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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


FROM LONDON WITH LOVE /Bec Mcmaster
FROM LONDON WITH LOVE /Bec Mcmaster

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Com Londres finalmente em paz, resta apenas uma ameaça para a estabilidade da monarquia... A rainha está sem herdeiro.
A rainha Alexandra acabou com o casamento, mas, como sempre, o duque de Malloryn tem um plano. Com Malloryn insistindo em um herdeiro para o reino, Alexandra relutantemente concorda em aceitar um marido. Mas quem? Com os solteiros mais cobiçados da Europa em Londres para assistir à sua exposição, ela sente falta do único homem que nunca a traiu. O único homem que ela deseja. E o único homem que ela não pode ter.
O dever de uma rainha nunca termina.
Os sentimentos de Alexandra por seu amigo mais querido, Sir Gideon, sempre foram calorosos, mas um beijo roubado empurrou uma amizade para águas perigosas. Como ela pode explicar que nunca conheceu o desejo antes? Como ela pode ficar no mesmo cômodo que Gideon, sem trair seus sentimentos? E como ela pode se casar com outra pessoa?
Mas há um assassino à solta, e embora ela possa estar em conflito com Sir Gideon, ele é o único homem que pode salvar seu coração ferido - e o futuro do reino. Príncipes estrangeiros e duques intrometidos, condenados.

 

 

 

 

Capitulo 1


A rainha não achou graça.

Na verdade, o duque de Malloryn estava contando com isso.

— O que você quer dizer com 'precisamos discutir planos de sucessão'? — Ela repetiu, com uma voz muito clara e precisa que poderia ter feito outros tremerem.

Malloryn recostou-se na cadeira, sentindo o peso de sete pares de olhos pousando sobre ele. O Conselho dos Duques se reuniu para discutir a reconstrução do parlamento após o bombardeio da Torre de Marfim, e ele conseguiu incluir este pequeno item da agenda no último momento.

Dificilmente não foi planejado.

— Exatamente isso, Majestade —, disse ele. — Você não tem um herdeiro legítimo, e Lorde Balfour esteve terrivelmente perto de matá-la seis meses atrás...

— Ele falhou. — Ela retrucou.

— Você não é invencível, Sua Majestade. — Ele teve um vislumbre de vários dos outros conselheiros trocando olhares - mais notavelmente a Duquesa de Casavian e seu marido, Lorde Barrons. Eles seriam dois dos mais importantes para convencer. Mina era a amiga mais querida da rainha - e sua defensora mais ruidosa - e se ele não tivesse seu voto, então a rainha poderia escapar de sua última manobra. — Nós passamos os últimos 12 anos ou mais tentando derrubar um tirano. Conseguimos, mas eliminar o último de seus apoiadores deu trabalho. Pela primeira vez em... Deus, mais de um século, Londres tem paz, mas ela foi recentemente forjada e você é a figura de proa dessa paz. Se algo acontecer com você, então será guerra novamente. Estou cansado de guerra. Quero tirar umas fodidas férias com minha esposa sem que o palácio pegue fogo. E por mais que nenhum de nós queira discutir o impensável, a verdade permanece: você não tem herdeiro.

Apenas vários primos bastardos que disputariam a coroa como um bando de pegas ensanguentadas.

— E já que você não tem nenhuma intenção de se casar e ter um, algo deve ser feito. Você deve nomear um de seus primos como seu herdeiro.

— Meus primos são ilegítimos —, ela respondeu com os dentes cerrados. — E a condessa de Drewsbury fez um grande esforço para produzir uma certidão de casamento forjada entre seus avós em uma tentativa de se colocar no meu trono há tantos anos. Vou queimar o maldito trono antes de deixá-la sentar nele.

Ele se inclinou para frente, tentando não sorrir agora que ela mordeu a isca. — Você tem outros primos.

— Eugene? — A voz da rainha se elevou. — Ele é um idiota. E sua irmã, Imogen, seria a única puxando seus cordões.

— Embora possamos concordar com o primeiro, — ele apontou. — eu duvido que a Princesa Imogen seja a única no comando.

Os olhos da rainha Alexandra se estreitaram. — Uma regência, Malloryn? Já tivemos uma dessas e acabou mal.

— Eugene é sua melhor opção. Se algo acontecesse, ele seria declarado não composto e um regente nomeado.

— Imogen nunca permitiria.

Ele simplesmente cruzou as palmas das mãos sobre o meio e arqueou uma sobrancelha. — Acidentes acontecem, Majestade.

— Você não vai matar minha prima, não importa o quão gananciosa ela seja, — a rainha disse, levantando-se e batendo as duas mãos na mesa. — E você não vai sentar aquele idiota no meu trono.

Excelente. Seus cílios cobriram os olhos. — Você não vai se casar. Você não fornecerá um herdeiro. Você não vai nomear um herdeiro. O que devemos fazer, Alexandra?

Os lábios da rainha se apertaram com firmeza. Ela era tão teimosa, e embora ele pudesse entender sua aversão ao casamento, o reino não tinha o luxo disso.

— Entendo, — ela disse friamente. — Toda essa conversa de herdeiros. De Eugene. De Imogen. Isso tudo remonta a me casar, não é? — Então ela riu. — Você quer que eu me case, e se o cabresto não funcionar, então o aguilhão pode. Não posso acreditar que realmente pensei que você estava pensando seriamente que meu primo poderia ser um rei em potencial. — Ela apunhalou o dedo no ar. — Não pense que você pode me enganar. Eu sei exatamente o que você está fazendo, Malloryn.

Ele permitiu um leve sorriso. Eu duvido bastante.

A ajuda veio de uma fonte inesperada. — Por mais que você não goste da ideia, Alexandra, — Mina, a duquesa de Casavian, murmurou. — Malloryn fala a verdade. Houve várias tentativas de assassinato contra você só no ano passado. Podemos envolvê-la em uma armadura, podemos protegê-la dia e noite, podemos fazer tudo o que pudermos para protegê-la, mas tudo o que precisamos é uma bala perdida e a Inglaterra enfrentará outra guerra civil.

A rainha olhou para sua amiga mais querida com uma expressão horrorizada. — Você quer que eu case?

Mina ergueu os olhos e ficou claro que algo silencioso foi trocado entre elas. — Alguns de nós não podem se dar ao luxo de renunciar a tais alianças —, ela disse suavemente. — Mas desta vez, a escolha será sua. Desta vez, o poder será seu. Desta vez, seu marido só precisa ser um consorte de verdade.

A rainha estremeceu de fúria reprimida ao dar um olhar penetrante na sala. — E o resto de vocês?

Lynch, o duque de Bleight, parecia preocupado. — Já estive nessas ruas e vi a guerra civil de perto. O potencial de voltar àqueles dias é simplesmente um risco muito grande. Devo concordar com Malloryn, Vossa Majestade.

— Eu também. — Disse sua esposa, Rosalind.

Leo Barrons tamborilou com os dedos na mesa, seu olhar se inclinou para sua esposa, embora seu rosto permanecesse impassível. — Neste caso, concordo com minha esposa.

Malloryn voltou-se para os dois membros restantes do conselho.

— Eu não sou do tipo que força uma dama onde ela não quer ir, — Blade respondeu, inclinando a cabeça em direção à rainha. — Então, é um não meu.

— E um não meu também. — Disparou Sir Gideon.

Quatro votos a dois.

A rainha poderia anulá-los se quisesse - o poder era basicamente dela - mas ela raramente, ou nunca, o fazia.

— Podre de você, Malloryn. — A rainha ergueu o queixo com altivez, depois puxou a saia para trás. — Se eu for forçada a tomar outro marido, então que seja. Mas eu serei amaldiçoada se for um de sua escolha. Vou tomar minha decisão até o final do verão. Envie todos os convites que desejar, trote seus pretendentes em potencial, beba e jante seus príncipes estrangeiros, mas a escolha será minha.

— Eu nunca esperaria outra coisa. — Ele concedeu, sentindo o leve estremecimento de vitória por seu corpo.

Foi feito.

E talvez, quando tudo isso acabasse, ela o perdoasse.

Mas agora, ela saiu da sala, seus ombros retos como se ela enfrentasse um pelotão de fuzilamento e seu rosto tão duro como ele já tinha visto.

Malloryn soltou a respiração que estava prendendo. Excelente. O primeiro lançamento do dado havia sido lançado, o jogo agora em andamento. Ele só tinha que manobrar a última pequena peça no lugar.

E na hora certa...

— Você joga um jogo perigoso, Malloryn —, disse Sir Gideon Scott, empurrando a cadeira para trás com um guincho. — Nosso último príncipe consorte não causou danos suficientes para você?

Malloryn educou suas feições e deliberadamente ergueu uma sobrancelha. — Talvez a rainha finalmente encontre a felicidade? Você não deseja isso para ela?

Os olhos de Sir Gideon se estreitaram. — Claro, eu desejo a felicidade de minha rainha. Mas forçá-la a outro casamento, quando ela mal se recuperou da provação de seu último? Parece nada menos que cruel.

— Ah, agora, Sir Gideon, — Malloryn repreendeu. — Nem todos os casamentos são prisões. Alguns são muito alegres.

— Ele acabou de dizer que o casamento é uma alegria? — Barrons brincou com Mina. — Temo que Malloryn possa ter sido inserido com aquele chip de controle da mente que Lorde Balfour estava usando no verão passado. Rápido. Alguém o choque com um atordoador para ver se podemos causar um curto-circuito.

— Se alguém chegar perto de mim com um atordoador, então vou enfiá-lo em seu...

— Isso não é brincadeira. — Sir Gideon ainda parecia corado. — Talvez você deva cuidar dela. — Sir Gideon sugeriu à Duquesa de Casavian, sua voz suavizando um pouco.

Mina estremeceu.

— Eu deveria —, disse ela. — embora ela possa não receber bem a minha presença ainda, depois que votei contra sua vontade. — A sobrancelha da duquesa franziu em miséria. — Talvez fosse melhor se você fosse atrás dela, Sir Gideon? Você foi o único a votar não.

— Blade também...

— Acho que ela não quer ver minha caneca lamentável, — Blade disse sem rodeios. — Eu não ando muito pelo palácio. Você é amigo, não é?

Sir Gideon olhou para a porta e lançou a Malloryn um último olhar sombrio. — Ela não vai te perdoar por isso.

Malloryn apenas deu de ombros. — Eu acho que ela vai.

A porta se fechou atrás de Sir Gideon.

O silêncio reinou nas câmaras do conselho, e Malloryn deliberadamente recusou-se a encontrar os olhos de outra pessoa.

— Você está jogando jogos perigosos, — Blade disse, colocando-se de pé. — Tem certeza que vai acabar bem para você?

Malloryn apenas sorriu. — Acho que serei perdoado quando tudo estiver dito e feito. Eles só precisam... de um empurrãozinho.

 


— Sua Majestade.

A rainha parou no corredor, fechando os olhos brevemente contra a pontada de dor que iluminou seu peito. Apenas um único momento de tristeza antes de ela reassumir o manto do trono. Limpando seu rosto de expressão, ela se virou para enfrentar seu algoz.

— Sir Gideon. — Respondeu ela.

Ele caminhou em direção a ela, seu rosto severo. — Eu sinto muito. Tentei.

— Está tudo bem, — Ela murmurou quando ele parou a um metro e meio dela. — Você é apenas uma voz. E Malloryn está claramente seguindo uma agenda, se ele tiver o resto deles em seu bolso.

— Além de Blade.

— Sir Henry vota como deseja. — Murmurou Alexandra. Essa era uma das razões pelas quais ela gostava de tê-lo no conselho. Era, como diria Sir Henry, como colocar o gato entre os pombos.

Ou alguma versão gramaticalmente abatida dessa frase.

O silêncio caiu sobre os dois como uma mortalha.

Ela odiava esses silêncios prolongados e repentinos.

Uma vez, eles podem ter compartilhado um certo período de quietude, simplesmente apreciando o prazer da companhia um do outro, mas desde sua estada na mansão de Sir Gideon, seis meses atrás, o silêncio parecia repleto de todas as memórias que eles não ousavam falar.

— Eu acho que...

— Você pode anulá-los...

Ambos se encararam.

Sir Gideon tentou novamente. — Você é a rainha. Você é a única que pode anular uma votação do conselho. Se você não deseja se casar, essa opção é inteiramente sua.

Alexandra se virou para a janela, olhando para os vastos jardins do Palácio de Kensington. — Eu poderia, — ela admitiu suavemente. No segundo em que votaram, foi o que todos os seus instintos a incitaram a fazer. Jogue o voto de volta na cara presunçosa de Malloryn e deixe-o engasgar com ele. Mas ela era a rainha. Ela era a Inglaterra, droga. E enquanto o coração da mulher que batia em seu peito queria bater em algo, a parte dela que era uma rainha tinha que olhar para a proposição de todos os ângulos. — Mas Malloryn tem razão.

A Inglaterra merecia algo melhor do que a atual instabilidade do reino, sem nenhum herdeiro nomeado e um punhado de primos ilegítimos e nobres sedentos de poder esperando em segundo plano para reivindicar uma reivindicação. Seu reino tinha sofrido muito mais do que ela jamais sofreu, e ela devia a seu povo um futuro estável e seguro.

Não haveria mais guerras civis. Chega de brutalidade e incerteza.

Se ela realmente quisesse forjar o futuro que desejava para seu povo, então teria que engolir mais uma indignidade.

— Malloryn vai afogar você em potenciais pretendentes. — Alertou.

Ela bufou. — Não pense que ele é um tolo. Malloryn já escolheu meu futuro marido, aposto minha vida nisso. Ele não joga a menos que tenha uma certa mão.

Os lábios de Sir Gideon se estreitaram. — Um príncipe estrangeiro, sem dúvida.

— Sem dúvida.

Fazia sentido forjar laços fortes com outro país, mas ela odiava a maneira como ele podia falar sobre isso com tanta compostura.

— Então, desejo-lhe boa sorte —, murmurou Sir Gideon. — Espero que ele seja alguém com quem você possa estabelecer uma amizade, no mínimo.

A rainha concordou.

Mas a mulher dentro dela queria atacar.

Isso é tudo que você tem a me dizer? Boa sorte?

Você não pode estar um pouco zangado com tudo isso? Ou... com ciúmes?

Mas esse não era o jeito de Sir Gideon.

Principalmente depois do incidente em Haver Hall.

Aqueles lábios encontraram os dela ardentemente no labirinto de coníferas de seus jardins. Se ela pressionasse as pontas dos dedos contra a boca, ela pensava que ainda poderia sentir o formigamento.

Foi um momento de loucura - para os dois. O bom senso dando lugar ao desejo, todos os anseios não confessados de seu coração derramando-se dela como uma torrente de necessidade. E seu toque, Deus, seu toque... Tão gentil, tão reverente... Até que a paixão levou os dois para longe, e Sir Gideon a empurrou contra a parede de pedra da loucura, prendendo seus pulsos ali.

Instantaneamente, o desejo desapareceu.

Aquele momento a levou de volta ao passado, e de repente não era a boca de Sir Gideon na dela, mas a memória contaminada dos lábios de peixe morto de seu marido - pegando, consumindo, exigindo.

Ela lutou para se libertar e foi só então que percebeu que estava no jardim de Sir Gideon, com o próprio homem - ao invés de escravizada por um fantasma.

Sir Gideon ficou horrorizado e desculpou-se profusamente. E o momento de loucura havia terminado, deixando os dois nesta dança sem fim de polidez e silêncios indiferentes.

— Amizade, — ela sussurrou. Uma vez, ela poderia ter desejado mais, mas ela não era mais aquela jovem princesa tola. — Sim. Espero poder encontrar amizade, pelo menos.

Sir Gideon baixou a cabeça escura. — Vou me despedir então, Majestade. Eu só vim para garantir que você não estivesse chateada.

— Obrigada.

— De nada. — Ele pareceu hesitar, como se houvesse algo mais que desejasse dizer, mas então o momento se perdeu.

E ele estava se afastando dela, seus ombros largos retos e a ponta de seu cabelo escuro caindo em sua gola, sempre um centímetro precisando de um corte. Seus dedos pareciam coçar constantemente para acariciá-lo.

Mas ela era a rainha.

Ela não podia se dar ao luxo de ser uma mulher, especialmente uma que ansiava, não importa o quanto ela desejasse.

— Maldito seja, Malloryn —, ela sussurrou. — Maldito seja.


Capitulo 2


Isso foi um assunto intrincadamente tramado.

Deveria ter sido. O duque de Malloryn havia organizado tudo.

O primeiro baile que Malloryn estava carinhosamente chamando de “a caça ao marido” começou com uma quadrilha. Dignitários e príncipes estrangeiros abundavam. As dragonas brilhavam. Vinho de sangue derramava-se em taças elegantes. E por tudo isso, a rainha reinou com um sorriso no rosto que nunca tocou seus olhos.

— Ela está odiando cada minuto. — Disse uma voz suave ao seu lado.

— Ela está cumprindo seu dever. — Respondeu ele.

O cabelo dourado de sua esposa brilhava sob a luz de uma dúzia de lustres enquanto Adele colocava as mãos enluvadas na varanda e examinava o salão de baile. — Como você fez uma vez, quando você se casou comigo. Esperançosamente, isso termina da mesma maneira - com a rainha desesperadamente apaixonada por seu marido. E o favor retribuído pelo noivo.

— Desesperadamente? Isso é um pouco gauche, não é? — ele brincou. — Eu sou um duque. Eu não faço nada 'desesperadamente'.

— Considerando que eu tinha você de joelhos nos escombros da Torre de Marfim, meu amor — Adele ergueu uma sobrancelha altiva. — 'desesperadamente' é o termo preciso que eu usaria.

— Ah. — Ele não pôde reprimir um sorriso. — E quantas vezes você vai me lembrar dessa proposta? Tive um momento de fraqueza - provocado pela emoção de finalmente frustrar minha nêmesis, sem dúvida - e você jogou isso na minha cara desde então.

— Todos os dias, — ela prometeu. — Para o resto da minha vida.

Malloryn acariciou com o dedo e o polegar um cacho dourado que caiu sobre seu ombro, girando-o preguiçosamente em torno de seu dedo. Ele tinha visto os casamentos de seus companheiros e uma vez pensado que eram uma combinação de físico-química conspirando para atrair os inocentes para sua ruína. Ele mesmo tinha sucumbido a tal loucura, embora não tivesse percebido que a afeição tinha tanto peso quanto a luxúria em colocar um homem de joelhos. Cada dia com Adele ao seu lado trazia novas revelações - incluindo o fato de que ele nunca pensou em gostar tanto de provocá-la.

— Eu acho que você gosta de me ver ajoelhado como penitente diante de você.

Adele virou o rosto, mordendo o dedo com um desafio nos olhos. — Se você for um bom marido e me prometer uma valsa esta noite, posso retribuir o favor.

Seu dedo parou. Jesus. — Então eu prometo a você todas as minhas valsas esta noite.

— Só uma, Malloryn — disse ela com um sorriso travesso enquanto soltava o dedo dele de seu cabelo e girava para longe. — Talvez você deva oferecer à rainha uma de suas outras. Salve-a de sua miséria.

— Eu não acho que me ver vai despertar qualquer alegria nela. No momento, estou no topo de uma lista de pessoas que ela gostaria de evitar no momento.

— Discordo. — Adele encolheu os ombros, seu olhar deslizando pelo salão para onde um homem alto e taciturno fez uma careta para seu vinho e com muito cuidado não olhava para qualquer lugar na direção da rainha. — Acho que ela pode estar se concentrando em evitar outra pessoa, para ser honesta. Atrevo-me a dizer que você é apenas um mosquito irritante no tornozelo.

— Um mosquito, é? — E pensar que uma vez, príncipes e reis se encolheram quando ele arqueava uma sobrancelha gelada em sua direção. Ele balançou a cabeça enquanto se virava para as escadas. — Às vezes acho que você considera seu principal dever na vida me manter humilde.

A risada cintilante de Adele encheu seus ouvidos enquanto ele descia para o salão de baile.

Levou meio minuto para interceptar a rainha, estendendo a mão. — Posso?

Alexandra arqueou uma sobrancelha, mas aceitou graciosamente, e ele a balançou na valsa. — Satisfeito com você mesmo?

— É o seu baile —, respondeu ele. — Eu acho que você deveria ser agraciada com os parabéns. O vinho de sangue é um excelente vintage, todos parecem estar se divertindo, e certamente você parece não ter falta de parceiros de dança.

— Parece que se espalhou a notícia de que procuro um consorte. Não consigo imaginar como isso aconteceu.

— Nem eu, — ele respondeu suavemente. — Embora eu tenha convidado metade dos solteiros elegíveis da Europa para assistir à exposição, talvez alguns deles sejam meramente ambiciosos e leiam nas entrelinhas.

— Ah —, disse Alexandra com uma pequena torção amarga de seus lábios. — E de qual você se importa, Malloryn? Vejo que temos alguns príncipes de sangue russo, todos com laços com a czarina. Mas você não quer que eu escolha um deles. O Sangue joga por suas próprias regras, e você nunca seria capaz de controlar um deles.

— Verdade, — ele admitiu. — Nem você aceitaria um. Eles estão aqui apenas para manter as aparências. Além disso, tenho algum interesse em negócios com um dos príncipes. É por isso que eles estão aqui.

— Um dos príncipes? — Ela examinou a multidão. — Ivan Feodorovich? Que negócio você poderia ter com ele?

— É pessoal. — Disse Malloryn.

— Malloryn, — ela avisou. — Você não faz nada pessoal.

— Estou apenas amarrando algumas pontas soltas de toda aquela provação na Rússia —, assegurou-lhe ele. Ele sorriu de repente. — E talvez eu precise de um príncipe russo amigável um dia.

— Sempre se intrometendo, Malloryn.

— Sempre. — Ele prometeu.

Ela voltou sua atenção para a multidão. — Então não é um dos russos. Vejo que temos alguns Habsburgos morenos, mas você desaprova seus meios de controlar o verwulfen.

— Eu desaprovo colarinhos em geral.

— E não pode ser um dos candidatos verwulfen - não com o risco de eu contrair o lupinismo e morrer. Portanto, os escandinavos estão fora da lista. E os espanhóis estão aqui apenas para as aparências, com seus laços com o Novo Catalão e a Iluminação. Atrevo-me a dizer que você não gostaria que essas políticas poluíssem Londres. — Ela franziu os lábios. — Hmm. Atrevo-me a dizer que você deseja promover os interesses do sangue azul na esteira da revolução. Muitos humanos no conselho e no trono. Hora de equilibrar as contas. O que me deixa com os candidatos de sangue azul de Londres. Claro. O resto é uma distração. Você está tentando separar de mim o seu candidato ideal.

Ele deu a ela um olhar pensativo. — A escolha é sua, Alexandra. Eu apenas ofereço um buffet para considerar suas opções.

— Se você acha que eu não sei que você já escolheu meu marido, então você me considera uma idiota ou uma rainha que não conhece seu espião mestre bem o suficiente.

Isso provocou uma risada. — Você nunca foi uma tola. — Ele nunca teria sido capaz de ajudá-la e a Duquesa de Casavian a derrubar seu marido se ela fosse. — Devo admitir: Sim, já escolhi o seu marido. — Pegando a mão dela, ele deu um beijo nas costas dela. — Mas eu duvido que você adivinhe quem é.

Os olhos da rainha se estreitaram. — Assim seja, Malloryn. Que os jogos comecem.

E ela entrou na confusão com a cabeça erguida, estudando astutamente a multidão de pretendentes.

Malloryn gesticulou para um dos servos, tomando uma pequena taça de conhaque enquanto observava a rainha rir e aplacar, e procurar seu candidato ideal.

Um ano atrás, ele nunca teria considerado Sir Gideon.

O homem era humilde e honesto e assustadoramente humano, com uma agenda humana em primeiro lugar. Ele também era a escolha sentimental, e Malloryn nunca se empolgou com sentimento.

Até recentemente.

Adele havia mostrado a ele o erro de seus caminhos.

A rainha merecia ser feliz. Ela merecia um marido que a estimasse e a ajudasse a conduzir a monarquia a um futuro seguro para os humanos, verwulfen e sangues azuis. E Sir Gideon poderia ser argumentado.

E então, chamando a atenção de Sir Gideon Scott, que observava os procedimentos com um olhar mal disfarçado de irritação no rosto, ele ergueu a taça como se estivesse comemorando mutuamente.

 


Duques. Príncipes. Barões. Condes.

Alexandra estava começando a perder o controle de todos eles. Suas bochechas doíam de tanto sorrir e sua cabeça girava com o fedor de perfume e colônia. Ela circulou o salão de baile nos braços de um príncipe russo, desejando estar em outro lugar.

A escolha do parceiro de dança também não combinava com ela.

O príncipe Ivan Feodorovich era muito alto e fisicamente imponente. Ele a segurava como se ela fosse um prêmio a ser reclamado, e embora ele fosse perfeitamente educado, sua pele fria a enervava.

Ele a lembrava um pouco de seu ex-marido com o brilho de águia em seus olhos e a masculinidade esmagadora que exalava dele. Embora seu sorriso fosse mais caloroso, ela ainda assim se sentia perseguida.

Ela não conseguia respirar.

Seu espartilho... pressionando mais forte. Tirando todo o fôlego de seus pulmões.

— Você está bem? — Ele exigiu com seu forte sotaque, sua mão apertando sua cintura. — Você parece sem fôlego. Você deseja ar fresco?

Não com você.

Mas era a oportunidade perfeita. Alexandra desculpou-se e saiu discretamente do salão, com a pele arrepiada. Ela fez seu caminho em direção a seus aposentos privados em uma rajada de seda, mal ciente do guarda de gelo e servo que a seguia.

Uma vez dentro da sala de estar, Alexandra pressionou as costas contra a porta, fechando os olhos e respirando lentamente. Isso era ridículo. O homem mal a tocou, quase não olhou para ela, mas ela sentiu uma pontada de nervosismo dentro dela como uma doença repentina.

Era porque ele era atraente.

Exigente.

Fisicamente imponente.

E pior, um sangue azul.

Ela era a rainha da Inglaterra. Nenhum homem poderia controlá-la nunca mais.

Mas não importa quantas vezes ela dissesse a si mesma, não foi ainda um salto de nervos.

Como ela iria fazer isso? Como ela iria deixar outro homem entrar em sua cama, quando ela mal podia suportar ser tocada?

O único homem com quem ela se sentia confortável era Sir Gideon, e mesmo assim ela teve... um momento. E ela havia sido beijada uma vez pelo duque de Goethe, antes que seu marido o assassinasse. Foi bom, embora para ser perfeitamente honesta, ela se apaixonou pelos encantos silenciosos de Manderlay e seu dom de poesia, em vez de ser influenciada fisicamente. E o beijo foi tão superficial, não a ameaçou.

Mas ela confiava em Sir Gideon. Ele não parecia ameaçador e, de fato, ela queria que ele a beijasse, uma vez.

Ela ainda queria que ele a beijasse, embora duvidasse que ele tivesse chance de tal encontro novamente depois que ela fugiu dele pela última vez.

Na verdade, ele era possivelmente o único homem conhecido com quem ela poderia considerar... mentir.

Uma ideia ocorreu.

Era ridícula. Absurda.

Mas e se funcionasse?

Alexandra congelou. E se tudo que ela precisasse fosse uma exposição frequente com alguém em quem confiava? E se ela pudesse derrotar isso... esse medo dentro dela?

— Nem pense nisso. — Ela sussurrou na quietude de seus aposentos.

E, no entanto, a ideia de Sir Gideon beijá-la novamente era quase seu próprio tipo de isca.

E você é a rainha.

 


Ava estremeceu quando o transmissor de frequência guinchou. Gemma devia estar muito perto da orquestra.

Ela rapidamente girou o botão do dispositivo de comunicação de Gemma para baixo e examinou as frequências dos outros Renegados. Tudo estava bem.

A porta atrás dela se abriu.

— Sinto muito, este lugar está ocupado. — Ava olhou para trás, então abruptamente se endireitou e fez uma reverência. — Sua Majestade. Me desculpe. Eu não tinha ideia que era você. Me perdoe.

Ela havia assumido uma das antecâmaras da rainha durante a noite, com a bênção de Malloryn.

A rainha sorriu. — Perdoada, Srta. McLaren. O que você está fazendo fora da cama?

Ava relaxou. — Oh, eu me ofereci. Alguém tem que manter todos na linha. — Ela brincou, apontando para o transmissor. E não era como se ela fosse dormir muito, com a dor incessante em seus quadris.

— Eu acredito que você está bem? — O rosto da rainha se suavizou quando ela olhou para baixo, embora seus olhos tivessem a mancha de tristeza.

Ava deveria estar em confinamento. Nenhuma quantidade de babados no mundo poderia esconder o volume de sua barriga, onde o bebê de Kincaid chutava de manhã e à noite. Mas Herbert era a única outra pessoa que sabia como operar a mesa telefônica e, no momento, estava passando um fim de semana em Bath com a esposa.

— Toleravelmente bem, Sua Majestade.

— Malloryn não está trabalhando muito com você?

— Oh não —, ela se apressou em tranquilizar sua rainha. — Ele queria que eu descansasse, mas não há descanso, infelizmente. Posso muito bem manter meu corpo e minha mente ocupados.

— Oh, eu me lembro daqueles dias. — A rainha murmurou, uma mão descansando em sua barriga lisa.

Ava enrijeceu. Ah não. Ela tinha esquecido completamente. O único filho da rainha nascera morto. Foi a pior coisa que ela poderia imaginar. — Eu sinto muito...

— Não sinta. — Não havia emoção nos olhos da rainha, embora seus lábios se curvassem em um sorriso apaziguador. — A memória de Edward deve sempre ser mantida viva.

A estranheza caiu sobre as duas, no entanto, e Ava não pôde evitar colocar uma mão sobre seu abdômen inchado. Ela tinha xingado a maneira como o bebê chutou a noite toda, mas ela nunca iria tomar tais gestos como garantidos novamente.

Mas o que ela deveria dizer?

— Eu deveria voltar para o baile, — a rainha murmurou, como se sentisse a angústia de Ava. — Malloryn deve estar se perguntando onde estou.

— Espero que você encontre alguém! — Ava gritou enquanto Sua Majestade se virava para a porta. — Espero que ele te faça feliz.

A rainha olhou por cima do ombro. — Você é muito gentil.

Através da porta, Ava ouviu o zumbido de um drone servo sentindo movimento e rolando em direção à rainha.

Aceitando uma taça de cordial da bandeja do drone, a rainha passou zunindo, dirigindo-se ao salão em uma nuvem de perfume, cordial e algo mais, algo amargo...

A cabeça de Ava virou infalivelmente.

Esse cheiro...

O cheiro de lilases e óleos era quase opressor, mas seu olfato estava mais forte agora que ela estava grávida - como todos os cheiros pareciam estar - e ela saberia disso em qualquer lugar.

Ava se arrastou em direção ao drone, pegando a segunda taça de champanhe e cheirando.

Amêndoas amargas. Cianeto. Uma dose impressionante disso.

O cordial!

As portas se fecharam atrás da rainha, e Ava se lançou atrás dela, atrapalhada por suas saias e seu corpo. Ela empurrou as portas abertas, mas a rainha estava desaparecendo em direção à segunda galeria. Dois guardas estavam lado a lado no próximo conjunto de portas, mas foi a morena elegante andando na frente de uma pintura que chamou sua atenção. Gemma havia sido designada como guarda para a noite.

— Gemma! — Ela gritou, encontrando os olhos de sua amiga do outro lado. — O cordial!

O sorriso de Gemma sumiu em um instante. Seu olhar rastreou o de Ava, e ela saltou em direção à rainha.

Mesmo enquanto Ava assistia, a rainha riu de algo que um guarda disse e levou a taça aos lábios.

Não havia nada que ela pudesse fazer, nada que ela pudesse dizer...

E então Gemma se chocou contra a rainha, fazendo o vidro voar e as duas tombarem.

Instantaneamente, um grito subiu. Os guardas enxamearam do nada, engolindo as duas inteiras.

— Que diabos está acontecendo aqui? — O capitão dos guardas exigiu, enquanto vários Guardas de Gelo puxavam Gemma da rainha.

Ava finalmente lutou para abrir caminho. — O cordial cheira a cianeto!

O capitão ajudou a rainha a se levantar e alguém lhe entregou a coroa, que havia voado. A rainha lançou a Gemma um olhar pálido - e Ava não pôde evitar se lembrar de quanto tempo Sua Majestade levou para perdoar Gemma por tentar matá-la quando ela recebeu o implante do chip de controle mental.

— É o cordial —, ela implorou à rainha. — Eu senti o cheiro quando você passou por mim. Acho que está envenenado.

Malloryn apareceu do nada, colocando Gemma sob um braço e dando a Ava um breve aceno de cabeça para recuar. — Eu cuido disso, — ele disse aos guardas que esperavam, inspecionando visivelmente a rainha. — Você bebeu alguma coisa?

