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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


GUERRA NAS ESTRELAS (Star Wars) / George Lucas
GUERRA NAS ESTRELAS (Star Wars) / George Lucas

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

GUERRA NAS ESTRELAS

(Star Wars)

 

OUTRA galáxia, outros tempos.

A Velha República era a República lendária, maior que a distância e o tempo. Não era preciso saber onde ficava nem de onde vinha, mas apenas que... era a República.

No passado, sob o governo sábio do Senado e a proteção dos Cavaleiros de Jedi, a República cresceu e prosperou. Mas quando a riqueza e o poder ultrapassam os limites do admirável e chegam às raias do espantoso, sempre aparecem os ambiciosos.

Foi assim com a República no apogeu. Como uma árvore gi­gantesca, capaz de resistir a qualquer ataque vindo do exterior, a República apodreceu lentamente por dentro, embora os sinais não fossem visíveis a princípio.

Auxiliado e apoiado por indivíduos sequiosos de poder den­tro do governo, e pelas imensas organizações de comércio, o am­bicioso Senador Palpatine conseguiu eleger-se Presidente da Re­pública. Prometeu satisfazer os descontentes e restabelecer a gló­ria da República.

Assim que se viu seguro no cargo, declarou-se Imperador, isolando-se do povo. Em pouco tempo era controlado pelos próprios assistentes e aduladores que havia nomeado para altos postos, e a voz do povo, que clamava por justiça, não chegava mais aos seus ouvidos.

Depois de exterminarem traiçoeiramente os Cavaleiros de Jedi, guardiães da Justiça na galáxia, os agentes e burocratas do Impe­rador se prepararam para instituir um reinado de terror para os mundos da galáxia. Muitos usaram as forças imperiais e o nome do Imperador, cada vez mais isolado, para satisfazer a ambições pessoais.

Mas uns poucos sistemas se rebelaram contra essas novas ar­bitrariedades. Declarando-se inimigos da Nova Ordem, iniciaram a grande batalha para restaurar a Velha República.

Desde o começo, estavam em inferioridade esmagadora. Na­queles primeiros dias sombrios, parecia certo que a chama da re­sistência seria extinta antes que pudesse projetar a luz da nova verdade em uma galáxia de povos oprimidos e amedrontados...

 

 

ERA um globo vasto, e reluzente, que projetava uma fria luz topázio para o espaço, mas não era uma estrela. O planeta havia en­ganado os homens durante muito tempo. Apenas quando entraram em órbita em torno do astro foi que os descobridores perceberam que se tratava de um planeta de um sistema binário, e não de um terceiro sol.

A princípio, parecia que nenhuma forma de vida poderia exis­tir em tal planeta, muito menos vida humana. Mas as estrelas Gl e G2 descreviam órbitas bastante regulares em torno de um cen­tro comum, e Tatooine estava suficientemente afastado delas para que o clima fosse estável, embora quente. Era um mundo seco e desértico, cujo brilho amarelado, que o fazia assemelhar-se a um sol, resultava do reflexo da luz das duas estrelas nas areias ricas em sódio. Essa mesma luz se refletia agora em uma forma metá­lica que descia em ziguezague em direção à atmosfera.

O curso errático que o cruzador galáctico estava seguindo era intencional, resultado não de uma avaria, mas das tentativas de­sesperadas de evitá-la. Intensos feixes de energia pura lhe roçavam o casco, uma tempestade multicolorida de destruição, como um car­dume de rêmoras em volta de um tubarão.

Um desses feixes conseguiu tocar a nave em fuga, atingindo o painel solar principal. Fragmentos de metal e plástico foram projetados para o espaço quando a extremidade do painel se de­sintegrou. A nave estremeceu.

A fonte desses feixes de energia apareceu de repente: um imenso cruzador do Império, o perfil imponente lembrando um cacto, com dezenas de canhões. Esses espinhos agora haviam parado de emitir raios mortíferos. Explosões e lampejos intermitentes po­diam ser vistos nas partes da nave menor que haviam sido atingidas. No frio absoluto do espaço, o cruzador aproximava-se da pre­sa ferida.

Outra explosão distante sacudiu a nave — mas não pareceu distante a Erredois Dedois e Cetrês Pezero. A concussão os arre­messou contra a parede do corredor estreito.

Olhando para os dois, seria natural concluir que a máquina mais alta, de aparência humana, que se chamava Pezero, era o chefe, e que o robô atarracado de três pernas, Erredois Dedois, apenas um criado. Na verdade, embora Pezero talvez não aceitasse bem a idéia, eram iguais em tudo, a não ser na loquacidade. Sob esse aspecto, Pezero era incontestavelmente — e necessariamente — superior.

Uma nova explosão sacudiu o corredor, fazendo Pezero per­der o equilíbrio. O companheiro estava mais bem equipado para este tipo de emergência, com o corpo curto e cilíndrico firmemente plantado em três grossas pernas.

Erredois olhou para Pezero, que estava apoiado na parede do corredor. Luzes piscaram enigmaticamente em torno do olho úni­co do robô, enquanto examinava os danos sofridos pelo amigo. Uma patina de pó metálico cobria a superfície normalmente relu­zente de Pezero, e havia algumas mossas visíveis, tudo resultado dos impactos que a nave rebelde onde estavam havia sofrido.

O último ataque havia sido acompanhado por um zumbido profundo que mesmo as explosões mais violentas não tinham sido capazes de abafar. Então, sem razão aparente, o zumbido cessou e o único ruído passou a ser os cliques dos reles e o crepitar dos circuitos avariados. Novas explosões ecoaram na nave, mas bem mais distantes.

Pezero voltou a cabeça para um lado. Ouvidos metálicos es­cutaram atentamente. A imitação de uma atitude humana era des­necessária, os sensores auditivos de Pezero eram onidirecionais, mas o elegante robô havia sido programado para trabalhar com seres humanos e comportar-se como se fosse um deles.

— Ouviu isso? — perguntou desnecessariamente ao paciente companheiro, referindo-se ao zumbido. — Desligaram o reator principal e a propulsão.

A voz do robô exprimia espanto e desolação. Uma mão me­tálica esfregou lentamente uma mancha escura no lado do corpo, no lugar onde uma viga caída do teto havia arranhado o acaba­mento de bronze. Pezero era uma máquina orgulhosa da própria aparência; coisas assim o aborreciam.

— Loucura, isto é loucura. — Pezero sacudiu a cabeça de­vagar. — Desta vez seremos certamente destruídos.

Erredois não respondeu logo. O torso cilíndrico inclinado para trás, as grossas pernas firmes no chão, o robô de um metro de altura estava ocupado examinando o teto. Embora não dispusesse de uma cabeça para girar, Erredois de alguma forma também con­seguia dar a impressão de que estava escutando alguma coisa. Uma série de silvos e chiados curtos saiu de seu alto-falante. Para um ouvido humano não passariam de estática, mas para Pezero eram tão inteligíveis quanto a linguagem comum.

— É, acho que tiveram que desligar o propulsor — admitiu Pezero. — Mas que vamos fazer agora? Não podemos entrar na atmosfera com nosso estabilizador principal destruído. Mas tam­bém não acho que vamos simplesmente nos render.

Um pequeno bando de homens armados apareceu de repente, os rifles prontos para disparar. Tinham uma expressão de deses­pero no rosto, pareciam preparados para morrer.

Pezero observou-os em silêncio até que desapareceram em uma curva do corredor, e depois olhou de volta para Erredois. O robô menor não havia mudado de posição. Pezero também pro­curou escutar, embora soubesse que os sentidos de Erredois eram ligeiramente mais aguçados do que os seus.

— O que foi, Erredois?

A resposta foi uma série de silvos. Mais um momento, e não haveria necessidade de receptores sensíveis. Por um minuto ou dois, um silêncio mortal encheu o corredor. Então, Pezero também pôde ouvir um som distante, como o de um gato arra­nhando o teto. Aquele som estranho era produzido por botas pe­sadas no casco da nave.

Depois de ouvir várias explosões abafadas, Pezero murmurou:

— Já conseguiram entrar. Desta vez o Capitão não escapa. — Voltou-se para Erredois. — Acho que devemos...

Um rangido metálico o interrompeu. Uma luz cegante irrom­peu na extremidade do corredor. O pequeno grupo de homens ar­mados que passara por eles devia ter encontrado os atacantes.

Pezero virou o rosto e os delicados fotorreceptores para longe do clarão, bem a tempo de evitar os fragmentos de metal que voaram pelo corredor. Um buraco apareceu no teto e por ele co­meçaram a descer grandes vultos metálicos. Os dois robôs sabiam que nenhuma máquina era tão ágil quanto aquelas formas estra­nhas, que assumiram imediatamente a posição de combate. Os re­cém-chegados eram humanos vestindo armaduras, e não máquinas.

Um deles olhou diretamente para Pezero — não, não para ele, pensou o robô, assustado, mas para trás dele. Uma mão enluvada levantou o pesado rifle, porém era tarde demais. Um fino feixe de luz atingiu-lhe a cabeça, e pedaços de armadura, osso e carne voaram em todas as direções.

Metade dos soldados invasores se voltaram e começaram a responder ao fogo, atirando na direção dos dois robôs.

— Depressa, por aqui! — ordenou Pezero, pretendendo fu­gir dos soldados do Império.

Erredois acompanhou-o. Tinham dado apenas alguns passos quando viram os rebeldes em posição, atirando também na direção deles. Em poucos segundos, o corredor estava cheio de fumaça e de feixes de energia.

Raios vermelhos, verdes e azuis ricocheteavam nas superfícies polidas da parede e do piso ou rasgavam as estruturas metálicas. Gritos dos humanos feridos e moribundos — sons que nenhum robô seria capaz de emitir, pensou Pezero — acompanhavam a destruição inorgânica.

Um raio abriu um buraco no chão bem à frente do robô e ao mesmo tempo outro raio destruiu a parede ao lado, deixando ex­postos os eletrodutos. A força da dupla explosão arremessou Pe­zero contra os cabos despedaçados e seu corpo metálico foi per­corrido por uma dúzia de correntes elétricas, que o fizeram tremer convulsivamente. Os terminais nervosos do robô transmitiram es­tranhas sensações. Não sentia dor, apenas confusão. Cada vez que se movia e tentava libertar-se, provocava um novo curto-circuito. Enquanto isso, a batalha continuava.

O corredor estava cheio de fumaça. Erredois Dedois andava para cá e para lá, procurando uma maneira de ajudar o amigo. O pequeno robô mostrava uma indiferença fleumática pelas energias furiosas que se entrecruzavam no corredor. De qualquer forma, era tão baixinho que os raios mortíferos passavam quase todos por cima de sua cabeça.

— Socorro! — gritou Pezero, assustado com uma nova men­sagem de um dos sensores internos. — Parece que fundi alguma coisa. Solte minha perna esquerda... acho que o servomotor pélvico está emperrado.

De repente, o tom passou de suplicante a acusador.

— É tudo culpa sua! — exclamou, zangado. — Não devia ter confiado na lógica de um reles robô de manutenção. Não sei por que insistiu para que deixássemos nossos postos e viéssemos para este maldito corredor de acesso. Não que agora isto tenha importância. Toda a nave deve estar...

Erredois Dedois interrompeu-o com uma série de silvos e chiados, embora continuasse a cortar e puxar com precisão os cabos de alta-tensão embaraçados.

— Ah, é assim? — replicou Pezero, ofendido. — Pois es­cute, seu pequeno...

Uma explosão excepcionalmente violenta sacudiu o corredor, abafando-lhe a voz. Um cheiro de carne queimada tomou conta do ar e a fumaça envolveu tudo.

Dois metros de altura. Duas pernas. Um longo manto ne­gro. O rosto perpetuamente coberto por uma máscara de metal negro. O Lorde Negro de Sith era uma forma imponente, assus­tadora, que percorria os corredores da nave rebelde.

O medo acompanhava as pegadas de todos os Lordes Negros. A aura de maldade que envolvia este Lorde Negro em particular era suficientemente intensa para fazer recuarem os calejados sol­dados do Império, suficientemente ameaçadora para fazer com que se entreolhassem e murmurassem baixinho. Os membros da tri­pulação da nave rebelde largaram as armas e fugiram em pânico à simples visão da armadura negra, armadura que, por mais ne­gra que fosse, nunca poderia ser tão negra quanto os pensamentos da mente que a ocupava.

Um objetivo, um pensamento, uma obsessão dominavam agora essa mente, queimavam o cérebro de Darth Vader quando ele pe­netrou em outro corredor da nave avariada. A fumaça nesse cor­redor estava começando a se dissipar, embora os ruídos distantes da batalha ainda ressoassem através do casco. A luta continuava, mas em outro lugar.

Depois da passagem do Lorde Negro, apenas um robô se mo­via no corredor. Cetrês Pezero finalmente se livrou do último cabo. Ao longe, podia ouvir os gritos dos últimos rebeldes que ainda resistiam ao assalto esmagador das tropas do Império.

Pezero olhou para baixo e viu apenas o chão enegrecido. Cha­mou, em tom preocupado:

— Erredois Dedois! Onde está você?

A fumaça clareou um pouco e Pezero pôde ver a outra ex­tremidade do corredor. Lá se encontrava Erredois Dedois. Mas não estava olhando na direção de Pezero. Permanecia imóvel, em posição de sentido. E a seu lado havia — mesmo para os fotos-receptores eletrônicos de Pezero, era difícil ver alguma coisa com nitidez no meio de tanta fumaça — uma figura humana. Era jo­vem, esguia e, de acordo com os complicados padrões estéticos dos humanos, pensou Pezero, de uma beleza tranqüila. Uma pequena mão parecia estar mexendo no peito de Erredois.

Pezero encaminhou-se para eles, cego novamente pela fuma­ça. Mas quando chegou ao final do corredor, só encontrou Erre­dois. Olhou em volta, intrigado. Os robôs, às vezes, sofriam de alucinações eletrônicas... mas por que um humano? Pensando melhor, por que não? Havia sido submetido a violentas descargas elétricas. Era de surpreender que seus circuitos sensoriais fabri­cassem imagens espúrias?

— Onde você esteve? — perguntou, finalmente, Pezero. — Escondido, suponho. — Preferia não mencionar o vulto humano. Se fosse apenas uma alucinação, não iria dar a Erredois a satisfa­ção de saber até que ponto os acontecimentos recentes haviam per­turbado seus circuitos lógicos. — Eles vão voltar por ali — pros­seguiu, apontando para a outra ponta do corredor, sem dar ao pe­queno robô a oportunidade de responder — à procura de sobrevi­ventes humanos. O que vamos fazer agora? Se dissermos que não sabemos de nada, não vão acreditar em nós. Seremos mandados para as minas de especiarias de Kessel ou desmontados e usados como peças de reposição. Isso se não considerarem irrecuperáveis, caso em que seremos destruídos imediatamente. Precisamos...

Mas Erredois já se estava afastando rapidamente, sem dizer palavra.

— Espere, para onde vai? Não ouviu nada do que eu disse? — Praguejando em várias línguas, algumas delas puramente me­cânicas, Pezero correu atrás do amigo.

Do lado de fora do centro de controle do cruzador galáctico, o corredor estava cheio de prisioneiros, amontoados ali pelos sol­dados do Império. Alguns estavam feridos, outros, moribundos. Os oficiais estavam agrupados em um canto, olhando desafiadoramente para os guardas e proferindo fúteis ameaças.

De repente, um vulto negro surgiu na curva do corredor e todos fizeram silêncio, guardas e rebeldes. Dois oficiais até então resolutos e obstinados começaram a tremer. O vulto imponente parou diante de um deles. Uma pesada mão se fechou em torno do pescoço do rebelde e levantou-o do chão. Os olhos do oficial se arregalaram,, mas ele continuou calado.

Um oficial do Império, o capacete puxado para trás mostrando uma ferida recente, no lugar onde um raio penetrara na blindagem da armadura, saiu da sala de controle, sacudindo a cabeça.

— Nada, senhor. Os bancos de dados foram totalmente apa­gados.

Darth Vader recebeu a notícia com um aceno de cabeça quase imperceptível. A máscara impenetrável se voltou para o oficial que estava torturando. Os dedos cobertos de ferro se contraíram. O prisioneiro estendeu as mãos, tentando inutilmente aliviar a pressão.

— Onde estão as informações que vocês interceptaram? — perguntou Vader, em tom ameaçador. — O que fizeram com as fitas de dados?

— Não interceptamos... nenhuma... informação — balbuciou o oficial. — Esta é uma... nave civil... Não viu nossas... insígnias? Estamos em... missão diplomática.

— Para o inferno com sua missão! — rugiu Vader. — Onde estão as fitas? — E apertou com mais força.

Quando o oficial finalmente conseguiu responder, foi com um fio de voz.

— Só... só o Comandante sabe.

— Esta nave traz a insígnia do sistema de Alderaan — disse Vader, aproximando a máscara grotesca do rosto do oficial. — Alguém da família real está a bordo? Quem é que vocês estão transportando?

Os dedos grossos apertaram com decisão e a luta do oficial se tornou cada vez mais frenética. Suas últimas palavras foram ininteligíveis.

Vader não estava satisfeito. Mesmo depois que o oficial dei­xou de se debater, aquela mão continuou a apertar, até produzir um barulho seco de ossos quebrados. Então, com um gesto de des­dém, Vader atirou longe o corpo inerte. Vários soldados do Im­pério mal tiveram tempo de se esquivar do macabro projétil.

O Lorde Negro se voltou inesperadamente e os oficiais do Império se encolheram, assustados.

— Comecem a desmontar esta nave peça por peça, compo­nente por componente, até encontrarem as fitas. Quanto aos pas­sageiros, se houver, quero-os vivos. — Fez uma pausa, e depois acrescentou: — E depressa!

Oficiais e soldados se afastaram apressadamente, tropeçando uns nos outros — não necessariamente para executar as ordens de Vader, mas simplesmente ansiosos para se afastarem de sua presen­ça malévola.

Erredois Dedois finalmente parou em um corredor vazio, sem fumaça nem sinais de batalha. Um Pezero preocupado e confuso parou atrás dele.

— Você nos fez atravessar metade da nave, e para quê... ?

— Pezero interrompeu a frase pela metade, olhando incredulamente para o pequeno robô, que estava abrindo a escotilha de uma nave de salvamento. Imediatamente, uma luz vermelha se acen­deu e soou um alarma estridente.

Pezero olhou rapidamente em todas as direções, mas o cor­redor continuava vazio. Quando olhou de volta, Erredois já es­tava entrando na pequena nave. Tinha tamanho suficiente para acomodar alguns humanos, mas não havia sido projetada para robôs. Erredois estava tendo dificuldades para se encaixar no pequeno compartimento.

— Ei! — exclamou Pezero, em tom reprovador. — Você não pode entrar aí! É só para humanos! Talvez a gente consiga convencer os soldados do Império de que não fomos reprograma­dos pelos rebeldes e somos valiosos demais para sermos destruí­dos, mas se alguém vir você aí dentro, não teremos a mínima chan­ce! Saia já daí!

Finalmente, Erredois conseguiu colocar o corpo na posição correta, em frente ao pequeno painel de controle. Inclinou ligei­ramente o corpo e soltou uma rajada de silvos e chiados para o relutante companheiro.

Pezero escutou. Não podia franzir o cenho, mas deu toda a impressão de fazê-lo.

— Missão... que missão? De que está falando? Acho que seus circuitos integrados pifaram. Não... chega de aventuras. Prefiro arriscar a sorte com os soldados do Império... e não vou entrar aí!

O alto-falante de Erredois emitiu um silvo impaciente.

— E não me chame de filósofo apático, seu barril de óleo! — replicou Pezero.

Pezero estava pensando em outros xingamentos quando uma explosão destruiu a parede do corredor. O ar ficou cheio de pe­daços de metal, ao mesmo tempo em que várias explosões secun­dárias se sucederam. Chamas brotaram do buraco aberto na parede, refletindo-se no que restava da superfície luzidia de Pezero.

Resmungando o equivalente eletrônico de entregar a alma ao desconhecido, o esguio robô entrou na nave de salvamento.

— Ainda vou-me arrepender disso — murmurou de forma mais audível, no momento em que Erredois acionou o controle da escotilha. O pequeno robô ligou uma série de chaves, levantou uma tampa e apertou três botões em uma certa seqüência. Várias pequenas cargas explodiram simultaneamente e a pequena nave foi ejetada do cruzador avariado.

Quando recebeu a notícia de que o último foco de resistên­cia da nave rebelde havia sido sufocado, o Capitão do cruzador do Império se sentiu aliviado. Estava ouvindo com prazer o re­latório dos acontecimentos a bordo da nave capturada, quando foi chamado por um dos oficiais de artilharia. Aproximando-se da posição em que o oficial se encontrava, o Capitão olhou para a tela e viu um pontinho descendo em direção ao planeta hostil.

— É uma nave de salvamento, Capitão. O que devo fazer?

— Os dedos do oficial estavam pousados nos botões de controle de tiro.

Displicentemente, confiante no poder do fogo sob seu con­trole, o Capitão examinou os mostradores do painel. As indicações eram claras.

— Não precisa fazer nada, Tenente Hija. Os instrumentos mostram que não há ninguém vivo a bordo. O mecanismo de ejeção da nave deve ter sido acionado acidentalmente durante o com­bate. Não vamos gastar energia à toa. — E continuou a ouvir com satisfação as notícias que estavam chegando da nave rebelde.

O brilho das chamas se refletia na armadura do líder das tro­pas de choque, enquanto examinava o corredor à frente. No mo­mento em que ia voltar a cabeça para chamar os companheiros, percebeu um movimento em um nicho lateral. Levantando a arma, aproximou-se devagar e olhou para o interior.

Um pequeno vulto vestido de branco estava encolhido no fun­do da alcova. Era uma jovem, e sua descrição correspondia à da pessoa em quem o Lorde Negro estava mais interessado. O sol­dado sorriu. Era muita sorte. Talvez fosse até promovido.

Sua cabeça fez um pequeno movimento dentro da armadura, dirigindo a voz para o microfone.

— Ela está aqui — disse para os companheiros. — Regu­lem as armas apenas para...

Não chegou a concluir a frase, assim como nunca chegaria a ser promovido. No momento em que os olhos deixaram a moça, esta agiu com rapidez surpreendente. A pistola de raios que se­gurava atrás das costas emitiu um feixe mortífero.

O soldado que tivera a desventura de encontrá-la foi o pri­meiro a cair, a cabeça reduzida a uma massa de osso e metal fun­didos. A mesma sorte teve o segundo soldado que se aproximou. Então, um fino feixe de luz verde tocou o lado da mulher e ela caiu inerte, ainda segurando a arma na mão crispada.

Vários soldados a cercaram. O mais graduado se ajoelhou e a examinou com olhos de entendido.

— Ela vai sobreviver — declarou finalmente, olhando para os subordinados. — Lorde Vader vai ficar satisfeito.

Pezero olhava hipnotizado pela pequena vigia da nave de sal­vamento, ocupada quase que inteiramente pelo disco amarelo de Tatooine. Atrás deles, a nave rebelde e o cruzador do Império não passavam de pontinhos no céu.

Talvez, no final das contas, tudo acabasse bem. Se descessem perto de uma cidade civilizada, arranjaria um emprego decente em um bairro sossegado, algo mais compatível com sua posição e edu­cação. Os últimos meses haviam sido agitados demais para uma simples máquina.

Por outro lado, o modo aparentemente aleatório como Erre-dois manipulava os controles da nave prometia tudo menos uma aterragem suave. Pezero olhou preocupado para o companheiro.

— Tem certeza de que sabe pilotar esta coisa?

Erredois respondeu com um assovio enigmático que não con­tribuiu em nada para dirimir as dúvidas do outro robô.

 

UM velho ditado dos colonos dizia que era mais fácil queimar a retina olhando diretamente para a vastidão desolada de Tatooine do que para seus dois sóis, tão forte era o reflexo das areias do deserto. Mesmo assim, havia vida nas planícies que outrora tinham sido o leito de antigos mares. Uma coisa a tornava possível: o rea­parecimento da água.

Para as finalidades humanas, entretanto, a água de Tatooine era acessível apenas de forma marginal. A atmosfera cedia sua umidade com relutância. O precioso líquido tinha de ser retirado do céu azul escuro — arrancado, forçado, espremido para a su­perfície desolada.

Dois personagens cuja missão era recolher essa umidade estavam parados em uma pequena elevação de uma dessas planícies inóspitas. Um era rígido e metálico — um condensador, ancorado firmemente à rocha-mãe que ficava abaixo da areia. O outro era humano.

Luke Skywalker tinha vinte anos, o dobro da idade do con­densador, mas se sentia muito menos seguro. No momento, estava lutando com uma válvula recalcitrante do temperamental aparelho. De tempos em tempos, substituía a ferramenta apropriada por gol­pes ao acaso. Nenhum dos dois métodos estava dando certo. Luke tinha certeza de que o lubrificante usado nos condensadores adora­va atrair areia, acenando sedutoramente para as pequenas partícu­las abrasivas com um reflexo oleoso. Limpou o suor da testa e descansou por um momento. O que este rapaz tinha de mais atra­ente era o nome. Uma leve brisa agitou-lhe os cabelos revoltos e a túnica mal ajustada ao corpo que usava para trabalhar. Não adiantava ficar zangado com ela, lembrou a si mesmo. Afinal, era apenas uma máquina sem inteligência.

Enquanto Luke pensava mais uma vez em como resolver o problema, um terceiro personagem entrou em cena, surgindo de trás do condensador e encaminhando-se desajeitadamente para a parte defeituosa. Apenas três dos seis braços do robô modelo Treadwell estavam funcionando, e mesmo estes estavam mais gas­tos do que as botas que Luke estava usando. A máquina se mo­vimentava de forma descontínua, pouco graciosa.

Luke olhou tristemente para o robô depois inclinou a cabeça para fitar o céu. Ainda nem sinal de nuvens, e ele sabia que não haveria nenhuma a menos que conseguisse consertar o condensa­dor. No momento em que ia tentar novamente, um ponto bri­lhante no céu atraiu-lhe a atenção. Luke tirou depressa do cinto um par de macrobinóculos imaculadamente limpos e apontou-os para o céu.

Ficou olhando por um longo tempo, lamentando não dispor de um telescópio de verdade em lugar dos binóculos. E enquanto olhava, esqueceu-se totalmente do condensador, do calor e das ta­refas que ainda o aguardavam naquele dia. Depois de guardar o objeto no cinto, Luke saiu correndo em direção ao veículo. A meio caminho, lembrou-se de olhar para trás.

— Vamos! — gritou com impaciência. — O que está espe­rando? Estou com pressa!

O Treadwell andou alguns metros em sua direção, hesitou, e começou a andar em círculos, soltando fumaça por todas as juntas. Luke tornou a chamar, depois desistiu, percebendo que o robô não estava em condições de atendê-lo.

Por um momento, Luke ficou sem saber se devia abandonar o Treadwell. Mas afinal, disse para si mesmo, o robô evidente* mente havia queimado vários componentes vitais. Luke entrou no veículo, fazendo com que o flutuador de repulsão, recentemen­te consertado, se inclinasse perigosamente para um lado. Então deslizou para trás dos controles, distribuindo melhor o peso, e o veículo voltou à posição horizontal, alguns centímetros acima do solo arenoso. Luke ligou o motor e o veículo começou a se mo­ver em direção à distante cidade de Anchorhead, deixando atrás de si uma nuvem de areia.

Perto do condensador, uma coluna de fumaça negra ainda as­sinalava o local onde o pobre robô se movia em círculos. Não es­taria ali quando Luke voltasse. Entre os animais de rapina que habitavam as vastidões desoladas de Tatooine, havia os que se in­teressavam por carne, mas também havia os que se interessavam por metal.

As estruturas de metal e pedra, desbotadas pelo brilho in­tenso dos sóis gêmeos, Tatoo I e II, estavam agrupadas muito juntas, como que em busca de companhia e proteção. Formavam o núcleo da vasta comunidade agrícola de Anchorhead.

No momento, as ruas poeirentas estavam quietas e desertas. Pequenos insetos zumbiam preguiçosamente nas frestas das casas de pedra. Um cachorro latiu a distância, o único sinal de civili­zação até que uma velha apareceu e começou a atravessar a rua, segurando com força o xale metálico que a protegia do sol.

Alguma coisa a fez olhar para o lado, franzindo os olhos can­sados. O som aumentou subitamente de volume quando uma for­ma retangular e reluzente apareceu na esquina, vindo de uma lua perpendicular. Os olhos da velha se arregalaram quando o veículo se aproximou, sem reduzir a velocidade nem se desviar. Teve que correr para sair da frente. Ofegante, brandindo o punho cerrado para o veículo, que já ia longe, a velha gritou:

— Quando é que vocês, crianças, vão aprender a andar mais devagar?

Luke havia visto a velha, mas seus pensamentos estavam em outro lugar quando estacionou atrás da usina de força, um edifício baixo e comprido, do qual se projetavam espiras e hastes metáli­cas. As ondas de areia de Tatooine se quebravam em espuma amarela nas paredes da usina. Ninguém se dava ao trabalho de remo­ver a areia. Seria inútil; no dia seguinte, estaria de volta. Luke abriu a porta da frente com um safanão e gritou:

— Ei!

Um rapaz cabeludo, vestido de mecânico, estava refestelado em uma cadeira atrás do velho painel de controle da usina. A pele estava coberta de óleo de bronzear. A pele da mocinha que estava sentada em seu colo estava igualmente protegida, mas a superfície exposta era muito maior. De certa forma, até o suor seco lhe assentava bem.

— Ei, pessoal! — tornou a gritar Luke, depois que o pri­meiro chamado foi recebido com indiferença total. Correu em di­reção à sala de instrumentos, nos fundos da usina, enquanto o mecânico, semi-adormecido, passou a mão pelo rosto e resmungou:

— Será que ouvi alguém entrar?

A garota se espreguiçou sensualmente, repuxando a roupa sur­rada em várias direções interessantes, e disse com voz rouca:

— Ora, foi só o estabanado do Luke.

Deak e Windy levantaram os olhos da mesa de bilhar compu­tadorizado quando Luke entrou. Estavam vestidos d# mesma for­ma que o recém-chegado, embora as roupas se ajustassem melhor ao corpo e estivessem menos usadas.

Havia um contraste flagrante entre os três rapazes e o jogador que estava de pé na outra extremidade da mesa, um tipo forte e elegante. Do cabelo bem aparado ao uniforme impecável, desta­cava-se no aposento como uma papoula oriental em um campo de aveia. Atrás dos três homens, um robô de manutenção trabalhava pacientemente em uma peça avariada do equipamento da usina, zumbindo baixinho.

— Vocês não vão acreditar no que vi! — gritou Luke, ex­citado. Então reparou no homem de uniforme. — Biggs!

O outro deu um meio sorriso.

— Olá, Luke.

E os dois se abraçaram calorosamente.

Luke finalmente recuou e ficou admirando o uniforme do outro.

— Não sabia que estava de volta. Quando chegou?

A confiança que transparecia na voz do outro chegava a um passo da afetação.

—Agora mesmo. Queria fazer-lhe uma surpresa, corisco. — Indicou a sala com um gesto. — Pensei que estaria aqui com dois boas-vidas. — Deak e Windy sorriram. — Não esperava que estivesse lá fora, trabalhando. — Tinha um riso fácil, quase irresistível.

— Você não mudou muito na Academia — observou Luke.

— Mas já está de volta? — Seu rosto assumiu um ar preocupa­do. — Ei, o que foi que aconteceu... não foi destacado para nenhuma nave?

Havia algo de evasivo na forma como Biggs respondeu, des­viando ligeiramente os olhos.

— Claro que fui. Vou servir a bordo do cargueiro Rand Ecliptic. Minha nomeação saiu na semana passada. Primeiro Pi­loto Biggs Darklighter, às suas ordens. — Biggs fez uma conti­nência caprichada, meio a sério, meio de brincadeira, e depois deu outro daqueles sorrisos ao mesmo tempo arrogantes e insinuantes.

— Vim justamente para me despedir de todos vocês, pobres coi­tados, que não saem do chão.

Todos riam, e então Luke se lembrou de repente da razão que o levara à usina com tanta pressa.

— Quase me esqueci — disse para eles, novamente excita­do. — Está havendo uma batalha aqui mesmo no nosso sistema. Venham dar uma olhada.

Deak pareceu desapontado.

— Mais uma de suas batalhas épicas, Luke? Não acha que chega de tantos sonhos? Esqueça.

— Esqueça uma ova! Estou falando sério! É uma batalha de verdade!

Com palavras e empurrões, conseguiu levar os ocupantes da usina para fora do edifício. Camie era a mais relutante.

— É melhor que valha a pena —r preveniu, defendendo os olhos do sol com a palma da mão.

Luke já havia tirado os macrobinóculos e estava examinando o céu. Levou apenas um momento para encontrar o que procurava.

— Não disse? Lá estão eles.

Biggs aproximou-se e tomou-lhe os binóculos, enquanto os outros se esforçavam para ver alguma coisa a olho nu. Ajustando ligeiramente o foco, Biggs pôde ver claramente os dois pontinhos

— Não é uma batalha, corisco — afirmou, baixando os binó­culos e olhando para o amigo com simpatia. — Estão parados lá em cima. São duas naves, sim... provavelmente uma barcaça carregando um cargueiro, já que Tatooine não dispõe de uma es­tação orbital.

— Mas eles estavam lutando! — protestou Luke. Seu en­tusiasmo inicial estava começando a ceder ante a segurança do amigo mais velho.

Camie arrancou os binóculos das mãos de Biggs, batendo de leve com eles em uma coluna do edifício. Luke tomou-lhe rapi­damente os binóculos e examinou-os para ver se haviam sofrido algum dano.

— Cuidado com eles.

— Não se preocupe, Luke — disse Camie, em tom irônico. Luke deu um passo na direção da moça, então parou quando o mecânico se colocou entre eles, com um sorriso de desafio. Luke resolveu esquecer o incidente.

— Estou-lhe dizendo, Luke — disse o mecânico, com o ar de quem já está cansado de repetir inutilmente a mesma história — que a revolução nunca vai chegar aqui. E o Império não se daria ao trabalho de lutar para defender este sistema. Acredite, Tatooine não serve para nada.

Antes que Luke tivesse tempo de responder, rodos já esta­vam entrando de volta na usina. Fixer estava com o braço pas­sado no ombro de Camie, e os dois riam baixinho da frustração de Luke. Até Deak e Windy estavam cochichando alguma coisa..., a respeito dele, pensou Luke.

O rapaz os seguiu, mas não sem antes lançar um último olhar em direção aos pontinhos brilhantes. Tinha certeza de que havia visto raios luminosos ligando as duas naves. E estava certo de que não se tratava de nenhum reflexo.

 

As cordas que amarravam as mãos da jovem atrás das costas estavam bem firmes. A atenção constante que recebia cios molda­dos fortemente armados poderia parecer estranha, em se tratando de uma frágil mulher, exceto pelo fato de que as vidas desses ho­mens dependiam de que chegasse viva a seu destino.

Quando experimentou retardar deliberadamente o passo, en­tretanto, percebeu que os captores não se importavam de maltratá-la um pouquinho. Um dos soldados a golpeou brutalmente na nuca e ela quase caiu. Voltando-se, fuzilou o homem com o olhar. Mas não havia meio de avaliar a reação do soldado, já que o rosto estava totalmente escondido pelo pesado capacete.

Finalmente, chegaram a um corredor onde havia um buraco ainda fumegante que levava ao exterior da nave. Um túnel havia sido adaptado ao orifício, ligando o cruzador à nave rebelde. Enquanto a jovem estava examinando a entrada do túnel, uma som­bra se aproximou, assustando-a.

Ao lado dela estava a figura ameaçadora de Darth Vader, os olhos vermelhos piscando por trás da abominável máscara negra. A não ser por um leve ricto no canto da boca, a moça não de­monstrou nenhuma reação. E a voz era firme quando falou:

— Darth Vader... eu devia ter adivinhado. Só você pode­ria ser tão ousado... e tão estúpido. Pois o Senado do império não vai tolerar este abuso. Quando souberem que atacou uma nave em missão diploma...

