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Capitulo Nove


Durante a hora seguinte, Cole me ensinou uma dúzia de aspectos diferentes da necromancia básica, alguns dos quais eu nunca havia experimentado antes. Novamente e novamente, o resultado foi o mesmo. Eu era como um brigão de bar, toda força bruta e nenhuma técnica, tentando aprender judô. No início da tarde, eu estava suada e exausta, e Cole parecia igualmente tenso. Ethan estava sentado no pátio nos observando, ocasionalmente cochilando, Mort deitado a seus pés.

—Você precisa aumentar sua energia em um ponto. — Disse Cole. —Um ponto!

—Um ponto é muito difícil. — Eu disse, incomodando-o com uma nuvem de mosquitos. —Mãos são mais fáceis!

—Mãos não funcionam! — Cole pegou os mosquitos e os enviou de volta para mim, e eu retaliei enviando um pardal morto para aninhar em seus cabelos. —Você deveria estar cercando e, em vez disso, está lutando com um tapa!

Ethan riu do pátio, tanto pelas palavras de Cole quanto pela visão dele gritando e espancando o pardal tentando dar uma merda de pássaro empoeirada em seus cabelos.

Ele me mostrou como causar a morte celular direcionada - a mesma técnica que Aethon havia usado para secar partes de nós durante a nossa luta. Eu não era boa nisso. Eu também não era muito boa em controlar muitas pequenas coisas ao mesmo tempo. O mesmo vale para identificar coisas mortas à distância ou direcionar uma única coisa morta-viva por meio de uma série de ações complicadas. Eu era muito boa em foder tudo.

—Por que eu sou tão ruim nisso? — Eu reclamei, esfregando as mãos no rosto.

—Você não é. — Disse Cole, exasperado. —Você mal começou. Você esperava ser a mestre de tudo de uma vez?

—Mais ou menos! — Eu disse. —É suposto ser instintivo, e eu tenho lidado com isso a vida toda. Entre isso e a Vela, eu deveria ser incrível nisso!

—Bem, supere isso. — Disse Cole, impaciente. —Isso leva tempo e prática diária. E você tem feito o possível para fingir que não existe há vinte anos. Vai demorar um pouco para ficar boa nisso.

—Eu não tenho esse tipo de tempo. — Eu disse. —Eu precisava ter sido boa o suficiente para enfrentar Aethon ontem.

—Não é assim que funciona. — Disse Cole. —Tudo bem. Tudo bem, vamos tentar isso. Você está pensando demais e adivinhando a si mesma. Você precisa se mover instintivamente.

Ele se virou, olhando em volta por um momento e, finalmente, pegou um grande graveto no mato coberto de mato.

—Vou tentar bater em você com um pau. — Explicou ele. —Você tenta me impedir com a coisa da necrose.

—E se eu realmente bater em você com isso? — Eu perguntei preocupada.

—Francamente, acho que não. — Disse Cole. —E se você conseguir, você conseguiu curar o vira-lata, você pode me curar. Estou curioso para ver isso em ação novamente, de qualquer maneira. Você está pronta?

Ele levantou o graveto. Olhei para Ethan, que parecia um pouco preocupado. Mas respirei fundo e me firmei.

—Tudo bem, eu estou realmente-

Cole já estava balançando o galho na minha cabeça com força total antes que as palavras saíssem. Eu gritei e saí do caminho apenas para ele me bater com força nas costas com ele.

—Ow! — Eu gritei, correndo para fora do seu alcance. Um vergão dolorido surgiu nas minhas costas, mais largo que o meu polegar. —Jesus, merda, isso dói!

—É suposto. — Disse Cole. —Então me pare da próxima vez. Você está pronta?

—Não! — Eu gritei. Cole colocou a ponta do graveto na terra e se apoiou nela, esperando. Eu olhei para ele, ofendida, minhas costas ainda doendo, mas eu sabia que não podia parar o treinamento aqui. Suspirei. —Tudo bem, eu-

Mais uma vez, ele lançou para mim, balançando com força total. Eu me afastei do caminho e estendi a mão, tentando imaginar o ponto agudo da energia. Nada aconteceu, exceto que ele me acertou na cabeça com o bastão.

—Filho da puta! — Eu gritei, caindo na grama, sentindo como se minha cabeça estivesse aberta. —Que porra é essa!

—Merda, desculpe, você está bem? — Cole perguntou, ajoelhado na minha frente. Ethan também correu pela grama para me verificar. Passei a mão pelo couro cabeludo para procurar sangue e não o encontrei.

—Sim, eu estou bem. — Eu disse, rangendo os dentes com a dor que irradiava pela minha cabeça. —Apenas tente evitar a cabeça da próxima vez, por favor?

—Se isso se tornar uma técnica de treinamento regular. — Disse Ethan, com o braço em volta de mim. —Sugiro investir em capacetes.

—Sim, isso pode não ser uma má idéia. — Admitiu Cole, de má vontade.

—Eu poderia ajudar um pouco? — Ethan perguntou. —Tive Tae Kwon Do durante toda a escola e, depois da maldição, fiz algumas lições de reciclagem. Achei que a disciplina poderia ajudar, sabe? A meditação é realmente muito útil.

—Estou tentando ensiná-la a apodrecer a carne das pessoas enquanto ela ainda está ligada a elas. — Disse Cole, impaciente. —Não praticar Kung Fu.

—Só estou dizendo. — Ethan levantou as mãos na defensiva. —Se vocês dois sabem como fazer uma queda adequada, não precisam se bater com paus. Você pode jogá-la na grama praticamente inofensiva. Um pouco mais seguro.

Cole suspirou, mas permitiu. Ethan passou alguns minutos nos mostrando como cair em segurança e onde evitar pressionar, dando-nos um básico para impedir que nos machucássemos, depois passou para a remoção real.

—Eu vou te mostrar Cole primeiro. — Disse ele. —Então você pode tentar.

—Isso é justo. — Disse Cole.

—Eu acho que você deve isso a ela por bater nela com a vara. — Disse Ethan, e eu ri. Cole, sob o olhar furioso de sempre, parecia um pouco envergonhado.

—Há duas remoções fáceis que eu posso ensinar agora. — Disse Ethan, corrigindo a posição de Cole. —Ambos são bons para lidar com alguém maior do que você.

Cole, que provavelmente era meio metro mais baixo que Ethan e muito mais magro, levantou uma sobrancelha crítica.

—Vou mostrar a você muito rápido. — Disse Ethan. —Lembre-se de como eu te ensinei a pousar.

Ele se moveu tão rapidamente que eu realmente não processei o que ele havia feito. Ele apenas avançou e de repente Cole estava no chão de costas, chiando, com Ethan debruçado sobre ele.

—Você não pousou como eu te disse. — Ethan disse, sorrindo para Cole.

—Você fez isso de propósito. — Disse Cole.

—Sim. — Ethan se levantou e ofereceu a Cole uma mão para cima. —Agora eu vou fazer isso mais devagar. Preste atenção. Pegue aqui, no alto do tríceps.

Ethan alcançou o peito de Cole com o braço direito, sob o direito de Cole de apertar a parte inferior do braço. A outra mão dele tinha o pulso direito de Cole.

—Puxe-o para o lado. — Explicou Ethan. —Para que você possa colocar sua perna entre.

Ele avançou suavemente em uma espécie de posição ajoelhada, envolvendo a perna em torno da de Cole e a outra perna atrás dele. Ajoelhando-se com a cabeça perto do quadril de Cole, ele parou. Cole cambaleou, lutando para manter o equilíbrio. Ethan o pegou pelos quadris para segurá-lo, sorriu e voltou a segurar seu braço.

—Viu como eu tenho controle do seu equilíbrio agora? — Ethan explicou, ignorando o quão vermelho Cole ficou. —Agora eu me inclino para a frente com o quadril e-

Ele mal precisava se inclinar para fazer Cole cair para trás, incapaz de manter o equilíbrio. A cabeça de Ethan estava perto do estômago de Cole, mas quando Cole tentou recuperar o fôlego, Ethan avançou.

—Certifique-se de seguir em frente com o movimento. — Disse Ethan, deslizando até ele cobrir completamente Cole. —Ou eles podem facilmente prendê-lo. Quando você estiver com eles, poderá se soltar com segurança.

—Agora entendo por que você quis fazer isso. — Disse Cole sarcasticamente, olhando para Ethan. Ethan pigarreou e saiu, ajudando Cole a se levantar novamente.

—Você quer tentar, Vexa? — Ele ofereceu.

—Definitivamente. — Eu concordei, minha cabeça ainda doendo. Eu tomei meu lugar na frente de Cole e Ethan estava atrás de mim, inclinando-se para me direcionar.

—Arme primeiro. — Disse ele. —Sob o tríceps, como eu mostrei a você.

Deslizei minha mão pela parte de trás do braço de Cole, consciente de quão perto os dois homens estavam perto de mim. Os músculos tensos de Cole sob meus dedos eram quase tão perturbadores quanto a respiração de Ethan na parte de trás do meu pescoço.

—Agora, puxe-o e vá para a perna. — Ethan disse, suas mãos nas minhas costas e meu braço me guiando para a frente enquanto envolvia minha perna em torno de Cole. As mãos de Ethan se moveram para os meus quadris, me puxando para trás antes que eu pudesse cair de joelhos.

—Não, não, observe seus pés. — Disse ele, empurrando meus quadris em um rolo mais controlado para frente. —Você não pode simplesmente jogar sua perna para a frente. Você tem que se transformar nela.

Cole observou as mãos de Ethan guiando meus quadris com uma expressão estranha. Eu me concentrei em controlar meu batimento cardíaco repentinamente rápido, prestando atenção às instruções de Ethan. Depois de baixar o quadril, segui em frente com a perna novamente. Era mais difícil do que parecia acertar esse movimento, mas Ethan estava lá para me pegar e guiar meus movimentos, seus dedos tão gentis quanto sua voz. Quando me ajoelhei, olhei para Cole, que olhou para mim com uma familiar faísca de interesse em seus olhos. As mãos de Ethan apertaram meus ombros. Houve uma pausa, todos nós percebendo simultaneamente o fato de que nenhum de nós estava sozinho no calor repentino sob nossas peles. Engoli em seco e desesperada para quebrar a tensão, inclinei-me com o quadril e joguei Cole de volta na grama.

—Porra! — Ele gritou quando caiu, pego de surpresa. Caí para a frente com ele, incapaz de fazer qualquer outra coisa, e ri em seu estômago.

—Lembre-se de seguir adiante. — Ethan me lembrou. Cole se contorceu, talvez esperando escapar, e eu me movi rapidamente para prender seus ombros. Eu sorri para ele, corada e sem fôlego, saboreando o calor nos olhos de Cole.

Suas mãos roçaram meus quadris e, de repente, percebi o constrangimento da situação. Eu rolei rapidamente e me afastei, olhando para Ethan, a culpa clara no meu rosto, mas Ethan sorriu para mim, balançando a cabeça. Ele não tinha notado ou simplesmente não se importava? Eu não tinha certeza de como me sentir sobre qualquer uma das opções.

—Sua vez, Cole. — Ethan disse, ajudando o outro homem a se levantar novamente.

—Finalmente. — Disse Cole.

—Você está pronta para isso? — Ethan me perguntou. Eu assenti sem palavras, ainda muito perturbada para gerenciar as palavras. Cole estava vermelho até os ouvidos. Só Ethan manteve a calma.

Tomei meu lugar na frente de Cole, e Ethan foi atrás dele para guiá-lo da mesma maneira que ele me guiou.

—Vamos tentar devagar uma vez. — Disse Ethan. —Você se lembra de como cair, Vexa?

Eu balancei a cabeça e me preparei enquanto Ethan treinava Cole através dos movimentos. O rosto de Cole ficava mais vermelho toda vez que Ethan o tocava, e a mão de Ethan tremia. Não era só eu que eles estavam ficando excitados, não era? Cole realmente tinha gostado de algo ontem à noite? Eu seria deixada para trás? Eu sacudi por enquanto. Eu precisava ter uma conversa com Ethan - em breve.

Preocupada com meus pensamentos, não notei Cole avançando até estar de costas na grama com um grito.

—Muito bem. — Ethan disse com uma risada. —Você está bem, Vexa?

—Estou bem. — Chiei por baixo de Cole, que se afastou de mim rapidamente.

—Acho que posso fazer rápido dessa vez. — Disse Cole, oferecendo-me uma mão, o que eu peguei. —Pronta para tentar me parar desta vez?

—Claro. — Eu disse, respirando fundo e me posicionando novamente. —Ponto afiado, certo?

—Eu vou encontrar vocês dois. — Ethan disse, ficando perto quando Cole se sacudiu e alcançou-me. —Lembrem-se de observar o ângulo dos seus quadris.

Cole assentiu, depois se moveu para mim rapidamente, agarrando meu braço.

Eu estava de bunda na grama antes que eu pudesse piscar. Cole seguiu em frente. Tossi para recuperar o fôlego.

—Você tentou? — Ele perguntou.

—Claro! — Eu disse. —Foi muito rápido.

—Aethon não vai devagar para você!

—Eu sei, eu sei! Vamos tentar novamente.

Foram necessárias mais três tentativas antes que eu conseguisse começar a visualizar antes que ele me jogasse na grama. Minhas costas doíam, mas menos do que onde ele me bateu com o pau. Tudo tinha deixado de ser sexy depois da quarta ou quinta vez que eu acabei na terra. Agora eu estava apenas chateada.

—Você ainda não está fazendo questão. — Disse Cole, quando pousou em cima de mim novamente. Eu queria gritar. Em vez disso, aproveitei o fato de que Cole não havia seguido com o movimento para jogar uma perna em torno dele e empurrá-lo na terra.

—Eu não posso fazer isso! — Eu disse, sentando nele enquanto ele se debatia para se soltar, segurando uma de suas pernas. —Demora muito tempo para afiá-lo! Não funciona!

Cole fez um som de dor no mesmo momento em que Ethan subitamente pulou em minha direção, gritando meu nome.

Tirei minhas mãos de Cole rapidamente e horrorizada, vi a marca negra e murcha sob onde minha mão estava. Agarrei-o novamente imediatamente, trabalhando no instinto para lavar a energia negativa, restaurando a carne saudável em poucos segundos.

—Desculpe! Jesus! — Eu disse, tremendo, ajoelhando-me ao lado de Cole quando ele caiu de costas, respirando irregular. —Você está bem? Sinto muito!

—Estou bem. — Disse Cole, imediatamente. —Você está pegando o jeito, aparentemente. Só precisava deixá-la brava o suficiente.

—Parece que você descobriu essa coisa de cura também. — Ethan disse, ajoelhando-se ao meu lado e colocando um braço em volta dos meus ombros. —Você consertou tão rápido que eu mal vi.

—Mal tive tempo de sentir isso. — Concordou Cole. —Como esbarrar em uma boca acesa do fogão.

—Pelo menos eu sou boa em uma coisa. — Eu disse com uma risada cansada. —Devemos tentar de novo?

Cole sentou-se nervoso, depois se sacudiu.

—Sim, vamos continuar.

 

 

 

 


Capitulo Dez


Continuamos por mais meia hora. Principalmente foi Cole me jogando na grama, mas consegui mais alguns bons acertos e tive uma boa noção da coisa de curar. No entanto, minha capacidade estava reservada a ferimentos causados por energia necromântica. Cole esfolou o joelho em uma pedra e eu não pude fazer nada. Contanto que eu pudesse fazer alguma coisa, eu não me importei. Fiquei feliz por haver pelo menos uma coisa que eu poderia fazer sem problemas.

Caí na grama ao lado de Cole depois de curá-lo novamente, ofegando. Ethan sentou-se do outro lado de nós, parecendo bastante cansado. Ele estava perto, nos pegando quando caíamos e nos treinando através dos arremessos e quedas. Mort também caiu ao nosso lado, com a cabeça desgrenhada no meu ombro.

—Você está bem? — Eu perguntei a Cole, sem fôlego.

—Sim, me dê um minuto. — Disse Cole, sua voz tensa. —Aquele machucou.

—Desculpe. — Eu disse.

—Não se desculpe. — Ele me corrigiu rapidamente. —É bom. —Dê um tapa na cara de Aethon assim algumas vezes, e podemos até ter uma chance.

—Disse a você que a coisa não funcionou. — Eu disse, fechando os olhos. —Luta de tapas é a resposta, afinal.

—Você provavelmente ainda deve aprender a fazer o ponto. — Ethan disse, inclinando-se sobre mim para tirar meu cabelo do meu rosto. —Você pode não ser capaz de se aproximar o suficiente de Aethon para dar um tapa na cara dele.

—Certo. — Eu disse, não desejando. Ele sorriu e se inclinou para me beijar, doce e breve.

—Nojento. — Disse Cole, rolando para longe de nós. Ele não parecia estar falando sério.

—Você é nojento! — Eu provoquei. Sua camisa tinha subido um pouco, e eu rolei para fazer cócegas na tira de pele exposta. Ele deu um latido de riso áspero e enrolou-se para escapar. Eu compartilhei um olhar com Ethan e um segundo depois, nós dois estávamos mergulhando para fazer em qualquer parte dele que pudéssemos alcançar. Mort pulou ao nosso redor, latindo de emoção enquanto brigávamos.

—Para para! — Cole implorou por sua risada. —Foda-se! Eu vou te matar!

Puxei a camisa dele e soprei uma lufae no estômago, o que o fez gritar tão alto que Ethan e eu caímos na gargalhada. Mort atacou Cole assim que saímos do caminho, cobrindo-o com beijos babados.

—Deus, vocês são esquisitos. — Disse Cole, ainda rindo, empurrando Mort e afastando a grama novamente.

—Sim, bem, você também. — Eu disse, recuando com a cabeça no colo de Ethan e minhas pernas envoltas nas de Cole. —Farinha do mesmo saco.

—Você é muito estranha para ser um pássaro. — Disse Cole, sorrindo para mim. —Você é muito estranha para ser qualquer coisa, menos humano.

Meu coração pulou uma batida ao ver seu sorriso. Foi o primeiro sorriso genuíno que eu vi nele. Iluminava todo o seu rosto como a luz do sol, banindo, ainda que brevemente, as sombras que tantas vezes permaneciam ao redor de seus olhos. Apertei a mão de Ethan, minha respiração presa no meu peito.

—Seja o que for, sou a mesma coisa que você é. — Eu disse a ele.

—Vocês três estão vivos ai fora?

Todos olhamos quando tia Persephona chamou da porta de vidro deslizante.

—Principalmente. — Confirmei, enquanto Mort pulava e corria para tia Percy, que sacudiu os ouvidos com carinho.

—O jantar está quase pronto. — Disse ela. —Venha e me ajude a arrumar a mesa.

Eu vi o rosto de Cole cair. Por um momento, sua ansiedade ficou clara. Ele não tinha certeza se era bem-vindo para ficar, ou se deveria ficar, mesmo que fosse bem-vindo. Suas paredes estavam de volta um momento depois, sua expressão endurecendo quando ele se distanciou para suportar o que acontecia. Engoli em seco e me levantei, oferecendo-lhe uma mão.

—Venha. — Eu disse. —Você vai ficar para o jantar, certo?

Cole hesitou. Eu pude ver a indecisão. Eu me preparei para a sua recusa, pronta para deixá-lo ir, se era isso que ele queria.

—Cole! — Tia Persephona gritou da varanda novamente. —Você disse que gostava de pão de alho, certo? Porque eu acabei de ganhar muito!

O sorriso tocou o rosto de Cole novamente por apenas um momento. Ele pegou minha mão e se levantou.

—Não existe pão de alho em excesso. — Ele gritou de volta.

Eu compartilhei um sorriso com Ethan enquanto seguíamos Cole para dentro da casa. Eu poderia dizer que ele estava tão feliz quanto eu por Cole estar comendo. Eu ainda precisava conversar com Ethan sobre o que era ou para onde estava indo, mas por enquanto, ter os dois por perto me senti bem.

O jantar foi um dos mais agradáveis que já tive em muito tempo, cheio de risadas e boas conversas. Cole estava um pouco reservado, claramente inseguro sobre o seu lugar. Nós não o pressionamos e, quando ele se sentiu à vontade para aumentar a conversa, nós o recebemos. Ele teve um relacionamento fácil com minha tia. Havia um entendimento instintivo entre duas pessoas que passaram anos tentando aprender os segredos da magia, apesar de todos os obstáculos que a vida colocou no caminho.

—Vamos ver o fae amanhã. — Ethan disse, enquanto o jantar terminava. Ajudei-o a lavar a louça enquanto minha tia se retirava cedo para estudar no quarto dela. —Provavelmente poderíamos fazer isso hoje à noite. Ele mantém horários estranhos. Mas...

—Estou muito dolorida com a prática. — Confessei, revirando meus ombros rígidos. —Amanhã provavelmente é melhor.

—Eu vou com você. — Cole concordou, vestindo a jaqueta. —Eu posso te encontrar aqui por volta das nove.

—Você não quer ficar? — Eu perguntei. —O sofá ainda está aberto. Seria muito mais conveniente.

—Eu posso encontrar meu próprio lugar para dormir. — Disse Cole, um pouco na defensiva.

Ethan ficou cuidadosamente em silêncio, enquanto segurava o prato que estava secando. Considerando como Cole reagiu a Ethan tentando insistir da última vez, eu não o culpo.

—Isso tornaria as coisas muito mais fáceis para nós amanhã. — Eu disse, não pressionando demais. —Não precisa ser para sempre. Estamos apenas... preocupados com você.

—Eu não preciso que você se preocupe comigo. — Disse Cole, bruscamente e eu estremeci, sentindo que tinha estragado tudo.

—Tarde demais. — Disse Ethan, sem levantar os olhos da pia. —Nós vamos nos preocupar, de qualquer maneira. Você estragou tudo e fez amigos, cara. A preocupação vem com o território.

O queixo de Cole se apertou e, por um momento, pensei que ele sairia em disparada. Mas depois de um momento, a tensão desapareceu de seus ombros.

—Tudo bem. — Ele disse, de má vontade. —Eu vou dormir no sofá estúpido. Só por esta noite. Porque vir aqui logo de manhã é uma dor na bunda.

—Parece ótimo. — Eu disse, incapaz de esconder meu sorriso. Ethan sorriu também, embora ainda não desviasse o olhar da pia.

Era cedo, então nos sentamos na sala por um tempo, relaxando, cuidando de nossos machucados desde o início do dia. Cole jogou uma pilha de livros sobre mim, principalmente textos necromânticos básicos e alguns guias gerais de magia para ‘me dar uma boa base teórica’. Eu li uma delas, fazendo anotações preguiçosas no meu telefone, enquanto Ethan e Cole conversavam sobre um filme que ambos não gostavam.

Eventualmente, fomos para a cama, jogando cobertores e um travesseiro em Cole no sofá antes de Ethan e eu nos retirarmos para o quarto de hóspedes. Morgana decidiu desde o início que gostava de Cole melhor do que eu e passou a maior parte da noite enrolada em seu colo. Parecia que ela pretendia passar a noite lá. Mort nos seguiu até o quarto, no entanto, pulando na cama e sentando no pé imediatamente.

Ethan e eu estávamos dividindo o quarto de hóspedes de tia Persephona desde que Aethon atacou a funerária, mas até agora, ele estava exausto demais para fazermos muito, mas dormir um ao lado do outro enquanto ele se recuperava de sua experiência de quase morte. Quando nos mudamos para a cama, sem nos olharmos, percebi que não era mais esse o caso. Mas agora tivemos outro problema. Lembrei-me de como ele reagiu ao nosso pequeno encontro na mesa do pátio, e quão perto ele chegou do desastre no drive-in. E se da próxima vez ele não pudesse controlar? Eu o queria. Mas não éstavamos seguros um para o outro.

Quando me deitei, ele me puxou para perto, aconchegando na minha garganta e pressionando beijos na minha pele.

—Você foi incrível hoje. — Disse ele. —Praticando com Cole. Eu nunca vi nada parecido. Os bruxos da biblioteca desejam que eles possam fazer algo tão impressionante quanto isso. Uther é a mais forte e a pequena coisa de teletransporte é o truque mais impressionante que ele tem. É por isso que ele usa-o toda vez que ele aparece.

Eu sorri e rolei para colocar meus braços em volta dele. Esse relacionamento ainda era novo, mas havia muito o que amar nele. O perfume de seus cabelos, as calos nas mãos, as rugas nos cantos dos olhos quando ele sorria para mim. Era quase aterrorizante. Eu poderia me apaixonar por ele tão facilmente, pensei. E eu ainda sabia muito pouco sobre ele. Se eu me apressasse nisso, haveria algo para apoiar um relacionamento real?

—Você está se preocupando. — Disse ele, e estendeu a mão para esfregar o local entre as minhas sobrancelhas. —Você franze sua testa quando está pensando. O que houve?

—Muitas coisas. — Eu disse honestamente. —Há muito com o que se preocupar ultimamente.

Passei a mão por seu ombro nu, até seu quadril. Ele estava usando aquelas calças de moletom novamente, e eu brinquei com a banda, pensativa.

—Com Cole hoje. — Eu disse baixinho, depois me corrigi. —O que ele disse ontem à noite. Você gosta dele?

Ethan pareceu surpreso por um momento, depois desviou o olhar, o queixo apertado. Eu senti a repentina tensão nele, como se ele estivesse se preparando para o impacto. Eu toquei sua bochecha.

—Se você gosta dele. Está tudo bem. — Eu disse rapidamente.

Ele pegou minha mão contra sua bochecha, apertando-a, mas ele não olhou para mim.

—Eu não sou assim. — Ele sussurrou. —Por favor, não pense que sou assim.

—Como o quê? — Eu perguntei confusa. Eu nunca o tinha visto assim. Havia algo quase como nojo no conjunto de sua boca, o sulco apertado de suas sobrancelhas. Mas não foi dirigido a mim. —Como o que? Bissexual?

Ele se encolheu, como se a palavra lhe causasse dor física.

—Eu gosto de você. — Ele disse, sua voz rouca. —Eu gosto de estar com você.

—Mas você também gosta dele. — Eu disse, sem entender o que o perturbava. Ele colocou a mão no rosto. Havia um tremor em seus ombros, uma emoção tentando escapar. E suas unhas pareciam claramente com garras.

—Ethan. — Eu disse suavemente, passando a mão sobre o peito em círculos suaves. —Do que você tem medo? Eu não estou chateada. Eu nem estou surpresa. Não é um problema.

—É um problema. — Disse ele, arrastando a mão pelo rosto até a boca. Ele estava com medo. Finalmente, finalmente, ele olhou para mim.

—Eu não queria que você soubesse. — Disse ele. —Eu não quero que ninguém saiba.

—Tudo bem. — Eu disse imediatamente. —Eu não vou contar a ninguém.

—Você não entende. — Disse ele, fechando os olhos novamente.

—Não, eu não entendo. — Eu concordei. —Isso não muda nada. Eu não me importo se você já esteve com homens antes-

—Eu não estive. — Disse ele bruscamente.

—Eu não ligo. — Repeti. —Isso não afeta o nosso relacionamento. Importa apenas se você quiser. Eu só quero saber mais sobre você. Se isso faz parte de quem você é, eu quero saber sobre isso.

Ele ainda parecia preocupado.

—Eu realmente gosto de você, Ethan. — Eu disse calmamente. —Eu não sei se isso é apenas uma aventura para você ou o que quer que seja. Entendo se isso é algo que você simplesmente não está confortável conversando com alguém que... que pode não fazer parte da sua vida por muito tempo. Mas eu gosto muito de você. Quero ver se isso pode funcionar. Quero saber quem você é.

—Você tem certeza? — Ele disse. —Você tem certeza?

—Eu tenho certeza. — Eu disse, com o máximo de gravidade que pude, tocando sua bochecha. —Isso não me incomoda. Faz parte de quem você é, e eu gosto de quem você é.

Eu o vi engolir em seco. Ele virou o rosto na minha mão e beijou minha palma, ficando assim por um momento.

—Não é... algo com o qual estou realmente confortável. — Disse ele.

—Não brinca. — Eu respondi, e ele riu baixinho, o som tocado com amargura, sua boca se movendo contra a minha palma.

—Minha família era realmente religiosa. — Explicou ele. —Tipo, realmente religiosos. Nós estávamos na igreja pelo menos três vezes por semana. E eu estava profundamente envolvido, compromisso total, anel de pureza e tudo. Mesmo depois de eu... depois que comecei a perceber.

—Isso é difícil. — Eu disse, incapaz de imaginar. Minha família nunca foi do tipo de igreja, por razões óbvias. —Acho que sua igreja não era do tipo que aceita?

—Mais como o 'organizou um protesto contra o GSA2 da minha escola. — Disse ele com tristeza. —Também a abstinência é tudo o que deve ser ensinado em sexo e a masturbação é um pecado.

—Droga. — Eu respondi. —Não é de admirar que você tenha problemas com isso.

—Minha família nunca mais falaria comigo se soubesse. — Disse ele, quase um sussurro. —Ou pior. Uma garota da minha igreja saiu no primeiro ano. A mãe dela bateu nela. Enviou-a para o hospital. Quando ela foi libertada, eles não vieram buscá-la. Ela teve que arranjar um amigo para trazê-la para casa. Ela encontrou as fechaduras trocadas e tudo o que possuía no meio-fio. Eu nem sei o que aconteceu com ela. Ela não voltou para a escola. Suas amigas me disseram o que sua mãe fez. Eles foram expulsos, mas eles também não sabiam mais nada. Ninguém na igreja falava sobre isso. Sua mãe voltou a cantar hinos como se nada tivesse acontecido, com as mãos ainda machucadas por tentar espancar os gays como a filha dela. Meu pai disse que 'admirava sua determinação'.

Estremeci e fiquei brevemente grata por minha família chata, mas perfeitamente solidária. Eu literalmente trouxe coisas mortas de volta à vida, mas nunca me preocupei que meus pais me odiassem por isso ou me expulsassem, muito menos me enviassem para o hospital. Eles não entendiam essa parte da minha vida. Não conseguia entender. Mas pelo menos eu sabia que eles me amavam, de qualquer maneira. Peguei a mão dele, tudo o que pude fazer para mostrar meu apoio.

—Eu ouvi dezenas de histórias assim. — Disse ele calmamente, olhando para as nossas mãos enquanto enlaçava os dedos. —Ninguém mais da igreja. Mas algumas outras crianças na escola. E quando eu era mais velho, as pessoas trabalhavam. E quando comecei a viajar por causa da maldição, descobri mais. Não sei o que é pior, os que acabam sem teto ou os que são forçados a ficar com uma família que os odeia. Não há boa opção. Você entende o que estou dizendo, Vexa?

Apertei sua mão, desejando ter as palavras.

—Não há final feliz para pessoas como eu. — Disse ele.

—Isso não é verdade. — Eu disse imediatamente. Seu aperto na minha mão relaxou. Ele balançou a cabeça, afastando-se.

—Não é verdade. — Insisti. —Sim, é péssimo, mas isso não significa que você não tem esperança! Você já está fora de lá. Você não precisa da aprovação de sua família para sobreviver e viver uma vida perfeitamente feliz. Você pode ter um final feliz sem eles...

Ele forçou um sorriso e beijou as costas da minha mão suavemente.

—Obrigado por tentar. — Disse ele. —Por ouvir.

—A qualquer hora. — Eu disse a ele. —Realmente, a qualquer momento. Você quer falar sobre coisas trágicas da vida? Estou triste. Você quer fofocar sobre garotos? Eu posso fazer isso também.

Ele bufou, e fiquei aliviada ao ouvi-lo rir.

—Então, quem era sua boy band favorita? — Eu perguntei, provocando, e ele fez um barulho de repulsa.

—Não. — Ele disse com uma pequena risada. —Realmente, não. Ainda está dolorido.

—Tudo bem. — Eu disse, e me deitei ao lado dele, pressionando um beijo em sua têmpora. —Eu vou deixar você falar sobre isso no futuro. Eu só quero que você saiba que estou aqui por você.

Com outra risada suave, ele se virou para me olhar nos olhos, estranhamente vulnerável.

—E isso? — Ele perguntou, sua mão deslizando pela minha coxa até a minha cintura. —Você ainda está aqui para isso? Tudo bem se você não estiver.

Eu respondi beijando-o com força. Inferno, sim, eu estava. A princípio. E depois de uma conversa tão pesada, se era isso que ele precisava sentir como se eu ainda estivesse com ele, fiquei mais do que feliz em agradecer.

Ethan sorriu contra meus lábios e me beijou de volta, me puxando para mais perto, nossas pernas emaranhadas quando suas mãos fortes apertaram meus quadris.

—Então. — Ele disse, respirando fundo quando quebramos o beijo. —Sobre Cole...

—Sim? — Eu ainda estava um pouco tonta com o beijo, pensando em quão longe poderíamos arriscar ir.

—Você gosta dele também.

Isso chamou minha atenção. O calor correu para o meu rosto.

—Eu não sei. — Eu admiti. —Ele é fofo. Mas não é como eu faria... não estou planejando...

—Está tudo bem. — Disse ele, beijando minha testa. —Você não precisa se desculpar.

—Você não está com ciúmes? — Eu perguntei.

—Claro que sim. — Ethan disse com uma risada forçada. —Ele é fofo, e é um necromante como você, e ele tem toda aquela coisa trágica de bad boy acontecendo. E, por mais que eu goste de você, você sabe que tenho... um limite de tempo.

—Ethan. — Eu disse preocupada, sentando-me. Ele balançou a cabeça, me empurrando de volta suavemente.

—A menos que encontremos uma maneira de quebrar a maldição. — Disse ele. —Um dia, mais cedo ou mais tarde, isso vai me derrotar. Não sou um bom investimento a longo prazo.

—Você é uma pessoa, não uma opção de compra. — Eu disse. Ele riu, mas havia uma amargura no conjunto de suas sobrancelhas.

—Quanto mais fundo você se envolver comigo — Disse ele, —Mais doerá se e quando isso acontecer. Eu não culparia você por não querer passar por isso. Então, sim, tenho inveja do cara que poderia passar a vida com você, quando eu só tenho alguns anos. Ou menos.

Eu gostaria de ter certeza de que definitivamente quebraríamos a maldição. Eu realmente não tinha pensado em quanto tempo teríamos. Agora eu quase podia ouvir um relógio correndo, segundos preciosos desaparecendo. Era um milhão de vezes mais assustador do que se apaixonar. Eu pensei que estava confortável com o conceito de morte, considerando quem eu era como pessoa, mas nunca o processei até que de repente se aproximava, inevitável e implacável, e não há nada que eu possa fazer sobre isso.

—Mas meu ciúme não importa. — Ethan disse finalmente. —Confio em você. O ciúme é... As pessoas não o entendem. Eles agem como se fosse um sinal de amor, ou algum grande obstáculo intransponível, mas o ciúme é apenas uma emoção. Um sintoma de insegurança. Você não pode simplesmente dizer ‘estou com ciúmes’ e encerrar a conversa. Você precisa falar sobre isso, descobrir por que está com ciúmes e resolver o problema.

—Eu não acho que entendi o que você está dizendo. — Eu admiti, franzindo a testa.

Ele passou a mão pelas minhas costas distraidamente, pensando.

—Acho que o que estou dizendo é que, se você quer ficar com ele, está tudo bem comigo.

Meus olhos se arregalaram. —Só porque sua maldição pode matá-lo, eventualmente, não significa que eu vou pular de navio antes mesmo de-

—Não é isso.

—Você está apenas tentando me dar um fora por causa da coisa bi? Porque você não precisa-

Ethan cobriu minha boca com a mão, um sorriso exasperado em seu rosto.

—Não, Vexa, não é isso que eu quero dizer. — Disse ele, balançando a cabeça e removendo a mão para escovar meu cabelo para trás. —Quero dizer, se ele está bem com isso, se você quer ficar com ele também, eu não me importo.

Isso me calou. Não era uma possibilidade que eu realmente considerasse. Eu encontrei minha boca seca e meu coração batendo um pouco demais com o pensamento.

—Eu sei que é estranho. — Disse ele, afastando-se um pouco, envergonhado. —Eu provavelmente não deveria ter sugerido. Apenas sinto que temos tão pouco tempo que você não deve se conter. Você merece tudo o que deseja e muito mais. Você é incrível e-

Desta vez, coloquei minha mão sobre sua boca. Quando ele parou de tagarelar, tirei minha mão para beijá-lo.

—Você realmente ficaria bem com isso? — Eu perguntei. Ele assentiu, sorrindo. Procurei algum traço de dúvida em seus olhos, mas não consegui encontrá-lo. —Você quer ficar com ele também?

Houve um lampejo de dúvida. Ele lambeu os lábios, olhando para as nossas mãos unidas.

—Eu não...— Ele admitiu. —Com um cara. Cheguei perto algumas vezes. Não pude continuar com isso.

—Mas você quer tentar com ele? — Eu perguntei, pressionando.

Ele desviou o olhar, inquieto. Eu o deixei desconfortável novamente.

—Não... talvez. — Ele admitiu. —Eu não deveria. Mas acho que ele não aceitaria. Não comigo, pelo menos.

—Eu não sei. — Eu disse, lembrando o quão vermelho Cole ficou quando Ethan o tocou hoje cedo. —Eu acho que você tem uma chance.

—Você ficaria bem com isso? — Ethan perguntou, olhando nos meus olhos. —Não é nem uma possibilidade remota, mas eu não quero pressioná-la a qualquer tipo de situação com a qual você não se sinta confortável, mesmo hipoteticamente.

Eu pensei sobre isso, lembrando-me da maneira como meu estômago tremia observando-os mais cedo, as pontadas de preocupação e saudade.

—Estou com medo disso. — Eu disse, decidindo que ser honesta era a melhor escolha. —Eu tenho medo que vocês dois decidam que estão melhor sem mim. Isso é estúpido?

—Não, não, isso é normal. — Ethan disse, rapidamente, me puxando para perto e beijando minha cabeça novamente. —Deus, isso é perfeitamente normal, querida. Também tenho medo disso. Inferno, provavelmente seria uma boa decisão de sua parte. Mas você. Você é incrível. Eu sei que isso ainda é novo, mas não é uma aventura para mim. Eu quero fazer isso durar, pelo menos enquanto eu tiver deixado. As coisas podem mudar, talvez possamos aprender mais um sobre o outro e nos afastar, quem sabe. Mas eu sei que você me faz querer tentar para fazer isso funcionar. Nada do que poderia acontecer com Cole vai mudar isso.

Ele me beijou novamente e eu coloquei meus braços em volta dele, meu coração doendo no meu peito. Eu não tinha certeza de nada ainda, mas isso era bom. Certo.

A língua de Ethan roçou meus lábios e um pequeno zumbido de encorajamento me escapou, o que o fez me apertar com mais força. Deslizei uma perna sobre seus quadris e sua mão deslizou da minha cintura para me puxar para mais perto, o ar entre nós ficando quente. Deslizei a mão em seus cabelos, unhas roçando seu couro cabeludo, e ele quebrou o beijo com um calafrio para espalhar beijos na minha garganta.

Eu gemi em apreciação e Mort levantou a cabeça do final da cama. Ele bufou impaciente, pulou da cama e abriu a porta do quarto, desaparecendo na escuridão do corredor. Algo sobre a pura indignidade de sua reação e o absurdo de esquecermos que ele estava lá me fez começar a rir, e uma vez que comecei, não consegui parar. Que conversa intensa e louca de ter no final desta semana insana. Deus, eu quase morri três vezes, e agora eu estava discutindo um relacionamento aberto com meu namorado bissexual e lobisomem. Eu pensei que minha vida era estranha antes de tudo isso começar. Ethan levantou-se para fechar a porta e eu o observei sair, ainda processando tudo o que havíamos conversado, mas meus pensamentos sumiram enquanto eu apreciava a visão de sua bunda naquelas calças de moletom. Tinha sido uma noite muito intensa até agora. Quando Ethan voltou, eu sorri para ele e torci para que ainda não tivesse terminado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Onze


Quando ele voltou para a cama, eu rolei de costas e abri meus braços para ele, ansiosa para continuar o beijo que havíamos quebrado um momento atrás. Ele concordou de bom grado, deslizando sobre mim para me beijar gentilmente. Deslizei meus braços ao redor dele, aprofundando o beijo e puxando-o para baixo dos travesseiros. Eu amei a pressão tranquilizadora do seu peso em mim. Isso me fez sentir estável em um mundo onde as coisas desmoronavam constantemente. Deslizei minhas mãos em direção à cintura de suas calças, e Ethan quebrou o beijo para pegar minha mão.

—Não deveríamos. — Disse ele com um suspiro relutante. —Você sabe o que poderia acontecer.

Ele estava certo, mas eu não queria admitir. Eu queria estar com ele agora. Após o peso da nossa conversa, era importante. Eu queria mostrar a ele o quanto eu o queria. Eu queria ver nos olhos dele o quanto ele me queria.

—Vamos tentar alguma coisa. — Sugeri, sorrindo. Ele levantou uma sobrancelha, mas obedeceu quando eu o empurrei de volta para os travesseiros e subi da cama para recuperar alguma coisa. Quando voltei com o cinto da calça, ele parecia um pouco preocupado, sentando-se contra a cabeceira da cama.

—Até que possamos comprar aquelas algemas felpudas. — Eu disse, subindo em seu colo. Peguei suas mãos, levando-as acima da cabeça até a barra da cabeceira da cama, amarrando o cinto em uma figura oito em volta dos pulsos e da barra. Apertei-o apenas o suficiente para que eu ainda pudesse colocar dois dedos entre ele e sua pele.

—Como é isso? — Eu perguntei a ele. —Não é muito apertado, é?

—Parece estranho. — Ele admitiu. —Mas não é muito apertado.

—Você quer que eu tire? — Eu perguntei.

—Diga-me o que você está planejando primeiro. — Disse ele, rindo.

—Isso está seguro. — Eu disse, batendo no cinto antes de me acomodar mais profundamente em seu colo, com muitas mexidas desnecessárias. —O plano é ir muito, muito devagar.

Eu rolei meus quadris contra seu colo e o vi engolir em seco.

—Construa um pouco de cada vez para que você nunca perca o controle. Parece bom?

—Eu não sei se isso vai funcionar. — Disse ele, mordendo o lábio. —Mas estou disposto a tentar.

Eu sorri —Incrível. Diga-me imediatamente se algo dói ou se você quer parar.

Comecei tirando minhas próprias roupas. Fiel à minha palavra, aproveitei meu momento agradável, derramando minha camisola e a roupa íntima por baixo com tanta pompa e circunstância quanto pude. Era uma provocação boba, mas o fez sorrir, o que importava.

Fiquei nua no colo dele, montando nele enquanto terminava e ele sorriu para mim, apreciando a vista.

—Você vai me despir em seguida? — Ele perguntou.

Eu fingi considerar por um minuto.

—Hmm, nah, acho que você está bem como está.

Eu o beijei antes que ele pudesse dizer mais. Comecei doce e devagar, depois arrastei meus dentes sobre seu lábio, mordi o suficiente para fazê-lo ofegar e deslizei minha língua ao lado da dele para provar o calor de sua boca.

Enquanto eu o beijava, balancei meus quadris em círculos lentos, moendo descaradamente contra ele. Ouvi o couro do cinto estalar quando minhas mãos apertaram seu peito e deslizaram até sua cintura. Eu levei um tempo beijando-o, minhas mãos vagando, traçando sua clavícula, os músculos de seus braços, como eu tinha todo o tempo do mundo, até senti-lo ficando duro contra mim. Eu me esfreguei contra ele por um momento até ouvir sua respiração começar a pegar. Então me afastei, sorrindo para o barulho frustrado que ele fez.

—Como você está se sentindo? — Eu perguntei, recostando-me em uma mão, ainda montando em seu colo. —Ainda está tudo bem?

—Tudo ótimo. — Ele confirmou, seus olhos quentes enquanto olhava para mim. —O lobo nem está mostrando a cabeça ainda. Talvez a última vez tenha sido por acaso.

—Talvez. — Eu disse, passando a mão livre pelo centro do peito enquanto olhava para ele. —Mas eu não estou me arriscando. Você sabe, você parece muito bem assim.

A calça de moletom escorregou em seus quadris. A mecha de cabelo castanho dourado que desapareceu sob a banda foi uma tentação difícil de resistir, apontando para o contorno óbvio de seu tesão negligenciado. A posição dos braços acima da cabeça enfatizava as linhas do peito bem definido, os ombros largos, a curva do estômago. Acima de tudo, a fome em seus olhos me fez doer de excitação. De fato...

Eu deixei minha mão descer pelo meu peito correndo até os meus lábios, correndo levemente por fora. Eu vi as pupilas de Ethan dilatar enquanto ele observava meus dedos deslizarem para dentro para arrastar lentamente através das minhas dobras, espalhando a umidade brilhante da minha entrada para o meu clitóris. Mordi meu lábio, quase capaz de sentir seu olhar em mim, um formigamento na minha pele enquanto eu lentamente circulava o pico, suspirando enquanto relaxava lentamente no prazer da sensação. Nesse ritmo, eu poderia me tocar a noite toda, ocasionalmente deixando meu clitóris deslizar pelas minhas dobras novamente, me abrindo para ele olhar, mas não tocar. Eu ouvi o cinto ranger novamente, e ele gemeu.

—Oh, isso não é justo. — Disse ele.

—O que não é justo? — Eu perguntei, jogando de inocente quando deitei no cotovelo, sentindo a tensão no topo das minhas coxas enquanto eu me acariciava, literalmente no colo dele e ainda fora de seu alcance.

—Vamos lá. — Ele implorou. —Você não pode simplesmente me provocar.

—Não posso? — Eu perguntei com um sorriso, esfregando-me um pouco mais com a visão de sua ansiedade. —O que você vai fazer para me impedir?

Ele xingou baixinho, enviando um arrepio de prazer pela minha espinha. Arqueei meus quadris em meu próprio toque, gemendo enquanto esfregava mais rápido. Não havia necessidade de tomar meu tempo comigo mesma. Eu poderia vir quantas vezes quisesse antes de tocá-lo. E essa era uma sensação muito agradável. Joguei a cautela ao vento, seguindo em frente como se eu tivesse apenas cinco minutos antes de sair para o trabalho. Eu o deixei assistir enquanto me desfiz, puxando todos os truques que eu sabia para me fazer gozar mais rápido. Foi um pouco de luta com a posição desconfortável, mas uma vez que eu entrei o suficiente, eu esqueci a tensão nas minhas pernas, voando alto e chegando perto.

Minha respiração ficou presa ao me aproximar do clímax. Eu trouxe minha outra mão de trás de mim para enrolar os dedos dentro de mim enquanto esfregava mais rápido, os quadris se contorcendo, o prazer pulsando como meu sangue nos meus ouvidos, junto com as respirações irregulares de Ethan. Nessa posição, minhas pernas ainda estavam dobradas dos dois lados do colo dele, meu peso no pescoço e nos ombros, minhas costas curvadas como um arco, eu era como uma mola enrolada, como uma flecha prestes a ser disparada. A tensão era quase dolorosa, apenas aumentando a sobrecarga sensorial do orgasmo.

—Vexa, por favor. — Ethan implorou, sua voz rouca de desejo, e eu ofeguei quando o prazer cresceu e tomou conta de mim.

Fiquei ali por um momento, relaxando a postura tensa das minhas costas, percebendo a dor desconfortável nas minhas pernas, saboreando o delicioso formigamento do pós-brilho sobre a minha pele. Eu me deliciei com uma sensação tátil inebriante, enquanto Ethan estava choramingando entre minhas coxas. Na verdade, choramingando, rosnados baixos se transformando em choramingos caninos.

—Você ainda está bem? — Eu perguntei, sentando-me. Ele ainda parecia humano, exceto por um leve brilho dourado nos olhos.

—Não. — Ele disse, lambendo os lábios. —Estou tão longe de estar bem como acho que já estive.

Eu ri um pouco, me acomodando no colo dele e me inclinando sobre ele, meio para verificar suas restrições para mover minhas pernas, que estavam começando a adormecer.

—Você quer que eu o solte? — Eu perguntei, traçando o cinto.

—Mais do que tudo. — Ele gemeu, pressionando o rosto nos meus seios. —Mas você não deveria.

—Eu não quero que você se sinta desconfortável. — Eu disse, passando meus dedos pelos cabelos dele.

—Não, não, isso é desconfortável. — Disse ele, beijando o espaço entre os meus seios. —Horrível, horrível, muito bom e desconfortável. Não pare.

Eu ri novamente, mas, me tranquilizado de que ele estava bem, continuei.

Eu me mexi para beijá-lo novamente, longo e lento, negando-lhe até a minha língua, amando o jeito que ele se contorcia e se inclinava a cada toque.

Eu dei a ele o que ele queria por centímetros, o mais lento que pude. Sempre que ele começava a ficar excitado, eu recuava, desacelerava ainda mais, deixando-o frustrado e desesperado, mas ainda no controle de si mesmo. Quando finalmente enfiei a mão na cintura da calça, ele tremeu de necessidade. Eu acho que ele quase terminou apenas com o primeiro toque dos meus dedos contra o seu eixo, o primeiro aperto suave. Decidi então que, se isso se tornasse algo normal, eu faria isso acontecer eventualmente. Só de pensar em fazê-lo desmoronar com um único toque foi tanta pressa que tive que parar e me tocar de novo, para seu deleite e frustração, até que ele literalmente me implorou que o deixasse usar a boca. Eu fui generosa o suficiente para permitir isso a ele. Eu estava de pé sobre ele, minhas mãos apoiadas na cabeceira da cama, enquanto ele fazia tudo o que suas restrições lhe permitiam. Eu já tinha ouvido falar oralmente como adoração, mas nunca realmente apreciei o quão preciso o termo poderia ser até esse momento. A cada momento em que sua boca não estava preocupada, ele sussurrava, gemia e rosnava meu nome, me dizendo o quão perfeita eu era, o quanto ele precisava de mim. O elogio foi quase tão bom quanto a boca dele.

—Vexa. — Ele gemeu, pressionando beijos de borboleta no meu estômago. —Linda, perfeita, maravilhosa Vexa. Estou morrendo. Isso está literalmente me matando.

Eu ri, acariciando seus cabelos.

—Quer que eu te deixe sair? — Eu perguntei.

Ele balançou sua cabeça. —Não, mas se eu não puder estar dentro de você em breve, eu realmente morrerei. Estou cem por cento sério.

Rindo, eu me abaixei em seu colo para beijá-lo novamente, provando-me em seus lábios.

—Eu não sei. — Eu ronronava contra aqueles lábios. —Você acha que ganhou?

—Farei qualquer coisa. — Ele implorou. —Por favor, por favor.

Eu sorri —Eu gosto de você implorando. — Eu disse. —Essa é uma boa aparência para você.

—Além disso. — Ele reclamou. —Isso está seriamente começando a doer.

—O cinto? — Eu perguntei, tentando alcançá-lo, preocupada.

—Não. — Ele disse, e balançou seus quadris contra mim, moendo sua ereção ainda muito dura contra as minhas costas. Ele gemeu, fazendo isso de novo. —Na verdade, se você simplesmente não se mexer...

Eu me afastei dele imediatamente com um sorriso perverso. Ele quase chorou, chutando os lençóis em frustração.

—Você foi um menino muito bom. — Eu disse, beijando sua testa. —Você merece melhor que isso.

Saí do colo dele, apenas o tempo suficiente para pegar uma camisinha na mesa de cabeceira.

—Oh, graças a Deus. — Disse Ethan, aliviando o fôlego, relaxando os ombros tensos. Rasguei o pacote com os dentes e me movi entre as pernas dele.

—Quer ver um truque? — Eu perguntei, sorrindo enquanto pegava seu pau na mão. Ele levantou uma sobrancelha, desesperado demais para me questionar enquanto colocava a camisinha na minha boca. Inclinei-me sobre ele, envolvendo meus lábios em torno da cabeça de seu pênis e pressionei o preservativo no lugar com a minha língua. Deslizei-o mais fundo na minha boca, rolando a camisinha pelo seu pênis com meus lábios. Ele xingou de maneira colorida quando o calor da minha boca o cercou, os quadris batendo, mas eu o segurei. Eu ainda estava no controle desse rodeio.

Quando a camisinha e meus lábios atingiram a base de seu pênis, eu me afastei, fingindo que meus olhos não estavam lacrimejando e lutando contra o desejo de tossir.

—Puta merda. — Disse ele, olhando para mim como se eu fosse feita de ouro maciço.

Não perdi mais tempo. Eu estava quase tão ansiosa por tê-lo dentro de mim quanto ele. Ajoelhei-me sobre ele, voltando para segurar seu pau no lugar enquanto me abaixava lentamente sobre ele. Ele congelou, seus olhos brilhando com um tremido âmbar, parecendo que ele não ousava nem respirar enquanto sua cabeça deslizava contra as minhas dobras. Levei meu tempo, deslizando contra ele algumas vezes, antes de finalmente deixá-lo entrar. Respirei fundo quando a primeira polegada me abriu. Ele era grosso, e eu tremi com a antecipação de como ele se sentiria completamente dentro de mim. Mas ainda demoraria um pouco até eu descobrir. Eu fiquei onde estava, seu pau apenas dentro de mim, aproveitando a sensação, até que ele se contorceu com ansiedade. Então eu o levei um pouco mais fundo. Talvez outra polegada.

—Vexa! — Ele disse, um pouco alto demais para estarmos em uma casa com outras pessoas dormindo nela. Eu o silenciei, tentando não rir, e afundei o resto do caminho, xingando quando ele bateu profundamente dentro de mim. Eu me senti tão bem, tão cheia, meu clitóris latejando com o meu pulso.

Ficou claro que Ethan se sentia tão bem quanto eu, sua cabeça jogada contra a cabeceira da cama, sua respiração dura. Quando eu vi suas mãos flexionarem seus laços, garras brilhando. Lembrei-me de que não estava apenas indo devagar para meu próprio entretenimento.

—Aí estamos. — Eu disse, suavemente, passando as mãos sobre as pernas e o estômago em círculos calmantes. —Como você está se sentindo?

Ele respirou fundo várias vezes antes de falar, recuperando o controle, embora não conseguisse embainhar suas garras.

—Bom. — Ele disse, sem fôlego. —Deus, tão bom.

—Como está o lobo? — Eu perguntei, balançando meus quadris lentamente, moendo-o mais profundamente dentro de mim. Ele gemeu e ouvi o cinto de couro esticar novamente.

—Assistindo. — ele finalmente admitiu, um rosnado em sua voz. —Eu acho que tenho um controle sobre ele. Pelo menos, tanto quanto posso.

—Bom garoto. — Eu disse. —Você pode esperar se eu continuar?

—Sim, mas eu acho que você não pode confiar em mim para dizer para parar se eu começar a escorregar. — Ele admitiu com uma careta.

—Então eu vou ter um cuidado extra. — Eu disse a ele, levantando meus quadris até que ele estava apenas dentro de mim. —E extra, extra lento.

Eu me abaixei novamente em um longo e lento deslize, saboreando o calor e a pressão de cada centímetro, meus dedos dos pés enrolando nos cobertores. Eu amei o jeito que ele se encaixava dentro de mim, e o jeito que ele pressionou contra minhas paredes internas quando eu inclinei meus quadris da maneira certa.

Tanto porque eu queria testar os limites de Ethan e porque simplesmente não conseguia resistir, continuei em ritmo acelerado, não muito rápido ou muito lento. Depois de todas as provocações, eu sabia que Ethan não tinha muita resistência sobrando. Eu o observei com cuidado, resistindo ao desejo de me perder no prazer. Esfreguei meu clitóris em círculos preguiçosos por outra camada de calor, construindo como um fogo dentro de mim. Fazia muito tempo desde que eu tive isso. Ethan teria ficado sozinho o tempo todo também, eu me perguntava? Tive a impressão de que ele não estava com ninguém desde a maldição, e pude entender o porquê. Mas eu meio que amei o pensamento de ser a única a dar isso a ele depois de tanto tempo, depois que ele talvez pensasse que estava perdido para ele para sempre.

Ethan começou a me observar, seus olhos devorando todos os meus movimentos como se ele quisesse gravar essa memória em sua mente para sempre. Mas enquanto eu continuava, ele teve que fechar os olhos, prendendo a respiração, os braços tensos contra o cinto enquanto lutava com o lobo e com seu próprio desejo de gozar. Quando o vi começar a tremer, diminuí a velocidade ao mesmo tempo, voltando ao ritmo mais lento que pude controlar. Ele xingou amargamente baixinho, mas depois de um momento, sua respiração se acalmou e um pouco de seu autocontrole voltou. Assim que ele estava um pouco mais no controle, eu acelerei novamente, um pouco mais rápido do que antes. Eu estava ansiosa para gozar também. Mas eu não podia me dar ao luxo de ser egoísta, infelizmente. Eu tive que facilitar isso para provar que poderia funcionar.

Eu estabeleci um ritmo sólido, observando-o com cuidado, diminuindo a velocidade assim que ele ficava muito excitado, acelerando uma vez que ele tinha o controle novamente. Eu nunca tinha feito sexo de maneira tão agradável antes, e estava gostando. Ethan, ao contrário, parecia estar sendo torturado.

—Se o seu objetivo aqui é me fazer odiar você. — Ele ofegou, enquanto eu diminuí a velocidade até quase parar novamente. —Você está conseguindo.

—Espere um pouco mais. — Eu disse, fechando os olhos enquanto lutava contra o meu próprio desejo de ir mais rápido. Eu estava tão perto de gozar cerca de cem vezes e me afastei antes que acontecesse, tentando salvá-lo. —Estamos quase chegando, não estamos?

—Deus, sim. — Ethan disse, os quadris tremendo enquanto ele tentava empurrar em mim apenas para eu segurá-lo. —Mas o lobo está tão perto, Vexa. Eu não sei por quanto tempo eu posso segurá-lo, não importa o quão lento vamos.

—Você tem certeza que não está dizendo isso apenas porque quer que eu acelere? — Eu o provoquei, moendo com ele.

—Isso também. — Ethan disse, com os dentes cerrados. —Além disso, meus braços estão realmente ficando doloridos.

—Tudo bem. — Eu disse respirando fundo, inclinando-me para beijá-lo brevemente. —Espere firme, baby.

Eu me joguei em um ritmo rápido que balançou a cabeceira da cama e deixou Ethan tenso por toda parte, uma série de maldições estranguladas deixando-o. Mordi meu lábio, cada impacto provocando fogos de artifício de prazer dentro de mim. A gratificação atrasada é uma merda, mas Deus, me sinto bem em finalmente ceder depois de esperar tanto tempo.

Ethan enfiou os calcanhares no colchão, empurrando-se para me encontrar em fortes impactos de tirar o fôlego. Fechei os olhos, concentrando-me inteiramente na sensação.

—Quase. — Ethan rosnou. —Tão perto - Vexa.

O orgasmo se aproximava como o pico de uma montanha-russa que vinha subindo há horas. A mola estava enrolada até seu ponto de ruptura absoluto e se eu não a liberasse logo...

Eu deveria estar prestando mais atenção. Não percebi que havia algo errado até ouvir o couro estalar e o rosnar do lobo. Quando abri meus olhos, Ethan já me segurava pelos ombros, me empurrando de volta para o colchão. Tive um instante de temer que estivesse prestes a morrer, e então Ethan bateu em mim com tanta força que vi estrelas.

Ele entrou em mim como um animal, como se ele morresse se não morresse, como se tudo dependesse de me foder tão forte e rápido quanto ele era fisicamente capaz. Meus quadris não estavam na cama, minhas pernas ao redor dele, minhas mãos em seu peito. Com as talvez duas células cerebrais que tive que poupar com o prazer que sobrecarregava rapidamente meu cérebro, vi que ele não havia desaparecido completamente, pelo menos ainda não. Ele ainda era mais homem que lobo, mas se afastava rapidamente. A pele se substituía, os dentes cresceram mais. Eu me atrapalhei com minha mágica após o orgasmo, tentando roubar minha capacidade de pensar, envolvendo-a em torno de sua maldição como eu tinha no drive-in, comprimindo-a, empurrando-a para trás, abraçando-a.

—Vexa. — Ethan disse, sua voz um grunhido irreconhecível de animal. Eu olhei nos olhos dele e não vi Ethan lá. Ele não estava errado quando disse que o lobo não era ele. Havia algo completamente atrás de seus olhos. Algo antinatural e cheio de ódio. Algo que teria rasgado minha garganta agora, exceto a pura força de vontade de Ethan e sua própria necessidade primordial.

O impacto dos quadris de Ethan contra minhas coxas tocou bruscamente através da sala, assim como seus rosnados bestiais, e meus próprios gritos, todas as tentativas de controle perdidas. O prazer corria por minhas veias como fogo a cada golpe feroz. Eu segurei sua maldição com a última razão, cavando minhas unhas enquanto minha visão ficava branca, como se fosse tudo o que pudesse me segurar na terra.

O orgasmo me atingiu como um deslizamento de terra, como uma erupção vulcânica, como uma força da natureza invadindo-me. Todo nervo queimava, todo músculo ficava tenso. Eu fiz um barulho gutural e desesperado, cada parte de mim reduzida a um ponto quente e branco de êxtase irracional.

Foi só quando a onda retrocedeu, eu percebi que Ethan tinha terminado também. Ele pairava sobre mim, segurando firme, respirando com dificuldade. Eu ainda estava segurando sua maldição e empurrei um pouco mais contra ela. Eu assisti o lobo recuar, até Ethan, exausto e gasto, desabar na cama ao meu lado.

Eu rolei de lado para encará-lo, murmurando garantias e acariciando seus cabelos. Ele estava consciente, embora apenas justo.

—Você está machucada? — Ele lutou para dizer.

—Não, não, eu estou bem. — Eu disse a ele. —Você não me machucou. Está tudo bem.

Ele deu um suspiro trêmulo de alívio e eu o beijei, espalhando-os pela testa e bochechas, tão aliviada quanto ele. Ele abriu os olhos, da mesma cor quente que sempre foram, sem mais vestígios do ouro. Ele sorriu para mim por um momento, e eu sorri de volta, uma estranha sensação de vitória me enchendo que era quase mais doce que o orgasmo. Conseguimos. Não da maneira que esperávamos, mas fizemos.

Alguém bateu na porta do quarto e nós dois congelamos.

—Todo mundo vivo ai? — Minha tia falou.

A humilhação correu através de mim. Ethan gemeu e escondeu o rosto nos lençóis.

—Sim, estamos bem. — Eu falei de volta. —Está tudo bem!

—Você não teria imaginado pelos barulhos. — Disse tia Persephona sem rodeios. —Mas estamos muito felizes por vocês dois.

—Sim, parabéns pelo sexo. — Disse Cole pela porta, e minha humilhação aumentou mais dez graus. —Mas no futuro, pode levar em consideração avisar as pessoas que você está prestes a arriscar lançar um lobisomem assassino em casa!

—Ou apenas façam em outro lugar. — Sugeriu minha tia. —Um bunker trancado em algum lugar, talvez.

—Um bunker à prova de som. — Acrescentou Cole.

—Desculpe! — Eu disse.

—Isso não vai acontecer novamente. — Disse Ethan.

Cole e tia Persephona voltaram para a cama e Ethan e eu deitamos um ao lado do outro, com os ossos cansados e agora completamente envergonhados.

—Pelo menos sua tia não é do tipo conservadora? — Ethan disse, tentando aliviar o clima. Eu ri baixinho e ele se juntou a nós dois oprimidos por tudo o que tinha acontecido. Depois de um momento, levantei-me, esticando-me, para fazer uma limpeza mínima, incluindo a eliminação do cinto destruído. Teríamos que conseguir algo mais forte. Quando terminei, caí de volta na cama com Ethan, que tinha usado a última de suas forças apenas para virar o caminho certo na cama. Ele me puxou para perto quando eu me deitei, e me aconcheguei sob seu queixo.

—Só para você saber — Murmurei, meus olhos já fechados. —Isso definitivamente vai acontecer novamente.

 


O café da manhã na manhã seguinte foi desconfortável por cerca de dez minutos, até Cole contar uma piada suja que nos deixou todos em lágrimas.

—Então, como foi o sofá? — Eu perguntei a Cole, enquanto Ethan ajudava minha tia a fazer panquecas.

—Tolerável. — Disse Cole. —Eu tive pior. Seus animais se revezaram tentando me sufocar, no entanto. Você já teve um cão lobo morto tentando deitar no seu rosto enquanto você dorme?

—Sim, desculpe. — Eu disse, rindo. —O cheiro é a pior parte, certo? Estou pensando em enchê-lo de pot-pourri.

—Não pode doer. — Disse Cole. —Mas nenhuma quantidade de purificadores de ar ou taxidermia vai mudar o fato de você ter repudiado ele tarde demais. Os restos mortais estavam muito longe. Se você deseja manter algo familiar, precisa chegar ao corpo enquanto estiver fresco. Depois que o inchaço aparecer, você nunca conseguirá fazê-lo cheirar bem.

—Você está assumindo que eu repensei Mort intencionalmente. — Eu disse com um escárnio. —Ele era a coisa morta mais próxima e maior em mãos quando eu percebi que havia um lobo grande na minha casa.

—Podemos tentar evitar conversas sobre cadáveres à mesa? — Ethan perguntou com uma careta.

—Bem, então por que você não o colocou de volta? — Cole perguntou, ignorando Ethan.

—Eu estava muito ocupada no começo. — Eu disse. —Eu tentei, eventualmente, mas ele está realmente cheio de energia e não quer se soltar. E honestamente, a essa altura, ele lutou com seu leão da montanha por mim e apenas foi um cachorro muito bom em geral e, bem, me apeguei.

—É assim que sempre acontece com os perdidos. — Disse tia Persephona, balançando a cabeça enquanto colocava uma pilha de panquecas na mesa. —Você jura que vai levá-los por um dia até poder levá-los a um abrigo, e a próxima coisa que você sabe é que eles estão enrolados no seu colo e implorando por restos de presunto e você percebe que eles não vão a lugar algum.

—Mort é um pouco mais que um vira-lata. — Disse Cole, pensativo, olhando para o cachorro, que estava deitado perto das portas de correr do quintal, aproveitando o sol. —Há algo estranho sobre o quão consciente ele parece estar.

—Algo sobre a Vela, talvez? — Eu disse com um encolher de ombros.

—Isso, ou seu talento oculto, está executando algum tipo de programa mágico de comportamento canino em seu subconsciente. — Disse Cole.

—Parece plausível para mim. — Ethan riu.

Mort levantou a cabeça brevemente para bocejar, depois rolou de novo, nos ignorando.

—Eu provavelmente deveria ir ver os gatos antes de me sentar. — Disse minha tia, limpando as mãos e indo para o quintal. Seus gatos mortos-vivos não precisavam de alimentação, mas precisavam ser energizados regularmente e verificados quanto a danos em seus restos mortais, e as pragas mortas que eles entregavam tinham que ser tratadas.

—Eu posso cuidar disso depois do café da manhã. — Eu disse a ela, não querendo que ela se esforçasse.

—Não seja boba, eu consigo. — Respondeu ela com desdém, e saiu antes que eu pudesse dizer mais.

—Vamos ver o cara dos fae hoje. — Eu disse enquanto Ethan se sentava e cavamos as panquecas. —Qual é o problema dele?

—Bem, eu ainda não o conheci — Disse Ethan. —Mas as vezes em que os curandeiros descobriram algo genuinamente perigoso, ele é o principal responsável por lidar com isso. Aparentemente, ele é um profissional em garantir artefatos mágicos. Mas também ouvi dizer que ele tem uma atitude meio estranha. Provavelmente por causa da coisa falsa. Está no ar se ele estará disposto a nos ajudar.

—Você deveria suborná-lo com algumas dessas panquecas. — Disse Cole com a boca cheia. —Estas são fodidamente incríveis.

—Sim, maldito Ethan, você tem um talento. — Eu concordei com uma risada. —Acho que nunca tive panquecas tão perfeitas.

Ethan sorriu, profundamente satisfeito.

—Ele é alto, é médico, sabe cozinhar. — Disse Cole, concentrado em inalar suas panquecas o mais rápido possível. —Se ele não estivesse se transformando em um monstro do mal, seria o material ideal para o casamento.

—Bem, espero que possamos cuidar disso hoje. — Eu disse rapidamente.

—Isso significa que você me daria uma chance assim que eu for consertado? — Ethan perguntou a Cole, apoiando-se no cotovelo com um sorriso forçado. Senti uma estranha vibração de orgulho ao vê-lo sendo tão à frente. Sua voz quebrou um pouco e eu vi a tensão nervosa em seus ombros, mas ele a escondeu muito bem, considerando.

Cole, pego de surpresa, olhou para ele e engoliu em seco ao redor das panquecas na garganta.

—Garoto baixo. — Disse ele, erguendo uma sobrancelha. —Sua namorada está sentada bem ali.

—Você também pode me dar uma chance. — Eu disse, pegando a sugestão de Ethan e dando a ele o meu sorriso de queijo. —E isso não foi um não.

Cole ficou lentamente escarlate.

—Eu preciso ir. — Ele disse rapidamente, levantou-se e saiu correndo pelas portas deslizantes para ficar no quintal.

Eu ri, apesar de ter conseguido segurar até que ele fechou a porta entre nós.

—Nós provavelmente não deveríamos ter encurralado ele. — Ethan disse, parecendo pensativo através das portas deslizantes onde Cole estava embaixo da árvore, uma mão apoiada no tronco e a outra no peito como se estivesse tendo um pequeno ataque cardíaco. —Espero que não o assustemos.

—Um necromante maligno de séculos não assustou Cole. — Eu o tranquilizei. —Tenho certeza que ele pode lidar com um pouco de flerte.

—Talvez devêssemos recuar. — Disse Ethan, mordendo o lábio. —Eu não quero que ele pense que eu sou predatório ou algo assim.

—Você não é predador. — Eu disse pacientemente. —Quero dizer, exceto em luas cheias.

—Ha ha. — Ele revirou os olhos.

Depois de alguns minutos, Cole voltou para dentro e sentou-se, retornando às panquecas. Ethan e eu permanecemos em silêncio, não querendo pressioná-lo.

—Então, uh, cara dos fae. — Eu disse, retomando a conversa mais cedo. —Há muitos fae por aí?

—Acho que não. — Disse Ethan. —Ele é o único que eu conheço.

—Ele mora perto? — Cole perguntou, sem levantar os olhos das panquecas. —O tempo todo?

—Uh, sim. — Ethan confirmou, sua voz caindo em um registro mais suave quase imediatamente. Ele estava fazendo aquilo em que agia como se Cole fosse um animal nervoso novamente. —Ele tem uma casa grande perto da ravina. Ele vive lá há anos, até onde eu sei.

—Hum, incomum. — Cole murmurou, ignorando Ethan.

—O que é incomum? — Eu perguntei curiosa.

—Bem, se ele viveu entre humanos sem problemas por tanto tempo, provavelmente ele é da Corte dos fae. — Disse Cole casualmente. —E a corte dos fae não deixa as outras terras muito hoje em dia. Quando o fazem, geralmente é apenas por um dia ou mais. Para alguém que vive neste lugar há anos é muito estranho.

—Eu vou ser honesta. — Eu disse, minha confusão refletida no rosto de Ethan. —Eu nem sabia que os fae eram reais até semana passada, e ainda estava com a impressão de que eram principalmente duendes e outras coisas.

Cole recostou-se, largou o garfo e considerou suas palavras por um momento.

—Tudo bem. Cartilha de faes. Existem três tipos de Faes. — Ele disse finalmente. —Três tribunais. Os Seelie e os Unseelie, também chamados de Tribunais de Verão e Inverno, estão constantemente em guerra. Eles estão em um impasse há tanto tempo que suas vitórias e derrotas se tornaram espelhados rituais das estações atuais.

—Qual é o terceiro tribunal? — Eu perguntei fascinada.

—Fae selvagem. — Disse ele. —Qualquer coisa que não seja Seelie ou Unseelie. Então suos fae domésticas, como domovoi e brownies, seu deus local e criptos, seus espíritos da floresta e guardiões da montanha, e assim por diante, são todos Faes Selvagens desalinhados, basicamente tentando viver suas vidas e não são sugados pelo drama Seelie/Unseelie. Algumas pessoas traçam uma linha entre Faes selvagens nativas e Outras Terras Selvagens dos fae, mas, francamente, eu não acho que haja muita distinção.

—Espere o que? — Eu disse confusa.

—Acho que me lembro de Daphne mencionando algo sobre isso. — Ethan acrescentou, franzindo a testa. —Eles estavam realocando um monte de coisas mágicas antes de um empreendimento imobiliário que estava se mudando, e ela estava reclamando de tentar resolver as espécies invasoras.

—Mais como refugiados do que espécies invasoras. — Disse Cole. —A maioria dos que estão aqui fugiu das Outras Terras para escapar do recrutamento.

—Eu pensei que eles eram animais. — Disse Ethan, confuso. —A maioria dos que vi certamente pareciam animais.

—E quem os estava recrutando? — Eu perguntei.

—Quem mais? Os tribunais. — Disse Cole, e inalou uma panqueca inteira de uma só vez, sufocando sua arrogância. Quando ele pôde respirar novamente, ele continuou. —A inteligência falsa é complicada. Ela varia em todo o lugar e realmente não se encaixa nos padrões humanos. Os duendes podem parecer grandes insetos, mas são espertos o suficiente para não quererem entrar em guerra.

—E eles vieram dessas Outras Terras para fugir? — Eu perguntei.

—Alguns deles. — Confirmou Cole. —Para explicar o mais brevemente possível, a terra é... uh, a terra é uma bolha de sabão. E tem outras bolhas de sabão menores grudadas nela. Entendeu?

Eu balancei minha cabeça, mas Cole continuou.

—As bolhas menores são as Outras Terras. Pequenas realidades fraturadas. Ou talvez apenas realidades em que a física e a energia funcionam de maneira muito, muito diferente. A Terra é a maior, pelo menos pelas medições tradicionais, já que temos um universo e outras galáxias e merda, e a maioria das Outras Terras que foram vistas e relatadas por humanos são um único local que se estende infinitamente, como a Cidade Sem Fim ou a floresta de Tir Na Nog.

—Algumas das coisas que li levantam a hipótese de que as Outras Terras realmente vieram da Terra, manifestadas pelo inconsciente coletivo ou algo assim. A maioria dos livros coloca o número de Outras Terras em torno de nove. Mas isso pode ser apenas o que vimos. Os Seelie e Unseelie correm entre todas as Outras Terras, travando suas guerras e forçando qualquer Fae Selvagem que encontrarem a se juntar a eles. A Terra é a única terra que já teve sucesso em mantê-los fora, e ainda sentimos o feedback mágico de suas lutas influenciando o tempo e a probabilidade. E sempre que a luta deles se muda para outro país, temos uma onda de refugiados saindo antes da chegada do tribunal.

Ele bebeu meio copo de suco de laranja.

—Mas, voltando ao meu ponto original sobre o cara dos fae... não existem muitos fae Selvagens que podem manter a forma humana por longos períodos. Selkies, hulda, talvez. E mesmo eles não costumam gostar. A corte dos fae sempre parece principalmente humana... para humanos de qualquer maneira. Então esse cara provavelmente é de um dos tribunais. Isso é tudo.

—Se é tão fácil para eles se encaixarem com os humanos, por que eles não deixam, uh, como você chama isso? — Ethan perguntou.

—As Outras Terras. — Respondeu Cole com um suspiro, esfregando a testa. —E principalmente porque não deixamos. Tropas de faes de qualquer tribunal podem causar uma enorme quantidade de caos e danos quando correm por aqui. Quase sempre vêm em grupos e têm uma necessidade quase biológica de causar problemas. Então, em quase toda a história mágica, aperfeiçoamos maneiras de mantê-los fora dessa realidade o máximo que pudermos. Alguns séculos atrás, alguns grupos mágicos conseguiram se reunir por tempo suficiente para elaborar um contrato que limita severamente sua capacidade de interferirem, exceto o Meio Inverno, Plenos Verões e Equinócios Honestamente, há uma tonelada de coisas estranhas envolvidas. Posso encontrar alguns livros sobre isso, mas não quero ficar aqui conversando sobre isso o dia todo.

—Justo. — Eu disse. —Eu ainda estou me acostumando com tudo isso. Eu sabia muito bem que a necromancia era uma coisa, e então eu descobri sobre magia geral e a comunidade mágica, e eu estava apenas começando a descobrir isso, e agora há outras dimensões? De que faes vêm? E causam as estações do ano?

—Elas... elas não causam as estações do ano. — Gaguejou Cole rapidamente. —É... é apenas... é uma coisa cíclica e simbólica -

—Tanto faz. — Eu disse. Eu não queria ser desviada novamente. —Gostaria apenas de um dia ou dois sem nenhuma ameaça existencial para processar tudo isso, sabia?

—Sim, mesmo. — Ethan disse com um aceno de cabeça cansado. —Mas precisamos ir. Como eu disse, o cara mantém horas estranhas. Se queremos conversar com ele hoje, precisamos chegar em breve, ou teremos que esperar até tarde hoje à noite.

Terminamos o café da manhã rapidamente e saímos às pressas. A oferta de Ethan para Cole ainda estava pendente, sem solução e sem resposta entre nós, mas eu tinha medo de trazê-la à tona e angustiá-lo. Ethan e eu enchemos o silêncio do passeio de carro com conversas sem sentido sobre os tipos de Fae Selvagem que ele havia encontrado com os curandeiros.

—Então, domovoi e trasgu são basicamente os mesmos. — Eu resumi, tentando manter isso claro. —Deixe comida para eles e eles limparão a casa para você. Hobs limpam a casa para você, mas se você lhes der uma recompensa, eles ficarão chateados e vão embora. Brownies esperam recompensas, mas se você tentar vê-los trabalhar, eles ficam chateados e saem.

—Sim, você conseguiu. — Disse Ethan. —Tentar lembrar de todas as regras é a pior, certo? Especialmente quando você não sabe de onde elas vieram. Por aqui, muitas famílias traziam o espírito da casa quando imigravam para a América, e a casa mudou de mãos dezenas de vezes desde então, então descobrir que tipo de espírito é esse pode ser uma dor absoluta.

—Qual foi a pior que você já teve? — Eu perguntei, curiosa, enquanto Ethan dirigia em direção ao exterior da cidade.

—Oh cara. — Ele riu. —Uma das minhas primeiras viagens com os curandeiros foi investigar um 'poltergeist' assombrando uma casa grande e velha em Wethersfield. Só causando pequenas travessuras, desmanchando camas, rindo em salas vazias, você sabe. Nós descobrimos bem rápido que era um espírito da casa, e pensávamos que era uma variedade de Haltija finlandês, que acabou sendo um Zashiki-Warashi japonês. Eles não limpam nada, geralmente causam travessuras mesmo quando estão felizes, mas têm boa sorte... E quando eles saem de casa, é um presságio de coisas ruins loucas a caminho. Nós quase o expulsamos antes de descobrirmos o que era, o que poderia ter sido desastroso para a família.

—Oh merda. — Eu disse. —Mas você conseguiu fazer ficar?

—Sim, e ensinou a família como lidar com isso. — Disse Ethan. —O que é basicamente para ignorá-lo. Uma vez que eles sabiam que não seria toda a atividade paranormal neles, eles não se importavam tanto com as estranhezas ocasionais. Isso dá ao personagem da casa. Estamos quase lá, a propósito.

Nós tínhamos entrado em uma área residencial agradável, a rua serpenteava passando por grandes casas antigas com jardins espaçosos e um jardim impecável. Muitas das casas tinham placas históricas declarando o ano em que foram construídas, muitas das quais começaram com 17 e 18. Definitivamente, acima de todas as nossas notas salariais. Ethan olhou de soslaio para todos os endereços, contando até encontrar o certo.

O jipe desceu o longo caminho arborizado de uma grande casa do Segundo Império, afastada da estrada e protegida por vários enormes carvalhos velhos.

Tinha dois andares mais um sótão sob um telhado escuro de mansarda. Era todo em tijolo e guarnição branca, com torres ladeando a grande porta da frente e janelas altas e arqueadas. O tijolo se arrastava de hera, e o jardim ficou um pouco selvagem, embora ainda fosse mantido, a grama mantida em um comprimento manejável. A videira agridoce e a azeitona russa que incomodavam os vizinhos não tinham presença aqui. Havia um grande bordo japonês, provavelmente mais velho do que eu, e era vermelho mesmo nessa época do ano. Os canteiros de flores mais próximos da casa estavam cheios de batata-doce ornamental roxa escura, coleus cor de vinho e petúnias de veludo preto. O manjericão carmesim e o chocolate com menta se esconderam à sombra das outras plantas, enchendo o ar com seu perfume. Flores da lua, flox noturno e jasmim florescendo à noite adicionavam pequenos salpicos de cores mais brilhantes, embora todos estivessem fechados a essa hora do dia.

Estacionamos o jipe e caminhamos pelo estranho jardim para bater nas pesadas portas de madeira maciça.

—Agora lembrem-se. — Ethan disse, enquanto esperávamos o cara responder. —Faes são complicadas, então tentem ser o mais educados possível e, se ele tentar se irritar com você, não morda a isca. Ele conhece a mim e aos curandeiros, então tentarei fazer o máximo possível da conversa.

Cole e eu assentimos e imaginamos o que esperar. Imaginei um velhinho, como um gnomo, todo travesso e engraçado, embora as descrições de Cole sobre o tribunal me fizessem imaginar elfos de fantasia. Então, novamente, ele estava vivendo com seres humanos todo esse tempo. Ele provavelmente pareceria um cara, certo?

Ouvimos o clique da porta sendo aberta e eu me preparei para descobrir. A porta se abriu, revelando um jovem alto e esbelto, com longos cabelos loiros que reconheci instantaneamente.

—Você? — Eu disse, confusão me deixando momentaneamente pasma. Um segundo passou e eu respirei profundamente quando comecei a juntar as peças. —Você.

Ele olhou para mim, claramente tão surpreso em me ver quanto eu em vê-lo. Seus olhos dispararam para Cole e Ethan. Ele bateu a porta entre nós.

 

Capitulo Treze


—Ei! — Eu gritei, minha suspeita subindo instantaneamente para uma certeza irritada. Eu bati na porta. —Você volte aqui agora!

—Você o conhece? — Ethan perguntou, parecendo confuso.

—Sim, eu o conheço! — Eu disse, entre dentes. —E se ele fez o que eu acho que ele fez, eu vou matá-lo!

—Eu não sugeriria isso. — Disse Cole uniformemente.

—O que ele fez? — Ethan perguntou, perplexo.

—Ele é Greenwood! Ele era advogado imobiliário do meu tio. — Lutei para explicar, ainda batendo na porta. —Ou eu pensei que ele era, de qualquer maneira! Foi ele quem me mostrou a Vela! E se ele é umo fae, se ele está trabalhando com os curandeiros e estava lá especificamente para a Vela em primeiro lugar, então ele sabia exatamente o que estava fazendo quando ele me convenceu a tocá-la!

—Oh. — Disse Ethan. —Bem, isso não é bom.

—Ele está tentando escapar pelos fundos. — Disse Cole, coçando o rosto e se inclinando sobre o parapeito da varanda.

—Pegue ele! — Eu gritei, pulando o corrimão e correndo pela casa. Ethan passou correndo por mim um segundo depois, tirando a roupa enquanto ele se mexia. Eu peguei um vislumbre da expressão assustada de Greenwood através dos arbustos antes de Ethan, de quatro e do tamanho de um pequeno urso, atacá-lo.

Corri para alcançá-lo e encontrei Ethan deitado em cima de Greenwood, abanando o rabo quando ele me deu um sorriso orgulhoso de cachorrinho. Greenwood se contorceu e lutou.

—Me solte imediatamente! — Ele demandou. —Você não pode imaginar a ira que eu posso deixar cair sobre você, se eu escolher!

—Eu deixarei você ir assim que você me disser por que diabos você colocou essa Vela em minhas mãos! — Eu disse, de pé sobre ele. —Você tem alguma ideia do que você me fez passar? Eu quase morri três vezes na semana passada!

Cole vagava em um passeio fácil. —É melhor você apenas derramar tudo, cara. — Disse ele. —Você realmente não quer ficar preso lá fora ao meio-dia, quer? Além disso, a julgar pelo fato de ter tentado fugir a pé, você teve a maioria dos seus poderes selados ou está tentando manter um discreto, então nos ferir provavelmente não seria do seu interesse. De qualquer forma, é mais conveniente cooperar.

—Ugh. — Greenwood emitiu um som meio enojado, meio resignado e empurrou o corpo peludo de Ethan novamente. —Você pelo menos me faria o favor de remover seu animal de estimação antes de eu responder?

—Você promete não correr? — Eu perguntei.

—Você tem a minha palavra. — Disse Greenwood, com um suspiro cansado.

Ethan se levantou e se afastou de Greenwood. As calças marrons e a camisa branca, de colarinho branco, estavam bem manchadas de grama e cobertas de pelos de lobo. Ele fez uma careta de descontentamento e acenou com a mão para si mesmo. Em um instante, a bagunça desapareceu. Ele pegou as folhas dos cabelos da maneira mais convencional, enquanto passava por nós, murmurando. Eu segui logo atrás dele. Ethan permaneceu nos arbustos para voltar e recolher suas roupas.

Ele era tão lindo quanto eu me lembrava dele, embora minha atração por ele estivesse levemente azeda pela percepção de que tudo isso era culpa dele. Ele não era robusto e musculoso como Ethan ou resistente e musculoso como Cole. Ele tinha uma graça refinada que me lembrava os interesses amorosos dos romances da regência, toda a beleza masculina polida. Ele tinha feições aristocráticas e angulares e os olhos mais verdes que eu já vi. Seus cabelos eram da cor do mel à luz do sol, amarrados em um rabo de cavalo baixo com uma fita verde escura, caindo sobre o ombro em ondas sutis. Bonito como ele era inegavelmente, eu estava fortemente inclinada a chutar sua bunda.

Ele nos levou de volta à casa, através de um vestíbulo de teto alto e finamente decorado, e a uma sala de jantar formal, a mesa posta com louça vazia.

—Fale já. —, Eu disse, impaciente. —O que você realmente estava fazendo naquela sala funerária?

—Eu estava prestes a jantar. — Ele disse casualmente, gesticulando para a mesa. —Você pode se juntar a mim.

—Não é um pouco cedo? — Eu perguntei, quando ele se sentou à cabeceira da mesa, estalando o guardanapo de pano com um gesto praticado enquanto o colocava no colo.

—Prefiro dormir durante o meio dia. — Disse ele. —O horário de verão discorda de mim.

—Mais uma razão para resolvermos isso rapidamente, então. — Eu disse, puxando a cadeira mais próxima de mim e sentando-me. Ethan e Cole sentaram-se ao meu lado.

Os pratos da mesa ainda estavam vazios, embora Greenwood parecesse pronto para comer. Eu esperei, meio esperando que os servos aparecessem com comida. Em vez disso, Greenwood bateu duas vezes na mesa. O som era estranhamente alto e ecoou mais do que parecia que a sala deveria permitir. Um segundo depois, os pratos sobre a mesa estavam quase cheios da comida mais deliciosa que eu já vi, desdobrando-se como flores florescendo ou fluindo como água de uma torneira. Momentos depois havia um pequeno banquete à nossa frente.

—Uma mesa de desejos. — Disse Cole, erguendo uma sobrancelha. —Eu nunca vi uma pessoalmente.

—Ainda existem apenas três neste lugar. — Respondeu Greenwood, servindo-se dos pratos mais próximos, todos com comida que eu não reconhecia, mas que parecia indescritivelmente boa. —Eu possuo duas delas. O navio que supostamente levava o terceiro foi perdido no mar nos anos 1300 e ainda precisa ressurgir.

—Eu acho que você pretende pegá-la no minuto que aparecer? — Cole disse, cutucando curiosamente um prato perto dele que parecia macarrão com queijo e lagosta.

—Claro. — Respondeu Greenwood. —Eu coleciono essas coisas. E, por favor, sinta-se livre para comer qualquer coisa, exceto os pratos à minha frente. O que estiver mais próximo de vocês devem ser os seus favoritos ou o melhor palpite da mesa. Não há perigo. A mesa não transmite encantamento. Como a maioria dos pratos de faes faz. É muito conveniente para os hóspedes.

Cole hesitantemente tomou uma colher grande de macarrão com queijo de qualquer maneira. Ethan já estava comendo um pedaço enorme de frango frito sem arrependimentos, mesmo que a comida estivesse encantada. Testei uma tigela perto de mim, que cheirava a bisque de tomate e quase me esqueci por que estava aqui na primeira colherada. Foi a coisa mais deliciosa que eu já provei. Eu sacudi a tentação de provar tudo na mesa para iniciar meu interrogatório.

—É por isso que você estava na sala de funeral? — Eu perguntei. —Você queria recolher a Vela.

—Não é educado discutir negócios à mesa. — Disse Greenwood, sem tirar os olhos da comida.

—Eu não ligo...— Cole agarrou meu ombro e balançou a cabeça. Apertei minha mandíbula com raiva, cedendo com relutância e, depois de um momento de mau humor, servi-me de sopa.

—Então. — Disse Cole, casualmente com batatas e alecrim, —Há quanto tempo você mora na terra?

—Mais tempo do que você viveu. — Respondeu Greenwood, evasivo. —Mas não tanto tempo, comparativamente. Há quanto tempo você está sem-teto?

Eu esperava que Cole se irritasse com raiva, mas ele mal reagiu.

—Desde que eu estudei necromancia. — Respondeu Cole. —Você disse que tem convidados humanos com frequência? Você socializa bastante com os humanos?

O garfo de Greenwood pairava sobre sua comida, mas ele retomou suavemente sem mais emoções.

—Eu disse que tenho convidados. — Esclareceu. —Humano e de outra forma, exatamente com a frequência que sinto vontade de ter companhia. Necromancia é uma busca incomum. Como sua família se sente sobre isso?

—Oh, da mesma maneira que eles se sentem sobre qualquer mágica. — Disse Cole novamente, sem reação emocional, apesar da farpa. Eu não tinha visto ninguém trocar respostas e insultos velados como este desde a última reunião de família. Ou não tão velado, no caso de Greenwood. —Como o tribunal se sente sobre seus... Hábitos?

Um músculo na mandíbula de Greenwood se contraiu, e ele segurou o garfo com força, mas sua expressão e tom permaneceram neutros.

—Eu nunca imaginaria adivinhar os sentimentos do tribunal. — Disse ele. —Eu opero com a permissão da minha rainha, e isso é tudo o que é necessário. Entendo que sua família está morta, então? Que trágico.

—Oh, não, eles estão vivos. — Disse Cole com um pequeno sorriso frio. Greenwood agarrou seu garfo com tanta força que pensei ouvi-lo estalar. —Você disse que sua rainha mandou você aqui? Agora, qual rainha seria exatamente?

Greenwood bateu com o garfo na mesa e se levantou.

—Perdoe-me. — Disse ele. —De repente, perdi o apetite.

Cole bufou e Greenwood lançou um olhar perigoso para ele.

—Ótimo. — Eu disse imediatamente. Não entendi exatamente o que Cole havia feito, mas não desperdiçaria a oportunidade. —Então vamos voltar aos negócios. Você me deve uma resposta.

—'Você me deve' é uma frase perigosa para brincar com os fae. — Disse Greenwood, batendo duas vezes na mesa. —Levamos a dívida muito a sério.

De repente, a comida na mesa desapareceu completamente, deixando os pratos brilhando como se nunca tivessem sido usados. Ethan bateu os dentes em um pedaço de frango que não estava mais lá e franziu o cenho deplorável.

—Você conscientemente me colocou em perigo quando eu nunca fiz nada com você. — Eu disse, levantando-me também. —Eu diria que isso significa que você me deve.

—Eu estava simplesmente devolvendo uma herança familiar valiosa ao seu legítimo proprietário. — Respondeu Greenwood. —Um ato de caridade pelo qual fui recompensado com violência e grosseria. Se alguma coisa, você me deve.

—Você sabia que a Vela era perigosa! — Eu o acusei.

—Você não pode provar isso. — Respondeu ele, sublime.

—Uh, na verdade — Ethan interrompeu, levantando a mão. —Eu ouvi sua conversa sobre a Vela com os curandeiros. Daphne deixou bem claro o quão perigosa era a Vela e o que poderia acontecer se acabasse nas mãos de um necromante. Quero dizer, mesmo que você não deva a Vexa, você provavelmente deve aos curandeiros a promessa de ajudá-los e depois distribuir a Vela em vez de recuperá-la. E, como eu represento os curandeiros, acho que isso significa que você me deve?

Um rubor subiu pela nuca de Greenwood, mas ele respirou fundo e o dispensou.

—Tudo bem. — Ele disse. —O que exatamente você quer?

—Eu... — Comecei a exigir respostas, depois me lembrei do que estávamos realmente fazendo aqui. Ele pode apenas nos deixar ter um favor. Eu não queria desperdiçar isso explicando algo que já estava feito. —Queremos que você ajude Ethan. Ele tem uma maldição. Não sabemos quem a lançou ou quais são os parâmetros para quebrá-la, e seu progresso foi acelerado. Precisamos quebrá-la rapidamente.

Greenwood olhou para Ethan com expectativa.

—Sim, é isso que eu quero. — Ethan disse depois de um momento, quando percebeu que o homem Fae esperava por sua confirmação. —Por favor. Tudo o que você puder fazer será apreciado.

Greenwood suspirou e esfregou os olhos.

—Tudo bem. — Ele disse. —Se é realmente isso que você quer. Parece um pouco inútil para mim, mas é sua perda.

Ele nos levou para fora da sala de jantar e para dentro da casa. Passamos por longos e opulentos corredores, salas estranhas, grandes salões de baile, subindo e descendo escadas sem fim. A casa era muito maior do que aparecia do lado de fora. Também ficou cada vez mais claro que a vista pelas janelas pelas quais passávamos não era da vizinhança que deveriam ter sido. Vi ruas movimentadas em cidades estrangeiras, montanhas desconhecidas, praias tropicais. E uma ou duas vezes vi paisagens que eu sabia que não existiam em nenhum lugar da terra.

Enquanto caminhávamos, entrei ao lado de Cole. —O que foi aquilo na mesa? — Eu perguntei a ele em um sussurro curioso.

—Os fae vivem de acordo com regras como se fossem leis da natureza, certo? — Ele disse. —Incluindo rituais de etiqueta. Se você insistisse em conversar sobre negócios à mesa, ele teria justificativa para expulsá-la. Caso contrário, ele continuaria comendo até desistirmos e sairmos ou desmaiarmos ou o que for.

—Então você teve que fazê-lo querer sair da mesa? — Eu assumi, e Cole assentiu.

—Pergunta por pergunta é uma das regras mais comuns dos fae. — Explicou. —Eu continuava fazendo perguntas que ele não queria responder. Felizmente, descobri a melhor maneira de irritar as pessoas é algo em que eu sou naturalmente talentoso.

—Como você sabia que funcionaria? — Eu perguntei, sentindo uma estranha combinação de medo e alívio retroativos.

Cole não tinha uma resposta.

Por fim, Greenwood parou diante de um par de enormes portas de madeira esculpidas com a imagem de uma árvore gigante. Seus galhos cresciam além do topo da porta, brotando folhas verdes vivas. Uma águia esculpida estava entre os galhos e uma serpente enrolava nas raízes. Um esquilo de olhos brilhantes empoleirava-se logo acima do buraco da fechadura. Não havia maçanetas, mas quando Greenwood se curvou e sussurrou algo no buraco, a porta se abriu silenciosamente por conta própria.

—Por aqui. — Disse ele, entrando pelas portas. —Se vocês valorizam a sanidade e várias partes do corpo, não toquem em nada.

Cole, Ethan e eu trocamos um olhar, todos nós sentimos que essa era provavelmente a nossa última chance de voltar. Não sabíamos remotamente no que estávamos caminhando, mas eu sabia que era a nossa melhor chance de salvar Ethan. Respirei fundo e segui Greenwood pela porta.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Quatorze


Entramos em uma enorme biblioteca com prateleiras alinhadas nas paredes que subiam pelo menos dois andares. O teto de vidro derramava luz dourada no final da tarde através da sala, embora, quando chegássemos, já estivesse bem antes do meio dia. A sala estendia pelo menos o comprimento de um campo de futebol em qualquer direção, e as portas em arco abertas em cada extremidade implicavam que havia mais além delas. A sala, cheia de parede a parede, tinha coisas em estantes de vidro, mesas de madeira escura e tanques enormes - um milhão de objetos diferentes, fantásticos e mundanos, incrustados de jóias e envoltos em trapos, enormes e pequenos, impossíveis e absolutamente insignificantes. Fiquei completamente impressionada, atordoada com um silêncio reverente e admirado.

—Por aqui. — Disse Greenwood, impaciente, levando-nos através das filas de caixas, passando por um astrolábio de ouro girando no ar a um pé acima do suporte em que estava colocado. O estojo ao lado continha um pesado livro encadernado em couro, do qual baratas e moscas se arrastavam constantemente, apenas para se dissolverem em pó a alguns centímetros de distância. No passado, havia um guarda-chuva vermelho que, apesar de estar em um estojo reforçado com várias fechaduras pesadas, parecia ser completamente normal. Eu tive que lutar contra o desejo de parar a cada poucos metros para encarar cada nova maravilha intrigante que passamos. Muitos deles pareceriam estranhos até para a visão normal. Mas, para meus sentidos mágicos, eles absolutamente se arrastavam com magia. Alguns foram infundidos, a magia fluindo através deles como sangue pelas veias. Outros pareciam completamente mágicos, seus componentes comuns eram uma fachada fina.

Debaixo da minha camisa, eu usava um pingente de madeira, um amuleto que Ethan me deu que me permitiq entendê-lo enquanto ele estava em sua forma de lobo. Até esse momento, tinha sido a peça de magia mais incrível que eu já vi. Fiquei perplexa e fascinada pela habilidade e delicadeza envolvidas em sua criação. Aquele feitiço, que eu havia colocado à noite olhando com tanta admiração, parecia positivamente desajeitado nesse tesouro de encantamentos, como um cisne de origami dobrado por um amador habilidoso ao lado de uma obra-prima.

Certamente, alguns dos itens aqui eram menos delicados em sua elaboração. Havia uma pilha de moedas de prata que não mostrava nenhum traço fractal cuidadosamente dobrada em encanto. Mas mesmo estes queimavam com um tipo de força e emoção crua que me fazia tremer se olhasse por muito tempo. Eles foram carimbados com uma única e poderosa letra, pesada com significado cósmico. Meus sentimentos eram os mais próximos do êxtase religioso que eu já havia experimentado.

Corrigida pelo oceano de dor preso dentro das moedas, pulei quando Greenwood me deu um tapinha no ombro.

—É melhor não olhar por muito tempo. — Ele aconselhou, colocando um braço em volta de mim para me orientar. —Pode ser perigoso.

—O que é tudo isso? — Eu disse, extasiada demais para lembrar que estava com raiva dele. —É incrível... lindo. Olhe para os fractais geométricos daquele! Como eles fizeram isso? E aquele, Deus, o feitiço quase parece vivo, como flores crescendo! Onde você aprende isso? Quem fez isso? Como?

Greenwood levantou uma sobrancelha enquanto eu balbuciei, mas um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca fina.

—Curioso. — Ele disse. —A maioria das pessoas que vê minha coleção quer saber o que faz, não como é feita.

—Bem, eu quero saber isso também. — Eu disse, um pouco sobrecarregada. —Mas você também pode perguntar para que serve uma mesa barroca antiga. É uma obra de arte. O valor está no artesanato, não na utilidade.

—Estou inclinado a concordar. — Disse Greenwood. —Aqui, você notou este vaso? Viu como o feitiço é trabalhado para seguir o padrão na porcelana?

—Isso é incrível! — Eu jorrei, me inclinando para ver. —Olha, é mesmo nas folhas minúsculas!

Cole pigarreou, chamando minha atenção. Cole franziu a testa e Ethan, envergonhado, alternando entre olhar entre o teto e o chão.

O braço de Greenwood ainda estava ao meu redor e encolheu os ombros rapidamente, meu rosto quente. Greenwood recuou, mãos no ar e, com um gesto elegante, nos levou novamente.

Ethan perguntou baixinho, a preocupação apertando seus olhos. —Ele não está trabalhando em algum tipo de encantamento em você ou o que seja, está? — Ethan perguntou em voz baixa, preocupação apertando seus músculos faciais.

—Não. — Eu disse rapidamente, depois pensei duas vezes e me examinei. —Não, acho que não. Isso é uma coisa muito legal! Eu nunca estive com esse tipo de magia antes. É emocionante!

—Tudo bem. — Ethan disse, sorrindo, ainda parecendo preocupado. —Seja cuidadosa.

—Mantenha o foco. — Sugeriu Cole. —Ainda não podemos confiar nesse cara. Se ele tiver a oportunidade, poderia fazer muito pior do que simplesmente nos expulsar.

Eu assenti, lembrando a mim mesma por que estávamos aqui. A vida de Ethan dependia disso. Não era hora de se distrair com coisas legais e brilhantes.

Greenwood nos levou a um dispositivo estranho, com uma variedade de espelhos e lentes de aumento em uma complicada armadura dourada. Era mais alto que Greenwood e atualmente estava sobre uma mesa comprida sobre a qual repousavam vários pequenos objetos encantados.

—Vidro do artífice. — Explicou, enquanto eu me maravilhava com o feitiço incrivelmente sutil nas molduras douradas em torno de cada lente. —Muito raro e muito útil para examinar mágica. Eu o uso para estudar e manter os encantamentos da minha coleção.

—Essa é a moeda da sorte que encontramos no outro dia? — Ethan perguntou, apontando para uma moeda mais brilhante que o normal, deitada em um banco.

—É. — Confirmou Greenwood, atendendo. —O efeito de distorção da probabilidade parece ser um pouco mais forte que o normal. Eu estava tentando discernir a causa. Parece haver um parágrafo no script mágico que fecha a brecha usual de perda/ganho. Até certo ponto.

Ele me ofereceu, e eu o peguei sem pensar, embora Cole tenha feito um barulho de aviso em sua garganta.

—É inofensiva. — Assegurou-me Greenwood. —Moedas da sorte são muito pequenas mágicas. Existem milhares delas em circulação, pelo menos. A maioria das pessoas nem percebe o que tem. Mas elas podem tornar a vida um pouco mais fácil.

—Obrigada. — Eu disse, colocando no bolso do meu vestido. —Eu agradeço.

—Não, obrigado. — Disse Greenwood com um sorriso que não tocou muito em seus olhos. Eu senti que tinha cometido um erro, mesmo que Cole parecesse impaciente, mas nenhuma desgraça caiu sobre nós. Em vez disso, Greenwood acenou para Ethan em direção ao banco, afastando os outros artefatos. —Por favor, sentem-se.

Com um olhar cauteloso em direção à saída, Ethan se sentou na beira do banco e Greenwood ajustou o vidro do artífice, arrastando lentes e espelhos para a posição entre ele e Ethan e ajustando uma série de botões complicados ao lado de cada lente com uma graciosa confiança de um músico tocando um instrumento.

Eu assisti por cima do ombro dele, enquanto imagens estranhas entraram e saíram de foco enquanto Greenwood fazia ajustes - redes de energia, espirais de magia ambiental, vazios misteriosos e, uma vez, uma imagem de um longo e escuro corredor cheio de Velas. Algumas lentes eram de vidro transparente, mas Greenwood olhou através delas e ajustou seu foco, da mesma forma, como se ele visse algo lá que eu não podia.

Finalmente, uma das lentes refletia uma imagem do núcleo da maldição de Ethan. Eu já o havia visualizado enquanto tentava suprimi-lo. Era mais ou menos esférico, como um novelo de fios enrolado, firmemente tecido e emaranhado. Ele apodrecia, queimava e vazava, vermelho lívido e amarelo doentio. Era ao mesmo tempo imundo e patético, inspirando pena e nojo... e náusea.

—Essa é desagradável. — Disse Greenwood à toa. —Maldições de monstros são raras hoje em dia, e essa é forte. Eu garantiria quem fez isso há algum tempo.

—Existe algo que você possa fazer para quebrá-la? — Eu perguntei. —Ou nos dizer quem pode?

—Deixe-me ver. — Greenwood cantarolou, discando as lentes para mais perto. —Eu posso ver por que você teve dificuldade. O lançador definitivamente se esforçou para esconder sua assinatura. Eu quase diria que não havia, mas isso é impossível.

—Por quê? — Ethan perguntou, mudando para ver através das lentes.

—Fique quieto. — Disse Greenwood bruscamente, inclinando a lente e ajustando algo novamente. —É impossível, porque isso significaria que esta é uma maldição autoinfligida-

—Cole mencionou isso antes. — Eu disse. —Eles são realmente fracos, não são?

—Exatamente. — Confirmou Greenwood. —Mesmo as maldições auto-infligidas mais fortes nunca fazem nada que não possa ser descartada como coincidência ou acidente. Elas nunca poderiam se manifestar fisicamente dessa maneira. Não, esse é definitivamente o trabalho de um indivíduo muito qualificado. Alguém com muito conhecimento prático sobre maldições. Francamente, quase parece que-

Greenwood congelou, encarando a maldição. Um momento depois, ele começou a ajustar rapidamente os mostradores, aproximando ainda mais.

—Não. — Ele murmurou. —Não, não pode ser.

—Não pode ser o que? — Ethan perguntou, ficando um pouco pálido. —O que há de errado?

—Ele não ousaria. — Zombou Greenwood, ainda claramente falando consigo mesmo. Ele rangeu os dentes enquanto olhava para a lente a menos de uma polegada de distância, examinando as minúsculas linhas de texto mágico escritas nos fios atados da maldição. —Aquele pequeno duende, ele não ousaria!

Ele se lançou em uma diatribe em um idioma que parecia água se movendo sob gelo ou vento através de galhos nus. A julgar pela velocidade e vitríolo por trás de suas palavras, ele não gostou do que viu através das lentes.

Ele empurrou o copo do artífice abruptamente, rosnando para si mesmo na mesma língua e saiu correndo.

—Ei, o que você achou? — Eu liguei para ele. —O que está acontecendo?

Ele não respondeu, correndo em direção a um suporte de guarda-chuva cheio de bengalas, cajado e paus. Ele os examinou, deixando alguns de lado com um gesto impaciente. Alguns atingiram o chão e soltaram faíscas ou ficaram lá, cantarolando intensamente enquanto vibravam através do azulejo. Finalmente, ele emitiu um ruído vitorioso e sem palavras, enquanto puxava uma velha bengala de madeira com um buraco na cabeça densamente atado.

—Greenwood! — Eu gritei, tentando chamar sua atenção. —O que está acontecendo?

Em vez de responder, ele bateu a bengala no chão. Com um eco que sacudiu as vidraças do telhado, uma porta se abriu no ar diante dele. Nada como o buraco irregular que o feitiço de teletransporte de Uther havia feito, suas nítidas bordas redondas enroladas e floridas com floreios simétricos de poder, ao mesmo tempo geométricos e orgânicos, como uma janela art nouveau para outro mundo.

Sem outra palavra, ele avançou para dentro dela. O choque diminuiu minhas reações, antes que eu corresse para frente. Ethan e Cole gritaram meu nome, mas então eu já tinha colidido com a superfície do portal que se fechava rapidamente, que rompeu minha pele como água fria enquanto o seguia para o desconhecido.

 

 

 

 

 


Capitulo Quinze


O portal se fechou atrás de mim com pressa apenas um segundo depois que eu o atravessei, a sensação de água fria ainda persistindo.

Fiquei imediatamente impressionada com uma sensação de vertigem e confusão severas. Eu não estava em lugar nenhum na terra.

Um espaço incomum de lavanda se estendia ao meu redor, o ar e a terra da mesma tonalidade azul-púrpura suave, se o ar fosse de fato ar - sólido e presente, como uma névoa espessa, mas com uma textura como espuma ou chantilly. Essa textura se chocou contra a minha pele e eu a vi muito mais longe do que deveria. Não consegui encontrar o horizonte porque a terra não era plana. Ela subia e descia em ondulações e cavidades como um cobertor de cetim, captando luz em suas curvas em iridescência holofílica.

Não consegui encontrar um ponto em que as colinas distantes obscurecessem minha visão. Que luz produzia sombras profundas e cintilantes e arco-íris efêmeros na superfície de seda do solo? Onde estava o sol? Lutei para racionalizar o que vi, imaginando a terra curvando-se ao meu redor como uma esfera. E, no entanto, eu também tinha uma impressão distinta do céu, mesmo que apenas por causa das cidades e castelos brilhando como nácar e mancha de óleo, que pareciam estar mais enraizados nele do que no chão em que eu supostamente estava.

—Venha comigo! — Uma voz gritou, parecendo impossivelmente distante e depois como um sussurro no meu ouvido. —Se você não quer se perder, não deve demorar.

Eu me forcei a suportar a terrível visão sem fim à minha frente, para onde Greenwood estava, batendo com o pé impaciente. Ele olhou perto o suficiente para tocar, mas quando eu o alcancei, a distância entre nós poderia ter sido de quilômetros. Náusea subiu em mim, que eu lutei para suprimir. Eu fiz um som desumano de um animal em terror absoluto, meu cérebro lutando para compreender.

—Você está bem. — Gritou Greenwood. —Você não está morrendo, corre um risco bastante mínimo e, se você se apressar, sairemos daqui a pouco.

Agora isso era motivação. Hesitei de qualquer maneira, sem saber se caminhar era algo que eu realmente poderia fazer neste pesadelo. Meu corpo não foi construído para quaisquer leis que este lugar obedecesse. Meus músculos ainda poderiam se contrair, meu sangue ainda bombearia? Obviamente, meus neurônios ainda disparavam, mas Deus, por quanto tempo? Eu estava no fundo de uma piscina, prendendo a respiração, momentos longe de ficar sem ar?

Uma mão agarrou meu braço, dedos enrolando sem parar em torno de uma coluna da minha própria pele e músculo muito longe para estar sob meu próprio controle. A mão, que deveria ter sido Greenwood, embora ele ainda parecesse impossivelmente distante, me puxou para frente e, tropeçando, aprendi a mover minhas pernas novamente.

—Pronto, viu? — Greenwood disse com um bufo. —Não é tão difícil, é? Agora, apresse-se!

Ele me soltou, virou-se e, em um instante, tornando-se um local pouco visível no horizonte. Corri para acompanhá-lo, meu coração se apavorou com o pensamento de ser deixada para trás. Eu dei três ou quatro passos e bati diretamente nas costas dele.

Com um suspiro sofrido, Greenwood me ajudou a levantar. Eu caí? Quando eu caí? No que eu pousei? Eu cheguei a terra? Ele colocou um braço em volta de mim para me guiar para a frente, o que eu apreciei profundamente. Eu ainda não tinha cem por cento de certeza de como minhas pernas funcionavam, e eu estava assustada e sem sentido e queria segurar alguém. Eu desejei o conforto da proximidade de Ethan. Ele teria odiado isso, e eu não acho que Greenwood teria parado para ajudá-lo. Eu não tinha certeza do por que ele parou para me ajudar.

—Estou ajudando você pela mesma razão que lhe dei a Vela. — Disse Greenwood, e percebi com um leve choque que estava falando quase sem parar desde que entrei no portal em um fluxo aterrorizado de consciência. Fechei a boca e me concentrei na sensação de tê-la fechada. Quando dominei o não falar, tentei falar novamente.

—Você ainda não me disse por que me deu a Vela. — Eu disse. Minha voz soou estranha, como ouvir uma gravação minha tocada através de um gramofone em outra sala. E falar deliberadamente enquanto caminhava era difícil.

—Eu queria ver o que aconteceria. — Disse Greenwood casualmente. —Não há um descendente de Aethon tão poderoso quanto você em várias centenas de anos. Eu queria ver o que você faria.

—É isso aí? — Eu perguntei, um pouco atordoada.

—É isso aí. — Ele confirmou. —Joguei um curinga em um jogo que não estava jogando, e se quero ver como o jogo termina, não posso permitir que meu curinga seja perdido nas Terras Distantes.

—É assim que este lugar é? — Eu perguntei, arriscando um olhar ao meu redor novamente, do qual me arrependi um momento depois. —As Outras Terras?

—Uma delas. — Disse Greenwood. Seus passos eram impossivelmente longos, estendendo-se para sempre à nossa frente, comendo terra. E a atmosfera lilás se juntou ao seu redor, envolvida em seus longos membros e cabelos dourados. Ele usava um terno da cor do crepúsculo agora, em vez das calças simples que ele usava quando atravessamos o portal. O casaco de gola alta, as rendas na garganta, ecoavam como algo antigo ou equestre, mas o delicado bordado na gola e nas mangas transbordava de símbolos muito mais antigos e uma espécie de vegetação densa e profunda que me lembrava as Tapeçarias do Unicórnio.

—Estas são as terras longínquas. — Explicou. —Título descritivo, eu sei. Aqueles que sabem com que frequência os usam para viajar.

—Viajando para onde? — Eu perguntei, tão confusa quanto fascinada e enjoada. —Como?

—Qualquer ponto do reino. — Disse Greenwood, com um gesto abrangente de sua equipe. —Mas acho-os mais convenientes para navegar na Terra.

Vendo minha confusão, ele suspirou. —Alguém lhe deu a comparação da bolha de sabão, não foi? — Ele perguntou, e eu assenti. —Bobagem redutora. As Outras Terras não estão conectadas pela Terra. Elas não são uma extensão dela ou nascem dela. A Terra é exatamente o mesmo tipo de coisa que elas são. Realidades se sobrepõem como casca de cebola, ocupando o mesmo tempo e espaço em diferentes comprimentos de onda, nenhuma maior ou mais significativa que a outra, não importa o quanto os habitantes de cada um possam querer reivindicar que sua casa é superior.

—Eles ocupam o mesmo espaço, entende? Essa é a parte importante. Mas o conceito de distância é diferente nas Terras Distantes. Para permanecer ofensivamente redutivo, um passo aqui se traduz em uma magnitude muito maior de distância na Terra. Com o trânsito, pode levar uma hora ou mais para chegar aonde estou indo. Dessa forma, leva apenas um momento, dando à pessoa que vou matar muito menos tempo para perceber que estou indo e escapando.

—Oh. — Eu disse, tentando processar nada disso e não estava certa de ter conseguido. —É isso que Uther faz?

Disfarçado, Greenwood disse: —Esse truque? É claro que não. Ele nunca conseguiu reunir o poder de realmente passar entre reinos. Ele mal consegue ficar um pouco fora de fase com a Terra e dificilmente pode sustentá-la por mais que um momento. Ele ele o usa para atravessar paredes e parecer mais impressionante. Ele acha que está sendo esperto, estacionando atrás da biblioteca e caminhando diretamente para a sala de estudo como se não tivéssemos visto seu miserável junker amuado atrás das lixeiras como um gato indigente. Idiota pomposo.

—Espere. — Eu disse, quando ele parou e me soltou. —Você disse que vai matar alguém?

—Sim. — Disse Greenwood, arreganhando os dentes em um sorriso que mais parecia um rosnado. Ele bateu no chão com seu cajado e outro portal foi aberto, onde foram reveladas ruas abençoadamente normais de uma terra boa e sólida. Greenwood entrou e eu segui um segundo atrás dele.

Engoli em seco no ar frio da noite com alívio, passei meus braços em volta de mim e tomei um momento apenas para apreciar meus membros sendo todos do comprimento certo e tudo tendo geometria que fazia sentido. Mas não tive muito tempo para gostar de voltar a um universo que fazia sentido.

Greenwood correu para a frente, as botas estalando na calçada molhada. Era começo da noite e parecíamos estar em um beco no centro da cidade em algum lugar, sem saídas. Os prédios a fechavam completamente. A única maneira de entrar ou sair era uma porta de segurança indefinida em uma extremidade estreita. Greenwood caminhou em direção a ela. Ele bateu com força no final do cajado e uma janela se abriu. O holofote lotado de mariposas acima da porta projetava a abertura na sombra, tornando a pessoa atrás dela invisível.

—Senha. — Exigiu uma voz.

—Não visitei recentemente. — Disse Greenwood, com seu sorriso mais charmoso. —Acredito que foi 'Amanhecer de Tahitian' da última vez?

—Não usamos nomes de coquetéis como senhas há anos. — Disse o cara atrás da porta. —Tente novamente.

—Isso é urgente. — Disse Greenwood, parecendo um pouco tenso. —Era uma senha válida da última vez. Se você pudesse apenas-

—Não posso nada. Se você já esteve aqui antes, sabe como o chefe é sobre segurança.

Eu pulei quando outro portal se abriu no outro extremo do beco. Um jovem casal saiu correndo, o cara enfiando o que parecia uma antena de carro em seu casaco. Eles estavam a uma pequena distância de nós, esperando sua vez na porta enquanto Greenwood discutia com o homem da porta.

—Nem todo mundo tem tempo para acompanhar essas coisas! — Greenwood disse frustrado. —Ele não pode esperar que as pessoas acompanhem se ele está sempre mudando. Ele me conhece. Se você pudesse apenas trazê-lo aqui...

—Ele está ocupado.

—Se você apenas mencionar meu nome.

—O chefe não tem tempo para lidar com todas os fae obscuras que tentam se infiltrar pelas costas. Se você quiser entrar sem a senha, tem que derramar sua mágica na porta da frente como todo mundo.

—Eu não tenho tempo-

—Você se afasta e deixa os clientes reais passarem, senhor?

Lívido, Greenwood se afastou para o jovem casal se aproximar, afastando-se o suficiente para o porteiro ficar satisfeito. Fui com ele, minhas mãos nos bolsos, mexendo na moeda da sorte.

—Nita, seja bem-vinda de volta. — Disse ele. —Senha?

A jovem inclinou-se para sussurrar algo, o som bem mascarado pelo ruído ambiente do beco. A porta se abriu, o som fraco da música e da conversa escapando, e o casal entrou. Mas quando Greenwood se aproximou, fechou novamente.

—Se você me desse um momento de vantagem da dúvida. — Disse Greenwood, com um gesto frustrado. —Garanto-lhe que Julius me conhece!

—Então entre pela frente sem sua mágica e obtenha a senha dele. — Disse o porteiro. —Porque você não está entrando aqui.

—Hum. — Eu limpei minha garganta, parando na frente de Greenwood. —Se eu souber a senha, posso trazê-lo comigo?

—Os hóspedes são permitidos. — Disse o homem da porta com óbvia relutância.

—É lobelia erinus. — Eu disse.

Suspeito, ele apertou os olhos para mim através da janela e abriu a porta.

—Cause qualquer problema e eu vou expulsá-lo pessoalmente. — Disse o homem da porta. —E eu vou me certificar de que dói.

—Finalmente. — Greenwood bufou e empurrou a porta e eu o segui, curiosa. Eu pulei quando a porta se fechou. O porteiro era uma parede muscular de um metro e oitenta de altura, sob a pele azul-acinzentada, como pedra viva. Olhos amarelos me encaravam entre presas salientes e chifres grossos, apontando para a frente. Uma cauda longa voava atrás dele como a de um gato bravo. Ele não pareceu surpreso com o meu flagrante, boca aberta olhando.

—Acostume-se a isso, querida. — Disse ele. —Há coisas mais estranhas lá dentro.

Alcancei Greenwood.

—Como você soube a senha? — Ele perguntou, soando um pouco curioso.

—Mariposa morta no holofote. — Expliquei. —Eu apenas ouvi enquanto a outra pessoa falava com o porteiro.