A rainha parecia chocada. — Um gole, talvez.

— Acho que você deveria se aposentar. — Enfatizou.

A rainha acenou com a cabeça e Malloryn gesticulou para que o capitão dos guardas a acompanhasse até seus aposentos privados.

— Ava. — Disse ele.

— Vou reunir as evidências. — Respondeu ela, tirando uma pequena bolsa de couro de um dos bolsos de seu vestido e retirando um frasco de amostra.

Ela encontrou pouco do cordial para testar, mas quando levou os dedos úmidos ao nariz para cheirá-lo, percebeu que estava certa.

Alguém envenenou o cordial da rainha.


Capitulo 3


— Que diabos você quer dizer com ela foi envenenada? — Sir Gideon exigiu, abrindo caminho através das portas para as antecâmaras da rainha, apesar do mecanicista corpulento de plantão do lado de fora.

Malloryn capturou seu antebraço, mas Gideon não aceitou.

Agarrando o duque pelo colarinho, ele o empurrou contra a parede, procurando por Alexandra. — Onde ela está, maldito? O que aconteceu? Você chamou o médico ou o...?

— Sir Gideon. É o bastante.

Alexandra. Lá. Sua respiração se aliviou em seu peito quando a rainha se levantou da cadeira perto da janela. A luz da lua pintava uma flor de lis prateada nos padrões de seu vestido, mas ela parecia inteira e vigorosa, e tão bem como ele nunca a tinha visto.

— Você não foi envenenada? — Ele engasgou.

— Evidentemente. — Malloryn arrancou os punhos cerrados de Gideon de seu colarinho. — Você tem sorte de eu gostar de você. Essa gravata demorou meia hora para dar nó.

Droga. Ele deixou o bastardo ir, esfregando sua boca. Malloryn poderia ter lhe dado os dentes, e os dois sabiam disso. — Você tem sorte de eu confiar em você a saúde contínua da rainha.

Malloryn arqueou uma sobrancelha fria. — Eu não sabia que a saúde da rainha era de sua preocupação.

— Claro, é da minha preocupação. — Ele respondeu, embora o calor percorresse suas bochechas. As palavras estavam perigosamente próximas da verdade que ele tentava esconder cada vez que olhava para ela. — É uma preocupação de todo o conselho. Toda Londres.

— E, no entanto, nenhum deles está invadindo seus aposentos privados como um touro ao ver um pano vermelho.

— Já chega — Alexandra repetiu. — Os dois de vocês. — Sua voz se suavizou. — Gideon, estou bem. Felizmente, uma das agentes de Malloryn cheirou o cianeto no cordial, e outra delas o arrancou da minha mão antes que eu pudesse beber muito.

Ele não pôde deixar de cruzar em direção a ela, embora ele parasse na beira do tapete. Um decente um metro e meio de distância. — Nós sabemos quem foi?

— Não, — ela murmurou. — Os agentes de Malloryn estão tentando nos encontrar algumas respostas. Pode ser qualquer um. Há tantos dignitários estrangeiros aqui que qualquer um poderia ter aproveitado a chance.

— Isso faz pouco sentido. Metade deles está aqui para... para conhecê-la. — Ele não conseguia dizer as palavras. — Quem gostaria que você morresse?

Antes de um casamento em potencial?

— Alguém que gostaria de ver a Inglaterra lançada no caos —, disse ela. — Os franceses, talvez? Um membro indisciplinado de uma das partes estrangeiras? Alguém com rancor de um pretendente em potencial? Alguém do Escalão que ainda não me perdoou por mudar a natureza de Londres?

— Temos um suspeito?

— Todos no castelo, — Malloryn respondeu. — além de mim e meus agentes, a rainha, um punhado de guardas sob controle e você. Quem te disse que ela foi envenenada? Tive a impressão de que havíamos conseguido manter isso em segredo.

Gideon voltou a pensar no salão de baile. — A rainha se foi por meia hora. Então o boato começou a circular. Eu ouvi isso de Dama Baumbury.

— Interessante. Especialmente considerando que eu e meus agentes éramos os únicos com esse conhecimento.

Gideon olhou para ele agudamente. — Você acha que alguém escorregou?

— Eu acho que se eu encontrar a fonte desse boato, vou encontrar alguém que sabe algo que não deveria.

O sorriso fino de Malloryn arrepiou o cabelo de sua nuca.

Às vezes, ele se esquecia de como o duque era perigoso. Malloryn exibia um verniz fino de civilidade o tempo todo, mas havia garras e dentes sob o esmalte, e o brilho frio naqueles olhos cinzentos nunca deixava de ser calculista.

— O que você quer que eu faça? — Gideon exigiu.

Malloryn se virou, lançando um olhar rápido para a rainha antes que seus lábios se contraíssem. — Proteja-a. Com a sua vida, se necessário.

— Sempre. — Ele prometeu fervorosamente.

— Tenho certeza de que isso dificilmente será necessário, — Alexandra interrompeu. — Sir Gideon tem seus próprios assuntos para cuidar. E estou cercada por todo um círculo de guardas e servos leais.

Gideon olhou para baixo, os redemoinhos no tapete capturando sua atenção. Ele não podia confiar em si mesmo para olhar para ela neste momento, não sem que Malloryn visse a verdade em seus olhos.

O incidente em Haver Hall pairou entre eles.

Ele a beijou e ela o empurrou, o medo enchendo aqueles olhos escuros. Ele foi longe demais - levou muito mais do que um mero cavalheiro como ele - e ela empurrou de volta, e com razão.

Ele tentou ser o epítome da contenção e educação desde então, mas o fantasma daquele encontro permanecia entre eles todas as vezes que estiveram em um cômodo juntos.

— Se houver veneno no castelo, não podemos confiar nem mesmo nos servos —, disse Malloryn. — Um membro do conselho deve estar com você o tempo todo.

— Sir Gideon é humano —, ela protestou. — Ele nem será capaz de sentir o cheiro de veneno.

— Não —, admitiu Malloryn, — mas ele é enfaticamente leal e, embora ele e eu possamos discordar em vários assuntos do reino, confio nele com sua vida. — Malloryn inclinou a cabeça em direção a Gideon com um sorriso irônico. — Digo isso sobre muito poucas pessoas.

— Malloryn...

O duque simplesmente caminhou em direção à porta, ignorando-a, como costumava fazer às vezes. Ele pegou sua bengala. — Eu não me importo com qual queixa pessoal vocês dois tenham no momento. — Ele deu a ela um olhar severo. — Você tem a responsabilidade com o reino de se manter viva e segura, e você vai obedecer minhas instruções nisso. Fique com Sir Gideon até que possamos varrer Kensington e descobrir quem colocou cianeto em seu cordial.

— Malloryn!

A porta se fechou atrás do duque.

E então eles estavam sozinhos.

— Maldito seja aquele bastardo de coração sombrio. — A rainha cerrou os punhos. — Como ele ousa ir embora? Como ele ousa!

Mas ela não respondeu à dica que Malloryn jogou no cômodo como uma bomba ao vivo.

Sir Gideon esperou meio minuto, até ter certeza de que Malloryn estaria fora do alcance da audição. Quando ele olhou para o rosto dela, não pôde deixar de recuperar o fôlego, pois ela se parecia com cada um de seus sonhos, moldada em carne.

E assim como um sonho, ele temia que suas esperanças em relação a ela evaporassem se ele ousasse estender a mão e tocá-la novamente.

— Você estará segura, Alexa.

— Você não deveria me chamar assim. — Ela disse asperamente.

Ele deu de ombros com tristeza. — A salvo de tudo - incluindo minhas atenções. — Ao ver seu olhar assustado, ele se dirigiu para a porta. Melhor acertar as coisas antes que ela ficasse nervosa. Embora ela nunca tivesse dito uma palavra sobre o encontro, eles não estavam sozinhos em um cômodo juntos desde então. — Vou chamar por um chá. Atrevo-me a dizer que vai ser uma longa noite.


Capitulo 4


— O que vocês têm para mim? — Perguntou Malloryn ao entrar no quartel-general improvisado que a Companhia dos Renegados havia confiscado no Palácio de Kensington.

— Chá, Sua Graça. — Disse Charlie, entregando-lhe uma xícara de chá com sangue.

— Não exatamente o que eu tinha em mente. — Ele tomou um gole de qualquer maneira. — Gemma?

Todos os membros da CDR estavam reunidos em torno da mesa. Gemma estava encostada na cabeça, parecendo ter quebrado sozinha os corações de todos na corte naquela noite. A liderança combinava com ela. E o amor também. Isso lançava um brilho em suas feições que ele nunca a tinha visto usar antes.

— Questionamos as criadas que cuidavam do serviço de chá — respondeu Gemma, endireitando os ombros. — Tenho quase certeza de que as duas não tiveram nada a ver com o envenenamento. Uma está absolutamente perturbada com a ideia, e a outra está a serviço da rainha desde que ela estava sob controle. Ela é tão enfaticamente leal à rainha, pensei que ela fosse me jogar pela janela com a mera sugestão de que ela tinha uma mão nisso.

Ele olhou para Obsidian, que assentiu.

— As reações emocionais de ambas as empregadas soaram verdadeiras —, disse o ex-assassino. — É muito fácil. Não são as criadas. Elas seriam as primeiras a serem suspeitas.

— Quem mais teve acesso à antecâmara da rainha?

Gemma começou a listar membros da família real.

— Sua graça? — Ava ergueu a mão dela. Embora ela estivesse se aproximando rapidamente do nascimento de seu primeiro filho, isso não fez nada para prejudicar sua eficácia como investigadora.

— Sim?

— Suspeito que nosso envenenador não seja um especialista.

Ava só falava quando tinha certeza das evidências. — Continue.

— Em primeiro lugar, havia vários bolos de limão favoritos da rainha na bandeja, que também estavam misturados com cianeto. O açúcar parece entorpecer o efeito do cianeto no corpo. Um bom envenenador saberia disso. Seu cordial também é doce. Não terminei de analisar a quantidade de cianeto contida na bebida, mas por que arriscar diluir seus efeitos?

— Hmm. — Ele esfregou o queixo. — Interessante. O que mais?

— Barrons disse que o boato começou a circular ao longo do baile apenas meia hora depois que a rainha se foi para seus aposentos depois de sua dança. Alexandra disse que não poderia ter passado mais de quinze ou vinte minutos se atualizando antes de retornar à antecâmara onde Ava estava esperando. — Acrescentou Gemma.

Era um pouco estranho como seus processos de pensamento estavam bem alinhados. Embora ele tivesse completado seu treinamento. — Sir Gideon mencionou o mesmo.

— O que nos dá uma janela de dez minutos entre a rainha aceitar o cordial e o boato se espalhar. — Os olhos de Gemma se estreitaram. — Apenas os guardas testemunharam meu ataque à rainha, e você trancou o quarto.

— Então, ou havia alguém observando - nosso envenenador, podemos presumir —, interrompeu Byrnes. — ou alguém no salão de baile estava ciente do que estava para acontecer.

— Obsidian e eu iremos reinvestigar a antecâmara da rainha para ver se há algum nicho escondido de onde possamos observar. — Gemma se afastou da mesa. — Byrnes, quero você e Charlie seguindo a liderança da cozinha. Encontrem aquele cianeto para mim. — Ela pareceu notar que Malloryn ainda estava lá. — A menos que Sua Graça tenha outra preferência?

Ele acenou para ela se afastar. — Você está no comando.

Ela arqueou uma sobrancelha. — Eu te odeio às vezes.

— Você nasceu para esse papel —, respondeu ele. — E eu gosto de ver você em ação.

— Bem. — Gemma limpou o fiapo inexistente da manga. — Então vou colocar você e sua esposa em ação também. Nenhum de nós pode questionar os ocupantes do salão. Príncipes estrangeiros provavelmente não responderão a servos como nós...

— Eu não sou um maldito servo. — Kincaid rosnou.

— Aos olhos deles você pode muito bem ser —, murmurou Malloryn. Ele assentiu. — Sir Gideon ouviu o boato de Dama Baumbury. Vou colocar Adele em cima dela e ver se podemos rastrear esses sussurros de volta à sua origem. Mais alguma coisa, minha Dama Renegada?

Gemma mostrou a língua para ele. — Não me tente.

 


— Minha busca foi infrutífera —, Adele disse a ele várias horas depois, enquanto jogava sua bolsa na mesa. — Dama Baumbury ouviu isso da condessa de Wessex, que ouviu falar de Dama Hendricks, que estava em um círculo de mulheres quando foi mencionado pela primeira vez, embora não se lembre de onde se originou.

— Quais senhoras? — Malloryn murmurou.

Adele beliscou a ponta do nariz. — Dama Boxden, princesa Imogen de York, duas dos russos - embora Dama Hendricks tenha mutilado seus nomes tanto que não pude confirmar suas identidades - e Dama Abagnale.

— Hmm. — Ele se afastou da mesa. Os rumores eram difíceis de rastrear, embora Adele tivesse se saído melhor do que ele esperava. — Há cinco membros femininos da Corte Carmesim aqui em Londres atualmente.

— Você favorece os russos?

— Dama Boxden é uma viúva rica que perdeu seu marido cruel na revolução, graças à rainha. Ela mal derramou uma lágrima por ele. A princesa Imogen é uma cobra, mas é prima da rainha. Ela gosta do conforto que essa proximidade lhe proporciona. E Dama Hendricks pode ter a capacidade para tal maldade, mas ela não seria capaz de manter a palavra para si mesma. Não conheço os russos, mas a Corte Carmesim é famosa pelos envenenamentos.

— Mas por que eles teriam tanto trabalho quando um de seus príncipes está cortejando a rainha?

Malloryn sorriu. — Por que de fato?

 


Sir Gideon abriu o relógio de bolso e fechou-o novamente. Cinco horas e nenhuma palavra. Ele confiava nas capacidades de Malloryn, mas isso estava começando a parecer nada menos que uma tortura.

A cabeça da rainha estava inclinada sobre um livro. Ela não tinha falado uma palavra com ele desde que ele chegou e fez essa declaração. Forçar o assunto significava quebrar sua palavra; e ele detestava fazer isso, especialmente com ela.

Ele balançou a unha do polegar sob a borda do relógio de bolso, abrindo-o novamente enquanto caminhava em direção à janela.

— Minha nossa. — A rainha jogou o livro no colo. — Você pode parar de fazer isso?

Ele se acalmou. — Fazer o que?

— Verificando seu maldito relógio de bolso. Se você deseja partir, então saia. Eu tenho guardas na porta.

Sir Gideon se endireitou e colocou o relógio no bolso. — Eu não estou indo a lugar nenhum. E eu não desejo ir embora. Eu estava apenas me perguntando por que Malloryn estava demorando tanto.

— Malloryn sem dúvida está mexendo com um ninho de vespas —, respondeu a rainha. — É o que ele faz de melhor.

— Você quase soa como se o admirasse.

Ela fez uma pausa. — Poucos foram tão leais a mim ao longo dos anos. E embora seus métodos possam me frustrar às vezes, eu me lembro disso.

— Ele me frustra com frequência —, admitiu Sir Gideon. — Ele usa toda a arrogância de sua classe, embora sua lealdade não possa ser questionada.

A rainha colocou seu livro de lado. — Ele pode ter sangue azul, mas foi sua voz que recomendou que eu escolhesse você para o novo conselho após a revolução.

As sobrancelhas de Sir Gideon se ergueram. Ele sempre se perguntou sobre isso. Ele tinha sido o chefe do partido político Humanitário, o filho de uma pequena casa que forjou uma carreira na política com seus modos pacifistas. Embora ele tivesse trabalhado com a duquesa de Casavian para canalizar fundos para os revolucionários nas ruas, ele nunca esperou ser nomeado para o conselho.

— E agora eu devo um favor a ele —, resmungou. — Eu gostaria que você não tivesse me contado isso.

— Eu confio nele —, ela continuou, — porque embora ele seja um intrometido administrativo que não consegue manter o nariz fora dos negócios de ninguém, ele também é capaz de tomar decisões para o bem do reino, mesmo quando elas não necessariamente o beneficiam. Ele dá sugestões de que não gosta, porque sabe que são as sugestões certas a fazer. E se você contar a ele que eu disse isso, então vou negar com toda a minha respiração.

Sir Gideon lançou-lhe um sorriso fraco. — Malloryn não precisa de elogios. Ele já está cheio de seu próprio senso de auto importância. E eu nunca repetiria suas confidências.

— Eu sei. — Sua voz veio suave. — Eu não aceitaria você nelas se não achasse que você também fosse leal.

O fogo na lareira crepitou no silêncio que se seguiu.

— Eu nunca trairia você. — Ele murmurou.

— Eu sei.

— E eu nunca...

— Eu sei. — Ela retrucou.

Seus lábios se contraíram, mas ele não havia conquistado o título de líder de um partido político ao ceder ao menor sinal de teimosia. — Você não sabe. Pois você não me permitiu terminar minha frase.

A rainha olhou para suas mãos. — Você nunca me trairia. Você é meu súdito mais leal. Você acredita em mim. Já ouvi isso antes, Gideon.

— Eu nunca machucaria você, é o que eu ia dizer. — Ele serviu um cordial para os dois. — Embora eu nunca tenha tido motivo para dizer isso antes.

Seus olhos se encontraram quando ela aceitou o cordial, e ele pôde sentir o leve tremor em seus dedos quando roçaram os dele.

— Eu sei, — ela sussurrou. — Você nunca me machucaria.

Isso aliviou um pouco a tensão dentro dele.

Desde que ele a beijou e ela o empurrou, ele sentiu como se um carvão quente permanecesse em seu estômago.

Ele nunca tinha posto as mãos sobre uma mulher que não quisesse suas atenções, mas neste momento mais crucial, ele interpretou mal seus afetos. E coagulava dentro dele, uma vergonha secreta que corroía a honra em seu âmago.

— Você deveria estar descansando, — ele disse a ela. — Não sentar e esperar que Malloryn retorne.

— Eu mal tomei um gole do veneno, Sir Gideon. E você não está em posição de me dizer o que devo ou não devo fazer.

A frustração levou a melhor sobre ele. — Perdoe-me por me preocupar com a saúde da minha rainha.

Ela lançou a ele um olhar assustado, então seus olhos se estreitaram. — Sua rainha vai sobreviver à noite, Sir Gideon. Descanse sua mente. Você não será forçado a lidar com a minha substituição ainda.

— Não foi isso que eu quis dizer, e você sabe disso.

Ela colocou a xícara vazia de lado e se levantou. — Eu sei?

Ele queria arrancar o cabelo.

Uma coisa era vê-la se casar com outro. Ele sempre soube que chegaria a esse ponto. Ela era a Rainha da Grã-Bretanha, e ele era apenas o filho de um nobre menor que ganhou destaque por meio de suas aspirações políticas durante a revolução. Nunca houve qualquer esperança para eles.

Mas a parte tola de seu coração que se apertava em seu peito toda vez que ele a viu não se importava.

Ela era a mulher que ele amava.

Ela era a mulher que ele sempre amaria, aconteça o que acontecer.

Gideon tomou seu cordial, então baixou o copo com um estalo forte. — Acho que precisamos discutir o que aconteceu em Haver Hall.

— Você me beijou. — Ela deixou escapar.

— E eu me desculpei por isso, profusamente. Eu tinha... interpretado mal suas intenções e fui arrebatado no momento. Eu nunca deveria ter ousado deitar...

Uma batida forte veio na porta, assustando os dois.

A rainha se afastou dele, parecendo fria e majestosa. Ele odiava como ela podia aparentemente limpar a tempestade de emoção de seu rosto em um piscar de olhos - apesar de toda sua habilidade com a diplomacia, ele nunca conseguia lidar com isso.

— Entre. — Ela chamou.

Malloryn entrou, totalmente de preto. — Sua Majestade. — Ele se curvou e acenou com a cabeça na direção de Gideon.

— Alguma novidade? — Apesar de sua frustração, Gideon foi direto ao cerne da questão.

— Meus homens descobriram o cozinheiro que misturou o cordial e os bolos com cianeto —, disse Malloryn severamente. — Infelizmente, ele conseguiu tirar a própria vida antes que meus Renegados pudéssemos prendê-lo, e não sabemos por que ele fez essa tentativa.

— Um cozinheiro?

Por que um dos criados do palácio guardaria tanto rancor?

— Ouso dizer que foi um crime de oportunidade, e o cozinheiro apenas uma peça no jogo de outra pessoa —, respondeu Malloryn. — Minha analista de cena de crimes me garantiu que testou a quantidade de cianeto em seu cordial e não é o suficiente para matá-la, embora as complicações contínuas possam ter feito sua saúde sofrer dramaticamente. Também foi colocado em seu cordial em uma bandeja de zangão de serviço, que qualquer um poderia ter bebido. O cozinheiro não era um especialista em envenenamento, o que em si já é uma pista - ou foi uma tentativa malfeita feita por um homem desesperado em nome de outra pessoa; uma tentativa de incapacitá-la, em vez de matá-la; ou apenas um servo insatisfeito tomando o assunto em suas próprias mãos.

— Duvidoso. — Murmurou Gideon.

— Eu concordo. — Malloryn concedeu.

— Então, não sabemos quem estava por trás de tudo isso? — A rainha disse sem fôlego.

— Ainda não. Mas eu vou encontrá-los.

— Quem iria querer incapacitá-la? — Ele não sabia por que, mas essa opção chamou sua atenção. O príncipe consorte mantinha a rainha cheia de láudano e vinho, e embora ela se mantivesse severamente contida agora, ele não conseguia deixar de pensar na maneira indiferente como ela uma vez assinou documentos da corte.

— Eu não sei. — Malloryn encontrou seu olhar. — Ainda. Se a saúde da rainha piorasse, o conselho estaria no controle do império até que um regente pudesse ser nomeado. Mas o conselho seria o único a nomear um regente e, portanto, não posso ver isso como uma tomada de poder.

Alexandra se virou para a lareira, estendendo as mãos para o fogo como se sentisse um frio repentino. — Pode ser um estratagema para forçar minha mão, — ela sussurrou. — Se eu ficasse doente, a Grã-Bretanha estaria em desvantagem. E você estava certo. Eu não tenho herdeiro. Alguém pode estar me pressionando para forjar um casamento o mais rápido possível. Caso contrário, pode ser uma tentativa de me forçar a nomear um herdeiro.

Um pensamento ocorreu. — Talvez você não devesse beber o cordial? A menos que eles fossem completamente ineptos, o culpado deve saber que você está cercada por sangues azuis que pode ser capaz de sentir o cheiro do cianeto. É um cheiro perceptível. Talvez tenha sido uma tentativa de susto?

As sobrancelhas de Malloryn se uniram. — Eu não pensei nisso. Vou adicionar esses motivos à lista.

A rainha assentiu, mas parecia um pouco mais frágil na luz do amanhecer que entrava pelas janelas.

Uma coisa era saber que alguém tinha posto veneno no seu cordial; outra bem diferente é discutir friamente o porquê.

Ele queria estender a mão para ela e colocar a mão em seu ombro. Para acalmar sua mente, de alguma forma, e lembrá-la de que ela não estava sozinha.

Mas ele não tinha esse direito.

— Vou colocar uma rotação de minhas mulheres da companhia ao seu lado o tempo todo —, Malloryn disse a ela. — Gemma e Lark são ambas de sangue azul, e Ingrid é verwulfen. Se alguém fizer outra tentativa, deve ser capaz de evitá-la.

— E enquanto isso? — Alexandra perguntou.

— Continue como você estava. Não vamos deixá-los pensar que estamos intimidados com essa tentativa. Queremos atraí-los e incentivá-los a fazer outra tentativa — Malloryn sorriu. — Só que desta vez, estaremos cientes de que está chegando.


Capitulo 5


A Exposição Real começou no dia seguinte.

Alexandra colou um sorriso no rosto e continuou com seus afazeres diários como se não houvesse nada fora do comum. Ela tomou o café da manhã no terraço, terminou sua correspondência e encontrou a duquesa de Casavian na carruagem às 11h.

Mina a cumprimentou com um sorriso e apertou ambas as mãos. Em particular, elas podem ter compartilhado um abraço, mas ela ainda não tinha perdoado sua amiga.

— Pronta para abrir a exposição?

— A questão permanece: e você? — Alexandra arqueou uma sobrancelha. — Você raramente está fora da cama a esta hora do dia.

— Infelizmente, Madeleine não parece entender muito bem os hábitos noturnos de seus pais, — Mina suspirou. — Seus níveis de vírus de desejo estão tão baixos que o sol ainda não a incomoda, o que significa que seus pais devem enfrentar o dia em um momento bastante terrível.

Isso roubou uma risada dela. — Ela está com o pai?

— Ele está levando ela para o zoológico. — Mina bufou. — Mal posso esperar para ouvir as aventuras que eles têm. A última vez que ele saiu com ela durante o dia, cheguei em casa e o encontrei roncando na biblioteca com um livro sobre o rosto.

— Tenho certeza que ele vai se divertir mais do que nós, — Alexandra resmungou. — Minha afilhada é eminentemente mais interessante do que uma exposição sobre os avanços da era do vapor.

— Agora, agora, — Mina repreendeu. — Quem não deseja ver o design mais recente em encouraçados?

Alexandra lançou a sua amiga um olhar severo.

— Além disso, — Mina murmurou, — eu acredito que você vai ser o centro das atenções, minha querida. Há pelo menos três de seus potenciais pretendentes presentes.

— Devo levar meus sais aromáticos, caso a empolgação da companhia deles me oprima.

Alexandra juntou as saias para subir na carruagem, então parou quando viu Malloryn aparecer como um corvo ferido. Ela fez uma pausa, insistindo que Mina fosse à frente dela.

— Ah, meu Mestre das Sombras.

— Minha rainha.

— Algo que eu deva estar ciente? — Ela perguntou quando Malloryn a levou para a carruagem.

— Os jornais estão cheios de conversas sobre as últimas descobertas de Dama Rachinger sobre o vírus do desejo —, respondeu ele, enquanto lhe entregava um jornal. — Ela apresentou seu artigo científico ontem na Academia Real, e um jornalista ficou sabendo disso.

— O tratado de expectativa de vida que ela apresentou ao conselho três meses atrás?

— Sim. Recebi mais convites para jantar com nossos emissários estrangeiros do que você. Todos querem saber o que isso significa.

Mina se inclinou para frente na carruagem. — Claro, que eles querem, Malloryn. A maioria dos sangues azuis na Inglaterra aproveitou a chance de usar a “cura” de Dama Rachinger para evitar os efeitos nocivos do Desvanecimento. Vários outros países tomaram nota. Agora, eles estão preocupados com a redução da mortalidade deles.

Alexandra sacudiu o papel. Ela gostava bastante da esposa séria e inteligente de Sir Henry. Dama Honoria passava os dias estudando os efeitos de suas descobertas sobre a cura do desejo, e sua última descoberta estava causando uma grande agitação.

Vários anos atrás, ela estava fazendo experiências com os níveis crescentes de vírus de seu marido quando percebeu que, ao beber seu sangue vacinado, seus níveis de vírus diminuíram para um estado administrável. Tinha sido um golpe e tanto, até que ela revelou recentemente que junto com a diminuição no controle sanguinário do vírus, também diminuía a força, velocidade e longevidade de um sangue azul.

Dama Rachinger concluiu que seu marido só viveria o tempo que ela vivesse.

— Não se pode viver para sempre — Alexandra murmurou, então chamou a atenção de Malloryn. — E sem dúvida é um grande alívio saber que você pode não sobreviver a sua jovem e bonita esposa, afinal.

O duque suspirou. — Meus níveis de vírus nunca foram absurdamente altos para começar, então ainda não comecei um regime de beber o sangue dos vacinados.

— Mas você irá? — Ela não estava totalmente certa de sua resposta. Ver o duque de Malloryn sucumbir aos sentimentos por sua esposa foi muito divertido - e inesperado. Mas sua queda foi muito recente. O que ganharia? Amor? Ou poder e capacidade de viver muito além da idade humana?

— Eu irei, — ele respondeu com pouca confiança. — Passei muitos anos sem Adele na minha vida. E agora que experimentei como pode ser, não gostaria de viver sem ela. O que é a imortalidade senão a chance de viver uma vida longa e solitária enquanto vê sua esposa, filhos e netos passarem diante de seus olhos? Eu preferiria viver uma vida inteira.

A rainha escondeu um sorriso. — Que romântico, Malloryn. Eu nunca teria esperado isso de você.

— Se servir de consolo, há um ano eu teria concordado com você. — Ele fechou a porta da carruagem. — Um casamento por uma questão de dever é muito bom, mas quando alguém encontra afeto, lealdade e um verdadeiro encontro de mentes, pode ser livre para ser o seu melhor.

— Ah, entendo. — Ela se acalmou. — Esta deveria ser a parte em que você me dá uma dica de onde estabelecer minhas afeições?

Malloryn inclinou a cabeça. — Eu acho que seus afetos estão bem fixos, não estão?

Um choque de calor a percorreu.

Ele não podia saber, não é?

O sorriso do duque se alargou como se ela tivesse se traído. — Dê meus cumprimentos ao Príncipe Ivan. Ele mencionou que estaria esperando por você na exposição.

 


Malloryn estava correto.

O príncipe ficou à espreita no segundo em que ela cortou a fita e declarou a exposição aberta ao público - o que, claro, significava a elite, ou pelo menos, no primeiro dia.

Alexandra tentou se divertir.

As exposições foram realmente intrigantes. Inventores de todo o mundo tinham vindo para tentar ganhar o prêmio da exposição, que ela mesma definiu. A Bolsa da Rainha. E possivelmente patrocínio da casa real. Esta pode ter sido a exposição inaugural, mas ela esperava continuar a tradição. Fora produto da imaginação dela e de Sir Gideon, um esquema criado sob a luz do gás enquanto jogavam xadrez.

Sangues azuis governaram muito da Europa até agora.

Ela queria que os membros humanos de seu reino tivessem uma chance de competir com eles em uma escala igual, e onde melhor do que as artes mecânicas?

Era também uma chance de ultrapassar os limites da tecnologia e incentivar os jovens cientistas do império - bem como os estrangeiros. Ela queria que seu império fosse considerado um líder mundial e, na esteira da agitação da revolução, essa parecia uma maneira perfeita de exibir o poder da Grã-Bretanha.

— E qual expositor chamou sua atenção? — O príncipe murmurou enquanto caminhavam pelas galerias, à frente de um bando de seus companheiros.

Ela olhou ao redor. — Há muitos para citar apenas um. Qual exposição interessa a você? — Ela perguntou educadamente, para ver se suas escolhas poderiam lhe dar alguma ideia de seu caráter.

Ele imediatamente se iluminou. — Os submersíveis kraken escandinavos. Embora meu interesse possa ter algo a ver com seus projetos mais recentes e a forma como patrulham o Mar Báltico. Houve vários encontros com navios russos.

— Ah, então você busca mais informações sobre seus pontos fortes e fracos.

Ele encolheu os ombros. — Nossos povos se preparam para a renovação do Tratado de Estocolmo neste verão. Os termos do tratado foram originalmente estabelecidos cem anos atrás e esta é a primeira vez que tivemos a chance de renegociá-los. Pode ser... um momento interessante.

— Os escandinavos são aliados da Grã-Bretanha —, ela o lembrou. — Eles são nossos bons amigos.

— Então, talvez a Rússia precise se tornar sua aliada também? Talvez nós também possamos ser seus amigos?

— Possivelmente. É por isso que está aqui, Príncipe Ivan? Para promover os interesses do seu povo? É o dever que impulsiona a sua presença? — Ela brincou.

— Dever que insistiu em que eu fosse, embora eu admita que fiquei agradavelmente surpreso. — Ele sorriu para ela. — O dever nunca pareceu tão agradável antes.

O príncipe Ivan ergueu a mão, capturando sua bochecha com a palma revestida de couro.

Alexandra congelou.

Não era apenas o cúmulo da presunção e descortesia, mas ela não conseguia dizer nada. Seu corpo simplesmente enrijeceu, como sempre acontecia quando seu marido pairava sobre ela. Ela estava desligando como um autômato, seus circuitos errados, o barulho se transformando em um balbucio feroz ao seu redor.

As narinas do príncipe Ivan dilataram-se, como se sentisse uma presa. Ele baixou a mão. — Eu tenho ofendido você.

O alívio explodiu sobre ela como uma cascata e, de repente, o som voltou a seus ouvidos. — Ofendida, não? Presumida, sim.

Ela se afastou, e ele deixou cair a mão, uma marca de perplexidade fraca entre as sobrancelhas.

— Por favor, com licença. — Disse ela, virando-se para ir embora antes que ele pudesse responder. Ela quase bateu em uma de suas companheiras - a grã-duquesa Xênia Nikolaevna - antes de cambalear para longe da loira voluptuosa com um pedido de desculpas gaguejado.

Só quando estava na privacidade do corredor é que se permitiu relaxar.

