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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


GLASS PRINCESS / M. Lynn
GLASS PRINCESS / M. Lynn

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT 

 

 

Series & Trilogias Literarias

 

 

 

 

 

 

Uma princesa despedaçada é uma princesa vingativa.
Nas margens de Madra, a rebelião venceu.
Com sua família, morta ou desaparecida, Helena procura ajuda do reino do outro lado do mar. Bela. Ela sabe disso por histórias de magia e guerra, mas agora se vê à mercê da intimidante rainha Belaena. Etta é tudo o que Helena deseja que ela pudesse ter sido para sua família e tudo o que ela espera ser. Convencer a rainha guerreira estrangeira a deixá-la ficar é fácil. Convencê-la a treinar uma princesa que ela mal conhece é algo completamente diferente.
Quando notícias chocantes saem de Gaule, Helena percebe que a luta por Madra não terminou. Está apenas começando.
Dell Tenyson deixou tudo para trás.
Quando a coroa caiu, ele se viu do lado improvável daqueles que tentavam salvá-la.
E eles falharam.
Agora, ele segue Helena através do mar para ajudá-la a recuperar o que perdeu. Não é a coroa. É a família dela.
Mas quando tudo que ela quer é vingança, ele será suficiente para lembrá-la de que ela ainda tem um motivo para viver por algo mais?

 

 

 


 

 

 


Capitulo Um

Trovões dividiram o céu, caindo ao redor de Helena. O rugido ecoou entre as árvores, mas ela não voltou.

A chuva gelada atingiu seu rosto pálido enquanto ela fazia a jornada diária.

Treze longos dias. Eles estavam em Bela há muito tempo, e tudo o que ela sabia era esperar.

—Len! — Dell correu para alcançá-la, seus longos passos combinando com os dela. —Você não pode continuar fazendo isso!

Suas palavras mal conseguiram superar o tamborilar da chuva, mas ela sabia o que ele queria dizer. Não era a primeira vez.

Seus pés ganharam velocidade. —Eu preciso! — Ela gritou de volta.

Um raio iluminou o céu cinzento da manhã.

—Não. — Ele agarrou o braço dela, puxando-a de volta. —Você não precisa.

Ela se virou para encará-lo, empurrando seu peito até que ele a soltou. —Meu irmão está lá fora. Quinn é o único que resta além de mim e Kass.

Ele não disse as palavras que ambos estavam pensando. Ele não precisava. Seus olhos diziam tudo. Se ele não estiver morto. Se ele não se juntou ao lado de seu irmão gêmeo em Madra, então onde ele está?

Ela balançou a cabeça. —Não. Ele virá.

Ela se virou e caminhou subindo a colina até o posto de vigia de Bela.

Antes de traí-los, ela pensou que Cole sempre estaria ao seu lado. Quão bem ela realmente conhecia seus irmãos?

Os punhos cerrados ao lado do corpo. Ela não conseguia pensar assim. Estevan deu sua vida para salvá-la e Kassander, ele era bom demais para trair sua família. Ela os conhecia. Ela conhecia Quinn.

Ele viria.

No topo da colina, uma pequena cabana ficava ao lado de um convés. Helena passara todos os dias excruciantes desde sua chegada, sentada ali. Esperando.

Ela limpou a chuva do rosto e abriu a porta. Aron se virou ao som de sua entrada, um tom sombrio em seus traços bonitos. Sacudindo os cachos castanhos ensopados do rosto, ele a olhou com surpresa.

Dell passou pela porta atrás dela. —Eu pensei que você finalmente ganharia algum sentido e ficaria dentro de casa hoje.

Helena foi até uma das janelas que atravessavam a parede oposta. —Eu nunca afirmei ter bom senso.

Aron assentiu como se essa fosse uma resposta perfeitamente aceitável.

—Eu tentei impedi-la. — Dell torceu a água da túnica pingando.

Helena resmungou.

Uma carranca estragou o rosto de Aron. —Ela tem sua própria mente. Deixe ela usá-la.

Helena mal ouviu a conversa contínua enquanto seus olhos examinavam o campo. Ela nunca viu algo tão bonito como Bela, mas não eram as vastas florestas prósperas ou planícies de flores silvestres que ela procurava hoje.

—Alguma novidade? — Ela perguntou.

—Nada mais do que alguns comerciantes de Dracon. As estradas estão limpas. — Aron se aproximou dela perto da lareira quente. —É improvável que vejamos muito em um dia como esse. Mesmo com meu presente.

Helena nunca se acostumaria com os incríveis poderes existentes em Bela. O presente de Aron lhe permitia ver coisas que os outros não viam, e a grandes distâncias. A rainha Persinette o convocou para assistir ao último irmão de Rhodipus, caso ele não chegasse como um visitante amigável.

Ainda assim, Helena tinha fé em Quinn.

Aron se moveu ao redor da pequena sala com confiança, afastando as cadeiras do caminho enquanto se preparava para acender o pequeno fogo que tentava prosperar na lareira de pedra.

O olhar da Dell continha hostilidade velada. Ele nunca se entusiasmou com o jovem, e Helena sabia que ele não confiava nele. Por outro lado, ele não confiava em nada em Bela, para seu aborrecimento.

Helena não poderia culpá-lo por isso. Ela achava difícil acreditar em Persinette e Alexandre que eles não tinham outro motivo senão ajudá-los.

Aron virou-se da lareira. —Eu realmente deveria voltar para fora.

—Mas está chovendo lá fora. — Helena apontou para a janela.

—Tenho um trabalho a fazer e vejo muito melhor lá fora. Minha rainha me confiou isso e farei o que devo. — Ele abaixou a cabeça uma vez antes de escorregar quando outra trovoada sacudiu as paredes.

—Aquele homem é louco. — Dell lançou os olhos para a janela.

Helena não pôde discordar. O povo de Bela tinha uma lealdade inabalável ao rei e à rainha. Ela não viu nada assim. Isso era... não natural. Em Madra, as pessoas obedeciam ao pai, mas apenas porque temiam o que aconteceria se dissessem.

Cole estava agora governando com os mesmos métodos?

A raiva queimou seu sangue quando ela pensou em Cole. A respiração dela entupiu a garganta. —Não posso ficar aqui. — Antes que Dell pudesse detê-la, ela correu para a tempestade, finalmente capaz de respirar quando estava do lado de fora. Ela caiu de joelhos, seu corpo inteiro tremia quando as imagens voltaram para ela.

Chamas. Chamas. Elas percorreram a visão de Helena até que ela não viu mais nada.

Morte. A família dela estava morta. Mãe. Pai. Um soluço ficou preso em sua garganta. Estevan.

Braços a envolveram, mas não conseguiram segurá-la.

Seu cabelo de ébano grudou nos lábios quando ela respirou fundo. Uma única rebelião destruiu tudo o que conhecia em uma noite. Tudo isso era realmente tão frágil?

—Helena. — As palavras de Dell aqueceram sua pele gelada. —Len, está tudo bem. Você está aqui. Estamos em Bela. Acabou. Não precisamos mais lutar.

Suas palavras eram feitas para acalmá-la, para impedir o pânico arranhando seu peito.

Mas ele estava errado. Nada acabou. A luta deles estava apenas começando.

 

Quando eles retornaram à vila, a tempestade já havia devastado outra paisagem desavisada.

Outro dia. Outra decepção.

Todas as manhãs, Helena acordava com uma pequena esperança no coração de que seria o dia em que Quinn viria buscá-la.

Toda noite, ela ia para a cama com o peso da derrota esmagando-a.

Dell caminhou ao lado dela, um companheiro silencioso. Eles lutavam para encontrar algo a dizer um ao outro. Ambos perderam a família, mas ele não sentia como ela. A família dele não estava morta. Eles se juntaram a Cole em trair o rei, em matar seus pais.

O palácio de Bela ficava à beira de grandes falésias brancas, do outro lado de um pequeno riacho com uma ponte que o ligava ao resto da vila. Chamá-lo de palácio era generoso. Na verdade, compreendia apenas quatro quartos pequenos, um espaço comum, cozinha e uma sala do trono sem qualquer tipo de grandeza.

Assim como o resto de Bela, sua beleza estava em sua simplicidade.

A rainha Persinette, que insistia em se chamar Etta, permitiu que Helena, Dell, Kassander e Edmund ficassem com ela e seu marido, o rei Alexandre.

O cavalo da rainha, Vérité, pastava do lado de fora da porta enquanto eles caminhavam e Helena se dirigiu a ele. Dell passou por ela sem dizer uma palavra e entrou.

Vérité levantou a cabeça, fixando-a com um olhar de olhos dourados que a acalmou pela primeira vez durante todo o dia. O cavalo teve um gosto imediato por ela assim que o conheceu.

E ela se apaixonou por ele quando ele mordeu Edmund.

—Ei, amigo. — Ela estendeu a mão para cavar a mão em sua juba úmida. —Você está seguro na tempestade hoje?

Vérité deu um passo à frente para cutucar o lado da cabeça dela com o nariz dele.

Uma lágrima escorregou de seus olhos quando seu olhar compreensivo puxou toda emoção que ela empurrou até a superfície. Vérité deixou o nariz cair no ombro dela.

—Eu estou bem, Vérité. Ou eu estarei. Um dia. — Ela balançou a cabeça. —Por que estou falando com um cavalo?

—Pela minha experiência...— Etta saiu da porta. —É porque não há melhor ouvinte que Vérité. Sem julgamento. Apenas conforto. — Um sorriso curvou os lábios da rainha. —E ele nunca repetirá nada do que você diz. Ele é honrado.

Helena encontrou o olhar suave de Etta. Ela ouviu as histórias da rainha belaena que lutou com La Dame... e venceu. Qualquer um que tivesse dúvidas sobre os contos precisava apenas olhar para a mulher e se tornar crente. A ferocidade emanava dela.

Com toda a honestidade, Etta aterrorizava Helena.

Quando Edmund apareceu atrás de Etta, os ombros de Helena relaxaram.

—O jantar está pronto. — Disse Edmund, com a voz tão sem vida quanto antes desde que chegaram às margens de Bela.

Pelo menos uma pessoa sentia a perda tão fortemente quanto Helena.

Ela acenou para a rainha enquanto passava por ela para abraçar a cintura de Edmund. Ele ficou rígido de surpresa antes de retribuir o abraço e descansar o queixo na cabeça dela.

—Não tem sorte hoje, então? — Ele perguntou.

Helena balançou a cabeça contra o peito dele. —Desculpe, estou molhando você.

Helena podia sentir os olhos de Etta queimando em suas costas. As duas mulheres da realeza experimentavam uma tensão estranha toda vez que Helena estava perto de Edmund. A rainha estava com ciúmes de sua amizade?

Edmund não contou a nenhum de seus amigos belaenos o que Estevan realmente significava para ele, e seu comportamento sombrio colocava uma barreira entre eles porque eles não conseguiam entender a gravidade do que ele havia perdido.

Ela caminhou mais para dentro do palácio, um braço ainda preso à cintura de Edmund. O rei Alexandre, Dell e Kassander estavam sentados perto da lareira com pratos cheios de bifes de javali e algum tipo de vegetais folhosos na frente deles. Alexandre disse algo que fez os outros dois rirem.

O braço de Helena se apertou em torno de Edmund.

—Eu sei. — Ele sussurrou. —Eu também sinto isso.

Ela tentou não odiá-los por sua alegria, mas já havia entrado em sua mente.

—Não estou com fome. — Ela soltou Edmund. —Acho que vou mudar para algo seco e me deitar.

Ele passou a mão pelos cabelos e deu um beijo no lado da cabeça dela. —Prometi a Stev que a manteria segura, Len. Lembre-se, se Quinn vem ou não, Kassander não é o único irmão que você deixou.

Ela se virou antes que ele pudesse ver as lágrimas brilhando em seu rosto. —Obrigada por dizer isso, Edmund.

Depois de correr para o quarto e fechar a porta, ela se inclinou contra ela, sussurrando para si mesma.

—Eu não estou sozinha. Eu não estou sozinha.

Ela tirou a roupa molhada do corpo e vestiu um vestido para dormir antes de cair na cama. Sua mãe a castigaria por planejar dormir o dia inteiro, mas ela não queria se levantar novamente.

Amanhã seria outro longo dia de espera por alguém que nunca poderia vir.

 

 

 

Capitulo Dois


—Use sua espada, Dell, não seu corpo! — O rei Alexandre esfregou o lado onde Dell o havia atingido.

Dell parou. —Não devo usar nada que me ajude a vencer?

—Claro. Mas na maioria das lutas, essa será a lâmina que você tem em suas mãos.

—A menos que eu cague com a lâmina-

Alex sorriu. —A menos que isso. Aceite de alguém que sabe que você não quer ser cagado com a lâmina.

Dell gemeu. Ele era um boxeador, um lutador, não um espadachim. —Por que estamos fazendo isso de novo?

—Por que de fato. — Etta bateu palmas de sua posição ao lado de um grande carvalho que a protegera da vista deles.

—Aqui vamos nós. — Alex resmungou. —Você não deveria ter reuniões a manhã toda?

—Ainda não recebemos notícias de Ty, então Matteo e eu adiamos algumas até amanhã. — Ela se virou para Dell. —Você sabia, Sr. Tenyson, que você tem o grande prazer de ser treinado por Alexandre Durand, o pior espadachim de Bela.

Alex balançou a cabeça. —Treino há anos para me livrar do título e ela não me deixa.

Etta caminhou em sua direção e deu um tapinha na lateral do rosto. —Ele tem sorte de ter uma esposa que pode protegê-lo.

Alex prendeu a mão dela na bochecha dele. —Muito sortudo.

Ela sorriu e o beijou antes de desarmá-lo e empurrá-lo para longe. Pegando a espada descartada, ela a passou entre as mãos.

Dell recuou enquanto avançava.

—Espada. — Ela ordenou. —Pare de olhar para a lâmina. Pode atacar de qualquer direção antes que você tenha a chance de reagir. Observe meus pés e minha posição corporal. Elas vão te avisar.

Ela mudou os pés para a frente e se lançou. Dell só teve tempo suficiente para bloquear o ataque antes de dar o próximo passo. Ele se afastou, quase caindo no chão.

Dell nunca se considerara não qualificado e até se saíra bem contra Alex, mas Etta se movia com a furtividade de um gato enquanto usava a força de um javali.

Ela o encheu de ataques antes de finalmente recuar e enxugar o suor da testa. —Nunca me sinto bem se passar um dia sem segurar uma espada na mão.

Dell riu. —Aposto que funciona muito bem como a rainha de um reino pacífico.

O sorriso de Etta se espalhou por seu rosto. —Eu gosto de você, Dell. Venha. Você e eu precisamos conversar.

Ele olhou para Alex, mas o rei apenas deu de ombros.

Etta começou a descer o caminho da floresta sem olhar para trás para se certificar de que ele estava vindo.

—Não tenho muito tempo. — Ela abriu a porta do palácio. —Mas não podemos continuar como estamos.

Ele a seguiu para dentro. —Eu não sei o que você quer dizer.

—Sente-se. — Ela apontou para a mesa a caminho da cozinha. Quando ela voltou, ela carregava duas canecas cheias de cerveja.

—Obrigado. — Ele riu.

—O que é tão engraçado?

—Eu posso ter sido filho de um homem poderoso, mas basicamente me levantei nas ruas da cidade. Agora estou tomando uma cerveja com uma rainha estrangeira.

—E protegendo uma princesa. — Ela levantou uma sobrancelha.

Ele tomou um longo gole, evitando o olhar dela. Por mais que ele tentasse ajudar Helena, a princesa não deixaria. Era como se ela tivesse esquecido tudo o que aconteceu antes da rebelião. Ele não existia mais para ela.

—Olha, Dell...— Etta suspirou. —Bela passou por muita coisa, perdeu muito. Então, eu sei o preço. Não foi fácil reconstruir nosso reino, mas essa paz é nossa recompensa. Eu vivi a maior parte da minha vida em dívida com os outros, mas, mais importante, com meus próprios segredos. Eu reconheço os sinais. Tentei de tudo para recuperar meu Edmund. Houve um tempo em que ele me salvou, me manteve sã. Quando ele escolheu se tornar nosso embaixador em Madra, senti todos os momentos de sua ausência. Mas é como se ele ainda tivesse ido embora. Ele voltou para nós, mas parte dele ainda está do outro lado do mar.

Dell quase disse a ela. De Estevan e seu relacionamento com Edmund. De tudo o que Edmund havia feito para impedir a rebelião.

Mas esses não eram seus segredos para contar.

—Sinto muito, sua Majestade. Eu não posso te ajudar. Só... não desista dele. Edmund é a única razão pela qual estou sentado aqui hoje. Ele é o motivo pelo qual Helena e Kassander conseguiram sair de Madra. Nunca conheci alguém como ele... mas os sacrifícios que ele teve que fazer... — Dell balançou a cabeça. —Eu sei como é assistir alguém com quem você se preocupa se perder.

Etta colocou a mão no braço da Dell. —Então eu vou te dizer a mesma coisa. Não desista dela. Ela voltará para você. — Ela bebeu o resto da cerveja e se levantou. —Eu devo cuidar de algumas coisas. Obrigada por isso.

Antes que ela chegasse à porta, um Matteo desgastado entrou correndo, seu cabelo loiro despenteado pelo vento e suas bochechas rosadas pelo frio. —Tyson voltou.

—Já era hora. — Etta o seguiu até a sala do trono.

Dell se juntou a eles quando o jovem atravessou a porta e correu para a irmã, abraçando-a.

Não havia nada formal em Bela?

Helena apareceu ao lado de Dell. —Eu estava com Aron quando eles cavalgaram pelo vale. Por um momento, pensei que fosse Quinn.

—Sinto muito. — Dell agarrou sua mão. Ela ficou rígida, mas não se afastou.

Alexandre apareceu e chegou a Tyson há três longos passos.

—Você deveria voltar dois dias atrás.

—Você conhece a mãe. — Ele sorriu. —Ela queria me engordar.

Dell nunca entenderia a dinâmica entre Bela e Gaule. Alex e Tyson eram filhos da rainha de Gaule, mas tinham pais diferentes. Tyson compartilhava um pai com Etta que se casou com Alex. E havia Camille que ainda estava em Madra e a irmã dos dois príncipes.

O sorriso de Alex caiu. —Você foi vê-la, não foi?

Dell passara a maior parte do tempo seguindo Helena até o posto de vigia ou entre o povo de Bela. Foi lá que ele aprendeu tudo o que precisava saber sobre a família em que agora contavam para se proteger.

O jovem príncipe Tyson estava apaixonado por uma garota que só tinha sido amiga dele. Depois que Dracon sofreu a derrota, a garota voltou para Gaule para administrar a propriedade de sua família.

Tyson estudou o chão. —Amalie não estava em sua propriedade. Eu tentei, mas...

Alex colocou a mão no ombro dele. —Sinto muito, irmão. Que palavra você tem de Gaule? A mãe sabe dos acontecimentos em Madra?

Uma expressão de culpa brilhou em seu rosto. —Ela sabe da aquisição. O novo rei a procurou e garantiu a segurança de Camille e a continuação do tratado. A mãe pretende honrá-lo.

Um fluxo de maldições passou pela mente de Dell, mas ele não deu uma única voz quando Helena apertou sua mão, o primeiro sinal de que ela queria seu apoio.

A única esperança que eles tinham de uma solução pacífica para esse problema era se os outros reinos pressionassem Madra. Gaule era a chave para isso.

—Está acontecendo de novo. — Disse Edmund. Quando ele chegou?

—Não. — A trança de Etta deu um tapa em seu ombro enquanto ela balançava a cabeça. —Podemos confiar na rainha Catrine.

—Nós podemos?

—Cuidado. — Alex rosnou.

Edmund segurou as mãos na frente do peito. —Olha, eu não quero dizer que Catrine é contra o povo mágico da maneira que seu pai era. Mas você tem que ver os sinais. Reinos não mágicos se aliando com medo de nós? Se Cana ou Andes se juntar à aliança...

—Cana nunca se aliará a ninguém. — Para surpresa de Dell, foi Helena quem falou.

—Não podemos saber disso. — Matteo falou.

—Na verdade, sou a única pessoa nesta sala que provavelmente sabe. Você diz que sua amiga está em Cana?

—Ara. — Etta confirmou.

Helena continuou. —Isso não significa que você saiba alguma coisa sobre isso. A maioria dos reinos vive em uma feliz ignorância do que acontece além dessas fronteiras, porque os estrangeiros raramente conseguem escapar. — Ela respirou fundo. —Cana não tem lealdade a um rei ou rainha. Eles são separados em clãs que estão ocupados demais lutando entre si para se preocupar com outros reinos. Certamente, você deve temer os cananeus com a habilidade de assassino, mas não se preocupe com a assinatura de nenhum tratado.

—Como você sabe tudo isso? — Dell perguntou.

—Não é importante.

Etta a olhou com curiosidade. —Está bem então. Precisamos manter uma vigilância atenta de Gaule e Madra. Temos outra questão de importância. — Ela assentiu para Tyson.

Tyson pegou uma carta não lacrada. —Eles deixaram Camille escrever para minha mãe. — Ele segurou na direção de Helena.

Helena pegou o papel, desdobrando-o rapidamente. Dell leu por cima do ombro dela, seus olhos apenas pegando partes dele...

Honre o tratado, mãe. É a única maneira de garantir a paz com Madra. O novo rei é um homem honrado.

Isso não parecia a princesa, pelo menos a Camille que ele conheceu. —Ela não escreveu isso.

A maior parte da carta não significava nada para ele até que ele descobrisse as palavras que sabia que quebrariam Helena em duas.

O príncipe Estevan morreu em sua cela há três dias de doença. Cole deixaria seu irmão viver.

O papel caiu de seus dedos, flutuando no chão enquanto lágrimas caíam em seu rosto.

Dell tentou puxá-la para ele, mas ela levantou a mão para parar o movimento.

—Você poderia consertar isso. — A voz de Helena era tão baixa que Dell não tinha certeza de que mais alguém a ouviu até que todos parassem. Ela levantou os olhos para examinar a sala, finalmente colocando-os na rainha. —Madra não seria párea contra Bela.

—Não. — Etta a interrompeu.

—Mas sua mágica-

—Eu disse não.

—Você não vai ajudar? Você vai me deixar ficar aqui ociosamente pelo que... o resto da minha vida? — Helena endireitou a coluna, enviando à rainha um olhar assustador. —Madra é minha. Não do Cole. Minha. Meu pai está morto. Eles mataram minha mãe enquanto eu me escondia. Não estou mais me escondendo. Agora sou a herdeira do trono de Madra.

—Não podemos. — O remorso misturado com a teimosia encheu os olhos de Etta. —Como detentores de magia, temos a responsabilidade de não usar nossa mágica para dominar outros reinos. Nós não somos tiranos.

—Eles. Mataram. Meu. Irmão.

Edmund caiu no chão com as palavras, precisando ver a carta por si mesmo. Um grito estrangulado escapou de seus lábios.

Todos eles supunham que Estevan não viveria muito mais tempo, mas a confirmação trouxe toda emoção que eles ocultaram desde que a rebelião desabou na sala.

Edmund segurou a carta no peito por um momento antes de rasgá-la ao meio, em pé e sair da sala.

Os olhares de Etta e Alex o seguiram.

—Oh. — O entendimento iluminou os olhos de Etta.

—Len. — Dell sussurrou.

Ela balançou a cabeça, tropeçando para trás até chegar à porta. Dell não a seguiu quando ela desapareceu.

—Gostaria que pudéssemos ajudá-los. — Etta se inclinou para Alex.

—Seria realmente tão ruim? — Tyson perguntou. —Não podemos deixar Camille se casar com um usurpador.

—Ty. — Alex o encarou com um olhar. —Se Bela marchar para outros reinos para consertá-los ou usar a magia para subjugá-los, isso define expectativas. Etta não viverá para sempre. Não começaremos o caminho da ditadura. Foi assim que La Dame se tornou tão poderosa. A magia não pode ser usada contra pessoas não mágicas. Não está certo.

Tyson suspirou. —Às vezes, eu gostaria que vocês nem sempre fizessem a coisa certa. Quero entrar em Madra e estripar o rei que matou o namorado de Edmund.

Alex recuou em choque. Matteo se virou.

Tyson olhou entre eles. —Vocês não sabiam?

—Você sabia? — Etta perguntou.

—Desde a primeira vez que o vi. Conheço Edmund quase tão bem quanto eu. Ele amava o príncipe.

Alex amaldiçoou. —Eu preciso ir encontrá-lo.

Dell bloqueou a porta. —Vossa Majestade, a única pessoa nesta terra que Helena deixará entrar é Edmund. Que eles estejam lá um para o outro. Só por enquanto.

Alex parecia que ele protestaria.

—Ele está certo. — Disse Etta. —Se Edmund quisesse que o ajudássemos, ele teria deixado. Essa garota significa tanto para ele agora quanto você ou eu.

Os ombros de Alex caíram.

Dell os deixou na sala do trono para encontrar algum consolo. O rosto confiante de Estevan passou por sua mente. Dell foi contra sua família e se juntou a Edmund porque Edmund tinha tanta certeza de que Estevan faria grandes coisas por Madra.

Ele tinha sido a esperança para muitas pessoas.

E agora, como uma vela no meio da noite, ele havia sido extinto e tudo o que Dell podia ver do futuro de Madra era escuridão.

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Tres


Por semanas, Helena presumiu que Stev estivesse morto. Ela viu Cole levá-lo prisioneiro momentos antes de sucumbir aos ferimentos. Um dos homens de Cole a esfaqueou, e a última coisa que ela viu foi Dell pairando sobre ela, protegendo-a da ira de seu irmão.

Mas algo incomodava no fundo de sua mente. Ela tinha que saber o que realmente aconteceu naquele corredor. Todos os detalhes excruciantes. Estevan realmente se foi, e ela tinha que saber o porquê.

Por que ele não escapou com eles? Por que ele ficou? Por que Edmund deixou?

As perguntas eram as únicas coisas que a impediam de mergulhar a cabeça sob a corrente de sua dor e se recusar a surgir novamente.

Um vento gelado chicoteava seus cabelos dos ombros e ela puxou a capa com força. Ao longe, uma figura solitária estava sentada na beira dos penhascos, com as pernas pendendo para o lado.

Edmund curvou as costas, caindo sobre si mesmo. Quando Helena se aproximou, ela ouviu o som de ondas violentas batendo nas rochas abaixo. Apropriado.

Ela se aproximou de Edmund silenciosamente e se abaixou ao lado dele, olhando por cima da beira do penhasco antes de avançar.

—Como você não tem medo de cair?

Edmund continuou olhando o mar agitado. —Temo muitas coisas, Lenny. Morrer por ter caído não é uma delas.

—Isso é... melancólico.

Ele finalmente se virou para encará-la, mas seus olhos tinham um olhar distante. —Meu maior medo já aconteceu.

—Meu também.

Seus lábios puxaram para baixo, e ele passou a mão pelos cabelos loiros. Após um momento de silêncio, ele deslizou para trás da beira do penhasco e puxou Helena contra o seu lado. Ela enterrou o rosto no ombro dele enquanto ele acariciava seus cabelos.

—Eu não tinha medo de perder Stev. — Ele sussurrou. —É alguém que eu amo. Muita coisa aconteceu nos últimos anos. A guerra de Bela com Dracon. Turbulência em Gaule. A rebelião de Madra. Eu tenho vivido em constante terror das pessoas ao meu redor morrendo. Etta, Alex, Tyson, Matteo, Stev, você... até Camille. Nesse ponto, eu provavelmente ficaria chateado se Vérité morresse e odeio esse cavalo maldito.

Um som entre uma risada e um grito escapou da boca de Helena. —Nunca senti medo assim. Minha vida inteira fui protegida.. Agora é tudo em que consigo pensar. Como você vive assim, Edmund? Com seu coração sendo arrancado do seu peito de novo e de novo.

—Eu ainda estou tentando descobrir isso. — Uma lágrima percorreu seu rosto, e Helena limpou-a com o polegar.

—Eu fico me perguntando se seria melhor Quinn estar morto ou ele ter escolhido Cole.

—Não está morto. — Edmund balançou a cabeça.

—Mas se ele nos traiu também... eu não posso viver com isso.

—Sim você pode. É incrível o tipo de coisa com a qual podemos viver. — Ele respirou fundo e ficou em silêncio.

Helena estremeceu e Edmund a puxou para mais perto.

As palavras que ela queria dizer em seguida entupiram sua garganta. Os olhos de Edmund tinham tanta dor. Era certo ela fazê-lo reviver tudo?

Todo o seu corpo tremia, e ela sabia que ele estava revivendo de qualquer maneira.

—Edmund.

Ele não respondeu por um longo momento enquanto controlava a respiração. —Sim, Len?

—Não me lembro de ter sido tirada do palácio. Meus momentos finais com Stev acabaram... acabaram. — Foi preciso todo o esforço para manter um tremor fora de sua voz. —Eu preciso saber tudo.

Ele suspirou. —Honestamente, estou meio surpreso que você não tenha perguntado até agora.

—Meu irmão não estava morto até antes.

O olhar de Edmund se afastou dela novamente. —Não se engane, Len. Ele está morto para nós desde que deixamos o palácio. Sempre soubemos que não o receberíamos de volta.

Ela apertou os lábios. —Por favor, apenas me diga.

—Cole...— Ele limpou a garganta. — Ele ia prender todos nós. Você e eu fomos capturados. Um dos homens de Cole atirou um punhal em você. — Ele descansou a bochecha no cabelo dela. —Eu pensei que você estava morta.

Ele parou de falar e ela apertou a mão dele, insistindo para que ele continuasse.

Ele fez. —Stev pensou que você tinha morrido também. Mas Kassander não. Ele e Dell a ocultaram. Depois que o curandeiro disse que você não viveria, Stev fez um acordo.

Helena inclinou a cabeça para olhar para ele. —Que tipo de acordo?

—Se Cole me permitisse, você, Dell e Kass partirem, ele se entregaria de bom grado e diria ao seu povo que se afastasse.

Helena se afastou dele. —É tudo culpa minha. Ele está morto por minha causa. — Ela se levantou.

Edmund a seguiu. —Não. Ele pensou que você morreria se a levássemos a Corban ou não. Stev se sacrificou por mim e Kassander. Toda culpa está comigo.

Helena não conseguia ouvir mais. Ela deu meia-volta e correu de volta ao palácio. Etta e Alex a encararam enquanto ela corria em direção ao quarto em que estava hospedada. Ela procurou debaixo do colchão o único pedaço de sua mãe que restara.

As adagas dela.

Duas lâminas de cabo dourado se soltaram e ela as enfiou no corpete do seu vestido simples antes de sair da mesma maneira que viera. A raiva agitava suas veias e, se ela não a soltasse, faria algo que lamentava.

Ela alcançou a clareira atrás do palácio e soltou as adagas. Centralizando seu corpo com a base de um pinheiro alto, ela levantou um braço. Respire. Expire. Agite o pulso. Libere.

A adaga grudou na árvore com um baque. Ela não parou antes de enviar a segunda no mesmo arco.

Ela correu para a árvore e as libertou antes de encontrar um segundo alvo. Raiva e desespero alimentavam seus impulsos, fazendo-a esquecer tudo, menos o peso das lâminas em suas mãos.

Quando Helena soltou a primeira adaga novamente, alguém gritou, afastando-se do caminho. A adaga atingiu uma árvore e caiu no chão.

A cabeça escura de Kassander apareceu na clareira, os olhos arregalados.

Ela estava tão focada, não tinha visto o irmão lá? Ela correu para frente. —Kass, você está bem?

Ele levantou a cabeça, um sorriso se espalhou por seu rosto.

—Como você aprendeu a fazer isso?

Nesse momento, Helena percebeu que Kassander não sabia. Ninguém contou a ele sobre Stev. Ela o puxou do chão e abraçou seu corpo esbelto, bagunçando seus cachos familiares.

—Ei. — Ele se afastou. —O que há de errado, Len?

O rosto dela caiu. Até seu irmãozinho podia ler todas as emoções em seus olhos.

—Eu preciso te dizer uma coisa, Kass.

—Se é sobre Quinn...

—Não é. É sobre Stev.

A testa de Kassander franziu.

—Ele morreu, Kass.

Kassander fez uma careta. —Nós já sabíamos que ele estava morto.

—Não, nós apenas assumimos.

—Eu não vejo a diferença. — Lágrimas brotaram em seus olhos. —Eu pensei que você ia me dizer que perdemos outro irmão.

Helena se inclinou para olhar nos olhos de seu irmão. Ela pegou o queixo dele entre dois dedos, forçando-o a não desviar o olhar.

—Você tem fé em Quinn?

Ele assentiu.

—Eu também. E Kass, se ele nunca vier, você ainda me tem. Ok garoto? Você sempre me terá.

Ele a abraçou. —Você sempre me terá também.

Toda a raiva que ela sentiu vazou dela com essas palavras. Ela não estava sozinha. Madra não era apenas o seu reino. Ela não era a única pessoa que um dia iria querer de volta.

 

Nada mudou em Bela quando os dias se transformaram em noites. Helena continuou procurando Quinn ao lado de Aron, mas ele nunca veio. Edmund ainda passava a maior parte do tempo sozinho, mas à noite sentava-se com Alex e contava seu tempo em Madra.

Kassander e Corban começaram a seguir Alex, fascinados pelo rei confiante, o homem sem magia que vivia entre o povo mágico.

Dell melhorou com a espada. Não é como se ele tivesse a chance de usá-la.

E a cada momento em que se sentavam do outro lado do mar, o povo de Madra era governado por um usurpador, um príncipe bastardo.

Helena tentou afastar da cabeça pensamentos do irmão que amava. Ainda amava? Isso era permitido? Ela não conseguia conciliar o irmão com quem cresceu e o homem que matou seus pais.

Ela se virou na cama quando a luz atravessou a janela. O cheiro de bacon a atingiu assim que ela abriu os olhos. A normalidade desse cheiro era como um choque para o coração. Nada estava normal.

Depois de se levantar da cama, vestiu uma calça de lã e uma camisa pesada antes de atravessar o chão frio de pedra até a cozinha.

O rei de Bela estava sem camisa em frente ao fogão, suor escorrendo pelas costas enquanto virava bolos e bacon.

Helena congelou, seu queixo caindo. Alexandre Durand era um homem bonito. Em Madra, a família real tinha vários servos preparando todas as refeições. Demorou um pouco para se acostumar nas últimas semanas para que o rei e a rainha fizessem tudo por si mesmos.

Era o caminho de Bela. Etta poderia liderar, mas ela não governava. E seu povo era mais leal por causa disso. Porque ela era uma deles.

A rainha em questão aproximou-se do lado de Helena. —Ele queria animar vocês, fazer vocês se sentirem mais em casa, depois de...— Ela não precisava dizer isso. Depois que souberam da morte de seu irmão.

Edmund apareceu atrás deles. —Então ele decidiu andar sem camisa? Essa é uma maneira de nos animar.

Etta empurrou seu ombro. —Não. Ele fez o café da manhã.

Edmund riu, o som fazendo todos eles pararem. Ele estava com tanta dor que não havia nem sorrido recentemente. Ele congelou como se percebesse o que havia feito. Por apenas um momento, ele esqueceu o que deveria estar sentindo.

Alex se virou. —Se eu soubesse que bastava bacon para ouvir esse som novamente, eu o faria todas as manhãs.

Etta cobriu a boca com as mãos e fingiu tossir. —Não era o bacon.

Helena sorriu, agradecida pela leveza que sentia tanta falta. Ela sempre brincava com seus irmãos, mas nunca teve amigos.

Edmund corou, mas deu de ombros como se não tivesse vergonha. Helena desejou que o conhecesse tão bem. Ela viu Dell sentado perto do fogo, seu olhar fixo nela. Os olhos dele escureceram e Helena afastou os dela.

Como seria ceder a seus desejos como todos os outros ao seu redor? Stev tinha sido tão corajoso, tão forte em estar com a pessoa que amava. Ela só podia imaginar qual teria sido a reação do pai deles. Os dois homens teriam sido separados no mínimo.

Sobre o que Helena tinha sido corajosa? Ela viveu sua vida atrás de uma máscara, nunca mostrando quem ela realmente era.

Stev viveu livremente. Ele pode ter sido rígido e formal às vezes, mas desafiava o pai deles para dar comida ao povo. Ele se apaixonou por outro homem. Ele a protegeu a todo custo.

Ela se virou para Etta, que ainda estava olhando o marido.

—Você está ocupada hoje?

Etta levantou uma sobrancelha. —Não. Eu não sou a rainha de um reino inteiro nem nada.

—Preciso de alguém para me ajudar. Quinn ainda pode estar lá fora, mas não posso perder tempo. Você diz que Bela não ajudará Madra, mas Madra não está sozinha. Eles ainda me têm. Treine-me para lutar.

Dell engasgou com uma risada. —Len, o que você sabe sobre lutar?

Ela fez uma careta, balançando o olhar ao redor da sala. Tyson, Alex e Matteo olharam para longe. Edmund ficou quieto.

Etta considerou sua resposta. —Quando completei dezoito anos, tive que entrar em um torneio, lutando até a morte para proteger aquele idiota. — Ela apontou para o marido. —Todo homem que eu conheci riu de mim. — Ela se inclinou para frente. —E você sabe o que eu fiz?

Helena balançou a cabeça.

Um brilho alegre entrou no olhar de Etta. —Venci eles. — Ela se virou para os outros que os cercavam. —Matteo, me limpe dos deveres. Estarei ocupada hoje.

O primo da rainha balançou a cabeça. —Hoje não, Etta. Temos reuniões o dia todo com os comerciantes da Dracon e Gaule. Então, você está agendada para julgamento nesta tarde.

Etta acenou com as palavras. —Você pode lidar com as reuniões, oh confiei em uma. Alex se juntará a você. Tome Edmund também. Ele conhece esse reino tão bem quanto qualquer um e ocupará sua mente.

Edmund começou a protestar, mas um olhar de Etta o calou.

—Pegue um pouco de comida, Helena. Não pretendo ser fácil com você.

Helena empilhou comida em um prato e sentou-se ao lado de Dell.

—Você tem certeza disso? — Ele perguntou.

—Nunca tive tanta certeza de nada.

—Persinette Basile é uma das maiores lutadoras que existe.

—Então não há mais ninguém que eu queira me treinar para voltar a Madra. — Ela mordeu a comida.

—Você realmente quer voltar? — Ele a olhou cético.

—Você acredita em mim, Dell?

Ele assentiu sem hesitar. —Claro que eu acredito.

—Então, por favor... cale a boca.

Um canto da boca inclinou-se para cima. —Bem, tudo bem então. Mas eu tenho que assistir.

 

 

 

 

 

 


Capitulo Quatro


Dell sentou-se de costas contra uma árvore derrubada e dobrou um joelho. O frio do chão permeava suas roupas, mas não o incomodou, pois ele se concentrou no pedaço de madeira macia em suas mãos. Ele ainda não sabia o que era, mas isso não era incomum. Ele nunca olhava muito à sua frente. Suas mãos sabiam o que fazer. Elas criavam enquanto a mente dele estava em outro lugar.

Ele agarrou a faca entre o polegar e o indicador quando ele cavou.

Etta e Helena ficaram de frente uma para a outra. Etta segurava duas varas longas nas mãos. Ela jogou uma para Helena.

Helena a pegou do ar.

Etta assentiu em aprovação. —Eu vi você aqui com suas adagas, Helena. Você tem uma boa coordenação dos olhos e mãos.

Adagas? Do que a rainha Belaena estava falando? Len era mais ameaçadora que uma princesa poderia ser. O que ela sabia sobre adagas?

—Obrigada. — Os dedos de Helena se soltaram e apertaram em antecipação.

—Ainda não me agradeça. Coordenação é apenas o começo. Para superar alguém em uma luta, é preciso pensamento rápido, agilidade e raiva.

—Raiva?

Etta girou o cajado em uma mão. —Ah, sim, essa é a parte mais importante. Nós não fomos feitos para lutar um contra o outro, para nos machucar... a menos que tenhamos uma razão. A diferença entre alguém que tem o que é preciso e alguém que não tem é a capacidade de canalizar essa raiva, usá-la e moldá-la.

A mandíbula de Len se apertou e ela engoliu. —Eu tenho muita raiva.

Dell vira a escuridão crescendo dentro dela há semanas. Durante toda a sua vida, ele foi maltratado e traído por sua família. Para ele, era vida. Para ela, foi uma tragédia e uma traição.

Um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Etta. —Você está pronta?

—Sim.

A intensidade no olhar de Helena não existia antes. Dell lembrou-se da suavidade em seus olhos, mesmo quando ela brigou com ele na praia. A doçura quando ele a beijou no baile. Mas então, ele nunca a conheceu verdadeiramente. A garota que vagava pelas ruas da cidade não era a mesma que se escondia atrás de uma máscara durante a maior parte de sua vida.

No entanto, ele não conseguia tirar os olhos dela.

Ele deixou a madeira de lado e se inclinou para frente contra os joelhos.

Etta circulou Helena e Len virou-se para encará-la mais uma vez, deixando seu bastão cair apenas o suficiente para dar a Etta uma abertura.

A rainha Belaena bateu na arma de Len e a madeira estalou contra o estômago de Len.

—Eu perguntei se você estava pronta. — Etta gritou. —Não abaixe sua arma. Nunca.

Helena reprimiu a dor que Dell sabia que devia ter sentido e pegou seu bastão. O próximo ataque de Etta não a pegou de surpresa. Ela a jogou para fora apenas para ser atingida nas costas.

Ela caiu de mãos e joelhos.

—Levante-se. — Etta exigiu.

Dell ficou de pé. Helena não era guerreira e Etta foi longe demais.

—Não, Dell. — Helena ofegou. —Eu estou bem. — Ela soltou uma tosse irregular. Pegando seu bastão, ela ficou pronta novamente.

Etta avançou com uma enxurrada de movimentos. Helena tropeçou para trás, bloqueando-os o melhor que pôde. Etta chutou com o pé, pegando o estômago de Helena e enviando-a de bunda.

Helena fez uma careta, sua respiração sibilando no peito.

—Você está com raiva ainda, princesa? — Etta perguntou. —Ou isso foi criado com você também?

Dell tentou avançar, mas Etta o encarou com um olhar. —Se você interferir, descobriremos o quão inadequado você é com uma espada, garoto.

Mesmo com Alex treinando ele, Dell sabia que ele não seria páreo para Etta. As histórias de sua habilidade se espalharam por Madra como um incêndio. Mas ele não se sentou até Helena se levantar.

—Eu estou bem, Dell. — Ela olhou para Etta. —Novamente.

Etta se lançou para a frente, mas Helena se desviou do caminho.

—Vamos, princesa. — Etta provocou. —Esqueça todo o decoro que eles lhe ensinaram. Não esconda suas emoções em uma briga. Mostre-me sua maldita raiva.

Helena atacou, mas não houve força por trás do golpe.

—Você pode fazer melhor que isso. — Etta fez uma careta. —Você sabe como ganhei meu primeiro torneio?

Helena balançou a cabeça.

—Eu os odiava. Cada um deles, incluindo Alex. Incluindo Tyson. Eu queria matar todos eles. A única pessoa que eu já demonstrei piedade é Edmund quando eu escolhi não matá-lo.

Dell ficou boquiaberto. As histórias eram verdadeiras? Etta lutou por sua vida, a fim de assumir uma posição na casa real de Gaule. Mas Edmund... por que ele esteve no torneio? E agora ela era casada com Alexandre Durand.

Padre, ele precisava de uma cerveja.

Etta continuou. —Misericórdia não é algo que você dá a seus inimigos. É algo que você dá quando decide que alguém não é seu inimigo. Quem são seus inimigos, princesa? Se chegar a hora, você será impiedosa?

Uma guerra começou nos olhos de Helena, mas ela não falou.

Etta avançou. —Seu irmão te traiu. Ele matou seu pai. Sua mãe. —Ela se inclinou. — Estevan.

Lágrimas rastrearam o rosto de Helena.

—Quinn não vem te ajudar, Helena.

Dell viu o momento em que essas palavras foram registradas. Helena atacou, derrubando seu bastão com tanta força que a colisão com a arma de Etta ecoou entre as árvores.

Helena não parou por aí, empurrando Etta para trás e jogando a arma longa sobre a cabeça. Etta bloqueou cada movimento, sorrindo.

Ela era louca. Não havia outra maneira de descrever essa rainha estrangeira. Ela empurrou e empurrou, incitando Helena a entrar em ação.

Depois de um tempo, Etta baixou o bastão, o peito subindo e descendo rapidamente. O suor escorria nos rostos das duas mulheres.

Helena limpou a testa na manga.

—Ok, princesa. Agora acredito que você é mais do que um rosto bonito. — Etta afastou os cabelos dourados do rosto pegajoso.

—Não me chame de princesa. Eu posso ter vivido minha vida inteira atrás dos altos muros de um palácio, mas não estou mais lá. Não posso ser aquela garota de lindos vestidos que joga adagas em segredo e se esconde do mundo. Minha família merece mais que isso.

Etta riu. —Nós ainda podemos fazer de você uma guerreira, Pr-Helena.

Dell ficou de pé, mas trepadeiras rastejaram sobre suas pernas, segurando-o no lugar. —Fique aí, garoto. — Etta ordenou. Ele ficou boquiaberto com a vegetação crescente.

—Magia. — Ele sussurrou. Ele só testemunhou Edmund, Mari e Corban usando seus poderes, e isso nunca o chocou menos.

Etta inclinou a cabeça. —Ainda não terminamos. Agora que sabemos que você tem vontade de lutar, posso ensinar como. Eu poderia ter dado um golpe mortal pelo menos dez vezes durante sua explosão de ataques.

Helena parecia desanimar, seus olhos inseguros procurando os dele.

—Você pode fazer isso, Len. — Ele ofereceu um sorriso. —Eu sei que você pode.

Ela assentiu. —Ninguém nunca vai me vencer de novo. — Ela se virou para Etta. —Eu tenho que ser capaz de proteger Kassander. Ele é tudo o que me resta.

—Então vamos começar. — Etta apontou para o centro da clareira e assumiu sua posição.

 

A última vez que Dell montou em um cavalo, foi logo depois de uma luta que ele perdeu e levou tudo o que tinha para ficar na fera. Mas ele tinha que segurar Helena.

Agora, era apenas a Dell e o terreno aberto. Quando ele pediu emprestado o cavalo de Alex, ele não tinha um destino em mente.

Helena e Etta estavam praticando todas as noites agora, e ele as deixou para outra noite de lutas e contusões. Len recusou-se a permitir que Corban os curasse. Ela disse que queria sentir tudo, que isso a tornava uma lutadora melhor.

Mas ele odiava ver a pele de porcelana manchada de manchas azuis e roxas. Ele não aguentava mais uma noite vendo as mulheres lutarem.

Ele não havia planejado uma visita ao posto de vigia, mas logo se viu na trilha sinuosa entre rochas e vegetação rasteira. Aron estava sentado no topo da colina do lado de fora da pequena cabana. Uma melodia vibrava do violão em miniatura em seu colo.

Ele manteve os olhos no horizonte, onde o sol se punha sob as árvores.

—Não deveria haver outro vigia à noite? — Perguntou Dell.

Assustadas, as mãos de Aron pararam no violão. —Eu aprecio esta hora da noite. Assim que o sol desaparecer, vou para a vila. Este posto avançado é inútil durante a noite, mas a vigilância noturna passa pela floresta perto da cidade até o amanhecer. Eles já estão lá fora, suponho.

Dell assentiu enquanto examinava as árvores abaixo. —Houve alguma coisa?

O que ele estava esperando? Nova palavra sobre Quinn? Se Aron soubesse alguma coisa, diria a Etta e Alex.

O grandalhão suspirou. —Gostaria de ter notícias melhores para Helena.

Há muito que Dell havia perdido a esperança ao se reunir com Quinn. O homem estava morto ou era um traidor de sua família.

Uma comoção abaixo fez com que Dell e Aron pulassem para frente para ver melhor. Dois cavalos trovejaram pela floresta como se suas caudas estivessem pegando fogo.

—Dell. — Disse Aron calmamente. —Você trouxe seu cavalo?

Dell assentiu.

—Acho que seria uma boa ideia falar desses viajantes para a rainha e o rei. Um desses cavaleiros está usando vermelho de Madra.

Dell não hesitou. Ele correu ao redor da cabana para onde amarrara o cavalo de Alex e desatou o nó antes de subir.

Ele chutou os calcanhares nos flancos do cavalo e partiu pelo caminho agora escuro, diminuindo a velocidade ao longo de curvas traiçoeiras e inclinando-se muito para a direita na sela. Por um momento, ele não sabia quem estava no comando - ele ou o cavalo. Assim que chegou ao pé da colina, ele empurrou a fera para um galope, recuperando o equilíbrio.

Ao se aproximar da vila, tochas iluminavam a noite. As poucas pessoas que ainda permaneciam nas ruas saíram do caminho.

Quando chegou ao palácio, ele deslizou, sem se preocupar em amarrar o cavalo antes de entrar.

Etta e Alex eram os únicos dois presentes perto do fogo. Ao ver o rosto de Dell, Etta sentou-se de onde estava reclinada no colo do marido.

—Dell, o que é isso?

Dell engoliu em seco. —Dois cavaleiros estão caminhando pela floresta. Aron os viu através das árvores. Um deles é de Madra.

Etta se levantou, a máscara de uma rainha firmemente no lugar.

—Não fale com Helena sobre isso. Não até sabermos quem são esses cavaleiros. — Ela se virou para o marido. —Encontre Edmund. Eu acho que ele está na taverna da vila. Se ele terminou de beber sua tristeza, diga a ele que preciso dele ao meu lado.

Ela correu para a porta. —Dell, venha comigo.

Ele correu atrás dela. Atravessaram a ponte e esperaram até ouvir o som de cavalos atravessando a vila.

Onde estavam os guardas? Na verdade, ele não se lembrava de ter visto Etta com guardas. Ele adivinhou quando o povo mágico leal a cercava, ela tinha proteção suficiente.

Quando os cavaleiros deixaram a rua de paralelepípedos da vila, grama alta brotou do chão, impedindo o avanço. Os olhos de Dell se arregalaram quando trepadeiras serpentearam pelos flancos do cavalo.

—Sua Majestade. — Uma voz chamou. A escuridão escondia seus rostos.

Etta congelou. —Simon? — Ela correu para a frente enquanto as videiras e a grama recuavam.

Um homem musculoso com feições esculpidas deslizou para encará-la. Eles se entreolharam por um longo momento.

—O que você está fazendo aqui, Simon?

Dell assistiu em confusão. Quem era aquele homem?

O segundo homem desmontou e Dell recuou. Ele, ele reconheceu. Landon Rhodipus. Um primo distante de Helena, famoso por liderar as unidades de Madra na guerra contra La Dame.

—General? — Etta olhou entre os dois homens.

—Sinto muito, sua Majestade. — Landon inclinou a cabeça. —Mas devemos nos intrometer na sua paz aqui para falar com você. Cavalgamos por dias, abandonando nossos postos para estar aqui.

Etta assentiu, olhando para o pequeno palácio. —Entrem. Está frio aqui fora. — Ela passou por Dell e os dois homens o seguiram. —Vou mandar alguém cuidar dos seus cavalos.

—Obrigado, Majestade. — Simon inclinou a cabeça.

Ela os levou para a grande sala, caminhando diretamente para a mesa ao longo da parede oposta, onde uma jarra de vinho estava ao lado de uma bandeja de taças. Ela derramou um para cada um deles enquanto todos estavam sentados.

—Este é Dell Tenyson. — Ela apontou para ele.

—Tenyson? — Os olhos de Landon se voltaram para ele. —Sua Majestade, você está ciente de que os Tenysons ajudaram na aquisição de Madra?

—Sim, general. — Ela retrucou. —Eu explicarei a presença dele quando você explicar a sua. Dell, conheça o general Landon e Simon, guarda pessoal da rainha de Gaule.

Dell recuou. Sua aparência não poderia significar nada de bom.

—Aconteceu alguma coisa com Catrine? — Etta cruzou os braços sobre o peito.

—Além da filha ser mantida por um usurpador? — Simon prendeu Etta com um olhar.

—Entendo que Camille ainda está em Madra porque Catrine escolheu honrar a aliança.

Simon balançou a cabeça. —Eles estão usando Camille como um peão.

—É verdade. — Landon falou. —A segurança dela é uma moeda de troca que Cole Rhodipus está usando para trazer seu irmão Quinn para casa. — Quando Cole roubou a coroa de Bela, seu irmão gêmeo estava em Gaule com sua unidade militar. Ele não participou da aquisição e ninguém sabia qual lado ele escolheria.

Uma nova voz entrou na sala. —Você está dizendo que a rainha de Gaule tem meu irmão?

Os olhos de Dell se voltaram para Helena na porta. O fogo ardia em seu olhar. O súbito silêncio de Simon e Landon foi resposta suficiente.

 

Helena esperou que alguém expressasse o que sabia agora. Ela reconheceu Landon assim que espiou dentro da sala. Faz anos desde que ela viu o primo e eles nunca foram próximos, mas ele ainda era alguém de casa, alguém que a conhecia sem a máscara.

—Helena. — O nome dela escorregou de seus lábios como uma oração enquanto ele se levantava. Os olhos dele se arregalaram. —Os relatórios disseram que você estava morta. — Ele engoliu em seco. —Que todo mundo estava...

—Morto? — Ela terminou por ele. — Diga-me primo, você está atrás de Cole? Ele tinha o apoio do exército, seu exército.

—Não, Helena. — Ele deu um passo em sua direção.

Ela deu um passo atrás.

—Eu nunca trairia seu pai.

Os partidários de seu pai não eram muito melhores que os de Cole. Eles ainda destruíram o reino.

Mas aqueles leais ao pai seriam leais a ela.

—Eu acredito em você. — Ela torceu as mãos juntas. —Agora, me diga onde está Quinn.

Simon passou a mão no rosto. —É por isso que vim aqui com Landon.

Landon voltou ao seu lugar e assentiu. —Ouvi rumores rebeldes entre minhas tropas muito antes de se revoltarem. Quando Quinn chegou em Gaule, eles já haviam escolhido seus lados. Os rebeldes receberam ordens para voltar rapidamente a Madra. A missão deles era devolver Quinn ao lado de seu irmão gêmeo. Então eles atacaram. A maioria dos leais foi morto imediatamente, mas eu escapei com Quinn. Buscamos refúgio da rainha de Gaule.

Simon coçou o rosto, a exaustão percorrendo os cantos dos olhos. —Chegou a notícia ao novo rei de Madra que seu irmão estava em Gaule. Ele enviou um mensageiro para informar a rainha Catrine, caso ela escolhesse não devolver Quinn ao seu devido lugar, sua filha sofreria por isso.

—Camille. — Helena cobriu a boca com a mão. Eles não tiveram escolha a não ser deixar Camille em Madra, pensando que ela estaria segura enquanto Cole precisasse da aliança de Gaule.

Antes que alguém entrasse em outra palavra, a porta se abriu, revelando dois homens tropeçando e um terceiro segurando-os.

—Encontrei Edmund. —Alex sorriu. Seu sorriso caiu quando ele pegou seus companheiros. —O que está acontecendo? Simon, é minha mãe...

—Ela está sentada à beira de um precipício moral, mas com boa saúde. — Simon levantou-se para cumprimentar o rei.

Confusão brilhava no rosto de Alex quando ele jogou Edmund e Tyson em cadeiras. —Desculpe esses dois. Os dois estão passando por tempos difíceis. — Ele estendeu a mão e apertou a mão de Simon. —Diga-me o que eu perdi.

Helena enrolou a capa com mais força em seu vestido de dormir e encostou-se à porta, tentando processar tudo o que eles disseram. Um pensamento surgiu acima do resto. Quinn estava vivo.

Estou serpenteando em suas veias e ela bateu na porta, sacudindo todos na sala. —Então a rainha de Gaule mandará meu irmão de volta para Madra?

—Sim, princesa. — A tristeza encheu os olhos de Landon. —Fomos recebidos no palácio de Gaule e seguros lá por cerca de uma semana antes que os guardas viessem prender Quinn e colocá-lo nas masmorras. Eu não o vejo desde então.

Havia uma pergunta que ela estava com medo de perguntar, porque a resposta poderia quebrá-la. Mas ela precisava saber. —E Quinn... ele quer voltar? Para Cole?

Os olhos de Landon se suavizaram. —Ele lutou com tudo o que tinha para se manter longe desse destino.

Helena soltou o fôlego que estava segurando.

—Ele estava planejando vir para Bela? — Dell perguntou.

Landon balançou a cabeça. —Não havia nada para ele aqui. Ele acha que todos os membros de sua família morreram em Madra.

Etta estreitou os olhos. —Então por que você está aqui?

Simon tomou um longo gole antes de pousar o cálice. —Catrine está enfrentando escolhas que apenas levam a um caminho sombrio. Não vou permitir que ela comprometa seu caráter.

Helena não conhecia o homem, mas ela entendia o olhar nos olhos dele. Ele traiu a rainha porque estava apaixonado por ela.

Edmund levantou a cabeça. —Simon, foi gentil da sua parte se juntar a nós.

—Ignore-o. — Disse Etta.

Tyson soltou um ronco.

—E ele. — Ela suspirou.

—O que você quer que a gente faça? — Alex perguntou.

—Fale com ela. — Simon encontrou o olhar do rei. —Eu não vim para Bela porque preciso da ajuda do rei e da rainha. Vim porque precisava dos filhos de Catrine. Quinn não está programado para partir em um navio madrano por mais uma semana.

—E se ela não ouvir? — Perguntou Dell.

Helena chutou para longe do batente da porta e caminhou na direção deles. —Então lutamos. Quinn não retornará a Madra enquanto eu ainda estiver respirando. Estarei pronta para partir de manhã.

Ela deu um tapa na lateral do rosto de Edmund. —Acorde, seu bêbado.

Ele acordou assustado. —O que? O que está acontecendo?

—Durma um pouco porque você vem comigo. — Ela se virou para Alex, passando os olhos entre ele e Tyson. —Decida qual dos filhos desta rainha pode mudar de ideia e se preparar para cavalgar. — Ela caminhou até a porta.

—Eu também vou. — Dell gritou para ela.

—Claro que você vai.

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Cinco


Helena entrou no quarto e colocou a mão na garganta. Seu pulso martelava contra os dedos. O que ela estava fazendo?

A alegria assumiu o controle, abafando qualquer dúvida. Quinn estava vivo. Não apenas isso, mas ele não estava correndo para se juntar a seu irmão gêmeo. Os dois sempre tiveram um vínculo que nada do lado de fora podia invadir - nem mesmo ela.

Uma lágrima escorreu por sua bochecha. Ela se sentia tão sozinha - mesmo quando ainda tinha Kassander ao seu lado, assim como algumas outras pessoas que se importavam com ela. Mas Quinn... ele realmente estava sozinho em uma masmorra.

Um gemido veio da cama que ela compartilhava com Kass e ele se debateu.

—Não. — Ele disse. —Você não pode pegá-los. Helena! — Os olhos dele se abriram, pousando em sua irmã.

Helena correu para a cama e sentou na beira, puxando Kassander para o colo. —Shhhh. — Ela acariciou seus cabelos. —Está bem. Estou aqui. Por enquanto. — Ela teria que deixá-lo aparecer de madrugada.

Os olhos arregalados de Kassander ergueram-se para os dela.

—Sonhei com aquela noite.

Ela deu um beijo na testa dele. Não foi a primeira vez que eles sonharam com castelos em chamas e lutas de espadas nos corredores. Toda vez que ela via, uma dor fantasma queimava seu braço onde ela foi esfaqueada.

—Acabou, Kass. Estamos a salvo.

—Estamos? — Era uma pergunta que ela se perguntava muitas vezes. Cole viria atrás deles? Ele pensou que Helena estava morta, mas Kass...?

Não. Ela sabia com súbita certeza que Kassander não seria prejudicado. Pelo menos não por Cole. O irmão deles pode ter odiado os pais e desprezado Estevan, mas ele amava o irmão mais novo. Ela viu isso. Nem tudo poderia ter sido uma mentira, poderia?

Ela deitou-se na cama com Kassander. —Eu preciso te contar uma coisa.

—Hmm? — Ele se virou para enterrar o rosto no ombro dela.

—Eu tenho que sair amanhã.

—Onde você vai?

Ela poderia contar a ele sobre Quinn? Não. Quando ele acordasse, ela já teria ido. Se ela fosse tarde demais para ajudar Quinn, Kassander nunca saberia. Ela não aguentaria sua decepção novamente.

—Apenas me prometa que ficará longe de problemas até eu voltar.

Ela esperou por uma resposta, mas ele já havia adormecido.

 

O sol mal nascera quando Helena montou o cavalo. Ela não estava confortável em uma sela, mas supôs que aprenderia rapidamente. Não havia outra escolha.

Edmund resmungou ao lado dela. —É muito cedo, e minha cabeça está me matando.

Helena sabia que ele não quis dizer nada com o que ele disse. Ele queria encontrar Quinn quase tanto quanto ela. Ele era apenas Edmund, um queixoso.

—Talvez se você não tivesse forçado tanta cerveja para dentro de mim. — Começou Tyson, levando um cavalo ao lado deles. —Não nos sentiríamos tão maus esta manhã.

Edmund bufou e estreitou os olhos quando finalmente viu a besta ao lado de Tyson. —Não. Ty, você vai colocar o cavalo de volta agora.

Helena se inclinou em torno de Edmund para avistar Vérité.

Tyson cruzou os braços. —Diferente de você, Vérité gosta de mim. Etta me disse para levá-lo. Ele pode nos ajudar.

—Ele é apenas um cavalo. — Disse Dell.

Simon se juntou a eles, balançando a cabeça. —Você não conhece Vérité. Ele é mais do que um cavalo, mas ele só ouve Etta.

—E eu. — Tyson enviou um olhar para cada um deles.

—Tudo bem. — Edmund deu um passo para trás. —Mas mantenha-o longe de mim.

Como se soubesse que eles estavam falando sobre ele, Vérité pulou em direção a Edmund, estalando os dentes e pegando a ponta da capa do loiro.

Edmund soltou um grito agudo e se afastou.

Dell riu, mas Helena não se divertiu. Ela só tinha a missão em mente. Ir para o Gaule. Confrontar a rainha. Libertar o irmão dela. Então se vingar de Cole.

Landon a ajudou a montar no cavalo, e ela segurou as rédeas como se sua vida dependesse disso. Talvez sim.

O resto do grupo montou e, sem olhar para trás, eles deixaram a vila para trás.

Helena chutou o cavalo para acompanhar o resto, balançando antes de se endireitar e endireitar a coluna.

Dell parou ao lado dela, com um olhar de conhecimento.

—Você está bem?

Ela apenas assentiu, seus lábios se dobrando em uma linha sombria.

Sentindo sua necessidade de não falar, Dell chamou Tyson.

—Como você ficou preso a essa missão em vez de seu irmão?

Ty deu de ombros. —Alex é rei em Bela agora. Além disso, é mais provável que a mãe me ouça. Alex e Camille tiveram um... relacionamento difícil. A mãe não aceitaria nada do que ele dissesse sobre Camille no coração. Eu, por outro lado, amo minha irmã. Eu também amo minha mãe e sei que ela não entrega pessoas inocentes. Ajudaremos Camille, mas não dessa maneira.

Pela primeira vez, Helena considerou o quão difícil deve ser manter o título de príncipe em dois reinos. Tinha sido difícil para ela ser uma princesa de um.

Mas ela não pensou por um segundo que uma rainha pudesse ser influenciada simplesmente por conversa. Não foi dito que alguém era tão forte quanto Catrine. O que seria realmente necessário para libertar Quinn?

Landon cavalgou ao lado dela, como se estivesse tentando encontrar algo para dizer. —Chegaremos à fronteira ao pôr do sol amanhã.

Helena apenas assentiu.

—É verdade? — Ele finalmente deixou escapar.

Ela se virou para perfurá-lo com o olhar. —O que é verdade?

—O jovem príncipe Kassander. Ele também vive? Eu ouvi rumores no palácio.

Ela olhou para frente mais uma vez. —Ele vive. Ele estava dormindo quando você chegou.

Um sorriso se espalhou pelo rosto de Landon. —Isso é bom. Realmente muito bom.

—Estevan ainda está morto. — Sua voz não teve emoção.

—Sim. — Ele abaixou a cabeça. —Eu tinha ouvido isso.

—E Cole não tem muito tempo para viver.

Sua testa franziu com isso, mas ele assentiu.

—Dois irmãos mortos ou traidores. — Continuou ela. —Um preso. Uma criança. Você acredita em vingança, general?

—Eu acredito.

—Que tal matar a própria família?

Ele desviou os olhos dela e não respondeu.

Dell encontrou seu olhar com preocupação, mas não falou.

O cansaço penetrou em seus ossos quando pararam para passar a noite. Ela desmontou, uma dor subindo por sua espinha. Ela tropeçou enquanto tentava andar depois de passar o dia todo em cima de um cavalo.

Dell agarrou seu braço. —Você vai se acostumar com isso.

Ela deu de ombros e libertou sua mochila amarrada à sela antes de se afastar.

Simon e Landon acenderam o fogo. Tyson passou em torno de com uma vasilha de carne seca que Etta havia enviado.

—Quinn deveria ter escolhido uma época melhor do ano para ser preso. — Disse Edmund, puxando a capa sobre a boca.

Tyson o empurrou. —Você não pode fazer piadas, imbecil.

Era um lado que Helena não conhecia de Edmund. Disfarçado e indiferente. No ano em que o conhecia, ele sempre tinha uma piada nele, mas não era assim. A perda de Stev havia roubado o homem que ele se tornara?

Ela balançou a cabeça e se abaixou no colchonete que havia deitado, puxando o cobertor de lã até o queixo. O frio noturno escoou pela capa e ela se aproximou mais do fogo do que era seguro. Ela não era a única.

Uma brisa fraca parou de repente, jogando-os em completa quietude. Pelo menos Edmund ainda tinha sua magia.

Sem o vento, o frio ficava mais suportável.

Os homens conversaram enquanto Helena deixava as pálpebras caírem. Amanhã à noite, ela alcançaria Gaule.

Estou indo Quinn.

 

Algo roçou o braço de Helena, acordando-a. Seus olhos se abriram ao encontrar Dell pairando sobre ela.

—O que você está fazendo? — Ela empurrou o cobertor para se sentar.

Ele sentou-se nos calcanhares e coçou a bochecha. —Você estava tremendo. Eu... uh...

Foi só então que ela percebeu que não havia apenas um cobertor cobrindo-a. Ambos agora estavam amassados ao lado. —Você estava me dando seu cobertor?

Ele deu de ombros, subitamente sem palavras. Isso não era como ele.

—Dell...— Tudo o que ela queria dizer, outra coisa saiu de sua boca. —Eu não preciso que você cuide de mim.

Sua mandíbula apertou. —Você deixou isso bem claro. — Ele se levantou e se afastou.

Helena chutou o resto dos cobertores e pulou para correr atrás dele. —Dell, espere.

Ele se virou tão rápido que ela colidiu com ele. —Por que, Len?

—Eu sinto muito.

Ele soltou um suspiro e baixou a cabeça para encontrar o olhar dela. —Você não tem nada para se desculpar. Venha aqui. — Ele a puxou contra ele e a abraçou. —Eu só estou aqui por sua causa, Len. Você pode não precisar de mim, mas isso não significa que vou a lugar algum.

Ela se afastou. —Como assim, você está aqui por minha causa? Você teve que fugir de Madra para sua própria segurança, assim como a minha.

Ele passou a mão pelos cabelos e olhou para o céu. —Você sabe por que eu desafiei meus irmãos para ajudar Edmund?

—Porque você confiou em Edmund.

—Eu confiei... mas Len, eu me tornei um espião. Arrisquei tudo... isso não é algo que você faz apenas porque alguém que você respeita pede para você.

—Então por que?

Ele abaixou o olhar até que se estabeleceu nela mais uma vez.

—Eu sabia o que aconteceria com aqueles dentro do palácio se uma rebelião estourasse.

—Mas você não sabia que eu era a princesa. — Não poderia ter sido tudo para ela.

—Não. Pensei que você fosse a amante do príncipe.

A vergonha corou através dela. —E você ainda queria me salvar?

A ponta áspera de seu polegar raspou em sua bochecha.

—Desde o momento em que te conheci, não importava quem você era atrás das muralhas do palácio. Quando você estava comigo, você era Len. Eu nunca parei de pensar em você.

Ele descansou a testa na dela.

O coração de Helena deu um pulo ao seu toque. Ela queria mais do que tudo ceder às emoções que rodavam dentro dela.

—Você já desejou poder voltar ao baile? — Ela sussurrou. —Quando você percebeu quem eu era e ninguém mais existia além de nós?

—Todos os dias... sem que nossas famílias nos aprisionassem de antemão.

Ela fechou os olhos, uma lágrima escapando. A vida por trás da máscara parecia muito tempo atrás, mas ela se viu sentindo falta dela. Dias passados com a mãe. Noites passadas brincando com seus irmãos. Ela não precisava do resto do mundo. Ela os tinha.

Por um curto período de tempo, Dell havia lhe dado tudo o que não podiam. Ele mostrou a ela que tipo de vida ela poderia ter. Uma de aventura... uma de amor.

—Helena. — Ele respirou. —Eu-

Ele se inclinou, seus lábios roçando os dela.

—Nós não podemos. — Ela se afastou. —Esse é o problema, Dell. Não podemos voltar. Essas pessoas não existem mais. Se eu vou fazer o que precisa ser feito, preciso esquecer a garota que eu era. — Ela saiu de seus braços.

Ele os deixou cair ao seu lado. —Len, não faça isso. Não deixe a raiva consumir você.

—Você não ouviu nada que Etta disse? É assim que eu vou lutar.

 

 

 

 


Capitulo Seis


A chuva envolveu o grupo no segundo dia de viagem. Dell afastou os cabelos molhados do rosto e manteve os olhos fixos nas costas de Helena. Ela estava errada. A raiva não era a única maneira de lutar. Ele ouviu tudo o que Etta ensinou a Len, mas não achou que a raiva fosse o ponto de suas lições.

—Ty. — Edmund latiu. —Você não vai fazer algo sobre isso? — Ele olhou para o céu quando outro dilúvio os atingiu.

—Oh. — Tyson deu de ombros. —Eu acho que poderia.

Dell se assustou quando a chuva parou. Não, não parou. O tamborilar dele batendo no chão ainda soava ao redor deles, mas era como se a água se curvasse de onde eles cavalgavam. Como se um escudo tivesse sido colocado ao redor do grupo.

Helena engasgou momentos antes de Dell também sentir a água escorrer de suas roupas.

—Você está fazendo isso? — Ele perguntou ao jovem príncipe.

Landon xingou e olhou em volta descontroladamente.

—Vocês belaenos. — Ele resmungou.

Tyson deu de ombros. —Às vezes posso ser útil.

O que isso significava? O poder de Tyson com a água era a coisa mais legal que Dell tinha visto em Bela.

Edmund se mexeu na sela. —Ty... é claro que você é útil.

Tyson olhou para as mãos. —Não, está tudo bem. Conheço meu papel em Bela e em Gaule. Eu sou o mensageiro. Pertencer a nenhum reino completamente. Você não esteve aqui no ano passado, Edmund. Depois de...

—Você deixou Amalie. — Edmund terminou.

—Sim, isso. Passo a maior parte do tempo na estrada. Não se preocupe; Sou a melhor pessoa para navegar em Gaule. Isso é algo que eu posso fazer.

—Navegar em Gaule? — Dell olhou entre os dois homens.

Tyson suspirou, mas foi Simon quem respondeu. —Gaule se tornou um lugar traiçoeiro, rapaz.

Helena diminuiu a velocidade do cavalo para se mover ao lado de Dell. —Não. Estudei Gaule com os tutores do meu palácio. Foi um lugar de paz por muitos anos.

Simon fixou seu olhar nela. —Foi uma paz falsa, mas isso não é algo que eles ensinariam em Madra. Gaule caçou aqueles com magia dentro de suas fronteiras por muitos anos. Para pessoas não mágicas, eles tinham paz, sim. Mas teve um custo.

—E então Alex aconteceu. — Tyson esfregou os olhos como se doesse sua cabeça pensar nisso.

—O que Alex fez? — Dell sacudiu os olhos entre cada um dos presentes.

Simon fez uma careta. —Nada que deveria ter custado a ele seu trono. Ele queria interromper a perseguição. Muitos dos nobres agiram por medo e não ficaram atrás do rei quando o povo se rebelou. Seu próprio conselho tirou a coroa do topo de sua cabeça.

—Um conselho não pode fazer isso. — Zombou Helena. —Os únicos que tinham o poder de remover meu pai eram os padres.

—Não há padres em Gaule. O conselho e o rei governaram em conjunto um com o outro. Eles perceberam que o povo nunca terminaria suas rebeliões com Alexandre como rei. Ele era um amante da magia.

—Muito bem. — Tyson cruzou os braços.

—Espere. — Dell não conseguia entender como isso poderia acontecer. —A rainha Catrine pegou a coroa de seu próprio filho?

—Alex deixou. — A voz de Tyson continha uma nota defensiva. —Isso foi ao mesmo tempo que Etta estava marchando para a guerra contra La Dame. Alex precisava se juntar a essa luta e ele nunca poderia ter quando seu dever estava com Gaule.

—A coroação de Catrine reprimiu a rebelião? — Helena perguntou.

Dell se perguntou se ela estava pensando na rebelião em seu próprio reino. Isso também resultava em uma nova trégua.

Simon soltou um suspiro. —Esperávamos que sim, mas o reino já estava dividido. Ainda há muitos que são leais à rainha, mas outros continuam a semear inquietação. Anos de rebeliões resultaram em escassez de alimentos, aumentando apenas o desconforto.

—É por isso que ela precisa da aliança com Madra. — Helena respirou. —Meu pai disse que prometemos tropas para ela.

Tyson rangeu os dentes. —E é a única razão pela qual minha irmã concordaria em se casar em um reino estrangeiro.

—Eles não vão liberar Quinn. — Ela segurou as rédeas, falando apenas com Dell dessa vez.

Dell não conseguiu negar a verdade em suas palavras. Se Gaule precisava de Madra, por que a rainha arriscaria a aliança para libertar um único homem?

Simon, ouvindo as palavras de Len, passou a mão nervosamente pela cabeça. —Você não conhece Catrine. Ela faz a coisa certa, não importa o custo. Sua integridade é inferior a nenhuma. Por isso vim para Bela. Tem que haver outra maneira. Gaule não pode levar em consideração corar um rei que matou sua própria família para assumir o trono.

Helena se encolheu. Dell estendeu a mão para segurar sua mão em segurança, mas ela cutucou o cavalo para aumentar o espaço entre eles.

Ele apertou os lábios.

Tyson olhou para eles. —Simon está certo. Isso é maior do que entregar um homem a Madra. Depois que a mãe fazer isso, o que vem a seguir? Eles sempre manterão a segurança de Camille sobre nós?

Afundaram em silêncio, considerando as implicações dessas palavras.

Depois de um tempo, a chuva desapareceu e Tyson liberou sua magia, afundando na sela do esforço.

O sol se pôs no horizonte quando Simon parou. —Se formos muito mais longe, atravessaremos Gaule e prefiro não fazer isso no escuro da noite.

Edmund olhou para a extensão diante deles. Um vale se estendia pela noite, coberto de ervas. —Neve. Não temos muito disso em Bela. — Um sorriso deslizou em seu rosto. —Não poderíamos cavalgar até a propriedade dos Moreau? Não pode estar longe e uma cama macia parece legal no momento.

Dell não perdeu os olhares afetados que piscavam nos rostos de Tyson e Simon.

—Edmund. — Começou Tyson. —Eu continuo esquecendo que você esteve em Madra com poucas notícias de casa.

—Somente o que os comerciantes nos trouxeram.

Tyson assentiu. —A duquesa Moreau perdeu suas terras logo depois que você partiu para Madra.

Os olhos de Edmund se arregalaram. —Como?

—O duque Ferenz construiu uma força. Ele sitiou a casa grande. Você esteve lá. Foi construída para lutar, pois fica próximo às fronteiras de Bela e Dracon. Mas eles não tiveram chance. Os homens do duque devastaram suas aldeias. Não vamos encontrar amigos lá.

Edmund recostou-se na sela, atordoado. —E a duquesa?

—Segura. Ela agora reside no palácio em tempo integral.

Ele soltou um suspiro aliviado.

Dell não conhecia as pessoas de quem falavam, mas suas expressões graves já diziam o suficiente. Gaule não seria um território amigo.

 

Helena deu um tapinha na espada embaixo da sela antes de subir, o orgulho brotando dentro dela por fazê-lo sem ajuda.

Ela dormiu mal durante a noite, incapaz de livrar sua mente da trágica história de Gaule. Um povo dilacerado por algo tão simples quanto mágica. Em Madra, os poucos com magia eram temidos. A maioria deles embarcou para Bela assim que a notícia do retorno de Persinette chegou à costa. Alguns ficaram por várias razões.

Mas ela não sabia se eles eram odiados. Era apenas uma das muitas coisas que ela não sabia sobre seu reino. Há quanto tempo a rebelião de Madra estava se formando? As pessoas apoiaram? Eles tinham amado o pai ou o irmão?

Eles não viram a primeira vila até chegarem ao topo do vale.

Uma torre de vigia apareceu, com a marca negra de fogo esticando suas pedras.

A parede ao redor havia desmoronado em muitos lugares. Eles conduziram seus cavalos pelas ruas desertas. Alimentos e itens pessoais se espalhavam pelos paralelepípedos como se uma massa de pessoas saísse às pressas.

—O exército do duque está acampado aqui perto. — Landon assumiu a liderança. —Devemos nos apressar e sair rapidamente das terras de Moreau. Há uma força de Madra patrulhando a zona entre aqui e o palácio. Quando deixarmos esta vila, não poderemos mais seguir a estrada. Os caminhos da floresta são traiçoeiros para os cavalos, então fiquem de olho.

Ele mal conseguiu pronunciar as palavras antes que algo se chocasse contra Helena, derrubando-a do cavalo.

—Len! — Dell gritou, mas ele não conseguiu alcançá-la porque, naquele momento, uma dúzia de cavaleiros apareceu nos becos.

Helena empurrou o homem que a havia ultrapassado. Ele agarrou seus pulsos, e ela girou embaixo dele.

Ela viu o uniforme carmesim dele. Madranos. Rebeldes. Passou por sua pele até que tudo o que ela viu foi um inimigo tentando subjugá-la. Ela bateu o joelho, pegando-o na virilha. As mãos dele sobre ela afrouxaram apenas o suficiente para ela soltar uma e puxar a adaga de onde ela sempre a mantinha no corpete. Com um empurrão da mão dela, ele caiu de lado.

Ela ficou de pé, soltando a adaga e se preparou para enfrentar o próximo atacante. Uma mulher correu para ela e Helena abaixou a adaga. Ela procurou o cavalo para recuperar sua própria espada, mas o animal se foi.

Besta explodida.

Tyson empinou em Vérité quando o cavalo chutou as pernas para o cavalo do atacante. Era como se o animal pensasse que ele também fazia parte da luta.

Helena se virou mais uma vez para encarar a mulher que a seguia. Ela julgou a distância entre elas, acalmando a respiração antes de arremessar a adaga com uma precisão mortal. Isso atingiu a mulher entre os olhos. Ela tombou do cavalo e o cavalo fugiu.

Um toque soou nos ouvidos de Helena quando a luta cessou ao seu redor. Os Madranos não eram páreo para o grupo menor, mas mais habilidosos, que atacavam.

Ela tropeçou de volta. A última vez que ela esteve em uma luta... imagens tocaram em sua mente. Fogo. Estevan. Ela balançou a cabeça, tentando se libertar das garras do passado. Ela teria que fazer isso repetidamente para garantir o trono? Matar?

Dell pulou do cavalo e correu em sua direção. —Len, você está bem? — Ele agarrou seus ombros, olhando-a de cima a baixo como se procurasse ferimentos.

—Precisamos sair daqui. — Simon resmungou.

Dell baixou a cabeça para olhar em seus olhos. —Len, olhe para mim.

A cena entrou em foco novamente.

—Você está bem? — Dell perguntou mais uma vez.

Ela deu de ombros e pegou a adaga da mulher morta enquanto a frieza a penetrava. —Tudo bem. — Limpando a lâmina na perna da calça, ela se juntou aos outros. —Eles eram madranos.

—Desertores, princesa. — Os lábios de Landon puxaram para baixo. —A turbulência dentro das tropas deu muitas chances de escapar. Bandos de desertores agora viajam pelas estradas, nada melhor do que ladrões comuns.

—Por que eles não voltaram para Madra?

—Como, princesa? — Landon balançou a cabeça. —Eles não têm nada, nem dinheiro para a passagem do navio. As tropas madranas são enviadas para países estrangeiros sem saber quando voltarão para casa. Eles se alistam sob a promessa de comida para suas famílias. Mas seu pai e suas guerras... Ele manteve muitos deles em zonas de guerra por anos.

Helena olhou para os mortos espalhados pela rua. Ela costumava se perguntar o que poderia levar uma pessoa a matar, a roubar. Mas eles não haviam acordado um dia e decidiram viver a vida dessa maneira. As circunstâncias, muitas delas criadas por seu pai, transformaram as pessoas em quem elas se tornaram.

Como ela viveu sua vida cega às falhas do pai? Ele falhou com seu povo. Cole não estava errado em acreditar que não merecia mais ser rei.

Ela poderia perdoar o irmão por querer a coroa.

Mas a mãe dela? Estevan? Não, essas foram as mortes pelas quais ele tinha que pagar.

Uma vez fora do território de Moreau, eles estavam em terras pertencentes à coroa de Gaule e patrulhadas pela força de Madra.

Galhos chicotearam Helena no rosto enquanto ela atravessava o chão coberto de neve na floresta.

A cada dia, eles se aproximavam do palácio. O que ela ia dizer à rainha para fazê-la ver?

A incerteza curvou seu estômago, mas era Quinn. Ela não podia decepcioná-lo.

 

As paredes do palácio de Gaule eram maiores do que qualquer que Helena já vira. Elas pairavam sobre ela, roçando o céu.

Simon cavalgou em direção à pequena guarita que parecia recém-construída. Ele falou com os guardas em tom baixo.

Os olhos de Edmund nunca deixaram os portões. —A última vez que estive aqui, Etta explodiu esses portões.

Os olhos de Helena se arregalaram. —Ela tem tanto poder?

—Não mais. — Ele desviou os olhos. —Houve um tempo em que Etta detinha todo o poder de seus ancestrais. Ela destruiu sua própria mágica para vencer La Dame. Agora ela só tem aquele com o qual nasceu. O poder de fazer as coisas crescerem.

Dell coçou a parte de trás da cabeça. —Seria incrível estar lá para a batalha de Dracon. Para ver esse tipo de mágica.

Um novo homem emergiu da guarita e Edmund afastou o cavalo deles. —Fique feliz que você não estava. — Com essa palavra final, ele desmontou.

Um guarda mais velho, de uniforme azul, se aproximou.

—Pai. — Helena nunca tinha ouvido tanto gelo no tom de Edmund.

Então, esse era o homem que desprezara Edmund a vida toda. Helena examinou seu rosto severo, instantaneamente não gostando dele.

—Você não deveria estar em Gaule. — Afirmou o homem. —Não é seguro para o seu tipo, mesmo que a rainha o apoie.

Edmund deu de ombros. —Nunca foi seguro para mim, foi? Temos que ver a rainha.

Como se os notasse pela primeira vez, o pai de Edmund examinou o grupo com uma careta.

Simon voltou. —Anders. — Ele estendeu a mão. —Trago convidados importantes.

Anders se recusou a apertar sua mão. —Você abandonou seu posto, Simon. Eu deveria ter você jogado em uma cela.

—Anders, eu fui e sempre farei o que é melhor para a rainha.

O homem suspirou. —Eu sei. Ela está de mau humor desde que você saiu. Ela ficará feliz em vê-lo pelo menos em segurança. Venha. Ela já se retirou para seus aposentos para passar a noite, mas quer vê-lo imediatamente. Seus convidados podem ter sua audiência amanhã.

Helena abriu a boca para protestar, mas Simon levantou a mão.

—O navio madrano já chegou?

Anders assentiu. —Esta tarde. Está ancorado fora da enseada. Eles estão programados para sair de manhã com o príncipe.

Cada palavra esfaqueou o coração de Helena. Amanhã. Eles estavam quase atrasados.

Os portões se abriram, suas engrenagens enviando um grito na noite.

Simon hesitou por um momento. —Então nossos convidados não podem esperar. Eles devem ver a rainha agora.

Anders não os impediu enquanto eles seguiam direto para uma cidade com fileiras de casas e lojas pelas ruas de paralelepípedos. Ao longe, havia outro muro alto que separava o palácio dessa parte externa.

Crescendo em uma cidade como Madra, as aldeias de Gaule e Bela pareciam pequenas em comparação. Ela não entendia como a população deles poderia viver tão espalhada.

Nos estábulos, dois rapazes pegaram seus cavalos.

Eles atravessaram os portões abertos para um pátio. Os degraus da entrada do palácio ficavam no outro extremo, arcos guiando o caminho. Tochas estavam em ambos os lados das portas. Os guardas acenaram com a cabeça para Simon, não o parando para questionar quem estava com ele.

Ela não sabia o que estava esperando depois do humilde palácio de Bela, mas não era o esplendor antigo que os cercava agora.

Eles atravessaram o chão de mármore, virando muitos cantos até que ela não tinha certeza de que conseguiria sair. Seu coração batia mais rápido quanto mais chegavam aos aposentos da rainha. Era isso. Seu momento de salvar o único membro de sua família que podia. No entanto, ela não sabia o que diria.

Eles pararam do lado de fora de uma porta de mogno esculpida. Simon não deu atenção aos guardas estacionados lá, e eles não o seguraram. Ele bateu e esperou.

—Entre! — Uma voz gritou.

Um dos guardas abriu a porta, revelando uma suíte luxuriante com carpete aveludado.

Uma mulher alta, com cabelos escuros e olhos claros apareceu. Franziu a testa e cruzou os braços sobre o peito. —Simon.

—Sua Majestade. — Ele se curvou.

—É isso aí? — Sua voz subiu uma oitava. —É tudo o que eu ganho? Sua Majestade?

—Mãe. — Tyson passou por Simon e ela viu que não estavam sozinhos pela primeira vez.

—Ty? — Ela amoleceu. —Eu não esperava vê-lo até o inverno nos deixar. — Ela estendeu os braços e ele afundou em seu abraço.

Helena desviou o olhar, lágrimas ardendo na parte de trás dos olhos. Ela daria qualquer coisa para sua própria mãe para segurá-la assim novamente.

A rainha olhou para o resto. —Edmund? — Ela soltou Tyson. —Oh querido garoto. Faz anos.

Edmund recebeu um abraço tão quente quanto o de Tyson. Ele enterrou o rosto no ombro da rainha e suas costas tremiam como se a mulher quebrasse todas as paredes que ele construiu com um abraço. Ela se afastou.

—Edmund. — Ela inclinou o queixo para que ele olhasse para ela. —Eu estava preocupada com você quando as notícias de Madra chegaram até nós. Você está...

—Bem? — Uma lágrima deslizou por sua bochecha e ele se afastou. —Eu...— Ele balançou a cabeça como se decidisse não contar a ela. —Estamos aqui por um motivo. Não importa o quanto eu sinta sua falta, não é por isso que eu vim.

A máscara de rainha de Catrine voltou e ela gesticulou para o quarto, olhando os estranhos.

—Landon. — Ela o cumprimentou. —Eu não pensei em vê-lo novamente.

—Sua Majestade. — Ele não tinha mais nada a dizer para ela.

Catrine falou com os guardas à sua porta. —Encontre alguém para nos buscar um chá.

—Vinho. — Corrigiu Edmund. —Vamos precisar de vinho.

A voz de Catrine endureceu. —Chá.

—Sim, sua Majestade. — O guarda desapareceu e Catrine fechou a porta antes de virar em direção à sala de estar.

Dois sofás compridos se enfrentavam em frente a uma lareira crepitante.

—Sentem-se. — Disse ela. —Por favor. Então você pode me dizer quem você trouxe para o meu reino, Tyson.

Tyson engoliu em seco quando se sentou.

Helena permaneceu de pé. Ela encarou a rainha. —Eu sou Helena, princesa de Madra.

A única reação da rainha Catrine foi levantar uma sobrancelha.

—Bem, eu certamente não esperava isso. Parece que podemos precisar desse vinho, afinal.

—Eu disse a você. — Edmund resmungou.

—Não temos tempo para bebidas ou brincadeiras. — Todas as incertezas de momentos antes desapareceram, e Helena sabia tudo o que precisava para transmitir. Ela levantou o queixo, olhando nos olhos duros de Catrine.

—Não. — Catrine cruzou os braços. —Essa é a minha resposta para você. Você veio ao meu prisioneiro.

—Meu irmão. — Helena rosnou. —Você vai libertá-lo para mim.

—Sinto muito. — A rainha desviou o olhar e deu a volta em torno de Helena para afundar no sofá ao lado de Tyson. —Eu não posso fazer isso. Minha filha está em jogo. A aliança do meu reino.

Helena se virou para encará-la mais uma vez e abriu a boca para falar, mas Simon interrompeu.

—E então? Entregamos um homem inocente ao usurpador e ele volta para nós pedindo mais na próxima vez. Camille nunca estará segura enquanto estiver lá. Você está colocando toda Gaule em risco.

—Suas tropas. — Disse ela. —Nós precisamos deles. Não posso continuar a conter os rebeldes sozinha. Etta se recusa a enviar ajuda, então o que devo fazer?

—Mãe. — Tyson agarrou sua mão. —Etta não pode enviar gente mágica para Gaule. Mesmo que ela tentasse, seu pessoal recusaria e ela deixaria. Eles não virão em auxílio do reino que os perseguiu.

A rainha expirou lentamente. —Eu sei. É por isso que não posso libertar o príncipe. Me desculpe, você chegou até aqui. Madra é minha única esperança.

—Então você cairá como meu pai. — Helena caminhou até a porta e os deixou olhando para ela.

 

 

 

Capitulo Sete


O palácio de Gaule era estranho a Helena, mas tão familiar. Servos apressados, preparando-se para os deveres da manhã seguinte. Os guardas a observavam, sempre atentos a estranha entre eles.

Ela sentiu alguém a seguindo quando saiu da ala real e sabia quem era sem se virar.

—Eles te mandaram atrás de mim? — Ela disse, sem parar.

Dell apareceu das sombras. —Você não deveria ter saído.

—Eu disse o que vim dizer. — Ela falou suas próprias palavras. — Eu vivi minha vida em torno de pessoas que tomam decisões em um reino e posso ler os sinais de uma causa perdida. Todos nós precisávamos de um momento para respirar.

—Len. — Ele agarrou o braço dela para parar seus passos.

—Temos que pegá-lo, Dell. — Ela se virou, consciente dos olhos nela.

Passos pesados bateram pelo corredor e o rosto sombrio de Edmund apareceu. —Não aqui. — Ele passou por eles, virando a esquina para outro corredor. Parou em uma porta que dava para um pátio de treino. Alvos de madeira estavam em uma extremidade, mas nenhum arqueiro ou espadachim praticava na hora tardia.

—Não haverá ouvidos indesejados aqui. — Edmund virou-se para eles. —Tyson continuará a falar com a rainha. Por isso precisávamos dele. Provavelmente não o veremos até a manhã, por isso precisamos seguir para o nosso segundo plano.

Os ombros de Helena relaxaram. Ela deveria saber que Edmund não confiaria apenas em conversas para salvar seu irmão. Ele faria o que fosse necessário... mesmo que isso significasse trair uma rainha que obviamente era como uma mãe para ele.

Edmund examinou a área circundante antes de se voltar para Helena. —Se o navio de Madra já chegou, precisamos nos preparar para a possibilidade de que madranos fiquem no palácio.

—A rainha nos contaria isso? — Dell perguntou.

Os ombros de Edmund se ergueram meio encolher de ombros. —Catrine guarda seus segredos. Ela não iria querer inquietação dentro dessas paredes. Não estamos mais em Bela, onde as pessoas confiam em sua rainha, nem em Madra, onde o rei tem imenso poder. Governar Gaule é como sentar na ponta de uma espada. Muitas pessoas veem Catrine como tendo roubado a coroa de Alexandre, mas ela o salvou desse destino.

Helena sentiu a mulher sentada naqueles quartos luxuosos. Ela sabia o que era se sentir enjaulada pelas circunstâncias. Mas isso não significava que Helena não lutaria com ela com cada respiração que respirava.

Ela endureceu a mandíbula. —Não importa o bem que ela fez. Ela tem Quinn. Diga-me, Edmund, você está do meu lado ou do dela?

Edmund fechou os olhos, protegendo-a da guerra em suas profundezas. —Catrine sempre cuidou de mim como se eu fosse dela. — Suas pálpebras se abriram, permitindo a Helena um vislumbre da dor por trás de suas palavras. —Mas ela está errada agora. E eu tenho que fazer isso. Eu tenho que proteger você, proteger seus irmãos.

—Por Estevan? — Ela sussurrou.

Ele balançou sua cabeça. —Por você. Você é minha família tanto quanto Catrine... tanto quanto seus filhos.

Helena conteve as emoções que ameaçavam se espalhar. Ela não era a garota que poderia mais quebrar. Não quando havia tanto em jogo.

Dell deu um passo à frente. —O que nós fazemos?

—Pergunte a ele. — Edmund gesticulou atrás deles.

Helena e Dell se viraram para ver quem havia chegado. Reed estava perto da porta, ouvindo a conversa silenciosa.

Dell pegou sua espada instintivamente, esquecendo que eles foram desarmados antes de serem autorizados a entrar no palácio. Helena sentiu o peso da adaga escondida, secreta dentro do tecido do vestido. Ela não queria puxar, mas se ele fizesse um movimento, ela não hesitaria.

Reed jogou as mãos no ar segundos antes de Dell correr para ele, batendo-o contra a parede. Ele pressionou o braço na garganta de Reed. —Ele ouviu tudo. Não podemos simplesmente deixá-lo ir.

Reed tossiu. —Se você me soltar. — Ele murmurou. —Eu tenho informações que você quer saber.

—Dell. — Edmund apertou a mão no ombro da Dell.

Dell puxou o braço para trás e seguiu para o outro extremo do pátio de treinamento antes de retornar. —Ok, irmão, o que você tem para nos dizer? Fale antes que eu peça a Helena aqui que corte sua garganta com a adaga que sei que ela escondeu em algum lugar.

Os olhos de Reed se arregalaram e Edmund xingou.

Helena virou-se para esconder o rosto.

—Princesa? — Reed nunca a tinha visto sem a máscara. Se não fosse pela língua tagarelada da Dell, ele não saberia que ela estava diante dele. —Eles disseram que você morreu.

Ela se virou para encará-lo e seus lábios se curvaram. —Eles disseram muitas coisas. Assim eles eram leais ao rei. Ou que eles amavam seu reino. Mentiras. Não acredite em nada que saia da boca de um rebelde.

Reed se empurrou contra a parede. Ele se aproximou de Helena, mas Dell entrou em seu caminho. —O que você está fazendo no Gaule, Reed?

—O rei me enviou para buscar seu irmão. Ele não confia em ninguém além de mim e Ian. E bem, Ian nunca sai do seu lado.

—O rei. — Helena zombou. —O rei está morto.

—Olhe. — Reed passou a mão pelo rosto. —Vi você chegar hoje e tenho seguido você desde então. Provavelmente não sou o único que viu. Felizmente, o resto dos homens de Cole que estão comigo só reconheceria Edmund. — Ele enfrentou Dell. —Assim que eu te vi... não sabíamos se você saiu ou onde está desde então.

—Estou surpreso por você se importar. — Disse Dell.

—Eu não. — A declaração chocou Helena, mas Dell nem sequer se encolheu. —Mas Cole... Madra está sofrendo. Bela se recusa a negociar conosco e Gaule não tem nada de valor, como comida.

Helena olhou para Edmund. —Você sabia que Etta cortou laços com Madra?

—Não. — Ele parecia tão aturdido quanto ela. —A rainha Belaena não enviaria forças para ajudar, mas as cortou. Bela tinha terras ricas, ajudadas por magia. Desde que recuperaram seu reino, eles forneceram boa parte dos alimentos aos seis reinos.

Mas isso não era Cole sofrendo. Eram as pessoas. O povo de Helena. Eles estavam com fome antes. Agora...

Reed continuou. —Cole ficou paranoico com o fato de alguém tentar assumir o trono. É por isso que ele me enviou para recuperar Quinn. Mesmo que os irmãos não concordem com isso agora, Cole acha que seu irmão gêmeo é a única pessoa em quem ele pode confiar.

—Camille. — Edmund apertou a mandíbula. —E ela...

—Ela está bem. — Reed desviou os olhos. —Por enquanto. Cole não é o mesmo desde o dia em que conquistou a coroa. — Ele encarou Helena com um olhar. —Ele se culpa por sua morte, e é a única coisa em tudo isso que o está comendo de dentro para fora.

Helena não acreditou nas palavras de Reed. Para que ele se sentisse culpado, Cole tinha que ter um coração, e ela sabia agora que era a única coisa que lhe faltava. Uma mente brilhante. Uma vontade de ferro. Ele poderia ter sido um bom rei se possuísse a peça final.

—Cole não é da minha conta hoje à noite. — Ela disse. —Conte-me sobre Quinn.

Reed esfregou uma mancha na cabeça. —Vamos partir amanhã na maré da manhã.

—Podemos libertá-lo das masmorras hoje à noite? — Os olhos de Dell saltaram animadamente como se estivessem prestes a embarcar em uma grande aventura.

Edmund o trouxe de volta à realidade. —Não. Passei um tempo considerável nessas masmorras. Eu até escapei delas uma vez com Etta. Mas elas foram fortalecidas desde então, assim como o topo das muralhas. Você vê isso? — Ele apontou para fileiras de arame pontudo nas paredes que se estendiam ao redor do palácio. —Não há como sair do palácio interno agora, se eles não querem que você saia. É tarde, então eles fecharam as paredes internas. Eles reabrem ao amanhecer, mas estarão fortemente vigiados.

Helena estudou Edmund por um momento antes de seus olhos descansarem em uma cremalheira de flechas atrás dele. —Como você é com um arco?

Sua sobrancelha se levantou como se não estivesse esperando a pergunta. —Decente. — O ceticismo soou forte em sua voz. —Mas se qualquer plano que esteja formulando em sua mente depender de precisão, você precisará da ajuda de Tyson.

—Ele vai desafiar sua mãe e arriscar sua irmã?

Edmund assentiu com relutância. —Ty sempre fará o que acha certo. Gaule é o seu reino. Se Camille se tornar rainha de Madra, Tyson se torna herdeiro de Gaule. Se ele acredita que esta aliança com Madra mergulhará Gaule em mais problemas, ele a interromperá.

Helena enfrentou Reed. —Eu não confio em você Reed Tenyson, mas tenho poucos aliados e sei o que você fez por nós em Madra. Você ajudou Dell a proteger Kassander. Só por isso, não vou te matar. Mas vou deixar Tyson atirar em você.

 

—Não podemos confiar nele .— Dell afastou Helena enquanto Edmund mantinha os olhos fixos em Reed.

—Eu sei disso. — Ela deu as costas para ele e colocou as mãos na cabeça. —Mas me diga de outra maneira, Dell. Por favor, me diga como vamos salvar Quinn sem a ajuda dele.

Quando ela se virou para encará-lo novamente, a primeira emoção que ele viu nela, além da raiva, desde que começaram a jornada, rompeu. Seus olhos brilhavam, mas ela não deixou cair uma única lágrima.

Sem pensar, ele a puxou para um abraço. Ela ficou rígida por um momento antes de relaxar nos braços dele.

—Dell. — Ela sussurrou. —Reed foi quem disse a Edmund onde Ian o prendeu. — Ela inclinou a cabeça para trás e olhou para ele. —Eu sei que você quer pensar em seus dois irmãos como criaturas malignas, mas sem ele, você não seria capaz de nos ajudar na rebelião. Sem ele, eu estaria morta.

Dell soltou um suspiro quando a verdade de suas palavras o atingiu. Os olhos dele percorreram o rosto dela e a mão dele tocou a parte de trás da cabeça dela. Quando ele pensou naquela noite e no que quase aconteceu, ele não conseguia respirar.

Helena deixou claro onde as coisas estavam entre eles, e ele cumpriria os desejos dela. Mas ele nunca perderia a sensação de que ela o atingia desde aquele dia na praia, quando eles escaparam das demandas de suas vidas.

Ele não sabia a verdadeira extensão de tudo o que ela corria desde aquele dia, mas para ele... seus irmãos. Sua madrasta. A vida dele.

Mas isso não era mais a vida da Dell. Ela mudou o destino dele. Agora estava aqui, em um reino estrangeiro, com ela.

Ele a soltou com um aceno de cabeça. —Ok, mas temos que tomar precauções.

—Concordo. — Ele a seguiu de volta para onde Edmund e Reed estavam em um impasse desconfortável. Apesar de sua ajuda, Reed ainda trabalhava para Cole.

Helena cruzou os braços, olhando seu aliado temporário.

—Conte-me tudo. Todo o seu plano para levar Quinn ao navio.

Reed esfregou a mandíbula. —Existem túneis.

Edmund soltou uma série de maldições.

—Gostaria de compartilhar? — Dell perguntou.

—A rainha Catrine mostrou a eles os túneis. — Ele esfregou os olhos como se não pudesse acreditar. —Ela está tão empenhada nessa aliança com Madra que está revelando os segredos do reino.

Em algum nível, Dell entendeu o pensamento da rainha. Um rei usurpador mantinha a filha em cativeiro e assinar o tratado era o único meio de salvar a filha. Parecia tão simples. Troque um homem pela segurança da princesa. Mas ele também entendia por que Simon os procurara. Por que Etta os enviou. Por que nem Tyson queria trocar por Camille.

Qual seria o próximo? Gaule se perderia para Madra, pedaço por pedaço? Já não era sobre Quinn Rhodipus.

Reed cruzou as mãos atrás das costas. —Não queremos que Quinn seja visto caminhando para a enseada onde nosso navio está ancorado. Vamos extraí-lo das masmorras e levá-lo através dos túneis que levam ao mar. Lá, vamos remar para o navio.

Helena mordeu o lábio, perdida em concentração. Dell observou-a considerar Reed. Ele praticamente podia ver sua mente trabalhando.

Como ela era apenas uma princesa ornamental? Madra teria ficado melhor com a princesa Helena no conselho do que como a tradicional chefe de comerciantes depois do casamento.

Helena deu um passo à frente, examinando Reed da cabeça aos pés. Ela bateu na perna dele enquanto olhava para Edmund por cima do ombro. —Se ele pegar uma flecha aqui, ele sangrará antes de poder chegar ao navio?

Reed congelou.

Edmund considerou a pergunta. —Ele deveria ficar bem. — Ele dirigiu suas próximas palavras para Reed. —Apenas não remova a seta. Você tem um médico nesse navio?

Reed assentiu, dando um passo para trás. —Você quer colocar uma flecha na minha perna?

—De que outra forma poderíamos resgatar Quinn sem levantar suspeitas? — Helena levantou os olhos para ele. —Existem homens combatentes no seu navio?

—Apenas um punhado. Há dois homens aqui comigo no palácio.

—Você se importa se eles são mortos? — Sua voz não tinha emoção, apenas um tom frio e lógico.

A mandíbula da Dell se abriu.

Reed se endireitou. —Eles são leais ao seu irmão.

—Eles estavam lá naquela noite?

Todo mundo sabia em que noite ela falava. A rebelião.

O silêncio de Reed foi resposta suficiente.

Helena apertou o punho, mas não falou de novo antes que a porta do pátio se abrisse e Tyson aparecesse, com uma expressão sombria na boca. Ele não se incomodou em perguntar quem era Reed porque seu olhar se fixou em Helena.

Helena correu para ele. —Você fez algum progresso?

Seus olhos caíram, dando-lhes a resposta.

—Sinto muito. — Disse ele. —Vou continuar tentando.

Os olhos de Helena endureceram, brilhando à luz das tochas. —Você precisa saber, Tyson... impediremos Quinn de entrar naquele navio, independentemente da decisão de sua mãe.

Ele assentiu como se não esperasse menos. —Eu convenci minha mãe a permitir que você visite as masmorras.

Helena congelou, suas palavras a sufocando na saída. —Eu posso vê-lo?

Capitulo Oito


Uma fileira de guardas está de pé no fundo da escada estreita da masmorra. A primeira coisa que Helena notou foi que cada cela tinha uma alma pobre presa dentro. Gaule tinha tantos criminosos? Talvez eles fossem rebeldes.

Seus duros gritos e gemidos enviaram um calafrio por sua espinha enquanto ela contornava os braços que a alcançavam.

Como Quinn poderia estar em um lugar como este? Seu doce irmão, o melhor de todos. E esse era o destino dele? A tristeza agitou-se dentro dela, revirando-se repetidamente até que endureceu em raiva que gelou seu coração.

Isso também foi culpa de Cole.

—Houve um tempo — Sussurrou Edmund. —Quando essas celas estavam praticamente vazias. Mas Gaule mudou.

Helena não estava interessada em ouvir o passado de Gaule. Ela examinou cada rosto que passou até que o guarda que os conduzia pela passagem úmida parou diante de um conjunto de barras de ferro enferrujadas. Ele tirou uma adaga do cinto e bateu contra o metal, sacudindo o homem por dentro.

—Olá, príncipe. — O guarda zombou. —Parece que alguém veio se despedir.

Quinn levantou o rosto machucado e Helena respirou fundo. Seus olhos nebulosos flutuavam sobre ela, e ela não tinha certeza se ele realmente a via. O início de uma barba cobria sua mandíbula afiada, dando-lhe um olhar mais sombrio do que ela estava acostumada. Mas ainda era ele. Ela deu um passo atrás, por um momento sentindo como se Cole estivesse sentado na frente dela com seus olhares idênticos.

Não Cole, ela disse a si mesma. Ele não está aqui. O medo diminuiu, ela caiu de joelhos no chão coberto de terra para se aproximar.

Os olhos de Quinn se clarearam e ele balançou a cabeça quando seu olhar se fixou nela. Ele murmurou o nome dela, sem emitir nenhum som.

Ela assentiu.

Ignorando a presença do guarda, Edmund e Dell, Quinn atravessou a cela em sua bunda. —Helena. — Sua voz soou como se ele não a tivesse usado há dias.

—Estou aqui. — Uma lágrima percorreu seu rosto, e ela alcançou através das barras.

Seus olhos se arregalaram e ele engoliu um soluço. —Você está morta.

Ela balançou a cabeça; cachos escuros se soltando de sua cauda baixa. —Estou aqui. — Ela repetiu.

O irmão forte dela tremia enquanto os soluços assolavam seu corpo. Ele enterrou o rosto nas mãos. —Eu pensei...— Ele não conseguiu expressar as palavras. —Eu pensei que era só eu. E Cole...

—Não fale o nome dele. — Disse ela, endurecendo a mandíbula. —Ele não é mais nossa família.

Ele ergueu os olhos vidrados para ela. —Você me encontrou?

Ela assentiu.

—Você veio para mim?

Ela chegou mais longe na cela, precisando tocá-lo.

Ele apertou a mão dela como se ainda não acreditasse que ela era real.

—Eu estava com tanto medo que no final...— Ele respirou fundo. —Que você morreu pensando que eu te trai junto com Cole.

Ela enxugou uma lágrima do rosto. —Não, Quinn. Eu conheço você. Eu sei o que há dentro de você. Você nos amou... você os amou.

—Pai. — Ele tremeu. —Mãe. Stev. Kassander-

—Não. — Ela apertou a mão dele para detê-lo. —Kass está vivo.

Era como se uma luz entrasse em seus olhos. —Vocês dois? Eu nunca imaginei. Onde ele está?

—Nos esperando em Bela.

—Nos? Dizem que a rainha concordou em permitir que os madranos me levassem.

—Temos um plano, Quinn. — Ela apontou para Edmund e Dell.

—Você a ajudou? — Quinn perguntou a Edmund.

Edmund balançou a cabeça e apontou o polegar na direção de Dell. —Era tudo ele.

A cor subiu nas bochechas de Dell quando Quinn se levantou, as pernas balançando embaixo dele. Ele enfiou a mão nas barras.

Dell pegou. Helena ficou ferida. —Eu não a teria deixado para trás. Se ela não tivesse sido ferida, ela teria salvado a todos nós.

—Eu sei. — Os olhos de Quinn se depararam com Dell por um momento a mais antes de liberá-lo.

—Quinn. — Helena recuperou sua atenção. —Amanhã, quando você ouvir alguém gritar seu nome....

—Cuidado, Lenny. — Ele encostou a cabeça nas barras. —Eu não posso te perder de novo.

 

Ela o tinha de volta. Antes de ver Quinn pessoalmente, a ideia dele ainda existia era como um sonho. Ela esperou tanto tempo para ouvi-lo dizer o nome dela, mas o sonho nem se comparava à realidade.

O palácio de Gaule era uma contradição. As pessoas tratavam seu grupo como convidados indesejados. A rainha planejava enviar o irmão de Helena para seu inimigo. No entanto, eles receberam quartos luxuosos. Os criados trouxeram bandejas de queijos e carnes, além de jarros de vinho da Borgonha, mais fortes do que os oferecidos em Madra.

Tanto para Gaule ser um reino faminto.

Mas era assim que sempre era, não era? As pessoas comuns passavam fome enquanto os mais altos festejavam. Ela viveu sua vida de um lado, sempre tendo comida mais que suficiente. Sempre recebendo o melhor do comércio de reinos vizinhos.

Trancada dentro de seu castelo, ela não sabia que poderia ser de outra maneira.

Mas agora ela viu isso nos rostos dos homens que tentaram roubá-los. Ela ouviu histórias dos rebeldes que só queriam comer.

Sua máscara não a protegia mais do mundo.

E era aterrorizante.

Ela rolou na cama de dossel que poderia acomodar três pessoas. Cobertores brancos e macios isolavam-na do frio que muitas das crianças gaulesas experimentariam naquela noite.

No alto, um dossel roxo escuro escondia a janela. Ela abriu as cortinas e sentou-se para contemplar o castelo adormecido. O quarto dela dava para o castelo externo. As pessoas que moravam lá eram as sortudas. A coroa cuidava deles.

E quanto ao resto?

E as pessoas como Quinn, que não eram nada além de peões para aqueles com poder? Quem cuidava deles?

Ela deixou as pernas caírem sobre a cama, os pés descalços roçando o macio tapete branco. Antes de dormir, uma criada do palácio trouxe água para ela tomar banho e lhe deu um vestido de dormir rosa de seda. Ela não experimentou tanto luxo desde que deixou Madra.

Naquela época, ela esperava. Ela era uma princesa.

Agora, isso a irritava.

Ela colocou a mão embaixo do travesseiro, onde havia escondido um a adaga. Tê-la por perto lhe dava uma sensação de força. Mas se eles fossem atacados, ela não teria utilidade contra uma série de guardas bem treinados.

Os gauleses a abandonariam? Se Cole descobrisse que ela ainda vivia e que seus supostos aliados a estavam abrigando...

Ela jogou a adaga no ar, pegando o punho com a outra mão antes de jogá-lo em direção à porta. Começou a abrir momentos antes de a adaga se enfiar na intrincada madeira.

Dell congelou. —Isso era para mim?

Helena deu de ombros e se levantou da cama. O vestido de dormir atingia apenas o topo de suas coxas e ela tentou puxá-lo para baixo quando o olhar de Dell deslizou sobre ela. Um rubor manchou suas bochechas, chegando até as pontas das orelhas.

—Obrigada por bater. — Sarcasmo escorria de suas palavras.

Ele não mordeu a isca. —Eu tive uma ideia.

—É o meio da noite. — Ela apontou para onde o luar prateado se filtrava pela janela.

—No entanto, você está jogando adagas pelo quarto.

Ela caminhou até a mesa na área de estar onde dois jarros estavam. Servindo-se de um copo de água, ela o levou aos lábios sem oferecer nada à Dell.

Com um suspiro, ela largou o copo. —Você sabe por que eu jogo adagas? Por que minha mãe me ensinou essa habilidade e afastou as outras de mim?

Ele balançou a cabeça e atravessou o quarto, pegando o copo dela. Ele tomou um gole quando ela estreitou os olhos.

—Jogar uma adaga requer muita concentração. É quase como se isso o levasse a um mundo totalmente novo, onde a vida ou a morte podem ser decididas com um movimento do pulso. — Ela pegou o copo de volta. —Minha mãe achou que eu precisava de algo que me permitisse fingir que nada mais existia. Sem expectativas ou limitações. Só eu e uma lâmina. Nunca foi sobre a proteção contra os outros. Ela pensou que eu precisava de proteção de mim mesma. Das dúvidas em minha mente.

Dell pegou a jarra e serviu seu próprio copo. —Sua mãe parecia uma mulher incrível.

Helena desviou o olhar. —Gostaria que Madra tivesse conseguido vê-la mais. Meu pai e seus padres a colocaram no papel de figura de proa. Ela era uma rainha que só se destacava por seus belos vestidos e pelos filhos que tinha, mas era muito mais que isso.

—Eu nunca ouvi você falar dela.

Helena rodeou o sofá branco e sentou-se, puxando as pernas para baixo dela. —Às vezes eu esqueço.

—Esquece o quê? — Ele se moveu para uma tocha ao longo da parede, puxando-a para mergulhar na lareira fumegante. Acendeu, e ele a recolocou em um gancho, seu rosto agora banhado em um brilho laranja. Mas não era só a chama. Dell brilhava de dentro para fora. Ela percebeu isso na primeira vez que o viu e nunca desapareceu.

Ele sentou-se ao lado dela.

Helena mordeu o lábio. —Que ela se foi. — Ela olhou para o fogo como se tivesse vergonha de suas palavras. —Eu tenho estado tão focada. Quero vingar a morte dela, mas nunca processei o fato de que ela se foi.

—Eu era jovem quando minha mãe morreu. — Dell torceu as mãos. —E então meu pai logo depois.

Ela se endireitou, pegando o braço dele. —Me desculpe, eu nem pensei. Às vezes, esqueço que não sou a única que perdeu pessoas.

Ele colocou a mão sobre a dela. —Não é por isso que estou lhe dizendo. Levei muito tempo para me sentir normal novamente. Parar de procurar em cada esquina o próximo evento que destruiria ainda mais minha vida. Não me aproximei de ninguém nem acreditei em nada. Meus irmãos... Ian sempre foi uma causa perdida. Mas Reed? Passei muitos anos apenas procurando uma luta. E eu encontrei bastante. Talvez pudéssemos estar lá um para o outro se as coisas fossem diferentes.

A mão dela apertou mais. —Se você não fosse um lutador de rua, nunca me conheceria. Ou Edmund.

Um sorriso deslizou em seu rosto. —Gosto de pensar que teríamos nos encontrado, independentemente das circunstâncias.

A energia passou por todas as células de Helena. Os cabelos de seus braços se arrepiaram quando ela se perdeu nas profundezas do olhar cristalino de Dell.

Ela colocou o lábio entre os dentes, incapaz de se mover mais. Ele a prendeu em seu poder.

Eles se separaram quando alguém bateu na porta. Helena ficou de pé e correu para abri-la, desesperada por um momento para respirar.

Tyson a cumprimentou do outro lado. —Eu tenho notícias.

Ela gesticulou para ele entrar. Seus olhos varreram o quarto e uma sobrancelha se ergueu quando viu Dell.

—Eu me sentiria mal por interromper, mas isso é importante. — Ele atravessou o quarto em alguns passos e caiu em uma grande cadeira com as asas com um sorriso satisfeito no rosto.

—O que você está esperando? — Dell perguntou.

—Edmund. Enviei um mensageiro para despertá-lo e trazê-lo aqui.

Edmund correu pela porta, dormindo ainda perseguindo seus passos. Sua carranca suavizou quando ele se acordou. —O que está acontecendo?

Tyson se inclinou para a frente, os cotovelos nos joelhos.

—Minha mãe não dirá a Madra que não pode ter Quinn.

Helena esvaziou. Ela tinha muitas esperanças quando Tyson chegou.

Tyson levantou a mão para parar suas perguntas. —Mas, se os bandidos o ultrapassassem de alguma forma, ela não enviaria seus homens para caçá-los.

Um sorriso se espalhou pelo rosto de Edmund. —Ela vai nos deixar ir?

Helena sentou mais uma vez. —Você disse a ela o nosso plano?

—Sim. — Tyson dirigiu a primeira resposta a Edmund antes de se virar para Helena. —E não. Minha mãe é uma mulher brilhante. E ela me conhece. Ela também reconhece algo no discurso que você deu a ela. Parecia muito com a justiça própria que Etta já carregou por aqui.

Edmund riu. —Sim, não é?

—Presumido? — Os lábios de Helena se fecharam.

Foi Tyson quem respondeu. —A maioria das pessoas em Gaule odiava Etta. Mas havia uma coisa que todos aprendemos. — Ele sorriu. —Ela estava sempre certa. Ela sabia o que era certo antes de nós.

Helena não conseguiu decidir se a descrição deles era um elogio ou não, então ela o ignorou. —Então, sua mãe assumiu que tentaríamos chegar a Quinn, afinal? E vai contra a vontade dela ao fazê-lo?

Tyson assentiu. —Ela foi abençoada com filhos insolentes.

Edmund resmungou em concordância. —Nós precisamos nos preparar. Nós não vamos voltar ao palácio. Landon nos encontrará com os cavalos quando tivermos Quinn. Se quisermos estar na enseada antes da maré da manhã, devemos sair em breve. Temos uma caminhada pela frente. Os portões do castelo ainda não estão abertos, mas essa não é a única saída daqui.

Túneis secretos. Entradas ocultas. Talvez Gaule não fosse tão diferente de Madra, afinal.

 

 

 

 

 

 


Capitulo Nove


Helena olhou para Tyson em questão enquanto ele ria e se transformava em uma capela que parecia não ter sido usada em um século.

—Todos esses anos e a mãe ainda não limpou esse lugar. — Ele passou os dedos por um altar empoeirado antes de pular na pequena plataforma para empurrar uma porta que gemia de desuso.

Helena começou a perder a fé, ele a abriu, mas Tyson pegou um painel escondido. Ele puxou uma trava e a madeira gemeu quando girou nas dobradiças.

Pedaços de rocha caíram quando Tyson a empurrou o suficiente para que uma pessoa passasse. Ele sacudiu cachos escuros do rosto e virou-se para eles com um sorriso. —Legal certo? Eu amo este palácio.

Edmund deu um tapinha no ombro dele. —Bela terá seu quinhão de segredos um dia também.

Tyson deu-lhe um sorriso apreciativo como se isso realmente tivesse sido uma preocupação dele.

Quem eram essas pessoas? O pai de Helena os consideraria do tipo errado para se misturar, mas ela imaginou que sua mãe teria gostado deles. Tyson era tão alto quanto um homem e musculoso também, mas ele tinha uma alegria infantil que ela não via desde... ela olhou para Dell. Desde que ela conheceu o garoto de Madra, que não levava nada a sério.

Ela não via esse lado da Dell desde que chegaram em Bela.

Mas então, ela mudou também.

Ela balançou a cabeça. O pai dela estaria errado. Tyson era exatamente o tipo de pessoa que ela precisava ao seu lado. Enquanto ela e Edmund lamentavam, ele lembrava a eles que ainda havia algo que valeria a pena lutar por vingança. Não era uma alegria infantil. Ela via claramente agora. Tyson era simplesmente bom.

Ele acenou para cada um deles através da porta secreta antes de fechá-la atrás deles.

—Estamos no muro agora. — Explicou Edmund sobre o túnel curto.

—Na parede? — A voz da Dell estava fechada na escuridão.

À frente havia uma segunda porta, iluminada por uma lasca de luz do amanhecer.

Edmund alcançou, voltando-se para eles. —Há uma parte do castelo onde as paredes interna e externa se conectam. Nós usamos isso muitas vezes com Etta e Alex. Este salão nos leva direto do castelo interno para o exterior. Vamos sair no lado leste das muralhas. Assim que sairmos, temos que correr para a floresta.

Cada um deles concordou com a cabeça antes de Edmund empurrar a porta, deixando-os em uma colina gramada. Helena olhou para trás quando a porta se fechou. Do lado de fora, ninguém saberia que estava lá.

Edmund decolou e ela o seguiu, apertando os braços no ritmo de seus passos. A floresta escura se estendia ao longe. Sobre as árvores, o início de um nascer do sol destacava a manhã.

Dell correu ao lado dela, com o queixo abaixado enquanto sua estrutura flexível se movia graciosamente.

Quando chegaram à cobertura das árvores, Helena lutou para respirar. Ela dedicou toda a sua energia a não desabar enquanto se curvava, o ar sibilando no peito.

—Todo mundo está bem? — Edmund perguntou.

—Nunca estive melhor. — Tyson sorriu. Nada o afetava?

Parecia que ele só tinha saído para dar um passeio e Helena quase o odiava por isso. Pelo menos Edmund e Dell tiveram a decência de ficar sem fôlego.

Ela chupou ar entre os dentes e se endireitou. Eles tinham que se mudar. Quinn estava contando com eles. Ela começou a andar, mas parou quando percebeu que ninguém a seguia.

—Len. — Edmund chamou. —Você está seguindo o caminho errado.

Ela gemeu e se virou para passar por eles mais uma vez. —O que você espera de mim? Passei minha vida inteira no mesmo conjunto de corredores.

Tyson assumiu a liderança, alegando que já havia feito essa jornada várias vezes antes. —Da última vez — Ele começou, —Gaule foi sitiada. Alex e eu chegamos para salvar o dia, é claro. Isso foi logo depois que ajudamos a expulsar La Dame de Bela. Bem, não Alex. Ele estava meio que sob o poder dela. O idiota. Mas quando voltamos para Gaule, nossa mãe estava cercada. Alex ainda era rei. Conduzimos nosso pessoal através da floresta para alcançar a entrada do túnel e salvar todos.

—Você salvou todo mundo? — Edmund zombou.

—Ah, cale a boca. Você nem estava aqui. — Tyson se inclinou para perto de Helena como se estivesse lhe contando um segredo. —Ele ficou em Bela quando Etta estava sendo uma cadela certa.

Edmund o empurrou. —Ela tinha acabado de quebrar a maldição.

Tyson deu de ombros. —Ela ainda era uma cadela. Bem, não era realmente ela. Ela tinha todo esse poder dentro dela que controlava muito do que fazia, mas esse poder a deixou quando derrotamos La Dame para sempre.

Dell balançou a cabeça. —Estou tão confuso.

Helena só conhecia as histórias trazidas de volta a Madra por soldados e comerciantes. Eles nunca lhe contaram os detalhes por trás da grande guerra mágica - como o povo não mágico de Madra o chamava. Ela nunca imaginou que estaria viajando por um reino estrangeiro com dois homens que não estavam apenas lá, mas profundamente envolvidos.

Ela não sabia nada de guerra, mas eles sabiam. —Quando eu voltar para Madra, vocês dois se juntarão a mim? — Ela não incluiu Dell porque ela já sabia que ele estaria ao seu lado. Era o caminho dele. Mas com Tyson e Edmund... talvez ela pudesse derrubar o irmão depois de tudo. Talvez ela pudesse vingar sua família.

Os dois homens ficaram em silêncio por um momento, o único som saindo de suas botas atingindo os pinheiros macios do chão da floresta.

Edmund passou o braço por cima dos ombros dela. —Você nem precisa perguntar, Lenny. Eu disse a Stev que cuidaria de você e essa promessa não termina em atravessar o mar.

Ela sorriu para ele. Foi a primeira vez que ele mencionou Estevan sem gaguejar seu nome ou desligar completamente. Progresso.

Tyson balançou a cabeça. —Eu sinto muito. Como príncipe, entendo o que você pode estar passando. Se alguém tirar Alex, Etta ou minha mãe de mim, eu também quereria vingança. Mas não posso ir contra os desejos da minha rainha e ela quer que a magia seja mantida fora dessa luta.

Algo dentro dela dizia que ele não quis dizer sua mãe. Tyson não desobedeceria Etta, a rainha que incutia tanta lealdade. Seu coração afundou.

Edmund apertou-a com mais força e se inclinou para sussurrar.

—Eu nunca fiz o que Etta me mandou fazer.

Tyson deu uma risada. —Não há palavras mais verdadeiras.

Ela queria que Tyson reconsiderasse, mas isso não mudou seus planos. Quando ela atravessasse Madra mais uma vez, ela teria Dell, Edmund e Quinn ao seu lado e sua fé estava neles. Ela procurou a adaga na cintura. Uma espada que Tyson havia adquirido de um dos guardas pendia de uma bainha que ela amarrava lá também, mas não lhe dava o mesmo conforto que a lâmina mais curta.

Enquanto caminhavam, ela repassou o plano em sua mente. Eles não confiaram totalmente em Reed. Ele pensou que eles planejavam segui-lo pelos túneis e alcançá-lo assim que ele saísse.

Ele estava errado.

Eles ainda superariam a partida para Madra na enseada, mas o ataque viria da floresta.

Quando se aproximaram da água, as árvores diminuíram. A floresta se estendia até a borda da terra logo antes da costa se curvar para dentro em direção à enseada.

Chegaram à beira das árvores, parando onde o chão caía sobre um pequeno penhasco. Uma praia branca ficava embaixo, onde as ondas batiam, espumando em direção à costa.

—Por aqui. — A voz de Tyson trouxe Helena de volta ao assunto em questão.

Ela olhou para ele por cima do ombro.

Tyson balançou a cabeça para o lado, dizendo-lhes para segui-lo. Ele colocou um dedo nos lábios. Eles estavam perto agora.

Helena forçou seus membros cansados a se arrastarem pelo resto do caminho. Eles pararam de se mover quando a enseada rochosa apareceu. Ainda escondidos entre os galhos retorcidos e as árvores grossas, eles observavam. Um navio estava na entrada da enseada com seu estilo madrano em arco. Longos remos pendiam de um casco escuro de madeira. Helena respirou fundo. Era um dos navios de seu pai. A bandeira real de Madra tremulava na brisa forte.

Helena abraçou a capa com mais força e soltou a adaga, sem se incomodar com a espada.

Um pequeno barco se aproximou carregado de dois homens em uniformes de oficiais de Madra. À medida que a água ficou rasa, eles pularam no mar, colidindo com o mar enquanto puxavam o barco para a costa arenosa.

—Apenas dois. — Murmurou Edmund. —Reed manteve sua palavra.

Ela ouviu o perigo em seu tom. Viu ele tocando o punho de sua espada. Esses dois homens não viveriam o dia inteiro.

E ela não pôde convocar um único pingo de remorso. Traidores mereciam morrer.

—Onde estão esses túneis? — Dell protegeu os olhos contra o sol da manhã.

Tyson apontou para uma fenda curva na face da rocha. —Tem uma porta por lá. Só pode ser aberta por dentro.

Edmund recuou ainda mais para as árvores. —Hora de tomar nossas posições. Tudo o que resta a fazer é esperar.

 

Quando o sol se elevou acima de suas cabeças, os dois soldados na praia se levantaram da rocha em que estavam sentados e se aproximaram do túnel.

Helena encontrou o olhar de Dell, respondendo à pergunta nos olhos dele com um aceno de cabeça. Ela estava pronta.

Ela se agachou em seu lugar atrás de uma pedra na linha das árvores e agarrou uma adaga em cada mão. Tyson pegou uma flecha, encostando-se na base de um pinheiro alto, enquanto observava a entrada do túnel.

Edmund puxou a espada em um movimento fluido, segurando-a como se não pesasse nada.

O silêncio preencheu o espaço entre eles.

Finalmente, os homens reapareceram. Reed andava atrás deles, com a mão presa no braço de Quinn.

Helena ofegou. Eles amarraram suas mãos atrás das costas e um fio de sangue escorria de sua linha do cabelo. Ele revidou?

Com quem ela estava brincando? Claro que ele revidou. Era Quinn.

Um sorriso lento se espalhou por seu rosto, parando quando outro movimento chamou sua atenção. Mais soldados saíram do túnel, cercando Quinn e Reed.

Soldados que eles não esperavam ou planejavam.

—Bem, e agora? — Dell murmurou.

—Ainda podemos pegá-lo. — Sua voz endureceu quando ela olhou para Edmund. —Nós podemos lutar.

—Eles nos superam em número de três para um. — Tyson abaixou o arco.

Os olhos de Edmund falaram de derrota.

—Não. — Ela apertou os dedos com mais força em volta do punhal. —Edmund, se fosse Stev, você faria. Temos que tentar. Eu não vou deixá-lo. Se você não me ajudar, eu mesmo farei.

Helena pulou de seu lugar e correu, as maldições de Edmund atrás dela.

Os olhos de Quinn se ergueram quando ela se separou das árvores. Os soldados a observaram confusos até que ela lançou uma de suas adagas a toda velocidade. Atingiu a testa de um madrano mais próximo. Ele tropeçou para trás, o sangue encharcando seu uniforme.

Isso estimulou o resto a entrar em ação. O barulho de espadas ecoou em seus ouvidos, mas ela o bloqueou enquanto abaixava o primeiro ataque, caindo baixo e cortando a adaga na parte de trás do joelho do homem. Ele desmaiou, um grito que ela não podia ouvir nos lábios dele.

Outro soldado fez por ela, e ela não foi rápida o suficiente para se desviar do caminho enquanto ele balançava a espada em sua direção. Parou no ar quando uma flecha o atingiu através dos olhos. A lâmina caiu de suas mãos e ele caiu.

Edmund e Dell os alcançaram, envolvendo seus próprios atacantes. Dell mal evitou uma lâmina no braço antes de derrubar seu homem no chão.

Edmund girou nos calcanhares e balançou a espada em um arco gracioso enquanto lutava com dois homens ao mesmo tempo. Helena nunca tinha visto um homem lutar com tanta graça antes. Ela poupou-lhe um olhar final antes de se envolver.

Ao ver Reed arrastando Quinn para o pequeno barco, seu coração bateu dolorosamente. Ela tinha que ajudá-lo.

Quinn resistiu e lutou contra Reed, mas outros dois se juntaram a eles para levantá-lo no barco. Helena ficou aturdida, sangue quente borrifando seu rosto enquanto Edmund lutava ao seu lado. Tudo aconteceu rápido demais para ela ajudar qualquer um deles. Tyson pegou um dos homens com Quinn quando duas flechas apareceram saindo do peito. Ele caiu na água.

Reed e os outros homens não o olharam enquanto empurravam o barco na água.

—Não. — Helena rugiu, correndo para o mar, tentando desesperadamente alcançar o irmão.

Mas ele estava longe demais.

Algo esbarrou nela enquanto ela passeava na cintura com água profunda tingida de vermelho. Um soluço ficou preso em sua garganta quando ela olhou para o rosto de um soldado morto. A repulsa rodou em seu intestino.

Ela levantou os olhos para a praia onde Edmund e Dell haviam despachado a maioria de seus inimigos. Uma flecha voou acima, mas caiu na água ao lado do barco.

Helena ergueu o braço no ar, lançou a adaga com o máximo de força possível. Todas as lições que sua mãe lhe ensinou ecoaram em sua mente. Uma adaga pode ser tão mortal quanto uma flecha à distância, desde que você saiba como lança-la.

Um grito rasgou o ar quando a adaga grudou no braço de Reed. O desespero esmagador superou rapidamente qualquer satisfação de atingir seu alvo.

Ela empurrou o corpo flutuando ao seu lado e correu do fedor doentio que revestia o ar. Soldados mortos cobriam a praia, mas não foi isso que chamou sua atenção.

Edmund lutava com a confiança de um guerreiro experiente. Dell mexeu na espada enquanto o atacante avançava. Suas lâminas se chocaram e as de Dell voaram de suas mãos quando ele caiu de joelhos, impulsionado por um chute no estômago.

Um grito se alojou na garganta de Helena quando uma lâmina cortou o lado de Dell, mordendo a carne. Uma ponta da lâmina Belaena apareceu no peito do atacante quando Edmund o perfurou por trás antes de chutá-lo para o lado, deixando-os sozinhos na praia mais uma vez.

Helena caiu de joelhos ao lado de Dell quando Tyson se juntou a eles e disparou todas as últimas flechas que ele tinha em direção ao pequeno barco. Já estava a meio caminho do navio quando uma das flechas atingiu Reed na perna enquanto ele se levantava para forçar a cooperação de Quinn.

—Estou fora. — Tyson observou o barco chegar ao navio, incapaz de fazer mais alguma coisa.

Uma lágrima escorreu pela bochecha de Helena. Eles o perderam. Quinn se foi.

Mas Dell ainda estava lá, e ele se machucou. Ela voltou sua atenção para ele quando seus olhos se fecharam.

—Dell. — Ela rasgou suas roupas, procurando a ferida. —Você não feche os olhos. Fique comigo. Por favor.

—Len. — Cada respiração sacudia em seu peito como se fosse uma grande luta. —Tentando.

Edmund ajoelhou-se ao lado dele e segurou as mãos dela para impedir o tremor. —Deixe-me ver.

Ela assentiu e Edmund ergueu a camisa de Dell para encontrar um corte profundo. —Precisamos parar o sangramento.

Helena arrancou a capa dos ombros e entregou a Edmund. Ele apertou o ferimento.

Dell estremeceu e respirou entre os dentes.

—Ele vai ficar bem? — O medo tomou conta de Helena enquanto pensava nas possíveis respostas para sua pergunta.

—Ele precisa de um curandeiro. — Edmund procurou por outras lesões. —E assim por diante. Não temos tempo de voltar para Bela. — Ele ergueu os olhos para Tyson como se estivesse esperando permissão.

Tyson passou a mão pelo cabelo selvagem, emoções brigando em seus olhos. —Sim. Ok. Nós podemos ir.

—Ir para onde? — Helena se inclinou para mais perto de Dell até ouvir a respiração dele. Enquanto esse som encheu seus ouvidos, ele ainda estava com ela.

—Eu tenho uma amiga. — Começou Tyson. —Aqui em Gaule. Ela tem uma curandeira draconiana em sua casa.

Edmund rasgou tiras da parte inferior da camisa. —Não podemos movê-lo até envolver a ferida. Ty, vou precisar de água para limpá-lo.

Tyson correu para a frente enquanto Helena ajudava Edmund a amarrar a camisa de Dell até os ombros largos.

Quando Tyson derramou uma gota de água da bolsa na cintura e ela se expandiu sobre a ferida, ela se levantou, com o coração batendo forte nos ouvidos. —O que você está fazendo?

—Limpando. — A testa de Tyson franziu em concentração. —Posso enviar a água e depois chamá-la de volta, arrastando quaisquer impurezas com ela.

Ela balançou a cabeça. Magia.

Tyson e Edmund terminaram de limpar o ferimento da Dell e o enrolaram firmemente. Dell não abriu os olhos.

Helena não conseguia mais encarar o rosto dele, mas quando se virou, tudo o que viu foi a extensão do mar e o navio onde seu irmão era agora prisioneiro.

Ela adicionou Reed Tenyson à longa lista de pessoas que traíram sua família.

Farfalhar vinha das árvores e Helena se virou bem a tempo de ver Vérité se libertar. Ele correu pela praia até parar ao lado de Tyson e abaixar a cabeça.

Tyson deu um suspiro e esfregou o nariz do cavalo. —Momento perfeito como sempre, amigo.

Landon apareceu alguns minutos depois com os outros cavalos a reboque. Seus olhos se arregalaram quando ele viu os soldados mortos. Quando ele fixou o olhar na forma propensa de Dell, ele deslizou de seu cavalo.

—Ele está bem? — Landon andou devagar.

Edmund colocou as mãos no peito de Dell. —Precisamos levá-lo para a propriedade de Leroy.

Vérité deu um passo para o lado de Helena, cutucando a lateral do rosto com o nariz dele. Um soluço estremeceu em seu peito e ela se virou para enterrar o rosto no pescoço macio da fera. Ele apoiou o nariz no ombro dela, como se a envolvesse em um abraço.

Isso foi estúpido, ele era um cavalo. Mas Helena precisava de algum tipo de conforto.

Ela falhou. Novamente. Parecia que ela não poderia salvar nenhum de seus irmãos. Um sentimento de inutilidade afundou profundamente em seu peito. Recuperar Madra era um sonho distante, sem esperança de se tornar realidade. Ela nunca conseguiria olhar Cole nos olhos e tirar tudo de volta dele.

Teria sido possível com Quinn. O irmão dela poderia fazer qualquer coisa. Ela agarrou a juba de Vérité, precisando de algo para se segurar.

—Coloque-o em Vérité. — Disse Tyson.

Edmund começou a discutir, mas depois se interrompeu.

—Você está certo. Vérité cuidará dele. Esse cavalo cuida de todos... exceto eu.

Landon e Edmund colocaram Dell nas costas de Vérité antes de Tyson deslizar atrás dele. Helena puxou as roupas secas sobre as molhadas o mais rápido que pôde antes de montar seu próprio cavalo, nunca tirando os olhos do rosto da Dell. Uma paz se estabeleceu sobre ele, mas ela se recusou a deixá-lo ficar com ela.

Eles chegariam ao curador antes que ele desaparecesse por completo. Ela não pode salvar Estevan ou Quinn, mas não perderia Dell.

Seu coração apertou.

Não, ela não podia.

 

 


Capitulo Dez


—Eu não vou morrer. — Disse Dell simplesmente.

—As lutas ilegais. Roubando. Você ainda tem uma cabeça nesses ombros?

Um rubor zangado surgiu no rosto do jovem como se estivesse se preparando para explodir. Helena agarrou o braço de Edmund.

—Edmund, deixe-o em paz.

A raiva de Dell se dissipou em um instante quando seus olhos se fixaram em Helena, vendo-a pela primeira vez. —Quem nós temos aqui? — Ele sentou-se para olhar mais perto. —Você não acha que está enganando ninguém nesse traje, senhorita, acha?

Helena arrancou o chapéu da cabeça. Seus cachos escuros se espalharam, e ela se virou para Edmund. —Eu sou tão óbvia?

A primeira vez que Dell viu Helena, ele queria ficar sob sua pele. Ele queria testá-la, desafiá-la, fazer seu rosto corar de raiva. Ela era a pessoa mais linda que ele já viu.

—Dell. — A voz dela flutuou no ar como se estivesse no próprio sonho. —Dell, você ainda está comigo?

Sempre, ele queria responder. Ele nunca a deixaria. Mas as palavras não sairiam de seus lábios. Ele não conseguia falar, não conseguia se mexer.

Quando a realidade caiu ao seu redor, uma dor lancinante atravessou seu lado. Um grito terminou em um gorgolejo em seus lábios quando algo debaixo dele se moveu. Ele estava a cavalo?

Ele podia ouvir as pessoas ao seu redor, mas seu corpo não seguia mais os comandos de seu cérebro.

—Eles vão nos ajudar? — Helena perguntou, desespero claro em sua voz. —Não confio em nada em Gaule.

Tyson suspirou. Pelo menos, ele pensou que era Tyson.

—Sim.

—Quem são essas pessoas?

Quando ninguém respondeu Helena, sua voz subiu de raiva.

—Andamos de noite para chegar a essa propriedade e às pessoas misteriosas que moram lá. Eu mereço saber no que estamos entrando.

Tyson grunhiu, mas não respondeu quando chutou o cavalo e seguiu em frente.

A voz de Edmund encheu o silêncio. —A propriedade Leroy já foi propriedade de Lorde Leroy, o homem que Alex havia executado por traição. A filha dele agora reside lá.

—Podemos confiar nela?

Edmund hesitou. —Mais do que qualquer outra pessoa em Gaule. Amalie... ela cresceu com Tyson. Eles eram os amigos mais próximos, mesmo quando ela estava noiva de Alex. Após a guerra com Dracon, Tyson ficou em Gaule por um tempo para estar com ela, mas voltou para Bela cerca de um ano atrás. Amalie sentiu que tinha o dever de retornar à propriedade de sua família. As pessoas nas aldeias próximas precisavam de alguém para passar por esses momentos difíceis. Tyson a amava. Isso nunca foi um segredo. No entanto, os dois escolheram o dever em detrimento desse amor, e não terminou bem.

As palavras filtraram a mente enevoada de Dell, mas ele só queria afundar na escuridão. Não se permitindo essa misericórdia, agarrou-se a tudo o que Edmund dizia como uma maneira de manter seu domínio consciente.

—Então, as coisas não são amigáveis entre eles, mas ela vai nos ajudar? — O ceticismo ecoou na voz de Helena.

—Você não conhece Amalie. Ela ajudaria qualquer um que aparecesse à sua porta. É quem ela é.

—E essa curandeira em sua casa?

Edmund parou por um momento. —Maiya. Ela já foi agente de La Dame. Todos sabíamos que ela não tinha escolha, mas depois que a guerra terminou, ela não sentiu como se pudesse ficar em Bela entre as pessoas que havia traído.

Eles ficaram quietos e Dell quis dizer a eles para continuar conversando, para encher sua mente, para manter a escuridão afastada.

Em vez disso, ele se concentrou no pulso da dor, deixando-a sangrar em todas as células.

Sem a dor, ele temia que desaparecesse.

 

Os guardas os avistaram antes de chegarem à propriedade de Leroy. Helena observou-os se aproximar cautelosamente.

—Príncipe Tyson. — Um deles chamou. —Você não deveria estar nas estradas tão tarde.

—Tivemos sorte, Cameron. Não vejo uma alma há horas. — Tyson foi até o guarda e estendeu a mão.

Tyson deve ter estado aqui muitas vezes antes.

—Lady Leroy está ausente esta noite.

A tensão nos ombros de Tyson relaxou. —Tudo bem. Maiya está na casa da propriedade?

O guarda viu Dell pela primeira vez. —Sim, claro. Vamos acompanhá-lo a se apressar.

Ele não fez perguntas antes de acenar para o resto dos guardas e se virar para galopar pela estrada em direção à vila. A estrada serpenteava entre as fachadas das lojas e as casas antes de chegar a um beco sem saída em dois enormes portões com uma pequena porta na base deles.

Cameron gritou para um de seus guardas. —Vá acordar a senhora Maiya e traga-a aqui.

A porta se abriu e outro guarda apareceu. —Príncipe Tyson? Não nos disseram para esperar você hoje à noite.

Tyson deslizou para baixo. —Faz muito tempo, Calvin. Precisamos nos atualizar, mas agora preciso de um pouco de ajuda.

Helena pulou no chão, suas pernas cansadas quase cedendo sob ela. Uma mão agarrou seu cotovelo, mantendo-a na posição vertical. —Cuidado, Len. — Edmund a puxou para se apoiar contra o lado dele e passou um braço em volta da cintura.

Os guardas levantaram Dell e o carregaram pela porta.

Cameron deu ordens para cuidar do cavalo, mas Helena mal o ouviu por causa do rugido em seus ouvidos. Ela se libertou de Edmund e seguiu os guardas até onde eles colocaram Dell no chão, em um pátio de pedra.

Ajoelhou-se e pressionou os dedos no pescoço dele, precisando sentir a vida dele por si mesma. Quando o pulso dele bateu contra a mão dela, ela se afastou com um suspiro.

Eles fizeram isso. Lágrimas caíram em seu rosto quando o desespero do dia tomou conta dela. E se alguém os tivesse parado nas perigosas estradas de Gaule? E se Dell não tivesse sido forte o suficiente? Tantas possibilidades rolaram em sua mente, e ela fechou os olhos.

Uma mão gentil no ombro fez com que se abrissem para encontrar uma jovem de pele escura com cachos de saca-rolhas pretos ao lado de um longo vestido de dormir.

Helena passou as costas da mão pelos olhos. —Por favor, salve-o.

A mulher ofereceu um sorriso. —Você é a princesa?

Seus olhos se arregalaram quando o pânico cresceu em seu peito. Ninguém em Gaule deveria saber quem ela era. Ela examinou os rostos dos guardas que os cercavam, o peito subindo e descendo rapidamente. Finalmente, seu olhar se fixou em Tyson.

—As pessoas aqui podem ser confiáveis. — Seu rosto se apertou como se doesse dizer.

Lembrou-se do que Edmund havia dito sobre a dama da propriedade. Tyson a amara uma vez.

—Não se preocupe, princesa. — A voz suave da curandeira possuía uma qualidade musical que acalmava os nervos de Helena. —Você está segura aqui.

Os ombros de Helena cederam quando as palavras permearam a aura de medo em que ela se prendeu.

—Maiya. — Edmund fez um gesto para Dell.

A curandeira se ajoelhou e levantou a parte inferior da camisa de Dell para pressionar as palmas das mãos contra a pele dele. Ela fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, perdida em alguma força invisível.

Enquanto Maiya trabalhava, Tyson cutucou Helena fora do caminho e usou sua adaga para cortar as tiras de tecido que prendiam sua ferida.

A mente de Helena protestou - ele não podia perder mais sangue - mas quando ela viu o ferimento, as palavras morreram em sua garganta. A pele de Dell puxou e puxou, fechando a lacuna onde uma lâmina havia cortado a carne macia.

A respiração de Dell - uma luta apenas momentos antes - se igualou até que ele parecia estar apenas dormindo. As linhas duras do rosto dele se suavizaram em uma máscara pacífica, e Maiya afastou as mãos.

Helena sufocou um soluço. —Ele está...

Maiya pegou sua mão. —Ele vai ficar bem.

—Mas ele ainda está...— Helena apontou para onde Dell permanecia inconsciente.

—Suas feridas eram profundas. Por mais tempo e eu não seria capaz de salvá-lo. Foi preciso uma grande quantidade de energia restante para curar. — Ela ergueu os olhos para Cameron, dando-lhe um sinal. —Vamos levá-lo para um quarto e deixá-lo confortável. Pode demorar um dia ou mais até que você possa falar com ele.

Helena fungou e assentiu antes de se levantar. Cameron e um de seus colegas guardas ergueram Dell e o carregaram em direção à enorme entrada de pedra da grande casa. Helena foi para segui-los, mas Edmund agarrou seu braço.

—Todos nós poderíamos comer algo, tomar um banho quente e dormir um pouco.

Helena soltou o braço e passou a mão por cima da cabeça. Ele estava certo. Seus cabelos oleosos eram uma prova da necessidade de uma lavagem. Seu estômago roncou. Mas ela não podia.

—Eu não vou deixá-lo. — Ela saiu pelas portas da frente de mogno. Dessa vez, Edmund não a deteve.

Os guardas levaram Dell pelos corredores escuros, iluminados apenas por algumas velas que queimavam durante a noite. Eles não viram uma única pessoa antes de chegarem a um quarto simples com uma cama grande colocada contra a parede oposta coberta de peles. Uma luz fraca se derramava através de uma janela aberta, iluminando as cortinas verdes.

Helena puxou sua capa com mais força, esquecendo que ela não tinha o dia todo. O frio do ar não a tocou no passeio, pois Edmund usou sua magia para manter os ventos à distância. No entanto, uma lasca de gelo ainda penetrara em seu coração.

Os guardas deitaram Dell na cama antes de se virar para ela.

—Vou mandar alguém para acender a fogueira. — Cameron olhou para a lareira estéril. Duas cadeiras estavam diante dela. Uma mesa comprida estava encostada na parede perto da cama.

Helena apenas assentiu quando eles saíram. Ela foi até a janela, fechando as duas vidraças para bloquear a noite. Ela se virou para Dell, que ainda não havia se mexido Soltando um suspiro, ela foi até a cama e puxou os cadarços das botas dele. Assim que ela tirou os sapatos dos pés dele, ela o trocou para libertar as cobertas de pele e puxá-las sobre o corpo para prendê-lo em calor.

Uma batida veio da porta e ela atendeu, encontrando um punhado de criados que pareciam ter sido despertados de suas camas.

—Senhorita. — Um dos criados disse com um arco. —Estamos aqui para arrumar o quarto.

Helena se afastou para eles entrarem. Um jovem foi direto para a lareira, enquanto duas mulheres carregando bandejas de comida se moviam para colocá-las sobre a mesa. Ela ficou com água na boca quando sentiu o cheiro dos doces e do vinho.

Quanto tempo se passou desde que ela fez uma refeição adequada? No palácio de Gaule, ela estava preocupada demais com a batalha por Quinn. Na estrada, nenhum deles queria perder tempo parando quando a vida da Dell estava em risco.

Ela murmurou um 'obrigada' enquanto os criados se retiravam da sala, deixando-a sozinha mais uma vez com Dell. Caminhando para o fogo incipiente, ela ficou mais perto do que sua mãe teria aprovado para derreter seus membros congelados.

Quando estava quente, ela usou toda a força que possuía para empurrar uma das cadeiras marrons de encosto alto para o lado da cama.

Ela então ficou na frente da mesa, examinando as bandejas. Uma tigela de água estava sobre uma delas com um pano dentro. Ela levantou e sentou na beira da cama.

Quando Dell acordasse, ele iria querer que a sujeira não estivesse em seu rosto. Ela limpou a sujeira que havia sido chutada em sua pele quando ele descansava em um cavalo o dia todo.

Cada golpe do pano trazia seu belo rosto para mais longe da escuridão. Ela colocou o pano na água agora lamacenta e correu o polegar pela bochecha macia até a mandíbula firme, coberta de cabelos louros curtos.

Ela fechou os olhos, imaginando-o como ele esteva em Madra no dia em que o viu tomando banho no rio. Pretensioso. Confiante. Tão malditamente charmoso. E irritante. Ela o odiava e ficou completamente fascinada por ele. Ele foi o motivo pelo qual ela continuou correndo o risco de entrar na cidade sem a máscara.

Onde ela havia perdido esse sentimento? Ela ainda estava se arriscando por vários motivos, mas por meses, apenas sentiu essa derrota esmagadora que levava a uma necessidade ardente de vingança. Contra o irmão de todas as pessoas. Um homem que ela já amou com todo o coração - assim como o resto de sua família que agora se foi.

Ela afastou a mão do rosto de Dell e se levantou para colocar a tigela de lado. Seu estômago implorava por comida, mas a náusea subiu nela quando ela pensou em comer. Em vez disso, ela se sentou na cadeira ao lado da cama, puxando as pernas para baixo dela.

O movimento do peito de Dell a hipnotizou até tudo que ela via era ele.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Onze


Dell não sabia onde estava quando seus olhos se abriram. Peles pesadas o aqueciam na cama desconhecida. Ele estava de volta em Bela? Como ele chegou aqui?

Seus olhos percorreram o quarto escasso até se fixarem na garota dormindo ao lado da cama. Helena. Se ela estivesse lá, ele sabia que tinha que estar em algum lugar bom. Ele estava bem.

A luz da manhã atravessava uma janela, lançando um brilho no chão.

Uma dor começou em sua cabeça, estendendo-se por todo o corpo. Ele tentou empurrar as cobertas para o lado, mas seus braços não tinham força.

—Len. — Ele sussurrou, tentando forçar força em sua voz.

Ela não se mexeu.

—Len. — Mais alto naquele momento.

Helena se mexeu na cadeira que não podia ser confortável, as pálpebras se abrindo lentamente. Ela levou um momento para encontrar o olhar dele, mas seu corpo inteiro sacudiu quando o fez.

—Dell. — Ela se levantou para olhar mais de perto. —Você está acordado. — Um sorriso triste deslizou por seus lábios. —Eu deveria acordar Maiya para verificar você.

Quando ela se virou, ele finalmente forçou o braço a se mover o suficiente para agarrar seu pulso. Ela congelou, respirando profundamente por um momento antes de voltar para ele.

—Diga-me o que aconteceu. — Ele implorou.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas não derramadas nos cílios.

—Por favor.

Respirando fundo, ela ergueu os ombros. —Houve uma luta na enseada e alguém cortou você. Percorremos um longo caminho para levá-lo a única curandeira draconiana conhecida em Gaule.

Algo acendeu em sua memória. Ele os ouviu conversando. Maiya. Sim, esse era o nome dela. Mas não era isso que importava naquele momento.

—Quinn? — Ele perguntou, temendo a resposta.

O olhar dela endureceu. —A caminho de Madra.

Dell deslizou a mão do pulso de Helena para enlaçar os dedos nos dela. —Venha aqui.

Surpreendendo-o, ela não se opôs quando ele a puxou para a cama, levantando as cobertas para ela deslizar por baixo.

O calor do corpo dela queimou em sua memória quando ele a puxou para seus braços. Ela derreteu contra ele, enterrando o rosto no peito dele.

—Há quanto tempo estou fora?

A camisa dele abafou a voz dela. —A luta foi mais de um dia atrás.

—Você passou a noite aqui? — Ele lançou seu olhar acusador na cadeira como se fosse a agressora.

—Eu não poderia te deixar.

Dell sabia como se sentia sobre Len desde o momento em que viu Ian com ela nos jogos de Madra - antes de saber quem ela realmente era.

Para ele, nada havia mudado.

Mas ela não deu nenhuma dica de como se sentia... até agora.

Nem disse nada por um longo momento enquanto ele acariciava suas costas.

Ela se afastou para olhá-lo. —Eu estou nojenta. Eu sinto muito. Edmund tentou me fazer tomar banho e comer, mas eu...

—Len — Ele a interrompeu. —Você pode aparecer coberta nos excrementos de Vérité e eu não me importo.

Uma risada a sacudiu. —Sim, você se importaria.

—Ok, mau exemplo. Por favor, não se cubra de esterco de cavalo.

—Eu não sei. Agora que sei que você gosta do cheiro dos cavalos, talvez eu precise experimentar.

Ele levou os lábios ao ouvido dela. —Isso não mudará os fatos simples.

—E que fatos simples são esses? — Ela levantou o rosto para olhá-lo.

—Eu não acho que te incomodo tanto quanto você finge. — Ele sorriu. —Eu até acho que você pode gostar de mim.

Ela levantou uma sobrancelha. —Eu tolero você.

—Sim? — Ele baixou a voz. —Então por que você se parece estar bem em meus braços?

—Só estou aqui porque estava com frio.

—Ok, princesa. — Ele descansou o queixo no topo da cabeça dela, suas palavras caindo nos pensamentos que o título dela provocava. Princesa. E ela acabou de perder outro irmão.

Ele passou a mão nas costas dela antes de avançar ao lado dela.

—Sinto muito por Quinn.

Ela não respondeu por um longo momento. —Você não conhece Cole e Quinn. Aqueles dois... eles eram o mais próximos possível que irmãos poderiam ser. Eu sempre os invejei. Mas Quinn... ele é bom. E Cole tentará tirar isso dele. E se ele virar Quinn contra mim e Kass?

Dell se abaixou para pressionar a testa contra a dela. —Não sei se a bondade é algo que pode ser retirado. Tenha fé em seu irmão, Len.

Ela assentiu, engolindo em seco. —Eu vou ajudá-lo. — Seus olhos escureceram. —Está na hora, Dell. Não há mais espera. Preciso voltar para Bela e encontrar um caminho de volta para Madra. Está na hora de ir para casa.

Ele não respondeu. Ele viu isso acontecer, a decisão dela. Helena queria voltar para Madra desde que acordou a bordo de um navio com destino a Bela. Era o reino dela. Ele não poderia culpá-la, poderia?

Mas ele temia que se ela pusesse os pés em solo Madrano, ele nunca mais a veria, que ela não conseguiria sair viva. Os braços dele a apertaram.

Ele soltou um suspiro em seus cabelos. —Len, não quero te perder.

Ele não percebeu que tinha dito as palavras em voz alta até que ela levantou a cabeça para olhar para ele. Ela não fazia promessas falsas, mas a determinação em seus olhos se suavizou. Ela faria o que precisava. Ele não tinha dúvida disso.

Os dedos dela cavaram o tecido da camisa dele e ela o puxou para mais perto, seus lábios encontrando os dele.

Quando eles se beijaram no baile em Madra, Dell viu todas as possibilidades diante deles. Tinha sido poderoso e consumia tudo, mas terminou muito rapidamente.

Agora, eles demoraram um pouco para despejar tudo naquele momento. Os lábios de Len se moveram sobre os dele quando ela se abriu para ele, pressionando mais forte contra seu corpo.

Dell passou os dedos pelas bochechas, pelos ombros e pelas laterais antes de envolver os braços em volta da cintura, querendo cada parte dela e aterrorizado que ele acabasse com nada.

Os julgamentos vindouros mantiveram uma escuridão para a qual nenhum deles estava preparado. Ele só sabia que faria qualquer coisa para impedir que a vingança destruísse sua princesa.

 

Helena não percebeu que tinha adormecido até que uma batida na porta a acordou. Antes que ela pudesse se levantar, a porta se abriu e Edmund entrou.

Ela saiu da cama, mas não antes que Edmund a visse e erguesse uma sobrancelha. Ele não mencionou. Em vez disso, ele apontou para a forma ainda adormecida de Dell. —Como ele está?

—Melhorando. — Ela respondeu. —Ele acordou cedo esta manhã.

Edmund assentiu. —Bom. Então podemos deixá-lo em paz. Lady Amalie voltou tarde da noite passada e solicitou nossa presença no café da manhã. Primeiro, você precisa tomar banho. — Ele torceu o nariz e ela deu um tapa nele.

Uma jovem criada entrou atrás dele e fez uma reverência.

—Senhorita, eu posso levá-la para o seu quarto.

Helena olhou para Dell mais uma vez antes de seguir a garota para o corredor. À luz do dia, a casa da propriedade exibia um ar mais alegre. Tecido de cores vivas decoravam as paredes, mas seu apelo era na simplicidade. Eles não usavam muito dinheiro em casa, e Helena apreciava a modéstia.

O quarto em que ela chegou era idêntico ao de Dell, exceto por um banheiro anexo. A empregada mostrou-lhe onde estava um novo conjunto de roupas e uma banheira de cobre, cheia de água fumegante.

Assim que ficou sozinha, Helena tirou a roupa e afundou na banheira, permitindo que a água relaxasse todos os músculos.

Ela fechou os olhos, inclinando a cabeça para trás. Fazia apenas um dia que eles lutaram naquela praia? Parecia que uma vida havia passado. Ela esfregou a sujeira e o pó da estrada que estavam endurecidos em sua pele, sentindo-se como uma garota pela primeira vez em algum tempo. Seus dedos trabalharam o sabão líquido nos fios emaranhados de seus cabelos outrora lindos.

Sua mãe e Sophia costumavam passar horas lavando as tranças escuras, escovando-as e prendendo-as para que ela sempre parecesse tão adequada quanto uma princesa. O que Sophia pensaria dela agora? A velha empregada não aprovava as coisas que a rainha ensinava à filha, considerando as habilidades com adagas muito masculinas.

Mas sua mãe nunca se importou com o que os outros pensavam. Ela se certificou de que Helena sempre aparecesse a princesa perfeita e obediente ao redor de seu pai ou de seus padres. Mas então ela também deu a Helena os meios para ser sua própria pessoa.

O trono não tinha sido tudo para Chloe Rhodipus, e não seria tudo para sua filha.

Helena mergulhou a cabeça sob a água antes de emergir fresca e nova com um pensamento diferente. Ela não queria a coroa de Cole. Ela não desejava emitir comandos ou cobrar impostos. Não era por isso que ela precisava voltar para Madra. Mesmo que Helena não pudesse ser a rainha, Cole não merecia o título de rei. Ele não merecia o respeito e a obediência quando não tinha.

Ela ficou na banheira, deixando a água escorrer pelo corpo antes de sair. Alguém bateu na porta.

—Len?

Dell? O que ele estava fazendo fora da cama? Ela se secou o melhor que pôde e vestiu as roupas, pulando para prender as calças confortáveis. Não havia dúvida em sua mente o quanto Dell significava para ela. Ela o viu cair e seu coração parou. Mas ela não tinha o luxo de ser uma garota apaixonada. Ela tinha que ser dura, fria e calculista. Ela não podia mais ser a linda princesa por trás da máscara. Era hora de ser uma guerreira.

Com os pés ainda nus, ela atravessou o chão frio de pedra para deixar Dell entrar no quarto. Ele praticamente caiu quando ela abriu a porta.

—Hey. — Ela o pegou pela cintura. —Você não deveria estar de pé.

—Você se foi quando eu acordei. Um dos criados me disse onde eu te encontraria.

Um sorriso tentou se libertar, mas ela o conteve. —Lady Amalie quer nos ver.

—Estou indo.

—Dell...

—Eu não posso mais ficar na cama. Estou bem.

Ela o estudou por um momento e estreitou os olhos. —Bem. Espere aqui por um segundo. — Ela o trocou para que ele pudesse usar o batente da porta como apoio e foi buscar suas botas. Lama seca ainda as cobria, mas elas teriam que servir.

Depois de colocá-las, ela se abaixou sob o braço de Dell e o deixou se apoiar nela para andar pelo corredor. Enquanto alguns criados os olhavam, Dell se inclinou para sussurrar. —Este lugar te dá arrepios?

—Um pouco. — Ela admitiu. Era como se fantasmas de um passado brutal vagassem pelos corredores. Lorde Leroy e sua filha mais velha estavam há muito mortos, mas a influência deles devia ter sobrevivido.

—Ouvi algumas empregadas conversando quando pensaram que eu estava dormindo. Lady Amalie lutou para recuperar essa propriedade depois que a rainha a tomou.

—Ela lutou com a rainha?

—O pai dela era um traidor, e a coroa tem direito às terras do traidor, mas...

—Mas Amalie não era traidora. — Ela terminou para ele. Como a rainha pôde tirar tudo da mulher que seu filho amava? —Você acha que ela sabia sobre Tyson e Amalie?

Dell balançou a cabeça. —Espero que ela não saiba. Se ela sabe... isso está errado. —Ele ficou quieto por um momento. —Eles dizem que Amalie é difícil. Ela desaparece por dias seguidos e ninguém além de algumas pessoas de confiança sabe para onde ela vai.

Helena engoliu em seco, não gostando de pensar em conhecer a mulher. Então ela pensou em Tyson. O homem com um charme juvenil e alegria contagiante. Como ele poderia amar alguém com gelo no coração?

Do mesmo modo que Dell poderia ter sentimentos por Helena, ela supôs.

Chegaram ao refeitório onde Edmund e Tyson estavam sentados a uma mesa comprida. Tyson deu um pulo quando os viu e correu para ajudar Dell.

—Eu disse a ele que ele deveria ter ficado na cama. — Helena balançou a cabeça quando Dell tropeçou e agarrou o braço de Tyson.

Tyson não respondeu porque ainda estava parado. Helena seguiu sua linha de visão para uma mulher parada na porta. Um elegante vestido verde escuro pendia de seu corpo esbelto. Laços dourados percorriam o comprimento de seus lados, do corpete à saia.

Os cabelos castanhos se espalhavam pelos ombros em cachos, emoldurando um rosto em forma de coração. Grandes olhos escuros estavam em contraste com sua pele pálida. Seu peito subiu como se ela se preparasse para algo difícil antes de entrar mais na sala.

—Edmund. — Seus lábios rosados puxaram um sorriso hesitante enquanto ela passava por Tyson sem sequer um olhar.

Edmund levantou-se e deu a volta na mesa para estender os braços. —Amalie. — Ele sorriu. —Linda como sempre.

Ela entrou em seu abraço. —Tem sido muito tempo.

Ele riu. —Eu não tenho o hábito de entrar em Gaule se não precisar e visto que você não nos visita mais em Bela...

Ela se afastou e achatou as mãos contra o estômago. O sorriso que já existia antes não era mais visível. — Tenho muito o que fazer aqui. Eu não posso simplesmente sair.

Tyson grunhiu quando ajudou Dell a se sentar em uma cadeira.

—Se você não sai, onde você estava quando chegamos?

Amalie virou uma carranca para ele. —Isso não é da sua conta, príncipe. — Ela disse o título como se fosse uma arma antes de enfrentar a Dell. —Esse é o homem que Maiya curou? Ele não deveria estar fora da cama.

—Foi o que eu disse. — Helena murmurou. Ela pensou que ninguém a ouvira até Amalie encará-la com um olhar desconfiado. —Edmund, Tyson, que problemas vocês trouxeram à minha porta? Cameron disse algo sobre uma princesa.

Edmund esfregou a parte de trás do pescoço. —Amalie, conheça Helena de Madra.

Amalie apenas levantou uma sobrancelha com isso. —A princesa morta? Ela parece muito viva para mim. — Amalie cruzou os braços, saindo de Helena e examinando o resto dos rostos lá. —Eu sei que vocês só vieram à minha porta porque não tinham outra escolha, mas enquanto estiver aqui, eu tenho regras.

—Regras. — Tyson zombou.

Ela estreitou os olhos. —Primeiro, essa não é mais a casa do meu pai. As pessoas aqui serão tratadas com respeito, mesmo as que serviram meu pai ou irmã. Eu trabalhei muito duro para cultivar a lealdade. Eu venho de uma família de traidores, mas isso é passado.

Edmund assentiu. —Nós não sonharíamos em irritar você.

Amalie quase abriu um sorriso. Quase. —Elegante, Edmund, como sempre.

—Essa era apenas uma regra. — Helena sentou-se ao lado de Dell.

—Você é inteligente, não é, princesa?

