poderia conter o tom de voz — que os escandinavos talvez tenham alguém com eles que conheça nosso jeito de lutar?
Bin'zak franziu o cenho enquanto refletia. Na verdade, a idéia não tinha lhe ocorrido. Mas, agora que o shan tinha mencionado, a conclusão parecia lógica. Exceto por um detalhe.
— Seria improvável que os escandinavos entregassem o comando a um estrangeiro — ele disse pensativo.
Haz'kam sorriu para ele, mas foi um sorriso sem o menor toque de humor.
— Também seria improvável eles interromperem a perseguição, formarem uma muralha de escudos e nos atingirem com um ataque-surpresa vindo do bosque - ele ressaltou.
O coronel não disse nada. A verdade contida na declaração falava por si mesma.
— Temos informações — o shan continuou de que um estrangeiro foi mandado junto com os escandinavos... um daqueles malditos atabi.
Atabi, que literalmente significava "os verdes", era o termo usado pelos temujai para designar arqueiros. Nos anos que se seguiram ao bem-sucedido roubo dos cavalos realizado por Halt, os líderes temujai tinham tentado reunir o máximo de conhecimento possível sobre a misteriosa força de homens que usavam capas verde e cinza e pareciam se fundir com a floresta. Nos anos passados, ao se prepararem para aquela campanha, espiões tinham até mesmo chegado a Araluen fazendo perguntas e procurando respostas. Não descobriram muita coisa. Os arqueiros guardavam seus segredos cuidadosamente, e os araluenses comuns relutavam em discutir o Corpo de Arqueiros com estrangeiros. Havia uma crença oculta entre o povo de Araluen de que os arqueiros se dedicavam à magia e à magia negra. Ninguém tinha muito interesse em discutir esses assuntos.
Agora, à menção de um atabi entre os inimigos, o coronel Bin'zak deu de ombros.
— Foram apenas rumores, shan — ele protestou. — Nenhum dos meus homens conseguiu confirmar o fato.
— Acho que acabamos de confirmar — o general retrucou encarando o coronel até ele desviar o olhar.
— Sim, shan — ele disse aborrecido.
Ele sabia que sua carreira estava acabada. Haz'kam levantou a voz e se dirigiu aos outros oficiais reunidos à sua volta, dando fim ao assunto do fracasso do serviço de inteligência do coronel.
— Talvez isso também explique por que nosso ataque-surpresa vindo do mar tenha falhado — ele disse e ouviram-se alguns murmúrios de concordância. A trama com Slagor também tinha sido planejada por Bin'zak. Agora parecia que os 150 homens embarcados nos navios escandinavos, quatro dias antes, tinham simplesmente desaparecido no ar.
— Chega de subterfúgios — o general disse tomando uma decisão. — Perdemos tempo demais aqui. Já estamos três semanas atrasados.
O ataque-padrão a partir de agora vai ser: tempestade de flechas até conseguirmos enfraquecer o inimigo e depois investimos contra suas linhas.
Os comandantes concordaram com gestos de cabeça. O general olhou ao redor e viu a determinação e a fria confiança que eles tinham. Os temujai estavam prestes a fazer o que sabiam melhor: usar a movimentação e a força devastadora dos arqueiros montados para investigar e enfraquecer a linha inimiga. Então, quando chegasse o momento adequado, eles poderiam atacar com sabres e lanças e terminar o serviço. Esses homens não costumavam soltar gritos de batalha nem usar atitudes teatrais.
Aquele era um dia de trabalho normal para eles.
— Suas ordens — Haz'kam disse. — Prestem atenção aos meus comandos.
Ele virou o cavalo, pronto para voltar para a colina onde tinha instalado sua posição de comando. Bandeiras de sinalização já estavam começando a dar ordens para o ataque-padrão. Quando uma voz vindo de trás o fez parar.
— General! — era Bin'zak.
Ele tinha deixado de lado o título honorífico de "shan" e se dirigiu a ele usando o título militar. O general encarou o desacreditado coronel da inteligência e esperou que ele continuasse a falar.
— Permissão para cavalgar com um dos ulans, senhor — Bin'zak pediu de cabeça erguida.
Ulan era a palavra temujai para o grupo de 60 cavaleiros que formava a unidade básica da força temujai. Haz'kam pensou no pedido. Normalmente, oficiais de campo graduados não se envolviam de perto nessa parte das batalhas. Eles não tinham necessidade de provar sua coragem ou dedicação. O general finalmente assentiu.
— Concedida — ele replicou e impeliu o cavalo de volta para a posição de comando.
— E agora? — Ragnak perguntou irritado, enquanto observava a cavalaria temujai se organizando em grupos.
Halt também observava com os olhos semicerrados.
— Acho que chegamos ao fim dos movimentos iniciais. Agora eles vão nos atacar para valer.
Halt apontou com o arco indicando a linha de cavaleiros montados virados para eles.
— Eles vão lutar com seus ulans, 60 homens em cada unidade, nos atacar ao longo de toda a linha e se afastar antes que possamos reagir. A idéia é atingir o máximo possível de nossos homens com flechas antes de lançar um ataque concentrado num ponto selecionado. — E qual seria? — Erak perguntou.
Essa conversa sobre táticas o deixava cada vez mais irritado. Tudo o que queria era cerca de uma dezena de temujai ao alcance de sua acha. Agora parecia que ele teria que continuar a esperar que isso acontecesse.
Halt se virou para o sinalizador com a corneta.
— Dê o toque de "preparar" para os arqueiros — ele ordenou e, quando o homem soprou uma série de notas longas e curtas, ele respondeu à pergunta de Erak.
— Qualquer lugar onde o general deles decidir que criaram um ponto fraco em nossa linha.
— E o que fazemos enquanto esperamos que ele tome essa decisão? — Ragnak perguntou irritado.
Halt sorriu para si mesmo. "Paciência certamente não é a maior virtude dos escandinavos", ele pensou.
— Vamos surpreender eles com nossos arqueiros ele explicou. — E vamos tentar matar tantos inimigos quanto pudermos antes que eles se acostumem com o fato de que alguém está revidando.
Todos os cem arqueiros de Will ouviram o sinal da corneta e houve uma movimentação instantânea entre eles. Ele levantou a mão para acalmá-los.
— Fiquem abaixados! — ele pediu.
Will falou com tranquilidade e ficou satisfeito por sua voz não tremer. "Talvez essa seja a resposta para o futuro", ele pensou. Ele subiu no degrau que tinha sido construído para ser sua posição de comando. Horace, com o escudo preparado, estava ao seu lado. As defesas de vime ainda escondiam os arqueiros, mas, quando o momento chegasse, elas seriam postas de lado e os soldados com os escudos teriam a responsabilidade de protegê-los da tempestade de flechas que os temujai mandariam naquela direção em resposta ao ataque.
Abaixo da posição mais visível de Horace e Will, protegida pela trincheira e pelas defesas de vime, Evanlyn estava agachada na posição de onde tinha uma visão nítida da linha de arqueiros.
As tropas reunidas de cavaleiros começaram a se movimentar, trotando lentamente no início e depois aumentando a velocidade. Will podia ver que, agora, cada homem estava armado com um arco.
Eles cavalgaram ruidosamente na direção da linha escandinava, não em uma linha comprida como tinham feito antes, mas em grupos separados de 12 homens. A cem metros dos escandinavos, os grupos se viraram de modo a se dirigir para 12 direções diferentes c mandaram uma saraivada de flechas depois da outra por cima das linhas escandinavas.
Will tamborilou os dedos nervosamente nas defesas à sua frente. Ele queria entender o padrão temujai antes de dar ordens para os seus homens. A primeira surpresa teria o potencial máximo de desintegrar o inimigo, e ele queria ter certeza de não perdê-la.
Os escandinavos apanharam a maioria das flechas atiradas pelos temujai com os escudos erguidos provocando um estrépito contínuo no ar. Mas não desviaram todas. Homens caíam ao longo das linhas escandinavas e eram arrastados para fora da linha de batalha pelos que estavam atrás e logo os substituíam. A segunda e terceira fileiras de escandinavos ergueram os escudos para o alto a fim de protegê-los contra o ataque violento, enquanto a fileira dianteira apresentava seus escudos para o choque frontal e direto.
Foi um estratagema eficiente, mas impedia os homens de enxergar a aproximação dos temujai. Naquele momento, enquanto Will olhava, um grupo de 60 homens rapidamente ergueu os arcos, desembainhou os sabres e disparou na direção da linha escandinava num ataque impiedoso, matando uma dezena de homens antes que os escandinavos percebessem sua presença. Quando os escandinavos se reorganizaram e se movimentaram para contra-atacar, os temujai recuaram rapidamente e outro ulan, esperando essa oportunidade, disparou uma nova chuva mortal de flechas sobre a muralha de escudos desestruturada.
— Precisamos fazer alguma coisa — Horace murmurou.
Will levantou a mão pedindo silêncio. O movimento aparentemente aleatório de ulans temujai realmente obedecia a um padrão complexo e, agora que o tinha visto, podia prever seus movimentos.
Os cavaleiros estavam virando novamente, galopando para longe da linha escandinava para se reorganizar. Atrás deles, mais de 50 escandinavos jaziam mortos, vítimas das flechas ou dos sabres impiedosos dos temujai. Meia dúzia de corpos do inimigo estava caída ao longo das defesas onde os ulans tinham feito seu ataque-relâmpago.
Os cavaleiros temujai tinham voltado para as suas linhas. Eles levaram os cavalos para descansar e recuperar o fôlego, enquanto outros dez ulans assumiram o ataque. Eles seguiriam o mesmo padrão, obrigando os escandinavos a se abrigar atrás dos escudos e então, quando não estivessem enxergando, os atacariam com os sabres e, finalmente, disparariam uma saraivada depois de outra de flechas enquanto os próprios homens recuavam, deixando uma abertura na muralha de escudos. Era simples. Era eficiente. E esse fato carregava uma inevitabilidade mortal.
Naquele momento, os ulans recomeçaram a voltar, girando e galopando, como se fosse uma dança. Will concentrou a atenção numa tropa no centro da linha, sabendo que ela iria prescrever uma curva, girar e depois se aproximar na diagonal.
— Abaixe as defesas — ele murmurou para Horace.
— Escudos! Descobrir! — o robusto aprendiz gritou.
Os homens que levantavam os escudos se apressaram a derrubar as paredes de vime deixando os arqueiros atrás de uma trincheira da altura da cintura e com uma visão clara do campo.
— Prontos! — Evanlyn avisou indicando que cada homem na linha de arqueiros tinha uma flecha preparada na corda.
Agora dependia de Will.
— Meia esquerda! — ele gritou, e todos os arqueiros viraram na mesma direção.
— Posição dois!
Uma centena de braços se levantou no mesmo ângulo enquanto Will observava o grupo de cavaleiros que se aproximava, visualizando os temujai a galope e a chuva de flechas que convergiam para atingir o mesmo ponto no tempo e no espaço.
— Descer meio ponto... preparar!
A altura foi corrigida e uma centena de flechas foi preparada nas cordas. Ele parou, contou até três para garantir que não era cedo demais e então gritou:
— Atirar!
O som deslizante e sibilante lhe disse que as flechas estavam a caminho. Imediatamente, os arqueiros pegaram as próximas setas.
Horace, pronto para dar ordens aos escudeiros, esperou. Eles não estavam sofrendo nenhum ataque direto no momento e não havia necessidade de perturbar a sequência de disparos e recarregamento nesse momento.
Então a primeira saraivada atingiu seu objetivo.
Talvez tivesse sido um golpe de sorte. Talvez tivesse sido o resultado de semanas de prática, hora após hora, mas Will tinha dirigido aquela primeira saraivada quase com perfeição total. Uma centena de flechas descreveu uma curva e atingiu os ulans a galope e, pelo menos 20 delas, atingiram o alvo.
Homens e cavalos gritaram de dor quando desabaram no chão. E, no mesmo instante, a formação disciplinada e estruturada dos ulans foi destruída. Os que não estavam feridos pelas flechas se depararam com os camaradas e seus cavalos que caíam e rolavam no chão. E, quando cada homem atingido caía, levava outro com ele ou fazia com que mudasse violentamente de direção, puxando as rédeas do cavalo, até que a formação rígida tivesse se tornado uma massa confusa de animais e homens que mergulhavam na terra.
— Pronto! — Evanlyn avisou.
De sua posição, ela não conseguia ver o resultado. Rapidamente, Will se deu conta de que tinha a oportunidade de desferir um golpe no inimigo.
— Mesmo alvo. Posição dois. Preparar... — ele ouviu o raspar de flechas contra os arcos quando os homens puxaram a mão direita para trás até que as pontas empenadas das setas tocaram suas faces.
— Disparar!
Outra saraivada sibilante se afastou na direção do emaranhado de homens e cavalos. No mesmo instante, Will gritava para seus homens que recarregassem. Na pressa, alguns deixaram as flechas caírem enquanto tentavam ajustá-las à corda. Numa decisão sensata, Evanlyn decidiu não esperar até que todos tivessem se recuperado.
— Pronto! — ela gritou.
— Mesmo alvo. Posição dois. Preparar...
Eles tinham a distância e a direção, e a tropa temujai presa, no mesmo lugar, estava impedida de se mover perdendo sua mais valiosa proteção, a mobilidade.
— Disparar! — Will gritou sem se importar com a voz trêmula de excitação, e uma terceira saraivada estava a caminho.
— Escudos! — Horace ordenou empurrando o próprio escudo para a frente para cobrir a si mesmo e ao amigo.
Ele tinha visto que alguns ulans tinham finalmente notado o que estava acontecendo e estavam cavalgando para revidar o ataque. Alguns segundos depois, ele sentiu o martelar das flechas contra o escudo e ouviu o estalo quando elas atingiram outros escudos ao longo da linha de arqueiros.
Os temujai não tinham como enviar um esquadrão com sabres na direção dos arqueiros. Halt tinha colocado Will e seus homens de um dos lados e atrás da principal linha de defesa escandinava. Para chegar até eles, os temujai teriam que lutar com os guerreiros inimigos e suas achas.
A tropa que Will tinha reunido tinha disparado três saraivadas em alvos cuidadosamente escolhidos — cerca de 500 flechas numa rápida sucessão. Não sobreviveram mais do que dez homens. Os corpos dos outros cobriam o chão. Os cavalos sem cavaleiro estavam se afastando a galope, relinchando apavorados.
Agora, quando os outros cavaleiros viraram e se afastaram na direção das próprias linhas, Will enxergou mais uma oportunidade. Outros dois ulans estavam cavalgando muito perto e ainda estavam ao alcance de seus homens.
— Escudos para baixo — ele disse a Horace, e o guerreiro passou a ordem adiante.
— Alvo à frente. E a meio... Posição três... preparar... — novamente, ele se obrigou a esperar para ter certeza. — Atirar!
As flechas, escuras contra o azul-claro do céu, prescreveram um arco sobre a cavalaria em retirada.
— Escudos! — Horace gritou quando as flechas atingiram o objetivo e cerca de outra dezena de temujai caiu das selas.
Atrás da proteção do grande escudo retangular, ele e Will trocaram sorrisos.
— Acho que isso foi muito bom — disse o aprendiz de arqueiro.
— Foi muito bom mesmo! — o aprendiz de guerreiro concordou.
— Pronto! — Evanlyn avisou mais uma vez, o olhar preso nos arqueiros quando eles ajustaram as flechas aos arcos.