—Inteligente. — Disse Greenwood. —Eu deveria dizer a Julius que ele tem um buraco na segurança dele.

Ele caminhou rapidamente pelo longo corredor que dava para a porta de segurança. Havia quatro portas nesse corredor cobertas por cortinas de miçangas, símbolos que eu não reconhecia esculpidos acima de cada uma. Greenwood enfiou a cabeça por cada cortina e vi vislumbres de pessoas em mesas e cabines, conversando, bebendo e comendo como de costume. Exceto que muitas dessas pessoas eram clara e obviamente não humanas. Vi asas, cascos, caudas, chifres, tentáculos e coisas que não consegui descrever. Foi o suficiente para me fazer pensar se as Terras Distantes não haviam permanentemente mexido no meu cérebro.

No final, o corredor se ramificou, levando em direção a mais das pequenas salas de jantar, e outra porta estava coberta por uma cortina pesada. Greenwood verificou essa também, e vislumbrei a frente do estabelecimento. Era um bar grande e confortavelmente casual, com uma atmosfera de pub distintamente do velho mundo. Todos na frente pareciam humanos, embora meus sentidos mais mágicos soubessem que irradiavam poder. Havia um punhado de normais entre eles, mas este era claramente um lugar para pessoas como eu. A comunidade mágica, ali mesmo, esperando por mim. Havia também uma quantidade absurda de energia ligada nas paredes, no chão e até nas mesas de madeira. Este lugar estava encantado como o inferno.

Um homem mais velho, de cabelos grisalhos, bonito e distintamente musculoso sob o colete de couro, atendia no bar, rindo de uma piada compartilhada pelo homem cuja bebida ele servia. Enquanto Greenwood examinava a sala, o barman nos viu. Ele largou a garrafa que segurava e se dirigiu a nós, mas Greenwood já estava se afastando por um dos corredores.

—Gwydion!

O barman atravessou a cortina e correu atrás de nós, mas Greenwood o ignorou.

—O que quer que ele tenha feito desta vez, eu sei que ele provavelmente merece o que está por vir. — Disse o barman, tentando acalmar Greenwood. —Mas você conhece as regras. Se você fizer isso aqui-

—Eu não vou matá-lo em seu precioso bar, Julius. — Disse Greenwood bruscamente, puxando outra cortina de contas e deixando-a cair em decepção. —Nem colocarei em risco nenhum de seus clientes. E tenha certeza de que a surra que ele vai ter é ricamente merecida.

—Você sabe que eu confio em você. — Protestou Julius. —Mas meus outros convidados-

Greenwood abriu outra cortina e instantaneamente um vento gelado correu pelo corredor, me esfriando até os ossos e arrancando os cabelos de Greenwood da fita, fazendo-o voar em torno de sua cabeça. Ele tinha a aparência de um deus vingativo.

—Gilfaethwy! — Greenwood rugiu.

Em uma mesa no centro da sala, um homem que parecia muito parecido com Greenwood, de fato, sentava-se como um cervo com um copo de cerveja nos lábios. Todos na sala olharam para Greenwood no momento, mas o medo nos olhos do homem deixava claro que ele sabia exatamente para que estava encrencado. Houve um momento tenso de quietude. E então o homem cuspiu sua cerveja diretamente em Greenwood. Ele explodiu em vapor no ar, obscurecendo a visão de Greenwood. Greenwood atirou-o para fora do caminho com uma rajada de vento frio e um gesto de corte furioso, mas o homem desapareceu.

Eu gritei e pulei para fora do caminho quando um grande esquilo marrom passou correndo pelos meus pés.

—Gilfaethwy, seu merdinha traiçoeiro! — Greenwood gritou. —Você não vai ficar longe de mim tão facilmente!

Dobrou-se como um mosaico estranho e, um instante depois, um falcão voou atrás do esquilo com um grito de raiva.

—Não no bar! — Julius gritou atrás deles. —Não no bar!

Bateu palmas com as mãos poderosas e os anéis de prata nos dedos brilhavam com um trabalho de corrida intrincado. Um portal se abriu na frente do esquilo, que tentou se esquivar dele, mas com outro gesto de Julius, foi varrido, seguido de perto pelo falcão.

Corri atrás deles e Julius correu atrás de mim, pulando através do portal, que dava para o mesmo beco por onde entramos. O falcão pegou o esquilo enquanto eu observava, voando alto no ar. Mas um segundo depois o esquilo torceu e se tornou uma cobra grande, que se levantou e mordeu o falcão com presas semelhantes a punhais. O falcão caiu no telhado de um prédio próximo com um grito de dor.

—Greenwood! — Eu gritei horrorizada.

Julian bateu palmas novamente e uma escada apareceu, as peças retiradas de mil lugares secretos do outro lado do beco. Não parei para questionar. Subi rapidamente, aterrorizada por encontrar Greenwood morto no topo.

Em vez disso, os cascos agitados de uma cabra quase tiraram minha cabeça. Um rato mexeu-se em seus pés, que ele tentava furiosamente pisar. Um segundo depois, o rato se tornou um grande veado, jogando a cabra no ar com seus chifres. Um momento depois, a cabra era um lobo, afundando os dentes no flanco do veado.

—Oh, eles estão nisso agora. — Disse Julius, subindo ao meu lado. —Melhor ficar fora do caminho.

—Qual é Greenwood?— Eu perguntei, quando o cervo se tornou um leão para devorar o lobo, que se tornou uma vespa para picar o rosto do leão, que se tornou uma andorinha para comer a vespa.

—Gwydion? Só Deus sabe. — Disse Julius com um sorriso, me dando um tapinha no ombro. —Não se preocupe muito. Quando eles ficam assim, é melhor deixá-los sair do sistema. Eles vão se desgastar em breve. Isso provavelmente é um par de décadas de poder armazenado está queimando agora. Apenas aproveite o show.

Ele acenou com a mão e um saco de pipoca apareceu, que ele me ofereceu. Recusei, correndo pelo telhado quando a vespa se tornou um gato e arrancou a andorinha do ar, que se tornou um coelho e saltou para o outro lado do telhado. O gato tornou-se um galgo e perseguiu, os dois pulando através da abertura para os azulejos do prédio seguinte.

—Quem é aquele cara? — Eu perguntei, com o coração acelerado enquanto procurava um caminho a seguir, pegando uma tábua solta e jogando-a através da abertura, feliz por não ser grande.

—Gilfaethwy. — Explicou Julius, segurando o quadro para mim enquanto eu corria. —Irmão de Gwydion. Mais ou menos.

—Tipo? — Eu perguntei, segurando-o para que ele pudesse atravessar também, mas ele apenas caminhou ao lado, como se o ar fosse solo sólido.

—Bem, as Fae não têm famílias como as descreveríamos. — Disse Julius. —Mas... eu realmente não sei o quanto você sabe sobre os tribunais?

—Eu sei que existem três deles e que os dois principais parecem ser uns idiotas. — Resumi.

Julius assentiu, as mãos levantadas em um gesto. —praticamente.

—Quando uma novo fae é criada na Corte Seelie. — Disse ele. —Uma contraparte igualmente comparada aparece instantaneamente nos Unseelie e vice-versa, para que a corte fique perfeitamente equilibrada. É por isso que eles começaram a recrutar Faes Selvagens, embora isso não tenha acontecido. Não funcionou melhor para eles. Gilfaethwy é o oposto de Gwydion, perfeitamente igual a ele em todos os aspectos.

—Então não há chance de Gelf, Gilfeth... que seu irmão o derrote? — Eu perguntei. O galgo havia pego o coelho, apenas para soltá-lo latindo quando se tornou um porco-espinho. O galgo tornou-se um texugo, golpeando o porco-espinho com garras longas e raivosas, e o porco-espinho tornou-se uma raposa, correndo ao redor do texugo para morder seu flanco.

—Eu não diria nada. — Disse Julius, comendo um punhado de pipoca. —Ou eles não continuariam fazendo isso a cada poucos anos. Mas é bem magro.

—Não devemos tentar ajudar Greenwood, quero dizer, como você o chamou?

—Gwydion. — Repetiu Julius. —Esse é o nome verdadeiro dele, ou parte dele. Isso lhe dá um pouco de poder sobre ele, o que ele odeia, mas sinceramente acho que ele poderia usar mais algumas pessoas em sua vida com o poder de impedi-lo de fazer coisas estúpidas. E você poderia ajudá-lo, se você quiser, supondo que você possa descobrir qual é qual. Mas jurei não interferir, desde que não estejam no meu bar ou prejudiquem meus convidados.

—Ah, merda, lá estão eles. — Murmurei quando o texugo se tornou um macaco, subindo pelos telhados, e a raposa se tornou um leopardo para persegui-lo.

Corri atrás deles, esforçando-me para acompanhar as mudanças entre os prédios e deslizei em telhas e telhas. Eu deveria ter caído cem vezes... quebrar meu pescoço ou pelo menos um braço caindo em uma lixeira do terceiro ou quarto andar. Parkour não era uma habilidade que eu realmente tivesse perseguido. E, no entanto, toda vez que eu pensava em escorregar, meu pé se apoiava nos ladrilhos molhados. Toda vez que pensei que estava prestes a cair, consegui me recuperar bem a tempo. Mas não tive tempo de questionar minha sorte repentina.

Antes que o leopardo pudesse pegar o macaco, o macaco derrapou no meio de um jardim abandonado, as camas secas e a gaiola suja e vazia de pombos, um fundo estranhamente doméstico para a cena exótica. O macaco se virou quando o leopardo se fechou e se tornou um crocodilo, com a mandíbula aberta. Ele pegou o leopardo com um golpe de seus dentes poderosos e torceu, jogando o grande gato em direção à gaiola de pombo. Aterrissou com um barulho, se transformando em um homem enquanto eu observava. Por um momento eu ainda não sabia dizer quem era.

—Pelo amor de Deus, Gwydion! — O homem, que agora assumi ser Gilfaethwy, reclamou, sentando-se. —Pensei que não concordamos com nenhum crocodilo da última vez. Eles não são justos e você sabe disso.

Ele parecia sem fôlego, suado e dolorido, o que era uma aparência estranha de se ver em um rosto tão parecido com o de Greenwood, geralmente tão composto e refinado, mesmo quando estava com raiva assassina.

O crocodilo voltou para Gwydion e, por um momento, também não o reconheci. Seu rosto ainda era o mesmo, mas seu cabelo era mais pálido, mais prateado que dourado, e seus olhos eram sempre verdes, não o verde brilhante do verão que eu lembrava. Ele parecia cansado também, com a respiração trêmula.

—Para o inferno com justiça! — Gwydion gritou. —Você já jogou todas as regras do nosso pequeno acordo pela janela!

—Tenho certeza de que não sei do que você está falando. — Disse Gilfaethwy, olhando para qualquer lugar, menos para o irmão. —Eu não tenho sido nada além de fiel ao nosso acordo. Eu mantive minha cabeça baixa, não fiz mágica-

—Então por que eu tenho um lobisomem em minha casa com sua assinatura na maldição dele? — Gwydion rosnou. A temperatura no telhado caiu vários graus quando um vento frio respondeu à raiva de Gwydion.

Gilfaethwy estremeceu, depois riu timidamente. —Foi esse que você encontrou, não é? — Ele disse.

—Há mais de um ?!

—Claro que não.

—Você está mentindo, seu miserável-

Quando Gwydion deu um passo em direção a Gilfaethwy, ele se transformou em um furão e disparou para a beira do telhado. Gwydion tornou-se imediatamente uma coruja para voar atrás dele.

—Chega de merda de animal estúpido! — Gritei de frustração, atacando com meus poderes. Um enxame de insetos mortos surgiu diante do furão, levando-o de volta às garras que aguardavam dois ratos desidratados, deixando a coruja de Gwydion flutuando no ar. O furão torceu, transformando-se em algo maior, um urso, eu acho, mas eu já estava diminuindo a distância entre nós, batendo as duas mãos em seu pelo. O animal gritou e se debateu para fugir enquanto a necrose se espalhava por suas costas. Eu sorri com uma satisfação sombria quando ela voltou para Gilfaethwy e eles caíram no chão, arranhando como sua própria pele em horror.

—Tira isso! — Ele disse horrorizado. —Tira isso!

—Eu vou. — Eu disse, minhas mãos prontas para fazer mais. —No minuto em que você me disseer o que fez com Ethan.

—Inseto! — Gilfaethwy sibilou para mim, o ódio em seus olhos como um incêndio, o telhado de repente no meio do verão quente, o ar fervendo. Os canteiros de flores secas levantaram e estouraram, transbordando de vida verde repentina, espinhosa e retorcida. Ele cresceu com uma velocidade terrível, avançando em minha direção enquanto ele se arrastava pelo telhado, o rosto contorcido de raiva e desprezo insondáveis. —Como você ousa pôr suas mãos sujas em mim? Você sua verme, sua macaca pálida e trêmula! Eu poderia desmembrar uma molécula de cada vez! Eu poderia queimar você por toda a eternidade e negar-lhe o direito de uivar de dor! Eu sou um deus para você!

Por um momento, vendo aquele repentino ódio, acreditei nele. Eu me afastei, meu medo intenso, mas um segundo depois uma brisa fria baniu o calor quando Gwydion plantou um salto nas costas de Gilfaethwy, exatamente onde minha necrose era pior. Gilfaethwy gritou de dor, caindo de bruços. Gwydion não tirou o pé. Atrás dele, a geada matou a onda de vegetação que Gilfaethwy havia convocado, secando-a para nada novamente.

—Se você tivesse o poder de fazer algo assim, nenhum de nós estaria aqui. — disse Gwydion, olhando para o irmão com um leve desgosto. —Diga à mulher o que ela quer saber, ou eu deixarei que o veneno nas suas costas o devore. Um gostinho da morte mortal.

—Você condenaria a nós dois. — Gilfaethwy assobiou no betume do telhado.

—Você parece contente em fazer o mesmo. — Disse Gwydion friamente, torcendo o calcanhar nas costas de Gilfaethwy. —Além do mais, duvido que isso o mate. Mas tenho certeza de que machucaria.

—Por que você amaldiçoou Ethan? — Eu exigi, aproximando-me novamente. —E como a quebramos?

—Eu não o amaldiçoei. — Afirmou Gilfaethwy.

Gwydion afundou o calcanhar novamente.

—Eu não fiz! — Gilfaethwy gritou, a voz estridente com dor. —Eu juro por tudo que é sagrado!

—Como se você já considerasse algo sagrado. — Zombou Gwydion. —Jure pela sua mão direita e saiba que terei muito prazer em removê-la se você mentir.

—Juro pela minha mão direita. — Disse Gilfaethwy com um grunhido amargo. —Eu não o amaldiçoei. A maldição já estava lá. Eu apenas... dei um pequeno empurrão.

Ele riu, uma risadinha nervosa e histérica, e Gwydion o chutou.

—Seu idiota! — Ele gritou. —Você está mentindo, seu sem valor-

—Foi apenas um pequeno empurrão! — Gilfaethwy disse através de sua risada delirante. —Eu precisava! Eu não podia contar para não! Oh, se você o visse, todo aquele ódio pulsando em seu peito, todo torcido em um nó do tamanho do seu punho. Você teria feito isso também! Eu tinha que ver o que aconteceria!-

Gwydion se encolheu e lembrei-me de suas palavras mais cedo, certa de que ele também se lembrava delas.

—E era apenas um pouco de poder. — Disse Gilfaethwy. —Menos do que usamos aqui hoje à noite! Ninguém notou!

—Não importa quanta energia você usou, seu miserável e inútil desperdício de magia! — Gwydion disse, arrancando os cabelos em frustração. —Você o usou em um ser humano! Interferência direta, a única coisa que todo o nosso acordo depende, a única coisa proibida! Foi notada. Eu garanto a você, e eles estão esperando, segurando-o sobre nossas cabeças como a espada de Dâmocles, por o momento perfeito para destruir nós dois!

—Oh, não seja tão pessimista. — Disse Gilfaethwy, rolando de costas e parecendo ter se arrependido. —O que há com o seu tipo sendo tão severo o tempo todo?

—Eu não sou severo. — Disse Gwydion. —Eu simplesmente não quero ser eliminado da existência porque você não pode controlar seus impulsos!

—Tanto faz! — Eu interrompi, confusa e sem paciência. —Diga-nos como desfazer! Como quebramos a maldição?

Gilfaethwy apenas riu mais - gargalhando alto e enlouquecido. Olhei para Gwydion em busca de algum tipo de explicação, mas ele balançou a cabeça.

—Tem que haver algo que ele possa fazer! — Eu disse, passando por Gilfaethwy para pegar Gwydion pelo braço. —Ele causou isso! Tem que haver uma maneira de consertar!

Gwydion franziu os lábios, franziu as sobrancelhas e esfregou as têmporas.

—Ele está dizendo a verdade. — Disse ele. —Não há nada que ele possa fazer. Ele não amaldiçoou seu lobisomem.

—Então quem fez? — Eu implorei. Tinha que haver algo, pelo menos uma vantagem. Qualquer coisa para dar a Ethan um pedaço de esperança.

Gwydion me encarou com aqueles olhos escuros e a esperança se dissolveu.

—A maldição é auto infligida. Ele fez isso consigo mesmo.

Capitulo Nove


Durante a hora seguinte, Cole me ensinou uma dúzia de aspectos diferentes da necromancia básica, alguns dos quais eu nunca havia experimentado antes. Novamente e novamente, o resultado foi o mesmo. Eu era como um brigão de bar, toda força bruta e nenhuma técnica, tentando aprender judô. No início da tarde, eu estava suada e exausta, e Cole parecia igualmente tenso. Ethan estava sentado no pátio nos observando, ocasionalmente cochilando, Mort deitado a seus pés.

—Você precisa aumentar sua energia em um ponto. — Disse Cole. —Um ponto!

—Um ponto é muito difícil. — Eu disse, incomodando-o com uma nuvem de mosquitos. —Mãos são mais fáceis!

—Mãos não funcionam! — Cole pegou os mosquitos e os enviou de volta para mim, e eu retaliei enviando um pardal morto para aninhar em seus cabelos. —Você deveria estar cercando e, em vez disso, está lutando com um tapa!

Ethan riu do pátio, tanto pelas palavras de Cole quanto pela visão dele gritando e espancando o pardal tentando dar uma merda de pássaro empoeirada em seus cabelos.

Ele me mostrou como causar a morte celular direcionada - a mesma técnica que Aethon havia usado para secar partes de nós durante a nossa luta. Eu não era boa nisso. Eu também não era muito boa em controlar muitas pequenas coisas ao mesmo tempo. O mesmo vale para identificar coisas mortas à distância ou direcionar uma única coisa morta-viva por meio de uma série de ações complicadas. Eu era muito boa em foder tudo.

—Por que eu sou tão ruim nisso? — Eu reclamei, esfregando as mãos no rosto.

—Você não é. — Disse Cole, exasperado. —Você mal começou. Você esperava ser a mestre de tudo de uma vez?

—Mais ou menos! — Eu disse. —É suposto ser instintivo, e eu tenho lidado com isso a vida toda. Entre isso e a Vela, eu deveria ser incrível nisso!

—Bem, supere isso. — Disse Cole, impaciente. —Isso leva tempo e prática diária. E você tem feito o possível para fingir que não existe há vinte anos. Vai demorar um pouco para ficar boa nisso.

—Eu não tenho esse tipo de tempo. — Eu disse. —Eu precisava ter sido boa o suficiente para enfrentar Aethon ontem.

—Não é assim que funciona. — Disse Cole. —Tudo bem. Tudo bem, vamos tentar isso. Você está pensando demais e adivinhando a si mesma. Você precisa se mover instintivamente.

Ele se virou, olhando em volta por um momento e, finalmente, pegou um grande graveto no mato coberto de mato.

—Vou tentar bater em você com um pau. — Explicou ele. —Você tenta me impedir com a coisa da necrose.

—E se eu realmente bater em você com isso? — Eu perguntei preocupada.

—Francamente, acho que não. — Disse Cole. —E se você conseguir, você conseguiu curar o vira-lata, você pode me curar. Estou curioso para ver isso em ação novamente, de qualquer maneira. Você está pronta?

Ele levantou o graveto. Olhei para Ethan, que parecia um pouco preocupado. Mas respirei fundo e me firmei.

—Tudo bem, eu estou realmente-

Cole já estava balançando o galho na minha cabeça com força total antes que as palavras saíssem. Eu gritei e saí do caminho apenas para ele me bater com força nas costas com ele.

—Ow! — Eu gritei, correndo para fora do seu alcance. Um vergão dolorido surgiu nas minhas costas, mais largo que o meu polegar. —Jesus, merda, isso dói!

—É suposto. — Disse Cole. —Então me pare da próxima vez. Você está pronta?

—Não! — Eu gritei. Cole colocou a ponta do graveto na terra e se apoiou nela, esperando. Eu olhei para ele, ofendida, minhas costas ainda doendo, mas eu sabia que não podia parar o treinamento aqui. Suspirei. —Tudo bem, eu-

Mais uma vez, ele lançou para mim, balançando com força total. Eu me afastei do caminho e estendi a mão, tentando imaginar o ponto agudo da energia. Nada aconteceu, exceto que ele me acertou na cabeça com o bastão.

—Filho da puta! — Eu gritei, caindo na grama, sentindo como se minha cabeça estivesse aberta. —Que porra é essa!

—Merda, desculpe, você está bem? — Cole perguntou, ajoelhado na minha frente. Ethan também correu pela grama para me verificar. Passei a mão pelo couro cabeludo para procurar sangue e não o encontrei.

—Sim, eu estou bem. — Eu disse, rangendo os dentes com a dor que irradiava pela minha cabeça. —Apenas tente evitar a cabeça da próxima vez, por favor?

—Se isso se tornar uma técnica de treinamento regular. — Disse Ethan, com o braço em volta de mim. —Sugiro investir em capacetes.

—Sim, isso pode não ser uma má idéia. — Admitiu Cole, de má vontade.

—Eu poderia ajudar um pouco? — Ethan perguntou. —Tive Tae Kwon Do durante toda a escola e, depois da maldição, fiz algumas lições de reciclagem. Achei que a disciplina poderia ajudar, sabe? A meditação é realmente muito útil.

—Estou tentando ensiná-la a apodrecer a carne das pessoas enquanto ela ainda está ligada a elas. — Disse Cole, impaciente. —Não praticar Kung Fu.

—Só estou dizendo. — Ethan levantou as mãos na defensiva. —Se vocês dois sabem como fazer uma queda adequada, não precisam se bater com paus. Você pode jogá-la na grama praticamente inofensiva. Um pouco mais seguro.

Cole suspirou, mas permitiu. Ethan passou alguns minutos nos mostrando como cair em segurança e onde evitar pressionar, dando-nos um básico para impedir que nos machucássemos, depois passou para a remoção real.

—Eu vou te mostrar Cole primeiro. — Disse ele. —Então você pode tentar.

—Isso é justo. — Disse Cole.

—Eu acho que você deve isso a ela por bater nela com a vara. — Disse Ethan, e eu ri. Cole, sob o olhar furioso de sempre, parecia um pouco envergonhado.

—Há duas remoções fáceis que eu posso ensinar agora. — Disse Ethan, corrigindo a posição de Cole. —Ambos são bons para lidar com alguém maior do que você.

Cole, que provavelmente era meio metro mais baixo que Ethan e muito mais magro, levantou uma sobrancelha crítica.

—Vou mostrar a você muito rápido. — Disse Ethan. —Lembre-se de como eu te ensinei a pousar.

Ele se moveu tão rapidamente que eu realmente não processei o que ele havia feito. Ele apenas avançou e de repente Cole estava no chão de costas, chiando, com Ethan debruçado sobre ele.

—Você não pousou como eu te disse. — Ethan disse, sorrindo para Cole.

—Você fez isso de propósito. — Disse Cole.

—Sim. — Ethan se levantou e ofereceu a Cole uma mão para cima. —Agora eu vou fazer isso mais devagar. Preste atenção. Pegue aqui, no alto do tríceps.

Ethan alcançou o peito de Cole com o braço direito, sob o direito de Cole de apertar a parte inferior do braço. A outra mão dele tinha o pulso direito de Cole.

—Puxe-o para o lado. — Explicou Ethan. —Para que você possa colocar sua perna entre.

Ele avançou suavemente em uma espécie de posição ajoelhada, envolvendo a perna em torno da de Cole e a outra perna atrás dele. Ajoelhando-se com a cabeça perto do quadril de Cole, ele parou. Cole cambaleou, lutando para manter o equilíbrio. Ethan o pegou pelos quadris para segurá-lo, sorriu e voltou a segurar seu braço.

—Viu como eu tenho controle do seu equilíbrio agora? — Ethan explicou, ignorando o quão vermelho Cole ficou. —Agora eu me inclino para a frente com o quadril e-

Ele mal precisava se inclinar para fazer Cole cair para trás, incapaz de manter o equilíbrio. A cabeça de Ethan estava perto do estômago de Cole, mas quando Cole tentou recuperar o fôlego, Ethan avançou.

—Certifique-se de seguir em frente com o movimento. — Disse Ethan, deslizando até ele cobrir completamente Cole. —Ou eles podem facilmente prendê-lo. Quando você estiver com eles, poderá se soltar com segurança.

—Agora entendo por que você quis fazer isso. — Disse Cole sarcasticamente, olhando para Ethan. Ethan pigarreou e saiu, ajudando Cole a se levantar novamente.

—Você quer tentar, Vexa? — Ele ofereceu.

—Definitivamente. — Eu concordei, minha cabeça ainda doendo. Eu tomei meu lugar na frente de Cole e Ethan estava atrás de mim, inclinando-se para me direcionar.

—Arme primeiro. — Disse ele. —Sob o tríceps, como eu mostrei a você.

Deslizei minha mão pela parte de trás do braço de Cole, consciente de quão perto os dois homens estavam perto de mim. Os músculos tensos de Cole sob meus dedos eram quase tão perturbadores quanto a respiração de Ethan na parte de trás do meu pescoço.

—Agora, puxe-o e vá para a perna. — Ethan disse, suas mãos nas minhas costas e meu braço me guiando para a frente enquanto envolvia minha perna em torno de Cole. As mãos de Ethan se moveram para os meus quadris, me puxando para trás antes que eu pudesse cair de joelhos.

—Não, não, observe seus pés. — Disse ele, empurrando meus quadris em um rolo mais controlado para frente. —Você não pode simplesmente jogar sua perna para a frente. Você tem que se transformar nela.

Cole observou as mãos de Ethan guiando meus quadris com uma expressão estranha. Eu me concentrei em controlar meu batimento cardíaco repentinamente rápido, prestando atenção às instruções de Ethan. Depois de baixar o quadril, segui em frente com a perna novamente. Era mais difícil do que parecia acertar esse movimento, mas Ethan estava lá para me pegar e guiar meus movimentos, seus dedos tão gentis quanto sua voz. Quando me ajoelhei, olhei para Cole, que olhou para mim com uma familiar faísca de interesse em seus olhos. As mãos de Ethan apertaram meus ombros. Houve uma pausa, todos nós percebendo simultaneamente o fato de que nenhum de nós estava sozinho no calor repentino sob nossas peles. Engoli em seco e desesperada para quebrar a tensão, inclinei-me com o quadril e joguei Cole de volta na grama.

—Porra! — Ele gritou quando caiu, pego de surpresa. Caí para a frente com ele, incapaz de fazer qualquer outra coisa, e ri em seu estômago.

—Lembre-se de seguir adiante. — Ethan me lembrou. Cole se contorceu, talvez esperando escapar, e eu me movi rapidamente para prender seus ombros. Eu sorri para ele, corada e sem fôlego, saboreando o calor nos olhos de Cole.

Suas mãos roçaram meus quadris e, de repente, percebi o constrangimento da situação. Eu rolei rapidamente e me afastei, olhando para Ethan, a culpa clara no meu rosto, mas Ethan sorriu para mim, balançando a cabeça. Ele não tinha notado ou simplesmente não se importava? Eu não tinha certeza de como me sentir sobre qualquer uma das opções.

—Sua vez, Cole. — Ethan disse, ajudando o outro homem a se levantar novamente.

—Finalmente. — Disse Cole.

—Você está pronta para isso? — Ethan me perguntou. Eu assenti sem palavras, ainda muito perturbada para gerenciar as palavras. Cole estava vermelho até os ouvidos. Só Ethan manteve a calma.

Tomei meu lugar na frente de Cole, e Ethan foi atrás dele para guiá-lo da mesma maneira que ele me guiou.

—Vamos tentar devagar uma vez. — Disse Ethan. —Você se lembra de como cair, Vexa?

Eu balancei a cabeça e me preparei enquanto Ethan treinava Cole através dos movimentos. O rosto de Cole ficava mais vermelho toda vez que Ethan o tocava, e a mão de Ethan tremia. Não era só eu que eles estavam ficando excitados, não era? Cole realmente tinha gostado de algo ontem à noite? Eu seria deixada para trás? Eu sacudi por enquanto. Eu precisava ter uma conversa com Ethan - em breve.

Preocupada com meus pensamentos, não notei Cole avançando até estar de costas na grama com um grito.

—Muito bem. — Ethan disse com uma risada. —Você está bem, Vexa?

—Estou bem. — Chiei por baixo de Cole, que se afastou de mim rapidamente.

—Acho que posso fazer rápido dessa vez. — Disse Cole, oferecendo-me uma mão, o que eu peguei. —Pronta para tentar me parar desta vez?

—Claro. — Eu disse, respirando fundo e me posicionando novamente. —Ponto afiado, certo?

—Eu vou encontrar vocês dois. — Ethan disse, ficando perto quando Cole se sacudiu e alcançou-me. —Lembrem-se de observar o ângulo dos seus quadris.

Cole assentiu, depois se moveu para mim rapidamente, agarrando meu braço.

Eu estava de bunda na grama antes que eu pudesse piscar. Cole seguiu em frente. Tossi para recuperar o fôlego.

—Você tentou? — Ele perguntou.

—Claro! — Eu disse. —Foi muito rápido.

—Aethon não vai devagar para você!

—Eu sei, eu sei! Vamos tentar novamente.

Foram necessárias mais três tentativas antes que eu conseguisse começar a visualizar antes que ele me jogasse na grama. Minhas costas doíam, mas menos do que onde ele me bateu com o pau. Tudo tinha deixado de ser sexy depois da quarta ou quinta vez que eu acabei na terra. Agora eu estava apenas chateada.

—Você ainda não está fazendo questão. — Disse Cole, quando pousou em cima de mim novamente. Eu queria gritar. Em vez disso, aproveitei o fato de que Cole não havia seguido com o movimento para jogar uma perna em torno dele e empurrá-lo na terra.

—Eu não posso fazer isso! — Eu disse, sentando nele enquanto ele se debatia para se soltar, segurando uma de suas pernas. —Demora muito tempo para afiá-lo! Não funciona!

Cole fez um som de dor no mesmo momento em que Ethan subitamente pulou em minha direção, gritando meu nome.

Tirei minhas mãos de Cole rapidamente e horrorizada, vi a marca negra e murcha sob onde minha mão estava. Agarrei-o novamente imediatamente, trabalhando no instinto para lavar a energia negativa, restaurando a carne saudável em poucos segundos.

—Desculpe! Jesus! — Eu disse, tremendo, ajoelhando-me ao lado de Cole quando ele caiu de costas, respirando irregular. —Você está bem? Sinto muito!

—Estou bem. — Disse Cole, imediatamente. —Você está pegando o jeito, aparentemente. Só precisava deixá-la brava o suficiente.

—Parece que você descobriu essa coisa de cura também. — Ethan disse, ajoelhando-se ao meu lado e colocando um braço em volta dos meus ombros. —Você consertou tão rápido que eu mal vi.

—Mal tive tempo de sentir isso. — Concordou Cole. —Como esbarrar em uma boca acesa do fogão.

—Pelo menos eu sou boa em uma coisa. — Eu disse com uma risada cansada. —Devemos tentar de novo?

Cole sentou-se nervoso, depois se sacudiu.

—Sim, vamos continuar.

 

 

 

 


Capitulo Dez


Continuamos por mais meia hora. Principalmente foi Cole me jogando na grama, mas consegui mais alguns bons acertos e tive uma boa noção da coisa de curar. No entanto, minha capacidade estava reservada a ferimentos causados por energia necromântica. Cole esfolou o joelho em uma pedra e eu não pude fazer nada. Contanto que eu pudesse fazer alguma coisa, eu não me importei. Fiquei feliz por haver pelo menos uma coisa que eu poderia fazer sem problemas.

Caí na grama ao lado de Cole depois de curá-lo novamente, ofegando. Ethan sentou-se do outro lado de nós, parecendo bastante cansado. Ele estava perto, nos pegando quando caíamos e nos treinando através dos arremessos e quedas. Mort também caiu ao nosso lado, com a cabeça desgrenhada no meu ombro.

—Você está bem? — Eu perguntei a Cole, sem fôlego.

—Sim, me dê um minuto. — Disse Cole, sua voz tensa. —Aquele machucou.

—Desculpe. — Eu disse.

—Não se desculpe. — Ele me corrigiu rapidamente. —É bom. —Dê um tapa na cara de Aethon assim algumas vezes, e podemos até ter uma chance.

—Disse a você que a coisa não funcionou. — Eu disse, fechando os olhos. —Luta de tapas é a resposta, afinal.

—Você provavelmente ainda deve aprender a fazer o ponto. — Ethan disse, inclinando-se sobre mim para tirar meu cabelo do meu rosto. —Você pode não ser capaz de se aproximar o suficiente de Aethon para dar um tapa na cara dele.

—Certo. — Eu disse, não desejando. Ele sorriu e se inclinou para me beijar, doce e breve.

—Nojento. — Disse Cole, rolando para longe de nós. Ele não parecia estar falando sério.

—Você é nojento! — Eu provoquei. Sua camisa tinha subido um pouco, e eu rolei para fazer cócegas na tira de pele exposta. Ele deu um latido de riso áspero e enrolou-se para escapar. Eu compartilhei um olhar com Ethan e um segundo depois, nós dois estávamos mergulhando para fazer em qualquer parte dele que pudéssemos alcançar. Mort pulou ao nosso redor, latindo de emoção enquanto brigávamos.

—Para para! — Cole implorou por sua risada. —Foda-se! Eu vou te matar!

Puxei a camisa dele e soprei uma lufae no estômago, o que o fez gritar tão alto que Ethan e eu caímos na gargalhada. Mort atacou Cole assim que saímos do caminho, cobrindo-o com beijos babados.

—Deus, vocês são esquisitos. — Disse Cole, ainda rindo, empurrando Mort e afastando a grama novamente.

—Sim, bem, você também. — Eu disse, recuando com a cabeça no colo de Ethan e minhas pernas envoltas nas de Cole. —Farinha do mesmo saco.

—Você é muito estranha para ser um pássaro. — Disse Cole, sorrindo para mim. —Você é muito estranha para ser qualquer coisa, menos humano.

Meu coração pulou uma batida ao ver seu sorriso. Foi o primeiro sorriso genuíno que eu vi nele. Iluminava todo o seu rosto como a luz do sol, banindo, ainda que brevemente, as sombras que tantas vezes permaneciam ao redor de seus olhos. Apertei a mão de Ethan, minha respiração presa no meu peito.

—Seja o que for, sou a mesma coisa que você é. — Eu disse a ele.

—Vocês três estão vivos ai fora?

Todos olhamos quando tia Persephona chamou da porta de vidro deslizante.

—Principalmente. — Confirmei, enquanto Mort pulava e corria para tia Percy, que sacudiu os ouvidos com carinho.

—O jantar está quase pronto. — Disse ela. —Venha e me ajude a arrumar a mesa.

Eu vi o rosto de Cole cair. Por um momento, sua ansiedade ficou clara. Ele não tinha certeza se era bem-vindo para ficar, ou se deveria ficar, mesmo que fosse bem-vindo. Suas paredes estavam de volta um momento depois, sua expressão endurecendo quando ele se distanciou para suportar o que acontecia. Engoli em seco e me levantei, oferecendo-lhe uma mão.

—Venha. — Eu disse. —Você vai ficar para o jantar, certo?

Cole hesitou. Eu pude ver a indecisão. Eu me preparei para a sua recusa, pronta para deixá-lo ir, se era isso que ele queria.

—Cole! — Tia Persephona gritou da varanda novamente. —Você disse que gostava de pão de alho, certo? Porque eu acabei de ganhar muito!

O sorriso tocou o rosto de Cole novamente por apenas um momento. Ele pegou minha mão e se levantou.

—Não existe pão de alho em excesso. — Ele gritou de volta.

Eu compartilhei um sorriso com Ethan enquanto seguíamos Cole para dentro da casa. Eu poderia dizer que ele estava tão feliz quanto eu por Cole estar comendo. Eu ainda precisava conversar com Ethan sobre o que era ou para onde estava indo, mas por enquanto, ter os dois por perto me senti bem.

O jantar foi um dos mais agradáveis que já tive em muito tempo, cheio de risadas e boas conversas. Cole estava um pouco reservado, claramente inseguro sobre o seu lugar. Nós não o pressionamos e, quando ele se sentiu à vontade para aumentar a conversa, nós o recebemos. Ele teve um relacionamento fácil com minha tia. Havia um entendimento instintivo entre duas pessoas que passaram anos tentando aprender os segredos da magia, apesar de todos os obstáculos que a vida colocou no caminho.

—Vamos ver o fae amanhã. — Ethan disse, enquanto o jantar terminava. Ajudei-o a lavar a louça enquanto minha tia se retirava cedo para estudar no quarto dela. —Provavelmente poderíamos fazer isso hoje à noite. Ele mantém horários estranhos. Mas...

—Estou muito dolorida com a prática. — Confessei, revirando meus ombros rígidos. —Amanhã provavelmente é melhor.

—Eu vou com você. — Cole concordou, vestindo a jaqueta. —Eu posso te encontrar aqui por volta das nove.

—Você não quer ficar? — Eu perguntei. —O sofá ainda está aberto. Seria muito mais conveniente.

—Eu posso encontrar meu próprio lugar para dormir. — Disse Cole, um pouco na defensiva.

Ethan ficou cuidadosamente em silêncio, enquanto segurava o prato que estava secando. Considerando como Cole reagiu a Ethan tentando insistir da última vez, eu não o culpo.

—Isso tornaria as coisas muito mais fáceis para nós amanhã. — Eu disse, não pressionando demais. —Não precisa ser para sempre. Estamos apenas... preocupados com você.

—Eu não preciso que você se preocupe comigo. — Disse Cole, bruscamente e eu estremeci, sentindo que tinha estragado tudo.

—Tarde demais. — Disse Ethan, sem levantar os olhos da pia. —Nós vamos nos preocupar, de qualquer maneira. Você estragou tudo e fez amigos, cara. A preocupação vem com o território.

O queixo de Cole se apertou e, por um momento, pensei que ele sairia em disparada. Mas depois de um momento, a tensão desapareceu de seus ombros.

—Tudo bem. — Ele disse, de má vontade. —Eu vou dormir no sofá estúpido. Só por esta noite. Porque vir aqui logo de manhã é uma dor na bunda.

—Parece ótimo. — Eu disse, incapaz de esconder meu sorriso. Ethan sorriu também, embora ainda não desviasse o olhar da pia.

Era cedo, então nos sentamos na sala por um tempo, relaxando, cuidando de nossos machucados desde o início do dia. Cole jogou uma pilha de livros sobre mim, principalmente textos necromânticos básicos e alguns guias gerais de magia para ‘me dar uma boa base teórica’. Eu li uma delas, fazendo anotações preguiçosas no meu telefone, enquanto Ethan e Cole conversavam sobre um filme que ambos não gostavam.

Eventualmente, fomos para a cama, jogando cobertores e um travesseiro em Cole no sofá antes de Ethan e eu nos retirarmos para o quarto de hóspedes. Morgana decidiu desde o início que gostava de Cole melhor do que eu e passou a maior parte da noite enrolada em seu colo. Parecia que ela pretendia passar a noite lá. Mort nos seguiu até o quarto, no entanto, pulando na cama e sentando no pé imediatamente.

Ethan e eu estávamos dividindo o quarto de hóspedes de tia Persephona desde que Aethon atacou a funerária, mas até agora, ele estava exausto demais para fazermos muito, mas dormir um ao lado do outro enquanto ele se recuperava de sua experiência de quase morte. Quando nos mudamos para a cama, sem nos olharmos, percebi que não era mais esse o caso. Mas agora tivemos outro problema. Lembrei-me de como ele reagiu ao nosso pequeno encontro na mesa do pátio, e quão perto ele chegou do desastre no drive-in. E se da próxima vez ele não pudesse controlar? Eu o queria. Mas não éstavamos seguros um para o outro.

Quando me deitei, ele me puxou para perto, aconchegando na minha garganta e pressionando beijos na minha pele.

—Você foi incrível hoje. — Disse ele. —Praticando com Cole. Eu nunca vi nada parecido. Os bruxos da biblioteca desejam que eles possam fazer algo tão impressionante quanto isso. Uther é a mais forte e a pequena coisa de teletransporte é o truque mais impressionante que ele tem. É por isso que ele usa-o toda vez que ele aparece.

Eu sorri e rolei para colocar meus braços em volta dele. Esse relacionamento ainda era novo, mas havia muito o que amar nele. O perfume de seus cabelos, as calos nas mãos, as rugas nos cantos dos olhos quando ele sorria para mim. Era quase aterrorizante. Eu poderia me apaixonar por ele tão facilmente, pensei. E eu ainda sabia muito pouco sobre ele. Se eu me apressasse nisso, haveria algo para apoiar um relacionamento real?

—Você está se preocupando. — Disse ele, e estendeu a mão para esfregar o local entre as minhas sobrancelhas. —Você franze sua testa quando está pensando. O que houve?

—Muitas coisas. — Eu disse honestamente. —Há muito com o que se preocupar ultimamente.

Passei a mão por seu ombro nu, até seu quadril. Ele estava usando aquelas calças de moletom novamente, e eu brinquei com a banda, pensativa.

—Com Cole hoje. — Eu disse baixinho, depois me corrigi. —O que ele disse ontem à noite. Você gosta dele?

Ethan pareceu surpreso por um momento, depois desviou o olhar, o queixo apertado. Eu senti a repentina tensão nele, como se ele estivesse se preparando para o impacto. Eu toquei sua bochecha.

—Se você gosta dele. Está tudo bem. — Eu disse rapidamente.

Ele pegou minha mão contra sua bochecha, apertando-a, mas ele não olhou para mim.

—Eu não sou assim. — Ele sussurrou. —Por favor, não pense que sou assim.

—Como o quê? — Eu perguntei confusa. Eu nunca o tinha visto assim. Havia algo quase como nojo no conjunto de sua boca, o sulco apertado de suas sobrancelhas. Mas não foi dirigido a mim. —Como o que? Bissexual?

Ele se encolheu, como se a palavra lhe causasse dor física.

—Eu gosto de você. — Ele disse, sua voz rouca. —Eu gosto de estar com você.

—Mas você também gosta dele. — Eu disse, sem entender o que o perturbava. Ele colocou a mão no rosto. Havia um tremor em seus ombros, uma emoção tentando escapar. E suas unhas pareciam claramente com garras.

—Ethan. — Eu disse suavemente, passando a mão sobre o peito em círculos suaves. —Do que você tem medo? Eu não estou chateada. Eu nem estou surpresa. Não é um problema.

—É um problema. — Disse ele, arrastando a mão pelo rosto até a boca. Ele estava com medo. Finalmente, finalmente, ele olhou para mim.

—Eu não queria que você soubesse. — Disse ele. —Eu não quero que ninguém saiba.

—Tudo bem. — Eu disse imediatamente. —Eu não vou contar a ninguém.

—Você não entende. — Disse ele, fechando os olhos novamente.

—Não, eu não entendo. — Eu concordei. —Isso não muda nada. Eu não me importo se você já esteve com homens antes-

—Eu não estive. — Disse ele bruscamente.

—Eu não ligo. — Repeti. —Isso não afeta o nosso relacionamento. Importa apenas se você quiser. Eu só quero saber mais sobre você. Se isso faz parte de quem você é, eu quero saber sobre isso.

Ele ainda parecia preocupado.

—Eu realmente gosto de você, Ethan. — Eu disse calmamente. —Eu não sei se isso é apenas uma aventura para você ou o que quer que seja. Entendo se isso é algo que você simplesmente não está confortável conversando com alguém que... que pode não fazer parte da sua vida por muito tempo. Mas eu gosto muito de você. Quero ver se isso pode funcionar. Quero saber quem você é.

—Você tem certeza? — Ele disse. —Você tem certeza?

—Eu tenho certeza. — Eu disse, com o máximo de gravidade que pude, tocando sua bochecha. —Isso não me incomoda. Faz parte de quem você é, e eu gosto de quem você é.

Eu o vi engolir em seco. Ele virou o rosto na minha mão e beijou minha palma, ficando assim por um momento.

—Não é... algo com o qual estou realmente confortável. — Disse ele.

—Não brinca. — Eu respondi, e ele riu baixinho, o som tocado com amargura, sua boca se movendo contra a minha palma.

—Minha família era realmente religiosa. — Explicou ele. —Tipo, realmente religiosos. Nós estávamos na igreja pelo menos três vezes por semana. E eu estava profundamente envolvido, compromisso total, anel de pureza e tudo. Mesmo depois de eu... depois que comecei a perceber.

—Isso é difícil. — Eu disse, incapaz de imaginar. Minha família nunca foi do tipo de igreja, por razões óbvias. —Acho que sua igreja não era do tipo que aceita?

—Mais como o 'organizou um protesto contra o GSA2 da minha escola. — Disse ele com tristeza. —Também a abstinência é tudo o que deve ser ensinado em sexo e a masturbação é um pecado.

—Droga. — Eu respondi. —Não é de admirar que você tenha problemas com isso.

—Minha família nunca mais falaria comigo se soubesse. — Disse ele, quase um sussurro. —Ou pior. Uma garota da minha igreja saiu no primeiro ano. A mãe dela bateu nela. Enviou-a para o hospital. Quando ela foi libertada, eles não vieram buscá-la. Ela teve que arranjar um amigo para trazê-la para casa. Ela encontrou as fechaduras trocadas e tudo o que possuía no meio-fio. Eu nem sei o que aconteceu com ela. Ela não voltou para a escola. Suas amigas me disseram o que sua mãe fez. Eles foram expulsos, mas eles também não sabiam mais nada. Ninguém na igreja falava sobre isso. Sua mãe voltou a cantar hinos como se nada tivesse acontecido, com as mãos ainda machucadas por tentar espancar os gays como a filha dela. Meu pai disse que 'admirava sua determinação'.

Estremeci e fiquei brevemente grata por minha família chata, mas perfeitamente solidária. Eu literalmente trouxe coisas mortas de volta à vida, mas nunca me preocupei que meus pais me odiassem por isso ou me expulsassem, muito menos me enviassem para o hospital. Eles não entendiam essa parte da minha vida. Não conseguia entender. Mas pelo menos eu sabia que eles me amavam, de qualquer maneira. Peguei a mão dele, tudo o que pude fazer para mostrar meu apoio.

—Eu ouvi dezenas de histórias assim. — Disse ele calmamente, olhando para as nossas mãos enquanto enlaçava os dedos. —Ninguém mais da igreja. Mas algumas outras crianças na escola. E quando eu era mais velho, as pessoas trabalhavam. E quando comecei a viajar por causa da maldição, descobri mais. Não sei o que é pior, os que acabam sem teto ou os que são forçados a ficar com uma família que os odeia. Não há boa opção. Você entende o que estou dizendo, Vexa?

Apertei sua mão, desejando ter as palavras.

—Não há final feliz para pessoas como eu. — Disse ele.

—Isso não é verdade. — Eu disse imediatamente. Seu aperto na minha mão relaxou. Ele balançou a cabeça, afastando-se.

—Não é verdade. — Insisti. —Sim, é péssimo, mas isso não significa que você não tem esperança! Você já está fora de lá. Você não precisa da aprovação de sua família para sobreviver e viver uma vida perfeitamente feliz. Você pode ter um final feliz sem eles...

Ele forçou um sorriso e beijou as costas da minha mão suavemente.

—Obrigado por tentar. — Disse ele. —Por ouvir.

—A qualquer hora. — Eu disse a ele. —Realmente, a qualquer momento. Você quer falar sobre coisas trágicas da vida? Estou triste. Você quer fofocar sobre garotos? Eu posso fazer isso também.

Ele bufou, e fiquei aliviada ao ouvi-lo rir.

—Então, quem era sua boy band favorita? — Eu perguntei, provocando, e ele fez um barulho de repulsa.

—Não. — Ele disse com uma pequena risada. —Realmente, não. Ainda está dolorido.

—Tudo bem. — Eu disse, e me deitei ao lado dele, pressionando um beijo em sua têmpora. —Eu vou deixar você falar sobre isso no futuro. Eu só quero que você saiba que estou aqui por você.

Com outra risada suave, ele se virou para me olhar nos olhos, estranhamente vulnerável.

—E isso? — Ele perguntou, sua mão deslizando pela minha coxa até a minha cintura. —Você ainda está aqui para isso? Tudo bem se você não estiver.

Eu respondi beijando-o com força. Inferno, sim, eu estava. A princípio. E depois de uma conversa tão pesada, se era isso que ele precisava sentir como se eu ainda estivesse com ele, fiquei mais do que feliz em agradecer.

Ethan sorriu contra meus lábios e me beijou de volta, me puxando para mais perto, nossas pernas emaranhadas quando suas mãos fortes apertaram meus quadris.

—Então. — Ele disse, respirando fundo quando quebramos o beijo. —Sobre Cole...

—Sim? — Eu ainda estava um pouco tonta com o beijo, pensando em quão longe poderíamos arriscar ir.

—Você gosta dele também.

Isso chamou minha atenção. O calor correu para o meu rosto.

—Eu não sei. — Eu admiti. —Ele é fofo. Mas não é como eu faria... não estou planejando...

—Está tudo bem. — Disse ele, beijando minha testa. —Você não precisa se desculpar.

—Você não está com ciúmes? — Eu perguntei.

—Claro que sim. — Ethan disse com uma risada forçada. —Ele é fofo, e é um necromante como você, e ele tem toda aquela coisa trágica de bad boy acontecendo. E, por mais que eu goste de você, você sabe que tenho... um limite de tempo.

—Ethan. — Eu disse preocupada, sentando-me. Ele balançou a cabeça, me empurrando de volta suavemente.

—A menos que encontremos uma maneira de quebrar a maldição. — Disse ele. —Um dia, mais cedo ou mais tarde, isso vai me derrotar. Não sou um bom investimento a longo prazo.

—Você é uma pessoa, não uma opção de compra. — Eu disse. Ele riu, mas havia uma amargura no conjunto de suas sobrancelhas.

—Quanto mais fundo você se envolver comigo — Disse ele, —Mais doerá se e quando isso acontecer. Eu não culparia você por não querer passar por isso. Então, sim, tenho inveja do cara que poderia passar a vida com você, quando eu só tenho alguns anos. Ou menos.

Eu gostaria de ter certeza de que definitivamente quebraríamos a maldição. Eu realmente não tinha pensado em quanto tempo teríamos. Agora eu quase podia ouvir um relógio correndo, segundos preciosos desaparecendo. Era um milhão de vezes mais assustador do que se apaixonar. Eu pensei que estava confortável com o conceito de morte, considerando quem eu era como pessoa, mas nunca o processei até que de repente se aproximava, inevitável e implacável, e não há nada que eu possa fazer sobre isso.

—Mas meu ciúme não importa. — Ethan disse finalmente. —Confio em você. O ciúme é... As pessoas não o entendem. Eles agem como se fosse um sinal de amor, ou algum grande obstáculo intransponível, mas o ciúme é apenas uma emoção. Um sintoma de insegurança. Você não pode simplesmente dizer ‘estou com ciúmes’ e encerrar a conversa. Você precisa falar sobre isso, descobrir por que está com ciúmes e resolver o problema.

—Eu não acho que entendi o que você está dizendo. — Eu admiti, franzindo a testa.

Ele passou a mão pelas minhas costas distraidamente, pensando.

—Acho que o que estou dizendo é que, se você quer ficar com ele, está tudo bem comigo.

Meus olhos se arregalaram. —Só porque sua maldição pode matá-lo, eventualmente, não significa que eu vou pular de navio antes mesmo de-

—Não é isso.

—Você está apenas tentando me dar um fora por causa da coisa bi? Porque você não precisa-

Ethan cobriu minha boca com a mão, um sorriso exasperado em seu rosto.

—Não, Vexa, não é isso que eu quero dizer. — Disse ele, balançando a cabeça e removendo a mão para escovar meu cabelo para trás. —Quero dizer, se ele está bem com isso, se você quer ficar com ele também, eu não me importo.

Isso me calou. Não era uma possibilidade que eu realmente considerasse. Eu encontrei minha boca seca e meu coração batendo um pouco demais com o pensamento.

—Eu sei que é estranho. — Disse ele, afastando-se um pouco, envergonhado. —Eu provavelmente não deveria ter sugerido. Apenas sinto que temos tão pouco tempo que você não deve se conter. Você merece tudo o que deseja e muito mais. Você é incrível e-

Desta vez, coloquei minha mão sobre sua boca. Quando ele parou de tagarelar, tirei minha mão para beijá-lo.

—Você realmente ficaria bem com isso? — Eu perguntei. Ele assentiu, sorrindo. Procurei algum traço de dúvida em seus olhos, mas não consegui encontrá-lo. —Você quer ficar com ele também?

Houve um lampejo de dúvida. Ele lambeu os lábios, olhando para as nossas mãos unidas.

—Eu não...— Ele admitiu. —Com um cara. Cheguei perto algumas vezes. Não pude continuar com isso.

—Mas você quer tentar com ele? — Eu perguntei, pressionando.

Ele desviou o olhar, inquieto. Eu o deixei desconfortável novamente.

—Não... talvez. — Ele admitiu. —Eu não deveria. Mas acho que ele não aceitaria. Não comigo, pelo menos.

—Eu não sei. — Eu disse, lembrando o quão vermelho Cole ficou quando Ethan o tocou hoje cedo. —Eu acho que você tem uma chance.

—Você ficaria bem com isso? — Ethan perguntou, olhando nos meus olhos. —Não é nem uma possibilidade remota, mas eu não quero pressioná-la a qualquer tipo de situação com a qual você não se sinta confortável, mesmo hipoteticamente.

Eu pensei sobre isso, lembrando-me da maneira como meu estômago tremia observando-os mais cedo, as pontadas de preocupação e saudade.

—Estou com medo disso. — Eu disse, decidindo que ser honesta era a melhor escolha. —Eu tenho medo que vocês dois decidam que estão melhor sem mim. Isso é estúpido?

—Não, não, isso é normal. — Ethan disse, rapidamente, me puxando para perto e beijando minha cabeça novamente. —Deus, isso é perfeitamente normal, querida. Também tenho medo disso. Inferno, provavelmente seria uma boa decisão de sua parte. Mas você. Você é incrível. Eu sei que isso ainda é novo, mas não é uma aventura para mim. Eu quero fazer isso durar, pelo menos enquanto eu tiver deixado. As coisas podem mudar, talvez possamos aprender mais um sobre o outro e nos afastar, quem sabe. Mas eu sei que você me faz querer tentar para fazer isso funcionar. Nada do que poderia acontecer com Cole vai mudar isso.

Ele me beijou novamente e eu coloquei meus braços em volta dele, meu coração doendo no meu peito. Eu não tinha certeza de nada ainda, mas isso era bom. Certo.

A língua de Ethan roçou meus lábios e um pequeno zumbido de encorajamento me escapou, o que o fez me apertar com mais força. Deslizei uma perna sobre seus quadris e sua mão deslizou da minha cintura para me puxar para mais perto, o ar entre nós ficando quente. Deslizei a mão em seus cabelos, unhas roçando seu couro cabeludo, e ele quebrou o beijo com um calafrio para espalhar beijos na minha garganta.

Eu gemi em apreciação e Mort levantou a cabeça do final da cama. Ele bufou impaciente, pulou da cama e abriu a porta do quarto, desaparecendo na escuridão do corredor. Algo sobre a pura indignidade de sua reação e o absurdo de esquecermos que ele estava lá me fez começar a rir, e uma vez que comecei, não consegui parar. Que conversa intensa e louca de ter no final desta semana insana. Deus, eu quase morri três vezes, e agora eu estava discutindo um relacionamento aberto com meu namorado bissexual e lobisomem. Eu pensei que minha vida era estranha antes de tudo isso começar. Ethan levantou-se para fechar a porta e eu o observei sair, ainda processando tudo o que havíamos conversado, mas meus pensamentos sumiram enquanto eu apreciava a visão de sua bunda naquelas calças de moletom. Tinha sido uma noite muito intensa até agora. Quando Ethan voltou, eu sorri para ele e torci para que ainda não tivesse terminado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Onze


Quando ele voltou para a cama, eu rolei de costas e abri meus braços para ele, ansiosa para continuar o beijo que havíamos quebrado um momento atrás. Ele concordou de bom grado, deslizando sobre mim para me beijar gentilmente. Deslizei meus braços ao redor dele, aprofundando o beijo e puxando-o para baixo dos travesseiros. Eu amei a pressão tranquilizadora do seu peso em mim. Isso me fez sentir estável em um mundo onde as coisas desmoronavam constantemente. Deslizei minhas mãos em direção à cintura de suas calças, e Ethan quebrou o beijo para pegar minha mão.

—Não deveríamos. — Disse ele com um suspiro relutante. —Você sabe o que poderia acontecer.

Ele estava certo, mas eu não queria admitir. Eu queria estar com ele agora. Após o peso da nossa conversa, era importante. Eu queria mostrar a ele o quanto eu o queria. Eu queria ver nos olhos dele o quanto ele me queria.

—Vamos tentar alguma coisa. — Sugeri, sorrindo. Ele levantou uma sobrancelha, mas obedeceu quando eu o empurrei de volta para os travesseiros e subi da cama para recuperar alguma coisa. Quando voltei com o cinto da calça, ele parecia um pouco preocupado, sentando-se contra a cabeceira da cama.

—Até que possamos comprar aquelas algemas felpudas. — Eu disse, subindo em seu colo. Peguei suas mãos, levando-as acima da cabeça até a barra da cabeceira da cama, amarrando o cinto em uma figura oito em volta dos pulsos e da barra. Apertei-o apenas o suficiente para que eu ainda pudesse colocar dois dedos entre ele e sua pele.

—Como é isso? — Eu perguntei a ele. —Não é muito apertado, é?

—Parece estranho. — Ele admitiu. —Mas não é muito apertado.

—Você quer que eu tire? — Eu perguntei.

—Diga-me o que você está planejando primeiro. — Disse ele, rindo.

—Isso está seguro. — Eu disse, batendo no cinto antes de me acomodar mais profundamente em seu colo, com muitas mexidas desnecessárias. —O plano é ir muito, muito devagar.

Eu rolei meus quadris contra seu colo e o vi engolir em seco.

—Construa um pouco de cada vez para que você nunca perca o controle. Parece bom?

—Eu não sei se isso vai funcionar. — Disse ele, mordendo o lábio. —Mas estou disposto a tentar.

Eu sorri —Incrível. Diga-me imediatamente se algo dói ou se você quer parar.

Comecei tirando minhas próprias roupas. Fiel à minha palavra, aproveitei meu momento agradável, derramando minha camisola e a roupa íntima por baixo com tanta pompa e circunstância quanto pude. Era uma provocação boba, mas o fez sorrir, o que importava.

Fiquei nua no colo dele, montando nele enquanto terminava e ele sorriu para mim, apreciando a vista.

—Você vai me despir em seguida? — Ele perguntou.

Eu fingi considerar por um minuto.

—Hmm, nah, acho que você está bem como está.

Eu o beijei antes que ele pudesse dizer mais. Comecei doce e devagar, depois arrastei meus dentes sobre seu lábio, mordi o suficiente para fazê-lo ofegar e deslizei minha língua ao lado da dele para provar o calor de sua boca.

Enquanto eu o beijava, balancei meus quadris em círculos lentos, moendo descaradamente contra ele. Ouvi o couro do cinto estalar quando minhas mãos apertaram seu peito e deslizaram até sua cintura. Eu levei um tempo beijando-o, minhas mãos vagando, traçando sua clavícula, os músculos de seus braços, como eu tinha todo o tempo do mundo, até senti-lo ficando duro contra mim. Eu me esfreguei contra ele por um momento até ouvir sua respiração começar a pegar. Então me afastei, sorrindo para o barulho frustrado que ele fez.

—Como você está se sentindo? — Eu perguntei, recostando-me em uma mão, ainda montando em seu colo. —Ainda está tudo bem?

—Tudo ótimo. — Ele confirmou, seus olhos quentes enquanto olhava para mim. —O lobo nem está mostrando a cabeça ainda. Talvez a última vez tenha sido por acaso.

—Talvez. — Eu disse, passando a mão livre pelo centro do peito enquanto olhava para ele. —Mas eu não estou me arriscando. Você sabe, você parece muito bem assim.

A calça de moletom escorregou em seus quadris. A mecha de cabelo castanho dourado que desapareceu sob a banda foi uma tentação difícil de resistir, apontando para o contorno óbvio de seu tesão negligenciado. A posição dos braços acima da cabeça enfatizava as linhas do peito bem definido, os ombros largos, a curva do estômago. Acima de tudo, a fome em seus olhos me fez doer de excitação. De fato...

Eu deixei minha mão descer pelo meu peito correndo até os meus lábios, correndo levemente por fora. Eu vi as pupilas de Ethan dilatar enquanto ele observava meus dedos deslizarem para dentro para arrastar lentamente através das minhas dobras, espalhando a umidade brilhante da minha entrada para o meu clitóris. Mordi meu lábio, quase capaz de sentir seu olhar em mim, um formigamento na minha pele enquanto eu lentamente circulava o pico, suspirando enquanto relaxava lentamente no prazer da sensação. Nesse ritmo, eu poderia me tocar a noite toda, ocasionalmente deixando meu clitóris deslizar pelas minhas dobras novamente, me abrindo para ele olhar, mas não tocar. Eu ouvi o cinto ranger novamente, e ele gemeu.

—Oh, isso não é justo. — Disse ele.

—O que não é justo? — Eu perguntei, jogando de inocente quando deitei no cotovelo, sentindo a tensão no topo das minhas coxas enquanto eu me acariciava, literalmente no colo dele e ainda fora de seu alcance.

—Vamos lá. — Ele implorou. —Você não pode simplesmente me provocar.

—Não posso? — Eu perguntei com um sorriso, esfregando-me um pouco mais com a visão de sua ansiedade. —O que você vai fazer para me impedir?

Ele xingou baixinho, enviando um arrepio de prazer pela minha espinha. Arqueei meus quadris em meu próprio toque, gemendo enquanto esfregava mais rápido. Não havia necessidade de tomar meu tempo comigo mesma. Eu poderia vir quantas vezes quisesse antes de tocá-lo. E essa era uma sensação muito agradável. Joguei a cautela ao vento, seguindo em frente como se eu tivesse apenas cinco minutos antes de sair para o trabalho. Eu o deixei assistir enquanto me desfiz, puxando todos os truques que eu sabia para me fazer gozar mais rápido. Foi um pouco de luta com a posição desconfortável, mas uma vez que eu entrei o suficiente, eu esqueci a tensão nas minhas pernas, voando alto e chegando perto.

Minha respiração ficou presa ao me aproximar do clímax. Eu trouxe minha outra mão de trás de mim para enrolar os dedos dentro de mim enquanto esfregava mais rápido, os quadris se contorcendo, o prazer pulsando como meu sangue nos meus ouvidos, junto com as respirações irregulares de Ethan. Nessa posição, minhas pernas ainda estavam dobradas dos dois lados do colo dele, meu peso no pescoço e nos ombros, minhas costas curvadas como um arco, eu era como uma mola enrolada, como uma flecha prestes a ser disparada. A tensão era quase dolorosa, apenas aumentando a sobrecarga sensorial do orgasmo.

—Vexa, por favor. — Ethan implorou, sua voz rouca de desejo, e eu ofeguei quando o prazer cresceu e tomou conta de mim.

Fiquei ali por um momento, relaxando a postura tensa das minhas costas, percebendo a dor desconfortável nas minhas pernas, saboreando o delicioso formigamento do pós-brilho sobre a minha pele. Eu me deliciei com uma sensação tátil inebriante, enquanto Ethan estava choramingando entre minhas coxas. Na verdade, choramingando, rosnados baixos se transformando em choramingos caninos.

—Você ainda está bem? — Eu perguntei, sentando-me. Ele ainda parecia humano, exceto por um leve brilho dourado nos olhos.

—Não. — Ele disse, lambendo os lábios. —Estou tão longe de estar bem como acho que já estive.

Eu ri um pouco, me acomodando no colo dele e me inclinando sobre ele, meio para verificar suas restrições para mover minhas pernas, que estavam começando a adormecer.

—Você quer que eu o solte? — Eu perguntei, traçando o cinto.

—Mais do que tudo. — Ele gemeu, pressionando o rosto nos meus seios. —Mas você não deveria.

—Eu não quero que você se sinta desconfortável. — Eu disse, passando meus dedos pelos cabelos dele.

—Não, não, isso é desconfortável. — Disse ele, beijando o espaço entre os meus seios. —Horrível, horrível, muito bom e desconfortável. Não pare.

Eu ri novamente, mas, me tranquilizado de que ele estava bem, continuei.

Eu me mexi para beijá-lo novamente, longo e lento, negando-lhe até a minha língua, amando o jeito que ele se contorcia e se inclinava a cada toque.

Eu dei a ele o que ele queria por centímetros, o mais lento que pude. Sempre que ele começava a ficar excitado, eu recuava, desacelerava ainda mais, deixando-o frustrado e desesperado, mas ainda no controle de si mesmo. Quando finalmente enfiei a mão na cintura da calça, ele tremeu de necessidade. Eu acho que ele quase terminou apenas com o primeiro toque dos meus dedos contra o seu eixo, o primeiro aperto suave. Decidi então que, se isso se tornasse algo normal, eu faria isso acontecer eventualmente. Só de pensar em fazê-lo desmoronar com um único toque foi tanta pressa que tive que parar e me tocar de novo, para seu deleite e frustração, até que ele literalmente me implorou que o deixasse usar a boca. Eu fui generosa o suficiente para permitir isso a ele. Eu estava de pé sobre ele, minhas mãos apoiadas na cabeceira da cama, enquanto ele fazia tudo o que suas restrições lhe permitiam. Eu já tinha ouvido falar oralmente como adoração, mas nunca realmente apreciei o quão preciso o termo poderia ser até esse momento. A cada momento em que sua boca não estava preocupada, ele sussurrava, gemia e rosnava meu nome, me dizendo o quão perfeita eu era, o quanto ele precisava de mim. O elogio foi quase tão bom quanto a boca dele.

—Vexa. — Ele gemeu, pressionando beijos de borboleta no meu estômago. —Linda, perfeita, maravilhosa Vexa. Estou morrendo. Isso está literalmente me matando.

Eu ri, acariciando seus cabelos.

—Quer que eu te deixe sair? — Eu perguntei.

Ele balançou sua cabeça. —Não, mas se eu não puder estar dentro de você em breve, eu realmente morrerei. Estou cem por cento sério.

Rindo, eu me abaixei em seu colo para beijá-lo novamente, provando-me em seus lábios.

—Eu não sei. — Eu ronronava contra aqueles lábios. —Você acha que ganhou?

—Farei qualquer coisa. — Ele implorou. —Por favor, por favor.

Eu sorri —Eu gosto de você implorando. — Eu disse. —Essa é uma boa aparência para você.

—Além disso. — Ele reclamou. —Isso está seriamente começando a doer.

—O cinto? — Eu perguntei, tentando alcançá-lo, preocupada.

—Não. — Ele disse, e balançou seus quadris contra mim, moendo sua ereção ainda muito dura contra as minhas costas. Ele gemeu, fazendo isso de novo. —Na verdade, se você simplesmente não se mexer...

Eu me afastei dele imediatamente com um sorriso perverso. Ele quase chorou, chutando os lençóis em frustração.

—Você foi um menino muito bom. — Eu disse, beijando sua testa. —Você merece melhor que isso.

Saí do colo dele, apenas o tempo suficiente para pegar uma camisinha na mesa de cabeceira.

—Oh, graças a Deus. — Disse Ethan, aliviando o fôlego, relaxando os ombros tensos. Rasguei o pacote com os dentes e me movi entre as pernas dele.

—Quer ver um truque? — Eu perguntei, sorrindo enquanto pegava seu pau na mão. Ele levantou uma sobrancelha, desesperado demais para me questionar enquanto colocava a camisinha na minha boca. Inclinei-me sobre ele, envolvendo meus lábios em torno da cabeça de seu pênis e pressionei o preservativo no lugar com a minha língua. Deslizei-o mais fundo na minha boca, rolando a camisinha pelo seu pênis com meus lábios. Ele xingou de maneira colorida quando o calor da minha boca o cercou, os quadris batendo, mas eu o segurei. Eu ainda estava no controle desse rodeio.

Quando a camisinha e meus lábios atingiram a base de seu pênis, eu me afastei, fingindo que meus olhos não estavam lacrimejando e lutando contra o desejo de tossir.

—Puta merda. — Disse ele, olhando para mim como se eu fosse feita de ouro maciço.

Não perdi mais tempo. Eu estava quase tão ansiosa por tê-lo dentro de mim quanto ele. Ajoelhei-me sobre ele, voltando para segurar seu pau no lugar enquanto me abaixava lentamente sobre ele. Ele congelou, seus olhos brilhando com um tremido âmbar, parecendo que ele não ousava nem respirar enquanto sua cabeça deslizava contra as minhas dobras. Levei meu tempo, deslizando contra ele algumas vezes, antes de finalmente deixá-lo entrar. Respirei fundo quando a primeira polegada me abriu. Ele era grosso, e eu tremi com a antecipação de como ele se sentiria completamente dentro de mim. Mas ainda demoraria um pouco até eu descobrir. Eu fiquei onde estava, seu pau apenas dentro de mim, aproveitando a sensação, até que ele se contorceu com ansiedade. Então eu o levei um pouco mais fundo. Talvez outra polegada.

—Vexa! — Ele disse, um pouco alto demais para estarmos em uma casa com outras pessoas dormindo nela. Eu o silenciei, tentando não rir, e afundei o resto do caminho, xingando quando ele bateu profundamente dentro de mim. Eu me senti tão bem, tão cheia, meu clitóris latejando com o meu pulso.

Ficou claro que Ethan se sentia tão bem quanto eu, sua cabeça jogada contra a cabeceira da cama, sua respiração dura. Quando eu vi suas mãos flexionarem seus laços, garras brilhando. Lembrei-me de que não estava apenas indo devagar para meu próprio entretenimento.

—Aí estamos. — Eu disse, suavemente, passando as mãos sobre as pernas e o estômago em círculos calmantes. —Como você está se sentindo?

Ele respirou fundo várias vezes antes de falar, recuperando o controle, embora não conseguisse embainhar suas garras.

—Bom. — Ele disse, sem fôlego. —Deus, tão bom.

—Como está o lobo? — Eu perguntei, balançando meus quadris lentamente, moendo-o mais profundamente dentro de mim. Ele gemeu e ouvi o cinto de couro esticar novamente.

—Assistindo. — ele finalmente admitiu, um rosnado em sua voz. —Eu acho que tenho um controle sobre ele. Pelo menos, tanto quanto posso.

—Bom garoto. — Eu disse. —Você pode esperar se eu continuar?

—Sim, mas eu acho que você não pode confiar em mim para dizer para parar se eu começar a escorregar. — Ele admitiu com uma careta.

—Então eu vou ter um cuidado extra. — Eu disse a ele, levantando meus quadris até que ele estava apenas dentro de mim. —E extra, extra lento.

Eu me abaixei novamente em um longo e lento deslize, saboreando o calor e a pressão de cada centímetro, meus dedos dos pés enrolando nos cobertores. Eu amei o jeito que ele se encaixava dentro de mim, e o jeito que ele pressionou contra minhas paredes internas quando eu inclinei meus quadris da maneira certa.

Tanto porque eu queria testar os limites de Ethan e porque simplesmente não conseguia resistir, continuei em ritmo acelerado, não muito rápido ou muito lento. Depois de todas as provocações, eu sabia que Ethan não tinha muita resistência sobrando. Eu o observei com cuidado, resistindo ao desejo de me perder no prazer. Esfreguei meu clitóris em círculos preguiçosos por outra camada de calor, construindo como um fogo dentro de mim. Fazia muito tempo desde que eu tive isso. Ethan teria ficado sozinho o tempo todo também, eu me perguntava? Tive a impressão de que ele não estava com ninguém desde a maldição, e pude entender o porquê. Mas eu meio que amei o pensamento de ser a única a dar isso a ele depois de tanto tempo, depois que ele talvez pensasse que estava perdido para ele para sempre.

Ethan começou a me observar, seus olhos devorando todos os meus movimentos como se ele quisesse gravar essa memória em sua mente para sempre. Mas enquanto eu continuava, ele teve que fechar os olhos, prendendo a respiração, os braços tensos contra o cinto enquanto lutava com o lobo e com seu próprio desejo de gozar. Quando o vi começar a tremer, diminuí a velocidade ao mesmo tempo, voltando ao ritmo mais lento que pude controlar. Ele xingou amargamente baixinho, mas depois de um momento, sua respiração se acalmou e um pouco de seu autocontrole voltou. Assim que ele estava um pouco mais no controle, eu acelerei novamente, um pouco mais rápido do que antes. Eu estava ansiosa para gozar também. Mas eu não podia me dar ao luxo de ser egoísta, infelizmente. Eu tive que facilitar isso para provar que poderia funcionar.

Eu estabeleci um ritmo sólido, observando-o com cuidado, diminuindo a velocidade assim que ele ficava muito excitado, acelerando uma vez que ele tinha o controle novamente. Eu nunca tinha feito sexo de maneira tão agradável antes, e estava gostando. Ethan, ao contrário, parecia estar sendo torturado.

—Se o seu objetivo aqui é me fazer odiar você. — Ele ofegou, enquanto eu diminuí a velocidade até quase parar novamente. —Você está conseguindo.

—Espere um pouco mais. — Eu disse, fechando os olhos enquanto lutava contra o meu próprio desejo de ir mais rápido. Eu estava tão perto de gozar cerca de cem vezes e me afastei antes que acontecesse, tentando salvá-lo. —Estamos quase chegando, não estamos?

—Deus, sim. — Ethan disse, os quadris tremendo enquanto ele tentava empurrar em mim apenas para eu segurá-lo. —Mas o lobo está tão perto, Vexa. Eu não sei por quanto tempo eu posso segurá-lo, não importa o quão lento vamos.

—Você tem certeza que não está dizendo isso apenas porque quer que eu acelere? — Eu o provoquei, moendo com ele.

—Isso também. — Ethan disse, com os dentes cerrados. —Além disso, meus braços estão realmente ficando doloridos.

—Tudo bem. — Eu disse respirando fundo, inclinando-me para beijá-lo brevemente. —Espere firme, baby.

Eu me joguei em um ritmo rápido que balançou a cabeceira da cama e deixou Ethan tenso por toda parte, uma série de maldições estranguladas deixando-o. Mordi meu lábio, cada impacto provocando fogos de artifício de prazer dentro de mim. A gratificação atrasada é uma merda, mas Deus, me sinto bem em finalmente ceder depois de esperar tanto tempo.

Ethan enfiou os calcanhares no colchão, empurrando-se para me encontrar em fortes impactos de tirar o fôlego. Fechei os olhos, concentrando-me inteiramente na sensação.

—Quase. — Ethan rosnou. —Tão perto - Vexa.

O orgasmo se aproximava como o pico de uma montanha-russa que vinha subindo há horas. A mola estava enrolada até seu ponto de ruptura absoluto e se eu não a liberasse logo...

Eu deveria estar prestando mais atenção. Não percebi que havia algo errado até ouvir o couro estalar e o rosnar do lobo. Quando abri meus olhos, Ethan já me segurava pelos ombros, me empurrando de volta para o colchão. Tive um instante de temer que estivesse prestes a morrer, e então Ethan bateu em mim com tanta força que vi estrelas.

Ele entrou em mim como um animal, como se ele morresse se não morresse, como se tudo dependesse de me foder tão forte e rápido quanto ele era fisicamente capaz. Meus quadris não estavam na cama, minhas pernas ao redor dele, minhas mãos em seu peito. Com as talvez duas células cerebrais que tive que poupar com o prazer que sobrecarregava rapidamente meu cérebro, vi que ele não havia desaparecido completamente, pelo menos ainda não. Ele ainda era mais homem que lobo, mas se afastava rapidamente. A pele se substituía, os dentes cresceram mais. Eu me atrapalhei com minha mágica após o orgasmo, tentando roubar minha capacidade de pensar, envolvendo-a em torno de sua maldição como eu tinha no drive-in, comprimindo-a, empurrando-a para trás, abraçando-a.

—Vexa. — Ethan disse, sua voz um grunhido irreconhecível de animal. Eu olhei nos olhos dele e não vi Ethan lá. Ele não estava errado quando disse que o lobo não era ele. Havia algo completamente atrás de seus olhos. Algo antinatural e cheio de ódio. Algo que teria rasgado minha garganta agora, exceto a pura força de vontade de Ethan e sua própria necessidade primordial.

O impacto dos quadris de Ethan contra minhas coxas tocou bruscamente através da sala, assim como seus rosnados bestiais, e meus próprios gritos, todas as tentativas de controle perdidas. O prazer corria por minhas veias como fogo a cada golpe feroz. Eu segurei sua maldição com a última razão, cavando minhas unhas enquanto minha visão ficava branca, como se fosse tudo o que pudesse me segurar na terra.

O orgasmo me atingiu como um deslizamento de terra, como uma erupção vulcânica, como uma força da natureza invadindo-me. Todo nervo queimava, todo músculo ficava tenso. Eu fiz um barulho gutural e desesperado, cada parte de mim reduzida a um ponto quente e branco de êxtase irracional.

Foi só quando a onda retrocedeu, eu percebi que Ethan tinha terminado também. Ele pairava sobre mim, segurando firme, respirando com dificuldade. Eu ainda estava segurando sua maldição e empurrei um pouco mais contra ela. Eu assisti o lobo recuar, até Ethan, exausto e gasto, desabar na cama ao meu lado.

Eu rolei de lado para encará-lo, murmurando garantias e acariciando seus cabelos. Ele estava consciente, embora apenas justo.

—Você está machucada? — Ele lutou para dizer.

—Não, não, eu estou bem. — Eu disse a ele. —Você não me machucou. Está tudo bem.

Ele deu um suspiro trêmulo de alívio e eu o beijei, espalhando-os pela testa e bochechas, tão aliviada quanto ele. Ele abriu os olhos, da mesma cor quente que sempre foram, sem mais vestígios do ouro. Ele sorriu para mim por um momento, e eu sorri de volta, uma estranha sensação de vitória me enchendo que era quase mais doce que o orgasmo. Conseguimos. Não da maneira que esperávamos, mas fizemos.

Alguém bateu na porta do quarto e nós dois congelamos.

—Todo mundo vivo ai? — Minha tia falou.

A humilhação correu através de mim. Ethan gemeu e escondeu o rosto nos lençóis.

—Sim, estamos bem. — Eu falei de volta. —Está tudo bem!

—Você não teria imaginado pelos barulhos. — Disse tia Persephona sem rodeios. —Mas estamos muito felizes por vocês dois.

—Sim, parabéns pelo sexo. — Disse Cole pela porta, e minha humilhação aumentou mais dez graus. —Mas no futuro, pode levar em consideração avisar as pessoas que você está prestes a arriscar lançar um lobisomem assassino em casa!

—Ou apenas façam em outro lugar. — Sugeriu minha tia. —Um bunker trancado em algum lugar, talvez.

—Um bunker à prova de som. — Acrescentou Cole.

—Desculpe! — Eu disse.

—Isso não vai acontecer novamente. — Disse Ethan.

Cole e tia Persephona voltaram para a cama e Ethan e eu deitamos um ao lado do outro, com os ossos cansados e agora completamente envergonhados.

—Pelo menos sua tia não é do tipo conservadora? — Ethan disse, tentando aliviar o clima. Eu ri baixinho e ele se juntou a nós dois oprimidos por tudo o que tinha acontecido. Depois de um momento, levantei-me, esticando-me, para fazer uma limpeza mínima, incluindo a eliminação do cinto destruído. Teríamos que conseguir algo mais forte. Quando terminei, caí de volta na cama com Ethan, que tinha usado a última de suas forças apenas para virar o caminho certo na cama. Ele me puxou para perto quando eu me deitei, e me aconcheguei sob seu queixo.

—Só para você saber — Murmurei, meus olhos já fechados. —Isso definitivamente vai acontecer novamente.

 


O café da manhã na manhã seguinte foi desconfortável por cerca de dez minutos, até Cole contar uma piada suja que nos deixou todos em lágrimas.

—Então, como foi o sofá? — Eu perguntei a Cole, enquanto Ethan ajudava minha tia a fazer panquecas.

—Tolerável. — Disse Cole. —Eu tive pior. Seus animais se revezaram tentando me sufocar, no entanto. Você já teve um cão lobo morto tentando deitar no seu rosto enquanto você dorme?

—Sim, desculpe. — Eu disse, rindo. —O cheiro é a pior parte, certo? Estou pensando em enchê-lo de pot-pourri.

—Não pode doer. — Disse Cole. —Mas nenhuma quantidade de purificadores de ar ou taxidermia vai mudar o fato de você ter repudiado ele tarde demais. Os restos mortais estavam muito longe. Se você deseja manter algo familiar, precisa chegar ao corpo enquanto estiver fresco. Depois que o inchaço aparecer, você nunca conseguirá fazê-lo cheirar bem.

—Você está assumindo que eu repensei Mort intencionalmente. — Eu disse com um escárnio. —Ele era a coisa morta mais próxima e maior em mãos quando eu percebi que havia um lobo grande na minha casa.

—Podemos tentar evitar conversas sobre cadáveres à mesa? — Ethan perguntou com uma careta.

—Bem, então por que você não o colocou de volta? — Cole perguntou, ignorando Ethan.

—Eu estava muito ocupada no começo. — Eu disse. —Eu tentei, eventualmente, mas ele está realmente cheio de energia e não quer se soltar. E honestamente, a essa altura, ele lutou com seu leão da montanha por mim e apenas foi um cachorro muito bom em geral e, bem, me apeguei.

—É assim que sempre acontece com os perdidos. — Disse tia Persephona, balançando a cabeça enquanto colocava uma pilha de panquecas na mesa. —Você jura que vai levá-los por um dia até poder levá-los a um abrigo, e a próxima coisa que você sabe é que eles estão enrolados no seu colo e implorando por restos de presunto e você percebe que eles não vão a lugar algum.

—Mort é um pouco mais que um vira-lata. — Disse Cole, pensativo, olhando para o cachorro, que estava deitado perto das portas de correr do quintal, aproveitando o sol. —Há algo estranho sobre o quão consciente ele parece estar.

—Algo sobre a Vela, talvez? — Eu disse com um encolher de ombros.

—Isso, ou seu talento oculto, está executando algum tipo de programa mágico de comportamento canino em seu subconsciente. — Disse Cole.

—Parece plausível para mim. — Ethan riu.

Mort levantou a cabeça brevemente para bocejar, depois rolou de novo, nos ignorando.

—Eu provavelmente deveria ir ver os gatos antes de me sentar. — Disse minha tia, limpando as mãos e indo para o quintal. Seus gatos mortos-vivos não precisavam de alimentação, mas precisavam ser energizados regularmente e verificados quanto a danos em seus restos mortais, e as pragas mortas que eles entregavam tinham que ser tratadas.

—Eu posso cuidar disso depois do café da manhã. — Eu disse a ela, não querendo que ela se esforçasse.

—Não seja boba, eu consigo. — Respondeu ela com desdém, e saiu antes que eu pudesse dizer mais.

—Vamos ver o cara dos fae hoje. — Eu disse enquanto Ethan se sentava e cavamos as panquecas. —Qual é o problema dele?

—Bem, eu ainda não o conheci — Disse Ethan. —Mas as vezes em que os curandeiros descobriram algo genuinamente perigoso, ele é o principal responsável por lidar com isso. Aparentemente, ele é um profissional em garantir artefatos mágicos. Mas também ouvi dizer que ele tem uma atitude meio estranha. Provavelmente por causa da coisa falsa. Está no ar se ele estará disposto a nos ajudar.

—Você deveria suborná-lo com algumas dessas panquecas. — Disse Cole com a boca cheia. —Estas são fodidamente incríveis.

—Sim, maldito Ethan, você tem um talento. — Eu concordei com uma risada. —Acho que nunca tive panquecas tão perfeitas.

Ethan sorriu, profundamente satisfeito.

—Ele é alto, é médico, sabe cozinhar. — Disse Cole, concentrado em inalar suas panquecas o mais rápido possível. —Se ele não estivesse se transformando em um monstro do mal, seria o material ideal para o casamento.

—Bem, espero que possamos cuidar disso hoje. — Eu disse rapidamente.

—Isso significa que você me daria uma chance assim que eu for consertado? — Ethan perguntou a Cole, apoiando-se no cotovelo com um sorriso forçado. Senti uma estranha vibração de orgulho ao vê-lo sendo tão à frente. Sua voz quebrou um pouco e eu vi a tensão nervosa em seus ombros, mas ele a escondeu muito bem, considerando.

Cole, pego de surpresa, olhou para ele e engoliu em seco ao redor das panquecas na garganta.

—Garoto baixo. — Disse ele, erguendo uma sobrancelha. —Sua namorada está sentada bem ali.

—Você também pode me dar uma chance. — Eu disse, pegando a sugestão de Ethan e dando a ele o meu sorriso de queijo. —E isso não foi um não.

Cole ficou lentamente escarlate.

—Eu preciso ir. — Ele disse rapidamente, levantou-se e saiu correndo pelas portas deslizantes para ficar no quintal.

Eu ri, apesar de ter conseguido segurar até que ele fechou a porta entre nós.

—Nós provavelmente não deveríamos ter encurralado ele. — Ethan disse, parecendo pensativo através das portas deslizantes onde Cole estava embaixo da árvore, uma mão apoiada no tronco e a outra no peito como se estivesse tendo um pequeno ataque cardíaco. —Espero que não o assustemos.

—Um necromante maligno de séculos não assustou Cole. — Eu o tranquilizei. —Tenho certeza que ele pode lidar com um pouco de flerte.

—Talvez devêssemos recuar. — Disse Ethan, mordendo o lábio. —Eu não quero que ele pense que eu sou predatório ou algo assim.

—Você não é predador. — Eu disse pacientemente. —Quero dizer, exceto em luas cheias.

—Ha ha. — Ele revirou os olhos.

Depois de alguns minutos, Cole voltou para dentro e sentou-se, retornando às panquecas. Ethan e eu permanecemos em silêncio, não querendo pressioná-lo.

—Então, uh, cara dos fae. — Eu disse, retomando a conversa mais cedo. —Há muitos fae por aí?

—Acho que não. — Disse Ethan. —Ele é o único que eu conheço.

—Ele mora perto? — Cole perguntou, sem levantar os olhos das panquecas. —O tempo todo?

—Uh, sim. — Ethan confirmou, sua voz caindo em um registro mais suave quase imediatamente. Ele estava fazendo aquilo em que agia como se Cole fosse um animal nervoso novamente. —Ele tem uma casa grande perto da ravina. Ele vive lá há anos, até onde eu sei.

—Hum, incomum. — Cole murmurou, ignorando Ethan.

—O que é incomum? — Eu perguntei curiosa.

—Bem, se ele viveu entre humanos sem problemas por tanto tempo, provavelmente ele é da Corte dos fae. — Disse Cole casualmente. —E a corte dos fae não deixa as outras terras muito hoje em dia. Quando o fazem, geralmente é apenas por um dia ou mais. Para alguém que vive neste lugar há anos é muito estranho.

—Eu vou ser honesta. — Eu disse, minha confusão refletida no rosto de Ethan. —Eu nem sabia que os fae eram reais até semana passada, e ainda estava com a impressão de que eram principalmente duendes e outras coisas.

Cole recostou-se, largou o garfo e considerou suas palavras por um momento.

—Tudo bem. Cartilha de faes. Existem três tipos de Faes. — Ele disse finalmente. —Três tribunais. Os Seelie e os Unseelie, também chamados de Tribunais de Verão e Inverno, estão constantemente em guerra. Eles estão em um impasse há tanto tempo que suas vitórias e derrotas se tornaram espelhados rituais das estações atuais.

—Qual é o terceiro tribunal? — Eu perguntei fascinada.

—Fae selvagem. — Disse ele. —Qualquer coisa que não seja Seelie ou Unseelie. Então suos fae domésticas, como domovoi e brownies, seu deus local e criptos, seus espíritos da floresta e guardiões da montanha, e assim por diante, são todos Faes Selvagens desalinhados, basicamente tentando viver suas vidas e não são sugados pelo drama Seelie/Unseelie. Algumas pessoas traçam uma linha entre Faes selvagens nativas e Outras Terras Selvagens dos fae, mas, francamente, eu não acho que haja muita distinção.

—Espere o que? — Eu disse confusa.

—Acho que me lembro de Daphne mencionando algo sobre isso. — Ethan acrescentou, franzindo a testa. —Eles estavam realocando um monte de coisas mágicas antes de um empreendimento imobiliário que estava se mudando, e ela estava reclamando de tentar resolver as espécies invasoras.

—Mais como refugiados do que espécies invasoras. — Disse Cole. —A maioria dos que estão aqui fugiu das Outras Terras para escapar do recrutamento.

—Eu pensei que eles eram animais. — Disse Ethan, confuso. —A maioria dos que vi certamente pareciam animais.

—E quem os estava recrutando? — Eu perguntei.

—Quem mais? Os tribunais. — Disse Cole, e inalou uma panqueca inteira de uma só vez, sufocando sua arrogância. Quando ele pôde respirar novamente, ele continuou. —A inteligência falsa é complicada. Ela varia em todo o lugar e realmente não se encaixa nos padrões humanos. Os duendes podem parecer grandes insetos, mas são espertos o suficiente para não quererem entrar em guerra.

—E eles vieram dessas Outras Terras para fugir? — Eu perguntei.

—Alguns deles. — Confirmou Cole. —Para explicar o mais brevemente possível, a terra é... uh, a terra é uma bolha de sabão. E tem outras bolhas de sabão menores grudadas nela. Entendeu?

Eu balancei minha cabeça, mas Cole continuou.

—As bolhas menores são as Outras Terras. Pequenas realidades fraturadas. Ou talvez apenas realidades em que a física e a energia funcionam de maneira muito, muito diferente. A Terra é a maior, pelo menos pelas medições tradicionais, já que temos um universo e outras galáxias e merda, e a maioria das Outras Terras que foram vistas e relatadas por humanos são um único local que se estende infinitamente, como a Cidade Sem Fim ou a floresta de Tir Na Nog.

—Algumas das coisas que li levantam a hipótese de que as Outras Terras realmente vieram da Terra, manifestadas pelo inconsciente coletivo ou algo assim. A maioria dos livros coloca o número de Outras Terras em torno de nove. Mas isso pode ser apenas o que vimos. Os Seelie e Unseelie correm entre todas as Outras Terras, travando suas guerras e forçando qualquer Fae Selvagem que encontrarem a se juntar a eles. A Terra é a única terra que já teve sucesso em mantê-los fora, e ainda sentimos o feedback mágico de suas lutas influenciando o tempo e a probabilidade. E sempre que a luta deles se muda para outro país, temos uma onda de refugiados saindo antes da chegada do tribunal.

Ele bebeu meio copo de suco de laranja.

—Mas, voltando ao meu ponto original sobre o cara dos fae... não existem muitos fae Selvagens que podem manter a forma humana por longos períodos. Selkies, hulda, talvez. E mesmo eles não costumam gostar. A corte dos fae sempre parece principalmente humana... para humanos de qualquer maneira. Então esse cara provavelmente é de um dos tribunais. Isso é tudo.

—Se é tão fácil para eles se encaixarem com os humanos, por que eles não deixam, uh, como você chama isso? — Ethan perguntou.

—As Outras Terras. — Respondeu Cole com um suspiro, esfregando a testa. —E principalmente porque não deixamos. Tropas de faes de qualquer tribunal podem causar uma enorme quantidade de caos e danos quando correm por aqui. Quase sempre vêm em grupos e têm uma necessidade quase biológica de causar problemas. Então, em quase toda a história mágica, aperfeiçoamos maneiras de mantê-los fora dessa realidade o máximo que pudermos. Alguns séculos atrás, alguns grupos mágicos conseguiram se reunir por tempo suficiente para elaborar um contrato que limita severamente sua capacidade de interferirem, exceto o Meio Inverno, Plenos Verões e Equinócios Honestamente, há uma tonelada de coisas estranhas envolvidas. Posso encontrar alguns livros sobre isso, mas não quero ficar aqui conversando sobre isso o dia todo.

—Justo. — Eu disse. —Eu ainda estou me acostumando com tudo isso. Eu sabia muito bem que a necromancia era uma coisa, e então eu descobri sobre magia geral e a comunidade mágica, e eu estava apenas começando a descobrir isso, e agora há outras dimensões? De que faes vêm? E causam as estações do ano?

—Elas... elas não causam as estações do ano. — Gaguejou Cole rapidamente. —É... é apenas... é uma coisa cíclica e simbólica -

—Tanto faz. — Eu disse. Eu não queria ser desviada novamente. —Gostaria apenas de um dia ou dois sem nenhuma ameaça existencial para processar tudo isso, sabia?

—Sim, mesmo. — Ethan disse com um aceno de cabeça cansado. —Mas precisamos ir. Como eu disse, o cara mantém horas estranhas. Se queremos conversar com ele hoje, precisamos chegar em breve, ou teremos que esperar até tarde hoje à noite.

Terminamos o café da manhã rapidamente e saímos às pressas. A oferta de Ethan para Cole ainda estava pendente, sem solução e sem resposta entre nós, mas eu tinha medo de trazê-la à tona e angustiá-lo. Ethan e eu enchemos o silêncio do passeio de carro com conversas sem sentido sobre os tipos de Fae Selvagem que ele havia encontrado com os curandeiros.

—Então, domovoi e trasgu são basicamente os mesmos. — Eu resumi, tentando manter isso claro. —Deixe comida para eles e eles limparão a casa para você. Hobs limpam a casa para você, mas se você lhes der uma recompensa, eles ficarão chateados e vão embora. Brownies esperam recompensas, mas se você tentar vê-los trabalhar, eles ficam chateados e saem.

—Sim, você conseguiu. — Disse Ethan. —Tentar lembrar de todas as regras é a pior, certo? Especialmente quando você não sabe de onde elas vieram. Por aqui, muitas famílias traziam o espírito da casa quando imigravam para a América, e a casa mudou de mãos dezenas de vezes desde então, então descobrir que tipo de espírito é esse pode ser uma dor absoluta.

—Qual foi a pior que você já teve? — Eu perguntei, curiosa, enquanto Ethan dirigia em direção ao exterior da cidade.

—Oh cara. — Ele riu. —Uma das minhas primeiras viagens com os curandeiros foi investigar um 'poltergeist' assombrando uma casa grande e velha em Wethersfield. Só causando pequenas travessuras, desmanchando camas, rindo em salas vazias, você sabe. Nós descobrimos bem rápido que era um espírito da casa, e pensávamos que era uma variedade de Haltija finlandês, que acabou sendo um Zashiki-Warashi japonês. Eles não limpam nada, geralmente causam travessuras mesmo quando estão felizes, mas têm boa sorte... E quando eles saem de casa, é um presságio de coisas ruins loucas a caminho. Nós quase o expulsamos antes de descobrirmos o que era, o que poderia ter sido desastroso para a família.

—Oh merda. — Eu disse. —Mas você conseguiu fazer ficar?

—Sim, e ensinou a família como lidar com isso. — Disse Ethan. —O que é basicamente para ignorá-lo. Uma vez que eles sabiam que não seria toda a atividade paranormal neles, eles não se importavam tanto com as estranhezas ocasionais. Isso dá ao personagem da casa. Estamos quase lá, a propósito.

Nós tínhamos entrado em uma área residencial agradável, a rua serpenteava passando por grandes casas antigas com jardins espaçosos e um jardim impecável. Muitas das casas tinham placas históricas declarando o ano em que foram construídas, muitas das quais começaram com 17 e 18. Definitivamente, acima de todas as nossas notas salariais. Ethan olhou de soslaio para todos os endereços, contando até encontrar o certo.

O jipe desceu o longo caminho arborizado de uma grande casa do Segundo Império, afastada da estrada e protegida por vários enormes carvalhos velhos.

Tinha dois andares mais um sótão sob um telhado escuro de mansarda. Era todo em tijolo e guarnição branca, com torres ladeando a grande porta da frente e janelas altas e arqueadas. O tijolo se arrastava de hera, e o jardim ficou um pouco selvagem, embora ainda fosse mantido, a grama mantida em um comprimento manejável. A videira agridoce e a azeitona russa que incomodavam os vizinhos não tinham presença aqui. Havia um grande bordo japonês, provavelmente mais velho do que eu, e era vermelho mesmo nessa época do ano. Os canteiros de flores mais próximos da casa estavam cheios de batata-doce ornamental roxa escura, coleus cor de vinho e petúnias de veludo preto. O manjericão carmesim e o chocolate com menta se esconderam à sombra das outras plantas, enchendo o ar com seu perfume. Flores da lua, flox noturno e jasmim florescendo à noite adicionavam pequenos salpicos de cores mais brilhantes, embora todos estivessem fechados a essa hora do dia.

Estacionamos o jipe e caminhamos pelo estranho jardim para bater nas pesadas portas de madeira maciça.

—Agora lembrem-se. — Ethan disse, enquanto esperávamos o cara responder. —Faes são complicadas, então tentem ser o mais educados possível e, se ele tentar se irritar com você, não morda a isca. Ele conhece a mim e aos curandeiros, então tentarei fazer o máximo possível da conversa.

Cole e eu assentimos e imaginamos o que esperar. Imaginei um velhinho, como um gnomo, todo travesso e engraçado, embora as descrições de Cole sobre o tribunal me fizessem imaginar elfos de fantasia. Então, novamente, ele estava vivendo com seres humanos todo esse tempo. Ele provavelmente pareceria um cara, certo?

Ouvimos o clique da porta sendo aberta e eu me preparei para descobrir. A porta se abriu, revelando um jovem alto e esbelto, com longos cabelos loiros que reconheci instantaneamente.

—Você? — Eu disse, confusão me deixando momentaneamente pasma. Um segundo passou e eu respirei profundamente quando comecei a juntar as peças. —Você.

Ele olhou para mim, claramente tão surpreso em me ver quanto eu em vê-lo. Seus olhos dispararam para Cole e Ethan. Ele bateu a porta entre nós.

 

Capitulo Treze


—Ei! — Eu gritei, minha suspeita subindo instantaneamente para uma certeza irritada. Eu bati na porta. —Você volte aqui agora!

—Você o conhece? — Ethan perguntou, parecendo confuso.

—Sim, eu o conheço! — Eu disse, entre dentes. —E se ele fez o que eu acho que ele fez, eu vou matá-lo!

—Eu não sugeriria isso. — Disse Cole uniformemente.

—O que ele fez? — Ethan perguntou, perplexo.

—Ele é Greenwood! Ele era advogado imobiliário do meu tio. — Lutei para explicar, ainda batendo na porta. —Ou eu pensei que ele era, de qualquer maneira! Foi ele quem me mostrou a Vela! E se ele é umo fae, se ele está trabalhando com os curandeiros e estava lá especificamente para a Vela em primeiro lugar, então ele sabia exatamente o que estava fazendo quando ele me convenceu a tocá-la!

—Oh. — Disse Ethan. —Bem, isso não é bom.

—Ele está tentando escapar pelos fundos. — Disse Cole, coçando o rosto e se inclinando sobre o parapeito da varanda.

—Pegue ele! — Eu gritei, pulando o corrimão e correndo pela casa. Ethan passou correndo por mim um segundo depois, tirando a roupa enquanto ele se mexia. Eu peguei um vislumbre da expressão assustada de Greenwood através dos arbustos antes de Ethan, de quatro e do tamanho de um pequeno urso, atacá-lo.

Corri para alcançá-lo e encontrei Ethan deitado em cima de Greenwood, abanando o rabo quando ele me deu um sorriso orgulhoso de cachorrinho. Greenwood se contorceu e lutou.

—Me solte imediatamente! — Ele demandou. —Você não pode imaginar a ira que eu posso deixar cair sobre você, se eu escolher!

—Eu deixarei você ir assim que você me disser por que diabos você colocou essa Vela em minhas mãos! — Eu disse, de pé sobre ele. —Você tem alguma ideia do que você me fez passar? Eu quase morri três vezes na semana passada!

Cole vagava em um passeio fácil. —É melhor você apenas derramar tudo, cara. — Disse ele. —Você realmente não quer ficar preso lá fora ao meio-dia, quer? Além disso, a julgar pelo fato de ter tentado fugir a pé, você teve a maioria dos seus poderes selados ou está tentando manter um discreto, então nos ferir provavelmente não seria do seu interesse. De qualquer forma, é mais conveniente cooperar.

—Ugh. — Greenwood emitiu um som meio enojado, meio resignado e empurrou o corpo peludo de Ethan novamente. —Você pelo menos me faria o favor de remover seu animal de estimação antes de eu responder?

—Você promete não correr? — Eu perguntei.

—Você tem a minha palavra. — Disse Greenwood, com um suspiro cansado.

Ethan se levantou e se afastou de Greenwood. As calças marrons e a camisa branca, de colarinho branco, estavam bem manchadas de grama e cobertas de pelos de lobo. Ele fez uma careta de descontentamento e acenou com a mão para si mesmo. Em um instante, a bagunça desapareceu. Ele pegou as folhas dos cabelos da maneira mais convencional, enquanto passava por nós, murmurando. Eu segui logo atrás dele. Ethan permaneceu nos arbustos para voltar e recolher suas roupas.

Ele era tão lindo quanto eu me lembrava dele, embora minha atração por ele estivesse levemente azeda pela percepção de que tudo isso era culpa dele. Ele não era robusto e musculoso como Ethan ou resistente e musculoso como Cole. Ele tinha uma graça refinada que me lembrava os interesses amorosos dos romances da regência, toda a beleza masculina polida. Ele tinha feições aristocráticas e angulares e os olhos mais verdes que eu já vi. Seus cabelos eram da cor do mel à luz do sol, amarrados em um rabo de cavalo baixo com uma fita verde escura, caindo sobre o ombro em ondas sutis. Bonito como ele era inegavelmente, eu estava fortemente inclinada a chutar sua bunda.

Ele nos levou de volta à casa, através de um vestíbulo de teto alto e finamente decorado, e a uma sala de jantar formal, a mesa posta com louça vazia.

—Fale já. —, Eu disse, impaciente. —O que você realmente estava fazendo naquela sala funerária?

—Eu estava prestes a jantar. — Ele disse casualmente, gesticulando para a mesa. —Você pode se juntar a mim.

—Não é um pouco cedo? — Eu perguntei, quando ele se sentou à cabeceira da mesa, estalando o guardanapo de pano com um gesto praticado enquanto o colocava no colo.

—Prefiro dormir durante o meio dia. — Disse ele. —O horário de verão discorda de mim.

—Mais uma razão para resolvermos isso rapidamente, então. — Eu disse, puxando a cadeira mais próxima de mim e sentando-me. Ethan e Cole sentaram-se ao meu lado.

Os pratos da mesa ainda estavam vazios, embora Greenwood parecesse pronto para comer. Eu esperei, meio esperando que os servos aparecessem com comida. Em vez disso, Greenwood bateu duas vezes na mesa. O som era estranhamente alto e ecoou mais do que parecia que a sala deveria permitir. Um segundo depois, os pratos sobre a mesa estavam quase cheios da comida mais deliciosa que eu já vi, desdobrando-se como flores florescendo ou fluindo como água de uma torneira. Momentos depois havia um pequeno banquete à nossa frente.

—Uma mesa de desejos. — Disse Cole, erguendo uma sobrancelha. —Eu nunca vi uma pessoalmente.

—Ainda existem apenas três neste lugar. — Respondeu Greenwood, servindo-se dos pratos mais próximos, todos com comida que eu não reconhecia, mas que parecia indescritivelmente boa. —Eu possuo duas delas. O navio que supostamente levava o terceiro foi perdido no mar nos anos 1300 e ainda precisa ressurgir.

—Eu acho que você pretende pegá-la no minuto que aparecer? — Cole disse, cutucando curiosamente um prato perto dele que parecia macarrão com queijo e lagosta.

—Claro. — Respondeu Greenwood. —Eu coleciono essas coisas. E, por favor, sinta-se livre para comer qualquer coisa, exceto os pratos à minha frente. O que estiver mais próximo de vocês devem ser os seus favoritos ou o melhor palpite da mesa. Não há perigo. A mesa não transmite encantamento. Como a maioria dos pratos de faes faz. É muito conveniente para os hóspedes.

Cole hesitantemente tomou uma colher grande de macarrão com queijo de qualquer maneira. Ethan já estava comendo um pedaço enorme de frango frito sem arrependimentos, mesmo que a comida estivesse encantada. Testei uma tigela perto de mim, que cheirava a bisque de tomate e quase me esqueci por que estava aqui na primeira colherada. Foi a coisa mais deliciosa que eu já provei. Eu sacudi a tentação de provar tudo na mesa para iniciar meu interrogatório.

—É por isso que você estava na sala de funeral? — Eu perguntei. —Você queria recolher a Vela.

—Não é educado discutir negócios à mesa. — Disse Greenwood, sem tirar os olhos da comida.

—Eu não ligo...— Cole agarrou meu ombro e balançou a cabeça. Apertei minha mandíbula com raiva, cedendo com relutância e, depois de um momento de mau humor, servi-me de sopa.

—Então. — Disse Cole, casualmente com batatas e alecrim, —Há quanto tempo você mora na terra?

—Mais tempo do que você viveu. — Respondeu Greenwood, evasivo. —Mas não tanto tempo, comparativamente. Há quanto tempo você está sem-teto?

Eu esperava que Cole se irritasse com raiva, mas ele mal reagiu.

—Desde que eu estudei necromancia. — Respondeu Cole. —Você disse que tem convidados humanos com frequência? Você socializa bastante com os humanos?

O garfo de Greenwood pairava sobre sua comida, mas ele retomou suavemente sem mais emoções.

—Eu disse que tenho convidados. — Esclareceu. —Humano e de outra forma, exatamente com a frequência que sinto vontade de ter companhia. Necromancia é uma busca incomum. Como sua família se sente sobre isso?

—Oh, da mesma maneira que eles se sentem sobre qualquer mágica. — Disse Cole novamente, sem reação emocional, apesar da farpa. Eu não tinha visto ninguém trocar respostas e insultos velados como este desde a última reunião de família. Ou não tão velado, no caso de Greenwood. —Como o tribunal se sente sobre seus... Hábitos?

Um músculo na mandíbula de Greenwood se contraiu, e ele segurou o garfo com força, mas sua expressão e tom permaneceram neutros.

—Eu nunca imaginaria adivinhar os sentimentos do tribunal. — Disse ele. —Eu opero com a permissão da minha rainha, e isso é tudo o que é necessário. Entendo que sua família está morta, então? Que trágico.

—Oh, não, eles estão vivos. — Disse Cole com um pequeno sorriso frio. Greenwood agarrou seu garfo com tanta força que pensei ouvi-lo estalar. —Você disse que sua rainha mandou você aqui? Agora, qual rainha seria exatamente?

Greenwood bateu com o garfo na mesa e se levantou.

—Perdoe-me. — Disse ele. —De repente, perdi o apetite.

Cole bufou e Greenwood lançou um olhar perigoso para ele.

—Ótimo. — Eu disse imediatamente. Não entendi exatamente o que Cole havia feito, mas não desperdiçaria a oportunidade. —Então vamos voltar aos negócios. Você me deve uma resposta.

—'Você me deve' é uma frase perigosa para brincar com os fae. — Disse Greenwood, batendo duas vezes na mesa. —Levamos a dívida muito a sério.

De repente, a comida na mesa desapareceu completamente, deixando os pratos brilhando como se nunca tivessem sido usados. Ethan bateu os dentes em um pedaço de frango que não estava mais lá e franziu o cenho deplorável.

—Você conscientemente me colocou em perigo quando eu nunca fiz nada com você. — Eu disse, levantando-me também. —Eu diria que isso significa que você me deve.

—Eu estava simplesmente devolvendo uma herança familiar valiosa ao seu legítimo proprietário. — Respondeu Greenwood. —Um ato de caridade pelo qual fui recompensado com violência e grosseria. Se alguma coisa, você me deve.

—Você sabia que a Vela era perigosa! — Eu o acusei.

—Você não pode provar isso. — Respondeu ele, sublime.

—Uh, na verdade — Ethan interrompeu, levantando a mão. —Eu ouvi sua conversa sobre a Vela com os curandeiros. Daphne deixou bem claro o quão perigosa era a Vela e o que poderia acontecer se acabasse nas mãos de um necromante. Quero dizer, mesmo que você não deva a Vexa, você provavelmente deve aos curandeiros a promessa de ajudá-los e depois distribuir a Vela em vez de recuperá-la. E, como eu represento os curandeiros, acho que isso significa que você me deve?

Um rubor subiu pela nuca de Greenwood, mas ele respirou fundo e o dispensou.

—Tudo bem. — Ele disse. —O que exatamente você quer?

—Eu... — Comecei a exigir respostas, depois me lembrei do que estávamos realmente fazendo aqui. Ele pode apenas nos deixar ter um favor. Eu não queria desperdiçar isso explicando algo que já estava feito. —Queremos que você ajude Ethan. Ele tem uma maldição. Não sabemos quem a lançou ou quais são os parâmetros para quebrá-la, e seu progresso foi acelerado. Precisamos quebrá-la rapidamente.

Greenwood olhou para Ethan com expectativa.

—Sim, é isso que eu quero. — Ethan disse depois de um momento, quando percebeu que o homem Fae esperava por sua confirmação. —Por favor. Tudo o que você puder fazer será apreciado.

Greenwood suspirou e esfregou os olhos.

—Tudo bem. — Ele disse. —Se é realmente isso que você quer. Parece um pouco inútil para mim, mas é sua perda.

Ele nos levou para fora da sala de jantar e para dentro da casa. Passamos por longos e opulentos corredores, salas estranhas, grandes salões de baile, subindo e descendo escadas sem fim. A casa era muito maior do que aparecia do lado de fora. Também ficou cada vez mais claro que a vista pelas janelas pelas quais passávamos não era da vizinhança que deveriam ter sido. Vi ruas movimentadas em cidades estrangeiras, montanhas desconhecidas, praias tropicais. E uma ou duas vezes vi paisagens que eu sabia que não existiam em nenhum lugar da terra.

Enquanto caminhávamos, entrei ao lado de Cole. —O que foi aquilo na mesa? — Eu perguntei a ele em um sussurro curioso.

—Os fae vivem de acordo com regras como se fossem leis da natureza, certo? — Ele disse. —Incluindo rituais de etiqueta. Se você insistisse em conversar sobre negócios à mesa, ele teria justificativa para expulsá-la. Caso contrário, ele continuaria comendo até desistirmos e sairmos ou desmaiarmos ou o que for.

—Então você teve que fazê-lo querer sair da mesa? — Eu assumi, e Cole assentiu.

—Pergunta por pergunta é uma das regras mais comuns dos fae. — Explicou. —Eu continuava fazendo perguntas que ele não queria responder. Felizmente, descobri a melhor maneira de irritar as pessoas é algo em que eu sou naturalmente talentoso.

—Como você sabia que funcionaria? — Eu perguntei, sentindo uma estranha combinação de medo e alívio retroativos.

Cole não tinha uma resposta.

Por fim, Greenwood parou diante de um par de enormes portas de madeira esculpidas com a imagem de uma árvore gigante. Seus galhos cresciam além do topo da porta, brotando folhas verdes vivas. Uma águia esculpida estava entre os galhos e uma serpente enrolava nas raízes. Um esquilo de olhos brilhantes empoleirava-se logo acima do buraco da fechadura. Não havia maçanetas, mas quando Greenwood se curvou e sussurrou algo no buraco, a porta se abriu silenciosamente por conta própria.

—Por aqui. — Disse ele, entrando pelas portas. —Se vocês valorizam a sanidade e várias partes do corpo, não toquem em nada.

Cole, Ethan e eu trocamos um olhar, todos nós sentimos que essa era provavelmente a nossa última chance de voltar. Não sabíamos remotamente no que estávamos caminhando, mas eu sabia que era a nossa melhor chance de salvar Ethan. Respirei fundo e segui Greenwood pela porta.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Quatorze


Entramos em uma enorme biblioteca com prateleiras alinhadas nas paredes que subiam pelo menos dois andares. O teto de vidro derramava luz dourada no final da tarde através da sala, embora, quando chegássemos, já estivesse bem antes do meio dia. A sala estendia pelo menos o comprimento de um campo de futebol em qualquer direção, e as portas em arco abertas em cada extremidade implicavam que havia mais além delas. A sala, cheia de parede a parede, tinha coisas em estantes de vidro, mesas de madeira escura e tanques enormes - um milhão de objetos diferentes, fantásticos e mundanos, incrustados de jóias e envoltos em trapos, enormes e pequenos, impossíveis e absolutamente insignificantes. Fiquei completamente impressionada, atordoada com um silêncio reverente e admirado.

—Por aqui. — Disse Greenwood, impaciente, levando-nos através das filas de caixas, passando por um astrolábio de ouro girando no ar a um pé acima do suporte em que estava colocado. O estojo ao lado continha um pesado livro encadernado em couro, do qual baratas e moscas se arrastavam constantemente, apenas para se dissolverem em pó a alguns centímetros de distância. No passado, havia um guarda-chuva vermelho que, apesar de estar em um estojo reforçado com várias fechaduras pesadas, parecia ser completamente normal. Eu tive que lutar contra o desejo de parar a cada poucos metros para encarar cada nova maravilha intrigante que passamos. Muitos deles pareceriam estranhos até para a visão normal. Mas, para meus sentidos mágicos, eles absolutamente se arrastavam com magia. Alguns foram infundidos, a magia fluindo através deles como sangue pelas veias. Outros pareciam completamente mágicos, seus componentes comuns eram uma fachada fina.

Debaixo da minha camisa, eu usava um pingente de madeira, um amuleto que Ethan me deu que me permitiq entendê-lo enquanto ele estava em sua forma de lobo. Até esse momento, tinha sido a peça de magia mais incrível que eu já vi. Fiquei perplexa e fascinada pela habilidade e delicadeza envolvidas em sua criação. Aquele feitiço, que eu havia colocado à noite olhando com tanta admiração, parecia positivamente desajeitado nesse tesouro de encantamentos, como um cisne de origami dobrado por um amador habilidoso ao lado de uma obra-prima.

Certamente, alguns dos itens aqui eram menos delicados em sua elaboração. Havia uma pilha de moedas de prata que não mostrava nenhum traço fractal cuidadosamente dobrada em encanto. Mas mesmo estes queimavam com um tipo de força e emoção crua que me fazia tremer se olhasse por muito tempo. Eles foram carimbados com uma única e poderosa letra, pesada com significado cósmico. Meus sentimentos eram os mais próximos do êxtase religioso que eu já havia experimentado.

Corrigida pelo oceano de dor preso dentro das moedas, pulei quando Greenwood me deu um tapinha no ombro.

—É melhor não olhar por muito tempo. — Ele aconselhou, colocando um braço em volta de mim para me orientar. —Pode ser perigoso.

—O que é tudo isso? — Eu disse, extasiada demais para lembrar que estava com raiva dele. —É incrível... lindo. Olhe para os fractais geométricos daquele! Como eles fizeram isso? E aquele, Deus, o feitiço quase parece vivo, como flores crescendo! Onde você aprende isso? Quem fez isso? Como?

Greenwood levantou uma sobrancelha enquanto eu balbuciei, mas um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca fina.

—Curioso. — Ele disse. —A maioria das pessoas que vê minha coleção quer saber o que faz, não como é feita.

—Bem, eu quero saber isso também. — Eu disse, um pouco sobrecarregada. —Mas você também pode perguntar para que serve uma mesa barroca antiga. É uma obra de arte. O valor está no artesanato, não na utilidade.

—Estou inclinado a concordar. — Disse Greenwood. —Aqui, você notou este vaso? Viu como o feitiço é trabalhado para seguir o padrão na porcelana?

—Isso é incrível! — Eu jorrei, me inclinando para ver. —Olha, é mesmo nas folhas minúsculas!

Cole pigarreou, chamando minha atenção. Cole franziu a testa e Ethan, envergonhado, alternando entre olhar entre o teto e o chão.

O braço de Greenwood ainda estava ao meu redor e encolheu os ombros rapidamente, meu rosto quente. Greenwood recuou, mãos no ar e, com um gesto elegante, nos levou novamente.

Ethan perguntou baixinho, a preocupação apertando seus olhos. —Ele não está trabalhando em algum tipo de encantamento em você ou o que seja, está? — Ethan perguntou em voz baixa, preocupação apertando seus músculos faciais.

—Não. — Eu disse rapidamente, depois pensei duas vezes e me examinei. —Não, acho que não. Isso é uma coisa muito legal! Eu nunca estive com esse tipo de magia antes. É emocionante!

—Tudo bem. — Ethan disse, sorrindo, ainda parecendo preocupado. —Seja cuidadosa.

—Mantenha o foco. — Sugeriu Cole. —Ainda não podemos confiar nesse cara. Se ele tiver a oportunidade, poderia fazer muito pior do que simplesmente nos expulsar.

Eu assenti, lembrando a mim mesma por que estávamos aqui. A vida de Ethan dependia disso. Não era hora de se distrair com coisas legais e brilhantes.

Greenwood nos levou a um dispositivo estranho, com uma variedade de espelhos e lentes de aumento em uma complicada armadura dourada. Era mais alto que Greenwood e atualmente estava sobre uma mesa comprida sobre a qual repousavam vários pequenos objetos encantados.

—Vidro do artífice. — Explicou, enquanto eu me maravilhava com o feitiço incrivelmente sutil nas molduras douradas em torno de cada lente. —Muito raro e muito útil para examinar mágica. Eu o uso para estudar e manter os encantamentos da minha coleção.

—Essa é a moeda da sorte que encontramos no outro dia? — Ethan perguntou, apontando para uma moeda mais brilhante que o normal, deitada em um banco.

—É. — Confirmou Greenwood, atendendo. —O efeito de distorção da probabilidade parece ser um pouco mais forte que o normal. Eu estava tentando discernir a causa. Parece haver um parágrafo no script mágico que fecha a brecha usual de perda/ganho. Até certo ponto.

Ele me ofereceu, e eu o peguei sem pensar, embora Cole tenha feito um barulho de aviso em sua garganta.

—É inofensiva. — Assegurou-me Greenwood. —Moedas da sorte são muito pequenas mágicas. Existem milhares delas em circulação, pelo menos. A maioria das pessoas nem percebe o que tem. Mas elas podem tornar a vida um pouco mais fácil.

—Obrigada. — Eu disse, colocando no bolso do meu vestido. —Eu agradeço.