Dell tentou se endireitar antes de recuar. —Você pede respeito e depois não dá.

Amalie colocou o cabelo por cima do ombro, em relação a ele. —Regra número dois, vocês fiquem fora do meu caminho. Não quero ver nada de vocês nem ouvir nada. Meu pessoal cuidará de vocês, mas eu tenho coisas delicadas nesta propriedade, e não quero que vocês se intrometam onde não são desejados.

—O que aconteceu com você, Amalie? — Edmund balançou a cabeça, tristeza em seu olhar.

Amalie apertou os lábios enquanto o considerava. —O que aconteceu comigo? Nos três anos desde que cavalguei para combater La Dame, vi Gaule descer a um poço de fome e desespero. Voltei para a propriedade da minha família, apenas para encontrá-la apreendida pela coroa. Foram necessários eventos dos quais não falarei para recuperá-la. Meu único objetivo nesta vida é ver todos aqueles que vivem na minha terra alimentados. Enquanto os nobres se sentam em suas fazendas, o povo passa fome. E o que a rainha faz sobre isso? Ela permite que esses mesmos nobres controlem todas as remessas de alimentos, todas as rotas comerciais. Ela nunca sai de seu maldito palácio. Sinto muito Edmund, mas há muito tempo perdi a fé em rainhas ou nobres. — Ela olhou de soslaio para Tyson. —Ou príncipes.

Com essa palavra final, ela se virou e deixou todos olhando para ela.

Tyson desabou em uma cadeira.

O queixo de Edmund se abriu e fechou como se ele tivesse algo a dizer, mas não conseguiu encontrar as palavras. Ele decidiu: —Bem, eu diria que ela mudou.

—Eu não sei. — Dell se inclinou contra a mesa. —Eu sempre me senti da mesma maneira. Eu via fome em Madra todos os dias. No entanto, o rei não fazia nada além de cobrar mais impostos e levar mais comida para seus exércitos.

Tyson enterrou a cabeça nas mãos. —Amalie se ressente de ter ficado em Bela longe dos problemas de Gaule, mesmo que ela tenha me mandado embora. A última vez que a vi, ela me chamou de covarde. Talvez eu seja.

—Ty. — A mão de Edmund pousou em seu ombro. —Você lutou sua guerra. Todo mundo em Bela. A paz é sua recompensa por gerações de abuso.

Dois criados entraram no salão, ambos carregando bandejas. Eles colocam uma tigela e um prato diante de cada pessoa presente antes de partirem tão silenciosamente quanto vieram.

Helena considerou a comida diante dela. Caldo fino, pãozinho e um pedaço de peixe salgado. O respeito cresceu dentro dela. Amalie não era apenas uma mulher com altos ideais, ela realmente andava ao pé. Essa refeição não poderia ter sido melhor do que o que as pessoas da vila estavam comendo.

Ela mergulhou a colher na tigela e levou o caldo de mau gosto aos lábios. Eles comeram em silêncio.

Quando terminaram, Edmund ajudou Dell a voltar para o quarto. Tyson desapareceu. Helena vagou pelos corredores da propriedade estéril, sua mente se perguntando sobre os atos traidores realizados dentro daquelas paredes.

Ela deslizou a mão ao longo de um corrimão de madeira enquanto subia uma escada para os níveis superiores da casa. Ela chegou a um cruzamento de corredores. Olhando para baixo, parecia apenas os aposentos dos empregados. Mas o outro... o brilho de uma lanterna escoava através de uma porta.

Helena não conseguiu impedir que seus pés se movessem dessa maneira.

Vozes flutuaram pelo corredor.

—Você os encontrou? — Cameron. Pelo menos ela pensou que era o guarda.

—Eu tentei. — A voz de Amalie era muito mais suave do que antes. —Vamos precisar pesquisar mais. Tuck já está procurando. Encontramos uma série de vagões em direção à propriedade do duque Ingold. Eu tenho os meninos distribuindo a comida agora.

—Isso foi uma sorte. — Cameron fez uma pausa. —Você tinha que...— Ele parou como se estivesse cortado.

—Ninguém morreu. Nocauteamos os vagões e os deixamos longe o suficiente da estrada que os bandidos não os teriam encontrado antes de acordar.

Helena não conseguia entender o que estava ouvindo. Amalie estava... roubando? Para o seu povo, mas ainda assim... eles poderiam enforcá-la pelo crime.

Ela recuou ao longo da parede e desceu as escadas. A respiração dela nem se estabilizou até ela voltar ao quarto. Ela se sentou em uma cadeira perto do fogo e olhou para as chamas brilhantes até que uma batida na porta a assustou de seus pensamentos.

Ela suspirou. O que eles queriam agora? Edmund e Dell tinham hábitos desagradáveis de invadir sem bater, então deveria ter sido Tyson, e ela não achava que poderia levar sua atitude melancólica por mais um momento.

Abrindo a porta, ela recuou quando o rosto de Amalie apareceu.

—Eu sei que é tarde. — Amalie falou com nenhuma confiança que ela tinha antes. —Mas posso entrar?

Helena assentiu e recuou para permitir a entrada da jovem.

Amalie fechou a porta e não demorou a cair em uma cadeira, a exaustão puxando as feições em seu rosto.

—Eu- — Helena começou, mas Amalie balançou a cabeça.

—Devo me desculpar pela maneira como falei antes. Sempre que Tyson aparece, vejo apenas raiva.

Helena sentou na cadeira à sua frente. —Está bem.

—Não. — Ela balançou a cabeça. —Não está. Mas muitas... as coisas estão difíceis agora, e ele apenas as torna mais difíceis.

Helena não conseguia olhar para Amalie sem um coro de ladrões percorrendo sua mente, mas sua mãe a criou para esconder seus próprios pensamentos, então ela sorriu em simpatia.

—Sinto muito, tivemos que vir aqui.

Amalie acenou com as palavras. —Estou feliz que Maiya possa ajudar. Eu sei que ela sente falta de usar sua magia regularmente, embora meu pessoal lhe dê muitas oportunidades. Olha, eu queria falar com você porque obviamente sei quem você é. Não é só isso, eu entendo. Ty gostaria de pensar que sou uma pessoa difícil e inquebrável agora, mas ainda sei quem sou e de onde venho. Meu pai e irmã traíram o rei. Sei que é diferente para você, porque seu pai era o rei quando seu irmão a traiu.

Helena deixou a menina divagar.

—Sinto muito, você não precisa que eu faça isso. O que eu realmente queria perguntar é o que você planeja fazer sobre isso?

—Fazer?

—Vinguei-me de meu pai quando o lutei em batalha e continuo a viver minha vingança todos os dias enquanto administro sua propriedade, enquanto ele está enterrado no fundo do túmulo de um traidor não marcado.

Vingança. A coisa que Helena prometeu decretar a Cole, mas não fez nenhum movimento para começar.

Ela se mexeu na cadeira. —Estou voltando para Madra.

Um sorriso sombrio deslizou pelo rosto de Amalie. —Edmund e Tyson sabem disso? Eles foram criados em torno de um exército. Plano. Plano. Plano. Prefiro deixar a espontaneidade ser minha arma.

Helena balançou a cabeça. —Eles não virão. Bem, pelo menos Tyson não vai. — Como ela disse, sabia que era verdade. Mas Edmund? Uma coisa era falar as palavras na floresta de Gaule, mas trazer Edmund de volta a Madra era outra questão. Por que Edmund e Tyson deveriam deixar a segurança de Bela? Edmund pode ter vivido em Madra, mas não era o reino dele. Sem Estevan lá, não tinha nada para ele. Não, Cole era sua responsabilidade. Nada disso iria parar até que ela o encarasse.

—Eu tenho alguém que você precisa conhecer. — Amalie se levantou. —Venha.

Helena seguiu Amalie pelos corredores até chegarem ao pátio. Em vez de se virar em direção ao portão, ela virou a esquina para onde havia um conjunto de quartéis nos fundos da propriedade. Suas paredes se apoiavam como se pudessem cair e pedaços de palha cobriam o chão.

—Não tivemos recursos para reparar o quartel, mas meu pessoal não se importa. De qualquer forma, eles não passam muito tempo aqui.

Helena olhou nervosa de um lado para o outro enquanto elas se escondiam. Fileiras de beliches cobriam cada parede, mas a maioria estava vazia. Apenas algumas pessoas se demoraram. Amalie assentiu para cada um. Nos fundos, ela parou em frente a um beliche ocupado. Um monstro de homem dormia com as pernas penduradas no final.

Amalie chutou a cama. —Will. Oi, acorde.

O grandalhão se mexeu, mas não acordou. —Will.

Ele abriu um olho. —Afaste-se, Ames.

—Tire sua bunda peluda desta cama agora, ou eu vou enfiar uma flecha no seu crânio grosso.

Ele gemeu e rolou.

Helena respirou fundo quando viu a linha de tatuagens serpenteando pelo pescoço dele e desaparecendo sob a gola da camisa dele. Um mercenário de Madra.

— Estou contando, Will. —Amalie bateu o pé. —Um. Dois...

—Estou levantando. — Ele sentou e esfregou a mão na mandíbula angular antes de afastar os longos cabelos escuros do rosto. —Eu estava acordado até tarde porque alguém nocauteou alguns comerciantes que obviamente não estavam morrendo de fome pelo peso deles.

Os olhos de Amalie se arregalaram quando foram para Helena. Will, vendo-a pela primeira vez, franziu a testa.

—Quem é ela? — Ele apontou o polegar para Helena, mas manteve os olhos em Amalie.

O coração de Helena apertou quando ele olhou para ela e deslizou-o pelo corpo. Ela nunca esteve cara a cara com um mercenário antes.

Amalie ignorou a pergunta. —Você se lembra da história que me contou de como Quinn Rhodipus salvou sua vida quando o exército de Madra o capturou em Cana?

Ele assentiu, hesitação nos olhos.

—De quem ele te salvou?

Helena teve a impressão de que Amalie já sabia a resposta, e a pergunta era apenas para seu benefício.

—Seu próprio maldito irmão. — Will cuspiu. —Eu nunca esquecerei isso. Quando Cole Rhodipus controlava o exército, ele via mercenários como traidores. Não acredito que o maldito bastardo seja rei agora.

Helena entendeu agora. Por que Amalie a trouxe para este homem. Ela tinha aliados.

Amalie mordeu o lábio por um momento antes de se virar para Helena. —Will tem contatos em Bela. Comerciantes. É assim que... digamos que ele é um trunfo para mim. Ele pode levá-la a Madra.

Will fez uma careta. —Ames, eu trabalho para você. Eu não estou ajudando alguns malditos... —Seus olhos a examinaram novamente. —Nobres a atravessarem o mar a menos que você me dê um malditamente bom motivo.

Convocando cada grama de coragem que pôde reunir, Helena estendeu a mão. —Helena Rhodipus, herdeira legítima do trono de Madra. Como você se sente com um pouco de vingança?

Will se levantou, demorando-se a examinar a verdade em seus olhos. —Você é ela, não é? A princesa mascarada? — Ele agarrou a mão dela. —Sou mercenário, boneca. Estamos sempre preparados para lutar. — Ele a considerou por mais um momento. —Não voltarei a pisar naquele reino, mas se encontrar uma maneira de ajudar a derrubar o rei bastardo, eu o farei.

Era isso.

Os planos se formaram em sua mente. Não havia mais espera. Ela estava indo para Madra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Doze


Helena agarrou o chifre da sela, todos os músculos ansiosos para começar a jornada de volta a Madra. As palavras de Will na noite anterior passaram por sua mente. Ele sabia mais sobre a situação atual em Madra do que deveria, mas cada vez que mercenários passavam, eles paravam para tentar convencê-los a se juntar a eles. Sua família era respeitada dentro de suas fileiras.

Um barco. Essa era a primeira parte do plano. Então um lugar para ficar quando ela alcançasse Madra. Ele disse a ela que os mercenários estavam ficando fora da cidade, mas que havia rebeldes escondidos por toda parte. Uma padaria guardava seus segredos e ela os encontraria lá. Eles a ajudariam a entrar no palácio.

Ninguém sabia da reunião dela na noite anterior, e agora Will não estava em lugar algum. Ele viajaria para Bela por uma rota diferente. Mercenários madranos não eram bem-vindos no reino que lutaram para destruir apenas alguns anos atrás.

Um ressentimento profundo percorria cada pedacinho de Bela, e provavelmente nunca iria embora. Não importava que os mercenários estivessem apenas fazendo um trabalho que eles recebiam generosamente. Eles não tinham lealdade a La Dame. Lealdade era um conceito estranho para eles.

Os olhos de Helena deslizaram sobre Tyson, Edmund e Landon. O que eles pensariam se soubessem que ela planejava confiar em alguém que consideravam um inimigo?

O que Dell pensaria? Ele não tinha o mesmo ódio dentro dele, mas ela não contou a ele e não sabia o porquê.

Ao lado dela, Vérité levantou a cabeça como se estivesse dando sua aprovação. O cavalo estava certo. Eles perderam tempo suficiente esperando Dell se recuperar da cura. Mas não tinha sido desperdiçado se ele se recuperasse, tinha? Sua ansiedade de voltar para casa anulou todos os sentidos.

A exaustão de Dell duraria um pouco mais. Helena tinha experiência suficiente com a cura para saber disso. Ela o observou por qualquer sinal de luta. Ele não mostrou nenhum.

Depois de conhecer Will, ela entrou no quarto de Dell para encontrá-lo batendo na cama. Ele só se acalmou quando ela se arrastou ao lado dele e envolveu seu corpo ao redor dele.

Ele não havia acordado, mas seu coração estava mais lento e sua respiração se acalmava. Seu corpo pode se recuperar, mas sua mente... isso levaria mais tempo. Ela ainda conseguia se lembrar do momento em que uma adaga a cortou enquanto lutava durante a rebelião. No segundo em que ela pensou que era o fim.

Não era algo que ela jamais esqueceria e agora Dell tinha uma memória semelhante. A mordida de metal deslizando em sua carne seria para sempre queimada em seu cérebro. Ele era um lutador de rua em Madra, mas sua arma tinha sido apenas seus punhos.

Ela desviou os olhos dele e encontrou Tyson em pé na frente de Vérité, alimentando-o com uma maçã.

Edmund montou em seu cavalo. —Amalie vem nos desejar boa sorte?

Maiya apareceu com as palavras dele, descendo os degraus até ficar na frente deles. —A senhora Amalie teve que cuidar de alguma coisa. Ela deseja boa sorte em suas viagens.

—Brilhante demais. — Resmungou Tyson baixinho. Ele ficou chateado por ela não se dar ao trabalho de se despedir ou por terem chegado lá em primeiro lugar?

Helena não perdeu seus muitos olhares para Amalie quando ele pensou que ninguém estava olhando. Seus olhos tinham um desejo que enviou uma rachadura através do centro do coração dela. Ele ainda a amava, mas algo em Helena disse a ela que Tyson não conhecia a garota que administrava esta casa. Não mais. Ela tinha seus próprios segredos agora, assim como todos eles.

Os olhos de Helena voltaram para Dell. Seus segredos iriam quebrá-los? Ela queria dizer a ele para ir com ela. Ficar ao lado dela. Mas Cole mataria Dell sem pensar duas vezes. Ela não acreditava que Cole queria matá-la. Talvez fosse uma esperança tola, mas se fosse verdade, a hesitação dele seria a abertura dela. Cole nunca amou Estevan ou seus pais... mas ela pensou que ele a amava, apesar do quanto ele tentou não amar.

Tyson deu um tapinha no pescoço de Vérité antes de subir.

—Eu só quero voltar para casa.

Casa. Helena o invejava. Mas logo ela voltaria para ela também.

Edmund assentiu em concordância. —Quanto mais rápido estivermos longe da propriedade Leroy, melhor.

—Príncipe Tyson.— A pequena voz de Maiya fez todos eles pararem. —Amalie deseja que vocês pudessem ter se separado como amigos.

Tyson virou o cavalo para longe dela. —Sim? Bem, ela com certeza mostrou, não foi?

Helena não gostou do sarcasmo na voz dele. Era muito diferente do tipo de príncipe que ela conhecia.

Maiya encarou Tyson com um olhar suave. —Ela deseja que eu pergunte a você...— Ela respirou fundo. —Por favor, não volte aqui. Mas se você precisar de nós, iremos ajudá-lo. O passado conta para alguma coisa.

Tyson cerrou os punhos, mas inclinou a cabeça. —Sim, senhora Maiya. Farei bem em lembrar suas palavras.

Ao contrário de Amalie na noite anterior, o jovem não conseguia esconder a dor nos olhos.

Ele chutou os calcanhares e saiu pelo portão aberto.

Helena lançou um olhar final para a fortaleza nas costas antes de segui-lo. Logo ela voltaria para Bela, mas isso era apenas o começo.

 

 

Capitulo Treze


Helena olhou por cima do ombro para os companheiros enquanto eles subiam o vale antes de descerem para a vila.

O alívio tomou conta dela quando viu a cabana no topo da colina. Aron já os teria visto de seu lugar na torre de vigia - se eles pudessem chamar assim.

Como se para provar o quanto ela estava certa, quatro cavalos galopavam na direção deles carregando os guardas de Bela. A versão de Etta e Alex dos guardas da cidade não usava armadura. Helena suspeitava que eles não precisavam disso quando podiam confiar em magia.

Montando no centro dos guardas não era outro senão o próprio rei.

Alex gritou uma saudação.

—Oi, rei. — Edmund sorriu, mais exausto do que com qualquer sentimento de alegria.

Helena havia muito que deixara de ficar chocada com a informalidade de Bela. Ela lembrou a si mesma que Edmund não estava desrespeitando Alex. Eles eram amigos. Ela suspeitava que seu pai nunca tivesse tido amigos. Stev também não... até Edmund.

Esse era o preço do poder. Mas aqui em Bela, essas regras não pareciam se aplicar. Etta e Alex haviam se cercado de pessoas que os amavam, apesar de suas coroas, não por causa delas.

As bochechas de Helena se aqueceram quando ela pegou Dell estudando-a, mas ela desviou o olhar e cutucou o cavalo para frente.

Alex parou na frente deles, os guardas se afastando. —Você voltou.

—Boa observação, Alex. — Tyson se afastou dele. Com isso, ele bateu os calcanhares nas laterais do cavalo e partiu em direção à vila.

Alex levantou uma sobrancelha.

O olhar de Edmund seguiu Tyson até que ele desapareceu entre as árvores. —Tivemos que parar na propriedade Leroy por alguns dias.

A compreensão surgiu em seus olhos. —Qual de vocês se machucou? Ty só iria a Amalie se precisasse de Maiya.

Dell levantou a mão. — Esse seria eu.

Alex assentiu. —Você está bem agora?

—Sim eu estou bem.

—Bom. Agora me diga o que diabos aconteceu com você em Gaule. Nós não tivemos nenhuma palavra e todos vocês parecem como se estivessem...

—Em Gaule? — Edmund terminou por ele.

Alex esfregou os olhos. Helena lutou para ver o homem diante dela como filho da rainha Catrine. Ele cresceu como príncipe de Gaule antes do reino desmoronar e se tornar um refúgio para a guerra civil e os bandidos pegando a carcaça de uma terra problemática.

—Sim. — Ele soltou um suspiro. —Minha mãe?

—Pode apodrecer nesse reino dela. — Helena dirigiu um olhar desafiador para ele. Com a menção da mulher que entregou Quinn a Madra, a raiva bateu em sua pele, girando em torno de seu coração.

Edmund suspirou. —Podemos conversar sobre isso quando eu tiver uma cerveja... ou três?

—Padre, isso parece o paraíso. — Dell tentou sentar-se mais reto em sua sela, mas Helena viu a luta.

Alex olhou para os guardas ao seu lado. —Bem. Etta vai querer saber que você voltou. Eu juro, ela perde a cabeça preocupada toda vez que alguém passa além da fronteira.

A raiva de Helena fervia, diminuindo a cada momento que passava. Ela não podia se ressentir de Bela pelo que Gaule havia feito, apesar de suas conexões. O mundo ainda não era seguro para os manejadores mágicos. Eles lutaram por toda a liberdade que tinham.

Mas não tinha todo mundo?

Ela tocou sua bochecha por hábito, meio que esperando sentir o laço confinante de uma máscara. Em vez disso, as pontas dos dedos roçaram a pele macia que não parecia a dela. Ela não era essa linda princesa. Não mais.

A mão dela deslizou sobre os emaranhados escuros no alto da cabeça, desprovida de dias na estrada.

Alex os levou pelo caminho que circundava a vila e levou à ponte sobre o rio estreito.

Uma vez do outro lado, eles desmontaram do lado de fora dos estábulos do palácio.

Etta correu para cumprimentá-los, passando por cada pessoa até chegar a Vérité. Ela jogou os braços em volta do pescoço dele.

—Você voltou.

Vérité esfregou o nariz contra o lado da cabeça dela.

Edmund bufou. —Eu sobrevivi em Gaule também, mas não... ninguém se importa com Edmund.

Etta soltou Vérité e sorriu antes de ir para Edmund e esfregar o nariz. —Você também é um bom garoto, Edmund.

Ele afastou a mão dela e a puxou para um abraço.

—Parece que a jornada foi boa para você. — Ela se afastou e estendeu a mão para tocar as bordas de seu sorriso.

Ele balançou sua cabeça. —Essa jornada não foi boa para ninguém. Estou feliz por estar de volta em Bela.

Etta virou-se para Helena. —Tyson chegou alguns momentos antes de você. Ele explicou os eventos básicos. Sinto muito pelo seu irmão, mas aliviada por você ter retornado em segurança. — O olhar dela voou para Dell. —E que você sobreviveu a suas feridas.

Dell abaixou a cabeça em agradecimento.

Etta encontrou o olhar de Helena mais uma vez. —Precisamos conversar. Sozinhas. — Ela começou a andar. —Edmund, cuide dos cavalos.

—Sim, minha senhora. — Uma nota zombeteira ecoou em sua voz, mas também carinho.

Para onde Etta a estava levando? Elas contornaram a lateral da pequena casa e Helena respirou fundo. Ela nunca tinha visto os jardins antes.

Apresentadas à sua frente, havia fileiras das flores mais vibrantes que ela já viu. Vivendo na cidade, as únicas flores que a maioria das pessoas via eram em pequenas caixas de janela ou em caules moribundos nos mercados. O palácio de Madra tinha jardins, mas nem aqueles se comparavam a isso.

Amarelas, rosas e azuis se estendiam pela paisagem, serpenteando por caminhos de pedra pálida. Grandes árvores penduravam suas trepadeiras sobre os caminhos.

Um banco de pedra branca estava no centro.

Helena imaginou que estava vendo coisas, mas era como se as flores acordassem com a presença de Etta e um zumbido excitado enchesse o ar, formigando nos braços de Helena.

Ela tinha ouvido falar do poder de crescimento da rainha, mas isso estava além de qualquer coisa que ela imaginou. —Você...— Ela balançou a cabeça. Não, mesmo depois de toda a magia que ela testemunhou, ainda parecia impossível para ela.

Mas Etta confirmou seu primeiro pensamento. —Eu criei este lugar para pensar. — Ela fechou os olhos, inalando o ar perfumado floral. —Quando eu era mais jovem, morava em uma floresta e meu mundo era tão escuro que fiz um campo de flores apenas para adicionar luz à minha vida. Um pouco de beleza. Foi a primeira vez que percebi que estar cercada por minha magia permitiu que minha mente clareasse. Quando construímos esta casa, a primeira coisa que eu sabia que precisava era de um lugar assim.

—É lindo.

—Obrigada. — Etta se sentou no banco. —Você deve estar exausta da jornada. Sei que muita coisa aconteceu desde a última vez que te vi, mas estamos com pouco tempo. Primeiro, sinto muito pelo seu irmão.

Helena abaixou o olhar para esconder a tristeza em seus olhos.

Etta deu um tapinha no assento ao lado dela. —Sente-se, por favor.— Quando Helena obedeceu, ela continuou. —Sei que você está decepcionada com a pouca ajuda que recebeu de reinos estrangeiros. Aos seus olhos, todos devemos agir contra um usurpador. Não vou defender o que a rainha Catrine permitiu que acontecesse, porque não concordo com a decisão dela. Mas eu entendo isso. Gaule não é mais o que era antes, e Camille é a herdeira. Parece que ela ofereceu uma pequena ajuda para permitir que você tentasse capturar Quinn. Ela não sabia que Reed trairia Dell.

Etta fixou os olhos em um arbusto amarelo. —Quero ajudá-la, mas não posso pedir a ninguém do meu povo que lute em uma terra estrangeira. De novo não.

Helena a deteve. —Eu entendo sua decisão. Se Bela se envolver em assuntos estrangeiros, você se torna a mantenedora da paz dos seis reinos. Não quero mágica usada no meu reino, assim como você não a usa fora do seu.

Um sorriso iluminou o rosto de Etta, e ela passou a trança loira por cima do ombro antes de ficar séria mais uma vez. —Há notícias de Madra. O porto foi fechado para todo o comércio exterior. Nós já paramos de negociar com eles, mas agora eles cortaram o resto dos seis reinos.

Helena olhou para os de Etta. —Mas isso é...— Ela não tinha palavras para descrever exatamente o que era, mas Etta parecia entender.

Etta bateu os dedos contra a perna. —Seu irmão também puxou todas as tropas da fronteira draconiana.

A testa de Helena franziu. —Eu pensei que a guerra havia terminado anos atrás. — De repente, ela odiou o pai por se recusar a permitir que Helena soubesse dos outros cinco reinos.

—Acabou, mas quando assinamos os acordos de paz, Madra prometeu uma força significativa por cinco anos para garantir que Dracon reconstruísse suas cidades, mas não seu exército. Também tenho uma força considerável e, nesta manhã, recebi a notícia de um de meus generais de que nossos aliados os abandonaram.

A mente de Helena se recusou a ficar quieta. O que Cole estava fazendo? Isolando Madra do resto dos seis reinos? Há muito que Madra acredita que as lutas do reino resultam do envolvimento estrangeiro. Eles não estavam errados. As guerras de seu pai impediram o povo de prosperar. Mas fechar completamente as fronteiras?

—Você será capaz de adiar Dracon sem as unidades de Madra? — Helena perguntou.

Etta não hesitou. —Ai sim. Sem La Dame, Dracon não é uma ameaça real. Estou mais preocupada com nossos supostos aliados nos abandonando.

—Então não deixe. — Helena virou o corpo para inclinar-se para Etta. —Vamos para Madra. Vamos remover Cole do trono.

Antes de Helena terminar de falar, Etta estava balançando a cabeça. —Eu sinto muito. Quando eu disse que não podia fazer isso, eu quis dizer isso. —Ela passou a mão pelo rosto. —Eu só sou rainha há alguns anos. Eu só sei o que não posso fazer. Não sei como consertar isso.

Estava na ponta da língua de Helena - revelar o homem que prometeu ajudá-la. Mas Etta permitiria um mercenário em seu reino?

Helena se endireitou, pensando em algo que Etta havia dito. O porto foi fechado para navios estrangeiros. Como ela deveria voltar para casa? Ela se recusou a acreditar que seu plano falhasse antes mesmo de começar.

Que plano, no entanto? Até agora, tudo que ela tinha era “Chegue a Madra”. Ela não tinha visto Will nas estradas para Bela e nem sabia se ele havia conseguido.

Os olhos de Etta ficaram paralisados nas flores diante delas. Ela estava pensando em tudo o que estava por vir como Helena? Isso só pioraria antes de melhorar, e as duas sabiam disso.

—Eu respeito você, Helena. — Suas palavras foram tão repentinas que fizeram Helena pular. —Você seria uma rainha maravilhosa.

Rainha? Helena não conseguia pensar tão à frente. Ela nunca quis o papel. Tudo o que ela podia ver era a luta pela frente.

Etta não havia terminado. —Mas preciso fazer uma pergunta e quero que seja sincera comigo.

—Tudo bem. — Ela poderia tentar, pelo menos.

—Se você for a Madra, qual é o seu propósito?

Helena apertou as mãos. —Eu não sei o que você quer dizer.

—Nossas fontes nos dizem que Cole Rhodipus não fez mudanças radicais que machucaram o povo madrano. Ele não aumentou impostos - na verdade, ele os reduziu. O comércio de Madra sofrerá, mas reduzirá os preços para o cidadão médio da cidade. Ele pode não fazer o certo pelo resto de nós, mas pode ser bom para Madra. Você pode ficar aqui em Bela, onde está segura e criar uma vida para si mesma. Por que lutar essa luta?

—Cole tem Quinn. Eu tenho que fazer isso pelo meu irmão.

—Quinn pode se cuidar de todas as contas. Essa não é sua verdadeira razão.

—É a única que tenho.

Etta sacudiu a cabeça com tristeza. —Agora você nem está sendo honesta consigo mesma. — Ela se levantou. —Apenas... tenha cuidado, Helena. Já estive na estrada da vingança antes. Tudo o que faz é separar você até que a única coisa que resta é uma garota despedaçada. Você não quer ser a pessoa que não tem mais nada a perder.

Essas palavras ficaram presas na mente de Helena, sacudindo até que se agarraram e se recusaram a deixar ir.

Enquanto Etta voltava para casa, outro rosto apareceu, abrindo um grande sorriso assim que viu Helena.

—Kass. — Ela saiu do banco e correu em direção a ele, ignorando seus músculos cansados.

Ele pulou nos braços dela, quase a derrubando. —Len. Você voltou.

Ela se afastou para olhá-lo e enxugou uma lágrima de sua bochecha úmida. —Kassander, você achou que eu não voltaria?

Ele deu de ombros e isso partiu o coração dela. —Quinn não está com você.

Ela alisou seus cachos rebeldes.

—Não. Ele está em Madra agora. — Curvando-se, ela olhou nos olhos vidrados dele. —Mas vamos recuperá-lo. Eu prometo.

Ele assentiu. —Eu sei que você tentará.

Quando seu irmão mais novo perdeu a esperança que ele sempre teve dentro dele?

—Venha aqui. — Ela o puxou de volta para seus braços. —Se nada mais der certo, você e eu ainda temos um ao outro, certo?

—Lenny, por favor, não me deixe para trás novamente. Sei que você vai voltar para Madra e quero ir.

Ela fechou os olhos, apoiando o queixo na cabeça dele. Não. Era muito perigoso. Você nunca quer ser a pessoa que não tem mais nada a perder.

Enquanto Kass estivesse seguro, uma pequena parte dela permaneceria inteira.

 

 

 

 

Capitulo Quatorze


Helena sentiu os olhos nela a cada movimento enquanto deslizava no banco da taberna da vila. Uma jovem de olhos brilhantes e cabelos ruivos torcidos em um coque apareceu à mesa deles.

Seus olhos caíram em Edmund e Tyson. —Há rumores de que vocês dois estavam do outro lado da fronteira.

Ela apontou para um homenzinho correndo entre mesas, e ele apareceu carregando uma bandeja cheia de canecas de cerveja.

Assim que ele os colocou na frente dos meninos, a tensão ao seu redor se rompeu.

Edmund suspirou enquanto levava a caneca aos lábios. Dell e Landon beberam metade delas de uma só vez. Tyson, movendo-se mais devagar, olhou para a jovem.

Helena não tocou a caneca na frente dela.

—Lana. — Tyson parecia ser o único ainda focado em sua pergunta. —Atravessar a fronteira não é novidade para mim.

Lana se inclinou, o corpete de seu vestido simples amontoado na cintura. —É tão perigoso quanto todo mundo diz?

Bandas itinerantes de ladrões de Madra. Bandidos de Gaule. Uma rainha que não tinha controle sobre seus próprios nobres.

—Não. — O sarcasmo escorria das palavras de Helena. —Foi como um passeio na praia.

O que essa garota estava pensando? Claro, era perigoso. Mas nem todo mundo tinha o luxo de ficar sentado em Bela, onde nenhum desses perigos poderia alcançá-los. E assim, ela se ressentia de tudo neste reino.

Lana não conseguiu esconder o choque em seu rosto, mas Helena não se importou se estava sendo rude. Aqueles que consideravam a verdade grosseira não valiam a pena.

Antes que ela dissesse mais alguma coisa, um movimento chamou sua atenção no canto do lugar. Um homem grande estava sentado nas sombras com uma capa cobrindo cada centímetro de pele, exceto seu rosto. Um rosto que ela reconheceu.

Will.

Ele veio.

—Eu preciso de ar. — Helena se levantou.

—Mas acabamos de chegar aqui. — Dell pegou seu braço e ela se afastou.

Seus olhos percorreram a taberna barulhenta, cheia de pessoas rindo e brincando como se o mundo não estivesse desmoronando. Talvez apenas o mundo dela fosse.

Ela caminhou com passos decididos até a porta e a abriu. O luar projetava o chão do lado de fora em um brilho etéreo. Ela fechou a pesada porta atrás dela, cortando o riso de outros clientes.

Apenas um momento depois, a porta se abriu novamente.

—Não aqui. — Will passou por ela como se ele não a conhecesse.

Ela o seguiu até um beco que ligava a estrada principal às docas. Morando em Madra, ela se acostumou com o cheiro constante de peixe, mas em Bela parecia permear tudo, como se o mar fizesse parte do reino.

Apenas alguns marinheiros permaneciam tão tarde da noite. Will parou e se virou para encará-la. Ele não empurrou o capuz, mas ela conseguiu distinguir as bordas de tinta preta em seu pescoço.

—Quero esclarecer uma coisa agora. — Disse Will em voz baixa. —Estou aqui porque Amalie pediu isso de mim. Não dou a mínima para o que acontece com Madra. Não é mais minha casa. Eu luto por mais do que ouro agora, e isso significa que não sou mais mercenário que você.

Tudo o que Helena aprendeu sobre Amalie veio à mente. Ela ainda não havia contado a ninguém sobre a conversa que ouvira. Ela inclinou a cabeça para o lado. —Então pelo que você luta?

Os lábios dele se curvaram. —A primeira coisa que você vai aprender sobre mim, princesa, não é fazer perguntas.

—Notável. — Helena cruzou os braços. —Diga-me como você planeja me levar para Madra.

Will soltou um suspiro. —Você deveria ir à rainha Belaena em busca de ajuda.

—Isso não é problema de Bela. — Ela agarrou o braço dele, lamentando quando ele lhe lançou um olhar cortante. Mas ela não desistiu. —Você pode alegar que Madra não é sua casa, mas é minha.

—Como você planeja chegar perto o suficiente do rei, e muito menos tirar a coroa de seus dedos bastardos? As pessoas para quem estou enviando podem mantê-la segura por um tempo, mas não podem fazer milagres.

Helena o soltou. —Você não pode fazer perguntas mais do que eu.

—É justo. — Ele ergueu os olhos para o céu escuro, onde nuvens sinistras se reuniam, ameaçando cortar a vila de seus holofotes prateados. —Há um navio mercenário aqui em Bela.

Helena respirou fundo. —Etta nunca permitiria.

Ele abaixou o rosto para perfurá-la com um olhar severo. —A rainha assume que ela sabe tudo o que está acontecendo em sua terra, mas somos bons no que fazemos. Um mercenário sabe como se mascarar. Algo que você tem experiência.

Ela tocou o rosto antes mesmo de perceber que estava fazendo isso. Os olhos dele seguiram as mãos dela, mas ele não disse outra palavra sobre isso.

Engolindo em seco, Helena olhou ao redor de Will para se certificar de que eles ainda estavam sozinhos. Ela tinha que voltar para a taberna antes que Dell viesse procurá-la. Ela estava realmente pensando em embarcar em um navio mercenário? A única coisa que sabia sobre os misteriosos guerreiros madranos era o perigo que eles representavam.

—Este... navio...— Ela empurrou um sopro de ar. —Quando sai?

—O terceiro dia de cada semana ao amanhecer.

—Daqui a apenas algumas horas.

Ele baixou a cabeça para falar. —A menos que você queira esperar uma semana.

Não. Ela mordeu o lábio nervosamente. Ela teria coragem de enfrentar Cole daqui a uma semana? O que aconteceria com Quinn naquele tempo? Ela poderia usar uma semana para obter ajuda.

Ela balançou a cabeça. —Eu tenho que chegar ao meu irmão.

Ele assentiu como se soubesse que seria a resposta dela o tempo todo. —Será o único navio que se prepara para partir antes da maré da manhã. Esteja lá antes que o sol nasça. Não vai esperar por você. — Ele se virou para sair.

—Espere. — Ela chamou atrás dele. —Você não vem comigo?

Ele não a encarou, mas suas palavras ecoaram em seus ouvidos.

—Como eu disse antes, princesa, Madra não é mais minha casa. Minha lealdade está em outro lugar. Não vou te ver de novo.

Ele saiu antes que ela pudesse pronunciar as palavras “obrigada”.

 

 

 

 

 

 

Capitulo Quinze


—Helena já se foi há um tempo. — Dell olhou por cima do ombro em direção à porta. —Devemos ir procurá-la?

Tyson apenas grunhiu, seu humor não era melhor do que quando eles estavam na propriedade Leroy. Landon observou a porta, suspeita nublando seu rosto.

Edmund não parecia preocupado. —Lenny às vezes só precisa ficar sozinha. Ela é assim desde que eu a conheço. — Ele estendeu a mão para dar um tapa nas costas de Dell. —Relaxe, Dell. A vila é tão segura quanto em qualquer lugar.

Ele não entendia. Dell não estava preocupado com a segurança dela. Helena não era a mesma desde que deixaram Gaule.

Era como se ela estivesse se afastando dele, recusando-se a deixá-lo chegar perto. Ele pensou que ela finalmente o deixaria entrar. A princesa fria tinha esquentado.

Mas agora o gelo estava de volta e ele não sabia o que fazer.

Quando a porta se abriu, e ela deslizou para dentro, o alívio se espalhou pelo peito dele. Apenas a visão dela o acalmava. E então ela olhou para ele e toda a calma desapareceu. A luz que ele viu nos olhos dela quando a conheceu se foi, substituída por um embotamento que não se encaixava na princesa.

Ele ficou de pé quando ela caminhou em direção à mesa, seus cachos escuros puxados por cima de um ombro.

—Eu estava ficando preocupado. — Disse ele, ciente dos olhos neles.

Helena deu um sorriso tenso. —Estou bem, apenas cansada. Eu acho que vou voltar para Etta. Eu poderia dormir por uma semana.

Seu coração afundou, mas ele deixou escapar um suave “ok”.

Sem se despedir de mais ninguém, ela se virou e saiu por onde tinha vindo.

Dell recostou-se no banco e levantou a caneca, engolindo o conteúdo antes de bater com força na mesa de madeira.

Tyson pulou com uma maldição.

Edmund balançou a cabeça. —Dell...— Ele riu, mas não havia alegria nisso. —Você só tinha que se apaixonar pela princesa, não foi? — Ele esvaziou sua própria caneca segundos antes que o homem magro parecesse reabastecê-la. Edmund não perdeu tempo bebendo a cerveja fresca.

Dell o observou, notando seu rosto cansado. O Edmund que ele conhecia em Madra havia caminhado com o tipo de confiança que poucos possuíam. Ele se movia com graça e tinha um charme mortal.

Agora, seus ombros caíram para frente quando ele se curvou sobre a mesa. Restos de estresse cobriam sua pele. Suas mãos, uma vez feitas para empunhar uma espada com poder e habilidade, agora tremiam enquanto as envolvia em torno da caneca.

Landon se levantou, interrompendo Dell de seu exame. —Eu terminei a noite.

Dell se despediu, mas ninguém mais o reconheceu quando ele saiu.

Edmund levantou uma mão para passar pelos cabelos, puxando as pontas. Ele ergueu os olhos e, pela primeira vez, Dell viu como eles se pareciam com o desespero que ele tinha visto no de Helena.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, o perfume inebriante de cerveja girando no ar. A bebida zumbiu nas veias da Dell quando ele perdeu a conta de quantas tinha. Em Madra, a cerveja não era uma bebida comum. Eles se prenderam ao vinho - nada tão forte quanto em Bela ou Gaule.

Edmund apoiou a testa na mesa, as palavras abafadas pela madeira rachada. —Por que você se deixou fazer isso, Dell? — Ele virou a cabeça para que sua bochecha descansasse contra a superfície e seus olhos encontraram Dell. —Ela não pode dar tudo o que você quer e você vai acabar como o resto de nós. Vazio.

As palavras de Edmund eram como sal na ferida da vida de Dell, mas ele sabia que o Belaeno não estava realmente falando de Helena.

—Todos eles deixam você vazio, princesa ou não. — Resmungou Tyson.

Edmund fechou os olhos. —Eu só... eu queria fazer alguma coisa. Ele não me deixou salvá-lo. Eu pensei que se eu ajudasse Quinn, seria como se ele ainda estivesse comigo. Alguma parte dele.

Quanto Edmund já tinha bebido? Ele traçou formas invisíveis na mesa com um dedo. Nenhuma lágrima manchava suas bochechas, mas sua voz quebrou. —Sinto falta dele.

Dell colocou a mão nas costas do amigo. Ele devia muito a Edmund e ainda não podia fazer nada para ajudá-lo. —Ele está com você enquanto Helena e Kassander estiverem. Contanto que você os mantenha seguros para ele.

Dell só conheceu Estevan Rhodipus em duas ocasiões. Quando ele pensou que Helena era a amante do príncipe, ele lutou para impedi-lo de controlá-la, até brandindo sua faca, sabendo muito bem as consequências de ameaçar uma realeza.

Na segunda vez, ele também estava lutando por Helena, mas desta vez o príncipe estava do seu lado. Ele achou Estevan frio, sem piedade. Mas Edmund viu outra coisa.

Ele apertou o ombro trêmulo de Edmund.

Embora tivessem um objetivo, uma missão, todos eles poderiam tirar os eventos de Madra de suas mentes. Agora eles estavam de volta a Bela sem caminho a seguir. Eles deveriam esquecer? Isso era possível?

Tudo que Dell sabia era que a cada dia que passava, Helena se afastava cada vez mais. No entanto, ela ainda estava lá com ele. Edmund nem sequer tinha isso.

Ele precisava vê-la. Tocá-la. Para ajudá-la a esquecer. Bela era a vida deles agora. Eles não podiam voltar para Madra, onde seriam presos à vista. Não havia outro lugar para eles irem.

Ele se levantou e agarrou a mesa enquanto o mundo se inclinava ao seu redor, e seu estômago revirava.

Tyson riu. —Parece que Dell teve um pouco demais

Dell deu um tapa nele, mas errou e quase tombou. Tudo o que ele queria era sua cama, mas não tinha certeza de que poderia deixar Edmund em seu estado. —Você vai ficar bem?


Edmund levantou a cabeça, mas nenhuma resposta deixou seus lábios. Em vez disso, uma nova voz invadiu sua noite. —Eu o pegarei.

Dell se virou e tentou colocar o homem atrás dele. O uniforme dele falava de importância... —Mathew?

—Matteo. — Tyson corrigiu. —Meu primo.

O homem não tirou os olhos de Edmund. —Nós nos conhecemos quando você chegou em Bela.

Dell lembrou-se então, mas estava nebuloso.

—Você vai voltar tudo bem? — Matteo finalmente olhou para ele.

Havia uma intensidade no homem que Dell só tinha visto em uma pessoa. Estevan.

—Eu vou com ele. — Tyson se levantou e deu a volta na mesa, a bebida aparentemente não tendo tanto efeito sobre ele. Ele olhou para o primo. —Cuide dele. Ele não é ele mesmo esta noite.

—Sempre.

Tyson deu um tapinha no braço de Matteo antes de emitir um rápido: —Vamos, Dell?

Dell não estava em Bela há tempo suficiente para entender os relacionamentos entre as pessoas de lá. Eles lutaram juntos, sangraram juntos, e isso certamente se uniu, mas era mais do que isso. Mesmo com o humor sombrio de Tyson, ele cuidava de Edmund como se eles fossem da família.

Dell nunca teve isso até que Edmund entrou em sua vida. Nem mesmo sua família teria lutado por ele.

Nenhum dos dois falou quando começaram a curta caminhada pelas ruas desertas da vila, ambos tropeçando ocasionalmente.

Por fim, Dell não conseguiu mais conter suas perguntas.

—Matteo... ele ama Edmund?

Tyson assentiu. —Sim. — Dell não achou que ele iria elaborar até dar um suspiro. —Eles ficaram juntos por dois anos quando Edmund pediu a Etta a posição de embaixador. Nenhum de nós queria que ele pegasse, mas ele estava procurando por algo. Nada havia sido fácil para ele crescer. A guerra com Dracon apenas fez Edmund querer fazer algo maior com sua vida do que jogar o jogo político do dia a dia.

—E Matteo não queria ir com ele?

Tyson esfregou a parte de trás do pescoço. —Edmund não pediu.

Dell olhou de volta para a estrada em que acabavam de descer até a taberna. Quando conheceu Edmund, ele conhecia as histórias da batalha com La Dame e o embaixador belaeno com magia. Mas ele nunca considerou verdadeiramente seu passado. Que, enquanto se arriscava a jogar um jogo perigoso de espionagem em um reino que não era dele, ele tinha pessoas em Bela que o lamentariam se tudo desse errado.

Quem lamentaria Dell?

Eles tropeçaram no “palácio” de Etta, encontrando o rei e a rainha sentados juntos perto do fogo. Os dois olharam para cima.

—Eu não queria voltar para minha casa vazia na vila. — Tyson olhou para o chão como se estivesse com medo de que lhe dissessem para sair.

Em vez disso, Etta se levantou e atravessou a sala para abraçar Tyson. —Você cheira a uma cervejaria.

A camisa dela abafou a risada de Tyson quando ele enterrou o rosto no pescoço dela.

Dell caminhou em direção ao corredor dos fundos para lhes dar um pouco de privacidade. Ele parou do lado de fora da porta de Helena, preparando-se para bater, precisando vê-la. Levantando o punho para a madeira, ele fez uma pausa. Se ela conseguiu escapar de suas realidades por algumas horas de sono, ela não merecia a paz? Além disso, Kassander compartilhava sua cama.

Com um suspiro resignado, ele se virou para entrar em seu próprio quarto, congelando ao ver os fios escuros selvagens espalhados pelo travesseiro, iluminados por uma única vela em uma mesa próxima.

Helena se mexeu e se virou para encará-lo.

Ele queria mais do que tudo trazer a luz de volta aos olhos dela.

—Você está no meu quarto. — Ele respirou.

—Dell. — Sua voz falhou. —Não sei o que vai acontecer amanhã, mas preciso de você hoje à noite.

Ele tirou as botas, quase tropeçando, e sentou-se na beira da cama. —Eu estou bem aqui. Eu não estou indo a lugar nenhum.

Ela ajeitou a camisa dele nas mãos e puxou-o para o lado, correndo para dar-lhe espaço. Os dedos dele deslizaram do rosto dela para o ombro. Ele pensou em Edmund e nas palavras que havia dito. Você apenas tinha que se apaixonar pela princesa.

—Como se eu tivesse qualquer outra escolha. — Ele sussurrou enquanto pressionava os lábios nos dela.

Eles vieram de mundos diferentes. Ele passou a maior parte de sua vida limpando os decks, sujando barracas e evitando espancamentos de seus irmãos. Ninguém para amá-lo. Ninguém para se importar.

Ela cresceu em um belo palácio, mas escondida do reino. Amada por seus irmãos e traída por um também.

Como poderia um homem sem nada para dar merecer uma mulher como ela?

Ele não conseguia. E, no entanto, ele mostraria a ela que não eram as pessoas que foram criadas para serem. Ele passou os braços em volta das costas dela e a puxou contra ele.

Helena abriu, permitindo que a língua dele dançasse com a dela, enviando faíscas através do sangue dele. Cavando os dedos nos quadris dele, ela beijou uma linha na bochecha dele e no pescoço dele.

—Dell. — Ela respirou.

Ele puxou a camisa dela para fora da calça e empurrou-a para passar as mãos pela pele macia do estômago dela. Ela estremeceu sob o toque dele.

—Esta noite sou sua. — Ela quebrou o beijo para falar. —Tudo de mim. Eu nunca... eu sei que você já fez isso antes.

Dell sorriu e deu um beijo na testa. —Eu nunca me apaixonei antes.

Ela fechou os olhos, um breve sorriso brilhou em seus lábios antes que desaparecesse. —Não posso te prometer nada... agora. Eu realmente preciso que você me abrace.

Dell ergueu as mãos, traçando cada curva, memorizando o que ela sentia em suas mãos. Ela não disse a ele que o amava, mas ele não precisava. Ainda não. Eles tinham tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Dezesseis

Helena observou a lenta ascensão e queda do peito de Dell. Apenas algumas horas atrás, ela passara as mãos por todas as partes, todos os músculos. E Dell tinha bastante. Seu corpo era resultado de anos de trabalho duro. Ele não teve escolha em como passava seus dias.

—Assim como eu não tenho escolha agora. — Ela sussurrou no escuro. Ele a perdoaria? Ela levou um dedo aos lábios. Uma parte dela sabia que essa decisão mudaria tudo. Ela só esperava que ele entendesse.

Confrontar Cole não era algo de que ela pudesse fugir. Mesmo que não fosse pelas pessoas que ele governava agora, ela teria que fazer isso sozinha. Dell queria ter uma vida pacífica. Ele pensou que eles poderiam começar de novo em Bela. Mas não haveria paz dentro dela até que ela lidasse com o passado e com a pessoa que a tirou dela.

Curvando-se, ela passou os lábios pelos de Dell. —Sinto muito. — Quando ela deslizou da cama, olhou para trás, desejando poder levá-lo com ela. Ele iria se ela pedisse. Ela sabia disso.

Mas ele nunca sairia dali vivo.

Ela sairia? Ela queria não se importar, não sentir nada. Arriscar sua vida para se vingar de sua família deveria ter sido simples.

Mas nada nunca foi simples.

Ela vestiu suas roupas, puxando as calças para cima das pernas e amarrando-as na cintura. Depois de arrastar uma túnica e colocá-la, ela fez uma pausa.

Sentada na mesa ao lado da vela curta havia uma pequena espada de madeira. De todas as coisas que Dell poderia ter esculpido... Ela o viu criar anjos e sapatos elegantes, mas isso... talvez fosse um presságio do que estava por vir. Tomando uma decisão rápida, ela enfiou no bolso e olhou para o homem adormecido mais uma vez.

A primeira vez que ela o conheceu, ele tinha sangue escorrendo pelo rosto após uma luta. E ainda assim, ele era bonito. Mesmo depois de anos de dificuldades, não havia escuridão dentro dele. Ao contrário dela.

Ela fechou os olhos, a mão pairando sobre o topo da cabeça dele. Ela poderia acordá-lo. Decidir que tudo era um erro e implorar para que ele venha. Seus dedos se fecharam em punho quando ela retraiu o braço. Esta não era a luta dele.

Uma lágrima deslizou por sua bochecha. —Eu amo você, Dell. Pelo que vale a pena.

Limpando as costas da mão no rosto, ela deslizou para o corredor escuro antes de retornar ao seu próprio quarto. Kassander estava encolhido no centro da cama.

Ela avançou e se inclinou para beijar sua testa. Os olhos dele se abriram.

—Len. — O sono cobria suas palavras.

—Está tudo bem. — Ela tirou o cabelo dele dos olhos. —Volte a dormir.

Ele rolou para longe dela, um ronco suave ecoando pela sala. Tentando ficar o mais silenciosa possível, Helena calçou as botas e enfiou uma das adagas na bainha. Ela colocou uma bainha na cintura.

Incapaz de olhar para o irmão novamente, ela saiu, fechando a porta atrás dela e recostando-se nela.

Ela prometeu não deixá-lo novamente. A voz dele entrou em sua mente e as lágrimas picaram sua visão. Não havia tempo para sentimentos. Ela enxugou os olhos e entrou na sala de estar. Uma perna estava pendurada nas costas do sofá. Ela deu a volta para encontrar Edmund, rosto esparramado primeiro nas almofadas de veludo.

—Matteo o deixou.

Helena pulou na voz de Etta. Etta andou ao redor dela para se sentar no braço do sofá, uma caneca de chá apertada entre as mãos. Ela deu a Helena um sorriso tímido. —Não consegui colocá-lo na cama e não queria acordar ninguém.

—Quando ele chegou em casa?

—Oh, isso foi há horas atrás. Eu simplesmente não consegui dormir depois de vê-lo assim. —Ela olhou para o chá como se fosse a coisa mais interessante que ela já viu. —Ele está lutando, e eu não sei como ajudá-lo.

Helena olhou para a porta. Ela não tinha tempo para isso. Mas era Edmund. —Acho que ninguém pode ajudá-lo agora.

Ele rolou com um gemido e espiou com um olho aberto. —Por que vocês duas estão aqui no escuro?

Etta, como se notasse pela primeira vez a primeira hora, deu a Helena um olhar interrogativo. —Eu sei porque estou acordada. Mas o que você está fazendo?

Helena encolheu os ombros, nervos tremulando no estômago.

—Também não conseguia dormir.

Etta não parecia acreditar nela. Ela examinou a roupa de Helena, observando o punhal visível em sua cintura. —Você está indo.

Edmund gemeu. —Ela não está indo embora, Etta. Para onde ela iria?

Helena apertou e abriu as mãos, mas a rainha apenas a estudou.

—Como você planeja chegar lá?

O silêncio pairou entre elas por um longo momento. Edmund olhou entre as mulheres, olhos arregalados, antes de se sentar. Ele agarrou a cabeça dele. —Lembre-me de nunca mais beber. — Ele fechou os olhos.

Por fim, Helena cedeu. —Há um navio saindo ao nascer do sol.

—O navio mercenário. — Etta assentiu.

—Como?

Etta acenou com a pergunta. Helena imaginou que realmente sabia tudo o que acontecia em seu reino.

—Você não pode me parar. — Ela cruzou os braços.

Etta suspirou. —Eu sei. Você tem que fazer isso. Eu já estive no seu lugar antes.

Edmund abriu os olhos. —Eu não entendo o que está acontecendo.

—Você não precisa entender, Edmund. — Helena colocou a mão no ombro nu e apertou uma vez antes de passar por eles.

A voz de Etta a parou na porta. —Eu não vou fazer o seu desserviço e supor que você não tem um plano. Você é uma garota inteligente, Helena. Lembre-se do que eu disse. Certifique-se de que isso seja mais do que vingança.

—É. — Era sobre família. Ela entrou na escuridão antes do amanhecer, deixando o início da luz guiar seu caminho. O sono ainda pairava sobre a vila tranquila, enquanto ela caminhava pelas ruas e andava por um beco.

Passos soaram atrás dela e ela se virou, mas não viu ninguém. Alguém a estava seguindo?

Ela puxou as bordas da capa e tirou a adaga do cinto. Quando chegou às docas, ela soltou um suspiro de alívio. Um pequeno navio estava em meio a comoção em seus conveses enquanto os marinheiros o preparavam para partir. Homens e mulheres carregavam caixas através de uma rampa.

Uma sensação de familiaridade a atingiu quando ela pegou o navio Madrano. Altas paredes de cerejeira circundavam um amplo convés, mergulhando e subindo com um design intrincadamente entalhado. Quem possuía o navio tinha riqueza. Ela poderia dizer isso apenas olhando. Na proa, uma estátua de ouro de uma serpente pairava sobre a água, protegendo os marítimos de qualquer coisa escondida abaixo.

Ela se aproximou, seu coração batendo forte na garganta.

A luz do amanhecer se estendeu sobre a água e ela se concentrou nela por um momento de hesitação antes de voltar o olhar para os marinheiros que fizeram uma pausa no trabalho para encarar a garota que se aproximava.

Três homens grandes estavam no convés. Um colocou a caixa que ele estava carregando, seus músculos espessos se esticando. Os outros dois continuaram a enrolar cordas, limpando o convés de todos os detritos. As tatuagens se estendiam por seus pescoços da mesma maneira que Will as tinha. Rabiscos pretos grossos que lhes davam uma aparência mais escura. Ela não sabia o que os símbolos significavam, apenas o que indicava. Esses homens eram mercenários.

O homem mais próximo do trilho pulou, aterrissando com um baque pesado no cais. Os membros de Helena congelaram no lugar quando ele se aproximou. —E quem pode ser você?

Ela engoliu em seco, incapaz de formar uma única palavra. Quantas vezes o pai a avisara de mercenários? Eles não eram permitidos na cidade e por boas razões. A voz dele tocou em sua mente. —Eles são perigosos, Helena. Eles não obedecem ao rei.

Ela trabalhou a garganta, tentando respirar quando ele parou apenas um pé na frente dela. Agora que ele estava perto, ela podia ver que ele era mais jovem do que parecia, provavelmente ainda mais jovem que ela. Cabelos ondulados de chocolate emolduravam um rosto de menino que não se encaixava em um homem do seu tamanho.

Ele sorriu como se tivesse prazer em fazê-la se contorcer.

—Você pode falar. Eu não mordo. —Ele se inclinou. — Muito.

—Deixe-a em paz, Ez.

Helena fechou os olhos brevemente. Ela conhecia aquela voz. Esquecendo o garoto na sua frente, ela suspirou. —Você me seguiu.

Edmund se aproximou dela. —Claro que sim.

Helena queria ficar brava, mas, em vez disso, estava tão aliviada que Edmund estava lá.

Virou-se para o mercenário cujo sorriso aumentara. —Desde quando você transporta mais do que apenas mercadorias, Ezio?

Os olhos de Ezio se arregalaram. —Você é o único que o tio Will enviou? — Ele bateu na própria testa. —Claro que você é.

Tio?

Edmund pareceu sentir sua confusão. —Len, este é Ezio. A mãe dele é capitã deste navio.

Len... isso era um sinal. Sem nome verdadeiro? Ela assentiu, entendendo o significado dele. Ele não confiava neles o suficiente para revelar a identidade dela.

Uma mulher apareceu no convés, com as mãos nos quadris.

—Ezio. Há trabalho a fazer.

Ele deu uma piscadela para Helena antes de voltar para o navio.

Edmund levantou a mão em saudação.

—Edmund. — Ela saltou do navio e avançou. —Você está entregando nossa passageira?

Helena estudou a mulher, vendo a semelhança com Will no conjunto confiante de seus ombros, na inclinação de sua cabeça. Mas ela não se pareciam. Ele era maior, iminente. Essa mulher tinha uma constituição leve e traços delicados. Pela maneira como andava, Helena imaginou que era tudo menos delicada.

Edmund se inclinou para perto. —Esta é Damara. — Ele sussurrou. —Tenha cuidado com ela.

Ela ainda não entendia por que Edmund estava lá ou como ele conhecia essas pessoas, mas confiava nele.

—Damara. — Edmund encontrou seu olhar, a dureza entrando nos olhos dele. —Quando a rainha me disse que Len tinha saído, eu sabia que você estava por trás disso.

Damara levantou uma sobrancelha arqueada. —Eu não estou atrás de nada, bebê. Meu irmão veio implorar por sua passagem. Ele sabe que darei ajuda a quem tentar escapar de Bela.

Fugir de Bela? Quem já quis fazer isso?

A mandíbula de Edmund se apertou. —A rainha Persinette permite que você mova seu comércio por Bela, apesar de meu conselho para afastá-lo. O mínimo que você pode fazer é respeitá-la.

Damara virou-se para Helena, ignorando as palavras de Edmund. —Você deseja que eu tire você deste reino ou não?

Apesar da tensão de Edmund ao lado dela, Helena não podia negar que era isso que ela queria. Mesmo que essa mulher não fosse confiável, ela era o único caminho de volta para Madra.

Lentamente, Helena assentiu.

—Fale garota!

—Sim. — Ela respirou fundo. —Eu preciso de passagem para Madra.

Damara bateu palmas, fazendo Helena pular. —Bom. Will já me pagou, um presente de sua amante, ele disse. Eu sabia que havia um motivo para ele se recusar a voltar para Madra.

Ela estava errada. Helena já tinha visto. Não era dinheiro que mantinha Will com Amalie. Era lealdade.

Edmund agarrou o braço de Helena, impedindo-a de avançar. —Eu também vou. — Ele soltou Helena e passou por Damara. —Considere meu pagamento sua capacidade contínua de entrar em Bela. — Ele não voltou. —Len, venha.

Ela correu atrás dele, não querendo passar mais um momento na presença da mulher dura. —Você não pode estar falando sério, Edmund. — O medo superou o alívio que ela sentiu por ele estar lá.

Ele não respondeu.

—Você não pode vir comigo.

Ele parou antes de embarcar no navio quando ela agarrou seu braço, segurando-o.

—Edmund...

Ele se virou tão de repente que ela deu um passo para trás.

—Por que Len? Por que não posso ir?

Sua voz caiu como se ela não quisesse ouvir suas próprias palavras. —Ele vai te matar.

Um som estrangulado escapou da garganta de Edmund, mas ele conteve um soluço. —Isso importa? — Um último lampejo de dor cintilou em seu rosto.

Ezio estendeu a mão para ajudá-la a atravessar a passarela de madeira. O navio balançou nas ondas batendo contra as docas.

Edmund não falou com ninguém e Helena não sabia o que mais ela poderia dizer para convencê-lo a ficar para trás. Ela nunca se recuperaria se algo acontecesse com ele. Mas, ao mesmo tempo, a presença dele a fez sentir como se essa missão não fosse tão estúpida quanto ela pensava.

Os remos mergulharam na água em ritmo sincopado quando o navio começou sua jornada. As cores riscavam o horizonte, dando boas-vindas a um novo dia, mas no mundo de Helena tudo permanecia escuro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Dezessete


Ele estava sozinho. Dell esticou o braço, sentindo o conforto quente que teve durante a maior parte da noite. Imagens de apenas algumas horas atrás passaram por sua mente. Helena dera tudo a ele em uma noite. Ele nunca teve tanta certeza de nada em sua vida. Ela o amava. Seu coração partido e cheio de cicatrizes não a congelara completamente.

Talvez houvesse felicidade entre as mágoas, afinal. Mas onde ela estava? Pela primeira vez, eles não tinham uma jornada para começar ou uma missão a cumprir.

Por que ela não estava aqui?

Dell esfregou os olhos cansados, bloqueando a luz que entrava pela janela. Ontem à noite significava que Helena estava finalmente lhe dizendo que estava desistindo de sua vingança? Que ela sabia que ainda havia um futuro para ela? Quinn ficaria bem. Ele poderia ficar ao lado de seu irmão gêmeo enquanto Helena o deixasse.

Ninguém tinha que arriscar suas vidas.

Ele não precisava perdê-la.

Ele rolou, gemendo enquanto seus músculos doíam por dias na sela. Ele sentou-se, empurrando o cobertor do colo e balançando as pernas sobre a beira da cama. Comida. Ele precisava de comida. Como se estivesse de acordo, seu estômago roncou. Talvez fosse para onde Helena tivesse ido. Alex geralmente preparava o café da manhã. Era coisa dele. Etta disse que só aprendeu a cozinhar uma vez que viveu em Bela sem pessoas para fazer isso por eles. Ela se recusou a contratar empregados, então ele fez isso e gostou.

E ele era bom nisso.

Dell ficou com água na boca enquanto vestia uma camisa e calça novas, sem se preocupar com sapatos. O clima ficava mais frio a cada dia, enquanto avançavam em direção ao inverno, mas a casa de Etta nunca estava fria.

Ele alcançou a escultura que sempre carregava, nunca saindo sem o trabalho atual em andamento. Mas se foi.

Talvez Kassander tenha pegado a pequena réplica da espada. Mesmo enquanto pensava, ele sabia que Kass nem chegaria aqui.

Apenas uma pessoa havia entrado nesta sala além dele.

O pânico percorreu-o enquanto ele corria para o espaço. Alex e Etta estavam acordados e conversando em vozes murmuradas na cozinha.

Ninguém mais estava lá.

—Onde está Helena? — Os olhos de Dell vasculharam todos os cantos da sala antes que ele corresse pela porta da frente dos estábulos. Vérité o cumprimentou com um bufo. O cavalo de Alex apenas levantou a cabeça.

Landon estava desmaiado no sótão acima.

Não Helena.

Ele se virou para procurar o quintal e encontrou Etta em pé na varanda da frente, com os braços cruzados na frente dela.

Os lábios dela se fecharam em simpatia. Ela sabia de algo.

Dell atravessou o quintal, parando na frente dela. Seu peito arfava com uma única palavra. —Por quê?

Não onde. Ele tinha um pressentimento que já sabia a resposta para isso.

Não como. Isso não era importante no momento.

Ele deveria saber. Em algum nível, ele sabia. Ela nunca desistia. Mas ... —Por que ela me deixou para trás?

Os ombros dele caíram. Ele teria ido. Sem dúvida. Ele não se importava com os riscos. Ele não teria deixado o lado dela. E ela sabia disso.

—Dell. — Etta correu para frente e passou os braços em volta dele.

Naquele momento, ele entendeu como a família deles funcionava. Como Etta tinha tantas pessoas que a seguiriam até a morte. Ela cuidava deles. Não de maneira maternal, não era ela. Mas quando eles se separaram - como todos pareciam fazer com frequência - ela conseguia segurá-los.

Mas ele não aguentou. Os braços dela não eram os de Len. Ele deu de ombros e Kassander apareceu na porta. —Onde está Len?

De repente, Dell odiou Helena. Ela o deixou para dizer ao irmão que ele também não era necessário. Que a luta pertencente aos dois filhos de Rhodipus seria travada apenas por um.

Ele colocou a mão no ombro de Kassander, com ressentimento no estômago. —Ela foi embora, amigo. E não acho que ela planeja voltar. — Ele entrou na casa e caiu no sofá. Colocando a cabeça nas mãos, ele deixou que a raiva o dominasse. Ao seu redor, as pessoas falavam. Etta confortou Kass. Alex deu as boas-vindas a Mari e Corban quando eles apareceram na porta.

Tudo ficou borrado na mente de Dell até Kassander se sentar ao lado dele. —Nós estamos indo atrás dela?

Essas palavras eram como um balde de gelo sendo jogado sobre sua cabeça, despertando-o do pesadelo em que ele estava vivendo. Havia algo que ele poderia fazer. Ele não precisava apenas ficar sentado em Bela e esperar por notícias de seu destino.

Helena talvez não o quisesse lá com ela, mas estava na hora de ela perceber que não tomava decisões por ele.

Ele ergueu os olhos, vendo o príncipe como ele realmente era pela primeira vez. Eles trataram Kass quando criança, inocente e jovem demais para fazer parte dessa luta.

Mas ele perdeu a inocência no dia em que assassinaram sua família. A juventude era um luxo que ele não tinha mais. E ele parecia... pronto? Dell balançou a cabeça, sem saber se essa era a palavra certa. Ele tinha uma bravura teimosa que Dell admirava.

—Sim, Kass. Nós vamos atrás dela.

Todas as conversas na sala pararam quando suas palavras os envolveram. Mari veio se sentar ao lado dele, a coisa mais próxima de uma mãe que ele teve em anos. Juntamente com Corban, ela cuida dos ferimentos físicos da Dell há anos. Agora, ela tentou acalmar seus sentimentos emocionais também. Ela apertou a mão dele como se estivesse confortando uma criança. —Dell... você não pode voltar para Madra. Helena fez sua escolha e eu gostaria que fosse diferente, mas não quero esse perigo para você.

—Você não entende. — Ele balançou a cabeça. —Eu tenho que... eu...— Ele se inclinou para Mari, deixando-a envolver um braço em volta dos ombros. —Eu passaria pelo fogo por aquela garota... eu enfrentaria a própria La Dame. O único risco que importa é perdê-la.

Alex quebrou a tensão com uma risada, surpreendendo todos eles. —Bem, sendo que eu andei para enfrentar La Dame porque estava apaixonado... provavelmente sou o único aqui que entende.

A voz cansada de Tyson veio da porta. —Por favor, Alex. Você nem precisou entrar em Dracon até a luta terminar. Etta foi a única de nós que enfrentou La Dame.

Alex pegou um prato de frutas frescas da cozinha e colocou sobre a mesa. —Mas eu ainda reuni um exército e viajei para Dracon pronto para lutar. Eu poderia dizer que era algum motivo nobre como querer ajudar o povo de Bela. Mas Etta estava lá e eu teria feito qualquer coisa para protegê-la.

Etta resmungou. —Vocês, rapazes, precisam perceber que não precisamos que vocês nos protejam, apenas lutar ao nosso lado. — Ela pegou um pedaço de bacon da bandeja que Alex havia pegado. Depois de dar uma mordida, ela deu uma olhada em Dell. —Ok pessoal. Reunião de família. Agora mesmo.

Tyson resmungou algo baixinho quando se sentou em uma cadeira perto do fogo.

Mari se levantou para se levantar, mas Etta estendeu a mão.

—Fique. Você é da família agora. Alguém acorde Landon.

Mari deu um empurrão em Corban e o menino correu para o celeiro, retornando alguns minutos depois com um general madrano meio acordado.

Alguém estava desaparecido. —Onde está Edmund? — Dell encontrou o olhar de Etta. Os olhos dela deram a resposta que ele precisava.

Ela pegou Edmund e deixou Dell para trás. Perfeito.

—Dell. — O nome dele era um suspiro nos lábios dela. Ela não sabia o que dizer para ele.

Tyson tamborilou com os dedos no braço da cadeira. —Eu não entendo. Onde ele está? Cadê o Edmund?

—Ele está em um navio saindo de Bela com Helena. — Alex era o único que parecia capaz de expressar as palavras.

Tyson se levantou. —Que diabos? Por que Helena foi autorizada a partir para Madra? Por que não fui convidado para ir? Eu sei que disse a ela que não podia... mas isso foi antes de perdermos o irmão dela.

Dell tinha essas mesmas perguntas.

Alex coçou a mandíbula em confusão. —Por que ela perguntaria quando ela nem soltou Dell?

Tyson cruzou os braços. —Não Helena. Edmund. Eu vou aonde ele vai. Ele já foi para Madra mais de um ano atrás e você o soltou de novo? E se desta vez ele não voltar?

—Ty...— Etta disse que era como uma criança.

Mas Dell sabia que Tyson tinha razão.

—Ele é meu melhor amigo, Etta. — Ele afundou na cadeira.

Dell olhou para cada um deles, percebendo que ele não era o único com algo a perder.

Etta bateu com o punho na mesa atrás deles, a rachadura ecoando pela sala. —Todo mundo sentem-se.

Alex e Landon eram as únicas pessoas que ainda estavam de pé, então puxaram as cadeiras da mesa e obedeceram.

Etta atravessou a sala para ficar na frente deles, as chamas da lareira atrás dela. —Isso não é fácil para nenhum de nós, e não chegaremos a lugar algum se discutirmos a cada momento. — Ela encarou o irmão. —Tyson, seu comportamento foi inaceitável. Não deixarei Amalie Leroy transformá-lo em um idiota. Então, junte-se ou você não fará parte disso. Eu sei que você ama Edmund. Eu também o amo. Alex o ama. Inferno, todo mundo que já conheceu aquele idiota o ama. Mas ele ama Helena. — Matteo a interrompeu entrando pela porta. Ele pegou sua expressão e correu para puxar uma cadeira.

Respirando lentamente, ela olhou de relance para seu primo. —E Edmund amava Estevan Rhodipus. Ele teve que ir. Ambos. Eu não iria detê-los. Podemos nos preocupar com eles, mas não podemos deixar isso nos separar.

—Como eles estão chegando a Madra? — Dell perguntou. —Eu pensei que eles haviam fechado o porto para todos os navios estrangeiros.

—Eles não estão em um navio estrangeiro.

Dell franziu a testa. Todos eles sabiam que os navios oficiais de Madra pararam de chegar a Bela nas últimas semanas.

Etta endireitou sua postura como se estivesse se preparando.

—Eles estão em um navio mercenário.

Protestos irromperam por toda a sala. Os mercenários haviam lutado por La Dame. Ninguém era mais odiado em Bela. Nem mesmo os draconianos, pois foram forçados a fazer o que ela mandou. Os mercenários fizeram isso por ouro.

Etta levantou a mão e, para seu crédito, todos se aquietaram. —Está feito. Não podemos fazer mais nada além de aguardar notícias.

Dell não podia acreditar nela. Ou qualquer um deles para esse assunto. A raiva que ele sentia por Helena fervia, encontrando uma nova direção. Ela realmente não teve escolha. Se ela tivesse perguntado aos Belaenos, eles teriam dito não. Ao contrário dele.

Sua raiva estava prestes a derramar de sua boca, mas antes que ele pudesse falar, Kassander ficou de pé. —Nós não podemos apenas sentar aqui. — Lágrimas umedeceram seu rosto, e ele não se deu ao trabalho de limpá-las. O garoto não tinha vergonha de suas emoções. —Lenny está indo para Madra, onde Cole... — Um soluço sacudiu seu peito, mas ele apertou a mandíbula e levantou o queixo. —Deveríamos estar com ela.

—Kassander. — Etta estendeu a mão para atraí-lo para ela, mas ele se desvencilhou de suas mãos.

—Não! — Seu grito atordoou todos eles em silêncio. —Não. — O olhar que ele enviou a ela poderia ter cortado vidro. —Você é uma covarde, Persinette Basile

Ninguém falou quando o significado os atingiu. Kassander não recuou. Ele olhou para a rainha mágica que já lutou com La Dame - e venceu - como se ela não fosse nada.

Dell passou um braço em volta da cintura de Kassander e o puxou de volta para seu colo. O corpo inteiro do garoto tremeu.

Quebrando o silêncio, Dell falou. —Este não é apenas o problema de Helena. Madra está se fechando, se isolando do resto do mundo. Com Cole Rhodipus no poder, você não pode mais utilizá-los como aliados.

—Nós sobrevivemos sem eles antes. — As palavras de Etta não tinham a confiança que elas tinham uma vez.

Ele podia reconhecer quando era hora de parar de lutar. Ele respirou lentamente, apertando ainda mais Kass. —Você deixou clara sua posição sobre o assunto. Você pode não considerar Madra seu problema, mas enquanto Helena estiver lá, é minha e de Kassander, e pretendo ir atrás dela.

—Eu também. — Disse Kassander.

Dell assentiu. —Estou levando a criança. Ele merece fazer parte disso.

Tyson ergueu os olhos, mas a única pessoa que ele parecia ver era seu irmão. —Alex...— Dor passou por sua voz. Ele passou a mão pelo rosto. —Não podemos deixá-los tê-la.

Dell estava errado. Tyson e Alex tinham tanto em que lutar em Madra quanto ele. A irmã deles estava presa dentro das muralhas do castelo, prometida ao homem que matou sua própria família para levar a coroa.

Alex não respondeu enquanto se ocupava em limpar uma refeição que não comia.

—Ela é nossa irmã.

Um barulho veio da direção de Alex quando uma panela pesada de ferro fundido atingiu o chão. —Droga. — Alex rosnou. Ele não se incomodou em pegá-la enquanto se endireitava.

Etta ficou pálida enquanto observava o marido.

Tyson se levantou e diminuiu a distância entre ele e seu irmão. Ele colocou a mão em cada braço e encontrou seus olhos escuros.

—Não importa como nos sentimos sobre ela ou o que ela fez, Alex. Camille é família e não abandonamos a família.

—Edmund também é da família. — Etta sussurrou. Ela fechou os olhos, uma lágrima se espremendo. Uma respiração estremeceu fora dela. —Não acredito que o abandonaria aos seus interesses em Madra.

Alex correu para puxá-la em seus braços. —Você estava pensando no seu povo.

Ela se agarrou a ele. —Às vezes fico tão envolvida em ser a rainha que esqueço de ser eu.

Matteo, que estava quieto, inclinou-se para a frente. —Etta.

Ela se afastou de Alex para encarar o primo.

—Está bem.

Como se a permissão dele tirasse um peso de seus ombros, ela se endireitou e cruzou para ficar na frente de Kassander e Dell. Inclinando-se para encontrar os olhos do garoto, ela sorriu.

—Obrigada por me lembrar quem eu sou, jovem príncipe. Fiquei tão preocupada em manter Bela a salvo que esqueci o resto do mundo.

Ela se endireitou e caminhou até Tyson, passando os braços em volta dos ombros dele. —Eu te amo você sabe disso?

—Mesmo que eu seja um tolo idiota? — O som que saiu de sua garganta foi meio riso e meio soluço.

Ela se afastou. —Mesmo se você estiver me fazendo ir ajudar Camille. — Ela torceu o rosto com desgosto.

Alex riu, a tensão saindo da sala. —Ninguém disse que você tinha que gostar da sua família.

Landon ficou de pé. Dell quase esqueceu sua presença silenciosa. —Temos preparativos a fazer.

—Sim. — Etta bateu palmas, voltando ao modo rainha. —Não há mais navios Madranos no porto, mas tenho alguns capitães de Belaenos que posso questionar sobre a passagem. Precisamos de cavalos, pois eles não permitirão que um navio Belaeno entre na cidade. Tanta coisa para fazer.

Quando ela deu ordens, Dell levantou Kassander do colo e saiu pela porta da frente. Preparar cavalos afastaria sua mente das emoções que rodavam dentro dele.

Ele iria para Madra. Ele lutaria com seus irmãos e até com o rei. Mas o que então? Helena não confiava nele. Ela forçou as circunstâncias a ele quando o lugar dele estava com ela.

Dell cresceu em uma casa solitária, mas nunca experimentou a verdadeira solidão até aquele momento. Mesmo cercado por pessoas que cuidaram dele pela primeira vez em sua vida, algo que ele não sabia que precisava estava faltando.

E ele não sabia se conseguiria recuperá-lo.

Mas o que importava para ele, afinal? Ele poderia não fazer isso. Mas Helena... ela faria. Ele sabia disso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Dezoito


Helena observou Madra se aproximar com medo apertando o estômago. Ela estava em casa.

O sol do meio-dia pairava sobre eles enquanto os marinheiros pegavam os remos e as velas baixavam. O outrora movimentado porto de Madra agora parecia... abandonado. Não era uma visão que ela já pensou em ver. Sem navios estrangeiros entrando e navios mercantes de Madra autorizados a deixar o transporte de mercadorias, uma aura triste pairava sobre o local.

Eles chegaram ao rio que fazia fronteira com a cidade no início da manhã e deixaram o mar expansivo para trás. Qualquer chance de voltar atrás se foi agora.

Com quem Helena estava brincando? Já se fora desde que ela embarcou no navio mercenário.

Ela passou alguns dias entre homens e mulheres rudes a bordo, seus olhares suspeitos passando por sua pele em todos os lugares que ela ia. Mercenários não confiavam em estrangeiros como Edmund, mas quem confiava? Com o passar do tempo, cada um dos seis reinos se isolou. Bela se recusou a ajudar os outros a alcançar a paz de que desfrutavam. Gaule estava muito envolvida em suas próprias guerras civis. Dracon não tinha mais muros altos protegendo-os, mas as cicatrizes da batalha não desapareceram.

Cana e Andes eram perigosos demais para qualquer um se aventurar.

O que isso deixava com eles? Um mundo quebrado.

Ela não odiava Etta por sua decisão. Até a rainha Catrine de Gaule ela entendia. Elas faziam o que era necessário para o seu povo. Agora era a vez dela.

Mas ela poderia fazer isso? Ela poderia matar seu próprio irmão se isso acontecesse?

Uma mão cobriu a dela no corrimão. Ela não se virou, mas se inclinou para Edmund. Toda vez que ela o via nos últimos dois dias, ela estava agradecida por ele estar lá. Ela explicou tudo o que Will havia lhe dito e não deveria ter se surpreendido por ele já saber do esconderijo dos rebeldes. Ele conhecia muitos na rede de pessoas que queriam retomar seu reino.

E ela pensou em Dell. Ele a odiava por deixá-lo para trás? Provavelmente. Ela faria isso de novo? Sim. Não importava como ele se sentia por ela, desde que estivesse a salvo de seu irmão. Cole não levaria outra pessoa que Helena amava.

Edmund apoiou o queixo na cabeça de Helena. —Parece a mesma.

Helena bufou. Edmund estava apenas tentando fazê-la se sentir melhor. Não era a mesma porta que ela deixara para trás.

Alguns navios balançavam na água, batendo contra as pranchas de madeira. Um punhado de pessoas andava pelo calçadão realizando suas várias tarefas.

—O que acontece depois, Len? — O suspiro de Edmund fez farfalhar seus cabelos. —Agora que estamos aqui. Sei que você deseja seguir as instruções de Will, mas isso não a aproximará de Cole.

Ela tinha um plano, mas ainda se sentia perdida. Ela tinha que chegar a Quinn o mais rápido possível. O que quer que tenha acontecido, ela só precisava ver que ele estava bem. Will disse a ela para ir direto para o esconderijo, mas agora ela sabia que não podia arriscar. Se a notícia de sua presença em Madra chegasse ao palácio antes dela, ela perderia a vantagem.

Ela não tinha um exército para desafiar Cole nem a habilidade de batalhar com ele. Mas ela tinha os afetos dele. Se alguma coisa tinha sido verdade em sua vida, era como cada um de seus irmãos sempre a amava. Cada um à sua maneira. Stev a protegeu, protegendo-a de qualquer coisa que pudesse machucá-la, incluindo o pai. Kassander olhava para ela como se ela fosse a melhor parte de sua vida. Quinn a respeitava, confiava nela. Foi ele quem concordou com qualquer ideia maluca que ela já teve. Mas Cole? Como ele a amava?

Com tudo o que ele tinha.

Seu amor nunca foi fácil, mas sempre foi poderoso.

E ele deixou Edmund e Dell irem por causa disso. Cole já tinha Estevan em seu poder. Ele não precisava barganhar com Stev por suas vidas. Mas então ela se machucou. A dor que ela viu nos olhos dele era real.

Helena se preparou para as palavras que tinha a dizer. Ela passou o braço pela cintura de Edmund, sabendo que ele não gostaria que o plano se formasse em sua mente. —Vou caminhar até os portões do palácio e exigir entrada.

Edmund recuou. —Len...

—Eu não posso ser vista antes de abordá-los. Se eu for presa e chegar como prisioneira, acabou.

—Você será uma prisioneira assim que pisar na propriedade.

Ela balançou a cabeça. —Cole não vai me machucar. — Ela ergueu o olhar para Edmund, precisando conhecer os pensamentos que estavam fazendo seus olhos escurecerem.

—Você não pode saber disso. Ele matou Stev.

Ela balançou a cabeça. —Não. Stev morreu de doença em sua cela. Tudo indicava que Cole executaria Stev, mas ele não conseguiu. Ele nunca teve muito amor por nosso irmão mais velho. Mas eu? Esta pode ser a nossa única chance de derrubá-lo. Mesmo que ele não me machuque... isso não significa que eu não o machuque.

O aperto de Edmund nela aumentou. —Por Estevan.

Helena assentiu. —Por meus pais. — O rosto de sua mãe brilhou em sua mente. —E Edmund...— Ela respirou fundo. —Eu tenho que fazer isso sozinha.

Ele abriu a boca para falar, mas ela bateu a mão livre contra ela. —Não discuta. Cole pode não me matar, mas você não tem chance com ele.

Edmund suspirou, passando a mão pelos cabelos. —Tudo bem, mas não vou ficar parado enquanto você salva Madra. Não foi por isso que eu vim. Você precisa de um plano. Eu ainda tenho minha rede na cidade. Vou entrar em contato com meu pessoal. Você tem dois dias. Se eu não receber uma mensagem de que você está bem, nós vamos buscá-la.

Ela assentiu, deixando um pouco de tensão. —Eu esperava que você dissesse algo assim. — Ela fechou os olhos, inclinando-se contra ele em busca de apoio. — Estou com medo. — As palavras eram apenas um sussurro, mas quando ela abriu os olhos, ficou claro que Edmund as ouvira.

Ele levantou o olhar para a cidade que se aproximava. —Eu também.

Ezio parou quando os encontrou, invadindo seus últimos momentos de paz. Ele passou a mão pelos cabelos desgrenhados antes de esfregar o pescoço tatuado. —Capitã quer vocês dois abaixo do convés.

Helena soltou Edmund e virou-se para examinar os olhos do jovem. Ele foi um dos poucos mercenários a conversar com eles na jornada para Madra. Talvez fosse sua juventude ou apenas algum senso de inocência, mas Helena tinha gostado dele... apesar de tudo gritando para ela não confiar nos lutadores de aluguel.

Quando você luta por nada, você não tem ideais, nem reino. Eles podem ter vivido nas montanhas de Madra, mas não eram madranos.

Ezio mudou de pé para pé. Quando nem Helena nem Edmund responderam, ele olhou para a porta da cozinha atrás dele. —Ummm... eu preciso que vocês venham. Por favor? A capitã não quer que vocês sejam vistos até o anoitecer.

Helena suspirou, ansiosa para sair do navio e entrar na cidade. Ezio estava certo, no entanto. Se as docas estavam sendo vigiadas, eles precisavam esperar até a escuridão esconder sua volta ao lar.

Sem dizer uma palavra a Ezio, Helena passou por ele e abriu a porta antes de descer a escada estreita para a cozinha mal iluminada.

Edmund a seguiu e a porta se fechou atrás dele. Todos os marinheiros estavam no convés se preparando para atracar, então Helena e Edmund eram os únicos no pequeno espaço.

Helena pegou um rolo de uma travessa sobre a mesa no centro da sala e deslizou sobre o banco de madeira, apoiando uma perna debaixo dela.

Edmund caiu em uma cadeira com uma respiração pesada e passou a mão pelo rosto.

Esperar era a pior parte. Nenhum deles sabia o que a noite traria. Helena deu uma mordida no pão antes de colocá-lo de lado enquanto seu estômago protestava.

Ela tamborilou com os dedos sobre a mesa, sua mente voltando para Bela enquanto fechava os olhos. Colinas. Jardins floridos. Não era de admirar que Etta ignorasse o resto dos problemas do mundo. Ela tinha tudo. Era a recompensa do seu povo por gerações de luta.

Ela olhou fixamente para Edmund. Qual era sua recompensa? Ele deveria ter vivido sua vida em Bela, sem ter que enfrentar outra dificuldade.

Em vez disso, aqui estava ele, sofrendo. O homem que ele amava estava morto. E agora o que ele tinha? Vingança?

Alguns dias, parecia que isso era tudo que ela tinha deixado também. Se ela não aceitasse, seguraria, ela realmente perderia.

Mas ela já tinha perdido. Esta missão não teria vencedores.

Ela não sabia há quanto tempo eles estavam sentados naquela sala. Horas? Finalmente, Edmund curvou-se para a frente, com os cotovelos nos joelhos. —Lenny?

Ela se retirou do caos de seus pensamentos. —Sim?

—Ezio parecia nervoso com você?

Helena encolheu os ombros. —Ele está sempre um pouco hiperativo.

Edmund pensou por um momento. —Eu conheço esse garoto há um tempo agora. E a mãe dele. Algo está errado. — Ele se levantou, olhando por cima do ombro para as escadas. Endireitando a coluna, ele atravessou a sala e subiu os degraus. Assim que chegou ao topo, uma ladainha de maldições choveu.

Helena ficou de pé quando ele reapareceu.

O queixo de Edmund se apertou enquanto ele tentava conter a fúria sob sua pele. —Trancado.

—Trancada? — Ela não entendeu. Subindo os degraus dois de cada vez, ela correu e agarrou a maçaneta, empurrando a porta. Nada. Ela fez de novo, desta vez, batendo o ombro contra a madeira.

—Você não vai abrir dessa maneira. — Seus olhos se fecharam, derrotados.

Helena não parava. Ela bateu na porta novamente, ignorando a dor cortando seu ombro. Ela se preparou para atacar novamente quando Edmund agarrou seu ombro, segurando-a no lugar.

—Edmund. Me deixar ir.

Seu aperto aumentou. —Você só vai se machucar.

Ela girou nos calcanhares e esticou a mão para agarrar a grade. O lugar não era grande o suficiente para os dois. Mas Edmund não estava indo a lugar algum. Empurrando por ele, ela desceu as escadas.

—Por que eles trancariam? — Ela torceu o cabelo escuro sobre um ombro e chupou o lábio inferior na boca. —Não faz sentido.

Edmund não respondeu. Quando Helena percebeu sua expressão resignada, ela finalmente entendeu. Os mercenários eram leais a quem os pagava. Damara não tinha grande amor por Etta ou Edmund. O nervosismo de Ezio...

—Eles não nos trouxeram aqui para que eu pudesse enfrentar meu irmão. — O pensamento enviou uma onda de fúria correndo por ela. —Somos prisioneiros desde que deixamos Bela.

Edmund amaldiçoou. —Eu deveria saber. Eles podem não saber quem você é, mas ainda sou um homem procurado em Madra.

Passos pesados soaram acima deles. Muitos passos pesados.

Edmund afastou Helena das escadas e a porta se abriu, deixando entrar a pequena luz restante do dia.

Uma sombra apareceu no topo, alta e magra. Quando ele desceu para a sala, Helena pegou o uniforme de Madra, brilhando em vermelho à luz de velas. Seus olhos deslizaram sobre as linhas retas e pressionaram as dobras na mandíbula angular e nos olhos brilhantes que ela conhecia tão bem.

—Quinn. — O nome dele era apenas uma respiração em seus lábios. Seu coração deu um pulo, e ela queria ir até ele, pedir que ele dissesse que tudo ficaria bem, confortá-la como ele havia feito a maior parte de sua vida.

Mas ele não estava sozinho.

Mais três soldados madranos o seguiram.

Os olhos de Quinn não reconheciam sua irmã. Eles eram mais escuros de alguma forma. E foi aí que ela soube. O uniforme. A recepção rígida.

Quinn não voltou para Madra como prisioneiro. Ele se juntou ao lado de Cole como um aliado.

Edmund parou na frente de Helena como se ele pudesse protegê-la da realização esmagadora que o irmão que ela veio salvar talvez não queira ser salvo.

—Afaste-se. — Ordenou Edmund.

Quinn não demonstrou emoção enquanto gesticulava para os homens atrás dele. —Eles vêm conosco. Pague ao mercenário e diga a eles para sair da nossa cidade. — Ele se virou sem outro olhar e subiu as escadas.

Helena desabou sobre si mesma. Lágrimas entupiram sua garganta, dificultando a respiração dela. Enquanto ela ofegava por ar, um aperto forte puxou seu braço para frente.

Ela gritou quando Edmund revidou e recebeu um soco pesado no estômago. Ele teria caído se não fosse pelos homens que o seguravam. Com um golpe final na cabeça, o queixo de Edmund caiu contra o peito e seu corpo cedeu.

Helena não lutou depois disso. No convés, seus olhos ardiam nas costas de Quinn, mas ele não se virou.

Ela pensou que Cole não poderia machucá-la pior do que ele já tinha.

Ela estava errada.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Dezenove


O carrinho retumbou embaixo dela, e Helena se concentrou em cada solavanco da estrada. Eles amarraram ela e Edmund com cordas amarradas ao lado da carroça de madeira. Duas éguas salpicadas os puxaram pelas ruas da cidade.

Ao lado do carrinho, Quinn e seus soldados montavam grandes corcéis.

À luz minguante, Madra parecia inalterada. No coração de Helena, tudo mudou.

Ao se aproximarem do centro da cidade, Helena viu lojas fechadas e as ruas do mercado antes ocupado estavam agora vazias. A essa hora da noite, os lojistas devem fechar suas barracas para o dia e ir para casa com suas famílias. Eles eram a espinha dorsal do reino. Os cidadãos que não eram nem comerciantes nem indigentes.

E, no entanto, onde eles estavam?

A voz baixa de Quinn parecia vir de todos os lugares, enquanto ele falava com seus guardas. —Vamos cavalgar pelos portões da frente. Meu irmão vai querer ver os prisioneiros imediatamente, mas ele também vai querer que o resto do palácio os veja.

Um dos guardas assentiu. —Senhor, posso perguntar quem é a garota? Reconheço Edmund de Bela. Quando o mensageiro do mercenário disse que ela o trouxe até nós, esperávamos que ele estivesse sozinho. Por que a levamos?

Outro guarda falou. —Não temos o hábito de sequestrar jovens.

—Não. — Helena rosnou baixinho. —Apenas matando suas famílias e seguindo um homem que não merecia ser rei.

Os guardas não pareciam tê-la ouvido, mas Quinn olhou rapidamente para ela. Ele ainda a estava observando enquanto respondia aos guardas. —Não cabe a nós questionar o rei. Mas você pode confiar nele para não machucá-la. Não enquanto estou lá.

Ela teve a nítida impressão de que as palavras dele foram feitas para ela, e não para seus guardas. Quinn estava dizendo que não deixaria nada acontecer com ela?

Deveria fazê-la se sentir melhor, mas, em vez disso, apenas a lembrou que o último irmão que ela pensava que a protegeria teria escolhido Cole.

Os guardas continuaram a tagarelar, mas Helena os desligou, concentrando-se na forma inconsciente de Edmund ao lado dela.

O carrinho deles virou para uma rua lateral que os levaria à estrada do palácio. Alguém gritou da estrada à frente deles, e o cavalo do guarda principal ergueu-se quando uma flecha passou voando, atingindo o chão aos pés da fera.

Quinn gritou ordens quando uma saraivada de flechas entrou no beco em meio a gritos. Helena se abaixou na carroça, protegendo a forma propensa de Edmund, e examinou os telhados, finalmente distinguindo figuras sombrias.

—Fogo. — O grito veio do alto. Mais flechas choveram, atingindo dois dos guardas ao lado da carroça. —Não bata nos prisioneiros!

—Edmund. — Helena o sacudiu. —Acorde. Por favor. — Ela tentou libertar os pulsos, mas a corda apenas se apertou. Eles estavam sob ataque, e tudo o que ela podia fazer era assistir.

Quinn.

Ela procurou freneticamente pelo irmão. Uma flecha atingiu seu cavalo, e ele pulou no chão, apontando seu próprio arco em direção aos telhados. Disparando rapidamente, ele nem parou quando algumas pessoas caíram dos telhados, suas flechas afundadas profundamente.

As pessoas invadiram a rua, armas brutas na mão, cercando Quinn. Seus guardas jaziam mortos na estrada. Quinn fez uma pausa, observando o círculo cada vez maior de lutadores. Ele abaixou o arco e se endireitou.

Um homem apareceu na parte de trás da carroça, um sorriso esticando seu rosto brutal. Caiu quando ele viu Edmund.

—Ele...

—Vivo. — Disse Helena rapidamente. Ela não conhecia o homem, mas pela preocupação em seu olhar, ele deve ter conhecido Edmund.

Ela relaxou. Edmund não precisava encontrar seu povo. Eles o encontraram.

O pânico a atingiu, e ela virou a cabeça para encontrar Quinn mais uma vez. Dois homens o empurraram de joelhos. Uma mulher estava acima dele, sua espada desembainhada.

Antes que ela soubesse o que estava fazendo, Helena gritou.

—Não! — Ela voltou-se para o homem próximo e estendeu os pulsos. —Tire-me daqui!

Ele puxou uma adaga e fez um trabalho rápido das cordas. Helena saiu da carroça e empurrou as pessoas em seu caminho até chegar a Quinn. Olhar nos olhos dele era como olhar nos de Cole. E isso... ela não aguentou. Ela endureceu o olhar. Ele não olhou para ela em desculpas, apenas resignação, e isso a irritou mais.

Mas esse não era Cole. Era Quinn. Ela não podia matá-lo. Ela levantou os olhos para a mulher alta. —Nocauteie-o. Ele vem conosco.

Diversão acesa nos olhos da mulher. —Querida, você não emite pedidos. Viemos para Edmund. Quem é você?

Ela encontrou o olhar de aviso de Quinn. Ele balançou a cabeça, mas ela passou do ponto de ouvir aqueles que a traíam.

Não libertando seu irmão do olhar intenso, ela respirou fundo.

—Meu nome é Helena Rhodipus. Sou a legítima herdeira do trono de Madra.

Quinn pareceu ceder com as palavras.

Helena se afastou dele. —Posso dar ordens agora? — Ela voltou para a carroça sem outro olhar. —Não podemos estar na rua. Presumo que todos vocês tenham um lugar seguro para me levar. Vamos.

O motorista da carroça estava morto em seu assento, então Helena subiu no banco e o empurrou. Ele bateu no chão com um baque quando ela tomou as rédeas.

Um homem avançou, enfiando o punho da espada na cabeça de Quinn antes de levantar seu corpo agora inconsciente na parte de trás da carroça ao lado de Edmund.

Helena suspirou. As notícias de que ela estava viva e de volta ao solo de Madra viajariam rapidamente. Esta noite, ela seguiria o pessoal de Edmund. Amanhã, ela voltaria para sua casa.

 

Os olhos de Helena se arregalaram em choque quando ela percebeu que o pessoal de Edmund a estava levando para sua casa de embaixador. Mas com Madra forçando todos os estrangeiros a sair, era uma parte não utilizada da cidade.

Ela pulou da carroça e esperou que alguém removesse Edmund e depois Quinn, carregando-os pelo portão dos fundos.

O homem que apareceu na carroça aproximou-se dela.

—Alguém cuidará dos cavalos. Precisamos entrar.

—Bemus. — Alguém retrucou. —Traga a princesa.

Uma mão larga aterrissou nas costas de Helena, insistindo para que ela passasse pelo portão de vaivém e subisse os degraus da casa em que estivera apenas uma vez antes. Lembrou-se de pensar que não havia nada distinto de Edmund na casa dele. Ele não deixou vestígios de si mesmo, mas isso foi antes que ela realmente o conhecesse.

Agora, enquanto caminhava por um longo corredor escasso, ela podia vê-lo lá. Ele era um homem simples. Ela parou, com os pés congelando ao ver uma fileira de tábuas que eles ergueram para revelar um compartimento escondido. Vazio.

O que Edmund mantinha lá?

Ela o conhecia? Aqui estava ela, cercada por pessoas que eram leais a Edmund em vez do nome Rhodipus. Eles o seguiram, espionaram por ele, lutaram por ele. Ele estava criando uma rede de pessoas para proteger sua família enquanto ela saía furtivamente do palácio em busca de liberdade.

De repente, ela se sentiu nada mais do que uma garota boba brincando de rebelião.

Bemus a levou a uma sala de estar onde móveis rígidos cercavam uma lareira crepitante. Quando ela se aproximou, o calor lambeu sua pele e ela abriu os punhos congelados.

Os rebeldes caíram em cadeiras sem cerimônia. Outros lutaram para abrir espaço perto do fogo para Edmund. Dois homens o colocaram no chão, o rosto inundado por um brilho laranja.

Eles não deram a Quinn a mesma consideração. Bemus amarrou os pulsos do príncipe da mesma forma que Quinn amarrou os de Helena naquela mesma noite.

Helena só poderia ir a um deles. Apenas um deles não a traiu. Desviando os olhos do rosto cor de azeitona de Quinn, ela se ajoelhou ao lado de Edmund.

Ele murmurou alguma coisa e suas pálpebras se mexeram, mas não se abriram. Ela se abaixou. —Eu preciso que você acorde, Edmund. Por favor. Eu não conheço essas pessoas.

Os rebeldes a observavam com um fascínio cauteloso. Eles não disseram exatamente que não acreditavam que ela era a princesa, mas ela sentia o ceticismo deles em todos os olhares. A julgar pelo estado irregular de suas roupas, essas não eram do tipo que compareciam a bailes no palácio, para que não tivessem o breve vislumbre de seu rosto no dia do seu nome - antes de Cole a levar embora.

Ela esfregou os olhos para conter as lágrimas enquanto pensava naquela noite. Mas ela não foi a única pessoa a sofrer. Muitas pessoas morreram na luta, e o grupo ao seu redor lutou. Eles podem ter perdido aqueles que amavam também. Para ela. Para a família dela.

Porque Edmund pediu para eles.

O que havia nele que trazia tanta lealdade?

Ela passou a mão na testa dele, afastando os cabelos do rosto dele. Ele seria um bom parceiro no trono para Stev.

Os olhos de Edmund se abriram e um gemido retumbou em seu peito. —Minha cabeça.

Helena soltou uma risada aliviada. —Você vai sobreviver.

—O que aconteceu? — Seus olhos clarearam, e ele finalmente percebeu o ambiente. —O que... Helena... não estamos no palácio?

Bemus atravessou a sala e se inclinou com um sorriso no rosto.

—Bem-vindo em casa, Edmund.

Edmund fechou os olhos e inspirou profundamente antes de abri-los mais uma vez. —Me ajude e depois me diga o que diabos aconteceu.

Bemus estendeu a mão e levantou Edmund. O loiro belaeno colocou a mão na cabeça com um estremecimento quando ele entrou na sala.

Os olhos dele pousaram na mulher sentada no braço do sofá, os braços cruzados sobre o peito e uma sobrancelha levantada. —Catsja? — Seus olhos examinaram o grupo, decidindo-se pelo homem que o carregara da carroça. —E Orlo. Vocês dois...

—Muita coisa mudou em Madra, Edmund. — Bemus bateu nas costas dele. —Mas esperamos nossa chance, observando as docas de todos os navios que entram e saem. Temos até nosso pessoal dentro da nova guarda do palácio. Perdemos a batalha, mas ainda estamos travando esta guerra.

Edmund esfregou a parte de trás do pescoço.

Catsja pôs os pés no chão e se levantou, igualando a altura de Edmund. —Eles pegaram nossa taberna, Edmund. Nosso sustento. Agora é um negócio administrado pela coroa para os soldados da coroa. A maioria dos lojistas não consegue manter as portas abertas sem a entrada de comércio exterior. O rei virou contra ele tanto os comerciantes quanto os pobres. Você sabe como é raro eles concordarem com alguma coisa?

Orlo quebrou o silêncio com um grunhido.

Helena não sabia o que seu irmão estava pensando. Muitos madranos há muito culpavam os estrangeiros pelos problemas do reino. Mas não tinha sido culpa deles. As constantes guerras em reinos estrangeiros causaram fome e pobreza. Mas Cole não foi criado para ser rei. Ele não aprendeu os meandros de manter a coroa... ou a cabeça. O pai deles não poupou tempo para ensinar aos filhos bastardos.

Apenas Stev e Helena receberam educação formal. Somente eles compareceram às reuniões da coroa. Estevan deveria ser rei, mas Helena seria sua mão direita como chefe do conselho mercantil.

Mas o que acontece quando os comerciantes não trazem mais comércio para o reino? Ela levantou a cabeça, olhando para Catsja.

—O rei dissolveu o conselho mercante?

Catsja olhou para ela como se ela não quisesse responder, mas ela fez assim mesmo. —Sim. Ian Tenyson é o único comerciante chefe agora.

—A espiral. — Ela sussurrou. Tudo a sociedade Madrana foi construída. Os comerciantes trabalharam a vida inteira até perto da ponta da espiral, o pico de status e poder. —O que os padres estão dizendo sobre isso?

Os rebeldes trocaram olhares, nenhum deles querendo falar. Edmund agarrou o cotovelo de Helena. —Len... Dell e Bemus foram ao mosteiro quando a rebelião começou. O sacerdócio tinha sido... — Ele fechou os olhos. —Massacrado.

—Foi? — A respiração correu para fora dela.

Edmund assentiu. —Se foi.

Ela tropeçou para trás, afastando-se dele. Tudo o que ela sabia, tudo o que haviam lhe ensinado... A espiral... o sacerdócio...

Cole não tinha acabado de conquistar a coroa, ele mudou Madra para sempre.

No canto, Quinn se mexeu. Catsja não perdeu tempo em procurá-lo. Antes que ele abrisse os olhos, o punho dela brilhou e bateu na cabeça dele. Ele caiu contra a parede mais uma vez.

Helena estremeceu e se forçou a se virar. Quinn não era sua principal preocupação.

—Edmund. — Exigiu Orlo. —Essa garota diz que é a princesa. Diga-nos que ela mente.

Edmund encarou Helena com um olhar, e ela não sabia o que isso significava. Este era o seu povo. Certamente estava na hora de eles saberem. Ela encontrou o olhar dele, recusando-se a recuar.

Finalmente, ele passou a mão no rosto. —É ela.

O silêncio seguiu sua declaração.

Catsja riu, inclinando-se para dar um tapa na perna. —Claro que ela é. Isso é simplesmente perfeito. —Quando ela sorriu, Helena ficou hipnotizada. A mulher tinha uma beleza incomum. Sua risada se interrompeu e ela se endireitou, todo o humor desapareceu de seu rosto. —Aqui está como é, princesa. Lutamos para manter o pouco que temos de ser levado, para manter nosso reino seguro. Não lutamos pelo nome Rhodipus. Para nós, seu pai não era melhor que esse novo rei. Não lhe devemos nada. Nós não seguimos você. — Ela se aproximou. —Tente não atrapalhar.

Ela bateu no ombro de Helena a caminho da sala adjacente.

Bemus balançou a cabeça. —Bem-vinda à rebelião de Madra, princesa.

 

Helena tentou descansar em um canto longe de olhares rebeldes curiosos, mas também longe de seu irmão inconsciente. Pensamentos de tempos melhores bloquearam seu sono. Momentos em que fora ela e seus irmãos contra o mundo. Quando sua mãe poderia segurá-la e dizer que tudo ficaria bem.

Ela enxugou uma lágrima quando Bemus se sentou ao lado dela. Ele estendeu uma xícara de chá, e ela a agradeceu. Sem esperar que esfriasse, ela tomou um gole da bebida escaldante, deixando-a queimar através dela, aproveitando a dor.

Parecia que a dor era tudo que ela sabia mais. Não pela primeira vez, ela desejou que Dell estivesse lá com ela.

Bemus ficou em silêncio por um momento antes de falar. —Eu sabia quem você era hoje à noite quando a vi pela primeira vez.

Ela se sentou e esperou que ele continuasse.

—Lutei ao lado de Estevan e Dell na rebelião.

Ela baixou o olhar para o copo em suas mãos.

—Lamento ouvir sobre a morte de Estevan.

Suas mãos tremiam e Bemus pegou o copo dela. —Stev era... ele não merecia morrer assim.

Bemus colocou a xícara de lado no chão. —Não. Ele não merecia.

—Eu sei que você rebeldes odeiam minha família inteira. Meu pai... não era um bom rei. Mas Stev teria sido. Talvez se mais pessoas tivessem lutado por ele, ele estaria sentado naquele trono agora.

E havia a verdade que Helena tinha medo de expressar antes. Ela estava amarga. Brava. Não só em Cole. Não. Parte da culpa está no povo madrano que se escondeu em suas casas enquanto sua família dominante era assassinada.

—Talvez. — Disse Bemus. —Mas estamos aqui agora. Nossos números cresceram rapidamente desde que Cole Rhodipus se tornou rei.

Helena balançou a cabeça. — E todos vocês acham que precisamos de mais sangue nas paredes do palácio? — Ela puxou os joelhos e apoiou o queixo no topo. —Meu pai me disse para nunca confiar em um rebelde. Que eles sempre tinham outro motivo e não faziam nada pelo bem do reino.

Bemus não respondeu imediatamente, mas seus olhos se voltaram para Edmund. —Princesa, eu odeio dizer, mas você confia em um rebelde o tempo todo.

Ela balançou a cabeça. —Edmund só queria manter minha família segura.

—Ele queria mantê-la segura e os príncipes Kassander e Estevan. Mas ele nunca esteve em dívida com os príncipes bastardos.

Helena deixou seus olhos descansarem na forma ainda inconsciente de Quinn e as palavras finais de Bemus levaram um momento para se registrar.

—Ele nunca foi leal ao rei.

Ela olhou de soslaio para o homem monstruoso. Ela não teria admitido, mas não precisava que Edmund fosse leal a seus pais. Ele não havia arriscado tudo para manter a linha de Rhodipus dominando Madra, e ela sabia disso. Ele só queria mantê-la e Estevan vivos.

Mesmo agora, ele não havia retornado com ela para assumir o trono. Apenas para se vingar. E talvez ajudar as pessoas que ele deixou para trás. O lugar dele estava entre eles, e Helena desejava mais do que qualquer coisa dela.

Mas o tempo da indecisão havia passado. Ela se levantou.

—Onde você está indo? — Bemus perguntou.

Preparando-se, ela deu um passo. —Para fazer o que eu vim aqui para fazer.

Ele não se mexeu para detê-la quando ela alcançou a porta. No corredor, Edmund falava com Catsja em um murmúrio baixo, enquanto eles se curvavam sobre uma mesa carregada de várias armas. Ele levantou a cabeça quando Helena se aproximou.

Ela estudou as lâminas e os machados. Os mercenários haviam pegado suas adagas e ela se sentia nua sem elas. No entanto, ela puxou a mão para trás sem pegar uma. Eles não a deixariam entrar no palácio sem primeiro pegar suas armas, então não havia sentido.

Edmund abriu a boca como se dissesse alguma coisa, mas Helena balançou a cabeça.

Edmund assentiu, a compreensão brilhando em seu olhar.

Ela levantou dois dedos. Se ela não enviasse notícias em dois dias, os rebeldes lançariam um ataque ao palácio.

Edmund deve ter contado a Catsja seu plano porque a mulher olhou com simpatia. —Se você precisar de ajuda, procure nosso contato rebelde dentro do palácio. O nome dele é Reed.

O sangue de Helena congelou.

Reed.

Edmund ficou pálido. —Reed Tenyson?

Catsja assentiu, passando os olhos entre eles. —Ele veio até nós um dia depois que vocês dois deixaram Madra. Sua informação tem sido inestimável.

Helena apertou a mandíbula. —Se eu me encontrar em perigo, a última pessoa que procurarei é Reed Tenyson.

Ela se virou para passar por eles sem outra palavra. Reed foi a razão pela qual eles não foram capazes de salvar Quinn em Gaule. Se não fosse o Tenyson mais jovem, ela poderia ter o irmão ao seu lado agora. Em vez disso, ele se sentou como prisioneiro dentro de uma base rebelde.

Em vez disso, ele era um traidor.

Quando ela entrou no pátio, ela tentou controlar a respiração. Dell. Ela estava se esforçando tanto para não pensar nele. Uma nova onda de dor tomou conta dela. Os homens de Reed quase o mataram naquele dia na praia. Não haveria perdão por isso. O pânico daquele dia voltou e uma lágrima correu por sua bochecha. Ela limpou-a com as costas da mão quando a porta se abriu atrás dela.

Uma mão envolveu seu braço e a transformou em um peito sólido. Edmund passou os braços em volta dela.

—Prometa-me novamente que ele não vai te machucar.

Ela poderia? Ela estava começando a pensar que não conhecia Cole. Os braços de Edmund se apertaram com o silêncio dela.

Finalmente, ela levantou o rosto para olhar para ele. —Eu vou ficar bem.

Ele engoliu em seco, pressionando os lábios na testa dela.

—Você é minha família agora, Lenny. Se algo acontecer com você...

Ela apertou o braço dele. —Nada vai acontecer comigo.

Ela desejou poder ser tão confiante quanto suas palavras. Edmund a soltou quando um homem mais velho conduziu um cavalo de uma baia.

Edmund a ajudou a entrar na sela. Helena engoliu em seco as lágrimas que ameaçavam sufocá-la. —Edmund... se algo acontecer... diga a Dell...— Ela fechou os olhos por um momento, imaginando o rosto dele. —Diga a ele que sinto muito.

E que eu o amo, ela quis dizer. Mas ela conteve essas palavras quando Edmund apertou a perna e recuou.

Sem mais nada a ser feito, Helena empurrou o cavalo para frente.

As casas dos embaixadores ficavam em um trecho de ruas agora abandonadas. O som dos cascos do cavalo batendo em pedra era como uma batida de tambor em seu passeio para a batalha.

Como ela sempre se preocupou, Helena agora estava completamente sozinha. Mas o conhecimento não a pesou como antes. Agora, não havia mais ninguém em risco. Ninguém para manter seguro.

Quando ela virou para outra rua vazia - essa com lojas e casas lotadas de cada lado - ela deixou a lua banhá-la em seu brilho prateado. Essas ruas, este reino valia qualquer sacrifício. Ela sabia disso agora.

O pai dela nunca soube, mas a mãe dela. Governar sem sacrifício era apenas tirania. Guerra sem esperança era apenas morte. Uma luta sem razão era apenas assassinato.

Ela amava todos eles. Os comerciantes subindo a espiral. Os pobres lutando por comida. Os padres que pensaram que estavam fazendo o bem e se perderam.

A família dela. Madranos. Estrangeiros. Mágicos. Pessoas não-mágicas.

Eles eram o motivo dela.

Ela viajou pela cidade até poder ver os altos muros do palácio que uma vez chamou de lar. Eles fixaram as partes da parede que sofreram com as explosões, mas o preto ainda riscava grande parte da superfície, um lembrete do que aconteceu aqui apenas alguns meses atrás.

Guardas alinhados no topo da parede, sombras na noite. Suas tochas iluminavam o céu, lançando laranja através da vasta extensão.

Gritos irromperam quando Helena se aproximou.

—Oi, você aí! Pare! — Passos pesados ecoaram nos degraus atrás do muro.

Helena prendeu a respiração, lembrando a si mesma que era para isso que ela procurara. Ela desceu do cavalo, colocando os pés em solo sólido.

A porta na base dos portões se abriu, derramando guardas na rua. Eles correram para fora, suas botas blindadas batendo contra o chão enquanto a rodeavam, armas desembainhadas.

Erguendo o queixo, Helena encontrou o guarda com as listras do general em seu uniforme.

—Estou aqui para ver o rei.

Nenhum dos guardas se mexeu. Seus rostos eram máscaras impassíveis. A porta se abriu mais uma vez e um homem que Helena reconheceria em qualquer lugar.

Um sorriso deslizou pelo rosto de Ian. —Helena. — Ele fez um gesto para os guardas largarem as armas. —Seu irmão ficará feliz em vê-la viva. — Ele estendeu a mão para ela. —Venha.

Ela não pegou. Depois de um momento, seu sorriso caiu, e ele agarrou o cotovelo dela, empurrando-a para frente. Os guardas os seguiram de perto.

Foi assim que eles trataram todos que vieram ao palácio ou sabiam que ela os procurara?

Um dos guardas interrompeu o grupo, levando o cavalo para longe. Helena mal percebeu enquanto subia os degraus familiares, sabendo que seus pais ou irmão mais velho não estariam lá para cumprimentá-la do outro lado das portas altas.

Mas ela não se permitia chorar por eles. Agora não. Aqui não. Eles ficariam melhor servidos com a forma como ela lidaria com Cole.

Na porta, um dos guardas deu um tapinha nela, procurando por armas. Uma vez satisfeito, Ian fez um gesto para dentro. Ele não a tocou novamente, mas seus olhos deslizaram sobre ela, fazendo sua pele arrepiar.

No interior, o palácio permanecia inalterado. Se ela não soubesse melhor, pensaria que a coroa não havia mudado de mãos. As tapeçarias e os mapas de seu pai adornavam as paredes, a opulência mais grandiosa do que qualquer coisa que ela tinha visto em Bela ou Gaule.

Mas as paredes quentes de cerejeira e os tapetes macios não a acalmavam como antes. Agora ela os via pelo que haviam sido. Desnecessários. Pagos por impostos que as pessoas não podiam pagar.

Os criados a observavam passar com olhos curiosos. Ela procurou rostos que conhecia, mas não encontrou. Seu coração batia forte contra as costelas, o pulso pulsando em seus ouvidos até que era tudo o que ela ouviu. Não havia como voltar agora. Sem saída. Ela cuidaria de Cole ou passaria a vida presa dentro dessas paredes.

Como ela passou toda a sua juventude.

Ian virou a esquina e ela o seguiu sem palavras. Ele atravessou a porta de uma escada e os pés de Helena pararam de se mover. Ela sabia onde eles estavam indo.

Não.

Foi destruído.

O lugar que sua família tinha sido feliz. Onde ela desfrutou a vida com seus irmãos ao seu lado.

A residência real.

Um guarda a cutucou para a frente e ela subiu as escadas. No topo, Ian destrancou uma porta e a abriu. O corredor que levava à residência permanecia o mesmo, intocado pelo fogo que ela começara para libertar-se de Cole.

Depois do baile que mudou para sempre sua vida, eles a trancaram nos quartos de sua mãe. Sua mãe, treinada como uma assassina de Cana, abriu a fechadura. Uma vez no corredor principal, Helena havia incendiado a tapeçaria pendurada nas proximidades. Ela não sabia que isso se espalharia tão rapidamente.

Ian pegou uma segunda chave no final do corredor e empurrou Helena pela porta. O espaço que a recebia tinha móveis novos e ela suspeitava que o antigo estivesse muito danificado. Mas não havia outro sinal de destruição.

Uma porta se abriu e Helena respirou fundo.

Cole permaneceu imóvel no limiar, seu rosto não exibindo nenhuma emoção além de choque. —Lenny? — Ele balançou a cabeça como se não acreditasse nos próprios olhos.

Helena percebeu sua aparência abatida. Cabelo desgrenhado e sem cortes. Um rosto desalinhado. Uniforme enrugado.

Este não era o homem que ela esperava.

Ela afastou qualquer simpatia que pudesse ter pelo irmão e endireitou a coluna. —Meu nome é Helena. — Seus olhos se estreitaram. —Lenny é um nome de família.

O significado tácito por trás de suas palavras pairava entre eles. Ele não era mais uma família.

Ele assentiu como se acreditasse que merecia tudo o que ela lhe dizia. —Eu só...— Seus olhos encontraram Ian e endureceram. —Nos deixe.

—Sua Majestade...

Todo o cansaço desapareceu de Cole quando a frieza que ela reconheceu da noite da rebelião se instalou. —Ian, não agora.

Ian curvou-se rigidamente e girou nos calcanhares. Os guardas o seguiram, deixando Helena com apenas seu irmão.

Ela cruzou os braços sobre o peito, subitamente insegura do que deveria dizer a ele. Ela veio prestar seu apoio - por mais falso que fosse. Mas agora as palavras não viriam.

Ele deu um passo hesitante em sua direção.

Ela deu um passo atrás.

A dor passou pelo rosto dele, rapidamente substituída por algo que ela não conseguiu interpretar. —Eu pensei que você estava morta.

—Eu quase estava.

Interessante. Reed não disse a ele que ela vivia. Isso ainda não era prova de sua lealdade aos rebeldes.

Cole engoliu em seco e esfregou a parte de trás do pescoço.

—Estou feliz que você voltou para casa.

Ela examinou a sala e seus móveis desconhecidos que simbolizavam o que aconteceu aqui. —Casa. — Ela balançou a cabeça. —Esta não é minha casa. — Em sua mente, ela viu os vastos campos de Bela, mas isso também não parecia em casa. Não sem a família dela.

A incerteza brilhou nos olhos de Cole. Isso nunca tinha sido como ele. Ele era confiante. Certo. Ele mudou seu peso para o outro pé, nunca tirando os olhos dela.

— Não espero que você entenda, Helena. — Ele passou a mão pelos cabelos despenteados. —Eu não espero que você me perdoe.

—Bom.

—Posso...— Ele correu para frente antes que ela pudesse detê-lo e passou os braços em volta dos ombros dela.

Ela ficou rígida e um soluço escapou de sua garganta. O conforto parecia como sempre. Ao crescer, Cole tinha sido seu companheiro, seu protetor.

E agora era ele quem a separava.

Ele enterrou o rosto no pescoço dela. —Você está viva. — Ele respirou. —Eu nunca pensei em vê-la novamente.

Depois de um momento, ela colocou as mãos no peito dele para afastá-lo. —Cole, eu estou aqui, ok. Eu voltei. Mas não foi por você. —Ela teve que misturar pedaços de verdade com sua mentira. —Você matou minha mãe. Isso não é algo que eu possa... — Ela respirou fundo, afastando-se mais dele. As palavras vieram para ela. Quinn não seria capaz de refutá-los enquanto os rebeldes o segurassem. —Quinn me chamou.

Cole se endireitou em alarme. —Quinn. Eu o enviei para as docas. Um capitão mercenário afirmou que Edmund estava preso. — Ele olhou para a porta. —Ele deveria ter retornado horas atrás.

Lágrimas nadaram no olhar de Helena. —Eu estava com eles, Cole. Eu não sabia que Edmund era um rebelde. Eu juro. Ele me disse que me escoltava para casa e eu deixei. Quando Quinn chegou, fiquei tão aliviada. Mas o pessoal de Edmund veio buscá-lo. E... — Seu lábio tremeu quando ela encontrou os olhos de Cole. —Eles pegaram Quinn. Por isso disse aos seus guardas que precisava vê-lo assim que chegasse aqui.

Cole tropeçou para trás. —Precisamos encontrá-lo.

Ela assentiu, querendo que Cole saísse procurando por si mesmo. Afinal, era seu irmão gêmeo. Afastá-lo da proteção do palácio permitiria que os rebeldes a ajudassem.

Cole a puxou de volta para seus braços e, desta vez, ela o deixou. —Nós vamos. Traremos nosso irmão de volta. Então mataremos todo último rebelde. —Ele falou nos cabelos dela. Quero que sejamos uma família novamente, Helena. Agora que eu sei que você está viva... — Ele se afastou. —Eu preciso te contar uma coisa.

—O que é?

—Não tive notícias de Kassander. Muitas pessoas morreram na luta, incluindo algumas que foram queimadas além do reconhecimento. Receio que ele possa ter sido um deles.

Lágrimas derramaram dos olhos de Helena, mas não pelo irmão mais novo que ela sabia que estava vivo e seguro. Não, eles eram para aquele que ela tinha certeza que se foi para sempre.

Os ombros dela caíram. —Chegou-me a notícia de Estevan. Parece que você, Quinn, e eu somos tudo o que nos resta.

Um sorriso dividiu o rosto de Cole, e Helena quis limpá-lo com a lâmina de um punhal. Ele sempre odiou Stev, mas a alegria óbvia em seu rosto a atravessou.

Atravessou a sala e abriu a porta para falar com os guardas e Ian esperando do lado de fora. —Vasculhe a cidade. Os rebeldes têm Quinn. A ordem é matar tudo o que encontrar.

Ian assentiu. —Eles não o têm por muito tempo. Vou ligar para o regimento que acabou de voltar para casa.

Cole fechou a porta mais uma vez e girou a fechadura.

—Você não vai com eles? — Helena perguntou, com o estômago desapontado.

Cole balançou a cabeça enquanto a encarava. —Eles o encontrarão. Quanto a você... há algo que você precisa ver.

Ele alcançou a porta pela qual saiu e a abriu antes de pegar uma vela da mesa perto do sofá e entrar na sala.

O ar viciado atingiu Helena enquanto seguia Cole para dentro. O quarto pertenceu a Stev. Alguém apagou todos os danos da fumaça e do fogo. Uma grande cama de dossel estava encostada na parede oposta, com a forma de um homem adormecido sob os cobertores.

Cole o alcançou e quando a luz da vela atingiu seu rosto, Helena ofegou.

O peito do homem subia e descia com um ritmo constante. Os cabelos encharcados de suor grudavam no rosto quando ele virou a cabeça. A pele pálida contrastava com as olheiras sob os olhos fechados.

As pernas de Helena enfraqueceram embaixo dela e ela caiu. Quando seus joelhos bateram na pedra fria, uma palavra escapou de seus lábios.

—Estevan.

 

 

 

 

 

Capitulo Vinte


Dell olhou para a água escura, deixando a primeira luz da manhã passar por seu rosto. Nas cabines abaixo do convés, as pessoas dormiam. Apenas alguns marinheiros conseguiram velejar enquanto o resto terminava os preparativos da manhã. Eles chegarão a Madra em breve. Ele podia vê-la se aproximando, uma cidade adormecida à beira do rio.

Em algum momento da noite, eles deixaram o mar para navegar no delta e rio acima. Um vento fraco fez a jornada mais lenta do que Dell teria gostado.

Ele queria alcançar Helena.

Antes que fosse tarde demais.

Ele fechou os olhos, sentindo como se ela estivesse ao lado dele, sonhando que ela deslizava a mão na dele. Se ele tinha alguma dúvida em mente, a última noite juntos lavou tudo. Ele amava Helena como se nunca tivesse amado ninguém em sua vida.

Ele só queria que ela o amasse da mesma forma. Ele tentou ficar com raiva, sentir-se traído, mas isso acabou com uma percepção esmagadora de que ele não era suficiente para a princesa de Madra. Ele nunca foi. Ela fez o que achava certo na luta por seu reino. Ele era apenas um homem que não tinha para onde ir. Ninguém para quem voltar em Madra.

Exceto ela.

Ele abriu os olhos quando Kassander se inclinou contra o parapeito ao lado dele.

—Eu não conseguia mais dormir. — Admitiu o garoto.

Dell suspirou. Como ele podia sentir pena de si mesmo quando o jovem príncipe havia perdido tanto? Era melhor nunca ter tido uma família ou perder a que você tinha?

—Todo mundo ainda está dormindo? — Dell pousou a mão no ombro do garoto.

Kass balançou a cabeça. —Eles estavam conversando quando saí, mas não aguentava mais os sussurros silenciosos.

Dell sabia o que ele queria dizer. As ansiedades de Alex, Etta e Tyson estavam chegando ao resto deles. Eles ainda não sabiam se haviam tomado a decisão certa. A rainha e o rei de Bela poderiam se envolver sem envolver seu reino? Se eles fracassassem e Cole Rhodipus mantivesse seu trono, isso os lançaria em guerra?

Kassander estremeceu sob o aperto de Dell. —Como você acha que será ver Cole novamente? — Quando Dell não respondeu, ele respondeu sua própria pergunta. —Eu acho que vai doer. — Seus olhos examinaram a cidade em que se aproximaram. —Mas então, ele já dói.

Dell passou um braço em volta de Kassander. O garoto era quase tão alto quanto Helena e tinha os mesmos cabelos escuros e pele morena. Havia um olhar comum nas crianças de Rhodipus que era ao mesmo tempo encantador e desarmante. Inocente. Lindo. Mas também selvagem.

Ele puxou Kass para longe do trilho e o direcionou para uma caixa perto da parede. Eles se sentaram lado a lado. Dell recostou-se e tirou do bolso seu novo trabalho em andamento. Helena pegou sua espada inacabada, mas agora sua mão se fechava em torno de uma coroa. Ele trabalhou sua faca de trinchar ao longo das várias quedas e curvas da madeira enquanto Kassander observava fascinado.

Ele esbanjou muito ao longo dos anos, não precisava manter a mente no trabalho. Em vez disso, ele pensou em todos os cenários possíveis que poderiam ocorrer quando chegassem a Madra.

A névoa da manhã pairava baixo na água, encobrindo o navio em uma névoa.

—O que vai acontecer quando chegarmos a Madra? — Perguntou Kass.

Uma nova voz entrou na conversa deles. —Vamos encontrar sua irmã. — Etta parou na frente deles, curvando-se para olhar Kass nos olhos. —Você acredita em mim?

Kassander assentiu.

Ela sorriu. —Bom. Agora, corra até a cozinha. Você vai querer comida na sua barriga. Alex e Tyson estão lá em baixo. Quando você terminar, já teremos chegado a Madra.

Os olhos de Kassander se iluminaram e ele pulou da caixa.

Quando ele se foi, Etta sentou-se.

Dell cavou com mais força a madeira, xingando quando a faca ficou presa em uma elevação que ele não pretendia esculpir. Com um suspiro, ele deixou a madeira de lado.

—Landon está preparando os cavalos. — Etta puxou as pernas para baixo dela. —O capitão Smith nos colocará em terra a oeste da cidade. A partir daí, entraremos.

Dell assentiu. Um navio Belaeno não teria permissão para atracar na cidade. Era o único plano que fazia sentido.

—Você conhece Helena mais do que qualquer um de nós. Qual é a primeira coisa que ela faria quando chegasse a Madra?

Dell coçou a lateral do rosto. —Bem, isso depende.

—De?

—Se ela está dando as ordens ou se está ouvindo Edmund.

—Por que eles querem coisas diferentes?

Dell olhou de soslaio para Etta. Ela alegava que Edmund era seu melhor amigo. Ela havia lhe dado a posição de embaixador, mas nem ela sabia o que o embaixador estava fazendo. Que ele se tornou mais arraigado na vida de Madra do que deveria. Então, Dell explicou. Ele contou a Etta sobre a rede de espiões que se reportava a Edmund. Dos rebeldes que eram mais leais a um embaixador estrangeiro do que seu próprio rei.

E então chegou a hora de contar a ele seu próprio papel no mundo de Edmund. —Edmund veio até mim porque meus irmãos eram parte integrante dos planos de Cole Rhodipus de conquistar a coroa.

Por tudo isso, Etta permaneceu em silêncio. Finalmente, ela levou a mão à boca. —Ele fez tudo isso para proteger Estevan?

—E Helena e Kass, mas sim.

Ela balançou a cabeça como se não acreditasse nisso. Lágrimas pairavam em seus cílios. —Quando me disseram pela primeira vez sobre os sentimentos de Edmund pelo príncipe morto, não sabia o que pensar. As paixões de Edmund sempre mudavam com o vento. Em um ponto, ele até se imaginou apaixonado por Alex, mas eu realmente acho que era apenas porque nunca se tornaria mais. Eles se amam, mas como irmãos agora. Então Matteo... Meu primo se perdeu para Edmund na primeira vez que lutaram. —Ela sorriu. —Então ficou sério, e Edmund me pediu para mandá-lo para Madra.

Uma lágrima deslizou por sua bochecha. —Mas ele arriscou tudo por Estevan... e então ele o perdeu. Eu não entendia até agora. Até me ressenti de sua nova lealdade a Helena porque houve um tempo em que eu era a mulher mais importante da vida dele. — Ela enterrou o rosto nas mãos. —Não acredito que quase não vim buscá-lo. Ele nunca me decepcionou uma vez e eu quase falhei com ele.

Dell não sabia como confortar uma rainha que chorava. Ele deu um tapinha nas costas dela, decidindo responder sua pergunta original. —Helena e Edmund têm força de vontade. Eu acho que eles se separaram.

Ela levantou a cabeça. —Ele não a deixaria.

—Não. — As palavras machucavam, mas ele sentiu cada uma delas. —Mas Helena o deixaria se ela pensasse que o salvaria.

Ela fez a mesma coisa com Dell.

Dell observou os marinheiros se prepararem para ir para o convés e manejar seus remos. Seus movimentos eram como uma dança coreografada. Todos sabiam seu lugar, seu trabalho.

Helena também conhecia.

Dell encostou a cabeça na parede. De repente, ele sabia exatamente por que Helena o deixara para trás. —Ela vai enfrentar o irmão. Sozinha.

Etta abriu a boca como se quisesse discutir, mas depois fechou. Ela não podia refutar a verdade nas palavras dele.

O medo o envolveu, porque ele sabia que se Helena tivesse ido falar com o rei, já era tarde demais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Vinte e Um


Cole deixou Helena sozinha com Estevan e não voltou. Ela não sabia quanto tempo fazia, mas sentou-se ao lado de seu irmão mais velho, encarando-o como se ele desaparecesse novamente.

Ela afastou os cabelos úmidos do rosto dele.

Helena conteve as lágrimas que ameaçavam se libertar. Estevan precisava de sua força, não de sua fraqueza. Se ela já teve dúvidas em chegar ao palácio, elas desapareceram no momento em que ela pôs os olhos em Stev.

—Você deveria estar morto. — Ela sussurrou. —Nós lamentamos você.

Edmund. O nome dele surgiu em sua mente tão de repente que ela afastou a mão. Se Helena e Edmund soubessem que Stev ainda vivia, teriam procurado por ele mais cedo?

Helena pensou que Stev ainda estava com febre, mas, apesar de sua pele estar úmida, não estava quente. Ele não tremia, mas havia uma palidez alarmante em sua pele.

As pálpebras dele se contraíram. —Não. — Ele murmurou. —Não mais. Não me toque. — Ele se jogou de lado e o cobertor escorregou para revelar seu peito nu. Helena ofegou, pulando da beira da cama.

Linhas vermelhas frescas cruzavam seu torso. Os longos cortes profundos agora com sangue seco, descamando e caindo sobre a cama...

A raiva brotou em Helena ao ver a verdade diante dela. Estevan não estava doente. Sua fraqueza era de perda de sangue.

Cole. O nome dele queimou em sua mente, e ela girou nos calcanhares, decidida a sair do quarto. Encontrar o irmão que causou tanta dor à família dela.

Mas uma voz a chamou de volta.

—Helena?

Ela congelou, pensando que tinha imaginado. Girando devagar, ela engoliu um soluço. Os olhos de Estevan se abriram e seu olhar claro a encontrou.

Helena correu até ele, ajoelhando-se ao lado da cama. —Stev. — Ela pegou a mão dele, as lágrimas finalmente derramando. —Stev. —Ela descansou a testa contra as mãos unidas, não querendo deixá-lo ir.

Ele respirou trêmulo. —Eles me disseram que você estava morta.

Ela fez um som que era meio risada e meio soluço. —Eles me disseram que você estava morto.

A mão livre dele subiu aos cabelos dela, arqueando-se sobre o topo da cabeça dela. O peito dele tremia e ela ergueu os olhos para o rosto manchado de lágrimas.

Ela nunca viu Estevan chorar antes. Estendendo a mão, ela enxugou uma lágrima da bochecha dele. —O que Cole fez com você?

Ele balançou sua cabeça. —Não Cole. — Seus olhos se fecharam por um momento. —Nosso irmão-

—Ele não é nosso irmão.

Estevan estremeceu com as palavras e, quando fixou os olhos em Helena mais uma vez, a força de sua dor a invadiu. Para aqueles que não o conheciam, Stev parecia frio e calculista.

Mas Helena sabia de forma diferente. Seu irmão mais velho tinha sido o melhor de todos eles. Ele sentia tudo em um nível que ela não conseguia imaginar, mas sempre pareceu ter vergonha dessas emoções. Então, ele as internalizou, endurecendo-se na presença de outras pessoas, principalmente do pai deles.

Mas naquele momento, quando eram apenas duas crianças de Rhodipus lamentando a morte de tudo de bom dentro do outro, ele finalmente a deixou vê-lo.

Ela se inclinou para frente, passando as pontas dos dedos pelo lado do rosto dele. Ele estava realmente lá.

—Kass? — Ele sussurrou, medo afiando em sua voz.

Helena respirou fundo. —Seguro. — Pelo menos ela poderia dar isso a ele. Ela pode ter abandonado Stev ao controle de Cole, mas manteve o irmão mais novo vivo. Os olhos de Stev continham mais perguntas, mas as palavras não deixaram sua boca quando uma respiração rasgou seu peito.

—Edmund está aqui. — Ela sussurrou.

Estevan sacudiu a cabeça de um lado para o outro. —Não. Ele não pode estar. Ele deveria sair com você e nunca olhar para trás. Eu nunca quis... — Ele tossiu, sangue escorrendo pelo queixo.

Helena não teve tempo de dizer mais nada porque Camille apareceu na porta. Saltando da cama, Helena correu ao longe, jogando-se para a outra princesa.

Camille a pegou, os braços rígidos. —Helena. — Ela a empurrou para longe, passando a mão na frente do vestido azul safira. Ela colocou os cachos de ébano por cima do ombro, sem olhar de relance para Stev.

Helena a examinou em busca de algum sinal de mau tratamento. Camille apoiou-se na mesma bengala desde o dia em que chegou. Seu traje foi suavizado com perfeição quase como se ela não fosse uma prisioneira.

—Eu estava tão preocupada com você. — Helena finalmente admitiu.

O olhar severo de Camille a cortou. —Helena, você vem comigo.

E então ela fez a última coisa que Helena já esperava. Camille levantou uma mão que segurava algo que Helena não havia notado antes. Algo que ela nunca pensou em ver novamente.

Uma máscara.

Ela balançou a cabeça, os cabelos espalhando-se pelos ombros descontroladamente.

—Coloque-a.

—Camille. — Helena tropeçou para trás. —Por que você está fazendo isso?

Naquele momento, a princesa gaulesa se parecia muito com aquela mãe - a mulher que vendeu Quinn aos madranos.

E Helena a odiava por isso. —Não.

Camille estreitou os olhos. —Será muito mais fácil para você se você apenas obedecer.

Os olhos de Helena foram para a máscara. De novo não. Ela passou a maior parte de sua vida presa por esse tecido. Ela não era mais aquela garota.

Dois guardas apareceram na porta.

Helena olhou por cima do ombro para Stev, que estava tentando sair da cama para ajudá-la. Ele recuou, seu corpo tremendo quando seus olhos rolaram para dentro de sua cabeça.

—Stev! — Helena tentou se virar e correr de volta para ele, mas um dos guardas a agarrou para segurá-la no lugar. —Deixe-me ir, seu maldito bastardo. — Um braço carnudo envolveu sua cintura, puxando-a para fora de seus pés enquanto ela chutava e gritava.

As palavras de Camille mal registraram em sua mente. —Pegue o curandeiro. Se Estevan morrer, o rei ficará muito irritado.

Não, Helena pensou. Cole não se importaria com o que acontecia com nenhum deles.

Suas próprias palavras voltaram para ela. Ele não é nosso irmão.

Só ele era. E isso tornou a dor muito real.

—Stev. — Ela chorou mais uma vez antes de um punho brilhar na frente de seu rosto, e a escuridão acenou para ela com sua paz.

 

Vozes cercaram Helena, mas ela lutou para abrir os olhos. Passos pesados cruzaram-se na frente dela. O barulho de muitas botas blindadas veio e se foi.

Onde ela estava?

Enquanto ela observava a sala ao redor, tudo voltou para ela. Vindo para o palácio. Cole. Estevan. Como seu irmão poderia estar vivo depois de todo esse tempo?

A sala do conselho de seu pai tomou forma ao seu redor. Não, não do pai dela. Não mais. O som ecoava no teto arqueado, apenas ligeiramente abafado por tapetes macios.

Helena levantou a cabeça dolorida das fibras brancas macias de um travesseiro. Ela levou a mão ao rosto quando outro pedaço dela se partiu. A máscara grudava em sua pele, uma gaiola da qual ela nunca havia escapado. Ela queria chorar, gritar, derrubar o lugar, mas não daria a Cole essa satisfação. Ela se recusava a desmoronar. De novo não.

A máscara a fortaleceu, reforçando sua necessidade de vingança. Ela sentiu a raiva deslizar por seus dedos depois que Cole a levou para Estevan, mas agora, enquanto examinava os rostos daqueles que eram leais ao novo rei, queria que todos pagassem.

Duas botas pararam diante dela antes que um homem atarracado se agachasse, equilibrando-se na ponta dos pés.

Helena ergueu os olhos para Reed e tudo o que ela pôde ver foi o homem que levou Quinn, que deixou seu pessoal quase matar Dell.

A simpatia entrou em seu olhar e ele estendeu um copo de água.

Quando Helena não se mexeu, Reed suspirou. —Eu não vou te machucar, princesa.

Uma mão pousou no ombro de Reed e o empurrou para trás. Ele caiu pesadamente na bunda, a água derramando sobre a camisa.

—Droga, Ian.

Ian ignorou a exasperação de Reed. —A princesa é necessária.

Sem esperar por uma resposta, ele agarrou o braço de Helena e a puxou para cima, puxando-a em direção à mesa no centro da sala.

Cole estava em uma posição elevada, recém barbeado. Seu cabelo estava penteado para trás no mesmo estilo que ele sempre usava. Só agora, ele parecia... mais velho. Seus olhos frios encontraram os dela, nenhuma das emoções anteriores aparecendo nos globos escuros.

—Tivemos muita sorte. — Disse ele, seus olhos examinando os rostos ao redor da mesa. Helena reconheceu alguns generais e comerciantes, mas alguns eram estranhos. Camille ficou à direita de Cole. —A princesa Helena voltou para ajudar a levar Madra à grandeza.

Helena engasgou com o ar.

Cole continuou. —Mas o príncipe Quinn desapareceu. Acreditamos que os rebeldes o levaram. A guarda do palácio está vasculhando a cidade, mas eu trouxe minha irmã aqui para esclarecer o paradeiro dele.

Helena congelou. Cole sabia sobre sua conexão com os rebeldes?

Ele deu a volta na mesa, parando ao lado dela e olhando para ela. Falso carinho ecoando em sua voz. —Querida irmã, me diga onde está Edmund.

—Eu-eu não sei.

Cole a golpeou antes mesmo que ela soubesse o que estava acontecendo. A palma da mão dele deixou uma dor aguda queimando sua bochecha. Ela levou a mão à bochecha ardente, tropeçando para trás.

—Aqui neste palácio, não aceitamos mentiras. — A voz baixa de Cole retumbou através dela.

O perigo espreitava por trás de seu olhar e Helena engoliu em seco. Ele queria que ela o temesse?

Ela endireitou os ombros, erguendo o queixo para encontrar o olhar dele. —Mesmo que eu soubesse, não diria.

Cole apontou para um de seus guardas que atingiu Helena no estômago. Ela se dobrou, ofegando quando a dor atravessou seu abdômen.

Ela reprimiu um grito e ficou de pé mais uma vez.

Nenhuma pessoa na mesa fez um movimento para parar Cole.

—Onde está meu irmão? — Cole gritou, as veias em seu pescoço pulsando com sua irritação.

Helena estreitou os olhos. —Eu poderia tirá-lo de você em um instante. Você roubou tudo de mim. Por que não devo fazer o mesmo?

Cole bateu o punho contra o lado da cabeça dela, batendo-a de lado. Ela tropeçou, caindo de joelhos quando ele chutou a parte de trás de sua canela. A surra continuou com Cole liberando toda a sua fúria nela até que tudo em que Helena pudesse se concentrar era na dor.

Ela manteve a consciência como um homem caindo, segurando a beira de um penhasco. Os ataques diminuíram quando Cole soltou um rugido e cobriu seu corpo com o dele.

—Eu precisava. — Ele murmurou. —Helena, eu precisava. — As lágrimas dele caíram sobre sua pele.

A máscara escondia seu rosto pálido, e o peso de Cole em cima dela a esmagou no chão. Ela sentiu como se não existisse mais.

Ela disse a Edmund que Cole não a machucaria. Esse tinha sido o único pensamento que a manteve unida. Tão mau quanto o irmão dela, ele a amava. Ela queria que fosse verdade. Teria tornado a missão possível, mas também teria curado uma pequena parte dela.

Seu corpo machucado pode não ter se quebrado completamente, mas ela ficou lá, como se ela não fosse nada além de uma princesa de vidro.

E agora, finalmente, ela quebrou deixando apenas fragmentos afiados que cortariam tudo o que tocassem.

Pela segunda vez naquele dia, a escuridão a puxou sob sua corrente rápida.

 

 

 

 


Capitulo Vinte e Dois


O sol do meio-dia pairava no céu quando Dell atravessou as ruas da cidade de Madra. Mendigos estavam sentados em cada esquina, mais comuns do que antes. As poucas lojas que abriram tinham longas filas que se estendiam para fora das portas enquanto as pessoas tentavam trazer sua parte da comida das fazendas de Madra.

—Precisamos abandonar os cavalos. — Disse Dell, parando e deslizando para baixo. Ele olhou para os lados da rua movimentada, pressionando de volta para um beco enquanto um carrinho passava.

—Vai demorar muito a pé. — Etta examinava o ambiente, sempre atenta.

Dell balançou a cabeça. —Não importa o quão longe tenhamos que caminhar se nunca chegarmos lá. Aqui não é Bela. Um madrano médio não tem um cavalo porque não pode pagar por um. Estamos nos marcando com riqueza e estou tendo a impressão distinta de que é uma coisa ainda pior agora do que era antes.

Um homem passou, fazendo uma careta ao avistá-los, mas ele não parou.

Ninguém mais discutiu enquanto desmontavam e conduziam seus cavalos pelo beco estreito.

—Estamos perto do setor do embaixador. A casa de Edmund está lá. — Dell espiou pela lateral de uma loja, examinando a estrada. Uma tropa de guardas do palácio cavalgava pela cidade. As pessoas saíram do seu caminho e Dell agarrou um garoto pela frente da camisa.

—Por que a guarda está na cidade? — Antes, o rei tinha tomado cuidado para não impor seus guerreiros ao povo. A força não funcionava em Madra. Somente dinheiro. Eles alegaram que os mercenários tinham o mal dentro deles, com sua única lealdade ao ouro nos bolsos, mas não era apenas o modo de vida deles. Madra foi construída sobre o conceito.

O lábio do garoto tremeu. —O príncipe está desaparecido, senhor.

—O príncipe?

O garoto assentiu. —Eles estão dizendo que os rebeldes pegaram o príncipe Quinn.

Dell soltou o garoto. —Você quer ganhar um pouco de ouro, garoto? — Ele apontou para a bolsa no cinto de Etta.

Os olhos do garoto se iluminaram. —Como senhor?

—Você vai ajudar meu amigo aqui. — Ele colocou a mão no ombro confuso de Landon antes de se virar para os outros. —Mudança de planos. Não podemos ir até Edmund quando a cidade está cheia de guardas. Landon levará os cavalos para os estábulos públicos, pois conhece a cidade tão bem quanto eu.

A última vez que Dell esteve nos estábulos públicos foi quando ele afastou Helena de seu próprio torneio. Ele se recusou a deixar as lembranças nublarem sua mente dessa vez.

Etta se inclinou para Vérité, sussurrando palavras que nenhum dos outros conseguiu ouvir. Quando ela se afastou, ela olhou para Landon. —Preocupe-se com os outros. Vérité vai segui-lo ou não. Essa é a escolha dele.

Landon franziu a testa, emitindo um breve aceno de cabeça.

—Fiquem seguros.

—Você também. — Dell pensou por um momento. —Se você chegar antes do anoitecer, há uma padaria na praça do mercado. É administrada por uma mulher chamada Agathe. Procure-nos lá.

Dell não perdeu tempo a passear pela rua como se tivesse todo o direito de estar lá. Este reino e esta cidade já tinham tido tanta familiaridade com ele... e também muita dor. Isso o transformou no homem que ele era. Permitiu-lhe formar suas próprias convicções.

Quando ele ajudou Edmund pela primeira vez, ele não sabia em que lado da luta ele queria estar. Ele não achava que a linha Rhodipus merecesse manter o domínio deles.

Agora ele sabia. Ele lutou para recuperar o que havia sido roubado. Isso não era apenas por lealdade a Edmund. Ele se juntou à luta, eventualmente. Madra era sua casa.

Ele os levou pela taberna de Catsja e imagens de outra vida o atacaram. Ele perseguiu a mulher somente depois que o marido chamou a mãe de Dell de prostituta.

O garoto por quem ele se empolgou com raiva, lutando em partidas de rua ilegais e aproveitando cada golpe. Ele tinha sido tolo e desesperado por algo que desse sentido à sua vida.

A placa não dizia mais The Cooked Goose. Em vez disso, havia sido alterado para The King's Tavern.

Com um suspiro, ele se virou. Etta, Alex e Tyson não fizeram perguntas sobre Madra enquanto visitavam a cidade lotada. Em Bela, tudo cheirava fresco e novo. O ar de Madra pairava velho entre os prédios; uma combinação de peixe e urina.

Uma tropa de guardas do palácio em uma armadura negra reluzente desceu a rua.

—Vamos lá. — Dell correu pela esquina, atravessando uma porta familiar. Os outros derraparam atrás dele, se escondendo embaixo de uma mesa para que não pudessem ser vistos pela janela.

O cheiro de pão fresco substituiu o ar podre de Madra. Dell passou tanto tempo na padaria de Agathe quanto em qualquer outro lugar que crescia. Ela ajudou a criá-lo quando a madrasta recusou.

O balcão perto da parede dos fundos parecia estéril, não mais cheio de doces e guloseimas pelas quais ela era tão conhecida. Então, por que cheirava como se ela tivesse recentemente assado um novo lote?

—Fique aqui. — Disse ele. Algo não parecia certo. Onde estava Agathe? Por que a loja dela estava aberta se ela não estava lá?

Ao longo das paredes, velas acesas, sinalizando a presença recente de alguém.

—Tranque a porta. — Ele sussurrou de volta para Tyson. Alex e Etta viram os guardas passarem pela janela enquanto Dell se agachava.

Ele se escondeu atrás do balcão, quase colidindo com um balde de água da louça e soltou a espada enquanto cutucava a porta que dava para os quartos dos fundos abertos. Agathe morava atrás de sua padaria em uma casa de um quarto. A escuridão o cumprimentou, mas ele cheirou o ar, sentindo o cheiro dos restos de velas acesas.

Alguém ainda estava lá.

A cama de Agathe estava do outro lado do quarto, um cobertor dobrado sobre a superfície. Os únicos outros móveis eram uma mesa encostada na parede e uma cadeira de encosto alto com costuras rasgadas, diante de um fogo ainda aceso.

Dell congelou.

Ainda queimando.

Dell sentiu uma presença nas costas e virou-se, pronto para atacar. Tyson levantou uma sobrancelha, o rosto brilhando à luz da vela que ele carregava.

—Eu disse para você ficar para trás. — Dell rosnou. De volta a Bela e Gaule, ele os ouviria, os seguiria. Mas agora eles estavam em seu reino, ao redor de seu povo.

Ele estava no comando.

No verdadeiro estilo Tyson, ele deu de ombros como se os nervos não estivessem lhe atingindo. —Pensei que você gostaria de saber sobre a escada que Alex encontrou no teto.

Escadaria? Claro.

Um baque soou de cima e Dell se moveu sem pensar. Ele só esteve no grande sótão de Agathe uma vez quando ela precisava de ajuda para transportar contêineres. As escadas se dobravam no teto, mas Dell a vira puxá-las o suficiente para que ele soubesse exatamente onde a corda estava enrolada no canto superior do forno maior, fora da vista.

Estendendo a mão, ele a libertou.

Por favor, deixe Agathe estar bem. Seu apelo subiu ao céu enquanto, ao mesmo tempo, nunca deixava sua mente.

Ele não aguentaria perder mais ninguém.

Os degraus desceram do teto e Dell começou a subir. Madeira gemeu sob seus pés enquanto as escadas balançavam com seu peso.

Ele segurou com uma mão enquanto mantinha a outra segurando o punho da espada. No topo, uma tábua fina cobria a abertura do sótão. Dell bateu a palma da mão nela, afastando-a do caminho e puxou-se. Antes que ele pudesse brandir sua espada, um pedaço de aço brilhou na frente de seu rosto.

Seu coração batia forte contra as costelas, ameaçando explodir em seu peito. Ele respirou fundo, estendendo a mão para dizer aos que estavam abaixo dele para esperar.

Uma chama apareceu com um rosto familiar atrás dela. Dell investiu, derrubando Orlo de costas. —O que você fez com Agathe, seu desgraçado?

Mãos o agarraram, puxando-o de um Orlo sorridente.

—Deveria saber que você apareceria. — Uma risada baixa chamou a atenção de Dell para o homem ainda o segurando.

—Edmund. — Ele balançou a cabeça e recostou-se nos calcanhares. —Vocês podem subir agora. — Ele gritou para os outros. —É seguro. — Ele não sabia o que Orlo estava fazendo aqui, mas no momento não se importava porque viu um rosto desfigurado sorrindo para ele.

Rastejando de joelhos, ele envolveu Agathe em um abraço apertado.

Ela o agarrou com uma força surpreendente. —Não tinha certeza se eu voltaria a vê-lo, garoto.

—Você me conhece, Agathe. Parece que não consigo ficar longe de problemas.

Ela soltou uma risada e o soltou.

Tyson, Alex e Etta se arrastaram para o pequeno espaço. Os olhos de Edmund se arregalaram quando os viu.

Tyson deu de ombros. —Eu não poderia deixar você se divertir sem mim.

Era certo que Tyson iria querer ajudar Edmund. Mas o loiro encarou Etta e Alex como se os estivesse vendo pela primeira vez.

—Você e Camille são da família. — Disse Alex.

Edmund assentiu. —Estou feliz que vocês estão aqui.

—Em que tropeçamos, Edmund? — Etta o encarou com um olhar.

—Como vocês me acharam?

Dell foi quem respondeu. —Eu tive um palpite que Agathe saberia onde você estava. — Quando seus olhos se ajustaram à escuridão, ele pegou o espaço apertado. Pratos vazios estavam espalhados pelo chão ao lado de copos virados. Quantas pessoas estiveram aqui? Uma figura sombria estava curvada no canto. Dell o estudou por um momento antes de o reconhecimento chegar.

—Quinn Rhodipus.

A cabeça do homem levantou e foi só então que Dell notou os laços em volta dos pulsos.

—Eu te conheço? — O olhar de Quinn era tão parecido com o de Helena que Dell desviou o olhar.

—Eu sou apenas o homem que quase morreu tentando salvá-lo em Gaule. — Ele encarou Edmund. —Por que ele está amarrado? O que está acontecendo por aqui? Viemos ajudar, mas não podemos fazer isso até conhecermos a história completa.

Edmund esfregou os olhos cansados. —Quando o rei enviou o guarda à procura de Quinn, forçou os rebeldes a se separarem e abandonarem o posto que eles montaram na minha antiga casa. Temos batedores rotativos buscando informações e outros procurando algum sinal de que Helena possa nos enviar uma mensagem.

O sangue da Dell aumentou. —Eu sabia. É por isso que ela... —Ele não podia dizer que as palavras me deixaram para trás. —Ela sabia que eu nunca a deixaria fazer algo tão tolo.

—Finalmente alguém que vê como isso foi estúpido. — Quinn fez uma careta e mudou para onde estava sentado. —Você deveria protegê-la, Edmund. Não foi isso que Stev pediu para você fazer?

Edmund pulou em direção a Quinn, parando um pouco para esmurrá-lo. —Você não sabe o que Stev queria. Cada respiração que você dá o trai. Você trabalha para o homem que o matou.

Um olhar que a Dell não conseguiu discernir passou pelo rosto de Quinn, mas Edmund não percebeu.

—Você acha que ele não vai machucá-la? — Quinn disse humildemente. —Você não o conhece.

—Isso é uma ameaça? — Edmund puxou uma adaga do cinto. —Eu deveria te matar por tudo que você fez.

Quinn focou os olhos na lâmina. Dell se perguntou se deveria parar Edmund, mas não se atreveu a interceder.

—Eu fiz isso por ela. — Sua voz era tão baixa que demorou um momento para as palavras penetrarem. Quinn se curvou para frente, enterrando o rosto nas mãos.

Edmund recostou-se, afastando o punhal. Houve um tempo em que Edmund era amigo da maioria dos príncipes.

—O que você quer dizer com você fez isso por ela? — Perigo se escondia atrás das palavras de Dell.

Quinn levantou os olhos, permitindo Dell vislumbrar a dor que ele tentava esconder. Sua família o estava despedaçando. —Eu sabia que ela voltaria. — Seus olhos se voltaram para Edmund. —Eu sabia que vocês dois o fariam e não adiantava a trancar em uma cela no mosteiro fantasmagórico.

Edmund respirou fundo e esfregou os olhos. —Eu te conheço desde o dia em que pisei em Madra, Quinn. No entanto, não tenho certeza se devo acreditar em você. Você apareceu nas docas para me prender. Cole não saberia que ela estaria lá também, mas você teria.

—Eu precisei. Se eu não fosse, Cole teria enviado outra pessoa. Não vou mentir para você, Edmund. Eu não teria sido capaz de protegê-lo. Mas Helena... você não sabe o que está acontecendo no palácio nos meses em que se foi. Temos pessoas lá - mais do que você imagina - que estão trabalhando para devolver Stev... —Ele parou de falar como se tivesse dito algo que não pretendia.

Edmund levou um momento para reagir. Ele empurrou para frente, puxando sua adaga livre mais uma vez e segurando-a na garganta de Quinn. —E Stev?

Quinn não se afastou da lâmina enquanto segurava o olhar de Edmund.

Dell e os outros assistiram com a respiração suspensa.

Quinn levantou o queixo. —Queremos colocar Estevan de volta ao trono.

O punhal de Edmund caiu no chão e ele caiu para trás, sacudindo a cabeça como se não acreditasse em uma única palavra dita. —Ele está... Ele está...

—Vivo.

Foi estranho. Como uma palavra pode mudar toda a perspectiva de uma missão. Dell mal conhecia o Rhodipus mais antigo e até seu coração deu um pulo. Eles vieram a Madra para derrubar um rei, nunca pensando no que viria depois. Helena poderia ter assumido o trono, mas Dell sabia que tudo o que ela queria era que sua família retornasse a ela.

Mas Estevan?

Se Helena estava no palácio, ela o viu?

Edmund aspirou o ar como um homem que nunca pensou que ele respiraria fundo. Ele passou a mão trêmula pelos cabelos.

Etta sentou-se ao lado dele e afastou a outra mão de onde arranhava a pele do rosto. Ela entrelaçou os dedos nos dele.

—Ele está vivo, Edmund. — Ela sussurrou.

Como se as palavras dela estalassem algo dentro dele, ele se dobrou, suas costas estremecendo.

Dell sabia que deveria desviar o olhar, mas não conseguiu. Ele só viu Edmund parecer tão... quebrável duas vezes antes. Uma vez, quando ele foi forçado a deixar Estevan em Madra. E novamente, quando soube da suposta morte do príncipe.

Durante a maior parte de sua vida, Dell se escondeu atrás de charme e de um ego falso, deixando ninguém chegar perto o suficiente para ter o tipo de poder sobre ele que Estevan tinha sobre Edmund. Ele pensou que a força estava sendo inquebrável.

Ele estava errado.

Se ele não chegasse a Helena a tempo, nunca se recuperaria, mas a amava mesmo assim.

Edmund nunca deixou de amar Estevan, mesmo quando pensava que estava morto, e foi a coisa mais corajosa que Dell já viu. Ele se deixou sentir tudo.

Edmund enxugou o rosto. —Eu tenho que chegar até ele. — Ele se arrastou em direção à escada. —Não podemos ficar aqui esperando mais.

Quinn, que silenciosamente deixou Edmund processar essas informações que mudam o mundo, chamou Edmund de volta. —E o que você acha que vai fazer?

Edmund fez uma pausa. —Tudo o que eu tenho que fazer.

—Se você for ao palácio com nada além de vingança, não conseguirá entender. Cole não tem vínculos com você, como ele tem com Helena. —Pelo menos ele esperava que Cole não machucasse sua irmã. Se Stev ainda estava vivo, tinha que haver esperança, certo?

—Eu não me importo se sobreviver enquanto Estevan sobreviver.

Dell estendeu a mão para agarrar o braço de Edmund. —Você sabe o que passou depois que pensou que ele morreu. Você deseja isso para ele? — Dell teve que fazê-lo ver o motivo.

A porta batendo abaixo os congelou.


—Provavelmente é apenas Landon. — Dell desejava estar tão confiante nisso quanto parecia.

—Landon? — O olhar de Quinn se voltou para ele. —Meu primo?

—Foi ele quem nos trouxe a Gaule para tentar salvá-lo. Então ele decidiu nos acompanhar aqui.

Os olhos de Quinn se arregalaram.

—Vou ver se é ele. — Disse Edmund.

—Espere! — Quinn tentou seguir em frente, mas as cordas segurando seus pulsos o impediram. —Você não pode confiar nele.

—Ele é o único motivo pelo qual sabíamos que você estava preso em Gaule. — Campainhas de alarme tocaram na mente da Dell.

—Porque ele me deu a eles. — Ele endureceu a mandíbula. —Landon trabalha para Cole.

E ele sabia exatamente onde eles estavam. Dell amaldiçoou. Eles deveriam ter visto? —Temos que sair deste lugar.

Passos soaram abaixo. Sem pensar, Dell se abaixou pela abertura no chão, sem se incomodar com as escadas. Ele ficou pendurado por apenas um segundo antes de cair em cima do intruso.

Uma série de maldições voou da boca da mulher. Uma boca que Dell conhecia muito bem. Eles aterrissaram no chão. Ele saiu dela com um grunhido. —Catsja?

Ela fez uma careta de dor quando se sentou. —Dell Tenyson, seu idiota. Para o que foi aquilo?

Ele a chocou, puxando-a para um abraço. —Porra, é bom te ver.

Os outros desceram as escadas, e a mão grossa de Orlo agarrou a parte de trás do pescoço de Dell, puxando-o para longe de Catsja.

Ele balançou a cabeça, surpreso por Orlo e Catsja terem se juntado aos rebeldes. Ele não deveria estar. Eles odiavam o exército de Madra como nenhum outro.

—Outro rebelde? — Etta perguntou, checando suas armas.

Dell não teve a chance de responder porque vozes soaram na frente quando a porta se abriu.

—Desça. — Edmund sussurrou, puxando Agathe para trás de uma caixa com ele.

—Eles estão aqui. — Disse uma voz familiar. —Encontre-os.

Landon. O fogo atingiu as veias da Dell. Eles mal podiam esperar para serem encontrados. Ele encontrou o olhar de Tyson, sabendo que pelo menos o jovem príncipe impulsivo concordaria com ele.

Tyson assentiu, gesticulando para Etta. Sem esperar para garantir que o resto deles seguisse, Dell puxou a espada e atacou a frente da padaria.

Os guardas que ainda estavam entrando pela porta da frente ergueram os olhos, assustados por apenas um momento antes de se armarem para enfrentar o ataque.

Dell não parou de se mover até que ele acertou um dos guardas, balançando a espada em um amplo arco.

Ao seu lado, Tyson saltou para frente, batendo a espada contra a de Landon.

O resto do grupo pulou na luta, esbarrando um no outro no espaço apertado. Tyson pulou para longe de Landon, deixando Etta assumir. A rainha murmurou baixinho. Dell sabia pouco de sua história com o general. Só que eles lutaram juntos contra La Dame.

Tyson correu atrás do balcão, encontrando um balde de água. Ele o jogou no ar, segurando as mãos para o alto e expandindo a substância com a magia da água, antes de enviar lanças de água contra cada guarda com força suficiente para empurrá-los pelas janelas de vidro.

Os cacos choveram, mas antes de atingi-los, um vendaval de vento empurrou os pedaços afiados pelas janelas agora abertas.

Na rua, uma multidão se formou para assistir os guardas encharcados se levantarem. Quinn apareceu e estendeu os pulsos para Edmund. Era agora ou nunca. Confie nele ou não.

Edmund olhou de soslaio para ele antes de cortar suas cordas e depois estender o cabo do punhal primeiro.

Quinn pegou. —Eu preciso voltar para o palácio.

Edmund, parecendo entender seu significado, assentiu e o encarou. —Faça.

Em um piscar de olhos, o punho de Quinn se conectou com a bochecha de Edmund, e ele correu em direção aos guardas que estavam se preparando para outra luta.

—Temos que sair daqui. — Edmund olhou para Agathe, e a velha sorriu em compreensão. —Catsja, pegue o pó.

A pólvora. Dell soube instantaneamente que tipo de pó era. Ele viu barris no porão de sua família enquanto estava preso lá.

—Dell, Alex, Tyson. — Edmund olhou para cada um deles. —Vocês levem Agathe para fora e longe daqui. Vamos segurá-los.

Etta deu um sorriso, jogando a espada entre as mãos. —Faz muito tempo desde que você e eu lutamos juntos, Edmund.

—Vão! — Edmund ordenou para o resto deles.

Dell não queria deixar Edmund em luta, mas ele não podia colocar Agathe em perigo. E ele sabia que não seria o tipo de ajuda que Etta seria.

Todos fizeram o que lhes foi dito. Dell deixou os outros pela porta dos fundos, apenas olhando para trás uma vez enquanto os sons da luta renovada enchiam o ar.

Eles correram pelo beco até chegar a uma encruzilhada e se irem em uma parte mais pobre da cidade. Agathe parecia saber o caminho, então eles a seguiram.

Antes de chegarem longe demais, uma explosão rasgou o ar. Dell congelou, olhando para trás. Eles estavam bem. Eles tinham que estar.

—Edmund e Etta sabem o que estão fazendo. — Alex disse como se estivesse lendo sua mente.

Como ele tinha tanta fé neles? Dell desejava ter esse tipo de confiança em alguém que não fosse ele mesmo. Ele ainda sentia a necessidade de proteger as pessoas em sua vida, em vez de deixá-las se proteger.

Um pensamento o atingiu quando eles pararam. —Kassander. — Ele congelou na porta. —Enviamos Kassander com Landon. — Eles pensaram que era a opção mais segura. Ir aos estábulos tinha que ser mais seguro do que encontrar os rebeldes.

Só que não foi. Eles entregaram o jovem príncipe ao irmão.

Mais uma vez, Dell falhou com Helena.

Seu horror foi refletido nos rostos ao seu redor.

Agathe conduziu-os por outra estrada familiar, sem parar até chegarem aos portões que Dell nunca mais queria ver.

—Agathe. — Ele congelou, olhando para a estrutura sinistra. —O que você está fazendo aqui?

—Esta é outra base rebelde. — Ela passou por ele e bateu o punho contra os portões.

Como o lar em que ele cresceu se tornou uma base para os rebeldes quando Ian e Reed estavam ao lado do rei? Foi mais uma prova da deslealdade de Reed para Cole?

Os portões se abriram lentamente e um rosto desgastado os cumprimentou, não mostrando nenhuma surpresa no local da Dell.

Ele soltou um suspiro. —Madrasta.

Ela o ignorou, fixando os olhos em Agathe. —Eu ouvi a explosão daqui. Fico feliz que você tenha encontrado um uso para o pó que forneci. Entre. Vamos tirar você da vista.

Agathe sorriu. —Obrigada, querida. — Ela os levou, deixando os portões abertos um pouco para os outros.

Tyson se inclinou para Dell enquanto olhava para a grande casa Tenyson. —Você cresceu aqui?