— Senadora Leia Organa — disse Vader em tom tranqüilo, mas suficientemente alto para abafar os protestos da moça. A sa­tisfação que sentia por tê-la encontrado a bordo era evidente na forma como saboreava cada sílaba. Não se faça de desentendida, Alteza — prosseguiu Vader, em tom ameaçador. — Desta vez, sua missão não é tão inocente quanto parece. Vocês passaram bem pelo meio de um sistema proibido, ignorando vários avisos e des­respeitando frontalmente nossas ordens. — O grande capacete negro se aproximou do rosto da moça. — Sei que esta nave recebeu várias transmissões de espiões daquele sistema. Quando localiza­mos a origem das transmissões, os responsáveis tiveram a falta de cortesia de se matarem antes que pudessem ser interrogados. Que­ro saber o que aconteceu com as informações que mandaram para vocês.

Nem as palavras de Vader nem sua presença pestilenta pareciam intimidar a moça.

— Não sei do que está falando — replicou, evitando olhar para Vader. — Sou apenas um membro do Senado em missão di­plomática para...

— Para cumprir sua parte no plano dos rebeldes — decla­rou Vader, interrompendo-a. — E é também uma traidora. — Dirigiu-se a um dos oficiais. — Pode levá-la.

Organa conseguiu lançar-lhe um jato de saliva, que evaporou com um chiado na armadura ainda quente da batalha. Vader lim­pou a armadura com a mão sem dizer palavra, observando-a com interesse enquanto ela atravessava o túnel que levava ao cruzador.

Um soldado alto e esguio, com as insígnias de Comandante do Império, aproximou-se de Vader.

— É perigoso mantê-la prisioneira — disse em voz baixa, olhando na mesma direção que o outro. — Se o fato se tornar público, haverá protestos no Senado. E o caso atrairá simpatia para a causa rebelde. — O Comandante olhou para o indecifrável rosto de metal e acrescentou secamente: — Devemos executá-la o quanto antes.

— Não. Minha primeira obrigação é localizar a base secreta dos rebeldes — replicou Vader sem hesitar. — Todos os espiões estão mortos; agora, ela é a minha única pista. Usarei de todos os meios possíveis de persuasão, mas descobrirei onde fica a base rebelde.

O Comandante umedeceu os lábios, sacudiu levemente a ca­beça, talvez com um traço de simpatia, enquanto pensava na mulher.

— Ela vai morrer antes de lhe fornecer qualquer informação. A resposta de Vader foi chocante em sua frieza.

— Pode deixar comigo. — Pensou por um momento, depois prosseguiu: — Mande transmitir um sinal de emergência em to­das as freqüências. Informe que a nave da senadora encontrou uma nuvem de meteoritos e não conseguiu desviar-se. Tudo in­dica que o campo de força não resistiu e o casco foi perfurado, deixando escapar noventa e cinco por cento da atmosfera de bordo. Informe ao Senado e ao pai dela que todos a bordo morreram.

Uma coluna de soldados com ar cansado marchou em direção ao Comandante e ao Lorde Negro. Vader olhou interrogativamente para eles.

— As fitas de dados não estão a bordo da nave. Não en­contramos nenhuma informação importante nos bancos de dados e nada indica que os bancos tenham sido apagados — recitou, me­canicamente, o chefe da tropa. — A nave também não realizou nenhuma transmissão externa desde o momento em que a locali­zamos. Uma nave de salvamento foi ejetada durante o combate, mas na ocasião foi constatado que não havia nenhuma forma de vida a bordo.

Vader pareceu pensativo.

"Pode ter sido um acidente", disse para si mesmo, "mas tal­vez a nave estivesse transportando as fitas. Estas não são formas de vida. Provavelmente, o nativo que as encontrasse não saberia o que são e trataria de apagá-las para usá-las novamente. Mesmo assim..."

— Mande um destacamento para a superfície, para recupe­rar as fitas ou certificar-se de que não estão na nave de salvamen­to — disse, finalmente, para o oficial. — Mas procure ser dis­creto; não é preciso atrair atenção, mesmo em um mundo miserá­vel como este.

Quando o oficial e os soldados se afastaram, Vader voltou-se para o Comandante:

— Desintegre esta nave. Não devemos deixar nenhuma pis­ta. Quanto à nave de salvamento, não nos podemos arriscar. As informações que estão naquelas fitas podem ser muito perigosas. Cuide disto pessoalmente, Comandante. Se as fitas existem, de­vem ser recuperadas ou destruídas, custe o que custar. — E, acres­centou, com satisfação: — Com as fitas e com a Senadora em nos­sas mãos, poderemos acabar com esta revolução absurda.

— Será feita a sua vontade, Lorde Vader — disse o Co­mandante.

E os dois homens entraram no túnel que levava ao cruzador.

 

— Que lugar desolado!

Pezero voltou-se lentamente para olhar o lugar onde a de salvamento estava meio enterrada na areia. Seus giroscópios ainda estavam meio instáveis por causa da aterragem. Aterragem! O simples uso do termo era um elogio imerecido para o compa­nheiro.

Pensando melhor, devia sentir-se grato por ainda estar intei­ro. Se bem que, pensou consigo mesmo estudando a paisagem inóspita, não tivesse certeza de que estava melhor ali do que se tivesse permanecido a bordo do cruzador capturado. De um lado, o horizonte era dominado por grandes mesas de arenito. Nas ou­tras três direções, uma série infindável de dunas se estendia até perder de vista, como imensos dentes amarelos. O oceano de areia se fundia com o brilho do céu até que se tornava impossível distinguir onde um começava e o outro terminava.

Uma nuvem tênue de minúsculas partículas de poeira acom­panhou os robôs quando eles se afastaram na nave de salvamento. O pequeno veículo já havia cumprido sua missão e não tinha mais qualquer utilidade. Nenhum dos dois robôs havia sido construído para viajar a pé neste tipo de terreno, de modo que caminhavam com dificuldade na superfície instável.

— Parece que nos construíram para sofrer — lamentou-se Pe­zero. — Já estou farto. — Alguma coisa rangeu em sua perna direita e ele estremeceu. — Preciso descansar antes que me acon­teça alguma coisa séria. Minhas engrenagens ainda não se recupe­raram daquela batida que você chamou de aterragem.

Pezero parou, mas Erredois Dedois não o imitou. O peque­no autômato havia mudado de direção e agora estava andando com passos lentos mas seguros rumo à mesa mais próxima.

— Ei! — gritou Pezero. Erredois o ignorou e continuou a caminhar — Aonde você pensa que vai?

Afinal Erredois parou, emitindo uma rajada de explicações ele­trônicas, enquanto Pezero se esforçava para alcançá-lo.

— Pois eu não vou naquela direção — declarou Pezero, de­pois que Erredois concluiu a explicação. — Pedras demais. — Fez um gesto na direção que estavam seguindo anteriormente, para longe das montanhas. — Por ali é muito mais fácil. — Uma mão metálica apontou, desanimada, para as altas mesas. — Afi­nal, o que faz você pensar que vai encontrar uma cidade naquela direção?

Um longo assovio saiu das profundezas de Erredois.

— Não adianta falar difícil comigo — preveniu Pezero. — Já estou farto de suas decisões.

Erredois soltou um silvo curto.

— Está bem, faça o que quiser — anunciou Pezero, cerimo-niosamente. — Você vai ficar entupido de areia, sua pilha de ferro-velho!

Deu em Erredois um empurrão desdenhoso, que fez o robô cair de uma pequena duna. Enquanto o outro lutava para se le­vantar, Pezero começou a caminhar em direção ao horizonte ofuscante, olhando para trás por cima do ombro.

— E não adianta vir atrás de mim, pedindo socorro — avi­sou — porque não vou ajudá-lo.

Atrás da duna, Erredois se pôs de pé. Parou por um instante para limpar seu único olho eletrônico com um braço auxiliar. En­tão soltou um guincho eletrônico que era quase uma expressão humana de raiva. Em seguida, zumbindo baixinho para si mes­mo, encaminhou-se para as encostas de arenito como se nada ti­vesse acontecido.

Várias horas depois, um exausto Pezero, o termostato quase no ponto máximo, os sistemas internos perigosamente superaque-cidos, chegou com esforço ao topo do que esperava que fosse a última duna. A seu lado, os ossos de um animal gigantesco consti­tuíam um mau presságio. Chegando ao cume da duna, Pezero olhou esperançoso para o outro lado. Ao invés do verde da civilização humana, tudo que viu foram dezenas e dezenas de dunas, idênti­cas em tudo às que acabara de atravessar. Algumas pareciam ain­da mais altas.

Pezero voltou-se e olhou para as montanhas agora distantes, quase invisíveis no horizonte.

— Seu boneco de lata — resmungou, incapaz de admitir para si mesmo que Erredois pudesse ter razão, uma vez que fosse. — É tudo culpa sua. Você me forçou a vir para este lado, mas ain­da vai me pagar.

O remédio era continuar. Pezero deu um passo à frente e ouviu um barulho estranho na articulação do joelho. Sentou-se e começou a tirar a areia das juntas emperradas.

Podia continuar na mesma direção, disse para si mesmo. Ou podia confessar seu erro e tentar alcançar Erredois Dedois. Ne­nhuma das possibilidades lhe agradava muito.

Mas havia uma terceira opção. Podia ficar sentado onde es­tava, brilhando ao sol, até que as juntas não funcionassem mais, o termostato enguiçasse e os raios ultravioletas queimassem seus fotorreceptores. Transformar-se-ia em mais um monumento ao po­der de destruição da estrela binária, como aquele organismo colos­sal cujos ossos acabara de encontrar.

Os receptores já estavam começando a se ressentir do excesso de claridade, pensou. Seria capaz de jurar que alguma coisa estava-se mexendo a distância. Provavelmente uma miragem. Não... não... era um reflexo metálico, e estava-se aproximando. Sentiu uma nova esperança. Ignorando a perna avariada, levantou-se e começou a acenar freneticamente.

Agora podia ver que se tratava de um veículo, embora de um tipo desconhecido. Mas era um veículo, e isso implicava em in­teligência e tecnologia.

Em seu entusiasmo, Pezero esqueceu-se de considerar a pos­sibilidade de que não fosse de origem humana.

 

— Então, desliguei o motor e mergulhei atrás de Deak — concluiu Luke, fazendo gestos frenéticos.

Ele e Biggs estavam passeando na sombra, do lado de fora da usina de força. De lá de dentro vinha o som de metal contra metal; Fixer havia afinal se decidido a trabalhar um pouco, lado a lado com o robô de manutenção.

— Estava tão perto dele — continuou Luke, excitado — que pensei que meus instrumentos iam derreter. Na verdade, o aerociclo ficou bastante danificado. — A lembrança o fez franzir o cenho. — Tio Owen não gostou nada da história. Proibiu-me de voar durante um ano. — A depressão de Luke durou pouco. A recordação da aventura o fez sorrir de novo. — Você precisava ter visto, Biggs!

— Devia tomar mais cuidado — advertiu o amigo. — Você pode ser o melhor piloto amador deste lado de Mos Eisley, Luke, mas esses pequenos aerociclos podem ser perigosos. São muito velozes para um veículo troposférico... velozes demais. Continue a fazer piruetas com eles e um dia, bum! — Biggs deu um soco na palma da outra mão. — Você não vai ser mais do que uma mancha escura na parede úmida de um desfiladeiro.

— Veja só quem está falando — retorquiu Luke. — Só por­que já andou em algumas naves interestelares, está ficando pare­cido com meu tio. As cidades amoleceram você.

Ameaçou golpear Biggs de brincadeira. O outro bloqueou fa­cilmente o golpe e fez o gesto de quem ia revidar. De repente, a expressão de Biggs se tornou mais séria e pessoal.

— Senti falta de você, garoto. Luke desviou o olhar, embaraçado.

— Por aqui as coisas também não são exatamente as mes­mas desde que você partiu, Biggs. Tudo tem estado tão... — Luke procurou a palavra certa e afinal concluiu, frustrado —... tão quieto. — Seu olhar percorreu as ruas desertas e poeirentas de Anchorhead. — Na verdade, isto aqui sempre foi quieto.

Biggs permaneceu calado, pensativo. Olhou em volta. Esta­vam sozinhos ali fora. Todos os outros haviam voltado ao rela­tivo conforto do interior da usina de força. Quando finalmente falou, foi com um tom solene a que Luke não estava acostumado.

— Luke, não voltei só para me despedir, ou para me exibir para os outros porque consegui entrar para a Academia. — Pa­receu hesitar, como se estivesse inseguro. Então falou rapidamen­te, antes que tivesse tempo de se arrepender. — Mas quero que alguém saiba. Não posso contar a meus pais.

Luke arregalou os olhos e só conseguiu balbuciar:

— Saber o quê? De que está falando?

— Estou falando do que estão dizendo na Academia, Luke... e em outros lugares. Coisas importantes. Fiz alguns novos ami­gos, gente de outros sistemas. Concordamos com o que certas pes­soas estão fazendo, e... — baixou a voz, conspiratoriamente —... quando chegarmos a um dos sistemas periféricos, vamos aban­donar a nave e juntar-nos à Aliança.

Luke olhou espantado para o amigo, tentou imaginar Biggs — o farrista, o despreocupado, o realista — como um patriota fer­voroso.

— Você vai passar para o lado da revolução? Deve estar brincando. Como?

— Fale mais baixo, está bem? — advertiu o amigo, olhando furtivamente na direção da usina de força. — Sua boca parece uma cratera.

— Desculpe — sussurrou Luke, rapidamente. — Agora es­tou falando baixo... escute como estou falando baixo. Mal pode ouvir o que estou dizendo...

Biggs interrompeu-o e continuou.

— Um amigo meu da Academia tem um amigo em Bestine que talvez nos possa colocar em contato com um destacamento re­belde.

— Um amigo de... você está doido! — anunciou Luke com convicção, certo de que o amigo estava delirando. — Você po­deria vagar eternamente pelo espaço sem encontrar uma base dos rebeldes. Quase todas não passam de mitos. E este amigo de um amigo pode muito bem ser um agente do Império. Você acabaria em Kessel, ou pior. Se fosse tão fácil assim encontrar as bases rebeldes, o Império já teria acabado com elas há muito tempo.

— Sei que vou correr um risco — admitiu Biggs com relu­tância. — Mas se não conseguir encontrá-los, então... — os olhos de Biggs se acenderam com uma luz estranha, uma combi­nação de uma maturidade recente e... algo mais —... então vou fazer o que puder, sozinho.

Olhou fixamente para o amigo.

"Luke, não vou esperar ser convocado pelo Império. A des­peito de tudo que você possa ouvir nos canais oficiais de informa­ções, a revolução está crescendo, ampliando-se. E quero estar do lado certo... do lado em que acredito. — Sua voz assumiu um tom desagradável, e Luke imaginou o que o amigo estaria vendo em sua mente.

"Deve ter ouvido algumas das histórias que eu ouvi, Luke, deve ter sabido de algumas das infâmias de que tive conhecimento. O Império pode ter sido uma coisa sublime, mas os governantes de hoje... — Biggs sacudiu a cabeça. — Está podre, Luke, podre.

— E eu não posso fazer nada — murmurou Luke, triste­mente. — Estou preso aqui. — E chutou com irritação a areia onipresente de Anchorhead.

— Pensei que estivesse para entrar na Academia — observou Biggs. — Se for assim, terá sua oportunidade de escapar deste monte de areia.

Luke sorriu ironicamente.

— Acho que não. Tive que desistir da matrícula. — Des­viou os olhos, sem poder sustentar o olhar incrédulo do amigo. — Tive que desistir. Os homens de areia, os tusken raiders, têm estado muito agitados desde que você partiu, Biggs. Chegaram a atacar os subúrbios de Anchorhead.

Biggs balançou a cabeça, rejeitando a explicação.

— Seu tio pode cuidar de um bando inteiro de assaltantes com uma única pistola de raios.

— Em casa, sim — concordou Luke. — Mas Tio Owen fi­nalmente conseguiu instalar um número suficiente de condensadores para fazer a fazenda produzir de verdade. Mas não pode tomar conta sozinho de toda aquela terra, e disse que precisa de mim por mais um ano. Não o posso abandonar agora.

Biggs assentiu tristemente.

— Sinto pena de você, Luke. Um dia vai ter que aprender a separar o que parece importante do que realmente é importante. —Fez um gesto circular. — De que adiantará todo o trabalho de seu tio, se o Império tomar conta de tudo? Ouvi dizer que estão começando a estatizar o comércio em todos os sistemas da perife­ria. Em pouco tempo, seu tio e todos os outros proprietários de Tatooine não passarão de escravos, trabalhando para maior glória do Império.

— Não vai acontecer aqui — objetou Luke, com uma con­fiança que não sentia. — Você mesmo disse... o Império não vai-se incomodar com este monte de areia.

— As coisas mudam, Luke. É apenas a ameaça da revolução que impede que os governantes cometam mais arbitrariedades. Se esta ameaça for totalmente removida... bem, existem duas coisas que o homem nunca será capaz de satisfazer: sua curiosidade e sua ambição. E os burocratas do Império não são muito curiosos.

Os dois ficaram calados por um longo tempo. Um remoinho de areia atravessou majestosamente a rua, desfazendo-se contra uma parede e lançando pequenas rajadas em todas as direções.

— Gostaria de ir com você — murmurou, finalmente, Luke. Olhou para o outro. — Vai ficar aqui muito tempo?

— Não. Na verdade, viajo amanhã de manhã para embarcar no Ecliptic.

— Então acho... acho que não nos vamos encontrar de novo.

— Talvez um dia — declarou Biggs. Sorriu subitamente, aquele sorriso irresistível. — Não vou esquecer-me de você, co­risco. Enquanto isso, evite as paredes dos desfiladeiros.

— Vou entrar para a Academia no ano que vem — insistiu Luke, mais para ele mesmo do que para Biggs. — Depois disso, quem sabe onde vou parar? — Parecia decidido. — Não vou ser convocado para a frota estelar, isto é certo. Cuide-se bem, Biggs. Você... você será sempre meu melhor amigo. — Não havia ne­cessidade de se apertarem as mãos. Os dois há muito tempo já haviam passado deste estágio.

— Adeus, então, Luke — disse simplesmente Biggs. E en­trou na usina de força.

Luke observou o amigo desaparecer no interior da usina, seus próprios pensamentos tão caóticos e frenéticos como uma das tem­pestades de areia de Tatooine.

 

A superfície de Tatooine apresenta várias peculiaridades inte­ressantes. Uma delas é a misteriosa neblina que brota regularmen­te do sol nos pontos em que as areias do deserto encontram as encostas das montanhas.

A neblina em um deserto escaldante parece tão deslocada quanto um cacto em uma geleira, mas sua existência é inegável. Geólogos e meteorologistas discutem interminavelmente a respeito da origem da neblina, formulando teorias improváveis que incluem depósitos de água em veios de arenito abaixo da areia e reações químicas incompreensíveis que fazem a água subir quando o solo esfria e descer novamente pára o subsolo com o nascer do duplo sol. Mas a verdade é que o fenômeno existe.

Mas nem a neblina nem os estranhos gemidos dos habitantes noturnos do deserto incomodavam Erredois Dedois quando este escolhia cuidadosamente o caminho ao longo do leito rochoso de um regato, procurando o acesso mais fácil para o topo da mesa. Os pés retangulares começaram a arrancar um som seco do solo quando a areia foi-se transformando gradualmente em cascalho.

O robô parou por um momento. Pareceu detectar um ruído à frente, um ruído de metal contra pedra, não de pedra contra pe­dra. Mas como o som não se repetiu, reiniciou a subida.

Rio acima, longe demais para ser avistada pelo robô, uma pe­dra se desprendeu da encosta. O pequeno vulto que havia desa­lojado acidentalmente a pedra se refugiou nas sombras. Dois pon­tos brilhantes de luz apareciam por baixo das dobras da capa cas­tanha, a um metro de distância da parede de pedra.

Apenas a reação do robô desprevenido revelou a presença do raio que o atingiu. Por um momento, Erredois Dedois brilhou fantasmagoricamente, soltando um pequeno grito eletrônico. Então, as pernas se vergaram e o pequeno autômato caiu de costas, as luzes da cabeça piscando erraticamente sob os efeitos do raio paralisador.

Três arremedos de homens surgiram de trás das pedras. Os movimentos lembravam mais os de roedores do que os de huma­nos, e eram apenas um pouquinho mais altos do que Erredois. Quando viram que o raio de energia havia imobilizado o robô, guardaram as estranhas pistolas. Mesmo assim, aproximaram-se da máquina inerte com muita cautela, com a hesitação de covardes he­reditários.

Os mantos que usavam tinham uma grossa camada de poeira e areia. Os pequenos olhos vermelhos brilhavam intensamente nas profundezas dos capuzes enquanto examinavam o cativo. Os jawas conversavam através de sons guturais, que pareciam uma caricatura da fala humana. Se, como achavam alguns antropólogos, descen­diam dos humanos, há muito haviam degenerado de tal forma que pouco tinham em comum com a raça humana.

Vários outros jawas apareceram. Alternadamente empurrando e puxando o robô, conseguiram arrastá-lo até o pé da encosta.

Na base da montanha, como um monstro pré-histórico, estava uma máquina tão grande que fazia seus donos e operadores pare­cerem minúsculos. Tinha dezenas de metros de altura e movia-se sobre lagartas que eram mais altas do que um homem. A epiderme de metal estava cheia de cicatrizes, resultado de incontáveis tempestades de areia.

Chegando ao veículo, os jawas começaram a discutir anima­damente. Erredois Dedois podia ouvir o que diziam, mas não con­seguia compreender nada. E não era de admirar. Apenas um jawa era capaz de compreender outro jawa, pois a língua que falavam variava aleatoriamente, para desespero dos filólogos.

Um deles retirou um pequeno disco de um bolso no cinto e prendeu-o ao corpo de Erredois. Um grande tubo saía do veículo gigantesco. Os jawas rolaram o robô até a ponta do tubo e se afastaram. Houve um breve gemido, o sussurro de um vácuo po­deroso, e o pequeno robô foi tragado para as entranhas do veículo. Completada esta parte do trabalho, os jawas conversaram mais um pouco e depois entraram todos no veículo, como um bando de ra­tos voltando a seus buracos.

O tubo de sucção depositou Erredois em um pequeno compartimento cúbico. Além de várias pilhas de instrumentos que­brados e pedaços de metal, a prisão era populada por uma dúzia de robôs de várias formas e tamanhos. Uns poucos estavam con­versando. Outros andavam sem destino. Mas quando Erredois caiu dentro da câmara, um dos robôs deu um grito de surpresa.

— Erredois Dedois... é você, é você! — exclamou Pezero de um canto da cela. Correu para o pequeno robô, ainda parali­sado, e abraçou-o de forma quase humana. Reparando no pequeno disco preso ao corpo de Erredois, Pezero olhou para o próprio pei­to, onde havia sido colocado um dispositivo idêntico.

Imensas engrenagens, mal lubrificadas, começaram a girar. Com gemidos e rangidos, o grande veículo fez a volta e mergulhou lentamente na noite do deserto.

 

A LUSTROSA mesa de conferências era tão fria e inflexível quan­to o ânimo dos oito senadores do Império que se reuniam em tor­no dela. Soldados do Império guardavam a entrada da sala, que era discretamente iluminada por algumas lâmpadas montadas nas pa­redes e na própria mesa. Um dos mais jovens dos oito estava fa­lando. Tinha as maneiras de alguém que subiu depressa na vida. por métodos que seria melhor não examinar muito de perto. O General Tagge era inteligente para algumas coisas, mas esta qua­lidade não teria sido suficiente para guindá-lo à posição atual. Ou­tros talentos menos louváveis também haviam contribuído subs­tancialmente.

Embora seu uniforme fosse impecável e seu corpo estivesse tão limpo como os dos outros ocupantes da sala, nenhum dos sete gos­taria de tocá-lo. Ele exalava um ar de podridão, mais adivinhada do que sentida pelos outros. Apesar disso, muitos o respeitavam. Ou o temiam.

— Estou-lhes dizendo, desta vez ele foi longe demais — in­sistia o General, com veemência. — Este Lorde de Sith que o Imperador nos impôs ainda será a nossa desgraça. Até que a base espacial esteja funcionando, continuaremos vulneráveis. Alguns de vocês parecem não perceber que a Aliança rebelde está muito bem organizada e equipada. Eles dispõem de naves excelentes e de pi­lotos melhores do que os nossos. E são movidas por algo mais poderoso do que simples motores; pelo fanatismo perverso, rea­cionário dos ocupantes. São muito mais perigosos do que vocês pensam.

Um oficial mais velho, com cicatrizes tão profundas no rosto que nenhuma cirurgia plástica seria capaz de disfarçar, mexeu-se nervosamente na cadeira.

— Perigosos para a sua frota estelar, General Tagge, mas não para esta base espacial. — Correu os olhos em volta da mesa. — Acho que Lorde Vader sabe o que está fazendo. A revolução con­tinuará enquanto esses covardes dispuserem de um abrigo, de um lugar onde os pilotos possam descansar e as máquinas possam ser consertadas.

— Discordo de você, Romodi — objetou Tagge. — Acho que a construção desta base se deve mais ao desejo do Governador Tarkin de aumentar seu poder e prestígio do que a qualquer estra­tégia militar justificável. Dentro do Senado, os rebeldes continua­rão a conquistar seguidores enquanto...

O general foi interrompido pelo ruído da porta se abrindo e. dos soldados se colocando em posição de sentido. Todos olharam para a entrada.

Dois indivíduos tão diferentes de aparência quanto semelhan­tes nos objetivos entraram na sala. Um deles era um homem ma­gro e feio, cujo perfil e cabelo se assemelhavam aos de uma vas­soura velha e que tinha no rosto a expressão de uma ave de rapina. Moff Tarkin, governador de vários territórios na periferia do Im­pério, parecia um anão ao lado de Lorde Darth Vader.

Tagge voltou resignadamente a seu lugar, enquanto Tarkin sentou-se à cabeceira da mesa de conferências. Vader sentou-se a seu lado. Tarkin olhou na direção de Tagge durante um minuto, depois afastou os olhos como se o outro fosse transparente. Tagge ficou furioso mas não disse nada.

Enquanto o olhar de Tarkin percorria a mesa, um fino sorriso de satisfação permanecia imóvel em seus lábios.

— O Senado do Império não nos interessa mais, cavalheiros. Acabo de receber a notícia de que o Imperador dissolveu de forma definitiva este corpo decadente.

As palavras do governador foram recebidas com um murmú­rio geral de surpresa.

— Os últimos restos da Velha República — continuou Tar­kin — foram finalmente eliminados.

— Mas não é possível! — protestou Tagge. — Como o Im­perador vai controlar a burocracia do Império?

— É preciso que compreendam que a instituição do Senado não foi formalmente abolida — explicou Tarkin. — Apenas o Senado ficará em recesso enquanto — o sorriso aumentou — en­quanto durar a emergência. Os governadores regionais agora terão carta branca para administrar seus territórios. Isto significa que finalmente poderemos levar a ordem a todos os mundos do Império. De agora em diante, o medo se encarregará de manter na linha os contestadores do regime. Medo da frota do Império... e medo desta base espacial.

— E a revolução em curso? — quis saber Tagge.

— Se os rebeldes conseguissem os planos desta base espacial, é remotamente possível que pudessem usá-los contra nós. — O rosto de Tarkin assumiu uma expressão de despeito. — Natural­mente, todos nós sabemos que os planos estão muito bem guarda­dos. Não vão cair nas mãos dos rebeldes.

— Os planos a que você se refere — interveio Vader, com voz zangada — logo serão recuperados. Se...

Tarkin interrompeu o Lorde Negro, algo que ninguém mais na sala teria coragem de fazer.

— Não importa. Qualquer ataque dos rebeldes à base seria um gesto suicida, suicida e inútil... quaisquer que sejam as in­formações de que disponham. Depois de longos anos de constru­ção em segredo — declarou, com prazer evidente — esta base se tornou um elemento decisivo nesta parte no Universo. Os acon­tecimentos nesta região da galáxia não serão mais determinados pelo destino, pelas leis ou por qualquer outro fator. Serão deci­didos por esta base!

Uma grande mão enluvada fez um leve gesto e um dos co­pos sobre a mesa deslizou lentamente em sua direção. O Lorde Negro prosseguiu, em tom de censura.

— Não confie demais neste terror tecnológico que você criou, Tarkin. A capacidade de destruir uma cidade, um mundo, todo um sistema é insignificante comparada com a força.

— A Força — repetiu Tagge com desdém. — Não nos ten­te assustar com seus truques de feitiçaria, Lorde Vader. Sua triste devoção àquela mitologia antiga não o ajudou a encontrar as fitas roubadas, ou a localizar o esconderijo dos rebeldes. Acho muito engraçado que...

De repente, os olhos de Tagge se arregalaram, ele levou as mãos à garganta e começou a ficar roxo.

— Sua falta de confiança me deixa contrariado — observou Vader, sem levantar a voz.

— Chega — interveio Tarkin, preocupado. — Vader, dei­xe-o em paz. Não adianta ficarmo-nos acusando mutuamente.

Vader encolheu os ombros, como se não estivesse interessado na sorte de Tagge. O general se sentou pesadamente, esfregando a garganta, sem tirar os olhos do gigante negro.

— Lorde Vader nos fornecerá a localização do esconderijo dos rebeldes assim que esta base espacial entrar em funcionamento — declarou Tarkin. — Em seguida, poderemos arrasá-la, esmagando esta revolução patética com um único golpe.

— Será feita a vontade do Imperador — acrescentou Vader, com sarcasmo.

Se algum dos homens poderosos sentados à mesa não gostou da forma desrespeitosa como Vader se referiu ao Imperador, um olhar para Tagge foi suficiente para dissuadi-lo de protestar.

 

A escura prisão tinha cheiro de óleo rançoso e lubrificantes velhos, era um verdadeiro cemitério de máquinas. Pezero procurou suportar a desagradável atmosfera o melhor que podia. O veículo sacudia bastante, e ele tinha que estar permanentemente em guarda para não ser atirado contra as paredes ou contra outro robô.

Para poupar energia —- e também para se livrar da torrente de lamentações do companheiro — Erredois Dedois havia desliga­do todas as funções externas. Jazia inerte no meio de um monte de peças velhas, ignorando tudo o que se passava em volta.

— Quando é que isto vai acabar? — gemeu Pezero, quan­do outra sacudidela violenta fez os ocupantes da prisão estreme­cerem. O robô já havia imaginado e rejeitado meia centena de desfechos horripilantes. Só sabia de uma coisa: o que fariam com eles seria pior do que qualquer coisa que pudesse imaginar.

Nesse instante, ocorreu uma coisa ainda mais assustadora do que os solavancos: o veículo parou, quase como em resposta às in­dagações de Pezero. Os robôs que ainda conservavam algum ves­tígio de consciência começaram a falar baixinho, especulando a res­peito de sua localização atual e seu provável destino.

Pelo menos Pezero não estava totalmente no escuro a res­peito dos captores. Os cativos locais haviam-lhe contado alguma coisa a respeito dos jawas. Viajando em imensos veículos, que ao mesmo tempo serviam de casa e de fortaleza, percorriam as re­giões mais inóspitas de Tatooine em busca de minérios valiosos... e também de máquinas aproveitáveis. Ninguém jamais os havia visto sem as capas e capuzes, de modo que ninguém conhecia exa­tamente o seu aspecto. Mas tinham fama de ser extremamente feios. Pezero estava convencido de que a fama lhes fazia justiça.

Ajoelhando-se ao lado do companheiro ainda imóvel, começou a sacudi-lo. As luzes da cabeça de Erredois começaram a se acen­der, uma por uma.

— Acorde, acorde! — disse Pezero. — Estamos parados! — Como vários outros robôs, começou a examinar com os olhos as paredes de metal, à espera de que um painel oculto se abrisse a qualquer momento, dando passagem a um gigantesco braço mecâ­nico. — Estamos perdidos, amigo — lamentou-se o robô enquan­to Erredois se levantava, já totalmente ativado. — Acha que nos vão fundir? — Ficou pensativo por alguns instantes, depois acres­centou: — É esta espera que me mata!

De repente, a parede dos fundos da cela se abriu e o brilho cegante da manhã de Tatooine encheu o compartimento. Os sen­síveis fotorreceptores de Pezero quase não tiveram tempo de se ajustar para não serem queimados.

Vários dos repulsivos jawas entraram agilmente no comparti­mento, ainda vestidos da mesma forma que antes. Levavam na mão estranhas pistolas, que usaram para cutucar as máquinas. Al­gumas delas, observou Pezero com um arrepio mental, nem se moveram.

Ignorando os robôs imóveis, os jawas levaram para fora os que ainda eram capazes de se locomover, entre eles Erredois e Pezero. Os dois foram colocados em fila com os outros.

Protegendo os olhos contra a claridade, Pezero examinou as pequenas cúpulas e condensadores que revelavam a presença de uma habitação humana no subsolo. Embora não estivesse familiarizado com este tipo de construção, tudo indicava tratar-se de uma casa modesta. A idéia de ser desmontado ou de trabalhar o resto da vida como escravo em uma mina desapareceu lentamente. Pezero sentiu as esperanças voltarem.

— Talvez haja uma saída para nós, afinal de contas — mur­murou para Erredois. — Se conseguirmos convencer esses bípedes parasitas a nos deixarem aqui, poderemos trabalhar de novo para os humanos, em vez de sermos transformados em escória.

A única resposta de Erredois foi um silvo ambíguo. As má­quinas fizeram silêncio quando os jawas começaram a circular no meio delas, tentando endireitar um pobre robô com a espinha tor­ta, disfarçar uma amassadela aqui, limpar uma peça ali.

Quando dois deles se aproximaram e começaram a limpar-lhe a pele coberta de areia, Pezero sentiu-se nauseado. Uma das fun­ções que tinha em comum com os humanos era a capacidade de reagir a odores desagradáveis. Aparentemente, os jawas não conhe­ciam nenhum princípio de higiene.

Pequenos insetos circulavam em volta das cabeças dos jawas, que os ignoravam. Aparentemente os insetos eram considerados como uma espécie de apêndice.

Pezero estava tão distraído observando os jawas que não no­tou que duas pessoas haviam saído da cúpula maior e estavam-se encaminhando para eles. Erredois teve que bater-lhe de leve no braço para que olhasse.

O primeiro homem tinha um ar de perpétua exaustão gravado no rosto por muitos anos de luta contra um ambiente hostil. Os cabelos grisalhos estavam em desalinho. A poeira estava incrusta­da indelevelmente em seu rosto, em suas roupas, em suas mãos e em seus pensamentos. Mas o corpo ainda era forte.

Franzino em comparação com o tio, Luke caminhava com os ombros curvados, parecendo mais desanimado do que cansado. Es­tava imerso em pensamentos, mas estes nada tinham que ver com agricultura. Pensava no que fazer do resto da vida, e na decisão que seu melhor amigo havia tomado, de partir do planeta para uma vida mais perigosa e mais compensadora.

O tio de Luke parou diante das máquinas e iniciou um curio­so diálogo com o chefe dos jawas. Quando queriam, os jawas eram capazes de se fazerem compreender.

Luke ficou parado ao lado do tio, escutando a conversa com indiferença. Então acompanhou o tio quando este começou a ins­pecionar as máquinas, parando apenas para murmurar uma pala­vra ocasional para o sobrinho. Era difícil prestar atenção, embora Luke soubesse que devia estar aprendendo.

— Luke... oh, Luke! — chamou alguém. Afastando-se do grupo no momento em que o chefe dos jawas enumerava as virtudes incomparáveis das máquinas e o tio reagia com um sorriso de escárnio, Luke caminhou até a entrada da casa subterrânea e olhou para baixo.

Uma mulher corpulenta estava arrumando algumas plantas de­corativas. Olhou para Luke.