Ela estava suando tanto que se sentia como se tivesse corrido até Windsor e voltado.

Alexandra olhou para seus punhos cerrados.

O príncipe Ivan mal a tocou.

Ele não tinha a intenção de ofendê-la de forma alguma, ele simplesmente estava tentando... cortejá-la. E ela congelou como um cervo sentindo o rifle do caçador apontado para ela.

— Eu te odeio —, ela sussurrou para o marido há muito falecido. — E eu não vou permitir que você me assombre agora. Eu irei esquecer você. Eu juro que vou.

Ela era a rainha. Ela não fugiria de seu dever.

Mas ela foi sábia o suficiente para admitir que desta vez, ela poderia precisar de ajuda para fazer isso.

 


Alguém bateu na porta das antecâmaras de Alexandra.

— Entre. — Ela chamou, uma vibração de nervos a assaltando. Virando-se, ela rapidamente serviu dois copos de cordial, quase derrubando um deles em sua pressa. Droga. Todo esse plano parecia uma boa ideia na época, mas agora que o momento havia chegado, ela não podia deixar de se sentir oprimida.

Ela era uma mulher. Rainha. Casou-se uma vez e depois ficou viúva. Não era como se ela fosse uma virgem que nunca encontrou um homem.

Sim, sussurrou sua consciência, mas isso é diferente, e você sabe que é.

Sir Gideon entrou, seus olhos escuros encontrando os dela instantaneamente. Ele era uma figura alta e imponente com seus ombros largos e físico bem cortado. A princípio, ela o achou um pouco intimidador, pois ele tinha tendência para olhares severos e raramente sorria. Mas ela logo se acostumou com sua voz bem medida e a maneira gentil com que ele conseguia conduzir uma discussão sem nem mesmo aumentar o tom.

Ele era o tipo de homem que era educado com todos os seus servos, mesmo quando não percebia que ela estava olhando - e ela o observava com frequência, do segredo das câmaras que uma vez crivaram a Torre de Marfim. Ela o viu aplacar uma empregada doméstica que derramou um balde inteiro de água em seus sapatos elegantes com um sorriso gentil que aliviou as lágrimas da garota, e ele foi o primeiro a sofrer um acidente de carruagem quando ocorreu bem em na frente dele, trabalhando sem cuidar de sua vestimenta ou mesmo de ferimentos. Quando ficou claro que a égua da frente nunca mais puxaria uma carruagem, ele a comprou e colocou para pastar.

Bondade. Era uma raridade em sua vida que ela ficou perplexa com isso no início, até que percebeu que era exatamente o tipo de homem que ele era.

— O que há de errado? — Ele perguntou, notando o cordial derramado e o jeito que ela olhava.

De repente, ela não conseguiu. — Nada. Nada está errado. — Balançando em direção às janelas, ela fechou os dedos em um punho em suas luvas. Que idiota ela tinha sido.

— Alexandra. — Ele repreendeu.

— Eu só estava... Eu estava pensando em todo esse maldito caso, — Ela tentou desviar. — Falta apenas uma semana para a exposição. E Malloryn vai esperar uma resposta, e eu não tenho nenhuma. Eu não ligo para nenhum deles.

O silêncio caiu como um chicote.

Ela se virou. — Diga algo.

Gideon baixou os olhos. — Você não tem que escolher um pretendente esta semana. Malloryn não pode forçar sua mão. Há tempo, Alexandra.

O nome dela. Em seus lábios.

Só aqui, na privacidade de seus aposentos.

Ela fechou os olhos, demorando-se no som de seu nome. — Se não agora, então quando? Nada vai mudar. Não esse ano. Não o próximo. Sempre vou encontrar alguma desculpa.

— Se você não quer ter um marido, então vou apoiá-la nas reuniões do conselho. — Disse ele com firmeza.

— Não. — Alexandra abanou a cabeça. — Você não entende. Malloryn faz sentido. Eu não gosto disso Não quero ter marido, mas ele tem razão. Eu não lutei toda essa fodida guerra civil apenas para arriscar a instabilidade por causa dos meus sentimentos amaldiçoados. Eu sou rainha. E preciso produzir um herdeiro para meu país. Mas eu... eu não sei se posso.

Embora Manderlay a tivesse beijado, o único homem que já se deitou com ela foi seu marido.

Gideon tossiu em sua mão. — Talvez esta seja uma conversa que você deveria ter com seu médico.

Alexandra engoliu o nó na garganta. Ela olhava para cada sangue azul no Escalão. Ela poderia fazer isso. — Não resulta de uma incapacidade física. Eu preciso de ajuda.

— Ajuda? Claro, Alexandra. Qualquer coisa que esteja em meu poder dar. — A preocupação tocou sua voz, e ela podia senti-lo parando atrás dela, sempre aquele maldito pé infernal de espaço entre eles.

Alexandra baixou a cabeça, rezando por força. — Eu preciso que você me beije. — Ela sussurrou.

E nada.

Não veio nada. Sem resposta. Nem mesmo uma respiração ofegante.

O silêncio que se seguiu durou tanto tempo que uma faísca repentina quebrando na lareira assustou os dois.

Isso a quebrou de seu silêncio.

— Esqueça o que eu perguntei. — Ela disse, virando-se abruptamente e indo em direção à porta.

Ou, pelo menos, essa era sua intenção.

— Espera. — Gideon estendeu a mão, pressionando contra a parede, e ela se viu presa entre a pressão esmagadora de seu corpo e o calor da lareira atrás dela. — Eu não estava dizendo não. Você me pegou de surpresa. Eu tinha assumido que você não... Isso é... Você praticamente fugiu de mim da última vez.

— Não foi por sua causa —, ela admitiu, e era irritante que ela até confessasse isso. As palavras saíram rapidamente. — Quando você me beijou, eu estava bem. Eu... eu queria que você me beijasse. Mas no momento em que você me pressionou contra a parede, tudo que pude ver foi ele. Tudo o que pude sentir foi a forte pressão de suas mãos...

Ela se virou, cerrando os punhos.

— Alexandra. — Um farfalhar de tecido indicou que ele se moveu.

Ela podia senti-lo atrás dela. Sentir o calor de seu corpo de uma forma que ela nunca sentiu de seu marido de sangue frio.

— Não posso me casar se mal posso suportar ser tocada, — ela admitiu, engolindo o nó na garganta. — Não posso produzir um herdeiro para o reino se a mera presença de um homem em minha cama me faz recuar. Eu não posso... Você é o único cujo beijo não me faz sentir mal. Se você me ensinou como ser beijada, como ser tocada, talvez eu pudesse suportar. Talvez eu pudesse esquecê-lo. Talvez eu pudesse suportar outro casamento.

— Vire-se. — Disse ele.

— Eu devo? — Pois a verdade estava bem escrita em seu rosto e ela não achava que poderia controlá-la, apenas desta vez.

Dedos suaves roçaram sua espinha, enviando uma onda de choque de sensações através dela. — Por favor.

Alexandra se virou.

Os olhos escuros de Gideon nadaram de tristeza. Ela poderia passar horas se afogando naqueles olhos, nadando nas profundezas do homem que os usava.

Se apenas...

— Por que você não disse nada? — Ele sussurrou, as costas de seus dedos roçando sua bochecha.

— Que mulher quer admitir essas deficiências?

Sua expressão endureceu. — Eles não são seus defeitos. A culpa é inteiramente de seu marido. Eu o mataria por você e o colocaria no fogo, se ele ainda estivesse vivo.

— Eu não quero isso —, ela sussurrou de volta. — Ele está morto. Ele se foi. Apodrecendo no chão, pelo que me importa. Eu só quero esquecê-lo. Quero esquecer seu rosto, sua voz, seu... toque. Faça-me esquecer, por favor.

Pegando seu rosto com as duas mãos, ele inclinou seus lábios em direção aos dele. Seus olhos se encontraram, e ela ficou tranquila com o calor e a compaixão que viu em seu olhar.

— Eu não deveria beijar você. — Ele sussurrou, roçando sua boca na dela.

— Por que não? — Ela murmurou, murchando com a gentileza de seu toque.

— Porque me faz querer o que não posso ter. — Admitiu ele com voz rouca.

E então ele capturou o suspiro em seus lábios.

Isso roubou seu fôlego. Queimou por ela, como se a pura alegria corresse por suas veias. Ela se sentia como se tivesse dezesseis anos novamente, ansiando por todas as coisas que ela não entendia muito bem, antes que o príncipe consorte roubasse aquele futuro forçando-a a se casar.

Isso. Isso foi precisamente o que aconteceu da última vez que Gideon a beijou.

Ela quase pensou que era um truque que sua mente pregava, mas não, era real. Alexandra se inclinou para o abraço com um gemido suave, silenciosamente implorando por mais.

Cada toque de suas mãos era gentil, e o traço suave e preguiçoso de sua língua a fazia ansiar por mais. Alexandra empurrou para o beijo, mas ele recuou, como se quisesse dizer, se ela quisesse mais, então ela teria que ser a pessoa que aceitava.

As pontas dos dedos suaves traçaram círculos sedutores em suas bochechas. Foi um sussurro de um toque - como nada que ela já sentiu antes. Isso a tentou como nada mais poderia. Ela queria aquelas palmas ásperas em sua pele, em seus quadris. A barba por fazer roçou seu queixo e ela queria senti-la raspando em seus seios sensíveis.

— Minha rainha. — Ele sussurrou, recuando para respirar, seus olhos escuros em chamas com a necessidade.

Ela nunca experimentou o desejo assim. — Não pare.

— Nós temos que parar.

Ela capturou um punhado de seu cabelo. — Eu faço as regras. E eu digo não, não paramos. — Mas bem naquele momento, algum som começou a se intrometer em seus pensamentos. Ela recuou, franzindo a testa. — É aquele...?

Uma batida repetitiva na porta ecoou por seus aposentos.

Ela rapidamente se virou, colocando vários metros de distância entre eles. Não seria bom ser pega em uma situação tão comprometedora, embora um toque rápido em suas bochechas revelasse o calor escaldante delas. — Entre. — Ela chamou, alisando as rugas em suas saias.

A porta se abriu e uma das criadas entrou, trabalhando sob o peso de uma pesada bandeja. — Minhas desculpas, Sua Majestade. Você pediu chá?

Ela pediu. Na esperança de que pudesse tomar chá com Gideon antes de abordar um assunto tão delicado. Bondade. Ela quase se esqueceu.

— Obrigada, Clara, — ela disse, apontando para a mesa menor perto da lareira. — Você pode colocá-lo lá, por favor.

Gideon olhou pela janela enquanto a empregada brincava com a mesa de chá. Ela não conseguia ler a firmeza de seus ombros, mas o invejava pela capacidade de esconder o rosto. Ela estava certa de que ela carregava a mancha de suas atividades recentes.

A rainha pigarreou. — Isso vai servir, obrigada, Clara.

Ela esperou até que a empregada fizesse uma reverência e fechasse a porta atrás dela, antes de se virar para Gideon. — Você não vai olhar para mim?

Ele se virou lentamente, colocando as mãos na frente dele. — Não era você que eu estava tentando evitar.

— Não?

— Não, — ele rosnou, puxando sua gravata. — Você me deixou completamente desfeito.

Uma risada escapou dela quando ela começou a entender seu significado.

E que maravilha - que ela pudesse encontrar diversão em tal estado de coisas, quando ela apenas via as atenções de um homem como algo a ser suportado. Esta situação com Gideon era completamente confusa.

— Venha aqui—, ela sussurrou. — Beije-me novamente. E desta vez, não pare.

— Mas seu chá vai esfriar. — Ele brincou.

— Gideon. — Ela rosnou.

Ele riu e caminhou em sua direção. — Como desejar, minha rainha.


Capitulo 6


— Bem? — O duque de Malloryn perguntou enquanto ele e Gemma tomavam chá.

Clara alisou as saias ao se sentar, lançando-lhe um olhar severo. — Eu pensei que fui colocada dentro da casa de Sua Majestade para evitar um assassinato?

— Sim, sim —, disse ele, acenando com a mão. Clara Herbert era uma de suas melhores espiãs. Um verdadeiro camaleão com um rosto e maneiras indefiníveis, ela poderia se misturar em quase qualquer fundo. Ele se lembrou dela e de Herbert de Bath no segundo em que a rainha foi envenenada. — Não vamos fingir que esse foi o único motivo.

— É possível que Sua Majestade e Sir Gideon estivessem tendo uma conversa íntima quando eu entrei.

— Uma conversa?

Clara devolveu seu brilho com um olhar firme. — Eles estavam a um metro de distância, embora eu suspeite que eles estavam mais perto antes de eu entrar. A rainha estava sem fôlego, suas saias um pouco enrugadas e seus lábios avermelhados. Não havia nenhum sinal de seu equilíbrio usual e seu olhar continuava se voltando para as costas de Sir Gideon. Ele se afastou de mim no momento em que entrei, talvez sobrecarregado por algo que ele não conseguia esconder. Ou eles estavam tendo uma discussão acalorada, Vossa Graça, ou estavam se abraçando. E eu suspeito que Sir Gideon gostou.

Meu Deus. — Você tem passado muito tempo com Gemma.

Gemma bufou, mexendo o chá com um dedo. — Se ela tivesse passado muito tempo comigo, ela teria sido mais direta. Sir Gideon tinha um cavalete sobre ele do tamanho da África, aposto.

Malloryn beliscou a ponta do nariz. — Obrigado por essa imagem, Gemma.

— O prazer é meu, Malloryn.

Ele a ignorou. Discutir com qualquer um dos renegados, ele descobriu, era como tentar pastorear gatos. — Obrigado, Clara.

Ela fez uma reverência, então se despediu.

Gemma pousou a xícara no pires. — Talvez você deva simplesmente sugerir que a rainha se case com ele, Malloryn. Eu diria que não há necessidade desses jogos elaborados. Ela parece gostar muito dele, pelo que tenho visto.

Ele olhou por baixo do nariz para ela. — Você já tentou fazer a rainha fazer algo que você sugeriu? Dores de cabeça não cobrem isso.

— Talvez ela esteja cansada de ser empurrada e puxada em todas as direções pelos homens que tentaram roubar seu poder.

Seus olhos se estreitaram. — Eu nunca tentei roubar o poder dela. Eu sempre tentei protegê-la e ao trono.

— Proteger ela? Ou controlá-la?

Sua boca se abriu.

Gemma balançou a cabeça, pondo-se de pé. — Amo você, Malloryn, mas você cresceu em um mundo onde era um homem nascido em uma casa aristocrática de sangue azul e, portanto, tinha todo o poder do reino. Eu entendo porque você luta pelos oprimidos, mas você nunca foi um deles. Você pode ver suas lutas, mas nunca as sentiu pessoalmente. E a rainha, com todo o seu poder, tem.

— Talvez você não tente roubar o poder dela, mas certamente tenta controlá-lo. E embora você possa argumentar que é o tipo de homem que tenta controlar tudo, quando se trata da rainha, o que o torna diferente de qualquer um dos outros?

O calor sumiu de sua pele.

Ele não era...

Ele não quis dizer...

Gemma se abaixou para beijar sua bochecha. — Para servir verdadeiramente a sua rainha, talvez você precise começar a ouvi-la e não presumir que você sabe o que é melhor.

 


As palavras de Gemma permaneceram com ele durante todo o dia, até que Malloryn estava quase compassando de frustração enquanto Adele ia ao banheiro. Eles deveriam chegar à ópera em uma hora, mas ele mal conseguia pensar em mais nada.

— Você acha que sou muito controlador? — Ele perguntou.

Adele ergueu os olhos de onde estava enrolando uma meia na perna. Na maioria dos casos, ele estaria focado em removê-la agora, mas nem mesmo ela poderia distraí-lo. — De que maneira? Em um 'Eu sou o duque de Malloryn e conheço a melhor maneira?' Ou em um 'Eu sou o duque de Malloryn e estou tentando proteger as pessoas ao meu redor de alguma maneira?' — Ela inclinou a cabeça em um ângulo. — Às vezes, os dois parecem um pouco semelhantes, para ser honesta.

Malloryn afundou na cama e repetiu o que Gemma havia dito a ele, sentindo novamente o horror da vergonha. — Eu quero dizer bem...

— Eu sei. — Ela disse suavemente.

— E eu só tentei... — Ajudar. Para dirigir.

Adele o ouviu, seus olhos azuis sem piscar, e então suspirou. — Você tem boas intenções, meu amor, mas às vezes as intenções não são boas o suficiente. Você tenta controlar a rainha? As vezes. Por que você acha que ela sempre empurra de volta contra você?

Ouvir isso de Gemma já era ruim o suficiente, mas Adele não estava tentando nem se conter.

— Às vezes, acho que ela entra nas câmaras do conselho preparada para lutar com você antes mesmo de você abrir a boca, — ela continuou. — Se você acha que ela é teimosa, então talvez você seja o culpado por criar tal impulso dentro dela.

Ele caiu de costas na cama, esfregando os olhos com as mãos. — Estou cansado de lutar com ela. E o pior é que gostaria que ela confiasse mais em mim, mas talvez você tenha razão. Talvez eu seja o culpado por alimentar essa desconfiança. Eu a forcei muito no passado. E agora, organizando este pequeno golpe, empurrando-a para o casamento...

Um joelho deslizou para o lado direito do colchão e, em seguida, Adele rastejou sobre ele, sentando-se em seu colo. Ela capturou suas mãos, arrastando-as de seu rosto e segurando-as em seu colo.

— O que eu faço? — Ele perguntou. — Estamos em um momento crucial na reconstrução de nossa nação. Se eu recuar e conceder a ela a liberdade que ela claramente deseja, estarei jogando-a para os lobos? E se tudo der errado? Alguém já está tentando matá-la.

Adele beijou suas palmas, uma após a outra. — Se a rainha deseja governar sem ser desafiada por seus conselheiros, então talvez você deva conceder a ela a leniência para fazê-lo. Mas, em primeiro lugar, acho que você deveria se desculpar com ela.

Ele fez uma careta. — Você sabe que odeio essa palavra.

Adele lançou-lhe um sorriso deslumbrante. — Você pode se surpreender ao ver até onde rastejar vai te levar. Funciona comigo, não é?

— Eu não acho que a rainha vai gostar tanto quanto você.

— Espero que não. Afinal, você é meu. — Adele se inclinou para frente, apoiando o peso nas palmas das mãos dele. Ele os enrolou contra o peito.

Um suspiro alto escapou dele. — Pedir desculpas. Muito bem.

— E logo. — Ela apontou.


Capitulo 7


O relógio na lareira do quarto bateu meia-noite.

A rainha olhou para as brasas em sua lareira, abrindo e fechando as mãos enquanto esperava. O que ela estava fazendo? O que ela estava pensando até mesmo para abordar tal proposta com Gideon?

Ela pressionou os dedos nos lábios. Se ela se concentrasse, ela ainda podia sentir seus lábios formigando. Que era por isso que tinha que ser ele.

Uma batida forte soou no painel da parede, e ela rapidamente cruzou para uma das tapeçarias e destrancou a porta escondida.

Uma figura encapuzada entrou, elevando-se sobre ela. Então Gideon escovou o capuz de sua capa para trás, revelando o nariz aquilino que ela tanto adorava e a aspereza da barba por fazer da noite em seu queixo. Seu cabelo escuro estava úmido, como se ele tivesse saído diretamente do banho, mas ele não se barbeara.

— Você vai me deixar entrar? — Ele perguntou, em sua voz profunda.

Alexandra percebeu que ela estava olhando e saiu rapidamente de seu caminho para que ele pudesse fechar o painel atrás dele.

E então eles estavam sozinhos no quarto juntos, com a proposta dela pairando no ar entre eles.

— O que você quer de mim?

Toda a sua experiência no leito conjugal fora difícil, apressada e motivada exclusivamente pelos interesses do marido. Mas ela tinha visto Mina brilhando de felicidade cada vez que olhava para o marido, e pelos picantes não ditos Mina compartilhava, ela percebeu que a roupa de cama era mais do que agradável para sua amiga.

Uma parte dela não podia sequer imaginar tal coisa - mas então ela se lembrou da exuberância suave do beijo de Gideon.

Agradável, sim.

Muito mais que agradável, para ser honesta.

— Não sei o que quero —, ela admitiu, endireitando os ombros. — Minhas experiências não foram... gentis. Eu mal posso suportar ser tocada. E isso é o que eu quero. Para saber se há uma parte de mim que pode aproveitar a experiência. Para não ter mais medo de ser tocada. E não estou com medo. Não de você.

— Até onde você pretende que eu leve isso? — Ele perguntou suavemente.

Alexandra quase engasgou com seu cordial. — Eu não sei.

Ele balançou a cabeça lentamente. Pensativamente. Então começou a tirar sua capa. — Eu percebi.

Ela considerou a fofoca que ouviu de Mina. — Eu não acho que seria sábio fazer amor. Não vou arriscar uma criança. Eu ouvi, no entanto, que existem maneiras...

Ele largou a capa na cadeira mais próxima e começou a tirar as luvas. — Letras francesas, sim. Embora eu seja honesto e admita que nem sempre elas têm sucesso.

Um tremor de nervos a percorreu, enquanto ele jogava as luvas descuidadamente na cadeira atrás dele. — O que você está fazendo?

Gideon fez uma pausa. Olhou para cima.

E o mundo sumiu dela enquanto ela caía naqueles olhos escuros.

— Ficando confortável. — Ele disse, o timbre pesado de sua voz caindo a profundidades que ela nem sabia que ele poderia alcançar.

Havia algo sensual na maneira como ele disse isso. E então ele foi para seu casaco. Um botão. Dois. Todo o caminho para baixo. Por baixo, ele usava um colete de lã cinza carvão, camisa e gravata, mas a maneira como seus dedos acariciavam cada botão o deixava indecentemente íntimo.

— Alexa? — Ele disse, e ela percebeu que ele repetiu duas vezes.

Alexandra piscou. — Sim?

— E hoje à noite? O que você deseja de mim esta noite?

Minha nossa. Isso estava acontecendo. Nada, ela queria gritar. Eu estava errada, isso é demais...

Mas ele tirou o casaco dos ombros e ela esqueceu o que ia dizer.

Gideon era diferente de qualquer outro homem conhecido dela. Embora Malloryn fosse mais alto, Gideon o diminuía nos ombros. O peito dele ficou tenso no colete e, quando ele enfiou as mãos nos bolsos e a olhou fixamente, a lã da calça se apertou sobre as coxas poderosas.

Tudo. Eu quero tudo.

— Você gosta do que vê?

— Sim. — Ela sussurrou.

— Onde você deseja começar?

— Eu não sei. — Ela sussurrou, para que as duas metades de sua consciência conflituosa pudessem se encontrar no meio.

— Um beijo. — Ele murmurou.

— Eu tive um beijo.

— Oh, Alexa. — Pela primeira vez esta noite, ele sorriu. — Aquilo mal foi um beijo antes de sermos tão rudemente interrompidos. — Aproximando-se, ele parou a apenas cinco centímetros dela, olhando para baixo. — Esta noite não seremos interrompidos. Tem certeza de que está pronta para isso?

O cheiro de sua colônia rodou por ela. Gideon. Este era Gideon. E algo pareceu estalar em sua mente. Ela conhecia este homem. Ela passou anos tentando não olhar para a maneira cuidadosa como suas mãos se moviam e a fina flexão de seus ombros dentro do casaco. Ela passou anos com os dedos coçando para afundar nos fios escuros de seu cabelo, sempre cortado muito longo. Pela primeira vez, ela teve permissão para tirar o que quisesse dele.

— Sim —, disse ela, erguendo o queixo com firmeza para que pudesse olhá-lo nos olhos. — Embora você não faça as regras aqui. Eu faço.

O mais fraco dos sorrisos tocou sua boca. — Você gosta de estar no controle.

Eu preciso estar no controle. Mas ela não disse isso. Ela passou anos como um peão, seu corpo e mente manipulados por outros. Ela nunca se submeteria novamente.

— Quais são as suas regras?

— Um beijo —, disse ela. — Esta noite. E eu quero tocar em você. — Ousando, ela estendeu a mão e roçou a ponta dos dedos em seu colete. — Eu quero te ver.

— Como quiser. — Estendendo a mão, ele descansou as pontas dos dedos sob o queixo dela e lentamente baixou a boca para a dela. — Um beijo, então.

O toque suave de seus lábios nos dela enviou um arrepio por ela. Alexandra fechou os olhos e se inclinou para a carícia, saboreando a sensação. Suave. Gentil. Ridiculamente gentil. Ela queria mais, mas no segundo que ela empurrou para o abraço, ele capturou seus pulsos e se inclinou para trás.

— Ah não. — Seus olhos estavam iluminados com uma sensação de maldade que ela nunca o tinha visto usar antes. — Aquilo foi apenas outro gosto. Você ainda não ganhou seu beijo.

— Ganhou?

Gideon passou por ela, parando perto da lareira para pegar o copo de cordial que ela tinha servido e o tomou. Dando-lhe um olhar desafiador, ele puxou a gravata em volta da garganta e a soltou. Os botões em sua garganta cederam e ele começou a trabalhar nos pulsos.

— Venha aqui. — Disse ele.

Ele recostou-se no sofá-cama, passando um braço ao longo das costas dele.

— Achei que era eu quem estava dando as ordens. — Respondeu ela, embora estivesse intrigada. Este era um lado de Gideon que ela nunca soube que existia.

Gentil, sim. Mas firme. Determinado. Ele era a rocha que nunca cedia. Ela deveria ter adivinhado que ele assumiria o comando em sua própria maneira tranquila.

— Aqui não —, respondeu Gideon, com a voz um pouco áspera. — Você faz as regras, mas eu dou as ordens.

Alexandra bebeu o conhaque que restou para ela. Uma parte dela gostou da maneira insolente de Gideon recostar-se contra a cadeira, a maneira como ele inclinou o rosto para trás para observá-la, expondo sua garganta. Ela nunca havia tocado; apenas foi tocada. E seus dedos coçavam para explorar.

No final, era sua decisão, e apenas sua decisão.

A seda de suas saias balançaram em torno de seus tornozelos quando ela se esgueirou em direção a ele. A tensão se traiu nos músculos tensos de suas coxas, e então ligeiras rugas que se formaram nos cantos de seus olhos, mas ele não se moveu.

Quase não respirava.

Cada passo que ela deu parecia que ela cruzou um campo repleto de explosivos, até que finalmente, finalmente, ela estava diante dele.

— E agora? — Ela sussurrou.

— Sente-se no meu colo. — Disse ele.

Rainhas não se empoleiram-se no colo, ela disse a ele com um arco arrogante de sua sobrancelha.

— Você não é minha rainha agora, — ele respondeu, — você é apenas uma mulher. E eu sou apenas um homem.

Que assim seja. Tirando as saias do caminho, ela se empoleirou cautelosamente em suas coxas. Os dedos de Gideon tiraram o copo dela e rolaram o cordial para frente e para trás, seus olhos mergulhando em seu decote, mas ele não fez nenhum movimento para tocá-la.

Que coisa totalmente irritante.

— Você vai me fazer implorar a cada passo do caminho? — Ela exigiu.

— Eu não pretendo fazer você implorar, — ele prometeu, capturando os dedos de uma mão entre os seus. — Eu sou o suplicante aqui, Alexandra. Você não.

— Então...? — Qual o próximo passo? Irritou seu orgulho estar tão em desacordo aqui, incerta sobre o próximo passo e forçada a confiar em seu ditado.

Gideon parecia entender.

— O que você quer fazer? — Ele perguntou, levando o cordial dela aos lábios e olhando para ela.

A pergunta a confundiu.

— Eu quero beijar você de novo, — ela sussurrou, pois ela gostava muito de beijar. Contanto que fosse ele. — E não aquela tolice de beijo que você acabou de me dar.

Ele esvaziou o copo e o colocou de lado. — Então me beije. Faça o que quiser.

Alexandra se inclinou, colocando a palma da mão contra a bochecha dele e a crosta de espinhos ali. Ela capturou sua boca, suspirando com o gosto dele. Gideon arqueou a garganta, comendo sua boca com golpes lentos e preguiçosos.

Suas línguas se uniram, e um pequeno gemido escapou dela.

Bondade.

Algo pressionou contra seu quadril, duro e indignado. Demorou um pouco para perceber o que era e se encolheu de surpresa.

— Eu não vou me desculpar por isso —, disse ele rigidamente. — Eu sou apenas um homem, Alexandra. Eu não posso negar minha atração por você.

— Não é como se eu nunca tivesse encontrado uma ereção antes, — ela respondeu asperamente, se contorcendo um pouco. — Embora eu admita, nunca dessa... substância.

Ela olhou para baixo com curiosidade.

— Você quer me tocar? Lá? — Ele rosnou.

Alexandra ergueu os olhos.

Por que não?

Seus olhares se encontraram e ela deslizou a mão entre eles, encorajada pela maneira como ele engoliu.

A protuberância bruta dentro de suas calças flexionou enquanto ela trabalhava em seus botões. Cada centímetro dele se acalmou, e um pequeno suspiro escapou dele.

— Foda-se. — Ele sussurrou enquanto as pontas dos dedos dela roçavam a cabeça sedosa de sua ereção.

Ela não pôde evitar. Uma risadinha escapou dela. — É a primeira vez que ouço você praguejar assim, Gideon. Que linguagem terrível.

— Você ouvirá mais antes de terminarmos, — ele prometeu, movendo-se desconfortavelmente embaixo dela. — Assim. — Ele rosnou asperamente, enrolando os dedos ao redor dela.

Alexandra olhou para baixo em choque.

Ela nunca percebeu o quão suave seria, a pele deslizando livremente sobre seu comprimento túrgido. Gideon moveu sua mão para cima e para baixo, bombeando lentamente o aço liso de seu ingurgitamento.

Girando o polegar sobre a cabeça lisa de cetim dele, ela se permitiu. Cada contração de seu polegar atraiu uma resposta dele. Sons suaves escaparam dele e seus dentes afundaram em seu lábio inferior.

— Porra. — A palavra foi arrancada dele.

Mais. Ela ficou inebriante com seu próprio poder. — Este é o orador mundialmente famoso que colocou a Câmara dos Lordes de joelhos? — Ela sussurrou em seu ouvido. — Isso é tudo que você pode me dizer, Gideon?

Ele capturou a nuca dela, os dedos deslizando sobre uma mecha de seu cabelo. — O que você quer que eu diga? — Ele engasgou. — Que eu queria você há anos. Que sonhei com você assim, em meus braços. Que estou tão perto de gozar, não acho... que posso me conter. — Ele jogou a cabeça para trás. — Você me desfaz. Você sempre me destruiu.

Oh, ela gostou disso.

Alexandra mordeu a almofada macia e carnuda de sua orelha, e ele resistiu, um jato quente de líquido espirrando em sua mão. Gideon capturou seus quadris, enterrando o rosto em sua garganta.

Ela o segurou por longos momentos, sentindo-se corada com o sucesso.

Arrastando a mão trêmula sobre o rosto, ele lançou-lhe um olhar vidrado, sua respiração ainda saindo em ofegos macios. — Não era assim que deveria acontecer. Você arruinou todos os meus melhores planos.

Alexandra deu uma risadinha, então olhou para sua mão.

— Aqui. — Disse ele, rasgando o colete e usando-o para limpar os dois. Ele o jogou de lado, então passou a mão pelo rosto novamente.

Ela mal teve dois segundos de aviso.

Um olhar ardente, e então ele a puxou em seus braços, sua boca caindo sobre a dela.

Um momento de choque a assaltou, mas ela não estava perdida desta vez. Ela ainda podia sentir o cheiro de sua colônia - o rico rum louro e o aroma de cravo-da-índia condimentado que ela sempre associava com Gideon.

Ele estendeu a mão, desabotoando seu vestido. Dedos calejados arranharam sua pele, e ela empurrou para o toque. Meu Deus. Ela nunca soube que poderia ser assim. Essas mãos em sua pele estavam causando estragos, derretendo-a de dentro para fora.

Ele mal tinha desabotoado a fileira superior de botões, e então estava puxando impacientemente a taça de seu espartilho. Alexandra engasgou e arqueou as costas, mal se importando que seu seio ficasse livre. Uma sugestão de calor encheu suas bochechas quando viu o olhar que ele deu a ela, e então a boca quente travou sobre seu seio, e Alexandra gritou. O doce puxão de sua boca parecia puxar diretamente entre suas coxas, e sua língua formou círculos lentos ao redor de seu mamilo.

Demais.

Muito longe.

Ela se sentiu oprimida e desfeita de uma maneira que nunca se sentiu antes. O quarto girou, deixando-a balançando contra sua coxa. Em seguida, seus lábios estavam raspando sobre ela, dentes duros e firmes, mas também...

Dentes.

A alegria se esvaiu de sua pele, como se ela tivesse caído no frio Tamisa.

— Pare! — Ela gritou.