O chamado lembrou a Will, um pouco tarde, que ela não tinha como saber que o primeiro movimento tinha sido bem-sucedido.
— Desçam! — Will ordenou.
Não havia sentido em manter os homens preparados e tensos enquanto os temujai estavam se reorganizando.
— Suba aqui e venha ver os resultados — ele disse para a amiga chamando-a com um gesto.
Foram necessários vários minutos para o comandante temujai perceber que, pela segunda vez, algo tinha saído realmente muito errado. Havia uma brecha em sua linha quando os cavaleiros voltaram. Então, quando deixou o olhar correr pelo campo de batalha, ele viu os corpos de homens e cavalos emaranhados e franziu o cenho. Ele tinha acompanhado a ação como um todo e não tinha visto as quatro rápidas saraivadas que tinham destruído os ulans.
— O que aconteceu ali? — ele perguntou aos auxiliares, apontando para os homens com a lança.
Mas nenhum deles tinha visto a destruição no momento em que aconteceu. Sua pergunta foi recebida com olhares vazios. Um cavaleiro estava se aproximando a galope chamando seu nome.
— General Haz'kam! General!
O homem oscilava na sela e a frente de seu colete de couro estava encharcada de sangue de vários ferimentos. O sangue também manchava o lombo do cavalo, e a equipe de comando ficou espantada ao constatar que o cavalo tinha sido atingido pelo menos por três flechas.
Cavalo e cavaleiro pararam derrapando na frente da posição de comando. Tinha sido um esforço final para o cavalo. Enfraquecido pela perda de sangue, ele caiu de joelhos e rolou para o lado, permitindo ao cavaleiro ferido apenas escapar de ficar preso no último momento. Haz'kam franziu o cenho ao espiar o homem ferido e reconheceu Bin'zak, seu antigo chefe da inteligência. Mantendo a palavra, o coronel tinha tomado sua posição na linha de frente de um dos ulans. Ele tinha tido a incrível má sorte de ter escolhido o que foi destruído pelos arqueiros de Will.
— General — o homem agonizante murmurou com voz rouca —, eles têm arqueiros...
Ele cambaleou alguns passos para a frente, e os temujai puderam finalmente ver as pontas das flechas quebradas em dois ferimentos. No chão ao seu lado, o cavalo soltou um imenso e trêmulo suspiro e morreu.
— Arqueiros... — ele repetiu com a voz quase inaudível e caiu de joelhos.
Haz'kam desviou o olhar do coronel caído e verificou as fileiras inimigas. Não havia sinal de arqueiros ali. Os escandinavos estavam espalhados em três fileiras ao longo da parte mais estreita do vale, atrás de suas trincheiras. No lado do mar e um pouco atrás da força principal, havia outro grupo — também atrás de trincheiras e portando grandes escudos retangulares. Mas ele não conseguia ver sinal de arqueiros.
"Existe somente uma forma de descobrir os arqueiros", ele pensou. Ele pensou e fez um gesto para os próximos dez ulans.
— Ataque — ele disse brevemente, e o corneteiro tocou a ordem.
Mais uma vez, o vale se encheu com o tinido dos arreios e o retumbar dos cascos quando cavalgaram para diante.
Diante dele, o coronel tombou para a frente com o rosto na grama encharcada. Haz'kam fez o gesto temujai de saudação, levantando a mão esquerda até os lábios e depois a estendendo para o lado num movimento contínuo e elaborado. Sua equipe fez o mesmo. Bin'zak tinha se redimido. No final, ele tinha trazido uma informação vital para seu general, mesmo que tenha lhe custado a própria vida.
Will observou a aproximação da cavalaria quando, mais uma vez, ela recomeçou a coreografia de girar e circular. Horace se mexeu ao seu lado, mas o bom senso avisou ao jovem arqueiro para não expor seus homens ainda.
— Espere — ele disse em voz baixa.
De certa forma, ele tinha esperado que um ataque orquestrado fosse lançado contra sua posição numa tentativa de derrotar os escandinavos. Mas esse ataque, lançado ao longo de toda a frente, era como o anterior. Isso só podia significar uma coisa: os líderes temujai não tinham descoberto a posição dos arqueiros.
Flechas começaram a cair sobre as linhas escandinavas e, mais uma vez, as três fileiras foram protegidas com escudos. Como antes, uma tropa temujai parou as manobras e desembainhou os sabres para lançar um ataque-relâmpago aos escandinavos que não podiam vê-los. Desta vez, porém, Will estava olhando para além deles a fim de identificar o grupo de apoio que avançaria contra os escandinavos quando seus camaradas recuassem. E ele viu: um ulan que tinha parado a uns 50 metros da primeira fileira de escandinavos.
— Carregar! — Will gritou para sua linha.
Então, de lado para Horace:
— Mantenha os escudos erguidos.
Ele tinha sentido que o jovem mais robusto tinha respirado fundo para emitir a próxima ordem, mas Will queria manter seus homens escondidos o máximo possível.
— Pronto! — Evanlyn avisou quando a última flecha foi ajustada à corda.
— Virar à esquerda, meia esquerda novamente! — ele gritou e os arqueiros, felizmente, entenderam o que quis dizer.
Como se fossem um só, todos se viraram na direção que ele tinha escolhido. Ele havia mudado o exercício anunciando a direção em primeiro lugar, mas os arqueiros compreenderam o que ele queria.
— Posição três! — ele ordenou, e os braços se levantaram ao máximo, os cem homens se movendo ao mesmo tempo.
— Baixar escudos — ele murmurou para Horace e ouviu o amigo repetir a ordem.
— Preparar!
"Conte até três quando cada braço puxar totalmente a flecha para trás", ele disse para si mesmo.
— Atirar! — ele gritou em seguida e instantaneamente berrou: — Escudos! Levantar escudos!
Quando Horace repetiu a ordem, os escudos voltaram às posições para proteger os arqueiros do revide e, se tivessem sorte, dos olhos que os observavam.
Novamente a espera e então a saraivada de flechas caiu sobre a ulan temujai, exatamente quando estava a ponto de atirar na brecha aberta pelos camaradas na muralha de escudos. Mais uma vez, homens e cavalos caíram sobre montes emaranhados e agonizantes. Juntos como estavam e sem se mover, o ulan era um alvo perfeito para as flechas atiradas em massa.
Pelo menos 20 homens foram derrubados, incluindo o comandante. Agora, sargentos gritavam para os sobreviventes para saírem daquele terreno de morte.
Haz'kam não chegou a ver a saraivada que atingiu seus homens. Mas ele viu, com a visão periférica, o movimento orquestrado dos cem escudos quando subiram e desceram como se fossem portões se abrindo e fechando. Alguns segundos depois, ele viu um de seus principais ulans cair e se desintegrar.
Nesse momento, os escudos se moveram novamente e ele viu os arqueiros. Pelo menos uns cem, ele calculou, trabalhando com tranquilidade e harmonia ao lançarem outra saraivada na direção dos ulans em retirada. Os escudos subiram para proteger os arqueiros quando outros temujai se aproximaram.
Novamente os escudos desceram ao mesmo tempo e, desta vez, ele viu o sólido vôo das flechas, escuras de encontro ao céu, quando elas prescreveram um arco para cima e atingiram outro ulan. O comandante se virou e viu seu terceiro filho, capitão de uma tropa. Ele apontou com a lança para a linha de escudos na pequena colina atrás das fileiras escandinavas.
— Lá estão os arqueiros deles! — ele avisou. — Pegue um ulan e investigue. Quero informações.
O capitão assentiu, fez uma saudação e bateu as esporas no corpo arredondado do cavalo.
Ele gritava ordens para o líder do grupo de 60 homens mais próximo enquanto galopava ao longo da linha de frente do exército temujai.
Em sua posição elevada atrás das linhas escandinavas, Will e Horace estavam trabalhando calmamente em conjunto, disparando uma saraivada depois da outra na direção dos cavaleiros em movimento. Agora, inevitavelmente, estavam começando a contar algumas vítimas porque alguns temujai que os viram contra-atacaram. Mas o exercício com os escudos funcionou sem dificuldades, e o método improvisado de expor os homens ao contra-ataque por apenas alguns segundos por vez estava apresentando resultados.
E o mais importante era que os escandinavos estavam começando a ver o efeito do ataque concentrado e disciplinado sobre os inimigos. A cada saraivada dos arqueiros, quando as flechas atingiam suas marcas e as selas dos temujai ficavam vazias, os guerreiros escandinavos soltavam gritos de aprovação.
Pela primeira vez, Will viu os kaijin, atiradores de primeira classe, acompanhando cada ulan quando tentaram atirar nele e em Horace. Ele tinha acabado de duelar com dois deles e observou, satisfeito, quando o segundo caiu para o lado na sela. Horace cutucou o braço do amigo e apontou.
— Olhe!
Will, seguindo a direção indicada, viu um ulan galopando das linhas temujai diretamente para eles. Esses cavaleiros não viravam e não mudavam de direção. Eles cavalgavam direto numa corrida mortal. E era óbvio para onde estavam indo.
— Fomos vistos — ele disse.
Então, gritou para seus homens:
— Virados para a frente, meia direita. Carregar!
As mãos procuraram as flechas e as ajustaram com firmeza nas cordas.
— Pronto!
Era Evanlyn, mais uma vez. Ele sorriu ao lembrar quando Halt tinha questionado a necessidade de usar a garota ali. De repente, ficou satisfeito com o fato de o arqueiro ter perdido a discussão. Ele afastou o pensamento e calculou a velocidade dos cavaleiros que se aproximavam. Eles já estavam atirando e as flechas estavam batendo nos escudos ao longo da linha. Mas a vantagem estava do lado de Will e seus homens. Atirando de uma posição estável, imóvel e elevada, de trás de proteção, eles estavam no controle.
— Posição dois! — ele ordenou. — Preparar!
— Baixar escudos! — Horace gritou dando o intervalo necessário a Will.
— Atirar! — Will berrou.
— Levantar escudos! — Horace rugiu dando proteção ao amigo.
Os arqueiros ficavam expostos ao contra-ataque por apenas alguns segundos. Mesmo assim, debaixo do disparo constante das flechas dos temujai, eles tiveram algumas baixas. Então sua saraivada atingiu o ulan em disparada e limpou a fileira dianteira de 12 homens, jogando cavaleiros e cavalos para o chão mais uma vez. Os cavaleiros das fileiras seguintes tentaram evitar os companheiros caídos, mas foi em vão. Mais cavalos foram para o chão, mais cavaleiros despencaram das selas. Alguns conseguiram fazer os animais saltar sobre a confusão de corpos e correr para longe, enquanto outros cavaleiros tentavam se reorganizar, outra saraivada, dez segundos depois da anterior, caiu sobre eles.
O filho de Haz'kam, com uma flecha atravessada na coxa direita e outra na carne macia entre o pescoço e o ombro, estava deitado atravessado sobre o corpo do cavalo. Ele observou os escudos descerem e subirem e as flechas sendo disparadas num fluxo constante e disciplinado. Viu as duas cabeças se movimentando na posição fortificada no final da fileira de arqueiros.
Era aquilo que o pai precisava saber. Ele viu outras duas saraivadas sibilarem no céu. Felizmente, elas tinham sido dirigidas para outro ulan que passou a galope. Ele pôde até ouvir as ordens gritadas pelos dois homens na posição de comando. Uma das vozes parecia absurdamente jovem.
"Está escurecendo cedo", ele refletiu e imediatamente se deu conta de que não podia ser mais do que o meio da manhã. Então se virou com dificuldade para olhar o céu. Mas ele estava muito azul e, com um repentino estremecimento de medo, percebeu que estava morrendo. Estava morrendo com informações urgentes que devia passar para o pai. Gemendo de dor, ele se levantou com muita dificuldade e começou a voltar para as linhas temujai aos tropeços, abrindo caminho entre o emaranhado de corpos caídos.
Um cavalo sem cavaleiro passou trotando e ele tentou pegá-lo, mas, fraco demais, não conseguiu. Então ouviu um retumbar de cascos atrás dele e uma mão forte agarrou as costas de seu casaco de pele de carneiro e o puxou para a sela, onde ele abafou um grito e gemeu por causa da dor na coxa e no pescoço.
Ele se virou para enxergar seu salvador. Era um sargento de um dos outros ulans.
— Me leve... para o general Haz'kam... mensagem urgente — ele conseguiu murmurar com voz rouca, e o sargento, reconhecendo a insígnia de capitão, assentiu e virou o cavalo na direção do posto de comando.
Três minutos depois, o capitão mortalmente ferido contou ao pai tudo o que tinha visto.
Quatro minutos depois, ele estava morto.
Da posição central de comando, Halt e Erak olhavam enquanto o exercício tranquilo dos arqueiros provocava danos nas fileiras temujai. Agora que a força atacante sabia da existência dos homens de Will, eles não tinham chance de repetir as baixas devastadoras provocadas pelas três primeiras saraivadas que tinham derrubado um ulan completo. Mas a investida regular de cem arqueiros e a orientação precisa de Will destruíam um ataque depois do outro.
Além do mais, os temujai já sabiam que sua tática preferida tinha sido contornada com eficiência. Se eles mandassem um grupo para travar um combate direto enquanto outro ficava afastado para dar cobertura durante a retirada, eles sabiam que o segundo grupo seria instantaneamente atacado pelos arqueiros no flanco direito escandinavo. Aquela era uma experiência nova para os temujai. Nunca eles tinham encontrado um contra-ataque tão disciplinado e preciso.
Mas eles não eram covardes e alguns comandantes agora substituíam manobras táticas por coragem e ferocidade brutas. Eles começaram a se movimentar de modo enraivecido sobre a linha escandinava, abandonando os arcos e empunhando os sabres numa tentativa de abrir caminho com a luta corpo a corpo, determinados a tudo para derrotar os escandinavos.
Eles eram combatentes corajosos e habilidosos, e suas manobras teriam sido bem-sucedidas contra quase todos os adversários que tinham enfrentado. Mas os escandinavos se divertiam num confronto direto. Para os temujai, era uma questão de habilidade. Para o povo do norte, era um modo de vida.
— Assim está bem melhor! — Erak urrou contente, quando se adiantou para interceptar três temujai que tentavam subir a proteção de terra.
E Halt se viu empurrado para o lado quando Ragnak correu para se juntar ao companheiro. Sua acha provocava grandes estragos entre os pequenos guerreiros atarracados que enxameavam para cima deles.
Satisfeito em deixar os escandinavos assumir a luta corpo a corpo, Halt se afastou um pouco. Seu olhar vagueou para fora da área de combate próxima até que viu o que estava procurando: um dos peritos atiradores temujai, reconhecível pela insígnia vermelha no ombro esquerdo, estava procurando os líderes escandinavos no meio dos combatentes. Seus olhos se iluminaram ao ver Ragnak, quando o oberjarl chamou mais homens para cobrir a brecha que os temujai tinham aberto. O arco recurvo se levantou já com a flecha puxada totalmente para trás.
Mas ele se atrasou dois segundos em relação ao movimento idêntico de Halt, e o imenso arco do arqueiro soltou sua flecha pintada de negro antes que o temujai tivesse puxado totalmente a dele. O cavaleiro nunca soube o que o atingiu quando caiu do lombo do cavalo.
De repente, a pequena batalha selvagem chegou ao fim e os temujai sobreviventes estavam se arrastando de volta sobre o monte de terra, agarrando qualquer cavalo que estava ao seu alcance e subindo para a sela.
Ragnak e Erak trocaram sorrisos. Erak deu um tapa nas costas de Halt, fazendo-o cair.