—Não. — Os olhos da Dell se voltaram para o edifício familiar nos fundos. —Eu morava nos estábulos. — O jovem príncipe parecia querer fazer mais perguntas, mas Dell acelerou para impedir a conversa. Sua mente girou com a possibilidade de sua madrasta lutar contra o rei. Um rei que seus filhos apoiavam.

A última vez que Dell esteve lá, seus irmãos o prenderam no porão. Agora, ele atravessou uma entrada da frente que nunca haviam permitido que ele usasse. A casa outrora grandiosa parecia mais escassa do que antes.

Agathe, como se estivesse lendo as perguntas em sua mente, falou em tom baixo. —Sua madrasta foi forçada a vender muitas coisas para sobreviver com o fechamento do porto. Ela libertou todos os seus funcionários e agora mora aqui sozinha, já que seus dois irmãos moram no palácio. Ian não está em casa desde a rebelião. Reed vem frequentemente em negócios rebeldes.

—Como ela se tornou uma rebelde? — Ele perguntou. A mulher que ele conhecia apenas se preocupava. Ela não se importaria com o que um rei fazia com o reino.

—Com a espiral desaparecida, ela perdeu seu lugar na sociedade. Todo mundo tem algo pelo que lutar nisso.

Dell assentiu. Isso fazia sentido. Ela ainda estava cuidando de si mesma.

Sua madrasta os levou aos estábulos em que passou a maior parte de sua vida.

—Não posso ter rebeldes na casa principal. — Disse ela. —Eu sinto muito. Espero que entendam.

Dell nunca a ouviu se desculpar por nada.

Agathe colocou a mão no braço dela. —Claro. Quando os outros chegarem, por favor, mostre-os para nós. Não lhe causaremos problemas. Eu prometo. Nós iremos embora de manhã.

Ela hesitou por um momento, seus olhos encontrando Dell como se ela tivesse mais a dizer. Em vez disso, ela apenas assentiu e saiu.

Dell inalou, seu coração batendo contra as costelas quando o sentimento inadequado de sua juventude voltou a ele. Não importava o que ela dissesse, ela sempre teve esse efeito nele.

Um cavalo relinchou e soltou um suspiro ao avistar o cavalo Ian. A visão familiar do animal em sua baia o acalmou. Ele não era mais o garoto sem família que arruinava as bancas e deixava aquela mulher empurrá-lo.

Não, agora ele tinha mais propósito. Uma família. Ela não podia mais controlar sua vida ou sua mente. Ele deixou Agathe ficar com o beliche em que passou a maior parte das noites e sentou-se de costas contra a baia de Ian.

Limpando o rosto, seus dedos ficaram vermelhos.

Ele procurou um corte, mas não o encontrou. O sangue não era dele.

O silêncio sufocou pelo que pareceu uma eternidade até Edmund irromper pela porta. Seus ombros caíram de alívio. —Você está aqui.

Alex passou por ele para envolver Etta em seus braços.

—Por que você veio aqui? — Edmund examinou a sala escassa.

—É uma casa segura rebelde. — Catsja deu uma cotovelada nele. —Eu te disse, Edmund, o movimento cresceu desde que você saiu.

—Mas Lady Tenyson?

Dell estudou Agathe. Ela os levou até lá. Quão envolvida na rebelião ela estava? Eles destruíram tudo o que a mulher tinha. Sua loja não passava de entulho. Seu meio de vida se foi.

E, no entanto, havia vida em seus olhos como ele nunca tinha visto antes.

Dell encontrou o olhar de Edmund. —Qual é o próximo?

Catsja sentou-se com um grunhido exagerado. —É por isso que vim encontrar todos vocês na loja. Tenho novidades. — Um sorriso deslizou por seu rosto. —Parece que o retorno da princesa é o que precisávamos. Nossas fontes dentro do palácio indicam que o rei fará sua primeira aparição pública. Ele quer mostrar a Madra que a linha Rhodipus está intacta e apoia seu reinado. Seus conselheiros parecem pensar que é a única maneira de reprimir o movimento rebelde.

Dell entendeu cada palavra, virando-a e considerando-a. Ele precisava ver Len, então ele fez a única pergunta que a traria mais perto dele.

—Quando?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Vinte e Tres


Uma mão quente pressionou a testa de Helena quando alguém a puxou de volta para o mundo acordado. Cobertores macios emaranhados em torno de suas pernas e ela tentou rolar para o lado, confusão nublando sua mente. Onde ela estava?

—Dell? — Ela murmurou.

—Irmã.

A voz a fez acordar e se afastar de seu toque. Seus olhos se abriram para encontrar o rosto de Cole olhando para ela, uma expressão preocupada inclinando seus lábios.

A dor pulsava em suas têmporas e irradiava por seu torso enquanto as imagens inundavam sua mente. Punho de Cole. Um pé no estômago.

Uma lágrima vazou pelo canto do olho. Ela tinha tanta certeza de que ele não a machucaria. Tão certa que o irmão que ela conhecia ainda estava lá em algum lugar.

Porque ela o viu. Quando ele se sentou na beira da cama, a mão pairando sobre o cabelo dela, ele parecia o homem que ela conhecera.

—Não me toque. — Ela puxou o cobertor até o queixo, estremecendo com a dor que o movimento causou.

A testa de Cole enrugou. —Você sabe que eu não queria que nada acontecesse com você, Lenny. Eu te amo.

—Você não me ama, Cole. Talvez você nunca tenha amado. — Ela sabia que precisava ter cuidado com ele. Ele provou ser imprevisível, volátil. Ele realmente mudou tanto? Ou ele havia escondido essa parte de si mesmo de todos eles? Até o gêmeo dele.

O pensamento de Quinn e sua lealdade a Cole queimaram dentro dela. Pelo menos Kass estava seguro e...

—Estevan. — Ela sussurrou. Isso tinha sido um sonho ou ele realmente viveu?

—Helena. — Cole suspirou. —Meu povo precisa ver minha força. Se não instilar medo neles, o que tenho?

—O pai não governou pelo medo. — Assim que as palavras saíram de sua boca, ela desejou poder recuperá-las. Mentiras. Isso é tudo que elas eram.

Cole moveu-se para acariciar seus cabelos novamente e depois pensou melhor e enrolou os dedos em punho. —Você não é tão ingênua. Tudo que o pai tinha era medo. Seus exércitos se espalharam pelos seis reinos sob o pretexto de manter a paz. Seus padres prenderam pessoas. Até você, irmã, teve que usar uma máscara a vida inteira por medo do que eles fariam com você.

Helena tocou a ponta do nariz. Alguém havia removido a máscara. Um pensamento veio a ela. —Você me forçou a me esconder atrás de uma máscara também.

A verdadeira tristeza cruzou seu rosto. —Foi assim que meu conselho a reconheceu instantaneamente como a princesa. As pessoas não conhecem Helena Rhodipus, apenas a imagem que o pai lhes permitiu ter. Me desculpe, eu tenho que usar essa imagem também.

Uma risada áspera passou por seus lábios. —Você não está arrependido de nada.

—É aí que você está errada, irmã. Desculpe-me por tudo.

Ele se levantou, alisando o casaco do uniforme.

—Mas se você tivesse que fazer tudo de novo, não mudaria nada.

Ele não se virou para encará-la enquanto respondia. —Não. Eu não.

Seus passos ecoaram pelos tetos altos muito depois de ele ter saído. Helena enterrou o rosto no travesseiro, deixando-o umedecer com as lágrimas até que a porta se abriu novamente.

Ela levantou a cabeça, tentando ignorar as batidas no crânio. Camille estava no limiar.

—Acho que acabei de falar com os traidores hoje. — Gritou Helena, deixando a cabeça cair para trás. Ela precisava se levantar da cama e descobrir onde estava. Ela ainda tinha um trabalho a fazer - encontrar uma maneira de derrubar o irmão antes que os rebeldes invadissem o palácio e matassem muitas outras pessoas.

Outra pessoa passou por Camille, puxou-a para dentro da sala e fechou a porta.

—Quinn. — Os olhos de Helena se arregalaram. O que ele estava fazendo no palácio quando deveria estar desaparecido?

Ele correu para a cama e caiu de joelhos. —Len. — As pontas dos dedos sussurraram sobre sua bochecha machucada. —Eu sinto muito.

Ela finalmente se levantou para sentar e deixar o cobertor cair. Sangue seco salpicava o lado de sua blusa.

Quinn xingou e pegou a barra para empurrá-la, revelando um pequeno corte em seu abdômen. Os hematomas roxos saíam da ferida. Sangue com crosta selando.

Do outro lado do estômago, descoloração amarela e roxa marcava cada lugar em que a espancavam.

Quinn fechou os olhos. —Eu sinto muito.

A raiva surgiu em Helena e ela afastou as mãos dele. —Deixe-me em paz, Quinn. Você não age como você se importasse.

Camille atravessou a sala para ficar na janela. A luz do sol iluminou seus traços pálidos quando ela cruzou os braços sobre o peito. —Diga a ela, Quinn.

—Dizer-me o que? — Helena passou os olhos de Quinn para Camille.

—Passei a noite como prisioneiro de Edmund, mas ele me libertou.

O queixo dela se abriu. —Ele está bem?

Ele cobriu a mão dela com a dele. —Ele está bem. Ele ainda está com os rebeldes. — Sua boca torceu. —Eu só queria que ele não tivesse trazido um reino estrangeiro para isso.

—Reino estrangeiro? — Dessa vez, foi a vez de Camille se surpreender. Ela se virou da janela, deixando os braços caírem ao lado do corpo. —Bela está aqui?

Helena não podia ignorar o fato de não suspeitar que fosse Gaule. Ela sabia que sua mãe não enviaria ajuda.

O alarme tocou na mente de Helena. —Etta? Ela está aqui? —Isso significava... Dell. Ela balançou a cabeça, rezando para que Quinn lhe dissesse que não era verdade, mas também esperando que ele confirmasse seus medos. Dell veio atrás dela, mesmo depois de deixá-lo para trás.

Quinn coçou a nuca. —Sim, junto com o rei e o príncipe de Bela.

Um sorriso aqueceu o rosto de Camille. —Eles vieram.

Helena apertou as mãos em volta de um punhado de cobertor. —Bem, corra junto então. Vocês dois deveriam contar a Cole. É o que você quer fazer.

O sorriso de Camille se transformou em escárnio. —O que eu quero fazer é enfiar uma espada em seu coração.

Quinn olhou para a porta como se eles fossem ouvidos. —Sinto muito, Len. Que eu já fiz você duvidar de mim. Que eu já duvidei de mim mesmo. Cole é... ele costumava ser tudo para mim. Antes de chegarmos ao palácio, éramos a única família que qualquer um de nós tinha. Isso mudou para mim. Não para ele. Eu vi os sinais ao longo dos anos. O ódio dele pelo pai e sua mãe. Sua amizade com Ian Tenyson. Ian sempre quis mais poder do que um comerciante poderia ter. Ele não queria chegar ao topo da espiral. Ele queria ser a espiral, tudo o que Madra precisava, o único comerciante que fornecia bens ao reino. Um império digno de um rei.

—Então...— Ela olhou de Quinn para Camille. —Vocês não estão do lado de Cole nisso?

Quando os dois balançaram a cabeça, uma onda de alívio tomou conta dela. Ela tinha mais aliados do que pensava.

—Eu não posso ficar muito mais tempo. — Quinn se levantou. —Cole tem pessoas me observando. Eu só deveria estar entregando Camille para você. — Ele se inclinou para beijar sua testa. —Nós vamos superar isso, Len.

Ela engoliu um soluço quando ele saiu.

Camille foi até a cama. —Vamos, Helena. Eles me enviaram para ajudá-la a se lavar e se vestir para a cerimônia hoje à noite.

—Cerimônia?

Camille assentiu. —Cole convidou os moradores da cidade para vê-lo falar. É para mostrar a eles que a família Rhodipus está intacta e leal ao rei. Ele espera que isso acabe com o movimento rebelde, especialmente depois da noite passada.

—Noite passada?

—Explosões ecoaram pela cidade. Muitas delas. Eu só vi as nuvens de poeira da minha janela, mas elas cobriam a cidade inteira.

Edmund? Ela se preocupava com ele a cada segundo desde que chegara ao palácio. E agora não era só ele. Dell, Etta, Alex, Tyson. Todos eles estavam em perigo.

Como se estivesse lendo seus pensamentos, Camille falou em um tom reverente. —Não acredito que meus irmãos estão aqui.

Helena deixou as pernas caírem ao lado da cama antes de colocar os pés no chão. —Por que deveria surpreendê-la que eles vieram para você?

Camille a encarou com um olhar. —Você não conhece nossa história. Não sei por que eles estão aqui, mas não é por mim.

Pela primeira vez, Helena viu uma solidão na princesa de Gaule que combinava com a sua.

Camille agarrou seu braço e a ajudou a se levantar. Helena tropeçou, mas a outra garota a manteve em pé, colocando o ombro sob o de Helena.

Com a ajuda de sua bengala, Camille a ajudou a entrar no banheiro anexo, onde uma banheira de água fumegante aguardava.

Camille ajudou Helena a pousar na beira da banheira de cobre. —Cole não permitirá que nenhum empregado esteja perto de você. Ele confia em poucas pessoas.

—Por que ele confia em você?

Camille franziu o cenho. —Isso não é importante.

—É para mim.

Um suspiro passou por seus lábios. —Eu apenas digo que Quinn o convenceu e deixo por isso mesmo. Vamos, Helena. Não temos o dia todo.

Foi preciso todo o esforço que Helena possuía para tirar as roupas sem gritar de dor. Ela entrou na água e afundou abaixo da superfície, soltando um gemido, como se simultaneamente acalmasse seu corpo dolorido e picasse onde a ferida abriu sua pele.

Incapaz de levantar os braços o suficiente para esfregar, Camille a ajudou a remover um dia de sujeira de viagem.

—Camille. — Ela sussurrou enquanto a menina esfregava sabão pelos cabelos escuros de Helena.

—O que?

—Eu não entendo muitas coisas. Diga-me o que aconteceu desde que saí.

As mãos de Camille pararam. —Essa é uma tarefa pesada, princesa. Tem certeza de que quer a verdade?

Helena olhou para as mãos. Se ela iria salvar as pessoas que amava, talvez precise fazer algo que nunca pensou ser possível. Remover um de seus irmãos deste mundo. Ela assentiu. —Eu preciso saber o que Cole fez. — Ela precisava saber que ele era verdadeiramente tão mau quanto ela suspeitava.

Camille levantou uma vasilha acima da cabeça de Helena.

—Incline a cabeça para trás. — Ela derramou a água para lavar o cabelo de Helena. —A primeira coisa que ele fez como rei foi consertar a residência real. Seu fogo causou muitos danos. Ele alegou que precisaria estar pronto quando sua família voltasse a morar lá. A maioria de nós pensava que eram as divagações de um homem louco. Não sabíamos que Estevan vivia. A princípio não. Ele foi mantido em uma ala distante do palácio e Cole tinha alguém o interrogando todos os dias.

—Questionando-o sobre o que?

—Segredos do reino. Pessoas que eram leais a ele e ao velho rei. Havia até rumores de túneis ocultos sobre os quais Cole queria informações.

Túneis ocultos? Ela respirou fundo, arrepios correndo ao longo dos braços. Além dela, Estevan e Kassander eram as únicas pessoas vivas que conheciam os túneis. E Edmund, ela supôs. Ele a ajudou a voltar para eles no que parecia ser outra vida.

Camille continuou. —Depois que a residência real terminou, Cole chocou o palácio inteiro ao revelar Estevan e colocá-lo em um quarto lá. Então Quinn voltou. Reed Tenyson o levou ao palácio acorrentado. Algo que Cole ainda não perdoou Reed.

Reed. Helena apertou a mandíbula. Ele tem sido a fonte de muitos dos problemas deles. No entanto... os rebeldes disseram que ele era confiável.

—Depois disso, a mente de Cole caiu ainda mais na escuridão, culpando seu próprio povo pelo fato de você estar morta e não estar voltando. Ele mandou seus guardas virar a cidade em busca de Kassander, embora soubesse que devia ter saído. Os navios não eram mais permitidos entrar ou sair do porto com medo de que ele perdesse outro irmão. Tudo o que ele fez foi manter uma família ao seu redor.

Helena estremeceu e Camille a ajudou a se levantar, enrolando uma toalha em volta do corpo.

Cole sempre se apegou a Helena e Quinn como se o abandonassem um dia. Como se eles morressem como a mãe dele. Ele nunca teve carinho por Stev, mas parecia que tinha mudado.

—Mas então... Por que ele mataria meu pai se ele era tão familiar?

Camille sentou Helena em uma cadeira de encosto alto e passou um pente no cabelo molhado. —Eu não sei, mas...

—Mas o que?

—Não acho que a rebelião tenha sido inteiramente de Cole. Aquele garoto Tenyson é perigoso.

Ela sempre soube que Ian era perigoso. Como dois meninos cresceram juntos e se tornaram tão completamente diferentes? Ian e Dell. Cole e Quinn.

O silêncio desceu quando Camille trançou os cabelos de Helena ao redor da cabeça. Ela mostrou o vestido que Cole havia escolhido para a ocasião. Um simples vestido azul da meia-noite que brilhava nos quadris. A linha do busto caia baixa. Um colar de safira, uma máscara e os sapatos de vidro que ela tanto odiava descansavam ao lado do vestido.

Camille a ajudou a colocá-lo. —Eu devo me arrumar. — Disse ela. —Cole ficará satisfeito com sua aparência. Esta noite é uma grande noite. — Ela deu um último aceno com a cabeça e desapareceu pela porta.

O coração de Helena batia solidamente no peito enquanto ela deitava na cama. O vestido cobria cada hematoma como se alguém os tivesse considerado. A máscara de prata cobriria as marcas em seu rosto, fazendo parecer que nada havia acontecido.

Mas tinha. Nada apagaria as cicatrizes em seu coração ou as imagens em sua mente. O pai dela batendo no chão. O último olhar de medo no rosto de sua mãe. As feridas de Estevan.

Ela veio à procura de vingança, mas agora havia mudado. Somente a vingança a deixaria mais destruída do que era antes.

Ela tinha que proteger sua família. Nada mais importava.

 

Helena sentou-se quando a porta do quarto se abriu e Ian entrou. Ela puxou os joelhos contra o peito, como se isso pudesse protegê-la do brilho duro em seus olhos.

—Eu queria tê-lo sozinha por algum tempo. — Ele sorriu, seus olhos brilhando.

—Deixe-me ou eu vou gritar.

Ian riu. —A única pessoa nesta ala agora, além de você e eu, é seu querido irmão, Estevan, e ele não está em condições de se mexer.

—Por que você está fazendo isso? Não basta roubar meu reino? Minha casa? Meu irmão? O que mais você quer de mim?

—O que eu sempre quis, Helena. — Ele inclinou a cabeça como se fosse óbvio. —Você e eu sempre fomos casados. Eu amo você, Lenny.

Ela balançou a cabeça. —Não me chame assim. Eu nunca serei sua esposa.

—Oh, mas querida, seu pai prometeu você para mim e, em seguida, seu irmão confirmou essa promessa.

Ela rangeu os dentes. —Meu irmão não tem poder sobre mim.

O sorriso dele aumentou. —Gosto das minhas mulheres fortes. Torna muito mais divertido quebrá-las.

Helena escondeu o estremecimento enquanto se levantava.

—Saia do meu quarto.

Os olhos dele se estreitaram em desafio. — Que bom, mas você vem comigo. — Ele se lançou para frente, passando um braço em volta da cintura dela. —Cole me enviou para lhe mostrar uma coisa.

Ela virou a cabeça para longe da respiração rançosa dele. Com uma personalidade diferente, Ian Tenyson teria sido considerado um bom pretendente. Poder, dinheiro, aparência. Ele tinha tudo. No entanto, seu toque fazia sua pele arrepiar.

Ele a puxou para a sala principal da residência e saiu para o corredor. O aperto dele era tão forte que ela não conseguiu se libertar. Segurando a máscara que ele deve ter arrancado, ele apontou para o rosto dela. —Agora.

Ela obedeceu, mas apenas porque não chegaria a lugar algum lutando. Ian a conduziu pelo labirinto de corredores e desceu uma escada antes de parar do lado de fora de uma porta sem adornos. Ele não a soltou quando a abriu.

O coração de Helena caiu em seu estômago. Uma cama estava do outro lado da sala escassa e a forma de um menino dormindo se espalhava sobre ela.

Kassander.

Ela cobriu a boca com a mão.

—Ele será transferido para a residência real quando acordar e for interrogado. — O tom de Ian era presunçoso.

Interrogado. Ela engoliu em seco, sabendo o que aquilo significava. —Que tipo de informação Kass poderia ter?

—Ele foi trazido com um homem reivindicando lealdade ao rei, e o menino é necessário para confirmar as informações que ele nos deu. Não se preocupe, ele está ileso no momento, apenas drogado.

—O que você quer de mim? — Helena sussurrou. —Por que você me trouxe aqui?

—Você pode ajudá-lo.

—Como? — Sua voz era tão pequena que ela tinha certeza de que ele não a ouvira até que ele se virou.

—Diga-me onde estão os túneis.

Os olhos dela se arregalaram. Então, Estevan não contou a eles o maior segredo do palácio? Ela soltou um suspiro trêmulo. Os túneis podem ser sua única saída depois que ela fez o que veio fazer. Isso lhe deu um pequeno conforto que Cole ainda não os havia encontrado. Ainda havia uma informação que ela ainda podia usar.

—Não conheço nenhum túnel. — Ela levantou o queixo, encontrando o olhar dele.

Ele bateu com o punho na parede ao lado da cabeça dela, e ela pulou. —Não minta para mim, Helena.

Ela estreitou os olhos e fechou os lábios.

Ian se abaixou, deslizando uma adaga livre da bainha na cintura.

Eu não vou recuar. Eu não vou recuar. Ele não merece o meu medo.

Ele prosperaria, se deleitaria.

Ele mergulhou a ponta da adaga sob a ponta da máscara e a empurrou para revelar o rosto dela. Arrastando a lâmina ao longo de sua bochecha, ele pressionou a ponta com força suficiente para desenhar uma única gota de sangue.

O peito de Helena subiu e caiu rapidamente quando ele traçou a mandíbula dela com a mão livre, deixando-a vagar pelo pescoço e pela clavícula antes de parar no inchaço dos seios. — Onde estão os túneis, Helena? — Ele sussurrou, aproximando-se.

—Vá para o inferno.

A risada dele vibrou contra a pele dela.

Ela se concentrou na forma adormecida de Kassander por cima do ombro de Ian, rezando silenciosamente para que ele não acordasse. Ela não sabia o que Ian faria com ela.

Aproximando-se para que seu corpo estivesse nivelado com o dela, Ian a empurrou com mais força contra a parede. —Você sempre cheirou tão doce, princesa. — Ele abaixou o rosto e inalou. Mantendo a adaga bem apertada, ele alisou as mãos sobre os lados dela, enviando um arrepio pela espinha.

Náusea surgiu da boca do estômago, mas ela ficou congelada no lugar. Ela preferia que Ian tentasse obter as informações dela do que Kassander.

Lágrimas escorriam pelo rosto dela, mas Ian não pareceu notar quando ele pressionou os lábios no queixo dela. —Onde estão os túneis, Helena?

Ela não falou.

Ian mordeu a pele sensível do pescoço, enviando uma dor aguda por ela. Ela soltou um pequeno gemido, e ele sorriu contra ela, gostando de fazê-la sofrer. —Hoje será o último dia da pequena rebelião. — A mão dele serpenteava até as costas dela. —Eu vou estripar aqueles bastardos. — Seus lábios se moveram para o peito dela, enquanto suas mãos enrolavam seu vestido para deslizar por baixo.

Os dedos pegajosos dele agarraram sua coxa.

—Eu estou esperando por isso há tanto tempo. — Ele a mordeu novamente, e ela segurou um grito.

—Meu irmão vai te matar por isso. — Ela rosnou.

Ian riu. —Cole já disse que você é minha para fazer o que eu quiser.

Ela não disse que ele não era o irmão de quem ela estava falando.

—Mal posso esperar para mostrar minha nova mulher para toda a minha família. — Ele levantou a cabeça para encontrar o olhar dela. —Ouvi dizer que meu meio-irmão voltou para Madra. Acho que ele vai gostar da minha nova noiva, não é?

Dell. Ela fechou os olhos, desejando que as lágrimas fossem embora. Como Ian sabia que ele estava em Madra? Seus olhos encontraram Kassander novamente. O que ele disse? Alguém o trouxe.

Landon. Ela ofegou. Não havia outra explicação. Outro membro de sua família a jurar lealdade a Cole. E ele arrastou Kassander para cá também. Todo o seu corpo tremia quando Ian continuou suas atenções.

—Dell é apenas um garoto, Helena. Diga-me onde estão os túneis e mostrarei tudo o que ele não tem.

Ela empurrou seu peito. —Dell é mais do que você jamais será.

Seus membros se recuperaram do estado de choque congelado, mas a força dele dominou a dela, e a adaga que ele segurava pressionou contra a cavidade de sua garganta.

—Não se mexa. — Ele ordenou.

—Você não pode me matar. — Ela desejou que sua confiança fosse tão forte quanto suas palavras.

—Tão certa disso?

Outra presença apareceu por cima do ombro de Ian, parando na porta com um dedo levantado nos lábios.

Helena quase não conseguia respirar quando uma gota de sangue deslizou por cima do ombro. —Faça. — Ela respirou. — Do que você tem medo, Ian? Cole?

Ian riu. —Cole não me assusta. Você realmente não sabe nada, pequena princesa? Cole foi colocado em seu trono por nós. Eu e-

Suas palavras sumiram quando uma lâmina perfurou as costas de Ian. Ele olhou para baixo em choque, sangue borbulhando de sua boca, antes de tropeçar para trás e cair de lado. O chão acarpetado abafou o som do corpo dele colidindo com ele. A vida carmesim penetrou nas fibras grossas. Helena não conseguiu se mexer. Ela não conseguia desviar o olhar.

Um gemido saiu de sua boca, e então Ian Tenyson estava morto.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade de silêncio, Helena encontrou o olhar perplexo de Reed. Ele se afastou da espada curta que ainda se projetava nas costas de seu irmão. Suas mãos tremiam quando ele as apertou e abriu.

—Eu...— Ele começou, incapaz de expressar o que havia feito.

Helena o observou com cautela, sentindo a dor em seu olhar. Ele sentiu essa dor ao preparar seus homens para atacar Dell? Ou como ele levou Quinn como refém?

—Reed. — Ela levantou a mão para acalmá-lo. —Está bem.

—Eu... Ian. Ele está morto.

As palavras dos rebeldes voltaram para ela. —Você pode confiar em Reed Tenyson. — Ela não sabia se isso era verdade, mas não tinha o luxo de esperar para descobrir. Se ela conseguiria fazer isso, tinha que confiar nele.

—Reed, não podemos ficar aqui.

Ele se sacudiu como se estivesse acordando de um longo sono. —Você está certa. — Seu olhar deslizou sobre o vestido manchado de sangue antes de se estabelecer na forma inquieta de Kassander. —Ele está acordando. Cole me enviou para movê-lo. Você deve mudar. Diga a Cole que houve um rasgo no seu vestido e jogue este na sua lareira. Vou fazer com que meu pessoal venha aqui e limpe... — Seus olhos se fixaram em seu irmão novamente e ele engoliu em seco. —Venha.

Reed foi para a cama e levantou Kassander. —O rei estava esperando até que pudéssemos reunir informações do garoto, mas ficamos sem tempo. Ele gostaria que toda a sua família estivesse ao seu lado dentro de uma hora.

Helena o seguiu até o corredor, consciente do sangue no peito e no vestido. Seu cabelo cuidadosamente trançado agora estava torto. Mas nada disso importava. Ian Tenyson estava morto. O braço direito de Cole. O que ele faria?

Ela não conseguiu se preocupar com as consequências, pois ainda sentia o toque de Ian deslizando pela pele como uma cobra envolvendo seus membros, pronta para lhe tirar a vida.

O homem que passou a vida atormentando Dell se foi.

Ela respirou fundo, caminhando em sintonia com Reed. —Você está bem?

Reed olhou de lado para ela, com um brilho duro nos olhos. —Ian estava chegando. — Sua mandíbula se apertou. —Ele está ameaçando matar nossa mãe por ser uma rebelde suspeita.

—Sua mãe não é leal a Cole?

Reed colocou Kass mais alto em seus braços. —Minha mãe pode ser uma mulher horrível. Mas ela era leal ao rei que lhe dera o poder no conselho do comerciante. Ela não gostou do seu filho pular na estação.

—Lenny. — Kass murmurou quando eles passaram por um bando de criados de olhos arregalados.

—Kass. — Ela pegou a mão dele. —Está bem. Estou aqui. Nós vamos ficar bem.

—Não. Não vamos.

Ela apertou a mão dele enquanto as palavras dele giravam nos recônditos de sua mente, nublando seus pensamentos na escuridão.

Chegaram à residência real e Camille apareceu, mãos nos quadris. —O que aconteceu? — Ela dirigiu a pergunta para Reed.

Reed levou Kass para uma sala vazia. —Ian está morto. — Ele não disse mais nada enquanto desaparecia.

—Não há tempo para explicar. — Helena parou na frente de Camille. —Eu preciso de outro vestido.

Uma vez que Helena tomou banho e se vestiu mais uma vez, Reed se juntou a ela no sofá. —Esta noite é a primeira aparição pública de Cole. Você ficará ao meu lado o tempo todo. Eu não vou deixar nada acontecer com você, ok?

—Por que algo aconteceria comigo?

Ele hesitou por um momento antes de abaixar a voz. —Haverá um ataque rebelde. No caos, teremos nossa melhor chance de derrubar Cole para sempre. — Ele enfiou um punhal minúsculo na palma da mão. —Disseram que você sabe como usar isso.

Ela rapidamente deslizou a lâmina na frente do vestido, olhando os criados que passavam. —Eu posso fazer isso.

Ele assentiu. —Eu sei. — Considerando-a por um momento, ele falou novamente. —Isso não será fácil. As coisas que você verá esta noite...

—O que eu vou ver?

—Cole tem um plano para mostrar às pessoas que detêm o poder em Madra. Era o plano de Ian. Apenas... fique em missão. Lembre-se do que você tem que fazer.

Ela assentiu. —Eu posso fazer isso. — Ela simplesmente não sabia o quão difícil seria.

 

 

 


Capitulo Vinte e Quatro


Lady Tenyson recebeu notícias de dentro do palácio. Catsja se aproximou de Edmund do outro lado do celeiro.

Dell havia visto muitos rebeldes irem e virem a noite toda. Algo grande estava acontecendo e eles não davam nenhuma informação.

Edmund sentou-se onde estava deitado. Ele tirou o cabelo dos olhos. —É o que estamos esperando?

Catsja hesitou. —Edmund...— Ela suspirou. —Não é de Helena.

Dell recostou-se na parede, seu corpo inteiro esvaziando. Ele examinou os estábulos. Beliches estavam colocadas em uma extremidade, com uma mesa no centro. Neles, homens e mulheres pegavam o pouco que dormiam. Uma pesada fechadura de ferro estava pendurada na porta, mantendo as pessoas entrando e saindo. Os rebeldes não confiavam em ninguém.

Debaixo de Dell, o chão de terra batida criava uma cama ruim. A luz da manhã passava pelas bordas das cobertas de janelas escuras enquanto Dell avaliava cada dor em seu corpo. Houve pouco tempo apenas para considerar o que eles tentaram fazer.

Remover um rei do trono não seria fácil.

Edmund demorou-se a levantar-se. Ele estendeu a mão para a mensagem que Catsja carregava. Ela entregou a ele e seus olhos examinaram as palavras enquanto ele caminhava para a mesa, onde uma bandeja de jarros de água, copos e comida simples estava.

Depois de alguns momentos de tenso silêncio, Edmund assustou a todos, batendo o papel na mesa. O estalo da palma da mão contra a madeira ecoou nas paredes de pedra.

Orlo apareceu de uma sala adjacente com os outros a seguir. Todos eles ouviram a comoção, mas ninguém se atreveu a se aproximar de Edmund.

Exceto Dell. Ele se levantou e ficou ao lado de seu amigo. Edmund empurrou o papel para Dell.

O rei convidou cidadãos selecionados ao palácio para assistir a uma manifestação.

Hoje. Quando o sol estiver alto. Essa é a nossa chance.

Use os túneis para obter acesso ao palácio.

Dell parou de ler. —Túneis?

Edmund fechou os olhos. —Eles começam de um dos quartos na ala oeste e saem para a cidade.

—Isso é apenas um boato. — Catsja cruzou os braços sobre o peito.

Edmund balançou a cabeça. —Eu sei onde eles estão. — Ele coçou a parte de trás do pescoço. —Helena deve confiar nele se ela lhe mostrou a localização.

Dell estava prestes a perguntar em quem Helena confiava quando seus olhos examinaram o resto da mensagem.

O rei não permitirá que Helena, Estevan e Kassander deixem este palácio vivos. Você deve vir atrás deles.

R.

—R?

—Reed.

—Eu tenho lhe dito que ele é um de nós. — Catsja considerou Dell friamente.

Sua mandíbula se apertou. Reed não era Ian, mas isso significava que ele era confiável? Provavelmente não.

—O que ele quer dizer com o rei não deixá-los sair vivos? — Ele devolveu a nota a Edmund.

Edmund leu as palavras novamente. —Juro que não achei que ele faria isso. — Ele ergueu os olhos torturados. —Eu nunca a teria deixado ir se achasse que Cole a machucaria. Agora ele tem os três.

—Machucar? Nós nem sabemos o que as palavras de Reed significam! — Dell procurou freneticamente qualquer significado que tivesse Helena voltando para ele.

Orlo grunhiu. —Claro que nós sabemos. O rei terminará com sua família para consolidar seu governo. — Seus olhos se voltaram para Dell. —Ele vai matar os príncipes e a princesa.

Dell se afastou da mesa, virando-se apenas para encontrar Edmund atrás dele. —Saia do meu caminho.

—Não podemos desmoronar agora, Dell. Quero-os de volta tanto quanto você.

—Você leu a nota. Ele vai matá-los.

—Não se o pararmos. — Ele se virou para os outros rebeldes que o observavam. —Prepare-se para sair. — Para Catsja, ele deu ordens diferentes. —Vá para nossas outras casas seguras. Avise nossos irmãos e irmãs rebeldes do que planejamos. Certifique-se de que haja uma presença rebelde nessa manifestação, caso nosso plano dê errado.

—E qual é o seu plano?

Dell finalmente entendeu. Era isso que eles estavam esperando. Ele não esperou que Edmund respondesse. —Nós vamos tomar o palácio.

 

—Nossas informações dizem que o palácio estará quase vazio, pois todos são obrigados a participar da manifestação do rei. — A voz de Edmund ecoou ao longo do túnel escuro.

Dell passou a mão pela parede. Então, era assim que Helena saia do palácio vestida como um menino. Seus pés bateram em uma poça no chão de pedra quando ele imaginou a princesa rastejando na escuridão. Ela estava assustada?

Se não fosse por esse túnel, ele talvez nunca a tivesse conhecido.

Alguém bateu nele por trás, fazendo-o voar para a frente. Seus joelhos bateram em pedra e a dor irradiou por suas coxas.

—Desculpe. — Orlo resmungou.

Dell resmungou e se levantou.

—Shhh. — Edmund levantou a mão para eles pararem.

Rebeldes lotaram o longo túnel, seus passos o único som quebrando o silêncio. Edmund liderou o caminho com Alex logo atrás dele. Etta e Tyson estariam com os rebeldes assistindo a demonstração do rei. Dell desejava estar com eles, mas confiava neles para ficar de olho em Helena. Ele tinha coisas maiores para fazer.

—Há uma porta à frente. — Sussurrou Edmund.

Quando se aproximaram, a magia de Edmund os encobriu em silêncio. Ninguém do outro lado da porta saberia o que os esperava.

Eles pararam de se mover e o pulso de Dell palpitava em suas têmporas. Esperar nunca tinha sido sua força. Em uma luta, ele era um atacante. Rapidez e agilidade ganharam muitas lutas de boxe. Na sua experiência, a hesitação permitia ao oponente atacar.

E sem os números, a vantagem dos rebeldes estava em dar o primeiro passo.

Edmund passou as mãos pela porta.

—A nota dizia como abri-la? — Alex perguntou.

Edmund balançou a cabeça. —Helena também nunca mencionou. Mas... — Sua mão pegou algo, e um pedaço da porta se libertou, revelando uma trava escondida.

Dell exalou aliviado.

Edmund virou-se para enfrentar os rebeldes que aguardavam suas ordens. —Entramos em silêncio e avaliamos nossa localização dentro do palácio. Então nos mudamos para nossas posições e aguardamos o início da manifestação para atacar.

Dell assentiu junto com o resto. No final desta noite, ele teria Helena de volta.

Edmund abriu a porta, levando-os para o que parecia um quarto não utilizado. Móveis cobertos de linho branco estavam no centro da sala. Perto da parede, um padrão vermelho se estendia pelo tapete, como se ninguém tivesse se dado ao trabalho de limpá-lo. O que aconteceu nesta sala?

Edmund fechou a porta depois que a última pessoa entrou e, se Dell não soubesse que estava ali, nunca teria visto. Uma pintura agora substituía a entrada do túnel.

Edmund examinou a parede. —Como eu não sabia que isso estava aqui?

Dell encolheu os ombros. —Sendo que o plano inteiro repousa sobre o rei que cresceu aqui sem saber, eu não me sentiria muito menosprezado. — Ele olhou para cada um dos rebeldes enquanto eles tomavam posições ao longo das paredes. O aço soou quando as lâminas deslizaram livres de seus aprisionamentos. Dell puxou a sua e se posicionou perto da porta em frente a Alex.

Edmund encostou o ouvido na porta e uma rajada de vento os atingiu quando ele puxou todos os sons em direção àquela sala. A concentração forçou seu rosto.

Seus olhos se arregalaram depois de um momento e ele se afastou. —Dentro do túnel. Agora!

Ninguém se moveu antes que a porta se abrisse, disparando pelas dobradiças quando um pesado aríete bateu nela.

Lascas rasgaram o ar, e Dell protegeu a cabeça e o pescoço. Quando ele se endireitou novamente, ficou cara a cara com um homem que ele conhecia em seu intestino em que não podia confiar.

Um dos rebeldes.

Reed.

Ele sorriu. —Olá irmão.

Dell segurou a espada com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Um golpe de espada e ele tiraria a vida de seu irmão. Um pequeno movimento e ele poderia compensar os anos de tormento. Ele olhou para trás de Reed, esperando ver Ian ao seu lado, como sempre.

Como se estivesse lendo sua mente, Reed riu. —Nosso irmão mais velho estava tocando em algo que não lhe pertencia, por isso tenho medo de que ele não esteja mais conosco.

Ian estava morto? As palavras passaram pela mente de Dell, mas ele não conseguiu compreender. Ian não poderia estar morto. Ele estava por trás de tudo. O diabo movendo sua marionete de rei.

Mas Ian nunca foi o esperto. Reed parecia incapaz do mal, e essa era possivelmente a coisa mais genial de todas.

—Você. — Dell respirou. —Foi tudo você.

Reed fez um gesto para seus homens no corredor, e soldados uniformizados invadiram a sala.

Edmund acenou com a mão no ar como se dissesse que a briga acabou. Estava na hora de desistir. Mas os rebeldes não desistiram.

Reed pegou a espada de Dell e ele sabia que lutar com ele seria uma morte instantânea. Ele não seria bom para Helena após a morte.

Um sorriso satisfeito cruzou os lábios de Reed. —Nós superamos vocês, rebeldes. — Ele cuspiu o termo. —Vocês são traidores da coroa de Madra e estão presos.

Os guardas desarmaram todos os rebeldes na sala antes de empurrá-los para o corredor. Edmund ficou quieto.

—Eu deveria ter esperado outra traição sua, Reed. — Dell ainda não conseguia entender o fato de que esse era o irmão capaz de tanto mal. Como ele não viu isso acontecer? De Ian, sim. Nunca Reed.

Mas esse era o brilhantismo plano de Reed, não era? O irmão dele não respondeu com nada além de um sorriso satisfeito. Ele pensou que havia derrotado Dell. O que ele não entenderia era que Dell nunca pararia de lutar enquanto Helena estivesse naquele palácio.

Ele encontrou os olhos de Edmund, sabendo que pelo menos uma outra pessoa faria o que precisava ser feito. Ele não estava sozinho em amar um irmão Rhodipus.

Alex caminhou ao lado dele, não reconhecido por Reed. O que ele faria se soubesse que acabara de prender o rei de Bela? Ou que a mítica Persinette Basile os esperava?

Um sorriso curvou os lábios de Dell. Reed não conhecia os problemas que convidou para si mesmo. Dell só precisava permanecer vivo por tempo suficiente para ver a retribuição.

 

 

 


Capitulo Vinte e Cinco


O som repugnante de uma lâmina batendo na carne subiu acima do barulho da multidão que foi forçada a assistir à demonstração do rei.

Era assim que Cole queria solidificar seu poder. Medo. Brutalidade.

A multidão havia murmurado em confusão quando a família real marchou lado a lado. Helena e Estevan deveriam estar mortos.

Essa confusão rapidamente se transformou em horror quando o plano do rei ficou claro.

Cole queria colocar Estevan de joelhos.

Helena se encolheu, mas se recusou a desviar o olhar quando uma nova faixa de vermelho marcou as costas nuas de Stev. Dois guardas rasgaram a camisa do corpo.

Helena olhou por cima do ombro, procurando alguém para trazer Kassander adiante. Reed disse que o traria assim que o garoto acordasse, mas Helena estava começando a se perguntar se Cole sabia da presença do irmão mais novo. Ele não fez menção a isso. Ian pretendia manter Kassander em cativeiro para ganhar vantagem contra Cole?

Não pela primeira vez, Helena mandou agradecimentos silenciosos a Reed. Ela sabia o que teria acontecido se ele não estivesse preparado. Ela não queria confiar no homem, mas ele provou ter seus melhores interesses no coração.

Onde estavam os rebeldes? Reed enviou uma mensagem sobre os túneis e Helena esperava que invadissem o pátio de dentro do palácio.

Havia uma plataforma na base dos degraus que levavam às portas do castelo, erguidas para esse fim. O pátio que abria a distância do palácio até os portões era vasto e cheio de tantas pessoas que eles mal conseguiam se mover.

Cada vez que um suspiro horrorizado se levantava da multidão, Cole voltava os olhos ardentes para eles, e eles se aquietavam. Era isso que ele queria. Horror. Dor. É o que ele achava que Estevan merecia.

Era melhor do que as mortes que ele havia dado aos pais.

O rosto de Stev tenso com suas tentativas de não gritar. Ele não daria a Cole essa satisfação.

Um arrepio atingiu o corpo de Helena e ela abraçou os braços.

Uma presença apareceu ao lado dela, e ela olhou de soslaio para Reed.

—Eu vou parar com isso. — Reed se adiantou.

Helena agarrou o braço dele. Não. Ela fixou os olhos no rosto de Estevan. Se Cole não completasse o que achava necessário, apenas o faria novamente. Isso nunca acabaria.

—Helena, isso não está certo. Cole está fora de controle. Não podemos mais esperar que os rebeldes cheguem.

Ela levantou a mão e sentiu o peso sólido do punhal que deslizou em seu corpete. Mesmo enquanto observava o chicote atravessar o ar antes de se conectar, ela não sabia se poderia matar o irmão. Era tão fácil pensar em vingança pela segurança de Bela. Agora, o pensamento do que ela deveria fazer quebrou algo dentro dela.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas nos olhos.

—Lenny. — Disse uma voz suave atrás dela. Quinn estava com uma expressão de desespero nos olhos. Ele desviou o olhar para Reed, desconfiado nas íris escuras, antes de voltar para ela.

—Quinn. — Um soluço escapou de sua garganta, mas ele não se mexeu para tocá-la. Não na frente do resto da guarda. Ele teve que permanecer frio. Leal a seu irmão gêmeo.

—Você não deveria assistir.

—Eu preciso. — Ela fungou. — Por Stev. Por mim. Eu preciso ver tudo o que Cole faz. Ele tem que ser o monstro, senão...

—Eu sei. — Ele se inclinou, abaixando a voz para que apenas ela pudesse ouvir. —Houve uma prisão em massa dentro do palácio.

Ela respirou fundo. Dell. Edmund. Todo o seu plano estava nos rebeldes que estavam lá. Mas como eles foram encontrados?

Antes que ela pudesse perguntar a Quinn, ele voltou a ficar em atenção com o resto da guarda. Camille assistia por perto, um guarda de cada lado dela. O rosto dela não demonstrava emoção.

Os rebeldes haviam entrado pelos túneis. Eles deveriam ter conseguido entrar no palácio sem serem vistos e se espalhar, derretendo entre os funcionários. Edmund conhecia o palácio tão bem quanto qualquer um.

O plano deles deveria ser imparável.

Como foi parado?

Seu coração afundou quando a realização penetrou nela. Eles falharam. Ela nunca tiraria seus irmãos do palácio agora. A menos que... Ela tocou o aço frio da lâmina e fixou os olhos em Cole.

Quanto tempo ela teria? O olhar dela foi para os guardas. Ela só teria uma chance. Se ela errasse... mas Helena nunca errou.

Uma cabeça loira apareceu no meio da multidão como se o rosto da rainha belaena chamasse Helena. Etta? O que ela estava fazendo lá?

Ao seu lado, Tyson se levantou, absorvendo todos os movimentos. Ele estava pronto.

Eles vieram de Bela para ajudá-la, mas e se tudo tivesse sido por nada? Assim que a adaga deixasse sua mão, ela seria cercada por guardas que não hesitariam em matá-la.

Um estrondo alto ecoou. Sangue derramou pelas costas de Estevan, manchando o chão a seus pés. As cordas ao redor de seus pulsos o seguravam no lugar. Ainda assim, ele não gritou.

Cole puxou o braço para trás, uma expressão sombria no rosto. Ele parecia como se suas ações o machucassem tanto quanto machucaram Stev.

O pensamento enviou um raio de raiva através de Helena.

Quando o primeiro grito de Stev rasgou o ar, rasgou Helena, deixando-a de joelhos enquanto lágrimas escorriam pelo rosto.

 

Reed desapareceu assim que alinharam os rebeldes contra a parede, com os pulsos amarrados. Uma unidade inteira de guardas os observava, armas prontas.

Dell olhou para a ponta da espada apontada para o rosto dele.

—Você realmente sente a necessidade de estar tão perto, companheiro? Não acha que você poderia nos pegar com um pouco mais de espaço? — Ele sorriu. —Entendi, você é lento.

Em resposta, o guarda colocou um pé e bateu o outro no peito de Dell.

Dell soltou um grunhido de dor. —Isso vai machucar.

—Dell. — Edmund assobiou. —Cale a boca por um segundo. Estou tentando me concentrar. — Sua sobrancelha enrugou com o esforço.

Alex encontrou o olhar confuso de Dell e expressou a palavra “mágica”. Para alguém que não tinha crescido em torno do poder, isso não parecia uma possibilidade, mas agora Dell entendia. Assim como ele fez quando eles saíram do túnel, Edmund estava usando o movimento do ar para puxar o som na direção deles.

Seus olhos se arregalaram e ele balançou a cabeça.

—Edmund. — Alex cutucou-o. —O que é isso? O que você ouviu?

Ele engoliu em seco. —Estevan... a demonstração. Cole está mostrando as pessoas que controlam a cidade, enfraquecendo Stev. Ele está... —Ele balançou a cabeça novamente, incapaz de continuar.

—Você ouviu Reed? — Dell se inclinou para a frente, tomando cuidado para evitar a lâmina do guarda.

—Ele chegou ao pátio.

—Oi. — Um dos guardas gritou. Ele deveria estar no comando. —Sem falar, seus bastardos rebeldes sujos.

O rosto de Edmund ficou vermelho até que ele parecia explodir. Alex tentou colocar a mão em seu braço para acalmá-lo, mas seus pulsos amarrados impediram o gesto.

—Edmund. — Dell sussurrou. —Você está bem?

Dell quase se esqueceu da presença de Orlo até ele falar. —Não seja idiota, Tenyson. Nenhum de nós está bem. Somos prisioneiros porque seu irmão... —Ele não terminou sua sentença quando um guarda o chutou.

Orlo agarrou o pé do guarda no ar e puxou com sua força bruta. O guarda desmoronou para frente e tentou erguer a espada para se defender de Orlo, mas o grandalhão a derrubou e esmurrou o guarda antes que qualquer um dos outros pudesse detê-lo.

O capitão gritou para seus homens se moverem, mas quando se lançaram sobre Orlo, uma explosão de poder irrompeu de Edmund, lançando-os contra a parede oposta. Um túnel de ar os mantinha congelados no lugar.

—Pegue a espada dele, Orlo! — Dell gritou.

Orlo segurou a lâmina entre os joelhos e cortou a corda que amarrava os pulsos antes de passar para ajudar Dell.

O poder de Edmund se manteve firme quando eles libertaram os outros rebeldes. Dell cortou as cordas do homem mágico.

—Vá. — Ordenou Edmund, apontando a cabeça em direção ao corredor.

—Você não vem?

—Eu tenho que mantê-los aqui até que minha mágica falhe. — Ele olhou para Dell. —Stev e Helena precisam de você.

Dell não hesitou mais. Ele saiu correndo pelo corredor, passando por criados atordoados. Nenhum deles se moveu para parar os rebeldes trovejantes. Dell nunca pensou que seria um conforto ter Orlo ao lado dele, mas confiava na capacidade de luta do homem.

—Edmund vai ficar bem. — Alex estava falando mais consigo mesmo do que qualquer outra pessoa.

Orlo grunhiu. Dell manteve sua mente focada no que estava à sua frente. Ele tinha que confiar em Edmund para se cuidar.

—Deixe-me ir. — Um grito ecoou do corredor que levava em direção à entrada aberta. —Por favor.

O coração de Dell se apertou quando ele girou nos calcanhares, procurando freneticamente a fonte. A última vez que viu Kassander, ele foi embora com Landon, um homem em quem eles confiavam.

Landon apareceu, arrastando o garoto atrás dele. Eles chegaram à porta antes que Dell pudesse forçar seus pés a se moverem. Eles entraram no pátio com colunas.

Dell foi atrás deles. Os degraus que levavam aos portões estavam cheios de pessoas. Um grito rasgou o ar, e Dell rasgou a multidão, sua espada ainda embainhada. Ali, na base dos degraus, estava Estevan Rhodipus. O homem que uma vez intimidou Dell com um único olhar. Naquele dia, a loja de Mari parecia tão distante agora, como sangue derramado nas costas do príncipe.

Uma fila de guardas murmurou entre si, apontando para onde Dell estava com Alex e Orlo nas costas. Quatro deles se separaram, liderados pelo próprio Quinn Rhodipus.

O olhar de Dell saltou ao redor da cena enquanto seu pulso acelerava. Ele torceu as palmas das mãos suadas ao redor do punho da espada. Ninguém jamais apostaria nele em uma luta de espadas.

—Espero que você saiba como usar essa coisa. — Disse ele a Alex.

Alex fez uma careta. —Temos que sair daqui.

Dell balançou a cabeça, seu olhar retornando a Estevan. Edmund sobreviveria a perdê-lo novamente?

A comoção por perto chamou sua atenção quando uma garota mascarada caiu de joelhos. Uma mistura de emoções girou no peito da Dell. Exaltação por vê-la viva. Alívio, ela parecia ilesa. Angústia pela visão que ela foi forçada a testemunhar.

Ele queria ir com ela. Para protegê-la da crueldade de Cole. Mas ela provou não precisar de um escudo, apenas um punhal nas mãos. Ele viu o brilho do metal deslizar da manga dela e desviou os olhos para Cole.

Alex o puxou de volta da cena, sacudindo a cabeça na direção dos guardas que chegavam. Quinn disse que estava do lado deles, mas seu rosto era o do rei, e dizia para ele fugir.

Antes que ele tivesse uma chance, um suspiro se levantou da multidão e o sangue foi drenado do rosto de Dell.

O que Helena fez?


Capitulo Vinte e Seis


Quando perguntada sobre esse dia, Helena não se lembraria dos pensamentos que passavam por sua mente. Ela não se lembraria do que a levou a mudar de direção ou como se seguiu o caos.

Tudo o que sabia era que um irmão se tornara um espetáculo para manter as pessoas na linha e outro empunhava o chicote, a força sanguessuga da pessoa mais forte que ela conhecia, um chicote de cada vez.

O único grito de Estevan ecoou nos recônditos de sua mente, quebrando cada parte dela em que tocava. Mas esse era o problema do vidro. Era mais perigoso quebrado do que inteiro. Mais nítido. Mais mortal.

Um movimento chamou sua atenção de onde ela ainda estava ajoelhada nos degraus. Kassander apareceu, seus olhos encontrando os dela antes de se fixar em Estevan. Mas ele não chorou.

Ele não fez barulho quando Landon o empurrou para frente. Sua expressão não mudou quando Reed puxou seu braço para puxá-lo para o lado.

Fogo queimou em Helena. Ela desviou o olhar de Kassander, prisioneiro, para Quinn enquanto ele se separava da guarda. Eles pousaram em Cole, de pé sobre Estevan, seu peito subindo e descendo rapidamente enquanto ele ofegava com o esforço. Stev ficou quieto.

A fúria que ela sentia desde o dia em que Cole traiu a família permaneceu como uma linha de poder explosivo, esperando que alguém a incendiasse. Explodiu através dela, sem controle, fora de controle.

Ela soltou a adaga, sabendo que só teria uma chance de atingir seu alvo. O homem que esteve por trás de toda a dor dela.

Ele pensou que quebraria uma princesa, quebraria um reino e evitaria os cacos de chuva.

Ele estava errado.

Helena fechou os olhos por um momento. Inspire. Expire. Ela acalmou o ritmo cardíaco, encontrando um lugar de paz para se concentrar.

Sua mãe a ensinou a nunca esperar precisão enquanto as emoções conduziam suas ações.

E eles mataram sua mãe porque os homens queriam se elevar acima de suas estações. Compreender até os limites do poder que eles não entendiam e não mereciam.

O poder mantido em crueldade era apenas uma fraqueza disfarçada.

Quando seus olhos se abriram, ela levantou o rosto para o sol quente, deixando o som do chicote de Cole desaparecer de sua mente.

Com um último suspiro, ela se levantou com a agilidade dos maiores boxeadores de Madra, girando nos calcanhares e estalando o pulso quando seus dedos soltaram a lâmina. Ela não assistiu enquanto navegava de ponta. Fechando os olhos mais uma vez, ela não os abriu até que um grito percorreu as fileiras de guardas enquanto eles lutavam para pegar um superior caído.

Sua adaga havia encontrado o alvo pretendido.

Ela se virou, fixando os olhos no irmão que estava congelado, chicote no ar.

Alguém bateu em Helena, enviando-a rolando escada abaixo enquanto uma flecha navegava pelo espaço em que ela estava de pé.

Ela empurrou o homem em cima dela. Se eles quisessem prendê-la, ela não iria sem luta.

—Len, pare.

Ela parou as mãos, enfocando finalmente o rosto do homem.

—Dell. — Ela respirou o nome dele e tudo, desde os últimos momentos, atingiu sua força total. Um soluço rasgou seus lábios. —Eu matei seu irmão.

Dell rolou e a puxou para ficar de pé para evitar ser pisoteada. Uma onda de água, puxada do rio, quebrou a multidão, e os gritos se intensificaram.

Tyson estava lá.

A respiração dela veio rapidamente até que parecia que não havia ar no peito. Ela ofegou, tentando sugar oxigênio ao ver o que tinha feito. Kassander estava preso sob a forma imóvel de Reed. A adaga que Reed lhe dera agora se projetava do peito de seu dono.

Sangue escorria através de seu casaco.

Olhando para a multidão, ela notou que Cole havia desaparecido.

Os combates começaram perto dos portões.

—Os rebeldes estão aqui. — Disse Dell em seu ouvido.

Ela mal o ouviu enquanto corria para onde Alex libertou Kassander. O irmão dela chorou quando a viu.

Ela o apertou contra o peito. —Fique comigo, Kass. — Ela procurou a multidão. —Eu preciso de uma arma.

Alex se inclinou, puxando a espada de Reed da bainha na cintura, entregando-a a ela. Ela não parou para agradecê-lo enquanto empurrava a multidão, descendo as escadas para onde Estevan lutava contra os laços que prendiam seus pulsos e tornozelos.

Ela ficou tão aliviada ao vê-lo se mover, que quase jogou os braços em volta dele. Quando ele gritou e ficou parado, ela pensou que morreria junto com ele.

Ao toque dela, ele se encolheu. —Stev, sou eu.

O corpo dele relaxou. —Len.

—Sim, é Len. Vou tirar você daqui. —Ela olhou rapidamente por cima do ombro para onde uma fila de guardas se aproximava, armas prontas.

—Precisamos levar o prisioneiro de volta ao palácio para sua própria segurança. — Disse um deles.

Helena sabia o que eles queriam dizer. Eles tinham que garantir que ele não escapasse.

Ela abriu a boca para falar, sabendo que Dell e Alex não seriam páreo para todos eles.

Mas outra voz interrompeu. —Não podemos deixar você fazer isso.— Quinn entrou na frente de Helena.

—Senhor. — O guarda encarregado estreitou os olhos. —As ordens do rei...

—Cole Rhodipus não é o rei de Madra; — Disse Helena, com a voz alta e clara. —Ele é um usurpador que assassinou seu próprio pai por poder. Reed e Ian Tenyson eram seus mestres de marionetes, colocando ideias em sua mente. Quantos de vocês viram a fome nas ruas quando o chamado rei cortou todo o comércio exterior? Quantos membros da família foram presos por serem suspeitos de serem rebeldes quando não eram nada disso? Cole pediu para vocês deixarem para trás tudo o que vocês acreditam? — Ela fez uma pausa, examinando sua audiência. Ninguém se moveu para detê-la.

—A tradição sempre foi importante para Madra, mas foi manejada como uma arma por nossos reis. — Ela ergueu a mão na parte de trás da cabeça, desatando a máscara e deixando-a deslizar para os paralelepípedos abaixo dela. —Isso não significa que não deve ser nada para nós. Esquecemos o que torna Madra boa? O que sempre fez Madra ser boa?

Ela balançou a cabeça. —Não esqueci porque sinto. E vocês também. Nós deveríamos cuidar um do outro. Para cuidar de quem precisa de nossa ajuda, sejam eles madranos ou não. Para proteger nossas terras dos atos de quem faria o mal. — Ela apontou para Estevan. —Isso não é mau? É isso que Madra representa?

Helena enfiou a espada sob a ponta de uma das amarras de Stev. Para sua surpresa, dois dos guardas se moveram para cortar os outros laços. O resto da unidade, junto com um grupo de cidadãos madranos que a ouviu cada palavra se afastar dela, permanecendo como guardas contra qualquer um que levasse Stev de novo.

Quinn cortou a corda final e um gemido borbulhou na garganta de Stev.

Helena examinou as feridas abertas nas costas dele. Reed pode estar por trás do desejo de Cole por poder, mas Cole não era inocente em nada disso. Ele escolheu isso.

E agora ele tinha que pagar.

Ela levantou os olhos para Dell e Quinn. —Encontre o homem que roubou o trono do meu irmão.

 

Quinn insistiu em ser um dos homens para ajudar Stev. Cuidadoso para evitar os cortes nas costas, ele ajudou Dell a levantar Stev, passando um braço sobre cada um dos ombros. Helena estremeceu quando viu o rosto pálido dele.

Sons de batalha circulavam ao redor deles, mas os guardas que viraram para o lado deles criaram uma barreira ao subirem os degraus.

Os rebeldes lutaram contra o povo de Cole enquanto cidadãos comuns lutavam pelos portões fechados, se reunindo contra eles.

Alex seguiu o olhar de Helena. —Alguém precisa abrir aqueles portões antes que os que não desejam lutar se percam. — Seus olhos brilharam quando avistou a mulher que Helena agora via.

Persinette Basile, rainha de Bela, lutava contra dois homens ao mesmo tempo, como se fosse o que ela deveria fazer. Helena a vira em treinamento, mas não era nada disso. As histórias sobre ela se tornaram mais reais. Talvez ela fosse tão forte quanto a figura mítica que eles ouviram nas músicas dos menestréis.

Como se sentisse o olhar do marido, ela olhou para cima, com o rosto iluminado. Sem quebrar o olhar, ela bateu o joelho em um guarda enquanto cortava a espada na parte de trás das pernas do outro. Os dois caíram.

—O portão! — Gritou Alex, apontando para a guarita agora não tripulada.

Esquivando-se de outros pares de luta, Etta levantou os braços sobre a cabeça. Videiras verdes brilhantes disparavam pelos portões do chão. Pedras se desfizeram, fazendo com que os escombros caíssem. Ela puxou as mãos para trás e as videiras se apertaram.

As peças que Cole reparou após as explosões da primeira rebelião não tiveram tempo de se fortalecer. Elas foram as primeiras a cair. Tyson se aproximou de Etta, usando a força de sua magia para puxar a água do chão e impedir que as rochas esmagassem a multidão abaixo.

O queixo de Helena se abriu quando ele parou, e um mar de pedras agora estava onde os portões estavam. Dell foi o primeira a falar. —Ela não poderia simplesmente abrir caminho até a portaria e abri-lo?

Alex riu, um som tão estranho naquele momento. —Isso teria sido mais fácil. — Ele esfregou o rosto. —Vivendo entre o povo mágico, aprendi que eles pensam com seu poder antes de qualquer outra coisa. Acredite ou não, essa é a terceira vez que Etta destrói os portões de um castelo.

Helena balançou a cabeça enquanto se afastava da multidão que empurrava o que agora era um buraco na parede ao redor do palácio. —Vamos.

Ela subiu os degraus dois de cada vez, sabendo que os outros o alcançariam. Alex continuou com ela junto com outro homem rebelde que ela não conhecia.

A luta ainda não havia atingido o interior do palácio e o silêncio bateu neles. Todo guarda que estava de serviço estava fora do meio da batalha. Guardas. Rebeldes. Cada um deles pensou que estava lutando pela alma do reino.

Helena estava lutando por sua família.

Alex olhou para o corredor. —Precisamos chegar a Edmund. — Algo semelhante ao medo passou por seu rosto.

Helena não perguntou por que Edmund não compareceu à manifestação. Apenas algo de extrema importância o teria afastado de Stev.

Ela seguiu Alex até ouvirem o estrondo de aço contra aço.

Guardas inconscientes espalhados pelo corredor e à frente, duas figuras lutavam. Um deles não parecia páreo para o outro.

—Ele está exausto. — Alex respirou. —Ele usou muita mágica.

Ela olhou para os guardas ainda de novo. Edmund tinha feito tudo isso?

Alex saiu correndo e Helena não estava muito atrás. Cole prendeu Edmund contra a parede enquanto Edmund lutava contra seus ataques.

—Você não pertence a este lugar. — Rosnou Cole.

Edmund ergueu o queixo em desafio. Cabelos loiros grudavam na testa e nas bochechas, grudentas de suor. Os olhos dele brilharam.

—Você não os merece.

Cole afastou a espada de Edmund e caiu no chão. Ele se inclinou para frente. —Eu mereço tudo o que tomo.

Helena ainda estava longe demais para detê-lo quando Cole levantou a espada.

—Ele é fraco demais para usar sua mágica. — Alex ganhou velocidade, mas ambos sabiam que ele não conseguiria.

O sangue bombeava por suas veias, e era como se ela pudesse sentir cada pedaço drenar de seu corpo. Não Edmund. Ele era bom demais. Muito leal. Muito bondoso. Cole não poderia levá-lo. Não como se ele pegasse todo o resto. Lágrimas queimaram seus olhos, mas ela não parou de se mover.

—Cole! — Uma voz gritou atrás dela. —Cole, não!

Helena virou tão rápido que quase caiu. Kassander a seguiu para dentro.

Cole congelou, finalmente vendo todos eles. Aquele momento único era tudo o que Alex precisava para alcançá-los. Ele abaixou o ombro, batendo em Cole e enviando os dois ao chão. Ele agarrou o pulso de Cole e bateu contra o chão de pedra até que a espada caiu de suas mãos.

Edmund caiu contra a parede, ofegando por ar.

Kassander passou por Helena.

Alex apertou os braços de Cole. Ele poderia não ter vencido em uma luta de espadas, mas sua força dominou a do falso rei. Helena parou ao lado de Edmund, olhando nos olhos dele. —Você está bem?

Ele assentiu sem palavras, inclinando-se para colocar as mãos nos joelhos.

Cole deu um tapa em Alex na virilha e empurrou-o antes de se lançar para a espada. Ele ficou de pé, encarando todos eles.

Kass ergueu o rosto manchado de lágrimas para o irmão.

—Você não precisa fazer isso.

O arrependimento brilhou nos olhos de Cole, mas desapareceu tão rapidamente que Helena pensou que tinha imaginado. —Você não me deixou escolha. — Ele se endireitou. —Vocês estão presos por traição contra a coroa.

—Traição. — Helena respirou fundo. — E a sua traição, irmão? E quando você traiu a coroa? Quando você vai pagar por isso?

Cole apertou mais a espada. — Seu pai traiu Madra com suas guerras estrangeiras. Eu nos salvei.

—Nosso.

—O que?

Ela levantou a voz. —Nosso pai, Cole. Você pode querer se sentir melhor em matar o homem, mas não há como mudar o fato de que ele era seu pai também. Ele não era perfeito, eu sei. Mas e nós, Cole? Kassander merece ser um prisioneiro no palácio?

Seu rosto ficou tenso de tristeza e ele abaixou a espada levemente. —Eu dei a você toda a opção de ficar comigo. Ser aliados em vez de prisioneiros... e, no entanto, você escolheu esses monarcas estrangeiros e rebeldes de nascimento baixo.

Helena deu um passo à frente contra seu próprio julgamento. —Você matou minha mãe. — Ela deu outro passo. —Chicoteou meu irmão. — Ela parou quando a ponta da espada estava a poucos centímetros de distância. —E levantou os punhos para mim. Você vai me matar agora, irmão?

Uma unidade de guardas entrou no salão e o alívio inundou os olhos de Cole. —Guardas, prenda-os!

Seus longos passos aceleraram enquanto tentavam alcançar seu rei. Helena não desviou os olhos de Cole, apesar da ponta da espada agora tocar seu peito. Um movimento dele e ela estaria morta, incapaz de salvar Kassander e Stev. Não seria bom para Dell.

Mas de que ela era boa para eles se não lutasse por eles? Se ela não engolisse seu medo.

—Prendam eles! — Cole gritou novamente, seus olhos saltando loucamente.

Os guardas com cara de popa pararam de se mover e ficaram parados por um momento, encarando o rei em potencial. O da frente ergueu o queixo. —Cole Rhodipus, entregue suas armas.

O queixo de Cole se apertou e seus olhos deslizaram ao longo da lâmina por um momento antes de dar um passo para trás.

Helena respirou fundo e esfregou o peito no local em que a lâmina havia tocado. Um pequeno ponto de sangue manchava sua pele, pingando no corpete de seu vestido.

Ela viu os sinais segundos antes de Cole fazer um movimento. Helena passou muitos anos assistindo seus irmãos no jogo de espadas. Seus dedos se apertaram, girando em torno do punho como sempre faziam quando ele estava se preparando para atacar. Desde que ele era mais jovem, demorava um pouco para alcançar seu corpo.

Mas não foi tempo suficiente. Tudo o que Helena pôde fazer quando Cole balançou sua espada foi empurrar Alex para fora do caminho.

A lâmina mordeu profundamente o estômago do rebelde que os acompanhava. Sua grande figura tropeçou para trás.

—Orlo. — Edmund gemeu.

—Fique aí, Edmund. — Alex correu para o lado de Orlo quando os guardas entraram em ação.

Edmund tentou empurrar seu corpo enfraquecido contra a parede. As histórias o chamavam de um dos maiores guerreiros da guerra draconiana, mas agora ele não podia lutar.

Helena viu Cole lutar contra dois homens ao mesmo tempo.

Com o coração batendo forte no peito, ela desviou de um guarda quando ele tropeçou para trás, um corte no estômago. Ele caiu no chão quando Helena alcançou Edmund.

—Eu preciso ajudá-los. — Edmund tentou se afastar do suporte da parede novamente e tropeçou para trás.

Helena agarrou o braço dele. —Você só seria morto e Stev não sobreviveria a isso.

Ele levantou os olhos para os dela. —Você o viu? — Ele engasgou.

Helena encostou a testa na dele. —Todos nós vamos sair disso.

Antes que ele pudesse detê-la, Helena se afastou dele e passou pelo guarda que estava segurando Kass da luta. Orlo estava imóvel, com a lâmina ao lado dele. Alex já havia se juntado à luta. Não havia mais ninguém para detê-la.

A princesa de Madra pegou a espada, seu peso estranho nas mãos. Ela rondou em direção a Cole, de costas para ela. Seus braços golpeavam em movimentos fluidos, sem cometer erros.

Mas ele já havia cometido um erro. Ele matou os pais dela e a deixou viver. Ele a subestimou. Ela não era mais a princesa mascarada de Madra, destinada a não ser vista nem ouvida.

Ela viajou por reinos estrangeiros, acompanhada de mercenários. Ela era uma prisioneira, uma guerreira e viu muitas pessoas que amava caírem em perigo.

Não, em todo o seu tempo longe de Madra, ela nunca foi uma princesa.

A ponta da lâmina afundou nas costas de Cole e ela ergueu a voz. —Pare com isso!

Outra coisa que ela nunca foi: uma assassina. Pelo menos intencionalmente. Cole merecia a morte, mas ela não merecia a mordida de vingança. Não mais.

A vingança só a deixou fria e sozinha, fazendo-a deixar as pessoas para trás em sua obstinação. O que Cole fez não a quebrou. Sua busca para destruí-lo tinha.

Mas ela não queria mais ser uma mistura de cacos perigosos de vidro.

Nenhuma pessoa no salão se moveu quando Helena pressionou a espada com mais força contra as costas de Cole.

—Faça isso, irmã. Me mate. Então você não será diferente do monstro que pensa que sou. — As palavras de Cole afundaram nela. Ela não queria ser um monstro.

—Eu deveria. — Ela rosnou. —Você pegou tudo de mim. — Ela girou a lâmina e se inclinou, baixando a voz. —Mas você está errado. Eu não sou você. — Cada vez mais alto, ela disse. —Solte sua espada.

Olhando para os guardas, cada um com suas armas apontadas para ele, Cole obedeceu. Alex chutou a espada fora de alcance e um guarda soltou a adaga do cinto de Cole.

—Traição parece boa demais para você. — Helena o rodeou, sua espada contornando sua cintura até que ela o encarou.

A aparência de Cole não mudou em muitos anos. Se ela fechasse os olhos, poderia imaginá-lo como o irmão que ensinou Kass a lutar ou que usava uma máscara no baile do dia de seu nome em uma demonstração de apoio junto com seus outros irmãos.

—Você já nos amou, Cole? — Ela perguntou, sem ter certeza de qual resposta ela esperava. —Nós já fomos sua família?

Ele engoliu em seco. —Eu nunca parei de amar você, irmã.

Ela fez uma careta. —Sim, você parou. Você parou de me amar no momento em que tirou minha mãe de mim. Não sei por que você fez isso, Cole. Não me importo se Reed e Ian Tenyson forçaram isso a você ou se você estava por trás de tudo. Porque isso não importa. Você é responsável por quebrar Madra.

—Len...— Ele alcançou em sua direção.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas nublando os olhos. —Então, você não morre. Cole Rhodipus, coloco você preso. Assassinato. Traição. Depois desse dia, você nunca mais verá meu rosto. Eu não vou visitá-lo. Se você morrer de doença, não vou chorar. Porque você não é nada. Quando reconstruirmos a posição de Madra no mundo, ninguém pensará em você. Nós vamos ter paz, Cole.

—Isso é tudo que eu queria. — A luta havia deixado seus olhos. —Paz das guerras do pai.

A risada dura de Edmund rompeu os pensamentos de Helena.

—Paz. Você queria paz?

Helena abaixou a espada e apontou para os guardas. —Amarre os pulsos e leve-o embora.

Dois guardas se adiantaram para fazer o que ela mandava, mas antes de chegarem a Cole, ele recuou. Helena virou a cabeça. Uma flecha se projetou da garganta de Cole.

Ele levantou a surpresa. Seus lábios se moveram, mas nada além de um gorgolejo escapou. O sangue escorria de seus lábios, e ele caiu para trás, a cabeça estalando contra o chão duro.

—Cole. — A angústia rasgou Helena quando ela caiu de joelhos ao lado de seu irmão imóvel.

Uma única lágrima escapou de seus olhos, rolando sobre o nariz. Por que ela estava chorando? Cole matou tantas pessoas. Ele quase destruiu a monarquia.

Ele não merecia as lágrimas dela.

No entanto, quanto mais se libertava, ela não conseguiu detê-las.

O irmão dela estava morto. Era o que ela pensava que queria. Lampejos do jovem garoto que ela conhecia piscaram em sua mente. Cole e Quinn chegando ao palácio quando crianças que acabaram de perder a mãe.

Cole a girando em seus braços cada vez que ele retornava de reinos distantes.

Os gêmeos brincavam um com o outro enquanto a colocavam entre eles na sala de estar.

Ela mentiu quando disse que não choraria sua morte. A comoção soou ao seu redor, mas ela não conseguiu se concentrar enquanto acariciava o rosto pálido de Cole. Ele não poderia estar morto. O irmão que a defendeu e a protegeu ainda deveria existir. Algum lugar.

Ou talvez Cole tenha morrido há muito tempo.

Braços a envolveram e ela escondeu o rosto em um ombro familiar. Dell segurou mais forte.

Ela não sabia em que momento da luta ele chegou, mas Quinn estava atrás dele, usando seu corpo para segurar Stev na posição vertical. Ela não foi a única que perdeu alguma coisa. O irmão dele estava morto. Kassander, Estevan e Quinn também perderam Cole.

Ela levantou o rosto para Estevan, que havia derrubado o arco que ele usou para atirar em Cole. Ele viu o que Helena não conseguiu. Enquanto Cole estivesse vivo, a paz pela qual ela se esforçou não seria possível.

Ele fez muito mal.

Estevan tropeçou na parede com a ajuda de um guarda. Um pedaço do coração de Helena se fundiu novamente quando Edmund finalmente conseguiu forças para ficar sozinho. Lágrimas escorreram por seu rosto.

—Eu pensei que tinha te perdido. — Edmund engasgou.

O guarda soltou Stev e ele tropeçou em Edmund, passando os braços compridos em volta dele. —Você os manteve a salvo.

Edmund passou os braços pela cintura de Stev, tomando cuidado para evitar as costas nuas e os ferimentos. —Eu prometi. — Ele apertou suas bochechas. —Além disso, eles também são minha família.

Um soluço sacudiu o peito de Estevan momentos antes de reivindicar os lábios de Edmund com os dele.

Helena tremeu nos braços de Dell, as palavras de Edmund ecoando em sua mente. Eles também são minha família. Ele estava certo.

Ela se afastou da Dell e se levantou, deixando Cole para trás. Quinn recuou, o rosto branco e os olhos fixos no irmão gêmeo.

Helena passou um braço em volta dos ombros de Kassander, e os dois se aproximaram de Quinn.

—Eu dei o arco a ele. — Quinn passou a mão pelo cabelo, o mesmo cabelo escuro que o de Cole. —Eu pensei que Estevan merecia... eu o deixei matar Cole.

Helena pegou a mão dele na dela, acalmando seu tremor. —Foi a coisa certa. — Ela passou o braço livre pela cintura dele. —Não precisamos nos lembrar dele assim. Vamos lembrar o irmão que nunca levou nada a sério.

A risada de Quinn era quase inaudível. —Ele gostava de nos fazer sorrir.

—Ele sempre teve tempo para mim. — Falou Kassander.

Os três ficaram em silêncio até Stev se aproximar. —Ele foi a razão pela qual eu pude ajudar tantas pessoas. Ele roubava as rotas de remessas de alimentos do conselho do comerciante.

Quinn estendeu um braço quando Estevan se juntou a eles. Os quatro eram tudo o que restava de sua outrora grande família. O que agora?

Helena respirou, tentando acalmar seu coração frenético. Ela ainda tinha seus irmãos ao seu redor. Ela tinha Dell e Edmund. Os pedaços de sua alma começaram a deslizar de volta no lugar.

—O que está acontecendo lá fora? — Ela perguntou. Quantos de seu povo estavam mortos?

Como se a pergunta o levasse de volta ao presente, Quinn se endireitou. —Eu tenho que ir. — Ele deu de ombros, abraçou a espada e correu pelo corredor.

—Isso ainda não foi feito. — Helena correu atrás dele.

Do lado de fora, no pátio parecia ter ocorrido uma grande batalha. Os combates pararam e pessoas atordoadas tentaram pegar os pedaços de suas vidas. Alguns choraram por corpos. Outros coletavam espadas dos mortos. Alguns vagavam sem rumo.

Helena procurou para onde Quinn havia fugido e o encontrou em pé com Tyson e Camille. O alívio disparou através dela quando ela viu a princesa ilesa de Gaule.

Etta se aproximou de Helena, um sorriso sombrio no rosto.

—Nós cuidamos daqueles fiéis a Cole muito rapidamente. Muitos dos guardas viraram de lado, mas os rebeldes ainda sofriam pesadas baixas.

Helena examinou os corpos em busca de rostos reconhecíveis. Dell estava atrás dela, curvado sobre o corpo de uma mulher alta.

—Você está com Orlo, pelo menos, Catsja. Obrigado por tudo. — Ele se endireitou e encontrou os olhos de Helena.

Etta continuou falando. —Seu primo, Landon foi preso junto com qualquer traidor que não se virou para o nosso lado. Eles o levaram a algum lugar chamado de buraco dos padres.

Helena fez uma careta, lembrando-se de seus dias naquele lugar úmido. Eles teriam que encontrar uma prisão melhor do que isso.

Quinn e Camille se aproximaram, suas mãos juntas enquanto ela se apoiava nele em busca de apoio.

—Precisamos comprar uma bengala nova para você antes de voltar para Gaule. — Helena apontou para o pé torcido da garota.

A sobrancelha de Camille se enrugou. —Eu não desejo voltar.

—Cam-

—Meu reino assinou um tratado com o seu e pretendo honrá-lo. Gaule e Madra serão aliados.

Helena balançou a cabeça. —Estevan não se casará com você.

—Então é bom que Stev não seja a pessoa por quem estou apaixonada. — Ela retrucou, com o rosto pálido ao perceber o que havia dito.

Helena deu um passo atrás, seus olhos passando de Quinn para Camille e voltando novamente.

A primeira luz que ela viu em Quinn desde a primeira traição de Cole entrou em seus olhos. Ele não sorriu. Levaria um tempo para isso. Mas pelo menos havia esperança.

Quinn assentiu uma vez. —Len, eu gostaria de permissão para honrar o tratado.

Ela levantou uma sobrancelha. —Eu não sou a pessoa que você precisa perguntar.

Surpresa brilhou em seu rosto como se ele não tivesse pensado nisso. Estevan se tornaria rei de Madra - algo que eles nunca pensaram ser possível depois de ouvir sua morte.

Dell afastou Helena. —Você teria feito uma boa rainha.

Ela se irritou. —Eu nunca quis a coroa.

Ele pressionou os lábios no lado da cabeça dela. —Eu sei.

O caos do dia a atingiu repentinamente, enviando uma onda de tontura sobre ela. Dell agarrou seu braço quando ela tropeçou.

—Você está bem? — Ele perguntou.

Ela tentou assentir, mas seu corpo inteiro tremia. —Não. Eu não estou bem. —Ela se afastou dele e subiu os degraus antes de entrar no palácio.

A ala da residência guardava muitas lembranças dolorosas, mas também era onde sua família estava inteira. Onde eles se amaram e se apoiaram. Ela caminhou pelos corredores, cada passo mais pesado que o anterior. Depois que ela subiu as escadas e entrou na casa de sua família, ela sabia exatamente onde precisava estar.

A maioria dos quartos havia sido destruída pelo fogo, mas Cole os havia reparado para parecerem como antes. Ela abriu a porta do quarto onde sempre se sentia segura e meio que esperava que sua mãe estivesse atrás da porta. Ou para Sophia entrar carregando chá.

Ela subiu na cama com dossel idêntica à que sua mãe tinha e afundou nos travesseiros brancos e macios, deixando sua mente demorar no passado para evitar as realidades do presente.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Vinte e Sete


Dell não entendeu como ele chegou onde estava. Crescendo em uma pequena vila, ele não tinha nada além de sua mãe. Quando ela morreu e o pai o procurou, ele não tinha certeza de que sobreviveria à cidade, especialmente com uma madrasta cruel e dois meio irmãos coniventes.

Mas seu pai tinha sido gentil. Em uma única tempestade, isso também foi tirado do garoto assustado. Ele foi de filho devolvido para o menino estável poucos dias após o naufrágio de seu pai.

Ele limpava o convés dos navios, limpava as baias dos cavalos e dormia com os animais. Ao contrário de seus irmãos, ele nunca teve outras ambições além de encontrar uma saída da cidade.

E então ele a conheceu. Ou eles, realmente. Edmund e Helena mudaram sua vida.

Lenny. Ela veio vestida como um menino e aparentemente precisava economizar. Mas ele foi quem precisou ser retirado de sua vida de recém-nascido.

Para ser honesto, ele não teve nenhum problema com seu baixo status, apenas sua família que se recusava a reivindicá-lo como um deles, mas o tratou como se o possuíssem.

Agora, ele era o único garoto Tenyson que restava.

Enquanto atravessava o pátio, um rosto familiar apareceu. Sua madrasta nunca fora gentil com ele. Ela o repreendia e forçava o trabalho a ele.

Mas agora ela não tinha mais nada. Ele engoliu todo orgulho que possuía e se aproximou dela.

—Dell. — Ela levantou os olhos assombrados para ele. —Eu estou contente que você esteja bem.

Ele coçou a nuca e desviou o olhar. —Sinto muito por Ian e Reed.

Ela suspirou. —Aqueles meninos... Eles eram meus filhos. Eu os amava e foi por isso que não contei a ninguém o que eles estavam fazendo.

Os olhos dele se arregalaram. —Você sabia que eles queriam assumir o trono?

Ela hesitou um momento antes de concordar. —Mas eles eram meus filhos. — Seus olhos se arregalaram. —Não posso deixar de me perguntar se eu revelasse os planos deles, talvez ambos estejam vivos agora. Presos, mas vivos.

Dell nunca pensou que sentiria nada além de ódio pela mulher; no entanto, enquanto observava seu rosto afundado, a simpatia entrou nele.

Ela assentiu para si mesma como se estivesse chegando a alguma conclusão. —A princesa fez a coisa certa. Eu sou a mãe de Reed... ou era... mas não era ele. Ele sempre foi o mais perigoso dos dois garotos. Muito inteligente para o seu próprio bem. Mas houve um tempo em que sua bondade era real. Quando pensei que ele tinha escapado... — Ela parou.

—Escapado do que?

Ela esfregou os olhos. — As circunstâncias de ser meu filho. Eu sou uma mulher difícil, Dell. Eu assumo total responsabilidade por Ian. Mas Reed deveria ser diferente.

—Foi por isso que você se juntou aos rebeldes? Você pensou que era sua culpa?

Ela assentiu e desviou os olhos. —Não espero nenhuma compreensão sua. Eu sei o tipo de vida que forcei em você. Mas talvez... apenas talvez... você deva se considerar sortudo. Esta não é a família da qual você queria fazer parte, Dell. Se você era um de nós, pode ter feito escolhas diferentes.

Ele balançou sua cabeça. —Não. Eu não teria. Reed e Ian não fizeram isso por sua causa. Eles poderiam ter sido diferentes também.

Um sorriso triste inclinou seus lábios. —Esse é um bom pensamento, Dell. Eu só queria que fosse verdade. — Ela encontrou os olhos dele mais uma vez. —Seu pai ficaria orgulhoso de você. — Com essas palavras finais, ela se virou e atravessou os escombros dos portões caídos, desaparecendo de vista.

Pela primeira vez, ele viu sua madrasta como apenas uma mulher. Uma mulher que perdeu tudo. Mas ele não podia ser para ela o que seus irmãos eram. Ele tinha outras pessoas que ele precisava esperar. Outros agora chamados de família.

 

Dell se inclinou para frente em sua cadeira para se aproximar da cama onde Helena descansava. Ela não havia se levantado nos dois dias desde a luta, nem mesmo para trocar de roupa. Ele estudou seus traços delicados, manchados de lágrimas. O sangue manchava seu peito lentamente subindo e descendo. Ela não merecia nada que tivesse acontecido com ela, mas se havia uma coisa que a vida lhe ensinara, era que tudo acontecia para torná-lo mais forte.

E Helena era a mais forte de todas.

Ele passou as pontas dos dedos pela bochecha dela.

Fora dessas paredes nos próximos dias, as pessoas retornariam o palácio para limparem máximo que pudessem. O portão levaria um tempo para consertar. A guarda do palácio que uma vez prometeu lealdade a Cole agora se esforçava para remover os corpos dos mortos.

Os rebeldes haviam retornado para suas casas, seguros pela primeira vez em meses.

E as pessoas que suportariam as cicatrizes deste dia pelo resto de suas vidas? Cada um deles tentou lidar com isso à sua maneira. Quinn havia passado a cavalo pelos portões, precisando ficar sozinho para lamentar o homem que fazia parte dele. O gêmeo dele. Seu novo noivado não conseguia tirar a dor dele. Ele não voltou em dois dias.

Estevan e Edmund estavam sendo atendidos por curandeiros durante o dia, enquanto recuperavam suas forças.

Kassander não saiu do lado de Alex.

Vozes vieram da sala comunal e Dell se levantou, caminhando até a porta para ver quem havia chegado.

Edmund recostou-se no sofá, a fraqueza ainda gravada em seu rosto. Alex sentou-se a seus pés com Kass não muito longe.

—Ele está lutando, Alex. — Edmund balançou a cabeça.

—Dê tempo a ele. — Alex colocou a mão na perna do amigo.

—Vou dar a ele o tempo todo no mundo. Ele é o homem... Alex, quando o perdi, perdi um pedaço da minha alma.

Alex assentiu. —Lembro-me bem do sentimento. Toda vez que perdia Etta, isso me rasgava.

Edmund baixou a voz. —Acho que estar aqui só piora as coisas. — Ele passou a mão pelos cabelos e olhou para Kass, que não parecia nem pensar. —Seu próprio irmão o torturou. Como você supera isso? Como você anda pelos corredores e não se lembra?

—Ele não é um homem comum. Não esqueça disso. Estevan será rei. Ele deve passar por isso.

Uma tosse se libertou de Dell antes que ele pudesse pará-la, e os dois homens se assustaram. —Desculpe, apenas vindo ver o que estava acontecendo?

Edmund sentou-se. —Estamos esperando Estevan retornar do curandeiro.

Na ausência de um draconiano com magia de cura, as feridas de Estevan estavam sendo tratadas de maneira não mágica com pomadas e poções.

Dell assentiu. —Como ele está? — Helena e seus irmãos haviam evitado grandes momentos em família nos dias que se seguiram à batalha. Ela mandou a Dell checar Estevan.

—Hoje melhor, eu acho. — Os lábios de Edmund se apertaram. —Pelo menos de corpo.

Nesse momento, Quinn invadiu a entrada, seus cabelos despenteados pelo vento. Ele olhou em volta com olhos selvagens antes de se acalmar e cair em uma cadeira. Camille entrou atrás dele como se estivesse esperando seu retorno.

—Como está a cidade? — Edmund perguntou.

Quinn foi o único que se aventurou além das paredes do palácio. Seu rosto ficou tenso de consternação. —As pessoas são joviais. Elas estão marchando nas ruas para comemorar o fim do reinado de Cole Rhodipus e pedindo que um novo monarca seja coroado.

—Estevan ficará satisfeito com o apoio deles. — Edmund suspirou como se cada lembrete do dever de Estevan acrescentasse mais peso aos ombros.

A sobrancelha de Quinn franziu. —Não é Estevan que eles pedem.

Cada olho na sala agarrou-se ao dele antes que a voz de Helena falasse da porta. —O que você quer dizer, Quinn?

Seus olhos a prenderam no lugar, e Dell jurou que uma pitada de orgulho apareceu nas íris escuras. —Eles querem você, Len.

Ela balançou a cabeça, chupando o lábio entre os dentes. —O que... como... não. Eles não podem. Eu sou apenas a princesa.

Estevan entrou na sala quando todos estavam focados em Helena. Seus olhos o encontraram primeiro, e Dell seguiu seu olhar.

O príncipe se moveu com a marcha de um homem muito mais velho, andando pesadamente como se estivesse com medo de machucar alguma coisa. Ele se sentou em uma cadeira, tomando cuidado para não se recostar.

Todos na sala ficaram em silêncio. Ele ouviu Quinn?

As mãos de Helena tremiam ao seu lado. —Estevan deve nos liderar.

 

Helena não poderia ter ouvido direito Quinn. As pessoas a chamando? Ela nunca foi mais do que um símbolo para eles. A misteriosa princesa mascarada, um ícone da tradição que Madra amava.

Nada mais. Nada menos.

Ela procurou os rostos cansados de sua família quando Etta e Tyson entraram na sala, parando quando perceberam a seriedade ao seu redor.

—Para o que acabamos de entrar? — Tyson perguntou.

Estevan soltou um suspiro. —Meu irmão roubou a coroa que deveria ser minha. Toda a minha vida fui criado pensando que era o meu futuro. Quando ele tirou isso de mim, eu o odiei. — Seus olhos se fixaram em Edmund. —Mas logo percebi que era porque ele tinha levado todo o resto. — Ele se levantou, lutando com cada movimento, e caminhou até ficar na frente de Helena.

—Eu sinto muito.

Ela cuspiu. —O que? Por quê?

Ele procurou os olhos dela. —Eu não vi você. Antes de tudo. Eu te amei e queria protegê-la, mas não a vi. Quem você realmente é. A força que você possui. E então você voltou para mim. Você se entregou para me salvar. Mesmo assim, eu não entendia.

—Entendeu o que? — Ela respirou.

—Você. — Ele colocou a mão no ombro dela. —Mas eu ouvi você. Em seu discurso para os guardas. Você estava certa. A tradição tem sido usada como arma usada pelos reis. Eu tinha esquecido, como você disse a eles, o que torna Madra boa. Se vamos recuperar tudo o que perdemos, não sou eu quem governará.

Ela abriu a boca para falar, mas ele a cobriu com a mão. —Cole não foi o único que danificou nosso reino. O pai criou essas circunstâncias. E eu fiquei ao lado dele. Sim, fiz o que pude para ajudar as pessoas, mas de que adianta alimentá-las um dia quando as políticas do pai significam que elas ainda vão morrer de fome no dia seguinte? Eu deveria ter lutado com ele, mas estava com medo. Do pai. Do sacerdócio. Você nunca teve medo.

Ela empurrou a mão dele. —Stev, você não pode fazer isso. — Lágrimas pairavam em seus cílios. —Você não pode colocar isso em mim.

Ele enxugou uma lágrima do rosto dela com o polegar. —Eu não posso ser o que Madra precisa. Eu não posso ter esperança. Não mais.

—Eu não quero ser a rainha.

Ele assentiu. —Eu sei.

Ela olhou ao redor da sala, procurando alguém para apoiá-la, para dizer a Stev que ele tinha perdido a cabeça.

Mas tudo o que encontrou foi um acordo.

Ela respirou pesadamente, fixando o olhar em Quinn. Ele sempre foi seu aliado - ajudando-a a fugir dos eventos reais e a defendê-la de seu pai. O menor sorriso inclinou seus lábios e ver que era o suficiente para fazer seu coração parar.

Ela soltou um suspiro trêmulo. —Eu nunca vou te perdoar por isso, Stev.

Ele sorriu. —Você irá.

Ele deu um passo atrás, e ela quase desabou sem que as mãos dele a segurassem.

A tradição ainda tinha seu lugar em Madra, e havia até um para isso. Stev levantou uma mão e disse as palavras que todos os príncipes sabiam, mas nenhum falava há gerações. —Eu, Estevan Rhodipus, cedi minha posição na linha de sucessão ao trono de Madra. Esta decisão é tomada com muito pensamento e sem coerção. Madra é um grande reino e aqueles que estão atrás de mim na linhagem de sucessão o conduzirão bem.

O ar esvaziou de seu peito. Foi feito. Com testemunhas. Não havia como voltar atrás. Essas palavras eram tão vinculantes quanto qualquer lei em Madra.

Helena praticamente sentiu-se deslizando para uma nova posição como herdeira do trono. Ela endireitou os ombros e limpou o rosto. Isso não estava terminado. Em Madra, para que um novo líder tome o poder, ele ou ela deve se casar. Ambos os tronos exigiram ocupação. Era outra tradição que Cole exibia.

—Dell Tenyson. — Ela se virou. —Como você se sente sobre o título de príncipe consorte? — O título dele seria simbólico, sem poder real. Ela prendeu a respiração, esperando por uma resposta.

Dell franziu a testa. Não é a reação que ela esperava quando apenas propôs.

Ele balançou a cabeça e atravessou a sala, abrindo a porta bruscamente e desaparecendo de vista.

 

Dell apertou e abriu os punhos enquanto passeava do lado de fora da porta da residência real. A residência real! Quem em seu perfeito sangue esperaria que ele estivesse aqui? Ele não era nada. Ninguém.

Não havia uma única pessoa neste mundo para poupar um pensamento para ele.

Exceto ela. Irritação encorajava sua raiva. Helena tinha acabado de pedir para ele se casar com ela, não tinha? Ele fechou os olhos e encostou a testa na parede. Ele a queria mais do que tudo, mas nunca esperava que Estevan desistisse do trono. Inferno, ele realmente não sabia se eles superariam Cole.

Quando eles estavam em Bela, ele imaginou uma vida simples para eles entre o povo mágico. As colinas verdes do reino outrora esquecido o chamavam em paz.

Uma rainha conhecia verdadeiramente a paz?

Tradição. Era tudo o que importava para a linhagem Rhodipus. Eles quase colocaram Madra no chão em busca de aderir aos costumes antigos. Era declarado que um homem ou mulher solteiro não podia usar a coroa.

Por mais que Helena e Estevan alegassem que eram diferentes de seus antecessores, eles provaram ser apenas o mesmo. E agora, ela esperava que ele se casasse com ela apenas porque ela precisava de um rei.

Não houve emoção na voz dela durante a proposta. Tudo o que ele sentiu por ela... quando o deixou em Bela, ela os separou. Ela não poderia juntá-los novamente por nenhuma outra razão senão uma coroa.

Uma coroa que ela nem queria!

Ele ouviu todas as palavras que Len disse aos guardas e novamente quando ela falou com Cole antes de sua morte. Ele nunca tinha visto isso antes, mas não havia dúvida em sua mente que ela estava destinada a isso. O reino ainda não a conhecia, não da maneira que eles conheciam Estevan.

Mas eles fariam exatamente como ele fez. Ele fechou os dedos em um punho e bateu contra a parede. O momento deles nunca estava certo. Tudo o que ele queria era levá-la para longe daqui. Longe do lugar onde más lembranças corriam desenfreadas. Onde o sangue tinha sido lavado do chão de pedra de novo e de novo.

Um leve toque em seu braço teve seus olhos se abrindo. Ele se afastou de Helena enquanto ela o observava com olhos cautelosos.

Ele respirou fundo, notando a dor que ela usava como um escudo. Ele causou isso. Ele forçou as paredes ao seu redor.

Mas o que ele deveria fazer? Se casar por alguma obrigação equivocada do passado? O sacerdócio estava morto. Eles não mais impunham as regras da vida em Madra.

—Precisamos conversar. — A voz dela era baixa, e ele odiava o tremor nela. A Helena que ele viu nas últimas semanas não vacilava.

Como ela estava diante dele, ela não era mais aquela mulher. Agora ela era a garota que estava nervosamente na margem do rio, torcendo o boné enquanto ele aproximava seu corpo do dela. Ela se tornou a garota defensiva que gritou com ele em uma praia de areia negra sob o calor abrasador do sol.

Finalmente, ele assentiu.

Ela o levou para longe dos ouvidos de sua família do outro lado da porta. Eles desceram as escadas sem palavras. Ele sabia onde ela o estava levando antes de eles chegarem.

O jardim murado não mudou nos meses em que estiveram fora. Permaneceu como um remanescente do que era. Intocado pela guerra que mudou Madra para sempre, sua beleza era reconfortante. Arbustos floridos alinhavam-se nas passarelas com saliências frondosas que os protegiam do sol. Uma brisa fria chicoteou os cabelos dos ombros de Helena e ela abraçou os braços sobre o peito.

Dell tirou o casaco e a colocou sobre os ombros dela.

—Obrigada. — Ela abraçou-o perto.

As mangas da camisa de linho de Dell se moveram quando ele a alcançou. Ele recolocou a mão quando ela lhe lançou um olhar cortante.

Eles andaram pelo caminho sinuoso até um banco de pedra que ficava atrás. Videiras retorciam as paredes atrás deles.

Helena respirou fundo.

—Sinto muito. — Os dois disseram ao mesmo tempo.

Dell abriu um sorriso e fez um gesto para ela falar primeiro.

Ela hesitou um momento. —Eu não deveria ter te colocado no lugar assim. Pedir-lhe uma decisão na frente da minha família foi... —Ela balançou a cabeça. —Eu não sei o que estava pensando. — Nervosismo entrou em seu olhar quando ela se virou para encará-lo com um olhar. —Bem, sim, eu pensei. Eu pensei que você e eu... — Ela fez um gesto entre eles. —Eu pensei que algo que obviamente não era verdade.

Incapaz de se conter, Dell pegou a mão dela. —Helena... Len, eu amo você. Estou apaixonado por você. Por favor, não pense que não estou.

Ela estreitou os olhos, afastando a mão. —Mas você... você disse que não! Pedi que se casasse comigo e você disse que não.

—Primeiro, você nunca me pediu para casar com você. Segundo, quero ficar com você pelo resto da minha vida, seja ela longa ou curta. Estou perdido para você desde o momento em que você me encarou quando eu estava nu no rio.

A boca dela se abriu. —Eu não olhei para você. Eu... você...

Um sorriso inclinou um lado de seus lábios. —Está tudo bem. — Ele se inclinou, pressionando seus lábios nos dela. —Eu cobicei você quando você estava na margem do rio, pingando água e selvagem.

Ela colocou a mão no peito dele para afastá-lo. —Então por que você não se casa comigo?

—Eu vou me casar com você, Len. Um dia, vou me casar com você. Mas não será preciso seguir uma tradição em que você nem acredita.

Ela suspirou. —Nenhum monarca de Madra reivindicou o trono solteiro. É lei.

Ele baixou a cabeça para olhar diretamente nos olhos escuros dela. —Também é lei neste reino que uma princesa deva ser mascarada até seu décimo oitavo dia de nome. Você planeja obedecer isso com sua própria filha?

Ela ofegou. —Claro que não.

—Então essa lei também pode ser mudada. Len, você não precisa de um rei ao seu lado para ser uma rainha. Você pode liderar seu pessoal por conta própria. Eu sei que você pode, porque acredito em você, e eles também.

—Sozinha? — Ela engoliu nervosamente.

Ele segurou a bochecha dela na palma da mão. —Você é forte o suficiente para isso. Não deixe ninguém lhe dizer que você não é.

Ela encostou a testa na dele. —Acho que Stev vai me deixar.

Ele assentiu contra ela. Ele tinha suas próprias suspeitas. Edmund e Estevan retornariam a Bela com Etta, Alex e Tyson.

—Você não vai me deixar também, vai?

—Nunca. — Ele respirou.

Ela pressionou um beijo hesitante nos lábios dele. Ele respondeu instantaneamente, passando os braços em volta da cintura dela para puxá-la para ele. Ela se encaixou contra ele como se fosse onde ela sempre deveria estar. Os braços dela envolveram seu pescoço enquanto ela aprofundava o beijo.

Desta vez, não era o fogo ou a paixão que os unia. O calor e o conforto de saber que eles sempre os envolveriam, permitindo que eles tomassem seu tempo, para saborear um ao outro.

Dell beijou um caminho para o ouvido de Helena. —Eu te perdoo por me deixar.

Ela se inclinou para trás, um sorriso nos lábios. —Estamos de volta a isso agora?

Ele encolheu os ombros. —Você não precisava de mim. Eu vejo isso agora.

—Você está errado, você sabe. — Ela colocou a mão no rosto dele para transformá-lo de volta no beijo e falou contra os lábios dele. —Eu sempre vou precisar de você. Não importa o quão forte você pense que eu sou, ou quantos guardas tenho nas minhas costas, você é tudo que eu preciso.

Ele cantarolava no fundo da garganta, sabendo que ela era tudo para ele. A melhor amiga dele. Sua amante. A rainha dele. Até a própria vida.

Eles travaram batalhas e quase morreram. Eles enfrentaram traições e perderam pessoas que amavam. No entanto, eles não foram quebrados. Os cacos de vidro haviam sido colocados no fogo, derretidos e endurecidos em algo mais forte do que o que havia antes.

 

 

 

 

 

 

Epilogo


Helena estava na frente de um retrato de sua mãe. Chloe Rhodipus parecia radiante no dia de sua coroação. Seu casamento e coroação ocorreram no mesmo dia. Foi um casamento de aliança como o de Stev e Camille.

Camille estava ao seu lado em um vestido amarelo discreto, mas elegante. —Apenas meses atrás, era para ser eu. — Ela deu a Helena um sorriso de lado e se apoiou pesadamente na bengala. —Se Cole não tivesse traído a coroa, eu me casaria com Stev e me tornaria rainha de Madra.

Helena se encolheu com a lembrança do único irmão que não estava lá durante o maior dia de sua vida. Nas semanas após a morte dele, ela tentou perdoá-lo, deixar de lado a raiva, mas isso significava deixar a tristeza entrar.

O que sua mãe pensaria dela neste dia? Ela achatou as palmas das mãos contra o azul brilhante de seu vestido ornamentado. Rendas em prata enroladas caiam no corpete. Não era diferente do vestido que ela usara em seu baile de nome.

Ela tocou o rosto como se tornara um hábito, procurando o tecido que faltava em sua máscara. Mas ela não era mais a princesa enjaulada.

—O que você fez — Ela começou, —Quando Alex abdicou do trono de Gaule e você se tornou a herdeira de sua mãe?

Camille riu. —Eu amaldiçoei meu irmão.

Helena riu. Ela fez o mesmo em seus momentos de solidão.

—Eu imagino que ela precisará de um novo herdeiro. — Camille suspirou. —Agora que devo ficar em Madra.

—Quinn pode voltar para Gaule com você, caso você decida sair.

Ela balançou a cabeça. —Ele não deseja e nem eu. Eu não sou... amada em Gaule. Porém, minha mãe também caiu em desgraça. Eu imagino que ela nomeará Tyson o herdeiro. Ele pode não ter sido filho do meu pai, mas minha mãe é rainha agora, então sua linhagem é real.

Uma risada se libertou de Helena. —Ty já sabe disso?

Camille sorriu tristemente. —Saberíamos se sim, porque ele teria afogado todo o reino de Gaule com sua magia apenas para evitar o trono.

Eles ficaram em silêncio até os passos soarem atrás deles. Quinn passou um braço em volta dos ombros de cada mulher. Helena se inclinou para ele, agradecida por não ter que se despedir de pelo menos um de seus irmãos. Kassander também ficaria, mas ela estava certa sobre Stev. Após a coroação, ele iria embora.

Edmund também ficou para a cerimônia e dizer adeus a ele seria igualmente difícil. Etta, Alex e Tyson já haviam voltado para casa, mas desejavam-lhe tudo de bom. Para sua sorte, Landon levou Vérité aos estábulos do palácio antes de levar Kassander a Cole. Helena duvidava que Etta tivesse saído sem o cavalo.

Kass apareceu ao lado deles e se colocou entre Helena e Quinn.

—Cabe a nós agora, sim? — Ela olhou para Quinn.

Ele assentiu. —Quando o pai se sentou no trono, eu nunca imaginei que teríamos o controle de Madra. Eu ainda me sinto como uma criança neste palácio.

Helena riu disso. Quinn era um general do exército. Ele levou os homens à batalha, mas sempre se sentiu inseguro entre esses corredores.

—Você vai me levar até o corredor? — Ela dirigiu a pergunta para Quinn.

Kass foi quem respondeu. —Claro que vou.

Helena, Camille e Quinn riram.

—Eu vou me sentar. — Camille beijou a bochecha de Quinn e se separou deles.

—Me dê um momento. — Helena saiu de seu abraço e caminhou em direção à porta dos fundos do corredor. Abrindo apenas uma rachadura, ela encontrou Dell imediatamente. Como se sentisse a presença dela, seus olhos se voltaram para os dela. Ela acenou para ele.

Quando ele chegou à porta, ela colocou os braços em volta da cintura dele. —Diga-me que não vou estragar tudo.

Ele riu. —Você não precisa que eu lhe diga isso.

Ela deu um tapa nele. —Você é inútil.

Ele sorriu e a pegou pela cintura. O casaco preto dele era bordado com o mesmo azul do vestido dela. Ele enfiou a mão no bolso e pegou uma pequena escultura em madeira.

Ele segurou a coroa de madeira entre eles. —Você será a melhor rainha que Madra já viu.

Ela pegou a coroa, deixando os dedos deslizarem sobre as curvas suaves. —Como você sabe disso?

—Porque eu te conheço. — Ele pressionou os lábios no lado da cabeça dela.

Música veio da porta aberta, sinalizando o início da cerimônia. Dell saiu para encontrar seu assento novamente, e o corpo alto de Stev substituiu sua presença.

—Obrigado. — Ele acenou com a cabeça em direção a ela. As palavras podem ter carecido de emoção, como a maioria das palavras de Stev nas últimas semanas, mas Helena leu o significado delas.

Ele precisava de um novo começo, longe do lugar onde tantas coisas haviam acontecido. Ele se recuperou dos ferimentos em sua carne, mas os ferimentos em sua mente e seu coração levariam muito mais tempo. Só esperava que ele encontrasse o que procurava em Bela.

O quarteto de cordas tocou mais alto, e as duas portas se abriram, revelando um salão repleto de pessoas. Helena havia assegurado que qualquer pessoa na cidade que desejasse pudesse comparecer à coroação. Com a retomada do comércio exterior, muitas pessoas estavam ocupadas voltando a operar lojas e navios, mas ainda assim muitos chegaram.

Ela respirou fundo quando Kassander entrou no corredor primeiro. Ele caminhava lentamente na frente enquanto Quinn e Estevan pegavam um de seus braços. Camille havia se juntado a Dell e Edmund na primeira fila. Quando Helena os alcançou, seu coração batia tão rápido que ameaçava se libertar.

Ela sorriu para eles quando passou e subiu os três degraus até o estrado que eles construíram para esta ocasião. Um assento para cada realeza repousava na plataforma.

Não havia padres remanescentes para realizar a coroação, mas desde que eles estavam renunciando à tradição de qualquer maneira, não importava.

A música parou e o silêncio se estendeu no corredor.

Helena se ajoelhou quando seus três irmãos se viraram para encarar a multidão.

Estevan falou. —Madra tem sido um reino governado pelo passado. Neste dia, mudamos o destino de nossa terra. Nós olhamos para o que está à nossa frente e não para trás. Helena Rhodipus se torna uma nova tipo de governante, a primeira de uma nova geração. Ela mudará muitas das leis às quais devemos cumprir apenas porque sempre o fizemos. A primeira delas é que um monarca solteiro se sentará no trono.

Seus olhos severos examinaram a multidão. Quando ninguém se opôs, ele se virou para Helena e foi até a mesa na beira do estrado onde havia uma coroa. Não a coroa do pai dela... Ela olhou confusa, mas Stev seguiu em frente.

—Helena Rhodipus, você promete ser uma rainha justa e verdadeira?

Ela assentiu. —Sempre.

—Você colocará Madra em primeiro lugar em todas as coisas?

—Sim.

—Você liderará com compaixão e compreensão? — Essa era uma nova.

—Eu vou.

Stev levantou a coroa. —Esta coroa pertencia a Chloe Rhodipus, nossa mãe.

Helena balançou a cabeça. Ela não reconheceu as gemas azuis ou as peças de ouro.

Stev continuou. —Foi tirada dela quando eu era menino. — Helena ouvira a história. O sacerdócio forçou sua mãe a desempenhar um papel simbólico, em vez de ter um poder real. E eles pegaram a coroa dela? A única coroa com a qual Helena já viu sua mãe era uma tiara delicada.

—Helena Rhodipus. — Stev entregou a coroa a Kass. —Eu coroo você rainha de Madra, um dos seis reinos.

Kassander sorriu quando colocou a coroa na cabeça de Helena. O peso que a carregava diferia do peso da máscara. Aquilo tinha sido uma prisão. Mas a coroa era a liberdade suprema. Ela poderia transformar Madra no reino que sempre deveria ser.

Todos os olhos ali presentes se fixaram nela, pedindo-lhe que tornasse a vida melhor para eles. E ela faria.

Dell estava certo. Uma rainha não precisava de um rei. Um dia, ela teria um. Dell não evitaria o trono para sempre.

Mas, pela primeira vez em sua vida, ela acreditava em suas próprias forças. Ela voltou para Madra determinada a salvar seu povo ou morrer tentando. Quando ela se levantou e se virou para encarar os olhos expectantes de seu povo, ela sabia que faria essa escolha mil vezes mais.

Porque era isso que uma rainha fazia.

Ela levantou a mão para acenar e um rugido de aplausos ecoou nos tetos altos. As pessoas estavam em pé, torcendo por sua nova rainha. O orgulho se espalhou por Helena.

Ela encontrou os olhos de Dell. Quando ele piscou, o sorriso dela cresceu.

Ela talvez não soubesse até aquele momento, mas sempre deveria ficar aqui. A coroa se encaixava nela como se tivesse sido feita para ela. E a aceitação de seu povo a envolveu em uma capa de força, insuportável e imóvel.

Essa era a hora dela.

A hora de Madra.

Uma princesa despedaçada é uma princesa vingativa.
Nas margens de Madra, a rebelião venceu.
Com sua família, morta ou desaparecida, Helena procura ajuda do reino do outro lado do mar. Bela. Ela sabe disso por histórias de magia e guerra, mas agora se vê à mercê da intimidante rainha Belaena. Etta é tudo o que Helena deseja que ela pudesse ter sido para sua família e tudo o que ela espera ser. Convencer a rainha guerreira estrangeira a deixá-la ficar é fácil. Convencê-la a treinar uma princesa que ela mal conhece é algo completamente diferente.
Quando notícias chocantes saem de Gaule, Helena percebe que a luta por Madra não terminou. Está apenas começando.
Dell Tenyson deixou tudo para trás.
Quando a coroa caiu, ele se viu do lado improvável daqueles que tentavam salvá-la.
E eles falharam.
Agora, ele segue Helena através do mar para ajudá-la a recuperar o que perdeu. Não é a coroa. É a família dela.
Mas quando tudo que ela quer é vingança, ele será suficiente para lembrá-la de que ela ainda tem um motivo para viver por algo mais?

 


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Capitulo Um

Trovões dividiram o céu, caindo ao redor de Helena. O rugido ecoou entre as árvores, mas ela não voltou.

A chuva gelada atingiu seu rosto pálido enquanto ela fazia a jornada diária.

Treze longos dias. Eles estavam em Bela há muito tempo, e tudo o que ela sabia era esperar.

—Len! — Dell correu para alcançá-la, seus longos passos combinando com os dela. —Você não pode continuar fazendo isso!

Suas palavras mal conseguiram superar o tamborilar da chuva, mas ela sabia o que ele queria dizer. Não era a primeira vez.

Seus pés ganharam velocidade. —Eu preciso! — Ela gritou de volta.

Um raio iluminou o céu cinzento da manhã.

—Não. — Ele agarrou o braço dela, puxando-a de volta. —Você não precisa.

Ela se virou para encará-lo, empurrando seu peito até que ele a soltou. —Meu irmão está lá fora. Quinn é o único que resta além de mim e Kass.

Ele não disse as palavras que ambos estavam pensando. Ele não precisava. Seus olhos diziam tudo. Se ele não estiver morto. Se ele não se juntou ao lado de seu irmão gêmeo em Madra, então onde ele está?

Ela balançou a cabeça. —Não. Ele virá.

Ela se virou e caminhou subindo a colina até o posto de vigia de Bela.

Antes de traí-los, ela pensou que Cole sempre estaria ao seu lado. Quão bem ela realmente conhecia seus irmãos?

Os punhos cerrados ao lado do corpo. Ela não conseguia pensar assim. Estevan deu sua vida para salvá-la e Kassander, ele era bom demais para trair sua família. Ela os conhecia. Ela conhecia Quinn.

Ele viria.

No topo da colina, uma pequena cabana ficava ao lado de um convés. Helena passara todos os dias excruciantes desde sua chegada, sentada ali. Esperando.

Ela limpou a chuva do rosto e abriu a porta. Aron se virou ao som de sua entrada, um tom sombrio em seus traços bonitos. Sacudindo os cachos castanhos ensopados do rosto, ele a olhou com surpresa.

Dell passou pela porta atrás dela. —Eu pensei que você finalmente ganharia algum sentido e ficaria dentro de casa hoje.

Helena foi até uma das janelas que atravessavam a parede oposta. —Eu nunca afirmei ter bom senso.

Aron assentiu como se essa fosse uma resposta perfeitamente aceitável.

—Eu tentei impedi-la. — Dell torceu a água da túnica pingando.

Helena resmungou.

Uma carranca estragou o rosto de Aron. —Ela tem sua própria mente. Deixe ela usá-la.

Helena mal ouviu a conversa contínua enquanto seus olhos examinavam o campo. Ela nunca viu algo tão bonito como Bela, mas não eram as vastas florestas prósperas ou planícies de flores silvestres que ela procurava hoje.

—Alguma novidade? — Ela perguntou.

—Nada mais do que alguns comerciantes de Dracon. As estradas estão limpas. — Aron se aproximou dela perto da lareira quente. —É improvável que vejamos muito em um dia como esse. Mesmo com meu presente.

Helena nunca se acostumaria com os incríveis poderes existentes em Bela. O presente de Aron lhe permitia ver coisas que os outros não viam, e a grandes distâncias. A rainha Persinette o convocou para assistir ao último irmão de Rhodipus, caso ele não chegasse como um visitante amigável.

Ainda assim, Helena tinha fé em Quinn.

Aron se moveu ao redor da pequena sala com confiança, afastando as cadeiras do caminho enquanto se preparava para acender o pequeno fogo que tentava prosperar na lareira de pedra.

O olhar da Dell continha hostilidade velada. Ele nunca se entusiasmou com o jovem, e Helena sabia que ele não confiava nele. Por outro lado, ele não confiava em nada em Bela, para seu aborrecimento.

Helena não poderia culpá-lo por isso. Ela achava difícil acreditar em Persinette e Alexandre que eles não tinham outro motivo senão ajudá-los.

Aron virou-se da lareira. —Eu realmente deveria voltar para fora.

—Mas está chovendo lá fora. — Helena apontou para a janela.

—Tenho um trabalho a fazer e vejo muito melhor lá fora. Minha rainha me confiou isso e farei o que devo. — Ele abaixou a cabeça uma vez antes de escorregar quando outra trovoada sacudiu as paredes.

—Aquele homem é louco. — Dell lançou os olhos para a janela.

Helena não pôde discordar. O povo de Bela tinha uma lealdade inabalável ao rei e à rainha. Ela não viu nada assim. Isso era... não natural. Em Madra, as pessoas obedeciam ao pai, mas apenas porque temiam o que aconteceria se dissessem.

Cole estava agora governando com os mesmos métodos?

A raiva queimou seu sangue quando ela pensou em Cole. A respiração dela entupiu a garganta. —Não posso ficar aqui. — Antes que Dell pudesse detê-la, ela correu para a tempestade, finalmente capaz de respirar quando estava do lado de fora. Ela caiu de joelhos, seu corpo inteiro tremia quando as imagens voltaram para ela.

Chamas. Chamas. Elas percorreram a visão de Helena até que ela não viu mais nada.

Morte. A família dela estava morta. Mãe. Pai. Um soluço ficou preso em sua garganta. Estevan.

Braços a envolveram, mas não conseguiram segurá-la.

Seu cabelo de ébano grudou nos lábios quando ela respirou fundo. Uma única rebelião destruiu tudo o que conhecia em uma noite. Tudo isso era realmente tão frágil?

—Helena. — As palavras de Dell aqueceram sua pele gelada. —Len, está tudo bem. Você está aqui. Estamos em Bela. Acabou. Não precisamos mais lutar.

Suas palavras eram feitas para acalmá-la, para impedir o pânico arranhando seu peito.

Mas ele estava errado. Nada acabou. A luta deles estava apenas começando.

 

Quando eles retornaram à vila, a tempestade já havia devastado outra paisagem desavisada.

Outro dia. Outra decepção.

Todas as manhãs, Helena acordava com uma pequena esperança no coração de que seria o dia em que Quinn viria buscá-la.

Toda noite, ela ia para a cama com o peso da derrota esmagando-a.

Dell caminhou ao lado dela, um companheiro silencioso. Eles lutavam para encontrar algo a dizer um ao outro. Ambos perderam a família, mas ele não sentia como ela. A família dele não estava morta. Eles se juntaram a Cole em trair o rei, em matar seus pais.

O palácio de Bela ficava à beira de grandes falésias brancas, do outro lado de um pequeno riacho com uma ponte que o ligava ao resto da vila. Chamá-lo de palácio era generoso. Na verdade, compreendia apenas quatro quartos pequenos, um espaço comum, cozinha e uma sala do trono sem qualquer tipo de grandeza.

Assim como o resto de Bela, sua beleza estava em sua simplicidade.

A rainha Persinette, que insistia em se chamar Etta, permitiu que Helena, Dell, Kassander e Edmund ficassem com ela e seu marido, o rei Alexandre.

O cavalo da rainha, Vérité, pastava do lado de fora da porta enquanto eles caminhavam e Helena se dirigiu a ele. Dell passou por ela sem dizer uma palavra e entrou.

Vérité levantou a cabeça, fixando-a com um olhar de olhos dourados que a acalmou pela primeira vez durante todo o dia. O cavalo teve um gosto imediato por ela assim que o conheceu.

E ela se apaixonou por ele quando ele mordeu Edmund.

—Ei, amigo. — Ela estendeu a mão para cavar a mão em sua juba úmida. —Você está seguro na tempestade hoje?

Vérité deu um passo à frente para cutucar o lado da cabeça dela com o nariz dele.

Uma lágrima escorregou de seus olhos quando seu olhar compreensivo puxou toda emoção que ela empurrou até a superfície. Vérité deixou o nariz cair no ombro dela.

—Eu estou bem, Vérité. Ou eu estarei. Um dia. — Ela balançou a cabeça. —Por que estou falando com um cavalo?

—Pela minha experiência...— Etta saiu da porta. —É porque não há melhor ouvinte que Vérité. Sem julgamento. Apenas conforto. — Um sorriso curvou os lábios da rainha. —E ele nunca repetirá nada do que você diz. Ele é honrado.

Helena encontrou o olhar suave de Etta. Ela ouviu as histórias da rainha belaena que lutou com La Dame... e venceu. Qualquer um que tivesse dúvidas sobre os contos precisava apenas olhar para a mulher e se tornar crente. A ferocidade emanava dela.

Com toda a honestidade, Etta aterrorizava Helena.

Quando Edmund apareceu atrás de Etta, os ombros de Helena relaxaram.

—O jantar está pronto. — Disse Edmund, com a voz tão sem vida quanto antes desde que chegaram às margens de Bela.

Pelo menos uma pessoa sentia a perda tão fortemente quanto Helena.

Ela acenou para a rainha enquanto passava por ela para abraçar a cintura de Edmund. Ele ficou rígido de surpresa antes de retribuir o abraço e descansar o queixo na cabeça dela.

—Não tem sorte hoje, então? — Ele perguntou.

Helena balançou a cabeça contra o peito dele. —Desculpe, estou molhando você.

Helena podia sentir os olhos de Etta queimando em suas costas. As duas mulheres da realeza experimentavam uma tensão estranha toda vez que Helena estava perto de Edmund. A rainha estava com ciúmes de sua amizade?

Edmund não contou a nenhum de seus amigos belaenos o que Estevan realmente significava para ele, e seu comportamento sombrio colocava uma barreira entre eles porque eles não conseguiam entender a gravidade do que ele havia perdido.

Ela caminhou mais para dentro do palácio, um braço ainda preso à cintura de Edmund. O rei Alexandre, Dell e Kassander estavam sentados perto da lareira com pratos cheios de bifes de javali e algum tipo de vegetais folhosos na frente deles. Alexandre disse algo que fez os outros dois rirem.

O braço de Helena se apertou em torno de Edmund.

—Eu sei. — Ele sussurrou. —Eu também sinto isso.

Ela tentou não odiá-los por sua alegria, mas já havia entrado em sua mente.

—Não estou com fome. — Ela soltou Edmund. —Acho que vou mudar para algo seco e me deitar.

Ele passou a mão pelos cabelos e deu um beijo no lado da cabeça dela. —Prometi a Stev que a manteria segura, Len. Lembre-se, se Quinn vem ou não, Kassander não é o único irmão que você deixou.

Ela se virou antes que ele pudesse ver as lágrimas brilhando em seu rosto. —Obrigada por dizer isso, Edmund.

Depois de correr para o quarto e fechar a porta, ela se inclinou contra ela, sussurrando para si mesma.

—Eu não estou sozinha. Eu não estou sozinha.

Ela tirou a roupa molhada do corpo e vestiu um vestido para dormir antes de cair na cama. Sua mãe a castigaria por planejar dormir o dia inteiro, mas ela não queria se levantar novamente.

Amanhã seria outro longo dia de espera por alguém que nunca poderia vir.

 

 

 

Capitulo Dois


—Use sua espada, Dell, não seu corpo! — O rei Alexandre esfregou o lado onde Dell o havia atingido.

Dell parou. —Não devo usar nada que me ajude a vencer?

—Claro. Mas na maioria das lutas, essa será a lâmina que você tem em suas mãos.

—A menos que eu cague com a lâmina-

Alex sorriu. —A menos que isso. Aceite de alguém que sabe que você não quer ser cagado com a lâmina.

Dell gemeu. Ele era um boxeador, um lutador, não um espadachim. —Por que estamos fazendo isso de novo?

—Por que de fato. — Etta bateu palmas de sua posição ao lado de um grande carvalho que a protegera da vista deles.

—Aqui vamos nós. — Alex resmungou. —Você não deveria ter reuniões a manhã toda?

—Ainda não recebemos notícias de Ty, então Matteo e eu adiamos algumas até amanhã. — Ela se virou para Dell. —Você sabia, Sr. Tenyson, que você tem o grande prazer de ser treinado por Alexandre Durand, o pior espadachim de Bela.

Alex balançou a cabeça. —Treino há anos para me livrar do título e ela não me deixa.

Etta caminhou em sua direção e deu um tapinha na lateral do rosto. —Ele tem sorte de ter uma esposa que pode protegê-lo.

Alex prendeu a mão dela na bochecha dele. —Muito sortudo.

Ela sorriu e o beijou antes de desarmá-lo e empurrá-lo para longe. Pegando a espada descartada, ela a passou entre as mãos.

Dell recuou enquanto avançava.

—Espada. — Ela ordenou. —Pare de olhar para a lâmina. Pode atacar de qualquer direção antes que você tenha a chance de reagir. Observe meus pés e minha posição corporal. Elas vão te avisar.

Ela mudou os pés para a frente e se lançou. Dell só teve tempo suficiente para bloquear o ataque antes de dar o próximo passo. Ele se afastou, quase caindo no chão.

Dell nunca se considerara não qualificado e até se saíra bem contra Alex, mas Etta se movia com a furtividade de um gato enquanto usava a força de um javali.

Ela o encheu de ataques antes de finalmente recuar e enxugar o suor da testa. —Nunca me sinto bem se passar um dia sem segurar uma espada na mão.

Dell riu. —Aposto que funciona muito bem como a rainha de um reino pacífico.

O sorriso de Etta se espalhou por seu rosto. —Eu gosto de você, Dell. Venha. Você e eu precisamos conversar.

Ele olhou para Alex, mas o rei apenas deu de ombros.

Etta começou a descer o caminho da floresta sem olhar para trás para se certificar de que ele estava vindo.

—Não tenho muito tempo. — Ela abriu a porta do palácio. —Mas não podemos continuar como estamos.

Ele a seguiu para dentro. —Eu não sei o que você quer dizer.

—Sente-se. — Ela apontou para a mesa a caminho da cozinha. Quando ela voltou, ela carregava duas canecas cheias de cerveja.

—Obrigado. — Ele riu.

—O que é tão engraçado?

—Eu posso ter sido filho de um homem poderoso, mas basicamente me levantei nas ruas da cidade. Agora estou tomando uma cerveja com uma rainha estrangeira.

—E protegendo uma princesa. — Ela levantou uma sobrancelha.

Ele tomou um longo gole, evitando o olhar dela. Por mais que ele tentasse ajudar Helena, a princesa não deixaria. Era como se ela tivesse esquecido tudo o que aconteceu antes da rebelião. Ele não existia mais para ela.

—Olha, Dell...— Etta suspirou. —Bela passou por muita coisa, perdeu muito. Então, eu sei o preço. Não foi fácil reconstruir nosso reino, mas essa paz é nossa recompensa. Eu vivi a maior parte da minha vida em dívida com os outros, mas, mais importante, com meus próprios segredos. Eu reconheço os sinais. Tentei de tudo para recuperar meu Edmund. Houve um tempo em que ele me salvou, me manteve sã. Quando ele escolheu se tornar nosso embaixador em Madra, senti todos os momentos de sua ausência. Mas é como se ele ainda tivesse ido embora. Ele voltou para nós, mas parte dele ainda está do outro lado do mar.

Dell quase disse a ela. De Estevan e seu relacionamento com Edmund. De tudo o que Edmund havia feito para impedir a rebelião.

Mas esses não eram seus segredos para contar.

—Sinto muito, sua Majestade. Eu não posso te ajudar. Só... não desista dele. Edmund é a única razão pela qual estou sentado aqui hoje. Ele é o motivo pelo qual Helena e Kassander conseguiram sair de Madra. Nunca conheci alguém como ele... mas os sacrifícios que ele teve que fazer... — Dell balançou a cabeça. —Eu sei como é assistir alguém com quem você se preocupa se perder.

Etta colocou a mão no braço da Dell. —Então eu vou te dizer a mesma coisa. Não desista dela. Ela voltará para você. — Ela bebeu o resto da cerveja e se levantou. —Eu devo cuidar de algumas coisas. Obrigada por isso.

Antes que ela chegasse à porta, um Matteo desgastado entrou correndo, seu cabelo loiro despenteado pelo vento e suas bochechas rosadas pelo frio. —Tyson voltou.

—Já era hora. — Etta o seguiu até a sala do trono.

Dell se juntou a eles quando o jovem atravessou a porta e correu para a irmã, abraçando-a.

Não havia nada formal em Bela?

Helena apareceu ao lado de Dell. —Eu estava com Aron quando eles cavalgaram pelo vale. Por um momento, pensei que fosse Quinn.

—Sinto muito. — Dell agarrou sua mão. Ela ficou rígida, mas não se afastou.

Alexandre apareceu e chegou a Tyson há três longos passos.

—Você deveria voltar dois dias atrás.

—Você conhece a mãe. — Ele sorriu. —Ela queria me engordar.

Dell nunca entenderia a dinâmica entre Bela e Gaule. Alex e Tyson eram filhos da rainha de Gaule, mas tinham pais diferentes. Tyson compartilhava um pai com Etta que se casou com Alex. E havia Camille que ainda estava em Madra e a irmã dos dois príncipes.

O sorriso de Alex caiu. —Você foi vê-la, não foi?

Dell passara a maior parte do tempo seguindo Helena até o posto de vigia ou entre o povo de Bela. Foi lá que ele aprendeu tudo o que precisava saber sobre a família em que agora contavam para se proteger.

O jovem príncipe Tyson estava apaixonado por uma garota que só tinha sido amiga dele. Depois que Dracon sofreu a derrota, a garota voltou para Gaule para administrar a propriedade de sua família.

Tyson estudou o chão. —Amalie não estava em sua propriedade. Eu tentei, mas...

Alex colocou a mão no ombro dele. —Sinto muito, irmão. Que palavra você tem de Gaule? A mãe sabe dos acontecimentos em Madra?

Uma expressão de culpa brilhou em seu rosto. —Ela sabe da aquisição. O novo rei a procurou e garantiu a segurança de Camille e a continuação do tratado. A mãe pretende honrá-lo.

Um fluxo de maldições passou pela mente de Dell, mas ele não deu uma única voz quando Helena apertou sua mão, o primeiro sinal de que ela queria seu apoio.

A única esperança que eles tinham de uma solução pacífica para esse problema era se os outros reinos pressionassem Madra. Gaule era a chave para isso.

—Está acontecendo de novo. — Disse Edmund. Quando ele chegou?

—Não. — A trança de Etta deu um tapa em seu ombro enquanto ela balançava a cabeça. —Podemos confiar na rainha Catrine.

—Nós podemos?

—Cuidado. — Alex rosnou.

Edmund segurou as mãos na frente do peito. —Olha, eu não quero dizer que Catrine é contra o povo mágico da maneira que seu pai era. Mas você tem que ver os sinais. Reinos não mágicos se aliando com medo de nós? Se Cana ou Andes se juntar à aliança...

—Cana nunca se aliará a ninguém. — Para surpresa de Dell, foi Helena quem falou.

—Não podemos saber disso. — Matteo falou.

—Na verdade, sou a única pessoa nesta sala que provavelmente sabe. Você diz que sua amiga está em Cana?

—Ara. — Etta confirmou.

Helena continuou. —Isso não significa que você saiba alguma coisa sobre isso. A maioria dos reinos vive em uma feliz ignorância do que acontece além dessas fronteiras, porque os estrangeiros raramente conseguem escapar. — Ela respirou fundo. —Cana não tem lealdade a um rei ou rainha. Eles são separados em clãs que estão ocupados demais lutando entre si para se preocupar com outros reinos. Certamente, você deve temer os cananeus com a habilidade de assassino, mas não se preocupe com a assinatura de nenhum tratado.

—Como você sabe tudo isso? — Dell perguntou.

—Não é importante.

Etta a olhou com curiosidade. —Está bem então. Precisamos manter uma vigilância atenta de Gaule e Madra. Temos outra questão de importância. — Ela assentiu para Tyson.

Tyson pegou uma carta não lacrada. —Eles deixaram Camille escrever para minha mãe. — Ele segurou na direção de Helena.

Helena pegou o papel, desdobrando-o rapidamente. Dell leu por cima do ombro dela, seus olhos apenas pegando partes dele...

Honre o tratado, mãe. É a única maneira de garantir a paz com Madra. O novo rei é um homem honrado.

Isso não parecia a princesa, pelo menos a Camille que ele conheceu. —Ela não escreveu isso.

A maior parte da carta não significava nada para ele até que ele descobrisse as palavras que sabia que quebrariam Helena em duas.

O príncipe Estevan morreu em sua cela há três dias de doença. Cole deixaria seu irmão viver.

O papel caiu de seus dedos, flutuando no chão enquanto lágrimas caíam em seu rosto.

Dell tentou puxá-la para ele, mas ela levantou a mão para parar o movimento.

—Você poderia consertar isso. — A voz de Helena era tão baixa que Dell não tinha certeza de que mais alguém a ouviu até que todos parassem. Ela levantou os olhos para examinar a sala, finalmente colocando-os na rainha. —Madra não seria párea contra Bela.

—Não. — Etta a interrompeu.

—Mas sua mágica-

—Eu disse não.

—Você não vai ajudar? Você vai me deixar ficar aqui ociosamente pelo que... o resto da minha vida? — Helena endireitou a coluna, enviando à rainha um olhar assustador. —Madra é minha. Não do Cole. Minha. Meu pai está morto. Eles mataram minha mãe enquanto eu me escondia. Não estou mais me escondendo. Agora sou a herdeira do trono de Madra.

—Não podemos. — O remorso misturado com a teimosia encheu os olhos de Etta. —Como detentores de magia, temos a responsabilidade de não usar nossa mágica para dominar outros reinos. Nós não somos tiranos.

—Eles. Mataram. Meu. Irmão.

Edmund caiu no chão com as palavras, precisando ver a carta por si mesmo. Um grito estrangulado escapou de seus lábios.

Todos eles supunham que Estevan não viveria muito mais tempo, mas a confirmação trouxe toda emoção que eles ocultaram desde que a rebelião desabou na sala.

Edmund segurou a carta no peito por um momento antes de rasgá-la ao meio, em pé e sair da sala.

Os olhares de Etta e Alex o seguiram.

—Oh. — O entendimento iluminou os olhos de Etta.

—Len. — Dell sussurrou.

Ela balançou a cabeça, tropeçando para trás até chegar à porta. Dell não a seguiu quando ela desapareceu.

—Gostaria que pudéssemos ajudá-los. — Etta se inclinou para Alex.

—Seria realmente tão ruim? — Tyson perguntou. —Não podemos deixar Camille se casar com um usurpador.

—Ty. — Alex o encarou com um olhar. —Se Bela marchar para outros reinos para consertá-los ou usar a magia para subjugá-los, isso define expectativas. Etta não viverá para sempre. Não começaremos o caminho da ditadura. Foi assim que La Dame se tornou tão poderosa. A magia não pode ser usada contra pessoas não mágicas. Não está certo.

Tyson suspirou. —Às vezes, eu gostaria que vocês nem sempre fizessem a coisa certa. Quero entrar em Madra e estripar o rei que matou o namorado de Edmund.

Alex recuou em choque. Matteo se virou.

Tyson olhou entre eles. —Vocês não sabiam?

—Você sabia? — Etta perguntou.

—Desde a primeira vez que o vi. Conheço Edmund quase tão bem quanto eu. Ele amava o príncipe.

Alex amaldiçoou. —Eu preciso ir encontrá-lo.

Dell bloqueou a porta. —Vossa Majestade, a única pessoa nesta terra que Helena deixará entrar é Edmund. Que eles estejam lá um para o outro. Só por enquanto.

Alex parecia que ele protestaria.

—Ele está certo. — Disse Etta. —Se Edmund quisesse que o ajudássemos, ele teria deixado. Essa garota significa tanto para ele agora quanto você ou eu.

Os ombros de Alex caíram.

Dell os deixou na sala do trono para encontrar algum consolo. O rosto confiante de Estevan passou por sua mente. Dell foi contra sua família e se juntou a Edmund porque Edmund tinha tanta certeza de que Estevan faria grandes coisas por Madra.

Ele tinha sido a esperança para muitas pessoas.

E agora, como uma vela no meio da noite, ele havia sido extinto e tudo o que Dell podia ver do futuro de Madra era escuridão.

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Tres


Por semanas, Helena presumiu que Stev estivesse morto. Ela viu Cole levá-lo prisioneiro momentos antes de sucumbir aos ferimentos. Um dos homens de Cole a esfaqueou, e a última coisa que ela viu foi Dell pairando sobre ela, protegendo-a da ira de seu irmão.

Mas algo incomodava no fundo de sua mente. Ela tinha que saber o que realmente aconteceu naquele corredor. Todos os detalhes excruciantes. Estevan realmente se foi, e ela tinha que saber o porquê.

Por que ele não escapou com eles? Por que ele ficou? Por que Edmund deixou?

As perguntas eram as únicas coisas que a impediam de mergulhar a cabeça sob a corrente de sua dor e se recusar a surgir novamente.

Um vento gelado chicoteava seus cabelos dos ombros e ela puxou a capa com força. Ao longe, uma figura solitária estava sentada na beira dos penhascos, com as pernas pendendo para o lado.

Edmund curvou as costas, caindo sobre si mesmo. Quando Helena se aproximou, ela ouviu o som de ondas violentas batendo nas rochas abaixo. Apropriado.

Ela se aproximou de Edmund silenciosamente e se abaixou ao lado dele, olhando por cima da beira do penhasco antes de avançar.

—Como você não tem medo de cair?

Edmund continuou olhando o mar agitado. —Temo muitas coisas, Lenny. Morrer por ter caído não é uma delas.

—Isso é... melancólico.

Ele finalmente se virou para encará-la, mas seus olhos tinham um olhar distante. —Meu maior medo já aconteceu.

—Meu também.

Seus lábios puxaram para baixo, e ele passou a mão pelos cabelos loiros. Após um momento de silêncio, ele deslizou para trás da beira do penhasco e puxou Helena contra o seu lado. Ela enterrou o rosto no ombro dele enquanto ele acariciava seus cabelos.

—Eu não tinha medo de perder Stev. — Ele sussurrou. —É alguém que eu amo. Muita coisa aconteceu nos últimos anos. A guerra de Bela com Dracon. Turbulência em Gaule. A rebelião de Madra. Eu tenho vivido em constante terror das pessoas ao meu redor morrendo. Etta, Alex, Tyson, Matteo, Stev, você... até Camille. Nesse ponto, eu provavelmente ficaria chateado se Vérité morresse e odeio esse cavalo maldito.

Um som entre uma risada e um grito escapou da boca de Helena. —Nunca senti medo assim. Minha vida inteira fui protegida.. Agora é tudo em que consigo pensar. Como você vive assim, Edmund? Com seu coração sendo arrancado do seu peito de novo e de novo.

—Eu ainda estou tentando descobrir isso. — Uma lágrima percorreu seu rosto, e Helena limpou-a com o polegar.

—Eu fico me perguntando se seria melhor Quinn estar morto ou ele ter escolhido Cole.

—Não está morto. — Edmund balançou a cabeça.

—Mas se ele nos traiu também... eu não posso viver com isso.

—Sim você pode. É incrível o tipo de coisa com a qual podemos viver. — Ele respirou fundo e ficou em silêncio.

Helena estremeceu e Edmund a puxou para mais perto.

As palavras que ela queria dizer em seguida entupiram sua garganta. Os olhos de Edmund tinham tanta dor. Era certo ela fazê-lo reviver tudo?

Todo o seu corpo tremia, e ela sabia que ele estava revivendo de qualquer maneira.

—Edmund.

Ele não respondeu por um longo momento enquanto controlava a respiração. —Sim, Len?

—Não me lembro de ter sido tirada do palácio. Meus momentos finais com Stev acabaram... acabaram. — Foi preciso todo o esforço para manter um tremor fora de sua voz. —Eu preciso saber tudo.

Ele suspirou. —Honestamente, estou meio surpreso que você não tenha perguntado até agora.

—Meu irmão não estava morto até antes.

O olhar de Edmund se afastou dela novamente. —Não se engane, Len. Ele está morto para nós desde que deixamos o palácio. Sempre soubemos que não o receberíamos de volta.

Ela apertou os lábios. —Por favor, apenas me diga.

—Cole...— Ele limpou a garganta. — Ele ia prender todos nós. Você e eu fomos capturados. Um dos homens de Cole atirou um punhal em você. — Ele descansou a bochecha no cabelo dela. —Eu pensei que você estava morta.

Ele parou de falar e ela apertou a mão dele, insistindo para que ele continuasse.

Ele fez. —Stev pensou que você tinha morrido também. Mas Kassander não. Ele e Dell a ocultaram. Depois que o curandeiro disse que você não viveria, Stev fez um acordo.

Helena inclinou a cabeça para olhar para ele. —Que tipo de acordo?

—Se Cole me permitisse, você, Dell e Kass partirem, ele se entregaria de bom grado e diria ao seu povo que se afastasse.

Helena se afastou dele. —É tudo culpa minha. Ele está morto por minha causa. — Ela se levantou.

Edmund a seguiu. —Não. Ele pensou que você morreria se a levássemos a Corban ou não. Stev se sacrificou por mim e Kassander. Toda culpa está comigo.

Helena não conseguia ouvir mais. Ela deu meia-volta e correu de volta ao palácio. Etta e Alex a encararam enquanto ela corria em direção ao quarto em que estava hospedada. Ela procurou debaixo do colchão o único pedaço de sua mãe que restara.

As adagas dela.

Duas lâminas de cabo dourado se soltaram e ela as enfiou no corpete do seu vestido simples antes de sair da mesma maneira que viera. A raiva agitava suas veias e, se ela não a soltasse, faria algo que lamentava.

Ela alcançou a clareira atrás do palácio e soltou as adagas. Centralizando seu corpo com a base de um pinheiro alto, ela levantou um braço. Respire. Expire. Agite o pulso. Libere.

A adaga grudou na árvore com um baque. Ela não parou antes de enviar a segunda no mesmo arco.

Ela correu para a árvore e as libertou antes de encontrar um segundo alvo. Raiva e desespero alimentavam seus impulsos, fazendo-a esquecer tudo, menos o peso das lâminas em suas mãos.

Quando Helena soltou a primeira adaga novamente, alguém gritou, afastando-se do caminho. A adaga atingiu uma árvore e caiu no chão.

A cabeça escura de Kassander apareceu na clareira, os olhos arregalados.

Ela estava tão focada, não tinha visto o irmão lá? Ela correu para frente. —Kass, você está bem?

Ele levantou a cabeça, um sorriso se espalhou por seu rosto.

—Como você aprendeu a fazer isso?

Nesse momento, Helena percebeu que Kassander não sabia. Ninguém contou a ele sobre Stev. Ela o puxou do chão e abraçou seu corpo esbelto, bagunçando seus cachos familiares.

—Ei. — Ele se afastou. —O que há de errado, Len?

O rosto dela caiu. Até seu irmãozinho podia ler todas as emoções em seus olhos.

—Eu preciso te dizer uma coisa, Kass.

—Se é sobre Quinn...

—Não é. É sobre Stev.

A testa de Kassander franziu.

—Ele morreu, Kass.

Kassander fez uma careta. —Nós já sabíamos que ele estava morto.

—Não, nós apenas assumimos.

—Eu não vejo a diferença. — Lágrimas brotaram em seus olhos. —Eu pensei que você ia me dizer que perdemos outro irmão.

Helena se inclinou para olhar nos olhos de seu irmão. Ela pegou o queixo dele entre dois dedos, forçando-o a não desviar o olhar.

—Você tem fé em Quinn?

Ele assentiu.

—Eu também. E Kass, se ele nunca vier, você ainda me tem. Ok garoto? Você sempre me terá.

Ele a abraçou. —Você sempre me terá também.

Toda a raiva que ela sentiu vazou dela com essas palavras. Ela não estava sozinha. Madra não era apenas o seu reino. Ela não era a única pessoa que um dia iria querer de volta.

 

Nada mudou em Bela quando os dias se transformaram em noites. Helena continuou procurando Quinn ao lado de Aron, mas ele nunca veio. Edmund ainda passava a maior parte do tempo sozinho, mas à noite sentava-se com Alex e contava seu tempo em Madra.

Kassander e Corban começaram a seguir Alex, fascinados pelo rei confiante, o homem sem magia que vivia entre o povo mágico.

Dell melhorou com a espada. Não é como se ele tivesse a chance de usá-la.

E a cada momento em que se sentavam do outro lado do mar, o povo de Madra era governado por um usurpador, um príncipe bastardo.

Helena tentou afastar da cabeça pensamentos do irmão que amava. Ainda amava? Isso era permitido? Ela não conseguia conciliar o irmão com quem cresceu e o homem que matou seus pais.

Ela se virou na cama quando a luz atravessou a janela. O cheiro de bacon a atingiu assim que ela abriu os olhos. A normalidade desse cheiro era como um choque para o coração. Nada estava normal.

Depois de se levantar da cama, vestiu uma calça de lã e uma camisa pesada antes de atravessar o chão frio de pedra até a cozinha.

O rei de Bela estava sem camisa em frente ao fogão, suor escorrendo pelas costas enquanto virava bolos e bacon.

Helena congelou, seu queixo caindo. Alexandre Durand era um homem bonito. Em Madra, a família real tinha vários servos preparando todas as refeições. Demorou um pouco para se acostumar nas últimas semanas para que o rei e a rainha fizessem tudo por si mesmos.

Era o caminho de Bela. Etta poderia liderar, mas ela não governava. E seu povo era mais leal por causa disso. Porque ela era uma deles.

A rainha em questão aproximou-se do lado de Helena. —Ele queria animar vocês, fazer vocês se sentirem mais em casa, depois de...— Ela não precisava dizer isso. Depois que souberam da morte de seu irmão.

Edmund apareceu atrás deles. —Então ele decidiu andar sem camisa? Essa é uma maneira de nos animar.

Etta empurrou seu ombro. —Não. Ele fez o café da manhã.

Edmund riu, o som fazendo todos eles pararem. Ele estava com tanta dor que não havia nem sorrido recentemente. Ele congelou como se percebesse o que havia feito. Por apenas um momento, ele esqueceu o que deveria estar sentindo.

Alex se virou. —Se eu soubesse que bastava bacon para ouvir esse som novamente, eu o faria todas as manhãs.

Etta cobriu a boca com as mãos e fingiu tossir. —Não era o bacon.

Helena sorriu, agradecida pela leveza que sentia tanta falta. Ela sempre brincava com seus irmãos, mas nunca teve amigos.

Edmund corou, mas deu de ombros como se não tivesse vergonha. Helena desejou que o conhecesse tão bem. Ela viu Dell sentado perto do fogo, seu olhar fixo nela. Os olhos dele escureceram e Helena afastou os dela.

Como seria ceder a seus desejos como todos os outros ao seu redor? Stev tinha sido tão corajoso, tão forte em estar com a pessoa que amava. Ela só podia imaginar qual teria sido a reação do pai deles. Os dois homens teriam sido separados no mínimo.

Sobre o que Helena tinha sido corajosa? Ela viveu sua vida atrás de uma máscara, nunca mostrando quem ela realmente era.

Stev viveu livremente. Ele pode ter sido rígido e formal às vezes, mas desafiava o pai deles para dar comida ao povo. Ele se apaixonou por outro homem. Ele a protegeu a todo custo.

Ela se virou para Etta, que ainda estava olhando o marido.

—Você está ocupada hoje?

Etta levantou uma sobrancelha. —Não. Eu não sou a rainha de um reino inteiro nem nada.

—Preciso de alguém para me ajudar. Quinn ainda pode estar lá fora, mas não posso perder tempo. Você diz que Bela não ajudará Madra, mas Madra não está sozinha. Eles ainda me têm. Treine-me para lutar.

Dell engasgou com uma risada. —Len, o que você sabe sobre lutar?

Ela fez uma careta, balançando o olhar ao redor da sala. Tyson, Alex e Matteo olharam para longe. Edmund ficou quieto.

Etta considerou sua resposta. —Quando completei dezoito anos, tive que entrar em um torneio, lutando até a morte para proteger aquele idiota. — Ela apontou para o marido. —Todo homem que eu conheci riu de mim. — Ela se inclinou para frente. —E você sabe o que eu fiz?

Helena balançou a cabeça.

Um brilho alegre entrou no olhar de Etta. —Venci eles. — Ela se virou para os outros que os cercavam. —Matteo, me limpe dos deveres. Estarei ocupada hoje.

O primo da rainha balançou a cabeça. —Hoje não, Etta. Temos reuniões o dia todo com os comerciantes da Dracon e Gaule. Então, você está agendada para julgamento nesta tarde.

Etta acenou com as palavras. —Você pode lidar com as reuniões, oh confiei em uma. Alex se juntará a você. Tome Edmund também. Ele conhece esse reino tão bem quanto qualquer um e ocupará sua mente.

Edmund começou a protestar, mas um olhar de Etta o calou.

—Pegue um pouco de comida, Helena. Não pretendo ser fácil com você.

Helena empilhou comida em um prato e sentou-se ao lado de Dell.

—Você tem certeza disso? — Ele perguntou.

—Nunca tive tanta certeza de nada.

—Persinette Basile é uma das maiores lutadoras que existe.

—Então não há mais ninguém que eu queira me treinar para voltar a Madra. — Ela mordeu a comida.

—Você realmente quer voltar? — Ele a olhou cético.

—Você acredita em mim, Dell?

Ele assentiu sem hesitar. —Claro que eu acredito.

—Então, por favor... cale a boca.

Um canto da boca inclinou-se para cima. —Bem, tudo bem então. Mas eu tenho que assistir.

 

 

 

 

 

 


Capitulo Quatro


Dell sentou-se de costas contra uma árvore derrubada e dobrou um joelho. O frio do chão permeava suas roupas, mas não o incomodou, pois ele se concentrou no pedaço de madeira macia em suas mãos. Ele ainda não sabia o que era, mas isso não era incomum. Ele nunca olhava muito à sua frente. Suas mãos sabiam o que fazer. Elas criavam enquanto a mente dele estava em outro lugar.

Ele agarrou a faca entre o polegar e o indicador quando ele cavou.

Etta e Helena ficaram de frente uma para a outra. Etta segurava duas varas longas nas mãos. Ela jogou uma para Helena.

Helena a pegou do ar.

Etta assentiu em aprovação. —Eu vi você aqui com suas adagas, Helena. Você tem uma boa coordenação dos olhos e mãos.

Adagas? Do que a rainha Belaena estava falando? Len era mais ameaçadora que uma princesa poderia ser. O que ela sabia sobre adagas?

—Obrigada. — Os dedos de Helena se soltaram e apertaram em antecipação.

—Ainda não me agradeça. Coordenação é apenas o começo. Para superar alguém em uma luta, é preciso pensamento rápido, agilidade e raiva.

—Raiva?

Etta girou o cajado em uma mão. —Ah, sim, essa é a parte mais importante. Nós não fomos feitos para lutar um contra o outro, para nos machucar... a menos que tenhamos uma razão. A diferença entre alguém que tem o que é preciso e alguém que não tem é a capacidade de canalizar essa raiva, usá-la e moldá-la.

A mandíbula de Len se apertou e ela engoliu. —Eu tenho muita raiva.

Dell vira a escuridão crescendo dentro dela há semanas. Durante toda a sua vida, ele foi maltratado e traído por sua família. Para ele, era vida. Para ela, foi uma tragédia e uma traição.

Um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Etta. —Você está pronta?

—Sim.

A intensidade no olhar de Helena não existia antes. Dell lembrou-se da suavidade em seus olhos, mesmo quando ela brigou com ele na praia. A doçura quando ele a beijou no baile. Mas então, ele nunca a conheceu verdadeiramente. A garota que vagava pelas ruas da cidade não era a mesma que se escondia atrás de uma máscara durante a maior parte de sua vida.

No entanto, ele não conseguia tirar os olhos dela.

Ele deixou a madeira de lado e se inclinou para frente contra os joelhos.

Etta circulou Helena e Len virou-se para encará-la mais uma vez, deixando seu bastão cair apenas o suficiente para dar a Etta uma abertura.

A rainha Belaena bateu na arma de Len e a madeira estalou contra o estômago de Len.

—Eu perguntei se você estava pronta. — Etta gritou. —Não abaixe sua arma. Nunca.

Helena reprimiu a dor que Dell sabia que devia ter sentido e pegou seu bastão. O próximo ataque de Etta não a pegou de surpresa. Ela a jogou para fora apenas para ser atingida nas costas.

Ela caiu de mãos e joelhos.

—Levante-se. — Etta exigiu.

Dell ficou de pé. Helena não era guerreira e Etta foi longe demais.

—Não, Dell. — Helena ofegou. —Eu estou bem. — Ela soltou uma tosse irregular. Pegando seu bastão, ela ficou pronta novamente.

Etta avançou com uma enxurrada de movimentos. Helena tropeçou para trás, bloqueando-os o melhor que pôde. Etta chutou com o pé, pegando o estômago de Helena e enviando-a de bunda.

Helena fez uma careta, sua respiração sibilando no peito.

—Você está com raiva ainda, princesa? — Etta perguntou. —Ou isso foi criado com você também?

Dell tentou avançar, mas Etta o encarou com um olhar. —Se você interferir, descobriremos o quão inadequado você é com uma espada, garoto.

Mesmo com Alex treinando ele, Dell sabia que ele não seria páreo para Etta. As histórias de sua habilidade se espalharam por Madra como um incêndio. Mas ele não se sentou até Helena se levantar.

—Eu estou bem, Dell. — Ela olhou para Etta. —Novamente.

Etta se lançou para a frente, mas Helena se desviou do caminho.

—Vamos, princesa. — Etta provocou. —Esqueça todo o decoro que eles lhe ensinaram. Não esconda suas emoções em uma briga. Mostre-me sua maldita raiva.

Helena atacou, mas não houve força por trás do golpe.

—Você pode fazer melhor que isso. — Etta fez uma careta. —Você sabe como ganhei meu primeiro torneio?

Helena balançou a cabeça.

—Eu os odiava. Cada um deles, incluindo Alex. Incluindo Tyson. Eu queria matar todos eles. A única pessoa que eu já demonstrei piedade é Edmund quando eu escolhi não matá-lo.

Dell ficou boquiaberto. As histórias eram verdadeiras? Etta lutou por sua vida, a fim de assumir uma posição na casa real de Gaule. Mas Edmund... por que ele esteve no torneio? E agora ela era casada com Alexandre Durand.

Padre, ele precisava de uma cerveja.

Etta continuou. —Misericórdia não é algo que você dá a seus inimigos. É algo que você dá quando decide que alguém não é seu inimigo. Quem são seus inimigos, princesa? Se chegar a hora, você será impiedosa?

Uma guerra começou nos olhos de Helena, mas ela não falou.

Etta avançou. —Seu irmão te traiu. Ele matou seu pai. Sua mãe. —Ela se inclinou. — Estevan.

Lágrimas rastrearam o rosto de Helena.

—Quinn não vem te ajudar, Helena.

Dell viu o momento em que essas palavras foram registradas. Helena atacou, derrubando seu bastão com tanta força que a colisão com a arma de Etta ecoou entre as árvores.

Helena não parou por aí, empurrando Etta para trás e jogando a arma longa sobre a cabeça. Etta bloqueou cada movimento, sorrindo.

Ela era louca. Não havia outra maneira de descrever essa rainha estrangeira. Ela empurrou e empurrou, incitando Helena a entrar em ação.

Depois de um tempo, Etta baixou o bastão, o peito subindo e descendo rapidamente. O suor escorria nos rostos das duas mulheres.

Helena limpou a testa na manga.

—Ok, princesa. Agora acredito que você é mais do que um rosto bonito. — Etta afastou os cabelos dourados do rosto pegajoso.

—Não me chame de princesa. Eu posso ter vivido minha vida inteira atrás dos altos muros de um palácio, mas não estou mais lá. Não posso ser aquela garota de lindos vestidos que joga adagas em segredo e se esconde do mundo. Minha família merece mais que isso.

Etta riu. —Nós ainda podemos fazer de você uma guerreira, Pr-Helena.

Dell ficou de pé, mas trepadeiras rastejaram sobre suas pernas, segurando-o no lugar. —Fique aí, garoto. — Etta ordenou. Ele ficou boquiaberto com a vegetação crescente.

—Magia. — Ele sussurrou. Ele só testemunhou Edmund, Mari e Corban usando seus poderes, e isso nunca o chocou menos.

Etta inclinou a cabeça. —Ainda não terminamos. Agora que sabemos que você tem vontade de lutar, posso ensinar como. Eu poderia ter dado um golpe mortal pelo menos dez vezes durante sua explosão de ataques.

Helena parecia desanimar, seus olhos inseguros procurando os dele.

—Você pode fazer isso, Len. — Ele ofereceu um sorriso. —Eu sei que você pode.

Ela assentiu. —Ninguém nunca vai me vencer de novo. — Ela se virou para Etta. —Eu tenho que ser capaz de proteger Kassander. Ele é tudo o que me resta.

—Então vamos começar. — Etta apontou para o centro da clareira e assumiu sua posição.

 

A última vez que Dell montou em um cavalo, foi logo depois de uma luta que ele perdeu e levou tudo o que tinha para ficar na fera. Mas ele tinha que segurar Helena.

Agora, era apenas a Dell e o terreno aberto. Quando ele pediu emprestado o cavalo de Alex, ele não tinha um destino em mente.

Helena e Etta estavam praticando todas as noites agora, e ele as deixou para outra noite de lutas e contusões. Len recusou-se a permitir que Corban os curasse. Ela disse que queria sentir tudo, que isso a tornava uma lutadora melhor.

Mas ele odiava ver a pele de porcelana manchada de manchas azuis e roxas. Ele não aguentava mais uma noite vendo as mulheres lutarem.

Ele não havia planejado uma visita ao posto de vigia, mas logo se viu na trilha sinuosa entre rochas e vegetação rasteira. Aron estava sentado no topo da colina do lado de fora da pequena cabana. Uma melodia vibrava do violão em miniatura em seu colo.

Ele manteve os olhos no horizonte, onde o sol se punha sob as árvores.

—Não deveria haver outro vigia à noite? — Perguntou Dell.

Assustadas, as mãos de Aron pararam no violão. —Eu aprecio esta hora da noite. Assim que o sol desaparecer, vou para a vila. Este posto avançado é inútil durante a noite, mas a vigilância noturna passa pela floresta perto da cidade até o amanhecer. Eles já estão lá fora, suponho.

Dell assentiu enquanto examinava as árvores abaixo. —Houve alguma coisa?

O que ele estava esperando? Nova palavra sobre Quinn? Se Aron soubesse alguma coisa, diria a Etta e Alex.

O grandalhão suspirou. —Gostaria de ter notícias melhores para Helena.

Há muito que Dell havia perdido a esperança ao se reunir com Quinn. O homem estava morto ou era um traidor de sua família.

Uma comoção abaixo fez com que Dell e Aron pulassem para frente para ver melhor. Dois cavalos trovejaram pela floresta como se suas caudas estivessem pegando fogo.

—Dell. — Disse Aron calmamente. —Você trouxe seu cavalo?

Dell assentiu.

—Acho que seria uma boa ideia falar desses viajantes para a rainha e o rei. Um desses cavaleiros está usando vermelho de Madra.

Dell não hesitou. Ele correu ao redor da cabana para onde amarrara o cavalo de Alex e desatou o nó antes de subir.

Ele chutou os calcanhares nos flancos do cavalo e partiu pelo caminho agora escuro, diminuindo a velocidade ao longo de curvas traiçoeiras e inclinando-se muito para a direita na sela. Por um momento, ele não sabia quem estava no comando - ele ou o cavalo. Assim que chegou ao pé da colina, ele empurrou a fera para um galope, recuperando o equilíbrio.

Ao se aproximar da vila, tochas iluminavam a noite. As poucas pessoas que ainda permaneciam nas ruas saíram do caminho.

Quando chegou ao palácio, ele deslizou, sem se preocupar em amarrar o cavalo antes de entrar.

Etta e Alex eram os únicos dois presentes perto do fogo. Ao ver o rosto de Dell, Etta sentou-se de onde estava reclinada no colo do marido.

—Dell, o que é isso?

Dell engoliu em seco. —Dois cavaleiros estão caminhando pela floresta. Aron os viu através das árvores. Um deles é de Madra.

Etta se levantou, a máscara de uma rainha firmemente no lugar.

—Não fale com Helena sobre isso. Não até sabermos quem são esses cavaleiros. — Ela se virou para o marido. —Encontre Edmund. Eu acho que ele está na taverna da vila. Se ele terminou de beber sua tristeza, diga a ele que preciso dele ao meu lado.

Ela correu para a porta. —Dell, venha comigo.

Ele correu atrás dela. Atravessaram a ponte e esperaram até ouvir o som de cavalos atravessando a vila.

Onde estavam os guardas? Na verdade, ele não se lembrava de ter visto Etta com guardas. Ele adivinhou quando o povo mágico leal a cercava, ela tinha proteção suficiente.

Quando os cavaleiros deixaram a rua de paralelepípedos da vila, grama alta brotou do chão, impedindo o avanço. Os olhos de Dell se arregalaram quando trepadeiras serpentearam pelos flancos do cavalo.

—Sua Majestade. — Uma voz chamou. A escuridão escondia seus rostos.

Etta congelou. —Simon? — Ela correu para a frente enquanto as videiras e a grama recuavam.

Um homem musculoso com feições esculpidas deslizou para encará-la. Eles se entreolharam por um longo momento.

—O que você está fazendo aqui, Simon?

Dell assistiu em confusão. Quem era aquele homem?

O segundo homem desmontou e Dell recuou. Ele, ele reconheceu. Landon Rhodipus. Um primo distante de Helena, famoso por liderar as unidades de Madra na guerra contra La Dame.

—General? — Etta olhou entre os dois homens.

—Sinto muito, sua Majestade. — Landon inclinou a cabeça. —Mas devemos nos intrometer na sua paz aqui para falar com você. Cavalgamos por dias, abandonando nossos postos para estar aqui.

Etta assentiu, olhando para o pequeno palácio. —Entrem. Está frio aqui fora. — Ela passou por Dell e os dois homens o seguiram. —Vou mandar alguém cuidar dos seus cavalos.

—Obrigado, Majestade. — Simon inclinou a cabeça.

Ela os levou para a grande sala, caminhando diretamente para a mesa ao longo da parede oposta, onde uma jarra de vinho estava ao lado de uma bandeja de taças. Ela derramou um para cada um deles enquanto todos estavam sentados.

—Este é Dell Tenyson. — Ela apontou para ele.

—Tenyson? — Os olhos de Landon se voltaram para ele. —Sua Majestade, você está ciente de que os Tenysons ajudaram na aquisição de Madra?

—Sim, general. — Ela retrucou. —Eu explicarei a presença dele quando você explicar a sua. Dell, conheça o general Landon e Simon, guarda pessoal da rainha de Gaule.

Dell recuou. Sua aparência não poderia significar nada de bom.

—Aconteceu alguma coisa com Catrine? — Etta cruzou os braços sobre o peito.

—Além da filha ser mantida por um usurpador? — Simon prendeu Etta com um olhar.

—Entendo que Camille ainda está em Madra porque Catrine escolheu honrar a aliança.

Simon balançou a cabeça. —Eles estão usando Camille como um peão.

—É verdade. — Landon falou. —A segurança dela é uma moeda de troca que Cole Rhodipus está usando para trazer seu irmão Quinn para casa. — Quando Cole roubou a coroa de Bela, seu irmão gêmeo estava em Gaule com sua unidade militar. Ele não participou da aquisição e ninguém sabia qual lado ele escolheria.

Uma nova voz entrou na sala. —Você está dizendo que a rainha de Gaule tem meu irmão?

Os olhos de Dell se voltaram para Helena na porta. O fogo ardia em seu olhar. O súbito silêncio de Simon e Landon foi resposta suficiente.

 

Helena esperou que alguém expressasse o que sabia agora. Ela reconheceu Landon assim que espiou dentro da sala. Faz anos desde que ela viu o primo e eles nunca foram próximos, mas ele ainda era alguém de casa, alguém que a conhecia sem a máscara.

—Helena. — O nome dela escorregou de seus lábios como uma oração enquanto ele se levantava. Os olhos dele se arregalaram. —Os relatórios disseram que você estava morta. — Ele engoliu em seco. —Que todo mundo estava...

—Morto? — Ela terminou por ele. — Diga-me primo, você está atrás de Cole? Ele tinha o apoio do exército, seu exército.

—Não, Helena. — Ele deu um passo em sua direção.

Ela deu um passo atrás.

—Eu nunca trairia seu pai.

Os partidários de seu pai não eram muito melhores que os de Cole. Eles ainda destruíram o reino.

Mas aqueles leais ao pai seriam leais a ela.

—Eu acredito em você. — Ela torceu as mãos juntas. —Agora, me diga onde está Quinn.

Simon passou a mão no rosto. —É por isso que vim aqui com Landon.

Landon voltou ao seu lugar e assentiu. —Ouvi rumores rebeldes entre minhas tropas muito antes de se revoltarem. Quando Quinn chegou em Gaule, eles já haviam escolhido seus lados. Os rebeldes receberam ordens para voltar rapidamente a Madra. A missão deles era devolver Quinn ao lado de seu irmão gêmeo. Então eles atacaram. A maioria dos leais foi morto imediatamente, mas eu escapei com Quinn. Buscamos refúgio da rainha de Gaule.

Simon coçou o rosto, a exaustão percorrendo os cantos dos olhos. —Chegou a notícia ao novo rei de Madra que seu irmão estava em Gaule. Ele enviou um mensageiro para informar a rainha Catrine, caso ela escolhesse não devolver Quinn ao seu devido lugar, sua filha sofreria por isso.

—Camille. — Helena cobriu a boca com a mão. Eles não tiveram escolha a não ser deixar Camille em Madra, pensando que ela estaria segura enquanto Cole precisasse da aliança de Gaule.

Antes que alguém entrasse em outra palavra, a porta se abriu, revelando dois homens tropeçando e um terceiro segurando-os.

—Encontrei Edmund. —Alex sorriu. Seu sorriso caiu quando ele pegou seus companheiros. —O que está acontecendo? Simon, é minha mãe...

—Ela está sentada à beira de um precipício moral, mas com boa saúde. — Simon levantou-se para cumprimentar o rei.