A palavra ecoou pelo quarto quando Gideon congelou, erguendo a boca de sua carne. — Alexa?

Ela puxou o espartilho de volta, deslizando a manga sobre o ombro novamente enquanto ofegava. Que bagunça ela fez de si mesma. Suas saias estavam todas tortas. Ela ainda estava montada nele e a dor entre as pernas a deixou inquieta e frustrada consigo mesma.

— Você está bem? — Ele alcançou seus quadris, e ela lhe lançou um olhar contido.

Gideon congelou.

Alexandra pressionou o rosto contra as mãos. Por que isso não poderia ser fácil? Ela estava se divertindo imensamente. Foi perfeito. Tão perfeito. E então ela o arruinou no segundo que seus dentes roçaram seu mamilo.

— Eu sinto muito.

Ela queria gritar de frustração.

Dedos suaves acariciaram seu cabelo. — Você não tem nada para se desculpar, Alexa. Fui eu quem perdeu o controle. Eu nunca deveria ter forçado você tão longe. — Seus polegares acariciaram suas bochechas e ele lentamente baixou as mãos de seu rosto. — Você me desfaz de maneiras que tenho vergonha de admitir.

Alexandra mordeu o lábio inferior. — Nós tentamos.

Gideon balançou a cabeça. — Ainda não terminamos, meu amor. Isso nunca vai ser fácil.

— Mas...

— Aqui, — ele disse, deslizando a mão por sua espinha e se abrindo para ela. — Deixe-me te abraçar. Ouça meus batimentos cardíacos. Ainda está correndo e é tudo para você.

Alexandra caiu sobre ele, apoiando a bochecha em seu ombro. Sua mão espalmada por sua espinha, flutuando em um movimento suave e calmante. Para cima e para baixo. Para cima e para baixo. Ela relaxou centímetro a centímetro.

Minutos se arrastaram. Ela perdeu a noção do tempo quando fechou os olhos e se jogou no ritmo pulsante de seu coração.

Isso era o que ela queria. Para ser abraçada, mais do que qualquer coisa.

E até este momento ela não tinha percebido isso.

— Não me deixe ir. — Ela sussurrou.

— Nunca. — Ele sussurrou de volta.

 


Naquela noite, Alexandra ficou deitada sozinha na cama, ouvindo as brasas estalarem na lareira.

E ela não conseguia esquecer o calor de seu corpo e a pressão firme de sua ereção.

Era apenas em sua imaginação que ela poderia ser livre, e ela deixou seus pensamentos vagarem por áreas que ela nunca ousou considerar antes.

— O que você quer que eu faça? — Sussurrou Gideon, e em sua imaginação, ele estava de joelhos diante dela.

— Tire a roupa. — Ela respondeu.

Dando a ela um olhar insolente, ele tirou o casaco dos ombros e o deixou cair no chão. Sem nunca desviar o olhar de seu olhar ardente, ele lentamente começou a trabalhar em seu colete e camisa, até que puxou a bainha do linho branco de suas calças e revelou a pesada laje de seu abdômen e peito.

Uma pitada de pelo escuro atingiu seus peitorais, mas ele não tinha terminado. Deslizando a mão pela trilha de pelo escuro que mergulhava em suas calças, ele abriu vários botões e então parou.

Alexandra engoliu em seco. — Tudo isso.

Suas botas voaram. E então suas calças.

Finalmente ele ficou nu diante dela, cada centímetro firme dele brilhando sob a luz das velas. Ele cruzou para a cama em direção a ela, suas nádegas e suas coxas poderosas flexionando.

— Controle-se. — Ela ordenou.

Observando-a o tempo todo, ele patinou a palma da mão em sua barriga magra e agarrou firmemente seu membro. Apesar do tamanho de suas mãos, ele não conseguia fechar totalmente os dedos em torno dele.

A dor entre suas coxas aumentou.

O que era tão confuso.

Ela nunca pensou que o falo de um homem valesse mais do que a dor. Embora ela tivesse aprendido a tolerar a roupa de cama - com a aplicação generosa de linimento e uma taça de vinho de papoula - nunca tinha sido nada menos do que um tormento a ser suportado.

Mas isso desencadeou uma sensação inteiramente nova dentro dela.

Alexandra passou os dedos entre as coxas, estremecendo um pouco. Ela se sentiu exatamente como quando ela estava em seus braços, sua boca em sua pele. À beira de algo opressor e assustador.

Ela imaginou Gideon ajoelhado na cama e rastejando sobre ela, aqueles olhos escuros focados intensamente. — O que minha rainha quer que eu faça?

E enquanto a rainha acariciava entre suas coxas, ela pensou no que realmente queria dele.

— Me ame. — Ela sussurrou.

Um sorriso tocou seu rosto. — Eu sempre amei. E eu sempre amarei.


Capitulo 8


Fogos de artificio iluminavam o rio Tâmisa abaixo deles enquanto a rainha oferecia uma festa privada a bordo de um dirigível. O Cardiff era um cruzador de lazer, confiscado do duque de Pendlebury durante a revolta dos Filhos em Ascensão. Equipados com madeira dourada em cada canto e recanto, seus lustres brilhavam acima do salão de baile, iluminando a madeira polida do chão.

Os dançarinos giravam em círculos organizados enquanto Alexandra sorria e flertava ociosamente, inundada por potenciais pretendentes. Era exatamente como ela esperava.

A lisonja passou despercebida por seus ouvidos. Depois de dezenas de anos de elogios sem sentido, ela cresceu resistente a seus efeitos.

Além disso, não era realmente ela que esses príncipes estrangeiros estavam tentando seduzir. Era a rainha. Apenas uma figura de proa, uma mulher de poder. O trono que eles viam quando sugeriam uma aliança potencial. Alexandra não.

Alexandra nunca.

Ela dançou com um príncipe de Habsburgo antes de se encontrar nos braços do Príncipe Ivan mais uma vez.

Desta vez ela o estudou.

Não era justo compará-lo ao marido morto. Ele não era nem em feições nem em maneiras semelhantes. E, no entanto, ela não pôde deixar de sentir aquela sensação sufocante subindo por sua garganta no segundo que ele a levou para a pista de dança.

Muito alto. Ombros muito largos. Muito poderoso.

E irresistível em seus maneirismos.

Nada foi formulado como uma pergunta - embora isso pudesse ser seu domínio da língua inglesa. E ele a conduziu durante a valsa como um mestre empunhando um cavalo rebelde.

De vez em quando, ela vislumbrava uma das grã-duquesas olhando para ela da lateral do campo, olhando carrancuda para o vinho. A luz brilhava nos cabelos dourados da mulher, e seu vestido era cortado o suficiente para exibir um busto impressionante.

Ela era tudo que Alexandra não era - exceto por ser uma rainha.

— Não acho que sua conterrânea aprove. — Murmurou Alexandra, enquanto o príncipe a segurava pelo braço.

Ivan olhou na direção da duquesa, então encolheu os ombros. — Ignore-a. Xenia pensa que está além de sua posição. Ela é competitiva em todos os aspectos.

— Ela é uma competição? — Alexandra brincou.

Sua mandíbula se apertou de uma forma que ela não gostou. — Não. Embora ela desejasse ser.

Alexandra não pôde deixar de lançar outro olhar para a outra mulher. O olhar ardente agora fazia sentido e a deixava um pouco desconfortável.

— Eu acho que eu gostaria de um pouco de ar fresco. — Ela murmurou, tentando se desvencilhar dos segundos que as notas agonizantes da dança soaram.

— Claro. — Ivan galantemente ofereceu-lhe o braço.

Sozinha, Ela quis dizer.

Mas ela colou um sorriso no rosto e permitiu que ele a acompanhasse até o convés de proa. No segundo que eles chegaram, ela soltou o braço dele.

— Vinho? — Ele perguntou, empurrando a taça em sua direção.

Não era uma sugestão, e negá-lo seria causar uma cena. Alexandra aceitou a taça, levando-o aos lábios com um sorriso apaziguador, mas sem beber. — Obrigada.

Muitas vezes ela descobriu que precisava dizer muito pouco quando ele estava por perto, enquanto ele próprio preenchia o silêncio.

— São navios interessantes —, disse ele, dando um tapinha na borda da amurada. — Na Rússia, está frio demais para 'tomar ar' como vocês, ingleses. E o hélio nos envelopes do dirigível congela, o que os torna perigosos durante os meses de inverno. — Ele olhou para as luzes brilhando em Londres. — Mas este é um excelente passatempo. Meu povo iria gostar disso.

Ele continuou elogiando as habilidades e decorações do dirigível.

E então ele elogiou sua cidade, embora desejasse ter sido capaz de ver a Torre de Marfim antes que caísse - uma maravilha da era moderna.

E então ele começou a elogiar sua beleza. E sua bondade. E sua benevolência.

Os olhos de Alexandra começaram a ficar vidrados.

A ajuda chegou na forma de Sir Gideon.

— Ah, aí está você —, disse ele, oferecendo-lhe um copo de cordial aguado e fazendo parecer que ela havia pedido a bebida há muito tempo. — Eu pretendia trazer isso para você mais cedo, antes de ser abordado por Malloryn.

— Você não se importa com vinho? — O príncipe Ivan murmurou, seus olhos de águia observando cada movimento que ela fazia.

Alexandra tomou um gole de seu cordial. — Discorda de mim.

Ela passou anos o suficiente à deriva em um estupor nebuloso - o único meio que tinha de lidar com a crueldade de seu marido. Muito vinho. Muito leite de papoula. Foi uma fuga para ela, mas os efeitos foram assustadores. Depois de matá-lo, ela passou seis meses tentando aliviar seu domínio sobre ela.

Ela nunca iria voltar àqueles dias.

Os suores, as alucinações e, pior, a necessidade absoluta de deixá-lo lavá-la novamente. O desejo de obliteração.

Ela nem se atreveu a tomar um gole de leite de papoula ultimamente, com medo de ansiá-lo novamente.

— Você não disse. — Disse ele.

Gideon tossiu em sua mão. — A rainha é o epítome da educação. Atrevo-me a dizer que ela não queria ser rude.

O príncipe Ivan olhou entre eles. — Mas o que você bebe se não bebe vinho?

— Muitas coisas, Alteza. Você já ouviu falar dos efeitos restauradores dos cordiais? — Gideon começou, e de alguma forma ele genuinamente conseguiu soar como se esta fosse a conversa mais cintilante que ele já teve.

Uma mulher saiu do salão de baile, brilhando como uma estrela sob a luz a gás em seus drapeados de ouro. Joias brilhavam em cada dedo e brincos pingavam de suas orelhas. Havia até uma tiara fina em sua cabeça.

— Prima Imogen. — Alexandra chamou, tendo um vislumbre de sua velha rival.

Princesa Imogen enrijeceu antes de agraciá-la com um sorriso. — Sua Majestade.

— Você conheceu o Príncipe Ivan? Alteza, esta é minha prima, Sua Alteza Real, Princesa Imogen de York.

Foi cruel da parte dela, realmente foi, mas ela sabia que sua prima amaldiçoada não seria capaz de resistir a uma chance de se insinuar.

A mulher era uns bons dez anos mais velha do que ela e se ressentia do fato de sua mãe, a princesa Amélia, não ter nascido homem, já que ela era a mais velha de seus irmãos e, portanto, poderia ter recebido a coroa em seu lugar. Alexandra demorou muitos anos para perceber por que sua prima se ressentia dela, embora a mulher fosse bastante inofensiva.

— Vossa Alteza. — A Princesa Imogen murmurou, olhando por debaixo de seus cílios coquete enquanto o príncipe levava a mão dela aos lábios.

Seu olhar se desviou diretamente para o peito dela. Claramente ele era um homem de gostos simples.

Alexandra olhou para Gideon, e ele sorriu fracamente em resposta, como se os dois estivessem pensando a mesma coisa.

— Eu vim buscar você —, disse ele. — Malloryn deseja falar com você antes dos discursos.

— Ele deseja?

— Sim. — Gideon disse, olhando-a nos olhos careca.

Oh. — Se me der licença, Alteza — Alexandra disse ao príncipe. — O dever chama. Tenho certeza de que minha prima será uma boa substituta.

O príncipe Ivan pareceu perceber que sua presa estava desaparecendo. — E ainda, meu coração fica vazio. Nenhuma mulher poderia substituí-la dentro dele. Você vai me guardar uma dança?

— Claro. — Interiormente, ela suspirou.

Mas pelo menos ela teria um momento longe dele. Eles se despediram e ela praticamente fugiu.

— Eles formam um lindo casal. — Gideon murmurou enquanto os dois se esquivavam.

— Sim. Eles combinam um com o outro. — Ela juntou as saias. — O príncipe adora falar de si mesmo, e minha prima gosta de sua própria importância. Agora, Malloryn realmente deseja me ver?

— Não. Eu menti.

— Que choque, Gideon. Achei que você fosse um modelo de honestidade.

— Eu temia que minha rainha fosse se lançar sobre a amurada em busca de uma fuga. Arrisquei minha honra para salvar a vida dela.

— Você é horrível. — Mas ela riu. — Obrigada. Agora, talvez eu possa recompensá-lo com uma dança?

— Talvez eu deva levar todas elas, para que você não fique sobrecarregada por aquele enorme estúpido.

Alexandra ofereceu-lhe um sorriso secreto do outro lado do convés. — Ora, ora, Gideon. Se eu concedesse a você todas as minhas danças, as pessoas sussurrariam que eu pretendia cortejá-lo.

Seus olhos escuros encontraram os dela, e ele quase parecia querer dizer algo.

Mas então a porta se abriu, luz e risos transbordando, e ela não podia perguntar.

 


Três manhãs depois, Alexandra se viu mais uma vez acuada.

Ela tinha acabado de montar a bela égua cinza que ela preferiu quando o Príncipe Ivan apareceu do nada.

— Sua Majestade. Que sorte. Eu ia dar um passeio esta manhã também. — Ele estalou os dedos e um dos cavalariços conduziu um garanhão negro rebelde, totalmente preso.

— Que sorte, de fato. — Ela respondeu secamente.

Malloryn estava por trás disso?

Ela não podia imaginar que o duque se importaria em lidar com aquele sangue azul irritante - e Ivan não era o tipo de pessoa que respondia bem à parte de Malloryn - mas quem sabe? Alguém claramente o estava alimentando com informações sobre seus hábitos comuns.

Sem se dignar a esperar por ele, ela deu um trote com a égua e saiu cavalgando pelas ruas que levariam ao Hyde Park. Na manhã nublada, ela quase podia se sentir sozinha, ignorando a dupla de guardas que a seguiam e o príncipe que esporeava seu cavalo atrás dela.

Ela cavalgou por quase uma hora antes de deixar seu cavalo cair para um passeio, deixando cair a cabeça para se aninhar em uma margem gramada.

— Você cavalga bem, minha rainha. — Príncipe Ivan falou, facilitando para o lado dela.

— Obrigada.

— Eu queria falar com você a sós. — O príncipe Ivan a presenteou com uma pequena caixa. — Eu tenho um presente. Um símbolo —, disse ele. — da minha afeição.

Afeição. Meu Deus. Ela mal o conhecia, embora tivesse que admitir que ele estava desempenhando bem seu papel. — Obrigada, Sua Alteza. Você é muito gentil.

Ela abriu a caixa de veludo.

Um broche de escaravelho dourado estava acolchoado dentro dele, para ser amarrado em seu peito com um alfinete. Ela o ergueu, girando a pequena engrenagem mecânica ao lado do corpo. Instantaneamente, suas asas começaram a tremular e ele rastejou sobre seus dedos. — Que adorável. Minha querida amiga, a Duquesa de Casavian, tem um igual a este, embora a dela seja uma aranha.

— Eles me disseram que estão na moda em Londres. — Ele respondeu.

Ela nunca os tinha visto, mas às vezes era mantida à distância do resto do mundo. Era possível.

Alexandra prendeu o pequeno broche na lapela, admirando o quão bem o ouro cintilava à luz do amanhecer. — Obrigado. É adorável.

— Um lindo presente, para uma linda rainha.

Sim, está bem. Ela forçou um sorriso e decidiu que também podia conversar. Ela não poderia dizer “obrigada” novamente. — Você está gostando de Londres?

— Muito mesmo. — Ele imediatamente se iluminou. — Há muito o que fazer aqui e eu gostaria de prolongar a experiência.

— Você é um dos bisnetos favoritos de Catherine, no entanto, — ela protestou. — Certamente sua bisavó desejaria sua presença na corte.

— Ela não acorda há muitos anos. Eu acredito que este verão pode muito bem ser o último. — Ele encolheu os ombros e deu-lhe um olhar firme. — Pode não ser sábio ser neto na corte quando ela for aprovada.

O filho mais velho de Catherine, a quem ela nomeou herdeiro, foi assassinado, e agora o resto deles disputava uma posição.

— Ah, — ela disse. — Talvez um verão no sul, então?

— Possivelmente. — Seu cavalo balançou a cabeça e ele a olhou nos olhos. — Embora eu tenha esperanças de poder gastá-lo aqui.

Um pouco presunçoso. Ela sorriu. — Não é tão quente e ensolarado quanto o Mediterrâneo, embora Londres ganhe vida durante o verão. Você iria gostar.

— Posso perguntar...? Sir Gideon é um amigo, não é?

Alexandra congelou. — Sim. Um querido amigo. Ele é um dos conselheiros que governam a cidade. O duque de Malloryn é outro. Você conheceu Malloryn, sim?

Os olhos do príncipe Ivan se fecharam. — Sim, eu conheci o duque. — E claramente não gostou do encontro.

O silêncio caiu.

Ela podia senti-lo se preparando para fazer outra pergunta, e cutucou os calcanhares contra os flancos do cavalo. — É hora de voltar, eu acho. Haverá café da manhã no gramado, e então acredito que devemos jogar croqué. Malloryn estará lá. Vou apresentá-lo novamente...

— E Sir Gideon? — Desta vez, ele olhou para ela com ousadia.

Alexandra girou sua égua. — Eu acredito que sim.


Capitulo 9


Na manhã seguinte, a rainha fugiu de seus pretendentes e encontrou um gramado tranquilo nos jardins.

Sua solidão não foi concedida por muito tempo. A risada de uma criança ecoou pelo ar, e então Mina apareceu com a pequena Madeleine, segurando uma pipa na mão.

No segundo que a menina a viu, seu rosto se iluminou e ela correu para dar um abraço em Alexandra. — Tia Alexandra.

A rainha bagunçou seu cabelo, curvando-se para beijar sua testa. — Meu coelhinho. Se continuar correndo assim, você vai tropeçar e manchar seu avental.

Maddie sorriu. — Eu nunca tropeço!

O sorriso de Alexandra desapareceu quando ela olhou para a amiga. — Vejo que você está usando minha afilhada contra mim.

— Bobagem —, respondeu Mina. — É um dia adorável, e como sua amiga mais querida, há muito tempo me foi concedido o controle do terreno aqui em Kensington. Foi mero acaso que encontramos você.

— Eu acabei de perdoar você. — Ela respondeu asperamente.

Mina apertou as mãos nas cordas da pipa. — Excelente. Achei que você ainda estava me evitando.

Alexandra se virou. — Você presume muito.

— Sempre. — Virando-se contra o vento, sua amiga puxou a pipa várias vezes, então agarrou a corda quando ela subiu de repente. — Aqui, Maddie-amor. Fique longe das árvores. Eu me recuso totalmente a escalar uma hoje.

— Sim mamãe. — Madeleine sorriu para as duas ao aceitar o cordão. A pipa quase a derrubou, mas ela usou sua força de sangue azul para controlá-la. Qualquer criança normal provavelmente teria caído de cara no chão.

— Parece que ela cresceu oito centímetros. — Murmurou Alexandra, enquanto a garotinha corria pela grama, sua pipa girando no céu.

O sorriso de Mina sumiu. — Conseguimos encontrar uma fórmula que a sustenta. Malloryn sugeriu isso, na verdade. Um de seus renegados descobriu uma solução de proteína com a qual um sangue azul pode sobreviver sem ser forçado a beber sangue.

A menina nascera com o vírus do desejo, mas se recusava a beber sangue. Alexandra não podia dizer que a culpava, embora a pobre Maddie tivesse estado doente durante a maior parte do primeiro ano e chorado sem parar até que seus pais perceberam que ela precisava de mais do que uma ama de leite.

Estava se tornando uma aflição comum à medida que mais e mais crianças nasciam de pais de sangue azul - ou, para ser mais específica, mães de sangue azul. Uma vez, o Escalão insistiu que apenas os homens recebessem os rituais que os infectavam com o desejo, mas com mais e mais mulheres sucumbindo ao vírus, eles tiveram que lidar com esse novo problema que havia surgido.

— É um alívio, devo admitir. — Mina caminhou ao lado dela e, pela primeira vez, sua reserva fria se desvaneceu. — Não há nada pior do que não saber como ajudar seu filho. — Seu rosto empalideceu de repente. — Eu sinto muito, Alexa. Isso foi falta de consideração.

Alexandra se virou. — Você não quis dizer isso.

— Eu sei. Mas eu não deveria ter mencionado isso.

Ela observou a pequena Madeleine fazer uma reverência a um dos jardineiros. Maddie tinha os cachos ruivos e olhos escuros de sua mãe, mas seu sorriso era pura travessura, assim como o de seu pai.

Uma pontada familiar de desejo a percorreu.

Edward teria quase sete anos agora. Ela mal teve a chance de vê-lo antes que eles o levassem embora, mas ele usava uma abundante cabeleira escura - assim como o dela - e embora seus olhos estivessem fechados para sempre, sua pequena boca em arco era toda dela também. Não havia nada de seu pai nele.

Uma mão agarrou a dela e Alexandra engoliu em seco enquanto Mina a apertava. — Ele era um menino lindo.

— Ele era — ela sussurrou. Nunca era fácil falar disso, mas fazer isso mantinha a memória viva. — Sinto muita falta dele. Ele teria adorado brincar nesses jardins.

— Você deveria ter uma placa erguida aqui.

Alexandra respirou lentamente. — Você acha?

— Debaixo dessas árvores —, respondeu sua amiga, apontando para um canto com sombra. — E você pode sentar lá quando quiser visitá-lo. Posso ir com você e Maddie pode trazer sua pipa.

Ela acenou com a cabeça brevemente. — Obrigada. É uma ótima ideia. Vou falar com o jardineiro-chefe.

Elas caminharam ao longo do caminho, ambas perdidas em silêncio. Às vezes, ela odiava como sua perda causava tantos silêncios. Apenas Mina se atreveria a falar sobre isso com ela, e ela não podia dizer à sua querida amiga o quanto isso significava para ela.

Instantaneamente, ela a perdoou pelo voto contra seus interesses.

— Você não está ficando cansada de bailes ainda? — Mina perguntou.

— Estou ficando cansada de fingir que estou sorrindo para alguma tentativa mal concebida de humor.

Uma risada escapou da duquesa. — Então não faça. Eles estão aqui para cortejá-la. Não você eles.

— Estou tentando não insultar um príncipe estrangeiro, — ela respondeu secamente. — A Inglaterra tem inimigos suficientes, muito obrigada.

— E você tem alguma preferência? — Sua amiga perguntou.

— Isso importa? Minha preferência seria permanecer solteira, mas meus desejos raramente são levados em consideração. Acho mais apropriado que o conselho me diga qual de seus candidatos seria o preferido, já que eles estão administrando meu reino por mim no momento.

Mina arqueou uma sobrancelha.

Ótimo. Ela ainda estava irritada.

— Eu não acredito que o conselho como um todo tenha uma preferência, embora eu tendo a concordar com a escolha de Malloryn desta vez. — Mina respondeu.

— Você o quê? — Alexandra parou no meio do caminho. — Desde quando você concorda com Malloryn?

— Eu sempre concordo com Malloryn quando ele faz sentido.

— Quem? Quem é esse?

— Ah não. — Mina balançou a cabeça. — Se eu mencionar um nome, posso inadvertidamente contornar todo o processo. Você é teimosa, minha querida.

— E você é uma péssima amiga. — Alexandra avançou pelo jardim. — Conspirando com Malloryn pelas minhas costas.... O que seu marido acha disso?

— Meu marido apenas revira os olhos e diz a nós dois para deixá-la em paz.

— Hmph. Barrons é um homem excepcional com excelente senso.

Um som escaldado ecoou na garganta de Mina. — Por favor, não diga isso a ele. Nunca vou ouvir o fim disso.

— Eu deveria fazer um desfile só para ele.

— Se você ao menos pensar sobre isso —, Mina avisou, — então direi a Malloryn que você não tem pretendentes suficientes para enfrentar.

Alexandra deu um tapa nela com o leque pendurado em seu pulso. — Trégua.

— Trégua. — Mina segurou seu braço. — Que broche inteligente. Parece minha aranha.

— Obrigada. — Alexandra virou o ombro para a amiga. — Foi um presente do Príncipe Ivan.

— Você o favorece?

Alexandra caminhou pela grama, escolhendo o caminho por entre as palavras. — Ele tem uma linha de sangue excelente. Fortes laços com a czarina.

— Bons dentes e uma constituição saudável? — Mina murmurou ironicamente. — Você não está escolhendo um cavalo para correr em Newmarket. Ele tem sido gentil com você?

— Ele é brusco e seu interesse é bastante claro. — Ela suspirou. — Não, eu não gosto dele. Eu o tolero porque devo. Embora talvez ele tenha sido o mais franco de todos os meus pretendentes. O irmão do duque de Alba mal consegue entender uma palavra do que eu digo.

— Não se case com o príncipe. — Disse Mina com desdém.

— Por que não?

— Você não se importa com ele —, respondeu Mina. — Escolha alguém de quem você goste.

— Não tenho o luxo de insistir em alguém de quem gosto. — Respondeu ela secamente.

— Se não for amor, pelo menos insista na amizade, — Mina repreendeu. — Eu quero ser feliz por você. Eu quero ver um sorriso em seu rosto.

Alexandra suspirou. — E eu quero um país que se estabelece em um estado entediante de indiferença, um conselho que não tenta me impedir a cada passo, e o fim de ser baleada ou envenenada.

— Nenhuma palavra sobre a pessoa por trás do esquema?

— Malloryn ainda está revirando pedras. Você também não acha que foi o cozinheiro?

— Eu gostaria de ser tão ingênua, — Mina disse brevemente. -— Mas se Malloryn acha que há mais do que isso, acho que ele está certo. Ele não é tolo.

— Mamãe!

Os dois olharam para a direita, onde Maddie estava desamparada sob um par de freixos, sua pipa vermelha pairando nos galhos.

Mina suspirou. — Eu juro que se eu dissesse a ela para pular na lagoa, seria a única vez que ela não faria isso.

— Espero que você esteja com seus sapatos de escalada. — Alexandra respondeu com grande prazer.

— Não tente curtir muito isso. — Mina rosnou, puxando faixas de sua saia para fora do caminho enquanto ela caminhava em direção à árvore.

— Oh, não, — ela chamou. — Vou aproveitar cada momento disso. É o mínimo que você merece.

 


— O que você acha disso? — Alexandra murmurou.

Malloryn cruzou as mãos atrás das costas. Ele parecia distraído, e ela teve que estalar os dedos para chamar sua atenção. Aqueles olhos cinza tempestuosos piscaram em foco. — Perdão?

Alexandra se endireitou a partir dos planos que seu arquiteto havia desenhado para o Palácio de Buckingham. Sua tataravó, a rainha Carlota I, havia concluído a construção em 1836, mas o marido de Alexandra sempre desprezou o lugar e preferiu criar seu próprio legado. Ele persuadiu o pai dela, o rei Michael I, a começar as reformas da casa de banquetes que restou dos incêndios no Palácio de Whitehall, perto do Tâmisa.

Depois de derrubar seu pai e forçá-la a se casar, ele insistiu em concluir essas reformas, embora o projeto tivesse se expandido além do pensamento. Ela ficou conhecida como Torre de Marfim, um farol brilhante de pureza que deveria governar Londres para sempre. Se havia uma coisa pela qual ela poderia agradecer a Lorde Balfour, era destruir o monumento amaldiçoado de seu marido.

E, no entanto, tal destruição agora a deixava sem nenhuma residência particular para chamar de sua. Windsor ficava muito longe de Londres. Kensington pequeno demais para sua corte inteira. Seu povo precisava vê-la. Eles precisavam ser lembrados de que ela era sua rainha e que todos os monumentos de seu marido não eram nada mais do que cinzas e poeira, assim como ele.

E Buckingham atendia a seus propósitos. Ou pelo menos seria.

— Você está me ignorando, Malloryn? Estou te entediando? — Ela exigiu.

— Não, — ele respondeu bruscamente, então beliscou a ponta de seu nariz. — Me desculpe. Eu estava pensando.

— Pensando. — Alexandra se endireitou. — Você acha que pode pensar um pouco mais no que venho dizendo, e não no que quer que esteja te atormentando

Malloryn olhou para ela.

Alexandra olhou de volta. Ele não estava se comportando como ele mesmo. — Bem?

— Há algo que devo fazer primeiro. — Ele murmurou.

E então, para seu choque, ele se ajoelhou aos pés dela.

— O que você está fazendo?

— Me desculpando —, disse ele. — Foi trazido à minha atenção que eu... posso pressioná-la demais e tentar controlá-la, quando deveria ser o contrário. E eu queria que você soubesse que não me vejo como outra coisa senão seu servo. Eu sou leal, minha rainha. Mesmo quando estou... administrando assuntos. Eu só tenho seus melhores interesses no coração. — Sua voz ficou áspera. — E se você deseja que eu me aposente como seu Mestre das Sombras, então eu o farei.

Alexandra ficou boquiaberta.

De todas as coisas que ela nunca esperava ouvir...

— Meu Deus —, disse ela. — É isso que sua esposa está fazendo?

Seu rosto se contorceu. — Minha esposa mencionou algo sobre isso, sim. Embora tenha sido a Srta. Townsend quem primeiro abordou o assunto. — Ele olhou para cima. — Eu estava pressionando você para se casar e estava errado. Você deve ser livre para fazer suas próprias escolhas.

— Sou livre para fazer minhas próprias escolhas. — Alexandra deu a volta na mesa, indo para a garrafa no aparador. Ela derramou um gole de cordial em um copo e deu um gole. — Você está tentando me dizer que não acha que eu deveria me casar?

— É claro que acho que você deveria se casar. — Disse ele, apoiando as mãos em uma coxa.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Eu não vou mentir. É exatamente o que acho que você deve fazer. Mas eu fiz da maneira errada. Conversei com vários membros do conselho e conduzi você a essa votação. Eu sabia que caminho tomaria e deliberadamente encurralei você. Eu deveria ter falado com você sobre isso, e somente você. E então eu deveria ter confiado em você para tomar a decisão certa. — Seu rosto endureceu. — Perdi sua confiança.

— Levante-se. — Ela disse com firmeza, porque enquanto uma parte dela gostava de vê-lo apoiado em um joelho, também a enervava um pouco. Malloryn era a arma que ela sempre teve em suas costas. E enquanto aquela arma às vezes a esfregava do jeito errado, ela dormia melhor à noite sabendo que ele estava lá fora, protegendo-a. — Se eu não confiasse em você, Malloryn, eu o teria trancado em uma cela há muito tempo. Você é muito perigoso e sabe demais para se libertar, mas sempre soube que você reserva esses instintos para aqueles que continuam sendo inimigos do império. E sim, às vezes você se ultrapassa. E sim, você está administrando um pouco — Ela olhou de volta para seus mapas. — mas às vezes, posso admitir em particular para mim mesma que você está certo, quando eu estou errada. Preciso de você ao meu lado para me lembrar desses momentos. Muitos outros não, e como meu pai sempre dizia, um governante sábio ouve até mesmo aqueles que falam contra ela.

— E então faz o que diabos alguém deseja de qualquer maneira. — Ele disse mecanicamente enquanto se levantava.

Isso ganhou um sorriso dela. — Ele disse isso, sim.

Malloryn encostou-se à mesa, cruzando os braços sobre o peito. — Ele ficaria orgulhoso de você, sabia?

Ela mexeu os dedos nos planos. — Eu gosto de pensar assim.

O silêncio caiu.

Ela podia ver os pensamentos correndo em seus olhos, quando ele claramente começou a restaurar seu equilíbrio. E seu primeiro pensamento foi que isso não funcionaria, mas ela seria culpada da coisa exata pela qual ele se desculpou?

— Eu aceitarei suas desculpas, — ela disse lentamente. — E eu tenho certeza que estaremos discutindo sobre a mesa do conselho dentro de alguns meses, como se essa conversa nunca tivesse acontecido. Mas você estava certo. Eu não gosto da maneira como você manobrou minhas costas contra a parede. Se você acha que algo precisa ser feito para o bem do império, venha até mim. Eu prometo que vou ouvir. E prometo que vou pensar em uma resolução. Mas sua esposa e amiga também têm razão: não posso continuar assim. Eu preciso saber que posso confiar em você.