— Assim é melhor — ele disse, e o oberjarl resmungou concordando, enquanto Halt se levantava do chão.
— Você não sabe como estou satisfeito por ver vocês se divertirem — Halt disse secamente.
Erak riu, mas logo ficou sério quando fez um gesto na direção do flanco direito e do pequeno grupo de arqueiros, que ainda mantinha fogo cerrado sobre os atacantes.
— O garoto está se saindo bem — ele disse.
Halt ficou surpreso ao ouvir que havia uma ponta de orgulho na voz de Erak.
— Eu sabia que iria — o arqueiro replicou com calma e se virou quando Ragnak pousou o braço pesado em seus ombros.
Ele preferia que os escandinavos não expressassem seus sentimentos através do contato físico. Pesados como eram, colocavam as pessoas normais em sério risco.
— Tenho que admitir, arqueiro, você tinha razão — o oberjarl afirmou.
Ele mostrou as fortificações com o braço.
— Não pensei que tudo isso fosse necessário. Mas vejo agora que não teríamos tido nenhuma chance contra esses demônios num conflito aberto. Quanto ao seu garoto e os arqueiros — ele continuou fazendo um gesto na direção da posição de Will —, estou satisfeito por termos cuidado dele quando o apanhamos pela primeira vez.
Ao ouvir isso, Erak ergueu uma sobrancelha. Ele tinha ficado muito zangado quando Will foi mandado para trabalhar no pátio gelado, pois era uma tarefa que quase sempre significava morte certa. Mas não disse nada. Ele supôs que ser o líder supremo dava permissão para esquecer acontecimentos desagradáveis do passado.
Halt eslava analisando a posição de Will com olhar crítico. A linha defensiva na frente dos arqueiros ainda estava bem suprida de homens. De todas as posições escandinavas, aquela era a que parecia ter sofrido o menor número de baixas. Ele pensou que isso era porque os ulans estavam evitando um confronto direto naquele momento. Eles tinham visto o que acontecera com o grupo que atacou os arqueiros diretamente.
Mas ele sabia que o general temujai não iria permitir que essa situação continuasse. Ele estava perdendo muitos homens, tanto para as constantes saraivadas de flechas como na desesperada luta corpo a corpo com os escandinavos. Logo ele teria que fazer algo para anular o problema inesperado que os arqueiros representavam.
Ele teria ficado interessado, mas não surpreso, em saber que os pensamentos de Haz'kam seguiam mais ou menos o mesmo rumo.
O general praguejou baixinho ao analisar os relatórios de baixas trazidos por seu pessoal.
Ele se virou para Nit'zak, seu segundo comandante, e mostrou o pergaminho em sua mão.
— Não podemos continuar assim — ele disse devagar.
Seu substituto se inclinou em sua direção e virou a folha com informações de baixas apressadamente rabiscadas para poder lê-la. Ele deu de ombros.
— É ruim — ele concordou. — Mas não é um desastre. Ainda temos homens, arqueiros e não-arqueiros, para derrotar os escandinavos. Eles não podem nos enfrentar para sempre.
Mas Haz'kam balançou a cabeça impaciente. Nit'zak tinha acabado de confirmar o que ele sempre suspeitou. Seu auxiliar era um líder capaz em campo, mas não tinha a visão necessária para se tornar um comandante geral.
— Nit'zak, perdemos quase 1.500 homens, entre mortos e feridos. Isso é quase um quarto da nossa força efetiva. Podemos facilmente perder essa quantidade novamente, se continuarmos desse jeito.
Nit'zak deu de ombros. Como quase todos os oficiais superiores temujai, ele pouco se importava com os números dos relatórios de baixas, contanto que ganhasse a batalha. Ele pensava que morrer na batalha era o papel da vida de um guerreiro temujai. Haz'kam viu o gesto e interpretou corretamente os pensamentos de seu subordinado.
— Estamos a 2 mil quilômetros de casa — ele disse ao segundo comandante. — Deveríamos estar subjugando esse pedacinho congelado do inferno para podermos planejar a invasão da terra de Ara. Como você propõe que a gente faça isso com menos da metade dos homens com que começamos?
Nit'zak deu de ombros outra vez. Ele realmente não via problema. Estava acostumado a uma vitória depois da outra e a idéia de ser derrotado nunca lhe ocorreu.
— Nós sabíamos que teríamos baixas aqui — ele protestou e Haz'kam soltou uma série de imprecações numa demonstração incomum de mau humor.
— Nós pensamos que isso seria uma guerrinha! — ele disparou zangado. — Não um evento desta grandeza! Pense nisso, Nit'zak: uma vitória aqui pode nos custar tanto que talvez nem possamos voltar para casa.
Essa era uma verdade desagradável. Os temujai tinham 2 mil quilômetros para atravessar antes de chegar às suas terras nas estepes. E toda essa distância passava por territórios hostis e temporariamente conquistados. Territórios cujos habitantes poderiam muito bem aproveitar a oportunidade de se revoltar contra uma força temujai enfraquecida.
Nit'zak ficou sentado em seu cavalo cm silêncio. Ele estava zangado pelo tom de censura na voz do comandante, especialmente na frente de outros oficiais. Ao falar com ele daquele jeito, Haz'kam eslava quebrando a tradição de uma forma grosseira.
— Então... o que você sugere? — Nit'zak perguntou finalmente.
O general demorou muito para responder. Ele olhou o espaço que os separava das linhas escandinavas, observou a posição de comando no centro dá linha de arqueiros à esquerda e a ala escandinava direita. Ele sabia que nessas duas posições estava o segredo da batalha.
Finalmente, ele se virou para seu substituto com uma decisão tomada.
— Tire os kaijin dos primeiros 50 ulans — ele ordenou. — E reúna eles aqui como uma força especial. Chegou a hora de nos livrarmos desses malditos arqueiros.
— Aí vem eles outra vez! — Horace disse, Will e Evanlyn se viraram para olhar as forças temujai.
Os cavaleiros estavam trotando para a frente novamente e, desta vez, pareceu ser um ataque decisivo.
Haz'kam tinha reunido cerca de 2 mil homens para um ataque frontal às linhas escandinavas. Eles avançavam em cavalos, os cascos ecoando no vale, numa formação em "v" que mirava o centro escandinavo e o posto de comando de onde Halt, Erak e Ragnak dirigiam sua defesa.
Will e Evanlyn tinham aproveitado os momentos de calma na batalha para comer alguma coisa rapidamente e tomar um bem-vindo gole de água. A garganta de Will estava seca, tanto da tensão quanto das contínuas ordens gritadas aos seus homens. Ele imaginou que Evanlyn sentia o mesmo. Horace, que já tinha comido, ficou vigiando. Quando ele chamou, Evanlyn escorregou para sua posição protegida, e os arqueiros, que estavam confortavelmente recostados nas trincheiras, levantaram-se com os arcos nas mãos. Os escudeiros, que também estavam relaxando, tomaram suas posições ao lado deles.
Eles esperaram em silêncio. Durante a pausa, as caixas na frente de cada arqueiro tinham sido reabastecidas com novas flechas. Até mesmo naquele momento, as mulheres de Hallasholm estavam reunidas na Grande Mansão, fazendo novas flechas para a batalha.
Will analisou o grupo de cavaleiros. Ele ainda tinha 75 arqueiros parados na linha, vários ligeiramente feridos. Eles tinham perdido 11 homens, mortos pelas flechas temujai, e outros 14 tinham sido gravemente feridos e não podiam continuar a lutar. Quando a força temujai avançou, Will calculou que conseguiria lançar quatro saraivadas antes que ela atingisse a linha escandinava, talvez cinco. Isso representaria 300 flechas caindo sobre a massa fortemente comprimida de cavaleiros e, naquela formação, a incidência de acertos seria alta. Se Will mirasse o centro do grupo, até mesmo flechas que caíssem acima ou abaixo do alvo seriam eficientes.
— Frente esquerda, posição três! — ele gritou e a máquina entrou em ação novamente.
— Pronto! — Evanlyn avisou.
— Preparar... atirar! — Will ordenou e sinalizou para Horace não dar ordens aos escudeiros.
Naquele momento, eles ainda não estavam sob ataque. Quanto mais tempo tivesse para causar danos ao grupo de cavaleiros temujai, melhores chances daria a Halt e Erak para repelir a principal investida do inimigo.
— Recarregar! — ele gritou e esperou o aviso de Evanlyn mais uma vez. Quando o escutou, enviou outra saraivada na direção dos temujai.
Quando essas flechas iniciaram sua trajetória para o alto, as primeiras estavam descendo e ele viu cavaleiros caindo novamente.
— Esquerda, meia esquerda! — ele pediu, girando o alvo para coincidir com o avanço dos cavaleiros enquanto se moviam da direita para a esquerda ao longo de sua frente.
Ele pediu que erguessem os arcos novamente, reduzindo o tempo, e então outras 75 setas dispararam para longe com o tão conhecido som sibilante de flechas raspando nos arcos. Os cavaleiros já estavam galopando e ele ajustou o ângulo mais uma vez.
— Esquerda, esquerda! Posição dois — ele gritou.
O chamado de Evanlyn lhe disse que os homens tinham recarregado.
— Preparar... atirar!
E então ele ouviu os primeiros sons do combate próximo quando as primeiras fileiras de cavaleiros fizeram contato com as linhas escandinavas. Seria arriscado demais tentar atirar nos primeiros temujai naquele momento, mas ele ainda podia interditar as fileiras que vinham atrás.
— Esquerda, meia esquerda! — ele repetiu, e os arqueiros fizeram pontaria para a direita a 20 graus.
Então, de repente, o ar em volta pareceu ficar vivo com o som sibilante de flechas e em toda a linha seus arqueiros começaram a cair, alguns gritando de dor e medo, outros, mais assustadoramente, em silêncio.
— Escudos! Escudos!
Horace gritou e os escudeiros ficaram em posição, mas não antes que mais arqueiros fossem derrubados. Desesperadamente, Will se virou e viu, pela primeira vez, o grupo menor que tinha se adiantado para atacar sua posição enquanto ele estava ocupado com a força principal. Ele calculou que havia cerca de 50 arqueiros, todos montados e disparando flechas em sua posição de modo certeiro e uniforme. Atrás deles, cavalgava outro grupo maior armado de lanças e sabres.
— Alvo na frente! — ele gritou e em seguida murmurou de lado para Horace: — Seja rápido com esses escudos quando precisarmos deles.
O aprendiz de guerreiro concordou enquanto observava ansiosamente o contínuo ataque dos 50 cavaleiros. As flechas estavam batendo em seu escudo e na proteção de terra na frente deles.
— Posição um! — Will ordenou.
Esse ataque era direto e muito próximo.
— Preparar!
— Pronto! — ele ouviu Evanlyn avisar.
Então Horace gritou para os escudos se abrirem e Will, quase em cima dele, mandou os homens atirarem.
Quando a saraivada se pôs a caminho, Horace já estava pedindo que os escudos voltassem à sua posição. Mas, mesmo nesse curto período de tempo, outra meia dúzia de arqueiros foi atingida pelas flechas temujai.
Nesse momento, Will notou a insígnia nos ombros dos guerreiros inimigos e percebeu por que a precisão e a velocidade de disparos tinham melhorado.
— São todos kaijin — ele disse para Horace.
Enquanto falava, ergueu o próprio arco e, atirando rapidamente, esvaziou três setas antes que Horace o arrastasse para trás da proteção de seu escudo. Meia dúzia de setas bateu nele no mesmo instante.
— Você ficou louco? — Horace berrou, mas os olhos de Will estavam inquietos e cheios de dor quando encarou o amigo.
— Eles estão matando os meus homens! — ele retrucou e saiu para o espaço aberto novamente obcecado pela idéia de impedir os especialistas temujai de derrubar seus homens, um a um. A mão imensa de Horace o fez parar.
— Não vai adiantar se eles matarem você! — ele gritou e, devagar, o bom senso tomou conta da mente de Will.
— Pronto! — Evanlyn gritou.
Ele percebeu que era a terceira vez que ela dava o aviso. Ela o estava lembrando que era hora de agir. Ainda protegido pelo escudo de Horace, ele avaliou a posição.
Os lanceiros e espadachins, livres do fogo hostil dos arqueiros, já estavam se aproximando dos escandinavos na frente de sua posição. Uma luta corpo a corpo se desenrolava ao longo da linha. Mais para a esquerda, o principal grupo temujai estava envolvido numa batalha selvagem com o centro da linha escandinava. A posição era confusa demais para ver quem estava ganhando, se é que havia mesmo um vencedor.
Enquanto isso, a sua frente, os peritos atiradores temujai, reunidos por Haz'kam numa unidade especial, trotavam paralelamente à linha defensiva escandinava, amplamente espalhada a fim de não oferecer um alvo em massa para as saraivadas, e acertavam seus arqueiros com precisão quando ficavam expostos. Ele sabia que, se tentasse dirigir outra saraivada aos temujai, iria perder metade de seus homens. Havia apenas uma solução no momento. Ele se inclinou sobre o parapeito e gritou para a linha de arqueiros abaixo dele, uma linha que agora estava severamente esvaziada.
— Tiros individuais! — e apontou para as linhas de kaijin temujai que passavam a meio-galope. — Atirem sempre que estiverem prontos e mirem nos arqueiros deles!
Era o melhor que podia fazer. Desse jeito, os temujai não teriam uma linha desprovida de escudos quando seus homens atirassem. Eles teriam que reagir a disparos individuais e irregulares. Isso daria aos seus homens uma melhor chance de sobrevivência, embora também diminuísse o efeito dos tiros. Sem uma orientação central, sua precisão iria se reduzir.
Havia, porém, uma outra coisa que poderia fazer. Ele verificou se a caixa de flechas diante dele estava cheia e rapidamente tirou quatro setas. Ajustou uma delas ao arco e segurou as outras com firmeza entre os dedos.
— Mantenha esse escudo para cima e preparado — ele pediu para o Horace e deu um passo na direção do parapeito, ainda escondido pelo grande escudo do amigo.
Will respirou fundo, afastou-se e soltou as quatro setas em rápida sucessão, voltando depressa para a proteção do escudo quando as primeiras flechas temujai assobiaram em volta de seus ouvidos em resposta. Horace, que observava a cena, viu dois dos atiradores sendo derrubados pelas flechas de Will. Um terceiro foi atingido na barriga da perna e a quarta flecha errou o alvo. Ele assobiou impressionado. Foi uma pontaria admirável. Ele ia dizer alguma coisa sobre isso quando notou o olhar de total concentração no rosto do amigo e decidiu se calar. Novamente, Will respirou fundo, preparou outra flecha, deixou a proteção do escudo, atirou e voltou a se esconder.
Horace começou realmente a apreciar a extrema precisão que o amigo tinha adquirido nas florestas e campos ao redor do Castelo Redmont, quando Will se virou, saiu de trás do escudo e atirou mais flechas: às vezes uma, às vezes duas ou três, atingindo um alvo depois do outro. Os outros arqueiros da força escandinava também faziam suas contribuições, mas nenhum possuía a velocidade e a precisão do aprendiz de arqueiro. E, à medida que iam sendo atingidos pelo contra-ataque dos kaijin, os sobreviventes ficavam cada vez mais nervosos e inseguros com as flechas, tendendo a atirar sem fazer pontaria para logo depois mergulhar atrás dos escudos.
— Mude de lado — Will ordenou rapidamente, fazendo um gesto para que Horace, que estava parado a sua esquerda, fosse para a direita.