— Diga a Owen que, se comprar um tradutor, deve escolher um que fale bocce, Luke.

Luke olhou por cima do ombro para a triste coleção de má­quinas cansadas.

— Parece que não temos muita escolha — observou. — Mas pode deixar que vou dar o recado.

Despedindo-se com um sorriso, voltou para onde estava o tio.

Aparentemente, Owen Lars já havia tomado uma decisão, es­colhendo um pequeno robô para trabalhos de agricultura. Tinha uma forma parecida com a de Erredois Dedois, mas seus braços múltiplos podiam executar várias tarefas diferentes. Obedecendo a um comando do jawa, o robô saiu da fila e seguiu atrás de Owen.

Chegando ao final da fila, o fazendeiro franziu os olhos ao deparar com a pele suja de areia mas ainda reluzente do elegante Pezero.

— Acho que sei o que você faz — rosnou para o robô. — Entende de etiqueta?

— Se entendo de etiqueta? — repetiu Pezero, enquanto o fazendeiro o examinava de cima a baixo. Em matéria de dourar a pílula, Pezero estava disposto a suplantar os jawas. — Se en­tendo de etiqueta! Ora, é a minha função principal. Eu também sou muito bom para...

— Não preciso de um robô de etiqueta — observou seca­mente o fazendeiro.

— Claro que não — concordou, rapidamente, Pezero. — Compreendo perfeitamente sua posição. Em um clima como este, quem precisa de etiqueta? Para alguém dos seus interesses, um robô de etiqueta seria dinheiro jogado fora. Não senhor... versa­tilidade é o meu nome. Vecetrês Pezero... Vê de versatilidades... às suas ordens. Fui programado para mais de trinta funções se­cundárias, de modo que...

— O que preciso — interrompeu o fazendeiro, demonstran­do um desinteresse total pelas funções secundárias ainda não enu­meradas de Pezero — é de um robô que saiba alguma coisa a res­peito da linguagem binária dos condensadores programáveis.

— Condensadores! Nós dois estamos com sorte — replicou Pezero. — Já trabalhei em programação de guindastes. Os me­canismos e a estrutura lógica são muito parecidos com os dos seus condensadores. Na verdade, as diferenças são tão pequenas que...

Luke bateu no ombro do tio e sussurrou-lhe alguma coisa no ouvido. O tio assentiu e olhou de novo para Pezero.

— Você sabe falar bocce?

— Naturalmente — respondeu Pezero, satisfeito por poder finalmente responder com inteira honestidade. — É como uma segunda língua para mim. Falo bocce tão bem quanto...

O fazendeiro parecia decidido a não permitir jamais que ele concluísse uma frase.

— Cale a boca. — Owen Lars olhou para o jawa. — Fico com este, também.

— Já estou calado, senhor — respondeu Pezero depressa, pro­curando esconder a alegria que sentia por ter sido escolhido.

— Leve-os para a garagem, Luke — disse o tio. — Quero ver os dois limpos até a hora do jantar.

Luke olhou de soslaio para o tio.

— Mas eu ia até a estação de Tosche buscar os novos con­versores e...

— Não minta para mim, Luke — advertiu o tio severamente. — Não me incomodo de que você perca tempo com seus amigos vadios, mas o trabalho vem em primeiro lugar. Agora mãos à obra... e quero ver tudo pronto antes do jantar.

Luke baixou os olhos e voltou-se para Pezero e o pequeno robô agrícola. Sabia que não adiantava discutir com o tio.

— Sigam-me, vocês dois.

Os três se dirigiram para a garagem, enquanto Owen come­çava a discutir o preço com o jawa.

Outros jawas estavam levando as máquinas restantes de volta para o veículo quando uma delas soltou um silvo quase patético. Luke voltou-se a tempo de ver Erredois sair da fila e correr em sua direção. Foi imediatamente contido por um jawa, que acionou um dispositivo de controle ligado ao disco que havia sido implan­tado no corpo do robô.

Luke examinou o robô com curiosidade. Pezero começou a dizer alguma coisa, considerou as circunstâncias e mudou de idéia. Permaneceu calado, olhando fixamente para o horizonte.

Um minuto depois, alguma coisa caiu no chão ao lado de Luke. Olhando para baixo, o rapaz viu que o topo da cabeça do robô agrícola estava faltando. A máquina começou a fazer um ruí­do estranho. Segundos depois, vários componentes internos esta­vam espalhados no solo arenoso.

Abaixando-se, Luke olhou para dentro do autômato e gritou:

— Tio Owen! O servomotor central do robô agrícola ficou louco. Veja... — Enfiou a mão, tentando ajustar a peça, mas retirou-a depressa quando a máquina começou a soltar fagulhas. O cheiro de isolamentos queimados e circuitos corroídos encheu o ar puro do deserto com um odor pungente de morte mecânica.

Owen Lars fuzilou o jawa com os olhos.

— Que lixo é este que você está tentando empurrar-me?

O jawa respondeu em tom indignado, dando ao mesmo tem­po vários passos para trás. Preocupava-o o fato de que o homem estava entre ele e a segurança do veículo.

Enquanto isso, Erredois Dedois havia conseguido afastar-se do grupo de máquinas que estavam sendo levadas de volta para a fortaleza móvel, enquanto os jawas prestavam atenção na discussão entre o chefe e o tio de Luke.

Como seus braços não eram suficientemente compridos para acenar, Erredois decidiu soltar um silvo agudo, que interrompeu assim que percebeu que havia atraído a atenção de Pezero.

Batendo de leve no ombro de Luke, o alto robô sussurrou-lhe no ouvido, em tom conspira tório:

— Se me permite, senhor, aquele Erredois é um ótimo ne­gócio. Está como novo. Aquelas criaturas não fazem idéia de quanto vale. Não se deixe enganar por toda aquela areia e poeira.

Luke estava acostumado a tomar decisões instantâneas — para o melhor ou para o pior.

— Tio Owen! — gritou.

Interrompendo a discussão, o tio olhou rapidamente para ele. Luke apontou para Erredois Dedois.

— Não queremos criar confusão. Que tal trocarmos este por aquele? — indagou o rapaz, mostrando o robô agrícola enguiçado.

Owen examinou Erredois com olhos de entendido, depois voltou-se para os jawas. Embora fossem covardes por natureza, os pequenos abutres do deserto às vezes podiam reagir. E o veí­culo deles era suficientemente pesado para causar um estrago con­siderável.

Tomando uma decisão, Owen reiniciou a discussão apenas para não dar o braço a torcer, antes de concordar com cara amar­rada. O chefe dos jawas concordou relutantemente com a troca, e os dois suspiraram mentalmente de alívio por terem evitado um confronto direto. Enquanto Owen pagava o preço combinado, Luke levava os dois robôs para uma abertura no chão. Segundos depois, estavam descendo por uma rampa protegida da areia por repulsores eletrostáticos.

— Não consigo entender — murmurou Pezero para Erredois — por que arrisquei meu pescoço por você, que só me traz pro­blemas.

A rampa terminava em uma garagem, que estava cheia de fer­ramentas e máquinas agrícolas desmontadas. Muitas pareciam bas­tante gastas, algumas praticamente inutilizadas. Mas a luz artifi­cial era reconfortante para os dois robôs, e o aposento prometia uma tranqüilidade que as duas máquinas não experimentavam há muito tempo. Perto do centro da garagem havia um grande tan­que, e o aroma que saía dele era um perfume delicioso para os sen­sores olfativos de Pezero.

Luke sorriu, notando a reação do robô.

— Isso mesmo, é um tanque de óleo — examinou o robô com um olhar crítico. — E ao que parece, você devia ficar dentro dele durante uma semana. Mas vai ter que se contentar com uma tarde. — Então Luke voltou sua atenção para Erredois Dedois, abrindo um painel no corpo do pequeno robô que escondia vários indicadores. — Quanto a você — prosseguiu, com um assovio de surpresa — não sei como ainda está andando. Também, os jawas detestam gastar mais energia do que o absolutamente necessário.

Hora de recarregar. — Fez um gesto em direção a uma grande unidade de força.

Erredois Dedois acompanhou o gesto de Luke, soltou um sil­vo agudo e se aproximou do aparelho. Depois de encontrar a to­mada apropriada, abriu um painel e enfiou os três pinos na cabeça.

Pezero se havia aproximado do grande tanque, que estava cheio quase até a borda com um perfumado óleo de limpeza. Com um suspiro praticamente humano, mergulhou lentamente no tanque.

— Vocês dois se comportem — advertiu Luke, encaminhando-se para um aerociclo de dois lugares. A pequena espaçonave suborbital estava estacionada em um canto da garagem-oficina. — Tenho trabalho a fazer.

Infelizmente, os pensamentos de Luke ainda estavam concen­trados no último encontro com Biggs, de modo que horas depois ainda não havia feito praticamente nada. Pensando na partida do amigo, Luke estava acariciando o leme esquerdo danificado do ae­rociclo, o leme que havia avariado enquanto perseguia um caça imaginário em um tortuoso desfiladeiro, acabando por raspar em uma pedra saliente.

De repente, alguma coisa explodiu dentro de Luke. Com vio­lência inusitada, atirou longe uma chave inglesa.

— Não é justo! — declarou, para ninguém em particular. Baixou a voz, desconsolado. — Biggs tem razão. Nunca vou sair daqui. Ele vai participar de uma revolução contra o Império, e eu estou preso nesta droga de fazenda.

— Com licença, senhor.

Luke virou a cabeça, assustado, mas era apenas o robô mais alto, Pezero. Sua aparência havia mudado consideravelmente. A liga cor de bronze parecia como nova, depois do banho de óleo.

— Posso fazer alguma coisa para ajudar? — perguntou o robô, solicitamente.

Luke olhou para a máquina e percebeu que sua raiva havia diminuído. Não adiantava gritar desaforos para um robô.

— Duvido muito — respondeu — a menos que você possa mudar o clima e apressam a colheita. Ou me teletransportar para longe deste planeta poeirento, debaixo do nariz de Tio Owen.

Mesmo um robô sofisticado nem sempre é capaz de perceber quando um humano está sendo irônico, de modo.que Pezero con­siderou a pergunta objetivamente antes de responder:

— Acho que não, senhor. Sou apenas um andróide de ter­ceira classe e não sei muita coisa a respeito de física transatômica. — De repente, os acontecimentos dos dois últimos dias pareceram voltar à tona. — Na verdade, senhor — prosseguiu Pezero, olhando em torno com novos olhos — nem mesmo sei em que plane­ta estou.

Luke riu sardonicamente.

— Se existe uma zona elegante do Universo, você está mui­to longe dela.

— Sim, Sr. Luke.

O rapaz sacudiu a cabeça, irritado.

— Esqueça o “senhor”... chame-me apenas de Luke. E o nome deste planeta é Tatooine.

Pezero assentiu.

— Obrigado, S... Luke. Meu nome é Cetrês Pezero, es­pecialista em relações homem-robô. — Fez um gesto casual em direção à unidade de força. — Aquele é o meu amigo Erredois Dedois.

— Prazer em conhecê-lo, Pezero — disse Luke, amavelmente. — Você também, Erredois.

Atravessando a garagem, o rapaz olhou para um indicador no painel frontal da máquina e deu um murmúrio de satisfação. Quan­do estava desligando o fio de alimentação, viu uma coisa que o fez franzir a testa e aproximar-se mais.

— Alguma coisa errada, Luke? — perguntou Pezero. Luke foi até um armário de ferramentas e escolheu um pe­queno instrumento com várias pontas.

— Ainda não sei, Pezero.

Voltando à unidade de força, Luke curvou-se e começou a raspar a cabeça de Erredois com uma das pontas da ferramenta. De vez em quando, virava a cabeça para proteger-se dos pedacinhos de metal corroído que voavam para o ar.

Pezero ficou observando com interesse o trabalho de Luke.

— O metal foi fundido em alguns pontos. Parece que vocês dois passaram por maus pedaços.

— É verdade, senhor — admitiu Pezero, esquecendo-se das recomendações de Luke. Mas desta vez o rapaz estava distraído com outra coisa e não o corrigiu. — Às vezes, fico espantado de termos escapado quase ilesos. — E acrescentou, pensativo, en­quanto ainda procurava esquivar-se à pergunta de Luke: — Afinal, com a revolução e tudo...

A despeito de sua cautela, Pezero teve a impressão de que havia dito algo que não devia, pois os olhos de Luke brilharam instantaneamente.

— Você sabe que existe uma revolução contra o Império? — perguntou.

— De certa forma — confessou Pezero com relutância — estamos aqui graças à revolução. Somos refugiados, sabe? — Ele não disse refugiados de onde.

— Refugiados! Então eu vi uma batalha espacial — falou Luke, excitado. Diga-me onde estava. Conte-me tudo que viu. Como vai a revolução? O Império está preocupado? Viu muitas naves serem destruídas?

— Mais devagar, por favor — suplicou Pezero. — O senhor não compreendeu bem. Éramos espectadores inocentes. Na ver­dade, nunca tivemos nada que ver com a revolução. Quanto a ba­talhas, estivemos em várias, penso eu. É difícil de dizer, quando não se está em contato direto com o sistema de tiro. Fora isso, não tenho muito para contar. Lembre-se, senhor, de que sou pou­co mais do que um intérprete. Não fui fabricado para contar his­tórias, e muito menos para enfeitá-las. Sou uma máquina muito literal.

Luke afastou-se, desapontado, e continuou a limpar Erredois Dedois. Depois de esfregar um pouco mais, descobriu uma coisa curiosa. Um pequeno fragmento metálico estava alojado firmemen­te entre duas peças que normalmente estariam em contato. Lar­gando o pequeno instrumento, Luke foi buscar uma ferramenta maior.

— É, meu amiguinho — murmurou — essa coisa está dura de tirar. — Enquanto fazia força, Luke voltou para Pezero. — Você estava em um cargueiro estelar ou...

O fragmento de metal se soltou de repente e Luke caiu sen­tado no chão. O rapaz se pôs de pé e abriu a boca para soltar um palavrão... mas ficou parado, estático.

A cabeça de Erredois começou a brilhar, projetando uma ima­gem tridimensional com menos de trinta centímetros de lado, mas definida com precisão. A cena que se formou dentro deste cubo era tão exótica que em dois minutos Luke descobriu que estava sufocando, porque tinha-se esquecido de respirar.

A despeito de sua nitidez superficial, a imagem piscava e tre­mia, como se a gravação tivesse sido feita e instalada às pressas. Luke olhou para as cores estranhas que estavam sendo projetadas na atmosfera prosaica da garagem e começou a formular uma per­gunta, mas não chegou a terminá-la. Os lábios da imagem se mo­veram e a mulher falou — ou por outra, pareceu falar. Luke sa­bia que a trilha sonora estava sendo gerada em alguma parte do corpo de Erredois Dedois.

— Velhi-ban Kenobi — implorou a voz roucamente. — Aju­de-me! O senhor é a única esperança que me resta! — Um surto de estática fez desaparecer temporariamente a imagem. Então ela se firmou de novo e a voz repetiu: — Velhi-ban Kenobi, o senhor é a única esperança que me resta.

O holograma continuou. Luke ficou imóvel por muito tem­po, pensando no que estava vendo, depois piscou e dirigiu-se para Erredois Dedois.

— O que quer dizer tudo isso, Erredois Dedois?

O pequeno robô mudou ligeiramente de posição, fazendo mo­ver o retrato cúbico com ele, e respondeu com um tímido zumbido. Pezero parecia tão surpreso quanto Luke.

— O que é isso? — perguntou incisivamente, apontando para o retrato falado e depois para Luke. — Você ouviu a pergunta. O que é isso? Como está sendo gerado, e por quê?

Erredois soltou um silvo de surpresa, como se tivesse acabado de notar a existência do holograma. Mas prosseguiu com uma tor­rente de informações eletrônicas.

Pezero digeriu os dados, tentou franzir o cenho, não conse­guiu, e procurou transmitir a própria confusão através do tom de voz.

— Ele insiste em que não é nada, senhor. Apenas um de­feito... dados antigos. Uma fita que devia ter sido apagada há muito tempo. Nada de importante. Pede para esquecermos o in­cidente.

Era como dizer a Luke para ignorar um oásis no meio do deserto.

— Quem é ela? — perguntou o rapaz, olhando extasiado para o holograma. — Como é linda!

— Juro que não sei quem é — disse Pezero, com toda a ho­nestidade. — Talvez uma passageira em nossa última viagem. Pelo que me lembro, levávamos uma mulher muito importante. Talvez tenha alguma coisa que ver com o fato de que nosso capitão era adido do...

Luke interrompeu-o, saboreando a forma como os lábios sen­suais repetiam a frase.

— A gravação é só isso? Parece que está incompleta. Luke aproximou-se de Erredois. O robô recuou e emitiu assovios tão frenéticos que Luke hesitou e desistiu de mexer nos controles internos do robô. Pezero estava chocado.

— Comporte-se, Erredois — disse finalmente para o com­panheiro, em tom de censura. — Está criando problemas para nós dois. — E imaginou que Luke se havia aborrecido com eles e os devolveria aos jawas, o que foi suficiente para fazê-lo estremecer.

— Ele agora é o nosso amo — disse Pezero, apontando para Luke.

— Pode confiar nele. Sei que não vai deixar que nada de mal nos ocorra.

Dedois pareceu hesitar. Então emitiu um verdadeiro concerto de silvos e chiados para o amigo.

— Então? — perguntou Luke, impaciente. Pezero pensou um pouco antes de responder.

— Ele está dizendo que é propriedade de um certo Velhi-ban Kenobi, que reside neste planeta. Na verdade, mora perto daqui. O fragmento que estamos vendo e ouvindo é parte de uma men­sagem particular para esta pessoa. — Pezero sacudiu a cabeça lentamente. — Sinceramente, senhor, não sei do que Erredois está falando. Nosso último amo foi o Capitão Colton. Nunca ouvi Er­redois falar de um outro senhor, e muito menos desse tal Velhi-ban Kenobi. Mas depois de tudo que passamos — concluiu, em tom de quem pede desculpas — pode ser que os circuitos lógicos do meu amigo estejam meio confusos. Às vezes ele se comporta de uma forma decididamente estranha.

E enquanto Luke procurava assimilar as novas informações, Pezero aproveitou a oportunidade para dirigir ao amigo um olhar furioso.

— Velhi-ban Kenobi — repetiu Luke, pensativo. De repente, seu rosto se iluminou. — Ei... pode ser que ele esteja falando do Velho Ben Kenobi.

— Desculpe, senhor — interveio Pezero, espantado — mas realmente conhece uma pessoa com este nome?

— Não exatamente — admitiu o rapaz. — Não conheço nin­guém chamado Velhi-ban... mas o Velho Ben vive na orla do Cam­po de Dunas de Oeste. É um tipo excêntrico... um eremita. Tio Owen e outros fazendeiros dizem que é um feiticeiro. — Uma vez ou outra ele vem à cidade para comprar mantimentos. Mas nunca conversei com ele. Na verdade, meu tio o evita. — Luke fez uma pausa e olhou de novo para o pequeno robô. — Mas pelo que sei, o Velho Ben nunca teve nenhum robô.

O olhar de Luke foi atraído irresistivelmente para o holo­grama.

— Quem será? Deve ser importante... especialmente se o que você me disse for verdade, Pezero. Parece que ela está em perigo. Talvez a mensagem seja importante. Temos que ouvir o resto.

Luke estendeu novamente a mão para os controles internos de Erredois, e o robô recuou de novo, soltando um uivo de medo.

— Está dizendo que existe um pino que mantém alguns com­ponentes desligados — traduziu Pezero. — Se o senhor remover o pino, talvez ele possa repetir toda a mensagem — concluiu. Quan­do Luke continuou a olhar para a imagem, como se estivesse hip­notizado, Pezero acrescentou, bem alto: — Senhor! Luke acordou.

— Quê... ? Oh, sim.

Depois de pensar um pouco na sugestão, aproximou-se e olhou para dentro do robô. Desta vez Erredois não se mexeu.

— Acho que já vi onde está. Mas não consigo imaginar para quê alguém mandaria uma mensagem para o Velho Ben.

Depois de escolher a ferramenta apropriada, Luke enfiou a mão dentro do robô e extraiu o pino. Imediatamente, a imagem desapareceu.

Luke recuou.

— Pronto. — Esperou alguns instantes, e nada de o holograma voltar. — Para onde ela foi? — perguntou Luke, final­mente. — Traga-a de volta. Passe a mensagem completa, Erredois Dedois.

O robô soltou um chiado inocente. Pezero parecia embaraçado e nervoso ao traduzir.

— Ele disse: "Que mensagem?" — Ignorando Luke, o robô voltou-se zangado para o amigo. — Que mensagem? Você sabe que mensagem! Acaba de passar um fragmento dela para nós! A men­sagem que está escondendo em suas entranhas enferrujadas, seu boneco de lata!

Erredois limitou-se a zumbir baixinho consigo mesmo.

— Sinto muito, senhor — disse Pezero, lentamente. — Mas parece que ele sofreu uma pane nos circuitos de memória. Talvez se nós...

Uma voz vinda do corredor o interrompeu.

— Luke! Luke! O jantar está na mesa!

Luke hesitou, depois levantou-se e olhou para a porta.

— Está bem — gritou. —Já vou, Tia Beru! — Baixou a voz para falar com Pezero. — Veja o que pode fazer com ele. Não vou demorar.

Jogando o pino recém removido em cima da bancada, saiu apressadamente da garagem.

Assim que o rapaz se foi, Pezero voltou-se para o companheiro.

— É melhor passar toda a gravação para ele — rosnou, com um gesto significativo em direção a uma pilha de peças de máqui­nas. — Caso contrário, ele pode pegar de novo aquela ferramenta e sair procurando a gravação dentro de você. E talvez não tome muito cuidado com o que está cortando, se achar que você está escondendo alguma coisa dele.

Erredois soltou um assovio queixoso.

— A verdade — concordou — Pezero. — Acho que não gosta de você

Pezero respondeu ao segundo assovio, no mesmo tom sério. — Tem razão, eu também não gosto de você.

 

TIA Beru estava enchendo uma jarra com um líquido azul que ha­via tirado da geladeira. Detrás dela, da sala de jantar, vinha o som de uma discussão acalorada.

Tia Beru deu um suspiro fundo. As discussões entre o marido e Luke na hora das refeições estavam ficando cada vez mais desa­gradáveis, à medida que as ambições do rapaz o afastavam da agri­cultura, coisa com que Owen, um convicto homem do campo, abso­lutamente não concordava.

Devolvendo o recipiente de leite à geladeira, Beru colocou a jarra em uma bandeja e voltou à sala de jantar. Não era uma mulher brilhante, mas compreendia intuitivamente a importância de seu papel na casa. Funcionava como as barras de cádmio de um reator nuclear. Enquanto estivesse presente, Owen e Luke conti­nuariam a gerar um bocado de energia, mas se ficasse longe deles por muito tempo... bum!

Beru entrou na sala. Imediatamente, os dois homens baixa­ram o tom de voz e mudaram de assunto. Beru fingiu que não havia notado a mudança.

— Acho que Erredois pode ter sido roubado, Tio Owen — disse Luke, como se estivessem conversando a respeito há muito tempo.

O tio estendeu a mão para a jarra de leite e respondeu com a boca cheia de comida.

— Os jawas não têm nenhum respeito pela propriedade alheia, Luke, mas não se esqueça também de que têm medo da própria sombra. Para roubarem alguém diretamente, teriam que pensar nas conseqüências de serem perseguidos e punidos. Teoricamente, não seriam capazes de encarar esta possibilidade. O que faz você pensar que o andróide foi roubado?

— Em primeiro lugar, está em muito bom estado para ter sido jogado fora. E produziu um holograma enquanto eu estava limpando sua... — Luke percebeu com horror que havia falado demais. Apressou-se em acrescentar: — Mas nada disto é impor­tante. O fato é que ele mesmo disse que seu dono se chama Velhi-ban Kenobi.

Talvez alguma coisa na comida, ou mesmo no leite, tenha fei­to Owen engasgar. Por outro lado, talvez fosse uma forma de Owen exprimir o que pensava a respeito da pessoa mencionada. Fosse como fosse, continuou a comer sem olhar para o sobrinho.

Luke fingiu ignorar a reação do tio.

— Pensei — continuou, impávido — que talvez se tratasse do Velho Ben. O primeiro nome é diferente, mas o sobrenome é o mesmo.

Quando o tio se conservou teimosamente em silêncio, Luke perguntou-lhe diretamente.

— O senhor sabe de que ele estava falando, Tio Owen? Surpreendentemente, o tio parecia mais embaraçado do que zangado.

— Não é nada — murmurou, evitando encarar Luke. — Um nome do passado. — Torceu-se nervosamente no assento. — Um nome que só pode trazer problemas.

Luke recusou-se a reconhecer a advertência implícita e conti­nuou a pressioná-lo.

— Então é algum parente do Velho Ben? Pensei que ele fosse sozinho no mundo.

— Fique longe daquele velho feiticeiro, ouviu bem? — ex­plodiu o tio, trocando a lógica pela ameaça.

— Owen... — tentou intervir Tia Beru, mas o fazendeiro a interrompeu imediatamente.

— Isto é muito importante, Beru. — Voltou-se para o so­brinho. — Já lhe falei várias vezes a respeito de Kenobi. É um velho maluco, perigoso e cheio de maldade. Não quero nada com ele.

O olhar suplicante de Beru o fez acalmar-se um pouco.

— O andróide não tem nada a ver com ele. Não pode ter — murmurou o velho, quase para si mesmo. — Uma gravação... hum! Pois amanhã quero que você leve Erredois para Anchorhead e mande apagar a memória dele. — Owen empunhou o garfo com determinação. — Assim acabamos com toda esta bobagem. Não me interessa de onde a máquina pensa que veio. Paguei uni bom dinheiro por ela, e agora nos pertence.

— Mas e se for verdade o que ela diz? — insistiu Luke. — E se esse tal de Velhi-ban vier buscar o andróide?

Uma lembrança fez o rosto do tio assumir uma expressão que era um misto de tristeza e escárnio.

— Ele não virá. Esta pessoa não existe mais. Morreu na mesma época que seu pai. — Owen brandiu o garfo como se fos­se uma arma. — Agora, esqueça o caso.

— Então existiu um Velhi-ban — murmurou Luke, de olhos baixos. E acrescentou lentamente: — Ele conhecia meu pai?

— Já disse para você esquecer o caso! — exclamou Owen. — O importante é que esses dois andróides estejam prontos para trabalhar amanhã. Não se esqueça de que empatei neles o que restava de nossas economias. Não os teria comprado se não fal­tasse tão pouco tempo para a colheita. Amanhã de manhã, quero que você os leve para trabalhar com as máquinas de irrigação, no campo sul.

— O senhor sabe — observou Luke, pensativo — acho que esses robôs foram uma ótima compra. Na verdade, eu... — he­sitou, olhando de soslaio para o tio —... eu estava pensando na minha promessa de ficar na fazenda até o ano que vem. — O tio não teve nenhuma reação, de modo que Luke prosseguiu ra­pidamente, antes de perder a coragem. — Se esses robôs derem conta do recado, quero matricular-me já na Academia, para come­çar o ano que vem.

Owen fez uma careta.

— Você quer dizer matricular-se o ano que vem... depois da colheita.

— Mas com a ajuda de mais dois robôs, o senhor não vai precisar de mim!

— Robôs não substituem um homem, Luke. Você sabe dis­so. E é na época da colheita que preciso mais de você. Espere só até o ano que vem. — E baixou os olhos, com uma expres­são magoada.

Luke ficou brincando com a comida, sem comer, sem dizer nada.

— Escute — argumentou o tio — pela primeira vez, temos a chance de ganhar um bom dinheiro. Teremos o suficiente par» contratar empregados para as próximas colheitas. Então você pode ir para a Academia. — Procurou as palavras, pois não tinha o hábito de pedir nada a ninguém. — Preciso de você aqui, Luke. Você compreende, não é?

— É mais um ano — objetou o sobrinho, teimosamente. — Mais um ano.

Quantas vezes eles haviam tido essa mesma discussão? Quan­tas vezes haviam repetido a mesma cena, com o mesmo resultado?

Convencido mais uma vez de que Luke acabaria por aceitar seus argumentos, Owen minimizou a objeção.

— O tempo vai passar depressa, você vai ver.

De repente, Luke se levantou, empurrando para o lado o pra­to de comida ainda cheio.

— Foi o que o senhor disse o ano passado, quando Biggs par­tiu. — E encaminhou-se para a porta a passos rápidos.

— Aonde você vai, Luke? — gritou a tia, preocupada. O rapaz respondeu com amargura:

— Parece que não vou para lugar nenhum. — Mas acres­centou, para não magoar a tia: — Tenho que acabar de limpar aqueles andróides. Começam a trabalhar amanhã de manhã.

Um pesado silêncio tomou conta da sala depois que Luke par­tiu. Marido e mulher comiam mecanicamente. Afinal, Tia Beru parou de remexer a comida no prato, olhou para Owen e disse em tom incisivo:

— Owen, você não pode mantê-lo aqui para sempre. Quase todos os amigos de Luke já se foram. A Academia significa tanto para ele...

O marido respondeu com indiferença:

— Só pedi para ele esperar até o ano que vem. Até lá tere­mos dinheiro. Ou talvez no outro ano...

— Luke não é um fazendeiro, Owen — continuou ela, com firmeza. — E nunca será, por mais que você insista. — Sacudiu a cabeça, lentamente. — É muito parecido com o pai.

Pela primeira vez em todo o episódio, o rosto de Owen assu­miu uma expressão pensativa. Olhando para a porta por onde Luke havia saído, falou:

— É disso que tenho medo, Beru.

 

Luke havia subido para a superfície. Estava de pé no solo arenoso, apreciando o duplo crepúsculo, os sóis gêmeos de Tatooine desaparecendo lentamente, um após o outro, atrás de um dis­tante campo de dunas. As areias ficaram douradas, depois averme­lhadas, antes que a noite fizesse adormecer as cores vivas até o dia seguinte. Em breve, pela primeira vez em muito tempo, essas areias estariam cobertas de plantas. Haveria uma erupção de verde no solo desértico.

O pensamento deveria ter feito Luke sentir um frêmito de satisfação. Deveria sentir-se tão entusiasmado quanto o tio, quan­do descrevia a colheita próxima. Em vez disso, Luke não sentia nada a não ser indiferença. Nem mesmo a possibilidade de ganhar muito dinheiro pela primeira vez na vida o animava. O que faria com o dinheiro em Anchorhead, ou em qualquer outro lugar de Tatooine?

A verdade era que Luke se sentia cada vez mais inquieto, cada vez mais ansioso por buscar seus próprios caminhos. Esta não era uma sensação incomum em rapazes de sua idade, mas por motivos que o próprio Luke não podia compreender, era muito mais forte nele do que em qualquer de seus amigos.

Quando a noite fria tomou conta do deserto, Luke sacudiu a poeira das calças e desceu para a garagem. Talvez o trabalho com os andróides o fizesse esquecer momentaneamente o remorso que sentia. Ao entrar na garagem, não viu sinais de movimento. Ne­nhuma das duas máquinas novas estava à vista. Franzindo ligeira­mente a testa, Luke tirou do cinto uma pequena caixa de controle e ligou uma chave.

A caixa soltou um zumbido. O zumbido atraiu o maior dos dois robôs, Pezero. Estava escondido atrás do aerociclo.

Luke se aproximou dele, espantado.

— O que está fazendo escondido aí?

O robô contornou a proa do veículo, aos tropeções, parecen­do muito agitado. Luke reparou que embora tivesse ligado o dis­positivo de chamada, ainda não havia sinal de Erredois.

Pezero tentou explicar a razão da ausência do outro.

— Não foi culpa minha — disse o robô, em tom de súplica. — Por favor, não me desligue! Pedi para ele ficar, mas está com defeito. Tem que estar. Alguma coisa muito séria aconteceu com os circuitos lógicos do Erredois. Só dizia que tinha uma missão a cumprir. Nunca tinha visto antes um robô com ilusões de gran­deza. E Erredois não é uma máquina sofisticada, senhor. Mas mesmo assim...

— Então...

— Sim senhor. Ele foi embora.

— E fui eu mesmo que retirei o pino de controle — mur­murou Luke. Já podia imaginar a reação do tio. Havia gasto as últimas economias nos dois andróides, dissera ele.

Luke correu para fora da garagem, seguido de perto por Pezero.

De uma pequena elevação próxima, Luke podia ter uma visão panorâmica do deserto. Tirando do cinto os preciosos macrobinóculos, esquadrinhou o horizonte à procura de um vulto pequeno, metálico, de três pernas.

Pezero escalou a duna com dificuldade para colocar-se ao lado de Luke.

— Esses Erredois só me têm causado problemas — res­mungou.

Luke finalmente baixou os binóculos.

— Nem sinal dele — comentou. Deu um chute na areia, fu­rioso. — Bolas! Como pude ser estúpido a ponto de retirar aquele pino? Tio Owen vai-me matar!

— Se me permite, senhor — interveio Pezero, imaginando um deserto cheio de jawas — por que não vamos atrás dele?

Luke estudou por um momento a escuridão do deserto.

— Não à noite. Seria muito perigoso. Não estou pensando nos jawas, mas nos tuskens... não, não podemos segui-lo no es­curo. Vamos ter que esperar até amanha.

Alguém gritou de dentro da casa.

— Luke! Luke, já acabou de limpar os andróides? Vou des­ligar o gerador.

— Está bem! — respondeu Luke, ignorando a pergunta. — Já vou descer, Tio Owen! — Voltando-se, olhou pela última vez para o horizonte distante. — Desta vez, eu me meti numa boa! — resmungou — Aquele robô ainda vai-me dar muita amolação.

— Oh, ele é especialista nisso, senhor — confirmou Pezero, em tom de brincadeira.

Luke lançou-lhe um olhar de censura, e os dois desceram jun­tos para a garagem.

 

— Luke... Luke! — Esfregando os olhos pesados de sono, Owen olhou de uma lado para outro, espreguiçando-se. — Onde estará aquele imprestável? — disse para si mesmo em voz alta, quando não houve resposta. Não havia sinal de movimento na casa. — Luke! — chamou novamente.

Luke, luke, luke... O nome ecoou irritantemente nas pa­redes. Desistindo, voltou para a cozinha, onde Beru estava prepa­rando o desjejum.

— Você viu Luke esta manhã? — perguntou, da forma mais calma que pôde.

A mulher olhou rapidamente para ele, depois continuou a preparar a comida.

— Vi, sim. Ele falou que tinha algumas coisas para fazer antes de ir para o campo sul, de modo que saiu bem cedinho.

— Antes do café? — Owen fez uma careta. — Não é do seu f ei tio. Os novos andróides foram com ele?

— Acho que sim. Tenho certeza de que pelo menos um es­tava com ele.

— Bem — disse Owen, sentindo um mau pressentimento mas não tendo nenhuma razão palpável para aborrecer-se. — Acho bom ele consertar aqueles evaporadores até o meio-dia, se não vai ouvir umas poucas e boas.

 

Um rosto protegido por uma máscara de metal branco emer­giu da nave de salvamento semi-enterrada que agora era a base de uma duna ligeiramente maior do que as vizinhas. A voz tinha um tom eficiente, mas cansado.

— Nada — disse o soldado para os companheiros. — Ne­nhuma fita, nenhum sinal de vida.

A informação de que a nave estava vazia fez todos baixarem as armas. Um dos soldados se voltou e gritou para um oficial que estava um pouco afastado.

— Não há dúvida de que é a nave que saiu do cruzador re­belde, senhor. Mas não há ninguém a bordo.

— No entanto, está praticamente intacta — murmurou o ofi­cial consigo mesmo. — Poderia ter aterrado automaticamente, mas se foi ejetada por acidente, o piloto automático estaria desligado. — Alguma coisa não fazia sentido.

— Aqui está por que não havia nenhum sinal de vida — declarou uma voz.