Confusão brilhava no rosto de Alex quando ele jogou Edmund e Tyson em cadeiras. —Desculpe esses dois. Os dois estão passando por tempos difíceis. — Ele estendeu a mão e apertou a mão de Simon. —Diga-me o que eu perdi.

Helena enrolou a capa com mais força em seu vestido de dormir e encostou-se à porta, tentando processar tudo o que eles disseram. Um pensamento surgiu acima do resto. Quinn estava vivo.

Estou serpenteando em suas veias e ela bateu na porta, sacudindo todos na sala. —Então a rainha de Gaule mandará meu irmão de volta para Madra?

—Sim, princesa. — A tristeza encheu os olhos de Landon. —Fomos recebidos no palácio de Gaule e seguros lá por cerca de uma semana antes que os guardas viessem prender Quinn e colocá-lo nas masmorras. Eu não o vejo desde então.

Havia uma pergunta que ela estava com medo de perguntar, porque a resposta poderia quebrá-la. Mas ela precisava saber. —E Quinn... ele quer voltar? Para Cole?

Os olhos de Landon se suavizaram. —Ele lutou com tudo o que tinha para se manter longe desse destino.

Helena soltou o fôlego que estava segurando.

—Ele estava planejando vir para Bela? — Dell perguntou.

Landon balançou a cabeça. —Não havia nada para ele aqui. Ele acha que todos os membros de sua família morreram em Madra.

Etta estreitou os olhos. —Então por que você está aqui?

Simon tomou um longo gole antes de pousar o cálice. —Catrine está enfrentando escolhas que apenas levam a um caminho sombrio. Não vou permitir que ela comprometa seu caráter.

Helena não conhecia o homem, mas ela entendia o olhar nos olhos dele. Ele traiu a rainha porque estava apaixonado por ela.

Edmund levantou a cabeça. —Simon, foi gentil da sua parte se juntar a nós.

—Ignore-o. — Disse Etta.

Tyson soltou um ronco.

—E ele. — Ela suspirou.

—O que você quer que a gente faça? — Alex perguntou.

—Fale com ela. — Simon encontrou o olhar do rei. —Eu não vim para Bela porque preciso da ajuda do rei e da rainha. Vim porque precisava dos filhos de Catrine. Quinn não está programado para partir em um navio madrano por mais uma semana.

—E se ela não ouvir? — Perguntou Dell.

Helena chutou para longe do batente da porta e caminhou na direção deles. —Então lutamos. Quinn não retornará a Madra enquanto eu ainda estiver respirando. Estarei pronta para partir de manhã.

Ela deu um tapa na lateral do rosto de Edmund. —Acorde, seu bêbado.

Ele acordou assustado. —O que? O que está acontecendo?

—Durma um pouco porque você vem comigo. — Ela se virou para Alex, passando os olhos entre ele e Tyson. —Decida qual dos filhos desta rainha pode mudar de ideia e se preparar para cavalgar. — Ela caminhou até a porta.

—Eu também vou. — Dell gritou para ela.

—Claro que você vai.

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Cinco


Helena entrou no quarto e colocou a mão na garganta. Seu pulso martelava contra os dedos. O que ela estava fazendo?

A alegria assumiu o controle, abafando qualquer dúvida. Quinn estava vivo. Não apenas isso, mas ele não estava correndo para se juntar a seu irmão gêmeo. Os dois sempre tiveram um vínculo que nada do lado de fora podia invadir - nem mesmo ela.

Uma lágrima escorreu por sua bochecha. Ela se sentia tão sozinha - mesmo quando ainda tinha Kassander ao seu lado, assim como algumas outras pessoas que se importavam com ela. Mas Quinn... ele realmente estava sozinho em uma masmorra.

Um gemido veio da cama que ela compartilhava com Kass e ele se debateu.

—Não. — Ele disse. —Você não pode pegá-los. Helena! — Os olhos dele se abriram, pousando em sua irmã.

Helena correu para a cama e sentou na beira, puxando Kassander para o colo. —Shhhh. — Ela acariciou seus cabelos. —Está bem. Estou aqui. Por enquanto. — Ela teria que deixá-lo aparecer de madrugada.

Os olhos arregalados de Kassander ergueram-se para os dela.

—Sonhei com aquela noite.

Ela deu um beijo na testa dele. Não foi a primeira vez que eles sonharam com castelos em chamas e lutas de espadas nos corredores. Toda vez que ela via, uma dor fantasma queimava seu braço onde ela foi esfaqueada.

—Acabou, Kass. Estamos a salvo.

—Estamos? — Era uma pergunta que ela se perguntava muitas vezes. Cole viria atrás deles? Ele pensou que Helena estava morta, mas Kass...?

Não. Ela sabia com súbita certeza que Kassander não seria prejudicado. Pelo menos não por Cole. O irmão deles pode ter odiado os pais e desprezado Estevan, mas ele amava o irmão mais novo. Ela viu isso. Nem tudo poderia ter sido uma mentira, poderia?

Ela deitou-se na cama com Kassander. —Eu preciso te contar uma coisa.

—Hmm? — Ele se virou para enterrar o rosto no ombro dela.

—Eu tenho que sair amanhã.

—Onde você vai?

Ela poderia contar a ele sobre Quinn? Não. Quando ele acordasse, ela já teria ido. Se ela fosse tarde demais para ajudar Quinn, Kassander nunca saberia. Ela não aguentaria sua decepção novamente.

—Apenas me prometa que ficará longe de problemas até eu voltar.

Ela esperou por uma resposta, mas ele já havia adormecido.

 

O sol mal nascera quando Helena montou o cavalo. Ela não estava confortável em uma sela, mas supôs que aprenderia rapidamente. Não havia outra escolha.

Edmund resmungou ao lado dela. —É muito cedo, e minha cabeça está me matando.

Helena sabia que ele não quis dizer nada com o que ele disse. Ele queria encontrar Quinn quase tanto quanto ela. Ele era apenas Edmund, um queixoso.

—Talvez se você não tivesse forçado tanta cerveja para dentro de mim. — Começou Tyson, levando um cavalo ao lado deles. —Não nos sentiríamos tão maus esta manhã.

Edmund bufou e estreitou os olhos quando finalmente viu a besta ao lado de Tyson. —Não. Ty, você vai colocar o cavalo de volta agora.

Helena se inclinou em torno de Edmund para avistar Vérité.

Tyson cruzou os braços. —Diferente de você, Vérité gosta de mim. Etta me disse para levá-lo. Ele pode nos ajudar.

—Ele é apenas um cavalo. — Disse Dell.

Simon se juntou a eles, balançando a cabeça. —Você não conhece Vérité. Ele é mais do que um cavalo, mas ele só ouve Etta.

—E eu. — Tyson enviou um olhar para cada um deles.

—Tudo bem. — Edmund deu um passo para trás. —Mas mantenha-o longe de mim.

Como se soubesse que eles estavam falando sobre ele, Vérité pulou em direção a Edmund, estalando os dentes e pegando a ponta da capa do loiro.

Edmund soltou um grito agudo e se afastou.

Dell riu, mas Helena não se divertiu. Ela só tinha a missão em mente. Ir para o Gaule. Confrontar a rainha. Libertar o irmão dela. Então se vingar de Cole.

Landon a ajudou a montar no cavalo, e ela segurou as rédeas como se sua vida dependesse disso. Talvez sim.

O resto do grupo montou e, sem olhar para trás, eles deixaram a vila para trás.

Helena chutou o cavalo para acompanhar o resto, balançando antes de se endireitar e endireitar a coluna.

Dell parou ao lado dela, com um olhar de conhecimento.

—Você está bem?

Ela apenas assentiu, seus lábios se dobrando em uma linha sombria.

Sentindo sua necessidade de não falar, Dell chamou Tyson.

—Como você ficou preso a essa missão em vez de seu irmão?

Ty deu de ombros. —Alex é rei em Bela agora. Além disso, é mais provável que a mãe me ouça. Alex e Camille tiveram um... relacionamento difícil. A mãe não aceitaria nada do que ele dissesse sobre Camille no coração. Eu, por outro lado, amo minha irmã. Eu também amo minha mãe e sei que ela não entrega pessoas inocentes. Ajudaremos Camille, mas não dessa maneira.

Pela primeira vez, Helena considerou o quão difícil deve ser manter o título de príncipe em dois reinos. Tinha sido difícil para ela ser uma princesa de um.

Mas ela não pensou por um segundo que uma rainha pudesse ser influenciada simplesmente por conversa. Não foi dito que alguém era tão forte quanto Catrine. O que seria realmente necessário para libertar Quinn?

Landon cavalgou ao lado dela, como se estivesse tentando encontrar algo para dizer. —Chegaremos à fronteira ao pôr do sol amanhã.

Helena apenas assentiu.

—É verdade? — Ele finalmente deixou escapar.

Ela se virou para perfurá-lo com o olhar. —O que é verdade?

—O jovem príncipe Kassander. Ele também vive? Eu ouvi rumores no palácio.

Ela olhou para frente mais uma vez. —Ele vive. Ele estava dormindo quando você chegou.

Um sorriso se espalhou pelo rosto de Landon. —Isso é bom. Realmente muito bom.

—Estevan ainda está morto. — Sua voz não teve emoção.

—Sim. — Ele abaixou a cabeça. —Eu tinha ouvido isso.

—E Cole não tem muito tempo para viver.

Sua testa franziu com isso, mas ele assentiu.

—Dois irmãos mortos ou traidores. — Continuou ela. —Um preso. Uma criança. Você acredita em vingança, general?

—Eu acredito.

—Que tal matar a própria família?

Ele desviou os olhos dela e não respondeu.

Dell encontrou seu olhar com preocupação, mas não falou.

O cansaço penetrou em seus ossos quando pararam para passar a noite. Ela desmontou, uma dor subindo por sua espinha. Ela tropeçou enquanto tentava andar depois de passar o dia todo em cima de um cavalo.

Dell agarrou seu braço. —Você vai se acostumar com isso.

Ela deu de ombros e libertou sua mochila amarrada à sela antes de se afastar.

Simon e Landon acenderam o fogo. Tyson passou em torno de com uma vasilha de carne seca que Etta havia enviado.

—Quinn deveria ter escolhido uma época melhor do ano para ser preso. — Disse Edmund, puxando a capa sobre a boca.

Tyson o empurrou. —Você não pode fazer piadas, imbecil.

Era um lado que Helena não conhecia de Edmund. Disfarçado e indiferente. No ano em que o conhecia, ele sempre tinha uma piada nele, mas não era assim. A perda de Stev havia roubado o homem que ele se tornara?

Ela balançou a cabeça e se abaixou no colchonete que havia deitado, puxando o cobertor de lã até o queixo. O frio noturno escoou pela capa e ela se aproximou mais do fogo do que era seguro. Ela não era a única.

Uma brisa fraca parou de repente, jogando-os em completa quietude. Pelo menos Edmund ainda tinha sua magia.

Sem o vento, o frio ficava mais suportável.

Os homens conversaram enquanto Helena deixava as pálpebras caírem. Amanhã à noite, ela alcançaria Gaule.

Estou indo Quinn.

 

Algo roçou o braço de Helena, acordando-a. Seus olhos se abriram ao encontrar Dell pairando sobre ela.

—O que você está fazendo? — Ela empurrou o cobertor para se sentar.

Ele sentou-se nos calcanhares e coçou a bochecha. —Você estava tremendo. Eu... uh...

Foi só então que ela percebeu que não havia apenas um cobertor cobrindo-a. Ambos agora estavam amassados ao lado. —Você estava me dando seu cobertor?

Ele deu de ombros, subitamente sem palavras. Isso não era como ele.

—Dell...— Tudo o que ela queria dizer, outra coisa saiu de sua boca. —Eu não preciso que você cuide de mim.

Sua mandíbula apertou. —Você deixou isso bem claro. — Ele se levantou e se afastou.

Helena chutou o resto dos cobertores e pulou para correr atrás dele. —Dell, espere.

Ele se virou tão rápido que ela colidiu com ele. —Por que, Len?

—Eu sinto muito.

Ele soltou um suspiro e baixou a cabeça para encontrar o olhar dela. —Você não tem nada para se desculpar. Venha aqui. — Ele a puxou contra ele e a abraçou. —Eu só estou aqui por sua causa, Len. Você pode não precisar de mim, mas isso não significa que vou a lugar algum.

Ela se afastou. —Como assim, você está aqui por minha causa? Você teve que fugir de Madra para sua própria segurança, assim como a minha.

Ele passou a mão pelos cabelos e olhou para o céu. —Você sabe por que eu desafiei meus irmãos para ajudar Edmund?

—Porque você confiou em Edmund.

—Eu confiei... mas Len, eu me tornei um espião. Arrisquei tudo... isso não é algo que você faz apenas porque alguém que você respeita pede para você.

—Então por que?

Ele abaixou o olhar até que se estabeleceu nela mais uma vez.

—Eu sabia o que aconteceria com aqueles dentro do palácio se uma rebelião estourasse.

—Mas você não sabia que eu era a princesa. — Não poderia ter sido tudo para ela.

—Não. Pensei que você fosse a amante do príncipe.

A vergonha corou através dela. —E você ainda queria me salvar?

A ponta áspera de seu polegar raspou em sua bochecha.

—Desde o momento em que te conheci, não importava quem você era atrás das muralhas do palácio. Quando você estava comigo, você era Len. Eu nunca parei de pensar em você.

Ele descansou a testa na dela.

O coração de Helena deu um pulo ao seu toque. Ela queria mais do que tudo ceder às emoções que rodavam dentro dela.

—Você já desejou poder voltar ao baile? — Ela sussurrou. —Quando você percebeu quem eu era e ninguém mais existia além de nós?

—Todos os dias... sem que nossas famílias nos aprisionassem de antemão.

Ela fechou os olhos, uma lágrima escapando. A vida por trás da máscara parecia muito tempo atrás, mas ela se viu sentindo falta dela. Dias passados com a mãe. Noites passadas brincando com seus irmãos. Ela não precisava do resto do mundo. Ela os tinha.

Por um curto período de tempo, Dell havia lhe dado tudo o que não podiam. Ele mostrou a ela que tipo de vida ela poderia ter. Uma de aventura... uma de amor.

—Helena. — Ele respirou. —Eu-

Ele se inclinou, seus lábios roçando os dela.

—Nós não podemos. — Ela se afastou. —Esse é o problema, Dell. Não podemos voltar. Essas pessoas não existem mais. Se eu vou fazer o que precisa ser feito, preciso esquecer a garota que eu era. — Ela saiu de seus braços.

Ele os deixou cair ao seu lado. —Len, não faça isso. Não deixe a raiva consumir você.

—Você não ouviu nada que Etta disse? É assim que eu vou lutar.

 

 

 

 


Capitulo Seis


A chuva envolveu o grupo no segundo dia de viagem. Dell afastou os cabelos molhados do rosto e manteve os olhos fixos nas costas de Helena. Ela estava errada. A raiva não era a única maneira de lutar. Ele ouviu tudo o que Etta ensinou a Len, mas não achou que a raiva fosse o ponto de suas lições.

—Ty. — Edmund latiu. —Você não vai fazer algo sobre isso? — Ele olhou para o céu quando outro dilúvio os atingiu.

—Oh. — Tyson deu de ombros. —Eu acho que poderia.

Dell se assustou quando a chuva parou. Não, não parou. O tamborilar dele batendo no chão ainda soava ao redor deles, mas era como se a água se curvasse de onde eles cavalgavam. Como se um escudo tivesse sido colocado ao redor do grupo.

Helena engasgou momentos antes de Dell também sentir a água escorrer de suas roupas.

—Você está fazendo isso? — Ele perguntou ao jovem príncipe.

Landon xingou e olhou em volta descontroladamente.

—Vocês belaenos. — Ele resmungou.

Tyson deu de ombros. —Às vezes posso ser útil.

O que isso significava? O poder de Tyson com a água era a coisa mais legal que Dell tinha visto em Bela.

Edmund se mexeu na sela. —Ty... é claro que você é útil.

Tyson olhou para as mãos. —Não, está tudo bem. Conheço meu papel em Bela e em Gaule. Eu sou o mensageiro. Pertencer a nenhum reino completamente. Você não esteve aqui no ano passado, Edmund. Depois de...

—Você deixou Amalie. — Edmund terminou.

—Sim, isso. Passo a maior parte do tempo na estrada. Não se preocupe; Sou a melhor pessoa para navegar em Gaule. Isso é algo que eu posso fazer.

—Navegar em Gaule? — Dell olhou entre os dois homens.

Tyson suspirou, mas foi Simon quem respondeu. —Gaule se tornou um lugar traiçoeiro, rapaz.

Helena diminuiu a velocidade do cavalo para se mover ao lado de Dell. —Não. Estudei Gaule com os tutores do meu palácio. Foi um lugar de paz por muitos anos.

Simon fixou seu olhar nela. —Foi uma paz falsa, mas isso não é algo que eles ensinariam em Madra. Gaule caçou aqueles com magia dentro de suas fronteiras por muitos anos. Para pessoas não mágicas, eles tinham paz, sim. Mas teve um custo.

—E então Alex aconteceu. — Tyson esfregou os olhos como se doesse sua cabeça pensar nisso.

—O que Alex fez? — Dell sacudiu os olhos entre cada um dos presentes.

Simon fez uma careta. —Nada que deveria ter custado a ele seu trono. Ele queria interromper a perseguição. Muitos dos nobres agiram por medo e não ficaram atrás do rei quando o povo se rebelou. Seu próprio conselho tirou a coroa do topo de sua cabeça.

—Um conselho não pode fazer isso. — Zombou Helena. —Os únicos que tinham o poder de remover meu pai eram os padres.

—Não há padres em Gaule. O conselho e o rei governaram em conjunto um com o outro. Eles perceberam que o povo nunca terminaria suas rebeliões com Alexandre como rei. Ele era um amante da magia.

—Muito bem. — Tyson cruzou os braços.

—Espere. — Dell não conseguia entender como isso poderia acontecer. —A rainha Catrine pegou a coroa de seu próprio filho?

—Alex deixou. — A voz de Tyson continha uma nota defensiva. —Isso foi ao mesmo tempo que Etta estava marchando para a guerra contra La Dame. Alex precisava se juntar a essa luta e ele nunca poderia ter quando seu dever estava com Gaule.

—A coroação de Catrine reprimiu a rebelião? — Helena perguntou.

Dell se perguntou se ela estava pensando na rebelião em seu próprio reino. Isso também resultava em uma nova trégua.

Simon soltou um suspiro. —Esperávamos que sim, mas o reino já estava dividido. Ainda há muitos que são leais à rainha, mas outros continuam a semear inquietação. Anos de rebeliões resultaram em escassez de alimentos, aumentando apenas o desconforto.

—É por isso que ela precisa da aliança com Madra. — Helena respirou. —Meu pai disse que prometemos tropas para ela.

Tyson rangeu os dentes. —E é a única razão pela qual minha irmã concordaria em se casar em um reino estrangeiro.

—Eles não vão liberar Quinn. — Ela segurou as rédeas, falando apenas com Dell dessa vez.

Dell não conseguiu negar a verdade em suas palavras. Se Gaule precisava de Madra, por que a rainha arriscaria a aliança para libertar um único homem?

Simon, ouvindo as palavras de Len, passou a mão nervosamente pela cabeça. —Você não conhece Catrine. Ela faz a coisa certa, não importa o custo. Sua integridade é inferior a nenhuma. Por isso vim para Bela. Tem que haver outra maneira. Gaule não pode levar em consideração corar um rei que matou sua própria família para assumir o trono.

Helena se encolheu. Dell estendeu a mão para segurar sua mão em segurança, mas ela cutucou o cavalo para aumentar o espaço entre eles.

Ele apertou os lábios.

Tyson olhou para eles. —Simon está certo. Isso é maior do que entregar um homem a Madra. Depois que a mãe fazer isso, o que vem a seguir? Eles sempre manterão a segurança de Camille sobre nós?

Afundaram em silêncio, considerando as implicações dessas palavras.

Depois de um tempo, a chuva desapareceu e Tyson liberou sua magia, afundando na sela do esforço.

O sol se pôs no horizonte quando Simon parou. —Se formos muito mais longe, atravessaremos Gaule e prefiro não fazer isso no escuro da noite.

Edmund olhou para a extensão diante deles. Um vale se estendia pela noite, coberto de ervas. —Neve. Não temos muito disso em Bela. — Um sorriso deslizou em seu rosto. —Não poderíamos cavalgar até a propriedade dos Moreau? Não pode estar longe e uma cama macia parece legal no momento.

Dell não perdeu os olhares afetados que piscavam nos rostos de Tyson e Simon.

—Edmund. — Começou Tyson. —Eu continuo esquecendo que você esteve em Madra com poucas notícias de casa.

—Somente o que os comerciantes nos trouxeram.

Tyson assentiu. —A duquesa Moreau perdeu suas terras logo depois que você partiu para Madra.

Os olhos de Edmund se arregalaram. —Como?

—O duque Ferenz construiu uma força. Ele sitiou a casa grande. Você esteve lá. Foi construída para lutar, pois fica próximo às fronteiras de Bela e Dracon. Mas eles não tiveram chance. Os homens do duque devastaram suas aldeias. Não vamos encontrar amigos lá.

Edmund recostou-se na sela, atordoado. —E a duquesa?

—Segura. Ela agora reside no palácio em tempo integral.

Ele soltou um suspiro aliviado.

Dell não conhecia as pessoas de quem falavam, mas suas expressões graves já diziam o suficiente. Gaule não seria um território amigo.

 

Helena deu um tapinha na espada embaixo da sela antes de subir, o orgulho brotando dentro dela por fazê-lo sem ajuda.

Ela dormiu mal durante a noite, incapaz de livrar sua mente da trágica história de Gaule. Um povo dilacerado por algo tão simples quanto mágica. Em Madra, os poucos com magia eram temidos. A maioria deles embarcou para Bela assim que a notícia do retorno de Persinette chegou à costa. Alguns ficaram por várias razões.

Mas ela não sabia se eles eram odiados. Era apenas uma das muitas coisas que ela não sabia sobre seu reino. Há quanto tempo a rebelião de Madra estava se formando? As pessoas apoiaram? Eles tinham amado o pai ou o irmão?

Eles não viram a primeira vila até chegarem ao topo do vale.

Uma torre de vigia apareceu, com a marca negra de fogo esticando suas pedras.

A parede ao redor havia desmoronado em muitos lugares. Eles conduziram seus cavalos pelas ruas desertas. Alimentos e itens pessoais se espalhavam pelos paralelepípedos como se uma massa de pessoas saísse às pressas.

—O exército do duque está acampado aqui perto. — Landon assumiu a liderança. —Devemos nos apressar e sair rapidamente das terras de Moreau. Há uma força de Madra patrulhando a zona entre aqui e o palácio. Quando deixarmos esta vila, não poderemos mais seguir a estrada. Os caminhos da floresta são traiçoeiros para os cavalos, então fiquem de olho.

Ele mal conseguiu pronunciar as palavras antes que algo se chocasse contra Helena, derrubando-a do cavalo.

—Len! — Dell gritou, mas ele não conseguiu alcançá-la porque, naquele momento, uma dúzia de cavaleiros apareceu nos becos.

Helena empurrou o homem que a havia ultrapassado. Ele agarrou seus pulsos, e ela girou embaixo dele.

Ela viu o uniforme carmesim dele. Madranos. Rebeldes. Passou por sua pele até que tudo o que ela viu foi um inimigo tentando subjugá-la. Ela bateu o joelho, pegando-o na virilha. As mãos dele sobre ela afrouxaram apenas o suficiente para ela soltar uma e puxar a adaga de onde ela sempre a mantinha no corpete. Com um empurrão da mão dela, ele caiu de lado.

Ela ficou de pé, soltando a adaga e se preparou para enfrentar o próximo atacante. Uma mulher correu para ela e Helena abaixou a adaga. Ela procurou o cavalo para recuperar sua própria espada, mas o animal se foi.

Besta explodida.

Tyson empinou em Vérité quando o cavalo chutou as pernas para o cavalo do atacante. Era como se o animal pensasse que ele também fazia parte da luta.

Helena se virou mais uma vez para encarar a mulher que a seguia. Ela julgou a distância entre elas, acalmando a respiração antes de arremessar a adaga com uma precisão mortal. Isso atingiu a mulher entre os olhos. Ela tombou do cavalo e o cavalo fugiu.

Um toque soou nos ouvidos de Helena quando a luta cessou ao seu redor. Os Madranos não eram páreo para o grupo menor, mas mais habilidosos, que atacavam.

Ela tropeçou de volta. A última vez que ela esteve em uma luta... imagens tocaram em sua mente. Fogo. Estevan. Ela balançou a cabeça, tentando se libertar das garras do passado. Ela teria que fazer isso repetidamente para garantir o trono? Matar?

Dell pulou do cavalo e correu em sua direção. —Len, você está bem? — Ele agarrou seus ombros, olhando-a de cima a baixo como se procurasse ferimentos.

—Precisamos sair daqui. — Simon resmungou.

Dell baixou a cabeça para olhar em seus olhos. —Len, olhe para mim.

A cena entrou em foco novamente.

—Você está bem? — Dell perguntou mais uma vez.

Ela deu de ombros e pegou a adaga da mulher morta enquanto a frieza a penetrava. —Tudo bem. — Limpando a lâmina na perna da calça, ela se juntou aos outros. —Eles eram madranos.

—Desertores, princesa. — Os lábios de Landon puxaram para baixo. —A turbulência dentro das tropas deu muitas chances de escapar. Bandos de desertores agora viajam pelas estradas, nada melhor do que ladrões comuns.

—Por que eles não voltaram para Madra?

—Como, princesa? — Landon balançou a cabeça. —Eles não têm nada, nem dinheiro para a passagem do navio. As tropas madranas são enviadas para países estrangeiros sem saber quando voltarão para casa. Eles se alistam sob a promessa de comida para suas famílias. Mas seu pai e suas guerras... Ele manteve muitos deles em zonas de guerra por anos.

Helena olhou para os mortos espalhados pela rua. Ela costumava se perguntar o que poderia levar uma pessoa a matar, a roubar. Mas eles não haviam acordado um dia e decidiram viver a vida dessa maneira. As circunstâncias, muitas delas criadas por seu pai, transformaram as pessoas em quem elas se tornaram.

Como ela viveu sua vida cega às falhas do pai? Ele falhou com seu povo. Cole não estava errado em acreditar que não merecia mais ser rei.

Ela poderia perdoar o irmão por querer a coroa.

Mas a mãe dela? Estevan? Não, essas foram as mortes pelas quais ele tinha que pagar.

Uma vez fora do território de Moreau, eles estavam em terras pertencentes à coroa de Gaule e patrulhadas pela força de Madra.

Galhos chicotearam Helena no rosto enquanto ela atravessava o chão coberto de neve na floresta.

A cada dia, eles se aproximavam do palácio. O que ela ia dizer à rainha para fazê-la ver?

A incerteza curvou seu estômago, mas era Quinn. Ela não podia decepcioná-lo.

 

As paredes do palácio de Gaule eram maiores do que qualquer que Helena já vira. Elas pairavam sobre ela, roçando o céu.

Simon cavalgou em direção à pequena guarita que parecia recém-construída. Ele falou com os guardas em tom baixo.

Os olhos de Edmund nunca deixaram os portões. —A última vez que estive aqui, Etta explodiu esses portões.

Os olhos de Helena se arregalaram. —Ela tem tanto poder?

—Não mais. — Ele desviou os olhos. —Houve um tempo em que Etta detinha todo o poder de seus ancestrais. Ela destruiu sua própria mágica para vencer La Dame. Agora ela só tem aquele com o qual nasceu. O poder de fazer as coisas crescerem.

Dell coçou a parte de trás da cabeça. —Seria incrível estar lá para a batalha de Dracon. Para ver esse tipo de mágica.

Um novo homem emergiu da guarita e Edmund afastou o cavalo deles. —Fique feliz que você não estava. — Com essa palavra final, ele desmontou.

Um guarda mais velho, de uniforme azul, se aproximou.

—Pai. — Helena nunca tinha ouvido tanto gelo no tom de Edmund.

Então, esse era o homem que desprezara Edmund a vida toda. Helena examinou seu rosto severo, instantaneamente não gostando dele.

—Você não deveria estar em Gaule. — Afirmou o homem. —Não é seguro para o seu tipo, mesmo que a rainha o apoie.

Edmund deu de ombros. —Nunca foi seguro para mim, foi? Temos que ver a rainha.

Como se os notasse pela primeira vez, o pai de Edmund examinou o grupo com uma careta.

Simon voltou. —Anders. — Ele estendeu a mão. —Trago convidados importantes.

Anders se recusou a apertar sua mão. —Você abandonou seu posto, Simon. Eu deveria ter você jogado em uma cela.

—Anders, eu fui e sempre farei o que é melhor para a rainha.

O homem suspirou. —Eu sei. Ela está de mau humor desde que você saiu. Ela ficará feliz em vê-lo pelo menos em segurança. Venha. Ela já se retirou para seus aposentos para passar a noite, mas quer vê-lo imediatamente. Seus convidados podem ter sua audiência amanhã.

Helena abriu a boca para protestar, mas Simon levantou a mão.

—O navio madrano já chegou?

Anders assentiu. —Esta tarde. Está ancorado fora da enseada. Eles estão programados para sair de manhã com o príncipe.

Cada palavra esfaqueou o coração de Helena. Amanhã. Eles estavam quase atrasados.

Os portões se abriram, suas engrenagens enviando um grito na noite.

Simon hesitou por um momento. —Então nossos convidados não podem esperar. Eles devem ver a rainha agora.

Anders não os impediu enquanto eles seguiam direto para uma cidade com fileiras de casas e lojas pelas ruas de paralelepípedos. Ao longe, havia outro muro alto que separava o palácio dessa parte externa.

Crescendo em uma cidade como Madra, as aldeias de Gaule e Bela pareciam pequenas em comparação. Ela não entendia como a população deles poderia viver tão espalhada.

Nos estábulos, dois rapazes pegaram seus cavalos.

Eles atravessaram os portões abertos para um pátio. Os degraus da entrada do palácio ficavam no outro extremo, arcos guiando o caminho. Tochas estavam em ambos os lados das portas. Os guardas acenaram com a cabeça para Simon, não o parando para questionar quem estava com ele.

Ela não sabia o que estava esperando depois do humilde palácio de Bela, mas não era o esplendor antigo que os cercava agora.

Eles atravessaram o chão de mármore, virando muitos cantos até que ela não tinha certeza de que conseguiria sair. Seu coração batia mais rápido quanto mais chegavam aos aposentos da rainha. Era isso. Seu momento de salvar o único membro de sua família que podia. No entanto, ela não sabia o que diria.

Eles pararam do lado de fora de uma porta de mogno esculpida. Simon não deu atenção aos guardas estacionados lá, e eles não o seguraram. Ele bateu e esperou.

—Entre! — Uma voz gritou.

Um dos guardas abriu a porta, revelando uma suíte luxuriante com carpete aveludado.

Uma mulher alta, com cabelos escuros e olhos claros apareceu. Franziu a testa e cruzou os braços sobre o peito. —Simon.

—Sua Majestade. — Ele se curvou.

—É isso aí? — Sua voz subiu uma oitava. —É tudo o que eu ganho? Sua Majestade?

—Mãe. — Tyson passou por Simon e ela viu que não estavam sozinhos pela primeira vez.

—Ty? — Ela amoleceu. —Eu não esperava vê-lo até o inverno nos deixar. — Ela estendeu os braços e ele afundou em seu abraço.

Helena desviou o olhar, lágrimas ardendo na parte de trás dos olhos. Ela daria qualquer coisa para sua própria mãe para segurá-la assim novamente.

A rainha olhou para o resto. —Edmund? — Ela soltou Tyson. —Oh querido garoto. Faz anos.

Edmund recebeu um abraço tão quente quanto o de Tyson. Ele enterrou o rosto no ombro da rainha e suas costas tremiam como se a mulher quebrasse todas as paredes que ele construiu com um abraço. Ela se afastou.

—Edmund. — Ela inclinou o queixo para que ele olhasse para ela. —Eu estava preocupada com você quando as notícias de Madra chegaram até nós. Você está...

—Bem? — Uma lágrima deslizou por sua bochecha e ele se afastou. —Eu...— Ele balançou a cabeça como se decidisse não contar a ela. —Estamos aqui por um motivo. Não importa o quanto eu sinta sua falta, não é por isso que eu vim.

A máscara de rainha de Catrine voltou e ela gesticulou para o quarto, olhando os estranhos.

—Landon. — Ela o cumprimentou. —Eu não pensei em vê-lo novamente.

—Sua Majestade. — Ele não tinha mais nada a dizer para ela.

Catrine falou com os guardas à sua porta. —Encontre alguém para nos buscar um chá.

—Vinho. — Corrigiu Edmund. —Vamos precisar de vinho.

A voz de Catrine endureceu. —Chá.

—Sim, sua Majestade. — O guarda desapareceu e Catrine fechou a porta antes de virar em direção à sala de estar.

Dois sofás compridos se enfrentavam em frente a uma lareira crepitante.

—Sentem-se. — Disse ela. —Por favor. Então você pode me dizer quem você trouxe para o meu reino, Tyson.

Tyson engoliu em seco quando se sentou.

Helena permaneceu de pé. Ela encarou a rainha. —Eu sou Helena, princesa de Madra.

A única reação da rainha Catrine foi levantar uma sobrancelha.

—Bem, eu certamente não esperava isso. Parece que podemos precisar desse vinho, afinal.

—Eu disse a você. — Edmund resmungou.

—Não temos tempo para bebidas ou brincadeiras. — Todas as incertezas de momentos antes desapareceram, e Helena sabia tudo o que precisava para transmitir. Ela levantou o queixo, olhando nos olhos duros de Catrine.

—Não. — Catrine cruzou os braços. —Essa é a minha resposta para você. Você veio ao meu prisioneiro.

—Meu irmão. — Helena rosnou. —Você vai libertá-lo para mim.

—Sinto muito. — A rainha desviou o olhar e deu a volta em torno de Helena para afundar no sofá ao lado de Tyson. —Eu não posso fazer isso. Minha filha está em jogo. A aliança do meu reino.

Helena se virou para encará-la mais uma vez e abriu a boca para falar, mas Simon interrompeu.

—E então? Entregamos um homem inocente ao usurpador e ele volta para nós pedindo mais na próxima vez. Camille nunca estará segura enquanto estiver lá. Você está colocando toda Gaule em risco.

—Suas tropas. — Disse ela. —Nós precisamos deles. Não posso continuar a conter os rebeldes sozinha. Etta se recusa a enviar ajuda, então o que devo fazer?

—Mãe. — Tyson agarrou sua mão. —Etta não pode enviar gente mágica para Gaule. Mesmo que ela tentasse, seu pessoal recusaria e ela deixaria. Eles não virão em auxílio do reino que os perseguiu.

A rainha expirou lentamente. —Eu sei. É por isso que não posso libertar o príncipe. Me desculpe, você chegou até aqui. Madra é minha única esperança.

—Então você cairá como meu pai. — Helena caminhou até a porta e os deixou olhando para ela.

 

 

 

Capitulo Sete


O palácio de Gaule era estranho a Helena, mas tão familiar. Servos apressados, preparando-se para os deveres da manhã seguinte. Os guardas a observavam, sempre atentos a estranha entre eles.

Ela sentiu alguém a seguindo quando saiu da ala real e sabia quem era sem se virar.

—Eles te mandaram atrás de mim? — Ela disse, sem parar.

Dell apareceu das sombras. —Você não deveria ter saído.

—Eu disse o que vim dizer. — Ela falou suas próprias palavras. — Eu vivi minha vida em torno de pessoas que tomam decisões em um reino e posso ler os sinais de uma causa perdida. Todos nós precisávamos de um momento para respirar.

—Len. — Ele agarrou o braço dela para parar seus passos.

—Temos que pegá-lo, Dell. — Ela se virou, consciente dos olhos nela.

Passos pesados bateram pelo corredor e o rosto sombrio de Edmund apareceu. —Não aqui. — Ele passou por eles, virando a esquina para outro corredor. Parou em uma porta que dava para um pátio de treino. Alvos de madeira estavam em uma extremidade, mas nenhum arqueiro ou espadachim praticava na hora tardia.

—Não haverá ouvidos indesejados aqui. — Edmund virou-se para eles. —Tyson continuará a falar com a rainha. Por isso precisávamos dele. Provavelmente não o veremos até a manhã, por isso precisamos seguir para o nosso segundo plano.

Os ombros de Helena relaxaram. Ela deveria saber que Edmund não confiaria apenas em conversas para salvar seu irmão. Ele faria o que fosse necessário... mesmo que isso significasse trair uma rainha que obviamente era como uma mãe para ele.

Edmund examinou a área circundante antes de se voltar para Helena. —Se o navio de Madra já chegou, precisamos nos preparar para a possibilidade de que madranos fiquem no palácio.

—A rainha nos contaria isso? — Dell perguntou.

Os ombros de Edmund se ergueram meio encolher de ombros. —Catrine guarda seus segredos. Ela não iria querer inquietação dentro dessas paredes. Não estamos mais em Bela, onde as pessoas confiam em sua rainha, nem em Madra, onde o rei tem imenso poder. Governar Gaule é como sentar na ponta de uma espada. Muitas pessoas veem Catrine como tendo roubado a coroa de Alexandre, mas ela o salvou desse destino.

Helena sentiu a mulher sentada naqueles quartos luxuosos. Ela sabia o que era se sentir enjaulada pelas circunstâncias. Mas isso não significava que Helena não lutaria com ela com cada respiração que respirava.

Ela endureceu a mandíbula. —Não importa o bem que ela fez. Ela tem Quinn. Diga-me, Edmund, você está do meu lado ou do dela?

Edmund fechou os olhos, protegendo-a da guerra em suas profundezas. —Catrine sempre cuidou de mim como se eu fosse dela. — Suas pálpebras se abriram, permitindo a Helena um vislumbre da dor por trás de suas palavras. —Mas ela está errada agora. E eu tenho que fazer isso. Eu tenho que proteger você, proteger seus irmãos.

—Por Estevan? — Ela sussurrou.

Ele balançou sua cabeça. —Por você. Você é minha família tanto quanto Catrine... tanto quanto seus filhos.

Helena conteve as emoções que ameaçavam se espalhar. Ela não era a garota que poderia mais quebrar. Não quando havia tanto em jogo.

Dell deu um passo à frente. —O que nós fazemos?

—Pergunte a ele. — Edmund gesticulou atrás deles.

Helena e Dell se viraram para ver quem havia chegado. Reed estava perto da porta, ouvindo a conversa silenciosa.

Dell pegou sua espada instintivamente, esquecendo que eles foram desarmados antes de serem autorizados a entrar no palácio. Helena sentiu o peso da adaga escondida, secreta dentro do tecido do vestido. Ela não queria puxar, mas se ele fizesse um movimento, ela não hesitaria.

Reed jogou as mãos no ar segundos antes de Dell correr para ele, batendo-o contra a parede. Ele pressionou o braço na garganta de Reed. —Ele ouviu tudo. Não podemos simplesmente deixá-lo ir.

Reed tossiu. —Se você me soltar. — Ele murmurou. —Eu tenho informações que você quer saber.

—Dell. — Edmund apertou a mão no ombro da Dell.

Dell puxou o braço para trás e seguiu para o outro extremo do pátio de treinamento antes de retornar. —Ok, irmão, o que você tem para nos dizer? Fale antes que eu peça a Helena aqui que corte sua garganta com a adaga que sei que ela escondeu em algum lugar.

Os olhos de Reed se arregalaram e Edmund xingou.

Helena virou-se para esconder o rosto.

—Princesa? — Reed nunca a tinha visto sem a máscara. Se não fosse pela língua tagarelada da Dell, ele não saberia que ela estava diante dele. —Eles disseram que você morreu.

Ela se virou para encará-lo e seus lábios se curvaram. —Eles disseram muitas coisas. Assim eles eram leais ao rei. Ou que eles amavam seu reino. Mentiras. Não acredite em nada que saia da boca de um rebelde.

Reed se empurrou contra a parede. Ele se aproximou de Helena, mas Dell entrou em seu caminho. —O que você está fazendo no Gaule, Reed?

—O rei me enviou para buscar seu irmão. Ele não confia em ninguém além de mim e Ian. E bem, Ian nunca sai do seu lado.

—O rei. — Helena zombou. —O rei está morto.

—Olhe. — Reed passou a mão pelo rosto. —Vi você chegar hoje e tenho seguido você desde então. Provavelmente não sou o único que viu. Felizmente, o resto dos homens de Cole que estão comigo só reconheceria Edmund. — Ele enfrentou Dell. —Assim que eu te vi... não sabíamos se você saiu ou onde está desde então.

—Estou surpreso por você se importar. — Disse Dell.

—Eu não. — A declaração chocou Helena, mas Dell nem sequer se encolheu. —Mas Cole... Madra está sofrendo. Bela se recusa a negociar conosco e Gaule não tem nada de valor, como comida.

Helena olhou para Edmund. —Você sabia que Etta cortou laços com Madra?

—Não. — Ele parecia tão aturdido quanto ela. —A rainha Belaena não enviaria forças para ajudar, mas as cortou. Bela tinha terras ricas, ajudadas por magia. Desde que recuperaram seu reino, eles forneceram boa parte dos alimentos aos seis reinos.

Mas isso não era Cole sofrendo. Eram as pessoas. O povo de Helena. Eles estavam com fome antes. Agora...

Reed continuou. —Cole ficou paranoico com o fato de alguém tentar assumir o trono. É por isso que ele me enviou para recuperar Quinn. Mesmo que os irmãos não concordem com isso agora, Cole acha que seu irmão gêmeo é a única pessoa em quem ele pode confiar.

—Camille. — Edmund apertou a mandíbula. —E ela...

—Ela está bem. — Reed desviou os olhos. —Por enquanto. Cole não é o mesmo desde o dia em que conquistou a coroa. — Ele encarou Helena com um olhar. —Ele se culpa por sua morte, e é a única coisa em tudo isso que o está comendo de dentro para fora.

Helena não acreditou nas palavras de Reed. Para que ele se sentisse culpado, Cole tinha que ter um coração, e ela sabia agora que era a única coisa que lhe faltava. Uma mente brilhante. Uma vontade de ferro. Ele poderia ter sido um bom rei se possuísse a peça final.

—Cole não é da minha conta hoje à noite. — Ela disse. —Conte-me sobre Quinn.

Reed esfregou uma mancha na cabeça. —Vamos partir amanhã na maré da manhã.

—Podemos libertá-lo das masmorras hoje à noite? — Os olhos de Dell saltaram animadamente como se estivessem prestes a embarcar em uma grande aventura.

Edmund o trouxe de volta à realidade. —Não. Passei um tempo considerável nessas masmorras. Eu até escapei delas uma vez com Etta. Mas elas foram fortalecidas desde então, assim como o topo das muralhas. Você vê isso? — Ele apontou para fileiras de arame pontudo nas paredes que se estendiam ao redor do palácio. —Não há como sair do palácio interno agora, se eles não querem que você saia. É tarde, então eles fecharam as paredes internas. Eles reabrem ao amanhecer, mas estarão fortemente vigiados.

Helena estudou Edmund por um momento antes de seus olhos descansarem em uma cremalheira de flechas atrás dele. —Como você é com um arco?

Sua sobrancelha se levantou como se não estivesse esperando a pergunta. —Decente. — O ceticismo soou forte em sua voz. —Mas se qualquer plano que esteja formulando em sua mente depender de precisão, você precisará da ajuda de Tyson.

—Ele vai desafiar sua mãe e arriscar sua irmã?

Edmund assentiu com relutância. —Ty sempre fará o que acha certo. Gaule é o seu reino. Se Camille se tornar rainha de Madra, Tyson se torna herdeiro de Gaule. Se ele acredita que esta aliança com Madra mergulhará Gaule em mais problemas, ele a interromperá.

Helena enfrentou Reed. —Eu não confio em você Reed Tenyson, mas tenho poucos aliados e sei o que você fez por nós em Madra. Você ajudou Dell a proteger Kassander. Só por isso, não vou te matar. Mas vou deixar Tyson atirar em você.

 

—Não podemos confiar nele .— Dell afastou Helena enquanto Edmund mantinha os olhos fixos em Reed.

—Eu sei disso. — Ela deu as costas para ele e colocou as mãos na cabeça. —Mas me diga de outra maneira, Dell. Por favor, me diga como vamos salvar Quinn sem a ajuda dele.

Quando ela se virou para encará-lo novamente, a primeira emoção que ele viu nela, além da raiva, desde que começaram a jornada, rompeu. Seus olhos brilhavam, mas ela não deixou cair uma única lágrima.

Sem pensar, ele a puxou para um abraço. Ela ficou rígida por um momento antes de relaxar nos braços dele.

—Dell. — Ela sussurrou. —Reed foi quem disse a Edmund onde Ian o prendeu. — Ela inclinou a cabeça para trás e olhou para ele. —Eu sei que você quer pensar em seus dois irmãos como criaturas malignas, mas sem ele, você não seria capaz de nos ajudar na rebelião. Sem ele, eu estaria morta.

Dell soltou um suspiro quando a verdade de suas palavras o atingiu. Os olhos dele percorreram o rosto dela e a mão dele tocou a parte de trás da cabeça dela. Quando ele pensou naquela noite e no que quase aconteceu, ele não conseguia respirar.

Helena deixou claro onde as coisas estavam entre eles, e ele cumpriria os desejos dela. Mas ele nunca perderia a sensação de que ela o atingia desde aquele dia na praia, quando eles escaparam das demandas de suas vidas.

Ele não sabia a verdadeira extensão de tudo o que ela corria desde aquele dia, mas para ele... seus irmãos. Sua madrasta. A vida dele.

Mas isso não era mais a vida da Dell. Ela mudou o destino dele. Agora estava aqui, em um reino estrangeiro, com ela.

Ele a soltou com um aceno de cabeça. —Ok, mas temos que tomar precauções.

—Concordo. — Ele a seguiu de volta para onde Edmund e Reed estavam em um impasse desconfortável. Apesar de sua ajuda, Reed ainda trabalhava para Cole.

Helena cruzou os braços, olhando seu aliado temporário.

—Conte-me tudo. Todo o seu plano para levar Quinn ao navio.

Reed esfregou a mandíbula. —Existem túneis.

Edmund soltou uma série de maldições.

—Gostaria de compartilhar? — Dell perguntou.

—A rainha Catrine mostrou a eles os túneis. — Ele esfregou os olhos como se não pudesse acreditar. —Ela está tão empenhada nessa aliança com Madra que está revelando os segredos do reino.

Em algum nível, Dell entendeu o pensamento da rainha. Um rei usurpador mantinha a filha em cativeiro e assinar o tratado era o único meio de salvar a filha. Parecia tão simples. Troque um homem pela segurança da princesa. Mas ele também entendia por que Simon os procurara. Por que Etta os enviou. Por que nem Tyson queria trocar por Camille.

Qual seria o próximo? Gaule se perderia para Madra, pedaço por pedaço? Já não era sobre Quinn Rhodipus.

Reed cruzou as mãos atrás das costas. —Não queremos que Quinn seja visto caminhando para a enseada onde nosso navio está ancorado. Vamos extraí-lo das masmorras e levá-lo através dos túneis que levam ao mar. Lá, vamos remar para o navio.

Helena mordeu o lábio, perdida em concentração. Dell observou-a considerar Reed. Ele praticamente podia ver sua mente trabalhando.

Como ela era apenas uma princesa ornamental? Madra teria ficado melhor com a princesa Helena no conselho do que como a tradicional chefe de comerciantes depois do casamento.

Helena deu um passo à frente, examinando Reed da cabeça aos pés. Ela bateu na perna dele enquanto olhava para Edmund por cima do ombro. —Se ele pegar uma flecha aqui, ele sangrará antes de poder chegar ao navio?

Reed congelou.

Edmund considerou a pergunta. —Ele deveria ficar bem. — Ele dirigiu suas próximas palavras para Reed. —Apenas não remova a seta. Você tem um médico nesse navio?

Reed assentiu, dando um passo para trás. —Você quer colocar uma flecha na minha perna?

—De que outra forma poderíamos resgatar Quinn sem levantar suspeitas? — Helena levantou os olhos para ele. —Existem homens combatentes no seu navio?

—Apenas um punhado. Há dois homens aqui comigo no palácio.

—Você se importa se eles são mortos? — Sua voz não tinha emoção, apenas um tom frio e lógico.

A mandíbula da Dell se abriu.

Reed se endireitou. —Eles são leais ao seu irmão.

—Eles estavam lá naquela noite?

Todo mundo sabia em que noite ela falava. A rebelião.

O silêncio de Reed foi resposta suficiente.

Helena apertou o punho, mas não falou de novo antes que a porta do pátio se abrisse e Tyson aparecesse, com uma expressão sombria na boca. Ele não se incomodou em perguntar quem era Reed porque seu olhar se fixou em Helena.

Helena correu para ele. —Você fez algum progresso?

Seus olhos caíram, dando-lhes a resposta.

—Sinto muito. — Disse ele. —Vou continuar tentando.

Os olhos de Helena endureceram, brilhando à luz das tochas. —Você precisa saber, Tyson... impediremos Quinn de entrar naquele navio, independentemente da decisão de sua mãe.

Ele assentiu como se não esperasse menos. —Eu convenci minha mãe a permitir que você visite as masmorras.

Helena congelou, suas palavras a sufocando na saída. —Eu posso vê-lo?

Capitulo Oito


Uma fileira de guardas está de pé no fundo da escada estreita da masmorra. A primeira coisa que Helena notou foi que cada cela tinha uma alma pobre presa dentro. Gaule tinha tantos criminosos? Talvez eles fossem rebeldes.

Seus duros gritos e gemidos enviaram um calafrio por sua espinha enquanto ela contornava os braços que a alcançavam.

Como Quinn poderia estar em um lugar como este? Seu doce irmão, o melhor de todos. E esse era o destino dele? A tristeza agitou-se dentro dela, revirando-se repetidamente até que endureceu em raiva que gelou seu coração.

Isso também foi culpa de Cole.

—Houve um tempo — Sussurrou Edmund. —Quando essas celas estavam praticamente vazias. Mas Gaule mudou.

Helena não estava interessada em ouvir o passado de Gaule. Ela examinou cada rosto que passou até que o guarda que os conduzia pela passagem úmida parou diante de um conjunto de barras de ferro enferrujadas. Ele tirou uma adaga do cinto e bateu contra o metal, sacudindo o homem por dentro.

—Olá, príncipe. — O guarda zombou. —Parece que alguém veio se despedir.

Quinn levantou o rosto machucado e Helena respirou fundo. Seus olhos nebulosos flutuavam sobre ela, e ela não tinha certeza se ele realmente a via. O início de uma barba cobria sua mandíbula afiada, dando-lhe um olhar mais sombrio do que ela estava acostumada. Mas ainda era ele. Ela deu um passo atrás, por um momento sentindo como se Cole estivesse sentado na frente dela com seus olhares idênticos.

Não Cole, ela disse a si mesma. Ele não está aqui. O medo diminuiu, ela caiu de joelhos no chão coberto de terra para se aproximar.

Os olhos de Quinn se clarearam e ele balançou a cabeça quando seu olhar se fixou nela. Ele murmurou o nome dela, sem emitir nenhum som.

Ela assentiu.

Ignorando a presença do guarda, Edmund e Dell, Quinn atravessou a cela em sua bunda. —Helena. — Sua voz soou como se ele não a tivesse usado há dias.

—Estou aqui. — Uma lágrima percorreu seu rosto, e ela alcançou através das barras.

Seus olhos se arregalaram e ele engoliu um soluço. —Você está morta.

Ela balançou a cabeça; cachos escuros se soltando de sua cauda baixa. —Estou aqui. — Ela repetiu.

O irmão forte dela tremia enquanto os soluços assolavam seu corpo. Ele enterrou o rosto nas mãos. —Eu pensei...— Ele não conseguiu expressar as palavras. —Eu pensei que era só eu. E Cole...

—Não fale o nome dele. — Disse ela, endurecendo a mandíbula. —Ele não é mais nossa família.

Ele ergueu os olhos vidrados para ela. —Você me encontrou?

Ela assentiu.

—Você veio para mim?

Ela chegou mais longe na cela, precisando tocá-lo.

Ele apertou a mão dela como se ainda não acreditasse que ela era real.

—Eu estava com tanto medo que no final...— Ele respirou fundo. —Que você morreu pensando que eu te trai junto com Cole.

Ela enxugou uma lágrima do rosto. —Não, Quinn. Eu conheço você. Eu sei o que há dentro de você. Você nos amou... você os amou.

—Pai. — Ele tremeu. —Mãe. Stev. Kassander-

—Não. — Ela apertou a mão dele para detê-lo. —Kass está vivo.

Era como se uma luz entrasse em seus olhos. —Vocês dois? Eu nunca imaginei. Onde ele está?

—Nos esperando em Bela.

—Nos? Dizem que a rainha concordou em permitir que os madranos me levassem.

—Temos um plano, Quinn. — Ela apontou para Edmund e Dell.

—Você a ajudou? — Quinn perguntou a Edmund.

Edmund balançou a cabeça e apontou o polegar na direção de Dell. —Era tudo ele.

A cor subiu nas bochechas de Dell quando Quinn se levantou, as pernas balançando embaixo dele. Ele enfiou a mão nas barras.

Dell pegou. Helena ficou ferida. —Eu não a teria deixado para trás. Se ela não tivesse sido ferida, ela teria salvado a todos nós.

—Eu sei. — Os olhos de Quinn se depararam com Dell por um momento a mais antes de liberá-lo.

—Quinn. — Helena recuperou sua atenção. —Amanhã, quando você ouvir alguém gritar seu nome....

—Cuidado, Lenny. — Ele encostou a cabeça nas barras. —Eu não posso te perder de novo.

 

Ela o tinha de volta. Antes de ver Quinn pessoalmente, a ideia dele ainda existia era como um sonho. Ela esperou tanto tempo para ouvi-lo dizer o nome dela, mas o sonho nem se comparava à realidade.

O palácio de Gaule era uma contradição. As pessoas tratavam seu grupo como convidados indesejados. A rainha planejava enviar o irmão de Helena para seu inimigo. No entanto, eles receberam quartos luxuosos. Os criados trouxeram bandejas de queijos e carnes, além de jarros de vinho da Borgonha, mais fortes do que os oferecidos em Madra.

Tanto para Gaule ser um reino faminto.

Mas era assim que sempre era, não era? As pessoas comuns passavam fome enquanto os mais altos festejavam. Ela viveu sua vida de um lado, sempre tendo comida mais que suficiente. Sempre recebendo o melhor do comércio de reinos vizinhos.

Trancada dentro de seu castelo, ela não sabia que poderia ser de outra maneira.

Mas agora ela viu isso nos rostos dos homens que tentaram roubá-los. Ela ouviu histórias dos rebeldes que só queriam comer.

Sua máscara não a protegia mais do mundo.

E era aterrorizante.

Ela rolou na cama de dossel que poderia acomodar três pessoas. Cobertores brancos e macios isolavam-na do frio que muitas das crianças gaulesas experimentariam naquela noite.

No alto, um dossel roxo escuro escondia a janela. Ela abriu as cortinas e sentou-se para contemplar o castelo adormecido. O quarto dela dava para o castelo externo. As pessoas que moravam lá eram as sortudas. A coroa cuidava deles.

E quanto ao resto?

E as pessoas como Quinn, que não eram nada além de peões para aqueles com poder? Quem cuidava deles?

Ela deixou as pernas caírem sobre a cama, os pés descalços roçando o macio tapete branco. Antes de dormir, uma criada do palácio trouxe água para ela tomar banho e lhe deu um vestido de dormir rosa de seda. Ela não experimentou tanto luxo desde que deixou Madra.

Naquela época, ela esperava. Ela era uma princesa.

Agora, isso a irritava.

Ela colocou a mão embaixo do travesseiro, onde havia escondido um a adaga. Tê-la por perto lhe dava uma sensação de força. Mas se eles fossem atacados, ela não teria utilidade contra uma série de guardas bem treinados.

Os gauleses a abandonariam? Se Cole descobrisse que ela ainda vivia e que seus supostos aliados a estavam abrigando...

Ela jogou a adaga no ar, pegando o punho com a outra mão antes de jogá-lo em direção à porta. Começou a abrir momentos antes de a adaga se enfiar na intrincada madeira.

Dell congelou. —Isso era para mim?

Helena deu de ombros e se levantou da cama. O vestido de dormir atingia apenas o topo de suas coxas e ela tentou puxá-lo para baixo quando o olhar de Dell deslizou sobre ela. Um rubor manchou suas bochechas, chegando até as pontas das orelhas.

—Obrigada por bater. — Sarcasmo escorria de suas palavras.

Ele não mordeu a isca. —Eu tive uma ideia.

—É o meio da noite. — Ela apontou para onde o luar prateado se filtrava pela janela.

—No entanto, você está jogando adagas pelo quarto.

Ela caminhou até a mesa na área de estar onde dois jarros estavam. Servindo-se de um copo de água, ela o levou aos lábios sem oferecer nada à Dell.

Com um suspiro, ela largou o copo. —Você sabe por que eu jogo adagas? Por que minha mãe me ensinou essa habilidade e afastou as outras de mim?

Ele balançou a cabeça e atravessou o quarto, pegando o copo dela. Ele tomou um gole quando ela estreitou os olhos.

—Jogar uma adaga requer muita concentração. É quase como se isso o levasse a um mundo totalmente novo, onde a vida ou a morte podem ser decididas com um movimento do pulso. — Ela pegou o copo de volta. —Minha mãe achou que eu precisava de algo que me permitisse fingir que nada mais existia. Sem expectativas ou limitações. Só eu e uma lâmina. Nunca foi sobre a proteção contra os outros. Ela pensou que eu precisava de proteção de mim mesma. Das dúvidas em minha mente.

Dell pegou a jarra e serviu seu próprio copo. —Sua mãe parecia uma mulher incrível.

Helena desviou o olhar. —Gostaria que Madra tivesse conseguido vê-la mais. Meu pai e seus padres a colocaram no papel de figura de proa. Ela era uma rainha que só se destacava por seus belos vestidos e pelos filhos que tinha, mas era muito mais que isso.

—Eu nunca ouvi você falar dela.

Helena rodeou o sofá branco e sentou-se, puxando as pernas para baixo dela. —Às vezes eu esqueço.

—Esquece o quê? — Ele se moveu para uma tocha ao longo da parede, puxando-a para mergulhar na lareira fumegante. Acendeu, e ele a recolocou em um gancho, seu rosto agora banhado em um brilho laranja. Mas não era só a chama. Dell brilhava de dentro para fora. Ela percebeu isso na primeira vez que o viu e nunca desapareceu.

Ele sentou-se ao lado dela.

Helena mordeu o lábio. —Que ela se foi. — Ela olhou para o fogo como se tivesse vergonha de suas palavras. —Eu tenho estado tão focada. Quero vingar a morte dela, mas nunca processei o fato de que ela se foi.

—Eu era jovem quando minha mãe morreu. — Dell torceu as mãos. —E então meu pai logo depois.

Ela se endireitou, pegando o braço dele. —Me desculpe, eu nem pensei. Às vezes, esqueço que não sou a única que perdeu pessoas.

Ele colocou a mão sobre a dela. —Não é por isso que estou lhe dizendo. Levei muito tempo para me sentir normal novamente. Parar de procurar em cada esquina o próximo evento que destruiria ainda mais minha vida. Não me aproximei de ninguém nem acreditei em nada. Meus irmãos... Ian sempre foi uma causa perdida. Mas Reed? Passei muitos anos apenas procurando uma luta. E eu encontrei bastante. Talvez pudéssemos estar lá um para o outro se as coisas fossem diferentes.

A mão dela apertou mais. —Se você não fosse um lutador de rua, nunca me conheceria. Ou Edmund.

Um sorriso deslizou em seu rosto. —Gosto de pensar que teríamos nos encontrado, independentemente das circunstâncias.

A energia passou por todas as células de Helena. Os cabelos de seus braços se arrepiaram quando ela se perdeu nas profundezas do olhar cristalino de Dell.

Ela colocou o lábio entre os dentes, incapaz de se mover mais. Ele a prendeu em seu poder.

Eles se separaram quando alguém bateu na porta. Helena ficou de pé e correu para abri-la, desesperada por um momento para respirar.

Tyson a cumprimentou do outro lado. —Eu tenho notícias.

Ela gesticulou para ele entrar. Seus olhos varreram o quarto e uma sobrancelha se ergueu quando viu Dell.

—Eu me sentiria mal por interromper, mas isso é importante. — Ele atravessou o quarto em alguns passos e caiu em uma grande cadeira com as asas com um sorriso satisfeito no rosto.

—O que você está esperando? — Dell perguntou.

—Edmund. Enviei um mensageiro para despertá-lo e trazê-lo aqui.

Edmund correu pela porta, dormindo ainda perseguindo seus passos. Sua carranca suavizou quando ele se acordou. —O que está acontecendo?

Tyson se inclinou para a frente, os cotovelos nos joelhos.

—Minha mãe não dirá a Madra que não pode ter Quinn.

Helena esvaziou. Ela tinha muitas esperanças quando Tyson chegou.

Tyson levantou a mão para parar suas perguntas. —Mas, se os bandidos o ultrapassassem de alguma forma, ela não enviaria seus homens para caçá-los.

Um sorriso se espalhou pelo rosto de Edmund. —Ela vai nos deixar ir?

Helena sentou mais uma vez. —Você disse a ela o nosso plano?

—Sim. — Tyson dirigiu a primeira resposta a Edmund antes de se virar para Helena. —E não. Minha mãe é uma mulher brilhante. E ela me conhece. Ela também reconhece algo no discurso que você deu a ela. Parecia muito com a justiça própria que Etta já carregou por aqui.

Edmund riu. —Sim, não é?

—Presumido? — Os lábios de Helena se fecharam.

Foi Tyson quem respondeu. —A maioria das pessoas em Gaule odiava Etta. Mas havia uma coisa que todos aprendemos. — Ele sorriu. —Ela estava sempre certa. Ela sabia o que era certo antes de nós.

Helena não conseguiu decidir se a descrição deles era um elogio ou não, então ela o ignorou. —Então, sua mãe assumiu que tentaríamos chegar a Quinn, afinal? E vai contra a vontade dela ao fazê-lo?

Tyson assentiu. —Ela foi abençoada com filhos insolentes.

Edmund resmungou em concordância. —Nós precisamos nos preparar. Nós não vamos voltar ao palácio. Landon nos encontrará com os cavalos quando tivermos Quinn. Se quisermos estar na enseada antes da maré da manhã, devemos sair em breve. Temos uma caminhada pela frente. Os portões do castelo ainda não estão abertos, mas essa não é a única saída daqui.

Túneis secretos. Entradas ocultas. Talvez Gaule não fosse tão diferente de Madra, afinal.

 

 

 

 

 

 


Capitulo Nove


Helena olhou para Tyson em questão enquanto ele ria e se transformava em uma capela que parecia não ter sido usada em um século.

—Todos esses anos e a mãe ainda não limpou esse lugar. — Ele passou os dedos por um altar empoeirado antes de pular na pequena plataforma para empurrar uma porta que gemia de desuso.

Helena começou a perder a fé, ele a abriu, mas Tyson pegou um painel escondido. Ele puxou uma trava e a madeira gemeu quando girou nas dobradiças.

Pedaços de rocha caíram quando Tyson a empurrou o suficiente para que uma pessoa passasse. Ele sacudiu cachos escuros do rosto e virou-se para eles com um sorriso. —Legal certo? Eu amo este palácio.

Edmund deu um tapinha no ombro dele. —Bela terá seu quinhão de segredos um dia também.

Tyson deu-lhe um sorriso apreciativo como se isso realmente tivesse sido uma preocupação dele.

Quem eram essas pessoas? O pai de Helena os consideraria do tipo errado para se misturar, mas ela imaginou que sua mãe teria gostado deles. Tyson era tão alto quanto um homem e musculoso também, mas ele tinha uma alegria infantil que ela não via desde... ela olhou para Dell. Desde que ela conheceu o garoto de Madra, que não levava nada a sério.

Ela não via esse lado da Dell desde que chegaram em Bela.

Mas então, ela mudou também.

Ela balançou a cabeça. O pai dela estaria errado. Tyson era exatamente o tipo de pessoa que ela precisava ao seu lado. Enquanto ela e Edmund lamentavam, ele lembrava a eles que ainda havia algo que valeria a pena lutar por vingança. Não era uma alegria infantil. Ela via claramente agora. Tyson era simplesmente bom.

Ele acenou para cada um deles através da porta secreta antes de fechá-la atrás deles.

—Estamos no muro agora. — Explicou Edmund sobre o túnel curto.

—Na parede? — A voz da Dell estava fechada na escuridão.

À frente havia uma segunda porta, iluminada por uma lasca de luz do amanhecer.

Edmund alcançou, voltando-se para eles. —Há uma parte do castelo onde as paredes interna e externa se conectam. Nós usamos isso muitas vezes com Etta e Alex. Este salão nos leva direto do castelo interno para o exterior. Vamos sair no lado leste das muralhas. Assim que sairmos, temos que correr para a floresta.

Cada um deles concordou com a cabeça antes de Edmund empurrar a porta, deixando-os em uma colina gramada. Helena olhou para trás quando a porta se fechou. Do lado de fora, ninguém saberia que estava lá.

Edmund decolou e ela o seguiu, apertando os braços no ritmo de seus passos. A floresta escura se estendia ao longe. Sobre as árvores, o início de um nascer do sol destacava a manhã.

Dell correu ao lado dela, com o queixo abaixado enquanto sua estrutura flexível se movia graciosamente.

Quando chegaram à cobertura das árvores, Helena lutou para respirar. Ela dedicou toda a sua energia a não desabar enquanto se curvava, o ar sibilando no peito.

—Todo mundo está bem? — Edmund perguntou.

—Nunca estive melhor. — Tyson sorriu. Nada o afetava?

Parecia que ele só tinha saído para dar um passeio e Helena quase o odiava por isso. Pelo menos Edmund e Dell tiveram a decência de ficar sem fôlego.

Ela chupou ar entre os dentes e se endireitou. Eles tinham que se mudar. Quinn estava contando com eles. Ela começou a andar, mas parou quando percebeu que ninguém a seguia.

—Len. — Edmund chamou. —Você está seguindo o caminho errado.

Ela gemeu e se virou para passar por eles mais uma vez. —O que você espera de mim? Passei minha vida inteira no mesmo conjunto de corredores.

Tyson assumiu a liderança, alegando que já havia feito essa jornada várias vezes antes. —Da última vez — Ele começou, —Gaule foi sitiada. Alex e eu chegamos para salvar o dia, é claro. Isso foi logo depois que ajudamos a expulsar La Dame de Bela. Bem, não Alex. Ele estava meio que sob o poder dela. O idiota. Mas quando voltamos para Gaule, nossa mãe estava cercada. Alex ainda era rei. Conduzimos nosso pessoal através da floresta para alcançar a entrada do túnel e salvar todos.

—Você salvou todo mundo? — Edmund zombou.

—Ah, cale a boca. Você nem estava aqui. — Tyson se inclinou para perto de Helena como se estivesse lhe contando um segredo. —Ele ficou em Bela quando Etta estava sendo uma cadela certa.

Edmund o empurrou. —Ela tinha acabado de quebrar a maldição.

Tyson deu de ombros. —Ela ainda era uma cadela. Bem, não era realmente ela. Ela tinha todo esse poder dentro dela que controlava muito do que fazia, mas esse poder a deixou quando derrotamos La Dame para sempre.

Dell balançou a cabeça. —Estou tão confuso.

Helena só conhecia as histórias trazidas de volta a Madra por soldados e comerciantes. Eles nunca lhe contaram os detalhes por trás da grande guerra mágica - como o povo não mágico de Madra o chamava. Ela nunca imaginou que estaria viajando por um reino estrangeiro com dois homens que não estavam apenas lá, mas profundamente envolvidos.

Ela não sabia nada de guerra, mas eles sabiam. —Quando eu voltar para Madra, vocês dois se juntarão a mim? — Ela não incluiu Dell porque ela já sabia que ele estaria ao seu lado. Era o caminho dele. Mas com Tyson e Edmund... talvez ela pudesse derrubar o irmão depois de tudo. Talvez ela pudesse vingar sua família.

Os dois homens ficaram em silêncio por um momento, o único som saindo de suas botas atingindo os pinheiros macios do chão da floresta.

Edmund passou o braço por cima dos ombros dela. —Você nem precisa perguntar, Lenny. Eu disse a Stev que cuidaria de você e essa promessa não termina em atravessar o mar.

Ela sorriu para ele. Foi a primeira vez que ele mencionou Estevan sem gaguejar seu nome ou desligar completamente. Progresso.

Tyson balançou a cabeça. —Eu sinto muito. Como príncipe, entendo o que você pode estar passando. Se alguém tirar Alex, Etta ou minha mãe de mim, eu também quereria vingança. Mas não posso ir contra os desejos da minha rainha e ela quer que a magia seja mantida fora dessa luta.

Algo dentro dela dizia que ele não quis dizer sua mãe. Tyson não desobedeceria Etta, a rainha que incutia tanta lealdade. Seu coração afundou.

Edmund apertou-a com mais força e se inclinou para sussurrar.

—Eu nunca fiz o que Etta me mandou fazer.

Tyson deu uma risada. —Não há palavras mais verdadeiras.

Ela queria que Tyson reconsiderasse, mas isso não mudou seus planos. Quando ela atravessasse Madra mais uma vez, ela teria Dell, Edmund e Quinn ao seu lado e sua fé estava neles. Ela procurou a adaga na cintura. Uma espada que Tyson havia adquirido de um dos guardas pendia de uma bainha que ela amarrava lá também, mas não lhe dava o mesmo conforto que a lâmina mais curta.

Enquanto caminhavam, ela repassou o plano em sua mente. Eles não confiaram totalmente em Reed. Ele pensou que eles planejavam segui-lo pelos túneis e alcançá-lo assim que ele saísse.

Ele estava errado.

Eles ainda superariam a partida para Madra na enseada, mas o ataque viria da floresta.

Quando se aproximaram da água, as árvores diminuíram. A floresta se estendia até a borda da terra logo antes da costa se curvar para dentro em direção à enseada.

Chegaram à beira das árvores, parando onde o chão caía sobre um pequeno penhasco. Uma praia branca ficava embaixo, onde as ondas batiam, espumando em direção à costa.

—Por aqui. — A voz de Tyson trouxe Helena de volta ao assunto em questão.

Ela olhou para ele por cima do ombro.

Tyson balançou a cabeça para o lado, dizendo-lhes para segui-lo. Ele colocou um dedo nos lábios. Eles estavam perto agora.

Helena forçou seus membros cansados a se arrastarem pelo resto do caminho. Eles pararam de se mover quando a enseada rochosa apareceu. Ainda escondidos entre os galhos retorcidos e as árvores grossas, eles observavam. Um navio estava na entrada da enseada com seu estilo madrano em arco. Longos remos pendiam de um casco escuro de madeira. Helena respirou fundo. Era um dos navios de seu pai. A bandeira real de Madra tremulava na brisa forte.

Helena abraçou a capa com mais força e soltou a adaga, sem se incomodar com a espada.

Um pequeno barco se aproximou carregado de dois homens em uniformes de oficiais de Madra. À medida que a água ficou rasa, eles pularam no mar, colidindo com o mar enquanto puxavam o barco para a costa arenosa.

—Apenas dois. — Murmurou Edmund. —Reed manteve sua palavra.

Ela ouviu o perigo em seu tom. Viu ele tocando o punho de sua espada. Esses dois homens não viveriam o dia inteiro.

E ela não pôde convocar um único pingo de remorso. Traidores mereciam morrer.

—Onde estão esses túneis? — Dell protegeu os olhos contra o sol da manhã.

Tyson apontou para uma fenda curva na face da rocha. —Tem uma porta por lá. Só pode ser aberta por dentro.

Edmund recuou ainda mais para as árvores. —Hora de tomar nossas posições. Tudo o que resta a fazer é esperar.

 

Quando o sol se elevou acima de suas cabeças, os dois soldados na praia se levantaram da rocha em que estavam sentados e se aproximaram do túnel.

Helena encontrou o olhar de Dell, respondendo à pergunta nos olhos dele com um aceno de cabeça. Ela estava pronta.

Ela se agachou em seu lugar atrás de uma pedra na linha das árvores e agarrou uma adaga em cada mão. Tyson pegou uma flecha, encostando-se na base de um pinheiro alto, enquanto observava a entrada do túnel.

Edmund puxou a espada em um movimento fluido, segurando-a como se não pesasse nada.

O silêncio preencheu o espaço entre eles.

Finalmente, os homens reapareceram. Reed andava atrás deles, com a mão presa no braço de Quinn.

Helena ofegou. Eles amarraram suas mãos atrás das costas e um fio de sangue escorria de sua linha do cabelo. Ele revidou?

Com quem ela estava brincando? Claro que ele revidou. Era Quinn.

Um sorriso lento se espalhou por seu rosto, parando quando outro movimento chamou sua atenção. Mais soldados saíram do túnel, cercando Quinn e Reed.

Soldados que eles não esperavam ou planejavam.

—Bem, e agora? — Dell murmurou.

—Ainda podemos pegá-lo. — Sua voz endureceu quando ela olhou para Edmund. —Nós podemos lutar.

—Eles nos superam em número de três para um. — Tyson abaixou o arco.

Os olhos de Edmund falaram de derrota.

—Não. — Ela apertou os dedos com mais força em volta do punhal. —Edmund, se fosse Stev, você faria. Temos que tentar. Eu não vou deixá-lo. Se você não me ajudar, eu mesmo farei.

Helena pulou de seu lugar e correu, as maldições de Edmund atrás dela.

Os olhos de Quinn se ergueram quando ela se separou das árvores. Os soldados a observaram confusos até que ela lançou uma de suas adagas a toda velocidade. Atingiu a testa de um madrano mais próximo. Ele tropeçou para trás, o sangue encharcando seu uniforme.

Isso estimulou o resto a entrar em ação. O barulho de espadas ecoou em seus ouvidos, mas ela o bloqueou enquanto abaixava o primeiro ataque, caindo baixo e cortando a adaga na parte de trás do joelho do homem. Ele desmaiou, um grito que ela não podia ouvir nos lábios dele.

Outro soldado fez por ela, e ela não foi rápida o suficiente para se desviar do caminho enquanto ele balançava a espada em sua direção. Parou no ar quando uma flecha o atingiu através dos olhos. A lâmina caiu de suas mãos e ele caiu.

Edmund e Dell os alcançaram, envolvendo seus próprios atacantes. Dell mal evitou uma lâmina no braço antes de derrubar seu homem no chão.

Edmund girou nos calcanhares e balançou a espada em um arco gracioso enquanto lutava com dois homens ao mesmo tempo. Helena nunca tinha visto um homem lutar com tanta graça antes. Ela poupou-lhe um olhar final antes de se envolver.

Ao ver Reed arrastando Quinn para o pequeno barco, seu coração bateu dolorosamente. Ela tinha que ajudá-lo.

Quinn resistiu e lutou contra Reed, mas outros dois se juntaram a eles para levantá-lo no barco. Helena ficou aturdida, sangue quente borrifando seu rosto enquanto Edmund lutava ao seu lado. Tudo aconteceu rápido demais para ela ajudar qualquer um deles. Tyson pegou um dos homens com Quinn quando duas flechas apareceram saindo do peito. Ele caiu na água.

Reed e os outros homens não o olharam enquanto empurravam o barco na água.

—Não. — Helena rugiu, correndo para o mar, tentando desesperadamente alcançar o irmão.

Mas ele estava longe demais.

Algo esbarrou nela enquanto ela passeava na cintura com água profunda tingida de vermelho. Um soluço ficou preso em sua garganta quando ela olhou para o rosto de um soldado morto. A repulsa rodou em seu intestino.

Ela levantou os olhos para a praia onde Edmund e Dell haviam despachado a maioria de seus inimigos. Uma flecha voou acima, mas caiu na água ao lado do barco.

Helena ergueu o braço no ar, lançou a adaga com o máximo de força possível. Todas as lições que sua mãe lhe ensinou ecoaram em sua mente. Uma adaga pode ser tão mortal quanto uma flecha à distância, desde que você saiba como lança-la.

Um grito rasgou o ar quando a adaga grudou no braço de Reed. O desespero esmagador superou rapidamente qualquer satisfação de atingir seu alvo.

Ela empurrou o corpo flutuando ao seu lado e correu do fedor doentio que revestia o ar. Soldados mortos cobriam a praia, mas não foi isso que chamou sua atenção.

Edmund lutava com a confiança de um guerreiro experiente. Dell mexeu na espada enquanto o atacante avançava. Suas lâminas se chocaram e as de Dell voaram de suas mãos quando ele caiu de joelhos, impulsionado por um chute no estômago.

Um grito se alojou na garganta de Helena quando uma lâmina cortou o lado de Dell, mordendo a carne. Uma ponta da lâmina Belaena apareceu no peito do atacante quando Edmund o perfurou por trás antes de chutá-lo para o lado, deixando-os sozinhos na praia mais uma vez.

Helena caiu de joelhos ao lado de Dell quando Tyson se juntou a eles e disparou todas as últimas flechas que ele tinha em direção ao pequeno barco. Já estava a meio caminho do navio quando uma das flechas atingiu Reed na perna enquanto ele se levantava para forçar a cooperação de Quinn.

—Estou fora. — Tyson observou o barco chegar ao navio, incapaz de fazer mais alguma coisa.

Uma lágrima escorreu pela bochecha de Helena. Eles o perderam. Quinn se foi.

Mas Dell ainda estava lá, e ele se machucou. Ela voltou sua atenção para ele quando seus olhos se fecharam.

—Dell. — Ela rasgou suas roupas, procurando a ferida. —Você não feche os olhos. Fique comigo. Por favor.

—Len. — Cada respiração sacudia em seu peito como se fosse uma grande luta. —Tentando.

Edmund ajoelhou-se ao lado dele e segurou as mãos dela para impedir o tremor. —Deixe-me ver.

Ela assentiu e Edmund ergueu a camisa de Dell para encontrar um corte profundo. —Precisamos parar o sangramento.

Helena arrancou a capa dos ombros e entregou a Edmund. Ele apertou o ferimento.

Dell estremeceu e respirou entre os dentes.

—Ele vai ficar bem? — O medo tomou conta de Helena enquanto pensava nas possíveis respostas para sua pergunta.

—Ele precisa de um curandeiro. — Edmund procurou por outras lesões. —E assim por diante. Não temos tempo de voltar para Bela. — Ele ergueu os olhos para Tyson como se estivesse esperando permissão.

Tyson passou a mão pelo cabelo selvagem, emoções brigando em seus olhos. —Sim. Ok. Nós podemos ir.

—Ir para onde? — Helena se inclinou para mais perto de Dell até ouvir a respiração dele. Enquanto esse som encheu seus ouvidos, ele ainda estava com ela.

—Eu tenho uma amiga. — Começou Tyson. —Aqui em Gaule. Ela tem uma curandeira draconiana em sua casa.

Edmund rasgou tiras da parte inferior da camisa. —Não podemos movê-lo até envolver a ferida. Ty, vou precisar de água para limpá-lo.

Tyson correu para a frente enquanto Helena ajudava Edmund a amarrar a camisa de Dell até os ombros largos.

Quando Tyson derramou uma gota de água da bolsa na cintura e ela se expandiu sobre a ferida, ela se levantou, com o coração batendo forte nos ouvidos. —O que você está fazendo?

—Limpando. — A testa de Tyson franziu em concentração. —Posso enviar a água e depois chamá-la de volta, arrastando quaisquer impurezas com ela.

Ela balançou a cabeça. Magia.

Tyson e Edmund terminaram de limpar o ferimento da Dell e o enrolaram firmemente. Dell não abriu os olhos.

Helena não conseguia mais encarar o rosto dele, mas quando se virou, tudo o que viu foi a extensão do mar e o navio onde seu irmão era agora prisioneiro.

Ela adicionou Reed Tenyson à longa lista de pessoas que traíram sua família.

Farfalhar vinha das árvores e Helena se virou bem a tempo de ver Vérité se libertar. Ele correu pela praia até parar ao lado de Tyson e abaixar a cabeça.

Tyson deu um suspiro e esfregou o nariz do cavalo. —Momento perfeito como sempre, amigo.

Landon apareceu alguns minutos depois com os outros cavalos a reboque. Seus olhos se arregalaram quando ele viu os soldados mortos. Quando ele fixou o olhar na forma propensa de Dell, ele deslizou de seu cavalo.

—Ele está bem? — Landon andou devagar.

Edmund colocou as mãos no peito de Dell. —Precisamos levá-lo para a propriedade de Leroy.

Vérité deu um passo para o lado de Helena, cutucando a lateral do rosto com o nariz dele. Um soluço estremeceu em seu peito e ela se virou para enterrar o rosto no pescoço macio da fera. Ele apoiou o nariz no ombro dela, como se a envolvesse em um abraço.

Isso foi estúpido, ele era um cavalo. Mas Helena precisava de algum tipo de conforto.

Ela falhou. Novamente. Parecia que ela não poderia salvar nenhum de seus irmãos. Um sentimento de inutilidade afundou profundamente em seu peito. Recuperar Madra era um sonho distante, sem esperança de se tornar realidade. Ela nunca conseguiria olhar Cole nos olhos e tirar tudo de volta dele.

Teria sido possível com Quinn. O irmão dela poderia fazer qualquer coisa. Ela agarrou a juba de Vérité, precisando de algo para se segurar.

—Coloque-o em Vérité. — Disse Tyson.

Edmund começou a discutir, mas depois se interrompeu.

—Você está certo. Vérité cuidará dele. Esse cavalo cuida de todos... exceto eu.

Landon e Edmund colocaram Dell nas costas de Vérité antes de Tyson deslizar atrás dele. Helena puxou as roupas secas sobre as molhadas o mais rápido que pôde antes de montar seu próprio cavalo, nunca tirando os olhos do rosto da Dell. Uma paz se estabeleceu sobre ele, mas ela se recusou a deixá-lo ficar com ela.

Eles chegariam ao curador antes que ele desaparecesse por completo. Ela não pode salvar Estevan ou Quinn, mas não perderia Dell.

Seu coração apertou.

Não, ela não podia.

 

 


Capitulo Dez


—Eu não vou morrer. — Disse Dell simplesmente.

—As lutas ilegais. Roubando. Você ainda tem uma cabeça nesses ombros?

Um rubor zangado surgiu no rosto do jovem como se estivesse se preparando para explodir. Helena agarrou o braço de Edmund.

—Edmund, deixe-o em paz.

A raiva de Dell se dissipou em um instante quando seus olhos se fixaram em Helena, vendo-a pela primeira vez. —Quem nós temos aqui? — Ele sentou-se para olhar mais perto. —Você não acha que está enganando ninguém nesse traje, senhorita, acha?

Helena arrancou o chapéu da cabeça. Seus cachos escuros se espalharam, e ela se virou para Edmund. —Eu sou tão óbvia?

A primeira vez que Dell viu Helena, ele queria ficar sob sua pele. Ele queria testá-la, desafiá-la, fazer seu rosto corar de raiva. Ela era a pessoa mais linda que ele já viu.

—Dell. — A voz dela flutuou no ar como se estivesse no próprio sonho. —Dell, você ainda está comigo?

Sempre, ele queria responder. Ele nunca a deixaria. Mas as palavras não sairiam de seus lábios. Ele não conseguia falar, não conseguia se mexer.

Quando a realidade caiu ao seu redor, uma dor lancinante atravessou seu lado. Um grito terminou em um gorgolejo em seus lábios quando algo debaixo dele se moveu. Ele estava a cavalo?

Ele podia ouvir as pessoas ao seu redor, mas seu corpo não seguia mais os comandos de seu cérebro.

—Eles vão nos ajudar? — Helena perguntou, desespero claro em sua voz. —Não confio em nada em Gaule.

Tyson suspirou. Pelo menos, ele pensou que era Tyson.

—Sim.

—Quem são essas pessoas?

Quando ninguém respondeu Helena, sua voz subiu de raiva.

—Andamos de noite para chegar a essa propriedade e às pessoas misteriosas que moram lá. Eu mereço saber no que estamos entrando.

Tyson grunhiu, mas não respondeu quando chutou o cavalo e seguiu em frente.

A voz de Edmund encheu o silêncio. —A propriedade Leroy já foi propriedade de Lorde Leroy, o homem que Alex havia executado por traição. A filha dele agora reside lá.

—Podemos confiar nela?

Edmund hesitou. —Mais do que qualquer outra pessoa em Gaule. Amalie... ela cresceu com Tyson. Eles eram os amigos mais próximos, mesmo quando ela estava noiva de Alex. Após a guerra com Dracon, Tyson ficou em Gaule por um tempo para estar com ela, mas voltou para Bela cerca de um ano atrás. Amalie sentiu que tinha o dever de retornar à propriedade de sua família. As pessoas nas aldeias próximas precisavam de alguém para passar por esses momentos difíceis. Tyson a amava. Isso nunca foi um segredo. No entanto, os dois escolheram o dever em detrimento desse amor, e não terminou bem.

As palavras filtraram a mente enevoada de Dell, mas ele só queria afundar na escuridão. Não se permitindo essa misericórdia, agarrou-se a tudo o que Edmund dizia como uma maneira de manter seu domínio consciente.

—Então, as coisas não são amigáveis entre eles, mas ela vai nos ajudar? — O ceticismo ecoou na voz de Helena.

—Você não conhece Amalie. Ela ajudaria qualquer um que aparecesse à sua porta. É quem ela é.

—E essa curandeira em sua casa?

Edmund parou por um momento. —Maiya. Ela já foi agente de La Dame. Todos sabíamos que ela não tinha escolha, mas depois que a guerra terminou, ela não sentiu como se pudesse ficar em Bela entre as pessoas que havia traído.

Eles ficaram quietos e Dell quis dizer a eles para continuar conversando, para encher sua mente, para manter a escuridão afastada.

Em vez disso, ele se concentrou no pulso da dor, deixando-a sangrar em todas as células.

Sem a dor, ele temia que desaparecesse.

 

Os guardas os avistaram antes de chegarem à propriedade de Leroy. Helena observou-os se aproximar cautelosamente.

—Príncipe Tyson. — Um deles chamou. —Você não deveria estar nas estradas tão tarde.

—Tivemos sorte, Cameron. Não vejo uma alma há horas. — Tyson foi até o guarda e estendeu a mão.

Tyson deve ter estado aqui muitas vezes antes.

—Lady Leroy está ausente esta noite.

A tensão nos ombros de Tyson relaxou. —Tudo bem. Maiya está na casa da propriedade?

O guarda viu Dell pela primeira vez. —Sim, claro. Vamos acompanhá-lo a se apressar.

Ele não fez perguntas antes de acenar para o resto dos guardas e se virar para galopar pela estrada em direção à vila. A estrada serpenteava entre as fachadas das lojas e as casas antes de chegar a um beco sem saída em dois enormes portões com uma pequena porta na base deles.

Cameron gritou para um de seus guardas. —Vá acordar a senhora Maiya e traga-a aqui.

A porta se abriu e outro guarda apareceu. —Príncipe Tyson? Não nos disseram para esperar você hoje à noite.

Tyson deslizou para baixo. —Faz muito tempo, Calvin. Precisamos nos atualizar, mas agora preciso de um pouco de ajuda.

Helena pulou no chão, suas pernas cansadas quase cedendo sob ela. Uma mão agarrou seu cotovelo, mantendo-a na posição vertical. —Cuidado, Len. — Edmund a puxou para se apoiar contra o lado dele e passou um braço em volta da cintura.

Os guardas levantaram Dell e o carregaram pela porta.

Cameron deu ordens para cuidar do cavalo, mas Helena mal o ouviu por causa do rugido em seus ouvidos. Ela se libertou de Edmund e seguiu os guardas até onde eles colocaram Dell no chão, em um pátio de pedra.

Ajoelhou-se e pressionou os dedos no pescoço dele, precisando sentir a vida dele por si mesma. Quando o pulso dele bateu contra a mão dela, ela se afastou com um suspiro.

Eles fizeram isso. Lágrimas caíram em seu rosto quando o desespero do dia tomou conta dela. E se alguém os tivesse parado nas perigosas estradas de Gaule? E se Dell não tivesse sido forte o suficiente? Tantas possibilidades rolaram em sua mente, e ela fechou os olhos.

Uma mão gentil no ombro fez com que se abrissem para encontrar uma jovem de pele escura com cachos de saca-rolhas pretos ao lado de um longo vestido de dormir.

Helena passou as costas da mão pelos olhos. —Por favor, salve-o.

A mulher ofereceu um sorriso. —Você é a princesa?

Seus olhos se arregalaram quando o pânico cresceu em seu peito. Ninguém em Gaule deveria saber quem ela era. Ela examinou os rostos dos guardas que os cercavam, o peito subindo e descendo rapidamente. Finalmente, seu olhar se fixou em Tyson.

—As pessoas aqui podem ser confiáveis. — Seu rosto se apertou como se doesse dizer.

Lembrou-se do que Edmund havia dito sobre a dama da propriedade. Tyson a amara uma vez.

—Não se preocupe, princesa. — A voz suave da curandeira possuía uma qualidade musical que acalmava os nervos de Helena. —Você está segura aqui.

Os ombros de Helena cederam quando as palavras permearam a aura de medo em que ela se prendeu.

—Maiya. — Edmund fez um gesto para Dell.

A curandeira se ajoelhou e levantou a parte inferior da camisa de Dell para pressionar as palmas das mãos contra a pele dele. Ela fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, perdida em alguma força invisível.

Enquanto Maiya trabalhava, Tyson cutucou Helena fora do caminho e usou sua adaga para cortar as tiras de tecido que prendiam sua ferida.

A mente de Helena protestou - ele não podia perder mais sangue - mas quando ela viu o ferimento, as palavras morreram em sua garganta. A pele de Dell puxou e puxou, fechando a lacuna onde uma lâmina havia cortado a carne macia.

A respiração de Dell - uma luta apenas momentos antes - se igualou até que ele parecia estar apenas dormindo. As linhas duras do rosto dele se suavizaram em uma máscara pacífica, e Maiya afastou as mãos.

Helena sufocou um soluço. —Ele está...

Maiya pegou sua mão. —Ele vai ficar bem.

—Mas ele ainda está...— Helena apontou para onde Dell permanecia inconsciente.

—Suas feridas eram profundas. Por mais tempo e eu não seria capaz de salvá-lo. Foi preciso uma grande quantidade de energia restante para curar. — Ela ergueu os olhos para Cameron, dando-lhe um sinal. —Vamos levá-lo para um quarto e deixá-lo confortável. Pode demorar um dia ou mais até que você possa falar com ele.

Helena fungou e assentiu antes de se levantar. Cameron e um de seus colegas guardas ergueram Dell e o carregaram em direção à enorme entrada de pedra da grande casa. Helena foi para segui-los, mas Edmund agarrou seu braço.

—Todos nós poderíamos comer algo, tomar um banho quente e dormir um pouco.

Helena soltou o braço e passou a mão por cima da cabeça. Ele estava certo. Seus cabelos oleosos eram uma prova da necessidade de uma lavagem. Seu estômago roncou. Mas ela não podia.

—Eu não vou deixá-lo. — Ela saiu pelas portas da frente de mogno. Dessa vez, Edmund não a deteve.

Os guardas levaram Dell pelos corredores escuros, iluminados apenas por algumas velas que queimavam durante a noite. Eles não viram uma única pessoa antes de chegarem a um quarto simples com uma cama grande colocada contra a parede oposta coberta de peles. Uma luz fraca se derramava através de uma janela aberta, iluminando as cortinas verdes.

Helena puxou sua capa com mais força, esquecendo que ela não tinha o dia todo. O frio do ar não a tocou no passeio, pois Edmund usou sua magia para manter os ventos à distância. No entanto, uma lasca de gelo ainda penetrara em seu coração.

Os guardas deitaram Dell na cama antes de se virar para ela.

—Vou mandar alguém para acender a fogueira. — Cameron olhou para a lareira estéril. Duas cadeiras estavam diante dela. Uma mesa comprida estava encostada na parede perto da cama.

Helena apenas assentiu quando eles saíram. Ela foi até a janela, fechando as duas vidraças para bloquear a noite. Ela se virou para Dell, que ainda não havia se mexido Soltando um suspiro, ela foi até a cama e puxou os cadarços das botas dele. Assim que ela tirou os sapatos dos pés dele, ela o trocou para libertar as cobertas de pele e puxá-las sobre o corpo para prendê-lo em calor.

Uma batida veio da porta e ela atendeu, encontrando um punhado de criados que pareciam ter sido despertados de suas camas.

—Senhorita. — Um dos criados disse com um arco. —Estamos aqui para arrumar o quarto.

Helena se afastou para eles entrarem. Um jovem foi direto para a lareira, enquanto duas mulheres carregando bandejas de comida se moviam para colocá-las sobre a mesa. Ela ficou com água na boca quando sentiu o cheiro dos doces e do vinho.

Quanto tempo se passou desde que ela fez uma refeição adequada? No palácio de Gaule, ela estava preocupada demais com a batalha por Quinn. Na estrada, nenhum deles queria perder tempo parando quando a vida da Dell estava em risco.

Ela murmurou um 'obrigada' enquanto os criados se retiravam da sala, deixando-a sozinha mais uma vez com Dell. Caminhando para o fogo incipiente, ela ficou mais perto do que sua mãe teria aprovado para derreter seus membros congelados.

Quando estava quente, ela usou toda a força que possuía para empurrar uma das cadeiras marrons de encosto alto para o lado da cama.

Ela então ficou na frente da mesa, examinando as bandejas. Uma tigela de água estava sobre uma delas com um pano dentro. Ela levantou e sentou na beira da cama.

Quando Dell acordasse, ele iria querer que a sujeira não estivesse em seu rosto. Ela limpou a sujeira que havia sido chutada em sua pele quando ele descansava em um cavalo o dia todo.

Cada golpe do pano trazia seu belo rosto para mais longe da escuridão. Ela colocou o pano na água agora lamacenta e correu o polegar pela bochecha macia até a mandíbula firme, coberta de cabelos louros curtos.

Ela fechou os olhos, imaginando-o como ele esteva em Madra no dia em que o viu tomando banho no rio. Pretensioso. Confiante. Tão malditamente charmoso. E irritante. Ela o odiava e ficou completamente fascinada por ele. Ele foi o motivo pelo qual ela continuou correndo o risco de entrar na cidade sem a máscara.

Onde ela havia perdido esse sentimento? Ela ainda estava se arriscando por vários motivos, mas por meses, apenas sentiu essa derrota esmagadora que levava a uma necessidade ardente de vingança. Contra o irmão de todas as pessoas. Um homem que ela já amou com todo o coração - assim como o resto de sua família que agora se foi.

Ela afastou a mão do rosto de Dell e se levantou para colocar a tigela de lado. Seu estômago implorava por comida, mas a náusea subiu nela quando ela pensou em comer. Em vez disso, ela se sentou na cadeira ao lado da cama, puxando as pernas para baixo dela.

O movimento do peito de Dell a hipnotizou até tudo que ela via era ele.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Onze


Dell não sabia onde estava quando seus olhos se abriram. Peles pesadas o aqueciam na cama desconhecida. Ele estava de volta em Bela? Como ele chegou aqui?

Seus olhos percorreram o quarto escasso até se fixarem na garota dormindo ao lado da cama. Helena. Se ela estivesse lá, ele sabia que tinha que estar em algum lugar bom. Ele estava bem.

A luz da manhã atravessava uma janela, lançando um brilho no chão.

Uma dor começou em sua cabeça, estendendo-se por todo o corpo. Ele tentou empurrar as cobertas para o lado, mas seus braços não tinham força.

—Len. — Ele sussurrou, tentando forçar força em sua voz.

Ela não se mexeu.

—Len. — Mais alto naquele momento.

Helena se mexeu na cadeira que não podia ser confortável, as pálpebras se abrindo lentamente. Ela levou um momento para encontrar o olhar dele, mas seu corpo inteiro sacudiu quando o fez.

—Dell. — Ela se levantou para olhar mais de perto. —Você está acordado. — Um sorriso triste deslizou por seus lábios. —Eu deveria acordar Maiya para verificar você.

Quando ela se virou, ele finalmente forçou o braço a se mover o suficiente para agarrar seu pulso. Ela congelou, respirando profundamente por um momento antes de voltar para ele.

—Diga-me o que aconteceu. — Ele implorou.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas não derramadas nos cílios.

—Por favor.

Respirando fundo, ela ergueu os ombros. —Houve uma luta na enseada e alguém cortou você. Percorremos um longo caminho para levá-lo a única curandeira draconiana conhecida em Gaule.

Algo acendeu em sua memória. Ele os ouviu conversando. Maiya. Sim, esse era o nome dela. Mas não era isso que importava naquele momento.

—Quinn? — Ele perguntou, temendo a resposta.

O olhar dela endureceu. —A caminho de Madra.

Dell deslizou a mão do pulso de Helena para enlaçar os dedos nos dela. —Venha aqui.

Surpreendendo-o, ela não se opôs quando ele a puxou para a cama, levantando as cobertas para ela deslizar por baixo.

O calor do corpo dela queimou em sua memória quando ele a puxou para seus braços. Ela derreteu contra ele, enterrando o rosto no peito dele.

—Há quanto tempo estou fora?

A camisa dele abafou a voz dela. —A luta foi mais de um dia atrás.

—Você passou a noite aqui? — Ele lançou seu olhar acusador na cadeira como se fosse a agressora.

—Eu não poderia te deixar.

Dell sabia como se sentia sobre Len desde o momento em que viu Ian com ela nos jogos de Madra - antes de saber quem ela realmente era.

Para ele, nada havia mudado.

Mas ela não deu nenhuma dica de como se sentia... até agora.

Nem disse nada por um longo momento enquanto ele acariciava suas costas.

Ela se afastou para olhá-lo. —Eu estou nojenta. Eu sinto muito. Edmund tentou me fazer tomar banho e comer, mas eu...

—Len — Ele a interrompeu. —Você pode aparecer coberta nos excrementos de Vérité e eu não me importo.

Uma risada a sacudiu. —Sim, você se importaria.

—Ok, mau exemplo. Por favor, não se cubra de esterco de cavalo.

—Eu não sei. Agora que sei que você gosta do cheiro dos cavalos, talvez eu precise experimentar.

Ele levou os lábios ao ouvido dela. —Isso não mudará os fatos simples.

—E que fatos simples são esses? — Ela levantou o rosto para olhá-lo.

—Eu não acho que te incomodo tanto quanto você finge. — Ele sorriu. —Eu até acho que você pode gostar de mim.

Ela levantou uma sobrancelha. —Eu tolero você.

—Sim? — Ele baixou a voz. —Então por que você se parece estar bem em meus braços?

—Só estou aqui porque estava com frio.

—Ok, princesa. — Ele descansou o queixo no topo da cabeça dela, suas palavras caindo nos pensamentos que o título dela provocava. Princesa. E ela acabou de perder outro irmão.

Ele passou a mão nas costas dela antes de avançar ao lado dela.

—Sinto muito por Quinn.

Ela não respondeu por um longo momento. —Você não conhece Cole e Quinn. Aqueles dois... eles eram o mais próximos possível que irmãos poderiam ser. Eu sempre os invejei. Mas Quinn... ele é bom. E Cole tentará tirar isso dele. E se ele virar Quinn contra mim e Kass?

Dell se abaixou para pressionar a testa contra a dela. —Não sei se a bondade é algo que pode ser retirado. Tenha fé em seu irmão, Len.

Ela assentiu, engolindo em seco. —Eu vou ajudá-lo. — Seus olhos escureceram. —Está na hora, Dell. Não há mais espera. Preciso voltar para Bela e encontrar um caminho de volta para Madra. Está na hora de ir para casa.

Ele não respondeu. Ele viu isso acontecer, a decisão dela. Helena queria voltar para Madra desde que acordou a bordo de um navio com destino a Bela. Era o reino dela. Ele não poderia culpá-la, poderia?

Mas ele temia que se ela pusesse os pés em solo Madrano, ele nunca mais a veria, que ela não conseguiria sair viva. Os braços dele a apertaram.

Ele soltou um suspiro em seus cabelos. —Len, não quero te perder.

Ele não percebeu que tinha dito as palavras em voz alta até que ela levantou a cabeça para olhar para ele. Ela não fazia promessas falsas, mas a determinação em seus olhos se suavizou. Ela faria o que precisava. Ele não tinha dúvida disso.

Os dedos dela cavaram o tecido da camisa dele e ela o puxou para mais perto, seus lábios encontrando os dele.

Quando eles se beijaram no baile em Madra, Dell viu todas as possibilidades diante deles. Tinha sido poderoso e consumia tudo, mas terminou muito rapidamente.

Agora, eles demoraram um pouco para despejar tudo naquele momento. Os lábios de Len se moveram sobre os dele quando ela se abriu para ele, pressionando mais forte contra seu corpo.

Dell passou os dedos pelas bochechas, pelos ombros e pelas laterais antes de envolver os braços em volta da cintura, querendo cada parte dela e aterrorizado que ele acabasse com nada.

Os julgamentos vindouros mantiveram uma escuridão para a qual nenhum deles estava preparado. Ele só sabia que faria qualquer coisa para impedir que a vingança destruísse sua princesa.

 

Helena não percebeu que tinha adormecido até que uma batida na porta a acordou. Antes que ela pudesse se levantar, a porta se abriu e Edmund entrou.

Ela saiu da cama, mas não antes que Edmund a visse e erguesse uma sobrancelha. Ele não mencionou. Em vez disso, ele apontou para a forma ainda adormecida de Dell. —Como ele está?

—Melhorando. — Ela respondeu. —Ele acordou cedo esta manhã.

Edmund assentiu. —Bom. Então podemos deixá-lo em paz. Lady Amalie voltou tarde da noite passada e solicitou nossa presença no café da manhã. Primeiro, você precisa tomar banho. — Ele torceu o nariz e ela deu um tapa nele.

Uma jovem criada entrou atrás dele e fez uma reverência.

—Senhorita, eu posso levá-la para o seu quarto.

Helena olhou para Dell mais uma vez antes de seguir a garota para o corredor. À luz do dia, a casa da propriedade exibia um ar mais alegre. Tecido de cores vivas decoravam as paredes, mas seu apelo era na simplicidade. Eles não usavam muito dinheiro em casa, e Helena apreciava a modéstia.

O quarto em que ela chegou era idêntico ao de Dell, exceto por um banheiro anexo. A empregada mostrou-lhe onde estava um novo conjunto de roupas e uma banheira de cobre, cheia de água fumegante.

Assim que ficou sozinha, Helena tirou a roupa e afundou na banheira, permitindo que a água relaxasse todos os músculos.

Ela fechou os olhos, inclinando a cabeça para trás. Fazia apenas um dia que eles lutaram naquela praia? Parecia que uma vida havia passado. Ela esfregou a sujeira e o pó da estrada que estavam endurecidos em sua pele, sentindo-se como uma garota pela primeira vez em algum tempo. Seus dedos trabalharam o sabão líquido nos fios emaranhados de seus cabelos outrora lindos.

Sua mãe e Sophia costumavam passar horas lavando as tranças escuras, escovando-as e prendendo-as para que ela sempre parecesse tão adequada quanto uma princesa. O que Sophia pensaria dela agora? A velha empregada não aprovava as coisas que a rainha ensinava à filha, considerando as habilidades com adagas muito masculinas.

Mas sua mãe nunca se importou com o que os outros pensavam. Ela se certificou de que Helena sempre aparecesse a princesa perfeita e obediente ao redor de seu pai ou de seus padres. Mas então ela também deu a Helena os meios para ser sua própria pessoa.

O trono não tinha sido tudo para Chloe Rhodipus, e não seria tudo para sua filha.

Helena mergulhou a cabeça sob a água antes de emergir fresca e nova com um pensamento diferente. Ela não queria a coroa de Cole. Ela não desejava emitir comandos ou cobrar impostos. Não era por isso que ela precisava voltar para Madra. Mesmo que Helena não pudesse ser a rainha, Cole não merecia o título de rei. Ele não merecia o respeito e a obediência quando não tinha.

Ela ficou na banheira, deixando a água escorrer pelo corpo antes de sair. Alguém bateu na porta.

—Len?

Dell? O que ele estava fazendo fora da cama? Ela se secou o melhor que pôde e vestiu as roupas, pulando para prender as calças confortáveis. Não havia dúvida em sua mente o quanto Dell significava para ela. Ela o viu cair e seu coração parou. Mas ela não tinha o luxo de ser uma garota apaixonada. Ela tinha que ser dura, fria e calculista. Ela não podia mais ser a linda princesa por trás da máscara. Era hora de ser uma guerreira.

Com os pés ainda nus, ela atravessou o chão frio de pedra para deixar Dell entrar no quarto. Ele praticamente caiu quando ela abriu a porta.

—Hey. — Ela o pegou pela cintura. —Você não deveria estar de pé.

—Você se foi quando eu acordei. Um dos criados me disse onde eu te encontraria.

Um sorriso tentou se libertar, mas ela o conteve. —Lady Amalie quer nos ver.

—Estou indo.

—Dell...

—Eu não posso mais ficar na cama. Estou bem.

Ela o estudou por um momento e estreitou os olhos. —Bem. Espere aqui por um segundo. — Ela o trocou para que ele pudesse usar o batente da porta como apoio e foi buscar suas botas. Lama seca ainda as cobria, mas elas teriam que servir.

Depois de colocá-las, ela se abaixou sob o braço de Dell e o deixou se apoiar nela para andar pelo corredor. Enquanto alguns criados os olhavam, Dell se inclinou para sussurrar. —Este lugar te dá arrepios?

—Um pouco. — Ela admitiu. Era como se fantasmas de um passado brutal vagassem pelos corredores. Lorde Leroy e sua filha mais velha estavam há muito mortos, mas a influência deles devia ter sobrevivido.

—Ouvi algumas empregadas conversando quando pensaram que eu estava dormindo. Lady Amalie lutou para recuperar essa propriedade depois que a rainha a tomou.

—Ela lutou com a rainha?

—O pai dela era um traidor, e a coroa tem direito às terras do traidor, mas...

—Mas Amalie não era traidora. — Ela terminou para ele. Como a rainha pôde tirar tudo da mulher que seu filho amava? —Você acha que ela sabia sobre Tyson e Amalie?

Dell balançou a cabeça. —Espero que ela não saiba. Se ela sabe... isso está errado. —Ele ficou quieto por um momento. —Eles dizem que Amalie é difícil. Ela desaparece por dias seguidos e ninguém além de algumas pessoas de confiança sabe para onde ela vai.

Helena engoliu em seco, não gostando de pensar em conhecer a mulher. Então ela pensou em Tyson. O homem com um charme juvenil e alegria contagiante. Como ele poderia amar alguém com gelo no coração?

Do mesmo modo que Dell poderia ter sentimentos por Helena, ela supôs.

Chegaram ao refeitório onde Edmund e Tyson estavam sentados a uma mesa comprida. Tyson deu um pulo quando os viu e correu para ajudar Dell.

—Eu disse a ele que ele deveria ter ficado na cama. — Helena balançou a cabeça quando Dell tropeçou e agarrou o braço de Tyson.

Tyson não respondeu porque ainda estava parado. Helena seguiu sua linha de visão para uma mulher parada na porta. Um elegante vestido verde escuro pendia de seu corpo esbelto. Laços dourados percorriam o comprimento de seus lados, do corpete à saia.

Os cabelos castanhos se espalhavam pelos ombros em cachos, emoldurando um rosto em forma de coração. Grandes olhos escuros estavam em contraste com sua pele pálida. Seu peito subiu como se ela se preparasse para algo difícil antes de entrar mais na sala.

—Edmund. — Seus lábios rosados puxaram um sorriso hesitante enquanto ela passava por Tyson sem sequer um olhar.

Edmund levantou-se e deu a volta na mesa para estender os braços. —Amalie. — Ele sorriu. —Linda como sempre.

Ela entrou em seu abraço. —Tem sido muito tempo.

Ele riu. —Eu não tenho o hábito de entrar em Gaule se não precisar e visto que você não nos visita mais em Bela...

Ela se afastou e achatou as mãos contra o estômago. O sorriso que já existia antes não era mais visível. — Tenho muito o que fazer aqui. Eu não posso simplesmente sair.

Tyson grunhiu quando ajudou Dell a se sentar em uma cadeira.

—Se você não sai, onde você estava quando chegamos?

Amalie virou uma carranca para ele. —Isso não é da sua conta, príncipe. — Ela disse o título como se fosse uma arma antes de enfrentar a Dell. —Esse é o homem que Maiya curou? Ele não deveria estar fora da cama.

—Foi o que eu disse. — Helena murmurou. Ela pensou que ninguém a ouvira até Amalie encará-la com um olhar desconfiado. —Edmund, Tyson, que problemas vocês trouxeram à minha porta? Cameron disse algo sobre uma princesa.

Edmund esfregou a parte de trás do pescoço. —Amalie, conheça Helena de Madra.

Amalie apenas levantou uma sobrancelha com isso. —A princesa morta? Ela parece muito viva para mim. — Amalie cruzou os braços, saindo de Helena e examinando o resto dos rostos lá. —Eu sei que vocês só vieram à minha porta porque não tinham outra escolha, mas enquanto estiver aqui, eu tenho regras.

—Regras. — Tyson zombou.

Ela estreitou os olhos. —Primeiro, essa não é mais a casa do meu pai. As pessoas aqui serão tratadas com respeito, mesmo as que serviram meu pai ou irmã. Eu trabalhei muito duro para cultivar a lealdade. Eu venho de uma família de traidores, mas isso é passado.

Edmund assentiu. —Nós não sonharíamos em irritar você.

Amalie quase abriu um sorriso. Quase. —Elegante, Edmund, como sempre.

—Essa era apenas uma regra. — Helena sentou-se ao lado de Dell.

—Você é inteligente, não é, princesa?

Dell tentou se endireitar antes de recuar. —Você pede respeito e depois não dá.

Amalie colocou o cabelo por cima do ombro, em relação a ele. —Regra número dois, vocês fiquem fora do meu caminho. Não quero ver nada de vocês nem ouvir nada. Meu pessoal cuidará de vocês, mas eu tenho coisas delicadas nesta propriedade, e não quero que vocês se intrometam onde não são desejados.

—O que aconteceu com você, Amalie? — Edmund balançou a cabeça, tristeza em seu olhar.

Amalie apertou os lábios enquanto o considerava. —O que aconteceu comigo? Nos três anos desde que cavalguei para combater La Dame, vi Gaule descer a um poço de fome e desespero. Voltei para a propriedade da minha família, apenas para encontrá-la apreendida pela coroa. Foram necessários eventos dos quais não falarei para recuperá-la. Meu único objetivo nesta vida é ver todos aqueles que vivem na minha terra alimentados. Enquanto os nobres se sentam em suas fazendas, o povo passa fome. E o que a rainha faz sobre isso? Ela permite que esses mesmos nobres controlem todas as remessas de alimentos, todas as rotas comerciais. Ela nunca sai de seu maldito palácio. Sinto muito Edmund, mas há muito tempo perdi a fé em rainhas ou nobres. — Ela olhou de soslaio para Tyson. —Ou príncipes.

Com essa palavra final, ela se virou e deixou todos olhando para ela.

Tyson desabou em uma cadeira.

O queixo de Edmund se abriu e fechou como se ele tivesse algo a dizer, mas não conseguiu encontrar as palavras. Ele decidiu: —Bem, eu diria que ela mudou.

—Eu não sei. — Dell se inclinou contra a mesa. —Eu sempre me senti da mesma maneira. Eu via fome em Madra todos os dias. No entanto, o rei não fazia nada além de cobrar mais impostos e levar mais comida para seus exércitos.

Tyson enterrou a cabeça nas mãos. —Amalie se ressente de ter ficado em Bela longe dos problemas de Gaule, mesmo que ela tenha me mandado embora. A última vez que a vi, ela me chamou de covarde. Talvez eu seja.

—Ty. — A mão de Edmund pousou em seu ombro. —Você lutou sua guerra. Todo mundo em Bela. A paz é sua recompensa por gerações de abuso.

Dois criados entraram no salão, ambos carregando bandejas. Eles colocam uma tigela e um prato diante de cada pessoa presente antes de partirem tão silenciosamente quanto vieram.

Helena considerou a comida diante dela. Caldo fino, pãozinho e um pedaço de peixe salgado. O respeito cresceu dentro dela. Amalie não era apenas uma mulher com altos ideais, ela realmente andava ao pé. Essa refeição não poderia ter sido melhor do que o que as pessoas da vila estavam comendo.

Ela mergulhou a colher na tigela e levou o caldo de mau gosto aos lábios. Eles comeram em silêncio.

Quando terminaram, Edmund ajudou Dell a voltar para o quarto. Tyson desapareceu. Helena vagou pelos corredores da propriedade estéril, sua mente se perguntando sobre os atos traidores realizados dentro daquelas paredes.

Ela deslizou a mão ao longo de um corrimão de madeira enquanto subia uma escada para os níveis superiores da casa. Ela chegou a um cruzamento de corredores. Olhando para baixo, parecia apenas os aposentos dos empregados. Mas o outro... o brilho de uma lanterna escoava através de uma porta.

Helena não conseguiu impedir que seus pés se movessem dessa maneira.

Vozes flutuaram pelo corredor.

—Você os encontrou? — Cameron. Pelo menos ela pensou que era o guarda.

—Eu tentei. — A voz de Amalie era muito mais suave do que antes. —Vamos precisar pesquisar mais. Tuck já está procurando. Encontramos uma série de vagões em direção à propriedade do duque Ingold. Eu tenho os meninos distribuindo a comida agora.

—Isso foi uma sorte. — Cameron fez uma pausa. —Você tinha que...— Ele parou como se estivesse cortado.

—Ninguém morreu. Nocauteamos os vagões e os deixamos longe o suficiente da estrada que os bandidos não os teriam encontrado antes de acordar.

Helena não conseguia entender o que estava ouvindo. Amalie estava... roubando? Para o seu povo, mas ainda assim... eles poderiam enforcá-la pelo crime.

Ela recuou ao longo da parede e desceu as escadas. A respiração dela nem se estabilizou até ela voltar ao quarto. Ela se sentou em uma cadeira perto do fogo e olhou para as chamas brilhantes até que uma batida na porta a assustou de seus pensamentos.

Ela suspirou. O que eles queriam agora? Edmund e Dell tinham hábitos desagradáveis de invadir sem bater, então deveria ter sido Tyson, e ela não achava que poderia levar sua atitude melancólica por mais um momento.

Abrindo a porta, ela recuou quando o rosto de Amalie apareceu.

—Eu sei que é tarde. — Amalie falou com nenhuma confiança que ela tinha antes. —Mas posso entrar?

Helena assentiu e recuou para permitir a entrada da jovem.

Amalie fechou a porta e não demorou a cair em uma cadeira, a exaustão puxando as feições em seu rosto.

—Eu- — Helena começou, mas Amalie balançou a cabeça.

—Devo me desculpar pela maneira como falei antes. Sempre que Tyson aparece, vejo apenas raiva.

Helena sentou na cadeira à sua frente. —Está bem.

—Não. — Ela balançou a cabeça. —Não está. Mas muitas... as coisas estão difíceis agora, e ele apenas as torna mais difíceis.

Helena não conseguia olhar para Amalie sem um coro de ladrões percorrendo sua mente, mas sua mãe a criou para esconder seus próprios pensamentos, então ela sorriu em simpatia.

—Sinto muito, tivemos que vir aqui.

Amalie acenou com as palavras. —Estou feliz que Maiya possa ajudar. Eu sei que ela sente falta de usar sua magia regularmente, embora meu pessoal lhe dê muitas oportunidades. Olha, eu queria falar com você porque obviamente sei quem você é. Não é só isso, eu entendo. Ty gostaria de pensar que sou uma pessoa difícil e inquebrável agora, mas ainda sei quem sou e de onde venho. Meu pai e irmã traíram o rei. Sei que é diferente para você, porque seu pai era o rei quando seu irmão a traiu.

Helena deixou a menina divagar.

—Sinto muito, você não precisa que eu faça isso. O que eu realmente queria perguntar é o que você planeja fazer sobre isso?

—Fazer?

—Vinguei-me de meu pai quando o lutei em batalha e continuo a viver minha vingança todos os dias enquanto administro sua propriedade, enquanto ele está enterrado no fundo do túmulo de um traidor não marcado.

Vingança. A coisa que Helena prometeu decretar a Cole, mas não fez nenhum movimento para começar.

Ela se mexeu na cadeira. —Estou voltando para Madra.

Um sorriso sombrio deslizou pelo rosto de Amalie. —Edmund e Tyson sabem disso? Eles foram criados em torno de um exército. Plano. Plano. Plano. Prefiro deixar a espontaneidade ser minha arma.

Helena balançou a cabeça. —Eles não virão. Bem, pelo menos Tyson não vai. — Como ela disse, sabia que era verdade. Mas Edmund? Uma coisa era falar as palavras na floresta de Gaule, mas trazer Edmund de volta a Madra era outra questão. Por que Edmund e Tyson deveriam deixar a segurança de Bela? Edmund pode ter vivido em Madra, mas não era o reino dele. Sem Estevan lá, não tinha nada para ele. Não, Cole era sua responsabilidade. Nada disso iria parar até que ela o encarasse.

—Eu tenho alguém que você precisa conhecer. — Amalie se levantou. —Venha.

Helena seguiu Amalie pelos corredores até chegarem ao pátio. Em vez de se virar em direção ao portão, ela virou a esquina para onde havia um conjunto de quartéis nos fundos da propriedade. Suas paredes se apoiavam como se pudessem cair e pedaços de palha cobriam o chão.

—Não tivemos recursos para reparar o quartel, mas meu pessoal não se importa. De qualquer forma, eles não passam muito tempo aqui.

Helena olhou nervosa de um lado para o outro enquanto elas se escondiam. Fileiras de beliches cobriam cada parede, mas a maioria estava vazia. Apenas algumas pessoas se demoraram. Amalie assentiu para cada um. Nos fundos, ela parou em frente a um beliche ocupado. Um monstro de homem dormia com as pernas penduradas no final.

Amalie chutou a cama. —Will. Oi, acorde.

O grandalhão se mexeu, mas não acordou. —Will.

Ele abriu um olho. —Afaste-se, Ames.

—Tire sua bunda peluda desta cama agora, ou eu vou enfiar uma flecha no seu crânio grosso.

Ele gemeu e rolou.

Helena respirou fundo quando viu a linha de tatuagens serpenteando pelo pescoço dele e desaparecendo sob a gola da camisa dele. Um mercenário de Madra.

— Estou contando, Will. —Amalie bateu o pé. —Um. Dois...

—Estou levantando. — Ele sentou e esfregou a mão na mandíbula angular antes de afastar os longos cabelos escuros do rosto. —Eu estava acordado até tarde porque alguém nocauteou alguns comerciantes que obviamente não estavam morrendo de fome pelo peso deles.

Os olhos de Amalie se arregalaram quando foram para Helena. Will, vendo-a pela primeira vez, franziu a testa.

—Quem é ela? — Ele apontou o polegar para Helena, mas manteve os olhos em Amalie.

O coração de Helena apertou quando ele olhou para ela e deslizou-o pelo corpo. Ela nunca esteve cara a cara com um mercenário antes.

Amalie ignorou a pergunta. —Você se lembra da história que me contou de como Quinn Rhodipus salvou sua vida quando o exército de Madra o capturou em Cana?

Ele assentiu, hesitação nos olhos.

—De quem ele te salvou?

Helena teve a impressão de que Amalie já sabia a resposta, e a pergunta era apenas para seu benefício.

—Seu próprio maldito irmão. — Will cuspiu. —Eu nunca esquecerei isso. Quando Cole Rhodipus controlava o exército, ele via mercenários como traidores. Não acredito que o maldito bastardo seja rei agora.

Helena entendeu agora. Por que Amalie a trouxe para este homem. Ela tinha aliados.

Amalie mordeu o lábio por um momento antes de se virar para Helena. —Will tem contatos em Bela. Comerciantes. É assim que... digamos que ele é um trunfo para mim. Ele pode levá-la a Madra.

Will fez uma careta. —Ames, eu trabalho para você. Eu não estou ajudando alguns malditos... —Seus olhos a examinaram novamente. —Nobres a atravessarem o mar a menos que você me dê um malditamente bom motivo.

Convocando cada grama de coragem que pôde reunir, Helena estendeu a mão. —Helena Rhodipus, herdeira legítima do trono de Madra. Como você se sente com um pouco de vingança?

Will se levantou, demorando-se a examinar a verdade em seus olhos. —Você é ela, não é? A princesa mascarada? — Ele agarrou a mão dela. —Sou mercenário, boneca. Estamos sempre preparados para lutar. — Ele a considerou por mais um momento. —Não voltarei a pisar naquele reino, mas se encontrar uma maneira de ajudar a derrubar o rei bastardo, eu o farei.

Era isso.

Os planos se formaram em sua mente. Não havia mais espera. Ela estava indo para Madra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Doze


Helena agarrou o chifre da sela, todos os músculos ansiosos para começar a jornada de volta a Madra. As palavras de Will na noite anterior passaram por sua mente. Ele sabia mais sobre a situação atual em Madra do que deveria, mas cada vez que mercenários passavam, eles paravam para tentar convencê-los a se juntar a eles. Sua família era respeitada dentro de suas fileiras.

Um barco. Essa era a primeira parte do plano. Então um lugar para ficar quando ela alcançasse Madra. Ele disse a ela que os mercenários estavam ficando fora da cidade, mas que havia rebeldes escondidos por toda parte. Uma padaria guardava seus segredos e ela os encontraria lá. Eles a ajudariam a entrar no palácio.

Ninguém sabia da reunião dela na noite anterior, e agora Will não estava em lugar algum. Ele viajaria para Bela por uma rota diferente. Mercenários madranos não eram bem-vindos no reino que lutaram para destruir apenas alguns anos atrás.

Um ressentimento profundo percorria cada pedacinho de Bela, e provavelmente nunca iria embora. Não importava que os mercenários estivessem apenas fazendo um trabalho que eles recebiam generosamente. Eles não tinham lealdade a La Dame. Lealdade era um conceito estranho para eles.

Os olhos de Helena deslizaram sobre Tyson, Edmund e Landon. O que eles pensariam se soubessem que ela planejava confiar em alguém que consideravam um inimigo?

O que Dell pensaria? Ele não tinha o mesmo ódio dentro dele, mas ela não contou a ele e não sabia o porquê.

Ao lado dela, Vérité levantou a cabeça como se estivesse dando sua aprovação. O cavalo estava certo. Eles perderam tempo suficiente esperando Dell se recuperar da cura. Mas não tinha sido desperdiçado se ele se recuperasse, tinha? Sua ansiedade de voltar para casa anulou todos os sentidos.

A exaustão de Dell duraria um pouco mais. Helena tinha experiência suficiente com a cura para saber disso. Ela o observou por qualquer sinal de luta. Ele não mostrou nenhum.

Depois de conhecer Will, ela entrou no quarto de Dell para encontrá-lo batendo na cama. Ele só se acalmou quando ela se arrastou ao lado dele e envolveu seu corpo ao redor dele.

Ele não havia acordado, mas seu coração estava mais lento e sua respiração se acalmava. Seu corpo pode se recuperar, mas sua mente... isso levaria mais tempo. Ela ainda conseguia se lembrar do momento em que uma adaga a cortou enquanto lutava durante a rebelião. No segundo em que ela pensou que era o fim.

Não era algo que ela jamais esqueceria e agora Dell tinha uma memória semelhante. A mordida de metal deslizando em sua carne seria para sempre queimada em seu cérebro. Ele era um lutador de rua em Madra, mas sua arma tinha sido apenas seus punhos.

Ela desviou os olhos dele e encontrou Tyson em pé na frente de Vérité, alimentando-o com uma maçã.

Edmund montou em seu cavalo. —Amalie vem nos desejar boa sorte?

Maiya apareceu com as palavras dele, descendo os degraus até ficar na frente deles. —A senhora Amalie teve que cuidar de alguma coisa. Ela deseja boa sorte em suas viagens.

—Brilhante demais. — Resmungou Tyson baixinho. Ele ficou chateado por ela não se dar ao trabalho de se despedir ou por terem chegado lá em primeiro lugar?

Helena não perdeu seus muitos olhares para Amalie quando ele pensou que ninguém estava olhando. Seus olhos tinham um desejo que enviou uma rachadura através do centro do coração dela. Ele ainda a amava, mas algo em Helena disse a ela que Tyson não conhecia a garota que administrava esta casa. Não mais. Ela tinha seus próprios segredos agora, assim como todos eles.

Os olhos de Helena voltaram para Dell. Seus segredos iriam quebrá-los? Ela queria dizer a ele para ir com ela. Ficar ao lado dela. Mas Cole mataria Dell sem pensar duas vezes. Ela não acreditava que Cole queria matá-la. Talvez fosse uma esperança tola, mas se fosse verdade, a hesitação dele seria a abertura dela. Cole nunca amou Estevan ou seus pais... mas ela pensou que ele a amava, apesar do quanto ele tentou não amar.

Tyson deu um tapinha no pescoço de Vérité antes de subir.

—Eu só quero voltar para casa.

Casa. Helena o invejava. Mas logo ela voltaria para ela também.

Edmund assentiu em concordância. —Quanto mais rápido estivermos longe da propriedade Leroy, melhor.

—Príncipe Tyson.— A pequena voz de Maiya fez todos eles pararem. —Amalie deseja que vocês pudessem ter se separado como amigos.

Tyson virou o cavalo para longe dela. —Sim? Bem, ela com certeza mostrou, não foi?

Helena não gostou do sarcasmo na voz dele. Era muito diferente do tipo de príncipe que ela conhecia.

Maiya encarou Tyson com um olhar suave. —Ela deseja que eu pergunte a você...— Ela respirou fundo. —Por favor, não volte aqui. Mas se você precisar de nós, iremos ajudá-lo. O passado conta para alguma coisa.

Tyson cerrou os punhos, mas inclinou a cabeça. —Sim, senhora Maiya. Farei bem em lembrar suas palavras.

Ao contrário de Amalie na noite anterior, o jovem não conseguia esconder a dor nos olhos.

Ele chutou os calcanhares e saiu pelo portão aberto.

Helena lançou um olhar final para a fortaleza nas costas antes de segui-lo. Logo ela voltaria para Bela, mas isso era apenas o começo.

 

 

Capitulo Treze


Helena olhou por cima do ombro para os companheiros enquanto eles subiam o vale antes de descerem para a vila.

O alívio tomou conta dela quando viu a cabana no topo da colina. Aron já os teria visto de seu lugar na torre de vigia - se eles pudessem chamar assim.

Como se para provar o quanto ela estava certa, quatro cavalos galopavam na direção deles carregando os guardas de Bela. A versão de Etta e Alex dos guardas da cidade não usava armadura. Helena suspeitava que eles não precisavam disso quando podiam confiar em magia.

Montando no centro dos guardas não era outro senão o próprio rei.

Alex gritou uma saudação.

—Oi, rei. — Edmund sorriu, mais exausto do que com qualquer sentimento de alegria.

Helena havia muito que deixara de ficar chocada com a informalidade de Bela. Ela lembrou a si mesma que Edmund não estava desrespeitando Alex. Eles eram amigos. Ela suspeitava que seu pai nunca tivesse tido amigos. Stev também não... até Edmund.

Esse era o preço do poder. Mas aqui em Bela, essas regras não pareciam se aplicar. Etta e Alex haviam se cercado de pessoas que os amavam, apesar de suas coroas, não por causa delas.

As bochechas de Helena se aqueceram quando ela pegou Dell estudando-a, mas ela desviou o olhar e cutucou o cavalo para frente.

Alex parou na frente deles, os guardas se afastando. —Você voltou.

—Boa observação, Alex. — Tyson se afastou dele. Com isso, ele bateu os calcanhares nas laterais do cavalo e partiu em direção à vila.

Alex levantou uma sobrancelha.

O olhar de Edmund seguiu Tyson até que ele desapareceu entre as árvores. —Tivemos que parar na propriedade Leroy por alguns dias.

A compreensão surgiu em seus olhos. —Qual de vocês se machucou? Ty só iria a Amalie se precisasse de Maiya.

Dell levantou a mão. — Esse seria eu.

Alex assentiu. —Você está bem agora?

—Sim eu estou bem.

—Bom. Agora me diga o que diabos aconteceu com você em Gaule. Nós não tivemos nenhuma palavra e todos vocês parecem como se estivessem...

—Em Gaule? — Edmund terminou por ele.

Alex esfregou os olhos. Helena lutou para ver o homem diante dela como filho da rainha Catrine. Ele cresceu como príncipe de Gaule antes do reino desmoronar e se tornar um refúgio para a guerra civil e os bandidos pegando a carcaça de uma terra problemática.

—Sim. — Ele soltou um suspiro. —Minha mãe?

—Pode apodrecer nesse reino dela. — Helena dirigiu um olhar desafiador para ele. Com a menção da mulher que entregou Quinn a Madra, a raiva bateu em sua pele, girando em torno de seu coração.

Edmund suspirou. —Podemos conversar sobre isso quando eu tiver uma cerveja... ou três?

—Padre, isso parece o paraíso. — Dell tentou sentar-se mais reto em sua sela, mas Helena viu a luta.

Alex olhou para os guardas ao seu lado. —Bem. Etta vai querer saber que você voltou. Eu juro, ela perde a cabeça preocupada toda vez que alguém passa além da fronteira.

A raiva de Helena fervia, diminuindo a cada momento que passava. Ela não podia se ressentir de Bela pelo que Gaule havia feito, apesar de suas conexões. O mundo ainda não era seguro para os manejadores mágicos. Eles lutaram por toda a liberdade que tinham.

Mas não tinha todo mundo?

Ela tocou sua bochecha por hábito, meio que esperando sentir o laço confinante de uma máscara. Em vez disso, as pontas dos dedos roçaram a pele macia que não parecia a dela. Ela não era essa linda princesa. Não mais.

A mão dela deslizou sobre os emaranhados escuros no alto da cabeça, desprovida de dias na estrada.

Alex os levou pelo caminho que circundava a vila e levou à ponte sobre o rio estreito.

Uma vez do outro lado, eles desmontaram do lado de fora dos estábulos do palácio.

Etta correu para cumprimentá-los, passando por cada pessoa até chegar a Vérité. Ela jogou os braços em volta do pescoço dele.

—Você voltou.

Vérité esfregou o nariz contra o lado da cabeça dela.

Edmund bufou. —Eu sobrevivi em Gaule também, mas não... ninguém se importa com Edmund.

Etta soltou Vérité e sorriu antes de ir para Edmund e esfregar o nariz. —Você também é um bom garoto, Edmund.

Ele afastou a mão dela e a puxou para um abraço.

—Parece que a jornada foi boa para você. — Ela se afastou e estendeu a mão para tocar as bordas de seu sorriso.

Ele balançou sua cabeça. —Essa jornada não foi boa para ninguém. Estou feliz por estar de volta em Bela.

Etta virou-se para Helena. —Tyson chegou alguns momentos antes de você. Ele explicou os eventos básicos. Sinto muito pelo seu irmão, mas aliviada por você ter retornado em segurança. — O olhar dela voou para Dell. —E que você sobreviveu a suas feridas.

Dell abaixou a cabeça em agradecimento.

Etta encontrou o olhar de Helena mais uma vez. —Precisamos conversar. Sozinhas. — Ela começou a andar. —Edmund, cuide dos cavalos.

—Sim, minha senhora. — Uma nota zombeteira ecoou em sua voz, mas também carinho.

Para onde Etta a estava levando? Elas contornaram a lateral da pequena casa e Helena respirou fundo. Ela nunca tinha visto os jardins antes.

Apresentadas à sua frente, havia fileiras das flores mais vibrantes que ela já viu. Vivendo na cidade, as únicas flores que a maioria das pessoas via eram em pequenas caixas de janela ou em caules moribundos nos mercados. O palácio de Madra tinha jardins, mas nem aqueles se comparavam a isso.

Amarelas, rosas e azuis se estendiam pela paisagem, serpenteando por caminhos de pedra pálida. Grandes árvores penduravam suas trepadeiras sobre os caminhos.

Um banco de pedra branca estava no centro.

Helena imaginou que estava vendo coisas, mas era como se as flores acordassem com a presença de Etta e um zumbido excitado enchesse o ar, formigando nos braços de Helena.

Ela tinha ouvido falar do poder de crescimento da rainha, mas isso estava além de qualquer coisa que ela imaginou. —Você...— Ela balançou a cabeça. Não, mesmo depois de toda a magia que ela testemunhou, ainda parecia impossível para ela.

Mas Etta confirmou seu primeiro pensamento. —Eu criei este lugar para pensar. — Ela fechou os olhos, inalando o ar perfumado floral. —Quando eu era mais jovem, morava em uma floresta e meu mundo era tão escuro que fiz um campo de flores apenas para adicionar luz à minha vida. Um pouco de beleza. Foi a primeira vez que percebi que estar cercada por minha magia permitiu que minha mente clareasse. Quando construímos esta casa, a primeira coisa que eu sabia que precisava era de um lugar assim.

—É lindo.

—Obrigada. — Etta se sentou no banco. —Você deve estar exausta da jornada. Sei que muita coisa aconteceu desde a última vez que te vi, mas estamos com pouco tempo. Primeiro, sinto muito pelo seu irmão.

Helena abaixou o olhar para esconder a tristeza em seus olhos.

Etta deu um tapinha no assento ao lado dela. —Sente-se, por favor.— Quando Helena obedeceu, ela continuou. —Sei que você está decepcionada com a pouca ajuda que recebeu de reinos estrangeiros. Aos seus olhos, todos devemos agir contra um usurpador. Não vou defender o que a rainha Catrine permitiu que acontecesse, porque não concordo com a decisão dela. Mas eu entendo isso. Gaule não é mais o que era antes, e Camille é a herdeira. Parece que ela ofereceu uma pequena ajuda para permitir que você tentasse capturar Quinn. Ela não sabia que Reed trairia Dell.

Etta fixou os olhos em um arbusto amarelo. —Quero ajudá-la, mas não posso pedir a ninguém do meu povo que lute em uma terra estrangeira. De novo não.

Helena a deteve. —Eu entendo sua decisão. Se Bela se envolver em assuntos estrangeiros, você se torna a mantenedora da paz dos seis reinos. Não quero mágica usada no meu reino, assim como você não a usa fora do seu.

Um sorriso iluminou o rosto de Etta, e ela passou a trança loira por cima do ombro antes de ficar séria mais uma vez. —Há notícias de Madra. O porto foi fechado para todo o comércio exterior. Nós já paramos de negociar com eles, mas agora eles cortaram o resto dos seis reinos.

Helena olhou para os de Etta. —Mas isso é...— Ela não tinha palavras para descrever exatamente o que era, mas Etta parecia entender.

Etta bateu os dedos contra a perna. —Seu irmão também puxou todas as tropas da fronteira draconiana.

A testa de Helena franziu. —Eu pensei que a guerra havia terminado anos atrás. — De repente, ela odiou o pai por se recusar a permitir que Helena soubesse dos outros cinco reinos.

—Acabou, mas quando assinamos os acordos de paz, Madra prometeu uma força significativa por cinco anos para garantir que Dracon reconstruísse suas cidades, mas não seu exército. Também tenho uma força considerável e, nesta manhã, recebi a notícia de um de meus generais de que nossos aliados os abandonaram.

A mente de Helena se recusou a ficar quieta. O que Cole estava fazendo? Isolando Madra do resto dos seis reinos? Há muito que Madra acredita que as lutas do reino resultam do envolvimento estrangeiro. Eles não estavam errados. As guerras de seu pai impediram o povo de prosperar. Mas fechar completamente as fronteiras?

—Você será capaz de adiar Dracon sem as unidades de Madra? — Helena perguntou.

Etta não hesitou. —Ai sim. Sem La Dame, Dracon não é uma ameaça real. Estou mais preocupada com nossos supostos aliados nos abandonando.

—Então não deixe. — Helena virou o corpo para inclinar-se para Etta. —Vamos para Madra. Vamos remover Cole do trono.

Antes de Helena terminar de falar, Etta estava balançando a cabeça. —Eu sinto muito. Quando eu disse que não podia fazer isso, eu quis dizer isso. —Ela passou a mão pelo rosto. —Eu só sou rainha há alguns anos. Eu só sei o que não posso fazer. Não sei como consertar isso.

Estava na ponta da língua de Helena - revelar o homem que prometeu ajudá-la. Mas Etta permitiria um mercenário em seu reino?

Helena se endireitou, pensando em algo que Etta havia dito. O porto foi fechado para navios estrangeiros. Como ela deveria voltar para casa? Ela se recusou a acreditar que seu plano falhasse antes mesmo de começar.

Que plano, no entanto? Até agora, tudo que ela tinha era “Chegue a Madra”. Ela não tinha visto Will nas estradas para Bela e nem sabia se ele havia conseguido.

Os olhos de Etta ficaram paralisados nas flores diante delas. Ela estava pensando em tudo o que estava por vir como Helena? Isso só pioraria antes de melhorar, e as duas sabiam disso.

—Eu respeito você, Helena. — Suas palavras foram tão repentinas que fizeram Helena pular. —Você seria uma rainha maravilhosa.

Rainha? Helena não conseguia pensar tão à frente. Ela nunca quis o papel. Tudo o que ela podia ver era a luta pela frente.

Etta não havia terminado. —Mas preciso fazer uma pergunta e quero que seja sincera comigo.

—Tudo bem. — Ela poderia tentar, pelo menos.

—Se você for a Madra, qual é o seu propósito?

Helena apertou as mãos. —Eu não sei o que você quer dizer.

—Nossas fontes nos dizem que Cole Rhodipus não fez mudanças radicais que machucaram o povo madrano. Ele não aumentou impostos - na verdade, ele os reduziu. O comércio de Madra sofrerá, mas reduzirá os preços para o cidadão médio da cidade. Ele pode não fazer o certo pelo resto de nós, mas pode ser bom para Madra. Você pode ficar aqui em Bela, onde está segura e criar uma vida para si mesma. Por que lutar essa luta?

—Cole tem Quinn. Eu tenho que fazer isso pelo meu irmão.

—Quinn pode se cuidar de todas as contas. Essa não é sua verdadeira razão.

—É a única que tenho.

Etta sacudiu a cabeça com tristeza. —Agora você nem está sendo honesta consigo mesma. — Ela se levantou. —Apenas... tenha cuidado, Helena. Já estive na estrada da vingança antes. Tudo o que faz é separar você até que a única coisa que resta é uma garota despedaçada. Você não quer ser a pessoa que não tem mais nada a perder.

Essas palavras ficaram presas na mente de Helena, sacudindo até que se agarraram e se recusaram a deixar ir.

Enquanto Etta voltava para casa, outro rosto apareceu, abrindo um grande sorriso assim que viu Helena.

—Kass. — Ela saiu do banco e correu em direção a ele, ignorando seus músculos cansados.

Ele pulou nos braços dela, quase a derrubando. —Len. Você voltou.

Ela se afastou para olhá-lo e enxugou uma lágrima de sua bochecha úmida. —Kassander, você achou que eu não voltaria?

Ele deu de ombros e isso partiu o coração dela. —Quinn não está com você.

Ela alisou seus cachos rebeldes.

—Não. Ele está em Madra agora. — Curvando-se, ela olhou nos olhos vidrados dele. —Mas vamos recuperá-lo. Eu prometo.

Ele assentiu. —Eu sei que você tentará.

Quando seu irmão mais novo perdeu a esperança que ele sempre teve dentro dele?

—Venha aqui. — Ela o puxou de volta para seus braços. —Se nada mais der certo, você e eu ainda temos um ao outro, certo?

—Lenny, por favor, não me deixe para trás novamente. Sei que você vai voltar para Madra e quero ir.

Ela fechou os olhos, apoiando o queixo na cabeça dele. Não. Era muito perigoso. Você nunca quer ser a pessoa que não tem mais nada a perder.

Enquanto Kass estivesse seguro, uma pequena parte dela permaneceria inteira.

 

 

 

 

Capitulo Quatorze


Helena sentiu os olhos nela a cada movimento enquanto deslizava no banco da taberna da vila. Uma jovem de olhos brilhantes e cabelos ruivos torcidos em um coque apareceu à mesa deles.

Seus olhos caíram em Edmund e Tyson. —Há rumores de que vocês dois estavam do outro lado da fronteira.

Ela apontou para um homenzinho correndo entre mesas, e ele apareceu carregando uma bandeja cheia de canecas de cerveja.

Assim que ele os colocou na frente dos meninos, a tensão ao seu redor se rompeu.

Edmund suspirou enquanto levava a caneca aos lábios. Dell e Landon beberam metade delas de uma só vez. Tyson, movendo-se mais devagar, olhou para a jovem.

Helena não tocou a caneca na frente dela.

—Lana. — Tyson parecia ser o único ainda focado em sua pergunta. —Atravessar a fronteira não é novidade para mim.

Lana se inclinou, o corpete de seu vestido simples amontoado na cintura. —É tão perigoso quanto todo mundo diz?

Bandas itinerantes de ladrões de Madra. Bandidos de Gaule. Uma rainha que não tinha controle sobre seus próprios nobres.

—Não. — O sarcasmo escorria das palavras de Helena. —Foi como um passeio na praia.

O que essa garota estava pensando? Claro, era perigoso. Mas nem todo mundo tinha o luxo de ficar sentado em Bela, onde nenhum desses perigos poderia alcançá-los. E assim, ela se ressentia de tudo neste reino.

Lana não conseguiu esconder o choque em seu rosto, mas Helena não se importou se estava sendo rude. Aqueles que consideravam a verdade grosseira não valiam a pena.

Antes que ela dissesse mais alguma coisa, um movimento chamou sua atenção no canto do lugar. Um homem grande estava sentado nas sombras com uma capa cobrindo cada centímetro de pele, exceto seu rosto. Um rosto que ela reconheceu.

Will.

Ele veio.

—Eu preciso de ar. — Helena se levantou.

—Mas acabamos de chegar aqui. — Dell pegou seu braço e ela se afastou.

Seus olhos percorreram a taberna barulhenta, cheia de pessoas rindo e brincando como se o mundo não estivesse desmoronando. Talvez apenas o mundo dela fosse.

Ela caminhou com passos decididos até a porta e a abriu. O luar projetava o chão do lado de fora em um brilho etéreo. Ela fechou a pesada porta atrás dela, cortando o riso de outros clientes.

Apenas um momento depois, a porta se abriu novamente.

—Não aqui. — Will passou por ela como se ele não a conhecesse.

Ela o seguiu até um beco que ligava a estrada principal às docas. Morando em Madra, ela se acostumou com o cheiro constante de peixe, mas em Bela parecia permear tudo, como se o mar fizesse parte do reino.

Apenas alguns marinheiros permaneciam tão tarde da noite. Will parou e se virou para encará-la. Ele não empurrou o capuz, mas ela conseguiu distinguir as bordas de tinta preta em seu pescoço.

—Quero esclarecer uma coisa agora. — Disse Will em voz baixa. —Estou aqui porque Amalie pediu isso de mim. Não dou a mínima para o que acontece com Madra. Não é mais minha casa. Eu luto por mais do que ouro agora, e isso significa que não sou mais mercenário que você.

Tudo o que Helena aprendeu sobre Amalie veio à mente. Ela ainda não havia contado a ninguém sobre a conversa que ouvira. Ela inclinou a cabeça para o lado. —Então pelo que você luta?

Os lábios dele se curvaram. —A primeira coisa que você vai aprender sobre mim, princesa, não é fazer perguntas.

—Notável. — Helena cruzou os braços. —Diga-me como você planeja me levar para Madra.

Will soltou um suspiro. —Você deveria ir à rainha Belaena em busca de ajuda.

—Isso não é problema de Bela. — Ela agarrou o braço dele, lamentando quando ele lhe lançou um olhar cortante. Mas ela não desistiu. —Você pode alegar que Madra não é sua casa, mas é minha.

—Como você planeja chegar perto o suficiente do rei, e muito menos tirar a coroa de seus dedos bastardos? As pessoas para quem estou enviando podem mantê-la segura por um tempo, mas não podem fazer milagres.

Helena o soltou. —Você não pode fazer perguntas mais do que eu.

—É justo. — Ele ergueu os olhos para o céu escuro, onde nuvens sinistras se reuniam, ameaçando cortar a vila de seus holofotes prateados. —Há um navio mercenário aqui em Bela.

Helena respirou fundo. —Etta nunca permitiria.

Ele abaixou o rosto para perfurá-la com um olhar severo. —A rainha assume que ela sabe tudo o que está acontecendo em sua terra, mas somos bons no que fazemos. Um mercenário sabe como se mascarar. Algo que você tem experiência.

Ela tocou o rosto antes mesmo de perceber que estava fazendo isso. Os olhos dele seguiram as mãos dela, mas ele não disse outra palavra sobre isso.

Engolindo em seco, Helena olhou ao redor de Will para se certificar de que eles ainda estavam sozinhos. Ela tinha que voltar para a taberna antes que Dell viesse procurá-la. Ela estava realmente pensando em embarcar em um navio mercenário? A única coisa que sabia sobre os misteriosos guerreiros madranos era o perigo que eles representavam.

—Este... navio...— Ela empurrou um sopro de ar. —Quando sai?

—O terceiro dia de cada semana ao amanhecer.

—Daqui a apenas algumas horas.

Ele baixou a cabeça para falar. —A menos que você queira esperar uma semana.

Não. Ela mordeu o lábio nervosamente. Ela teria coragem de enfrentar Cole daqui a uma semana? O que aconteceria com Quinn naquele tempo? Ela poderia usar uma semana para obter ajuda.

Ela balançou a cabeça. —Eu tenho que chegar ao meu irmão.

Ele assentiu como se soubesse que seria a resposta dela o tempo todo. —Será o único navio que se prepara para partir antes da maré da manhã. Esteja lá antes que o sol nasça. Não vai esperar por você. — Ele se virou para sair.

—Espere. — Ela chamou atrás dele. —Você não vem comigo?

Ele não a encarou, mas suas palavras ecoaram em seus ouvidos.

—Como eu disse antes, princesa, Madra não é mais minha casa. Minha lealdade está em outro lugar. Não vou te ver de novo.

Ele saiu antes que ela pudesse pronunciar as palavras “obrigada”.

 

 

 

 

 

 

Capitulo Quinze


—Helena já se foi há um tempo. — Dell olhou por cima do ombro em direção à porta. —Devemos ir procurá-la?

Tyson apenas grunhiu, seu humor não era melhor do que quando eles estavam na propriedade Leroy. Landon observou a porta, suspeita nublando seu rosto.

Edmund não parecia preocupado. —Lenny às vezes só precisa ficar sozinha. Ela é assim desde que eu a conheço. — Ele estendeu a mão para dar um tapa nas costas de Dell. —Relaxe, Dell. A vila é tão segura quanto em qualquer lugar.

Ele não entendia. Dell não estava preocupado com a segurança dela. Helena não era a mesma desde que deixaram Gaule.

Era como se ela estivesse se afastando dele, recusando-se a deixá-lo chegar perto. Ele pensou que ela finalmente o deixaria entrar. A princesa fria tinha esquentado.

Mas agora o gelo estava de volta e ele não sabia o que fazer.

Quando a porta se abriu, e ela deslizou para dentro, o alívio se espalhou pelo peito dele. Apenas a visão dela o acalmava. E então ela olhou para ele e toda a calma desapareceu. A luz que ele viu nos olhos dela quando a conheceu se foi, substituída por um embotamento que não se encaixava na princesa.

Ele ficou de pé quando ela caminhou em direção à mesa, seus cachos escuros puxados por cima de um ombro.

—Eu estava ficando preocupado. — Disse ele, ciente dos olhos neles.

Helena deu um sorriso tenso. —Estou bem, apenas cansada. Eu acho que vou voltar para Etta. Eu poderia dormir por uma semana.

Seu coração afundou, mas ele deixou escapar um suave “ok”.

Sem se despedir de mais ninguém, ela se virou e saiu por onde tinha vindo.

Dell recostou-se no banco e levantou a caneca, engolindo o conteúdo antes de bater com força na mesa de madeira.

Tyson pulou com uma maldição.

Edmund balançou a cabeça. —Dell...— Ele riu, mas não havia alegria nisso. —Você só tinha que se apaixonar pela princesa, não foi? — Ele esvaziou sua própria caneca segundos antes que o homem magro parecesse reabastecê-la. Edmund não perdeu tempo bebendo a cerveja fresca.

Dell o observou, notando seu rosto cansado. O Edmund que ele conhecia em Madra havia caminhado com o tipo de confiança que poucos possuíam. Ele se movia com graça e tinha um charme mortal.

Agora, seus ombros caíram para frente quando ele se curvou sobre a mesa. Restos de estresse cobriam sua pele. Suas mãos, uma vez feitas para empunhar uma espada com poder e habilidade, agora tremiam enquanto as envolvia em torno da caneca.

Landon se levantou, interrompendo Dell de seu exame. —Eu terminei a noite.

Dell se despediu, mas ninguém mais o reconheceu quando ele saiu.

Edmund levantou uma mão para passar pelos cabelos, puxando as pontas. Ele ergueu os olhos e, pela primeira vez, Dell viu como eles se pareciam com o desespero que ele tinha visto no de Helena.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, o perfume inebriante de cerveja girando no ar. A bebida zumbiu nas veias da Dell quando ele perdeu a conta de quantas tinha. Em Madra, a cerveja não era uma bebida comum. Eles se prenderam ao vinho - nada tão forte quanto em Bela ou Gaule.

Edmund apoiou a testa na mesa, as palavras abafadas pela madeira rachada. —Por que você se deixou fazer isso, Dell? — Ele virou a cabeça para que sua bochecha descansasse contra a superfície e seus olhos encontraram Dell. —Ela não pode dar tudo o que você quer e você vai acabar como o resto de nós. Vazio.

As palavras de Edmund eram como sal na ferida da vida de Dell, mas ele sabia que o Belaeno não estava realmente falando de Helena.

—Todos eles deixam você vazio, princesa ou não. — Resmungou Tyson.

Edmund fechou os olhos. —Eu só... eu queria fazer alguma coisa. Ele não me deixou salvá-lo. Eu pensei que se eu ajudasse Quinn, seria como se ele ainda estivesse comigo. Alguma parte dele.

Quanto Edmund já tinha bebido? Ele traçou formas invisíveis na mesa com um dedo. Nenhuma lágrima manchava suas bochechas, mas sua voz quebrou. —Sinto falta dele.

Dell colocou a mão nas costas do amigo. Ele devia muito a Edmund e ainda não podia fazer nada para ajudá-lo. —Ele está com você enquanto Helena e Kassander estiverem. Contanto que você os mantenha seguros para ele.

Dell só conheceu Estevan Rhodipus em duas ocasiões. Quando ele pensou que Helena era a amante do príncipe, ele lutou para impedi-lo de controlá-la, até brandindo sua faca, sabendo muito bem as consequências de ameaçar uma realeza.

Na segunda vez, ele também estava lutando por Helena, mas desta vez o príncipe estava do seu lado. Ele achou Estevan frio, sem piedade. Mas Edmund viu outra coisa.

Ele apertou o ombro trêmulo de Edmund.

Embora tivessem um objetivo, uma missão, todos eles poderiam tirar os eventos de Madra de suas mentes. Agora eles estavam de volta a Bela sem caminho a seguir. Eles deveriam esquecer? Isso era possível?

Tudo que Dell sabia era que a cada dia que passava, Helena se afastava cada vez mais. No entanto, ela ainda estava lá com ele. Edmund nem sequer tinha isso.

Ele precisava vê-la. Tocá-la. Para ajudá-la a esquecer. Bela era a vida deles agora. Eles não podiam voltar para Madra, onde seriam presos à vista. Não havia outro lugar para eles irem.

Ele se levantou e agarrou a mesa enquanto o mundo se inclinava ao seu redor, e seu estômago revirava.

Tyson riu. —Parece que Dell teve um pouco demais

Dell deu um tapa nele, mas errou e quase tombou. Tudo o que ele queria era sua cama, mas não tinha certeza de que poderia deixar Edmund em seu estado. —Você vai ficar bem?


Edmund levantou a cabeça, mas nenhuma resposta deixou seus lábios. Em vez disso, uma nova voz invadiu sua noite. —Eu o pegarei.

Dell se virou e tentou colocar o homem atrás dele. O uniforme dele falava de importância... —Mathew?

—Matteo. — Tyson corrigiu. —Meu primo.

O homem não tirou os olhos de Edmund. —Nós nos conhecemos quando você chegou em Bela.

Dell lembrou-se então, mas estava nebuloso.

—Você vai voltar tudo bem? — Matteo finalmente olhou para ele.

Havia uma intensidade no homem que Dell só tinha visto em uma pessoa. Estevan.

—Eu vou com ele. — Tyson se levantou e deu a volta na mesa, a bebida aparentemente não tendo tanto efeito sobre ele. Ele olhou para o primo. —Cuide dele. Ele não é ele mesmo esta noite.

—Sempre.

Tyson deu um tapinha no braço de Matteo antes de emitir um rápido: —Vamos, Dell?

Dell não estava em Bela há tempo suficiente para entender os relacionamentos entre as pessoas de lá. Eles lutaram juntos, sangraram juntos, e isso certamente se uniu, mas era mais do que isso. Mesmo com o humor sombrio de Tyson, ele cuidava de Edmund como se eles fossem da família.

Dell nunca teve isso até que Edmund entrou em sua vida. Nem mesmo sua família teria lutado por ele.

Nenhum dos dois falou quando começaram a curta caminhada pelas ruas desertas da vila, ambos tropeçando ocasionalmente.

Por fim, Dell não conseguiu mais conter suas perguntas.

—Matteo... ele ama Edmund?

Tyson assentiu. —Sim. — Dell não achou que ele iria elaborar até dar um suspiro. —Eles ficaram juntos por dois anos quando Edmund pediu a Etta a posição de embaixador. Nenhum de nós queria que ele pegasse, mas ele estava procurando por algo. Nada havia sido fácil para ele crescer. A guerra com Dracon apenas fez Edmund querer fazer algo maior com sua vida do que jogar o jogo político do dia a dia.

—E Matteo não queria ir com ele?

Tyson esfregou a parte de trás do pescoço. —Edmund não pediu.

Dell olhou de volta para a estrada em que acabavam de descer até a taberna. Quando conheceu Edmund, ele conhecia as histórias da batalha com La Dame e o embaixador belaeno com magia. Mas ele nunca considerou verdadeiramente seu passado. Que, enquanto se arriscava a jogar um jogo perigoso de espionagem em um reino que não era dele, ele tinha pessoas em Bela que o lamentariam se tudo desse errado.

Quem lamentaria Dell?

Eles tropeçaram no “palácio” de Etta, encontrando o rei e a rainha sentados juntos perto do fogo. Os dois olharam para cima.

—Eu não queria voltar para minha casa vazia na vila. — Tyson olhou para o chão como se estivesse com medo de que lhe dissessem para sair.

Em vez disso, Etta se levantou e atravessou a sala para abraçar Tyson. —Você cheira a uma cervejaria.

A camisa dela abafou a risada de Tyson quando ele enterrou o rosto no pescoço dela.

Dell caminhou em direção ao corredor dos fundos para lhes dar um pouco de privacidade. Ele parou do lado de fora da porta de Helena, preparando-se para bater, precisando vê-la. Levantando o punho para a madeira, ele fez uma pausa. Se ela conseguiu escapar de suas realidades por algumas horas de sono, ela não merecia a paz? Além disso, Kassander compartilhava sua cama.

Com um suspiro resignado, ele se virou para entrar em seu próprio quarto, congelando ao ver os fios escuros selvagens espalhados pelo travesseiro, iluminados por uma única vela em uma mesa próxima.

Helena se mexeu e se virou para encará-lo.

Ele queria mais do que tudo trazer a luz de volta aos olhos dela.

—Você está no meu quarto. — Ele respirou.

—Dell. — Sua voz falhou. —Não sei o que vai acontecer amanhã, mas preciso de você hoje à noite.

Ele tirou as botas, quase tropeçando, e sentou-se na beira da cama. —Eu estou bem aqui. Eu não estou indo a lugar nenhum.

Ela ajeitou a camisa dele nas mãos e puxou-o para o lado, correndo para dar-lhe espaço. Os dedos dele deslizaram do rosto dela para o ombro. Ele pensou em Edmund e nas palavras que havia dito. Você apenas tinha que se apaixonar pela princesa.

—Como se eu tivesse qualquer outra escolha. — Ele sussurrou enquanto pressionava os lábios nos dela.

Eles vieram de mundos diferentes. Ele passou a maior parte de sua vida limpando os decks, sujando barracas e evitando espancamentos de seus irmãos. Ninguém para amá-lo. Ninguém para se importar.

Ela cresceu em um belo palácio, mas escondida do reino. Amada por seus irmãos e traída por um também.

Como poderia um homem sem nada para dar merecer uma mulher como ela?

Ele não conseguia. E, no entanto, ele mostraria a ela que não eram as pessoas que foram criadas para serem. Ele passou os braços em volta das costas dela e a puxou contra ele.

Helena abriu, permitindo que a língua dele dançasse com a dela, enviando faíscas através do sangue dele. Cavando os dedos nos quadris dele, ela beijou uma linha na bochecha dele e no pescoço dele.

—Dell. — Ela respirou.

Ele puxou a camisa dela para fora da calça e empurrou-a para passar as mãos pela pele macia do estômago dela. Ela estremeceu sob o toque dele.

—Esta noite sou sua. — Ela quebrou o beijo para falar. —Tudo de mim. Eu nunca... eu sei que você já fez isso antes.

Dell sorriu e deu um beijo na testa. —Eu nunca me apaixonei antes.

Ela fechou os olhos, um breve sorriso brilhou em seus lábios antes que desaparecesse. —Não posso te prometer nada... agora. Eu realmente preciso que você me abrace.

Dell ergueu as mãos, traçando cada curva, memorizando o que ela sentia em suas mãos. Ela não disse a ele que o amava, mas ele não precisava. Ainda não. Eles tinham tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Dezesseis

Helena observou a lenta ascensão e queda do peito de Dell. Apenas algumas horas atrás, ela passara as mãos por todas as partes, todos os músculos. E Dell tinha bastante. Seu corpo era resultado de anos de trabalho duro. Ele não teve escolha em como passava seus dias.

—Assim como eu não tenho escolha agora. — Ela sussurrou no escuro. Ele a perdoaria? Ela levou um dedo aos lábios. Uma parte dela sabia que essa decisão mudaria tudo. Ela só esperava que ele entendesse.

Confrontar Cole não era algo de que ela pudesse fugir. Mesmo que não fosse pelas pessoas que ele governava agora, ela teria que fazer isso sozinha. Dell queria ter uma vida pacífica. Ele pensou que eles poderiam começar de novo em Bela. Mas não haveria paz dentro dela até que ela lidasse com o passado e com a pessoa que a tirou dela.

Curvando-se, ela passou os lábios pelos de Dell. —Sinto muito. — Quando ela deslizou da cama, olhou para trás, desejando poder levá-lo com ela. Ele iria se ela pedisse. Ela sabia disso.

Mas ele nunca sairia dali vivo.

Ela sairia? Ela queria não se importar, não sentir nada. Arriscar sua vida para se vingar de sua família deveria ter sido simples.

Mas nada nunca foi simples.

Ela vestiu suas roupas, puxando as calças para cima das pernas e amarrando-as na cintura. Depois de arrastar uma túnica e colocá-la, ela fez uma pausa.

Sentada na mesa ao lado da vela curta havia uma pequena espada de madeira. De todas as coisas que Dell poderia ter esculpido... Ela o viu criar anjos e sapatos elegantes, mas isso... talvez fosse um presságio do que estava por vir. Tomando uma decisão rápida, ela enfiou no bolso e olhou para o homem adormecido mais uma vez.

A primeira vez que ela o conheceu, ele tinha sangue escorrendo pelo rosto após uma luta. E ainda assim, ele era bonito. Mesmo depois de anos de dificuldades, não havia escuridão dentro dele. Ao contrário dela.

Ela fechou os olhos, a mão pairando sobre o topo da cabeça dele. Ela poderia acordá-lo. Decidir que tudo era um erro e implorar para que ele venha. Seus dedos se fecharam em punho quando ela retraiu o braço. Esta não era a luta dele.

Uma lágrima deslizou por sua bochecha. —Eu amo você, Dell. Pelo que vale a pena.

Limpando as costas da mão no rosto, ela deslizou para o corredor escuro antes de retornar ao seu próprio quarto. Kassander estava encolhido no centro da cama.

Ela avançou e se inclinou para beijar sua testa. Os olhos dele se abriram.

—Len. — O sono cobria suas palavras.

—Está tudo bem. — Ela tirou o cabelo dele dos olhos. —Volte a dormir.

Ele rolou para longe dela, um ronco suave ecoando pela sala. Tentando ficar o mais silenciosa possível, Helena calçou as botas e enfiou uma das adagas na bainha. Ela colocou uma bainha na cintura.

Incapaz de olhar para o irmão novamente, ela saiu, fechando a porta atrás dela e recostando-se nela.

Ela prometeu não deixá-lo novamente. A voz dele entrou em sua mente e as lágrimas picaram sua visão. Não havia tempo para sentimentos. Ela enxugou os olhos e entrou na sala de estar. Uma perna estava pendurada nas costas do sofá. Ela deu a volta para encontrar Edmund, rosto esparramado primeiro nas almofadas de veludo.

—Matteo o deixou.

Helena pulou na voz de Etta. Etta andou ao redor dela para se sentar no braço do sofá, uma caneca de chá apertada entre as mãos. Ela deu a Helena um sorriso tímido. —Não consegui colocá-lo na cama e não queria acordar ninguém.

—Quando ele chegou em casa?

—Oh, isso foi há horas atrás. Eu simplesmente não consegui dormir depois de vê-lo assim. —Ela olhou para o chá como se fosse a coisa mais interessante que ela já viu. —Ele está lutando, e eu não sei como ajudá-lo.

Helena olhou para a porta. Ela não tinha tempo para isso. Mas era Edmund. —Acho que ninguém pode ajudá-lo agora.

Ele rolou com um gemido e espiou com um olho aberto. —Por que vocês duas estão aqui no escuro?

Etta, como se notasse pela primeira vez a primeira hora, deu a Helena um olhar interrogativo. —Eu sei porque estou acordada. Mas o que você está fazendo?

Helena encolheu os ombros, nervos tremulando no estômago.

—Também não conseguia dormir.

Etta não parecia acreditar nela. Ela examinou a roupa de Helena, observando o punhal visível em sua cintura. —Você está indo.

Edmund gemeu. —Ela não está indo embora, Etta. Para onde ela iria?

Helena apertou e abriu as mãos, mas a rainha apenas a estudou.

—Como você planeja chegar lá?

O silêncio pairou entre elas por um longo momento. Edmund olhou entre as mulheres, olhos arregalados, antes de se sentar. Ele agarrou a cabeça dele. —Lembre-me de nunca mais beber. — Ele fechou os olhos.

Por fim, Helena cedeu. —Há um navio saindo ao nascer do sol.

—O navio mercenário. — Etta assentiu.

—Como?

Etta acenou com a pergunta. Helena imaginou que realmente sabia tudo o que acontecia em seu reino.

—Você não pode me parar. — Ela cruzou os braços.

Etta suspirou. —Eu sei. Você tem que fazer isso. Eu já estive no seu lugar antes.

Edmund abriu os olhos. —Eu não entendo o que está acontecendo.

—Você não precisa entender, Edmund. — Helena colocou a mão no ombro nu e apertou uma vez antes de passar por eles.

A voz de Etta a parou na porta. —Eu não vou fazer o seu desserviço e supor que você não tem um plano. Você é uma garota inteligente, Helena. Lembre-se do que eu disse. Certifique-se de que isso seja mais do que vingança.

—É. — Era sobre família. Ela entrou na escuridão antes do amanhecer, deixando o início da luz guiar seu caminho. O sono ainda pairava sobre a vila tranquila, enquanto ela caminhava pelas ruas e andava por um beco.

Passos soaram atrás dela e ela se virou, mas não viu ninguém. Alguém a estava seguindo?

Ela puxou as bordas da capa e tirou a adaga do cinto. Quando chegou às docas, ela soltou um suspiro de alívio. Um pequeno navio estava em meio a comoção em seus conveses enquanto os marinheiros o preparavam para partir. Homens e mulheres carregavam caixas através de uma rampa.

Uma sensação de familiaridade a atingiu quando ela pegou o navio Madrano. Altas paredes de cerejeira circundavam um amplo convés, mergulhando e subindo com um design intrincadamente entalhado. Quem possuía o navio tinha riqueza. Ela poderia dizer isso apenas olhando. Na proa, uma estátua de ouro de uma serpente pairava sobre a água, protegendo os marítimos de qualquer coisa escondida abaixo.

Ela se aproximou, seu coração batendo forte na garganta.

