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Poesia & Contos Infantis

 

 

 


FURACÃO DO DESEJO / Cathy Williams
FURACÃO DO DESEJO / Cathy Williams

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

FURACÃO DO DESEJO

 

Lucy ouviu o ruído da porta e ergueu as mãos do teclado.

Não devia estar ali ninguém às dez e meia da noite. E muito menos naquele dia. Ner­vosa, levantou-se da cadeira. Estava no único gabinete iluminado daquele piso e qualquer pessoa podia vê-la do corredor, ao passo que ela não conseguia ver nada.

Embora o escritório de Nick Constantinou fosse enorme, não havia lugar nenhum onde pudesse esconder-se, nem sequer uns cortina­dos de veludo. E apesar de ser magra, tentar esconder-se atrás das persianas de madeira se­ria ridículo.

De facto, o seu medo era ridículo. Ela era uma pessoa muito sensata para imaginar que havia um ladrão ali.

Lucy aproximou-se da porta que ligava o gabinete de Nick Constantinou ao seu. Não ouvia nada, excepto o vento a bater nas janelas... então, viu uma figura escura no corre­dor.

-Eh!

Estava a chamar alguém às dez e meia da noite, num escritório que ela mesma tinha fe­chado à chave depois de entrar.

- Quem é você?

Interrogou-se sobre se as suas pernas res­ponderiam caso tivesse que sair dali a correr. Media um metro e sessenta e a figura que se dirigia a ela parecia medir trinta centímetros a mais.

- Quem é que achas que eu sou? - Respon­deu o homem. Naquele momento, acendeu-se a luz e Lucy deixou escapar um suspiro de alí­vio. - Um ladrão que vem assaltar o luxuoso escritório de Nick Constantinou?

A pergunta retórica pareceu diverti-lo muito, porque soltou uma estrondosa garga­lhada.

- O que é que estás aqui a fazer, Nick? Não devias estar...?

- Onde? - Interrompeu-a ele. O riso tinha desaparecido abruptamente e Lucy observou que parecia estar embriagado.

E isso deixou-a perplexa. Nick Constanti­nou não bebia. Ou, pelo menos, não era seu hábito fazê-lo. Sabia-o, pois tinha estado pre­sente em várias recepções nos últimos dez meses que trabalhava para ele como secretária

- Não respondeste à minha pergunta.

- Que pergunta?

- Onde é que achas que devia estar?

Mesmo embriagado, Nick Constantinou emanava um incrível atractivo masculino. A sua roupa escura, a gravata torta, o casaco ne­gro que parecia a capa de um mago, o cabelo escuro penteado para trás... tudo isso lhe con­feria um aspecto perigoso.

- Pensei que estavas em casa... com a tua família.

Afinal, o funeral da sua esposa tinha tido lugar naquele mesmo dia.

- Tenho que me sentar.

Nick entrou no seu gabinete e Lucy pensou se devia ou não segui-lo, ou se era suposto afastar-se discretamente. Aquela situação era bastante estranha.

Mas não teve escolha.

- Traz-me água, por favor. Ou melhor, uma chávena de café bem forte.

- Água seria melhor. Se bebeste muito ál­cool, deves estar desidratado. Tens que beber o máximo que puderes.

- Sempre tão sensata, eh?! – Exclamou Nick, deixando-se cair no sofá. - Sempre disposta a dar um bom conselho.

Ela fez uma careta. Sim, a sensata Lucy, que conseguira chegar a secretária do director pela sua eficiência, pela sua capacidade de trabalho e controlo.

A boa da Lucy, que não conseguia estar na mesma sala com o seu chefe sem sentir cóce­gas no estômago, aquela que costumava ob­servá-lo quando ele não se apercebia, como se fosse uma fruta proibida, não só porque era casado, mas também porque jamais prestaria atenção a alguém tão vulgar como ela.

- Achas que devia, estar em casa? - Pergun­tou Nick, deitado no sofá com um braço sobre o rosto.

Sim, pensou, devia estar em casa, a chorar a perda da esposa e suportando o pesar dos seus parentes, alguns dos quais nem sequer conhecia.

Tal ideia fê-la sentir náuseas.

- Alguém sabe que estás aqui? Talvez de­vêssemos telefonar...

- Não! Não necessito que me salvem como se fosse um inválido.

- Podem estar preocupados - insistiu Lucy.

- Senta-te. Dói-me o pescoço, custa-me olhar para cima.

- Mas...

- Senta-te no braço do sofá. Não te vou fa­zer nada, não te preocupes.

- Se quiseres ficar sozinho, talvez seja me­lhor ir-me em...

- O que é que estavas aqui a fazer a estas horas? - Interrompeu-a Nick. - São onze da noite, não tens nada melhor para fazer?

- Claro que sim! Mas sentia-me um pouco... Inquieta. Os funerais... – Lucy não terminou a frase, incomodada. - Sei que parece um pouco estranho, mas...

- São deprimentes - disse Nick.

- Sei que já to disse esta manhã, mas lamento imenso. Talvez te ajudasse falar do que aconteceu.

- O que aconteceu foi um acidente de trân­sito. Simplesmente.

Nick tapou os olhos com a mão, sentindo novamente uma pontada de culpa por não es­tar a experimentar nenhum tipo de dor.

Gina era, aparentemente, tudo o que um homem podia desejar: linda, sensual, exótica, com o hábito de abanar a sua longa cabeleira escura e sorrir de uma forma que enlouquece­ria qualquer homem.

E durante um tempo, Nick esteve apaixo­nado por ela. Tanto que acreditou querer casar e permanecer casado para o resto da vida.

Mas não durou. Durante os dois anos do seu casamento, tivera apenas quatro meses de felicidade e depois... o longo processo de en­frentar o inevitável.

- Bebeste muito, não foi?

- O suficiente para esquecer.

- Ela era muito bonita – disse Lucy. - Imagino que estas duas semanas devem ter sido um pesadelo para ti.

- Não imagines – replicou Nick, abrupta­mente. Aquela voz descontraía-o; era como uma cascata de água. E, por um momento, quase lhe confessou que aquilo não era um pesadelo para ele.

O pesadelo era recordar os meses de dis­cussões com a sua esposa, as acusações dela por não ser suficientemente homem para a sa­tisfazer, pois a sua única amante era o traba­lho… Cada acusação afastava-o mais e mais, e quando ela começou a sair à noite, a dormir fora de casa, Nick apenas sentiu indiferença.

Mas aguentou a situação, incapaz de pedir o divórcio… Quando o seu pai lhe telefonou da Grécia para o informar de que a sua mulher ti­nha tido um acidente de viação na estrada es­treita que ia de Atenas até à quinta da família, Nick pensou que devia sentir-se culpado por não ter prestado mais atenção a Gina, por tê-la deixado sair de Londres para se ir diver­tir noutro país.

Mas não sentia quaisquer remorsos. Além disso, o acidente revelara uma sórdida histó­ria de adultério da qual ele desconfiava há al­gum tempo… Gina e o seu amante morreram juntos.

Interrogou-se então sobre o que pensaria a sua séria e eficiente secretária se lhe contasse tudo aquilo... Mas Lucy não era uma mulher do mundo, pelo contrário.

Nick abriu os olhos e ficou a olhá-Ia fixa­mente até ficar corada.

- Acho que apanhaste um susto de morte ao veres-me no corredor – disse, suspirando. - Surpreende-me que não tenhas chamado a Polícia.

- Estava prestes a fazê-lo, a sério... Não es­perava ver-te aqui esta noite.

- O ambiente lá em casa está intragável. O funeral já foi suficientemente... esgotante, mas ver-me rodeado de duas famílias gregas a interrogarem-me porque é que ela não foi en­terrada no próprio país, todos a chorar, todos a falar dela... eu tinha que me vir embora.

Se estivesse sóbrio, nem sequer lhe contara aquilo. De facto, não o revelaria a ninguém. Mas Lucy estava ali, a olhá-lo com tamanha compaixão que não teve outro remédio senão dizer o que lhe passou pela cabeça.

Absurdo.

- Porque é que decidiste enterrá-la aqui?

- Porque foi aqui que ela viveu sempre. Pa­receu-me o mais apropriado. Além disso, não devia ter perto de mim a recordação da minha querida esposa? - Replicou Nick, sem poder dissimular a ironia.

Uma recordação constante do vazio do sa­grado matrimónio e da traição da sua mulher.

Lucy tossiu.

- Acho melhor ir-me embora. Importas-te de ficar sozinho ou queres que telefone a al­guém? Em momentos como este... talvez ne­cessites de companhia.

- Já tenho companhia.

Disse-o olhando-a nos olhos e Lucy sentiu um calafrio.

Era a primeira vez que a olhava como se não estivesse a ver a eficiente e séria secretá­ria, mas... mas era melhor não pensar nisso.

Nick tinha bebido muito, estava a sofrer pela morte da esposa e, certamente, nem sabia o que fazia. Mas não entendia porque é que ele a olhava assim.

- Talvez visse o rosto da mulher, apesar de Lucy não ser nada parecida fisicamente. Gina era alta, voluptuosa, uma morena de cabelo longo e olhos escuros. Ela, por sua vez, era baixinha, loura, com o cabelo curto e a tez pálida.

Mas sonhara com Nick tantas vezes... Imaginara que a acariciava, que a beijava. E era pateticamente emocionante sentir que a olhava como um homem olha para uma mu­lher pela primeira vez.

- É muito tarde, Nick. Tenho que me ir em­bora.

- Para quê? - Como?

- Está alguém em casa à tua espera?

- Bom...

- Os teus pais?

- Não vivo com os meus pais. A minha família vive na Cornualha. Que idade é que pensas que eu tenho, doze anos?

- Ah, desculpa – ele sorriu. - Não queria insultar-te.

Aquele sorriso derretia-a por dentro; era um sorriso novo, diferente.

- Não faz mal.

- Continuas vestida de negro. Desde quando é que estás aqui?

- Não fui a tua casa depois do funeral. Des­culpa, não suporto...

- As hordas de simpatizantes? Parece quase uma obscenidade que tanta gente se reúna num momento destes, não é? A conversar, a falar sobre ela, a falar com a família que não vê há séculos, assumindo uma postura de compaixão...

O cinismo existente naquele comentário surpreendeu-a, mas Lucy recordou a si mesma que cada pessoa lidava com a dor de forma diferente. Nem toda a gente mostrava os seus sentimentos e Nick Constantinou não era homem que chorasse à frente de ninguém. Mas isso não significava que a sua dor fosse menos profunda.

- É um momento difícil para ti. Olha...

- Não vás – interrompeu-a, pegando-lhe na mão. - Ainda não.

- Queres outro copo de água? - Perguntou Lucy, tentando dissimular o nervosismo. ­Devias beber muita água.

- Fica. Conta-me coisas. Diz-me o que é que fizeste depois de saíres da igreja.

- Fui ao supermercado. Estava cheio de gente, pelo que demorei uma hora e meia... mas isto é muito aborrecido.

- A tua voz acalma-me.

Nick acariciava-lhe a mão distraidamente, fazendo-a sentir arrepios, mas nem se aperce­bia disso.

- Bom, a verdade é que deixei as compras no meu apartamento e depois fui jantar a um restaurante.

- Sozinha?

- Sim, sozinha.

- Pensava que as mulheres nunca iam sozinhas a um restaurante. Gina nunca o teria feito.

Oh, não, Gina não o teria feito! Não gos­tava de estar sozinha. Necessitava de público em seu redor, sobretudo público masculino, alguém para quem pudesse abanar o cabelo, alguém para quem pudesse inclinar-se mos­trando o decote.

- A mim não me incomoda – disse Lucy, um pouco na defensiva. - Deves pensar que é muito triste que uma mulher de vinte e três anos tenha que jantar sozinha a uma sexta-feira à noite, mas não sou daquelas que necessitam de companhia o tempo todo.

Pensou então que sentir necessidade de se defender fazia-a parecer um pouco patética. Não parecia a mulher liberal que pretendia ser. - A mim não me parece triste.

- Devia ter ido logo para casa, mas apetecia-me dar uma volta de carro. E quando pas­sei em frente ao escritório lembrei-me gue podia terminar umas coisas. Não sei, não es­tava cansada e não me apetecia ir para casa.

- Fico contente – disse Nick, acarician­do-lhe o braço.

Em que estaria a pensar? Não sabia. Olhava para Lucy e para o seu corpo, e começava a reagir. Era como se estivessem noutro mundo, noutra realidade onde apenas existiam os seus pensamentos confusos e aquela mulher. E queria-a ali, queria uma pessoa terna a seu lado...

Usava uma saia preta e uma camisola tam­bém escura. Tinha reparado nela durante o fu­neral, com um enorme sobretudo preto que a fazia parecer ainda mais pequena. Não era uma beldade, mas tinha uma boca perfeita; uma boca que Nick estava a roçar com a ponta do dedo naquele momento.

Lucy afastou-o com as mãos a tremer. Ti­nha que sair dali fosse como fosse.

- Olha, sei que acabas de passar por uma experiência muito traumática, mas necessitas de dormir.

- Não, não é disso que necessito - murmu­rou ele, mirando-a de cima a baixo.

Lucy vestia-se sempre discretamente, com roupa larga e pouco provocante.

Nunca antes sentira o desejo de a tocar.

Mas, claro, antes era casado.

Era casado com uma ideia de fidelidade, orgulhoso demais para admitir o fracasso mesmo quando viu o barco afundar-se.

Mas naquele momento, Nick não conse­guia deixar de observar como a camisola se lhe colava aos seios. E também não lhe pas­sou despercebido que o seu olhar estava a ex­citá-la.

 

Quando Lucy cruzou os braços sobre o peito, teve a certeza. Não percebia ela que as­sim o excitava ainda mais, que o fazia querer tocar no que ela estava a proteger?

Devia estar a enlouquecer!

- Já alguma vez pensaste em casar?

Lucy olhou-o em silêncio durante uns se­gundos.

- Claro que sim. Como quase todas as mu­lheres, acho eu. Sonhei em encontrar o meu príncipe encantado e ter um final feliz. «Cala-te, cala-te e vai-te embora o quanto antes», disse a si mesma. Mas os seus pés não lhe obedeciam.

- Final feliz? - Nick riu-se com sarcasmo.

- Se conseguires, conta-me.

Claro que ele não encontrara a felicidade.

Nem sequer durante o primeiro ano.

Lucy observou-o, com pena. O homem se­guro de si mesmo com quem trabalhava há meses, o milionário que conseguia silenciar uma sala inteira com a sua simples presença, aquele homem deitado no sofá, parecia des­protegido, sem defesas.

E o seu cinismo era compreensível. Para ele não havia final feliz.

Impulsivamente, Lucy pegou-lhe na mão. Nick ergueu-se, cansado, apoiando a ca­beça nas costas do sofá.

- Parece que andei a correr a maratona.

- Deves estar esgotado – murmurou ela.

E então fez o impensável. Estendeu uma mão e passou os dedos pelo rosto masculino.

Nick achou que nada lhe parecera mais doce em toda a sua vida. Então, fechando os olhos, começou a beijar-lhe os dedos, um por um. A dor de cabeça que começara com o pri­meiro uísque desapareceu, sendo substituída por uma abrasadora sensação de desejo.

Atraiu-a até si, procurando a sua boca cegamente, envolvendo-lhe o rosto entre as mãos.

- Nick... não é disto que necessitas.

Lucy tentou afastar-se ou, melhor, soube que devia afastar-se, mas aquilo que sentia por ele há meses era mais forte do que o bom senso.

Porque é que estaria a fazer aquilo? inter­rogou-se Nick. Do que é que necessitava? So­lidão, diversão, esquecer? Uma oportunidade, para voltar a viver aqueles dois anos sem co­meter os erros que tinham endurecido o seu coração?

- Necessito de consolo – disse por fim, procurando novamente os seus lábios, o inte­rior da sua boca, que sabia a mel.

Aquilo era uma loucura, pensava Lucy.

Nick Constantinou não estava no seu perfeito juízo. Parecia necessitar de consolo, mas isso era impossível.

- Tens que dormir. Porque é que não me deixas... levar-te a casa?

Nick não respondeu. Puxou-a até a deixar quase deitada no sofá e acariciou-lhe o ca­belo.

- Já alguma vez tiveste o cabelo comprido?

- Murmurou com os olhos semicerrados. - Não te imagino com o cabelo comprido.

- Tenho que me ir embora.

- O cabelo curto fica-te bem – insistiu ele, enfiando a mão sob a camisola dela.

Lucy tentou levantar-se, mas tinha sonhado com aquelas carícias proibidas tantas vezes... - Como uma gazela – murmurou Nick, acariciando-lhe os seios pequenos e bem-fei­tos.

A jovem emitiu um gemido de surpresa quando sentiu a mão dele debaixo do seu sou­tien.

- Não podemos fazer isto...

- Preciso de ti, Lucy.

- Não é verdade.

- Deixa-me ver-te.

- Nick...

- Despe a camisola. Deixa-me ver-te.

Estava confusa, mas não conseguia deixar de o olhar nos olhos. Sem pensar, sem mal se aperceber, despiu a camisola e ficou apenas com o soutien.

Os dois respiravam com dificuldade, en­quanto Nick baixava as duas alças. Dois pe­quenos seios apontavam uns mamilos endure­cidos. Lucy estava evidentemente excitada e ele apenas desejava aprisionar aqueles mami­los rosados na sua boca...

Então, ávido, inclinou a cabeça e sugou an­siosamente um deles com a boca. Lucy sus­teve a sua cabeça entre as mãos sem dizer nada, aceitando a carícia, pedindo-lhe mais.

A erecção de Nick era quase dolorosa e en­quanto sugava os delicados mamilos, guiou a mão dela até mais abaixo, mantendo-a ali, en­quanto tentava abrir o fecho das calças.

Aquilo não podia estar a acontecer. Nick Constantinou a beijá-la, a acariciar-lhe os seios... era assombroso, irreal. Mas quando a sua mão rodeou a erecção, Lucy sentiu uma onda de desejo indescritível.

Ergueu-se, mas apenas para despir a saia e a roupa interior com mãos impacientes.

Necessitava de sentir o corpo de Nick sobre o seu, mas ele apertou-lhe as nádegas, so­prando suavemente sobre o triângulo feminino.

Lucy deitou a cabeça para trás, abrindo as pernas enquanto ele explorava as suas regiões mais íntimas, enquanto acariciava as pregas sua feminilidade, fazendo-a tremer. Ardendo de desejo, susteve-lhe a cabeça com mãos trémulas e moveu as ancas para se aproximar mais. Quando estava prestes a ex­plodir, Nick colocou-a sobre ele. Lucy sentiu a erecção dura e o tecido das calças a roçar nas suas virilhas.

Existia algo de muito sensual em estar completamente nua, enquanto ele ainda man­tinha a camisa e as calças vestidas. Sentiu en­tão uma incrível sensação de poder, algo desconhecido que a obrigou a desabotoar-lhe a camisa para desfrutar daquele peito muscu­lado.

Ele observava-a com um desejo abrasador, agarrando-lhe as ancas para controlar o ritmo, enquanto fixava o olhar no movimento dos seus peitos.

Se pudesse prolongar aquele momento até à eternidade... mas não podia. Uma paixão animal percorreu-o como uma droga potente e, quando Lucy começou a mover-se mais de­pressa, começou a sentir que o orgasmo se aproximava. Não conseguiu controlar-se e deixou-se ir, ao mesmo tempo que ela, ge­mendo pelos dois, procurando ar.

Nick deixou-a sobre si, apreciando o seu calor, a suavidade do seu corpo.

Devia estar muito mais frustrado do que pensava, porque fazer amor nunca lhe pare­cera algo tão lindo. Mesmo exausto, voltou a excitar-se com a sensação dos seios colados ao seu peito.

Fechou os olhos. Tinha que dormir. E podia fazê-lo, porque já não sentia aquela raiva no seu interior.

- Não acredito... como é que isto pode ter acontecido?

O horror da situação devolveu Lucy à reali­dade como um balde de água fria. Não conse­guia olhá-lo de frente. Ainda bem que Nick ti­nha os olhos fechados. Certamente estava a tentar arranjar uma forma de a despedir sem pisar nenhuma norma da empresa.

Lucy virou-se para se vestir, tentando en­contrar uma justificação para o seu comporta­mento.

- Percebo que esta é uma situação difícil para ti – murmurou, virando-se já vestida. Mas ao vê-lo no sofá, meio nu, a realidade da situação voltou a atingi-la. - Lamento imenso o que aconteceu... Por favor, não penses que te culpo. Culpo-me a mim mesma e entendo perfeitamente se quiseres que deixe o meu posto de trabalho na segunda-feira.

Ele não disse nada e Lucy aproximou-se do sofá.

- Nick?

Estava a dormir profundamente.

Ficou parada por um momento, atónita. Se­gundos depois, suspirando, vestiu o casaco e saiu do gabinete.