Horace mudou o escudo para o braço direito, Will se agachou na altura da defesa e foi para o lado esquerdo de Horace. Ele vinha variando o padrão de tiro, algumas vezes disparando apenas uma flecha e em outras soltando uma rápida saraivada para fazer os temujai imaginarem o que estaria acontecendo. Ele concluiu que eles estavam acostumados a vê-lo aparecer à direita do grande escudo. Selecionou mais quatro flechas, foi para a esquerda e atirou quando saiu de trás do escudo. Outras duas selas foram esvaziadas e ele correu de volta para o abrigo. A mudança de lado tinha funcionado. Nem uma única flecha foi atirada perto dele em resposta.
Ele foi novamente para a esquerda, disparou outra seta e então, sem saber que instinto o fez agir assim, caiu imediatamente sobre as mãos e os joelhos atrás da trincheira. Um sibilar selvagem cortou o ar diretamente acima dele quando se abaixou, e ele sentiu a boca seca de medo. Horace, ao vê-lo cair, pensou que tinha sido atingido e se ajoelhou ao seu lado.
— Você está bem? — ele perguntou ansioso.
Will tentou sorrir, mas não foi muito bem-sucedido.
— Estou ótimo — ele conseguiu balbuciar com voz rouca apesar da boca seca. — Só morto de medo.
Eles se levantaram, protegendo-se atrás do escudo e sentindo o tamborilar das flechas temujai batendo nele. Will se deu conta de que o padrão tinha mudado outra vez e que a maioria dos arqueiros inimigos estava se concentrando em sua posição. Aquela era a chance para seus homens dispararem outra saraivada em massa, mas, se os temujai vissem ou escutassem suas ordens, o elemento-surpresa iria se perder.
— Evanlyn! — ele chamou a garota abrigada na posição abaixo dele. Ela olhou para ele com uma pergunta no olhar.
— Passe minhas instruções adiante! Vamos mandar outra saraivada!
Ela acenou mostrando que tinha entendido.
Sem perceber, enquanto os temujai estavam concentrados na posição do garoto e tentavam atingir a figura esquiva que disparava para dentro e para fora do abrigo e os cobria com uma chuva mortal de flechas, tinham começado a se agrupar. Tinha havido poucos ataques por parte dos outros arqueiros durante algum tempo, e os kaijin tinham se aproximado da posição de comando para atingir Will.
— Frente, direita! — ele disse em voz baixa e ouviu Evanlyn retransmitir a ordem.
Nada aconteceu por alguns momentos e então ele a escutou repreender os homens, obrigando-os a obedecer. Aos poucos, um após o outro, eles se viraram na direção que ela lhes tinha dado.
— Pronto — ela avisou, e Will lhe deu o grau de elevação: posição um. Os arcos subiram na horizontal e então pararam.
— Preparar — ele disse e ouviu a ordem ser transmitida mais uma vez. Então, respirando fundo, gritou:
— Baixar escudos! Atirar!
E, uma fração de segundo depois, quando a saraivada ainda estava a caminho, ele ouviu Horace ordenar:
— Levantar escudos!
Percebendo que a atenção estaria concentrada na linha de arqueiros por alguns momentos, Will avançou para fora do abrigo e disparou uma flecha depois da outra na direção das fileiras temujai. A saraivada de seus homens atingiu o objetivo: ele tinha menos de 50 arqueiros disparando naquele momento, mas mesmo assim uma grande quantidade de setas chegou aos cavaleiros inimigos fazendo uma dúzia cair espalhada na poeira. Em seguida, mais cinco foram derrubados pela chuva de flechas que Will tinha soltado antes que Horace, mergulhando sobre ele, o arrastasse para baixo da proteção antes que as setas temujai o encontrassem.
Uma tempestade de flechas bateu contra as defesas atrás deles. Horace soltou o amigo e limpou o pó dos joelhos e cotovelos.
— Você está com vontade de morrer? — ele perguntou.
— Só estou confiando no seu julgamento — o rapaz respondeu sorrindo para o amigo. — Não posso cuidar de tudo sozinho.
Eles estavam atrás do escudo outra vez e viram que os kaijin, ou o que restou deles, estavam se afastando. Eles ainda atiravam nas fileiras escandinavas, mas com menos eficiência que antes. Will franziu o cenho ao avaliar ângulos e posições e então apontou para o centro da linha escandinava, onde a batalha principal ainda estava se desenrolando com violência.
— Podemos começar a mandar saraivadas novamente — ele disse para Horace. — Se os escudeiros passarem os escudos para o braço direito, e nossos arqueiros ficarem à esquerda, eles vão estar protegidos do contra-ataque.
Horace examinou a posição e um largo sorriso surgiu em seu rosto. Os kaijin restantes estavam diretamente na sua frente e a linha de arqueiros poderia atirar em diagonal, na direção do fundo do principal exército escandinavo, sem ter que sair de trás da proteção dos escudos.
Apressadamente, eles contaram a idéia a Evanlyn, que retransmitiu as instruções para os homens. A esvaziada linha de arqueiros olhou para a jovem comandante e assentiu mostrando que tinha compreendido.
— Evanlyn! — Will gritou de repente, quando um pensamento lhe ocorreu.
A garota olhou para ele com um olhar curioso.
— Quando a gente começar, você dá a ordem para disparar. Mantenha eles na posição três e faça com que atirem sem parar. E eu vou pôr esses malditos kaijin em seu lugar.
Ela sorriu para ele e acenou com a mão. Não haveria necessidade de mudar o ângulo ou a elevação depois de começar. A saraivada de flechas seria dirigida para o fundo das fileiras temujai. Isso deveria dar a Halt, Erak e Ragnak a folga de que precisavam.
— Face meia esquerda! — Will gritou. — Posição três!
Os quase 40 homens restantes levaram os arcos à elevação máxima.
— Preparar... atirar!
Desta vez, ele esperou para avaliar o efeito da saraivada, certificando-se de que o ângulo e a elevação estavam corretos. Ele viu flechas atingindo as fileiras de apoio dos temujai, viu o pânico causado pela tempestade de flechas repentinamente renovada.
— Faça eles continuarem a atirar! — ele pediu para Evanlyn.
Will se virou e atirou na fina linha de arqueiros temujai, atraindo uma vigorosa chuva de flechas como resposta. Atrás dele, Will ouviu o barulho monótono de outra saraivada formando um arco na direção da batalha principal. Ele atirou novamente, escolhendo um alvo e vendo-o cair. Então sentiu uma onda de entusiasmo no peito quando o pequeno grupo de cavaleiros começou a se movimentar.
— Horace! Eles estão recuando! — ele gritou agitado.
Will apontou nervosamente para a linha de arqueiros. Restavam menos de 20 homens que, aos poucos, estavam deixando sua posição sem proteção. Gradativamente no início, mas, à medida que se afastavam, apressavam o ritmo, pois nenhum queria ser o último exposto aos tiros precisos vindos da linha escandinava.
Ele agarrou o braço do grande amigo e o sacudiu entusiasmado.
— Eles estão indo embora! — ele gritou.
Horace assentiu sério apontando a linha de defesa escandinava abaixo deles com o polegar.
— E estão mesmo — ele concordou. — Mas estes não estão.
Abaixo deles, os espadachins temujai, agora desmontados, estavam entrando por uma brecha que tinham forçado na linha escandinava.
Nit'zak, comandante de campo da força temujai que atacava a posição de Will, tinha enviado seus homens para o ataque com um descaso irresponsável. Enquanto os kaijin se ocupavam dos arqueiros, seus lanceiros e espadachins se atiravam contra a linha de guerreiros escandinavos que os protegiam.
Nit'zak tinha percebido que esse ataque era a última cartada de seu comandante. Se eles não conseguissem romper o cerco, ele sabia que Haz'kam iria ordenar uma retirada geral, pois estava relutante em provocar mais baixas em sua campanha. A ideia de retirada e de fracasso era impensável para Nit'zak. Por isso, ele incitou os homens a seguirem em frente, desejando que atravessassem a linha escandinava e destruíssem a pequena, mas altamente eficiente, força de arqueiros que se abrigava atrás dela.
O chão na frente das defesas escandinavas estava coberto com os corpos de seus homens e cavalos. Contudo, aos poucos, eles estavam empurrando os homens do norte para trás, enquanto diminuíam em número e a linha defensiva ficava mais frágil. Desmontados agora, os temujai subiam a ladeira como formigas, atacando e cortando com seus sabres de lâminas compridas. Com o semblante carregado, os escandinavos revidavam.
— General! — um dos soldados agarrou seu braço e apontou para o pequeno grupo de cavaleiros se afastando da batalha. — Os kaijin estão batendo em retirada.
Nit'zak praguejou contra eles enquanto se afastavam. "Mimados e privilegiados", ele pensou. O comandante sabia que eles se consideravam membros de elite da força temujai. Os atiradores kaijin eram dispensados dos perigos do combate direto para que pudessem ficar à vontade e escolher os comandantes inimigos com relativa segurança. Agora, enfrentando um contra-ataque preciso e mortal pela primeira vez na vida, eles se afastaram e desertaram. Ele jurou que os veria morrer por sua covardia.
Mas isso teria que esperar. Agora, tinha percebido que, os arqueiros escandinavos estavam lançando uma nuvem de setas depois da outra para as últimas fileiras do grupo principal mais uma vez. Eles tinham que parar. O repentino reinício das saraivadas mortais poderia muito bem desequilibrar a batalha.
Haz'kam tinha dito que seu segundo no comando não tinha senso do quadro geral quando se tratava de um conflito armado. Mas Nit'zak tinha uma habilidade que o tornava um excelente comandante tático. Ele sabia perceber qual era o momento crucial em uma batalha, o momento em que tudo estava equilibrado e no qual um determinado esforço de qualquer um dos lados podia representar a diferença entre vitória e derrota. Agora, observando seus homens lutarem com os escandinavos e vendo, pela primeira vez, um elemento de incerteza no inimigo, ele sentia esse momento. Tirou o sabre da bainha e se virou para a sua escolta pessoal, meio ulan de 30 experientes soldados.
— Venham! — ele gritou e os conduziu numa corrida em direção à linha escandinava.
O instinto de Nit'zak estava certo. Os escandinavos, exaustos e sangrando, com suas fileiras esvaziadas, continuavam a lutar com as últimas reservas de força e determinação. A quantidade de soldados temujai parecia infinita. Para cada um que caía sob as achas escandinavas, parecia surgir outro que vinha substituí-lo, soltando gritos de guerra, cortando e perfurando com seus sabres. Agora que uma nova força tinha penetrado na linha de defesa, desmontando e revolvendo a proteção de terra, o equilíbrio oscilava. Primeiro um e em seguida outro escandinavo cedia. Logo, estavam recuando em grupo, à medida que os temujai passavam pela brecha que finalmente tinham conseguido abrir a força, derrubando os escandinavos enquanto tentavam escapar.
Nit'zak agitou o sabre na direção da linha de arqueiros que ainda disparava uma saraivada atrás da outra sobre a força de ataque principal.
— Os arqueiros! Matem os arqueiros! — ele ordenou aos seus homens e disparou na direção dos arqueiros.
Na posição de comando, Horace jogou no chão o escudo imenso e difícil de manejar que vinha usando e agarrou o próprio escudo. Sua espada deslizou da bainha com um assobio de expectativa quando ele saltou sobre o parapeito.
— Fique aqui — ele disse para Will e desceu a rampa para ir ao encontro do primeiro grupo de temujai que subia em sua direção.
Desta vez foi Will que olhou admirado o amigo partir para o ataque. Sua espada se movia de forma atordoante, disparando para a frente e para trás, por cima, à esquerda e à direita, enquanto ele derrubava os inimigos. O primeiro ataque foi repelido e um grupo maior de temujai se aproximou do alto guerreiro. Novamente se ouviu o choque de aço contra aço, mas agora, quando ameaçaram cercar Horace, ele foi obrigado a recuar. Will olhou para a caixa de flechas. Restavam cinco e ele começou a atirar: disparos firmes e deliberados para atingir os temujai que tentavam rodear o amigo.
Ele olhou para os arqueiros. Os escudeiros tinham apanhado as suas armas e estavam se aproximando para protegê-los. Além disso, alguns escandinavos que tinham se afastado se reagruparam na posição dos arqueiros. Evanlyn ainda estava ordenando as saraivadas.
— Continue assim! — ele gritou, ela olhou para ele, concordou e retomou sua tarefa.
Horace já estava quase de volta à posição elevada de comando, ainda enfrentando os ataques determinados dos temujai. Mas lutava sozinho e estava vulnerável pelas costas. Will, tendo usado seu estoque de flechas, apanhou as duas facas e foi proteger a retaguarda do amigo.
No centro da linha escandinava, Erak pressentiu um momento de oportunidade semelhante. Os temujai estavam lutando arduamente, mas a intensidade selvagem tinha desaparecido de seu ataque.
Enfraquecidas e desmoralizadas pelas constantes chuvas de flechas vindas do flanco direito, suas fileiras de apoio estavam recuando e deixando as tropas em luta com as linhas escandinavas sem os reforços regulares de que precisavam para manter o ritmo do ataque.
Ele derrubou um capitão temujai que tinha passado por cima das trincheiras aos gritos e se virou para procurar Halt. O arqueiro estava posicionado atrás dele, parado sobre um parapeito e tranquilamente atirando nos temujai à medida que se aproximavam. A tática de Haz'kam de retirar os atiradores de seus ulans estava se voltando contra os temujai. Para variar, eram eles que estavam perdendo seus comandantes para tiros precisos e certeiros, enquanto os líderes escandinavos continuavam a derrubar todos os que ficavam ao alcance de suas achas.
Livrando-se de um inimigo, Erak saltou para o lado de Halt. Ele fez um gesto para a ala esquerda, até aquele momento ainda não comprometida.
— Acho que, se atacarmos pela lateral, talvez possamos acabar com eles — Erak disse.
Halt analisou a idéia por um momento. Era arriscado, mas Halt sabia que batalhas eram ganhas assumindo riscos. Ou eram perdidas. Ele tomou uma decisão.
— Vá em frente — ele concordou.
Então Erak olhou para trás de Halt e praguejou. O arqueiro se virou imediatamente para olhar na mesma direção e juntos viram os temujai romperem a linha abaixo da posição de Will. Os dois sabiam que, se a chuva de flechas parasse, as últimas fileiras temujai poderiam muito bem recuperar a união, e a oportunidade se perderia.
Teriam que agir imediatamente.
— Traga o flanco esquerdo — Halt disse apenas.
Ele apanhou uma aljava de flechas sobressalente e começou a correr na direção do posto de comando de Will. Erak o viu se afastar, sabendo que um homem não faria diferença. Desesperado, ele olhou ao redor, e seu olhar se iluminou ao ver Ragnak parado no meio de um círculo de temujai caídos. Os olhos do oberjarl estavam perturbados e parados. Ele tinha se livrado do escudo e estava agitando sua imensa acha com as duas mãos. Sangue escorria de meia dúzia de ferimentos em seus braços, pernas e corpo, mas ele parecia não se importar com o fato. Erak sabia que ele estava a ponto de enlouquecer. E sabia também que um homem como aquele fazia toda a diferença no mundo.
Erak abriu caminho para chegar até o oberjarl, conseguindo uma folga quando os temujai caíram para longe dos dois imensos guerreiros. Ragnak olhou para cima, reconheceu-o e mostrou os dentes num sorriso triunfante e selvagem.