A luz do amanhecer se estendeu sobre a água e ela se concentrou nela por um momento de hesitação antes de voltar o olhar para os marinheiros que fizeram uma pausa no trabalho para encarar a garota que se aproximava.

Três homens grandes estavam no convés. Um colocou a caixa que ele estava carregando, seus músculos espessos se esticando. Os outros dois continuaram a enrolar cordas, limpando o convés de todos os detritos. As tatuagens se estendiam por seus pescoços da mesma maneira que Will as tinha. Rabiscos pretos grossos que lhes davam uma aparência mais escura. Ela não sabia o que os símbolos significavam, apenas o que indicava. Esses homens eram mercenários.

O homem mais próximo do trilho pulou, aterrissando com um baque pesado no cais. Os membros de Helena congelaram no lugar quando ele se aproximou. —E quem pode ser você?

Ela engoliu em seco, incapaz de formar uma única palavra. Quantas vezes o pai a avisara de mercenários? Eles não eram permitidos na cidade e por boas razões. A voz dele tocou em sua mente. —Eles são perigosos, Helena. Eles não obedecem ao rei.

Ela trabalhou a garganta, tentando respirar quando ele parou apenas um pé na frente dela. Agora que ele estava perto, ela podia ver que ele era mais jovem do que parecia, provavelmente ainda mais jovem que ela. Cabelos ondulados de chocolate emolduravam um rosto de menino que não se encaixava em um homem do seu tamanho.

Ele sorriu como se tivesse prazer em fazê-la se contorcer.

—Você pode falar. Eu não mordo. —Ele se inclinou. — Muito.

—Deixe-a em paz, Ez.

Helena fechou os olhos brevemente. Ela conhecia aquela voz. Esquecendo o garoto na sua frente, ela suspirou. —Você me seguiu.

Edmund se aproximou dela. —Claro que sim.

Helena queria ficar brava, mas, em vez disso, estava tão aliviada que Edmund estava lá.

Virou-se para o mercenário cujo sorriso aumentara. —Desde quando você transporta mais do que apenas mercadorias, Ezio?

Os olhos de Ezio se arregalaram. —Você é o único que o tio Will enviou? — Ele bateu na própria testa. —Claro que você é.

Tio?

Edmund pareceu sentir sua confusão. —Len, este é Ezio. A mãe dele é capitã deste navio.

Len... isso era um sinal. Sem nome verdadeiro? Ela assentiu, entendendo o significado dele. Ele não confiava neles o suficiente para revelar a identidade dela.

Uma mulher apareceu no convés, com as mãos nos quadris.

—Ezio. Há trabalho a fazer.

Ele deu uma piscadela para Helena antes de voltar para o navio.

Edmund levantou a mão em saudação.

—Edmund. — Ela saltou do navio e avançou. —Você está entregando nossa passageira?

Helena estudou a mulher, vendo a semelhança com Will no conjunto confiante de seus ombros, na inclinação de sua cabeça. Mas ela não se pareciam. Ele era maior, iminente. Essa mulher tinha uma constituição leve e traços delicados. Pela maneira como andava, Helena imaginou que era tudo menos delicada.

Edmund se inclinou para perto. —Esta é Damara. — Ele sussurrou. —Tenha cuidado com ela.

Ela ainda não entendia por que Edmund estava lá ou como ele conhecia essas pessoas, mas confiava nele.

—Damara. — Edmund encontrou seu olhar, a dureza entrando nos olhos dele. —Quando a rainha me disse que Len tinha saído, eu sabia que você estava por trás disso.

Damara levantou uma sobrancelha arqueada. —Eu não estou atrás de nada, bebê. Meu irmão veio implorar por sua passagem. Ele sabe que darei ajuda a quem tentar escapar de Bela.

Fugir de Bela? Quem já quis fazer isso?

A mandíbula de Edmund se apertou. —A rainha Persinette permite que você mova seu comércio por Bela, apesar de meu conselho para afastá-lo. O mínimo que você pode fazer é respeitá-la.

Damara virou-se para Helena, ignorando as palavras de Edmund. —Você deseja que eu tire você deste reino ou não?

Apesar da tensão de Edmund ao lado dela, Helena não podia negar que era isso que ela queria. Mesmo que essa mulher não fosse confiável, ela era o único caminho de volta para Madra.

Lentamente, Helena assentiu.

—Fale garota!

—Sim. — Ela respirou fundo. —Eu preciso de passagem para Madra.

Damara bateu palmas, fazendo Helena pular. —Bom. Will já me pagou, um presente de sua amante, ele disse. Eu sabia que havia um motivo para ele se recusar a voltar para Madra.

Ela estava errada. Helena já tinha visto. Não era dinheiro que mantinha Will com Amalie. Era lealdade.

Edmund agarrou o braço de Helena, impedindo-a de avançar. —Eu também vou. — Ele soltou Helena e passou por Damara. —Considere meu pagamento sua capacidade contínua de entrar em Bela. — Ele não voltou. —Len, venha.

Ela correu atrás dele, não querendo passar mais um momento na presença da mulher dura. —Você não pode estar falando sério, Edmund. — O medo superou o alívio que ela sentiu por ele estar lá.

Ele não respondeu.

—Você não pode vir comigo.

Ele parou antes de embarcar no navio quando ela agarrou seu braço, segurando-o.

—Edmund...

Ele se virou tão de repente que ela deu um passo para trás.

—Por que Len? Por que não posso ir?

Sua voz caiu como se ela não quisesse ouvir suas próprias palavras. —Ele vai te matar.

Um som estrangulado escapou da garganta de Edmund, mas ele conteve um soluço. —Isso importa? — Um último lampejo de dor cintilou em seu rosto.

Ezio estendeu a mão para ajudá-la a atravessar a passarela de madeira. O navio balançou nas ondas batendo contra as docas.

Edmund não falou com ninguém e Helena não sabia o que mais ela poderia dizer para convencê-lo a ficar para trás. Ela nunca se recuperaria se algo acontecesse com ele. Mas, ao mesmo tempo, a presença dele a fez sentir como se essa missão não fosse tão estúpida quanto ela pensava.

Os remos mergulharam na água em ritmo sincopado quando o navio começou sua jornada. As cores riscavam o horizonte, dando boas-vindas a um novo dia, mas no mundo de Helena tudo permanecia escuro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Dezessete


Ele estava sozinho. Dell esticou o braço, sentindo o conforto quente que teve durante a maior parte da noite. Imagens de apenas algumas horas atrás passaram por sua mente. Helena dera tudo a ele em uma noite. Ele nunca teve tanta certeza de nada em sua vida. Ela o amava. Seu coração partido e cheio de cicatrizes não a congelara completamente.

Talvez houvesse felicidade entre as mágoas, afinal. Mas onde ela estava? Pela primeira vez, eles não tinham uma jornada para começar ou uma missão a cumprir.

Por que ela não estava aqui?

Dell esfregou os olhos cansados, bloqueando a luz que entrava pela janela. Ontem à noite significava que Helena estava finalmente lhe dizendo que estava desistindo de sua vingança? Que ela sabia que ainda havia um futuro para ela? Quinn ficaria bem. Ele poderia ficar ao lado de seu irmão gêmeo enquanto Helena o deixasse.

Ninguém tinha que arriscar suas vidas.

Ele não precisava perdê-la.

Ele rolou, gemendo enquanto seus músculos doíam por dias na sela. Ele sentou-se, empurrando o cobertor do colo e balançando as pernas sobre a beira da cama. Comida. Ele precisava de comida. Como se estivesse de acordo, seu estômago roncou. Talvez fosse para onde Helena tivesse ido. Alex geralmente preparava o café da manhã. Era coisa dele. Etta disse que só aprendeu a cozinhar uma vez que viveu em Bela sem pessoas para fazer isso por eles. Ela se recusou a contratar empregados, então ele fez isso e gostou.

E ele era bom nisso.

Dell ficou com água na boca enquanto vestia uma camisa e calça novas, sem se preocupar com sapatos. O clima ficava mais frio a cada dia, enquanto avançavam em direção ao inverno, mas a casa de Etta nunca estava fria.

Ele alcançou a escultura que sempre carregava, nunca saindo sem o trabalho atual em andamento. Mas se foi.

Talvez Kassander tenha pegado a pequena réplica da espada. Mesmo enquanto pensava, ele sabia que Kass nem chegaria aqui.

Apenas uma pessoa havia entrado nesta sala além dele.

O pânico percorreu-o enquanto ele corria para o espaço. Alex e Etta estavam acordados e conversando em vozes murmuradas na cozinha.

Ninguém mais estava lá.

—Onde está Helena? — Os olhos de Dell vasculharam todos os cantos da sala antes que ele corresse pela porta da frente dos estábulos. Vérité o cumprimentou com um bufo. O cavalo de Alex apenas levantou a cabeça.

Landon estava desmaiado no sótão acima.

Não Helena.

Ele se virou para procurar o quintal e encontrou Etta em pé na varanda da frente, com os braços cruzados na frente dela.

Os lábios dela se fecharam em simpatia. Ela sabia de algo.

Dell atravessou o quintal, parando na frente dela. Seu peito arfava com uma única palavra. —Por quê?

Não onde. Ele tinha um pressentimento que já sabia a resposta para isso.

Não como. Isso não era importante no momento.

Ele deveria saber. Em algum nível, ele sabia. Ela nunca desistia. Mas ... —Por que ela me deixou para trás?

Os ombros dele caíram. Ele teria ido. Sem dúvida. Ele não se importava com os riscos. Ele não teria deixado o lado dela. E ela sabia disso.

—Dell. — Etta correu para frente e passou os braços em volta dele.

Naquele momento, ele entendeu como a família deles funcionava. Como Etta tinha tantas pessoas que a seguiriam até a morte. Ela cuidava deles. Não de maneira maternal, não era ela. Mas quando eles se separaram - como todos pareciam fazer com frequência - ela conseguia segurá-los.

Mas ele não aguentou. Os braços dela não eram os de Len. Ele deu de ombros e Kassander apareceu na porta. —Onde está Len?

De repente, Dell odiou Helena. Ela o deixou para dizer ao irmão que ele também não era necessário. Que a luta pertencente aos dois filhos de Rhodipus seria travada apenas por um.

Ele colocou a mão no ombro de Kassander, com ressentimento no estômago. —Ela foi embora, amigo. E não acho que ela planeja voltar. — Ele entrou na casa e caiu no sofá. Colocando a cabeça nas mãos, ele deixou que a raiva o dominasse. Ao seu redor, as pessoas falavam. Etta confortou Kass. Alex deu as boas-vindas a Mari e Corban quando eles apareceram na porta.

Tudo ficou borrado na mente de Dell até Kassander se sentar ao lado dele. —Nós estamos indo atrás dela?

Essas palavras eram como um balde de gelo sendo jogado sobre sua cabeça, despertando-o do pesadelo em que ele estava vivendo. Havia algo que ele poderia fazer. Ele não precisava apenas ficar sentado em Bela e esperar por notícias de seu destino.

Helena talvez não o quisesse lá com ela, mas estava na hora de ela perceber que não tomava decisões por ele.

Ele ergueu os olhos, vendo o príncipe como ele realmente era pela primeira vez. Eles trataram Kass quando criança, inocente e jovem demais para fazer parte dessa luta.

Mas ele perdeu a inocência no dia em que assassinaram sua família. A juventude era um luxo que ele não tinha mais. E ele parecia... pronto? Dell balançou a cabeça, sem saber se essa era a palavra certa. Ele tinha uma bravura teimosa que Dell admirava.

—Sim, Kass. Nós vamos atrás dela.

Todas as conversas na sala pararam quando suas palavras os envolveram. Mari veio se sentar ao lado dele, a coisa mais próxima de uma mãe que ele teve em anos. Juntamente com Corban, ela cuida dos ferimentos físicos da Dell há anos. Agora, ela tentou acalmar seus sentimentos emocionais também. Ela apertou a mão dele como se estivesse confortando uma criança. —Dell... você não pode voltar para Madra. Helena fez sua escolha e eu gostaria que fosse diferente, mas não quero esse perigo para você.

—Você não entende. — Ele balançou a cabeça. —Eu tenho que... eu...— Ele se inclinou para Mari, deixando-a envolver um braço em volta dos ombros. —Eu passaria pelo fogo por aquela garota... eu enfrentaria a própria La Dame. O único risco que importa é perdê-la.

Alex quebrou a tensão com uma risada, surpreendendo todos eles. —Bem, sendo que eu andei para enfrentar La Dame porque estava apaixonado... provavelmente sou o único aqui que entende.

A voz cansada de Tyson veio da porta. —Por favor, Alex. Você nem precisou entrar em Dracon até a luta terminar. Etta foi a única de nós que enfrentou La Dame.

Alex pegou um prato de frutas frescas da cozinha e colocou sobre a mesa. —Mas eu ainda reuni um exército e viajei para Dracon pronto para lutar. Eu poderia dizer que era algum motivo nobre como querer ajudar o povo de Bela. Mas Etta estava lá e eu teria feito qualquer coisa para protegê-la.

Etta resmungou. —Vocês, rapazes, precisam perceber que não precisamos que vocês nos protejam, apenas lutar ao nosso lado. — Ela pegou um pedaço de bacon da bandeja que Alex havia pegado. Depois de dar uma mordida, ela deu uma olhada em Dell. —Ok pessoal. Reunião de família. Agora mesmo.

Tyson resmungou algo baixinho quando se sentou em uma cadeira perto do fogo.

Mari se levantou para se levantar, mas Etta estendeu a mão.

—Fique. Você é da família agora. Alguém acorde Landon.

Mari deu um empurrão em Corban e o menino correu para o celeiro, retornando alguns minutos depois com um general madrano meio acordado.

Alguém estava desaparecido. —Onde está Edmund? — Dell encontrou o olhar de Etta. Os olhos dela deram a resposta que ele precisava.

Ela pegou Edmund e deixou Dell para trás. Perfeito.

—Dell. — O nome dele era um suspiro nos lábios dela. Ela não sabia o que dizer para ele.

Tyson tamborilou com os dedos no braço da cadeira. —Eu não entendo. Onde ele está? Cadê o Edmund?

—Ele está em um navio saindo de Bela com Helena. — Alex era o único que parecia capaz de expressar as palavras.

Tyson se levantou. —Que diabos? Por que Helena foi autorizada a partir para Madra? Por que não fui convidado para ir? Eu sei que disse a ela que não podia... mas isso foi antes de perdermos o irmão dela.

Dell tinha essas mesmas perguntas.

Alex coçou a mandíbula em confusão. —Por que ela perguntaria quando ela nem soltou Dell?

Tyson cruzou os braços. —Não Helena. Edmund. Eu vou aonde ele vai. Ele já foi para Madra mais de um ano atrás e você o soltou de novo? E se desta vez ele não voltar?

—Ty...— Etta disse que era como uma criança.

Mas Dell sabia que Tyson tinha razão.

—Ele é meu melhor amigo, Etta. — Ele afundou na cadeira.

Dell olhou para cada um deles, percebendo que ele não era o único com algo a perder.

Etta bateu com o punho na mesa atrás deles, a rachadura ecoando pela sala. —Todo mundo sentem-se.

Alex e Landon eram as únicas pessoas que ainda estavam de pé, então puxaram as cadeiras da mesa e obedeceram.

Etta atravessou a sala para ficar na frente deles, as chamas da lareira atrás dela. —Isso não é fácil para nenhum de nós, e não chegaremos a lugar algum se discutirmos a cada momento. — Ela encarou o irmão. —Tyson, seu comportamento foi inaceitável. Não deixarei Amalie Leroy transformá-lo em um idiota. Então, junte-se ou você não fará parte disso. Eu sei que você ama Edmund. Eu também o amo. Alex o ama. Inferno, todo mundo que já conheceu aquele idiota o ama. Mas ele ama Helena. — Matteo a interrompeu entrando pela porta. Ele pegou sua expressão e correu para puxar uma cadeira.

Respirando lentamente, ela olhou de relance para seu primo. —E Edmund amava Estevan Rhodipus. Ele teve que ir. Ambos. Eu não iria detê-los. Podemos nos preocupar com eles, mas não podemos deixar isso nos separar.

—Como eles estão chegando a Madra? — Dell perguntou. —Eu pensei que eles haviam fechado o porto para todos os navios estrangeiros.

—Eles não estão em um navio estrangeiro.

Dell franziu a testa. Todos eles sabiam que os navios oficiais de Madra pararam de chegar a Bela nas últimas semanas.

Etta endireitou sua postura como se estivesse se preparando.

—Eles estão em um navio mercenário.

Protestos irromperam por toda a sala. Os mercenários haviam lutado por La Dame. Ninguém era mais odiado em Bela. Nem mesmo os draconianos, pois foram forçados a fazer o que ela mandou. Os mercenários fizeram isso por ouro.

Etta levantou a mão e, para seu crédito, todos se aquietaram. —Está feito. Não podemos fazer mais nada além de aguardar notícias.

Dell não podia acreditar nela. Ou qualquer um deles para esse assunto. A raiva que ele sentia por Helena fervia, encontrando uma nova direção. Ela realmente não teve escolha. Se ela tivesse perguntado aos Belaenos, eles teriam dito não. Ao contrário dele.

Sua raiva estava prestes a derramar de sua boca, mas antes que ele pudesse falar, Kassander ficou de pé. —Nós não podemos apenas sentar aqui. — Lágrimas umedeceram seu rosto, e ele não se deu ao trabalho de limpá-las. O garoto não tinha vergonha de suas emoções. —Lenny está indo para Madra, onde Cole... — Um soluço sacudiu seu peito, mas ele apertou a mandíbula e levantou o queixo. —Deveríamos estar com ela.

—Kassander. — Etta estendeu a mão para atraí-lo para ela, mas ele se desvencilhou de suas mãos.

—Não! — Seu grito atordoou todos eles em silêncio. —Não. — O olhar que ele enviou a ela poderia ter cortado vidro. —Você é uma covarde, Persinette Basile

Ninguém falou quando o significado os atingiu. Kassander não recuou. Ele olhou para a rainha mágica que já lutou com La Dame - e venceu - como se ela não fosse nada.

Dell passou um braço em volta da cintura de Kassander e o puxou de volta para seu colo. O corpo inteiro do garoto tremeu.

Quebrando o silêncio, Dell falou. —Este não é apenas o problema de Helena. Madra está se fechando, se isolando do resto do mundo. Com Cole Rhodipus no poder, você não pode mais utilizá-los como aliados.

—Nós sobrevivemos sem eles antes. — As palavras de Etta não tinham a confiança que elas tinham uma vez.

Ele podia reconhecer quando era hora de parar de lutar. Ele respirou lentamente, apertando ainda mais Kass. —Você deixou clara sua posição sobre o assunto. Você pode não considerar Madra seu problema, mas enquanto Helena estiver lá, é minha e de Kassander, e pretendo ir atrás dela.

—Eu também. — Disse Kassander.

Dell assentiu. —Estou levando a criança. Ele merece fazer parte disso.

Tyson ergueu os olhos, mas a única pessoa que ele parecia ver era seu irmão. —Alex...— Dor passou por sua voz. Ele passou a mão pelo rosto. —Não podemos deixá-los tê-la.

Dell estava errado. Tyson e Alex tinham tanto em que lutar em Madra quanto ele. A irmã deles estava presa dentro das muralhas do castelo, prometida ao homem que matou sua própria família para levar a coroa.

Alex não respondeu enquanto se ocupava em limpar uma refeição que não comia.

—Ela é nossa irmã.

Um barulho veio da direção de Alex quando uma panela pesada de ferro fundido atingiu o chão. —Droga. — Alex rosnou. Ele não se incomodou em pegá-la enquanto se endireitava.

Etta ficou pálida enquanto observava o marido.

Tyson se levantou e diminuiu a distância entre ele e seu irmão. Ele colocou a mão em cada braço e encontrou seus olhos escuros.

—Não importa como nos sentimos sobre ela ou o que ela fez, Alex. Camille é família e não abandonamos a família.

—Edmund também é da família. — Etta sussurrou. Ela fechou os olhos, uma lágrima se espremendo. Uma respiração estremeceu fora dela. —Não acredito que o abandonaria aos seus interesses em Madra.

Alex correu para puxá-la em seus braços. —Você estava pensando no seu povo.

Ela se agarrou a ele. —Às vezes fico tão envolvida em ser a rainha que esqueço de ser eu.

Matteo, que estava quieto, inclinou-se para a frente. —Etta.

Ela se afastou de Alex para encarar o primo.

—Está bem.

Como se a permissão dele tirasse um peso de seus ombros, ela se endireitou e cruzou para ficar na frente de Kassander e Dell. Inclinando-se para encontrar os olhos do garoto, ela sorriu.

—Obrigada por me lembrar quem eu sou, jovem príncipe. Fiquei tão preocupada em manter Bela a salvo que esqueci o resto do mundo.

Ela se endireitou e caminhou até Tyson, passando os braços em volta dos ombros dele. —Eu te amo você sabe disso?

—Mesmo que eu seja um tolo idiota? — O som que saiu de sua garganta foi meio riso e meio soluço.

Ela se afastou. —Mesmo se você estiver me fazendo ir ajudar Camille. — Ela torceu o rosto com desgosto.

Alex riu, a tensão saindo da sala. —Ninguém disse que você tinha que gostar da sua família.

Landon ficou de pé. Dell quase esqueceu sua presença silenciosa. —Temos preparativos a fazer.

—Sim. — Etta bateu palmas, voltando ao modo rainha. —Não há mais navios Madranos no porto, mas tenho alguns capitães de Belaenos que posso questionar sobre a passagem. Precisamos de cavalos, pois eles não permitirão que um navio Belaeno entre na cidade. Tanta coisa para fazer.

Quando ela deu ordens, Dell levantou Kassander do colo e saiu pela porta da frente. Preparar cavalos afastaria sua mente das emoções que rodavam dentro dele.

Ele iria para Madra. Ele lutaria com seus irmãos e até com o rei. Mas o que então? Helena não confiava nele. Ela forçou as circunstâncias a ele quando o lugar dele estava com ela.

Dell cresceu em uma casa solitária, mas nunca experimentou a verdadeira solidão até aquele momento. Mesmo cercado por pessoas que cuidaram dele pela primeira vez em sua vida, algo que ele não sabia que precisava estava faltando.

E ele não sabia se conseguiria recuperá-lo.

Mas o que importava para ele, afinal? Ele poderia não fazer isso. Mas Helena... ela faria. Ele sabia disso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Dezoito


Helena observou Madra se aproximar com medo apertando o estômago. Ela estava em casa.

O sol do meio-dia pairava sobre eles enquanto os marinheiros pegavam os remos e as velas baixavam. O outrora movimentado porto de Madra agora parecia... abandonado. Não era uma visão que ela já pensou em ver. Sem navios estrangeiros entrando e navios mercantes de Madra autorizados a deixar o transporte de mercadorias, uma aura triste pairava sobre o local.

Eles chegaram ao rio que fazia fronteira com a cidade no início da manhã e deixaram o mar expansivo para trás. Qualquer chance de voltar atrás se foi agora.

Com quem Helena estava brincando? Já se fora desde que ela embarcou no navio mercenário.

Ela passou alguns dias entre homens e mulheres rudes a bordo, seus olhares suspeitos passando por sua pele em todos os lugares que ela ia. Mercenários não confiavam em estrangeiros como Edmund, mas quem confiava? Com o passar do tempo, cada um dos seis reinos se isolou. Bela se recusou a ajudar os outros a alcançar a paz de que desfrutavam. Gaule estava muito envolvida em suas próprias guerras civis. Dracon não tinha mais muros altos protegendo-os, mas as cicatrizes da batalha não desapareceram.

Cana e Andes eram perigosos demais para qualquer um se aventurar.

O que isso deixava com eles? Um mundo quebrado.

Ela não odiava Etta por sua decisão. Até a rainha Catrine de Gaule ela entendia. Elas faziam o que era necessário para o seu povo. Agora era a vez dela.

Mas ela poderia fazer isso? Ela poderia matar seu próprio irmão se isso acontecesse?

Uma mão cobriu a dela no corrimão. Ela não se virou, mas se inclinou para Edmund. Toda vez que ela o via nos últimos dois dias, ela estava agradecida por ele estar lá. Ela explicou tudo o que Will havia lhe dito e não deveria ter se surpreendido por ele já saber do esconderijo dos rebeldes. Ele conhecia muitos na rede de pessoas que queriam retomar seu reino.

E ela pensou em Dell. Ele a odiava por deixá-lo para trás? Provavelmente. Ela faria isso de novo? Sim. Não importava como ele se sentia por ela, desde que estivesse a salvo de seu irmão. Cole não levaria outra pessoa que Helena amava.

Edmund apoiou o queixo na cabeça de Helena. —Parece a mesma.

Helena bufou. Edmund estava apenas tentando fazê-la se sentir melhor. Não era a mesma porta que ela deixara para trás.

Alguns navios balançavam na água, batendo contra as pranchas de madeira. Um punhado de pessoas andava pelo calçadão realizando suas várias tarefas.

—O que acontece depois, Len? — O suspiro de Edmund fez farfalhar seus cabelos. —Agora que estamos aqui. Sei que você deseja seguir as instruções de Will, mas isso não a aproximará de Cole.

Ela tinha um plano, mas ainda se sentia perdida. Ela tinha que chegar a Quinn o mais rápido possível. O que quer que tenha acontecido, ela só precisava ver que ele estava bem. Will disse a ela para ir direto para o esconderijo, mas agora ela sabia que não podia arriscar. Se a notícia de sua presença em Madra chegasse ao palácio antes dela, ela perderia a vantagem.

Ela não tinha um exército para desafiar Cole nem a habilidade de batalhar com ele. Mas ela tinha os afetos dele. Se alguma coisa tinha sido verdade em sua vida, era como cada um de seus irmãos sempre a amava. Cada um à sua maneira. Stev a protegeu, protegendo-a de qualquer coisa que pudesse machucá-la, incluindo o pai. Kassander olhava para ela como se ela fosse a melhor parte de sua vida. Quinn a respeitava, confiava nela. Foi ele quem concordou com qualquer ideia maluca que ela já teve. Mas Cole? Como ele a amava?

Com tudo o que ele tinha.

Seu amor nunca foi fácil, mas sempre foi poderoso.

E ele deixou Edmund e Dell irem por causa disso. Cole já tinha Estevan em seu poder. Ele não precisava barganhar com Stev por suas vidas. Mas então ela se machucou. A dor que ela viu nos olhos dele era real.

Helena se preparou para as palavras que tinha a dizer. Ela passou o braço pela cintura de Edmund, sabendo que ele não gostaria que o plano se formasse em sua mente. —Vou caminhar até os portões do palácio e exigir entrada.

Edmund recuou. —Len...

—Eu não posso ser vista antes de abordá-los. Se eu for presa e chegar como prisioneira, acabou.

—Você será uma prisioneira assim que pisar na propriedade.

Ela balançou a cabeça. —Cole não vai me machucar. — Ela ergueu o olhar para Edmund, precisando conhecer os pensamentos que estavam fazendo seus olhos escurecerem.

—Você não pode saber disso. Ele matou Stev.

Ela balançou a cabeça. —Não. Stev morreu de doença em sua cela. Tudo indicava que Cole executaria Stev, mas ele não conseguiu. Ele nunca teve muito amor por nosso irmão mais velho. Mas eu? Esta pode ser a nossa única chance de derrubá-lo. Mesmo que ele não me machuque... isso não significa que eu não o machuque.

O aperto de Edmund nela aumentou. —Por Estevan.

Helena assentiu. —Por meus pais. — O rosto de sua mãe brilhou em sua mente. —E Edmund...— Ela respirou fundo. —Eu tenho que fazer isso sozinha.

Ele abriu a boca para falar, mas ela bateu a mão livre contra ela. —Não discuta. Cole pode não me matar, mas você não tem chance com ele.

Edmund suspirou, passando a mão pelos cabelos. —Tudo bem, mas não vou ficar parado enquanto você salva Madra. Não foi por isso que eu vim. Você precisa de um plano. Eu ainda tenho minha rede na cidade. Vou entrar em contato com meu pessoal. Você tem dois dias. Se eu não receber uma mensagem de que você está bem, nós vamos buscá-la.

Ela assentiu, deixando um pouco de tensão. —Eu esperava que você dissesse algo assim. — Ela fechou os olhos, inclinando-se contra ele em busca de apoio. — Estou com medo. — As palavras eram apenas um sussurro, mas quando ela abriu os olhos, ficou claro que Edmund as ouvira.

Ele levantou o olhar para a cidade que se aproximava. —Eu também.

Ezio parou quando os encontrou, invadindo seus últimos momentos de paz. Ele passou a mão pelos cabelos desgrenhados antes de esfregar o pescoço tatuado. —Capitã quer vocês dois abaixo do convés.

Helena soltou Edmund e virou-se para examinar os olhos do jovem. Ele foi um dos poucos mercenários a conversar com eles na jornada para Madra. Talvez fosse sua juventude ou apenas algum senso de inocência, mas Helena tinha gostado dele... apesar de tudo gritando para ela não confiar nos lutadores de aluguel.

Quando você luta por nada, você não tem ideais, nem reino. Eles podem ter vivido nas montanhas de Madra, mas não eram madranos.

Ezio mudou de pé para pé. Quando nem Helena nem Edmund responderam, ele olhou para a porta da cozinha atrás dele. —Ummm... eu preciso que vocês venham. Por favor? A capitã não quer que vocês sejam vistos até o anoitecer.

Helena suspirou, ansiosa para sair do navio e entrar na cidade. Ezio estava certo, no entanto. Se as docas estavam sendo vigiadas, eles precisavam esperar até a escuridão esconder sua volta ao lar.

Sem dizer uma palavra a Ezio, Helena passou por ele e abriu a porta antes de descer a escada estreita para a cozinha mal iluminada.

Edmund a seguiu e a porta se fechou atrás dele. Todos os marinheiros estavam no convés se preparando para atracar, então Helena e Edmund eram os únicos no pequeno espaço.

Helena pegou um rolo de uma travessa sobre a mesa no centro da sala e deslizou sobre o banco de madeira, apoiando uma perna debaixo dela.

Edmund caiu em uma cadeira com uma respiração pesada e passou a mão pelo rosto.

Esperar era a pior parte. Nenhum deles sabia o que a noite traria. Helena deu uma mordida no pão antes de colocá-lo de lado enquanto seu estômago protestava.

Ela tamborilou com os dedos sobre a mesa, sua mente voltando para Bela enquanto fechava os olhos. Colinas. Jardins floridos. Não era de admirar que Etta ignorasse o resto dos problemas do mundo. Ela tinha tudo. Era a recompensa do seu povo por gerações de luta.

Ela olhou fixamente para Edmund. Qual era sua recompensa? Ele deveria ter vivido sua vida em Bela, sem ter que enfrentar outra dificuldade.

Em vez disso, aqui estava ele, sofrendo. O homem que ele amava estava morto. E agora o que ele tinha? Vingança?

Alguns dias, parecia que isso era tudo que ela tinha deixado também. Se ela não aceitasse, seguraria, ela realmente perderia.

Mas ela já tinha perdido. Esta missão não teria vencedores.

Ela não sabia há quanto tempo eles estavam sentados naquela sala. Horas? Finalmente, Edmund curvou-se para a frente, com os cotovelos nos joelhos. —Lenny?

Ela se retirou do caos de seus pensamentos. —Sim?

—Ezio parecia nervoso com você?

Helena encolheu os ombros. —Ele está sempre um pouco hiperativo.

Edmund pensou por um momento. —Eu conheço esse garoto há um tempo agora. E a mãe dele. Algo está errado. — Ele se levantou, olhando por cima do ombro para as escadas. Endireitando a coluna, ele atravessou a sala e subiu os degraus. Assim que chegou ao topo, uma ladainha de maldições choveu.

Helena ficou de pé quando ele reapareceu.

O queixo de Edmund se apertou enquanto ele tentava conter a fúria sob sua pele. —Trancado.

—Trancada? — Ela não entendeu. Subindo os degraus dois de cada vez, ela correu e agarrou a maçaneta, empurrando a porta. Nada. Ela fez de novo, desta vez, batendo o ombro contra a madeira.

—Você não vai abrir dessa maneira. — Seus olhos se fecharam, derrotados.

Helena não parava. Ela bateu na porta novamente, ignorando a dor cortando seu ombro. Ela se preparou para atacar novamente quando Edmund agarrou seu ombro, segurando-a no lugar.

—Edmund. Me deixar ir.

Seu aperto aumentou. —Você só vai se machucar.

Ela girou nos calcanhares e esticou a mão para agarrar a grade. O lugar não era grande o suficiente para os dois. Mas Edmund não estava indo a lugar algum. Empurrando por ele, ela desceu as escadas.

—Por que eles trancariam? — Ela torceu o cabelo escuro sobre um ombro e chupou o lábio inferior na boca. —Não faz sentido.

Edmund não respondeu. Quando Helena percebeu sua expressão resignada, ela finalmente entendeu. Os mercenários eram leais a quem os pagava. Damara não tinha grande amor por Etta ou Edmund. O nervosismo de Ezio...

—Eles não nos trouxeram aqui para que eu pudesse enfrentar meu irmão. — O pensamento enviou uma onda de fúria correndo por ela. —Somos prisioneiros desde que deixamos Bela.

Edmund amaldiçoou. —Eu deveria saber. Eles podem não saber quem você é, mas ainda sou um homem procurado em Madra.

Passos pesados soaram acima deles. Muitos passos pesados.

Edmund afastou Helena das escadas e a porta se abriu, deixando entrar a pequena luz restante do dia.

Uma sombra apareceu no topo, alta e magra. Quando ele desceu para a sala, Helena pegou o uniforme de Madra, brilhando em vermelho à luz de velas. Seus olhos deslizaram sobre as linhas retas e pressionaram as dobras na mandíbula angular e nos olhos brilhantes que ela conhecia tão bem.

—Quinn. — O nome dele era apenas uma respiração em seus lábios. Seu coração deu um pulo, e ela queria ir até ele, pedir que ele dissesse que tudo ficaria bem, confortá-la como ele havia feito a maior parte de sua vida.

Mas ele não estava sozinho.

Mais três soldados madranos o seguiram.

Os olhos de Quinn não reconheciam sua irmã. Eles eram mais escuros de alguma forma. E foi aí que ela soube. O uniforme. A recepção rígida.

Quinn não voltou para Madra como prisioneiro. Ele se juntou ao lado de Cole como um aliado.

Edmund parou na frente de Helena como se ele pudesse protegê-la da realização esmagadora que o irmão que ela veio salvar talvez não queira ser salvo.

—Afaste-se. — Ordenou Edmund.

Quinn não demonstrou emoção enquanto gesticulava para os homens atrás dele. —Eles vêm conosco. Pague ao mercenário e diga a eles para sair da nossa cidade. — Ele se virou sem outro olhar e subiu as escadas.

Helena desabou sobre si mesma. Lágrimas entupiram sua garganta, dificultando a respiração dela. Enquanto ela ofegava por ar, um aperto forte puxou seu braço para frente.

Ela gritou quando Edmund revidou e recebeu um soco pesado no estômago. Ele teria caído se não fosse pelos homens que o seguravam. Com um golpe final na cabeça, o queixo de Edmund caiu contra o peito e seu corpo cedeu.

Helena não lutou depois disso. No convés, seus olhos ardiam nas costas de Quinn, mas ele não se virou.

Ela pensou que Cole não poderia machucá-la pior do que ele já tinha.

Ela estava errada.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Dezenove


O carrinho retumbou embaixo dela, e Helena se concentrou em cada solavanco da estrada. Eles amarraram ela e Edmund com cordas amarradas ao lado da carroça de madeira. Duas éguas salpicadas os puxaram pelas ruas da cidade.

Ao lado do carrinho, Quinn e seus soldados montavam grandes corcéis.

À luz minguante, Madra parecia inalterada. No coração de Helena, tudo mudou.

Ao se aproximarem do centro da cidade, Helena viu lojas fechadas e as ruas do mercado antes ocupado estavam agora vazias. A essa hora da noite, os lojistas devem fechar suas barracas para o dia e ir para casa com suas famílias. Eles eram a espinha dorsal do reino. Os cidadãos que não eram nem comerciantes nem indigentes.

E, no entanto, onde eles estavam?

A voz baixa de Quinn parecia vir de todos os lugares, enquanto ele falava com seus guardas. —Vamos cavalgar pelos portões da frente. Meu irmão vai querer ver os prisioneiros imediatamente, mas ele também vai querer que o resto do palácio os veja.

Um dos guardas assentiu. —Senhor, posso perguntar quem é a garota? Reconheço Edmund de Bela. Quando o mensageiro do mercenário disse que ela o trouxe até nós, esperávamos que ele estivesse sozinho. Por que a levamos?

Outro guarda falou. —Não temos o hábito de sequestrar jovens.

—Não. — Helena rosnou baixinho. —Apenas matando suas famílias e seguindo um homem que não merecia ser rei.

Os guardas não pareciam tê-la ouvido, mas Quinn olhou rapidamente para ela. Ele ainda a estava observando enquanto respondia aos guardas. —Não cabe a nós questionar o rei. Mas você pode confiar nele para não machucá-la. Não enquanto estou lá.

Ela teve a nítida impressão de que as palavras dele foram feitas para ela, e não para seus guardas. Quinn estava dizendo que não deixaria nada acontecer com ela?

Deveria fazê-la se sentir melhor, mas, em vez disso, apenas a lembrou que o último irmão que ela pensava que a protegeria teria escolhido Cole.

Os guardas continuaram a tagarelar, mas Helena os desligou, concentrando-se na forma inconsciente de Edmund ao lado dela.

O carrinho deles virou para uma rua lateral que os levaria à estrada do palácio. Alguém gritou da estrada à frente deles, e o cavalo do guarda principal ergueu-se quando uma flecha passou voando, atingindo o chão aos pés da fera.

Quinn gritou ordens quando uma saraivada de flechas entrou no beco em meio a gritos. Helena se abaixou na carroça, protegendo a forma propensa de Edmund, e examinou os telhados, finalmente distinguindo figuras sombrias.

—Fogo. — O grito veio do alto. Mais flechas choveram, atingindo dois dos guardas ao lado da carroça. —Não bata nos prisioneiros!

—Edmund. — Helena o sacudiu. —Acorde. Por favor. — Ela tentou libertar os pulsos, mas a corda apenas se apertou. Eles estavam sob ataque, e tudo o que ela podia fazer era assistir.

Quinn.

Ela procurou freneticamente pelo irmão. Uma flecha atingiu seu cavalo, e ele pulou no chão, apontando seu próprio arco em direção aos telhados. Disparando rapidamente, ele nem parou quando algumas pessoas caíram dos telhados, suas flechas afundadas profundamente.

As pessoas invadiram a rua, armas brutas na mão, cercando Quinn. Seus guardas jaziam mortos na estrada. Quinn fez uma pausa, observando o círculo cada vez maior de lutadores. Ele abaixou o arco e se endireitou.

Um homem apareceu na parte de trás da carroça, um sorriso esticando seu rosto brutal. Caiu quando ele viu Edmund.

—Ele...

—Vivo. — Disse Helena rapidamente. Ela não conhecia o homem, mas pela preocupação em seu olhar, ele deve ter conhecido Edmund.

Ela relaxou. Edmund não precisava encontrar seu povo. Eles o encontraram.

O pânico a atingiu, e ela virou a cabeça para encontrar Quinn mais uma vez. Dois homens o empurraram de joelhos. Uma mulher estava acima dele, sua espada desembainhada.

Antes que ela soubesse o que estava fazendo, Helena gritou.

—Não! — Ela voltou-se para o homem próximo e estendeu os pulsos. —Tire-me daqui!

Ele puxou uma adaga e fez um trabalho rápido das cordas. Helena saiu da carroça e empurrou as pessoas em seu caminho até chegar a Quinn. Olhar nos olhos dele era como olhar nos de Cole. E isso... ela não aguentou. Ela endureceu o olhar. Ele não olhou para ela em desculpas, apenas resignação, e isso a irritou mais.

Mas esse não era Cole. Era Quinn. Ela não podia matá-lo. Ela levantou os olhos para a mulher alta. —Nocauteie-o. Ele vem conosco.

Diversão acesa nos olhos da mulher. —Querida, você não emite pedidos. Viemos para Edmund. Quem é você?

Ela encontrou o olhar de aviso de Quinn. Ele balançou a cabeça, mas ela passou do ponto de ouvir aqueles que a traíam.

Não libertando seu irmão do olhar intenso, ela respirou fundo.

—Meu nome é Helena Rhodipus. Sou a legítima herdeira do trono de Madra.

Quinn pareceu ceder com as palavras.

Helena se afastou dele. —Posso dar ordens agora? — Ela voltou para a carroça sem outro olhar. —Não podemos estar na rua. Presumo que todos vocês tenham um lugar seguro para me levar. Vamos.

O motorista da carroça estava morto em seu assento, então Helena subiu no banco e o empurrou. Ele bateu no chão com um baque quando ela tomou as rédeas.

Um homem avançou, enfiando o punho da espada na cabeça de Quinn antes de levantar seu corpo agora inconsciente na parte de trás da carroça ao lado de Edmund.

Helena suspirou. As notícias de que ela estava viva e de volta ao solo de Madra viajariam rapidamente. Esta noite, ela seguiria o pessoal de Edmund. Amanhã, ela voltaria para sua casa.

 

Os olhos de Helena se arregalaram em choque quando ela percebeu que o pessoal de Edmund a estava levando para sua casa de embaixador. Mas com Madra forçando todos os estrangeiros a sair, era uma parte não utilizada da cidade.

Ela pulou da carroça e esperou que alguém removesse Edmund e depois Quinn, carregando-os pelo portão dos fundos.

O homem que apareceu na carroça aproximou-se dela.

—Alguém cuidará dos cavalos. Precisamos entrar.

—Bemus. — Alguém retrucou. —Traga a princesa.

Uma mão larga aterrissou nas costas de Helena, insistindo para que ela passasse pelo portão de vaivém e subisse os degraus da casa em que estivera apenas uma vez antes. Lembrou-se de pensar que não havia nada distinto de Edmund na casa dele. Ele não deixou vestígios de si mesmo, mas isso foi antes que ela realmente o conhecesse.

Agora, enquanto caminhava por um longo corredor escasso, ela podia vê-lo lá. Ele era um homem simples. Ela parou, com os pés congelando ao ver uma fileira de tábuas que eles ergueram para revelar um compartimento escondido. Vazio.

O que Edmund mantinha lá?

Ela o conhecia? Aqui estava ela, cercada por pessoas que eram leais a Edmund em vez do nome Rhodipus. Eles o seguiram, espionaram por ele, lutaram por ele. Ele estava criando uma rede de pessoas para proteger sua família enquanto ela saía furtivamente do palácio em busca de liberdade.

De repente, ela se sentiu nada mais do que uma garota boba brincando de rebelião.

Bemus a levou a uma sala de estar onde móveis rígidos cercavam uma lareira crepitante. Quando ela se aproximou, o calor lambeu sua pele e ela abriu os punhos congelados.

Os rebeldes caíram em cadeiras sem cerimônia. Outros lutaram para abrir espaço perto do fogo para Edmund. Dois homens o colocaram no chão, o rosto inundado por um brilho laranja.

Eles não deram a Quinn a mesma consideração. Bemus amarrou os pulsos do príncipe da mesma forma que Quinn amarrou os de Helena naquela mesma noite.

Helena só poderia ir a um deles. Apenas um deles não a traiu. Desviando os olhos do rosto cor de azeitona de Quinn, ela se ajoelhou ao lado de Edmund.

Ele murmurou alguma coisa e suas pálpebras se mexeram, mas não se abriram. Ela se abaixou. —Eu preciso que você acorde, Edmund. Por favor. Eu não conheço essas pessoas.

Os rebeldes a observavam com um fascínio cauteloso. Eles não disseram exatamente que não acreditavam que ela era a princesa, mas ela sentia o ceticismo deles em todos os olhares. A julgar pelo estado irregular de suas roupas, essas não eram do tipo que compareciam a bailes no palácio, para que não tivessem o breve vislumbre de seu rosto no dia do seu nome - antes de Cole a levar embora.

Ela esfregou os olhos para conter as lágrimas enquanto pensava naquela noite. Mas ela não foi a única pessoa a sofrer. Muitas pessoas morreram na luta, e o grupo ao seu redor lutou. Eles podem ter perdido aqueles que amavam também. Para ela. Para a família dela.

Porque Edmund pediu para eles.

O que havia nele que trazia tanta lealdade?

Ela passou a mão na testa dele, afastando os cabelos do rosto dele. Ele seria um bom parceiro no trono para Stev.

Os olhos de Edmund se abriram e um gemido retumbou em seu peito. —Minha cabeça.

Helena soltou uma risada aliviada. —Você vai sobreviver.

—O que aconteceu? — Seus olhos clarearam, e ele finalmente percebeu o ambiente. —O que... Helena... não estamos no palácio?

Bemus atravessou a sala e se inclinou com um sorriso no rosto.

—Bem-vindo em casa, Edmund.

Edmund fechou os olhos e inspirou profundamente antes de abri-los mais uma vez. —Me ajude e depois me diga o que diabos aconteceu.

Bemus estendeu a mão e levantou Edmund. O loiro belaeno colocou a mão na cabeça com um estremecimento quando ele entrou na sala.

Os olhos dele pousaram na mulher sentada no braço do sofá, os braços cruzados sobre o peito e uma sobrancelha levantada. —Catsja? — Seus olhos examinaram o grupo, decidindo-se pelo homem que o carregara da carroça. —E Orlo. Vocês dois...

—Muita coisa mudou em Madra, Edmund. — Bemus bateu nas costas dele. —Mas esperamos nossa chance, observando as docas de todos os navios que entram e saem. Temos até nosso pessoal dentro da nova guarda do palácio. Perdemos a batalha, mas ainda estamos travando esta guerra.

Edmund esfregou a parte de trás do pescoço.

Catsja pôs os pés no chão e se levantou, igualando a altura de Edmund. —Eles pegaram nossa taberna, Edmund. Nosso sustento. Agora é um negócio administrado pela coroa para os soldados da coroa. A maioria dos lojistas não consegue manter as portas abertas sem a entrada de comércio exterior. O rei virou contra ele tanto os comerciantes quanto os pobres. Você sabe como é raro eles concordarem com alguma coisa?

Orlo quebrou o silêncio com um grunhido.

Helena não sabia o que seu irmão estava pensando. Muitos madranos há muito culpavam os estrangeiros pelos problemas do reino. Mas não tinha sido culpa deles. As constantes guerras em reinos estrangeiros causaram fome e pobreza. Mas Cole não foi criado para ser rei. Ele não aprendeu os meandros de manter a coroa... ou a cabeça. O pai deles não poupou tempo para ensinar aos filhos bastardos.

Apenas Stev e Helena receberam educação formal. Somente eles compareceram às reuniões da coroa. Estevan deveria ser rei, mas Helena seria sua mão direita como chefe do conselho mercantil.

Mas o que acontece quando os comerciantes não trazem mais comércio para o reino? Ela levantou a cabeça, olhando para Catsja.

—O rei dissolveu o conselho mercante?

Catsja olhou para ela como se ela não quisesse responder, mas ela fez assim mesmo. —Sim. Ian Tenyson é o único comerciante chefe agora.

—A espiral. — Ela sussurrou. Tudo a sociedade Madrana foi construída. Os comerciantes trabalharam a vida inteira até perto da ponta da espiral, o pico de status e poder. —O que os padres estão dizendo sobre isso?

Os rebeldes trocaram olhares, nenhum deles querendo falar. Edmund agarrou o cotovelo de Helena. —Len... Dell e Bemus foram ao mosteiro quando a rebelião começou. O sacerdócio tinha sido... — Ele fechou os olhos. —Massacrado.

—Foi? — A respiração correu para fora dela.

Edmund assentiu. —Se foi.

Ela tropeçou para trás, afastando-se dele. Tudo o que ela sabia, tudo o que haviam lhe ensinado... A espiral... o sacerdócio...

Cole não tinha acabado de conquistar a coroa, ele mudou Madra para sempre.

No canto, Quinn se mexeu. Catsja não perdeu tempo em procurá-lo. Antes que ele abrisse os olhos, o punho dela brilhou e bateu na cabeça dele. Ele caiu contra a parede mais uma vez.

Helena estremeceu e se forçou a se virar. Quinn não era sua principal preocupação.

—Edmund. — Exigiu Orlo. —Essa garota diz que é a princesa. Diga-nos que ela mente.

Edmund encarou Helena com um olhar, e ela não sabia o que isso significava. Este era o seu povo. Certamente estava na hora de eles saberem. Ela encontrou o olhar dele, recusando-se a recuar.

Finalmente, ele passou a mão no rosto. —É ela.

O silêncio seguiu sua declaração.

Catsja riu, inclinando-se para dar um tapa na perna. —Claro que ela é. Isso é simplesmente perfeito. —Quando ela sorriu, Helena ficou hipnotizada. A mulher tinha uma beleza incomum. Sua risada se interrompeu e ela se endireitou, todo o humor desapareceu de seu rosto. —Aqui está como é, princesa. Lutamos para manter o pouco que temos de ser levado, para manter nosso reino seguro. Não lutamos pelo nome Rhodipus. Para nós, seu pai não era melhor que esse novo rei. Não lhe devemos nada. Nós não seguimos você. — Ela se aproximou. —Tente não atrapalhar.

Ela bateu no ombro de Helena a caminho da sala adjacente.

Bemus balançou a cabeça. —Bem-vinda à rebelião de Madra, princesa.

 

Helena tentou descansar em um canto longe de olhares rebeldes curiosos, mas também longe de seu irmão inconsciente. Pensamentos de tempos melhores bloquearam seu sono. Momentos em que fora ela e seus irmãos contra o mundo. Quando sua mãe poderia segurá-la e dizer que tudo ficaria bem.

Ela enxugou uma lágrima quando Bemus se sentou ao lado dela. Ele estendeu uma xícara de chá, e ela a agradeceu. Sem esperar que esfriasse, ela tomou um gole da bebida escaldante, deixando-a queimar através dela, aproveitando a dor.

Parecia que a dor era tudo que ela sabia mais. Não pela primeira vez, ela desejou que Dell estivesse lá com ela.

Bemus ficou em silêncio por um momento antes de falar. —Eu sabia quem você era hoje à noite quando a vi pela primeira vez.

Ela se sentou e esperou que ele continuasse.

—Lutei ao lado de Estevan e Dell na rebelião.

Ela baixou o olhar para o copo em suas mãos.

—Lamento ouvir sobre a morte de Estevan.

Suas mãos tremiam e Bemus pegou o copo dela. —Stev era... ele não merecia morrer assim.

Bemus colocou a xícara de lado no chão. —Não. Ele não merecia.

—Eu sei que você rebeldes odeiam minha família inteira. Meu pai... não era um bom rei. Mas Stev teria sido. Talvez se mais pessoas tivessem lutado por ele, ele estaria sentado naquele trono agora.

E havia a verdade que Helena tinha medo de expressar antes. Ela estava amarga. Brava. Não só em Cole. Não. Parte da culpa está no povo madrano que se escondeu em suas casas enquanto sua família dominante era assassinada.

—Talvez. — Disse Bemus. —Mas estamos aqui agora. Nossos números cresceram rapidamente desde que Cole Rhodipus se tornou rei.

Helena balançou a cabeça. — E todos vocês acham que precisamos de mais sangue nas paredes do palácio? — Ela puxou os joelhos e apoiou o queixo no topo. —Meu pai me disse para nunca confiar em um rebelde. Que eles sempre tinham outro motivo e não faziam nada pelo bem do reino.

Bemus não respondeu imediatamente, mas seus olhos se voltaram para Edmund. —Princesa, eu odeio dizer, mas você confia em um rebelde o tempo todo.

Ela balançou a cabeça. —Edmund só queria manter minha família segura.

—Ele queria mantê-la segura e os príncipes Kassander e Estevan. Mas ele nunca esteve em dívida com os príncipes bastardos.

Helena deixou seus olhos descansarem na forma ainda inconsciente de Quinn e as palavras finais de Bemus levaram um momento para se registrar.

—Ele nunca foi leal ao rei.

Ela olhou de soslaio para o homem monstruoso. Ela não teria admitido, mas não precisava que Edmund fosse leal a seus pais. Ele não havia arriscado tudo para manter a linha de Rhodipus dominando Madra, e ela sabia disso. Ele só queria mantê-la e Estevan vivos.

Mesmo agora, ele não havia retornado com ela para assumir o trono. Apenas para se vingar. E talvez ajudar as pessoas que ele deixou para trás. O lugar dele estava entre eles, e Helena desejava mais do que qualquer coisa dela.

Mas o tempo da indecisão havia passado. Ela se levantou.

—Onde você está indo? — Bemus perguntou.

Preparando-se, ela deu um passo. —Para fazer o que eu vim aqui para fazer.

Ele não se mexeu para detê-la quando ela alcançou a porta. No corredor, Edmund falava com Catsja em um murmúrio baixo, enquanto eles se curvavam sobre uma mesa carregada de várias armas. Ele levantou a cabeça quando Helena se aproximou.

Ela estudou as lâminas e os machados. Os mercenários haviam pegado suas adagas e ela se sentia nua sem elas. No entanto, ela puxou a mão para trás sem pegar uma. Eles não a deixariam entrar no palácio sem primeiro pegar suas armas, então não havia sentido.

Edmund abriu a boca como se dissesse alguma coisa, mas Helena balançou a cabeça.

Edmund assentiu, a compreensão brilhando em seu olhar.

Ela levantou dois dedos. Se ela não enviasse notícias em dois dias, os rebeldes lançariam um ataque ao palácio.

Edmund deve ter contado a Catsja seu plano porque a mulher olhou com simpatia. —Se você precisar de ajuda, procure nosso contato rebelde dentro do palácio. O nome dele é Reed.

O sangue de Helena congelou.

Reed.

Edmund ficou pálido. —Reed Tenyson?

Catsja assentiu, passando os olhos entre eles. —Ele veio até nós um dia depois que vocês dois deixaram Madra. Sua informação tem sido inestimável.

Helena apertou a mandíbula. —Se eu me encontrar em perigo, a última pessoa que procurarei é Reed Tenyson.

Ela se virou para passar por eles sem outra palavra. Reed foi a razão pela qual eles não foram capazes de salvar Quinn em Gaule. Se não fosse o Tenyson mais jovem, ela poderia ter o irmão ao seu lado agora. Em vez disso, ele se sentou como prisioneiro dentro de uma base rebelde.

Em vez disso, ele era um traidor.

Quando ela entrou no pátio, ela tentou controlar a respiração. Dell. Ela estava se esforçando tanto para não pensar nele. Uma nova onda de dor tomou conta dela. Os homens de Reed quase o mataram naquele dia na praia. Não haveria perdão por isso. O pânico daquele dia voltou e uma lágrima correu por sua bochecha. Ela limpou-a com as costas da mão quando a porta se abriu atrás dela.

Uma mão envolveu seu braço e a transformou em um peito sólido. Edmund passou os braços em volta dela.

—Prometa-me novamente que ele não vai te machucar.

Ela poderia? Ela estava começando a pensar que não conhecia Cole. Os braços de Edmund se apertaram com o silêncio dela.

Finalmente, ela levantou o rosto para olhar para ele. —Eu vou ficar bem.

Ele engoliu em seco, pressionando os lábios na testa dela.

—Você é minha família agora, Lenny. Se algo acontecer com você...

Ela apertou o braço dele. —Nada vai acontecer comigo.

Ela desejou poder ser tão confiante quanto suas palavras. Edmund a soltou quando um homem mais velho conduziu um cavalo de uma baia.

Edmund a ajudou a entrar na sela. Helena engoliu em seco as lágrimas que ameaçavam sufocá-la. —Edmund... se algo acontecer... diga a Dell...— Ela fechou os olhos por um momento, imaginando o rosto dele. —Diga a ele que sinto muito.

E que eu o amo, ela quis dizer. Mas ela conteve essas palavras quando Edmund apertou a perna e recuou.

Sem mais nada a ser feito, Helena empurrou o cavalo para frente.

As casas dos embaixadores ficavam em um trecho de ruas agora abandonadas. O som dos cascos do cavalo batendo em pedra era como uma batida de tambor em seu passeio para a batalha.

Como ela sempre se preocupou, Helena agora estava completamente sozinha. Mas o conhecimento não a pesou como antes. Agora, não havia mais ninguém em risco. Ninguém para manter seguro.

Quando ela virou para outra rua vazia - essa com lojas e casas lotadas de cada lado - ela deixou a lua banhá-la em seu brilho prateado. Essas ruas, este reino valia qualquer sacrifício. Ela sabia disso agora.

O pai dela nunca soube, mas a mãe dela. Governar sem sacrifício era apenas tirania. Guerra sem esperança era apenas morte. Uma luta sem razão era apenas assassinato.

Ela amava todos eles. Os comerciantes subindo a espiral. Os pobres lutando por comida. Os padres que pensaram que estavam fazendo o bem e se perderam.

A família dela. Madranos. Estrangeiros. Mágicos. Pessoas não-mágicas.

Eles eram o motivo dela.

Ela viajou pela cidade até poder ver os altos muros do palácio que uma vez chamou de lar. Eles fixaram as partes da parede que sofreram com as explosões, mas o preto ainda riscava grande parte da superfície, um lembrete do que aconteceu aqui apenas alguns meses atrás.

Guardas alinhados no topo da parede, sombras na noite. Suas tochas iluminavam o céu, lançando laranja através da vasta extensão.

Gritos irromperam quando Helena se aproximou.

—Oi, você aí! Pare! — Passos pesados ecoaram nos degraus atrás do muro.

Helena prendeu a respiração, lembrando a si mesma que era para isso que ela procurara. Ela desceu do cavalo, colocando os pés em solo sólido.

A porta na base dos portões se abriu, derramando guardas na rua. Eles correram para fora, suas botas blindadas batendo contra o chão enquanto a rodeavam, armas desembainhadas.

Erguendo o queixo, Helena encontrou o guarda com as listras do general em seu uniforme.

—Estou aqui para ver o rei.

Nenhum dos guardas se mexeu. Seus rostos eram máscaras impassíveis. A porta se abriu mais uma vez e um homem que Helena reconheceria em qualquer lugar.

Um sorriso deslizou pelo rosto de Ian. —Helena. — Ele fez um gesto para os guardas largarem as armas. —Seu irmão ficará feliz em vê-la viva. — Ele estendeu a mão para ela. —Venha.

Ela não pegou. Depois de um momento, seu sorriso caiu, e ele agarrou o cotovelo dela, empurrando-a para frente. Os guardas os seguiram de perto.

Foi assim que eles trataram todos que vieram ao palácio ou sabiam que ela os procurara?

Um dos guardas interrompeu o grupo, levando o cavalo para longe. Helena mal percebeu enquanto subia os degraus familiares, sabendo que seus pais ou irmão mais velho não estariam lá para cumprimentá-la do outro lado das portas altas.

Mas ela não se permitia chorar por eles. Agora não. Aqui não. Eles ficariam melhor servidos com a forma como ela lidaria com Cole.

Na porta, um dos guardas deu um tapinha nela, procurando por armas. Uma vez satisfeito, Ian fez um gesto para dentro. Ele não a tocou novamente, mas seus olhos deslizaram sobre ela, fazendo sua pele arrepiar.

No interior, o palácio permanecia inalterado. Se ela não soubesse melhor, pensaria que a coroa não havia mudado de mãos. As tapeçarias e os mapas de seu pai adornavam as paredes, a opulência mais grandiosa do que qualquer coisa que ela tinha visto em Bela ou Gaule.

Mas as paredes quentes de cerejeira e os tapetes macios não a acalmavam como antes. Agora ela os via pelo que haviam sido. Desnecessários. Pagos por impostos que as pessoas não podiam pagar.

Os criados a observavam passar com olhos curiosos. Ela procurou rostos que conhecia, mas não encontrou. Seu coração batia forte contra as costelas, o pulso pulsando em seus ouvidos até que era tudo o que ela ouviu. Não havia como voltar agora. Sem saída. Ela cuidaria de Cole ou passaria a vida presa dentro dessas paredes.

Como ela passou toda a sua juventude.

Ian virou a esquina e ela o seguiu sem palavras. Ele atravessou a porta de uma escada e os pés de Helena pararam de se mover. Ela sabia onde eles estavam indo.

Não.

Foi destruído.

O lugar que sua família tinha sido feliz. Onde ela desfrutou a vida com seus irmãos ao seu lado.

A residência real.

Um guarda a cutucou para a frente e ela subiu as escadas. No topo, Ian destrancou uma porta e a abriu. O corredor que levava à residência permanecia o mesmo, intocado pelo fogo que ela começara para libertar-se de Cole.

Depois do baile que mudou para sempre sua vida, eles a trancaram nos quartos de sua mãe. Sua mãe, treinada como uma assassina de Cana, abriu a fechadura. Uma vez no corredor principal, Helena havia incendiado a tapeçaria pendurada nas proximidades. Ela não sabia que isso se espalharia tão rapidamente.

Ian pegou uma segunda chave no final do corredor e empurrou Helena pela porta. O espaço que a recebia tinha móveis novos e ela suspeitava que o antigo estivesse muito danificado. Mas não havia outro sinal de destruição.

Uma porta se abriu e Helena respirou fundo.

Cole permaneceu imóvel no limiar, seu rosto não exibindo nenhuma emoção além de choque. —Lenny? — Ele balançou a cabeça como se não acreditasse nos próprios olhos.

Helena percebeu sua aparência abatida. Cabelo desgrenhado e sem cortes. Um rosto desalinhado. Uniforme enrugado.

Este não era o homem que ela esperava.

Ela afastou qualquer simpatia que pudesse ter pelo irmão e endireitou a coluna. —Meu nome é Helena. — Seus olhos se estreitaram. —Lenny é um nome de família.

O significado tácito por trás de suas palavras pairava entre eles. Ele não era mais uma família.

Ele assentiu como se acreditasse que merecia tudo o que ela lhe dizia. —Eu só...— Seus olhos encontraram Ian e endureceram. —Nos deixe.

—Sua Majestade...

Todo o cansaço desapareceu de Cole quando a frieza que ela reconheceu da noite da rebelião se instalou. —Ian, não agora.

Ian curvou-se rigidamente e girou nos calcanhares. Os guardas o seguiram, deixando Helena com apenas seu irmão.

Ela cruzou os braços sobre o peito, subitamente insegura do que deveria dizer a ele. Ela veio prestar seu apoio - por mais falso que fosse. Mas agora as palavras não viriam.

Ele deu um passo hesitante em sua direção.

Ela deu um passo atrás.

A dor passou pelo rosto dele, rapidamente substituída por algo que ela não conseguiu interpretar. —Eu pensei que você estava morta.

—Eu quase estava.

Interessante. Reed não disse a ele que ela vivia. Isso ainda não era prova de sua lealdade aos rebeldes.

Cole engoliu em seco e esfregou a parte de trás do pescoço.

—Estou feliz que você voltou para casa.

Ela examinou a sala e seus móveis desconhecidos que simbolizavam o que aconteceu aqui. —Casa. — Ela balançou a cabeça. —Esta não é minha casa. — Em sua mente, ela viu os vastos campos de Bela, mas isso também não parecia em casa. Não sem a família dela.

A incerteza brilhou nos olhos de Cole. Isso nunca tinha sido como ele. Ele era confiante. Certo. Ele mudou seu peso para o outro pé, nunca tirando os olhos dela.

— Não espero que você entenda, Helena. — Ele passou a mão pelos cabelos despenteados. —Eu não espero que você me perdoe.

—Bom.

—Posso...— Ele correu para frente antes que ela pudesse detê-lo e passou os braços em volta dos ombros dela.

Ela ficou rígida e um soluço escapou de sua garganta. O conforto parecia como sempre. Ao crescer, Cole tinha sido seu companheiro, seu protetor.

E agora era ele quem a separava.

Ele enterrou o rosto no pescoço dela. —Você está viva. — Ele respirou. —Eu nunca pensei em vê-la novamente.

Depois de um momento, ela colocou as mãos no peito dele para afastá-lo. —Cole, eu estou aqui, ok. Eu voltei. Mas não foi por você. —Ela teve que misturar pedaços de verdade com sua mentira. —Você matou minha mãe. Isso não é algo que eu possa... — Ela respirou fundo, afastando-se mais dele. As palavras vieram para ela. Quinn não seria capaz de refutá-los enquanto os rebeldes o segurassem. —Quinn me chamou.

Cole se endireitou em alarme. —Quinn. Eu o enviei para as docas. Um capitão mercenário afirmou que Edmund estava preso. — Ele olhou para a porta. —Ele deveria ter retornado horas atrás.

Lágrimas nadaram no olhar de Helena. —Eu estava com eles, Cole. Eu não sabia que Edmund era um rebelde. Eu juro. Ele me disse que me escoltava para casa e eu deixei. Quando Quinn chegou, fiquei tão aliviada. Mas o pessoal de Edmund veio buscá-lo. E... — Seu lábio tremeu quando ela encontrou os olhos de Cole. —Eles pegaram Quinn. Por isso disse aos seus guardas que precisava vê-lo assim que chegasse aqui.

Cole tropeçou para trás. —Precisamos encontrá-lo.

Ela assentiu, querendo que Cole saísse procurando por si mesmo. Afinal, era seu irmão gêmeo. Afastá-lo da proteção do palácio permitiria que os rebeldes a ajudassem.

Cole a puxou de volta para seus braços e, desta vez, ela o deixou. —Nós vamos. Traremos nosso irmão de volta. Então mataremos todo último rebelde. —Ele falou nos cabelos dela. Quero que sejamos uma família novamente, Helena. Agora que eu sei que você está viva... — Ele se afastou. —Eu preciso te contar uma coisa.

—O que é?

—Não tive notícias de Kassander. Muitas pessoas morreram na luta, incluindo algumas que foram queimadas além do reconhecimento. Receio que ele possa ter sido um deles.

Lágrimas derramaram dos olhos de Helena, mas não pelo irmão mais novo que ela sabia que estava vivo e seguro. Não, eles eram para aquele que ela tinha certeza que se foi para sempre.

Os ombros dela caíram. —Chegou-me a notícia de Estevan. Parece que você, Quinn, e eu somos tudo o que nos resta.

Um sorriso dividiu o rosto de Cole, e Helena quis limpá-lo com a lâmina de um punhal. Ele sempre odiou Stev, mas a alegria óbvia em seu rosto a atravessou.

Atravessou a sala e abriu a porta para falar com os guardas e Ian esperando do lado de fora. —Vasculhe a cidade. Os rebeldes têm Quinn. A ordem é matar tudo o que encontrar.

Ian assentiu. —Eles não o têm por muito tempo. Vou ligar para o regimento que acabou de voltar para casa.

Cole fechou a porta mais uma vez e girou a fechadura.

—Você não vai com eles? — Helena perguntou, com o estômago desapontado.

Cole balançou a cabeça enquanto a encarava. —Eles o encontrarão. Quanto a você... há algo que você precisa ver.

Ele alcançou a porta pela qual saiu e a abriu antes de pegar uma vela da mesa perto do sofá e entrar na sala.

O ar viciado atingiu Helena enquanto seguia Cole para dentro. O quarto pertenceu a Stev. Alguém apagou todos os danos da fumaça e do fogo. Uma grande cama de dossel estava encostada na parede oposta, com a forma de um homem adormecido sob os cobertores.

Cole o alcançou e quando a luz da vela atingiu seu rosto, Helena ofegou.

O peito do homem subia e descia com um ritmo constante. Os cabelos encharcados de suor grudavam no rosto quando ele virou a cabeça. A pele pálida contrastava com as olheiras sob os olhos fechados.

As pernas de Helena enfraqueceram embaixo dela e ela caiu. Quando seus joelhos bateram na pedra fria, uma palavra escapou de seus lábios.

—Estevan.

 

 

 

 

 

Capitulo Vinte


Dell olhou para a água escura, deixando a primeira luz da manhã passar por seu rosto. Nas cabines abaixo do convés, as pessoas dormiam. Apenas alguns marinheiros conseguiram velejar enquanto o resto terminava os preparativos da manhã. Eles chegarão a Madra em breve. Ele podia vê-la se aproximando, uma cidade adormecida à beira do rio.

Em algum momento da noite, eles deixaram o mar para navegar no delta e rio acima. Um vento fraco fez a jornada mais lenta do que Dell teria gostado.

Ele queria alcançar Helena.

Antes que fosse tarde demais.

Ele fechou os olhos, sentindo como se ela estivesse ao lado dele, sonhando que ela deslizava a mão na dele. Se ele tinha alguma dúvida em mente, a última noite juntos lavou tudo. Ele amava Helena como se nunca tivesse amado ninguém em sua vida.

Ele só queria que ela o amasse da mesma forma. Ele tentou ficar com raiva, sentir-se traído, mas isso acabou com uma percepção esmagadora de que ele não era suficiente para a princesa de Madra. Ele nunca foi. Ela fez o que achava certo na luta por seu reino. Ele era apenas um homem que não tinha para onde ir. Ninguém para quem voltar em Madra.

Exceto ela.

Ele abriu os olhos quando Kassander se inclinou contra o parapeito ao lado dele.

—Eu não conseguia mais dormir. — Admitiu o garoto.

Dell suspirou. Como ele podia sentir pena de si mesmo quando o jovem príncipe havia perdido tanto? Era melhor nunca ter tido uma família ou perder a que você tinha?

—Todo mundo ainda está dormindo? — Dell pousou a mão no ombro do garoto.

Kass balançou a cabeça. —Eles estavam conversando quando saí, mas não aguentava mais os sussurros silenciosos.

Dell sabia o que ele queria dizer. As ansiedades de Alex, Etta e Tyson estavam chegando ao resto deles. Eles ainda não sabiam se haviam tomado a decisão certa. A rainha e o rei de Bela poderiam se envolver sem envolver seu reino? Se eles fracassassem e Cole Rhodipus mantivesse seu trono, isso os lançaria em guerra?

Kassander estremeceu sob o aperto de Dell. —Como você acha que será ver Cole novamente? — Quando Dell não respondeu, ele respondeu sua própria pergunta. —Eu acho que vai doer. — Seus olhos examinaram a cidade em que se aproximaram. —Mas então, ele já dói.

Dell passou um braço em volta de Kassander. O garoto era quase tão alto quanto Helena e tinha os mesmos cabelos escuros e pele morena. Havia um olhar comum nas crianças de Rhodipus que era ao mesmo tempo encantador e desarmante. Inocente. Lindo. Mas também selvagem.

Ele puxou Kass para longe do trilho e o direcionou para uma caixa perto da parede. Eles se sentaram lado a lado. Dell recostou-se e tirou do bolso seu novo trabalho em andamento. Helena pegou sua espada inacabada, mas agora sua mão se fechava em torno de uma coroa. Ele trabalhou sua faca de trinchar ao longo das várias quedas e curvas da madeira enquanto Kassander observava fascinado.

Ele esbanjou muito ao longo dos anos, não precisava manter a mente no trabalho. Em vez disso, ele pensou em todos os cenários possíveis que poderiam ocorrer quando chegassem a Madra.

A névoa da manhã pairava baixo na água, encobrindo o navio em uma névoa.

—O que vai acontecer quando chegarmos a Madra? — Perguntou Kass.

Uma nova voz entrou na conversa deles. —Vamos encontrar sua irmã. — Etta parou na frente deles, curvando-se para olhar Kass nos olhos. —Você acredita em mim?

Kassander assentiu.

Ela sorriu. —Bom. Agora, corra até a cozinha. Você vai querer comida na sua barriga. Alex e Tyson estão lá em baixo. Quando você terminar, já teremos chegado a Madra.

Os olhos de Kassander se iluminaram e ele pulou da caixa.

Quando ele se foi, Etta sentou-se.

Dell cavou com mais força a madeira, xingando quando a faca ficou presa em uma elevação que ele não pretendia esculpir. Com um suspiro, ele deixou a madeira de lado.

—Landon está preparando os cavalos. — Etta puxou as pernas para baixo dela. —O capitão Smith nos colocará em terra a oeste da cidade. A partir daí, entraremos.

Dell assentiu. Um navio Belaeno não teria permissão para atracar na cidade. Era o único plano que fazia sentido.

—Você conhece Helena mais do que qualquer um de nós. Qual é a primeira coisa que ela faria quando chegasse a Madra?

Dell coçou a lateral do rosto. —Bem, isso depende.

—De?

—Se ela está dando as ordens ou se está ouvindo Edmund.

—Por que eles querem coisas diferentes?

Dell olhou de soslaio para Etta. Ela alegava que Edmund era seu melhor amigo. Ela havia lhe dado a posição de embaixador, mas nem ela sabia o que o embaixador estava fazendo. Que ele se tornou mais arraigado na vida de Madra do que deveria. Então, Dell explicou. Ele contou a Etta sobre a rede de espiões que se reportava a Edmund. Dos rebeldes que eram mais leais a um embaixador estrangeiro do que seu próprio rei.

E então chegou a hora de contar a ele seu próprio papel no mundo de Edmund. —Edmund veio até mim porque meus irmãos eram parte integrante dos planos de Cole Rhodipus de conquistar a coroa.

Por tudo isso, Etta permaneceu em silêncio. Finalmente, ela levou a mão à boca. —Ele fez tudo isso para proteger Estevan?

—E Helena e Kass, mas sim.

Ela balançou a cabeça como se não acreditasse nisso. Lágrimas pairavam em seus cílios. —Quando me disseram pela primeira vez sobre os sentimentos de Edmund pelo príncipe morto, não sabia o que pensar. As paixões de Edmund sempre mudavam com o vento. Em um ponto, ele até se imaginou apaixonado por Alex, mas eu realmente acho que era apenas porque nunca se tornaria mais. Eles se amam, mas como irmãos agora. Então Matteo... Meu primo se perdeu para Edmund na primeira vez que lutaram. —Ela sorriu. —Então ficou sério, e Edmund me pediu para mandá-lo para Madra.

Uma lágrima deslizou por sua bochecha. —Mas ele arriscou tudo por Estevan... e então ele o perdeu. Eu não entendia até agora. Até me ressenti de sua nova lealdade a Helena porque houve um tempo em que eu era a mulher mais importante da vida dele. — Ela enterrou o rosto nas mãos. —Não acredito que quase não vim buscá-lo. Ele nunca me decepcionou uma vez e eu quase falhei com ele.

Dell não sabia como confortar uma rainha que chorava. Ele deu um tapinha nas costas dela, decidindo responder sua pergunta original. —Helena e Edmund têm força de vontade. Eu acho que eles se separaram.

Ela levantou a cabeça. —Ele não a deixaria.

—Não. — As palavras machucavam, mas ele sentiu cada uma delas. —Mas Helena o deixaria se ela pensasse que o salvaria.

Ela fez a mesma coisa com Dell.

Dell observou os marinheiros se prepararem para ir para o convés e manejar seus remos. Seus movimentos eram como uma dança coreografada. Todos sabiam seu lugar, seu trabalho.

Helena também conhecia.

Dell encostou a cabeça na parede. De repente, ele sabia exatamente por que Helena o deixara para trás. —Ela vai enfrentar o irmão. Sozinha.

Etta abriu a boca como se quisesse discutir, mas depois fechou. Ela não podia refutar a verdade nas palavras dele.

O medo o envolveu, porque ele sabia que se Helena tivesse ido falar com o rei, já era tarde demais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Vinte e Um


Cole deixou Helena sozinha com Estevan e não voltou. Ela não sabia quanto tempo fazia, mas sentou-se ao lado de seu irmão mais velho, encarando-o como se ele desaparecesse novamente.

Ela afastou os cabelos úmidos do rosto dele.

Helena conteve as lágrimas que ameaçavam se libertar. Estevan precisava de sua força, não de sua fraqueza. Se ela já teve dúvidas em chegar ao palácio, elas desapareceram no momento em que ela pôs os olhos em Stev.

—Você deveria estar morto. — Ela sussurrou. —Nós lamentamos você.

Edmund. O nome dele surgiu em sua mente tão de repente que ela afastou a mão. Se Helena e Edmund soubessem que Stev ainda vivia, teriam procurado por ele mais cedo?

Helena pensou que Stev ainda estava com febre, mas, apesar de sua pele estar úmida, não estava quente. Ele não tremia, mas havia uma palidez alarmante em sua pele.

As pálpebras dele se contraíram. —Não. — Ele murmurou. —Não mais. Não me toque. — Ele se jogou de lado e o cobertor escorregou para revelar seu peito nu. Helena ofegou, pulando da beira da cama.

Linhas vermelhas frescas cruzavam seu torso. Os longos cortes profundos agora com sangue seco, descamando e caindo sobre a cama...

A raiva brotou em Helena ao ver a verdade diante dela. Estevan não estava doente. Sua fraqueza era de perda de sangue.

Cole. O nome dele queimou em sua mente, e ela girou nos calcanhares, decidida a sair do quarto. Encontrar o irmão que causou tanta dor à família dela.

Mas uma voz a chamou de volta.

—Helena?

Ela congelou, pensando que tinha imaginado. Girando devagar, ela engoliu um soluço. Os olhos de Estevan se abriram e seu olhar claro a encontrou.

Helena correu até ele, ajoelhando-se ao lado da cama. —Stev. — Ela pegou a mão dele, as lágrimas finalmente derramando. —Stev. —Ela descansou a testa contra as mãos unidas, não querendo deixá-lo ir.

Ele respirou trêmulo. —Eles me disseram que você estava morta.

Ela fez um som que era meio risada e meio soluço. —Eles me disseram que você estava morto.

A mão livre dele subiu aos cabelos dela, arqueando-se sobre o topo da cabeça dela. O peito dele tremia e ela ergueu os olhos para o rosto manchado de lágrimas.

Ela nunca viu Estevan chorar antes. Estendendo a mão, ela enxugou uma lágrima da bochecha dele. —O que Cole fez com você?

Ele balançou sua cabeça. —Não Cole. — Seus olhos se fecharam por um momento. —Nosso irmão-

—Ele não é nosso irmão.

Estevan estremeceu com as palavras e, quando fixou os olhos em Helena mais uma vez, a força de sua dor a invadiu. Para aqueles que não o conheciam, Stev parecia frio e calculista.

Mas Helena sabia de forma diferente. Seu irmão mais velho tinha sido o melhor de todos eles. Ele sentia tudo em um nível que ela não conseguia imaginar, mas sempre pareceu ter vergonha dessas emoções. Então, ele as internalizou, endurecendo-se na presença de outras pessoas, principalmente do pai deles.

Mas naquele momento, quando eram apenas duas crianças de Rhodipus lamentando a morte de tudo de bom dentro do outro, ele finalmente a deixou vê-lo.

Ela se inclinou para frente, passando as pontas dos dedos pelo lado do rosto dele. Ele estava realmente lá.

—Kass? — Ele sussurrou, medo afiando em sua voz.

Helena respirou fundo. —Seguro. — Pelo menos ela poderia dar isso a ele. Ela pode ter abandonado Stev ao controle de Cole, mas manteve o irmão mais novo vivo. Os olhos de Stev continham mais perguntas, mas as palavras não deixaram sua boca quando uma respiração rasgou seu peito.

—Edmund está aqui. — Ela sussurrou.

Estevan sacudiu a cabeça de um lado para o outro. —Não. Ele não pode estar. Ele deveria sair com você e nunca olhar para trás. Eu nunca quis... — Ele tossiu, sangue escorrendo pelo queixo.

Helena não teve tempo de dizer mais nada porque Camille apareceu na porta. Saltando da cama, Helena correu ao longe, jogando-se para a outra princesa.

Camille a pegou, os braços rígidos. —Helena. — Ela a empurrou para longe, passando a mão na frente do vestido azul safira. Ela colocou os cachos de ébano por cima do ombro, sem olhar de relance para Stev.

Helena a examinou em busca de algum sinal de mau tratamento. Camille apoiou-se na mesma bengala desde o dia em que chegou. Seu traje foi suavizado com perfeição quase como se ela não fosse uma prisioneira.

—Eu estava tão preocupada com você. — Helena finalmente admitiu.

O olhar severo de Camille a cortou. —Helena, você vem comigo.

E então ela fez a última coisa que Helena já esperava. Camille levantou uma mão que segurava algo que Helena não havia notado antes. Algo que ela nunca pensou em ver novamente.

Uma máscara.

Ela balançou a cabeça, os cabelos espalhando-se pelos ombros descontroladamente.

—Coloque-a.

—Camille. — Helena tropeçou para trás. —Por que você está fazendo isso?

Naquele momento, a princesa gaulesa se parecia muito com aquela mãe - a mulher que vendeu Quinn aos madranos.

E Helena a odiava por isso. —Não.

Camille estreitou os olhos. —Será muito mais fácil para você se você apenas obedecer.

Os olhos de Helena foram para a máscara. De novo não. Ela passou a maior parte de sua vida presa por esse tecido. Ela não era mais aquela garota.

Dois guardas apareceram na porta.

Helena olhou por cima do ombro para Stev, que estava tentando sair da cama para ajudá-la. Ele recuou, seu corpo tremendo quando seus olhos rolaram para dentro de sua cabeça.

—Stev! — Helena tentou se virar e correr de volta para ele, mas um dos guardas a agarrou para segurá-la no lugar. —Deixe-me ir, seu maldito bastardo. — Um braço carnudo envolveu sua cintura, puxando-a para fora de seus pés enquanto ela chutava e gritava.

As palavras de Camille mal registraram em sua mente. —Pegue o curandeiro. Se Estevan morrer, o rei ficará muito irritado.

Não, Helena pensou. Cole não se importaria com o que acontecia com nenhum deles.

Suas próprias palavras voltaram para ela. Ele não é nosso irmão.

Só ele era. E isso tornou a dor muito real.

—Stev. — Ela chorou mais uma vez antes de um punho brilhar na frente de seu rosto, e a escuridão acenou para ela com sua paz.

 

Vozes cercaram Helena, mas ela lutou para abrir os olhos. Passos pesados cruzaram-se na frente dela. O barulho de muitas botas blindadas veio e se foi.

Onde ela estava?

Enquanto ela observava a sala ao redor, tudo voltou para ela. Vindo para o palácio. Cole. Estevan. Como seu irmão poderia estar vivo depois de todo esse tempo?

A sala do conselho de seu pai tomou forma ao seu redor. Não, não do pai dela. Não mais. O som ecoava no teto arqueado, apenas ligeiramente abafado por tapetes macios.

Helena levantou a cabeça dolorida das fibras brancas macias de um travesseiro. Ela levou a mão ao rosto quando outro pedaço dela se partiu. A máscara grudava em sua pele, uma gaiola da qual ela nunca havia escapado. Ela queria chorar, gritar, derrubar o lugar, mas não daria a Cole essa satisfação. Ela se recusava a desmoronar. De novo não.

A máscara a fortaleceu, reforçando sua necessidade de vingança. Ela sentiu a raiva deslizar por seus dedos depois que Cole a levou para Estevan, mas agora, enquanto examinava os rostos daqueles que eram leais ao novo rei, queria que todos pagassem.

Duas botas pararam diante dela antes que um homem atarracado se agachasse, equilibrando-se na ponta dos pés.

Helena ergueu os olhos para Reed e tudo o que ela pôde ver foi o homem que levou Quinn, que deixou seu pessoal quase matar Dell.

A simpatia entrou em seu olhar e ele estendeu um copo de água.

Quando Helena não se mexeu, Reed suspirou. —Eu não vou te machucar, princesa.

Uma mão pousou no ombro de Reed e o empurrou para trás. Ele caiu pesadamente na bunda, a água derramando sobre a camisa.

—Droga, Ian.

Ian ignorou a exasperação de Reed. —A princesa é necessária.

Sem esperar por uma resposta, ele agarrou o braço de Helena e a puxou para cima, puxando-a em direção à mesa no centro da sala.

Cole estava em uma posição elevada, recém barbeado. Seu cabelo estava penteado para trás no mesmo estilo que ele sempre usava. Só agora, ele parecia... mais velho. Seus olhos frios encontraram os dela, nenhuma das emoções anteriores aparecendo nos globos escuros.

—Tivemos muita sorte. — Disse ele, seus olhos examinando os rostos ao redor da mesa. Helena reconheceu alguns generais e comerciantes, mas alguns eram estranhos. Camille ficou à direita de Cole. —A princesa Helena voltou para ajudar a levar Madra à grandeza.

Helena engasgou com o ar.

Cole continuou. —Mas o príncipe Quinn desapareceu. Acreditamos que os rebeldes o levaram. A guarda do palácio está vasculhando a cidade, mas eu trouxe minha irmã aqui para esclarecer o paradeiro dele.

Helena congelou. Cole sabia sobre sua conexão com os rebeldes?

Ele deu a volta na mesa, parando ao lado dela e olhando para ela. Falso carinho ecoando em sua voz. —Querida irmã, me diga onde está Edmund.

—Eu-eu não sei.

Cole a golpeou antes mesmo que ela soubesse o que estava acontecendo. A palma da mão dele deixou uma dor aguda queimando sua bochecha. Ela levou a mão à bochecha ardente, tropeçando para trás.

—Aqui neste palácio, não aceitamos mentiras. — A voz baixa de Cole retumbou através dela.

O perigo espreitava por trás de seu olhar e Helena engoliu em seco. Ele queria que ela o temesse?

Ela endireitou os ombros, erguendo o queixo para encontrar o olhar dele. —Mesmo que eu soubesse, não diria.

Cole apontou para um de seus guardas que atingiu Helena no estômago. Ela se dobrou, ofegando quando a dor atravessou seu abdômen.

Ela reprimiu um grito e ficou de pé mais uma vez.

Nenhuma pessoa na mesa fez um movimento para parar Cole.

—Onde está meu irmão? — Cole gritou, as veias em seu pescoço pulsando com sua irritação.

Helena estreitou os olhos. —Eu poderia tirá-lo de você em um instante. Você roubou tudo de mim. Por que não devo fazer o mesmo?

Cole bateu o punho contra o lado da cabeça dela, batendo-a de lado. Ela tropeçou, caindo de joelhos quando ele chutou a parte de trás de sua canela. A surra continuou com Cole liberando toda a sua fúria nela até que tudo em que Helena pudesse se concentrar era na dor.

Ela manteve a consciência como um homem caindo, segurando a beira de um penhasco. Os ataques diminuíram quando Cole soltou um rugido e cobriu seu corpo com o dele.

—Eu precisava. — Ele murmurou. —Helena, eu precisava. — As lágrimas dele caíram sobre sua pele.

A máscara escondia seu rosto pálido, e o peso de Cole em cima dela a esmagou no chão. Ela sentiu como se não existisse mais.

Ela disse a Edmund que Cole não a machucaria. Esse tinha sido o único pensamento que a manteve unida. Tão mau quanto o irmão dela, ele a amava. Ela queria que fosse verdade. Teria tornado a missão possível, mas também teria curado uma pequena parte dela.

Seu corpo machucado pode não ter se quebrado completamente, mas ela ficou lá, como se ela não fosse nada além de uma princesa de vidro.

E agora, finalmente, ela quebrou deixando apenas fragmentos afiados que cortariam tudo o que tocassem.

Pela segunda vez naquele dia, a escuridão a puxou sob sua corrente rápida.

 

 

 

 


Capitulo Vinte e Dois


O sol do meio-dia pairava no céu quando Dell atravessou as ruas da cidade de Madra. Mendigos estavam sentados em cada esquina, mais comuns do que antes. As poucas lojas que abriram tinham longas filas que se estendiam para fora das portas enquanto as pessoas tentavam trazer sua parte da comida das fazendas de Madra.

—Precisamos abandonar os cavalos. — Disse Dell, parando e deslizando para baixo. Ele olhou para os lados da rua movimentada, pressionando de volta para um beco enquanto um carrinho passava.

—Vai demorar muito a pé. — Etta examinava o ambiente, sempre atenta.

Dell balançou a cabeça. —Não importa o quão longe tenhamos que caminhar se nunca chegarmos lá. Aqui não é Bela. Um madrano médio não tem um cavalo porque não pode pagar por um. Estamos nos marcando com riqueza e estou tendo a impressão distinta de que é uma coisa ainda pior agora do que era antes.

Um homem passou, fazendo uma careta ao avistá-los, mas ele não parou.

Ninguém mais discutiu enquanto desmontavam e conduziam seus cavalos pelo beco estreito.

—Estamos perto do setor do embaixador. A casa de Edmund está lá. — Dell espiou pela lateral de uma loja, examinando a estrada. Uma tropa de guardas do palácio cavalgava pela cidade. As pessoas saíram do seu caminho e Dell agarrou um garoto pela frente da camisa.

—Por que a guarda está na cidade? — Antes, o rei tinha tomado cuidado para não impor seus guerreiros ao povo. A força não funcionava em Madra. Somente dinheiro. Eles alegaram que os mercenários tinham o mal dentro deles, com sua única lealdade ao ouro nos bolsos, mas não era apenas o modo de vida deles. Madra foi construída sobre o conceito.

O lábio do garoto tremeu. —O príncipe está desaparecido, senhor.

—O príncipe?

O garoto assentiu. —Eles estão dizendo que os rebeldes pegaram o príncipe Quinn.

Dell soltou o garoto. —Você quer ganhar um pouco de ouro, garoto? — Ele apontou para a bolsa no cinto de Etta.

Os olhos do garoto se iluminaram. —Como senhor?

—Você vai ajudar meu amigo aqui. — Ele colocou a mão no ombro confuso de Landon antes de se virar para os outros. —Mudança de planos. Não podemos ir até Edmund quando a cidade está cheia de guardas. Landon levará os cavalos para os estábulos públicos, pois conhece a cidade tão bem quanto eu.

A última vez que Dell esteve nos estábulos públicos foi quando ele afastou Helena de seu próprio torneio. Ele se recusou a deixar as lembranças nublarem sua mente dessa vez.

Etta se inclinou para Vérité, sussurrando palavras que nenhum dos outros conseguiu ouvir. Quando ela se afastou, ela olhou para Landon. —Preocupe-se com os outros. Vérité vai segui-lo ou não. Essa é a escolha dele.

Landon franziu a testa, emitindo um breve aceno de cabeça.

—Fiquem seguros.

—Você também. — Dell pensou por um momento. —Se você chegar antes do anoitecer, há uma padaria na praça do mercado. É administrada por uma mulher chamada Agathe. Procure-nos lá.

Dell não perdeu tempo a passear pela rua como se tivesse todo o direito de estar lá. Este reino e esta cidade já tinham tido tanta familiaridade com ele... e também muita dor. Isso o transformou no homem que ele era. Permitiu-lhe formar suas próprias convicções.

Quando ele ajudou Edmund pela primeira vez, ele não sabia em que lado da luta ele queria estar. Ele não achava que a linha Rhodipus merecesse manter o domínio deles.

Agora ele sabia. Ele lutou para recuperar o que havia sido roubado. Isso não era apenas por lealdade a Edmund. Ele se juntou à luta, eventualmente. Madra era sua casa.

Ele os levou pela taberna de Catsja e imagens de outra vida o atacaram. Ele perseguiu a mulher somente depois que o marido chamou a mãe de Dell de prostituta.

O garoto por quem ele se empolgou com raiva, lutando em partidas de rua ilegais e aproveitando cada golpe. Ele tinha sido tolo e desesperado por algo que desse sentido à sua vida.

A placa não dizia mais The Cooked Goose. Em vez disso, havia sido alterado para The King's Tavern.

Com um suspiro, ele se virou. Etta, Alex e Tyson não fizeram perguntas sobre Madra enquanto visitavam a cidade lotada. Em Bela, tudo cheirava fresco e novo. O ar de Madra pairava velho entre os prédios; uma combinação de peixe e urina.

Uma tropa de guardas do palácio em uma armadura negra reluzente desceu a rua.

—Vamos lá. — Dell correu pela esquina, atravessando uma porta familiar. Os outros derraparam atrás dele, se escondendo embaixo de uma mesa para que não pudessem ser vistos pela janela.

O cheiro de pão fresco substituiu o ar podre de Madra. Dell passou tanto tempo na padaria de Agathe quanto em qualquer outro lugar que crescia. Ela ajudou a criá-lo quando a madrasta recusou.

O balcão perto da parede dos fundos parecia estéril, não mais cheio de doces e guloseimas pelas quais ela era tão conhecida. Então, por que cheirava como se ela tivesse recentemente assado um novo lote?

—Fique aqui. — Disse ele. Algo não parecia certo. Onde estava Agathe? Por que a loja dela estava aberta se ela não estava lá?

Ao longo das paredes, velas acesas, sinalizando a presença recente de alguém.

—Tranque a porta. — Ele sussurrou de volta para Tyson. Alex e Etta viram os guardas passarem pela janela enquanto Dell se agachava.

Ele se escondeu atrás do balcão, quase colidindo com um balde de água da louça e soltou a espada enquanto cutucava a porta que dava para os quartos dos fundos abertos. Agathe morava atrás de sua padaria em uma casa de um quarto. A escuridão o cumprimentou, mas ele cheirou o ar, sentindo o cheiro dos restos de velas acesas.

Alguém ainda estava lá.

A cama de Agathe estava do outro lado do quarto, um cobertor dobrado sobre a superfície. Os únicos outros móveis eram uma mesa encostada na parede e uma cadeira de encosto alto com costuras rasgadas, diante de um fogo ainda aceso.

Dell congelou.

Ainda queimando.

Dell sentiu uma presença nas costas e virou-se, pronto para atacar. Tyson levantou uma sobrancelha, o rosto brilhando à luz da vela que ele carregava.

—Eu disse para você ficar para trás. — Dell rosnou. De volta a Bela e Gaule, ele os ouviria, os seguiria. Mas agora eles estavam em seu reino, ao redor de seu povo.

Ele estava no comando.

No verdadeiro estilo Tyson, ele deu de ombros como se os nervos não estivessem lhe atingindo. —Pensei que você gostaria de saber sobre a escada que Alex encontrou no teto.

Escadaria? Claro.

Um baque soou de cima e Dell se moveu sem pensar. Ele só esteve no grande sótão de Agathe uma vez quando ela precisava de ajuda para transportar contêineres. As escadas se dobravam no teto, mas Dell a vira puxá-las o suficiente para que ele soubesse exatamente onde a corda estava enrolada no canto superior do forno maior, fora da vista.

Estendendo a mão, ele a libertou.

Por favor, deixe Agathe estar bem. Seu apelo subiu ao céu enquanto, ao mesmo tempo, nunca deixava sua mente.

Ele não aguentaria perder mais ninguém.

Os degraus desceram do teto e Dell começou a subir. Madeira gemeu sob seus pés enquanto as escadas balançavam com seu peso.

Ele segurou com uma mão enquanto mantinha a outra segurando o punho da espada. No topo, uma tábua fina cobria a abertura do sótão. Dell bateu a palma da mão nela, afastando-a do caminho e puxou-se. Antes que ele pudesse brandir sua espada, um pedaço de aço brilhou na frente de seu rosto.

Seu coração batia forte contra as costelas, ameaçando explodir em seu peito. Ele respirou fundo, estendendo a mão para dizer aos que estavam abaixo dele para esperar.

Uma chama apareceu com um rosto familiar atrás dela. Dell investiu, derrubando Orlo de costas. —O que você fez com Agathe, seu desgraçado?

Mãos o agarraram, puxando-o de um Orlo sorridente.

—Deveria saber que você apareceria. — Uma risada baixa chamou a atenção de Dell para o homem ainda o segurando.

—Edmund. — Ele balançou a cabeça e recostou-se nos calcanhares. —Vocês podem subir agora. — Ele gritou para os outros. —É seguro. — Ele não sabia o que Orlo estava fazendo aqui, mas no momento não se importava porque viu um rosto desfigurado sorrindo para ele.

Rastejando de joelhos, ele envolveu Agathe em um abraço apertado.

Ela o agarrou com uma força surpreendente. —Não tinha certeza se eu voltaria a vê-lo, garoto.

—Você me conhece, Agathe. Parece que não consigo ficar longe de problemas.

Ela soltou uma risada e o soltou.

Tyson, Alex e Etta se arrastaram para o pequeno espaço. Os olhos de Edmund se arregalaram quando os viu.

Tyson deu de ombros. —Eu não poderia deixar você se divertir sem mim.

Era certo que Tyson iria querer ajudar Edmund. Mas o loiro encarou Etta e Alex como se os estivesse vendo pela primeira vez.

—Você e Camille são da família. — Disse Alex.

Edmund assentiu. —Estou feliz que vocês estão aqui.

—Em que tropeçamos, Edmund? — Etta o encarou com um olhar.

—Como vocês me acharam?

Dell foi quem respondeu. —Eu tive um palpite que Agathe saberia onde você estava. — Quando seus olhos se ajustaram à escuridão, ele pegou o espaço apertado. Pratos vazios estavam espalhados pelo chão ao lado de copos virados. Quantas pessoas estiveram aqui? Uma figura sombria estava curvada no canto. Dell o estudou por um momento antes de o reconhecimento chegar.

—Quinn Rhodipus.

A cabeça do homem levantou e foi só então que Dell notou os laços em volta dos pulsos.

—Eu te conheço? — O olhar de Quinn era tão parecido com o de Helena que Dell desviou o olhar.

—Eu sou apenas o homem que quase morreu tentando salvá-lo em Gaule. — Ele encarou Edmund. —Por que ele está amarrado? O que está acontecendo por aqui? Viemos ajudar, mas não podemos fazer isso até conhecermos a história completa.

Edmund esfregou os olhos cansados. —Quando o rei enviou o guarda à procura de Quinn, forçou os rebeldes a se separarem e abandonarem o posto que eles montaram na minha antiga casa. Temos batedores rotativos buscando informações e outros procurando algum sinal de que Helena possa nos enviar uma mensagem.

O sangue da Dell aumentou. —Eu sabia. É por isso que ela... —Ele não podia dizer que as palavras me deixaram para trás. —Ela sabia que eu nunca a deixaria fazer algo tão tolo.

—Finalmente alguém que vê como isso foi estúpido. — Quinn fez uma careta e mudou para onde estava sentado. —Você deveria protegê-la, Edmund. Não foi isso que Stev pediu para você fazer?

Edmund pulou em direção a Quinn, parando um pouco para esmurrá-lo. —Você não sabe o que Stev queria. Cada respiração que você dá o trai. Você trabalha para o homem que o matou.

Um olhar que a Dell não conseguiu discernir passou pelo rosto de Quinn, mas Edmund não percebeu.

—Você acha que ele não vai machucá-la? — Quinn disse humildemente. —Você não o conhece.

—Isso é uma ameaça? — Edmund puxou uma adaga do cinto. —Eu deveria te matar por tudo que você fez.

Quinn focou os olhos na lâmina. Dell se perguntou se deveria parar Edmund, mas não se atreveu a interceder.

—Eu fiz isso por ela. — Sua voz era tão baixa que demorou um momento para as palavras penetrarem. Quinn se curvou para frente, enterrando o rosto nas mãos.

Edmund recostou-se, afastando o punhal. Houve um tempo em que Edmund era amigo da maioria dos príncipes.

—O que você quer dizer com você fez isso por ela? — Perigo se escondia atrás das palavras de Dell.

Quinn levantou os olhos, permitindo Dell vislumbrar a dor que ele tentava esconder. Sua família o estava despedaçando. —Eu sabia que ela voltaria. — Seus olhos se voltaram para Edmund. —Eu sabia que vocês dois o fariam e não adiantava a trancar em uma cela no mosteiro fantasmagórico.

Edmund respirou fundo e esfregou os olhos. —Eu te conheço desde o dia em que pisei em Madra, Quinn. No entanto, não tenho certeza se devo acreditar em você. Você apareceu nas docas para me prender. Cole não saberia que ela estaria lá também, mas você teria.

—Eu precisei. Se eu não fosse, Cole teria enviado outra pessoa. Não vou mentir para você, Edmund. Eu não teria sido capaz de protegê-lo. Mas Helena... você não sabe o que está acontecendo no palácio nos meses em que se foi. Temos pessoas lá - mais do que você imagina - que estão trabalhando para devolver Stev... —Ele parou de falar como se tivesse dito algo que não pretendia.

Edmund levou um momento para reagir. Ele empurrou para frente, puxando sua adaga livre mais uma vez e segurando-a na garganta de Quinn. —E Stev?

Quinn não se afastou da lâmina enquanto segurava o olhar de Edmund.

Dell e os outros assistiram com a respiração suspensa.

Quinn levantou o queixo. —Queremos colocar Estevan de volta ao trono.

O punhal de Edmund caiu no chão e ele caiu para trás, sacudindo a cabeça como se não acreditasse em uma única palavra dita. —Ele está... Ele está...

—Vivo.

Foi estranho. Como uma palavra pode mudar toda a perspectiva de uma missão. Dell mal conhecia o Rhodipus mais antigo e até seu coração deu um pulo. Eles vieram a Madra para derrubar um rei, nunca pensando no que viria depois. Helena poderia ter assumido o trono, mas Dell sabia que tudo o que ela queria era que sua família retornasse a ela.

Mas Estevan?

Se Helena estava no palácio, ela o viu?

Edmund aspirou o ar como um homem que nunca pensou que ele respiraria fundo. Ele passou a mão trêmula pelos cabelos.

Etta sentou-se ao lado dele e afastou a outra mão de onde arranhava a pele do rosto. Ela entrelaçou os dedos nos dele.

—Ele está vivo, Edmund. — Ela sussurrou.

Como se as palavras dela estalassem algo dentro dele, ele se dobrou, suas costas estremecendo.

Dell sabia que deveria desviar o olhar, mas não conseguiu. Ele só viu Edmund parecer tão... quebrável duas vezes antes. Uma vez, quando ele foi forçado a deixar Estevan em Madra. E novamente, quando soube da suposta morte do príncipe.

Durante a maior parte de sua vida, Dell se escondeu atrás de charme e de um ego falso, deixando ninguém chegar perto o suficiente para ter o tipo de poder sobre ele que Estevan tinha sobre Edmund. Ele pensou que a força estava sendo inquebrável.

Ele estava errado.

Se ele não chegasse a Helena a tempo, nunca se recuperaria, mas a amava mesmo assim.

Edmund nunca deixou de amar Estevan, mesmo quando pensava que estava morto, e foi a coisa mais corajosa que Dell já viu. Ele se deixou sentir tudo.

Edmund enxugou o rosto. —Eu tenho que chegar até ele. — Ele se arrastou em direção à escada. —Não podemos ficar aqui esperando mais.

Quinn, que silenciosamente deixou Edmund processar essas informações que mudam o mundo, chamou Edmund de volta. —E o que você acha que vai fazer?

Edmund fez uma pausa. —Tudo o que eu tenho que fazer.

—Se você for ao palácio com nada além de vingança, não conseguirá entender. Cole não tem vínculos com você, como ele tem com Helena. —Pelo menos ele esperava que Cole não machucasse sua irmã. Se Stev ainda estava vivo, tinha que haver esperança, certo?

—Eu não me importo se sobreviver enquanto Estevan sobreviver.

Dell estendeu a mão para agarrar o braço de Edmund. —Você sabe o que passou depois que pensou que ele morreu. Você deseja isso para ele? — Dell teve que fazê-lo ver o motivo.

A porta batendo abaixo os congelou.


—Provavelmente é apenas Landon. — Dell desejava estar tão confiante nisso quanto parecia.

—Landon? — O olhar de Quinn se voltou para ele. —Meu primo?

—Foi ele quem nos trouxe a Gaule para tentar salvá-lo. Então ele decidiu nos acompanhar aqui.

Os olhos de Quinn se arregalaram.

—Vou ver se é ele. — Disse Edmund.

—Espere! — Quinn tentou seguir em frente, mas as cordas segurando seus pulsos o impediram. —Você não pode confiar nele.

—Ele é o único motivo pelo qual sabíamos que você estava preso em Gaule. — Campainhas de alarme tocaram na mente da Dell.

—Porque ele me deu a eles. — Ele endureceu a mandíbula. —Landon trabalha para Cole.

E ele sabia exatamente onde eles estavam. Dell amaldiçoou. Eles deveriam ter visto? —Temos que sair deste lugar.

Passos soaram abaixo. Sem pensar, Dell se abaixou pela abertura no chão, sem se incomodar com as escadas. Ele ficou pendurado por apenas um segundo antes de cair em cima do intruso.

Uma série de maldições voou da boca da mulher. Uma boca que Dell conhecia muito bem. Eles aterrissaram no chão. Ele saiu dela com um grunhido. —Catsja?

Ela fez uma careta de dor quando se sentou. —Dell Tenyson, seu idiota. Para o que foi aquilo?

Ele a chocou, puxando-a para um abraço. —Porra, é bom te ver.

Os outros desceram as escadas, e a mão grossa de Orlo agarrou a parte de trás do pescoço de Dell, puxando-o para longe de Catsja.

Ele balançou a cabeça, surpreso por Orlo e Catsja terem se juntado aos rebeldes. Ele não deveria estar. Eles odiavam o exército de Madra como nenhum outro.

—Outro rebelde? — Etta perguntou, checando suas armas.

Dell não teve a chance de responder porque vozes soaram na frente quando a porta se abriu.

—Desça. — Edmund sussurrou, puxando Agathe para trás de uma caixa com ele.

—Eles estão aqui. — Disse uma voz familiar. —Encontre-os.

Landon. O fogo atingiu as veias da Dell. Eles mal podiam esperar para serem encontrados. Ele encontrou o olhar de Tyson, sabendo que pelo menos o jovem príncipe impulsivo concordaria com ele.

Tyson assentiu, gesticulando para Etta. Sem esperar para garantir que o resto deles seguisse, Dell puxou a espada e atacou a frente da padaria.

Os guardas que ainda estavam entrando pela porta da frente ergueram os olhos, assustados por apenas um momento antes de se armarem para enfrentar o ataque.

Dell não parou de se mover até que ele acertou um dos guardas, balançando a espada em um amplo arco.

Ao seu lado, Tyson saltou para frente, batendo a espada contra a de Landon.

O resto do grupo pulou na luta, esbarrando um no outro no espaço apertado. Tyson pulou para longe de Landon, deixando Etta assumir. A rainha murmurou baixinho. Dell sabia pouco de sua história com o general. Só que eles lutaram juntos contra La Dame.

Tyson correu atrás do balcão, encontrando um balde de água. Ele o jogou no ar, segurando as mãos para o alto e expandindo a substância com a magia da água, antes de enviar lanças de água contra cada guarda com força suficiente para empurrá-los pelas janelas de vidro.

Os cacos choveram, mas antes de atingi-los, um vendaval de vento empurrou os pedaços afiados pelas janelas agora abertas.

Na rua, uma multidão se formou para assistir os guardas encharcados se levantarem. Quinn apareceu e estendeu os pulsos para Edmund. Era agora ou nunca. Confie nele ou não.

Edmund olhou de soslaio para ele antes de cortar suas cordas e depois estender o cabo do punhal primeiro.

Quinn pegou. —Eu preciso voltar para o palácio.

Edmund, parecendo entender seu significado, assentiu e o encarou. —Faça.

Em um piscar de olhos, o punho de Quinn se conectou com a bochecha de Edmund, e ele correu em direção aos guardas que estavam se preparando para outra luta.

—Temos que sair daqui. — Edmund olhou para Agathe, e a velha sorriu em compreensão. —Catsja, pegue o pó.

A pólvora. Dell soube instantaneamente que tipo de pó era. Ele viu barris no porão de sua família enquanto estava preso lá.

—Dell, Alex, Tyson. — Edmund olhou para cada um deles. —Vocês levem Agathe para fora e longe daqui. Vamos segurá-los.

Etta deu um sorriso, jogando a espada entre as mãos. —Faz muito tempo desde que você e eu lutamos juntos, Edmund.

—Vão! — Edmund ordenou para o resto deles.

Dell não queria deixar Edmund em luta, mas ele não podia colocar Agathe em perigo. E ele sabia que não seria o tipo de ajuda que Etta seria.

Todos fizeram o que lhes foi dito. Dell deixou os outros pela porta dos fundos, apenas olhando para trás uma vez enquanto os sons da luta renovada enchiam o ar.

Eles correram pelo beco até chegar a uma encruzilhada e se irem em uma parte mais pobre da cidade. Agathe parecia saber o caminho, então eles a seguiram.

Antes de chegarem longe demais, uma explosão rasgou o ar. Dell congelou, olhando para trás. Eles estavam bem. Eles tinham que estar.

—Edmund e Etta sabem o que estão fazendo. — Alex disse como se estivesse lendo sua mente.

Como ele tinha tanta fé neles? Dell desejava ter esse tipo de confiança em alguém que não fosse ele mesmo. Ele ainda sentia a necessidade de proteger as pessoas em sua vida, em vez de deixá-las se proteger.

Um pensamento o atingiu quando eles pararam. —Kassander. — Ele congelou na porta. —Enviamos Kassander com Landon. — Eles pensaram que era a opção mais segura. Ir aos estábulos tinha que ser mais seguro do que encontrar os rebeldes.

Só que não foi. Eles entregaram o jovem príncipe ao irmão.

Mais uma vez, Dell falhou com Helena.

Seu horror foi refletido nos rostos ao seu redor.

Agathe conduziu-os por outra estrada familiar, sem parar até chegarem aos portões que Dell nunca mais queria ver.

—Agathe. — Ele congelou, olhando para a estrutura sinistra. —O que você está fazendo aqui?

—Esta é outra base rebelde. — Ela passou por ele e bateu o punho contra os portões.

Como o lar em que ele cresceu se tornou uma base para os rebeldes quando Ian e Reed estavam ao lado do rei? Foi mais uma prova da deslealdade de Reed para Cole?

Os portões se abriram lentamente e um rosto desgastado os cumprimentou, não mostrando nenhuma surpresa no local da Dell.

Ele soltou um suspiro. —Madrasta.

Ela o ignorou, fixando os olhos em Agathe. —Eu ouvi a explosão daqui. Fico feliz que você tenha encontrado um uso para o pó que forneci. Entre. Vamos tirar você da vista.

Agathe sorriu. —Obrigada, querida. — Ela os levou, deixando os portões abertos um pouco para os outros.

Tyson se inclinou para Dell enquanto olhava para a grande casa Tenyson. —Você cresceu aqui?

—Não. — Os olhos da Dell se voltaram para o edifício familiar nos fundos. —Eu morava nos estábulos. — O jovem príncipe parecia querer fazer mais perguntas, mas Dell acelerou para impedir a conversa. Sua mente girou com a possibilidade de sua madrasta lutar contra o rei. Um rei que seus filhos apoiavam.

A última vez que Dell esteve lá, seus irmãos o prenderam no porão. Agora, ele atravessou uma entrada da frente que nunca haviam permitido que ele usasse. A casa outrora grandiosa parecia mais escassa do que antes.

Agathe, como se estivesse lendo as perguntas em sua mente, falou em tom baixo. —Sua madrasta foi forçada a vender muitas coisas para sobreviver com o fechamento do porto. Ela libertou todos os seus funcionários e agora mora aqui sozinha, já que seus dois irmãos moram no palácio. Ian não está em casa desde a rebelião. Reed vem frequentemente em negócios rebeldes.

—Como ela se tornou uma rebelde? — Ele perguntou. A mulher que ele conhecia apenas se preocupava. Ela não se importaria com o que um rei fazia com o reino.

—Com a espiral desaparecida, ela perdeu seu lugar na sociedade. Todo mundo tem algo pelo que lutar nisso.

Dell assentiu. Isso fazia sentido. Ela ainda estava cuidando de si mesma.

Sua madrasta os levou aos estábulos em que passou a maior parte de sua vida.

—Não posso ter rebeldes na casa principal. — Disse ela. —Eu sinto muito. Espero que entendam.

Dell nunca a ouviu se desculpar por nada.

Agathe colocou a mão no braço dela. —Claro. Quando os outros chegarem, por favor, mostre-os para nós. Não lhe causaremos problemas. Eu prometo. Nós iremos embora de manhã.

Ela hesitou por um momento, seus olhos encontrando Dell como se ela tivesse mais a dizer. Em vez disso, ela apenas assentiu e saiu.

Dell inalou, seu coração batendo contra as costelas quando o sentimento inadequado de sua juventude voltou a ele. Não importava o que ela dissesse, ela sempre teve esse efeito nele.

Um cavalo relinchou e soltou um suspiro ao avistar o cavalo Ian. A visão familiar do animal em sua baia o acalmou. Ele não era mais o garoto sem família que arruinava as bancas e deixava aquela mulher empurrá-lo.

Não, agora ele tinha mais propósito. Uma família. Ela não podia mais controlar sua vida ou sua mente. Ele deixou Agathe ficar com o beliche em que passou a maior parte das noites e sentou-se de costas contra a baia de Ian.

Limpando o rosto, seus dedos ficaram vermelhos.

Ele procurou um corte, mas não o encontrou. O sangue não era dele.

O silêncio sufocou pelo que pareceu uma eternidade até Edmund irromper pela porta. Seus ombros caíram de alívio. —Você está aqui.

Alex passou por ele para envolver Etta em seus braços.

—Por que você veio aqui? — Edmund examinou a sala escassa.

—É uma casa segura rebelde. — Catsja deu uma cotovelada nele. —Eu te disse, Edmund, o movimento cresceu desde que você saiu.

—Mas Lady Tenyson?

Dell estudou Agathe. Ela os levou até lá. Quão envolvida na rebelião ela estava? Eles destruíram tudo o que a mulher tinha. Sua loja não passava de entulho. Seu meio de vida se foi.

E, no entanto, havia vida em seus olhos como ele nunca tinha visto antes.

Dell encontrou o olhar de Edmund. —Qual é o próximo?

Catsja sentou-se com um grunhido exagerado. —É por isso que vim encontrar todos vocês na loja. Tenho novidades. — Um sorriso deslizou por seu rosto. —Parece que o retorno da princesa é o que precisávamos. Nossas fontes dentro do palácio indicam que o rei fará sua primeira aparição pública. Ele quer mostrar a Madra que a linha Rhodipus está intacta e apoia seu reinado. Seus conselheiros parecem pensar que é a única maneira de reprimir o movimento rebelde.

Dell entendeu cada palavra, virando-a e considerando-a. Ele precisava ver Len, então ele fez a única pergunta que a traria mais perto dele.

—Quando?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Vinte e Tres


Uma mão quente pressionou a testa de Helena quando alguém a puxou de volta para o mundo acordado. Cobertores macios emaranhados em torno de suas pernas e ela tentou rolar para o lado, confusão nublando sua mente. Onde ela estava?

—Dell? — Ela murmurou.

—Irmã.

A voz a fez acordar e se afastar de seu toque. Seus olhos se abriram para encontrar o rosto de Cole olhando para ela, uma expressão preocupada inclinando seus lábios.

A dor pulsava em suas têmporas e irradiava por seu torso enquanto as imagens inundavam sua mente. Punho de Cole. Um pé no estômago.

Uma lágrima vazou pelo canto do olho. Ela tinha tanta certeza de que ele não a machucaria. Tão certa que o irmão que ela conhecia ainda estava lá em algum lugar.

Porque ela o viu. Quando ele se sentou na beira da cama, a mão pairando sobre o cabelo dela, ele parecia o homem que ela conhecera.

—Não me toque. — Ela puxou o cobertor até o queixo, estremecendo com a dor que o movimento causou.

A testa de Cole enrugou. —Você sabe que eu não queria que nada acontecesse com você, Lenny. Eu te amo.

—Você não me ama, Cole. Talvez você nunca tenha amado. — Ela sabia que precisava ter cuidado com ele. Ele provou ser imprevisível, volátil. Ele realmente mudou tanto? Ou ele havia escondido essa parte de si mesmo de todos eles? Até o gêmeo dele.

O pensamento de Quinn e sua lealdade a Cole queimaram dentro dela. Pelo menos Kass estava seguro e...

—Estevan. — Ela sussurrou. Isso tinha sido um sonho ou ele realmente viveu?

—Helena. — Cole suspirou. —Meu povo precisa ver minha força. Se não instilar medo neles, o que tenho?

—O pai não governou pelo medo. — Assim que as palavras saíram de sua boca, ela desejou poder recuperá-las. Mentiras. Isso é tudo que elas eram.

Cole moveu-se para acariciar seus cabelos novamente e depois pensou melhor e enrolou os dedos em punho. —Você não é tão ingênua. Tudo que o pai tinha era medo. Seus exércitos se espalharam pelos seis reinos sob o pretexto de manter a paz. Seus padres prenderam pessoas. Até você, irmã, teve que usar uma máscara a vida inteira por medo do que eles fariam com você.

Helena tocou a ponta do nariz. Alguém havia removido a máscara. Um pensamento veio a ela. —Você me forçou a me esconder atrás de uma máscara também.

A verdadeira tristeza cruzou seu rosto. —Foi assim que meu conselho a reconheceu instantaneamente como a princesa. As pessoas não conhecem Helena Rhodipus, apenas a imagem que o pai lhes permitiu ter. Me desculpe, eu tenho que usar essa imagem também.

Uma risada áspera passou por seus lábios. —Você não está arrependido de nada.

—É aí que você está errada, irmã. Desculpe-me por tudo.

Ele se levantou, alisando o casaco do uniforme.

—Mas se você tivesse que fazer tudo de novo, não mudaria nada.

Ele não se virou para encará-la enquanto respondia. —Não. Eu não.

Seus passos ecoaram pelos tetos altos muito depois de ele ter saído. Helena enterrou o rosto no travesseiro, deixando-o umedecer com as lágrimas até que a porta se abriu novamente.

Ela levantou a cabeça, tentando ignorar as batidas no crânio. Camille estava no limiar.

—Acho que acabei de falar com os traidores hoje. — Gritou Helena, deixando a cabeça cair para trás. Ela precisava se levantar da cama e descobrir onde estava. Ela ainda tinha um trabalho a fazer - encontrar uma maneira de derrubar o irmão antes que os rebeldes invadissem o palácio e matassem muitas outras pessoas.

Outra pessoa passou por Camille, puxou-a para dentro da sala e fechou a porta.

—Quinn. — Os olhos de Helena se arregalaram. O que ele estava fazendo no palácio quando deveria estar desaparecido?

Ele correu para a cama e caiu de joelhos. —Len. — As pontas dos dedos sussurraram sobre sua bochecha machucada. —Eu sinto muito.

Ela finalmente se levantou para sentar e deixar o cobertor cair. Sangue seco salpicava o lado de sua blusa.

Quinn xingou e pegou a barra para empurrá-la, revelando um pequeno corte em seu abdômen. Os hematomas roxos saíam da ferida. Sangue com crosta selando.

Do outro lado do estômago, descoloração amarela e roxa marcava cada lugar em que a espancavam.

Quinn fechou os olhos. —Eu sinto muito.

A raiva surgiu em Helena e ela afastou as mãos dele. —Deixe-me em paz, Quinn. Você não age como você se importasse.

Camille atravessou a sala para ficar na janela. A luz do sol iluminou seus traços pálidos quando ela cruzou os braços sobre o peito. —Diga a ela, Quinn.

—Dizer-me o que? — Helena passou os olhos de Quinn para Camille.

—Passei a noite como prisioneiro de Edmund, mas ele me libertou.

O queixo dela se abriu. —Ele está bem?

Ele cobriu a mão dela com a dele. —Ele está bem. Ele ainda está com os rebeldes. — Sua boca torceu. —Eu só queria que ele não tivesse trazido um reino estrangeiro para isso.

—Reino estrangeiro? — Dessa vez, foi a vez de Camille se surpreender. Ela se virou da janela, deixando os braços caírem ao lado do corpo. —Bela está aqui?

Helena não podia ignorar o fato de não suspeitar que fosse Gaule. Ela sabia que sua mãe não enviaria ajuda.

O alarme tocou na mente de Helena. —Etta? Ela está aqui? —Isso significava... Dell. Ela balançou a cabeça, rezando para que Quinn lhe dissesse que não era verdade, mas também esperando que ele confirmasse seus medos. Dell veio atrás dela, mesmo depois de deixá-lo para trás.

Quinn coçou a nuca. —Sim, junto com o rei e o príncipe de Bela.

Um sorriso aqueceu o rosto de Camille. —Eles vieram.

Helena apertou as mãos em volta de um punhado de cobertor. —Bem, corra junto então. Vocês dois deveriam contar a Cole. É o que você quer fazer.

O sorriso de Camille se transformou em escárnio. —O que eu quero fazer é enfiar uma espada em seu coração.

Quinn olhou para a porta como se eles fossem ouvidos. —Sinto muito, Len. Que eu já fiz você duvidar de mim. Que eu já duvidei de mim mesmo. Cole é... ele costumava ser tudo para mim. Antes de chegarmos ao palácio, éramos a única família que qualquer um de nós tinha. Isso mudou para mim. Não para ele. Eu vi os sinais ao longo dos anos. O ódio dele pelo pai e sua mãe. Sua amizade com Ian Tenyson. Ian sempre quis mais poder do que um comerciante poderia ter. Ele não queria chegar ao topo da espiral. Ele queria ser a espiral, tudo o que Madra precisava, o único comerciante que fornecia bens ao reino. Um império digno de um rei.

—Então...— Ela olhou de Quinn para Camille. —Vocês não estão do lado de Cole nisso?

Quando os dois balançaram a cabeça, uma onda de alívio tomou conta dela. Ela tinha mais aliados do que pensava.

—Eu não posso ficar muito mais tempo. — Quinn se levantou. —Cole tem pessoas me observando. Eu só deveria estar entregando Camille para você. — Ele se inclinou para beijar sua testa. —Nós vamos superar isso, Len.

Ela engoliu um soluço quando ele saiu.

Camille foi até a cama. —Vamos, Helena. Eles me enviaram para ajudá-la a se lavar e se vestir para a cerimônia hoje à noite.

—Cerimônia?

Camille assentiu. —Cole convidou os moradores da cidade para vê-lo falar. É para mostrar a eles que a família Rhodipus está intacta e leal ao rei. Ele espera que isso acabe com o movimento rebelde, especialmente depois da noite passada.

—Noite passada?

—Explosões ecoaram pela cidade. Muitas delas. Eu só vi as nuvens de poeira da minha janela, mas elas cobriam a cidade inteira.

Edmund? Ela se preocupava com ele a cada segundo desde que chegara ao palácio. E agora não era só ele. Dell, Etta, Alex, Tyson. Todos eles estavam em perigo.

Como se estivesse lendo seus pensamentos, Camille falou em um tom reverente. —Não acredito que meus irmãos estão aqui.

Helena deixou as pernas caírem ao lado da cama antes de colocar os pés no chão. —Por que deveria surpreendê-la que eles vieram para você?

Camille a encarou com um olhar. —Você não conhece nossa história. Não sei por que eles estão aqui, mas não é por mim.

Pela primeira vez, Helena viu uma solidão na princesa de Gaule que combinava com a sua.

Camille agarrou seu braço e a ajudou a se levantar. Helena tropeçou, mas a outra garota a manteve em pé, colocando o ombro sob o de Helena.

Com a ajuda de sua bengala, Camille a ajudou a entrar no banheiro anexo, onde uma banheira de água fumegante aguardava.

Camille ajudou Helena a pousar na beira da banheira de cobre. —Cole não permitirá que nenhum empregado esteja perto de você. Ele confia em poucas pessoas.

—Por que ele confia em você?

Camille franziu o cenho. —Isso não é importante.

—É para mim.

Um suspiro passou por seus lábios. —Eu apenas digo que Quinn o convenceu e deixo por isso mesmo. Vamos, Helena. Não temos o dia todo.

Foi preciso todo o esforço que Helena possuía para tirar as roupas sem gritar de dor. Ela entrou na água e afundou abaixo da superfície, soltando um gemido, como se simultaneamente acalmasse seu corpo dolorido e picasse onde a ferida abriu sua pele.

Incapaz de levantar os braços o suficiente para esfregar, Camille a ajudou a remover um dia de sujeira de viagem.

—Camille. — Ela sussurrou enquanto a menina esfregava sabão pelos cabelos escuros de Helena.

—O que?

—Eu não entendo muitas coisas. Diga-me o que aconteceu desde que saí.

As mãos de Camille pararam. —Essa é uma tarefa pesada, princesa. Tem certeza de que quer a verdade?

Helena olhou para as mãos. Se ela iria salvar as pessoas que amava, talvez precise fazer algo que nunca pensou ser possível. Remover um de seus irmãos deste mundo. Ela assentiu. —Eu preciso saber o que Cole fez. — Ela precisava saber que ele era verdadeiramente tão mau quanto ela suspeitava.

Camille levantou uma vasilha acima da cabeça de Helena.

—Incline a cabeça para trás. — Ela derramou a água para lavar o cabelo de Helena. —A primeira coisa que ele fez como rei foi consertar a residência real. Seu fogo causou muitos danos. Ele alegou que precisaria estar pronto quando sua família voltasse a morar lá. A maioria de nós pensava que eram as divagações de um homem louco. Não sabíamos que Estevan vivia. A princípio não. Ele foi mantido em uma ala distante do palácio e Cole tinha alguém o interrogando todos os dias.

—Questionando-o sobre o que?

—Segredos do reino. Pessoas que eram leais a ele e ao velho rei. Havia até rumores de túneis ocultos sobre os quais Cole queria informações.

Túneis ocultos? Ela respirou fundo, arrepios correndo ao longo dos braços. Além dela, Estevan e Kassander eram as únicas pessoas vivas que conheciam os túneis. E Edmund, ela supôs. Ele a ajudou a voltar para eles no que parecia ser outra vida.

Camille continuou. —Depois que a residência real terminou, Cole chocou o palácio inteiro ao revelar Estevan e colocá-lo em um quarto lá. Então Quinn voltou. Reed Tenyson o levou ao palácio acorrentado. Algo que Cole ainda não perdoou Reed.

Reed. Helena apertou a mandíbula. Ele tem sido a fonte de muitos dos problemas deles. No entanto... os rebeldes disseram que ele era confiável.

—Depois disso, a mente de Cole caiu ainda mais na escuridão, culpando seu próprio povo pelo fato de você estar morta e não estar voltando. Ele mandou seus guardas virar a cidade em busca de Kassander, embora soubesse que devia ter saído. Os navios não eram mais permitidos entrar ou sair do porto com medo de que ele perdesse outro irmão. Tudo o que ele fez foi manter uma família ao seu redor.

Helena estremeceu e Camille a ajudou a se levantar, enrolando uma toalha em volta do corpo.

Cole sempre se apegou a Helena e Quinn como se o abandonassem um dia. Como se eles morressem como a mãe dele. Ele nunca teve carinho por Stev, mas parecia que tinha mudado.

—Mas então... Por que ele mataria meu pai se ele era tão familiar?

Camille sentou Helena em uma cadeira de encosto alto e passou um pente no cabelo molhado. —Eu não sei, mas...

—Mas o que?

—Não acho que a rebelião tenha sido inteiramente de Cole. Aquele garoto Tenyson é perigoso.

Ela sempre soube que Ian era perigoso. Como dois meninos cresceram juntos e se tornaram tão completamente diferentes? Ian e Dell. Cole e Quinn.

O silêncio desceu quando Camille trançou os cabelos de Helena ao redor da cabeça. Ela mostrou o vestido que Cole havia escolhido para a ocasião. Um simples vestido azul da meia-noite que brilhava nos quadris. A linha do busto caia baixa. Um colar de safira, uma máscara e os sapatos de vidro que ela tanto odiava descansavam ao lado do vestido.

Camille a ajudou a colocá-lo. —Eu devo me arrumar. — Disse ela. —Cole ficará satisfeito com sua aparência. Esta noite é uma grande noite. — Ela deu um último aceno com a cabeça e desapareceu pela porta.

O coração de Helena batia solidamente no peito enquanto ela deitava na cama. O vestido cobria cada hematoma como se alguém os tivesse considerado. A máscara de prata cobriria as marcas em seu rosto, fazendo parecer que nada havia acontecido.

Mas tinha. Nada apagaria as cicatrizes em seu coração ou as imagens em sua mente. O pai dela batendo no chão. O último olhar de medo no rosto de sua mãe. As feridas de Estevan.

Ela veio à procura de vingança, mas agora havia mudado. Somente a vingança a deixaria mais destruída do que era antes.

Ela tinha que proteger sua família. Nada mais importava.

 

Helena sentou-se quando a porta do quarto se abriu e Ian entrou. Ela puxou os joelhos contra o peito, como se isso pudesse protegê-la do brilho duro em seus olhos.

—Eu queria tê-lo sozinha por algum tempo. — Ele sorriu, seus olhos brilhando.

—Deixe-me ou eu vou gritar.

Ian riu. —A única pessoa nesta ala agora, além de você e eu, é seu querido irmão, Estevan, e ele não está em condições de se mexer.

—Por que você está fazendo isso? Não basta roubar meu reino? Minha casa? Meu irmão? O que mais você quer de mim?

—O que eu sempre quis, Helena. — Ele inclinou a cabeça como se fosse óbvio. —Você e eu sempre fomos casados. Eu amo você, Lenny.

Ela balançou a cabeça. —Não me chame assim. Eu nunca serei sua esposa.

—Oh, mas querida, seu pai prometeu você para mim e, em seguida, seu irmão confirmou essa promessa.

Ela rangeu os dentes. —Meu irmão não tem poder sobre mim.

O sorriso dele aumentou. —Gosto das minhas mulheres fortes. Torna muito mais divertido quebrá-las.

Helena escondeu o estremecimento enquanto se levantava.

—Saia do meu quarto.

Os olhos dele se estreitaram em desafio. — Que bom, mas você vem comigo. — Ele se lançou para frente, passando um braço em volta da cintura dela. —Cole me enviou para lhe mostrar uma coisa.

Ela virou a cabeça para longe da respiração rançosa dele. Com uma personalidade diferente, Ian Tenyson teria sido considerado um bom pretendente. Poder, dinheiro, aparência. Ele tinha tudo. No entanto, seu toque fazia sua pele arrepiar.

Ele a puxou para a sala principal da residência e saiu para o corredor. O aperto dele era tão forte que ela não conseguiu se libertar. Segurando a máscara que ele deve ter arrancado, ele apontou para o rosto dela. —Agora.

Ela obedeceu, mas apenas porque não chegaria a lugar algum lutando. Ian a conduziu pelo labirinto de corredores e desceu uma escada antes de parar do lado de fora de uma porta sem adornos. Ele não a soltou quando a abriu.

O coração de Helena caiu em seu estômago. Uma cama estava do outro lado da sala escassa e a forma de um menino dormindo se espalhava sobre ela.

Kassander.

Ela cobriu a boca com a mão.

—Ele será transferido para a residência real quando acordar e for interrogado. — O tom de Ian era presunçoso.

Interrogado. Ela engoliu em seco, sabendo o que aquilo significava. —Que tipo de informação Kass poderia ter?

—Ele foi trazido com um homem reivindicando lealdade ao rei, e o menino é necessário para confirmar as informações que ele nos deu. Não se preocupe, ele está ileso no momento, apenas drogado.

—O que você quer de mim? — Helena sussurrou. —Por que você me trouxe aqui?

—Você pode ajudá-lo.

—Como? — Sua voz era tão pequena que ela tinha certeza de que ele não a ouvira até que ele se virou.

—Diga-me onde estão os túneis.

Os olhos dela se arregalaram. Então, Estevan não contou a eles o maior segredo do palácio? Ela soltou um suspiro trêmulo. Os túneis podem ser sua única saída depois que ela fez o que veio fazer. Isso lhe deu um pequeno conforto que Cole ainda não os havia encontrado. Ainda havia uma informação que ela ainda podia usar.

—Não conheço nenhum túnel. — Ela levantou o queixo, encontrando o olhar dele.

Ele bateu com o punho na parede ao lado da cabeça dela, e ela pulou. —Não minta para mim, Helena.

Ela estreitou os olhos e fechou os lábios.

Ian se abaixou, deslizando uma adaga livre da bainha na cintura.

Eu não vou recuar. Eu não vou recuar. Ele não merece o meu medo.

Ele prosperaria, se deleitaria.

Ele mergulhou a ponta da adaga sob a ponta da máscara e a empurrou para revelar o rosto dela. Arrastando a lâmina ao longo de sua bochecha, ele pressionou a ponta com força suficiente para desenhar uma única gota de sangue.

O peito de Helena subiu e caiu rapidamente quando ele traçou a mandíbula dela com a mão livre, deixando-a vagar pelo pescoço e pela clavícula antes de parar no inchaço dos seios. — Onde estão os túneis, Helena? — Ele sussurrou, aproximando-se.

—Vá para o inferno.

A risada dele vibrou contra a pele dela.

Ela se concentrou na forma adormecida de Kassander por cima do ombro de Ian, rezando silenciosamente para que ele não acordasse. Ela não sabia o que Ian faria com ela.

Aproximando-se para que seu corpo estivesse nivelado com o dela, Ian a empurrou com mais força contra a parede. —Você sempre cheirou tão doce, princesa. — Ele abaixou o rosto e inalou. Mantendo a adaga bem apertada, ele alisou as mãos sobre os lados dela, enviando um arrepio pela espinha.

Náusea surgiu da boca do estômago, mas ela ficou congelada no lugar. Ela preferia que Ian tentasse obter as informações dela do que Kassander.

Lágrimas escorriam pelo rosto dela, mas Ian não pareceu notar quando ele pressionou os lábios no queixo dela. —Onde estão os túneis, Helena?

Ela não falou.

Ian mordeu a pele sensível do pescoço, enviando uma dor aguda por ela. Ela soltou um pequeno gemido, e ele sorriu contra ela, gostando de fazê-la sofrer. —Hoje será o último dia da pequena rebelião. — A mão dele serpenteava até as costas dela. —Eu vou estripar aqueles bastardos. — Seus lábios se moveram para o peito dela, enquanto suas mãos enrolavam seu vestido para deslizar por baixo.

Os dedos pegajosos dele agarraram sua coxa.

—Eu estou esperando por isso há tanto tempo. — Ele a mordeu novamente, e ela segurou um grito.

—Meu irmão vai te matar por isso. — Ela rosnou.

Ian riu. —Cole já disse que você é minha para fazer o que eu quiser.

Ela não disse que ele não era o irmão de quem ela estava falando.

—Mal posso esperar para mostrar minha nova mulher para toda a minha família. — Ele levantou a cabeça para encontrar o olhar dela. —Ouvi dizer que meu meio-irmão voltou para Madra. Acho que ele vai gostar da minha nova noiva, não é?

Dell. Ela fechou os olhos, desejando que as lágrimas fossem embora. Como Ian sabia que ele estava em Madra? Seus olhos encontraram Kassander novamente. O que ele disse? Alguém o trouxe.

Landon. Ela ofegou. Não havia outra explicação. Outro membro de sua família a jurar lealdade a Cole. E ele arrastou Kassander para cá também. Todo o seu corpo tremia quando Ian continuou suas atenções.

—Dell é apenas um garoto, Helena. Diga-me onde estão os túneis e mostrarei tudo o que ele não tem.

Ela empurrou seu peito. —Dell é mais do que você jamais será.

Seus membros se recuperaram do estado de choque congelado, mas a força dele dominou a dela, e a adaga que ele segurava pressionou contra a cavidade de sua garganta.

—Não se mexa. — Ele ordenou.

—Você não pode me matar. — Ela desejou que sua confiança fosse tão forte quanto suas palavras.

—Tão certa disso?

Outra presença apareceu por cima do ombro de Ian, parando na porta com um dedo levantado nos lábios.

Helena quase não conseguia respirar quando uma gota de sangue deslizou por cima do ombro. —Faça. — Ela respirou. — Do que você tem medo, Ian? Cole?

Ian riu. —Cole não me assusta. Você realmente não sabe nada, pequena princesa? Cole foi colocado em seu trono por nós. Eu e-

Suas palavras sumiram quando uma lâmina perfurou as costas de Ian. Ele olhou para baixo em choque, sangue borbulhando de sua boca, antes de tropeçar para trás e cair de lado. O chão acarpetado abafou o som do corpo dele colidindo com ele. A vida carmesim penetrou nas fibras grossas. Helena não conseguiu se mexer. Ela não conseguia desviar o olhar.

Um gemido saiu de sua boca, e então Ian Tenyson estava morto.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade de silêncio, Helena encontrou o olhar perplexo de Reed. Ele se afastou da espada curta que ainda se projetava nas costas de seu irmão. Suas mãos tremiam quando ele as apertou e abriu.

—Eu...— Ele começou, incapaz de expressar o que havia feito.

Helena o observou com cautela, sentindo a dor em seu olhar. Ele sentiu essa dor ao preparar seus homens para atacar Dell? Ou como ele levou Quinn como refém?

—Reed. — Ela levantou a mão para acalmá-lo. —Está bem.

—Eu... Ian. Ele está morto.

As palavras dos rebeldes voltaram para ela. —Você pode confiar em Reed Tenyson. — Ela não sabia se isso era verdade, mas não tinha o luxo de esperar para descobrir. Se ela conseguiria fazer isso, tinha que confiar nele.

—Reed, não podemos ficar aqui.

Ele se sacudiu como se estivesse acordando de um longo sono. —Você está certa. — Seu olhar deslizou sobre o vestido manchado de sangue antes de se estabelecer na forma inquieta de Kassander. —Ele está acordando. Cole me enviou para movê-lo. Você deve mudar. Diga a Cole que houve um rasgo no seu vestido e jogue este na sua lareira. Vou fazer com que meu pessoal venha aqui e limpe... — Seus olhos se fixaram em seu irmão novamente e ele engoliu em seco. —Venha.

Reed foi para a cama e levantou Kassander. —O rei estava esperando até que pudéssemos reunir informações do garoto, mas ficamos sem tempo. Ele gostaria que toda a sua família estivesse ao seu lado dentro de uma hora.

Helena o seguiu até o corredor, consciente do sangue no peito e no vestido. Seu cabelo cuidadosamente trançado agora estava torto. Mas nada disso importava. Ian Tenyson estava morto. O braço direito de Cole. O que ele faria?

Ela não conseguiu se preocupar com as consequências, pois ainda sentia o toque de Ian deslizando pela pele como uma cobra envolvendo seus membros, pronta para lhe tirar a vida.

O homem que passou a vida atormentando Dell se foi.

Ela respirou fundo, caminhando em sintonia com Reed. —Você está bem?

Reed olhou de lado para ela, com um brilho duro nos olhos. —Ian estava chegando. — Sua mandíbula se apertou. —Ele está ameaçando matar nossa mãe por ser uma rebelde suspeita.

—Sua mãe não é leal a Cole?

Reed colocou Kass mais alto em seus braços. —Minha mãe pode ser uma mulher horrível. Mas ela era leal ao rei que lhe dera o poder no conselho do comerciante. Ela não gostou do seu filho pular na estação.

—Lenny. — Kass murmurou quando eles passaram por um bando de criados de olhos arregalados.

—Kass. — Ela pegou a mão dele. —Está bem. Estou aqui. Nós vamos ficar bem.

—Não. Não vamos.

Ela apertou a mão dele enquanto as palavras dele giravam nos recônditos de sua mente, nublando seus pensamentos na escuridão.

Chegaram à residência real e Camille apareceu, mãos nos quadris. —O que aconteceu? — Ela dirigiu a pergunta para Reed.

Reed levou Kass para uma sala vazia. —Ian está morto. — Ele não disse mais nada enquanto desaparecia.

—Não há tempo para explicar. — Helena parou na frente de Camille. —Eu preciso de outro vestido.

Uma vez que Helena tomou banho e se vestiu mais uma vez, Reed se juntou a ela no sofá. —Esta noite é a primeira aparição pública de Cole. Você ficará ao meu lado o tempo todo. Eu não vou deixar nada acontecer com você, ok?

—Por que algo aconteceria comigo?

Ele hesitou por um momento antes de abaixar a voz. —Haverá um ataque rebelde. No caos, teremos nossa melhor chance de derrubar Cole para sempre. — Ele enfiou um punhal minúsculo na palma da mão. —Disseram que você sabe como usar isso.

Ela rapidamente deslizou a lâmina na frente do vestido, olhando os criados que passavam. —Eu posso fazer isso.

Ele assentiu. —Eu sei. — Considerando-a por um momento, ele falou novamente. —Isso não será fácil. As coisas que você verá esta noite...

—O que eu vou ver?

—Cole tem um plano para mostrar às pessoas que detêm o poder em Madra. Era o plano de Ian. Apenas... fique em missão. Lembre-se do que você tem que fazer.

Ela assentiu. —Eu posso fazer isso. — Ela simplesmente não sabia o quão difícil seria.

 

 

 


Capitulo Vinte e Quatro


Lady Tenyson recebeu notícias de dentro do palácio. Catsja se aproximou de Edmund do outro lado do celeiro.

Dell havia visto muitos rebeldes irem e virem a noite toda. Algo grande estava acontecendo e eles não davam nenhuma informação.

Edmund sentou-se onde estava deitado. Ele tirou o cabelo dos olhos. —É o que estamos esperando?

Catsja hesitou. —Edmund...— Ela suspirou. —Não é de Helena.

Dell recostou-se na parede, seu corpo inteiro esvaziando. Ele examinou os estábulos. Beliches estavam colocadas em uma extremidade, com uma mesa no centro. Neles, homens e mulheres pegavam o pouco que dormiam. Uma pesada fechadura de ferro estava pendurada na porta, mantendo as pessoas entrando e saindo. Os rebeldes não confiavam em ninguém.

Debaixo de Dell, o chão de terra batida criava uma cama ruim. A luz da manhã passava pelas bordas das cobertas de janelas escuras enquanto Dell avaliava cada dor em seu corpo. Houve pouco tempo apenas para considerar o que eles tentaram fazer.

Remover um rei do trono não seria fácil.

Edmund demorou-se a levantar-se. Ele estendeu a mão para a mensagem que Catsja carregava. Ela entregou a ele e seus olhos examinaram as palavras enquanto ele caminhava para a mesa, onde uma bandeja de jarros de água, copos e comida simples estava.

Depois de alguns momentos de tenso silêncio, Edmund assustou a todos, batendo o papel na mesa. O estalo da palma da mão contra a madeira ecoou nas paredes de pedra.

Orlo apareceu de uma sala adjacente com os outros a seguir. Todos eles ouviram a comoção, mas ninguém se atreveu a se aproximar de Edmund.

Exceto Dell. Ele se levantou e ficou ao lado de seu amigo. Edmund empurrou o papel para Dell.

O rei convidou cidadãos selecionados ao palácio para assistir a uma manifestação.

Hoje. Quando o sol estiver alto. Essa é a nossa chance.

Use os túneis para obter acesso ao palácio.

Dell parou de ler. —Túneis?

Edmund fechou os olhos. —Eles começam de um dos quartos na ala oeste e saem para a cidade.

—Isso é apenas um boato. — Catsja cruzou os braços sobre o peito.

Edmund balançou a cabeça. —Eu sei onde eles estão. — Ele coçou a parte de trás do pescoço. —Helena deve confiar nele se ela lhe mostrou a localização.

Dell estava prestes a perguntar em quem Helena confiava quando seus olhos examinaram o resto da mensagem.

O rei não permitirá que Helena, Estevan e Kassander deixem este palácio vivos. Você deve vir atrás deles.

R.

—R?

—Reed.

—Eu tenho lhe dito que ele é um de nós. — Catsja considerou Dell friamente.

Sua mandíbula se apertou. Reed não era Ian, mas isso significava que ele era confiável? Provavelmente não.

—O que ele quer dizer com o rei não deixá-los sair vivos? — Ele devolveu a nota a Edmund.

Edmund leu as palavras novamente. —Juro que não achei que ele faria isso. — Ele ergueu os olhos torturados. —Eu nunca a teria deixado ir se achasse que Cole a machucaria. Agora ele tem os três.

—Machucar? Nós nem sabemos o que as palavras de Reed significam! — Dell procurou freneticamente qualquer significado que tivesse Helena voltando para ele.

Orlo grunhiu. —Claro que nós sabemos. O rei terminará com sua família para consolidar seu governo. — Seus olhos se voltaram para Dell. —Ele vai matar os príncipes e a princesa.

Dell se afastou da mesa, virando-se apenas para encontrar Edmund atrás dele. —Saia do meu caminho.

—Não podemos desmoronar agora, Dell. Quero-os de volta tanto quanto você.

—Você leu a nota. Ele vai matá-los.

—Não se o pararmos. — Ele se virou para os outros rebeldes que o observavam. —Prepare-se para sair. — Para Catsja, ele deu ordens diferentes. —Vá para nossas outras casas seguras. Avise nossos irmãos e irmãs rebeldes do que planejamos. Certifique-se de que haja uma presença rebelde nessa manifestação, caso nosso plano dê errado.

—E qual é o seu plano?

Dell finalmente entendeu. Era isso que eles estavam esperando. Ele não esperou que Edmund respondesse. —Nós vamos tomar o palácio.

 

—Nossas informações dizem que o palácio estará quase vazio, pois todos são obrigados a participar da manifestação do rei. — A voz de Edmund ecoou ao longo do túnel escuro.

Dell passou a mão pela parede. Então, era assim que Helena saia do palácio vestida como um menino. Seus pés bateram em uma poça no chão de pedra quando ele imaginou a princesa rastejando na escuridão. Ela estava assustada?

Se não fosse por esse túnel, ele talvez nunca a tivesse conhecido.

Alguém bateu nele por trás, fazendo-o voar para a frente. Seus joelhos bateram em pedra e a dor irradiou por suas coxas.

—Desculpe. — Orlo resmungou.

Dell resmungou e se levantou.

—Shhh. — Edmund levantou a mão para eles pararem.

Rebeldes lotaram o longo túnel, seus passos o único som quebrando o silêncio. Edmund liderou o caminho com Alex logo atrás dele. Etta e Tyson estariam com os rebeldes assistindo a demonstração do rei. Dell desejava estar com eles, mas confiava neles para ficar de olho em Helena. Ele tinha coisas maiores para fazer.

—Há uma porta à frente. — Sussurrou Edmund.

Quando se aproximaram, a magia de Edmund os encobriu em silêncio. Ninguém do outro lado da porta saberia o que os esperava.

Eles pararam de se mover e o pulso de Dell palpitava em suas têmporas. Esperar nunca tinha sido sua força. Em uma luta, ele era um atacante. Rapidez e agilidade ganharam muitas lutas de boxe. Na sua experiência, a hesitação permitia ao oponente atacar.

E sem os números, a vantagem dos rebeldes estava em dar o primeiro passo.

Edmund passou as mãos pela porta.

—A nota dizia como abri-la? — Alex perguntou.

Edmund balançou a cabeça. —Helena também nunca mencionou. Mas... — Sua mão pegou algo, e um pedaço da porta se libertou, revelando uma trava escondida.

Dell exalou aliviado.

Edmund virou-se para enfrentar os rebeldes que aguardavam suas ordens. —Entramos em silêncio e avaliamos nossa localização dentro do palácio. Então nos mudamos para nossas posições e aguardamos o início da manifestação para atacar.

Dell assentiu junto com o resto. No final desta noite, ele teria Helena de volta.

Edmund abriu a porta, levando-os para o que parecia um quarto não utilizado. Móveis cobertos de linho branco estavam no centro da sala. Perto da parede, um padrão vermelho se estendia pelo tapete, como se ninguém tivesse se dado ao trabalho de limpá-lo. O que aconteceu nesta sala?

Edmund fechou a porta depois que a última pessoa entrou e, se Dell não soubesse que estava ali, nunca teria visto. Uma pintura agora substituía a entrada do túnel.

Edmund examinou a parede. —Como eu não sabia que isso estava aqui?

Dell encolheu os ombros. —Sendo que o plano inteiro repousa sobre o rei que cresceu aqui sem saber, eu não me sentiria muito menosprezado. — Ele olhou para cada um dos rebeldes enquanto eles tomavam posições ao longo das paredes. O aço soou quando as lâminas deslizaram livres de seus aprisionamentos. Dell puxou a sua e se posicionou perto da porta em frente a Alex.

Edmund encostou o ouvido na porta e uma rajada de vento os atingiu quando ele puxou todos os sons em direção àquela sala. A concentração forçou seu rosto.

Seus olhos se arregalaram depois de um momento e ele se afastou. —Dentro do túnel. Agora!

Ninguém se moveu antes que a porta se abrisse, disparando pelas dobradiças quando um pesado aríete bateu nela.

Lascas rasgaram o ar, e Dell protegeu a cabeça e o pescoço. Quando ele se endireitou novamente, ficou cara a cara com um homem que ele conhecia em seu intestino em que não podia confiar.

Um dos rebeldes.

Reed.

Ele sorriu. —Olá irmão.

Dell segurou a espada com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Um golpe de espada e ele tiraria a vida de seu irmão. Um pequeno movimento e ele poderia compensar os anos de tormento. Ele olhou para trás de Reed, esperando ver Ian ao seu lado, como sempre.

Como se estivesse lendo sua mente, Reed riu. —Nosso irmão mais velho estava tocando em algo que não lhe pertencia, por isso tenho medo de que ele não esteja mais conosco.

Ian estava morto? As palavras passaram pela mente de Dell, mas ele não conseguiu compreender. Ian não poderia estar morto. Ele estava por trás de tudo. O diabo movendo sua marionete de rei.

Mas Ian nunca foi o esperto. Reed parecia incapaz do mal, e essa era possivelmente a coisa mais genial de todas.

—Você. — Dell respirou. —Foi tudo você.

Reed fez um gesto para seus homens no corredor, e soldados uniformizados invadiram a sala.

Edmund acenou com a mão no ar como se dissesse que a briga acabou. Estava na hora de desistir. Mas os rebeldes não desistiram.

Reed pegou a espada de Dell e ele sabia que lutar com ele seria uma morte instantânea. Ele não seria bom para Helena após a morte.

Um sorriso satisfeito cruzou os lábios de Reed. —Nós superamos vocês, rebeldes. — Ele cuspiu o termo. —Vocês são traidores da coroa de Madra e estão presos.

Os guardas desarmaram todos os rebeldes na sala antes de empurrá-los para o corredor. Edmund ficou quieto.

—Eu deveria ter esperado outra traição sua, Reed. — Dell ainda não conseguia entender o fato de que esse era o irmão capaz de tanto mal. Como ele não viu isso acontecer? De Ian, sim. Nunca Reed.

Mas esse era o brilhantismo plano de Reed, não era? O irmão dele não respondeu com nada além de um sorriso satisfeito. Ele pensou que havia derrotado Dell. O que ele não entenderia era que Dell nunca pararia de lutar enquanto Helena estivesse naquele palácio.

Ele encontrou os olhos de Edmund, sabendo que pelo menos uma outra pessoa faria o que precisava ser feito. Ele não estava sozinho em amar um irmão Rhodipus.

Alex caminhou ao lado dele, não reconhecido por Reed. O que ele faria se soubesse que acabara de prender o rei de Bela? Ou que a mítica Persinette Basile os esperava?

Um sorriso curvou os lábios de Dell. Reed não conhecia os problemas que convidou para si mesmo. Dell só precisava permanecer vivo por tempo suficiente para ver a retribuição.

 

 

 


Capitulo Vinte e Cinco


O som repugnante de uma lâmina batendo na carne subiu acima do barulho da multidão que foi forçada a assistir à demonstração do rei.

Era assim que Cole queria solidificar seu poder. Medo. Brutalidade.

A multidão havia murmurado em confusão quando a família real marchou lado a lado. Helena e Estevan deveriam estar mortos.

Essa confusão rapidamente se transformou em horror quando o plano do rei ficou claro.

Cole queria colocar Estevan de joelhos.

Helena se encolheu, mas se recusou a desviar o olhar quando uma nova faixa de vermelho marcou as costas nuas de Stev. Dois guardas rasgaram a camisa do corpo.

Helena olhou por cima do ombro, procurando alguém para trazer Kassander adiante. Reed disse que o traria assim que o garoto acordasse, mas Helena estava começando a se perguntar se Cole sabia da presença do irmão mais novo. Ele não fez menção a isso. Ian pretendia manter Kassander em cativeiro para ganhar vantagem contra Cole?

Não pela primeira vez, Helena mandou agradecimentos silenciosos a Reed. Ela sabia o que teria acontecido se ele não estivesse preparado. Ela não queria confiar no homem, mas ele provou ter seus melhores interesses no coração.

Onde estavam os rebeldes? Reed enviou uma mensagem sobre os túneis e Helena esperava que invadissem o pátio de dentro do palácio.

Havia uma plataforma na base dos degraus que levavam às portas do castelo, erguidas para esse fim. O pátio que abria a distância do palácio até os portões era vasto e cheio de tantas pessoas que eles mal conseguiam se mover.

Cada vez que um suspiro horrorizado se levantava da multidão, Cole voltava os olhos ardentes para eles, e eles se aquietavam. Era isso que ele queria. Horror. Dor. É o que ele achava que Estevan merecia.

Era melhor do que as mortes que ele havia dado aos pais.

O rosto de Stev tenso com suas tentativas de não gritar. Ele não daria a Cole essa satisfação.

Um arrepio atingiu o corpo de Helena e ela abraçou os braços.

Uma presença apareceu ao lado dela, e ela olhou de soslaio para Reed.

—Eu vou parar com isso. — Reed se adiantou.

Helena agarrou o braço dele. Não. Ela fixou os olhos no rosto de Estevan. Se Cole não completasse o que achava necessário, apenas o faria novamente. Isso nunca acabaria.

—Helena, isso não está certo. Cole está fora de controle. Não podemos mais esperar que os rebeldes cheguem.

Ela levantou a mão e sentiu o peso sólido do punhal que deslizou em seu corpete. Mesmo enquanto observava o chicote atravessar o ar antes de se conectar, ela não sabia se poderia matar o irmão. Era tão fácil pensar em vingança pela segurança de Bela. Agora, o pensamento do que ela deveria fazer quebrou algo dentro dela.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas nos olhos.

—Lenny. — Disse uma voz suave atrás dela. Quinn estava com uma expressão de desespero nos olhos. Ele desviou o olhar para Reed, desconfiado nas íris escuras, antes de voltar para ela.

—Quinn. — Um soluço escapou de sua garganta, mas ele não se mexeu para tocá-la. Não na frente do resto da guarda. Ele teve que permanecer frio. Leal a seu irmão gêmeo.

—Você não deveria assistir.

—Eu preciso. — Ela fungou. — Por Stev. Por mim. Eu preciso ver tudo o que Cole faz. Ele tem que ser o monstro, senão...

—Eu sei. — Ele se inclinou, abaixando a voz para que apenas ela pudesse ouvir. —Houve uma prisão em massa dentro do palácio.

Ela respirou fundo. Dell. Edmund. Todo o seu plano estava nos rebeldes que estavam lá. Mas como eles foram encontrados?

Antes que ela pudesse perguntar a Quinn, ele voltou a ficar em atenção com o resto da guarda. Camille assistia por perto, um guarda de cada lado dela. O rosto dela não demonstrava emoção.

Os rebeldes haviam entrado pelos túneis. Eles deveriam ter conseguido entrar no palácio sem serem vistos e se espalhar, derretendo entre os funcionários. Edmund conhecia o palácio tão bem quanto qualquer um.

O plano deles deveria ser imparável.

Como foi parado?

Seu coração afundou quando a realização penetrou nela. Eles falharam. Ela nunca tiraria seus irmãos do palácio agora. A menos que... Ela tocou o aço frio da lâmina e fixou os olhos em Cole.

Quanto tempo ela teria? O olhar dela foi para os guardas. Ela só teria uma chance. Se ela errasse... mas Helena nunca errou.

Uma cabeça loira apareceu no meio da multidão como se o rosto da rainha belaena chamasse Helena. Etta? O que ela estava fazendo lá?

Ao seu lado, Tyson se levantou, absorvendo todos os movimentos. Ele estava pronto.

Eles vieram de Bela para ajudá-la, mas e se tudo tivesse sido por nada? Assim que a adaga deixasse sua mão, ela seria cercada por guardas que não hesitariam em matá-la.

Um estrondo alto ecoou. Sangue derramou pelas costas de Estevan, manchando o chão a seus pés. As cordas ao redor de seus pulsos o seguravam no lugar. Ainda assim, ele não gritou.

Cole puxou o braço para trás, uma expressão sombria no rosto. Ele parecia como se suas ações o machucassem tanto quanto machucaram Stev.

O pensamento enviou um raio de raiva através de Helena.

Quando o primeiro grito de Stev rasgou o ar, rasgou Helena, deixando-a de joelhos enquanto lágrimas escorriam pelo rosto.

 

Reed desapareceu assim que alinharam os rebeldes contra a parede, com os pulsos amarrados. Uma unidade inteira de guardas os observava, armas prontas.

Dell olhou para a ponta da espada apontada para o rosto dele.

—Você realmente sente a necessidade de estar tão perto, companheiro? Não acha que você poderia nos pegar com um pouco mais de espaço? — Ele sorriu. —Entendi, você é lento.

Em resposta, o guarda colocou um pé e bateu o outro no peito de Dell.

Dell soltou um grunhido de dor. —Isso vai machucar.

—Dell. — Edmund assobiou. —Cale a boca por um segundo. Estou tentando me concentrar. — Sua sobrancelha enrugou com o esforço.

Alex encontrou o olhar confuso de Dell e expressou a palavra “mágica”. Para alguém que não tinha crescido em torno do poder, isso não parecia uma possibilidade, mas agora Dell entendia. Assim como ele fez quando eles saíram do túnel, Edmund estava usando o movimento do ar para puxar o som na direção deles.

Seus olhos se arregalaram e ele balançou a cabeça.

—Edmund. — Alex cutucou-o. —O que é isso? O que você ouviu?

Ele engoliu em seco. —Estevan... a demonstração. Cole está mostrando as pessoas que controlam a cidade, enfraquecendo Stev. Ele está... —Ele balançou a cabeça novamente, incapaz de continuar.

—Você ouviu Reed? — Dell se inclinou para a frente, tomando cuidado para evitar a lâmina do guarda.

—Ele chegou ao pátio.

—Oi. — Um dos guardas gritou. Ele deveria estar no comando. —Sem falar, seus bastardos rebeldes sujos.

O rosto de Edmund ficou vermelho até que ele parecia explodir. Alex tentou colocar a mão em seu braço para acalmá-lo, mas seus pulsos amarrados impediram o gesto.

—Edmund. — Dell sussurrou. —Você está bem?

Dell quase se esqueceu da presença de Orlo até ele falar. —Não seja idiota, Tenyson. Nenhum de nós está bem. Somos prisioneiros porque seu irmão... —Ele não terminou sua sentença quando um guarda o chutou.

Orlo agarrou o pé do guarda no ar e puxou com sua força bruta. O guarda desmoronou para frente e tentou erguer a espada para se defender de Orlo, mas o grandalhão a derrubou e esmurrou o guarda antes que qualquer um dos outros pudesse detê-lo.

O capitão gritou para seus homens se moverem, mas quando se lançaram sobre Orlo, uma explosão de poder irrompeu de Edmund, lançando-os contra a parede oposta. Um túnel de ar os mantinha congelados no lugar.

—Pegue a espada dele, Orlo! — Dell gritou.

Orlo segurou a lâmina entre os joelhos e cortou a corda que amarrava os pulsos antes de passar para ajudar Dell.

O poder de Edmund se manteve firme quando eles libertaram os outros rebeldes. Dell cortou as cordas do homem mágico.

—Vá. — Ordenou Edmund, apontando a cabeça em direção ao corredor.

—Você não vem?

—Eu tenho que mantê-los aqui até que minha mágica falhe. — Ele olhou para Dell. —Stev e Helena precisam de você.

Dell não hesitou mais. Ele saiu correndo pelo corredor, passando por criados atordoados. Nenhum deles se moveu para parar os rebeldes trovejantes. Dell nunca pensou que seria um conforto ter Orlo ao lado dele, mas confiava na capacidade de luta do homem.

—Edmund vai ficar bem. — Alex estava falando mais consigo mesmo do que qualquer outra pessoa.

Orlo grunhiu. Dell manteve sua mente focada no que estava à sua frente. Ele tinha que confiar em Edmund para se cuidar.

—Deixe-me ir. — Um grito ecoou do corredor que levava em direção à entrada aberta. —Por favor.

O coração de Dell se apertou quando ele girou nos calcanhares, procurando freneticamente a fonte. A última vez que viu Kassander, ele foi embora com Landon, um homem em quem eles confiavam.

Landon apareceu, arrastando o garoto atrás dele. Eles chegaram à porta antes que Dell pudesse forçar seus pés a se moverem. Eles entraram no pátio com colunas.

Dell foi atrás deles. Os degraus que levavam aos portões estavam cheios de pessoas. Um grito rasgou o ar, e Dell rasgou a multidão, sua espada ainda embainhada. Ali, na base dos degraus, estava Estevan Rhodipus. O homem que uma vez intimidou Dell com um único olhar. Naquele dia, a loja de Mari parecia tão distante agora, como sangue derramado nas costas do príncipe.

Uma fila de guardas murmurou entre si, apontando para onde Dell estava com Alex e Orlo nas costas. Quatro deles se separaram, liderados pelo próprio Quinn Rhodipus.

O olhar de Dell saltou ao redor da cena enquanto seu pulso acelerava. Ele torceu as palmas das mãos suadas ao redor do punho da espada. Ninguém jamais apostaria nele em uma luta de espadas.

—Espero que você saiba como usar essa coisa. — Disse ele a Alex.

Alex fez uma careta. —Temos que sair daqui.

Dell balançou a cabeça, seu olhar retornando a Estevan. Edmund sobreviveria a perdê-lo novamente?

A comoção por perto chamou sua atenção quando uma garota mascarada caiu de joelhos. Uma mistura de emoções girou no peito da Dell. Exaltação por vê-la viva. Alívio, ela parecia ilesa. Angústia pela visão que ela foi forçada a testemunhar.

Ele queria ir com ela. Para protegê-la da crueldade de Cole. Mas ela provou não precisar de um escudo, apenas um punhal nas mãos. Ele viu o brilho do metal deslizar da manga dela e desviou os olhos para Cole.

Alex o puxou de volta da cena, sacudindo a cabeça na direção dos guardas que chegavam. Quinn disse que estava do lado deles, mas seu rosto era o do rei, e dizia para ele fugir.

Antes que ele tivesse uma chance, um suspiro se levantou da multidão e o sangue foi drenado do rosto de Dell.

O que Helena fez?


Capitulo Vinte e Seis


Quando perguntada sobre esse dia, Helena não se lembraria dos pensamentos que passavam por sua mente. Ela não se lembraria do que a levou a mudar de direção ou como se seguiu o caos.

Tudo o que sabia era que um irmão se tornara um espetáculo para manter as pessoas na linha e outro empunhava o chicote, a força sanguessuga da pessoa mais forte que ela conhecia, um chicote de cada vez.

O único grito de Estevan ecoou nos recônditos de sua mente, quebrando cada parte dela em que tocava. Mas esse era o problema do vidro. Era mais perigoso quebrado do que inteiro. Mais nítido. Mais mortal.

Um movimento chamou sua atenção de onde ela ainda estava ajoelhada nos degraus. Kassander apareceu, seus olhos encontrando os dela antes de se fixar em Estevan. Mas ele não chorou.

Ele não fez barulho quando Landon o empurrou para frente. Sua expressão não mudou quando Reed puxou seu braço para puxá-lo para o lado.

Fogo queimou em Helena. Ela desviou o olhar de Kassander, prisioneiro, para Quinn enquanto ele se separava da guarda. Eles pousaram em Cole, de pé sobre Estevan, seu peito subindo e descendo rapidamente enquanto ele ofegava com o esforço. Stev ficou quieto.

A fúria que ela sentia desde o dia em que Cole traiu a família permaneceu como uma linha de poder explosivo, esperando que alguém a incendiasse. Explodiu através dela, sem controle, fora de controle.

Ela soltou a adaga, sabendo que só teria uma chance de atingir seu alvo. O homem que esteve por trás de toda a dor dela.

Ele pensou que quebraria uma princesa, quebraria um reino e evitaria os cacos de chuva.

Ele estava errado.

Helena fechou os olhos por um momento. Inspire. Expire. Ela acalmou o ritmo cardíaco, encontrando um lugar de paz para se concentrar.

Sua mãe a ensinou a nunca esperar precisão enquanto as emoções conduziam suas ações.

E eles mataram sua mãe porque os homens queriam se elevar acima de suas estações. Compreender até os limites do poder que eles não entendiam e não mereciam.

O poder mantido em crueldade era apenas uma fraqueza disfarçada.

Quando seus olhos se abriram, ela levantou o rosto para o sol quente, deixando o som do chicote de Cole desaparecer de sua mente.

Com um último suspiro, ela se levantou com a agilidade dos maiores boxeadores de Madra, girando nos calcanhares e estalando o pulso quando seus dedos soltaram a lâmina. Ela não assistiu enquanto navegava de ponta. Fechando os olhos mais uma vez, ela não os abriu até que um grito percorreu as fileiras de guardas enquanto eles lutavam para pegar um superior caído.

Sua adaga havia encontrado o alvo pretendido.

Ela se virou, fixando os olhos no irmão que estava congelado, chicote no ar.

Alguém bateu em Helena, enviando-a rolando escada abaixo enquanto uma flecha navegava pelo espaço em que ela estava de pé.

Ela empurrou o homem em cima dela. Se eles quisessem prendê-la, ela não iria sem luta.

—Len, pare.

Ela parou as mãos, enfocando finalmente o rosto do homem.