Seu foco parecia ter mudado novamente. Ele inclinou a cabeça e olhou para o lado, franzindo a testa.

Ela queria bater com o punho na mesa. — Malloryn!

Em vez disso, ele ergueu a mão. — Que barulho é esse?

— Que barulho?

Atravessando a biblioteca, ele caminhou ao longo das estantes, estreitando o xale que ela estava usando. Agachando-se na frente da cadeira em que estava pendurada, ele o sacudiu, revelando um brilho de ouro.

Agarrado ao xale, o pequeno escaravelho zumbiu as asas. O que diabos ele estava fazendo? Ela não o havia pegado desde esta manhã, e suas funções haviam cessado várias horas atrás.

— Oh, isso, — ela disse, com algum alívio. — É meu broche. O príncipe Ivan me deu. Ele bate as asas e rasteja pelo meu corpete.

— Isso geralmente faz aquele barulho estridente de choramingo?

Alexandra enrolou os planos, franzindo a testa. — Que barulho de choramingo?

Malloryn fez uma adaga aparecer de repente. Ele a enfiou sob o escaravelho e o pequeno dispositivo rastejou até a lâmina. Abaixo de sua carapaça, parecia brilhar. Pequenas linhas de luz mostraram onde suas costuras se encontravam.

— Não, não importa. — Ela se aproximou, mas ele ergueu a mão para mantê-la afastada.

— Algo sobre isso não me parece bem.

— É um broche, Malloryn. Eles estão na moda em Londres, disse o príncipe Ivan.

— Londres? — Ele ergueu os olhos bruscamente. — Como ele saberia disso? Ele chegou há apenas uma semana.

Alexandra recuou rapidamente.

— É muito pequeno —, disse Malloryn, quase para si mesmo. Ele enfiou a ponta da adaga sob a carapaça do escaravelho, e o gemido se tornou audível aos ouvidos dela quando o broche do escaravelho começou a se debater violentamente. — Não pode haver explosivos dentro dele.

— É só um broche. Você é...

Um grito agudo ecoou atrás dela.

Ambos giraram em direção às janelas abertas.

— O que é que foi isso? — Ela exigiu.

Malloryn caminhou em direção à janela quando uma forma semelhante a um falcão passou voando. — Parece ser algum tipo de gerifalte.

— Um gerifalte? — Circulando pelo Palácio de Kensington?

Ele se inclinou para fora e fechou as janelas, então se virou para ela. — Vou levar o broche para Ava e ver o que ela pensa. Vou enviar Gemma e Dmitri para sentar com você.

— Você está começando a me deixar nervosa, Malloryn.

— Estou apenas sendo cuidadoso.

Por cima do ombro, uma sombra começou a crescer através do vidro. — Malloryn. — Disse ela, seu olhar travando no borrão de movimento.

Ele se virou.

O vidro se estilhaçou quando o gerifalte passou por ele. Alexandra gritou e ergueu a mão para se proteger, mas a criatura passou por ela. Asas de bronze brilharam na luz, e ela teve um vislumbre de engrenagens de um relógio zumbindo. Não um pássaro. Um dispositivo.

Com um grito agudo, o pássaro mecânico voou direto para Malloryn. Ele jogou o escaravelho pela biblioteca, e o falcão imediatamente tentou se inclinar, virando a cabeça para rastrear o escaravelho. Ele bateu na parede atrás de Malloryn e explodiu.

Alexandra ergueu os dois braços.

Um peso atingiu seu diafragma - Malloryn, ela pensou - e ela bateu no chão quando os escombros atingiram os dois. Calor rolou sobre ela, o vento de sua passagem chicoteando seu cabelo livre de seu coque.

E então o calor e o som morreram, deixando-a ofegante no chão, ouvindo o crepitar do fogo.

— Você está bem? — Malloryn exigiu, colocando-a de pé. As chamas lamberam a parede oposta e metade de seus livros estava em chamas.

— Minha biblioteca. — Ela sussurrou.

Outro pássaro gritou ao longe.

Ambos olharam para a fileira de janelas.

— Tem outro. — Ele disse sem fôlego, puxando-a em direção à porta.

Só que não havia porta. Sem porta, sem parede, sem meios para cruzar a fenda aberta no chão. Os dois estavam presos na metade da biblioteca que estava intocada, e ela virou a cabeça lentamente, encontrando o pequeno broche de escaravelho esvoaçando pelo chão atrás dela.

O calcanhar de Malloryn bateu nele com um estalo. — É um farol de rastreamento.

Outro grito agudo ecoou pelas janelas.

— Vamos! — Ele gritou, puxando-a para o enorme abismo no chão.

— Malloryn! — Ela gritou.

Pegando-a em seus braços, ele correu em direção à abertura e lançou os dois por cima. Os guardas correram em direção a eles, e ela viu um lampejo de rostos assustados antes que Malloryn pousasse com um baque surdo.

Alexandra caiu de seus braços enquanto eles caíam de cabeça para baixo nos tapetes de Aubusson. Atrás deles, outra explosão ruidosa sacudiu o prédio. O lustre acima dela estremeceu e várias pinturas caíram das paredes quando um dos guardas deslizou para o lado dela e se jogou sobre ela.

— Sua Majestade!

— O que aconteceu?

E Malloryn: — Protejam o edifício. Eles estão enviando dispositivos explosivos. Eu acredito que destruí o farol que os convocou, mas não podemos ter certeza. Abatam qualquer coisa que voe em direção ao palácio.

Ela se virou para olhar em direção a seu cômodo favorito. As chamas lambiam o batente da porta, embora metade da parede fosse entulho. O resto da biblioteca havia sumido. Simplesmente desapareceu.

— Você está bem? — Perguntou o homem que a protegia.

Ela olhou para os olhos azuis claros. Era um dos homens de Malloryn. Byrnes, ela pensou. — Acho que sim.

As palavras soaram distantes.

— Leve a rainha para seus aposentos e coloque uma guarda rotativa na porta. — Malloryn ficou de pé, o rosto manchado de fuligem. — Acho que vou querer falar com o príncipe Ivan.


Capitulo 10


Malloryn encontrou o príncipe jogando alguma forma de gamão em uma sala com vários de seus compatriotas, embora as regras parecessem um pouco diferentes.

— Vossa Alteza, — ele cumprimentou, com uma leve inclinação da cabeça. — Posso ter uma palavra?

— Você pode ter várias, como eu sei que você gosta de conversar, Malloryn, — Ivan anunciou, o que rendeu uma risada de seus amigos. Embora eles conversassem, mas raramente, ele rapidamente percebeu que Ivan o via como uma espécie de ameaça.

— Sozinho.

O sorriso do príncipe desapareceu e ele estalou os dedos. O trio de seus companheiros desapareceu e o príncipe gesticulou para a cadeira à sua frente.

— Quer um jogo? — Ivan perguntou.

— Parece familiar.

— Nardy — O príncipe respondeu com um encolher de ombros. Ele explicou rapidamente as regras e jogou os dados nas mãos de Malloryn. — Sobre o que você deseja falar?

— Onde você estava uma hora atrás? — Malloryn rolou o dado.

O príncipe levou à boca uma xícara de alguns espíritos fedorentos. — Eu não tenho que responder isso.

— Você não precisa. — Malloryn considerou seu primeiro movimento. — Mas você devia. Alguém tentou matar a rainha antes. Estou interessado em seu paradeiro.

— Eu estava atendendo a grã-duquesa Xênia Nikolaevna em sua suíte pessoal. — Os olhos do príncipe Ivan brilharam perigosamente. — E tenha muito cuidado do que você está me acusando. Posso ser seu príncipe governante um dia.

Duvidoso.

Especialmente se tal atendimento à duquesa significava o que Malloryn pensava que significava.

— Não estou te acusando de nada. — Ele jogou os dados e fez um movimento. — Estou apenas curioso. Especialmente considerando que o broche que você deu à rainha era um farol de rastreamento para os dispositivos usados para atingi-la.

Ivan engasgou com a boca cheia. — O quê?

Interessante.

Ele não parecia estar muito preocupado com uma tentativa de assassinato contra a rainha, mas a ideia de ter seu nome jogado na lama o incomodava.

— Alguém tentou matá-la, e a única pista que tenho é o presente que você deu a ela. — Embora ele nunca esperasse que Ivan estivesse por trás disso - apenas um idiota se vincularia tão abertamente a um crime - nunca machucava fazer um suspeito pensar que poderia ser considerado culpado.

— Eu não tive nada a ver com aquele broche! Uma inglesa me sugeriu! Ela disse que havia um joalheiro na cidade que criava esses artefatos e que a rainha gostaria, pois sua amiga tinha um. Ela disse que se eu desejasse dar um presente irremediável à rainha, então deveria comprar dele!

Um presente irremediável?

Malloryn ficou imóvel. — Alguém sugeriu que você desse o broche à rainha? Quem?

Ivan lançou-lhe um olhar perplexo. — Ela era uma das damas da corte. Uma loira com grande... — Ele fez um gesto em forma de concha com as mãos na frente do peito. — Não lembro o nome dela. Todos eles parecem estranhos para mim. E todas elas parecem iguais. Você cria mulheres pálidas e insípidas neste país.

— Quem era o joalheiro?

— Eu não sei. Na cidade. Meu amigo Danil, ele me leva lá. Ele pode se lembrar do endereço. Eu pensei pouco. Era pequeno e sujo. Não o tipo de lugar que eu esperava encontrar algo para uma rainha, mas o broche, o broche era magnífico, certo?

Certamente era.

Malloryn ficou de pé. — Quem é Danil?

 


O desejo de mandar buscar vinho - ou pior - atormentava Alexandra enquanto ela avançava durante o dia.

Mais um dia, ela sussurrou para si mesma. Mais um dia sem leite de papoula ou vinho. Você é forte o suficiente. Você não precisa disso.

O mesmo mantra amaldiçoado que ela repetia para si mesma diariamente.

Falar de Edward com Mina esta manhã tinha sido de alguma forma catártico e também deixou uma ferida aberta dentro dela.

Mas nunca houve um dia em que ela o esqueceu. Nunca um momento em que ela não visse algo e pensasse, “oh, ele teria adorado aqueles soldadinhos de brinquedo” ou “ele teria ficado terrivelmente entediado neste banquete”.

Ele preenchia sua vida, mesmo sete anos após sua perda. E essas memórias foram as armas mais brilhantes contra sua luta contínua para conter-se de sucumbir a uma fuga. Ela perdia esses pensamentos, aquelas memórias, quando ela estava entorpecida com papoula. Ele merecia coisa melhor do que uma mãe que flutuava pela vida sem emoção.

Não tornava nada mais fácil.

Ela assistiu a várias reuniões e suportou um jantar formal com o conselho enquanto eles faziam planos para lidar com a cúpula escandinava que ocorreria em maio.

— Você ficou quieta —, murmurou Gideon enquanto se acomodava na cadeira ao lado dela. — Você se recuperou da provação de ontem?

— Muito em minha mente. O passado. O futuro. — Ela suspirou. — Pássaros mecânicos caindo do céu em minha direção.

— Minha rainha se preocupa muito.

— E não todos? — Ela tentou amenizar isso.

Ele examinou o conselho. — Talvez, por uma vez, devêssemos aproveitar o que temos? Uma noite em que o dever e a obrigação não pesem muito sobre nós. Tenho certeza de que seus súditos não invejariam você uma noite.

— Não são meus súditos que invejam isso.

Ele encontrou seu olhar. — Você se mantém em padrões elevados, eu sei. Mas você deve ser um pouco mais gentil consigo mesma.

Alexandra suspirou. — Quantas pessoas do meu povo sofreram enquanto eu era forçada a desempenhar meu papel sob o nariz do príncipe consorte? Quantas pessoas do meu povo morreram porque não ousei desafiá-lo com muita frequência?

— Você estava no controle do império naquela época?

Ela fez uma careta. — Eu era rainha.

Gideon balançou a cabeça. — Você estava no trono, cercada por uma corte inteira de predadores sedentos de sangue. Seu marido tolerava pouca recusa em seguir seus caprichos. Eu vi a maneira como você olharia para ele se ousasse desafiá-lo. Eu vi seu tremor, mesmo enquanto você mantinha sua cabeça erguida e se recusava a desviar o olhar. E eu sabia que esse desafio custaria a você. Todos nós sabíamos disso. Você acha que eu não me julgo culpado por não fazer algo mais para prevenir tais crueldades?

— Ele teria matado você se você tivesse falado. — Ela apontou.

— Eu sei. Mas talvez uma voz levantando-se em desafio teria permitido a outros a mesma bravura. — Gideon olhou para longe. — Muitas vezes me pergunto se meu silêncio custou a você e ao reino muito mais do que eu posso imaginar. E eu nunca vou permitir que meu silêncio falhe com você novamente.

— Seu silêncio nos permite sentar aqui agora, esta noite, sabendo que ele está morto e enterrado e agora podemos dar ao nosso povo a segurança e a liberdade que lhes é devida.

Gideon sorriu, — E minha rainha argumenta tão veementemente contra suas próprias dúvidas?

Não, ela não disse. Mas ela sentiu cada morte durante aqueles anos como se ela mesma tivesse ordenado. — Não sei por que discuto com você. Você sempre tem uma maneira de me fazer querer concordar com você.

— Então não discuta comigo, — ele apontou, os cantos de seus olhos enrugando. — Apenas concorde. Você deveria ser mais gentil consigo mesma, minha rainha. Eu sei que você deseja destruir todas as leis que seu marido criou, mas isso não vai acontecer hoje. Ou amanhã. Ou mesmo dentro do ano. Centímetro por centímetro, levamos este país de volta à promessa que um dia teve.

— Nós? — Ela perguntou, um pouco sedutora.

Os cílios de Gideon obscureceram seus olhos. — Nós. Pois o conselho está ao seu lado, preparado para cumprir todas as suas ordens.

Alexandra contrabandeou um sorrisinho secreto. Pois ela entendeu que ele não estava falando sobre o conselho. — Talvez você esteja certo então. Talvez eu devesse me permitir esta noite de liberdade. O que você sugeriria?

— Xadrez, — ele disse imediatamente. — Posso até permitir que você vença.

— Permitir? — Como ele se atreve?

Gideon riu baixinho. — Vou pagar por isso, não vou?

— Eu vou destruir você. — Ela jurou.

 


— Sir Gideon? — Alexandra chamou. — Uma palavra com você, se me permite?

O olhar de Gideon se ergueu lentamente para o dela, enquanto o resto do conselho saía pela porta. Ele estava meio virado para seguir os outros, mas parou com suas palavras imperiosas.

Ela olhou para os outros, mas Malloryn estava em uma profunda conversa com o Barrons e não se deteve. Um pouco de emoção a percorreu com o pensamento de inventar uma sedução debaixo de seu nariz. Todos sabiam que ela e Sir Gideon eram amigos - muitas vezes jogavam xadrez juntos -, mas com sorte ninguém suspeitava que houvesse mais entre eles.

— Como desejar. — Disse ele com uma curvatura educada de cabeça, e se despediu do resto do conselho.

A porta se fechou, deixando os dois sozinhos.

— Eu tive algumas ideias sobre sua proposta —, disse ela com firmeza, sabendo que Malloryn não estava fora do alcance da voz. — Eu gostaria de discutir isso em particular com mais detalhes.

— Algum comprimento? — Ele murmurou, balançando a cabeça para ela.

Alexandra passou a ponta do dedo pela superfície polida da mesa de jantar, sorrindo um pouco perigosamente. — De fato. Você gostaria desse jogo de xadrez agora, enquanto eu organizo meus pensamentos?

— Eu poderia dispensar você uma hora do meu tempo, — ele brincou. — Essa proposta tem algo a ver com a cúpula da Escandinávia ou se refere a outra aliança?

— Oh, Gideon. — Ela revirou os olhos. — Estávamos discutindo o tratado preciso de que desejo falar outro dia - um encontro de forças obstinadas e uma aliança potencial entre os dois. Pode demorar mais de uma hora.

— Minha noite está à sua disposição, Majestade.

Ele a seguiu pela porta para o corredor que levava aos seus aposentos privados. Uma criada fez uma reverência e então disparou para a sala de jantar atrás deles enquanto Alexandra caminhava ao longo dos tapetes.

Não havia sinal do conselho.

No segundo que eles passaram pela porta de sua sala de estar, ele capturou seu pulso e levou sua mão à boca. — É esta a aliança a que você se referia?

— Possivelmente. Embora dependa se um acordo comercial satisfatório pode ser alcançado. O que você tem para oferecer?

— Prazer, — ele sussurrou, roçando seus lábios contra o interior de seu pulso. — Adoração. — Sua língua açoitou seu pulso. — Adoração absoluta.

O desejo surgiu através dela - não apenas desejo por ele fisicamente, mas um desejo de se libertar da prisão em que ela de alguma forma se colocou.

Uma coisa era se parabenizar por estar se saindo bem.

Três anos sem sucumbir.

Mas três anos se abstendo não significava que ela havia passado esses anos vivendo.

Ele estava certo. Ela era muito dura consigo mesma. Desde a revolução, ela se obrigava a viver uma vida abstêmia, trabalhando do amanhecer ao anoitecer para tentar compensar a culpa que sentia.

Mas talvez fosse hora de remover aquele peso de seus ombros.

— Beije-me. — Ela exigiu, deslizando a mão pelo cabelo dele e puxando seu rosto para o dela.

Mostre-me como é viver. Sentir.

— Como minha rainha ordena.

A respiração dele percorreu seus lábios enquanto ele abaixava o rosto. Capturando seu rosto com as duas mãos, ele roçou o mais fraco dos beijos em sua boca. Doce. Sensual. Tanto uma provocação quanto uma sedução. A ponta da língua dele disparou, roçando a dela, e então ela se perdeu.

— Mais. — Ela murmurou, enrolando o punho em seu cabelo e murchando contra ele.

O beijo se aprofundou.

Ao contrário de seu primeiro abraço, Gideon não aceitou. Nem ele exigiu. Cada golpe de sua língua era um convite, suas mãos tocando uma melodia magistral em seu corpo. Ele roçou os polegares em suas bochechas, lábios, queixo. O traço de seus dedos roçou seu caminho pela coluna de sua garganta como se ele estivesse descobrindo lentamente cada centímetro dela.

Surpreendeu-a saber que esses meros toques - leves como uma pena e em seu pescoço, nada menos - causaram um arrepio por todo o seu corpo.

Alexandra era macia e pesada, sua pele ruborizando com o calor. Ela queria se inclinar para ele. Todo o caminho para dentro. Para esfregar-se contra a lã macia de seu casaco e talvez deslizar as mãos por baixo.

E porque não?

Ela ficou mais ousada, ganhando a respiração suave dele enquanto explorava. Cada centímetro dele era firme com músculos. Ela não pôde evitar. Capturando sua boca, ela começou a puxar sua camisa, querendo correr as unhas em sua pele, querendo permanecer no calor que brotou sob sua carne.

— Alexa.

Ela beijou o protesto. Obliteração. Isso era tudo o que ela procurava. Deixar tudo ir embora, nebuloso no rio de desejo correndo por ela.

— Alexa. — Gideon se libertou, empurrando uma mão contra a porta nas costas dela para se conter. Sua respiração ficou quente e pesada, e o desejo escureceu seus olhos. — O que causou isso?

— Talvez eu esteja cansada de suportar. Talvez eu queira sentir.

Ele evitou seu aperto e capturou sua mão, acariciando seus dedos. — Alexa. Alexa. Pare. Desacelere.

Ela não queria desacelerar. Ela queria obliteração.

Mas ele capturou seu rosto entre as palmas das mãos calejadas e deu um beijo suave em sua testa. — Eu conheço você, — ele sussurrou. — Outra coisa está conduzindo isso.

Ela se afastou dele, andando pelo quarto em um redemoinho de saias. — Deve ser algo mais do que luxúria?

— Não sei —, respondeu ele, cruzando os braços sobre o peito. — Por que você não me conta?

Os dedos de Alexandra se fecharam em um punho. — Eu não quero falar. Eu quero beijar você. Eu quero que você me beije.

— Minha rainha nem sempre consegue o que deseja.

Às vezes ela queria gritar. — Claramente. — Caminhando pelo tapete, ela esfregou as duas mãos na seda da saia. — O que você sugere em vez disso?

— Fale comigo —, ele insistiu, indo até as prateleiras e pegando o jogo de xadrez com o qual costumavam jogar. — E então devemos negociar os termos sobre o quão longe a noite irá.

Quão longe...?

Alexandra fez uma pausa. Ela queria explodir de frustração. — Você é o homem mais irritante. — Ela balbuciou.

Gideon inclinou a cabeça. — Eu sou um homem paciente. Não irritante. E você não está pronta para mais entre nós. Assim não. Eu quero você, Alexandra. E eu terei você. Mas eu conheço seu humor e não serei uma mera distração para o que quer que esteja te atormentando. Se você não deseja discutir o assunto, existem outros meios de passar o tempo. Preto ou branco?

— Branco, maldito seja.

Ela não lhe daria a satisfação de saber que talvez ele tivesse razão.

— Como quiser.


Capitulo 11


Horas tiquetaqueavam e seu olhar continuava mudando para o relógio com impaciência.

O olhar aquecido de Gideon ergueu-se para o dela enquanto ele pegava seu rei e o colocava diretamente ao lado de sua rainha. Ele parecia estar gostando de fazê-la esperar. — Rei leva rainha.

Alexandra passou a palma da mão no tabuleiro, deixando todas as peças restantes caírem no chão. — Acho que a questão é claramente que este rei não está levando esta rainha.

Ele sorriu levemente enquanto se servia de outro copo de cordial. Ele conhecia sua natureza abstêmia e se recusava a beber na frente dela. — Eu não presumiria. Eu não sou nenhum rei, minha querida.

— Você parece extremamente pouco ambicioso para alguém que tem uma rainha esperando por ele.

Gideon fez uma pausa enquanto pegava as peças de xadrez. — Ser nomeado consorte nunca foi minha ambição.

As palavras a fizeram vacilar.

— Não? — Ela encolheu os ombros descuidadamente, mas sentiu o golpe.

Ele ergueu os olhos de onde estava ajoelhado ao lado da mesinha. — Eu nunca desejei o poder pelo poder. Você sabe disso.

— Então, você é o único homem na Inglaterra que não deseja se casar comigo?

— Eu não disse isso. — Ele jogou todas as peças de xadrez na caixa e a fechou. — Você é uma mulher incrível. Apesar de tudo o que perdeu, sempre procurou dar ao seu povo o melhor que podia. Você lutou por eles, sofreu por eles, e tudo porque você se vê não como uma subjugadora, mas como uma súdita, destinada a servir ao seu povo. Há muito tempo estou maravilhado com você. Qualquer homem ficaria honrado em ser seu marido. Não pelo que você poderia oferecer a ele, mas pelo que você o presenteia com sua mera presença. — Ele fez uma pausa, então rosnou baixinho. — Seu marido será um homem de sorte

Ela não conseguia encontrar seu olhar.

— Se eu conseguir pegar um.

Movendo-se em direção a ela, ele se ajoelhou na beira do divã, a linha prensada de sua calça apertada sobre sua coxa. Alexandra respirou fundo, um pouco de emoção percorrendo sua pele.

— Eu diria que você está progredindo bem, — ele murmurou. — Você quase roubou minha virtude contra a porta do quarto.

— Você dificilmente é um inocente, Gideon.

Seus cílios baixaram em uma cortina escura sobre os olhos enquanto seu olhar caiu para os lábios. — Eu tenho quarenta e três. Aprendi um ou dois truques no meu tempo.

— Um homem tão velho. — Ela brincou.

— Um homem sábio que sabe que você deve ser cortejada.

— Sua definição da palavra parece ser diferente da minha.

— Será? — Ele capturou a mão dela, seu polegar raspando na pele delicada nas costas dela. — Você tem medo de intimidades físicas. Por que, então, eu as forçaria? Eu apenas pretendia permitir que você relaxasse.

Alexandra engoliu em seco. — Meu desejo não fala por si?

— É o desejo que impulsiona a sua urgência? Ou medo? Medo de nunca ser capaz de se permitir a rendição física?

Suas palavras a atingiram profundamente.

— Não quero você desesperada —, disse ele. — Eu quero que você tenha certeza. Eu quero que você esteja confortável. Eu quero que você se sinta querida. Eu posso esperar, Alexandra.

Mas ela poderia?

— Se eu não consigo suportar tais intimidades agora, — ela sussurrou, — então eu serei capaz? Meus médicos já estão preocupados com minha idade avançada.

Ele beijou sua palma, pressionando sua mão em sua bochecha por um longo segundo enquanto ela engolia a dor.

— Amaldiçoe seus médicos. Há quase dez anos entre nós. Você me faz sentir velho, às vezes.

— Sábio — Ela brincou, acariciando sua bochecha. Seu sorriso desapareceu. — Você sempre conhece minha mente, mesmo antes de eu mesma saber.

— Eu te conheço. Conheço seus medos, porque quero protegê-la deles. Eu conheço suas preocupações, porque eu quero compartilhá-las.

Alexandra respirou fundo. — Alguma rainha já conheceu tamanha fidelidade?

Gideon ergueu lentamente os olhos. — Nunca foi fidelidade, Alexa. Fidelidade implica uma dívida, e o que eu daria a você é tudo, e de boa vontade.

Ela desviou o olhar. Sua confissão foi demais. — Mesmo se...

— Sempre, — ele prometeu. — Não importa o que aconteça, você sempre terá meu coração. Foi dado a você há muito tempo, e posso nunca voltar atrás.

Ela pressionou a testa contra a dele. O que ela não daria para ser capaz de olhar o conselho nos olhos e dizer a eles que fizera sua escolha.

Mas qual seria o custo?

Uma rainha humana com um consorte humano? E não apenas humano, mas um dos progressistas, lutando por mais direitos para aqueles de sua espécie. O que a fazia amá-lo era o que os separava. Malloryn não teria nenhum motivo com ele. O Escalão ficaria furioso. Ela mal conseguiu reunir Londres depois do reinado de terror de Lorde Balfour, e a última coisa que ela precisava era dos aristocratas de sangue azul se levantando em força novamente.

Haveria tumultos. Haveria sangue nas ruas.

Se ela se casasse com Gideon, mais gente de sua família morreria.

— Você nunca me fez sentir tanto ressentimento com meu país. — Ela sussurrou.

Ele não tinha resposta para isso.

Apenas o conhecimento em seus olhos escuros que ecoavam os dela. Isso era tudo que eles podiam ter. Momentos roubados. Beijos roubados. Confissões secretas.

E ela já havia perdido o suficiente de seu curto tempo juntos.

Inclinando o rosto para ele, ela fechou os olhos e se rendeu ao beijo que ele prometeu. Seus lábios se encontraram. Um escovar suave. Alexandra apertou o rosto dele entre as mãos, inclinando-se para o abraço. Ele a beijou suavemente, com reverência. Ele a beijou como se seus dias não estivessem contados, longos e preguiçosos e lentos, até que ela mal respirava.

O fogo crepitava atrás dela.

Gideon ficou de joelhos, jogando-a de costas no divã. Pressionando um joelho entre suas coxas, ele rastejou sobre ela, apoiando-se nos nós dos dedos.

— Minha rainha deseja ser tomada? — Ele sussurrou, tirando a ponta do vestido dela de seu ombro.

Bom Deus. O mais simples toque e isso a deixou nervosa como nada mais poderia. — Sua rainha deseja que você pare de falar malditamente e use essa boca por uma boa causa.

Outro sorriso. Amaldiçoe-o.

— Ela deseja? — Ele se inclinou, virando o rosto para o ouvido dela enquanto roçava as costas dos dedos em seu ombro nu. — Mas minhas mãos também fazem coisas maravilhosas.

As palavras soaram através da pele sensível de sua garganta enquanto ele roçava o rosto em sua bochecha. O toque de sua barba por fazer ganhou um suspiro dela. Gideon era gentil e atencioso em todos os assuntos, mas ela não esperava obter tanto prazer de sua contenção lenta e gentil. Parecia uma espécie de tortura requintada.

— Deite-se. — Ela ordenou.

Ele se rendeu ao pedido dela, reclinando-se no sofá-cama. Cada centímetro dele estava despenteado, desde o cabelo até a camisa e as calças. Mas ainda havia algum senso de comando misterioso que ele nunca parecia realmente perder.

Ela puxou seus botões, expondo centímetro a centímetro erótico dele e olhando para ela. A visão de todo aquele pelo a chocou. Sua pele era quase azeitonada em comparação com a de seu marido, e uma espessa mecha de pelo decorava a pesada laje de seu peito e o barril liso de seu abdômen. Em todas as suas imaginações dele, ela nunca tinha imaginado isso.

Ela não sabia onde colocar as mãos.

Ela não sabia o que fazer a seguir.

— Por que parar aí? — Ele ronronou.

— Porque... — A timidez a consumiu.

Alcançando-se, ele puxou uma mecha de cabelo livre de seu coque, deslizando-a ao redor de seus dedos.

Gideon se abaixou e abriu a abertura de suas calças. Seu pênis subiu ereto atrás dela, embora ele tenha deixado a tenda de tecido por causa da sugestão dele. — Eu sofro por você. Isso dói por você. — Segurando-se, ele lentamente ergueu o punho para cima e para baixo em todo o corpo. — Não me faça implorar.

— O que você quer de mim?

— Toque-me.

E ela fez isso.

No início, foi uma exploração suave. Mais curiosidade do que qualquer outra coisa. Mas os sons suaves que ele fez a atraíram para o ato, e ela se viu observando seu rosto. Gideon sempre parecia tão no controle de si mesmo, mas ela podia sentir os tremores delicados sob sua pele enquanto ele tentava se conter.

E isso não funcionaria.

Ela se abaixou para beijá-lo, e ele encontrou sua boca ansiosamente. Envolvendo a mão dela em concha, ele mostrou a ela como trabalhar seu corpo, e Alexandra se derreteu contra ele. Um calor lânguido deslizou por suas veias como mel derretido. Poder. Isso era poder. E ele se rendeu a ela. Parecia um afrodisíaco como nenhum outro.

Ela beijou seu queixo e ele ergueu a cabeça, revelando sua garganta.

Outra pequena demonstração de vulnerabilidade, e ela descobriu que gostou.

— Mais. — Ele exigiu, e ela o mordeu, seus dentes cegos afundando no músculo onde seu pescoço encontrava seu ombro.

Os olhos de Gideon escureceram enquanto ela beijava seu abdômen, parando para explorar. Mãos, boca e língua... Ele gostou mais disso, ela pensou. E ele gostava de sua boca sobre ele, ela estava aprendendo rapidamente.

— Alexa. — Suas mãos emaranhadas em seu cabelo, e ele tentou puxá-la para cima.

— Não. — Ela disse, afastando sua mão.

— Me diga o que você quer.

— Eu quero não ter medo disso. — Ela sussurrou, e então ela abaixou a cabeça e beijou a pele lisa logo acima das calças dele.

Ela podia jurar que Gideon parou de respirar.

— Acho que tenho medo de que você pare. — Ele tentou soar provocador, mas não se atreveu a se mover, ela percebeu.

— Lembro-me de alguém me provocando quase até o ponto da plena consciência e depois cessando. — Alexandra ergueu os olhos, deleitando-se com seu pequeno papel de tentadora.

— Não se atreva.

— Implore-me. — Ela sussurrou.

Seus braços tremeram e os músculos de seu abdômen se contraíram quando ele ergueu a cabeça do sofá-cama para observar o que ela estava fazendo. — Se você acha que eu sou...

Ela arrastou a língua pela crista de seu osso pélvico, seu cabelo afrouxado pela paixão arrastando-se por sua ereção.

— Porra. — Gideon desabou de volta no sofá-cama. — Maldita seja. Não pare.

Ela balançou a cabeça, arrastando os lábios por aquela faixa sensível de pele. Vai e volta. Vai e volta. — Tão exigente, Gideon.

Era fácil se sentir relaxada com uma brincadeira tão gentil. Seu nervosismo foi embora e ela empurrou a ponta do tecido para fora do caminho. Gideon respirou fundo, seu corpo inteiro estendido para sua visão.

Bom Deus. Ela havia pensado que o tamanho dele era excessivo em suas explorações anteriores, mas isso...

O primeiro roçar de seus lábios em seu pênis inchado roubou um suspiro dele.

— Inferno e cinzas. — Ele engasgou, se contorcendo diante dela.

Que ato estranhamente delicioso.

— Mais. — Ele exigiu, e empurrou seus quadris para cima de forma que a ponta dele violasse sua boca.

Este era um novo território, mas ela se propôs a conquistá-lo como alguém fazia quando era rainha.

— Alexa —, ele engasgou, com as mãos tremendo em sua cabeça. — Alex, droga. Eu não posso... Eu vou... — Seus dedos se enrolaram em seu cabelo. E então seus quadris estavam empurrando para cima, e ela quase engasgou. — Oh Deus. Eu não consigo parar.