—Não, obrigado. — Disse Greenwood com um sorriso que não tocou muito em seus olhos. Eu senti que tinha cometido um erro, mesmo que Cole parecesse impaciente, mas nenhuma desgraça caiu sobre nós. Em vez disso, Greenwood acenou para Ethan em direção ao banco, afastando os outros artefatos. —Por favor, sentem-se.

Com um olhar cauteloso em direção à saída, Ethan se sentou na beira do banco e Greenwood ajustou o vidro do artífice, arrastando lentes e espelhos para a posição entre ele e Ethan e ajustando uma série de botões complicados ao lado de cada lente com uma graciosa confiança de um músico tocando um instrumento.

Eu assisti por cima do ombro dele, enquanto imagens estranhas entraram e saíram de foco enquanto Greenwood fazia ajustes - redes de energia, espirais de magia ambiental, vazios misteriosos e, uma vez, uma imagem de um longo e escuro corredor cheio de Velas. Algumas lentes eram de vidro transparente, mas Greenwood olhou através delas e ajustou seu foco, da mesma forma, como se ele visse algo lá que eu não podia.

Finalmente, uma das lentes refletia uma imagem do núcleo da maldição de Ethan. Eu já o havia visualizado enquanto tentava suprimi-lo. Era mais ou menos esférico, como um novelo de fios enrolado, firmemente tecido e emaranhado. Ele apodrecia, queimava e vazava, vermelho lívido e amarelo doentio. Era ao mesmo tempo imundo e patético, inspirando pena e nojo... e náusea.

—Essa é desagradável. — Disse Greenwood à toa. —Maldições de monstros são raras hoje em dia, e essa é forte. Eu garantiria quem fez isso há algum tempo.

—Existe algo que você possa fazer para quebrá-la? — Eu perguntei. —Ou nos dizer quem pode?

—Deixe-me ver. — Greenwood cantarolou, discando as lentes para mais perto. —Eu posso ver por que você teve dificuldade. O lançador definitivamente se esforçou para esconder sua assinatura. Eu quase diria que não havia, mas isso é impossível.

—Por quê? — Ethan perguntou, mudando para ver através das lentes.

—Fique quieto. — Disse Greenwood bruscamente, inclinando a lente e ajustando algo novamente. —É impossível, porque isso significaria que esta é uma maldição autoinfligida-

—Cole mencionou isso antes. — Eu disse. —Eles são realmente fracos, não são?

—Exatamente. — Confirmou Greenwood. —Mesmo as maldições auto-infligidas mais fortes nunca fazem nada que não possa ser descartada como coincidência ou acidente. Elas nunca poderiam se manifestar fisicamente dessa maneira. Não, esse é definitivamente o trabalho de um indivíduo muito qualificado. Alguém com muito conhecimento prático sobre maldições. Francamente, quase parece que-

Greenwood congelou, encarando a maldição. Um momento depois, ele começou a ajustar rapidamente os mostradores, aproximando ainda mais.

—Não. — Ele murmurou. —Não, não pode ser.

—Não pode ser o que? — Ethan perguntou, ficando um pouco pálido. —O que há de errado?

—Ele não ousaria. — Zombou Greenwood, ainda claramente falando consigo mesmo. Ele rangeu os dentes enquanto olhava para a lente a menos de uma polegada de distância, examinando as minúsculas linhas de texto mágico escritas nos fios atados da maldição. —Aquele pequeno duende, ele não ousaria!

Ele se lançou em uma diatribe em um idioma que parecia água se movendo sob gelo ou vento através de galhos nus. A julgar pela velocidade e vitríolo por trás de suas palavras, ele não gostou do que viu através das lentes.

Ele empurrou o copo do artífice abruptamente, rosnando para si mesmo na mesma língua e saiu correndo.

—Ei, o que você achou? — Eu liguei para ele. —O que está acontecendo?

Ele não respondeu, correndo em direção a um suporte de guarda-chuva cheio de bengalas, cajado e paus. Ele os examinou, deixando alguns de lado com um gesto impaciente. Alguns atingiram o chão e soltaram faíscas ou ficaram lá, cantarolando intensamente enquanto vibravam através do azulejo. Finalmente, ele emitiu um ruído vitorioso e sem palavras, enquanto puxava uma velha bengala de madeira com um buraco na cabeça densamente atado.

—Greenwood! — Eu gritei, tentando chamar sua atenção. —O que está acontecendo?

Em vez de responder, ele bateu a bengala no chão. Com um eco que sacudiu as vidraças do telhado, uma porta se abriu no ar diante dele. Nada como o buraco irregular que o feitiço de teletransporte de Uther havia feito, suas nítidas bordas redondas enroladas e floridas com floreios simétricos de poder, ao mesmo tempo geométricos e orgânicos, como uma janela art nouveau para outro mundo.

Sem outra palavra, ele avançou para dentro dela. O choque diminuiu minhas reações, antes que eu corresse para frente. Ethan e Cole gritaram meu nome, mas então eu já tinha colidido com a superfície do portal que se fechava rapidamente, que rompeu minha pele como água fria enquanto o seguia para o desconhecido.

 

 

 

 

 


Capitulo Quinze


O portal se fechou atrás de mim com pressa apenas um segundo depois que eu o atravessei, a sensação de água fria ainda persistindo.

Fiquei imediatamente impressionada com uma sensação de vertigem e confusão severas. Eu não estava em lugar nenhum na terra.

Um espaço incomum de lavanda se estendia ao meu redor, o ar e a terra da mesma tonalidade azul-púrpura suave, se o ar fosse de fato ar - sólido e presente, como uma névoa espessa, mas com uma textura como espuma ou chantilly. Essa textura se chocou contra a minha pele e eu a vi muito mais longe do que deveria. Não consegui encontrar o horizonte porque a terra não era plana. Ela subia e descia em ondulações e cavidades como um cobertor de cetim, captando luz em suas curvas em iridescência holofílica.

Não consegui encontrar um ponto em que as colinas distantes obscurecessem minha visão. Que luz produzia sombras profundas e cintilantes e arco-íris efêmeros na superfície de seda do solo? Onde estava o sol? Lutei para racionalizar o que vi, imaginando a terra curvando-se ao meu redor como uma esfera. E, no entanto, eu também tinha uma impressão distinta do céu, mesmo que apenas por causa das cidades e castelos brilhando como nácar e mancha de óleo, que pareciam estar mais enraizados nele do que no chão em que eu supostamente estava.

—Venha comigo! — Uma voz gritou, parecendo impossivelmente distante e depois como um sussurro no meu ouvido. —Se você não quer se perder, não deve demorar.

Eu me forcei a suportar a terrível visão sem fim à minha frente, para onde Greenwood estava, batendo com o pé impaciente. Ele olhou perto o suficiente para tocar, mas quando eu o alcancei, a distância entre nós poderia ter sido de quilômetros. Náusea subiu em mim, que eu lutei para suprimir. Eu fiz um som desumano de um animal em terror absoluto, meu cérebro lutando para compreender.

—Você está bem. — Gritou Greenwood. —Você não está morrendo, corre um risco bastante mínimo e, se você se apressar, sairemos daqui a pouco.

Agora isso era motivação. Hesitei de qualquer maneira, sem saber se caminhar era algo que eu realmente poderia fazer neste pesadelo. Meu corpo não foi construído para quaisquer leis que este lugar obedecesse. Meus músculos ainda poderiam se contrair, meu sangue ainda bombearia? Obviamente, meus neurônios ainda disparavam, mas Deus, por quanto tempo? Eu estava no fundo de uma piscina, prendendo a respiração, momentos longe de ficar sem ar?

Uma mão agarrou meu braço, dedos enrolando sem parar em torno de uma coluna da minha própria pele e músculo muito longe para estar sob meu próprio controle. A mão, que deveria ter sido Greenwood, embora ele ainda parecesse impossivelmente distante, me puxou para frente e, tropeçando, aprendi a mover minhas pernas novamente.

—Pronto, viu? — Greenwood disse com um bufo. —Não é tão difícil, é? Agora, apresse-se!

Ele me soltou, virou-se e, em um instante, tornando-se um local pouco visível no horizonte. Corri para acompanhá-lo, meu coração se apavorou com o pensamento de ser deixada para trás. Eu dei três ou quatro passos e bati diretamente nas costas dele.

Com um suspiro sofrido, Greenwood me ajudou a levantar. Eu caí? Quando eu caí? No que eu pousei? Eu cheguei a terra? Ele colocou um braço em volta de mim para me guiar para a frente, o que eu apreciei profundamente. Eu ainda não tinha cem por cento de certeza de como minhas pernas funcionavam, e eu estava assustada e sem sentido e queria segurar alguém. Eu desejei o conforto da proximidade de Ethan. Ele teria odiado isso, e eu não acho que Greenwood teria parado para ajudá-lo. Eu não tinha certeza do por que ele parou para me ajudar.

—Estou ajudando você pela mesma razão que lhe dei a Vela. — Disse Greenwood, e percebi com um leve choque que estava falando quase sem parar desde que entrei no portal em um fluxo aterrorizado de consciência. Fechei a boca e me concentrei na sensação de tê-la fechada. Quando dominei o não falar, tentei falar novamente.

—Você ainda não me disse por que me deu a Vela. — Eu disse. Minha voz soou estranha, como ouvir uma gravação minha tocada através de um gramofone em outra sala. E falar deliberadamente enquanto caminhava era difícil.

—Eu queria ver o que aconteceria. — Disse Greenwood casualmente. —Não há um descendente de Aethon tão poderoso quanto você em várias centenas de anos. Eu queria ver o que você faria.

—É isso aí? — Eu perguntei, um pouco atordoada.

—É isso aí. — Ele confirmou. —Joguei um curinga em um jogo que não estava jogando, e se quero ver como o jogo termina, não posso permitir que meu curinga seja perdido nas Terras Distantes.

—É assim que este lugar é? — Eu perguntei, arriscando um olhar ao meu redor novamente, do qual me arrependi um momento depois. —As Outras Terras?

—Uma delas. — Disse Greenwood. Seus passos eram impossivelmente longos, estendendo-se para sempre à nossa frente, comendo terra. E a atmosfera lilás se juntou ao seu redor, envolvida em seus longos membros e cabelos dourados. Ele usava um terno da cor do crepúsculo agora, em vez das calças simples que ele usava quando atravessamos o portal. O casaco de gola alta, as rendas na garganta, ecoavam como algo antigo ou equestre, mas o delicado bordado na gola e nas mangas transbordava de símbolos muito mais antigos e uma espécie de vegetação densa e profunda que me lembrava as Tapeçarias do Unicórnio.

—Estas são as terras longínquas. — Explicou. —Título descritivo, eu sei. Aqueles que sabem com que frequência os usam para viajar.

—Viajando para onde? — Eu perguntei, tão confusa quanto fascinada e enjoada. —Como?

—Qualquer ponto do reino. — Disse Greenwood, com um gesto abrangente de sua equipe. —Mas acho-os mais convenientes para navegar na Terra.

Vendo minha confusão, ele suspirou. —Alguém lhe deu a comparação da bolha de sabão, não foi? — Ele perguntou, e eu assenti. —Bobagem redutora. As Outras Terras não estão conectadas pela Terra. Elas não são uma extensão dela ou nascem dela. A Terra é exatamente o mesmo tipo de coisa que elas são. Realidades se sobrepõem como casca de cebola, ocupando o mesmo tempo e espaço em diferentes comprimentos de onda, nenhuma maior ou mais significativa que a outra, não importa o quanto os habitantes de cada um possam querer reivindicar que sua casa é superior.

—Eles ocupam o mesmo espaço, entende? Essa é a parte importante. Mas o conceito de distância é diferente nas Terras Distantes. Para permanecer ofensivamente redutivo, um passo aqui se traduz em uma magnitude muito maior de distância na Terra. Com o trânsito, pode levar uma hora ou mais para chegar aonde estou indo. Dessa forma, leva apenas um momento, dando à pessoa que vou matar muito menos tempo para perceber que estou indo e escapando.

—Oh. — Eu disse, tentando processar nada disso e não estava certa de ter conseguido. —É isso que Uther faz?

Disfarçado, Greenwood disse: —Esse truque? É claro que não. Ele nunca conseguiu reunir o poder de realmente passar entre reinos. Ele mal consegue ficar um pouco fora de fase com a Terra e dificilmente pode sustentá-la por mais que um momento. Ele ele o usa para atravessar paredes e parecer mais impressionante. Ele acha que está sendo esperto, estacionando atrás da biblioteca e caminhando diretamente para a sala de estudo como se não tivéssemos visto seu miserável junker amuado atrás das lixeiras como um gato indigente. Idiota pomposo.

—Espere. — Eu disse, quando ele parou e me soltou. —Você disse que vai matar alguém?

—Sim. — Disse Greenwood, arreganhando os dentes em um sorriso que mais parecia um rosnado. Ele bateu no chão com seu cajado e outro portal foi aberto, onde foram reveladas ruas abençoadamente normais de uma terra boa e sólida. Greenwood entrou e eu segui um segundo atrás dele.

Engoli em seco no ar frio da noite com alívio, passei meus braços em volta de mim e tomei um momento apenas para apreciar meus membros sendo todos do comprimento certo e tudo tendo geometria que fazia sentido. Mas não tive muito tempo para gostar de voltar a um universo que fazia sentido.

Greenwood correu para a frente, as botas estalando na calçada molhada. Era começo da noite e parecíamos estar em um beco no centro da cidade em algum lugar, sem saídas. Os prédios a fechavam completamente. A única maneira de entrar ou sair era uma porta de segurança indefinida em uma extremidade estreita. Greenwood caminhou em direção a ela. Ele bateu com força no final do cajado e uma janela se abriu. O holofote lotado de mariposas acima da porta projetava a abertura na sombra, tornando a pessoa atrás dela invisível.

—Senha. — Exigiu uma voz.

—Não visitei recentemente. — Disse Greenwood, com seu sorriso mais charmoso. —Acredito que foi 'Amanhecer de Tahitian' da última vez?

—Não usamos nomes de coquetéis como senhas há anos. — Disse o cara atrás da porta. —Tente novamente.

—Isso é urgente. — Disse Greenwood, parecendo um pouco tenso. —Era uma senha válida da última vez. Se você pudesse apenas-

—Não posso nada. Se você já esteve aqui antes, sabe como o chefe é sobre segurança.

Eu pulei quando outro portal se abriu no outro extremo do beco. Um jovem casal saiu correndo, o cara enfiando o que parecia uma antena de carro em seu casaco. Eles estavam a uma pequena distância de nós, esperando sua vez na porta enquanto Greenwood discutia com o homem da porta.

—Nem todo mundo tem tempo para acompanhar essas coisas! — Greenwood disse frustrado. —Ele não pode esperar que as pessoas acompanhem se ele está sempre mudando. Ele me conhece. Se você pudesse apenas trazê-lo aqui...

—Ele está ocupado.

—Se você apenas mencionar meu nome.

—O chefe não tem tempo para lidar com todas os fae obscuras que tentam se infiltrar pelas costas. Se você quiser entrar sem a senha, tem que derramar sua mágica na porta da frente como todo mundo.

—Eu não tenho tempo-

—Você se afasta e deixa os clientes reais passarem, senhor?

Lívido, Greenwood se afastou para o jovem casal se aproximar, afastando-se o suficiente para o porteiro ficar satisfeito. Fui com ele, minhas mãos nos bolsos, mexendo na moeda da sorte.

—Nita, seja bem-vinda de volta. — Disse ele. —Senha?

A jovem inclinou-se para sussurrar algo, o som bem mascarado pelo ruído ambiente do beco. A porta se abriu, o som fraco da música e da conversa escapando, e o casal entrou. Mas quando Greenwood se aproximou, fechou novamente.

—Se você me desse um momento de vantagem da dúvida. — Disse Greenwood, com um gesto frustrado. —Garanto-lhe que Julius me conhece!

—Então entre pela frente sem sua mágica e obtenha a senha dele. — Disse o porteiro. —Porque você não está entrando aqui.

—Hum. — Eu limpei minha garganta, parando na frente de Greenwood. —Se eu souber a senha, posso trazê-lo comigo?

—Os hóspedes são permitidos. — Disse o homem da porta com óbvia relutância.

—É lobelia erinus. — Eu disse.

Suspeito, ele apertou os olhos para mim através da janela e abriu a porta.

—Cause qualquer problema e eu vou expulsá-lo pessoalmente. — Disse o homem da porta. —E eu vou me certificar de que dói.

—Finalmente. — Greenwood bufou e empurrou a porta e eu o segui, curiosa. Eu pulei quando a porta se fechou. O porteiro era uma parede muscular de um metro e oitenta de altura, sob a pele azul-acinzentada, como pedra viva. Olhos amarelos me encaravam entre presas salientes e chifres grossos, apontando para a frente. Uma cauda longa voava atrás dele como a de um gato bravo. Ele não pareceu surpreso com o meu flagrante, boca aberta olhando.

—Acostume-se a isso, querida. — Disse ele. —Há coisas mais estranhas lá dentro.

Alcancei Greenwood.

—Como você soube a senha? — Ele perguntou, soando um pouco curioso.

—Mariposa morta no holofote. — Expliquei. —Eu apenas ouvi enquanto a outra pessoa falava com o porteiro.

—Inteligente. — Disse Greenwood. —Eu deveria dizer a Julius que ele tem um buraco na segurança dele.

Ele caminhou rapidamente pelo longo corredor que dava para a porta de segurança. Havia quatro portas nesse corredor cobertas por cortinas de miçangas, símbolos que eu não reconhecia esculpidos acima de cada uma. Greenwood enfiou a cabeça por cada cortina e vi vislumbres de pessoas em mesas e cabines, conversando, bebendo e comendo como de costume. Exceto que muitas dessas pessoas eram clara e obviamente não humanas. Vi asas, cascos, caudas, chifres, tentáculos e coisas que não consegui descrever. Foi o suficiente para me fazer pensar se as Terras Distantes não haviam permanentemente mexido no meu cérebro.

No final, o corredor se ramificou, levando em direção a mais das pequenas salas de jantar, e outra porta estava coberta por uma cortina pesada. Greenwood verificou essa também, e vislumbrei a frente do estabelecimento. Era um bar grande e confortavelmente casual, com uma atmosfera de pub distintamente do velho mundo. Todos na frente pareciam humanos, embora meus sentidos mais mágicos soubessem que irradiavam poder. Havia um punhado de normais entre eles, mas este era claramente um lugar para pessoas como eu. A comunidade mágica, ali mesmo, esperando por mim. Havia também uma quantidade absurda de energia ligada nas paredes, no chão e até nas mesas de madeira. Este lugar estava encantado como o inferno.

Um homem mais velho, de cabelos grisalhos, bonito e distintamente musculoso sob o colete de couro, atendia no bar, rindo de uma piada compartilhada pelo homem cuja bebida ele servia. Enquanto Greenwood examinava a sala, o barman nos viu. Ele largou a garrafa que segurava e se dirigiu a nós, mas Greenwood já estava se afastando por um dos corredores.

—Gwydion!

O barman atravessou a cortina e correu atrás de nós, mas Greenwood o ignorou.

—O que quer que ele tenha feito desta vez, eu sei que ele provavelmente merece o que está por vir. — Disse o barman, tentando acalmar Greenwood. —Mas você conhece as regras. Se você fizer isso aqui-

—Eu não vou matá-lo em seu precioso bar, Julius. — Disse Greenwood bruscamente, puxando outra cortina de contas e deixando-a cair em decepção. —Nem colocarei em risco nenhum de seus clientes. E tenha certeza de que a surra que ele vai ter é ricamente merecida.

—Você sabe que eu confio em você. — Protestou Julius. —Mas meus outros convidados-

Greenwood abriu outra cortina e instantaneamente um vento gelado correu pelo corredor, me esfriando até os ossos e arrancando os cabelos de Greenwood da fita, fazendo-o voar em torno de sua cabeça. Ele tinha a aparência de um deus vingativo.

—Gilfaethwy! — Greenwood rugiu.

Em uma mesa no centro da sala, um homem que parecia muito parecido com Greenwood, de fato, sentava-se como um cervo com um copo de cerveja nos lábios. Todos na sala olharam para Greenwood no momento, mas o medo nos olhos do homem deixava claro que ele sabia exatamente para que estava encrencado. Houve um momento tenso de quietude. E então o homem cuspiu sua cerveja diretamente em Greenwood. Ele explodiu em vapor no ar, obscurecendo a visão de Greenwood. Greenwood atirou-o para fora do caminho com uma rajada de vento frio e um gesto de corte furioso, mas o homem desapareceu.

Eu gritei e pulei para fora do caminho quando um grande esquilo marrom passou correndo pelos meus pés.

—Gilfaethwy, seu merdinha traiçoeiro! — Greenwood gritou. —Você não vai ficar longe de mim tão facilmente!

Dobrou-se como um mosaico estranho e, um instante depois, um falcão voou atrás do esquilo com um grito de raiva.

—Não no bar! — Julius gritou atrás deles. —Não no bar!

Bateu palmas com as mãos poderosas e os anéis de prata nos dedos brilhavam com um trabalho de corrida intrincado. Um portal se abriu na frente do esquilo, que tentou se esquivar dele, mas com outro gesto de Julius, foi varrido, seguido de perto pelo falcão.

Corri atrás deles e Julius correu atrás de mim, pulando através do portal, que dava para o mesmo beco por onde entramos. O falcão pegou o esquilo enquanto eu observava, voando alto no ar. Mas um segundo depois o esquilo torceu e se tornou uma cobra grande, que se levantou e mordeu o falcão com presas semelhantes a punhais. O falcão caiu no telhado de um prédio próximo com um grito de dor.

—Greenwood! — Eu gritei horrorizada.

Julian bateu palmas novamente e uma escada apareceu, as peças retiradas de mil lugares secretos do outro lado do beco. Não parei para questionar. Subi rapidamente, aterrorizada por encontrar Greenwood morto no topo.

Em vez disso, os cascos agitados de uma cabra quase tiraram minha cabeça. Um rato mexeu-se em seus pés, que ele tentava furiosamente pisar. Um segundo depois, o rato se tornou um grande veado, jogando a cabra no ar com seus chifres. Um momento depois, a cabra era um lobo, afundando os dentes no flanco do veado.

—Oh, eles estão nisso agora. — Disse Julius, subindo ao meu lado. —Melhor ficar fora do caminho.

—Qual é Greenwood?— Eu perguntei, quando o cervo se tornou um leão para devorar o lobo, que se tornou uma vespa para picar o rosto do leão, que se tornou uma andorinha para comer a vespa.

—Gwydion? Só Deus sabe. — Disse Julius com um sorriso, me dando um tapinha no ombro. —Não se preocupe muito. Quando eles ficam assim, é melhor deixá-los sair do sistema. Eles vão se desgastar em breve. Isso provavelmente é um par de décadas de poder armazenado está queimando agora. Apenas aproveite o show.

Ele acenou com a mão e um saco de pipoca apareceu, que ele me ofereceu. Recusei, correndo pelo telhado quando a vespa se tornou um gato e arrancou a andorinha do ar, que se tornou um coelho e saltou para o outro lado do telhado. O gato tornou-se um galgo e perseguiu, os dois pulando através da abertura para os azulejos do prédio seguinte.

—Quem é aquele cara? — Eu perguntei, com o coração acelerado enquanto procurava um caminho a seguir, pegando uma tábua solta e jogando-a através da abertura, feliz por não ser grande.

—Gilfaethwy. — Explicou Julius, segurando o quadro para mim enquanto eu corria. —Irmão de Gwydion. Mais ou menos.

—Tipo? — Eu perguntei, segurando-o para que ele pudesse atravessar também, mas ele apenas caminhou ao lado, como se o ar fosse solo sólido.

—Bem, as Fae não têm famílias como as descreveríamos. — Disse Julius. —Mas... eu realmente não sei o quanto você sabe sobre os tribunais?

—Eu sei que existem três deles e que os dois principais parecem ser uns idiotas. — Resumi.

Julius assentiu, as mãos levantadas em um gesto. —praticamente.

—Quando uma novo fae é criada na Corte Seelie. — Disse ele. —Uma contraparte igualmente comparada aparece instantaneamente nos Unseelie e vice-versa, para que a corte fique perfeitamente equilibrada. É por isso que eles começaram a recrutar Faes Selvagens, embora isso não tenha acontecido. Não funcionou melhor para eles. Gilfaethwy é o oposto de Gwydion, perfeitamente igual a ele em todos os aspectos.

—Então não há chance de Gelf, Gilfeth... que seu irmão o derrote? — Eu perguntei. O galgo havia pego o coelho, apenas para soltá-lo latindo quando se tornou um porco-espinho. O galgo tornou-se um texugo, golpeando o porco-espinho com garras longas e raivosas, e o porco-espinho tornou-se uma raposa, correndo ao redor do texugo para morder seu flanco.

—Eu não diria nada. — Disse Julius, comendo um punhado de pipoca. —Ou eles não continuariam fazendo isso a cada poucos anos. Mas é bem magro.

—Não devemos tentar ajudar Greenwood, quero dizer, como você o chamou?

—Gwydion. — Repetiu Julius. —Esse é o nome verdadeiro dele, ou parte dele. Isso lhe dá um pouco de poder sobre ele, o que ele odeia, mas sinceramente acho que ele poderia usar mais algumas pessoas em sua vida com o poder de impedi-lo de fazer coisas estúpidas. E você poderia ajudá-lo, se você quiser, supondo que você possa descobrir qual é qual. Mas jurei não interferir, desde que não estejam no meu bar ou prejudiquem meus convidados.

—Ah, merda, lá estão eles. — Murmurei quando o texugo se tornou um macaco, subindo pelos telhados, e a raposa se tornou um leopardo para persegui-lo.

Corri atrás deles, esforçando-me para acompanhar as mudanças entre os prédios e deslizei em telhas e telhas. Eu deveria ter caído cem vezes... quebrar meu pescoço ou pelo menos um braço caindo em uma lixeira do terceiro ou quarto andar. Parkour não era uma habilidade que eu realmente tivesse perseguido. E, no entanto, toda vez que eu pensava em escorregar, meu pé se apoiava nos ladrilhos molhados. Toda vez que pensei que estava prestes a cair, consegui me recuperar bem a tempo. Mas não tive tempo de questionar minha sorte repentina.

Antes que o leopardo pudesse pegar o macaco, o macaco derrapou no meio de um jardim abandonado, as camas secas e a gaiola suja e vazia de pombos, um fundo estranhamente doméstico para a cena exótica. O macaco se virou quando o leopardo se fechou e se tornou um crocodilo, com a mandíbula aberta. Ele pegou o leopardo com um golpe de seus dentes poderosos e torceu, jogando o grande gato em direção à gaiola de pombo. Aterrissou com um barulho, se transformando em um homem enquanto eu observava. Por um momento eu ainda não sabia dizer quem era.

—Pelo amor de Deus, Gwydion! — O homem, que agora assumi ser Gilfaethwy, reclamou, sentando-se. —Pensei que não concordamos com nenhum crocodilo da última vez. Eles não são justos e você sabe disso.

Ele parecia sem fôlego, suado e dolorido, o que era uma aparência estranha de se ver em um rosto tão parecido com o de Greenwood, geralmente tão composto e refinado, mesmo quando estava com raiva assassina.

O crocodilo voltou para Gwydion e, por um momento, também não o reconheci. Seu rosto ainda era o mesmo, mas seu cabelo era mais pálido, mais prateado que dourado, e seus olhos eram sempre verdes, não o verde brilhante do verão que eu lembrava. Ele parecia cansado também, com a respiração trêmula.

—Para o inferno com justiça! — Gwydion gritou. —Você já jogou todas as regras do nosso pequeno acordo pela janela!

—Tenho certeza de que não sei do que você está falando. — Disse Gilfaethwy, olhando para qualquer lugar, menos para o irmão. —Eu não tenho sido nada além de fiel ao nosso acordo. Eu mantive minha cabeça baixa, não fiz mágica-

—Então por que eu tenho um lobisomem em minha casa com sua assinatura na maldição dele? — Gwydion rosnou. A temperatura no telhado caiu vários graus quando um vento frio respondeu à raiva de Gwydion.

Gilfaethwy estremeceu, depois riu timidamente. —Foi esse que você encontrou, não é? — Ele disse.

—Há mais de um ?!

—Claro que não.

—Você está mentindo, seu miserável-

Quando Gwydion deu um passo em direção a Gilfaethwy, ele se transformou em um furão e disparou para a beira do telhado. Gwydion tornou-se imediatamente uma coruja para voar atrás dele.

—Chega de merda de animal estúpido! — Gritei de frustração, atacando com meus poderes. Um enxame de insetos mortos surgiu diante do furão, levando-o de volta às garras que aguardavam dois ratos desidratados, deixando a coruja de Gwydion flutuando no ar. O furão torceu, transformando-se em algo maior, um urso, eu acho, mas eu já estava diminuindo a distância entre nós, batendo as duas mãos em seu pelo. O animal gritou e se debateu para fugir enquanto a necrose se espalhava por suas costas. Eu sorri com uma satisfação sombria quando ela voltou para Gilfaethwy e eles caíram no chão, arranhando como sua própria pele em horror.

—Tira isso! — Ele disse horrorizado. —Tira isso!

—Eu vou. — Eu disse, minhas mãos prontas para fazer mais. —No minuto em que você me disseer o que fez com Ethan.

—Inseto! — Gilfaethwy sibilou para mim, o ódio em seus olhos como um incêndio, o telhado de repente no meio do verão quente, o ar fervendo. Os canteiros de flores secas levantaram e estouraram, transbordando de vida verde repentina, espinhosa e retorcida. Ele cresceu com uma velocidade terrível, avançando em minha direção enquanto ele se arrastava pelo telhado, o rosto contorcido de raiva e desprezo insondáveis. —Como você ousa pôr suas mãos sujas em mim? Você sua verme, sua macaca pálida e trêmula! Eu poderia desmembrar uma molécula de cada vez! Eu poderia queimar você por toda a eternidade e negar-lhe o direito de uivar de dor! Eu sou um deus para você!

Por um momento, vendo aquele repentino ódio, acreditei nele. Eu me afastei, meu medo intenso, mas um segundo depois uma brisa fria baniu o calor quando Gwydion plantou um salto nas costas de Gilfaethwy, exatamente onde minha necrose era pior. Gilfaethwy gritou de dor, caindo de bruços. Gwydion não tirou o pé. Atrás dele, a geada matou a onda de vegetação que Gilfaethwy havia convocado, secando-a para nada novamente.

—Se você tivesse o poder de fazer algo assim, nenhum de nós estaria aqui. — disse Gwydion, olhando para o irmão com um leve desgosto. —Diga à mulher o que ela quer saber, ou eu deixarei que o veneno nas suas costas o devore. Um gostinho da morte mortal.

—Você condenaria a nós dois. — Gilfaethwy assobiou no betume do telhado.

—Você parece contente em fazer o mesmo. — Disse Gwydion friamente, torcendo o calcanhar nas costas de Gilfaethwy. —Além do mais, duvido que isso o mate. Mas tenho certeza de que machucaria.

—Por que você amaldiçoou Ethan? — Eu exigi, aproximando-me novamente. —E como a quebramos?

—Eu não o amaldiçoei. — Afirmou Gilfaethwy.

Gwydion afundou o calcanhar novamente.

—Eu não fiz! — Gilfaethwy gritou, a voz estridente com dor. —Eu juro por tudo que é sagrado!

—Como se você já considerasse algo sagrado. — Zombou Gwydion. —Jure pela sua mão direita e saiba que terei muito prazer em removê-la se você mentir.

—Juro pela minha mão direita. — Disse Gilfaethwy com um grunhido amargo. —Eu não o amaldiçoei. A maldição já estava lá. Eu apenas... dei um pequeno empurrão.

Ele riu, uma risadinha nervosa e histérica, e Gwydion o chutou.

—Seu idiota! — Ele gritou. —Você está mentindo, seu sem valor-

—Foi apenas um pequeno empurrão! — Gilfaethwy disse através de sua risada delirante. —Eu precisava! Eu não podia contar para não! Oh, se você o visse, todo aquele ódio pulsando em seu peito, todo torcido em um nó do tamanho do seu punho. Você teria feito isso também! Eu tinha que ver o que aconteceria!-

Gwydion se encolheu e lembrei-me de suas palavras mais cedo, certa de que ele também se lembrava delas.

—E era apenas um pouco de poder. — Disse Gilfaethwy. —Menos do que usamos aqui hoje à noite! Ninguém notou!

—Não importa quanta energia você usou, seu miserável e inútil desperdício de magia! — Gwydion disse, arrancando os cabelos em frustração. —Você o usou em um ser humano! Interferência direta, a única coisa que todo o nosso acordo depende, a única coisa proibida! Foi notada. Eu garanto a você, e eles estão esperando, segurando-o sobre nossas cabeças como a espada de Dâmocles, por o momento perfeito para destruir nós dois!

—Oh, não seja tão pessimista. — Disse Gilfaethwy, rolando de costas e parecendo ter se arrependido. —O que há com o seu tipo sendo tão severo o tempo todo?

—Eu não sou severo. — Disse Gwydion. —Eu simplesmente não quero ser eliminado da existência porque você não pode controlar seus impulsos!

—Tanto faz! — Eu interrompi, confusa e sem paciência. —Diga-nos como desfazer! Como quebramos a maldição?

Gilfaethwy apenas riu mais - gargalhando alto e enlouquecido. Olhei para Gwydion em busca de algum tipo de explicação, mas ele balançou a cabeça.

—Tem que haver algo que ele possa fazer! — Eu disse, passando por Gilfaethwy para pegar Gwydion pelo braço. —Ele causou isso! Tem que haver uma maneira de consertar!

Gwydion franziu os lábios, franziu as sobrancelhas e esfregou as têmporas.

—Ele está dizendo a verdade. — Disse ele. —Não há nada que ele possa fazer. Ele não amaldiçoou seu lobisomem.

—Então quem fez? — Eu implorei. Tinha que haver algo, pelo menos uma vantagem. Qualquer coisa para dar a Ethan um pedaço de esperança.

Gwydion me encarou com aqueles olhos escuros e a esperança se dissolveu.

—A maldição é auto infligida. Ele fez isso consigo mesmo.

Capitulo Nove


Durante a hora seguinte, Cole me ensinou uma dúzia de aspectos diferentes da necromancia básica, alguns dos quais eu nunca havia experimentado antes. Novamente e novamente, o resultado foi o mesmo. Eu era como um brigão de bar, toda força bruta e nenhuma técnica, tentando aprender judô. No início da tarde, eu estava suada e exausta, e Cole parecia igualmente tenso. Ethan estava sentado no pátio nos observando, ocasionalmente cochilando, Mort deitado a seus pés.

—Você precisa aumentar sua energia em um ponto. — Disse Cole. —Um ponto!

—Um ponto é muito difícil. — Eu disse, incomodando-o com uma nuvem de mosquitos. —Mãos são mais fáceis!

—Mãos não funcionam! — Cole pegou os mosquitos e os enviou de volta para mim, e eu retaliei enviando um pardal morto para aninhar em seus cabelos. —Você deveria estar cercando e, em vez disso, está lutando com um tapa!

Ethan riu do pátio, tanto pelas palavras de Cole quanto pela visão dele gritando e espancando o pardal tentando dar uma merda de pássaro empoeirada em seus cabelos.

Ele me mostrou como causar a morte celular direcionada - a mesma técnica que Aethon havia usado para secar partes de nós durante a nossa luta. Eu não era boa nisso. Eu também não era muito boa em controlar muitas pequenas coisas ao mesmo tempo. O mesmo vale para identificar coisas mortas à distância ou direcionar uma única coisa morta-viva por meio de uma série de ações complicadas. Eu era muito boa em foder tudo.

—Por que eu sou tão ruim nisso? — Eu reclamei, esfregando as mãos no rosto.

—Você não é. — Disse Cole, exasperado. —Você mal começou. Você esperava ser a mestre de tudo de uma vez?

—Mais ou menos! — Eu disse. —É suposto ser instintivo, e eu tenho lidado com isso a vida toda. Entre isso e a Vela, eu deveria ser incrível nisso!

—Bem, supere isso. — Disse Cole, impaciente. —Isso leva tempo e prática diária. E você tem feito o possível para fingir que não existe há vinte anos. Vai demorar um pouco para ficar boa nisso.

—Eu não tenho esse tipo de tempo. — Eu disse. —Eu precisava ter sido boa o suficiente para enfrentar Aethon ontem.

—Não é assim que funciona. — Disse Cole. —Tudo bem. Tudo bem, vamos tentar isso. Você está pensando demais e adivinhando a si mesma. Você precisa se mover instintivamente.

Ele se virou, olhando em volta por um momento e, finalmente, pegou um grande graveto no mato coberto de mato.

—Vou tentar bater em você com um pau. — Explicou ele. —Você tenta me impedir com a coisa da necrose.

—E se eu realmente bater em você com isso? — Eu perguntei preocupada.

—Francamente, acho que não. — Disse Cole. —E se você conseguir, você conseguiu curar o vira-lata, você pode me curar. Estou curioso para ver isso em ação novamente, de qualquer maneira. Você está pronta?

Ele levantou o graveto. Olhei para Ethan, que parecia um pouco preocupado. Mas respirei fundo e me firmei.

—Tudo bem, eu estou realmente-

Cole já estava balançando o galho na minha cabeça com força total antes que as palavras saíssem. Eu gritei e saí do caminho apenas para ele me bater com força nas costas com ele.

—Ow! — Eu gritei, correndo para fora do seu alcance. Um vergão dolorido surgiu nas minhas costas, mais largo que o meu polegar. —Jesus, merda, isso dói!

—É suposto. — Disse Cole. —Então me pare da próxima vez. Você está pronta?

—Não! — Eu gritei. Cole colocou a ponta do graveto na terra e se apoiou nela, esperando. Eu olhei para ele, ofendida, minhas costas ainda doendo, mas eu sabia que não podia parar o treinamento aqui. Suspirei. —Tudo bem, eu-

Mais uma vez, ele lançou para mim, balançando com força total. Eu me afastei do caminho e estendi a mão, tentando imaginar o ponto agudo da energia. Nada aconteceu, exceto que ele me acertou na cabeça com o bastão.

—Filho da puta! — Eu gritei, caindo na grama, sentindo como se minha cabeça estivesse aberta. —Que porra é essa!

—Merda, desculpe, você está bem? — Cole perguntou, ajoelhado na minha frente. Ethan também correu pela grama para me verificar. Passei a mão pelo couro cabeludo para procurar sangue e não o encontrei.

—Sim, eu estou bem. — Eu disse, rangendo os dentes com a dor que irradiava pela minha cabeça. —Apenas tente evitar a cabeça da próxima vez, por favor?

—Se isso se tornar uma técnica de treinamento regular. — Disse Ethan, com o braço em volta de mim. —Sugiro investir em capacetes.

—Sim, isso pode não ser uma má idéia. — Admitiu Cole, de má vontade.

—Eu poderia ajudar um pouco? — Ethan perguntou. —Tive Tae Kwon Do durante toda a escola e, depois da maldição, fiz algumas lições de reciclagem. Achei que a disciplina poderia ajudar, sabe? A meditação é realmente muito útil.

—Estou tentando ensiná-la a apodrecer a carne das pessoas enquanto ela ainda está ligada a elas. — Disse Cole, impaciente. —Não praticar Kung Fu.

—Só estou dizendo. — Ethan levantou as mãos na defensiva. —Se vocês dois sabem como fazer uma queda adequada, não precisam se bater com paus. Você pode jogá-la na grama praticamente inofensiva. Um pouco mais seguro.

Cole suspirou, mas permitiu. Ethan passou alguns minutos nos mostrando como cair em segurança e onde evitar pressionar, dando-nos um básico para impedir que nos machucássemos, depois passou para a remoção real.

—Eu vou te mostrar Cole primeiro. — Disse ele. —Então você pode tentar.

—Isso é justo. — Disse Cole.

—Eu acho que você deve isso a ela por bater nela com a vara. — Disse Ethan, e eu ri. Cole, sob o olhar furioso de sempre, parecia um pouco envergonhado.

—Há duas remoções fáceis que eu posso ensinar agora. — Disse Ethan, corrigindo a posição de Cole. —Ambos são bons para lidar com alguém maior do que você.

Cole, que provavelmente era meio metro mais baixo que Ethan e muito mais magro, levantou uma sobrancelha crítica.

—Vou mostrar a você muito rápido. — Disse Ethan. —Lembre-se de como eu te ensinei a pousar.

Ele se moveu tão rapidamente que eu realmente não processei o que ele havia feito. Ele apenas avançou e de repente Cole estava no chão de costas, chiando, com Ethan debruçado sobre ele.

—Você não pousou como eu te disse. — Ethan disse, sorrindo para Cole.

—Você fez isso de propósito. — Disse Cole.

—Sim. — Ethan se levantou e ofereceu a Cole uma mão para cima. —Agora eu vou fazer isso mais devagar. Preste atenção. Pegue aqui, no alto do tríceps.

Ethan alcançou o peito de Cole com o braço direito, sob o direito de Cole de apertar a parte inferior do braço. A outra mão dele tinha o pulso direito de Cole.

—Puxe-o para o lado. — Explicou Ethan. —Para que você possa colocar sua perna entre.

Ele avançou suavemente em uma espécie de posição ajoelhada, envolvendo a perna em torno da de Cole e a outra perna atrás dele. Ajoelhando-se com a cabeça perto do quadril de Cole, ele parou. Cole cambaleou, lutando para manter o equilíbrio. Ethan o pegou pelos quadris para segurá-lo, sorriu e voltou a segurar seu braço.

—Viu como eu tenho controle do seu equilíbrio agora? — Ethan explicou, ignorando o quão vermelho Cole ficou. —Agora eu me inclino para a frente com o quadril e-

Ele mal precisava se inclinar para fazer Cole cair para trás, incapaz de manter o equilíbrio. A cabeça de Ethan estava perto do estômago de Cole, mas quando Cole tentou recuperar o fôlego, Ethan avançou.

—Certifique-se de seguir em frente com o movimento. — Disse Ethan, deslizando até ele cobrir completamente Cole. —Ou eles podem facilmente prendê-lo. Quando você estiver com eles, poderá se soltar com segurança.

—Agora entendo por que você quis fazer isso. — Disse Cole sarcasticamente, olhando para Ethan. Ethan pigarreou e saiu, ajudando Cole a se levantar novamente.

—Você quer tentar, Vexa? — Ele ofereceu.

—Definitivamente. — Eu concordei, minha cabeça ainda doendo. Eu tomei meu lugar na frente de Cole e Ethan estava atrás de mim, inclinando-se para me direcionar.

—Arme primeiro. — Disse ele. —Sob o tríceps, como eu mostrei a você.

Deslizei minha mão pela parte de trás do braço de Cole, consciente de quão perto os dois homens estavam perto de mim. Os músculos tensos de Cole sob meus dedos eram quase tão perturbadores quanto a respiração de Ethan na parte de trás do meu pescoço.

—Agora, puxe-o e vá para a perna. — Ethan disse, suas mãos nas minhas costas e meu braço me guiando para a frente enquanto envolvia minha perna em torno de Cole. As mãos de Ethan se moveram para os meus quadris, me puxando para trás antes que eu pudesse cair de joelhos.

—Não, não, observe seus pés. — Disse ele, empurrando meus quadris em um rolo mais controlado para frente. —Você não pode simplesmente jogar sua perna para a frente. Você tem que se transformar nela.

Cole observou as mãos de Ethan guiando meus quadris com uma expressão estranha. Eu me concentrei em controlar meu batimento cardíaco repentinamente rápido, prestando atenção às instruções de Ethan. Depois de baixar o quadril, segui em frente com a perna novamente. Era mais difícil do que parecia acertar esse movimento, mas Ethan estava lá para me pegar e guiar meus movimentos, seus dedos tão gentis quanto sua voz. Quando me ajoelhei, olhei para Cole, que olhou para mim com uma familiar faísca de interesse em seus olhos. As mãos de Ethan apertaram meus ombros. Houve uma pausa, todos nós percebendo simultaneamente o fato de que nenhum de nós estava sozinho no calor repentino sob nossas peles. Engoli em seco e desesperada para quebrar a tensão, inclinei-me com o quadril e joguei Cole de volta na grama.

—Porra! — Ele gritou quando caiu, pego de surpresa. Caí para a frente com ele, incapaz de fazer qualquer outra coisa, e ri em seu estômago.

—Lembre-se de seguir adiante. — Ethan me lembrou. Cole se contorceu, talvez esperando escapar, e eu me movi rapidamente para prender seus ombros. Eu sorri para ele, corada e sem fôlego, saboreando o calor nos olhos de Cole.

Suas mãos roçaram meus quadris e, de repente, percebi o constrangimento da situação. Eu rolei rapidamente e me afastei, olhando para Ethan, a culpa clara no meu rosto, mas Ethan sorriu para mim, balançando a cabeça. Ele não tinha notado ou simplesmente não se importava? Eu não tinha certeza de como me sentir sobre qualquer uma das opções.

—Sua vez, Cole. — Ethan disse, ajudando o outro homem a se levantar novamente.

—Finalmente. — Disse Cole.

—Você está pronta para isso? — Ethan me perguntou. Eu assenti sem palavras, ainda muito perturbada para gerenciar as palavras. Cole estava vermelho até os ouvidos. Só Ethan manteve a calma.

Tomei meu lugar na frente de Cole, e Ethan foi atrás dele para guiá-lo da mesma maneira que ele me guiou.

—Vamos tentar devagar uma vez. — Disse Ethan. —Você se lembra de como cair, Vexa?

Eu balancei a cabeça e me preparei enquanto Ethan treinava Cole através dos movimentos. O rosto de Cole ficava mais vermelho toda vez que Ethan o tocava, e a mão de Ethan tremia. Não era só eu que eles estavam ficando excitados, não era? Cole realmente tinha gostado de algo ontem à noite? Eu seria deixada para trás? Eu sacudi por enquanto. Eu precisava ter uma conversa com Ethan - em breve.

Preocupada com meus pensamentos, não notei Cole avançando até estar de costas na grama com um grito.

—Muito bem. — Ethan disse com uma risada. —Você está bem, Vexa?

—Estou bem. — Chiei por baixo de Cole, que se afastou de mim rapidamente.

—Acho que posso fazer rápido dessa vez. — Disse Cole, oferecendo-me uma mão, o que eu peguei. —Pronta para tentar me parar desta vez?

—Claro. — Eu disse, respirando fundo e me posicionando novamente. —Ponto afiado, certo?

—Eu vou encontrar vocês dois. — Ethan disse, ficando perto quando Cole se sacudiu e alcançou-me. —Lembrem-se de observar o ângulo dos seus quadris.

Cole assentiu, depois se moveu para mim rapidamente, agarrando meu braço.

Eu estava de bunda na grama antes que eu pudesse piscar. Cole seguiu em frente. Tossi para recuperar o fôlego.

—Você tentou? — Ele perguntou.

—Claro! — Eu disse. —Foi muito rápido.

—Aethon não vai devagar para você!

—Eu sei, eu sei! Vamos tentar novamente.

Foram necessárias mais três tentativas antes que eu conseguisse começar a visualizar antes que ele me jogasse na grama. Minhas costas doíam, mas menos do que onde ele me bateu com o pau. Tudo tinha deixado de ser sexy depois da quarta ou quinta vez que eu acabei na terra. Agora eu estava apenas chateada.

—Você ainda não está fazendo questão. — Disse Cole, quando pousou em cima de mim novamente. Eu queria gritar. Em vez disso, aproveitei o fato de que Cole não havia seguido com o movimento para jogar uma perna em torno dele e empurrá-lo na terra.

—Eu não posso fazer isso! — Eu disse, sentando nele enquanto ele se debatia para se soltar, segurando uma de suas pernas. —Demora muito tempo para afiá-lo! Não funciona!

Cole fez um som de dor no mesmo momento em que Ethan subitamente pulou em minha direção, gritando meu nome.

Tirei minhas mãos de Cole rapidamente e horrorizada, vi a marca negra e murcha sob onde minha mão estava. Agarrei-o novamente imediatamente, trabalhando no instinto para lavar a energia negativa, restaurando a carne saudável em poucos segundos.

—Desculpe! Jesus! — Eu disse, tremendo, ajoelhando-me ao lado de Cole quando ele caiu de costas, respirando irregular. —Você está bem? Sinto muito!

—Estou bem. — Disse Cole, imediatamente. —Você está pegando o jeito, aparentemente. Só precisava deixá-la brava o suficiente.

—Parece que você descobriu essa coisa de cura também. — Ethan disse, ajoelhando-se ao meu lado e colocando um braço em volta dos meus ombros. —Você consertou tão rápido que eu mal vi.

—Mal tive tempo de sentir isso. — Concordou Cole. —Como esbarrar em uma boca acesa do fogão.

—Pelo menos eu sou boa em uma coisa. — Eu disse com uma risada cansada. —Devemos tentar de novo?

Cole sentou-se nervoso, depois se sacudiu.

—Sim, vamos continuar.

 

 

 

 


Capitulo Dez


Continuamos por mais meia hora. Principalmente foi Cole me jogando na grama, mas consegui mais alguns bons acertos e tive uma boa noção da coisa de curar. No entanto, minha capacidade estava reservada a ferimentos causados por energia necromântica. Cole esfolou o joelho em uma pedra e eu não pude fazer nada. Contanto que eu pudesse fazer alguma coisa, eu não me importei. Fiquei feliz por haver pelo menos uma coisa que eu poderia fazer sem problemas.

Caí na grama ao lado de Cole depois de curá-lo novamente, ofegando. Ethan sentou-se do outro lado de nós, parecendo bastante cansado. Ele estava perto, nos pegando quando caíamos e nos treinando através dos arremessos e quedas. Mort também caiu ao nosso lado, com a cabeça desgrenhada no meu ombro.

—Você está bem? — Eu perguntei a Cole, sem fôlego.

—Sim, me dê um minuto. — Disse Cole, sua voz tensa. —Aquele machucou.

—Desculpe. — Eu disse.

—Não se desculpe. — Ele me corrigiu rapidamente. —É bom. —Dê um tapa na cara de Aethon assim algumas vezes, e podemos até ter uma chance.

—Disse a você que a coisa não funcionou. — Eu disse, fechando os olhos. —Luta de tapas é a resposta, afinal.

—Você provavelmente ainda deve aprender a fazer o ponto. — Ethan disse, inclinando-se sobre mim para tirar meu cabelo do meu rosto. —Você pode não ser capaz de se aproximar o suficiente de Aethon para dar um tapa na cara dele.

—Certo. — Eu disse, não desejando. Ele sorriu e se inclinou para me beijar, doce e breve.

—Nojento. — Disse Cole, rolando para longe de nós. Ele não parecia estar falando sério.

—Você é nojento! — Eu provoquei. Sua camisa tinha subido um pouco, e eu rolei para fazer cócegas na tira de pele exposta. Ele deu um latido de riso áspero e enrolou-se para escapar. Eu compartilhei um olhar com Ethan e um segundo depois, nós dois estávamos mergulhando para fazer em qualquer parte dele que pudéssemos alcançar. Mort pulou ao nosso redor, latindo de emoção enquanto brigávamos.

—Para para! — Cole implorou por sua risada. —Foda-se! Eu vou te matar!

Puxei a camisa dele e soprei uma lufae no estômago, o que o fez gritar tão alto que Ethan e eu caímos na gargalhada. Mort atacou Cole assim que saímos do caminho, cobrindo-o com beijos babados.

—Deus, vocês são esquisitos. — Disse Cole, ainda rindo, empurrando Mort e afastando a grama novamente.

—Sim, bem, você também. — Eu disse, recuando com a cabeça no colo de Ethan e minhas pernas envoltas nas de Cole. —Farinha do mesmo saco.

—Você é muito estranha para ser um pássaro. — Disse Cole, sorrindo para mim. —Você é muito estranha para ser qualquer coisa, menos humano.

Meu coração pulou uma batida ao ver seu sorriso. Foi o primeiro sorriso genuíno que eu vi nele. Iluminava todo o seu rosto como a luz do sol, banindo, ainda que brevemente, as sombras que tantas vezes permaneciam ao redor de seus olhos. Apertei a mão de Ethan, minha respiração presa no meu peito.

—Seja o que for, sou a mesma coisa que você é. — Eu disse a ele.

—Vocês três estão vivos ai fora?

Todos olhamos quando tia Persephona chamou da porta de vidro deslizante.

—Principalmente. — Confirmei, enquanto Mort pulava e corria para tia Percy, que sacudiu os ouvidos com carinho.

—O jantar está quase pronto. — Disse ela. —Venha e me ajude a arrumar a mesa.

Eu vi o rosto de Cole cair. Por um momento, sua ansiedade ficou clara. Ele não tinha certeza se era bem-vindo para ficar, ou se deveria ficar, mesmo que fosse bem-vindo. Suas paredes estavam de volta um momento depois, sua expressão endurecendo quando ele se distanciou para suportar o que acontecia. Engoli em seco e me levantei, oferecendo-lhe uma mão.

—Venha. — Eu disse. —Você vai ficar para o jantar, certo?

Cole hesitou. Eu pude ver a indecisão. Eu me preparei para a sua recusa, pronta para deixá-lo ir, se era isso que ele queria.

—Cole! — Tia Persephona gritou da varanda novamente. —Você disse que gostava de pão de alho, certo? Porque eu acabei de ganhar muito!

O sorriso tocou o rosto de Cole novamente por apenas um momento. Ele pegou minha mão e se levantou.

—Não existe pão de alho em excesso. — Ele gritou de volta.

Eu compartilhei um sorriso com Ethan enquanto seguíamos Cole para dentro da casa. Eu poderia dizer que ele estava tão feliz quanto eu por Cole estar comendo. Eu ainda precisava conversar com Ethan sobre o que era ou para onde estava indo, mas por enquanto, ter os dois por perto me senti bem.

O jantar foi um dos mais agradáveis que já tive em muito tempo, cheio de risadas e boas conversas. Cole estava um pouco reservado, claramente inseguro sobre o seu lugar. Nós não o pressionamos e, quando ele se sentiu à vontade para aumentar a conversa, nós o recebemos. Ele teve um relacionamento fácil com minha tia. Havia um entendimento instintivo entre duas pessoas que passaram anos tentando aprender os segredos da magia, apesar de todos os obstáculos que a vida colocou no caminho.

—Vamos ver o fae amanhã. — Ethan disse, enquanto o jantar terminava. Ajudei-o a lavar a louça enquanto minha tia se retirava cedo para estudar no quarto dela. —Provavelmente poderíamos fazer isso hoje à noite. Ele mantém horários estranhos. Mas...

—Estou muito dolorida com a prática. — Confessei, revirando meus ombros rígidos. —Amanhã provavelmente é melhor.

—Eu vou com você. — Cole concordou, vestindo a jaqueta. —Eu posso te encontrar aqui por volta das nove.

—Você não quer ficar? — Eu perguntei. —O sofá ainda está aberto. Seria muito mais conveniente.

—Eu posso encontrar meu próprio lugar para dormir. — Disse Cole, um pouco na defensiva.

Ethan ficou cuidadosamente em silêncio, enquanto segurava o prato que estava secando. Considerando como Cole reagiu a Ethan tentando insistir da última vez, eu não o culpo.

—Isso tornaria as coisas muito mais fáceis para nós amanhã. — Eu disse, não pressionando demais. —Não precisa ser para sempre. Estamos apenas... preocupados com você.

—Eu não preciso que você se preocupe comigo. — Disse Cole, bruscamente e eu estremeci, sentindo que tinha estragado tudo.

—Tarde demais. — Disse Ethan, sem levantar os olhos da pia. —Nós vamos nos preocupar, de qualquer maneira. Você estragou tudo e fez amigos, cara. A preocupação vem com o território.

O queixo de Cole se apertou e, por um momento, pensei que ele sairia em disparada. Mas depois de um momento, a tensão desapareceu de seus ombros.

—Tudo bem. — Ele disse, de má vontade. —Eu vou dormir no sofá estúpido. Só por esta noite. Porque vir aqui logo de manhã é uma dor na bunda.

—Parece ótimo. — Eu disse, incapaz de esconder meu sorriso. Ethan sorriu também, embora ainda não desviasse o olhar da pia.

Era cedo, então nos sentamos na sala por um tempo, relaxando, cuidando de nossos machucados desde o início do dia. Cole jogou uma pilha de livros sobre mim, principalmente textos necromânticos básicos e alguns guias gerais de magia para ‘me dar uma boa base teórica’. Eu li uma delas, fazendo anotações preguiçosas no meu telefone, enquanto Ethan e Cole conversavam sobre um filme que ambos não gostavam.

Eventualmente, fomos para a cama, jogando cobertores e um travesseiro em Cole no sofá antes de Ethan e eu nos retirarmos para o quarto de hóspedes. Morgana decidiu desde o início que gostava de Cole melhor do que eu e passou a maior parte da noite enrolada em seu colo. Parecia que ela pretendia passar a noite lá. Mort nos seguiu até o quarto, no entanto, pulando na cama e sentando no pé imediatamente.

Ethan e eu estávamos dividindo o quarto de hóspedes de tia Persephona desde que Aethon atacou a funerária, mas até agora, ele estava exausto demais para fazermos muito, mas dormir um ao lado do outro enquanto ele se recuperava de sua experiência de quase morte. Quando nos mudamos para a cama, sem nos olharmos, percebi que não era mais esse o caso. Mas agora tivemos outro problema. Lembrei-me de como ele reagiu ao nosso pequeno encontro na mesa do pátio, e quão perto ele chegou do desastre no drive-in. E se da próxima vez ele não pudesse controlar? Eu o queria. Mas não éstavamos seguros um para o outro.

Quando me deitei, ele me puxou para perto, aconchegando na minha garganta e pressionando beijos na minha pele.

—Você foi incrível hoje. — Disse ele. —Praticando com Cole. Eu nunca vi nada parecido. Os bruxos da biblioteca desejam que eles possam fazer algo tão impressionante quanto isso. Uther é a mais forte e a pequena coisa de teletransporte é o truque mais impressionante que ele tem. É por isso que ele usa-o toda vez que ele aparece.

Eu sorri e rolei para colocar meus braços em volta dele. Esse relacionamento ainda era novo, mas havia muito o que amar nele. O perfume de seus cabelos, as calos nas mãos, as rugas nos cantos dos olhos quando ele sorria para mim. Era quase aterrorizante. Eu poderia me apaixonar por ele tão facilmente, pensei. E eu ainda sabia muito pouco sobre ele. Se eu me apressasse nisso, haveria algo para apoiar um relacionamento real?

—Você está se preocupando. — Disse ele, e estendeu a mão para esfregar o local entre as minhas sobrancelhas. —Você franze sua testa quando está pensando. O que houve?

—Muitas coisas. — Eu disse honestamente. —Há muito com o que se preocupar ultimamente.

Passei a mão por seu ombro nu, até seu quadril. Ele estava usando aquelas calças de moletom novamente, e eu brinquei com a banda, pensativa.

—Com Cole hoje. — Eu disse baixinho, depois me corrigi. —O que ele disse ontem à noite. Você gosta dele?

Ethan pareceu surpreso por um momento, depois desviou o olhar, o queixo apertado. Eu senti a repentina tensão nele, como se ele estivesse se preparando para o impacto. Eu toquei sua bochecha.

—Se você gosta dele. Está tudo bem. — Eu disse rapidamente.

Ele pegou minha mão contra sua bochecha, apertando-a, mas ele não olhou para mim.

—Eu não sou assim. — Ele sussurrou. —Por favor, não pense que sou assim.

—Como o quê? — Eu perguntei confusa. Eu nunca o tinha visto assim. Havia algo quase como nojo no conjunto de sua boca, o sulco apertado de suas sobrancelhas. Mas não foi dirigido a mim. —Como o que? Bissexual?

Ele se encolheu, como se a palavra lhe causasse dor física.

—Eu gosto de você. — Ele disse, sua voz rouca. —Eu gosto de estar com você.

—Mas você também gosta dele. — Eu disse, sem entender o que o perturbava. Ele colocou a mão no rosto. Havia um tremor em seus ombros, uma emoção tentando escapar. E suas unhas pareciam claramente com garras.

—Ethan. — Eu disse suavemente, passando a mão sobre o peito em círculos suaves. —Do que você tem medo? Eu não estou chateada. Eu nem estou surpresa. Não é um problema.

—É um problema. — Disse ele, arrastando a mão pelo rosto até a boca. Ele estava com medo. Finalmente, finalmente, ele olhou para mim.

—Eu não queria que você soubesse. — Disse ele. —Eu não quero que ninguém saiba.

—Tudo bem. — Eu disse imediatamente. —Eu não vou contar a ninguém.

—Você não entende. — Disse ele, fechando os olhos novamente.

—Não, eu não entendo. — Eu concordei. —Isso não muda nada. Eu não me importo se você já esteve com homens antes-

—Eu não estive. — Disse ele bruscamente.

—Eu não ligo. — Repeti. —Isso não afeta o nosso relacionamento. Importa apenas se você quiser. Eu só quero saber mais sobre você. Se isso faz parte de quem você é, eu quero saber sobre isso.

Ele ainda parecia preocupado.

—Eu realmente gosto de você, Ethan. — Eu disse calmamente. —Eu não sei se isso é apenas uma aventura para você ou o que quer que seja. Entendo se isso é algo que você simplesmente não está confortável conversando com alguém que... que pode não fazer parte da sua vida por muito tempo. Mas eu gosto muito de você. Quero ver se isso pode funcionar. Quero saber quem você é.

—Você tem certeza? — Ele disse. —Você tem certeza?

—Eu tenho certeza. — Eu disse, com o máximo de gravidade que pude, tocando sua bochecha. —Isso não me incomoda. Faz parte de quem você é, e eu gosto de quem você é.

Eu o vi engolir em seco. Ele virou o rosto na minha mão e beijou minha palma, ficando assim por um momento.

—Não é... algo com o qual estou realmente confortável. — Disse ele.

—Não brinca. — Eu respondi, e ele riu baixinho, o som tocado com amargura, sua boca se movendo contra a minha palma.

—Minha família era realmente religiosa. — Explicou ele. —Tipo, realmente religiosos. Nós estávamos na igreja pelo menos três vezes por semana. E eu estava profundamente envolvido, compromisso total, anel de pureza e tudo. Mesmo depois de eu... depois que comecei a perceber.

—Isso é difícil. — Eu disse, incapaz de imaginar. Minha família nunca foi do tipo de igreja, por razões óbvias. —Acho que sua igreja não era do tipo que aceita?

—Mais como o 'organizou um protesto contra o GSA2 da minha escola. — Disse ele com tristeza. —Também a abstinência é tudo o que deve ser ensinado em sexo e a masturbação é um pecado.

—Droga. — Eu respondi. —Não é de admirar que você tenha problemas com isso.

—Minha família nunca mais falaria comigo se soubesse. — Disse ele, quase um sussurro. —Ou pior. Uma garota da minha igreja saiu no primeiro ano. A mãe dela bateu nela. Enviou-a para o hospital. Quando ela foi libertada, eles não vieram buscá-la. Ela teve que arranjar um amigo para trazê-la para casa. Ela encontrou as fechaduras trocadas e tudo o que possuía no meio-fio. Eu nem sei o que aconteceu com ela. Ela não voltou para a escola. Suas amigas me disseram o que sua mãe fez. Eles foram expulsos, mas eles também não sabiam mais nada. Ninguém na igreja falava sobre isso. Sua mãe voltou a cantar hinos como se nada tivesse acontecido, com as mãos ainda machucadas por tentar espancar os gays como a filha dela. Meu pai disse que 'admirava sua determinação'.

Estremeci e fiquei brevemente grata por minha família chata, mas perfeitamente solidária. Eu literalmente trouxe coisas mortas de volta à vida, mas nunca me preocupei que meus pais me odiassem por isso ou me expulsassem, muito menos me enviassem para o hospital. Eles não entendiam essa parte da minha vida. Não conseguia entender. Mas pelo menos eu sabia que eles me amavam, de qualquer maneira. Peguei a mão dele, tudo o que pude fazer para mostrar meu apoio.

—Eu ouvi dezenas de histórias assim. — Disse ele calmamente, olhando para as nossas mãos enquanto enlaçava os dedos. —Ninguém mais da igreja. Mas algumas outras crianças na escola. E quando eu era mais velho, as pessoas trabalhavam. E quando comecei a viajar por causa da maldição, descobri mais. Não sei o que é pior, os que acabam sem teto ou os que são forçados a ficar com uma família que os odeia. Não há boa opção. Você entende o que estou dizendo, Vexa?

Apertei sua mão, desejando ter as palavras.

—Não há final feliz para pessoas como eu. — Disse ele.

—Isso não é verdade. — Eu disse imediatamente. Seu aperto na minha mão relaxou. Ele balançou a cabeça, afastando-se.

—Não é verdade. — Insisti. —Sim, é péssimo, mas isso não significa que você não tem esperança! Você já está fora de lá. Você não precisa da aprovação de sua família para sobreviver e viver uma vida perfeitamente feliz. Você pode ter um final feliz sem eles...

Ele forçou um sorriso e beijou as costas da minha mão suavemente.

—Obrigado por tentar. — Disse ele. —Por ouvir.

—A qualquer hora. — Eu disse a ele. —Realmente, a qualquer momento. Você quer falar sobre coisas trágicas da vida? Estou triste. Você quer fofocar sobre garotos? Eu posso fazer isso também.

Ele bufou, e fiquei aliviada ao ouvi-lo rir.

—Então, quem era sua boy band favorita? — Eu perguntei, provocando, e ele fez um barulho de repulsa.

—Não. — Ele disse com uma pequena risada. —Realmente, não. Ainda está dolorido.

—Tudo bem. — Eu disse, e me deitei ao lado dele, pressionando um beijo em sua têmpora. —Eu vou deixar você falar sobre isso no futuro. Eu só quero que você saiba que estou aqui por você.

Com outra risada suave, ele se virou para me olhar nos olhos, estranhamente vulnerável.

—E isso? — Ele perguntou, sua mão deslizando pela minha coxa até a minha cintura. —Você ainda está aqui para isso? Tudo bem se você não estiver.

Eu respondi beijando-o com força. Inferno, sim, eu estava. A princípio. E depois de uma conversa tão pesada, se era isso que ele precisava sentir como se eu ainda estivesse com ele, fiquei mais do que feliz em agradecer.

Ethan sorriu contra meus lábios e me beijou de volta, me puxando para mais perto, nossas pernas emaranhadas quando suas mãos fortes apertaram meus quadris.

—Então. — Ele disse, respirando fundo quando quebramos o beijo. —Sobre Cole...

—Sim? — Eu ainda estava um pouco tonta com o beijo, pensando em quão longe poderíamos arriscar ir.

—Você gosta dele também.

Isso chamou minha atenção. O calor correu para o meu rosto.

—Eu não sei. — Eu admiti. —Ele é fofo. Mas não é como eu faria... não estou planejando...

—Está tudo bem. — Disse ele, beijando minha testa. —Você não precisa se desculpar.

—Você não está com ciúmes? — Eu perguntei.

—Claro que sim. — Ethan disse com uma risada forçada. —Ele é fofo, e é um necromante como você, e ele tem toda aquela coisa trágica de bad boy acontecendo. E, por mais que eu goste de você, você sabe que tenho... um limite de tempo.

—Ethan. — Eu disse preocupada, sentando-me. Ele balançou a cabeça, me empurrando de volta suavemente.

—A menos que encontremos uma maneira de quebrar a maldição. — Disse ele. —Um dia, mais cedo ou mais tarde, isso vai me derrotar. Não sou um bom investimento a longo prazo.

—Você é uma pessoa, não uma opção de compra. — Eu disse. Ele riu, mas havia uma amargura no conjunto de suas sobrancelhas.

—Quanto mais fundo você se envolver comigo — Disse ele, —Mais doerá se e quando isso acontecer. Eu não culparia você por não querer passar por isso. Então, sim, tenho inveja do cara que poderia passar a vida com você, quando eu só tenho alguns anos. Ou menos.

Eu gostaria de ter certeza de que definitivamente quebraríamos a maldição. Eu realmente não tinha pensado em quanto tempo teríamos. Agora eu quase podia ouvir um relógio correndo, segundos preciosos desaparecendo. Era um milhão de vezes mais assustador do que se apaixonar. Eu pensei que estava confortável com o conceito de morte, considerando quem eu era como pessoa, mas nunca o processei até que de repente se aproximava, inevitável e implacável, e não há nada que eu possa fazer sobre isso.

—Mas meu ciúme não importa. — Ethan disse finalmente. —Confio em você. O ciúme é... As pessoas não o entendem. Eles agem como se fosse um sinal de amor, ou algum grande obstáculo intransponível, mas o ciúme é apenas uma emoção. Um sintoma de insegurança. Você não pode simplesmente dizer ‘estou com ciúmes’ e encerrar a conversa. Você precisa falar sobre isso, descobrir por que está com ciúmes e resolver o problema.

—Eu não acho que entendi o que você está dizendo. — Eu admiti, franzindo a testa.

Ele passou a mão pelas minhas costas distraidamente, pensando.

—Acho que o que estou dizendo é que, se você quer ficar com ele, está tudo bem comigo.

Meus olhos se arregalaram. —Só porque sua maldição pode matá-lo, eventualmente, não significa que eu vou pular de navio antes mesmo de-

—Não é isso.

—Você está apenas tentando me dar um fora por causa da coisa bi? Porque você não precisa-

Ethan cobriu minha boca com a mão, um sorriso exasperado em seu rosto.

—Não, Vexa, não é isso que eu quero dizer. — Disse ele, balançando a cabeça e removendo a mão para escovar meu cabelo para trás. —Quero dizer, se ele está bem com isso, se você quer ficar com ele também, eu não me importo.

Isso me calou. Não era uma possibilidade que eu realmente considerasse. Eu encontrei minha boca seca e meu coração batendo um pouco demais com o pensamento.

—Eu sei que é estranho. — Disse ele, afastando-se um pouco, envergonhado. —Eu provavelmente não deveria ter sugerido. Apenas sinto que temos tão pouco tempo que você não deve se conter. Você merece tudo o que deseja e muito mais. Você é incrível e-

Desta vez, coloquei minha mão sobre sua boca. Quando ele parou de tagarelar, tirei minha mão para beijá-lo.

—Você realmente ficaria bem com isso? — Eu perguntei. Ele assentiu, sorrindo. Procurei algum traço de dúvida em seus olhos, mas não consegui encontrá-lo. —Você quer ficar com ele também?

Houve um lampejo de dúvida. Ele lambeu os lábios, olhando para as nossas mãos unidas.

—Eu não...— Ele admitiu. —Com um cara. Cheguei perto algumas vezes. Não pude continuar com isso.

—Mas você quer tentar com ele? — Eu perguntei, pressionando.

Ele desviou o olhar, inquieto. Eu o deixei desconfortável novamente.

—Não... talvez. — Ele admitiu. —Eu não deveria. Mas acho que ele não aceitaria. Não comigo, pelo menos.

—Eu não sei. — Eu disse, lembrando o quão vermelho Cole ficou quando Ethan o tocou hoje cedo. —Eu acho que você tem uma chance.

—Você ficaria bem com isso? — Ethan perguntou, olhando nos meus olhos. —Não é nem uma possibilidade remota, mas eu não quero pressioná-la a qualquer tipo de situação com a qual você não se sinta confortável, mesmo hipoteticamente.

Eu pensei sobre isso, lembrando-me da maneira como meu estômago tremia observando-os mais cedo, as pontadas de preocupação e saudade.

—Estou com medo disso. — Eu disse, decidindo que ser honesta era a melhor escolha. —Eu tenho medo que vocês dois decidam que estão melhor sem mim. Isso é estúpido?

—Não, não, isso é normal. — Ethan disse, rapidamente, me puxando para perto e beijando minha cabeça novamente. —Deus, isso é perfeitamente normal, querida. Também tenho medo disso. Inferno, provavelmente seria uma boa decisão de sua parte. Mas você. Você é incrível. Eu sei que isso ainda é novo, mas não é uma aventura para mim. Eu quero fazer isso durar, pelo menos enquanto eu tiver deixado. As coisas podem mudar, talvez possamos aprender mais um sobre o outro e nos afastar, quem sabe. Mas eu sei que você me faz querer tentar para fazer isso funcionar. Nada do que poderia acontecer com Cole vai mudar isso.

Ele me beijou novamente e eu coloquei meus braços em volta dele, meu coração doendo no meu peito. Eu não tinha certeza de nada ainda, mas isso era bom. Certo.

A língua de Ethan roçou meus lábios e um pequeno zumbido de encorajamento me escapou, o que o fez me apertar com mais força. Deslizei uma perna sobre seus quadris e sua mão deslizou da minha cintura para me puxar para mais perto, o ar entre nós ficando quente. Deslizei a mão em seus cabelos, unhas roçando seu couro cabeludo, e ele quebrou o beijo com um calafrio para espalhar beijos na minha garganta.

Eu gemi em apreciação e Mort levantou a cabeça do final da cama. Ele bufou impaciente, pulou da cama e abriu a porta do quarto, desaparecendo na escuridão do corredor. Algo sobre a pura indignidade de sua reação e o absurdo de esquecermos que ele estava lá me fez começar a rir, e uma vez que comecei, não consegui parar. Que conversa intensa e louca de ter no final desta semana insana. Deus, eu quase morri três vezes, e agora eu estava discutindo um relacionamento aberto com meu namorado bissexual e lobisomem. Eu pensei que minha vida era estranha antes de tudo isso começar. Ethan levantou-se para fechar a porta e eu o observei sair, ainda processando tudo o que havíamos conversado, mas meus pensamentos sumiram enquanto eu apreciava a visão de sua bunda naquelas calças de moletom. Tinha sido uma noite muito intensa até agora. Quando Ethan voltou, eu sorri para ele e torci para que ainda não tivesse terminado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Onze


Quando ele voltou para a cama, eu rolei de costas e abri meus braços para ele, ansiosa para continuar o beijo que havíamos quebrado um momento atrás. Ele concordou de bom grado, deslizando sobre mim para me beijar gentilmente. Deslizei meus braços ao redor dele, aprofundando o beijo e puxando-o para baixo dos travesseiros. Eu amei a pressão tranquilizadora do seu peso em mim. Isso me fez sentir estável em um mundo onde as coisas desmoronavam constantemente. Deslizei minhas mãos em direção à cintura de suas calças, e Ethan quebrou o beijo para pegar minha mão.

—Não deveríamos. — Disse ele com um suspiro relutante. —Você sabe o que poderia acontecer.

Ele estava certo, mas eu não queria admitir. Eu queria estar com ele agora. Após o peso da nossa conversa, era importante. Eu queria mostrar a ele o quanto eu o queria. Eu queria ver nos olhos dele o quanto ele me queria.

—Vamos tentar alguma coisa. — Sugeri, sorrindo. Ele levantou uma sobrancelha, mas obedeceu quando eu o empurrei de volta para os travesseiros e subi da cama para recuperar alguma coisa. Quando voltei com o cinto da calça, ele parecia um pouco preocupado, sentando-se contra a cabeceira da cama.

—Até que possamos comprar aquelas algemas felpudas. — Eu disse, subindo em seu colo. Peguei suas mãos, levando-as acima da cabeça até a barra da cabeceira da cama, amarrando o cinto em uma figura oito em volta dos pulsos e da barra. Apertei-o apenas o suficiente para que eu ainda pudesse colocar dois dedos entre ele e sua pele.

—Como é isso? — Eu perguntei a ele. —Não é muito apertado, é?

—Parece estranho. — Ele admitiu. —Mas não é muito apertado.

—Você quer que eu tire? — Eu perguntei.

—Diga-me o que você está planejando primeiro. — Disse ele, rindo.

—Isso está seguro. — Eu disse, batendo no cinto antes de me acomodar mais profundamente em seu colo, com muitas mexidas desnecessárias. —O plano é ir muito, muito devagar.

Eu rolei meus quadris contra seu colo e o vi engolir em seco.

—Construa um pouco de cada vez para que você nunca perca o controle. Parece bom?

—Eu não sei se isso vai funcionar. — Disse ele, mordendo o lábio. —Mas estou disposto a tentar.

Eu sorri —Incrível. Diga-me imediatamente se algo dói ou se você quer parar.

Comecei tirando minhas próprias roupas. Fiel à minha palavra, aproveitei meu momento agradável, derramando minha camisola e a roupa íntima por baixo com tanta pompa e circunstância quanto pude. Era uma provocação boba, mas o fez sorrir, o que importava.

Fiquei nua no colo dele, montando nele enquanto terminava e ele sorriu para mim, apreciando a vista.

—Você vai me despir em seguida? — Ele perguntou.

Eu fingi considerar por um minuto.

—Hmm, nah, acho que você está bem como está.

Eu o beijei antes que ele pudesse dizer mais. Comecei doce e devagar, depois arrastei meus dentes sobre seu lábio, mordi o suficiente para fazê-lo ofegar e deslizei minha língua ao lado da dele para provar o calor de sua boca.

Enquanto eu o beijava, balancei meus quadris em círculos lentos, moendo descaradamente contra ele. Ouvi o couro do cinto estalar quando minhas mãos apertaram seu peito e deslizaram até sua cintura. Eu levei um tempo beijando-o, minhas mãos vagando, traçando sua clavícula, os músculos de seus braços, como eu tinha todo o tempo do mundo, até senti-lo ficando duro contra mim. Eu me esfreguei contra ele por um momento até ouvir sua respiração começar a pegar. Então me afastei, sorrindo para o barulho frustrado que ele fez.

—Como você está se sentindo? — Eu perguntei, recostando-me em uma mão, ainda montando em seu colo. —Ainda está tudo bem?

—Tudo ótimo. — Ele confirmou, seus olhos quentes enquanto olhava para mim. —O lobo nem está mostrando a cabeça ainda. Talvez a última vez tenha sido por acaso.

—Talvez. — Eu disse, passando a mão livre pelo centro do peito enquanto olhava para ele. —Mas eu não estou me arriscando. Você sabe, você parece muito bem assim.

A calça de moletom escorregou em seus quadris. A mecha de cabelo castanho dourado que desapareceu sob a banda foi uma tentação difícil de resistir, apontando para o contorno óbvio de seu tesão negligenciado. A posição dos braços acima da cabeça enfatizava as linhas do peito bem definido, os ombros largos, a curva do estômago. Acima de tudo, a fome em seus olhos me fez doer de excitação. De fato...

Eu deixei minha mão descer pelo meu peito correndo até os meus lábios, correndo levemente por fora. Eu vi as pupilas de Ethan dilatar enquanto ele observava meus dedos deslizarem para dentro para arrastar lentamente através das minhas dobras, espalhando a umidade brilhante da minha entrada para o meu clitóris. Mordi meu lábio, quase capaz de sentir seu olhar em mim, um formigamento na minha pele enquanto eu lentamente circulava o pico, suspirando enquanto relaxava lentamente no prazer da sensação. Nesse ritmo, eu poderia me tocar a noite toda, ocasionalmente deixando meu clitóris deslizar pelas minhas dobras novamente, me abrindo para ele olhar, mas não tocar. Eu ouvi o cinto ranger novamente, e ele gemeu.

—Oh, isso não é justo. — Disse ele.

—O que não é justo? — Eu perguntei, jogando de inocente quando deitei no cotovelo, sentindo a tensão no topo das minhas coxas enquanto eu me acariciava, literalmente no colo dele e ainda fora de seu alcance.

—Vamos lá. — Ele implorou. —Você não pode simplesmente me provocar.

—Não posso? — Eu perguntei com um sorriso, esfregando-me um pouco mais com a visão de sua ansiedade. —O que você vai fazer para me impedir?

Ele xingou baixinho, enviando um arrepio de prazer pela minha espinha. Arqueei meus quadris em meu próprio toque, gemendo enquanto esfregava mais rápido. Não havia necessidade de tomar meu tempo comigo mesma. Eu poderia vir quantas vezes quisesse antes de tocá-lo. E essa era uma sensação muito agradável. Joguei a cautela ao vento, seguindo em frente como se eu tivesse apenas cinco minutos antes de sair para o trabalho. Eu o deixei assistir enquanto me desfiz, puxando todos os truques que eu sabia para me fazer gozar mais rápido. Foi um pouco de luta com a posição desconfortável, mas uma vez que eu entrei o suficiente, eu esqueci a tensão nas minhas pernas, voando alto e chegando perto.

Minha respiração ficou presa ao me aproximar do clímax. Eu trouxe minha outra mão de trás de mim para enrolar os dedos dentro de mim enquanto esfregava mais rápido, os quadris se contorcendo, o prazer pulsando como meu sangue nos meus ouvidos, junto com as respirações irregulares de Ethan. Nessa posição, minhas pernas ainda estavam dobradas dos dois lados do colo dele, meu peso no pescoço e nos ombros, minhas costas curvadas como um arco, eu era como uma mola enrolada, como uma flecha prestes a ser disparada. A tensão era quase dolorosa, apenas aumentando a sobrecarga sensorial do orgasmo.

—Vexa, por favor. — Ethan implorou, sua voz rouca de desejo, e eu ofeguei quando o prazer cresceu e tomou conta de mim.

Fiquei ali por um momento, relaxando a postura tensa das minhas costas, percebendo a dor desconfortável nas minhas pernas, saboreando o delicioso formigamento do pós-brilho sobre a minha pele. Eu me deliciei com uma sensação tátil inebriante, enquanto Ethan estava choramingando entre minhas coxas. Na verdade, choramingando, rosnados baixos se transformando em choramingos caninos.

—Você ainda está bem? — Eu perguntei, sentando-me. Ele ainda parecia humano, exceto por um leve brilho dourado nos olhos.

—Não. — Ele disse, lambendo os lábios. —Estou tão longe de estar bem como acho que já estive.

Eu ri um pouco, me acomodando no colo dele e me inclinando sobre ele, meio para verificar suas restrições para mover minhas pernas, que estavam começando a adormecer.

—Você quer que eu o solte? — Eu perguntei, traçando o cinto.

—Mais do que tudo. — Ele gemeu, pressionando o rosto nos meus seios. —Mas você não deveria.

—Eu não quero que você se sinta desconfortável. — Eu disse, passando meus dedos pelos cabelos dele.

—Não, não, isso é desconfortável. — Disse ele, beijando o espaço entre os meus seios. —Horrível, horrível, muito bom e desconfortável. Não pare.

Eu ri novamente, mas, me tranquilizado de que ele estava bem, continuei.

Eu me mexi para beijá-lo novamente, longo e lento, negando-lhe até a minha língua, amando o jeito que ele se contorcia e se inclinava a cada toque.

Eu dei a ele o que ele queria por centímetros, o mais lento que pude. Sempre que ele começava a ficar excitado, eu recuava, desacelerava ainda mais, deixando-o frustrado e desesperado, mas ainda no controle de si mesmo. Quando finalmente enfiei a mão na cintura da calça, ele tremeu de necessidade. Eu acho que ele quase terminou apenas com o primeiro toque dos meus dedos contra o seu eixo, o primeiro aperto suave. Decidi então que, se isso se tornasse algo normal, eu faria isso acontecer eventualmente. Só de pensar em fazê-lo desmoronar com um único toque foi tanta pressa que tive que parar e me tocar de novo, para seu deleite e frustração, até que ele literalmente me implorou que o deixasse usar a boca. Eu fui generosa o suficiente para permitir isso a ele. Eu estava de pé sobre ele, minhas mãos apoiadas na cabeceira da cama, enquanto ele fazia tudo o que suas restrições lhe permitiam. Eu já tinha ouvido falar oralmente como adoração, mas nunca realmente apreciei o quão preciso o termo poderia ser até esse momento. A cada momento em que sua boca não estava preocupada, ele sussurrava, gemia e rosnava meu nome, me dizendo o quão perfeita eu era, o quanto ele precisava de mim. O elogio foi quase tão bom quanto a boca dele.

—Vexa. — Ele gemeu, pressionando beijos de borboleta no meu estômago. —Linda, perfeita, maravilhosa Vexa. Estou morrendo. Isso está literalmente me matando.

Eu ri, acariciando seus cabelos.

—Quer que eu te deixe sair? — Eu perguntei.

Ele balançou sua cabeça. —Não, mas se eu não puder estar dentro de você em breve, eu realmente morrerei. Estou cem por cento sério.

Rindo, eu me abaixei em seu colo para beijá-lo novamente, provando-me em seus lábios.

—Eu não sei. — Eu ronronava contra aqueles lábios. —Você acha que ganhou?

—Farei qualquer coisa. — Ele implorou. —Por favor, por favor.

Eu sorri —Eu gosto de você implorando. — Eu disse. —Essa é uma boa aparência para você.

—Além disso. — Ele reclamou. —Isso está seriamente começando a doer.

—O cinto? — Eu perguntei, tentando alcançá-lo, preocupada.

—Não. — Ele disse, e balançou seus quadris contra mim, moendo sua ereção ainda muito dura contra as minhas costas. Ele gemeu, fazendo isso de novo. —Na verdade, se você simplesmente não se mexer...

Eu me afastei dele imediatamente com um sorriso perverso. Ele quase chorou, chutando os lençóis em frustração.

—Você foi um menino muito bom. — Eu disse, beijando sua testa. —Você merece melhor que isso.

Saí do colo dele, apenas o tempo suficiente para pegar uma camisinha na mesa de cabeceira.

—Oh, graças a Deus. — Disse Ethan, aliviando o fôlego, relaxando os ombros tensos. Rasguei o pacote com os dentes e me movi entre as pernas dele.

—Quer ver um truque? — Eu perguntei, sorrindo enquanto pegava seu pau na mão. Ele levantou uma sobrancelha, desesperado demais para me questionar enquanto colocava a camisinha na minha boca. Inclinei-me sobre ele, envolvendo meus lábios em torno da cabeça de seu pênis e pressionei o preservativo no lugar com a minha língua. Deslizei-o mais fundo na minha boca, rolando a camisinha pelo seu pênis com meus lábios. Ele xingou de maneira colorida quando o calor da minha boca o cercou, os quadris batendo, mas eu o segurei. Eu ainda estava no controle desse rodeio.

Quando a camisinha e meus lábios atingiram a base de seu pênis, eu me afastei, fingindo que meus olhos não estavam lacrimejando e lutando contra o desejo de tossir.

—Puta merda. — Disse ele, olhando para mim como se eu fosse feita de ouro maciço.

Não perdi mais tempo. Eu estava quase tão ansiosa por tê-lo dentro de mim quanto ele. Ajoelhei-me sobre ele, voltando para segurar seu pau no lugar enquanto me abaixava lentamente sobre ele. Ele congelou, seus olhos brilhando com um tremido âmbar, parecendo que ele não ousava nem respirar enquanto sua cabeça deslizava contra as minhas dobras. Levei meu tempo, deslizando contra ele algumas vezes, antes de finalmente deixá-lo entrar. Respirei fundo quando a primeira polegada me abriu. Ele era grosso, e eu tremi com a antecipação de como ele se sentiria completamente dentro de mim. Mas ainda demoraria um pouco até eu descobrir. Eu fiquei onde estava, seu pau apenas dentro de mim, aproveitando a sensação, até que ele se contorceu com ansiedade. Então eu o levei um pouco mais fundo. Talvez outra polegada.

—Vexa! — Ele disse, um pouco alto demais para estarmos em uma casa com outras pessoas dormindo nela. Eu o silenciei, tentando não rir, e afundei o resto do caminho, xingando quando ele bateu profundamente dentro de mim. Eu me senti tão bem, tão cheia, meu clitóris latejando com o meu pulso.

Ficou claro que Ethan se sentia tão bem quanto eu, sua cabeça jogada contra a cabeceira da cama, sua respiração dura. Quando eu vi suas mãos flexionarem seus laços, garras brilhando. Lembrei-me de que não estava apenas indo devagar para meu próprio entretenimento.

—Aí estamos. — Eu disse, suavemente, passando as mãos sobre as pernas e o estômago em círculos calmantes. —Como você está se sentindo?

Ele respirou fundo várias vezes antes de falar, recuperando o controle, embora não conseguisse embainhar suas garras.

—Bom. — Ele disse, sem fôlego. —Deus, tão bom.

—Como está o lobo? — Eu perguntei, balançando meus quadris lentamente, moendo-o mais profundamente dentro de mim. Ele gemeu e ouvi o cinto de couro esticar novamente.

—Assistindo. — ele finalmente admitiu, um rosnado em sua voz. —Eu acho que tenho um controle sobre ele. Pelo menos, tanto quanto posso.

—Bom garoto. — Eu disse. —Você pode esperar se eu continuar?

—Sim, mas eu acho que você não pode confiar em mim para dizer para parar se eu começar a escorregar. — Ele admitiu com uma careta.

—Então eu vou ter um cuidado extra. — Eu disse a ele, levantando meus quadris até que ele estava apenas dentro de mim. —E extra, extra lento.

Eu me abaixei novamente em um longo e lento deslize, saboreando o calor e a pressão de cada centímetro, meus dedos dos pés enrolando nos cobertores. Eu amei o jeito que ele se encaixava dentro de mim, e o jeito que ele pressionou contra minhas paredes internas quando eu inclinei meus quadris da maneira certa.

Tanto porque eu queria testar os limites de Ethan e porque simplesmente não conseguia resistir, continuei em ritmo acelerado, não muito rápido ou muito lento. Depois de todas as provocações, eu sabia que Ethan não tinha muita resistência sobrando. Eu o observei com cuidado, resistindo ao desejo de me perder no prazer. Esfreguei meu clitóris em círculos preguiçosos por outra camada de calor, construindo como um fogo dentro de mim. Fazia muito tempo desde que eu tive isso. Ethan teria ficado sozinho o tempo todo também, eu me perguntava? Tive a impressão de que ele não estava com ninguém desde a maldição, e pude entender o porquê. Mas eu meio que amei o pensamento de ser a única a dar isso a ele depois de tanto tempo, depois que ele talvez pensasse que estava perdido para ele para sempre.

Ethan começou a me observar, seus olhos devorando todos os meus movimentos como se ele quisesse gravar essa memória em sua mente para sempre. Mas enquanto eu continuava, ele teve que fechar os olhos, prendendo a respiração, os braços tensos contra o cinto enquanto lutava com o lobo e com seu próprio desejo de gozar. Quando o vi começar a tremer, diminuí a velocidade ao mesmo tempo, voltando ao ritmo mais lento que pude controlar. Ele xingou amargamente baixinho, mas depois de um momento, sua respiração se acalmou e um pouco de seu autocontrole voltou. Assim que ele estava um pouco mais no controle, eu acelerei novamente, um pouco mais rápido do que antes. Eu estava ansiosa para gozar também. Mas eu não podia me dar ao luxo de ser egoísta, infelizmente. Eu tive que facilitar isso para provar que poderia funcionar.

Eu estabeleci um ritmo sólido, observando-o com cuidado, diminuindo a velocidade assim que ele ficava muito excitado, acelerando uma vez que ele tinha o controle novamente. Eu nunca tinha feito sexo de maneira tão agradável antes, e estava gostando. Ethan, ao contrário, parecia estar sendo torturado.

—Se o seu objetivo aqui é me fazer odiar você. — Ele ofegou, enquanto eu diminuí a velocidade até quase parar novamente. —Você está conseguindo.

—Espere um pouco mais. — Eu disse, fechando os olhos enquanto lutava contra o meu próprio desejo de ir mais rápido. Eu estava tão perto de gozar cerca de cem vezes e me afastei antes que acontecesse, tentando salvá-lo. —Estamos quase chegando, não estamos?

—Deus, sim. — Ethan disse, os quadris tremendo enquanto ele tentava empurrar em mim apenas para eu segurá-lo. —Mas o lobo está tão perto, Vexa. Eu não sei por quanto tempo eu posso segurá-lo, não importa o quão lento vamos.

—Você tem certeza que não está dizendo isso apenas porque quer que eu acelere? — Eu o provoquei, moendo com ele.

—Isso também. — Ethan disse, com os dentes cerrados. —Além disso, meus braços estão realmente ficando doloridos.

—Tudo bem. — Eu disse respirando fundo, inclinando-me para beijá-lo brevemente. —Espere firme, baby.

Eu me joguei em um ritmo rápido que balançou a cabeceira da cama e deixou Ethan tenso por toda parte, uma série de maldições estranguladas deixando-o. Mordi meu lábio, cada impacto provocando fogos de artifício de prazer dentro de mim. A gratificação atrasada é uma merda, mas Deus, me sinto bem em finalmente ceder depois de esperar tanto tempo.

Ethan enfiou os calcanhares no colchão, empurrando-se para me encontrar em fortes impactos de tirar o fôlego. Fechei os olhos, concentrando-me inteiramente na sensação.

—Quase. — Ethan rosnou. —Tão perto - Vexa.

O orgasmo se aproximava como o pico de uma montanha-russa que vinha subindo há horas. A mola estava enrolada até seu ponto de ruptura absoluto e se eu não a liberasse logo...

Eu deveria estar prestando mais atenção. Não percebi que havia algo errado até ouvir o couro estalar e o rosnar do lobo. Quando abri meus olhos, Ethan já me segurava pelos ombros, me empurrando de volta para o colchão. Tive um instante de temer que estivesse prestes a morrer, e então Ethan bateu em mim com tanta força que vi estrelas.

Ele entrou em mim como um animal, como se ele morresse se não morresse, como se tudo dependesse de me foder tão forte e rápido quanto ele era fisicamente capaz. Meus quadris não estavam na cama, minhas pernas ao redor dele, minhas mãos em seu peito. Com as talvez duas células cerebrais que tive que poupar com o prazer que sobrecarregava rapidamente meu cérebro, vi que ele não havia desaparecido completamente, pelo menos ainda não. Ele ainda era mais homem que lobo, mas se afastava rapidamente. A pele se substituía, os dentes cresceram mais. Eu me atrapalhei com minha mágica após o orgasmo, tentando roubar minha capacidade de pensar, envolvendo-a em torno de sua maldição como eu tinha no drive-in, comprimindo-a, empurrando-a para trás, abraçando-a.

—Vexa. — Ethan disse, sua voz um grunhido irreconhecível de animal. Eu olhei nos olhos dele e não vi Ethan lá. Ele não estava errado quando disse que o lobo não era ele. Havia algo completamente atrás de seus olhos. Algo antinatural e cheio de ódio. Algo que teria rasgado minha garganta agora, exceto a pura força de vontade de Ethan e sua própria necessidade primordial.

O impacto dos quadris de Ethan contra minhas coxas tocou bruscamente através da sala, assim como seus rosnados bestiais, e meus próprios gritos, todas as tentativas de controle perdidas. O prazer corria por minhas veias como fogo a cada golpe feroz. Eu segurei sua maldição com a última razão, cavando minhas unhas enquanto minha visão ficava branca, como se fosse tudo o que pudesse me segurar na terra.

O orgasmo me atingiu como um deslizamento de terra, como uma erupção vulcânica, como uma força da natureza invadindo-me. Todo nervo queimava, todo músculo ficava tenso. Eu fiz um barulho gutural e desesperado, cada parte de mim reduzida a um ponto quente e branco de êxtase irracional.

Foi só quando a onda retrocedeu, eu percebi que Ethan tinha terminado também. Ele pairava sobre mim, segurando firme, respirando com dificuldade. Eu ainda estava segurando sua maldição e empurrei um pouco mais contra ela. Eu assisti o lobo recuar, até Ethan, exausto e gasto, desabar na cama ao meu lado.

Eu rolei de lado para encará-lo, murmurando garantias e acariciando seus cabelos. Ele estava consciente, embora apenas justo.

—Você está machucada? — Ele lutou para dizer.

—Não, não, eu estou bem. — Eu disse a ele. —Você não me machucou. Está tudo bem.

Ele deu um suspiro trêmulo de alívio e eu o beijei, espalhando-os pela testa e bochechas, tão aliviada quanto ele. Ele abriu os olhos, da mesma cor quente que sempre foram, sem mais vestígios do ouro. Ele sorriu para mim por um momento, e eu sorri de volta, uma estranha sensação de vitória me enchendo que era quase mais doce que o orgasmo. Conseguimos. Não da maneira que esperávamos, mas fizemos.

Alguém bateu na porta do quarto e nós dois congelamos.

—Todo mundo vivo ai? — Minha tia falou.

A humilhação correu através de mim. Ethan gemeu e escondeu o rosto nos lençóis.

—Sim, estamos bem. — Eu falei de volta. —Está tudo bem!

—Você não teria imaginado pelos barulhos. — Disse tia Persephona sem rodeios. —Mas estamos muito felizes por vocês dois.

—Sim, parabéns pelo sexo. — Disse Cole pela porta, e minha humilhação aumentou mais dez graus. —Mas no futuro, pode levar em consideração avisar as pessoas que você está prestes a arriscar lançar um lobisomem assassino em casa!

—Ou apenas façam em outro lugar. — Sugeriu minha tia. —Um bunker trancado em algum lugar, talvez.

—Um bunker à prova de som. — Acrescentou Cole.

—Desculpe! — Eu disse.

—Isso não vai acontecer novamente. — Disse Ethan.

Cole e tia Persephona voltaram para a cama e Ethan e eu deitamos um ao lado do outro, com os ossos cansados e agora completamente envergonhados.

—Pelo menos sua tia não é do tipo conservadora? — Ethan disse, tentando aliviar o clima. Eu ri baixinho e ele se juntou a nós dois oprimidos por tudo o que tinha acontecido. Depois de um momento, levantei-me, esticando-me, para fazer uma limpeza mínima, incluindo a eliminação do cinto destruído. Teríamos que conseguir algo mais forte. Quando terminei, caí de volta na cama com Ethan, que tinha usado a última de suas forças apenas para virar o caminho certo na cama. Ele me puxou para perto quando eu me deitei, e me aconcheguei sob seu queixo.

—Só para você saber — Murmurei, meus olhos já fechados. —Isso definitivamente vai acontecer novamente.

 


O café da manhã na manhã seguinte foi desconfortável por cerca de dez minutos, até Cole contar uma piada suja que nos deixou todos em lágrimas.

—Então, como foi o sofá? — Eu perguntei a Cole, enquanto Ethan ajudava minha tia a fazer panquecas.

—Tolerável. — Disse Cole. —Eu tive pior. Seus animais se revezaram tentando me sufocar, no entanto. Você já teve um cão lobo morto tentando deitar no seu rosto enquanto você dorme?

—Sim, desculpe. — Eu disse, rindo. —O cheiro é a pior parte, certo? Estou pensando em enchê-lo de pot-pourri.

—Não pode doer. — Disse Cole. —Mas nenhuma quantidade de purificadores de ar ou taxidermia vai mudar o fato de você ter repudiado ele tarde demais. Os restos mortais estavam muito longe. Se você deseja manter algo familiar, precisa chegar ao corpo enquanto estiver fresco. Depois que o inchaço aparecer, você nunca conseguirá fazê-lo cheirar bem.

—Você está assumindo que eu repensei Mort intencionalmente. — Eu disse com um escárnio. —Ele era a coisa morta mais próxima e maior em mãos quando eu percebi que havia um lobo grande na minha casa.

—Podemos tentar evitar conversas sobre cadáveres à mesa? — Ethan perguntou com uma careta.

—Bem, então por que você não o colocou de volta? — Cole perguntou, ignorando Ethan.

—Eu estava muito ocupada no começo. — Eu disse. —Eu tentei, eventualmente, mas ele está realmente cheio de energia e não quer se soltar. E honestamente, a essa altura, ele lutou com seu leão da montanha por mim e apenas foi um cachorro muito bom em geral e, bem, me apeguei.

—É assim que sempre acontece com os perdidos. — Disse tia Persephona, balançando a cabeça enquanto colocava uma pilha de panquecas na mesa. —Você jura que vai levá-los por um dia até poder levá-los a um abrigo, e a próxima coisa que você sabe é que eles estão enrolados no seu colo e implorando por restos de presunto e você percebe que eles não vão a lugar algum.

—Mort é um pouco mais que um vira-lata. — Disse Cole, pensativo, olhando para o cachorro, que estava deitado perto das portas de correr do quintal, aproveitando o sol. —Há algo estranho sobre o quão consciente ele parece estar.

—Algo sobre a Vela, talvez? — Eu disse com um encolher de ombros.

—Isso, ou seu talento oculto, está executando algum tipo de programa mágico de comportamento canino em seu subconsciente. — Disse Cole.

—Parece plausível para mim. — Ethan riu.

Mort levantou a cabeça brevemente para bocejar, depois rolou de novo, nos ignorando.

—Eu provavelmente deveria ir ver os gatos antes de me sentar. — Disse minha tia, limpando as mãos e indo para o quintal. Seus gatos mortos-vivos não precisavam de alimentação, mas precisavam ser energizados regularmente e verificados quanto a danos em seus restos mortais, e as pragas mortas que eles entregavam tinham que ser tratadas.

—Eu posso cuidar disso depois do café da manhã. — Eu disse a ela, não querendo que ela se esforçasse.

—Não seja boba, eu consigo. — Respondeu ela com desdém, e saiu antes que eu pudesse dizer mais.

—Vamos ver o cara dos fae hoje. — Eu disse enquanto Ethan se sentava e cavamos as panquecas. —Qual é o problema dele?

—Bem, eu ainda não o conheci — Disse Ethan. —Mas as vezes em que os curandeiros descobriram algo genuinamente perigoso, ele é o principal responsável por lidar com isso. Aparentemente, ele é um profissional em garantir artefatos mágicos. Mas também ouvi dizer que ele tem uma atitude meio estranha. Provavelmente por causa da coisa falsa. Está no ar se ele estará disposto a nos ajudar.

—Você deveria suborná-lo com algumas dessas panquecas. — Disse Cole com a boca cheia. —Estas são fodidamente incríveis.

—Sim, maldito Ethan, você tem um talento. — Eu concordei com uma risada. —Acho que nunca tive panquecas tão perfeitas.

Ethan sorriu, profundamente satisfeito.

—Ele é alto, é médico, sabe cozinhar. — Disse Cole, concentrado em inalar suas panquecas o mais rápido possível. —Se ele não estivesse se transformando em um monstro do mal, seria o material ideal para o casamento.

—Bem, espero que possamos cuidar disso hoje. — Eu disse rapidamente.

—Isso significa que você me daria uma chance assim que eu for consertado? — Ethan perguntou a Cole, apoiando-se no cotovelo com um sorriso forçado. Senti uma estranha vibração de orgulho ao vê-lo sendo tão à frente. Sua voz quebrou um pouco e eu vi a tensão nervosa em seus ombros, mas ele a escondeu muito bem, considerando.

Cole, pego de surpresa, olhou para ele e engoliu em seco ao redor das panquecas na garganta.

—Garoto baixo. — Disse ele, erguendo uma sobrancelha. —Sua namorada está sentada bem ali.

—Você também pode me dar uma chance. — Eu disse, pegando a sugestão de Ethan e dando a ele o meu sorriso de queijo. —E isso não foi um não.

Cole ficou lentamente escarlate.

—Eu preciso ir. — Ele disse rapidamente, levantou-se e saiu correndo pelas portas deslizantes para ficar no quintal.

Eu ri, apesar de ter conseguido segurar até que ele fechou a porta entre nós.

—Nós provavelmente não deveríamos ter encurralado ele. — Ethan disse, parecendo pensativo através das portas deslizantes onde Cole estava embaixo da árvore, uma mão apoiada no tronco e a outra no peito como se estivesse tendo um pequeno ataque cardíaco. —Espero que não o assustemos.

—Um necromante maligno de séculos não assustou Cole. — Eu o tranquilizei. —Tenho certeza que ele pode lidar com um pouco de flerte.

—Talvez devêssemos recuar. — Disse Ethan, mordendo o lábio. —Eu não quero que ele pense que eu sou predatório ou algo assim.

—Você não é predador. — Eu disse pacientemente. —Quero dizer, exceto em luas cheias.

—Ha ha. — Ele revirou os olhos.

Depois de alguns minutos, Cole voltou para dentro e sentou-se, retornando às panquecas. Ethan e eu permanecemos em silêncio, não querendo pressioná-lo.

—Então, uh, cara dos fae. — Eu disse, retomando a conversa mais cedo. —Há muitos fae por aí?

—Acho que não. — Disse Ethan. —Ele é o único que eu conheço.

—Ele mora perto? — Cole perguntou, sem levantar os olhos das panquecas. —O tempo todo?

—Uh, sim. — Ethan confirmou, sua voz caindo em um registro mais suave quase imediatamente. Ele estava fazendo aquilo em que agia como se Cole fosse um animal nervoso novamente. —Ele tem uma casa grande perto da ravina. Ele vive lá há anos, até onde eu sei.

—Hum, incomum. — Cole murmurou, ignorando Ethan.

—O que é incomum? — Eu perguntei curiosa.

—Bem, se ele viveu entre humanos sem problemas por tanto tempo, provavelmente ele é da Corte dos fae. — Disse Cole casualmente. —E a corte dos fae não deixa as outras terras muito hoje em dia. Quando o fazem, geralmente é apenas por um dia ou mais. Para alguém que vive neste lugar há anos é muito estranho.

—Eu vou ser honesta. — Eu disse, minha confusão refletida no rosto de Ethan. —Eu nem sabia que os fae eram reais até semana passada, e ainda estava com a impressão de que eram principalmente duendes e outras coisas.

Cole recostou-se, largou o garfo e considerou suas palavras por um momento.

—Tudo bem. Cartilha de faes. Existem três tipos de Faes. — Ele disse finalmente. —Três tribunais. Os Seelie e os Unseelie, também chamados de Tribunais de Verão e Inverno, estão constantemente em guerra. Eles estão em um impasse há tanto tempo que suas vitórias e derrotas se tornaram espelhados rituais das estações atuais.

—Qual é o terceiro tribunal? — Eu perguntei fascinada.

—Fae selvagem. — Disse ele. —Qualquer coisa que não seja Seelie ou Unseelie. Então suos fae domésticas, como domovoi e brownies, seu deus local e criptos, seus espíritos da floresta e guardiões da montanha, e assim por diante, são todos Faes Selvagens desalinhados, basicamente tentando viver suas vidas e não são sugados pelo drama Seelie/Unseelie. Algumas pessoas traçam uma linha entre Faes selvagens nativas e Outras Terras Selvagens dos fae, mas, francamente, eu não acho que haja muita distinção.

—Espere o que? — Eu disse confusa.

—Acho que me lembro de Daphne mencionando algo sobre isso. — Ethan acrescentou, franzindo a testa. —Eles estavam realocando um monte de coisas mágicas antes de um empreendimento imobiliário que estava se mudando, e ela estava reclamando de tentar resolver as espécies invasoras.

—Mais como refugiados do que espécies invasoras. — Disse Cole. —A maioria dos que estão aqui fugiu das Outras Terras para escapar do recrutamento.

—Eu pensei que eles eram animais. — Disse Ethan, confuso. —A maioria dos que vi certamente pareciam animais.

—E quem os estava recrutando? — Eu perguntei.

—Quem mais? Os tribunais. — Disse Cole, e inalou uma panqueca inteira de uma só vez, sufocando sua arrogância. Quando ele pôde respirar novamente, ele continuou. —A inteligência falsa é complicada. Ela varia em todo o lugar e realmente não se encaixa nos padrões humanos. Os duendes podem parecer grandes insetos, mas são espertos o suficiente para não quererem entrar em guerra.

—E eles vieram dessas Outras Terras para fugir? — Eu perguntei.

—Alguns deles. — Confirmou Cole. —Para explicar o mais brevemente possível, a terra é... uh, a terra é uma bolha de sabão. E tem outras bolhas de sabão menores grudadas nela. Entendeu?

Eu balancei minha cabeça, mas Cole continuou.

—As bolhas menores são as Outras Terras. Pequenas realidades fraturadas. Ou talvez apenas realidades em que a física e a energia funcionam de maneira muito, muito diferente. A Terra é a maior, pelo menos pelas medições tradicionais, já que temos um universo e outras galáxias e merda, e a maioria das Outras Terras que foram vistas e relatadas por humanos são um único local que se estende infinitamente, como a Cidade Sem Fim ou a floresta de Tir Na Nog.

—Algumas das coisas que li levantam a hipótese de que as Outras Terras realmente vieram da Terra, manifestadas pelo inconsciente coletivo ou algo assim. A maioria dos livros coloca o número de Outras Terras em torno de nove. Mas isso pode ser apenas o que vimos. Os Seelie e Unseelie correm entre todas as Outras Terras, travando suas guerras e forçando qualquer Fae Selvagem que encontrarem a se juntar a eles. A Terra é a única terra que já teve sucesso em mantê-los fora, e ainda sentimos o feedback mágico de suas lutas influenciando o tempo e a probabilidade. E sempre que a luta deles se muda para outro país, temos uma onda de refugiados saindo antes da chegada do tribunal.

Ele bebeu meio copo de suco de laranja.

—Mas, voltando ao meu ponto original sobre o cara dos fae... não existem muitos fae Selvagens que podem manter a forma humana por longos períodos. Selkies, hulda, talvez. E mesmo eles não costumam gostar. A corte dos fae sempre parece principalmente humana... para humanos de qualquer maneira. Então esse cara provavelmente é de um dos tribunais. Isso é tudo.

—Se é tão fácil para eles se encaixarem com os humanos, por que eles não deixam, uh, como você chama isso? — Ethan perguntou.

—As Outras Terras. — Respondeu Cole com um suspiro, esfregando a testa. —E principalmente porque não deixamos. Tropas de faes de qualquer tribunal podem causar uma enorme quantidade de caos e danos quando correm por aqui. Quase sempre vêm em grupos e têm uma necessidade quase biológica de causar problemas. Então, em quase toda a história mágica, aperfeiçoamos maneiras de mantê-los fora dessa realidade o máximo que pudermos. Alguns séculos atrás, alguns grupos mágicos conseguiram se reunir por tempo suficiente para elaborar um contrato que limita severamente sua capacidade de interferirem, exceto o Meio Inverno, Plenos Verões e Equinócios Honestamente, há uma tonelada de coisas estranhas envolvidas. Posso encontrar alguns livros sobre isso, mas não quero ficar aqui conversando sobre isso o dia todo.

—Justo. — Eu disse. —Eu ainda estou me acostumando com tudo isso. Eu sabia muito bem que a necromancia era uma coisa, e então eu descobri sobre magia geral e a comunidade mágica, e eu estava apenas começando a descobrir isso, e agora há outras dimensões? De que faes vêm? E causam as estações do ano?

—Elas... elas não causam as estações do ano. — Gaguejou Cole rapidamente. —É... é apenas... é uma coisa cíclica e simbólica -

—Tanto faz. — Eu disse. Eu não queria ser desviada novamente. —Gostaria apenas de um dia ou dois sem nenhuma ameaça existencial para processar tudo isso, sabia?

—Sim, mesmo. — Ethan disse com um aceno de cabeça cansado. —Mas precisamos ir. Como eu disse, o cara mantém horas estranhas. Se queremos conversar com ele hoje, precisamos chegar em breve, ou teremos que esperar até tarde hoje à noite.

Terminamos o café da manhã rapidamente e saímos às pressas. A oferta de Ethan para Cole ainda estava pendente, sem solução e sem resposta entre nós, mas eu tinha medo de trazê-la à tona e angustiá-lo. Ethan e eu enchemos o silêncio do passeio de carro com conversas sem sentido sobre os tipos de Fae Selvagem que ele havia encontrado com os curandeiros.

—Então, domovoi e trasgu são basicamente os mesmos. — Eu resumi, tentando manter isso claro. —Deixe comida para eles e eles limparão a casa para você. Hobs limpam a casa para você, mas se você lhes der uma recompensa, eles ficarão chateados e vão embora. Brownies esperam recompensas, mas se você tentar vê-los trabalhar, eles ficam chateados e saem.

—Sim, você conseguiu. — Disse Ethan. —Tentar lembrar de todas as regras é a pior, certo? Especialmente quando você não sabe de onde elas vieram. Por aqui, muitas famílias traziam o espírito da casa quando imigravam para a América, e a casa mudou de mãos dezenas de vezes desde então, então descobrir que tipo de espírito é esse pode ser uma dor absoluta.

—Qual foi a pior que você já teve? — Eu perguntei, curiosa, enquanto Ethan dirigia em direção ao exterior da cidade.

—Oh cara. — Ele riu. —Uma das minhas primeiras viagens com os curandeiros foi investigar um 'poltergeist' assombrando uma casa grande e velha em Wethersfield. Só causando pequenas travessuras, desmanchando camas, rindo em salas vazias, você sabe. Nós descobrimos bem rápido que era um espírito da casa, e pensávamos que era uma variedade de Haltija finlandês, que acabou sendo um Zashiki-Warashi japonês. Eles não limpam nada, geralmente causam travessuras mesmo quando estão felizes, mas têm boa sorte... E quando eles saem de casa, é um presságio de coisas ruins loucas a caminho. Nós quase o expulsamos antes de descobrirmos o que era, o que poderia ter sido desastroso para a família.

—Oh merda. — Eu disse. —Mas você conseguiu fazer ficar?

—Sim, e ensinou a família como lidar com isso. — Disse Ethan. —O que é basicamente para ignorá-lo. Uma vez que eles sabiam que não seria toda a atividade paranormal neles, eles não se importavam tanto com as estranhezas ocasionais. Isso dá ao personagem da casa. Estamos quase lá, a propósito.

Nós tínhamos entrado em uma área residencial agradável, a rua serpenteava passando por grandes casas antigas com jardins espaçosos e um jardim impecável. Muitas das casas tinham placas históricas declarando o ano em que foram construídas, muitas das quais começaram com 17 e 18. Definitivamente, acima de todas as nossas notas salariais. Ethan olhou de soslaio para todos os endereços, contando até encontrar o certo.

O jipe desceu o longo caminho arborizado de uma grande casa do Segundo Império, afastada da estrada e protegida por vários enormes carvalhos velhos.

Tinha dois andares mais um sótão sob um telhado escuro de mansarda. Era todo em tijolo e guarnição branca, com torres ladeando a grande porta da frente e janelas altas e arqueadas. O tijolo se arrastava de hera, e o jardim ficou um pouco selvagem, embora ainda fosse mantido, a grama mantida em um comprimento manejável. A videira agridoce e a azeitona russa que incomodavam os vizinhos não tinham presença aqui. Havia um grande bordo japonês, provavelmente mais velho do que eu, e era vermelho mesmo nessa época do ano. Os canteiros de flores mais próximos da casa estavam cheios de batata-doce ornamental roxa escura, coleus cor de vinho e petúnias de veludo preto. O manjericão carmesim e o chocolate com menta se esconderam à sombra das outras plantas, enchendo o ar com seu perfume. Flores da lua, flox noturno e jasmim florescendo à noite adicionavam pequenos salpicos de cores mais brilhantes, embora todos estivessem fechados a essa hora do dia.

Estacionamos o jipe e caminhamos pelo estranho jardim para bater nas pesadas portas de madeira maciça.

—Agora lembrem-se. — Ethan disse, enquanto esperávamos o cara responder. —Faes são complicadas, então tentem ser o mais educados possível e, se ele tentar se irritar com você, não morda a isca. Ele conhece a mim e aos curandeiros, então tentarei fazer o máximo possível da conversa.

Cole e eu assentimos e imaginamos o que esperar. Imaginei um velhinho, como um gnomo, todo travesso e engraçado, embora as descrições de Cole sobre o tribunal me fizessem imaginar elfos de fantasia. Então, novamente, ele estava vivendo com seres humanos todo esse tempo. Ele provavelmente pareceria um cara, certo?

Ouvimos o clique da porta sendo aberta e eu me preparei para descobrir. A porta se abriu, revelando um jovem alto e esbelto, com longos cabelos loiros que reconheci instantaneamente.

—Você? — Eu disse, confusão me deixando momentaneamente pasma. Um segundo passou e eu respirei profundamente quando comecei a juntar as peças. —Você.

Ele olhou para mim, claramente tão surpreso em me ver quanto eu em vê-lo. Seus olhos dispararam para Cole e Ethan. Ele bateu a porta entre nós.

 

Capitulo Treze


—Ei! — Eu gritei, minha suspeita subindo instantaneamente para uma certeza irritada. Eu bati na porta. —Você volte aqui agora!

—Você o conhece? — Ethan perguntou, parecendo confuso.

—Sim, eu o conheço! — Eu disse, entre dentes. —E se ele fez o que eu acho que ele fez, eu vou matá-lo!

—Eu não sugeriria isso. — Disse Cole uniformemente.

—O que ele fez? — Ethan perguntou, perplexo.

—Ele é Greenwood! Ele era advogado imobiliário do meu tio. — Lutei para explicar, ainda batendo na porta. —Ou eu pensei que ele era, de qualquer maneira! Foi ele quem me mostrou a Vela! E se ele é umo fae, se ele está trabalhando com os curandeiros e estava lá especificamente para a Vela em primeiro lugar, então ele sabia exatamente o que estava fazendo quando ele me convenceu a tocá-la!

—Oh. — Disse Ethan. —Bem, isso não é bom.

—Ele está tentando escapar pelos fundos. — Disse Cole, coçando o rosto e se inclinando sobre o parapeito da varanda.

—Pegue ele! — Eu gritei, pulando o corrimão e correndo pela casa. Ethan passou correndo por mim um segundo depois, tirando a roupa enquanto ele se mexia. Eu peguei um vislumbre da expressão assustada de Greenwood através dos arbustos antes de Ethan, de quatro e do tamanho de um pequeno urso, atacá-lo.

Corri para alcançá-lo e encontrei Ethan deitado em cima de Greenwood, abanando o rabo quando ele me deu um sorriso orgulhoso de cachorrinho. Greenwood se contorceu e lutou.

—Me solte imediatamente! — Ele demandou. —Você não pode imaginar a ira que eu posso deixar cair sobre você, se eu escolher!

—Eu deixarei você ir assim que você me disser por que diabos você colocou essa Vela em minhas mãos! — Eu disse, de pé sobre ele. —Você tem alguma ideia do que você me fez passar? Eu quase morri três vezes na semana passada!

Cole vagava em um passeio fácil. —É melhor você apenas derramar tudo, cara. — Disse ele. —Você realmente não quer ficar preso lá fora ao meio-dia, quer? Além disso, a julgar pelo fato de ter tentado fugir a pé, você teve a maioria dos seus poderes selados ou está tentando manter um discreto, então nos ferir provavelmente não seria do seu interesse. De qualquer forma, é mais conveniente cooperar.

—Ugh. — Greenwood emitiu um som meio enojado, meio resignado e empurrou o corpo peludo de Ethan novamente. —Você pelo menos me faria o favor de remover seu animal de estimação antes de eu responder?

—Você promete não correr? — Eu perguntei.

—Você tem a minha palavra. — Disse Greenwood, com um suspiro cansado.

Ethan se levantou e se afastou de Greenwood. As calças marrons e a camisa branca, de colarinho branco, estavam bem manchadas de grama e cobertas de pelos de lobo. Ele fez uma careta de descontentamento e acenou com a mão para si mesmo. Em um instante, a bagunça desapareceu. Ele pegou as folhas dos cabelos da maneira mais convencional, enquanto passava por nós, murmurando. Eu segui logo atrás dele. Ethan permaneceu nos arbustos para voltar e recolher suas roupas.