Tinham ambos agido por impulso, sem pensar nas consequências. Apesar de, normalmente, ser ao contrário. Não eram os homens que habitualmente se aproveitavam das mulh­eres embriagadas?

Quando acordasse, Nick vê-Ia-ia como al­guém que se tinha aproveitado da situação?

Era um pensamento horrível, insuportável. Se continuasse a trabalhar para ele, pro­var-Ihe-ia que aquilo tinha sido apenas um momento de loucura, que jamais voltaria a acontecer. Num momento de dor, de fúria, ele usara-a como terapia e ela tinha-se deixado usar.

Só poderia recuperar o respeito por si mesma se se certificasse de que aquilo não voltaria a acontecer. Nunca mais.

 

Nick, que passeava pelo gabinete com as mãos enfiadas nos bolsos das calças, de­teve-se diante das janelas para contemplar o céu acinzentado de Londres.

Tinha passado todo o fim-de-semana a as­segurar aos seus parentes que estava bem e que necessitava apenas de regressar ao traba­lho. Mas tinha que lidar com o que acontecera ali na sexta-feira à noite.

Claro que teria que enfrentar Lucy. Mal acreditava no que tinha acontecido. Parecia um sonho, algo irreal. Mas não estava tão em­briagado para não se dar conta de que, sim­plesmente, perdera o controlo. Com a sua se­cretária.

E temia tê-la forçado a fazer algo que, nou­tras circunstâncias, ela teria achado repulsivo.

Olhou, distraído, para o ecrã do computador. O que é que lhe dissera? Ter-se-ia atirado a ela sem medir as suas acções?

Pensou então que talvez Lucy não fosse trabalhar naquele dia. E se assim fosse, não podia culpá-la.

 

Mas apareceu.

Apesar da ideia de o enfrentar depois do que acontecera ser aterradora, Lucy foi trabalhar na segunda-feira de manhã.

Hesitou um pouco ao ver-se em frente do imponente edifício. Mas, respirando profun­damente, empurrou as portas giratórias.

Vários colegas cumprimentaram-na e ela fez o mesmo, interrogando-se sobre se veriam algo diferente, se veriam no seu rosto o es­tigma do que acontecera.

Subiu até ao quinto piso, a área da Admi­nistração, e, antes de entrar no seu gabinete, olhou para o elevador. E se saísse dali a cor­rer?

Talvez Nick não estivesse no gabinete. Tal­vez nem se lembrasse do que acontecera na sexta-feira à noite. Amnésia temporária devido à ingestão de álcool. Costumava acontecer.

Mas ao entrar no gabinete, viu-o atrás da secretária tão sério, tão seguro de si mesmo como sempre.

Nick ergueu a cabeça e ela sorriu, sem sa­ber o que fazer.

- Queres um café? - Perguntou, despindo o casaco.

- Acho que temos que falar, não te parece? De modo que se lembrava. Esperava real­mente o contrário?

- Há tantas coisas que fazer na segunda-feira de manhã... não seria melhor pôr-me a traba­lhar?

- Entra e fecha a porta, por favor. Disse à Cristina para não passar chamadas.

Podia ver o medo na sua cara, o desejo de não falar daquilo. E sentiu-se novamente an­gustiado consigo mesmo.

Tinha que se embebedar e cair em cima da pessoa mais desvalida! Lucy nunca mostrara sentir-se atraída por ele. Era a mulher mais discreta que conhecera. Mesmo casado, Nick era um íman para as mulheres, incluindo as mulheres casadas. Apesar desse pensamento ser desagradável, teria preferido entrar num bar e ir para casa com uma profissional.

Qualquer uma excepto aquela jovem de olhos enormes que o olhava, angustiada, da porta.

- Senta-te. Temos que falar sobre o que aconteceu na passada sexta-feira.

- Não seria melhor esquecermos isso, Nick?

Somos ambos adultos e estas coisas aconte­cem...

- Preferes conversar fora do escritório? Há um café aqui ao lado...

- Não, podemos falar aqui - interrompeu

- Muito bem. Para começar, quero desculpar-me pelo que aconteceu. O meu comportamento foi imperdoável.

Então uma imagem apareceu na sua men­te: a imagem de dois seios pequenos, perfei­tos com uns mamilos rosados em contraste com a pele pálida... e teve que abanar a cabeça.

- A minha única desculpa é que a situação era... fora do normal.

- Sim, claro - murmurou ela.

Vira a sua expressão de desgosto e teve que fazer um esforço para não sair dali a correr. Nick estava a desculpar-se, mas intuía que achava o seu comportamento tão repelente como o dele. O seu comportamento e, prova­velmente, o seu corpo.

- Acabava de passar por uma experiência traumática... Talvez te tenha falado da minha vida...

- Não, em absoluto. Eu... olha, entendo que estavas muito desgostoso, muito triste, e que bebeste demais.

De modo que não lhe tinha contado nada. Nick deixou escapar um suspiro de alívio.

Mas aquilo era apenas a ponta do iceber­gue.

Tinha que saber como é que acabaram a fa­zer amor um com o outro.

- Um comportamento pouco apropriado ­murmurou, pegando de forma distraída na ca­neta.

Era melhor isso do que olhar para Lucy. A pobre corava cada vez que o fazia. Mas claro, certamente que nunca até então o achara re­pulsivo.

- Olha, eu acho que é melhor não pensar mais nisso ...

- Já alguma vez afogaste as tuas penas em álcool? Comportaste-te como uma idiota, sem pensar nas consequências?

Claro que ele se via como um idiota por ter feito amor com ela, pensou Lucy. E isso magoava-a. Aquela conversa teria sido completa­mente diferente se ela fosse uma beldade, uma mulher sofisticada, do seu mundo.

- Só me embriaguei uma vez, quando tinha dezoito anos, e tive uma ressaca tão horrível que não voltei a fazê-lo. Mas como te estava a dizer...

- Suponho que nunca tiveste essa necessi­dade – murmurou Nick.

- Não, acho que não.

Claro, a inocência estava escrita na sua cara. Uma inocência que ele tinha manchado como um maníaco, como um pervertido.

Pela primeira vez, interrogou-se sobre como seria a vida da sua secretária. Nunca pensara nisso antes, mas, claro, antes estava envolvido no próprio pesadelo doméstico que nem tinha tempo para pensar nos outros.

- O que é que fazes quando não estás a trabalhar?

Lucy olhou-o, surpreendida.

- A que é que te referes?

- Sais muitas vezes? Vives com alguém? Foi por isso que vieste trabalhar na sexta-feira à noite, porque não suportas os teus colegas apartamento?

Então, pensou que não era virgem. E recordo­u os seus seios, movendo-se diante dele, aquele corpo frágil contra a sua erecção...

- Não, não vivo com ninguém. De facto, tenho o meu próprio apartamento. É uma antiga casa vitoriana que foi convertida em apartamentos. Não está na melhor zona de Londres, mas eu gosto.

- E sais muito?

- Tenho uma vida social normal, acho eu.

Seria muito mais normal se não passasse o tempo a sonhar com o seu chefe, pensou. Mas ele nunca saberia disso.

- O que é que costumas fazer?

 

- Vou ao cinema, janto com os meus amigos...

- Com homens?

- Às vezes.

- E não tens namorado?

Era uma pergunta muito pessoal, mas Nick pensou que as circunstâncias o permitiam.

Fazer amor com ela tinha sido... muito ex­citante. Mas a sua aparência, tão doce, tão inocente, era um estranho contraste.

- Acho que isso não te diz respeito – res­pondeu Lucy.

- Tens razão. E tenho a certeza de que se ti­vesses namorado nunca farias...

Não terminou a frase, mas não era necessário...

- Não, claro.

- O que me leva a algo que não me saiu da cabeça todo o fim-de-semana.

Lucy sabia o que é que ele lhe ia perguntar.

Queria saber porque é que se deitara com ele. E tinha que dizer algo que não fosse a humi­lhante verdade: que fora incapaz de resistir, que o amor que sentia por ele era muito forte para se recusar. Tocou-a e ela, simplesmente, perdeu a cabeça.

-O quê?

-Porquê?

Lucy aparentou pensar na resposta durante

uns segundos. Mas necessitava de mais tempo.

- Porque...?

- Estavas aqui a trabalhar tranquilamente...

cheguei eu e ... Confesso que me surpreende que não tenhas fugido de mim.

- Não sou do tipo que foge. Além disso, percebi de imediato que tinhas estado a beber e fiquei apenas para me certificar de que fica­rias bem.

- E?

Nick queria saber se a tinha forçado. Não se julgava capaz de tal coisa, mas o álcool pode mudar um homem. E ele não estava habituado a beber tanto.

- Não te entendo.

- Tenho que saber se me aproveitei de ti, Lucy.

- Se te aproveitaste... ?

- Pára de repetir tudo o que eu digo, por favor. Sabes muito bem a que é que me refiro. Forcei-te contra a tua vontade?

- Não - respondeu ela.

- Usei a minha posição para te obrigar? Disse-te que podias perder o teu emprego ou algo parecido?

- Não. Achas que não tenho vontade pró­pria, pensas que sou alguma criança? - repli­cou ela, sentindo-se insultada.

- Não, claro que não. Quero apenas saber c que é que se passou.

- Para quê? - Perguntou Lucy, corando. ­Para que é que serve fazer um post mortem daquilo que aconteceu? Pensava que íamos fazer como se ...

- Nada tivesse acontecido? Esconder a cabeça na areia, como uma avestruz? Neces­sito de falar contigo disto, porque és minha secretária e porque se algum dos dois não se sentir capaz de manter esta relação laboral, vou ter que te mandar para outro departa­mento.

Se descobrisse que tinha feito algo pouco honrado, ver-se-ia obrigado a livrar-se dela. Fazer amor com a sua secretária não signifi­cava nada demais para Nick Constantinou.

- Posso demitir-me se achas que já não consegues trabalhar comigo.

- Não estou a dizer isso...

- Ah, não? É o que me parece.

- Podes dizer-me, com toda a franqueza, que consegues continuar a trabalhar comigo como se nada tivesse acontecido?

- Sim - respondeu Lucy. - Aconteceu, mas não devia ter acontecido.

- Talvez porque tu também o desejavas?

A pergunta estava tão perto da verdade que Lucy sentiu o coração acelerado. Mas tinha que encontrar uma desculpa, tinha que encontrar uma ­explicação...

- Se queres saber, fi-lo... porque tive pena de ti.

Nick olhou-a, atónito. A ideia de que ela desejara fazer amor com ele tinha o incrível efeito de o excitar. Mas a sua resposta dei­xou-o gelado.

Sentiu pena dele. Claro. Era o mais lógico. Aparecera de repente, bêbedo, depois do fu­neral da esposa... mas aquela resposta feriu-lhe o orgulho.

- Comportei-me como uma idiota. Vi-te tão destroçado que... senti pena de ti.

- Nunca ninguém teve pena de mim - replicou ele, cerrando os dentes.

Pena. Aquela palavra conjurava imagens de vulnerabilidade, de debilidade, que lhe pare­ciam repugnantes. Pelo menos, aplicadas a ele.

- Talvez porque nunca te aconteceu nada assim. Estavas num buraco negro e...

- E fizeste-o por bondade.

- Não, simplesmente, pareceu-me a coisa mais natural naquele momento. Mas agora vejo que foi um erro e quero desculpar-me.

Nick perguntou-se se teria desfrutado tanto como ele. Sim, além de compaixão, ela tam­bém devia ter sentido o desejo cego que o en­louqueceu.

- Sim, foi um erro da parte dos dois. E quero que saibas que, noutras circunstâncias, jamais teria acontecido.

Sabia que era um golpe baixo, mas sen­tia-se magoado. Quisera assegurar-se de que não se aproveitara dela para encerrar aquele capítulo, mas as coisas não eram como espe­rava.

E não gostava nada da verdade. Levantou-se e começou a passear pelo ga­binete, incomodado...

- Claro - murmurou ela, sem olhar para ele.

- Espero que não me interpretes mal. Só quero dizer que o que aconteceu na sexta-feira não volta a acontecer.

Lucy imaginou as múltiplas formas que ele encontraria para lhe dizer que não a achava atraente. Tinha sido apenas um momento de fraqueza e ela, como uma parva, sucumbiu perante a tentação.           

-Está bem.

Nick voltou a sentar-se em frente à sua mesa e, ao olhá-la, surpreendeu-se ao ver os quão expressivos eram os seus olhos. Uns olhos castanhos de pestanas compridas. Sur­preendentemente expressivos em comparação com a sua pele pálida e o cabelo tão louro.

- Não fazes o meu tipo – disse então.

Pensava que ao dizer-lhe isso sentir-se-iam mais cómodos no dia-a-dia do escritório, mas enganava-se. Cada palavra era como uma punhalada no coração de Lucy.

Ela olhou-o. Olhou para aquele rosto que já memorizara.

Não, não fazia o seu tipo. Ela era uma jo­vem normal e vulgar e ele, um homem im­pressionante.

Nick Constantinou sempre se sentiria atraído por mulheres como a sua falecida es­sa. Mulheres lindíssimas, sofisticadas, altas = elegantes.

- E devo deixar isso bem claro para que possamos continuar a trabalhar juntos como até agora.

- Parece-me muito bem. E se tiveres mais alguma coisa a dizer, fá-lo – replicou ela, ten­tando aparentar uma tranquilidade que não sentia...

Amava aquele homem, embora fosse seu patrão. Mas adorava o trabalho que fazia e sa­bia que não encontraria em Londres outro em­prego com um salário tão bom.

- Se insistes...

- Insisto.

- És muito jovem e não quero que penses que... o que aconteceu na sexta-feira é apenas o início de algo – disse Nick então. - E também não quero que penses que isso te confere algum privilégio. És uma excelente secretária e acho melhor estabelecer limites entre nós.

- Por outras palavras, estás a dizer para eu não me despir à tua frente assim que mudares de humor – replicou Lucy, atónita.

Sem conseguir evitá-lo, Nick imaginou-a a despir-se, selvagem, abandonada, oferecendo o seu corpo para que o acariciasse.

A imagem despertou um calor inusitado nas suas virilhas que teve que compensar com uma mudança de postura.

- Não disse isso...

- Foi como se o dissesses. Mas garanto-lhe que isso não vai acontecer, «senhor Constan­tinou».

- Não precisas de ficar assim.

- E também não me considero com direito a privilégio algum só porque cometemos um erro – continuou, imparável. Nunca tinha ul­trapassado o limite. Era uma secretária efi­ciente, disposta a trabalhar as horas que fos­sem necessárias, mas estava furiosa. Se tivesse que arranjar outro emprego, fá-lo-ia. ­E para tua informação, também não fazes o meu tipo.

- Deitas-te sempre com homens de quem não gostas?

Devia ter impedido aquela conversa, mas vez disso, parecia querer prolongá-la. E sabia porquê.

- Não - suspirou Lucy. - Não disse isso. As circunstâncias, como tu mesmo disseste, eram extraordinárias. Simpatizo contigo, respeito-te, mas não és o tipo de homem pelo qual eu normalmente...

- Te sentes atraída?

- Se queres dizê-lo dessa forma.

Felizmente, não era o Pinóquio, senão o seu nariz estaria do outro lado do gabinete.

- E que tipo de homem é que te atrai?

- Olha... - começou a dizer ela, horrorizada com o cariz que a conversa estava a tomar. - Acho que não devemos continuar a falar sobre este assunto. Suponho que tiveste um fim-de-semana horrível e não existe razão para que comeces a segunda-feira da mesma forma.

- Não respondeste à minha pergunta.

- Não, é verdade. Mas se queres realmente saber, gosto de homens carinhosos e que nutram consideração pelas suas companheiras.

- Ah!

- Não que tu não o sejas, claro.

- Mas não pões as tuas mãos no fogo por mim - Nick sorriu.

- É possível – Lucy também sorriu.

Aquilo começava a parecer uma trégua. Tinham esclarecido as coisas e podiam passar ao trabalho. Nick dissera aquilo que pensava ela também, e estava certa de que tudo ficaria entre aquelas quatro paredes.

- Muito bem. Temos que escrever vária cartas – suspirou Nick, pegando nuns papéis. - Já ditei três e nesta só tens que questionar as facturas que nos cobraram. Acho-as excessi­vas...

Tudo voltara à normalidade. Contudo, não conseguia deixar de olhar para o decote da blusa de Lucy. Tudo nela era muito tranquilo, muito aprazível, mas havia um fogo escon­dido. Ele sabia-o muito bem.

Abanou a cabeça.

Não fazia o seu tipo. Isso era verdade.

Desde adolescente que sempre escolhera mu­lheres do tipo de Gina. Mulheres voluptuosas de cabelo comprido e corpos descaradamente sensuais.

E Lucy... sim, podia imaginar que se senti­ria atraída por um tipo normal, sério, agradá­vel. Por outras palavras, aborrecido.

- O que é que achavas da Gina? - Pergun­tou então, sem pensar. - Viste-a várias vezes. O que é que te parecia?

A pergunta deixou Lucy atónita. Nunca gostara de Gina, mas pensou que era, simples­mente, por ser a mulher de Nick. - Era muito bonita.

- Esquece a parte física.

- Pois... a verdade é que nunca falei muito com ela.

- Não gostavas dela, pois não?

- Porque é que dizes isso?! - exclamou Lucy, acalorada.

Nick sabia que assim era. Gina não costu­mava cultivar a amizade de outras mulheres, estas não lhe prestavam a atenção que ela exigia. Gina não tinha amigas; apenas se rela­cionava com as esposas de homens ricos, por­que necessitava delas para a sua vida social.

- A minha mãe nunca gostou dela - disse Nick então, como que falando consigo mesmo. - Pensava que a Gina e eu não tínha­mos sido feitos um para o outro. Para ela, a minha mulher era muito... indiscreta.

- E isso demonstra que o amor está acima opinião dos outros – disse Lucy. - Os pais conseguem ser muito críticos quando se referem ­às pessoas que os seus filhos escolhem.

- Tenho a certeza de que tu nunca deste aos teus argumentos para serem críticos.

Lucy cerrou os lábios. Nem queria pensar no que diriam os seus pais se soubessem o que se passara entre a sua respeitável filha e o seu carismático patrão.

- Bom, tenho que ir trabalhar.

- Sim, acho que já dissemos tudo o que tí­nhamos para dizer.

- Eu também acho. E agradecia que... não voltássemos a falar nisto.

- Foi um erro, concordo.

Nick pulsou uma tecla do computador para ligar o ecrã. Mal ergueu o olhar quando Lucy saiu do gabinete e fechou a porta.

 

O dia tinha começado pior do que o nor­mal. Lucy perdeu o comboio das sete e meia e teve que esperar quase meia hora para apa­nhar o seguinte, que ia abarrotado de passa­geiros.

Para rematar o desastre, doía-Ihe um pouco a garganta. Devia ter-se constipado.

Por tudo isso, não estava de bom humor quando, por fim, chegou ao escritório.

- Estás atrasada.

Nick inclinou o cadeirão para trás para po­der esticar as pernas. Devia estar ali há horas, pois já tinha desapertado a gravata e a sua mesa estava cheia de papéis.

- Desculpa. Perdi o comboio das sete e meia e tive que esperar pelo seguinte. Queres que te traga o correio?

- Não, traz o caderno, por favor.

Por vezes, o movimento do seu cabelo curto, algum gesto, fazia-lhe recordar o que acontecera oito meses antes, quando fizeram amor ali, no sofá do seu gabinete. Cada vez que isso acontecia, sentia-se desorientado, como se lhe faltasse algo, mas não sabia o quê.

- Vens ou não? - Chamou-a, irritado.

- Já aqui estou – respondeu Lucy, surpreendida com aquele tom.

- Se hoje não estás em condições de traba­lhar, acho melhor que tires o dia e telefones à Terri para te substituir.

- Estou bem.

- Há alguma novidade sobre o assunto Rawlings?

Apesar de as coisas terem voltado à norma­lidade, Lucy não conseguia olhá-lo sem sentir emoção, anseio... e muitos outros sentimentos proibidos.

- Recebemos um fax ontem à tarde. Dei­xei-o sobre a tua mesa.

- O que é que dizia?

- Outra descida de lucros. Não explica porquê. A previsão optimista de sempre sobre os próximos seis meses, mas nenhuma explica­ção sobre as perdas.

- Falaste com o Rawlings pessoalmente?

- Telefonei-lhe, mas não estava no escritório.

- E onde é que estava, nalguma festa?

- Não sei – respondeu Lucy, zangada. Por­que é que lhe falava com aquele tom autoritá­rio? - Talvez possamos contratar um detective para seguir os passos dele, dia e noite.

Nick afastou o olhar. Sabia que estava a ser desnecessariamente agressivo, mas não conseguia evitá-lo. A situação era tensa entre ambos desde aquela noite, há oito meses atrás.

Lucy vira um lado que ele escondia; o lado vulnerável, de vencido. E não conseguia suportá-lo.