O oficial se aproximou do lugar onde outro soldado estava ajoelhado na areia. O soldado levantou o objeto para que o ofi­cial o examinasse. Tinha um brilho metálico.

— Pele de andróide — observou o oficial, depois de um exa­me rápido do fragmento. Superior e subordinado trocaram um olhar significativo. Então, seus olhos se voltaram simultaneamente para as altas montanhas do norte.

 

O cascalho e a areia fina formavam uma nuvem debaixo do carro de Luke, que corria em linha reta pela vastidão desolada de Tatooine. De vez em quando, o veículo jogava ligeiramente ao encontrar uma depressão ou uma lombada, para voltar a seu curso suave quando o motorista mexia levemente nos controles.

Luke estava recostado no assento, satisfeito com a novidade de dispor de um motorista particular, enquanto Pezero dirigia com perícia o potente veículo.

— Para uma máquina, você dirige muito bem — observou Luke, com admiração.

— Obrigado, senhor — respondeu Pezero, orgulhoso, sem desviar os olhos das dunas à frente. — Não estava mentindo para seu tio quando disse que versatilidade era o meu nome. Mais de uma vez tive que desempenhar funções para as quais não fui pre­parado, em circunstâncias que teriam levado os engenheiros que me projetaram ao desespero.

Alguma coisa estalou atrás deles. O barulho se repetiu.

Luke franziu o cenho e abriu a cúpula do veículo. Debruçando-se para trás, começou a mexer no motor. Depois de alguns ins­tantes, o ruído cessou.

— Que tal? — gritou para o companheiro.

Pezero fez um sinal de que o motor estava funcionando bem. Luke voltou a seu lugar e fechou a cúpula. Passou a mão pela cabeça, para tirar dos olhos os cabelos despenteados pelo vento, e tornou a olhar para o deserto à frente.

— O Velho Ben Kenobi mora nesta região, ninguém sabe exatamente onde. Mas não vejo como Erredois poderia chegar tão longe, tão depressa. — Sua expressão era de desânimo. — Vai ver que já passamos por ele. Poderia estar em qualquer lugar. E Tio Owen já deve estar preocupado. Fiquei de chamá-lo quando chegasse ao campo sul.

Pezero pensou por um momento e depois disse:

— Será que ajudaria se eu dissesse para ele que foi tudo culpa minha?

Luke pareceu gostar da sugestão.

— Claro... agora ele precisa ainda mais de você. Provavel­mente vai apenas desativá-lo por um dia ou dois, ou limpar par­cialmente sua memória.

Desativar? Limpar a memória? Pezero apressou-se em acres­centar:

— Pensando melhor, Erredois não teria fugido, se o senhor não tivesse tirado aquele pino.

Mas Luke estava pensando em algo mais importante do que a quem atribuir a culpa do desaparecimento do pequeno robô.

— Espere um minuto — disse para Pezero, enquanto olhava fixamente para o painel de instrumentos. — O detector de metais captou alguma coisa bem a nossa frente. Não dá para ver o que é a esta distância, mas a julgar pelo tamanho, pode muito bem ser o nosso andróide fugido. Pé na tábua.

O carro deu um salto para a frente quando Pezero compri­miu o acelerador, mas os ocupantes ignoravam que outros olhos observavam atentamente o veículo enquanto este ganhava velo­cidade.

 

Aqueles olhos não eram orgânicos, mas também não eram to­talmente mecânicos. Ninguém poderia dizer ao certo o que eram, porque ninguém tivera a oportunidade de examinar de perto os tusken raiders, conhecidos pelos fazendeiros de Tatooine simples­mente como os tuskens.

Os tuskens não permitiam que ninguém se aproximasse de­les, desencorajando os observadores em potencial através de méto­dos tão eficientes quanto brutais. Uns poucos xenologistas acha­vam que eram parentes dos jawas. Alguns chegavam a sugerir que os tuskens eram na verdade a forma adulta dos jawas, mas esta teoria era rejeitada pela maioria dos cientistas de renome.

As duas raças usavam roupas grossas para se proteger da dose dupla de radiação solar, mas aí terminava a semelhança. Em lu­gar dos pesados mantos usados pelos jawas, os tuskens se enrola­vam como múmias em trapos e tiras de pano.

Enquanto os jawas tinham medo de tudo, os tuskens eram bastante corajosos. Além disso, eram maiores, mais fortes e muito mais agressivos do que os jawas. Felizmente para os colonos hu­manos de Tatooine, não eram muito numerosos e levavam sua vida nômade nas regiões mais desoladas de Tatooine. Em conseqüência, os encontros entre humanos e tuskens não eram muito freqüentes, e eles não matavam mais do que uma dezena de humanos por ano. Como a população humana já havia também liquidado vários tus­kens, nem sempre por motivo justo, existia uma espécie de trégua entre as partes — pelo menos enquanto nenhuma das duas raças estivesse em vantagem.

Um guerreiro tusken achou que estava momentaneamente em posição vantajosa, e preparava-se para tirar proveito desta posição, apontando cuidadosamente o rifle para o carro que se aproximava. Mas o companheiro segurou a arma pelo cano e apontou-a para baixo antes que o outro tivesse tempo de puxar o gatilho. Isto deu ensejo a uma discussão acalorada entre os dois. E enquanto trocavam impropérios em uma língua que quase só tinha consoan­tes, o carro passou ileso por eles.

Fosse porque o carro já estivesse fora de alcance, fosse por­que o segundo tusken houvesse finalmente convencido o primeiro, os dois encerraram a discussão e tornaram a descer a encosta da colina. Os dois banthas se mexeram, inquietos, quando os donos se aproximaram. Pareciam dinossauros, com pequenos olhos bri­lhantes e uma pele grossa e escamosa. Ajoelharam-se, à espera de que os tuskens montassem.

Os tuskens montaram e os banthas se puseram de pé. Movendo-se devagar, mas com passos enormes, as duas criaturas co­meçaram a acompanhar a base da colina, instigados pelos não me­nos assustadores cavaleiros.

 

— É ele, sim — declarou Luke, com um misto de raiva e satisfação, quando avistou o pequeno robô. O carro fez uma curva e entrou em um desfiladeiro de arenito. Luke apanhou o rifle embaixo do banco e disse para Pezero:

— Dê a volta e pare na frente dele.

— Sim, senhor.

Era evidente que Erredois havia visto o carro, mas não fez qualquer tentativa para escapar. De qualquer forma, não conse­guiria correr mais depressa do que o veículo. Erredois limitou-se a parar e ficar esperando enquanto o carro descrevia uma curva suave. Pezero freou bruscamente, levantando uma nuvem de poei­ra. Então o ruído do motor diminuiu de volume quando Pezero colocou o motor em ponto morto. Um último suspiro e o veículo parou completamente.

Depois de percorrer com os olhos o desfiladeiro, Luke saltou, acompanhado por Pezero, e aproximou-se de Erredois Dedois.

— Para onde pensa que está indo? — perguntou o rapaz, sem rodeios.

O pequeno robô soltou um pequeno silvo, mas quem come­çou a falar foi Pezero.

— Você agora pertence ao Sr. Luke, Erredois. Como teve coragem de abandoná-lo? Agora que o encontramos, não quero mais saber dessa história de "Velhi-ban Kenobi". Não sei onde foi arranjar isso... ou aquele holograma melodramático.

Erredois tentou protestar, mas Pezero estava indignado de­mais para ser interrompido.

— E não me fale mais de sua missão. Quanta bobagem! Dê-se por feliz se o Sr. Luke não o reduz a pó agora mesmo.

— Também não é caso para isso — disse Luke, um pouco assustado com a fúria de Pezero. — Vamos... está ficando tarde. — Olhou para os dois sóis, que já estavam alto no céu. — Vamos voltar para casa antes que Tio Owen fique mais zangado ainda.

— Se o senhor permite uma sugestão — disse Pezero, apa­rentemente frustrado por pressentir que Erredois não iria sofrer nenhuma punição — acho que devia desativá-lo, para que não ten­te fugir durante a viagem de volta.

— Não é preciso. Ele vai-se comportar. — Luke olhou se­veramente para o pequeno andróide. — Espero que tenha apren­dido a lição. Agora vamos...

De repente, Erredois deu um pulo tão grande que seus pés deixaram o solo, um feito quase impossível, considerando que as três grossas pernas não haviam sido feitas para saltar. O corpo cilíndrico balançava e girava enquanto ele soltava uma sinfonia de uivos, assovios e exclamações eletrônicas.

Luke estava mais impaciente do que alarmado.

— Que foi? O que foi que deu nele agora? — Começava a compreender a razão da animosidade de Pezero. Também já es­tava ficando farto dessa máquina imprevisível.

Era evidente que Erredois havia conseguido por acaso o ho­lograma da moça e o usara apenas como artifício para convencer Luke a retirar o pino. Mas assim que os circuitos fossem conser­tados, daria um ótimo ajudante para os trabalhos do campo. Só que... se a manifestação de Erredois não passava de mais uma prova de loucura, por que Pezero estava olhando em volta, com uma expressão tão preocupada?

— Sr. Luke, Erredois está dizendo que várias criaturas des­conhecidas estão-se aproximando rapidamente de nós, vindo de sudeste.

Claro que podia ser mais uma tentativa de Erredois de enga­ná-los, mas também podia ser verdade. Luke tirou o rifle do om­bro e ligou a fonte de alimentação. Examinou o horizonte na direção indicada e não viu nada. Mas os tuskens eram peritos na arte de observar sem serem vistos.

Luke percebeu de repente como estavam longe da fazenda.

— Nunca me afastei tanto da fazenda nesta direção — in­formou a Pezero. — Por aqui vivem alguns seres muito estra­nhos. Nem todos foram classificados ainda. *É melhor considerar qualquer coisa que se mova como um perigo em 'potencial até pro­va em contrário. É claro que se for uma forma de vida totalmen­te desconhecida... — A curiosidade o espicaçava. Por outro lado, provavelmente não passava de mais um truque de Erredois... — Vamos dar uma olhada — decidiu.

Luke começou a escalar uma duna próxima, mantendo o rifle preparado. Fez um gesto para que Pezero o seguisse. Ao mesmo tempo, procurou não perder Erredois de vista.

Chegando ao topo, colocou-se de bruços e trocou o rifle pe­los macrobinóculos. Lá embaixo havia outro desfiladeiro. Percorrendo com os binóculos o fundo do desfiladeiro, Luke deparou de repente com duas formas inconfundíveis. Banthas... e sem ca­valeiros!

— Disse alguma coisa, amo? — perguntou Pezero, chegando com esforço ao pico da duna. Suas pernas não haviam sido feitas para subidas tão íngremes.

— São banthas, sim — murmurou Luke por sobre o ombro, sem se lembrar, na emoção do momento, de que Pezero talvez não tivesse a mínima idéia do que era um bantha.

Tornou a olhar de binóculo, ajustando ligeiramente o foco.

— Espere... sim, são tuskens. Estou vendo um deles. Alguma coisa escura bloqueou de repente sua visão. Por um momento, pensou que havia uma pedra a sua frente. Irritado, bai­xou os binóculos e estendeu a mão para mover o objeto. Sua mão tocou uma superfície macia.

Era uma perna envolta em trapos, duas vezes mais grossa do que a perna de Luke. Espantado, olhou para cima... e mais para cima ainda. O gigante a seu lado não podia ser um jawa. Parecia haver surgido do nada.

Pezero deu um passo para trás, assustado, e perdeu o equilí­brio. Com os giroscópios zumbindo em protesto, o robô despen­cou pela encosta da duna. De onde estava, Luke pôde ouvir o ruí­do da queda, cada vez mais distante.

Ao mesmo tempo, o tusken soltou um grito de fúria e prazer e desferiu um golpe com o pesado machado. A arma de lâmina dupla teria rachado ao meio o crânio de Luke, se este não levan­tasse o rifle, em um gesto mais instintivo do que calculado. O rifle desviou o golpe, mas nunca mais poderia fazê-lo de novo. Fei­to de um pedaço de casco de espaçonave, o imenso machado des­pedaçou o cano e transformou as delicadas entranhas do rifle em confete metálico.

Luke cambaleou para trás e se viu encurralado à beira de um precipício. O tusken aproximou-se lentamente, o machado levan­tado acima da cabeça envolta em trapos. Soltou uma gargalhada de gelar o sangue, que o filtro de areia que usava sobre a boca só contribuía para tornar ainda mais inumana.

Luke tentou encarar objetivamente a situação, como havia aprendido na escola. O problema era que a boca estava seca, as mãos tremiam e estava paralisado de medo. Com o tusken a sua frente e uma queda provavelmente mortal às suas costas, uma ou­tra parte do cérebro assumiu o controle e optou pela reação menos penosa. Desmaiou.

Nenhum dos tuskens viu Erredois Dedois quando o pequeno robô se escondeu em uma pequena caverna perto do carro. Um estava carregando o corpo inerte de Luke. Atirou ao solo o jo­vem inconsciente, ao lado do carro, e foi juntar-se aos companhei­ros, que já começavam a saquear o veículo.

Provisões e peças sobressalentes foram jogadas em todas as direções. De tempos em tempos, a pilhagem era interrompida quando vários deles discutiam ou brigavam por causa de uma peça mais valiosa.

De repente, a atividade cessou, e os tuskens começaram a olhar em todas as direções.

Uma brisa suave soprava no desfiladeiro. Trazido por esta brisa, um grito horrível penetrou no desfiladeiro, ecoando nas pa­redes de arenito.

Os tuskens permaneceram por um momento onde estavam. Depois, saíram correndo em direção à encosta.

O grito soou de novo, desta vez mais próximo. Os tuskens já estavam quase chegando ao local onde as banthas os esperavam, indóceis, sacudindo as cordas que os prendiam.

Embora o som não tivesse nenhum significado para Erredois Dedois, o pequeno andróide tentou enfiar-se ainda mais no buraco entre as pedras. A julgar pela forma como os tuskens haviam rea­gido, alguma coisa monstruosa tinha que estar por trás daquele grito. Alguma coisa monstruosa e assassina, que talvez não tives­se o bom senso de distinguir a matéria orgânica, comestível, de uma pobre máquina indefesa.

Nem mesmo a poeira de sua passagem restava para marcar o local onde os tuskens haviam estado minutos atrás. Erredois De­dois desligou quase todas as suas funções, tentando minimizar o ruído e a luz, ao mesmo tempo que começava a ouvir o som de passos. Afinal, a criatura apareceu no topo de uma duna pró­xima...

 

ERA alta, mas não tinha nada de monstruosa. Erredois franziu mentalmente o cenho enquanto verificava os circuitos ópticos e reativava as próprias entranhas.

O monstro se parecia muito com um velhinho. Usava uma capa comprida e uma túnica larga, de onde pendiam alguns instru­mentos não-identifiçados. Erredois olhou para mais além, mas não viu nenhum sinal de que o homem estivesse sendo perseguido por um monstro de pesadelo. Pelo contrário, pensou Erredois, pare­cia bastante calmo e satisfeito.

Era impossível dizer onde acabava a roupa do recém-chegado e onde começava o corpo. A pele crestada se fundia com o tecido sujo de areia; a barba parecia uma extensão das franjas que lhe cobriam o tórax

Marcas de climas rigorosos que não o desértico, marcas de frio e umidade extremos estavam gravadas naquele rosto castigado. Um nariz aquilino se projetava de uma floresta de rugas e cica­trizes. Os olhos eram azuis e cristalinos. O homem trazia um sorriso nos lábios, e estava olhando para o vulto inerme de Luke com os olhos semicerrados.

Convencido de que os tuskens haviam sido vítimas de algum tipo de alucinação auditiva, ignorando convenientemente o fato de que ele próprio tinha ouvido o estranho grito, e seguro de que o estranho não pretendia fazer mal a Luke, Erredois mudou ligei­ramente de posição, tentando observar melhor o que se passava. O som produzido por uma pequena pedra estava praticamente no limiar da sensibilidade dos sensores do robô, mas fez com que o homem se voltasse instantaneamente. Olhou diretamente para o esconderijo de Erredois, com o sorriso ainda nos lábios.

— Você, aí — chamou, em uma voz profunda e surpreenden­temente jovial. — Venha cá, amiguinho. Não precisa ter medo.

Havia alguma coisa naquela voz que inspirava confiança. De qualquer forma, era preferível associar-se a um estranho do que permanecer solitário naquela terra desconhecida. Saindo do escon­derijo, Erredois encaminhou-se até o local onde estava Luke. O corpo do robô se inclinou para a frente enquanto examinava o rapaz.

Aproximando-se, o velho ajoelhou-se ao lado de Luke e to­cou-lhe, primeiro a testa, depois a têmpora, com a palma da mão. Imediatamente, o rapaz começou a se mexer e a balbuciar, como se estivesse sonhando.

— Não se preocupe — disse o velho para Erredois. — Ele não tem nada.

Como que para confirmar essas palavras, Luke piscou, arre­galou os olhos espantado e murmurou:

— O que aconteceu?

— Descanse, filho — aconselhou o velho, sentando-se nos calcanhares. — Teve um dia cheio. — Novamente o sorriso jo­vial. — Você tem sorte de ainda estar inteiro.

Luke olhou em volta, até que o olhar se fixou no rosto do velho". Ao reconhecê-lo, ganhou novo alento.

— Ben... tem que ser Ben! — Uma lembrança súbita o fez olhar em volta, assustado. Mas não havia sinal dos tuskens. Luke sentou-se com esforço. — Ben Kenobi... que satisfação ver o senhor!:

Levantando-se, o velho percorreu o desfiladeiro com os olhos.

— O deserto de Jundland não é para o viajante solitário. Os tuskens não hesitam em atacar, quando se sentem superiores. — O olhar voltou para o jovem. — Diga-me, rapaz, o que o traz a esta terra desolada?

Luke apontou para Erredois Dedois.

— Este pequeno andróide. Cheguei a pensar que ele estava maluco, afirmando estar à procura do antigo dono. Agora já não penso assim. Nunca vi tamanha devoção em um robô. Nada se­ria capaz de detê-lo. Diz que pertence a alguém chamado Velhi-ban Kenobi. — Luke observou atentamente o velho, mas não detec­tou nenhuma reação. — É parente seu? Meu tio diz que existiu uma pessoa com este nome. Ou será que a memória do robô está funcionando mal?

Kenobi pareceu estudar a pergunta, cofiando distraidamente a barba hirsuta.

— Velhi-ban Kenobi! — repetiu. — Velhi-ban... é um nome que não ouço há muito tempo. Muito tempo mesmo. É estranho.

— Meu tio disse que ele já morreu — adiantou Luke, espe­rançoso.

— Oh, não — corrigiu Kenobi, sorrindo. — Ainda não, ainda não.

Luke se pôs de pé, ansioso, esquecido por completo dos tus­kens raiders.

— Então o senhor o conhece?

Um sorriso irônico rasgou aquele rosto enrugado.

— Claro que conheço. Sou eu mesmo. Como você prova­velmente já suspeitava, Luke. Mas a última vez que me chamaram de Velhi-ban, você nem havia nascido.

— Então — afirmou Luke, apontando para Erredois Dedois — este andróide pertence ao senhor.

— Esta é a parte mais estranha — confessou Kenobi, olhan­do para o robô. — Não me lembro de possuir um robô, muito menos um modelo moderno como Erredois. Muito interessante...

Alguma coisa de repente atraiu o olhar do velho para as co­linas próximas.

— Acho que é melhor usarmos seu carro. Os tuskens se assustam com facilidade, mas logo estarão de volta com reforços. Seu carro vale muito para eles, e afinal de contas jawas é que eles não são.

Colocando as mãos em concha diante da boca, Kenobi inalou profundamente o soltou um grito inumano que fez Luke dar um pulo.

— Isso servirá para mantê-los afastados por mais algum tem­po — concluiu o velho, satisfeito.

— Mas é o grito de um dragão krayt! — exclamou Luke, espantado. — Como conseguiu fazer isso?

— Um dia eu lhe ensino, filho. Não é difícil. Basta muita força de vontade, um conjunto completo de cordas vocais e um bocado de fôlego. Se você fosse um burocrata do Império, eu lhe ensinaria agora mesmo. — Examinou de novo com os olhos a encosta da montanha. — Mas você não é. E acho que não é a hora nem o lugar apropriado.

— De acordo — Luke estava esfregando a nuca. — Vamos embora.

Foi então que Erredois soltou um silvo agudo e puxou Luke pelo braço. Luke não podia entender o que o robô estava dizen­do, mas compreendeu o que queria.

— Pezero! — exclamou o rapaz, preocupado. Erredois já estava correndo para longe do carro. — Venha também, Ben.

O pequeno robô os levou até a beira de um grande buraco. Parou ali, apontando para baixo e chiando baixinho. Luke olhou para onde Erredois estava apontando e começou a descer com cui­dado a encosta suave. Kenobi o seguiu sem esforço.

Pezero estava meio enterrado na areia, no fundo do buraco, no local onde havia caído. Estava todo amassado. Havia perdido um braço, que jazia a seu lado.

— Pezero! — gritou Luke.

Não houve resposta. O rapaz sacudiu o andróide, sem resul­tado. Abrindo um painel nas costas do robô, ligou e desligou vá­rias vezes uma chave. Finalmente, um zumbido começou a sair das entranhas do robô.

Usando o braço que lhe restava, Pezero rolou de barriga para cima e sentou-se.

— Onde estou? — murmurou, tentando colocar em foco os fotorreceptores. Então reconheceu Luke. — Oh, sinto muito, se­nhor. Acho que pisei em falso.

— Ainda bem que seus circuitos principais não foram dani­ficados — informou-lhe Luke. Olhou significativamente para o topo da colina. — Pode ficar de pé? Temes que sair daqui antes que os tuskens voltem.

Os servomotores protestaram até Pezero desistir.

— Acho que não vou conseguir. Vá em frente, senhor. Não adianta arriscar-se por minha causa. Estou acabado.

— Não diga uma coisa dessas — protestou Luke, espantado por se haver afeiçoado tão depressa ao robô. Mas afinal, Pezero não era como as máquinas taciturnas, agrifuncionais com que es­tava acostumado a lidar.

— Estou sendo lógico — argumentou Pezero. Luke sacudiu a cabeça, zangado.

— Está sendo é derrotista.

Com a ajuda de Luke e de Ben Kenobi, o robô avariado con­seguiu colocar-se de pé. O pequeno Erredois observava tudo Já de cima.

Enquanto subia, Kenobi cheirou o ar e fez uma careta.

— Depressa, filho. Eles estão de volta.

Tentando ao mesmo tempo olhar onde pisava e vigiar os ar­redores, Luke conseguiu finalmente puxar Pezero para fora do buraco.

 

A decoração da caverna bem escondida de Ben Kenobi era espartana sem parecer pouco confortável. Não teria agradado a muitas pessoas, refletindo como refletia os gostos peculiarmente ecléticos do proprietário. O conjunto irradiava uma aura de con­forto modesto, dava a impressão de estar mais bem equipado para proporcionar conforto à mente do que ao corpo'.

Haviam conseguido sair do desfiladeiro antes que os tuskens voltassem. Seguindo as instruções de Kenobi, Luke havia deixado atrás deles um rastro tão confuso que nem mesmo o mais expe­riente dos jawas seria capaz de segui-los.

Luke passou várias horas ignorando as tentações da caverna de Kenobi. Não se afastou do canto onde havia uma pequena mas bem equipada oficina mecânica, trabalhando para consertar o braço de Pezero.

Felizmente, os reles automáticos haviam funcionado, desligan­do os nervos eletrônicos antes que houvesse um curto-circuito. Para consertar o braço, bastaria encaixá-lo de novo no ombro e tornar a ligar os fios. Se o braço tivesse quebrado no meio de um "osso", e não em uma articulação, teria sido impossível con­sertá-lo.

Enquanto Luke estava ocupado com Pezero, a atenção de Kenobi se concentrava em Erredois Dedois. O pequeno andróide estava sentado passivamente no chão frio da caverna enquanto o velho mexia em seus circuitos internos. Finalmente, o homem se levantou com um “hum!” de satisfação e fechou os painéis da cabeça do robô.

— Agora vamos ver se descobrimos quem você é, meu amiguinho, e de onde veio.

Luke estava quase terminando, e as palavras de Kenobi foram o suficiente para fazê-lo aproximar-se.

— Vi parte da mensagem — começou — e acho que...

Mais uma vez a vivida imagem estava sendo projetada no es­paço vazio à frente do pequeno robô. Luke interrompeu o que estava dizendo, novamente fascinado por sua beleza enigmática.

— É, acho que acertei — murmurou Kenobi.

A imagem continuava a piscar, sinal de que a fita havia sido preparada às pressas. Mas estava muito mais nítida, observou Luke, admirado. Uma coisa era evidente: Kenobi entendia muito mais de robôs do que poderia parecer à primeira vista.

"General Velhi-ban Kenobi” estava dizendo a voz suave, apresento-me em nome do sistema de Alderaan e da Aliança para Restaurar a República. Venho perturbar seu isolamento a pedido de meu pai, Bail Organa, Vice-Rei e Primeiro Secretário do siste­ma de Alderaan."

Kenobi aceitou tranqüilamente esta declaração extraordinária, enquanto os olhos de Luke se arregalavam.

"Há anos, General", continuou a voz, “o senhor serviu à Velha República, durante as Guerras Estelares. Agora meu pai lhe faz um apelo para que nos ajude novamente nesta hora de aflição. Pede que se reúna a ele em Alderaan. É preciso que o senhor o atenda.”

“Infelizmente, não posso transmitir pessoalmente o pedido de meu pai. Pretendia avistar-me com o senhor, mas não foi possível Assim, tive que recorrer a esta forma secundária de comunicação.”

"Informações vitais para a sobrevivência da Aliança foram armazenadas no cérebro deste andróide Erredois. Meu pai saberá como recuperá-las. Mas para isso, é preciso que o senhor leve o robô para Alderaan."

A mulher fez uma pausa, e quando prosseguiu, as palavras eram mais rápidas e menos formais:

“Velhi-ban Kenobi, ajude-me! O senhor é a última esperança que me resta! Serei capturada por agentes do Império, mas eles nada descobrirão através de mim. Tudo que querem saber está guardado na memória deste andróide. Não nos decepcione, Velhi-ban Kenobi. Não me decepcione!"

Uma pequena nuvem de estática tridimensional substituiu o lindo rosto, e então a imagem desapareceu inteiramente. Erredois Dedois olhou interrogativamente para Kenobi.

Luke se sentia totalmente confuso. Seus pensamentos e olhos se voltaram para a figura tranqüila sentada a seu lado, em busca de estabilidade.

O velho. O feiticeiro maluco. O vagabundo do deserto, que o tio e todos os outros haviam conhecido durante toda a vida de Luke.

Era impossível dizer se a mensagem ansiosa da mulher des­conhecida havia afetado Kenobi de alguma forma. O velho estava encostado à parede de pedra, cofiando a barba e tirando de vez em quando uma baforada de um velho cachimbo aromado.

Luke pensou de novo na mulher desconhecida.

— Ela é tão... tão... — O rapaz não tinha palavras para descrevê-la. De repente, alguma coisa na mensagem o fez olhar incrédulo para o ancião. — General Kenobi, o senhor participou das Guerras Estelares? Mas foi há tanto tempo...

— Participei, sim — admitiu Kenobi, em um tom tão casual como se estivesse discutindo uma receita de cozinha. — Foi mes­mo há muito tempo. Antigamente eu era um Cavaleiro de Jedi. Como seu pai, Luke — acrescentou, olhando para o rapaz.

— Um Cavaleiro de Jedi — repetiu Luke. Então pareceu confuso. — Mas meu pai não participou das Guerras Estelares. Nem era um cavaleiro. Trabalhava como navegador, a bordo de um cargueiro espacial.

Kenobi deu um sorriso irônico.

— Isso foi o que seu tio lhe contou. Owen Lars não con­cordava com as idéias e opiniões de seu pai, nem com sua filosofia de vida. Achava que seu pai devia ter ficado aqui em Tatooine, em vez de se envolver em... — O velho encolheu os ombros.

— Bem, achava que seu pai devia ter ficado aqui, trabalhando na fazenda.

Luke não disse nada, limitando-se a ouvir fascinado uma his­tória que só conhecera através das distorções do tio.

— Owen sempre temeu que a vida de aventuras de seu pai pudesse influenciar você, pudesse afastá-lo de Anchorhead. — Kenobi meneou a cabeça tristemente. — Acho que seu pai não ti­nha nada de fazendeiro.

Luke afastou-se alguns passos e continuou a cuidar de Pezero, removendo os últimos grãos de areia das juntas do robô.

— Gostaria de tê-lo conhecido — murmurou o rapaz, depois de algum tempo.

— Era o melhor piloto que já conheci — disse Kenobi. — E um guerreiro valente. A força... o instinto era poderoso nele.

— Por um momento, Kenobi aparentou a idade que tinha. — Era também um bom amigo.

De repente, o brilho jovial voltou àqueles olhos penetrantes.

— Ouvi dizer que você também é um excelente piloto. Sa­ber pilotar não é um talento inato, mas as qualidades necessárias para tornar-se um bom piloto podem ser herdadas. Entretanto, mesmo um pato precisa aprender a nadar.

— O que é um pato? — perguntou Luke, curioso.

— Não importa. Sob vários aspectos, você se parece muito com seu pai, sabe? — O olhar crítico de Kenobi já estava dei­xando Luke nervoso. — Você cresceu um bocado desde a última vez que o vi.

Não sabendo o que responder, Luke esperou em silêncio en­quanto Kenobi mergulhava em uma meditação profunda. Final­mente, o velho pareceu haver chegado a uma decisão importante.

— Tudo isto me lembra — declarou, tentando aparentar in­diferença — que tenho uma coisa para você.

Levantou-se e foi até uma velha arca, começando a remexer o conteúdo. Objetos de todos os tipos e tamanhos foram retira­dos e examinados, apenas para serem colocados de volta. Luke conseguiu reconhecer alguns deles. Compreendendo que o velho estava procurando alguma coisa importante, absteve-se de pergun­tar a respeito dos outros objetos.

— Seu pai queria que isto fosse seu — estava dizendo Keno­bi — quando tivesse idade suficiente. Mas não consigo encontrar o maldito objeto. Tentei entregá-lo a você uma vez, mas seu tio não deixou. Ele achava que poderia colocar idéias malucas em sua cabeça, como a de seguir o velho Velhi-ban em alguma cruzada idealista. Você vê, Luke, aí está a raiz das divergências entre seu pai e seu tio. Owen Lars não é homem de deixar que o idealis­mo interfira com os negócios, enquanto que seu pai não admitia nem mesmo discutir a questão. Ele se dispunha a defender uma causa justa da mesma forma como pilotava... por puro instinto.

Luke assentiu. Acabou de limpar o robô e olhou em volta, à procura do componente que faltava instalar na cavidade torácica de Pezero. Encontrando o módulo de controle, preparou-se para encaixá-lo no lugar. Pezero observou o que o rapaz estava fazen­do e estremeceu.

Luke encarou por um longo tempo aqueles fotorreceptores de metal e plástico. Então colocou ostensivamente o módulo sobre a bancada e fechou ò painel no peito do andróide. Pezero não disse nada.

Luke ouviu uma exclamação e voltou-se para ver um sorriso nos lábios de Kenobi. O velho entregou a Luke um pequeno obje­to de aparência inócua, que o rapaz examinou com interesse.

O objeto tinha um cabo curto e grosso, no qual estavam em­butidos alguns botões. Acima do cabo havia um disco de metal ligeiramente maior do que uma mão aberta. Tanto o cabo como o disco continham vários componentes exóticos, inclusive o que parecia a menor fonte de alimentação que Luke jamais havia visto. A superfície inferior do disco brilhava como um espelho. Mas foi a fonte de alimentação que deixou Luke mais intrigado. Fosse o que fosse o aparelho, consumia um bocado de energia, a julgar pela capacidade da fonte.

Embora tivesse pertencido a seu pai, estava praticamente novo. Kenobi sem dúvida havia cuidado dele com carinho. Apenas al­guns pequenos arranhões no cabo mostravam que havia sido usado anteriormente.

— Sr. Luke? — disse uma voz familiar, que Luke já não ouvia há bastante tempo.

— Que foi? — perguntou Luke, interrompendo o exame do objeto.

— Se não vai precisar de mim — declarou Pezero — acho que vou desligar meus circuitos principais. Preciso fazer alguns reparos internos.

— Está bem, vá em frente — disse Luke, distraído, voltan­do a estudar, fascinado, o estranho objeto. Atrás dele, Pezero ficou imóvel e o brilho desapareceu temporariamente de seus fotor­receptores. Luke reparou que Kenobi o observava com interesse. — O que é isso? — perguntou o rapaz, finalmente.

— O sabre de luz de seu pai — disse Kenobi. — Antiga­mente, eram muito usados. E ainda o são, em certas regiões da galáxia.

Luke examinou os controles do cabo e experimentou apertar um botão colorido perto da superfície espelhada. Instantaneamente, o disco emitiu um feixe de luz branco-azulada da grossura de um polegar. O feixe desaparecia a um metro de distância, mas era tão brilhante e intenso na extremidade como nas proximidades do disco. Estranhamente, o feixe não irradiava nenhum valor, mas Luke teve o cuidado de evitar tocá-lo. Embora nunca tivesse visto um sabre de luz, sabia do que era capaz. Poderia fazer um furo na parede de pedra da caverna de Kenobi — ou em um ser hu­mano.

— Esta era a arma formal dos Cavaleiros de Jedi — expli­cou Kenobi. — Não é uma arma grosseira como as pistolas de raios. É preciso muita habilidade para usá-la. Uma arma elegante. Qualquer um sabe usar um desintegrador, mas para usar bem um sabre de luz, é preciso ser alguém especial. — Estava passeando pela caverna enquanto falava. — Por mais de mil gerações, Luke, os Cavaleiros de Jedi foram os homens mais respeitados da galá­xia. Eram os guardiões da paz e da justiça na Velha República.

Quando Luke permaneceu calado, Kenobi olhou, para ele e viu que os olhos do rapaz tinham uma expressão ausente e que pouco tinha ouvido da narrativa. Outros teriam repreendido Luke por não prestar atenção. Mas não Kenobi. Sensível como poucos, o velho esperou pacientemente até que o silêncio forçasse Luke a falar.

— Como foi que meu pai morreu? — perguntou Luke, de repente.

Kenobi hesitou e Luke percebeu que o velho preferia não tocar no assunto. Entretanto, ao contrário de Owen Lars, Kenobi era incapaz de mentir.

— Ele foi traído e assassinado — declarou Kenobi, solene­mente — por um jovem Cavaleiro de Jedi chamado Darth Vader. — O velho não estava olhando para Luke. — Um rapaz que eu estava educando. Um dos meus discípulos mais brilhantes... e o meu fracasso mais trágico.

Kenobi voltou a andar pela caverna.

“Vader usou a educação que lhe dei e sua força natural para praticar o mal, para ajudar imperadores corruptos. Com os Ca­valeiros de Jedi fora do caminho, não havia praticamente ninguém para se opor a seus desígnios. Hoje, os Cavaleiros de Jedi estão quase extintos.”

Uma expressão indecifrável atravessou o rosto de Kenobi.

"A verdade é que eles foram excessivamente idealistas, ex­cessivamente ingênuos. Confiaram demais na estabilidade da Re­pública, sem perceber que, embora o corpo ainda fosse saudável, a cabeça estava ficando cada vez mais fraca.

"Gostaria de saber o que Vader queria. Às vezes, tenho a impressão de que estava ganhando tempo, preparando-se para al­guma maldade incompreensível. Tal é a complexidade daqueles que dominam a força, mas se deixam levar por seu lado negro.

Luke olhou para o velho, intrigado.

— Força? Que força? É a segunda vez que o senhor se re­fere a uma "força".

Kenobi assentiu.