Ele era tão lindo quanto eu me lembrava dele, embora minha atração por ele estivesse levemente azeda pela percepção de que tudo isso era culpa dele. Ele não era robusto e musculoso como Ethan ou resistente e musculoso como Cole. Ele tinha uma graça refinada que me lembrava os interesses amorosos dos romances da regência, toda a beleza masculina polida. Ele tinha feições aristocráticas e angulares e os olhos mais verdes que eu já vi. Seus cabelos eram da cor do mel à luz do sol, amarrados em um rabo de cavalo baixo com uma fita verde escura, caindo sobre o ombro em ondas sutis. Bonito como ele era inegavelmente, eu estava fortemente inclinada a chutar sua bunda.

Ele nos levou de volta à casa, através de um vestíbulo de teto alto e finamente decorado, e a uma sala de jantar formal, a mesa posta com louça vazia.

—Fale já. —, Eu disse, impaciente. —O que você realmente estava fazendo naquela sala funerária?

—Eu estava prestes a jantar. — Ele disse casualmente, gesticulando para a mesa. —Você pode se juntar a mim.

—Não é um pouco cedo? — Eu perguntei, quando ele se sentou à cabeceira da mesa, estalando o guardanapo de pano com um gesto praticado enquanto o colocava no colo.

—Prefiro dormir durante o meio dia. — Disse ele. —O horário de verão discorda de mim.

—Mais uma razão para resolvermos isso rapidamente, então. — Eu disse, puxando a cadeira mais próxima de mim e sentando-me. Ethan e Cole sentaram-se ao meu lado.

Os pratos da mesa ainda estavam vazios, embora Greenwood parecesse pronto para comer. Eu esperei, meio esperando que os servos aparecessem com comida. Em vez disso, Greenwood bateu duas vezes na mesa. O som era estranhamente alto e ecoou mais do que parecia que a sala deveria permitir. Um segundo depois, os pratos sobre a mesa estavam quase cheios da comida mais deliciosa que eu já vi, desdobrando-se como flores florescendo ou fluindo como água de uma torneira. Momentos depois havia um pequeno banquete à nossa frente.

—Uma mesa de desejos. — Disse Cole, erguendo uma sobrancelha. —Eu nunca vi uma pessoalmente.

—Ainda existem apenas três neste lugar. — Respondeu Greenwood, servindo-se dos pratos mais próximos, todos com comida que eu não reconhecia, mas que parecia indescritivelmente boa. —Eu possuo duas delas. O navio que supostamente levava o terceiro foi perdido no mar nos anos 1300 e ainda precisa ressurgir.

—Eu acho que você pretende pegá-la no minuto que aparecer? — Cole disse, cutucando curiosamente um prato perto dele que parecia macarrão com queijo e lagosta.

—Claro. — Respondeu Greenwood. —Eu coleciono essas coisas. E, por favor, sinta-se livre para comer qualquer coisa, exceto os pratos à minha frente. O que estiver mais próximo de vocês devem ser os seus favoritos ou o melhor palpite da mesa. Não há perigo. A mesa não transmite encantamento. Como a maioria dos pratos de faes faz. É muito conveniente para os hóspedes.

Cole hesitantemente tomou uma colher grande de macarrão com queijo de qualquer maneira. Ethan já estava comendo um pedaço enorme de frango frito sem arrependimentos, mesmo que a comida estivesse encantada. Testei uma tigela perto de mim, que cheirava a bisque de tomate e quase me esqueci por que estava aqui na primeira colherada. Foi a coisa mais deliciosa que eu já provei. Eu sacudi a tentação de provar tudo na mesa para iniciar meu interrogatório.

—É por isso que você estava na sala de funeral? — Eu perguntei. —Você queria recolher a Vela.

—Não é educado discutir negócios à mesa. — Disse Greenwood, sem tirar os olhos da comida.

—Eu não ligo...— Cole agarrou meu ombro e balançou a cabeça. Apertei minha mandíbula com raiva, cedendo com relutância e, depois de um momento de mau humor, servi-me de sopa.

—Então. — Disse Cole, casualmente com batatas e alecrim, —Há quanto tempo você mora na terra?

—Mais tempo do que você viveu. — Respondeu Greenwood, evasivo. —Mas não tanto tempo, comparativamente. Há quanto tempo você está sem-teto?

Eu esperava que Cole se irritasse com raiva, mas ele mal reagiu.

—Desde que eu estudei necromancia. — Respondeu Cole. —Você disse que tem convidados humanos com frequência? Você socializa bastante com os humanos?

O garfo de Greenwood pairava sobre sua comida, mas ele retomou suavemente sem mais emoções.

—Eu disse que tenho convidados. — Esclareceu. —Humano e de outra forma, exatamente com a frequência que sinto vontade de ter companhia. Necromancia é uma busca incomum. Como sua família se sente sobre isso?

—Oh, da mesma maneira que eles se sentem sobre qualquer mágica. — Disse Cole novamente, sem reação emocional, apesar da farpa. Eu não tinha visto ninguém trocar respostas e insultos velados como este desde a última reunião de família. Ou não tão velado, no caso de Greenwood. —Como o tribunal se sente sobre seus... Hábitos?

Um músculo na mandíbula de Greenwood se contraiu, e ele segurou o garfo com força, mas sua expressão e tom permaneceram neutros.

—Eu nunca imaginaria adivinhar os sentimentos do tribunal. — Disse ele. —Eu opero com a permissão da minha rainha, e isso é tudo o que é necessário. Entendo que sua família está morta, então? Que trágico.

—Oh, não, eles estão vivos. — Disse Cole com um pequeno sorriso frio. Greenwood agarrou seu garfo com tanta força que pensei ouvi-lo estalar. —Você disse que sua rainha mandou você aqui? Agora, qual rainha seria exatamente?

Greenwood bateu com o garfo na mesa e se levantou.

—Perdoe-me. — Disse ele. —De repente, perdi o apetite.

Cole bufou e Greenwood lançou um olhar perigoso para ele.

—Ótimo. — Eu disse imediatamente. Não entendi exatamente o que Cole havia feito, mas não desperdiçaria a oportunidade. —Então vamos voltar aos negócios. Você me deve uma resposta.

—'Você me deve' é uma frase perigosa para brincar com os fae. — Disse Greenwood, batendo duas vezes na mesa. —Levamos a dívida muito a sério.

De repente, a comida na mesa desapareceu completamente, deixando os pratos brilhando como se nunca tivessem sido usados. Ethan bateu os dentes em um pedaço de frango que não estava mais lá e franziu o cenho deplorável.

—Você conscientemente me colocou em perigo quando eu nunca fiz nada com você. — Eu disse, levantando-me também. —Eu diria que isso significa que você me deve.

—Eu estava simplesmente devolvendo uma herança familiar valiosa ao seu legítimo proprietário. — Respondeu Greenwood. —Um ato de caridade pelo qual fui recompensado com violência e grosseria. Se alguma coisa, você me deve.

—Você sabia que a Vela era perigosa! — Eu o acusei.

—Você não pode provar isso. — Respondeu ele, sublime.

—Uh, na verdade — Ethan interrompeu, levantando a mão. —Eu ouvi sua conversa sobre a Vela com os curandeiros. Daphne deixou bem claro o quão perigosa era a Vela e o que poderia acontecer se acabasse nas mãos de um necromante. Quero dizer, mesmo que você não deva a Vexa, você provavelmente deve aos curandeiros a promessa de ajudá-los e depois distribuir a Vela em vez de recuperá-la. E, como eu represento os curandeiros, acho que isso significa que você me deve?

Um rubor subiu pela nuca de Greenwood, mas ele respirou fundo e o dispensou.

—Tudo bem. — Ele disse. —O que exatamente você quer?

—Eu... — Comecei a exigir respostas, depois me lembrei do que estávamos realmente fazendo aqui. Ele pode apenas nos deixar ter um favor. Eu não queria desperdiçar isso explicando algo que já estava feito. —Queremos que você ajude Ethan. Ele tem uma maldição. Não sabemos quem a lançou ou quais são os parâmetros para quebrá-la, e seu progresso foi acelerado. Precisamos quebrá-la rapidamente.

Greenwood olhou para Ethan com expectativa.

—Sim, é isso que eu quero. — Ethan disse depois de um momento, quando percebeu que o homem Fae esperava por sua confirmação. —Por favor. Tudo o que você puder fazer será apreciado.

Greenwood suspirou e esfregou os olhos.

—Tudo bem. — Ele disse. —Se é realmente isso que você quer. Parece um pouco inútil para mim, mas é sua perda.

Ele nos levou para fora da sala de jantar e para dentro da casa. Passamos por longos e opulentos corredores, salas estranhas, grandes salões de baile, subindo e descendo escadas sem fim. A casa era muito maior do que aparecia do lado de fora. Também ficou cada vez mais claro que a vista pelas janelas pelas quais passávamos não era da vizinhança que deveriam ter sido. Vi ruas movimentadas em cidades estrangeiras, montanhas desconhecidas, praias tropicais. E uma ou duas vezes vi paisagens que eu sabia que não existiam em nenhum lugar da terra.

Enquanto caminhávamos, entrei ao lado de Cole. —O que foi aquilo na mesa? — Eu perguntei a ele em um sussurro curioso.

—Os fae vivem de acordo com regras como se fossem leis da natureza, certo? — Ele disse. —Incluindo rituais de etiqueta. Se você insistisse em conversar sobre negócios à mesa, ele teria justificativa para expulsá-la. Caso contrário, ele continuaria comendo até desistirmos e sairmos ou desmaiarmos ou o que for.

—Então você teve que fazê-lo querer sair da mesa? — Eu assumi, e Cole assentiu.

—Pergunta por pergunta é uma das regras mais comuns dos fae. — Explicou. —Eu continuava fazendo perguntas que ele não queria responder. Felizmente, descobri a melhor maneira de irritar as pessoas é algo em que eu sou naturalmente talentoso.

—Como você sabia que funcionaria? — Eu perguntei, sentindo uma estranha combinação de medo e alívio retroativos.

Cole não tinha uma resposta.

Por fim, Greenwood parou diante de um par de enormes portas de madeira esculpidas com a imagem de uma árvore gigante. Seus galhos cresciam além do topo da porta, brotando folhas verdes vivas. Uma águia esculpida estava entre os galhos e uma serpente enrolava nas raízes. Um esquilo de olhos brilhantes empoleirava-se logo acima do buraco da fechadura. Não havia maçanetas, mas quando Greenwood se curvou e sussurrou algo no buraco, a porta se abriu silenciosamente por conta própria.

—Por aqui. — Disse ele, entrando pelas portas. —Se vocês valorizam a sanidade e várias partes do corpo, não toquem em nada.

Cole, Ethan e eu trocamos um olhar, todos nós sentimos que essa era provavelmente a nossa última chance de voltar. Não sabíamos remotamente no que estávamos caminhando, mas eu sabia que era a nossa melhor chance de salvar Ethan. Respirei fundo e segui Greenwood pela porta.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Quatorze


Entramos em uma enorme biblioteca com prateleiras alinhadas nas paredes que subiam pelo menos dois andares. O teto de vidro derramava luz dourada no final da tarde através da sala, embora, quando chegássemos, já estivesse bem antes do meio dia. A sala estendia pelo menos o comprimento de um campo de futebol em qualquer direção, e as portas em arco abertas em cada extremidade implicavam que havia mais além delas. A sala, cheia de parede a parede, tinha coisas em estantes de vidro, mesas de madeira escura e tanques enormes - um milhão de objetos diferentes, fantásticos e mundanos, incrustados de jóias e envoltos em trapos, enormes e pequenos, impossíveis e absolutamente insignificantes. Fiquei completamente impressionada, atordoada com um silêncio reverente e admirado.

—Por aqui. — Disse Greenwood, impaciente, levando-nos através das filas de caixas, passando por um astrolábio de ouro girando no ar a um pé acima do suporte em que estava colocado. O estojo ao lado continha um pesado livro encadernado em couro, do qual baratas e moscas se arrastavam constantemente, apenas para se dissolverem em pó a alguns centímetros de distância. No passado, havia um guarda-chuva vermelho que, apesar de estar em um estojo reforçado com várias fechaduras pesadas, parecia ser completamente normal. Eu tive que lutar contra o desejo de parar a cada poucos metros para encarar cada nova maravilha intrigante que passamos. Muitos deles pareceriam estranhos até para a visão normal. Mas, para meus sentidos mágicos, eles absolutamente se arrastavam com magia. Alguns foram infundidos, a magia fluindo através deles como sangue pelas veias. Outros pareciam completamente mágicos, seus componentes comuns eram uma fachada fina.

Debaixo da minha camisa, eu usava um pingente de madeira, um amuleto que Ethan me deu que me permitiq entendê-lo enquanto ele estava em sua forma de lobo. Até esse momento, tinha sido a peça de magia mais incrível que eu já vi. Fiquei perplexa e fascinada pela habilidade e delicadeza envolvidas em sua criação. Aquele feitiço, que eu havia colocado à noite olhando com tanta admiração, parecia positivamente desajeitado nesse tesouro de encantamentos, como um cisne de origami dobrado por um amador habilidoso ao lado de uma obra-prima.

Certamente, alguns dos itens aqui eram menos delicados em sua elaboração. Havia uma pilha de moedas de prata que não mostrava nenhum traço fractal cuidadosamente dobrada em encanto. Mas mesmo estes queimavam com um tipo de força e emoção crua que me fazia tremer se olhasse por muito tempo. Eles foram carimbados com uma única e poderosa letra, pesada com significado cósmico. Meus sentimentos eram os mais próximos do êxtase religioso que eu já havia experimentado.

Corrigida pelo oceano de dor preso dentro das moedas, pulei quando Greenwood me deu um tapinha no ombro.

—É melhor não olhar por muito tempo. — Ele aconselhou, colocando um braço em volta de mim para me orientar. —Pode ser perigoso.

—O que é tudo isso? — Eu disse, extasiada demais para lembrar que estava com raiva dele. —É incrível... lindo. Olhe para os fractais geométricos daquele! Como eles fizeram isso? E aquele, Deus, o feitiço quase parece vivo, como flores crescendo! Onde você aprende isso? Quem fez isso? Como?

Greenwood levantou uma sobrancelha enquanto eu balbuciei, mas um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca fina.

—Curioso. — Ele disse. —A maioria das pessoas que vê minha coleção quer saber o que faz, não como é feita.

—Bem, eu quero saber isso também. — Eu disse, um pouco sobrecarregada. —Mas você também pode perguntar para que serve uma mesa barroca antiga. É uma obra de arte. O valor está no artesanato, não na utilidade.

—Estou inclinado a concordar. — Disse Greenwood. —Aqui, você notou este vaso? Viu como o feitiço é trabalhado para seguir o padrão na porcelana?

—Isso é incrível! — Eu jorrei, me inclinando para ver. —Olha, é mesmo nas folhas minúsculas!

Cole pigarreou, chamando minha atenção. Cole franziu a testa e Ethan, envergonhado, alternando entre olhar entre o teto e o chão.

O braço de Greenwood ainda estava ao meu redor e encolheu os ombros rapidamente, meu rosto quente. Greenwood recuou, mãos no ar e, com um gesto elegante, nos levou novamente.

Ethan perguntou baixinho, a preocupação apertando seus olhos. —Ele não está trabalhando em algum tipo de encantamento em você ou o que seja, está? — Ethan perguntou em voz baixa, preocupação apertando seus músculos faciais.

—Não. — Eu disse rapidamente, depois pensei duas vezes e me examinei. —Não, acho que não. Isso é uma coisa muito legal! Eu nunca estive com esse tipo de magia antes. É emocionante!

—Tudo bem. — Ethan disse, sorrindo, ainda parecendo preocupado. —Seja cuidadosa.

—Mantenha o foco. — Sugeriu Cole. —Ainda não podemos confiar nesse cara. Se ele tiver a oportunidade, poderia fazer muito pior do que simplesmente nos expulsar.

Eu assenti, lembrando a mim mesma por que estávamos aqui. A vida de Ethan dependia disso. Não era hora de se distrair com coisas legais e brilhantes.

Greenwood nos levou a um dispositivo estranho, com uma variedade de espelhos e lentes de aumento em uma complicada armadura dourada. Era mais alto que Greenwood e atualmente estava sobre uma mesa comprida sobre a qual repousavam vários pequenos objetos encantados.

—Vidro do artífice. — Explicou, enquanto eu me maravilhava com o feitiço incrivelmente sutil nas molduras douradas em torno de cada lente. —Muito raro e muito útil para examinar mágica. Eu o uso para estudar e manter os encantamentos da minha coleção.

—Essa é a moeda da sorte que encontramos no outro dia? — Ethan perguntou, apontando para uma moeda mais brilhante que o normal, deitada em um banco.

—É. — Confirmou Greenwood, atendendo. —O efeito de distorção da probabilidade parece ser um pouco mais forte que o normal. Eu estava tentando discernir a causa. Parece haver um parágrafo no script mágico que fecha a brecha usual de perda/ganho. Até certo ponto.

Ele me ofereceu, e eu o peguei sem pensar, embora Cole tenha feito um barulho de aviso em sua garganta.

—É inofensiva. — Assegurou-me Greenwood. —Moedas da sorte são muito pequenas mágicas. Existem milhares delas em circulação, pelo menos. A maioria das pessoas nem percebe o que tem. Mas elas podem tornar a vida um pouco mais fácil.

—Obrigada. — Eu disse, colocando no bolso do meu vestido. —Eu agradeço.

—Não, obrigado. — Disse Greenwood com um sorriso que não tocou muito em seus olhos. Eu senti que tinha cometido um erro, mesmo que Cole parecesse impaciente, mas nenhuma desgraça caiu sobre nós. Em vez disso, Greenwood acenou para Ethan em direção ao banco, afastando os outros artefatos. —Por favor, sentem-se.

Com um olhar cauteloso em direção à saída, Ethan se sentou na beira do banco e Greenwood ajustou o vidro do artífice, arrastando lentes e espelhos para a posição entre ele e Ethan e ajustando uma série de botões complicados ao lado de cada lente com uma graciosa confiança de um músico tocando um instrumento.

Eu assisti por cima do ombro dele, enquanto imagens estranhas entraram e saíram de foco enquanto Greenwood fazia ajustes - redes de energia, espirais de magia ambiental, vazios misteriosos e, uma vez, uma imagem de um longo e escuro corredor cheio de Velas. Algumas lentes eram de vidro transparente, mas Greenwood olhou através delas e ajustou seu foco, da mesma forma, como se ele visse algo lá que eu não podia.

Finalmente, uma das lentes refletia uma imagem do núcleo da maldição de Ethan. Eu já o havia visualizado enquanto tentava suprimi-lo. Era mais ou menos esférico, como um novelo de fios enrolado, firmemente tecido e emaranhado. Ele apodrecia, queimava e vazava, vermelho lívido e amarelo doentio. Era ao mesmo tempo imundo e patético, inspirando pena e nojo... e náusea.

—Essa é desagradável. — Disse Greenwood à toa. —Maldições de monstros são raras hoje em dia, e essa é forte. Eu garantiria quem fez isso há algum tempo.

—Existe algo que você possa fazer para quebrá-la? — Eu perguntei. —Ou nos dizer quem pode?

—Deixe-me ver. — Greenwood cantarolou, discando as lentes para mais perto. —Eu posso ver por que você teve dificuldade. O lançador definitivamente se esforçou para esconder sua assinatura. Eu quase diria que não havia, mas isso é impossível.

—Por quê? — Ethan perguntou, mudando para ver através das lentes.

—Fique quieto. — Disse Greenwood bruscamente, inclinando a lente e ajustando algo novamente. —É impossível, porque isso significaria que esta é uma maldição autoinfligida-

—Cole mencionou isso antes. — Eu disse. —Eles são realmente fracos, não são?

—Exatamente. — Confirmou Greenwood. —Mesmo as maldições auto-infligidas mais fortes nunca fazem nada que não possa ser descartada como coincidência ou acidente. Elas nunca poderiam se manifestar fisicamente dessa maneira. Não, esse é definitivamente o trabalho de um indivíduo muito qualificado. Alguém com muito conhecimento prático sobre maldições. Francamente, quase parece que-

Greenwood congelou, encarando a maldição. Um momento depois, ele começou a ajustar rapidamente os mostradores, aproximando ainda mais.

—Não. — Ele murmurou. —Não, não pode ser.

—Não pode ser o que? — Ethan perguntou, ficando um pouco pálido. —O que há de errado?

—Ele não ousaria. — Zombou Greenwood, ainda claramente falando consigo mesmo. Ele rangeu os dentes enquanto olhava para a lente a menos de uma polegada de distância, examinando as minúsculas linhas de texto mágico escritas nos fios atados da maldição. —Aquele pequeno duende, ele não ousaria!

Ele se lançou em uma diatribe em um idioma que parecia água se movendo sob gelo ou vento através de galhos nus. A julgar pela velocidade e vitríolo por trás de suas palavras, ele não gostou do que viu através das lentes.

Ele empurrou o copo do artífice abruptamente, rosnando para si mesmo na mesma língua e saiu correndo.

—Ei, o que você achou? — Eu liguei para ele. —O que está acontecendo?

Ele não respondeu, correndo em direção a um suporte de guarda-chuva cheio de bengalas, cajado e paus. Ele os examinou, deixando alguns de lado com um gesto impaciente. Alguns atingiram o chão e soltaram faíscas ou ficaram lá, cantarolando intensamente enquanto vibravam através do azulejo. Finalmente, ele emitiu um ruído vitorioso e sem palavras, enquanto puxava uma velha bengala de madeira com um buraco na cabeça densamente atado.

—Greenwood! — Eu gritei, tentando chamar sua atenção. —O que está acontecendo?

Em vez de responder, ele bateu a bengala no chão. Com um eco que sacudiu as vidraças do telhado, uma porta se abriu no ar diante dele. Nada como o buraco irregular que o feitiço de teletransporte de Uther havia feito, suas nítidas bordas redondas enroladas e floridas com floreios simétricos de poder, ao mesmo tempo geométricos e orgânicos, como uma janela art nouveau para outro mundo.

Sem outra palavra, ele avançou para dentro dela. O choque diminuiu minhas reações, antes que eu corresse para frente. Ethan e Cole gritaram meu nome, mas então eu já tinha colidido com a superfície do portal que se fechava rapidamente, que rompeu minha pele como água fria enquanto o seguia para o desconhecido.

 

 

 

 

 


Capitulo Quinze


O portal se fechou atrás de mim com pressa apenas um segundo depois que eu o atravessei, a sensação de água fria ainda persistindo.

Fiquei imediatamente impressionada com uma sensação de vertigem e confusão severas. Eu não estava em lugar nenhum na terra.

Um espaço incomum de lavanda se estendia ao meu redor, o ar e a terra da mesma tonalidade azul-púrpura suave, se o ar fosse de fato ar - sólido e presente, como uma névoa espessa, mas com uma textura como espuma ou chantilly. Essa textura se chocou contra a minha pele e eu a vi muito mais longe do que deveria. Não consegui encontrar o horizonte porque a terra não era plana. Ela subia e descia em ondulações e cavidades como um cobertor de cetim, captando luz em suas curvas em iridescência holofílica.

Não consegui encontrar um ponto em que as colinas distantes obscurecessem minha visão. Que luz produzia sombras profundas e cintilantes e arco-íris efêmeros na superfície de seda do solo? Onde estava o sol? Lutei para racionalizar o que vi, imaginando a terra curvando-se ao meu redor como uma esfera. E, no entanto, eu também tinha uma impressão distinta do céu, mesmo que apenas por causa das cidades e castelos brilhando como nácar e mancha de óleo, que pareciam estar mais enraizados nele do que no chão em que eu supostamente estava.

—Venha comigo! — Uma voz gritou, parecendo impossivelmente distante e depois como um sussurro no meu ouvido. —Se você não quer se perder, não deve demorar.

Eu me forcei a suportar a terrível visão sem fim à minha frente, para onde Greenwood estava, batendo com o pé impaciente. Ele olhou perto o suficiente para tocar, mas quando eu o alcancei, a distância entre nós poderia ter sido de quilômetros. Náusea subiu em mim, que eu lutei para suprimir. Eu fiz um som desumano de um animal em terror absoluto, meu cérebro lutando para compreender.

—Você está bem. — Gritou Greenwood. —Você não está morrendo, corre um risco bastante mínimo e, se você se apressar, sairemos daqui a pouco.

Agora isso era motivação. Hesitei de qualquer maneira, sem saber se caminhar era algo que eu realmente poderia fazer neste pesadelo. Meu corpo não foi construído para quaisquer leis que este lugar obedecesse. Meus músculos ainda poderiam se contrair, meu sangue ainda bombearia? Obviamente, meus neurônios ainda disparavam, mas Deus, por quanto tempo? Eu estava no fundo de uma piscina, prendendo a respiração, momentos longe de ficar sem ar?

Uma mão agarrou meu braço, dedos enrolando sem parar em torno de uma coluna da minha própria pele e músculo muito longe para estar sob meu próprio controle. A mão, que deveria ter sido Greenwood, embora ele ainda parecesse impossivelmente distante, me puxou para frente e, tropeçando, aprendi a mover minhas pernas novamente.

—Pronto, viu? — Greenwood disse com um bufo. —Não é tão difícil, é? Agora, apresse-se!

Ele me soltou, virou-se e, em um instante, tornando-se um local pouco visível no horizonte. Corri para acompanhá-lo, meu coração se apavorou com o pensamento de ser deixada para trás. Eu dei três ou quatro passos e bati diretamente nas costas dele.

Com um suspiro sofrido, Greenwood me ajudou a levantar. Eu caí? Quando eu caí? No que eu pousei? Eu cheguei a terra? Ele colocou um braço em volta de mim para me guiar para a frente, o que eu apreciei profundamente. Eu ainda não tinha cem por cento de certeza de como minhas pernas funcionavam, e eu estava assustada e sem sentido e queria segurar alguém. Eu desejei o conforto da proximidade de Ethan. Ele teria odiado isso, e eu não acho que Greenwood teria parado para ajudá-lo. Eu não tinha certeza do por que ele parou para me ajudar.

—Estou ajudando você pela mesma razão que lhe dei a Vela. — Disse Greenwood, e percebi com um leve choque que estava falando quase sem parar desde que entrei no portal em um fluxo aterrorizado de consciência. Fechei a boca e me concentrei na sensação de tê-la fechada. Quando dominei o não falar, tentei falar novamente.

—Você ainda não me disse por que me deu a Vela. — Eu disse. Minha voz soou estranha, como ouvir uma gravação minha tocada através de um gramofone em outra sala. E falar deliberadamente enquanto caminhava era difícil.

—Eu queria ver o que aconteceria. — Disse Greenwood casualmente. —Não há um descendente de Aethon tão poderoso quanto você em várias centenas de anos. Eu queria ver o que você faria.

—É isso aí? — Eu perguntei, um pouco atordoada.

—É isso aí. — Ele confirmou. —Joguei um curinga em um jogo que não estava jogando, e se quero ver como o jogo termina, não posso permitir que meu curinga seja perdido nas Terras Distantes.

—É assim que este lugar é? — Eu perguntei, arriscando um olhar ao meu redor novamente, do qual me arrependi um momento depois. —As Outras Terras?

—Uma delas. — Disse Greenwood. Seus passos eram impossivelmente longos, estendendo-se para sempre à nossa frente, comendo terra. E a atmosfera lilás se juntou ao seu redor, envolvida em seus longos membros e cabelos dourados. Ele usava um terno da cor do crepúsculo agora, em vez das calças simples que ele usava quando atravessamos o portal. O casaco de gola alta, as rendas na garganta, ecoavam como algo antigo ou equestre, mas o delicado bordado na gola e nas mangas transbordava de símbolos muito mais antigos e uma espécie de vegetação densa e profunda que me lembrava as Tapeçarias do Unicórnio.

—Estas são as terras longínquas. — Explicou. —Título descritivo, eu sei. Aqueles que sabem com que frequência os usam para viajar.

—Viajando para onde? — Eu perguntei, tão confusa quanto fascinada e enjoada. —Como?

—Qualquer ponto do reino. — Disse Greenwood, com um gesto abrangente de sua equipe. —Mas acho-os mais convenientes para navegar na Terra.

Vendo minha confusão, ele suspirou. —Alguém lhe deu a comparação da bolha de sabão, não foi? — Ele perguntou, e eu assenti. —Bobagem redutora. As Outras Terras não estão conectadas pela Terra. Elas não são uma extensão dela ou nascem dela. A Terra é exatamente o mesmo tipo de coisa que elas são. Realidades se sobrepõem como casca de cebola, ocupando o mesmo tempo e espaço em diferentes comprimentos de onda, nenhuma maior ou mais significativa que a outra, não importa o quanto os habitantes de cada um possam querer reivindicar que sua casa é superior.

—Eles ocupam o mesmo espaço, entende? Essa é a parte importante. Mas o conceito de distância é diferente nas Terras Distantes. Para permanecer ofensivamente redutivo, um passo aqui se traduz em uma magnitude muito maior de distância na Terra. Com o trânsito, pode levar uma hora ou mais para chegar aonde estou indo. Dessa forma, leva apenas um momento, dando à pessoa que vou matar muito menos tempo para perceber que estou indo e escapando.

—Oh. — Eu disse, tentando processar nada disso e não estava certa de ter conseguido. —É isso que Uther faz?

Disfarçado, Greenwood disse: —Esse truque? É claro que não. Ele nunca conseguiu reunir o poder de realmente passar entre reinos. Ele mal consegue ficar um pouco fora de fase com a Terra e dificilmente pode sustentá-la por mais que um momento. Ele ele o usa para atravessar paredes e parecer mais impressionante. Ele acha que está sendo esperto, estacionando atrás da biblioteca e caminhando diretamente para a sala de estudo como se não tivéssemos visto seu miserável junker amuado atrás das lixeiras como um gato indigente. Idiota pomposo.

—Espere. — Eu disse, quando ele parou e me soltou. —Você disse que vai matar alguém?

—Sim. — Disse Greenwood, arreganhando os dentes em um sorriso que mais parecia um rosnado. Ele bateu no chão com seu cajado e outro portal foi aberto, onde foram reveladas ruas abençoadamente normais de uma terra boa e sólida. Greenwood entrou e eu segui um segundo atrás dele.

Engoli em seco no ar frio da noite com alívio, passei meus braços em volta de mim e tomei um momento apenas para apreciar meus membros sendo todos do comprimento certo e tudo tendo geometria que fazia sentido. Mas não tive muito tempo para gostar de voltar a um universo que fazia sentido.

Greenwood correu para a frente, as botas estalando na calçada molhada. Era começo da noite e parecíamos estar em um beco no centro da cidade em algum lugar, sem saídas. Os prédios a fechavam completamente. A única maneira de entrar ou sair era uma porta de segurança indefinida em uma extremidade estreita. Greenwood caminhou em direção a ela. Ele bateu com força no final do cajado e uma janela se abriu. O holofote lotado de mariposas acima da porta projetava a abertura na sombra, tornando a pessoa atrás dela invisível.

—Senha. — Exigiu uma voz.

—Não visitei recentemente. — Disse Greenwood, com seu sorriso mais charmoso. —Acredito que foi 'Amanhecer de Tahitian' da última vez?

—Não usamos nomes de coquetéis como senhas há anos. — Disse o cara atrás da porta. —Tente novamente.

—Isso é urgente. — Disse Greenwood, parecendo um pouco tenso. —Era uma senha válida da última vez. Se você pudesse apenas-

—Não posso nada. Se você já esteve aqui antes, sabe como o chefe é sobre segurança.

Eu pulei quando outro portal se abriu no outro extremo do beco. Um jovem casal saiu correndo, o cara enfiando o que parecia uma antena de carro em seu casaco. Eles estavam a uma pequena distância de nós, esperando sua vez na porta enquanto Greenwood discutia com o homem da porta.

—Nem todo mundo tem tempo para acompanhar essas coisas! — Greenwood disse frustrado. —Ele não pode esperar que as pessoas acompanhem se ele está sempre mudando. Ele me conhece. Se você pudesse apenas trazê-lo aqui...

—Ele está ocupado.

—Se você apenas mencionar meu nome.

—O chefe não tem tempo para lidar com todas os fae obscuras que tentam se infiltrar pelas costas. Se você quiser entrar sem a senha, tem que derramar sua mágica na porta da frente como todo mundo.

—Eu não tenho tempo-

—Você se afasta e deixa os clientes reais passarem, senhor?

Lívido, Greenwood se afastou para o jovem casal se aproximar, afastando-se o suficiente para o porteiro ficar satisfeito. Fui com ele, minhas mãos nos bolsos, mexendo na moeda da sorte.

—Nita, seja bem-vinda de volta. — Disse ele. —Senha?

A jovem inclinou-se para sussurrar algo, o som bem mascarado pelo ruído ambiente do beco. A porta se abriu, o som fraco da música e da conversa escapando, e o casal entrou. Mas quando Greenwood se aproximou, fechou novamente.

—Se você me desse um momento de vantagem da dúvida. — Disse Greenwood, com um gesto frustrado. —Garanto-lhe que Julius me conhece!

—Então entre pela frente sem sua mágica e obtenha a senha dele. — Disse o porteiro. —Porque você não está entrando aqui.

—Hum. — Eu limpei minha garganta, parando na frente de Greenwood. —Se eu souber a senha, posso trazê-lo comigo?

—Os hóspedes são permitidos. — Disse o homem da porta com óbvia relutância.

—É lobelia erinus. — Eu disse.

Suspeito, ele apertou os olhos para mim através da janela e abriu a porta.

—Cause qualquer problema e eu vou expulsá-lo pessoalmente. — Disse o homem da porta. —E eu vou me certificar de que dói.

—Finalmente. — Greenwood bufou e empurrou a porta e eu o segui, curiosa. Eu pulei quando a porta se fechou. O porteiro era uma parede muscular de um metro e oitenta de altura, sob a pele azul-acinzentada, como pedra viva. Olhos amarelos me encaravam entre presas salientes e chifres grossos, apontando para a frente. Uma cauda longa voava atrás dele como a de um gato bravo. Ele não pareceu surpreso com o meu flagrante, boca aberta olhando.

—Acostume-se a isso, querida. — Disse ele. —Há coisas mais estranhas lá dentro.

Alcancei Greenwood.

—Como você soube a senha? — Ele perguntou, soando um pouco curioso.

—Mariposa morta no holofote. — Expliquei. —Eu apenas ouvi enquanto a outra pessoa falava com o porteiro.

—Inteligente. — Disse Greenwood. —Eu deveria dizer a Julius que ele tem um buraco na segurança dele.

Ele caminhou rapidamente pelo longo corredor que dava para a porta de segurança. Havia quatro portas nesse corredor cobertas por cortinas de miçangas, símbolos que eu não reconhecia esculpidos acima de cada uma. Greenwood enfiou a cabeça por cada cortina e vi vislumbres de pessoas em mesas e cabines, conversando, bebendo e comendo como de costume. Exceto que muitas dessas pessoas eram clara e obviamente não humanas. Vi asas, cascos, caudas, chifres, tentáculos e coisas que não consegui descrever. Foi o suficiente para me fazer pensar se as Terras Distantes não haviam permanentemente mexido no meu cérebro.

No final, o corredor se ramificou, levando em direção a mais das pequenas salas de jantar, e outra porta estava coberta por uma cortina pesada. Greenwood verificou essa também, e vislumbrei a frente do estabelecimento. Era um bar grande e confortavelmente casual, com uma atmosfera de pub distintamente do velho mundo. Todos na frente pareciam humanos, embora meus sentidos mais mágicos soubessem que irradiavam poder. Havia um punhado de normais entre eles, mas este era claramente um lugar para pessoas como eu. A comunidade mágica, ali mesmo, esperando por mim. Havia também uma quantidade absurda de energia ligada nas paredes, no chão e até nas mesas de madeira. Este lugar estava encantado como o inferno.

Um homem mais velho, de cabelos grisalhos, bonito e distintamente musculoso sob o colete de couro, atendia no bar, rindo de uma piada compartilhada pelo homem cuja bebida ele servia. Enquanto Greenwood examinava a sala, o barman nos viu. Ele largou a garrafa que segurava e se dirigiu a nós, mas Greenwood já estava se afastando por um dos corredores.

—Gwydion!

O barman atravessou a cortina e correu atrás de nós, mas Greenwood o ignorou.

—O que quer que ele tenha feito desta vez, eu sei que ele provavelmente merece o que está por vir. — Disse o barman, tentando acalmar Greenwood. —Mas você conhece as regras. Se você fizer isso aqui-

—Eu não vou matá-lo em seu precioso bar, Julius. — Disse Greenwood bruscamente, puxando outra cortina de contas e deixando-a cair em decepção. —Nem colocarei em risco nenhum de seus clientes. E tenha certeza de que a surra que ele vai ter é ricamente merecida.

—Você sabe que eu confio em você. — Protestou Julius. —Mas meus outros convidados-

Greenwood abriu outra cortina e instantaneamente um vento gelado correu pelo corredor, me esfriando até os ossos e arrancando os cabelos de Greenwood da fita, fazendo-o voar em torno de sua cabeça. Ele tinha a aparência de um deus vingativo.

—Gilfaethwy! — Greenwood rugiu.

Em uma mesa no centro da sala, um homem que parecia muito parecido com Greenwood, de fato, sentava-se como um cervo com um copo de cerveja nos lábios. Todos na sala olharam para Greenwood no momento, mas o medo nos olhos do homem deixava claro que ele sabia exatamente para que estava encrencado. Houve um momento tenso de quietude. E então o homem cuspiu sua cerveja diretamente em Greenwood. Ele explodiu em vapor no ar, obscurecendo a visão de Greenwood. Greenwood atirou-o para fora do caminho com uma rajada de vento frio e um gesto de corte furioso, mas o homem desapareceu.

Eu gritei e pulei para fora do caminho quando um grande esquilo marrom passou correndo pelos meus pés.

—Gilfaethwy, seu merdinha traiçoeiro! — Greenwood gritou. —Você não vai ficar longe de mim tão facilmente!

Dobrou-se como um mosaico estranho e, um instante depois, um falcão voou atrás do esquilo com um grito de raiva.

—Não no bar! — Julius gritou atrás deles. —Não no bar!

Bateu palmas com as mãos poderosas e os anéis de prata nos dedos brilhavam com um trabalho de corrida intrincado. Um portal se abriu na frente do esquilo, que tentou se esquivar dele, mas com outro gesto de Julius, foi varrido, seguido de perto pelo falcão.

Corri atrás deles e Julius correu atrás de mim, pulando através do portal, que dava para o mesmo beco por onde entramos. O falcão pegou o esquilo enquanto eu observava, voando alto no ar. Mas um segundo depois o esquilo torceu e se tornou uma cobra grande, que se levantou e mordeu o falcão com presas semelhantes a punhais. O falcão caiu no telhado de um prédio próximo com um grito de dor.

—Greenwood! — Eu gritei horrorizada.

Julian bateu palmas novamente e uma escada apareceu, as peças retiradas de mil lugares secretos do outro lado do beco. Não parei para questionar. Subi rapidamente, aterrorizada por encontrar Greenwood morto no topo.

Em vez disso, os cascos agitados de uma cabra quase tiraram minha cabeça. Um rato mexeu-se em seus pés, que ele tentava furiosamente pisar. Um segundo depois, o rato se tornou um grande veado, jogando a cabra no ar com seus chifres. Um momento depois, a cabra era um lobo, afundando os dentes no flanco do veado.

—Oh, eles estão nisso agora. — Disse Julius, subindo ao meu lado. —Melhor ficar fora do caminho.

—Qual é Greenwood?— Eu perguntei, quando o cervo se tornou um leão para devorar o lobo, que se tornou uma vespa para picar o rosto do leão, que se tornou uma andorinha para comer a vespa.

—Gwydion? Só Deus sabe. — Disse Julius com um sorriso, me dando um tapinha no ombro. —Não se preocupe muito. Quando eles ficam assim, é melhor deixá-los sair do sistema. Eles vão se desgastar em breve. Isso provavelmente é um par de décadas de poder armazenado está queimando agora. Apenas aproveite o show.

Ele acenou com a mão e um saco de pipoca apareceu, que ele me ofereceu. Recusei, correndo pelo telhado quando a vespa se tornou um gato e arrancou a andorinha do ar, que se tornou um coelho e saltou para o outro lado do telhado. O gato tornou-se um galgo e perseguiu, os dois pulando através da abertura para os azulejos do prédio seguinte.

—Quem é aquele cara? — Eu perguntei, com o coração acelerado enquanto procurava um caminho a seguir, pegando uma tábua solta e jogando-a através da abertura, feliz por não ser grande.

—Gilfaethwy. — Explicou Julius, segurando o quadro para mim enquanto eu corria. —Irmão de Gwydion. Mais ou menos.

—Tipo? — Eu perguntei, segurando-o para que ele pudesse atravessar também, mas ele apenas caminhou ao lado, como se o ar fosse solo sólido.

—Bem, as Fae não têm famílias como as descreveríamos. — Disse Julius. —Mas... eu realmente não sei o quanto você sabe sobre os tribunais?

—Eu sei que existem três deles e que os dois principais parecem ser uns idiotas. — Resumi.

Julius assentiu, as mãos levantadas em um gesto. —praticamente.

—Quando uma novo fae é criada na Corte Seelie. — Disse ele. —Uma contraparte igualmente comparada aparece instantaneamente nos Unseelie e vice-versa, para que a corte fique perfeitamente equilibrada. É por isso que eles começaram a recrutar Faes Selvagens, embora isso não tenha acontecido. Não funcionou melhor para eles. Gilfaethwy é o oposto de Gwydion, perfeitamente igual a ele em todos os aspectos.

—Então não há chance de Gelf, Gilfeth... que seu irmão o derrote? — Eu perguntei. O galgo havia pego o coelho, apenas para soltá-lo latindo quando se tornou um porco-espinho. O galgo tornou-se um texugo, golpeando o porco-espinho com garras longas e raivosas, e o porco-espinho tornou-se uma raposa, correndo ao redor do texugo para morder seu flanco.

—Eu não diria nada. — Disse Julius, comendo um punhado de pipoca. —Ou eles não continuariam fazendo isso a cada poucos anos. Mas é bem magro.

—Não devemos tentar ajudar Greenwood, quero dizer, como você o chamou?

—Gwydion. — Repetiu Julius. —Esse é o nome verdadeiro dele, ou parte dele. Isso lhe dá um pouco de poder sobre ele, o que ele odeia, mas sinceramente acho que ele poderia usar mais algumas pessoas em sua vida com o poder de impedi-lo de fazer coisas estúpidas. E você poderia ajudá-lo, se você quiser, supondo que você possa descobrir qual é qual. Mas jurei não interferir, desde que não estejam no meu bar ou prejudiquem meus convidados.

—Ah, merda, lá estão eles. — Murmurei quando o texugo se tornou um macaco, subindo pelos telhados, e a raposa se tornou um leopardo para persegui-lo.

Corri atrás deles, esforçando-me para acompanhar as mudanças entre os prédios e deslizei em telhas e telhas. Eu deveria ter caído cem vezes... quebrar meu pescoço ou pelo menos um braço caindo em uma lixeira do terceiro ou quarto andar. Parkour não era uma habilidade que eu realmente tivesse perseguido. E, no entanto, toda vez que eu pensava em escorregar, meu pé se apoiava nos ladrilhos molhados. Toda vez que pensei que estava prestes a cair, consegui me recuperar bem a tempo. Mas não tive tempo de questionar minha sorte repentina.

Antes que o leopardo pudesse pegar o macaco, o macaco derrapou no meio de um jardim abandonado, as camas secas e a gaiola suja e vazia de pombos, um fundo estranhamente doméstico para a cena exótica. O macaco se virou quando o leopardo se fechou e se tornou um crocodilo, com a mandíbula aberta. Ele pegou o leopardo com um golpe de seus dentes poderosos e torceu, jogando o grande gato em direção à gaiola de pombo. Aterrissou com um barulho, se transformando em um homem enquanto eu observava. Por um momento eu ainda não sabia dizer quem era.

—Pelo amor de Deus, Gwydion! — O homem, que agora assumi ser Gilfaethwy, reclamou, sentando-se. —Pensei que não concordamos com nenhum crocodilo da última vez. Eles não são justos e você sabe disso.

Ele parecia sem fôlego, suado e dolorido, o que era uma aparência estranha de se ver em um rosto tão parecido com o de Greenwood, geralmente tão composto e refinado, mesmo quando estava com raiva assassina.

O crocodilo voltou para Gwydion e, por um momento, também não o reconheci. Seu rosto ainda era o mesmo, mas seu cabelo era mais pálido, mais prateado que dourado, e seus olhos eram sempre verdes, não o verde brilhante do verão que eu lembrava. Ele parecia cansado também, com a respiração trêmula.

—Para o inferno com justiça! — Gwydion gritou. —Você já jogou todas as regras do nosso pequeno acordo pela janela!

—Tenho certeza de que não sei do que você está falando. — Disse Gilfaethwy, olhando para qualquer lugar, menos para o irmão. —Eu não tenho sido nada além de fiel ao nosso acordo. Eu mantive minha cabeça baixa, não fiz mágica-

—Então por que eu tenho um lobisomem em minha casa com sua assinatura na maldição dele? — Gwydion rosnou. A temperatura no telhado caiu vários graus quando um vento frio respondeu à raiva de Gwydion.

Gilfaethwy estremeceu, depois riu timidamente. —Foi esse que você encontrou, não é? — Ele disse.

—Há mais de um ?!

—Claro que não.

—Você está mentindo, seu miserável-

Quando Gwydion deu um passo em direção a Gilfaethwy, ele se transformou em um furão e disparou para a beira do telhado. Gwydion tornou-se imediatamente uma coruja para voar atrás dele.

—Chega de merda de animal estúpido! — Gritei de frustração, atacando com meus poderes. Um enxame de insetos mortos surgiu diante do furão, levando-o de volta às garras que aguardavam dois ratos desidratados, deixando a coruja de Gwydion flutuando no ar. O furão torceu, transformando-se em algo maior, um urso, eu acho, mas eu já estava diminuindo a distância entre nós, batendo as duas mãos em seu pelo. O animal gritou e se debateu para fugir enquanto a necrose se espalhava por suas costas. Eu sorri com uma satisfação sombria quando ela voltou para Gilfaethwy e eles caíram no chão, arranhando como sua própria pele em horror.

—Tira isso! — Ele disse horrorizado. —Tira isso!

—Eu vou. — Eu disse, minhas mãos prontas para fazer mais. —No minuto em que você me disseer o que fez com Ethan.

—Inseto! — Gilfaethwy sibilou para mim, o ódio em seus olhos como um incêndio, o telhado de repente no meio do verão quente, o ar fervendo. Os canteiros de flores secas levantaram e estouraram, transbordando de vida verde repentina, espinhosa e retorcida. Ele cresceu com uma velocidade terrível, avançando em minha direção enquanto ele se arrastava pelo telhado, o rosto contorcido de raiva e desprezo insondáveis. —Como você ousa pôr suas mãos sujas em mim? Você sua verme, sua macaca pálida e trêmula! Eu poderia desmembrar uma molécula de cada vez! Eu poderia queimar você por toda a eternidade e negar-lhe o direito de uivar de dor! Eu sou um deus para você!

Por um momento, vendo aquele repentino ódio, acreditei nele. Eu me afastei, meu medo intenso, mas um segundo depois uma brisa fria baniu o calor quando Gwydion plantou um salto nas costas de Gilfaethwy, exatamente onde minha necrose era pior. Gilfaethwy gritou de dor, caindo de bruços. Gwydion não tirou o pé. Atrás dele, a geada matou a onda de vegetação que Gilfaethwy havia convocado, secando-a para nada novamente.

—Se você tivesse o poder de fazer algo assim, nenhum de nós estaria aqui. — disse Gwydion, olhando para o irmão com um leve desgosto. —Diga à mulher o que ela quer saber, ou eu deixarei que o veneno nas suas costas o devore. Um gostinho da morte mortal.

—Você condenaria a nós dois. — Gilfaethwy assobiou no betume do telhado.

—Você parece contente em fazer o mesmo. — Disse Gwydion friamente, torcendo o calcanhar nas costas de Gilfaethwy. —Além do mais, duvido que isso o mate. Mas tenho certeza de que machucaria.

—Por que você amaldiçoou Ethan? — Eu exigi, aproximando-me novamente. —E como a quebramos?

—Eu não o amaldiçoei. — Afirmou Gilfaethwy.

Gwydion afundou o calcanhar novamente.

—Eu não fiz! — Gilfaethwy gritou, a voz estridente com dor. —Eu juro por tudo que é sagrado!

—Como se você já considerasse algo sagrado. — Zombou Gwydion. —Jure pela sua mão direita e saiba que terei muito prazer em removê-la se você mentir.

—Juro pela minha mão direita. — Disse Gilfaethwy com um grunhido amargo. —Eu não o amaldiçoei. A maldição já estava lá. Eu apenas... dei um pequeno empurrão.

Ele riu, uma risadinha nervosa e histérica, e Gwydion o chutou.

—Seu idiota! — Ele gritou. —Você está mentindo, seu sem valor-

—Foi apenas um pequeno empurrão! — Gilfaethwy disse através de sua risada delirante. —Eu precisava! Eu não podia contar para não! Oh, se você o visse, todo aquele ódio pulsando em seu peito, todo torcido em um nó do tamanho do seu punho. Você teria feito isso também! Eu tinha que ver o que aconteceria!-

Gwydion se encolheu e lembrei-me de suas palavras mais cedo, certa de que ele também se lembrava delas.

—E era apenas um pouco de poder. — Disse Gilfaethwy. —Menos do que usamos aqui hoje à noite! Ninguém notou!

—Não importa quanta energia você usou, seu miserável e inútil desperdício de magia! — Gwydion disse, arrancando os cabelos em frustração. —Você o usou em um ser humano! Interferência direta, a única coisa que todo o nosso acordo depende, a única coisa proibida! Foi notada. Eu garanto a você, e eles estão esperando, segurando-o sobre nossas cabeças como a espada de Dâmocles, por o momento perfeito para destruir nós dois!

—Oh, não seja tão pessimista. — Disse Gilfaethwy, rolando de costas e parecendo ter se arrependido. —O que há com o seu tipo sendo tão severo o tempo todo?

—Eu não sou severo. — Disse Gwydion. —Eu simplesmente não quero ser eliminado da existência porque você não pode controlar seus impulsos!

—Tanto faz! — Eu interrompi, confusa e sem paciência. —Diga-nos como desfazer! Como quebramos a maldição?

Gilfaethwy apenas riu mais - gargalhando alto e enlouquecido. Olhei para Gwydion em busca de algum tipo de explicação, mas ele balançou a cabeça.

—Tem que haver algo que ele possa fazer! — Eu disse, passando por Gilfaethwy para pegar Gwydion pelo braço. —Ele causou isso! Tem que haver uma maneira de consertar!

Gwydion franziu os lábios, franziu as sobrancelhas e esfregou as têmporas.

—Ele está dizendo a verdade. — Disse ele. —Não há nada que ele possa fazer. Ele não amaldiçoou seu lobisomem.

—Então quem fez? — Eu implorei. Tinha que haver algo, pelo menos uma vantagem. Qualquer coisa para dar a Ethan um pedaço de esperança.

Gwydion me encarou com aqueles olhos escuros e a esperança se dissolveu.

—A maldição é auto infligida. Ele fez isso consigo mesmo.

Capitulo Nove


Durante a hora seguinte, Cole me ensinou uma dúzia de aspectos diferentes da necromancia básica, alguns dos quais eu nunca havia experimentado antes. Novamente e novamente, o resultado foi o mesmo. Eu era como um brigão de bar, toda força bruta e nenhuma técnica, tentando aprender judô. No início da tarde, eu estava suada e exausta, e Cole parecia igualmente tenso. Ethan estava sentado no pátio nos observando, ocasionalmente cochilando, Mort deitado a seus pés.

—Você precisa aumentar sua energia em um ponto. — Disse Cole. —Um ponto!

—Um ponto é muito difícil. — Eu disse, incomodando-o com uma nuvem de mosquitos. —Mãos são mais fáceis!

—Mãos não funcionam! — Cole pegou os mosquitos e os enviou de volta para mim, e eu retaliei enviando um pardal morto para aninhar em seus cabelos. —Você deveria estar cercando e, em vez disso, está lutando com um tapa!

Ethan riu do pátio, tanto pelas palavras de Cole quanto pela visão dele gritando e espancando o pardal tentando dar uma merda de pássaro empoeirada em seus cabelos.

Ele me mostrou como causar a morte celular direcionada - a mesma técnica que Aethon havia usado para secar partes de nós durante a nossa luta. Eu não era boa nisso. Eu também não era muito boa em controlar muitas pequenas coisas ao mesmo tempo. O mesmo vale para identificar coisas mortas à distância ou direcionar uma única coisa morta-viva por meio de uma série de ações complicadas. Eu era muito boa em foder tudo.

—Por que eu sou tão ruim nisso? — Eu reclamei, esfregando as mãos no rosto.

—Você não é. — Disse Cole, exasperado. —Você mal começou. Você esperava ser a mestre de tudo de uma vez?

—Mais ou menos! — Eu disse. —É suposto ser instintivo, e eu tenho lidado com isso a vida toda. Entre isso e a Vela, eu deveria ser incrível nisso!

—Bem, supere isso. — Disse Cole, impaciente. —Isso leva tempo e prática diária. E você tem feito o possível para fingir que não existe há vinte anos. Vai demorar um pouco para ficar boa nisso.

—Eu não tenho esse tipo de tempo. — Eu disse. —Eu precisava ter sido boa o suficiente para enfrentar Aethon ontem.

—Não é assim que funciona. — Disse Cole. —Tudo bem. Tudo bem, vamos tentar isso. Você está pensando demais e adivinhando a si mesma. Você precisa se mover instintivamente.

Ele se virou, olhando em volta por um momento e, finalmente, pegou um grande graveto no mato coberto de mato.

—Vou tentar bater em você com um pau. — Explicou ele. —Você tenta me impedir com a coisa da necrose.

—E se eu realmente bater em você com isso? — Eu perguntei preocupada.

—Francamente, acho que não. — Disse Cole. —E se você conseguir, você conseguiu curar o vira-lata, você pode me curar. Estou curioso para ver isso em ação novamente, de qualquer maneira. Você está pronta?

Ele levantou o graveto. Olhei para Ethan, que parecia um pouco preocupado. Mas respirei fundo e me firmei.

—Tudo bem, eu estou realmente-

Cole já estava balançando o galho na minha cabeça com força total antes que as palavras saíssem. Eu gritei e saí do caminho apenas para ele me bater com força nas costas com ele.

—Ow! — Eu gritei, correndo para fora do seu alcance. Um vergão dolorido surgiu nas minhas costas, mais largo que o meu polegar. —Jesus, merda, isso dói!

—É suposto. — Disse Cole. —Então me pare da próxima vez. Você está pronta?

—Não! — Eu gritei. Cole colocou a ponta do graveto na terra e se apoiou nela, esperando. Eu olhei para ele, ofendida, minhas costas ainda doendo, mas eu sabia que não podia parar o treinamento aqui. Suspirei. —Tudo bem, eu-

Mais uma vez, ele lançou para mim, balançando com força total. Eu me afastei do caminho e estendi a mão, tentando imaginar o ponto agudo da energia. Nada aconteceu, exceto que ele me acertou na cabeça com o bastão.

—Filho da puta! — Eu gritei, caindo na grama, sentindo como se minha cabeça estivesse aberta. —Que porra é essa!

—Merda, desculpe, você está bem? — Cole perguntou, ajoelhado na minha frente. Ethan também correu pela grama para me verificar. Passei a mão pelo couro cabeludo para procurar sangue e não o encontrei.

—Sim, eu estou bem. — Eu disse, rangendo os dentes com a dor que irradiava pela minha cabeça. —Apenas tente evitar a cabeça da próxima vez, por favor?

—Se isso se tornar uma técnica de treinamento regular. — Disse Ethan, com o braço em volta de mim. —Sugiro investir em capacetes.

—Sim, isso pode não ser uma má idéia. — Admitiu Cole, de má vontade.

—Eu poderia ajudar um pouco? — Ethan perguntou. —Tive Tae Kwon Do durante toda a escola e, depois da maldição, fiz algumas lições de reciclagem. Achei que a disciplina poderia ajudar, sabe? A meditação é realmente muito útil.

—Estou tentando ensiná-la a apodrecer a carne das pessoas enquanto ela ainda está ligada a elas. — Disse Cole, impaciente. —Não praticar Kung Fu.

—Só estou dizendo. — Ethan levantou as mãos na defensiva. —Se vocês dois sabem como fazer uma queda adequada, não precisam se bater com paus. Você pode jogá-la na grama praticamente inofensiva. Um pouco mais seguro.

Cole suspirou, mas permitiu. Ethan passou alguns minutos nos mostrando como cair em segurança e onde evitar pressionar, dando-nos um básico para impedir que nos machucássemos, depois passou para a remoção real.

—Eu vou te mostrar Cole primeiro. — Disse ele. —Então você pode tentar.

—Isso é justo. — Disse Cole.

—Eu acho que você deve isso a ela por bater nela com a vara. — Disse Ethan, e eu ri. Cole, sob o olhar furioso de sempre, parecia um pouco envergonhado.

—Há duas remoções fáceis que eu posso ensinar agora. — Disse Ethan, corrigindo a posição de Cole. —Ambos são bons para lidar com alguém maior do que você.

Cole, que provavelmente era meio metro mais baixo que Ethan e muito mais magro, levantou uma sobrancelha crítica.

—Vou mostrar a você muito rápido. — Disse Ethan. —Lembre-se de como eu te ensinei a pousar.

Ele se moveu tão rapidamente que eu realmente não processei o que ele havia feito. Ele apenas avançou e de repente Cole estava no chão de costas, chiando, com Ethan debruçado sobre ele.

—Você não pousou como eu te disse. — Ethan disse, sorrindo para Cole.

—Você fez isso de propósito. — Disse Cole.

—Sim. — Ethan se levantou e ofereceu a Cole uma mão para cima. —Agora eu vou fazer isso mais devagar. Preste atenção. Pegue aqui, no alto do tríceps.

Ethan alcançou o peito de Cole com o braço direito, sob o direito de Cole de apertar a parte inferior do braço. A outra mão dele tinha o pulso direito de Cole.

—Puxe-o para o lado. — Explicou Ethan. —Para que você possa colocar sua perna entre.

Ele avançou suavemente em uma espécie de posição ajoelhada, envolvendo a perna em torno da de Cole e a outra perna atrás dele. Ajoelhando-se com a cabeça perto do quadril de Cole, ele parou. Cole cambaleou, lutando para manter o equilíbrio. Ethan o pegou pelos quadris para segurá-lo, sorriu e voltou a segurar seu braço.

—Viu como eu tenho controle do seu equilíbrio agora? — Ethan explicou, ignorando o quão vermelho Cole ficou. —Agora eu me inclino para a frente com o quadril e-

Ele mal precisava se inclinar para fazer Cole cair para trás, incapaz de manter o equilíbrio. A cabeça de Ethan estava perto do estômago de Cole, mas quando Cole tentou recuperar o fôlego, Ethan avançou.

—Certifique-se de seguir em frente com o movimento. — Disse Ethan, deslizando até ele cobrir completamente Cole. —Ou eles podem facilmente prendê-lo. Quando você estiver com eles, poderá se soltar com segurança.

—Agora entendo por que você quis fazer isso. — Disse Cole sarcasticamente, olhando para Ethan. Ethan pigarreou e saiu, ajudando Cole a se levantar novamente.

—Você quer tentar, Vexa? — Ele ofereceu.

—Definitivamente. — Eu concordei, minha cabeça ainda doendo. Eu tomei meu lugar na frente de Cole e Ethan estava atrás de mim, inclinando-se para me direcionar.

—Arme primeiro. — Disse ele. —Sob o tríceps, como eu mostrei a você.

Deslizei minha mão pela parte de trás do braço de Cole, consciente de quão perto os dois homens estavam perto de mim. Os músculos tensos de Cole sob meus dedos eram quase tão perturbadores quanto a respiração de Ethan na parte de trás do meu pescoço.

—Agora, puxe-o e vá para a perna. — Ethan disse, suas mãos nas minhas costas e meu braço me guiando para a frente enquanto envolvia minha perna em torno de Cole. As mãos de Ethan se moveram para os meus quadris, me puxando para trás antes que eu pudesse cair de joelhos.

—Não, não, observe seus pés. — Disse ele, empurrando meus quadris em um rolo mais controlado para frente. —Você não pode simplesmente jogar sua perna para a frente. Você tem que se transformar nela.

Cole observou as mãos de Ethan guiando meus quadris com uma expressão estranha. Eu me concentrei em controlar meu batimento cardíaco repentinamente rápido, prestando atenção às instruções de Ethan. Depois de baixar o quadril, segui em frente com a perna novamente. Era mais difícil do que parecia acertar esse movimento, mas Ethan estava lá para me pegar e guiar meus movimentos, seus dedos tão gentis quanto sua voz. Quando me ajoelhei, olhei para Cole, que olhou para mim com uma familiar faísca de interesse em seus olhos. As mãos de Ethan apertaram meus ombros. Houve uma pausa, todos nós percebendo simultaneamente o fato de que nenhum de nós estava sozinho no calor repentino sob nossas peles. Engoli em seco e desesperada para quebrar a tensão, inclinei-me com o quadril e joguei Cole de volta na grama.

—Porra! — Ele gritou quando caiu, pego de surpresa. Caí para a frente com ele, incapaz de fazer qualquer outra coisa, e ri em seu estômago.

—Lembre-se de seguir adiante. — Ethan me lembrou. Cole se contorceu, talvez esperando escapar, e eu me movi rapidamente para prender seus ombros. Eu sorri para ele, corada e sem fôlego, saboreando o calor nos olhos de Cole.

Suas mãos roçaram meus quadris e, de repente, percebi o constrangimento da situação. Eu rolei rapidamente e me afastei, olhando para Ethan, a culpa clara no meu rosto, mas Ethan sorriu para mim, balançando a cabeça. Ele não tinha notado ou simplesmente não se importava? Eu não tinha certeza de como me sentir sobre qualquer uma das opções.

—Sua vez, Cole. — Ethan disse, ajudando o outro homem a se levantar novamente.

—Finalmente. — Disse Cole.

—Você está pronta para isso? — Ethan me perguntou. Eu assenti sem palavras, ainda muito perturbada para gerenciar as palavras. Cole estava vermelho até os ouvidos. Só Ethan manteve a calma.

Tomei meu lugar na frente de Cole, e Ethan foi atrás dele para guiá-lo da mesma maneira que ele me guiou.

—Vamos tentar devagar uma vez. — Disse Ethan. —Você se lembra de como cair, Vexa?

Eu balancei a cabeça e me preparei enquanto Ethan treinava Cole através dos movimentos. O rosto de Cole ficava mais vermelho toda vez que Ethan o tocava, e a mão de Ethan tremia. Não era só eu que eles estavam ficando excitados, não era? Cole realmente tinha gostado de algo ontem à noite? Eu seria deixada para trás? Eu sacudi por enquanto. Eu precisava ter uma conversa com Ethan - em breve.

Preocupada com meus pensamentos, não notei Cole avançando até estar de costas na grama com um grito.

—Muito bem. — Ethan disse com uma risada. —Você está bem, Vexa?

—Estou bem. — Chiei por baixo de Cole, que se afastou de mim rapidamente.

—Acho que posso fazer rápido dessa vez. — Disse Cole, oferecendo-me uma mão, o que eu peguei. —Pronta para tentar me parar desta vez?

—Claro. — Eu disse, respirando fundo e me posicionando novamente. —Ponto afiado, certo?

—Eu vou encontrar vocês dois. — Ethan disse, ficando perto quando Cole se sacudiu e alcançou-me. —Lembrem-se de observar o ângulo dos seus quadris.

Cole assentiu, depois se moveu para mim rapidamente, agarrando meu braço.

Eu estava de bunda na grama antes que eu pudesse piscar. Cole seguiu em frente. Tossi para recuperar o fôlego.

—Você tentou? — Ele perguntou.

—Claro! — Eu disse. —Foi muito rápido.

—Aethon não vai devagar para você!

—Eu sei, eu sei! Vamos tentar novamente.

Foram necessárias mais três tentativas antes que eu conseguisse começar a visualizar antes que ele me jogasse na grama. Minhas costas doíam, mas menos do que onde ele me bateu com o pau. Tudo tinha deixado de ser sexy depois da quarta ou quinta vez que eu acabei na terra. Agora eu estava apenas chateada.

—Você ainda não está fazendo questão. — Disse Cole, quando pousou em cima de mim novamente. Eu queria gritar. Em vez disso, aproveitei o fato de que Cole não havia seguido com o movimento para jogar uma perna em torno dele e empurrá-lo na terra.

—Eu não posso fazer isso! — Eu disse, sentando nele enquanto ele se debatia para se soltar, segurando uma de suas pernas. —Demora muito tempo para afiá-lo! Não funciona!

Cole fez um som de dor no mesmo momento em que Ethan subitamente pulou em minha direção, gritando meu nome.

Tirei minhas mãos de Cole rapidamente e horrorizada, vi a marca negra e murcha sob onde minha mão estava. Agarrei-o novamente imediatamente, trabalhando no instinto para lavar a energia negativa, restaurando a carne saudável em poucos segundos.

—Desculpe! Jesus! — Eu disse, tremendo, ajoelhando-me ao lado de Cole quando ele caiu de costas, respirando irregular. —Você está bem? Sinto muito!

—Estou bem. — Disse Cole, imediatamente. —Você está pegando o jeito, aparentemente. Só precisava deixá-la brava o suficiente.

—Parece que você descobriu essa coisa de cura também. — Ethan disse, ajoelhando-se ao meu lado e colocando um braço em volta dos meus ombros. —Você consertou tão rápido que eu mal vi.

—Mal tive tempo de sentir isso. — Concordou Cole. —Como esbarrar em uma boca acesa do fogão.

—Pelo menos eu sou boa em uma coisa. — Eu disse com uma risada cansada. —Devemos tentar de novo?

Cole sentou-se nervoso, depois se sacudiu.

—Sim, vamos continuar.

 

 

 

 


Capitulo Dez


Continuamos por mais meia hora. Principalmente foi Cole me jogando na grama, mas consegui mais alguns bons acertos e tive uma boa noção da coisa de curar. No entanto, minha capacidade estava reservada a ferimentos causados por energia necromântica. Cole esfolou o joelho em uma pedra e eu não pude fazer nada. Contanto que eu pudesse fazer alguma coisa, eu não me importei. Fiquei feliz por haver pelo menos uma coisa que eu poderia fazer sem problemas.

Caí na grama ao lado de Cole depois de curá-lo novamente, ofegando. Ethan sentou-se do outro lado de nós, parecendo bastante cansado. Ele estava perto, nos pegando quando caíamos e nos treinando através dos arremessos e quedas. Mort também caiu ao nosso lado, com a cabeça desgrenhada no meu ombro.

—Você está bem? — Eu perguntei a Cole, sem fôlego.

—Sim, me dê um minuto. — Disse Cole, sua voz tensa. —Aquele machucou.

—Desculpe. — Eu disse.

—Não se desculpe. — Ele me corrigiu rapidamente. —É bom. —Dê um tapa na cara de Aethon assim algumas vezes, e podemos até ter uma chance.

—Disse a você que a coisa não funcionou. — Eu disse, fechando os olhos. —Luta de tapas é a resposta, afinal.

—Você provavelmente ainda deve aprender a fazer o ponto. — Ethan disse, inclinando-se sobre mim para tirar meu cabelo do meu rosto. —Você pode não ser capaz de se aproximar o suficiente de Aethon para dar um tapa na cara dele.

—Certo. — Eu disse, não desejando. Ele sorriu e se inclinou para me beijar, doce e breve.

—Nojento. — Disse Cole, rolando para longe de nós. Ele não parecia estar falando sério.

—Você é nojento! — Eu provoquei. Sua camisa tinha subido um pouco, e eu rolei para fazer cócegas na tira de pele exposta. Ele deu um latido de riso áspero e enrolou-se para escapar. Eu compartilhei um olhar com Ethan e um segundo depois, nós dois estávamos mergulhando para fazer em qualquer parte dele que pudéssemos alcançar. Mort pulou ao nosso redor, latindo de emoção enquanto brigávamos.

—Para para! — Cole implorou por sua risada. —Foda-se! Eu vou te matar!

Puxei a camisa dele e soprei uma lufae no estômago, o que o fez gritar tão alto que Ethan e eu caímos na gargalhada. Mort atacou Cole assim que saímos do caminho, cobrindo-o com beijos babados.

—Deus, vocês são esquisitos. — Disse Cole, ainda rindo, empurrando Mort e afastando a grama novamente.

—Sim, bem, você também. — Eu disse, recuando com a cabeça no colo de Ethan e minhas pernas envoltas nas de Cole. —Farinha do mesmo saco.

—Você é muito estranha para ser um pássaro. — Disse Cole, sorrindo para mim. —Você é muito estranha para ser qualquer coisa, menos humano.

Meu coração pulou uma batida ao ver seu sorriso. Foi o primeiro sorriso genuíno que eu vi nele. Iluminava todo o seu rosto como a luz do sol, banindo, ainda que brevemente, as sombras que tantas vezes permaneciam ao redor de seus olhos. Apertei a mão de Ethan, minha respiração presa no meu peito.

—Seja o que for, sou a mesma coisa que você é. — Eu disse a ele.

—Vocês três estão vivos ai fora?

Todos olhamos quando tia Persephona chamou da porta de vidro deslizante.

—Principalmente. — Confirmei, enquanto Mort pulava e corria para tia Percy, que sacudiu os ouvidos com carinho.

—O jantar está quase pronto. — Disse ela. —Venha e me ajude a arrumar a mesa.

Eu vi o rosto de Cole cair. Por um momento, sua ansiedade ficou clara. Ele não tinha certeza se era bem-vindo para ficar, ou se deveria ficar, mesmo que fosse bem-vindo. Suas paredes estavam de volta um momento depois, sua expressão endurecendo quando ele se distanciou para suportar o que acontecia. Engoli em seco e me levantei, oferecendo-lhe uma mão.

—Venha. — Eu disse. —Você vai ficar para o jantar, certo?

Cole hesitou. Eu pude ver a indecisão. Eu me preparei para a sua recusa, pronta para deixá-lo ir, se era isso que ele queria.

—Cole! — Tia Persephona gritou da varanda novamente. —Você disse que gostava de pão de alho, certo? Porque eu acabei de ganhar muito!

O sorriso tocou o rosto de Cole novamente por apenas um momento. Ele pegou minha mão e se levantou.

—Não existe pão de alho em excesso. — Ele gritou de volta.

Eu compartilhei um sorriso com Ethan enquanto seguíamos Cole para dentro da casa. Eu poderia dizer que ele estava tão feliz quanto eu por Cole estar comendo. Eu ainda precisava conversar com Ethan sobre o que era ou para onde estava indo, mas por enquanto, ter os dois por perto me senti bem.

O jantar foi um dos mais agradáveis que já tive em muito tempo, cheio de risadas e boas conversas. Cole estava um pouco reservado, claramente inseguro sobre o seu lugar. Nós não o pressionamos e, quando ele se sentiu à vontade para aumentar a conversa, nós o recebemos. Ele teve um relacionamento fácil com minha tia. Havia um entendimento instintivo entre duas pessoas que passaram anos tentando aprender os segredos da magia, apesar de todos os obstáculos que a vida colocou no caminho.

—Vamos ver o fae amanhã. — Ethan disse, enquanto o jantar terminava. Ajudei-o a lavar a louça enquanto minha tia se retirava cedo para estudar no quarto dela. —Provavelmente poderíamos fazer isso hoje à noite. Ele mantém horários estranhos. Mas...

—Estou muito dolorida com a prática. — Confessei, revirando meus ombros rígidos. —Amanhã provavelmente é melhor.

—Eu vou com você. — Cole concordou, vestindo a jaqueta. —Eu posso te encontrar aqui por volta das nove.

—Você não quer ficar? — Eu perguntei. —O sofá ainda está aberto. Seria muito mais conveniente.

—Eu posso encontrar meu próprio lugar para dormir. — Disse Cole, um pouco na defensiva.

Ethan ficou cuidadosamente em silêncio, enquanto segurava o prato que estava secando. Considerando como Cole reagiu a Ethan tentando insistir da última vez, eu não o culpo.

—Isso tornaria as coisas muito mais fáceis para nós amanhã. — Eu disse, não pressionando demais. —Não precisa ser para sempre. Estamos apenas... preocupados com você.

—Eu não preciso que você se preocupe comigo. — Disse Cole, bruscamente e eu estremeci, sentindo que tinha estragado tudo.

—Tarde demais. — Disse Ethan, sem levantar os olhos da pia. —Nós vamos nos preocupar, de qualquer maneira. Você estragou tudo e fez amigos, cara. A preocupação vem com o território.

O queixo de Cole se apertou e, por um momento, pensei que ele sairia em disparada. Mas depois de um momento, a tensão desapareceu de seus ombros.

—Tudo bem. — Ele disse, de má vontade. —Eu vou dormir no sofá estúpido. Só por esta noite. Porque vir aqui logo de manhã é uma dor na bunda.

—Parece ótimo. — Eu disse, incapaz de esconder meu sorriso. Ethan sorriu também, embora ainda não desviasse o olhar da pia.

Era cedo, então nos sentamos na sala por um tempo, relaxando, cuidando de nossos machucados desde o início do dia. Cole jogou uma pilha de livros sobre mim, principalmente textos necromânticos básicos e alguns guias gerais de magia para ‘me dar uma boa base teórica’. Eu li uma delas, fazendo anotações preguiçosas no meu telefone, enquanto Ethan e Cole conversavam sobre um filme que ambos não gostavam.

Eventualmente, fomos para a cama, jogando cobertores e um travesseiro em Cole no sofá antes de Ethan e eu nos retirarmos para o quarto de hóspedes. Morgana decidiu desde o início que gostava de Cole melhor do que eu e passou a maior parte da noite enrolada em seu colo. Parecia que ela pretendia passar a noite lá. Mort nos seguiu até o quarto, no entanto, pulando na cama e sentando no pé imediatamente.

Ethan e eu estávamos dividindo o quarto de hóspedes de tia Persephona desde que Aethon atacou a funerária, mas até agora, ele estava exausto demais para fazermos muito, mas dormir um ao lado do outro enquanto ele se recuperava de sua experiência de quase morte. Quando nos mudamos para a cama, sem nos olharmos, percebi que não era mais esse o caso. Mas agora tivemos outro problema. Lembrei-me de como ele reagiu ao nosso pequeno encontro na mesa do pátio, e quão perto ele chegou do desastre no drive-in. E se da próxima vez ele não pudesse controlar? Eu o queria. Mas não éstavamos seguros um para o outro.

Quando me deitei, ele me puxou para perto, aconchegando na minha garganta e pressionando beijos na minha pele.

—Você foi incrível hoje. — Disse ele. —Praticando com Cole. Eu nunca vi nada parecido. Os bruxos da biblioteca desejam que eles possam fazer algo tão impressionante quanto isso. Uther é a mais forte e a pequena coisa de teletransporte é o truque mais impressionante que ele tem. É por isso que ele usa-o toda vez que ele aparece.

Eu sorri e rolei para colocar meus braços em volta dele. Esse relacionamento ainda era novo, mas havia muito o que amar nele. O perfume de seus cabelos, as calos nas mãos, as rugas nos cantos dos olhos quando ele sorria para mim. Era quase aterrorizante. Eu poderia me apaixonar por ele tão facilmente, pensei. E eu ainda sabia muito pouco sobre ele. Se eu me apressasse nisso, haveria algo para apoiar um relacionamento real?

—Você está se preocupando. — Disse ele, e estendeu a mão para esfregar o local entre as minhas sobrancelhas. —Você franze sua testa quando está pensando. O que houve?

—Muitas coisas. — Eu disse honestamente. —Há muito com o que se preocupar ultimamente.

Passei a mão por seu ombro nu, até seu quadril. Ele estava usando aquelas calças de moletom novamente, e eu brinquei com a banda, pensativa.

—Com Cole hoje. — Eu disse baixinho, depois me corrigi. —O que ele disse ontem à noite. Você gosta dele?

Ethan pareceu surpreso por um momento, depois desviou o olhar, o queixo apertado. Eu senti a repentina tensão nele, como se ele estivesse se preparando para o impacto. Eu toquei sua bochecha.

—Se você gosta dele. Está tudo bem. — Eu disse rapidamente.

Ele pegou minha mão contra sua bochecha, apertando-a, mas ele não olhou para mim.

—Eu não sou assim. — Ele sussurrou. —Por favor, não pense que sou assim.

—Como o quê? — Eu perguntei confusa. Eu nunca o tinha visto assim. Havia algo quase como nojo no conjunto de sua boca, o sulco apertado de suas sobrancelhas. Mas não foi dirigido a mim. —Como o que? Bissexual?

Ele se encolheu, como se a palavra lhe causasse dor física.

—Eu gosto de você. — Ele disse, sua voz rouca. —Eu gosto de estar com você.

—Mas você também gosta dele. — Eu disse, sem entender o que o perturbava. Ele colocou a mão no rosto. Havia um tremor em seus ombros, uma emoção tentando escapar. E suas unhas pareciam claramente com garras.

—Ethan. — Eu disse suavemente, passando a mão sobre o peito em círculos suaves. —Do que você tem medo? Eu não estou chateada. Eu nem estou surpresa. Não é um problema.

—É um problema. — Disse ele, arrastando a mão pelo rosto até a boca. Ele estava com medo. Finalmente, finalmente, ele olhou para mim.

—Eu não queria que você soubesse. — Disse ele. —Eu não quero que ninguém saiba.

—Tudo bem. — Eu disse imediatamente. —Eu não vou contar a ninguém.

—Você não entende. — Disse ele, fechando os olhos novamente.

—Não, eu não entendo. — Eu concordei. —Isso não muda nada. Eu não me importo se você já esteve com homens antes-

—Eu não estive. — Disse ele bruscamente.

—Eu não ligo. — Repeti. —Isso não afeta o nosso relacionamento. Importa apenas se você quiser. Eu só quero saber mais sobre você. Se isso faz parte de quem você é, eu quero saber sobre isso.

Ele ainda parecia preocupado.

—Eu realmente gosto de você, Ethan. — Eu disse calmamente. —Eu não sei se isso é apenas uma aventura para você ou o que quer que seja. Entendo se isso é algo que você simplesmente não está confortável conversando com alguém que... que pode não fazer parte da sua vida por muito tempo. Mas eu gosto muito de você. Quero ver se isso pode funcionar. Quero saber quem você é.

—Você tem certeza? — Ele disse. —Você tem certeza?

—Eu tenho certeza. — Eu disse, com o máximo de gravidade que pude, tocando sua bochecha. —Isso não me incomoda. Faz parte de quem você é, e eu gosto de quem você é.

Eu o vi engolir em seco. Ele virou o rosto na minha mão e beijou minha palma, ficando assim por um momento.

—Não é... algo com o qual estou realmente confortável. — Disse ele.

—Não brinca. — Eu respondi, e ele riu baixinho, o som tocado com amargura, sua boca se movendo contra a minha palma.

—Minha família era realmente religiosa. — Explicou ele. —Tipo, realmente religiosos. Nós estávamos na igreja pelo menos três vezes por semana. E eu estava profundamente envolvido, compromisso total, anel de pureza e tudo. Mesmo depois de eu... depois que comecei a perceber.

—Isso é difícil. — Eu disse, incapaz de imaginar. Minha família nunca foi do tipo de igreja, por razões óbvias. —Acho que sua igreja não era do tipo que aceita?

—Mais como o 'organizou um protesto contra o GSA2 da minha escola. — Disse ele com tristeza. —Também a abstinência é tudo o que deve ser ensinado em sexo e a masturbação é um pecado.

—Droga. — Eu respondi. —Não é de admirar que você tenha problemas com isso.

—Minha família nunca mais falaria comigo se soubesse. — Disse ele, quase um sussurro. —Ou pior. Uma garota da minha igreja saiu no primeiro ano. A mãe dela bateu nela. Enviou-a para o hospital. Quando ela foi libertada, eles não vieram buscá-la. Ela teve que arranjar um amigo para trazê-la para casa. Ela encontrou as fechaduras trocadas e tudo o que possuía no meio-fio. Eu nem sei o que aconteceu com ela. Ela não voltou para a escola. Suas amigas me disseram o que sua mãe fez. Eles foram expulsos, mas eles também não sabiam mais nada. Ninguém na igreja falava sobre isso. Sua mãe voltou a cantar hinos como se nada tivesse acontecido, com as mãos ainda machucadas por tentar espancar os gays como a filha dela. Meu pai disse que 'admirava sua determinação'.

Estremeci e fiquei brevemente grata por minha família chata, mas perfeitamente solidária. Eu literalmente trouxe coisas mortas de volta à vida, mas nunca me preocupei que meus pais me odiassem por isso ou me expulsassem, muito menos me enviassem para o hospital. Eles não entendiam essa parte da minha vida. Não conseguia entender. Mas pelo menos eu sabia que eles me amavam, de qualquer maneira. Peguei a mão dele, tudo o que pude fazer para mostrar meu apoio.

—Eu ouvi dezenas de histórias assim. — Disse ele calmamente, olhando para as nossas mãos enquanto enlaçava os dedos. —Ninguém mais da igreja. Mas algumas outras crianças na escola. E quando eu era mais velho, as pessoas trabalhavam. E quando comecei a viajar por causa da maldição, descobri mais. Não sei o que é pior, os que acabam sem teto ou os que são forçados a ficar com uma família que os odeia. Não há boa opção. Você entende o que estou dizendo, Vexa?

Apertei sua mão, desejando ter as palavras.

—Não há final feliz para pessoas como eu. — Disse ele.

—Isso não é verdade. — Eu disse imediatamente. Seu aperto na minha mão relaxou. Ele balançou a cabeça, afastando-se.

—Não é verdade. — Insisti. —Sim, é péssimo, mas isso não significa que você não tem esperança! Você já está fora de lá. Você não precisa da aprovação de sua família para sobreviver e viver uma vida perfeitamente feliz. Você pode ter um final feliz sem eles...

Ele forçou um sorriso e beijou as costas da minha mão suavemente.

—Obrigado por tentar. — Disse ele. —Por ouvir.

—A qualquer hora. — Eu disse a ele. —Realmente, a qualquer momento. Você quer falar sobre coisas trágicas da vida? Estou triste. Você quer fofocar sobre garotos? Eu posso fazer isso também.

Ele bufou, e fiquei aliviada ao ouvi-lo rir.

—Então, quem era sua boy band favorita? — Eu perguntei, provocando, e ele fez um barulho de repulsa.

—Não. — Ele disse com uma pequena risada. —Realmente, não. Ainda está dolorido.

—Tudo bem. — Eu disse, e me deitei ao lado dele, pressionando um beijo em sua têmpora. —Eu vou deixar você falar sobre isso no futuro. Eu só quero que você saiba que estou aqui por você.

Com outra risada suave, ele se virou para me olhar nos olhos, estranhamente vulnerável.

—E isso? — Ele perguntou, sua mão deslizando pela minha coxa até a minha cintura. —Você ainda está aqui para isso? Tudo bem se você não estiver.

Eu respondi beijando-o com força. Inferno, sim, eu estava. A princípio. E depois de uma conversa tão pesada, se era isso que ele precisava sentir como se eu ainda estivesse com ele, fiquei mais do que feliz em agradecer.

Ethan sorriu contra meus lábios e me beijou de volta, me puxando para mais perto, nossas pernas emaranhadas quando suas mãos fortes apertaram meus quadris.

—Então. — Ele disse, respirando fundo quando quebramos o beijo. —Sobre Cole...

—Sim? — Eu ainda estava um pouco tonta com o beijo, pensando em quão longe poderíamos arriscar ir.

—Você gosta dele também.

Isso chamou minha atenção. O calor correu para o meu rosto.

—Eu não sei. — Eu admiti. —Ele é fofo. Mas não é como eu faria... não estou planejando...

—Está tudo bem. — Disse ele, beijando minha testa. —Você não precisa se desculpar.

—Você não está com ciúmes? — Eu perguntei.

—Claro que sim. — Ethan disse com uma risada forçada. —Ele é fofo, e é um necromante como você, e ele tem toda aquela coisa trágica de bad boy acontecendo. E, por mais que eu goste de você, você sabe que tenho... um limite de tempo.

—Ethan. — Eu disse preocupada, sentando-me. Ele balançou a cabeça, me empurrando de volta suavemente.

—A menos que encontremos uma maneira de quebrar a maldição. — Disse ele. —Um dia, mais cedo ou mais tarde, isso vai me derrotar. Não sou um bom investimento a longo prazo.

—Você é uma pessoa, não uma opção de compra. — Eu disse. Ele riu, mas havia uma amargura no conjunto de suas sobrancelhas.

—Quanto mais fundo você se envolver comigo — Disse ele, —Mais doerá se e quando isso acontecer. Eu não culparia você por não querer passar por isso. Então, sim, tenho inveja do cara que poderia passar a vida com você, quando eu só tenho alguns anos. Ou menos.

Eu gostaria de ter certeza de que definitivamente quebraríamos a maldição. Eu realmente não tinha pensado em quanto tempo teríamos. Agora eu quase podia ouvir um relógio correndo, segundos preciosos desaparecendo. Era um milhão de vezes mais assustador do que se apaixonar. Eu pensei que estava confortável com o conceito de morte, considerando quem eu era como pessoa, mas nunca o processei até que de repente se aproximava, inevitável e implacável, e não há nada que eu possa fazer sobre isso.

—Mas meu ciúme não importa. — Ethan disse finalmente. —Confio em você. O ciúme é... As pessoas não o entendem. Eles agem como se fosse um sinal de amor, ou algum grande obstáculo intransponível, mas o ciúme é apenas uma emoção. Um sintoma de insegurança. Você não pode simplesmente dizer ‘estou com ciúmes’ e encerrar a conversa. Você precisa falar sobre isso, descobrir por que está com ciúmes e resolver o problema.

—Eu não acho que entendi o que você está dizendo. — Eu admiti, franzindo a testa.

Ele passou a mão pelas minhas costas distraidamente, pensando.

—Acho que o que estou dizendo é que, se você quer ficar com ele, está tudo bem comigo.

Meus olhos se arregalaram. —Só porque sua maldição pode matá-lo, eventualmente, não significa que eu vou pular de navio antes mesmo de-

—Não é isso.

—Você está apenas tentando me dar um fora por causa da coisa bi? Porque você não precisa-

Ethan cobriu minha boca com a mão, um sorriso exasperado em seu rosto.

—Não, Vexa, não é isso que eu quero dizer. — Disse ele, balançando a cabeça e removendo a mão para escovar meu cabelo para trás. —Quero dizer, se ele está bem com isso, se você quer ficar com ele também, eu não me importo.

Isso me calou. Não era uma possibilidade que eu realmente considerasse. Eu encontrei minha boca seca e meu coração batendo um pouco demais com o pensamento.

—Eu sei que é estranho. — Disse ele, afastando-se um pouco, envergonhado. —Eu provavelmente não deveria ter sugerido. Apenas sinto que temos tão pouco tempo que você não deve se conter. Você merece tudo o que deseja e muito mais. Você é incrível e-

Desta vez, coloquei minha mão sobre sua boca. Quando ele parou de tagarelar, tirei minha mão para beijá-lo.

—Você realmente ficaria bem com isso? — Eu perguntei. Ele assentiu, sorrindo. Procurei algum traço de dúvida em seus olhos, mas não consegui encontrá-lo. —Você quer ficar com ele também?

Houve um lampejo de dúvida. Ele lambeu os lábios, olhando para as nossas mãos unidas.

—Eu não...— Ele admitiu. —Com um cara. Cheguei perto algumas vezes. Não pude continuar com isso.

—Mas você quer tentar com ele? — Eu perguntei, pressionando.

Ele desviou o olhar, inquieto. Eu o deixei desconfortável novamente.

—Não... talvez. — Ele admitiu. —Eu não deveria. Mas acho que ele não aceitaria. Não comigo, pelo menos.

—Eu não sei. — Eu disse, lembrando o quão vermelho Cole ficou quando Ethan o tocou hoje cedo. —Eu acho que você tem uma chance.

—Você ficaria bem com isso? — Ethan perguntou, olhando nos meus olhos. —Não é nem uma possibilidade remota, mas eu não quero pressioná-la a qualquer tipo de situação com a qual você não se sinta confortável, mesmo hipoteticamente.

Eu pensei sobre isso, lembrando-me da maneira como meu estômago tremia observando-os mais cedo, as pontadas de preocupação e saudade.

—Estou com medo disso. — Eu disse, decidindo que ser honesta era a melhor escolha. —Eu tenho medo que vocês dois decidam que estão melhor sem mim. Isso é estúpido?

—Não, não, isso é normal. — Ethan disse, rapidamente, me puxando para perto e beijando minha cabeça novamente. —Deus, isso é perfeitamente normal, querida. Também tenho medo disso. Inferno, provavelmente seria uma boa decisão de sua parte. Mas você. Você é incrível. Eu sei que isso ainda é novo, mas não é uma aventura para mim. Eu quero fazer isso durar, pelo menos enquanto eu tiver deixado. As coisas podem mudar, talvez possamos aprender mais um sobre o outro e nos afastar, quem sabe. Mas eu sei que você me faz querer tentar para fazer isso funcionar. Nada do que poderia acontecer com Cole vai mudar isso.

Ele me beijou novamente e eu coloquei meus braços em volta dele, meu coração doendo no meu peito. Eu não tinha certeza de nada ainda, mas isso era bom. Certo.

A língua de Ethan roçou meus lábios e um pequeno zumbido de encorajamento me escapou, o que o fez me apertar com mais força. Deslizei uma perna sobre seus quadris e sua mão deslizou da minha cintura para me puxar para mais perto, o ar entre nós ficando quente. Deslizei a mão em seus cabelos, unhas roçando seu couro cabeludo, e ele quebrou o beijo com um calafrio para espalhar beijos na minha garganta.

Eu gemi em apreciação e Mort levantou a cabeça do final da cama. Ele bufou impaciente, pulou da cama e abriu a porta do quarto, desaparecendo na escuridão do corredor. Algo sobre a pura indignidade de sua reação e o absurdo de esquecermos que ele estava lá me fez começar a rir, e uma vez que comecei, não consegui parar. Que conversa intensa e louca de ter no final desta semana insana. Deus, eu quase morri três vezes, e agora eu estava discutindo um relacionamento aberto com meu namorado bissexual e lobisomem. Eu pensei que minha vida era estranha antes de tudo isso começar. Ethan levantou-se para fechar a porta e eu o observei sair, ainda processando tudo o que havíamos conversado, mas meus pensamentos sumiram enquanto eu apreciava a visão de sua bunda naquelas calças de moletom. Tinha sido uma noite muito intensa até agora. Quando Ethan voltou, eu sorri para ele e torci para que ainda não tivesse terminado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Onze


Quando ele voltou para a cama, eu rolei de costas e abri meus braços para ele, ansiosa para continuar o beijo que havíamos quebrado um momento atrás. Ele concordou de bom grado, deslizando sobre mim para me beijar gentilmente. Deslizei meus braços ao redor dele, aprofundando o beijo e puxando-o para baixo dos travesseiros. Eu amei a pressão tranquilizadora do seu peso em mim. Isso me fez sentir estável em um mundo onde as coisas desmoronavam constantemente. Deslizei minhas mãos em direção à cintura de suas calças, e Ethan quebrou o beijo para pegar minha mão.

—Não deveríamos. — Disse ele com um suspiro relutante. —Você sabe o que poderia acontecer.

Ele estava certo, mas eu não queria admitir. Eu queria estar com ele agora. Após o peso da nossa conversa, era importante. Eu queria mostrar a ele o quanto eu o queria. Eu queria ver nos olhos dele o quanto ele me queria.

—Vamos tentar alguma coisa. — Sugeri, sorrindo. Ele levantou uma sobrancelha, mas obedeceu quando eu o empurrei de volta para os travesseiros e subi da cama para recuperar alguma coisa. Quando voltei com o cinto da calça, ele parecia um pouco preocupado, sentando-se contra a cabeceira da cama.

—Até que possamos comprar aquelas algemas felpudas. — Eu disse, subindo em seu colo. Peguei suas mãos, levando-as acima da cabeça até a barra da cabeceira da cama, amarrando o cinto em uma figura oito em volta dos pulsos e da barra. Apertei-o apenas o suficiente para que eu ainda pudesse colocar dois dedos entre ele e sua pele.

—Como é isso? — Eu perguntei a ele. —Não é muito apertado, é?

—Parece estranho. — Ele admitiu. —Mas não é muito apertado.

—Você quer que eu tire? — Eu perguntei.

—Diga-me o que você está planejando primeiro. — Disse ele, rindo.

—Isso está seguro. — Eu disse, batendo no cinto antes de me acomodar mais profundamente em seu colo, com muitas mexidas desnecessárias. —O plano é ir muito, muito devagar.

Eu rolei meus quadris contra seu colo e o vi engolir em seco.

—Construa um pouco de cada vez para que você nunca perca o controle. Parece bom?

—Eu não sei se isso vai funcionar. — Disse ele, mordendo o lábio. —Mas estou disposto a tentar.

Eu sorri —Incrível. Diga-me imediatamente se algo dói ou se você quer parar.

Comecei tirando minhas próprias roupas. Fiel à minha palavra, aproveitei meu momento agradável, derramando minha camisola e a roupa íntima por baixo com tanta pompa e circunstância quanto pude. Era uma provocação boba, mas o fez sorrir, o que importava.

Fiquei nua no colo dele, montando nele enquanto terminava e ele sorriu para mim, apreciando a vista.

—Você vai me despir em seguida? — Ele perguntou.

Eu fingi considerar por um minuto.

—Hmm, nah, acho que você está bem como está.

Eu o beijei antes que ele pudesse dizer mais. Comecei doce e devagar, depois arrastei meus dentes sobre seu lábio, mordi o suficiente para fazê-lo ofegar e deslizei minha língua ao lado da dele para provar o calor de sua boca.

Enquanto eu o beijava, balancei meus quadris em círculos lentos, moendo descaradamente contra ele. Ouvi o couro do cinto estalar quando minhas mãos apertaram seu peito e deslizaram até sua cintura. Eu levei um tempo beijando-o, minhas mãos vagando, traçando sua clavícula, os músculos de seus braços, como eu tinha todo o tempo do mundo, até senti-lo ficando duro contra mim. Eu me esfreguei contra ele por um momento até ouvir sua respiração começar a pegar. Então me afastei, sorrindo para o barulho frustrado que ele fez.

—Como você está se sentindo? — Eu perguntei, recostando-me em uma mão, ainda montando em seu colo. —Ainda está tudo bem?

—Tudo ótimo. — Ele confirmou, seus olhos quentes enquanto olhava para mim. —O lobo nem está mostrando a cabeça ainda. Talvez a última vez tenha sido por acaso.

—Talvez. — Eu disse, passando a mão livre pelo centro do peito enquanto olhava para ele. —Mas eu não estou me arriscando. Você sabe, você parece muito bem assim.

A calça de moletom escorregou em seus quadris. A mecha de cabelo castanho dourado que desapareceu sob a banda foi uma tentação difícil de resistir, apontando para o contorno óbvio de seu tesão negligenciado. A posição dos braços acima da cabeça enfatizava as linhas do peito bem definido, os ombros largos, a curva do estômago. Acima de tudo, a fome em seus olhos me fez doer de excitação. De fato...

Eu deixei minha mão descer pelo meu peito correndo até os meus lábios, correndo levemente por fora. Eu vi as pupilas de Ethan dilatar enquanto ele observava meus dedos deslizarem para dentro para arrastar lentamente através das minhas dobras, espalhando a umidade brilhante da minha entrada para o meu clitóris. Mordi meu lábio, quase capaz de sentir seu olhar em mim, um formigamento na minha pele enquanto eu lentamente circulava o pico, suspirando enquanto relaxava lentamente no prazer da sensação. Nesse ritmo, eu poderia me tocar a noite toda, ocasionalmente deixando meu clitóris deslizar pelas minhas dobras novamente, me abrindo para ele olhar, mas não tocar. Eu ouvi o cinto ranger novamente, e ele gemeu.

—Oh, isso não é justo. — Disse ele.

—O que não é justo? — Eu perguntei, jogando de inocente quando deitei no cotovelo, sentindo a tensão no topo das minhas coxas enquanto eu me acariciava, literalmente no colo dele e ainda fora de seu alcance.

—Vamos lá. — Ele implorou. —Você não pode simplesmente me provocar.

—Não posso? — Eu perguntei com um sorriso, esfregando-me um pouco mais com a visão de sua ansiedade. —O que você vai fazer para me impedir?

Ele xingou baixinho, enviando um arrepio de prazer pela minha espinha. Arqueei meus quadris em meu próprio toque, gemendo enquanto esfregava mais rápido. Não havia necessidade de tomar meu tempo comigo mesma. Eu poderia vir quantas vezes quisesse antes de tocá-lo. E essa era uma sensação muito agradável. Joguei a cautela ao vento, seguindo em frente como se eu tivesse apenas cinco minutos antes de sair para o trabalho. Eu o deixei assistir enquanto me desfiz, puxando todos os truques que eu sabia para me fazer gozar mais rápido. Foi um pouco de luta com a posição desconfortável, mas uma vez que eu entrei o suficiente, eu esqueci a tensão nas minhas pernas, voando alto e chegando perto.

Minha respiração ficou presa ao me aproximar do clímax. Eu trouxe minha outra mão de trás de mim para enrolar os dedos dentro de mim enquanto esfregava mais rápido, os quadris se contorcendo, o prazer pulsando como meu sangue nos meus ouvidos, junto com as respirações irregulares de Ethan. Nessa posição, minhas pernas ainda estavam dobradas dos dois lados do colo dele, meu peso no pescoço e nos ombros, minhas costas curvadas como um arco, eu era como uma mola enrolada, como uma flecha prestes a ser disparada. A tensão era quase dolorosa, apenas aumentando a sobrecarga sensorial do orgasmo.

—Vexa, por favor. — Ethan implorou, sua voz rouca de desejo, e eu ofeguei quando o prazer cresceu e tomou conta de mim.

Fiquei ali por um momento, relaxando a postura tensa das minhas costas, percebendo a dor desconfortável nas minhas pernas, saboreando o delicioso formigamento do pós-brilho sobre a minha pele. Eu me deliciei com uma sensação tátil inebriante, enquanto Ethan estava choramingando entre minhas coxas. Na verdade, choramingando, rosnados baixos se transformando em choramingos caninos.

—Você ainda está bem? — Eu perguntei, sentando-me. Ele ainda parecia humano, exceto por um leve brilho dourado nos olhos.

—Não. — Ele disse, lambendo os lábios. —Estou tão longe de estar bem como acho que já estive.

Eu ri um pouco, me acomodando no colo dele e me inclinando sobre ele, meio para verificar suas restrições para mover minhas pernas, que estavam começando a adormecer.

—Você quer que eu o solte? — Eu perguntei, traçando o cinto.

—Mais do que tudo. — Ele gemeu, pressionando o rosto nos meus seios. —Mas você não deveria.

—Eu não quero que você se sinta desconfortável. — Eu disse, passando meus dedos pelos cabelos dele.

—Não, não, isso é desconfortável. — Disse ele, beijando o espaço entre os meus seios. —Horrível, horrível, muito bom e desconfortável. Não pare.

Eu ri novamente, mas, me tranquilizado de que ele estava bem, continuei.

Eu me mexi para beijá-lo novamente, longo e lento, negando-lhe até a minha língua, amando o jeito que ele se contorcia e se inclinava a cada toque.

Eu dei a ele o que ele queria por centímetros, o mais lento que pude. Sempre que ele começava a ficar excitado, eu recuava, desacelerava ainda mais, deixando-o frustrado e desesperado, mas ainda no controle de si mesmo. Quando finalmente enfiei a mão na cintura da calça, ele tremeu de necessidade. Eu acho que ele quase terminou apenas com o primeiro toque dos meus dedos contra o seu eixo, o primeiro aperto suave. Decidi então que, se isso se tornasse algo normal, eu faria isso acontecer eventualmente. Só de pensar em fazê-lo desmoronar com um único toque foi tanta pressa que tive que parar e me tocar de novo, para seu deleite e frustração, até que ele literalmente me implorou que o deixasse usar a boca. Eu fui generosa o suficiente para permitir isso a ele. Eu estava de pé sobre ele, minhas mãos apoiadas na cabeceira da cama, enquanto ele fazia tudo o que suas restrições lhe permitiam. Eu já tinha ouvido falar oralmente como adoração, mas nunca realmente apreciei o quão preciso o termo poderia ser até esse momento. A cada momento em que sua boca não estava preocupada, ele sussurrava, gemia e rosnava meu nome, me dizendo o quão perfeita eu era, o quanto ele precisava de mim. O elogio foi quase tão bom quanto a boca dele.

—Vexa. — Ele gemeu, pressionando beijos de borboleta no meu estômago. —Linda, perfeita, maravilhosa Vexa. Estou morrendo. Isso está literalmente me matando.

Eu ri, acariciando seus cabelos.

—Quer que eu te deixe sair? — Eu perguntei.

Ele balançou sua cabeça. —Não, mas se eu não puder estar dentro de você em breve, eu realmente morrerei. Estou cem por cento sério.

Rindo, eu me abaixei em seu colo para beijá-lo novamente, provando-me em seus lábios.

—Eu não sei. — Eu ronronava contra aqueles lábios. —Você acha que ganhou?

—Farei qualquer coisa. — Ele implorou. —Por favor, por favor.

Eu sorri —Eu gosto de você implorando. — Eu disse. —Essa é uma boa aparência para você.

—Além disso. — Ele reclamou. —Isso está seriamente começando a doer.

—O cinto? — Eu perguntei, tentando alcançá-lo, preocupada.

—Não. — Ele disse, e balançou seus quadris contra mim, moendo sua ereção ainda muito dura contra as minhas costas. Ele gemeu, fazendo isso de novo. —Na verdade, se você simplesmente não se mexer...

Eu me afastei dele imediatamente com um sorriso perverso. Ele quase chorou, chutando os lençóis em frustração.

—Você foi um menino muito bom. — Eu disse, beijando sua testa. —Você merece melhor que isso.

Saí do colo dele, apenas o tempo suficiente para pegar uma camisinha na mesa de cabeceira.

—Oh, graças a Deus. — Disse Ethan, aliviando o fôlego, relaxando os ombros tensos. Rasguei o pacote com os dentes e me movi entre as pernas dele.

—Quer ver um truque? — Eu perguntei, sorrindo enquanto pegava seu pau na mão. Ele levantou uma sobrancelha, desesperado demais para me questionar enquanto colocava a camisinha na minha boca. Inclinei-me sobre ele, envolvendo meus lábios em torno da cabeça de seu pênis e pressionei o preservativo no lugar com a minha língua. Deslizei-o mais fundo na minha boca, rolando a camisinha pelo seu pênis com meus lábios. Ele xingou de maneira colorida quando o calor da minha boca o cercou, os quadris batendo, mas eu o segurei. Eu ainda estava no controle desse rodeio.

Quando a camisinha e meus lábios atingiram a base de seu pênis, eu me afastei, fingindo que meus olhos não estavam lacrimejando e lutando contra o desejo de tossir.

—Puta merda. — Disse ele, olhando para mim como se eu fosse feita de ouro maciço.

Não perdi mais tempo. Eu estava quase tão ansiosa por tê-lo dentro de mim quanto ele. Ajoelhei-me sobre ele, voltando para segurar seu pau no lugar enquanto me abaixava lentamente sobre ele. Ele congelou, seus olhos brilhando com um tremido âmbar, parecendo que ele não ousava nem respirar enquanto sua cabeça deslizava contra as minhas dobras. Levei meu tempo, deslizando contra ele algumas vezes, antes de finalmente deixá-lo entrar. Respirei fundo quando a primeira polegada me abriu. Ele era grosso, e eu tremi com a antecipação de como ele se sentiria completamente dentro de mim. Mas ainda demoraria um pouco até eu descobrir. Eu fiquei onde estava, seu pau apenas dentro de mim, aproveitando a sensação, até que ele se contorceu com ansiedade. Então eu o levei um pouco mais fundo. Talvez outra polegada.

—Vexa! — Ele disse, um pouco alto demais para estarmos em uma casa com outras pessoas dormindo nela. Eu o silenciei, tentando não rir, e afundei o resto do caminho, xingando quando ele bateu profundamente dentro de mim. Eu me senti tão bem, tão cheia, meu clitóris latejando com o meu pulso.

Ficou claro que Ethan se sentia tão bem quanto eu, sua cabeça jogada contra a cabeceira da cama, sua respiração dura. Quando eu vi suas mãos flexionarem seus laços, garras brilhando. Lembrei-me de que não estava apenas indo devagar para meu próprio entretenimento.

—Aí estamos. — Eu disse, suavemente, passando as mãos sobre as pernas e o estômago em círculos calmantes. —Como você está se sentindo?

Ele respirou fundo várias vezes antes de falar, recuperando o controle, embora não conseguisse embainhar suas garras.

—Bom. — Ele disse, sem fôlego. —Deus, tão bom.

—Como está o lobo? — Eu perguntei, balançando meus quadris lentamente, moendo-o mais profundamente dentro de mim. Ele gemeu e ouvi o cinto de couro esticar novamente.

—Assistindo. — ele finalmente admitiu, um rosnado em sua voz. —Eu acho que tenho um controle sobre ele. Pelo menos, tanto quanto posso.

—Bom garoto. — Eu disse. —Você pode esperar se eu continuar?

—Sim, mas eu acho que você não pode confiar em mim para dizer para parar se eu começar a escorregar. — Ele admitiu com uma careta.

—Então eu vou ter um cuidado extra. — Eu disse a ele, levantando meus quadris até que ele estava apenas dentro de mim. —E extra, extra lento.

Eu me abaixei novamente em um longo e lento deslize, saboreando o calor e a pressão de cada centímetro, meus dedos dos pés enrolando nos cobertores. Eu amei o jeito que ele se encaixava dentro de mim, e o jeito que ele pressionou contra minhas paredes internas quando eu inclinei meus quadris da maneira certa.

Tanto porque eu queria testar os limites de Ethan e porque simplesmente não conseguia resistir, continuei em ritmo acelerado, não muito rápido ou muito lento. Depois de todas as provocações, eu sabia que Ethan não tinha muita resistência sobrando. Eu o observei com cuidado, resistindo ao desejo de me perder no prazer. Esfreguei meu clitóris em círculos preguiçosos por outra camada de calor, construindo como um fogo dentro de mim. Fazia muito tempo desde que eu tive isso. Ethan teria ficado sozinho o tempo todo também, eu me perguntava? Tive a impressão de que ele não estava com ninguém desde a maldição, e pude entender o porquê. Mas eu meio que amei o pensamento de ser a única a dar isso a ele depois de tanto tempo, depois que ele talvez pensasse que estava perdido para ele para sempre.

Ethan começou a me observar, seus olhos devorando todos os meus movimentos como se ele quisesse gravar essa memória em sua mente para sempre. Mas enquanto eu continuava, ele teve que fechar os olhos, prendendo a respiração, os braços tensos contra o cinto enquanto lutava com o lobo e com seu próprio desejo de gozar. Quando o vi começar a tremer, diminuí a velocidade ao mesmo tempo, voltando ao ritmo mais lento que pude controlar. Ele xingou amargamente baixinho, mas depois de um momento, sua respiração se acalmou e um pouco de seu autocontrole voltou. Assim que ele estava um pouco mais no controle, eu acelerei novamente, um pouco mais rápido do que antes. Eu estava ansiosa para gozar também. Mas eu não podia me dar ao luxo de ser egoísta, infelizmente. Eu tive que facilitar isso para provar que poderia funcionar.

Eu estabeleci um ritmo sólido, observando-o com cuidado, diminuindo a velocidade assim que ele ficava muito excitado, acelerando uma vez que ele tinha o controle novamente. Eu nunca tinha feito sexo de maneira tão agradável antes, e estava gostando. Ethan, ao contrário, parecia estar sendo torturado.

—Se o seu objetivo aqui é me fazer odiar você. — Ele ofegou, enquanto eu diminuí a velocidade até quase parar novamente. —Você está conseguindo.

—Espere um pouco mais. — Eu disse, fechando os olhos enquanto lutava contra o meu próprio desejo de ir mais rápido. Eu estava tão perto de gozar cerca de cem vezes e me afastei antes que acontecesse, tentando salvá-lo. —Estamos quase chegando, não estamos?

—Deus, sim. — Ethan disse, os quadris tremendo enquanto ele tentava empurrar em mim apenas para eu segurá-lo. —Mas o lobo está tão perto, Vexa. Eu não sei por quanto tempo eu posso segurá-lo, não importa o quão lento vamos.

—Você tem certeza que não está dizendo isso apenas porque quer que eu acelere? — Eu o provoquei, moendo com ele.

—Isso também. — Ethan disse, com os dentes cerrados. —Além disso, meus braços estão realmente ficando doloridos.

—Tudo bem. — Eu disse respirando fundo, inclinando-me para beijá-lo brevemente. —Espere firme, baby.

Eu me joguei em um ritmo rápido que balançou a cabeceira da cama e deixou Ethan tenso por toda parte, uma série de maldições estranguladas deixando-o. Mordi meu lábio, cada impacto provocando fogos de artifício de prazer dentro de mim. A gratificação atrasada é uma merda, mas Deus, me sinto bem em finalmente ceder depois de esperar tanto tempo.

Ethan enfiou os calcanhares no colchão, empurrando-se para me encontrar em fortes impactos de tirar o fôlego. Fechei os olhos, concentrando-me inteiramente na sensação.

—Quase. — Ethan rosnou. —Tão perto - Vexa.

O orgasmo se aproximava como o pico de uma montanha-russa que vinha subindo há horas. A mola estava enrolada até seu ponto de ruptura absoluto e se eu não a liberasse logo...

Eu deveria estar prestando mais atenção. Não percebi que havia algo errado até ouvir o couro estalar e o rosnar do lobo. Quando abri meus olhos, Ethan já me segurava pelos ombros, me empurrando de volta para o colchão. Tive um instante de temer que estivesse prestes a morrer, e então Ethan bateu em mim com tanta força que vi estrelas.

Ele entrou em mim como um animal, como se ele morresse se não morresse, como se tudo dependesse de me foder tão forte e rápido quanto ele era fisicamente capaz. Meus quadris não estavam na cama, minhas pernas ao redor dele, minhas mãos em seu peito. Com as talvez duas células cerebrais que tive que poupar com o prazer que sobrecarregava rapidamente meu cérebro, vi que ele não havia desaparecido completamente, pelo menos ainda não. Ele ainda era mais homem que lobo, mas se afastava rapidamente. A pele se substituía, os dentes cresceram mais. Eu me atrapalhei com minha mágica após o orgasmo, tentando roubar minha capacidade de pensar, envolvendo-a em torno de sua maldição como eu tinha no drive-in, comprimindo-a, empurrando-a para trás, abraçando-a.

—Vexa. — Ethan disse, sua voz um grunhido irreconhecível de animal. Eu olhei nos olhos dele e não vi Ethan lá. Ele não estava errado quando disse que o lobo não era ele. Havia algo completamente atrás de seus olhos. Algo antinatural e cheio de ódio. Algo que teria rasgado minha garganta agora, exceto a pura força de vontade de Ethan e sua própria necessidade primordial.

O impacto dos quadris de Ethan contra minhas coxas tocou bruscamente através da sala, assim como seus rosnados bestiais, e meus próprios gritos, todas as tentativas de controle perdidas. O prazer corria por minhas veias como fogo a cada golpe feroz. Eu segurei sua maldição com a última razão, cavando minhas unhas enquanto minha visão ficava branca, como se fosse tudo o que pudesse me segurar na terra.

O orgasmo me atingiu como um deslizamento de terra, como uma erupção vulcânica, como uma força da natureza invadindo-me. Todo nervo queimava, todo músculo ficava tenso. Eu fiz um barulho gutural e desesperado, cada parte de mim reduzida a um ponto quente e branco de êxtase irracional.

Foi só quando a onda retrocedeu, eu percebi que Ethan tinha terminado também. Ele pairava sobre mim, segurando firme, respirando com dificuldade. Eu ainda estava segurando sua maldição e empurrei um pouco mais contra ela. Eu assisti o lobo recuar, até Ethan, exausto e gasto, desabar na cama ao meu lado.

Eu rolei de lado para encará-lo, murmurando garantias e acariciando seus cabelos. Ele estava consciente, embora apenas justo.

—Você está machucada? — Ele lutou para dizer.

—Não, não, eu estou bem. — Eu disse a ele. —Você não me machucou. Está tudo bem.

Ele deu um suspiro trêmulo de alívio e eu o beijei, espalhando-os pela testa e bochechas, tão aliviada quanto ele. Ele abriu os olhos, da mesma cor quente que sempre foram, sem mais vestígios do ouro. Ele sorriu para mim por um momento, e eu sorri de volta, uma estranha sensação de vitória me enchendo que era quase mais doce que o orgasmo. Conseguimos. Não da maneira que esperávamos, mas fizemos.

Alguém bateu na porta do quarto e nós dois congelamos.

—Todo mundo vivo ai? — Minha tia falou.

A humilhação correu através de mim. Ethan gemeu e escondeu o rosto nos lençóis.

—Sim, estamos bem. — Eu falei de volta. —Está tudo bem!

—Você não teria imaginado pelos barulhos. — Disse tia Persephona sem rodeios. —Mas estamos muito felizes por vocês dois.

—Sim, parabéns pelo sexo. — Disse Cole pela porta, e minha humilhação aumentou mais dez graus. —Mas no futuro, pode levar em consideração avisar as pessoas que você está prestes a arriscar lançar um lobisomem assassino em casa!

—Ou apenas façam em outro lugar. — Sugeriu minha tia. —Um bunker trancado em algum lugar, talvez.

—Um bunker à prova de som. — Acrescentou Cole.

—Desculpe! — Eu disse.

—Isso não vai acontecer novamente. — Disse Ethan.

Cole e tia Persephona voltaram para a cama e Ethan e eu deitamos um ao lado do outro, com os ossos cansados e agora completamente envergonhados.

—Pelo menos sua tia não é do tipo conservadora? — Ethan disse, tentando aliviar o clima. Eu ri baixinho e ele se juntou a nós dois oprimidos por tudo o que tinha acontecido. Depois de um momento, levantei-me, esticando-me, para fazer uma limpeza mínima, incluindo a eliminação do cinto destruído. Teríamos que conseguir algo mais forte. Quando terminei, caí de volta na cama com Ethan, que tinha usado a última de suas forças apenas para virar o caminho certo na cama. Ele me puxou para perto quando eu me deitei, e me aconcheguei sob seu queixo.

—Só para você saber — Murmurei, meus olhos já fechados. —Isso definitivamente vai acontecer novamente.

 


O café da manhã na manhã seguinte foi desconfortável por cerca de dez minutos, até Cole contar uma piada suja que nos deixou todos em lágrimas.

—Então, como foi o sofá? — Eu perguntei a Cole, enquanto Ethan ajudava minha tia a fazer panquecas.

—Tolerável. — Disse Cole. —Eu tive pior. Seus animais se revezaram tentando me sufocar, no entanto. Você já teve um cão lobo morto tentando deitar no seu rosto enquanto você dorme?

—Sim, desculpe. — Eu disse, rindo. —O cheiro é a pior parte, certo? Estou pensando em enchê-lo de pot-pourri.

—Não pode doer. — Disse Cole. —Mas nenhuma quantidade de purificadores de ar ou taxidermia vai mudar o fato de você ter repudiado ele tarde demais. Os restos mortais estavam muito longe. Se você deseja manter algo familiar, precisa chegar ao corpo enquanto estiver fresco. Depois que o inchaço aparecer, você nunca conseguirá fazê-lo cheirar bem.

—Você está assumindo que eu repensei Mort intencionalmente. — Eu disse com um escárnio. —Ele era a coisa morta mais próxima e maior em mãos quando eu percebi que havia um lobo grande na minha casa.

—Podemos tentar evitar conversas sobre cadáveres à mesa? — Ethan perguntou com uma careta.

—Bem, então por que você não o colocou de volta? — Cole perguntou, ignorando Ethan.

—Eu estava muito ocupada no começo. — Eu disse. —Eu tentei, eventualmente, mas ele está realmente cheio de energia e não quer se soltar. E honestamente, a essa altura, ele lutou com seu leão da montanha por mim e apenas foi um cachorro muito bom em geral e, bem, me apeguei.

—É assim que sempre acontece com os perdidos. — Disse tia Persephona, balançando a cabeça enquanto colocava uma pilha de panquecas na mesa. —Você jura que vai levá-los por um dia até poder levá-los a um abrigo, e a próxima coisa que você sabe é que eles estão enrolados no seu colo e implorando por restos de presunto e você percebe que eles não vão a lugar algum.

—Mort é um pouco mais que um vira-lata. — Disse Cole, pensativo, olhando para o cachorro, que estava deitado perto das portas de correr do quintal, aproveitando o sol. —Há algo estranho sobre o quão consciente ele parece estar.

—Algo sobre a Vela, talvez? — Eu disse com um encolher de ombros.

—Isso, ou seu talento oculto, está executando algum tipo de programa mágico de comportamento canino em seu subconsciente. — Disse Cole.

—Parece plausível para mim. — Ethan riu.

Mort levantou a cabeça brevemente para bocejar, depois rolou de novo, nos ignorando.

—Eu provavelmente deveria ir ver os gatos antes de me sentar. — Disse minha tia, limpando as mãos e indo para o quintal. Seus gatos mortos-vivos não precisavam de alimentação, mas precisavam ser energizados regularmente e verificados quanto a danos em seus restos mortais, e as pragas mortas que eles entregavam tinham que ser tratadas.

—Eu posso cuidar disso depois do café da manhã. — Eu disse a ela, não querendo que ela se esforçasse.

—Não seja boba, eu consigo. — Respondeu ela com desdém, e saiu antes que eu pudesse dizer mais.

—Vamos ver o cara dos fae hoje. — Eu disse enquanto Ethan se sentava e cavamos as panquecas. —Qual é o problema dele?

—Bem, eu ainda não o conheci — Disse Ethan. —Mas as vezes em que os curandeiros descobriram algo genuinamente perigoso, ele é o principal responsável por lidar com isso. Aparentemente, ele é um profissional em garantir artefatos mágicos. Mas também ouvi dizer que ele tem uma atitude meio estranha. Provavelmente por causa da coisa falsa. Está no ar se ele estará disposto a nos ajudar.

—Você deveria suborná-lo com algumas dessas panquecas. — Disse Cole com a boca cheia. —Estas são fodidamente incríveis.

—Sim, maldito Ethan, você tem um talento. — Eu concordei com uma risada. —Acho que nunca tive panquecas tão perfeitas.

Ethan sorriu, profundamente satisfeito.

—Ele é alto, é médico, sabe cozinhar. — Disse Cole, concentrado em inalar suas panquecas o mais rápido possível. —Se ele não estivesse se transformando em um monstro do mal, seria o material ideal para o casamento.

—Bem, espero que possamos cuidar disso hoje. — Eu disse rapidamente.

—Isso significa que você me daria uma chance assim que eu for consertado? — Ethan perguntou a Cole, apoiando-se no cotovelo com um sorriso forçado. Senti uma estranha vibração de orgulho ao vê-lo sendo tão à frente. Sua voz quebrou um pouco e eu vi a tensão nervosa em seus ombros, mas ele a escondeu muito bem, considerando.