Devia tê-la transferido para outro departa­mento. Podia ter-lhe dado um aumento de salário para que a transferência fosse irresistível, mas cada vez que se imaginava a entrar naquele gabinete sem Lucy, dizia a si mesmo que não conseguia passar sem ela, que era a melhor secretária da empresa e por isso a man­tinha ali.

- Não te pago para seres sarcástica - repli­cou, pegando no fax de Rawlings. - Isto não faz sentido. O hotel Tradewinds devia estar a nadar em dinheiro. Está localizado numa ilha soalheira, no meio das Caraíbas, com uma si­tuação política estável, com voos diários... que diabos se está a passar?

- Acho que o Rawlings não está a ser honesto - disse Lucy.

- Devia ter solucionado isto pessoalmente em vez de enviar o Bob. Vou telefonar-lhe...

- Está bem – murmurou ela, dirigindo-se à porta.

- Fica, quero ditar uma carta quando termi­nar o telefonema.

Lucy ficou com o caderno na mão, en­quanto Nick falava com o director financeiro. A sua inquietação manifestava-se nos golpes que dava sobre a mesa, enquanto falava. Por fim, desligou o telefone e deitou-se para trás na cadeira para lhe ditar a carta.

Compunha o texto com precisão, sem ne­cessidade de fazer revisões. Era uma pessoa com clareza de espírito suficiente para conse­guir ditar sem erros.

Lucy ergueu-se quando terminaram e, sem querer, Nick olhou para os seus seios, escon­didos sob o casaco abotoado até ao pescoço. Irritado consigo mesmo, afastou o olhar.

Não conseguia tirar da cabeça a imagem daqueles peitos, e o desejo de lhe arrancar a camisola e acariciá-los, voltar a tocá-los, era insuportável. Tinha que provar a si mesmo de uma vez por todas que fazer amor com ela não fora assim tão extraordinário como pen­sava. Tinha que saber que fora uma ilusão.

- Quero que encomendes um ramo de flo­res.

- Flores? - Repetiu ela.

- Ouviste bem. Flores.

- Que tipo de flores?

Njck encolheu os ombros.

- Não sei... de que tipo de flores é que as mulheres gostam? Rosas, violetas, orquídeas? Como queiras, desde que seja um ramo caro.

- E as flores levam algum envelope?

Lucy sabia que houvera mulheres na vida de Nick durante aqueles meses. Nick não fi­zera nenhum esforço para esconder a sua vida amorosa, mas nunca até então a envolvera a ela. E isso abalava-a imenso.

- Sim, manda pôr algo como «obrigado pelos bons momentos».

- «Obrigado pelos bons momentos» – repetiu ela. - Mais alguma coisa?

- Que mais é que se pode dizer quando terminamos uma relação?

- Nada, acho eu. É só?

- Estás com pressa? Tens alguma reunião?

- Não, apenas muito trabalho.

- Ah, é verdade, tenho uma reunião com o Bob esta tarde às seis para ver que diabo se passa no hotel Tradewinds. Quero que fiques aqui para tomares uns apontamentos.

- Lamento, mas não posso.

Nick ergueu a cabeça, perplexo.

-O quê?

- Tenho planos para esta tarde.

- Então, vais ter que cancelá-los. O Bob vai-se embora amanhã e quero solucionar este assunto o quanto antes.

- Posso pedir à Terri que me substitua.

- O que é que tens assim de tão importante para fazer? - Perguntou Nick, levan­tando-se. Pelo canto do olho, viu-a tentar en­contrar uma resposta, nervosa. - Parte do acordo que tenho com a minha secretária pessoal é que é suposto trabalhar fora do ho­rário normal. Por isso é que ganhas um salá­rio tão exorbitante.

- Que eu saiba, nunca te deixei mal - repli­cou Lucy. - Mas combinei encontrar-me com uma pessoa. Arranjei bilhetes para um musi­cal e não quero deixá-lo «pendurado».

- Ah, quer dizer que vais ao teatro com um homem.

Proferiu aquelas palavras como se ela fosse roubar um banco. Pensava que podia dormir com todas as mulheres que quisesse, mas que ela era muito feia, muito aborrecida para ar­ranjar namorado?

Robert podia não ser um companheiro muito emocionante, mas riam-se juntos e a sua relação era muito agradável.

- Sim, tenho um encontro.

- E desde quando é que andas com ele? Ou das com vários ao mesmo tempo?

Nick sabia que estava a comportar-se de forma arrogante, que aquilo não lhe dizia res­peito e que não tinha direito nenhum de fazer aquelas perguntas, mas não conseguia evitá-lo.

De facto, devia estar feliz por Lucy sair com outro homem. Se tinha namorado, podia deixar de pensar nela.

Infelizmente, esse pensamento não o ali­viava em absoluto.

- Eu não costumo andar com vários hom­ens ao mesmo tempo.

- Estás a censurar-me?

Lucy olhou para o seu caderno. Como é que Robert podia competir com aquele hom­em formidável? Contudo, era a sua amabilidade e doçura que lhe agradavam nele.

- Não te estou a censurar. Já és suficiente­mente crescido para fazeres o que te der na gana.

Mas não queria continuar a falar naquele assunto. Era suficientemente doloroso saber que Nick andava com mulheres, ter que lhe passar chamadas, ver a sua fotografia nas re­vistas... estava a tentar esquecer a falecida es­posa nos braços de uma sucessão de mulheres, modelos na sua maioria.

- E como é que se chama o felizardo?

- Robert.

- Como é que o conheceste? E não me surpreendas dizendo que foi numa discoteca.

- Não costumo frequentar discotecas! - re­plicou ela, indignada.

- Não, só queria dizer... bom, tanto faz.

- Conhecemo-nos num jantar. Fomos apresentados por uns amigos comuns.

- E o que é que esse tal de Robert faz?

- O que é que faz?

- Como é que ganha a vida? Suponho que tem um emprego, não?

- É director administrativo numa grande empresa.

- Ah, contabilista!

Lucy cerrou os dentes. Mas não pensava morder o anzol.

- Bom, é essa a razão pela qual não posso ficar até tarde. Vou telefonar à Terri. A que horas, é que queres que ela venha?

- As seis menos um quarto – respondeu Nick. - Que peça é que vais ver?

- Um musical, no ApoIo – disse ela, levan­tando-se. - O Robert tem um amigo no teatro, por isso é que arranjou bilhetes.

- Ah, mas que bem! E depois vão jantar?

Lucy nem queria acreditar. Porquê tanto in­teresse? Nunca lhe perguntara nada acerca da sua vida!

- Claro. Vamos a um restaurante francês em Convent Garden, o Café Benedict – respondeu antes de entrar no seu gabinete.

Nick continuava embrenhado no trabalho do Lucy se despediu, às cinco. Apressou­-se, esperando que ele não insistisse para ela ficasse para a reunião. Apesar de sa­ber muito mais acerca da empresa do que Terri e de se relacionar com os clientes, estava certa de que a sua colega conseguia tirar uns apontamentos sem qualquer problema.

Nessa noite, talvez como reacção à conversa que tivera com Nick, arranjou-se espe­cialmente para sair com Robert. Como não estava frio, escolheu um vestido cor-de-café que lhe chegava acima do joelho e umas sandálias de salto alto.

Robert pareceu gostar muito da escolha. Apareceu em sua casa com um ramo de cra­vos brancos e lançou um assobio de admira­ção quefez com que Lucy sorrisse.

- Estás a rir-te? Devias ter desmaiado - gracejou ele.

- Desmaio assim que colocar as flores em água.

Era um rapaz muito agradável, com quem podia falar sobre tudo. Andava a sair com ele há três meses e, apesar de não terem passado de dois beijos no carro, estava certa de que Robert seria doce e generoso na cama.

Claro que não seria como a montanha russa que experimentara com Nick Constantinou.

E essa simples recordação fazia-a tremer.

- Devíamos fazer isto mais vezes - disse Robert ao saírem do teatro. - Uma peça ao vivo é mais emocionante do que no ecrã.

Lucy sorriu. Robert era um homem encan­tador. E um bom partido. De certeza que os seus pais iam gostar dele. Mas se conheces­sem Nick Constantinou, certamente que iriam buscar os alhos, benzer-se-iam e chamariam um padre.

- Quando vamos ao teatro, vemos a vida de uma forma mais alegre, não é?

- Claro que sim. É tão difícil esquecermos o trabalho... - suspirou Robert, abrindo a porta do táxi.

- A quem o dizes. Quase me chateei com o meu chefe por não poder ficar a trabalhar esta tarde.

- Se ele quer que faças horas extra, devia avisar-te com antecedência.

- Nick Constantinou vive apenas para o trabalho e acha que os outros também têm essa obrigação.

Encontrava-o inúmeras vezes pela manhã despenteado e sem se ter barbeado por ter dormido no gabinete. E o mais assombroso era que, no dia seguinte, conseguia continuar a funcionar como se tal coisa nem tivesse acontecido.

- Um viciado no trabalho – assentiu Ro­bert. - É a única coisa que lhes interessa, e até se esquecem de gozar a vida.

Lucy dissimulou um sorriso. Se havia ho­mem no mundo que gozava a vida, era Nick. Após um curtíssimo período de luto, lan­çara-se de cabeça nas festas da alta sociedade com absoluta determinação.

- Eu prefiro trabalhar o necessário, sem co­locar em perigo as minhas oportunidades de ascensão, e passar o resto do tempo a desfru­tar da vida - continuou Robert. - Como esta noite, por exemplo.

- Parece-me muito boa ideia.

- Ir ao teatro, jantar com uma linda mulher... Onde é que eu podia encontrar algo melhor?

- Não sou linda, mas obrigada na mesma - ­sorriu Lucy.

Robert beijou-a nos lábios.

- És linda. E foi isso que eu disse à minha mãe, que, aliás, está desejosa de te conhecer. Acho que já anda a ouvir os sinos da igreja.

Ela olhou-o, surpreendida.

- Sinos da igreja? Mas ainda só saímos juntos há dois meses!

- Eu disse-lhe a mesma coisa, mas já sabes como são as mães. Tenho trinta e um anos e já começa a pensar que nunca será avó.

- Pensei que só as mulheres é que se preo­cupavam com o seu relógio biológico – sorriu Lucy.

- Sim, claro, mas a verdade é que também prefiro ser pai aos trinta do que aos sessenta. Para que é que temos um filho quando já so­mos muito velhos para cuidarmos dele?

- Nisso tens razão. Bom, mas fala-me do famoso Café Benedict. Já lá foste? Espero que não seja nenhum restaurante francês preten­sioso onde passamos horas a tentar decifrar o menu. Não falo francês.

- Não te preocupes, eu falo. Admite, sou um bom partido.

- Admito – Lucy riu-se.

Pouco depois, chegaram ao restaurante, que tinha uma pista de dança com uma banda de jazz.

- É um clube nocturno! Se me tivesses dito, teria vestido algo mais adequado.

- Mais adequado? Não sabes como estás sensual com esse vestido! - Robert sorriu. - Além disso, não é exactamente um clube noc­turno. É um restaurante com música.

- Ah, estupendo, assim podemos queimar calorias depois do jantar!

- Se eu soubesse dançar...

Enquanto o empregado os levava até à mesa, Lucy sentia-se contente, descontraída. E mais ainda após um copo de vinho e um delicioso fi­lete de linguado com molho de champanhe. Ro­bert falava de teatro, dizia-lhe coisas bonitas...

- Não respondeste à minha pergunta.

- Que pergunta?

- Sobre se esta relação é algo permanente.

- Permanente? - repetiu Lucy. - Robert, praticamente acabámos de nos conhecer.

- Mas eu sei que encontrei a mulher da mi­nha vida. Além disso, tu mesma reconheceste que sou um bom partido.

- E és.

- Isso é um sim?

- É um... - Lucy olhou-o então, tentando ser objectiva: olhos azuis, corpo atlético gra­ças às horas que passava no ginásio, sorriso amável. Seria o marido ideal. Poderia contar sempre com ele, ajudá-Ia-ia com as crianças, cozinhariam juntos ...

- É um quê?

- É um «tenho que pensar». Já me conheces, Robert. Sabes que sou uma rapariga muito sensata. Não te posso dar uma resposta assim, de repente.

- Que resposta ?

A profunda voz masculina era tão familiar que, por um momento, Lucy pensou que a ti­nha imaginado. Mas quando voltou a cabeça encontrou-se com Nick Constantinou.

- Nick! O que é que estás aqui a fazer? Usava calças cremes e uma camisa clara que destacava o seu rosto bronzeado.

E o coração de Lucy deu vários saltos mor­tais.

Aquela era, precisamente, a razão pela qual estava decidida a continuar a sair com Robert. Não necessitava de semelhante atracção irra­cional, selvagem e absurda pelo seu patrão. Não lhe servia de nada.

- Vim jantar.

- Ah, claro – murmurou Lucy, surpreendida. - Robert, apresento-te Nick Constanti­nou, o meu chefe.

Robert sorriu, tão amável como sempre.

- Quer dizer que és o lobo mau que obriga a minha namorada a trabalhar todo o dia.

Deviam ter a mesma idade, mas Robert parecia um miúdo ao lado de Nick. - Foi isso que ela te disse?

- Vieste acompanhado? - Perguntou Lucy.

Nick apontou para o outro lado do restau­rante, mas havia tanta gente que não conse­guiu ver nada.

- Não estão a dançar.

- A culpa é minha - Robert sorriu. - A Lucy queria dançar, mas eu sou um desajeitado. Se pisasse a pista de dança, decerto que dono do restaurante me expulsaria ao fim de dois minutos.

Ela sorriu, nervosa. Primeiro, a surpreendente proposta de Robert e depois, Nick Constantinou, que apareceu ali com a evidente intenção de conhecer o homem com quem ela saíra nessa noite.

Porque é que fora precisamente àquele res­taurante? Talvez pensasse que lhe tinha men­tido e queria apanhá-la.

Ou talvez sentisse apenas curiosidade por saber com que tipo de homem é que ela an­dava.

- Pois é uma pena, porque a música é estupenda – Nick riu-se, pegando na mão dela. ­- Queres dançar?

- Prefiro não o fazer. Acabámos de jantar e apetece-me... descansar um pouco. Além disso, a tua companheira deve sentir a tua falta.

- Pode prescindir de mim durante uns minutos – respondeu ele. - Robert, importas-te de prescindir da tua... namorada por cinco mi­nutos? Prometo cuidar dela e devolvê-la inteira.

- Acho que posso prescindir dela durante uns minutos.

- Por favor! Querem parar de dizer parvoí­ces? Sou eu quem decide se quero dançar ou não! - exclamou Lucy.

- Ora, querida, tu gostas de dançar e eu sou um desastre. Podemos continuar a falar de­pois – disse Robert.

Aquilo era incrível. Estava entre o seu chefe, que esperava uma resposta, e Robert, que esperava outra... que ela não estava dis­posta a dar.

No fim, aceitou a mão de Nick. Que mais podia fazer?

Pelo menos, a banda estava a tocar uma música não muito lenta. Dançaria um pouco para depois regressar à mesa. E esperava que então Robert já tivesse esquecido o assunto.

Com isso em mente, Lucy deixou que Nick a levasse até à pista de dança.

 

O roçar da sua mão enquanto se dirigiam até à pista de dança provocou-lhe um calafrio e Lucy olhou para Robert por cima do ombro, para recordar a si mesma que era ele o seu companheiro e o tipo de homem com quem devia andar.

- Não há problema, Lucy.

A promessa de uma dança rápida evapo­rou-se quando chegaram à pista e a orquestra começou a tocar uma música lenta. Enquanto a tomava pela cintura, Lucy inspirou o aroma do perfume masculino.

- Vieste espiar-me?

- Vim – respondeu ele tranquilamente.

Não pensava esconder as suas intenções. Durante a reunião sobre as contas do hotel Tradewinds, não conseguira deixar de pensar na sua secretária e no que estaria a fazer com o seu misterioso namorado.

- Ah, sim? E porquê?

- Por curiosidade – respondeu Nick. ­Queria conhecê-lo e sabia que se te pedisse para o levares a algum dos eventos sociais da empresa, ter-te-ias negado.

- Isto é incrível!

- Sim, de facto. Mas a curiosidade foi mais forte do que eu.

- E porque é que sentias curiosidade? Pen­savas que tinha mentido?

- Não, porque é que havia de pensar seme­lhante coisa?

- Porque eu não ando para aí a falar sobre a minha vida privada – replicou Lucy.

Em vez de retorquir, Nick apertou-a com mais força. Aquilo era indecente! Mas, apesar disso, Lucy sentia-se excitada.

- De facto, tu nunca falas acerca da tua vida privada.

Nick tivera que suportar um casamento sem amor, no qual se satisfazia sexualmente. Gina e ele continuaram a manter relações sexuais es­porádicas, mas sem afecto, sem emoção. Du­rante os últimos seis meses, não o fizeram em absoluto. Ele enterrara o seu desejo no trabalho, sempre a pensar que devia divorciar-se... e não esperava que o destino fizesse isso por ele.

Desde então, lançara-se a um mar de mu­lheres sofisticadas que lhe davam satisfação física, mas nada mais. Embora, na maioria das vezes, o sexo nem sequer fosse satisfatório. Saciava-o temporariamente, mas deixava-o com a amarga sensa­ção de que lhe faltava algo, de que sempre lhe faltara algo.

Só uma vez se saciara por completo. Com a mulher que tinha agora nos braços. Ou seria apenas uma ilusão?

Não sabia. Sabia apenas que quando Lucy lhe disse que tinha um encontro, viu-se obri­gado a segui-la.

- E a tua curiosidade foi satisfeita?

- A minha curiosidade só será satisfeita quando descobrir o que é que vês nele.

- Com todo o respeito, não tens nada a ver com isso.

- Preocupo-me contigo, Lucy.

- Isso é mentira. E não penses que me enganas. Vi-te muitas vezes em acção e conheço os teus truques. Conheço o teu modus ope­randi.

- A que é que te referes?

Nick estava a adorar aquela conversa. A música terminou e começou outra logo a se­guir, mas ela não fez tenção de se afastar.

Estavam muito juntos, apertados um contra o outro. Lucy podia sentir através do vestido fino os músculos daquele corpo masculino. como se estivesse nua.

- A tua vida é o trabalho, Nick. Conheço-te bastante bem…

- Mais alguma coisa? - perguntou ele em voz baixa.

Estava a seduzi-la descaradamente. Dese­jou beijá-la no pescoço, mas com Robert por perto não lhe pareceu adequado.

- És ambicioso e impiedoso quando te parece necessário.

- Impiedoso?

- Sim.

- Não tens nada de bom para dizer?

- Como por exemplo? - perguntou Lucy inocentemente. Sentia o seu alento no pes­coço e tinha que se esforçar para não fechar os olhos e deixar-se levar.

- Também sou trabalhador e inteligente.

- Isso é verdade.

- Ah, mas não disseste «boa pessoa».

- Porque não és.

Lucy olhou para Robert, do outro lado do restaurante. Robert era uma boa pessoa.

-E sexy?

- O quê?

- Achas-me sexy?

Queria saber se aquilo que se passou na­quela noite era produto da sua imaginação. Tinha que descobri-lo. Além disso, Lucy co­nhecia-o bem. Ela sabia que não queria compromissos de nenhum tipo. Ao contrário das mulheres com quem saía, que pareciam aceitar ­isso para depois tentarem convencê-lo do contrário.

- Tenho que voltar para junto do Robert - disse Lucy então.

- Porquê? Ele sabe cuidar de si sozinho. Acho que não corre o risco de sofrer um ataque de nervos.

- Tenho que voltar para a mesa. Ah, é verdade, como é que correu a reunião? Conseguiste falar com o Rawlings?

- O que é gue disseste ao Robert acerca de mim? - Insistiu Nick, que se negava a mudar de conversa.

- Não disse nada.

- Não? Então, porque é que ele me chamou de «lobo mau»?

- Disse-lhe que querias que eu ficasse a trabalhar esta noite. Foi só isso.

- O que é que disseste que ele fazia?

- É contabilista - respondeu Lucy.

Sabia perfeitamente bem que não se esque­cera. Nick Constantínou nunca se esquecia de nada.

- Ah, é verdade - murmurou ele, apertando a sua cintura.

Queria estar com Lucy, mas antes tinha que se encarregar de alguns «detalhes». E um desses detalhes estava à espera na mesa. Lem­brou-se então que podia apresentá-lo a Robert. A ideia fê-lo sorrir. Não, Márcia comê-Io-ia de uma dentada só.

Tinha-a conhecido numa festa e era a pri­meira vez que saíam juntos. Mas como não estavam sozinhos, Márcia não esperaria nada mais para além de um jantar. E se a deixasse à porta de casa não podia queixar-se.

Nem lhe passou pela cabeça que Lucy o re­jeitaria.

- Suponho que o Robert entende que às ve­zes tens que trabalhar até muito tarde.