— Às vezes, eu me esqueço com quem estou falando. Diga­mos simplesmente que a força é uma coisa que um Cavaleiro de Jedi deve aprender a controlar. Embora nunca tenha sido perfei­tamente explicada, os cientistas acham que não passa de uma for­ma de energia que é gerada pelos seres vivos. Há milhares de anos que os homens suspeitam da sua existência. Entretanto, ape­nas alguns indivíduos reconheciam a força como tal. E eram ta­xados de charlatães, curandeiros, místicos... e coisas piores. — Kenobi fez um gesto largo com os dois braços. — Esta força está em todos nós. Alguns acreditam que é ela que dirige todos os nossos atos. Mas os Cavaleiros de Jedi sabiam manipulá-la, e era isto que os distinguia dos outros homens.

O velho baixou os braços e ficou olhando para Luke até que o rapaz começou a se remexer, inquieto. Quando falou de novo, foi em um tom tão incisivo que Luke teve um sobressalto.

— Você também precisa aprender a usar a força, Luke. Vai precisar dela quando for comigo para Alderaan.

— Alderaan? — Luke parecia atônito. — Mas não vou para Alderaan. Nem sei onde fica Alderaan. — Condensadores, andróides, a colheita... de repente, a caverna lhe pareceu opressiva. A mobília exótica e os estranhos artefatos, que há pouco tanto ha­viam despertado sua curiosidade, agora o deixavam assustado. Vi­rou a cabeça, tentando evitar o olhar penetrante de Ben Kenobi... do velho Ben... do General Velhi-ban.

— Tenho que voltar para casa — murmurou, com dificulda­de. — Já é tarde. Tio Owen deve estar uma fera. — Lembrando-se de uma coisa, fez um gesto em direção à forma inerte de Erredois Dedois. — Pode ficar com o andróide. Arranjarei uma desculpa para dar a meu tio — acrescentou, desamparado.

— Preciso de você, Luke — explicou Kenobi, com um mis­to de arrogância e tristeza. — Estou ficando velho demais para esse tipo de coisa. Não devo tentar fazer tudo sozinho. A missão é importante demais. — Apontou para Erredois Dedois. — Você viu e ouviu a mensagem.

— Mas... não me posso envolver em uma coisa dessas! — protestou Luke. — Tenho trabalho a fazer! A colheita está pró­xima. Se bem que Tio Owen poderia contratar ninguém para me substituir, acho. Mas não conseguiria convencê-lo. Além disso, é tudo tão remoto! Por que me iria envolver?

— Parece seu tio falando — observou Kenobi, sem rancor.

— Oh! Meu Tio Owen... como vou explicar tudo isto para ele?

O velho conteve um sorriso, convencido de que o destino de Luke já estava traçado. Tudo havia sido decidido cinco minutos antes que soubesse como o pai havia morrido. Fora decidido quan­do Luke ouvira a mensagem completa. Havia sido determinado quando ele vira pela primeira vez o rosto belo e suplicante da Senadora Organa, projetado pelo pequeno andróide. Kenobi cor­rigiu-se mentalmente. Não, provavelmente tudo já estava decidi­do antes mesmo de o rapaz nascer. Não que Ben acreditasse em predestinação, mas acreditava em hereditariedade... e na força.

— Lembre-se, Luke, de que o sofrimento de um homem é o sofrimento de todos. A injustiça independe da distância. Quan­do não é contido a tempo, o mal se espalha para atingir todos os homens, tanto os que o combateram como os que o ignoraram.

— Pelo menos — disse Luke, nervoso — posso levá-lo até Anchorhead. Lá, o senhor pode arranjar condução para Mos Eisley, ou para outro lugar qualquer.

— Está bem — concordou Kenobi. — Já é um começo. Mais tarde, você fará o que achar que é certo.

Luke assentiu, agora totalmente confuso.

— Claro, claro. No momento, não me sinto muito bem...

 

A escuridão era quase total. Havia apenas luz suficiente para entrever as paredes metálicas. A cela havia sido projetada para acen­tuar a sensação de isolamento do prisioneiro. E cumpria tão bem a missão que o único ocupante se retesou quando um zumbido quebrou o silêncio mortal. A porta de metal que começou a se abrir tinha um palmo de espessura... como se tivessem medo, pensou Organa ironicamente, de que ela fosse capaz de arrombar com as próprias mãos alguma coisa menos sólida.

Olhando para fora, a jovem viu vários soldados do Império se perfilarem. Com uma expressão de desafio nos olhos, Leia Or­gana recuou até a parede dos fundos da cela.

A determinação da jovem se esvaiu quando um monstruoso vulto negro entrou na cela, deslizando sem fazer ruído, como se tivesse rodas, A presença de Vader esmagou-lhe o espírito tão seguramente como um elefante esmagaria um ovo. O vilão estava acompanhado por um homem de aparência igualmente assustadora, embora parecesse um anão ao lado do Lorde Negro.

Darth Vader fez um gesto para alguém lá fora. Alguma coi­sa que zumbia como uma abelha gigante se aproximou e entrou na cela. Leia prendeu a respiração ao ver o globo de metal. Mo­via-se sem tocar o chão, sustentado por campos de força. A su­perfície era coberta por estranhos braços, que terminavam em de­licados instrumentos.

Leia olhou para a máquina, aterrorizada. Já tinha ouvido fa­lar a respeito, mas jamais acreditara realmente que os técnicos do Império tivessem a coragem de construir tal monstruosidade. Em sua memória estavam todas as torturas jamais inventadas pela raça humana... e por várias outras raças alienígenas.

Vader e Tarkin ficaram quietos, deixando-a examinar à von­tade o pesadelo mecânico. O Governador, em particular, não ti­nha esperanças de que a simples presença da máquina a obrigas­se a falar. Não, refletiu ele, que a sessão que estava para vir lhe causasse alguma repulsa. Pelo contrário, era sempre possível apren­der muita coisa a respeito da natureza humana durante um inter­rogatório, e a senadora prometia ser um paciente bastante inte­ressante.

Depois de algum tempo, Tarkin apontou para a máquina.

— Agora, Senadora Organa, Princesa Organa, vamos discutir a localização da principal base dos rebeldes.

A máquina se aproximou lentamente da jovem. Sua forma esférica ocultou Vader, o Governador, o resto da cela...

 

Sons abafados atravessavam as paredes e a grossa porta da cela, penetrando no corredor. O volume não era suficiente para perturbar a paz e a tranqüilidade que reinavam lá fora. Mesmo assim, os guardas encarregados de vigiar a porta da cela arranja­ram desculpas para se afastar o suficiente para não ouvir os gritos femininos.

 

— OLHE ali, Luke — disse Kenobi, apontando para sudoeste. O carro atravessava a planície arenosa com boa velocidade. — Pa­rece fumaça.

Luke olhou para a direção indicada.

— Não estou vendo nada.

— De qualquer forma, vamos investigar. Pode ser alguém em dificuldades.

Luke mudou de rumo. Pouco depois, também podia divisar ao longe a coluna de fumaça que Kenobi havia avistado um mo­mento antes.

Chegando ao topo de uma pequena colina, o carro começou a descer a encosta suave que levava a um amplo vale. O vale es­tava coalhado de formas retorcidas, carbonizadas, algumas inorgâ­nicas, outras não. Bem no meio desta cena de devastação, pare­cendo uma imensa baleia metálica, estava a carcaça de um veículo dos jawas.

Luke parou o carro. Ele e Kenobi saltaram e começaram a examinar os destroços.

Várias pequenas depressões na areia atraíram a atenção de Luke. Caminhando um pouco mais depressa, aproximou-se e estu­dou-as por um momento antes de chamar Kenobi.

— Parece que foram mesmo os tuskens. Aqui estão as pega­das dos banthas... — Luke avistou um objeto meio enterrado na areia. — E aqui está um pedaço daqueles machados de lâmina dupla que eles usam. — Sacudiu a cabeça, confuso. — Mas nun­ca pensei que os tuskens tivessem coragem de atacar uma forta­leza dessas. — Levantou a cabeça para olhar o gigantesco veículo, agora reduzido a um monte de destroços.

Kenobi estava examinando as pegadas na areia.

— Não foram os tuskens — declarou, em tom casual — mas é o que queriam que pensássemos. Nós e qualquer outra pessoa que passasse por aqui.

— Não compreendo — disse Luke, espantado.

— Examine com atenção estas pegadas — convidou o velho, apontando primeiro para a marca mais próxima e depois para as outras. — Não está vendo nada de estranho? -- Luke sacudiu a cabeça. — Vários banthas passaram por aqui, lado a lado. Mas os tuskens, quando estão montados, andam sempre em fila india­na para que os observadores distantes não saibam quantos são.

Enquanto Luke olhava de boca aberta para os rastos parale­los, Kenobi voltou sua atenção para o enorme veículo. Apontou para os lugares onde os disparos haviam destruído as rodas, as lagartas e as vigas de sustentação.

— Veja a precisão com que os disparos foram feitos. Os tuskens não são tão sutis. Na verdade, nenhum nativo de Tatooine é capaz de destruir com tanta eficiência. — Voltou-se para con­templar o horizonte. Uma das colinas próximas escondia um se­gredo... e uma ameaça. — Só os soldados do Império seriam capazes de atacar um veículo blindado de forma tão fulminante.

Luke se aproximou de um dos pequenos corpos e o virou de barriga para cima. Fez uma careta de nojo quando viu o que restava da pequena criatura.

— São os mesmos jawas que venderam Erredois e Pezero para Tio Owen. Reconheci a capa deste aqui. Mas por que os sol­dados do Império estariam matando jawas e tuskens? Devem ter matado alguns tuskens para conseguir aqueles banthas.

Seu cérebro estava trabalhando furiosamente e Luke sentiu que todo o corpo se retesava quando olhou de volta para o carro, a alguma distância dos corpos contorcidos dos jawas.

— Mas... se eles descobriram que os andróides foram cap­turados pelos jawas, também devem saber a quem foram vendi­dos. E isto os levaria a...— Luke saiu correndo em direção ao carro.

— Luke, espere... espere, Luke! — gritou Kenobi. — É pe­rigoso! — Você não deve...

Mas Luke não queria ouvir mais nada. Entrou no carro e aper­tou o acelerador até o fim. Com uma explosão de cascalho e areia, deixou Kenobi e os dois robôs parados no meio dos corpos cal­cinados, tendo por companhia apenas os destroços ainda fumegantes do veículo dos jawas.

 

A fumaça que Luke avistou ao aproximar-se de casa era bem mais espessa do que a que havia saído da máquina dos jawas. No momento em que o carro parou, Luke levantou a cúpula e pulou do mesmo. Grossos rolos de fumaça negra saíam de buracos no chão.

Esses buracos haviam sido seu lar, o único lar que jamais havia conhecido. Agora, assemelhavam-se a bocas de pequenos vulcões. Luke tentou várias entradas do complexo subterrâneo. E todas às vezes o calor ainda intenso o fez recuar, tossindo.

Já meio cego pela fumaça, entrou cambaleando na rampa que levava à garagem. Esta também estava cheia de fumaça. Mas talvez os tios tivessem conseguido escapar no outro carro.

— Tia Beru... Tio Owen!

Era difícil ver alguma coisa em meio à fumaça. No final da rampa havia dois corpos carbonizados. Parecia... Luke chegou mais perto, esfregando os olhos irritados.

Não.

Então saiu correndo da casa, jogou-se ao chão e enterrou o rosto na areia, como se com isso pudesse dissipar a visão terrível que lhe povoava a mente.

 

A tela tridimensional ocupava toda uma parede do vasto apo­sento, desde o chão até o teto. Mostrava um milhão de sistemas planetários. Uma pequena parte da galáxia, mas que não deixava de impressionar quando exibida desta forma.

Abaixo, muito abaixo, estava a imponente figura de Darth Vader, tendo de um lado o Governador Tarkin e do outro o Al­mirante Motti e o General Tagge, as rivalidades particulares es­quecidas diante da importância do momento.

— Os testes finais foram completados — anunciou Motti — Todos os sistemas funcionam perfeitamente. — Voltou-se para os outros. — Para onde vamos agora?

Vader pareceu não ter ouvido e murmurou baixinho, quase para si mesmo:

— A mocinha tem um autocontrole admirável. Está resis­tindo bravamente ao interrogador. — Olhou para Tarkin. — Va­mos levar algum tempo para conseguir extrair dela as informações que desejamos.

— Sempre achei seus métodos excessivamente delicados, Vader.

— São eficientes — argumentou o Lorde Negro. — Mas no interesse de acelerar o processo, estou aberto a sugestões.

Tarkin pareceu pensativo.

— Talvez seja a hora de recorrermos a uma ameaça indireta.

— Como assim?

— Penso que é hora de verificarmos de que esta base é capaz. E podemos fazê-lo de uma forma duplamente útil. — Voltou-se para Motti. — Diga aos programadores para planejarem o curso para o sistema de Alderaan.

 

O orgulho de Kenobi não o impediu de enrolar um lenço velho na boca e no nariz para filtrar uma parte do cheiro pútrido que se desprendia dos cadáveres. Embora dotados de sensores ol­fativos, Erredois Dedois e Pezero não precisavam de proteção. Mesmo Pezero, que podia reconhecer odores desagradáveis, era ca­paz de desligar o sentido do olfato quando assim o desejasse.

Trabalhando juntos, os dois andróides ajudaram Kenobi a jogar o último corpo na pira funerária. Então recuaram e ficaram vendo o fogo devorar os mortos. Não que os animais do deserto não fossem capazes de fazer um serviço eficiente, mas Kenobi con­servava certos princípios que a maioria dos homens modernos jul­garia antiquados. A idéia de deixar alguém à mercê dos comedores de carniça, até mesmo um mísero jawa, o deixava repugnado.

Ouvindo um ruído, Kenobi voltou-se e viu que o carro de Luke estava de volta, viajando desta vez em uma velocidade ra­zoável, muito diferente da forma como havia partido. O carro reduziu a marcha e parou, mas no interior não havia sinais de vida.

Fazendo um gesto para que os dois robôs o seguissem, Ben correu em direção ao veículo. A cúpula se abriu e mostrou que Luke estava sentado, imóvel, no assento do piloto. Não correspon­deu ao olhar ansioso de Kenobi. Isto foi suficiente para que o velho adivinhasse o que havia ocorrido.

— Sinto muito, Luke — disse, finalmente. — Não havia nada que você pudesse ter feito. Se estivesse lá, teria morrido, também, e os andróides estariam nas mãos do Império. Nem mesmo a força...

— Para o inferno com sua força! — exclamou Luke, com inesperada violência. Voltou-se para encarar Kenobi. Seu rosto tinha uma expressão mais adulta. — Vou levá-lo ao espaçoporto de Mos Eisley, Ben. Quero ir com você para Alderaan. Aqui não me resta mais nada. — Seus olhos vagaram pelo deserto, fixando-se em algo que ficava muito além das montanhas. — Quero ser um Cavaleiro de Jedi, como meu pai. Quero... — Luke não conseguiu dizer mais nada.

Kenobi entrou no carro, colocou a mau paternalmente no om­bro de Luke e inclinou-se para a frente para abrir espaço para os dois robôs.

— Vou fazer o possível para atendê-lo, Luke. Agora, vamos para Mos Eisley.

Luke assentiu e fechou a cúpula. O carro tomou a direção sudeste, deixando para trás os escombros ainda quentes, a pira funerária dos jawas e a única vida que Luke havia conhecido.

Deixando o carro estacionado perto da borda do precipício, •, Luke e Ben foram até a beirada e olharam para baixo, para as pequenas protuberâncias que semeavam a planície ensolarada. O conjunto heterogêneo de estruturas de concreto, pedra e plastóide lembrava os raios de uma roda, cujo eixo era a usina de distri­buição de água e energia.

Na verdade, a cidade era bem maior do que parecia, já que boa parte era subterrânea. Parecendo crateras de bombas a esta distância, as pequenas depressões circulares das bases de lança­mento se destacavam nitidamente na periferia da cidade.

Um vento forte fez Luke ajustar os óculos protetores.

— Lá está ele — murmurou Kenobi, apontando para o con­junto de edifícios. — O espaçoporto de Mos Eisley. O lugar ideal para nos escondermos enquanto procuramos um meio de deixar o planeta. Não existe* uma cidade em Tatooine que abrigue mais vagabundos e aventureiros. Temos que tomar muito cuidado, Luke. O Império já foi alertado a nosso respeito. Mas a população de Mos Eisley será um ótimo disfarce.

Luke tinha uma expressão determinada no rosto.

— Estou preparado para qualquer coisa, Velhi-ban.

Você não sabe o que o espera, Luke, pensou Kenobi. Mas limitou-se a assentir enquanto caminhava de volta para o carro.

Ao contrário de Anchorhead, onde quase todo o trabalho ex­terno era feito à noite, Mos Eisley era bastante movimentada du­rante o dia. Construída desde o começo para ser uma cidade co­mercial, mesmo o mais antigo dos edifícios da cidade oferecia uma boa proteção contra os sóis gêmeos. Vistos de fora, pareciam pri­mitivos, e muitos eram mesmo. Mas, às vezes, as paredes e arcos de pedra escondiam paredes duplas de aço especial, entre as quais circulava permanentemente um líquido refrigerante.

Luke estava entrando nos subúrbios da cidade quando vários homens armados apareceram subitamente e começaram a formar um círculo em torno do veículo. Por um momento, Luke entrou em pânico e pensou em acelerar loucamente, atropelando aqueles que se colocassem a sua frente. Mas uma mão firme apertou-lhe o braço, acalmando-o e impedindo-o, ao mesmo tempo, de fazer o que pre­tendia. Olhou para o lado e viu que Kenobi estava sorrindo.

Assim, continuaram a trafegar em velocidade normal, enquanto Luke torcia para que os soldados do Império os deixassem passar. Mas não. Um dos soldados levantou a mão. Luke teve que obe­decer. Quando encostou o carro, notou que os passantes observa­vam a cena com interesse. Pior ainda, parecia que a atenção do soldado não era para ele nem para Kenobi, mas para os dois robôs que estavam sentados imóveis no banco traseiro.

— Há quanto tempo você tem esses andróides? — perguntou o soldado que havia levantado a mão, dispensando todas as for­malidades.

Por um momento, Luke não soube o que responder. Então conseguiu balbuciar:

— Três ou quatro anos, não sei ao certo.

— Estão à venda, sabe? Uma verdadeira pechincha! — inter­veio Kenobi, representando com perfeição o papel de um vaga­bundo do deserto, pronto a tirar alguma vantagem de um soldado crédulo.

O guarda ignorou a observação. Estava ocupado examinando detidamente a parte de baixo do carro.

— Estão vindo do sul? — perguntou.

— Não... não — respondeu Luke, rapidamente. — Estamos vindo do oeste. Moramos perto de Bestine.

— Bestine? — murmurou o soldado, dando a volta para exa­minar a frente do veículo. Finalmente, concluiu o exame. Aproxi­mou-se de Luke e ordenou: — Deixe-me ver sua identificação.

A essa altura o outro podia ver claramente que estava apavo­rado, pensou Luke. A recente decisão de enfrentar com coragem o que o futuro lhe reservava se havia desintegrado ante o olhar pe­netrante do soldado profissional. Sabia o que ia acontecer quando vissem a carteira de identidade, onde estavam claramente estam­pados o seu endereço e os nomes dos parentes mais próximos. Al­guma coisa começou a zumbir dentro de sua cabeça. Sentiu que ia desmaiar.

Kenobi se havia inclinado para seu lado e estava falando tran­qüilamente com o soldado.

— Não precisa ver a carteira dele — disse o velho, com uma voz que não era a dele.

Com olhos esgazeados, o soldado declarou, como se fosse uma verdade histórica:

— Não preciso ver sua carteira. — Sua reação era o oposto da de Kenobi: a voz continuava normal, mas a expressão havia mudado totalmente.

— Estes não são os robôs que vocês estão procurando — disse Kenobi, amavelmente.

— Estes não são os robôs que estamos procurando.

— Ele está dispensado.

— Você está dispensado — disse o soldado para Luke.

A expressão de alívio que tomou conta do rosto de Luke era tão reveladora quanto seu nervosismo anterior, mas o soldado do Império a ignorou.

— Vá andando — sussurrou Kenobi.

— Vá andando — ordenou o soldado para Luke.

Indeciso entre fazer continência, acenar com a cabeça e agra­decer ao homem, Luke finalmente encontrou forças para apertar o acelerador. O carro se afastou lentamente do grupo de soldados. Antes de dobrar a esquina, Luke arriscou um olhar para trás. O soldado que o havia interrogado parecia estar discutindo com vários companheiros, embora a distância não pudesse ter certeza.

O rapaz olhou para Kenobi e começou a dizer alguma coisa. O velho apenas meneou a cabeça e sorriu. Contendo sua curiosi­dade, Luke se concentrou na tarefa de dirigir o carro pelas estrei­tas ruas de Mos Eisley.

Kenobi parecia ter alguma idéia de onde estavam indo. Luke olhou com desagrado para os edifícios decrépitos e para os indi­víduos de aspecto suspeito que os cercavam. Haviam entrado na parte mais antiga da cidade, aquela onde os antigos vícios flores­ciam com maior vigor.

Kenobi fez um gesto e Luke parou o carro na frente do que parecia ser um dos primeiros edifícios da cidade. Havia sido trans­formado em uma cantina. Os diversos veículos estacionados na entrada davam uma idéia do tipo de clientela. Pela construção do edifício, Luke sabia que boa parte da cantina devia ficar abaixo do solo.

Quando o carro empoeirado mas ainda elegante estacionou em uma vaga, um jawa surgiu do nada e começou a acariciar a lataria do veículo com mãos cobiçosas. Luke inclinou-se para fora e gritou uma ameaça para a criatura, que desapareceu nas sombras.

— Detesto esses jawas — murmurou Pezero com desdém. — Estou para ver criaturas mais desprezíveis.

Luke estava preocupado demais com os acontecimentos recen­tes para se importar com os preconceitos do robô.

— Ainda não entendo como conseguimos escapar daqueles soldados. Pensei que estávamos perdidos.

— A força está no cérebro, Luke, e às vezes pode ser usada para influenciar pessoas. É uma arma preciosa. Mas quando conhecê-la melhor, verá que também pode ser perigosa.

Concordando sem realmente compreender, Luke apontou para a cantina, que embora fosse mal instalada, parecia bastante popular.

— Acha mesmo que podemos encontrar aí dentro um piloto capaz de nos levar até Alderaan?

Kenobi estava saltando do carro.

— Alguns dos melhores pilotos de carga são fregueses habi­tuais, embora a maioria pudesse freqüentar lugares muito mais dis­pendiosos. Aqui eles podem falar livremente. A esta altura, Luke, você já devia ter aprendido a não julgar pelas aparências. — Luke olhou para as vestes surradas do outro e se sentiu envergonhado. — Mas tome cuidado. O ambiente, às vezes, é pesado.

Luke teve de apertar os olhos quando entrou na cantina. O ambiente era escuro demais para seu gosto. Talvez os freqüenta­dores habituais não estivessem acostumados à luz do dia, ou não quisessem ser reconhecidos. Não lhe ocorreu que a combinação de uma entrada feericamente iluminada com um interior na penumbra permitia que os que já estavam lá dentro pudessem ver os recém-chegados antes de serem vistos.

Quando os olhos se acostumaram à penumbra, Luke ficou es­pantado com a variedade dos seres que estavam a sua volta. Havia criaturas de um olho só e de mil olhos, havia seres com escamas, havia bípedes peludos, e havia alguns com uma pele que parecia ondular e mudar de consistência de acordo com as emoções que estavam sentindo no momento.

Perto do bar, um gigantesco inseto, que Luke percebeu ape­nas como uma sombra ameaçadora, voava lentamente em círculos. Contrastava com duas das mulheres mais altas que Luke já co­nhecera. Estavam entre as criaturas humanas de aparência mais normal naquele ambiente de pesadelo, em que homens e aliení­genas se misturavam e se confundiam. Tentáculos, garras e mãos seguravam copos de bebida das mais variadas formas e tamanhos. A conversa era uma mistura inextricável de línguas humanas e alienígenas.

Segurando Luke pelo braço, Kenobi apontou para a extremi­dade do bar, onde estava sentado um pequeno grupo de humanos mal-encarados, bebendo, rindo e contando piadas.

— Corelianos... piratas, provavelmente.

— Pensei que estávamos procurando um piloto de carga dis­posto a alugar sua nave — sussurrou Luke.

— E estamos, meu rapaz — concordou Kenobi. — E pro­vavelmente vamos encontrá-lo naquele grupo. Só que os corelianos, às vezes, não dão muita importância aos direito,s de propriedade. Espere aqui.

Luke assentiu e Kenobi encaminhou-se para o bar. A atitude hostil dos corelianos se desfez assim que o velho começou a falar.

Alguém segurou Luke pelo ombro e o obrigou a dar meia-volta.

— Ei! — Lutando para recuperar a compostura, Luke des­cobriu que estava diante de um humano de maus bofes, um ver­dadeiro gigante. Pela forma como estava vestido, o rapaz deduziu que se tratava de um empregado, se não do próprio dono da cantina.

— Eles não podem ficar aqui — rosnou o brutamontes.

— Quem? — perguntou Luke, surpreso. Ainda não estava recuperado do choque de se ver no meio de uma mistura de de­zenas de raças. Era muito diferente do salão de sinuca que ficava atrás da usina de força de Anchorhead.

— Os seus andróides — explicou o empregado com impa­ciência, apontando com o polegar. Luke olhou na direção indicada e lá estavam Erredois e Pezero, esperando tranqüilamente. Vão ter que ficar lá fora. Aqui só servimos criaturas orgânicas. Não temos nada para... para máquinas — concluiu, com uma expressão de nojo.

Luke não gostou da idéia, mas não via outra saída para a situação. O empregado não parecia ser do tipo com quem pudesse argumentar, e quando procurou com os olhos pelo Velho Ben, viu que ele estava conversando animadamente com um dos corelianos.

Enquanto isso, a discussão havia atraído a atenção de vários tipos especialmente mal-encarados, que olhavam para Luke e os robôs com uma expressão decididamente hostil.

— Está bem, eu não sabia — disse Luke, percebendo que não era a hora nem o lugar de defender os direitos dos andróides. — Desculpe. — Olhou para Pezero. — É melhor vocês esperarem lá fora, perto do carro. Não queremos criar problemas.

— Estou plenamente de acordo, senhor — disse Pezero, olhando em torno. — De qualquer maneira, no momento não estou precisando de óleo. — E com Erredois em seu encalço, o alto robô encaminhou-se rapidamente para a porta.

O empregado pareceu dar-se por satisfeito, mas Luke se havia tornado o alvo involuntário da atenção dos presentes. De repente ele se sentiu muito só e teve a impressão de que todos os olhos do recinto, humanos ou não, estavam cravados em sua pessoa.

Tentando manter um ar de tranqüila confiança, tornou a olhar para o Velho Ben, e teve um sobressalto ao ver com quem o Velho estava falando. O coreliano havia desaparecido. Em seu lugar estava um gigantesco antropóide que mostrava uma boca cheia de dentes quando sorria.

Luke tinha ouvido falar dos wookies, mas nunca imaginara que teria a oportunidade de ver uma dessas criaturas. Embora ti­vesse um rosto engraçado, que lembrava o de um mico, o wookie podia ser tudo, menos delicado. Apenas os olhos grandes e ama­relos destoavam de sua aparência assustadora. O corpo era intei­ramente coberto por uma pelagem espessa. Seu traje consistia ape­nas em um par de cartucheiras cromadas, contendo projéteis de um tipo desconhecido para Luke.

Não, pensou Luke, que alguém tivesse coragem de achar graça na forma como a criatura se vestia. Reparou que os outros fregue­ses do bar faziam a volta para não passar muito perto do temível antropóide. Todos, exceto o Velho Ben, que estava falando com o wookie na língua deste último, rosnando e grunhindo como se fosse um nativo.

Durante a conversa, o Velho fez um gesto na direção de Luke. O antropóide olhou para o rapaz e soltou uma sonora gargalhada, de arrepiar os' cabelos.

Descontente com o papel que estava obviamente representando na conversa, Luke deu-lhes as costas e fingiu ignorá-los. Talvez es­tivesse sendo injusto com a criatura, mas duvidava de que a gar­galhada fosse um gesto de amizade.

Não conseguia imaginar o que Ben poderia querer com o monstro. Não podia entender por que estava perdendo tempo na­quela conversa gutural, ao invés de prosseguir as negociações com os corelianos. O jeito foi sentar-se a um canto e sorver o drinque em silêncio, correndo de vez em quando os olhos pela sala à pro­cura de um olhar menos hostil.

De repente, alguém o sacudiu violentamente por trás, com tanta força que Luke quase caiu no chão. Voltou-se, zangado, mas a fúria logo deu lugar a uma expressão de completa surpresa. Es­tava frente a frente com uma monstruosidade atarracada, de olhos múltiplos e origem indeterminada.

— Negola dewaghi wooldugger? — balbuciou a aparição.

Luke jamais havia visto nada parecido. Não conhecia nem a espécie nem a língua. O que o outro dissera podia ser um desafio para uma briga, um convite para um drinque ou uma proposta de casamento. A despeito de sua ignorância, Luke pôde perceber, pela forma como a criatura cambaleava, que havia bebido demais o que quer que bebesse.

Sem saber o que fazer, Luke limitou-se a concentrar a atenção no copo a sua frente, ignorando deliberadamente a criatura. Nesse instante, uma coisa, um cruzamento de capivara com babuíno, veio chegando e ficou de pé (ou de cócoras) ao lado do olhudo bêbado. Um homem baixinho, com cara de mau, também se aproximou e abraçou carinhosamente o monstro.

— Ele não gosta de você — disse para Luke, com uma voz surpreendentemente grossa.

— Sinto muito — desculpou-se Luke, desejando ardente­mente estar em outro lugar.

— Eu também não gosto de você — prosseguiu o homenzinho, sorrindo.

— Eu disse que sinto muito.

Fosse por causa da conversa que estava tendo com o roedor, fosse por causa do excesso de álcool, a verdade era que o asilo de olhos desamparados estava ficando cada vez mais agitado. Incli­nou-se para a frente, quase caindo por cima de Luke, e cuspiu uma torrente de palavras incompreensíveis. Luke percebeu que as aten­ções gerais voltavam a se concentrar nele.

— Sinto muito — repetiu o homem, em tom de escárnio. Era evidente que também havia passado da conta. — Está querendo insultar-nos? Acho que não sabe com quem está lidando. Nós todos temos a cabeça a prêmio — indicou os companheiros. — Fui con­denado à morte em doze planetas.

— Se o ofendi, não foi por querer — murmurou Luke.

— Se pensa que isto vai ficar assim, está enganado — disse o homenzinho, ainda sorrindo.

Neste momento, o roedor soltou um alto grunhido. Imediata­mente, todos os espectadores que se haviam reunido para presen­ciar a discussão recuaram um passo, deixando um espaço livre em volta de Luke e seus antagonistas.

Tentando remediar a situação, Luke ensaiou um sorriso ama­relo, que desapareceu no momento em que viu que os três estavam sacando as armas. Além de não ter esperanças de poder lutar contra os três, Luke não tinha a mínima idéia de como eram as armas dos dois alienígenas.

— Vamos, não percam tempo com o nanico — disse alguém, calmamente. Luke olhou para o lado, surpreso. Não havia perce­bido a aproximação de Kenobi.. — Venham comigo, eu pago um drinque para vocês tr...

Como resposta, o monstro olhudo soltou um guincho amea­çador e desferiu um tremendo golpe com um dos seus muitos membros, apanhando Luke totalmente desprevenido. O rapaz foi atingido na têmpora e arremessado longe, derrubando duas mesas e quebrando uma garrafa cheia de um líquido malcheiroso.

Os espectadores recuaram mais um passo e alguns resmunga­ram quando o monstro embriagado puxou do cinto uma feia pis­tola. Começou a acenar com ela na direção de Kenobi.

Isto fez entrar em ação o garçom, que até então se mantivera neutro. Abrindo caminho às cotoveladas, colocou-se à frente do trio agitando os braços freneticamente

— Nada de armas, nada de armas! Não aqui dentro!

O roedor mostrou-lhe os dentes, enquanto o monstro olhudo soltava um grunhido de advertência.

No instante em que as atenções do trio se voltaram para o garçom, o velho levou a mão ao disco que trazia na cintura. Um feixe de luz branco-azulada apareceu na penumbra da cantina. O homem baixinho gritou.

O grito se transformou em um gemido. Um momento depois, o homem estava caído de costas no chão. Seu braço direito havia desaparecido.

No intervalo de tempo entre o grito do homem e sua queda, o roedor havia sido partido exatamente em dois, as duas metades caindo em direções opostas. O monstro de muitos olhos ainda es­tava de pé, olhando espantado para o velho, que apontava o sabre de luz em sua direção. A pistola da criatura disparou uma vez, fazendo um buraco na porta. Então a cabeça se separou do corpo e as duas partes rolaram pelo chão frio da cantina.

Só então foi que Kenobi pareceu soltar um suspiro de alívio. Baixando o sabre de luz, voltou o disco para cima, em uma sauda­ção instintiva que terminou com a arma travada e guardada no cinto.

Este movimento quebrou o silêncio mortal que havia tomado conta do recinto. A conversa recomeçou, acompanhada pelo arras­tar das cadeiras e pelo tilintar dos copos. O garçom e outros em­pregados apareceram para arrastar os corpos para fora, enquanto o homem mutilado desaparecia na multidão, considerando-se afortu­nado por haver escapado com vida.

Tudo havia voltado ao normal na cantina, com uma pequena exceção. Ben Kenobi havia conquistado um respeitoso espaço no bar.

Luke mal percebeu que o silêncio havia sido rompido. Ainda estava atônito com a rapidez da briga e com a agilidade do velho. Quando se acalmou um pouco e aproximou-se de Kenobi, pôde ouvir pedaços de conversas. Todos estavam comentando que a vi­tória do velho havia sido justa.

— Você está machucado, Luke — observou Kenobi, solici­tamente.

Luke levou a mão ao local onde tinha sido atingido pelo monstro.

— Acho que não foi... — começou a dizer, mas o Velho Ben o interrompeu. Como se nada tivesse acontecido, apontou para a massa cabeluda que se aproximava.

— Este é Chewbacca — explicou para o rapaz, quando o antropóide se reuniu a eles no bar. — Trabalha como imediato em uma nave que talvez nos sirva. Agora, vai-nos apresentar ao capi­tão e dono do cargueiro.

— Por aqui — grunhiu o wookie, ou coisa parecida. De qual­quer forma, o gesto de "sigam-me" da criatura era inconfundível. Encaminharam-se para os fundos da cantina, o wookie abrindo ca­minho na multidão como uma faca cortando manteiga.

 

Em frente à cantina, Pezero passeava nervosamente de um lado para outro. Erredois Dedois estava entretido em uma animada conversa eletrônica com um R-2 vermelho vivo, pertencente a outro freguês da cantina.

— Por que estão demorando tanto? Disseram que iam alu­gar uma nave, não uma frota.

De repente, Pezero parou e silenciou Erredois com um gesto. Dois soldados do Império haviam chegado à porta da cantina. Foram recebidos por um homem mal vestido, que havia surgido quase que simultaneamente de dentro da cantina.

— Não estou gostando nada disso — murmurou o andróide.

 

Enquanto se encaminhavam para o fundo da cantina, Luke havia apanhado o drinque de alguém na bandeja de um garçom que passava. Engoliu a bebida com o ar negligente de quem se encontra sob a proteção divina. Não era bem assim, mas em com­panhia de Kenobi e do gigantesco wookie, o rapaz tinha certeza de que ninguém na cantina se atreveria a incomodá-lo de novo.

Em um reservado dos fundos estava um homem de feições angulosas que podia ser cinco anos mais velho do que Luke, como podia ser dez, era difícil dizer. Tinha o ar despreocupado de uma pessoa extremamente confiante, ou totalmente irresponsável. Quan­do viu que tinha visitas, mandou embora a prostituta humanóide que se remexia em seu colo, cochichando-lhe no ouvido alguma coisa que a fez sorrir.