E então suas mãos a pressionaram, encorajando-a a engolir mais dele.

Isso não a incomodou. Na verdade, ela saboreou a sensação de poder, o tremor de seu corpo enquanto ele ofegava e implorava por misericórdia. Ela podia senti-lo tremendo com a necessidade de se render, senti-lo lutando contra isso.

E falhando.

— Alexa —, alertou ele, jogando a cabeça para trás em seu colchão. — Eu não posso parar.

Em resposta, ela arrastou toda a extensão de sua língua para cima e chupou a cabeça inchada de seu membro.

A semente quente derramou em sua boca enquanto ele resistia embaixo dela. Suas mãos se enrolaram em punhos em seu cabelo, e um grito totalmente diferente de Gideon ecoou.

— Querido Deus ,— ele murmurou enquanto desabava sobre o travesseiro. — Querido Deus.

Gideon estava deitado de costas, um braço jogado sobre os olhos.

Alexandra se sentou, enxugando os lábios. A experiência foi inebriante e gratificante, mas ela não sabia o que fazer agora.

Você apenas deu prazer a ele como uma obscena.

E ela gostou de cada momento disso.

— Gideon? — Ela sussurrou, pois ele não estava se movendo, e ele não disse uma palavra além de “Querido Deus.”

Ele a golpeou com uma das almofadas. — Não posso acreditar que você acabou de fazer isso.

— Nem eu.

Capturando-a em seus braços, ele a rolou para o sofá-cama. Alexandra segurou seu ombro, momentaneamente assustada, e demorou um momento para perceber que não sentia medo com o movimento repentino.

Não com ele.

Ela caiu de costas, se afogando em uma gota de sua saia.

— Minha vez. — Ele disse, em uma voz esfumaçada enquanto abaixava a cabeça para o corpete dela.

Ela podia sentir a pressão de sua coxa entre as dela, forçando seus joelhos a se separarem, e o peso de seu corpo. Já não a enervava - afinal, era Gideon - mas ela ainda se sentia inquieta.

Seus lábios roçaram seu seio, e então sua mão estava em suas saias, deslizando-as para cima. A tensão guerreou em seu estômago, o sim e o não torcendo-a em nós, e então a aspereza de sua barba por fazer marcava sua pele e sua boca quente encontrou seu mamilo.

Demais.

Muito longe.

Aquela mão deslizou por sua coxa, e uma parte dela queria que ele continuasse - uma parte dela queria desesperadamente ser capaz de se deitar e se render, mas também havia aquele pedaço minúsculo e trêmulo dela que estremeceu com o pensamento.

— Não. — Disse ela, afastando-o.

Gideon congelou. — Eu machuquei você?

— Não. — Ela saiu de baixo dele, sua respiração entrando em dificuldade. — Não, não é... É... Não é necessário. — Ela disse a ele, sacudindo suas saias enquanto se levantava.

— Não é necessário? — O choque reinou desenfreado em sua voz quando ele se sentou, as calças desabotoadas e a camisa em desalinho.

Alexandra caminhou em direção à porta. — Você fez o que eu pedi. Não me sinto mais com medo do físico masculino. Qualquer outra coisa é... simplesmente excessiva. — Ela parou na porta, dando uma última olhada para ele. — Obrigada.

— Alexandra!

Mas ela já havia partido.

 


Gideon observou as portas se fecharem atrás dela, seu coração batendo forte no fundo de suas costelas como chumbo antes de sacudir seu estupor.

Não é necessário, minha bunda.

Pondo-se de pé, ele abotoou as calças rapidamente e foi atrás dela.

A rainha ainda não havia escapado quando ele disparou pelas portas de sua sala de estar.

No segundo que ela ouviu as portas baterem atrás dela, ela estremeceu, girando sobre ele com os punhos cerrados. Um lampejo de medo escureceu seus olhos antes que ela erguesse o queixo, mas o fez parar de repente como nada mais faria.

— Esta discussão acabou. — Ela disse a ele.

— Porque você diz que é?

— Eu sou a rainha, — ela disse a ele imperiosamente. — Então, sim, acabou porque eu digo que acabou.

— Besteira —, disse ele, dando um passo em direção a ela. — Você está com medo e está fugindo do que quer que seja que a assusta. Fale comigo, Alexa. Por favor. Ajude-me a entender.

A emoção guerreou em seu rosto.

Ela nunca gostou de ser vulnerável, ele sabia.

— Eu assustei você? — Ele implorou. Ele se moveu, bloqueando sua fuga, mas não colocando as mãos sobre ela. — Por que você não vai me deixar dar prazer a você? Foi meu toque?

O rosto da rainha ficou vermelho. — Porque eu não preciso disso. Um herdeiro não exige que eu seja tocada. É apenas... empurrando. E se eu não estou mais com medo, posso administrar isso. Não é o seu toque. É muito. Eu costumava... eu bebia leite de papoula antes de ele vir para mim. E eu poderia tolerar isso, se eu pudesse derivar por isso. Mas quando você me toca, parece que minhas terminações nervosas estão acesas. Como se eu estivesse prestes a perder o controle.

A violência se espalhou por ele, inarticulada e furiosa. Se o bastardo não estivesse morto, ele teria assassinado o príncipe consorte com as próprias mãos.

Em vez disso, ele pressionou a mão ao lado de seu quadril. — Não, gerar um herdeiro não requer prazer, mas você deve exigi-lo. Você deveria conhecer isso pelo menos uma vez em sua vida.

Seus olhos dispararam. — Quem é você para julgar o que devo e não devo saber?

Ninguém. Eu não sou ninguém. Seus lábios se pressionaram firmemente. — Eu pensei que nós estávamos nisso juntos? Achei que fosse uma parceria?

— Você está reclamando porque vou te dar prazer, mas não vou aceitar? — Ela zombou. — Que tipo de homem é você?

Aquele que te ama.

Aquele que deseja cada pedaço de você, mesmo quando você o nega.

Mas, novamente, ele não poderia dizer isso.

Em vez disso, ele foi forçado a ceder, baixando a testa para a dela. — Não sou o tipo de cavalheiro que deixa uma dama em falta. Você me amaldiçoa ser egoísta, Alexandra, e eu não vou permitir isso.

— Não vai permitir?

— Não vou. — Ele disse severamente.

O fôlego saiu dela com pressa.

Assim. Não tão afetada quanto ela afirmava.

Ele passou as costas dos dedos pela bochecha dela. — Deixe-me, Alex. Deixe-me amar cada centímetro de você. Deixe-me adorar você e mostrar como pode ser entre um homem e uma mulher.

Fechando os olhos, ela balançou a cabeça lentamente.

Gideon a beijou. Beijos suaves e gentis que estimulavam e mexiam. Ele sentiu o momento em que ela começou a beijá-lo de volta, rendendo-se ao seu destino.

Pressionando suas costas contra a porta, ele arrastou os lábios em sua garganta. Seus seios se ergueram quando ela inalou, seus olhos castanhos brilhando com a necessidade reprimida enquanto ele descia por seu corpo. Finalmente, ele estava ajoelhado aos pés dela, as mãos deslizando por baixo da saia verde. Olhando para cima, ele lentamente deslizou as mãos por suas panturrilhas com meias.

Alexandra estremeceu.

Mas ela não desviou o olhar.

Cada centímetro dela parecia real, mas havia uma sensação de vulnerabilidade sobre ela. Uma mulher que ousava perseguir a paixão pela primeira vez. Levantando o pé dela, ele o apoiou na coxa. As saias dela caíram sobre os dois quando as mãos dele começaram sua lenta carícia.

— O que você está fazendo? — Sua voz se elevou.

— Ajoelhando-me como suplicante —, disse ele. — Para que eu possa adorar minha rainha.

— Gideon! — Ela engasgou.

— A primeira vez que te vi, não pude desviar o olhar, — ele sussurrou, brincando com a fita de seda de suas ligas. Ele puxou uma solta. — Você era a mulher mais linda que eu já vi. Você olhou nos olhos do príncipe consorte no meio da corte e disse a ele para condenar seus impostos de sangue. Eles não iriam subir.

Os lábios de Alexandra se separaram. — Eles aumentaram.

— Devagar —, ele sussurrou. — Mas eu nunca esqueci seu desafio. Eu olhei para você e, pela primeira vez na minha vida, soube que havia esperança para o reino.

Pressionando um beijo na parte interna de seu joelho, ele respirou o cheiro dela.

— Você me inspirou —, ele admitiu. — Você foi tão corajosa. E passei anos desejando ter metade de sua bravura.

Capturando suas coxas, ele as separou. Um tremor a percorreu, mas quando seus olhos se encontraram, ele percebeu que não era de medo, mas de desejo.

Ele beijou seu caminho até as coxas, encorajado pela maneira como ela jogou a cabeça para trás. A respiração áspera dela encheu seus ouvidos, e ele deliberadamente arrastou sua bochecha mal barbeada pela parte interna das coxas dela.

— Gideon. — Seus dedos se enredaram em seu cabelo. — Gideon, o que você está fazendo comigo? Oh. Oh.

Ele esfregou o rosto contra as calçolas dela, sua língua encontrando a costura. A seda estava molhada com seu almíscar, e ela gritou quando ele abriu a costura de suas calçolas e encontrou o coração secreto dela. Enrolando as palmas das mãos sob sua bunda, ele a puxou em direção a sua boca, e então mergulhou sua língua dentro dela.

— Oh! — Seu grito rasgou o ar, e ele teve um vislumbre de suas bochechas coradas e olhos assustados. — Gideon! O que você está...?

O suficiente. Chega de conversa. Chega de protesto.

Ele a beijou, conduzindo sua língua no calor escorregadio de seu corpo enquanto ela gritava novamente. Dedos enrolados em seu cabelo, gritos chocados enchendo a antecâmara.

O gosto almiscarado de seu corpo era requintado. Mas o tremor de suas coxas - o aperto descontrolado de seus dedos - quase o desfez.

Esta era Alexandra exposta, todas as suas armadilhas guardadas roubadas dela, quando ela foi forçada a se render a ele.

Esta era sua rainha, a mulher que ele amava, e maldito seja um tolo, mas se ele nunca tivesse a chance de tocá-la novamente, ele garantiria que as memórias de ambos fossem marcadas a cada segundo deste encontro.

Ela veio com um grito, seu corpo caindo contra a porta. — O que você fez comigo?

Limpando a boca, ele ficou de pé e a tomou nos braços. — Eu mal comecei.

 

Capitulo 12


Kincaid abriu a porta da joalheria mecânica, erguendo os olhos para verificar se aquele era o endereço correto. — Acha que tem alguém aqui?

Charlie o seguiu, tossindo baixinho com a poeira que havia sido removida. — Os lojistas raramente deixam seus produtos sem vigilância. E, se o fizerem, não durarão muito. A julgar pela poeira nessas prateleiras, esse sujeito existe desde a época do meu bisavô.

Prateleiras alinhadas na loja, cheias de todos os tipos de bugigangas mecânicas. Um papagaio emplumado os observava de uma gaiola, a cabeça de um autômato o encarava vidrada enquanto Kincaid se abaixava para examinar as prateleiras e várias manoplas de metal estavam cobertas de poeira. Ele flexionou sua mão de metal, olhando para as manoplas. — Ele é um mecanicista —, disse ele, avaliando o trabalho. — Enclaves de ferragens, pelo que parece.

— Um mecanicista criando joias?

— Eu não acho que ele corta as joias. — Kincaid olhou em volta. — Não, foi esse sujeito que criou aquele farol, e provavelmente aqueles gerifaltes.

O movimento mudou.

— O que é isso? — Charlie parecia mais nervoso do que um gato em uma fábrica cheia de ratoeiras.

Metal retiniu contra metal e Kincaid relaxou ao ouvir o som familiar de pistões movendo juntas mecânicas. — É um drone servo.

Mas o que emergiu de trás das prateleiras não foi apenas um drone, mas a parte superior do corpo de um homem mecânico, soldada à metade inferior de uma aranha. Um chapéu-coco foi soldado à cabeça da criatura, e alguém colocou um casaco e gravata nele, mas não havia como disfarçar as longas vergas da perna da aranha.

Até as sobrancelhas de Kincaid atingiram a linha do cabelo.

— Que diabo é isso? — Charlie perguntou.

— Eu nunca vi algo assim.

A boca do drone se abriu. — Bem-vindo à Casa de Curiosidades de MacGregor. O Sr. MacGregor estará com vocês em breve.

— Acho que é a razão pela qual a porta está destrancada e, no entanto, o proprietário não tem medo de que algum de seus produtos se perca. — Francamente, Kincaid não conseguia tirar os olhos da criatura. Ele tinha visto autômatos programados para responder a uma série de perguntas, mas essa coisa realmente parecia estar olhando para ele.

Ambos permaneceram congelados.

— Você acha que ele pode nos ouvir? — Charlie assobiou.

— Por favor, sentem-se —, respondeu o drone. — Sr. MacGregor estará com vocês em breve.

Na verdade, Kincaid só conseguia distinguir passos subindo as velhas escadas nos fundos da loja. — Sr. MacGregor?

Um par de olhos arregalados emergiu, rodeado por uma touca de cabelo crespo. — Sim —, disse o sujeito, empurrando seus óculos de expansão no topo de sua cabeça. — O que vocês querem? — Ele os olhou da cabeça aos pés. — Vocês não estão aqui para fazer compras. Eu paguei licenças, eu paguei. No mês passado.

— Não somos reguladores, senhor MacGregor —, disse Charlie, estendendo a mão. — Somos investigadores.

— Falcões da Noite, hein? — MacGregor pisou atrás de seu balcão, puxando um frasco de baixo dele e tomando um gole. — O que vocês querem? Não tenho nada a esconder.

Para um homem sem nada a esconder, certamente estava agindo um pouco infeliz em vê-los, embora Kincaid não corrigisse a presunção do Falcão da Noite.

Ele puxou os destroços do farol do escaravelho do bolso do casaco. Metade dele estava derretida em escória, mas o resto era claramente a bunda da joia, com metade dos fios pendurados para fora.

— Gostaríamos de fazer algumas perguntas sobre esta coisinha. E como um de seus dispositivos acabou em um cômodo onde a rainha quase foi morta.

 


— Sua Majestade.

As palavras ecoaram pelo corredor do retrato. Alexandra ficou imóvel. Ela esperava encontrar seus aposentos e tomar uma xícara de chá particular. Para onde quer que ela olhasse hoje em dia, havia alguém perseguindo-a para chamar a atenção.

— Príncipe Ivan, — ela disse, virando-se lentamente. Suas damas de companhia chamaram sua atenção e ela as dispensou com um aceno de cabeça. — Que prazer.

— Você está bem? — Ele exigiu, caminhando em direção a ela. — O duque de Malloryn disse que alguém tentou matar você. E eles usaram meu broche para fazer isso!

— Estou bem —, disse ela. Ele sempre parecia tão emocionado, e ela estava ficando um pouco cansada de acalmá-lo. — Tivemos sorte que o duque de Malloryn estava comigo e foi capaz de me defender.

Ele se ajoelhou aos pés dela. — Eu não sabia, Sua Majestade. Achei que fosse apenas um broche. Só um presente. Eu não percebi que estava sendo feito de idiota.

— Você se lembrou de quem o direcionou àquele joalheiro em particular?

O príncipe ergueu os olhos com uma expressão ferida no rosto. — Como digo ao seu duque, não. Ela era apenas outra senhora na corte. Eu presto pouca atenção a elas.

Ele prestava atenção suficiente, ela notou, embora ela não duvidasse da verdade de suas palavras. Ele não era o tipo de homem que foca no rosto de uma dama quando está falando com ela.

— Por favor, diga que você me perdoa. — Ele implorou, pegando sua mão.

— Claro que te perdoo. — Ela respondeu suavemente, desejando que ele se levantasse. Ela não era dada a tais demonstrações emocionais.

Ele obedeceu, pondo-se de pé com uma rapidez que a assustou e pegou sua mão. — Eu nunca iria desferir tal golpe contra você. Estou aqui como um enviado da Rússia e nunca colocaria o destino do meu país em tal perigo. Nem ousaria arriscar um fio de cabelo em sua cabeça.

— Claro que não.

Ele apertou a mão dela em seu rosto. — Eu volto a supor, mas mal consegui dormir ou pensar desde que ouvi a notícia. Eu odiaria que você me considerasse culpado, depois de tudo o que compartilhamos.

— Príncipe Ivan...

Ele a beijou.

Alexandra se acalmou, mas não foi tão imediatamente nojento quanto ela temia originalmente. Embora certamente não tão doce quanto os beijos de Gideon.

Ela não sabia o que fazer. O príncipe Ivan estava claramente interessado em buscar uma aliança. E os laços com a Rússia poderiam ser benéficos. Havia uma grande quantidade de tratados comerciais para explorar.

E nenhum outro príncipe ou duque aqui para a exibição a tinha perseguido com tanto fervor. Embora a presença dele não fizesse seu coração palpitar, ela sentiu que ele poderia ter sido controlado. Um desfile de amantes em sua cama o manteria distraído enquanto ela governava o reino, e eles apenas ocasionalmente teriam motivos para se encontrarem.

Essa aliança poderia ser boa para a Grã-Bretanha.

O beijo de Ivan se aprofundou, como se ele esperasse que ela o afastasse imediatamente.

Ela colocou as mãos no peito dele, com a intenção de fazer exatamente isso.

Os passos diminuíram e um suspiro de choque ecoou pela sala no momento em que Alexandra tentava escapar da língua de Ivan. Ela se afastou do Príncipe Ivan com pressa, apenas para encontrar seu amante parado na porta.

O choque no rosto de Gideon a escaldou.

— Gideon...

Ele rapidamente mascarou a forte emoção que ela tinha visto. — Me desculpe. Eu não sabia que havia alguém nesta ala. — Baixando a cabeça, ele se afastou dela, e ela odiava a maneira como ele não encontrava seus olhos. — Vou deixar você... com isso.

— Gideon. — Ela começou atrás dele, mas ele estava praticamente fugindo pelo corredor, suas longas pernas comendo os tapetes e as abas do casaco chamejando atrás dele.

Sua mão abaixou quando ela notou a forma curvada como ele segurava seus ombros. Ela o machucou. Ele sabia que ela estava sendo cortejada por outro homem, seu futuro oferecido a outro, mas uma coisa era saber, outra era ver.

Ela se sentiu mal.

O que ela ia fazer? O príncipe Ivan havia mostrado claramente suas intenções. A Rússia seria uma boa combinação para seu império.

Mas cada centímetro de seu coração exigia que ela perseguisse Sir Gideon e tentasse explicar.

— Acho que talvez agora ele saiba que não sou apenas um amigo da rainha. — O príncipe Ivan exibiu um sorriso de satisfação quando deu um passo ao lado dela, colocando a mão em suas costas e esfregando-as.

Ela queria gritar.


Capitulo 13


A rainha olhava para o nada enquanto relaxava em seu banho.

O que ela ia fazer? O príncipe Ivan havia mostrado suas intenções com bastante clareza, e Gideon... Deuses, Gideon. Ela não pôde deixar de ver seu rosto novamente, quando ele se deparou com outro homem beijando-a. Ela não o tinha visto desde então, não importava o quanto ela tivesse procurado por ele. Isso a fez sentir-se mal.

A água de repente caiu em cascata sobre sua cabeça e ombros.

Alexandra estalou e se endireitou. — Você está tentando me afogar?

Mina apoiou o traseiro na borda da banheira, abaixando a jarra. — Eu estava lavando seu cabelo. Não é minha culpa que você esteja distraída. Eu te avisei. Duas vezes.

Alexandra acalmou-se com uma leve pressão dos lábios. — Você votou em mim para ter um marido, então tecnicamente, é sua culpa. O que você esperava?

— Você ignorou alegremente todos os seus pretendentes — respondeu Mina, entregando uma toalha de rosto a Alexandra. — E ainda assim você está claramente desejando alguém. Vou confessar, nunca te vi assim.

— Não estou sonhando com ninguém. — Alexandra rosnou.

Mina arqueou uma sobrancelha que dizia, com bastante clareza, o que ela pensava dessa afirmação. — Eu pensei que não tínhamos segredos uma da outra?

— Isso foi antes de você me lançar para o diabo.

— Achei que você tivesse me perdoado pelo meu voto?

Alexandra desviou o olhar. Não foi culpa de Mina que os eventos do dia tivessem acontecido como aconteceram. A culpa cresceu dentro dela e, embora soubesse que estava atacando injustamente, não conseguiu se desculpar.

Mina se ajoelhou ao lado da banheira, segurando a mão de Alexandra entre as dela. — Quem é que te causa tal consternação?

Ela suspirou e desabou contra a banheira. — O Príncipe Ivan estava praticamente ajoelhado hoje. — Ela levou a mão aos lábios, sentindo de novo aquele beijo sem brilho e desejando poder substituí-lo pelo de Gideon. — Como monarca governante, devo ser a única a pedir oficialmente sua mão, mas sei qual será sua resposta.

— Príncipe Ivan? — Mina disse evasivamente.

— Ele é um sangue azul. — Ela apontou.

— O que importa se seu futuro marido tem sangue azul? Um humano seria aceitável.

O coração de Alexandra deu um salto.

— O Escalão ficaria em pé de guerra. Um consorte humano representa um risco, quando eu sou uma rainha humana. Preciso escolher alguém que a maioria de Londres aceite. Tem havido muita agitação. Muito sangue e lágrimas. Meu povo merece paz e prosperidade.

— Escolher um consorte humano não vai iniciar uma guerra, — Mina rebateu. — E todos nós entenderemos por que você não desejaria outro sangue azul em sua cama.

Alexandra mexeu as pernas na água.

Ela se sentiu quase sem fôlego. Era verdade?

— Você realmente acha que o Escalão aceitaria um consorte humano?

— Existem maneiras de gerenciá-los —, respondeu Mina. — Coloque Malloryn sobre os poucos agitadores que restaram.

— Malloryn? Minha nossa. Não posso arriscar aliená-los. Eles já estão com medo dele. E mal nos recuperamos da tentativa de golpe de Lorde Balfour. A paz é tão tênue.

Ela não se atreveria a fazer nada para arriscar.

— Então deixe seu conselho lidar com isso, — Mina insistiu. — É para isso que estamos lá. Para apoiar você. Existem muitas Grandes Casas que perderam toda a sua linhagem na tentativa de golpe. As propriedades permanecem vazias e os títulos definham. Não há nada que um aristocrata de sangue azul goste mais do que a oportunidade de melhorar sua posição. Presenteie algumas propriedades que a coroa mantém sob custódia. Nomeie um punhado de leais sangues azuis com Sir. Balance um ducado na frente de alguns dos outros... mas apenas se eles se comportarem.

Isso poderia ser possível?

Ela estava encarando a guerra na cara por tanto tempo que a congelou. O conflito de sangue humano e azul estava tão arraigado nos últimos anos que ela sentiu como se andasse em uma corda bamba estreita entre eles.

— Os plebeus adorariam um consorte humano, — ela disse lentamente. — E se eu conseguir controlar o Escalão, isso... pode ser possível.

— Embora não seja irmão do duque de Alba —, brincou Mina. — Não se ele não puder entender você.

— Não? Parece o marido perfeito para mim. Desde que possamos conceber um herdeiro, não importa se posso falar com ele ou não. Quanto mais interesses ele tiver fora do casamento, melhor. Este não será um casamento por amor.

As palavras soaram quase mecanicamente, mas ela não pôde deixar de pensar em Gideon. Seu coração disparou e ela esperava que Mina não tivesse ouvido. Querida amiga ou não, ela não podia trair seus crescentes sentimentos por ele. Ainda não. Ainda parecia tão novo e tão... tênue.

Afinal, ele disse a ela na cara que não desejava ser seu consorte. Mesmo se o Escalão pudesse aceitar, ele negaria?

Havia um buraco de chumbo na cavidade de seu abdômen.

Mina acariciou o queixo com um dedo. — Brincadeiras à parte, sugiro que se case com o homem que está deixando essas marcas em sua garganta.

Alexandra deu um tapa na pele ali. Certamente não.

Mina riu enquanto se levantava. — Eu pensei assim. Case-se com aquele que está beijando você nos cantos privados. Você nunca vai se arrepender.

 


Amanheceu. O céu estava sombrio e cinza, combinando com seu humor.

Gideon passou a mão cansada pela mandíbula enquanto examinava o quarto. A maioria de seus baús estava embalada e apenas alguns itens estavam espalhados pela cama. Com um estalar de dedos, ele poderia convocar uma carruagem e dirigir-se a Haver Hall, onde poderia retirar-se para lamber suas feridas.

Parecia covardia fugir da cidade - o parlamento estaria em sessão em breve, e ele ainda era o chefe do partido Humanitário - mas ele não achava que poderia passar mais um minuto em Kensington, sabendo que ela estava a poucos metros de distância.

E saber que outro homem estaria roubando beijos em corredores escuros.

Eu só preciso de alguns dias longe dela. Alguns dias para aceitar sua perda.

Exceto mesmo em Haver Hall, haveria fantasmas para assombrá-lo.

O tabuleiro de xadrez onde ele e Alexandra haviam passado muitas tardes, enquanto esperavam que Malloryn derrotasse Balfour. A égua cinza que a rainha gostava bastante. O jardim onde eles caminharam e conversaram por horas.

E a loucura de pedra onde ele a beijou e foi rejeitado.

— Amaldiçoe-a. — Ele se virou e pegou a carta que ela havia enviado há várias horas, embora soubesse seu conteúdo de cor.

Sair?

Ou ficar e lutar?

Mas o que ela quis dizer?


Gideon,


Eu preciso falar com você. Marque uma reunião comigo o mais rápido possível.


Sua Majestade Real,

Rainha Alexandra


E foi isso.

A formalidade da carta fez seu coração afundar.

Ela estava cortando laços com ele? Ela desejava informá-lo gentilmente de que aceitara o terno do Príncipe Ivan?

Ou era a formalidade um meio de esconder seus pensamentos - e coração, espero - daqueles que poderiam interceptar tal carta?

Uma batida forte veio na porta.

— Entre. — Gideon chamou, amassando a carta dela em seu punho.

Seu homem de negócios apareceu, impecável de preto. — Devo mandar chamar a carruagem, Sir Gideon?

Ele ainda não sabia a resposta para isso. — Eu...

Longos segundos se passaram.

Hansen pigarreou. — É só que... parece que está acontecendo alguma coisa no pátio. Pode levar algum tempo para organizar as coisas, com toda a confusão.

— Tumulto?

— Notícias, senhor.

— Que notícias? — Ele perguntou bruscamente.

Simpatia distorceu a expressão de Hansen. Poucos sabiam de suas afeições, mas Hansen era um servo leal e sem dúvida percebeu os sentimentos de seu mestre. — Fala-se entre os servos que a rainha vai dar uma boa notícia ao final do dia. Ela mandou chamar o príncipe Ivan há uma hora, e eles estão caminhando juntos no jardim. Sozinhos. Todo o palácio está esperando para ouvir a palavra de sua conversa.

O chão caiu debaixo dele.

Gideon afundou lentamente em uma poltrona. Ele não podia nem culpar Alexandra pelo vazio em que seu coração estava. Ele sabia que ela estava destinada a outro. Ele sabia que outro homem acabaria com sua mão - e com sorte seu coração. Ela precisava se casar.

E ele nunca poderia ser o único a levá-la como esposa.

Ele era muito humano, sua linhagem virtualmente sem valor. Eles nunca tiveram uma chance, e no fundo de seu coração, ele sempre soube disso.

Mas uma coisa era saber, e outra bem diferente era ver realmente acontecendo, bem diante de seus olhos.

— Senhor? — Hansen murmurou.

Seu punho enrolou em torno de sua carta. — Mandem buscar as carruagens —, disse ele bruscamente. — E então vou pedir que você entregue uma carta para mim.

Um último adeus à mulher que amava.

 


— Sua Alteza. — Malloryn ficou à espera enquanto o príncipe subia as escadas para a varanda.

O príncipe Ivan se virou para ele, seus lábios se curvando e uma mão mergulhando ao seu lado, onde uma arma, sem dúvida, espreitava. — Você teve uma participação nisso, não é? O que você disse a ela? O que você fez? Ela era minha, eu sei que ela era minha! Ela estava pronta para se render!

Malloryn apenas arqueou uma sobrancelha. — Se você acha que Sua Majestade estava preparada para propor casamento a você, então você é um tolo. Sua Majestade não se rende. Nem são seus afetos ditados por aqueles ao seu redor. Ela é a Rainha da Inglaterra, e eu sou seu servo, e nada mais. Seria sensato conter a língua, pelo bem da amizade duradoura da Grã-Bretanha e da Rússia.

Os lábios de Ivan se curvaram. — Talvez essa amizade perdure. Embora se a rainha o faça, é outra questão completamente.

Ele se moveu para empurrar, mas Malloryn agarrou seu braço, sua voz caindo a um nível letal. — O que isso significa? Você está ameaçando Sua Majestade?

— Claro, eu não estou. Você me acha um idiota? — Desta vez, foi a vez de Ivan sorrir ao estender a mão e endireitar as lapelas do casaco de Malloryn. — Eu não tenho que fazer nada. Tudo o que preciso fazer é assistir. A Grã-Bretanha cairá, dilacerada por dentro, e a Rússia...

Ele jogou o príncipe de volta contra a parede, a um segundo de fazer violência. — Você patina traiçoeiramente perto da ruína, Sua Alteza. Tenha cuidado. Porque eu juro para você, que se a rainha cair, então farei tudo ao meu alcance para garantir que você seja culpado por isso.

Uma sugestão de cautela surgiu nos olhos escuros de Ivan. — Minhas mãos estão limpas.

— E ainda, você sabe algo. Vou considerar isso como participar de uma conspiração.

Ivan envolveu as mãos de Malloryn com as mãos e as tirou do casaco. — Eu vi um rosto familiar hoje. Pense nisso, Malloryn. Quem tem mais a ganhar com a morte da rainha? Você acha que eles vão parar só porque suas duas primeiras tentativas foram frustradas?

— Quem é esse?

Ivan o empurrou com um leve sorriso. — Oh, eu vou te dizer. Mas isso vai levar tempo, Malloryn. E agora, a rainha está sozinha. Você nunca deve deixá-la sozinha. Não aqui, neste poço de víboras. É a sua escolha. A verdade? Ou a vida da rainha?

Ele congelou.

Gemma estava seguindo Sua Majestade hoje. E Gemma era o seu melhor.

Mas a dúvida me incomodava. Tudo o que seria necessário seria uma bala perdida. Um piscar de Gemma. Um momento de distração.

— Maldito seja. — Ele foi em direção aos jardins. — Esta conversa não terminou.

Ivan sorriu, quando Malloryn alcançou o topo da escada.

Ele quase bateu no Obsidian no meio do caminho.

— A rainha. — Malloryn exigiu. — Onde está a rainha?

Obsidian franziu o cenho. — Ela estava indo em direção aos estábulos. Por quê?

— Porque acho que nosso assassino vai fazer outra tentativa.

 


Escapar do Palácio de Kensington sem ser vista quando alguém era a rainha era impossível.

E estúpido.

Alexandra não fez nenhum dos dois.

Sabendo que a espiã de Malloryn era melhor em vigilância do que Alexandra em evasão, ela simplesmente ignorou a Srta. Townsend e chamou um cavalo dos estábulos. Dois dos guardas de gelo a seguiram à distância até que parecia que ela estava liderando um desfile sangrento, mas pelo menos não era toda a corte.

E depois de dezenas de anos tendo cada movimento seu monitorado, ela deveria estar acostumada com isso.

A chuva umedecia a manhã, o céu estava cinzento e nublado. Combinava com seu humor. Uma varíola em toda a maldita corte. Uma varíola no conselho. E uma varíola em Malloryn.

Um particularmente cheia de coceira, de preferência.

Apressando sua égua cinza a galope, ela deixou sua montaria voar pela grama do Hyde Park, a ferroada da chuva açoitando suas bochechas até que ela se sentiu livre pela primeira vez em anos.

Não foi o suficiente. À sua frente, uma elaborada carruagem surgiu dos jardins, uma cortina de garoa gelada quase obscurecendo-a.

Sir Gideon acompanhava a carruagem, o chicote negro das abas do casaco traindo seu humor. No segundo em que a viu, ele se acalmou.

Não houve palavras.

Apenas o negro impenetrável e implacável de seus olhos.

— Diga algo. — Alexandra abaixou o capuz de sua capa, sacudindo a umidade.

— O que minha rainha quer que eu diga? — Ele respondeu.

Ela ergueu a nota que ele havia enviado. — Uma explicação para isso, se você quiser.

Gideon passou as mãos pelo cabelo, deixando-o em emaranhados indisciplinados. — Eu disse que não posso fazer isso. Não posso ficar e ver você se casar com outro.

— E você está tão certo de que pretendo me casar com outro? — Ela perguntou bruscamente.