- O Robert tenta que o trabalho não inter­fira na sua vida. Vai muito bem na empresa, mas não está obcecado.

- Admirável – disse Nick.

- Sim, eu também acho. E agora tenho que voltar para junto dele. Com quem é que vieste?

- Com uns amigos. Sei que interrompi uma conversa interessante quando me aproximei da mesa. Do que é que estavam a falar?

- De nada.

- Estavas a dizer ao Robert que és muito sensata para algo.

Lucy soltou-se e Nick colocou-lhe uma mão nas costas para a conduzir até à mesa. Tentava recordá-la nua, mas não conseguia.

Apenas se lembrava que depois de fazer amor sentiu-se... completo. Os detalhes tinham sido esquecidos e o desafio de descobrir se a me­mória não o enganava provocava-lhe um fervor no sangue.

- Bom, vemo-nos amanhã. Obrigada pela dança - despediu-se Lucy.

Mas ele não tinha pressa em ir-se embora.

Márcia estaria a conversar com o seu primo Stavros. Estava a beber há duas horas e de­certo que nem sequer reparara na sua ausência.

- Fizeste-me um favor - disse Robert, levantando-se. - A pobre Lucy teria tido que so­frer as minhas pisadelas. Queres tomar um copo connosco?

Nick olhou por cima do ombro, interro­gando-se se era sensato ficar. Mas queria sa­ber algo mais sobre aquele homem, descobrir o que é que Lucy via nele. E, sobretudo, que­ria verificar se havia concorrência.

Depois de tomar uma decisão, nada o afas­tava do seu objectivo. Além disso, no amor e na guerra tudo é permitido.

Lucy seguiu a direcção do seu olhar e viu de imediato uma linda morena com um copo na mão. Então, era aquela a sua amiga...

Não deixou de sentir ciúmes, mas impediu que isso lhe amargurasse a noite.

- Lamento, mas «o senhor Constantinou» não pode ficar, Robert. Tem os amigos à es­pera.

- Que pena. Foi um prazer conhecer-te. E espero que da próxima vez nos vejamos numa celebração...

«Uma celebração? Para celebrar o quê?», interrogou-se Nick.

- Cuida da Lucy e certifica-te de que ama­nhã está em forma para trabalhar. Não quero ressacas.

- Não costumo ter ressacas – respondeu ela.

Não, isso era verdade. Lucy nunca bebia demais.

Mas quando Nick olhou para o relógio, na manhã seguinte, pensou que talvez tivesse su­bestimado a sua secretária. Eram quase nove horas e ela ainda não tinha aparecido. E quando saiu do restaurante estava perfeita­mente bem. Sabia-o, porque a tinha obser­vado a partir da sua mesa.

Christina disse-lhe que estava do outro lado da linha quando fez tenção de lhe telefonar para o telemóvel.

- Desculpa, mas hoje não posso ir traba­lhar.

- Porquê?

Era a primeira vez que tal acontecia, mas Nick teve que fazer um esforço para parecer amável.

- Sinto-me mal. Acho que tenho gripe.

- Mas ontem à noite estavas muito bem.

- E sentia-me bem, foi esta manhã...

- Não consegues levantar-te da cama?

- Não.

- Mas há umas quantas coisas importantes que...

- Desculpa. Vou trabalhar amanhã, mas hoje é impossível.

Como podia descobrir aquilo que queria saber?, pensou Nick. Estaria realmente doente ou uma louca noite de paixão com o tal Robe­rt deixara-a exausta demais para ir trabalh­ar? Havia apenas uma forma de saber. Decerto que estava na cama com Robert, compartilhando risinhos de cumplicidade, porque iam passar todo o dia a fazer amor. Nick teve que cerrar os dentes.

- Descansa. E telefona se não puderes vir trabalhar amanhã.

Em vez de chamar uma das secretárias, Nick levantou-se e foi ao departamento de pessoal para pedir a informação de que neces­sitava: a morada de Lucy.

Foi fácil encontrar o apartamento, apesar de ficar nos arredores de Londres e àquela hora o trânsito ser caótico.

Se Lucy tinha tirado um dia de folga para estar com o seu amante, queria apanhá-la em flagrante. Sem dar a Robert a oportunidade de fugir pelas traseiras.

Mas teve que anunciar a sua chegada, por­que o apartamento de Lucy ficava no terceiro andar de uma antiga casa vitoriana.

- Sou eu, o Nick.

- Nick? O que é que estás aqui a fazer?

- Abre a porta, Lucy. Não te vou incomodar durante muito tempo.

A porta abriu-se e Nick subiu as escadas. de dois em dois degraus. Ela esperava-o à porta do seu apartamento, envolta num rou­pão azul-claro.

Porque é que não estava vestida? Eram quase onze da manhã!

- O que é que estás aqui a fazer? - Repetiu, perplexa.

- Arquivos – disse ele, mostrando-lhe umas pastas que levava na mão.

- E não podia esperar até amanhã?

- Podes continuar doente amanhã. Não me convidas a entrar?

- Lamento, mas não me sinto bem.

- E talvez amanhã te sintas pior. Necessito que revejas estes arquivos para ver se falta al­guma coisa. Só tu o podes fazer, só tu sabes do que se trata. Além disso, se estás doente, faz-te bem ter alguém por perto... para te ajudar

- Ajudar-me?

- Para te fazer um chá e essas coisas - respondeu Nick.

Lucy vacilou. A última coisa que necessitava era de Nick Constantinou em sua casa. Mas não estava de humor para continuar a discutir. - Eu fico com os arquivos.

- Mas tenho que te explicar umas coisas...

- Está bem, entra – suspirou.

Nick olhou em redor. A casa de banho fi­cava à esquerda, a cozinha à direita, e a sala, ao fundo. A porta que havia na sala devia dar o quarto.

- É muito pequeno, não é?

Lucy ergueu os olhos para o ar.

- Vou fazer café.

Ele seguiu-a sem dizer nada. A porta do quarto estava fechada. De propósito?

- Não, deixa, eu faço. Tu estás doente e deves descansar.

- Mas não sabes onde estão as coisas.

- Acho que não preciso de um mapa - Nick sorriu. - Quem construiu este apartamento não podia tê-lo feito mais pequeno.

- Pois eu adoro.

- Não podes pagar algo maior com o dinheiro que ganhas?

Lucy olhou-o, atónita.

- Estou a economizar para comprar um an­dar.

Embora não tivesse necessidade de com­prar casa se aceitasse a proposta de Robert...

- Senta-te. Não estás bem – disse Nick.

Sentia remorsos pelos seus actos contradize­rem as suas palavras, mas aquele era um acto desesperado.

- Vou vestir-me – afirmou Lucy. - O leite está no frigorífico e o café, no armário.

Era a primeira vez que Nick Constantinou entrava no seu apartamento e não gostava nada disso. Era tão desconcertante como estar entre os seus braços na pista de dança.

Tinha que se livrar dele o quanto antes. Foi até ao quarto e tirou umas calças de ganga e uma camisola do armário. Daria uma vista de olhos pelos arquivos e mandá-lo-ia dali par fora com a maior discrição possível.

Quando saiu do quarto, ficou alarmada ao vê-lo do outro lado da porta.

- O que é que se passa?

Nick entrou no quarto e olhou à volta como que procurando algo. Mas não estava ali ninguém.

- Se não te importas...

- Não, claro. Queres alguma coisa?

- Não, não. Queria apenas ver o teu quarto.

Tinha que ser cauteloso para não a assustar. Desejava-a mais do que alguma vez desejara alguém em toda a vida e estava decidido a faze-la sua.

- Bom, vamos trabalhar? - Perguntou Lucy.

- O arquivo do Rawlings é o mais urgente.

- Tens os apontamentos sobre a reunião de ontem?

Lucy tentou concentrar-se, apesar de não nada fácil. Tê-lo ali, em sua casa, sem aviso prévio, enervara-a.

Felizmente, não parecia querer seduzi-la como no restaurante.

Aborrecida, abriu uma das pastas, tentando não olhar para o homem que se encontrava sentado a seu lado.

- Tentámos falar com o Rawlings, mas, como sempre, estava fora. Falei com o assistente e existem umas certas discrepâncias. Pelo que sabemos, o negócio vai de vento em poupa, por isso, onde é que pára o dinheiro?

- Achas que houve algum desfalque?

- Creio que sim.      

- E o que é que pensas fazer?

- Arranjar provas e despedi-lo se for esse o caso.

- E o que é que queres que eu faça?

- Temos que escrever uma carta. Algo que lhe dê a entender que me apercebi do que se passa e não vou parar até obter respostas.

Nick observou o pescoço dela. Com um es­forço mínimo, podia inclinar-se e beijá-lo. A camisola ocultava a curva dos seios, mas a sua imaginação conseguia dar-lhe alguns de­talhes. Ao recordar os mamilos rosados, exci­tou-se. Teria que passar por casa para tomar ­um duche de água fria antes de regressar ao escritório.

- Se anda a roubar dinheiro, não quero que se assuste e fuja - continuou, sem olhar para ela para não complicar mais as coisas. ­Quero «apanhá-lo com a boca na botija». O que é que sugeres?

Lucy tinha um rosto lindo, um rosto que não necessitava de maquilhagem. Era transparente, muito expressivo e Nick comparou-o com os rostos de outras mulheres com quem saíra du­rante aqueles meses. Nenhuma delas saía de casa sem colocar as suas pinturas de guerra.

- E então?

- E então, o quê? - Repetiu Nick, ao perceber que Lucy lhe perguntara algo, enquanto ele especulava.

- Não ouviste nada do que eu disse? Entras aqui com um monte de pastas, mesmo es­tando eu doente... e o mínimo que podias fa­zer era ouvir-me, não achas?

Sabia em que é que estava a pensar: na mo­rena que o acompanhara ao restaurante no dia anterior, e isso irritava-a.

- Claro que estava a ouvir-te – replicou ele, impaciente consigo mesmo. Tinha que se concentrar.

Trabalharam na carta e ficou admirado ao provar a capacidade de Lucy para dizer a Rawlings com tacto, mas com seriedade, que necessitavam de respostas urgentes.

- As outras duas pastas são assuntos nor­mais. E, de facto, não há necessidade de estar ­a vê-las agora – disse Nick, levantando-se. - Bom, vou-me embora. Mas, se quiseres, posso fazer-te algo para comeres.

- Não é necessário, obrigada. O Robert chega dentro de uma hora.

- Vai ausentar-se do trabalho para te vir ver? Então, isto é sério.

- É, sim – respondeu Lucy. - Pediu-me em casamento.

 

Nick estava à espera dela na manhã se­guinte. De facto, começara a trabalhar às seis e meia da manhã. Mas não conseguia parar de pensar em Lucy.

Não entendia porquê, mas supunha que era porque ela estivera junto dele quando mais necessitava de alguém. Na noite do funeral estava furioso consigo mesmo e com a vida e afogara o seu sofrimento em álcool. E foi Lucy quem o consolou, foi Lucy quem o fez esquecer.

As mulheres que lhe sucederam apenas servi­ram para lhe recordar o vazio daquelas relações.

Era isso que procurava? Recordar a solidão que tinha encontrado nela? Ou era simples­mente um desafio?

«Tanto faz», pensou.

Quando Lucy lhe disse que Robert a pediu em casamento, foi como se lhe tivessem dado um murro no estômago.

E Nick Constantinou não aceitava uma der­rota tão facilmente. Que homem de sangue quente aceitaria?

Depois de olhar para o relógio pela milésima vez, ouviu a porta do gabinete de Lucy.

- Como é que te sentes?

- Melhor, obrigada - sorriu. - Pensei que tinha gripe, mas talvez tenha apenas bebido demais. Daí a dor de cabeça. Não estou acos­tumada a beber.

- Pois não.

- É verdade, já verifiquei todas as pastas. Queres que mande a carta ao Rawlings por fax ou preferes que a envie por correio electrónico?

- Traz-me um café. Falaremos do Rawlings quando voltares.

Enquanto esperava, Nick interrogou-se sobre qual seria a sua reacção àquilo que ia di­zer-lhe. No entanto, apesar do pedido do tal Robert, Lucy ainda não usava anel de noi­vado.

De modo que a situação devia ser a se­guinte, segundo os seus cálculos: Robert ti­nha-a pedido em casamento e Lucy respon­dera que queria pensar, que necessitava de tempo. Porque não estava convencida.

Tinha pensado em tudo isso no dia anterior, em sua casa, enquanto dava voltas ao assunto.

- Fecha a porta, por favor - disse quando ela regressou.

- Pensava começar a trabalhar nos resumos do final de mês, como é habitual, apesar das secretárias da administração me terem dito que duas delas estão de baixa. Se não te im­portares, pretendia ajudá-las.

- Não.

- Desculpa?

- Importo-me.

- Ah! E porquê?

- Porque a partir de manhã não vais estar aqui para ajudar ninguém.

Lucy olhou-o, sem entender. Estaria a des­pedi-la? O que é que tinha feito para ser des­pedida? Seria por não ter ido trabalhar no dia anterior?

Foi então que percebeu o quanto signifi­cava aquele trabalho para ela. Necessitava de estabilidade, necessitava do dinheiro, mas não só. Era o poder estar com Nick, vê-lo todos os dias.

- Posso perguntar porque é que me estás a despedir?

- A despedir-te? Quem é que falou em despedir-te?

- Pensei que...

- Não tenciono despedir-te, pelo contrário. Vais comigo ao hotel Tradewinds. Se o Rawlings quer evitar-me, ser-Ihe-á impossível fazê-lo comigo no hotel. Viajamos amanhã.

Era esse o plano. Tinha que sair de Londres, tinha que esclarecer as coisas com Ra­wlings... e tinha que fazer com que Lucy se afastasse de Robert.

- Amanhã? Mas...

- Eu sei, eu sei. Tens pouco tempo. Vamos até Barbados e daí seguimos de avioneta. Será um longo dia, mas espero que valha a pena.

- Mas eu não posso ir-me embora assim daqui a apenas vinte e quatro horas ...

- Tens o passaporte em dia, não tens?

- Sim, claro, mas...

- Será apenas uma semana. E podes ir já para casa fazer as malas.

- Mas não posso ir assim sem mais nem menos...

- Porque não? Decerto que o Robert en­tende. Tu própria me disseste que ele é um homem compreensivo.

- E a roupa? Que tempo é que está na ilha, e que é que eu devo levar?

- Está sempre muito calor, por isso leva roupa fresca. Tira umas horas para ires às compras... e é uma ordem. Já sabes: vestidos, calões, T-shirts... e biquínis, claro. Além das três piscinas do hotel, a praia fica a vinte metros.

- Mas não vamos estar a trabalhar durante ­todo o dia?

- Trabalharemos, naturalmente, mas não todo o dia. E não haverá reuniões formais, de modo que não tens que levar nenhum fato.

Nick disse-lhe a que horas se encontrariam no aeroporto e Lucy foi às compras, tão sur­preendida como encantada com aquela pe­quena aventura. Mesmo sabendo que se tratava de trabalho... e de ter um certo medo por ficar a sós com o seu chefe durante uma se­mana, sem computadores nem telefones por perto.

Quando chegou ao seu apartamento, ia car­regada de sacos. Tinha comprado calções, T-shirts, sandálias e uns vestidos frescos que podia usar em qualquer reunião.

Na manhã seguinte, Nick ficou impressio­nado ao ver a pequena mala.

- Muito sensata. A maioria das mulheres usa uma mala dessas apenas para levar os cos­méticos.

Mesmo com as calças cremes e uma camisa de manga curta, Nick Constantinou estava impressionante. Dava uma sensação de poder, de vigorosa masculinidade, que quase a as­sustava.

Lucy sentia-se uma menina com a saia cin­zenta e a camisa azul. Qualquer uma das «amiguinhas» dele teria vestido algo desportivo para chamar a atenção. Mas, lamentavelmente, ela não podia competir com esse tipo de mulheres.

Uma hospedeira acompanhou-os à sala VIP, onde Nick parecia estar como em casa, enquanto ela tentava não parecer deslocada.  

- Este sítio é mais silencioso do que uma biblioteca.

- Podemos falar em voz baixa. Não queres acordar os mortos, pois não? – Nick sorriu, apontando para um executivo que dormia apoiado na sua pasta.

Olhava como se a visse pela primeira vez. Gostava da forma como erguia o queixo para falar com ele, gostava das sardas que ela tinha no nariz…

- O que é que o Robert disse acerca da viagem?

- Achou muito bem.

- Ah, claro! Perguntei, porque sei que alguns homens pensam que um anel de noivado dá-lhes direito a tudo. Ah, mas tu não usas anel de noivado.          

- Pois não.

- Ele ainda não to ofereceu?

- Não. A verdade é que ainda não lhe dei uma resposta.

- Muito sensata, uma decisão muito sensata – murmurou Nick – não gostava nada que a minha eficiente secretária se casasse e começasse já a ter filhos.

- Oh não! O Robert… bom, ainda não falamos sobre o assunto.

- E tu contaste-lhe…?

- O quê?

Nick ergueu uma sobrancelha. Não sabia do que é que estava a falar?

- Não lhe falaste sobre nós?

- Não há um «nós».

- Quer dizer, já lhe disseste que estivemos uma vez juntos?

- Foi apenas uma vez e não há razão para…

- O Robert é ciumento?

- Não.

- Não, claro, se fosse teria ficado furioso ao saber que ias passar uma semana numa ilha tropical com o teu chefe.

- Não vou passar uma semana numa ilha tropical com o meu chefe. Falas como se fosse…

- O quê?

- Isto não são umas férias, pois não? Vamos trabalhar, solucionar o assunto do Rawlings.

- Claro que sim. Queria apenas saber se o Robert confia em ti.

«Deve estar a pensar na mulher», pensou Lucy. Devia estar a pensar na confiança e no amor que perdera naquele terrível acidente.

Já no avião, Nick falou-lhe dos países que tinha visitado, dos seus costumes… parecia ter visto muito mais do que Lucy imaginava.

E ela sabia escutar. Normalmente Nick dormia nos aviões, mas o seu interesse pelo que lhe estava a contar manteve-o acordado. Por isso, recebeu com surpresa o anuncio de que podiam apertar os cintos de segurança.

- A viagem foi, de facto, muito curta, não foi?

Lucy sorriu.

- Não sei. Só ainda fui uma vez a Itália. O meu pai não gostava de gastar muito dinheiro em viagens.

- Ah, uma boa educação. Por isso é que és uma jovem tão sensata.

- Não sou sempre sensata. Porque é que estas sempre a querer provocar-me?

- Porque gosto de te ver corada – admitiu Nick. – Até as tuas sardas do nariz ficam coloridas.

- Que mau que és!

- Nem imaginas… - disse ele em voz baixa.

Lucy afastou o olhar nervosa.

- Nesse caso, não sei porque é que não trouxeste uma mulher que te fizesse companhia.

- Uma mulher?

- A morena do outro dia, por exemplo.

- Ah, essa! A Márcia é alérgica ao trabalho. Além disso, o meu primo e eu fomos apenas jantar com ela. Acho que não volto a vê-la.

- Não me digas.

Nick Constantinou saía com modelos e ela limitava-se a comentar a jogada da bancada.

- Na realidade, a Márcia não é o meu tipo.

- Surpreendes-me – disse Lucy.

- Espero que sim. Gosto de ser imprevisível.

E por isso era o homem menos adequado para ela. Porque ser previsível era uma quali­dade essencial para viver uma vida tranquila. Algo imensamente importante para ela.

«Mas as vidas tranquilas são para as pessoas pouco aventureiras», disse-lhe uma vozinha.

Uma vozinha que ela tentou ignorar.

A primeira parte da viagem tinha sido fácil, mas a segunda foi o contrário. Apesar de ­Lucy adorar estar rodeada por pessoas que falavam diferentes idiomas, porque isso fazia-a sentir-se sofisticada, quando chegou à avioneta que os levaria até à ilha, assustou-se ao ver o quão pequena era.

- Não te preocupes – animou-a Nick. ­Não vamos acabar no meio do oceano, rodeados por um monte de tubarões.

- Como é que sabes? Esta avioneta não pa­rece ser capaz de levantar voo.

- Vais ver que não há problema - ele sorriu.

A seu lado, Lucy sentia-se mais tranquila e, felizmente, a viagem não foi tão má como teme­ra.

Estava a anoitecer quando chegaram ao ho­tel e não conseguia apreciar a paisagem, mas até os sons eram diferentes: o ruído dos gri­los, das rãs, o canto de algum exótico pássaro nocturno... era tudo completamente diferente de Londres.

- A areia é tão fina como o pó, vais ver. A praia está rodeada por um banco de coral, por isso é que a água é tão azul como a de uma piscina.

- E preferes viver em Londres? - Perguntou Lucy, incrédula.

- Às vezes, até o paraíso cansa. Pelo menos a mim.

O hotel não era o que Lucy esperara encontrar. Pensava que seria um edifício enorme, de vários pisos.