— Nós estamos acabando com eles, Erak! — ele gritou com o olhar ainda tresloucado.
Erak agarrou-o pelo braço e o sacudiu para que prestasse atenção.
— Estou trazendo o flanco esquerdo! — ele gritou e o oberjarl sorriu e deu de ombros.
— Bom! Deixe que eles também se divirtam um pouco! — ele berrou em resposta.
Erak apontou para a batalha que continuava violenta no lado do mar.
— A ala esquerda está com problemas. Eles conseguiram passar. O arqueiro precisa de ajuda.
Parecia estranho dar ordens para o supremo comandante, mas ele percebeu que Ragnak seria incapaz de dirigir o ataque do flanco naquele estado de espírito. Ele era bom numa coisa: um ataque devastador sobre um inimigo que atrapalhava o caminho.
Agora, ao ouvir as palavras de Erak, Ragnak assentiu repetidas vezes.
— O sarcástico pequeno sabe-tudo precisa de ajuda, não é? Então eu sou o homem de que ele precisa!
E, com um rugido e seguido por sua comitiva de 12 guerreiros, ele disparou na direção de Halt.
Erak sussurrou uma rápida oração para os Vallas. Uma dúzia de homens podia não ser muito, mas com Ragnak naquele estado de quase loucura poderia ser suficiente. Então ele afastou os problemas do flanco direito para o fundo da mente e começou a gritar para um mensageiro. O flanco direito teria que cuidar de si mesmo por mais alguns minutos. Naquele exato momento, ele precisava que o flanco esquerdo atacasse o inimigo pela lateral.
Horace sentiu a presença de alguém nas suas costas e se virou rapidamente com a espada pronta para um golpe lateral. Vendo o corpo magro do amigo ali, enfrentando um espadachim temujai com suas duas facas, ele ampliou o golpe e abriu a testa do inimigo com a ponta da espada. O soldado cambaleou para longe com as mãos no rosto e caiu de joelhos.
— O que você pensa que está fazendo? — Horace gritou depois de se defender de outro ataque pela frente.
— Estou cuidando de sua retaguarda — Will respondeu ao bloquear o golpe de outro temujai que tentou atacar Horace pelas costas.
— Bom, da próxima vez, me avise — Horace replicou, resmungando quando se desviou de uma lança e bateu no crânio de seu dono com o cabo da espada. — Quase corto você ao meio.
— Não vai haver próxima vez — Will retrucou. — Não estou me divertindo aqui.
Horace lançou um rápido olhar sobre o ombro. Will estava usando a defesa da faca dupla dos arqueiros para se desviar e bloquear o sabre do temujai. Mas aquela não era uma forma de luta na qual ele tinha muita habilidade. Além disso, já tinha se passado mais de um ano desde que ele e Horace tinham praticado os movimentos nas colinas de Céltica. O espadachim temujai estava se saindo melhor na luta e nesse rápido olhar Horace tinha visto sangue escorrer pela manga esquerda da camisa de Will.
— Fique de joelhos quando eu mandar — Horace falou.
— Está bem — Will respondeu carrancudo. Talvez eu até faça isso antes de você mandar.
Apesar do que sentia, Horace sorriu. Então, ao se livrar de dois atacantes, ele gritou por cima do ombro:
— Agora!
Ele percebeu que Will tinha caído no chão e, com um golpe reverso de espada, deu impulso para trás e ouviu um grito espantado.
— Você está bem? — ele indagou virando a espada novamente e afastando uma lança insistente outra vez.
Por um momento, não houve resposta, e ele sentiu uma súbita onda de medo de ter ferido o amigo. Então Will respondeu.
— Muito impressionante. Onde você aprendeu isso?
— Acabo de inventar — Horace disse e resmungou satisfeito quando o lanceiro se aproximou demais e levou a ponta de sua espada no ombro.
Quando o homem caiu no chão, Horace tirou a espada e a agitou num movimento circular por cima do ombro atingindo outro temujai. O grosso capacete de feltro do cavaleiro salvou sua vida quando a espada caiu sobre ele. Mas o golpe ainda foi suficientemente forte para fazê-lo cair de joelhos atordoado com uma concussão.
Por um momento, eles tiveram uma breve pausa. Horace recuou e analisou o amigo.
— Esse braço está incomodando você?
Ele fez um gesto na direção da mancha de sangue cada vez maior na manga de Will. O rapaz olhou para baixo e deu a impressão de estar vendo o ferimento pela primeira vez.
— Eu nem senti — ele disse um tanto surpreso.
— Mas vai sentir mais tarde — Horace tornou sorrindo com tristeza.
— Se houver um "mais tarde" — Will retrucou em tom de dúvida.
Então, nas linhas atrás deles, eles ouviram o esticar das cordas dos arcos e o assobio de outra saraivada de flechas. Espantados, eles olharam um para o outro.
— É Evanlyn — Will afirmou. — Ela fez os arqueiros atirarem!
Horace fez um gesto na direção dos temujai que se aproximavam como um enxame de abelhas e cercavam a fina linha de defesa que os mantinha fora do reduto dos arqueiros.
— Mas não vai continuar por muito tempo — ele disse.
A linha escandinava já estava começando a ceder.
— Venha! Me dê cobertura e grite se você ficar com problemas.
E, dizendo isso, desceu a rampa, erguendo e abaixando a espada enquanto investia contra a retaguarda dos temujai. Surpresos com a ferocidade do ataque, eles recuaram por alguns segundos. Então, vendo que os novos golpes vinham de apenas dois homens, um dos quais armado somente com facas e com o tamanho de um garoto, eles se viraram e avançaram para a frente outra vez.
Horace lutou ferozmente, reunindo os escandinavos restantes ao seu redor, mas a quantidade de inimigos só aumentava, pois os temujai estavam começando a superar o pequeno grupo de defesa e a saltar para a trincheira, de onde os arqueiros ainda enviavam suas saraivadas para a principal força temujai.
Os dois garotos ouviram o tom de voz de Evanlyn aumentar, insistente, quando ela mandou alguns arqueiros atirarem diretamente nos atacantes. Eles sabiam que o inimigo passaria pela trincheira em questão de minutos e mataria todos dentro dela.
— Venha! — Will chamou e foi na frente na direção da trincheira acompanhado de perto por Horace.
Um guerreiro temujai barrou o caminho dele e ele atacou o homem com sua faca de caça, sentindo o golpe sacudir o seu braço ao atingir o corpo do inimigo. Um grito de aviso de Horace o alertou do perigo e, com suas duas facas cruzadas, ele se virou bem a tempo de evitar ser cortado com selvageria por um sabre. Logo em seguida, Horace se postou ao seu lado investindo contra o homem que o tinha atacado e os outros três que o acompanhavam. Os dois amigos lutaram lado a lado, mas havia muitos temujai. O coração de Will ficou apertado no peito ao perceber que não iam chegar à trincheira a tempo. Ele viu Evanlyn a menos de 20 metros de distância cercada por um grupo de arqueiros, enfrentando um grupo muito maior de temujai enquanto eles avançavam sobre a trincheira: movendo-se devagar impedidos somente pela ameaça dos arcos.
— Cuidado, Will!
Era Horace outra vez e, mais uma vez, eles lutaram para salvar suas vidas quando mais guerreiros temujai avançaram sobre eles.
Nit'zak conduziu um grupo de homens para as trincheiras que tinham abrigado os arqueiros escandinavos. Seus outros homens podiam cuidar dos dois jovens guerreiros que tinham contra-atacado com tanta eficiência. Sua tarefa era silenciar os arqueiros de uma vez por todas.
Seus homens mergulharam na trincheira atrás dele, atacando os arqueiros sem armadura e praticamente desarmados. Estes recuaram, e alguns subiram para o outro lado e correram para a retaguarda. Carrancudo, Nit'zak os seguiu até, ao rodear uma curva na trincheira, parar surpreso.
Ali estava uma jovem garota olhando para ele com uma longa adaga na mão e uma expressão de total desafio no olhar. Os arqueiros restantes se reuniram protetoramente em volta dela. Então, ao comando dela, eles levantaram os arcos para a posição de ataque.
Os dois grupos se encararam. Havia pelo menos dez flechas voltadas para ele a uma distância de menos de 10 metros. Se a garota desse a ordem, não tinha como os arqueiros errarem. No entanto, depois que essa primeira saraivada estivesse a caminho, a garota e seus arqueiros ficariam desprotegidos.
Ele olhou rapidamente para os lados. Seus homens estavam no mesmo nível que ele e havia outros atrás. Ele não tinha intenção de morrer sob fogo escandinavo. Se atingisse seu objetivo, ele o faria de bom grado, mas tinha uma tarefa a realizar e não tinha o direito de morrer até que a concluísse. Por outro lado, não se importava em sacrificar alguns de seus homens, se necessário, para cumprir sua missão. Ele os mandou avançar.
— Ataquem — ele disse com calma, e seus homens avançaram no limitado espaço da trincheira.
Houve um segundo de hesitação e então ele ouviu o comando da garota para atirar e o esticar imediato das cordas dos arcos. As flechas atingiram seus homens, matando ou ferindo sete deles. Mas os outros continuaram, acompanhados por soldados que estavam atrás dele, e os arqueiros se separaram e correram, deixando apenas a garota para enfrentá-los. Nit'zak deu um passo a frente, levantando o sabre com as duas mãos. Curioso, ele analisou os olhos dela à procura de algum sinal de medo e nada viu. "Será quase uma vergonha matar alguém tão corajoso", ele pensou.
Ao seu lado, ele ouviu um grito agoniado. A voz de um jovem cheia de medo e dor.
— Evanlyn!
Nit'zak imaginou que aquele era o nome da garota. Ele viu os olhos dela se afastarem dos dele e ela sorriu tristemente para alguém que ele não podia ver. Era um sorriso de adeus.
Will tinha testemunhado tudo. Sem poder intervir, lutando desesperadamente para proteger a retaguarda de Horace e a própria vida, ele tinha visto os temujai subirem a trincheira, serem ameaçados pelos arqueiros com uma saraivada à queima-roupa e, indiferentes ao perigo, calmamente avançarem mais uma vez. A saraivada final os parou por alguns segundos, mas depois eles investiram varrendo os arqueiros para longe.
Um grito desesperado de Horace fez Will voltar a atenção para a própria situação e ele saltou para o lado, a fim de se desviar de um sabre, agitando a faca para afastar um temujai por alguns passos.
Nesse momento, ele se virou e viu um oficial temujai posicionado sobre Evanlyn, segurando a espada com as duas mãos, pronto para o golpe.
— Evanlyn! — ele gritou desesperado.
E, ao ouvi-lo, ela se virou, encontrou seu olhar agoniado e sorriu. Um sorriso que lembrava tudo o que tinham passado juntos nos últimos onze meses. Um sorriso que lembrava tudo o que tinham representado um para o outro.
E, naquele momento, ele sentiu que não podia deixá-la morrer. Ele se virou com a faca de caça na mão, segurou-a pela ponta, sentiu seu equilíbrio, deu impulso com o braço para trás e então para a frente num movimento único e contínuo.
A faca atingiu Nit'zak debaixo do braço esquerdo exatamente no momento em que ele começava a desferir o golpe.
Ele ficou com os olhos vidrados e se encolheu lentamente para o lado. caindo na direção da parede de terra da trincheira e escorregando para o chão duro. O sabre caiu de suas mãos e ele puxou a faca pesada de seu corpo com os dedos enfraquecidos. A certeza de que agora Haz'kam iria abandonar a invasão foi seu último pensamento, e ele se zangou.
Will, agora desarmado exceto pela pequena faca de atirar, estava sendo atacado outra vez. Ele saltou para a frente para se engalfinhar com um temujai e eles rolaram pela rampa de terra. Will agarrava desesperadamente o braço do homem que segurava a espada, enquanto o inimigo, por sua vez, tentava evitar os ineficazes ataques que Will fazia com a pequena faca.
Ele viu Horace dominado por quatro guerreiros que o atacavam ao mesmo tempo e percebeu que, finalmente, tudo tinha chegado ao fim.
Então ele ouviu um rugido apavorante e uma figura enorme parou acima dele, literalmente arrancando o adversário do chão e jogando-o a vários metros de distância ladeira abaixo, fazendo outros três homens caírem no chão por causa do impacto.
Era Ragnak, aterrorizante em sua raiva enlouquecida. Sua camisa tinha sido rasgada em tiras e ele não usava nenhuma armadura, apenas o imenso capacete com chifres. O horripilante rugido saía constantemente de sua garganta enquanto ele mergulhava no meio dos atacantes temujai, girando a enorme acha de duas lâminas em círculos gigantescos ao golpear os inimigos por todos os lados.
Ele não procurou se proteger, por isso foi cortado e ferido repetidas vezes. Ele simplesmente ignorou o fato e cortou, picou e bateu nos homens que tinham invadido seu país, que tinham ousado despertar a raiva louca em seu sangue.
Sua guarda pessoal o seguiu, cada homem tomado pela mesma fúria mortal. Eles abriram caminho entre a força temujai de forma implacável, irresistível. Era uma dúzia de homens que não se importavam em viver ou morrer. Que se importavam apenas com uma coisa: aproximar-se dos inimigos e matá-los. Tantos quantos pudessem, o mais depressa possível.
— Horace! — Will gemeu com voz rouca, enquanto tentava se levantar, pois se lembrara da última imagem de Horace enfrentando desesperadamente quatro atacantes.
Então ele ouviu outro som, desta vez conhecido. O som áspero de um arco longo e, enquanto olhava, os atacantes de Horace pareceram derreter como neve debaixo do sol, e ele soube que Halt tinha chegado.
Numa colina a um quilômetro de distância, Haz'kam, general do exército e shan das pessoas, assistia ao seu ataque fracassar. O flanco esquerdo do inimigo tinha formado um círculo para atacar sua força principal, encurralando-a e fazendo-a recuar, provocando perdas graves. No flanco direito, Nit'zak e seus homens tinham conseguido silenciar os arqueiros escandinavos. No fundo de seu coração, ele sempre tinha sabido que o velho amigo iria ser bem-sucedido na tarefa.
Mas ele demorou demais para isso. O sucesso tinha vindo tarde demais, depois que a força principal tinha sido desmoralizada e desorganizada pela constante chuva de flechas. Depois que os temujai tinham sido forçados a recuar por causa do ataque pelos flancos.
É claro que tinha sido apenas um ataque fracassado, e ele sabia que ainda podia vencer essa batalha, se quisesse. Ele poderia reagrupar seus ulans, enviar suas reservas descansadas e fazer os malditos escandinavos sair de suas defesas, fazê-los fugir para as colinas e árvores. Por um momento, ficou tentado a fazer isto: vingar-se de maneira selvagem das pessoas que tinham arruinado seus planos.
Mas o custo seria alto demais. Ele já tinha perdido milhares de homens e outro ataque, mesmo bem-sucedido, iria lhe custar mais do que poderia oferecer. Ele se virou na sela e mandou o corneteiro para a frente.
— Dê o toque de retirada geral — ele ordenou com calma.
A expressão de seu rosto não dava sinal da fúria fervilhante, da raiva amarga do fracasso que queimava no seu coração.
Não era educado que um general temujai demonstrasse suas emoções.
O corpo de Ragnak foi cremado no dia seguinte ao da batalha. O oberjarl tinha morrido nos momentos finais, antes da retirada dos temujai. Ele tinha morrido lutando contra um grupo de 18 guerreiros temujai. Dois sobreviveram tão gravemente feridos que mal conseguiram se arrastar para longe da apavorante figura do líder escandinavo.