Chewbacca rosnou alguma coisa para o homem e ele fez que sim com a cabeça, sorrindo amistosamente para os recém-chegados.

— Você sabe usar muito bem aquele sabre, velho. A gente quase não vê mais uma exibição dessas nesta parte do Império. — Bebeu metade do líquido que estava no copo de um gole só.

—Meu nome é Han Solo. Sou capitão do Millennium Falcon. —

A voz assumiu de repente um tom impessoal. — Chewie me disse que estão querendo viajar para o sistema de Alderaan.

— Isso mesmo, filho. Mas precisamos de uma nave veloz

— disse Kenobi.

Solo não pareceu incomodar-se com o "filho".

— Veloz? Então você nunca ouviu falar do Millennium

Falcon?

Kenobi achou graça.

— Devia?

— É o cargueiro que fazia a rota de Kessel em menos de doze unidades galácticas! — exclamou Solo, indignado. — Já ga­nhei de naves estelares do Império e de cruzadores corelianos. Agora acha que é suficientemente veloz? — A explosão passou ra­pidamente. — Qual é a sua carga?

— Passageiros, apenas. Eu, o rapaz e dois andróides... e nada de perguntas.

— Nada de perguntas. — Solo olhou pensativamente para o copo, depois levantou a cabeça. — Problemas locais?

— Digamos que não nos queremos envolver com os solda­dos do Império — respondeu Kenobi, sem pestanejar.

— O que não é nada fácil, nos dias de hoje. Vai custar um pouquinho mais. — Fez alguns cálculos de cabeça. — O serviço todo vai ficar em dez mil. Adiantados. E nada de perguntas — acrescentou, com um sorriso.

Luke ficou de boca aberta.

— Dez mil! Mas isso dava para comprar um cargueiro! Solo deu de ombros.

— Pode ser que sim, pode ser que não. Mas quem iria pi­lotá-lo?

— Eu mesmo — respondeu Luke, levantando-se. — Tenho certa experiência, sabe? Eu não...

Kenobi apertou-lhe o braço com força.

— Não temos tanto dinheiro conosco — explicou para o ca­pitão. — Mas podemos pagar dois mil agora e mais quinze mil quando chegarmos a Alderaan.

Solo cocou o queixo, indeciso.

— Quinze mil... você pode realmente arranjar tanto di­nheiro?

— Palavra de honra... e será do próprio governo de Alderaan. Na pior das hipóteses, você terá uma recompensa justa pelo seu trabalho: dois mil.

Solo pareceu não ouvir a última frase.

— Dezessete mil... está bem, vou correr o risco. Negócio fechado. Mas se não querem envolver-se com os soldados do Im­pério, é melhor darem o fora já... — Apontou para a entrada da cantina, e acrescentou rapidamente: — Plataforma de lança­mento noventa e quatro, ao amanhecer.

Quatro soldados do Império haviam entrado na cantina e es­tavam olhando em todas as direções. Alguns fregueses começaram a resmungar, mas cada vez que um dos soldados olhava na dire­ção de onde partira o protesto, o responsável imediatamente se calava.

Encaminhando-se para o bar, o chefe dos soldados fez algumas perguntas rápidas para o empregado. O homem hesitou por um momento e depois apontou para um reservado nos fundos da can­tina. Ao fazê-lo, seus olhos se arregalaram ligeiramente. O soldado não mudou de expressão.

O reservado que o empregado estava mostrando estava vazio.

 

LUKE e Ben estavam colocando Erredois Dedois no banco tra­seiro do carro, enquanto Pezero montava guarda.

— Se o cargueiro de Solo for tão bom como ele diz, não te­remos problemas — observou o velho, com otimismo.

— Mas dois mil... e mais quinze quando chegarmos a Alderaan!

— Não são os quinze mil que me preocupam, mas sim os primeiros dois mil — explicou Kenobi. — Acho que vamos ter que vender seu carro.

Luke deixou o olhar passear pelo veículo, mas a amizade que sentia pelo carro havia desaparecido... desaparecido junto com outras coisas nas quais era melhor nem pensar.

— Não tem importância — disse para Kenobi, com indife­rença. — Nunca mais vou precisar dele.

 

Já devidamente instalados em outro reservado, Solo e Chewbacca assistiram ao desfile dos soldados do Império. Dois deles olharam demoradamente para o coreliano. Chewbacca rosnou uma vez e os dois soldados apertaram o passo.

Solo sorriu cinicamente, voltando-se para o companheiro,

— Chewie, este trabalho pode ser a nossa salvação. Dezes­sete mil! — Sacudiu a cabeça, como se não pudesse acreditar. — Aqueles dois devem estar desesperados. Gostaria de saber qual foi o crime que cometeram. Mas concordei em não fazer pergun­tas, não foi? Vamos andando... precisamos preparar o Falcon para o vôo.

— Vai a algum lugar, Solo?

O coreliano não podia reconhecer a voz, pois estava sendo produzida por um tradutor eletrônico. Mas não teve dificuldade em reconhecer quem estava falando, nem a arma que lhe havia encostado nas costelas.

A criatura era um bípede mais ou menos do tamanho de um homem, mas a cabeça parecia saída de um pesadelo. Os olhos eram enormes, multifacetados, e se destacavam como faróis no rosto verde escuro. O crânio era coberto por uma série de saliên­cias ósseas; a narina e a boca formavam um focinho pontudo, como o de um tapir.

— Que coincidência — respondeu Solo. — Estava justa­mente a caminho para ver seu chefe. Pode dizer a Jabba que con­segui o dinheiro que devo a ele.

— Foi o que você disse ontem... e na semana passada... e na outra semana. Agora chega, Solo. Não vou repetir mais seus contos de fadas para Jabba.

— Mas desta vez arranjei mesmo o dinheiro! — protestou Solo.

— Ótimo. Então passe para cá.

Solo sentou-se devagar. Os asseclas de Jabba tinham o dedo do gatilho muito sensível. O outro sentou-se do outro lado da mesa, mantendo a pequena pistola apontada para o peito de Solo.

— Não está comigo. Diga a Jabba que...

— Não adianta, Solo. Jabba decidiu ficar com o seu car­gueiro.

— Sobre o meu cadáver — disse Solo, com firmeza.

O outro não pestanejou.

— Como quiser. Quer ir lá fora comigo, ou prefere que eu faça o serviço aqui mesmo?

— Acho que o dono não vai gostar.

Algo que poderia ser uma gargalhada saiu do tradutor da criatura.

— Ele não iria nem notar. Levante-se, Solo. Estou esperando por isto há muito tempo. Nunca mais vai-me envergonhar diante de Jabba com suas desculpas ridículas.

— Acho que tem razão.

Um clarão cegante envolveu o reservado. Quando passou, tudo que restava do alienígena era uma massa informe no chão de pedra.

Solo tirou de debaixo da mesa a pistola ainda fumegante, atraindo olhares surpresos de vários fregueses da cantina e mur­múrios de admiração dos mais traquejados. Estes sabiam que o alie­nígena havia cometido um erro fatal: não manter o tempo todo as mãos de Solo debaixo de seus olhos.

— É preciso mais do que uma cara feia para acabar comigo. Jabba sempre foi muito pão-duro na hora de contratar seus ca­pangas.

Deixando o reservado, Solo saiu da cantina com Chewbacca, não sem antes largar um punhado de moedas na mão do garçom.

— Desculpe a bagunça. Mas sabe que a culpa não foi minha.

Os soldados armados até os dentes desciam a rua estreita, olhando de vez em quando para os seres esfarrapados que lhes acenavam com mercadorias exóticas, penduradas na ponta de pe­daços de pau. Neste bairro de Mos Eisley os edifícios eram altos e tinham sido construídos muito próximos, o que transformava a rua em um túnel.

Ninguém olhava para os soldados com hostilidade; ninguém lhes dirigia imprecações ou lhes gritava obscenidades. Os homens uniformizados tinham por trás deles a autoridade do Império. Por toda parte, homens, alienígenas e robôs agachavam-se nos umbrais escuros. No meio de pilhas de lixo, trocavam informações e con­cluíam transações de legalidade duvidosa.

Um vento morno gemeu no beco e os soldados cerraram filei­ras. A ordem e a disciplina ajudavam a disfarçar o medo que sen­tiam por se encontrarem em uma zona tão opressiva da cidade.

Um dos soldados parou para examinar uma porta e descobriu que estava trancada. Um maltrapilho que estava nas proximidades olhou para o soldado e soltou uma torrente de palavras sem sen­tido. Encolhendo os ombros, o soldado fuzilou o louco com os olhos antes de apressar o passo para juntar-se aos companheiros. Assim que os soldados se afastaram, a porta se entreabriu e um rosto metálico olhou para fora. Por entre as pernas de Pezero, um pequeno robô cilíndrico se esforçava para ver alguma coisa.

— Preferia ter ido com o Sr. Luke, em vez de ficar aqui com você. Mas ordens são ordens. Não sei direito qual é o pro­blema, mas estou certo de que a culpa é sua.

Erredois respondeu com um som impossível: um bip de des­prezo.

— Veja como fala — advertiu Pezero.

Era possível contar nos dedos de uma das mãos o número de carros e outros veículos de transporte naquele terreno poeirento que ainda se achavam em condições de trafegar. Mas Luke e Ben nem pensaram nisso enquanto discutiam o preço com o proprie­tário, uma criatura alta, que lembrava um inseto. Afinal, estavam ali para vender, não para comprar.

Nenhum dos passantes dedicou à cena nem mesmo um olhar de curiosidade. Transações semelhantes, de interesse apenas dos participantes, ocorriam centenas de vezes por dia em Mos Eisley.

Finalmente, todas as súplicas e ameaças se esgotaram. Como se se estivesse desfazendo de amostras de seu próprio sangue, o pro­prietário concretizou a compra passando para Luke uma pilha de moedas de metal. Luke e o insetóide trocaram algumas palavras amáveis e se separaram, ambos convencidos de que haviam levado a melhor no negócio.

— Ele disse que não podia pagar mais. Desde que o XP-38 foi lançado, a procura diminuiu muito — suspirou Luke.

— Não fique tão desanimado — disse Kenobi. — O que você conseguiu é suficiente. Meu dinheiro dá para completar o que falta.

Deixando a rua principal, entraram em um beco, passando por um pequeno robô que levava com ele um bando de animais parecidos com tamanduás. Ao dobrarem a esquina, Luke virou a cabeça para olhar para o velho carro... a última coisa que o ligava ao passado.

Uma criatura baixa e furtiva, que poderia ou não ser humana, pois as vestes a cobriam inteiramente, saiu das sombras assim que Luke e Ben dobraram a esquina. E continuou a olhar para eles até desaparecerem em uma curva da calçada.

 

A entrada da plataforma de lançamento estava totalmente cercada por meia dúzia de homens e alienígenas, dos quais os pri­meiros eram sem sombra de dúvida os mais grotescos. Um monu­mento de banha e músculos, encimado por uma cabeleira desgrenhada, observava satisfeito o semicírculo de assassinos armados. Colocando-se à frente dos outros, gritou na direção do cargueiro:

— Saia daí, Solo! Você está cercado!

— Está olhando na direção errada — respondeu calmamente uma voz.

Jabba deu um pulo, o que por si só constituiu um espetáculo memorável. Os capangas giraram nos calcanhares e se viram frente a frente com Han Solo e Chewbacca.

— Estava a sua espera, Jabba.

— Esperava que estivesse — admitiu Jabba, ao mesmo tempo satisfeito e alarmado pelo fato de nem Solo nem o gigantesco wookie aparentemente estarem armados.

— Não sou homem de fugir — disse Solo.

— Fugir? Fugir de quê? — retorquiu Jabba. A ausência de armas começava a deixá-lo nervoso. Alguma coisa não estava certa, e era melhor não tomar nenhuma atitude precipitada antes de des­cobrir o que era.

— Han, meu rapaz, às vezes você me decepciona. Só queria saber por que ainda não me pagou... o prazo já se esgotou há muito tempo. E por que foi fazer aquilo com o pobre Greedo? Depois de tudo que você e eu passamos juntos.

Solo deu um meio sorriso.

— Deixe disso, Jabba. Não há no seu corpo sentimento sufi­ciente para aquecer uma bactéria órfã. Quanto ao Greedo, você o mandou para me matar.

— Por que o faria, Han? — protestou Jabba, em tom ofen­dido. — Por quê? Você é o melhor contrabandista que conheço. Não quero perdê-lo. Greedo queria apenas transmitir-lhe minha preocupação pelo atraso do pagamento. Não queria matá-lo.

— Pois bem que tentou. Da próxima vez, não mande um de seus capangas. Se tiver algo para me dizer, venha ver-me pessoal­mente.

Jabba sacudiu a cabeça e a papada tremeu — um eco visível de sua tristeza fingida.

— Han, Han... se pelo menos você não tivesse jogado fora aquele carregamento de especiarias! Compreenda... não posso fazer exceções. Onde eu estaria se todos os meus pilotos jogassem fora o carregamento ao primeiro sinal de um cruzador do Império? E então mostrasse os bolsos vazios quando eu exigisse minha parte?

Não é bom para os negócios. Posso ser generoso e compreensivo, mas não a ponto de ir à falência.

— Você sabe, até eu, as vezes, fico encurralado, Jabba. Acha que joguei fora as especiarias apenas porque fiquei cansado do cheiro? Queria tanto entregar a mercadoria como você queria re­cebê-la. Não tive escolha. — Sorriu de novo. — Como você disse, não me quer perder. E agora consegui um trabalho e posso pagar tudo que lhe devo, mais os juros. Só preciso de tempo. Que acha de mil por conta e o resto em três semanas?

O obeso bandido pareceu pensar e depois dirigiu-se aos as­seclas.

— Baixem as armas. — Olhou de novo para o coreliano. — Han, meu rapaz, só estou fazendo isso porque você é realmente um bom piloto e posso precisar de novo de seus serviços. Assim, como um gesto de boa vontade... e por uma comissão de, diga­mos, vinte por cento... vou conceder-lhe um pouco mais de tempo. — Sua voz de repente se tornou ameaçadora. — Mas é a última vez. Se você me decepcionar de novo, se zombar de minha generosidade, vou pagar um preço tão alto por sua cabeça que você não poderá chegar perto de um sistema civilizado durante o resto da vida, porque seu nome e seu rosto serão conhecidos por homens que matariam a própria mãe por um décimo do que pro­meterei a eles.

— Ainda bem que estamos de acordo — replicou Solo ale­gremente, enquanto ele e Chewbacca passavam pelos asseclas de Jabba. — Não se preocupe. Vou pagar. Mas não por causa de suas ameaças. Vou pagar porque... porque estou com vontade.

 

— Estão começando a revistar a central do espaçoporto — informou o comandante, lutando para acompanhar o passo rápido de Darth Vader. O Lorde Negro estava mergulhado em seus pen­samentos, enquanto atravessava um dos corredores principais da base espacial, seguido por vários assistentes.

— Os relatórios estão começando a chegar — prosseguiu o comandante. — Em pouco tempo os andróides estarão em nossas mãos.

— Mande mais homens, se for preciso. Não ligue para os protestos do governador do planeta. Preciso desses andróides de qualquer maneira. Ela só não falou até agora porque ainda tem esperanças de que as informações guardadas na memória dos robôs sejam usadas contra nós...

— Compreendo, Lorde Vader. Até lá, teremos que perder tempo com as tentativas tolas do Governador Tarkin de arrancar-lhe a verdade por outros meios.

 

— Lá está a plataforma de lançamento noventa e quatro — disse Luke para Kenobi e para os dois robôs, que se haviam reu­nido a eles. — E lá está Chewbacca. Parece nervoso com alguma coisa.

Realmente, o wookie estava fazendo gestos frenéticos por so­bre as cabeças da multidão. Apressando o passo, nenhum dos qua­tro notou a criatura baixa e furtiva que os seguia.

A criatura parou na entrada da plataforma e tirou um pe­queno transmissor de uma bolsa escondida na roupa. O transmis­sor, novo e moderno, não combinava com uma figura tão decrépi­ta, que no entanto começou a falar com muito desembaraço.

A plataforma de lançamento noventa e quatro não era dife­rente de um sem-número de outras plataformas espalhadas por toda a cidade. Consistia quase que unicamente em uma rampa de aces­so e um enorme buraco cavado no solo rochoso. O buraco servia como proteção contra os efeitos do campo antigravitacional que era usado para lançar as espaçonaves.

Os princípios do vôo espacial eram extremamente simples, mesmo para uma pessoa como Luke. A antigravidade só funcio­nava nas proximidades de um forte campo gravitacional — como o de um planeta. Por outro lado, para voar mais rápido do que a luz, era preciso que a nave estivesse suficientemente afastada de qualquer objeto sólido. Daí a necessidade de usar um sistema de duas etapas.

O buraco da plataforma de lançamento noventa e quatro era tão mal feito e mal conservado como a maioria dos buracos de Mos Eisley. As encostas eram irregulares e haviam desmoronado em alguns lugares. Luke achou que combinava perfeitamente com a espaçonave para a qual Chewbacca os estava levando.

O grotesco elipsóide, que só com muito boa vontade poderia ser chamado de espaçonave, parecia ter sido construído a partir de velhos fragmentos de cascos e peças descartadas como imprestáveis por outras naves. Era um milagre, pensou Luke, que uma coisa daquelas ainda se mantivesse de pé. Só de imaginar-se como pas­sageiro a bordo daquele arremedo de veículo, teria sofrido um ata­que histérico, não fosse a situação tão séria. Mas pensar em via­jar até Alderaan naquele...

— Que monstrengo! — murmurou finalmente, não podendo esconder por mais tempo o que pensava. Estavam subindo a ram­pa, em direção à escotilha aberta. — Duvido que esta coisa pos­sa viajar no hiperespaço.

Kenobi não fez nenhum comentário. Limitou-se a apontar para a escotilha, de onde saía alguém para encontrá-los.

Ou Solo tinha uma audição hipersensível, ou estava acostu­mado à reação dos passageiros ao verem pela primeira vez o Millennium Falcon.

— Pode não parecer grande coisa — confessou, à guisa de saudação — mas está em ponto de bala. Eu mesmo fiz algumas modificações. Além de ser piloto, entendo um pouco de mecânica. É mais rápido do que qualquer cargueiro.

Luke cocou a cabeça, tentando reavaliar a nave à luz das in­formações do proprietário. Ou o coreliano era o maior mentiroso deste lado da galáxia, ou a primeira impressão havia sido total­mente errônea. Luke pensou mais uma vez no conselho do Velho Ben de não julgar nada pelas aparências e decidiu guardar seu jul­gamento a respeito do piloto e da espaçonave para mais tarde, quando tivesse visto ambos em operação.

Chewbacca havia ficado para trás durante a subida da ram­pa. Agora aparecia correndo, um furacão peludo, e dizia alguma coisa para Solo, em tom agitado. O piloto ouviu-o com toda a cal­ma, fazendo que sim com a cabeça várias vezes, e deu uma res­posta lacônica. O wookie entrou correndo na nave, detendo-se ape­nas para convidar os outros a segui-lo com um gesto.

— Parece que estamos com um pouquinho de pressa — disse Solo, enigmaticamente. — Vamos entrar, vamos entrar.

Luke abriu a boca para fazer uma pergunta, mas Kenobi já o estava empurrando para a frente. Os andróides os seguiram.

Ao entrar, Luke levou um pequeno susto ao ver Chewbacca lutar para enfiar-se em um assento de piloto que, embora adapta­do, ainda era pequeno demais para seu corpo. O wookie ligou várias chaves com dedos aparentemente grossos demais para a ta­refa. As grandes patas dançavam nos controles com surpreendente leveza.

A nave começou a vibrar quando os motores foram ligados. Luke e Ben se amarraram nos assentos vazios do corredor prin­cipal.

 

Na base da rampa, uma tromba comprida emergiu de uma roupa escura. Dos dois lados da tromba, dois pequenos olhos brilhantes se fixavam no velho cargueiro. Os olhos se voltaram, jun­tamente com o resto da cabeça, quando um pelotão de oito solda­dos do Império se aproximou. Os soldados se dirigiram direta­mente para a enigmática criatura, que disse alguma coisa para o comandante do pelotão e apontou para a espaçonave.

A informação deve ter sido importante. Sacando as armas, os soldados correram para a rampa.

 

Um brilho metálico captou a atenção de Solo quando os pri­meiros soldados começaram a subir a rampa. Solo achou pouco provável que estivessem ali apenas para uma conversa amistosa. Suas suspeitas foram confirmadas, porque antes que tivesse tempo de abrir a boca para protestar contra a invasão, os soldados abri­ram fogo. Solo pulou de volta para dentro da nave, gritando ao mesmo tempo para o imediato:

— Chewie... ligue o campo de força, depressa! Vamos dar o fora!

O wookie respondeu com um grunhido.

Sacando sua arma, Solo conseguiu disparar alguns tiros da se­gurança relativa da escotilha. Vendo que a presa não estava inde­fesa, os soldados recuaram, procurando abrigo.

A vibração se transformou em um gemido e depois em um estrondo ensurdecedor. Solo apertou um botão. Imediatamente, a escotilha se fechou.

Quando os soldados chegaram à base da rampa, o chão estava tremendo ligeiramente. Eles esbarraram em um segundo pelotão, que acabava de chegar em resposta a uma chamada de emergência. Um dos soldados, gesticulando nervosamente, tentava explicar ao oficial recém-chegado o que havia acontecido.

Assim que o ofegante soldado terminou o relato, o oficial ti­rou do bolso um comunicador portátil e gritou:

— Torre de controle... eles estão tentando escapar! É pre­nso detê-los, custe o que custar!

Alarmas começaram a soar em toda Mos Eisley, espalhando-se em círculos concêntricos a partir da plataforma noventa e quatro.

O pequeno cargueiro deixou o solo. Em poucos segundos, não passava de um pontinho brilhante no céu azul.

 

Luke e Ben já estavam desamarrando os cintos de segurança quando Solo passou por eles, encaminhando-se para a sala de controle com o andar fácil e descontraído de alguém que passou a vida no espaço. Chegando lá, deixou-se cair no assento do piloto e começou imediatamente a verificar os indicadores. No assento ao lado, Chewbacca rosnava e grunhia como um motor mal ajus­tado. Voltando-se para Solo, apontou para a tela. Solo olhou para a tela e disse, em tom irritado:

— Eu sei, eu sei... são dois, talvez três destróires. Alguém está atrás de nossos passageiros. Desta vez, Chewie, pegamos uma carga realmente perigosa. Tente mantê-los a distância, enquanto acabo de programar o salto no hiperespaço. Regule os defletores para o máximo de proteção.

Dito isso, Solo concentrou inteiramente sua atenção nos ter­minais de entrada do computador. Quando um pequeno robô ci­líndrico apareceu na porta, foi como se não existisse. Erredois Dedois soltou alguns bips interrogativos e foi embora.

Os sensores de ré mostravam que Tatooine estava ficando ra­pidamente para trás. Mas os três pontos na tela que indicavam a presença dos destróires do Império estavam ficando cada vez maiores.

Embora Solo tivesse ignorado Erredois, a entrada dos dois passageiros humanos o fez levantar os olhos do painel.

— Mais dois destróires se juntaram à caçada — disse para eles, colocando o dedo sobre a tela. — Vão tentar cercar-nos an­tes que tenhamos tempo de entrar no hiperespaço. Cinco espaçonaves... o que foi que vocês fizeram para merecer tanto?

— Não pode andar mais depressa? — perguntou Luke sarcasticamente, ignorando a pergunta do outro. — Pensei que tivesse dito que esta coisa era veloz.

— Cuidado com o que diz, garoto, ou não me responsabilizo pelas conseqüências. Em primeiro lugar, eles são cinco, e estão vindo de todas as direções... Mas estaremos a salvo assim que entrarmos no hiperespaço. — Deu um sorriso superior. — É di­fícil seguir uma nave que se está movendo mais depressa do que a luz. Além disso, conheço alguns pequenos truques para confun­di-los. Gostaria de ter sabido que vocês dois eram tão populares.

— Por quê? — disse Luke, em tom de desafio. — Ter-se-ia recusado a levar-nos?

— Não necessariamente — respondeu o coreliano. — Mas garanto que o preço teria sido muito maior.

Luke abriu a boca para responder quando um intenso clarão vermelho substituiu a escuridão dó espaço. O rapaz protegeu os olhos com as mãos, no que foi imitado por Kenobi, Solo e até mesmo Chewbacca, já que a explosão havia sido próxima demais para que a blindagem fototrópica funcionasse com eficiência.

— A coisa está ficando interessante — murmurou Solo.

— Quanto tempo para entrarmos no hiperespaço? — per­guntou Kenobi, imperturbável.

— Ainda estamos no campo gravitacional de Tatooine — ex­plicou o piloto. — O computador de navegação vai levar ainda al­guns minutos para iniciar o salto. Poderia assumir o controle ma­nual, mas provavelmente nosso motor seria destruído na tentativa, e ficaríamos à deriva no espaço.

— Alguns minutos — repetiu Luke, olhando para a tela. — Do jeito que eles estão ganhando terreno...

— Viajar no hiperespaço não é como colher legumes, garoto. Já tentou calcular um salto no hiperespaço? — Luke teve que fazer que não com a cabeça. — Não é brincadeira. Um pequeno erro, e a gente dá de cara com uma estrela ou outro simpático fenômeno espacial, como um buraco negro. E a viagem termina para sempre.

As explosões se sucediam, apesar de Chewbacca estar seguin­do um rumo em ziguezague. No painel de Solo, uma lâmpada ver­melha começou a piscar.

— O que é isso? — perguntou Luke, assustado.

— Perdemos um dos defletores — anunciou Solo, com o ar de quem acaba de extrair um dente. — É melhor voltarem para seus lugares. Estamos quase prontos para o salto.

No corredor, Pezero já estava firmemente preso ao assento por braços de metal mais fortes do que qualquer cinto de segu­rança. A concussão produzida por uma nova explosão quase fez Erredois perder o equilíbrio.

— Será que precisávamos mesmo fazer esta viagem? — la­mentou-se Pezero. — Tinha-me esquecido de como detesto as via­gens espaciais. — Interrompeu-se quando Luke e Ben apareceram e começaram a apertar os cintos.

Estranhamente, Luke estava pensando em seu cachorro de es­timação, quando uma força imensamente poderosa distorceu o es­paço em torno do cargueiro em fuga.

 

O Almirante Motti entrou na sala de conferências. Seu olhar se deteve no Governador Tarkin, que estava de pé, diante de uma gigantesca tela. O Almirante fez uma leve mesura e anunciou for­malmente, embora o pequeno planeta verde estivesse bem visível na tela:

— Acabamos de entrar no sistema de Alderaan. Aguardamos suas ordens.

Uma campainha soou e Tarkin fez um gesto para o oficial.

— Espere um momento, Motti.

A porta se abriu e Leia Organa entrou, conduzida por dois guardas e seguida por Darth Vader.

— Eu sou... — começou Tarkin.

— Sei quem você é — interrompeu a moça. — O Governa­dor Tarkin. Já esperava que estivesse por trás desta afronta. Aliás, quando entrei nesta nave, julguei reconhecer o seu fedor incon­fundível.

— Sempre encantadora — disse Tarkin. — Não sabe com que pesar assinei a ordem de sua execução. — Assumiu um ar compungido. — Naturalmente, se tivesse colaborado com nossa investigação, a situação seria bem outra. Lorde Vader me disse que você resistiu aos nossos métodos tradicionais de interrogatório...

— De tortura, você quer dizer — corrigiu Organa, com a voz um pouco trêmula.

— Mera questão de semântica — protestou Tarkin, sorrindo.

— Não sei como teve coragem de assinar pessoalmente a ordem.

Tarkin suspirou.

— Sou um homem que vive para o trabalho. Não me conce­do muitos prazeres. Um deles é o de que antes da execução, você seja minha convidada de honra em uma pequena cerimônia. Será ao mesmo tempo a inauguração desta base espacial e o início de uma nova era de supremacia técnica do Império. Esta base é o último elo de uma nova cadeia que unirá para sempre os milhões de planetas do Império. A revolução morrerá de morte natural. Depois da demonstração de hoje, ninguém ousará desafiar o Im­pério, nem mesmo o Senado!

Organa olhou para ele com desprezo.

— Não conseguirá unir o Império pela força. A força não serve para unir, apenas para dividir. Quanto mais apertar, mais sistemas escorregarão por entre seus dedos. Você é um tolo, Tar­kin. Um tolo com ilusões de grandeza.

O sorriso de Tarkin era frio com gelo.

— Lorde Vader escolheu uma forma bem interessante para você terminar seus dias. Aliás, você merece isso. — Mas antes que nos deixe, queremos demonstrar o poderio desta base de forma a não deixar margem a dúvidas. De certa forma, foi você mesma quem nos sugeriu o local do teste. Já que se recusa a nos fornecer a localização do esconderijo dos rebeldes, achei que seria apro­priado usar o seu planeta natal, Alderaan.

— Não. Não tem o direito! Alderaan é um mundo pacífico, não tem exércitos! Você não pode...

Os olhos de Tarkin brilharam.

— Prefere outro alvo? Um alvo militar, talvez? Está bem... escolha o sistema. — Encolheu os ombros. — Estou ficando can­sado desta farsa. Pela última vez, onde fica a principal base dos rebeldes?

Uma voz anunciou pelo alto-falante que estavam suficiente­mente próximos de Alderaan para usarem o sistema de frenagem antigravitacional. Isto foi o suficiente para conseguir o que todas as máquinas infernais de Vader não haviam conseguido.

— Dantooine — sussurrou a moça, baixando os olhos. — Eles estão em Dantooine.

Tarkin soltou um longo suspiro de satisfação e voltou-se para o gigante negro.

— Está vendo, Lorde Vader? A mocinha pode ser razoável. É só formular a pergunta de forma correta. — Dirigiu-se aos ou­tros oficiais: — Depois que terminarmos nosso pequeno teste, ire­mos imediatamente para Dantooine. Cavalheiros, podem prosseguir com a operação.

Organa levou alguns segundos para compreender o significado das palavras de Tarkin, ditas em tom tão casual.

— O quê? — exclamou, finalmente.

— Dantooine — explicou Tarkin, calmamente — fica longe demais do centro do Império para servir como uma demonstração efetiva de nosso poderio. Você há de compreender que os efeitos psicológicos da destruição de Alderaan sobre a população em geral serão bem mais pronunciados. Mas não se preocupe; cuidaremos de seus amigos rebeldes o mais cedo possível.

— Mas você disse... — começou a protestar Organa.

— Não importa o que eu disse — interrompeu Tarkin. — Vamos destruir Alderaan, conforme o planejado. Então você as­sistirá à aniquilação de Dantooine e desta estúpida revolução. — Fez um gesto para os soldados que vigiavam a moça. — Levem-na para a plataforma de observação. Quero que assista à nossa demonstração da primeira fila.

 

SOLO estava verificando as leituras dos indicadores. De vez em quando passava uma pequena máquina pelos vários sensores, exa­minava os resultados e sorria de satisfação.

— Não precisam mais preocupar-se com nossos amigos do Império — disse para Luke e Ben. — Nunca mais nos consegui­rão encontrar. Não disse que os despistaria?

Kenobi não deu sinal de ter ouvido o piloto. Estava ocupa­do explicando alguma coisa a Luke.

— Dispenso os agradecimentos efusivos — resmungou Solo, levemente aborrecido. — Seja como for, o computador de nave­gação calcula que vamos entrar em órbita em torno de Alderaan, às duas em ponto. Acho que depois desta aventura, vou ter que registrar a nave com outro nome.

Continuou a verificar os instrumentos, passando em frente de pequena mesa circular. O tampo da mesa era coberto por peque­nos quadrados iluminados por baixo. De cada lado da mesa havia um terminal de computador. Pequenas figuras tridimensionais ocu­pavam o espaço acima de alguns dos quadrados.

Chewbacca estava sentado diante de um dos terminais, o quei­xo apoiado em uma das patas. Os grandes olhos brilhavam; os bigodes estavam encurvados para cima. Parecia muito satisfeito consigo mesmo.

Isto é, parecia satisfeito até Erredois Dedois apertar um botão do outro terminal com um dos seus dedos metálicos. Uma das figuras se deslocou no tabuleiro até ocupar outro quadrado.

Uma expressão de espanto cruzou o rosto do wookie assim que ele viu a nova configuração, transformando-se rapidamente em uma careta de raiva. Debruçando-se na mesa, despejou uma tor­rente de xingamentos sobre o inofensivo robô. Erredois conseguiu apenas soltar um tímido assovio, mas Pezero logo intercedeu em defesa do companheiro e começou a discutir -com o temível an-tropóide.

— O lance dele foi legal. Não adianta ficar nervoso. Atraído pelo tumulto, Solo olhou por cima do ombro e fran­ziu a testa.

— Façam a vontade dele. Seu amigo está com a partida ga­nha. Não vale a pena discutir com um wookie.

— Entendo seu ponto de vista — objetou Pezero — mas o que está em jogo aqui é um princípio. Existem certos princí­pios que toda criatura inteligente tem o dever de respeitar. Quem abre mão de qualquer deles, seja por que motivo for, inclusive por intimidação, perde o direito de ser chamado de racional.

— Espero que continue pensando assim — preveniu Solo — enquanto Chewbacca estiver arrancando os braços de vocês dois.

— Por outro lado — continuou Pezero, imperturbável — ti­rar proveito de alguém que se encontra em posição de desvantagem é falta de espírito esportivo.

A última afirmação provocou um silvo indignado de Erredois, e os dois robôs se empenharam em uma violenta discussão eletrô­nica. Chewbacca continuava a rosnar para os dois, e a fazer ges­tos ameaçadores, enquanto as peças translúcidas aguardavam paci­entemente no tabuleiro.

Enquanto isso, Luke estava de pé no meio do compartimento de carga, segurando um sabre de luz sobre a cabeça, em posição, de tiro. A arma antiga emitia um leve zumbido. Ben Kenobi acompanhava atentamente os movimentos do rapaz. Solo assistia à cena, impassível.

— Não, Luke, seus movimentos devem ser contínuos, fluen­tes... Lembre-se de que a força é onipresente. A força envolve todo o corpo. Um Cavaleiro de Jedi pode sentir a força como uma entidade real.

— Então é um campo de energia? — quis saber Luke.

— É um campo de energia e muito mais — respondeu Keno­bi, em tom quase místico. — Uma aura que ao mesmo tempo controla e obedece. É um nada que pode realizar milagres. — Ficou pensativo por um momento. — Ninguém, nem mesmo os cientistas de Jedi, jamais foi capaz de definir a força de forma satisfatória. Talvez nunca seja definida. Às vezes me parece que existe mais magia do que ciência nas explicações da força. Mas o que é a magia, se não o uso prático de fenômenos que não sabe­mos explicar cientificamente? Agora, vamos tentar de novo.

O Velho estava segurando uma esfera metálica do tamanho de um punho cerrado. Era coberta de finas antenas, algumas tão delicadas como as de um inseto. Atirou-a na direção de Luke. A esfera parou a dois metros do rosto do rapaz.

Luke preparou-se para o ataque enquanto a bola circulava len­tamente em torno dele. Luke girava o corpo para acompanhar o movimento da bola. De repente, a esfera deu um salto para a frente e imobilizou-se depois de ter percorrido cerca de um me-r Luke se manteve atento e a esfera voltou a recuar.

Procurando evitar os sensores dianteiros da bola, Luke deu um passo para o lado e apontou o sabre de luz. Mas a esfera avançou subitamente, apanhando-o pela retaguarda. Um fino feixe t luz vermelha saiu de uma das antenas, atingindo Luke na par­te traseira da coxa e jogando-o ao convés antes que o rapaz tivesse tempo de virar-se de frente para a bola.

Esfregando a perna anestesiada, Luke procurou ignorar a so­nora gargalhada de Solo.

— Religiões e armas arcaicas nunca substituirão uma boa pis­tola desintegradora — disse o piloto.

— Você não acredita na força? — perguntou Luke, pondo- se de pé. Os efeitos do raio passavam rapidamente.