O que viu foi um edifício baixo, estilo co­lonial, rodeado de palmeiras e flores, cujas cores prometiam ser mais extravagantes sob a luz do sol.

- Tem a forma de «S» – explicava Nick, – e tem três piscinas. O restaurante fica num edi­fício à parte, rodeado de jardins. A intenção era criar uma sensação de casa fora de casa.

 

- Rica casa – comentou ela. - Se a mi casa fosse como esta, não ia de férias para lado nenhum.

Nick sorriu.

- Ainda bem que gostas.

- Estão à nossa espera? - perguntou Lucy.

- Não. Pensei em fazer uma surpresa ao Rawlings. Assim, não haverá a possibilidade de que, acidentalmente, desapareça algum papel.

- Então...

- Então, tu e eu estamos registados com o nome de senhor e senhora Lewis, e vamos compartilhar uma suite.

- O quê?!

- Estava a brincar - sorriu Nick.

Mas irritara-se com o aparente alarme dela perante a ideia de compartilharem o mesmo quarto.

Não queria deitar-se com ela apenas por egoísmo, também queria que Lucy o dese­jasse. Não apenas que se sentisse atraída por ele, mas que o desejasse com a mesma força, com a mesma obsessão com que ele a dese­java a ela.

- Engraçadinho!

- Reservei dois quartos em teu nome. Claro que amanhã já podemos deixar de fingir.

- Não te vão reconhecer? - Perguntou Lucy em voz baixa, quando o porteiro do hotel saiu para ir buscar as malas.

- Duvido. Só cá vim umas duas vezes há uns anos com a Gina. Vem muita gente fa­mosa a este hotel e os empregados estão trei­nados para não prestarem atenção às caras...

E era verdade. Quando chegaram à recep­ção, nenhum dos empregados pareceu sentir curiosidade.

Nick comportava-se como se tudo aquilo fosse o mais normal possível, mas o luxo do hotel era tão exagerado que Lucy tinha que fazer um esforço para não ficar boquiaberta.

Os soalhos eram de madeira polida, muito brilhante, e os sofás, de um branco imacula­do. Havia figuras de madeira, enormes qua­dros abstractos e plantas por todo o lado.

- Subimos sozinhos até ao quarto, obri­gado.

- Querem que o Rudolf lhes indique onde fica o restaurante? - Perguntou o recepcio­nista. Nick negou com a cabeça. - Bom, na realidade não é necessário. Basta seguir o seu olfacto. A Mabel é a melhor cozinheira da ilha.

- Isto é muito tranquilo – disse Lucy.

- Não há muitos quartos e foram todos concebidos de forma a garantirem a intimidade dos clientes.

Iam a caminhar por um corredor exterior ladeado por peças exóticas.

- É aqui, é este o teu quarto.

- E o teu?

- É o do lado – respondeu Nick, abrindo a porta.

Era um quarto enorme com terraço priva­tivo. O chão de madeira estava coberto por carpetes de cores alegres. De um lado, estava um enorme sofá branco e, do outro, uma cama com dossel sobre a qual pendia uma rede mosquiteira em linho. À direita ficava a casa de banho e o quarto de vestir.

Tudo aquilo era como um sonho. Lucy nunca poderia dar-se ao luxo de passar umas férias ali e prometeu a si mesma aproveitar a oportunidade. E, se possível, passaria as noi­tes deitada na cama de rede do terraço.

- É lindo, adoro! O que é que se sente ao ser dono de tudo isto?

Aquele comentário merecia uma resposta na brincadeira, mas Nick ficou pensativo.

- Não esperas que te responda a sério, pois não? - Perguntou, apoiando-se na parede.

Tão alto, tão dominante, tão atraente. Mesmo ali, nos trópicos, o tom moreno da sua pele parecia dar-lhe uma agressividade sexual que era impossível ignorar.

- Claro que sim.

- Nesse caso, dir-te-ei a verdade. Ser dono deste

hotel é como ser dono de qualquer ou­tro. São todos de luxo, todos lindos, e a mim só me interessam porque dão lucro. Permitem-me investir na Bolsa sabendo que nunca ficarei na ruína - respondeu Nick, abrindo a porta do terraço.

- Que cínico.

Ele virou-se para a olhar. Recortado contra a escuridão do exterior, não conseguia ver bem as suas feições, mas sabia que estava a olhá-Ia nos olhos.

-Achas?

- Devias ter prazer por seres dono de um sítio como este. Quando a Gina era viva, su­ponho que passavam aqui belos bocados...

Nick soltou uma gargalhada.

- Era apenas um comentário...

- Queres comer alguma coisa?

- Prefiro tomar um duche e ir dormir. Acho que me vou levantar bem cedo amanhã para ir dar um passeio. Não sei a que horas queres começar a trabalhar, mas...

- Explora o que quiseres. Venho buscar-te por volta das dez.

Nick não tinha vontade nenhuma de se ir embora. Em absoluto. Pensou no que é que ela levaria sob a saia. Teria tanto calor como ele? Gostaria de tomar um banho na praia, ambos nus?

Mas sabia que isso era impossível. Pelo que, contendo um suspiro de frustração, des­pediu-se.

Por enquanto.

Porque ia tê-la; Lucy seria novamente sua. E fazer amor com ele livrá-Ia-ia do desen­gano. Não podia casar com Robert, simples­mente não podia.

Nick ia fazer-lhe um favor.

Saiu do quarto, antecipando o que aquela semana na ilha ia oferecer-lhe.

 

Lucy acordou ao ouvir que alguém batia à porta do quarto. Insistentemente. Estava com­pletamente às escuras, pois tinha fechado as portas do terraço de forma que não entrasse um fio de luz.

Suspirando, levantou-se e foi abrir a porta.

- Que é feito dos teus ambiciosos planos para explorar a ilha?

Era Nick, completamente vestido, penteado e aparentemente bem acordado. Usava uma camisa branca com os dois primeiros botões desabotoados e uns calções de banho verdes. Debaixo do braço, levava uma toalha de praia.

Lucy tentou esconder-se para que ele não visse os seus calções com estampado de di­nossauros, mas Nick empurrou a porta e en­trou no quarto.

- Que horas são?

- Pensei que ias levantar-te ao amanhecer.

- Acho que ainda não amanheceu. E agra­decia que deixasses de invadir o meu espaço sempre que bem te apetece.

- Pensei que já estavas levantada. De facto, fiquei surpreendido por ver que ainda estavas no quarto.

Lucy cruzou os braços, irritada.

Nick, pelo contrário, parecia em casa, en­quanto abria os cortinados e as portas do ter­raço, anunciando que eram sete menos um quarto.

- Já amanheceu há horas – disse, virando-se com um sorriso. - E agora é a melhor altura para tomar um banho. Queres ir comigo?

- O quê?

Supostamente, tinha ido ali para trabalhar e não para tomar banho. E muito menos com o homem com quem não conseguia deixar de sonhar, por muito estúpidos que fossem esses sonhos.

- A praia está deserta a esta hora.

- Não posso – respondeu Lucy, desejando ter oito mãos em vez de duas, para esconder o corpo.

- Porque não? Tens mais alguma coisa para fazer?

Que outros planos podia ter? Telefonar a alguém? Nem sequer podia inventar a des­culpa de que tinha que ir ao dentista.

- É que... acabei de acordar. E demoro horas a arranjar-me de manhã.

- A sério? Então, deves levantar-te às cinco para chegares às oito ao trabalho. Mas não me importo de esperar. Lá fora, claro.

- Podíamos encontrar-nos no vestíbulo.

- Que disparate! Espero aqui, enquanto tomas um duche.

O sono desapareceu, enquanto procurava biquíni negro e um pareo na mala. Imaginar­a que iam nadar à tarde, depois de traba­lharem durante horas na sala de reuniões do hotel.

Mas não havia sala de reuniões naquele ho­tel e o trabalho não ia ser tão extenuante como imaginara.

E também não estariam rodeados por pessoas.

Nick parecia ter decidido fazer de guia turístico e queria mostrar-lhe o hotel. Talvez tivesse reflectido sobre o cinismo do seu co­mentário no dia anterior.

Quando se olhou ao espelho, Lucy perce­beu que o biquíni era muito pequeno.

Parecera-lhe adequado quando o enfiou na mala, mas naquele momento parecia-lhe es­candaloso.

- Vamos?

Lucy vestiu uma camisa que cobria apenas metade das suas pernas e pegou numa toalha da casa de banho.

- Trouxeste creme protector? - Perguntou Nick, quando se dirigiam à praia.

- A esta hora?

- O sol aqui é muito forte a qualquer hora.

- A verdade é que gostava de ficar morena.

- Costumas queimar-te? - Perguntou Nick tentando não olhar para ela.

Não queria ficar «nervoso», porque seria impossível escondê-lo com aqueles calções de banho.

- Não, na realidade, costumo ficar morena. Queimo-me um pouco no início, claro.

- Então, necessitas de creme.

Lucy começou a descontrair-se. Aquele sí­tio era lindo e tinham uma semana para fazer aquilo que iam fazer. Não tinham pressa.

Nick falou-lhe do hotel, das reformas que foram necessárias quando a sua empresa o comprou a um casal que o mantivera durante anos como propriedade privada.

- Como é que puderam sair daqui? - Per­guntou Lucy.

- A senhora Cooper faleceu e o marido, James, disse-me que não suportava conti­nuar a viver aqui sem ela. Paguei-lhe um bom preço e ele agora vive em Londres com dinheiro suficiente no banco para não ter de se preocupar com nada durante o resto vida.

- Cheira lindamente bem. Não tem nada a ver com o cheiro de Londres.

- Admito que Londres tem um cheiro muito particular.

- Cheira a poluição – disse ela.

- Bom, o que é que te parece? - Perguntou Nick, quando chegaram à praia.

- É a água mais azul que vi em toda a mi­a vida! Parece uma piscina!

- É a praia mais calma das Caraíbas. E é só nossa, por enquanto – Nick sorriu, estendendo toalha sobre a areia.

- A que horas...?

- É que as pessoas se levantam? Tarde – respondeu ele, enquanto despia a camisa. Às vezes, há um cliente ou outro que se le­vanta cedo, mas, em geral, as pessoas vêm para aqui descansar e esquecer o stress. Além disso, não há hora limite para o pequeno-al­moço. E podem tomar o pequeno-almoço onde quiserem, até mesmo na praia.

Não a observava, mas reparou de lado que Lucy estendia a toalha o mais distante possível da sua.

- Que luxo. E tinhas razão acerca do sol. Começa a aquecer muito cedo.

- Felizmente, trouxe creme protector.

Nick tirou um tubo do bolso da camisa.

Não para ele, porque nunca se queimava, mas sabia que Lucy se esqueceria desse impor­tante pormenor.

- A que horas começamos a trabalhar? - Perguntou ela, espalhando o creme pelos bra­ços.

Como é que podia pensar em trabalho quando estavam ao sol, naquela linda praia azul-turquesa?

Estaria a pensar em Robert? No trabalho, no seu namorado e na sua aborrecida vida em Londres? Podia Robert levá-la a um sítio da­queles? Nunca.

- Assim que tomarmos o pequeno-almoço – respondeu Nick, tentando dissimular a sua irritação. - Vais ficar com a camisa vestida? Não consegues pôr creme se não a despires.

Lucy pensou se ele a achava alguma parva.

Talvez, como nunca tinha estado num sítio tão luxuoso como aquele, pensasse que tinha que assinalar o que era óbvio...

Irritada, despiu a camisa e começou a espa­lhar creme no estômago...

Nick observou-a com os olhos semicerra­dos. Não podia deitar-se na toalha, porque ver como se moviam os seus seios, enquanto es­palhava o creme, excitava-o mais do que o aconselhável.

Nunca sentira nada assim por uma mulher. Teria Lucy naquela noite conseguido enfei­tiçá-lo? Tê-lo-ia agarrado a ela para o resto da vida? Ou talvez fosse por ser inalcançável, por estar quase noiva de outro homem?

- Deita-te, eu espalho-te o creme pelas cos­tas.

- Não é necessário.

- Porquê? Vá lá, deita-te. Se não tiveres creme nas costas, vais passar o resto da se­mana na cama com, queimaduras de terceiro grau. E, pelo que dizem, é uma experiência muito dolorosa. Além disso, as queimaduras solares podem provocar cancro.

- Toda a gente sabe isso, mas não vou ficar aqui durante horas.

- Nunca se sabe. E é por isso que há creme protector em todos os quartos. Os clientes an­glo-saxónicos costumam ser muito esqueci­dos.

Lucy deitou-se sobre a toalha, fazendo um gesto de desespero.

- Descontrai-te – disse Nick. - Pareces uma tábua.

Com o sol na cabeça e o roçar das mãos dele nas suas costas, Lucy começou a relaxar. - E agora as pernas.

- Eu faço isso.

- Já que estou eu a fazê-lo...

Lucy sentiu a pressão das suas mãos nos tornozelos, movendo-se lentamente. Mas quando começou a pôr-lhe creme nas náde­gas, ela sentou-se repentinamente.

Naquela postura, o biquíni mal conseguia tapar o que quer que fosse. E Nick necessi­tava de tomar um banho de imediato.

- Vou à água. Vens?

- Daqui a pouco – respondeu ela, sem o olhar.

Devia envergonhar-se de si mesma. Exci­tar-se só porque ele lhe tinha espalhado creme pelas pernas... mas ao vê-lo de costas, tão alto, tão forte, teve que conter o alento.

Só quando o viu entrar na água é que se le­vantou. Não se atirou de cabeça como ele... Foi-se molhando, pouco a pouco, e depois deitou-se de costas, a flutuar.

Não o ouviu aproximar-se e lançou um grito quando ele a molhou. Lucy ergueu-se e viu-o a sorrir.

- Eu não te disse para teres cuidado com o sol? O pior é apanhá-lo directamente a partir da água. Podias adormecer se continuasses a flutuar.

- Não ia adormecer!

- Tinhas os olhos fechados.

- E depois?

Lucy nadou até à praia e ele fez o mesmo a seu lado. A água era tão transparente que po­dia ver os seus bíceps, os musculosos antebra­ços...

- Porque é que não nadamos até ao banco de coral? Podemos ver os peixes sem óculos de mergulho.

- Não, obrigada. Tenho que voltar para o quarto para lavar o cabelo. Além disso, temos que trabalhar.

Lucy sentia os olhos escuros dele cravados nos seus e sentiu dificuldade em respirar.

- Seria muito fácil ficar aqui na praia e es­quecer a razão pela qual viemos cá.

- Não acredito – murmurou ela, nadando.

- Não te imaginas suficientemente relaxada para esqueceres o trabalho?

- Como é que posso relaxar se...? Quase disse: «se estou contigo».

- Se o quê?

- Se estou aqui para trabalhar.

Quando saíram da água, reparou que Nick olhava descaradamente para os seus peitos e, ao baixar o olhar, entendeu porquê. O biquíni, que era muito mais pequeno do que achara na loja, colava-se-Ihe aos seios como uma se­gunda pele.

O minúsculo biquíni negro revelava claramente os seus mamilos, marcando inclusive a auréola.

- Não tens por que sentir vergonha. Já vi mamilos antes.

Lucy desejou ter um buraco para se escon­der. Mas vestiu a camisa e tentou disfarçar.

Nick teve que fazer um esforço para não es­tender a mão e acariciá-la, tocar naqueles seios... excitado como um adolescente e zangado con­sigo mesmo, teve que se tapar com a toalha.

- Muito obrigada pela informação. Mas se fosses um cavalheiro não terias... não terias...

- Não teria ficado a olhar?

Não pensava mudar de conversa. Queria dizer-lhe que, apesar de estarem ali para tra­balhar, havia uma química sexual inegável entre os dois. Tinha que fazê-la esquecer Lon­dres e, sobretudo, Robert.

- De facto.

- Peço desculpa – murmurou Nick. - Tens razão. Perdoa-me. Às vezes, esqueço-me que os ingleses não gostam das pessoas que dizem o que pensam.

Lucy não respondeu. Simplesmente vi­rou-se, sentindo os olhos dele cravados nas suas costas.

Porque é que dissera aquilo? Nick Constan­tinou era um homem sofisticado e não teria dito aquilo sem intenção.

A lembrança daqueles olhos brilhantes fi­xos no seu peito queimou-a durante as duas oras que demorou a tomar duche, lavar o ca­belo e tomar o delicioso pequeno-almoço que pediu ao serviço de quartos...

Eram quase dez horas quando desceu até ao vestíbulo, e fê-lo decidida a acabar com aqueles comentários. Estavam ali para trabalhar. Ele era o chefe e ela, a sua secretária. Mais nada!

Felizmente, Nick estava à sua espera com dois empregados e a mesma expressão que costumava ter no escritório.

- Vão-nos trazer todos os relatórios econó­micos do hotel para podermos inspeccioná-los. E quero que o contabilista esteja disponível. Sobretudo, preciso de falar com o Rawlings.

Quando chegaram ao gabinete, Nick pe­diu-lhe que fechasse a porta.

O homem atraente e alegre de umas horas antes, aquele que lhe fazia ferver o sangue nas veias, voltara a ser o homem de negócios de sempre.

À uma, depois de ter revisto dezenas de re­latórios, Nick pediu uma bandeja de sandes e uns sumos.

Depois, desligou o ar condicionado para abrir as portas do terraço, embora a infor­masse de que teriam que voltar a fechá-las de­pois de comerem, senão o calor impossibi­litá-los-ia de continuarem a trabalhar.

Lucy assentiu. A brisa do mar era muito atractiva para se concentrar em papéis e números. De facto, quando foram comer para o terraço, sob umas enormes palmeiras, começou a sentir as pálpebras pesadas.

- O que é que te parece? – Perguntou Nick, esticando as pernas.

- A que te referes?

- Às discrepâncias nas contas.

- Facturas aparentemente pagas, mas sem folhas de pedido.

As sandes, a salada tropical e o frango frio estavam deliciosos, e quase se derretiam na boca. Lucy escutava Nick, esforçando-se para não adormecer, enquanto falavam de uma possível fraude.

- Espero que tenhas posto creme na cara.

- E eu espero que deixes de ter comportar como se fosses meu pai. Já sou suficientemente crescida para cuidar de mim mesma.

Nick cerrou os dentes. Por alguma razão estranha, queria protege-la. Mas era absurdo.

- Não acharia piada nenhuma se tivesses que permanecer na cama com o trabalho que temos – disse bruscamente.

- Não tenciono ficar de cama e não tenciono queimar-me como se fosse alguma miúda.

- Não te chateies…

- Não estou chateada. Quero apenas esclarecer as coisas – interrompeu-o, passando a mão pela saia de algodão.

Parecera-lhe mais apropriada para trabalhar que os calções e, com aquele calor, muito mais cómoda do que os corsários.

- Acho melhor ligar o ar condicionado – disse então, afastando a blusa.

- Está muito calor.

Lucy observou o céu azul, sem uma única nuvem.

- E agora, o que é que fazemos?

- Vamos mandar vir o contabilista.

As bandejas foram retiradas em silêncio, com a rapidez de uma equipa bem treinada, e quando Nick começou a fazer perguntas ao contabilista, o homem praticamente se desmoronou a tremer.

- O senhor Rawlings faz grande parte da contabilidade. Disse que, como director do hotel, faz parte do seu trabalho.

Nick continuou a interrogá-lo até que o homem começou a suar.

Por fim, duas horas mais tarde, durante as quais Lucy tinha estado a tomar notas e a apontar nomes de fornecedores que soavam muito pouco reais, Nick ficou a olhar para o homem à sua frente.

- E não desconfiaste do facto de não conseguires responder às perguntas que te coloca­vam a partir de Londres?

- O senhor Rawlings diz que está sempre tudo bem, que está em permanente contacto consigo.

Nick deixou escapar um suspiro.

- Que idade tens, Peter?

- Vinte e dois, senhor Constantinou.

- E vives com a tua família?

- Sou casado. Tenho um filho de um ano.

- Onde vives?

- Do outro lado da ilha. Temos uma casinha... de facto, estamos a pagar uma hipoteca. Necessito deste trabalho, senhor Constanti­nou.

- Quando é que o Rawlings regressa, Pe­ter?

- Não sei, senhor. A família dele vive numa das outras ilhas, perto das Bahamas. Pelos vistos, anda um furacão por perto e ele queria ­verificar se estava tudo bem. Se assim for ­pode levar um ou dois dias a voltar... ou até talvez uma semana.

- Um furacão? Não ouvi nada acerca disso.

- Anunciaram na rádio.

- Muito bem, Peter. É tudo por agora.

- Senhor Constantinou... – começou o jovem a dizer. - O meu trabalho...

- Por enquanto, continuas a ter trabalho.

Lucy esperou uns segundos até Peter sair do gabinete.

- Que belo detalhe, Nick. Mostraste compaixão.

- Que mais podia fazer? Ele é um miúdo e, além disso, tem um filho para sustentar – sus­pirou, passando uma mão pelo cabelo.