—Dell. — Ela respirou o nome dele e tudo, desde os últimos momentos, atingiu sua força total. Um soluço rasgou seus lábios. —Eu matei seu irmão.

Dell rolou e a puxou para ficar de pé para evitar ser pisoteada. Uma onda de água, puxada do rio, quebrou a multidão, e os gritos se intensificaram.

Tyson estava lá.

A respiração dela veio rapidamente até que parecia que não havia ar no peito. Ela ofegou, tentando sugar oxigênio ao ver o que tinha feito. Kassander estava preso sob a forma imóvel de Reed. A adaga que Reed lhe dera agora se projetava do peito de seu dono.

Sangue escorria através de seu casaco.

Olhando para a multidão, ela notou que Cole havia desaparecido.

Os combates começaram perto dos portões.

—Os rebeldes estão aqui. — Disse Dell em seu ouvido.

Ela mal o ouviu enquanto corria para onde Alex libertou Kassander. O irmão dela chorou quando a viu.

Ela o apertou contra o peito. —Fique comigo, Kass. — Ela procurou a multidão. —Eu preciso de uma arma.

Alex se inclinou, puxando a espada de Reed da bainha na cintura, entregando-a a ela. Ela não parou para agradecê-lo enquanto empurrava a multidão, descendo as escadas para onde Estevan lutava contra os laços que prendiam seus pulsos e tornozelos.

Ela ficou tão aliviada ao vê-lo se mover, que quase jogou os braços em volta dele. Quando ele gritou e ficou parado, ela pensou que morreria junto com ele.

Ao toque dela, ele se encolheu. —Stev, sou eu.

O corpo dele relaxou. —Len.

—Sim, é Len. Vou tirar você daqui. —Ela olhou rapidamente por cima do ombro para onde uma fila de guardas se aproximava, armas prontas.

—Precisamos levar o prisioneiro de volta ao palácio para sua própria segurança. — Disse um deles.

Helena sabia o que eles queriam dizer. Eles tinham que garantir que ele não escapasse.

Ela abriu a boca para falar, sabendo que Dell e Alex não seriam páreo para todos eles.

Mas outra voz interrompeu. —Não podemos deixar você fazer isso.— Quinn entrou na frente de Helena.

—Senhor. — O guarda encarregado estreitou os olhos. —As ordens do rei...

—Cole Rhodipus não é o rei de Madra; — Disse Helena, com a voz alta e clara. —Ele é um usurpador que assassinou seu próprio pai por poder. Reed e Ian Tenyson eram seus mestres de marionetes, colocando ideias em sua mente. Quantos de vocês viram a fome nas ruas quando o chamado rei cortou todo o comércio exterior? Quantos membros da família foram presos por serem suspeitos de serem rebeldes quando não eram nada disso? Cole pediu para vocês deixarem para trás tudo o que vocês acreditam? — Ela fez uma pausa, examinando sua audiência. Ninguém se moveu para detê-la.

—A tradição sempre foi importante para Madra, mas foi manejada como uma arma por nossos reis. — Ela ergueu a mão na parte de trás da cabeça, desatando a máscara e deixando-a deslizar para os paralelepípedos abaixo dela. —Isso não significa que não deve ser nada para nós. Esquecemos o que torna Madra boa? O que sempre fez Madra ser boa?

Ela balançou a cabeça. —Não esqueci porque sinto. E vocês também. Nós deveríamos cuidar um do outro. Para cuidar de quem precisa de nossa ajuda, sejam eles madranos ou não. Para proteger nossas terras dos atos de quem faria o mal. — Ela apontou para Estevan. —Isso não é mau? É isso que Madra representa?

Helena enfiou a espada sob a ponta de uma das amarras de Stev. Para sua surpresa, dois dos guardas se moveram para cortar os outros laços. O resto da unidade, junto com um grupo de cidadãos madranos que a ouviu cada palavra se afastar dela, permanecendo como guardas contra qualquer um que levasse Stev de novo.

Quinn cortou a corda final e um gemido borbulhou na garganta de Stev.

Helena examinou as feridas abertas nas costas dele. Reed pode estar por trás do desejo de Cole por poder, mas Cole não era inocente em nada disso. Ele escolheu isso.

E agora ele tinha que pagar.

Ela levantou os olhos para Dell e Quinn. —Encontre o homem que roubou o trono do meu irmão.

 

Quinn insistiu em ser um dos homens para ajudar Stev. Cuidadoso para evitar os cortes nas costas, ele ajudou Dell a levantar Stev, passando um braço sobre cada um dos ombros. Helena estremeceu quando viu o rosto pálido dele.

Sons de batalha circulavam ao redor deles, mas os guardas que viraram para o lado deles criaram uma barreira ao subirem os degraus.

Os rebeldes lutaram contra o povo de Cole enquanto cidadãos comuns lutavam pelos portões fechados, se reunindo contra eles.

Alex seguiu o olhar de Helena. —Alguém precisa abrir aqueles portões antes que os que não desejam lutar se percam. — Seus olhos brilharam quando avistou a mulher que Helena agora via.

Persinette Basile, rainha de Bela, lutava contra dois homens ao mesmo tempo, como se fosse o que ela deveria fazer. Helena a vira em treinamento, mas não era nada disso. As histórias sobre ela se tornaram mais reais. Talvez ela fosse tão forte quanto a figura mítica que eles ouviram nas músicas dos menestréis.

Como se sentisse o olhar do marido, ela olhou para cima, com o rosto iluminado. Sem quebrar o olhar, ela bateu o joelho em um guarda enquanto cortava a espada na parte de trás das pernas do outro. Os dois caíram.

—O portão! — Gritou Alex, apontando para a guarita agora não tripulada.

Esquivando-se de outros pares de luta, Etta levantou os braços sobre a cabeça. Videiras verdes brilhantes disparavam pelos portões do chão. Pedras se desfizeram, fazendo com que os escombros caíssem. Ela puxou as mãos para trás e as videiras se apertaram.

As peças que Cole reparou após as explosões da primeira rebelião não tiveram tempo de se fortalecer. Elas foram as primeiras a cair. Tyson se aproximou de Etta, usando a força de sua magia para puxar a água do chão e impedir que as rochas esmagassem a multidão abaixo.

O queixo de Helena se abriu quando ele parou, e um mar de pedras agora estava onde os portões estavam. Dell foi o primeira a falar. —Ela não poderia simplesmente abrir caminho até a portaria e abri-lo?

Alex riu, um som tão estranho naquele momento. —Isso teria sido mais fácil. — Ele esfregou o rosto. —Vivendo entre o povo mágico, aprendi que eles pensam com seu poder antes de qualquer outra coisa. Acredite ou não, essa é a terceira vez que Etta destrói os portões de um castelo.

Helena balançou a cabeça enquanto se afastava da multidão que empurrava o que agora era um buraco na parede ao redor do palácio. —Vamos.

Ela subiu os degraus dois de cada vez, sabendo que os outros o alcançariam. Alex continuou com ela junto com outro homem rebelde que ela não conhecia.

A luta ainda não havia atingido o interior do palácio e o silêncio bateu neles. Todo guarda que estava de serviço estava fora do meio da batalha. Guardas. Rebeldes. Cada um deles pensou que estava lutando pela alma do reino.

Helena estava lutando por sua família.

Alex olhou para o corredor. —Precisamos chegar a Edmund. — Algo semelhante ao medo passou por seu rosto.

Helena não perguntou por que Edmund não compareceu à manifestação. Apenas algo de extrema importância o teria afastado de Stev.

Ela seguiu Alex até ouvirem o estrondo de aço contra aço.

Guardas inconscientes espalhados pelo corredor e à frente, duas figuras lutavam. Um deles não parecia páreo para o outro.

—Ele está exausto. — Alex respirou. —Ele usou muita mágica.

Ela olhou para os guardas ainda de novo. Edmund tinha feito tudo isso?

Alex saiu correndo e Helena não estava muito atrás. Cole prendeu Edmund contra a parede enquanto Edmund lutava contra seus ataques.

—Você não pertence a este lugar. — Rosnou Cole.

Edmund ergueu o queixo em desafio. Cabelos loiros grudavam na testa e nas bochechas, grudentas de suor. Os olhos dele brilharam.

—Você não os merece.

Cole afastou a espada de Edmund e caiu no chão. Ele se inclinou para frente. —Eu mereço tudo o que tomo.

Helena ainda estava longe demais para detê-lo quando Cole levantou a espada.

—Ele é fraco demais para usar sua mágica. — Alex ganhou velocidade, mas ambos sabiam que ele não conseguiria.

O sangue bombeava por suas veias, e era como se ela pudesse sentir cada pedaço drenar de seu corpo. Não Edmund. Ele era bom demais. Muito leal. Muito bondoso. Cole não poderia levá-lo. Não como se ele pegasse todo o resto. Lágrimas queimaram seus olhos, mas ela não parou de se mover.

—Cole! — Uma voz gritou atrás dela. —Cole, não!

Helena virou tão rápido que quase caiu. Kassander a seguiu para dentro.

Cole congelou, finalmente vendo todos eles. Aquele momento único era tudo o que Alex precisava para alcançá-los. Ele abaixou o ombro, batendo em Cole e enviando os dois ao chão. Ele agarrou o pulso de Cole e bateu contra o chão de pedra até que a espada caiu de suas mãos.

Edmund caiu contra a parede, ofegando por ar.

Kassander passou por Helena.

Alex apertou os braços de Cole. Ele poderia não ter vencido em uma luta de espadas, mas sua força dominou a do falso rei. Helena parou ao lado de Edmund, olhando nos olhos dele. —Você está bem?

Ele assentiu sem palavras, inclinando-se para colocar as mãos nos joelhos.

Cole deu um tapa em Alex na virilha e empurrou-o antes de se lançar para a espada. Ele ficou de pé, encarando todos eles.

Kass ergueu o rosto manchado de lágrimas para o irmão.

—Você não precisa fazer isso.

O arrependimento brilhou nos olhos de Cole, mas desapareceu tão rapidamente que Helena pensou que tinha imaginado. —Você não me deixou escolha. — Ele se endireitou. —Vocês estão presos por traição contra a coroa.

—Traição. — Helena respirou fundo. — E a sua traição, irmão? E quando você traiu a coroa? Quando você vai pagar por isso?

Cole apertou mais a espada. — Seu pai traiu Madra com suas guerras estrangeiras. Eu nos salvei.

—Nosso.

—O que?

Ela levantou a voz. —Nosso pai, Cole. Você pode querer se sentir melhor em matar o homem, mas não há como mudar o fato de que ele era seu pai também. Ele não era perfeito, eu sei. Mas e nós, Cole? Kassander merece ser um prisioneiro no palácio?

Seu rosto ficou tenso de tristeza e ele abaixou a espada levemente. —Eu dei a você toda a opção de ficar comigo. Ser aliados em vez de prisioneiros... e, no entanto, você escolheu esses monarcas estrangeiros e rebeldes de nascimento baixo.

Helena deu um passo à frente contra seu próprio julgamento. —Você matou minha mãe. — Ela deu outro passo. —Chicoteou meu irmão. — Ela parou quando a ponta da espada estava a poucos centímetros de distância. —E levantou os punhos para mim. Você vai me matar agora, irmão?

Uma unidade de guardas entrou no salão e o alívio inundou os olhos de Cole. —Guardas, prenda-os!

Seus longos passos aceleraram enquanto tentavam alcançar seu rei. Helena não desviou os olhos de Cole, apesar da ponta da espada agora tocar seu peito. Um movimento dele e ela estaria morta, incapaz de salvar Kassander e Stev. Não seria bom para Dell.

Mas de que ela era boa para eles se não lutasse por eles? Se ela não engolisse seu medo.

—Prendam eles! — Cole gritou novamente, seus olhos saltando loucamente.

Os guardas com cara de popa pararam de se mover e ficaram parados por um momento, encarando o rei em potencial. O da frente ergueu o queixo. —Cole Rhodipus, entregue suas armas.

O queixo de Cole se apertou e seus olhos deslizaram ao longo da lâmina por um momento antes de dar um passo para trás.

Helena respirou fundo e esfregou o peito no local em que a lâmina havia tocado. Um pequeno ponto de sangue manchava sua pele, pingando no corpete de seu vestido.

Ela viu os sinais segundos antes de Cole fazer um movimento. Helena passou muitos anos assistindo seus irmãos no jogo de espadas. Seus dedos se apertaram, girando em torno do punho como sempre faziam quando ele estava se preparando para atacar. Desde que ele era mais jovem, demorava um pouco para alcançar seu corpo.

Mas não foi tempo suficiente. Tudo o que Helena pôde fazer quando Cole balançou sua espada foi empurrar Alex para fora do caminho.

A lâmina mordeu profundamente o estômago do rebelde que os acompanhava. Sua grande figura tropeçou para trás.

—Orlo. — Edmund gemeu.

—Fique aí, Edmund. — Alex correu para o lado de Orlo quando os guardas entraram em ação.

Edmund tentou empurrar seu corpo enfraquecido contra a parede. As histórias o chamavam de um dos maiores guerreiros da guerra draconiana, mas agora ele não podia lutar.

Helena viu Cole lutar contra dois homens ao mesmo tempo.

Com o coração batendo forte no peito, ela desviou de um guarda quando ele tropeçou para trás, um corte no estômago. Ele caiu no chão quando Helena alcançou Edmund.

—Eu preciso ajudá-los. — Edmund tentou se afastar do suporte da parede novamente e tropeçou para trás.

Helena agarrou o braço dele. —Você só seria morto e Stev não sobreviveria a isso.

Ele levantou os olhos para os dela. —Você o viu? — Ele engasgou.

Helena encostou a testa na dele. —Todos nós vamos sair disso.

Antes que ele pudesse detê-la, Helena se afastou dele e passou pelo guarda que estava segurando Kass da luta. Orlo estava imóvel, com a lâmina ao lado dele. Alex já havia se juntado à luta. Não havia mais ninguém para detê-la.

A princesa de Madra pegou a espada, seu peso estranho nas mãos. Ela rondou em direção a Cole, de costas para ela. Seus braços golpeavam em movimentos fluidos, sem cometer erros.

Mas ele já havia cometido um erro. Ele matou os pais dela e a deixou viver. Ele a subestimou. Ela não era mais a princesa mascarada de Madra, destinada a não ser vista nem ouvida.

Ela viajou por reinos estrangeiros, acompanhada de mercenários. Ela era uma prisioneira, uma guerreira e viu muitas pessoas que amava caírem em perigo.

Não, em todo o seu tempo longe de Madra, ela nunca foi uma princesa.

A ponta da lâmina afundou nas costas de Cole e ela ergueu a voz. —Pare com isso!

Outra coisa que ela nunca foi: uma assassina. Pelo menos intencionalmente. Cole merecia a morte, mas ela não merecia a mordida de vingança. Não mais.

A vingança só a deixou fria e sozinha, fazendo-a deixar as pessoas para trás em sua obstinação. O que Cole fez não a quebrou. Sua busca para destruí-lo tinha.

Mas ela não queria mais ser uma mistura de cacos perigosos de vidro.

Nenhuma pessoa no salão se moveu quando Helena pressionou a espada com mais força contra as costas de Cole.

—Faça isso, irmã. Me mate. Então você não será diferente do monstro que pensa que sou. — As palavras de Cole afundaram nela. Ela não queria ser um monstro.

—Eu deveria. — Ela rosnou. —Você pegou tudo de mim. — Ela girou a lâmina e se inclinou, baixando a voz. —Mas você está errado. Eu não sou você. — Cada vez mais alto, ela disse. —Solte sua espada.

Olhando para os guardas, cada um com suas armas apontadas para ele, Cole obedeceu. Alex chutou a espada fora de alcance e um guarda soltou a adaga do cinto de Cole.

—Traição parece boa demais para você. — Helena o rodeou, sua espada contornando sua cintura até que ela o encarou.

A aparência de Cole não mudou em muitos anos. Se ela fechasse os olhos, poderia imaginá-lo como o irmão que ensinou Kass a lutar ou que usava uma máscara no baile do dia de seu nome em uma demonstração de apoio junto com seus outros irmãos.

—Você já nos amou, Cole? — Ela perguntou, sem ter certeza de qual resposta ela esperava. —Nós já fomos sua família?

Ele engoliu em seco. —Eu nunca parei de amar você, irmã.

Ela fez uma careta. —Sim, você parou. Você parou de me amar no momento em que tirou minha mãe de mim. Não sei por que você fez isso, Cole. Não me importo se Reed e Ian Tenyson forçaram isso a você ou se você estava por trás de tudo. Porque isso não importa. Você é responsável por quebrar Madra.

—Len...— Ele alcançou em sua direção.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas nublando os olhos. —Então, você não morre. Cole Rhodipus, coloco você preso. Assassinato. Traição. Depois desse dia, você nunca mais verá meu rosto. Eu não vou visitá-lo. Se você morrer de doença, não vou chorar. Porque você não é nada. Quando reconstruirmos a posição de Madra no mundo, ninguém pensará em você. Nós vamos ter paz, Cole.

—Isso é tudo que eu queria. — A luta havia deixado seus olhos. —Paz das guerras do pai.

A risada dura de Edmund rompeu os pensamentos de Helena.

—Paz. Você queria paz?

Helena abaixou a espada e apontou para os guardas. —Amarre os pulsos e leve-o embora.

Dois guardas se adiantaram para fazer o que ela mandava, mas antes de chegarem a Cole, ele recuou. Helena virou a cabeça. Uma flecha se projetou da garganta de Cole.

Ele levantou a surpresa. Seus lábios se moveram, mas nada além de um gorgolejo escapou. O sangue escorria de seus lábios, e ele caiu para trás, a cabeça estalando contra o chão duro.

—Cole. — A angústia rasgou Helena quando ela caiu de joelhos ao lado de seu irmão imóvel.

Uma única lágrima escapou de seus olhos, rolando sobre o nariz. Por que ela estava chorando? Cole matou tantas pessoas. Ele quase destruiu a monarquia.

Ele não merecia as lágrimas dela.

No entanto, quanto mais se libertava, ela não conseguiu detê-las.

O irmão dela estava morto. Era o que ela pensava que queria. Lampejos do jovem garoto que ela conhecia piscaram em sua mente. Cole e Quinn chegando ao palácio quando crianças que acabaram de perder a mãe.

Cole a girando em seus braços cada vez que ele retornava de reinos distantes.

Os gêmeos brincavam um com o outro enquanto a colocavam entre eles na sala de estar.

Ela mentiu quando disse que não choraria sua morte. A comoção soou ao seu redor, mas ela não conseguiu se concentrar enquanto acariciava o rosto pálido de Cole. Ele não poderia estar morto. O irmão que a defendeu e a protegeu ainda deveria existir. Algum lugar.

Ou talvez Cole tenha morrido há muito tempo.

Braços a envolveram e ela escondeu o rosto em um ombro familiar. Dell segurou mais forte.

Ela não sabia em que momento da luta ele chegou, mas Quinn estava atrás dele, usando seu corpo para segurar Stev na posição vertical. Ela não foi a única que perdeu alguma coisa. O irmão dele estava morto. Kassander, Estevan e Quinn também perderam Cole.

Ela levantou o rosto para Estevan, que havia derrubado o arco que ele usou para atirar em Cole. Ele viu o que Helena não conseguiu. Enquanto Cole estivesse vivo, a paz pela qual ela se esforçou não seria possível.

Ele fez muito mal.

Estevan tropeçou na parede com a ajuda de um guarda. Um pedaço do coração de Helena se fundiu novamente quando Edmund finalmente conseguiu forças para ficar sozinho. Lágrimas escorreram por seu rosto.

—Eu pensei que tinha te perdido. — Edmund engasgou.

O guarda soltou Stev e ele tropeçou em Edmund, passando os braços compridos em volta dele. —Você os manteve a salvo.

Edmund passou os braços pela cintura de Stev, tomando cuidado para evitar as costas nuas e os ferimentos. —Eu prometi. — Ele apertou suas bochechas. —Além disso, eles também são minha família.

Um soluço sacudiu o peito de Estevan momentos antes de reivindicar os lábios de Edmund com os dele.

Helena tremeu nos braços de Dell, as palavras de Edmund ecoando em sua mente. Eles também são minha família. Ele estava certo.

Ela se afastou da Dell e se levantou, deixando Cole para trás. Quinn recuou, o rosto branco e os olhos fixos no irmão gêmeo.

Helena passou um braço em volta dos ombros de Kassander, e os dois se aproximaram de Quinn.

—Eu dei o arco a ele. — Quinn passou a mão pelo cabelo, o mesmo cabelo escuro que o de Cole. —Eu pensei que Estevan merecia... eu o deixei matar Cole.

Helena pegou a mão dele na dela, acalmando seu tremor. —Foi a coisa certa. — Ela passou o braço livre pela cintura dele. —Não precisamos nos lembrar dele assim. Vamos lembrar o irmão que nunca levou nada a sério.

A risada de Quinn era quase inaudível. —Ele gostava de nos fazer sorrir.

—Ele sempre teve tempo para mim. — Falou Kassander.

Os três ficaram em silêncio até Stev se aproximar. —Ele foi a razão pela qual eu pude ajudar tantas pessoas. Ele roubava as rotas de remessas de alimentos do conselho do comerciante.

Quinn estendeu um braço quando Estevan se juntou a eles. Os quatro eram tudo o que restava de sua outrora grande família. O que agora?

Helena respirou, tentando acalmar seu coração frenético. Ela ainda tinha seus irmãos ao seu redor. Ela tinha Dell e Edmund. Os pedaços de sua alma começaram a deslizar de volta no lugar.

—O que está acontecendo lá fora? — Ela perguntou. Quantos de seu povo estavam mortos?

Como se a pergunta o levasse de volta ao presente, Quinn se endireitou. —Eu tenho que ir. — Ele deu de ombros, abraçou a espada e correu pelo corredor.

—Isso ainda não foi feito. — Helena correu atrás dele.

Do lado de fora, no pátio parecia ter ocorrido uma grande batalha. Os combates pararam e pessoas atordoadas tentaram pegar os pedaços de suas vidas. Alguns choraram por corpos. Outros coletavam espadas dos mortos. Alguns vagavam sem rumo.

Helena procurou para onde Quinn havia fugido e o encontrou em pé com Tyson e Camille. O alívio disparou através dela quando ela viu a princesa ilesa de Gaule.

Etta se aproximou de Helena, um sorriso sombrio no rosto.

—Nós cuidamos daqueles fiéis a Cole muito rapidamente. Muitos dos guardas viraram de lado, mas os rebeldes ainda sofriam pesadas baixas.

Helena examinou os corpos em busca de rostos reconhecíveis. Dell estava atrás dela, curvado sobre o corpo de uma mulher alta.

—Você está com Orlo, pelo menos, Catsja. Obrigado por tudo. — Ele se endireitou e encontrou os olhos de Helena.

Etta continuou falando. —Seu primo, Landon foi preso junto com qualquer traidor que não se virou para o nosso lado. Eles o levaram a algum lugar chamado de buraco dos padres.

Helena fez uma careta, lembrando-se de seus dias naquele lugar úmido. Eles teriam que encontrar uma prisão melhor do que isso.

Quinn e Camille se aproximaram, suas mãos juntas enquanto ela se apoiava nele em busca de apoio.

—Precisamos comprar uma bengala nova para você antes de voltar para Gaule. — Helena apontou para o pé torcido da garota.

A sobrancelha de Camille se enrugou. —Eu não desejo voltar.

—Cam-

—Meu reino assinou um tratado com o seu e pretendo honrá-lo. Gaule e Madra serão aliados.

Helena balançou a cabeça. —Estevan não se casará com você.

—Então é bom que Stev não seja a pessoa por quem estou apaixonada. — Ela retrucou, com o rosto pálido ao perceber o que havia dito.

Helena deu um passo atrás, seus olhos passando de Quinn para Camille e voltando novamente.

A primeira luz que ela viu em Quinn desde a primeira traição de Cole entrou em seus olhos. Ele não sorriu. Levaria um tempo para isso. Mas pelo menos havia esperança.

Quinn assentiu uma vez. —Len, eu gostaria de permissão para honrar o tratado.

Ela levantou uma sobrancelha. —Eu não sou a pessoa que você precisa perguntar.

Surpresa brilhou em seu rosto como se ele não tivesse pensado nisso. Estevan se tornaria rei de Madra - algo que eles nunca pensaram ser possível depois de ouvir sua morte.

Dell afastou Helena. —Você teria feito uma boa rainha.

Ela se irritou. —Eu nunca quis a coroa.

Ele pressionou os lábios no lado da cabeça dela. —Eu sei.

O caos do dia a atingiu repentinamente, enviando uma onda de tontura sobre ela. Dell agarrou seu braço quando ela tropeçou.

—Você está bem? — Ele perguntou.

Ela tentou assentir, mas seu corpo inteiro tremia. —Não. Eu não estou bem. —Ela se afastou dele e subiu os degraus antes de entrar no palácio.

A ala da residência guardava muitas lembranças dolorosas, mas também era onde sua família estava inteira. Onde eles se amaram e se apoiaram. Ela caminhou pelos corredores, cada passo mais pesado que o anterior. Depois que ela subiu as escadas e entrou na casa de sua família, ela sabia exatamente onde precisava estar.

A maioria dos quartos havia sido destruída pelo fogo, mas Cole os havia reparado para parecerem como antes. Ela abriu a porta do quarto onde sempre se sentia segura e meio que esperava que sua mãe estivesse atrás da porta. Ou para Sophia entrar carregando chá.

Ela subiu na cama com dossel idêntica à que sua mãe tinha e afundou nos travesseiros brancos e macios, deixando sua mente demorar no passado para evitar as realidades do presente.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Vinte e Sete


Dell não entendeu como ele chegou onde estava. Crescendo em uma pequena vila, ele não tinha nada além de sua mãe. Quando ela morreu e o pai o procurou, ele não tinha certeza de que sobreviveria à cidade, especialmente com uma madrasta cruel e dois meio irmãos coniventes.

Mas seu pai tinha sido gentil. Em uma única tempestade, isso também foi tirado do garoto assustado. Ele foi de filho devolvido para o menino estável poucos dias após o naufrágio de seu pai.

Ele limpava o convés dos navios, limpava as baias dos cavalos e dormia com os animais. Ao contrário de seus irmãos, ele nunca teve outras ambições além de encontrar uma saída da cidade.

E então ele a conheceu. Ou eles, realmente. Edmund e Helena mudaram sua vida.

Lenny. Ela veio vestida como um menino e aparentemente precisava economizar. Mas ele foi quem precisou ser retirado de sua vida de recém-nascido.

Para ser honesto, ele não teve nenhum problema com seu baixo status, apenas sua família que se recusava a reivindicá-lo como um deles, mas o tratou como se o possuíssem.

Agora, ele era o único garoto Tenyson que restava.

Enquanto atravessava o pátio, um rosto familiar apareceu. Sua madrasta nunca fora gentil com ele. Ela o repreendia e forçava o trabalho a ele.

Mas agora ela não tinha mais nada. Ele engoliu todo orgulho que possuía e se aproximou dela.

—Dell. — Ela levantou os olhos assombrados para ele. —Eu estou contente que você esteja bem.

Ele coçou a nuca e desviou o olhar. —Sinto muito por Ian e Reed.

Ela suspirou. —Aqueles meninos... Eles eram meus filhos. Eu os amava e foi por isso que não contei a ninguém o que eles estavam fazendo.

Os olhos dele se arregalaram. —Você sabia que eles queriam assumir o trono?

Ela hesitou um momento antes de concordar. —Mas eles eram meus filhos. — Seus olhos se arregalaram. —Não posso deixar de me perguntar se eu revelasse os planos deles, talvez ambos estejam vivos agora. Presos, mas vivos.

Dell nunca pensou que sentiria nada além de ódio pela mulher; no entanto, enquanto observava seu rosto afundado, a simpatia entrou nele.

Ela assentiu para si mesma como se estivesse chegando a alguma conclusão. —A princesa fez a coisa certa. Eu sou a mãe de Reed... ou era... mas não era ele. Ele sempre foi o mais perigoso dos dois garotos. Muito inteligente para o seu próprio bem. Mas houve um tempo em que sua bondade era real. Quando pensei que ele tinha escapado... — Ela parou.

—Escapado do que?

Ela esfregou os olhos. — As circunstâncias de ser meu filho. Eu sou uma mulher difícil, Dell. Eu assumo total responsabilidade por Ian. Mas Reed deveria ser diferente.

—Foi por isso que você se juntou aos rebeldes? Você pensou que era sua culpa?

Ela assentiu e desviou os olhos. —Não espero nenhuma compreensão sua. Eu sei o tipo de vida que forcei em você. Mas talvez... apenas talvez... você deva se considerar sortudo. Esta não é a família da qual você queria fazer parte, Dell. Se você era um de nós, pode ter feito escolhas diferentes.

Ele balançou sua cabeça. —Não. Eu não teria. Reed e Ian não fizeram isso por sua causa. Eles poderiam ter sido diferentes também.

Um sorriso triste inclinou seus lábios. —Esse é um bom pensamento, Dell. Eu só queria que fosse verdade. — Ela encontrou os olhos dele mais uma vez. —Seu pai ficaria orgulhoso de você. — Com essas palavras finais, ela se virou e atravessou os escombros dos portões caídos, desaparecendo de vista.

Pela primeira vez, ele viu sua madrasta como apenas uma mulher. Uma mulher que perdeu tudo. Mas ele não podia ser para ela o que seus irmãos eram. Ele tinha outras pessoas que ele precisava esperar. Outros agora chamados de família.

 

Dell se inclinou para frente em sua cadeira para se aproximar da cama onde Helena descansava. Ela não havia se levantado nos dois dias desde a luta, nem mesmo para trocar de roupa. Ele estudou seus traços delicados, manchados de lágrimas. O sangue manchava seu peito lentamente subindo e descendo. Ela não merecia nada que tivesse acontecido com ela, mas se havia uma coisa que a vida lhe ensinara, era que tudo acontecia para torná-lo mais forte.

E Helena era a mais forte de todas.

Ele passou as pontas dos dedos pela bochecha dela.

Fora dessas paredes nos próximos dias, as pessoas retornariam o palácio para limparem máximo que pudessem. O portão levaria um tempo para consertar. A guarda do palácio que uma vez prometeu lealdade a Cole agora se esforçava para remover os corpos dos mortos.

Os rebeldes haviam retornado para suas casas, seguros pela primeira vez em meses.

E as pessoas que suportariam as cicatrizes deste dia pelo resto de suas vidas? Cada um deles tentou lidar com isso à sua maneira. Quinn havia passado a cavalo pelos portões, precisando ficar sozinho para lamentar o homem que fazia parte dele. O gêmeo dele. Seu novo noivado não conseguia tirar a dor dele. Ele não voltou em dois dias.

Estevan e Edmund estavam sendo atendidos por curandeiros durante o dia, enquanto recuperavam suas forças.

Kassander não saiu do lado de Alex.

Vozes vieram da sala comunal e Dell se levantou, caminhando até a porta para ver quem havia chegado.

Edmund recostou-se no sofá, a fraqueza ainda gravada em seu rosto. Alex sentou-se a seus pés com Kass não muito longe.

—Ele está lutando, Alex. — Edmund balançou a cabeça.

—Dê tempo a ele. — Alex colocou a mão na perna do amigo.

—Vou dar a ele o tempo todo no mundo. Ele é o homem... Alex, quando o perdi, perdi um pedaço da minha alma.

Alex assentiu. —Lembro-me bem do sentimento. Toda vez que perdia Etta, isso me rasgava.

Edmund baixou a voz. —Acho que estar aqui só piora as coisas. — Ele passou a mão pelos cabelos e olhou para Kass, que não parecia nem pensar. —Seu próprio irmão o torturou. Como você supera isso? Como você anda pelos corredores e não se lembra?

—Ele não é um homem comum. Não esqueça disso. Estevan será rei. Ele deve passar por isso.

Uma tosse se libertou de Dell antes que ele pudesse pará-la, e os dois homens se assustaram. —Desculpe, apenas vindo ver o que estava acontecendo?

Edmund sentou-se. —Estamos esperando Estevan retornar do curandeiro.

Na ausência de um draconiano com magia de cura, as feridas de Estevan estavam sendo tratadas de maneira não mágica com pomadas e poções.

Dell assentiu. —Como ele está? — Helena e seus irmãos haviam evitado grandes momentos em família nos dias que se seguiram à batalha. Ela mandou a Dell checar Estevan.

—Hoje melhor, eu acho. — Os lábios de Edmund se apertaram. —Pelo menos de corpo.

Nesse momento, Quinn invadiu a entrada, seus cabelos despenteados pelo vento. Ele olhou em volta com olhos selvagens antes de se acalmar e cair em uma cadeira. Camille entrou atrás dele como se estivesse esperando seu retorno.

—Como está a cidade? — Edmund perguntou.

Quinn foi o único que se aventurou além das paredes do palácio. Seu rosto ficou tenso de consternação. —As pessoas são joviais. Elas estão marchando nas ruas para comemorar o fim do reinado de Cole Rhodipus e pedindo que um novo monarca seja coroado.

—Estevan ficará satisfeito com o apoio deles. — Edmund suspirou como se cada lembrete do dever de Estevan acrescentasse mais peso aos ombros.

A sobrancelha de Quinn franziu. —Não é Estevan que eles pedem.

Cada olho na sala agarrou-se ao dele antes que a voz de Helena falasse da porta. —O que você quer dizer, Quinn?

Seus olhos a prenderam no lugar, e Dell jurou que uma pitada de orgulho apareceu nas íris escuras. —Eles querem você, Len.

Ela balançou a cabeça, chupando o lábio entre os dentes. —O que... como... não. Eles não podem. Eu sou apenas a princesa.

Estevan entrou na sala quando todos estavam focados em Helena. Seus olhos o encontraram primeiro, e Dell seguiu seu olhar.

O príncipe se moveu com a marcha de um homem muito mais velho, andando pesadamente como se estivesse com medo de machucar alguma coisa. Ele se sentou em uma cadeira, tomando cuidado para não se recostar.

Todos na sala ficaram em silêncio. Ele ouviu Quinn?

As mãos de Helena tremiam ao seu lado. —Estevan deve nos liderar.

 

Helena não poderia ter ouvido direito Quinn. As pessoas a chamando? Ela nunca foi mais do que um símbolo para eles. A misteriosa princesa mascarada, um ícone da tradição que Madra amava.

Nada mais. Nada menos.

Ela procurou os rostos cansados de sua família quando Etta e Tyson entraram na sala, parando quando perceberam a seriedade ao seu redor.

—Para o que acabamos de entrar? — Tyson perguntou.

Estevan soltou um suspiro. —Meu irmão roubou a coroa que deveria ser minha. Toda a minha vida fui criado pensando que era o meu futuro. Quando ele tirou isso de mim, eu o odiei. — Seus olhos se fixaram em Edmund. —Mas logo percebi que era porque ele tinha levado todo o resto. — Ele se levantou, lutando com cada movimento, e caminhou até ficar na frente de Helena.

—Eu sinto muito.

Ela cuspiu. —O que? Por quê?

Ele procurou os olhos dela. —Eu não vi você. Antes de tudo. Eu te amei e queria protegê-la, mas não a vi. Quem você realmente é. A força que você possui. E então você voltou para mim. Você se entregou para me salvar. Mesmo assim, eu não entendia.

—Entendeu o que? — Ela respirou.

—Você. — Ele colocou a mão no ombro dela. —Mas eu ouvi você. Em seu discurso para os guardas. Você estava certa. A tradição tem sido usada como arma usada pelos reis. Eu tinha esquecido, como você disse a eles, o que torna Madra boa. Se vamos recuperar tudo o que perdemos, não sou eu quem governará.

Ela abriu a boca para falar, mas ele a cobriu com a mão. —Cole não foi o único que danificou nosso reino. O pai criou essas circunstâncias. E eu fiquei ao lado dele. Sim, fiz o que pude para ajudar as pessoas, mas de que adianta alimentá-las um dia quando as políticas do pai significam que elas ainda vão morrer de fome no dia seguinte? Eu deveria ter lutado com ele, mas estava com medo. Do pai. Do sacerdócio. Você nunca teve medo.

Ela empurrou a mão dele. —Stev, você não pode fazer isso. — Lágrimas pairavam em seus cílios. —Você não pode colocar isso em mim.

Ele enxugou uma lágrima do rosto dela com o polegar. —Eu não posso ser o que Madra precisa. Eu não posso ter esperança. Não mais.

—Eu não quero ser a rainha.

Ele assentiu. —Eu sei.

Ela olhou ao redor da sala, procurando alguém para apoiá-la, para dizer a Stev que ele tinha perdido a cabeça.

Mas tudo o que encontrou foi um acordo.

Ela respirou pesadamente, fixando o olhar em Quinn. Ele sempre foi seu aliado - ajudando-a a fugir dos eventos reais e a defendê-la de seu pai. O menor sorriso inclinou seus lábios e ver que era o suficiente para fazer seu coração parar.

Ela soltou um suspiro trêmulo. —Eu nunca vou te perdoar por isso, Stev.

Ele sorriu. —Você irá.

Ele deu um passo atrás, e ela quase desabou sem que as mãos dele a segurassem.

A tradição ainda tinha seu lugar em Madra, e havia até um para isso. Stev levantou uma mão e disse as palavras que todos os príncipes sabiam, mas nenhum falava há gerações. —Eu, Estevan Rhodipus, cedi minha posição na linha de sucessão ao trono de Madra. Esta decisão é tomada com muito pensamento e sem coerção. Madra é um grande reino e aqueles que estão atrás de mim na linhagem de sucessão o conduzirão bem.

O ar esvaziou de seu peito. Foi feito. Com testemunhas. Não havia como voltar atrás. Essas palavras eram tão vinculantes quanto qualquer lei em Madra.

Helena praticamente sentiu-se deslizando para uma nova posição como herdeira do trono. Ela endireitou os ombros e limpou o rosto. Isso não estava terminado. Em Madra, para que um novo líder tome o poder, ele ou ela deve se casar. Ambos os tronos exigiram ocupação. Era outra tradição que Cole exibia.

—Dell Tenyson. — Ela se virou. —Como você se sente sobre o título de príncipe consorte? — O título dele seria simbólico, sem poder real. Ela prendeu a respiração, esperando por uma resposta.

Dell franziu a testa. Não é a reação que ela esperava quando apenas propôs.

Ele balançou a cabeça e atravessou a sala, abrindo a porta bruscamente e desaparecendo de vista.

 

Dell apertou e abriu os punhos enquanto passeava do lado de fora da porta da residência real. A residência real! Quem em seu perfeito sangue esperaria que ele estivesse aqui? Ele não era nada. Ninguém.

Não havia uma única pessoa neste mundo para poupar um pensamento para ele.

Exceto ela. Irritação encorajava sua raiva. Helena tinha acabado de pedir para ele se casar com ela, não tinha? Ele fechou os olhos e encostou a testa na parede. Ele a queria mais do que tudo, mas nunca esperava que Estevan desistisse do trono. Inferno, ele realmente não sabia se eles superariam Cole.

Quando eles estavam em Bela, ele imaginou uma vida simples para eles entre o povo mágico. As colinas verdes do reino outrora esquecido o chamavam em paz.

Uma rainha conhecia verdadeiramente a paz?

Tradição. Era tudo o que importava para a linhagem Rhodipus. Eles quase colocaram Madra no chão em busca de aderir aos costumes antigos. Era declarado que um homem ou mulher solteiro não podia usar a coroa.

Por mais que Helena e Estevan alegassem que eram diferentes de seus antecessores, eles provaram ser apenas o mesmo. E agora, ela esperava que ele se casasse com ela apenas porque ela precisava de um rei.

Não houve emoção na voz dela durante a proposta. Tudo o que ele sentiu por ela... quando o deixou em Bela, ela os separou. Ela não poderia juntá-los novamente por nenhuma outra razão senão uma coroa.

Uma coroa que ela nem queria!

Ele ouviu todas as palavras que Len disse aos guardas e novamente quando ela falou com Cole antes de sua morte. Ele nunca tinha visto isso antes, mas não havia dúvida em sua mente que ela estava destinada a isso. O reino ainda não a conhecia, não da maneira que eles conheciam Estevan.

Mas eles fariam exatamente como ele fez. Ele fechou os dedos em um punho e bateu contra a parede. O momento deles nunca estava certo. Tudo o que ele queria era levá-la para longe daqui. Longe do lugar onde más lembranças corriam desenfreadas. Onde o sangue tinha sido lavado do chão de pedra de novo e de novo.

Um leve toque em seu braço teve seus olhos se abrindo. Ele se afastou de Helena enquanto ela o observava com olhos cautelosos.

Ele respirou fundo, notando a dor que ela usava como um escudo. Ele causou isso. Ele forçou as paredes ao seu redor.

Mas o que ele deveria fazer? Se casar por alguma obrigação equivocada do passado? O sacerdócio estava morto. Eles não mais impunham as regras da vida em Madra.

—Precisamos conversar. — A voz dela era baixa, e ele odiava o tremor nela. A Helena que ele viu nas últimas semanas não vacilava.

Como ela estava diante dele, ela não era mais aquela mulher. Agora ela era a garota que estava nervosamente na margem do rio, torcendo o boné enquanto ele aproximava seu corpo do dela. Ela se tornou a garota defensiva que gritou com ele em uma praia de areia negra sob o calor abrasador do sol.

Finalmente, ele assentiu.

Ela o levou para longe dos ouvidos de sua família do outro lado da porta. Eles desceram as escadas sem palavras. Ele sabia onde ela o estava levando antes de eles chegarem.

O jardim murado não mudou nos meses em que estiveram fora. Permaneceu como um remanescente do que era. Intocado pela guerra que mudou Madra para sempre, sua beleza era reconfortante. Arbustos floridos alinhavam-se nas passarelas com saliências frondosas que os protegiam do sol. Uma brisa fria chicoteou os cabelos dos ombros de Helena e ela abraçou os braços sobre o peito.

Dell tirou o casaco e a colocou sobre os ombros dela.

—Obrigada. — Ela abraçou-o perto.

As mangas da camisa de linho de Dell se moveram quando ele a alcançou. Ele recolocou a mão quando ela lhe lançou um olhar cortante.

Eles andaram pelo caminho sinuoso até um banco de pedra que ficava atrás. Videiras retorciam as paredes atrás deles.

Helena respirou fundo.

—Sinto muito. — Os dois disseram ao mesmo tempo.

Dell abriu um sorriso e fez um gesto para ela falar primeiro.

Ela hesitou um momento. —Eu não deveria ter te colocado no lugar assim. Pedir-lhe uma decisão na frente da minha família foi... —Ela balançou a cabeça. —Eu não sei o que estava pensando. — Nervosismo entrou em seu olhar quando ela se virou para encará-lo com um olhar. —Bem, sim, eu pensei. Eu pensei que você e eu... — Ela fez um gesto entre eles. —Eu pensei que algo que obviamente não era verdade.

Incapaz de se conter, Dell pegou a mão dela. —Helena... Len, eu amo você. Estou apaixonado por você. Por favor, não pense que não estou.

Ela estreitou os olhos, afastando a mão. —Mas você... você disse que não! Pedi que se casasse comigo e você disse que não.

—Primeiro, você nunca me pediu para casar com você. Segundo, quero ficar com você pelo resto da minha vida, seja ela longa ou curta. Estou perdido para você desde o momento em que você me encarou quando eu estava nu no rio.

A boca dela se abriu. —Eu não olhei para você. Eu... você...

Um sorriso inclinou um lado de seus lábios. —Está tudo bem. — Ele se inclinou, pressionando seus lábios nos dela. —Eu cobicei você quando você estava na margem do rio, pingando água e selvagem.

Ela colocou a mão no peito dele para afastá-lo. —Então por que você não se casa comigo?

—Eu vou me casar com você, Len. Um dia, vou me casar com você. Mas não será preciso seguir uma tradição em que você nem acredita.

Ela suspirou. —Nenhum monarca de Madra reivindicou o trono solteiro. É lei.

Ele baixou a cabeça para olhar diretamente nos olhos escuros dela. —Também é lei neste reino que uma princesa deva ser mascarada até seu décimo oitavo dia de nome. Você planeja obedecer isso com sua própria filha?

Ela ofegou. —Claro que não.

—Então essa lei também pode ser mudada. Len, você não precisa de um rei ao seu lado para ser uma rainha. Você pode liderar seu pessoal por conta própria. Eu sei que você pode, porque acredito em você, e eles também.

—Sozinha? — Ela engoliu nervosamente.

Ele segurou a bochecha dela na palma da mão. —Você é forte o suficiente para isso. Não deixe ninguém lhe dizer que você não é.

Ela encostou a testa na dele. —Acho que Stev vai me deixar.

Ele assentiu contra ela. Ele tinha suas próprias suspeitas. Edmund e Estevan retornariam a Bela com Etta, Alex e Tyson.

—Você não vai me deixar também, vai?

—Nunca. — Ele respirou.

Ela pressionou um beijo hesitante nos lábios dele. Ele respondeu instantaneamente, passando os braços em volta da cintura dela para puxá-la para ele. Ela se encaixou contra ele como se fosse onde ela sempre deveria estar. Os braços dela envolveram seu pescoço enquanto ela aprofundava o beijo.

Desta vez, não era o fogo ou a paixão que os unia. O calor e o conforto de saber que eles sempre os envolveriam, permitindo que eles tomassem seu tempo, para saborear um ao outro.

Dell beijou um caminho para o ouvido de Helena. —Eu te perdoo por me deixar.

Ela se inclinou para trás, um sorriso nos lábios. —Estamos de volta a isso agora?

Ele encolheu os ombros. —Você não precisava de mim. Eu vejo isso agora.

—Você está errado, você sabe. — Ela colocou a mão no rosto dele para transformá-lo de volta no beijo e falou contra os lábios dele. —Eu sempre vou precisar de você. Não importa o quão forte você pense que eu sou, ou quantos guardas tenho nas minhas costas, você é tudo que eu preciso.

Ele cantarolava no fundo da garganta, sabendo que ela era tudo para ele. A melhor amiga dele. Sua amante. A rainha dele. Até a própria vida.

Eles travaram batalhas e quase morreram. Eles enfrentaram traições e perderam pessoas que amavam. No entanto, eles não foram quebrados. Os cacos de vidro haviam sido colocados no fogo, derretidos e endurecidos em algo mais forte do que o que havia antes.

 

 

 

 

 

 

Epilogo


Helena estava na frente de um retrato de sua mãe. Chloe Rhodipus parecia radiante no dia de sua coroação. Seu casamento e coroação ocorreram no mesmo dia. Foi um casamento de aliança como o de Stev e Camille.

Camille estava ao seu lado em um vestido amarelo discreto, mas elegante. —Apenas meses atrás, era para ser eu. — Ela deu a Helena um sorriso de lado e se apoiou pesadamente na bengala. —Se Cole não tivesse traído a coroa, eu me casaria com Stev e me tornaria rainha de Madra.

Helena se encolheu com a lembrança do único irmão que não estava lá durante o maior dia de sua vida. Nas semanas após a morte dele, ela tentou perdoá-lo, deixar de lado a raiva, mas isso significava deixar a tristeza entrar.

O que sua mãe pensaria dela neste dia? Ela achatou as palmas das mãos contra o azul brilhante de seu vestido ornamentado. Rendas em prata enroladas caiam no corpete. Não era diferente do vestido que ela usara em seu baile de nome.

Ela tocou o rosto como se tornara um hábito, procurando o tecido que faltava em sua máscara. Mas ela não era mais a princesa enjaulada.

—O que você fez — Ela começou, —Quando Alex abdicou do trono de Gaule e você se tornou a herdeira de sua mãe?

Camille riu. —Eu amaldiçoei meu irmão.

Helena riu. Ela fez o mesmo em seus momentos de solidão.

—Eu imagino que ela precisará de um novo herdeiro. — Camille suspirou. —Agora que devo ficar em Madra.

—Quinn pode voltar para Gaule com você, caso você decida sair.

Ela balançou a cabeça. —Ele não deseja e nem eu. Eu não sou... amada em Gaule. Porém, minha mãe também caiu em desgraça. Eu imagino que ela nomeará Tyson o herdeiro. Ele pode não ter sido filho do meu pai, mas minha mãe é rainha agora, então sua linhagem é real.

Uma risada se libertou de Helena. —Ty já sabe disso?

Camille sorriu tristemente. —Saberíamos se sim, porque ele teria afogado todo o reino de Gaule com sua magia apenas para evitar o trono.

Eles ficaram em silêncio até os passos soarem atrás deles. Quinn passou um braço em volta dos ombros de cada mulher. Helena se inclinou para ele, agradecida por não ter que se despedir de pelo menos um de seus irmãos. Kassander também ficaria, mas ela estava certa sobre Stev. Após a coroação, ele iria embora.

Edmund também ficou para a cerimônia e dizer adeus a ele seria igualmente difícil. Etta, Alex e Tyson já haviam voltado para casa, mas desejavam-lhe tudo de bom. Para sua sorte, Landon levou Vérité aos estábulos do palácio antes de levar Kassander a Cole. Helena duvidava que Etta tivesse saído sem o cavalo.

Kass apareceu ao lado deles e se colocou entre Helena e Quinn.

—Cabe a nós agora, sim? — Ela olhou para Quinn.

Ele assentiu. —Quando o pai se sentou no trono, eu nunca imaginei que teríamos o controle de Madra. Eu ainda me sinto como uma criança neste palácio.

Helena riu disso. Quinn era um general do exército. Ele levou os homens à batalha, mas sempre se sentiu inseguro entre esses corredores.

—Você vai me levar até o corredor? — Ela dirigiu a pergunta para Quinn.

Kass foi quem respondeu. —Claro que vou.

Helena, Camille e Quinn riram.

—Eu vou me sentar. — Camille beijou a bochecha de Quinn e se separou deles.

—Me dê um momento. — Helena saiu de seu abraço e caminhou em direção à porta dos fundos do corredor. Abrindo apenas uma rachadura, ela encontrou Dell imediatamente. Como se sentisse a presença dela, seus olhos se voltaram para os dela. Ela acenou para ele.

Quando ele chegou à porta, ela colocou os braços em volta da cintura dele. —Diga-me que não vou estragar tudo.

Ele riu. —Você não precisa que eu lhe diga isso.

Ela deu um tapa nele. —Você é inútil.

Ele sorriu e a pegou pela cintura. O casaco preto dele era bordado com o mesmo azul do vestido dela. Ele enfiou a mão no bolso e pegou uma pequena escultura em madeira.

Ele segurou a coroa de madeira entre eles. —Você será a melhor rainha que Madra já viu.

Ela pegou a coroa, deixando os dedos deslizarem sobre as curvas suaves. —Como você sabe disso?

—Porque eu te conheço. — Ele pressionou os lábios no lado da cabeça dela.

Música veio da porta aberta, sinalizando o início da cerimônia. Dell saiu para encontrar seu assento novamente, e o corpo alto de Stev substituiu sua presença.

—Obrigado. — Ele acenou com a cabeça em direção a ela. As palavras podem ter carecido de emoção, como a maioria das palavras de Stev nas últimas semanas, mas Helena leu o significado delas.

Ele precisava de um novo começo, longe do lugar onde tantas coisas haviam acontecido. Ele se recuperou dos ferimentos em sua carne, mas os ferimentos em sua mente e seu coração levariam muito mais tempo. Só esperava que ele encontrasse o que procurava em Bela.

O quarteto de cordas tocou mais alto, e as duas portas se abriram, revelando um salão repleto de pessoas. Helena havia assegurado que qualquer pessoa na cidade que desejasse pudesse comparecer à coroação. Com a retomada do comércio exterior, muitas pessoas estavam ocupadas voltando a operar lojas e navios, mas ainda assim muitos chegaram.

Ela respirou fundo quando Kassander entrou no corredor primeiro. Ele caminhava lentamente na frente enquanto Quinn e Estevan pegavam um de seus braços. Camille havia se juntado a Dell e Edmund na primeira fila. Quando Helena os alcançou, seu coração batia tão rápido que ameaçava se libertar.

Ela sorriu para eles quando passou e subiu os três degraus até o estrado que eles construíram para esta ocasião. Um assento para cada realeza repousava na plataforma.

Não havia padres remanescentes para realizar a coroação, mas desde que eles estavam renunciando à tradição de qualquer maneira, não importava.

A música parou e o silêncio se estendeu no corredor.

Helena se ajoelhou quando seus três irmãos se viraram para encarar a multidão.

Estevan falou. —Madra tem sido um reino governado pelo passado. Neste dia, mudamos o destino de nossa terra. Nós olhamos para o que está à nossa frente e não para trás. Helena Rhodipus se torna uma nova tipo de governante, a primeira de uma nova geração. Ela mudará muitas das leis às quais devemos cumprir apenas porque sempre o fizemos. A primeira delas é que um monarca solteiro se sentará no trono.

Seus olhos severos examinaram a multidão. Quando ninguém se opôs, ele se virou para Helena e foi até a mesa na beira do estrado onde havia uma coroa. Não a coroa do pai dela... Ela olhou confusa, mas Stev seguiu em frente.

—Helena Rhodipus, você promete ser uma rainha justa e verdadeira?

Ela assentiu. —Sempre.

—Você colocará Madra em primeiro lugar em todas as coisas?

—Sim.

—Você liderará com compaixão e compreensão? — Essa era uma nova.

—Eu vou.

Stev levantou a coroa. —Esta coroa pertencia a Chloe Rhodipus, nossa mãe.

Helena balançou a cabeça. Ela não reconheceu as gemas azuis ou as peças de ouro.

Stev continuou. —Foi tirada dela quando eu era menino. — Helena ouvira a história. O sacerdócio forçou sua mãe a desempenhar um papel simbólico, em vez de ter um poder real. E eles pegaram a coroa dela? A única coroa com a qual Helena já viu sua mãe era uma tiara delicada.

—Helena Rhodipus. — Stev entregou a coroa a Kass. —Eu coroo você rainha de Madra, um dos seis reinos.

Kassander sorriu quando colocou a coroa na cabeça de Helena. O peso que a carregava diferia do peso da máscara. Aquilo tinha sido uma prisão. Mas a coroa era a liberdade suprema. Ela poderia transformar Madra no reino que sempre deveria ser.

Todos os olhos ali presentes se fixaram nela, pedindo-lhe que tornasse a vida melhor para eles. E ela faria.

Dell estava certo. Uma rainha não precisava de um rei. Um dia, ela teria um. Dell não evitaria o trono para sempre.

Mas, pela primeira vez em sua vida, ela acreditava em suas próprias forças. Ela voltou para Madra determinada a salvar seu povo ou morrer tentando. Quando ela se levantou e se virou para encarar os olhos expectantes de seu povo, ela sabia que faria essa escolha mil vezes mais.

Porque era isso que uma rainha fazia.

Ela levantou a mão para acenar e um rugido de aplausos ecoou nos tetos altos. As pessoas estavam em pé, torcendo por sua nova rainha. O orgulho se espalhou por Helena.

Ela encontrou os olhos de Dell. Quando ele piscou, o sorriso dela cresceu.

Ela talvez não soubesse até aquele momento, mas sempre deveria ficar aqui. A coroa se encaixava nela como se tivesse sido feita para ela. E a aceitação de seu povo a envolveu em uma capa de força, insuportável e imóvel.

Essa era a hora dela.

A hora de Madra.

Uma princesa despedaçada é uma princesa vingativa.
Nas margens de Madra, a rebelião venceu.
Com sua família, morta ou desaparecida, Helena procura ajuda do reino do outro lado do mar. Bela. Ela sabe disso por histórias de magia e guerra, mas agora se vê à mercê da intimidante rainha Belaena. Etta é tudo o que Helena deseja que ela pudesse ter sido para sua família e tudo o que ela espera ser. Convencer a rainha guerreira estrangeira a deixá-la ficar é fácil. Convencê-la a treinar uma princesa que ela mal conhece é algo completamente diferente.
Quando notícias chocantes saem de Gaule, Helena percebe que a luta por Madra não terminou. Está apenas começando.
Dell Tenyson deixou tudo para trás.
Quando a coroa caiu, ele se viu do lado improvável daqueles que tentavam salvá-la.
E eles falharam.
Agora, ele segue Helena através do mar para ajudá-la a recuperar o que perdeu. Não é a coroa. É a família dela.
Mas quando tudo que ela quer é vingança, ele será suficiente para lembrá-la de que ela ainda tem um motivo para viver por algo mais?

 


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Capitulo Um

Trovões dividiram o céu, caindo ao redor de Helena. O rugido ecoou entre as árvores, mas ela não voltou.

A chuva gelada atingiu seu rosto pálido enquanto ela fazia a jornada diária.

Treze longos dias. Eles estavam em Bela há muito tempo, e tudo o que ela sabia era esperar.

—Len! — Dell correu para alcançá-la, seus longos passos combinando com os dela. —Você não pode continuar fazendo isso!

Suas palavras mal conseguiram superar o tamborilar da chuva, mas ela sabia o que ele queria dizer. Não era a primeira vez.

Seus pés ganharam velocidade. —Eu preciso! — Ela gritou de volta.

Um raio iluminou o céu cinzento da manhã.

—Não. — Ele agarrou o braço dela, puxando-a de volta. —Você não precisa.

Ela se virou para encará-lo, empurrando seu peito até que ele a soltou. —Meu irmão está lá fora. Quinn é o único que resta além de mim e Kass.

Ele não disse as palavras que ambos estavam pensando. Ele não precisava. Seus olhos diziam tudo. Se ele não estiver morto. Se ele não se juntou ao lado de seu irmão gêmeo em Madra, então onde ele está?

Ela balançou a cabeça. —Não. Ele virá.

Ela se virou e caminhou subindo a colina até o posto de vigia de Bela.

Antes de traí-los, ela pensou que Cole sempre estaria ao seu lado. Quão bem ela realmente conhecia seus irmãos?

Os punhos cerrados ao lado do corpo. Ela não conseguia pensar assim. Estevan deu sua vida para salvá-la e Kassander, ele era bom demais para trair sua família. Ela os conhecia. Ela conhecia Quinn.

Ele viria.

No topo da colina, uma pequena cabana ficava ao lado de um convés. Helena passara todos os dias excruciantes desde sua chegada, sentada ali. Esperando.

Ela limpou a chuva do rosto e abriu a porta. Aron se virou ao som de sua entrada, um tom sombrio em seus traços bonitos. Sacudindo os cachos castanhos ensopados do rosto, ele a olhou com surpresa.

Dell passou pela porta atrás dela. —Eu pensei que você finalmente ganharia algum sentido e ficaria dentro de casa hoje.

Helena foi até uma das janelas que atravessavam a parede oposta. —Eu nunca afirmei ter bom senso.

Aron assentiu como se essa fosse uma resposta perfeitamente aceitável.

—Eu tentei impedi-la. — Dell torceu a água da túnica pingando.

Helena resmungou.

Uma carranca estragou o rosto de Aron. —Ela tem sua própria mente. Deixe ela usá-la.

Helena mal ouviu a conversa contínua enquanto seus olhos examinavam o campo. Ela nunca viu algo tão bonito como Bela, mas não eram as vastas florestas prósperas ou planícies de flores silvestres que ela procurava hoje.

—Alguma novidade? — Ela perguntou.

—Nada mais do que alguns comerciantes de Dracon. As estradas estão limpas. — Aron se aproximou dela perto da lareira quente. —É improvável que vejamos muito em um dia como esse. Mesmo com meu presente.

Helena nunca se acostumaria com os incríveis poderes existentes em Bela. O presente de Aron lhe permitia ver coisas que os outros não viam, e a grandes distâncias. A rainha Persinette o convocou para assistir ao último irmão de Rhodipus, caso ele não chegasse como um visitante amigável.

Ainda assim, Helena tinha fé em Quinn.

Aron se moveu ao redor da pequena sala com confiança, afastando as cadeiras do caminho enquanto se preparava para acender o pequeno fogo que tentava prosperar na lareira de pedra.

O olhar da Dell continha hostilidade velada. Ele nunca se entusiasmou com o jovem, e Helena sabia que ele não confiava nele. Por outro lado, ele não confiava em nada em Bela, para seu aborrecimento.

Helena não poderia culpá-lo por isso. Ela achava difícil acreditar em Persinette e Alexandre que eles não tinham outro motivo senão ajudá-los.

Aron virou-se da lareira. —Eu realmente deveria voltar para fora.

—Mas está chovendo lá fora. — Helena apontou para a janela.

—Tenho um trabalho a fazer e vejo muito melhor lá fora. Minha rainha me confiou isso e farei o que devo. — Ele abaixou a cabeça uma vez antes de escorregar quando outra trovoada sacudiu as paredes.

—Aquele homem é louco. — Dell lançou os olhos para a janela.

Helena não pôde discordar. O povo de Bela tinha uma lealdade inabalável ao rei e à rainha. Ela não viu nada assim. Isso era... não natural. Em Madra, as pessoas obedeciam ao pai, mas apenas porque temiam o que aconteceria se dissessem.

Cole estava agora governando com os mesmos métodos?

A raiva queimou seu sangue quando ela pensou em Cole. A respiração dela entupiu a garganta. —Não posso ficar aqui. — Antes que Dell pudesse detê-la, ela correu para a tempestade, finalmente capaz de respirar quando estava do lado de fora. Ela caiu de joelhos, seu corpo inteiro tremia quando as imagens voltaram para ela.

Chamas. Chamas. Elas percorreram a visão de Helena até que ela não viu mais nada.

Morte. A família dela estava morta. Mãe. Pai. Um soluço ficou preso em sua garganta. Estevan.

Braços a envolveram, mas não conseguiram segurá-la.

Seu cabelo de ébano grudou nos lábios quando ela respirou fundo. Uma única rebelião destruiu tudo o que conhecia em uma noite. Tudo isso era realmente tão frágil?

—Helena. — As palavras de Dell aqueceram sua pele gelada. —Len, está tudo bem. Você está aqui. Estamos em Bela. Acabou. Não precisamos mais lutar.

Suas palavras eram feitas para acalmá-la, para impedir o pânico arranhando seu peito.

Mas ele estava errado. Nada acabou. A luta deles estava apenas começando.

 

Quando eles retornaram à vila, a tempestade já havia devastado outra paisagem desavisada.

Outro dia. Outra decepção.

Todas as manhãs, Helena acordava com uma pequena esperança no coração de que seria o dia em que Quinn viria buscá-la.

Toda noite, ela ia para a cama com o peso da derrota esmagando-a.

Dell caminhou ao lado dela, um companheiro silencioso. Eles lutavam para encontrar algo a dizer um ao outro. Ambos perderam a família, mas ele não sentia como ela. A família dele não estava morta. Eles se juntaram a Cole em trair o rei, em matar seus pais.

O palácio de Bela ficava à beira de grandes falésias brancas, do outro lado de um pequeno riacho com uma ponte que o ligava ao resto da vila. Chamá-lo de palácio era generoso. Na verdade, compreendia apenas quatro quartos pequenos, um espaço comum, cozinha e uma sala do trono sem qualquer tipo de grandeza.

Assim como o resto de Bela, sua beleza estava em sua simplicidade.

A rainha Persinette, que insistia em se chamar Etta, permitiu que Helena, Dell, Kassander e Edmund ficassem com ela e seu marido, o rei Alexandre.

O cavalo da rainha, Vérité, pastava do lado de fora da porta enquanto eles caminhavam e Helena se dirigiu a ele. Dell passou por ela sem dizer uma palavra e entrou.

Vérité levantou a cabeça, fixando-a com um olhar de olhos dourados que a acalmou pela primeira vez durante todo o dia. O cavalo teve um gosto imediato por ela assim que o conheceu.

E ela se apaixonou por ele quando ele mordeu Edmund.

—Ei, amigo. — Ela estendeu a mão para cavar a mão em sua juba úmida. —Você está seguro na tempestade hoje?

Vérité deu um passo à frente para cutucar o lado da cabeça dela com o nariz dele.

Uma lágrima escorregou de seus olhos quando seu olhar compreensivo puxou toda emoção que ela empurrou até a superfície. Vérité deixou o nariz cair no ombro dela.

—Eu estou bem, Vérité. Ou eu estarei. Um dia. — Ela balançou a cabeça. —Por que estou falando com um cavalo?

—Pela minha experiência...— Etta saiu da porta. —É porque não há melhor ouvinte que Vérité. Sem julgamento. Apenas conforto. — Um sorriso curvou os lábios da rainha. —E ele nunca repetirá nada do que você diz. Ele é honrado.

Helena encontrou o olhar suave de Etta. Ela ouviu as histórias da rainha belaena que lutou com La Dame... e venceu. Qualquer um que tivesse dúvidas sobre os contos precisava apenas olhar para a mulher e se tornar crente. A ferocidade emanava dela.

Com toda a honestidade, Etta aterrorizava Helena.

Quando Edmund apareceu atrás de Etta, os ombros de Helena relaxaram.

—O jantar está pronto. — Disse Edmund, com a voz tão sem vida quanto antes desde que chegaram às margens de Bela.

Pelo menos uma pessoa sentia a perda tão fortemente quanto Helena.

Ela acenou para a rainha enquanto passava por ela para abraçar a cintura de Edmund. Ele ficou rígido de surpresa antes de retribuir o abraço e descansar o queixo na cabeça dela.

—Não tem sorte hoje, então? — Ele perguntou.

Helena balançou a cabeça contra o peito dele. —Desculpe, estou molhando você.

Helena podia sentir os olhos de Etta queimando em suas costas. As duas mulheres da realeza experimentavam uma tensão estranha toda vez que Helena estava perto de Edmund. A rainha estava com ciúmes de sua amizade?

Edmund não contou a nenhum de seus amigos belaenos o que Estevan realmente significava para ele, e seu comportamento sombrio colocava uma barreira entre eles porque eles não conseguiam entender a gravidade do que ele havia perdido.

Ela caminhou mais para dentro do palácio, um braço ainda preso à cintura de Edmund. O rei Alexandre, Dell e Kassander estavam sentados perto da lareira com pratos cheios de bifes de javali e algum tipo de vegetais folhosos na frente deles. Alexandre disse algo que fez os outros dois rirem.

O braço de Helena se apertou em torno de Edmund.

—Eu sei. — Ele sussurrou. —Eu também sinto isso.

Ela tentou não odiá-los por sua alegria, mas já havia entrado em sua mente.

—Não estou com fome. — Ela soltou Edmund. —Acho que vou mudar para algo seco e me deitar.

Ele passou a mão pelos cabelos e deu um beijo no lado da cabeça dela. —Prometi a Stev que a manteria segura, Len. Lembre-se, se Quinn vem ou não, Kassander não é o único irmão que você deixou.

Ela se virou antes que ele pudesse ver as lágrimas brilhando em seu rosto. —Obrigada por dizer isso, Edmund.

Depois de correr para o quarto e fechar a porta, ela se inclinou contra ela, sussurrando para si mesma.

—Eu não estou sozinha. Eu não estou sozinha.

Ela tirou a roupa molhada do corpo e vestiu um vestido para dormir antes de cair na cama. Sua mãe a castigaria por planejar dormir o dia inteiro, mas ela não queria se levantar novamente.

Amanhã seria outro longo dia de espera por alguém que nunca poderia vir.

 

 

 

Capitulo Dois


—Use sua espada, Dell, não seu corpo! — O rei Alexandre esfregou o lado onde Dell o havia atingido.

Dell parou. —Não devo usar nada que me ajude a vencer?

—Claro. Mas na maioria das lutas, essa será a lâmina que você tem em suas mãos.

—A menos que eu cague com a lâmina-

Alex sorriu. —A menos que isso. Aceite de alguém que sabe que você não quer ser cagado com a lâmina.

Dell gemeu. Ele era um boxeador, um lutador, não um espadachim. —Por que estamos fazendo isso de novo?

—Por que de fato. — Etta bateu palmas de sua posição ao lado de um grande carvalho que a protegera da vista deles.

—Aqui vamos nós. — Alex resmungou. —Você não deveria ter reuniões a manhã toda?

—Ainda não recebemos notícias de Ty, então Matteo e eu adiamos algumas até amanhã. — Ela se virou para Dell. —Você sabia, Sr. Tenyson, que você tem o grande prazer de ser treinado por Alexandre Durand, o pior espadachim de Bela.

Alex balançou a cabeça. —Treino há anos para me livrar do título e ela não me deixa.

Etta caminhou em sua direção e deu um tapinha na lateral do rosto. —Ele tem sorte de ter uma esposa que pode protegê-lo.

Alex prendeu a mão dela na bochecha dele. —Muito sortudo.

Ela sorriu e o beijou antes de desarmá-lo e empurrá-lo para longe. Pegando a espada descartada, ela a passou entre as mãos.

Dell recuou enquanto avançava.

—Espada. — Ela ordenou. —Pare de olhar para a lâmina. Pode atacar de qualquer direção antes que você tenha a chance de reagir. Observe meus pés e minha posição corporal. Elas vão te avisar.

Ela mudou os pés para a frente e se lançou. Dell só teve tempo suficiente para bloquear o ataque antes de dar o próximo passo. Ele se afastou, quase caindo no chão.

Dell nunca se considerara não qualificado e até se saíra bem contra Alex, mas Etta se movia com a furtividade de um gato enquanto usava a força de um javali.

Ela o encheu de ataques antes de finalmente recuar e enxugar o suor da testa. —Nunca me sinto bem se passar um dia sem segurar uma espada na mão.

Dell riu. —Aposto que funciona muito bem como a rainha de um reino pacífico.

O sorriso de Etta se espalhou por seu rosto. —Eu gosto de você, Dell. Venha. Você e eu precisamos conversar.

Ele olhou para Alex, mas o rei apenas deu de ombros.

Etta começou a descer o caminho da floresta sem olhar para trás para se certificar de que ele estava vindo.

—Não tenho muito tempo. — Ela abriu a porta do palácio. —Mas não podemos continuar como estamos.

Ele a seguiu para dentro. —Eu não sei o que você quer dizer.

—Sente-se. — Ela apontou para a mesa a caminho da cozinha. Quando ela voltou, ela carregava duas canecas cheias de cerveja.

—Obrigado. — Ele riu.

—O que é tão engraçado?

—Eu posso ter sido filho de um homem poderoso, mas basicamente me levantei nas ruas da cidade. Agora estou tomando uma cerveja com uma rainha estrangeira.

—E protegendo uma princesa. — Ela levantou uma sobrancelha.

Ele tomou um longo gole, evitando o olhar dela. Por mais que ele tentasse ajudar Helena, a princesa não deixaria. Era como se ela tivesse esquecido tudo o que aconteceu antes da rebelião. Ele não existia mais para ela.

—Olha, Dell...— Etta suspirou. —Bela passou por muita coisa, perdeu muito. Então, eu sei o preço. Não foi fácil reconstruir nosso reino, mas essa paz é nossa recompensa. Eu vivi a maior parte da minha vida em dívida com os outros, mas, mais importante, com meus próprios segredos. Eu reconheço os sinais. Tentei de tudo para recuperar meu Edmund. Houve um tempo em que ele me salvou, me manteve sã. Quando ele escolheu se tornar nosso embaixador em Madra, senti todos os momentos de sua ausência. Mas é como se ele ainda tivesse ido embora. Ele voltou para nós, mas parte dele ainda está do outro lado do mar.

Dell quase disse a ela. De Estevan e seu relacionamento com Edmund. De tudo o que Edmund havia feito para impedir a rebelião.

Mas esses não eram seus segredos para contar.

—Sinto muito, sua Majestade. Eu não posso te ajudar. Só... não desista dele. Edmund é a única razão pela qual estou sentado aqui hoje. Ele é o motivo pelo qual Helena e Kassander conseguiram sair de Madra. Nunca conheci alguém como ele... mas os sacrifícios que ele teve que fazer... — Dell balançou a cabeça. —Eu sei como é assistir alguém com quem você se preocupa se perder.

Etta colocou a mão no braço da Dell. —Então eu vou te dizer a mesma coisa. Não desista dela. Ela voltará para você. — Ela bebeu o resto da cerveja e se levantou. —Eu devo cuidar de algumas coisas. Obrigada por isso.

Antes que ela chegasse à porta, um Matteo desgastado entrou correndo, seu cabelo loiro despenteado pelo vento e suas bochechas rosadas pelo frio. —Tyson voltou.

—Já era hora. — Etta o seguiu até a sala do trono.

Dell se juntou a eles quando o jovem atravessou a porta e correu para a irmã, abraçando-a.

Não havia nada formal em Bela?

Helena apareceu ao lado de Dell. —Eu estava com Aron quando eles cavalgaram pelo vale. Por um momento, pensei que fosse Quinn.

—Sinto muito. — Dell agarrou sua mão. Ela ficou rígida, mas não se afastou.

Alexandre apareceu e chegou a Tyson há três longos passos.

—Você deveria voltar dois dias atrás.

—Você conhece a mãe. — Ele sorriu. —Ela queria me engordar.

Dell nunca entenderia a dinâmica entre Bela e Gaule. Alex e Tyson eram filhos da rainha de Gaule, mas tinham pais diferentes. Tyson compartilhava um pai com Etta que se casou com Alex. E havia Camille que ainda estava em Madra e a irmã dos dois príncipes.

O sorriso de Alex caiu. —Você foi vê-la, não foi?

Dell passara a maior parte do tempo seguindo Helena até o posto de vigia ou entre o povo de Bela. Foi lá que ele aprendeu tudo o que precisava saber sobre a família em que agora contavam para se proteger.

O jovem príncipe Tyson estava apaixonado por uma garota que só tinha sido amiga dele. Depois que Dracon sofreu a derrota, a garota voltou para Gaule para administrar a propriedade de sua família.

Tyson estudou o chão. —Amalie não estava em sua propriedade. Eu tentei, mas...

Alex colocou a mão no ombro dele. —Sinto muito, irmão. Que palavra você tem de Gaule? A mãe sabe dos acontecimentos em Madra?

Uma expressão de culpa brilhou em seu rosto. —Ela sabe da aquisição. O novo rei a procurou e garantiu a segurança de Camille e a continuação do tratado. A mãe pretende honrá-lo.

Um fluxo de maldições passou pela mente de Dell, mas ele não deu uma única voz quando Helena apertou sua mão, o primeiro sinal de que ela queria seu apoio.

A única esperança que eles tinham de uma solução pacífica para esse problema era se os outros reinos pressionassem Madra. Gaule era a chave para isso.

—Está acontecendo de novo. — Disse Edmund. Quando ele chegou?

—Não. — A trança de Etta deu um tapa em seu ombro enquanto ela balançava a cabeça. —Podemos confiar na rainha Catrine.

—Nós podemos?

—Cuidado. — Alex rosnou.

Edmund segurou as mãos na frente do peito. —Olha, eu não quero dizer que Catrine é contra o povo mágico da maneira que seu pai era. Mas você tem que ver os sinais. Reinos não mágicos se aliando com medo de nós? Se Cana ou Andes se juntar à aliança...

—Cana nunca se aliará a ninguém. — Para surpresa de Dell, foi Helena quem falou.

—Não podemos saber disso. — Matteo falou.

—Na verdade, sou a única pessoa nesta sala que provavelmente sabe. Você diz que sua amiga está em Cana?

—Ara. — Etta confirmou.

Helena continuou. —Isso não significa que você saiba alguma coisa sobre isso. A maioria dos reinos vive em uma feliz ignorância do que acontece além dessas fronteiras, porque os estrangeiros raramente conseguem escapar. — Ela respirou fundo. —Cana não tem lealdade a um rei ou rainha. Eles são separados em clãs que estão ocupados demais lutando entre si para se preocupar com outros reinos. Certamente, você deve temer os cananeus com a habilidade de assassino, mas não se preocupe com a assinatura de nenhum tratado.

—Como você sabe tudo isso? — Dell perguntou.

—Não é importante.

Etta a olhou com curiosidade. —Está bem então. Precisamos manter uma vigilância atenta de Gaule e Madra. Temos outra questão de importância. — Ela assentiu para Tyson.

Tyson pegou uma carta não lacrada. —Eles deixaram Camille escrever para minha mãe. — Ele segurou na direção de Helena.

Helena pegou o papel, desdobrando-o rapidamente. Dell leu por cima do ombro dela, seus olhos apenas pegando partes dele...

Honre o tratado, mãe. É a única maneira de garantir a paz com Madra. O novo rei é um homem honrado.

Isso não parecia a princesa, pelo menos a Camille que ele conheceu. —Ela não escreveu isso.

A maior parte da carta não significava nada para ele até que ele descobrisse as palavras que sabia que quebrariam Helena em duas.

O príncipe Estevan morreu em sua cela há três dias de doença. Cole deixaria seu irmão viver.

O papel caiu de seus dedos, flutuando no chão enquanto lágrimas caíam em seu rosto.

Dell tentou puxá-la para ele, mas ela levantou a mão para parar o movimento.

—Você poderia consertar isso. — A voz de Helena era tão baixa que Dell não tinha certeza de que mais alguém a ouviu até que todos parassem. Ela levantou os olhos para examinar a sala, finalmente colocando-os na rainha. —Madra não seria párea contra Bela.

—Não. — Etta a interrompeu.

—Mas sua mágica-

—Eu disse não.

—Você não vai ajudar? Você vai me deixar ficar aqui ociosamente pelo que... o resto da minha vida? — Helena endireitou a coluna, enviando à rainha um olhar assustador. —Madra é minha. Não do Cole. Minha. Meu pai está morto. Eles mataram minha mãe enquanto eu me escondia. Não estou mais me escondendo. Agora sou a herdeira do trono de Madra.

—Não podemos. — O remorso misturado com a teimosia encheu os olhos de Etta. —Como detentores de magia, temos a responsabilidade de não usar nossa mágica para dominar outros reinos. Nós não somos tiranos.

—Eles. Mataram. Meu. Irmão.

Edmund caiu no chão com as palavras, precisando ver a carta por si mesmo. Um grito estrangulado escapou de seus lábios.

Todos eles supunham que Estevan não viveria muito mais tempo, mas a confirmação trouxe toda emoção que eles ocultaram desde que a rebelião desabou na sala.

Edmund segurou a carta no peito por um momento antes de rasgá-la ao meio, em pé e sair da sala.

Os olhares de Etta e Alex o seguiram.

—Oh. — O entendimento iluminou os olhos de Etta.

—Len. — Dell sussurrou.

Ela balançou a cabeça, tropeçando para trás até chegar à porta. Dell não a seguiu quando ela desapareceu.

—Gostaria que pudéssemos ajudá-los. — Etta se inclinou para Alex.

—Seria realmente tão ruim? — Tyson perguntou. —Não podemos deixar Camille se casar com um usurpador.

—Ty. — Alex o encarou com um olhar. —Se Bela marchar para outros reinos para consertá-los ou usar a magia para subjugá-los, isso define expectativas. Etta não viverá para sempre. Não começaremos o caminho da ditadura. Foi assim que La Dame se tornou tão poderosa. A magia não pode ser usada contra pessoas não mágicas. Não está certo.

Tyson suspirou. —Às vezes, eu gostaria que vocês nem sempre fizessem a coisa certa. Quero entrar em Madra e estripar o rei que matou o namorado de Edmund.

Alex recuou em choque. Matteo se virou.

Tyson olhou entre eles. —Vocês não sabiam?

—Você sabia? — Etta perguntou.

—Desde a primeira vez que o vi. Conheço Edmund quase tão bem quanto eu. Ele amava o príncipe.

Alex amaldiçoou. —Eu preciso ir encontrá-lo.

Dell bloqueou a porta. —Vossa Majestade, a única pessoa nesta terra que Helena deixará entrar é Edmund. Que eles estejam lá um para o outro. Só por enquanto.

Alex parecia que ele protestaria.

—Ele está certo. — Disse Etta. —Se Edmund quisesse que o ajudássemos, ele teria deixado. Essa garota significa tanto para ele agora quanto você ou eu.

Os ombros de Alex caíram.

Dell os deixou na sala do trono para encontrar algum consolo. O rosto confiante de Estevan passou por sua mente. Dell foi contra sua família e se juntou a Edmund porque Edmund tinha tanta certeza de que Estevan faria grandes coisas por Madra.

Ele tinha sido a esperança para muitas pessoas.

E agora, como uma vela no meio da noite, ele havia sido extinto e tudo o que Dell podia ver do futuro de Madra era escuridão.

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Tres


Por semanas, Helena presumiu que Stev estivesse morto. Ela viu Cole levá-lo prisioneiro momentos antes de sucumbir aos ferimentos. Um dos homens de Cole a esfaqueou, e a última coisa que ela viu foi Dell pairando sobre ela, protegendo-a da ira de seu irmão.

Mas algo incomodava no fundo de sua mente. Ela tinha que saber o que realmente aconteceu naquele corredor. Todos os detalhes excruciantes. Estevan realmente se foi, e ela tinha que saber o porquê.

Por que ele não escapou com eles? Por que ele ficou? Por que Edmund deixou?

As perguntas eram as únicas coisas que a impediam de mergulhar a cabeça sob a corrente de sua dor e se recusar a surgir novamente.

Um vento gelado chicoteava seus cabelos dos ombros e ela puxou a capa com força. Ao longe, uma figura solitária estava sentada na beira dos penhascos, com as pernas pendendo para o lado.

Edmund curvou as costas, caindo sobre si mesmo. Quando Helena se aproximou, ela ouviu o som de ondas violentas batendo nas rochas abaixo. Apropriado.

Ela se aproximou de Edmund silenciosamente e se abaixou ao lado dele, olhando por cima da beira do penhasco antes de avançar.

—Como você não tem medo de cair?

Edmund continuou olhando o mar agitado. —Temo muitas coisas, Lenny. Morrer por ter caído não é uma delas.

—Isso é... melancólico.

Ele finalmente se virou para encará-la, mas seus olhos tinham um olhar distante. —Meu maior medo já aconteceu.

—Meu também.

Seus lábios puxaram para baixo, e ele passou a mão pelos cabelos loiros. Após um momento de silêncio, ele deslizou para trás da beira do penhasco e puxou Helena contra o seu lado. Ela enterrou o rosto no ombro dele enquanto ele acariciava seus cabelos.

—Eu não tinha medo de perder Stev. — Ele sussurrou. —É alguém que eu amo. Muita coisa aconteceu nos últimos anos. A guerra de Bela com Dracon. Turbulência em Gaule. A rebelião de Madra. Eu tenho vivido em constante terror das pessoas ao meu redor morrendo. Etta, Alex, Tyson, Matteo, Stev, você... até Camille. Nesse ponto, eu provavelmente ficaria chateado se Vérité morresse e odeio esse cavalo maldito.

Um som entre uma risada e um grito escapou da boca de Helena. —Nunca senti medo assim. Minha vida inteira fui protegida.. Agora é tudo em que consigo pensar. Como você vive assim, Edmund? Com seu coração sendo arrancado do seu peito de novo e de novo.

—Eu ainda estou tentando descobrir isso. — Uma lágrima percorreu seu rosto, e Helena limpou-a com o polegar.

—Eu fico me perguntando se seria melhor Quinn estar morto ou ele ter escolhido Cole.

—Não está morto. — Edmund balançou a cabeça.

—Mas se ele nos traiu também... eu não posso viver com isso.

—Sim você pode. É incrível o tipo de coisa com a qual podemos viver. — Ele respirou fundo e ficou em silêncio.

Helena estremeceu e Edmund a puxou para mais perto.

As palavras que ela queria dizer em seguida entupiram sua garganta. Os olhos de Edmund tinham tanta dor. Era certo ela fazê-lo reviver tudo?

Todo o seu corpo tremia, e ela sabia que ele estava revivendo de qualquer maneira.

—Edmund.

Ele não respondeu por um longo momento enquanto controlava a respiração. —Sim, Len?

—Não me lembro de ter sido tirada do palácio. Meus momentos finais com Stev acabaram... acabaram. — Foi preciso todo o esforço para manter um tremor fora de sua voz. —Eu preciso saber tudo.

Ele suspirou. —Honestamente, estou meio surpreso que você não tenha perguntado até agora.

—Meu irmão não estava morto até antes.

O olhar de Edmund se afastou dela novamente. —Não se engane, Len. Ele está morto para nós desde que deixamos o palácio. Sempre soubemos que não o receberíamos de volta.

Ela apertou os lábios. —Por favor, apenas me diga.

—Cole...— Ele limpou a garganta. — Ele ia prender todos nós. Você e eu fomos capturados. Um dos homens de Cole atirou um punhal em você. — Ele descansou a bochecha no cabelo dela. —Eu pensei que você estava morta.

Ele parou de falar e ela apertou a mão dele, insistindo para que ele continuasse.

Ele fez. —Stev pensou que você tinha morrido também. Mas Kassander não. Ele e Dell a ocultaram. Depois que o curandeiro disse que você não viveria, Stev fez um acordo.

Helena inclinou a cabeça para olhar para ele. —Que tipo de acordo?

—Se Cole me permitisse, você, Dell e Kass partirem, ele se entregaria de bom grado e diria ao seu povo que se afastasse.

Helena se afastou dele. —É tudo culpa minha. Ele está morto por minha causa. — Ela se levantou.

Edmund a seguiu. —Não. Ele pensou que você morreria se a levássemos a Corban ou não. Stev se sacrificou por mim e Kassander. Toda culpa está comigo.

Helena não conseguia ouvir mais. Ela deu meia-volta e correu de volta ao palácio. Etta e Alex a encararam enquanto ela corria em direção ao quarto em que estava hospedada. Ela procurou debaixo do colchão o único pedaço de sua mãe que restara.

As adagas dela.

Duas lâminas de cabo dourado se soltaram e ela as enfiou no corpete do seu vestido simples antes de sair da mesma maneira que viera. A raiva agitava suas veias e, se ela não a soltasse, faria algo que lamentava.

Ela alcançou a clareira atrás do palácio e soltou as adagas. Centralizando seu corpo com a base de um pinheiro alto, ela levantou um braço. Respire. Expire. Agite o pulso. Libere.

A adaga grudou na árvore com um baque. Ela não parou antes de enviar a segunda no mesmo arco.

Ela correu para a árvore e as libertou antes de encontrar um segundo alvo. Raiva e desespero alimentavam seus impulsos, fazendo-a esquecer tudo, menos o peso das lâminas em suas mãos.

Quando Helena soltou a primeira adaga novamente, alguém gritou, afastando-se do caminho. A adaga atingiu uma árvore e caiu no chão.

A cabeça escura de Kassander apareceu na clareira, os olhos arregalados.

Ela estava tão focada, não tinha visto o irmão lá? Ela correu para frente. —Kass, você está bem?

Ele levantou a cabeça, um sorriso se espalhou por seu rosto.

—Como você aprendeu a fazer isso?

Nesse momento, Helena percebeu que Kassander não sabia. Ninguém contou a ele sobre Stev. Ela o puxou do chão e abraçou seu corpo esbelto, bagunçando seus cachos familiares.

—Ei. — Ele se afastou. —O que há de errado, Len?

O rosto dela caiu. Até seu irmãozinho podia ler todas as emoções em seus olhos.

—Eu preciso te dizer uma coisa, Kass.

—Se é sobre Quinn...

—Não é. É sobre Stev.

A testa de Kassander franziu.

—Ele morreu, Kass.

Kassander fez uma careta. —Nós já sabíamos que ele estava morto.

—Não, nós apenas assumimos.

—Eu não vejo a diferença. — Lágrimas brotaram em seus olhos. —Eu pensei que você ia me dizer que perdemos outro irmão.

Helena se inclinou para olhar nos olhos de seu irmão. Ela pegou o queixo dele entre dois dedos, forçando-o a não desviar o olhar.

—Você tem fé em Quinn?

Ele assentiu.

—Eu também. E Kass, se ele nunca vier, você ainda me tem. Ok garoto? Você sempre me terá.

Ele a abraçou. —Você sempre me terá também.

Toda a raiva que ela sentiu vazou dela com essas palavras. Ela não estava sozinha. Madra não era apenas o seu reino. Ela não era a única pessoa que um dia iria querer de volta.

 

Nada mudou em Bela quando os dias se transformaram em noites. Helena continuou procurando Quinn ao lado de Aron, mas ele nunca veio. Edmund ainda passava a maior parte do tempo sozinho, mas à noite sentava-se com Alex e contava seu tempo em Madra.

Kassander e Corban começaram a seguir Alex, fascinados pelo rei confiante, o homem sem magia que vivia entre o povo mágico.

Dell melhorou com a espada. Não é como se ele tivesse a chance de usá-la.

E a cada momento em que se sentavam do outro lado do mar, o povo de Madra era governado por um usurpador, um príncipe bastardo.

Helena tentou afastar da cabeça pensamentos do irmão que amava. Ainda amava? Isso era permitido? Ela não conseguia conciliar o irmão com quem cresceu e o homem que matou seus pais.

Ela se virou na cama quando a luz atravessou a janela. O cheiro de bacon a atingiu assim que ela abriu os olhos. A normalidade desse cheiro era como um choque para o coração. Nada estava normal.

Depois de se levantar da cama, vestiu uma calça de lã e uma camisa pesada antes de atravessar o chão frio de pedra até a cozinha.

O rei de Bela estava sem camisa em frente ao fogão, suor escorrendo pelas costas enquanto virava bolos e bacon.

Helena congelou, seu queixo caindo. Alexandre Durand era um homem bonito. Em Madra, a família real tinha vários servos preparando todas as refeições. Demorou um pouco para se acostumar nas últimas semanas para que o rei e a rainha fizessem tudo por si mesmos.

Era o caminho de Bela. Etta poderia liderar, mas ela não governava. E seu povo era mais leal por causa disso. Porque ela era uma deles.

A rainha em questão aproximou-se do lado de Helena. —Ele queria animar vocês, fazer vocês se sentirem mais em casa, depois de...— Ela não precisava dizer isso. Depois que souberam da morte de seu irmão.

Edmund apareceu atrás deles. —Então ele decidiu andar sem camisa? Essa é uma maneira de nos animar.

Etta empurrou seu ombro. —Não. Ele fez o café da manhã.

Edmund riu, o som fazendo todos eles pararem. Ele estava com tanta dor que não havia nem sorrido recentemente. Ele congelou como se percebesse o que havia feito. Por apenas um momento, ele esqueceu o que deveria estar sentindo.

Alex se virou. —Se eu soubesse que bastava bacon para ouvir esse som novamente, eu o faria todas as manhãs.

Etta cobriu a boca com as mãos e fingiu tossir. —Não era o bacon.

Helena sorriu, agradecida pela leveza que sentia tanta falta. Ela sempre brincava com seus irmãos, mas nunca teve amigos.

Edmund corou, mas deu de ombros como se não tivesse vergonha. Helena desejou que o conhecesse tão bem. Ela viu Dell sentado perto do fogo, seu olhar fixo nela. Os olhos dele escureceram e Helena afastou os dela.

Como seria ceder a seus desejos como todos os outros ao seu redor? Stev tinha sido tão corajoso, tão forte em estar com a pessoa que amava. Ela só podia imaginar qual teria sido a reação do pai deles. Os dois homens teriam sido separados no mínimo.

Sobre o que Helena tinha sido corajosa? Ela viveu sua vida atrás de uma máscara, nunca mostrando quem ela realmente era.

Stev viveu livremente. Ele pode ter sido rígido e formal às vezes, mas desafiava o pai deles para dar comida ao povo. Ele se apaixonou por outro homem. Ele a protegeu a todo custo.

Ela se virou para Etta, que ainda estava olhando o marido.

—Você está ocupada hoje?

Etta levantou uma sobrancelha. —Não. Eu não sou a rainha de um reino inteiro nem nada.

—Preciso de alguém para me ajudar. Quinn ainda pode estar lá fora, mas não posso perder tempo. Você diz que Bela não ajudará Madra, mas Madra não está sozinha. Eles ainda me têm. Treine-me para lutar.

Dell engasgou com uma risada. —Len, o que você sabe sobre lutar?

Ela fez uma careta, balançando o olhar ao redor da sala. Tyson, Alex e Matteo olharam para longe. Edmund ficou quieto.

Etta considerou sua resposta. —Quando completei dezoito anos, tive que entrar em um torneio, lutando até a morte para proteger aquele idiota. — Ela apontou para o marido. —Todo homem que eu conheci riu de mim. — Ela se inclinou para frente. —E você sabe o que eu fiz?

Helena balançou a cabeça.

Um brilho alegre entrou no olhar de Etta. —Venci eles. — Ela se virou para os outros que os cercavam. —Matteo, me limpe dos deveres. Estarei ocupada hoje.

O primo da rainha balançou a cabeça. —Hoje não, Etta. Temos reuniões o dia todo com os comerciantes da Dracon e Gaule. Então, você está agendada para julgamento nesta tarde.

Etta acenou com as palavras. —Você pode lidar com as reuniões, oh confiei em uma. Alex se juntará a você. Tome Edmund também. Ele conhece esse reino tão bem quanto qualquer um e ocupará sua mente.

Edmund começou a protestar, mas um olhar de Etta o calou.

—Pegue um pouco de comida, Helena. Não pretendo ser fácil com você.

Helena empilhou comida em um prato e sentou-se ao lado de Dell.

—Você tem certeza disso? — Ele perguntou.

—Nunca tive tanta certeza de nada.

—Persinette Basile é uma das maiores lutadoras que existe.

—Então não há mais ninguém que eu queira me treinar para voltar a Madra. — Ela mordeu a comida.

—Você realmente quer voltar? — Ele a olhou cético.

—Você acredita em mim, Dell?

Ele assentiu sem hesitar. —Claro que eu acredito.

—Então, por favor... cale a boca.

Um canto da boca inclinou-se para cima. —Bem, tudo bem então. Mas eu tenho que assistir.

 

 

 

 

 

 


Capitulo Quatro


Dell sentou-se de costas contra uma árvore derrubada e dobrou um joelho. O frio do chão permeava suas roupas, mas não o incomodou, pois ele se concentrou no pedaço de madeira macia em suas mãos. Ele ainda não sabia o que era, mas isso não era incomum. Ele nunca olhava muito à sua frente. Suas mãos sabiam o que fazer. Elas criavam enquanto a mente dele estava em outro lugar.

Ele agarrou a faca entre o polegar e o indicador quando ele cavou.

Etta e Helena ficaram de frente uma para a outra. Etta segurava duas varas longas nas mãos. Ela jogou uma para Helena.

Helena a pegou do ar.

Etta assentiu em aprovação. —Eu vi você aqui com suas adagas, Helena. Você tem uma boa coordenação dos olhos e mãos.

Adagas? Do que a rainha Belaena estava falando? Len era mais ameaçadora que uma princesa poderia ser. O que ela sabia sobre adagas?

—Obrigada. — Os dedos de Helena se soltaram e apertaram em antecipação.

—Ainda não me agradeça. Coordenação é apenas o começo. Para superar alguém em uma luta, é preciso pensamento rápido, agilidade e raiva.

—Raiva?

Etta girou o cajado em uma mão. —Ah, sim, essa é a parte mais importante. Nós não fomos feitos para lutar um contra o outro, para nos machucar... a menos que tenhamos uma razão. A diferença entre alguém que tem o que é preciso e alguém que não tem é a capacidade de canalizar essa raiva, usá-la e moldá-la.

A mandíbula de Len se apertou e ela engoliu. —Eu tenho muita raiva.

Dell vira a escuridão crescendo dentro dela há semanas. Durante toda a sua vida, ele foi maltratado e traído por sua família. Para ele, era vida. Para ela, foi uma tragédia e uma traição.

Um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Etta. —Você está pronta?

—Sim.

A intensidade no olhar de Helena não existia antes. Dell lembrou-se da suavidade em seus olhos, mesmo quando ela brigou com ele na praia. A doçura quando ele a beijou no baile. Mas então, ele nunca a conheceu verdadeiramente. A garota que vagava pelas ruas da cidade não era a mesma que se escondia atrás de uma máscara durante a maior parte de sua vida.

No entanto, ele não conseguia tirar os olhos dela.

Ele deixou a madeira de lado e se inclinou para frente contra os joelhos.

Etta circulou Helena e Len virou-se para encará-la mais uma vez, deixando seu bastão cair apenas o suficiente para dar a Etta uma abertura.

A rainha Belaena bateu na arma de Len e a madeira estalou contra o estômago de Len.

—Eu perguntei se você estava pronta. — Etta gritou. —Não abaixe sua arma. Nunca.

Helena reprimiu a dor que Dell sabia que devia ter sentido e pegou seu bastão. O próximo ataque de Etta não a pegou de surpresa. Ela a jogou para fora apenas para ser atingida nas costas.

Ela caiu de mãos e joelhos.

—Levante-se. — Etta exigiu.

Dell ficou de pé. Helena não era guerreira e Etta foi longe demais.

—Não, Dell. — Helena ofegou. —Eu estou bem. — Ela soltou uma tosse irregular. Pegando seu bastão, ela ficou pronta novamente.

Etta avançou com uma enxurrada de movimentos. Helena tropeçou para trás, bloqueando-os o melhor que pôde. Etta chutou com o pé, pegando o estômago de Helena e enviando-a de bunda.

Helena fez uma careta, sua respiração sibilando no peito.

—Você está com raiva ainda, princesa? — Etta perguntou. —Ou isso foi criado com você também?

Dell tentou avançar, mas Etta o encarou com um olhar. —Se você interferir, descobriremos o quão inadequado você é com uma espada, garoto.

Mesmo com Alex treinando ele, Dell sabia que ele não seria páreo para Etta. As histórias de sua habilidade se espalharam por Madra como um incêndio. Mas ele não se sentou até Helena se levantar.

—Eu estou bem, Dell. — Ela olhou para Etta. —Novamente.

Etta se lançou para a frente, mas Helena se desviou do caminho.

—Vamos, princesa. — Etta provocou. —Esqueça todo o decoro que eles lhe ensinaram. Não esconda suas emoções em uma briga. Mostre-me sua maldita raiva.

Helena atacou, mas não houve força por trás do golpe.

—Você pode fazer melhor que isso. — Etta fez uma careta. —Você sabe como ganhei meu primeiro torneio?

Helena balançou a cabeça.

—Eu os odiava. Cada um deles, incluindo Alex. Incluindo Tyson. Eu queria matar todos eles. A única pessoa que eu já demonstrei piedade é Edmund quando eu escolhi não matá-lo.

Dell ficou boquiaberto. As histórias eram verdadeiras? Etta lutou por sua vida, a fim de assumir uma posição na casa real de Gaule. Mas Edmund... por que ele esteve no torneio? E agora ela era casada com Alexandre Durand.

Padre, ele precisava de uma cerveja.

Etta continuou. —Misericórdia não é algo que você dá a seus inimigos. É algo que você dá quando decide que alguém não é seu inimigo. Quem são seus inimigos, princesa? Se chegar a hora, você será impiedosa?

Uma guerra começou nos olhos de Helena, mas ela não falou.

Etta avançou. —Seu irmão te traiu. Ele matou seu pai. Sua mãe. —Ela se inclinou. — Estevan.

Lágrimas rastrearam o rosto de Helena.

—Quinn não vem te ajudar, Helena.

Dell viu o momento em que essas palavras foram registradas. Helena atacou, derrubando seu bastão com tanta força que a colisão com a arma de Etta ecoou entre as árvores.

Helena não parou por aí, empurrando Etta para trás e jogando a arma longa sobre a cabeça. Etta bloqueou cada movimento, sorrindo.

Ela era louca. Não havia outra maneira de descrever essa rainha estrangeira. Ela empurrou e empurrou, incitando Helena a entrar em ação.

Depois de um tempo, Etta baixou o bastão, o peito subindo e descendo rapidamente. O suor escorria nos rostos das duas mulheres.

Helena limpou a testa na manga.

—Ok, princesa. Agora acredito que você é mais do que um rosto bonito. — Etta afastou os cabelos dourados do rosto pegajoso.

—Não me chame de princesa. Eu posso ter vivido minha vida inteira atrás dos altos muros de um palácio, mas não estou mais lá. Não posso ser aquela garota de lindos vestidos que joga adagas em segredo e se esconde do mundo. Minha família merece mais que isso.

Etta riu. —Nós ainda podemos fazer de você uma guerreira, Pr-Helena.

Dell ficou de pé, mas trepadeiras rastejaram sobre suas pernas, segurando-o no lugar. —Fique aí, garoto. — Etta ordenou. Ele ficou boquiaberto com a vegetação crescente.

—Magia. — Ele sussurrou. Ele só testemunhou Edmund, Mari e Corban usando seus poderes, e isso nunca o chocou menos.

Etta inclinou a cabeça. —Ainda não terminamos. Agora que sabemos que você tem vontade de lutar, posso ensinar como. Eu poderia ter dado um golpe mortal pelo menos dez vezes durante sua explosão de ataques.

Helena parecia desanimar, seus olhos inseguros procurando os dele.

—Você pode fazer isso, Len. — Ele ofereceu um sorriso. —Eu sei que você pode.

Ela assentiu. —Ninguém nunca vai me vencer de novo. — Ela se virou para Etta. —Eu tenho que ser capaz de proteger Kassander. Ele é tudo o que me resta.

—Então vamos começar. — Etta apontou para o centro da clareira e assumiu sua posição.

 

A última vez que Dell montou em um cavalo, foi logo depois de uma luta que ele perdeu e levou tudo o que tinha para ficar na fera. Mas ele tinha que segurar Helena.

Agora, era apenas a Dell e o terreno aberto. Quando ele pediu emprestado o cavalo de Alex, ele não tinha um destino em mente.

Helena e Etta estavam praticando todas as noites agora, e ele as deixou para outra noite de lutas e contusões. Len recusou-se a permitir que Corban os curasse. Ela disse que queria sentir tudo, que isso a tornava uma lutadora melhor.

Mas ele odiava ver a pele de porcelana manchada de manchas azuis e roxas. Ele não aguentava mais uma noite vendo as mulheres lutarem.

Ele não havia planejado uma visita ao posto de vigia, mas logo se viu na trilha sinuosa entre rochas e vegetação rasteira. Aron estava sentado no topo da colina do lado de fora da pequena cabana. Uma melodia vibrava do violão em miniatura em seu colo.

Ele manteve os olhos no horizonte, onde o sol se punha sob as árvores.

—Não deveria haver outro vigia à noite? — Perguntou Dell.

Assustadas, as mãos de Aron pararam no violão. —Eu aprecio esta hora da noite. Assim que o sol desaparecer, vou para a vila. Este posto avançado é inútil durante a noite, mas a vigilância noturna passa pela floresta perto da cidade até o amanhecer. Eles já estão lá fora, suponho.

Dell assentiu enquanto examinava as árvores abaixo. —Houve alguma coisa?

O que ele estava esperando? Nova palavra sobre Quinn? Se Aron soubesse alguma coisa, diria a Etta e Alex.

O grandalhão suspirou. —Gostaria de ter notícias melhores para Helena.

Há muito que Dell havia perdido a esperança ao se reunir com Quinn. O homem estava morto ou era um traidor de sua família.

Uma comoção abaixo fez com que Dell e Aron pulassem para frente para ver melhor. Dois cavalos trovejaram pela floresta como se suas caudas estivessem pegando fogo.

—Dell. — Disse Aron calmamente. —Você trouxe seu cavalo?

Dell assentiu.

—Acho que seria uma boa ideia falar desses viajantes para a rainha e o rei. Um desses cavaleiros está usando vermelho de Madra.

Dell não hesitou. Ele correu ao redor da cabana para onde amarrara o cavalo de Alex e desatou o nó antes de subir.

Ele chutou os calcanhares nos flancos do cavalo e partiu pelo caminho agora escuro, diminuindo a velocidade ao longo de curvas traiçoeiras e inclinando-se muito para a direita na sela. Por um momento, ele não sabia quem estava no comando - ele ou o cavalo. Assim que chegou ao pé da colina, ele empurrou a fera para um galope, recuperando o equilíbrio.

Ao se aproximar da vila, tochas iluminavam a noite. As poucas pessoas que ainda permaneciam nas ruas saíram do caminho.

Quando chegou ao palácio, ele deslizou, sem se preocupar em amarrar o cavalo antes de entrar.

Etta e Alex eram os únicos dois presentes perto do fogo. Ao ver o rosto de Dell, Etta sentou-se de onde estava reclinada no colo do marido.

—Dell, o que é isso?

Dell engoliu em seco. —Dois cavaleiros estão caminhando pela floresta. Aron os viu através das árvores. Um deles é de Madra.

Etta se levantou, a máscara de uma rainha firmemente no lugar.

—Não fale com Helena sobre isso. Não até sabermos quem são esses cavaleiros. — Ela se virou para o marido. —Encontre Edmund. Eu acho que ele está na taverna da vila. Se ele terminou de beber sua tristeza, diga a ele que preciso dele ao meu lado.

Ela correu para a porta. —Dell, venha comigo.

Ele correu atrás dela. Atravessaram a ponte e esperaram até ouvir o som de cavalos atravessando a vila.

Onde estavam os guardas? Na verdade, ele não se lembrava de ter visto Etta com guardas. Ele adivinhou quando o povo mágico leal a cercava, ela tinha proteção suficiente.

Quando os cavaleiros deixaram a rua de paralelepípedos da vila, grama alta brotou do chão, impedindo o avanço. Os olhos de Dell se arregalaram quando trepadeiras serpentearam pelos flancos do cavalo.

—Sua Majestade. — Uma voz chamou. A escuridão escondia seus rostos.

Etta congelou. —Simon? — Ela correu para a frente enquanto as videiras e a grama recuavam.

Um homem musculoso com feições esculpidas deslizou para encará-la. Eles se entreolharam por um longo momento.

—O que você está fazendo aqui, Simon?

Dell assistiu em confusão. Quem era aquele homem?

O segundo homem desmontou e Dell recuou. Ele, ele reconheceu. Landon Rhodipus. Um primo distante de Helena, famoso por liderar as unidades de Madra na guerra contra La Dame.

—General? — Etta olhou entre os dois homens.

—Sinto muito, sua Majestade. — Landon inclinou a cabeça. —Mas devemos nos intrometer na sua paz aqui para falar com você. Cavalgamos por dias, abandonando nossos postos para estar aqui.

Etta assentiu, olhando para o pequeno palácio. —Entrem. Está frio aqui fora. — Ela passou por Dell e os dois homens o seguiram. —Vou mandar alguém cuidar dos seus cavalos.

—Obrigado, Majestade. — Simon inclinou a cabeça.

Ela os levou para a grande sala, caminhando diretamente para a mesa ao longo da parede oposta, onde uma jarra de vinho estava ao lado de uma bandeja de taças. Ela derramou um para cada um deles enquanto todos estavam sentados.

—Este é Dell Tenyson. — Ela apontou para ele.

—Tenyson? — Os olhos de Landon se voltaram para ele. —Sua Majestade, você está ciente de que os Tenysons ajudaram na aquisição de Madra?

—Sim, general. — Ela retrucou. —Eu explicarei a presença dele quando você explicar a sua. Dell, conheça o general Landon e Simon, guarda pessoal da rainha de Gaule.

Dell recuou. Sua aparência não poderia significar nada de bom.

—Aconteceu alguma coisa com Catrine? — Etta cruzou os braços sobre o peito.

—Além da filha ser mantida por um usurpador? — Simon prendeu Etta com um olhar.

—Entendo que Camille ainda está em Madra porque Catrine escolheu honrar a aliança.

Simon balançou a cabeça. —Eles estão usando Camille como um peão.

—É verdade. — Landon falou. —A segurança dela é uma moeda de troca que Cole Rhodipus está usando para trazer seu irmão Quinn para casa. — Quando Cole roubou a coroa de Bela, seu irmão gêmeo estava em Gaule com sua unidade militar. Ele não participou da aquisição e ninguém sabia qual lado ele escolheria.

Uma nova voz entrou na sala. —Você está dizendo que a rainha de Gaule tem meu irmão?

Os olhos de Dell se voltaram para Helena na porta. O fogo ardia em seu olhar. O súbito silêncio de Simon e Landon foi resposta suficiente.

 

Helena esperou que alguém expressasse o que sabia agora. Ela reconheceu Landon assim que espiou dentro da sala. Faz anos desde que ela viu o primo e eles nunca foram próximos, mas ele ainda era alguém de casa, alguém que a conhecia sem a máscara.

—Helena. — O nome dela escorregou de seus lábios como uma oração enquanto ele se levantava. Os olhos dele se arregalaram. —Os relatórios disseram que você estava morta. — Ele engoliu em seco. —Que todo mundo estava...

—Morto? — Ela terminou por ele. — Diga-me primo, você está atrás de Cole? Ele tinha o apoio do exército, seu exército.

—Não, Helena. — Ele deu um passo em sua direção.

Ela deu um passo atrás.

—Eu nunca trairia seu pai.

Os partidários de seu pai não eram muito melhores que os de Cole. Eles ainda destruíram o reino.

Mas aqueles leais ao pai seriam leais a ela.

—Eu acredito em você. — Ela torceu as mãos juntas. —Agora, me diga onde está Quinn.

Simon passou a mão no rosto. —É por isso que vim aqui com Landon.

Landon voltou ao seu lugar e assentiu. —Ouvi rumores rebeldes entre minhas tropas muito antes de se revoltarem. Quando Quinn chegou em Gaule, eles já haviam escolhido seus lados. Os rebeldes receberam ordens para voltar rapidamente a Madra. A missão deles era devolver Quinn ao lado de seu irmão gêmeo. Então eles atacaram. A maioria dos leais foi morto imediatamente, mas eu escapei com Quinn. Buscamos refúgio da rainha de Gaule.

Simon coçou o rosto, a exaustão percorrendo os cantos dos olhos. —Chegou a notícia ao novo rei de Madra que seu irmão estava em Gaule. Ele enviou um mensageiro para informar a rainha Catrine, caso ela escolhesse não devolver Quinn ao seu devido lugar, sua filha sofreria por isso.

—Camille. — Helena cobriu a boca com a mão. Eles não tiveram escolha a não ser deixar Camille em Madra, pensando que ela estaria segura enquanto Cole precisasse da aliança de Gaule.

Antes que alguém entrasse em outra palavra, a porta se abriu, revelando dois homens tropeçando e um terceiro segurando-os.

—Encontrei Edmund. —Alex sorriu. Seu sorriso caiu quando ele pegou seus companheiros. —O que está acontecendo? Simon, é minha mãe...

—Ela está sentada à beira de um precipício moral, mas com boa saúde. — Simon levantou-se para cumprimentar o rei.

Confusão brilhava no rosto de Alex quando ele jogou Edmund e Tyson em cadeiras. —Desculpe esses dois. Os dois estão passando por tempos difíceis. — Ele estendeu a mão e apertou a mão de Simon. —Diga-me o que eu perdi.

Helena enrolou a capa com mais força em seu vestido de dormir e encostou-se à porta, tentando processar tudo o que eles disseram. Um pensamento surgiu acima do resto. Quinn estava vivo.

Estou serpenteando em suas veias e ela bateu na porta, sacudindo todos na sala. —Então a rainha de Gaule mandará meu irmão de volta para Madra?

—Sim, princesa. — A tristeza encheu os olhos de Landon. —Fomos recebidos no palácio de Gaule e seguros lá por cerca de uma semana antes que os guardas viessem prender Quinn e colocá-lo nas masmorras. Eu não o vejo desde então.

Havia uma pergunta que ela estava com medo de perguntar, porque a resposta poderia quebrá-la. Mas ela precisava saber. —E Quinn... ele quer voltar? Para Cole?

Os olhos de Landon se suavizaram. —Ele lutou com tudo o que tinha para se manter longe desse destino.

Helena soltou o fôlego que estava segurando.

—Ele estava planejando vir para Bela? — Dell perguntou.

Landon balançou a cabeça. —Não havia nada para ele aqui. Ele acha que todos os membros de sua família morreram em Madra.

Etta estreitou os olhos. —Então por que você está aqui?

Simon tomou um longo gole antes de pousar o cálice. —Catrine está enfrentando escolhas que apenas levam a um caminho sombrio. Não vou permitir que ela comprometa seu caráter.

Helena não conhecia o homem, mas ela entendia o olhar nos olhos dele. Ele traiu a rainha porque estava apaixonado por ela.

Edmund levantou a cabeça. —Simon, foi gentil da sua parte se juntar a nós.

—Ignore-o. — Disse Etta.

Tyson soltou um ronco.

—E ele. — Ela suspirou.

—O que você quer que a gente faça? — Alex perguntou.

—Fale com ela. — Simon encontrou o olhar do rei. —Eu não vim para Bela porque preciso da ajuda do rei e da rainha. Vim porque precisava dos filhos de Catrine. Quinn não está programado para partir em um navio madrano por mais uma semana.

—E se ela não ouvir? — Perguntou Dell.

Helena chutou para longe do batente da porta e caminhou na direção deles. —Então lutamos. Quinn não retornará a Madra enquanto eu ainda estiver respirando. Estarei pronta para partir de manhã.

Ela deu um tapa na lateral do rosto de Edmund. —Acorde, seu bêbado.

Ele acordou assustado. —O que? O que está acontecendo?

—Durma um pouco porque você vem comigo. — Ela se virou para Alex, passando os olhos entre ele e Tyson. —Decida qual dos filhos desta rainha pode mudar de ideia e se preparar para cavalgar. — Ela caminhou até a porta.

—Eu também vou. — Dell gritou para ela.

—Claro que você vai.

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Cinco


Helena entrou no quarto e colocou a mão na garganta. Seu pulso martelava contra os dedos. O que ela estava fazendo?

A alegria assumiu o controle, abafando qualquer dúvida. Quinn estava vivo. Não apenas isso, mas ele não estava correndo para se juntar a seu irmão gêmeo. Os dois sempre tiveram um vínculo que nada do lado de fora podia invadir - nem mesmo ela.

Uma lágrima escorreu por sua bochecha. Ela se sentia tão sozinha - mesmo quando ainda tinha Kassander ao seu lado, assim como algumas outras pessoas que se importavam com ela. Mas Quinn... ele realmente estava sozinho em uma masmorra.

Um gemido veio da cama que ela compartilhava com Kass e ele se debateu.

—Não. — Ele disse. —Você não pode pegá-los. Helena! — Os olhos dele se abriram, pousando em sua irmã.

Helena correu para a cama e sentou na beira, puxando Kassander para o colo. —Shhhh. — Ela acariciou seus cabelos. —Está bem. Estou aqui. Por enquanto. — Ela teria que deixá-lo aparecer de madrugada.

Os olhos arregalados de Kassander ergueram-se para os dela.

—Sonhei com aquela noite.

Ela deu um beijo na testa dele. Não foi a primeira vez que eles sonharam com castelos em chamas e lutas de espadas nos corredores. Toda vez que ela via, uma dor fantasma queimava seu braço onde ela foi esfaqueada.

—Acabou, Kass. Estamos a salvo.

—Estamos? — Era uma pergunta que ela se perguntava muitas vezes. Cole viria atrás deles? Ele pensou que Helena estava morta, mas Kass...?

Não. Ela sabia com súbita certeza que Kassander não seria prejudicado. Pelo menos não por Cole. O irmão deles pode ter odiado os pais e desprezado Estevan, mas ele amava o irmão mais novo. Ela viu isso. Nem tudo poderia ter sido uma mentira, poderia?

Ela deitou-se na cama com Kassander. —Eu preciso te contar uma coisa.

—Hmm? — Ele se virou para enterrar o rosto no ombro dela.

—Eu tenho que sair amanhã.

—Onde você vai?

Ela poderia contar a ele sobre Quinn? Não. Quando ele acordasse, ela já teria ido. Se ela fosse tarde demais para ajudar Quinn, Kassander nunca saberia. Ela não aguentaria sua decepção novamente.

—Apenas me prometa que ficará longe de problemas até eu voltar.

Ela esperou por uma resposta, mas ele já havia adormecido.

 

O sol mal nascera quando Helena montou o cavalo. Ela não estava confortável em uma sela, mas supôs que aprenderia rapidamente. Não havia outra escolha.

Edmund resmungou ao lado dela. —É muito cedo, e minha cabeça está me matando.

Helena sabia que ele não quis dizer nada com o que ele disse. Ele queria encontrar Quinn quase tanto quanto ela. Ele era apenas Edmund, um queixoso.

—Talvez se você não tivesse forçado tanta cerveja para dentro de mim. — Começou Tyson, levando um cavalo ao lado deles. —Não nos sentiríamos tão maus esta manhã.

Edmund bufou e estreitou os olhos quando finalmente viu a besta ao lado de Tyson. —Não. Ty, você vai colocar o cavalo de volta agora.

Helena se inclinou em torno de Edmund para avistar Vérité.

Tyson cruzou os braços. —Diferente de você, Vérité gosta de mim. Etta me disse para levá-lo. Ele pode nos ajudar.

—Ele é apenas um cavalo. — Disse Dell.

Simon se juntou a eles, balançando a cabeça. —Você não conhece Vérité. Ele é mais do que um cavalo, mas ele só ouve Etta.

—E eu. — Tyson enviou um olhar para cada um deles.

—Tudo bem. — Edmund deu um passo para trás. —Mas mantenha-o longe de mim.

Como se soubesse que eles estavam falando sobre ele, Vérité pulou em direção a Edmund, estalando os dentes e pegando a ponta da capa do loiro.

Edmund soltou um grito agudo e se afastou.

Dell riu, mas Helena não se divertiu. Ela só tinha a missão em mente. Ir para o Gaule. Confrontar a rainha. Libertar o irmão dela. Então se vingar de Cole.

Landon a ajudou a montar no cavalo, e ela segurou as rédeas como se sua vida dependesse disso. Talvez sim.

O resto do grupo montou e, sem olhar para trás, eles deixaram a vila para trás.

Helena chutou o cavalo para acompanhar o resto, balançando antes de se endireitar e endireitar a coluna.

Dell parou ao lado dela, com um olhar de conhecimento.

—Você está bem?

Ela apenas assentiu, seus lábios se dobrando em uma linha sombria.

Sentindo sua necessidade de não falar, Dell chamou Tyson.

—Como você ficou preso a essa missão em vez de seu irmão?

Ty deu de ombros. —Alex é rei em Bela agora. Além disso, é mais provável que a mãe me ouça. Alex e Camille tiveram um... relacionamento difícil. A mãe não aceitaria nada do que ele dissesse sobre Camille no coração. Eu, por outro lado, amo minha irmã. Eu também amo minha mãe e sei que ela não entrega pessoas inocentes. Ajudaremos Camille, mas não dessa maneira.

Pela primeira vez, Helena considerou o quão difícil deve ser manter o título de príncipe em dois reinos. Tinha sido difícil para ela ser uma princesa de um.

Mas ela não pensou por um segundo que uma rainha pudesse ser influenciada simplesmente por conversa. Não foi dito que alguém era tão forte quanto Catrine. O que seria realmente necessário para libertar Quinn?

Landon cavalgou ao lado dela, como se estivesse tentando encontrar algo para dizer. —Chegaremos à fronteira ao pôr do sol amanhã.

Helena apenas assentiu.

—É verdade? — Ele finalmente deixou escapar.

Ela se virou para perfurá-lo com o olhar. —O que é verdade?

—O jovem príncipe Kassander. Ele também vive? Eu ouvi rumores no palácio.

Ela olhou para frente mais uma vez. —Ele vive. Ele estava dormindo quando você chegou.

Um sorriso se espalhou pelo rosto de Landon. —Isso é bom. Realmente muito bom.

—Estevan ainda está morto. — Sua voz não teve emoção.

—Sim. — Ele abaixou a cabeça. —Eu tinha ouvido isso.

—E Cole não tem muito tempo para viver.

Sua testa franziu com isso, mas ele assentiu.

—Dois irmãos mortos ou traidores. — Continuou ela. —Um preso. Uma criança. Você acredita em vingança, general?

—Eu acredito.

—Que tal matar a própria família?

Ele desviou os olhos dela e não respondeu.

Dell encontrou seu olhar com preocupação, mas não falou.

O cansaço penetrou em seus ossos quando pararam para passar a noite. Ela desmontou, uma dor subindo por sua espinha. Ela tropeçou enquanto tentava andar depois de passar o dia todo em cima de um cavalo.

Dell agarrou seu braço. —Você vai se acostumar com isso.

Ela deu de ombros e libertou sua mochila amarrada à sela antes de se afastar.

Simon e Landon acenderam o fogo. Tyson passou em torno de com uma vasilha de carne seca que Etta havia enviado.

—Quinn deveria ter escolhido uma época melhor do ano para ser preso. — Disse Edmund, puxando a capa sobre a boca.

Tyson o empurrou. —Você não pode fazer piadas, imbecil.

Era um lado que Helena não conhecia de Edmund. Disfarçado e indiferente. No ano em que o conhecia, ele sempre tinha uma piada nele, mas não era assim. A perda de Stev havia roubado o homem que ele se tornara?

Ela balançou a cabeça e se abaixou no colchonete que havia deitado, puxando o cobertor de lã até o queixo. O frio noturno escoou pela capa e ela se aproximou mais do fogo do que era seguro. Ela não era a única.

Uma brisa fraca parou de repente, jogando-os em completa quietude. Pelo menos Edmund ainda tinha sua magia.

Sem o vento, o frio ficava mais suportável.

Os homens conversaram enquanto Helena deixava as pálpebras caírem. Amanhã à noite, ela alcançaria Gaule.

Estou indo Quinn.

 

Algo roçou o braço de Helena, acordando-a. Seus olhos se abriram ao encontrar Dell pairando sobre ela.

—O que você está fazendo? — Ela empurrou o cobertor para se sentar.

Ele sentou-se nos calcanhares e coçou a bochecha. —Você estava tremendo. Eu... uh...

Foi só então que ela percebeu que não havia apenas um cobertor cobrindo-a. Ambos agora estavam amassados ao lado. —Você estava me dando seu cobertor?

Ele deu de ombros, subitamente sem palavras. Isso não era como ele.

—Dell...— Tudo o que ela queria dizer, outra coisa saiu de sua boca. —Eu não preciso que você cuide de mim.

Sua mandíbula apertou. —Você deixou isso bem claro. — Ele se levantou e se afastou.

Helena chutou o resto dos cobertores e pulou para correr atrás dele. —Dell, espere.

Ele se virou tão rápido que ela colidiu com ele. —Por que, Len?

—Eu sinto muito.

Ele soltou um suspiro e baixou a cabeça para encontrar o olhar dela. —Você não tem nada para se desculpar. Venha aqui. — Ele a puxou contra ele e a abraçou. —Eu só estou aqui por sua causa, Len. Você pode não precisar de mim, mas isso não significa que vou a lugar algum.

Ela se afastou. —Como assim, você está aqui por minha causa? Você teve que fugir de Madra para sua própria segurança, assim como a minha.

Ele passou a mão pelos cabelos e olhou para o céu. —Você sabe por que eu desafiei meus irmãos para ajudar Edmund?

—Porque você confiou em Edmund.

—Eu confiei... mas Len, eu me tornei um espião. Arrisquei tudo... isso não é algo que você faz apenas porque alguém que você respeita pede para você.

—Então por que?

Ele abaixou o olhar até que se estabeleceu nela mais uma vez.

—Eu sabia o que aconteceria com aqueles dentro do palácio se uma rebelião estourasse.

—Mas você não sabia que eu era a princesa. — Não poderia ter sido tudo para ela.

—Não. Pensei que você fosse a amante do príncipe.

A vergonha corou através dela. —E você ainda queria me salvar?

A ponta áspera de seu polegar raspou em sua bochecha.

—Desde o momento em que te conheci, não importava quem você era atrás das muralhas do palácio. Quando você estava comigo, você era Len. Eu nunca parei de pensar em você.

Ele descansou a testa na dela.

O coração de Helena deu um pulo ao seu toque. Ela queria mais do que tudo ceder às emoções que rodavam dentro dela.

—Você já desejou poder voltar ao baile? — Ela sussurrou. —Quando você percebeu quem eu era e ninguém mais existia além de nós?

—Todos os dias... sem que nossas famílias nos aprisionassem de antemão.

Ela fechou os olhos, uma lágrima escapando. A vida por trás da máscara parecia muito tempo atrás, mas ela se viu sentindo falta dela. Dias passados com a mãe. Noites passadas brincando com seus irmãos. Ela não precisava do resto do mundo. Ela os tinha.

Por um curto período de tempo, Dell havia lhe dado tudo o que não podiam. Ele mostrou a ela que tipo de vida ela poderia ter. Uma de aventura... uma de amor.

—Helena. — Ele respirou. —Eu-

Ele se inclinou, seus lábios roçando os dela.

—Nós não podemos. — Ela se afastou. —Esse é o problema, Dell. Não podemos voltar. Essas pessoas não existem mais. Se eu vou fazer o que precisa ser feito, preciso esquecer a garota que eu era. — Ela saiu de seus braços.

Ele os deixou cair ao seu lado. —Len, não faça isso. Não deixe a raiva consumir você.

—Você não ouviu nada que Etta disse? É assim que eu vou lutar.

 

 

 

 


Capitulo Seis


A chuva envolveu o grupo no segundo dia de viagem. Dell afastou os cabelos molhados do rosto e manteve os olhos fixos nas costas de Helena. Ela estava errada. A raiva não era a única maneira de lutar. Ele ouviu tudo o que Etta ensinou a Len, mas não achou que a raiva fosse o ponto de suas lições.

—Ty. — Edmund latiu. —Você não vai fazer algo sobre isso? — Ele olhou para o céu quando outro dilúvio os atingiu.

—Oh. — Tyson deu de ombros. —Eu acho que poderia.

Dell se assustou quando a chuva parou. Não, não parou. O tamborilar dele batendo no chão ainda soava ao redor deles, mas era como se a água se curvasse de onde eles cavalgavam. Como se um escudo tivesse sido colocado ao redor do grupo.

Helena engasgou momentos antes de Dell também sentir a água escorrer de suas roupas.

—Você está fazendo isso? — Ele perguntou ao jovem príncipe.

Landon xingou e olhou em volta descontroladamente.

—Vocês belaenos. — Ele resmungou.

Tyson deu de ombros. —Às vezes posso ser útil.

O que isso significava? O poder de Tyson com a água era a coisa mais legal que Dell tinha visto em Bela.

Edmund se mexeu na sela. —Ty... é claro que você é útil.

Tyson olhou para as mãos. —Não, está tudo bem. Conheço meu papel em Bela e em Gaule. Eu sou o mensageiro. Pertencer a nenhum reino completamente. Você não esteve aqui no ano passado, Edmund. Depois de...

—Você deixou Amalie. — Edmund terminou.

—Sim, isso. Passo a maior parte do tempo na estrada. Não se preocupe; Sou a melhor pessoa para navegar em Gaule. Isso é algo que eu posso fazer.

—Navegar em Gaule? — Dell olhou entre os dois homens.

Tyson suspirou, mas foi Simon quem respondeu. —Gaule se tornou um lugar traiçoeiro, rapaz.

Helena diminuiu a velocidade do cavalo para se mover ao lado de Dell. —Não. Estudei Gaule com os tutores do meu palácio. Foi um lugar de paz por muitos anos.

Simon fixou seu olhar nela. —Foi uma paz falsa, mas isso não é algo que eles ensinariam em Madra. Gaule caçou aqueles com magia dentro de suas fronteiras por muitos anos. Para pessoas não mágicas, eles tinham paz, sim. Mas teve um custo.

—E então Alex aconteceu. — Tyson esfregou os olhos como se doesse sua cabeça pensar nisso.

—O que Alex fez? — Dell sacudiu os olhos entre cada um dos presentes.

Simon fez uma careta. —Nada que deveria ter custado a ele seu trono. Ele queria interromper a perseguição. Muitos dos nobres agiram por medo e não ficaram atrás do rei quando o povo se rebelou. Seu próprio conselho tirou a coroa do topo de sua cabeça.

—Um conselho não pode fazer isso. — Zombou Helena. —Os únicos que tinham o poder de remover meu pai eram os padres.

—Não há padres em Gaule. O conselho e o rei governaram em conjunto um com o outro. Eles perceberam que o povo nunca terminaria suas rebeliões com Alexandre como rei. Ele era um amante da magia.

—Muito bem. — Tyson cruzou os braços.

—Espere. — Dell não conseguia entender como isso poderia acontecer. —A rainha Catrine pegou a coroa de seu próprio filho?

—Alex deixou. — A voz de Tyson continha uma nota defensiva. —Isso foi ao mesmo tempo que Etta estava marchando para a guerra contra La Dame. Alex precisava se juntar a essa luta e ele nunca poderia ter quando seu dever estava com Gaule.

—A coroação de Catrine reprimiu a rebelião? — Helena perguntou.

Dell se perguntou se ela estava pensando na rebelião em seu próprio reino. Isso também resultava em uma nova trégua.

Simon soltou um suspiro. —Esperávamos que sim, mas o reino já estava dividido. Ainda há muitos que são leais à rainha, mas outros continuam a semear inquietação. Anos de rebeliões resultaram em escassez de alimentos, aumentando apenas o desconforto.

—É por isso que ela precisa da aliança com Madra. — Helena respirou. —Meu pai disse que prometemos tropas para ela.

Tyson rangeu os dentes. —E é a única razão pela qual minha irmã concordaria em se casar em um reino estrangeiro.

—Eles não vão liberar Quinn. — Ela segurou as rédeas, falando apenas com Dell dessa vez.

Dell não conseguiu negar a verdade em suas palavras. Se Gaule precisava de Madra, por que a rainha arriscaria a aliança para libertar um único homem?

Simon, ouvindo as palavras de Len, passou a mão nervosamente pela cabeça. —Você não conhece Catrine. Ela faz a coisa certa, não importa o custo. Sua integridade é inferior a nenhuma. Por isso vim para Bela. Tem que haver outra maneira. Gaule não pode levar em consideração corar um rei que matou sua própria família para assumir o trono.

Helena se encolheu. Dell estendeu a mão para segurar sua mão em segurança, mas ela cutucou o cavalo para aumentar o espaço entre eles.

Ele apertou os lábios.

Tyson olhou para eles. —Simon está certo. Isso é maior do que entregar um homem a Madra. Depois que a mãe fazer isso, o que vem a seguir? Eles sempre manterão a segurança de Camille sobre nós?

Afundaram em silêncio, considerando as implicações dessas palavras.

Depois de um tempo, a chuva desapareceu e Tyson liberou sua magia, afundando na sela do esforço.

O sol se pôs no horizonte quando Simon parou. —Se formos muito mais longe, atravessaremos Gaule e prefiro não fazer isso no escuro da noite.

Edmund olhou para a extensão diante deles. Um vale se estendia pela noite, coberto de ervas. —Neve. Não temos muito disso em Bela. — Um sorriso deslizou em seu rosto. —Não poderíamos cavalgar até a propriedade dos Moreau? Não pode estar longe e uma cama macia parece legal no momento.

Dell não perdeu os olhares afetados que piscavam nos rostos de Tyson e Simon.

—Edmund. — Começou Tyson. —Eu continuo esquecendo que você esteve em Madra com poucas notícias de casa.

—Somente o que os comerciantes nos trouxeram.

Tyson assentiu. —A duquesa Moreau perdeu suas terras logo depois que você partiu para Madra.

Os olhos de Edmund se arregalaram. —Como?

—O duque Ferenz construiu uma força. Ele sitiou a casa grande. Você esteve lá. Foi construída para lutar, pois fica próximo às fronteiras de Bela e Dracon. Mas eles não tiveram chance. Os homens do duque devastaram suas aldeias. Não vamos encontrar amigos lá.

Edmund recostou-se na sela, atordoado. —E a duquesa?

—Segura. Ela agora reside no palácio em tempo integral.

Ele soltou um suspiro aliviado.

Dell não conhecia as pessoas de quem falavam, mas suas expressões graves já diziam o suficiente. Gaule não seria um território amigo.

 

Helena deu um tapinha na espada embaixo da sela antes de subir, o orgulho brotando dentro dela por fazê-lo sem ajuda.

Ela dormiu mal durante a noite, incapaz de livrar sua mente da trágica história de Gaule. Um povo dilacerado por algo tão simples quanto mágica. Em Madra, os poucos com magia eram temidos. A maioria deles embarcou para Bela assim que a notícia do retorno de Persinette chegou à costa. Alguns ficaram por várias razões.

Mas ela não sabia se eles eram odiados. Era apenas uma das muitas coisas que ela não sabia sobre seu reino. Há quanto tempo a rebelião de Madra estava se formando? As pessoas apoiaram? Eles tinham amado o pai ou o irmão?

Eles não viram a primeira vila até chegarem ao topo do vale.

Uma torre de vigia apareceu, com a marca negra de fogo esticando suas pedras.

A parede ao redor havia desmoronado em muitos lugares. Eles conduziram seus cavalos pelas ruas desertas. Alimentos e itens pessoais se espalhavam pelos paralelepípedos como se uma massa de pessoas saísse às pressas.

—O exército do duque está acampado aqui perto. — Landon assumiu a liderança. —Devemos nos apressar e sair rapidamente das terras de Moreau. Há uma força de Madra patrulhando a zona entre aqui e o palácio. Quando deixarmos esta vila, não poderemos mais seguir a estrada. Os caminhos da floresta são traiçoeiros para os cavalos, então fiquem de olho.

Ele mal conseguiu pronunciar as palavras antes que algo se chocasse contra Helena, derrubando-a do cavalo.

—Len! — Dell gritou, mas ele não conseguiu alcançá-la porque, naquele momento, uma dúzia de cavaleiros apareceu nos becos.

Helena empurrou o homem que a havia ultrapassado. Ele agarrou seus pulsos, e ela girou embaixo dele.

Ela viu o uniforme carmesim dele. Madranos. Rebeldes. Passou por sua pele até que tudo o que ela viu foi um inimigo tentando subjugá-la. Ela bateu o joelho, pegando-o na virilha. As mãos dele sobre ela afrouxaram apenas o suficiente para ela soltar uma e puxar a adaga de onde ela sempre a mantinha no corpete. Com um empurrão da mão dela, ele caiu de lado.

Ela ficou de pé, soltando a adaga e se preparou para enfrentar o próximo atacante. Uma mulher correu para ela e Helena abaixou a adaga. Ela procurou o cavalo para recuperar sua própria espada, mas o animal se foi.

Besta explodida.

Tyson empinou em Vérité quando o cavalo chutou as pernas para o cavalo do atacante. Era como se o animal pensasse que ele também fazia parte da luta.

Helena se virou mais uma vez para encarar a mulher que a seguia. Ela julgou a distância entre elas, acalmando a respiração antes de arremessar a adaga com uma precisão mortal. Isso atingiu a mulher entre os olhos. Ela tombou do cavalo e o cavalo fugiu.

Um toque soou nos ouvidos de Helena quando a luta cessou ao seu redor. Os Madranos não eram páreo para o grupo menor, mas mais habilidosos, que atacavam.

Ela tropeçou de volta. A última vez que ela esteve em uma luta... imagens tocaram em sua mente. Fogo. Estevan. Ela balançou a cabeça, tentando se libertar das garras do passado. Ela teria que fazer isso repetidamente para garantir o trono? Matar?

Dell pulou do cavalo e correu em sua direção. —Len, você está bem? — Ele agarrou seus ombros, olhando-a de cima a baixo como se procurasse ferimentos.

—Precisamos sair daqui. — Simon resmungou.

Dell baixou a cabeça para olhar em seus olhos. —Len, olhe para mim.

A cena entrou em foco novamente.

—Você está bem? — Dell perguntou mais uma vez.

Ela deu de ombros e pegou a adaga da mulher morta enquanto a frieza a penetrava. —Tudo bem. — Limpando a lâmina na perna da calça, ela se juntou aos outros. —Eles eram madranos.

—Desertores, princesa. — Os lábios de Landon puxaram para baixo. —A turbulência dentro das tropas deu muitas chances de escapar. Bandos de desertores agora viajam pelas estradas, nada melhor do que ladrões comuns.

—Por que eles não voltaram para Madra?

—Como, princesa? — Landon balançou a cabeça. —Eles não têm nada, nem dinheiro para a passagem do navio. As tropas madranas são enviadas para países estrangeiros sem saber quando voltarão para casa. Eles se alistam sob a promessa de comida para suas famílias. Mas seu pai e suas guerras... Ele manteve muitos deles em zonas de guerra por anos.

Helena olhou para os mortos espalhados pela rua. Ela costumava se perguntar o que poderia levar uma pessoa a matar, a roubar. Mas eles não haviam acordado um dia e decidiram viver a vida dessa maneira. As circunstâncias, muitas delas criadas por seu pai, transformaram as pessoas em quem elas se tornaram.

Como ela viveu sua vida cega às falhas do pai? Ele falhou com seu povo. Cole não estava errado em acreditar que não merecia mais ser rei.

Ela poderia perdoar o irmão por querer a coroa.

Mas a mãe dela? Estevan? Não, essas foram as mortes pelas quais ele tinha que pagar.

Uma vez fora do território de Moreau, eles estavam em terras pertencentes à coroa de Gaule e patrulhadas pela força de Madra.

Galhos chicotearam Helena no rosto enquanto ela atravessava o chão coberto de neve na floresta.

A cada dia, eles se aproximavam do palácio. O que ela ia dizer à rainha para fazê-la ver?

A incerteza curvou seu estômago, mas era Quinn. Ela não podia decepcioná-lo.

 

As paredes do palácio de Gaule eram maiores do que qualquer que Helena já vira. Elas pairavam sobre ela, roçando o céu.

Simon cavalgou em direção à pequena guarita que parecia recém-construída. Ele falou com os guardas em tom baixo.

Os olhos de Edmund nunca deixaram os portões. —A última vez que estive aqui, Etta explodiu esses portões.

Os olhos de Helena se arregalaram. —Ela tem tanto poder?

—Não mais. — Ele desviou os olhos. —Houve um tempo em que Etta detinha todo o poder de seus ancestrais. Ela destruiu sua própria mágica para vencer La Dame. Agora ela só tem aquele com o qual nasceu. O poder de fazer as coisas crescerem.

Dell coçou a parte de trás da cabeça. —Seria incrível estar lá para a batalha de Dracon. Para ver esse tipo de mágica.

Um novo homem emergiu da guarita e Edmund afastou o cavalo deles. —Fique feliz que você não estava. — Com essa palavra final, ele desmontou.

Um guarda mais velho, de uniforme azul, se aproximou.

—Pai. — Helena nunca tinha ouvido tanto gelo no tom de Edmund.

Então, esse era o homem que desprezara Edmund a vida toda. Helena examinou seu rosto severo, instantaneamente não gostando dele.

—Você não deveria estar em Gaule. — Afirmou o homem. —Não é seguro para o seu tipo, mesmo que a rainha o apoie.

Edmund deu de ombros. —Nunca foi seguro para mim, foi? Temos que ver a rainha.

Como se os notasse pela primeira vez, o pai de Edmund examinou o grupo com uma careta.

Simon voltou. —Anders. — Ele estendeu a mão. —Trago convidados importantes.

Anders se recusou a apertar sua mão. —Você abandonou seu posto, Simon. Eu deveria ter você jogado em uma cela.

—Anders, eu fui e sempre farei o que é melhor para a rainha.

O homem suspirou. —Eu sei. Ela está de mau humor desde que você saiu. Ela ficará feliz em vê-lo pelo menos em segurança. Venha. Ela já se retirou para seus aposentos para passar a noite, mas quer vê-lo imediatamente. Seus convidados podem ter sua audiência amanhã.

Helena abriu a boca para protestar, mas Simon levantou a mão.

—O navio madrano já chegou?

Anders assentiu. —Esta tarde. Está ancorado fora da enseada. Eles estão programados para sair de manhã com o príncipe.

Cada palavra esfaqueou o coração de Helena. Amanhã. Eles estavam quase atrasados.

Os portões se abriram, suas engrenagens enviando um grito na noite.

Simon hesitou por um momento. —Então nossos convidados não podem esperar. Eles devem ver a rainha agora.

Anders não os impediu enquanto eles seguiam direto para uma cidade com fileiras de casas e lojas pelas ruas de paralelepípedos. Ao longe, havia outro muro alto que separava o palácio dessa parte externa.

Crescendo em uma cidade como Madra, as aldeias de Gaule e Bela pareciam pequenas em comparação. Ela não entendia como a população deles poderia viver tão espalhada.

Nos estábulos, dois rapazes pegaram seus cavalos.

Eles atravessaram os portões abertos para um pátio. Os degraus da entrada do palácio ficavam no outro extremo, arcos guiando o caminho. Tochas estavam em ambos os lados das portas. Os guardas acenaram com a cabeça para Simon, não o parando para questionar quem estava com ele.

Ela não sabia o que estava esperando depois do humilde palácio de Bela, mas não era o esplendor antigo que os cercava agora.

Eles atravessaram o chão de mármore, virando muitos cantos até que ela não tinha certeza de que conseguiria sair. Seu coração batia mais rápido quanto mais chegavam aos aposentos da rainha. Era isso. Seu momento de salvar o único membro de sua família que podia. No entanto, ela não sabia o que diria.

Eles pararam do lado de fora de uma porta de mogno esculpida. Simon não deu atenção aos guardas estacionados lá, e eles não o seguraram. Ele bateu e esperou.

—Entre! — Uma voz gritou.

Um dos guardas abriu a porta, revelando uma suíte luxuriante com carpete aveludado.

Uma mulher alta, com cabelos escuros e olhos claros apareceu. Franziu a testa e cruzou os braços sobre o peito. —Simon.

—Sua Majestade. — Ele se curvou.

—É isso aí? — Sua voz subiu uma oitava. —É tudo o que eu ganho? Sua Majestade?

—Mãe. — Tyson passou por Simon e ela viu que não estavam sozinhos pela primeira vez.

—Ty? — Ela amoleceu. —Eu não esperava vê-lo até o inverno nos deixar. — Ela estendeu os braços e ele afundou em seu abraço.

Helena desviou o olhar, lágrimas ardendo na parte de trás dos olhos. Ela daria qualquer coisa para sua própria mãe para segurá-la assim novamente.

A rainha olhou para o resto. —Edmund? — Ela soltou Tyson. —Oh querido garoto. Faz anos.

Edmund recebeu um abraço tão quente quanto o de Tyson. Ele enterrou o rosto no ombro da rainha e suas costas tremiam como se a mulher quebrasse todas as paredes que ele construiu com um abraço. Ela se afastou.

—Edmund. — Ela inclinou o queixo para que ele olhasse para ela. —Eu estava preocupada com você quando as notícias de Madra chegaram até nós. Você está...

—Bem? — Uma lágrima deslizou por sua bochecha e ele se afastou. —Eu...— Ele balançou a cabeça como se decidisse não contar a ela. —Estamos aqui por um motivo. Não importa o quanto eu sinta sua falta, não é por isso que eu vim.

A máscara de rainha de Catrine voltou e ela gesticulou para o quarto, olhando os estranhos.

—Landon. — Ela o cumprimentou. —Eu não pensei em vê-lo novamente.

—Sua Majestade. — Ele não tinha mais nada a dizer para ela.

Catrine falou com os guardas à sua porta. —Encontre alguém para nos buscar um chá.

—Vinho. — Corrigiu Edmund. —Vamos precisar de vinho.

A voz de Catrine endureceu. —Chá.

—Sim, sua Majestade. — O guarda desapareceu e Catrine fechou a porta antes de virar em direção à sala de estar.

Dois sofás compridos se enfrentavam em frente a uma lareira crepitante.

—Sentem-se. — Disse ela. —Por favor. Então você pode me dizer quem você trouxe para o meu reino, Tyson.

Tyson engoliu em seco quando se sentou.

Helena permaneceu de pé. Ela encarou a rainha. —Eu sou Helena, princesa de Madra.

A única reação da rainha Catrine foi levantar uma sobrancelha.

—Bem, eu certamente não esperava isso. Parece que podemos precisar desse vinho, afinal.

—Eu disse a você. — Edmund resmungou.

—Não temos tempo para bebidas ou brincadeiras. — Todas as incertezas de momentos antes desapareceram, e Helena sabia tudo o que precisava para transmitir. Ela levantou o queixo, olhando nos olhos duros de Catrine.

—Não. — Catrine cruzou os braços. —Essa é a minha resposta para você. Você veio ao meu prisioneiro.

—Meu irmão. — Helena rosnou. —Você vai libertá-lo para mim.

—Sinto muito. — A rainha desviou o olhar e deu a volta em torno de Helena para afundar no sofá ao lado de Tyson. —Eu não posso fazer isso. Minha filha está em jogo. A aliança do meu reino.

Helena se virou para encará-la mais uma vez e abriu a boca para falar, mas Simon interrompeu.

—E então? Entregamos um homem inocente ao usurpador e ele volta para nós pedindo mais na próxima vez. Camille nunca estará segura enquanto estiver lá. Você está colocando toda Gaule em risco.

—Suas tropas. — Disse ela. —Nós precisamos deles. Não posso continuar a conter os rebeldes sozinha. Etta se recusa a enviar ajuda, então o que devo fazer?

—Mãe. — Tyson agarrou sua mão. —Etta não pode enviar gente mágica para Gaule. Mesmo que ela tentasse, seu pessoal recusaria e ela deixaria. Eles não virão em auxílio do reino que os perseguiu.

A rainha expirou lentamente. —Eu sei. É por isso que não posso libertar o príncipe. Me desculpe, você chegou até aqui. Madra é minha única esperança.

—Então você cairá como meu pai. — Helena caminhou até a porta e os deixou olhando para ela.

 

 

 

Capitulo Sete


O palácio de Gaule era estranho a Helena, mas tão familiar. Servos apressados, preparando-se para os deveres da manhã seguinte. Os guardas a observavam, sempre atentos a estranha entre eles.

Ela sentiu alguém a seguindo quando saiu da ala real e sabia quem era sem se virar.

—Eles te mandaram atrás de mim? — Ela disse, sem parar.

Dell apareceu das sombras. —Você não deveria ter saído.

—Eu disse o que vim dizer. — Ela falou suas próprias palavras. — Eu vivi minha vida em torno de pessoas que tomam decisões em um reino e posso ler os sinais de uma causa perdida. Todos nós precisávamos de um momento para respirar.

—Len. — Ele agarrou o braço dela para parar seus passos.

—Temos que pegá-lo, Dell. — Ela se virou, consciente dos olhos nela.

Passos pesados bateram pelo corredor e o rosto sombrio de Edmund apareceu. —Não aqui. — Ele passou por eles, virando a esquina para outro corredor. Parou em uma porta que dava para um pátio de treino. Alvos de madeira estavam em uma extremidade, mas nenhum arqueiro ou espadachim praticava na hora tardia.

—Não haverá ouvidos indesejados aqui. — Edmund virou-se para eles. —Tyson continuará a falar com a rainha. Por isso precisávamos dele. Provavelmente não o veremos até a manhã, por isso precisamos seguir para o nosso segundo plano.

Os ombros de Helena relaxaram. Ela deveria saber que Edmund não confiaria apenas em conversas para salvar seu irmão. Ele faria o que fosse necessário... mesmo que isso significasse trair uma rainha que obviamente era como uma mãe para ele.

Edmund examinou a área circundante antes de se voltar para Helena. —Se o navio de Madra já chegou, precisamos nos preparar para a possibilidade de que madranos fiquem no palácio.

—A rainha nos contaria isso? — Dell perguntou.

Os ombros de Edmund se ergueram meio encolher de ombros. —Catrine guarda seus segredos. Ela não iria querer inquietação dentro dessas paredes. Não estamos mais em Bela, onde as pessoas confiam em sua rainha, nem em Madra, onde o rei tem imenso poder. Governar Gaule é como sentar na ponta de uma espada. Muitas pessoas veem Catrine como tendo roubado a coroa de Alexandre, mas ela o salvou desse destino.

Helena sentiu a mulher sentada naqueles quartos luxuosos. Ela sabia o que era se sentir enjaulada pelas circunstâncias. Mas isso não significava que Helena não lutaria com ela com cada respiração que respirava.

Ela endureceu a mandíbula. —Não importa o bem que ela fez. Ela tem Quinn. Diga-me, Edmund, você está do meu lado ou do dela?

Edmund fechou os olhos, protegendo-a da guerra em suas profundezas. —Catrine sempre cuidou de mim como se eu fosse dela. — Suas pálpebras se abriram, permitindo a Helena um vislumbre da dor por trás de suas palavras. —Mas ela está errada agora. E eu tenho que fazer isso. Eu tenho que proteger você, proteger seus irmãos.

—Por Estevan? — Ela sussurrou.

Ele balançou sua cabeça. —Por você. Você é minha família tanto quanto Catrine... tanto quanto seus filhos.

Helena conteve as emoções que ameaçavam se espalhar. Ela não era a garota que poderia mais quebrar. Não quando havia tanto em jogo.

Dell deu um passo à frente. —O que nós fazemos?

—Pergunte a ele. — Edmund gesticulou atrás deles.

Helena e Dell se viraram para ver quem havia chegado. Reed estava perto da porta, ouvindo a conversa silenciosa.

Dell pegou sua espada instintivamente, esquecendo que eles foram desarmados antes de serem autorizados a entrar no palácio. Helena sentiu o peso da adaga escondida, secreta dentro do tecido do vestido. Ela não queria puxar, mas se ele fizesse um movimento, ela não hesitaria.

Reed jogou as mãos no ar segundos antes de Dell correr para ele, batendo-o contra a parede. Ele pressionou o braço na garganta de Reed. —Ele ouviu tudo. Não podemos simplesmente deixá-lo ir.

Reed tossiu. —Se você me soltar. — Ele murmurou. —Eu tenho informações que você quer saber.

—Dell. — Edmund apertou a mão no ombro da Dell.

Dell puxou o braço para trás e seguiu para o outro extremo do pátio de treinamento antes de retornar. —Ok, irmão, o que você tem para nos dizer? Fale antes que eu peça a Helena aqui que corte sua garganta com a adaga que sei que ela escondeu em algum lugar.

Os olhos de Reed se arregalaram e Edmund xingou.

Helena virou-se para esconder o rosto.

—Princesa? — Reed nunca a tinha visto sem a máscara. Se não fosse pela língua tagarelada da Dell, ele não saberia que ela estava diante dele. —Eles disseram que você morreu.

Ela se virou para encará-lo e seus lábios se curvaram. —Eles disseram muitas coisas. Assim eles eram leais ao rei. Ou que eles amavam seu reino. Mentiras. Não acredite em nada que saia da boca de um rebelde.

Reed se empurrou contra a parede. Ele se aproximou de Helena, mas Dell entrou em seu caminho. —O que você está fazendo no Gaule, Reed?

—O rei me enviou para buscar seu irmão. Ele não confia em ninguém além de mim e Ian. E bem, Ian nunca sai do seu lado.

—O rei. — Helena zombou. —O rei está morto.

—Olhe. — Reed passou a mão pelo rosto. —Vi você chegar hoje e tenho seguido você desde então. Provavelmente não sou o único que viu. Felizmente, o resto dos homens de Cole que estão comigo só reconheceria Edmund. — Ele enfrentou Dell. —Assim que eu te vi... não sabíamos se você saiu ou onde está desde então.

—Estou surpreso por você se importar. — Disse Dell.

—Eu não. — A declaração chocou Helena, mas Dell nem sequer se encolheu. —Mas Cole... Madra está sofrendo. Bela se recusa a negociar conosco e Gaule não tem nada de valor, como comida.

Helena olhou para Edmund. —Você sabia que Etta cortou laços com Madra?

—Não. — Ele parecia tão aturdido quanto ela. —A rainha Belaena não enviaria forças para ajudar, mas as cortou. Bela tinha terras ricas, ajudadas por magia. Desde que recuperaram seu reino, eles forneceram boa parte dos alimentos aos seis reinos.

Mas isso não era Cole sofrendo. Eram as pessoas. O povo de Helena. Eles estavam com fome antes. Agora...

Reed continuou. —Cole ficou paranoico com o fato de alguém tentar assumir o trono. É por isso que ele me enviou para recuperar Quinn. Mesmo que os irmãos não concordem com isso agora, Cole acha que seu irmão gêmeo é a única pessoa em quem ele pode confiar.

—Camille. — Edmund apertou a mandíbula. —E ela...

—Ela está bem. — Reed desviou os olhos. —Por enquanto. Cole não é o mesmo desde o dia em que conquistou a coroa. — Ele encarou Helena com um olhar. —Ele se culpa por sua morte, e é a única coisa em tudo isso que o está comendo de dentro para fora.

Helena não acreditou nas palavras de Reed. Para que ele se sentisse culpado, Cole tinha que ter um coração, e ela sabia agora que era a única coisa que lhe faltava. Uma mente brilhante. Uma vontade de ferro. Ele poderia ter sido um bom rei se possuísse a peça final.

—Cole não é da minha conta hoje à noite. — Ela disse. —Conte-me sobre Quinn.

Reed esfregou uma mancha na cabeça. —Vamos partir amanhã na maré da manhã.

—Podemos libertá-lo das masmorras hoje à noite? — Os olhos de Dell saltaram animadamente como se estivessem prestes a embarcar em uma grande aventura.

Edmund o trouxe de volta à realidade. —Não. Passei um tempo considerável nessas masmorras. Eu até escapei delas uma vez com Etta. Mas elas foram fortalecidas desde então, assim como o topo das muralhas. Você vê isso? — Ele apontou para fileiras de arame pontudo nas paredes que se estendiam ao redor do palácio. —Não há como sair do palácio interno agora, se eles não querem que você saia. É tarde, então eles fecharam as paredes internas. Eles reabrem ao amanhecer, mas estarão fortemente vigiados.

Helena estudou Edmund por um momento antes de seus olhos descansarem em uma cremalheira de flechas atrás dele. —Como você é com um arco?

Sua sobrancelha se levantou como se não estivesse esperando a pergunta. —Decente. — O ceticismo soou forte em sua voz. —Mas se qualquer plano que esteja formulando em sua mente depender de precisão, você precisará da ajuda de Tyson.

—Ele vai desafiar sua mãe e arriscar sua irmã?

Edmund assentiu com relutância. —Ty sempre fará o que acha certo. Gaule é o seu reino. Se Camille se tornar rainha de Madra, Tyson se torna herdeiro de Gaule. Se ele acredita que esta aliança com Madra mergulhará Gaule em mais problemas, ele a interromperá.

Helena enfrentou Reed. —Eu não confio em você Reed Tenyson, mas tenho poucos aliados e sei o que você fez por nós em Madra. Você ajudou Dell a proteger Kassander. Só por isso, não vou te matar. Mas vou deixar Tyson atirar em você.

 

—Não podemos confiar nele .— Dell afastou Helena enquanto Edmund mantinha os olhos fixos em Reed.

—Eu sei disso. — Ela deu as costas para ele e colocou as mãos na cabeça. —Mas me diga de outra maneira, Dell. Por favor, me diga como vamos salvar Quinn sem a ajuda dele.

Quando ela se virou para encará-lo novamente, a primeira emoção que ele viu nela, além da raiva, desde que começaram a jornada, rompeu. Seus olhos brilhavam, mas ela não deixou cair uma única lágrima.

Sem pensar, ele a puxou para um abraço. Ela ficou rígida por um momento antes de relaxar nos braços dele.

—Dell. — Ela sussurrou. —Reed foi quem disse a Edmund onde Ian o prendeu. — Ela inclinou a cabeça para trás e olhou para ele. —Eu sei que você quer pensar em seus dois irmãos como criaturas malignas, mas sem ele, você não seria capaz de nos ajudar na rebelião. Sem ele, eu estaria morta.

Dell soltou um suspiro quando a verdade de suas palavras o atingiu. Os olhos dele percorreram o rosto dela e a mão dele tocou a parte de trás da cabeça dela. Quando ele pensou naquela noite e no que quase aconteceu, ele não conseguia respirar.

Helena deixou claro onde as coisas estavam entre eles, e ele cumpriria os desejos dela. Mas ele nunca perderia a sensação de que ela o atingia desde aquele dia na praia, quando eles escaparam das demandas de suas vidas.

Ele não sabia a verdadeira extensão de tudo o que ela corria desde aquele dia, mas para ele... seus irmãos. Sua madrasta. A vida dele.

Mas isso não era mais a vida da Dell. Ela mudou o destino dele. Agora estava aqui, em um reino estrangeiro, com ela.

Ele a soltou com um aceno de cabeça. —Ok, mas temos que tomar precauções.

—Concordo. — Ele a seguiu de volta para onde Edmund e Reed estavam em um impasse desconfortável. Apesar de sua ajuda, Reed ainda trabalhava para Cole.

Helena cruzou os braços, olhando seu aliado temporário.

—Conte-me tudo. Todo o seu plano para levar Quinn ao navio.

Reed esfregou a mandíbula. —Existem túneis.

Edmund soltou uma série de maldições.

—Gostaria de compartilhar? — Dell perguntou.

—A rainha Catrine mostrou a eles os túneis. — Ele esfregou os olhos como se não pudesse acreditar. —Ela está tão empenhada nessa aliança com Madra que está revelando os segredos do reino.

Em algum nível, Dell entendeu o pensamento da rainha. Um rei usurpador mantinha a filha em cativeiro e assinar o tratado era o único meio de salvar a filha. Parecia tão simples. Troque um homem pela segurança da princesa. Mas ele também entendia por que Simon os procurara. Por que Etta os enviou. Por que nem Tyson queria trocar por Camille.

Qual seria o próximo? Gaule se perderia para Madra, pedaço por pedaço? Já não era sobre Quinn Rhodipus.

Reed cruzou as mãos atrás das costas. —Não queremos que Quinn seja visto caminhando para a enseada onde nosso navio está ancorado. Vamos extraí-lo das masmorras e levá-lo através dos túneis que levam ao mar. Lá, vamos remar para o navio.

Helena mordeu o lábio, perdida em concentração. Dell observou-a considerar Reed. Ele praticamente podia ver sua mente trabalhando.

Como ela era apenas uma princesa ornamental? Madra teria ficado melhor com a princesa Helena no conselho do que como a tradicional chefe de comerciantes depois do casamento.

Helena deu um passo à frente, examinando Reed da cabeça aos pés. Ela bateu na perna dele enquanto olhava para Edmund por cima do ombro. —Se ele pegar uma flecha aqui, ele sangrará antes de poder chegar ao navio?

Reed congelou.

Edmund considerou a pergunta. —Ele deveria ficar bem. — Ele dirigiu suas próximas palavras para Reed. —Apenas não remova a seta. Você tem um médico nesse navio?

Reed assentiu, dando um passo para trás. —Você quer colocar uma flecha na minha perna?

—De que outra forma poderíamos resgatar Quinn sem levantar suspeitas? — Helena levantou os olhos para ele. —Existem homens combatentes no seu navio?

—Apenas um punhado. Há dois homens aqui comigo no palácio.

—Você se importa se eles são mortos? — Sua voz não tinha emoção, apenas um tom frio e lógico.

A mandíbula da Dell se abriu.

Reed se endireitou. —Eles são leais ao seu irmão.

—Eles estavam lá naquela noite?

Todo mundo sabia em que noite ela falava. A rebelião.

O silêncio de Reed foi resposta suficiente.

Helena apertou o punho, mas não falou de novo antes que a porta do pátio se abrisse e Tyson aparecesse, com uma expressão sombria na boca. Ele não se incomodou em perguntar quem era Reed porque seu olhar se fixou em Helena.

Helena correu para ele. —Você fez algum progresso?

Seus olhos caíram, dando-lhes a resposta.

—Sinto muito. — Disse ele. —Vou continuar tentando.

Os olhos de Helena endureceram, brilhando à luz das tochas. —Você precisa saber, Tyson... impediremos Quinn de entrar naquele navio, independentemente da decisão de sua mãe.

Ele assentiu como se não esperasse menos. —Eu convenci minha mãe a permitir que você visite as masmorras.

Helena congelou, suas palavras a sufocando na saída. —Eu posso vê-lo?

Capitulo Oito


Uma fileira de guardas está de pé no fundo da escada estreita da masmorra. A primeira coisa que Helena notou foi que cada cela tinha uma alma pobre presa dentro. Gaule tinha tantos criminosos? Talvez eles fossem rebeldes.

Seus duros gritos e gemidos enviaram um calafrio por sua espinha enquanto ela contornava os braços que a alcançavam.

Como Quinn poderia estar em um lugar como este? Seu doce irmão, o melhor de todos. E esse era o destino dele? A tristeza agitou-se dentro dela, revirando-se repetidamente até que endureceu em raiva que gelou seu coração.

Isso também foi culpa de Cole.

—Houve um tempo — Sussurrou Edmund. —Quando essas celas estavam praticamente vazias. Mas Gaule mudou.

Helena não estava interessada em ouvir o passado de Gaule. Ela examinou cada rosto que passou até que o guarda que os conduzia pela passagem úmida parou diante de um conjunto de barras de ferro enferrujadas. Ele tirou uma adaga do cinto e bateu contra o metal, sacudindo o homem por dentro.

—Olá, príncipe. — O guarda zombou. —Parece que alguém veio se despedir.

Quinn levantou o rosto machucado e Helena respirou fundo. Seus olhos nebulosos flutuavam sobre ela, e ela não tinha certeza se ele realmente a via. O início de uma barba cobria sua mandíbula afiada, dando-lhe um olhar mais sombrio do que ela estava acostumada. Mas ainda era ele. Ela deu um passo atrás, por um momento sentindo como se Cole estivesse sentado na frente dela com seus olhares idênticos.

Não Cole, ela disse a si mesma. Ele não está aqui. O medo diminuiu, ela caiu de joelhos no chão coberto de terra para se aproximar.

Os olhos de Quinn se clarearam e ele balançou a cabeça quando seu olhar se fixou nela. Ele murmurou o nome dela, sem emitir nenhum som.

Ela assentiu.

Ignorando a presença do guarda, Edmund e Dell, Quinn atravessou a cela em sua bunda. —Helena. — Sua voz soou como se ele não a tivesse usado há dias.

—Estou aqui. — Uma lágrima percorreu seu rosto, e ela alcançou através das barras.

Seus olhos se arregalaram e ele engoliu um soluço. —Você está morta.

Ela balançou a cabeça; cachos escuros se soltando de sua cauda baixa. —Estou aqui. — Ela repetiu.

O irmão forte dela tremia enquanto os soluços assolavam seu corpo. Ele enterrou o rosto nas mãos. —Eu pensei...— Ele não conseguiu expressar as palavras. —Eu pensei que era só eu. E Cole...

—Não fale o nome dele. — Disse ela, endurecendo a mandíbula. —Ele não é mais nossa família.

Ele ergueu os olhos vidrados para ela. —Você me encontrou?

Ela assentiu.

—Você veio para mim?

Ela chegou mais longe na cela, precisando tocá-lo.

Ele apertou a mão dela como se ainda não acreditasse que ela era real.

—Eu estava com tanto medo que no final...— Ele respirou fundo. —Que você morreu pensando que eu te trai junto com Cole.

Ela enxugou uma lágrima do rosto. —Não, Quinn. Eu conheço você. Eu sei o que há dentro de você. Você nos amou... você os amou.

—Pai. — Ele tremeu. —Mãe. Stev. Kassander-

—Não. — Ela apertou a mão dele para detê-lo. —Kass está vivo.

Era como se uma luz entrasse em seus olhos. —Vocês dois? Eu nunca imaginei. Onde ele está?

—Nos esperando em Bela.

—Nos? Dizem que a rainha concordou em permitir que os madranos me levassem.

—Temos um plano, Quinn. — Ela apontou para Edmund e Dell.

—Você a ajudou? — Quinn perguntou a Edmund.

Edmund balançou a cabeça e apontou o polegar na direção de Dell. —Era tudo ele.

A cor subiu nas bochechas de Dell quando Quinn se levantou, as pernas balançando embaixo dele. Ele enfiou a mão nas barras.

Dell pegou. Helena ficou ferida. —Eu não a teria deixado para trás. Se ela não tivesse sido ferida, ela teria salvado a todos nós.

—Eu sei. — Os olhos de Quinn se depararam com Dell por um momento a mais antes de liberá-lo.

—Quinn. — Helena recuperou sua atenção. —Amanhã, quando você ouvir alguém gritar seu nome....

—Cuidado, Lenny. — Ele encostou a cabeça nas barras. —Eu não posso te perder de novo.

 

Ela o tinha de volta. Antes de ver Quinn pessoalmente, a ideia dele ainda existia era como um sonho. Ela esperou tanto tempo para ouvi-lo dizer o nome dela, mas o sonho nem se comparava à realidade.

O palácio de Gaule era uma contradição. As pessoas tratavam seu grupo como convidados indesejados. A rainha planejava enviar o irmão de Helena para seu inimigo. No entanto, eles receberam quartos luxuosos. Os criados trouxeram bandejas de queijos e carnes, além de jarros de vinho da Borgonha, mais fortes do que os oferecidos em Madra.

Tanto para Gaule ser um reino faminto.

Mas era assim que sempre era, não era? As pessoas comuns passavam fome enquanto os mais altos festejavam. Ela viveu sua vida de um lado, sempre tendo comida mais que suficiente. Sempre recebendo o melhor do comércio de reinos vizinhos.

Trancada dentro de seu castelo, ela não sabia que poderia ser de outra maneira.

Mas agora ela viu isso nos rostos dos homens que tentaram roubá-los. Ela ouviu histórias dos rebeldes que só queriam comer.

Sua máscara não a protegia mais do mundo.

E era aterrorizante.

Ela rolou na cama de dossel que poderia acomodar três pessoas. Cobertores brancos e macios isolavam-na do frio que muitas das crianças gaulesas experimentariam naquela noite.