— Já estive nos quatro cantos da galáxia — jactou-se o pi­loto — e vi muitas coisas estranhas. Não duvido de que exista alguma coisa como esta "força". Mas não acredito que seja capaz de controlar minhas ações. Quem decide meu futuro sou eu, e não um campo de energia quase místico. — Apontou para Keno­bi. — Se fosse você, não o levaria tão a sério. É um velho es­perto, cheio de truques e artimanhas. Talvez esteja simplesmente usando você para conseguir o que quer.

Kenobi limitou-se a sorrir de leve. Depois, voltou-se para Luke.

— Vamos tentar de novo, Luke. Você precisa evitar os mo­vimentos voluntários. Procure não pensar em nada concreto. Dei­xe a mente divagar; só assim poderá usar a força. Suas ações não podem ser planejadas, têm de ser instintivas. Pare de pensar, deixe a mente: divagar... livre... livre...

A voz do velho se reduzira a um sussurro hipnótico. Quando parou de falar, a esfera saltou novamente na direção de Luke. O rapaz nem viu a bola; parecia em transe. Mas de repente girou o corpo com incrível rapidez, apertando ao mesmo tempo um dos botões da arma. O raio vermelho emitido pela esfera passou ao largo e a esfera bateu com força no convés, rolou um pouco e fi­cou imóvel.

Piscando os olhos como se tivesse cochilado, Luke olhou sur­preso para a bola inerte.

— Está vendo? Capacidade não lhe falta — disse Kenobi. — Agora, precisa aprender a admitir a força quando quiser, para que possa aprender a controlá-la conscientemente.

Kenobi apanhou um grande capacete dentro de um armário e enfiou-o na cabeça de Luke, cobrindo-lhe totalmente os olhos.

— Não estou vendo nada — murmurou Luke, dando meia-volta e obrigando Kenobi a recuar para manter-se fora do alcance da perigosa arma. — Como vou lutar?

— Use a força — explicou o Velho Ben. — Você não "viu" a esfera desta vez, e mesmo assim conseguiu esquivar-se. Procure lembrar-se da sensação.

— Não posso — protestou Luke. — A esfera vai-me atin­gir de novo.

— Não se você confiar em você mesmo — insistiu Kenobi. — É a única maneira de ter certeza de que está usando apenas a força.

Notando que o cético piloto se aproximara para observar, Ke­nobi hesitou por um momento. Não era bom para Luke ter que ouvir a gargalhada sarcástica do coreliano cada vez que cometia um erro. Mas também não adiantava mimar o rapaz. E não ti­nham muito tempo. O negócio é jogá-lo no fogo e rezar para que não se queime, pensou Ben consigo mesmo.

O velho abaixou-se e apertou um botão na esfera metálica. Em seguida, jogou-a para o alto. A bola começou a descrever um arco que passaria sobre a cabeça de Luke. O rapaz levantou o sabre de luz e apertou o gatilho. Errou. A minúscula antena bri­lhou de novo. Desta vez, o raio vermelho atingiu Luke no tra­seiro. Luke soltou um grito de dor e girou o corpo, tentando acer­tar no inimigo invisível.

— Mantenha a calma! — aconselhou o Velho Ben. — Li­berte-se dos sentidos. Você está tentando usar os olhos e os ou­vidos. Pare de pensar e use o resto de sua mente.

De repente, o rapaz deixou de se debater e ficou parado, ba­lançando ligeiramente o corpo. A esfera mergulhou de novo.

O raio branco-azulado atingiu a bola em cheio, fazendo-a mu­dar de trajetória. Desta vez, ela não caiu. Recuou três metros e ficou parada no ar.

Luke levantou o capacete devagar. O rosto estava coberto de suor.

— Consegui?

— Eu disse que você era capaz! — exclamou Kenobi, exultan­te. — Confie na força, e não haverá nada capaz de detê-lo. Sem­pre achei que você parecia muito com seu pai.

— Pois acho que foi pura sorte — resmungou Solo, conti­nuando a verificar os instrumentos.

— A sorte não existe, meu amigo — disse Kenobi. — Ape­nas uma combinação de circunstâncias favoráveis, conseguida à custa de nosso esforço.

— Pode ser — replicou o coreliano. — Mas uma coisa é lutar contra uma máquina, outra é combater um ser vivo e pen­sante.

Enquanto ralava, uma lâmpada começou a piscar em um painel de instrumentos. Chewbacca viu a luz e avisou a Solo. O piloto olhou para o painel e disse aos passageiros:

— Estamos chegando a Alderaan. Daqui a pouco sairemos do hiperespaço. Vamos, Chewie.

Levantando-se da mesa de jogo, o wookie seguiu o chefe até a sala de controle. Luke havia ouvido as palavras de Solo, mas não estava pensando na chegada a Alderaan. Alguma coisa estava tomando conta de seu cérebro, alguma coisa que parecia ficar maior e mais madura a cada instante que passava.

— Você sabe — murmurou — tive a impressão de que es­tava "vendo" o contorno da esfera no momento em que ela atacou.

A resposta de Kenobi foi solene:

— Luke, você acaba de dar o primeiro passo para entrar em um universo maior.

Os zumbidos de dezenas de instrumentos faziam a sala de controle do cargueiro parecer uma colméia. No momento, Solo e Chewbacca estavam com a atenção concentrada no mais impor­tante desses instrumentos.

— Assim, assim... prepare-se, Chewie. — Solo ajustou vá­rias alavancas. — Tudo pronto para o salto... atenção... agora!

O antropóide apertou um botão no painel. Ao mesmo tempo, Solo puxou uma alavanca. De repente, as compridas faixas de luz das estrelas se transformaram em ovais, que aos poucos foram mu­dando de forma até se reduzirem a pontos de luz. Um medidor do painel indicou zero.

Imensas pedras incandescentes surgiram do nada, chocando-se com força com os defletores da nave. Os impactos fizeram o Millennium Falcon estremecer violentamente.

— O que foi isso? — exclamou o piloto, atônito.

Chewbacca não fez comentários; limitou-se a ligar alguns con­troles e desligar outros. Apenas o fato de que o experiente Solo sempre saía do hiperespaço com os defletores ligados — para o caso de haver algum inimigo à espera — havia evitado que o car­gueiro fosse destruído instantaneamente.

Luke apareceu na porta da sala de controle.

— O que aconteceu?

— Estamos de volta ao espaço normal — informou Solo. — Acontece que saímos justamente no meio da maior tempestade de asteróides que eu já vi. E não aparece nos mapas. — Olhou para os indicadores. — De acordo com o atlas, nossa posição está cor­reta. Só falta uma coisa: Alderaan.

— Mas é impossível!

— Não vou discutir com você — replicou o coreliano, com uma careta. — Veja por você mesmo. — Apontou para a vigia.

— Verifiquei as coordenadas três vezes, e o computador de bordo está funcionando perfeitamente. Devíamos estar a um diâmetro pla­netário da superfície. A essa distância, o brilho do planeta estaria enchendo a cabina. No entanto, não há nada lá fora. Nada, a não ser asteróides. — Fez uma pausa. — Sabe de uma coisa? Acho que não são asteróides. São os destroços de Alderaan. O planeta foi destruído. Inteiramente.

— Destruído — sussurrou Luke, esmagado pela imensidade do desastre. — Mas como?

— Foi o Império — declarou Ben com convicção, aparecen­do por trás do rapaz.

— Não pode ser. — Solo estava sacudindo a cabeça lenta­mente. Até ele estava impressionado com a enormidade do que o velho dissera. Que um grupo de homens tinha sido responsável pela aniquilação de todos os seres vivos de um planeta, pela des­truição do próprio planeta... — Não é possível. Nem mesmo toda a frota do Império teria poder para isso.

— Acho que não devemos ficar aqui — murmurou Luke, olhando pela vigia. — Se por acaso foi mesmo o Império...

— Não sei o que aconteceu — interrompeu Solo, zangado.

— Mas de uma coisa estou certo. Não foi o Império que...

Uma campainha começou a tocar no painel de controle. Solo olhou para o instrumento.

— Outra nave — anunciou. — Ainda não sei o tipo.

— Talvez seja um sobrevivente... alguém que nos possa con­tar o que aconteceu — aventurou Luke, esperançoso.

Mas Ben se encarregou de desapontá-lo.

— É um caça do Império.

De repente, Chewbacca deu um rugido de raiva. Uma bola de fogo explodiu lá fora, fazendo estremecer a nave. Uma pequena esfera com duas asas passou pela vigia.

— Eles nos seguiram! — gritou Luke.

— Desde Tatooine? Impossível — protestou Solo. — Esti­vemos no hiperespaço, lembra-se?

Kenobi estava examinando a imagem na tela.

— Tem razão, Han. É um caça Tie de curto alcance.

— Mas de onde veio? — quis saber o coreliano. — Não existe nenhuma base do Império nesta região.

— Mas você o viu passar.

— Eu sei. Parecia um caça Tie... mas e a base?

— Está indo cada vez mais depressa — observou Luke, olhan­do para a tela. — Na certa vai contar aos outros onde estamos.

— Não se eu puder evitar — declarou Solo. — Chewie, in­terfira com as transmissões daquela nave. Vamos atrás dela.

— Acho que é perda de tempo — interveio Kenobi. — Já está fora de nosso alcance.

— Não por muito tempo.

Durante vários minutos, todos permaneceram calados, com os olhos grudados na tela.

A princípio, o caça do Império tentou uma complexa mano­bra evasiva, sem resultado. O cargueiro, revelando uma agilidade surpreendente, não o deixou escapar. A distância começou a dimi­nuir rapidamente. Vendo que não conseguia despistar os perse­guidores, o piloto do caça acelerou ao máximo. Chewbacca fez o mesmo com o cargueiro.

À frente das duas naves, o brilho de uma pequena estrela co­meçou a ficar cada vez mais forte. Luke franziu a testa. Estavam indo depressa, mas não o suficiente para que uma estrela mudasse perceptivelmente de brilho. Alguma coisa não fazia sentido.

— Um caça tão pequeno não se aventuraria sozinho neste canto da galáxia — comentou Solo.

— Talvez fizesse parte de um comboio ou coisa parecida — tentou explicar Luke.

— Seja como for, não vai contar a ninguém a nosso respeito — disse Solo. — Vamos alcançá-lo em um minuto ou dois.

A estrela à frente começou a assumir uma forma circular.

— Está indo para aquela pequena lua — murmurou Luke.

— O Império deve ter construído uma base lá — admitiu Solo. — O problema é que, de acordo com o atlas, Alderaan não tem luas. — Deu de ombros. — Nunca me interessei muito por topografia galáctica. Só quero saber dos planetas e satélites habi­tados por clientes em perspectiva. Mas acho que posso alcançá-lo a tempo.

A lua estava cada vez mais próxima. Já era possível distin­guir as crateras e montanhas. Mas havia alguma coisa de estranho. As crateras eram regulares, as montanhas verticais, os vales simé­tricos. Aquela paisagem não havia sido formada pelas forças ca­prichosas da Natureza.

— Não é uma lua — murmurou Kenobi. — É uma estação espacial.

— Mas é grande demais para ser uma estação espacial! — objetou Solo. — Vejam como é grande! Não pode ser artificial... não pode ser!

— Estou achando tudo isso muito estranho — foi o comen­tário de Luke.

De repente, Kenobi perdeu sua fleuma habitual e gritou:

— Dê meia-volta! Vamos dar o fora daqui!

— É, acho que tem razão, amigo. Chewie, vamos voltar.

O wookie mexeu nos controles e o cargueiro começou a des­crever uma curva suave. O pequeno caça continuou rumando em linha reta para a gigantesca estação espacial até desaparecer em seu interior.

Chewbacca disse alguma coisa para Solo no momento em que a nave começou a tremer.

— Ligue os motores auxiliares! — ordenou o capitão.

Um por um, os instrumentos de bordo deixaram de funcio­nar. Por mais que tentasse, Solo não conseguia evitar que o vulto^ da estação se tornasse cada vez maior, até ocupar toda a vigia.

Luke olhou fascinado para os edifícios do tamanho de mon­tanhas, para as antenas parabólicas maiores do que as de Mos Eisley.

— Por que não nos estamos afastando? — perguntou o rapaz.

— Tarde demais — sussurrou Kenobi. Um olhar para Solo confirmou-lhe as suspeitas.

— Fomos pegos por um raio de tração, o mais forte que já vi. Está-nos puxando — murmurou o piloto.

— E não há nada que a gente possa fazer? — perguntou Luke, assustado.

Solo olhou para os indicadores que ainda funcionavam e sa­cudiu a cabeça.

— Absolutamente nada. Estou dando tudo que posso, garo­to, e não faz a menor diferença. Não adianta. Vou ter que des­ligar para não fundir os motores. Mas eles não me pegarão sem luta!

Fez menção de levantar-se, mas foi contido por Kenobi. A expressão do velho era de preocupação, mas não de desespero.

— Seria uma luta inglória. Existem outras alternativas, meu rapaz...

Agora que estavam tão próximos, podiam avaliar o tamanho gigantesco da estação espacial. No equador da estação havia um anel de montanhas artificiais, píeres que se projetavam mais de dois quilômetros acima da superfície.

Reduzido a um pontinho minúsculo em comparação com a es­tação, o Millennium Falcon foi sugado e finalmente engolido por um desses pseudópodos de aço. Um lago de metal fechou a en­trada e o cargueiro desapareceu como se nunca tivesse existido.

 

Enquanto Tarkin e o Almirante Motti conversavam a um canto, Vader ficou olhando para o mapa da sala de conferências, para os milhares e milhares de estrelas que mostrava. Era curioso que o uso da mais poderosa máquina de destruição jamais cons­truída não tivesse deixado nenhum sinal naquele mapa, que repre­sentava apenas um pequeno setor de uma das zonas de uma ga­láxia de tamanho médio.

Seria preciso ampliar milhares de vezes uma pequena região do mapa para que se pudesse notar a ausência de Alderaan. Al­deraan, com suas cidades, fazendas, fábricas... e traidores, lem­brou-se Vader.

A despeito de todos os progressos da ciência da aniquilação, os atos do Homem continuavam a ser irrelevantes para um uni­verso tão vasto que nenhuma palavra seria capaz de descrever sua imensidão. Mas se os planos de Vader se concretizassem, isso iria mudar.

O Lorde Negro sabia muito bem que, apesar de serem inteli­gentes e ambiciosos, os dois homens que continuavam a tagarelar no canto da sala jamais poderiam compreendê-lo. Tarkin e Motti eram talentosos, mas seus horizontes eram horizontes humanos, mesquinhos. Era uma pena, pensou Vader.

Mas afinal, nenhum dos dois era um Lorde Negro. No mo­mento eram úteis, mas um dia teriam que sofrer o mesmo destino que Alderaan. Por enquanto, não podia dar-se ao luxo de ignorá-los. E embora tivesse preferido a companhia de iguais, era preciso reconhecer que não dispunha de iguais. Por isso, aproximou-se de­les e introduziu-se na conversa.

— Apesar das negativas do Senado, os sistemas de defesa de Alderaan eram bastante sofisticados. Isto valorizou ainda mais nossa pequena demonstração.

Tarkin voltou-se para ele, assentindo.

— Neste exato momento, o Senado está sendo informado do que ocorreu. Em breve, poderemos anunciar a rendição total dos rebeldes, depois que sua base principal for aniquilada. Agora que eliminamos sua fonte principal de munições, Alderaan, todos os ou­tros sistemas simpatizantes se recusarão a ajudá-los. Você verá.

Tarkin voltou-se quando um oficial do Império entrou na aposento.

— Sim, o que foi, Cass?

O infeliz oficial tinha a expressão do rato que foi escolhido para colocar o sino no pescoço do gato.

— Governador, os batedores chegaram a Dantooine e circunavegaram o planeta. Encontraram os restos de uma base rebelde calculam que está abandonada há vários anos. No momento estão investigando o resto do sistema.

O rosto de Tarkin ficou rubro.

— Ela mentiu! Mentiu para nós!

Era impossível ter certeza, mas Vader dava a impressão de estar sorrindo por detrás da máscara.

— Então estamos empatados na primeira troca de a verda­des. Eu disse a você que Organa nunca trairia a revolução... a não ser que pensasse que sua confissão ajudaria de alguma forma a nos destruir.

— Executem-na imediatamente! — O Governador mal con­seguiu pronunciar as palavras.

— Calma, Tarkin — aconselhou Vader. — Você abriria mão de nossa única ligação com a verdadeira base dos rebeldes? Ainda podemos usá-la.

— Podemos uma ova! Foi você mesmo que disse, Vader: Or­gana nunca nos contará nada de útil. Mas hei de encontrar aquela base, nem que para isso tenha que destruir todos os sistemas deste setor. Hei de...

Uma campainha o interrompeu.

— Sim, o que é? — perguntou, irritado. Uma voz falou pelo alto-falante.

"Senhores, capturamos um pequeno cargueiro que estava va­gando entre os destroços de Alderaan. Uma verificação de rotina mostrou que a descrição corresponde à da nave que conseguiu fu­rar o bloqueio em Mos Eisley, sistema de Tatooine, e entrou no hiperespaço antes que as naves do Império a alcançassem. "

Tarkin parecia intrigado.

— Mos Eisley? Tatooine? De que está falando? Que quer dizer isso, Vader?

— Quer dizer, meu caro Tarkin, que acabamos de resolver o último problema que falava. Alguém aparentemente recebeu as fitas desaparecidas, descobriu que tinham sido enviadas pela sena­dora e estava tentando devolvê-las. Só nos resta facilitar o feliz encontro.

Tarkin começou a dizer alguma coisa, mudou de idéia e deu um sorriso cínico.

— Tem razão. Deixo o caso em suas mãos, Vader.

O Lorde Negro fez uma leve mesura a que Tarkin respondeu com uma continência. Então voltou-se e saiu do recinto, deixando Motti a olhar perplexo de um para o outro.

 

O cargueiro estava parado no meio de um gigantesco hangar. Trinta soldados do Império vigiavam a rampa de acesso. Todos se colocaram em posição de sentido quando Vader se aproximou, acompanhado por um comandante. O Lorde Negro parou na base da rampa, onde foi atendido por um oficial.

— Como não respondiam aos nossos sinais, ativamos a ram­pa por controle remoto. Ainda não nos conseguimos comunicar com as pessoas que estão a bordo — declarou o oficial.

— Então mande seus homens entrarem — ordenou Vader. O oficial transmitiu a ordem a um sargento, que mandou os soldados iniciarem a operação. Um grupo de soldados fortemente armados subiu a rampa e entrou no cargueiro, avançando com considerável cautela.

Uma vez dentro da nave, um soldado se adiantava enquanto dois outros o cobriam. Movendo-se em grupos de três, eles se es­palharam rapidamente pela nave. Todas as portas foram abertas, todos os corredores vasculhados.

— Está vazio — murmurou finalmente o sargento, surpreso. — Verifiquem a sala de controle.

Um grupo de soldados se encaminhou para o nariz da nave, apenas para descobrir que o assento do piloto estava tão vazio quanto o resto do cargueiro. Os controles estavam em ponto mor­to, todos os sistemas estavam desligados. Uma única luz piscava no painel. O sargento se aproximou, reconheceu a origem da luz e acionou os controles apropriados. Imediatamente, uma página escrita apareceu em uma tela próxima. O sargento leu com aten­ção o que estava escrito e foi transmitir a informação ao oficial, que esperava do lado de fora da escotilha principal.

O oficial ouviu atentamente antes de dirigir-se a Vader e ao comandante, que ainda estavam na base da rampa.

— Não há ninguém a bordo. A nave está deserta. De acor­do com o diário de bordo, a tripulação abandonou o cargueiro ime­diatamente após a decolagem, depois de inserir as coordenadas de Alderaan no piloto automático.

— Queriam despistar-nos — declarou o comandante em voz alta. — Então ainda devem estar em Tatooine!

— Possivelmente — admitiu Vader, com relutância.

— Algumas das naves de salvamento estão faltando — pros­seguiu o oficial.

— Encontraram a bordo algum andróide? — perguntou Vader.

— Não senhor. Se havia algum, deve ter abandonado a nave junto com a tripulação orgânica.

Vader hesitou antes de prosseguir. Quando o fez, foi com visível preocupação.

— Ainda não estou convencido. Mande um grupo comple­to de busca examinar cada centímetro quadrado da nave. É urgente.

Com isso, o Lorde Negro virou-se e saiu do hangar, persegui­do pela desagradável sensação de que se estava esquecendo de alguma coisa muito importante.

 

Os soldados começaram a descer rampa. A bordo do car­gueiro, uma figura solitária parou de examinar o espaço entre os painéis da sala de controle e correu para juntar-se aos companhei­ros. Estava ansioso para sair daquela nave fantasma e voltar ao ambiente familiar dos alojamentos. Os pesados passos do soldado ecoaram pelos corredores vazios do cargueiro.

Lá fora, o oficial deu as últimas ordens e afastou-se. O in­terior da nave ficou em completo silêncio. O único movimento a bordo era o leve tremor de uma placa do piso.

De repente, a placa saiu do lugar e duas cabeças apareceram. Han Solo e Luke olharam rapidamente em volta e tranqüilizaram-se ao constatar que a nave estava realmente vazia.

— Ainda bem que você instalou estes compartimentos — comentou Luke.

Solo não parecia tão confiante quanto o rapaz.

— Onde acha que eu guardava o contrabando? No compartimento de carga? Mas confesso que nunca pensei em usá-los pes­soalmente.

O capitão ouviu um ruído súbito e teve um sobressalto, mas era apenas o movimento de outra placa no piso.

— Isto é ridículo. Não vai dar certo. Mesmo que eu con­siga decolar e passar pela porta do hangar — apontou para cima com o polegar — nunca escaparemos daquele raio de tração.

A outra placa deslizou para o lado, revelando o rosto de um velho.

— Pode deixar comigo.

— Sabia que você ia dizer isso — murmurou Solo. — Você é mesmo um tolo.

Kenobi riu para ele.

— E quem se deixa contratar por um tolo, o que é?

Solo resmungou uma resposta incompreensível. Todos saíram dos esconderijos, Chewbacca com uma certa dificuldade.

Dois técnicos tinham chegado à base da rampa. Foram falar com os dois soldados que vigiavam o cargueiro.

— A nave é toda de vocês — disse um dos soldados. — Se os sensores apanharem alguma coisa, comuniquem imediatamente.

Os homens assentiram e subiram a rampa com o pesado equi­pamento. Assim que desapareceram no interior da nave, os solda­dos ouviram um estrondo. Então uma voz gritou:

— Ei, vocês dois aí em baixo, será que nos podem dar uma mãozinha?

Um dos soldados olhou para o companheiro, que deu de om­bros. Começaram a subir a rampa, xingando a falta de competên­cia dos técnicos. Quando entraram na nave, houve outro estrondo, mas desta vez não havia ninguém para ouvir.

Entretanto, pouco depois a ausência dos guardas foi notada. Um oficial subalterno passava pela janela de um pequeno posto de guarda perto do cargueiro e olhou para fora, franzindo a testa ao não ver sinal dos soldados. Preocupado, mas ainda não alarmado, dirigiu-se a um comunicador e começou a falar, ainda olhando pela janela.

— THX-1138, por que não está no seu posto? THX-1138, está-me ouvindo?

Não houve resposta.

— THX-1138, por que não responde?

O oficial estava quase entrando em pânico quando um ho­mem uniformizado apareceu na rampa e acenou para ele. Apon­tando para o lado direito do capacete, indicou que o fone interno não estava funcionando.

Sacudindo a cabeça em sinal de reprovação, o oficial encaminhou-se para a porta, dizendo para o assistente:

— Assuma o comando. Estamos com outro transmissor pifa­do. Vou ver o que posso fazer.

Abriu a porta, deu um passo... e recuou, em estado de choque.

Toda a abertura da porta estava ocupada por um gigantesco animal peludo. Chewbacca inclinou-se para dentro da saia e esmagou o crânio do infeliz oficial com um punho do tamanho de uma bola de boliche.

O assistente já estava de pé com a mão no coldre quando um fino feixe de energia o varou, perfurando-lhe o coração. Solo le­vantou o visor do capacete que estava usando, tornou a baixá-lo e entrou na sala atrás do wookie. Kenobi e os andróides. o segui­ram. Luke, que estava usando o uniforme do soldado do Império, foi o último a entrar.

Luke olhou nervosamente para fora antes de fechar a porta.

— Com ele uivando e você atirando em tudo que vê, é um milagre que toda a base ainda não saiba que estamos aqui.

— Deixe-os vir — disse Solo, aparentemente empolgado pelo sucesso inicial. — Prefiro uma boa briga a ficar-me escondendo.

— Talvez você esteja cansado de viver — replicou Luke — mas eu não. Se ainda estamos vivos, é porque até agora não nos expusemos desnecessariamente.

O coreliano olhou para Luke de cara feia, mas não disse nada.

Com a facilidade e confiança de quem está acostumado a lidar com máquinas complicadas, Kenobi começou a manipular os con­troles de um painel de computador incrivelmente complexo. Fi­nalmente, um mapa dos setores da estação espacial apareceu no terminal do vídeo. O velho inclinou-se para a frente e começou a examinar atentamente o diagrama.

Enquanto isso, Pezero e Erredois estavam mexendo em ou­tro painel de controle. De repente, Erredois parou e soltou um longo assovio, como se tivesse descoberto alguma coisa muito im­portante. Solo e Luke esqueceram suas divergências e correram para onde estavam os robôs.

— Liguem Erredois ao computador — sugeriu Kenobi, sem se levantar. — Ele é capaz de extrair informações de toda a rede de processamento de dados da estação. Vamos ver se consegue descobrir onde fica o gerador do raio de tração.

— Por que simplesmente não desligamos o raio daqui? — quis saber Luke.

Foi Solo quem respondeu, com ar superior:

— Para que eles tornem a ligá-lo, no momento em que esti­vermos tentando escapar?

Luke enrubesceu.

— Oh. Não tinha pensado nisso.

— Luke, só há um jeito de escaparmos: destruir o gerador que alimenta o raio de tração — explicou o Velho Ben em tora carinhoso, enquanto Erredois enfiava o braço em uma tomada do computador. Imediatamente, as luzes do painel começaram a piscar.

Vários minutos se passaram enquanto o pequeno andróide ab­sorvia informações como uma esponja de metal. Então, as luzes pararam de piscar e Erredois soltou uma exclamação eletrônica.

— Ele descobriu! — anunciou Pezero, entusiasmado.

— O raio de tração está ligado aos reatores principais em sete pontos. Algumas informações são reservadas, mas Erredois vai transferir todos os dados que puder para o terminal de vídeo.

Kenobi abandonou a tela maior e sentou-se diante de um pequeno terminal perto de Erredois. Os dados começaram a des­filar na tela com uma tal rapidez que Luke não conseguiu acom­panhá-los. O velho, entretanto, não perdeu nada.

— Não há nada que vocês possam fazer para me ajudar nesta missão — disse para os outros. — É melhor eu ir sozinho.

— Por mim está bem — disse Solo, prontamente. — Já fiz muito mais do que minha obrigação. Mas acho que para inu­tilizar aquele raio de tração você vai precisar de muito mais do que mágica, companheiro.

Luke não se conformou com tanta facilidade.

— Vou com o senhor.

— Não seja impaciente, rapaz. Fique e vigie os andróides até eu voltar. É preciso entregá-los aos rebeldes, ou muitos outros mundos terão a mesma sorte que Alderaan. Confie na força, Lu­ke... e espere aqui.

Com um último olhar para a tela, Kenobi ajustou o sabre de luz na cintura. Foi até a porta, abriu-a, olhou para os dois lados e desapareceu no corredor.

Assim que a porta se fechou novamente, Chewbacca soltou um rosnado e Solo concordou com a cabeça.

— Estou com você, Chewie! — Voltou-se para Luke. — Onde você desencavou aquele fóssil?

— Ben Kenobi... o General Kenobi é um grande homem — protestou Luke, aborrecido.

— Grande para nos meter em encrencas — replicou Solo. — "General" uma ova! Ele não nos vai tirar daqui!

— Tem alguma idéia melhor? — perguntou Luke, em tom de desafio.

— Qualquer coisa seria melhor do que ficar aqui esperando que o velho nos venha salvar. Se nós...

Solo foi interrompido por uma série de guinchos e assovios histéricos. Luke olhou para Erredois Dedois. O pequeno robô parecia a ponto de ter um ataque.

— O que foi? — perguntou Luke para Pezero.

— Também não entendi, senhor. Ele disse: "Encontrei-a", e está repetindo sem parar: "Está aqui, está aqui!"

— Quem? Quem foi que Erredois encontrou?

Erredois voltou-se para Luke e começou a soltar assovios fre­néticos.

— A Princesa Leia — explicou Pezero, depois de ouvir com atenção. — A Senadora Organa... parece que as duas são a mes­ma pessoa. A pessoa que gravou a mensagem que Erredois e&tava transportando.

Aquele retrato tridimensional de indescritível beleza tornou a ocupar a mente de Luke.

— A Princesa? Ela está aqui?

Solo aproximou-se, atraído pela discussão.

— Princesa? Que Princesa?

— Onde? Onde está ela? — quis saber Luke, ofegante, igno­rando totalmente a pergunta de Solo.

Erredois assoviou e Pezero traduziu:

— Nível cinco, bloco de detenção AA-23. De acordo com o computador, vai ser executada em breve.

— Não! Temos que fazer alguma coisa!

— De que estão falando? — insistiu Solo, aborrecido.

— Foi ela quem colocou a mensagem em Erredois Dedois — explicou Luke. — A mensagem que estávamos tentando entregar aos rebeldes em Alderaan. Temos que salvá-la.

— Um momento — preveniu Solo. — Nada de precipita­ções. O velho disse para esperarmos aqui. Não gostei nada da idéia, mas também não vou sair por aí bancando o herói!

— Mas Ben não sabia que ela estava aqui — disse Luke, em tom suplicante. — Se soubesse, tenho certeza de que mudaria de planos. — Assumiu uma expressão pensativa. — Agora, precisa­mos arranjar um meio de entrar naquele bloco de detenção...

Solo sacudiu a cabeça e recuou um passo.

— Essa não... não vou entrar em nenhum bloco de deten­ção do Império.

— Se não fizermos alguma coisa, ela será executada. Há um minuto você disse que não estava disposto a ficar aqui parado esperando que Ben nos salvasse. Agora só quer saber de ficar. Como é, Han?

O coreliano parecia preocupado e confuso.

— Entrar em uma prisão não é exatamente o que eu tinha em mente. Provavelmente, vamos acabar lá de qualquer maneira... para que apressar as coisas?

— Mas vão executá-la!

— Antes ela do que eu.

— Onde está seu cavalheirismo, Han?

Solo pareceu pensar na resposta.

— Se bem me lembro, troquei-o por um crisopázio de dez quilates e três garrafas de conhaque do bom. Isso aconteceu há cinco anos, em Commenor.

— Eu a conheço — insistiu Luke, desesperado. — E linda!

— A vida é assim mesmo.

— Ela é uma senadora rica e poderosa — argumentou Luke, mudando de tática. — Se conseguirmos salvá-la, poderemos ga­nhar uma bela recompensa.

— Hum... rica? — Então Solo fez um gesto de desdém. — Espere um minuto... recompensa de quem? Do governo de Alderaan? Mas Alderaan não existe mais!

Luke pensava furiosamente.

— Se ela está presa e para ser executada, é porque repre­senta alguma forma de ameaça para quem destruiu Alderaan, para quem construiu esta estação espacial. Aposto que sabe de muita coisa a respeito dos planos do Império. Vou-lhe dizer quem pa­gará a recompensa pela vida da senadora. O Senado, os rebeldes e todos os comerciantes que tinham negócios com Alderaan. Or­gana é a única herdeira de todos os créditos do planeta! A re­compensa pode ser fabulosa!

— Não sei... estou começando a me sentir tentado. — Olhou para Chewbacca, que deu um grunhido de aprovação. Solo fez uma careta para o wookie. — Está bem, vamos tentar. Qual é seu plano, garoto?

Luke foi pego de surpresa. Até o momento, só se preo­cupara em persuadir Solo e Chewbacca a ajudá-lo na tentativa de salvamento. Conseguida esta primeira parte, não tinha a mínima idéia do que fazer. Estava acostumado a receber instruções de Solo e do Velho Ben. Mas agora tudo dependia dele.

As algemas de metal que pendiam do cinto do uniforme de Solo atraíram-lhe a atenção.

— Passe-me essas algemas e diga a Chewbacca para vir aqui. Solo passou as algemas para Luke e transmitiu o pedido a

Chewbacca. O wookie aproximou-se e ficou parado à frente de Luke.

— Agora vou colocar essas algemas em você — começou Luke, segurando os braços do antropóide — e...

Chewbacca rosnou baixinho e o coração de Luke deu um pulo.

— Agora — recomeçou — Han vai colocar essas algemas em você e... — Passou as algemas para Solo, enquanto o wookie o olhava fixamente.

Solo parecia estar achando graça na situação.

— Não se preocupe, Chewie, acho que sei o que ele está planejando.

As algemas mal couberam nos grossos pulsos do antropóide. A despeito das palavras do sócio, o wookie ficou olhando para elas com uma expressão preocupada.

— Desculpe, senhor — Luke olhou para Pezero. — Des­culpe perguntar, mas... o que é que Erredois e eu devemos fa­zer, se formos descobertos durante a ausência de vocês?

— Torcer para não serem desintegrados — respondeu Solo O tom de voz de Pezero mostrou que ele não havia achado mínima graça.

— Não é muito confortador.

Solo e Luke estavam muito preocupados com a missão de salvamento para dar atenção às dúvidas do robô. Os dois ajus­taram os capacetes. Então, acompanhados por Chewbacca, cuja expressão de desânimo era parcialmente verdadeira, entraram no mesmo corredor onde Ben Kenobi havia desaparecido.

 

À MEDIDA que se aprofundavam nas entranhas da gigantesca estação espacial, era cada vez mais difícil manter um ar de indi­ferença. Felizmente, qualquer demonstração de nervosismo por parte dos dois soldados seria encarada como perfeitamente natu­ral, dada a natureza do prisioneiro que estavam levando. Por outro lado, a presença de Chewbacca fazia com que despertas­sem uma certa atenção.

Quanto mais andavam, maior o movimento. Burocratas, técnicos, mecânicos e outros soldados cruzavam com eles. A maioria ignorava inteiramente o trio, embora alguns humanos olhassem para o wookie com curiosidade. Mas a expressão re­signada de Chewbacca e a aparente confiança de seus captores tranqüilizavam os observadores.

Finalmente, chegaram a um grande complexo de elevadores. Luke suspirou aliviado. O sistema de transporte controlado por computador seria capaz de levá-los a qualquer parte da base, em resposta a um comando verbal.

Houve um instante de apreensão quando um oficial subal­terno tentou entrar no elevador. Solo fez um gesto autoritário e o outro recuou sem protestar, preparando-se para esperar o elevador seguinte.

Luke examinou o painel de controle e procurou falar com voz calma e pausada. Em vez disso, a voz saiu trêmula e esganiçada. Mas o sistema se baseava unicamente na interpretação de ordens, não havia sido programado para reconhecer emoções. Assim, a porta se fechou e o elevador se pôs em movimento. Depois do que pareceu várias horas mas não passou de alguns minutos, a porta se abriu novamente e eles saltaram.

Luke esperava ver alguma coisa parecida com as celas gradeadas das prisões de Tatooine. Em vez disso, viu apenas ram­pas estreitas, em cujo centro havia um poço de ventilação. Esses corredores, em vários níveis, eram paralelos às paredes onde es­tavam as celas. Havia guardas e barreiras de energia por toda parte.

Sabendo que quanto mais tempo ficassem ali parados mais provável seria que alguém se aproximasse com perguntas irres­pondíveis, Luke olhou desesperadamente em torno, em busca de uma inspiração.

— Isto não vai dar certo — sussurrou Solo em seu ouvido.