Cole, pego de surpresa, olhou para ele e engoliu em seco ao redor das panquecas na garganta.

—Garoto baixo. — Disse ele, erguendo uma sobrancelha. —Sua namorada está sentada bem ali.

—Você também pode me dar uma chance. — Eu disse, pegando a sugestão de Ethan e dando a ele o meu sorriso de queijo. —E isso não foi um não.

Cole ficou lentamente escarlate.

—Eu preciso ir. — Ele disse rapidamente, levantou-se e saiu correndo pelas portas deslizantes para ficar no quintal.

Eu ri, apesar de ter conseguido segurar até que ele fechou a porta entre nós.

—Nós provavelmente não deveríamos ter encurralado ele. — Ethan disse, parecendo pensativo através das portas deslizantes onde Cole estava embaixo da árvore, uma mão apoiada no tronco e a outra no peito como se estivesse tendo um pequeno ataque cardíaco. —Espero que não o assustemos.

—Um necromante maligno de séculos não assustou Cole. — Eu o tranquilizei. —Tenho certeza que ele pode lidar com um pouco de flerte.

—Talvez devêssemos recuar. — Disse Ethan, mordendo o lábio. —Eu não quero que ele pense que eu sou predatório ou algo assim.

—Você não é predador. — Eu disse pacientemente. —Quero dizer, exceto em luas cheias.

—Ha ha. — Ele revirou os olhos.

Depois de alguns minutos, Cole voltou para dentro e sentou-se, retornando às panquecas. Ethan e eu permanecemos em silêncio, não querendo pressioná-lo.

—Então, uh, cara dos fae. — Eu disse, retomando a conversa mais cedo. —Há muitos fae por aí?

—Acho que não. — Disse Ethan. —Ele é o único que eu conheço.

—Ele mora perto? — Cole perguntou, sem levantar os olhos das panquecas. —O tempo todo?

—Uh, sim. — Ethan confirmou, sua voz caindo em um registro mais suave quase imediatamente. Ele estava fazendo aquilo em que agia como se Cole fosse um animal nervoso novamente. —Ele tem uma casa grande perto da ravina. Ele vive lá há anos, até onde eu sei.

—Hum, incomum. — Cole murmurou, ignorando Ethan.

—O que é incomum? — Eu perguntei curiosa.

—Bem, se ele viveu entre humanos sem problemas por tanto tempo, provavelmente ele é da Corte dos fae. — Disse Cole casualmente. —E a corte dos fae não deixa as outras terras muito hoje em dia. Quando o fazem, geralmente é apenas por um dia ou mais. Para alguém que vive neste lugar há anos é muito estranho.

—Eu vou ser honesta. — Eu disse, minha confusão refletida no rosto de Ethan. —Eu nem sabia que os fae eram reais até semana passada, e ainda estava com a impressão de que eram principalmente duendes e outras coisas.

Cole recostou-se, largou o garfo e considerou suas palavras por um momento.

—Tudo bem. Cartilha de faes. Existem três tipos de Faes. — Ele disse finalmente. —Três tribunais. Os Seelie e os Unseelie, também chamados de Tribunais de Verão e Inverno, estão constantemente em guerra. Eles estão em um impasse há tanto tempo que suas vitórias e derrotas se tornaram espelhados rituais das estações atuais.

—Qual é o terceiro tribunal? — Eu perguntei fascinada.

—Fae selvagem. — Disse ele. —Qualquer coisa que não seja Seelie ou Unseelie. Então suos fae domésticas, como domovoi e brownies, seu deus local e criptos, seus espíritos da floresta e guardiões da montanha, e assim por diante, são todos Faes Selvagens desalinhados, basicamente tentando viver suas vidas e não são sugados pelo drama Seelie/Unseelie. Algumas pessoas traçam uma linha entre Faes selvagens nativas e Outras Terras Selvagens dos fae, mas, francamente, eu não acho que haja muita distinção.

—Espere o que? — Eu disse confusa.

—Acho que me lembro de Daphne mencionando algo sobre isso. — Ethan acrescentou, franzindo a testa. —Eles estavam realocando um monte de coisas mágicas antes de um empreendimento imobiliário que estava se mudando, e ela estava reclamando de tentar resolver as espécies invasoras.

—Mais como refugiados do que espécies invasoras. — Disse Cole. —A maioria dos que estão aqui fugiu das Outras Terras para escapar do recrutamento.

—Eu pensei que eles eram animais. — Disse Ethan, confuso. —A maioria dos que vi certamente pareciam animais.

—E quem os estava recrutando? — Eu perguntei.

—Quem mais? Os tribunais. — Disse Cole, e inalou uma panqueca inteira de uma só vez, sufocando sua arrogância. Quando ele pôde respirar novamente, ele continuou. —A inteligência falsa é complicada. Ela varia em todo o lugar e realmente não se encaixa nos padrões humanos. Os duendes podem parecer grandes insetos, mas são espertos o suficiente para não quererem entrar em guerra.

—E eles vieram dessas Outras Terras para fugir? — Eu perguntei.

—Alguns deles. — Confirmou Cole. —Para explicar o mais brevemente possível, a terra é... uh, a terra é uma bolha de sabão. E tem outras bolhas de sabão menores grudadas nela. Entendeu?

Eu balancei minha cabeça, mas Cole continuou.

—As bolhas menores são as Outras Terras. Pequenas realidades fraturadas. Ou talvez apenas realidades em que a física e a energia funcionam de maneira muito, muito diferente. A Terra é a maior, pelo menos pelas medições tradicionais, já que temos um universo e outras galáxias e merda, e a maioria das Outras Terras que foram vistas e relatadas por humanos são um único local que se estende infinitamente, como a Cidade Sem Fim ou a floresta de Tir Na Nog.

—Algumas das coisas que li levantam a hipótese de que as Outras Terras realmente vieram da Terra, manifestadas pelo inconsciente coletivo ou algo assim. A maioria dos livros coloca o número de Outras Terras em torno de nove. Mas isso pode ser apenas o que vimos. Os Seelie e Unseelie correm entre todas as Outras Terras, travando suas guerras e forçando qualquer Fae Selvagem que encontrarem a se juntar a eles. A Terra é a única terra que já teve sucesso em mantê-los fora, e ainda sentimos o feedback mágico de suas lutas influenciando o tempo e a probabilidade. E sempre que a luta deles se muda para outro país, temos uma onda de refugiados saindo antes da chegada do tribunal.

Ele bebeu meio copo de suco de laranja.

—Mas, voltando ao meu ponto original sobre o cara dos fae... não existem muitos fae Selvagens que podem manter a forma humana por longos períodos. Selkies, hulda, talvez. E mesmo eles não costumam gostar. A corte dos fae sempre parece principalmente humana... para humanos de qualquer maneira. Então esse cara provavelmente é de um dos tribunais. Isso é tudo.

—Se é tão fácil para eles se encaixarem com os humanos, por que eles não deixam, uh, como você chama isso? — Ethan perguntou.

—As Outras Terras. — Respondeu Cole com um suspiro, esfregando a testa. —E principalmente porque não deixamos. Tropas de faes de qualquer tribunal podem causar uma enorme quantidade de caos e danos quando correm por aqui. Quase sempre vêm em grupos e têm uma necessidade quase biológica de causar problemas. Então, em quase toda a história mágica, aperfeiçoamos maneiras de mantê-los fora dessa realidade o máximo que pudermos. Alguns séculos atrás, alguns grupos mágicos conseguiram se reunir por tempo suficiente para elaborar um contrato que limita severamente sua capacidade de interferirem, exceto o Meio Inverno, Plenos Verões e Equinócios Honestamente, há uma tonelada de coisas estranhas envolvidas. Posso encontrar alguns livros sobre isso, mas não quero ficar aqui conversando sobre isso o dia todo.

—Justo. — Eu disse. —Eu ainda estou me acostumando com tudo isso. Eu sabia muito bem que a necromancia era uma coisa, e então eu descobri sobre magia geral e a comunidade mágica, e eu estava apenas começando a descobrir isso, e agora há outras dimensões? De que faes vêm? E causam as estações do ano?

—Elas... elas não causam as estações do ano. — Gaguejou Cole rapidamente. —É... é apenas... é uma coisa cíclica e simbólica -

—Tanto faz. — Eu disse. Eu não queria ser desviada novamente. —Gostaria apenas de um dia ou dois sem nenhuma ameaça existencial para processar tudo isso, sabia?

—Sim, mesmo. — Ethan disse com um aceno de cabeça cansado. —Mas precisamos ir. Como eu disse, o cara mantém horas estranhas. Se queremos conversar com ele hoje, precisamos chegar em breve, ou teremos que esperar até tarde hoje à noite.

Terminamos o café da manhã rapidamente e saímos às pressas. A oferta de Ethan para Cole ainda estava pendente, sem solução e sem resposta entre nós, mas eu tinha medo de trazê-la à tona e angustiá-lo. Ethan e eu enchemos o silêncio do passeio de carro com conversas sem sentido sobre os tipos de Fae Selvagem que ele havia encontrado com os curandeiros.

—Então, domovoi e trasgu são basicamente os mesmos. — Eu resumi, tentando manter isso claro. —Deixe comida para eles e eles limparão a casa para você. Hobs limpam a casa para você, mas se você lhes der uma recompensa, eles ficarão chateados e vão embora. Brownies esperam recompensas, mas se você tentar vê-los trabalhar, eles ficam chateados e saem.

—Sim, você conseguiu. — Disse Ethan. —Tentar lembrar de todas as regras é a pior, certo? Especialmente quando você não sabe de onde elas vieram. Por aqui, muitas famílias traziam o espírito da casa quando imigravam para a América, e a casa mudou de mãos dezenas de vezes desde então, então descobrir que tipo de espírito é esse pode ser uma dor absoluta.

—Qual foi a pior que você já teve? — Eu perguntei, curiosa, enquanto Ethan dirigia em direção ao exterior da cidade.

—Oh cara. — Ele riu. —Uma das minhas primeiras viagens com os curandeiros foi investigar um 'poltergeist' assombrando uma casa grande e velha em Wethersfield. Só causando pequenas travessuras, desmanchando camas, rindo em salas vazias, você sabe. Nós descobrimos bem rápido que era um espírito da casa, e pensávamos que era uma variedade de Haltija finlandês, que acabou sendo um Zashiki-Warashi japonês. Eles não limpam nada, geralmente causam travessuras mesmo quando estão felizes, mas têm boa sorte... E quando eles saem de casa, é um presságio de coisas ruins loucas a caminho. Nós quase o expulsamos antes de descobrirmos o que era, o que poderia ter sido desastroso para a família.

—Oh merda. — Eu disse. —Mas você conseguiu fazer ficar?

—Sim, e ensinou a família como lidar com isso. — Disse Ethan. —O que é basicamente para ignorá-lo. Uma vez que eles sabiam que não seria toda a atividade paranormal neles, eles não se importavam tanto com as estranhezas ocasionais. Isso dá ao personagem da casa. Estamos quase lá, a propósito.

Nós tínhamos entrado em uma área residencial agradável, a rua serpenteava passando por grandes casas antigas com jardins espaçosos e um jardim impecável. Muitas das casas tinham placas históricas declarando o ano em que foram construídas, muitas das quais começaram com 17 e 18. Definitivamente, acima de todas as nossas notas salariais. Ethan olhou de soslaio para todos os endereços, contando até encontrar o certo.

O jipe desceu o longo caminho arborizado de uma grande casa do Segundo Império, afastada da estrada e protegida por vários enormes carvalhos velhos.

Tinha dois andares mais um sótão sob um telhado escuro de mansarda. Era todo em tijolo e guarnição branca, com torres ladeando a grande porta da frente e janelas altas e arqueadas. O tijolo se arrastava de hera, e o jardim ficou um pouco selvagem, embora ainda fosse mantido, a grama mantida em um comprimento manejável. A videira agridoce e a azeitona russa que incomodavam os vizinhos não tinham presença aqui. Havia um grande bordo japonês, provavelmente mais velho do que eu, e era vermelho mesmo nessa época do ano. Os canteiros de flores mais próximos da casa estavam cheios de batata-doce ornamental roxa escura, coleus cor de vinho e petúnias de veludo preto. O manjericão carmesim e o chocolate com menta se esconderam à sombra das outras plantas, enchendo o ar com seu perfume. Flores da lua, flox noturno e jasmim florescendo à noite adicionavam pequenos salpicos de cores mais brilhantes, embora todos estivessem fechados a essa hora do dia.

Estacionamos o jipe e caminhamos pelo estranho jardim para bater nas pesadas portas de madeira maciça.

—Agora lembrem-se. — Ethan disse, enquanto esperávamos o cara responder. —Faes são complicadas, então tentem ser o mais educados possível e, se ele tentar se irritar com você, não morda a isca. Ele conhece a mim e aos curandeiros, então tentarei fazer o máximo possível da conversa.

Cole e eu assentimos e imaginamos o que esperar. Imaginei um velhinho, como um gnomo, todo travesso e engraçado, embora as descrições de Cole sobre o tribunal me fizessem imaginar elfos de fantasia. Então, novamente, ele estava vivendo com seres humanos todo esse tempo. Ele provavelmente pareceria um cara, certo?

Ouvimos o clique da porta sendo aberta e eu me preparei para descobrir. A porta se abriu, revelando um jovem alto e esbelto, com longos cabelos loiros que reconheci instantaneamente.

—Você? — Eu disse, confusão me deixando momentaneamente pasma. Um segundo passou e eu respirei profundamente quando comecei a juntar as peças. —Você.

Ele olhou para mim, claramente tão surpreso em me ver quanto eu em vê-lo. Seus olhos dispararam para Cole e Ethan. Ele bateu a porta entre nós.

 

Capitulo Treze


—Ei! — Eu gritei, minha suspeita subindo instantaneamente para uma certeza irritada. Eu bati na porta. —Você volte aqui agora!

—Você o conhece? — Ethan perguntou, parecendo confuso.

—Sim, eu o conheço! — Eu disse, entre dentes. —E se ele fez o que eu acho que ele fez, eu vou matá-lo!

—Eu não sugeriria isso. — Disse Cole uniformemente.

—O que ele fez? — Ethan perguntou, perplexo.

—Ele é Greenwood! Ele era advogado imobiliário do meu tio. — Lutei para explicar, ainda batendo na porta. —Ou eu pensei que ele era, de qualquer maneira! Foi ele quem me mostrou a Vela! E se ele é umo fae, se ele está trabalhando com os curandeiros e estava lá especificamente para a Vela em primeiro lugar, então ele sabia exatamente o que estava fazendo quando ele me convenceu a tocá-la!

—Oh. — Disse Ethan. —Bem, isso não é bom.

—Ele está tentando escapar pelos fundos. — Disse Cole, coçando o rosto e se inclinando sobre o parapeito da varanda.

—Pegue ele! — Eu gritei, pulando o corrimão e correndo pela casa. Ethan passou correndo por mim um segundo depois, tirando a roupa enquanto ele se mexia. Eu peguei um vislumbre da expressão assustada de Greenwood através dos arbustos antes de Ethan, de quatro e do tamanho de um pequeno urso, atacá-lo.

Corri para alcançá-lo e encontrei Ethan deitado em cima de Greenwood, abanando o rabo quando ele me deu um sorriso orgulhoso de cachorrinho. Greenwood se contorceu e lutou.

—Me solte imediatamente! — Ele demandou. —Você não pode imaginar a ira que eu posso deixar cair sobre você, se eu escolher!

—Eu deixarei você ir assim que você me disser por que diabos você colocou essa Vela em minhas mãos! — Eu disse, de pé sobre ele. —Você tem alguma ideia do que você me fez passar? Eu quase morri três vezes na semana passada!

Cole vagava em um passeio fácil. —É melhor você apenas derramar tudo, cara. — Disse ele. —Você realmente não quer ficar preso lá fora ao meio-dia, quer? Além disso, a julgar pelo fato de ter tentado fugir a pé, você teve a maioria dos seus poderes selados ou está tentando manter um discreto, então nos ferir provavelmente não seria do seu interesse. De qualquer forma, é mais conveniente cooperar.

—Ugh. — Greenwood emitiu um som meio enojado, meio resignado e empurrou o corpo peludo de Ethan novamente. —Você pelo menos me faria o favor de remover seu animal de estimação antes de eu responder?

—Você promete não correr? — Eu perguntei.

—Você tem a minha palavra. — Disse Greenwood, com um suspiro cansado.

Ethan se levantou e se afastou de Greenwood. As calças marrons e a camisa branca, de colarinho branco, estavam bem manchadas de grama e cobertas de pelos de lobo. Ele fez uma careta de descontentamento e acenou com a mão para si mesmo. Em um instante, a bagunça desapareceu. Ele pegou as folhas dos cabelos da maneira mais convencional, enquanto passava por nós, murmurando. Eu segui logo atrás dele. Ethan permaneceu nos arbustos para voltar e recolher suas roupas.

Ele era tão lindo quanto eu me lembrava dele, embora minha atração por ele estivesse levemente azeda pela percepção de que tudo isso era culpa dele. Ele não era robusto e musculoso como Ethan ou resistente e musculoso como Cole. Ele tinha uma graça refinada que me lembrava os interesses amorosos dos romances da regência, toda a beleza masculina polida. Ele tinha feições aristocráticas e angulares e os olhos mais verdes que eu já vi. Seus cabelos eram da cor do mel à luz do sol, amarrados em um rabo de cavalo baixo com uma fita verde escura, caindo sobre o ombro em ondas sutis. Bonito como ele era inegavelmente, eu estava fortemente inclinada a chutar sua bunda.

Ele nos levou de volta à casa, através de um vestíbulo de teto alto e finamente decorado, e a uma sala de jantar formal, a mesa posta com louça vazia.

—Fale já. —, Eu disse, impaciente. —O que você realmente estava fazendo naquela sala funerária?

—Eu estava prestes a jantar. — Ele disse casualmente, gesticulando para a mesa. —Você pode se juntar a mim.

—Não é um pouco cedo? — Eu perguntei, quando ele se sentou à cabeceira da mesa, estalando o guardanapo de pano com um gesto praticado enquanto o colocava no colo.

—Prefiro dormir durante o meio dia. — Disse ele. —O horário de verão discorda de mim.

—Mais uma razão para resolvermos isso rapidamente, então. — Eu disse, puxando a cadeira mais próxima de mim e sentando-me. Ethan e Cole sentaram-se ao meu lado.

Os pratos da mesa ainda estavam vazios, embora Greenwood parecesse pronto para comer. Eu esperei, meio esperando que os servos aparecessem com comida. Em vez disso, Greenwood bateu duas vezes na mesa. O som era estranhamente alto e ecoou mais do que parecia que a sala deveria permitir. Um segundo depois, os pratos sobre a mesa estavam quase cheios da comida mais deliciosa que eu já vi, desdobrando-se como flores florescendo ou fluindo como água de uma torneira. Momentos depois havia um pequeno banquete à nossa frente.

—Uma mesa de desejos. — Disse Cole, erguendo uma sobrancelha. —Eu nunca vi uma pessoalmente.

—Ainda existem apenas três neste lugar. — Respondeu Greenwood, servindo-se dos pratos mais próximos, todos com comida que eu não reconhecia, mas que parecia indescritivelmente boa. —Eu possuo duas delas. O navio que supostamente levava o terceiro foi perdido no mar nos anos 1300 e ainda precisa ressurgir.

—Eu acho que você pretende pegá-la no minuto que aparecer? — Cole disse, cutucando curiosamente um prato perto dele que parecia macarrão com queijo e lagosta.

—Claro. — Respondeu Greenwood. —Eu coleciono essas coisas. E, por favor, sinta-se livre para comer qualquer coisa, exceto os pratos à minha frente. O que estiver mais próximo de vocês devem ser os seus favoritos ou o melhor palpite da mesa. Não há perigo. A mesa não transmite encantamento. Como a maioria dos pratos de faes faz. É muito conveniente para os hóspedes.

Cole hesitantemente tomou uma colher grande de macarrão com queijo de qualquer maneira. Ethan já estava comendo um pedaço enorme de frango frito sem arrependimentos, mesmo que a comida estivesse encantada. Testei uma tigela perto de mim, que cheirava a bisque de tomate e quase me esqueci por que estava aqui na primeira colherada. Foi a coisa mais deliciosa que eu já provei. Eu sacudi a tentação de provar tudo na mesa para iniciar meu interrogatório.

—É por isso que você estava na sala de funeral? — Eu perguntei. —Você queria recolher a Vela.

—Não é educado discutir negócios à mesa. — Disse Greenwood, sem tirar os olhos da comida.

—Eu não ligo...— Cole agarrou meu ombro e balançou a cabeça. Apertei minha mandíbula com raiva, cedendo com relutância e, depois de um momento de mau humor, servi-me de sopa.

—Então. — Disse Cole, casualmente com batatas e alecrim, —Há quanto tempo você mora na terra?

—Mais tempo do que você viveu. — Respondeu Greenwood, evasivo. —Mas não tanto tempo, comparativamente. Há quanto tempo você está sem-teto?

Eu esperava que Cole se irritasse com raiva, mas ele mal reagiu.

—Desde que eu estudei necromancia. — Respondeu Cole. —Você disse que tem convidados humanos com frequência? Você socializa bastante com os humanos?

O garfo de Greenwood pairava sobre sua comida, mas ele retomou suavemente sem mais emoções.

—Eu disse que tenho convidados. — Esclareceu. —Humano e de outra forma, exatamente com a frequência que sinto vontade de ter companhia. Necromancia é uma busca incomum. Como sua família se sente sobre isso?

—Oh, da mesma maneira que eles se sentem sobre qualquer mágica. — Disse Cole novamente, sem reação emocional, apesar da farpa. Eu não tinha visto ninguém trocar respostas e insultos velados como este desde a última reunião de família. Ou não tão velado, no caso de Greenwood. —Como o tribunal se sente sobre seus... Hábitos?

Um músculo na mandíbula de Greenwood se contraiu, e ele segurou o garfo com força, mas sua expressão e tom permaneceram neutros.

—Eu nunca imaginaria adivinhar os sentimentos do tribunal. — Disse ele. —Eu opero com a permissão da minha rainha, e isso é tudo o que é necessário. Entendo que sua família está morta, então? Que trágico.

—Oh, não, eles estão vivos. — Disse Cole com um pequeno sorriso frio. Greenwood agarrou seu garfo com tanta força que pensei ouvi-lo estalar. —Você disse que sua rainha mandou você aqui? Agora, qual rainha seria exatamente?

Greenwood bateu com o garfo na mesa e se levantou.

—Perdoe-me. — Disse ele. —De repente, perdi o apetite.

Cole bufou e Greenwood lançou um olhar perigoso para ele.

—Ótimo. — Eu disse imediatamente. Não entendi exatamente o que Cole havia feito, mas não desperdiçaria a oportunidade. —Então vamos voltar aos negócios. Você me deve uma resposta.

—'Você me deve' é uma frase perigosa para brincar com os fae. — Disse Greenwood, batendo duas vezes na mesa. —Levamos a dívida muito a sério.

De repente, a comida na mesa desapareceu completamente, deixando os pratos brilhando como se nunca tivessem sido usados. Ethan bateu os dentes em um pedaço de frango que não estava mais lá e franziu o cenho deplorável.

—Você conscientemente me colocou em perigo quando eu nunca fiz nada com você. — Eu disse, levantando-me também. —Eu diria que isso significa que você me deve.

—Eu estava simplesmente devolvendo uma herança familiar valiosa ao seu legítimo proprietário. — Respondeu Greenwood. —Um ato de caridade pelo qual fui recompensado com violência e grosseria. Se alguma coisa, você me deve.

—Você sabia que a Vela era perigosa! — Eu o acusei.

—Você não pode provar isso. — Respondeu ele, sublime.

—Uh, na verdade — Ethan interrompeu, levantando a mão. —Eu ouvi sua conversa sobre a Vela com os curandeiros. Daphne deixou bem claro o quão perigosa era a Vela e o que poderia acontecer se acabasse nas mãos de um necromante. Quero dizer, mesmo que você não deva a Vexa, você provavelmente deve aos curandeiros a promessa de ajudá-los e depois distribuir a Vela em vez de recuperá-la. E, como eu represento os curandeiros, acho que isso significa que você me deve?

Um rubor subiu pela nuca de Greenwood, mas ele respirou fundo e o dispensou.

—Tudo bem. — Ele disse. —O que exatamente você quer?

—Eu... — Comecei a exigir respostas, depois me lembrei do que estávamos realmente fazendo aqui. Ele pode apenas nos deixar ter um favor. Eu não queria desperdiçar isso explicando algo que já estava feito. —Queremos que você ajude Ethan. Ele tem uma maldição. Não sabemos quem a lançou ou quais são os parâmetros para quebrá-la, e seu progresso foi acelerado. Precisamos quebrá-la rapidamente.

Greenwood olhou para Ethan com expectativa.

—Sim, é isso que eu quero. — Ethan disse depois de um momento, quando percebeu que o homem Fae esperava por sua confirmação. —Por favor. Tudo o que você puder fazer será apreciado.

Greenwood suspirou e esfregou os olhos.

—Tudo bem. — Ele disse. —Se é realmente isso que você quer. Parece um pouco inútil para mim, mas é sua perda.

Ele nos levou para fora da sala de jantar e para dentro da casa. Passamos por longos e opulentos corredores, salas estranhas, grandes salões de baile, subindo e descendo escadas sem fim. A casa era muito maior do que aparecia do lado de fora. Também ficou cada vez mais claro que a vista pelas janelas pelas quais passávamos não era da vizinhança que deveriam ter sido. Vi ruas movimentadas em cidades estrangeiras, montanhas desconhecidas, praias tropicais. E uma ou duas vezes vi paisagens que eu sabia que não existiam em nenhum lugar da terra.

Enquanto caminhávamos, entrei ao lado de Cole. —O que foi aquilo na mesa? — Eu perguntei a ele em um sussurro curioso.

—Os fae vivem de acordo com regras como se fossem leis da natureza, certo? — Ele disse. —Incluindo rituais de etiqueta. Se você insistisse em conversar sobre negócios à mesa, ele teria justificativa para expulsá-la. Caso contrário, ele continuaria comendo até desistirmos e sairmos ou desmaiarmos ou o que for.

—Então você teve que fazê-lo querer sair da mesa? — Eu assumi, e Cole assentiu.

—Pergunta por pergunta é uma das regras mais comuns dos fae. — Explicou. —Eu continuava fazendo perguntas que ele não queria responder. Felizmente, descobri a melhor maneira de irritar as pessoas é algo em que eu sou naturalmente talentoso.

—Como você sabia que funcionaria? — Eu perguntei, sentindo uma estranha combinação de medo e alívio retroativos.

Cole não tinha uma resposta.

Por fim, Greenwood parou diante de um par de enormes portas de madeira esculpidas com a imagem de uma árvore gigante. Seus galhos cresciam além do topo da porta, brotando folhas verdes vivas. Uma águia esculpida estava entre os galhos e uma serpente enrolava nas raízes. Um esquilo de olhos brilhantes empoleirava-se logo acima do buraco da fechadura. Não havia maçanetas, mas quando Greenwood se curvou e sussurrou algo no buraco, a porta se abriu silenciosamente por conta própria.

—Por aqui. — Disse ele, entrando pelas portas. —Se vocês valorizam a sanidade e várias partes do corpo, não toquem em nada.

Cole, Ethan e eu trocamos um olhar, todos nós sentimos que essa era provavelmente a nossa última chance de voltar. Não sabíamos remotamente no que estávamos caminhando, mas eu sabia que era a nossa melhor chance de salvar Ethan. Respirei fundo e segui Greenwood pela porta.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Quatorze


Entramos em uma enorme biblioteca com prateleiras alinhadas nas paredes que subiam pelo menos dois andares. O teto de vidro derramava luz dourada no final da tarde através da sala, embora, quando chegássemos, já estivesse bem antes do meio dia. A sala estendia pelo menos o comprimento de um campo de futebol em qualquer direção, e as portas em arco abertas em cada extremidade implicavam que havia mais além delas. A sala, cheia de parede a parede, tinha coisas em estantes de vidro, mesas de madeira escura e tanques enormes - um milhão de objetos diferentes, fantásticos e mundanos, incrustados de jóias e envoltos em trapos, enormes e pequenos, impossíveis e absolutamente insignificantes. Fiquei completamente impressionada, atordoada com um silêncio reverente e admirado.

—Por aqui. — Disse Greenwood, impaciente, levando-nos através das filas de caixas, passando por um astrolábio de ouro girando no ar a um pé acima do suporte em que estava colocado. O estojo ao lado continha um pesado livro encadernado em couro, do qual baratas e moscas se arrastavam constantemente, apenas para se dissolverem em pó a alguns centímetros de distância. No passado, havia um guarda-chuva vermelho que, apesar de estar em um estojo reforçado com várias fechaduras pesadas, parecia ser completamente normal. Eu tive que lutar contra o desejo de parar a cada poucos metros para encarar cada nova maravilha intrigante que passamos. Muitos deles pareceriam estranhos até para a visão normal. Mas, para meus sentidos mágicos, eles absolutamente se arrastavam com magia. Alguns foram infundidos, a magia fluindo através deles como sangue pelas veias. Outros pareciam completamente mágicos, seus componentes comuns eram uma fachada fina.

Debaixo da minha camisa, eu usava um pingente de madeira, um amuleto que Ethan me deu que me permitiq entendê-lo enquanto ele estava em sua forma de lobo. Até esse momento, tinha sido a peça de magia mais incrível que eu já vi. Fiquei perplexa e fascinada pela habilidade e delicadeza envolvidas em sua criação. Aquele feitiço, que eu havia colocado à noite olhando com tanta admiração, parecia positivamente desajeitado nesse tesouro de encantamentos, como um cisne de origami dobrado por um amador habilidoso ao lado de uma obra-prima.

Certamente, alguns dos itens aqui eram menos delicados em sua elaboração. Havia uma pilha de moedas de prata que não mostrava nenhum traço fractal cuidadosamente dobrada em encanto. Mas mesmo estes queimavam com um tipo de força e emoção crua que me fazia tremer se olhasse por muito tempo. Eles foram carimbados com uma única e poderosa letra, pesada com significado cósmico. Meus sentimentos eram os mais próximos do êxtase religioso que eu já havia experimentado.

Corrigida pelo oceano de dor preso dentro das moedas, pulei quando Greenwood me deu um tapinha no ombro.

—É melhor não olhar por muito tempo. — Ele aconselhou, colocando um braço em volta de mim para me orientar. —Pode ser perigoso.

—O que é tudo isso? — Eu disse, extasiada demais para lembrar que estava com raiva dele. —É incrível... lindo. Olhe para os fractais geométricos daquele! Como eles fizeram isso? E aquele, Deus, o feitiço quase parece vivo, como flores crescendo! Onde você aprende isso? Quem fez isso? Como?

Greenwood levantou uma sobrancelha enquanto eu balbuciei, mas um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca fina.

—Curioso. — Ele disse. —A maioria das pessoas que vê minha coleção quer saber o que faz, não como é feita.

—Bem, eu quero saber isso também. — Eu disse, um pouco sobrecarregada. —Mas você também pode perguntar para que serve uma mesa barroca antiga. É uma obra de arte. O valor está no artesanato, não na utilidade.

—Estou inclinado a concordar. — Disse Greenwood. —Aqui, você notou este vaso? Viu como o feitiço é trabalhado para seguir o padrão na porcelana?

—Isso é incrível! — Eu jorrei, me inclinando para ver. —Olha, é mesmo nas folhas minúsculas!

Cole pigarreou, chamando minha atenção. Cole franziu a testa e Ethan, envergonhado, alternando entre olhar entre o teto e o chão.

O braço de Greenwood ainda estava ao meu redor e encolheu os ombros rapidamente, meu rosto quente. Greenwood recuou, mãos no ar e, com um gesto elegante, nos levou novamente.

Ethan perguntou baixinho, a preocupação apertando seus olhos. —Ele não está trabalhando em algum tipo de encantamento em você ou o que seja, está? — Ethan perguntou em voz baixa, preocupação apertando seus músculos faciais.

—Não. — Eu disse rapidamente, depois pensei duas vezes e me examinei. —Não, acho que não. Isso é uma coisa muito legal! Eu nunca estive com esse tipo de magia antes. É emocionante!

—Tudo bem. — Ethan disse, sorrindo, ainda parecendo preocupado. —Seja cuidadosa.

—Mantenha o foco. — Sugeriu Cole. —Ainda não podemos confiar nesse cara. Se ele tiver a oportunidade, poderia fazer muito pior do que simplesmente nos expulsar.

Eu assenti, lembrando a mim mesma por que estávamos aqui. A vida de Ethan dependia disso. Não era hora de se distrair com coisas legais e brilhantes.

Greenwood nos levou a um dispositivo estranho, com uma variedade de espelhos e lentes de aumento em uma complicada armadura dourada. Era mais alto que Greenwood e atualmente estava sobre uma mesa comprida sobre a qual repousavam vários pequenos objetos encantados.

—Vidro do artífice. — Explicou, enquanto eu me maravilhava com o feitiço incrivelmente sutil nas molduras douradas em torno de cada lente. —Muito raro e muito útil para examinar mágica. Eu o uso para estudar e manter os encantamentos da minha coleção.

—Essa é a moeda da sorte que encontramos no outro dia? — Ethan perguntou, apontando para uma moeda mais brilhante que o normal, deitada em um banco.

—É. — Confirmou Greenwood, atendendo. —O efeito de distorção da probabilidade parece ser um pouco mais forte que o normal. Eu estava tentando discernir a causa. Parece haver um parágrafo no script mágico que fecha a brecha usual de perda/ganho. Até certo ponto.

Ele me ofereceu, e eu o peguei sem pensar, embora Cole tenha feito um barulho de aviso em sua garganta.

—É inofensiva. — Assegurou-me Greenwood. —Moedas da sorte são muito pequenas mágicas. Existem milhares delas em circulação, pelo menos. A maioria das pessoas nem percebe o que tem. Mas elas podem tornar a vida um pouco mais fácil.

—Obrigada. — Eu disse, colocando no bolso do meu vestido. —Eu agradeço.

—Não, obrigado. — Disse Greenwood com um sorriso que não tocou muito em seus olhos. Eu senti que tinha cometido um erro, mesmo que Cole parecesse impaciente, mas nenhuma desgraça caiu sobre nós. Em vez disso, Greenwood acenou para Ethan em direção ao banco, afastando os outros artefatos. —Por favor, sentem-se.

Com um olhar cauteloso em direção à saída, Ethan se sentou na beira do banco e Greenwood ajustou o vidro do artífice, arrastando lentes e espelhos para a posição entre ele e Ethan e ajustando uma série de botões complicados ao lado de cada lente com uma graciosa confiança de um músico tocando um instrumento.

Eu assisti por cima do ombro dele, enquanto imagens estranhas entraram e saíram de foco enquanto Greenwood fazia ajustes - redes de energia, espirais de magia ambiental, vazios misteriosos e, uma vez, uma imagem de um longo e escuro corredor cheio de Velas. Algumas lentes eram de vidro transparente, mas Greenwood olhou através delas e ajustou seu foco, da mesma forma, como se ele visse algo lá que eu não podia.

Finalmente, uma das lentes refletia uma imagem do núcleo da maldição de Ethan. Eu já o havia visualizado enquanto tentava suprimi-lo. Era mais ou menos esférico, como um novelo de fios enrolado, firmemente tecido e emaranhado. Ele apodrecia, queimava e vazava, vermelho lívido e amarelo doentio. Era ao mesmo tempo imundo e patético, inspirando pena e nojo... e náusea.

—Essa é desagradável. — Disse Greenwood à toa. —Maldições de monstros são raras hoje em dia, e essa é forte. Eu garantiria quem fez isso há algum tempo.

—Existe algo que você possa fazer para quebrá-la? — Eu perguntei. —Ou nos dizer quem pode?

—Deixe-me ver. — Greenwood cantarolou, discando as lentes para mais perto. —Eu posso ver por que você teve dificuldade. O lançador definitivamente se esforçou para esconder sua assinatura. Eu quase diria que não havia, mas isso é impossível.

—Por quê? — Ethan perguntou, mudando para ver através das lentes.

—Fique quieto. — Disse Greenwood bruscamente, inclinando a lente e ajustando algo novamente. —É impossível, porque isso significaria que esta é uma maldição autoinfligida-

—Cole mencionou isso antes. — Eu disse. —Eles são realmente fracos, não são?

—Exatamente. — Confirmou Greenwood. —Mesmo as maldições auto-infligidas mais fortes nunca fazem nada que não possa ser descartada como coincidência ou acidente. Elas nunca poderiam se manifestar fisicamente dessa maneira. Não, esse é definitivamente o trabalho de um indivíduo muito qualificado. Alguém com muito conhecimento prático sobre maldições. Francamente, quase parece que-

Greenwood congelou, encarando a maldição. Um momento depois, ele começou a ajustar rapidamente os mostradores, aproximando ainda mais.

—Não. — Ele murmurou. —Não, não pode ser.

—Não pode ser o que? — Ethan perguntou, ficando um pouco pálido. —O que há de errado?

—Ele não ousaria. — Zombou Greenwood, ainda claramente falando consigo mesmo. Ele rangeu os dentes enquanto olhava para a lente a menos de uma polegada de distância, examinando as minúsculas linhas de texto mágico escritas nos fios atados da maldição. —Aquele pequeno duende, ele não ousaria!

Ele se lançou em uma diatribe em um idioma que parecia água se movendo sob gelo ou vento através de galhos nus. A julgar pela velocidade e vitríolo por trás de suas palavras, ele não gostou do que viu através das lentes.

Ele empurrou o copo do artífice abruptamente, rosnando para si mesmo na mesma língua e saiu correndo.

—Ei, o que você achou? — Eu liguei para ele. —O que está acontecendo?

Ele não respondeu, correndo em direção a um suporte de guarda-chuva cheio de bengalas, cajado e paus. Ele os examinou, deixando alguns de lado com um gesto impaciente. Alguns atingiram o chão e soltaram faíscas ou ficaram lá, cantarolando intensamente enquanto vibravam através do azulejo. Finalmente, ele emitiu um ruído vitorioso e sem palavras, enquanto puxava uma velha bengala de madeira com um buraco na cabeça densamente atado.

—Greenwood! — Eu gritei, tentando chamar sua atenção. —O que está acontecendo?

Em vez de responder, ele bateu a bengala no chão. Com um eco que sacudiu as vidraças do telhado, uma porta se abriu no ar diante dele. Nada como o buraco irregular que o feitiço de teletransporte de Uther havia feito, suas nítidas bordas redondas enroladas e floridas com floreios simétricos de poder, ao mesmo tempo geométricos e orgânicos, como uma janela art nouveau para outro mundo.

Sem outra palavra, ele avançou para dentro dela. O choque diminuiu minhas reações, antes que eu corresse para frente. Ethan e Cole gritaram meu nome, mas então eu já tinha colidido com a superfície do portal que se fechava rapidamente, que rompeu minha pele como água fria enquanto o seguia para o desconhecido.

 

 

 

 

 


Capitulo Quinze


O portal se fechou atrás de mim com pressa apenas um segundo depois que eu o atravessei, a sensação de água fria ainda persistindo.

Fiquei imediatamente impressionada com uma sensação de vertigem e confusão severas. Eu não estava em lugar nenhum na terra.

Um espaço incomum de lavanda se estendia ao meu redor, o ar e a terra da mesma tonalidade azul-púrpura suave, se o ar fosse de fato ar - sólido e presente, como uma névoa espessa, mas com uma textura como espuma ou chantilly. Essa textura se chocou contra a minha pele e eu a vi muito mais longe do que deveria. Não consegui encontrar o horizonte porque a terra não era plana. Ela subia e descia em ondulações e cavidades como um cobertor de cetim, captando luz em suas curvas em iridescência holofílica.

Não consegui encontrar um ponto em que as colinas distantes obscurecessem minha visão. Que luz produzia sombras profundas e cintilantes e arco-íris efêmeros na superfície de seda do solo? Onde estava o sol? Lutei para racionalizar o que vi, imaginando a terra curvando-se ao meu redor como uma esfera. E, no entanto, eu também tinha uma impressão distinta do céu, mesmo que apenas por causa das cidades e castelos brilhando como nácar e mancha de óleo, que pareciam estar mais enraizados nele do que no chão em que eu supostamente estava.

—Venha comigo! — Uma voz gritou, parecendo impossivelmente distante e depois como um sussurro no meu ouvido. —Se você não quer se perder, não deve demorar.

Eu me forcei a suportar a terrível visão sem fim à minha frente, para onde Greenwood estava, batendo com o pé impaciente. Ele olhou perto o suficiente para tocar, mas quando eu o alcancei, a distância entre nós poderia ter sido de quilômetros. Náusea subiu em mim, que eu lutei para suprimir. Eu fiz um som desumano de um animal em terror absoluto, meu cérebro lutando para compreender.

—Você está bem. — Gritou Greenwood. —Você não está morrendo, corre um risco bastante mínimo e, se você se apressar, sairemos daqui a pouco.

Agora isso era motivação. Hesitei de qualquer maneira, sem saber se caminhar era algo que eu realmente poderia fazer neste pesadelo. Meu corpo não foi construído para quaisquer leis que este lugar obedecesse. Meus músculos ainda poderiam se contrair, meu sangue ainda bombearia? Obviamente, meus neurônios ainda disparavam, mas Deus, por quanto tempo? Eu estava no fundo de uma piscina, prendendo a respiração, momentos longe de ficar sem ar?

Uma mão agarrou meu braço, dedos enrolando sem parar em torno de uma coluna da minha própria pele e músculo muito longe para estar sob meu próprio controle. A mão, que deveria ter sido Greenwood, embora ele ainda parecesse impossivelmente distante, me puxou para frente e, tropeçando, aprendi a mover minhas pernas novamente.

—Pronto, viu? — Greenwood disse com um bufo. —Não é tão difícil, é? Agora, apresse-se!

Ele me soltou, virou-se e, em um instante, tornando-se um local pouco visível no horizonte. Corri para acompanhá-lo, meu coração se apavorou com o pensamento de ser deixada para trás. Eu dei três ou quatro passos e bati diretamente nas costas dele.

Com um suspiro sofrido, Greenwood me ajudou a levantar. Eu caí? Quando eu caí? No que eu pousei? Eu cheguei a terra? Ele colocou um braço em volta de mim para me guiar para a frente, o que eu apreciei profundamente. Eu ainda não tinha cem por cento de certeza de como minhas pernas funcionavam, e eu estava assustada e sem sentido e queria segurar alguém. Eu desejei o conforto da proximidade de Ethan. Ele teria odiado isso, e eu não acho que Greenwood teria parado para ajudá-lo. Eu não tinha certeza do por que ele parou para me ajudar.

—Estou ajudando você pela mesma razão que lhe dei a Vela. — Disse Greenwood, e percebi com um leve choque que estava falando quase sem parar desde que entrei no portal em um fluxo aterrorizado de consciência. Fechei a boca e me concentrei na sensação de tê-la fechada. Quando dominei o não falar, tentei falar novamente.

—Você ainda não me disse por que me deu a Vela. — Eu disse. Minha voz soou estranha, como ouvir uma gravação minha tocada através de um gramofone em outra sala. E falar deliberadamente enquanto caminhava era difícil.

—Eu queria ver o que aconteceria. — Disse Greenwood casualmente. —Não há um descendente de Aethon tão poderoso quanto você em várias centenas de anos. Eu queria ver o que você faria.

—É isso aí? — Eu perguntei, um pouco atordoada.

—É isso aí. — Ele confirmou. —Joguei um curinga em um jogo que não estava jogando, e se quero ver como o jogo termina, não posso permitir que meu curinga seja perdido nas Terras Distantes.

—É assim que este lugar é? — Eu perguntei, arriscando um olhar ao meu redor novamente, do qual me arrependi um momento depois. —As Outras Terras?

—Uma delas. — Disse Greenwood. Seus passos eram impossivelmente longos, estendendo-se para sempre à nossa frente, comendo terra. E a atmosfera lilás se juntou ao seu redor, envolvida em seus longos membros e cabelos dourados. Ele usava um terno da cor do crepúsculo agora, em vez das calças simples que ele usava quando atravessamos o portal. O casaco de gola alta, as rendas na garganta, ecoavam como algo antigo ou equestre, mas o delicado bordado na gola e nas mangas transbordava de símbolos muito mais antigos e uma espécie de vegetação densa e profunda que me lembrava as Tapeçarias do Unicórnio.

—Estas são as terras longínquas. — Explicou. —Título descritivo, eu sei. Aqueles que sabem com que frequência os usam para viajar.

—Viajando para onde? — Eu perguntei, tão confusa quanto fascinada e enjoada. —Como?

—Qualquer ponto do reino. — Disse Greenwood, com um gesto abrangente de sua equipe. —Mas acho-os mais convenientes para navegar na Terra.

Vendo minha confusão, ele suspirou. —Alguém lhe deu a comparação da bolha de sabão, não foi? — Ele perguntou, e eu assenti. —Bobagem redutora. As Outras Terras não estão conectadas pela Terra. Elas não são uma extensão dela ou nascem dela. A Terra é exatamente o mesmo tipo de coisa que elas são. Realidades se sobrepõem como casca de cebola, ocupando o mesmo tempo e espaço em diferentes comprimentos de onda, nenhuma maior ou mais significativa que a outra, não importa o quanto os habitantes de cada um possam querer reivindicar que sua casa é superior.

—Eles ocupam o mesmo espaço, entende? Essa é a parte importante. Mas o conceito de distância é diferente nas Terras Distantes. Para permanecer ofensivamente redutivo, um passo aqui se traduz em uma magnitude muito maior de distância na Terra. Com o trânsito, pode levar uma hora ou mais para chegar aonde estou indo. Dessa forma, leva apenas um momento, dando à pessoa que vou matar muito menos tempo para perceber que estou indo e escapando.

—Oh. — Eu disse, tentando processar nada disso e não estava certa de ter conseguido. —É isso que Uther faz?

Disfarçado, Greenwood disse: —Esse truque? É claro que não. Ele nunca conseguiu reunir o poder de realmente passar entre reinos. Ele mal consegue ficar um pouco fora de fase com a Terra e dificilmente pode sustentá-la por mais que um momento. Ele ele o usa para atravessar paredes e parecer mais impressionante. Ele acha que está sendo esperto, estacionando atrás da biblioteca e caminhando diretamente para a sala de estudo como se não tivéssemos visto seu miserável junker amuado atrás das lixeiras como um gato indigente. Idiota pomposo.

—Espere. — Eu disse, quando ele parou e me soltou. —Você disse que vai matar alguém?

—Sim. — Disse Greenwood, arreganhando os dentes em um sorriso que mais parecia um rosnado. Ele bateu no chão com seu cajado e outro portal foi aberto, onde foram reveladas ruas abençoadamente normais de uma terra boa e sólida. Greenwood entrou e eu segui um segundo atrás dele.

Engoli em seco no ar frio da noite com alívio, passei meus braços em volta de mim e tomei um momento apenas para apreciar meus membros sendo todos do comprimento certo e tudo tendo geometria que fazia sentido. Mas não tive muito tempo para gostar de voltar a um universo que fazia sentido.

Greenwood correu para a frente, as botas estalando na calçada molhada. Era começo da noite e parecíamos estar em um beco no centro da cidade em algum lugar, sem saídas. Os prédios a fechavam completamente. A única maneira de entrar ou sair era uma porta de segurança indefinida em uma extremidade estreita. Greenwood caminhou em direção a ela. Ele bateu com força no final do cajado e uma janela se abriu. O holofote lotado de mariposas acima da porta projetava a abertura na sombra, tornando a pessoa atrás dela invisível.

—Senha. — Exigiu uma voz.

—Não visitei recentemente. — Disse Greenwood, com seu sorriso mais charmoso. —Acredito que foi 'Amanhecer de Tahitian' da última vez?

—Não usamos nomes de coquetéis como senhas há anos. — Disse o cara atrás da porta. —Tente novamente.

—Isso é urgente. — Disse Greenwood, parecendo um pouco tenso. —Era uma senha válida da última vez. Se você pudesse apenas-

—Não posso nada. Se você já esteve aqui antes, sabe como o chefe é sobre segurança.

Eu pulei quando outro portal se abriu no outro extremo do beco. Um jovem casal saiu correndo, o cara enfiando o que parecia uma antena de carro em seu casaco. Eles estavam a uma pequena distância de nós, esperando sua vez na porta enquanto Greenwood discutia com o homem da porta.

—Nem todo mundo tem tempo para acompanhar essas coisas! — Greenwood disse frustrado. —Ele não pode esperar que as pessoas acompanhem se ele está sempre mudando. Ele me conhece. Se você pudesse apenas trazê-lo aqui...

—Ele está ocupado.

—Se você apenas mencionar meu nome.

—O chefe não tem tempo para lidar com todas os fae obscuras que tentam se infiltrar pelas costas. Se você quiser entrar sem a senha, tem que derramar sua mágica na porta da frente como todo mundo.

—Eu não tenho tempo-

—Você se afasta e deixa os clientes reais passarem, senhor?

Lívido, Greenwood se afastou para o jovem casal se aproximar, afastando-se o suficiente para o porteiro ficar satisfeito. Fui com ele, minhas mãos nos bolsos, mexendo na moeda da sorte.

—Nita, seja bem-vinda de volta. — Disse ele. —Senha?

A jovem inclinou-se para sussurrar algo, o som bem mascarado pelo ruído ambiente do beco. A porta se abriu, o som fraco da música e da conversa escapando, e o casal entrou. Mas quando Greenwood se aproximou, fechou novamente.

—Se você me desse um momento de vantagem da dúvida. — Disse Greenwood, com um gesto frustrado. —Garanto-lhe que Julius me conhece!

—Então entre pela frente sem sua mágica e obtenha a senha dele. — Disse o porteiro. —Porque você não está entrando aqui.

—Hum. — Eu limpei minha garganta, parando na frente de Greenwood. —Se eu souber a senha, posso trazê-lo comigo?

—Os hóspedes são permitidos. — Disse o homem da porta com óbvia relutância.

—É lobelia erinus. — Eu disse.

Suspeito, ele apertou os olhos para mim através da janela e abriu a porta.

—Cause qualquer problema e eu vou expulsá-lo pessoalmente. — Disse o homem da porta. —E eu vou me certificar de que dói.

—Finalmente. — Greenwood bufou e empurrou a porta e eu o segui, curiosa. Eu pulei quando a porta se fechou. O porteiro era uma parede muscular de um metro e oitenta de altura, sob a pele azul-acinzentada, como pedra viva. Olhos amarelos me encaravam entre presas salientes e chifres grossos, apontando para a frente. Uma cauda longa voava atrás dele como a de um gato bravo. Ele não pareceu surpreso com o meu flagrante, boca aberta olhando.

—Acostume-se a isso, querida. — Disse ele. —Há coisas mais estranhas lá dentro.

Alcancei Greenwood.

—Como você soube a senha? — Ele perguntou, soando um pouco curioso.

—Mariposa morta no holofote. — Expliquei. —Eu apenas ouvi enquanto a outra pessoa falava com o porteiro.

—Inteligente. — Disse Greenwood. —Eu deveria dizer a Julius que ele tem um buraco na segurança dele.

Ele caminhou rapidamente pelo longo corredor que dava para a porta de segurança. Havia quatro portas nesse corredor cobertas por cortinas de miçangas, símbolos que eu não reconhecia esculpidos acima de cada uma. Greenwood enfiou a cabeça por cada cortina e vi vislumbres de pessoas em mesas e cabines, conversando, bebendo e comendo como de costume. Exceto que muitas dessas pessoas eram clara e obviamente não humanas. Vi asas, cascos, caudas, chifres, tentáculos e coisas que não consegui descrever. Foi o suficiente para me fazer pensar se as Terras Distantes não haviam permanentemente mexido no meu cérebro.

No final, o corredor se ramificou, levando em direção a mais das pequenas salas de jantar, e outra porta estava coberta por uma cortina pesada. Greenwood verificou essa também, e vislumbrei a frente do estabelecimento. Era um bar grande e confortavelmente casual, com uma atmosfera de pub distintamente do velho mundo. Todos na frente pareciam humanos, embora meus sentidos mais mágicos soubessem que irradiavam poder. Havia um punhado de normais entre eles, mas este era claramente um lugar para pessoas como eu. A comunidade mágica, ali mesmo, esperando por mim. Havia também uma quantidade absurda de energia ligada nas paredes, no chão e até nas mesas de madeira. Este lugar estava encantado como o inferno.

Um homem mais velho, de cabelos grisalhos, bonito e distintamente musculoso sob o colete de couro, atendia no bar, rindo de uma piada compartilhada pelo homem cuja bebida ele servia. Enquanto Greenwood examinava a sala, o barman nos viu. Ele largou a garrafa que segurava e se dirigiu a nós, mas Greenwood já estava se afastando por um dos corredores.

—Gwydion!

O barman atravessou a cortina e correu atrás de nós, mas Greenwood o ignorou.

—O que quer que ele tenha feito desta vez, eu sei que ele provavelmente merece o que está por vir. — Disse o barman, tentando acalmar Greenwood. —Mas você conhece as regras. Se você fizer isso aqui-

—Eu não vou matá-lo em seu precioso bar, Julius. — Disse Greenwood bruscamente, puxando outra cortina de contas e deixando-a cair em decepção. —Nem colocarei em risco nenhum de seus clientes. E tenha certeza de que a surra que ele vai ter é ricamente merecida.

—Você sabe que eu confio em você. — Protestou Julius. —Mas meus outros convidados-

Greenwood abriu outra cortina e instantaneamente um vento gelado correu pelo corredor, me esfriando até os ossos e arrancando os cabelos de Greenwood da fita, fazendo-o voar em torno de sua cabeça. Ele tinha a aparência de um deus vingativo.

—Gilfaethwy! — Greenwood rugiu.

Em uma mesa no centro da sala, um homem que parecia muito parecido com Greenwood, de fato, sentava-se como um cervo com um copo de cerveja nos lábios. Todos na sala olharam para Greenwood no momento, mas o medo nos olhos do homem deixava claro que ele sabia exatamente para que estava encrencado. Houve um momento tenso de quietude. E então o homem cuspiu sua cerveja diretamente em Greenwood. Ele explodiu em vapor no ar, obscurecendo a visão de Greenwood. Greenwood atirou-o para fora do caminho com uma rajada de vento frio e um gesto de corte furioso, mas o homem desapareceu.

Eu gritei e pulei para fora do caminho quando um grande esquilo marrom passou correndo pelos meus pés.

—Gilfaethwy, seu merdinha traiçoeiro! — Greenwood gritou. —Você não vai ficar longe de mim tão facilmente!

Dobrou-se como um mosaico estranho e, um instante depois, um falcão voou atrás do esquilo com um grito de raiva.

—Não no bar! — Julius gritou atrás deles. —Não no bar!

Bateu palmas com as mãos poderosas e os anéis de prata nos dedos brilhavam com um trabalho de corrida intrincado. Um portal se abriu na frente do esquilo, que tentou se esquivar dele, mas com outro gesto de Julius, foi varrido, seguido de perto pelo falcão.

Corri atrás deles e Julius correu atrás de mim, pulando através do portal, que dava para o mesmo beco por onde entramos. O falcão pegou o esquilo enquanto eu observava, voando alto no ar. Mas um segundo depois o esquilo torceu e se tornou uma cobra grande, que se levantou e mordeu o falcão com presas semelhantes a punhais. O falcão caiu no telhado de um prédio próximo com um grito de dor.

—Greenwood! — Eu gritei horrorizada.

Julian bateu palmas novamente e uma escada apareceu, as peças retiradas de mil lugares secretos do outro lado do beco. Não parei para questionar. Subi rapidamente, aterrorizada por encontrar Greenwood morto no topo.

Em vez disso, os cascos agitados de uma cabra quase tiraram minha cabeça. Um rato mexeu-se em seus pés, que ele tentava furiosamente pisar. Um segundo depois, o rato se tornou um grande veado, jogando a cabra no ar com seus chifres. Um momento depois, a cabra era um lobo, afundando os dentes no flanco do veado.

—Oh, eles estão nisso agora. — Disse Julius, subindo ao meu lado. —Melhor ficar fora do caminho.

—Qual é Greenwood?— Eu perguntei, quando o cervo se tornou um leão para devorar o lobo, que se tornou uma vespa para picar o rosto do leão, que se tornou uma andorinha para comer a vespa.

—Gwydion? Só Deus sabe. — Disse Julius com um sorriso, me dando um tapinha no ombro. —Não se preocupe muito. Quando eles ficam assim, é melhor deixá-los sair do sistema. Eles vão se desgastar em breve. Isso provavelmente é um par de décadas de poder armazenado está queimando agora. Apenas aproveite o show.

Ele acenou com a mão e um saco de pipoca apareceu, que ele me ofereceu. Recusei, correndo pelo telhado quando a vespa se tornou um gato e arrancou a andorinha do ar, que se tornou um coelho e saltou para o outro lado do telhado. O gato tornou-se um galgo e perseguiu, os dois pulando através da abertura para os azulejos do prédio seguinte.

—Quem é aquele cara? — Eu perguntei, com o coração acelerado enquanto procurava um caminho a seguir, pegando uma tábua solta e jogando-a através da abertura, feliz por não ser grande.

—Gilfaethwy. — Explicou Julius, segurando o quadro para mim enquanto eu corria. —Irmão de Gwydion. Mais ou menos.

—Tipo? — Eu perguntei, segurando-o para que ele pudesse atravessar também, mas ele apenas caminhou ao lado, como se o ar fosse solo sólido.

—Bem, as Fae não têm famílias como as descreveríamos. — Disse Julius. —Mas... eu realmente não sei o quanto você sabe sobre os tribunais?

—Eu sei que existem três deles e que os dois principais parecem ser uns idiotas. — Resumi.

Julius assentiu, as mãos levantadas em um gesto. —praticamente.

—Quando uma novo fae é criada na Corte Seelie. — Disse ele. —Uma contraparte igualmente comparada aparece instantaneamente nos Unseelie e vice-versa, para que a corte fique perfeitamente equilibrada. É por isso que eles começaram a recrutar Faes Selvagens, embora isso não tenha acontecido. Não funcionou melhor para eles. Gilfaethwy é o oposto de Gwydion, perfeitamente igual a ele em todos os aspectos.

—Então não há chance de Gelf, Gilfeth... que seu irmão o derrote? — Eu perguntei. O galgo havia pego o coelho, apenas para soltá-lo latindo quando se tornou um porco-espinho. O galgo tornou-se um texugo, golpeando o porco-espinho com garras longas e raivosas, e o porco-espinho tornou-se uma raposa, correndo ao redor do texugo para morder seu flanco.

—Eu não diria nada. — Disse Julius, comendo um punhado de pipoca. —Ou eles não continuariam fazendo isso a cada poucos anos. Mas é bem magro.

—Não devemos tentar ajudar Greenwood, quero dizer, como você o chamou?

—Gwydion. — Repetiu Julius. —Esse é o nome verdadeiro dele, ou parte dele. Isso lhe dá um pouco de poder sobre ele, o que ele odeia, mas sinceramente acho que ele poderia usar mais algumas pessoas em sua vida com o poder de impedi-lo de fazer coisas estúpidas. E você poderia ajudá-lo, se você quiser, supondo que você possa descobrir qual é qual. Mas jurei não interferir, desde que não estejam no meu bar ou prejudiquem meus convidados.

—Ah, merda, lá estão eles. — Murmurei quando o texugo se tornou um macaco, subindo pelos telhados, e a raposa se tornou um leopardo para persegui-lo.

Corri atrás deles, esforçando-me para acompanhar as mudanças entre os prédios e deslizei em telhas e telhas. Eu deveria ter caído cem vezes... quebrar meu pescoço ou pelo menos um braço caindo em uma lixeira do terceiro ou quarto andar. Parkour não era uma habilidade que eu realmente tivesse perseguido. E, no entanto, toda vez que eu pensava em escorregar, meu pé se apoiava nos ladrilhos molhados. Toda vez que pensei que estava prestes a cair, consegui me recuperar bem a tempo. Mas não tive tempo de questionar minha sorte repentina.

Antes que o leopardo pudesse pegar o macaco, o macaco derrapou no meio de um jardim abandonado, as camas secas e a gaiola suja e vazia de pombos, um fundo estranhamente doméstico para a cena exótica. O macaco se virou quando o leopardo se fechou e se tornou um crocodilo, com a mandíbula aberta. Ele pegou o leopardo com um golpe de seus dentes poderosos e torceu, jogando o grande gato em direção à gaiola de pombo. Aterrissou com um barulho, se transformando em um homem enquanto eu observava. Por um momento eu ainda não sabia dizer quem era.

—Pelo amor de Deus, Gwydion! — O homem, que agora assumi ser Gilfaethwy, reclamou, sentando-se. —Pensei que não concordamos com nenhum crocodilo da última vez. Eles não são justos e você sabe disso.

Ele parecia sem fôlego, suado e dolorido, o que era uma aparência estranha de se ver em um rosto tão parecido com o de Greenwood, geralmente tão composto e refinado, mesmo quando estava com raiva assassina.

O crocodilo voltou para Gwydion e, por um momento, também não o reconheci. Seu rosto ainda era o mesmo, mas seu cabelo era mais pálido, mais prateado que dourado, e seus olhos eram sempre verdes, não o verde brilhante do verão que eu lembrava. Ele parecia cansado também, com a respiração trêmula.

—Para o inferno com justiça! — Gwydion gritou. —Você já jogou todas as regras do nosso pequeno acordo pela janela!

—Tenho certeza de que não sei do que você está falando. — Disse Gilfaethwy, olhando para qualquer lugar, menos para o irmão. —Eu não tenho sido nada além de fiel ao nosso acordo. Eu mantive minha cabeça baixa, não fiz mágica-

—Então por que eu tenho um lobisomem em minha casa com sua assinatura na maldição dele? — Gwydion rosnou. A temperatura no telhado caiu vários graus quando um vento frio respondeu à raiva de Gwydion.

Gilfaethwy estremeceu, depois riu timidamente. —Foi esse que você encontrou, não é? — Ele disse.

—Há mais de um ?!

—Claro que não.

—Você está mentindo, seu miserável-

Quando Gwydion deu um passo em direção a Gilfaethwy, ele se transformou em um furão e disparou para a beira do telhado. Gwydion tornou-se imediatamente uma coruja para voar atrás dele.

—Chega de merda de animal estúpido! — Gritei de frustração, atacando com meus poderes. Um enxame de insetos mortos surgiu diante do furão, levando-o de volta às garras que aguardavam dois ratos desidratados, deixando a coruja de Gwydion flutuando no ar. O furão torceu, transformando-se em algo maior, um urso, eu acho, mas eu já estava diminuindo a distância entre nós, batendo as duas mãos em seu pelo. O animal gritou e se debateu para fugir enquanto a necrose se espalhava por suas costas. Eu sorri com uma satisfação sombria quando ela voltou para Gilfaethwy e eles caíram no chão, arranhando como sua própria pele em horror.

—Tira isso! — Ele disse horrorizado. —Tira isso!

—Eu vou. — Eu disse, minhas mãos prontas para fazer mais. —No minuto em que você me disseer o que fez com Ethan.

—Inseto! — Gilfaethwy sibilou para mim, o ódio em seus olhos como um incêndio, o telhado de repente no meio do verão quente, o ar fervendo. Os canteiros de flores secas levantaram e estouraram, transbordando de vida verde repentina, espinhosa e retorcida. Ele cresceu com uma velocidade terrível, avançando em minha direção enquanto ele se arrastava pelo telhado, o rosto contorcido de raiva e desprezo insondáveis. —Como você ousa pôr suas mãos sujas em mim? Você sua verme, sua macaca pálida e trêmula! Eu poderia desmembrar uma molécula de cada vez! Eu poderia queimar você por toda a eternidade e negar-lhe o direito de uivar de dor! Eu sou um deus para você!

Por um momento, vendo aquele repentino ódio, acreditei nele. Eu me afastei, meu medo intenso, mas um segundo depois uma brisa fria baniu o calor quando Gwydion plantou um salto nas costas de Gilfaethwy, exatamente onde minha necrose era pior. Gilfaethwy gritou de dor, caindo de bruços. Gwydion não tirou o pé. Atrás dele, a geada matou a onda de vegetação que Gilfaethwy havia convocado, secando-a para nada novamente.

—Se você tivesse o poder de fazer algo assim, nenhum de nós estaria aqui. — disse Gwydion, olhando para o irmão com um leve desgosto. —Diga à mulher o que ela quer saber, ou eu deixarei que o veneno nas suas costas o devore. Um gostinho da morte mortal.

—Você condenaria a nós dois. — Gilfaethwy assobiou no betume do telhado.

—Você parece contente em fazer o mesmo. — Disse Gwydion friamente, torcendo o calcanhar nas costas de Gilfaethwy. —Além do mais, duvido que isso o mate. Mas tenho certeza de que machucaria.

—Por que você amaldiçoou Ethan? — Eu exigi, aproximando-me novamente. —E como a quebramos?

—Eu não o amaldiçoei. — Afirmou Gilfaethwy.

Gwydion afundou o calcanhar novamente.

—Eu não fiz! — Gilfaethwy gritou, a voz estridente com dor. —Eu juro por tudo que é sagrado!

—Como se você já considerasse algo sagrado. — Zombou Gwydion. —Jure pela sua mão direita e saiba que terei muito prazer em removê-la se você mentir.

—Juro pela minha mão direita. — Disse Gilfaethwy com um grunhido amargo. —Eu não o amaldiçoei. A maldição já estava lá. Eu apenas... dei um pequeno empurrão.

Ele riu, uma risadinha nervosa e histérica, e Gwydion o chutou.

—Seu idiota! — Ele gritou. —Você está mentindo, seu sem valor-

—Foi apenas um pequeno empurrão! — Gilfaethwy disse através de sua risada delirante. —Eu precisava! Eu não podia contar para não! Oh, se você o visse, todo aquele ódio pulsando em seu peito, todo torcido em um nó do tamanho do seu punho. Você teria feito isso também! Eu tinha que ver o que aconteceria!-

Gwydion se encolheu e lembrei-me de suas palavras mais cedo, certa de que ele também se lembrava delas.

—E era apenas um pouco de poder. — Disse Gilfaethwy. —Menos do que usamos aqui hoje à noite! Ninguém notou!

—Não importa quanta energia você usou, seu miserável e inútil desperdício de magia! — Gwydion disse, arrancando os cabelos em frustração. —Você o usou em um ser humano! Interferência direta, a única coisa que todo o nosso acordo depende, a única coisa proibida! Foi notada. Eu garanto a você, e eles estão esperando, segurando-o sobre nossas cabeças como a espada de Dâmocles, por o momento perfeito para destruir nós dois!

—Oh, não seja tão pessimista. — Disse Gilfaethwy, rolando de costas e parecendo ter se arrependido. —O que há com o seu tipo sendo tão severo o tempo todo?

—Eu não sou severo. — Disse Gwydion. —Eu simplesmente não quero ser eliminado da existência porque você não pode controlar seus impulsos!

—Tanto faz! — Eu interrompi, confusa e sem paciência. —Diga-nos como desfazer! Como quebramos a maldição?

Gilfaethwy apenas riu mais - gargalhando alto e enlouquecido. Olhei para Gwydion em busca de algum tipo de explicação, mas ele balançou a cabeça.

—Tem que haver algo que ele possa fazer! — Eu disse, passando por Gilfaethwy para pegar Gwydion pelo braço. —Ele causou isso! Tem que haver uma maneira de consertar!

Gwydion franziu os lábios, franziu as sobrancelhas e esfregou as têmporas.

—Ele está dizendo a verdade. — Disse ele. —Não há nada que ele possa fazer. Ele não amaldiçoou seu lobisomem.

—Então quem fez? — Eu implorei. Tinha que haver algo, pelo menos uma vantagem. Qualquer coisa para dar a Ethan um pedaço de esperança.

Gwydion me encarou com aqueles olhos escuros e a esperança se dissolveu.

—A maldição é auto infligida. Ele fez isso consigo mesmo.

Capitulo Nove


Durante a hora seguinte, Cole me ensinou uma dúzia de aspectos diferentes da necromancia básica, alguns dos quais eu nunca havia experimentado antes. Novamente e novamente, o resultado foi o mesmo. Eu era como um brigão de bar, toda força bruta e nenhuma técnica, tentando aprender judô. No início da tarde, eu estava suada e exausta, e Cole parecia igualmente tenso. Ethan estava sentado no pátio nos observando, ocasionalmente cochilando, Mort deitado a seus pés.

—Você precisa aumentar sua energia em um ponto. — Disse Cole. —Um ponto!

—Um ponto é muito difícil. — Eu disse, incomodando-o com uma nuvem de mosquitos. —Mãos são mais fáceis!

—Mãos não funcionam! — Cole pegou os mosquitos e os enviou de volta para mim, e eu retaliei enviando um pardal morto para aninhar em seus cabelos. —Você deveria estar cercando e, em vez disso, está lutando com um tapa!

Ethan riu do pátio, tanto pelas palavras de Cole quanto pela visão dele gritando e espancando o pardal tentando dar uma merda de pássaro empoeirada em seus cabelos.

Ele me mostrou como causar a morte celular direcionada - a mesma técnica que Aethon havia usado para secar partes de nós durante a nossa luta. Eu não era boa nisso. Eu também não era muito boa em controlar muitas pequenas coisas ao mesmo tempo. O mesmo vale para identificar coisas mortas à distância ou direcionar uma única coisa morta-viva por meio de uma série de ações complicadas. Eu era muito boa em foder tudo.

—Por que eu sou tão ruim nisso? — Eu reclamei, esfregando as mãos no rosto.

—Você não é. — Disse Cole, exasperado. —Você mal começou. Você esperava ser a mestre de tudo de uma vez?

—Mais ou menos! — Eu disse. —É suposto ser instintivo, e eu tenho lidado com isso a vida toda. Entre isso e a Vela, eu deveria ser incrível nisso!

—Bem, supere isso. — Disse Cole, impaciente. —Isso leva tempo e prática diária. E você tem feito o possível para fingir que não existe há vinte anos. Vai demorar um pouco para ficar boa nisso.

—Eu não tenho esse tipo de tempo. — Eu disse. —Eu precisava ter sido boa o suficiente para enfrentar Aethon ontem.

—Não é assim que funciona. — Disse Cole. —Tudo bem. Tudo bem, vamos tentar isso. Você está pensando demais e adivinhando a si mesma. Você precisa se mover instintivamente.

Ele se virou, olhando em volta por um momento e, finalmente, pegou um grande graveto no mato coberto de mato.

—Vou tentar bater em você com um pau. — Explicou ele. —Você tenta me impedir com a coisa da necrose.

—E se eu realmente bater em você com isso? — Eu perguntei preocupada.

—Francamente, acho que não. — Disse Cole. —E se você conseguir, você conseguiu curar o vira-lata, você pode me curar. Estou curioso para ver isso em ação novamente, de qualquer maneira. Você está pronta?

Ele levantou o graveto. Olhei para Ethan, que parecia um pouco preocupado. Mas respirei fundo e me firmei.

—Tudo bem, eu estou realmente-

Cole já estava balançando o galho na minha cabeça com força total antes que as palavras saíssem. Eu gritei e saí do caminho apenas para ele me bater com força nas costas com ele.

—Ow! — Eu gritei, correndo para fora do seu alcance. Um vergão dolorido surgiu nas minhas costas, mais largo que o meu polegar. —Jesus, merda, isso dói!

—É suposto. — Disse Cole. —Então me pare da próxima vez. Você está pronta?

—Não! — Eu gritei. Cole colocou a ponta do graveto na terra e se apoiou nela, esperando. Eu olhei para ele, ofendida, minhas costas ainda doendo, mas eu sabia que não podia parar o treinamento aqui. Suspirei. —Tudo bem, eu-

Mais uma vez, ele lançou para mim, balançando com força total. Eu me afastei do caminho e estendi a mão, tentando imaginar o ponto agudo da energia. Nada aconteceu, exceto que ele me acertou na cabeça com o bastão.

—Filho da puta! — Eu gritei, caindo na grama, sentindo como se minha cabeça estivesse aberta. —Que porra é essa!

—Merda, desculpe, você está bem? — Cole perguntou, ajoelhado na minha frente. Ethan também correu pela grama para me verificar. Passei a mão pelo couro cabeludo para procurar sangue e não o encontrei.

—Sim, eu estou bem. — Eu disse, rangendo os dentes com a dor que irradiava pela minha cabeça. —Apenas tente evitar a cabeça da próxima vez, por favor?

—Se isso se tornar uma técnica de treinamento regular. — Disse Ethan, com o braço em volta de mim. —Sugiro investir em capacetes.

—Sim, isso pode não ser uma má idéia. — Admitiu Cole, de má vontade.

—Eu poderia ajudar um pouco? — Ethan perguntou. —Tive Tae Kwon Do durante toda a escola e, depois da maldição, fiz algumas lições de reciclagem. Achei que a disciplina poderia ajudar, sabe? A meditação é realmente muito útil.

—Estou tentando ensiná-la a apodrecer a carne das pessoas enquanto ela ainda está ligada a elas. — Disse Cole, impaciente. —Não praticar Kung Fu.

—Só estou dizendo. — Ethan levantou as mãos na defensiva. —Se vocês dois sabem como fazer uma queda adequada, não precisam se bater com paus. Você pode jogá-la na grama praticamente inofensiva. Um pouco mais seguro.

Cole suspirou, mas permitiu. Ethan passou alguns minutos nos mostrando como cair em segurança e onde evitar pressionar, dando-nos um básico para impedir que nos machucássemos, depois passou para a remoção real.

—Eu vou te mostrar Cole primeiro. — Disse ele. —Então você pode tentar.

—Isso é justo. — Disse Cole.

—Eu acho que você deve isso a ela por bater nela com a vara. — Disse Ethan, e eu ri. Cole, sob o olhar furioso de sempre, parecia um pouco envergonhado.

—Há duas remoções fáceis que eu posso ensinar agora. — Disse Ethan, corrigindo a posição de Cole. —Ambos são bons para lidar com alguém maior do que você.

Cole, que provavelmente era meio metro mais baixo que Ethan e muito mais magro, levantou uma sobrancelha crítica.

—Vou mostrar a você muito rápido. — Disse Ethan. —Lembre-se de como eu te ensinei a pousar.

Ele se moveu tão rapidamente que eu realmente não processei o que ele havia feito. Ele apenas avançou e de repente Cole estava no chão de costas, chiando, com Ethan debruçado sobre ele.

—Você não pousou como eu te disse. — Ethan disse, sorrindo para Cole.

—Você fez isso de propósito. — Disse Cole.

—Sim. — Ethan se levantou e ofereceu a Cole uma mão para cima. —Agora eu vou fazer isso mais devagar. Preste atenção. Pegue aqui, no alto do tríceps.

Ethan alcançou o peito de Cole com o braço direito, sob o direito de Cole de apertar a parte inferior do braço. A outra mão dele tinha o pulso direito de Cole.

—Puxe-o para o lado. — Explicou Ethan. —Para que você possa colocar sua perna entre.

Ele avançou suavemente em uma espécie de posição ajoelhada, envolvendo a perna em torno da de Cole e a outra perna atrás dele. Ajoelhando-se com a cabeça perto do quadril de Cole, ele parou. Cole cambaleou, lutando para manter o equilíbrio. Ethan o pegou pelos quadris para segurá-lo, sorriu e voltou a segurar seu braço.

—Viu como eu tenho controle do seu equilíbrio agora? — Ethan explicou, ignorando o quão vermelho Cole ficou. —Agora eu me inclino para a frente com o quadril e-

Ele mal precisava se inclinar para fazer Cole cair para trás, incapaz de manter o equilíbrio. A cabeça de Ethan estava perto do estômago de Cole, mas quando Cole tentou recuperar o fôlego, Ethan avançou.

—Certifique-se de seguir em frente com o movimento. — Disse Ethan, deslizando até ele cobrir completamente Cole. —Ou eles podem facilmente prendê-lo. Quando você estiver com eles, poderá se soltar com segurança.

—Agora entendo por que você quis fazer isso. — Disse Cole sarcasticamente, olhando para Ethan. Ethan pigarreou e saiu, ajudando Cole a se levantar novamente.

—Você quer tentar, Vexa? — Ele ofereceu.

—Definitivamente. — Eu concordei, minha cabeça ainda doendo. Eu tomei meu lugar na frente de Cole e Ethan estava atrás de mim, inclinando-se para me direcionar.

—Arme primeiro. — Disse ele. —Sob o tríceps, como eu mostrei a você.

Deslizei minha mão pela parte de trás do braço de Cole, consciente de quão perto os dois homens estavam perto de mim. Os músculos tensos de Cole sob meus dedos eram quase tão perturbadores quanto a respiração de Ethan na parte de trás do meu pescoço.

—Agora, puxe-o e vá para a perna. — Ethan disse, suas mãos nas minhas costas e meu braço me guiando para a frente enquanto envolvia minha perna em torno de Cole. As mãos de Ethan se moveram para os meus quadris, me puxando para trás antes que eu pudesse cair de joelhos.

—Não, não, observe seus pés. — Disse ele, empurrando meus quadris em um rolo mais controlado para frente. —Você não pode simplesmente jogar sua perna para a frente. Você tem que se transformar nela.

Cole observou as mãos de Ethan guiando meus quadris com uma expressão estranha. Eu me concentrei em controlar meu batimento cardíaco repentinamente rápido, prestando atenção às instruções de Ethan. Depois de baixar o quadril, segui em frente com a perna novamente. Era mais difícil do que parecia acertar esse movimento, mas Ethan estava lá para me pegar e guiar meus movimentos, seus dedos tão gentis quanto sua voz. Quando me ajoelhei, olhei para Cole, que olhou para mim com uma familiar faísca de interesse em seus olhos. As mãos de Ethan apertaram meus ombros. Houve uma pausa, todos nós percebendo simultaneamente o fato de que nenhum de nós estava sozinho no calor repentino sob nossas peles. Engoli em seco e desesperada para quebrar a tensão, inclinei-me com o quadril e joguei Cole de volta na grama.

—Porra! — Ele gritou quando caiu, pego de surpresa. Caí para a frente com ele, incapaz de fazer qualquer outra coisa, e ri em seu estômago.

—Lembre-se de seguir adiante. — Ethan me lembrou. Cole se contorceu, talvez esperando escapar, e eu me movi rapidamente para prender seus ombros. Eu sorri para ele, corada e sem fôlego, saboreando o calor nos olhos de Cole.

Suas mãos roçaram meus quadris e, de repente, percebi o constrangimento da situação. Eu rolei rapidamente e me afastei, olhando para Ethan, a culpa clara no meu rosto, mas Ethan sorriu para mim, balançando a cabeça. Ele não tinha notado ou simplesmente não se importava? Eu não tinha certeza de como me sentir sobre qualquer uma das opções.

—Sua vez, Cole. — Ethan disse, ajudando o outro homem a se levantar novamente.

—Finalmente. — Disse Cole.

—Você está pronta para isso? — Ethan me perguntou. Eu assenti sem palavras, ainda muito perturbada para gerenciar as palavras. Cole estava vermelho até os ouvidos. Só Ethan manteve a calma.

Tomei meu lugar na frente de Cole, e Ethan foi atrás dele para guiá-lo da mesma maneira que ele me guiou.

—Vamos tentar devagar uma vez. — Disse Ethan. —Você se lembra de como cair, Vexa?

Eu balancei a cabeça e me preparei enquanto Ethan treinava Cole através dos movimentos. O rosto de Cole ficava mais vermelho toda vez que Ethan o tocava, e a mão de Ethan tremia. Não era só eu que eles estavam ficando excitados, não era? Cole realmente tinha gostado de algo ontem à noite? Eu seria deixada para trás? Eu sacudi por enquanto. Eu precisava ter uma conversa com Ethan - em breve.

Preocupada com meus pensamentos, não notei Cole avançando até estar de costas na grama com um grito.

—Muito bem. — Ethan disse com uma risada. —Você está bem, Vexa?

—Estou bem. — Chiei por baixo de Cole, que se afastou de mim rapidamente.

—Acho que posso fazer rápido dessa vez. — Disse Cole, oferecendo-me uma mão, o que eu peguei. —Pronta para tentar me parar desta vez?

—Claro. — Eu disse, respirando fundo e me posicionando novamente. —Ponto afiado, certo?

—Eu vou encontrar vocês dois. — Ethan disse, ficando perto quando Cole se sacudiu e alcançou-me. —Lembrem-se de observar o ângulo dos seus quadris.

Cole assentiu, depois se moveu para mim rapidamente, agarrando meu braço.

Eu estava de bunda na grama antes que eu pudesse piscar. Cole seguiu em frente. Tossi para recuperar o fôlego.

—Você tentou? — Ele perguntou.

—Claro! — Eu disse. —Foi muito rápido.

—Aethon não vai devagar para você!

—Eu sei, eu sei! Vamos tentar novamente.

Foram necessárias mais três tentativas antes que eu conseguisse começar a visualizar antes que ele me jogasse na grama. Minhas costas doíam, mas menos do que onde ele me bateu com o pau. Tudo tinha deixado de ser sexy depois da quarta ou quinta vez que eu acabei na terra. Agora eu estava apenas chateada.

—Você ainda não está fazendo questão. — Disse Cole, quando pousou em cima de mim novamente. Eu queria gritar. Em vez disso, aproveitei o fato de que Cole não havia seguido com o movimento para jogar uma perna em torno dele e empurrá-lo na terra.

—Eu não posso fazer isso! — Eu disse, sentando nele enquanto ele se debatia para se soltar, segurando uma de suas pernas. —Demora muito tempo para afiá-lo! Não funciona!

Cole fez um som de dor no mesmo momento em que Ethan subitamente pulou em minha direção, gritando meu nome.

Tirei minhas mãos de Cole rapidamente e horrorizada, vi a marca negra e murcha sob onde minha mão estava. Agarrei-o novamente imediatamente, trabalhando no instinto para lavar a energia negativa, restaurando a carne saudável em poucos segundos.

—Desculpe! Jesus! — Eu disse, tremendo, ajoelhando-me ao lado de Cole quando ele caiu de costas, respirando irregular. —Você está bem? Sinto muito!

—Estou bem. — Disse Cole, imediatamente. —Você está pegando o jeito, aparentemente. Só precisava deixá-la brava o suficiente.

—Parece que você descobriu essa coisa de cura também. — Ethan disse, ajoelhando-se ao meu lado e colocando um braço em volta dos meus ombros. —Você consertou tão rápido que eu mal vi.

—Mal tive tempo de sentir isso. — Concordou Cole. —Como esbarrar em uma boca acesa do fogão.

—Pelo menos eu sou boa em uma coisa. — Eu disse com uma risada cansada. —Devemos tentar de novo?

Cole sentou-se nervoso, depois se sacudiu.

—Sim, vamos continuar.

 

 

 

 


Capitulo Dez


Continuamos por mais meia hora. Principalmente foi Cole me jogando na grama, mas consegui mais alguns bons acertos e tive uma boa noção da coisa de curar. No entanto, minha capacidade estava reservada a ferimentos causados por energia necromântica. Cole esfolou o joelho em uma pedra e eu não pude fazer nada. Contanto que eu pudesse fazer alguma coisa, eu não me importei. Fiquei feliz por haver pelo menos uma coisa que eu poderia fazer sem problemas.

Caí na grama ao lado de Cole depois de curá-lo novamente, ofegando. Ethan sentou-se do outro lado de nós, parecendo bastante cansado. Ele estava perto, nos pegando quando caíamos e nos treinando através dos arremessos e quedas. Mort também caiu ao nosso lado, com a cabeça desgrenhada no meu ombro.

—Você está bem? — Eu perguntei a Cole, sem fôlego.

—Sim, me dê um minuto. — Disse Cole, sua voz tensa. —Aquele machucou.

—Desculpe. — Eu disse.

—Não se desculpe. — Ele me corrigiu rapidamente. —É bom. —Dê um tapa na cara de Aethon assim algumas vezes, e podemos até ter uma chance.

—Disse a você que a coisa não funcionou. — Eu disse, fechando os olhos. —Luta de tapas é a resposta, afinal.

—Você provavelmente ainda deve aprender a fazer o ponto. — Ethan disse, inclinando-se sobre mim para tirar meu cabelo do meu rosto. —Você pode não ser capaz de se aproximar o suficiente de Aethon para dar um tapa na cara dele.

—Certo. — Eu disse, não desejando. Ele sorriu e se inclinou para me beijar, doce e breve.

—Nojento. — Disse Cole, rolando para longe de nós. Ele não parecia estar falando sério.

—Você é nojento! — Eu provoquei. Sua camisa tinha subido um pouco, e eu rolei para fazer cócegas na tira de pele exposta. Ele deu um latido de riso áspero e enrolou-se para escapar. Eu compartilhei um olhar com Ethan e um segundo depois, nós dois estávamos mergulhando para fazer em qualquer parte dele que pudéssemos alcançar. Mort pulou ao nosso redor, latindo de emoção enquanto brigávamos.

—Para para! — Cole implorou por sua risada. —Foda-se! Eu vou te matar!

Puxei a camisa dele e soprei uma lufae no estômago, o que o fez gritar tão alto que Ethan e eu caímos na gargalhada. Mort atacou Cole assim que saímos do caminho, cobrindo-o com beijos babados.

—Deus, vocês são esquisitos. — Disse Cole, ainda rindo, empurrando Mort e afastando a grama novamente.

—Sim, bem, você também. — Eu disse, recuando com a cabeça no colo de Ethan e minhas pernas envoltas nas de Cole. —Farinha do mesmo saco.

—Você é muito estranha para ser um pássaro. — Disse Cole, sorrindo para mim. —Você é muito estranha para ser qualquer coisa, menos humano.

Meu coração pulou uma batida ao ver seu sorriso. Foi o primeiro sorriso genuíno que eu vi nele. Iluminava todo o seu rosto como a luz do sol, banindo, ainda que brevemente, as sombras que tantas vezes permaneciam ao redor de seus olhos. Apertei a mão de Ethan, minha respiração presa no meu peito.

—Seja o que for, sou a mesma coisa que você é. — Eu disse a ele.

—Vocês três estão vivos ai fora?

Todos olhamos quando tia Persephona chamou da porta de vidro deslizante.

—Principalmente. — Confirmei, enquanto Mort pulava e corria para tia Percy, que sacudiu os ouvidos com carinho.

—O jantar está quase pronto. — Disse ela. —Venha e me ajude a arrumar a mesa.

Eu vi o rosto de Cole cair. Por um momento, sua ansiedade ficou clara. Ele não tinha certeza se era bem-vindo para ficar, ou se deveria ficar, mesmo que fosse bem-vindo. Suas paredes estavam de volta um momento depois, sua expressão endurecendo quando ele se distanciou para suportar o que acontecia. Engoli em seco e me levantei, oferecendo-lhe uma mão.

—Venha. — Eu disse. —Você vai ficar para o jantar, certo?

Cole hesitou. Eu pude ver a indecisão. Eu me preparei para a sua recusa, pronta para deixá-lo ir, se era isso que ele queria.

—Cole! — Tia Persephona gritou da varanda novamente. —Você disse que gostava de pão de alho, certo? Porque eu acabei de ganhar muito!

O sorriso tocou o rosto de Cole novamente por apenas um momento. Ele pegou minha mão e se levantou.

—Não existe pão de alho em excesso. — Ele gritou de volta.

Eu compartilhei um sorriso com Ethan enquanto seguíamos Cole para dentro da casa. Eu poderia dizer que ele estava tão feliz quanto eu por Cole estar comendo. Eu ainda precisava conversar com Ethan sobre o que era ou para onde estava indo, mas por enquanto, ter os dois por perto me senti bem.

O jantar foi um dos mais agradáveis que já tive em muito tempo, cheio de risadas e boas conversas. Cole estava um pouco reservado, claramente inseguro sobre o seu lugar. Nós não o pressionamos e, quando ele se sentiu à vontade para aumentar a conversa, nós o recebemos. Ele teve um relacionamento fácil com minha tia. Havia um entendimento instintivo entre duas pessoas que passaram anos tentando aprender os segredos da magia, apesar de todos os obstáculos que a vida colocou no caminho.

—Vamos ver o fae amanhã. — Ethan disse, enquanto o jantar terminava. Ajudei-o a lavar a louça enquanto minha tia se retirava cedo para estudar no quarto dela. —Provavelmente poderíamos fazer isso hoje à noite. Ele mantém horários estranhos. Mas...

—Estou muito dolorida com a prática. — Confessei, revirando meus ombros rígidos. —Amanhã provavelmente é melhor.

—Eu vou com você. — Cole concordou, vestindo a jaqueta. —Eu posso te encontrar aqui por volta das nove.

—Você não quer ficar? — Eu perguntei. —O sofá ainda está aberto. Seria muito mais conveniente.

—Eu posso encontrar meu próprio lugar para dormir. — Disse Cole, um pouco na defensiva.

Ethan ficou cuidadosamente em silêncio, enquanto segurava o prato que estava secando. Considerando como Cole reagiu a Ethan tentando insistir da última vez, eu não o culpo.

—Isso tornaria as coisas muito mais fáceis para nós amanhã. — Eu disse, não pressionando demais. —Não precisa ser para sempre. Estamos apenas... preocupados com você.

—Eu não preciso que você se preocupe comigo. — Disse Cole, bruscamente e eu estremeci, sentindo que tinha estragado tudo.

—Tarde demais. — Disse Ethan, sem levantar os olhos da pia. —Nós vamos nos preocupar, de qualquer maneira. Você estragou tudo e fez amigos, cara. A preocupação vem com o território.

O queixo de Cole se apertou e, por um momento, pensei que ele sairia em disparada. Mas depois de um momento, a tensão desapareceu de seus ombros.

—Tudo bem. — Ele disse, de má vontade. —Eu vou dormir no sofá estúpido. Só por esta noite. Porque vir aqui logo de manhã é uma dor na bunda.

—Parece ótimo. — Eu disse, incapaz de esconder meu sorriso. Ethan sorriu também, embora ainda não desviasse o olhar da pia.

Era cedo, então nos sentamos na sala por um tempo, relaxando, cuidando de nossos machucados desde o início do dia. Cole jogou uma pilha de livros sobre mim, principalmente textos necromânticos básicos e alguns guias gerais de magia para ‘me dar uma boa base teórica’. Eu li uma delas, fazendo anotações preguiçosas no meu telefone, enquanto Ethan e Cole conversavam sobre um filme que ambos não gostavam.

Eventualmente, fomos para a cama, jogando cobertores e um travesseiro em Cole no sofá antes de Ethan e eu nos retirarmos para o quarto de hóspedes. Morgana decidiu desde o início que gostava de Cole melhor do que eu e passou a maior parte da noite enrolada em seu colo. Parecia que ela pretendia passar a noite lá. Mort nos seguiu até o quarto, no entanto, pulando na cama e sentando no pé imediatamente.

Ethan e eu estávamos dividindo o quarto de hóspedes de tia Persephona desde que Aethon atacou a funerária, mas até agora, ele estava exausto demais para fazermos muito, mas dormir um ao lado do outro enquanto ele se recuperava de sua experiência de quase morte. Quando nos mudamos para a cama, sem nos olharmos, percebi que não era mais esse o caso. Mas agora tivemos outro problema. Lembrei-me de como ele reagiu ao nosso pequeno encontro na mesa do pátio, e quão perto ele chegou do desastre no drive-in. E se da próxima vez ele não pudesse controlar? Eu o queria. Mas não éstavamos seguros um para o outro.

Quando me deitei, ele me puxou para perto, aconchegando na minha garganta e pressionando beijos na minha pele.

—Você foi incrível hoje. — Disse ele. —Praticando com Cole. Eu nunca vi nada parecido. Os bruxos da biblioteca desejam que eles possam fazer algo tão impressionante quanto isso. Uther é a mais forte e a pequena coisa de teletransporte é o truque mais impressionante que ele tem. É por isso que ele usa-o toda vez que ele aparece.

Eu sorri e rolei para colocar meus braços em volta dele. Esse relacionamento ainda era novo, mas havia muito o que amar nele. O perfume de seus cabelos, as calos nas mãos, as rugas nos cantos dos olhos quando ele sorria para mim. Era quase aterrorizante. Eu poderia me apaixonar por ele tão facilmente, pensei. E eu ainda sabia muito pouco sobre ele. Se eu me apressasse nisso, haveria algo para apoiar um relacionamento real?

—Você está se preocupando. — Disse ele, e estendeu a mão para esfregar o local entre as minhas sobrancelhas. —Você franze sua testa quando está pensando. O que houve?

—Muitas coisas. — Eu disse honestamente. —Há muito com o que se preocupar ultimamente.

Passei a mão por seu ombro nu, até seu quadril. Ele estava usando aquelas calças de moletom novamente, e eu brinquei com a banda, pensativa.

—Com Cole hoje. — Eu disse baixinho, depois me corrigi. —O que ele disse ontem à noite. Você gosta dele?

Ethan pareceu surpreso por um momento, depois desviou o olhar, o queixo apertado. Eu senti a repentina tensão nele, como se ele estivesse se preparando para o impacto. Eu toquei sua bochecha.

—Se você gosta dele. Está tudo bem. — Eu disse rapidamente.

Ele pegou minha mão contra sua bochecha, apertando-a, mas ele não olhou para mim.

—Eu não sou assim. — Ele sussurrou. —Por favor, não pense que sou assim.

—Como o quê? — Eu perguntei confusa. Eu nunca o tinha visto assim. Havia algo quase como nojo no conjunto de sua boca, o sulco apertado de suas sobrancelhas. Mas não foi dirigido a mim. —Como o que? Bissexual?

Ele se encolheu, como se a palavra lhe causasse dor física.

—Eu gosto de você. — Ele disse, sua voz rouca. —Eu gosto de estar com você.

—Mas você também gosta dele. — Eu disse, sem entender o que o perturbava. Ele colocou a mão no rosto. Havia um tremor em seus ombros, uma emoção tentando escapar. E suas unhas pareciam claramente com garras.

—Ethan. — Eu disse suavemente, passando a mão sobre o peito em círculos suaves. —Do que você tem medo? Eu não estou chateada. Eu nem estou surpresa. Não é um problema.

—É um problema. — Disse ele, arrastando a mão pelo rosto até a boca. Ele estava com medo. Finalmente, finalmente, ele olhou para mim.

—Eu não queria que você soubesse. — Disse ele. —Eu não quero que ninguém saiba.

—Tudo bem. — Eu disse imediatamente. —Eu não vou contar a ninguém.

—Você não entende. — Disse ele, fechando os olhos novamente.

—Não, eu não entendo. — Eu concordei. —Isso não muda nada. Eu não me importo se você já esteve com homens antes-

—Eu não estive. — Disse ele bruscamente.

—Eu não ligo. — Repeti. —Isso não afeta o nosso relacionamento. Importa apenas se você quiser. Eu só quero saber mais sobre você. Se isso faz parte de quem você é, eu quero saber sobre isso.

Ele ainda parecia preocupado.

—Eu realmente gosto de você, Ethan. — Eu disse calmamente. —Eu não sei se isso é apenas uma aventura para você ou o que quer que seja. Entendo se isso é algo que você simplesmente não está confortável conversando com alguém que... que pode não fazer parte da sua vida por muito tempo. Mas eu gosto muito de você. Quero ver se isso pode funcionar. Quero saber quem você é.

—Você tem certeza? — Ele disse. —Você tem certeza?

—Eu tenho certeza. — Eu disse, com o máximo de gravidade que pude, tocando sua bochecha. —Isso não me incomoda. Faz parte de quem você é, e eu gosto de quem você é.

Eu o vi engolir em seco. Ele virou o rosto na minha mão e beijou minha palma, ficando assim por um momento.

—Não é... algo com o qual estou realmente confortável. — Disse ele.

—Não brinca. — Eu respondi, e ele riu baixinho, o som tocado com amargura, sua boca se movendo contra a minha palma.

—Minha família era realmente religiosa. — Explicou ele. —Tipo, realmente religiosos. Nós estávamos na igreja pelo menos três vezes por semana. E eu estava profundamente envolvido, compromisso total, anel de pureza e tudo. Mesmo depois de eu... depois que comecei a perceber.

—Isso é difícil. — Eu disse, incapaz de imaginar. Minha família nunca foi do tipo de igreja, por razões óbvias. —Acho que sua igreja não era do tipo que aceita?

—Mais como o 'organizou um protesto contra o GSA2 da minha escola. — Disse ele com tristeza. —Também a abstinência é tudo o que deve ser ensinado em sexo e a masturbação é um pecado.

—Droga. — Eu respondi. —Não é de admirar que você tenha problemas com isso.

—Minha família nunca mais falaria comigo se soubesse. — Disse ele, quase um sussurro. —Ou pior. Uma garota da minha igreja saiu no primeiro ano. A mãe dela bateu nela. Enviou-a para o hospital. Quando ela foi libertada, eles não vieram buscá-la. Ela teve que arranjar um amigo para trazê-la para casa. Ela encontrou as fechaduras trocadas e tudo o que possuía no meio-fio. Eu nem sei o que aconteceu com ela. Ela não voltou para a escola. Suas amigas me disseram o que sua mãe fez. Eles foram expulsos, mas eles também não sabiam mais nada. Ninguém na igreja falava sobre isso. Sua mãe voltou a cantar hinos como se nada tivesse acontecido, com as mãos ainda machucadas por tentar espancar os gays como a filha dela. Meu pai disse que 'admirava sua determinação'.

Estremeci e fiquei brevemente grata por minha família chata, mas perfeitamente solidária. Eu literalmente trouxe coisas mortas de volta à vida, mas nunca me preocupei que meus pais me odiassem por isso ou me expulsassem, muito menos me enviassem para o hospital. Eles não entendiam essa parte da minha vida. Não conseguia entender. Mas pelo menos eu sabia que eles me amavam, de qualquer maneira. Peguei a mão dele, tudo o que pude fazer para mostrar meu apoio.

—Eu ouvi dezenas de histórias assim. — Disse ele calmamente, olhando para as nossas mãos enquanto enlaçava os dedos. —Ninguém mais da igreja. Mas algumas outras crianças na escola. E quando eu era mais velho, as pessoas trabalhavam. E quando comecei a viajar por causa da maldição, descobri mais. Não sei o que é pior, os que acabam sem teto ou os que são forçados a ficar com uma família que os odeia. Não há boa opção. Você entende o que estou dizendo, Vexa?

Apertei sua mão, desejando ter as palavras.

—Não há final feliz para pessoas como eu. — Disse ele.

—Isso não é verdade. — Eu disse imediatamente. Seu aperto na minha mão relaxou. Ele balançou a cabeça, afastando-se.

—Não é verdade. — Insisti. —Sim, é péssimo, mas isso não significa que você não tem esperança! Você já está fora de lá. Você não precisa da aprovação de sua família para sobreviver e viver uma vida perfeitamente feliz. Você pode ter um final feliz sem eles...

Ele forçou um sorriso e beijou as costas da minha mão suavemente.

—Obrigado por tentar. — Disse ele. —Por ouvir.

—A qualquer hora. — Eu disse a ele. —Realmente, a qualquer momento. Você quer falar sobre coisas trágicas da vida? Estou triste. Você quer fofocar sobre garotos? Eu posso fazer isso também.

Ele bufou, e fiquei aliviada ao ouvi-lo rir.

—Então, quem era sua boy band favorita? — Eu perguntei, provocando, e ele fez um barulho de repulsa.

—Não. — Ele disse com uma pequena risada. —Realmente, não. Ainda está dolorido.

—Tudo bem. — Eu disse, e me deitei ao lado dele, pressionando um beijo em sua têmpora. —Eu vou deixar você falar sobre isso no futuro. Eu só quero que você saiba que estou aqui por você.

Com outra risada suave, ele se virou para me olhar nos olhos, estranhamente vulnerável.

—E isso? — Ele perguntou, sua mão deslizando pela minha coxa até a minha cintura. —Você ainda está aqui para isso? Tudo bem se você não estiver.

Eu respondi beijando-o com força. Inferno, sim, eu estava. A princípio. E depois de uma conversa tão pesada, se era isso que ele precisava sentir como se eu ainda estivesse com ele, fiquei mais do que feliz em agradecer.

Ethan sorriu contra meus lábios e me beijou de volta, me puxando para mais perto, nossas pernas emaranhadas quando suas mãos fortes apertaram meus quadris.

—Então. — Ele disse, respirando fundo quando quebramos o beijo. —Sobre Cole...

—Sim? — Eu ainda estava um pouco tonta com o beijo, pensando em quão longe poderíamos arriscar ir.

—Você gosta dele também.

Isso chamou minha atenção. O calor correu para o meu rosto.

—Eu não sei. — Eu admiti. —Ele é fofo. Mas não é como eu faria... não estou planejando...

—Está tudo bem. — Disse ele, beijando minha testa. —Você não precisa se desculpar.

—Você não está com ciúmes? — Eu perguntei.

—Claro que sim. — Ethan disse com uma risada forçada. —Ele é fofo, e é um necromante como você, e ele tem toda aquela coisa trágica de bad boy acontecendo. E, por mais que eu goste de você, você sabe que tenho... um limite de tempo.

—Ethan. — Eu disse preocupada, sentando-me. Ele balançou a cabeça, me empurrando de volta suavemente.

—A menos que encontremos uma maneira de quebrar a maldição. — Disse ele. —Um dia, mais cedo ou mais tarde, isso vai me derrotar. Não sou um bom investimento a longo prazo.

—Você é uma pessoa, não uma opção de compra. — Eu disse. Ele riu, mas havia uma amargura no conjunto de suas sobrancelhas.

—Quanto mais fundo você se envolver comigo — Disse ele, —Mais doerá se e quando isso acontecer. Eu não culparia você por não querer passar por isso. Então, sim, tenho inveja do cara que poderia passar a vida com você, quando eu só tenho alguns anos. Ou menos.

Eu gostaria de ter certeza de que definitivamente quebraríamos a maldição. Eu realmente não tinha pensado em quanto tempo teríamos. Agora eu quase podia ouvir um relógio correndo, segundos preciosos desaparecendo. Era um milhão de vezes mais assustador do que se apaixonar. Eu pensei que estava confortável com o conceito de morte, considerando quem eu era como pessoa, mas nunca o processei até que de repente se aproximava, inevitável e implacável, e não há nada que eu possa fazer sobre isso.

—Mas meu ciúme não importa. — Ethan disse finalmente. —Confio em você. O ciúme é... As pessoas não o entendem. Eles agem como se fosse um sinal de amor, ou algum grande obstáculo intransponível, mas o ciúme é apenas uma emoção. Um sintoma de insegurança. Você não pode simplesmente dizer ‘estou com ciúmes’ e encerrar a conversa. Você precisa falar sobre isso, descobrir por que está com ciúmes e resolver o problema.

—Eu não acho que entendi o que você está dizendo. — Eu admiti, franzindo a testa.

Ele passou a mão pelas minhas costas distraidamente, pensando.

—Acho que o que estou dizendo é que, se você quer ficar com ele, está tudo bem comigo.

Meus olhos se arregalaram. —Só porque sua maldição pode matá-lo, eventualmente, não significa que eu vou pular de navio antes mesmo de-

—Não é isso.

—Você está apenas tentando me dar um fora por causa da coisa bi? Porque você não precisa-

Ethan cobriu minha boca com a mão, um sorriso exasperado em seu rosto.

—Não, Vexa, não é isso que eu quero dizer. — Disse ele, balançando a cabeça e removendo a mão para escovar meu cabelo para trás. —Quero dizer, se ele está bem com isso, se você quer ficar com ele também, eu não me importo.

Isso me calou. Não era uma possibilidade que eu realmente considerasse. Eu encontrei minha boca seca e meu coração batendo um pouco demais com o pensamento.

—Eu sei que é estranho. — Disse ele, afastando-se um pouco, envergonhado. —Eu provavelmente não deveria ter sugerido. Apenas sinto que temos tão pouco tempo que você não deve se conter. Você merece tudo o que deseja e muito mais. Você é incrível e-

Desta vez, coloquei minha mão sobre sua boca. Quando ele parou de tagarelar, tirei minha mão para beijá-lo.

—Você realmente ficaria bem com isso? — Eu perguntei. Ele assentiu, sorrindo. Procurei algum traço de dúvida em seus olhos, mas não consegui encontrá-lo. —Você quer ficar com ele também?

Houve um lampejo de dúvida. Ele lambeu os lábios, olhando para as nossas mãos unidas.

—Eu não...— Ele admitiu. —Com um cara. Cheguei perto algumas vezes. Não pude continuar com isso.

—Mas você quer tentar com ele? — Eu perguntei, pressionando.

Ele desviou o olhar, inquieto. Eu o deixei desconfortável novamente.

—Não... talvez. — Ele admitiu. —Eu não deveria. Mas acho que ele não aceitaria. Não comigo, pelo menos.

—Eu não sei. — Eu disse, lembrando o quão vermelho Cole ficou quando Ethan o tocou hoje cedo. —Eu acho que você tem uma chance.

—Você ficaria bem com isso? — Ethan perguntou, olhando nos meus olhos. —Não é nem uma possibilidade remota, mas eu não quero pressioná-la a qualquer tipo de situação com a qual você não se sinta confortável, mesmo hipoteticamente.

Eu pensei sobre isso, lembrando-me da maneira como meu estômago tremia observando-os mais cedo, as pontadas de preocupação e saudade.

—Estou com medo disso. — Eu disse, decidindo que ser honesta era a melhor escolha. —Eu tenho medo que vocês dois decidam que estão melhor sem mim. Isso é estúpido?

—Não, não, isso é normal. — Ethan disse, rapidamente, me puxando para perto e beijando minha cabeça novamente. —Deus, isso é perfeitamente normal, querida. Também tenho medo disso. Inferno, provavelmente seria uma boa decisão de sua parte. Mas você. Você é incrível. Eu sei que isso ainda é novo, mas não é uma aventura para mim. Eu quero fazer isso durar, pelo menos enquanto eu tiver deixado. As coisas podem mudar, talvez possamos aprender mais um sobre o outro e nos afastar, quem sabe. Mas eu sei que você me faz querer tentar para fazer isso funcionar. Nada do que poderia acontecer com Cole vai mudar isso.

Ele me beijou novamente e eu coloquei meus braços em volta dele, meu coração doendo no meu peito. Eu não tinha certeza de nada ainda, mas isso era bom. Certo.

A língua de Ethan roçou meus lábios e um pequeno zumbido de encorajamento me escapou, o que o fez me apertar com mais força. Deslizei uma perna sobre seus quadris e sua mão deslizou da minha cintura para me puxar para mais perto, o ar entre nós ficando quente. Deslizei a mão em seus cabelos, unhas roçando seu couro cabeludo, e ele quebrou o beijo com um calafrio para espalhar beijos na minha garganta.

Eu gemi em apreciação e Mort levantou a cabeça do final da cama. Ele bufou impaciente, pulou da cama e abriu a porta do quarto, desaparecendo na escuridão do corredor. Algo sobre a pura indignidade de sua reação e o absurdo de esquecermos que ele estava lá me fez começar a rir, e uma vez que comecei, não consegui parar. Que conversa intensa e louca de ter no final desta semana insana. Deus, eu quase morri três vezes, e agora eu estava discutindo um relacionamento aberto com meu namorado bissexual e lobisomem. Eu pensei que minha vida era estranha antes de tudo isso começar. Ethan levantou-se para fechar a porta e eu o observei sair, ainda processando tudo o que havíamos conversado, mas meus pensamentos sumiram enquanto eu apreciava a visão de sua bunda naquelas calças de moletom. Tinha sido uma noite muito intensa até agora. Quando Ethan voltou, eu sorri para ele e torci para que ainda não tivesse terminado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Onze


Quando ele voltou para a cama, eu rolei de costas e abri meus braços para ele, ansiosa para continuar o beijo que havíamos quebrado um momento atrás. Ele concordou de bom grado, deslizando sobre mim para me beijar gentilmente. Deslizei meus braços ao redor dele, aprofundando o beijo e puxando-o para baixo dos travesseiros. Eu amei a pressão tranquilizadora do seu peso em mim. Isso me fez sentir estável em um mundo onde as coisas desmoronavam constantemente. Deslizei minhas mãos em direção à cintura de suas calças, e Ethan quebrou o beijo para pegar minha mão.

—Não deveríamos. — Disse ele com um suspiro relutante. —Você sabe o que poderia acontecer.

Ele estava certo, mas eu não queria admitir. Eu queria estar com ele agora. Após o peso da nossa conversa, era importante. Eu queria mostrar a ele o quanto eu o queria. Eu queria ver nos olhos dele o quanto ele me queria.

—Vamos tentar alguma coisa. — Sugeri, sorrindo. Ele levantou uma sobrancelha, mas obedeceu quando eu o empurrei de volta para os travesseiros e subi da cama para recuperar alguma coisa. Quando voltei com o cinto da calça, ele parecia um pouco preocupado, sentando-se contra a cabeceira da cama.

—Até que possamos comprar aquelas algemas felpudas. — Eu disse, subindo em seu colo. Peguei suas mãos, levando-as acima da cabeça até a barra da cabeceira da cama, amarrando o cinto em uma figura oito em volta dos pulsos e da barra. Apertei-o apenas o suficiente para que eu ainda pudesse colocar dois dedos entre ele e sua pele.

—Como é isso? — Eu perguntei a ele. —Não é muito apertado, é?

—Parece estranho. — Ele admitiu. —Mas não é muito apertado.

—Você quer que eu tire? — Eu perguntei.

—Diga-me o que você está planejando primeiro. — Disse ele, rindo.

—Isso está seguro. — Eu disse, batendo no cinto antes de me acomodar mais profundamente em seu colo, com muitas mexidas desnecessárias. —O plano é ir muito, muito devagar.

Eu rolei meus quadris contra seu colo e o vi engolir em seco.

—Construa um pouco de cada vez para que você nunca perca o controle. Parece bom?

—Eu não sei se isso vai funcionar. — Disse ele, mordendo o lábio. —Mas estou disposto a tentar.

Eu sorri —Incrível. Diga-me imediatamente se algo dói ou se você quer parar.

Comecei tirando minhas próprias roupas. Fiel à minha palavra, aproveitei meu momento agradável, derramando minha camisola e a roupa íntima por baixo com tanta pompa e circunstância quanto pude. Era uma provocação boba, mas o fez sorrir, o que importava.

Fiquei nua no colo dele, montando nele enquanto terminava e ele sorriu para mim, apreciando a vista.

—Você vai me despir em seguida? — Ele perguntou.

Eu fingi considerar por um minuto.

—Hmm, nah, acho que você está bem como está.

Eu o beijei antes que ele pudesse dizer mais. Comecei doce e devagar, depois arrastei meus dentes sobre seu lábio, mordi o suficiente para fazê-lo ofegar e deslizei minha língua ao lado da dele para provar o calor de sua boca.

Enquanto eu o beijava, balancei meus quadris em círculos lentos, moendo descaradamente contra ele. Ouvi o couro do cinto estalar quando minhas mãos apertaram seu peito e deslizaram até sua cintura. Eu levei um tempo beijando-o, minhas mãos vagando, traçando sua clavícula, os músculos de seus braços, como eu tinha todo o tempo do mundo, até senti-lo ficando duro contra mim. Eu me esfreguei contra ele por um momento até ouvir sua respiração começar a pegar. Então me afastei, sorrindo para o barulho frustrado que ele fez.

—Como você está se sentindo? — Eu perguntei, recostando-me em uma mão, ainda montando em seu colo. —Ainda está tudo bem?

—Tudo ótimo. — Ele confirmou, seus olhos quentes enquanto olhava para mim. —O lobo nem está mostrando a cabeça ainda. Talvez a última vez tenha sido por acaso.

—Talvez. — Eu disse, passando a mão livre pelo centro do peito enquanto olhava para ele. —Mas eu não estou me arriscando. Você sabe, você parece muito bem assim.

A calça de moletom escorregou em seus quadris. A mecha de cabelo castanho dourado que desapareceu sob a banda foi uma tentação difícil de resistir, apontando para o contorno óbvio de seu tesão negligenciado. A posição dos braços acima da cabeça enfatizava as linhas do peito bem definido, os ombros largos, a curva do estômago. Acima de tudo, a fome em seus olhos me fez doer de excitação. De fato...

Eu deixei minha mão descer pelo meu peito correndo até os meus lábios, correndo levemente por fora. Eu vi as pupilas de Ethan dilatar enquanto ele observava meus dedos deslizarem para dentro para arrastar lentamente através das minhas dobras, espalhando a umidade brilhante da minha entrada para o meu clitóris. Mordi meu lábio, quase capaz de sentir seu olhar em mim, um formigamento na minha pele enquanto eu lentamente circulava o pico, suspirando enquanto relaxava lentamente no prazer da sensação. Nesse ritmo, eu poderia me tocar a noite toda, ocasionalmente deixando meu clitóris deslizar pelas minhas dobras novamente, me abrindo para ele olhar, mas não tocar. Eu ouvi o cinto ranger novamente, e ele gemeu.

—Oh, isso não é justo. — Disse ele.

—O que não é justo? — Eu perguntei, jogando de inocente quando deitei no cotovelo, sentindo a tensão no topo das minhas coxas enquanto eu me acariciava, literalmente no colo dele e ainda fora de seu alcance.

—Vamos lá. — Ele implorou. —Você não pode simplesmente me provocar.

—Não posso? — Eu perguntei com um sorriso, esfregando-me um pouco mais com a visão de sua ansiedade. —O que você vai fazer para me impedir?

Ele xingou baixinho, enviando um arrepio de prazer pela minha espinha. Arqueei meus quadris em meu próprio toque, gemendo enquanto esfregava mais rápido. Não havia necessidade de tomar meu tempo comigo mesma. Eu poderia vir quantas vezes quisesse antes de tocá-lo. E essa era uma sensação muito agradável. Joguei a cautela ao vento, seguindo em frente como se eu tivesse apenas cinco minutos antes de sair para o trabalho. Eu o deixei assistir enquanto me desfiz, puxando todos os truques que eu sabia para me fazer gozar mais rápido. Foi um pouco de luta com a posição desconfortável, mas uma vez que eu entrei o suficiente, eu esqueci a tensão nas minhas pernas, voando alto e chegando perto.

Minha respiração ficou presa ao me aproximar do clímax. Eu trouxe minha outra mão de trás de mim para enrolar os dedos dentro de mim enquanto esfregava mais rápido, os quadris se contorcendo, o prazer pulsando como meu sangue nos meus ouvidos, junto com as respirações irregulares de Ethan. Nessa posição, minhas pernas ainda estavam dobradas dos dois lados do colo dele, meu peso no pescoço e nos ombros, minhas costas curvadas como um arco, eu era como uma mola enrolada, como uma flecha prestes a ser disparada. A tensão era quase dolorosa, apenas aumentando a sobrecarga sensorial do orgasmo.

—Vexa, por favor. — Ethan implorou, sua voz rouca de desejo, e eu ofeguei quando o prazer cresceu e tomou conta de mim.

Fiquei ali por um momento, relaxando a postura tensa das minhas costas, percebendo a dor desconfortável nas minhas pernas, saboreando o delicioso formigamento do pós-brilho sobre a minha pele. Eu me deliciei com uma sensação tátil inebriante, enquanto Ethan estava choramingando entre minhas coxas. Na verdade, choramingando, rosnados baixos se transformando em choramingos caninos.

—Você ainda está bem? — Eu perguntei, sentando-me. Ele ainda parecia humano, exceto por um leve brilho dourado nos olhos.

—Não. — Ele disse, lambendo os lábios. —Estou tão longe de estar bem como acho que já estive.

Eu ri um pouco, me acomodando no colo dele e me inclinando sobre ele, meio para verificar suas restrições para mover minhas pernas, que estavam começando a adormecer.

—Você quer que eu o solte? — Eu perguntei, traçando o cinto.

—Mais do que tudo. — Ele gemeu, pressionando o rosto nos meus seios. —Mas você não deveria.

—Eu não quero que você se sinta desconfortável. — Eu disse, passando meus dedos pelos cabelos dele.

—Não, não, isso é desconfortável. — Disse ele, beijando o espaço entre os meus seios. —Horrível, horrível, muito bom e desconfortável. Não pare.

Eu ri novamente, mas, me tranquilizado de que ele estava bem, continuei.

Eu me mexi para beijá-lo novamente, longo e lento, negando-lhe até a minha língua, amando o jeito que ele se contorcia e se inclinava a cada toque.

Eu dei a ele o que ele queria por centímetros, o mais lento que pude. Sempre que ele começava a ficar excitado, eu recuava, desacelerava ainda mais, deixando-o frustrado e desesperado, mas ainda no controle de si mesmo. Quando finalmente enfiei a mão na cintura da calça, ele tremeu de necessidade. Eu acho que ele quase terminou apenas com o primeiro toque dos meus dedos contra o seu eixo, o primeiro aperto suave. Decidi então que, se isso se tornasse algo normal, eu faria isso acontecer eventualmente. Só de pensar em fazê-lo desmoronar com um único toque foi tanta pressa que tive que parar e me tocar de novo, para seu deleite e frustração, até que ele literalmente me implorou que o deixasse usar a boca. Eu fui generosa o suficiente para permitir isso a ele. Eu estava de pé sobre ele, minhas mãos apoiadas na cabeceira da cama, enquanto ele fazia tudo o que suas restrições lhe permitiam. Eu já tinha ouvido falar oralmente como adoração, mas nunca realmente apreciei o quão preciso o termo poderia ser até esse momento. A cada momento em que sua boca não estava preocupada, ele sussurrava, gemia e rosnava meu nome, me dizendo o quão perfeita eu era, o quanto ele precisava de mim. O elogio foi quase tão bom quanto a boca dele.

—Vexa. — Ele gemeu, pressionando beijos de borboleta no meu estômago. —Linda, perfeita, maravilhosa Vexa. Estou morrendo. Isso está literalmente me matando.

Eu ri, acariciando seus cabelos.

—Quer que eu te deixe sair? — Eu perguntei.

Ele balançou sua cabeça. —Não, mas se eu não puder estar dentro de você em breve, eu realmente morrerei. Estou cem por cento sério.

Rindo, eu me abaixei em seu colo para beijá-lo novamente, provando-me em seus lábios.

—Eu não sei. — Eu ronronava contra aqueles lábios. —Você acha que ganhou?

—Farei qualquer coisa. — Ele implorou. —Por favor, por favor.

Eu sorri —Eu gosto de você implorando. — Eu disse. —Essa é uma boa aparência para você.

—Além disso. — Ele reclamou. —Isso está seriamente começando a doer.

—O cinto? — Eu perguntei, tentando alcançá-lo, preocupada.

—Não. — Ele disse, e balançou seus quadris contra mim, moendo sua ereção ainda muito dura contra as minhas costas. Ele gemeu, fazendo isso de novo. —Na verdade, se você simplesmente não se mexer...

Eu me afastei dele imediatamente com um sorriso perverso. Ele quase chorou, chutando os lençóis em frustração.

—Você foi um menino muito bom. — Eu disse, beijando sua testa. —Você merece melhor que isso.

Saí do colo dele, apenas o tempo suficiente para pegar uma camisinha na mesa de cabeceira.