No alto, um dossel roxo escuro escondia a janela. Ela abriu as cortinas e sentou-se para contemplar o castelo adormecido. O quarto dela dava para o castelo externo. As pessoas que moravam lá eram as sortudas. A coroa cuidava deles.

E quanto ao resto?

E as pessoas como Quinn, que não eram nada além de peões para aqueles com poder? Quem cuidava deles?

Ela deixou as pernas caírem sobre a cama, os pés descalços roçando o macio tapete branco. Antes de dormir, uma criada do palácio trouxe água para ela tomar banho e lhe deu um vestido de dormir rosa de seda. Ela não experimentou tanto luxo desde que deixou Madra.

Naquela época, ela esperava. Ela era uma princesa.

Agora, isso a irritava.

Ela colocou a mão embaixo do travesseiro, onde havia escondido um a adaga. Tê-la por perto lhe dava uma sensação de força. Mas se eles fossem atacados, ela não teria utilidade contra uma série de guardas bem treinados.

Os gauleses a abandonariam? Se Cole descobrisse que ela ainda vivia e que seus supostos aliados a estavam abrigando...

Ela jogou a adaga no ar, pegando o punho com a outra mão antes de jogá-lo em direção à porta. Começou a abrir momentos antes de a adaga se enfiar na intrincada madeira.

Dell congelou. —Isso era para mim?

Helena deu de ombros e se levantou da cama. O vestido de dormir atingia apenas o topo de suas coxas e ela tentou puxá-lo para baixo quando o olhar de Dell deslizou sobre ela. Um rubor manchou suas bochechas, chegando até as pontas das orelhas.

—Obrigada por bater. — Sarcasmo escorria de suas palavras.

Ele não mordeu a isca. —Eu tive uma ideia.

—É o meio da noite. — Ela apontou para onde o luar prateado se filtrava pela janela.

—No entanto, você está jogando adagas pelo quarto.

Ela caminhou até a mesa na área de estar onde dois jarros estavam. Servindo-se de um copo de água, ela o levou aos lábios sem oferecer nada à Dell.

Com um suspiro, ela largou o copo. —Você sabe por que eu jogo adagas? Por que minha mãe me ensinou essa habilidade e afastou as outras de mim?

Ele balançou a cabeça e atravessou o quarto, pegando o copo dela. Ele tomou um gole quando ela estreitou os olhos.

—Jogar uma adaga requer muita concentração. É quase como se isso o levasse a um mundo totalmente novo, onde a vida ou a morte podem ser decididas com um movimento do pulso. — Ela pegou o copo de volta. —Minha mãe achou que eu precisava de algo que me permitisse fingir que nada mais existia. Sem expectativas ou limitações. Só eu e uma lâmina. Nunca foi sobre a proteção contra os outros. Ela pensou que eu precisava de proteção de mim mesma. Das dúvidas em minha mente.

Dell pegou a jarra e serviu seu próprio copo. —Sua mãe parecia uma mulher incrível.

Helena desviou o olhar. —Gostaria que Madra tivesse conseguido vê-la mais. Meu pai e seus padres a colocaram no papel de figura de proa. Ela era uma rainha que só se destacava por seus belos vestidos e pelos filhos que tinha, mas era muito mais que isso.

—Eu nunca ouvi você falar dela.

Helena rodeou o sofá branco e sentou-se, puxando as pernas para baixo dela. —Às vezes eu esqueço.

—Esquece o quê? — Ele se moveu para uma tocha ao longo da parede, puxando-a para mergulhar na lareira fumegante. Acendeu, e ele a recolocou em um gancho, seu rosto agora banhado em um brilho laranja. Mas não era só a chama. Dell brilhava de dentro para fora. Ela percebeu isso na primeira vez que o viu e nunca desapareceu.

Ele sentou-se ao lado dela.

Helena mordeu o lábio. —Que ela se foi. — Ela olhou para o fogo como se tivesse vergonha de suas palavras. —Eu tenho estado tão focada. Quero vingar a morte dela, mas nunca processei o fato de que ela se foi.

—Eu era jovem quando minha mãe morreu. — Dell torceu as mãos. —E então meu pai logo depois.

Ela se endireitou, pegando o braço dele. —Me desculpe, eu nem pensei. Às vezes, esqueço que não sou a única que perdeu pessoas.

Ele colocou a mão sobre a dela. —Não é por isso que estou lhe dizendo. Levei muito tempo para me sentir normal novamente. Parar de procurar em cada esquina o próximo evento que destruiria ainda mais minha vida. Não me aproximei de ninguém nem acreditei em nada. Meus irmãos... Ian sempre foi uma causa perdida. Mas Reed? Passei muitos anos apenas procurando uma luta. E eu encontrei bastante. Talvez pudéssemos estar lá um para o outro se as coisas fossem diferentes.

A mão dela apertou mais. —Se você não fosse um lutador de rua, nunca me conheceria. Ou Edmund.

Um sorriso deslizou em seu rosto. —Gosto de pensar que teríamos nos encontrado, independentemente das circunstâncias.

A energia passou por todas as células de Helena. Os cabelos de seus braços se arrepiaram quando ela se perdeu nas profundezas do olhar cristalino de Dell.

Ela colocou o lábio entre os dentes, incapaz de se mover mais. Ele a prendeu em seu poder.

Eles se separaram quando alguém bateu na porta. Helena ficou de pé e correu para abri-la, desesperada por um momento para respirar.

Tyson a cumprimentou do outro lado. —Eu tenho notícias.

Ela gesticulou para ele entrar. Seus olhos varreram o quarto e uma sobrancelha se ergueu quando viu Dell.

—Eu me sentiria mal por interromper, mas isso é importante. — Ele atravessou o quarto em alguns passos e caiu em uma grande cadeira com as asas com um sorriso satisfeito no rosto.

—O que você está esperando? — Dell perguntou.

—Edmund. Enviei um mensageiro para despertá-lo e trazê-lo aqui.

Edmund correu pela porta, dormindo ainda perseguindo seus passos. Sua carranca suavizou quando ele se acordou. —O que está acontecendo?

Tyson se inclinou para a frente, os cotovelos nos joelhos.

—Minha mãe não dirá a Madra que não pode ter Quinn.

Helena esvaziou. Ela tinha muitas esperanças quando Tyson chegou.

Tyson levantou a mão para parar suas perguntas. —Mas, se os bandidos o ultrapassassem de alguma forma, ela não enviaria seus homens para caçá-los.

Um sorriso se espalhou pelo rosto de Edmund. —Ela vai nos deixar ir?

Helena sentou mais uma vez. —Você disse a ela o nosso plano?

—Sim. — Tyson dirigiu a primeira resposta a Edmund antes de se virar para Helena. —E não. Minha mãe é uma mulher brilhante. E ela me conhece. Ela também reconhece algo no discurso que você deu a ela. Parecia muito com a justiça própria que Etta já carregou por aqui.

Edmund riu. —Sim, não é?

—Presumido? — Os lábios de Helena se fecharam.

Foi Tyson quem respondeu. —A maioria das pessoas em Gaule odiava Etta. Mas havia uma coisa que todos aprendemos. — Ele sorriu. —Ela estava sempre certa. Ela sabia o que era certo antes de nós.

Helena não conseguiu decidir se a descrição deles era um elogio ou não, então ela o ignorou. —Então, sua mãe assumiu que tentaríamos chegar a Quinn, afinal? E vai contra a vontade dela ao fazê-lo?

Tyson assentiu. —Ela foi abençoada com filhos insolentes.

Edmund resmungou em concordância. —Nós precisamos nos preparar. Nós não vamos voltar ao palácio. Landon nos encontrará com os cavalos quando tivermos Quinn. Se quisermos estar na enseada antes da maré da manhã, devemos sair em breve. Temos uma caminhada pela frente. Os portões do castelo ainda não estão abertos, mas essa não é a única saída daqui.

Túneis secretos. Entradas ocultas. Talvez Gaule não fosse tão diferente de Madra, afinal.

 

 

 

 

 

 


Capitulo Nove


Helena olhou para Tyson em questão enquanto ele ria e se transformava em uma capela que parecia não ter sido usada em um século.

—Todos esses anos e a mãe ainda não limpou esse lugar. — Ele passou os dedos por um altar empoeirado antes de pular na pequena plataforma para empurrar uma porta que gemia de desuso.

Helena começou a perder a fé, ele a abriu, mas Tyson pegou um painel escondido. Ele puxou uma trava e a madeira gemeu quando girou nas dobradiças.

Pedaços de rocha caíram quando Tyson a empurrou o suficiente para que uma pessoa passasse. Ele sacudiu cachos escuros do rosto e virou-se para eles com um sorriso. —Legal certo? Eu amo este palácio.

Edmund deu um tapinha no ombro dele. —Bela terá seu quinhão de segredos um dia também.

Tyson deu-lhe um sorriso apreciativo como se isso realmente tivesse sido uma preocupação dele.

Quem eram essas pessoas? O pai de Helena os consideraria do tipo errado para se misturar, mas ela imaginou que sua mãe teria gostado deles. Tyson era tão alto quanto um homem e musculoso também, mas ele tinha uma alegria infantil que ela não via desde... ela olhou para Dell. Desde que ela conheceu o garoto de Madra, que não levava nada a sério.

Ela não via esse lado da Dell desde que chegaram em Bela.

Mas então, ela mudou também.

Ela balançou a cabeça. O pai dela estaria errado. Tyson era exatamente o tipo de pessoa que ela precisava ao seu lado. Enquanto ela e Edmund lamentavam, ele lembrava a eles que ainda havia algo que valeria a pena lutar por vingança. Não era uma alegria infantil. Ela via claramente agora. Tyson era simplesmente bom.

Ele acenou para cada um deles através da porta secreta antes de fechá-la atrás deles.

—Estamos no muro agora. — Explicou Edmund sobre o túnel curto.

—Na parede? — A voz da Dell estava fechada na escuridão.

À frente havia uma segunda porta, iluminada por uma lasca de luz do amanhecer.

Edmund alcançou, voltando-se para eles. —Há uma parte do castelo onde as paredes interna e externa se conectam. Nós usamos isso muitas vezes com Etta e Alex. Este salão nos leva direto do castelo interno para o exterior. Vamos sair no lado leste das muralhas. Assim que sairmos, temos que correr para a floresta.

Cada um deles concordou com a cabeça antes de Edmund empurrar a porta, deixando-os em uma colina gramada. Helena olhou para trás quando a porta se fechou. Do lado de fora, ninguém saberia que estava lá.

Edmund decolou e ela o seguiu, apertando os braços no ritmo de seus passos. A floresta escura se estendia ao longe. Sobre as árvores, o início de um nascer do sol destacava a manhã.

Dell correu ao lado dela, com o queixo abaixado enquanto sua estrutura flexível se movia graciosamente.

Quando chegaram à cobertura das árvores, Helena lutou para respirar. Ela dedicou toda a sua energia a não desabar enquanto se curvava, o ar sibilando no peito.

—Todo mundo está bem? — Edmund perguntou.

—Nunca estive melhor. — Tyson sorriu. Nada o afetava?

Parecia que ele só tinha saído para dar um passeio e Helena quase o odiava por isso. Pelo menos Edmund e Dell tiveram a decência de ficar sem fôlego.

Ela chupou ar entre os dentes e se endireitou. Eles tinham que se mudar. Quinn estava contando com eles. Ela começou a andar, mas parou quando percebeu que ninguém a seguia.

—Len. — Edmund chamou. —Você está seguindo o caminho errado.

Ela gemeu e se virou para passar por eles mais uma vez. —O que você espera de mim? Passei minha vida inteira no mesmo conjunto de corredores.

Tyson assumiu a liderança, alegando que já havia feito essa jornada várias vezes antes. —Da última vez — Ele começou, —Gaule foi sitiada. Alex e eu chegamos para salvar o dia, é claro. Isso foi logo depois que ajudamos a expulsar La Dame de Bela. Bem, não Alex. Ele estava meio que sob o poder dela. O idiota. Mas quando voltamos para Gaule, nossa mãe estava cercada. Alex ainda era rei. Conduzimos nosso pessoal através da floresta para alcançar a entrada do túnel e salvar todos.

—Você salvou todo mundo? — Edmund zombou.

—Ah, cale a boca. Você nem estava aqui. — Tyson se inclinou para perto de Helena como se estivesse lhe contando um segredo. —Ele ficou em Bela quando Etta estava sendo uma cadela certa.

Edmund o empurrou. —Ela tinha acabado de quebrar a maldição.

Tyson deu de ombros. —Ela ainda era uma cadela. Bem, não era realmente ela. Ela tinha todo esse poder dentro dela que controlava muito do que fazia, mas esse poder a deixou quando derrotamos La Dame para sempre.

Dell balançou a cabeça. —Estou tão confuso.

Helena só conhecia as histórias trazidas de volta a Madra por soldados e comerciantes. Eles nunca lhe contaram os detalhes por trás da grande guerra mágica - como o povo não mágico de Madra o chamava. Ela nunca imaginou que estaria viajando por um reino estrangeiro com dois homens que não estavam apenas lá, mas profundamente envolvidos.

Ela não sabia nada de guerra, mas eles sabiam. —Quando eu voltar para Madra, vocês dois se juntarão a mim? — Ela não incluiu Dell porque ela já sabia que ele estaria ao seu lado. Era o caminho dele. Mas com Tyson e Edmund... talvez ela pudesse derrubar o irmão depois de tudo. Talvez ela pudesse vingar sua família.

Os dois homens ficaram em silêncio por um momento, o único som saindo de suas botas atingindo os pinheiros macios do chão da floresta.

Edmund passou o braço por cima dos ombros dela. —Você nem precisa perguntar, Lenny. Eu disse a Stev que cuidaria de você e essa promessa não termina em atravessar o mar.

Ela sorriu para ele. Foi a primeira vez que ele mencionou Estevan sem gaguejar seu nome ou desligar completamente. Progresso.

Tyson balançou a cabeça. —Eu sinto muito. Como príncipe, entendo o que você pode estar passando. Se alguém tirar Alex, Etta ou minha mãe de mim, eu também quereria vingança. Mas não posso ir contra os desejos da minha rainha e ela quer que a magia seja mantida fora dessa luta.

Algo dentro dela dizia que ele não quis dizer sua mãe. Tyson não desobedeceria Etta, a rainha que incutia tanta lealdade. Seu coração afundou.

Edmund apertou-a com mais força e se inclinou para sussurrar.

—Eu nunca fiz o que Etta me mandou fazer.

Tyson deu uma risada. —Não há palavras mais verdadeiras.

Ela queria que Tyson reconsiderasse, mas isso não mudou seus planos. Quando ela atravessasse Madra mais uma vez, ela teria Dell, Edmund e Quinn ao seu lado e sua fé estava neles. Ela procurou a adaga na cintura. Uma espada que Tyson havia adquirido de um dos guardas pendia de uma bainha que ela amarrava lá também, mas não lhe dava o mesmo conforto que a lâmina mais curta.

Enquanto caminhavam, ela repassou o plano em sua mente. Eles não confiaram totalmente em Reed. Ele pensou que eles planejavam segui-lo pelos túneis e alcançá-lo assim que ele saísse.

Ele estava errado.

Eles ainda superariam a partida para Madra na enseada, mas o ataque viria da floresta.

Quando se aproximaram da água, as árvores diminuíram. A floresta se estendia até a borda da terra logo antes da costa se curvar para dentro em direção à enseada.

Chegaram à beira das árvores, parando onde o chão caía sobre um pequeno penhasco. Uma praia branca ficava embaixo, onde as ondas batiam, espumando em direção à costa.

—Por aqui. — A voz de Tyson trouxe Helena de volta ao assunto em questão.

Ela olhou para ele por cima do ombro.

Tyson balançou a cabeça para o lado, dizendo-lhes para segui-lo. Ele colocou um dedo nos lábios. Eles estavam perto agora.

Helena forçou seus membros cansados a se arrastarem pelo resto do caminho. Eles pararam de se mover quando a enseada rochosa apareceu. Ainda escondidos entre os galhos retorcidos e as árvores grossas, eles observavam. Um navio estava na entrada da enseada com seu estilo madrano em arco. Longos remos pendiam de um casco escuro de madeira. Helena respirou fundo. Era um dos navios de seu pai. A bandeira real de Madra tremulava na brisa forte.

Helena abraçou a capa com mais força e soltou a adaga, sem se incomodar com a espada.

Um pequeno barco se aproximou carregado de dois homens em uniformes de oficiais de Madra. À medida que a água ficou rasa, eles pularam no mar, colidindo com o mar enquanto puxavam o barco para a costa arenosa.

—Apenas dois. — Murmurou Edmund. —Reed manteve sua palavra.

Ela ouviu o perigo em seu tom. Viu ele tocando o punho de sua espada. Esses dois homens não viveriam o dia inteiro.

E ela não pôde convocar um único pingo de remorso. Traidores mereciam morrer.

—Onde estão esses túneis? — Dell protegeu os olhos contra o sol da manhã.

Tyson apontou para uma fenda curva na face da rocha. —Tem uma porta por lá. Só pode ser aberta por dentro.

Edmund recuou ainda mais para as árvores. —Hora de tomar nossas posições. Tudo o que resta a fazer é esperar.

 

Quando o sol se elevou acima de suas cabeças, os dois soldados na praia se levantaram da rocha em que estavam sentados e se aproximaram do túnel.

Helena encontrou o olhar de Dell, respondendo à pergunta nos olhos dele com um aceno de cabeça. Ela estava pronta.

Ela se agachou em seu lugar atrás de uma pedra na linha das árvores e agarrou uma adaga em cada mão. Tyson pegou uma flecha, encostando-se na base de um pinheiro alto, enquanto observava a entrada do túnel.

Edmund puxou a espada em um movimento fluido, segurando-a como se não pesasse nada.

O silêncio preencheu o espaço entre eles.

Finalmente, os homens reapareceram. Reed andava atrás deles, com a mão presa no braço de Quinn.

Helena ofegou. Eles amarraram suas mãos atrás das costas e um fio de sangue escorria de sua linha do cabelo. Ele revidou?

Com quem ela estava brincando? Claro que ele revidou. Era Quinn.

Um sorriso lento se espalhou por seu rosto, parando quando outro movimento chamou sua atenção. Mais soldados saíram do túnel, cercando Quinn e Reed.

Soldados que eles não esperavam ou planejavam.

—Bem, e agora? — Dell murmurou.

—Ainda podemos pegá-lo. — Sua voz endureceu quando ela olhou para Edmund. —Nós podemos lutar.

—Eles nos superam em número de três para um. — Tyson abaixou o arco.

Os olhos de Edmund falaram de derrota.

—Não. — Ela apertou os dedos com mais força em volta do punhal. —Edmund, se fosse Stev, você faria. Temos que tentar. Eu não vou deixá-lo. Se você não me ajudar, eu mesmo farei.

Helena pulou de seu lugar e correu, as maldições de Edmund atrás dela.

Os olhos de Quinn se ergueram quando ela se separou das árvores. Os soldados a observaram confusos até que ela lançou uma de suas adagas a toda velocidade. Atingiu a testa de um madrano mais próximo. Ele tropeçou para trás, o sangue encharcando seu uniforme.

Isso estimulou o resto a entrar em ação. O barulho de espadas ecoou em seus ouvidos, mas ela o bloqueou enquanto abaixava o primeiro ataque, caindo baixo e cortando a adaga na parte de trás do joelho do homem. Ele desmaiou, um grito que ela não podia ouvir nos lábios dele.

Outro soldado fez por ela, e ela não foi rápida o suficiente para se desviar do caminho enquanto ele balançava a espada em sua direção. Parou no ar quando uma flecha o atingiu através dos olhos. A lâmina caiu de suas mãos e ele caiu.

Edmund e Dell os alcançaram, envolvendo seus próprios atacantes. Dell mal evitou uma lâmina no braço antes de derrubar seu homem no chão.

Edmund girou nos calcanhares e balançou a espada em um arco gracioso enquanto lutava com dois homens ao mesmo tempo. Helena nunca tinha visto um homem lutar com tanta graça antes. Ela poupou-lhe um olhar final antes de se envolver.

Ao ver Reed arrastando Quinn para o pequeno barco, seu coração bateu dolorosamente. Ela tinha que ajudá-lo.

Quinn resistiu e lutou contra Reed, mas outros dois se juntaram a eles para levantá-lo no barco. Helena ficou aturdida, sangue quente borrifando seu rosto enquanto Edmund lutava ao seu lado. Tudo aconteceu rápido demais para ela ajudar qualquer um deles. Tyson pegou um dos homens com Quinn quando duas flechas apareceram saindo do peito. Ele caiu na água.

Reed e os outros homens não o olharam enquanto empurravam o barco na água.

—Não. — Helena rugiu, correndo para o mar, tentando desesperadamente alcançar o irmão.

Mas ele estava longe demais.

Algo esbarrou nela enquanto ela passeava na cintura com água profunda tingida de vermelho. Um soluço ficou preso em sua garganta quando ela olhou para o rosto de um soldado morto. A repulsa rodou em seu intestino.

Ela levantou os olhos para a praia onde Edmund e Dell haviam despachado a maioria de seus inimigos. Uma flecha voou acima, mas caiu na água ao lado do barco.

Helena ergueu o braço no ar, lançou a adaga com o máximo de força possível. Todas as lições que sua mãe lhe ensinou ecoaram em sua mente. Uma adaga pode ser tão mortal quanto uma flecha à distância, desde que você saiba como lança-la.

Um grito rasgou o ar quando a adaga grudou no braço de Reed. O desespero esmagador superou rapidamente qualquer satisfação de atingir seu alvo.

Ela empurrou o corpo flutuando ao seu lado e correu do fedor doentio que revestia o ar. Soldados mortos cobriam a praia, mas não foi isso que chamou sua atenção.

Edmund lutava com a confiança de um guerreiro experiente. Dell mexeu na espada enquanto o atacante avançava. Suas lâminas se chocaram e as de Dell voaram de suas mãos quando ele caiu de joelhos, impulsionado por um chute no estômago.

Um grito se alojou na garganta de Helena quando uma lâmina cortou o lado de Dell, mordendo a carne. Uma ponta da lâmina Belaena apareceu no peito do atacante quando Edmund o perfurou por trás antes de chutá-lo para o lado, deixando-os sozinhos na praia mais uma vez.

Helena caiu de joelhos ao lado de Dell quando Tyson se juntou a eles e disparou todas as últimas flechas que ele tinha em direção ao pequeno barco. Já estava a meio caminho do navio quando uma das flechas atingiu Reed na perna enquanto ele se levantava para forçar a cooperação de Quinn.

—Estou fora. — Tyson observou o barco chegar ao navio, incapaz de fazer mais alguma coisa.

Uma lágrima escorreu pela bochecha de Helena. Eles o perderam. Quinn se foi.

Mas Dell ainda estava lá, e ele se machucou. Ela voltou sua atenção para ele quando seus olhos se fecharam.

—Dell. — Ela rasgou suas roupas, procurando a ferida. —Você não feche os olhos. Fique comigo. Por favor.

—Len. — Cada respiração sacudia em seu peito como se fosse uma grande luta. —Tentando.

Edmund ajoelhou-se ao lado dele e segurou as mãos dela para impedir o tremor. —Deixe-me ver.

Ela assentiu e Edmund ergueu a camisa de Dell para encontrar um corte profundo. —Precisamos parar o sangramento.

Helena arrancou a capa dos ombros e entregou a Edmund. Ele apertou o ferimento.

Dell estremeceu e respirou entre os dentes.

—Ele vai ficar bem? — O medo tomou conta de Helena enquanto pensava nas possíveis respostas para sua pergunta.

—Ele precisa de um curandeiro. — Edmund procurou por outras lesões. —E assim por diante. Não temos tempo de voltar para Bela. — Ele ergueu os olhos para Tyson como se estivesse esperando permissão.

Tyson passou a mão pelo cabelo selvagem, emoções brigando em seus olhos. —Sim. Ok. Nós podemos ir.

—Ir para onde? — Helena se inclinou para mais perto de Dell até ouvir a respiração dele. Enquanto esse som encheu seus ouvidos, ele ainda estava com ela.

—Eu tenho uma amiga. — Começou Tyson. —Aqui em Gaule. Ela tem uma curandeira draconiana em sua casa.

Edmund rasgou tiras da parte inferior da camisa. —Não podemos movê-lo até envolver a ferida. Ty, vou precisar de água para limpá-lo.

Tyson correu para a frente enquanto Helena ajudava Edmund a amarrar a camisa de Dell até os ombros largos.

Quando Tyson derramou uma gota de água da bolsa na cintura e ela se expandiu sobre a ferida, ela se levantou, com o coração batendo forte nos ouvidos. —O que você está fazendo?

—Limpando. — A testa de Tyson franziu em concentração. —Posso enviar a água e depois chamá-la de volta, arrastando quaisquer impurezas com ela.

Ela balançou a cabeça. Magia.

Tyson e Edmund terminaram de limpar o ferimento da Dell e o enrolaram firmemente. Dell não abriu os olhos.

Helena não conseguia mais encarar o rosto dele, mas quando se virou, tudo o que viu foi a extensão do mar e o navio onde seu irmão era agora prisioneiro.

Ela adicionou Reed Tenyson à longa lista de pessoas que traíram sua família.

Farfalhar vinha das árvores e Helena se virou bem a tempo de ver Vérité se libertar. Ele correu pela praia até parar ao lado de Tyson e abaixar a cabeça.

Tyson deu um suspiro e esfregou o nariz do cavalo. —Momento perfeito como sempre, amigo.

Landon apareceu alguns minutos depois com os outros cavalos a reboque. Seus olhos se arregalaram quando ele viu os soldados mortos. Quando ele fixou o olhar na forma propensa de Dell, ele deslizou de seu cavalo.

—Ele está bem? — Landon andou devagar.

Edmund colocou as mãos no peito de Dell. —Precisamos levá-lo para a propriedade de Leroy.

Vérité deu um passo para o lado de Helena, cutucando a lateral do rosto com o nariz dele. Um soluço estremeceu em seu peito e ela se virou para enterrar o rosto no pescoço macio da fera. Ele apoiou o nariz no ombro dela, como se a envolvesse em um abraço.

Isso foi estúpido, ele era um cavalo. Mas Helena precisava de algum tipo de conforto.

Ela falhou. Novamente. Parecia que ela não poderia salvar nenhum de seus irmãos. Um sentimento de inutilidade afundou profundamente em seu peito. Recuperar Madra era um sonho distante, sem esperança de se tornar realidade. Ela nunca conseguiria olhar Cole nos olhos e tirar tudo de volta dele.

Teria sido possível com Quinn. O irmão dela poderia fazer qualquer coisa. Ela agarrou a juba de Vérité, precisando de algo para se segurar.

—Coloque-o em Vérité. — Disse Tyson.

Edmund começou a discutir, mas depois se interrompeu.

—Você está certo. Vérité cuidará dele. Esse cavalo cuida de todos... exceto eu.

Landon e Edmund colocaram Dell nas costas de Vérité antes de Tyson deslizar atrás dele. Helena puxou as roupas secas sobre as molhadas o mais rápido que pôde antes de montar seu próprio cavalo, nunca tirando os olhos do rosto da Dell. Uma paz se estabeleceu sobre ele, mas ela se recusou a deixá-lo ficar com ela.

Eles chegariam ao curador antes que ele desaparecesse por completo. Ela não pode salvar Estevan ou Quinn, mas não perderia Dell.

Seu coração apertou.

Não, ela não podia.

 

 


Capitulo Dez


—Eu não vou morrer. — Disse Dell simplesmente.

—As lutas ilegais. Roubando. Você ainda tem uma cabeça nesses ombros?

Um rubor zangado surgiu no rosto do jovem como se estivesse se preparando para explodir. Helena agarrou o braço de Edmund.

—Edmund, deixe-o em paz.

A raiva de Dell se dissipou em um instante quando seus olhos se fixaram em Helena, vendo-a pela primeira vez. —Quem nós temos aqui? — Ele sentou-se para olhar mais perto. —Você não acha que está enganando ninguém nesse traje, senhorita, acha?

Helena arrancou o chapéu da cabeça. Seus cachos escuros se espalharam, e ela se virou para Edmund. —Eu sou tão óbvia?

A primeira vez que Dell viu Helena, ele queria ficar sob sua pele. Ele queria testá-la, desafiá-la, fazer seu rosto corar de raiva. Ela era a pessoa mais linda que ele já viu.

—Dell. — A voz dela flutuou no ar como se estivesse no próprio sonho. —Dell, você ainda está comigo?

Sempre, ele queria responder. Ele nunca a deixaria. Mas as palavras não sairiam de seus lábios. Ele não conseguia falar, não conseguia se mexer.

Quando a realidade caiu ao seu redor, uma dor lancinante atravessou seu lado. Um grito terminou em um gorgolejo em seus lábios quando algo debaixo dele se moveu. Ele estava a cavalo?

Ele podia ouvir as pessoas ao seu redor, mas seu corpo não seguia mais os comandos de seu cérebro.

—Eles vão nos ajudar? — Helena perguntou, desespero claro em sua voz. —Não confio em nada em Gaule.

Tyson suspirou. Pelo menos, ele pensou que era Tyson.

—Sim.

—Quem são essas pessoas?

Quando ninguém respondeu Helena, sua voz subiu de raiva.

—Andamos de noite para chegar a essa propriedade e às pessoas misteriosas que moram lá. Eu mereço saber no que estamos entrando.

Tyson grunhiu, mas não respondeu quando chutou o cavalo e seguiu em frente.

A voz de Edmund encheu o silêncio. —A propriedade Leroy já foi propriedade de Lorde Leroy, o homem que Alex havia executado por traição. A filha dele agora reside lá.

—Podemos confiar nela?

Edmund hesitou. —Mais do que qualquer outra pessoa em Gaule. Amalie... ela cresceu com Tyson. Eles eram os amigos mais próximos, mesmo quando ela estava noiva de Alex. Após a guerra com Dracon, Tyson ficou em Gaule por um tempo para estar com ela, mas voltou para Bela cerca de um ano atrás. Amalie sentiu que tinha o dever de retornar à propriedade de sua família. As pessoas nas aldeias próximas precisavam de alguém para passar por esses momentos difíceis. Tyson a amava. Isso nunca foi um segredo. No entanto, os dois escolheram o dever em detrimento desse amor, e não terminou bem.

As palavras filtraram a mente enevoada de Dell, mas ele só queria afundar na escuridão. Não se permitindo essa misericórdia, agarrou-se a tudo o que Edmund dizia como uma maneira de manter seu domínio consciente.

—Então, as coisas não são amigáveis entre eles, mas ela vai nos ajudar? — O ceticismo ecoou na voz de Helena.

—Você não conhece Amalie. Ela ajudaria qualquer um que aparecesse à sua porta. É quem ela é.

—E essa curandeira em sua casa?

Edmund parou por um momento. —Maiya. Ela já foi agente de La Dame. Todos sabíamos que ela não tinha escolha, mas depois que a guerra terminou, ela não sentiu como se pudesse ficar em Bela entre as pessoas que havia traído.

Eles ficaram quietos e Dell quis dizer a eles para continuar conversando, para encher sua mente, para manter a escuridão afastada.

Em vez disso, ele se concentrou no pulso da dor, deixando-a sangrar em todas as células.

Sem a dor, ele temia que desaparecesse.

 

Os guardas os avistaram antes de chegarem à propriedade de Leroy. Helena observou-os se aproximar cautelosamente.

—Príncipe Tyson. — Um deles chamou. —Você não deveria estar nas estradas tão tarde.

—Tivemos sorte, Cameron. Não vejo uma alma há horas. — Tyson foi até o guarda e estendeu a mão.

Tyson deve ter estado aqui muitas vezes antes.

—Lady Leroy está ausente esta noite.

A tensão nos ombros de Tyson relaxou. —Tudo bem. Maiya está na casa da propriedade?

O guarda viu Dell pela primeira vez. —Sim, claro. Vamos acompanhá-lo a se apressar.

Ele não fez perguntas antes de acenar para o resto dos guardas e se virar para galopar pela estrada em direção à vila. A estrada serpenteava entre as fachadas das lojas e as casas antes de chegar a um beco sem saída em dois enormes portões com uma pequena porta na base deles.

Cameron gritou para um de seus guardas. —Vá acordar a senhora Maiya e traga-a aqui.

A porta se abriu e outro guarda apareceu. —Príncipe Tyson? Não nos disseram para esperar você hoje à noite.

Tyson deslizou para baixo. —Faz muito tempo, Calvin. Precisamos nos atualizar, mas agora preciso de um pouco de ajuda.

Helena pulou no chão, suas pernas cansadas quase cedendo sob ela. Uma mão agarrou seu cotovelo, mantendo-a na posição vertical. —Cuidado, Len. — Edmund a puxou para se apoiar contra o lado dele e passou um braço em volta da cintura.

Os guardas levantaram Dell e o carregaram pela porta.

Cameron deu ordens para cuidar do cavalo, mas Helena mal o ouviu por causa do rugido em seus ouvidos. Ela se libertou de Edmund e seguiu os guardas até onde eles colocaram Dell no chão, em um pátio de pedra.

Ajoelhou-se e pressionou os dedos no pescoço dele, precisando sentir a vida dele por si mesma. Quando o pulso dele bateu contra a mão dela, ela se afastou com um suspiro.

Eles fizeram isso. Lágrimas caíram em seu rosto quando o desespero do dia tomou conta dela. E se alguém os tivesse parado nas perigosas estradas de Gaule? E se Dell não tivesse sido forte o suficiente? Tantas possibilidades rolaram em sua mente, e ela fechou os olhos.

Uma mão gentil no ombro fez com que se abrissem para encontrar uma jovem de pele escura com cachos de saca-rolhas pretos ao lado de um longo vestido de dormir.

Helena passou as costas da mão pelos olhos. —Por favor, salve-o.

A mulher ofereceu um sorriso. —Você é a princesa?

Seus olhos se arregalaram quando o pânico cresceu em seu peito. Ninguém em Gaule deveria saber quem ela era. Ela examinou os rostos dos guardas que os cercavam, o peito subindo e descendo rapidamente. Finalmente, seu olhar se fixou em Tyson.

—As pessoas aqui podem ser confiáveis. — Seu rosto se apertou como se doesse dizer.

Lembrou-se do que Edmund havia dito sobre a dama da propriedade. Tyson a amara uma vez.

—Não se preocupe, princesa. — A voz suave da curandeira possuía uma qualidade musical que acalmava os nervos de Helena. —Você está segura aqui.

Os ombros de Helena cederam quando as palavras permearam a aura de medo em que ela se prendeu.

—Maiya. — Edmund fez um gesto para Dell.

A curandeira se ajoelhou e levantou a parte inferior da camisa de Dell para pressionar as palmas das mãos contra a pele dele. Ela fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, perdida em alguma força invisível.

Enquanto Maiya trabalhava, Tyson cutucou Helena fora do caminho e usou sua adaga para cortar as tiras de tecido que prendiam sua ferida.

A mente de Helena protestou - ele não podia perder mais sangue - mas quando ela viu o ferimento, as palavras morreram em sua garganta. A pele de Dell puxou e puxou, fechando a lacuna onde uma lâmina havia cortado a carne macia.

A respiração de Dell - uma luta apenas momentos antes - se igualou até que ele parecia estar apenas dormindo. As linhas duras do rosto dele se suavizaram em uma máscara pacífica, e Maiya afastou as mãos.

Helena sufocou um soluço. —Ele está...

Maiya pegou sua mão. —Ele vai ficar bem.

—Mas ele ainda está...— Helena apontou para onde Dell permanecia inconsciente.

—Suas feridas eram profundas. Por mais tempo e eu não seria capaz de salvá-lo. Foi preciso uma grande quantidade de energia restante para curar. — Ela ergueu os olhos para Cameron, dando-lhe um sinal. —Vamos levá-lo para um quarto e deixá-lo confortável. Pode demorar um dia ou mais até que você possa falar com ele.

Helena fungou e assentiu antes de se levantar. Cameron e um de seus colegas guardas ergueram Dell e o carregaram em direção à enorme entrada de pedra da grande casa. Helena foi para segui-los, mas Edmund agarrou seu braço.

—Todos nós poderíamos comer algo, tomar um banho quente e dormir um pouco.

Helena soltou o braço e passou a mão por cima da cabeça. Ele estava certo. Seus cabelos oleosos eram uma prova da necessidade de uma lavagem. Seu estômago roncou. Mas ela não podia.

—Eu não vou deixá-lo. — Ela saiu pelas portas da frente de mogno. Dessa vez, Edmund não a deteve.

Os guardas levaram Dell pelos corredores escuros, iluminados apenas por algumas velas que queimavam durante a noite. Eles não viram uma única pessoa antes de chegarem a um quarto simples com uma cama grande colocada contra a parede oposta coberta de peles. Uma luz fraca se derramava através de uma janela aberta, iluminando as cortinas verdes.

Helena puxou sua capa com mais força, esquecendo que ela não tinha o dia todo. O frio do ar não a tocou no passeio, pois Edmund usou sua magia para manter os ventos à distância. No entanto, uma lasca de gelo ainda penetrara em seu coração.

Os guardas deitaram Dell na cama antes de se virar para ela.

—Vou mandar alguém para acender a fogueira. — Cameron olhou para a lareira estéril. Duas cadeiras estavam diante dela. Uma mesa comprida estava encostada na parede perto da cama.

Helena apenas assentiu quando eles saíram. Ela foi até a janela, fechando as duas vidraças para bloquear a noite. Ela se virou para Dell, que ainda não havia se mexido Soltando um suspiro, ela foi até a cama e puxou os cadarços das botas dele. Assim que ela tirou os sapatos dos pés dele, ela o trocou para libertar as cobertas de pele e puxá-las sobre o corpo para prendê-lo em calor.

Uma batida veio da porta e ela atendeu, encontrando um punhado de criados que pareciam ter sido despertados de suas camas.

—Senhorita. — Um dos criados disse com um arco. —Estamos aqui para arrumar o quarto.

Helena se afastou para eles entrarem. Um jovem foi direto para a lareira, enquanto duas mulheres carregando bandejas de comida se moviam para colocá-las sobre a mesa. Ela ficou com água na boca quando sentiu o cheiro dos doces e do vinho.

Quanto tempo se passou desde que ela fez uma refeição adequada? No palácio de Gaule, ela estava preocupada demais com a batalha por Quinn. Na estrada, nenhum deles queria perder tempo parando quando a vida da Dell estava em risco.

Ela murmurou um 'obrigada' enquanto os criados se retiravam da sala, deixando-a sozinha mais uma vez com Dell. Caminhando para o fogo incipiente, ela ficou mais perto do que sua mãe teria aprovado para derreter seus membros congelados.

Quando estava quente, ela usou toda a força que possuía para empurrar uma das cadeiras marrons de encosto alto para o lado da cama.

Ela então ficou na frente da mesa, examinando as bandejas. Uma tigela de água estava sobre uma delas com um pano dentro. Ela levantou e sentou na beira da cama.

Quando Dell acordasse, ele iria querer que a sujeira não estivesse em seu rosto. Ela limpou a sujeira que havia sido chutada em sua pele quando ele descansava em um cavalo o dia todo.

Cada golpe do pano trazia seu belo rosto para mais longe da escuridão. Ela colocou o pano na água agora lamacenta e correu o polegar pela bochecha macia até a mandíbula firme, coberta de cabelos louros curtos.

Ela fechou os olhos, imaginando-o como ele esteva em Madra no dia em que o viu tomando banho no rio. Pretensioso. Confiante. Tão malditamente charmoso. E irritante. Ela o odiava e ficou completamente fascinada por ele. Ele foi o motivo pelo qual ela continuou correndo o risco de entrar na cidade sem a máscara.

Onde ela havia perdido esse sentimento? Ela ainda estava se arriscando por vários motivos, mas por meses, apenas sentiu essa derrota esmagadora que levava a uma necessidade ardente de vingança. Contra o irmão de todas as pessoas. Um homem que ela já amou com todo o coração - assim como o resto de sua família que agora se foi.

Ela afastou a mão do rosto de Dell e se levantou para colocar a tigela de lado. Seu estômago implorava por comida, mas a náusea subiu nela quando ela pensou em comer. Em vez disso, ela se sentou na cadeira ao lado da cama, puxando as pernas para baixo dela.

O movimento do peito de Dell a hipnotizou até tudo que ela via era ele.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Onze


Dell não sabia onde estava quando seus olhos se abriram. Peles pesadas o aqueciam na cama desconhecida. Ele estava de volta em Bela? Como ele chegou aqui?

Seus olhos percorreram o quarto escasso até se fixarem na garota dormindo ao lado da cama. Helena. Se ela estivesse lá, ele sabia que tinha que estar em algum lugar bom. Ele estava bem.

A luz da manhã atravessava uma janela, lançando um brilho no chão.

Uma dor começou em sua cabeça, estendendo-se por todo o corpo. Ele tentou empurrar as cobertas para o lado, mas seus braços não tinham força.

—Len. — Ele sussurrou, tentando forçar força em sua voz.

Ela não se mexeu.

—Len. — Mais alto naquele momento.

Helena se mexeu na cadeira que não podia ser confortável, as pálpebras se abrindo lentamente. Ela levou um momento para encontrar o olhar dele, mas seu corpo inteiro sacudiu quando o fez.

—Dell. — Ela se levantou para olhar mais de perto. —Você está acordado. — Um sorriso triste deslizou por seus lábios. —Eu deveria acordar Maiya para verificar você.

Quando ela se virou, ele finalmente forçou o braço a se mover o suficiente para agarrar seu pulso. Ela congelou, respirando profundamente por um momento antes de voltar para ele.

—Diga-me o que aconteceu. — Ele implorou.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas não derramadas nos cílios.

—Por favor.

Respirando fundo, ela ergueu os ombros. —Houve uma luta na enseada e alguém cortou você. Percorremos um longo caminho para levá-lo a única curandeira draconiana conhecida em Gaule.

Algo acendeu em sua memória. Ele os ouviu conversando. Maiya. Sim, esse era o nome dela. Mas não era isso que importava naquele momento.

—Quinn? — Ele perguntou, temendo a resposta.

O olhar dela endureceu. —A caminho de Madra.

Dell deslizou a mão do pulso de Helena para enlaçar os dedos nos dela. —Venha aqui.

Surpreendendo-o, ela não se opôs quando ele a puxou para a cama, levantando as cobertas para ela deslizar por baixo.

O calor do corpo dela queimou em sua memória quando ele a puxou para seus braços. Ela derreteu contra ele, enterrando o rosto no peito dele.

—Há quanto tempo estou fora?

A camisa dele abafou a voz dela. —A luta foi mais de um dia atrás.

—Você passou a noite aqui? — Ele lançou seu olhar acusador na cadeira como se fosse a agressora.

—Eu não poderia te deixar.

Dell sabia como se sentia sobre Len desde o momento em que viu Ian com ela nos jogos de Madra - antes de saber quem ela realmente era.

Para ele, nada havia mudado.

Mas ela não deu nenhuma dica de como se sentia... até agora.

Nem disse nada por um longo momento enquanto ele acariciava suas costas.

Ela se afastou para olhá-lo. —Eu estou nojenta. Eu sinto muito. Edmund tentou me fazer tomar banho e comer, mas eu...

—Len — Ele a interrompeu. —Você pode aparecer coberta nos excrementos de Vérité e eu não me importo.

Uma risada a sacudiu. —Sim, você se importaria.

—Ok, mau exemplo. Por favor, não se cubra de esterco de cavalo.

—Eu não sei. Agora que sei que você gosta do cheiro dos cavalos, talvez eu precise experimentar.

Ele levou os lábios ao ouvido dela. —Isso não mudará os fatos simples.

—E que fatos simples são esses? — Ela levantou o rosto para olhá-lo.

—Eu não acho que te incomodo tanto quanto você finge. — Ele sorriu. —Eu até acho que você pode gostar de mim.

Ela levantou uma sobrancelha. —Eu tolero você.

—Sim? — Ele baixou a voz. —Então por que você se parece estar bem em meus braços?

—Só estou aqui porque estava com frio.

—Ok, princesa. — Ele descansou o queixo no topo da cabeça dela, suas palavras caindo nos pensamentos que o título dela provocava. Princesa. E ela acabou de perder outro irmão.

Ele passou a mão nas costas dela antes de avançar ao lado dela.

—Sinto muito por Quinn.

Ela não respondeu por um longo momento. —Você não conhece Cole e Quinn. Aqueles dois... eles eram o mais próximos possível que irmãos poderiam ser. Eu sempre os invejei. Mas Quinn... ele é bom. E Cole tentará tirar isso dele. E se ele virar Quinn contra mim e Kass?

Dell se abaixou para pressionar a testa contra a dela. —Não sei se a bondade é algo que pode ser retirado. Tenha fé em seu irmão, Len.

Ela assentiu, engolindo em seco. —Eu vou ajudá-lo. — Seus olhos escureceram. —Está na hora, Dell. Não há mais espera. Preciso voltar para Bela e encontrar um caminho de volta para Madra. Está na hora de ir para casa.

Ele não respondeu. Ele viu isso acontecer, a decisão dela. Helena queria voltar para Madra desde que acordou a bordo de um navio com destino a Bela. Era o reino dela. Ele não poderia culpá-la, poderia?

Mas ele temia que se ela pusesse os pés em solo Madrano, ele nunca mais a veria, que ela não conseguiria sair viva. Os braços dele a apertaram.

Ele soltou um suspiro em seus cabelos. —Len, não quero te perder.

Ele não percebeu que tinha dito as palavras em voz alta até que ela levantou a cabeça para olhar para ele. Ela não fazia promessas falsas, mas a determinação em seus olhos se suavizou. Ela faria o que precisava. Ele não tinha dúvida disso.

Os dedos dela cavaram o tecido da camisa dele e ela o puxou para mais perto, seus lábios encontrando os dele.

Quando eles se beijaram no baile em Madra, Dell viu todas as possibilidades diante deles. Tinha sido poderoso e consumia tudo, mas terminou muito rapidamente.

Agora, eles demoraram um pouco para despejar tudo naquele momento. Os lábios de Len se moveram sobre os dele quando ela se abriu para ele, pressionando mais forte contra seu corpo.

Dell passou os dedos pelas bochechas, pelos ombros e pelas laterais antes de envolver os braços em volta da cintura, querendo cada parte dela e aterrorizado que ele acabasse com nada.

Os julgamentos vindouros mantiveram uma escuridão para a qual nenhum deles estava preparado. Ele só sabia que faria qualquer coisa para impedir que a vingança destruísse sua princesa.

 

Helena não percebeu que tinha adormecido até que uma batida na porta a acordou. Antes que ela pudesse se levantar, a porta se abriu e Edmund entrou.

Ela saiu da cama, mas não antes que Edmund a visse e erguesse uma sobrancelha. Ele não mencionou. Em vez disso, ele apontou para a forma ainda adormecida de Dell. —Como ele está?

—Melhorando. — Ela respondeu. —Ele acordou cedo esta manhã.

Edmund assentiu. —Bom. Então podemos deixá-lo em paz. Lady Amalie voltou tarde da noite passada e solicitou nossa presença no café da manhã. Primeiro, você precisa tomar banho. — Ele torceu o nariz e ela deu um tapa nele.

Uma jovem criada entrou atrás dele e fez uma reverência.

—Senhorita, eu posso levá-la para o seu quarto.

Helena olhou para Dell mais uma vez antes de seguir a garota para o corredor. À luz do dia, a casa da propriedade exibia um ar mais alegre. Tecido de cores vivas decoravam as paredes, mas seu apelo era na simplicidade. Eles não usavam muito dinheiro em casa, e Helena apreciava a modéstia.

O quarto em que ela chegou era idêntico ao de Dell, exceto por um banheiro anexo. A empregada mostrou-lhe onde estava um novo conjunto de roupas e uma banheira de cobre, cheia de água fumegante.

Assim que ficou sozinha, Helena tirou a roupa e afundou na banheira, permitindo que a água relaxasse todos os músculos.

Ela fechou os olhos, inclinando a cabeça para trás. Fazia apenas um dia que eles lutaram naquela praia? Parecia que uma vida havia passado. Ela esfregou a sujeira e o pó da estrada que estavam endurecidos em sua pele, sentindo-se como uma garota pela primeira vez em algum tempo. Seus dedos trabalharam o sabão líquido nos fios emaranhados de seus cabelos outrora lindos.

Sua mãe e Sophia costumavam passar horas lavando as tranças escuras, escovando-as e prendendo-as para que ela sempre parecesse tão adequada quanto uma princesa. O que Sophia pensaria dela agora? A velha empregada não aprovava as coisas que a rainha ensinava à filha, considerando as habilidades com adagas muito masculinas.

Mas sua mãe nunca se importou com o que os outros pensavam. Ela se certificou de que Helena sempre aparecesse a princesa perfeita e obediente ao redor de seu pai ou de seus padres. Mas então ela também deu a Helena os meios para ser sua própria pessoa.

O trono não tinha sido tudo para Chloe Rhodipus, e não seria tudo para sua filha.

Helena mergulhou a cabeça sob a água antes de emergir fresca e nova com um pensamento diferente. Ela não queria a coroa de Cole. Ela não desejava emitir comandos ou cobrar impostos. Não era por isso que ela precisava voltar para Madra. Mesmo que Helena não pudesse ser a rainha, Cole não merecia o título de rei. Ele não merecia o respeito e a obediência quando não tinha.

Ela ficou na banheira, deixando a água escorrer pelo corpo antes de sair. Alguém bateu na porta.

—Len?

Dell? O que ele estava fazendo fora da cama? Ela se secou o melhor que pôde e vestiu as roupas, pulando para prender as calças confortáveis. Não havia dúvida em sua mente o quanto Dell significava para ela. Ela o viu cair e seu coração parou. Mas ela não tinha o luxo de ser uma garota apaixonada. Ela tinha que ser dura, fria e calculista. Ela não podia mais ser a linda princesa por trás da máscara. Era hora de ser uma guerreira.

Com os pés ainda nus, ela atravessou o chão frio de pedra para deixar Dell entrar no quarto. Ele praticamente caiu quando ela abriu a porta.

—Hey. — Ela o pegou pela cintura. —Você não deveria estar de pé.

—Você se foi quando eu acordei. Um dos criados me disse onde eu te encontraria.

Um sorriso tentou se libertar, mas ela o conteve. —Lady Amalie quer nos ver.

—Estou indo.

—Dell...

—Eu não posso mais ficar na cama. Estou bem.

Ela o estudou por um momento e estreitou os olhos. —Bem. Espere aqui por um segundo. — Ela o trocou para que ele pudesse usar o batente da porta como apoio e foi buscar suas botas. Lama seca ainda as cobria, mas elas teriam que servir.

Depois de colocá-las, ela se abaixou sob o braço de Dell e o deixou se apoiar nela para andar pelo corredor. Enquanto alguns criados os olhavam, Dell se inclinou para sussurrar. —Este lugar te dá arrepios?

—Um pouco. — Ela admitiu. Era como se fantasmas de um passado brutal vagassem pelos corredores. Lorde Leroy e sua filha mais velha estavam há muito mortos, mas a influência deles devia ter sobrevivido.

—Ouvi algumas empregadas conversando quando pensaram que eu estava dormindo. Lady Amalie lutou para recuperar essa propriedade depois que a rainha a tomou.

—Ela lutou com a rainha?

—O pai dela era um traidor, e a coroa tem direito às terras do traidor, mas...

—Mas Amalie não era traidora. — Ela terminou para ele. Como a rainha pôde tirar tudo da mulher que seu filho amava? —Você acha que ela sabia sobre Tyson e Amalie?

Dell balançou a cabeça. —Espero que ela não saiba. Se ela sabe... isso está errado. —Ele ficou quieto por um momento. —Eles dizem que Amalie é difícil. Ela desaparece por dias seguidos e ninguém além de algumas pessoas de confiança sabe para onde ela vai.

Helena engoliu em seco, não gostando de pensar em conhecer a mulher. Então ela pensou em Tyson. O homem com um charme juvenil e alegria contagiante. Como ele poderia amar alguém com gelo no coração?

Do mesmo modo que Dell poderia ter sentimentos por Helena, ela supôs.

Chegaram ao refeitório onde Edmund e Tyson estavam sentados a uma mesa comprida. Tyson deu um pulo quando os viu e correu para ajudar Dell.

—Eu disse a ele que ele deveria ter ficado na cama. — Helena balançou a cabeça quando Dell tropeçou e agarrou o braço de Tyson.

Tyson não respondeu porque ainda estava parado. Helena seguiu sua linha de visão para uma mulher parada na porta. Um elegante vestido verde escuro pendia de seu corpo esbelto. Laços dourados percorriam o comprimento de seus lados, do corpete à saia.

Os cabelos castanhos se espalhavam pelos ombros em cachos, emoldurando um rosto em forma de coração. Grandes olhos escuros estavam em contraste com sua pele pálida. Seu peito subiu como se ela se preparasse para algo difícil antes de entrar mais na sala.

—Edmund. — Seus lábios rosados puxaram um sorriso hesitante enquanto ela passava por Tyson sem sequer um olhar.

Edmund levantou-se e deu a volta na mesa para estender os braços. —Amalie. — Ele sorriu. —Linda como sempre.

Ela entrou em seu abraço. —Tem sido muito tempo.

Ele riu. —Eu não tenho o hábito de entrar em Gaule se não precisar e visto que você não nos visita mais em Bela...

Ela se afastou e achatou as mãos contra o estômago. O sorriso que já existia antes não era mais visível. — Tenho muito o que fazer aqui. Eu não posso simplesmente sair.

Tyson grunhiu quando ajudou Dell a se sentar em uma cadeira.

—Se você não sai, onde você estava quando chegamos?

Amalie virou uma carranca para ele. —Isso não é da sua conta, príncipe. — Ela disse o título como se fosse uma arma antes de enfrentar a Dell. —Esse é o homem que Maiya curou? Ele não deveria estar fora da cama.

—Foi o que eu disse. — Helena murmurou. Ela pensou que ninguém a ouvira até Amalie encará-la com um olhar desconfiado. —Edmund, Tyson, que problemas vocês trouxeram à minha porta? Cameron disse algo sobre uma princesa.

Edmund esfregou a parte de trás do pescoço. —Amalie, conheça Helena de Madra.

Amalie apenas levantou uma sobrancelha com isso. —A princesa morta? Ela parece muito viva para mim. — Amalie cruzou os braços, saindo de Helena e examinando o resto dos rostos lá. —Eu sei que vocês só vieram à minha porta porque não tinham outra escolha, mas enquanto estiver aqui, eu tenho regras.

—Regras. — Tyson zombou.

Ela estreitou os olhos. —Primeiro, essa não é mais a casa do meu pai. As pessoas aqui serão tratadas com respeito, mesmo as que serviram meu pai ou irmã. Eu trabalhei muito duro para cultivar a lealdade. Eu venho de uma família de traidores, mas isso é passado.

Edmund assentiu. —Nós não sonharíamos em irritar você.

Amalie quase abriu um sorriso. Quase. —Elegante, Edmund, como sempre.

—Essa era apenas uma regra. — Helena sentou-se ao lado de Dell.

—Você é inteligente, não é, princesa?

Dell tentou se endireitar antes de recuar. —Você pede respeito e depois não dá.

Amalie colocou o cabelo por cima do ombro, em relação a ele. —Regra número dois, vocês fiquem fora do meu caminho. Não quero ver nada de vocês nem ouvir nada. Meu pessoal cuidará de vocês, mas eu tenho coisas delicadas nesta propriedade, e não quero que vocês se intrometam onde não são desejados.

—O que aconteceu com você, Amalie? — Edmund balançou a cabeça, tristeza em seu olhar.

Amalie apertou os lábios enquanto o considerava. —O que aconteceu comigo? Nos três anos desde que cavalguei para combater La Dame, vi Gaule descer a um poço de fome e desespero. Voltei para a propriedade da minha família, apenas para encontrá-la apreendida pela coroa. Foram necessários eventos dos quais não falarei para recuperá-la. Meu único objetivo nesta vida é ver todos aqueles que vivem na minha terra alimentados. Enquanto os nobres se sentam em suas fazendas, o povo passa fome. E o que a rainha faz sobre isso? Ela permite que esses mesmos nobres controlem todas as remessas de alimentos, todas as rotas comerciais. Ela nunca sai de seu maldito palácio. Sinto muito Edmund, mas há muito tempo perdi a fé em rainhas ou nobres. — Ela olhou de soslaio para Tyson. —Ou príncipes.

Com essa palavra final, ela se virou e deixou todos olhando para ela.

Tyson desabou em uma cadeira.

O queixo de Edmund se abriu e fechou como se ele tivesse algo a dizer, mas não conseguiu encontrar as palavras. Ele decidiu: —Bem, eu diria que ela mudou.

—Eu não sei. — Dell se inclinou contra a mesa. —Eu sempre me senti da mesma maneira. Eu via fome em Madra todos os dias. No entanto, o rei não fazia nada além de cobrar mais impostos e levar mais comida para seus exércitos.

Tyson enterrou a cabeça nas mãos. —Amalie se ressente de ter ficado em Bela longe dos problemas de Gaule, mesmo que ela tenha me mandado embora. A última vez que a vi, ela me chamou de covarde. Talvez eu seja.

—Ty. — A mão de Edmund pousou em seu ombro. —Você lutou sua guerra. Todo mundo em Bela. A paz é sua recompensa por gerações de abuso.

Dois criados entraram no salão, ambos carregando bandejas. Eles colocam uma tigela e um prato diante de cada pessoa presente antes de partirem tão silenciosamente quanto vieram.

Helena considerou a comida diante dela. Caldo fino, pãozinho e um pedaço de peixe salgado. O respeito cresceu dentro dela. Amalie não era apenas uma mulher com altos ideais, ela realmente andava ao pé. Essa refeição não poderia ter sido melhor do que o que as pessoas da vila estavam comendo.

Ela mergulhou a colher na tigela e levou o caldo de mau gosto aos lábios. Eles comeram em silêncio.

Quando terminaram, Edmund ajudou Dell a voltar para o quarto. Tyson desapareceu. Helena vagou pelos corredores da propriedade estéril, sua mente se perguntando sobre os atos traidores realizados dentro daquelas paredes.

Ela deslizou a mão ao longo de um corrimão de madeira enquanto subia uma escada para os níveis superiores da casa. Ela chegou a um cruzamento de corredores. Olhando para baixo, parecia apenas os aposentos dos empregados. Mas o outro... o brilho de uma lanterna escoava através de uma porta.

Helena não conseguiu impedir que seus pés se movessem dessa maneira.

Vozes flutuaram pelo corredor.

—Você os encontrou? — Cameron. Pelo menos ela pensou que era o guarda.

—Eu tentei. — A voz de Amalie era muito mais suave do que antes. —Vamos precisar pesquisar mais. Tuck já está procurando. Encontramos uma série de vagões em direção à propriedade do duque Ingold. Eu tenho os meninos distribuindo a comida agora.

—Isso foi uma sorte. — Cameron fez uma pausa. —Você tinha que...— Ele parou como se estivesse cortado.

—Ninguém morreu. Nocauteamos os vagões e os deixamos longe o suficiente da estrada que os bandidos não os teriam encontrado antes de acordar.

Helena não conseguia entender o que estava ouvindo. Amalie estava... roubando? Para o seu povo, mas ainda assim... eles poderiam enforcá-la pelo crime.

Ela recuou ao longo da parede e desceu as escadas. A respiração dela nem se estabilizou até ela voltar ao quarto. Ela se sentou em uma cadeira perto do fogo e olhou para as chamas brilhantes até que uma batida na porta a assustou de seus pensamentos.

Ela suspirou. O que eles queriam agora? Edmund e Dell tinham hábitos desagradáveis de invadir sem bater, então deveria ter sido Tyson, e ela não achava que poderia levar sua atitude melancólica por mais um momento.

Abrindo a porta, ela recuou quando o rosto de Amalie apareceu.

—Eu sei que é tarde. — Amalie falou com nenhuma confiança que ela tinha antes. —Mas posso entrar?

Helena assentiu e recuou para permitir a entrada da jovem.

Amalie fechou a porta e não demorou a cair em uma cadeira, a exaustão puxando as feições em seu rosto.

—Eu- — Helena começou, mas Amalie balançou a cabeça.

—Devo me desculpar pela maneira como falei antes. Sempre que Tyson aparece, vejo apenas raiva.

Helena sentou na cadeira à sua frente. —Está bem.

—Não. — Ela balançou a cabeça. —Não está. Mas muitas... as coisas estão difíceis agora, e ele apenas as torna mais difíceis.

Helena não conseguia olhar para Amalie sem um coro de ladrões percorrendo sua mente, mas sua mãe a criou para esconder seus próprios pensamentos, então ela sorriu em simpatia.

—Sinto muito, tivemos que vir aqui.

Amalie acenou com as palavras. —Estou feliz que Maiya possa ajudar. Eu sei que ela sente falta de usar sua magia regularmente, embora meu pessoal lhe dê muitas oportunidades. Olha, eu queria falar com você porque obviamente sei quem você é. Não é só isso, eu entendo. Ty gostaria de pensar que sou uma pessoa difícil e inquebrável agora, mas ainda sei quem sou e de onde venho. Meu pai e irmã traíram o rei. Sei que é diferente para você, porque seu pai era o rei quando seu irmão a traiu.

Helena deixou a menina divagar.

—Sinto muito, você não precisa que eu faça isso. O que eu realmente queria perguntar é o que você planeja fazer sobre isso?

—Fazer?

—Vinguei-me de meu pai quando o lutei em batalha e continuo a viver minha vingança todos os dias enquanto administro sua propriedade, enquanto ele está enterrado no fundo do túmulo de um traidor não marcado.

Vingança. A coisa que Helena prometeu decretar a Cole, mas não fez nenhum movimento para começar.

Ela se mexeu na cadeira. —Estou voltando para Madra.

Um sorriso sombrio deslizou pelo rosto de Amalie. —Edmund e Tyson sabem disso? Eles foram criados em torno de um exército. Plano. Plano. Plano. Prefiro deixar a espontaneidade ser minha arma.

Helena balançou a cabeça. —Eles não virão. Bem, pelo menos Tyson não vai. — Como ela disse, sabia que era verdade. Mas Edmund? Uma coisa era falar as palavras na floresta de Gaule, mas trazer Edmund de volta a Madra era outra questão. Por que Edmund e Tyson deveriam deixar a segurança de Bela? Edmund pode ter vivido em Madra, mas não era o reino dele. Sem Estevan lá, não tinha nada para ele. Não, Cole era sua responsabilidade. Nada disso iria parar até que ela o encarasse.

—Eu tenho alguém que você precisa conhecer. — Amalie se levantou. —Venha.

Helena seguiu Amalie pelos corredores até chegarem ao pátio. Em vez de se virar em direção ao portão, ela virou a esquina para onde havia um conjunto de quartéis nos fundos da propriedade. Suas paredes se apoiavam como se pudessem cair e pedaços de palha cobriam o chão.

—Não tivemos recursos para reparar o quartel, mas meu pessoal não se importa. De qualquer forma, eles não passam muito tempo aqui.

Helena olhou nervosa de um lado para o outro enquanto elas se escondiam. Fileiras de beliches cobriam cada parede, mas a maioria estava vazia. Apenas algumas pessoas se demoraram. Amalie assentiu para cada um. Nos fundos, ela parou em frente a um beliche ocupado. Um monstro de homem dormia com as pernas penduradas no final.

Amalie chutou a cama. —Will. Oi, acorde.

O grandalhão se mexeu, mas não acordou. —Will.

Ele abriu um olho. —Afaste-se, Ames.

—Tire sua bunda peluda desta cama agora, ou eu vou enfiar uma flecha no seu crânio grosso.

Ele gemeu e rolou.

Helena respirou fundo quando viu a linha de tatuagens serpenteando pelo pescoço dele e desaparecendo sob a gola da camisa dele. Um mercenário de Madra.

— Estou contando, Will. —Amalie bateu o pé. —Um. Dois...

—Estou levantando. — Ele sentou e esfregou a mão na mandíbula angular antes de afastar os longos cabelos escuros do rosto. —Eu estava acordado até tarde porque alguém nocauteou alguns comerciantes que obviamente não estavam morrendo de fome pelo peso deles.

Os olhos de Amalie se arregalaram quando foram para Helena. Will, vendo-a pela primeira vez, franziu a testa.

—Quem é ela? — Ele apontou o polegar para Helena, mas manteve os olhos em Amalie.

O coração de Helena apertou quando ele olhou para ela e deslizou-o pelo corpo. Ela nunca esteve cara a cara com um mercenário antes.

Amalie ignorou a pergunta. —Você se lembra da história que me contou de como Quinn Rhodipus salvou sua vida quando o exército de Madra o capturou em Cana?

Ele assentiu, hesitação nos olhos.

—De quem ele te salvou?

Helena teve a impressão de que Amalie já sabia a resposta, e a pergunta era apenas para seu benefício.

—Seu próprio maldito irmão. — Will cuspiu. —Eu nunca esquecerei isso. Quando Cole Rhodipus controlava o exército, ele via mercenários como traidores. Não acredito que o maldito bastardo seja rei agora.

Helena entendeu agora. Por que Amalie a trouxe para este homem. Ela tinha aliados.

Amalie mordeu o lábio por um momento antes de se virar para Helena. —Will tem contatos em Bela. Comerciantes. É assim que... digamos que ele é um trunfo para mim. Ele pode levá-la a Madra.

Will fez uma careta. —Ames, eu trabalho para você. Eu não estou ajudando alguns malditos... —Seus olhos a examinaram novamente. —Nobres a atravessarem o mar a menos que você me dê um malditamente bom motivo.

Convocando cada grama de coragem que pôde reunir, Helena estendeu a mão. —Helena Rhodipus, herdeira legítima do trono de Madra. Como você se sente com um pouco de vingança?

Will se levantou, demorando-se a examinar a verdade em seus olhos. —Você é ela, não é? A princesa mascarada? — Ele agarrou a mão dela. —Sou mercenário, boneca. Estamos sempre preparados para lutar. — Ele a considerou por mais um momento. —Não voltarei a pisar naquele reino, mas se encontrar uma maneira de ajudar a derrubar o rei bastardo, eu o farei.

Era isso.

Os planos se formaram em sua mente. Não havia mais espera. Ela estava indo para Madra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Doze


Helena agarrou o chifre da sela, todos os músculos ansiosos para começar a jornada de volta a Madra. As palavras de Will na noite anterior passaram por sua mente. Ele sabia mais sobre a situação atual em Madra do que deveria, mas cada vez que mercenários passavam, eles paravam para tentar convencê-los a se juntar a eles. Sua família era respeitada dentro de suas fileiras.

Um barco. Essa era a primeira parte do plano. Então um lugar para ficar quando ela alcançasse Madra. Ele disse a ela que os mercenários estavam ficando fora da cidade, mas que havia rebeldes escondidos por toda parte. Uma padaria guardava seus segredos e ela os encontraria lá. Eles a ajudariam a entrar no palácio.

Ninguém sabia da reunião dela na noite anterior, e agora Will não estava em lugar algum. Ele viajaria para Bela por uma rota diferente. Mercenários madranos não eram bem-vindos no reino que lutaram para destruir apenas alguns anos atrás.

Um ressentimento profundo percorria cada pedacinho de Bela, e provavelmente nunca iria embora. Não importava que os mercenários estivessem apenas fazendo um trabalho que eles recebiam generosamente. Eles não tinham lealdade a La Dame. Lealdade era um conceito estranho para eles.

Os olhos de Helena deslizaram sobre Tyson, Edmund e Landon. O que eles pensariam se soubessem que ela planejava confiar em alguém que consideravam um inimigo?

O que Dell pensaria? Ele não tinha o mesmo ódio dentro dele, mas ela não contou a ele e não sabia o porquê.

Ao lado dela, Vérité levantou a cabeça como se estivesse dando sua aprovação. O cavalo estava certo. Eles perderam tempo suficiente esperando Dell se recuperar da cura. Mas não tinha sido desperdiçado se ele se recuperasse, tinha? Sua ansiedade de voltar para casa anulou todos os sentidos.

A exaustão de Dell duraria um pouco mais. Helena tinha experiência suficiente com a cura para saber disso. Ela o observou por qualquer sinal de luta. Ele não mostrou nenhum.

Depois de conhecer Will, ela entrou no quarto de Dell para encontrá-lo batendo na cama. Ele só se acalmou quando ela se arrastou ao lado dele e envolveu seu corpo ao redor dele.

Ele não havia acordado, mas seu coração estava mais lento e sua respiração se acalmava. Seu corpo pode se recuperar, mas sua mente... isso levaria mais tempo. Ela ainda conseguia se lembrar do momento em que uma adaga a cortou enquanto lutava durante a rebelião. No segundo em que ela pensou que era o fim.

Não era algo que ela jamais esqueceria e agora Dell tinha uma memória semelhante. A mordida de metal deslizando em sua carne seria para sempre queimada em seu cérebro. Ele era um lutador de rua em Madra, mas sua arma tinha sido apenas seus punhos.

Ela desviou os olhos dele e encontrou Tyson em pé na frente de Vérité, alimentando-o com uma maçã.

Edmund montou em seu cavalo. —Amalie vem nos desejar boa sorte?

Maiya apareceu com as palavras dele, descendo os degraus até ficar na frente deles. —A senhora Amalie teve que cuidar de alguma coisa. Ela deseja boa sorte em suas viagens.

—Brilhante demais. — Resmungou Tyson baixinho. Ele ficou chateado por ela não se dar ao trabalho de se despedir ou por terem chegado lá em primeiro lugar?

Helena não perdeu seus muitos olhares para Amalie quando ele pensou que ninguém estava olhando. Seus olhos tinham um desejo que enviou uma rachadura através do centro do coração dela. Ele ainda a amava, mas algo em Helena disse a ela que Tyson não conhecia a garota que administrava esta casa. Não mais. Ela tinha seus próprios segredos agora, assim como todos eles.

Os olhos de Helena voltaram para Dell. Seus segredos iriam quebrá-los? Ela queria dizer a ele para ir com ela. Ficar ao lado dela. Mas Cole mataria Dell sem pensar duas vezes. Ela não acreditava que Cole queria matá-la. Talvez fosse uma esperança tola, mas se fosse verdade, a hesitação dele seria a abertura dela. Cole nunca amou Estevan ou seus pais... mas ela pensou que ele a amava, apesar do quanto ele tentou não amar.

Tyson deu um tapinha no pescoço de Vérité antes de subir.

—Eu só quero voltar para casa.

Casa. Helena o invejava. Mas logo ela voltaria para ela também.

Edmund assentiu em concordância. —Quanto mais rápido estivermos longe da propriedade Leroy, melhor.

—Príncipe Tyson.— A pequena voz de Maiya fez todos eles pararem. —Amalie deseja que vocês pudessem ter se separado como amigos.

Tyson virou o cavalo para longe dela. —Sim? Bem, ela com certeza mostrou, não foi?

Helena não gostou do sarcasmo na voz dele. Era muito diferente do tipo de príncipe que ela conhecia.

Maiya encarou Tyson com um olhar suave. —Ela deseja que eu pergunte a você...— Ela respirou fundo. —Por favor, não volte aqui. Mas se você precisar de nós, iremos ajudá-lo. O passado conta para alguma coisa.

Tyson cerrou os punhos, mas inclinou a cabeça. —Sim, senhora Maiya. Farei bem em lembrar suas palavras.

Ao contrário de Amalie na noite anterior, o jovem não conseguia esconder a dor nos olhos.

Ele chutou os calcanhares e saiu pelo portão aberto.

Helena lançou um olhar final para a fortaleza nas costas antes de segui-lo. Logo ela voltaria para Bela, mas isso era apenas o começo.

 

 

Capitulo Treze


Helena olhou por cima do ombro para os companheiros enquanto eles subiam o vale antes de descerem para a vila.

O alívio tomou conta dela quando viu a cabana no topo da colina. Aron já os teria visto de seu lugar na torre de vigia - se eles pudessem chamar assim.

Como se para provar o quanto ela estava certa, quatro cavalos galopavam na direção deles carregando os guardas de Bela. A versão de Etta e Alex dos guardas da cidade não usava armadura. Helena suspeitava que eles não precisavam disso quando podiam confiar em magia.

Montando no centro dos guardas não era outro senão o próprio rei.

Alex gritou uma saudação.

—Oi, rei. — Edmund sorriu, mais exausto do que com qualquer sentimento de alegria.

Helena havia muito que deixara de ficar chocada com a informalidade de Bela. Ela lembrou a si mesma que Edmund não estava desrespeitando Alex. Eles eram amigos. Ela suspeitava que seu pai nunca tivesse tido amigos. Stev também não... até Edmund.

Esse era o preço do poder. Mas aqui em Bela, essas regras não pareciam se aplicar. Etta e Alex haviam se cercado de pessoas que os amavam, apesar de suas coroas, não por causa delas.

As bochechas de Helena se aqueceram quando ela pegou Dell estudando-a, mas ela desviou o olhar e cutucou o cavalo para frente.

Alex parou na frente deles, os guardas se afastando. —Você voltou.

—Boa observação, Alex. — Tyson se afastou dele. Com isso, ele bateu os calcanhares nas laterais do cavalo e partiu em direção à vila.

Alex levantou uma sobrancelha.

O olhar de Edmund seguiu Tyson até que ele desapareceu entre as árvores. —Tivemos que parar na propriedade Leroy por alguns dias.

A compreensão surgiu em seus olhos. —Qual de vocês se machucou? Ty só iria a Amalie se precisasse de Maiya.

Dell levantou a mão. — Esse seria eu.

Alex assentiu. —Você está bem agora?

—Sim eu estou bem.

—Bom. Agora me diga o que diabos aconteceu com você em Gaule. Nós não tivemos nenhuma palavra e todos vocês parecem como se estivessem...

—Em Gaule? — Edmund terminou por ele.

Alex esfregou os olhos. Helena lutou para ver o homem diante dela como filho da rainha Catrine. Ele cresceu como príncipe de Gaule antes do reino desmoronar e se tornar um refúgio para a guerra civil e os bandidos pegando a carcaça de uma terra problemática.

—Sim. — Ele soltou um suspiro. —Minha mãe?

—Pode apodrecer nesse reino dela. — Helena dirigiu um olhar desafiador para ele. Com a menção da mulher que entregou Quinn a Madra, a raiva bateu em sua pele, girando em torno de seu coração.

Edmund suspirou. —Podemos conversar sobre isso quando eu tiver uma cerveja... ou três?

—Padre, isso parece o paraíso. — Dell tentou sentar-se mais reto em sua sela, mas Helena viu a luta.

Alex olhou para os guardas ao seu lado. —Bem. Etta vai querer saber que você voltou. Eu juro, ela perde a cabeça preocupada toda vez que alguém passa além da fronteira.

A raiva de Helena fervia, diminuindo a cada momento que passava. Ela não podia se ressentir de Bela pelo que Gaule havia feito, apesar de suas conexões. O mundo ainda não era seguro para os manejadores mágicos. Eles lutaram por toda a liberdade que tinham.

Mas não tinha todo mundo?

Ela tocou sua bochecha por hábito, meio que esperando sentir o laço confinante de uma máscara. Em vez disso, as pontas dos dedos roçaram a pele macia que não parecia a dela. Ela não era essa linda princesa. Não mais.

A mão dela deslizou sobre os emaranhados escuros no alto da cabeça, desprovida de dias na estrada.

Alex os levou pelo caminho que circundava a vila e levou à ponte sobre o rio estreito.

Uma vez do outro lado, eles desmontaram do lado de fora dos estábulos do palácio.

Etta correu para cumprimentá-los, passando por cada pessoa até chegar a Vérité. Ela jogou os braços em volta do pescoço dele.

—Você voltou.

Vérité esfregou o nariz contra o lado da cabeça dela.

Edmund bufou. —Eu sobrevivi em Gaule também, mas não... ninguém se importa com Edmund.

Etta soltou Vérité e sorriu antes de ir para Edmund e esfregar o nariz. —Você também é um bom garoto, Edmund.

Ele afastou a mão dela e a puxou para um abraço.

—Parece que a jornada foi boa para você. — Ela se afastou e estendeu a mão para tocar as bordas de seu sorriso.

Ele balançou sua cabeça. —Essa jornada não foi boa para ninguém. Estou feliz por estar de volta em Bela.

Etta virou-se para Helena. —Tyson chegou alguns momentos antes de você. Ele explicou os eventos básicos. Sinto muito pelo seu irmão, mas aliviada por você ter retornado em segurança. — O olhar dela voou para Dell. —E que você sobreviveu a suas feridas.

Dell abaixou a cabeça em agradecimento.

Etta encontrou o olhar de Helena mais uma vez. —Precisamos conversar. Sozinhas. — Ela começou a andar. —Edmund, cuide dos cavalos.

—Sim, minha senhora. — Uma nota zombeteira ecoou em sua voz, mas também carinho.

Para onde Etta a estava levando? Elas contornaram a lateral da pequena casa e Helena respirou fundo. Ela nunca tinha visto os jardins antes.

Apresentadas à sua frente, havia fileiras das flores mais vibrantes que ela já viu. Vivendo na cidade, as únicas flores que a maioria das pessoas via eram em pequenas caixas de janela ou em caules moribundos nos mercados. O palácio de Madra tinha jardins, mas nem aqueles se comparavam a isso.

Amarelas, rosas e azuis se estendiam pela paisagem, serpenteando por caminhos de pedra pálida. Grandes árvores penduravam suas trepadeiras sobre os caminhos.

Um banco de pedra branca estava no centro.

Helena imaginou que estava vendo coisas, mas era como se as flores acordassem com a presença de Etta e um zumbido excitado enchesse o ar, formigando nos braços de Helena.

Ela tinha ouvido falar do poder de crescimento da rainha, mas isso estava além de qualquer coisa que ela imaginou. —Você...— Ela balançou a cabeça. Não, mesmo depois de toda a magia que ela testemunhou, ainda parecia impossível para ela.

Mas Etta confirmou seu primeiro pensamento. —Eu criei este lugar para pensar. — Ela fechou os olhos, inalando o ar perfumado floral. —Quando eu era mais jovem, morava em uma floresta e meu mundo era tão escuro que fiz um campo de flores apenas para adicionar luz à minha vida. Um pouco de beleza. Foi a primeira vez que percebi que estar cercada por minha magia permitiu que minha mente clareasse. Quando construímos esta casa, a primeira coisa que eu sabia que precisava era de um lugar assim.

—É lindo.

—Obrigada. — Etta se sentou no banco. —Você deve estar exausta da jornada. Sei que muita coisa aconteceu desde a última vez que te vi, mas estamos com pouco tempo. Primeiro, sinto muito pelo seu irmão.

Helena abaixou o olhar para esconder a tristeza em seus olhos.

Etta deu um tapinha no assento ao lado dela. —Sente-se, por favor.— Quando Helena obedeceu, ela continuou. —Sei que você está decepcionada com a pouca ajuda que recebeu de reinos estrangeiros. Aos seus olhos, todos devemos agir contra um usurpador. Não vou defender o que a rainha Catrine permitiu que acontecesse, porque não concordo com a decisão dela. Mas eu entendo isso. Gaule não é mais o que era antes, e Camille é a herdeira. Parece que ela ofereceu uma pequena ajuda para permitir que você tentasse capturar Quinn. Ela não sabia que Reed trairia Dell.

Etta fixou os olhos em um arbusto amarelo. —Quero ajudá-la, mas não posso pedir a ninguém do meu povo que lute em uma terra estrangeira. De novo não.

Helena a deteve. —Eu entendo sua decisão. Se Bela se envolver em assuntos estrangeiros, você se torna a mantenedora da paz dos seis reinos. Não quero mágica usada no meu reino, assim como você não a usa fora do seu.

Um sorriso iluminou o rosto de Etta, e ela passou a trança loira por cima do ombro antes de ficar séria mais uma vez. —Há notícias de Madra. O porto foi fechado para todo o comércio exterior. Nós já paramos de negociar com eles, mas agora eles cortaram o resto dos seis reinos.

Helena olhou para os de Etta. —Mas isso é...— Ela não tinha palavras para descrever exatamente o que era, mas Etta parecia entender.

Etta bateu os dedos contra a perna. —Seu irmão também puxou todas as tropas da fronteira draconiana.

A testa de Helena franziu. —Eu pensei que a guerra havia terminado anos atrás. — De repente, ela odiou o pai por se recusar a permitir que Helena soubesse dos outros cinco reinos.

—Acabou, mas quando assinamos os acordos de paz, Madra prometeu uma força significativa por cinco anos para garantir que Dracon reconstruísse suas cidades, mas não seu exército. Também tenho uma força considerável e, nesta manhã, recebi a notícia de um de meus generais de que nossos aliados os abandonaram.

A mente de Helena se recusou a ficar quieta. O que Cole estava fazendo? Isolando Madra do resto dos seis reinos? Há muito que Madra acredita que as lutas do reino resultam do envolvimento estrangeiro. Eles não estavam errados. As guerras de seu pai impediram o povo de prosperar. Mas fechar completamente as fronteiras?

—Você será capaz de adiar Dracon sem as unidades de Madra? — Helena perguntou.

Etta não hesitou. —Ai sim. Sem La Dame, Dracon não é uma ameaça real. Estou mais preocupada com nossos supostos aliados nos abandonando.

—Então não deixe. — Helena virou o corpo para inclinar-se para Etta. —Vamos para Madra. Vamos remover Cole do trono.

Antes de Helena terminar de falar, Etta estava balançando a cabeça. —Eu sinto muito. Quando eu disse que não podia fazer isso, eu quis dizer isso. —Ela passou a mão pelo rosto. —Eu só sou rainha há alguns anos. Eu só sei o que não posso fazer. Não sei como consertar isso.

Estava na ponta da língua de Helena - revelar o homem que prometeu ajudá-la. Mas Etta permitiria um mercenário em seu reino?

Helena se endireitou, pensando em algo que Etta havia dito. O porto foi fechado para navios estrangeiros. Como ela deveria voltar para casa? Ela se recusou a acreditar que seu plano falhasse antes mesmo de começar.

Que plano, no entanto? Até agora, tudo que ela tinha era “Chegue a Madra”. Ela não tinha visto Will nas estradas para Bela e nem sabia se ele havia conseguido.

Os olhos de Etta ficaram paralisados nas flores diante delas. Ela estava pensando em tudo o que estava por vir como Helena? Isso só pioraria antes de melhorar, e as duas sabiam disso.

—Eu respeito você, Helena. — Suas palavras foram tão repentinas que fizeram Helena pular. —Você seria uma rainha maravilhosa.

Rainha? Helena não conseguia pensar tão à frente. Ela nunca quis o papel. Tudo o que ela podia ver era a luta pela frente.

Etta não havia terminado. —Mas preciso fazer uma pergunta e quero que seja sincera comigo.

—Tudo bem. — Ela poderia tentar, pelo menos.

—Se você for a Madra, qual é o seu propósito?

Helena apertou as mãos. —Eu não sei o que você quer dizer.

—Nossas fontes nos dizem que Cole Rhodipus não fez mudanças radicais que machucaram o povo madrano. Ele não aumentou impostos - na verdade, ele os reduziu. O comércio de Madra sofrerá, mas reduzirá os preços para o cidadão médio da cidade. Ele pode não fazer o certo pelo resto de nós, mas pode ser bom para Madra. Você pode ficar aqui em Bela, onde está segura e criar uma vida para si mesma. Por que lutar essa luta?

—Cole tem Quinn. Eu tenho que fazer isso pelo meu irmão.

—Quinn pode se cuidar de todas as contas. Essa não é sua verdadeira razão.

—É a única que tenho.

Etta sacudiu a cabeça com tristeza. —Agora você nem está sendo honesta consigo mesma. — Ela se levantou. —Apenas... tenha cuidado, Helena. Já estive na estrada da vingança antes. Tudo o que faz é separar você até que a única coisa que resta é uma garota despedaçada. Você não quer ser a pessoa que não tem mais nada a perder.

Essas palavras ficaram presas na mente de Helena, sacudindo até que se agarraram e se recusaram a deixar ir.

Enquanto Etta voltava para casa, outro rosto apareceu, abrindo um grande sorriso assim que viu Helena.

—Kass. — Ela saiu do banco e correu em direção a ele, ignorando seus músculos cansados.

Ele pulou nos braços dela, quase a derrubando. —Len. Você voltou.

Ela se afastou para olhá-lo e enxugou uma lágrima de sua bochecha úmida. —Kassander, você achou que eu não voltaria?

Ele deu de ombros e isso partiu o coração dela. —Quinn não está com você.

Ela alisou seus cachos rebeldes.

—Não. Ele está em Madra agora. — Curvando-se, ela olhou nos olhos vidrados dele. —Mas vamos recuperá-lo. Eu prometo.

Ele assentiu. —Eu sei que você tentará.

Quando seu irmão mais novo perdeu a esperança que ele sempre teve dentro dele?

—Venha aqui. — Ela o puxou de volta para seus braços. —Se nada mais der certo, você e eu ainda temos um ao outro, certo?

—Lenny, por favor, não me deixe para trás novamente. Sei que você vai voltar para Madra e quero ir.

Ela fechou os olhos, apoiando o queixo na cabeça dele. Não. Era muito perigoso. Você nunca quer ser a pessoa que não tem mais nada a perder.

Enquanto Kass estivesse seguro, uma pequena parte dela permaneceria inteira.

 

 

 

 

Capitulo Quatorze


Helena sentiu os olhos nela a cada movimento enquanto deslizava no banco da taberna da vila. Uma jovem de olhos brilhantes e cabelos ruivos torcidos em um coque apareceu à mesa deles.

Seus olhos caíram em Edmund e Tyson. —Há rumores de que vocês dois estavam do outro lado da fronteira.

Ela apontou para um homenzinho correndo entre mesas, e ele apareceu carregando uma bandeja cheia de canecas de cerveja.

Assim que ele os colocou na frente dos meninos, a tensão ao seu redor se rompeu.

Edmund suspirou enquanto levava a caneca aos lábios. Dell e Landon beberam metade delas de uma só vez. Tyson, movendo-se mais devagar, olhou para a jovem.

Helena não tocou a caneca na frente dela.

—Lana. — Tyson parecia ser o único ainda focado em sua pergunta. —Atravessar a fronteira não é novidade para mim.

Lana se inclinou, o corpete de seu vestido simples amontoado na cintura. —É tão perigoso quanto todo mundo diz?

Bandas itinerantes de ladrões de Madra. Bandidos de Gaule. Uma rainha que não tinha controle sobre seus próprios nobres.

—Não. — O sarcasmo escorria das palavras de Helena. —Foi como um passeio na praia.

O que essa garota estava pensando? Claro, era perigoso. Mas nem todo mundo tinha o luxo de ficar sentado em Bela, onde nenhum desses perigos poderia alcançá-los. E assim, ela se ressentia de tudo neste reino.

Lana não conseguiu esconder o choque em seu rosto, mas Helena não se importou se estava sendo rude. Aqueles que consideravam a verdade grosseira não valiam a pena.

Antes que ela dissesse mais alguma coisa, um movimento chamou sua atenção no canto do lugar. Um homem grande estava sentado nas sombras com uma capa cobrindo cada centímetro de pele, exceto seu rosto. Um rosto que ela reconheceu.

Will.

Ele veio.

—Eu preciso de ar. — Helena se levantou.

—Mas acabamos de chegar aqui. — Dell pegou seu braço e ela se afastou.

Seus olhos percorreram a taberna barulhenta, cheia de pessoas rindo e brincando como se o mundo não estivesse desmoronando. Talvez apenas o mundo dela fosse.

Ela caminhou com passos decididos até a porta e a abriu. O luar projetava o chão do lado de fora em um brilho etéreo. Ela fechou a pesada porta atrás dela, cortando o riso de outros clientes.

Apenas um momento depois, a porta se abriu novamente.

—Não aqui. — Will passou por ela como se ele não a conhecesse.

Ela o seguiu até um beco que ligava a estrada principal às docas. Morando em Madra, ela se acostumou com o cheiro constante de peixe, mas em Bela parecia permear tudo, como se o mar fizesse parte do reino.

Apenas alguns marinheiros permaneciam tão tarde da noite. Will parou e se virou para encará-la. Ele não empurrou o capuz, mas ela conseguiu distinguir as bordas de tinta preta em seu pescoço.

—Quero esclarecer uma coisa agora. — Disse Will em voz baixa. —Estou aqui porque Amalie pediu isso de mim. Não dou a mínima para o que acontece com Madra. Não é mais minha casa. Eu luto por mais do que ouro agora, e isso significa que não sou mais mercenário que você.

Tudo o que Helena aprendeu sobre Amalie veio à mente. Ela ainda não havia contado a ninguém sobre a conversa que ouvira. Ela inclinou a cabeça para o lado. —Então pelo que você luta?

Os lábios dele se curvaram. —A primeira coisa que você vai aprender sobre mim, princesa, não é fazer perguntas.

—Notável. — Helena cruzou os braços. —Diga-me como você planeja me levar para Madra.

Will soltou um suspiro. —Você deveria ir à rainha Belaena em busca de ajuda.

—Isso não é problema de Bela. — Ela agarrou o braço dele, lamentando quando ele lhe lançou um olhar cortante. Mas ela não desistiu. —Você pode alegar que Madra não é sua casa, mas é minha.

—Como você planeja chegar perto o suficiente do rei, e muito menos tirar a coroa de seus dedos bastardos? As pessoas para quem estou enviando podem mantê-la segura por um tempo, mas não podem fazer milagres.

Helena o soltou. —Você não pode fazer perguntas mais do que eu.

—É justo. — Ele ergueu os olhos para o céu escuro, onde nuvens sinistras se reuniam, ameaçando cortar a vila de seus holofotes prateados. —Há um navio mercenário aqui em Bela.

Helena respirou fundo. —Etta nunca permitiria.

Ele abaixou o rosto para perfurá-la com um olhar severo. —A rainha assume que ela sabe tudo o que está acontecendo em sua terra, mas somos bons no que fazemos. Um mercenário sabe como se mascarar. Algo que você tem experiência.

Ela tocou o rosto antes mesmo de perceber que estava fazendo isso. Os olhos dele seguiram as mãos dela, mas ele não disse outra palavra sobre isso.

Engolindo em seco, Helena olhou ao redor de Will para se certificar de que eles ainda estavam sozinhos. Ela tinha que voltar para a taberna antes que Dell viesse procurá-la. Ela estava realmente pensando em embarcar em um navio mercenário? A única coisa que sabia sobre os misteriosos guerreiros madranos era o perigo que eles representavam.

—Este... navio...— Ela empurrou um sopro de ar. —Quando sai?

—O terceiro dia de cada semana ao amanhecer.

—Daqui a apenas algumas horas.

Ele baixou a cabeça para falar. —A menos que você queira esperar uma semana.

Não. Ela mordeu o lábio nervosamente. Ela teria coragem de enfrentar Cole daqui a uma semana? O que aconteceria com Quinn naquele tempo? Ela poderia usar uma semana para obter ajuda.

Ela balançou a cabeça. —Eu tenho que chegar ao meu irmão.

Ele assentiu como se soubesse que seria a resposta dela o tempo todo. —Será o único navio que se prepara para partir antes da maré da manhã. Esteja lá antes que o sol nasça. Não vai esperar por você. — Ele se virou para sair.

—Espere. — Ela chamou atrás dele. —Você não vem comigo?

Ele não a encarou, mas suas palavras ecoaram em seus ouvidos.

—Como eu disse antes, princesa, Madra não é mais minha casa. Minha lealdade está em outro lugar. Não vou te ver de novo.

Ele saiu antes que ela pudesse pronunciar as palavras “obrigada”.

 

 

 

 

 

 

Capitulo Quinze


—Helena já se foi há um tempo. — Dell olhou por cima do ombro em direção à porta. —Devemos ir procurá-la?

Tyson apenas grunhiu, seu humor não era melhor do que quando eles estavam na propriedade Leroy. Landon observou a porta, suspeita nublando seu rosto.

Edmund não parecia preocupado. —Lenny às vezes só precisa ficar sozinha. Ela é assim desde que eu a conheço. — Ele estendeu a mão para dar um tapa nas costas de Dell. —Relaxe, Dell. A vila é tão segura quanto em qualquer lugar.

Ele não entendia. Dell não estava preocupado com a segurança dela. Helena não era a mesma desde que deixaram Gaule.

Era como se ela estivesse se afastando dele, recusando-se a deixá-lo chegar perto. Ele pensou que ela finalmente o deixaria entrar. A princesa fria tinha esquentado.

Mas agora o gelo estava de volta e ele não sabia o que fazer.

Quando a porta se abriu, e ela deslizou para dentro, o alívio se espalhou pelo peito dele. Apenas a visão dela o acalmava. E então ela olhou para ele e toda a calma desapareceu. A luz que ele viu nos olhos dela quando a conheceu se foi, substituída por um embotamento que não se encaixava na princesa.

Ele ficou de pé quando ela caminhou em direção à mesa, seus cachos escuros puxados por cima de um ombro.

—Eu estava ficando preocupado. — Disse ele, ciente dos olhos neles.

Helena deu um sorriso tenso. —Estou bem, apenas cansada. Eu acho que vou voltar para Etta. Eu poderia dormir por uma semana.

Seu coração afundou, mas ele deixou escapar um suave “ok”.

Sem se despedir de mais ninguém, ela se virou e saiu por onde tinha vindo.

Dell recostou-se no banco e levantou a caneca, engolindo o conteúdo antes de bater com força na mesa de madeira.

Tyson pulou com uma maldição.

Edmund balançou a cabeça. —Dell...— Ele riu, mas não havia alegria nisso. —Você só tinha que se apaixonar pela princesa, não foi? — Ele esvaziou sua própria caneca segundos antes que o homem magro parecesse reabastecê-la. Edmund não perdeu tempo bebendo a cerveja fresca.

Dell o observou, notando seu rosto cansado. O Edmund que ele conhecia em Madra havia caminhado com o tipo de confiança que poucos possuíam. Ele se movia com graça e tinha um charme mortal.

Agora, seus ombros caíram para frente quando ele se curvou sobre a mesa. Restos de estresse cobriam sua pele. Suas mãos, uma vez feitas para empunhar uma espada com poder e habilidade, agora tremiam enquanto as envolvia em torno da caneca.

Landon se levantou, interrompendo Dell de seu exame. —Eu terminei a noite.

Dell se despediu, mas ninguém mais o reconheceu quando ele saiu.

Edmund levantou uma mão para passar pelos cabelos, puxando as pontas. Ele ergueu os olhos e, pela primeira vez, Dell viu como eles se pareciam com o desespero que ele tinha visto no de Helena.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, o perfume inebriante de cerveja girando no ar. A bebida zumbiu nas veias da Dell quando ele perdeu a conta de quantas tinha. Em Madra, a cerveja não era uma bebida comum. Eles se prenderam ao vinho - nada tão forte quanto em Bela ou Gaule.

Edmund apoiou a testa na mesa, as palavras abafadas pela madeira rachada. —Por que você se deixou fazer isso, Dell? — Ele virou a cabeça para que sua bochecha descansasse contra a superfície e seus olhos encontraram Dell. —Ela não pode dar tudo o que você quer e você vai acabar como o resto de nós. Vazio.

As palavras de Edmund eram como sal na ferida da vida de Dell, mas ele sabia que o Belaeno não estava realmente falando de Helena.

—Todos eles deixam você vazio, princesa ou não. — Resmungou Tyson.

Edmund fechou os olhos. —Eu só... eu queria fazer alguma coisa. Ele não me deixou salvá-lo. Eu pensei que se eu ajudasse Quinn, seria como se ele ainda estivesse comigo. Alguma parte dele.

Quanto Edmund já tinha bebido? Ele traçou formas invisíveis na mesa com um dedo. Nenhuma lágrima manchava suas bochechas, mas sua voz quebrou. —Sinto falta dele.

Dell colocou a mão nas costas do amigo. Ele devia muito a Edmund e ainda não podia fazer nada para ajudá-lo. —Ele está com você enquanto Helena e Kassander estiverem. Contanto que você os mantenha seguros para ele.

Dell só conheceu Estevan Rhodipus em duas ocasiões. Quando ele pensou que Helena era a amante do príncipe, ele lutou para impedi-lo de controlá-la, até brandindo sua faca, sabendo muito bem as consequências de ameaçar uma realeza.

Na segunda vez, ele também estava lutando por Helena, mas desta vez o príncipe estava do seu lado. Ele achou Estevan frio, sem piedade. Mas Edmund viu outra coisa.

Ele apertou o ombro trêmulo de Edmund.

Embora tivessem um objetivo, uma missão, todos eles poderiam tirar os eventos de Madra de suas mentes. Agora eles estavam de volta a Bela sem caminho a seguir. Eles deveriam esquecer? Isso era possível?

Tudo que Dell sabia era que a cada dia que passava, Helena se afastava cada vez mais. No entanto, ela ainda estava lá com ele. Edmund nem sequer tinha isso.

Ele precisava vê-la. Tocá-la. Para ajudá-la a esquecer. Bela era a vida deles agora. Eles não podiam voltar para Madra, onde seriam presos à vista. Não havia outro lugar para eles irem.

Ele se levantou e agarrou a mesa enquanto o mundo se inclinava ao seu redor, e seu estômago revirava.

Tyson riu. —Parece que Dell teve um pouco demais

Dell deu um tapa nele, mas errou e quase tombou. Tudo o que ele queria era sua cama, mas não tinha certeza de que poderia deixar Edmund em seu estado. —Você vai ficar bem?


Edmund levantou a cabeça, mas nenhuma resposta deixou seus lábios. Em vez disso, uma nova voz invadiu sua noite. —Eu o pegarei.

Dell se virou e tentou colocar o homem atrás dele. O uniforme dele falava de importância... —Mathew?

—Matteo. — Tyson corrigiu. —Meu primo.

O homem não tirou os olhos de Edmund. —Nós nos conhecemos quando você chegou em Bela.

Dell lembrou-se então, mas estava nebuloso.

—Você vai voltar tudo bem? — Matteo finalmente olhou para ele.

Havia uma intensidade no homem que Dell só tinha visto em uma pessoa. Estevan.

—Eu vou com ele. — Tyson se levantou e deu a volta na mesa, a bebida aparentemente não tendo tanto efeito sobre ele. Ele olhou para o primo. —Cuide dele. Ele não é ele mesmo esta noite.

—Sempre.

Tyson deu um tapinha no braço de Matteo antes de emitir um rápido: —Vamos, Dell?

Dell não estava em Bela há tempo suficiente para entender os relacionamentos entre as pessoas de lá. Eles lutaram juntos, sangraram juntos, e isso certamente se uniu, mas era mais do que isso. Mesmo com o humor sombrio de Tyson, ele cuidava de Edmund como se eles fossem da família.

Dell nunca teve isso até que Edmund entrou em sua vida. Nem mesmo sua família teria lutado por ele.

Nenhum dos dois falou quando começaram a curta caminhada pelas ruas desertas da vila, ambos tropeçando ocasionalmente.

Por fim, Dell não conseguiu mais conter suas perguntas.

—Matteo... ele ama Edmund?

Tyson assentiu. —Sim. — Dell não achou que ele iria elaborar até dar um suspiro. —Eles ficaram juntos por dois anos quando Edmund pediu a Etta a posição de embaixador. Nenhum de nós queria que ele pegasse, mas ele estava procurando por algo. Nada havia sido fácil para ele crescer. A guerra com Dracon apenas fez Edmund querer fazer algo maior com sua vida do que jogar o jogo político do dia a dia.

—E Matteo não queria ir com ele?

Tyson esfregou a parte de trás do pescoço. —Edmund não pediu.

Dell olhou de volta para a estrada em que acabavam de descer até a taberna. Quando conheceu Edmund, ele conhecia as histórias da batalha com La Dame e o embaixador belaeno com magia. Mas ele nunca considerou verdadeiramente seu passado. Que, enquanto se arriscava a jogar um jogo perigoso de espionagem em um reino que não era dele, ele tinha pessoas em Bela que o lamentariam se tudo desse errado.

Quem lamentaria Dell?

Eles tropeçaram no “palácio” de Etta, encontrando o rei e a rainha sentados juntos perto do fogo. Os dois olharam para cima.

—Eu não queria voltar para minha casa vazia na vila. — Tyson olhou para o chão como se estivesse com medo de que lhe dissessem para sair.

Em vez disso, Etta se levantou e atravessou a sala para abraçar Tyson. —Você cheira a uma cervejaria.

A camisa dela abafou a risada de Tyson quando ele enterrou o rosto no pescoço dela.

Dell caminhou em direção ao corredor dos fundos para lhes dar um pouco de privacidade. Ele parou do lado de fora da porta de Helena, preparando-se para bater, precisando vê-la. Levantando o punho para a madeira, ele fez uma pausa. Se ela conseguiu escapar de suas realidades por algumas horas de sono, ela não merecia a paz? Além disso, Kassander compartilhava sua cama.

Com um suspiro resignado, ele se virou para entrar em seu próprio quarto, congelando ao ver os fios escuros selvagens espalhados pelo travesseiro, iluminados por uma única vela em uma mesa próxima.

Helena se mexeu e se virou para encará-lo.

Ele queria mais do que tudo trazer a luz de volta aos olhos dela.

—Você está no meu quarto. — Ele respirou.

—Dell. — Sua voz falhou. —Não sei o que vai acontecer amanhã, mas preciso de você hoje à noite.

Ele tirou as botas, quase tropeçando, e sentou-se na beira da cama. —Eu estou bem aqui. Eu não estou indo a lugar nenhum.

Ela ajeitou a camisa dele nas mãos e puxou-o para o lado, correndo para dar-lhe espaço. Os dedos dele deslizaram do rosto dela para o ombro. Ele pensou em Edmund e nas palavras que havia dito. Você apenas tinha que se apaixonar pela princesa.

—Como se eu tivesse qualquer outra escolha. — Ele sussurrou enquanto pressionava os lábios nos dela.

Eles vieram de mundos diferentes. Ele passou a maior parte de sua vida limpando os decks, sujando barracas e evitando espancamentos de seus irmãos. Ninguém para amá-lo. Ninguém para se importar.

Ela cresceu em um belo palácio, mas escondida do reino. Amada por seus irmãos e traída por um também.

Como poderia um homem sem nada para dar merecer uma mulher como ela?

Ele não conseguia. E, no entanto, ele mostraria a ela que não eram as pessoas que foram criadas para serem. Ele passou os braços em volta das costas dela e a puxou contra ele.

Helena abriu, permitindo que a língua dele dançasse com a dela, enviando faíscas através do sangue dele. Cavando os dedos nos quadris dele, ela beijou uma linha na bochecha dele e no pescoço dele.

—Dell. — Ela respirou.

Ele puxou a camisa dela para fora da calça e empurrou-a para passar as mãos pela pele macia do estômago dela. Ela estremeceu sob o toque dele.

—Esta noite sou sua. — Ela quebrou o beijo para falar. —Tudo de mim. Eu nunca... eu sei que você já fez isso antes.

Dell sorriu e deu um beijo na testa. —Eu nunca me apaixonei antes.

Ela fechou os olhos, um breve sorriso brilhou em seus lábios antes que desaparecesse. —Não posso te prometer nada... agora. Eu realmente preciso que você me abrace.

Dell ergueu as mãos, traçando cada curva, memorizando o que ela sentia em suas mãos. Ela não disse a ele que o amava, mas ele não precisava. Ainda não. Eles tinham tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Dezesseis

Helena observou a lenta ascensão e queda do peito de Dell. Apenas algumas horas atrás, ela passara as mãos por todas as partes, todos os músculos. E Dell tinha bastante. Seu corpo era resultado de anos de trabalho duro. Ele não teve escolha em como passava seus dias.

—Assim como eu não tenho escolha agora. — Ela sussurrou no escuro. Ele a perdoaria? Ela levou um dedo aos lábios. Uma parte dela sabia que essa decisão mudaria tudo. Ela só esperava que ele entendesse.

Confrontar Cole não era algo de que ela pudesse fugir. Mesmo que não fosse pelas pessoas que ele governava agora, ela teria que fazer isso sozinha. Dell queria ter uma vida pacífica. Ele pensou que eles poderiam começar de novo em Bela. Mas não haveria paz dentro dela até que ela lidasse com o passado e com a pessoa que a tirou dela.

Curvando-se, ela passou os lábios pelos de Dell. —Sinto muito. — Quando ela deslizou da cama, olhou para trás, desejando poder levá-lo com ela. Ele iria se ela pedisse. Ela sabia disso.

Mas ele nunca sairia dali vivo.

Ela sairia? Ela queria não se importar, não sentir nada. Arriscar sua vida para se vingar de sua família deveria ter sido simples.

Mas nada nunca foi simples.

Ela vestiu suas roupas, puxando as calças para cima das pernas e amarrando-as na cintura. Depois de arrastar uma túnica e colocá-la, ela fez uma pausa.

Sentada na mesa ao lado da vela curta havia uma pequena espada de madeira. De todas as coisas que Dell poderia ter esculpido... Ela o viu criar anjos e sapatos elegantes, mas isso... talvez fosse um presságio do que estava por vir. Tomando uma decisão rápida, ela enfiou no bolso e olhou para o homem adormecido mais uma vez.

A primeira vez que ela o conheceu, ele tinha sangue escorrendo pelo rosto após uma luta. E ainda assim, ele era bonito. Mesmo depois de anos de dificuldades, não havia escuridão dentro dele. Ao contrário dela.

Ela fechou os olhos, a mão pairando sobre o topo da cabeça dele. Ela poderia acordá-lo. Decidir que tudo era um erro e implorar para que ele venha. Seus dedos se fecharam em punho quando ela retraiu o braço. Esta não era a luta dele.

Uma lágrima deslizou por sua bochecha. —Eu amo você, Dell. Pelo que vale a pena.

Limpando as costas da mão no rosto, ela deslizou para o corredor escuro antes de retornar ao seu próprio quarto. Kassander estava encolhido no centro da cama.

Ela avançou e se inclinou para beijar sua testa. Os olhos dele se abriram.

—Len. — O sono cobria suas palavras.

—Está tudo bem. — Ela tirou o cabelo dele dos olhos. —Volte a dormir.

Ele rolou para longe dela, um ronco suave ecoando pela sala. Tentando ficar o mais silenciosa possível, Helena calçou as botas e enfiou uma das adagas na bainha. Ela colocou uma bainha na cintura.

Incapaz de olhar para o irmão novamente, ela saiu, fechando a porta atrás dela e recostando-se nela.

Ela prometeu não deixá-lo novamente. A voz dele entrou em sua mente e as lágrimas picaram sua visão. Não havia tempo para sentimentos. Ela enxugou os olhos e entrou na sala de estar. Uma perna estava pendurada nas costas do sofá. Ela deu a volta para encontrar Edmund, rosto esparramado primeiro nas almofadas de veludo.

—Matteo o deixou.

Helena pulou na voz de Etta. Etta andou ao redor dela para se sentar no braço do sofá, uma caneca de chá apertada entre as mãos. Ela deu a Helena um sorriso tímido. —Não consegui colocá-lo na cama e não queria acordar ninguém.

—Quando ele chegou em casa?

—Oh, isso foi há horas atrás. Eu simplesmente não consegui dormir depois de vê-lo assim. —Ela olhou para o chá como se fosse a coisa mais interessante que ela já viu. —Ele está lutando, e eu não sei como ajudá-lo.

Helena olhou para a porta. Ela não tinha tempo para isso. Mas era Edmund. —Acho que ninguém pode ajudá-lo agora.

Ele rolou com um gemido e espiou com um olho aberto. —Por que vocês duas estão aqui no escuro?

Etta, como se notasse pela primeira vez a primeira hora, deu a Helena um olhar interrogativo. —Eu sei porque estou acordada. Mas o que você está fazendo?

Helena encolheu os ombros, nervos tremulando no estômago.

—Também não conseguia dormir.

Etta não parecia acreditar nela. Ela examinou a roupa de Helena, observando o punhal visível em sua cintura. —Você está indo.

Edmund gemeu. —Ela não está indo embora, Etta. Para onde ela iria?

Helena apertou e abriu as mãos, mas a rainha apenas a estudou.

—Como você planeja chegar lá?

O silêncio pairou entre elas por um longo momento. Edmund olhou entre as mulheres, olhos arregalados, antes de se sentar. Ele agarrou a cabeça dele. —Lembre-me de nunca mais beber. — Ele fechou os olhos.

Por fim, Helena cedeu. —Há um navio saindo ao nascer do sol.

—O navio mercenário. — Etta assentiu.

—Como?

Etta acenou com a pergunta. Helena imaginou que realmente sabia tudo o que acontecia em seu reino.

—Você não pode me parar. — Ela cruzou os braços.

Etta suspirou. —Eu sei. Você tem que fazer isso. Eu já estive no seu lugar antes.

Edmund abriu os olhos. —Eu não entendo o que está acontecendo.

—Você não precisa entender, Edmund. — Helena colocou a mão no ombro nu e apertou uma vez antes de passar por eles.

A voz de Etta a parou na porta. —Eu não vou fazer o seu desserviço e supor que você não tem um plano. Você é uma garota inteligente, Helena. Lembre-se do que eu disse. Certifique-se de que isso seja mais do que vingança.

—É. — Era sobre família. Ela entrou na escuridão antes do amanhecer, deixando o início da luz guiar seu caminho. O sono ainda pairava sobre a vila tranquila, enquanto ela caminhava pelas ruas e andava por um beco.

Passos soaram atrás dela e ela se virou, mas não viu ninguém. Alguém a estava seguindo?

Ela puxou as bordas da capa e tirou a adaga do cinto. Quando chegou às docas, ela soltou um suspiro de alívio. Um pequeno navio estava em meio a comoção em seus conveses enquanto os marinheiros o preparavam para partir. Homens e mulheres carregavam caixas através de uma rampa.

Uma sensação de familiaridade a atingiu quando ela pegou o navio Madrano. Altas paredes de cerejeira circundavam um amplo convés, mergulhando e subindo com um design intrincadamente entalhado. Quem possuía o navio tinha riqueza. Ela poderia dizer isso apenas olhando. Na proa, uma estátua de ouro de uma serpente pairava sobre a água, protegendo os marítimos de qualquer coisa escondida abaixo.

Ela se aproximou, seu coração batendo forte na garganta.

A luz do amanhecer se estendeu sobre a água e ela se concentrou nela por um momento de hesitação antes de voltar o olhar para os marinheiros que fizeram uma pausa no trabalho para encarar a garota que se aproximava.

Três homens grandes estavam no convés. Um colocou a caixa que ele estava carregando, seus músculos espessos se esticando. Os outros dois continuaram a enrolar cordas, limpando o convés de todos os detritos. As tatuagens se estendiam por seus pescoços da mesma maneira que Will as tinha. Rabiscos pretos grossos que lhes davam uma aparência mais escura. Ela não sabia o que os símbolos significavam, apenas o que indicava. Esses homens eram mercenários.

O homem mais próximo do trilho pulou, aterrissando com um baque pesado no cais. Os membros de Helena congelaram no lugar quando ele se aproximou. —E quem pode ser você?

Ela engoliu em seco, incapaz de formar uma única palavra. Quantas vezes o pai a avisara de mercenários? Eles não eram permitidos na cidade e por boas razões. A voz dele tocou em sua mente. —Eles são perigosos, Helena. Eles não obedecem ao rei.

Ela trabalhou a garganta, tentando respirar quando ele parou apenas um pé na frente dela. Agora que ele estava perto, ela podia ver que ele era mais jovem do que parecia, provavelmente ainda mais jovem que ela. Cabelos ondulados de chocolate emolduravam um rosto de menino que não se encaixava em um homem do seu tamanho.

Ele sorriu como se tivesse prazer em fazê-la se contorcer.

—Você pode falar. Eu não mordo. —Ele se inclinou. — Muito.

—Deixe-a em paz, Ez.

Helena fechou os olhos brevemente. Ela conhecia aquela voz. Esquecendo o garoto na sua frente, ela suspirou. —Você me seguiu.

Edmund se aproximou dela. —Claro que sim.

Helena queria ficar brava, mas, em vez disso, estava tão aliviada que Edmund estava lá.

Virou-se para o mercenário cujo sorriso aumentara. —Desde quando você transporta mais do que apenas mercadorias, Ezio?

Os olhos de Ezio se arregalaram. —Você é o único que o tio Will enviou? — Ele bateu na própria testa. —Claro que você é.

Tio?

Edmund pareceu sentir sua confusão. —Len, este é Ezio. A mãe dele é capitã deste navio.

Len... isso era um sinal. Sem nome verdadeiro? Ela assentiu, entendendo o significado dele. Ele não confiava neles o suficiente para revelar a identidade dela.

Uma mulher apareceu no convés, com as mãos nos quadris.

—Ezio. Há trabalho a fazer.

Ele deu uma piscadela para Helena antes de voltar para o navio.

Edmund levantou a mão em saudação.

—Edmund. — Ela saltou do navio e avançou. —Você está entregando nossa passageira?

Helena estudou a mulher, vendo a semelhança com Will no conjunto confiante de seus ombros, na inclinação de sua cabeça. Mas ela não se pareciam. Ele era maior, iminente. Essa mulher tinha uma constituição leve e traços delicados. Pela maneira como andava, Helena imaginou que era tudo menos delicada.

Edmund se inclinou para perto. —Esta é Damara. — Ele sussurrou. —Tenha cuidado com ela.

Ela ainda não entendia por que Edmund estava lá ou como ele conhecia essas pessoas, mas confiava nele.

—Damara. — Edmund encontrou seu olhar, a dureza entrando nos olhos dele. —Quando a rainha me disse que Len tinha saído, eu sabia que você estava por trás disso.

Damara levantou uma sobrancelha arqueada. —Eu não estou atrás de nada, bebê. Meu irmão veio implorar por sua passagem. Ele sabe que darei ajuda a quem tentar escapar de Bela.

Fugir de Bela? Quem já quis fazer isso?

A mandíbula de Edmund se apertou. —A rainha Persinette permite que você mova seu comércio por Bela, apesar de meu conselho para afastá-lo. O mínimo que você pode fazer é respeitá-la.

Damara virou-se para Helena, ignorando as palavras de Edmund. —Você deseja que eu tire você deste reino ou não?

Apesar da tensão de Edmund ao lado dela, Helena não podia negar que era isso que ela queria. Mesmo que essa mulher não fosse confiável, ela era o único caminho de volta para Madra.

Lentamente, Helena assentiu.

—Fale garota!

—Sim. — Ela respirou fundo. —Eu preciso de passagem para Madra.

Damara bateu palmas, fazendo Helena pular. —Bom. Will já me pagou, um presente de sua amante, ele disse. Eu sabia que havia um motivo para ele se recusar a voltar para Madra.

Ela estava errada. Helena já tinha visto. Não era dinheiro que mantinha Will com Amalie. Era lealdade.

Edmund agarrou o braço de Helena, impedindo-a de avançar. —Eu também vou. — Ele soltou Helena e passou por Damara. —Considere meu pagamento sua capacidade contínua de entrar em Bela. — Ele não voltou. —Len, venha.

Ela correu atrás dele, não querendo passar mais um momento na presença da mulher dura. —Você não pode estar falando sério, Edmund. — O medo superou o alívio que ela sentiu por ele estar lá.

Ele não respondeu.

—Você não pode vir comigo.

Ele parou antes de embarcar no navio quando ela agarrou seu braço, segurando-o.

—Edmund...

Ele se virou tão de repente que ela deu um passo para trás.

—Por que Len? Por que não posso ir?

Sua voz caiu como se ela não quisesse ouvir suas próprias palavras. —Ele vai te matar.

Um som estrangulado escapou da garganta de Edmund, mas ele conteve um soluço. —Isso importa? — Um último lampejo de dor cintilou em seu rosto.

Ezio estendeu a mão para ajudá-la a atravessar a passarela de madeira. O navio balançou nas ondas batendo contra as docas.

Edmund não falou com ninguém e Helena não sabia o que mais ela poderia dizer para convencê-lo a ficar para trás. Ela nunca se recuperaria se algo acontecesse com ele. Mas, ao mesmo tempo, a presença dele a fez sentir como se essa missão não fosse tão estúpida quanto ela pensava.

Os remos mergulharam na água em ritmo sincopado quando o navio começou sua jornada. As cores riscavam o horizonte, dando boas-vindas a um novo dia, mas no mundo de Helena tudo permanecia escuro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Dezessete


Ele estava sozinho. Dell esticou o braço, sentindo o conforto quente que teve durante a maior parte da noite. Imagens de apenas algumas horas atrás passaram por sua mente. Helena dera tudo a ele em uma noite. Ele nunca teve tanta certeza de nada em sua vida. Ela o amava. Seu coração partido e cheio de cicatrizes não a congelara completamente.

Talvez houvesse felicidade entre as mágoas, afinal. Mas onde ela estava? Pela primeira vez, eles não tinham uma jornada para começar ou uma missão a cumprir.

Por que ela não estava aqui?

Dell esfregou os olhos cansados, bloqueando a luz que entrava pela janela. Ontem à noite significava que Helena estava finalmente lhe dizendo que estava desistindo de sua vingança? Que ela sabia que ainda havia um futuro para ela? Quinn ficaria bem. Ele poderia ficar ao lado de seu irmão gêmeo enquanto Helena o deixasse.

Ninguém tinha que arriscar suas vidas.

Ele não precisava perdê-la.

Ele rolou, gemendo enquanto seus músculos doíam por dias na sela. Ele sentou-se, empurrando o cobertor do colo e balançando as pernas sobre a beira da cama. Comida. Ele precisava de comida. Como se estivesse de acordo, seu estômago roncou. Talvez fosse para onde Helena tivesse ido. Alex geralmente preparava o café da manhã. Era coisa dele. Etta disse que só aprendeu a cozinhar uma vez que viveu em Bela sem pessoas para fazer isso por eles. Ela se recusou a contratar empregados, então ele fez isso e gostou.

E ele era bom nisso.

Dell ficou com água na boca enquanto vestia uma camisa e calça novas, sem se preocupar com sapatos. O clima ficava mais frio a cada dia, enquanto avançavam em direção ao inverno, mas a casa de Etta nunca estava fria.

Ele alcançou a escultura que sempre carregava, nunca saindo sem o trabalho atual em andamento. Mas se foi.

Talvez Kassander tenha pegado a pequena réplica da espada. Mesmo enquanto pensava, ele sabia que Kass nem chegaria aqui.

Apenas uma pessoa havia entrado nesta sala além dele.

O pânico percorreu-o enquanto ele corria para o espaço. Alex e Etta estavam acordados e conversando em vozes murmuradas na cozinha.

Ninguém mais estava lá.

—Onde está Helena? — Os olhos de Dell vasculharam todos os cantos da sala antes que ele corresse pela porta da frente dos estábulos. Vérité o cumprimentou com um bufo. O cavalo de Alex apenas levantou a cabeça.

Landon estava desmaiado no sótão acima.

Não Helena.

Ele se virou para procurar o quintal e encontrou Etta em pé na varanda da frente, com os braços cruzados na frente dela.

Os lábios dela se fecharam em simpatia. Ela sabia de algo.

Dell atravessou o quintal, parando na frente dela. Seu peito arfava com uma única palavra. —Por quê?

Não onde. Ele tinha um pressentimento que já sabia a resposta para isso.

Não como. Isso não era importante no momento.

Ele deveria saber. Em algum nível, ele sabia. Ela nunca desistia. Mas ... —Por que ela me deixou para trás?

Os ombros dele caíram. Ele teria ido. Sem dúvida. Ele não se importava com os riscos. Ele não teria deixado o lado dela. E ela sabia disso.

—Dell. — Etta correu para frente e passou os braços em volta dele.

Naquele momento, ele entendeu como a família deles funcionava. Como Etta tinha tantas pessoas que a seguiriam até a morte. Ela cuidava deles. Não de maneira maternal, não era ela. Mas quando eles se separaram - como todos pareciam fazer com frequência - ela conseguia segurá-los.

Mas ele não aguentou. Os braços dela não eram os de Len. Ele deu de ombros e Kassander apareceu na porta. —Onde está Len?

De repente, Dell odiou Helena. Ela o deixou para dizer ao irmão que ele também não era necessário. Que a luta pertencente aos dois filhos de Rhodipus seria travada apenas por um.

Ele colocou a mão no ombro de Kassander, com ressentimento no estômago. —Ela foi embora, amigo. E não acho que ela planeja voltar. — Ele entrou na casa e caiu no sofá. Colocando a cabeça nas mãos, ele deixou que a raiva o dominasse. Ao seu redor, as pessoas falavam. Etta confortou Kass. Alex deu as boas-vindas a Mari e Corban quando eles apareceram na porta.

Tudo ficou borrado na mente de Dell até Kassander se sentar ao lado dele. —Nós estamos indo atrás dela?

Essas palavras eram como um balde de gelo sendo jogado sobre sua cabeça, despertando-o do pesadelo em que ele estava vivendo. Havia algo que ele poderia fazer. Ele não precisava apenas ficar sentado em Bela e esperar por notícias de seu destino.

Helena talvez não o quisesse lá com ela, mas estava na hora de ela perceber que não tomava decisões por ele.

Ele ergueu os olhos, vendo o príncipe como ele realmente era pela primeira vez. Eles trataram Kass quando criança, inocente e jovem demais para fazer parte dessa luta.

Mas ele perdeu a inocência no dia em que assassinaram sua família. A juventude era um luxo que ele não tinha mais. E ele parecia... pronto? Dell balançou a cabeça, sem saber se essa era a palavra certa. Ele tinha uma bravura teimosa que Dell admirava.

—Sim, Kass. Nós vamos atrás dela.

Todas as conversas na sala pararam quando suas palavras os envolveram. Mari veio se sentar ao lado dele, a coisa mais próxima de uma mãe que ele teve em anos. Juntamente com Corban, ela cuida dos ferimentos físicos da Dell há anos. Agora, ela tentou acalmar seus sentimentos emocionais também. Ela apertou a mão dele como se estivesse confortando uma criança. —Dell... você não pode voltar para Madra. Helena fez sua escolha e eu gostaria que fosse diferente, mas não quero esse perigo para você.

—Você não entende. — Ele balançou a cabeça. —Eu tenho que... eu...— Ele se inclinou para Mari, deixando-a envolver um braço em volta dos ombros. —Eu passaria pelo fogo por aquela garota... eu enfrentaria a própria La Dame. O único risco que importa é perdê-la.

Alex quebrou a tensão com uma risada, surpreendendo todos eles. —Bem, sendo que eu andei para enfrentar La Dame porque estava apaixonado... provavelmente sou o único aqui que entende.

A voz cansada de Tyson veio da porta. —Por favor, Alex. Você nem precisou entrar em Dracon até a luta terminar. Etta foi a única de nós que enfrentou La Dame.

Alex pegou um prato de frutas frescas da cozinha e colocou sobre a mesa. —Mas eu ainda reuni um exército e viajei para Dracon pronto para lutar. Eu poderia dizer que era algum motivo nobre como querer ajudar o povo de Bela. Mas Etta estava lá e eu teria feito qualquer coisa para protegê-la.

Etta resmungou. —Vocês, rapazes, precisam perceber que não precisamos que vocês nos protejam, apenas lutar ao nosso lado. — Ela pegou um pedaço de bacon da bandeja que Alex havia pegado. Depois de dar uma mordida, ela deu uma olhada em Dell. —Ok pessoal. Reunião de família. Agora mesmo.

Tyson resmungou algo baixinho quando se sentou em uma cadeira perto do fogo.

Mari se levantou para se levantar, mas Etta estendeu a mão.

—Fique. Você é da família agora. Alguém acorde Landon.

Mari deu um empurrão em Corban e o menino correu para o celeiro, retornando alguns minutos depois com um general madrano meio acordado.

Alguém estava desaparecido. —Onde está Edmund? — Dell encontrou o olhar de Etta. Os olhos dela deram a resposta que ele precisava.

Ela pegou Edmund e deixou Dell para trás. Perfeito.

—Dell. — O nome dele era um suspiro nos lábios dela. Ela não sabia o que dizer para ele.

Tyson tamborilou com os dedos no braço da cadeira. —Eu não entendo. Onde ele está? Cadê o Edmund?

—Ele está em um navio saindo de Bela com Helena. — Alex era o único que parecia capaz de expressar as palavras.

Tyson se levantou. —Que diabos? Por que Helena foi autorizada a partir para Madra? Por que não fui convidado para ir? Eu sei que disse a ela que não podia... mas isso foi antes de perdermos o irmão dela.

Dell tinha essas mesmas perguntas.

Alex coçou a mandíbula em confusão. —Por que ela perguntaria quando ela nem soltou Dell?

Tyson cruzou os braços. —Não Helena. Edmund. Eu vou aonde ele vai. Ele já foi para Madra mais de um ano atrás e você o soltou de novo? E se desta vez ele não voltar?

—Ty...— Etta disse que era como uma criança.

Mas Dell sabia que Tyson tinha razão.

—Ele é meu melhor amigo, Etta. — Ele afundou na cadeira.

Dell olhou para cada um deles, percebendo que ele não era o único com algo a perder.

Etta bateu com o punho na mesa atrás deles, a rachadura ecoando pela sala. —Todo mundo sentem-se.

Alex e Landon eram as únicas pessoas que ainda estavam de pé, então puxaram as cadeiras da mesa e obedeceram.

Etta atravessou a sala para ficar na frente deles, as chamas da lareira atrás dela. —Isso não é fácil para nenhum de nós, e não chegaremos a lugar algum se discutirmos a cada momento. — Ela encarou o irmão. —Tyson, seu comportamento foi inaceitável. Não deixarei Amalie Leroy transformá-lo em um idiota. Então, junte-se ou você não fará parte disso. Eu sei que você ama Edmund. Eu também o amo. Alex o ama. Inferno, todo mundo que já conheceu aquele idiota o ama. Mas ele ama Helena. — Matteo a interrompeu entrando pela porta. Ele pegou sua expressão e correu para puxar uma cadeira.

Respirando lentamente, ela olhou de relance para seu primo. —E Edmund amava Estevan Rhodipus. Ele teve que ir. Ambos. Eu não iria detê-los. Podemos nos preocupar com eles, mas não podemos deixar isso nos separar.

—Como eles estão chegando a Madra? — Dell perguntou. —Eu pensei que eles haviam fechado o porto para todos os navios estrangeiros.

—Eles não estão em um navio estrangeiro.

Dell franziu a testa. Todos eles sabiam que os navios oficiais de Madra pararam de chegar a Bela nas últimas semanas.

Etta endireitou sua postura como se estivesse se preparando.

—Eles estão em um navio mercenário.

Protestos irromperam por toda a sala. Os mercenários haviam lutado por La Dame. Ninguém era mais odiado em Bela. Nem mesmo os draconianos, pois foram forçados a fazer o que ela mandou. Os mercenários fizeram isso por ouro.

Etta levantou a mão e, para seu crédito, todos se aquietaram. —Está feito. Não podemos fazer mais nada além de aguardar notícias.

Dell não podia acreditar nela. Ou qualquer um deles para esse assunto. A raiva que ele sentia por Helena fervia, encontrando uma nova direção. Ela realmente não teve escolha. Se ela tivesse perguntado aos Belaenos, eles teriam dito não. Ao contrário dele.

Sua raiva estava prestes a derramar de sua boca, mas antes que ele pudesse falar, Kassander ficou de pé. —Nós não podemos apenas sentar aqui. — Lágrimas umedeceram seu rosto, e ele não se deu ao trabalho de limpá-las. O garoto não tinha vergonha de suas emoções. —Lenny está indo para Madra, onde Cole... — Um soluço sacudiu seu peito, mas ele apertou a mandíbula e levantou o queixo. —Deveríamos estar com ela.

—Kassander. — Etta estendeu a mão para atraí-lo para ela, mas ele se desvencilhou de suas mãos.

—Não! — Seu grito atordoou todos eles em silêncio. —Não. — O olhar que ele enviou a ela poderia ter cortado vidro. —Você é uma covarde, Persinette Basile

Ninguém falou quando o significado os atingiu. Kassander não recuou. Ele olhou para a rainha mágica que já lutou com La Dame - e venceu - como se ela não fosse nada.

Dell passou um braço em volta da cintura de Kassander e o puxou de volta para seu colo. O corpo inteiro do garoto tremeu.

Quebrando o silêncio, Dell falou. —Este não é apenas o problema de Helena. Madra está se fechando, se isolando do resto do mundo. Com Cole Rhodipus no poder, você não pode mais utilizá-los como aliados.

—Nós sobrevivemos sem eles antes. — As palavras de Etta não tinham a confiança que elas tinham uma vez.

Ele podia reconhecer quando era hora de parar de lutar. Ele respirou lentamente, apertando ainda mais Kass. —Você deixou clara sua posição sobre o assunto. Você pode não considerar Madra seu problema, mas enquanto Helena estiver lá, é minha e de Kassander, e pretendo ir atrás dela.

—Eu também. — Disse Kassander.

Dell assentiu. —Estou levando a criança. Ele merece fazer parte disso.

Tyson ergueu os olhos, mas a única pessoa que ele parecia ver era seu irmão. —Alex...— Dor passou por sua voz. Ele passou a mão pelo rosto. —Não podemos deixá-los tê-la.

Dell estava errado. Tyson e Alex tinham tanto em que lutar em Madra quanto ele. A irmã deles estava presa dentro das muralhas do castelo, prometida ao homem que matou sua própria família para levar a coroa.

Alex não respondeu enquanto se ocupava em limpar uma refeição que não comia.

—Ela é nossa irmã.

Um barulho veio da direção de Alex quando uma panela pesada de ferro fundido atingiu o chão. —Droga. — Alex rosnou. Ele não se incomodou em pegá-la enquanto se endireitava.

Etta ficou pálida enquanto observava o marido.

Tyson se levantou e diminuiu a distância entre ele e seu irmão. Ele colocou a mão em cada braço e encontrou seus olhos escuros.

—Não importa como nos sentimos sobre ela ou o que ela fez, Alex. Camille é família e não abandonamos a família.

—Edmund também é da família. — Etta sussurrou. Ela fechou os olhos, uma lágrima se espremendo. Uma respiração estremeceu fora dela. —Não acredito que o abandonaria aos seus interesses em Madra.

Alex correu para puxá-la em seus braços. —Você estava pensando no seu povo.

Ela se agarrou a ele. —Às vezes fico tão envolvida em ser a rainha que esqueço de ser eu.

Matteo, que estava quieto, inclinou-se para a frente. —Etta.

Ela se afastou de Alex para encarar o primo.

—Está bem.

Como se a permissão dele tirasse um peso de seus ombros, ela se endireitou e cruzou para ficar na frente de Kassander e Dell. Inclinando-se para encontrar os olhos do garoto, ela sorriu.

—Obrigada por me lembrar quem eu sou, jovem príncipe. Fiquei tão preocupada em manter Bela a salvo que esqueci o resto do mundo.

Ela se endireitou e caminhou até Tyson, passando os braços em volta dos ombros dele. —Eu te amo você sabe disso?

—Mesmo que eu seja um tolo idiota? — O som que saiu de sua garganta foi meio riso e meio soluço.

Ela se afastou. —Mesmo se você estiver me fazendo ir ajudar Camille. — Ela torceu o rosto com desgosto.

Alex riu, a tensão saindo da sala. —Ninguém disse que você tinha que gostar da sua família.

Landon ficou de pé. Dell quase esqueceu sua presença silenciosa. —Temos preparativos a fazer.

—Sim. — Etta bateu palmas, voltando ao modo rainha. —Não há mais navios Madranos no porto, mas tenho alguns capitães de Belaenos que posso questionar sobre a passagem. Precisamos de cavalos, pois eles não permitirão que um navio Belaeno entre na cidade. Tanta coisa para fazer.

Quando ela deu ordens, Dell levantou Kassander do colo e saiu pela porta da frente. Preparar cavalos afastaria sua mente das emoções que rodavam dentro dele.

Ele iria para Madra. Ele lutaria com seus irmãos e até com o rei. Mas o que então? Helena não confiava nele. Ela forçou as circunstâncias a ele quando o lugar dele estava com ela.

Dell cresceu em uma casa solitária, mas nunca experimentou a verdadeira solidão até aquele momento. Mesmo cercado por pessoas que cuidaram dele pela primeira vez em sua vida, algo que ele não sabia que precisava estava faltando.

E ele não sabia se conseguiria recuperá-lo.

Mas o que importava para ele, afinal? Ele poderia não fazer isso. Mas Helena... ela faria. Ele sabia disso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Dezoito


Helena observou Madra se aproximar com medo apertando o estômago. Ela estava em casa.

O sol do meio-dia pairava sobre eles enquanto os marinheiros pegavam os remos e as velas baixavam. O outrora movimentado porto de Madra agora parecia... abandonado. Não era uma visão que ela já pensou em ver. Sem navios estrangeiros entrando e navios mercantes de Madra autorizados a deixar o transporte de mercadorias, uma aura triste pairava sobre o local.

Eles chegaram ao rio que fazia fronteira com a cidade no início da manhã e deixaram o mar expansivo para trás. Qualquer chance de voltar atrás se foi agora.

Com quem Helena estava brincando? Já se fora desde que ela embarcou no navio mercenário.

Ela passou alguns dias entre homens e mulheres rudes a bordo, seus olhares suspeitos passando por sua pele em todos os lugares que ela ia. Mercenários não confiavam em estrangeiros como Edmund, mas quem confiava? Com o passar do tempo, cada um dos seis reinos se isolou. Bela se recusou a ajudar os outros a alcançar a paz de que desfrutavam. Gaule estava muito envolvida em suas próprias guerras civis. Dracon não tinha mais muros altos protegendo-os, mas as cicatrizes da batalha não desapareceram.

Cana e Andes eram perigosos demais para qualquer um se aventurar.

O que isso deixava com eles? Um mundo quebrado.

Ela não odiava Etta por sua decisão. Até a rainha Catrine de Gaule ela entendia. Elas faziam o que era necessário para o seu povo. Agora era a vez dela.

Mas ela poderia fazer isso? Ela poderia matar seu próprio irmão se isso acontecesse?

Uma mão cobriu a dela no corrimão. Ela não se virou, mas se inclinou para Edmund. Toda vez que ela o via nos últimos dois dias, ela estava agradecida por ele estar lá. Ela explicou tudo o que Will havia lhe dito e não deveria ter se surpreendido por ele já saber do esconderijo dos rebeldes. Ele conhecia muitos na rede de pessoas que queriam retomar seu reino.

E ela pensou em Dell. Ele a odiava por deixá-lo para trás? Provavelmente. Ela faria isso de novo? Sim. Não importava como ele se sentia por ela, desde que estivesse a salvo de seu irmão. Cole não levaria outra pessoa que Helena amava.

Edmund apoiou o queixo na cabeça de Helena. —Parece a mesma.

Helena bufou. Edmund estava apenas tentando fazê-la se sentir melhor. Não era a mesma porta que ela deixara para trás.

Alguns navios balançavam na água, batendo contra as pranchas de madeira. Um punhado de pessoas andava pelo calçadão realizando suas várias tarefas.

—O que acontece depois, Len? — O suspiro de Edmund fez farfalhar seus cabelos. —Agora que estamos aqui. Sei que você deseja seguir as instruções de Will, mas isso não a aproximará de Cole.

Ela tinha um plano, mas ainda se sentia perdida. Ela tinha que chegar a Quinn o mais rápido possível. O que quer que tenha acontecido, ela só precisava ver que ele estava bem. Will disse a ela para ir direto para o esconderijo, mas agora ela sabia que não podia arriscar. Se a notícia de sua presença em Madra chegasse ao palácio antes dela, ela perderia a vantagem.

Ela não tinha um exército para desafiar Cole nem a habilidade de batalhar com ele. Mas ela tinha os afetos dele. Se alguma coisa tinha sido verdade em sua vida, era como cada um de seus irmãos sempre a amava. Cada um à sua maneira. Stev a protegeu, protegendo-a de qualquer coisa que pudesse machucá-la, incluindo o pai. Kassander olhava para ela como se ela fosse a melhor parte de sua vida. Quinn a respeitava, confiava nela. Foi ele quem concordou com qualquer ideia maluca que ela já teve. Mas Cole? Como ele a amava?

Com tudo o que ele tinha.

Seu amor nunca foi fácil, mas sempre foi poderoso.

E ele deixou Edmund e Dell irem por causa disso. Cole já tinha Estevan em seu poder. Ele não precisava barganhar com Stev por suas vidas. Mas então ela se machucou. A dor que ela viu nos olhos dele era real.

Helena se preparou para as palavras que tinha a dizer. Ela passou o braço pela cintura de Edmund, sabendo que ele não gostaria que o plano se formasse em sua mente. —Vou caminhar até os portões do palácio e exigir entrada.

Edmund recuou. —Len...

—Eu não posso ser vista antes de abordá-los. Se eu for presa e chegar como prisioneira, acabou.

—Você será uma prisioneira assim que pisar na propriedade.

Ela balançou a cabeça. —Cole não vai me machucar. — Ela ergueu o olhar para Edmund, precisando conhecer os pensamentos que estavam fazendo seus olhos escurecerem.

—Você não pode saber disso. Ele matou Stev.

Ela balançou a cabeça. —Não. Stev morreu de doença em sua cela. Tudo indicava que Cole executaria Stev, mas ele não conseguiu. Ele nunca teve muito amor por nosso irmão mais velho. Mas eu? Esta pode ser a nossa única chance de derrubá-lo. Mesmo que ele não me machuque... isso não significa que eu não o machuque.

O aperto de Edmund nela aumentou. —Por Estevan.

Helena assentiu. —Por meus pais. — O rosto de sua mãe brilhou em sua mente. —E Edmund...— Ela respirou fundo. —Eu tenho que fazer isso sozinha.

Ele abriu a boca para falar, mas ela bateu a mão livre contra ela. —Não discuta. Cole pode não me matar, mas você não tem chance com ele.

Edmund suspirou, passando a mão pelos cabelos. —Tudo bem, mas não vou ficar parado enquanto você salva Madra. Não foi por isso que eu vim. Você precisa de um plano. Eu ainda tenho minha rede na cidade. Vou entrar em contato com meu pessoal. Você tem dois dias. Se eu não receber uma mensagem de que você está bem, nós vamos buscá-la.

Ela assentiu, deixando um pouco de tensão. —Eu esperava que você dissesse algo assim. — Ela fechou os olhos, inclinando-se contra ele em busca de apoio. — Estou com medo. — As palavras eram apenas um sussurro, mas quando ela abriu os olhos, ficou claro que Edmund as ouvira.

Ele levantou o olhar para a cidade que se aproximava. —Eu também.

Ezio parou quando os encontrou, invadindo seus últimos momentos de paz. Ele passou a mão pelos cabelos desgrenhados antes de esfregar o pescoço tatuado. —Capitã quer vocês dois abaixo do convés.

Helena soltou Edmund e virou-se para examinar os olhos do jovem. Ele foi um dos poucos mercenários a conversar com eles na jornada para Madra. Talvez fosse sua juventude ou apenas algum senso de inocência, mas Helena tinha gostado dele... apesar de tudo gritando para ela não confiar nos lutadores de aluguel.

Quando você luta por nada, você não tem ideais, nem reino. Eles podem ter vivido nas montanhas de Madra, mas não eram madranos.

Ezio mudou de pé para pé. Quando nem Helena nem Edmund responderam, ele olhou para a porta da cozinha atrás dele. —Ummm... eu preciso que vocês venham. Por favor? A capitã não quer que vocês sejam vistos até o anoitecer.

Helena suspirou, ansiosa para sair do navio e entrar na cidade. Ezio estava certo, no entanto. Se as docas estavam sendo vigiadas, eles precisavam esperar até a escuridão esconder sua volta ao lar.

Sem dizer uma palavra a Ezio, Helena passou por ele e abriu a porta antes de descer a escada estreita para a cozinha mal iluminada.

Edmund a seguiu e a porta se fechou atrás dele. Todos os marinheiros estavam no convés se preparando para atracar, então Helena e Edmund eram os únicos no pequeno espaço.

Helena pegou um rolo de uma travessa sobre a mesa no centro da sala e deslizou sobre o banco de madeira, apoiando uma perna debaixo dela.

Edmund caiu em uma cadeira com uma respiração pesada e passou a mão pelo rosto.

Esperar era a pior parte. Nenhum deles sabia o que a noite traria. Helena deu uma mordida no pão antes de colocá-lo de lado enquanto seu estômago protestava.

Ela tamborilou com os dedos sobre a mesa, sua mente voltando para Bela enquanto fechava os olhos. Colinas. Jardins floridos. Não era de admirar que Etta ignorasse o resto dos problemas do mundo. Ela tinha tudo. Era a recompensa do seu povo por gerações de luta.

Ela olhou fixamente para Edmund. Qual era sua recompensa? Ele deveria ter vivido sua vida em Bela, sem ter que enfrentar outra dificuldade.

Em vez disso, aqui estava ele, sofrendo. O homem que ele amava estava morto. E agora o que ele tinha? Vingança?

Alguns dias, parecia que isso era tudo que ela tinha deixado também. Se ela não aceitasse, seguraria, ela realmente perderia.

Mas ela já tinha perdido. Esta missão não teria vencedores.

Ela não sabia há quanto tempo eles estavam sentados naquela sala. Horas? Finalmente, Edmund curvou-se para a frente, com os cotovelos nos joelhos. —Lenny?

Ela se retirou do caos de seus pensamentos. —Sim?

—Ezio parecia nervoso com você?

Helena encolheu os ombros. —Ele está sempre um pouco hiperativo.

Edmund pensou por um momento. —Eu conheço esse garoto há um tempo agora. E a mãe dele. Algo está errado. — Ele se levantou, olhando por cima do ombro para as escadas. Endireitando a coluna, ele atravessou a sala e subiu os degraus. Assim que chegou ao topo, uma ladainha de maldições choveu.

Helena ficou de pé quando ele reapareceu.

O queixo de Edmund se apertou enquanto ele tentava conter a fúria sob sua pele. —Trancado.

—Trancada? — Ela não entendeu. Subindo os degraus dois de cada vez, ela correu e agarrou a maçaneta, empurrando a porta. Nada. Ela fez de novo, desta vez, batendo o ombro contra a madeira.

—Você não vai abrir dessa maneira. — Seus olhos se fecharam, derrotados.

Helena não parava. Ela bateu na porta novamente, ignorando a dor cortando seu ombro. Ela se preparou para atacar novamente quando Edmund agarrou seu ombro, segurando-a no lugar.

—Edmund. Me deixar ir.

Seu aperto aumentou. —Você só vai se machucar.

Ela girou nos calcanhares e esticou a mão para agarrar a grade. O lugar não era grande o suficiente para os dois. Mas Edmund não estava indo a lugar algum. Empurrando por ele, ela desceu as escadas.

—Por que eles trancariam? — Ela torceu o cabelo escuro sobre um ombro e chupou o lábio inferior na boca. —Não faz sentido.

Edmund não respondeu. Quando Helena percebeu sua expressão resignada, ela finalmente entendeu. Os mercenários eram leais a quem os pagava. Damara não tinha grande amor por Etta ou Edmund. O nervosismo de Ezio...

—Eles não nos trouxeram aqui para que eu pudesse enfrentar meu irmão. — O pensamento enviou uma onda de fúria correndo por ela. —Somos prisioneiros desde que deixamos Bela.

Edmund amaldiçoou. —Eu deveria saber. Eles podem não saber quem você é, mas ainda sou um homem procurado em Madra.

Passos pesados soaram acima deles. Muitos passos pesados.

Edmund afastou Helena das escadas e a porta se abriu, deixando entrar a pequena luz restante do dia.

Uma sombra apareceu no topo, alta e magra. Quando ele desceu para a sala, Helena pegou o uniforme de Madra, brilhando em vermelho à luz de velas. Seus olhos deslizaram sobre as linhas retas e pressionaram as dobras na mandíbula angular e nos olhos brilhantes que ela conhecia tão bem.

—Quinn. — O nome dele era apenas uma respiração em seus lábios. Seu coração deu um pulo, e ela queria ir até ele, pedir que ele dissesse que tudo ficaria bem, confortá-la como ele havia feito a maior parte de sua vida.

Mas ele não estava sozinho.

Mais três soldados madranos o seguiram.

Os olhos de Quinn não reconheciam sua irmã. Eles eram mais escuros de alguma forma. E foi aí que ela soube. O uniforme. A recepção rígida.

Quinn não voltou para Madra como prisioneiro. Ele se juntou ao lado de Cole como um aliado.

Edmund parou na frente de Helena como se ele pudesse protegê-la da realização esmagadora que o irmão que ela veio salvar talvez não queira ser salvo.

—Afaste-se. — Ordenou Edmund.

Quinn não demonstrou emoção enquanto gesticulava para os homens atrás dele. —Eles vêm conosco. Pague ao mercenário e diga a eles para sair da nossa cidade. — Ele se virou sem outro olhar e subiu as escadas.

Helena desabou sobre si mesma. Lágrimas entupiram sua garganta, dificultando a respiração dela. Enquanto ela ofegava por ar, um aperto forte puxou seu braço para frente.

Ela gritou quando Edmund revidou e recebeu um soco pesado no estômago. Ele teria caído se não fosse pelos homens que o seguravam. Com um golpe final na cabeça, o queixo de Edmund caiu contra o peito e seu corpo cedeu.

Helena não lutou depois disso. No convés, seus olhos ardiam nas costas de Quinn, mas ele não se virou.

Ela pensou que Cole não poderia machucá-la pior do que ele já tinha.

Ela estava errada.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Dezenove


O carrinho retumbou embaixo dela, e Helena se concentrou em cada solavanco da estrada. Eles amarraram ela e Edmund com cordas amarradas ao lado da carroça de madeira. Duas éguas salpicadas os puxaram pelas ruas da cidade.

Ao lado do carrinho, Quinn e seus soldados montavam grandes corcéis.

À luz minguante, Madra parecia inalterada. No coração de Helena, tudo mudou.

Ao se aproximarem do centro da cidade, Helena viu lojas fechadas e as ruas do mercado antes ocupado estavam agora vazias. A essa hora da noite, os lojistas devem fechar suas barracas para o dia e ir para casa com suas famílias. Eles eram a espinha dorsal do reino. Os cidadãos que não eram nem comerciantes nem indigentes.

E, no entanto, onde eles estavam?

A voz baixa de Quinn parecia vir de todos os lugares, enquanto ele falava com seus guardas. —Vamos cavalgar pelos portões da frente. Meu irmão vai querer ver os prisioneiros imediatamente, mas ele também vai querer que o resto do palácio os veja.

Um dos guardas assentiu. —Senhor, posso perguntar quem é a garota? Reconheço Edmund de Bela. Quando o mensageiro do mercenário disse que ela o trouxe até nós, esperávamos que ele estivesse sozinho. Por que a levamos?

Outro guarda falou. —Não temos o hábito de sequestrar jovens.

—Não. — Helena rosnou baixinho. —Apenas matando suas famílias e seguindo um homem que não merecia ser rei.

Os guardas não pareciam tê-la ouvido, mas Quinn olhou rapidamente para ela. Ele ainda a estava observando enquanto respondia aos guardas. —Não cabe a nós questionar o rei. Mas você pode confiar nele para não machucá-la. Não enquanto estou lá.

Ela teve a nítida impressão de que as palavras dele foram feitas para ela, e não para seus guardas. Quinn estava dizendo que não deixaria nada acontecer com ela?

Deveria fazê-la se sentir melhor, mas, em vez disso, apenas a lembrou que o último irmão que ela pensava que a protegeria teria escolhido Cole.

Os guardas continuaram a tagarelar, mas Helena os desligou, concentrando-se na forma inconsciente de Edmund ao lado dela.

O carrinho deles virou para uma rua lateral que os levaria à estrada do palácio. Alguém gritou da estrada à frente deles, e o cavalo do guarda principal ergueu-se quando uma flecha passou voando, atingindo o chão aos pés da fera.

Quinn gritou ordens quando uma saraivada de flechas entrou no beco em meio a gritos. Helena se abaixou na carroça, protegendo a forma propensa de Edmund, e examinou os telhados, finalmente distinguindo figuras sombrias.

—Fogo. — O grito veio do alto. Mais flechas choveram, atingindo dois dos guardas ao lado da carroça. —Não bata nos prisioneiros!

—Edmund. — Helena o sacudiu. —Acorde. Por favor. — Ela tentou libertar os pulsos, mas a corda apenas se apertou. Eles estavam sob ataque, e tudo o que ela podia fazer era assistir.

Quinn.

Ela procurou freneticamente pelo irmão. Uma flecha atingiu seu cavalo, e ele pulou no chão, apontando seu próprio arco em direção aos telhados. Disparando rapidamente, ele nem parou quando algumas pessoas caíram dos telhados, suas flechas afundadas profundamente.

As pessoas invadiram a rua, armas brutas na mão, cercando Quinn. Seus guardas jaziam mortos na estrada. Quinn fez uma pausa, observando o círculo cada vez maior de lutadores. Ele abaixou o arco e se endireitou.

Um homem apareceu na parte de trás da carroça, um sorriso esticando seu rosto brutal. Caiu quando ele viu Edmund.

—Ele...

—Vivo. — Disse Helena rapidamente. Ela não conhecia o homem, mas pela preocupação em seu olhar, ele deve ter conhecido Edmund.

Ela relaxou. Edmund não precisava encontrar seu povo. Eles o encontraram.

O pânico a atingiu, e ela virou a cabeça para encontrar Quinn mais uma vez. Dois homens o empurraram de joelhos. Uma mulher estava acima dele, sua espada desembainhada.

Antes que ela soubesse o que estava fazendo, Helena gritou.

—Não! — Ela voltou-se para o homem próximo e estendeu os pulsos. —Tire-me daqui!

Ele puxou uma adaga e fez um trabalho rápido das cordas. Helena saiu da carroça e empurrou as pessoas em seu caminho até chegar a Quinn. Olhar nos olhos dele era como olhar nos de Cole. E isso... ela não aguentou. Ela endureceu o olhar. Ele não olhou para ela em desculpas, apenas resignação, e isso a irritou mais.

Mas esse não era Cole. Era Quinn. Ela não podia matá-lo. Ela levantou os olhos para a mulher alta. —Nocauteie-o. Ele vem conosco.

Diversão acesa nos olhos da mulher. —Querida, você não emite pedidos. Viemos para Edmund. Quem é você?

Ela encontrou o olhar de aviso de Quinn. Ele balançou a cabeça, mas ela passou do ponto de ouvir aqueles que a traíam.

Não libertando seu irmão do olhar intenso, ela respirou fundo.

—Meu nome é Helena Rhodipus. Sou a legítima herdeira do trono de Madra.

Quinn pareceu ceder com as palavras.

Helena se afastou dele. —Posso dar ordens agora? — Ela voltou para a carroça sem outro olhar. —Não podemos estar na rua. Presumo que todos vocês tenham um lugar seguro para me levar. Vamos.

O motorista da carroça estava morto em seu assento, então Helena subiu no banco e o empurrou. Ele bateu no chão com um baque quando ela tomou as rédeas.

Um homem avançou, enfiando o punho da espada na cabeça de Quinn antes de levantar seu corpo agora inconsciente na parte de trás da carroça ao lado de Edmund.

Helena suspirou. As notícias de que ela estava viva e de volta ao solo de Madra viajariam rapidamente. Esta noite, ela seguiria o pessoal de Edmund. Amanhã, ela voltaria para sua casa.

 

Os olhos de Helena se arregalaram em choque quando ela percebeu que o pessoal de Edmund a estava levando para sua casa de embaixador. Mas com Madra forçando todos os estrangeiros a sair, era uma parte não utilizada da cidade.

Ela pulou da carroça e esperou que alguém removesse Edmund e depois Quinn, carregando-os pelo portão dos fundos.

O homem que apareceu na carroça aproximou-se dela.

—Alguém cuidará dos cavalos. Precisamos entrar.

—Bemus. — Alguém retrucou. —Traga a princesa.

Uma mão larga aterrissou nas costas de Helena, insistindo para que ela passasse pelo portão de vaivém e subisse os degraus da casa em que estivera apenas uma vez antes. Lembrou-se de pensar que não havia nada distinto de Edmund na casa dele. Ele não deixou vestígios de si mesmo, mas isso foi antes que ela realmente o conhecesse.

Agora, enquanto caminhava por um longo corredor escasso, ela podia vê-lo lá. Ele era um homem simples. Ela parou, com os pés congelando ao ver uma fileira de tábuas que eles ergueram para revelar um compartimento escondido. Vazio.

O que Edmund mantinha lá?

Ela o conhecia? Aqui estava ela, cercada por pessoas que eram leais a Edmund em vez do nome Rhodipus. Eles o seguiram, espionaram por ele, lutaram por ele. Ele estava criando uma rede de pessoas para proteger sua família enquanto ela saía furtivamente do palácio em busca de liberdade.

De repente, ela se sentiu nada mais do que uma garota boba brincando de rebelião.

Bemus a levou a uma sala de estar onde móveis rígidos cercavam uma lareira crepitante. Quando ela se aproximou, o calor lambeu sua pele e ela abriu os punhos congelados.

Os rebeldes caíram em cadeiras sem cerimônia. Outros lutaram para abrir espaço perto do fogo para Edmund. Dois homens o colocaram no chão, o rosto inundado por um brilho laranja.

Eles não deram a Quinn a mesma consideração. Bemus amarrou os pulsos do príncipe da mesma forma que Quinn amarrou os de Helena naquela mesma noite.

Helena só poderia ir a um deles. Apenas um deles não a traiu. Desviando os olhos do rosto cor de azeitona de Quinn, ela se ajoelhou ao lado de Edmund.

Ele murmurou alguma coisa e suas pálpebras se mexeram, mas não se abriram. Ela se abaixou. —Eu preciso que você acorde, Edmund. Por favor. Eu não conheço essas pessoas.

Os rebeldes a observavam com um fascínio cauteloso. Eles não disseram exatamente que não acreditavam que ela era a princesa, mas ela sentia o ceticismo deles em todos os olhares. A julgar pelo estado irregular de suas roupas, essas não eram do tipo que compareciam a bailes no palácio, para que não tivessem o breve vislumbre de seu rosto no dia do seu nome - antes de Cole a levar embora.

Ela esfregou os olhos para conter as lágrimas enquanto pensava naquela noite. Mas ela não foi a única pessoa a sofrer. Muitas pessoas morreram na luta, e o grupo ao seu redor lutou. Eles podem ter perdido aqueles que amavam também. Para ela. Para a família dela.

Porque Edmund pediu para eles.

O que havia nele que trazia tanta lealdade?

Ela passou a mão na testa dele, afastando os cabelos do rosto dele. Ele seria um bom parceiro no trono para Stev.

Os olhos de Edmund se abriram e um gemido retumbou em seu peito. —Minha cabeça.

Helena soltou uma risada aliviada. —Você vai sobreviver.

—O que aconteceu? — Seus olhos clarearam, e ele finalmente percebeu o ambiente. —O que... Helena... não estamos no palácio?

Bemus atravessou a sala e se inclinou com um sorriso no rosto.

—Bem-vindo em casa, Edmund.

Edmund fechou os olhos e inspirou profundamente antes de abri-los mais uma vez. —Me ajude e depois me diga o que diabos aconteceu.

Bemus estendeu a mão e levantou Edmund. O loiro belaeno colocou a mão na cabeça com um estremecimento quando ele entrou na sala.

Os olhos dele pousaram na mulher sentada no braço do sofá, os braços cruzados sobre o peito e uma sobrancelha levantada. —Catsja? — Seus olhos examinaram o grupo, decidindo-se pelo homem que o carregara da carroça. —E Orlo. Vocês dois...

—Muita coisa mudou em Madra, Edmund. — Bemus bateu nas costas dele. —Mas esperamos nossa chance, observando as docas de todos os navios que entram e saem. Temos até nosso pessoal dentro da nova guarda do palácio. Perdemos a batalha, mas ainda estamos travando esta guerra.

Edmund esfregou a parte de trás do pescoço.

Catsja pôs os pés no chão e se levantou, igualando a altura de Edmund. —Eles pegaram nossa taberna, Edmund. Nosso sustento. Agora é um negócio administrado pela coroa para os soldados da coroa. A maioria dos lojistas não consegue manter as portas abertas sem a entrada de comércio exterior. O rei virou contra ele tanto os comerciantes quanto os pobres. Você sabe como é raro eles concordarem com alguma coisa?

Orlo quebrou o silêncio com um grunhido.

Helena não sabia o que seu irmão estava pensando. Muitos madranos há muito culpavam os estrangeiros pelos problemas do reino. Mas não tinha sido culpa deles. As constantes guerras em reinos estrangeiros causaram fome e pobreza. Mas Cole não foi criado para ser rei. Ele não aprendeu os meandros de manter a coroa... ou a cabeça. O pai deles não poupou tempo para ensinar aos filhos bastardos.

Apenas Stev e Helena receberam educação formal. Somente eles compareceram às reuniões da coroa. Estevan deveria ser rei, mas Helena seria sua mão direita como chefe do conselho mercantil.

Mas o que acontece quando os comerciantes não trazem mais comércio para o reino? Ela levantou a cabeça, olhando para Catsja.

—O rei dissolveu o conselho mercante?

Catsja olhou para ela como se ela não quisesse responder, mas ela fez assim mesmo. —Sim. Ian Tenyson é o único comerciante chefe agora.

—A espiral. — Ela sussurrou. Tudo a sociedade Madrana foi construída. Os comerciantes trabalharam a vida inteira até perto da ponta da espiral, o pico de status e poder. —O que os padres estão dizendo sobre isso?

Os rebeldes trocaram olhares, nenhum deles querendo falar. Edmund agarrou o cotovelo de Helena. —Len... Dell e Bemus foram ao mosteiro quando a rebelião começou. O sacerdócio tinha sido... — Ele fechou os olhos. —Massacrado.

—Foi? — A respiração correu para fora dela.

Edmund assentiu. —Se foi.

Ela tropeçou para trás, afastando-se dele. Tudo o que ela sabia, tudo o que haviam lhe ensinado... A espiral... o sacerdócio...

Cole não tinha acabado de conquistar a coroa, ele mudou Madra para sempre.

No canto, Quinn se mexeu. Catsja não perdeu tempo em procurá-lo. Antes que ele abrisse os olhos, o punho dela brilhou e bateu na cabeça dele. Ele caiu contra a parede mais uma vez.

Helena estremeceu e se forçou a se virar. Quinn não era sua principal preocupação.

—Edmund. — Exigiu Orlo. —Essa garota diz que é a princesa. Diga-nos que ela mente.

Edmund encarou Helena com um olhar, e ela não sabia o que isso significava. Este era o seu povo. Certamente estava na hora de eles saberem. Ela encontrou o olhar dele, recusando-se a recuar.

Finalmente, ele passou a mão no rosto. —É ela.

O silêncio seguiu sua declaração.

Catsja riu, inclinando-se para dar um tapa na perna. —Claro que ela é. Isso é simplesmente perfeito. —Quando ela sorriu, Helena ficou hipnotizada. A mulher tinha uma beleza incomum. Sua risada se interrompeu e ela se endireitou, todo o humor desapareceu de seu rosto. —Aqui está como é, princesa. Lutamos para manter o pouco que temos de ser levado, para manter nosso reino seguro. Não lutamos pelo nome Rhodipus. Para nós, seu pai não era melhor que esse novo rei. Não lhe devemos nada. Nós não seguimos você. — Ela se aproximou. —Tente não atrapalhar.

Ela bateu no ombro de Helena a caminho da sala adjacente.

Bemus balançou a cabeça. —Bem-vinda à rebelião de Madra, princesa.

 

Helena tentou descansar em um canto longe de olhares rebeldes curiosos, mas também longe de seu irmão inconsciente. Pensamentos de tempos melhores bloquearam seu sono. Momentos em que fora ela e seus irmãos contra o mundo. Quando sua mãe poderia segurá-la e dizer que tudo ficaria bem.

Ela enxugou uma lágrima quando Bemus se sentou ao lado dela. Ele estendeu uma xícara de chá, e ela a agradeceu. Sem esperar que esfriasse, ela tomou um gole da bebida escaldante, deixando-a queimar através dela, aproveitando a dor.

Parecia que a dor era tudo que ela sabia mais. Não pela primeira vez, ela desejou que Dell estivesse lá com ela.

Bemus ficou em silêncio por um momento antes de falar. —Eu sabia quem você era hoje à noite quando a vi pela primeira vez.

Ela se sentou e esperou que ele continuasse.

—Lutei ao lado de Estevan e Dell na rebelião.

Ela baixou o olhar para o copo em suas mãos.

—Lamento ouvir sobre a morte de Estevan.

Suas mãos tremiam e Bemus pegou o copo dela. —Stev era... ele não merecia morrer assim.

Bemus colocou a xícara de lado no chão. —Não. Ele não merecia.

—Eu sei que você rebeldes odeiam minha família inteira. Meu pai... não era um bom rei. Mas Stev teria sido. Talvez se mais pessoas tivessem lutado por ele, ele estaria sentado naquele trono agora.

E havia a verdade que Helena tinha medo de expressar antes. Ela estava amarga. Brava. Não só em Cole. Não. Parte da culpa está no povo madrano que se escondeu em suas casas enquanto sua família dominante era assassinada.

—Talvez. — Disse Bemus. —Mas estamos aqui agora. Nossos números cresceram rapidamente desde que Cole Rhodipus se tornou rei.

Helena balançou a cabeça. — E todos vocês acham que precisamos de mais sangue nas paredes do palácio? — Ela puxou os joelhos e apoiou o queixo no topo. —Meu pai me disse para nunca confiar em um rebelde. Que eles sempre tinham outro motivo e não faziam nada pelo bem do reino.

Bemus não respondeu imediatamente, mas seus olhos se voltaram para Edmund. —Princesa, eu odeio dizer, mas você confia em um rebelde o tempo todo.

Ela balançou a cabeça. —Edmund só queria manter minha família segura.

—Ele queria mantê-la segura e os príncipes Kassander e Estevan. Mas ele nunca esteve em dívida com os príncipes bastardos.

Helena deixou seus olhos descansarem na forma ainda inconsciente de Quinn e as palavras finais de Bemus levaram um momento para se registrar.

—Ele nunca foi leal ao rei.

Ela olhou de soslaio para o homem monstruoso. Ela não teria admitido, mas não precisava que Edmund fosse leal a seus pais. Ele não havia arriscado tudo para manter a linha de Rhodipus dominando Madra, e ela sabia disso. Ele só queria mantê-la e Estevan vivos.

Mesmo agora, ele não havia retornado com ela para assumir o trono. Apenas para se vingar. E talvez ajudar as pessoas que ele deixou para trás. O lugar dele estava entre eles, e Helena desejava mais do que qualquer coisa dela.

Mas o tempo da indecisão havia passado. Ela se levantou.

—Onde você está indo? — Bemus perguntou.

Preparando-se, ela deu um passo. —Para fazer o que eu vim aqui para fazer.

Ele não se mexeu para detê-la quando ela alcançou a porta. No corredor, Edmund falava com Catsja em um murmúrio baixo, enquanto eles se curvavam sobre uma mesa carregada de várias armas. Ele levantou a cabeça quando Helena se aproximou.

Ela estudou as lâminas e os machados. Os mercenários haviam pegado suas adagas e ela se sentia nua sem elas. No entanto, ela puxou a mão para trás sem pegar uma. Eles não a deixariam entrar no palácio sem primeiro pegar suas armas, então não havia sentido.

Edmund abriu a boca como se dissesse alguma coisa, mas Helena balançou a cabeça.

Edmund assentiu, a compreensão brilhando em seu olhar.

Ela levantou dois dedos. Se ela não enviasse notícias em dois dias, os rebeldes lançariam um ataque ao palácio.

Edmund deve ter contado a Catsja seu plano porque a mulher olhou com simpatia. —Se você precisar de ajuda, procure nosso contato rebelde dentro do palácio. O nome dele é Reed.

O sangue de Helena congelou.

Reed.

Edmund ficou pálido. —Reed Tenyson?

Catsja assentiu, passando os olhos entre eles. —Ele veio até nós um dia depois que vocês dois deixaram Madra. Sua informação tem sido inestimável.

Helena apertou a mandíbula. —Se eu me encontrar em perigo, a última pessoa que procurarei é Reed Tenyson.

Ela se virou para passar por eles sem outra palavra. Reed foi a razão pela qual eles não foram capazes de salvar Quinn em Gaule. Se não fosse o Tenyson mais jovem, ela poderia ter o irmão ao seu lado agora. Em vez disso, ele se sentou como prisioneiro dentro de uma base rebelde.

Em vez disso, ele era um traidor.

Quando ela entrou no pátio, ela tentou controlar a respiração. Dell. Ela estava se esforçando tanto para não pensar nele. Uma nova onda de dor tomou conta dela. Os homens de Reed quase o mataram naquele dia na praia. Não haveria perdão por isso. O pânico daquele dia voltou e uma lágrima correu por sua bochecha. Ela limpou-a com as costas da mão quando a porta se abriu atrás dela.

Uma mão envolveu seu braço e a transformou em um peito sólido. Edmund passou os braços em volta dela.

—Prometa-me novamente que ele não vai te machucar.

Ela poderia? Ela estava começando a pensar que não conhecia Cole. Os braços de Edmund se apertaram com o silêncio dela.

Finalmente, ela levantou o rosto para olhar para ele. —Eu vou ficar bem.