Não havia como saber quem tinha desferido o golpe fatal se, realmente, tinha havido um. Eles contaram mais de 50 ferimentos no oberjarl, meia dúzia dos quais poderia ter causado a morte em condições normais. Como era costume dos escandinavos, o corpo foi deitado na pira crematória como estava, sem qualquer tentativa de limpar o sangue ou a lama da batalha.
Os quatro araluenses foram convidados a prestar seus últimos respeitos para o oberjarl morto, e eles ficaram em silêncio por alguns momentos diante da enorme pilha de troncos de madeira encharcados de piche, olhando para a figura imóvel. Então, com educação, mas com firmeza, eles foram informados de que o funeral de um oberjarl e a subsequente eleição de seu sucessor eram assuntos que interessavam apenas aos escandinavos e eles voltaram para os aposentos de Halt para esperar os acontecimentos.
Os rituais do funeral duraram três dias. Aquela era uma tradição que tinha sido criada para permitir que os jarls de colônias distantes tivessem tempo de chegar a Hallasholm e participar da eleição do próximo oberjarl. Tinham apenas alguns jarls esperados das áreas por onde os temujai já tinham passado, pois quase todos os outros tinham sido convocados para repelir a invasão. Mas a tradição exigia um período de três dias de luto, o que na Escandinávia tornava a forma de muita bebida e narrativa entusiasmada das proezas do morto na batalha.
E a tradição, é claro, era sagrada para os escandinavos, especialmente a que envolvia muita bebida e muita farra até tarde da noite. Notava-se que a bebida consumida e o grau de entusiasmo para contar as façanhas pareciam estar diretamente relacionados.
Na segunda noite, Evanlyn franziu o cenho ao som das vozes embriagadas que cantavam acompanhadas peto barulho de madeira estilhaçada enquanto acontecia uma briga.
— Eles não parecem muito tristes com tudo isso — ela afirmou, e Halt apenas deu de ombros.
— É o jeito deles — ele disse. — Além disso, Ragnak morreu na batalha de um modo selvagem, e esse é um destino que todos os verdadeiros escandinavos invejam. Isso lhe dá o direito de entrar, no mesmo instante, no mais alto nível do que eles consideram o paraíso.
Evanlyn torceu a boca numa careta de desaprovação.
— Mesmo assim, parece muito desrespeitoso. E, afinal, ele salvou as nossas vidas.
Houve um silêncio estranho no aposento. Nenhum dos três conseguia pensar numa forma delicada de lembrar Evanlyn que Ragnak tinha jurado matá-la e que, se tivesse sobrevivido, ele o faria sem hesitar. No entanto, ao falar dele naquele momento, ela parecia ter perdido um velho e respeitado amigo. Horace olhou de Halt para Will várias vezes, esperando para ver se algum deles iria tocar no assunto. Tudo o que recebeu foi um gesto de cabeça quase imperceptível de Will quando se encararam. Horace deu de ombros. Se dois arqueiros achavam que não valia a pena tocar no assunto, quem era ele para discordar?
Finalmente, o período de luto terminou e os principais jarls se reuniram na Grande Mansão para eleger o novo oberjarl.
— Vocês acham que Erak tem chance? — Will perguntou esperançoso.
Mas suas esperanças caíram por terra quando Halt negou com um gesto de cabeça.
— Ele é um líder de guerra popular, mas é apenas um entre quatro ou cinco. Junte a isso o fato de que ele não é um administrador e nem um diplomata - ele acrescentou com veemência.
— Isso é importante? — Horace quis saber. — Pelo que eu vi, diplomacia não tem muita importância na lista de habilidades exigidas neste país.
— É verdade — Halt reconheceu com um sorriso. — Mas é preciso um pouco de conversa quando há uma eleição como esta entre colegas. Ninguém dá seu voto porque você é o melhor candidato. Eles votam em você quando pode fazer alguma coisa por eles.
— Acho que o fato de Erak ter passado os últimos anos como o coletor de impostos de Ragnak também não vai ajudar — Will ajuntou. — Afinal, ele ameaçou usar o machado para abrir a cabeça de muitas pessoas que estão votando.
— Não é uma atitude adequada se você pretende ser oberjarl algum dia — Halt concordou novamente.
Na verdade, o arqueiro estava se entregando a uma leve forma de superstição pessoal ao menosprezar as chances de Erak na eleição. Ainda havia algumas questões a serem resolvidas entre a Escandinávia e Araluen e ele preferia resolvê-las com Erak na posição de líder supremo. Ainda assim, quanto mais eles falavam, menores as chances de Erak se tornavam. Ele não tinha ouvido falar sobre a coleta de impostos até Will mencionar o fato. Isso parecia pôr um ponto final nas chances do jarl.
Ele também lembrou que Erak não tinha mostrado o menor interesse em se tornar oberjarl.
E, afinal os três companheiros de Halt só estavam interessados em suas chances porque ele era um amigo e o único líder escandinavo que conheciam bem.
— Provavelmente ele não seria um bom oberjarl — Horace concluiu. — O que ele quer mesmo é voltar para o mar em seu navio e saquear alguma cidade por aí.
Todos os outros concordaram.
O que apenas serve para mostrar como se pode estar errado quando nos entregamos a discussões lógicas e racionais. No quinto dia, a porta do apartamento de Halt se abriu e um Erak perplexo entrou, olhou ao redor para os quatro rostos em expectativa e disse:
— Eu sou o novo oberjarl.
— Eu sabia — Halt disse no mesmo instante, e os outros três olharam para ele totalmente escandalizados.
— Você sabia? — Erak perguntou com a voz abalada, os olhos ainda mostrando o choque da repentina promoção ao mais alto posto na Escandinávia.
— Claro — o arqueiro disse dando de ombros. Você é grande, mau e feio, e essas parecem ser as qualidades que os escandinavos mais valorizam.
Erak endireitou o corpo tentando mostrar o tipo de dignidade que imaginou que um oberjarl devia demonstrar.
— É assim que vocês, araluenses, se dirigem a um oberjarl? — ele perguntou, e Halt finalmente sorriu.
— Não. É assim que falamos com um amigo. Entre e tome uma bebida.
Durante os dias seguintes, começou a parecer que o conselho de jarls tinha feito uma escolha sensata. Erak rapidamente se dedicou a terminar velhas rixas com outros jarls, especialmente aqueles que tinha visitado na qualidade de coletor de impostos. E, surpreendentemente, conservou Borsa na função de hilfmann.
— Pensei que ele não suportava Borsa — Will disse espantado.
Mas Halt simplesmente fez um gesto com a cabeça em reconhecimento à escolha de Erak.
— Borsa é um bom administrador, e é disso que Erak vai precisar. Um bom líder é alguém que conhece seus defeitos e contrata alguém com as qualidades que lhe faltam para cuidar das coisas para ele.
Will, Horace e Evanlyn tiveram que refletir um pouco sobre o assunto antes de enxergar a lógica dessas palavras. Horace, na verdade, ainda estava pensando nisso algum tempo depois que os outros as tinham assimilado e passado a discutir outras questões.
No papel de oberjarl, Erak não poderia mais participar das viagens anuais para saquear as redondezas como comandante do Wolfwind, e esse fato marcou a repentina promoção com uma certa dose de arrependimento. Mas ele anunciou que faria uma última viagem antes de entregar o navio aos cuidados de Svengal, seu principal companheiro de longa data.
— Vou levar vocês de volta a Araluen — ele anunciou. — Acho que é mais do que justo, já que fui o responsável pela vinda de vocês para cá.
Will ficou discretamente satisfeito com a novidade. Agora que era quase hora de voltar para casa, percebeu que ia ficar triste em se despedir do grande pirata impetuoso. Com alguma surpresa, reconheceu o fato de que tinha passado a considerar Erak como um bom amigo e via com prazer qualquer coisa que retardasse o momento da partida.
A primavera tinha chegado, os gansos estavam voltando do sul e havia cervos nas colinas outra vez, de modo que havia bastante carne fresca para substituir a carne seca e salgada, que era a principal refeição no inverno em Hallasholm.
Quando Will viu os primeiros grupos de caça voltando das montanhas no interior da capital escandinava, ele se lembrou de uma dívida que ainda precisava pagar. De manhã bem cedo subiu em Puxão e se afastou em silêncio subindo a trilha que ele e Evanlyn tinham seguido tantos meses antes debaixo de uma nevasca congelante.
Na cabana em que se abrigaram durante o inverno, ele encontrou o pequeno pônei, desgrenhado e conformado, que tinha salvado sua vida. A paciente criatura tinha rompido a leve corda que o prendia ao estábulo atrás da cabana e estava calmamente pastando a nova grama da estação quando Will chegou.
Puxão olhou de soslaio para o seu dono quando Will desamarrou um pequeno saco de aveia e deixou bem claro que era apenas para o pônei. Will consolou seu cavalo com um leve tapinha no focinho.
— Ele mereceu — Will disse para Puxão, e o cavalo deu de ombros, até onde um animal é capaz de fazer isso.
O fantástico pônei até podia ter merecido o saco de aveia, mas isso não impediu a boca de Puxão de salivar ao ver a aveia e sentir o cheiro dela. Quando o pônei terminou de comer, Will montou Puxão e, segurando a rédea principal, cavalgou de volta paia Hallasholm, onde devolveu o pônei ao estábulo de Erak.
Na noite anterior à partida deles, Erak tinha oferecido um banquete de despedida. Os escandinavos estavam ansiosos em mostrar seu agradecimento pelos esforços dos quatro araluenses para defender sua terra dos invasores. E, com a sombra do Vallasvow afastada de Evanlyn, eles deram especial atenção a ela — repetidamente brindando à sua coragem e habilidade em continuar a orientar o ataque dos arqueiros quando sua posição estava sendo invadida.
Halt, Borsa e Erak estavam sentados juntos e tranqüilos à cabeceira da mesa discutindo questões importantes, como a repatriação dos escravos que tinham servido no corpo dos arqueiros. Infelizmente, muitos deles não tinham sobrevivido à batalha, mas a promessa de liberdade tinha sido feita também aos seus dependentes, e os detalhes tinham que ser resolvidos. Quando o assunto finalmente foi solucionado, Halt achou que o momento era adequado e disse com calma:
— Então, o que vai fazer quando os temujai voltarem?
Houve um momento de ensurdecedor silêncio na cabeceira da mesa. Erak empurrou o banco para trás e encarou o pequeno homem de expressão sombria ao seu lado.
— Voltar? Por que eles iriam voltar? Nós derrotamos eles, não é?
— Para falar a verdade, não derrotamos, não — Halt respondeu. — Nós simplesmente fizemos que ficasse muito caro para eles continuarem. Desta vez.
Erak pensou no que ele disse e olhou para Borsa pedindo sua opinião. O hilfmann assentiu com alguma relutância.
— Acho que o arqueiro está certo, oberjarl — ele concordou. — Nós não íamos suportar muito tempo mais. Mas por que eles iriam voltar? — ele perguntou voltando-se para Halt.
Halt tomou um gole da forte cerveja escandinava antes de responder.
— Porque é assim que eles agem — ele respondeu com simplicidade. — Os temujai não pensam em termos desta temporada, ou deste ano, ou do próximo. Eles pensam nos próximos dez ou vinte anos e têm um plano de longo prazo para dominar esta parte do mundo. Eles precisam de navios, portanto eles vão voltar.
Erak pensou no assunto torcendo uma ponta do bigode com os dedos.
— Então nós vamos derrotar eles outra vez — ele declarou.
— Sem arqueiros? — Halt perguntou devagar. — E sem o elemento-surpresa na próxima vez?
Outro silêncio se seguiu.
— Você poderia nos ajudar a treinar os arqueiros — Erak sugeriu esperançoso. — Você e o garoto.
Mas Halt fez que não com a cabeça, imediatamente, com determinação.
— Não estou preparado para fornecer uma arma tão poderosa para a Escandinávia — ele disse. — Depois de aprender essa técnica, nunca vou saber quando ela vai ser usada contra nós no futuro.
Erak teve que admitir que a afirmação do arqueiro tinha lógica. Afinal, a Escandinávia e Araluen eram inimigos tradicionais. Mas Borsa, com seu tino de negociador, tinha percebido uma insinuação na recusa de Halt.
— Mas você tem uma sugestão? — ele perguntou interessado, e Halt quase sorriu.
Ele tinha esperado que o hilfmann percebesse o que ele queria dizer.
— Eu estava pensando que uma força de... digamos, 300 arqueiros treinados poderia ficar aqui em caráter permanente. Os arqueiros poderiam passar os meses de primavera e verão aqui e depois voltarem para casa no inverno.
— Araluenses? — Erak perguntou começando a entender. Halt assentiu.
— Nós poderíamos lhes oferecer uma força de arqueiros dessa forma. Porque, se houver hostilidades entre os dois países, eu acho muito mais seguro saber que os arqueiros não vão se voltar contra nós. Nós teríamos que estipular isso no tratado — ele acrescentou como quem não quer nada.
Erak olhou para seu hilfmann com cuidado. A palavra "tratado" parecia ter surgido na mesa a frente deles sem que percebessem. Borsa o encarou e deu de ombros pensativo.
— Estou propondo que a gente tenha um tratado mútuo de defesa por um período de... — Halt pareceu pensar e Erak repentinamente teve a nítida impressão de que ele tinha pesado cada palavra que iria dizer bem antes desse momento. —... digamos, cinco anos. Você vai ter uma força adequada de arqueiros...
— E o que você vai ter? — Erak interrompeu abruptamente.
— Nós vamos ter um tratado de paz que vai dizer que a Escandinávia não vai lançar nenhum ataque-surpresa ao nosso país durante esse período — Halt começou sorrindo para ele. — E, no caso de as hostilidades se tornarem inevitáveis, nossos arqueiros vão ter permissão de voltar para casa.
— Nunca vou convencer meus homens a não participarem de saques — Erak retrucou indignado. — Eles vão acabar comigo se eu propuser isso.
Mas Halt ergueu a mão para acalmá-lo. — Não estou falando de saques individuais — ele disse. — Podemos lidar com eles. Estou falando de ataques em massa, como o de Morgarath.
Houve outra longa pausa enquanto Erak refletia sobre a oferta. Quanto mais ele pensava no assunto, mais atraente a idéia lhe parecia. Tão bem quanto qualquer outro ali presente, ele sabia como tinham chegado perto de serem derrotados pelos temujai. Trezentos arqueiros treinados proporcionariam uma força defensiva poderosa para a Escandinávia, especialmente se ela fosse posicionada nas passagens estreitas e desfiladeiros tortuosos na fronteira. Ele percebeu, com um choque, que estava começando a pensar como um estrategista. Talvez ele estivesse passando tempo demais perto do arqueiro.
— Você tem autoridade de assinar um tratado como esse? — ele perguntou e, pela primeira vez, Halt hesitou.
Na verdade, ele não tinha nenhuma autoridade. Como membro do Corpo de Arqueiros, ele teria poderes de assinar, mas tinha sido dispensado da corporação quando Duncan o expulsou. É claro que podia redigir o tratado. Ele tinha quase certeza de que Crowley ou o próprio Duncan iriam ratificá-lo. Mas, quando isso acontecesse, Erak iria saber que ele tinha agido de má-fé e acharia que aquele não era um bom começo para qualquer relacionamento.
— Eu tenho — disse uma voz calma atrás dele e os três homens olharam para cima surpresos.