— Não faça isso. — Sua voz tremeu. — Não brinque com meus afetos dessa maneira.

Ela recuou com raiva. — Você pensa tão pouco de mim que me consideraria tão sem coração?

— Não sem coração. Não. Mas nós dois sabemos como isso termina. Você não tem liberdade para me conceder nada além de suas afeições anteriores. Você é a rainha. E o Príncipe Ivan...

— Está voltando para a Rússia, — ela disse acaloradamente. — Ele não gostou da minha rejeição ao seu processo.

Gideon congelou. — Vocês....

— Eu disse a ele que embora nossos países tivessem grande respeito um pelo outro, eu não podia aceitar seu afeto.

Gideon beliscou a ponta de seu nariz. — Você deveria ter se casado com ele.

— O quê?

— Era uma aliança sólida. Ele poderia ter sido administrado como um consorte, e a Grã-Bretanha poderia ter buscado alguns acordos comerciais excelentes.

Alexandra endireitou-se rigidamente. — Acordos comerciais.

Ele nem se importava?

Eles se encararam.

E suas dúvidas cresceram.

O tempo todo ela pensou que sua humanidade tinha sido o ponto de discórdia. Mas e se houvesse mais do que isso?

Gideon disse a si mesmo que não desejava ser nomeado consorte. Ele era o chefe do movimento humanista e, se se casasse com ela, teria de desistir de suas ambições políticas. O que mais a fazia amá-lo, era possivelmente o que poderia mantê-los separados.

Sua confiança evaporou.

— Então você irá? Bem desse jeito? — Sua voz falhou. — Você prometeu. Você prometeu que nunca me deixaria.

— E eu quis dizer isso. Eu nunca vou te deixar aqui, — ele disse, batendo o punho contra o coração. — Mas eu não sabia como seria a sensação de vê-la beijar outro homem. — Seus olhos ficaram angustiados. — Eu não posso fazer isso, Alexa. Eu não posso ficar de lado, a menos que esteja longe.

— Então não faça isso. — Ela segurou sua manga. — Não se afaste.

— Eu não posso me casar com você.

— Quem disse? — Ela exigiu. — Mina parece pensar que existe uma maneira de controlar os sangues azuis. Ela parece pensar que eu poderia me casar com um humano. E seu... seu compromisso com o Humanitário poderia ser...

— Eu não sou apenas humano, Alexa. Eu não sou ninguém. O avô do meu pai era um barão. Eu não sou um príncipe. Não sou nem mesmo um nobre. Tenho tão pouco sangue aristocrático em minhas veias que pode muito bem não existir. Sou um plebeu, Alexa. E você é uma rainha. — Ele capturou o rosto dela entre as mãos. — Quanto à festa...

Ela o beijou desesperadamente, a fim de silenciar as palavras. Gideon congelou e então capturou sua boca com um gemido angustiado. Todas as coisas que não podiam ser ditas foram derramadas em uma tempestade de paixão. Mas mesmo quando seus corpos se uniram, ela não conseguia parar sua mente.

Uma lágrima escorreu lentamente por sua bochecha quando ela percebeu que esta era muito provavelmente a última vez que eles se abraçariam.

O desejo de lançar tudo aos ventos - dever, seu compromisso com o trono e seu povo - fermentou dentro dela como um lote de chá rançoso. Por que ela não poderia escolhê-lo?

Por que ela não poderia ter apenas uma coisa para ela?

Alexandra interrompeu o beijo, com falta de ar.

— Fique —, ela implorou, agarrando-se ao casaco dele e balançando a cabeça. — Não vou me casar com mais ninguém. Eu não vou fazer isso. Vamos encontrar uma maneira. Podemos ser amantes. Podemos tomar precauções. Elizabeth conseguiu governar sozinha.

— Alexa. — Ele puxou cuidadosamente os dedos dela livres de seu aperto sobre ele, levando-os aos lábios para beijar. A tristeza em seus olhos fez o nó em sua garganta quase engasgar, pois continha um “não”. — Você deve se casar. Eu vejo isso agora. E eu quero isso para você. Eu quero que você seja feliz. Eu quero que você tenha filhos que não posso dar a você. E sempre pensarei em você com carinho. Eu sempre estarei lá se você precisar, mas isso... isso precisa acabar. Para o nosso bem.

— E se eu mandasse você ficar?

Gideon endureceu lentamente. — Eu devo servir a minha rainha.

Mas isso o quebraria, e seria apenas egoísmo falando. Sua necessidade por ele sobrepujava seu respeito por este homem gentil e inteligente.

Alexa engoliu em seco, soltando suas mãos.

Ela não iria simplesmente se render. Agora não. Ela só precisava de tempo para pensar em seu caminho através dessa bagunça.

— Eu sempre vou te amar. — Ela sussurrou.

Suas mãos enluvadas surgiram, enxugando as lágrimas de sua bochecha. — E eu à você.

Um estrondo de trovão distante respondeu.

Alexandra não aguentou mais. Ela puxou o capuz para cima e se afastou dele em uma enxurrada de saias molhadas, os olhos cegos pelas lágrimas que ela não conseguia mais conter.

E então, ela não viu a figura sair dos arbustos à sua frente, uma pistola erguida.

 


— Bem — disse Gemma, encolhendo-se sob um carvalho e soprando nas mãos em concha. — É um dia adorável para espreitar Sua Majestade pelo campo. Suponho que ninguém tenha uma garrafa de algo quente?

A dupla de guardas de gelo que esperava com ela se entreolharam.

— Chá? — Ela perguntou esperançosa, tentando distraí-los do que quer que estivesse ocorrendo dentro da loucura.

Por mais que Malloryn quisesse saber todos os detalhes, a rainha merecia um pouco de privacidade.

A julgar pelos rostos dos guardas, não havia chá quente à vista. Apenas a garoa terrivelmente fria de água escorrendo da borda de sua capa para a nuca.

— Bem, dê um jeito. — Ela murmurou, franzindo a testa um pouco quando um som estranho chamou sua atenção, algo rítmico e...

Cascos ecoaram.

Gemma se virou, empunhando sua pistola e assumindo uma postura de atiradora. Dois cavaleiros se aproximaram, torrões de terra voando atrás deles enquanto trovejavam em sua direção. Ela deu meio passo em direção a eles antes de reconhecer a intensidade aquilina da expressão de Malloryn e os ombros largos de seu amante.

— Gemma! — Malloryn gritou.

O instinto engrenou, e talvez fosse a urgência em sua expressão ou algum sentido estranho, mas ela se virou, erguendo a pistola...

Um borrão de movimento apareceu meio segundo antes de algo bater em seu rosto.

Gemma bateu no chão, a pistola voando de sua palma. Calor e dor obliteraram seus pensamentos. Ela ergueu as mãos, enrolando-se em uma bola para se proteger quando uma bota atingiu suas costelas.

Um dos guardas. Acertou-a com algum tipo de arma.

Uma pistola respondeu.

Gemma tombou de mãos e joelhos, seu treinamento de infância começou. O guarda ergueu a arma novamente, e ela se jogou em um rolar, meio desorientada e cambaleando mal ao se levantar. Sangue e cinzas. Onde estava sua pistola? Onde estava o outro guarda?

Baixo. Morto. Ele viu muito.

Oh, que diabo.

A rainha.

Ela teve uma fração de segundo para tomar uma decisão. Levantando-se, ela cambaleou sob o golpe e bateu com a palma da mão no queixo do guarda. A cabeça dele jogou para trás, mas ela não colocou tanta força nisso como ela gostaria.

O mundo girou, e sua arma - algum tipo de cassetete - bateu em seu ombro, arrancando um grito de seus pulmões.

O cassetete voltou para o outro lado e Gemma rolou por baixo dele. Muito tarde. Ela estava recuando, com o pé errado, tentando se ajustar aos ferimentos.

A dor martelou em seu ouvido, e desta vez, quando ela caiu, ela ficou lá. Ouvidos zumbindo. Piscando através das luzes brancas brilhando em sua linha de visão.

Mova-se. Ou morra.

Ela ouviu a voz seca de Mestre Rickard quebrando suas memórias. Viu novamente a fila de crianças lutando no centro de treinamento de Falcões, onde ela havia sido transformada em uma criança assassina.

Gemma rolou, mordendo os dentes contra a dor. O guarda deu um passo ameaçador em direção a ela, então seu olhar se ergueu e a indecisão cintilou em sua expressão.

Um tiro ricocheteou.

Malloryn.

Obsidian não perderia.

— Gemma! — Malloryn gritou.

O guarda se afastou dela, correndo em direção à carruagem. A rainha. Droga! Gemma lutou para pegar sua pistola caída, a água escorrendo pelo rosto e obscurecendo a pouca visão que tinha. Malloryn e Obsidian ainda estavam muito longe, e embora seu amante pudesse acertar um homem de várias centenas de metros com um rifle decente, ele era apenas competente em cavalgar.

— Sua Majestade! — Ela gritou, agarrando a pistola e engatilhando-a enquanto cambaleava para a árvore, usando-a para se apoiar.

Na carruagem, tanto a rainha quanto Sir Gideon ergueram os olhos no momento em que Gemma erguia a pistola.

Não importa.

Ela ia chegar tarde demais.

Porque ela não era a única com uma arma, e seu braço tremia tanto que ela mal conseguia mirar a maldita coisa.

O guarda de gelo ergueu sua própria pistola, e ela viu os olhos da rainha se arregalarem de horror quando ela percebeu o que estava acontecendo.

O cano dela brilhou, e Gemma soube imediatamente que sua bala não tinha voado bem.

O guarda de gelo cambaleou, mas sua pistola respondeu em eco ao dela.

— Não...

Um borrão de movimento atingiu a rainha. Gemma tentou pular para frente, mas seus ouvidos ainda zumbiam e parecia que ela estava se movendo através de melado.

Sir Gideon e a rainha caíram no chão assim que Malloryn chegou, passando por Gemma e se lançando da sela para o guarda. Eles caíram em uma bagunça, rolando de ponta-cabeça.

Malloryn poderia lidar com isso.

Então Obsidian estava ao seu lado. — Você está bem? — Ele exigiu, tentando ajudá-la a se endireitar.

— A rainha. — Ela disse sem fôlego. Ela nunca se perdoaria se a rainha morresse sob seu comando. Como ela pôde ser tão estúpida? Assim que ela varreu o perímetro e percebeu que eles estavam sozinhos aqui no parque, ela deu as costas ao guarda, diminuindo sua vigilância por um precioso segundo. Simplesmente porque queria que a rainha tivesse um pouco de privacidade para seu encontro romântico. Ela confiou em um homem que não tinha examinado pessoalmente, quando sabia que alguém queria matar a rainha.

Obsidian assentiu e correu para a rainha.

Gemma cambaleou atrás dele, a cabeça ainda girando, embora estivesse com a pistola engatilhada e recarregada.

Sir Gideon estava caído sobre a rainha, com a respiração ofegante. O sangue temperou o ar, e a rainha não se moveu.

— Ela foi atingida? — Gemma exigiu.

Obsidian puxou Sir Gideon de cima de Sua Majestade, seus ombros largos obscurecendo a linha de visão de Gemma.

— Droga, ela está machucada?

— Não. — Obsidian olhou para cima, sua boca apertada. — Não é o sangue dela.

E Gemma tardiamente percebeu que o borrão do movimento fora o cavaleiro se jogando contra a monarca que amava.

— Oh, não. — Ela sussurrou.

— Gideon! — A rainha gritou, levantando-se e empurrando Obsidian para longe. — Gideon!

E foi então que Gemma viu a bagunça ensanguentada da parte superior do peito do homem.

 


— Gideon! Gideon! — Alexandra se ajoelhou ao lado dele.

O sangue jorrava da ferida em seu ombro. A respiração saiu ofegante dele enquanto ele tentava se mover. Um terrível som de assobio que levou um arrepio em suas veias como chumbo líquido.

Alexandra rasgou o casaco dele, ignorando as mãos restritivas que tentavam afastá-la. — Maldito seja, me deixe em paz!

— Não é seguro. — Malloryn. Aparecendo do nada.

Ela olhou em seus olhos frios e cinzentos. — Então faça isto seguro. Eu não vou deixá-lo.

O olhar frio de Malloryn cintilou para Gideon, e então ele deu um breve aceno de cabeça. — Obsidian, estabeleça um perímetro. Gemma, chame um cirurgião. Imediatamente.

— Considere feito, Sua Graça. — disse Srta. Townsend.

Alexandra mal ouviu as palavras. Tudo o que ela podia sentir era um movimento atrás dela quando Malloryn assumiu o comando.

O sangue jorrava de suas mãos em concha enquanto Sir Gideon ofegava. Seus olhos escuros encontraram os dela, implorando por algo que ela não conseguia entender. Ele tentou agarrar o braço dela, mas o movimento estava além dele.

— Não! Não se mova. — O que ela ia fazer? Ela apertou as mãos com mais firmeza, tentando segurar o sangue dentro dele por pura pressão.

— Deixe-me ver. — Disse Malloryn, ajoelhando-se ao lado dela.

— Eu não posso deixar ir. Eu não posso.

Ele agarrou seus pulsos e seus olhos se encontraram. — Confie em mim, Alexandra. Confie em mim. Eu preciso ver a ferida.

Lentamente, ela o deixou afastar as mãos. O sangue jorrou em pedaços lentos. Havia muito disso.

— Ele é humano. — Ela sussurrou.

Um sangue azul poderia sobreviver a um ferimento como este, mas Sir Gideon foi vacinado contra o vírus do desejo. Eles não podiam nem infectá-lo agora para salvar sua vida.

Não havia emoção nos olhos de Malloryn.

Apenas a avaliação fria e afiada que ela temia fazer enquanto ele pressionava a gravata contra o sangue. — Seu pulmão está perfurado. Ele não tem muito tempo.

— Faça alguma coisa, — ela implorou. — Faça alguma coisa. Por favor.

Malloryn olhou para baixo. — Eu não posso infectá-lo. Minha saliva pode ser capaz de curar alguns pequenos componentes desta lesão, mas...

Tudo o que ela ouviu foi o “mas”.

Todo o calor do mundo foi lavado dela. Não. Ela tinha perdido tudo - o pai que ela adorava, a mãe que morreu em seu nascimento, sua juventude, sua inocência, sua privacidade, até mesmo suas próprias escolhas. Sir Gideon era o único pequeno prazer secreto que ela nutria. Sua rocha em qualquer tempestade. Nunca tentando tirar dela, mas estando ao seu lado, sempre, lá para dizer que ela não estava sozinha quando ela enfrentava decisões difíceis e terríveis.

Ela não achava que poderia continuar a governar sem ele.

Não sem perder todo o senso de esperança.

— Eu posso ajudá-lo. — O homem alto e taciturno que sempre acompanhava a Srta. Townsend empurrou Malloryn para fora do caminho. — O saco que envolve seus pulmões está se enchendo de ar e colocando pressão no próprio pulmão. Se não aliviarmos um pouco dessa pressão, seu pulmão entrará em colapso completamente e ele não conseguirá respirar. — Ele tirou a gravata ensanguentada do caminho. — A bala ainda está dentro dele, mas não parece ter atingido nada vital em si.

Malloryn se moveu para o lado. — Ele vai sobreviver, Obsidian?

— Possivelmente.

Possivelmente? — Que tipo de experiência você tem, senhor? Você é cirurgião?

Os olhos pálidos fantasmagóricos do homem cintilaram para os dela. Dhampir, Malloryn disse a ela uma vez. Um inimigo que desertou para o lado deles. E agora a vida de Sir Gideon estava em suas mãos.

— Normalmente sou eu quem lida com esses ferimentos, — ele respondeu com naturalidade. Tirando uma pequena bolsa de couro de dentro do casaco, ele a desenrolou, revelando uma série de instrumentos de aparência perversa. — Mas eu não teria errado o coração se tivesse dado aquele tiro. A menos que eu quisesse. Vossa Majestade, acho que você deve desviar o olhar.

Alexandra balançou a cabeça, mas Malloryn já a estava empurrando para longe do corpo ofegante de Sir Gideon.

— Malloryn! — Ela engasgou, tentando ver por cima do ombro.

— Aqui, — ele sussurrou, puxando-a em seus braços e forçando seu rosto manchado de lágrimas em seu ombro. — Não olhe, — ele sussurrou, a palma de sua mão segurando a base de seu crânio. — Ele vai sobreviver, Alexandra. Eu juro que ele vai. Ele não vai querer deixar você. Só não olhe, e tudo acabará em breve.


Capitulo 14


Malloryn se movia lentamente ao redor dos aposentos de Sir Gideon, pegando um dos casacos do homem - pendurado descuidadamente sobre uma cadeira - antes de colocá-lo sobre os ombros da rainha.

Ela se sentou ao lado da cama, segurando uma das mãos de Sir Gideon, o rosto pálido e manchado de lágrimas. Olhando para cima em choque, ela percebeu a quem pertencia o casaco, e então o puxou para perto dos ombros.

— Você precisa tomar banho e tirar esse vestido ensanguentado —, ele murmurou. — Vou mandar buscar um pouco de chá e jantar para você comer em seus aposentos.

— Eu não estou indo a lugar nenhum.

Ele engoliu as palavras que estava prestes a dizer, encontrando os olhos de sua esposa. Adele assentiu, ajoelhando-se ao lado da rainha e pegando sua outra mão.

— Majestade, você está com a pele molhada e hoje sofreu um grande choque. Você não pode cuidar de Sir Gideon se ficar doente. E tenho certeza de que ele não gostaria que você se colocasse em risco. Eu vou sentar com ele enquanto você se banha, — Adele prometeu. — Vou me certificar de que ele não está sozinho.

A rainha abriu a boca como se fosse discutir, então olhou para o rosto de Gideon. — Por favor, — ela sussurrou. — Por favor, venha me buscar se as circunstâncias dele mudarem.

— Vou enviar uma das criadas imediatamente. — Adele prometeu.

Malloryn a aninhou nos braços de suas damas de companhia antes de beliscar a ponta de seu nariz no segundo em que a porta foi fechada atrás dela. — Que porra de catástrofe. Eu nunca deveria tê-la deixado sair cavalgando sozinha com apenas dois de seus guardas e Gemma.

— Você não pode controlar tudo, e como você saberia que alguém havia alcançado um dos guardas?

— Eu deveria saber, — ele rosnou. — Eu pessoalmente os examinei depois do ataque de Lorde Balfour. — Ele esfregou a nuca e caminhou pelo tapete. — Se não fosse por Sir Gideon, ela estaria morta. Mas não, eu queria que ela tivesse um bom encontro com o homem.

Adele suspirou, envolvendo os braços em volta dele por trás. — Você não é onipotente, Auvry. Você tomou todas as precauções que poderia ter feito com o conhecimento que tinha. E tanto ela quanto Sir Gideon estão vivos, e os médicos parecem pensar que ele sobreviverá. Obsidian fez um trabalho excelente.

— Nós tivemos sorte.

— Sim, tivemos sorte. E agora você não vai fazer nenhum favor a ninguém fazendo um buraco nesse tapete. — Adele o virou e ajeitou o casaco. — O duque de Malloryn não torce as mãos e lamenta o passado. Ele não usa sua culpa como uma capa. Você cometeu um erro. Gemma cometeu um erro. A rainha cometeu um erro. Mas não adianta ficar tagarelando sobre isso.

— Eu não estou carregando minha culpa...

— Você está sendo praticamente byroniano, meu amor. — Estendendo a mão, ela ajeitou a frente de seu cabelo em um cacho. — Cuidado agora, ou eles vão começar a sussurrar na corte sobre a única lágrima estoica que viram escorrendo pela sua bochecha.

— Eu sou um sangue azul. Eu não consigo chorar. Eu não choro.

— Não? Nem lamenta o passado. Você tem o guarda nas masmorras, — ela apontou. — e você não fez um único comentário sobre interrogá-lo.

— É porque Byrnes está fazendo isso enquanto falamos. Ele está um pouco irado com ele, depois de ter um vislumbre do que o bastardo fez com Gemma.

— E o príncipe?

Seu rosto endureceu. — Certamente sabe mais do que afirmou inicialmente. Embora Charlie estivesse de olho nele e dissesse que ele conseguiu escapar para a cidade.

— Então encontre-o e encoraje-o a lhe contar tudo sobre isso. Agora vá e descubra quem pagou aquele guarda para matar sua rainha. E não volte antes de encontrá-lo.

Malloryn olhou para ela. — Eu odeio ser gerenciado.

Adele revirou os olhos e riu. — Eu não sei disso.

Mas ele a beijou na bochecha e foi até a porta para fazer o que ele mandou. Adele estava certa. Ele estava pairando sobre o leito de doente de Sir Gideon como uma babá. — Mande me buscar se a condição dele mudar. Vejo você hoje à noite para o jantar.

 


Byrnes parecia desconsolado quando Malloryn chegou à masmorra.

— O que há de errado? — Ele demandou.

— Veja por si mesmo. — Byrnes abriu a porta.

Dentro da cela, um homem estava pendurado no teto, com o rosto roxo. Malloryn varreu a cela com um olhar, então gesticulou para Byrnes fechar a porta. — O que diabos aconteceu? Você permitiu a ele um pedaço de corda?

— Eu pareço uma espécie de amador, Sua Graça?

Malloryn o examinou novamente. — Não. — De modo geral, quando se tratava de coleta de informações, ele teria preferido usar Gemma - que tinha um talento absoluto para roubar segredos de um homem sem ter que tocá-lo -, mas Byrnes não era desleixado. E ele não cometia erros como esse. — O que aconteceu?

Byrnes ergueu os dedos enluvados, revelando um pedaço de papel entre eles. — Use a corda —, ele leu, — ou sua esposa e filho irão conhecê-la. — Ele estalou a respiração. — Estamos lidando com alguns assassinos friamente calculistas, Sua Graça. Não sei como a carta chegou até ele, mas encontrei em seu bolso. Pode ter sido qualquer um dos guardas...

— Procure-os.

— Nosso querido Kincaid já está fazendo isso. A corda é outro assunto. — Byrnes abriu a porta novamente e apontou para uma pequena grade na parede. — Acredito que tenha passado pela grade, embora a abertura para as saídas de ar seja tão pequena que apenas uma criança seria capaz de se mover por dentro. Quem quer que tenha sido, eles já se foram. Eu o deixei sozinho por meia hora para pensar sobre... as escolhas que ele precisava fazer, e quando eu voltei ele estava enforcado.

Malloryn beliscou a ponte do nariz. — Então, meu suspeito está morto, nosso príncipe rejeitado está desaparecido e, mais uma vez, não temos pistas.

— Oh, eu não disse isso. — Byrnes pôs a mão em seu ombro. — Homens mortos não falam. Mas você ficaria surpreso com o que pode descobrir sobre eles se fizer uma pequena investigação. Parece que nosso guarda Wallach era um pouco apostador. Bolsos fundos demais para suas circunstâncias, por assim dizer. Enviei Ingrid e Lark para fazer algumas perguntas, mas pelo que seus colegas guardas mencionaram, parece que Wallach estava em dívida. Um guarda se lembra de ter ouvido um punhado de cavalheiros de aparência duvidosa ameaçando remover os dedos se ele não pagasse repentinamente, e até se ofereceu para ajudá-lo. Mas, três dias atrás, ele estava de repente jogando moedas no jogo novamente. Disse ao meu informante que ele não precisava mais de um empréstimo.

Finalmente. — Por favor, me diga que você tem uma pista que não vai desaparecer sobre nós.

O sorriso de Byrnes se alargou. — Temos uma vantagem e, desta vez, não acho que vá desaparecer.

 


— Sua graça.

Malloryn parou quando Charlie o alcançou. — O príncipe?

— Se foi. — O rosto de Charlie estava carrancudo. — Ele chegou aos campos de aviação antes que eu pudesse alcançá-lo. Não sei quanto dinheiro ele investiu nele, mas um dirigível russo conseguiu partir, apesar da falta de papelada.

Malloryn ficou imóvel. Ele pensava que Ivan era inocente de qualquer envolvimento nas tentativas de assassinato, mas por que fugir?

Com a mente acelerada, ele se virou para Charlie. — Só o príncipe? Ou toda a comitiva estava com ele?

— Apenas o príncipe e seu homem, Danil. O resto dos russos ainda está em seus aposentos, e Herbert e Clara mencionaram que a grã-duquesa está furiosa. Aparentemente, ele informou a ela que a rainha provavelmente iria propor, e ela... uh... destruiu tudo.

— Então, ela não sabe o resultado da conversa. — O que significava que o príncipe Ivan não a visitava desde que a rainha rejeitou seu processo. — Ivan sabe mais do que deveria, mas o resto do grupo são apenas tolos.

— Como eu também imaginei, Sua Graça.

Uma mulher loira contou ao príncipe sobre os broches de escaravelho. Uma loira voluptuosa. Na época, Malloryn tinha assumido que o príncipe era apenas um engodo, mas agora?

Pode ter sido uma mentira para distrair Malloryn e seus Renegados.

— Traga-me a grã-duquesa —, disse ele a Charlie. — Coloque-a na suíte azul. Eu quero ter uma palavra com ela.

Charlie estremeceu. — Ela é um pouco assustadora, Sua Graça.

Malloryn sorriu. — Eu também sou.

Embora ele duvidasse que teria que ameaçá-la. Uma mulher desprezada provavelmente desejaria agredir seu ex-amante de qualquer meio possível.

Ele quase podia sentir as rodas girando.

Ele teria um nome no final do dia. Ele sabia disso.

 


Os dedos de Sir Gideon se contraíram na mão de Alexandra.

Ela ergueu a cabeça de sua cama bruscamente, seu coração pulando em sua garganta. — Gideon?

Ele se mexeu inquieto, seus cílios escuros piscando contra sua bochecha, sua língua lambendo os lábios secos. Seus olhos começaram a se abrir lentamente.

Por todos os céus! Ele estava acordando. — Não se mexa! — Ela disse a ele rispidamente, pegando o copo de água que alguém havia deixado em sua mesa de cabeceira. — Aqui. Beba.

Levando o copo aos lábios, ela quase o afogou. Gideon cuspiu, e Alexandra usou a maior parte quando ele começou a tossir e depois não conseguiu parar.

— Bom Deus, — ele murmurou, batendo a mão no peito e olhando para baixo com surpresa. — O que aconteceu? Por que eu sinto... como se alguém tivesse me cortado do... queixo ao umbigo?

Talvez porque alguém quase o fez. Ela não foi capaz de assistir Obsidian usar um bisturi afiado para cortar o saco de ar que estava esmagando os pulmões de Gideon.

— Por quê? — Ela sussurrou. — Porque você fez isso?

— Fiz o que?

— Me empurrar de lado para que você...

Ela não conseguia dizer isso.

Gideon desabou contra o travesseiro enquanto dava uma risada ofegante. — Porque eu prefiro levar mil balas do que ver você pegar... até mesmo uma. Eu morreria por você, Alexa. Eu serei seu escudo quando você não tiver nenhum. Sempre. Para sempre. Não importa o que aconteça.

Não “minha rainha”, mas “Alexa”. Porque ela sempre seria uma mulher em primeiro lugar aos olhos dele, e não uma monarca.

As lágrimas a pegaram de surpresa.

As rainhas não podiam se dar ao luxo de chorar. Mas embora ela tenha prendido o soluço entre os dentes, ela podia sentir uma lágrima escorrendo pelo seu rosto.

Nenhum outro homem jamais foi tão fiel a ela.

E a realização a atravessou: ela o amaria. Sempre. Para sempre. E se ela não pudesse tê-lo, ela não aceitaria ninguém mais como marido.

Maldito Malloryn. Ele simplesmente teria que lidar com a decisão dela.

As lágrimas da rainha clarearam quando ela se inclinou sobre a cama de Sir Gideon e pressionou os lábios nos dele. — Eu não vou me casar com nenhum outro homem além de você. — Ela sussurrou.

— Alexa!

— Não —, disse ela com firmeza. — Eu te amo. E com você ao meu lado, seremos imparáveis. Não há nada que eu não possa lidar com você na minha vida. E é disso que uma rainha precisa. Um marido robusto e verdadeiro. Um marido que não terá medo de dizer a ela quando ela estiver errada. Um marido que a amará até o fim de seus dias. Um marido que é seu amigo mais querido.

Gideon tentou se sentar. — Isto é uma proposta de casamento? Ou as ordens da minha rainha?

— Ambos. — Então ela engoliu em seco. — A menos que você não queira se casar comigo.

O polegar de Gideon acariciou as costas de sua mão. — Não ousei sonhar com tal coisa. Nada mudou, Alexa. Eu ainda sou... indigno.

— Você nunca foi indigno, — ela disse ferozmente. — E nós mudamos todo este maldito país. Por que não podemos mudar isso?

Ele balançou sua cabeça. — Malloryn vai ter um ataque apoplético.

Seu coração pulou uma batida. — Isso é um sim?

Novamente, ele apertou a mão dela. Então engoliu. — Sim. Sim. Mil vezes sim. Embora eu tema estar sendo egoísta.

— Nunca. — Um grito de alívio escapou dela, e ela caiu para frente, apoiando a testa em seu ombro. — Eu preciso de você do meu lado. E Malloryn simplesmente terá que lidar com o fato de que ele não controla tudo.

Gideon capturou sua mão. — Por favor, diga-me que posso estar presente quando você anunciar.

Alexa beijou sua bochecha. — Eu prometo.


Capitulo 15


Foram Byrnes e Kincaid que trouxeram a informação crucial para ele. Malloryn ergueu os olhos de sua mesa, notando os sorrisos em seus rostos. — Sim?

— Quem são seus melhores agentes? — Perguntou Byrnes.

— Seus agentes favoritos? — Kincaid acrescentou.

Ele olhou entre eles e, em seguida, pousou a caneta. Sua tarde com a grã-duquesa havia provado meramente outra pista falsa, então ele precisava desesperadamente de algumas evidências. — Meus agentes favoritos são aqueles que encontraram quem tentou matar a rainha.

Enfiando a mão no bolso do casaco, Byrnes tirou um pedaço de papel com um floreio. — Eu tenho um recibo do banco para um saque de cinco mil libras, conforme pago ao Guarda Wallach.

Kincaid bateu com outro pedaço de papel na mesa. — E eu tenho o esquema do protótipo para um tipo específico de drone que é projetado para ser lançado em um campo de guerra. Um gerifalte, se você acreditar. Um dos mecanicistas que escapou dos enclaves de ferreiros criou um par deles para um cliente que ele reconheceu de uma caricatura muito popular que circulou vários anos atrás. Ela pensou que se não desse um nome a ele, ele nunca seria capaz de rastreá-la, mas ela não contava com sua notoriedade.

— Ela? — Ele olhou para o recibo. E então o esquema do protótipo.

Suas sobrancelhas batem na linha do cabelo. E então ele sorriu.

Loira voluptuosa, de fato. Príncipe Ivan tinha dito a verdade.

— Nós a pegamos.

 


Malloryn encontrou a culpada na galeria de retratos, olhando para um dos antepassados da Rainha Alexandra. Ou talvez, para ser honesto, ela não estava examinando o próprio rei, mas a coroa dourada e brilhante em sua cabeça.

— Não caberia muito bem. — Disse ele, apoiado na bengala.

Princesa Imogen quase saltou fora de sua pele, batendo a mão enfeitada com joias em seu peito substancial. — Minha nossa. Malloryn. Você não tem nada para fazer em vez de rastejar ao redor desta torre como um abutre? — Seus lábios se curvaram. — Minha prima não tem sapatos que precisam ser beijados?

Malloryn se aproximou, sorrindo um pouco. — Acho que ela está um pouco ocupada no momento, pensando em quais cabeças vão rolar pela quase morte de seu querido amigo, Sir Gideon. — Ele estalou a respiração. — A rainha pode ter perdoado uma tentativa de assassinato contra si mesma, mas Sir Gideon... Bem, eu tive que lembrá-la de que ninguém foi enforcado, desossado e esquartejado em séculos.

Princesa Imogen empalideceu. — O-claro. Que... bárbaro. Sir Gideon está bem?

— Ele vai se recuperar, parece. Embora o senso de misericórdia da rainha não possa.

Princesa Imogen piscou. — Você encontrou o assassino?

— Sim. Embora encontrar o assassino e encontrar aquele que puxa as cordas por trás deles tenham provado ser duas histórias diferentes. No entanto, minha equipe prevaleceu.

— Encontrando aquele por... trás do assassino?

Ele tinha que dar o braço a torcer. Ela fez uma excelente produção de estar confusa. — Alguém claramente queria a rainha morta. Eles tentaram três vezes matá-la. E tive que me perguntar: por quê? Não poderia ser uma potência estrangeira, esperando destruir o senso de equilíbrio da Grã-Bretanha. Pouco se ganharia, e a maioria dos enviados e príncipes estrangeiros estavam aqui para promover seus próprios interesses. Uma rainha morta não lhes concede nada.