- Importas-te de me dizer...?

Mas não estava a olhar para ela; estava a observar a praia como que perdido nos seus pensamentos.

- Sim?

- Importas-te de me dizer porque é que as pessoas têm filhos tão cedo?

- Suponho que...

- Uma hipoteca, um filho! Por amor de Deus! - Interrompeu-a.

- Nem toda a gente planeia a vida até ao último detalhe.

- Como eu, queres tu dizer? E se te dis­sesse que o meu maior desejo é ter um filho?

Disse-o sem pensar, como tantas vezes lhe acontecia quando estava com Lucy. E não queria fazê-lo, não queria falar de si.

- Não me estava a referir a ti.

Nick fez um gesto com a mão, como que pedindo que esquecesse o comentário.

- É óbvio que se deixou manipular, mas o culpado de tudo isto é o Rawlings e estou de­sejoso que ele apareça por aqui.

- Se aparecer por aqui – murmurou Lucy olhando para os papéis. Havia ali trabalho para uma semana. - Queres que trate disto?

- Sim, por favor. Eu vou ver se isto do fu­racão é verdade. Se não for, pode ser que den­tro de pouco tempo estejamos a bordo de uma avioneta à procura do desaparecido Rawlings por todas as ilhas.

 

- O que é que fazemos agora? - perguntou Lucy, nervosa.

Tinham confirmado a aproximação do fu­racão muito antes do previsto.

Nick, na ausência do director do hotel, ti­nha reunido todos os clientes no vestíbulo para os informar de que o furacão não assola­ria a ilha directamente, mas acabariam por re­ceber o impacto de uma forma ou de outra.

- Não podemos fazer mais nada senão es­perar – murmurou ele, passando uma mão pelo cabelo. - E agiste muito bem.

Melhor do que bem, na realidade. Tinha fa­lado com os clientes aparentando tranquilidade, como se enfrentasse furacões todos os dias.

- Obrigada.

- Pelo menos, conseguimos dormir esta noite - Nick suspirou, olhando para o relógio. - Tens medo? Ou será que é uma pergunta parva?

- É uma pergunta parva.

- Se os meteorologistas não se enganaram teremos apenas fortes ventos e muita chuva.

- Só umas «pequenas inundações» - tentou gracejar.

Nick sentiu o desejo de a abraçar. As mu­lheres que se desorientam durante uma crise são fastidiosas, mas não aquelas que tentam manter a aparência de normalidade numa si­tuação extraordinária.

E Lucy tentava aparentar normalidade.

Com aqueles calções e aquela camisa larga mais parecia um rapaz do que uma rapariga... que o enlouquecia.           

- E tu, tens medo? - Perguntou ela então.

- Pareço o tipo de homem que tem medo de algo? - Tentou gracejar.

- Toda a gente tem medo de alguma coisa.

- Batalhar contra os elementos não me assusta. O que seria aterrador era se algum dos clientes sofresse um ataque de pânico. Nunca tinha visto gente tão assustadiça.

- Sim, é verdade.

Lucy sentiu-se agradecida por estar com Nick naquela situação. Sem ele, teria sido muito mais difícil...

Então, percebeu que ainda não tinha pen­sado em Robert uma só vez desde que chegou à ilha.

E também percebeu que, por muito agradá­vel que fosse, por muito cómoda e pacífica que a sua vida pudesse ser com Robert, tinha que dar por terminada aquela relação assim que chegasse a Londres.

- Três homens protestaram porque vão perd­er umas reuniões de trabalho se o furacão durar mais de três dias. Como se nós pudésse­mos controlar os fenómenos meteorológicos.

- Os ricos costumam ser assim, caprichosos - Lucy sorriu.

- Telefonaste ao teu namorado para lhe di­zer o que se está a passar?

Ela corou.

- Não... a verdade é que foi tudo muito rá­pido.

A prova conclusiva de que a sua relação com Robert não ia a lado nenhum e de que não era o homem da sua vida.

- Talvez devas fazê-lo. Podemos ficar sem telefone. A menos, claro, que ele não se im­porte.

Lucy ergueu-se de um salto para se dirigir ao telefone. Robert não estava em casa, de modo que deixou uma mensagem no atende­dor explicando-lhe o que se passava e dizendo que não devia preocupar-se.

- Não está em casa? - Perguntou Nick.

-Não.

- A estas horas? Ah, claro, em Londres são três da manhã. Não anda na «borga», pois não?

- Às vezes, dorme em casa da mãe. Acho que ela é um pouco paranóica com a segu­rança e o Robert vai lá dormir para ela se tran­quilizar.

- Ah, estou a ver! Que estranho.

Lucy não achara nada estranho quando Ro­bert lhe contou. De facto, pareceu-lhe lindo.

- É um bom filho.

- Sim – murmurou Nick, interrogando-se se devia ou não pressioná-la um pouco mais. A sombra de Robert tinha-se transformado num estorvo para ele. - E o que é que ele faria se vocês se casassem? Continuava a dormir em casa da mãe?

Estava desesperado. Queria ouvi-la dizer que não tinham sido feitos um para o outro, que tinha cometido um erro ao sair com ele.

- Não sei – respondeu Lucy. - Não devias sair para ver como está o nosso rebanho?

- Certamente fará o mais sensato - conti­nuou, sem deixar que ela mudasse de assunto.

- O que é que é o mais sensato?

- Certamente vende o apartamento dele e pede que vás viver com ele para a casa da mãe. Mas aconselho-te a não aceitares esse acordo. As sogras podem ser muito difíceis, especialmente com um filho único...

- Obrigada pelo conselho.

- De nada. De facto, devias pensar se é boa ideia casar com um homem tão apegado à mãe.

Lucy podia dizer-lhe que já tinha tomado uma decisão acerca de Robert, mas negava-se a dar-lhe essa satisfação. Além disso, aquela atitude condescendente enervava-a.

- Eu acho que existe uma diferença entre um homem apegado demais à mãe e um ho­mem que sabe comportar-se como um bom fi­lho – replicou, dirigindo-se até à porta para dar a conversa por terminada.

Mas mal tocara na maçaneta da porta quando sentiu a mão de Nick no braço.

- Não estou a tentar imiscuir-me na tua vida privada. É que me sinto, de certo modo, responsável por ti.

- Porquê?

Quando estava tão perto, era-lhe difícil conseguir respirar. Tinha pensado que ao sair com outro homem esqueceria aquela estúpida atracção que sentia pelo seu chefe, mas... o sonho durara pouco.

- Suponho que é porque não és o tipo de mulher dura e sofisticada que consegue con­trolar...

- As suas emoções, a sua vida amorosa?

- Não quis dizer isso.

Lucy ouvia o vento a bater nas janelas d hotel, cada vez com mais força.

- Sei cuidar de mim mesma, muito obrigado... Vamos lá fora ver o que se está a passar?

Tinha que se afastar dele. Estava muito perto. E quando estava muito perto, recordava cada linha daquele corpo que vira nu há tantos meses atrás.

Podia empurrá-lo, mas desconfiava que se lhe tocasse nem seria capaz de se afastar e o seu segredo acabaria por ser descoberto. Se lhe tocasse, acabaria por lhe desabotoar a camisa para acariciar a sua pele dura e quente.

- Tens razão – disse, abrindo a porta. - Se ficarmos aqui durante muito tempo, certa­mente que mandam alguém vir buscar-nos.

Lucy entendeu então aquela estranha invasão da sua vida privada.

Na noite em que Nick chegou embriagado ao escritório, tinha-se criado um laço entre dois. Ela ajudou-o e talvez ele tentasse agora ajudá-la como que devolvendo-lhe o favor. ­Era só isso; só por isso é que mostrava inte­resse na vida dela.

Quando voltaram ao vestíbulo, todos clientes estavam à espera, angustiados.

Viram-se rodeados de gente que faziam perguntas e Lucy deixou-se levar até a uma esquina por duas senhoras idosas.

- O furacão está a afastar-se, não é? - per­guntou uma delas.

Lucy olhou por cima do ombro e decidiu que preferia as irmãs Norton às senhoras enjoadas que não paravam de se queixar que o furacão, sem nenhuma consideração, lhes estra­gara as férias.

Nick estava a dizer a toda a gente que de­viam fechar as portadas de todos os quartos para evitar que o vento partisse os vidros.

- Estás a ouvir, Mattie? Declararam-nos guerra! - Exclamou um velhote com aspecto militar.

- É um furacão. Não é a mesma coisa, queri­do.

Então, todos se lançaram numa discussão sobre as privações durante a guerra e Lucy sorriu. Ainda bem, pelo menos assim estariam ocupados com algo...

Nick aproximou-se para lhe dizer que ia sair com alguns empregados, porque tinham de fechar as contra-portadas por fora.

- Com a Lucy ficam em boas mãos – disse às irmãs Norton, que não eram assim tão velhas. Também os seus olhos brilharam ao observá-lo.

- Claro que sim – Gracie sorriu. - Tivemos sorte por você e a sua esposa estarem aqui de férias. Ainda bem que tem tempo para vir verificar o funcionamento dos seus hotéis pes­soalmente, não é, Edie?

- Claro – assentiu a sua irmã. - Além disso fazem um belo par .

Lucy abriu a boca para protestar, mas viu o brilho de advertência nos olhos de Nick.

- Vou-te deixar por um instante, querida, mas não te preocupes. Volto já.

Lucy pediu licença às duas senhoras e se­guiu-o até à porta.

- O que é que pretendes?

- Não me parece diplomático contar aos meus clientes a razão pela qual estou aqui. Um escândalo não seria nada bom para o ho­tel.

- Mas podias ter dito que sou tua secretá­ria, que vieste cá para...

- Para quê? Se não é uma viagem de negó­cios, o que é? Queres que pensem que esta­mos a ter uma aventura?

- Pensas que esta gente acreditaria que...?

- Provavelmente – assentiu. - Se não acreditarem que somos casados, certamente pen­sarão que estamos aqui a passar um bom bo­cado.

- Mas os empregados sabem quem somos.

- E estão treinados para não falarem da vida privada de ninguém. Lucy, as irmãs Nor­ton estão a olhar para aqui, vai falar com elas Pertencem a uma geração que acredita no ro­mance. Não é maravilhoso numa época de sexo e relações sem compromisso?

- Tem graça seres precisamente tu a dizer isso - replicou ela, mas não conseguiu continuar a falar, pois Nick inclinou a cabeça para procurar os seus lábios. E os lábios de Nick Constantinou sabiam a glória. Apertava-a com tanta força que os seus peitos contraí­ram-se contra o peito masculino.

- Nick!

- Vemo-nos mais tarde, querida.

- Mas...

- Esperas por mim? - Sorriu antes de se afastar, deixando-a a tremer como uma folha.

Lucy teve que sorrir quando as irmãs Nort­on a felicitaram por ter um marido tão bonito e tão carinhoso. Se soubessem a verdade!

Quase se sentiu aliviada quando um golpe vento arrancou uns arbustos e os lançou a rodar até à praia, com o subsequente alarme dos clientes.

 

Nick estava há quarenta e cinco minutos fora. E se lhe tivesse acontecido alguma coisa? A verdade era que o céu começava a ter aspecto muito ameaçador.

Lucy aproximou-se de uma das janelas e olhou para o céu, tão negro como se fosse meia-noite, apesar de serem apenas sete ho­ras.

- Espero que o teu marido esteja bem, que­rida – disse Edie. - Não vai acontecer nada, pois não?

- Claro que não.

Mas as palmeiras dobravam-se sobre si mesmas como se uma mão gigante as empur­rasse e os arbustos eram arrancados pela força do vento.

Naquele momento, um relâmpago ilumi­nou o céu e um trovão colossal fez estremecer o hotel.

- Que emocionante! - Exclamou Edie. - ­Nós somos velhas e necessitamos de algo como isto de vez em quando para dar emoção às nossas vidas.

Começou a chover pouco a pouco, pri­meiro umas quantas gotas que atingiam ritmi­camente os vidros, para depois se transforma­rem numa enxurrada que impossibilitava ver o que se passava lá fora.

Quando Lucy estava prestes a sair para ir à procura de Nick, a porta abriu-se e ele apare­ceu, completamente encharcado.

- Pobrezinho, a sua mulher estava muito preocupada consigo – disse Gracie.

- A sério, querida?

- Não sabia onde estavas.

- Não podemos fazer mais nada. Temos de os sentar e esperar que a tempestade passe. Vou mudar de roupa, vens?

- Claro que sim! - Exclamou Edie. - Olha como está a pobre, pálida como uma morta.

- Acho que devia ficar aqui – disse Lucy.

- De acordo – Nick sorriu, estendendo a mão para lhe acariciar o cabelo. - Tens a certeza?

- Absoluta.

- Diz-me, querida, onde é que puseste os meus boxers preferidos? Os pretos com coraçõezinhos vermelhos.

- Ah, meu Deus, infelizmente esses boxers foram comidos pelo cão antes de sairmos de Londres - replicou ela.

- Então, vais ter que me comprar outros - ­disse Nick, virando-se para as janelas. - É uma romântica. Adora surpreender-me com presentes.

Aquilo estava a ir longe demais. Na reali­dade, tudo aquilo não passava de uma brinca­deira. Uma brincadeira que a enervava. E que a fazia desejar... coisas que não devia desejar.

À distância, o mar era uma massa negra e ameaçadora que parecia aproximar-se cada vez mais do hotel. O panorama metia medo.

E Lucy sentiu-se reconfortada quando Nick voltou e lhe passou um braço pelos ombros. Eram a viva imagem do casal feliz enquanto olhavam pela janela, hipnotizados pelo poder do vento e da chuva.

Em situações extremas, o vento conseguia mover carros e levantar telhados, apesar de Nick não esperar que chegasse a tanto.

Comeram todos juntos no vestíbulo, por­que os clientes sentiam-se mais seguros ali do que nos seus quartos. Mas o almoço fez-se quase em completo silêncio. Ninguém tinha vontade de falar.

Tentando animar o ambiente, Lucy foi buscar jogos de mesa para todos.

- Eu vou trabalhar um pouco - disse Nick.

- Nem penses, querido. Temos que organizar grupos – ela sorriu, distribuindo baralhos e outros jogos. - E tu tens que formar uma equipa com a Edie, a Gracie e comigo para jogar ao Monopólio.

- Não gosto de jogos de mesa!

- Não sejas desmancha-prazeres.

Claro, Nick teve que se render. A situação ­não permitia que se pusesse ali a discutir. Sobretudo, depois de terem passado a imagem de casal feliz.

- Estes dados estão contra mim! - Queixou-se quando terminou na prisão pela décima vez.

- Espero que sejas um bom perdedor.

Apesar do vento continuar a bater com força nas janelas e nas portas do hotel, Lucy tinha conseguido animar um pouco os clientes e fazer com que esquecessem o furacão que se aproximava de forma inexorável.

Devia ter ganho o jogo. Tinha os melhores hotéis, os melhores prédios... mas entretanto ficaram sem luz.

No meio da confusão, Nick pegou na mão dela e anunciou que toda a gente devia ir para o seu quarto, que não deviam ter medo e que os empregados tratariam de tudo o que fosse necessário.

Na realidade, era reconfortante estar com ele. A seu lado, era como se nada de mal pu­desse acontecer.

- A Lucy e eu vamos estar na suite Tucano... Juntos na suite? Do que é que ele estava a falar?

- Espera um momento...

Nick fez-lhe um gesto com a mão.

- Cada um deve levar uma lanterna. Nada de velas, por favor. E tentem poupar as pilhas.

«No caso de terem que as utilizar durante uns dias, claro», pensou Lucy. E o que é que ia fazer fechada numa suite com Nick durante uns dias?

Lucy tinha o coração acelerado e, quando terminaram de distribuir as lanternas, um monte de perguntas que nada tinham a ver com o furacão.

- Como é que vamos dormir...?

- Senhor Constantinou, agradecemos imenso que nos tenha mudado de quarto. O nosso ficava muito longe – interrompeu-a Gracie Norton.

- Não foi nada. Pensei que assim se sentiriam mais seguras.

- Muito obrigada, senhor Constantinou.

Quando a velhota se afastou, Lucy virou-se para ele, atónita.

- O que é que...?

- As tuas coisas estão na suite – disse Nick.

- Isto é ridículo.

- Não te esqueças que somos um casal. Temos que permanecer unidos.

- Mas isto não fazia parte do acordo! - Protestou ela.

- Também não sabia que ia haver um fura­cão. A vida é assim mesmo.

Depois de deixar Gracie e Edie no quarto, entraram na suite e Lucy virou-se com as mãos nas ancas.

- Isto é uma farsa.

Mas a sua atitude agressiva perdeu-se na escuridão, apenas quebrada pela limitada luz da lanterna.

- Que mais podia eu fazer?

- Onde é que eu vou dormir agora?

- Na cama, claro. Pega na lanterna. Vou tomar um duche, mas vou ter que deixar a porta da casa de banho aberta.

- Não podes deixá-la aberta!

- E como é que eu vejo? Queres que parta a cabeça?

Enquanto ele tomava duche, Lucy colocou as suas coisas no armário e, quando Nick saiu da casa de banho, apenas embrulhado numa toalha, virou-se, disposta a continuar a protes­tar.

- E antes que perguntes, não tenciono dor­mir no sofá. Quer queiras quer não, vamos partilhar a mesma cama.

- Mas...

- Não há outro remédio, Lucy. Já podes ir tornar banho. Quando saíres, já estarei de­baixo dos lençóis na minha parte da cama. Nem sequer vais ter que me tocar.

Impossível, claro! Era impossível estar na cama com ela e não lhe tocar!

Lucy pensou que ele estava a dormir. Não a surpreendia. Não era muito tarde, mas estavam todos esgotados. Sobretudo ele, que tivera que verificar as cozinhas, a despensa, as palmeiras que rodeavam o hotel para que nenhuma caísse sobre o edifício... para não falar das relações públicas que teve que fazer com os clientes.

Devia estar exausto.

Deitou-se, tentando por todos os meios não roçar nele. Mas dez minutos depois acal­mou-se. Claro que não ia acontecer nada. Es­tavam apenas a partilhar a mesma cama de­vido às circunstâncias.

O ruído da chuva a bater nas janelas estava a adormecê-la... e foi então que Nick lhe per­guntou se estava bem.

Lucy abriu os olhos e virou-se, sem pensar. E então tocaram-se.

O seu joelho roçou na perna dele. Uma perna nua. E, ao mover-se, tocou em algo que também estava nu: algo duro e erecto.

 

- Nunca durmo com pijama.

Desejava-a. Na realidade, era mais do que desejo, era uma força que crescia dentro dele, que andava a crescer há meses.

E tudo funcionava a seu favor. Tinha pen­sado seduzi-la e os eventos pareciam estar a favorecer essa tentativa de sedução. A ilha exótica, o calor, o repentino furacão...

Aquele bendito furacão que atingia as jane­la com força. Durante uma crise, as pessoas costumavam procurar refúgio noutra pessoa.

O facto de partilharem a mesma cama tinha sido providencial. E, sobretudo, a estupenda desculpa de não deixar as velhas irmãs isola­das do resto dos hóspedes.

E Lucy também o desejava. Sentia a atracção que havia entre eles como uma corrente eléctrica, apesar de ela o negar.

O problema era que depois de montar o ce­nário, já não queria seduzi-la. Queria que ela o seduzisse a ele, queria que Lucy admitisse a atracção existente entre os dois.

Mas Lucy tinha-se afastado como se ele a queimasse.

Seria tão fácil encurtar os escassos centímetros que os separavam... seria tão fácil tocá-la.

- Devias ter vestido alguma coisa!

- Sim, é verdade.

- E porque é que não o fizeste?

Nick apoiou-se num cotovelo.

- Porque quero fazer amor contigo.

- O quê?! - Exclamou ela, sentando-se na cama.

- Sabes que me sinto atraído por ti, Lucy.

Não digas que não.

- Viemos em trabalho! E és o meu chefe!

- Isso não nos deteve há oito meses atrás.

- Isso foi diferente!

- Sim, é verdade. E agora quero fazer amor contigo sóbrio.

Depois de falar, esperou um segundo para ver a sua reacção.

Pelo menos, ainda não tinha fugido dele.

Mas sabia que se se aproximasse um centíme­tro mais, certamente o faria. Nem que tivesse que dormir na casa de banho.

- Lamento, mas não pode ser.

- Porque não?

- Porque... porque eu não sou o teu tipo! Já falámos acerca disso, lembras-te? Não faço o teu tipo e a única razão pela qual aquilo acon­teceu foi por que... não havia mais ninguém por perto.

- Parece-me que subestimas a tua beleza. Lucy olhou-o, atónita.

- Além disso, eu tenho namorado!

Mas não deixava de pensar no que Nick lhe dissera. Achava-a bonita? Estava apaixonada por ele há tanto tempo que ouvi-lo dizer isso deixava-a meio aparvalhada.