Evanlyn, escapando dos brindes e homenagens entusiasmados, tinha sido uma ouvinte interessada na conversa durante os últimos minutos.
— Como princesa real de Araluen, tenho autoridade de assinar em nome de meu pai — ela afirmou, e Halt soltou um suspiro de alívio.
— Acho melhor se fizermos desse jeito — ele disse. Afinal, a princesa tem um pouco mais de autoridade do que eu.
O Wolfwind seguiu o Rio Semath desde o Mar Estreito até o Castelo Araluen.
Foi uma visão espantosa para os moradores locais ver o navio deslizando, tranquilo e calmo, passando pelos campos e vilas até o interior. Os muitos fortes e fortalezas do rio, que normalmente impediriam tal avanço ao navio escandinavo, agora se submetiam ao fato de que o estandarte da princesa Cassandra, um falcão vermelho inclinado, se agitava no alto do mastro. Foi enviada uma mensagem sobre o progresso do navio para garantir que os comandantes locais reconhecessem o estandarte e soubessem que os viajantes subiam o rio em paz.
O fato também era novidade para Erak e sua tripulação.
Finalmente, eles percorreram a última curva do rio e ali, diante deles, estavam as elevadas pontas e torres do castelo Araluen. Erak respirou fundo maravilhado diante da visão. Ao observá-lo, Halt teve certeza de que, além da admiração que o castelo inspirava, o velho instinto de pirata do capitão entrou em ação calculando quantos tesouros o castelo poderia conter. Ele se aproximou do oberjarl e disse em voz baixa:
— Você não passaria nem da vala.
Surpreso, Erak se assustou e se virou para encarar o arqueiro. E sorriu um tanto arrependido.
— Era tão óbvio que eu estava pensando nisso? — ele perguntou, e Halt balançou a cabeça confirmando.
— Você não seria um escandinavo se não estivesse — o arqueiro ajuntou.
Cercado com bandeiras, em cima dele, um ancoradouro se projetava para o rio. Uma multidão esperava a chegada dos quatro araluenses. Ao verem o navio, as pessoas começaram a tocar cornetas e a dar vivas.
— Isso é inédito — Erak disse suavemente, fazendo Halt sorrir.
— E aquilo também — ele disse, apontando discretamente para um vulto alto e barbado parado um pouco atrás no ancoradouro e cercado por um séquito de damas e cavaleiros luxuosamente vestidos. — Aquele é o rei que veio lhe dar as boas-vindas, Erak.
— É mais provável que ele esteja aqui por causa da filha — o escandinavo respondeu.
Mas Halt notou que ele tinha ficado satisfeito com o fato.
Evanlyn já tinha visto o homem alto e estava parada na proa acenando entusiasmada. Os vivas vindos da margem redobraram quando o povo a viu e agora Duncan estava abrindo caminho para o ancoradouro a passos largos, quase correndo, não satisfeito em ficar atrás e preservar sua dignidade real.
— Remos! — Erak gritou, e os remadores levantaram os remos pingando água enquanto o navio deslizava suavemente ao longo do ancoradouro.
A tripulação escandinava passou as amarras para os que estavam na margem enquanto os dois grupos se examinavam mutuamente com profundo interesse. Era a primeira vez na história que araluenses e escandinavos ficavam frente a frente sem armas nas mãos. Will, com o rosto iluminado pela alegria do momento, saltou sobre a murada do navio enquanto Evanlyn corria para a entrada no meio do navio. Ela e o pai, com os corações cheios demais para falar, simplesmente sorriram um para o outro enquanto os marinheiros puxavam o navio para o ancoradouro. Então, as proteções de vime bateram e gemeram, e o navio ficou imobilizado. Svengal, com um largo sorriso no rosto, abriu a portinhola da balaustrada do navio e Evanlyn pulou nos braços do pai e enterrou o rosto em seu peito.
— Papai! — ela gritou uma só vez, a voz abafada pela camisa dele e pelos soluços que brotavam em sua garganta.
— Cassie! — ele murmurou o apelido carinhoso da filha desde que ela era um bebê, e os vivas aumentaram.
Duncan era um rei popular e o povo sabia quanta dor a perda da filha tinha causado a ele. Até os escandinavos estavam sorrindo diante da cena. Piratas rudes que eram, eles tinham um lado sentimental e valorizavam os laços de família.
Em meio a toda essa alegria e comemoração, apenas Halt ficou de fora. Seu rosto era uma máscara de dor e sofrimento e ele permaneceu discretamente junto do leme na popa do navio enquanto os demais corriam para a saída.
Duncan e Evanlyn, ou Cassandra, como o pai a conhecia, indiferentes aos que os cercavam, estavam abraçados. Will, observando a multidão, viu um vulto robusto nas fileiras atrás do rei: um homem de meia-idade que estava acenando animadamente para ele e gritava seu nome.
— Will! Seja bem-vindo em casa, garoto! Seja bem-vindo!
Por um momento, Will ficou surpreso, mas logo reconheceu o barão Arald: o homem que durante anos tinha sido uma figura com o rosto sério da autoridade. Agora lá estava ele, acenando e gritando como um estudante num feriado. Will desceu com facilidade pela prancha do ancoradouro e abriu caminho entre a multidão de simpatizantes do barão. Ele começou a fazer uma reverência formal quando o barão agarrou sua mão e a sacudiu com entusiasmo.
— Esqueça isso! Bem vindo a casa, rapaz! E parabéns! Muito bom! Meu Deus, pensei que nunca ia vê-lo outra vez! Não é mesmo, Rodney?
Ele falou isso para o cavaleiro que estava ao seu lado vestido com malha de ferro, e Will reconheceu sir Rodney, chefe da Escola de Guerra do Castelo Redmont. Ele percebeu que o cavaleiro estava ansiosamente procurando alguém entre os rostos no convés do navio.
— Sim, sim, meu senhor — ele concordou distraído.
Então agarrou o outro braço de Will e disse ansioso:
— Will, pensei que Horace estava com você. Não me diga que aconteceu alguma coisa a ele...
Atordoado, Will olhou para onde Horace estava apertando a mão da tripulação escandinava, despedindo-se dos amigos antes de descer a terra.
— Lá está ele — Will mostrou Horace para sir Rodney e teve a satisfação de ver o cavaleiro abrir a boca de surpresa.
— Meu Deus! Ele se transformou num gigante! — ele exclamou. Então Horace reconheceu seu mentor e marchou rapidamente pela multidão, ficou em posição de sentido e fez continência com o punho no lado direito do peito.
— Aprendiz Horace se apresentando, chefe de guerra. Permissão para voltar ao serviço, senhor? — ele disse com energia.
Batendo continência, Rodney retribuiu o cumprimento.
— Permissão concedida, aprendiz.
Então, concluídas as formalidades, ele envolveu o musculoso aprendiz num abraço de urso e dançou com ele alguns passos constrangedores enquanto gritava:
— Que diabos, garoto, você nos deixou muito orgulhosos! E como foi que ficou tão alto assim?
Mais uma vez, a multidão aplaudiu deliciada. Então, de repente, todos ficaram em silencio e Will se virou para descobrir o motivo. Erak Starfollower, oberjarl dos escandinavos, estava desembarcando.
Instintivamente, os que estavam mais perto recuaram um pouco. Era difícil esquecer velhos hábitos. Will, não desejando que seu amigo fosse insultado, se moveu impulsivamente, mas outra pessoa na multidão foi mais rápida do que ele. Duncan, rei de Araluen, se aproximou para cumprimentar seu colega escandinavo com a mão estendida num gesto de amizade.
— Bem vindo a Araluen, oberjarl — ele disse. — E obrigado por trazer minha filha para casa em segurança.
E, ao dizer isso, os dois líderes trocaram um aperto de mão.
Em seguida, os vivas recomeçaram, desta vez para Erak e sua tripulação, fazendo-os olhar ao redor satisfeitos. Will pensou que isso iria dificultar um pouco a tarefa de saquear a região no futuro. Duncan deixou os aplausos continuarem por mais algum tempo e então ergueu a mão pedindo silêncio. Ele observou os rostos no cais e, ao não ver o que estava procurando, olhou para o navio.
— Halt — ele disse devagar, finalmente vendo o arqueiro envolto, como sempre, em sua capa de arqueiro, parado sozinho perto do grande leme.
O rei estendeu a mão e fez um gesto na direção das docas.
— Venha para terra, Halt. Você está em casa.
Mas Halt ficou parado, constrangido e incapaz de esconder a tristeza que sentia. Sua voz tremeu quando começou a falar, mas ele se recuperou e recomeçou.
— Majestade... ainda faltam três semanas para terminar o ano de expulsão — ele disse finalmente.
A multidão murmurou. Will, incapaz de se conter, reagiu totalmente surpreso.
— Expulsão? Você foi expulso? — ele disse sem acreditar.
Ele olhou para o rei. Era impensável que Halt, com sua inabalável lealdade para com Araluen e seu povo, tivesse sido expulso.
— Por quê? — ele quis saber.
A palavra ficou no ar. Duncan balançou a cabeça encerrando a questão.
— Algumas palavras descuidadas, isso foi tudo. Ele estava embriagado, e nós já esquecemos o que ele disse, e eu o perdôo. Por isso, pelo amor de Deus, homem, venha para a terra.
Mas Halt ficou onde estava.
— Majestade, nada me deixaria mais feliz. Mas o senhor deve cumprir a lei — ele disse em voz baixa.
Então outra pessoa concordou: lorde Anthony, o tesoureiro do rei.
— Halt está certo, majestade — ele afirmou.
Anthony era um homem de boas intenções, mas costumava ser um pouco exagerado quando se tratava de interpretar a lei.
— Afinal, ele disse que o senhor era o resultado de um encontro de seu pai com uma dançarina.
A multidão soltou murmúrios abafados.
— Obrigado por nos lembrar, Anthony — Duncan retrucou com um sorriso frio entre dentes semicerrados.
Mas uma gargalhada incontida estourou e a princesa Cassandra dobrou o corpo, gritando de uma forma nada real. Todos olharam para ela e, lentamente, a garota se recuperou o suficiente para falar.
— Peço desculpas a todos, mas, se vocês tivessem conhecido a minha avó, entenderiam por que meu avô pode ter ficado tentado! A vovó parecia um cachorro raivoso, e o temperamento dela combinava com a cara!
— Cassie! — o pai disse em tom desaprovador, mas ela estava segurando os lados do corpo e rindo outra vez, e ele não conseguiu evitar que um sorriso se formasse em seus lábios.
Então ele sentiu o olhar de crítica de lorde Anthony sobre ele, recobrou-se e cutucou Cassandra até que o riso se transformou numa serie de fungadelas e resfôlegos abafados. Contudo, o riso tinha sido contagioso e foi preciso algum tempo para que a multidão ali reunida voltasse à ordem. Durante todo esse tempo, Halt permaneceu parado no convés do navio.
— Certamente, Anthony, meus poderes me permitem perdoar Halt pelas últimas três semanas de sua sentença, não? — o rei perguntou ao tesoureiro num tom extremamente conciliador.
— Seria muito irregular, majestade — ele disse rígido e de cenho franzido. — Esse fato iria criar precedentes desastrosos na lei.
— Rei Duncan! — Erak trovejou e recebeu a atenção de todos no mesmo instante.
Ele percebeu que tinha falado com um pouco mais de veemência do que pretendia, ainda estava se acostumando a essas ocasiões formais. E continuou num tom mais moderado.
— Será que eu poderia pedir que o senhor concedesse o perdão a Halt como um gesto de boa vontade para selar o tratado entre nossos dois países?
— Ótima idéia! — Duncan resmungou.
Ele se virou rapidamente para lorde Anthony.
— E então? — ele perguntou.
O tesoureiro apertou os lábios pensativo. Ele nunca quis deixar de satisfazer os desejos do rei. Simplesmente tentava cumprir seu dever e obedecer a lei. Agora viu uma brecha e a agarrou agradecido.
— Esse pedido não criaria nenhum precedente, majestade — ele afirmou. — E, afinal, essa é uma ocasião muito especial.
— Pois então, que seja! — Duncan disse rapidamente e se virou para encarar a figura no navio — Tudo bem, Halt, você está perdoado. Então, pelo amor de Deus, desembarque e vamos tomar alguma coisa para comemorar!
Halt, com lágrimas nos olhos, colocou os pés em solo araluense mais uma vez, depois de onze meses e cinco dias de expulsão. Quando ele desembarcou e ouviu os novos vivas da multidão, os que estavam perto dele viram outro homem vestido com uma capa cinza-esverdeada. Ele veio à frente e colocou uma coisa na mão de Halt.
— Acho que você vai precisar disto outra vez — disse Crowley, comandante do Corpo de Arqueiros.
E, quando Will olhou para a mão, viu uma corrente fina com a insígnia da Folha de Carvalho de prata.
Então ele soube que estava realmente em casa.
Will sabia que alguma coisa estava acontecendo. Depois da primeira rodada de comemorações e depois que Erak e sua tripulação tinham partido de volta à Escandinávia com os detalhes administrativos da distribuição da força de arqueiros de Araluen acertados para a próxima primavera, houve muitas consultas entre o rei e seus conselheiros, incluindo Halt, Crowley, barão Arald e sir Rodney.
Durante esse período, Will e Horace foram deixados bastante à vontade, embora não faltassem admiradores para cumprimentá-los e ouvir, fascinados, as histórias sobre o tempo passado na Escandinávia e a feroz batalha contra os temujai. Mas até essa adulação diminuiu um pouco.
Horace, agora que suas aventuras como o Cavaleiro da Folha de Carvalho tinham terminado, voltara a usar o casaco branco simples de um aprendiz de guerreiro.
Evanlyn, é claro, tinha voltado a usar sua verdadeira identidade como princesa Cassandra. Ela foi levada aos apartamentos da família real, em uma das torres do Castelo Araluen, e sempre que Will a via ela estava cercada por um séquito de cavaleiros e damas. E ele percebeu que ela também era uma jovem linda, imaculadamente vestida e à vontade entre os jovens nobres e moças que a rodeavam.
Entristecido, ele sentiu a distância entre eles crescer cada vez mais quando se deu conta de que sua companheira de tantas aventuras e perigos era, na realidade, a mulher mais bem-nascida do reino, enquanto ele era um órfão, filho de um sargento do exército e uma mulher do campo. Nas cada vez mais esparsas e raras ocasiões em que falou com Cassandra, ele ficou sem jeito e sem saber o que dizer. As palavras desapareciam na presença dela, e ele balbuciava respostas monossilábicas às suas tentativas de conversar.
Sua reação frustrava e enfurecia Cassandra. Ela estava realmente tentando fazer a amizade voltar a ser o que era antes, mas era jovem demais para perceber que todos os adornos da realeza e da riqueza, coisas que para ela eram normais e às quais não dava importância, apenas serviam para afastar Will.
— Será que ele não vê que eu sou a mesma pessoa que sempre fui? — ela perguntou ao espelho frustrada.
Mas, na verdade, estava diferente. Evanlyn tinha sido uma garota assustada que, com a vida sempre em risco, foi obrigada a confiar, durante meses, na inteligência e coragem do jovem companheiro para mantê-la em segurança. De repente, numa reviravolta, ela se tornou a salvadora, a que cuidou de um garoto confuso e assustado para que voltasse à vida.