Ele engoliu em seco, pressionando os lábios na testa dela.

—Você é minha família agora, Lenny. Se algo acontecer com você...

Ela apertou o braço dele. —Nada vai acontecer comigo.

Ela desejou poder ser tão confiante quanto suas palavras. Edmund a soltou quando um homem mais velho conduziu um cavalo de uma baia.

Edmund a ajudou a entrar na sela. Helena engoliu em seco as lágrimas que ameaçavam sufocá-la. —Edmund... se algo acontecer... diga a Dell...— Ela fechou os olhos por um momento, imaginando o rosto dele. —Diga a ele que sinto muito.

E que eu o amo, ela quis dizer. Mas ela conteve essas palavras quando Edmund apertou a perna e recuou.

Sem mais nada a ser feito, Helena empurrou o cavalo para frente.

As casas dos embaixadores ficavam em um trecho de ruas agora abandonadas. O som dos cascos do cavalo batendo em pedra era como uma batida de tambor em seu passeio para a batalha.

Como ela sempre se preocupou, Helena agora estava completamente sozinha. Mas o conhecimento não a pesou como antes. Agora, não havia mais ninguém em risco. Ninguém para manter seguro.

Quando ela virou para outra rua vazia - essa com lojas e casas lotadas de cada lado - ela deixou a lua banhá-la em seu brilho prateado. Essas ruas, este reino valia qualquer sacrifício. Ela sabia disso agora.

O pai dela nunca soube, mas a mãe dela. Governar sem sacrifício era apenas tirania. Guerra sem esperança era apenas morte. Uma luta sem razão era apenas assassinato.

Ela amava todos eles. Os comerciantes subindo a espiral. Os pobres lutando por comida. Os padres que pensaram que estavam fazendo o bem e se perderam.

A família dela. Madranos. Estrangeiros. Mágicos. Pessoas não-mágicas.

Eles eram o motivo dela.

Ela viajou pela cidade até poder ver os altos muros do palácio que uma vez chamou de lar. Eles fixaram as partes da parede que sofreram com as explosões, mas o preto ainda riscava grande parte da superfície, um lembrete do que aconteceu aqui apenas alguns meses atrás.

Guardas alinhados no topo da parede, sombras na noite. Suas tochas iluminavam o céu, lançando laranja através da vasta extensão.

Gritos irromperam quando Helena se aproximou.

—Oi, você aí! Pare! — Passos pesados ecoaram nos degraus atrás do muro.

Helena prendeu a respiração, lembrando a si mesma que era para isso que ela procurara. Ela desceu do cavalo, colocando os pés em solo sólido.

A porta na base dos portões se abriu, derramando guardas na rua. Eles correram para fora, suas botas blindadas batendo contra o chão enquanto a rodeavam, armas desembainhadas.

Erguendo o queixo, Helena encontrou o guarda com as listras do general em seu uniforme.

—Estou aqui para ver o rei.

Nenhum dos guardas se mexeu. Seus rostos eram máscaras impassíveis. A porta se abriu mais uma vez e um homem que Helena reconheceria em qualquer lugar.

Um sorriso deslizou pelo rosto de Ian. —Helena. — Ele fez um gesto para os guardas largarem as armas. —Seu irmão ficará feliz em vê-la viva. — Ele estendeu a mão para ela. —Venha.

Ela não pegou. Depois de um momento, seu sorriso caiu, e ele agarrou o cotovelo dela, empurrando-a para frente. Os guardas os seguiram de perto.

Foi assim que eles trataram todos que vieram ao palácio ou sabiam que ela os procurara?

Um dos guardas interrompeu o grupo, levando o cavalo para longe. Helena mal percebeu enquanto subia os degraus familiares, sabendo que seus pais ou irmão mais velho não estariam lá para cumprimentá-la do outro lado das portas altas.

Mas ela não se permitia chorar por eles. Agora não. Aqui não. Eles ficariam melhor servidos com a forma como ela lidaria com Cole.

Na porta, um dos guardas deu um tapinha nela, procurando por armas. Uma vez satisfeito, Ian fez um gesto para dentro. Ele não a tocou novamente, mas seus olhos deslizaram sobre ela, fazendo sua pele arrepiar.

No interior, o palácio permanecia inalterado. Se ela não soubesse melhor, pensaria que a coroa não havia mudado de mãos. As tapeçarias e os mapas de seu pai adornavam as paredes, a opulência mais grandiosa do que qualquer coisa que ela tinha visto em Bela ou Gaule.

Mas as paredes quentes de cerejeira e os tapetes macios não a acalmavam como antes. Agora ela os via pelo que haviam sido. Desnecessários. Pagos por impostos que as pessoas não podiam pagar.

Os criados a observavam passar com olhos curiosos. Ela procurou rostos que conhecia, mas não encontrou. Seu coração batia forte contra as costelas, o pulso pulsando em seus ouvidos até que era tudo o que ela ouviu. Não havia como voltar agora. Sem saída. Ela cuidaria de Cole ou passaria a vida presa dentro dessas paredes.

Como ela passou toda a sua juventude.

Ian virou a esquina e ela o seguiu sem palavras. Ele atravessou a porta de uma escada e os pés de Helena pararam de se mover. Ela sabia onde eles estavam indo.

Não.

Foi destruído.

O lugar que sua família tinha sido feliz. Onde ela desfrutou a vida com seus irmãos ao seu lado.

A residência real.

Um guarda a cutucou para a frente e ela subiu as escadas. No topo, Ian destrancou uma porta e a abriu. O corredor que levava à residência permanecia o mesmo, intocado pelo fogo que ela começara para libertar-se de Cole.

Depois do baile que mudou para sempre sua vida, eles a trancaram nos quartos de sua mãe. Sua mãe, treinada como uma assassina de Cana, abriu a fechadura. Uma vez no corredor principal, Helena havia incendiado a tapeçaria pendurada nas proximidades. Ela não sabia que isso se espalharia tão rapidamente.

Ian pegou uma segunda chave no final do corredor e empurrou Helena pela porta. O espaço que a recebia tinha móveis novos e ela suspeitava que o antigo estivesse muito danificado. Mas não havia outro sinal de destruição.

Uma porta se abriu e Helena respirou fundo.

Cole permaneceu imóvel no limiar, seu rosto não exibindo nenhuma emoção além de choque. —Lenny? — Ele balançou a cabeça como se não acreditasse nos próprios olhos.

Helena percebeu sua aparência abatida. Cabelo desgrenhado e sem cortes. Um rosto desalinhado. Uniforme enrugado.

Este não era o homem que ela esperava.

Ela afastou qualquer simpatia que pudesse ter pelo irmão e endireitou a coluna. —Meu nome é Helena. — Seus olhos se estreitaram. —Lenny é um nome de família.

O significado tácito por trás de suas palavras pairava entre eles. Ele não era mais uma família.

Ele assentiu como se acreditasse que merecia tudo o que ela lhe dizia. —Eu só...— Seus olhos encontraram Ian e endureceram. —Nos deixe.

—Sua Majestade...

Todo o cansaço desapareceu de Cole quando a frieza que ela reconheceu da noite da rebelião se instalou. —Ian, não agora.

Ian curvou-se rigidamente e girou nos calcanhares. Os guardas o seguiram, deixando Helena com apenas seu irmão.

Ela cruzou os braços sobre o peito, subitamente insegura do que deveria dizer a ele. Ela veio prestar seu apoio - por mais falso que fosse. Mas agora as palavras não viriam.

Ele deu um passo hesitante em sua direção.

Ela deu um passo atrás.

A dor passou pelo rosto dele, rapidamente substituída por algo que ela não conseguiu interpretar. —Eu pensei que você estava morta.

—Eu quase estava.

Interessante. Reed não disse a ele que ela vivia. Isso ainda não era prova de sua lealdade aos rebeldes.

Cole engoliu em seco e esfregou a parte de trás do pescoço.

—Estou feliz que você voltou para casa.

Ela examinou a sala e seus móveis desconhecidos que simbolizavam o que aconteceu aqui. —Casa. — Ela balançou a cabeça. —Esta não é minha casa. — Em sua mente, ela viu os vastos campos de Bela, mas isso também não parecia em casa. Não sem a família dela.

A incerteza brilhou nos olhos de Cole. Isso nunca tinha sido como ele. Ele era confiante. Certo. Ele mudou seu peso para o outro pé, nunca tirando os olhos dela.

— Não espero que você entenda, Helena. — Ele passou a mão pelos cabelos despenteados. —Eu não espero que você me perdoe.

—Bom.

—Posso...— Ele correu para frente antes que ela pudesse detê-lo e passou os braços em volta dos ombros dela.

Ela ficou rígida e um soluço escapou de sua garganta. O conforto parecia como sempre. Ao crescer, Cole tinha sido seu companheiro, seu protetor.

E agora era ele quem a separava.

Ele enterrou o rosto no pescoço dela. —Você está viva. — Ele respirou. —Eu nunca pensei em vê-la novamente.

Depois de um momento, ela colocou as mãos no peito dele para afastá-lo. —Cole, eu estou aqui, ok. Eu voltei. Mas não foi por você. —Ela teve que misturar pedaços de verdade com sua mentira. —Você matou minha mãe. Isso não é algo que eu possa... — Ela respirou fundo, afastando-se mais dele. As palavras vieram para ela. Quinn não seria capaz de refutá-los enquanto os rebeldes o segurassem. —Quinn me chamou.

Cole se endireitou em alarme. —Quinn. Eu o enviei para as docas. Um capitão mercenário afirmou que Edmund estava preso. — Ele olhou para a porta. —Ele deveria ter retornado horas atrás.

Lágrimas nadaram no olhar de Helena. —Eu estava com eles, Cole. Eu não sabia que Edmund era um rebelde. Eu juro. Ele me disse que me escoltava para casa e eu deixei. Quando Quinn chegou, fiquei tão aliviada. Mas o pessoal de Edmund veio buscá-lo. E... — Seu lábio tremeu quando ela encontrou os olhos de Cole. —Eles pegaram Quinn. Por isso disse aos seus guardas que precisava vê-lo assim que chegasse aqui.

Cole tropeçou para trás. —Precisamos encontrá-lo.

Ela assentiu, querendo que Cole saísse procurando por si mesmo. Afinal, era seu irmão gêmeo. Afastá-lo da proteção do palácio permitiria que os rebeldes a ajudassem.

Cole a puxou de volta para seus braços e, desta vez, ela o deixou. —Nós vamos. Traremos nosso irmão de volta. Então mataremos todo último rebelde. —Ele falou nos cabelos dela. Quero que sejamos uma família novamente, Helena. Agora que eu sei que você está viva... — Ele se afastou. —Eu preciso te contar uma coisa.

—O que é?

—Não tive notícias de Kassander. Muitas pessoas morreram na luta, incluindo algumas que foram queimadas além do reconhecimento. Receio que ele possa ter sido um deles.

Lágrimas derramaram dos olhos de Helena, mas não pelo irmão mais novo que ela sabia que estava vivo e seguro. Não, eles eram para aquele que ela tinha certeza que se foi para sempre.

Os ombros dela caíram. —Chegou-me a notícia de Estevan. Parece que você, Quinn, e eu somos tudo o que nos resta.

Um sorriso dividiu o rosto de Cole, e Helena quis limpá-lo com a lâmina de um punhal. Ele sempre odiou Stev, mas a alegria óbvia em seu rosto a atravessou.

Atravessou a sala e abriu a porta para falar com os guardas e Ian esperando do lado de fora. —Vasculhe a cidade. Os rebeldes têm Quinn. A ordem é matar tudo o que encontrar.

Ian assentiu. —Eles não o têm por muito tempo. Vou ligar para o regimento que acabou de voltar para casa.

Cole fechou a porta mais uma vez e girou a fechadura.

—Você não vai com eles? — Helena perguntou, com o estômago desapontado.

Cole balançou a cabeça enquanto a encarava. —Eles o encontrarão. Quanto a você... há algo que você precisa ver.

Ele alcançou a porta pela qual saiu e a abriu antes de pegar uma vela da mesa perto do sofá e entrar na sala.

O ar viciado atingiu Helena enquanto seguia Cole para dentro. O quarto pertenceu a Stev. Alguém apagou todos os danos da fumaça e do fogo. Uma grande cama de dossel estava encostada na parede oposta, com a forma de um homem adormecido sob os cobertores.

Cole o alcançou e quando a luz da vela atingiu seu rosto, Helena ofegou.

O peito do homem subia e descia com um ritmo constante. Os cabelos encharcados de suor grudavam no rosto quando ele virou a cabeça. A pele pálida contrastava com as olheiras sob os olhos fechados.

As pernas de Helena enfraqueceram embaixo dela e ela caiu. Quando seus joelhos bateram na pedra fria, uma palavra escapou de seus lábios.

—Estevan.

 

 

 

 

 

Capitulo Vinte


Dell olhou para a água escura, deixando a primeira luz da manhã passar por seu rosto. Nas cabines abaixo do convés, as pessoas dormiam. Apenas alguns marinheiros conseguiram velejar enquanto o resto terminava os preparativos da manhã. Eles chegarão a Madra em breve. Ele podia vê-la se aproximando, uma cidade adormecida à beira do rio.

Em algum momento da noite, eles deixaram o mar para navegar no delta e rio acima. Um vento fraco fez a jornada mais lenta do que Dell teria gostado.

Ele queria alcançar Helena.

Antes que fosse tarde demais.

Ele fechou os olhos, sentindo como se ela estivesse ao lado dele, sonhando que ela deslizava a mão na dele. Se ele tinha alguma dúvida em mente, a última noite juntos lavou tudo. Ele amava Helena como se nunca tivesse amado ninguém em sua vida.

Ele só queria que ela o amasse da mesma forma. Ele tentou ficar com raiva, sentir-se traído, mas isso acabou com uma percepção esmagadora de que ele não era suficiente para a princesa de Madra. Ele nunca foi. Ela fez o que achava certo na luta por seu reino. Ele era apenas um homem que não tinha para onde ir. Ninguém para quem voltar em Madra.

Exceto ela.

Ele abriu os olhos quando Kassander se inclinou contra o parapeito ao lado dele.

—Eu não conseguia mais dormir. — Admitiu o garoto.

Dell suspirou. Como ele podia sentir pena de si mesmo quando o jovem príncipe havia perdido tanto? Era melhor nunca ter tido uma família ou perder a que você tinha?

—Todo mundo ainda está dormindo? — Dell pousou a mão no ombro do garoto.

Kass balançou a cabeça. —Eles estavam conversando quando saí, mas não aguentava mais os sussurros silenciosos.

Dell sabia o que ele queria dizer. As ansiedades de Alex, Etta e Tyson estavam chegando ao resto deles. Eles ainda não sabiam se haviam tomado a decisão certa. A rainha e o rei de Bela poderiam se envolver sem envolver seu reino? Se eles fracassassem e Cole Rhodipus mantivesse seu trono, isso os lançaria em guerra?

Kassander estremeceu sob o aperto de Dell. —Como você acha que será ver Cole novamente? — Quando Dell não respondeu, ele respondeu sua própria pergunta. —Eu acho que vai doer. — Seus olhos examinaram a cidade em que se aproximaram. —Mas então, ele já dói.

Dell passou um braço em volta de Kassander. O garoto era quase tão alto quanto Helena e tinha os mesmos cabelos escuros e pele morena. Havia um olhar comum nas crianças de Rhodipus que era ao mesmo tempo encantador e desarmante. Inocente. Lindo. Mas também selvagem.

Ele puxou Kass para longe do trilho e o direcionou para uma caixa perto da parede. Eles se sentaram lado a lado. Dell recostou-se e tirou do bolso seu novo trabalho em andamento. Helena pegou sua espada inacabada, mas agora sua mão se fechava em torno de uma coroa. Ele trabalhou sua faca de trinchar ao longo das várias quedas e curvas da madeira enquanto Kassander observava fascinado.

Ele esbanjou muito ao longo dos anos, não precisava manter a mente no trabalho. Em vez disso, ele pensou em todos os cenários possíveis que poderiam ocorrer quando chegassem a Madra.

A névoa da manhã pairava baixo na água, encobrindo o navio em uma névoa.

—O que vai acontecer quando chegarmos a Madra? — Perguntou Kass.

Uma nova voz entrou na conversa deles. —Vamos encontrar sua irmã. — Etta parou na frente deles, curvando-se para olhar Kass nos olhos. —Você acredita em mim?

Kassander assentiu.

Ela sorriu. —Bom. Agora, corra até a cozinha. Você vai querer comida na sua barriga. Alex e Tyson estão lá em baixo. Quando você terminar, já teremos chegado a Madra.

Os olhos de Kassander se iluminaram e ele pulou da caixa.

Quando ele se foi, Etta sentou-se.

Dell cavou com mais força a madeira, xingando quando a faca ficou presa em uma elevação que ele não pretendia esculpir. Com um suspiro, ele deixou a madeira de lado.

—Landon está preparando os cavalos. — Etta puxou as pernas para baixo dela. —O capitão Smith nos colocará em terra a oeste da cidade. A partir daí, entraremos.

Dell assentiu. Um navio Belaeno não teria permissão para atracar na cidade. Era o único plano que fazia sentido.

—Você conhece Helena mais do que qualquer um de nós. Qual é a primeira coisa que ela faria quando chegasse a Madra?

Dell coçou a lateral do rosto. —Bem, isso depende.

—De?

—Se ela está dando as ordens ou se está ouvindo Edmund.

—Por que eles querem coisas diferentes?

Dell olhou de soslaio para Etta. Ela alegava que Edmund era seu melhor amigo. Ela havia lhe dado a posição de embaixador, mas nem ela sabia o que o embaixador estava fazendo. Que ele se tornou mais arraigado na vida de Madra do que deveria. Então, Dell explicou. Ele contou a Etta sobre a rede de espiões que se reportava a Edmund. Dos rebeldes que eram mais leais a um embaixador estrangeiro do que seu próprio rei.

E então chegou a hora de contar a ele seu próprio papel no mundo de Edmund. —Edmund veio até mim porque meus irmãos eram parte integrante dos planos de Cole Rhodipus de conquistar a coroa.

Por tudo isso, Etta permaneceu em silêncio. Finalmente, ela levou a mão à boca. —Ele fez tudo isso para proteger Estevan?

—E Helena e Kass, mas sim.

Ela balançou a cabeça como se não acreditasse nisso. Lágrimas pairavam em seus cílios. —Quando me disseram pela primeira vez sobre os sentimentos de Edmund pelo príncipe morto, não sabia o que pensar. As paixões de Edmund sempre mudavam com o vento. Em um ponto, ele até se imaginou apaixonado por Alex, mas eu realmente acho que era apenas porque nunca se tornaria mais. Eles se amam, mas como irmãos agora. Então Matteo... Meu primo se perdeu para Edmund na primeira vez que lutaram. —Ela sorriu. —Então ficou sério, e Edmund me pediu para mandá-lo para Madra.

Uma lágrima deslizou por sua bochecha. —Mas ele arriscou tudo por Estevan... e então ele o perdeu. Eu não entendia até agora. Até me ressenti de sua nova lealdade a Helena porque houve um tempo em que eu era a mulher mais importante da vida dele. — Ela enterrou o rosto nas mãos. —Não acredito que quase não vim buscá-lo. Ele nunca me decepcionou uma vez e eu quase falhei com ele.

Dell não sabia como confortar uma rainha que chorava. Ele deu um tapinha nas costas dela, decidindo responder sua pergunta original. —Helena e Edmund têm força de vontade. Eu acho que eles se separaram.

Ela levantou a cabeça. —Ele não a deixaria.

—Não. — As palavras machucavam, mas ele sentiu cada uma delas. —Mas Helena o deixaria se ela pensasse que o salvaria.

Ela fez a mesma coisa com Dell.

Dell observou os marinheiros se prepararem para ir para o convés e manejar seus remos. Seus movimentos eram como uma dança coreografada. Todos sabiam seu lugar, seu trabalho.

Helena também conhecia.

Dell encostou a cabeça na parede. De repente, ele sabia exatamente por que Helena o deixara para trás. —Ela vai enfrentar o irmão. Sozinha.

Etta abriu a boca como se quisesse discutir, mas depois fechou. Ela não podia refutar a verdade nas palavras dele.

O medo o envolveu, porque ele sabia que se Helena tivesse ido falar com o rei, já era tarde demais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Vinte e Um


Cole deixou Helena sozinha com Estevan e não voltou. Ela não sabia quanto tempo fazia, mas sentou-se ao lado de seu irmão mais velho, encarando-o como se ele desaparecesse novamente.

Ela afastou os cabelos úmidos do rosto dele.

Helena conteve as lágrimas que ameaçavam se libertar. Estevan precisava de sua força, não de sua fraqueza. Se ela já teve dúvidas em chegar ao palácio, elas desapareceram no momento em que ela pôs os olhos em Stev.

—Você deveria estar morto. — Ela sussurrou. —Nós lamentamos você.

Edmund. O nome dele surgiu em sua mente tão de repente que ela afastou a mão. Se Helena e Edmund soubessem que Stev ainda vivia, teriam procurado por ele mais cedo?

Helena pensou que Stev ainda estava com febre, mas, apesar de sua pele estar úmida, não estava quente. Ele não tremia, mas havia uma palidez alarmante em sua pele.

As pálpebras dele se contraíram. —Não. — Ele murmurou. —Não mais. Não me toque. — Ele se jogou de lado e o cobertor escorregou para revelar seu peito nu. Helena ofegou, pulando da beira da cama.

Linhas vermelhas frescas cruzavam seu torso. Os longos cortes profundos agora com sangue seco, descamando e caindo sobre a cama...

A raiva brotou em Helena ao ver a verdade diante dela. Estevan não estava doente. Sua fraqueza era de perda de sangue.

Cole. O nome dele queimou em sua mente, e ela girou nos calcanhares, decidida a sair do quarto. Encontrar o irmão que causou tanta dor à família dela.

Mas uma voz a chamou de volta.

—Helena?

Ela congelou, pensando que tinha imaginado. Girando devagar, ela engoliu um soluço. Os olhos de Estevan se abriram e seu olhar claro a encontrou.

Helena correu até ele, ajoelhando-se ao lado da cama. —Stev. — Ela pegou a mão dele, as lágrimas finalmente derramando. —Stev. —Ela descansou a testa contra as mãos unidas, não querendo deixá-lo ir.

Ele respirou trêmulo. —Eles me disseram que você estava morta.

Ela fez um som que era meio risada e meio soluço. —Eles me disseram que você estava morto.

A mão livre dele subiu aos cabelos dela, arqueando-se sobre o topo da cabeça dela. O peito dele tremia e ela ergueu os olhos para o rosto manchado de lágrimas.

Ela nunca viu Estevan chorar antes. Estendendo a mão, ela enxugou uma lágrima da bochecha dele. —O que Cole fez com você?

Ele balançou sua cabeça. —Não Cole. — Seus olhos se fecharam por um momento. —Nosso irmão-

—Ele não é nosso irmão.

Estevan estremeceu com as palavras e, quando fixou os olhos em Helena mais uma vez, a força de sua dor a invadiu. Para aqueles que não o conheciam, Stev parecia frio e calculista.

Mas Helena sabia de forma diferente. Seu irmão mais velho tinha sido o melhor de todos eles. Ele sentia tudo em um nível que ela não conseguia imaginar, mas sempre pareceu ter vergonha dessas emoções. Então, ele as internalizou, endurecendo-se na presença de outras pessoas, principalmente do pai deles.

Mas naquele momento, quando eram apenas duas crianças de Rhodipus lamentando a morte de tudo de bom dentro do outro, ele finalmente a deixou vê-lo.

Ela se inclinou para frente, passando as pontas dos dedos pelo lado do rosto dele. Ele estava realmente lá.

—Kass? — Ele sussurrou, medo afiando em sua voz.

Helena respirou fundo. —Seguro. — Pelo menos ela poderia dar isso a ele. Ela pode ter abandonado Stev ao controle de Cole, mas manteve o irmão mais novo vivo. Os olhos de Stev continham mais perguntas, mas as palavras não deixaram sua boca quando uma respiração rasgou seu peito.

—Edmund está aqui. — Ela sussurrou.

Estevan sacudiu a cabeça de um lado para o outro. —Não. Ele não pode estar. Ele deveria sair com você e nunca olhar para trás. Eu nunca quis... — Ele tossiu, sangue escorrendo pelo queixo.

Helena não teve tempo de dizer mais nada porque Camille apareceu na porta. Saltando da cama, Helena correu ao longe, jogando-se para a outra princesa.

Camille a pegou, os braços rígidos. —Helena. — Ela a empurrou para longe, passando a mão na frente do vestido azul safira. Ela colocou os cachos de ébano por cima do ombro, sem olhar de relance para Stev.

Helena a examinou em busca de algum sinal de mau tratamento. Camille apoiou-se na mesma bengala desde o dia em que chegou. Seu traje foi suavizado com perfeição quase como se ela não fosse uma prisioneira.

—Eu estava tão preocupada com você. — Helena finalmente admitiu.

O olhar severo de Camille a cortou. —Helena, você vem comigo.

E então ela fez a última coisa que Helena já esperava. Camille levantou uma mão que segurava algo que Helena não havia notado antes. Algo que ela nunca pensou em ver novamente.

Uma máscara.

Ela balançou a cabeça, os cabelos espalhando-se pelos ombros descontroladamente.

—Coloque-a.

—Camille. — Helena tropeçou para trás. —Por que você está fazendo isso?

Naquele momento, a princesa gaulesa se parecia muito com aquela mãe - a mulher que vendeu Quinn aos madranos.

E Helena a odiava por isso. —Não.

Camille estreitou os olhos. —Será muito mais fácil para você se você apenas obedecer.

Os olhos de Helena foram para a máscara. De novo não. Ela passou a maior parte de sua vida presa por esse tecido. Ela não era mais aquela garota.

Dois guardas apareceram na porta.

Helena olhou por cima do ombro para Stev, que estava tentando sair da cama para ajudá-la. Ele recuou, seu corpo tremendo quando seus olhos rolaram para dentro de sua cabeça.

—Stev! — Helena tentou se virar e correr de volta para ele, mas um dos guardas a agarrou para segurá-la no lugar. —Deixe-me ir, seu maldito bastardo. — Um braço carnudo envolveu sua cintura, puxando-a para fora de seus pés enquanto ela chutava e gritava.

As palavras de Camille mal registraram em sua mente. —Pegue o curandeiro. Se Estevan morrer, o rei ficará muito irritado.

Não, Helena pensou. Cole não se importaria com o que acontecia com nenhum deles.

Suas próprias palavras voltaram para ela. Ele não é nosso irmão.

Só ele era. E isso tornou a dor muito real.

—Stev. — Ela chorou mais uma vez antes de um punho brilhar na frente de seu rosto, e a escuridão acenou para ela com sua paz.

 

Vozes cercaram Helena, mas ela lutou para abrir os olhos. Passos pesados cruzaram-se na frente dela. O barulho de muitas botas blindadas veio e se foi.

Onde ela estava?

Enquanto ela observava a sala ao redor, tudo voltou para ela. Vindo para o palácio. Cole. Estevan. Como seu irmão poderia estar vivo depois de todo esse tempo?

A sala do conselho de seu pai tomou forma ao seu redor. Não, não do pai dela. Não mais. O som ecoava no teto arqueado, apenas ligeiramente abafado por tapetes macios.

Helena levantou a cabeça dolorida das fibras brancas macias de um travesseiro. Ela levou a mão ao rosto quando outro pedaço dela se partiu. A máscara grudava em sua pele, uma gaiola da qual ela nunca havia escapado. Ela queria chorar, gritar, derrubar o lugar, mas não daria a Cole essa satisfação. Ela se recusava a desmoronar. De novo não.

A máscara a fortaleceu, reforçando sua necessidade de vingança. Ela sentiu a raiva deslizar por seus dedos depois que Cole a levou para Estevan, mas agora, enquanto examinava os rostos daqueles que eram leais ao novo rei, queria que todos pagassem.

Duas botas pararam diante dela antes que um homem atarracado se agachasse, equilibrando-se na ponta dos pés.

Helena ergueu os olhos para Reed e tudo o que ela pôde ver foi o homem que levou Quinn, que deixou seu pessoal quase matar Dell.

A simpatia entrou em seu olhar e ele estendeu um copo de água.

Quando Helena não se mexeu, Reed suspirou. —Eu não vou te machucar, princesa.

Uma mão pousou no ombro de Reed e o empurrou para trás. Ele caiu pesadamente na bunda, a água derramando sobre a camisa.

—Droga, Ian.

Ian ignorou a exasperação de Reed. —A princesa é necessária.

Sem esperar por uma resposta, ele agarrou o braço de Helena e a puxou para cima, puxando-a em direção à mesa no centro da sala.

Cole estava em uma posição elevada, recém barbeado. Seu cabelo estava penteado para trás no mesmo estilo que ele sempre usava. Só agora, ele parecia... mais velho. Seus olhos frios encontraram os dela, nenhuma das emoções anteriores aparecendo nos globos escuros.

—Tivemos muita sorte. — Disse ele, seus olhos examinando os rostos ao redor da mesa. Helena reconheceu alguns generais e comerciantes, mas alguns eram estranhos. Camille ficou à direita de Cole. —A princesa Helena voltou para ajudar a levar Madra à grandeza.

Helena engasgou com o ar.

Cole continuou. —Mas o príncipe Quinn desapareceu. Acreditamos que os rebeldes o levaram. A guarda do palácio está vasculhando a cidade, mas eu trouxe minha irmã aqui para esclarecer o paradeiro dele.

Helena congelou. Cole sabia sobre sua conexão com os rebeldes?

Ele deu a volta na mesa, parando ao lado dela e olhando para ela. Falso carinho ecoando em sua voz. —Querida irmã, me diga onde está Edmund.

—Eu-eu não sei.

Cole a golpeou antes mesmo que ela soubesse o que estava acontecendo. A palma da mão dele deixou uma dor aguda queimando sua bochecha. Ela levou a mão à bochecha ardente, tropeçando para trás.

—Aqui neste palácio, não aceitamos mentiras. — A voz baixa de Cole retumbou através dela.

O perigo espreitava por trás de seu olhar e Helena engoliu em seco. Ele queria que ela o temesse?

Ela endireitou os ombros, erguendo o queixo para encontrar o olhar dele. —Mesmo que eu soubesse, não diria.

Cole apontou para um de seus guardas que atingiu Helena no estômago. Ela se dobrou, ofegando quando a dor atravessou seu abdômen.

Ela reprimiu um grito e ficou de pé mais uma vez.

Nenhuma pessoa na mesa fez um movimento para parar Cole.

—Onde está meu irmão? — Cole gritou, as veias em seu pescoço pulsando com sua irritação.

Helena estreitou os olhos. —Eu poderia tirá-lo de você em um instante. Você roubou tudo de mim. Por que não devo fazer o mesmo?

Cole bateu o punho contra o lado da cabeça dela, batendo-a de lado. Ela tropeçou, caindo de joelhos quando ele chutou a parte de trás de sua canela. A surra continuou com Cole liberando toda a sua fúria nela até que tudo em que Helena pudesse se concentrar era na dor.

Ela manteve a consciência como um homem caindo, segurando a beira de um penhasco. Os ataques diminuíram quando Cole soltou um rugido e cobriu seu corpo com o dele.

—Eu precisava. — Ele murmurou. —Helena, eu precisava. — As lágrimas dele caíram sobre sua pele.

A máscara escondia seu rosto pálido, e o peso de Cole em cima dela a esmagou no chão. Ela sentiu como se não existisse mais.

Ela disse a Edmund que Cole não a machucaria. Esse tinha sido o único pensamento que a manteve unida. Tão mau quanto o irmão dela, ele a amava. Ela queria que fosse verdade. Teria tornado a missão possível, mas também teria curado uma pequena parte dela.

Seu corpo machucado pode não ter se quebrado completamente, mas ela ficou lá, como se ela não fosse nada além de uma princesa de vidro.

E agora, finalmente, ela quebrou deixando apenas fragmentos afiados que cortariam tudo o que tocassem.

Pela segunda vez naquele dia, a escuridão a puxou sob sua corrente rápida.

 

 

 

 


Capitulo Vinte e Dois


O sol do meio-dia pairava no céu quando Dell atravessou as ruas da cidade de Madra. Mendigos estavam sentados em cada esquina, mais comuns do que antes. As poucas lojas que abriram tinham longas filas que se estendiam para fora das portas enquanto as pessoas tentavam trazer sua parte da comida das fazendas de Madra.

—Precisamos abandonar os cavalos. — Disse Dell, parando e deslizando para baixo. Ele olhou para os lados da rua movimentada, pressionando de volta para um beco enquanto um carrinho passava.

—Vai demorar muito a pé. — Etta examinava o ambiente, sempre atenta.

Dell balançou a cabeça. —Não importa o quão longe tenhamos que caminhar se nunca chegarmos lá. Aqui não é Bela. Um madrano médio não tem um cavalo porque não pode pagar por um. Estamos nos marcando com riqueza e estou tendo a impressão distinta de que é uma coisa ainda pior agora do que era antes.

Um homem passou, fazendo uma careta ao avistá-los, mas ele não parou.

Ninguém mais discutiu enquanto desmontavam e conduziam seus cavalos pelo beco estreito.

—Estamos perto do setor do embaixador. A casa de Edmund está lá. — Dell espiou pela lateral de uma loja, examinando a estrada. Uma tropa de guardas do palácio cavalgava pela cidade. As pessoas saíram do seu caminho e Dell agarrou um garoto pela frente da camisa.

—Por que a guarda está na cidade? — Antes, o rei tinha tomado cuidado para não impor seus guerreiros ao povo. A força não funcionava em Madra. Somente dinheiro. Eles alegaram que os mercenários tinham o mal dentro deles, com sua única lealdade ao ouro nos bolsos, mas não era apenas o modo de vida deles. Madra foi construída sobre o conceito.

O lábio do garoto tremeu. —O príncipe está desaparecido, senhor.

—O príncipe?

O garoto assentiu. —Eles estão dizendo que os rebeldes pegaram o príncipe Quinn.

Dell soltou o garoto. —Você quer ganhar um pouco de ouro, garoto? — Ele apontou para a bolsa no cinto de Etta.

Os olhos do garoto se iluminaram. —Como senhor?

—Você vai ajudar meu amigo aqui. — Ele colocou a mão no ombro confuso de Landon antes de se virar para os outros. —Mudança de planos. Não podemos ir até Edmund quando a cidade está cheia de guardas. Landon levará os cavalos para os estábulos públicos, pois conhece a cidade tão bem quanto eu.

A última vez que Dell esteve nos estábulos públicos foi quando ele afastou Helena de seu próprio torneio. Ele se recusou a deixar as lembranças nublarem sua mente dessa vez.

Etta se inclinou para Vérité, sussurrando palavras que nenhum dos outros conseguiu ouvir. Quando ela se afastou, ela olhou para Landon. —Preocupe-se com os outros. Vérité vai segui-lo ou não. Essa é a escolha dele.

Landon franziu a testa, emitindo um breve aceno de cabeça.

—Fiquem seguros.

—Você também. — Dell pensou por um momento. —Se você chegar antes do anoitecer, há uma padaria na praça do mercado. É administrada por uma mulher chamada Agathe. Procure-nos lá.

Dell não perdeu tempo a passear pela rua como se tivesse todo o direito de estar lá. Este reino e esta cidade já tinham tido tanta familiaridade com ele... e também muita dor. Isso o transformou no homem que ele era. Permitiu-lhe formar suas próprias convicções.

Quando ele ajudou Edmund pela primeira vez, ele não sabia em que lado da luta ele queria estar. Ele não achava que a linha Rhodipus merecesse manter o domínio deles.

Agora ele sabia. Ele lutou para recuperar o que havia sido roubado. Isso não era apenas por lealdade a Edmund. Ele se juntou à luta, eventualmente. Madra era sua casa.

Ele os levou pela taberna de Catsja e imagens de outra vida o atacaram. Ele perseguiu a mulher somente depois que o marido chamou a mãe de Dell de prostituta.

O garoto por quem ele se empolgou com raiva, lutando em partidas de rua ilegais e aproveitando cada golpe. Ele tinha sido tolo e desesperado por algo que desse sentido à sua vida.

A placa não dizia mais The Cooked Goose. Em vez disso, havia sido alterado para The King's Tavern.

Com um suspiro, ele se virou. Etta, Alex e Tyson não fizeram perguntas sobre Madra enquanto visitavam a cidade lotada. Em Bela, tudo cheirava fresco e novo. O ar de Madra pairava velho entre os prédios; uma combinação de peixe e urina.

Uma tropa de guardas do palácio em uma armadura negra reluzente desceu a rua.

—Vamos lá. — Dell correu pela esquina, atravessando uma porta familiar. Os outros derraparam atrás dele, se escondendo embaixo de uma mesa para que não pudessem ser vistos pela janela.

O cheiro de pão fresco substituiu o ar podre de Madra. Dell passou tanto tempo na padaria de Agathe quanto em qualquer outro lugar que crescia. Ela ajudou a criá-lo quando a madrasta recusou.

O balcão perto da parede dos fundos parecia estéril, não mais cheio de doces e guloseimas pelas quais ela era tão conhecida. Então, por que cheirava como se ela tivesse recentemente assado um novo lote?

—Fique aqui. — Disse ele. Algo não parecia certo. Onde estava Agathe? Por que a loja dela estava aberta se ela não estava lá?

Ao longo das paredes, velas acesas, sinalizando a presença recente de alguém.

—Tranque a porta. — Ele sussurrou de volta para Tyson. Alex e Etta viram os guardas passarem pela janela enquanto Dell se agachava.

Ele se escondeu atrás do balcão, quase colidindo com um balde de água da louça e soltou a espada enquanto cutucava a porta que dava para os quartos dos fundos abertos. Agathe morava atrás de sua padaria em uma casa de um quarto. A escuridão o cumprimentou, mas ele cheirou o ar, sentindo o cheiro dos restos de velas acesas.

Alguém ainda estava lá.

A cama de Agathe estava do outro lado do quarto, um cobertor dobrado sobre a superfície. Os únicos outros móveis eram uma mesa encostada na parede e uma cadeira de encosto alto com costuras rasgadas, diante de um fogo ainda aceso.

Dell congelou.

Ainda queimando.

Dell sentiu uma presença nas costas e virou-se, pronto para atacar. Tyson levantou uma sobrancelha, o rosto brilhando à luz da vela que ele carregava.

—Eu disse para você ficar para trás. — Dell rosnou. De volta a Bela e Gaule, ele os ouviria, os seguiria. Mas agora eles estavam em seu reino, ao redor de seu povo.

Ele estava no comando.

No verdadeiro estilo Tyson, ele deu de ombros como se os nervos não estivessem lhe atingindo. —Pensei que você gostaria de saber sobre a escada que Alex encontrou no teto.

Escadaria? Claro.

Um baque soou de cima e Dell se moveu sem pensar. Ele só esteve no grande sótão de Agathe uma vez quando ela precisava de ajuda para transportar contêineres. As escadas se dobravam no teto, mas Dell a vira puxá-las o suficiente para que ele soubesse exatamente onde a corda estava enrolada no canto superior do forno maior, fora da vista.

Estendendo a mão, ele a libertou.

Por favor, deixe Agathe estar bem. Seu apelo subiu ao céu enquanto, ao mesmo tempo, nunca deixava sua mente.

Ele não aguentaria perder mais ninguém.

Os degraus desceram do teto e Dell começou a subir. Madeira gemeu sob seus pés enquanto as escadas balançavam com seu peso.

Ele segurou com uma mão enquanto mantinha a outra segurando o punho da espada. No topo, uma tábua fina cobria a abertura do sótão. Dell bateu a palma da mão nela, afastando-a do caminho e puxou-se. Antes que ele pudesse brandir sua espada, um pedaço de aço brilhou na frente de seu rosto.

Seu coração batia forte contra as costelas, ameaçando explodir em seu peito. Ele respirou fundo, estendendo a mão para dizer aos que estavam abaixo dele para esperar.

Uma chama apareceu com um rosto familiar atrás dela. Dell investiu, derrubando Orlo de costas. —O que você fez com Agathe, seu desgraçado?

Mãos o agarraram, puxando-o de um Orlo sorridente.

—Deveria saber que você apareceria. — Uma risada baixa chamou a atenção de Dell para o homem ainda o segurando.

—Edmund. — Ele balançou a cabeça e recostou-se nos calcanhares. —Vocês podem subir agora. — Ele gritou para os outros. —É seguro. — Ele não sabia o que Orlo estava fazendo aqui, mas no momento não se importava porque viu um rosto desfigurado sorrindo para ele.

Rastejando de joelhos, ele envolveu Agathe em um abraço apertado.

Ela o agarrou com uma força surpreendente. —Não tinha certeza se eu voltaria a vê-lo, garoto.

—Você me conhece, Agathe. Parece que não consigo ficar longe de problemas.

Ela soltou uma risada e o soltou.

Tyson, Alex e Etta se arrastaram para o pequeno espaço. Os olhos de Edmund se arregalaram quando os viu.

Tyson deu de ombros. —Eu não poderia deixar você se divertir sem mim.

Era certo que Tyson iria querer ajudar Edmund. Mas o loiro encarou Etta e Alex como se os estivesse vendo pela primeira vez.

—Você e Camille são da família. — Disse Alex.

Edmund assentiu. —Estou feliz que vocês estão aqui.

—Em que tropeçamos, Edmund? — Etta o encarou com um olhar.

—Como vocês me acharam?

Dell foi quem respondeu. —Eu tive um palpite que Agathe saberia onde você estava. — Quando seus olhos se ajustaram à escuridão, ele pegou o espaço apertado. Pratos vazios estavam espalhados pelo chão ao lado de copos virados. Quantas pessoas estiveram aqui? Uma figura sombria estava curvada no canto. Dell o estudou por um momento antes de o reconhecimento chegar.

—Quinn Rhodipus.

A cabeça do homem levantou e foi só então que Dell notou os laços em volta dos pulsos.

—Eu te conheço? — O olhar de Quinn era tão parecido com o de Helena que Dell desviou o olhar.

—Eu sou apenas o homem que quase morreu tentando salvá-lo em Gaule. — Ele encarou Edmund. —Por que ele está amarrado? O que está acontecendo por aqui? Viemos ajudar, mas não podemos fazer isso até conhecermos a história completa.

Edmund esfregou os olhos cansados. —Quando o rei enviou o guarda à procura de Quinn, forçou os rebeldes a se separarem e abandonarem o posto que eles montaram na minha antiga casa. Temos batedores rotativos buscando informações e outros procurando algum sinal de que Helena possa nos enviar uma mensagem.

O sangue da Dell aumentou. —Eu sabia. É por isso que ela... —Ele não podia dizer que as palavras me deixaram para trás. —Ela sabia que eu nunca a deixaria fazer algo tão tolo.

—Finalmente alguém que vê como isso foi estúpido. — Quinn fez uma careta e mudou para onde estava sentado. —Você deveria protegê-la, Edmund. Não foi isso que Stev pediu para você fazer?

Edmund pulou em direção a Quinn, parando um pouco para esmurrá-lo. —Você não sabe o que Stev queria. Cada respiração que você dá o trai. Você trabalha para o homem que o matou.

Um olhar que a Dell não conseguiu discernir passou pelo rosto de Quinn, mas Edmund não percebeu.

—Você acha que ele não vai machucá-la? — Quinn disse humildemente. —Você não o conhece.

—Isso é uma ameaça? — Edmund puxou uma adaga do cinto. —Eu deveria te matar por tudo que você fez.

Quinn focou os olhos na lâmina. Dell se perguntou se deveria parar Edmund, mas não se atreveu a interceder.

—Eu fiz isso por ela. — Sua voz era tão baixa que demorou um momento para as palavras penetrarem. Quinn se curvou para frente, enterrando o rosto nas mãos.

Edmund recostou-se, afastando o punhal. Houve um tempo em que Edmund era amigo da maioria dos príncipes.

—O que você quer dizer com você fez isso por ela? — Perigo se escondia atrás das palavras de Dell.

Quinn levantou os olhos, permitindo Dell vislumbrar a dor que ele tentava esconder. Sua família o estava despedaçando. —Eu sabia que ela voltaria. — Seus olhos se voltaram para Edmund. —Eu sabia que vocês dois o fariam e não adiantava a trancar em uma cela no mosteiro fantasmagórico.

Edmund respirou fundo e esfregou os olhos. —Eu te conheço desde o dia em que pisei em Madra, Quinn. No entanto, não tenho certeza se devo acreditar em você. Você apareceu nas docas para me prender. Cole não saberia que ela estaria lá também, mas você teria.

—Eu precisei. Se eu não fosse, Cole teria enviado outra pessoa. Não vou mentir para você, Edmund. Eu não teria sido capaz de protegê-lo. Mas Helena... você não sabe o que está acontecendo no palácio nos meses em que se foi. Temos pessoas lá - mais do que você imagina - que estão trabalhando para devolver Stev... —Ele parou de falar como se tivesse dito algo que não pretendia.

Edmund levou um momento para reagir. Ele empurrou para frente, puxando sua adaga livre mais uma vez e segurando-a na garganta de Quinn. —E Stev?

Quinn não se afastou da lâmina enquanto segurava o olhar de Edmund.

Dell e os outros assistiram com a respiração suspensa.

Quinn levantou o queixo. —Queremos colocar Estevan de volta ao trono.

O punhal de Edmund caiu no chão e ele caiu para trás, sacudindo a cabeça como se não acreditasse em uma única palavra dita. —Ele está... Ele está...

—Vivo.

Foi estranho. Como uma palavra pode mudar toda a perspectiva de uma missão. Dell mal conhecia o Rhodipus mais antigo e até seu coração deu um pulo. Eles vieram a Madra para derrubar um rei, nunca pensando no que viria depois. Helena poderia ter assumido o trono, mas Dell sabia que tudo o que ela queria era que sua família retornasse a ela.

Mas Estevan?

Se Helena estava no palácio, ela o viu?

Edmund aspirou o ar como um homem que nunca pensou que ele respiraria fundo. Ele passou a mão trêmula pelos cabelos.

Etta sentou-se ao lado dele e afastou a outra mão de onde arranhava a pele do rosto. Ela entrelaçou os dedos nos dele.

—Ele está vivo, Edmund. — Ela sussurrou.

Como se as palavras dela estalassem algo dentro dele, ele se dobrou, suas costas estremecendo.

Dell sabia que deveria desviar o olhar, mas não conseguiu. Ele só viu Edmund parecer tão... quebrável duas vezes antes. Uma vez, quando ele foi forçado a deixar Estevan em Madra. E novamente, quando soube da suposta morte do príncipe.

Durante a maior parte de sua vida, Dell se escondeu atrás de charme e de um ego falso, deixando ninguém chegar perto o suficiente para ter o tipo de poder sobre ele que Estevan tinha sobre Edmund. Ele pensou que a força estava sendo inquebrável.

Ele estava errado.

Se ele não chegasse a Helena a tempo, nunca se recuperaria, mas a amava mesmo assim.

Edmund nunca deixou de amar Estevan, mesmo quando pensava que estava morto, e foi a coisa mais corajosa que Dell já viu. Ele se deixou sentir tudo.

Edmund enxugou o rosto. —Eu tenho que chegar até ele. — Ele se arrastou em direção à escada. —Não podemos ficar aqui esperando mais.

Quinn, que silenciosamente deixou Edmund processar essas informações que mudam o mundo, chamou Edmund de volta. —E o que você acha que vai fazer?

Edmund fez uma pausa. —Tudo o que eu tenho que fazer.

—Se você for ao palácio com nada além de vingança, não conseguirá entender. Cole não tem vínculos com você, como ele tem com Helena. —Pelo menos ele esperava que Cole não machucasse sua irmã. Se Stev ainda estava vivo, tinha que haver esperança, certo?

—Eu não me importo se sobreviver enquanto Estevan sobreviver.

Dell estendeu a mão para agarrar o braço de Edmund. —Você sabe o que passou depois que pensou que ele morreu. Você deseja isso para ele? — Dell teve que fazê-lo ver o motivo.

A porta batendo abaixo os congelou.


—Provavelmente é apenas Landon. — Dell desejava estar tão confiante nisso quanto parecia.

—Landon? — O olhar de Quinn se voltou para ele. —Meu primo?

—Foi ele quem nos trouxe a Gaule para tentar salvá-lo. Então ele decidiu nos acompanhar aqui.

Os olhos de Quinn se arregalaram.

—Vou ver se é ele. — Disse Edmund.

—Espere! — Quinn tentou seguir em frente, mas as cordas segurando seus pulsos o impediram. —Você não pode confiar nele.

—Ele é o único motivo pelo qual sabíamos que você estava preso em Gaule. — Campainhas de alarme tocaram na mente da Dell.

—Porque ele me deu a eles. — Ele endureceu a mandíbula. —Landon trabalha para Cole.

E ele sabia exatamente onde eles estavam. Dell amaldiçoou. Eles deveriam ter visto? —Temos que sair deste lugar.

Passos soaram abaixo. Sem pensar, Dell se abaixou pela abertura no chão, sem se incomodar com as escadas. Ele ficou pendurado por apenas um segundo antes de cair em cima do intruso.

Uma série de maldições voou da boca da mulher. Uma boca que Dell conhecia muito bem. Eles aterrissaram no chão. Ele saiu dela com um grunhido. —Catsja?

Ela fez uma careta de dor quando se sentou. —Dell Tenyson, seu idiota. Para o que foi aquilo?

Ele a chocou, puxando-a para um abraço. —Porra, é bom te ver.

Os outros desceram as escadas, e a mão grossa de Orlo agarrou a parte de trás do pescoço de Dell, puxando-o para longe de Catsja.

Ele balançou a cabeça, surpreso por Orlo e Catsja terem se juntado aos rebeldes. Ele não deveria estar. Eles odiavam o exército de Madra como nenhum outro.

—Outro rebelde? — Etta perguntou, checando suas armas.

Dell não teve a chance de responder porque vozes soaram na frente quando a porta se abriu.

—Desça. — Edmund sussurrou, puxando Agathe para trás de uma caixa com ele.

—Eles estão aqui. — Disse uma voz familiar. —Encontre-os.

Landon. O fogo atingiu as veias da Dell. Eles mal podiam esperar para serem encontrados. Ele encontrou o olhar de Tyson, sabendo que pelo menos o jovem príncipe impulsivo concordaria com ele.

Tyson assentiu, gesticulando para Etta. Sem esperar para garantir que o resto deles seguisse, Dell puxou a espada e atacou a frente da padaria.

Os guardas que ainda estavam entrando pela porta da frente ergueram os olhos, assustados por apenas um momento antes de se armarem para enfrentar o ataque.

Dell não parou de se mover até que ele acertou um dos guardas, balançando a espada em um amplo arco.

Ao seu lado, Tyson saltou para frente, batendo a espada contra a de Landon.

O resto do grupo pulou na luta, esbarrando um no outro no espaço apertado. Tyson pulou para longe de Landon, deixando Etta assumir. A rainha murmurou baixinho. Dell sabia pouco de sua história com o general. Só que eles lutaram juntos contra La Dame.

Tyson correu atrás do balcão, encontrando um balde de água. Ele o jogou no ar, segurando as mãos para o alto e expandindo a substância com a magia da água, antes de enviar lanças de água contra cada guarda com força suficiente para empurrá-los pelas janelas de vidro.

Os cacos choveram, mas antes de atingi-los, um vendaval de vento empurrou os pedaços afiados pelas janelas agora abertas.

Na rua, uma multidão se formou para assistir os guardas encharcados se levantarem. Quinn apareceu e estendeu os pulsos para Edmund. Era agora ou nunca. Confie nele ou não.

Edmund olhou de soslaio para ele antes de cortar suas cordas e depois estender o cabo do punhal primeiro.

Quinn pegou. —Eu preciso voltar para o palácio.

Edmund, parecendo entender seu significado, assentiu e o encarou. —Faça.

Em um piscar de olhos, o punho de Quinn se conectou com a bochecha de Edmund, e ele correu em direção aos guardas que estavam se preparando para outra luta.

—Temos que sair daqui. — Edmund olhou para Agathe, e a velha sorriu em compreensão. —Catsja, pegue o pó.

A pólvora. Dell soube instantaneamente que tipo de pó era. Ele viu barris no porão de sua família enquanto estava preso lá.

—Dell, Alex, Tyson. — Edmund olhou para cada um deles. —Vocês levem Agathe para fora e longe daqui. Vamos segurá-los.

Etta deu um sorriso, jogando a espada entre as mãos. —Faz muito tempo desde que você e eu lutamos juntos, Edmund.

—Vão! — Edmund ordenou para o resto deles.

Dell não queria deixar Edmund em luta, mas ele não podia colocar Agathe em perigo. E ele sabia que não seria o tipo de ajuda que Etta seria.

Todos fizeram o que lhes foi dito. Dell deixou os outros pela porta dos fundos, apenas olhando para trás uma vez enquanto os sons da luta renovada enchiam o ar.

Eles correram pelo beco até chegar a uma encruzilhada e se irem em uma parte mais pobre da cidade. Agathe parecia saber o caminho, então eles a seguiram.

Antes de chegarem longe demais, uma explosão rasgou o ar. Dell congelou, olhando para trás. Eles estavam bem. Eles tinham que estar.

—Edmund e Etta sabem o que estão fazendo. — Alex disse como se estivesse lendo sua mente.

Como ele tinha tanta fé neles? Dell desejava ter esse tipo de confiança em alguém que não fosse ele mesmo. Ele ainda sentia a necessidade de proteger as pessoas em sua vida, em vez de deixá-las se proteger.

Um pensamento o atingiu quando eles pararam. —Kassander. — Ele congelou na porta. —Enviamos Kassander com Landon. — Eles pensaram que era a opção mais segura. Ir aos estábulos tinha que ser mais seguro do que encontrar os rebeldes.

Só que não foi. Eles entregaram o jovem príncipe ao irmão.

Mais uma vez, Dell falhou com Helena.

Seu horror foi refletido nos rostos ao seu redor.

Agathe conduziu-os por outra estrada familiar, sem parar até chegarem aos portões que Dell nunca mais queria ver.

—Agathe. — Ele congelou, olhando para a estrutura sinistra. —O que você está fazendo aqui?

—Esta é outra base rebelde. — Ela passou por ele e bateu o punho contra os portões.

Como o lar em que ele cresceu se tornou uma base para os rebeldes quando Ian e Reed estavam ao lado do rei? Foi mais uma prova da deslealdade de Reed para Cole?

Os portões se abriram lentamente e um rosto desgastado os cumprimentou, não mostrando nenhuma surpresa no local da Dell.

Ele soltou um suspiro. —Madrasta.

Ela o ignorou, fixando os olhos em Agathe. —Eu ouvi a explosão daqui. Fico feliz que você tenha encontrado um uso para o pó que forneci. Entre. Vamos tirar você da vista.

Agathe sorriu. —Obrigada, querida. — Ela os levou, deixando os portões abertos um pouco para os outros.

Tyson se inclinou para Dell enquanto olhava para a grande casa Tenyson. —Você cresceu aqui?

—Não. — Os olhos da Dell se voltaram para o edifício familiar nos fundos. —Eu morava nos estábulos. — O jovem príncipe parecia querer fazer mais perguntas, mas Dell acelerou para impedir a conversa. Sua mente girou com a possibilidade de sua madrasta lutar contra o rei. Um rei que seus filhos apoiavam.

A última vez que Dell esteve lá, seus irmãos o prenderam no porão. Agora, ele atravessou uma entrada da frente que nunca haviam permitido que ele usasse. A casa outrora grandiosa parecia mais escassa do que antes.

Agathe, como se estivesse lendo as perguntas em sua mente, falou em tom baixo. —Sua madrasta foi forçada a vender muitas coisas para sobreviver com o fechamento do porto. Ela libertou todos os seus funcionários e agora mora aqui sozinha, já que seus dois irmãos moram no palácio. Ian não está em casa desde a rebelião. Reed vem frequentemente em negócios rebeldes.

—Como ela se tornou uma rebelde? — Ele perguntou. A mulher que ele conhecia apenas se preocupava. Ela não se importaria com o que um rei fazia com o reino.

—Com a espiral desaparecida, ela perdeu seu lugar na sociedade. Todo mundo tem algo pelo que lutar nisso.

Dell assentiu. Isso fazia sentido. Ela ainda estava cuidando de si mesma.

Sua madrasta os levou aos estábulos em que passou a maior parte de sua vida.

—Não posso ter rebeldes na casa principal. — Disse ela. —Eu sinto muito. Espero que entendam.

Dell nunca a ouviu se desculpar por nada.

Agathe colocou a mão no braço dela. —Claro. Quando os outros chegarem, por favor, mostre-os para nós. Não lhe causaremos problemas. Eu prometo. Nós iremos embora de manhã.

Ela hesitou por um momento, seus olhos encontrando Dell como se ela tivesse mais a dizer. Em vez disso, ela apenas assentiu e saiu.

Dell inalou, seu coração batendo contra as costelas quando o sentimento inadequado de sua juventude voltou a ele. Não importava o que ela dissesse, ela sempre teve esse efeito nele.

Um cavalo relinchou e soltou um suspiro ao avistar o cavalo Ian. A visão familiar do animal em sua baia o acalmou. Ele não era mais o garoto sem família que arruinava as bancas e deixava aquela mulher empurrá-lo.

Não, agora ele tinha mais propósito. Uma família. Ela não podia mais controlar sua vida ou sua mente. Ele deixou Agathe ficar com o beliche em que passou a maior parte das noites e sentou-se de costas contra a baia de Ian.

Limpando o rosto, seus dedos ficaram vermelhos.

Ele procurou um corte, mas não o encontrou. O sangue não era dele.

O silêncio sufocou pelo que pareceu uma eternidade até Edmund irromper pela porta. Seus ombros caíram de alívio. —Você está aqui.

Alex passou por ele para envolver Etta em seus braços.

—Por que você veio aqui? — Edmund examinou a sala escassa.

—É uma casa segura rebelde. — Catsja deu uma cotovelada nele. —Eu te disse, Edmund, o movimento cresceu desde que você saiu.

—Mas Lady Tenyson?

Dell estudou Agathe. Ela os levou até lá. Quão envolvida na rebelião ela estava? Eles destruíram tudo o que a mulher tinha. Sua loja não passava de entulho. Seu meio de vida se foi.

E, no entanto, havia vida em seus olhos como ele nunca tinha visto antes.

Dell encontrou o olhar de Edmund. —Qual é o próximo?

Catsja sentou-se com um grunhido exagerado. —É por isso que vim encontrar todos vocês na loja. Tenho novidades. — Um sorriso deslizou por seu rosto. —Parece que o retorno da princesa é o que precisávamos. Nossas fontes dentro do palácio indicam que o rei fará sua primeira aparição pública. Ele quer mostrar a Madra que a linha Rhodipus está intacta e apoia seu reinado. Seus conselheiros parecem pensar que é a única maneira de reprimir o movimento rebelde.

Dell entendeu cada palavra, virando-a e considerando-a. Ele precisava ver Len, então ele fez a única pergunta que a traria mais perto dele.

—Quando?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Vinte e Tres


Uma mão quente pressionou a testa de Helena quando alguém a puxou de volta para o mundo acordado. Cobertores macios emaranhados em torno de suas pernas e ela tentou rolar para o lado, confusão nublando sua mente. Onde ela estava?

—Dell? — Ela murmurou.

—Irmã.

A voz a fez acordar e se afastar de seu toque. Seus olhos se abriram para encontrar o rosto de Cole olhando para ela, uma expressão preocupada inclinando seus lábios.

A dor pulsava em suas têmporas e irradiava por seu torso enquanto as imagens inundavam sua mente. Punho de Cole. Um pé no estômago.

Uma lágrima vazou pelo canto do olho. Ela tinha tanta certeza de que ele não a machucaria. Tão certa que o irmão que ela conhecia ainda estava lá em algum lugar.

Porque ela o viu. Quando ele se sentou na beira da cama, a mão pairando sobre o cabelo dela, ele parecia o homem que ela conhecera.

—Não me toque. — Ela puxou o cobertor até o queixo, estremecendo com a dor que o movimento causou.

A testa de Cole enrugou. —Você sabe que eu não queria que nada acontecesse com você, Lenny. Eu te amo.

—Você não me ama, Cole. Talvez você nunca tenha amado. — Ela sabia que precisava ter cuidado com ele. Ele provou ser imprevisível, volátil. Ele realmente mudou tanto? Ou ele havia escondido essa parte de si mesmo de todos eles? Até o gêmeo dele.

O pensamento de Quinn e sua lealdade a Cole queimaram dentro dela. Pelo menos Kass estava seguro e...

—Estevan. — Ela sussurrou. Isso tinha sido um sonho ou ele realmente viveu?

—Helena. — Cole suspirou. —Meu povo precisa ver minha força. Se não instilar medo neles, o que tenho?

—O pai não governou pelo medo. — Assim que as palavras saíram de sua boca, ela desejou poder recuperá-las. Mentiras. Isso é tudo que elas eram.

Cole moveu-se para acariciar seus cabelos novamente e depois pensou melhor e enrolou os dedos em punho. —Você não é tão ingênua. Tudo que o pai tinha era medo. Seus exércitos se espalharam pelos seis reinos sob o pretexto de manter a paz. Seus padres prenderam pessoas. Até você, irmã, teve que usar uma máscara a vida inteira por medo do que eles fariam com você.

Helena tocou a ponta do nariz. Alguém havia removido a máscara. Um pensamento veio a ela. —Você me forçou a me esconder atrás de uma máscara também.

A verdadeira tristeza cruzou seu rosto. —Foi assim que meu conselho a reconheceu instantaneamente como a princesa. As pessoas não conhecem Helena Rhodipus, apenas a imagem que o pai lhes permitiu ter. Me desculpe, eu tenho que usar essa imagem também.

Uma risada áspera passou por seus lábios. —Você não está arrependido de nada.

—É aí que você está errada, irmã. Desculpe-me por tudo.

Ele se levantou, alisando o casaco do uniforme.

—Mas se você tivesse que fazer tudo de novo, não mudaria nada.

Ele não se virou para encará-la enquanto respondia. —Não. Eu não.

Seus passos ecoaram pelos tetos altos muito depois de ele ter saído. Helena enterrou o rosto no travesseiro, deixando-o umedecer com as lágrimas até que a porta se abriu novamente.

Ela levantou a cabeça, tentando ignorar as batidas no crânio. Camille estava no limiar.

—Acho que acabei de falar com os traidores hoje. — Gritou Helena, deixando a cabeça cair para trás. Ela precisava se levantar da cama e descobrir onde estava. Ela ainda tinha um trabalho a fazer - encontrar uma maneira de derrubar o irmão antes que os rebeldes invadissem o palácio e matassem muitas outras pessoas.

Outra pessoa passou por Camille, puxou-a para dentro da sala e fechou a porta.

—Quinn. — Os olhos de Helena se arregalaram. O que ele estava fazendo no palácio quando deveria estar desaparecido?

Ele correu para a cama e caiu de joelhos. —Len. — As pontas dos dedos sussurraram sobre sua bochecha machucada. —Eu sinto muito.

Ela finalmente se levantou para sentar e deixar o cobertor cair. Sangue seco salpicava o lado de sua blusa.

Quinn xingou e pegou a barra para empurrá-la, revelando um pequeno corte em seu abdômen. Os hematomas roxos saíam da ferida. Sangue com crosta selando.

Do outro lado do estômago, descoloração amarela e roxa marcava cada lugar em que a espancavam.

Quinn fechou os olhos. —Eu sinto muito.

A raiva surgiu em Helena e ela afastou as mãos dele. —Deixe-me em paz, Quinn. Você não age como você se importasse.

Camille atravessou a sala para ficar na janela. A luz do sol iluminou seus traços pálidos quando ela cruzou os braços sobre o peito. —Diga a ela, Quinn.

—Dizer-me o que? — Helena passou os olhos de Quinn para Camille.

—Passei a noite como prisioneiro de Edmund, mas ele me libertou.

O queixo dela se abriu. —Ele está bem?

Ele cobriu a mão dela com a dele. —Ele está bem. Ele ainda está com os rebeldes. — Sua boca torceu. —Eu só queria que ele não tivesse trazido um reino estrangeiro para isso.

—Reino estrangeiro? — Dessa vez, foi a vez de Camille se surpreender. Ela se virou da janela, deixando os braços caírem ao lado do corpo. —Bela está aqui?

Helena não podia ignorar o fato de não suspeitar que fosse Gaule. Ela sabia que sua mãe não enviaria ajuda.

O alarme tocou na mente de Helena. —Etta? Ela está aqui? —Isso significava... Dell. Ela balançou a cabeça, rezando para que Quinn lhe dissesse que não era verdade, mas também esperando que ele confirmasse seus medos. Dell veio atrás dela, mesmo depois de deixá-lo para trás.

Quinn coçou a nuca. —Sim, junto com o rei e o príncipe de Bela.

Um sorriso aqueceu o rosto de Camille. —Eles vieram.

Helena apertou as mãos em volta de um punhado de cobertor. —Bem, corra junto então. Vocês dois deveriam contar a Cole. É o que você quer fazer.

O sorriso de Camille se transformou em escárnio. —O que eu quero fazer é enfiar uma espada em seu coração.

Quinn olhou para a porta como se eles fossem ouvidos. —Sinto muito, Len. Que eu já fiz você duvidar de mim. Que eu já duvidei de mim mesmo. Cole é... ele costumava ser tudo para mim. Antes de chegarmos ao palácio, éramos a única família que qualquer um de nós tinha. Isso mudou para mim. Não para ele. Eu vi os sinais ao longo dos anos. O ódio dele pelo pai e sua mãe. Sua amizade com Ian Tenyson. Ian sempre quis mais poder do que um comerciante poderia ter. Ele não queria chegar ao topo da espiral. Ele queria ser a espiral, tudo o que Madra precisava, o único comerciante que fornecia bens ao reino. Um império digno de um rei.

—Então...— Ela olhou de Quinn para Camille. —Vocês não estão do lado de Cole nisso?

Quando os dois balançaram a cabeça, uma onda de alívio tomou conta dela. Ela tinha mais aliados do que pensava.

—Eu não posso ficar muito mais tempo. — Quinn se levantou. —Cole tem pessoas me observando. Eu só deveria estar entregando Camille para você. — Ele se inclinou para beijar sua testa. —Nós vamos superar isso, Len.

Ela engoliu um soluço quando ele saiu.

Camille foi até a cama. —Vamos, Helena. Eles me enviaram para ajudá-la a se lavar e se vestir para a cerimônia hoje à noite.

—Cerimônia?

Camille assentiu. —Cole convidou os moradores da cidade para vê-lo falar. É para mostrar a eles que a família Rhodipus está intacta e leal ao rei. Ele espera que isso acabe com o movimento rebelde, especialmente depois da noite passada.

—Noite passada?

—Explosões ecoaram pela cidade. Muitas delas. Eu só vi as nuvens de poeira da minha janela, mas elas cobriam a cidade inteira.

Edmund? Ela se preocupava com ele a cada segundo desde que chegara ao palácio. E agora não era só ele. Dell, Etta, Alex, Tyson. Todos eles estavam em perigo.

Como se estivesse lendo seus pensamentos, Camille falou em um tom reverente. —Não acredito que meus irmãos estão aqui.

Helena deixou as pernas caírem ao lado da cama antes de colocar os pés no chão. —Por que deveria surpreendê-la que eles vieram para você?

Camille a encarou com um olhar. —Você não conhece nossa história. Não sei por que eles estão aqui, mas não é por mim.

Pela primeira vez, Helena viu uma solidão na princesa de Gaule que combinava com a sua.

Camille agarrou seu braço e a ajudou a se levantar. Helena tropeçou, mas a outra garota a manteve em pé, colocando o ombro sob o de Helena.

Com a ajuda de sua bengala, Camille a ajudou a entrar no banheiro anexo, onde uma banheira de água fumegante aguardava.

Camille ajudou Helena a pousar na beira da banheira de cobre. —Cole não permitirá que nenhum empregado esteja perto de você. Ele confia em poucas pessoas.

—Por que ele confia em você?

Camille franziu o cenho. —Isso não é importante.

—É para mim.

Um suspiro passou por seus lábios. —Eu apenas digo que Quinn o convenceu e deixo por isso mesmo. Vamos, Helena. Não temos o dia todo.

Foi preciso todo o esforço que Helena possuía para tirar as roupas sem gritar de dor. Ela entrou na água e afundou abaixo da superfície, soltando um gemido, como se simultaneamente acalmasse seu corpo dolorido e picasse onde a ferida abriu sua pele.

Incapaz de levantar os braços o suficiente para esfregar, Camille a ajudou a remover um dia de sujeira de viagem.

—Camille. — Ela sussurrou enquanto a menina esfregava sabão pelos cabelos escuros de Helena.

—O que?

—Eu não entendo muitas coisas. Diga-me o que aconteceu desde que saí.

As mãos de Camille pararam. —Essa é uma tarefa pesada, princesa. Tem certeza de que quer a verdade?

Helena olhou para as mãos. Se ela iria salvar as pessoas que amava, talvez precise fazer algo que nunca pensou ser possível. Remover um de seus irmãos deste mundo. Ela assentiu. —Eu preciso saber o que Cole fez. — Ela precisava saber que ele era verdadeiramente tão mau quanto ela suspeitava.

Camille levantou uma vasilha acima da cabeça de Helena.

—Incline a cabeça para trás. — Ela derramou a água para lavar o cabelo de Helena. —A primeira coisa que ele fez como rei foi consertar a residência real. Seu fogo causou muitos danos. Ele alegou que precisaria estar pronto quando sua família voltasse a morar lá. A maioria de nós pensava que eram as divagações de um homem louco. Não sabíamos que Estevan vivia. A princípio não. Ele foi mantido em uma ala distante do palácio e Cole tinha alguém o interrogando todos os dias.

—Questionando-o sobre o que?

—Segredos do reino. Pessoas que eram leais a ele e ao velho rei. Havia até rumores de túneis ocultos sobre os quais Cole queria informações.

Túneis ocultos? Ela respirou fundo, arrepios correndo ao longo dos braços. Além dela, Estevan e Kassander eram as únicas pessoas vivas que conheciam os túneis. E Edmund, ela supôs. Ele a ajudou a voltar para eles no que parecia ser outra vida.

Camille continuou. —Depois que a residência real terminou, Cole chocou o palácio inteiro ao revelar Estevan e colocá-lo em um quarto lá. Então Quinn voltou. Reed Tenyson o levou ao palácio acorrentado. Algo que Cole ainda não perdoou Reed.

Reed. Helena apertou a mandíbula. Ele tem sido a fonte de muitos dos problemas deles. No entanto... os rebeldes disseram que ele era confiável.

—Depois disso, a mente de Cole caiu ainda mais na escuridão, culpando seu próprio povo pelo fato de você estar morta e não estar voltando. Ele mandou seus guardas virar a cidade em busca de Kassander, embora soubesse que devia ter saído. Os navios não eram mais permitidos entrar ou sair do porto com medo de que ele perdesse outro irmão. Tudo o que ele fez foi manter uma família ao seu redor.

Helena estremeceu e Camille a ajudou a se levantar, enrolando uma toalha em volta do corpo.

Cole sempre se apegou a Helena e Quinn como se o abandonassem um dia. Como se eles morressem como a mãe dele. Ele nunca teve carinho por Stev, mas parecia que tinha mudado.

—Mas então... Por que ele mataria meu pai se ele era tão familiar?

Camille sentou Helena em uma cadeira de encosto alto e passou um pente no cabelo molhado. —Eu não sei, mas...

—Mas o que?

—Não acho que a rebelião tenha sido inteiramente de Cole. Aquele garoto Tenyson é perigoso.

Ela sempre soube que Ian era perigoso. Como dois meninos cresceram juntos e se tornaram tão completamente diferentes? Ian e Dell. Cole e Quinn.

O silêncio desceu quando Camille trançou os cabelos de Helena ao redor da cabeça. Ela mostrou o vestido que Cole havia escolhido para a ocasião. Um simples vestido azul da meia-noite que brilhava nos quadris. A linha do busto caia baixa. Um colar de safira, uma máscara e os sapatos de vidro que ela tanto odiava descansavam ao lado do vestido.

Camille a ajudou a colocá-lo. —Eu devo me arrumar. — Disse ela. —Cole ficará satisfeito com sua aparência. Esta noite é uma grande noite. — Ela deu um último aceno com a cabeça e desapareceu pela porta.

O coração de Helena batia solidamente no peito enquanto ela deitava na cama. O vestido cobria cada hematoma como se alguém os tivesse considerado. A máscara de prata cobriria as marcas em seu rosto, fazendo parecer que nada havia acontecido.

Mas tinha. Nada apagaria as cicatrizes em seu coração ou as imagens em sua mente. O pai dela batendo no chão. O último olhar de medo no rosto de sua mãe. As feridas de Estevan.

Ela veio à procura de vingança, mas agora havia mudado. Somente a vingança a deixaria mais destruída do que era antes.

Ela tinha que proteger sua família. Nada mais importava.

 

Helena sentou-se quando a porta do quarto se abriu e Ian entrou. Ela puxou os joelhos contra o peito, como se isso pudesse protegê-la do brilho duro em seus olhos.

—Eu queria tê-lo sozinha por algum tempo. — Ele sorriu, seus olhos brilhando.

—Deixe-me ou eu vou gritar.

Ian riu. —A única pessoa nesta ala agora, além de você e eu, é seu querido irmão, Estevan, e ele não está em condições de se mexer.

—Por que você está fazendo isso? Não basta roubar meu reino? Minha casa? Meu irmão? O que mais você quer de mim?

—O que eu sempre quis, Helena. — Ele inclinou a cabeça como se fosse óbvio. —Você e eu sempre fomos casados. Eu amo você, Lenny.

Ela balançou a cabeça. —Não me chame assim. Eu nunca serei sua esposa.

—Oh, mas querida, seu pai prometeu você para mim e, em seguida, seu irmão confirmou essa promessa.

Ela rangeu os dentes. —Meu irmão não tem poder sobre mim.

O sorriso dele aumentou. —Gosto das minhas mulheres fortes. Torna muito mais divertido quebrá-las.

Helena escondeu o estremecimento enquanto se levantava.

—Saia do meu quarto.

Os olhos dele se estreitaram em desafio. — Que bom, mas você vem comigo. — Ele se lançou para frente, passando um braço em volta da cintura dela. —Cole me enviou para lhe mostrar uma coisa.

Ela virou a cabeça para longe da respiração rançosa dele. Com uma personalidade diferente, Ian Tenyson teria sido considerado um bom pretendente. Poder, dinheiro, aparência. Ele tinha tudo. No entanto, seu toque fazia sua pele arrepiar.

Ele a puxou para a sala principal da residência e saiu para o corredor. O aperto dele era tão forte que ela não conseguiu se libertar. Segurando a máscara que ele deve ter arrancado, ele apontou para o rosto dela. —Agora.

Ela obedeceu, mas apenas porque não chegaria a lugar algum lutando. Ian a conduziu pelo labirinto de corredores e desceu uma escada antes de parar do lado de fora de uma porta sem adornos. Ele não a soltou quando a abriu.

O coração de Helena caiu em seu estômago. Uma cama estava do outro lado da sala escassa e a forma de um menino dormindo se espalhava sobre ela.

Kassander.

Ela cobriu a boca com a mão.

—Ele será transferido para a residência real quando acordar e for interrogado. — O tom de Ian era presunçoso.

Interrogado. Ela engoliu em seco, sabendo o que aquilo significava. —Que tipo de informação Kass poderia ter?

—Ele foi trazido com um homem reivindicando lealdade ao rei, e o menino é necessário para confirmar as informações que ele nos deu. Não se preocupe, ele está ileso no momento, apenas drogado.

—O que você quer de mim? — Helena sussurrou. —Por que você me trouxe aqui?

—Você pode ajudá-lo.

—Como? — Sua voz era tão pequena que ela tinha certeza de que ele não a ouvira até que ele se virou.

—Diga-me onde estão os túneis.

Os olhos dela se arregalaram. Então, Estevan não contou a eles o maior segredo do palácio? Ela soltou um suspiro trêmulo. Os túneis podem ser sua única saída depois que ela fez o que veio fazer. Isso lhe deu um pequeno conforto que Cole ainda não os havia encontrado. Ainda havia uma informação que ela ainda podia usar.

—Não conheço nenhum túnel. — Ela levantou o queixo, encontrando o olhar dele.

Ele bateu com o punho na parede ao lado da cabeça dela, e ela pulou. —Não minta para mim, Helena.

Ela estreitou os olhos e fechou os lábios.

Ian se abaixou, deslizando uma adaga livre da bainha na cintura.

Eu não vou recuar. Eu não vou recuar. Ele não merece o meu medo.

Ele prosperaria, se deleitaria.

Ele mergulhou a ponta da adaga sob a ponta da máscara e a empurrou para revelar o rosto dela. Arrastando a lâmina ao longo de sua bochecha, ele pressionou a ponta com força suficiente para desenhar uma única gota de sangue.

O peito de Helena subiu e caiu rapidamente quando ele traçou a mandíbula dela com a mão livre, deixando-a vagar pelo pescoço e pela clavícula antes de parar no inchaço dos seios. — Onde estão os túneis, Helena? — Ele sussurrou, aproximando-se.

—Vá para o inferno.

A risada dele vibrou contra a pele dela.

Ela se concentrou na forma adormecida de Kassander por cima do ombro de Ian, rezando silenciosamente para que ele não acordasse. Ela não sabia o que Ian faria com ela.

Aproximando-se para que seu corpo estivesse nivelado com o dela, Ian a empurrou com mais força contra a parede. —Você sempre cheirou tão doce, princesa. — Ele abaixou o rosto e inalou. Mantendo a adaga bem apertada, ele alisou as mãos sobre os lados dela, enviando um arrepio pela espinha.

Náusea surgiu da boca do estômago, mas ela ficou congelada no lugar. Ela preferia que Ian tentasse obter as informações dela do que Kassander.

Lágrimas escorriam pelo rosto dela, mas Ian não pareceu notar quando ele pressionou os lábios no queixo dela. —Onde estão os túneis, Helena?

Ela não falou.

Ian mordeu a pele sensível do pescoço, enviando uma dor aguda por ela. Ela soltou um pequeno gemido, e ele sorriu contra ela, gostando de fazê-la sofrer. —Hoje será o último dia da pequena rebelião. — A mão dele serpenteava até as costas dela. —Eu vou estripar aqueles bastardos. — Seus lábios se moveram para o peito dela, enquanto suas mãos enrolavam seu vestido para deslizar por baixo.

Os dedos pegajosos dele agarraram sua coxa.

—Eu estou esperando por isso há tanto tempo. — Ele a mordeu novamente, e ela segurou um grito.

—Meu irmão vai te matar por isso. — Ela rosnou.

Ian riu. —Cole já disse que você é minha para fazer o que eu quiser.

Ela não disse que ele não era o irmão de quem ela estava falando.

—Mal posso esperar para mostrar minha nova mulher para toda a minha família. — Ele levantou a cabeça para encontrar o olhar dela. —Ouvi dizer que meu meio-irmão voltou para Madra. Acho que ele vai gostar da minha nova noiva, não é?

Dell. Ela fechou os olhos, desejando que as lágrimas fossem embora. Como Ian sabia que ele estava em Madra? Seus olhos encontraram Kassander novamente. O que ele disse? Alguém o trouxe.

Landon. Ela ofegou. Não havia outra explicação. Outro membro de sua família a jurar lealdade a Cole. E ele arrastou Kassander para cá também. Todo o seu corpo tremia quando Ian continuou suas atenções.

—Dell é apenas um garoto, Helena. Diga-me onde estão os túneis e mostrarei tudo o que ele não tem.

Ela empurrou seu peito. —Dell é mais do que você jamais será.

Seus membros se recuperaram do estado de choque congelado, mas a força dele dominou a dela, e a adaga que ele segurava pressionou contra a cavidade de sua garganta.

—Não se mexa. — Ele ordenou.

—Você não pode me matar. — Ela desejou que sua confiança fosse tão forte quanto suas palavras.

—Tão certa disso?

Outra presença apareceu por cima do ombro de Ian, parando na porta com um dedo levantado nos lábios.

Helena quase não conseguia respirar quando uma gota de sangue deslizou por cima do ombro. —Faça. — Ela respirou. — Do que você tem medo, Ian? Cole?

Ian riu. —Cole não me assusta. Você realmente não sabe nada, pequena princesa? Cole foi colocado em seu trono por nós. Eu e-

Suas palavras sumiram quando uma lâmina perfurou as costas de Ian. Ele olhou para baixo em choque, sangue borbulhando de sua boca, antes de tropeçar para trás e cair de lado. O chão acarpetado abafou o som do corpo dele colidindo com ele. A vida carmesim penetrou nas fibras grossas. Helena não conseguiu se mexer. Ela não conseguia desviar o olhar.

Um gemido saiu de sua boca, e então Ian Tenyson estava morto.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade de silêncio, Helena encontrou o olhar perplexo de Reed. Ele se afastou da espada curta que ainda se projetava nas costas de seu irmão. Suas mãos tremiam quando ele as apertou e abriu.

—Eu...— Ele começou, incapaz de expressar o que havia feito.

Helena o observou com cautela, sentindo a dor em seu olhar. Ele sentiu essa dor ao preparar seus homens para atacar Dell? Ou como ele levou Quinn como refém?

—Reed. — Ela levantou a mão para acalmá-lo. —Está bem.

—Eu... Ian. Ele está morto.

As palavras dos rebeldes voltaram para ela. —Você pode confiar em Reed Tenyson. — Ela não sabia se isso era verdade, mas não tinha o luxo de esperar para descobrir. Se ela conseguiria fazer isso, tinha que confiar nele.

—Reed, não podemos ficar aqui.

Ele se sacudiu como se estivesse acordando de um longo sono. —Você está certa. — Seu olhar deslizou sobre o vestido manchado de sangue antes de se estabelecer na forma inquieta de Kassander. —Ele está acordando. Cole me enviou para movê-lo. Você deve mudar. Diga a Cole que houve um rasgo no seu vestido e jogue este na sua lareira. Vou fazer com que meu pessoal venha aqui e limpe... — Seus olhos se fixaram em seu irmão novamente e ele engoliu em seco. —Venha.

Reed foi para a cama e levantou Kassander. —O rei estava esperando até que pudéssemos reunir informações do garoto, mas ficamos sem tempo. Ele gostaria que toda a sua família estivesse ao seu lado dentro de uma hora.

Helena o seguiu até o corredor, consciente do sangue no peito e no vestido. Seu cabelo cuidadosamente trançado agora estava torto. Mas nada disso importava. Ian Tenyson estava morto. O braço direito de Cole. O que ele faria?

Ela não conseguiu se preocupar com as consequências, pois ainda sentia o toque de Ian deslizando pela pele como uma cobra envolvendo seus membros, pronta para lhe tirar a vida.

O homem que passou a vida atormentando Dell se foi.

Ela respirou fundo, caminhando em sintonia com Reed. —Você está bem?

Reed olhou de lado para ela, com um brilho duro nos olhos. —Ian estava chegando. — Sua mandíbula se apertou. —Ele está ameaçando matar nossa mãe por ser uma rebelde suspeita.

—Sua mãe não é leal a Cole?

Reed colocou Kass mais alto em seus braços. —Minha mãe pode ser uma mulher horrível. Mas ela era leal ao rei que lhe dera o poder no conselho do comerciante. Ela não gostou do seu filho pular na estação.

—Lenny. — Kass murmurou quando eles passaram por um bando de criados de olhos arregalados.

—Kass. — Ela pegou a mão dele. —Está bem. Estou aqui. Nós vamos ficar bem.

—Não. Não vamos.

Ela apertou a mão dele enquanto as palavras dele giravam nos recônditos de sua mente, nublando seus pensamentos na escuridão.

Chegaram à residência real e Camille apareceu, mãos nos quadris. —O que aconteceu? — Ela dirigiu a pergunta para Reed.

Reed levou Kass para uma sala vazia. —Ian está morto. — Ele não disse mais nada enquanto desaparecia.

—Não há tempo para explicar. — Helena parou na frente de Camille. —Eu preciso de outro vestido.

Uma vez que Helena tomou banho e se vestiu mais uma vez, Reed se juntou a ela no sofá. —Esta noite é a primeira aparição pública de Cole. Você ficará ao meu lado o tempo todo. Eu não vou deixar nada acontecer com você, ok?

—Por que algo aconteceria comigo?

Ele hesitou por um momento antes de abaixar a voz. —Haverá um ataque rebelde. No caos, teremos nossa melhor chance de derrubar Cole para sempre. — Ele enfiou um punhal minúsculo na palma da mão. —Disseram que você sabe como usar isso.

Ela rapidamente deslizou a lâmina na frente do vestido, olhando os criados que passavam. —Eu posso fazer isso.

Ele assentiu. —Eu sei. — Considerando-a por um momento, ele falou novamente. —Isso não será fácil. As coisas que você verá esta noite...

—O que eu vou ver?

—Cole tem um plano para mostrar às pessoas que detêm o poder em Madra. Era o plano de Ian. Apenas... fique em missão. Lembre-se do que você tem que fazer.

Ela assentiu. —Eu posso fazer isso. — Ela simplesmente não sabia o quão difícil seria.

 

 

 


Capitulo Vinte e Quatro


Lady Tenyson recebeu notícias de dentro do palácio. Catsja se aproximou de Edmund do outro lado do celeiro.

Dell havia visto muitos rebeldes irem e virem a noite toda. Algo grande estava acontecendo e eles não davam nenhuma informação.

Edmund sentou-se onde estava deitado. Ele tirou o cabelo dos olhos. —É o que estamos esperando?

Catsja hesitou. —Edmund...— Ela suspirou. —Não é de Helena.

Dell recostou-se na parede, seu corpo inteiro esvaziando. Ele examinou os estábulos. Beliches estavam colocadas em uma extremidade, com uma mesa no centro. Neles, homens e mulheres pegavam o pouco que dormiam. Uma pesada fechadura de ferro estava pendurada na porta, mantendo as pessoas entrando e saindo. Os rebeldes não confiavam em ninguém.

Debaixo de Dell, o chão de terra batida criava uma cama ruim. A luz da manhã passava pelas bordas das cobertas de janelas escuras enquanto Dell avaliava cada dor em seu corpo. Houve pouco tempo apenas para considerar o que eles tentaram fazer.

Remover um rei do trono não seria fácil.

Edmund demorou-se a levantar-se. Ele estendeu a mão para a mensagem que Catsja carregava. Ela entregou a ele e seus olhos examinaram as palavras enquanto ele caminhava para a mesa, onde uma bandeja de jarros de água, copos e comida simples estava.

Depois de alguns momentos de tenso silêncio, Edmund assustou a todos, batendo o papel na mesa. O estalo da palma da mão contra a madeira ecoou nas paredes de pedra.

Orlo apareceu de uma sala adjacente com os outros a seguir. Todos eles ouviram a comoção, mas ninguém se atreveu a se aproximar de Edmund.

Exceto Dell. Ele se levantou e ficou ao lado de seu amigo. Edmund empurrou o papel para Dell.

O rei convidou cidadãos selecionados ao palácio para assistir a uma manifestação.

Hoje. Quando o sol estiver alto. Essa é a nossa chance.

Use os túneis para obter acesso ao palácio.

Dell parou de ler. —Túneis?

Edmund fechou os olhos. —Eles começam de um dos quartos na ala oeste e saem para a cidade.

—Isso é apenas um boato. — Catsja cruzou os braços sobre o peito.

Edmund balançou a cabeça. —Eu sei onde eles estão. — Ele coçou a parte de trás do pescoço. —Helena deve confiar nele se ela lhe mostrou a localização.

Dell estava prestes a perguntar em quem Helena confiava quando seus olhos examinaram o resto da mensagem.

O rei não permitirá que Helena, Estevan e Kassander deixem este palácio vivos. Você deve vir atrás deles.

R.

—R?

—Reed.

—Eu tenho lhe dito que ele é um de nós. — Catsja considerou Dell friamente.

Sua mandíbula se apertou. Reed não era Ian, mas isso significava que ele era confiável? Provavelmente não.

—O que ele quer dizer com o rei não deixá-los sair vivos? — Ele devolveu a nota a Edmund.

Edmund leu as palavras novamente. —Juro que não achei que ele faria isso. — Ele ergueu os olhos torturados. —Eu nunca a teria deixado ir se achasse que Cole a machucaria. Agora ele tem os três.

—Machucar? Nós nem sabemos o que as palavras de Reed significam! — Dell procurou freneticamente qualquer significado que tivesse Helena voltando para ele.

Orlo grunhiu. —Claro que nós sabemos. O rei terminará com sua família para consolidar seu governo. — Seus olhos se voltaram para Dell. —Ele vai matar os príncipes e a princesa.

Dell se afastou da mesa, virando-se apenas para encontrar Edmund atrás dele. —Saia do meu caminho.

—Não podemos desmoronar agora, Dell. Quero-os de volta tanto quanto você.

—Você leu a nota. Ele vai matá-los.

—Não se o pararmos. — Ele se virou para os outros rebeldes que o observavam. —Prepare-se para sair. — Para Catsja, ele deu ordens diferentes. —Vá para nossas outras casas seguras. Avise nossos irmãos e irmãs rebeldes do que planejamos. Certifique-se de que haja uma presença rebelde nessa manifestação, caso nosso plano dê errado.

—E qual é o seu plano?

Dell finalmente entendeu. Era isso que eles estavam esperando. Ele não esperou que Edmund respondesse. —Nós vamos tomar o palácio.

 

—Nossas informações dizem que o palácio estará quase vazio, pois todos são obrigados a participar da manifestação do rei. — A voz de Edmund ecoou ao longo do túnel escuro.

Dell passou a mão pela parede. Então, era assim que Helena saia do palácio vestida como um menino. Seus pés bateram em uma poça no chão de pedra quando ele imaginou a princesa rastejando na escuridão. Ela estava assustada?

Se não fosse por esse túnel, ele talvez nunca a tivesse conhecido.

Alguém bateu nele por trás, fazendo-o voar para a frente. Seus joelhos bateram em pedra e a dor irradiou por suas coxas.

—Desculpe. — Orlo resmungou.

Dell resmungou e se levantou.

—Shhh. — Edmund levantou a mão para eles pararem.

Rebeldes lotaram o longo túnel, seus passos o único som quebrando o silêncio. Edmund liderou o caminho com Alex logo atrás dele. Etta e Tyson estariam com os rebeldes assistindo a demonstração do rei. Dell desejava estar com eles, mas confiava neles para ficar de olho em Helena. Ele tinha coisas maiores para fazer.

—Há uma porta à frente. — Sussurrou Edmund.

Quando se aproximaram, a magia de Edmund os encobriu em silêncio. Ninguém do outro lado da porta saberia o que os esperava.

Eles pararam de se mover e o pulso de Dell palpitava em suas têmporas. Esperar nunca tinha sido sua força. Em uma luta, ele era um atacante. Rapidez e agilidade ganharam muitas lutas de boxe. Na sua experiência, a hesitação permitia ao oponente atacar.

E sem os números, a vantagem dos rebeldes estava em dar o primeiro passo.

Edmund passou as mãos pela porta.

—A nota dizia como abri-la? — Alex perguntou.

Edmund balançou a cabeça. —Helena também nunca mencionou. Mas... — Sua mão pegou algo, e um pedaço da porta se libertou, revelando uma trava escondida.

Dell exalou aliviado.

Edmund virou-se para enfrentar os rebeldes que aguardavam suas ordens. —Entramos em silêncio e avaliamos nossa localização dentro do palácio. Então nos mudamos para nossas posições e aguardamos o início da manifestação para atacar.

Dell assentiu junto com o resto. No final desta noite, ele teria Helena de volta.

Edmund abriu a porta, levando-os para o que parecia um quarto não utilizado. Móveis cobertos de linho branco estavam no centro da sala. Perto da parede, um padrão vermelho se estendia pelo tapete, como se ninguém tivesse se dado ao trabalho de limpá-lo. O que aconteceu nesta sala?

Edmund fechou a porta depois que a última pessoa entrou e, se Dell não soubesse que estava ali, nunca teria visto. Uma pintura agora substituía a entrada do túnel.

Edmund examinou a parede. —Como eu não sabia que isso estava aqui?

Dell encolheu os ombros. —Sendo que o plano inteiro repousa sobre o rei que cresceu aqui sem saber, eu não me sentiria muito menosprezado. — Ele olhou para cada um dos rebeldes enquanto eles tomavam posições ao longo das paredes. O aço soou quando as lâminas deslizaram livres de seus aprisionamentos. Dell puxou a sua e se posicionou perto da porta em frente a Alex.

Edmund encostou o ouvido na porta e uma rajada de vento os atingiu quando ele puxou todos os sons em direção àquela sala. A concentração forçou seu rosto.

Seus olhos se arregalaram depois de um momento e ele se afastou. —Dentro do túnel. Agora!

Ninguém se moveu antes que a porta se abrisse, disparando pelas dobradiças quando um pesado aríete bateu nela.

Lascas rasgaram o ar, e Dell protegeu a cabeça e o pescoço. Quando ele se endireitou novamente, ficou cara a cara com um homem que ele conhecia em seu intestino em que não podia confiar.

Um dos rebeldes.

Reed.

Ele sorriu. —Olá irmão.

Dell segurou a espada com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Um golpe de espada e ele tiraria a vida de seu irmão. Um pequeno movimento e ele poderia compensar os anos de tormento. Ele olhou para trás de Reed, esperando ver Ian ao seu lado, como sempre.

Como se estivesse lendo sua mente, Reed riu. —Nosso irmão mais velho estava tocando em algo que não lhe pertencia, por isso tenho medo de que ele não esteja mais conosco.

Ian estava morto? As palavras passaram pela mente de Dell, mas ele não conseguiu compreender. Ian não poderia estar morto. Ele estava por trás de tudo. O diabo movendo sua marionete de rei.

Mas Ian nunca foi o esperto. Reed parecia incapaz do mal, e essa era possivelmente a coisa mais genial de todas.

—Você. — Dell respirou. —Foi tudo você.

Reed fez um gesto para seus homens no corredor, e soldados uniformizados invadiram a sala.

Edmund acenou com a mão no ar como se dissesse que a briga acabou. Estava na hora de desistir. Mas os rebeldes não desistiram.

Reed pegou a espada de Dell e ele sabia que lutar com ele seria uma morte instantânea. Ele não seria bom para Helena após a morte.

Um sorriso satisfeito cruzou os lábios de Reed. —Nós superamos vocês, rebeldes. — Ele cuspiu o termo. —Vocês são traidores da coroa de Madra e estão presos.

Os guardas desarmaram todos os rebeldes na sala antes de empurrá-los para o corredor. Edmund ficou quieto.

—Eu deveria ter esperado outra traição sua, Reed. — Dell ainda não conseguia entender o fato de que esse era o irmão capaz de tanto mal. Como ele não viu isso acontecer? De Ian, sim. Nunca Reed.

Mas esse era o brilhantismo plano de Reed, não era? O irmão dele não respondeu com nada além de um sorriso satisfeito. Ele pensou que havia derrotado Dell. O que ele não entenderia era que Dell nunca pararia de lutar enquanto Helena estivesse naquele palácio.

Ele encontrou os olhos de Edmund, sabendo que pelo menos uma outra pessoa faria o que precisava ser feito. Ele não estava sozinho em amar um irmão Rhodipus.

Alex caminhou ao lado dele, não reconhecido por Reed. O que ele faria se soubesse que acabara de prender o rei de Bela? Ou que a mítica Persinette Basile os esperava?

Um sorriso curvou os lábios de Dell. Reed não conhecia os problemas que convidou para si mesmo. Dell só precisava permanecer vivo por tempo suficiente para ver a retribuição.

 

 

 


Capitulo Vinte e Cinco


O som repugnante de uma lâmina batendo na carne subiu acima do barulho da multidão que foi forçada a assistir à demonstração do rei.

Era assim que Cole queria solidificar seu poder. Medo. Brutalidade.

A multidão havia murmurado em confusão quando a família real marchou lado a lado. Helena e Estevan deveriam estar mortos.

Essa confusão rapidamente se transformou em horror quando o plano do rei ficou claro.

Cole queria colocar Estevan de joelhos.

Helena se encolheu, mas se recusou a desviar o olhar quando uma nova faixa de vermelho marcou as costas nuas de Stev. Dois guardas rasgaram a camisa do corpo.

Helena olhou por cima do ombro, procurando alguém para trazer Kassander adiante. Reed disse que o traria assim que o garoto acordasse, mas Helena estava começando a se perguntar se Cole sabia da presença do irmão mais novo. Ele não fez menção a isso. Ian pretendia manter Kassander em cativeiro para ganhar vantagem contra Cole?

Não pela primeira vez, Helena mandou agradecimentos silenciosos a Reed. Ela sabia o que teria acontecido se ele não estivesse preparado. Ela não queria confiar no homem, mas ele provou ter seus melhores interesses no coração.

Onde estavam os rebeldes? Reed enviou uma mensagem sobre os túneis e Helena esperava que invadissem o pátio de dentro do palácio.

Havia uma plataforma na base dos degraus que levavam às portas do castelo, erguidas para esse fim. O pátio que abria a distância do palácio até os portões era vasto e cheio de tantas pessoas que eles mal conseguiam se mover.

Cada vez que um suspiro horrorizado se levantava da multidão, Cole voltava os olhos ardentes para eles, e eles se aquietavam. Era isso que ele queria. Horror. Dor. É o que ele achava que Estevan merecia.

Era melhor do que as mortes que ele havia dado aos pais.

O rosto de Stev tenso com suas tentativas de não gritar. Ele não daria a Cole essa satisfação.

Um arrepio atingiu o corpo de Helena e ela abraçou os braços.

Uma presença apareceu ao lado dela, e ela olhou de soslaio para Reed.

—Eu vou parar com isso. — Reed se adiantou.

Helena agarrou o braço dele. Não. Ela fixou os olhos no rosto de Estevan. Se Cole não completasse o que achava necessário, apenas o faria novamente. Isso nunca acabaria.

—Helena, isso não está certo. Cole está fora de controle. Não podemos mais esperar que os rebeldes cheguem.

Ela levantou a mão e sentiu o peso sólido do punhal que deslizou em seu corpete. Mesmo enquanto observava o chicote atravessar o ar antes de se conectar, ela não sabia se poderia matar o irmão. Era tão fácil pensar em vingança pela segurança de Bela. Agora, o pensamento do que ela deveria fazer quebrou algo dentro dela.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas nos olhos.

—Lenny. — Disse uma voz suave atrás dela. Quinn estava com uma expressão de desespero nos olhos. Ele desviou o olhar para Reed, desconfiado nas íris escuras, antes de voltar para ela.

—Quinn. — Um soluço escapou de sua garganta, mas ele não se mexeu para tocá-la. Não na frente do resto da guarda. Ele teve que permanecer frio. Leal a seu irmão gêmeo.

—Você não deveria assistir.

—Eu preciso. — Ela fungou. — Por Stev. Por mim. Eu preciso ver tudo o que Cole faz. Ele tem que ser o monstro, senão...

—Eu sei. — Ele se inclinou, abaixando a voz para que apenas ela pudesse ouvir. —Houve uma prisão em massa dentro do palácio.

Ela respirou fundo. Dell. Edmund. Todo o seu plano estava nos rebeldes que estavam lá. Mas como eles foram encontrados?

Antes que ela pudesse perguntar a Quinn, ele voltou a ficar em atenção com o resto da guarda. Camille assistia por perto, um guarda de cada lado dela. O rosto dela não demonstrava emoção.

Os rebeldes haviam entrado pelos túneis. Eles deveriam ter conseguido entrar no palácio sem serem vistos e se espalhar, derretendo entre os funcionários. Edmund conhecia o palácio tão bem quanto qualquer um.

O plano deles deveria ser imparável.

Como foi parado?

Seu coração afundou quando a realização penetrou nela. Eles falharam. Ela nunca tiraria seus irmãos do palácio agora. A menos que... Ela tocou o aço frio da lâmina e fixou os olhos em Cole.

Quanto tempo ela teria? O olhar dela foi para os guardas. Ela só teria uma chance. Se ela errasse... mas Helena nunca errou.

Uma cabeça loira apareceu no meio da multidão como se o rosto da rainha belaena chamasse Helena. Etta? O que ela estava fazendo lá?

Ao seu lado, Tyson se levantou, absorvendo todos os movimentos. Ele estava pronto.

Eles vieram de Bela para ajudá-la, mas e se tudo tivesse sido por nada? Assim que a adaga deixasse sua mão, ela seria cercada por guardas que não hesitariam em matá-la.

Um estrondo alto ecoou. Sangue derramou pelas costas de Estevan, manchando o chão a seus pés. As cordas ao redor de seus pulsos o seguravam no lugar. Ainda assim, ele não gritou.

Cole puxou o braço para trás, uma expressão sombria no rosto. Ele parecia como se suas ações o machucassem tanto quanto machucaram Stev.

O pensamento enviou um raio de raiva através de Helena.

Quando o primeiro grito de Stev rasgou o ar, rasgou Helena, deixando-a de joelhos enquanto lágrimas escorriam pelo rosto.

 

Reed desapareceu assim que alinharam os rebeldes contra a parede, com os pulsos amarrados. Uma unidade inteira de guardas os observava, armas prontas.

Dell olhou para a ponta da espada apontada para o rosto dele.

—Você realmente sente a necessidade de estar tão perto, companheiro? Não acha que você poderia nos pegar com um pouco mais de espaço? — Ele sorriu. —Entendi, você é lento.

Em resposta, o guarda colocou um pé e bateu o outro no peito de Dell.

Dell soltou um grunhido de dor. —Isso vai machucar.

—Dell. — Edmund assobiou. —Cale a boca por um segundo. Estou tentando me concentrar. — Sua sobrancelha enrugou com o esforço.

Alex encontrou o olhar confuso de Dell e expressou a palavra “mágica”. Para alguém que não tinha crescido em torno do poder, isso não parecia uma possibilidade, mas agora Dell entendia. Assim como ele fez quando eles saíram do túnel, Edmund estava usando o movimento do ar para puxar o som na direção deles.

Seus olhos se arregalaram e ele balançou a cabeça.

—Edmund. — Alex cutucou-o. —O que é isso? O que você ouviu?

Ele engoliu em seco. —Estevan... a demonstração. Cole está mostrando as pessoas que controlam a cidade, enfraquecendo Stev. Ele está... —Ele balançou a cabeça novamente, incapaz de continuar.

—Você ouviu Reed? — Dell se inclinou para a frente, tomando cuidado para evitar a lâmina do guarda.

—Ele chegou ao pátio.

—Oi. — Um dos guardas gritou. Ele deveria estar no comando. —Sem falar, seus bastardos rebeldes sujos.

O rosto de Edmund ficou vermelho até que ele parecia explodir. Alex tentou colocar a mão em seu braço para acalmá-lo, mas seus pulsos amarrados impediram o gesto.

—Edmund. — Dell sussurrou. —Você está bem?

Dell quase se esqueceu da presença de Orlo até ele falar. —Não seja idiota, Tenyson. Nenhum de nós está bem. Somos prisioneiros porque seu irmão... —Ele não terminou sua sentença quando um guarda o chutou.

Orlo agarrou o pé do guarda no ar e puxou com sua força bruta. O guarda desmoronou para frente e tentou erguer a espada para se defender de Orlo, mas o grandalhão a derrubou e esmurrou o guarda antes que qualquer um dos outros pudesse detê-lo.

O capitão gritou para seus homens se moverem, mas quando se lançaram sobre Orlo, uma explosão de poder irrompeu de Edmund, lançando-os contra a parede oposta. Um túnel de ar os mantinha congelados no lugar.

—Pegue a espada dele, Orlo! — Dell gritou.

Orlo segurou a lâmina entre os joelhos e cortou a corda que amarrava os pulsos antes de passar para ajudar Dell.

O poder de Edmund se manteve firme quando eles libertaram os outros rebeldes. Dell cortou as cordas do homem mágico.

—Vá. — Ordenou Edmund, apontando a cabeça em direção ao corredor.

—Você não vem?

—Eu tenho que mantê-los aqui até que minha mágica falhe. — Ele olhou para Dell. —Stev e Helena precisam de você.

Dell não hesitou mais. Ele saiu correndo pelo corredor, passando por criados atordoados. Nenhum deles se moveu para parar os rebeldes trovejantes. Dell nunca pensou que seria um conforto ter Orlo ao lado dele, mas confiava na capacidade de luta do homem.

—Edmund vai ficar bem. — Alex estava falando mais consigo mesmo do que qualquer outra pessoa.

Orlo grunhiu. Dell manteve sua mente focada no que estava à sua frente. Ele tinha que confiar em Edmund para se cuidar.

—Deixe-me ir. — Um grito ecoou do corredor que levava em direção à entrada aberta. —Por favor.

O coração de Dell se apertou quando ele girou nos calcanhares, procurando freneticamente a fonte. A última vez que viu Kassander, ele foi embora com Landon, um homem em quem eles confiavam.

Landon apareceu, arrastando o garoto atrás dele. Eles chegaram à porta antes que Dell pudesse forçar seus pés a se moverem. Eles entraram no pátio com colunas.

Dell foi atrás deles. Os degraus que levavam aos portões estavam cheios de pessoas. Um grito rasgou o ar, e Dell rasgou a multidão, sua espada ainda embainhada. Ali, na base dos degraus, estava Estevan Rhodipus. O homem que uma vez intimidou Dell com um único olhar. Naquele dia, a loja de Mari parecia tão distante agora, como sangue derramado nas costas do príncipe.

Uma fila de guardas murmurou entre si, apontando para onde Dell estava com Alex e Orlo nas costas. Quatro deles se separaram, liderados pelo próprio Quinn Rhodipus.

O olhar de Dell saltou ao redor da cena enquanto seu pulso acelerava. Ele torceu as palmas das mãos suadas ao redor do punho da espada. Ninguém jamais apostaria nele em uma luta de espadas.

—Espero que você saiba como usar essa coisa. — Disse ele a Alex.

Alex fez uma careta. —Temos que sair daqui.

Dell balançou a cabeça, seu olhar retornando a Estevan. Edmund sobreviveria a perdê-lo novamente?

A comoção por perto chamou sua atenção quando uma garota mascarada caiu de joelhos. Uma mistura de emoções girou no peito da Dell. Exaltação por vê-la viva. Alívio, ela parecia ilesa. Angústia pela visão que ela foi forçada a testemunhar.

Ele queria ir com ela. Para protegê-la da crueldade de Cole. Mas ela provou não precisar de um escudo, apenas um punhal nas mãos. Ele viu o brilho do metal deslizar da manga dela e desviou os olhos para Cole.

Alex o puxou de volta da cena, sacudindo a cabeça na direção dos guardas que chegavam. Quinn disse que estava do lado deles, mas seu rosto era o do rei, e dizia para ele fugir.

Antes que ele tivesse uma chance, um suspiro se levantou da multidão e o sangue foi drenado do rosto de Dell.

O que Helena fez?


Capitulo Vinte e Seis


Quando perguntada sobre esse dia, Helena não se lembraria dos pensamentos que passavam por sua mente. Ela não se lembraria do que a levou a mudar de direção ou como se seguiu o caos.

Tudo o que sabia era que um irmão se tornara um espetáculo para manter as pessoas na linha e outro empunhava o chicote, a força sanguessuga da pessoa mais forte que ela conhecia, um chicote de cada vez.

O único grito de Estevan ecoou nos recônditos de sua mente, quebrando cada parte dela em que tocava. Mas esse era o problema do vidro. Era mais perigoso quebrado do que inteiro. Mais nítido. Mais mortal.

Um movimento chamou sua atenção de onde ela ainda estava ajoelhada nos degraus. Kassander apareceu, seus olhos encontrando os dela antes de se fixar em Estevan. Mas ele não chorou.

Ele não fez barulho quando Landon o empurrou para frente. Sua expressão não mudou quando Reed puxou seu braço para puxá-lo para o lado.

Fogo queimou em Helena. Ela desviou o olhar de Kassander, prisioneiro, para Quinn enquanto ele se separava da guarda. Eles pousaram em Cole, de pé sobre Estevan, seu peito subindo e descendo rapidamente enquanto ele ofegava com o esforço. Stev ficou quieto.

A fúria que ela sentia desde o dia em que Cole traiu a família permaneceu como uma linha de poder explosivo, esperando que alguém a incendiasse. Explodiu através dela, sem controle, fora de controle.

Ela soltou a adaga, sabendo que só teria uma chance de atingir seu alvo. O homem que esteve por trás de toda a dor dela.

Ele pensou que quebraria uma princesa, quebraria um reino e evitaria os cacos de chuva.

Ele estava errado.

Helena fechou os olhos por um momento. Inspire. Expire. Ela acalmou o ritmo cardíaco, encontrando um lugar de paz para se concentrar.

Sua mãe a ensinou a nunca esperar precisão enquanto as emoções conduziam suas ações.

E eles mataram sua mãe porque os homens queriam se elevar acima de suas estações. Compreender até os limites do poder que eles não entendiam e não mereciam.

O poder mantido em crueldade era apenas uma fraqueza disfarçada.

Quando seus olhos se abriram, ela levantou o rosto para o sol quente, deixando o som do chicote de Cole desaparecer de sua mente.

Com um último suspiro, ela se levantou com a agilidade dos maiores boxeadores de Madra, girando nos calcanhares e estalando o pulso quando seus dedos soltaram a lâmina. Ela não assistiu enquanto navegava de ponta. Fechando os olhos mais uma vez, ela não os abriu até que um grito percorreu as fileiras de guardas enquanto eles lutavam para pegar um superior caído.

Sua adaga havia encontrado o alvo pretendido.

Ela se virou, fixando os olhos no irmão que estava congelado, chicote no ar.

Alguém bateu em Helena, enviando-a rolando escada abaixo enquanto uma flecha navegava pelo espaço em que ela estava de pé.

Ela empurrou o homem em cima dela. Se eles quisessem prendê-la, ela não iria sem luta.

—Len, pare.

Ela parou as mãos, enfocando finalmente o rosto do homem.

—Dell. — Ela respirou o nome dele e tudo, desde os últimos momentos, atingiu sua força total. Um soluço rasgou seus lábios. —Eu matei seu irmão.

Dell rolou e a puxou para ficar de pé para evitar ser pisoteada. Uma onda de água, puxada do rio, quebrou a multidão, e os gritos se intensificaram.

Tyson estava lá.

A respiração dela veio rapidamente até que parecia que não havia ar no peito. Ela ofegou, tentando sugar oxigênio ao ver o que tinha feito. Kassander estava preso sob a forma imóvel de Reed. A adaga que Reed lhe dera agora se projetava do peito de seu dono.

Sangue escorria através de seu casaco.

Olhando para a multidão, ela notou que Cole havia desaparecido.

Os combates começaram perto dos portões.

—Os rebeldes estão aqui. — Disse Dell em seu ouvido.

Ela mal o ouviu enquanto corria para onde Alex libertou Kassander. O irmão dela chorou quando a viu.

Ela o apertou contra o peito. —Fique comigo, Kass. — Ela procurou a multidão. —Eu preciso de uma arma.

Alex se inclinou, puxando a espada de Reed da bainha na cintura, entregando-a a ela. Ela não parou para agradecê-lo enquanto empurrava a multidão, descendo as escadas para onde Estevan lutava contra os laços que prendiam seus pulsos e tornozelos.

Ela ficou tão aliviada ao vê-lo se mover, que quase jogou os braços em volta dele. Quando ele gritou e ficou parado, ela pensou que morreria junto com ele.

Ao toque dela, ele se encolheu. —Stev, sou eu.

O corpo dele relaxou. —Len.

—Sim, é Len. Vou tirar você daqui. —Ela olhou rapidamente por cima do ombro para onde uma fila de guardas se aproximava, armas prontas.

—Precisamos levar o prisioneiro de volta ao palácio para sua própria segurança. — Disse um deles.

Helena sabia o que eles queriam dizer. Eles tinham que garantir que ele não escapasse.

Ela abriu a boca para falar, sabendo que Dell e Alex não seriam páreo para todos eles.

Mas outra voz interrompeu. —Não podemos deixar você fazer isso.— Quinn entrou na frente de Helena.

—Senhor. — O guarda encarregado estreitou os olhos. —As ordens do rei...

—Cole Rhodipus não é o rei de Madra; — Disse Helena, com a voz alta e clara. —Ele é um usurpador que assassinou seu próprio pai por poder. Reed e Ian Tenyson eram seus mestres de marionetes, colocando ideias em sua mente. Quantos de vocês viram a fome nas ruas quando o chamado rei cortou todo o comércio exterior? Quantos membros da família foram presos por serem suspeitos de serem rebeldes quando não eram nada disso? Cole pediu para vocês deixarem para trás tudo o que vocês acreditam? — Ela fez uma pausa, examinando sua audiência. Ninguém se moveu para detê-la.

—A tradição sempre foi importante para Madra, mas foi manejada como uma arma por nossos reis. — Ela ergueu a mão na parte de trás da cabeça, desatando a máscara e deixando-a deslizar para os paralelepípedos abaixo dela. —Isso não significa que não deve ser nada para nós. Esquecemos o que torna Madra boa? O que sempre fez Madra ser boa?

Ela balançou a cabeça. —Não esqueci porque sinto. E vocês também. Nós deveríamos cuidar um do outro. Para cuidar de quem precisa de nossa ajuda, sejam eles madranos ou não. Para proteger nossas terras dos atos de quem faria o mal. — Ela apontou para Estevan. —Isso não é mau? É isso que Madra representa?

Helena enfiou a espada sob a ponta de uma das amarras de Stev. Para sua surpresa, dois dos guardas se moveram para cortar os outros laços. O resto da unidade, junto com um grupo de cidadãos madranos que a ouviu cada palavra se afastar dela, permanecendo como guardas contra qualquer um que levasse Stev de novo.

Quinn cortou a corda final e um gemido borbulhou na garganta de Stev.

Helena examinou as feridas abertas nas costas dele. Reed pode estar por trás do desejo de Cole por poder, mas Cole não era inocente em nada disso. Ele escolheu isso.

E agora ele tinha que pagar.

Ela levantou os olhos para Dell e Quinn. —Encontre o homem que roubou o trono do meu irmão.

 

Quinn insistiu em ser um dos homens para ajudar Stev. Cuidadoso para evitar os cortes nas costas, ele ajudou Dell a levantar Stev, passando um braço sobre cada um dos ombros. Helena estremeceu quando viu o rosto pálido dele.

Sons de batalha circulavam ao redor deles, mas os guardas que viraram para o lado deles criaram uma barreira ao subirem os degraus.

Os rebeldes lutaram contra o povo de Cole enquanto cidadãos comuns lutavam pelos portões fechados, se reunindo contra eles.

Alex seguiu o olhar de Helena. —Alguém precisa abrir aqueles portões antes que os que não desejam lutar se percam. — Seus olhos brilharam quando avistou a mulher que Helena agora via.

Persinette Basile, rainha de Bela, lutava contra dois homens ao mesmo tempo, como se fosse o que ela deveria fazer. Helena a vira em treinamento, mas não era nada disso. As histórias sobre ela se tornaram mais reais. Talvez ela fosse tão forte quanto a figura mítica que eles ouviram nas músicas dos menestréis.

Como se sentisse o olhar do marido, ela olhou para cima, com o rosto iluminado. Sem quebrar o olhar, ela bateu o joelho em um guarda enquanto cortava a espada na parte de trás das pernas do outro. Os dois caíram.

—O portão! — Gritou Alex, apontando para a guarita agora não tripulada.

Esquivando-se de outros pares de luta, Etta levantou os braços sobre a cabeça. Videiras verdes brilhantes disparavam pelos portões do chão. Pedras se desfizeram, fazendo com que os escombros caíssem. Ela puxou as mãos para trás e as videiras se apertaram.

As peças que Cole reparou após as explosões da primeira rebelião não tiveram tempo de se fortalecer. Elas foram as primeiras a cair. Tyson se aproximou de Etta, usando a força de sua magia para puxar a água do chão e impedir que as rochas esmagassem a multidão abaixo.

O queixo de Helena se abriu quando ele parou, e um mar de pedras agora estava onde os portões estavam. Dell foi o primeira a falar. —Ela não poderia simplesmente abrir caminho até a portaria e abri-lo?

Alex riu, um som tão estranho naquele momento. —Isso teria sido mais fácil. — Ele esfregou o rosto. —Vivendo entre o povo mágico, aprendi que eles pensam com seu poder antes de qualquer outra coisa. Acredite ou não, essa é a terceira vez que Etta destrói os portões de um castelo.

Helena balançou a cabeça enquanto se afastava da multidão que empurrava o que agora era um buraco na parede ao redor do palácio. —Vamos.

Ela subiu os degraus dois de cada vez, sabendo que os outros o alcançariam. Alex continuou com ela junto com outro homem rebelde que ela não conhecia.

A luta ainda não havia atingido o interior do palácio e o silêncio bateu neles. Todo guarda que estava de serviço estava fora do meio da batalha. Guardas. Rebeldes. Cada um deles pensou que estava lutando pela alma do reino.

Helena estava lutando por sua família.

Alex olhou para o corredor. —Precisamos chegar a Edmund. — Algo semelhante ao medo passou por seu rosto.

Helena não perguntou por que Edmund não compareceu à manifestação. Apenas algo de extrema importância o teria afastado de Stev.

Ela seguiu Alex até ouvirem o estrondo de aço contra aço.

Guardas inconscientes espalhados pelo corredor e à frente, duas figuras lutavam. Um deles não parecia páreo para o outro.

—Ele está exausto. — Alex respirou. —Ele usou muita mágica.

Ela olhou para os guardas ainda de novo. Edmund tinha feito tudo isso?

Alex saiu correndo e Helena não estava muito atrás. Cole prendeu Edmund contra a parede enquanto Edmund lutava contra seus ataques.

—Você não pertence a este lugar. — Rosnou Cole.

Edmund ergueu o queixo em desafio. Cabelos loiros grudavam na testa e nas bochechas, grudentas de suor. Os olhos dele brilharam.

—Você não os merece.

Cole afastou a espada de Edmund e caiu no chão. Ele se inclinou para frente. —Eu mereço tudo o que tomo.

Helena ainda estava longe demais para detê-lo quando Cole levantou a espada.

—Ele é fraco demais para usar sua mágica. — Alex ganhou velocidade, mas ambos sabiam que ele não conseguiria.

O sangue bombeava por suas veias, e era como se ela pudesse sentir cada pedaço drenar de seu corpo. Não Edmund. Ele era bom demais. Muito leal. Muito bondoso. Cole não poderia levá-lo. Não como se ele pegasse todo o resto. Lágrimas queimaram seus olhos, mas ela não parou de se mover.

—Cole! — Uma voz gritou atrás dela. —Cole, não!

Helena virou tão rápido que quase caiu. Kassander a seguiu para dentro.

Cole congelou, finalmente vendo todos eles. Aquele momento único era tudo o que Alex precisava para alcançá-los. Ele abaixou o ombro, batendo em Cole e enviando os dois ao chão. Ele agarrou o pulso de Cole e bateu contra o chão de pedra até que a espada caiu de suas mãos.

Edmund caiu contra a parede, ofegando por ar.

Kassander passou por Helena.

Alex apertou os braços de Cole. Ele poderia não ter vencido em uma luta de espadas, mas sua força dominou a do falso rei. Helena parou ao lado de Edmund, olhando nos olhos dele. —Você está bem?

Ele assentiu sem palavras, inclinando-se para colocar as mãos nos joelhos.

Cole deu um tapa em Alex na virilha e empurrou-o antes de se lançar para a espada. Ele ficou de pé, encarando todos eles.

Kass ergueu o rosto manchado de lágrimas para o irmão.

—Você não precisa fazer isso.

O arrependimento brilhou nos olhos de Cole, mas desapareceu tão rapidamente que Helena pensou que tinha imaginado. —Você não me deixou escolha. — Ele se endireitou. —Vocês estão presos por traição contra a coroa.

—Traição. — Helena respirou fundo. — E a sua traição, irmão? E quando você traiu a coroa? Quando você vai pagar por isso?

Cole apertou mais a espada. — Seu pai traiu Madra com suas guerras estrangeiras. Eu nos salvei.

—Nosso.

—O que?

Ela levantou a voz. —Nosso pai, Cole. Você pode querer se sentir melhor em matar o homem, mas não há como mudar o fato de que ele era seu pai também. Ele não era perfeito, eu sei. Mas e nós, Cole? Kassander merece ser um prisioneiro no palácio?

Seu rosto ficou tenso de tristeza e ele abaixou a espada levemente. —Eu dei a você toda a opção de ficar comigo. Ser aliados em vez de prisioneiros... e, no entanto, você escolheu esses monarcas estrangeiros e rebeldes de nascimento baixo.

Helena deu um passo à frente contra seu próprio julgamento. —Você matou minha mãe. — Ela deu outro passo. —Chicoteou meu irmão. — Ela parou quando a ponta da espada estava a poucos centímetros de distância. —E levantou os punhos para mim. Você vai me matar agora, irmão?

Uma unidade de guardas entrou no salão e o alívio inundou os olhos de Cole. —Guardas, prenda-os!

Seus longos passos aceleraram enquanto tentavam alcançar seu rei. Helena não desviou os olhos de Cole, apesar da ponta da espada agora tocar seu peito. Um movimento dele e ela estaria morta, incapaz de salvar Kassander e Stev. Não seria bom para Dell.

Mas de que ela era boa para eles se não lutasse por eles? Se ela não engolisse seu medo.

—Prendam eles! — Cole gritou novamente, seus olhos saltando loucamente.

Os guardas com cara de popa pararam de se mover e ficaram parados por um momento, encarando o rei em potencial. O da frente ergueu o queixo. —Cole Rhodipus, entregue suas armas.

O queixo de Cole se apertou e seus olhos deslizaram ao longo da lâmina por um momento antes de dar um passo para trás.

Helena respirou fundo e esfregou o peito no local em que a lâmina havia tocado. Um pequeno ponto de sangue manchava sua pele, pingando no corpete de seu vestido.

Ela viu os sinais segundos antes de Cole fazer um movimento. Helena passou muitos anos assistindo seus irmãos no jogo de espadas. Seus dedos se apertaram, girando em torno do punho como sempre faziam quando ele estava se preparando para atacar. Desde que ele era mais jovem, demorava um pouco para alcançar seu corpo.

Mas não foi tempo suficiente. Tudo o que Helena pôde fazer quando Cole balançou sua espada foi empurrar Alex para fora do caminho.

A lâmina mordeu profundamente o estômago do rebelde que os acompanhava. Sua grande figura tropeçou para trás.

—Orlo. — Edmund gemeu.

—Fique aí, Edmund. — Alex correu para o lado de Orlo quando os guardas entraram em ação.

Edmund tentou empurrar seu corpo enfraquecido contra a parede. As histórias o chamavam de um dos maiores guerreiros da guerra draconiana, mas agora ele não podia lutar.

Helena viu Cole lutar contra dois homens ao mesmo tempo.

Com o coração batendo forte no peito, ela desviou de um guarda quando ele tropeçou para trás, um corte no estômago. Ele caiu no chão quando Helena alcançou Edmund.

—Eu preciso ajudá-los. — Edmund tentou se afastar do suporte da parede novamente e tropeçou para trás.

Helena agarrou o braço dele. —Você só seria morto e Stev não sobreviveria a isso.

Ele levantou os olhos para os dela. —Você o viu? — Ele engasgou.

Helena encostou a testa na dele. —Todos nós vamos sair disso.

Antes que ele pudesse detê-la, Helena se afastou dele e passou pelo guarda que estava segurando Kass da luta. Orlo estava imóvel, com a lâmina ao lado dele. Alex já havia se juntado à luta. Não havia mais ninguém para detê-la.

A princesa de Madra pegou a espada, seu peso estranho nas mãos. Ela rondou em direção a Cole, de costas para ela. Seus braços golpeavam em movimentos fluidos, sem cometer erros.

Mas ele já havia cometido um erro. Ele matou os pais dela e a deixou viver. Ele a subestimou. Ela não era mais a princesa mascarada de Madra, destinada a não ser vista nem ouvida.

Ela viajou por reinos estrangeiros, acompanhada de mercenários. Ela era uma prisioneira, uma guerreira e viu muitas pessoas que amava caírem em perigo.

Não, em todo o seu tempo longe de Madra, ela nunca foi uma princesa.

A ponta da lâmina afundou nas costas de Cole e ela ergueu a voz. —Pare com isso!

Outra coisa que ela nunca foi: uma assassina. Pelo menos intencionalmente. Cole merecia a morte, mas ela não merecia a mordida de vingança. Não mais.

A vingança só a deixou fria e sozinha, fazendo-a deixar as pessoas para trás em sua obstinação. O que Cole fez não a quebrou. Sua busca para destruí-lo tinha.

Mas ela não queria mais ser uma mistura de cacos perigosos de vidro.

Nenhuma pessoa no salão se moveu quando Helena pressionou a espada com mais força contra as costas de Cole.

—Faça isso, irmã. Me mate. Então você não será diferente do monstro que pensa que sou. — As palavras de Cole afundaram nela. Ela não queria ser um monstro.

—Eu deveria. — Ela rosnou. —Você pegou tudo de mim. — Ela girou a lâmina e se inclinou, baixando a voz. —Mas você está errado. Eu não sou você. — Cada vez mais alto, ela disse. —Solte sua espada.

Olhando para os guardas, cada um com suas armas apontadas para ele, Cole obedeceu. Alex chutou a espada fora de alcance e um guarda soltou a adaga do cinto de Cole.

—Traição parece boa demais para você. — Helena o rodeou, sua espada contornando sua cintura até que ela o encarou.

A aparência de Cole não mudou em muitos anos. Se ela fechasse os olhos, poderia imaginá-lo como o irmão que ensinou Kass a lutar ou que usava uma máscara no baile do dia de seu nome em uma demonstração de apoio junto com seus outros irmãos.

—Você já nos amou, Cole? — Ela perguntou, sem ter certeza de qual resposta ela esperava. —Nós já fomos sua família?

Ele engoliu em seco. —Eu nunca parei de amar você, irmã.

Ela fez uma careta. —Sim, você parou. Você parou de me amar no momento em que tirou minha mãe de mim. Não sei por que você fez isso, Cole. Não me importo se Reed e Ian Tenyson forçaram isso a você ou se você estava por trás de tudo. Porque isso não importa. Você é responsável por quebrar Madra.

—Len...— Ele alcançou em sua direção.

Ela balançou a cabeça, com lágrimas nublando os olhos. —Então, você não morre. Cole Rhodipus, coloco você preso. Assassinato. Traição. Depois desse dia, você nunca mais verá meu rosto. Eu não vou visitá-lo. Se você morrer de doença, não vou chorar. Porque você não é nada. Quando reconstruirmos a posição de Madra no mundo, ninguém pensará em você. Nós vamos ter paz, Cole.

—Isso é tudo que eu queria. — A luta havia deixado seus olhos. —Paz das guerras do pai.

A risada dura de Edmund rompeu os pensamentos de Helena.

—Paz. Você queria paz?

Helena abaixou a espada e apontou para os guardas. —Amarre os pulsos e leve-o embora.

Dois guardas se adiantaram para fazer o que ela mandava, mas antes de chegarem a Cole, ele recuou. Helena virou a cabeça. Uma flecha se projetou da garganta de Cole.

Ele levantou a surpresa. Seus lábios se moveram, mas nada além de um gorgolejo escapou. O sangue escorria de seus lábios, e ele caiu para trás, a cabeça estalando contra o chão duro.

—Cole. — A angústia rasgou Helena quando ela caiu de joelhos ao lado de seu irmão imóvel.

Uma única lágrima escapou de seus olhos, rolando sobre o nariz. Por que ela estava chorando? Cole matou tantas pessoas. Ele quase destruiu a monarquia.

Ele não merecia as lágrimas dela.

No entanto, quanto mais se libertava, ela não conseguiu detê-las.

O irmão dela estava morto. Era o que ela pensava que queria. Lampejos do jovem garoto que ela conhecia piscaram em sua mente. Cole e Quinn chegando ao palácio quando crianças que acabaram de perder a mãe.

Cole a girando em seus braços cada vez que ele retornava de reinos distantes.

Os gêmeos brincavam um com o outro enquanto a colocavam entre eles na sala de estar.

Ela mentiu quando disse que não choraria sua morte. A comoção soou ao seu redor, mas ela não conseguiu se concentrar enquanto acariciava o rosto pálido de Cole. Ele não poderia estar morto. O irmão que a defendeu e a protegeu ainda deveria existir. Algum lugar.

Ou talvez Cole tenha morrido há muito tempo.

Braços a envolveram e ela escondeu o rosto em um ombro familiar. Dell segurou mais forte.

Ela não sabia em que momento da luta ele chegou, mas Quinn estava atrás dele, usando seu corpo para segurar Stev na posição vertical. Ela não foi a única que perdeu alguma coisa. O irmão dele estava morto. Kassander, Estevan e Quinn também perderam Cole.

Ela levantou o rosto para Estevan, que havia derrubado o arco que ele usou para atirar em Cole. Ele viu o que Helena não conseguiu. Enquanto Cole estivesse vivo, a paz pela qual ela se esforçou não seria possível.

Ele fez muito mal.

Estevan tropeçou na parede com a ajuda de um guarda. Um pedaço do coração de Helena se fundiu novamente quando Edmund finalmente conseguiu forças para ficar sozinho. Lágrimas escorreram por seu rosto.

—Eu pensei que tinha te perdido. — Edmund engasgou.

O guarda soltou Stev e ele tropeçou em Edmund, passando os braços compridos em volta dele. —Você os manteve a salvo.

Edmund passou os braços pela cintura de Stev, tomando cuidado para evitar as costas nuas e os ferimentos. —Eu prometi. — Ele apertou suas bochechas. —Além disso, eles também são minha família.

Um soluço sacudiu o peito de Estevan momentos antes de reivindicar os lábios de Edmund com os dele.

Helena tremeu nos braços de Dell, as palavras de Edmund ecoando em sua mente. Eles também são minha família. Ele estava certo.

Ela se afastou da Dell e se levantou, deixando Cole para trás. Quinn recuou, o rosto branco e os olhos fixos no irmão gêmeo.

Helena passou um braço em volta dos ombros de Kassander, e os dois se aproximaram de Quinn.

—Eu dei o arco a ele. — Quinn passou a mão pelo cabelo, o mesmo cabelo escuro que o de Cole. —Eu pensei que Estevan merecia... eu o deixei matar Cole.

Helena pegou a mão dele na dela, acalmando seu tremor. —Foi a coisa certa. — Ela passou o braço livre pela cintura dele. —Não precisamos nos lembrar dele assim. Vamos lembrar o irmão que nunca levou nada a sério.

A risada de Quinn era quase inaudível. —Ele gostava de nos fazer sorrir.

—Ele sempre teve tempo para mim. — Falou Kassander.

Os três ficaram em silêncio até Stev se aproximar. —Ele foi a razão pela qual eu pude ajudar tantas pessoas. Ele roubava as rotas de remessas de alimentos do conselho do comerciante.

Quinn estendeu um braço quando Estevan se juntou a eles. Os quatro eram tudo o que restava de sua outrora grande família. O que agora?

Helena respirou, tentando acalmar seu coração frenético. Ela ainda tinha seus irmãos ao seu redor. Ela tinha Dell e Edmund. Os pedaços de sua alma começaram a deslizar de volta no lugar.

—O que está acontecendo lá fora? — Ela perguntou. Quantos de seu povo estavam mortos?

Como se a pergunta o levasse de volta ao presente, Quinn se endireitou. —Eu tenho que ir. — Ele deu de ombros, abraçou a espada e correu pelo corredor.

—Isso ainda não foi feito. — Helena correu atrás dele.

Do lado de fora, no pátio parecia ter ocorrido uma grande batalha. Os combates pararam e pessoas atordoadas tentaram pegar os pedaços de suas vidas. Alguns choraram por corpos. Outros coletavam espadas dos mortos. Alguns vagavam sem rumo.

Helena procurou para onde Quinn havia fugido e o encontrou em pé com Tyson e Camille. O alívio disparou através dela quando ela viu a princesa ilesa de Gaule.

Etta se aproximou de Helena, um sorriso sombrio no rosto.

—Nós cuidamos daqueles fiéis a Cole muito rapidamente. Muitos dos guardas viraram de lado, mas os rebeldes ainda sofriam pesadas baixas.

Helena examinou os corpos em busca de rostos reconhecíveis. Dell estava atrás dela, curvado sobre o corpo de uma mulher alta.

—Você está com Orlo, pelo menos, Catsja. Obrigado por tudo. — Ele se endireitou e encontrou os olhos de Helena.

Etta continuou falando. —Seu primo, Landon foi preso junto com qualquer traidor que não se virou para o nosso lado. Eles o levaram a algum lugar chamado de buraco dos padres.

Helena fez uma careta, lembrando-se de seus dias naquele lugar úmido. Eles teriam que encontrar uma prisão melhor do que isso.

Quinn e Camille se aproximaram, suas mãos juntas enquanto ela se apoiava nele em busca de apoio.

—Precisamos comprar uma bengala nova para você antes de voltar para Gaule. — Helena apontou para o pé torcido da garota.

A sobrancelha de Camille se enrugou. —Eu não desejo voltar.

—Cam-

—Meu reino assinou um tratado com o seu e pretendo honrá-lo. Gaule e Madra serão aliados.

Helena balançou a cabeça. —Estevan não se casará com você.

—Então é bom que Stev não seja a pessoa por quem estou apaixonada. — Ela retrucou, com o rosto pálido ao perceber o que havia dito.

Helena deu um passo atrás, seus olhos passando de Quinn para Camille e voltando novamente.

A primeira luz que ela viu em Quinn desde a primeira traição de Cole entrou em seus olhos. Ele não sorriu. Levaria um tempo para isso. Mas pelo menos havia esperança.

Quinn assentiu uma vez. —Len, eu gostaria de permissão para honrar o tratado.

Ela levantou uma sobrancelha. —Eu não sou a pessoa que você precisa perguntar.

Surpresa brilhou em seu rosto como se ele não tivesse pensado nisso. Estevan se tornaria rei de Madra - algo que eles nunca pensaram ser possível depois de ouvir sua morte.

Dell afastou Helena. —Você teria feito uma boa rainha.

Ela se irritou. —Eu nunca quis a coroa.

Ele pressionou os lábios no lado da cabeça dela. —Eu sei.

O caos do dia a atingiu repentinamente, enviando uma onda de tontura sobre ela. Dell agarrou seu braço quando ela tropeçou.

—Você está bem? — Ele perguntou.

Ela tentou assentir, mas seu corpo inteiro tremia. —Não. Eu não estou bem. —Ela se afastou dele e subiu os degraus antes de entrar no palácio.

A ala da residência guardava muitas lembranças dolorosas, mas também era onde sua família estava inteira. Onde eles se amaram e se apoiaram. Ela caminhou pelos corredores, cada passo mais pesado que o anterior. Depois que ela subiu as escadas e entrou na casa de sua família, ela sabia exatamente onde precisava estar.

A maioria dos quartos havia sido destruída pelo fogo, mas Cole os havia reparado para parecerem como antes. Ela abriu a porta do quarto onde sempre se sentia segura e meio que esperava que sua mãe estivesse atrás da porta. Ou para Sophia entrar carregando chá.

Ela subiu na cama com dossel idêntica à que sua mãe tinha e afundou nos travesseiros brancos e macios, deixando sua mente demorar no passado para evitar as realidades do presente.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Vinte e Sete


Dell não entendeu como ele chegou onde estava. Crescendo em uma pequena vila, ele não tinha nada além de sua mãe. Quando ela morreu e o pai o procurou, ele não tinha certeza de que sobreviveria à cidade, especialmente com uma madrasta cruel e dois meio irmãos coniventes.

Mas seu pai tinha sido gentil. Em uma única tempestade, isso também foi tirado do garoto assustado. Ele foi de filho devolvido para o menino estável poucos dias após o naufrágio de seu pai.

Ele limpava o convés dos navios, limpava as baias dos cavalos e dormia com os animais. Ao contrário de seus irmãos, ele nunca teve outras ambições além de encontrar uma saída da cidade.

E então ele a conheceu. Ou eles, realmente. Edmund e Helena mudaram sua vida.

Lenny. Ela veio vestida como um menino e aparentemente precisava economizar. Mas ele foi quem precisou ser retirado de sua vida de recém-nascido.

Para ser honesto, ele não teve nenhum problema com seu baixo status, apenas sua família que se recusava a reivindicá-lo como um deles, mas o tratou como se o possuíssem.

Agora, ele era o único garoto Tenyson que restava.

Enquanto atravessava o pátio, um rosto familiar apareceu. Sua madrasta nunca fora gentil com ele. Ela o repreendia e forçava o trabalho a ele.

Mas agora ela não tinha mais nada. Ele engoliu todo orgulho que possuía e se aproximou dela.

—Dell. — Ela levantou os olhos assombrados para ele. —Eu estou contente que você esteja bem.

Ele coçou a nuca e desviou o olhar. —Sinto muito por Ian e Reed.

Ela suspirou. —Aqueles meninos... Eles eram meus filhos. Eu os amava e foi por isso que não contei a ninguém o que eles estavam fazendo.

Os olhos dele se arregalaram. —Você sabia que eles queriam assumir o trono?

Ela hesitou um momento antes de concordar. —Mas eles eram meus filhos. — Seus olhos se arregalaram. —Não posso deixar de me perguntar se eu revelasse os planos deles, talvez ambos estejam vivos agora. Presos, mas vivos.

Dell nunca pensou que sentiria nada além de ódio pela mulher; no entanto, enquanto observava seu rosto afundado, a simpatia entrou nele.

Ela assentiu para si mesma como se estivesse chegando a alguma conclusão. —A princesa fez a coisa certa. Eu sou a mãe de Reed... ou era... mas não era ele. Ele sempre foi o mais perigoso dos dois garotos. Muito inteligente para o seu próprio bem. Mas houve um tempo em que sua bondade era real. Quando pensei que ele tinha escapado... — Ela parou.

—Escapado do que?

Ela esfregou os olhos. — As circunstâncias de ser meu filho. Eu sou uma mulher difícil, Dell. Eu assumo total responsabilidade por Ian. Mas Reed deveria ser diferente.

—Foi por isso que você se juntou aos rebeldes? Você pensou que era sua culpa?

Ela assentiu e desviou os olhos. —Não espero nenhuma compreensão sua. Eu sei o tipo de vida que forcei em você. Mas talvez... apenas talvez... você deva se considerar sortudo. Esta não é a família da qual você queria fazer parte, Dell. Se você era um de nós, pode ter feito escolhas diferentes.

Ele balançou sua cabeça. —Não. Eu não teria. Reed e Ian não fizeram isso por sua causa. Eles poderiam ter sido diferentes também.

Um sorriso triste inclinou seus lábios. —Esse é um bom pensamento, Dell. Eu só queria que fosse verdade. — Ela encontrou os olhos dele mais uma vez. —Seu pai ficaria orgulhoso de você. — Com essas palavras finais, ela se virou e atravessou os escombros dos portões caídos, desaparecendo de vista.

Pela primeira vez, ele viu sua madrasta como apenas uma mulher. Uma mulher que perdeu tudo. Mas ele não podia ser para ela o que seus irmãos eram. Ele tinha outras pessoas que ele precisava esperar. Outros agora chamados de família.

 

Dell se inclinou para frente em sua cadeira para se aproximar da cama onde Helena descansava. Ela não havia se levantado nos dois dias desde a luta, nem mesmo para trocar de roupa. Ele estudou seus traços delicados, manchados de lágrimas. O sangue manchava seu peito lentamente subindo e descendo. Ela não merecia nada que tivesse acontecido com ela, mas se havia uma coisa que a vida lhe ensinara, era que tudo acontecia para torná-lo mais forte.

E Helena era a mais forte de todas.

Ele passou as pontas dos dedos pela bochecha dela.

Fora dessas paredes nos próximos dias, as pessoas retornariam o palácio para limparem máximo que pudessem. O portão levaria um tempo para consertar. A guarda do palácio que uma vez prometeu lealdade a Cole agora se esforçava para remover os corpos dos mortos.

Os rebeldes haviam retornado para suas casas, seguros pela primeira vez em meses.

E as pessoas que suportariam as cicatrizes deste dia pelo resto de suas vidas? Cada um deles tentou lidar com isso à sua maneira. Quinn havia passado a cavalo pelos portões, precisando ficar sozinho para lamentar o homem que fazia parte dele. O gêmeo dele. Seu novo noivado não conseguia tirar a dor dele. Ele não voltou em dois dias.

Estevan e Edmund estavam sendo atendidos por curandeiros durante o dia, enquanto recuperavam suas forças.

Kassander não saiu do lado de Alex.

Vozes vieram da sala comunal e Dell se levantou, caminhando até a porta para ver quem havia chegado.

Edmund recostou-se no sofá, a fraqueza ainda gravada em seu rosto. Alex sentou-se a seus pés com Kass não muito longe.

—Ele está lutando, Alex. — Edmund balançou a cabeça.

—Dê tempo a ele. — Alex colocou a mão na perna do amigo.

—Vou dar a ele o tempo todo no mundo. Ele é o homem... Alex, quando o perdi, perdi um pedaço da minha alma.

Alex assentiu. —Lembro-me bem do sentimento. Toda vez que perdia Etta, isso me rasgava.

Edmund baixou a voz. —Acho que estar aqui só piora as coisas. — Ele passou a mão pelos cabelos e olhou para Kass, que não parecia nem pensar. —Seu próprio irmão o torturou. Como você supera isso? Como você anda pelos corredores e não se lembra?

—Ele não é um homem comum. Não esqueça disso. Estevan será rei. Ele deve passar por isso.

Uma tosse se libertou de Dell antes que ele pudesse pará-la, e os dois homens se assustaram. —Desculpe, apenas vindo ver o que estava acontecendo?

Edmund sentou-se. —Estamos esperando Estevan retornar do curandeiro.

Na ausência de um draconiano com magia de cura, as feridas de Estevan estavam sendo tratadas de maneira não mágica com pomadas e poções.

Dell assentiu. —Como ele está? — Helena e seus irmãos haviam evitado grandes momentos em família nos dias que se seguiram à batalha. Ela mandou a Dell checar Estevan.

—Hoje melhor, eu acho. — Os lábios de Edmund se apertaram. —Pelo menos de corpo.

Nesse momento, Quinn invadiu a entrada, seus cabelos despenteados pelo vento. Ele olhou em volta com olhos selvagens antes de se acalmar e cair em uma cadeira. Camille entrou atrás dele como se estivesse esperando seu retorno.

—Como está a cidade? — Edmund perguntou.

Quinn foi o único que se aventurou além das paredes do palácio. Seu rosto ficou tenso de consternação. —As pessoas são joviais. Elas estão marchando nas ruas para comemorar o fim do reinado de Cole Rhodipus e pedindo que um novo monarca seja coroado.

—Estevan ficará satisfeito com o apoio deles. — Edmund suspirou como se cada lembrete do dever de Estevan acrescentasse mais peso aos ombros.

A sobrancelha de Quinn franziu. —Não é Estevan que eles pedem.

Cada olho na sala agarrou-se ao dele antes que a voz de Helena falasse da porta. —O que você quer dizer, Quinn?

Seus olhos a prenderam no lugar, e Dell jurou que uma pitada de orgulho apareceu nas íris escuras. —Eles querem você, Len.

Ela balançou a cabeça, chupando o lábio entre os dentes. —O que... como... não. Eles não podem. Eu sou apenas a princesa.

Estevan entrou na sala quando todos estavam focados em Helena. Seus olhos o encontraram primeiro, e Dell seguiu seu olhar.

O príncipe se moveu com a marcha de um homem muito mais velho, andando pesadamente como se estivesse com medo de machucar alguma coisa. Ele se sentou em uma cadeira, tomando cuidado para não se recostar.

Todos na sala ficaram em silêncio. Ele ouviu Quinn?

As mãos de Helena tremiam ao seu lado. —Estevan deve nos liderar.

 

Helena não poderia ter ouvido direito Quinn. As pessoas a chamando? Ela nunca foi mais do que um símbolo para eles. A misteriosa princesa mascarada, um ícone da tradição que Madra amava.

Nada mais. Nada menos.

Ela procurou os rostos cansados de sua família quando Etta e Tyson entraram na sala, parando quando perceberam a seriedade ao seu redor.

—Para o que acabamos de entrar? — Tyson perguntou.

Estevan soltou um suspiro. —Meu irmão roubou a coroa que deveria ser minha. Toda a minha vida fui criado pensando que era o meu futuro. Quando ele tirou isso de mim, eu o odiei. — Seus olhos se fixaram em Edmund. —Mas logo percebi que era porque ele tinha levado todo o resto. — Ele se levantou, lutando com cada movimento, e caminhou até ficar na frente de Helena.

—Eu sinto muito.

Ela cuspiu. —O que? Por quê?

Ele procurou os olhos dela. —Eu não vi você. Antes de tudo. Eu te amei e queria protegê-la, mas não a vi. Quem você realmente é. A força que você possui. E então você voltou para mim. Você se entregou para me salvar. Mesmo assim, eu não entendia.

—Entendeu o que? — Ela respirou.

—Você. — Ele colocou a mão no ombro dela. —Mas eu ouvi você. Em seu discurso para os guardas. Você estava certa. A tradição tem sido usada como arma usada pelos reis. Eu tinha esquecido, como você disse a eles, o que torna Madra boa. Se vamos recuperar tudo o que perdemos, não sou eu quem governará.

Ela abriu a boca para falar, mas ele a cobriu com a mão. —Cole não foi o único que danificou nosso reino. O pai criou essas circunstâncias. E eu fiquei ao lado dele. Sim, fiz o que pude para ajudar as pessoas, mas de que adianta alimentá-las um dia quando as políticas do pai significam que elas ainda vão morrer de fome no dia seguinte? Eu deveria ter lutado com ele, mas estava com medo. Do pai. Do sacerdócio. Você nunca teve medo.

Ela empurrou a mão dele. —Stev, você não pode fazer isso. — Lágrimas pairavam em seus cílios. —Você não pode colocar isso em mim.

Ele enxugou uma lágrima do rosto dela com o polegar. —Eu não posso ser o que Madra precisa. Eu não posso ter esperança. Não mais.

—Eu não quero ser a rainha.

Ele assentiu. —Eu sei.

Ela olhou ao redor da sala, procurando alguém para apoiá-la, para dizer a Stev que ele tinha perdido a cabeça.

Mas tudo o que encontrou foi um acordo.

Ela respirou pesadamente, fixando o olhar em Quinn. Ele sempre foi seu aliado - ajudando-a a fugir dos eventos reais e a defendê-la de seu pai. O menor sorriso inclinou seus lábios e ver que era o suficiente para fazer seu coração parar.

Ela soltou um suspiro trêmulo. —Eu nunca vou te perdoar por isso, Stev.

Ele sorriu. —Você irá.

Ele deu um passo atrás, e ela quase desabou sem que as mãos dele a segurassem.

A tradição ainda tinha seu lugar em Madra, e havia até um para isso. Stev levantou uma mão e disse as palavras que todos os príncipes sabiam, mas nenhum falava há gerações. —Eu, Estevan Rhodipus, cedi minha posição na linha de sucessão ao trono de Madra. Esta decisão é tomada com muito pensamento e sem coerção. Madra é um grande reino e aqueles que estão atrás de mim na linhagem de sucessão o conduzirão bem.

O ar esvaziou de seu peito. Foi feito. Com testemunhas. Não havia como voltar atrás. Essas palavras eram tão vinculantes quanto qualquer lei em Madra.

Helena praticamente sentiu-se deslizando para uma nova posição como herdeira do trono. Ela endireitou os ombros e limpou o rosto. Isso não estava terminado. Em Madra, para que um novo líder tome o poder, ele ou ela deve se casar. Ambos os tronos exigiram ocupação. Era outra tradição que Cole exibia.

—Dell Tenyson. — Ela se virou. —Como você se sente sobre o título de príncipe consorte? — O título dele seria simbólico, sem poder real. Ela prendeu a respiração, esperando por uma resposta.

Dell franziu a testa. Não é a reação que ela esperava quando apenas propôs.

Ele balançou a cabeça e atravessou a sala, abrindo a porta bruscamente e desaparecendo de vista.

 

Dell apertou e abriu os punhos enquanto passeava do lado de fora da porta da residência real. A residência real! Quem em seu perfeito sangue esperaria que ele estivesse aqui? Ele não era nada. Ninguém.

Não havia uma única pessoa neste mundo para poupar um pensamento para ele.

Exceto ela. Irritação encorajava sua raiva. Helena tinha acabado de pedir para ele se casar com ela, não tinha? Ele fechou os olhos e encostou a testa na parede. Ele a queria mais do que tudo, mas nunca esperava que Estevan desistisse do trono. Inferno, ele realmente não sabia se eles superariam Cole.

Quando eles estavam em Bela, ele imaginou uma vida simples para eles entre o povo mágico. As colinas verdes do reino outrora esquecido o chamavam em paz.

Uma rainha conhecia verdadeiramente a paz?

Tradição. Era tudo o que importava para a linhagem Rhodipus. Eles quase colocaram Madra no chão em busca de aderir aos costumes antigos. Era declarado que um homem ou mulher solteiro não podia usar a coroa.

Por mais que Helena e Estevan alegassem que eram diferentes de seus antecessores, eles provaram ser apenas o mesmo. E agora, ela esperava que ele se casasse com ela apenas porque ela precisava de um rei.

Não houve emoção na voz dela durante a proposta. Tudo o que ele sentiu por ela... quando o deixou em Bela, ela os separou. Ela não poderia juntá-los novamente por nenhuma outra razão senão uma coroa.

Uma coroa que ela nem queria!

Ele ouviu todas as palavras que Len disse aos guardas e novamente quando ela falou com Cole antes de sua morte. Ele nunca tinha visto isso antes, mas não havia dúvida em sua mente que ela estava destinada a isso. O reino ainda não a conhecia, não da maneira que eles conheciam Estevan.

Mas eles fariam exatamente como ele fez. Ele fechou os dedos em um punho e bateu contra a parede. O momento deles nunca estava certo. Tudo o que ele queria era levá-la para longe daqui. Longe do lugar onde más lembranças corriam desenfreadas. Onde o sangue tinha sido lavado do chão de pedra de novo e de novo.

Um leve toque em seu braço teve seus olhos se abrindo. Ele se afastou de Helena enquanto ela o observava com olhos cautelosos.

Ele respirou fundo, notando a dor que ela usava como um escudo. Ele causou isso. Ele forçou as paredes ao seu redor.

Mas o que ele deveria fazer? Se casar por alguma obrigação equivocada do passado? O sacerdócio estava morto. Eles não mais impunham as regras da vida em Madra.

—Precisamos conversar. — A voz dela era baixa, e ele odiava o tremor nela. A Helena que ele viu nas últimas semanas não vacilava.

Como ela estava diante dele, ela não era mais aquela mulher. Agora ela era a garota que estava nervosamente na margem do rio, torcendo o boné enquanto ele aproximava seu corpo do dela. Ela se tornou a garota defensiva que gritou com ele em uma praia de areia negra sob o calor abrasador do sol.

Finalmente, ele assentiu.

Ela o levou para longe dos ouvidos de sua família do outro lado da porta. Eles desceram as escadas sem palavras. Ele sabia onde ela o estava levando antes de eles chegarem.

O jardim murado não mudou nos meses em que estiveram fora. Permaneceu como um remanescente do que era. Intocado pela guerra que mudou Madra para sempre, sua beleza era reconfortante. Arbustos floridos alinhavam-se nas passarelas com saliências frondosas que os protegiam do sol. Uma brisa fria chicoteou os cabelos dos ombros de Helena e ela abraçou os braços sobre o peito.

Dell tirou o casaco e a colocou sobre os ombros dela.

—Obrigada. — Ela abraçou-o perto.

As mangas da camisa de linho de Dell se moveram quando ele a alcançou. Ele recolocou a mão quando ela lhe lançou um olhar cortante.

Eles andaram pelo caminho sinuoso até um banco de pedra que ficava atrás. Videiras retorciam as paredes atrás deles.

Helena respirou fundo.

—Sinto muito. — Os dois disseram ao mesmo tempo.

Dell abriu um sorriso e fez um gesto para ela falar primeiro.

Ela hesitou um momento. —Eu não deveria ter te colocado no lugar assim. Pedir-lhe uma decisão na frente da minha família foi... —Ela balançou a cabeça. —Eu não sei o que estava pensando. — Nervosismo entrou em seu olhar quando ela se virou para encará-lo com um olhar. —Bem, sim, eu pensei. Eu pensei que você e eu... — Ela fez um gesto entre eles. —Eu pensei que algo que obviamente não era verdade.

Incapaz de se conter, Dell pegou a mão dela. —Helena... Len, eu amo você. Estou apaixonado por você. Por favor, não pense que não estou.

Ela estreitou os olhos, afastando a mão. —Mas você... você disse que não! Pedi que se casasse comigo e você disse que não.

—Primeiro, você nunca me pediu para casar com você. Segundo, quero ficar com você pelo resto da minha vida, seja ela longa ou curta. Estou perdido para você desde o momento em que você me encarou quando eu estava nu no rio.

A boca dela se abriu. —Eu não olhei para você. Eu... você...

Um sorriso inclinou um lado de seus lábios. —Está tudo bem. — Ele se inclinou, pressionando seus lábios nos dela. —Eu cobicei você quando você estava na margem do rio, pingando água e selvagem.

Ela colocou a mão no peito dele para afastá-lo. —Então por que você não se casa comigo?

—Eu vou me casar com você, Len. Um dia, vou me casar com você. Mas não será preciso seguir uma tradição em que você nem acredita.

Ela suspirou. —Nenhum monarca de Madra reivindicou o trono solteiro. É lei.

Ele baixou a cabeça para olhar diretamente nos olhos escuros dela. —Também é lei neste reino que uma princesa deva ser mascarada até seu décimo oitavo dia de nome. Você planeja obedecer isso com sua própria filha?

Ela ofegou. —Claro que não.

—Então essa lei também pode ser mudada. Len, você não precisa de um rei ao seu lado para ser uma rainha. Você pode liderar seu pessoal por conta própria. Eu sei que você pode, porque acredito em você, e eles também.

—Sozinha? — Ela engoliu nervosamente.

Ele segurou a bochecha dela na palma da mão. —Você é forte o suficiente para isso. Não deixe ninguém lhe dizer que você não é.

Ela encostou a testa na dele. —Acho que Stev vai me deixar.

Ele assentiu contra ela. Ele tinha suas próprias suspeitas. Edmund e Estevan retornariam a Bela com Etta, Alex e Tyson.

—Você não vai me deixar também, vai?

—Nunca. — Ele respirou.

Ela pressionou um beijo hesitante nos lábios dele. Ele respondeu instantaneamente, passando os braços em volta da cintura dela para puxá-la para ele. Ela se encaixou contra ele como se fosse onde ela sempre deveria estar. Os braços dela envolveram seu pescoço enquanto ela aprofundava o beijo.

Desta vez, não era o fogo ou a paixão que os unia. O calor e o conforto de saber que eles sempre os envolveriam, permitindo que eles tomassem seu tempo, para saborear um ao outro.

Dell beijou um caminho para o ouvido de Helena. —Eu te perdoo por me deixar.

Ela se inclinou para trás, um sorriso nos lábios. —Estamos de volta a isso agora?

Ele encolheu os ombros. —Você não precisava de mim. Eu vejo isso agora.

—Você está errado, você sabe. — Ela colocou a mão no rosto dele para transformá-lo de volta no beijo e falou contra os lábios dele. —Eu sempre vou precisar de você. Não importa o quão forte você pense que eu sou, ou quantos guardas tenho nas minhas costas, você é tudo que eu preciso.

Ele cantarolava no fundo da garganta, sabendo que ela era tudo para ele. A melhor amiga dele. Sua amante. A rainha dele. Até a própria vida.

Eles travaram batalhas e quase morreram. Eles enfrentaram traições e perderam pessoas que amavam. No entanto, eles não foram quebrados. Os cacos de vidro haviam sido colocados no fogo, derretidos e endurecidos em algo mais forte do que o que havia antes.

 

 

 

 

 

 

Epilogo


Helena estava na frente de um retrato de sua mãe. Chloe Rhodipus parecia radiante no dia de sua coroação. Seu casamento e coroação ocorreram no mesmo dia. Foi um casamento de aliança como o de Stev e Camille.

Camille estava ao seu lado em um vestido amarelo discreto, mas elegante. —Apenas meses atrás, era para ser eu. — Ela deu a Helena um sorriso de lado e se apoiou pesadamente na bengala. —Se Cole não tivesse traído a coroa, eu me casaria com Stev e me tornaria rainha de Madra.

Helena se encolheu com a lembrança do único irmão que não estava lá durante o maior dia de sua vida. Nas semanas após a morte dele, ela tentou perdoá-lo, deixar de lado a raiva, mas isso significava deixar a tristeza entrar.

O que sua mãe pensaria dela neste dia? Ela achatou as palmas das mãos contra o azul brilhante de seu vestido ornamentado. Rendas em prata enroladas caiam no corpete. Não era diferente do vestido que ela usara em seu baile de nome.

Ela tocou o rosto como se tornara um hábito, procurando o tecido que faltava em sua máscara. Mas ela não era mais a princesa enjaulada.

—O que você fez — Ela começou, —Quando Alex abdicou do trono de Gaule e você se tornou a herdeira de sua mãe?

Camille riu. —Eu amaldiçoei meu irmão.

Helena riu. Ela fez o mesmo em seus momentos de solidão.

—Eu imagino que ela precisará de um novo herdeiro. — Camille suspirou. —Agora que devo ficar em Madra.

—Quinn pode voltar para Gaule com você, caso você decida sair.

Ela balançou a cabeça. —Ele não deseja e nem eu. Eu não sou... amada em Gaule. Porém, minha mãe também caiu em desgraça. Eu imagino que ela nomeará Tyson o herdeiro. Ele pode não ter sido filho do meu pai, mas minha mãe é rainha agora, então sua linhagem é real.

Uma risada se libertou de Helena. —Ty já sabe disso?

Camille sorriu tristemente. —Saberíamos se sim, porque ele teria afogado todo o reino de Gaule com sua magia apenas para evitar o trono.

Eles ficaram em silêncio até os passos soarem atrás deles. Quinn passou um braço em volta dos ombros de cada mulher. Helena se inclinou para ele, agradecida por não ter que se despedir de pelo menos um de seus irmãos. Kassander também ficaria, mas ela estava certa sobre Stev. Após a coroação, ele iria embora.

Edmund também ficou para a cerimônia e dizer adeus a ele seria igualmente difícil. Etta, Alex e Tyson já haviam voltado para casa, mas desejavam-lhe tudo de bom. Para sua sorte, Landon levou Vérité aos estábulos do palácio antes de levar Kassander a Cole. Helena duvidava que Etta tivesse saído sem o cavalo.

Kass apareceu ao lado deles e se colocou entre Helena e Quinn.

—Cabe a nós agora, sim? — Ela olhou para Quinn.

Ele assentiu. —Quando o pai se sentou no trono, eu nunca imaginei que teríamos o controle de Madra. Eu ainda me sinto como uma criança neste palácio.

Helena riu disso. Quinn era um general do exército. Ele levou os homens à batalha, mas sempre se sentiu inseguro entre esses corredores.

—Você vai me levar até o corredor? — Ela dirigiu a pergunta para Quinn.

Kass foi quem respondeu. —Claro que vou.

Helena, Camille e Quinn riram.

—Eu vou me sentar. — Camille beijou a bochecha de Quinn e se separou deles.

—Me dê um momento. — Helena saiu de seu abraço e caminhou em direção à porta dos fundos do corredor. Abrindo apenas uma rachadura, ela encontrou Dell imediatamente. Como se sentisse a presença dela, seus olhos se voltaram para os dela. Ela acenou para ele.

Quando ele chegou à porta, ela colocou os braços em volta da cintura dele. —Diga-me que não vou estragar tudo.

Ele riu. —Você não precisa que eu lhe diga isso.

Ela deu um tapa nele. —Você é inútil.

Ele sorriu e a pegou pela cintura. O casaco preto dele era bordado com o mesmo azul do vestido dela. Ele enfiou a mão no bolso e pegou uma pequena escultura em madeira.

Ele segurou a coroa de madeira entre eles. —Você será a melhor rainha que Madra já viu.

Ela pegou a coroa, deixando os dedos deslizarem sobre as curvas suaves. —Como você sabe disso?

—Porque eu te conheço. — Ele pressionou os lábios no lado da cabeça dela.

Música veio da porta aberta, sinalizando o início da cerimônia. Dell saiu para encontrar seu assento novamente, e o corpo alto de Stev substituiu sua presença.

—Obrigado. — Ele acenou com a cabeça em direção a ela. As palavras podem ter carecido de emoção, como a maioria das palavras de Stev nas últimas semanas, mas Helena leu o significado delas.

Ele precisava de um novo começo, longe do lugar onde tantas coisas haviam acontecido. Ele se recuperou dos ferimentos em sua carne, mas os ferimentos em sua mente e seu coração levariam muito mais tempo. Só esperava que ele encontrasse o que procurava em Bela.

O quarteto de cordas tocou mais alto, e as duas portas se abriram, revelando um salão repleto de pessoas. Helena havia assegurado que qualquer pessoa na cidade que desejasse pudesse comparecer à coroação. Com a retomada do comércio exterior, muitas pessoas estavam ocupadas voltando a operar lojas e navios, mas ainda assim muitos chegaram.

Ela respirou fundo quando Kassander entrou no corredor primeiro. Ele caminhava lentamente na frente enquanto Quinn e Estevan pegavam um de seus braços. Camille havia se juntado a Dell e Edmund na primeira fila. Quando Helena os alcançou, seu coração batia tão rápido que ameaçava se libertar.

Ela sorriu para eles quando passou e subiu os três degraus até o estrado que eles construíram para esta ocasião. Um assento para cada realeza repousava na plataforma.

Não havia padres remanescentes para realizar a coroação, mas desde que eles estavam renunciando à tradição de qualquer maneira, não importava.

A música parou e o silêncio se estendeu no corredor.

Helena se ajoelhou quando seus três irmãos se viraram para encarar a multidão.

Estevan falou. —Madra tem sido um reino governado pelo passado. Neste dia, mudamos o destino de nossa terra. Nós olhamos para o que está à nossa frente e não para trás. Helena Rhodipus se torna uma nova tipo de governante, a primeira de uma nova geração. Ela mudará muitas das leis às quais devemos cumprir apenas porque sempre o fizemos. A primeira delas é que um monarca solteiro se sentará no trono.

Seus olhos severos examinaram a multidão. Quando ninguém se opôs, ele se virou para Helena e foi até a mesa na beira do estrado onde havia uma coroa. Não a coroa do pai dela... Ela olhou confusa, mas Stev seguiu em frente.

—Helena Rhodipus, você promete ser uma rainha justa e verdadeira?

Ela assentiu. —Sempre.

—Você colocará Madra em primeiro lugar em todas as coisas?

—Sim.

—Você liderará com compaixão e compreensão? — Essa era uma nova.

—Eu vou.

Stev levantou a coroa. —Esta coroa pertencia a Chloe Rhodipus, nossa mãe.

Helena balançou a cabeça. Ela não reconheceu as gemas azuis ou as peças de ouro.

Stev continuou. —Foi tirada dela quando eu era menino. — Helena ouvira a história. O sacerdócio forçou sua mãe a desempenhar um papel simbólico, em vez de ter um poder real. E eles pegaram a coroa dela? A única coroa com a qual Helena já viu sua mãe era uma tiara delicada.

—Helena Rhodipus. — Stev entregou a coroa a Kass. —Eu coroo você rainha de Madra, um dos seis reinos.

Kassander sorriu quando colocou a coroa na cabeça de Helena. O peso que a carregava diferia do peso da máscara. Aquilo tinha sido uma prisão. Mas a coroa era a liberdade suprema. Ela poderia transformar Madra no reino que sempre deveria ser.

Todos os olhos ali presentes se fixaram nela, pedindo-lhe que tornasse a vida melhor para eles. E ela faria.

Dell estava certo. Uma rainha não precisava de um rei. Um dia, ela teria um. Dell não evitaria o trono para sempre.

Mas, pela primeira vez em sua vida, ela acreditava em suas próprias forças. Ela voltou para Madra determinada a salvar seu povo ou morrer tentando. Quando ela se levantou e se virou para encarar os olhos expectantes de seu povo, ela sabia que faria essa escolha mil vezes mais.

Porque era isso que uma rainha fazia.

Ela levantou a mão para acenar e um rugido de aplausos ecoou nos tetos altos. As pessoas estavam em pé, torcendo por sua nova rainha. O orgulho se espalhou por Helena.

Ela encontrou os olhos de Dell. Quando ele piscou, o sorriso dela cresceu.

Ela talvez não soubesse até aquele momento, mas sempre deveria ficar aqui. A coroa se encaixava nela como se tivesse sido feita para ela. E a aceitação de seu povo a envolveu em uma capa de força, insuportável e imóvel.

Essa era a hora dela.

A hora de Madra.

 

 

                                                   M. Lynn         

 

 

 

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