Mas conhecia-o muito bem. Podia sentir-se atraído por ela porque estavam em circunstâncias particulares, confinados a uma ilha atin­gida por um furacão.

Mas, quer admitisse ou não, ela não era o seu tipo, tal como não o era oito meses antes, quando conversaram e, supostamente, deixaram as coisas bem claras.     

Nick Constantinou não apreciava mulheres baixinhas, louras e de peito pequeno.

Além disso, tinha visto como tratava as mulheres. Depois de Gina, nenhuma durara mais de uma semana. Por tudo isso, devia agarrar-se à memória de Robert. Apesar de ele não ser o homem da sua vida, o amor acabaria por aparecer mais tarde ou mais cedo.

- Não é verdade, não tens namorado ne­nhum.

- O que é que queres dizer com isso?

- Que não amas o Robert. Esqueces que te vi com ele. São apenas bons amigos, apesar de ele querer algo mais.

- As relações duradouras costumam sair de uma boa amizade.

- Vais acabar por cair da cama se continua­res a afastar-te. Não te preocupes, Lucy, não te vou tocar... se não quiseres, claro.

- Claro que não quero!

- Tens a certeza?

- Claro que tenho!

O silêncio prolongou-se durante uns segundos. Por cima do ruído da chuva que atingia os vidros, Lucy podia ouvir os latidos do seu cora­ção. E mesmo não querendo, conseguia decifrar por entre as sombras o peito masculino... nu.

- Então, se te tocar no braço com um dedo não queres que continue até cima? - Murmurou Nick, passando das palavras aos actos. ­Não queres que te acaricie o pescoço?

- Não quero ouvir-te! - Exclamou Lucy, tapando os ouvidos.

- Cobarde.

- Não gosto de aventuras de uma só noite

- Mas nós já fizemos isto - Nick sorriu. - Sabes que ficaste um pouco morena? Que tal um banho nua na praia comigo? Gostaria ­te ver morena por todas as partes.

Lucy não respondeu e Nick atreveu-se a acariciar suavemente a sua boca com um dedo. E então, com um gemido de rendição, ela aprisionou o dedo entre os seus lábios.

- Queres que pare? Queres que me vista e me comporte como um cavalheiro?

- Quero que...

- O quê? Dormir no sofá? No chão? Ou queres que façamos amor como loucos?

Lucy fechou os olhos.

- Sim! Sim, sim, sim. Faz amor comigo, Nick. Quero que...  

Aquelas palavras eram como música celes­tial. Se lhe tivesse dito para se vestir, teria tido que tomar um duche de água fria antes de conseguir voltar para a cama.

Mas não.

Nick ergueu-se um pouco para a beijar. Um beijo terno, longo...

- Lembras-te da última vez que fizemos amor?

- Última... e primeira.

- Acho que foi maravilhoso, mas não tenho certeza. Tu também gostaste?

- Muito - sussurrou ela.

Nick beijava-a suavemente no pescoço, enquanto puxava a camisa. Mas ao ver os seus seios nus, não conseguiu controlar-se e despiu-a de um puxão. Excitado, agarrou-lhe mãos para a admirar com prazer.

Tinha os peitos pequenos, mas admiravelmente proporcionais. Altos, brancos, co­m grandes auréolas... e bastava olhá-los para sentir um calafrio de desejo.

- Não fiques a olhar.

- E o que é que queres que eu faça, professora?

- Toca-me.

- Assim?

Nick começou a acariciar-lhe os seios co­m as duas mãos, massajando-os, passando o polegar pelos mamilos duros.

- E agora?

- Já sabes o que quero!

- Quero que me dês instruções.

- Excita-te? - Lucy sorriu.

- Tudo o que fazes me excita. Tens uns seios lindos.

- Então, porque é que...? - Lucy ficou vermelha.

- Queres que te faça isto?

Nick começou a beijar-lhe os peitos, a acariciá-los com a língua, chupando avidamente os mamilos até Lucy começar a estremecer de prazer.

Lucy enredou os dedos no seu cabelo e quando olhou para baixo viu a cabeça escura dele movendo-se sobre o seu peito, chupando o mamilo enquanto acariciava o outro com a mão. Era um bombardeio de sensações.

Sentia o louco desejo de se tocar a si mesma, mas tinha vergonha. Necessitava que a tocasse ali.

Estava húmida e ele pareceu aperceber-se disso, porque começou a deslizar para baixo, sem deixar de a beijar por todo o lado, até chegar às cuequinhas.

Em vez de lhas tirar, abriu-lhe as pernas e começou a beijá-la por cima do tecido.

Era um gesto muito erótico e Lucy fechou os olhos, levantando as ancas instintivamente.

Tinha as cuecas húmidas quando, por fim, ele lhas tirou... e ao sentir a língua dele, teve que morder os lábios para não gritar.

Nick colocou as mãos sob as nádegas dela de forma a controlar-lhe os movimentos, to­mando o seu tempo, torturando-a.

- Agora, querida – murmurou, quando Lucy estava prestes a atingir o orgasmo. - É a tua vez.

E ela obedeceu. Era maravilhoso fazer algo com o qual apenas sonhara. Acariciou cada centímetro do corpo masculino, experimen­tando uma tremenda sensação de poder cada vez que o fazia tremer.

Excitada com tantas sensações novas, sugou os escuros mamilos masculinos, enquan­to esfregava o corpo de forma provocadora até que Nick teve que cerrar os dentes.

Fazer amor era uma experiência liberta­dora. Fazia-a sentir-se como uma mulher nova, diferente.

Tentou colocar-se sobre ele, mas Nick dei­tou-a de costas.

- Da próxima vez. Agora necessito de ser eu a controlar.

Quando a penetrou, cada músculo do seu corpo pareceu ressuscitar. Agarrou-se aos om­bros dele, enquanto Nick a possuía, cerrando os lábios, gemendo.

Por fim, derramou-se nela e só então, quando estavam um nos braços do outro, Lucy se lembrou que não tinham usado pro­tecção.

Talvez Nick pensasse que ela tomava a pí­lula. Ou talvez não viajasse com preservati­vos. A questão era que o tinham feito sem bar­reiras, ambos perdidos naquela selvagem e repentina paixão.

- No caso de estares a pensar nisso, neste momento estamos seguros.

- Não te entendo.

- Não estou a ovular, pelo que não há problema.

- Isso é um convite? - Nick voltou a sorrir.

- É imaginação minha ou está a deixar de chover?

Ficaram ambos em silêncio durante um momento.

- Acho que sim. Vou ver.

Nick saltou da cama e, quando a luz da lua iluminou o seu corpo nu, Lucy ergueu-se para ir para junto dele.

- Sim, está a parar de chover - murmurou ele, passando-lhe um braço pelos ombros.

- Ainda bem.

Lucy apoiou a cabeça no seu peito, suspi­rando. Aqueles eram prazeres roubados, me­mórias que devia guardar para sempre.

- O vento também amainou. Amanhã, po­demos começar a organizar tudo.

Quando a olhou, nua como ele sob a luz da lua, voltou a desejá-la como se fosse a primeira vez.

Não se enganara. Fazer amor com Lucy ti­nha sido tão excitante como recordava. E não havia nenhum vazio, não desejava ir-se em­bora para ficar sozinho como lhe acontecia com outras mulheres.

- Vamos lá fora?

- Lá fora?

- Até ao terraço, para sentirmos a chuva na cara.

- Não achas que é perigoso?

- Já não. O vento amainou e amanhã de manhã teremos sol outra vez.

- Mas...

Nick abriu a porta do terraço. A água da chuva era quente e Lucy desfrutou da brisa fresca, que cheirava a maresia.

Gostava de estar ao ar livre, nua. Nick abra­çou-a por trás, apoiando a cara sobre o seu ca­belo.

- Se olhares bem, podes ver o mar. Apesar ­da praia estar certamente coberta de algas.

Enquanto falava, acariciava ternamente os seus seios, maravilhando-se com a sua perfei­ção, com o facto de parecerem ter sido feitos para ele. Então, deslizou a mão pelo seu estô­mago até ao triângulo de pêlo louro entre pernas.

- Podemos ir à praia quando amanhecer ­murmurou, sem deter a sua exploração, desli­zando os dedos entre as pregas húmidas.

Lucy devia sentir vergonha. Na realidade nunca fizera nada assim na sua vida.

Tudo em redor estava molhado, mas o fura­cão não parecia ter causado grandes danos.

- Este hotel foi concebido para aguentar tempestades tropicais - murmurou Nick. - É muito difícil arrancar as palmeiras pela raiz. Gostas disto, querida?

- Sim – respondeu Lucy, virando-se para o acariciar.

- Acho melhor não voltarmos para a cama. Estamos encharcados.

- Então, o que é que sugeres?

Nick pegou nela ao colo e Lucy enredou as pernas à volta da sua cintura. Nunca fizera amor naquela posição. E muito menos nua, num terraço, sob a chuva.

Ele era muito forte e movia-a com prazer, apoiando-se na parede e segurando-a pelas ancas até atingirem o orgasmo quase em uníssono.

Após o duche, Nick secou-a com uma toa­lha de cima a baixo e, minutos mais tarde, voltaram a enfiar-se na cama. Lucy estava tão exausta que adormeceu.

Acordou na manhã seguinte, mais descontraída do que nunca.

Nick não se enganara. O sol espreitava no horizonte... mas quando estendeu a mão, encontrou o outro lado da cama vazio.

Óptimo! Não tinha sido uma aventura de uma só noite. Tinha sido uma aventura de duas noites.

Mas negava-se a ter remorsos. Nick não lhe prometera nada, apesar de terem vivido umas horas mágicas, enternecedoras e apaixonan­tes.

A única questão era: como fingir que nada se passara?

Não sabia o que esperar, enquanto descia até ao restaurante do hotel, onde era suposto estarem todos reunidos.

Ouviu vozes antes de chegar. Nenhum cliente ficara na cama até mais tarde naquela manhã.

A única pessoa que faltava era Nick.

- Anda a verificar os danos provocados pelo furacão, querida – informou Gracie.

- Ah, não sabia.

- Vi-o sair às sete da manhã com uns empregados. É assombrosa a rapidez com que tempo muda, não é? Ontem estávamos no meio de um furacão e agora faz sol.

- Maravilhoso – sorriu Edie. - É uma pena que em Inglaterra não tenhamos um tempo assim.

- De facto,

- Já tomaste o pequeno-almoço? Pareces cansada.

- Não dormiste bem?

- Gracie, não te metas onde não és chamada – repreendeu-a a irmã. - Isto do furacão é muito emocionante. Acabo de falar com coronel e vamos jantar juntos esta noite. Disse que não conseguiu pregar olho, imagi­nando que o hotel lhe podia cair em cima.

Quando Lucy ergueu o olhar, viu Nick a entrar no restaurante. E o seu coração sofreu aperto. Usava calções e um pólo creme.

Tinha um aspecto descuidadamente elegante, como sempre.

Chamou-o com a mão.

- Houve muitos danos?

Parecia ridículo manter aquela conversa quando umas horas antes tinham estado a fazer amor debaixo da chuva.

- Não tantos como esperávamos – respon­deu ele, passando-lhe um braço pelos ombros. – Mas para alguns dos ilhéus foi um desastre. Perderam as colheitas. Por agora, estabeleci um plano com a cozinha do hotel para que ninguém fique sem comida e vou ajudá-los economicamente para possam recuperar-se.

- Isso é maravilhoso! - Exclamou Gracie. Era estranho ter-se apaixonado por aquele homem?, interrogou-se Lucy, emocionada.

- Podemos ajudar em algo? - Perguntou Edie.

- Claro que sim. Podem ajudar na cozinha.

- Maravilhoso! Toda a gente, mãos à obra!

- Acho que têm que ser supervisionados - disse-lhe Nick ao ouvido. - Esta gente nunca entrou numa cozinha. Acho que nem sabem estrelar um ovo estrelado.

- Nick, sobre ontem à noite...

- Sim?

- Bom, digamos que não há necessidade de te mostrares carinhoso em público.

- E o que é que pensariam os meus clientes se não me mostrasse carinhoso num momento como este? Acabámos de sobreviver a uma situação perigosa.

Claro, era isso. O que pensariam os seus ­ilustres clientes?

Todos acreditavam que eram um casal fe­liz. Para Lucy, o braço que tinha sobre os ombros começava a ser como um peso morto, mas não conseguia afastar-se com tanta gente em redor.

O espectáculo devia continuar.

- Suponho que a Gracie e a Edie já podem voltar para o quarto delas.

- Sim, claro. Vou pedir a um emprega que trate das coisas delas.

- Muito bem. Nesse caso, eu vou mudar as minhas coisas.

- Do que é que estás a falar? Tu ficas comigo.

-Como?

- Não achas que me conformo com uma só noite, pois não? Tu conformas-te?

- Bom...

- Admite, tu também não - Nick sorriu. - Desejas-me tanto como eu te desejo a ti. De facto, gostaria de fazer amor agora mesmo. Gostaria de te deitar sobre uma toalha, com o som do mar a poucos metros e o sol a banhar os nossos corpos nus.

E nunca dissera nada tão a sério em toda a sua vida.

Pensava que deitar-se com Lucy uma vez mais seria suficiente, mas começava a pensar que nunca ia conseguir afastar-se dela.

Apenas lhe restava solucionar o assunto de Robert.

«E quando voltarmos a Inglaterra?», quis perguntar Lucy. Seria o seu desejo tão pode­roso a cinco mil quilómetros de distância? Sabia o pouco que lhe interessavam as mulheres com quem andava. Mulheres lindíssimas. Tudo isso, porque nunca se recuperara da morte da esposa. Ninguém podia competir com a sua memória e muito menos ela, uma mulher por quem Nick nunca sentira interesse.

Se continuasse a dormir com ele, seria ape­nas uma questão de tempo. Um dia, veria a indiferença reflectida nos seus olhos e quando isso acontecesse não só o perderia a ele, como também perderia o seu emprego.

- Acho que não é boa ideia continuarmos a fazer isto.

Não era isso que Nick esperava ouvir e as suas palavras foram como uma bofetada.

- Agora temos que controlar o que os clientes andam a fazer na cozinha. Mas esta con­versa ainda não terminou.

- Porque não terminou como tu querias?

- Que bem que me conheces, querida.

O que é que isso significava?

Lucy pensou naquela questão durante todo o dia, enquanto ajudava a limpar a praia, guardava comida em caixas térmicas e controlava o que os clientes faziam para se man­terem ocupados.

Mal viu Nick. Estava a verificar os danos e a falar ao telefone. Pelos vistos, haveria um barco disponível no dia seguinte, mas a avio­neta que costumava transportar os clientes do hotel só estaria reparada dentro de dois dias

Às seis da tarde, Lucy pediu a todos que descansassem um pouco e ela mesma foi tomar um duche, decidida a terminar de uma vez por todas com aquela relação absurda não ia levá-la a lado nenhum.

Só não esperava ver Nick ao sair do duche. Estava muito sério, com os braços cruzados.

- Como é que entraste?

- Imaginei que fecharias a porta da suite. Por isso, levei a chave da porta do terraço.

Lucy ficou gelada.

- Isso é... Não consigo falar assim contigo. Tenho que me vestir.

- Porquê? Tens que usar um fato para me dizeres que não queres continuar a manter re­lações comigo?

- Não trouxe fato nenhum – replicou ela, tentando aparentar certa tranquilidade.

- Desejas-me e eu desejo-te. É muito simples.

- Não é o meu estilo andar a dormir com o chefe, Nick.

- Não era isso que pensavas ontem à noite.

- Ontem à noite...

- Fizeste o que querias fazer e desfrutaste de cada segundo, como eu. A vida é muito curta para negarmos o prazer, Lucy.

- Fala por ti mesmo – replicou ela.

Nick estendeu a mão para lhe acariciar o pescoço.

- Não gostas? Sei que sim – murmurou, metendo a mão por debaixo da toalha. - Vês? Tens os mamilos duros.

Não tinha planeado fazer aquilo, mas a atracção que sentia por ela era muito forte, selvagem. Sem dizer mais nada, tirou-lhe a toalha com um puxão e Lucy ficou à sua frente completamente nua. Então, Nick bai­xou a mão e colocou-a entre as suas pernas.

E ela não conseguiu continuar a fingir. Rendida, ergueu a cara e ofereceu-lhe os lábios.

Robert era a segurança, mas já tinha deci­dido que não queria segurança.

Também não continuaria com Nick, mas valia a pena desfrutar daqueles dias juntos.

Nick Constantinou era o homem da sua vida. «A segurança que vá para as urtigas», pen­sou.

- Vais terminar tudo com o Robert quando regressarmos a Inglaterra.

- Sim...

Uns dias, umas semanas. Talvez estivessem juntos durante uns meses.

Podia partir-lhe o coração, mas estava dis­posta a arriscar-se.

 

Lucy olhava pela janela da cozinha, com o rosto entre as mãos e uma chávena de chá sem tocar sobre a mesa.

Estava a chover. Não era a chuva selva­gem que vira há seis semanas atrás, nas ilhas, mas uma típica chuva inglesa. Fria e intermi­nável.

Três vezes por semana, contra a vontade de Nick, dormia ali.

- Deixa-o. É um apartamento muito pe­queno e fica longe. Vem viver comigo.

Ela recusou, apesar da tentação de acordar todas as manhãs ao lado do homem que amava ser tão forte como um trago de água para um sedento.

A realidade era que, apesar de fazerem amor apaixonadamente nos sítios mais ina­propriados, Lucy sabia que aquela paixão era algo transitório. Estava a durar mais do que ela previra, mais do que qualquer outra relação de Nick após a morte da esposa, mas «amor» era uma palavra que Nick Constanti­nou nunca pronunciara. Nem sequer enquanto faziam amor.

Lucy interrogava-se sobre qual seria a sua reacção quando lhe desse a notícia.

Ia buscá-la dentro de meia hora para irem almoçar fora. Depois iriam ao cinema pare ver uma comédia romântica.

Que fácil seria pensar que, talvez sem se aperceber, Nick também a amava.

Ter-lhe-ia pedido para ir viver com ele se não a amasse? Passaria tanto tempo a contemplá-la no escritório se não a amasse?

Mas se a amasse, dir-Iho-ia. Tinha a cer­teza. E falar-lhe-ia acerca da sua vida. De ­tudo.

Então, o que é que ia acontecer? Lucy bebeu um pouco de chá.

E apesar de estar à espera dele, quando o ouviu chegar sentiu um nó no estômago.

- Pensei que nunca mais abrias a porta _ sorriu, abraçando-a. - Passei o dia a pensar em ti, bruxa. E porque é que estás a usar uma camisola tão grossa? Assim não posso tocar-te.

- Porque está frio.

- Mas assim não posso fazer nada contigo no cinema.

Lucy soltou uma gargalhada.

- Só os adolescentes é que fazem esse tipo de coisas no cinema, parvo.

- Tu fazes-me sentir como um adolescente.

Nunca se sentira tão vivo. As noites de pai­xão na ilha tinham continuado em Londres. Não se cansava dela. Pelo contrário.

- Isso é bom ou mau? - Perguntou ela, pe­gando na mala. Tinha preparado um discurso, mas não podia dizer nada. Sentia-se incapaz.

-Tens fome?

- O quê?

- Tens fome? O restaurante onde vamos fica a quarenta minutos daqui. E depois de­moramos outros quarenta minutos a chegar ao cinema.

- Vejo que vais sugerir alguma alternativa.

Mais tarde. Dir-Ihe-ia mais tarde. Não que­ria estragar aquele domingo.

- Se eliminarmos o restaurante...

- Então e o melhor peixe frito do país? Já não provo?

- Como ia dizer, se eliminarmos o restau­rante e formos a um sítio mais perto do ci­nema, poupamos uma hora e meia. E isso dá-nos tempo para...

- Para quê? - Lucy sorriu.

Embora não tivesse dúvidas. O brilho da­queles olhos dizia tudo.

Continuava a pensar que deviam conversar antes que terminasse o dia, mas, como uma cobarde, deixou-se convencer.

- O que é que achas? - Nick sorriu, pu­xando-lhe a camisola. - Bem, sem soutien. Que delícia! -murmurou, acariciando-lhe os peitos.

Como é que podia resistir? Como é que lhe diria o que tinha a dizer?

Fazer amor com ele era como estar no céu.

Era muito fácil adiar a parte desagradável, mesmo para uma pessoa como ela, que en­frentava sempre as adversidades.

Durante o filme, Lucy não conseguiu con­centrar-se. E assim que saíram, disse-lhe que tinham que falar.

-Aqui?

-Não.

Nick era lindíssimo. Todas as mulheres olhavam para ele com admiração e interro­gou-se se ela teria feito o mesmo quando ele ainda era casado.

- O que é que se passa, querida?

- Temos que falar. Podíamos ir...

- Para a minha casa?

-Não.

Não podia ir para nenhum sítio onde a ten­tação de o tocar fosse irresistível.

- Então, vamos para a tua.

- Não.