Cassandra, por outro lado, era uma princesa linda e impecavelmente arrumada, cuja posição na vida estava tão acima da de Will que ele nunca iria alcançá-la. Um dia, ele percebeu que ela seria rainha no lugar do pai. Não era a personalidade dela que tinha mudado. Era a posição. E tanto ela quanto Will eram jovens e inexperientes demais para superar a inevitável tensão que esse abismo social colocava no relacionamento deles.
Por mais estranho que parecesse, na mesma época ela ficou cada vez mais próxima de Horace. Acostumado à formalidade da vida como aprendiz de guerreiro e à severidade e aos protocolos da vida na corte no Castelo Redmont, Horace não se perturbava com a posição de Cassandra. É claro que ele se submetia à vontade dela e a tratava com muito respeito, mas, até ali, sempre tinha agido assim. A abordagem simples e descomplicada em relação à vida fazia Horace aceitar as coisas como eram e não procurar complicações. Evanlyn tinha sido sua amiga. Agora, a princesa Cassandra também era. Havia certas diferenças na forma como ele deveria abordá-la e falar com ela, mas esse tipo de formalidade tinha feito parte de seu treinamento.
Quando ela finalmente tocou no assunto do abismo que aumentava entre ela e Will, Horace simplesmente lhe aconselhou paciência.
— Ele vai se acostumar com as coisas como são — ele garantiu. — Afinal, ele é um arqueiro, e eles são meio... diferentes... no modo de agir. Dê um tempo para ele se acostumar.
Então Cassandra resolveu dar tempo ao tempo. Mas o comentário de Horace sobre os arqueiros ficou em sua lembrança e ela decidiu fazer algo sobre essa situação.
E ela sabia que haveria uma oportunidade perfeita para que isso acontecesse num futuro muito próximo.
Duncan tinha anunciado um banquete formal para comemorar a volta em segurança da única filha, e convites foram levados aos 50 baronatos do reino. Seria um acontecimento imponente.
Levou um mês para que os convidados se reunissem e então o imenso salão de jantar do Castelo Araluen viu uma noite sem rival desde a coroação do próprio Duncan, vinte anos antes.
O banquete transcorreu durante horas, e criados do castelo carregaram bandejas de carne assada, legumes frescos e quentes. imensas tortas e doces que tinham a intenção de deslumbrar não só os olhos como também o paladar. O chefe Chubb, o chefe da cozinha do Castelo Redmont e um dos melhores chefes do reino, havia viajado para a capital para supervisionar o acontecimento. Ele estava parado na porta da cozinha, de onde observava satisfeito os nobres e suas esposas devorarem e destruírem o fruto do trabalho de horas do pessoal da cozinha na última semana, e preguiçosamente batia com sua colher na cabeça de qualquer garçom ou criado descuidado que ficava ao seu alcance.
— Nada mal, nada mal — ele murmurava para si mesmo e logo mandava outro criado levar mais um prato especial para apreciação do "jovem arqueiro Will", como o chamava.
Por fim, o banquete fenomenal acabou e a festa ia começar. O harpista do rei tocava as cordas de seu instrumento nervosamente, o calor do salão lotado tinha leito com que se esticassem de modo irregular, e mentalmente lembrava a letra do poema heróico que tinha escrito, celebrando o resgate da princesa real das mandíbulas da morte por três dos mais importantes heróis do reino. Ele ainda desejava ter conseguido uma rima melhor para "Halt". A melhor que tinha encontrado até aquele momento foi dizer que ele era um homem que representava um "salto" na história do país, o que, diante dos acontecimentos, parecia ser pouco para o valor do lendário arqueiro.
Antes de ser chamado, porém, o rei Duncan se levantou de sua cadeira para se dirigir à imensa multidão. Como sempre, o vigilante lorde Anthony estava ao seu lado e, a um sinal de seu monarca, bateu seu cajado revestido de aço nas pedras do salão de jantar.
— Silêncio para o rei! — ele pediu e, no mesmo instante, o murmúrio de conversas e risos no enorme aposento desapareceu.
Todos os olhares se viraram para a mesa principal.
— Damas e cavaleiros — Duncan começou com a voz grave que chegava sem esforço a todos os cantos do salão —, esta ocasião me dá imenso prazer. Para começar, estamos aqui para comemorar a volta de minha filha, princesa Cassandra, em segurança. Um acontecimento que me traz mais alegria do que vocês poderiam entender.
O salão quase veio abaixo com gritos de "Muito bem!", "Bravo!" e aplausos entusiasmados.
— A outra fonte de satisfação para mim, nesta noite, é a oportunidade de recompensar os responsáveis pela sua volta.
Dessa vez, os aplausos foram mais fortes e prolongados. Os ouvintes estavam deliciados em ver Cassandra de volta em segurança junto do pai. Mas eles sabiam que o principal motivo da festa era recompensar os três companheiros que a tinham trazido.
— Primeiro — Duncan falou —, peço ao arqueiro Halt que se aproxime.
Houve um murmúrio de interesse na multidão quando a figura franzina, desta vez sem o anonimato de sua capa cinza-esverdeada, parou diante do rei. Várias pessoas do fundo se levantaram para enxergar melhor. A reputação de Halt era conhecida em todo o reino, mas poucos dos presentes já o tinham visto em carne e osso. Em parte, isso se devia à predileção do arqueiro pela discrição. Agora havia muitas expressões de surpresa diante do pequeno tamanho do arqueiro. A maioria dos presentes tinha formado uma imagem mental de um herói de corpo robusto e quase 2 metros de altura carregando um arco longo.
Naquele momento, ele curvou a cabeça para o rei. Não pela primeira vez, Duncan se viu analisando o corte irregular do cabelo do arqueiro. Era óbvio que ele tinha sido aparado recentemente em honra ao evento no Castelo Araluen, mas Duncan não conseguiu evitar um sorriso. Halt tinha estado no castelo durante mais de um mês, cercado por criados, camareiros e, acima de tudo, barbeiros habilidosos. No entanto, pelo que parecia, ele ainda preferia cortar o próprio cabelo com sua faca de caça. Duncan se deu conta de que a multidão estava esperando enquanto ele observava os esforços de Halt como cabeleireiro. Ele recompôs o pensamento e continuou.
— Halt já afirmou que sua volta às fileiras do Corpo de Arqueiros é recompensa suficiente — Duncan disse e, mais uma vez, houve murmúrios de surpresa.
— Como em muitas ocasiões antes desta, estou em dívida com um dos meus mais leais servidores e concordo com seus desejos sobre essa questão. Halt, eu lhe devo mais do que qualquer rei jamais deveu a um homem. Nunca vou esquecer o que você tem feito.
Nesse momento, Halt inclinou a cabeça mais uma vez e voltou para seu lugar, tão depressa e discretamente que a maioria dos presentes não percebeu que ele tinha saído e seus aplausos espantados morreram antes de começar.
— Em seguida — Duncan continuou elevando um pouco a voz para acalmar os murmúrios de conversas que tinham começado —, peço ao aprendiz de guerreiro Horace que se aproxime.
Will deu um tapa nas costas de Horace quando o amigo, com uma expressão apreensiva no rosto, se levantou e foi ficar diante do rei em posição de sentido. A multidão esperou curiosa.
— Horace — Duncan começou sério, mas com um leve sorriso no olhar —, chegou ao nosso conhecimento que você viajou pela Gálica disfarçado de cavaleiro... — ele fingiu consultar uma nota na mesa à sua frente e então acrescentou: — O Chevalier de Feuille du Chène, o Cavaleiro da Folha de Carvalho.
Horace engoliu em seco nervoso. Ele sabia que suas aventuras tinham sido contadas, mas esperava que o mundo oficial fechasse os olhos para o fato de que ele não tinha o direito de se fazer passar por cavaleiro.
— Majestade, sinto muito... Eu achei necessário na época que...
Ele se deu conta de que Duncan o olhava com calma, uma sobrancelha levantada, e então lhe ocorreu que tinha cometido uma grave quebra de protocolo ao interromper o rei. Tarde demais, ele parou e ficou em posição de sentido outra vez quando o rei recomeçou.
— Tenho certeza de que você sabe que é extremamente irregular que um aprendiz exiba uma insígnia ou se faça passar por cavaleiro, de modo que agora é necessário retificar essa irregularidade.
Ele fez uma pausa.
Horace estava prestes a dizer "Sim, senhor", quando percebeu que estaria interrompendo novamente e se calou.
— Conversei com o barão, com seu chefe de guerra e com o arqueiro Halt — Duncan continuou — e todos concordamos que o melhor é regularizar a situação.
Horace não tinha certeza do que isso queria dizer, mas não parecia bom. Duncan fez um sinal, e Horace ouviu passos pesados se aproximando por trás. Olhou para o lado e viu o chefe de Guerra Rodney parar ao seu lado segurando uma espada e um escudo. Atordoado, Horace viu o emblema no escudo: uma folha de carvalho verde num campo branco. Admirado, ele acompanhou Duncan descer do estrado, pegar a espada e tocar seu ombro de leve com ela.
— Ajoelhe-se — Rodney sussurrou com o canto da boca, Horace obedeceu e ouviu as próximas palavras como se fossem sinos em seus ouvidos.
— Levante-se, sir Horace, Cavaleiro da Folha de Carvalho e integrante da Guarda Real de Araluen.
Um grande tumulto se formou entre a multidão. Praticamente nunca se tinha ouvido falar de um aprendiz ser nomeado cavaleiro no segundo ano e ser indicado como oficial da Guarda Real, a força de elite que defendia o Castelo Araluen. Os nobres e suas esposas deliraram encantados.
— Levante-se - Rodney sussurrou novamente e devagar, com um enorme sorriso espalhado no rosto, Horace se ergueu e apanhou a espada da mão do rei.
— Muito bem, Horace — o rei disse em voz baixa. — Você mais do que mereceu.
Então ele apertou a mão de seu mais novo cavaleiro e mostrou que o rapaz poderia voltar ao seu lugar. Horace obedeceu mal enxergando os rostos ao seu redor. Ele viu apenas um sorriso enorme e deliciado no rosto de Will quando o amigo o cumprimentou com um soco nas costas, em seguida, a multidão se acalmou e desta vez os dois garotos ouviram a voz do rei.
— Aprendiz de arqueiro Will, aproxime-se.
Embora soubesse que algo parecido pudesse acontecer, Will foi pego desprevenido. Ele se levantou apressado, tropeçou e finalmente recuperou o equilíbrio para se postar diante do rei,
— Will, o Corpo de Arqueiros tem modo de agir e regulamentos próprios. Falei com seu mentor Halt e com o comandante da corporação e infelizmente está além de meu poder rescindir seu período de treinamento e declará-lo um arqueiro totalmente qualificado. Halt e Crowley insistem em que você complete o período total de treinamento e avaliação.
Nervoso, Will engoliu em seco e assentiu. Ele sabia disso. Ainda havia muito a aprender e muitas técnicas que devia desenvolver. O talento natural de Horace era suficiente para que o rei o dispensasse do treinamento. Mas Will sabia que esse nunca seria o caso para ele.
— Entretanto — Duncan continuou — posso oferecer uma alternativa. Está em meu poder apontá-lo como tenente dos Patrulheiros Reais. Os seus mestres concordaram que você está totalmente qualificado para essa tarefa e vão liberá-lo do aprendizado, se desejar.
As pessoas reunidas abafaram uma exclamação de surpresa. Will ficou sem saber o que dizer. Os Patrulheiros Reais eram uma força de elite da cavalaria ligeira cuja responsabilidade era treinar os arqueiros do reino e patrulhar à frente do exército do rei em batalha. Oficiais e recrutas geralmente vinham da classe nobre, e a indicação era equivalente à de cavaleiro.
Ela significava honra, prestígio, posição e reconhecimento, comparados a outros três anos de estudos e aplicação pesados como aprendiz.
E, mesmo assim...
No fundo do coração, Will sabia que aquilo não era para ele. Era tentador, realmente. Mas pensar na liberdade das florestas verdes, nos dias passados com Puxão, Halt e Abelard, na fascinação de aprender e aperfeiçoar novas habilidades e no estímulo de sempre estar no centro dos acontecimentos... Aquela era a vida de um arqueiro e, quando a comparou ao protocolo e à etiqueta, à formalidade e às restrições impostas pela vida no Castelo Araluen, ele soube, pela segunda vez no intervalo de alguns anos, o que realmente queria.
Will se virou para ver se Halt sinalizava com algum conselho, mas seu mestre estava sentado, o olhar pousado na mesa, assim como Crowley, alguns lugares adiante. Então, com a voz parecendo artificialmente alta no silêncio em expectativa do aposento, ele respondeu:
— É uma grande honra, majestade. Mas meu desejo é continuar meu treinamento como aprendiz.
Um burburinho de surpresa se ergueu a um ponto fervilhante no salão. Os arqueiros eram, como todos concordavam, diferentes. E a maioria das pessoas presentes simplesmente não conseguia entender a escolha de Will. Duncan, porém, compreendeu. Ele agarrou o ombro de Will e falou somente para ele.
— Isso vale muito, Will, acho que você fez uma escolha sensata. E, para somente você ouvir, os seus mestres de ofício me disseram que acreditam que no futuro você será um dos melhores arqueiros que já tivemos.
Will arregalou os olhos. Para ele, saber disso era recompensa suficiente. Ele sacudiu a cabeça.
— Não tão bom quanto Halt, não é mesmo, majestade?
— Duvido que alguém possa ser tão bom quanto ele, não concorda? — o rei retrucou sorrindo.
E, com a mão ainda no ombro do garoto, ele o virou na direção em que Crowley e Halt estavam sorrindo calorosamente para ele, abrindo espaço entre eles. O aplauso que se seguiu quando Will se sentou foi educado, mas um pouco confuso. Afinal, ninguém podia realmente entender os arqueiros.
Duncan sentiu uma leve pontada de tristeza no coração quando se virou paia o lugar em que a filha estava sentada. Seus lábios já estavam formando as palavras, "Eu tentei", mas, quando ele olhou, Cassandra linha deixado o aposento.
Dois dias depois, Will e Halt partiram do Castelo Araluen a cavalo e se dirigiram para a cabana perto do Castelo Redmont. De tempos em tempos, Halt olhava com carinho para o jovem amigo. Ele sabia que Will tinha tomado uma decisão importante e que sua mente estava confusa. Ele suspeitava que isso tinha algo a ver com a princesa. Desde o banquete, Will tinha tentado vê-la várias vezes para explicar sua decisão. Mas ela não o recebeu.
Halt sentiu que Will queria ficar só com seus pensamentos ao cavalgarem para o sudoeste, e ele o deixou tranquilo, mas decidiu mergulhar o garoto num regime de incessante trabalho e treinamento duro que não lhe daria tempo para refletir sobre o coração partido.
Atrás dos viajantes, duas figuras num terraço do imenso castelo estavam observando, praticamente invisíveis por causa das torres e contrafortes. Evanlyn levantou a mão num gesto de despedida e Horace pôs um braço reconfortante ao redor dos ombros dela.
— Ele é um arqueiro — disse o cavaleiro recém-nomeado solidário. — E pessoas como nós nunca poderemos entender os arqueiros. Eles ocultam uma parte de si das outras pessoas.
Incapaz de falar, a garota concordou. A névoa da manhã que envolvia os cavaleiros pareceu ficar mais densa por um momento, então ela piscou rapidamente e se deu conta de que eram lágrimas que turvavam sua vista. Enquanto observavam, o sol finalmente atravessou as nuvens e cobriu o Castelo Araluen com uma luz pálida e dourada.
Mas Will estava cavalgando para o sul e não percebeu.
John Fkanagan
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