—Oh, graças a Deus. — Disse Ethan, aliviando o fôlego, relaxando os ombros tensos. Rasguei o pacote com os dentes e me movi entre as pernas dele.

—Quer ver um truque? — Eu perguntei, sorrindo enquanto pegava seu pau na mão. Ele levantou uma sobrancelha, desesperado demais para me questionar enquanto colocava a camisinha na minha boca. Inclinei-me sobre ele, envolvendo meus lábios em torno da cabeça de seu pênis e pressionei o preservativo no lugar com a minha língua. Deslizei-o mais fundo na minha boca, rolando a camisinha pelo seu pênis com meus lábios. Ele xingou de maneira colorida quando o calor da minha boca o cercou, os quadris batendo, mas eu o segurei. Eu ainda estava no controle desse rodeio.

Quando a camisinha e meus lábios atingiram a base de seu pênis, eu me afastei, fingindo que meus olhos não estavam lacrimejando e lutando contra o desejo de tossir.

—Puta merda. — Disse ele, olhando para mim como se eu fosse feita de ouro maciço.

Não perdi mais tempo. Eu estava quase tão ansiosa por tê-lo dentro de mim quanto ele. Ajoelhei-me sobre ele, voltando para segurar seu pau no lugar enquanto me abaixava lentamente sobre ele. Ele congelou, seus olhos brilhando com um tremido âmbar, parecendo que ele não ousava nem respirar enquanto sua cabeça deslizava contra as minhas dobras. Levei meu tempo, deslizando contra ele algumas vezes, antes de finalmente deixá-lo entrar. Respirei fundo quando a primeira polegada me abriu. Ele era grosso, e eu tremi com a antecipação de como ele se sentiria completamente dentro de mim. Mas ainda demoraria um pouco até eu descobrir. Eu fiquei onde estava, seu pau apenas dentro de mim, aproveitando a sensação, até que ele se contorceu com ansiedade. Então eu o levei um pouco mais fundo. Talvez outra polegada.

—Vexa! — Ele disse, um pouco alto demais para estarmos em uma casa com outras pessoas dormindo nela. Eu o silenciei, tentando não rir, e afundei o resto do caminho, xingando quando ele bateu profundamente dentro de mim. Eu me senti tão bem, tão cheia, meu clitóris latejando com o meu pulso.

Ficou claro que Ethan se sentia tão bem quanto eu, sua cabeça jogada contra a cabeceira da cama, sua respiração dura. Quando eu vi suas mãos flexionarem seus laços, garras brilhando. Lembrei-me de que não estava apenas indo devagar para meu próprio entretenimento.

—Aí estamos. — Eu disse, suavemente, passando as mãos sobre as pernas e o estômago em círculos calmantes. —Como você está se sentindo?

Ele respirou fundo várias vezes antes de falar, recuperando o controle, embora não conseguisse embainhar suas garras.

—Bom. — Ele disse, sem fôlego. —Deus, tão bom.

—Como está o lobo? — Eu perguntei, balançando meus quadris lentamente, moendo-o mais profundamente dentro de mim. Ele gemeu e ouvi o cinto de couro esticar novamente.

—Assistindo. — ele finalmente admitiu, um rosnado em sua voz. —Eu acho que tenho um controle sobre ele. Pelo menos, tanto quanto posso.

—Bom garoto. — Eu disse. —Você pode esperar se eu continuar?

—Sim, mas eu acho que você não pode confiar em mim para dizer para parar se eu começar a escorregar. — Ele admitiu com uma careta.

—Então eu vou ter um cuidado extra. — Eu disse a ele, levantando meus quadris até que ele estava apenas dentro de mim. —E extra, extra lento.

Eu me abaixei novamente em um longo e lento deslize, saboreando o calor e a pressão de cada centímetro, meus dedos dos pés enrolando nos cobertores. Eu amei o jeito que ele se encaixava dentro de mim, e o jeito que ele pressionou contra minhas paredes internas quando eu inclinei meus quadris da maneira certa.

Tanto porque eu queria testar os limites de Ethan e porque simplesmente não conseguia resistir, continuei em ritmo acelerado, não muito rápido ou muito lento. Depois de todas as provocações, eu sabia que Ethan não tinha muita resistência sobrando. Eu o observei com cuidado, resistindo ao desejo de me perder no prazer. Esfreguei meu clitóris em círculos preguiçosos por outra camada de calor, construindo como um fogo dentro de mim. Fazia muito tempo desde que eu tive isso. Ethan teria ficado sozinho o tempo todo também, eu me perguntava? Tive a impressão de que ele não estava com ninguém desde a maldição, e pude entender o porquê. Mas eu meio que amei o pensamento de ser a única a dar isso a ele depois de tanto tempo, depois que ele talvez pensasse que estava perdido para ele para sempre.

Ethan começou a me observar, seus olhos devorando todos os meus movimentos como se ele quisesse gravar essa memória em sua mente para sempre. Mas enquanto eu continuava, ele teve que fechar os olhos, prendendo a respiração, os braços tensos contra o cinto enquanto lutava com o lobo e com seu próprio desejo de gozar. Quando o vi começar a tremer, diminuí a velocidade ao mesmo tempo, voltando ao ritmo mais lento que pude controlar. Ele xingou amargamente baixinho, mas depois de um momento, sua respiração se acalmou e um pouco de seu autocontrole voltou. Assim que ele estava um pouco mais no controle, eu acelerei novamente, um pouco mais rápido do que antes. Eu estava ansiosa para gozar também. Mas eu não podia me dar ao luxo de ser egoísta, infelizmente. Eu tive que facilitar isso para provar que poderia funcionar.

Eu estabeleci um ritmo sólido, observando-o com cuidado, diminuindo a velocidade assim que ele ficava muito excitado, acelerando uma vez que ele tinha o controle novamente. Eu nunca tinha feito sexo de maneira tão agradável antes, e estava gostando. Ethan, ao contrário, parecia estar sendo torturado.

—Se o seu objetivo aqui é me fazer odiar você. — Ele ofegou, enquanto eu diminuí a velocidade até quase parar novamente. —Você está conseguindo.

—Espere um pouco mais. — Eu disse, fechando os olhos enquanto lutava contra o meu próprio desejo de ir mais rápido. Eu estava tão perto de gozar cerca de cem vezes e me afastei antes que acontecesse, tentando salvá-lo. —Estamos quase chegando, não estamos?

—Deus, sim. — Ethan disse, os quadris tremendo enquanto ele tentava empurrar em mim apenas para eu segurá-lo. —Mas o lobo está tão perto, Vexa. Eu não sei por quanto tempo eu posso segurá-lo, não importa o quão lento vamos.

—Você tem certeza que não está dizendo isso apenas porque quer que eu acelere? — Eu o provoquei, moendo com ele.

—Isso também. — Ethan disse, com os dentes cerrados. —Além disso, meus braços estão realmente ficando doloridos.

—Tudo bem. — Eu disse respirando fundo, inclinando-me para beijá-lo brevemente. —Espere firme, baby.

Eu me joguei em um ritmo rápido que balançou a cabeceira da cama e deixou Ethan tenso por toda parte, uma série de maldições estranguladas deixando-o. Mordi meu lábio, cada impacto provocando fogos de artifício de prazer dentro de mim. A gratificação atrasada é uma merda, mas Deus, me sinto bem em finalmente ceder depois de esperar tanto tempo.

Ethan enfiou os calcanhares no colchão, empurrando-se para me encontrar em fortes impactos de tirar o fôlego. Fechei os olhos, concentrando-me inteiramente na sensação.

—Quase. — Ethan rosnou. —Tão perto - Vexa.

O orgasmo se aproximava como o pico de uma montanha-russa que vinha subindo há horas. A mola estava enrolada até seu ponto de ruptura absoluto e se eu não a liberasse logo...

Eu deveria estar prestando mais atenção. Não percebi que havia algo errado até ouvir o couro estalar e o rosnar do lobo. Quando abri meus olhos, Ethan já me segurava pelos ombros, me empurrando de volta para o colchão. Tive um instante de temer que estivesse prestes a morrer, e então Ethan bateu em mim com tanta força que vi estrelas.

Ele entrou em mim como um animal, como se ele morresse se não morresse, como se tudo dependesse de me foder tão forte e rápido quanto ele era fisicamente capaz. Meus quadris não estavam na cama, minhas pernas ao redor dele, minhas mãos em seu peito. Com as talvez duas células cerebrais que tive que poupar com o prazer que sobrecarregava rapidamente meu cérebro, vi que ele não havia desaparecido completamente, pelo menos ainda não. Ele ainda era mais homem que lobo, mas se afastava rapidamente. A pele se substituía, os dentes cresceram mais. Eu me atrapalhei com minha mágica após o orgasmo, tentando roubar minha capacidade de pensar, envolvendo-a em torno de sua maldição como eu tinha no drive-in, comprimindo-a, empurrando-a para trás, abraçando-a.

—Vexa. — Ethan disse, sua voz um grunhido irreconhecível de animal. Eu olhei nos olhos dele e não vi Ethan lá. Ele não estava errado quando disse que o lobo não era ele. Havia algo completamente atrás de seus olhos. Algo antinatural e cheio de ódio. Algo que teria rasgado minha garganta agora, exceto a pura força de vontade de Ethan e sua própria necessidade primordial.

O impacto dos quadris de Ethan contra minhas coxas tocou bruscamente através da sala, assim como seus rosnados bestiais, e meus próprios gritos, todas as tentativas de controle perdidas. O prazer corria por minhas veias como fogo a cada golpe feroz. Eu segurei sua maldição com a última razão, cavando minhas unhas enquanto minha visão ficava branca, como se fosse tudo o que pudesse me segurar na terra.

O orgasmo me atingiu como um deslizamento de terra, como uma erupção vulcânica, como uma força da natureza invadindo-me. Todo nervo queimava, todo músculo ficava tenso. Eu fiz um barulho gutural e desesperado, cada parte de mim reduzida a um ponto quente e branco de êxtase irracional.

Foi só quando a onda retrocedeu, eu percebi que Ethan tinha terminado também. Ele pairava sobre mim, segurando firme, respirando com dificuldade. Eu ainda estava segurando sua maldição e empurrei um pouco mais contra ela. Eu assisti o lobo recuar, até Ethan, exausto e gasto, desabar na cama ao meu lado.

Eu rolei de lado para encará-lo, murmurando garantias e acariciando seus cabelos. Ele estava consciente, embora apenas justo.

—Você está machucada? — Ele lutou para dizer.

—Não, não, eu estou bem. — Eu disse a ele. —Você não me machucou. Está tudo bem.

Ele deu um suspiro trêmulo de alívio e eu o beijei, espalhando-os pela testa e bochechas, tão aliviada quanto ele. Ele abriu os olhos, da mesma cor quente que sempre foram, sem mais vestígios do ouro. Ele sorriu para mim por um momento, e eu sorri de volta, uma estranha sensação de vitória me enchendo que era quase mais doce que o orgasmo. Conseguimos. Não da maneira que esperávamos, mas fizemos.

Alguém bateu na porta do quarto e nós dois congelamos.

—Todo mundo vivo ai? — Minha tia falou.

A humilhação correu através de mim. Ethan gemeu e escondeu o rosto nos lençóis.

—Sim, estamos bem. — Eu falei de volta. —Está tudo bem!

—Você não teria imaginado pelos barulhos. — Disse tia Persephona sem rodeios. —Mas estamos muito felizes por vocês dois.

—Sim, parabéns pelo sexo. — Disse Cole pela porta, e minha humilhação aumentou mais dez graus. —Mas no futuro, pode levar em consideração avisar as pessoas que você está prestes a arriscar lançar um lobisomem assassino em casa!

—Ou apenas façam em outro lugar. — Sugeriu minha tia. —Um bunker trancado em algum lugar, talvez.

—Um bunker à prova de som. — Acrescentou Cole.

—Desculpe! — Eu disse.

—Isso não vai acontecer novamente. — Disse Ethan.

Cole e tia Persephona voltaram para a cama e Ethan e eu deitamos um ao lado do outro, com os ossos cansados e agora completamente envergonhados.

—Pelo menos sua tia não é do tipo conservadora? — Ethan disse, tentando aliviar o clima. Eu ri baixinho e ele se juntou a nós dois oprimidos por tudo o que tinha acontecido. Depois de um momento, levantei-me, esticando-me, para fazer uma limpeza mínima, incluindo a eliminação do cinto destruído. Teríamos que conseguir algo mais forte. Quando terminei, caí de volta na cama com Ethan, que tinha usado a última de suas forças apenas para virar o caminho certo na cama. Ele me puxou para perto quando eu me deitei, e me aconcheguei sob seu queixo.

—Só para você saber — Murmurei, meus olhos já fechados. —Isso definitivamente vai acontecer novamente.

 


O café da manhã na manhã seguinte foi desconfortável por cerca de dez minutos, até Cole contar uma piada suja que nos deixou todos em lágrimas.

—Então, como foi o sofá? — Eu perguntei a Cole, enquanto Ethan ajudava minha tia a fazer panquecas.

—Tolerável. — Disse Cole. —Eu tive pior. Seus animais se revezaram tentando me sufocar, no entanto. Você já teve um cão lobo morto tentando deitar no seu rosto enquanto você dorme?

—Sim, desculpe. — Eu disse, rindo. —O cheiro é a pior parte, certo? Estou pensando em enchê-lo de pot-pourri.

—Não pode doer. — Disse Cole. —Mas nenhuma quantidade de purificadores de ar ou taxidermia vai mudar o fato de você ter repudiado ele tarde demais. Os restos mortais estavam muito longe. Se você deseja manter algo familiar, precisa chegar ao corpo enquanto estiver fresco. Depois que o inchaço aparecer, você nunca conseguirá fazê-lo cheirar bem.

—Você está assumindo que eu repensei Mort intencionalmente. — Eu disse com um escárnio. —Ele era a coisa morta mais próxima e maior em mãos quando eu percebi que havia um lobo grande na minha casa.

—Podemos tentar evitar conversas sobre cadáveres à mesa? — Ethan perguntou com uma careta.

—Bem, então por que você não o colocou de volta? — Cole perguntou, ignorando Ethan.

—Eu estava muito ocupada no começo. — Eu disse. —Eu tentei, eventualmente, mas ele está realmente cheio de energia e não quer se soltar. E honestamente, a essa altura, ele lutou com seu leão da montanha por mim e apenas foi um cachorro muito bom em geral e, bem, me apeguei.

—É assim que sempre acontece com os perdidos. — Disse tia Persephona, balançando a cabeça enquanto colocava uma pilha de panquecas na mesa. —Você jura que vai levá-los por um dia até poder levá-los a um abrigo, e a próxima coisa que você sabe é que eles estão enrolados no seu colo e implorando por restos de presunto e você percebe que eles não vão a lugar algum.

—Mort é um pouco mais que um vira-lata. — Disse Cole, pensativo, olhando para o cachorro, que estava deitado perto das portas de correr do quintal, aproveitando o sol. —Há algo estranho sobre o quão consciente ele parece estar.

—Algo sobre a Vela, talvez? — Eu disse com um encolher de ombros.

—Isso, ou seu talento oculto, está executando algum tipo de programa mágico de comportamento canino em seu subconsciente. — Disse Cole.

—Parece plausível para mim. — Ethan riu.

Mort levantou a cabeça brevemente para bocejar, depois rolou de novo, nos ignorando.

—Eu provavelmente deveria ir ver os gatos antes de me sentar. — Disse minha tia, limpando as mãos e indo para o quintal. Seus gatos mortos-vivos não precisavam de alimentação, mas precisavam ser energizados regularmente e verificados quanto a danos em seus restos mortais, e as pragas mortas que eles entregavam tinham que ser tratadas.

—Eu posso cuidar disso depois do café da manhã. — Eu disse a ela, não querendo que ela se esforçasse.

—Não seja boba, eu consigo. — Respondeu ela com desdém, e saiu antes que eu pudesse dizer mais.

—Vamos ver o cara dos fae hoje. — Eu disse enquanto Ethan se sentava e cavamos as panquecas. —Qual é o problema dele?

—Bem, eu ainda não o conheci — Disse Ethan. —Mas as vezes em que os curandeiros descobriram algo genuinamente perigoso, ele é o principal responsável por lidar com isso. Aparentemente, ele é um profissional em garantir artefatos mágicos. Mas também ouvi dizer que ele tem uma atitude meio estranha. Provavelmente por causa da coisa falsa. Está no ar se ele estará disposto a nos ajudar.

—Você deveria suborná-lo com algumas dessas panquecas. — Disse Cole com a boca cheia. —Estas são fodidamente incríveis.

—Sim, maldito Ethan, você tem um talento. — Eu concordei com uma risada. —Acho que nunca tive panquecas tão perfeitas.

Ethan sorriu, profundamente satisfeito.

—Ele é alto, é médico, sabe cozinhar. — Disse Cole, concentrado em inalar suas panquecas o mais rápido possível. —Se ele não estivesse se transformando em um monstro do mal, seria o material ideal para o casamento.

—Bem, espero que possamos cuidar disso hoje. — Eu disse rapidamente.

—Isso significa que você me daria uma chance assim que eu for consertado? — Ethan perguntou a Cole, apoiando-se no cotovelo com um sorriso forçado. Senti uma estranha vibração de orgulho ao vê-lo sendo tão à frente. Sua voz quebrou um pouco e eu vi a tensão nervosa em seus ombros, mas ele a escondeu muito bem, considerando.

Cole, pego de surpresa, olhou para ele e engoliu em seco ao redor das panquecas na garganta.

—Garoto baixo. — Disse ele, erguendo uma sobrancelha. —Sua namorada está sentada bem ali.

—Você também pode me dar uma chance. — Eu disse, pegando a sugestão de Ethan e dando a ele o meu sorriso de queijo. —E isso não foi um não.

Cole ficou lentamente escarlate.

—Eu preciso ir. — Ele disse rapidamente, levantou-se e saiu correndo pelas portas deslizantes para ficar no quintal.

Eu ri, apesar de ter conseguido segurar até que ele fechou a porta entre nós.

—Nós provavelmente não deveríamos ter encurralado ele. — Ethan disse, parecendo pensativo através das portas deslizantes onde Cole estava embaixo da árvore, uma mão apoiada no tronco e a outra no peito como se estivesse tendo um pequeno ataque cardíaco. —Espero que não o assustemos.

—Um necromante maligno de séculos não assustou Cole. — Eu o tranquilizei. —Tenho certeza que ele pode lidar com um pouco de flerte.

—Talvez devêssemos recuar. — Disse Ethan, mordendo o lábio. —Eu não quero que ele pense que eu sou predatório ou algo assim.

—Você não é predador. — Eu disse pacientemente. —Quero dizer, exceto em luas cheias.

—Ha ha. — Ele revirou os olhos.

Depois de alguns minutos, Cole voltou para dentro e sentou-se, retornando às panquecas. Ethan e eu permanecemos em silêncio, não querendo pressioná-lo.

—Então, uh, cara dos fae. — Eu disse, retomando a conversa mais cedo. —Há muitos fae por aí?

—Acho que não. — Disse Ethan. —Ele é o único que eu conheço.

—Ele mora perto? — Cole perguntou, sem levantar os olhos das panquecas. —O tempo todo?

—Uh, sim. — Ethan confirmou, sua voz caindo em um registro mais suave quase imediatamente. Ele estava fazendo aquilo em que agia como se Cole fosse um animal nervoso novamente. —Ele tem uma casa grande perto da ravina. Ele vive lá há anos, até onde eu sei.

—Hum, incomum. — Cole murmurou, ignorando Ethan.

—O que é incomum? — Eu perguntei curiosa.

—Bem, se ele viveu entre humanos sem problemas por tanto tempo, provavelmente ele é da Corte dos fae. — Disse Cole casualmente. —E a corte dos fae não deixa as outras terras muito hoje em dia. Quando o fazem, geralmente é apenas por um dia ou mais. Para alguém que vive neste lugar há anos é muito estranho.

—Eu vou ser honesta. — Eu disse, minha confusão refletida no rosto de Ethan. —Eu nem sabia que os fae eram reais até semana passada, e ainda estava com a impressão de que eram principalmente duendes e outras coisas.

Cole recostou-se, largou o garfo e considerou suas palavras por um momento.

—Tudo bem. Cartilha de faes. Existem três tipos de Faes. — Ele disse finalmente. —Três tribunais. Os Seelie e os Unseelie, também chamados de Tribunais de Verão e Inverno, estão constantemente em guerra. Eles estão em um impasse há tanto tempo que suas vitórias e derrotas se tornaram espelhados rituais das estações atuais.

—Qual é o terceiro tribunal? — Eu perguntei fascinada.

—Fae selvagem. — Disse ele. —Qualquer coisa que não seja Seelie ou Unseelie. Então suos fae domésticas, como domovoi e brownies, seu deus local e criptos, seus espíritos da floresta e guardiões da montanha, e assim por diante, são todos Faes Selvagens desalinhados, basicamente tentando viver suas vidas e não são sugados pelo drama Seelie/Unseelie. Algumas pessoas traçam uma linha entre Faes selvagens nativas e Outras Terras Selvagens dos fae, mas, francamente, eu não acho que haja muita distinção.

—Espere o que? — Eu disse confusa.

—Acho que me lembro de Daphne mencionando algo sobre isso. — Ethan acrescentou, franzindo a testa. —Eles estavam realocando um monte de coisas mágicas antes de um empreendimento imobiliário que estava se mudando, e ela estava reclamando de tentar resolver as espécies invasoras.

—Mais como refugiados do que espécies invasoras. — Disse Cole. —A maioria dos que estão aqui fugiu das Outras Terras para escapar do recrutamento.

—Eu pensei que eles eram animais. — Disse Ethan, confuso. —A maioria dos que vi certamente pareciam animais.

—E quem os estava recrutando? — Eu perguntei.

—Quem mais? Os tribunais. — Disse Cole, e inalou uma panqueca inteira de uma só vez, sufocando sua arrogância. Quando ele pôde respirar novamente, ele continuou. —A inteligência falsa é complicada. Ela varia em todo o lugar e realmente não se encaixa nos padrões humanos. Os duendes podem parecer grandes insetos, mas são espertos o suficiente para não quererem entrar em guerra.

—E eles vieram dessas Outras Terras para fugir? — Eu perguntei.

—Alguns deles. — Confirmou Cole. —Para explicar o mais brevemente possível, a terra é... uh, a terra é uma bolha de sabão. E tem outras bolhas de sabão menores grudadas nela. Entendeu?

Eu balancei minha cabeça, mas Cole continuou.

—As bolhas menores são as Outras Terras. Pequenas realidades fraturadas. Ou talvez apenas realidades em que a física e a energia funcionam de maneira muito, muito diferente. A Terra é a maior, pelo menos pelas medições tradicionais, já que temos um universo e outras galáxias e merda, e a maioria das Outras Terras que foram vistas e relatadas por humanos são um único local que se estende infinitamente, como a Cidade Sem Fim ou a floresta de Tir Na Nog.

—Algumas das coisas que li levantam a hipótese de que as Outras Terras realmente vieram da Terra, manifestadas pelo inconsciente coletivo ou algo assim. A maioria dos livros coloca o número de Outras Terras em torno de nove. Mas isso pode ser apenas o que vimos. Os Seelie e Unseelie correm entre todas as Outras Terras, travando suas guerras e forçando qualquer Fae Selvagem que encontrarem a se juntar a eles. A Terra é a única terra que já teve sucesso em mantê-los fora, e ainda sentimos o feedback mágico de suas lutas influenciando o tempo e a probabilidade. E sempre que a luta deles se muda para outro país, temos uma onda de refugiados saindo antes da chegada do tribunal.

Ele bebeu meio copo de suco de laranja.

—Mas, voltando ao meu ponto original sobre o cara dos fae... não existem muitos fae Selvagens que podem manter a forma humana por longos períodos. Selkies, hulda, talvez. E mesmo eles não costumam gostar. A corte dos fae sempre parece principalmente humana... para humanos de qualquer maneira. Então esse cara provavelmente é de um dos tribunais. Isso é tudo.

—Se é tão fácil para eles se encaixarem com os humanos, por que eles não deixam, uh, como você chama isso? — Ethan perguntou.

—As Outras Terras. — Respondeu Cole com um suspiro, esfregando a testa. —E principalmente porque não deixamos. Tropas de faes de qualquer tribunal podem causar uma enorme quantidade de caos e danos quando correm por aqui. Quase sempre vêm em grupos e têm uma necessidade quase biológica de causar problemas. Então, em quase toda a história mágica, aperfeiçoamos maneiras de mantê-los fora dessa realidade o máximo que pudermos. Alguns séculos atrás, alguns grupos mágicos conseguiram se reunir por tempo suficiente para elaborar um contrato que limita severamente sua capacidade de interferirem, exceto o Meio Inverno, Plenos Verões e Equinócios Honestamente, há uma tonelada de coisas estranhas envolvidas. Posso encontrar alguns livros sobre isso, mas não quero ficar aqui conversando sobre isso o dia todo.

—Justo. — Eu disse. —Eu ainda estou me acostumando com tudo isso. Eu sabia muito bem que a necromancia era uma coisa, e então eu descobri sobre magia geral e a comunidade mágica, e eu estava apenas começando a descobrir isso, e agora há outras dimensões? De que faes vêm? E causam as estações do ano?

—Elas... elas não causam as estações do ano. — Gaguejou Cole rapidamente. —É... é apenas... é uma coisa cíclica e simbólica -

—Tanto faz. — Eu disse. Eu não queria ser desviada novamente. —Gostaria apenas de um dia ou dois sem nenhuma ameaça existencial para processar tudo isso, sabia?

—Sim, mesmo. — Ethan disse com um aceno de cabeça cansado. —Mas precisamos ir. Como eu disse, o cara mantém horas estranhas. Se queremos conversar com ele hoje, precisamos chegar em breve, ou teremos que esperar até tarde hoje à noite.

Terminamos o café da manhã rapidamente e saímos às pressas. A oferta de Ethan para Cole ainda estava pendente, sem solução e sem resposta entre nós, mas eu tinha medo de trazê-la à tona e angustiá-lo. Ethan e eu enchemos o silêncio do passeio de carro com conversas sem sentido sobre os tipos de Fae Selvagem que ele havia encontrado com os curandeiros.

—Então, domovoi e trasgu são basicamente os mesmos. — Eu resumi, tentando manter isso claro. —Deixe comida para eles e eles limparão a casa para você. Hobs limpam a casa para você, mas se você lhes der uma recompensa, eles ficarão chateados e vão embora. Brownies esperam recompensas, mas se você tentar vê-los trabalhar, eles ficam chateados e saem.

—Sim, você conseguiu. — Disse Ethan. —Tentar lembrar de todas as regras é a pior, certo? Especialmente quando você não sabe de onde elas vieram. Por aqui, muitas famílias traziam o espírito da casa quando imigravam para a América, e a casa mudou de mãos dezenas de vezes desde então, então descobrir que tipo de espírito é esse pode ser uma dor absoluta.

—Qual foi a pior que você já teve? — Eu perguntei, curiosa, enquanto Ethan dirigia em direção ao exterior da cidade.

—Oh cara. — Ele riu. —Uma das minhas primeiras viagens com os curandeiros foi investigar um 'poltergeist' assombrando uma casa grande e velha em Wethersfield. Só causando pequenas travessuras, desmanchando camas, rindo em salas vazias, você sabe. Nós descobrimos bem rápido que era um espírito da casa, e pensávamos que era uma variedade de Haltija finlandês, que acabou sendo um Zashiki-Warashi japonês. Eles não limpam nada, geralmente causam travessuras mesmo quando estão felizes, mas têm boa sorte... E quando eles saem de casa, é um presságio de coisas ruins loucas a caminho. Nós quase o expulsamos antes de descobrirmos o que era, o que poderia ter sido desastroso para a família.

—Oh merda. — Eu disse. —Mas você conseguiu fazer ficar?

—Sim, e ensinou a família como lidar com isso. — Disse Ethan. —O que é basicamente para ignorá-lo. Uma vez que eles sabiam que não seria toda a atividade paranormal neles, eles não se importavam tanto com as estranhezas ocasionais. Isso dá ao personagem da casa. Estamos quase lá, a propósito.

Nós tínhamos entrado em uma área residencial agradável, a rua serpenteava passando por grandes casas antigas com jardins espaçosos e um jardim impecável. Muitas das casas tinham placas históricas declarando o ano em que foram construídas, muitas das quais começaram com 17 e 18. Definitivamente, acima de todas as nossas notas salariais. Ethan olhou de soslaio para todos os endereços, contando até encontrar o certo.

O jipe desceu o longo caminho arborizado de uma grande casa do Segundo Império, afastada da estrada e protegida por vários enormes carvalhos velhos.

Tinha dois andares mais um sótão sob um telhado escuro de mansarda. Era todo em tijolo e guarnição branca, com torres ladeando a grande porta da frente e janelas altas e arqueadas. O tijolo se arrastava de hera, e o jardim ficou um pouco selvagem, embora ainda fosse mantido, a grama mantida em um comprimento manejável. A videira agridoce e a azeitona russa que incomodavam os vizinhos não tinham presença aqui. Havia um grande bordo japonês, provavelmente mais velho do que eu, e era vermelho mesmo nessa época do ano. Os canteiros de flores mais próximos da casa estavam cheios de batata-doce ornamental roxa escura, coleus cor de vinho e petúnias de veludo preto. O manjericão carmesim e o chocolate com menta se esconderam à sombra das outras plantas, enchendo o ar com seu perfume. Flores da lua, flox noturno e jasmim florescendo à noite adicionavam pequenos salpicos de cores mais brilhantes, embora todos estivessem fechados a essa hora do dia.

Estacionamos o jipe e caminhamos pelo estranho jardim para bater nas pesadas portas de madeira maciça.

—Agora lembrem-se. — Ethan disse, enquanto esperávamos o cara responder. —Faes são complicadas, então tentem ser o mais educados possível e, se ele tentar se irritar com você, não morda a isca. Ele conhece a mim e aos curandeiros, então tentarei fazer o máximo possível da conversa.

Cole e eu assentimos e imaginamos o que esperar. Imaginei um velhinho, como um gnomo, todo travesso e engraçado, embora as descrições de Cole sobre o tribunal me fizessem imaginar elfos de fantasia. Então, novamente, ele estava vivendo com seres humanos todo esse tempo. Ele provavelmente pareceria um cara, certo?

Ouvimos o clique da porta sendo aberta e eu me preparei para descobrir. A porta se abriu, revelando um jovem alto e esbelto, com longos cabelos loiros que reconheci instantaneamente.

—Você? — Eu disse, confusão me deixando momentaneamente pasma. Um segundo passou e eu respirei profundamente quando comecei a juntar as peças. —Você.

Ele olhou para mim, claramente tão surpreso em me ver quanto eu em vê-lo. Seus olhos dispararam para Cole e Ethan. Ele bateu a porta entre nós.

 

Capitulo Treze


—Ei! — Eu gritei, minha suspeita subindo instantaneamente para uma certeza irritada. Eu bati na porta. —Você volte aqui agora!

—Você o conhece? — Ethan perguntou, parecendo confuso.

—Sim, eu o conheço! — Eu disse, entre dentes. —E se ele fez o que eu acho que ele fez, eu vou matá-lo!

—Eu não sugeriria isso. — Disse Cole uniformemente.

—O que ele fez? — Ethan perguntou, perplexo.

—Ele é Greenwood! Ele era advogado imobiliário do meu tio. — Lutei para explicar, ainda batendo na porta. —Ou eu pensei que ele era, de qualquer maneira! Foi ele quem me mostrou a Vela! E se ele é umo fae, se ele está trabalhando com os curandeiros e estava lá especificamente para a Vela em primeiro lugar, então ele sabia exatamente o que estava fazendo quando ele me convenceu a tocá-la!

—Oh. — Disse Ethan. —Bem, isso não é bom.

—Ele está tentando escapar pelos fundos. — Disse Cole, coçando o rosto e se inclinando sobre o parapeito da varanda.

—Pegue ele! — Eu gritei, pulando o corrimão e correndo pela casa. Ethan passou correndo por mim um segundo depois, tirando a roupa enquanto ele se mexia. Eu peguei um vislumbre da expressão assustada de Greenwood através dos arbustos antes de Ethan, de quatro e do tamanho de um pequeno urso, atacá-lo.

Corri para alcançá-lo e encontrei Ethan deitado em cima de Greenwood, abanando o rabo quando ele me deu um sorriso orgulhoso de cachorrinho. Greenwood se contorceu e lutou.

—Me solte imediatamente! — Ele demandou. —Você não pode imaginar a ira que eu posso deixar cair sobre você, se eu escolher!

—Eu deixarei você ir assim que você me disser por que diabos você colocou essa Vela em minhas mãos! — Eu disse, de pé sobre ele. —Você tem alguma ideia do que você me fez passar? Eu quase morri três vezes na semana passada!

Cole vagava em um passeio fácil. —É melhor você apenas derramar tudo, cara. — Disse ele. —Você realmente não quer ficar preso lá fora ao meio-dia, quer? Além disso, a julgar pelo fato de ter tentado fugir a pé, você teve a maioria dos seus poderes selados ou está tentando manter um discreto, então nos ferir provavelmente não seria do seu interesse. De qualquer forma, é mais conveniente cooperar.

—Ugh. — Greenwood emitiu um som meio enojado, meio resignado e empurrou o corpo peludo de Ethan novamente. —Você pelo menos me faria o favor de remover seu animal de estimação antes de eu responder?

—Você promete não correr? — Eu perguntei.

—Você tem a minha palavra. — Disse Greenwood, com um suspiro cansado.

Ethan se levantou e se afastou de Greenwood. As calças marrons e a camisa branca, de colarinho branco, estavam bem manchadas de grama e cobertas de pelos de lobo. Ele fez uma careta de descontentamento e acenou com a mão para si mesmo. Em um instante, a bagunça desapareceu. Ele pegou as folhas dos cabelos da maneira mais convencional, enquanto passava por nós, murmurando. Eu segui logo atrás dele. Ethan permaneceu nos arbustos para voltar e recolher suas roupas.

Ele era tão lindo quanto eu me lembrava dele, embora minha atração por ele estivesse levemente azeda pela percepção de que tudo isso era culpa dele. Ele não era robusto e musculoso como Ethan ou resistente e musculoso como Cole. Ele tinha uma graça refinada que me lembrava os interesses amorosos dos romances da regência, toda a beleza masculina polida. Ele tinha feições aristocráticas e angulares e os olhos mais verdes que eu já vi. Seus cabelos eram da cor do mel à luz do sol, amarrados em um rabo de cavalo baixo com uma fita verde escura, caindo sobre o ombro em ondas sutis. Bonito como ele era inegavelmente, eu estava fortemente inclinada a chutar sua bunda.

Ele nos levou de volta à casa, através de um vestíbulo de teto alto e finamente decorado, e a uma sala de jantar formal, a mesa posta com louça vazia.

—Fale já. —, Eu disse, impaciente. —O que você realmente estava fazendo naquela sala funerária?

—Eu estava prestes a jantar. — Ele disse casualmente, gesticulando para a mesa. —Você pode se juntar a mim.

—Não é um pouco cedo? — Eu perguntei, quando ele se sentou à cabeceira da mesa, estalando o guardanapo de pano com um gesto praticado enquanto o colocava no colo.

—Prefiro dormir durante o meio dia. — Disse ele. —O horário de verão discorda de mim.

—Mais uma razão para resolvermos isso rapidamente, então. — Eu disse, puxando a cadeira mais próxima de mim e sentando-me. Ethan e Cole sentaram-se ao meu lado.

Os pratos da mesa ainda estavam vazios, embora Greenwood parecesse pronto para comer. Eu esperei, meio esperando que os servos aparecessem com comida. Em vez disso, Greenwood bateu duas vezes na mesa. O som era estranhamente alto e ecoou mais do que parecia que a sala deveria permitir. Um segundo depois, os pratos sobre a mesa estavam quase cheios da comida mais deliciosa que eu já vi, desdobrando-se como flores florescendo ou fluindo como água de uma torneira. Momentos depois havia um pequeno banquete à nossa frente.

—Uma mesa de desejos. — Disse Cole, erguendo uma sobrancelha. —Eu nunca vi uma pessoalmente.

—Ainda existem apenas três neste lugar. — Respondeu Greenwood, servindo-se dos pratos mais próximos, todos com comida que eu não reconhecia, mas que parecia indescritivelmente boa. —Eu possuo duas delas. O navio que supostamente levava o terceiro foi perdido no mar nos anos 1300 e ainda precisa ressurgir.

—Eu acho que você pretende pegá-la no minuto que aparecer? — Cole disse, cutucando curiosamente um prato perto dele que parecia macarrão com queijo e lagosta.

—Claro. — Respondeu Greenwood. —Eu coleciono essas coisas. E, por favor, sinta-se livre para comer qualquer coisa, exceto os pratos à minha frente. O que estiver mais próximo de vocês devem ser os seus favoritos ou o melhor palpite da mesa. Não há perigo. A mesa não transmite encantamento. Como a maioria dos pratos de faes faz. É muito conveniente para os hóspedes.

Cole hesitantemente tomou uma colher grande de macarrão com queijo de qualquer maneira. Ethan já estava comendo um pedaço enorme de frango frito sem arrependimentos, mesmo que a comida estivesse encantada. Testei uma tigela perto de mim, que cheirava a bisque de tomate e quase me esqueci por que estava aqui na primeira colherada. Foi a coisa mais deliciosa que eu já provei. Eu sacudi a tentação de provar tudo na mesa para iniciar meu interrogatório.

—É por isso que você estava na sala de funeral? — Eu perguntei. —Você queria recolher a Vela.

—Não é educado discutir negócios à mesa. — Disse Greenwood, sem tirar os olhos da comida.

—Eu não ligo...— Cole agarrou meu ombro e balançou a cabeça. Apertei minha mandíbula com raiva, cedendo com relutância e, depois de um momento de mau humor, servi-me de sopa.

—Então. — Disse Cole, casualmente com batatas e alecrim, —Há quanto tempo você mora na terra?

—Mais tempo do que você viveu. — Respondeu Greenwood, evasivo. —Mas não tanto tempo, comparativamente. Há quanto tempo você está sem-teto?

Eu esperava que Cole se irritasse com raiva, mas ele mal reagiu.

—Desde que eu estudei necromancia. — Respondeu Cole. —Você disse que tem convidados humanos com frequência? Você socializa bastante com os humanos?

O garfo de Greenwood pairava sobre sua comida, mas ele retomou suavemente sem mais emoções.

—Eu disse que tenho convidados. — Esclareceu. —Humano e de outra forma, exatamente com a frequência que sinto vontade de ter companhia. Necromancia é uma busca incomum. Como sua família se sente sobre isso?

—Oh, da mesma maneira que eles se sentem sobre qualquer mágica. — Disse Cole novamente, sem reação emocional, apesar da farpa. Eu não tinha visto ninguém trocar respostas e insultos velados como este desde a última reunião de família. Ou não tão velado, no caso de Greenwood. —Como o tribunal se sente sobre seus... Hábitos?

Um músculo na mandíbula de Greenwood se contraiu, e ele segurou o garfo com força, mas sua expressão e tom permaneceram neutros.

—Eu nunca imaginaria adivinhar os sentimentos do tribunal. — Disse ele. —Eu opero com a permissão da minha rainha, e isso é tudo o que é necessário. Entendo que sua família está morta, então? Que trágico.

—Oh, não, eles estão vivos. — Disse Cole com um pequeno sorriso frio. Greenwood agarrou seu garfo com tanta força que pensei ouvi-lo estalar. —Você disse que sua rainha mandou você aqui? Agora, qual rainha seria exatamente?

Greenwood bateu com o garfo na mesa e se levantou.

—Perdoe-me. — Disse ele. —De repente, perdi o apetite.

Cole bufou e Greenwood lançou um olhar perigoso para ele.

—Ótimo. — Eu disse imediatamente. Não entendi exatamente o que Cole havia feito, mas não desperdiçaria a oportunidade. —Então vamos voltar aos negócios. Você me deve uma resposta.

—'Você me deve' é uma frase perigosa para brincar com os fae. — Disse Greenwood, batendo duas vezes na mesa. —Levamos a dívida muito a sério.

De repente, a comida na mesa desapareceu completamente, deixando os pratos brilhando como se nunca tivessem sido usados. Ethan bateu os dentes em um pedaço de frango que não estava mais lá e franziu o cenho deplorável.

—Você conscientemente me colocou em perigo quando eu nunca fiz nada com você. — Eu disse, levantando-me também. —Eu diria que isso significa que você me deve.

—Eu estava simplesmente devolvendo uma herança familiar valiosa ao seu legítimo proprietário. — Respondeu Greenwood. —Um ato de caridade pelo qual fui recompensado com violência e grosseria. Se alguma coisa, você me deve.

—Você sabia que a Vela era perigosa! — Eu o acusei.

—Você não pode provar isso. — Respondeu ele, sublime.

—Uh, na verdade — Ethan interrompeu, levantando a mão. —Eu ouvi sua conversa sobre a Vela com os curandeiros. Daphne deixou bem claro o quão perigosa era a Vela e o que poderia acontecer se acabasse nas mãos de um necromante. Quero dizer, mesmo que você não deva a Vexa, você provavelmente deve aos curandeiros a promessa de ajudá-los e depois distribuir a Vela em vez de recuperá-la. E, como eu represento os curandeiros, acho que isso significa que você me deve?

Um rubor subiu pela nuca de Greenwood, mas ele respirou fundo e o dispensou.

—Tudo bem. — Ele disse. —O que exatamente você quer?

—Eu... — Comecei a exigir respostas, depois me lembrei do que estávamos realmente fazendo aqui. Ele pode apenas nos deixar ter um favor. Eu não queria desperdiçar isso explicando algo que já estava feito. —Queremos que você ajude Ethan. Ele tem uma maldição. Não sabemos quem a lançou ou quais são os parâmetros para quebrá-la, e seu progresso foi acelerado. Precisamos quebrá-la rapidamente.

Greenwood olhou para Ethan com expectativa.

—Sim, é isso que eu quero. — Ethan disse depois de um momento, quando percebeu que o homem Fae esperava por sua confirmação. —Por favor. Tudo o que você puder fazer será apreciado.

Greenwood suspirou e esfregou os olhos.

—Tudo bem. — Ele disse. —Se é realmente isso que você quer. Parece um pouco inútil para mim, mas é sua perda.

Ele nos levou para fora da sala de jantar e para dentro da casa. Passamos por longos e opulentos corredores, salas estranhas, grandes salões de baile, subindo e descendo escadas sem fim. A casa era muito maior do que aparecia do lado de fora. Também ficou cada vez mais claro que a vista pelas janelas pelas quais passávamos não era da vizinhança que deveriam ter sido. Vi ruas movimentadas em cidades estrangeiras, montanhas desconhecidas, praias tropicais. E uma ou duas vezes vi paisagens que eu sabia que não existiam em nenhum lugar da terra.

Enquanto caminhávamos, entrei ao lado de Cole. —O que foi aquilo na mesa? — Eu perguntei a ele em um sussurro curioso.

—Os fae vivem de acordo com regras como se fossem leis da natureza, certo? — Ele disse. —Incluindo rituais de etiqueta. Se você insistisse em conversar sobre negócios à mesa, ele teria justificativa para expulsá-la. Caso contrário, ele continuaria comendo até desistirmos e sairmos ou desmaiarmos ou o que for.

—Então você teve que fazê-lo querer sair da mesa? — Eu assumi, e Cole assentiu.

—Pergunta por pergunta é uma das regras mais comuns dos fae. — Explicou. —Eu continuava fazendo perguntas que ele não queria responder. Felizmente, descobri a melhor maneira de irritar as pessoas é algo em que eu sou naturalmente talentoso.

—Como você sabia que funcionaria? — Eu perguntei, sentindo uma estranha combinação de medo e alívio retroativos.

Cole não tinha uma resposta.

Por fim, Greenwood parou diante de um par de enormes portas de madeira esculpidas com a imagem de uma árvore gigante. Seus galhos cresciam além do topo da porta, brotando folhas verdes vivas. Uma águia esculpida estava entre os galhos e uma serpente enrolava nas raízes. Um esquilo de olhos brilhantes empoleirava-se logo acima do buraco da fechadura. Não havia maçanetas, mas quando Greenwood se curvou e sussurrou algo no buraco, a porta se abriu silenciosamente por conta própria.

—Por aqui. — Disse ele, entrando pelas portas. —Se vocês valorizam a sanidade e várias partes do corpo, não toquem em nada.

Cole, Ethan e eu trocamos um olhar, todos nós sentimos que essa era provavelmente a nossa última chance de voltar. Não sabíamos remotamente no que estávamos caminhando, mas eu sabia que era a nossa melhor chance de salvar Ethan. Respirei fundo e segui Greenwood pela porta.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Quatorze


Entramos em uma enorme biblioteca com prateleiras alinhadas nas paredes que subiam pelo menos dois andares. O teto de vidro derramava luz dourada no final da tarde através da sala, embora, quando chegássemos, já estivesse bem antes do meio dia. A sala estendia pelo menos o comprimento de um campo de futebol em qualquer direção, e as portas em arco abertas em cada extremidade implicavam que havia mais além delas. A sala, cheia de parede a parede, tinha coisas em estantes de vidro, mesas de madeira escura e tanques enormes - um milhão de objetos diferentes, fantásticos e mundanos, incrustados de jóias e envoltos em trapos, enormes e pequenos, impossíveis e absolutamente insignificantes. Fiquei completamente impressionada, atordoada com um silêncio reverente e admirado.

—Por aqui. — Disse Greenwood, impaciente, levando-nos através das filas de caixas, passando por um astrolábio de ouro girando no ar a um pé acima do suporte em que estava colocado. O estojo ao lado continha um pesado livro encadernado em couro, do qual baratas e moscas se arrastavam constantemente, apenas para se dissolverem em pó a alguns centímetros de distância. No passado, havia um guarda-chuva vermelho que, apesar de estar em um estojo reforçado com várias fechaduras pesadas, parecia ser completamente normal. Eu tive que lutar contra o desejo de parar a cada poucos metros para encarar cada nova maravilha intrigante que passamos. Muitos deles pareceriam estranhos até para a visão normal. Mas, para meus sentidos mágicos, eles absolutamente se arrastavam com magia. Alguns foram infundidos, a magia fluindo através deles como sangue pelas veias. Outros pareciam completamente mágicos, seus componentes comuns eram uma fachada fina.

Debaixo da minha camisa, eu usava um pingente de madeira, um amuleto que Ethan me deu que me permitiq entendê-lo enquanto ele estava em sua forma de lobo. Até esse momento, tinha sido a peça de magia mais incrível que eu já vi. Fiquei perplexa e fascinada pela habilidade e delicadeza envolvidas em sua criação. Aquele feitiço, que eu havia colocado à noite olhando com tanta admiração, parecia positivamente desajeitado nesse tesouro de encantamentos, como um cisne de origami dobrado por um amador habilidoso ao lado de uma obra-prima.

Certamente, alguns dos itens aqui eram menos delicados em sua elaboração. Havia uma pilha de moedas de prata que não mostrava nenhum traço fractal cuidadosamente dobrada em encanto. Mas mesmo estes queimavam com um tipo de força e emoção crua que me fazia tremer se olhasse por muito tempo. Eles foram carimbados com uma única e poderosa letra, pesada com significado cósmico. Meus sentimentos eram os mais próximos do êxtase religioso que eu já havia experimentado.

Corrigida pelo oceano de dor preso dentro das moedas, pulei quando Greenwood me deu um tapinha no ombro.

—É melhor não olhar por muito tempo. — Ele aconselhou, colocando um braço em volta de mim para me orientar. —Pode ser perigoso.

—O que é tudo isso? — Eu disse, extasiada demais para lembrar que estava com raiva dele. —É incrível... lindo. Olhe para os fractais geométricos daquele! Como eles fizeram isso? E aquele, Deus, o feitiço quase parece vivo, como flores crescendo! Onde você aprende isso? Quem fez isso? Como?

Greenwood levantou uma sobrancelha enquanto eu balbuciei, mas um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca fina.

—Curioso. — Ele disse. —A maioria das pessoas que vê minha coleção quer saber o que faz, não como é feita.

—Bem, eu quero saber isso também. — Eu disse, um pouco sobrecarregada. —Mas você também pode perguntar para que serve uma mesa barroca antiga. É uma obra de arte. O valor está no artesanato, não na utilidade.

—Estou inclinado a concordar. — Disse Greenwood. —Aqui, você notou este vaso? Viu como o feitiço é trabalhado para seguir o padrão na porcelana?

—Isso é incrível! — Eu jorrei, me inclinando para ver. —Olha, é mesmo nas folhas minúsculas!

Cole pigarreou, chamando minha atenção. Cole franziu a testa e Ethan, envergonhado, alternando entre olhar entre o teto e o chão.

O braço de Greenwood ainda estava ao meu redor e encolheu os ombros rapidamente, meu rosto quente. Greenwood recuou, mãos no ar e, com um gesto elegante, nos levou novamente.

Ethan perguntou baixinho, a preocupação apertando seus olhos. —Ele não está trabalhando em algum tipo de encantamento em você ou o que seja, está? — Ethan perguntou em voz baixa, preocupação apertando seus músculos faciais.

—Não. — Eu disse rapidamente, depois pensei duas vezes e me examinei. —Não, acho que não. Isso é uma coisa muito legal! Eu nunca estive com esse tipo de magia antes. É emocionante!

—Tudo bem. — Ethan disse, sorrindo, ainda parecendo preocupado. —Seja cuidadosa.

—Mantenha o foco. — Sugeriu Cole. —Ainda não podemos confiar nesse cara. Se ele tiver a oportunidade, poderia fazer muito pior do que simplesmente nos expulsar.

Eu assenti, lembrando a mim mesma por que estávamos aqui. A vida de Ethan dependia disso. Não era hora de se distrair com coisas legais e brilhantes.

Greenwood nos levou a um dispositivo estranho, com uma variedade de espelhos e lentes de aumento em uma complicada armadura dourada. Era mais alto que Greenwood e atualmente estava sobre uma mesa comprida sobre a qual repousavam vários pequenos objetos encantados.

—Vidro do artífice. — Explicou, enquanto eu me maravilhava com o feitiço incrivelmente sutil nas molduras douradas em torno de cada lente. —Muito raro e muito útil para examinar mágica. Eu o uso para estudar e manter os encantamentos da minha coleção.

—Essa é a moeda da sorte que encontramos no outro dia? — Ethan perguntou, apontando para uma moeda mais brilhante que o normal, deitada em um banco.

—É. — Confirmou Greenwood, atendendo. —O efeito de distorção da probabilidade parece ser um pouco mais forte que o normal. Eu estava tentando discernir a causa. Parece haver um parágrafo no script mágico que fecha a brecha usual de perda/ganho. Até certo ponto.

Ele me ofereceu, e eu o peguei sem pensar, embora Cole tenha feito um barulho de aviso em sua garganta.

—É inofensiva. — Assegurou-me Greenwood. —Moedas da sorte são muito pequenas mágicas. Existem milhares delas em circulação, pelo menos. A maioria das pessoas nem percebe o que tem. Mas elas podem tornar a vida um pouco mais fácil.

—Obrigada. — Eu disse, colocando no bolso do meu vestido. —Eu agradeço.

—Não, obrigado. — Disse Greenwood com um sorriso que não tocou muito em seus olhos. Eu senti que tinha cometido um erro, mesmo que Cole parecesse impaciente, mas nenhuma desgraça caiu sobre nós. Em vez disso, Greenwood acenou para Ethan em direção ao banco, afastando os outros artefatos. —Por favor, sentem-se.

Com um olhar cauteloso em direção à saída, Ethan se sentou na beira do banco e Greenwood ajustou o vidro do artífice, arrastando lentes e espelhos para a posição entre ele e Ethan e ajustando uma série de botões complicados ao lado de cada lente com uma graciosa confiança de um músico tocando um instrumento.

Eu assisti por cima do ombro dele, enquanto imagens estranhas entraram e saíram de foco enquanto Greenwood fazia ajustes - redes de energia, espirais de magia ambiental, vazios misteriosos e, uma vez, uma imagem de um longo e escuro corredor cheio de Velas. Algumas lentes eram de vidro transparente, mas Greenwood olhou através delas e ajustou seu foco, da mesma forma, como se ele visse algo lá que eu não podia.

Finalmente, uma das lentes refletia uma imagem do núcleo da maldição de Ethan. Eu já o havia visualizado enquanto tentava suprimi-lo. Era mais ou menos esférico, como um novelo de fios enrolado, firmemente tecido e emaranhado. Ele apodrecia, queimava e vazava, vermelho lívido e amarelo doentio. Era ao mesmo tempo imundo e patético, inspirando pena e nojo... e náusea.

—Essa é desagradável. — Disse Greenwood à toa. —Maldições de monstros são raras hoje em dia, e essa é forte. Eu garantiria quem fez isso há algum tempo.

—Existe algo que você possa fazer para quebrá-la? — Eu perguntei. —Ou nos dizer quem pode?

—Deixe-me ver. — Greenwood cantarolou, discando as lentes para mais perto. —Eu posso ver por que você teve dificuldade. O lançador definitivamente se esforçou para esconder sua assinatura. Eu quase diria que não havia, mas isso é impossível.

—Por quê? — Ethan perguntou, mudando para ver através das lentes.

—Fique quieto. — Disse Greenwood bruscamente, inclinando a lente e ajustando algo novamente. —É impossível, porque isso significaria que esta é uma maldição autoinfligida-

—Cole mencionou isso antes. — Eu disse. —Eles são realmente fracos, não são?

—Exatamente. — Confirmou Greenwood. —Mesmo as maldições auto-infligidas mais fortes nunca fazem nada que não possa ser descartada como coincidência ou acidente. Elas nunca poderiam se manifestar fisicamente dessa maneira. Não, esse é definitivamente o trabalho de um indivíduo muito qualificado. Alguém com muito conhecimento prático sobre maldições. Francamente, quase parece que-

Greenwood congelou, encarando a maldição. Um momento depois, ele começou a ajustar rapidamente os mostradores, aproximando ainda mais.

—Não. — Ele murmurou. —Não, não pode ser.

—Não pode ser o que? — Ethan perguntou, ficando um pouco pálido. —O que há de errado?

—Ele não ousaria. — Zombou Greenwood, ainda claramente falando consigo mesmo. Ele rangeu os dentes enquanto olhava para a lente a menos de uma polegada de distância, examinando as minúsculas linhas de texto mágico escritas nos fios atados da maldição. —Aquele pequeno duende, ele não ousaria!

Ele se lançou em uma diatribe em um idioma que parecia água se movendo sob gelo ou vento através de galhos nus. A julgar pela velocidade e vitríolo por trás de suas palavras, ele não gostou do que viu através das lentes.

Ele empurrou o copo do artífice abruptamente, rosnando para si mesmo na mesma língua e saiu correndo.

—Ei, o que você achou? — Eu liguei para ele. —O que está acontecendo?

Ele não respondeu, correndo em direção a um suporte de guarda-chuva cheio de bengalas, cajado e paus. Ele os examinou, deixando alguns de lado com um gesto impaciente. Alguns atingiram o chão e soltaram faíscas ou ficaram lá, cantarolando intensamente enquanto vibravam através do azulejo. Finalmente, ele emitiu um ruído vitorioso e sem palavras, enquanto puxava uma velha bengala de madeira com um buraco na cabeça densamente atado.

—Greenwood! — Eu gritei, tentando chamar sua atenção. —O que está acontecendo?

Em vez de responder, ele bateu a bengala no chão. Com um eco que sacudiu as vidraças do telhado, uma porta se abriu no ar diante dele. Nada como o buraco irregular que o feitiço de teletransporte de Uther havia feito, suas nítidas bordas redondas enroladas e floridas com floreios simétricos de poder, ao mesmo tempo geométricos e orgânicos, como uma janela art nouveau para outro mundo.

Sem outra palavra, ele avançou para dentro dela. O choque diminuiu minhas reações, antes que eu corresse para frente. Ethan e Cole gritaram meu nome, mas então eu já tinha colidido com a superfície do portal que se fechava rapidamente, que rompeu minha pele como água fria enquanto o seguia para o desconhecido.

 

 

 

 

 


Capitulo Quinze


O portal se fechou atrás de mim com pressa apenas um segundo depois que eu o atravessei, a sensação de água fria ainda persistindo.

Fiquei imediatamente impressionada com uma sensação de vertigem e confusão severas. Eu não estava em lugar nenhum na terra.

Um espaço incomum de lavanda se estendia ao meu redor, o ar e a terra da mesma tonalidade azul-púrpura suave, se o ar fosse de fato ar - sólido e presente, como uma névoa espessa, mas com uma textura como espuma ou chantilly. Essa textura se chocou contra a minha pele e eu a vi muito mais longe do que deveria. Não consegui encontrar o horizonte porque a terra não era plana. Ela subia e descia em ondulações e cavidades como um cobertor de cetim, captando luz em suas curvas em iridescência holofílica.

Não consegui encontrar um ponto em que as colinas distantes obscurecessem minha visão. Que luz produzia sombras profundas e cintilantes e arco-íris efêmeros na superfície de seda do solo? Onde estava o sol? Lutei para racionalizar o que vi, imaginando a terra curvando-se ao meu redor como uma esfera. E, no entanto, eu também tinha uma impressão distinta do céu, mesmo que apenas por causa das cidades e castelos brilhando como nácar e mancha de óleo, que pareciam estar mais enraizados nele do que no chão em que eu supostamente estava.

—Venha comigo! — Uma voz gritou, parecendo impossivelmente distante e depois como um sussurro no meu ouvido. —Se você não quer se perder, não deve demorar.

Eu me forcei a suportar a terrível visão sem fim à minha frente, para onde Greenwood estava, batendo com o pé impaciente. Ele olhou perto o suficiente para tocar, mas quando eu o alcancei, a distância entre nós poderia ter sido de quilômetros. Náusea subiu em mim, que eu lutei para suprimir. Eu fiz um som desumano de um animal em terror absoluto, meu cérebro lutando para compreender.

—Você está bem. — Gritou Greenwood. —Você não está morrendo, corre um risco bastante mínimo e, se você se apressar, sairemos daqui a pouco.

Agora isso era motivação. Hesitei de qualquer maneira, sem saber se caminhar era algo que eu realmente poderia fazer neste pesadelo. Meu corpo não foi construído para quaisquer leis que este lugar obedecesse. Meus músculos ainda poderiam se contrair, meu sangue ainda bombearia? Obviamente, meus neurônios ainda disparavam, mas Deus, por quanto tempo? Eu estava no fundo de uma piscina, prendendo a respiração, momentos longe de ficar sem ar?

Uma mão agarrou meu braço, dedos enrolando sem parar em torno de uma coluna da minha própria pele e músculo muito longe para estar sob meu próprio controle. A mão, que deveria ter sido Greenwood, embora ele ainda parecesse impossivelmente distante, me puxou para frente e, tropeçando, aprendi a mover minhas pernas novamente.

—Pronto, viu? — Greenwood disse com um bufo. —Não é tão difícil, é? Agora, apresse-se!

Ele me soltou, virou-se e, em um instante, tornando-se um local pouco visível no horizonte. Corri para acompanhá-lo, meu coração se apavorou com o pensamento de ser deixada para trás. Eu dei três ou quatro passos e bati diretamente nas costas dele.

Com um suspiro sofrido, Greenwood me ajudou a levantar. Eu caí? Quando eu caí? No que eu pousei? Eu cheguei a terra? Ele colocou um braço em volta de mim para me guiar para a frente, o que eu apreciei profundamente. Eu ainda não tinha cem por cento de certeza de como minhas pernas funcionavam, e eu estava assustada e sem sentido e queria segurar alguém. Eu desejei o conforto da proximidade de Ethan. Ele teria odiado isso, e eu não acho que Greenwood teria parado para ajudá-lo. Eu não tinha certeza do por que ele parou para me ajudar.

—Estou ajudando você pela mesma razão que lhe dei a Vela. — Disse Greenwood, e percebi com um leve choque que estava falando quase sem parar desde que entrei no portal em um fluxo aterrorizado de consciência. Fechei a boca e me concentrei na sensação de tê-la fechada. Quando dominei o não falar, tentei falar novamente.

—Você ainda não me disse por que me deu a Vela. — Eu disse. Minha voz soou estranha, como ouvir uma gravação minha tocada através de um gramofone em outra sala. E falar deliberadamente enquanto caminhava era difícil.

—Eu queria ver o que aconteceria. — Disse Greenwood casualmente. —Não há um descendente de Aethon tão poderoso quanto você em várias centenas de anos. Eu queria ver o que você faria.

—É isso aí? — Eu perguntei, um pouco atordoada.

—É isso aí. — Ele confirmou. —Joguei um curinga em um jogo que não estava jogando, e se quero ver como o jogo termina, não posso permitir que meu curinga seja perdido nas Terras Distantes.

—É assim que este lugar é? — Eu perguntei, arriscando um olhar ao meu redor novamente, do qual me arrependi um momento depois. —As Outras Terras?

—Uma delas. — Disse Greenwood. Seus passos eram impossivelmente longos, estendendo-se para sempre à nossa frente, comendo terra. E a atmosfera lilás se juntou ao seu redor, envolvida em seus longos membros e cabelos dourados. Ele usava um terno da cor do crepúsculo agora, em vez das calças simples que ele usava quando atravessamos o portal. O casaco de gola alta, as rendas na garganta, ecoavam como algo antigo ou equestre, mas o delicado bordado na gola e nas mangas transbordava de símbolos muito mais antigos e uma espécie de vegetação densa e profunda que me lembrava as Tapeçarias do Unicórnio.

—Estas são as terras longínquas. — Explicou. —Título descritivo, eu sei. Aqueles que sabem com que frequência os usam para viajar.

—Viajando para onde? — Eu perguntei, tão confusa quanto fascinada e enjoada. —Como?

—Qualquer ponto do reino. — Disse Greenwood, com um gesto abrangente de sua equipe. —Mas acho-os mais convenientes para navegar na Terra.

Vendo minha confusão, ele suspirou. —Alguém lhe deu a comparação da bolha de sabão, não foi? — Ele perguntou, e eu assenti. —Bobagem redutora. As Outras Terras não estão conectadas pela Terra. Elas não são uma extensão dela ou nascem dela. A Terra é exatamente o mesmo tipo de coisa que elas são. Realidades se sobrepõem como casca de cebola, ocupando o mesmo tempo e espaço em diferentes comprimentos de onda, nenhuma maior ou mais significativa que a outra, não importa o quanto os habitantes de cada um possam querer reivindicar que sua casa é superior.

—Eles ocupam o mesmo espaço, entende? Essa é a parte importante. Mas o conceito de distância é diferente nas Terras Distantes. Para permanecer ofensivamente redutivo, um passo aqui se traduz em uma magnitude muito maior de distância na Terra. Com o trânsito, pode levar uma hora ou mais para chegar aonde estou indo. Dessa forma, leva apenas um momento, dando à pessoa que vou matar muito menos tempo para perceber que estou indo e escapando.

—Oh. — Eu disse, tentando processar nada disso e não estava certa de ter conseguido. —É isso que Uther faz?

Disfarçado, Greenwood disse: —Esse truque? É claro que não. Ele nunca conseguiu reunir o poder de realmente passar entre reinos. Ele mal consegue ficar um pouco fora de fase com a Terra e dificilmente pode sustentá-la por mais que um momento. Ele ele o usa para atravessar paredes e parecer mais impressionante. Ele acha que está sendo esperto, estacionando atrás da biblioteca e caminhando diretamente para a sala de estudo como se não tivéssemos visto seu miserável junker amuado atrás das lixeiras como um gato indigente. Idiota pomposo.

—Espere. — Eu disse, quando ele parou e me soltou. —Você disse que vai matar alguém?

—Sim. — Disse Greenwood, arreganhando os dentes em um sorriso que mais parecia um rosnado. Ele bateu no chão com seu cajado e outro portal foi aberto, onde foram reveladas ruas abençoadamente normais de uma terra boa e sólida. Greenwood entrou e eu segui um segundo atrás dele.

Engoli em seco no ar frio da noite com alívio, passei meus braços em volta de mim e tomei um momento apenas para apreciar meus membros sendo todos do comprimento certo e tudo tendo geometria que fazia sentido. Mas não tive muito tempo para gostar de voltar a um universo que fazia sentido.

Greenwood correu para a frente, as botas estalando na calçada molhada. Era começo da noite e parecíamos estar em um beco no centro da cidade em algum lugar, sem saídas. Os prédios a fechavam completamente. A única maneira de entrar ou sair era uma porta de segurança indefinida em uma extremidade estreita. Greenwood caminhou em direção a ela. Ele bateu com força no final do cajado e uma janela se abriu. O holofote lotado de mariposas acima da porta projetava a abertura na sombra, tornando a pessoa atrás dela invisível.

—Senha. — Exigiu uma voz.

—Não visitei recentemente. — Disse Greenwood, com seu sorriso mais charmoso. —Acredito que foi 'Amanhecer de Tahitian' da última vez?

—Não usamos nomes de coquetéis como senhas há anos. — Disse o cara atrás da porta. —Tente novamente.

—Isso é urgente. — Disse Greenwood, parecendo um pouco tenso. —Era uma senha válida da última vez. Se você pudesse apenas-

—Não posso nada. Se você já esteve aqui antes, sabe como o chefe é sobre segurança.

Eu pulei quando outro portal se abriu no outro extremo do beco. Um jovem casal saiu correndo, o cara enfiando o que parecia uma antena de carro em seu casaco. Eles estavam a uma pequena distância de nós, esperando sua vez na porta enquanto Greenwood discutia com o homem da porta.

—Nem todo mundo tem tempo para acompanhar essas coisas! — Greenwood disse frustrado. —Ele não pode esperar que as pessoas acompanhem se ele está sempre mudando. Ele me conhece. Se você pudesse apenas trazê-lo aqui...

—Ele está ocupado.

—Se você apenas mencionar meu nome.

—O chefe não tem tempo para lidar com todas os fae obscuras que tentam se infiltrar pelas costas. Se você quiser entrar sem a senha, tem que derramar sua mágica na porta da frente como todo mundo.

—Eu não tenho tempo-

—Você se afasta e deixa os clientes reais passarem, senhor?

Lívido, Greenwood se afastou para o jovem casal se aproximar, afastando-se o suficiente para o porteiro ficar satisfeito. Fui com ele, minhas mãos nos bolsos, mexendo na moeda da sorte.

—Nita, seja bem-vinda de volta. — Disse ele. —Senha?

A jovem inclinou-se para sussurrar algo, o som bem mascarado pelo ruído ambiente do beco. A porta se abriu, o som fraco da música e da conversa escapando, e o casal entrou. Mas quando Greenwood se aproximou, fechou novamente.

—Se você me desse um momento de vantagem da dúvida. — Disse Greenwood, com um gesto frustrado. —Garanto-lhe que Julius me conhece!

—Então entre pela frente sem sua mágica e obtenha a senha dele. — Disse o porteiro. —Porque você não está entrando aqui.

—Hum. — Eu limpei minha garganta, parando na frente de Greenwood. —Se eu souber a senha, posso trazê-lo comigo?

—Os hóspedes são permitidos. — Disse o homem da porta com óbvia relutância.

—É lobelia erinus. — Eu disse.

Suspeito, ele apertou os olhos para mim através da janela e abriu a porta.

—Cause qualquer problema e eu vou expulsá-lo pessoalmente. — Disse o homem da porta. —E eu vou me certificar de que dói.

—Finalmente. — Greenwood bufou e empurrou a porta e eu o segui, curiosa. Eu pulei quando a porta se fechou. O porteiro era uma parede muscular de um metro e oitenta de altura, sob a pele azul-acinzentada, como pedra viva. Olhos amarelos me encaravam entre presas salientes e chifres grossos, apontando para a frente. Uma cauda longa voava atrás dele como a de um gato bravo. Ele não pareceu surpreso com o meu flagrante, boca aberta olhando.

—Acostume-se a isso, querida. — Disse ele. —Há coisas mais estranhas lá dentro.

Alcancei Greenwood.

—Como você soube a senha? — Ele perguntou, soando um pouco curioso.

—Mariposa morta no holofote. — Expliquei. —Eu apenas ouvi enquanto a outra pessoa falava com o porteiro.

—Inteligente. — Disse Greenwood. —Eu deveria dizer a Julius que ele tem um buraco na segurança dele.

Ele caminhou rapidamente pelo longo corredor que dava para a porta de segurança. Havia quatro portas nesse corredor cobertas por cortinas de miçangas, símbolos que eu não reconhecia esculpidos acima de cada uma. Greenwood enfiou a cabeça por cada cortina e vi vislumbres de pessoas em mesas e cabines, conversando, bebendo e comendo como de costume. Exceto que muitas dessas pessoas eram clara e obviamente não humanas. Vi asas, cascos, caudas, chifres, tentáculos e coisas que não consegui descrever. Foi o suficiente para me fazer pensar se as Terras Distantes não haviam permanentemente mexido no meu cérebro.

No final, o corredor se ramificou, levando em direção a mais das pequenas salas de jantar, e outra porta estava coberta por uma cortina pesada. Greenwood verificou essa também, e vislumbrei a frente do estabelecimento. Era um bar grande e confortavelmente casual, com uma atmosfera de pub distintamente do velho mundo. Todos na frente pareciam humanos, embora meus sentidos mais mágicos soubessem que irradiavam poder. Havia um punhado de normais entre eles, mas este era claramente um lugar para pessoas como eu. A comunidade mágica, ali mesmo, esperando por mim. Havia também uma quantidade absurda de energia ligada nas paredes, no chão e até nas mesas de madeira. Este lugar estava encantado como o inferno.

Um homem mais velho, de cabelos grisalhos, bonito e distintamente musculoso sob o colete de couro, atendia no bar, rindo de uma piada compartilhada pelo homem cuja bebida ele servia. Enquanto Greenwood examinava a sala, o barman nos viu. Ele largou a garrafa que segurava e se dirigiu a nós, mas Greenwood já estava se afastando por um dos corredores.

—Gwydion!

O barman atravessou a cortina e correu atrás de nós, mas Greenwood o ignorou.

—O que quer que ele tenha feito desta vez, eu sei que ele provavelmente merece o que está por vir. — Disse o barman, tentando acalmar Greenwood. —Mas você conhece as regras. Se você fizer isso aqui-

—Eu não vou matá-lo em seu precioso bar, Julius. — Disse Greenwood bruscamente, puxando outra cortina de contas e deixando-a cair em decepção. —Nem colocarei em risco nenhum de seus clientes. E tenha certeza de que a surra que ele vai ter é ricamente merecida.

—Você sabe que eu confio em você. — Protestou Julius. —Mas meus outros convidados-

Greenwood abriu outra cortina e instantaneamente um vento gelado correu pelo corredor, me esfriando até os ossos e arrancando os cabelos de Greenwood da fita, fazendo-o voar em torno de sua cabeça. Ele tinha a aparência de um deus vingativo.

—Gilfaethwy! — Greenwood rugiu.

Em uma mesa no centro da sala, um homem que parecia muito parecido com Greenwood, de fato, sentava-se como um cervo com um copo de cerveja nos lábios. Todos na sala olharam para Greenwood no momento, mas o medo nos olhos do homem deixava claro que ele sabia exatamente para que estava encrencado. Houve um momento tenso de quietude. E então o homem cuspiu sua cerveja diretamente em Greenwood. Ele explodiu em vapor no ar, obscurecendo a visão de Greenwood. Greenwood atirou-o para fora do caminho com uma rajada de vento frio e um gesto de corte furioso, mas o homem desapareceu.

Eu gritei e pulei para fora do caminho quando um grande esquilo marrom passou correndo pelos meus pés.

—Gilfaethwy, seu merdinha traiçoeiro! — Greenwood gritou. —Você não vai ficar longe de mim tão facilmente!

Dobrou-se como um mosaico estranho e, um instante depois, um falcão voou atrás do esquilo com um grito de raiva.

—Não no bar! — Julius gritou atrás deles. —Não no bar!

Bateu palmas com as mãos poderosas e os anéis de prata nos dedos brilhavam com um trabalho de corrida intrincado. Um portal se abriu na frente do esquilo, que tentou se esquivar dele, mas com outro gesto de Julius, foi varrido, seguido de perto pelo falcão.

Corri atrás deles e Julius correu atrás de mim, pulando através do portal, que dava para o mesmo beco por onde entramos. O falcão pegou o esquilo enquanto eu observava, voando alto no ar. Mas um segundo depois o esquilo torceu e se tornou uma cobra grande, que se levantou e mordeu o falcão com presas semelhantes a punhais. O falcão caiu no telhado de um prédio próximo com um grito de dor.

—Greenwood! — Eu gritei horrorizada.

Julian bateu palmas novamente e uma escada apareceu, as peças retiradas de mil lugares secretos do outro lado do beco. Não parei para questionar. Subi rapidamente, aterrorizada por encontrar Greenwood morto no topo.

Em vez disso, os cascos agitados de uma cabra quase tiraram minha cabeça. Um rato mexeu-se em seus pés, que ele tentava furiosamente pisar. Um segundo depois, o rato se tornou um grande veado, jogando a cabra no ar com seus chifres. Um momento depois, a cabra era um lobo, afundando os dentes no flanco do veado.

—Oh, eles estão nisso agora. — Disse Julius, subindo ao meu lado. —Melhor ficar fora do caminho.

—Qual é Greenwood?— Eu perguntei, quando o cervo se tornou um leão para devorar o lobo, que se tornou uma vespa para picar o rosto do leão, que se tornou uma andorinha para comer a vespa.

—Gwydion? Só Deus sabe. — Disse Julius com um sorriso, me dando um tapinha no ombro. —Não se preocupe muito. Quando eles ficam assim, é melhor deixá-los sair do sistema. Eles vão se desgastar em breve. Isso provavelmente é um par de décadas de poder armazenado está queimando agora. Apenas aproveite o show.

Ele acenou com a mão e um saco de pipoca apareceu, que ele me ofereceu. Recusei, correndo pelo telhado quando a vespa se tornou um gato e arrancou a andorinha do ar, que se tornou um coelho e saltou para o outro lado do telhado. O gato tornou-se um galgo e perseguiu, os dois pulando através da abertura para os azulejos do prédio seguinte.

—Quem é aquele cara? — Eu perguntei, com o coração acelerado enquanto procurava um caminho a seguir, pegando uma tábua solta e jogando-a através da abertura, feliz por não ser grande.

—Gilfaethwy. — Explicou Julius, segurando o quadro para mim enquanto eu corria. —Irmão de Gwydion. Mais ou menos.

—Tipo? — Eu perguntei, segurando-o para que ele pudesse atravessar também, mas ele apenas caminhou ao lado, como se o ar fosse solo sólido.

—Bem, as Fae não têm famílias como as descreveríamos. — Disse Julius. —Mas... eu realmente não sei o quanto você sabe sobre os tribunais?

—Eu sei que existem três deles e que os dois principais parecem ser uns idiotas. — Resumi.

Julius assentiu, as mãos levantadas em um gesto. —praticamente.

—Quando uma novo fae é criada na Corte Seelie. — Disse ele. —Uma contraparte igualmente comparada aparece instantaneamente nos Unseelie e vice-versa, para que a corte fique perfeitamente equilibrada. É por isso que eles começaram a recrutar Faes Selvagens, embora isso não tenha acontecido. Não funcionou melhor para eles. Gilfaethwy é o oposto de Gwydion, perfeitamente igual a ele em todos os aspectos.

—Então não há chance de Gelf, Gilfeth... que seu irmão o derrote? — Eu perguntei. O galgo havia pego o coelho, apenas para soltá-lo latindo quando se tornou um porco-espinho. O galgo tornou-se um texugo, golpeando o porco-espinho com garras longas e raivosas, e o porco-espinho tornou-se uma raposa, correndo ao redor do texugo para morder seu flanco.

—Eu não diria nada. — Disse Julius, comendo um punhado de pipoca. —Ou eles não continuariam fazendo isso a cada poucos anos. Mas é bem magro.

—Não devemos tentar ajudar Greenwood, quero dizer, como você o chamou?

—Gwydion. — Repetiu Julius. —Esse é o nome verdadeiro dele, ou parte dele. Isso lhe dá um pouco de poder sobre ele, o que ele odeia, mas sinceramente acho que ele poderia usar mais algumas pessoas em sua vida com o poder de impedi-lo de fazer coisas estúpidas. E você poderia ajudá-lo, se você quiser, supondo que você possa descobrir qual é qual. Mas jurei não interferir, desde que não estejam no meu bar ou prejudiquem meus convidados.

—Ah, merda, lá estão eles. — Murmurei quando o texugo se tornou um macaco, subindo pelos telhados, e a raposa se tornou um leopardo para persegui-lo.

Corri atrás deles, esforçando-me para acompanhar as mudanças entre os prédios e deslizei em telhas e telhas. Eu deveria ter caído cem vezes... quebrar meu pescoço ou pelo menos um braço caindo em uma lixeira do terceiro ou quarto andar. Parkour não era uma habilidade que eu realmente tivesse perseguido. E, no entanto, toda vez que eu pensava em escorregar, meu pé se apoiava nos ladrilhos molhados. Toda vez que pensei que estava prestes a cair, consegui me recuperar bem a tempo. Mas não tive tempo de questionar minha sorte repentina.

Antes que o leopardo pudesse pegar o macaco, o macaco derrapou no meio de um jardim abandonado, as camas secas e a gaiola suja e vazia de pombos, um fundo estranhamente doméstico para a cena exótica. O macaco se virou quando o leopardo se fechou e se tornou um crocodilo, com a mandíbula aberta. Ele pegou o leopardo com um golpe de seus dentes poderosos e torceu, jogando o grande gato em direção à gaiola de pombo. Aterrissou com um barulho, se transformando em um homem enquanto eu observava. Por um momento eu ainda não sabia dizer quem era.

—Pelo amor de Deus, Gwydion! — O homem, que agora assumi ser Gilfaethwy, reclamou, sentando-se. —Pensei que não concordamos com nenhum crocodilo da última vez. Eles não são justos e você sabe disso.

Ele parecia sem fôlego, suado e dolorido, o que era uma aparência estranha de se ver em um rosto tão parecido com o de Greenwood, geralmente tão composto e refinado, mesmo quando estava com raiva assassina.

O crocodilo voltou para Gwydion e, por um momento, também não o reconheci. Seu rosto ainda era o mesmo, mas seu cabelo era mais pálido, mais prateado que dourado, e seus olhos eram sempre verdes, não o verde brilhante do verão que eu lembrava. Ele parecia cansado também, com a respiração trêmula.

—Para o inferno com justiça! — Gwydion gritou. —Você já jogou todas as regras do nosso pequeno acordo pela janela!

—Tenho certeza de que não sei do que você está falando. — Disse Gilfaethwy, olhando para qualquer lugar, menos para o irmão. —Eu não tenho sido nada além de fiel ao nosso acordo. Eu mantive minha cabeça baixa, não fiz mágica-

—Então por que eu tenho um lobisomem em minha casa com sua assinatura na maldição dele? — Gwydion rosnou. A temperatura no telhado caiu vários graus quando um vento frio respondeu à raiva de Gwydion.

Gilfaethwy estremeceu, depois riu timidamente. —Foi esse que você encontrou, não é? — Ele disse.

—Há mais de um ?!

—Claro que não.

—Você está mentindo, seu miserável-

Quando Gwydion deu um passo em direção a Gilfaethwy, ele se transformou em um furão e disparou para a beira do telhado. Gwydion tornou-se imediatamente uma coruja para voar atrás dele.

—Chega de merda de animal estúpido! — Gritei de frustração, atacando com meus poderes. Um enxame de insetos mortos surgiu diante do furão, levando-o de volta às garras que aguardavam dois ratos desidratados, deixando a coruja de Gwydion flutuando no ar. O furão torceu, transformando-se em algo maior, um urso, eu acho, mas eu já estava diminuindo a distância entre nós, batendo as duas mãos em seu pelo. O animal gritou e se debateu para fugir enquanto a necrose se espalhava por suas costas. Eu sorri com uma satisfação sombria quando ela voltou para Gilfaethwy e eles caíram no chão, arranhando como sua própria pele em horror.

—Tira isso! — Ele disse horrorizado. —Tira isso!

—Eu vou. — Eu disse, minhas mãos prontas para fazer mais. —No minuto em que você me disseer o que fez com Ethan.

—Inseto! — Gilfaethwy sibilou para mim, o ódio em seus olhos como um incêndio, o telhado de repente no meio do verão quente, o ar fervendo. Os canteiros de flores secas levantaram e estouraram, transbordando de vida verde repentina, espinhosa e retorcida. Ele cresceu com uma velocidade terrível, avançando em minha direção enquanto ele se arrastava pelo telhado, o rosto contorcido de raiva e desprezo insondáveis. —Como você ousa pôr suas mãos sujas em mim? Você sua verme, sua macaca pálida e trêmula! Eu poderia desmembrar uma molécula de cada vez! Eu poderia queimar você por toda a eternidade e negar-lhe o direito de uivar de dor! Eu sou um deus para você!

Por um momento, vendo aquele repentino ódio, acreditei nele. Eu me afastei, meu medo intenso, mas um segundo depois uma brisa fria baniu o calor quando Gwydion plantou um salto nas costas de Gilfaethwy, exatamente onde minha necrose era pior. Gilfaethwy gritou de dor, caindo de bruços. Gwydion não tirou o pé. Atrás dele, a geada matou a onda de vegetação que Gilfaethwy havia convocado, secando-a para nada novamente.

—Se você tivesse o poder de fazer algo assim, nenhum de nós estaria aqui. — disse Gwydion, olhando para o irmão com um leve desgosto. —Diga à mulher o que ela quer saber, ou eu deixarei que o veneno nas suas costas o devore. Um gostinho da morte mortal.

—Você condenaria a nós dois. — Gilfaethwy assobiou no betume do telhado.

—Você parece contente em fazer o mesmo. — Disse Gwydion friamente, torcendo o calcanhar nas costas de Gilfaethwy. —Além do mais, duvido que isso o mate. Mas tenho certeza de que machucaria.

—Por que você amaldiçoou Ethan? — Eu exigi, aproximando-me novamente. —E como a quebramos?

—Eu não o amaldiçoei. — Afirmou Gilfaethwy.

Gwydion afundou o calcanhar novamente.

—Eu não fiz! — Gilfaethwy gritou, a voz estridente com dor. —Eu juro por tudo que é sagrado!

—Como se você já considerasse algo sagrado. — Zombou Gwydion. —Jure pela sua mão direita e saiba que terei muito prazer em removê-la se você mentir.

—Juro pela minha mão direita. — Disse Gilfaethwy com um grunhido amargo. —Eu não o amaldiçoei. A maldição já estava lá. Eu apenas... dei um pequeno empurrão.

Ele riu, uma risadinha nervosa e histérica, e Gwydion o chutou.

—Seu idiota! — Ele gritou. —Você está mentindo, seu sem valor-

—Foi apenas um pequeno empurrão! — Gilfaethwy disse através de sua risada delirante. —Eu precisava! Eu não podia contar para não! Oh, se você o visse, todo aquele ódio pulsando em seu peito, todo torcido em um nó do tamanho do seu punho. Você teria feito isso também! Eu tinha que ver o que aconteceria!-

Gwydion se encolheu e lembrei-me de suas palavras mais cedo, certa de que ele também se lembrava delas.

—E era apenas um pouco de poder. — Disse Gilfaethwy. —Menos do que usamos aqui hoje à noite! Ninguém notou!

—Não importa quanta energia você usou, seu miserável e inútil desperdício de magia! — Gwydion disse, arrancando os cabelos em frustração. —Você o usou em um ser humano! Interferência direta, a única coisa que todo o nosso acordo depende, a única coisa proibida! Foi notada. Eu garanto a você, e eles estão esperando, segurando-o sobre nossas cabeças como a espada de Dâmocles, por o momento perfeito para destruir nós dois!

—Oh, não seja tão pessimista. — Disse Gilfaethwy, rolando de costas e parecendo ter se arrependido. —O que há com o seu tipo sendo tão severo o tempo todo?

—Eu não sou severo. — Disse Gwydion. —Eu simplesmente não quero ser eliminado da existência porque você não pode controlar seus impulsos!

—Tanto faz! — Eu interrompi, confusa e sem paciência. —Diga-nos como desfazer! Como quebramos a maldição?

Gilfaethwy apenas riu mais - gargalhando alto e enlouquecido. Olhei para Gwydion em busca de algum tipo de explicação, mas ele balançou a cabeça.

—Tem que haver algo que ele possa fazer! — Eu disse, passando por Gilfaethwy para pegar Gwydion pelo braço. —Ele causou isso! Tem que haver uma maneira de consertar!

Gwydion franziu os lábios, franziu as sobrancelhas e esfregou as têmporas.

—Ele está dizendo a verdade. — Disse ele. —Não há nada que ele possa fazer. Ele não amaldiçoou seu lobisomem.

—Então quem fez? — Eu implorei. Tinha que haver algo, pelo menos uma vantagem. Qualquer coisa para dar a Ethan um pedaço de esperança.

Gwydion me encarou com aqueles olhos escuros e a esperança se dissolveu.

—A maldição é auto infligida. Ele fez isso consigo mesmo.

Capitulo Nove


Durante a hora seguinte, Cole me ensinou uma dúzia de aspectos diferentes da necromancia básica, alguns dos quais eu nunca havia experimentado antes. Novamente e novamente, o resultado foi o mesmo. Eu era como um brigão de bar, toda força bruta e nenhuma técnica, tentando aprender judô. No início da tarde, eu estava suada e exausta, e Cole parecia igualmente tenso. Ethan estava sentado no pátio nos observando, ocasionalmente cochilando, Mort deitado a seus pés.

—Você precisa aumentar sua energia em um ponto. — Disse Cole. —Um ponto!

—Um ponto é muito difícil. — Eu disse, incomodando-o com uma nuvem de mosquitos. —Mãos são mais fáceis!

—Mãos não funcionam! — Cole pegou os mosquitos e os enviou de volta para mim, e eu retaliei enviando um pardal morto para aninhar em seus cabelos. —Você deveria estar cercando e, em vez disso, está lutando com um tapa!

Ethan riu do pátio, tanto pelas palavras de Cole quanto pela visão dele gritando e espancando o pardal tentando dar uma merda de pássaro empoeirada em seus cabelos.

Ele me mostrou como causar a morte celular direcionada - a mesma técnica que Aethon havia usado para secar partes de nós durante a nossa luta. Eu não era boa nisso. Eu também não era muito boa em controlar muitas pequenas coisas ao mesmo tempo. O mesmo vale para identificar coisas mortas à distância ou direcionar uma única coisa morta-viva por meio de uma série de ações complicadas. Eu era muito boa em foder tudo.

—Por que eu sou tão ruim nisso? — Eu reclamei, esfregando as mãos no rosto.

—Você não é. — Disse Cole, exasperado. —Você mal começou. Você esperava ser a mestre de tudo de uma vez?

—Mais ou menos! — Eu disse. —É suposto ser instintivo, e eu tenho lidado com isso a vida toda. Entre isso e a Vela, eu deveria ser incrível nisso!

—Bem, supere isso. — Disse Cole, impaciente. —Isso leva tempo e prática diária. E você tem feito o possível para fingir que não existe há vinte anos. Vai demorar um pouco para ficar boa nisso.

—Eu não tenho esse tipo de tempo. — Eu disse. —Eu precisava ter sido boa o suficiente para enfrentar Aethon ontem.

—Não é assim que funciona. — Disse Cole. —Tudo bem. Tudo bem, vamos tentar isso. Você está pensando demais e adivinhando a si mesma. Você precisa se mover instintivamente.

Ele se virou, olhando em volta por um momento e, finalmente, pegou um grande graveto no mato coberto de mato.

—Vou tentar bater em você com um pau. — Explicou ele. —Você tenta me impedir com a coisa da necrose.

—E se eu realmente bater em você com isso? — Eu perguntei preocupada.

—Francamente, acho que não. — Disse Cole. —E se você conseguir, você conseguiu curar o vira-lata, você pode me curar. Estou curioso para ver isso em ação novamente, de qualquer maneira. Você está pronta?

Ele levantou o graveto. Olhei para Ethan, que parecia um pouco preocupado. Mas respirei fundo e me firmei.

—Tudo bem, eu estou realmente-

Cole já estava balançando o galho na minha cabeça com força total antes que as palavras saíssem. Eu gritei e saí do caminho apenas para ele me bater com força nas costas com ele.

—Ow! — Eu gritei, correndo para fora do seu alcance. Um vergão dolorido surgiu nas minhas costas, mais largo que o meu polegar. —Jesus, merda, isso dói!

—É suposto. — Disse Cole. —Então me pare da próxima vez. Você está pronta?

—Não! — Eu gritei. Cole colocou a ponta do graveto na terra e se apoiou nela, esperando. Eu olhei para ele, ofendida, minhas costas ainda doendo, mas eu sabia que não podia parar o treinamento aqui. Suspirei. —Tudo bem, eu-

Mais uma vez, ele lançou para mim, balançando com força total. Eu me afastei do caminho e estendi a mão, tentando imaginar o ponto agudo da energia. Nada aconteceu, exceto que ele me acertou na cabeça com o bastão.

—Filho da puta! — Eu gritei, caindo na grama, sentindo como se minha cabeça estivesse aberta. —Que porra é essa!

—Merda, desculpe, você está bem? — Cole perguntou, ajoelhado na minha frente. Ethan também correu pela grama para me verificar. Passei a mão pelo couro cabeludo para procurar sangue e não o encontrei.

—Sim, eu estou bem. — Eu disse, rangendo os dentes com a dor que irradiava pela minha cabeça. —Apenas tente evitar a cabeça da próxima vez, por favor?

—Se isso se tornar uma técnica de treinamento regular. — Disse Ethan, com o braço em volta de mim. —Sugiro investir em capacetes.

—Sim, isso pode não ser uma má idéia. — Admitiu Cole, de má vontade.

—Eu poderia ajudar um pouco? — Ethan perguntou. —Tive Tae Kwon Do durante toda a escola e, depois da maldição, fiz algumas lições de reciclagem. Achei que a disciplina poderia ajudar, sabe? A meditação é realmente muito útil.

—Estou tentando ensiná-la a apodrecer a carne das pessoas enquanto ela ainda está ligada a elas. — Disse Cole, impaciente. —Não praticar Kung Fu.

—Só estou dizendo. — Ethan levantou as mãos na defensiva. —Se vocês dois sabem como fazer uma queda adequada, não precisam se bater com paus. Você pode jogá-la na grama praticamente inofensiva. Um pouco mais seguro.

Cole suspirou, mas permitiu. Ethan passou alguns minutos nos mostrando como cair em segurança e onde evitar pressionar, dando-nos um básico para impedir que nos machucássemos, depois passou para a remoção real.

—Eu vou te mostrar Cole primeiro. — Disse ele. —Então você pode tentar.

—Isso é justo. — Disse Cole.

—Eu acho que você deve isso a ela por bater nela com a vara. — Disse Ethan, e eu ri. Cole, sob o olhar furioso de sempre, parecia um pouco envergonhado.

—Há duas remoções fáceis que eu posso ensinar agora. — Disse Ethan, corrigindo a posição de Cole. —Ambos são bons para lidar com alguém maior do que você.

Cole, que provavelmente era meio metro mais baixo que Ethan e muito mais magro, levantou uma sobrancelha crítica.

—Vou mostrar a você muito rápido. — Disse Ethan. —Lembre-se de como eu te ensinei a pousar.

Ele se moveu tão rapidamente que eu realmente não processei o que ele havia feito. Ele apenas avançou e de repente Cole estava no chão de costas, chiando, com Ethan debruçado sobre ele.

—Você não pousou como eu te disse. — Ethan disse, sorrindo para Cole.

—Você fez isso de propósito. — Disse Cole.

—Sim. — Ethan se levantou e ofereceu a Cole uma mão para cima. —Agora eu vou fazer isso mais devagar. Preste atenção. Pegue aqui, no alto do tríceps.

Ethan alcançou o peito de Cole com o braço direito, sob o direito de Cole de apertar a parte inferior do braço. A outra mão dele tinha o pulso direito de Cole.

—Puxe-o para o lado. — Explicou Ethan. —Para que você possa colocar sua perna entre.

Ele avançou suavemente em uma espécie de posição ajoelhada, envolvendo a perna em torno da de Cole e a outra perna atrás dele. Ajoelhando-se com a cabeça perto do quadril de Cole, ele parou. Cole cambaleou, lutando para manter o equilíbrio. Ethan o pegou pelos quadris para segurá-lo, sorriu e voltou a segurar seu braço.

—Viu como eu tenho controle do seu equilíbrio agora? — Ethan explicou, ignorando o quão vermelho Cole ficou. —Agora eu me inclino para a frente com o quadril e-

Ele mal precisava se inclinar para fazer Cole cair para trás, incapaz de manter o equilíbrio. A cabeça de Ethan estava perto do estômago de Cole, mas quando Cole tentou recuperar o fôlego, Ethan avançou.

—Certifique-se de seguir em frente com o movimento. — Disse Ethan, deslizando até ele cobrir completamente Cole. —Ou eles podem facilmente prendê-lo. Quando você estiver com eles, poderá se soltar com segurança.

—Agora entendo por que você quis fazer isso. — Disse Cole sarcasticamente, olhando para Ethan. Ethan pigarreou e saiu, ajudando Cole a se levantar novamente.

—Você quer tentar, Vexa? — Ele ofereceu.

—Definitivamente. — Eu concordei, minha cabeça ainda doendo. Eu tomei meu lugar na frente de Cole e Ethan estava atrás de mim, inclinando-se para me direcionar.

—Arme primeiro. — Disse ele. —Sob o tríceps, como eu mostrei a você.

Deslizei minha mão pela parte de trás do braço de Cole, consciente de quão perto os dois homens estavam perto de mim. Os músculos tensos de Cole sob meus dedos eram quase tão perturbadores quanto a respiração de Ethan na parte de trás do meu pescoço.

—Agora, puxe-o e vá para a perna. — Ethan disse, suas mãos nas minhas costas e meu braço me guiando para a frente enquanto envolvia minha perna em torno de Cole. As mãos de Ethan se moveram para os meus quadris, me puxando para trás antes que eu pudesse cair de joelhos.

—Não, não, observe seus pés. — Disse ele, empurrando meus quadris em um rolo mais controlado para frente. —Você não pode simplesmente jogar sua perna para a frente. Você tem que se transformar nela.

Cole observou as mãos de Ethan guiando meus quadris com uma expressão estranha. Eu me concentrei em controlar meu batimento cardíaco repentinamente rápido, prestando atenção às instruções de Ethan. Depois de baixar o quadril, segui em frente com a perna novamente. Era mais difícil do que parecia acertar esse movimento, mas Ethan estava lá para me pegar e guiar meus movimentos, seus dedos tão gentis quanto sua voz. Quando me ajoelhei, olhei para Cole, que olhou para mim com uma familiar faísca de interesse em seus olhos. As mãos de Ethan apertaram meus ombros. Houve uma pausa, todos nós percebendo simultaneamente o fato de que nenhum de nós estava sozinho no calor repentino sob nossas peles. Engoli em seco e desesperada para quebrar a tensão, inclinei-me com o quadril e joguei Cole de volta na grama.

—Porra! — Ele gritou quando caiu, pego de surpresa. Caí para a frente com ele, incapaz de fazer qualquer outra coisa, e ri em seu estômago.

—Lembre-se de seguir adiante. — Ethan me lembrou. Cole se contorceu, talvez esperando escapar, e eu me movi rapidamente para prender seus ombros. Eu sorri para ele, corada e sem fôlego, saboreando o calor nos olhos de Cole.

Suas mãos roçaram meus quadris e, de repente, percebi o constrangimento da situação. Eu rolei rapidamente e me afastei, olhando para Ethan, a culpa clara no meu rosto, mas Ethan sorriu para mim, balançando a cabeça. Ele não tinha notado ou simplesmente não se importava? Eu não tinha certeza de como me sentir sobre qualquer uma das opções.

—Sua vez, Cole. — Ethan disse, ajudando o outro homem a se levantar novamente.

—Finalmente. — Disse Cole.

—Você está pronta para isso? — Ethan me perguntou. Eu assenti sem palavras, ainda muito perturbada para gerenciar as palavras. Cole estava vermelho até os ouvidos. Só Ethan manteve a calma.

Tomei meu lugar na frente de Cole, e Ethan foi atrás dele para guiá-lo da mesma maneira que ele me guiou.

—Vamos tentar devagar uma vez. — Disse Ethan. —Você se lembra de como cair, Vexa?

Eu balancei a cabeça e me preparei enquanto Ethan treinava Cole através dos movimentos. O rosto de Cole ficava mais vermelho toda vez que Ethan o tocava, e a mão de Ethan tremia. Não era só eu que eles estavam ficando excitados, não era? Cole realmente tinha gostado de algo ontem à noite? Eu seria deixada para trás? Eu sacudi por enquanto. Eu precisava ter uma conversa com Ethan - em breve.

Preocupada com meus pensamentos, não notei Cole avançando até estar de costas na grama com um grito.

—Muito bem. — Ethan disse com uma risada. —Você está bem, Vexa?

—Estou bem. — Chiei por baixo de Cole, que se afastou de mim rapidamente.

—Acho que posso fazer rápido dessa vez. — Disse Cole, oferecendo-me uma mão, o que eu peguei. —Pronta para tentar me parar desta vez?

—Claro. — Eu disse, respirando fundo e me posicionando novamente. —Ponto afiado, certo?

—Eu vou encontrar vocês dois. — Ethan disse, ficando perto quando Cole se sacudiu e alcançou-me. —Lembrem-se de observar o ângulo dos seus quadris.

Cole assentiu, depois se moveu para mim rapidamente, agarrando meu braço.

Eu estava de bunda na grama antes que eu pudesse piscar. Cole seguiu em frente. Tossi para recuperar o fôlego.

—Você tentou? — Ele perguntou.

—Claro! — Eu disse. —Foi muito rápido.

—Aethon não vai devagar para você!

—Eu sei, eu sei! Vamos tentar novamente.

Foram necessárias mais três tentativas antes que eu conseguisse começar a visualizar antes que ele me jogasse na grama. Minhas costas doíam, mas menos do que onde ele me bateu com o pau. Tudo tinha deixado de ser sexy depois da quarta ou quinta vez que eu acabei na terra. Agora eu estava apenas chateada.

—Você ainda não está fazendo questão. — Disse Cole, quando pousou em cima de mim novamente. Eu queria gritar. Em vez disso, aproveitei o fato de que Cole não havia seguido com o movimento para jogar uma perna em torno dele e empurrá-lo na terra.

—Eu não posso fazer isso! — Eu disse, sentando nele enquanto ele se debatia para se soltar, segurando uma de suas pernas. —Demora muito tempo para afiá-lo! Não funciona!

Cole fez um som de dor no mesmo momento em que Ethan subitamente pulou em minha direção, gritando meu nome.

Tirei minhas mãos de Cole rapidamente e horrorizada, vi a marca negra e murcha sob onde minha mão estava. Agarrei-o novamente imediatamente, trabalhando no instinto para lavar a energia negativa, restaurando a carne saudável em poucos segundos.

—Desculpe! Jesus! — Eu disse, tremendo, ajoelhando-me ao lado de Cole quando ele caiu de costas, respirando irregular. —Você está bem? Sinto muito!

—Estou bem. — Disse Cole, imediatamente. —Você está pegando o jeito, aparentemente. Só precisava deixá-la brava o suficiente.

—Parece que você descobriu essa coisa de cura também. — Ethan disse, ajoelhando-se ao meu lado e colocando um braço em volta dos meus ombros. —Você consertou tão rápido que eu mal vi.

—Mal tive tempo de sentir isso. — Concordou Cole. —Como esbarrar em uma boca acesa do fogão.

—Pelo menos eu sou boa em uma coisa. — Eu disse com uma risada cansada. —Devemos tentar de novo?

Cole sentou-se nervoso, depois se sacudiu.

—Sim, vamos continuar.

 

 

 

 


Capitulo Dez


Continuamos por mais meia hora. Principalmente foi Cole me jogando na grama, mas consegui mais alguns bons acertos e tive uma boa noção da coisa de curar. No entanto, minha capacidade estava reservada a ferimentos causados por energia necromântica. Cole esfolou o joelho em uma pedra e eu não pude fazer nada. Contanto que eu pudesse fazer alguma coisa, eu não me importei. Fiquei feliz por haver pelo menos uma coisa que eu poderia fazer sem problemas.

Caí na grama ao lado de Cole depois de curá-lo novamente, ofegando. Ethan sentou-se do outro lado de nós, parecendo bastante cansado. Ele estava perto, nos pegando quando caíamos e nos treinando através dos arremessos e quedas. Mort também caiu ao nosso lado, com a cabeça desgrenhada no meu ombro.

—Você está bem? — Eu perguntei a Cole, sem fôlego.

—Sim, me dê um minuto. — Disse Cole, sua voz tensa. —Aquele machucou.

—Desculpe. — Eu disse.

—Não se desculpe. — Ele me corrigiu rapidamente. —É bom. —Dê um tapa na cara de Aethon assim algumas vezes, e podemos até ter uma chance.

—Disse a você que a coisa não funcionou. — Eu disse, fechando os olhos. —Luta de tapas é a resposta, afinal.

—Você provavelmente ainda deve aprender a fazer o ponto. — Ethan disse, inclinando-se sobre mim para tirar meu cabelo do meu rosto. —Você pode não ser capaz de se aproximar o suficiente de Aethon para dar um tapa na cara dele.

—Certo. — Eu disse, não desejando. Ele sorriu e se inclinou para me beijar, doce e breve.

—Nojento. — Disse Cole, rolando para longe de nós. Ele não parecia estar falando sério.

—Você é nojento! — Eu provoquei. Sua camisa tinha subido um pouco, e eu rolei para fazer cócegas na tira de pele exposta. Ele deu um latido de riso áspero e enrolou-se para escapar. Eu compartilhei um olhar com Ethan e um segundo depois, nós dois estávamos mergulhando para fazer em qualquer parte dele que pudéssemos alcançar. Mort pulou ao nosso redor, latindo de emoção enquanto brigávamos.

—Para para! — Cole implorou por sua risada. —Foda-se! Eu vou te matar!

Puxei a camisa dele e soprei uma lufae no estômago, o que o fez gritar tão alto que Ethan e eu caímos na gargalhada. Mort atacou Cole assim que saímos do caminho, cobrindo-o com beijos babados.

—Deus, vocês são esquisitos. — Disse Cole, ainda rindo, empurrando Mort e afastando a grama novamente.

—Sim, bem, você também. — Eu disse, recuando com a cabeça no colo de Ethan e minhas pernas envoltas nas de Cole. —Farinha do mesmo saco.

—Você é muito estranha para ser um pássaro. — Disse Cole, sorrindo para mim. —Você é muito estranha para ser qualquer coisa, menos humano.

Meu coração pulou uma batida ao ver seu sorriso. Foi o primeiro sorriso genuíno que eu vi nele. Iluminava todo o seu rosto como a luz do sol, banindo, ainda que brevemente, as sombras que tantas vezes permaneciam ao redor de seus olhos. Apertei a mão de Ethan, minha respiração presa no meu peito.

—Seja o que for, sou a mesma coisa que você é. — Eu disse a ele.

—Vocês três estão vivos ai fora?

Todos olhamos quando tia Persephona chamou da porta de vidro deslizante.

—Principalmente. — Confirmei, enquanto Mort pulava e corria para tia Percy, que sacudiu os ouvidos com carinho.

—O jantar está quase pronto. — Disse ela. —Venha e me ajude a arrumar a mesa.

Eu vi o rosto de Cole cair. Por um momento, sua ansiedade ficou clara. Ele não tinha certeza se era bem-vindo para ficar, ou se deveria ficar, mesmo que fosse bem-vindo. Suas paredes estavam de volta um momento depois, sua expressão endurecendo quando ele se distanciou para suportar o que acontecia. Engoli em seco e me levantei, oferecendo-lhe uma mão.

—Venha. — Eu disse. —Você vai ficar para o jantar, certo?

Cole hesitou. Eu pude ver a indecisão. Eu me preparei para a sua recusa, pronta para deixá-lo ir, se era isso que ele queria.

—Cole! — Tia Persephona gritou da varanda novamente. —Você disse que gostava de pão de alho, certo? Porque eu acabei de ganhar muito!

O sorriso tocou o rosto de Cole novamente por apenas um momento. Ele pegou minha mão e se levantou.

—Não existe pão de alho em excesso. — Ele gritou de volta.

Eu compartilhei um sorriso com Ethan enquanto seguíamos Cole para dentro da casa. Eu poderia dizer que ele estava tão feliz quanto eu por Cole estar comendo. Eu ainda precisava conversar com Ethan sobre o que era ou para onde estava indo, mas por enquanto, ter os dois por perto me senti bem.

O jantar foi um dos mais agradáveis que já tive em muito tempo, cheio de risadas e boas conversas. Cole estava um pouco reservado, claramente inseguro sobre o seu lugar. Nós não o pressionamos e, quando ele se sentiu à vontade para aumentar a conversa, nós o recebemos. Ele teve um relacionamento fácil com minha tia. Havia um entendimento instintivo entre duas pessoas que passaram anos tentando aprender os segredos da magia, apesar de todos os obstáculos que a vida colocou no caminho.

—Vamos ver o fae amanhã. — Ethan disse, enquanto o jantar terminava. Ajudei-o a lavar a louça enquanto minha tia se retirava cedo para estudar no quarto dela. —Provavelmente poderíamos fazer isso hoje à noite. Ele mantém horários estranhos. Mas...

—Estou muito dolorida com a prática. — Confessei, revirando meus ombros rígidos. —Amanhã provavelmente é melhor.

—Eu vou com você. — Cole concordou, vestindo a jaqueta. —Eu posso te encontrar aqui por volta das nove.

—Você não quer ficar? — Eu perguntei. —O sofá ainda está aberto. Seria muito mais conveniente.

—Eu posso encontrar meu próprio lugar para dormir. — Disse Cole, um pouco na defensiva.

Ethan ficou cuidadosamente em silêncio, enquanto segurava o prato que estava secando. Considerando como Cole reagiu a Ethan tentando insistir da última vez, eu não o culpo.

—Isso tornaria as coisas muito mais fáceis para nós amanhã. — Eu disse, não pressionando demais. —Não precisa ser para sempre. Estamos apenas... preocupados com você.

—Eu não preciso que você se preocupe comigo. — Disse Cole, bruscamente e eu estremeci, sentindo que tinha estragado tudo.

—Tarde demais. — Disse Ethan, sem levantar os olhos da pia. —Nós vamos nos preocupar, de qualquer maneira. Você estragou tudo e fez amigos, cara. A preocupação vem com o território.

O queixo de Cole se apertou e, por um momento, pensei que ele sairia em disparada. Mas depois de um momento, a tensão desapareceu de seus ombros.

—Tudo bem. — Ele disse, de má vontade. —Eu vou dormir no sofá estúpido. Só por esta noite. Porque vir aqui logo de manhã é uma dor na bunda.

—Parece ótimo. — Eu disse, incapaz de esconder meu sorriso. Ethan sorriu também, embora ainda não desviasse o olhar da pia.

Era cedo, então nos sentamos na sala por um tempo, relaxando, cuidando de nossos machucados desde o início do dia. Cole jogou uma pilha de livros sobre mim, principalmente textos necromânticos básicos e alguns guias gerais de magia para ‘me dar uma boa base teórica’. Eu li uma delas, fazendo anotações preguiçosas no meu telefone, enquanto Ethan e Cole conversavam sobre um filme que ambos não gostavam.

Eventualmente, fomos para a cama, jogando cobertores e um travesseiro em Cole no sofá antes de Ethan e eu nos retirarmos para o quarto de hóspedes. Morgana decidiu desde o início que gostava de Cole melhor do que eu e passou a maior parte da noite enrolada em seu colo. Parecia que ela pretendia passar a noite lá. Mort nos seguiu até o quarto, no entanto, pulando na cama e sentando no pé imediatamente.

Ethan e eu estávamos dividindo o quarto de hóspedes de tia Persephona desde que Aethon atacou a funerária, mas até agora, ele estava exausto demais para fazermos muito, mas dormir um ao lado do outro enquanto ele se recuperava de sua experiência de quase morte. Quando nos mudamos para a cama, sem nos olharmos, percebi que não era mais esse o caso. Mas agora tivemos outro problema. Lembrei-me de como ele reagiu ao nosso pequeno encontro na mesa do pátio, e quão perto ele chegou do desastre no drive-in. E se da próxima vez ele não pudesse controlar? Eu o queria. Mas não éstavamos seguros um para o outro.

Quando me deitei, ele me puxou para perto, aconchegando na minha garganta e pressionando beijos na minha pele.

—Você foi incrível hoje. — Disse ele. —Praticando com Cole. Eu nunca vi nada parecido. Os bruxos da biblioteca desejam que eles possam fazer algo tão impressionante quanto isso. Uther é a mais forte e a pequena coisa de teletransporte é o truque mais impressionante que ele tem. É por isso que ele usa-o toda vez que ele aparece.

Eu sorri e rolei para colocar meus braços em volta dele. Esse relacionamento ainda era novo, mas havia muito o que amar nele. O perfume de seus cabelos, as calos nas mãos, as rugas nos cantos dos olhos quando ele sorria para mim. Era quase aterrorizante. Eu poderia me apaixonar por ele tão facilmente, pensei. E eu ainda sabia muito pouco sobre ele. Se eu me apressasse nisso, haveria algo para apoiar um relacionamento real?

—Você está se preocupando. — Disse ele, e estendeu a mão para esfregar o local entre as minhas sobrancelhas. —Você franze sua testa quando está pensando. O que houve?

—Muitas coisas. — Eu disse honestamente. —Há muito com o que se preocupar ultimamente.

Passei a mão por seu ombro nu, até seu quadril. Ele estava usando aquelas calças de moletom novamente, e eu brinquei com a banda, pensativa.

—Com Cole hoje. — Eu disse baixinho, depois me corrigi. —O que ele disse ontem à noite. Você gosta dele?

Ethan pareceu surpreso por um momento, depois desviou o olhar, o queixo apertado. Eu senti a repentina tensão nele, como se ele estivesse se preparando para o impacto. Eu toquei sua bochecha.

—Se você gosta dele. Está tudo bem. — Eu disse rapidamente.

Ele pegou minha mão contra sua bochecha, apertando-a, mas ele não olhou para mim.

—Eu não sou assim. — Ele sussurrou. —Por favor, não pense que sou assim.

—Como o quê? — Eu perguntei confusa. Eu nunca o tinha visto assim. Havia algo quase como nojo no conjunto de sua boca, o sulco apertado de suas sobrancelhas. Mas não foi dirigido a mim. —Como o que? Bissexual?

Ele se encolheu, como se a palavra lhe causasse dor física.

—Eu gosto de você. — Ele disse, sua voz rouca. —Eu gosto de estar com você.

—Mas você também gosta dele. — Eu disse, sem entender o que o perturbava. Ele colocou a mão no rosto. Havia um tremor em seus ombros, uma emoção tentando escapar. E suas unhas pareciam claramente com garras.

—Ethan. — Eu disse suavemente, passando a mão sobre o peito em círculos suaves. —Do que você tem medo? Eu não estou chateada. Eu nem estou surpresa. Não é um problema.

—É um problema. — Disse ele, arrastando a mão pelo rosto até a boca. Ele estava com medo. Finalmente, finalmente, ele olhou para mim.

—Eu não queria que você soubesse. — Disse ele. —Eu não quero que ninguém saiba.

—Tudo bem. — Eu disse imediatamente. —Eu não vou contar a ninguém.

—Você não entende. — Disse ele, fechando os olhos novamente.

—Não, eu não entendo. — Eu concordei. —Isso não muda nada. Eu não me importo se você já esteve com homens antes-

—Eu não estive. — Disse ele bruscamente.

—Eu não ligo. — Repeti. —Isso não afeta o nosso relacionamento. Importa apenas se você quiser. Eu só quero saber mais sobre você. Se isso faz parte de quem você é, eu quero saber sobre isso.

Ele ainda parecia preocupado.

—Eu realmente gosto de você, Ethan. — Eu disse calmamente. —Eu não sei se isso é apenas uma aventura para você ou o que quer que seja. Entendo se isso é algo que você simplesmente não está confortável conversando com alguém que... que pode não fazer parte da sua vida por muito tempo. Mas eu gosto muito de você. Quero ver se isso pode funcionar. Quero saber quem você é.

—Você tem certeza? — Ele disse. —Você tem certeza?

—Eu tenho certeza. — Eu disse, com o máximo de gravidade que pude, tocando sua bochecha. —Isso não me incomoda. Faz parte de quem você é, e eu gosto de quem você é.

Eu o vi engolir em seco. Ele virou o rosto na minha mão e beijou minha palma, ficando assim por um momento.

—Não é... algo com o qual estou realmente confortável. — Disse ele.

—Não brinca. — Eu respondi, e ele riu baixinho, o som tocado com amargura, sua boca se movendo contra a minha palma.

—Minha família era realmente religiosa. — Explicou ele. —Tipo, realmente religiosos. Nós estávamos na igreja pelo menos três vezes por semana. E eu estava profundamente envolvido, compromisso total, anel de pureza e tudo. Mesmo depois de eu... depois que comecei a perceber.

—Isso é difícil. — Eu disse, incapaz de imaginar. Minha família nunca foi do tipo de igreja, por razões óbvias. —Acho que sua igreja não era do tipo que aceita?

—Mais como o 'organizou um protesto contra o GSA2 da minha escola. — Disse ele com tristeza. —Também a abstinência é tudo o que deve ser ensinado em sexo e a masturbação é um pecado.

—Droga. — Eu respondi. —Não é de admirar que você tenha problemas com isso.

—Minha família nunca mais falaria comigo se soubesse. — Disse ele, quase um sussurro. —Ou pior. Uma garota da minha igreja saiu no primeiro ano. A mãe dela bateu nela. Enviou-a para o hospital. Quando ela foi libertada, eles não vieram buscá-la. Ela teve que arranjar um amigo para trazê-la para casa. Ela encontrou as fechaduras trocadas e tudo o que possuía no meio-fio. Eu nem sei o que aconteceu com ela. Ela não voltou para a escola. Suas amigas me disseram o que sua mãe fez. Eles foram expulsos, mas eles também não sabiam mais nada. Ninguém na igreja falava sobre isso. Sua mãe voltou a cantar hinos como se nada tivesse acontecido, com as mãos ainda machucadas por tentar espancar os gays como a filha dela. Meu pai disse que 'admirava sua determinação'.

Estremeci e fiquei brevemente grata por minha família chata, mas perfeitamente solidária. Eu literalmente trouxe coisas mortas de volta à vida, mas nunca me preocupei que meus pais me odiassem por isso ou me expulsassem, muito menos me enviassem para o hospital. Eles não entendiam essa parte da minha vida. Não conseguia entender. Mas pelo menos eu sabia que eles me amavam, de qualquer maneira. Peguei a mão dele, tudo o que pude fazer para mostrar meu apoio.

—Eu ouvi dezenas de histórias assim. — Disse ele calmamente, olhando para as nossas mãos enquanto enlaçava os dedos. —Ninguém mais da igreja. Mas algumas outras crianças na escola. E quando eu era mais velho, as pessoas trabalhavam. E quando comecei a viajar por causa da maldição, descobri mais. Não sei o que é pior, os que acabam sem teto ou os que são forçados a ficar com uma família que os odeia. Não há boa opção. Você entende o que estou dizendo, Vexa?

Apertei sua mão, desejando ter as palavras.

—Não há final feliz para pessoas como eu. — Disse ele.

—Isso não é verdade. — Eu disse imediatamente. Seu aperto na minha mão relaxou. Ele balançou a cabeça, afastando-se.

—Não é verdade. — Insisti. —Sim, é péssimo, mas isso não significa que você não tem esperança! Você já está fora de lá. Você não precisa da aprovação de sua família para sobreviver e viver uma vida perfeitamente feliz. Você pode ter um final feliz sem eles...

Ele forçou um sorriso e beijou as costas da minha mão suavemente.

—Obrigado por tentar. — Disse ele. —Por ouvir.

—A qualquer hora. — Eu disse a ele. —Realmente, a qualquer momento. Você quer falar sobre coisas trágicas da vida? Estou triste. Você quer fofocar sobre garotos? Eu posso fazer isso também.

Ele bufou, e fiquei aliviada ao ouvi-lo rir.

—Então, quem era sua boy band favorita? — Eu perguntei, provocando, e ele fez um barulho de repulsa.

—Não. — Ele disse com uma pequena risada. —Realmente, não. Ainda está dolorido.

—Tudo bem. — Eu disse, e me deitei ao lado dele, pressionando um beijo em sua têmpora. —Eu vou deixar você falar sobre isso no futuro. Eu só quero que você saiba que estou aqui por você.

Com outra risada suave, ele se virou para me olhar nos olhos, estranhamente vulnerável.

—E isso? — Ele perguntou, sua mão deslizando pela minha coxa até a minha cintura. —Você ainda está aqui para isso? Tudo bem se você não estiver.

Eu respondi beijando-o com força. Inferno, sim, eu estava. A princípio. E depois de uma conversa tão pesada, se era isso que ele precisava sentir como se eu ainda estivesse com ele, fiquei mais do que feliz em agradecer.

Ethan sorriu contra meus lábios e me beijou de volta, me puxando para mais perto, nossas pernas emaranhadas quando suas mãos fortes apertaram meus quadris.

—Então. — Ele disse, respirando fundo quando quebramos o beijo. —Sobre Cole...

—Sim? — Eu ainda estava um pouco tonta com o beijo, pensando em quão longe poderíamos arriscar ir.

—Você gosta dele também.

Isso chamou minha atenção. O calor correu para o meu rosto.

—Eu não sei. — Eu admiti. —Ele é fofo. Mas não é como eu faria... não estou planejando...

—Está tudo bem. — Disse ele, beijando minha testa. —Você não precisa se desculpar.

—Você não está com ciúmes? — Eu perguntei.

—Claro que sim. — Ethan disse com uma risada forçada. —Ele é fofo, e é um necromante como você, e ele tem toda aquela coisa trágica de bad boy acontecendo. E, por mais que eu goste de você, você sabe que tenho... um limite de tempo.

—Ethan. — Eu disse preocupada, sentando-me. Ele balançou a cabeça, me empurrando de volta suavemente.

—A menos que encontremos uma maneira de quebrar a maldição. — Disse ele. —Um dia, mais cedo ou mais tarde, isso vai me derrotar. Não sou um bom investimento a longo prazo.

—Você é uma pessoa, não uma opção de compra. — Eu disse. Ele riu, mas havia uma amargura no conjunto de suas sobrancelhas.

—Quanto mais fundo você se envolver comigo — Disse ele, —Mais doerá se e quando isso acontecer. Eu não culparia você por não querer passar por isso. Então, sim, tenho inveja do cara que poderia passar a vida com você, quando eu só tenho alguns anos. Ou menos.

Eu gostaria de ter certeza de que definitivamente quebraríamos a maldição. Eu realmente não tinha pensado em quanto tempo teríamos. Agora eu quase podia ouvir um relógio correndo, segundos preciosos desaparecendo. Era um milhão de vezes mais assustador do que se apaixonar. Eu pensei que estava confortável com o conceito de morte, considerando quem eu era como pessoa, mas nunca o processei até que de repente se aproximava, inevitável e implacável, e não há nada que eu possa fazer sobre isso.