— O velho Escalão está morto, e os sangues azuis que permanecem clamam que são enfaticamente leais a Sua Majestade. Eles já estão em liberdade condicional e sabem que mesmo a menor provocação os separará de suas cabeças. Então, quem tem mais a ganhar com a morte da rainha? Sua perda lançaria a Grã-Bretanha no caos, a menos que houvesse outra pessoa para subir ao trono. E esse alguém provavelmente seria seu irmão, Eugene.

— Como você ousa lançar tais calúnias? — A princesa Imogen endireitou os ombros. — Eugene não teve nada a ver com essa trama rebuscada que você afirma.

— Nisso nós concordamos. Eugene mal consegue amarrar os próprios sapatos sem supervisão. Ele seria um excelente substituto para algum poder por trás do trono manipular.

Aí está. Um leve lampejo de medo em seus olhos.

— Você cometeu um erro fatal, sabe?

Os olhos da princesa Imogen se estreitaram. — Um erro? Que erro?

— É uma ocorrência comum entre a nobreza. Eles tendem a pensar que os criados são invisíveis e realizam todos os tipos de reuniões na frente deles. — Ele balançou sua cabeça. — E embora o medo seja um motivador poderoso, quando alguém passa décadas tratando os criados de forma terrível, é preciso muito pouco mais do que uma promessa de proteção - digamos, de alguém ainda mais poderoso - para fazer uma confissão.

— Que diabos você está falando Malloryn?

— Duas das criadas se lembram de ter visto um magnífico broche com arabescos semelhantes a este em sua cômoda. Uma delas afirma que você tinha várias bugigangas em sua caixa de joias, e quando eu procurei esta manhã, encontrei isto. — Ele jogou um escaravelho dourado na direção dela. — Foi criado por um mecanicista que serviu nos enclaves dos Ferragens, de nome MacGregor. Você o comprou há um ano porque achava que era real, e isso a liga a um assassinato.

A princesa Imogen jogou a coisa de lado como se ele tivesse jogado uma bomba-relógio nela. — Como você se atreve a entrar em meus aposentos? Eu deveria mandar chicotear você. E isso... essa coisa não tem nada a ver comigo. Eu nunca vi isso antes na minha vida!

Malloryn sorriu. — É só um broche. Não é?

Ela congelou.

— Embora —, ele desenhou a palavra com prazer, — de acordo com o Sr. MacGregor, você teve algo a ver com seu início. Eu o fiz ver a corte de uma das galerias uma hora atrás, e ele apontou você sem escrúpulos. Você ordenou que o escaravelho fosse feito há dois meses. Um presente para uma rival, você disse a ele, e ele está disposto a testemunhar.

Princesa Imogen sibilou baixinho, erguendo o queixo. — É algum pequeno enredo que você formou, Malloryn? Uma maneira de lançar tais calúnias sobre meu caráter e me remover da corte? Você não é o único com poder, sabe. Tenho amigos em cargos importantes e verei você ser açoitado por isso.

— Eu duvido. — Princesa Imogen deveria ter sido um sangue azul do Escalão. Ela possuía a mesma arrogância e senso de invulnerabilidade. Seu sorriso sumiu. — Ainda não terminei e duvido que seus amigos possam salvá-la. Tenho uma testemunha que a viu com o cozinheiro que colocou cianeto nos bolos de mel e cordial da rainha. Eu tenho a confissão do seu mecanicista. Estou com o garoto que você pagou para entregar uma corda nas masmorras para que o Guarda Wallach pudesse se enforcar.

Ele puxou um pequeno pedaço de papel do bolso do casaco. — E este é um comprovante de retirada do seu banco. Pela soma exata de cinco mil libras, que, convenientemente, é a soma exata que alguém usou para subornar Wallach. Posso enterrá-lo na corte com meia dúzia de testemunhas. Você terminou.

Princesa Imogen se moveu para esbofeteá-lo, mas ele segurou seu pulso.

— Seu pedaço de imundície, — ela sibilou. — Solte-me! Funcionários? Você pensa em usar esses ingratos sujos para me derrubar? Você não tem nada, Malloryn. Provavelmente você mesmo os pagou.

— Não cometa outro erro, — ele a advertiu friamente. — Você pode ser prima da rainha, mas não tenho certeza se ela está gostando muito de você no momento. Além disso... — Ele se inclinou mais perto, para desfrutar de jogar o trunfo. — Eu não tenho apenas os criados nas mãos, sua vadia. Eu também tenho Eugene. Seu querido irmãozinho baliu como um cordeiro e me contou tudo.

— Aquele idiota! — Princesa Imogen puxou seu aperto. — Deveria ter sido eu no trono! O príncipe consorte estava me cortejando antes que Alexandra o roubasse! Ele teria se casado comigo e me colocado no trono, mas ela não poderia ter isso, poderia? Ela pegou tudo. Ela sempre levou tudo! Meu tio passou anos sem ter um filho, e ele finalmente conseguiu gerar aquela criazinha chorona em sua vadia de esposa? Eugene foi nomeado seu herdeiro. E ela roubou tudo!

— Por nascer? — Malloryn balançou a cabeça. — Sua idiota. Você tem riquezas, uma propriedade, mais do que a maioria das pessoas poderia imaginar...

— A coroa era nossa! E teria sido nossa novamente. Eu só tinha que pegar! Mas ela não podia nem mesmo ter a boa graça de morrer!

Aí está.

Uma confissão.

Finalmente.

Malloryn a deixou ir. — Obrigado princesa. — Ele deu um passo para o lado quando Sir Gregor saiu da sala de estar mais próxima, seguido por dois guardas. — Você já ouviu o suficiente, Sir Gregor?

Sua Alteza Real engasgou.

— Bastante. — O capitão da Guarda de Gelo agarrou a princesa pelo braço, sua expressão era de ódio. — Vossa Alteza, você pode se considerar presa pela tentativa de assassinato da rainha.

— Malloryn! — Ela gritou, tentando se jogar nele e cravar as unhas em seu rosto. — Seu desgraçado!

Ele apertou as duas mãos na bengala. — Aproveite seu confinamento, Sua Alteza. E sua nova notoriedade. Vou garantir que sua imagem esteja estampada em todos os jornais de Londres. Talvez usemos a caricatura de Frogmore, certo? Acredito que tenha sido seu favorito, após seu encontro malfadado com o embaixador espanhol. Você será a mulher mais famosa de Londres.

Os grunhidos de raiva da princesa Imogen ecoaram em seus ouvidos enquanto ela era arrastada, sem cerimônia, para sua cela.


Capitulo 16


O duque de Malloryn escalou a torre lentamente, esfregando os nós dos dedos. Ele lidou com a situação Imogen e então solicitou uma audiência privada com a rainha.

Havia mil conversas que ele preferia ter agora.

Ela havia sido traída por quase todos em seu círculo íntimo, e agora seus únicos parentes restantes haviam conspirado para tirar a coroa de sua cabeça. Ele sentiu uma certa pena.

No topo da torre, a rainha se virou com um movimento rápido de suas saias. — Isso nunca vai acabar? — Ela exigiu. — Eles roubaram meu país e assassinaram meu povo. E quando finalmente conquistamos nossa liberdade, eles tentaram me derrubar. Eles queimaram minha torre e tentaram me assassinar repetidas vezes. E ontem, um bom homem quase foi morto tentando me salvar! Quando isso vai acabar?

— Sua Majestade...

— Quero dizer! — Ela gritou. — Eu terminei com esses planos miseráveis. Parei de ser justa e benevolente com aqueles que pensam em me derrubar. Os sangues azuis e o Escalão não me querem governando sobre eles? Então tudo bem. Vou colocá-los todos em uma fodida cova.

— Alexandra, — ele disse, capturando-a pelos ombros. — Não era um sangue azul.

Ela congelou. — Não um sangue azul. Então quem mandou o guarda? Quem está por trás dessa tentativa? Eu quero a cabeça deles!

Malloryn soltou um suspiro lento. — Parece que temos uma toupeira nas câmaras do conselho. Parece que sua prima Imogen de alguma forma ouviu que estávamos considerando nomear Eugene como seu herdeiro, com uma regência estabelecida. Ela procurou apressar as coisas e prevenir um casamento repentino.

— Imogen?

— Sim, sua prima Imogen. Acredito que ela esteja planejando algo assim há algum tempo, encomendou o broche meses atrás.

A rainha pressionou os dedos nas têmporas. — Não importa para onde eu vá, sempre há traição.

— Não em todo lugar. — Ele a lembrou.

Ela balançou a cabeça. — Eu gostaria de nunca ter nascido para esta vida. Às vezes, gostaria de ser apenas uma mulher comum nas ruas de Londres.

— Não, você não quer, — ele disse suavemente. — Pois aquelas mulheres humildes têm seus próprios desafios, seu próprio sofrimento. E você é aquela que está em posição de fazer algo sobre as vidas delas.

A rainha suspirou. — Eu só queria que isso não fosse tão complicado. E Gideon...

Sua compostura caiu, apenas por um segundo.

— Sir Gideon está seguro —, Malloryn assegurou-lhe, apertando seus ombros. — Suas feridas vão sarar.

— Desta vez, — ela sussurrou. — Ele levou uma bala por mim.

— E ele faria isso de novo, se visse outra chegando.

— Mas eu não quero isso! — Ela gritou. — Eu não quero perder nenhum de vocês.

— Qualquer um de nós? — Ele perguntou gentilmente. — Ou principalmente Sir Gideon?

Círculos fracos de cor surgiram em suas bochechas. — Gosto de todos vocês.

— Mas gosta dele, eu acho.

Seus olhos se encontraram.

E talvez fosse hora de revelar suas cartas. Ela tinha sofrido o suficiente hoje, e como Adele havia apontado, às vezes ele instintivamente escolhia o caminho mais complicado ao invés de um mais simples.

— Você deveria se casar com ele.

Ela piscou. — Casar com quem?

— Sir Gideon —, disse ele. Talvez Adele estivesse certa. Talvez fosse hora de os jogos terminarem. — Esqueça a aliança. Um príncipe estrangeiro nunca amará você, nem você a ele. Não do jeito que Sir Gideon amaria. E se você não se casar com ele, você sempre ficará surpresa com a vida que poderia ter tido com ele. Você sempre se perguntará como é amar e conhecer o amor.

A boca da rainha caiu aberta.

— Eu... Você.... Como você...?

Ele teve pena dela. — Sobre o que você achou que era todo esse caso? Estava claro que vocês dois tinham sentimentos um pelo outro. Eu estava apenas tentando forçar um de vocês a agir. Você estava errada, Alexandra. Sir Gideon foi minha escolha o tempo todo.

— Você orquestrou toda essa maldita caça ao marido para que eu finalmente agisse de acordo com meus sentimentos por Sir Gideon?

Ele encolheu os ombros. — Eu disse que você nunca adivinharia qual candidato eu estava apoiando. Eu disse que seria sua escolha.

A rainha cerrou os punhos. — Eu juro que deveria expulsar você desta torre! Isso está além, Malloryn. Além!

— Por quê? — Ele a incitou. — Porque ele é quem você quer, e você odeia quando estou certo?

— Eu odeio quando você sempre tem que estar certo.

— Eu sou seu espião mestre. Eu não estaria fazendo meu trabalho se não tivesse meu dedo no pulso o tempo todo. Case com ele, Alexandra. Seja feliz. Você merece ser feliz.

— Bom Deus. — Ela balançou a cabeça em descrença. — Sua esposa virou completamente sua vida de cabeça para baixo, não foi?

Malloryn recuou. — Bem, é claro, ela tem. Mas não vejo o que isso tem a ver com...

— Com você apoiando a escolha sentimental? — Ela perguntou docemente. — Um ano atrás, você nunca teria me incentivado a casar com o homem do meu coração. Você estaria discutindo sobre tratados e o que é bom para o país. Você ficaria horrorizado se eu estivesse pensando em tomar um marido humano, quando metade do Escalão se sentiu desprezado após a revolução. Você mudou, Malloryn.

Malloryn fechou a boca.

A rainha parecia encantada. — Você se transformou em uma fada madrinha de alguma história. Você está arranjando casamentos agora. Isso é maravilhoso.

— O reino precisa de um herdeiro.

— Não finja ser tão cínico. Quantos casamentos você arranjou agora?

Ele fechou a boca novamente. A maior parte da Companhia de Renegados tinha conseguido resolver seus próprios negócios, mas Gemma exigiu um pouco de convencimento para aceitar a proposta de Obsidian, acreditando que casamento não era o tipo de coisa para uma mulher com sua educação e habilidades. E havia o sub-mordomo e uma das criadas...

Querido Deus.

Era verdade.

Ele havia se transformado em uma fada madrinha.

Endireitando-se, ele arqueou uma sobrancelha gelada. — De vários. Eu arrumo tudo, inclusive a mesa de jantar. E o mais importante, o futuro herdeiro do reino.

— Falando de herdeiros, Malloryn... quando o bebê chegará?

Seus olhos se estreitaram. — Adele e eu não discutimos a possibilidade de tal evento ainda.

Os olhos da rainha brilharam tortuosamente. — Eu sugeriria que você discutisse isso, e logo, Malloryn. Sua esposa está brilhando positivamente atualmente, e se ela não está escondendo um segredo feliz de você, então eu vou me casar com Sir Gideon e passar todas as decisões importantes que envolvem o reino diretamente para você.

Seu coração disparou. — Com criança? Adele com criança?

— Oh, eu gosto de saber algo que você não sabe. — A rainha revirou os olhos. — Espero ser nomeada madrinha, Malloryn. Agora vá e encontre sua esposa. Tenho certeza que você tem algumas coisas para discutir. — Ela pegou as saias, levantando o queixo. — E eu tenho um certo cavaleiro para comprometer.

 


Malloryn encontrou Adele no meio de um turbilhão de seda em seus aposentos.

Dispensando as criadas com um olhar, ele enrolou os braços em volta dela por trás, esfregando a bochecha contra a nuca dela.

— Há algo que você precisa me dizer? — Ele murmurou.

Adele ficou imóvel. — O que você quer dizer?

Ele deslizou a mão por seu abdômen e segurou um punhado de tecido. Ele não pôde deixar de respirar. Esperanças haviam plantado sementes em seu coração, e ele estava meio com medo de sufocá-las se ela negasse.

Cada centímetro de sua esposa ficou imóvel, e então ela deu um soco no braço dele e escapou de seu aperto.

— Como? — Ela exigiu.

Era verdade? Uma onda de nervosismo o atingiu. — Então você confirma?

— Eu ia te contar. Eu só queria... ter certeza. — A voz dela caiu. — Não queria ter muitas esperanças, mas as parteiras acham que estou bem agora.

Ele abriu os braços e ela entrou neles.

Malloryn a apertou com força e apoiou o queixo em sua cabeça. — E eles acham que é seguro agora?

— Sim —, disse ela, em voz baixa. — Sempre há um risco, mas... Elas pareciam muito certas. E eu estive doente desta vez. É um bom sinal.

Eles perderam o primeiro filho que criaram, apenas uma semana depois que Adele revelou a notícia para ele. Isso a tinha despedaçado e, pela primeira vez na vida, ele não sabia o que fazer.

Exceto segurá-la. E a beijá-la. E deixá-la dormir em seus braços depois que ela chorou até dormir.

Ele ficou sem fôlego. Ele não se permitiu ficar animado naquela primeira vez, ou entreter pensamentos sobre a criança que eles compartilhariam. Mas ele não conseguiu desafiar a onda de esperança que sentia agora.

Puxando-a em seus braços, ele a levou para a cama.

Adele caiu no meio do colchão com um guincho, mas ele não deu tempo para ela protestar. Em vez disso, ele capturou o suspiro em seus lábios e a beijou até que ambos estivessem tontos.

— Malloryn! — Ela engasgou, arqueando a garganta para revelá-la. — É o meio do dia! O que as empregadas vão pensar?

— Que o duque adora sua esposa tão completamente que ele perdeu toda noção de decoro nos dias de hoje. — Ele disse, retornando seus lábios a sua pele.

Eles se perderam um no outro, e ele passou uma quantidade excessiva de tempo beijando sua barriga antes de arrastar a língua mais para baixo.

Depois, eles deitaram emaranhados nos braços um do outro. Malloryn acariciou preguiçosamente os dedos para cima e para baixo nas costas de sua esposa, apreciando o arrepio que a percorria. — Como foi o seu dia?

— Agitado, — ela admitiu, aconchegando-se contra ele. — Lena está tentando se preparar para a próxima viagem dela e de Will a Estocolmo para a cúpula russo-escandinava. Há algum tipo de disputa de liderança dentro dos clãs verwulfen escandinavos, e ela estava um pouco preocupada por estar levando o bebê Alex para uma guerra verwulfen. Eu disse que talvez conheça alguém que poderia fornecer alguma ajuda para a embaixada.

— Considere isso ordenado, — ele admitiu. — Byrnes e Ingrid vão fazer parte da comitiva do embaixador. Eles ficarão de olho nas coisas.

Uma pitada de tensão saiu dela, e ele percebeu que ela estava preocupada com sua amiga. — Isso é realmente sábio?

— Byrnes e Ingrid? Claro. Ela é um pouco cabeça quente, especialmente quando se trata de política verwulfen, mas Byrnes é...

Ele estava prestes a dizer “legal e controlado”, mas quando se tratava de sua esposa, Byrnes tinha o péssimo hábito de perder a cabeça.

— Eu estava falando sobre os ferimentos de Ingrid. — Disse Adele.

Eles ficaram imóveis por um momento.

— Os nervos da coluna dela sararam, os médicos me disseram. — Disse ele lentamente. Ingrid havia quebrado as costas protegendo Adele, e ele não achava que algum dia seria capaz de retribuir. Apesar da veracidade do vírus do lupinismo, levou muito mais tempo do que o normal para os nervos em frangalhos de Ingrid reatarem e meses de trabalho árduo para ela andar novamente, quanto mais algo mais estimulante. Byrnes pairava sobre ela o tempo todo.

— Eu odiaria ver seu progresso estagnado —, sussurrou Adele. — Você acha que é um pouco cedo? E se ela se machucar de novo?

A decisão o irritou por semanas. Ingrid e Byrnes eram a escolha perfeita para se infiltrar em um cume verwulfen cheio de tanto guerreiros de cabeça quente que se vestiam com peles e carregavam machados, quanto a comitiva fria e viciosa de sangue azul russo.

Mas ele estava lá quando Ingrid se forçou a andar novamente.

Ele tinha sido aquele a quem ela recorrera quando Byrnes não a deixava fazer nada mais extenuante do que correr.

E ele viu a necessidade em seus olhos, quando ela pegou suas armas e o enfrentou no ringue de treino, porque alguma parte dela temia que ela nunca fosse capaz de lutar novamente.

Ele estava preparado para colocá-la com cuidado, até que Ingrid quase arrancou sua garganta.

— Ela precisa disso —, disse ele a Adele. — E eu duvido que ela seja colocada diretamente em perigo. A tarefa deles é puramente proteger nosso embaixador e sua esposa. Eles não devem se envolver em nenhuma política escandinava ou assassinatos vingativos na Corte de Sangue. Eles estão apenas no dever de proteção. E possivelmente meus olhos e ouvidos.

— Tenho certeza que eles não vão se envolver —, ela respondeu docemente. — Byrnes e Ingrid seguindo suas ordens? Absolutamente. Sem dúvida. Não haverá envolvimento em qualquer caos. Ninguém morrerá em circunstâncias misteriosas. E a Grã-Bretanha definitivamente não terá que lidar com as complexas ramificações políticas das consequências.

Ele beliscou seu traseiro. — É por isso que estou enviando o resto deles.

Adele deu uma gargalhada. Pressionando um beijo em sua garganta, ela acariciou sua bochecha com os dedos. — Como estava a rainha esta manhã?

— Furiosa.

— Auvry...

— Eu disse a ela que ela tinha minhas bênçãos e que ele era minha escolha o tempo todo —, disse ele rapidamente, beijando a ponta dos dedos dela. — Eu pensei sobre o que você disse, e talvez você estivesse certa. Ela merece uma chance de ser feliz e parecia totalmente miserável.

— Como ela recebeu essas notícias?

— Ela me chamou de 'fada madrinha' —, ele admitiu secamente. — Ela acha que eu adquiri uma inclinação repentina para arranjar casamentos.

Adele ergueu a cabeça de seu peito, os olhos brilhando de alegria. — Mesmo?

— Não ria, — ele disse a ela na voz mais arrogante que ele poderia convocar. — Eu sou o poder por trás do trono. Os sangues azuis se encolhem quando ouvem meu nome. Mortais estremecem ao ver o símbolo de minha casa. Isso é terrível.

Risos derramam-se de sua boca. Seus lábios se contraíram. Adele tinha o péssimo hábito de bufar quando caia na gargalhada, e se alguém tivesse dito a ele, um ano atrás, que ele acharia o som adorável, ele teria insistido que deveriam fazer uma visita a Bedlam.

— Oh, Auvry. — Sentando-se escarranchada em seus quadris, Adele plantou as mãos em seu peito. — Que terrível. Eu arruinei sua reputação completamente.

Ele se ergueu sobre os cotovelos, inclinando a boca quase na dela. — Talvez você devesse me compensar?

— Com prazer. — Ela ronronou, então se inclinou e capturou sua boca em um beijo possessivo.

 


Horas depois, Malloryn desceu as escadas.

— Bebê Ivy. — A voz de Byrnes ecoou escada acima. — E eu vou ser o padrinho.

Malloryn fez uma pausa. Ele tinha bebês no cérebro. Ele poderia jurar que Byrnes acabara de apostar no sexo, no nome e no padrinho de uma criança infeliz.

O confinamento de Ava estava se aproximando rapidamente, mas eles já haviam debatido o assunto, e ele conseguiu dar uma olhada no livro de apostas que Byrnes estava mantendo em segredo de Kincaid. Eles não estariam falando sobre isso novamente, estariam?

— Ivy? — Ingrid perguntou. — Por que Ivy?

— Porque eu gosto.

— Quem em sã consciência te nomearia padrinho de seu filho? — Kincaid rosnou. — Cristo. Você provavelmente daria ao pequeno sodomita uma adaga em seu primeiro aniversário.

Kincaid.

Suas narinas dilataram-se. Kincaid não deveria estar aqui para esta conversa se eles estivessem falando do filho de Kincaid.

— Você nunca pode iniciá-los muito cedo. — Byrnes protestou.

— Um garotinho —, declarou Charlie, e o som de um par de moedas tilintou ao pousar na mesa. — E Gemma será a madrinha.

As sobrancelhas de Malloryn se juntaram em uma carranca.

Os outros sabiam que ele via Gemma como uma espécie de... irmã adotiva. Certamente não. Certamente eles não poderiam estar apostando em...

— Vou te questionar sobre o sexo do bebê —, disse Byrnes, — mas não sobre a escolha da madrinha. Gemma tenho certeza.

— A menos que a duquesa escolha sua melhor amiga, — Ingrid apontou. — Sra. Carver.

As narinas de Malloryn dilataram-se. Inferno e cinzas sangrentas.

— E o tio Charlie vai ser padrinho. — Charlie acrescentou.

— Isso —, disse Byrnes, apontando para ele, — está em discussão. Eu aceito essa aposta.

A discussão ficou mais animada enquanto todos eles debatiam os méritos disso.

Malloryn tinha duas opções neste momento.

Ele poderia jogar seus bolinhos e vomitar injúrias contra eles por provavelmente plantar um dispositivo de escuta em seus aposentos, ou poderia ignorar a violação e usá-la em seu proveito.

Talvez brincar um pouco com Byrnes, porque ele sabia exatamente qual renegado era o único com a audácia de ter plantado tal dispositivo.

Malloryn desceu as escadas, arqueando a sobrancelha. — O que diabos te faz pensar que vou permitir que qualquer um de vocês chegue perto do meu filho, muito menos nomeá-los padrinhos? Barrons é meu melhor amigo. Se vou nomear alguém padrinho, será ele.

— Sim. — Lark assobiou, fazendo um pequeno punho comemorativo.

Charlie revirou os olhos e jogou um par de moedas em sua direção. — Parabéns, Sua Graça.

Um coro de parabéns ecoou pela mesa.

— Vejo que está sendo aberto um novo livro de apostas —, disse ele secamente. — Se eu encontrar seus aparelhos de escuta, Byrnes, vou enfiá-los na sua garganta.

— Dispositivos de escuta? — Byrnes protestou. — Por que sou sempre o principal suspeito?

— Porque você sempre é culpado.

— Não desta vez. — Respondeu Byrnes. Ele bufou e olhou para Ingrid, que deu a Malloryn um sorriso doce.

— Sua querida esposa tem vomitado várias vezes ao dia —, ela respondeu. — Ela também ficou obcecada por bolo de repente.

— Adele é sempre obcecada por bolo.

— Não assim —, disse Ingrid, parecendo impressionada. — Ela pediu a Herbert para trotar meio caminho através de Londres em busca de um bolo de mel em particular, pelo qual ela está absolutamente fascinada no momento.

— E ela come com queijo —, disse Lark com um estremecimento. — Um tipo de queijo nojento que fede a sala inteira.

Como diabos todos eles sabiam antes dele?

Lark sorriu docemente para Malloryn, falhando em cair sob seu olhar, como qualquer pessoa com bom senso faria.

Ele estava claramente perdendo seu toque. Fada madrinha. Arranjar casamentos. Agora isso.

Tirando a ponta do casaco, ele se sentou na cabeceira da mesa. — Herbert, traga-nos um pouco de chá. Posso ver que nenhum de nós está ocupado o suficiente. Isso está prestes a mudar.

— Muito bem, Sua Graça. — O mordomo desapareceu.

— Você tem um trabalho para nós? — Byrnes perguntou, esfregando as mãos.

— Eu tenho um trabalho para alguns de vocês. — Malloryn jogou uma pasta sobre a mesa na direção de Gemma. — Quer uma lua de mel?

— Eu nem sou casada ainda.

— Você será, — ele respondeu. — E então você será levada para uma viagem com todas as despesas pagas, completa com um guarda-roupa e enxoval novos.

— Ooh, — Gemma murmurou, agarrando a pasta. — Você não deveria. Onde estamos indo? Em algum lugar quente, de preferência?

— Marrocos. — Ingrid ronronou, fechando os olhos como se imaginando que ela estava inclinando o rosto em direção ao sol.

— Creta —, Ava disse brilhantemente. — Imagine todas aquelas ruínas!

— Vai ser um lugar frio, escuro e sangrento —, disse Byrnes amargamente. — Acabei de encomendar um novo par de botas depois que o último conjunto foi arruinado na Rússia.

— Sim —, disse Malloryn. — reparei nessa fatura.

— Elas foram arruinadas em seu nome, Sua Graça.

Ele ignorou o comentário.

Porque algumas feridas ainda estavam frescas o suficiente para sangrar, e ele particularmente não gostava de pensar naquele período de sua vida.

— Estocolmo —, anunciou Gemma, seu tom neutro. Seu olhar se ergueu do que estava lendo. — Uma embaixada diplomática em Estocolmo, e nós seremos incluídos. Isso dificilmente soa como o nosso tipo de coisa.

— Isso porque você não leu o relatório inteiro —, ressaltou. — A rainha está enviando Will Carver, nosso embaixador verwulfen, a Estocolmo para assistir à renovação do Tratado. Já se passaram cem anos desde que os clãs verwulfen escandinavos firmaram um tratado com a corte de sangue russo sobre os clãs verwulfen no Grão-Ducado da Finlândia. A corte russa está enviando um grande contingente de príncipes para renovar o tratado, e os clãs verwulfen norueguês e sueco estarão presentes.

— Parece a mistura perfeita de caos político. — Murmurou Kincaid.

— Clãs de sangue azul e verwulfen, — Gemma murmurou. — Meu, meu. Vai ser um banho de sangue.

— Será, — ele concedeu. — O embaixador deve renovar as relações com os clãs escandinavos e promover uma potencial aliança comercial com eles. Ele também está lá para testemunhar a nomeação do novo Martelo de Guerra. Eu preciso que ele volte vivo e bem. E não para quebrar o nariz de algum verwulfen escandinavo.

Gemma estremeceu. — Essa provavelmente vai ser a parte difícil. O Sr. Carver tem um temperamento.

— Você está com sorte —, disse Malloryn. — A esposa dele vai com ele. E seu filho. Ele não só estará no limite com todas as sutilezas sociais, mas seus impulsos de proteção estarão com força total. — Malloryn sorriu. — Imagine um vulcão enviado para lidar com uma falha geográfica. E talvez adicione uma bomba.

Gemma lançou-lhe um olhar longo e firme. — Eu pensei que você disse que esta poderia ser minha lua de mel?

— O que? — Ele zombou engasgou. — Eu praticamente embrulhei um presente para você. Você está fadada a levar um tiro, pelo menos uma vez. Você prefere mergulhar nas águas em algum lugar? Uma estadia agradável e preguiçosa em uma casa de campo na Escócia?

Gemma fez uma careta e agarrou a pasta com força. — Não. Está bem ser alvejada. Um pouco estimulando os nervos, mas o resultado é... extremamente agradável. — Ela deu uma piscadela atrevida para Obsidian.

Malloryn fingiu que não a ouviu. — Lark e Obsidian, isso também vai ser uma espécie de reunião de família. Seu irmão tem fama de ser um dos enviados de Sangue.

Ambos piscaram para ele, então trocaram olhares.

— Nikolai? — Lark disse.

— Brinque bem com ele, — ele instruiu. — Eu quero um amigo dentro da corte de Sangue. Há rumores de que alguém assassinou o neto favorito da czarina, já que todos competem para ser nomeados herdeiros, e Catherine está em seu leito de morte. A Rússia é mais volátil do que Will Carver agora. Eu quero um príncipe no meu bolso.

— Você conheceu Nikolai? — Lark perguntou sem rodeios. — 'Legal' não é uma palavra que eu usaria para descrevê-lo.

— Traço de família, ao que parece, — Malloryn murmurou. — Kincaid, você e Ava vão descansar por alguns meses. Aproveitem. Tenho certeza de que precisarei de ambos os seus serviços no futuro. — Roubando a pasta de Gemma, ele agraciou a todos com um sorriso. — Agora vão e façam as malas. Algo quente, sugiro. Eu acredito que a primavera em Estocolmo é... estimulante.

— E quanto a mim? — Byrnes exigiu.

— E você? — Ele respondeu friamente enquanto se colocava de pé. — Alguém tem que cuidar do forte. E vou precisar de Herbert em campo para este.

— Herbert?

Malloryn examinou suas unhas. — Ele tem um certo nível de diplomacia e sutileza que lhe falta.

— Ele explodiu uma fábrica inteira cheia de munições! — Byrnes explodiu.

— Sua Graça. — Disse Ingrid calmamente.

Byrnes merecia, mas brincar com Ingrid estava além dele. Malloryn inclinou a cabeça para ela. — Vocês dois estão no dever de proteção pessoal. Quero que o embaixador Verwulfen e sua família voltem sem nenhum arranhão, e quem melhor para confiar do que vocês dois?

Uma respiração lenta escapou dela. — Obrigada.

— Não matem ninguém —, disse ele, dirigindo toda a atenção de seu olhar para Byrnes. — Não insultem ninguém. Não comecem nenhuma guerra. Tragam aquele bastardo verwulfen grande e peludo para mim inteiro, ou nunca ouvirei o fim disso de Adele. Ela gosta muito da sra. Carver.

— Por que todo mundo sempre olha para mim? — Byrnes protestou.

— Não consigo imaginar. — Kincaid rosnou.

Ava tossiu em seu punho, escondendo uma risada.

Malloryn recostou-se na cadeira. — Bem, o que vocês estão esperando? A delegação parte em cinco dias. Vocês não têm tempo a perder.

— Você não vem com a gente? — Gemma perguntou, pairando sobre sua cadeira.

Malloryn balançou a cabeça e cruzou as palmas das mãos na cintura. — Não. Acabei de descobrir que vou ser pai. Quero levar Adele para passar as férias em Bath, onde podemos entrar na água, descansar na cama e ela comer bolo e queijo até enjoar-se profundamente. Nenhum de nós teve um momento para pensar desde que a torre foi destruída. Eu quero um feriado. E eu quero uma lua de mel. Tentem não destruir completamente as relações da Grã-Bretanha com duas grandes superpotências europeias. Ficarei muito aborrecido se tiver que retornar a Londres e comandar um dirigível para resgatar todos vocês.

Gemma concedeu-lhe uma reverência e um sorriso diabólico. — Nós não sonharíamos com isso, Sua Graça. Cuidaremos de tudo. Dois países guerreiros verwulfen vinculados por um tratado tão fino quanto minhas amarras de espartilho, um contingente intrigante de sangues azuis russos e um embaixador que não vai ouvir nada do que dissermos. O que poderia dar errado?

Ele estremeceu. — É por isso que estou enviando Herbert. Dispensados.

 

 

                                                   Bec McMaster         

 

 

 

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