- Acho que é muito tarde e está muito frio para nos sentarmos num banco de jardim.

- Vamos ao escritório!

Nick olhou-a como se estivesse louca.

- Agora? Num domingo à noite?

-Sim.

Ele encolheu os ombros. Mas interrogou-se sobre se ela queria falar sobre compromissos, sobre formalizar a relação. E pensou sobre qual seria a sua reacção.

Surpreendentemente, não sentiu vontade de fugir, como noutras ocasiões. Talvez de­sejasse ir viver com ele, embora quisesse pôr algumas condições. Ouvi-Ia-ia, claro. Estava quase louco por não a ter perto todos os dias.

Tinha a sensação de que talvez Lucy qui­sesse falar de casamento. Intuía que ela dese­java casar. E Nick necessitava de Lucy, mais do que de qualquer outra coisa na vida. Os seus risos, os seus comentários, a sua forma de fazer amor.

Mas necessitava tanto dela ao ponto de se casarem? A lembrança de Gina e das esperan­ças que empregara naquele casamento regres­sou à sua mente, relembrando-Ihe que jurara não voltar a cometer o mesmo erro.

Só quando o táxi se deteve diante do edifí­cio é que Nick se apercebeu de que tinham viajado em silêncio. Pela primeira vez.

- Não é preciso ficares com cara de enterro - disse-lhe na brincadeira.

Lembrou-se então que talvez ela não qui­sesse ir viver com ele. Pelo contrário... talvez quisesse terminar a relação. E esse pensa­mento provocou-lhe um nó no estômago.

O rosto de Lucy, normalmente transpa­rente, era hermético naquele momento. E quando subiram no elevador, não se apoiou no ombro dele como habitualmente. Ficou do outro lado, pensativa.

O quinto piso estava às escuras e Nick foi acendendo as luzes.

- Bom, diz-me o que se passa – disse ao chegarem ao gabinete dele. - Deixa-me ver se adivinho. Queres formalizar a relação. Apesar de não entender porque é que não podíamos falar sobre isto em minha casa ou na tua.

- Nick, eu...

- Senta-te aqui, ao meu lado. Não fiques de pé.

Lucy sentou-se numa cadeira afastada. - O que eu quero dizer...

- Pedi-te que vivas comigo. É muito mais do que fiz com qualquer outra mulher.

- Sim, mas o que eu queria dizer era que ...

- Queres acabar comigo, não é?

Que mais podia ser?!

- Nick...

- É isso que me vais dizer? - interrompeu-a ele, levantando-se.

- Queres deixar-me falar? E pára de te me­xer, estás a pôr-me nervosa!

Nick ergueu as mãos num gesto de paz e deixou-se cair novamente no sofá, tentando dissimular o seu nervosismo.

- E então?

- Estou grávida.

O silêncio estendeu-se muito mais do que ela esperava. Muito mais.

- Pensei que não havia possibilidade de engravidar enquanto estivemos na ilha... e co­mecei a tomar a pílula assim que regressá­mos. Mas pensei mal. Nem queria acreditar quando fiz o teste há uns dias atrás, pelo que fui ao meu ginecologista. Ele disse-me que, por vezes, a ovulação altera-se por uma mu­dança de clima ou por algum acontecimento inesperado...

Nick não disse nada. De facto, permanecia estático.

No fundo, Lucy pensara que ele ficaria contente. Mas que ingénua era!

- Ora, vejo que não és diferente das outras, não é, Lucy? Quando é que planeaste tudo isto? Quando é que decidiste que engravidar era a melhor forma de teres acesso à minha conta bancária? Da primeira vez que o fize­mos, aqui, no sofá?

- O que é que queres dizer?

- Sabes muito bem o que é que quero dizer. Diz-me uma coisa, a ideia foi tua ou o Robert também entrou no plano? Ah, já entendi. O Robert e tu planearam tudo juntos. Nunca co­meteste o erro de falar no anel de noivado, nem sequer querias ir viver comigo... porque nunca quiseste casar comigo. O plano era simplesmente engravidar e convencer-me de que sou o pai para te sustentar a ti e ao teu amante!

Lucy olhava-o, incrédula.

- O que é que estás a dizer?!

- Não te armes em inocente! - exclamou Nick, levantando-se de novo. - Tens dormido com os dois ao mesmo tempo? Ah, claro que sim. Por isso é que querias ter uns dias livres por semana. Ou será que usaste aquele pobre idiota tal como me usaste a mim?

- Como é que podes dizer essas coisas?!

- Porque é a verdade!

- Enganas-te, Nick. Como podes pensar isso? Não vejo o Robert desde que voltámos a Inglaterra.

- E como é que sei que isso é verdade? Não estamos sempre juntos. Tu querias ter uns dias para ti, não era, Lucy?

- Não, o que eu queria...

Fizera isso para não o aborrecer, para que não se fartasse dela... Lucy tinha os olhos cheios de lágrimas que tentava conter. Estava convencida de que Nick acabaria por amá-la. Que enganada estava...

A julgar pela sua reacção, Nick Constantinou nunca a amaria. Olhava-a como se fosse uma estranha, uma inimiga.

- E mesmo que tu e o teu amante não tenham planeado isto juntos, evidentemente é o vosso passaporte para uma vida de luxos. To­maste-me por um idiota, Lucy. E deixa que te diga uma coisa: ninguém, absolutamente nin­guém me toma por idiota.

- Enganas-te. Nunca te tomei por idiota, nunca me quis rir de ti.

- Não, apenas sobrestimaste a tua influência, querida.

Lucy afastou o rosto, como se estivesse a chorar. Bela imagem de inocência! Apesar de saber que era mentira, Nick teve que fazer um esforço para não a abraçar.

Aproximou-se da janela, de onde podia ver todo o centro de Londres, e segundos depois virou-se com expressão hostil.

- Pensavas que estaria disposto a pagar o que quer que fosse pelo filho de outro ho­mem?

- Porque é que continuas a dizer que o fi­lho não é teu?! - Exclamou ela, levando as mãos ao ventre num gesto protector.

Nick não respondeu.

- Ou talvez imaginasses que o que sentia por ti era amor.

Ao dizê-lo, percebeu algo terrível. Estava apaixonado por ela. Lucy não fora apenas uma companheira de cama, mas só se apercebera disso naquele momento. Precisamente naquele momento.

- Não, eu...

- Porque se imaginas isso, enganas-te!

Queria magoá-la tanto como ela estava a magoá-lo a ele.

- Nunca te amei! Sim, somos compatíveis na cama, mas nada mais. Admito que gosto de estar contigo, mas amor... não me faças rir. Existe uma grande diferença entre o desejo e o amor.

- Sim, de facto – replicou Lucy. - E agora que disse o que queria dizer, não faz sentido continuar aqui – adiantou, levantando-se.

Quando Nick a imaginou a caminhar até ao seu apartamento, uma figura diminuta envolta naquele abrigo, sentiu um aperto no coração:

Teve que recordar-se a si mesmo que certamente iria ter com o seu amante. Não estaria sozinha.

_ Quando é que queres que saia da empresa?

- Agora mesmo.

Nick seguiu-a até ao gabinete.

- Não precisas de vir atrás de mim. Não te vou roubar nada - afirmou ela, guardando um livro e uma caneta. A planta teria que ficar.

- O que é que faço às coisas que tenho em tua casa?

- Envio-tas.

- E o ordenado?

- Ah, é isso que importa, não é? Não te preocupes. Falarei com o departamento de pessoal para te enviarem um cheque. Mas se pensas que vais receber mais do que aquilo que te corresponde, estás enganada.

Lucy ergueu o queixo, orgulhosa.

- Perguntei pelo ordenado, porque vou pre­cisar de dinheiro para cuidar do meu filho. Sei que esta criança não te interessa, mas não te convenças de que é de outro homem, porque não é. Podes inventar as razões que quiseres para justificar o teu comportamento, mas es­tarás a mentir a ti mesmo. Nunca pensei que fosses um cobarde, Nick, mas és.

Entreolharam-se durante uns segundos, ambos furiosos.

- Vai-te embora.

- Adeus, Nick.

Tudo aquilo era um pesadelo. Dissera-lhe realmente aquelas coisas tão horríveis? Ti­nha-a realmente acusado de querer enganá-lo, de planear tudo aquilo com Robert para ficar com o seu dinheiro? Pensava realmente que o filho não era seu?

Lucy nem queria acreditar.

Chegou ao seu apartamento milagrosa­mente e passou a noite a pensar em qual seria o seu passo seguinte.

Tinha que contar tudo aos pais. Seria urna desilusão para eles, mas necessitava da sua ajuda. Não podia criar um filho sem eles. Es­pecialmente em Londres, onde tudo era caríssimo.

De modo que tinha que ir para a Cornualha. Felizmente, conseguira fazer algumas pou­panças. Mas o dinheiro evaporava-se rapida­mente e não podia estar sem trabalho durante muito tempo.

No dia seguinte, ao dirigir-se à agência de emprego, lembrou-se que não tinha referên­cias. E necessitava delas. Apesar de Nick se negar a dar-lhas.

Telefonou-lhe para a linha privada e quando ouviu a voz dele, teve que levar uma mão ao peito.

- Sou eu, a Lucy. Queria saber se me podes dar referências.

Nick experimentou um nó na garganta ao ouvir a sua voz. Era um idiota. Um completo idiota.

- Já estão redigidas. Assim corno o teu cheque. Não te preocupes, não penso mentir acerca da tua capacidade como secretária.

- Obrigada.

- Porque é que me agradeces? Foste uma secretária muito eficiente. Alguns diriam até eficiente demais.

- Por favor, não comeces.

- Queres mais alguma coisa? Sentia-se como uma imbecil.

-Não, nada.

Nick desligou e tapou o rosto com as mãos.

«O tempo cura tudo», pensou. Dentro de uma semana, estaria novamente embrenhado no trabalho. E dentro de um mês nem sequer recordaria o rosto dela.

Não tinham por que voltar a entrar em contacto. O seu amante e ela teriam que carregar com as consequências daquele ridículo e vergonhoso plano.

E ele... simplesmente seguiria adiante.

Quase sorriu com a clareza dos seus pensamentos. Não havia problema, problema ne­nhum.

Nick pegou na agenda, mas as suas páginas não prometiam nada de interessante. «Com o tempo», pensou. Tudo voltaria à normalidade com o passar do tempo.

 

O pub não era nada do seu agrado. Era muito escuro, cheio de gente e fumo. Mas era apro­priado.

Nick pegou na cerveja e bebeu um longo gole antes de se virar para o homem que se encontrava a seu lado.

- O que é que tem para mim?

- O mesmo que a semana passada e a semana anterior. Nada. Pelo menos, nada de in­teresse – respondeu o homem, olhando para o seu caderno. - Uma visita ao ginecologista, ao supermercado várias vezes, três vezes ao cinema... sempre com outras mulheres. Teve dois trabalhos temporários em empresas de contabilidade.

- Isso não me interessa. E homens? Um em particular, de estatura média, olhos azuis...

-Nada.

- Tem a certeza de que está a fazer bem o seu trabalho?

- Olhe, não me queixo do dinheiro que me está a pagar para vigiar esta rapariga, mas ga­ranto-lhe que não existe homem nenhum. Está a perder tempo. Tenho muita experiência nisto e já o teria descoberto se ele existisse.

- Está... com bom aspecto?

O detective olhou-o, muito sério.

- O aspecto que é de esperar.

- O que é que isso significa?

- Não parece comer muito. Já a vi num restaurante e só come saladas. E acho que no es­tado em que está devia comer mais.

Nick bateu na mesa com os dedos. Tinha sido um idiota ao pensar que a esqueceria. Estava convencido de que ao fim de umas semanas voltaria tudo ao normal, mas enga­nara-se.

Ia para o escritório, todas as manhãs, deci­dido a não deixar que as recordações de Lucy o enlouquecessem e voltava para casa, à noite, depois de ter fracassado.

- Acho que ela vai sair de Londres - disse então o detective.

- Como?

- Está a pensar em mudar-se para a casa dos pais. Ouvi uma conversa acerca disso na sexta-feira. Acha que Londres não é um bom local para criar o filho.

Quando? Dentro de uma semana, no dia seguinte? Estaria já a fazer as malas? Nick sen­tiu pânico.

- Tem a certeza?

- A menos que mude de ideias... mas acho que não.

- Quando? Quando é que ela disse que se ia embora?

- Não disse. Pelo menos, não ouvi.

- Não lhe pago para isso, senhor White? Não lhe pago para descobrir aquilo que eu não posso descobrir?

- Olhe... eu não posso fazer mais nada. E, se não se importa, acho que o meu trabalho terminou. O meu conselho é que fale com essa jovem e solucione o problema – disse o detective, levantando-se. - Boa sorte. Se vol­tar a precisar de mim, tem o meu contacto.

Nick observou-o a sair do bar, pensativo. De modo que Robert tinha desaparecido da vida dela. Não seria capaz de esconder o seu amante a um detective, especialmente sem sa­ber que estava a ser seguida.

Estava sozinha e ia-se embora de Londres. E tinha chegado a hora de tomar uma deci­são. Continuava obcecado por ela. E o que aconteceria quando se fosse embora de Lon­dres?

Suspirando, Nick passou uma mão pelo ca­belo. Não conseguia esquecê-la. Queria falar com ela, voltar a vê-la, fazer amor com ela. Mesmo tendo-o traído com outro homem.

E isso era o pior. O facto de continuar apaixonado por Lucy apesar de ela o ter enga­nado.

Mas amava-a e tinha que falar com ela an­tes que partisse.

Antes que desaparecesse da sua vida para sempre.

Nick bebeu o resto da cerveja e o orgulho desapareceu quando se ouviu a dar a morada dela ao taxista.

Devia ter adivinhado que Lucy não estaria em casa. Mas ia esperar. Já que estava ali... além disso, não se sentia tão bem desde que a expulsara do escritório. Pelo menos, conver­sariam.

Pelo menos, voltaria a vê-la.

Havia um café perto e Nick ficou ali sen­tado, em frente à porta de vidro.

Esperaria. O tempo que fosse necessário. Viu muita gente a entrar e a sair do Metro.

Ia no terceiro café quando a viu carregada de sacos, que passava de mão em mão. Parecia cansada.

Nick saiu rapidamente do café.

- Não devias carregar coisas pesadas.

Lucy ficou gelada. Literalmente.

- O que é que estás aqui a fazer?

Ele tirou-lhe os sacos da mão.

- Isto pesa imenso. O que é que levas aqui?

- Legumes. São mais baratos no mercado... mas o que é que queres?

- Tenho que falar contigo.

- Já dissemos tudo o que tínhamos para dizer. Dá-me os sacos.

Nick ignorou-a e caminhou a seu lado.

- Olha, da última vez que nos vimos dis­seste tudo o que querias dizer. Por isso, vai-te embora. Vai e deixa-me em paz. Não tenho por que voltar a suportar os teus insultos outra vez.

- Só quero falar, a sério.

- Acerca do quê?

Ele não respondeu. Irritada, Lucy abriu a porta e deixou que Nick a seguisse.

Um mês antes teria ficado furioso ao vê-la assumir uma atitude tão hostil quando, na sua opinião, quem tinha direito a estar furioso era ele. Mas as coisas tinham mudado.

- Bom, já chegámos. Importas-te de me di­zer o que é que queres? - Inquiriu Lucy com as mãos nas ancas.

A brisa tinha-a despenteado, dando-lhe aquele aspecto de duende que Nick amava desesperadamente.

- Como estás?

- Bem.

- Não me vais perguntar como é que eu estou?

- Não me interessa – replicou ela, cruzando os braços.

- Pois estou muito mal, apesar de não te interessar.

- Fico feliz. Merece-lo.

- Não estás a facilitar as coisas.

- Pois nesse caso, estás a provar do teu próprio veneno.       '

Quase sentia vontade de rir, mas decidiu ignorar esse sentimento para não terminar a chorar. Não queria dar-lhe essa satisfação.

- Pareces mais magra. Não te alimentas?

- Alimento-me muito bem. Além disso, desde quando é que te interessas pela minha saúde? Não te lembras do que disseste? Não achas que sou uma vigarista que quis enga­nar-te juntamente com o meu amante?

- Sei que não estiveste com o Robert desde que regressámos a Inglaterra.

-O quê?

- Ouviste bem – disse Nick, deixando-se cair numa cadeira.

- E como é que sabes?

- Porque mandei seguir-te.

- O quê?! Como é que te atreves?

- Tinha que saber...

- Tinhas que saber! E importas-te de me dizer o que é que tinhas que saber?

- Se continuavas a ver aquele homem.

- O Robert, o meu amante? E porque é que querias saber se continuávamos a ver-nos? Depois de descobrires o nosso maléfico plano, não vejo porque é que haverias de te importar!

- Sabes o quanto me custou a vir aqui, Lucy?

Usaste-me e merecias os meus insultos!

- Eu sabia que tinhas vindo insultar-me de novo! Sai da minha casa agora mesmo!

- Vais ter o filho de outro homem! Achas que isso não me magoa? Achas que é fácil di­zer que tanto me faz de quem seja o bebé, desde que não te afaste de mim?! - Exclamou Nick. - Achas que é agradável ter que contra­tar um detective porque não suporto desco­nhecer o que se passa na tua vida?

Que estava ele a dizer? Não podia estar a dizer que a amava!

- É teu filho.

- Isso é impossível – disse Nick.

- Porque é que é impossível?!

Ele cerrou os dentes.

- É impossível, porque eu não posso ter filhos!

Lucy abriu a boca, atónita.

- Fizeste uma vasectomia?

- Uma vasectomia? Eu? Nunca faria uma vasectomia. Sempre quis ter filhos.

Não pensava confessar aquele segredo e a sensação de estar à mercê de alguém era com­pletamente estranha para ele. Mas adorava aquela mulher e adoraria o filho dela, mesmo não sendo seu, mesmo tendo sido concebido com intenções egoístas.

- Então, como é que sabes que não podes ter filhos?

- Porque quando casei com a Gina quis ter um filho de imediato e... como não consegui­mos, fomos ao médico. E ele disse-me que eu não podia ter filhos.

- O médico disse-te isso?

- Bom, a Gina foi buscar os resultados. Foi ela quem mo disse. Sabia que eu não queria ler o relatório e...

- Mentiu-te.

Ele ergueu a cabeça.

- O quê?!

- Mentiu-te – repetiu Lucy. - Porque estou grávida do teu filho, Nick. O Robert e eu nunca dormimos juntos.

Uma ténue esperança começou então a re­nascer, mas Nick lutou contra a tentação de acreditar nela.

- Não pode ser.

- Claro, mas só existe uma forma de desco­brir. Vais voltar ao médico e pedir que voltem a fazer-te exames – disse Lucy. - Mas queres, dizer que terias aceite o bebé... mesmo acredi­tando que não era teu? - Perguntou então.

Ele olhou-a, desafiante. Parecia um menino inseguro, tentando esconder que tinha medo. E Lucy derreteu-se de amor.

- Tenho culpa de me ter apaixonado por ti?

- Amas-me, Nick?

Ele afastou o olhar.

- Faz os exames. O bebé é teu. E, além disso, eu também te amo – disse Lucy, acari­ciando-lhe o cabelo. Tentara conter os solu­ços, mas não conseguiu evitá-los. - Acho que sempre te amei, mesmo quando me expul­saste da tua vida. Adoro-te e não quero que te­nhas dúvidas sobre o teu filho.

Era mais fácil dizê-lo que fazê-lo, pensava Nick dois dias depois, enquanto esperava que o médico lhe desse os resultados.

Lucy apertou-lhe a mão num gesto de con­fiança.

- Estes exames são conclusivos – disse o doutor Thomas, colocando os óculos. - O se­nhor é tão capaz de ter filhos como qualquer outro homem saudável. Não entendo porque é que pensava o contrário. Pode ter dezenas de filhos, senhor Constantinou.

- Dezenas! - Exclamou Nick. - Lucy, posso ter dezenas de filhos!

-Ora!

Saíram emocionados da consulta. Ele pare­cia não caber em si de contente.

- Só não entendo porque é que a Gina mentiu.

- Porque era a sua forma de me insultar. O nosso casamento foi um fracasso do início ao fim, Lucy. Ela nunca quis ter filhos e, quando discutíamos, sabia que essa mentira era uma carta que escondia na manga – respondeu ele, acariciando-lhe o ventre, não tão plano como antes. - Fui um louco ao acreditar nela. E mais louco ainda por não acreditar que este fi­lho é meu.

- Já te perdoei, Nick. Nunca deixei de te amar, querido.

- Mas temos uma coisa pendente.

- Tem algo a ver com uma cama?

- Também, mas estava a pensar num casamento.

O coração de Lucy inchou de alegria. Não pelo casamento, mas pelo amor que via nos olhos dele.

- Quando, meu amor?

- O quanto antes.

- Vou pôr mãos à obra agora mesmo.

 

                                                                                Cathy Williams  

 

                      

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