—Mas meu ciúme não importa. — Ethan disse finalmente. —Confio em você. O ciúme é... As pessoas não o entendem. Eles agem como se fosse um sinal de amor, ou algum grande obstáculo intransponível, mas o ciúme é apenas uma emoção. Um sintoma de insegurança. Você não pode simplesmente dizer ‘estou com ciúmes’ e encerrar a conversa. Você precisa falar sobre isso, descobrir por que está com ciúmes e resolver o problema.

—Eu não acho que entendi o que você está dizendo. — Eu admiti, franzindo a testa.

Ele passou a mão pelas minhas costas distraidamente, pensando.

—Acho que o que estou dizendo é que, se você quer ficar com ele, está tudo bem comigo.

Meus olhos se arregalaram. —Só porque sua maldição pode matá-lo, eventualmente, não significa que eu vou pular de navio antes mesmo de-

—Não é isso.

—Você está apenas tentando me dar um fora por causa da coisa bi? Porque você não precisa-

Ethan cobriu minha boca com a mão, um sorriso exasperado em seu rosto.

—Não, Vexa, não é isso que eu quero dizer. — Disse ele, balançando a cabeça e removendo a mão para escovar meu cabelo para trás. —Quero dizer, se ele está bem com isso, se você quer ficar com ele também, eu não me importo.

Isso me calou. Não era uma possibilidade que eu realmente considerasse. Eu encontrei minha boca seca e meu coração batendo um pouco demais com o pensamento.

—Eu sei que é estranho. — Disse ele, afastando-se um pouco, envergonhado. —Eu provavelmente não deveria ter sugerido. Apenas sinto que temos tão pouco tempo que você não deve se conter. Você merece tudo o que deseja e muito mais. Você é incrível e-

Desta vez, coloquei minha mão sobre sua boca. Quando ele parou de tagarelar, tirei minha mão para beijá-lo.

—Você realmente ficaria bem com isso? — Eu perguntei. Ele assentiu, sorrindo. Procurei algum traço de dúvida em seus olhos, mas não consegui encontrá-lo. —Você quer ficar com ele também?

Houve um lampejo de dúvida. Ele lambeu os lábios, olhando para as nossas mãos unidas.

—Eu não...— Ele admitiu. —Com um cara. Cheguei perto algumas vezes. Não pude continuar com isso.

—Mas você quer tentar com ele? — Eu perguntei, pressionando.

Ele desviou o olhar, inquieto. Eu o deixei desconfortável novamente.

—Não... talvez. — Ele admitiu. —Eu não deveria. Mas acho que ele não aceitaria. Não comigo, pelo menos.

—Eu não sei. — Eu disse, lembrando o quão vermelho Cole ficou quando Ethan o tocou hoje cedo. —Eu acho que você tem uma chance.

—Você ficaria bem com isso? — Ethan perguntou, olhando nos meus olhos. —Não é nem uma possibilidade remota, mas eu não quero pressioná-la a qualquer tipo de situação com a qual você não se sinta confortável, mesmo hipoteticamente.

Eu pensei sobre isso, lembrando-me da maneira como meu estômago tremia observando-os mais cedo, as pontadas de preocupação e saudade.

—Estou com medo disso. — Eu disse, decidindo que ser honesta era a melhor escolha. —Eu tenho medo que vocês dois decidam que estão melhor sem mim. Isso é estúpido?

—Não, não, isso é normal. — Ethan disse, rapidamente, me puxando para perto e beijando minha cabeça novamente. —Deus, isso é perfeitamente normal, querida. Também tenho medo disso. Inferno, provavelmente seria uma boa decisão de sua parte. Mas você. Você é incrível. Eu sei que isso ainda é novo, mas não é uma aventura para mim. Eu quero fazer isso durar, pelo menos enquanto eu tiver deixado. As coisas podem mudar, talvez possamos aprender mais um sobre o outro e nos afastar, quem sabe. Mas eu sei que você me faz querer tentar para fazer isso funcionar. Nada do que poderia acontecer com Cole vai mudar isso.

Ele me beijou novamente e eu coloquei meus braços em volta dele, meu coração doendo no meu peito. Eu não tinha certeza de nada ainda, mas isso era bom. Certo.

A língua de Ethan roçou meus lábios e um pequeno zumbido de encorajamento me escapou, o que o fez me apertar com mais força. Deslizei uma perna sobre seus quadris e sua mão deslizou da minha cintura para me puxar para mais perto, o ar entre nós ficando quente. Deslizei a mão em seus cabelos, unhas roçando seu couro cabeludo, e ele quebrou o beijo com um calafrio para espalhar beijos na minha garganta.

Eu gemi em apreciação e Mort levantou a cabeça do final da cama. Ele bufou impaciente, pulou da cama e abriu a porta do quarto, desaparecendo na escuridão do corredor. Algo sobre a pura indignidade de sua reação e o absurdo de esquecermos que ele estava lá me fez começar a rir, e uma vez que comecei, não consegui parar. Que conversa intensa e louca de ter no final desta semana insana. Deus, eu quase morri três vezes, e agora eu estava discutindo um relacionamento aberto com meu namorado bissexual e lobisomem. Eu pensei que minha vida era estranha antes de tudo isso começar. Ethan levantou-se para fechar a porta e eu o observei sair, ainda processando tudo o que havíamos conversado, mas meus pensamentos sumiram enquanto eu apreciava a visão de sua bunda naquelas calças de moletom. Tinha sido uma noite muito intensa até agora. Quando Ethan voltou, eu sorri para ele e torci para que ainda não tivesse terminado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Onze


Quando ele voltou para a cama, eu rolei de costas e abri meus braços para ele, ansiosa para continuar o beijo que havíamos quebrado um momento atrás. Ele concordou de bom grado, deslizando sobre mim para me beijar gentilmente. Deslizei meus braços ao redor dele, aprofundando o beijo e puxando-o para baixo dos travesseiros. Eu amei a pressão tranquilizadora do seu peso em mim. Isso me fez sentir estável em um mundo onde as coisas desmoronavam constantemente. Deslizei minhas mãos em direção à cintura de suas calças, e Ethan quebrou o beijo para pegar minha mão.

—Não deveríamos. — Disse ele com um suspiro relutante. —Você sabe o que poderia acontecer.

Ele estava certo, mas eu não queria admitir. Eu queria estar com ele agora. Após o peso da nossa conversa, era importante. Eu queria mostrar a ele o quanto eu o queria. Eu queria ver nos olhos dele o quanto ele me queria.

—Vamos tentar alguma coisa. — Sugeri, sorrindo. Ele levantou uma sobrancelha, mas obedeceu quando eu o empurrei de volta para os travesseiros e subi da cama para recuperar alguma coisa. Quando voltei com o cinto da calça, ele parecia um pouco preocupado, sentando-se contra a cabeceira da cama.

—Até que possamos comprar aquelas algemas felpudas. — Eu disse, subindo em seu colo. Peguei suas mãos, levando-as acima da cabeça até a barra da cabeceira da cama, amarrando o cinto em uma figura oito em volta dos pulsos e da barra. Apertei-o apenas o suficiente para que eu ainda pudesse colocar dois dedos entre ele e sua pele.

—Como é isso? — Eu perguntei a ele. —Não é muito apertado, é?

—Parece estranho. — Ele admitiu. —Mas não é muito apertado.

—Você quer que eu tire? — Eu perguntei.

—Diga-me o que você está planejando primeiro. — Disse ele, rindo.

—Isso está seguro. — Eu disse, batendo no cinto antes de me acomodar mais profundamente em seu colo, com muitas mexidas desnecessárias. —O plano é ir muito, muito devagar.

Eu rolei meus quadris contra seu colo e o vi engolir em seco.

—Construa um pouco de cada vez para que você nunca perca o controle. Parece bom?

—Eu não sei se isso vai funcionar. — Disse ele, mordendo o lábio. —Mas estou disposto a tentar.

Eu sorri —Incrível. Diga-me imediatamente se algo dói ou se você quer parar.

Comecei tirando minhas próprias roupas. Fiel à minha palavra, aproveitei meu momento agradável, derramando minha camisola e a roupa íntima por baixo com tanta pompa e circunstância quanto pude. Era uma provocação boba, mas o fez sorrir, o que importava.

Fiquei nua no colo dele, montando nele enquanto terminava e ele sorriu para mim, apreciando a vista.

—Você vai me despir em seguida? — Ele perguntou.

Eu fingi considerar por um minuto.

—Hmm, nah, acho que você está bem como está.

Eu o beijei antes que ele pudesse dizer mais. Comecei doce e devagar, depois arrastei meus dentes sobre seu lábio, mordi o suficiente para fazê-lo ofegar e deslizei minha língua ao lado da dele para provar o calor de sua boca.

Enquanto eu o beijava, balancei meus quadris em círculos lentos, moendo descaradamente contra ele. Ouvi o couro do cinto estalar quando minhas mãos apertaram seu peito e deslizaram até sua cintura. Eu levei um tempo beijando-o, minhas mãos vagando, traçando sua clavícula, os músculos de seus braços, como eu tinha todo o tempo do mundo, até senti-lo ficando duro contra mim. Eu me esfreguei contra ele por um momento até ouvir sua respiração começar a pegar. Então me afastei, sorrindo para o barulho frustrado que ele fez.

—Como você está se sentindo? — Eu perguntei, recostando-me em uma mão, ainda montando em seu colo. —Ainda está tudo bem?

—Tudo ótimo. — Ele confirmou, seus olhos quentes enquanto olhava para mim. —O lobo nem está mostrando a cabeça ainda. Talvez a última vez tenha sido por acaso.

—Talvez. — Eu disse, passando a mão livre pelo centro do peito enquanto olhava para ele. —Mas eu não estou me arriscando. Você sabe, você parece muito bem assim.

A calça de moletom escorregou em seus quadris. A mecha de cabelo castanho dourado que desapareceu sob a banda foi uma tentação difícil de resistir, apontando para o contorno óbvio de seu tesão negligenciado. A posição dos braços acima da cabeça enfatizava as linhas do peito bem definido, os ombros largos, a curva do estômago. Acima de tudo, a fome em seus olhos me fez doer de excitação. De fato...

Eu deixei minha mão descer pelo meu peito correndo até os meus lábios, correndo levemente por fora. Eu vi as pupilas de Ethan dilatar enquanto ele observava meus dedos deslizarem para dentro para arrastar lentamente através das minhas dobras, espalhando a umidade brilhante da minha entrada para o meu clitóris. Mordi meu lábio, quase capaz de sentir seu olhar em mim, um formigamento na minha pele enquanto eu lentamente circulava o pico, suspirando enquanto relaxava lentamente no prazer da sensação. Nesse ritmo, eu poderia me tocar a noite toda, ocasionalmente deixando meu clitóris deslizar pelas minhas dobras novamente, me abrindo para ele olhar, mas não tocar. Eu ouvi o cinto ranger novamente, e ele gemeu.

—Oh, isso não é justo. — Disse ele.

—O que não é justo? — Eu perguntei, jogando de inocente quando deitei no cotovelo, sentindo a tensão no topo das minhas coxas enquanto eu me acariciava, literalmente no colo dele e ainda fora de seu alcance.

—Vamos lá. — Ele implorou. —Você não pode simplesmente me provocar.

—Não posso? — Eu perguntei com um sorriso, esfregando-me um pouco mais com a visão de sua ansiedade. —O que você vai fazer para me impedir?

Ele xingou baixinho, enviando um arrepio de prazer pela minha espinha. Arqueei meus quadris em meu próprio toque, gemendo enquanto esfregava mais rápido. Não havia necessidade de tomar meu tempo comigo mesma. Eu poderia vir quantas vezes quisesse antes de tocá-lo. E essa era uma sensação muito agradável. Joguei a cautela ao vento, seguindo em frente como se eu tivesse apenas cinco minutos antes de sair para o trabalho. Eu o deixei assistir enquanto me desfiz, puxando todos os truques que eu sabia para me fazer gozar mais rápido. Foi um pouco de luta com a posição desconfortável, mas uma vez que eu entrei o suficiente, eu esqueci a tensão nas minhas pernas, voando alto e chegando perto.

Minha respiração ficou presa ao me aproximar do clímax. Eu trouxe minha outra mão de trás de mim para enrolar os dedos dentro de mim enquanto esfregava mais rápido, os quadris se contorcendo, o prazer pulsando como meu sangue nos meus ouvidos, junto com as respirações irregulares de Ethan. Nessa posição, minhas pernas ainda estavam dobradas dos dois lados do colo dele, meu peso no pescoço e nos ombros, minhas costas curvadas como um arco, eu era como uma mola enrolada, como uma flecha prestes a ser disparada. A tensão era quase dolorosa, apenas aumentando a sobrecarga sensorial do orgasmo.

—Vexa, por favor. — Ethan implorou, sua voz rouca de desejo, e eu ofeguei quando o prazer cresceu e tomou conta de mim.

Fiquei ali por um momento, relaxando a postura tensa das minhas costas, percebendo a dor desconfortável nas minhas pernas, saboreando o delicioso formigamento do pós-brilho sobre a minha pele. Eu me deliciei com uma sensação tátil inebriante, enquanto Ethan estava choramingando entre minhas coxas. Na verdade, choramingando, rosnados baixos se transformando em choramingos caninos.

—Você ainda está bem? — Eu perguntei, sentando-me. Ele ainda parecia humano, exceto por um leve brilho dourado nos olhos.

—Não. — Ele disse, lambendo os lábios. —Estou tão longe de estar bem como acho que já estive.

Eu ri um pouco, me acomodando no colo dele e me inclinando sobre ele, meio para verificar suas restrições para mover minhas pernas, que estavam começando a adormecer.

—Você quer que eu o solte? — Eu perguntei, traçando o cinto.

—Mais do que tudo. — Ele gemeu, pressionando o rosto nos meus seios. —Mas você não deveria.

—Eu não quero que você se sinta desconfortável. — Eu disse, passando meus dedos pelos cabelos dele.

—Não, não, isso é desconfortável. — Disse ele, beijando o espaço entre os meus seios. —Horrível, horrível, muito bom e desconfortável. Não pare.

Eu ri novamente, mas, me tranquilizado de que ele estava bem, continuei.

Eu me mexi para beijá-lo novamente, longo e lento, negando-lhe até a minha língua, amando o jeito que ele se contorcia e se inclinava a cada toque.

Eu dei a ele o que ele queria por centímetros, o mais lento que pude. Sempre que ele começava a ficar excitado, eu recuava, desacelerava ainda mais, deixando-o frustrado e desesperado, mas ainda no controle de si mesmo. Quando finalmente enfiei a mão na cintura da calça, ele tremeu de necessidade. Eu acho que ele quase terminou apenas com o primeiro toque dos meus dedos contra o seu eixo, o primeiro aperto suave. Decidi então que, se isso se tornasse algo normal, eu faria isso acontecer eventualmente. Só de pensar em fazê-lo desmoronar com um único toque foi tanta pressa que tive que parar e me tocar de novo, para seu deleite e frustração, até que ele literalmente me implorou que o deixasse usar a boca. Eu fui generosa o suficiente para permitir isso a ele. Eu estava de pé sobre ele, minhas mãos apoiadas na cabeceira da cama, enquanto ele fazia tudo o que suas restrições lhe permitiam. Eu já tinha ouvido falar oralmente como adoração, mas nunca realmente apreciei o quão preciso o termo poderia ser até esse momento. A cada momento em que sua boca não estava preocupada, ele sussurrava, gemia e rosnava meu nome, me dizendo o quão perfeita eu era, o quanto ele precisava de mim. O elogio foi quase tão bom quanto a boca dele.

—Vexa. — Ele gemeu, pressionando beijos de borboleta no meu estômago. —Linda, perfeita, maravilhosa Vexa. Estou morrendo. Isso está literalmente me matando.

Eu ri, acariciando seus cabelos.

—Quer que eu te deixe sair? — Eu perguntei.

Ele balançou sua cabeça. —Não, mas se eu não puder estar dentro de você em breve, eu realmente morrerei. Estou cem por cento sério.

Rindo, eu me abaixei em seu colo para beijá-lo novamente, provando-me em seus lábios.

—Eu não sei. — Eu ronronava contra aqueles lábios. —Você acha que ganhou?

—Farei qualquer coisa. — Ele implorou. —Por favor, por favor.

Eu sorri —Eu gosto de você implorando. — Eu disse. —Essa é uma boa aparência para você.

—Além disso. — Ele reclamou. —Isso está seriamente começando a doer.

—O cinto? — Eu perguntei, tentando alcançá-lo, preocupada.

—Não. — Ele disse, e balançou seus quadris contra mim, moendo sua ereção ainda muito dura contra as minhas costas. Ele gemeu, fazendo isso de novo. —Na verdade, se você simplesmente não se mexer...

Eu me afastei dele imediatamente com um sorriso perverso. Ele quase chorou, chutando os lençóis em frustração.

—Você foi um menino muito bom. — Eu disse, beijando sua testa. —Você merece melhor que isso.

Saí do colo dele, apenas o tempo suficiente para pegar uma camisinha na mesa de cabeceira.

—Oh, graças a Deus. — Disse Ethan, aliviando o fôlego, relaxando os ombros tensos. Rasguei o pacote com os dentes e me movi entre as pernas dele.

—Quer ver um truque? — Eu perguntei, sorrindo enquanto pegava seu pau na mão. Ele levantou uma sobrancelha, desesperado demais para me questionar enquanto colocava a camisinha na minha boca. Inclinei-me sobre ele, envolvendo meus lábios em torno da cabeça de seu pênis e pressionei o preservativo no lugar com a minha língua. Deslizei-o mais fundo na minha boca, rolando a camisinha pelo seu pênis com meus lábios. Ele xingou de maneira colorida quando o calor da minha boca o cercou, os quadris batendo, mas eu o segurei. Eu ainda estava no controle desse rodeio.

Quando a camisinha e meus lábios atingiram a base de seu pênis, eu me afastei, fingindo que meus olhos não estavam lacrimejando e lutando contra o desejo de tossir.

—Puta merda. — Disse ele, olhando para mim como se eu fosse feita de ouro maciço.

Não perdi mais tempo. Eu estava quase tão ansiosa por tê-lo dentro de mim quanto ele. Ajoelhei-me sobre ele, voltando para segurar seu pau no lugar enquanto me abaixava lentamente sobre ele. Ele congelou, seus olhos brilhando com um tremido âmbar, parecendo que ele não ousava nem respirar enquanto sua cabeça deslizava contra as minhas dobras. Levei meu tempo, deslizando contra ele algumas vezes, antes de finalmente deixá-lo entrar. Respirei fundo quando a primeira polegada me abriu. Ele era grosso, e eu tremi com a antecipação de como ele se sentiria completamente dentro de mim. Mas ainda demoraria um pouco até eu descobrir. Eu fiquei onde estava, seu pau apenas dentro de mim, aproveitando a sensação, até que ele se contorceu com ansiedade. Então eu o levei um pouco mais fundo. Talvez outra polegada.

—Vexa! — Ele disse, um pouco alto demais para estarmos em uma casa com outras pessoas dormindo nela. Eu o silenciei, tentando não rir, e afundei o resto do caminho, xingando quando ele bateu profundamente dentro de mim. Eu me senti tão bem, tão cheia, meu clitóris latejando com o meu pulso.

Ficou claro que Ethan se sentia tão bem quanto eu, sua cabeça jogada contra a cabeceira da cama, sua respiração dura. Quando eu vi suas mãos flexionarem seus laços, garras brilhando. Lembrei-me de que não estava apenas indo devagar para meu próprio entretenimento.

—Aí estamos. — Eu disse, suavemente, passando as mãos sobre as pernas e o estômago em círculos calmantes. —Como você está se sentindo?

Ele respirou fundo várias vezes antes de falar, recuperando o controle, embora não conseguisse embainhar suas garras.

—Bom. — Ele disse, sem fôlego. —Deus, tão bom.

—Como está o lobo? — Eu perguntei, balançando meus quadris lentamente, moendo-o mais profundamente dentro de mim. Ele gemeu e ouvi o cinto de couro esticar novamente.

—Assistindo. — ele finalmente admitiu, um rosnado em sua voz. —Eu acho que tenho um controle sobre ele. Pelo menos, tanto quanto posso.

—Bom garoto. — Eu disse. —Você pode esperar se eu continuar?

—Sim, mas eu acho que você não pode confiar em mim para dizer para parar se eu começar a escorregar. — Ele admitiu com uma careta.

—Então eu vou ter um cuidado extra. — Eu disse a ele, levantando meus quadris até que ele estava apenas dentro de mim. —E extra, extra lento.

Eu me abaixei novamente em um longo e lento deslize, saboreando o calor e a pressão de cada centímetro, meus dedos dos pés enrolando nos cobertores. Eu amei o jeito que ele se encaixava dentro de mim, e o jeito que ele pressionou contra minhas paredes internas quando eu inclinei meus quadris da maneira certa.

Tanto porque eu queria testar os limites de Ethan e porque simplesmente não conseguia resistir, continuei em ritmo acelerado, não muito rápido ou muito lento. Depois de todas as provocações, eu sabia que Ethan não tinha muita resistência sobrando. Eu o observei com cuidado, resistindo ao desejo de me perder no prazer. Esfreguei meu clitóris em círculos preguiçosos por outra camada de calor, construindo como um fogo dentro de mim. Fazia muito tempo desde que eu tive isso. Ethan teria ficado sozinho o tempo todo também, eu me perguntava? Tive a impressão de que ele não estava com ninguém desde a maldição, e pude entender o porquê. Mas eu meio que amei o pensamento de ser a única a dar isso a ele depois de tanto tempo, depois que ele talvez pensasse que estava perdido para ele para sempre.

Ethan começou a me observar, seus olhos devorando todos os meus movimentos como se ele quisesse gravar essa memória em sua mente para sempre. Mas enquanto eu continuava, ele teve que fechar os olhos, prendendo a respiração, os braços tensos contra o cinto enquanto lutava com o lobo e com seu próprio desejo de gozar. Quando o vi começar a tremer, diminuí a velocidade ao mesmo tempo, voltando ao ritmo mais lento que pude controlar. Ele xingou amargamente baixinho, mas depois de um momento, sua respiração se acalmou e um pouco de seu autocontrole voltou. Assim que ele estava um pouco mais no controle, eu acelerei novamente, um pouco mais rápido do que antes. Eu estava ansiosa para gozar também. Mas eu não podia me dar ao luxo de ser egoísta, infelizmente. Eu tive que facilitar isso para provar que poderia funcionar.

Eu estabeleci um ritmo sólido, observando-o com cuidado, diminuindo a velocidade assim que ele ficava muito excitado, acelerando uma vez que ele tinha o controle novamente. Eu nunca tinha feito sexo de maneira tão agradável antes, e estava gostando. Ethan, ao contrário, parecia estar sendo torturado.

—Se o seu objetivo aqui é me fazer odiar você. — Ele ofegou, enquanto eu diminuí a velocidade até quase parar novamente. —Você está conseguindo.

—Espere um pouco mais. — Eu disse, fechando os olhos enquanto lutava contra o meu próprio desejo de ir mais rápido. Eu estava tão perto de gozar cerca de cem vezes e me afastei antes que acontecesse, tentando salvá-lo. —Estamos quase chegando, não estamos?

—Deus, sim. — Ethan disse, os quadris tremendo enquanto ele tentava empurrar em mim apenas para eu segurá-lo. —Mas o lobo está tão perto, Vexa. Eu não sei por quanto tempo eu posso segurá-lo, não importa o quão lento vamos.

—Você tem certeza que não está dizendo isso apenas porque quer que eu acelere? — Eu o provoquei, moendo com ele.

—Isso também. — Ethan disse, com os dentes cerrados. —Além disso, meus braços estão realmente ficando doloridos.

—Tudo bem. — Eu disse respirando fundo, inclinando-me para beijá-lo brevemente. —Espere firme, baby.

Eu me joguei em um ritmo rápido que balançou a cabeceira da cama e deixou Ethan tenso por toda parte, uma série de maldições estranguladas deixando-o. Mordi meu lábio, cada impacto provocando fogos de artifício de prazer dentro de mim. A gratificação atrasada é uma merda, mas Deus, me sinto bem em finalmente ceder depois de esperar tanto tempo.

Ethan enfiou os calcanhares no colchão, empurrando-se para me encontrar em fortes impactos de tirar o fôlego. Fechei os olhos, concentrando-me inteiramente na sensação.

—Quase. — Ethan rosnou. —Tão perto - Vexa.

O orgasmo se aproximava como o pico de uma montanha-russa que vinha subindo há horas. A mola estava enrolada até seu ponto de ruptura absoluto e se eu não a liberasse logo...

Eu deveria estar prestando mais atenção. Não percebi que havia algo errado até ouvir o couro estalar e o rosnar do lobo. Quando abri meus olhos, Ethan já me segurava pelos ombros, me empurrando de volta para o colchão. Tive um instante de temer que estivesse prestes a morrer, e então Ethan bateu em mim com tanta força que vi estrelas.

Ele entrou em mim como um animal, como se ele morresse se não morresse, como se tudo dependesse de me foder tão forte e rápido quanto ele era fisicamente capaz. Meus quadris não estavam na cama, minhas pernas ao redor dele, minhas mãos em seu peito. Com as talvez duas células cerebrais que tive que poupar com o prazer que sobrecarregava rapidamente meu cérebro, vi que ele não havia desaparecido completamente, pelo menos ainda não. Ele ainda era mais homem que lobo, mas se afastava rapidamente. A pele se substituía, os dentes cresceram mais. Eu me atrapalhei com minha mágica após o orgasmo, tentando roubar minha capacidade de pensar, envolvendo-a em torno de sua maldição como eu tinha no drive-in, comprimindo-a, empurrando-a para trás, abraçando-a.

—Vexa. — Ethan disse, sua voz um grunhido irreconhecível de animal. Eu olhei nos olhos dele e não vi Ethan lá. Ele não estava errado quando disse que o lobo não era ele. Havia algo completamente atrás de seus olhos. Algo antinatural e cheio de ódio. Algo que teria rasgado minha garganta agora, exceto a pura força de vontade de Ethan e sua própria necessidade primordial.

O impacto dos quadris de Ethan contra minhas coxas tocou bruscamente através da sala, assim como seus rosnados bestiais, e meus próprios gritos, todas as tentativas de controle perdidas. O prazer corria por minhas veias como fogo a cada golpe feroz. Eu segurei sua maldição com a última razão, cavando minhas unhas enquanto minha visão ficava branca, como se fosse tudo o que pudesse me segurar na terra.

O orgasmo me atingiu como um deslizamento de terra, como uma erupção vulcânica, como uma força da natureza invadindo-me. Todo nervo queimava, todo músculo ficava tenso. Eu fiz um barulho gutural e desesperado, cada parte de mim reduzida a um ponto quente e branco de êxtase irracional.

Foi só quando a onda retrocedeu, eu percebi que Ethan tinha terminado também. Ele pairava sobre mim, segurando firme, respirando com dificuldade. Eu ainda estava segurando sua maldição e empurrei um pouco mais contra ela. Eu assisti o lobo recuar, até Ethan, exausto e gasto, desabar na cama ao meu lado.

Eu rolei de lado para encará-lo, murmurando garantias e acariciando seus cabelos. Ele estava consciente, embora apenas justo.

—Você está machucada? — Ele lutou para dizer.

—Não, não, eu estou bem. — Eu disse a ele. —Você não me machucou. Está tudo bem.

Ele deu um suspiro trêmulo de alívio e eu o beijei, espalhando-os pela testa e bochechas, tão aliviada quanto ele. Ele abriu os olhos, da mesma cor quente que sempre foram, sem mais vestígios do ouro. Ele sorriu para mim por um momento, e eu sorri de volta, uma estranha sensação de vitória me enchendo que era quase mais doce que o orgasmo. Conseguimos. Não da maneira que esperávamos, mas fizemos.

Alguém bateu na porta do quarto e nós dois congelamos.

—Todo mundo vivo ai? — Minha tia falou.

A humilhação correu através de mim. Ethan gemeu e escondeu o rosto nos lençóis.

—Sim, estamos bem. — Eu falei de volta. —Está tudo bem!

—Você não teria imaginado pelos barulhos. — Disse tia Persephona sem rodeios. —Mas estamos muito felizes por vocês dois.

—Sim, parabéns pelo sexo. — Disse Cole pela porta, e minha humilhação aumentou mais dez graus. —Mas no futuro, pode levar em consideração avisar as pessoas que você está prestes a arriscar lançar um lobisomem assassino em casa!

—Ou apenas façam em outro lugar. — Sugeriu minha tia. —Um bunker trancado em algum lugar, talvez.

—Um bunker à prova de som. — Acrescentou Cole.

—Desculpe! — Eu disse.

—Isso não vai acontecer novamente. — Disse Ethan.

Cole e tia Persephona voltaram para a cama e Ethan e eu deitamos um ao lado do outro, com os ossos cansados e agora completamente envergonhados.

—Pelo menos sua tia não é do tipo conservadora? — Ethan disse, tentando aliviar o clima. Eu ri baixinho e ele se juntou a nós dois oprimidos por tudo o que tinha acontecido. Depois de um momento, levantei-me, esticando-me, para fazer uma limpeza mínima, incluindo a eliminação do cinto destruído. Teríamos que conseguir algo mais forte. Quando terminei, caí de volta na cama com Ethan, que tinha usado a última de suas forças apenas para virar o caminho certo na cama. Ele me puxou para perto quando eu me deitei, e me aconcheguei sob seu queixo.

—Só para você saber — Murmurei, meus olhos já fechados. —Isso definitivamente vai acontecer novamente.

 


O café da manhã na manhã seguinte foi desconfortável por cerca de dez minutos, até Cole contar uma piada suja que nos deixou todos em lágrimas.

—Então, como foi o sofá? — Eu perguntei a Cole, enquanto Ethan ajudava minha tia a fazer panquecas.

—Tolerável. — Disse Cole. —Eu tive pior. Seus animais se revezaram tentando me sufocar, no entanto. Você já teve um cão lobo morto tentando deitar no seu rosto enquanto você dorme?

—Sim, desculpe. — Eu disse, rindo. —O cheiro é a pior parte, certo? Estou pensando em enchê-lo de pot-pourri.

—Não pode doer. — Disse Cole. —Mas nenhuma quantidade de purificadores de ar ou taxidermia vai mudar o fato de você ter repudiado ele tarde demais. Os restos mortais estavam muito longe. Se você deseja manter algo familiar, precisa chegar ao corpo enquanto estiver fresco. Depois que o inchaço aparecer, você nunca conseguirá fazê-lo cheirar bem.

—Você está assumindo que eu repensei Mort intencionalmente. — Eu disse com um escárnio. —Ele era a coisa morta mais próxima e maior em mãos quando eu percebi que havia um lobo grande na minha casa.

—Podemos tentar evitar conversas sobre cadáveres à mesa? — Ethan perguntou com uma careta.

—Bem, então por que você não o colocou de volta? — Cole perguntou, ignorando Ethan.

—Eu estava muito ocupada no começo. — Eu disse. —Eu tentei, eventualmente, mas ele está realmente cheio de energia e não quer se soltar. E honestamente, a essa altura, ele lutou com seu leão da montanha por mim e apenas foi um cachorro muito bom em geral e, bem, me apeguei.

—É assim que sempre acontece com os perdidos. — Disse tia Persephona, balançando a cabeça enquanto colocava uma pilha de panquecas na mesa. —Você jura que vai levá-los por um dia até poder levá-los a um abrigo, e a próxima coisa que você sabe é que eles estão enrolados no seu colo e implorando por restos de presunto e você percebe que eles não vão a lugar algum.

—Mort é um pouco mais que um vira-lata. — Disse Cole, pensativo, olhando para o cachorro, que estava deitado perto das portas de correr do quintal, aproveitando o sol. —Há algo estranho sobre o quão consciente ele parece estar.

—Algo sobre a Vela, talvez? — Eu disse com um encolher de ombros.

—Isso, ou seu talento oculto, está executando algum tipo de programa mágico de comportamento canino em seu subconsciente. — Disse Cole.

—Parece plausível para mim. — Ethan riu.

Mort levantou a cabeça brevemente para bocejar, depois rolou de novo, nos ignorando.

—Eu provavelmente deveria ir ver os gatos antes de me sentar. — Disse minha tia, limpando as mãos e indo para o quintal. Seus gatos mortos-vivos não precisavam de alimentação, mas precisavam ser energizados regularmente e verificados quanto a danos em seus restos mortais, e as pragas mortas que eles entregavam tinham que ser tratadas.

—Eu posso cuidar disso depois do café da manhã. — Eu disse a ela, não querendo que ela se esforçasse.

—Não seja boba, eu consigo. — Respondeu ela com desdém, e saiu antes que eu pudesse dizer mais.

—Vamos ver o cara dos fae hoje. — Eu disse enquanto Ethan se sentava e cavamos as panquecas. —Qual é o problema dele?

—Bem, eu ainda não o conheci — Disse Ethan. —Mas as vezes em que os curandeiros descobriram algo genuinamente perigoso, ele é o principal responsável por lidar com isso. Aparentemente, ele é um profissional em garantir artefatos mágicos. Mas também ouvi dizer que ele tem uma atitude meio estranha. Provavelmente por causa da coisa falsa. Está no ar se ele estará disposto a nos ajudar.

—Você deveria suborná-lo com algumas dessas panquecas. — Disse Cole com a boca cheia. —Estas são fodidamente incríveis.

—Sim, maldito Ethan, você tem um talento. — Eu concordei com uma risada. —Acho que nunca tive panquecas tão perfeitas.

Ethan sorriu, profundamente satisfeito.

—Ele é alto, é médico, sabe cozinhar. — Disse Cole, concentrado em inalar suas panquecas o mais rápido possível. —Se ele não estivesse se transformando em um monstro do mal, seria o material ideal para o casamento.

—Bem, espero que possamos cuidar disso hoje. — Eu disse rapidamente.

—Isso significa que você me daria uma chance assim que eu for consertado? — Ethan perguntou a Cole, apoiando-se no cotovelo com um sorriso forçado. Senti uma estranha vibração de orgulho ao vê-lo sendo tão à frente. Sua voz quebrou um pouco e eu vi a tensão nervosa em seus ombros, mas ele a escondeu muito bem, considerando.

Cole, pego de surpresa, olhou para ele e engoliu em seco ao redor das panquecas na garganta.

—Garoto baixo. — Disse ele, erguendo uma sobrancelha. —Sua namorada está sentada bem ali.

—Você também pode me dar uma chance. — Eu disse, pegando a sugestão de Ethan e dando a ele o meu sorriso de queijo. —E isso não foi um não.

Cole ficou lentamente escarlate.

—Eu preciso ir. — Ele disse rapidamente, levantou-se e saiu correndo pelas portas deslizantes para ficar no quintal.

Eu ri, apesar de ter conseguido segurar até que ele fechou a porta entre nós.

—Nós provavelmente não deveríamos ter encurralado ele. — Ethan disse, parecendo pensativo através das portas deslizantes onde Cole estava embaixo da árvore, uma mão apoiada no tronco e a outra no peito como se estivesse tendo um pequeno ataque cardíaco. —Espero que não o assustemos.

—Um necromante maligno de séculos não assustou Cole. — Eu o tranquilizei. —Tenho certeza que ele pode lidar com um pouco de flerte.

—Talvez devêssemos recuar. — Disse Ethan, mordendo o lábio. —Eu não quero que ele pense que eu sou predatório ou algo assim.

—Você não é predador. — Eu disse pacientemente. —Quero dizer, exceto em luas cheias.

—Ha ha. — Ele revirou os olhos.

Depois de alguns minutos, Cole voltou para dentro e sentou-se, retornando às panquecas. Ethan e eu permanecemos em silêncio, não querendo pressioná-lo.

—Então, uh, cara dos fae. — Eu disse, retomando a conversa mais cedo. —Há muitos fae por aí?

—Acho que não. — Disse Ethan. —Ele é o único que eu conheço.

—Ele mora perto? — Cole perguntou, sem levantar os olhos das panquecas. —O tempo todo?

—Uh, sim. — Ethan confirmou, sua voz caindo em um registro mais suave quase imediatamente. Ele estava fazendo aquilo em que agia como se Cole fosse um animal nervoso novamente. —Ele tem uma casa grande perto da ravina. Ele vive lá há anos, até onde eu sei.

—Hum, incomum. — Cole murmurou, ignorando Ethan.

—O que é incomum? — Eu perguntei curiosa.

—Bem, se ele viveu entre humanos sem problemas por tanto tempo, provavelmente ele é da Corte dos fae. — Disse Cole casualmente. —E a corte dos fae não deixa as outras terras muito hoje em dia. Quando o fazem, geralmente é apenas por um dia ou mais. Para alguém que vive neste lugar há anos é muito estranho.

—Eu vou ser honesta. — Eu disse, minha confusão refletida no rosto de Ethan. —Eu nem sabia que os fae eram reais até semana passada, e ainda estava com a impressão de que eram principalmente duendes e outras coisas.

Cole recostou-se, largou o garfo e considerou suas palavras por um momento.

—Tudo bem. Cartilha de faes. Existem três tipos de Faes. — Ele disse finalmente. —Três tribunais. Os Seelie e os Unseelie, também chamados de Tribunais de Verão e Inverno, estão constantemente em guerra. Eles estão em um impasse há tanto tempo que suas vitórias e derrotas se tornaram espelhados rituais das estações atuais.

—Qual é o terceiro tribunal? — Eu perguntei fascinada.

—Fae selvagem. — Disse ele. —Qualquer coisa que não seja Seelie ou Unseelie. Então suos fae domésticas, como domovoi e brownies, seu deus local e criptos, seus espíritos da floresta e guardiões da montanha, e assim por diante, são todos Faes Selvagens desalinhados, basicamente tentando viver suas vidas e não são sugados pelo drama Seelie/Unseelie. Algumas pessoas traçam uma linha entre Faes selvagens nativas e Outras Terras Selvagens dos fae, mas, francamente, eu não acho que haja muita distinção.

—Espere o que? — Eu disse confusa.

—Acho que me lembro de Daphne mencionando algo sobre isso. — Ethan acrescentou, franzindo a testa. —Eles estavam realocando um monte de coisas mágicas antes de um empreendimento imobiliário que estava se mudando, e ela estava reclamando de tentar resolver as espécies invasoras.

—Mais como refugiados do que espécies invasoras. — Disse Cole. —A maioria dos que estão aqui fugiu das Outras Terras para escapar do recrutamento.

—Eu pensei que eles eram animais. — Disse Ethan, confuso. —A maioria dos que vi certamente pareciam animais.

—E quem os estava recrutando? — Eu perguntei.

—Quem mais? Os tribunais. — Disse Cole, e inalou uma panqueca inteira de uma só vez, sufocando sua arrogância. Quando ele pôde respirar novamente, ele continuou. —A inteligência falsa é complicada. Ela varia em todo o lugar e realmente não se encaixa nos padrões humanos. Os duendes podem parecer grandes insetos, mas são espertos o suficiente para não quererem entrar em guerra.

—E eles vieram dessas Outras Terras para fugir? — Eu perguntei.

—Alguns deles. — Confirmou Cole. —Para explicar o mais brevemente possível, a terra é... uh, a terra é uma bolha de sabão. E tem outras bolhas de sabão menores grudadas nela. Entendeu?

Eu balancei minha cabeça, mas Cole continuou.

—As bolhas menores são as Outras Terras. Pequenas realidades fraturadas. Ou talvez apenas realidades em que a física e a energia funcionam de maneira muito, muito diferente. A Terra é a maior, pelo menos pelas medições tradicionais, já que temos um universo e outras galáxias e merda, e a maioria das Outras Terras que foram vistas e relatadas por humanos são um único local que se estende infinitamente, como a Cidade Sem Fim ou a floresta de Tir Na Nog.

—Algumas das coisas que li levantam a hipótese de que as Outras Terras realmente vieram da Terra, manifestadas pelo inconsciente coletivo ou algo assim. A maioria dos livros coloca o número de Outras Terras em torno de nove. Mas isso pode ser apenas o que vimos. Os Seelie e Unseelie correm entre todas as Outras Terras, travando suas guerras e forçando qualquer Fae Selvagem que encontrarem a se juntar a eles. A Terra é a única terra que já teve sucesso em mantê-los fora, e ainda sentimos o feedback mágico de suas lutas influenciando o tempo e a probabilidade. E sempre que a luta deles se muda para outro país, temos uma onda de refugiados saindo antes da chegada do tribunal.

Ele bebeu meio copo de suco de laranja.

—Mas, voltando ao meu ponto original sobre o cara dos fae... não existem muitos fae Selvagens que podem manter a forma humana por longos períodos. Selkies, hulda, talvez. E mesmo eles não costumam gostar. A corte dos fae sempre parece principalmente humana... para humanos de qualquer maneira. Então esse cara provavelmente é de um dos tribunais. Isso é tudo.

—Se é tão fácil para eles se encaixarem com os humanos, por que eles não deixam, uh, como você chama isso? — Ethan perguntou.

—As Outras Terras. — Respondeu Cole com um suspiro, esfregando a testa. —E principalmente porque não deixamos. Tropas de faes de qualquer tribunal podem causar uma enorme quantidade de caos e danos quando correm por aqui. Quase sempre vêm em grupos e têm uma necessidade quase biológica de causar problemas. Então, em quase toda a história mágica, aperfeiçoamos maneiras de mantê-los fora dessa realidade o máximo que pudermos. Alguns séculos atrás, alguns grupos mágicos conseguiram se reunir por tempo suficiente para elaborar um contrato que limita severamente sua capacidade de interferirem, exceto o Meio Inverno, Plenos Verões e Equinócios Honestamente, há uma tonelada de coisas estranhas envolvidas. Posso encontrar alguns livros sobre isso, mas não quero ficar aqui conversando sobre isso o dia todo.

—Justo. — Eu disse. —Eu ainda estou me acostumando com tudo isso. Eu sabia muito bem que a necromancia era uma coisa, e então eu descobri sobre magia geral e a comunidade mágica, e eu estava apenas começando a descobrir isso, e agora há outras dimensões? De que faes vêm? E causam as estações do ano?

—Elas... elas não causam as estações do ano. — Gaguejou Cole rapidamente. —É... é apenas... é uma coisa cíclica e simbólica -

—Tanto faz. — Eu disse. Eu não queria ser desviada novamente. —Gostaria apenas de um dia ou dois sem nenhuma ameaça existencial para processar tudo isso, sabia?

—Sim, mesmo. — Ethan disse com um aceno de cabeça cansado. —Mas precisamos ir. Como eu disse, o cara mantém horas estranhas. Se queremos conversar com ele hoje, precisamos chegar em breve, ou teremos que esperar até tarde hoje à noite.

Terminamos o café da manhã rapidamente e saímos às pressas. A oferta de Ethan para Cole ainda estava pendente, sem solução e sem resposta entre nós, mas eu tinha medo de trazê-la à tona e angustiá-lo. Ethan e eu enchemos o silêncio do passeio de carro com conversas sem sentido sobre os tipos de Fae Selvagem que ele havia encontrado com os curandeiros.

—Então, domovoi e trasgu são basicamente os mesmos. — Eu resumi, tentando manter isso claro. —Deixe comida para eles e eles limparão a casa para você. Hobs limpam a casa para você, mas se você lhes der uma recompensa, eles ficarão chateados e vão embora. Brownies esperam recompensas, mas se você tentar vê-los trabalhar, eles ficam chateados e saem.

—Sim, você conseguiu. — Disse Ethan. —Tentar lembrar de todas as regras é a pior, certo? Especialmente quando você não sabe de onde elas vieram. Por aqui, muitas famílias traziam o espírito da casa quando imigravam para a América, e a casa mudou de mãos dezenas de vezes desde então, então descobrir que tipo de espírito é esse pode ser uma dor absoluta.

—Qual foi a pior que você já teve? — Eu perguntei, curiosa, enquanto Ethan dirigia em direção ao exterior da cidade.

—Oh cara. — Ele riu. —Uma das minhas primeiras viagens com os curandeiros foi investigar um 'poltergeist' assombrando uma casa grande e velha em Wethersfield. Só causando pequenas travessuras, desmanchando camas, rindo em salas vazias, você sabe. Nós descobrimos bem rápido que era um espírito da casa, e pensávamos que era uma variedade de Haltija finlandês, que acabou sendo um Zashiki-Warashi japonês. Eles não limpam nada, geralmente causam travessuras mesmo quando estão felizes, mas têm boa sorte... E quando eles saem de casa, é um presságio de coisas ruins loucas a caminho. Nós quase o expulsamos antes de descobrirmos o que era, o que poderia ter sido desastroso para a família.

—Oh merda. — Eu disse. —Mas você conseguiu fazer ficar?

—Sim, e ensinou a família como lidar com isso. — Disse Ethan. —O que é basicamente para ignorá-lo. Uma vez que eles sabiam que não seria toda a atividade paranormal neles, eles não se importavam tanto com as estranhezas ocasionais. Isso dá ao personagem da casa. Estamos quase lá, a propósito.

Nós tínhamos entrado em uma área residencial agradável, a rua serpenteava passando por grandes casas antigas com jardins espaçosos e um jardim impecável. Muitas das casas tinham placas históricas declarando o ano em que foram construídas, muitas das quais começaram com 17 e 18. Definitivamente, acima de todas as nossas notas salariais. Ethan olhou de soslaio para todos os endereços, contando até encontrar o certo.

O jipe desceu o longo caminho arborizado de uma grande casa do Segundo Império, afastada da estrada e protegida por vários enormes carvalhos velhos.

Tinha dois andares mais um sótão sob um telhado escuro de mansarda. Era todo em tijolo e guarnição branca, com torres ladeando a grande porta da frente e janelas altas e arqueadas. O tijolo se arrastava de hera, e o jardim ficou um pouco selvagem, embora ainda fosse mantido, a grama mantida em um comprimento manejável. A videira agridoce e a azeitona russa que incomodavam os vizinhos não tinham presença aqui. Havia um grande bordo japonês, provavelmente mais velho do que eu, e era vermelho mesmo nessa época do ano. Os canteiros de flores mais próximos da casa estavam cheios de batata-doce ornamental roxa escura, coleus cor de vinho e petúnias de veludo preto. O manjericão carmesim e o chocolate com menta se esconderam à sombra das outras plantas, enchendo o ar com seu perfume. Flores da lua, flox noturno e jasmim florescendo à noite adicionavam pequenos salpicos de cores mais brilhantes, embora todos estivessem fechados a essa hora do dia.

Estacionamos o jipe e caminhamos pelo estranho jardim para bater nas pesadas portas de madeira maciça.

—Agora lembrem-se. — Ethan disse, enquanto esperávamos o cara responder. —Faes são complicadas, então tentem ser o mais educados possível e, se ele tentar se irritar com você, não morda a isca. Ele conhece a mim e aos curandeiros, então tentarei fazer o máximo possível da conversa.

Cole e eu assentimos e imaginamos o que esperar. Imaginei um velhinho, como um gnomo, todo travesso e engraçado, embora as descrições de Cole sobre o tribunal me fizessem imaginar elfos de fantasia. Então, novamente, ele estava vivendo com seres humanos todo esse tempo. Ele provavelmente pareceria um cara, certo?

Ouvimos o clique da porta sendo aberta e eu me preparei para descobrir. A porta se abriu, revelando um jovem alto e esbelto, com longos cabelos loiros que reconheci instantaneamente.

—Você? — Eu disse, confusão me deixando momentaneamente pasma. Um segundo passou e eu respirei profundamente quando comecei a juntar as peças. —Você.

Ele olhou para mim, claramente tão surpreso em me ver quanto eu em vê-lo. Seus olhos dispararam para Cole e Ethan. Ele bateu a porta entre nós.

 

Capitulo Treze


—Ei! — Eu gritei, minha suspeita subindo instantaneamente para uma certeza irritada. Eu bati na porta. —Você volte aqui agora!

—Você o conhece? — Ethan perguntou, parecendo confuso.

—Sim, eu o conheço! — Eu disse, entre dentes. —E se ele fez o que eu acho que ele fez, eu vou matá-lo!

—Eu não sugeriria isso. — Disse Cole uniformemente.

—O que ele fez? — Ethan perguntou, perplexo.

—Ele é Greenwood! Ele era advogado imobiliário do meu tio. — Lutei para explicar, ainda batendo na porta. —Ou eu pensei que ele era, de qualquer maneira! Foi ele quem me mostrou a Vela! E se ele é umo fae, se ele está trabalhando com os curandeiros e estava lá especificamente para a Vela em primeiro lugar, então ele sabia exatamente o que estava fazendo quando ele me convenceu a tocá-la!

—Oh. — Disse Ethan. —Bem, isso não é bom.

—Ele está tentando escapar pelos fundos. — Disse Cole, coçando o rosto e se inclinando sobre o parapeito da varanda.

—Pegue ele! — Eu gritei, pulando o corrimão e correndo pela casa. Ethan passou correndo por mim um segundo depois, tirando a roupa enquanto ele se mexia. Eu peguei um vislumbre da expressão assustada de Greenwood através dos arbustos antes de Ethan, de quatro e do tamanho de um pequeno urso, atacá-lo.

Corri para alcançá-lo e encontrei Ethan deitado em cima de Greenwood, abanando o rabo quando ele me deu um sorriso orgulhoso de cachorrinho. Greenwood se contorceu e lutou.

—Me solte imediatamente! — Ele demandou. —Você não pode imaginar a ira que eu posso deixar cair sobre você, se eu escolher!

—Eu deixarei você ir assim que você me disser por que diabos você colocou essa Vela em minhas mãos! — Eu disse, de pé sobre ele. —Você tem alguma ideia do que você me fez passar? Eu quase morri três vezes na semana passada!

Cole vagava em um passeio fácil. —É melhor você apenas derramar tudo, cara. — Disse ele. —Você realmente não quer ficar preso lá fora ao meio-dia, quer? Além disso, a julgar pelo fato de ter tentado fugir a pé, você teve a maioria dos seus poderes selados ou está tentando manter um discreto, então nos ferir provavelmente não seria do seu interesse. De qualquer forma, é mais conveniente cooperar.

—Ugh. — Greenwood emitiu um som meio enojado, meio resignado e empurrou o corpo peludo de Ethan novamente. —Você pelo menos me faria o favor de remover seu animal de estimação antes de eu responder?

—Você promete não correr? — Eu perguntei.

—Você tem a minha palavra. — Disse Greenwood, com um suspiro cansado.

Ethan se levantou e se afastou de Greenwood. As calças marrons e a camisa branca, de colarinho branco, estavam bem manchadas de grama e cobertas de pelos de lobo. Ele fez uma careta de descontentamento e acenou com a mão para si mesmo. Em um instante, a bagunça desapareceu. Ele pegou as folhas dos cabelos da maneira mais convencional, enquanto passava por nós, murmurando. Eu segui logo atrás dele. Ethan permaneceu nos arbustos para voltar e recolher suas roupas.

Ele era tão lindo quanto eu me lembrava dele, embora minha atração por ele estivesse levemente azeda pela percepção de que tudo isso era culpa dele. Ele não era robusto e musculoso como Ethan ou resistente e musculoso como Cole. Ele tinha uma graça refinada que me lembrava os interesses amorosos dos romances da regência, toda a beleza masculina polida. Ele tinha feições aristocráticas e angulares e os olhos mais verdes que eu já vi. Seus cabelos eram da cor do mel à luz do sol, amarrados em um rabo de cavalo baixo com uma fita verde escura, caindo sobre o ombro em ondas sutis. Bonito como ele era inegavelmente, eu estava fortemente inclinada a chutar sua bunda.

Ele nos levou de volta à casa, através de um vestíbulo de teto alto e finamente decorado, e a uma sala de jantar formal, a mesa posta com louça vazia.

—Fale já. —, Eu disse, impaciente. —O que você realmente estava fazendo naquela sala funerária?

—Eu estava prestes a jantar. — Ele disse casualmente, gesticulando para a mesa. —Você pode se juntar a mim.

—Não é um pouco cedo? — Eu perguntei, quando ele se sentou à cabeceira da mesa, estalando o guardanapo de pano com um gesto praticado enquanto o colocava no colo.

—Prefiro dormir durante o meio dia. — Disse ele. —O horário de verão discorda de mim.

—Mais uma razão para resolvermos isso rapidamente, então. — Eu disse, puxando a cadeira mais próxima de mim e sentando-me. Ethan e Cole sentaram-se ao meu lado.

Os pratos da mesa ainda estavam vazios, embora Greenwood parecesse pronto para comer. Eu esperei, meio esperando que os servos aparecessem com comida. Em vez disso, Greenwood bateu duas vezes na mesa. O som era estranhamente alto e ecoou mais do que parecia que a sala deveria permitir. Um segundo depois, os pratos sobre a mesa estavam quase cheios da comida mais deliciosa que eu já vi, desdobrando-se como flores florescendo ou fluindo como água de uma torneira. Momentos depois havia um pequeno banquete à nossa frente.

—Uma mesa de desejos. — Disse Cole, erguendo uma sobrancelha. —Eu nunca vi uma pessoalmente.

—Ainda existem apenas três neste lugar. — Respondeu Greenwood, servindo-se dos pratos mais próximos, todos com comida que eu não reconhecia, mas que parecia indescritivelmente boa. —Eu possuo duas delas. O navio que supostamente levava o terceiro foi perdido no mar nos anos 1300 e ainda precisa ressurgir.

—Eu acho que você pretende pegá-la no minuto que aparecer? — Cole disse, cutucando curiosamente um prato perto dele que parecia macarrão com queijo e lagosta.

—Claro. — Respondeu Greenwood. —Eu coleciono essas coisas. E, por favor, sinta-se livre para comer qualquer coisa, exceto os pratos à minha frente. O que estiver mais próximo de vocês devem ser os seus favoritos ou o melhor palpite da mesa. Não há perigo. A mesa não transmite encantamento. Como a maioria dos pratos de faes faz. É muito conveniente para os hóspedes.

Cole hesitantemente tomou uma colher grande de macarrão com queijo de qualquer maneira. Ethan já estava comendo um pedaço enorme de frango frito sem arrependimentos, mesmo que a comida estivesse encantada. Testei uma tigela perto de mim, que cheirava a bisque de tomate e quase me esqueci por que estava aqui na primeira colherada. Foi a coisa mais deliciosa que eu já provei. Eu sacudi a tentação de provar tudo na mesa para iniciar meu interrogatório.

—É por isso que você estava na sala de funeral? — Eu perguntei. —Você queria recolher a Vela.

—Não é educado discutir negócios à mesa. — Disse Greenwood, sem tirar os olhos da comida.

—Eu não ligo...— Cole agarrou meu ombro e balançou a cabeça. Apertei minha mandíbula com raiva, cedendo com relutância e, depois de um momento de mau humor, servi-me de sopa.

—Então. — Disse Cole, casualmente com batatas e alecrim, —Há quanto tempo você mora na terra?

—Mais tempo do que você viveu. — Respondeu Greenwood, evasivo. —Mas não tanto tempo, comparativamente. Há quanto tempo você está sem-teto?

Eu esperava que Cole se irritasse com raiva, mas ele mal reagiu.

—Desde que eu estudei necromancia. — Respondeu Cole. —Você disse que tem convidados humanos com frequência? Você socializa bastante com os humanos?

O garfo de Greenwood pairava sobre sua comida, mas ele retomou suavemente sem mais emoções.

—Eu disse que tenho convidados. — Esclareceu. —Humano e de outra forma, exatamente com a frequência que sinto vontade de ter companhia. Necromancia é uma busca incomum. Como sua família se sente sobre isso?

—Oh, da mesma maneira que eles se sentem sobre qualquer mágica. — Disse Cole novamente, sem reação emocional, apesar da farpa. Eu não tinha visto ninguém trocar respostas e insultos velados como este desde a última reunião de família. Ou não tão velado, no caso de Greenwood. —Como o tribunal se sente sobre seus... Hábitos?

Um músculo na mandíbula de Greenwood se contraiu, e ele segurou o garfo com força, mas sua expressão e tom permaneceram neutros.

—Eu nunca imaginaria adivinhar os sentimentos do tribunal. — Disse ele. —Eu opero com a permissão da minha rainha, e isso é tudo o que é necessário. Entendo que sua família está morta, então? Que trágico.

—Oh, não, eles estão vivos. — Disse Cole com um pequeno sorriso frio. Greenwood agarrou seu garfo com tanta força que pensei ouvi-lo estalar. —Você disse que sua rainha mandou você aqui? Agora, qual rainha seria exatamente?

Greenwood bateu com o garfo na mesa e se levantou.

—Perdoe-me. — Disse ele. —De repente, perdi o apetite.

Cole bufou e Greenwood lançou um olhar perigoso para ele.

—Ótimo. — Eu disse imediatamente. Não entendi exatamente o que Cole havia feito, mas não desperdiçaria a oportunidade. —Então vamos voltar aos negócios. Você me deve uma resposta.

—'Você me deve' é uma frase perigosa para brincar com os fae. — Disse Greenwood, batendo duas vezes na mesa. —Levamos a dívida muito a sério.

De repente, a comida na mesa desapareceu completamente, deixando os pratos brilhando como se nunca tivessem sido usados. Ethan bateu os dentes em um pedaço de frango que não estava mais lá e franziu o cenho deplorável.

—Você conscientemente me colocou em perigo quando eu nunca fiz nada com você. — Eu disse, levantando-me também. —Eu diria que isso significa que você me deve.

—Eu estava simplesmente devolvendo uma herança familiar valiosa ao seu legítimo proprietário. — Respondeu Greenwood. —Um ato de caridade pelo qual fui recompensado com violência e grosseria. Se alguma coisa, você me deve.

—Você sabia que a Vela era perigosa! — Eu o acusei.

—Você não pode provar isso. — Respondeu ele, sublime.

—Uh, na verdade — Ethan interrompeu, levantando a mão. —Eu ouvi sua conversa sobre a Vela com os curandeiros. Daphne deixou bem claro o quão perigosa era a Vela e o que poderia acontecer se acabasse nas mãos de um necromante. Quero dizer, mesmo que você não deva a Vexa, você provavelmente deve aos curandeiros a promessa de ajudá-los e depois distribuir a Vela em vez de recuperá-la. E, como eu represento os curandeiros, acho que isso significa que você me deve?

Um rubor subiu pela nuca de Greenwood, mas ele respirou fundo e o dispensou.

—Tudo bem. — Ele disse. —O que exatamente você quer?

—Eu... — Comecei a exigir respostas, depois me lembrei do que estávamos realmente fazendo aqui. Ele pode apenas nos deixar ter um favor. Eu não queria desperdiçar isso explicando algo que já estava feito. —Queremos que você ajude Ethan. Ele tem uma maldição. Não sabemos quem a lançou ou quais são os parâmetros para quebrá-la, e seu progresso foi acelerado. Precisamos quebrá-la rapidamente.

Greenwood olhou para Ethan com expectativa.

—Sim, é isso que eu quero. — Ethan disse depois de um momento, quando percebeu que o homem Fae esperava por sua confirmação. —Por favor. Tudo o que você puder fazer será apreciado.

Greenwood suspirou e esfregou os olhos.

—Tudo bem. — Ele disse. —Se é realmente isso que você quer. Parece um pouco inútil para mim, mas é sua perda.

Ele nos levou para fora da sala de jantar e para dentro da casa. Passamos por longos e opulentos corredores, salas estranhas, grandes salões de baile, subindo e descendo escadas sem fim. A casa era muito maior do que aparecia do lado de fora. Também ficou cada vez mais claro que a vista pelas janelas pelas quais passávamos não era da vizinhança que deveriam ter sido. Vi ruas movimentadas em cidades estrangeiras, montanhas desconhecidas, praias tropicais. E uma ou duas vezes vi paisagens que eu sabia que não existiam em nenhum lugar da terra.

Enquanto caminhávamos, entrei ao lado de Cole. —O que foi aquilo na mesa? — Eu perguntei a ele em um sussurro curioso.

—Os fae vivem de acordo com regras como se fossem leis da natureza, certo? — Ele disse. —Incluindo rituais de etiqueta. Se você insistisse em conversar sobre negócios à mesa, ele teria justificativa para expulsá-la. Caso contrário, ele continuaria comendo até desistirmos e sairmos ou desmaiarmos ou o que for.

—Então você teve que fazê-lo querer sair da mesa? — Eu assumi, e Cole assentiu.

—Pergunta por pergunta é uma das regras mais comuns dos fae. — Explicou. —Eu continuava fazendo perguntas que ele não queria responder. Felizmente, descobri a melhor maneira de irritar as pessoas é algo em que eu sou naturalmente talentoso.

—Como você sabia que funcionaria? — Eu perguntei, sentindo uma estranha combinação de medo e alívio retroativos.

Cole não tinha uma resposta.

Por fim, Greenwood parou diante de um par de enormes portas de madeira esculpidas com a imagem de uma árvore gigante. Seus galhos cresciam além do topo da porta, brotando folhas verdes vivas. Uma águia esculpida estava entre os galhos e uma serpente enrolava nas raízes. Um esquilo de olhos brilhantes empoleirava-se logo acima do buraco da fechadura. Não havia maçanetas, mas quando Greenwood se curvou e sussurrou algo no buraco, a porta se abriu silenciosamente por conta própria.

—Por aqui. — Disse ele, entrando pelas portas. —Se vocês valorizam a sanidade e várias partes do corpo, não toquem em nada.

Cole, Ethan e eu trocamos um olhar, todos nós sentimos que essa era provavelmente a nossa última chance de voltar. Não sabíamos remotamente no que estávamos caminhando, mas eu sabia que era a nossa melhor chance de salvar Ethan. Respirei fundo e segui Greenwood pela porta.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Quatorze


Entramos em uma enorme biblioteca com prateleiras alinhadas nas paredes que subiam pelo menos dois andares. O teto de vidro derramava luz dourada no final da tarde através da sala, embora, quando chegássemos, já estivesse bem antes do meio dia. A sala estendia pelo menos o comprimento de um campo de futebol em qualquer direção, e as portas em arco abertas em cada extremidade implicavam que havia mais além delas. A sala, cheia de parede a parede, tinha coisas em estantes de vidro, mesas de madeira escura e tanques enormes - um milhão de objetos diferentes, fantásticos e mundanos, incrustados de jóias e envoltos em trapos, enormes e pequenos, impossíveis e absolutamente insignificantes. Fiquei completamente impressionada, atordoada com um silêncio reverente e admirado.

—Por aqui. — Disse Greenwood, impaciente, levando-nos através das filas de caixas, passando por um astrolábio de ouro girando no ar a um pé acima do suporte em que estava colocado. O estojo ao lado continha um pesado livro encadernado em couro, do qual baratas e moscas se arrastavam constantemente, apenas para se dissolverem em pó a alguns centímetros de distância. No passado, havia um guarda-chuva vermelho que, apesar de estar em um estojo reforçado com várias fechaduras pesadas, parecia ser completamente normal. Eu tive que lutar contra o desejo de parar a cada poucos metros para encarar cada nova maravilha intrigante que passamos. Muitos deles pareceriam estranhos até para a visão normal. Mas, para meus sentidos mágicos, eles absolutamente se arrastavam com magia. Alguns foram infundidos, a magia fluindo através deles como sangue pelas veias. Outros pareciam completamente mágicos, seus componentes comuns eram uma fachada fina.

Debaixo da minha camisa, eu usava um pingente de madeira, um amuleto que Ethan me deu que me permitiq entendê-lo enquanto ele estava em sua forma de lobo. Até esse momento, tinha sido a peça de magia mais incrível que eu já vi. Fiquei perplexa e fascinada pela habilidade e delicadeza envolvidas em sua criação. Aquele feitiço, que eu havia colocado à noite olhando com tanta admiração, parecia positivamente desajeitado nesse tesouro de encantamentos, como um cisne de origami dobrado por um amador habilidoso ao lado de uma obra-prima.

Certamente, alguns dos itens aqui eram menos delicados em sua elaboração. Havia uma pilha de moedas de prata que não mostrava nenhum traço fractal cuidadosamente dobrada em encanto. Mas mesmo estes queimavam com um tipo de força e emoção crua que me fazia tremer se olhasse por muito tempo. Eles foram carimbados com uma única e poderosa letra, pesada com significado cósmico. Meus sentimentos eram os mais próximos do êxtase religioso que eu já havia experimentado.

Corrigida pelo oceano de dor preso dentro das moedas, pulei quando Greenwood me deu um tapinha no ombro.

—É melhor não olhar por muito tempo. — Ele aconselhou, colocando um braço em volta de mim para me orientar. —Pode ser perigoso.

—O que é tudo isso? — Eu disse, extasiada demais para lembrar que estava com raiva dele. —É incrível... lindo. Olhe para os fractais geométricos daquele! Como eles fizeram isso? E aquele, Deus, o feitiço quase parece vivo, como flores crescendo! Onde você aprende isso? Quem fez isso? Como?

Greenwood levantou uma sobrancelha enquanto eu balbuciei, mas um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca fina.

—Curioso. — Ele disse. —A maioria das pessoas que vê minha coleção quer saber o que faz, não como é feita.

—Bem, eu quero saber isso também. — Eu disse, um pouco sobrecarregada. —Mas você também pode perguntar para que serve uma mesa barroca antiga. É uma obra de arte. O valor está no artesanato, não na utilidade.

—Estou inclinado a concordar. — Disse Greenwood. —Aqui, você notou este vaso? Viu como o feitiço é trabalhado para seguir o padrão na porcelana?

—Isso é incrível! — Eu jorrei, me inclinando para ver. —Olha, é mesmo nas folhas minúsculas!

Cole pigarreou, chamando minha atenção. Cole franziu a testa e Ethan, envergonhado, alternando entre olhar entre o teto e o chão.

O braço de Greenwood ainda estava ao meu redor e encolheu os ombros rapidamente, meu rosto quente. Greenwood recuou, mãos no ar e, com um gesto elegante, nos levou novamente.

Ethan perguntou baixinho, a preocupação apertando seus olhos. —Ele não está trabalhando em algum tipo de encantamento em você ou o que seja, está? — Ethan perguntou em voz baixa, preocupação apertando seus músculos faciais.

—Não. — Eu disse rapidamente, depois pensei duas vezes e me examinei. —Não, acho que não. Isso é uma coisa muito legal! Eu nunca estive com esse tipo de magia antes. É emocionante!

—Tudo bem. — Ethan disse, sorrindo, ainda parecendo preocupado. —Seja cuidadosa.

—Mantenha o foco. — Sugeriu Cole. —Ainda não podemos confiar nesse cara. Se ele tiver a oportunidade, poderia fazer muito pior do que simplesmente nos expulsar.

Eu assenti, lembrando a mim mesma por que estávamos aqui. A vida de Ethan dependia disso. Não era hora de se distrair com coisas legais e brilhantes.

Greenwood nos levou a um dispositivo estranho, com uma variedade de espelhos e lentes de aumento em uma complicada armadura dourada. Era mais alto que Greenwood e atualmente estava sobre uma mesa comprida sobre a qual repousavam vários pequenos objetos encantados.

—Vidro do artífice. — Explicou, enquanto eu me maravilhava com o feitiço incrivelmente sutil nas molduras douradas em torno de cada lente. —Muito raro e muito útil para examinar mágica. Eu o uso para estudar e manter os encantamentos da minha coleção.

—Essa é a moeda da sorte que encontramos no outro dia? — Ethan perguntou, apontando para uma moeda mais brilhante que o normal, deitada em um banco.

—É. — Confirmou Greenwood, atendendo. —O efeito de distorção da probabilidade parece ser um pouco mais forte que o normal. Eu estava tentando discernir a causa. Parece haver um parágrafo no script mágico que fecha a brecha usual de perda/ganho. Até certo ponto.

Ele me ofereceu, e eu o peguei sem pensar, embora Cole tenha feito um barulho de aviso em sua garganta.

—É inofensiva. — Assegurou-me Greenwood. —Moedas da sorte são muito pequenas mágicas. Existem milhares delas em circulação, pelo menos. A maioria das pessoas nem percebe o que tem. Mas elas podem tornar a vida um pouco mais fácil.

—Obrigada. — Eu disse, colocando no bolso do meu vestido. —Eu agradeço.

—Não, obrigado. — Disse Greenwood com um sorriso que não tocou muito em seus olhos. Eu senti que tinha cometido um erro, mesmo que Cole parecesse impaciente, mas nenhuma desgraça caiu sobre nós. Em vez disso, Greenwood acenou para Ethan em direção ao banco, afastando os outros artefatos. —Por favor, sentem-se.

Com um olhar cauteloso em direção à saída, Ethan se sentou na beira do banco e Greenwood ajustou o vidro do artífice, arrastando lentes e espelhos para a posição entre ele e Ethan e ajustando uma série de botões complicados ao lado de cada lente com uma graciosa confiança de um músico tocando um instrumento.

Eu assisti por cima do ombro dele, enquanto imagens estranhas entraram e saíram de foco enquanto Greenwood fazia ajustes - redes de energia, espirais de magia ambiental, vazios misteriosos e, uma vez, uma imagem de um longo e escuro corredor cheio de Velas. Algumas lentes eram de vidro transparente, mas Greenwood olhou através delas e ajustou seu foco, da mesma forma, como se ele visse algo lá que eu não podia.

Finalmente, uma das lentes refletia uma imagem do núcleo da maldição de Ethan. Eu já o havia visualizado enquanto tentava suprimi-lo. Era mais ou menos esférico, como um novelo de fios enrolado, firmemente tecido e emaranhado. Ele apodrecia, queimava e vazava, vermelho lívido e amarelo doentio. Era ao mesmo tempo imundo e patético, inspirando pena e nojo... e náusea.

—Essa é desagradável. — Disse Greenwood à toa. —Maldições de monstros são raras hoje em dia, e essa é forte. Eu garantiria quem fez isso há algum tempo.

—Existe algo que você possa fazer para quebrá-la? — Eu perguntei. —Ou nos dizer quem pode?

—Deixe-me ver. — Greenwood cantarolou, discando as lentes para mais perto. —Eu posso ver por que você teve dificuldade. O lançador definitivamente se esforçou para esconder sua assinatura. Eu quase diria que não havia, mas isso é impossível.

—Por quê? — Ethan perguntou, mudando para ver através das lentes.

—Fique quieto. — Disse Greenwood bruscamente, inclinando a lente e ajustando algo novamente. —É impossível, porque isso significaria que esta é uma maldição autoinfligida-

—Cole mencionou isso antes. — Eu disse. —Eles são realmente fracos, não são?

—Exatamente. — Confirmou Greenwood. —Mesmo as maldições auto-infligidas mais fortes nunca fazem nada que não possa ser descartada como coincidência ou acidente. Elas nunca poderiam se manifestar fisicamente dessa maneira. Não, esse é definitivamente o trabalho de um indivíduo muito qualificado. Alguém com muito conhecimento prático sobre maldições. Francamente, quase parece que-

Greenwood congelou, encarando a maldição. Um momento depois, ele começou a ajustar rapidamente os mostradores, aproximando ainda mais.

—Não. — Ele murmurou. —Não, não pode ser.

—Não pode ser o que? — Ethan perguntou, ficando um pouco pálido. —O que há de errado?

—Ele não ousaria. — Zombou Greenwood, ainda claramente falando consigo mesmo. Ele rangeu os dentes enquanto olhava para a lente a menos de uma polegada de distância, examinando as minúsculas linhas de texto mágico escritas nos fios atados da maldição. —Aquele pequeno duende, ele não ousaria!

Ele se lançou em uma diatribe em um idioma que parecia água se movendo sob gelo ou vento através de galhos nus. A julgar pela velocidade e vitríolo por trás de suas palavras, ele não gostou do que viu através das lentes.

Ele empurrou o copo do artífice abruptamente, rosnando para si mesmo na mesma língua e saiu correndo.

—Ei, o que você achou? — Eu liguei para ele. —O que está acontecendo?

Ele não respondeu, correndo em direção a um suporte de guarda-chuva cheio de bengalas, cajado e paus. Ele os examinou, deixando alguns de lado com um gesto impaciente. Alguns atingiram o chão e soltaram faíscas ou ficaram lá, cantarolando intensamente enquanto vibravam através do azulejo. Finalmente, ele emitiu um ruído vitorioso e sem palavras, enquanto puxava uma velha bengala de madeira com um buraco na cabeça densamente atado.

—Greenwood! — Eu gritei, tentando chamar sua atenção. —O que está acontecendo?

Em vez de responder, ele bateu a bengala no chão. Com um eco que sacudiu as vidraças do telhado, uma porta se abriu no ar diante dele. Nada como o buraco irregular que o feitiço de teletransporte de Uther havia feito, suas nítidas bordas redondas enroladas e floridas com floreios simétricos de poder, ao mesmo tempo geométricos e orgânicos, como uma janela art nouveau para outro mundo.

Sem outra palavra, ele avançou para dentro dela. O choque diminuiu minhas reações, antes que eu corresse para frente. Ethan e Cole gritaram meu nome, mas então eu já tinha colidido com a superfície do portal que se fechava rapidamente, que rompeu minha pele como água fria enquanto o seguia para o desconhecido.

 

 

 

 

 


Capitulo Quinze


O portal se fechou atrás de mim com pressa apenas um segundo depois que eu o atravessei, a sensação de água fria ainda persistindo.

Fiquei imediatamente impressionada com uma sensação de vertigem e confusão severas. Eu não estava em lugar nenhum na terra.

Um espaço incomum de lavanda se estendia ao meu redor, o ar e a terra da mesma tonalidade azul-púrpura suave, se o ar fosse de fato ar - sólido e presente, como uma névoa espessa, mas com uma textura como espuma ou chantilly. Essa textura se chocou contra a minha pele e eu a vi muito mais longe do que deveria. Não consegui encontrar o horizonte porque a terra não era plana. Ela subia e descia em ondulações e cavidades como um cobertor de cetim, captando luz em suas curvas em iridescência holofílica.

Não consegui encontrar um ponto em que as colinas distantes obscurecessem minha visão. Que luz produzia sombras profundas e cintilantes e arco-íris efêmeros na superfície de seda do solo? Onde estava o sol? Lutei para racionalizar o que vi, imaginando a terra curvando-se ao meu redor como uma esfera. E, no entanto, eu também tinha uma impressão distinta do céu, mesmo que apenas por causa das cidades e castelos brilhando como nácar e mancha de óleo, que pareciam estar mais enraizados nele do que no chão em que eu supostamente estava.

—Venha comigo! — Uma voz gritou, parecendo impossivelmente distante e depois como um sussurro no meu ouvido. —Se você não quer se perder, não deve demorar.

Eu me forcei a suportar a terrível visão sem fim à minha frente, para onde Greenwood estava, batendo com o pé impaciente. Ele olhou perto o suficiente para tocar, mas quando eu o alcancei, a distância entre nós poderia ter sido de quilômetros. Náusea subiu em mim, que eu lutei para suprimir. Eu fiz um som desumano de um animal em terror absoluto, meu cérebro lutando para compreender.

—Você está bem. — Gritou Greenwood. —Você não está morrendo, corre um risco bastante mínimo e, se você se apressar, sairemos daqui a pouco.

Agora isso era motivação. Hesitei de qualquer maneira, sem saber se caminhar era algo que eu realmente poderia fazer neste pesadelo. Meu corpo não foi construído para quaisquer leis que este lugar obedecesse. Meus músculos ainda poderiam se contrair, meu sangue ainda bombearia? Obviamente, meus neurônios ainda disparavam, mas Deus, por quanto tempo? Eu estava no fundo de uma piscina, prendendo a respiração, momentos longe de ficar sem ar?

Uma mão agarrou meu braço, dedos enrolando sem parar em torno de uma coluna da minha própria pele e músculo muito longe para estar sob meu próprio controle. A mão, que deveria ter sido Greenwood, embora ele ainda parecesse impossivelmente distante, me puxou para frente e, tropeçando, aprendi a mover minhas pernas novamente.

—Pronto, viu? — Greenwood disse com um bufo. —Não é tão difícil, é? Agora, apresse-se!

Ele me soltou, virou-se e, em um instante, tornando-se um local pouco visível no horizonte. Corri para acompanhá-lo, meu coração se apavorou com o pensamento de ser deixada para trás. Eu dei três ou quatro passos e bati diretamente nas costas dele.

Com um suspiro sofrido, Greenwood me ajudou a levantar. Eu caí? Quando eu caí? No que eu pousei? Eu cheguei a terra? Ele colocou um braço em volta de mim para me guiar para a frente, o que eu apreciei profundamente. Eu ainda não tinha cem por cento de certeza de como minhas pernas funcionavam, e eu estava assustada e sem sentido e queria segurar alguém. Eu desejei o conforto da proximidade de Ethan. Ele teria odiado isso, e eu não acho que Greenwood teria parado para ajudá-lo. Eu não tinha certeza do por que ele parou para me ajudar.

—Estou ajudando você pela mesma razão que lhe dei a Vela. — Disse Greenwood, e percebi com um leve choque que estava falando quase sem parar desde que entrei no portal em um fluxo aterrorizado de consciência. Fechei a boca e me concentrei na sensação de tê-la fechada. Quando dominei o não falar, tentei falar novamente.

—Você ainda não me disse por que me deu a Vela. — Eu disse. Minha voz soou estranha, como ouvir uma gravação minha tocada através de um gramofone em outra sala. E falar deliberadamente enquanto caminhava era difícil.

—Eu queria ver o que aconteceria. — Disse Greenwood casualmente. —Não há um descendente de Aethon tão poderoso quanto você em várias centenas de anos. Eu queria ver o que você faria.

—É isso aí? — Eu perguntei, um pouco atordoada.

—É isso aí. — Ele confirmou. —Joguei um curinga em um jogo que não estava jogando, e se quero ver como o jogo termina, não posso permitir que meu curinga seja perdido nas Terras Distantes.

—É assim que este lugar é? — Eu perguntei, arriscando um olhar ao meu redor novamente, do qual me arrependi um momento depois. —As Outras Terras?

—Uma delas. — Disse Greenwood. Seus passos eram impossivelmente longos, estendendo-se para sempre à nossa frente, comendo terra. E a atmosfera lilás se juntou ao seu redor, envolvida em seus longos membros e cabelos dourados. Ele usava um terno da cor do crepúsculo agora, em vez das calças simples que ele usava quando atravessamos o portal. O casaco de gola alta, as rendas na garganta, ecoavam como algo antigo ou equestre, mas o delicado bordado na gola e nas mangas transbordava de símbolos muito mais antigos e uma espécie de vegetação densa e profunda que me lembrava as Tapeçarias do Unicórnio.

—Estas são as terras longínquas. — Explicou. —Título descritivo, eu sei. Aqueles que sabem com que frequência os usam para viajar.

—Viajando para onde? — Eu perguntei, tão confusa quanto fascinada e enjoada. —Como?

—Qualquer ponto do reino. — Disse Greenwood, com um gesto abrangente de sua equipe. —Mas acho-os mais convenientes para navegar na Terra.

Vendo minha confusão, ele suspirou. —Alguém lhe deu a comparação da bolha de sabão, não foi? — Ele perguntou, e eu assenti. —Bobagem redutora. As Outras Terras não estão conectadas pela Terra. Elas não são uma extensão dela ou nascem dela. A Terra é exatamente o mesmo tipo de coisa que elas são. Realidades se sobrepõem como casca de cebola, ocupando o mesmo tempo e espaço em diferentes comprimentos de onda, nenhuma maior ou mais significativa que a outra, não importa o quanto os habitantes de cada um possam querer reivindicar que sua casa é superior.

—Eles ocupam o mesmo espaço, entende? Essa é a parte importante. Mas o conceito de distância é diferente nas Terras Distantes. Para permanecer ofensivamente redutivo, um passo aqui se traduz em uma magnitude muito maior de distância na Terra. Com o trânsito, pode levar uma hora ou mais para chegar aonde estou indo. Dessa forma, leva apenas um momento, dando à pessoa que vou matar muito menos tempo para perceber que estou indo e escapando.

—Oh. — Eu disse, tentando processar nada disso e não estava certa de ter conseguido. —É isso que Uther faz?

Disfarçado, Greenwood disse: —Esse truque? É claro que não. Ele nunca conseguiu reunir o poder de realmente passar entre reinos. Ele mal consegue ficar um pouco fora de fase com a Terra e dificilmente pode sustentá-la por mais que um momento. Ele ele o usa para atravessar paredes e parecer mais impressionante. Ele acha que está sendo esperto, estacionando atrás da biblioteca e caminhando diretamente para a sala de estudo como se não tivéssemos visto seu miserável junker amuado atrás das lixeiras como um gato indigente. Idiota pomposo.

—Espere. — Eu disse, quando ele parou e me soltou. —Você disse que vai matar alguém?

—Sim. — Disse Greenwood, arreganhando os dentes em um sorriso que mais parecia um rosnado. Ele bateu no chão com seu cajado e outro portal foi aberto, onde foram reveladas ruas abençoadamente normais de uma terra boa e sólida. Greenwood entrou e eu segui um segundo atrás dele.

Engoli em seco no ar frio da noite com alívio, passei meus braços em volta de mim e tomei um momento apenas para apreciar meus membros sendo todos do comprimento certo e tudo tendo geometria que fazia sentido. Mas não tive muito tempo para gostar de voltar a um universo que fazia sentido.

Greenwood correu para a frente, as botas estalando na calçada molhada. Era começo da noite e parecíamos estar em um beco no centro da cidade em algum lugar, sem saídas. Os prédios a fechavam completamente. A única maneira de entrar ou sair era uma porta de segurança indefinida em uma extremidade estreita. Greenwood caminhou em direção a ela. Ele bateu com força no final do cajado e uma janela se abriu. O holofote lotado de mariposas acima da porta projetava a abertura na sombra, tornando a pessoa atrás dela invisível.

—Senha. — Exigiu uma voz.

—Não visitei recentemente. — Disse Greenwood, com seu sorriso mais charmoso. —Acredito que foi 'Amanhecer de Tahitian' da última vez?

—Não usamos nomes de coquetéis como senhas há anos. — Disse o cara atrás da porta. —Tente novamente.

—Isso é urgente. — Disse Greenwood, parecendo um pouco tenso. —Era uma senha válida da última vez. Se você pudesse apenas-

—Não posso nada. Se você já esteve aqui antes, sabe como o chefe é sobre segurança.

Eu pulei quando outro portal se abriu no outro extremo do beco. Um jovem casal saiu correndo, o cara enfiando o que parecia uma antena de carro em seu casaco. Eles estavam a uma pequena distância de nós, esperando sua vez na porta enquanto Greenwood discutia com o homem da porta.

—Nem todo mundo tem tempo para acompanhar essas coisas! — Greenwood disse frustrado. —Ele não pode esperar que as pessoas acompanhem se ele está sempre mudando. Ele me conhece. Se você pudesse apenas trazê-lo aqui...

—Ele está ocupado.

—Se você apenas mencionar meu nome.

—O chefe não tem tempo para lidar com todas os fae obscuras que tentam se infiltrar pelas costas. Se você quiser entrar sem a senha, tem que derramar sua mágica na porta da frente como todo mundo.

—Eu não tenho tempo-

—Você se afasta e deixa os clientes reais passarem, senhor?

Lívido, Greenwood se afastou para o jovem casal se aproximar, afastando-se o suficiente para o porteiro ficar satisfeito. Fui com ele, minhas mãos nos bolsos, mexendo na moeda da sorte.

—Nita, seja bem-vinda de volta. — Disse ele. —Senha?

A jovem inclinou-se para sussurrar algo, o som bem mascarado pelo ruído ambiente do beco. A porta se abriu, o som fraco da música e da conversa escapando, e o casal entrou. Mas quando Greenwood se aproximou, fechou novamente.

—Se você me desse um momento de vantagem da dúvida. — Disse Greenwood, com um gesto frustrado. —Garanto-lhe que Julius me conhece!

—Então entre pela frente sem sua mágica e obtenha a senha dele. — Disse o porteiro. —Porque você não está entrando aqui.

—Hum. — Eu limpei minha garganta, parando na frente de Greenwood. —Se eu souber a senha, posso trazê-lo comigo?

—Os hóspedes são permitidos. — Disse o homem da porta com óbvia relutância.

—É lobelia erinus. — Eu disse.

Suspeito, ele apertou os olhos para mim através da janela e abriu a porta.

—Cause qualquer problema e eu vou expulsá-lo pessoalmente. — Disse o homem da porta. —E eu vou me certificar de que dói.

—Finalmente. — Greenwood bufou e empurrou a porta e eu o segui, curiosa. Eu pulei quando a porta se fechou. O porteiro era uma parede muscular de um metro e oitenta de altura, sob a pele azul-acinzentada, como pedra viva. Olhos amarelos me encaravam entre presas salientes e chifres grossos, apontando para a frente. Uma cauda longa voava atrás dele como a de um gato bravo. Ele não pareceu surpreso com o meu flagrante, boca aberta olhando.

—Acostume-se a isso, querida. — Disse ele. —Há coisas mais estranhas lá dentro.

Alcancei Greenwood.

—Como você soube a senha? — Ele perguntou, soando um pouco curioso.

—Mariposa morta no holofote. — Expliquei. —Eu apenas ouvi enquanto a outra pessoa falava com o porteiro.

—Inteligente. — Disse Greenwood. —Eu deveria dizer a Julius que ele tem um buraco na segurança dele.

Ele caminhou rapidamente pelo longo corredor que dava para a porta de segurança. Havia quatro portas nesse corredor cobertas por cortinas de miçangas, símbolos que eu não reconhecia esculpidos acima de cada uma. Greenwood enfiou a cabeça por cada cortina e vi vislumbres de pessoas em mesas e cabines, conversando, bebendo e comendo como de costume. Exceto que muitas dessas pessoas eram clara e obviamente não humanas. Vi asas, cascos, caudas, chifres, tentáculos e coisas que não consegui descrever. Foi o suficiente para me fazer pensar se as Terras Distantes não haviam permanentemente mexido no meu cérebro.

No final, o corredor se ramificou, levando em direção a mais das pequenas salas de jantar, e outra porta estava coberta por uma cortina pesada. Greenwood verificou essa também, e vislumbrei a frente do estabelecimento. Era um bar grande e confortavelmente casual, com uma atmosfera de pub distintamente do velho mundo. Todos na frente pareciam humanos, embora meus sentidos mais mágicos soubessem que irradiavam poder. Havia um punhado de normais entre eles, mas este era claramente um lugar para pessoas como eu. A comunidade mágica, ali mesmo, esperando por mim. Havia também uma quantidade absurda de energia ligada nas paredes, no chão e até nas mesas de madeira. Este lugar estava encantado como o inferno.

Um homem mais velho, de cabelos grisalhos, bonito e distintamente musculoso sob o colete de couro, atendia no bar, rindo de uma piada compartilhada pelo homem cuja bebida ele servia. Enquanto Greenwood examinava a sala, o barman nos viu. Ele largou a garrafa que segurava e se dirigiu a nós, mas Greenwood já estava se afastando por um dos corredores.

—Gwydion!

O barman atravessou a cortina e correu atrás de nós, mas Greenwood o ignorou.

—O que quer que ele tenha feito desta vez, eu sei que ele provavelmente merece o que está por vir. — Disse o barman, tentando acalmar Greenwood. —Mas você conhece as regras. Se você fizer isso aqui-

—Eu não vou matá-lo em seu precioso bar, Julius. — Disse Greenwood bruscamente, puxando outra cortina de contas e deixando-a cair em decepção. —Nem colocarei em risco nenhum de seus clientes. E tenha certeza de que a surra que ele vai ter é ricamente merecida.

—Você sabe que eu confio em você. — Protestou Julius. —Mas meus outros convidados-

Greenwood abriu outra cortina e instantaneamente um vento gelado correu pelo corredor, me esfriando até os ossos e arrancando os cabelos de Greenwood da fita, fazendo-o voar em torno de sua cabeça. Ele tinha a aparência de um deus vingativo.

—Gilfaethwy! — Greenwood rugiu.

Em uma mesa no centro da sala, um homem que parecia muito parecido com Greenwood, de fato, sentava-se como um cervo com um copo de cerveja nos lábios. Todos na sala olharam para Greenwood no momento, mas o medo nos olhos do homem deixava claro que ele sabia exatamente para que estava encrencado. Houve um momento tenso de quietude. E então o homem cuspiu sua cerveja diretamente em Greenwood. Ele explodiu em vapor no ar, obscurecendo a visão de Greenwood. Greenwood atirou-o para fora do caminho com uma rajada de vento frio e um gesto de corte furioso, mas o homem desapareceu.

Eu gritei e pulei para fora do caminho quando um grande esquilo marrom passou correndo pelos meus pés.

—Gilfaethwy, seu merdinha traiçoeiro! — Greenwood gritou. —Você não vai ficar longe de mim tão facilmente!

Dobrou-se como um mosaico estranho e, um instante depois, um falcão voou atrás do esquilo com um grito de raiva.

—Não no bar! — Julius gritou atrás deles. —Não no bar!

Bateu palmas com as mãos poderosas e os anéis de prata nos dedos brilhavam com um trabalho de corrida intrincado. Um portal se abriu na frente do esquilo, que tentou se esquivar dele, mas com outro gesto de Julius, foi varrido, seguido de perto pelo falcão.

Corri atrás deles e Julius correu atrás de mim, pulando através do portal, que dava para o mesmo beco por onde entramos. O falcão pegou o esquilo enquanto eu observava, voando alto no ar. Mas um segundo depois o esquilo torceu e se tornou uma cobra grande, que se levantou e mordeu o falcão com presas semelhantes a punhais. O falcão caiu no telhado de um prédio próximo com um grito de dor.

—Greenwood! — Eu gritei horrorizada.

Julian bateu palmas novamente e uma escada apareceu, as peças retiradas de mil lugares secretos do outro lado do beco. Não parei para questionar. Subi rapidamente, aterrorizada por encontrar Greenwood morto no topo.

Em vez disso, os cascos agitados de uma cabra quase tiraram minha cabeça. Um rato mexeu-se em seus pés, que ele tentava furiosamente pisar. Um segundo depois, o rato se tornou um grande veado, jogando a cabra no ar com seus chifres. Um momento depois, a cabra era um lobo, afundando os dentes no flanco do veado.

—Oh, eles estão nisso agora. — Disse Julius, subindo ao meu lado. —Melhor ficar fora do caminho.

—Qual é Greenwood?— Eu perguntei, quando o cervo se tornou um leão para devorar o lobo, que se tornou uma vespa para picar o rosto do leão, que se tornou uma andorinha para comer a vespa.

—Gwydion? Só Deus sabe. — Disse Julius com um sorriso, me dando um tapinha no ombro. —Não se preocupe muito. Quando eles ficam assim, é melhor deixá-los sair do sistema. Eles vão se desgastar em breve. Isso provavelmente é um par de décadas de poder armazenado está queimando agora. Apenas aproveite o show.

Ele acenou com a mão e um saco de pipoca apareceu, que ele me ofereceu. Recusei, correndo pelo telhado quando a vespa se tornou um gato e arrancou a andorinha do ar, que se tornou um coelho e saltou para o outro lado do telhado. O gato tornou-se um galgo e perseguiu, os dois pulando através da abertura para os azulejos do prédio seguinte.

—Quem é aquele cara? — Eu perguntei, com o coração acelerado enquanto procurava um caminho a seguir, pegando uma tábua solta e jogando-a através da abertura, feliz por não ser grande.

—Gilfaethwy. — Explicou Julius, segurando o quadro para mim enquanto eu corria. —Irmão de Gwydion. Mais ou menos.

—Tipo? — Eu perguntei, segurando-o para que ele pudesse atravessar também, mas ele apenas caminhou ao lado, como se o ar fosse solo sólido.

—Bem, as Fae não têm famílias como as descreveríamos. — Disse Julius. —Mas... eu realmente não sei o quanto você sabe sobre os tribunais?

—Eu sei que existem três deles e que os dois principais parecem ser uns idiotas. — Resumi.

Julius assentiu, as mãos levantadas em um gesto. —praticamente.

—Quando uma novo fae é criada na Corte Seelie. — Disse ele. —Uma contraparte igualmente comparada aparece instantaneamente nos Unseelie e vice-versa, para que a corte fique perfeitamente equilibrada. É por isso que eles começaram a recrutar Faes Selvagens, embora isso não tenha acontecido. Não funcionou melhor para eles. Gilfaethwy é o oposto de Gwydion, perfeitamente igual a ele em todos os aspectos.

—Então não há chance de Gelf, Gilfeth... que seu irmão o derrote? — Eu perguntei. O galgo havia pego o coelho, apenas para soltá-lo latindo quando se tornou um porco-espinho. O galgo tornou-se um texugo, golpeando o porco-espinho com garras longas e raivosas, e o porco-espinho tornou-se uma raposa, correndo ao redor do texugo para morder seu flanco.

—Eu não diria nada. — Disse Julius, comendo um punhado de pipoca. —Ou eles não continuariam fazendo isso a cada poucos anos. Mas é bem magro.

—Não devemos tentar ajudar Greenwood, quero dizer, como você o chamou?

—Gwydion. — Repetiu Julius. —Esse é o nome verdadeiro dele, ou parte dele. Isso lhe dá um pouco de poder sobre ele, o que ele odeia, mas sinceramente acho que ele poderia usar mais algumas pessoas em sua vida com o poder de impedi-lo de fazer coisas estúpidas. E você poderia ajudá-lo, se você quiser, supondo que você possa descobrir qual é qual. Mas jurei não interferir, desde que não estejam no meu bar ou prejudiquem meus convidados.

—Ah, merda, lá estão eles. — Murmurei quando o texugo se tornou um macaco, subindo pelos telhados, e a raposa se tornou um leopardo para persegui-lo.

Corri atrás deles, esforçando-me para acompanhar as mudanças entre os prédios e deslizei em telhas e telhas. Eu deveria ter caído cem vezes... quebrar meu pescoço ou pelo menos um braço caindo em uma lixeira do terceiro ou quarto andar. Parkour não era uma habilidade que eu realmente tivesse perseguido. E, no entanto, toda vez que eu pensava em escorregar, meu pé se apoiava nos ladrilhos molhados. Toda vez que pensei que estava prestes a cair, consegui me recuperar bem a tempo. Mas não tive tempo de questionar minha sorte repentina.

Antes que o leopardo pudesse pegar o macaco, o macaco derrapou no meio de um jardim abandonado, as camas secas e a gaiola suja e vazia de pombos, um fundo estranhamente doméstico para a cena exótica. O macaco se virou quando o leopardo se fechou e se tornou um crocodilo, com a mandíbula aberta. Ele pegou o leopardo com um golpe de seus dentes poderosos e torceu, jogando o grande gato em direção à gaiola de pombo. Aterrissou com um barulho, se transformando em um homem enquanto eu observava. Por um momento eu ainda não sabia dizer quem era.

—Pelo amor de Deus, Gwydion! — O homem, que agora assumi ser Gilfaethwy, reclamou, sentando-se. —Pensei que não concordamos com nenhum crocodilo da última vez. Eles não são justos e você sabe disso.

Ele parecia sem fôlego, suado e dolorido, o que era uma aparência estranha de se ver em um rosto tão parecido com o de Greenwood, geralmente tão composto e refinado, mesmo quando estava com raiva assassina.

O crocodilo voltou para Gwydion e, por um momento, também não o reconheci. Seu rosto ainda era o mesmo, mas seu cabelo era mais pálido, mais prateado que dourado, e seus olhos eram sempre verdes, não o verde brilhante do verão que eu lembrava. Ele parecia cansado também, com a respiração trêmula.

—Para o inferno com justiça! — Gwydion gritou. —Você já jogou todas as regras do nosso pequeno acordo pela janela!

—Tenho certeza de que não sei do que você está falando. — Disse Gilfaethwy, olhando para qualquer lugar, menos para o irmão. —Eu não tenho sido nada além de fiel ao nosso acordo. Eu mantive minha cabeça baixa, não fiz mágica-

—Então por que eu tenho um lobisomem em minha casa com sua assinatura na maldição dele? — Gwydion rosnou. A temperatura no telhado caiu vários graus quando um vento frio respondeu à raiva de Gwydion.

Gilfaethwy estremeceu, depois riu timidamente. —Foi esse que você encontrou, não é? — Ele disse.

—Há mais de um ?!

—Claro que não.

—Você está mentindo, seu miserável-

Quando Gwydion deu um passo em direção a Gilfaethwy, ele se transformou em um furão e disparou para a beira do telhado. Gwydion tornou-se imediatamente uma coruja para voar atrás dele.

—Chega de merda de animal estúpido! — Gritei de frustração, atacando com meus poderes. Um enxame de insetos mortos surgiu diante do furão, levando-o de volta às garras que aguardavam dois ratos desidratados, deixando a coruja de Gwydion flutuando no ar. O furão torceu, transformando-se em algo maior, um urso, eu acho, mas eu já estava diminuindo a distância entre nós, batendo as duas mãos em seu pelo. O animal gritou e se debateu para fugir enquanto a necrose se espalhava por suas costas. Eu sorri com uma satisfação sombria quando ela voltou para Gilfaethwy e eles caíram no chão, arranhando como sua própria pele em horror.

—Tira isso! — Ele disse horrorizado. —Tira isso!

—Eu vou. — Eu disse, minhas mãos prontas para fazer mais. —No minuto em que você me disseer o que fez com Ethan.

—Inseto! — Gilfaethwy sibilou para mim, o ódio em seus olhos como um incêndio, o telhado de repente no meio do verão quente, o ar fervendo. Os canteiros de flores secas levantaram e estouraram, transbordando de vida verde repentina, espinhosa e retorcida. Ele cresceu com uma velocidade terrível, avançando em minha direção enquanto ele se arrastava pelo telhado, o rosto contorcido de raiva e desprezo insondáveis. —Como você ousa pôr suas mãos sujas em mim? Você sua verme, sua macaca pálida e trêmula! Eu poderia desmembrar uma molécula de cada vez! Eu poderia queimar você por toda a eternidade e negar-lhe o direito de uivar de dor! Eu sou um deus para você!

Por um momento, vendo aquele repentino ódio, acreditei nele. Eu me afastei, meu medo intenso, mas um segundo depois uma brisa fria baniu o calor quando Gwydion plantou um salto nas costas de Gilfaethwy, exatamente onde minha necrose era pior. Gilfaethwy gritou de dor, caindo de bruços. Gwydion não tirou o pé. Atrás dele, a geada matou a onda de vegetação que Gilfaethwy havia convocado, secando-a para nada novamente.

—Se você tivesse o poder de fazer algo assim, nenhum de nós estaria aqui. — disse Gwydion, olhando para o irmão com um leve desgosto. —Diga à mulher o que ela quer saber, ou eu deixarei que o veneno nas suas costas o devore. Um gostinho da morte mortal.

—Você condenaria a nós dois. — Gilfaethwy assobiou no betume do telhado.

—Você parece contente em fazer o mesmo. — Disse Gwydion friamente, torcendo o calcanhar nas costas de Gilfaethwy. —Além do mais, duvido que isso o mate. Mas tenho certeza de que machucaria.

—Por que você amaldiçoou Ethan? — Eu exigi, aproximando-me novamente. —E como a quebramos?

—Eu não o amaldiçoei. — Afirmou Gilfaethwy.

Gwydion afundou o calcanhar novamente.

—Eu não fiz! — Gilfaethwy gritou, a voz estridente com dor. —Eu juro por tudo que é sagrado!

—Como se você já considerasse algo sagrado. — Zombou Gwydion. —Jure pela sua mão direita e saiba que terei muito prazer em removê-la se você mentir.

—Juro pela minha mão direita. — Disse Gilfaethwy com um grunhido amargo. —Eu não o amaldiçoei. A maldição já estava lá. Eu apenas... dei um pequeno empurrão.

Ele riu, uma risadinha nervosa e histérica, e Gwydion o chutou.

—Seu idiota! — Ele gritou. —Você está mentindo, seu sem valor-

—Foi apenas um pequeno empurrão! — Gilfaethwy disse através de sua risada delirante. —Eu precisava! Eu não podia contar para não! Oh, se você o visse, todo aquele ódio pulsando em seu peito, todo torcido em um nó do tamanho do seu punho. Você teria feito isso também! Eu tinha que ver o que aconteceria!-

Gwydion se encolheu e lembrei-me de suas palavras mais cedo, certa de que ele também se lembrava delas.

—E era apenas um pouco de poder. — Disse Gilfaethwy. —Menos do que usamos aqui hoje à noite! Ninguém notou!

—Não importa quanta energia você usou, seu miserável e inútil desperdício de magia! — Gwydion disse, arrancando os cabelos em frustração. —Você o usou em um ser humano! Interferência direta, a única coisa que todo o nosso acordo depende, a única coisa proibida! Foi notada. Eu garanto a você, e eles estão esperando, segurando-o sobre nossas cabeças como a espada de Dâmocles, por o momento perfeito para destruir nós dois!

—Oh, não seja tão pessimista. — Disse Gilfaethwy, rolando de costas e parecendo ter se arrependido. —O que há com o seu tipo sendo tão severo o tempo todo?

—Eu não sou severo. — Disse Gwydion. —Eu simplesmente não quero ser eliminado da existência porque você não pode controlar seus impulsos!

—Tanto faz! — Eu interrompi, confusa e sem paciência. —Diga-nos como desfazer! Como quebramos a maldição?

Gilfaethwy apenas riu mais - gargalhando alto e enlouquecido. Olhei para Gwydion em busca de algum tipo de explicação, mas ele balançou a cabeça.

—Tem que haver algo que ele possa fazer! — Eu disse, passando por Gilfaethwy para pegar Gwydion pelo braço. —Ele causou isso! Tem que haver uma maneira de consertar!

Gwydion franziu os lábios, franziu as sobrancelhas e esfregou as têmporas.

—Ele está dizendo a verdade. — Disse ele. —Não há nada que ele possa fazer. Ele não amaldiçoou seu lobisomem.

—Então quem fez? — Eu implorei. Tinha que haver algo, pelo menos uma vantagem. Qualquer coisa para dar a Ethan um pedaço de esperança.

Gwydion me encarou com aqueles olhos escuros e a esperança se dissolveu.

—A maldição é auto infligida. Ele fez isso consigo mesmo.

Capitulo Nove


Durante a hora seguinte, Cole me ensinou uma dúzia de aspectos diferentes da necromancia básica, alguns dos quais eu nunca havia experimentado antes. Novamente e novamente, o resultado foi o mesmo. Eu era como um brigão de bar, toda força bruta e nenhuma técnica, tentando aprender judô. No início da tarde, eu estava suada e exausta, e Cole parecia igualmente tenso. Ethan estava sentado no pátio nos observando, ocasionalmente cochilando, Mort deitado a seus pés.

—Você precisa aumentar sua energia em um ponto. — Disse Cole. —Um ponto!

—Um ponto é muito difícil. — Eu disse, incomodando-o com uma nuvem de mosquitos. —Mãos são mais fáceis!

—Mãos não funcionam! — Cole pegou os mosquitos e os enviou de volta para mim, e eu retaliei enviando um pardal morto para aninhar em seus cabelos. —Você deveria estar cercando e, em vez disso, está lutando com um tapa!

Ethan riu do pátio, tanto pelas palavras de Cole quanto pela visão dele gritando e espancando o pardal tentando dar uma merda de pássaro empoeirada em seus cabelos.

Ele me mostrou como causar a morte celular direcionada - a mesma técnica que Aethon havia usado para secar partes de nós durante a nossa luta. Eu não era boa nisso. Eu também não era muito boa em controlar muitas pequenas coisas ao mesmo tempo. O mesmo vale para identificar coisas mortas à distância ou direcionar uma única coisa morta-viva por meio de uma série de ações complicadas. Eu era muito boa em foder tudo.

—Por que eu sou tão ruim nisso? — Eu reclamei, esfregando as mãos no rosto.

—Você não é. — Disse Cole, exasperado. —Você mal começou. Você esperava ser a mestre de tudo de uma vez?

—Mais ou menos! — Eu disse. —É suposto ser instintivo, e eu tenho lidado com isso a vida toda. Entre isso e a Vela, eu deveria ser incrível nisso!

—Bem, supere isso. — Disse Cole, impaciente. —Isso leva tempo e prática diária. E você tem feito o possível para fingir que não existe há vinte anos. Vai demorar um pouco para ficar boa nisso.

—Eu não tenho esse tipo de tempo. — Eu disse. —Eu precisava ter sido boa o suficiente para enfrentar Aethon ontem.

—Não é assim que funciona. — Disse Cole. —Tudo bem. Tudo bem, vamos tentar isso. Você está pensando demais e adivinhando a si mesma. Você precisa se mover instintivamente.

Ele se virou, olhando em volta por um momento e, finalmente, pegou um grande graveto no mato coberto de mato.

—Vou tentar bater em você com um pau. — Explicou ele. —Você tenta me impedir com a coisa da necrose.

—E se eu realmente bater em você com isso? — Eu perguntei preocupada.

—Francamente, acho que não. — Disse Cole. —E se você conseguir, você conseguiu curar o vira-lata, você pode me curar. Estou curioso para ver isso em ação novamente, de qualquer maneira. Você está pronta?

Ele levantou o graveto. Olhei para Ethan, que parecia um pouco preocupado. Mas respirei fundo e me firmei.

—Tudo bem, eu estou realmente-

Cole já estava balançando o galho na minha cabeça com força total antes que as palavras saíssem. Eu gritei e saí do caminho apenas para ele me bater com força nas costas com ele.

—Ow! — Eu gritei, correndo para fora do seu alcance. Um vergão dolorido surgiu nas minhas costas, mais largo que o meu polegar. —Jesus, merda, isso dói!

—É suposto. — Disse Cole. —Então me pare da próxima vez. Você está pronta?

—Não! — Eu gritei. Cole colocou a ponta do graveto na terra e se apoiou nela, esperando. Eu olhei para ele, ofendida, minhas costas ainda doendo, mas eu sabia que não podia parar o treinamento aqui. Suspirei. —Tudo bem, eu-

Mais uma vez, ele lançou para mim, balançando com força total. Eu me afastei do caminho e estendi a mão, tentando imaginar o ponto agudo da energia. Nada aconteceu, exceto que ele me acertou na cabeça com o bastão.

—Filho da puta! — Eu gritei, caindo na grama, sentindo como se minha cabeça estivesse aberta. —Que porra é essa!

—Merda, desculpe, você está bem? — Cole perguntou, ajoelhado na minha frente. Ethan também correu pela grama para me verificar. Passei a mão pelo couro cabeludo para procurar sangue e não o encontrei.

—Sim, eu estou bem. — Eu disse, rangendo os dentes com a dor que irradiava pela minha cabeça. —Apenas tente evitar a cabeça da próxima vez, por favor?

—Se isso se tornar uma técnica de treinamento regular. — Disse Ethan, com o braço em volta de mim. —Sugiro investir em capacetes.

—Sim, isso pode não ser uma má idéia. — Admitiu Cole, de má vontade.

—Eu poderia ajudar um pouco? — Ethan perguntou. —Tive Tae Kwon Do durante toda a escola e, depois da maldição, fiz algumas lições de reciclagem. Achei que a disciplina poderia ajudar, sabe? A meditação é realmente muito útil.

—Estou tentando ensiná-la a apodrecer a carne das pessoas enquanto ela ainda está ligada a elas. — Disse Cole, impaciente. —Não praticar Kung Fu.

—Só estou dizendo. — Ethan levantou as mãos na defensiva. —Se vocês dois sabem como fazer uma queda adequada, não precisam se bater com paus. Você pode jogá-la na grama praticamente inofensiva. Um pouco mais seguro.

Cole suspirou, mas permitiu. Ethan passou alguns minutos nos mostrando como cair em segurança e onde evitar pressionar, dando-nos um básico para impedir que nos machucássemos, depois passou para a remoção real.

—Eu vou te mostrar Cole primeiro. — Disse ele. —Então você pode tentar.

—Isso é justo. — Disse Cole.

—Eu acho que você deve isso a ela por bater nela com a vara. — Disse Ethan, e eu ri. Cole, sob o olhar furioso de sempre, parecia um pouco envergonhado.

—Há duas remoções fáceis que eu posso ensinar agora. — Disse Ethan, corrigindo a posição de Cole. —Ambos são bons para lidar com alguém maior do que você.

Cole, que provavelmente era meio metro mais baixo que Ethan e muito mais magro, levantou uma sobrancelha crítica.

—Vou mostrar a você muito rápido. — Disse Ethan. —Lembre-se de como eu te ensinei a pousar.

Ele se moveu tão rapidamente que eu realmente não processei o que ele havia feito. Ele apenas avançou e de repente Cole estava no chão de costas, chiando, com Ethan debruçado sobre ele.

—Você não pousou como eu te disse. — Ethan disse, sorrindo para Cole.

—Você fez isso de propósito. — Disse Cole.

—Sim. — Ethan se levantou e ofereceu a Cole uma mão para cima. —Agora eu vou fazer isso mais devagar. Preste atenção. Pegue aqui, no alto do tríceps.

Ethan alcançou o peito de Cole com o braço direito, sob o direito de Cole de apertar a parte inferior do braço. A outra mão dele tinha o pulso direito de Cole.

—Puxe-o para o lado. — Explicou Ethan. —Para que você possa colocar sua perna entre.

Ele avançou suavemente em uma espécie de posição ajoelhada, envolvendo a perna em torno da de Cole e a outra perna atrás dele. Ajoelhando-se com a cabeça perto do quadril de Cole, ele parou. Cole cambaleou, lutando para manter o equilíbrio. Ethan o pegou pelos quadris para segurá-lo, sorriu e voltou a segurar seu braço.

—Viu como eu tenho controle do seu equilíbrio agora? — Ethan explicou, ignorando o quão vermelho Cole ficou. —Agora eu me inclino para a frente com o quadril e-

Ele mal precisava se inclinar para fazer Cole cair para trás, incapaz de manter o equilíbrio. A cabeça de Ethan estava perto do estômago de Cole, mas quando Cole tentou recuperar o fôlego, Ethan avançou.

—Certifique-se de seguir em frente com o movimento. — Disse Ethan, deslizando até ele cobrir completamente Cole. —Ou eles podem facilmente prendê-lo. Quando você estiver com eles, poderá se soltar com segurança.

—Agora entendo por que você quis fazer isso. — Disse Cole sarcasticamente, olhando para Ethan. Ethan pigarreou e saiu, ajudando Cole a se levantar novamente.

—Você quer tentar, Vexa? — Ele ofereceu.

—Definitivamente. — Eu concordei, minha cabeça ainda doendo. Eu tomei meu lugar na frente de Cole e Ethan estava atrás de mim, inclinando-se para me direcionar.

—Arme primeiro. — Disse ele. —Sob o tríceps, como eu mostrei a você.

Deslizei minha mão pela parte de trás do braço de Cole, consciente de quão perto os dois homens estavam perto de mim. Os músculos tensos de Cole sob meus dedos eram quase tão perturbadores quanto a respiração de Ethan na parte de trás do meu pescoço.

—Agora, puxe-o e vá para a perna. — Ethan disse, suas mãos nas minhas costas e meu braço me guiando para a frente enquanto envolvia minha perna em torno de Cole. As mãos de Ethan se moveram para os meus quadris, me puxando para trás antes que eu pudesse cair de joelhos.

—Não, não, observe seus pés. — Disse ele, empurrando meus quadris em um rolo mais controlado para frente. —Você não pode simplesmente jogar sua perna para a frente. Você tem que se transformar nela.

Cole observou as mãos de Ethan guiando meus quadris com uma expressão estranha. Eu me concentrei em controlar meu batimento cardíaco repentinamente rápido, prestando atenção às instruções de Ethan. Depois de baixar o quadril, segui em frente com a perna novamente. Era mais difícil do que parecia acertar esse movimento, mas Ethan estava lá para me pegar e guiar meus movimentos, seus dedos tão gentis quanto sua voz. Quando me ajoelhei, olhei para Cole, que olhou para mim com uma familiar faísca de interesse em seus olhos. As mãos de Ethan apertaram meus ombros. Houve uma pausa, todos nós percebendo simultaneamente o fato de que nenhum de nós estava sozinho no calor repentino sob nossas peles. Engoli em seco e desesperada para quebrar a tensão, inclinei-me com o quadril e joguei Cole de volta na grama.

—Porra! — Ele gritou quando caiu, pego de surpresa. Caí para a frente com ele, incapaz de fazer qualquer outra coisa, e ri em seu estômago.

—Lembre-se de seguir adiante. — Ethan me lembrou. Cole se contorceu, talvez esperando escapar, e eu me movi rapidamente para prender seus ombros. Eu sorri para ele, corada e sem fôlego, saboreando o calor nos olhos de Cole.

Suas mãos roçaram meus quadris e, de repente, percebi o constrangimento da situação. Eu rolei rapidamente e me afastei, olhando para Ethan, a culpa clara no meu rosto, mas Ethan sorriu para mim, balançando a cabeça. Ele não tinha notado ou simplesmente não se importava? Eu não tinha certeza de como me sentir sobre qualquer uma das opções.

—Sua vez, Cole. — Ethan disse, ajudando o outro homem a se levantar novamente.

—Finalmente. — Disse Cole.

—Você está pronta para isso? — Ethan me perguntou. Eu assenti sem palavras, ainda muito perturbada para gerenciar as palavras. Cole estava vermelho até os ouvidos. Só Ethan manteve a calma.

Tomei meu lugar na frente de Cole, e Ethan foi atrás dele para guiá-lo da mesma maneira que ele me guiou.

—Vamos tentar devagar uma vez. — Disse Ethan. —Você se lembra de como cair, Vexa?

Eu balancei a cabeça e me preparei enquanto Ethan treinava Cole através dos movimentos. O rosto de Cole ficava mais vermelho toda vez que Ethan o tocava, e a mão de Ethan tremia. Não era só eu que eles estavam ficando excitados, não era? Cole realmente tinha gostado de algo ontem à noite? Eu seria deixada para trás? Eu sacudi por enquanto. Eu precisava ter uma conversa com Ethan - em breve.

Preocupada com meus pensamentos, não notei Cole avançando até estar de costas na grama com um grito.

—Muito bem. — Ethan disse com uma risada. —Você está bem, Vexa?

—Estou bem. — Chiei por baixo de Cole, que se afastou de mim rapidamente.

—Acho que posso fazer rápido dessa vez. — Disse Cole, oferecendo-me uma mão, o que eu peguei. —Pronta para tentar me parar desta vez?

—Claro. — Eu disse, respirando fundo e me posicionando novamente. —Ponto afiado, certo?

—Eu vou encontrar vocês dois. — Ethan disse, ficando perto quando Cole se sacudiu e alcançou-me. —Lembrem-se de observar o ângulo dos seus quadris.

Cole assentiu, depois se moveu para mim rapidamente, agarrando meu braço.

Eu estava de bunda na grama antes que eu pudesse piscar. Cole seguiu em frente. Tossi para recuperar o fôlego.

—Você tentou? — Ele perguntou.

—Claro! — Eu disse. —Foi muito rápido.

—Aethon não vai devagar para você!

—Eu sei, eu sei! Vamos tentar novamente.

Foram necessárias mais três tentativas antes que eu conseguisse começar a visualizar antes que ele me jogasse na grama. Minhas costas doíam, mas menos do que onde ele me bateu com o pau. Tudo tinha deixado de ser sexy depois da quarta ou quinta vez que eu acabei na terra. Agora eu estava apenas chateada.

—Você ainda não está fazendo questão. — Disse Cole, quando pousou em cima de mim novamente. Eu queria gritar. Em vez disso, aproveitei o fato de que Cole não havia seguido com o movimento para jogar uma perna em torno dele e empurrá-lo na terra.

—Eu não posso fazer isso! — Eu disse, sentando nele enquanto ele se debatia para se soltar, segurando uma de suas pernas. —Demora muito tempo para afiá-lo! Não funciona!

Cole fez um som de dor no mesmo momento em que Ethan subitamente pulou em minha direção, gritando meu nome.

Tirei minhas mãos de Cole rapidamente e horrorizada, vi a marca negra e murcha sob onde minha mão estava. Agarrei-o novamente imediatamente, trabalhando no instinto para lavar a energia negativa, restaurando a carne saudável em poucos segundos.

—Desculpe! Jesus! — Eu disse, tremendo, ajoelhando-me ao lado de Cole quando ele caiu de costas, respirando irregular. —Você está bem? Sinto muito!

—Estou bem. — Disse Cole, imediatamente. —Você está pegando o jeito, aparentemente. Só precisava deixá-la brava o suficiente.

—Parece que você descobriu essa coisa de cura também. — Ethan disse, ajoelhando-se ao meu lado e colocando um braço em volta dos meus ombros. —Você consertou tão rápido que eu mal vi.

—Mal tive tempo de sentir isso. — Concordou Cole. —Como esbarrar em uma boca acesa do fogão.

—Pelo menos eu sou boa em uma coisa. — Eu disse com uma risada cansada. —Devemos tentar de novo?

Cole sentou-se nervoso, depois se sacudiu.

—Sim, vamos continuar.

 

 

 

 


Capitulo Dez


Continuamos por mais meia hora. Principalmente foi Cole me jogando na grama, mas consegui mais alguns bons acertos e tive uma boa noção da coisa de curar. No entanto, minha capacidade estava reservada a ferimentos causados por energia necromântica. Cole esfolou o joelho em uma pedra e eu não pude fazer nada. Contanto que eu pudesse fazer alguma coisa, eu não me importei. Fiquei feliz por haver pelo menos uma coisa que eu poderia fazer sem problemas.

Caí na grama ao lado de Cole depois de curá-lo novamente, ofegando. Ethan sentou-se do outro lado de nós, parecendo bastante cansado. Ele estava perto, nos pegando quando caíamos e nos treinando através dos arremessos e quedas. Mort também caiu ao nosso lado, com a cabeça desgrenhada no meu ombro.

—Você está bem? — Eu perguntei a Cole, sem fôlego.

—Sim, me dê um minuto. — Disse Cole, sua voz tensa. —Aquele machucou.

—Desculpe. — Eu disse.

—Não se desculpe. — Ele me corrigiu rapidamente. —É bom. —Dê um tapa na cara de Aethon assim algumas vezes, e podemos até ter uma chance.

—Disse a você que a coisa não funcionou. — Eu disse, fechando os olhos. —Luta de tapas é a resposta, afinal.

—Você provavelmente ainda deve aprender a fazer o ponto. — Ethan disse, inclinando-se sobre mim para tirar meu cabelo do meu rosto. —Você pode não ser capaz de se aproximar o suficiente de Aethon para dar um tapa na cara dele.

—Certo. — Eu disse, não desejando. Ele sorriu e se inclinou para me beijar, doce e breve.

—Nojento. — Disse Cole, rolando para longe de nós. Ele não parecia estar falando sério.

—Você é nojento! — Eu provoquei. Sua camisa tinha subido um pouco, e eu rolei para fazer cócegas na tira de pele exposta. Ele deu um latido de riso áspero e enrolou-se para escapar. Eu compartilhei um olhar com Ethan e um segundo depois, nós dois estávamos mergulhando para fazer em qualquer parte dele que pudéssemos alcançar. Mort pulou ao nosso redor, latindo de emoção enquanto brigávamos.

—Para para! — Cole implorou por sua risada. —Foda-se! Eu vou te matar!

Puxei a camisa dele e soprei uma lufae no estômago, o que o fez gritar tão alto que Ethan e eu caímos na gargalhada. Mort atacou Cole assim que saímos do caminho, cobrindo-o com beijos babados.

—Deus, vocês são esquisitos. — Disse Cole, ainda rindo, empurrando Mort e afastando a grama novamente.

—Sim, bem, você também. — Eu disse, recuando com a cabeça no colo de Ethan e minhas pernas envoltas nas de Cole. —Farinha do mesmo saco.

—Você é muito estranha para ser um pássaro. — Disse Cole, sorrindo para mim. —Você é muito estranha para ser qualquer coisa, menos humano.

Meu coração pulou uma batida ao ver seu sorriso. Foi o primeiro sorriso genuíno que eu vi nele. Iluminava todo o seu rosto como a luz do sol, banindo, ainda que brevemente, as sombras que tantas vezes permaneciam ao redor de seus olhos. Apertei a mão de Ethan, minha respiração presa no meu peito.

—Seja o que for, sou a mesma coisa que você é. — Eu disse a ele.

—Vocês três estão vivos ai fora?

Todos olhamos quando tia Persephona chamou da porta de vidro deslizante.

—Principalmente. — Confirmei, enquanto Mort pulava e corria para tia Percy, que sacudiu os ouvidos com carinho.

—O jantar está quase pronto. — Disse ela. —Venha e me ajude a arrumar a mesa.

Eu vi o rosto de Cole cair. Por um momento, sua ansiedade ficou clara. Ele não tinha certeza se era bem-vindo para ficar, ou se deveria ficar, mesmo que fosse bem-vindo. Suas paredes estavam de volta um momento depois, sua expressão endurecendo quando ele se distanciou para suportar o que acontecia. Engoli em seco e me levantei, oferecendo-lhe uma mão.

—Venha. — Eu disse. —Você vai ficar para o jantar, certo?

Cole hesitou. Eu pude ver a indecisão. Eu me preparei para a sua recusa, pronta para deixá-lo ir, se era isso que ele queria.

—Cole! — Tia Persephona gritou da varanda novamente. —Você disse que gostava de pão de alho, certo? Porque eu acabei de ganhar muito!

O sorriso tocou o rosto de Cole novamente por apenas um momento. Ele pegou minha mão e se levantou.

—Não existe pão de alho em excesso. — Ele gritou de volta.

Eu compartilhei um sorriso com Ethan enquanto seguíamos Cole para dentro da casa. Eu poderia dizer que ele estava tão feliz quanto eu por Cole estar comendo. Eu ainda precisava conversar com Ethan sobre o que era ou para onde estava indo, mas por enquanto, ter os dois por perto me senti bem.

O jantar foi um dos mais agradáveis que já tive em muito tempo, cheio de risadas e boas conversas. Cole estava um pouco reservado, claramente inseguro sobre o seu lugar. Nós não o pressionamos e, quando ele se sentiu à vontade para aumentar a conversa, nós o recebemos. Ele teve um relacionamento fácil com minha tia. Havia um entendimento instintivo entre duas pessoas que passaram anos tentando aprender os segredos da magia, apesar de todos os obstáculos que a vida colocou no caminho.

—Vamos ver o fae amanhã. — Ethan disse, enquanto o jantar terminava. Ajudei-o a lavar a louça enquanto minha tia se retirava cedo para estudar no quarto dela. —Provavelmente poderíamos fazer isso hoje à noite. Ele mantém horários estranhos. Mas...

—Estou muito dolorida com a prática. — Confessei, revirando meus ombros rígidos. —Amanhã provavelmente é melhor.

—Eu vou com você. — Cole concordou, vestindo a jaqueta. —Eu posso te encontrar aqui por volta das nove.

—Você não quer ficar? — Eu perguntei. —O sofá ainda está aberto. Seria muito mais conveniente.

—Eu posso encontrar meu próprio lugar para dormir. — Disse Cole, um pouco na defensiva.

Ethan ficou cuidadosamente em silêncio, enquanto segurava o prato que estava secando. Considerando como Cole reagiu a Ethan tentando insistir da última vez, eu não o culpo.

—Isso tornaria as coisas muito mais fáceis para nós amanhã. — Eu disse, não pressionando demais. —Não precisa ser para sempre. Estamos apenas... preocupados com você.

—Eu não preciso que você se preocupe comigo. — Disse Cole, bruscamente e eu estremeci, sentindo que tinha estragado tudo.

—Tarde demais. — Disse Ethan, sem levantar os olhos da pia. —Nós vamos nos preocupar, de qualquer maneira. Você estragou tudo e fez amigos, cara. A preocupação vem com o território.

O queixo de Cole se apertou e, por um momento, pensei que ele sairia em disparada. Mas depois de um momento, a tensão desapareceu de seus ombros.

—Tudo bem. — Ele disse, de má vontade. —Eu vou dormir no sofá estúpido. Só por esta noite. Porque vir aqui logo de manhã é uma dor na bunda.

—Parece ótimo. — Eu disse, incapaz de esconder meu sorriso. Ethan sorriu também, embora ainda não desviasse o olhar da pia.

Era cedo, então nos sentamos na sala por um tempo, relaxando, cuidando de nossos machucados desde o início do dia. Cole jogou uma pilha de livros sobre mim, principalmente textos necromânticos básicos e alguns guias gerais de magia para ‘me dar uma boa base teórica’. Eu li uma delas, fazendo anotações preguiçosas no meu telefone, enquanto Ethan e Cole conversavam sobre um filme que ambos não gostavam.

Eventualmente, fomos para a cama, jogando cobertores e um travesseiro em Cole no sofá antes de Ethan e eu nos retirarmos para o quarto de hóspedes. Morgana decidiu desde o início que gostava de Cole melhor do que eu e passou a maior parte da noite enrolada em seu colo. Parecia que ela pretendia passar a noite lá. Mort nos seguiu até o quarto, no entanto, pulando na cama e sentando no pé imediatamente.

Ethan e eu estávamos dividindo o quarto de hóspedes de tia Persephona desde que Aethon atacou a funerária, mas até agora, ele estava exausto demais para fazermos muito, mas dormir um ao lado do outro enquanto ele se recuperava de sua experiência de quase morte. Quando nos mudamos para a cama, sem nos olharmos, percebi que não era mais esse o caso. Mas agora tivemos outro problema. Lembrei-me de como ele reagiu ao nosso pequeno encontro na mesa do pátio, e quão perto ele chegou do desastre no drive-in. E se da próxima vez ele não pudesse controlar? Eu o queria. Mas não éstavamos seguros um para o outro.

Quando me deitei, ele me puxou para perto, aconchegando na minha garganta e pressionando beijos na minha pele.

—Você foi incrível hoje. — Disse ele. —Praticando com Cole. Eu nunca vi nada parecido. Os bruxos da biblioteca desejam que eles possam fazer algo tão impressionante quanto isso. Uther é a mais forte e a pequena coisa de teletransporte é o truque mais impressionante que ele tem. É por isso que ele usa-o toda vez que ele aparece.

Eu sorri e rolei para colocar meus braços em volta dele. Esse relacionamento ainda era novo, mas havia muito o que amar nele. O perfume de seus cabelos, as calos nas mãos, as rugas nos cantos dos olhos quando ele sorria para mim. Era quase aterrorizante. Eu poderia me apaixonar por ele tão facilmente, pensei. E eu ainda sabia muito pouco sobre ele. Se eu me apressasse nisso, haveria algo para apoiar um relacionamento real?

—Você está se preocupando. — Disse ele, e estendeu a mão para esfregar o local entre as minhas sobrancelhas. —Você franze sua testa quando está pensando. O que houve?

—Muitas coisas. — Eu disse honestamente. —Há muito com o que se preocupar ultimamente.

Passei a mão por seu ombro nu, até seu quadril. Ele estava usando aquelas calças de moletom novamente, e eu brinquei com a banda, pensativa.

—Com Cole hoje. — Eu disse baixinho, depois me corrigi. —O que ele disse ontem à noite. Você gosta dele?

Ethan pareceu surpreso por um momento, depois desviou o olhar, o queixo apertado. Eu senti a repentina tensão nele, como se ele estivesse se preparando para o impacto. Eu toquei sua bochecha.

—Se você gosta dele. Está tudo bem. — Eu disse rapidamente.

Ele pegou minha mão contra sua bochecha, apertando-a, mas ele não olhou para mim.

—Eu não sou assim. — Ele sussurrou. —Por favor, não pense que sou assim.

—Como o quê? — Eu perguntei confusa. Eu nunca o tinha visto assim. Havia algo quase como nojo no conjunto de sua boca, o sulco apertado de suas sobrancelhas. Mas não foi dirigido a mim. —Como o que? Bissexual?

Ele se encolheu, como se a palavra lhe causasse dor física.

—Eu gosto de você. — Ele disse, sua voz rouca. —Eu gosto de estar com você.

—Mas você também gosta dele. — Eu disse, sem entender o que o perturbava. Ele colocou a mão no rosto. Havia um tremor em seus ombros, uma emoção tentando escapar. E suas unhas pareciam claramente com garras.

—Ethan. — Eu disse suavemente, passando a mão sobre o peito em círculos suaves. —Do que você tem medo? Eu não estou chateada. Eu nem estou surpresa. Não é um problema.

—É um problema. — Disse ele, arrastando a mão pelo rosto até a boca. Ele estava com medo. Finalmente, finalmente, ele olhou para mim.

—Eu não queria que você soubesse. — Disse ele. —Eu não quero que ninguém saiba.

—Tudo bem. — Eu disse imediatamente. —Eu não vou contar a ninguém.

—Você não entende. — Disse ele, fechando os olhos novamente.

—Não, eu não entendo. — Eu concordei. —Isso não muda nada. Eu não me importo se você já esteve com homens antes-

—Eu não estive. — Disse ele bruscamente.

—Eu não ligo. — Repeti. —Isso não afeta o nosso relacionamento. Importa apenas se você quiser. Eu só quero saber mais sobre você. Se isso faz parte de quem você é, eu quero saber sobre isso.

Ele ainda parecia preocupado.

—Eu realmente gosto de você, Ethan. — Eu disse calmamente. —Eu não sei se isso é apenas uma aventura para você ou o que quer que seja. Entendo se isso é algo que você simplesmente não está confortável conversando com alguém que... que pode não fazer parte da sua vida por muito tempo. Mas eu gosto muito de você. Quero ver se isso pode funcionar. Quero saber quem você é.

—Você tem certeza? — Ele disse. —Você tem certeza?

—Eu tenho certeza. — Eu disse, com o máximo de gravidade que pude, tocando sua bochecha. —Isso não me incomoda. Faz parte de quem você é, e eu gosto de quem você é.

Eu o vi engolir em seco. Ele virou o rosto na minha mão e beijou minha palma, ficando assim por um momento.

—Não é... algo com o qual estou realmente confortável. — Disse ele.

—Não brinca. — Eu respondi, e ele riu baixinho, o som tocado com amargura, sua boca se movendo contra a minha palma.

—Minha família era realmente religiosa. — Explicou ele. —Tipo, realmente religiosos. Nós estávamos na igreja pelo menos três vezes por semana. E eu estava profundamente envolvido, compromisso total, anel de pureza e tudo. Mesmo depois de eu... depois que comecei a perceber.

—Isso é difícil. — Eu disse, incapaz de imaginar. Minha família nunca foi do tipo de igreja, por razões óbvias. —Acho que sua igreja não era do tipo que aceita?

—Mais como o 'organizou um protesto contra o GSA2 da minha escola. — Disse ele com tristeza. —Também a abstinência é tudo o que deve ser ensinado em sexo e a masturbação é um pecado.

—Droga. — Eu respondi. —Não é de admirar que você tenha problemas com isso.

—Minha família nunca mais falaria comigo se soubesse. — Disse ele, quase um sussurro. —Ou pior. Uma garota da minha igreja saiu no primeiro ano. A mãe dela bateu nela. Enviou-a para o hospital. Quando ela foi libertada, eles não vieram buscá-la. Ela teve que arranjar um amigo para trazê-la para casa. Ela encontrou as fechaduras trocadas e tudo o que possuía no meio-fio. Eu nem sei o que aconteceu com ela. Ela não voltou para a escola. Suas amigas me disseram o que sua mãe fez. Eles foram expulsos, mas eles também não sabiam mais nada. Ninguém na igreja falava sobre isso. Sua mãe voltou a cantar hinos como se nada tivesse acontecido, com as mãos ainda machucadas por tentar espancar os gays como a filha dela. Meu pai disse que 'admirava sua determinação'.

Estremeci e fiquei brevemente grata por minha família chata, mas perfeitamente solidária. Eu literalmente trouxe coisas mortas de volta à vida, mas nunca me preocupei que meus pais me odiassem por isso ou me expulsassem, muito menos me enviassem para o hospital. Eles não entendiam essa parte da minha vida. Não conseguia entender. Mas pelo menos eu sabia que eles me amavam, de qualquer maneira. Peguei a mão dele, tudo o que pude fazer para mostrar meu apoio.

—Eu ouvi dezenas de histórias assim. — Disse ele calmamente, olhando para as nossas mãos enquanto enlaçava os dedos. —Ninguém mais da igreja. Mas algumas outras crianças na escola. E quando eu era mais velho, as pessoas trabalhavam. E quando comecei a viajar por causa da maldição, descobri mais. Não sei o que é pior, os que acabam sem teto ou os que são forçados a ficar com uma família que os odeia. Não há boa opção. Você entende o que estou dizendo, Vexa?

Apertei sua mão, desejando ter as palavras.

—Não há final feliz para pessoas como eu. — Disse ele.

—Isso não é verdade. — Eu disse imediatamente. Seu aperto na minha mão relaxou. Ele balançou a cabeça, afastando-se.

—Não é verdade. — Insisti. —Sim, é péssimo, mas isso não significa que você não tem esperança! Você já está fora de lá. Você não precisa da aprovação de sua família para sobreviver e viver uma vida perfeitamente feliz. Você pode ter um final feliz sem eles...

Ele forçou um sorriso e beijou as costas da minha mão suavemente.

—Obrigado por tentar. — Disse ele. —Por ouvir.

—A qualquer hora. — Eu disse a ele. —Realmente, a qualquer momento. Você quer falar sobre coisas trágicas da vida? Estou triste. Você quer fofocar sobre garotos? Eu posso fazer isso também.

Ele bufou, e fiquei aliviada ao ouvi-lo rir.

—Então, quem era sua boy band favorita? — Eu perguntei, provocando, e ele fez um barulho de repulsa.

—Não. — Ele disse com uma pequena risada. —Realmente, não. Ainda está dolorido.

—Tudo bem. — Eu disse, e me deitei ao lado dele, pressionando um beijo em sua têmpora. —Eu vou deixar você falar sobre isso no futuro. Eu só quero que você saiba que estou aqui por você.

Com outra risada suave, ele se virou para me olhar nos olhos, estranhamente vulnerável.

—E isso? — Ele perguntou, sua mão deslizando pela minha coxa até a minha cintura. —Você ainda está aqui para isso? Tudo bem se você não estiver.

Eu respondi beijando-o com força. Inferno, sim, eu estava. A princípio. E depois de uma conversa tão pesada, se era isso que ele precisava sentir como se eu ainda estivesse com ele, fiquei mais do que feliz em agradecer.

Ethan sorriu contra meus lábios e me beijou de volta, me puxando para mais perto, nossas pernas emaranhadas quando suas mãos fortes apertaram meus quadris.

—Então. — Ele disse, respirando fundo quando quebramos o beijo. —Sobre Cole...

—Sim? — Eu ainda estava um pouco tonta com o beijo, pensando em quão longe poderíamos arriscar ir.

—Você gosta dele também.

Isso chamou minha atenção. O calor correu para o meu rosto.

—Eu não sei. — Eu admiti. —Ele é fofo. Mas não é como eu faria... não estou planejando...

—Está tudo bem. — Disse ele, beijando minha testa. —Você não precisa se desculpar.

—Você não está com ciúmes? — Eu perguntei.

—Claro que sim. — Ethan disse com uma risada forçada. —Ele é fofo, e é um necromante como você, e ele tem toda aquela coisa trágica de bad boy acontecendo. E, por mais que eu goste de você, você sabe que tenho... um limite de tempo.

—Ethan. — Eu disse preocupada, sentando-me. Ele balançou a cabeça, me empurrando de volta suavemente.

—A menos que encontremos uma maneira de quebrar a maldição. — Disse ele. —Um dia, mais cedo ou mais tarde, isso vai me derrotar. Não sou um bom investimento a longo prazo.

—Você é uma pessoa, não uma opção de compra. — Eu disse. Ele riu, mas havia uma amargura no conjunto de suas sobrancelhas.

—Quanto mais fundo você se envolver comigo — Disse ele, —Mais doerá se e quando isso acontecer. Eu não culparia você por não querer passar por isso. Então, sim, tenho inveja do cara que poderia passar a vida com você, quando eu só tenho alguns anos. Ou menos.

Eu gostaria de ter certeza de que definitivamente quebraríamos a maldição. Eu realmente não tinha pensado em quanto tempo teríamos. Agora eu quase podia ouvir um relógio correndo, segundos preciosos desaparecendo. Era um milhão de vezes mais assustador do que se apaixonar. Eu pensei que estava confortável com o conceito de morte, considerando quem eu era como pessoa, mas nunca o processei até que de repente se aproximava, inevitável e implacável, e não há nada que eu possa fazer sobre isso.

—Mas meu ciúme não importa. — Ethan disse finalmente. —Confio em você. O ciúme é... As pessoas não o entendem. Eles agem como se fosse um sinal de amor, ou algum grande obstáculo intransponível, mas o ciúme é apenas uma emoção. Um sintoma de insegurança. Você não pode simplesmente dizer ‘estou com ciúmes’ e encerrar a conversa. Você precisa falar sobre isso, descobrir por que está com ciúmes e resolver o problema.

—Eu não acho que entendi o que você está dizendo. — Eu admiti, franzindo a testa.

Ele passou a mão pelas minhas costas distraidamente, pensando.

—Acho que o que estou dizendo é que, se você quer ficar com ele, está tudo bem comigo.

Meus olhos se arregalaram. —Só porque sua maldição pode matá-lo, eventualmente, não significa que eu vou pular de navio antes mesmo de-

—Não é isso.

—Você está apenas tentando me dar um fora por causa da coisa bi? Porque você não precisa-

Ethan cobriu minha boca com a mão, um sorriso exasperado em seu rosto.

—Não, Vexa, não é isso que eu quero dizer. — Disse ele, balançando a cabeça e removendo a mão para escovar meu cabelo para trás. —Quero dizer, se ele está bem com isso, se você quer ficar com ele também, eu não me importo.

Isso me calou. Não era uma possibilidade que eu realmente considerasse. Eu encontrei minha boca seca e meu coração batendo um pouco demais com o pensamento.

—Eu sei que é estranho. — Disse ele, afastando-se um pouco, envergonhado. —Eu provavelmente não deveria ter sugerido. Apenas sinto que temos tão pouco tempo que você não deve se conter. Você merece tudo o que deseja e muito mais. Você é incrível e-

Desta vez, coloquei minha mão sobre sua boca. Quando ele parou de tagarelar, tirei minha mão para beijá-lo.

—Você realmente ficaria bem com isso? — Eu perguntei. Ele assentiu, sorrindo. Procurei algum traço de dúvida em seus olhos, mas não consegui encontrá-lo. —Você quer ficar com ele também?

Houve um lampejo de dúvida. Ele lambeu os lábios, olhando para as nossas mãos unidas.

—Eu não...— Ele admitiu. —Com um cara. Cheguei perto algumas vezes. Não pude continuar com isso.

—Mas você quer tentar com ele? — Eu perguntei, pressionando.

Ele desviou o olhar, inquieto. Eu o deixei desconfortável novamente.

—Não... talvez. — Ele admitiu. —Eu não deveria. Mas acho que ele não aceitaria. Não comigo, pelo menos.

—Eu não sei. — Eu disse, lembrando o quão vermelho Cole ficou quando Ethan o tocou hoje cedo. —Eu acho que você tem uma chance.

—Você ficaria bem com isso? — Ethan perguntou, olhando nos meus olhos. —Não é nem uma possibilidade remota, mas eu não quero pressioná-la a qualquer tipo de situação com a qual você não se sinta confortável, mesmo hipoteticamente.

Eu pensei sobre isso, lembrando-me da maneira como meu estômago tremia observando-os mais cedo, as pontadas de preocupação e saudade.

—Estou com medo disso. — Eu disse, decidindo que ser honesta era a melhor escolha. —Eu tenho medo que vocês dois decidam que estão melhor sem mim. Isso é estúpido?

—Não, não, isso é normal. — Ethan disse, rapidamente, me puxando para perto e beijando minha cabeça novamente. —Deus, isso é perfeitamente normal, querida. Também tenho medo disso. Inferno, provavelmente seria uma boa decisão de sua parte. Mas você. Você é incrível. Eu sei que isso ainda é novo, mas não é uma aventura para mim. Eu quero fazer isso durar, pelo menos enquanto eu tiver deixado. As coisas podem mudar, talvez possamos aprender mais um sobre o outro e nos afastar, quem sabe. Mas eu sei que você me faz querer tentar para fazer isso funcionar. Nada do que poderia acontecer com Cole vai mudar isso.

Ele me beijou novamente e eu coloquei meus braços em volta dele, meu coração doendo no meu peito. Eu não tinha certeza de nada ainda, mas isso era bom. Certo.

A língua de Ethan roçou meus lábios e um pequeno zumbido de encorajamento me escapou, o que o fez me apertar com mais força. Deslizei uma perna sobre seus quadris e sua mão deslizou da minha cintura para me puxar para mais perto, o ar entre nós ficando quente. Deslizei a mão em seus cabelos, unhas roçando seu couro cabeludo, e ele quebrou o beijo com um calafrio para espalhar beijos na minha garganta.

Eu gemi em apreciação e Mort levantou a cabeça do final da cama. Ele bufou impaciente, pulou da cama e abriu a porta do quarto, desaparecendo na escuridão do corredor. Algo sobre a pura indignidade de sua reação e o absurdo de esquecermos que ele estava lá me fez começar a rir, e uma vez que comecei, não consegui parar. Que conversa intensa e louca de ter no final desta semana insana. Deus, eu quase morri três vezes, e agora eu estava discutindo um relacionamento aberto com meu namorado bissexual e lobisomem. Eu pensei que minha vida era estranha antes de tudo isso começar. Ethan levantou-se para fechar a porta e eu o observei sair, ainda processando tudo o que havíamos conversado, mas meus pensamentos sumiram enquanto eu apreciava a visão de sua bunda naquelas calças de moletom. Tinha sido uma noite muito intensa até agora. Quando Ethan voltou, eu sorri para ele e torci para que ainda não tivesse terminado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo Onze


Quando ele voltou para a cama, eu rolei de costas e abri meus braços para ele, ansiosa para continuar o beijo que havíamos quebrado um momento atrás. Ele concordou de bom grado, deslizando sobre mim para me beijar gentilmente. Deslizei meus braços ao redor dele, aprofundando o beijo e puxando-o para baixo dos travesseiros. Eu amei a pressão tranquilizadora do seu peso em mim. Isso me fez sentir estável em um mundo onde as coisas desmoronavam constantemente. Deslizei minhas mãos em direção à cintura de suas calças, e Ethan quebrou o beijo para pegar minha mão.

—Não deveríamos. — Disse ele com um suspiro relutante. —Você sabe o que poderia acontecer.

Ele estava certo, mas eu não queria admitir. Eu queria estar com ele agora. Após o peso da nossa conversa, era importante. Eu queria mostrar a ele o quanto eu o queria. Eu queria ver nos olhos dele o quanto ele me queria.

—Vamos tentar alguma coisa. — Sugeri, sorrindo. Ele levantou uma sobrancelha, mas obedeceu quando eu o empurrei de volta para os travesseiros e subi da cama para recuperar alguma coisa. Quando voltei com o cinto da calça, ele parecia um pouco preocupado, sentando-se contra a cabeceira da cama.

—Até que possamos comprar aquelas algemas felpudas. — Eu disse, subindo em seu colo. Peguei suas mãos, levando-as acima da cabeça até a barra da cabeceira da cama, amarrando o cinto em uma figura oito em volta dos pulsos e da barra. Apertei-o apenas o suficiente para que eu ainda pudesse colocar dois dedos entre ele e sua pele.

—Como é isso? — Eu perguntei a ele. —Não é muito apertado, é?

—Parece estranho. — Ele admitiu. —Mas não é muito apertado.

—Você quer que eu tire? — Eu perguntei.

—Diga-me o que você está planejando primeiro. — Disse ele, rindo.

—Isso está seguro. — Eu disse, batendo no cinto antes de me acomodar mais profundamente em seu colo, com muitas mexidas desnecessárias. —O plano é ir muito, muito devagar.

Eu rolei meus quadris contra seu colo e o vi engolir em seco.

—Construa um pouco de cada vez para que você nunca perca o controle. Parece bom?

—Eu não sei se isso vai funcionar. — Disse ele, mordendo o lábio. —Mas estou disposto a tentar.

Eu sorri —Incrível. Diga-me imediatamente se algo dói ou se você quer parar.

Comecei tirando minhas próprias roupas. Fiel à minha palavra, aproveitei meu momento agradável, derramando minha camisola e a roupa íntima por baixo com tanta pompa e circunstância quanto pude. Era uma provocação boba, mas o fez sorrir, o que importava.

Fiquei nua no colo dele, montando nele enquanto terminava e ele sorriu para mim, apreciando a vista.

—Você vai me despir em seguida? — Ele perguntou.

Eu fingi considerar por um minuto.

—Hmm, nah, acho que você está bem como está.

Eu o beijei antes que ele pudesse dizer mais. Comecei doce e devagar, depois arrastei meus dentes sobre seu lábio, mordi o suficiente para fazê-lo ofegar e deslizei minha língua ao lado da dele para provar o calor de sua boca.

Enquanto eu o beijava, balancei meus quadris em círculos lentos, moendo descaradamente contra ele. Ouvi o couro do cinto estalar quando minhas mãos apertaram seu peito e deslizaram até sua cintura. Eu levei um tempo beijando-o, minhas mãos vagando, traçando sua clavícula, os músculos de seus braços, como eu tinha todo o tempo do mundo, até senti-lo ficando duro contra mim. Eu me esfreguei contra ele por um momento até ouvir sua respiração começar a pegar. Então me afastei, sorrindo para o barulho frustrado que ele fez.

—Como você está se sentindo? — Eu perguntei, recostando-me em uma mão, ainda montando em seu colo. —Ainda está tudo bem?

—Tudo ótimo. — Ele confirmou, seus olhos quentes enquanto olhava para mim. —O lobo nem está mostrando a cabeça ainda. Talvez a última vez tenha sido por acaso.

—Talvez. — Eu disse, passando a mão livre pelo centro do peito enquanto olhava para ele. —Mas eu não estou me arriscando. Você sabe, você parece muito bem assim.

A calça de moletom escorregou em seus quadris. A mecha de cabelo castanho dourado que desapareceu sob a banda foi uma tentação difícil de resistir, apontando para o contorno óbvio de seu tesão negligenciado. A posição dos braços acima da cabeça enfatizava as linhas do peito bem definido, os ombros largos, a curva do estômago. Acima de tudo, a fome em seus olhos me fez doer de excitação. De fato...

Eu deixei minha mão descer pelo meu peito correndo até os meus lábios, correndo levemente por fora. Eu vi as pupilas de Ethan dilatar enquanto ele observava meus dedos deslizarem para dentro para arrastar lentamente através das minhas dobras, espalhando a umidade brilhante da minha entrada para o meu clitóris. Mordi meu lábio, quase capaz de sentir seu olhar em mim, um formigamento na minha pele enquanto eu lentamente circulava o pico, suspirando enquanto relaxava lentamente no prazer da sensação. Nesse ritmo, eu poderia me tocar a noite toda, ocasionalmente deixando meu clitóris deslizar pelas minhas dobras novamente, me abrindo para ele olhar, mas não tocar. Eu ouvi o cinto ranger novamente, e ele gemeu.

—Oh, isso não é justo. — Disse ele.

—O que não é justo? — Eu perguntei, jogando de inocente quando deitei no cotovelo, sentindo a tensão no topo das minhas coxas enquanto eu me acariciava, literalmente no colo dele e ainda fora de seu alcance.

—Vamos lá. — Ele implorou. —Você não pode simplesmente me provocar.

—Não posso? — Eu perguntei com um sorriso, esfregando-me um pouco mais com a visão de sua ansiedade. —O que você vai fazer para me impedir?

Ele xingou baixinho, enviando um arrepio de prazer pela minha espinha. Arqueei meus quadris em meu próprio toque, gemendo enquanto esfregava mais rápido. Não havia necessidade de tomar meu tempo comigo mesma. Eu poderia vir quantas vezes quisesse antes de tocá-lo. E essa era uma sensação muito agradável. Joguei a cautela ao vento, seguindo em frente como se eu tivesse apenas cinco minutos antes de sair para o trabalho. Eu o deixei assistir enquanto me desfiz, puxando todos os truques que eu sabia para me fazer gozar mais rápido. Foi um pouco de luta com a posição desconfortável, mas uma vez que eu entrei o suficiente, eu esqueci a tensão nas minhas pernas, voando alto e chegando perto.

Minha respiração ficou presa ao me aproximar do clímax. Eu trouxe minha outra mão de trás de mim para enrolar os dedos dentro de mim enquanto esfregava mais rápido, os quadris se contorcendo, o prazer pulsando como meu sangue nos meus ouvidos, junto com as respirações irregulares de Ethan. Nessa posição, minhas pernas ainda estavam dobradas dos dois lados do colo dele, meu peso no pescoço e nos ombros, minhas costas curvadas como um arco, eu era como uma mola enrolada, como uma flecha prestes a ser disparada. A tensão era quase dolorosa, apenas aumentando a sobrecarga sensorial do orgasmo.

—Vexa, por favor. — Ethan implorou, sua voz rouca de desejo, e eu ofeguei quando o prazer cresceu e tomou conta de mim.

Fiquei ali por um momento, relaxando a postura tensa das minhas costas, percebendo a dor desconfortável nas minhas pernas, saboreando o delicioso formigamento do pós-brilho sobre a minha pele. Eu me deliciei com uma sensação tátil inebriante, enquanto Ethan estava choramingando entre minhas coxas. Na verdade, choramingando, rosnados baixos se transformando em choramingos caninos.

—Você ainda está bem? — Eu perguntei, sentando-me. Ele ainda parecia humano, exceto por um leve brilho dourado nos olhos.

—Não. — Ele disse, lambendo os lábios. —Estou tão longe de estar bem como acho que já estive.

Eu ri um pouco, me acomodando no colo dele e me inclinando sobre ele, meio para verificar suas restrições para mover minhas pernas, que estavam começando a adormecer.

—Você quer que eu o solte? — Eu perguntei, traçando o cinto.

—Mais do que tudo. — Ele gemeu, pressionando o rosto nos meus seios. —Mas você não deveria.

—Eu não quero que você se sinta desconfortável. — Eu disse, passando meus dedos pelos cabelos dele.

—Não, não, isso é desconfortável. — Disse ele, beijando o espaço entre os meus seios. —Horrível, horrível, muito bom e desconfortável. Não pare.

Eu ri novamente, mas, me tranquilizado de que ele estava bem, continuei.

Eu me mexi para beijá-lo novamente, longo e lento, negando-lhe até a minha língua, amando o jeito que ele se contorcia e se inclinava a cada toque.

Eu dei a ele o que ele queria por centímetros, o mais lento que pude. Sempre que ele começava a ficar excitado, eu recuava, desacelerava ainda mais, deixando-o frustrado e desesperado, mas ainda no controle de si mesmo. Quando finalmente enfiei a mão na cintura da calça, ele tremeu de necessidade. Eu acho que ele quase terminou apenas com o primeiro toque dos meus dedos contra o seu eixo, o primeiro aperto suave. Decidi então que, se isso se tornasse algo normal, eu faria isso acontecer eventualmente. Só de pensar em fazê-lo desmoronar com um único toque foi tanta pressa que tive que parar e me tocar de novo, para seu deleite e frustração, até que ele literalmente me implorou que o deixasse usar a boca. Eu fui generosa o suficiente para permitir isso a ele. Eu estava de pé sobre ele, minhas mãos apoiadas na cabeceira da cama, enquanto ele fazia tudo o que suas restrições lhe permitiam. Eu já tinha ouvido falar oralmente como adoração, mas nunca realmente apreciei o quão preciso o termo poderia ser até esse momento. A cada momento em que sua boca não estava preocupada, ele sussurrava, gemia e rosnava meu nome, me dizendo o quão perfeita eu era, o quanto ele precisava de mim. O elogio foi quase tão bom quanto a boca dele.

—Vexa. — Ele gemeu, pressionando beijos de borboleta no meu estômago. —Linda, perfeita, maravilhosa Vexa. Estou morrendo. Isso está literalmente me matando.

Eu ri, acariciando seus cabelos.

—Quer que eu te deixe sair? — Eu perguntei.

Ele balançou sua cabeça. —Não, mas se eu não puder estar dentro de você em breve, eu realmente morrerei. Estou cem por cento sério.

Rindo, eu me abaixei em seu colo para beijá-lo novamente, provando-me em seus lábios.

—Eu não sei. — Eu ronronava contra aqueles lábios. —Você acha que ganhou?

—Farei qualquer coisa. — Ele implorou. —Por favor, por favor.

Eu sorri —Eu gosto de você implorando. — Eu disse. —Essa é uma boa aparência para você.

—Além disso. — Ele reclamou. —Isso está seriamente começando a doer.

—O cinto? — Eu perguntei, tentando alcançá-lo, preocupada.

—Não. — Ele disse, e balançou seus quadris contra mim, moendo sua ereção ainda muito dura contra as minhas costas. Ele gemeu, fazendo isso de novo. —Na verdade, se você simplesmente não se mexer...

Eu me afastei dele imediatamente com um sorriso perverso. Ele quase chorou, chutando os lençóis em frustração.

—Você foi um menino muito bom. — Eu disse, beijando sua testa. —Você merece melhor que isso.

Saí do colo dele, apenas o tempo suficiente para pegar uma camisinha na mesa de cabeceira.

—Oh, graças a Deus. — Disse Ethan, aliviando o fôlego, relaxando os ombros tensos. Rasguei o pacote com os dentes e me movi entre as pernas dele.

—Quer ver um truque? — Eu perguntei, sorrindo enquanto pegava seu pau na mão. Ele levantou uma sobrancelha, desesperado demais para me questionar enquanto colocava a camisinha na minha boca. Inclinei-me sobre ele, envolvendo meus lábios em torno da cabeça de seu pênis e pressionei o preservativo no lugar com a minha língua. Deslizei-o mais fundo na minha boca, rolando a camisinha pelo seu pênis com meus lábios. Ele xingou de maneira colorida quando o calor da minha boca o cercou, os quadris batendo, mas eu o segurei. Eu ainda estava no controle desse rodeio.

Quando a camisinha e meus lábios atingiram a base de seu pênis, eu me afastei, fingindo que meus olhos não estavam lacrimejando e lutando contra o desejo de tossir.

—Puta merda. — Disse ele, olhando para mim como se eu fosse feita de ouro maciço.

Não perdi mais tempo. Eu estava quase tão ansiosa por tê-lo dentro de mim quanto ele. Ajoelhei-me sobre ele, voltando para segurar seu pau no lugar enquanto me abaixava lentamente sobre ele. Ele congelou, seus olhos brilhando com um tremido âmbar, parecendo que ele não ousava nem respirar enquanto sua cabeça deslizava contra as minhas dobras. Levei meu tempo, deslizando contra ele algumas vezes, antes de finalmente deixá-lo entrar. Respirei fundo quando a primeira polegada me abriu. Ele era grosso, e eu tremi com a antecipação de como ele se sentiria completamente dentro de mim. Mas ainda demoraria um pouco até eu descobrir. Eu fiquei onde estava, seu pau apenas dentro de mim, aproveitando a sensação, até que ele se contorceu com ansiedade. Então eu o levei um pouco mais fundo. Talvez outra polegada.

—Vexa! — Ele disse, um pouco alto demais para estarmos em uma casa com outras pessoas dormindo nela. Eu o silenciei, tentando não rir, e afundei o resto do caminho, xingando quando ele bateu profundamente dentro de mim. Eu me senti tão bem, tão cheia, meu clitóris latejando com o meu pulso.

Ficou claro que Ethan se sentia tão bem quanto eu, sua cabeça jogada contra a cabeceira da cama, sua respiração dura. Quando eu vi suas mãos flexionarem seus laços, garras brilhando. Lembrei-me de que não estava apenas indo devagar para meu próprio entretenimento.

—Aí estamos. — Eu disse, suavemente, passando as mãos sobre as pernas e o estômago em círculos calmantes. —Como você está se sentindo?

Ele respirou fundo várias vezes antes de falar, recuperando o controle, embora não conseguisse embainhar suas garras.

—Bom. — Ele disse, sem fôlego. —Deus, tão bom.

—Como está o lobo? — Eu perguntei, balançando meus quadris lentamente, moendo-o mais profundamente dentro de mim. Ele gemeu e ouvi o cinto de couro esticar novamente.

—Assistindo. — ele finalmente admitiu, um rosnado em sua voz. —Eu acho que tenho um controle sobre ele. Pelo menos, tanto quanto posso.

—Bom garoto. — Eu disse. —Você pode esperar se eu continuar?

—Sim, mas eu acho que você não pode confiar em mim para dizer para parar se eu começar a escorregar. — Ele admitiu com uma careta.

—Então eu vou ter um cuidado extra. — Eu disse a ele, levantando meus quadris até que ele estava apenas dentro de mim. —E extra, extra lento.

Eu me abaixei novamente em um longo e lento deslize, saboreando o calor e a pressão de cada centímetro, meus dedos dos pés enrolando nos cobertores. Eu amei o jeito que ele se encaixava dentro de mim, e o jeito que ele pressionou contra minhas paredes internas quando eu inclinei meus quadris da maneira certa.

Tanto porque eu queria testar os limites de Ethan e porque simplesmente não conseguia resistir, continuei em ritmo acelerado, não muito rápido ou muito lento. Depois de todas as provocações, eu sabia que Ethan não tinha muita resistência sobrando. Eu o observei com cuidado, resistindo ao desejo de me perder no prazer. Esfreguei meu clitóris em círculos preguiçosos por outra camada de calor, construindo como um fogo dentro de mim. Fazia muito tempo desde que eu tive isso. Ethan teria ficado sozinho o tempo todo também, eu me perguntava? Tive a impressão de que ele não estava com ninguém desde a maldição, e pude entender o porquê. Mas eu meio que amei o pensamento de ser a única a dar isso a ele depois de tanto tempo, depois que ele talvez pensasse que estava perdido para ele para sempre.

Ethan começou a me observar, seus olhos devorando todos os meus movimentos como se ele quisesse gravar essa memória em sua mente para sempre. Mas enquanto eu continuava, ele teve que fechar os olhos, prendendo a respiração, os braços tensos contra o cinto enquanto lutava com o lobo e com seu próprio desejo de gozar. Quando o vi começar a tremer, diminuí a velocidade ao mesmo tempo, voltando ao ritmo mais lento que pude controlar. Ele xingou amargamente baixinho, mas depois de um momento, sua respiração se acalmou e um pouco de seu autocontrole voltou. Assim que ele estava um pouco mais no controle, eu acelerei novamente, um pouco mais rápido do que antes. Eu estava ansiosa para gozar também. Mas eu não podia me dar ao luxo de ser egoísta, infelizmente. Eu tive que facilitar isso para provar que poderia funcionar.

Eu estabeleci um ritmo sólido, observando-o com cuidado, diminuindo a velocidade assim que ele ficava muito excitado, acelerando uma vez que ele tinha o controle novamente. Eu nunca tinha feito sexo de maneira tão agradável antes, e estava gostando. Ethan, ao contrário, parecia estar sendo torturado.

—Se o seu objetivo aqui é me fazer odiar você. — Ele ofegou, enquanto eu diminuí a velocidade até quase parar novamente. —Você está conseguindo.

—Espere um pouco mais. — Eu disse, fechando os olhos enquanto lutava contra o meu próprio desejo de ir mais rápido. Eu estava tão perto de gozar cerca de cem vezes e me afastei antes que acontecesse, tentando salvá-lo. —Estamos quase chegando, não estamos?

—Deus, sim. — Ethan disse, os quadris tremendo enquanto ele tentava empurrar em mim apenas para eu segurá-lo. —Mas o lobo está tão perto, Vexa. Eu não sei por quanto tempo eu posso segurá-lo, não importa o quão lento vamos.

—Você tem certeza que não está dizendo isso apenas porque quer que eu acelere? — Eu o provoquei, moendo com ele.

—Isso também. — Ethan disse, com os dentes cerrados. —Além disso, meus braços estão realmente ficando doloridos.

—Tudo bem. — Eu disse respirando fundo, inclinando-me para beijá-lo brevemente. —Espere firme, baby.

Eu me joguei em um ritmo rápido que balançou a cabeceira da cama e deixou Ethan tenso por toda parte, uma série de maldições estranguladas deixando-o. Mordi meu lábio, cada impacto provocando fogos de artifício de prazer dentro de mim. A gratificação atrasada é uma merda, mas Deus, me sinto bem em finalmente ceder depois de esperar tanto tempo.

Ethan enfiou os calcanhares no colchão, empurrando-se para me encontrar em fortes impactos de tirar o fôlego. Fechei os olhos, concentrando-me inteiramente na sensação.

—Quase. — Ethan rosnou. —Tão perto - Vexa.

O orgasmo se aproximava como o pico de uma montanha-russa que vinha subindo há horas. A mola estava enrolada até seu ponto de ruptura absoluto e se eu não a liberasse logo...

Eu deveria estar prestando mais atenção. Não percebi que havia algo errado até ouvir o couro estalar e o rosnar do lobo. Quando abri meus olhos, Ethan já me segurava pelos ombros, me empurrando de volta para o colchão. Tive um instante de temer que estivesse prestes a morrer, e então Ethan bateu em mim com tanta força que vi estrelas.

Ele entrou em mim como um animal, como se ele morresse se não morresse, como se tudo dependesse de me foder tão forte e rápido quanto ele era fisicamente capaz. Meus quadris não estavam na cama, minhas pernas ao redor dele, minhas mãos em seu peito. Com as talvez duas células cerebrais que tive que poupar com o prazer que sobrecarregava rapidamente meu cérebro, vi que ele não havia desaparecido completamente, pelo menos ainda não. Ele ainda era mais homem que lobo, mas se afastava rapidamente. A pele se substituía, os dentes cresceram mais. Eu me atrapalhei com minha mágica após o orgasmo, tentando roubar minha capacidade de pensar, envolvendo-a em torno de sua maldição como eu tinha no drive-in, comprimindo-a, empurrando-a para trás, abraçando-a.

—Vexa. — Ethan disse, sua voz um grunhido irreconhecível de animal. Eu olhei nos olhos dele e não vi Ethan lá. Ele não estava errado quando disse que o lobo não era ele. Havia algo completamente atrás de seus olhos. Algo antinatural e cheio de ódio. Algo que teria rasgado minha garganta agora, exceto a pura força de vontade de Ethan e sua própria necessidade primordial.

O impacto dos quadris de Ethan contra minhas coxas tocou bruscamente através da sala, assim como seus rosnados bestiais, e meus próprios gritos, todas as tentativas de controle perdidas. O prazer corria por minhas veias como fogo a cada golpe feroz. Eu segurei sua maldição com a última razão, cavando minhas unhas enquanto minha visão ficava branca, como se fosse tudo o que pudesse me segurar na terra.

O orgasmo me atingiu como um deslizamento de terra, como uma erupção vulcânica, como uma força da natureza invadindo-me. Todo nervo queimava, todo músculo ficava tenso. Eu fiz um barulho gutural e desesperado, cada parte de mim reduzida a um ponto quente e branco de êxtase irracional.

Foi só quando a onda retrocedeu, eu percebi que Ethan tinha terminado também. Ele pairava sobre mim, segurando firme, respirando com dificuldade. Eu ainda estava segurando sua maldição e empurrei um pouco mais contra ela. Eu assisti o lobo recuar, até Ethan, exausto e gasto, desabar na cama ao meu lado.

Eu rolei de lado para encará-lo, murmurando garantias e acariciando seus cabelos. Ele estava consciente, embora apenas justo.

—Você está machucada? — Ele lutou para dizer.

—Não, não, eu estou bem. — Eu disse a ele. —Você não me machucou. Está tudo bem.

Ele deu um suspiro trêmulo de alívio e eu o beijei, espalhando-os pela testa e bochechas, tão aliviada quanto ele. Ele abriu os olhos, da mesma cor quente que sempre foram, sem mais vestígios do ouro. Ele sorriu para mim por um momento, e eu sorri de volta, uma estranha sensação de vitória me enchendo que era quase mais doce que o orgasmo. Conseguimos. Não da maneira que esperávamos, mas fizemos.

Alguém bateu na porta do quarto e nós dois congelamos.

—Todo mundo vivo ai? — Minha tia falou.

A humilhação correu através de mim. Ethan gemeu e escondeu o rosto nos lençóis.

—Sim, estamos bem. — Eu falei de volta. —Está tudo bem!

—Você não teria imaginado pelos barulhos. — Disse tia Persephona sem rodeios. —Mas estamos muito felizes por vocês dois.

—Sim, parabéns pelo sexo. — Disse Cole pela porta, e minha humilhação aumentou mais dez graus. —Mas no futuro, pode levar em consideração avisar as pessoas que você está prestes a arriscar lançar um lobisomem assassino em casa!

—Ou apenas façam em outro lugar. — Sugeriu minha tia. —Um bunker trancado em algum lugar, talvez.

—Um bunker à prova de som. — Acrescentou Cole.

—Desculpe! — Eu disse.

—Isso não vai acontecer novamente. — Disse Ethan.

Cole e tia Persephona voltaram para a cama e Ethan e eu deitamos um ao lado do outro, com os ossos cansados e agora completamente envergonhados.

—Pelo menos sua tia não é do tipo conservadora? — Ethan disse, tentando aliviar o clima. Eu ri baixinho e ele se juntou a nós dois oprimidos por tudo o que tinha acontecido. Depois de um momento, levantei-me, esticando-me, para fazer uma limpeza mínima, incluindo a eliminação do cinto destruído. Teríamos que conseguir algo mais forte. Quando terminei, caí de volta na cama com Ethan, que tinha usado a última de suas forças apenas para virar o caminho certo na cama. Ele me puxou para perto quando eu me deitei, e me aconcheguei sob seu queixo.

—Só para você saber — Murmurei, meus olhos já fechados. —Isso definitivamente vai acontecer novamente.

 


O café da manhã na manhã seguinte foi desconfortável por cerca de dez minutos, até Cole contar uma piada suja que nos deixou todos em lágrimas.

—Então, como foi o sofá? — Eu perguntei a Cole, enquanto Ethan ajudava minha tia a fazer panquecas.

—Tolerável. — Disse Cole. —Eu tive pior. Seus animais se revezaram tentando me sufocar, no entanto. Você já teve um cão lobo morto tentando deitar no seu rosto enquanto você dorme?

—Sim, desculpe. — Eu disse, rindo. —O cheiro é a pior parte, certo? Estou pensando em enchê-lo de pot-pourri.

—Não pode doer. — Disse Cole. —Mas nenhuma quantidade de purificadores de ar ou taxidermia vai mudar o fato de você ter repudiado ele tarde demais. Os restos mortais estavam muito longe. Se você deseja manter algo familiar, precisa chegar ao corpo enquanto estiver fresco. Depois que o inchaço aparecer, você nunca conseguirá fazê-lo cheirar bem.

—Você está assumindo que eu repensei Mort intencionalmente. — Eu disse com um escárnio. —Ele era a coisa morta mais próxima e maior em mãos quando eu percebi que havia um lobo grande na minha casa.

—Podemos tentar evitar conversas sobre cadáveres à mesa? — Ethan perguntou com uma careta.

—Bem, então por que você não o colocou de volta? — Cole perguntou, ignorando Ethan.

—Eu estava muito ocupada no começo. — Eu disse. —Eu tentei, eventualmente, mas ele está realmente cheio de energia e não quer se soltar. E honestamente, a essa altura, ele lutou com seu leão da montanha por mim e apenas foi um cachorro muito bom em geral e, bem, me apeguei.

—É assim que sempre acontece com os perdidos. — Disse tia Persephona, balançando a cabeça enquanto colocava uma pilha de panquecas na mesa. —Você jura que vai levá-los por um dia até poder levá-los a um abrigo, e a próxima coisa que você sabe é que eles estão enrolados no seu colo e implorando por restos de presunto e você percebe que eles não vão a lugar algum.

—Mort é um pouco mais que um vira-lata. — Disse Cole, pensativo, olhando para o cachorro, que estava deitado perto das portas de correr do quintal, aproveitando o sol. —Há algo estranho sobre o quão consciente ele parece estar.

—Algo sobre a Vela, talvez? — Eu disse com um encolher de ombros.

—Isso, ou seu talento oculto, está executando algum tipo de programa mágico de comportamento canino em seu subconsciente. — Disse Cole.

—Parece plausível para mim. — Ethan riu.

Mort levantou a cabeça brevemente para bocejar, depois rolou de novo, nos ignorando.

—Eu provavelmente deveria ir ver os gatos antes de me sentar. — Disse minha tia, limpando as mãos e indo para o quintal. Seus gatos mortos-vivos não precisavam de alimentação, mas precisavam ser energizados regularmente e verificados quanto a danos em seus restos mortais, e as pragas mortas que eles entregavam tinham que ser tratadas.

—Eu posso cuidar disso depois do café da manhã. — Eu disse a ela, não querendo que ela se esforçasse.

—Não seja boba, eu consigo. — Respondeu ela com desdém, e saiu antes que eu pudesse dizer mais.

—Vamos ver o cara dos fae hoje. — Eu disse enquanto Ethan se sentava e cavamos as panquecas. —Qual é o problema dele?

—Bem, eu ainda não o conheci — Disse Ethan. —Mas as vezes em que os curandeiros descobriram algo genuinamente perigoso, ele é o principal responsável por lidar com isso. Aparentemente, ele é um profissional em garantir artefatos mágicos. Mas também ouvi dizer que ele tem uma atitude meio estranha. Provavelmente por causa da coisa falsa. Está no ar se ele estará disposto a nos ajudar.

—Você deveria suborná-lo com algumas dessas panquecas. — Disse Cole com a boca cheia. —Estas são fodidamente incríveis.

—Sim, maldito Ethan, você tem um talento. — Eu concordei com uma risada. —Acho que nunca tive panquecas tão perfeitas.

Ethan sorriu, profundamente satisfeito.

—Ele é alto, é médico, sabe cozinhar. — Disse Cole, concentrado em inalar suas panquecas o mais rápido possível. —Se ele não estivesse se transformando em um monstro do mal, seria o material ideal para o casamento.

—Bem, espero que possamos cuidar disso hoje. — Eu disse rapidamente.

—Isso significa que você me daria uma chance assim que eu for consertado? — Ethan perguntou a Cole, apoiando-se no cotovelo com um sorriso forçado. Senti uma estranha vibração de orgulho ao vê-lo sendo tão à frente. Sua voz quebrou um pouco e eu vi a tensão nervosa em seus ombros, mas ele a escondeu muito bem, considerando.

Cole, pego de surpresa, olhou para ele e engoliu em seco ao redor das panquecas na garganta.

—Garoto baixo. — Disse ele, erguendo uma sobrancelha. —Sua namorada está sentada bem ali.

—Você também pode me dar uma chance. — Eu disse, pegando a sugestão de Ethan e dando a ele o meu sorriso de queijo. —E isso não foi um não.

Cole ficou lentamente escarlate.

—Eu preciso ir. — Ele disse rapidamente, levantou-se e saiu correndo pelas portas deslizantes para ficar no quintal.

Eu ri, apesar de ter conseguido segurar até que ele fechou a porta entre nós.

—Nós provavelmente não deveríamos ter encurralado ele. — Ethan disse, parecendo pensativo através das portas deslizantes onde Cole estava embaixo da árvore, uma mão apoiada no tronco e a outra no peito como se estivesse tendo um pequeno ataque cardíaco. —Espero que não o assustemos.

—Um necromante maligno de séculos não assustou Cole. — Eu o tranquilizei. —Tenho certeza que ele pode lidar com um pouco de flerte.

—Talvez devêssemos recuar. — Disse Ethan, mordendo o lábio. —Eu não quero que ele pense que eu sou predatório ou algo assim.

—Você não é predador. — Eu disse pacientemente. —Quero dizer, exceto em luas cheias.

—Ha ha. — Ele revirou os olhos.

Depois de alguns minutos, Cole voltou para dentro e sentou-se, retornando às panquecas. Ethan e eu permanecemos em silêncio, não querendo pressioná-lo.

—Então, uh, cara dos fae. — Eu disse, retomando a conversa mais cedo. —Há muitos fae por aí?

—Acho que não. — Disse Ethan. —Ele é o único que eu conheço.

—Ele mora perto? — Cole perguntou, sem levantar os olhos das panquecas. —O tempo todo?

—Uh, sim. — Ethan confirmou, sua voz caindo em um registro mais suave quase imediatamente. Ele estava fazendo aquilo em que agia como se Cole fosse um animal nervoso novamente. —Ele tem uma casa grande perto da ravina. Ele vive lá há anos, até onde eu sei.

—Hum, incomum. — Cole murmurou, ignorando Ethan.

—O que é incomum? — Eu perguntei curiosa.

—Bem, se ele viveu entre humanos sem problemas por tanto tempo, provavelmente ele é da Corte dos fae. — Disse Cole casualmente. —E a corte dos fae não deixa as outras terras muito hoje em dia. Quando o fazem, geralmente é apenas por um dia ou mais. Para alguém que vive neste lugar há anos é muito estranho.

—Eu vou ser honesta. — Eu disse, minha confusão refletida no rosto de Ethan. —Eu nem sabia que os fae eram reais até semana passada, e ainda estava com a impressão de que eram principalmente duendes e outras coisas.

Cole recostou-se, largou o garfo e considerou suas palavras por um momento.

—Tudo bem. Cartilha de faes. Existem três tipos de Faes. — Ele disse finalmente. —Três tribunais. Os Seelie e os Unseelie, também chamados de Tribunais de Verão e Inverno, estão constantemente em guerra. Eles estão em um impasse há tanto tempo que suas vitórias e derrotas se tornaram espelhados rituais das estações atuais.

—Qual é o terceiro tribunal? — Eu perguntei fascinada.

—Fae selvagem. — Disse ele. —Qualquer coisa que não seja Seelie ou Unseelie. Então suos fae domésticas, como domovoi e brownies, seu deus local e criptos, seus espíritos da floresta e guardiões da montanha, e assim por diante, são todos Faes Selvagens desalinhados, basicamente tentando viver suas vidas e não são sugados pelo drama Seelie/Unseelie. Algumas pessoas traçam uma linha entre Faes selvagens nativas e Outras Terras Selvagens dos fae, mas, francamente, eu não acho que haja muita distinção.

—Espere o que? — Eu disse confusa.

—Acho que me lembro de Daphne mencionando algo sobre isso. — Ethan acrescentou, franzindo a testa. —Eles estavam realocando um monte de coisas mágicas antes de um empreendimento imobiliário que estava se mudando, e ela estava reclamando de tentar resolver as espécies invasoras.

—Mais como refugiados do que espécies invasoras. — Disse Cole. —A maioria dos que estão aqui fugiu das Outras Terras para escapar do recrutamento.

—Eu pensei que eles eram animais. — Disse Ethan, confuso. —A maioria dos que vi certamente pareciam animais.

—E quem os estava recrutando? — Eu perguntei.

—Quem mais? Os tribunais. — Disse Cole, e inalou uma panqueca inteira de uma só vez, sufocando sua arrogância. Quando ele pôde respirar novamente, ele continuou. —A inteligência falsa é complicada. Ela varia em todo o lugar e realmente não se encaixa nos padrões humanos. Os duendes podem parecer grandes insetos, mas são espertos o suficiente para não quererem entrar em guerra.

—E eles vieram dessas Outras Terras para fugir? — Eu perguntei.

—Alguns deles. — Confirmou Cole. —Para explicar o mais brevemente possível, a terra é... uh, a terra é uma bolha de sabão. E tem outras bolhas de sabão menores grudadas nela. Entendeu?

Eu balancei minha cabeça, mas Cole continuou.

—As bolhas menores são as Outras Terras. Pequenas realidades fraturadas. Ou talvez apenas realidades em que a física e a energia funcionam de maneira muito, muito diferente. A Terra é a maior, pelo menos pelas medições tradicionais, já que temos um universo e outras galáxias e merda, e a maioria das Outras Terras que foram vistas e relatadas por humanos são um único local que se estende infinitamente, como a Cidade Sem Fim ou a floresta de Tir Na Nog.

—Algumas das coisas que li levantam a hipótese de que as Outras Terras realmente vieram da Terra, manifestadas pelo inconsciente coletivo ou algo assim. A maioria dos livros coloca o número de Outras Terras em torno de nove. Mas isso pode ser apenas o que vimos. Os Seelie e Unseelie correm entre todas as Outras Terras, travando suas guerras e forçando qualquer Fae Selvagem que encontrarem a se juntar a eles. A Terra é a única terra que já teve sucesso em mantê-los fora, e ainda sentimos o feedback mágico de suas lutas influenciando o tempo e a probabilidade. E sempre que a luta deles se muda para outro país, temos uma onda de refugiados saindo antes da chegada do tribunal.

Ele bebeu meio copo de suco de laranja.

—Mas, voltando ao meu ponto original sobre o cara dos fae... não existem muitos fae Selvagens que podem manter a forma humana por longos períodos. Selkies, hulda, talvez. E mesmo eles não costumam gostar. A corte dos fae sempre parece principalmente humana... para humanos de qualquer maneira. Então esse cara provavelmente é de um dos tribunais. Isso é tudo.

—Se é tão fácil para eles se encaixarem com os humanos, por que eles não deixam, uh, como você chama isso? — Ethan perguntou.

—As Outras Terras. — Respondeu Cole com um suspiro, esfregando a testa. —E principalmente porque não deixamos. Tropas de faes de qualquer tribunal podem causar uma enorme quantidade de caos e danos quando correm por aqui. Quase sempre vêm em grupos e têm uma necessidade quase biológica de causar problemas. Então, em quase toda a história mágica, aperfeiçoamos maneiras de mantê-los fora dessa realidade o máximo que pudermos. Alguns séculos atrás, alguns grupos mágicos conseguiram se reunir por tempo suficiente para elaborar um contrato que limita severamente sua capacidade de interferirem, exceto o Meio Inverno, Plenos Verões e Equinócios Honestamente, há uma tonelada de coisas estranhas envolvidas. Posso encontrar alguns livros sobre isso, mas não quero ficar aqui conversando sobre isso o dia todo.

—Justo. — Eu disse. —Eu ainda estou me acostumando com tudo isso. Eu sabia muito bem que a necromancia era uma coisa, e então eu descobri sobre magia geral e a comunidade mágica, e eu estava apenas começando a descobrir isso, e agora há outras dimensões? De que faes vêm? E causam as estações do ano?

—Elas... elas não causam as estações do ano. — Gaguejou Cole rapidamente. —É... é apenas... é uma coisa cíclica e simbólica -

—Tanto faz. — Eu disse. Eu não queria ser desviada novamente. —Gostaria apenas de um dia ou dois sem nenhuma ameaça existencial para processar tudo isso, sabia?

—Sim, mesmo. — Ethan disse com um aceno de cabeça cansado. —Mas precisamos ir. Como eu disse, o cara mantém horas estranhas. Se queremos conversar com ele hoje, precisamos chegar em breve, ou teremos que esperar até tarde hoje à noite.

Terminamos o café da manhã rapidamente e saímos às pressas. A oferta de Ethan para Cole ainda estava pendente, sem solução e sem resposta entre nós, mas eu tinha medo de trazê-la à tona e angustiá-lo. Ethan e eu enchemos o silêncio do passeio de carro com conversas sem sentido sobre os tipos de Fae Selvagem que ele havia encontrado com os curandeiros.

—Então, domovoi e trasgu são basicamente os mesmos. — Eu resumi, tentando manter isso claro. —Deixe comida para eles e eles limparão a casa para você. Hobs limpam a casa para você, mas se você lhes der uma recompensa, eles ficarão chateados e vão embora. Brownies esperam recompensas, mas se você tentar vê-los trabalhar, eles ficam chateados e saem.

—Sim, você conseguiu. — Disse Ethan. —Tentar lembrar de todas as regras é a pior, certo? Especialmente quando você não sabe de onde elas vieram. Por aqui, muitas famílias traziam o espírito da casa quando imigravam para a América, e a casa mudou de mãos dezenas de vezes desde então, então descobrir que tipo de espírito é esse pode ser uma dor absoluta.

—Qual foi a pior que você já teve? — Eu perguntei, curiosa, enquanto Ethan dirigia em direção ao exterior da cidade.

—Oh cara. — Ele riu. —Uma das minhas primeiras viagens com os curandeiros foi investigar um 'poltergeist' assombrando uma casa grande e velha em Wethersfield. Só causando pequenas travessuras, desmanchando camas, rindo em salas vazias, você sabe. Nós descobrimos bem rápido que era um espírito da casa, e pensávamos que era uma variedade de Haltija finlandês, que acabou sendo um Zashiki-Warashi japonês. Eles não limpam nada, geralmente causam travessuras mesmo quando estão felizes, mas têm boa sorte... E quando eles saem de casa, é um presságio de coisas ruins loucas a caminho. Nós quase o expulsamos antes de descobrirmos o que era, o que poderia ter sido desastroso para a família.

—Oh merda. — Eu disse. —Mas você conseguiu fazer ficar?

—Sim, e ensinou a família como lidar com isso. — Disse Ethan. —O que é basicamente para ignorá-lo. Uma vez que eles sabiam que não seria toda a atividade paranormal neles, eles não se importavam tanto com as estranhezas ocasionais. Isso dá ao personagem da casa. Estamos quase lá, a propósito.

Nós tínhamos entrado em uma área residencial agradável, a rua serpenteava passando por grandes casas antigas com jardins espaçosos e um jardim impecável. Muitas das casas tinham placas históricas declarando o ano em que foram construídas, muitas das quais começaram com 17 e 18. Definitivamente, acima de todas as nossas notas salariais. Ethan olhou de soslaio para todos os endereços, contando até encontrar o certo.

O jipe desceu o longo caminho arborizado de uma grande casa do Segundo Império, afastada da estrada e protegida por vários enormes carvalhos velhos.

Tinha dois andares mais um sótão sob um telhado escuro de mansarda. Era todo em tijolo e guarnição branca, com torres ladeando a grande porta da frente e janelas altas e arqueadas. O tijolo se arrastava de hera, e o jardim ficou um pouco selvagem, embora ainda fosse mantido, a grama mantida em um comprimento manejável. A videira agridoce e a azeitona russa que incomodavam os vizinhos não tinham presença aqui. Havia um grande bordo japonês, provavelmente mais velho do que eu, e era vermelho mesmo nessa época do ano. Os canteiros de flores mais próximos da casa estavam cheios de batata-doce ornamental roxa escura, coleus cor de vinho e petúnias de veludo preto. O manjericão carmesim e o chocolate com menta se esconderam à sombra das outras plantas, enchendo o ar com seu perfume. Flores da lua, flox noturno e jasmim florescendo à noite adicionavam pequenos salpicos de cores mais brilhantes, embora todos estivessem fechados a essa hora do dia.

Estacionamos o jipe e caminhamos pelo estranho jardim para bater nas pesadas portas de madeira maciça.

—Agora lembrem-se. — Ethan disse, enquanto esperávamos o cara responder. —Faes são complicadas, então tentem ser o mais educados possível e, se ele tentar se irritar com você, não morda a isca. Ele conhece a mim e aos curandeiros, então tentarei fazer o máximo possível da conversa.

Cole e eu assentimos e imaginamos o que esperar. Imaginei um velhinho, como um gnomo, todo travesso e engraçado, embora as descrições de Cole sobre o tribunal me fizessem imaginar elfos de fantasia. Então, novamente, ele estava vivendo com seres humanos todo esse tempo. Ele provavelmente pareceria um cara, certo?

Ouvimos o clique da porta sendo aberta e eu me preparei para descobrir. A porta se abriu, revelando um jovem alto e esbelto, com longos cabelos loiros que reconheci instantaneamente.

—Você? — Eu disse, confusão me deixando momentaneamente pasma. Um segundo passou e eu respirei profundamente quando comecei a juntar as peças. —Você.

Ele olhou para mim, claramente tão surpreso em me ver quanto eu em vê-lo. Seus olhos dispararam para Cole e Ethan. Ele bateu a porta entre nós.

 

Capitulo Treze


—Ei! — Eu gritei, minha suspeita subindo instantaneamente para uma certeza irritada. Eu bati na porta. —Você volte aqui agora!

—Você o conhece? — Ethan perguntou, parecendo confuso.

—Sim, eu o conheço! — Eu disse, entre dentes. —E se ele fez o que eu acho que ele fez, eu vou matá-lo!

—Eu não sugeriria isso. — Disse Cole uniformemente.

—O que ele fez? — Ethan perguntou, perplexo.

—Ele é Greenwood! Ele era advogado imobiliário do meu tio. — Lutei para explicar, ainda batendo na porta. —Ou eu pensei que ele era, de qualquer maneira! Foi ele quem me mostrou a Vela! E se ele é umo fae, se ele está trabalhando com os curandeiros e estava lá especificamente para a Vela em primeiro lugar, então ele sabia exatamente o que estava fazendo quando ele me convenceu a tocá-la!

—Oh. — Disse Ethan. —Bem, isso não é bom.

—Ele está tentando escapar pelos fundos. — Disse Cole, coçando o rosto e se inclinando sobre o parapeito da varanda.

—Pegue ele! — Eu gritei, pulando o corrimão e correndo pela casa. Ethan passou correndo por mim um segundo depois, tirando a roupa enquanto ele se mexia. Eu peguei um vislumbre da expressão assustada de Greenwood através dos arbustos antes de Ethan, de quatro e do tamanho de um pequeno urso, atacá-lo.

Corri para alcançá-lo e encontrei Ethan deitado em cima de Greenwood, abanando o rabo quando ele me deu um sorriso orgulhoso de cachorrinho. Greenwood se contorceu e lutou.

—Me solte imediatamente! — Ele demandou. —Você não pode imaginar a ira que eu posso deixar cair sobre você, se eu escolher!

—Eu deixarei você ir assim que você me disser por que diabos você colocou essa Vela em minhas mãos! — Eu disse, de pé sobre ele. —Você tem alguma ideia do que você me fez passar? Eu quase morri três vezes na semana passada!

Cole vagava em um passeio fácil. —É melhor você apenas derramar tudo, cara. — Disse ele. —Você realmente não quer ficar preso lá fora ao meio-dia, quer? Além disso, a julgar pelo fato de ter tentado fugir a pé, você teve a maioria dos seus poderes selados ou está tentando manter um discreto, então nos ferir provavelmente não seria do seu interesse. De qualquer forma, é mais conveniente cooperar.

—Ugh. — Greenwood emitiu um som meio enojado, meio resignado e empurrou o corpo peludo de Ethan novamente. —Você pelo menos me faria o favor de remover seu animal de estimação antes de eu responder?

—Você promete não correr? — Eu perguntei.

—Você tem a minha palavra. — Disse Greenwood, com um suspiro cansado.

Ethan se levantou e se afastou de Greenwood. As calças marrons e a camisa branca, de colarinho branco, estavam bem manchadas de grama e cobertas de pelos de lobo. Ele fez uma careta de descontentamento e acenou com a mão para si mesmo. Em um instante, a bagunça desapareceu. Ele pegou as folhas dos cabelos da maneira mais convencional, enquanto passava por nós, murmurando. Eu segui logo atrás dele. Ethan permaneceu nos arbustos para voltar e recolher suas roupas.

Ele era tão lindo quanto eu me lembrava dele, embora minha atração por ele estivesse levemente azeda pela percepção de que tudo isso era culpa dele. Ele não era robusto e musculoso como Ethan ou resistente e musculoso como Cole. Ele tinha uma graça refinada que me lembrava os interesses amorosos dos romances da regência, toda a beleza masculina polida. Ele tinha feições aristocráticas e angulares e os olhos mais verdes que eu já vi. Seus cabelos eram da cor do mel à luz do sol, amarrados em um rabo de cavalo baixo com uma fita verde escura, caindo sobre o ombro em ondas sutis. Bonito como ele era inegavelmente, eu estava fortemente inclinada a chutar sua bunda.

Ele nos levou de volta à casa, através de um vestíbulo de teto alto e finamente decorado, e a uma sala de jantar formal, a mesa posta com louça vazia.

—Fale já. —, Eu disse, impaciente. —O que você realmente estava fazendo naquela sala funerária?

—Eu estava prestes a jantar. — Ele disse casualmente, gesticulando para a mesa. —Você pode se juntar a mim.

—Não é um pouco cedo? — Eu perguntei, quando ele se sentou à cabeceira da mesa, estalando o guardanapo de pano com um gesto praticado enquanto o colocava no colo.

—Prefiro dormir durante o meio dia. — Disse ele. —O horário de verão discorda de mim.

—Mais uma razão para resolvermos isso rapidamente, então. — Eu disse, puxando a cadeira mais próxima de mim e sentando-me. Ethan e Cole sentaram-se ao meu lado.

Os pratos da mesa ainda estavam vazios, embora Greenwood parecesse pronto para comer. Eu esperei, meio esperando que os servos aparecessem com comida. Em vez disso, Greenwood bateu duas vezes na mesa. O som era estranhamente alto e ecoou mais do que parecia que a sala deveria permitir. Um segundo depois, os pratos sobre a mesa estavam quase cheios da comida mais deliciosa que eu já vi, desdobrando-se como flores florescendo ou fluindo como água de uma torneira. Momentos depois havia um pequeno banquete à nossa frente.

—Uma mesa de desejos. — Disse Cole, erguendo uma sobrancelha. —Eu nunca vi uma pessoalmente.

—Ainda existem apenas três neste lugar. — Respondeu Greenwood, servindo-se dos pratos mais próximos, todos com comida que eu não reconhecia, mas que parecia indescritivelmente boa. —Eu possuo duas delas. O navio que supostamente levava o terceiro foi perdido no mar nos anos 1300 e ainda precisa ressurgir.

—Eu acho que você pretende pegá-la no minuto que aparecer? — Cole disse, cutucando curiosamente um prato perto dele que parecia macarrão com queijo e lagosta.

—Claro. — Respondeu Greenwood. —Eu coleciono essas coisas. E, por favor, sinta-se livre para comer qualquer coisa, exceto os pratos à minha frente. O que estiver mais próximo de vocês devem ser os seus favoritos ou o melhor palpite da mesa. Não há perigo. A mesa não transmite encantamento. Como a maioria dos pratos de faes faz. É muito conveniente para os hóspedes.

Cole hesitantemente tomou uma colher grande de macarrão com queijo de qualquer maneira. Ethan já estava comendo um pedaço enorme de frango frito sem arrependimentos, mesmo que a comida estivesse encantada. Testei uma tigela perto de mim, que cheirava a bisque de tomate e quase me esqueci por que estava aqui na primeira colherada. Foi a coisa mais deliciosa que eu já provei. Eu sacudi a tentação de provar tudo na mesa para iniciar meu interrogatório.

—É por isso que você estava na sala de funeral? — Eu perguntei. —Você queria recolher a Vela.

—Não é educado discutir negócios à mesa. — Disse Greenwood, sem tirar os olhos da comida.

—Eu não ligo...— Cole agarrou meu ombro e balançou a cabeça. Apertei minha mandíbula com raiva, cedendo com relutância e, depois de um momento de mau humor, servi-me de sopa.

—Então. — Disse Cole, casualmente com batatas e alecrim, —Há quanto tempo você mora na terra?

—Mais tempo do que você viveu. — Respondeu Greenwood, evasivo. —Mas não tanto tempo, comparativamente. Há quanto tempo você está sem-teto?

Eu esperava que Cole se irritasse com raiva, mas ele mal reagiu.

—Desde que eu estudei necromancia. — Respondeu Cole. —Você disse que tem convidados humanos com frequência? Você socializa bastante com os humanos?

O garfo de Greenwood pairava sobre sua comida, mas ele retomou suavemente sem mais emoções.

—Eu disse que tenho convidados. — Esclareceu. —Humano e de outra forma, exatamente com a frequência que sinto vontade de ter companhia. Necromancia é uma busca incomum. Como sua família se sente sobre isso?

—Oh, da mesma maneira que eles se sentem sobre qualquer mágica. — Disse Cole novamente, sem reação emocional, apesar da farpa. Eu não tinha visto ninguém trocar respostas e insultos velados como este desde a última reunião de família. Ou não tão velado, no caso de Greenwood. —Como o tribunal se sente sobre seus... Hábitos?

Um músculo na mandíbula de Greenwood se contraiu, e ele segurou o garfo com força, mas sua expressão e tom permaneceram neutros.

—Eu nunca imaginaria adivinhar os sentimentos do tribunal. — Disse ele. —Eu opero com a permissão da minha rainha, e isso é tudo o que é necessário. Entendo que sua família está morta, então? Que trágico.

—Oh, não, eles estão vivos. — Disse Cole com um pequeno sorriso frio. Greenwood agarrou seu garfo com tanta força que pensei ouvi-lo estalar. —Você disse que sua rainha mandou você aqui? Agora, qual rainha seria exatamente?

Greenwood bateu com o garfo na mesa e se levantou.

—Perdoe-me. — Disse ele. —De repente, perdi o apetite.

Cole bufou e Greenwood lançou um olhar perigoso para ele.

—Ótimo. — Eu disse imediatamente. Não entendi exatamente o que Cole havia feito, mas não desperdiçaria a oportunidade. —Então vamos voltar aos negócios. Você me deve uma resposta.

—'Você me deve' é uma frase perigosa para brincar com os fae. — Disse Greenwood, batendo duas vezes na mesa. —Levamos a dívida muito a sério.

De repente, a comida na mesa desapareceu completamente, deixando os pratos brilhando como se nunca tivessem sido usados. Ethan bateu os dentes em um pedaço de frango que não estava mais lá e franziu o cenho deplorável.

—Você conscientemente me colocou em perigo quando eu nunca fiz nada com você. — Eu disse, levantando-me também. —Eu diria que isso significa que você me deve.

—Eu estava simplesmente devolvendo uma herança familiar valiosa ao seu legítimo proprietário. — Respondeu Greenwood. —Um ato de caridade pelo qual fui recompensado com violência e grosseria. Se alguma coisa, você me deve.

—Você sabia que a Vela era perigosa! — Eu o acusei.

—Você não pode provar isso. — Respondeu ele, sublime.

—Uh, na verdade — Ethan interrompeu, levantando a mão. —Eu ouvi sua conversa sobre a Vela com os curandeiros. Daphne deixou bem claro o quão perigosa era a Vela e o que poderia acontecer se acabasse nas mãos de um necromante. Quero dizer, mesmo que você não deva a Vexa, você provavelmente deve aos curandeiros a promessa de ajudá-los e depois distribuir a Vela em vez de recuperá-la. E, como eu represento os curandeiros, acho que isso significa que você me deve?

Um rubor subiu pela nuca de Greenwood, mas ele respirou fundo e o dispensou.

—Tudo bem. — Ele disse. —O que exatamente você quer?

—Eu... — Comecei a exigir respostas, depois me lembrei do que estávamos realmente fazendo aqui. Ele pode apenas nos deixar ter um favor. Eu não queria desperdiçar isso explicando algo que já estava feito. —Queremos que você ajude Ethan. Ele tem uma maldição. Não sabemos quem a lançou ou quais são os parâmetros para quebrá-la, e seu progresso foi acelerado. Precisamos quebrá-la rapidamente.

Greenwood olhou para Ethan com expectativa.

—Sim, é isso que eu quero. — Ethan disse depois de um momento, quando percebeu que o homem Fae esperava por sua confirmação. —Por favor. Tudo o que você puder fazer será apreciado.

Greenwood suspirou e esfregou os olhos.

—Tudo bem. — Ele disse. —Se é realmente isso que você quer. Parece um pouco inútil para mim, mas é sua perda.

Ele nos levou para fora da sala de jantar e para dentro da casa. Passamos por longos e opulentos corredores, salas estranhas, grandes salões de baile, subindo e descendo escadas sem fim. A casa era muito maior do que aparecia do lado de fora. Também ficou cada vez mais claro que a vista pelas janelas pelas quais passávamos não era da vizinhança que deveriam ter sido. Vi ruas movimentadas em cidades estrangeiras, montanhas desconhecidas, praias tropicais. E uma ou duas vezes vi paisagens que eu sabia que não existiam em nenhum lugar da terra.

Enquanto caminhávamos, entrei ao lado de Cole. —O que foi aquilo na mesa? — Eu perguntei a ele em um sussurro curioso.

—Os fae vivem de acordo com regras como se fossem leis da natureza, certo? — Ele disse. —Incluindo rituais de etiqueta. Se você insistisse em conversar sobre negócios à mesa, ele teria justificativa para expulsá-la. Caso contrário, ele continuaria comendo até desistirmos e sairmos ou desmaiarmos ou o que for.

—Então você teve que fazê-lo querer sair da mesa? — Eu assumi, e Cole assentiu.

—Pergunta por pergunta é uma das regras mais comuns dos fae. — Explicou. —Eu continuava fazendo perguntas que ele não queria responder. Felizmente, descobri a melhor maneira de irritar as pessoas é algo em que eu sou naturalmente talentoso.

—Como você sabia que funcionaria? — Eu perguntei, sentindo uma estranha combinação de medo e alívio retroativos.

Cole não tinha uma resposta.

Por fim, Greenwood parou diante de um par de enormes portas de madeira esculpidas com a imagem de uma árvore gigante. Seus galhos cresciam além do topo da porta, brotando folhas verdes vivas. Uma águia esculpida estava entre os galhos e uma serpente enrolava nas raízes. Um esquilo de olhos brilhantes empoleirava-se logo acima do buraco da fechadura. Não havia maçanetas, mas quando Greenwood se curvou e sussurrou algo no buraco, a porta se abriu silenciosamente por conta própria.

—Por aqui. — Disse ele, entrando pelas portas. —Se vocês valorizam a sanidade e várias partes do corpo, não toquem em nada.

Cole, Ethan e eu trocamos um olhar, todos nós sentimos que essa era provavelmente a nossa última chance de voltar. Não sabíamos remotamente no que estávamos caminhando, mas eu sabia que era a nossa melhor chance de salvar Ethan. Respirei fundo e segui Greenwood pela porta.

 

 

 

 

 

 

 


Capitulo Quatorze


Entramos em uma enorme biblioteca com prateleiras alinhadas nas paredes que subiam pelo menos dois andares. O teto de vidro derramava luz dourada no final da tarde através da sala, embora, quando chegássemos, já estivesse bem antes do meio dia. A sala estendia pelo menos o comprimento de um campo de futebol em qualquer direção, e as portas em arco abertas em cada extremidade implicavam que havia mais além delas. A sala, cheia de parede a parede, tinha coisas em estantes de vidro, mesas de madeira escura e tanques enormes - um milhão de objetos diferentes, fantásticos e mundanos, incrustados de jóias e envoltos em trapos, enormes e pequenos, impossíveis e absolutamente insignificantes. Fiquei completamente impressionada, atordoada com um silêncio reverente e admirado.

—Por aqui. — Disse Greenwood, impaciente, levando-nos através das filas de caixas, passando por um astrolábio de ouro girando no ar a um pé acima do suporte em que estava colocado. O estojo ao lado continha um pesado livro encadernado em couro, do qual baratas e moscas se arrastavam constantemente, apenas para se dissolverem em pó a alguns centímetros de distância. No passado, havia um guarda-chuva vermelho que, apesar de estar em um estojo reforçado com várias fechaduras pesadas, parecia ser completamente normal. Eu tive que lutar contra o desejo de parar a cada poucos metros para encarar cada nova maravilha intrigante que passamos. Muitos deles pareceriam estranhos até para a visão normal. Mas, para meus sentidos mágicos, eles absolutamente se arrastavam com magia. Alguns foram infundidos, a magia fluindo através deles como sangue pelas veias. Outros pareciam completamente mágicos, seus componentes comuns eram uma fachada fina.

Debaixo da minha camisa, eu usava um pingente de madeira, um amuleto que Ethan me deu que me permitiq entendê-lo enquanto ele estava em sua forma de lobo. Até esse momento, tinha sido a peça de magia mais incrível que eu já vi. Fiquei perplexa e fascinada pela habilidade e delicadeza envolvidas em sua criação. Aquele feitiço, que eu havia colocado à noite olhando com tanta admiração, parecia positivamente desajeitado nesse tesouro de encantamentos, como um cisne de origami dobrado por um amador habilidoso ao lado de uma obra-prima.

Certamente, alguns dos itens aqui eram menos delicados em sua elaboração. Havia uma pilha de moedas de prata que não mostrava nenhum traço fractal cuidadosamente dobrada em encanto. Mas mesmo estes queimavam com um tipo de força e emoção crua que me fazia tremer se olhasse por muito tempo. Eles foram carimbados com uma única e poderosa letra, pesada com significado cósmico. Meus sentimentos eram os mais próximos do êxtase religioso que eu já havia experimentado.

Corrigida pelo oceano de dor preso dentro das moedas, pulei quando Greenwood me deu um tapinha no ombro.

—É melhor não olhar por muito tempo. — Ele aconselhou, colocando um braço em volta de mim para me orientar. —Pode ser perigoso.

—O que é tudo isso? — Eu disse, extasiada demais para lembrar que estava com raiva dele. —É incrível... lindo. Olhe para os fractais geométricos daquele! Como eles fizeram isso? E aquele, Deus, o feitiço quase parece vivo, como flores crescendo! Onde você aprende isso? Quem fez isso? Como?

Greenwood levantou uma sobrancelha enquanto eu balbuciei, mas um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca fina.

—Curioso. — Ele disse. —A maioria das pessoas que vê minha coleção quer saber o que faz, não como é feita.

—Bem, eu quero saber isso também. — Eu disse, um pouco sobrecarregada. —Mas você também pode perguntar para que serve uma mesa barroca antiga. É uma obra de arte. O valor está no artesanato, não na utilidade.

—Estou inclinado a concordar. — Disse Greenwood. —Aqui, você notou este vaso? Viu como o feitiço é trabalhado para seguir o padrão na porcelana?

—Isso é incrível! — Eu jorrei, me inclinando para ver. —Olha, é mesmo nas folhas minúsculas!

Cole pigarreou, chamando minha atenção. Cole franziu a testa e Ethan, envergonhado, alternando entre olhar entre o teto e o chão.

O braço de Greenwood ainda estava ao meu redor e encolheu os ombros rapidamente, meu rosto quente. Greenwood recuou, mãos no ar e, com um gesto elegante, nos levou novamente.

Ethan perguntou baixinho, a preocupação apertando seus olhos. —Ele não está trabalhando em algum tipo de encantamento em você ou o que seja, está? — Ethan perguntou em voz baixa, preocupação apertando seus músculos faciais.

—Não. — Eu disse rapidamente, depois pensei duas vezes e me examinei. —Não, acho que não. Isso é uma coisa muito legal! Eu nunca estive com esse tipo de magia antes. É emocionante!

—Tudo bem. — Ethan disse, sorrindo, ainda parecendo preocupado. —Seja cuidadosa.

—Mantenha o foco. — Sugeriu Cole. —Ainda não podemos confiar nesse cara. Se ele tiver a oportunidade, poderia fazer muito pior do que simplesmente nos expulsar.

Eu assenti, lembrando a mim mesma por que estávamos aqui. A vida de Ethan dependia disso. Não era hora de se distrair com coisas legais e brilhantes.

Greenwood nos levou a um dispositivo estranho, com uma variedade de espelhos e lentes de aumento em uma complicada armadura dourada. Era mais alto que Greenwood e atualmente estava sobre uma mesa comprida sobre a qual repousavam vários pequenos objetos encantados.

—Vidro do artífice. — Explicou, enquanto eu me maravilhava com o feitiço incrivelmente sutil nas molduras douradas em torno de cada lente. —Muito raro e muito útil para examinar mágica. Eu o uso para estudar e manter os encantamentos da minha coleção.

—Essa é a moeda da sorte que encontramos no outro dia? — Ethan perguntou, apontando para uma moeda mais brilhante que o normal, deitada em um banco.

—É. — Confirmou Greenwood, atendendo. —O efeito de distorção da probabilidade parece ser um pouco mais forte que o normal. Eu estava tentando discernir a causa. Parece haver um parágrafo no script mágico que fecha a brecha usual de perda/ganho. Até certo ponto.

Ele me ofereceu, e eu o peguei sem pensar, embora Cole tenha feito um barulho de aviso em sua garganta.

—É inofensiva. — Assegurou-me Greenwood. —Moedas da sorte são muito pequenas mágicas. Existem milhares delas em circulação, pelo menos. A maioria das pessoas nem percebe o que tem. Mas elas podem tornar a vida um pouco mais fácil.

—Obrigada. — Eu disse, colocando no bolso do meu vestido. —Eu agradeço.

—Não, obrigado. — Disse Greenwood com um sorriso que não tocou muito em seus olhos. Eu senti que tinha cometido um erro, mesmo que Cole parecesse impaciente, mas nenhuma desgraça caiu sobre nós. Em vez disso, Greenwood acenou para Ethan em direção ao banco, afastando os outros artefatos. —Por favor, sentem-se.

Com um olhar cauteloso em direção à saída, Ethan se sentou na beira do banco e Greenwood ajustou o vidro do artífice, arrastando lentes e espelhos para a posição entre ele e Ethan e ajustando uma série de botões complicados ao lado de cada lente com uma graciosa confiança de um músico tocando um instrumento.

Eu assisti por cima do ombro dele, enquanto imagens estranhas entraram e saíram de foco enquanto Greenwood fazia ajustes - redes de energia, espirais de magia ambiental, vazios misteriosos e, uma vez, uma imagem de um longo e escuro corredor cheio de Velas. Algumas lentes eram de vidro transparente, mas Greenwood olhou através delas e ajustou seu foco, da mesma forma, como se ele visse algo lá que eu não podia.

Finalmente, uma das lentes refletia uma imagem do núcleo da maldição de Ethan. Eu já o havia visualizado enquanto tentava suprimi-lo. Era mais ou menos esférico, como um novelo de fios enrolado, firmemente tecido e emaranhado. Ele apodrecia, queimava e vazava, vermelho lívido e amarelo doentio. Era ao mesmo tempo imundo e patético, inspirando pena e nojo... e náusea.

—Essa é desagradável. — Disse Greenwood à toa. —Maldições de monstros são raras hoje em dia, e essa é forte. Eu garantiria quem fez isso há algum tempo.

—Existe algo que você possa fazer para quebrá-la? — Eu perguntei. —Ou nos dizer quem pode?

—Deixe-me ver. — Greenwood cantarolou, discando as lentes para mais perto. —Eu posso ver por que você teve dificuldade. O lançador definitivamente se esforçou para esconder sua assinatura. Eu quase diria que não havia, mas isso é impossível.

—Por quê? — Ethan perguntou, mudando para ver através das lentes.

—Fique quieto. — Disse Greenwood bruscamente, inclinando a lente e ajustando algo novamente. —É impossível, porque isso significaria que esta é uma maldição autoinfligida-

—Cole mencionou isso antes. — Eu disse. —Eles são realmente fracos, não são?

—Exatamente. — Confirmou Greenwood. —Mesmo as maldições auto-infligidas mais fortes nunca fazem nada que não possa ser descartada como coincidência ou acidente. Elas nunca poderiam se manifestar fisicamente dessa maneira. Não, esse é definitivamente o trabalho de um indivíduo muito qualificado. Alguém com muito conhecimento prático sobre maldições. Francamente, quase parece que-

Greenwood congelou, encarando a maldição. Um momento depois, ele começou a ajustar rapidamente os mostradores, aproximando ainda mais.

—Não. — Ele murmurou. —Não, não pode ser.

—Não pode ser o que? — Ethan perguntou, ficando um pouco pálido. —O que há de errado?

—Ele não ousaria. — Zombou Greenwood, ainda claramente falando consigo mesmo. Ele rangeu os dentes enquanto olhava para a lente a menos de uma polegada de distância, examinando as minúsculas linhas de texto mágico escritas nos fios atados da maldição. —Aquele pequeno duende, ele não ousaria!

Ele se lançou em uma diatribe em um idioma que parecia água se movendo sob gelo ou vento através de galhos nus. A julgar pela velocidade e vitríolo por trás de suas palavras, ele não gostou do que viu através das lentes.

Ele empurrou o copo do artífice abruptamente, rosnando para si mesmo na mesma língua e saiu correndo.

—Ei, o que você achou? — Eu liguei para ele. —O que está acontecendo?

Ele não respondeu, correndo em direção a um suporte de guarda-chuva cheio de bengalas, cajado e paus. Ele os examinou, deixando alguns de lado com um gesto impaciente. Alguns atingiram o chão e soltaram faíscas ou ficaram lá, cantarolando intensamente enquanto vibravam através do azulejo. Finalmente, ele emitiu um ruído vitorioso e sem palavras, enquanto puxava uma velha bengala de madeira com um buraco na cabeça densamente atado.

—Greenwood! — Eu gritei, tentando chamar sua atenção. —O que está acontecendo?

Em vez de responder, ele bateu a bengala no chão. Com um eco que sacudiu as vidraças do telhado, uma porta se abriu no ar diante dele. Nada como o buraco irregular que o feitiço de teletransporte de Uther havia feito, suas nítidas bordas redondas enroladas e floridas com floreios simétricos de poder, ao mesmo tempo geométricos e orgânicos, como uma janela art nouveau para outro mundo.

Sem outra palavra, ele avançou para dentro dela. O choque diminuiu minhas reações, antes que eu corresse para frente. Ethan e Cole gritaram meu nome, mas então eu já tinha colidido com a superfície do portal que se fechava rapidamente, que rompeu minha pele como água fria enquanto o seguia para o desconhecido.

 

 

 

 

 


Capitulo Quinze


O portal se fechou atrás de mim com pressa apenas um segundo depois que eu o atravessei, a sensação de água fria ainda persistindo.

Fiquei imediatamente impressionada com uma sensação de vertigem e confusão severas. Eu não estava em lugar nenhum na terra.

Um espaço incomum de lavanda se estendia ao meu redor, o ar e a terra da mesma tonalidade azul-púrpura suave, se o ar fosse de fato ar - sólido e presente, como uma névoa espessa, mas com uma textura como espuma ou chantilly. Essa textura se chocou contra a minha pele e eu a vi muito mais longe do que deveria. Não consegui encontrar o horizonte porque a terra não era plana. Ela subia e descia em ondulações e cavidades como um cobertor de cetim, captando luz em suas curvas em iridescência holofílica.

Não consegui encontrar um ponto em que as colinas distantes obscurecessem minha visão. Que luz produzia sombras profundas e cintilantes e arco-íris efêmeros na superfície de seda do solo? Onde estava o sol? Lutei para racionalizar o que vi, imaginando a terra curvando-se ao meu redor como uma esfera. E, no entanto, eu também tinha uma impressão distinta do céu, mesmo que apenas por causa das cidades e castelos brilhando como nácar e mancha de óleo, que pareciam estar mais enraizados nele do que no chão em que eu supostamente estava.

—Venha comigo! — Uma voz gritou, parecendo impossivelmente distante e depois como um sussurro no meu ouvido. —Se você não quer se perder, não deve demorar.

Eu me forcei a suportar a terrível visão sem fim à minha frente, para onde Greenwood estava, batendo com o pé impaciente. Ele olhou perto o suficiente para tocar, mas quando eu o alcancei, a distância entre nós poderia ter sido de quilômetros. Náusea subiu em mim, que eu lutei para suprimir. Eu fiz um som desumano de um animal em terror absoluto, meu cérebro lutando para compreender.

—Você está bem. — Gritou Greenwood. —Você não está morrendo, corre um risco bastante mínimo e, se você se apressar, sairemos daqui a pouco.

Agora isso era motivação. Hesitei de qualquer maneira, sem saber se caminhar era algo que eu realmente poderia fazer neste pesadelo. Meu corpo não foi construído para quaisquer leis que este lugar obedecesse. Meus músculos ainda poderiam se contrair, meu sangue ainda bombearia? Obviamente, meus neurônios ainda disparavam, mas Deus, por quanto tempo? Eu estava no fundo de uma piscina, prendendo a respiração, momentos longe de ficar sem ar?

Uma mão agarrou meu braço, dedos enrolando sem parar em torno de uma coluna da minha própria pele e músculo muito longe para estar sob meu próprio controle. A mão, que deveria ter sido Greenwood, embora ele ainda parecesse impossivelmente distante, me puxou para frente e, tropeçando, aprendi a mover minhas pernas novamente.

—Pronto, viu? — Greenwood disse com um bufo. —Não é tão difícil, é? Agora, apresse-se!

Ele me soltou, virou-se e, em um instante, tornando-se um local pouco visível no horizonte. Corri para acompanhá-lo, meu coração se apavorou com o pensamento de ser deixada para trás. Eu dei três ou quatro passos e bati diretamente nas costas dele.

Com um suspiro sofrido, Greenwood me ajudou a levantar. Eu caí? Quando eu caí? No que eu pousei? Eu cheguei a terra? Ele colocou um braço em volta de mim para me guiar para a frente, o que eu apreciei profundamente. Eu ainda não tinha cem por cento de certeza de como minhas pernas funcionavam, e eu estava assustada e sem sentido e queria segurar alguém. Eu desejei o conforto da proximidade de Ethan. Ele teria odiado isso, e eu não acho que Greenwood teria parado para ajudá-lo. Eu não tinha certeza do por que ele parou para me ajudar.

—Estou ajudando você pela mesma razão que lhe dei a Vela. — Disse Greenwood, e percebi com um leve choque que estava falando quase sem parar desde que entrei no portal em um fluxo aterrorizado de consciência. Fechei a boca e me concentrei na sensação de tê-la fechada. Quando dominei o não falar, tentei falar novamente.

—Você ainda não me disse por que me deu a Vela. — Eu disse. Minha voz soou estranha, como ouvir uma gravação minha tocada através de um gramofone em outra sala. E falar deliberadamente enquanto caminhava era difícil.

—Eu queria ver o que aconteceria. — Disse Greenwood casualmente. —Não há um descendente de Aethon tão poderoso quanto você em várias centenas de anos. Eu queria ver o que você faria.

—É isso aí? — Eu perguntei, um pouco atordoada.

—É isso aí. — Ele confirmou. —Joguei um curinga em um jogo que não estava jogando, e se quero ver como o jogo termina, não posso permitir que meu curinga seja perdido nas Terras Distantes.

—É assim que este lugar é? — Eu perguntei, arriscando um olhar ao meu redor novamente, do qual me arrependi um momento depois. —As Outras Terras?

—Uma delas. — Disse Greenwood. Seus passos eram impossivelmente longos, estendendo-se para sempre à nossa frente, comendo terra. E a atmosfera lilás se juntou ao seu redor, envolvida em seus longos membros e cabelos dourados. Ele usava um terno da cor do crepúsculo agora, em vez das calças simples que ele usava quando atravessamos o portal. O casaco de gola alta, as rendas na garganta, ecoavam como algo antigo ou equestre, mas o delicado bordado na gola e nas mangas transbordava de símbolos muito mais antigos e uma espécie de vegetação densa e profunda que me lembrava as Tapeçarias do Unicórnio.

—Estas são as terras longínquas. — Explicou. —Título descritivo, eu sei. Aqueles que sabem com que frequência os usam para viajar.

—Viajando para onde? — Eu perguntei, tão confusa quanto fascinada e enjoada. —Como?

—Qualquer ponto do reino. — Disse Greenwood, com um gesto abrangente de sua equipe. —Mas acho-os mais convenientes para navegar na Terra.

Vendo minha confusão, ele suspirou. —Alguém lhe deu a comparação da bolha de sabão, não foi? — Ele perguntou, e eu assenti. —Bobagem redutora. As Outras Terras não estão conectadas pela Terra. Elas não são uma extensão dela ou nascem dela. A Terra é exatamente o mesmo tipo de coisa que elas são. Realidades se sobrepõem como casca de cebola, ocupando o mesmo tempo e espaço em diferentes comprimentos de onda, nenhuma maior ou mais significativa que a outra, não importa o quanto os habitantes de cada um possam querer reivindicar que sua casa é superior.

—Eles ocupam o mesmo espaço, entende? Essa é a parte importante. Mas o conceito de distância é diferente nas Terras Distantes. Para permanecer ofensivamente redutivo, um passo aqui se traduz em uma magnitude muito maior de distância na Terra. Com o trânsito, pode levar uma hora ou mais para chegar aonde estou indo. Dessa forma, leva apenas um momento, dando à pessoa que vou matar muito menos tempo para perceber que estou indo e escapando.

—Oh. — Eu disse, tentando processar nada disso e não estava certa de ter conseguido. —É isso que Uther faz?

Disfarçado, Greenwood disse: —Esse truque? É claro que não. Ele nunca conseguiu reunir o poder de realmente passar entre reinos. Ele mal consegue ficar um pouco fora de fase com a Terra e dificilmente pode sustentá-la por mais que um momento. Ele ele o usa para atravessar paredes e parecer mais impressionante. Ele acha que está sendo esperto, estacionando atrás da biblioteca e caminhando diretamente para a sala de estudo como se não tivéssemos visto seu miserável junker amuado atrás das lixeiras como um gato indigente. Idiota pomposo.

—Espere. — Eu disse, quando ele parou e me soltou. —Você disse que vai matar alguém?

—Sim. — Disse Greenwood, arreganhando os dentes em um sorriso que mais parecia um rosnado. Ele bateu no chão com seu cajado e outro portal foi aberto, onde foram reveladas ruas abençoadamente normais de uma terra boa e sólida. Greenwood entrou e eu segui um segundo atrás dele.

Engoli em seco no ar frio da noite com alívio, passei meus braços em volta de mim e tomei um momento apenas para apreciar meus membros sendo todos do comprimento certo e tudo tendo geometria que fazia sentido. Mas não tive muito tempo para gostar de voltar a um universo que fazia sentido.

Greenwood correu para a frente, as botas estalando na calçada molhada. Era começo da noite e parecíamos estar em um beco no centro da cidade em algum lugar, sem saídas. Os prédios a fechavam completamente. A única maneira de entrar ou sair era uma porta de segurança indefinida em uma extremidade estreita. Greenwood caminhou em direção a ela. Ele bateu com força no final do cajado e uma janela se abriu. O holofote lotado de mariposas acima da porta projetava a abertura na sombra, tornando a pessoa atrás dela invisível.

—Senha. — Exigiu uma voz.

—Não visitei recentemente. — Disse Greenwood, com seu sorriso mais charmoso. —Acredito que foi 'Amanhecer de Tahitian' da última vez?

—Não usamos nomes de coquetéis como senhas há anos. — Disse o cara atrás da porta. —Tente novamente.

—Isso é urgente. — Disse Greenwood, parecendo um pouco tenso. —Era uma senha válida da última vez. Se você pudesse apenas-

—Não posso nada. Se você já esteve aqui antes, sabe como o chefe é sobre segurança.

Eu pulei quando outro portal se abriu no outro extremo do beco. Um jovem casal saiu correndo, o cara enfiando o que parecia uma antena de carro em seu casaco. Eles estavam a uma pequena distância de nós, esperando sua vez na porta enquanto Greenwood discutia com o homem da porta.

—Nem todo mundo tem tempo para acompanhar essas coisas! — Greenwood disse frustrado. —Ele não pode esperar que as pessoas acompanhem se ele está sempre mudando. Ele me conhece. Se você pudesse apenas trazê-lo aqui...

—Ele está ocupado.

—Se você apenas mencionar meu nome.

—O chefe não tem tempo para lidar com todas os fae obscuras que tentam se infiltrar pelas costas. Se você quiser entrar sem a senha, tem que derramar sua mágica na porta da frente como todo mundo.

—Eu não tenho tempo-

—Você se afasta e deixa os clientes reais passarem, senhor?

Lívido, Greenwood se afastou para o jovem casal se aproximar, afastando-se o suficiente para o porteiro ficar satisfeito. Fui com ele, minhas mãos nos bolsos, mexendo na moeda da sorte.

—Nita, seja bem-vinda de volta. — Disse ele. —Senha?

A jovem inclinou-se para sussurrar algo, o som bem mascarado pelo ruído ambiente do beco. A porta se abriu, o som fraco da música e da conversa escapando, e o casal entrou. Mas quando Greenwood se aproximou, fechou novamente.

—Se você me desse um momento de vantagem da dúvida. — Disse Greenwood, com um gesto frustrado. —Garanto-lhe que Julius me conhece!

—Então entre pela frente sem sua mágica e obtenha a senha dele. — Disse o porteiro. —Porque você não está entrando aqui.

—Hum. — Eu limpei minha garganta, parando na frente de Greenwood. —Se eu souber a senha, posso trazê-lo comigo?

—Os hóspedes são permitidos. — Disse o homem da porta com óbvia relutância.

—É lobelia erinus. — Eu disse.

Suspeito, ele apertou os olhos para mim através da janela e abriu a porta.

—Cause qualquer problema e eu vou expulsá-lo pessoalmente. — Disse o homem da porta. —E eu vou me certificar de que dói.

—Finalmente. — Greenwood bufou e empurrou a porta e eu o segui, curiosa. Eu pulei quando a porta se fechou. O porteiro era uma parede muscular de um metro e oitenta de altura, sob a pele azul-acinzentada, como pedra viva. Olhos amarelos me encaravam entre presas salientes e chifres grossos, apontando para a frente. Uma cauda longa voava atrás dele como a de um gato bravo. Ele não pareceu surpreso com o meu flagrante, boca aberta olhando.

—Acostume-se a isso, querida. — Disse ele. —Há coisas mais estranhas lá dentro.

Alcancei Greenwood.

—Como você soube a senha? — Ele perguntou, soando um pouco curioso.

—Mariposa morta no holofote. — Expliquei. —Eu apenas ouvi enquanto a outra pessoa falava com o porteiro.

—Inteligente. — Disse Greenwood. —Eu deveria dizer a Julius que ele tem um buraco na segurança dele.

Ele caminhou rapidamente pelo longo corredor que dava para a porta de segurança. Havia quatro portas nesse corredor cobertas por cortinas de miçangas, símbolos que eu não reconhecia esculpidos acima de cada uma. Greenwood enfiou a cabeça por cada cortina e vi vislumbres de pessoas em mesas e cabines, conversando, bebendo e comendo como de costume. Exceto que muitas dessas pessoas eram clara e obviamente não humanas. Vi asas, cascos, caudas, chifres, tentáculos e coisas que não consegui descrever. Foi o suficiente para me fazer pensar se as Terras Distantes não haviam permanentemente mexido no meu cérebro.

No final, o corredor se ramificou, levando em direção a mais das pequenas salas de jantar, e outra porta estava coberta por uma cortina pesada. Greenwood verificou essa também, e vislumbrei a frente do estabelecimento. Era um bar grande e confortavelmente casual, com uma atmosfera de pub distintamente do velho mundo. Todos na frente pareciam humanos, embora meus sentidos mais mágicos soubessem que irradiavam poder. Havia um punhado de normais entre eles, mas este era claramente um lugar para pessoas como eu. A comunidade mágica, ali mesmo, esperando por mim. Havia também uma quantidade absurda de energia ligada nas paredes, no chão e até nas mesas de madeira. Este lugar estava encantado como o inferno.

Um homem mais velho, de cabelos grisalhos, bonito e distintamente musculoso sob o colete de couro, atendia no bar, rindo de uma piada compartilhada pelo homem cuja bebida ele servia. Enquanto Greenwood examinava a sala, o barman nos viu. Ele largou a garrafa que segurava e se dirigiu a nós, mas Greenwood já estava se afastando por um dos corredores.

—Gwydion!

O barman atravessou a cortina e correu atrás de nós, mas Greenwood o ignorou.

—O que quer que ele tenha feito desta vez, eu sei que ele provavelmente merece o que está por vir. — Disse o barman, tentando acalmar Greenwood. —Mas você conhece as regras. Se você fizer isso aqui-

—Eu não vou matá-lo em seu precioso bar, Julius. — Disse Greenwood bruscamente, puxando outra cortina de contas e deixando-a cair em decepção. —Nem colocarei em risco nenhum de seus clientes. E tenha certeza de que a surra que ele vai ter é ricamente merecida.

—Você sabe que eu confio em você. — Protestou Julius. —Mas meus outros convidados-

Greenwood abriu outra cortina e instantaneamente um vento gelado correu pelo corredor, me esfriando até os ossos e arrancando os cabelos de Greenwood da fita, fazendo-o voar em torno de sua cabeça. Ele tinha a aparência de um deus vingativo.

—Gilfaethwy! — Greenwood rugiu.

Em uma mesa no centro da sala, um homem que parecia muito parecido com Greenwood, de fato, sentava-se como um cervo com um copo de cerveja nos lábios. Todos na sala olharam para Greenwood no momento, mas o medo nos olhos do homem deixava claro que ele sabia exatamente para que estava encrencado. Houve um momento tenso de quietude. E então o homem cuspiu sua cerveja diretamente em Greenwood. Ele explodiu em vapor no ar, obscurecendo a visão de Greenwood. Greenwood atirou-o para fora do caminho com uma rajada de vento frio e um gesto de corte furioso, mas o homem desapareceu.

Eu gritei e pulei para fora do caminho quando um grande esquilo marrom passou correndo pelos meus pés.

—Gilfaethwy, seu merdinha traiçoeiro! — Greenwood gritou. —Você não vai ficar longe de mim tão facilmente!

Dobrou-se como um mosaico estranho e, um instante depois, um falcão voou atrás do esquilo com um grito de raiva.

—Não no bar! — Julius gritou atrás deles. —Não no bar!

Bateu palmas com as mãos poderosas e os anéis de prata nos dedos brilhavam com um trabalho de corrida intrincado. Um portal se abriu na frente do esquilo, que tentou se esquivar dele, mas com outro gesto de Julius, foi varrido, seguido de perto pelo falcão.

Corri atrás deles e Julius correu atrás de mim, pulando através do portal, que dava para o mesmo beco por onde entramos. O falcão pegou o esquilo enquanto eu observava, voando alto no ar. Mas um segundo depois o esquilo torceu e se tornou uma cobra grande, que se levantou e mordeu o falcão com presas semelhantes a punhais. O falcão caiu no telhado de um prédio próximo com um grito de dor.

—Greenwood! — Eu gritei horrorizada.

Julian bateu palmas novamente e uma escada apareceu, as peças retiradas de mil lugares secretos do outro lado do beco. Não parei para questionar. Subi rapidamente, aterrorizada por encontrar Greenwood morto no topo.

Em vez disso, os cascos agitados de uma cabra quase tiraram minha cabeça. Um rato mexeu-se em seus pés, que ele tentava furiosamente pisar. Um segundo depois, o rato se tornou um grande veado, jogando a cabra no ar com seus chifres. Um momento depois, a cabra era um lobo, afundando os dentes no flanco do veado.

—Oh, eles estão nisso agora. — Disse Julius, subindo ao meu lado. —Melhor ficar fora do caminho.

—Qual é Greenwood?— Eu perguntei, quando o cervo se tornou um leão para devorar o lobo, que se tornou uma vespa para picar o rosto do leão, que se tornou uma andorinha para comer a vespa.

—Gwydion? Só Deus sabe. — Disse Julius com um sorriso, me dando um tapinha no ombro. —Não se preocupe muito. Quando eles ficam assim, é melhor deixá-los sair do sistema. Eles vão se desgastar em breve. Isso provavelmente é um par de décadas de poder armazenado está queimando agora. Apenas aproveite o show.

Ele acenou com a mão e um saco de pipoca apareceu, que ele me ofereceu. Recusei, correndo pelo telhado quando a vespa se tornou um gato e arrancou a andorinha do ar, que se tornou um coelho e saltou para o outro lado do telhado. O gato tornou-se um galgo e perseguiu, os dois pulando através da abertura para os azulejos do prédio seguinte.

—Quem é aquele cara? — Eu perguntei, com o coração acelerado enquanto procurava um caminho a seguir, pegando uma tábua solta e jogando-a através da abertura, feliz por não ser grande.

—Gilfaethwy. — Explicou Julius, segurando o quadro para mim enquanto eu corria. —Irmão de Gwydion. Mais ou menos.

—Tipo? — Eu perguntei, segurando-o para que ele pudesse atravessar também, mas ele apenas caminhou ao lado, como se o ar fosse solo sólido.

—Bem, as Fae não têm famílias como as descreveríamos. — Disse Julius. —Mas... eu realmente não sei o quanto você sabe sobre os tribunais?

—Eu sei que existem três deles e que os dois principais parecem ser uns idiotas. — Resumi.

Julius assentiu, as mãos levantadas em um gesto. —praticamente.

—Quando uma novo fae é criada na Corte Seelie. — Disse ele. —Uma contraparte igualmente comparada aparece instantaneamente nos Unseelie e vice-versa, para que a corte fique perfeitamente equilibrada. É por isso que eles começaram a recrutar Faes Selvagens, embora isso não tenha acontecido. Não funcionou melhor para eles. Gilfaethwy é o oposto de Gwydion, perfeitamente igual a ele em todos os aspectos.

—Então não há chance de Gelf, Gilfeth... que seu irmão o derrote? — Eu perguntei. O galgo havia pego o coelho, apenas para soltá-lo latindo quando se tornou um porco-espinho. O galgo tornou-se um texugo, golpeando o porco-espinho com garras longas e raivosas, e o porco-espinho tornou-se uma raposa, correndo ao redor do texugo para morder seu flanco.

—Eu não diria nada. — Disse Julius, comendo um punhado de pipoca. —Ou eles não continuariam fazendo isso a cada poucos anos. Mas é bem magro.

—Não devemos tentar ajudar Greenwood, quero dizer, como você o chamou?

—Gwydion. — Repetiu Julius. —Esse é o nome verdadeiro dele, ou parte dele. Isso lhe dá um pouco de poder sobre ele, o que ele odeia, mas sinceramente acho que ele poderia usar mais algumas pessoas em sua vida com o poder de impedi-lo de fazer coisas estúpidas. E você poderia ajudá-lo, se você quiser, supondo que você possa descobrir qual é qual. Mas jurei não interferir, desde que não estejam no meu bar ou prejudiquem meus convidados.

—Ah, merda, lá estão eles. — Murmurei quando o texugo se tornou um macaco, subindo pelos telhados, e a raposa se tornou um leopardo para persegui-lo.

Corri atrás deles, esforçando-me para acompanhar as mudanças entre os prédios e deslizei em telhas e telhas. Eu deveria ter caído cem vezes... quebrar meu pescoço ou pelo menos um braço caindo em uma lixeira do terceiro ou quarto andar. Parkour não era uma habilidade que eu realmente tivesse perseguido. E, no entanto, toda vez que eu pensava em escorregar, meu pé se apoiava nos ladrilhos molhados. Toda vez que pensei que estava prestes a cair, consegui me recuperar bem a tempo. Mas não tive tempo de questionar minha sorte repentina.

Antes que o leopardo pudesse pegar o macaco, o macaco derrapou no meio de um jardim abandonado, as camas secas e a gaiola suja e vazia de pombos, um fundo estranhamente doméstico para a cena exótica. O macaco se virou quando o leopardo se fechou e se tornou um crocodilo, com a mandíbula aberta. Ele pegou o leopardo com um golpe de seus dentes poderosos e torceu, jogando o grande gato em direção à gaiola de pombo. Aterrissou com um barulho, se transformando em um homem enquanto eu observava. Por um momento eu ainda não sabia dizer quem era.

—Pelo amor de Deus, Gwydion! — O homem, que agora assumi ser Gilfaethwy, reclamou, sentando-se. —Pensei que não concordamos com nenhum crocodilo da última vez. Eles não são justos e você sabe disso.

Ele parecia sem fôlego, suado e dolorido, o que era uma aparência estranha de se ver em um rosto tão parecido com o de Greenwood, geralmente tão composto e refinado, mesmo quando estava com raiva assassina.

O crocodilo voltou para Gwydion e, por um momento, também não o reconheci. Seu rosto ainda era o mesmo, mas seu cabelo era mais pálido, mais prateado que dourado, e seus olhos eram sempre verdes, não o verde brilhante do verão que eu lembrava. Ele parecia cansado também, com a respiração trêmula.

—Para o inferno com justiça! — Gwydion gritou. —Você já jogou todas as regras do nosso pequeno acordo pela janela!

—Tenho certeza de que não sei do que você está falando. — Disse Gilfaethwy, olhando para qualquer lugar, menos para o irmão. —Eu não tenho sido nada além de fiel ao nosso acordo. Eu mantive minha cabeça baixa, não fiz mágica-

—Então por que eu tenho um lobisomem em minha casa com sua assinatura na maldição dele? — Gwydion rosnou. A temperatura no telhado caiu vários graus quando um vento frio respondeu à raiva de Gwydion.

Gilfaethwy estremeceu, depois riu timidamente. —Foi esse que você encontrou, não é? — Ele disse.

—Há mais de um ?!

—Claro que não.

—Você está mentindo, seu miserável-

Quando Gwydion deu um passo em direção a Gilfaethwy, ele se transformou em um furão e disparou para a beira do telhado. Gwydion tornou-se imediatamente uma coruja para voar atrás dele.

—Chega de merda de animal estúpido! — Gritei de frustração, atacando com meus poderes. Um enxame de insetos mortos surgiu diante do furão, levando-o de volta às garras que aguardavam dois ratos desidratados, deixando a coruja de Gwydion flutuando no ar. O furão torceu, transformando-se em algo maior, um urso, eu acho, mas eu já estava diminuindo a distância entre nós, batendo as duas mãos em seu pelo. O animal gritou e se debateu para fugir enquanto a necrose se espalhava por suas costas. Eu sorri com uma satisfação sombria quando ela voltou para Gilfaethwy e eles caíram no chão, arranhando como sua própria pele em horror.

—Tira isso! — Ele disse horrorizado. —Tira isso!

—Eu vou. — Eu disse, minhas mãos prontas para fazer mais. —No minuto em que você me disseer o que fez com Ethan.

—Inseto! — Gilfaethwy sibilou para mim, o ódio em seus olhos como um incêndio, o telhado de repente no meio do verão quente, o ar fervendo. Os canteiros de flores secas levantaram e estouraram, transbordando de vida verde repentina, espinhosa e retorcida. Ele cresceu com uma velocidade terrível, avançando em minha direção enquanto ele se arrastava pelo telhado, o rosto contorcido de raiva e desprezo insondáveis. —Como você ousa pôr suas mãos sujas em mim? Você sua verme, sua macaca pálida e trêmula! Eu poderia desmembrar uma molécula de cada vez! Eu poderia queimar você por toda a eternidade e negar-lhe o direito de uivar de dor! Eu sou um deus para você!

Por um momento, vendo aquele repentino ódio, acreditei nele. Eu me afastei, meu medo intenso, mas um segundo depois uma brisa fria baniu o calor quando Gwydion plantou um salto nas costas de Gilfaethwy, exatamente onde minha necrose era pior. Gilfaethwy gritou de dor, caindo de bruços. Gwydion não tirou o pé. Atrás dele, a geada matou a onda de vegetação que Gilfaethwy havia convocado, secando-a para nada novamente.

—Se você tivesse o poder de fazer algo assim, nenhum de nós estaria aqui. — disse Gwydion, olhando para o irmão com um leve desgosto. —Diga à mulher o que ela quer saber, ou eu deixarei que o veneno nas suas costas o devore. Um gostinho da morte mortal.

—Você condenaria a nós dois. — Gilfaethwy assobiou no betume do telhado.

—Você parece contente em fazer o mesmo. — Disse Gwydion friamente, torcendo o calcanhar nas costas de Gilfaethwy. —Além do mais, duvido que isso o mate. Mas tenho certeza de que machucaria.

—Por que você amaldiçoou Ethan? — Eu exigi, aproximando-me novamente. —E como a quebramos?

—Eu não o amaldiçoei. — Afirmou Gilfaethwy.

Gwydion afundou o calcanhar novamente.

—Eu não fiz! — Gilfaethwy gritou, a voz estridente com dor. —Eu juro por tudo que é sagrado!

—Como se você já considerasse algo sagrado. — Zombou Gwydion. —Jure pela sua mão direita e saiba que terei muito prazer em removê-la se você mentir.

—Juro pela minha mão direita. — Disse Gilfaethwy com um grunhido amargo. —Eu não o amaldiçoei. A maldição já estava lá. Eu apenas... dei um pequeno empurrão.

Ele riu, uma risadinha nervosa e histérica, e Gwydion o chutou.

—Seu idiota! — Ele gritou. —Você está mentindo, seu sem valor-

—Foi apenas um pequeno empurrão! — Gilfaethwy disse através de sua risada delirante. —Eu precisava! Eu não podia contar para não! Oh, se você o visse, todo aquele ódio pulsando em seu peito, todo torcido em um nó do tamanho do seu punho. Você teria feito isso também! Eu tinha que ver o que aconteceria!-

Gwydion se encolheu e lembrei-me de suas palavras mais cedo, certa de que ele também se lembrava delas.

—E era apenas um pouco de poder. — Disse Gilfaethwy. —Menos do que usamos aqui hoje à noite! Ninguém notou!

—Não importa quanta energia você usou, seu miserável e inútil desperdício de magia! — Gwydion disse, arrancando os cabelos em frustração. —Você o usou em um ser humano! Interferência direta, a única coisa que todo o nosso acordo depende, a única coisa proibida! Foi notada. Eu garanto a você, e eles estão esperando, segurando-o sobre nossas cabeças como a espada de Dâmocles, por o momento perfeito para destruir nós dois!

—Oh, não seja tão pessimista. — Disse Gilfaethwy, rolando de costas e parecendo ter se arrependido. —O que há com o seu tipo sendo tão severo o tempo todo?

—Eu não sou severo. — Disse Gwydion. —Eu simplesmente não quero ser eliminado da existência porque você não pode controlar seus impulsos!

—Tanto faz! — Eu interrompi, confusa e sem paciência. —Diga-nos como desfazer! Como quebramos a maldição?

Gilfaethwy apenas riu mais - gargalhando alto e enlouquecido. Olhei para Gwydion em busca de algum tipo de explicação, mas ele balançou a cabeça.

—Tem que haver algo que ele possa fazer! — Eu disse, passando por Gilfaethwy para pegar Gwydion pelo braço. —Ele causou isso! Tem que haver uma maneira de consertar!

Gwydion franziu os lábios, franziu as sobrancelhas e esfregou as têmporas.

—Ele está dizendo a verdade. — Disse ele. —Não há nada que ele possa fazer. Ele não amaldiçoou seu lobisomem.

—Então quem fez? — Eu implorei. Tinha que haver algo, pelo menos uma vantagem. Qualquer coisa para dar a Ethan um pedaço de esperança.

Gwydion me encarou com aqueles olhos escuros e a esperança se dissolveu.

—A maldição é auto infligida. Ele fez isso consigo mesmo.

 

 

                                                   D. D. Miers e Graceley Knox         

 

 

 

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