— Por que não disse antes? — replicou Luke, assustado.

— Mas eu disse. Não se...

— Psiu!

Solo interrompeu o que estava dizendo. Os temores de Luke se haviam concretizado. Um oficial de cara amarrada se aproximou. Franziu a testa ao deparar com Chewbacca.

— Aonde vão com essa... coisa?

A observação fez Chewbacca soltar um grunhido, mas Solo o obrigou a calar-se com uma cotovelada nas costelas. Luke respondeu quase instintivamente:

— Prisioneiro transferido do bloco TS-138. O oficial pareceu surpreso.

— Não fui notificado. Tenho que verificar.

Voltando-se, o homem caminhou até um terminal próximo e começou a apertar os botões. Luke e Han examinaram rapi­damente a situação. Olharam para os alarmas, as barreiras de energia, os fotossensores remotos, os três outros guardas que es­tavam à vista.

Então, Luke abriu as algemas que prendiam Chewbacca, c Solo murmurou algo no ouvido do wookie. Um urro de arre­piar os cabelos sacudiu o corredor e Chewbacca arrancou o rifle das mãos de Solo.

— Cuidado! — gritou Solo. — Ele se soltou! Vai-nos fazer em pedaços!

Solo e Luke se afastaram do antropóide, sacaram as pistolas e começaram a atirar. Demonstraram excelentes reflexos, um en­tusiasmo indiscutível e uma pontaria execrável. Nenhum dos dis­paros passou nem perto do furioso wookie. Em compensação, as câmaras automáticas, os controles das barreiras de energia e os três guardas foram atingidos.

A esta altura, o oficial começou a desconfiar de que a abo­minável pontaria dos dois soldados estava causando estragos demais. Estava-se preparando para acionar o alarma geral quando Luke o derrubou com um tiro.

Solo correu para o alto-falante do comunicador, de onde saíam perguntas insistentes a respeito do que estava acontecen­do. Aparentemente, também havia linhas de áudio ligando o an­dar ao resto do complexo.

Ignorando a torrente de perguntas e ameaças, o piloto olhou para um indicador próximo.

—Temos de descobrir em que cela está sua princesa. De­ve haver uma dúzia de níveis e... aqui está. Cela 2187. Vá em frente. Eu e Chewbacca nos encarregamos de cobri-lo.

Luke fez que sim com a cabeça e saiu correndo pela rampa. Depois de mandar que Chewbacca tomasse posição em fren­te aos elevadores, Solo deu um suspiro profundo e foi responder às insistentes chamadas do comunicador.

— Está tudo sob controle — falou no microfone, com uma voz relativamente calma. — Situação normal.

— Tem certeza? — replicou uma voz, em tom incrédulo. — O que aconteceu?

— Hum... a arma de um dos guardas disparou acidental­mente — gaguejou Solo, cada vez mais nervoso. — Mas não houve conseqüências. Estamos muito bem, obrigado. E você, como vai?

—Vamos mandar uma patrulha aí — anunciou a voz.

Han podia sentir a desconfiança na voz do outro. O que fazer? Ele era mais eloqüente com uma arma do que com pala­vras.

— Negativo... negativo. Estamos com uma fuga de ener­gia. Precisamos de alguns minutos para consertá-la. No mo­mento, é perigoso atravessar as barreiras.

— Disparo acidental, fuga de energia... Quem está falan­do?

Apontando a pistola para o painel, Solo reduziu o comuni­cador a uma massa de metal fundido.

— A conversa estava muito chata — murmurou. Voltando-se, gritou na direção da rampa: — Depressa, Luke! Vamos ter companhia!

Luke ouviu a advertência, mas estava ocupado correndo de cela em cela e olhando para os números que havia acima de cada porta. Estavam a ponto de desistir e passar para o nível seguinte quando encontrou a cela 2187.

Ficou parado por um momento olhando para a pesada porta de metal. Então, ajustando a pistola para o máximo e torcendo para que não fundisse em suas mãos, deu um passo para trás e abriu fogo. Quando a arma ficou quente demais para segurar, passou-a para a outra mão. Ao fazê-lo, a fumaça teve tempo de se dissipar, e Luke constatou com alguma surpresa que havia um grande buraco na porta.

Olhando para ele através da fumaça, com uma expressão interrogativa no rosto, estava a jovem cujo retrato Erredois Dedois havia projetado em uma garagem de Tatooine.

Era ainda mais linda do que a imagem, pensou Luke, olhando para ela fascinado.

— Você... você é ainda mais linda... do que eu...

O olhar de confusão e incerteza foi substituído a princípio por espanto e depois por impaciência.

— Você não é um pouquinho baixo demais para um sol­dado? — comentou ela, finalmente.

— O quê? Ah... o uniforme. — Luke tirou o capacete e procurou colocar as idéias em ordem. — Estou aqui para sal­vá-la. Meu nome é Luke Skywalker.

— O que foi que disse? — perguntou, polidamente, a jo­vem.

— Disse que vim para salvá-la. Ben Kenobi está comigo. Trouxemos os dois andróides...

A menção do nome do velho despertou uma reação imediata.

— Ben Kenobi! — A moça colocou a cabeça para fora da cela e olhou para os dois lados, esquecendo-se totalmente de Luke — Onde está ele? Veli-ban!

 

Darth Vader andava rapidamente de um lado para o outro da sala de conferência, observado pelo Governador Tarkin. Os dois estavam sozinhos. Finalmente, o Lorde Negro parou e olhou em torno, como se tivesse ouvido uma campainha que apenas os seus ouvidos fossem capaz de detectar.

— Ele está aqui — afirmou Vader, sem emoção. Tarkin pareceu assustado.

— Velhi-ban Kenobi? É impossível! O que o faz pensar assim?

— Uma pulsação da força, de um tipo que até hoje só senti na presença de meu antigo mestre. É inconfundível.

— Mas... mas Kenobi deve estar morto há muito tempo! Vader hesitou. Parecia ter perdido a autoconfiança.

— Talvez... agora já não sinto mais nada.

— Os Cavaleiros de Jedi estão extintos — declarou Tar­kin com segurança. — Sua chama se extinguiu há muitos anos. Você, meu amigo, é o último que resta.

A cigarra do comunicador começou a tocar.

— Sim? — perguntou Tarkin.

— Temos um alarma no bloco de detenção AA-23.

— A Princesa! — exclamou Tarkin, com um sobressalto. Vader semicerrou os olhos, como se estivesse querendo en­xergar através das paredes.

— Eu sabia... Velhi-ban está aqui. Desta vez, não há en­gano possível.

— Coloque todos os setores em estado de alerta — disse Tarkin, pelo comunicador. Olhou para Vader. — Se você está certo, então não o podemos deixar escapar.

— Escapar talvez não seja a intenção de Velhi-ban Kenobi — replicou Vader, lutando para controlar as emoções. — Não se esqueça de que também é um Cavaleiro de Jedi... o maior de todos. Não devemos subestimar o perigo que representa para nós. Mas eu sou o único que pode com ele. — Olhou fixa­mente para Tarkin. — Sozinho.

 

Luke e Leia estavam voltando para o ponto onde o rapaz havia deixado os companheiros, quando uma série de explosões abriu um enorme buraco na parede do corredor. Vários soldados tinham tentado penetrar no setor usando os elevadores, mas Chewbacca se encarregara de reduzi-los a cinzas. Desistindo dos elevadores, os soldados restantes haviam aberto o buraco. A abertura era grande demais para que Solo e o wookie a cobris­sem totalmente. Os soldados do Império começaram a entrar no bloco de detenção.

Fugindo pelo corredor, Han e Chewbacca se encontraram com Luke e a Princesa.

— Não podemos ir para lá — disse Solo, ofegante.

— Não, parece que você conseguiu cortar nossa única saí­da — concordou Leia, prontamente. — Este é um bloco de detenção, você sabe. Só existe uma saída.

Solo olhou para a moça de cima a baixo.

— Sinto muito, Alteza — disse, sarcasticamente. — Será que prefere voltar para sua cela?

Leia desviou os olhos, com o rosto impassível.

— Tem de haver outra saída — murmurou Luke, tirando do cinto um pequeno transmissor e ajustando cuidadosamente a freqüência. — Ce três Pezero... Ce três Pezero!

Uma voz familiar respondeu prontamente:

— Sim, senhor?

— Estamos presos aqui. Existe outra saída da área de de­tenção, além da principal?

O pequeno alto-falante limitou-se a emitir ruídos de está­tica enquanto Solo e Chewbacca lutavam para manter a distân­cia os soldados do Império.

— O que foi que disse?... não entendi.

No posto de guarda, Erredois Dedois silvava freneticamente, enquanto Pezero ajustava os controles, tentando melhorar a transmissão.

— Falei que foi dado um alarma geral, senhor. E não con­segui encontrar nenhuma outra saída do bloco. — Pezero aper­tou um botão e a imagem no terminal de vídeo foi substituída por outra. — Existem mais informações a respeito do bloco AA-23, mas são reservadas.

Alguém bateu à porta, normalmente a princípio, e depois com maior insistência, quando não houve resposta.

— Oh, não! — lamentou-se Pezero.

A fumaça no corredor das celas já estava tão espessa que Solo e Chewbacca mal podiam ver os adversários. Até certo ponto, a fumaça era providencial, já que estavam em esmagadora inferioridade numérica, e os soldados do Império também não podiam vê-los.

De vez em quando, um dos soldados tentava aproximar-se, mas, ao penetrar na fumaça, colocava-se em posição vulnerável. Exposto ao fogo conjunto dos dois contrabandistas, não demo­rava muito para juntar-se à pilha de corpos que se acumulava no chão do corredor.

Os raios de energia continuavam a cruzar o corredor em todas as direções, quando Luke aproximou-se de Solo.

— Não há outra saída — gritou no ouvido do outro, lu­tando para fazer-se ouvir em meio ao ruído do combate.

— Pois aqui é que não podemos ficar. O que faremos* agora?

— Belos salvadores vocês são — queixou-se uma voz irri­tada atrás deles. Os dois homens se voltaram e deram com a Princesa, que olhava para eles com ar de desprezo. — Quando entraram aqui, não tinham nenhum plano para sair?

Solo apontou para Luke.

— A idéia foi dele, querida.

Luke deu um sorriso amarelo e encolheu os ombros, pre­parou-se para responder ao fogo dos soldados, mas antes que pudesse fazê-lo, a Princesa arrancou-lhe a arma das mãos.

— Ei!

Acompanhada pelo olhar espantado de Luke, Leia apontou a pistola para uma pequena grade na parede e disparou.

— Por que fez isso? — perguntou Solo.

— Já vi que se ficar esperando vocês se decidirem, estou perdida. Vamos descer pelo tubo da lixeira, depressa!

Ditas essas palavras, a Princesa enfiou os pés na abertura, deu um impulso e desapareceu. Chewbacca rosnou ameaçadora-mente, mas Solo sacudiu a cabeça.

— Não, Chewie, não quero que você a faça em pedaços. Ainda não me decidi. Ou aprendo a gostar dela, ou vou matá-la pessoalmente.

O wookie disse mais alguma coisa e Solo gritou:

— Ande logo, seu macaco peludo! Não interessa o cheiro que está sentindo. Não é hora de bancar o enjoado!

Solo empurrou o relutante wookie para a estreita passagem, e ajudou-o a entrar. Assim que o antropóide desapareceu, en­trou também. Luke disparou uma última série de tiros, mais com o intuito de criar uma cortina de fumaça do que com a esperança de acertar em alguém, e mergulhou atrás deles.

Vendo o que havia acontecido aos companheiros mais im­petuosos, os soldados decidiram ficar onde estavam, aguardando reforços. Afinal, os fugitivos estavam encurralados, e não havia necessidade de morrer estupidamente apenas para apressar a cap­tura.

O lugar onde Luke caiu estava quase às escuras. Não que fosse preciso enxergar alguma coisa para adivinhar o que conti­nha. O depósito de lixo estava cheio quase até a metade de matéria orgânica em decomposição.

Solo estava caminhando aos tropeções ao longo da parede

— A lixeira foi uma excelente idéia — disse para a Prin­cesa com ar irônico, enquanto enxugava o suor da testa. — Que perfume delicioso você descobriu! Infelizmente, não podemos sair daqui flutuando neste adorável aroma, e parece que não existe outra saída. A não ser que eu consiga abrir esta maldita portinhola.

Recuando um passo, Solo apontou a pistola e disparou. O projétil ricocheteou no metal e ziguezagueou loucamente, enquan­to todos mergulhavam no lixo em busca de abrigo. Afinal, o projétil detonou, com um ruído ensurdecedor.

Leia foi a primeira a emergir da massa fétida. Havia perdido um pouco da compostura.

— Pare de usar essa coisa — disse, zangada, para Solo — enquanto ainda estamos vivos!

— Sim, Majestade — murmurou Solo, ironicamente. Não fez menção de guardar a arma, enquanto olhava para o tubo da lixeira. — Não vão levar muito tempo para descobrir onde es­tamos. Tínhamos a situação sob controle até você nos trazer para cá.

— Não diga! — replicou a Princesa, passando a mão no cabelo e nos ombros para tirar os restos de lixo. — Ora, podia ser pior...

Como que em resposta, um uivo agudo e penetrante se fez ouvir. Parecia vir do meio do lixo. Chewbacca soltou um gani­do de medo e se colou à parede. Luke sacou %a pistola e olhou em todas as direções, mas não viu nada.

— O que foi isso? — perguntou Solo.

— Não sei. — Luke de repente deu um pulo e olhou para baixo e para trás. — Alguma coisa se moveu atrás de mim. Cuidado...

Antes que os outros pudessem fazer alguma coisa, afundou no lixo e desapareceu.

— A coisa pegou Luke! — exclamou a Princesa.

Solo olhou em torno, procurando desesperadamente alguma coisa em que atirar.

Tão depressa como havia desaparecido, Luke tornou a apa­recer — mas estava acompanhado. Enrolado em volta de seu pescoço, havia um grosso tentáculo.

— Atire nele! Mate-o! — gritou Luke.

— Matá-lo... não consigo nem vê-lo! — protestou Solo. Mais uma vez Luke foi puxado pelo dono daquele apêndice repulsivo. Solo ficou parado, com a arma na mão, sem saber o que fazer.

Houve um ruído distante de um motor em funcionamento e duas paredes opostas do depósito se aproximaram alguns cen­tímetros. O ruído parou. Luke apareceu ao lado de Solo, emer­gindo com dificuldade do meio do lixo, esfregando o pescoço.

— O que aconteceu com o animal? — perguntou Leia olhando assustada para o local de onde Luke havia surgido.

Luke parecia realmente surpreso.

— Não sei. De repente, senti que estava livre. O bicho apenas me soltou e desapareceu. Acho que meu cheiro não lhe agradou.

— Não estou gostando nada da nossa situação — murmurou Solo.

O ruído distante recomeçou e as paredes continuaram a se aproximar. Só que desta vez parecia que era para valer.

— Não fiquem aí parados! — exclamou a Princesa. — Te­mos que calçar as paredes com alguma coisa!

Mesmo com as grossas vigas que só Chewbacca era capaz de transportar, não conseguiram encontrar nada capaz de conter o avanço das paredes. Parecia que quanto mais resistente era o objeto que encostavam às paredes, mais depressa ela escorregava do lugar.

Luke ligou o transmissor, sem tirar os olhos das paredes cada vez mais próximas.

— Pezero... fale, Pezero!

Esperou um tempo razoável mas não ouviu nenhuma res­posta, o que o fez olhar preocupado para os companheiros.

— Não sei por que ele não responde. — Tentou nova­mente. — Pode falar, Cetrês Pezero. Está-me ouvindo?

— Cetrês Pezero — continuava a chamar o alto-falante. _— Está-me ouvindo?

Era a voz de Luke, saindo do pequeno comunicador portá­til que estava sobre o console do computador. Não havia ne­nhum outro som no posto de guarda.

De repente, uma tremenda explosão destruiu a porta, arre­messando pedaços de metal em todas as direções. O comunicador foi atingido por vários fragmentos e caiu no chão, interrom­pendo a voz de Luke no meio de uma frase.

Imediatamente, quatro soldados entraram na sala. Uma ins­peção inicial mostrou que o local estava vazio — até que ouvi­ram uma voz abafada.que parecia partir de um dos armários que ocupavam a parede dos fundos.

— Socorro, socorro! Tirem-nos daqui!

Três dos soldados curvaram-se para examinar os corpos imó­veis do oficial e do assistente enquanto o outro foi abrir o ar­mário. De dentro saíram dois robôs, um alto e humanóide, o outro baixinho e com três pernas. O mais alto parecia estar aterrorizado.

— São uns loucos, uns loucos! — Apontou para a porta. — Disseram que iam para a prisão. Acabam de sair. Se anda­rem depressa, talvez ainda os alcancem. Por ali, por ali!

Dois dos soldados saíram correndo da sala, indo juntar-se aos que esperavam no corredor. Isso deixou apenas ' dois guar­das para vigiar o escritório. Eles ignoraram totalmente os robô.;, enquanto discutiam o que poderia ter ocorrido.

— Toda essa confusão sobrecarregou os circuitos do meu amigo aqui — explicou Pezero. — Se não se incomodam, gos­taria de levá-lo para a oficina de manutenção.

Um dos guardas olhou »distraidamente para eles e fez que sim com a cabeça. Pezero e Erredois saíram para o corredor sem olhar para trás. Depois que partiram, ocorreu ao guarda que o mais alto dos dois andróides era de um tipo que nunca havia visto. Ele deu de ombros. Afinal, não era nada de extraordinário em uma base daquele tamanho.

— Esta foi por pouco — murmurou Pezero, quando já estavam longe. — Agora temos que encontrar outro terminal de computador para ligar você, ou tudo estará perdido.

 

O depósito de lixo estava ficando cada vez menor à medida que as paredes de metal deslizavam implacavelmente uma em direção à outra. Os detritos maiores começaram a quebrar e a estalar, como que em um preparativo para o grande final.

Chewbacca gemia e bufava enquanto se esforçava inutil­mente para conter o avanço de uma das paredes.

— Uma coisa é certa — observou Solo, com uma careta. — Depois disso, vamos ficar muito mais esbeltos. É a melhor receita que existe para emagrecer. O único problema é que 6 irreversível.

Luke parou para respirar, sacudindo com raiva o inocente comunicador.

— O que terá acontecido a Pezero?

— Tente de novo abrir a portinhola — aconselhou Leia. — É nossa única esperança.

Solo tomou distância e atirou. O ruído do disparo ecoou zombeteiramente no pequeno espaço que lhes restava.

 

A oficina estava vazia. Depois de inspecionar o local, Pe­zero fez um gesto para que Erredois o seguisse. Os dois come­çaram a procurar um terminal de computador. Erredois soltou um silvo e Pezero se aproximou. Esperou pacientemente enquan­to o outro ligava o braço a um soquete apropriado.

O alto-falante do pequeno andróide emitiu uma torrente de silvos e assovios ultra-rápidos. Pezero levantou a mão.

— Mais devagar, mais devagar! — O outro o atendeu. — Assim é melhor. Eles estão onde? Eles o quê? Oh, não! Vão ser esmagados!

 

Menos de um metro separava da morte os ocupantes do depósito de lixo. Leia e Solo tinham sido forçados a se coloca­rem de frente para as paredes em movimento. Estavam voltados um para o outro. Pela primeira vez, a arrogância havia desapa­recido dos olhos da Princesa. Segurou a mão de Solo, apertando-a convulsivamente ao sentir o primeiro contato da parede às suas costas.

Luke havia caído e estava deitado de lado, lutando para manter a cabeça acima da superfície do lixo. Foi então que o comunicador começou a chamar.

— Pezero!

— Está ai, senhor! — respondeu o andróide. — Tivemos alguns problemas. O senhor não sabe como...

— Está bem, Pezero! — gritou Luke. — Desligue todos os computadores de lixo do setor da prisão. Está-me ouvindo? Desligue todos os...

Momentos depois, Pezero levantou os braços, desesperado, ao ouvir os gritos que saíam do comunicador.

— Não, desligue todo o sistema! — implorou a Erredois.

— Depressa! Oh, escute os gritos... estão morrendo, Erredois!

E tudo por culpa minha. Devia ter agido mais depressa. Meu pobre amo... todos eles... não, não, não!

Os gritos, entretanto, continuaram por muito tempo. Na verdade, eram gritos de alívio. As paredes do depósito tinham-se afastado automaticamente quando Erredois desligara o sistema.

— Erredois, Pezero! — gritou Luke no comunicador. — Está tudo bem, estamos salvos! Ouviram? Salvos...

Levantando-se com esforço, Luke foi até a portinhola e afas­tou os detritos acumulados, descobrindo um número gravado no metal.

— Abram a portinhola de manutenção da unidade 366-117891.

— Sim, senhor — respondeu Pezero.

Luke jamais ouvira alguém pronunciar essas palavras com tamanha felicidade na voz.

 

REVESTIDO por grossos cabos e eletrodutos que surgiam das profundezas e desapareciam nos céus, o poço parecia ter cente­nas de quilômetros de profundidade. O estreito passadiço que se projetava sobre o abismo era como um fio de linha colado à superfície interna de um gigantesco cilindro. Tinha largura su­ficiente para um único homem.

O homem que avançava cautelosamente ao longo do peri­goso passadiço parecia estar à procura de alguma coisa. Os estalidos de imensos relês reboavam como leviatãs cativos no vasto espaço aberto.

Finalmente, o homem chegou ao lugar onde dois grossos ca­bos se juntavam atrás de um painel. O painel estava fechado, mas depois de um exame cuidadoso, Ben Kenobi comprimiu a tampa de um jeito especial e ela se abriu, revelando um terminal de computador.

Com a mesma meticulosidade, o velho começou a fazer vários ajustes no terminal. Afinal, sorriu satisfeito, quando al­gumas luzes indicadoras mudaram de vermelho para azul.

Inesperadamente, uma porta se abriu a alguns passos de Ke­nobi. O velho fechou apressadamente o painel e se afastou. Um grupo de soldados apareceu na porta e o oficial em comando des­ceu para o passadiço, parando a apenas alguns metros da figu­ra imóvel.

— Vigiem esta área até que o alerta seja cancelado.

Quando os soldados se adiantaram para cumprir a ordem, Kenobi já havia desaparecido nas sombras.

 

Chewbacca gemia e bufava, conseguindo afinal, com a aju­da de Luke e Solo, atravessar a estreita abertura da portinhola. Soltando um suspiro de alívio, Luke voltou-se para examinar os arredores.

O corredor onde haviam emergido estava coberto de poei­ra. Dava a impressão de não ter sido usado desde que a estação espacial havia sido construída. Provavelmente, era uma passa­gem usada apenas para serviços de manutenção. Luke não ti­nha a mínima idéia de onde estavam.

Alguma coisa chocou-se com a parede do depósito de lixo, produzindo um ruído surdo. Luke soltou um grito de alerta, quando um tentáculo gelatinoso saiu pela abertura e começou a tatear no corredor. Solo levantou a pistola, enquanto Leia ten­tava passar por Chewbacca, paralisado de medo.

— Alguém tire este macaco da minha frente! — De re­pente, a Princesa percebeu o que Solo pretendia fazer. — Não, espere! Podem ouvir!

Solo ignorou-a e apertou o gatilho, apontando para a porti­nhola. O tentáculo se retesou e depois ficou imóvel.

Amplificado pelo corredor estreito, o ruído do disparo ecoou por vários minutos. Luke sacudiu a cabeça, lamentando o gesto impensado do companheiro. Até o momento, tivera uma admi­ração cega pelo coreliano. Mas a atitude insensata de atirar des­necessariamente no monstro os colocava, pela primeira vez, era igualdade de condições.

Entretanto, a reação da Princesa foi ainda mais surpreen­dente do que a de Solo.

— Escute — começou, olhando fixamente para o coreliano. — Não Sei de onde você surgiu, mas sou-lhe muito grata. E a você também — acrescentou, sem muita convicção, olhando para Luke. Dirigiu-se de novo a Solo. — De agora em diante, porém, faça o que eu disser.

Solo estava perplexo. Desta vez, o sorriso irônico não apa­receu.

— Escute, Majestade — conseguiu finalmente murmurar. — Quero deixar uma coisa bem clara. Só recebo ordens de uma pessoa... eu mesmo.

— É um milagre que ainda esteja vivo — replicou a moça, friamente. Um olhar rápido para o corredor e começou a cami­nhar na direção oposta, com passos decididos.

Solo olhou para Luke, começou a dizer alguma coisa, mu­dou de idéia e limitou-se a sacudir a cabeça devagar.

—Nenhuma recompensa vale o que estou passando. Não sei se existe dinheiro suficiente no universo para pagar o desprazer de lidar com ela. Ei... espere por nós!

Leia havia desaparecido em uma curva do corredor, e os três saíram correndo atrás dela.

 

Os soldados que vigiavam a entrada do poço estavam mais interessados em discutir o estranho tumulto que havia ocorrido no bloco de detenção do que em prestar atenção no que se pas­sava em torno. Tão entretidos estavam na conversa que não notaram o anjo da morte que passava por eles. Movia-se nas sombras, como um animal noturno, parando apenas quando um dos soldados olhava casualmente em sua direção.

Minutos depois, um soldado franziu a testa e olhou para a porta de entrada, onde julgara pressentir um movimento. Não viu nada. Ainda preocupado, mas compreensivelmente relutante em compartilhar a alucinação com os companheiros, o soldado voltou a participar da conversa.

 

Alguém finalmente descobriu os dois soldados inconscientes dentro de um armário do cargueiro capturado. Apesar de todos os esforços, os dois homens não recuperaram os sentidos.

Sob a supervisão de um sargento autoritário, os soldados desceram a rampa com os dois companheiros nus e desmaiados e os levaram para a enfermaria mais próxima. No caminho, pas­saram por dois vultos escondidos por um painel aberto. Apesar de estarem tão perto do hangar, Pezero e Erredois não foram notados.

Assim que os soldados passaram, Erredois acabou de tirar a tampa da tomada e enfiou o braço na abertura. Suas lâmpadas começaram a piscar loucamente. As juntas do pequeno andróide deixaram escapar espiras de fumaça. Afinal, Pezero conseguia puxá-lo para trás, desfazendo a ligação.

Imediatamente, a fumaça desapareceu e as luzes voltaram ao normal. Erredois soltou alguns silvos débeis, dando a im­pressão de alguém que bebeu um grande gole de cachaça pura quando esperava estar bebendo um inocente copo d'água.

— Da próxima vez, veja onde enfia os seus sensores — disse Pezero, em tom de censura. — Poderia ter torrado os circuitos. — Olhou para o soquete. Isto é uma tomada de força, estúpido, e não um terminal de dados!

Erredois deu um longo chiado, como quem pede desculpas. Depois, foram procurar a tomada certa.

 

Luke, Solo, Chewbacca e a Princesa chegaram ao final do corredor. Acabava em uma grande janela que dava para um hangar. Lá embaixo, observaram com um misto de surpresa e satisfação, estava o cargueiro capturado.

Ligando o comunicador enquanto olhava nervosamente paia os lados, Luke disse ao microfone:

— Cetrês Pezero... está-me ouvindo?

Houve uma pausa assustadora, e então uma voz respondeu:

— Estou ouvindo, senhor. Tivemos que abandonar as pro­ximidades do posto de guarda.

— Estão em local seguro?

— Creio que sim, embora ainda tema não chegar à velhice. Estamos no hangar onde guardaram o cargueiro, perto de uma das paredes.

Luke olhou pela janela, surpreso.

— Não consigo vê-los... devo estar bem acima de vocês. Fiquem onde estão. Vamos para aí assim que pudermos.

O rapaz desligou, sorrindo ao lembrar-se da forma como Pezero se referira à "velhice". Às vezes, chegava a pensar que o robô mais humano do que muitas pessoas.

— Será que o Velho conseguiu desligar o raio de tração?.— murmurou Solo, enquanto observava o cargueiro capturado. Havia um movimento contínuo de soldados entrando e saindo da nave.

— Chegar ao Millennium vai ser como atravessar os Cinco Anéis de Fogo de Fórnix.

Foi então que Leia Organa compreendeu que se tratava da nave de Solo.

— Você chegou aqui naquela coisa? É mais corajoso do que eu pensava.

Sentindo-se ao mesmo tempo elogiado e insultado, Solo hesitou, sem saber como reagir. Afinal, contentou-se em lançar-me um olhar malicioso quando começaram a voltar pelo corre­dor, com Chewbacca na retaguarda.

Ao dobrarem uma esquina, os três humanos pararam abrup­tamente. Foram imitados pelos vinte soldados do Império que marchavam na direção oposta. Reagindo naturalmente, isto é, sem pensar, Solo sacou a pistola e investiu contra o pelotão, gri­tando insultos em várias línguas a plenos pulmões.

Assustados com o ataque inesperado e supondo erroneamen­te que o atacante soubesse o que estava fazendo, os soldados co­meçaram a recuar. Os disparos do coreliano semearam a confu­são. Perdendo totalmente a compostura, os soldados se volta­ram e saíram correndo.

Embriagado com a própria proeza, Solo foi atrás deles, voltando-se para gritar a Luke:

— Vá para o Millennium! Eu tomo conta deles!

— Está maluco? — gritou Luke de volta. — Aonde pensa que vai?

Mas Solo já ia longe e não podia ouvi-lo. Não que fizesse alguma diferença.

Nervoso com o desaparecimento do companheiro, Chewbacca soltou um sonoro rugido e saiu correndo atrás. Isto deixou Luke e Leia sozinhos no corredor vazio.

— Talvez eu tenha sido severa demais com seu amigo — confessou a moça, com relutância. — Ele é um bocado valente.

— Ele é um idiota! — exclamou Luke, furioso. — Não sei como espera ajudar-nos, expondo-se assim.

Uma campainha de.alarma começou a tocar.

— Só faltava essa — resmungou Luke. — Vamos embora. E os dois saíram juntos pelo corredor, à procura de um caminho que os levasse para o nível do hangar.

 

Solo continuou a perseguir os soldados pelo comprido cor­redor, correndo à toda velocidade, gritando e brandindo a pistola. De vez em quando dava um tiro, cujo efeito era muito mais psi­cológico do que tático.

Metade dos soldados já havia desaparecido em corredores secundários. Os dez restantes continuavam a correr em linha reta, respondendo ao fogo apenas para constar. Finalmente, che­garam a um corredor sem saída, o que os obrigou a parar e a enfrentar o$ adversários.

Vendo que os dez haviam parado. Solo reduziu a marcha. Depois de mais alguns passos, parou também. O coreliano e os soldados do Império ficaram-se olhando silenciosamente por alguns segundos. Então alguns soldados começaram a olhar, não para Han, mas para o espaço vazio atrás dele.

De repente, Solo percebeu que estava sozinho, e que o mes­mo pensamento estava penetrando pouco a pouco nas mentes dos guardas. A vergonha foi rapidamente substituída pela raiva. Rifles e pistolas apareceram. Solo deu um passo para trás, dis­parou um tiro e saiu correndo.

Chewbacca começou a ouvir o ruído dos disparos quando ainda estava a uma certa distância de Solo. Mas havia alguma coisa estranha, pensou. Parecia que estavam ficando cada vez mais próximos, ao invés de se afastarem.

Estava pensando no que fazer quando Solo apareceu numa curva do corredor e quase o derrubou no chão. Ao ver os dez soldados que o perseguiam, o wookie resolveu guardar as pergun­tas para um momento mais calmo. Deu meia-volta e saiu cor­rendo atrás de Solo.

 

Luke agarrou a Princesa e empurrou-a para um nicho da parede. A moça estava abrindo a boca para protestar, quando o som de passos a fez obedecer sem discussão.

Um grupo de soldados passou rapidamente por eles, aten­dendo aos alarmas que continuavam a soar com insistência. Quando já iam longe, Luke saiu do esconderijo, ofegante.

— Nossa única esperança é entrar no hangar pelo outro lado. Eles já sabem que há alguém aqui.

O rapaz começou a voltar pelo corredor, fazendo um gesto para que a Princesa o seguisse.

Dois guardas apareceram no fundo do corredor, pararam e apontaram diretamente para eles. Luke e Leia deram meia-volta e correram na direção oposta. Adiante, depararam com um gru­po maior de soldados.

Sem poder recuar e sem poder prosseguir, olharam em torno, procurando desesperadamente uma saída. Foi então que Leia descobriu um corredor secundário e o mostrou para o rapaz.

Luke disparou no perseguidor mais próximo e se enfiou na estreita passagem. A moça o seguiu. Atrás deles, os soldados faziam um ruído ensurdecedor no espaço confinado. Mas pelo menos só poderiam segui-los um de cada vez.

Uma pesada porta de metal apareceu à frente. Do outro lado estava mais escuro, o que reacendeu as esperanças de Luke. Se pudessem manter a porta fechada pelo menos por alguns mo­mentos, talvez tivessem tempo de se esconder.

Mas a porta continuou aberta, não demonstrando nenhuma vontade de se fechar automaticamente. Luke virou a cabeça para olhar para os perseguidores e quando olhou de novo para a frente, viu que o chão havia acabado. Com um dos pés no ar, lutou para recuperar o equilíbrio, conseguindo-o bem a tempo de quase cair de novo, quando a Princesa esbarrou nele com força.

Estavam em uma plataforma que se projetava no vazio. Uma brisa fresca acariciou o rosto de Luke, enquanto o rapaz examinava as paredes, que se estendiam a perder de vista para cima e para baixo do local onde se encontravam. O poço era usado para circular e reciclar a atmosfera da estação espacial.

No momento, Luke estava assustado demais para se abor­recer com a Princesa. Além disso, havia outros perigos a consi­derar. Um tiro atingiu uma viga de metal pouco acima deles e fragmentos voaram em todas as direções.

— Acho que tomamos o caminho errado — murmurou Lu­ke, disparando nos soldados que se aproximavam e iluminando o estreito corredor com a luz da morte.

Do outro lado do abismo, havia uma porta aberta. Mas era como se estivesse a anos-luz de distância. Tateando na parede do corredor, Leia descobriu um botão e apertou-o. A porta atrás deles se fechou com um estrondo. Pelo menos com isso ficavam livres do fogo do soldados mais próximos. Ao mesmo tempo, estavam equilibrados precariamente em uma plataforma de menos de um metro quadrado. Se o mesmo mecanismo que acionava a porta recolhesse também a plataforma, teriam a oportunidade de conhecer muito bem o interior da estação espacial.

Fazendo um gesto para que a Princesa recuasse o máximo possível, Luke protegeu os olhos e apontou a pistola para os controles da porta. Um breve disparo transformou os circuitos em uma massa informe, assegurando que ninguém poderia abrir a porta facilmente do outro lado. Então o rapaz voltou sua atenção para o espaço vazio que os separava da outra porta, que acenava para eles convidativamente... um pequeno retângulo amarelo de liberdade.

Apenas o leve sussurro da corrente de ar quebrava o silên­cio até que Luke comentou:

— Aquela porta é forte, mas não vai resistir indefinida­mente.

— Precisamos passar para o outro lado — concordou Leia, examinando de novo a parede em volta da porta fechada. — Veja se encontra os controles da plataforma.

Alguns minutos foram gastos em uma busca infrutífera, en­quanto os ruídos do outro lado ficavam cada vez mais fortes. Um pequeno círculo branco apareceu no centro da porta, e co­meçou a aumentar rapidamente.

— Estão conseguindo! — exclamou Luke.

A Princesa virou o corpo cautelosamente para olhar para o poço.

— Os controles da ponte devem ficar do outro lado.

Estendendo o braço para apontar para os controles inaces­síveis, Luke esbarrou com a mão em alguma coisa pendurada no cinto do uniforme. Um rápido olhar para baixo revelou a causa, e deu a Luke uma idéia desesperada.

A corda era fina e parecia frágil, mas fazia parte do equipamento-padrão dos soldados do Império e teria suportado facil­mente o peso de Chewbacca. E ele e Leia não eram tão pesados assim. Arrancando o rolo de corda da cintura, tentou avaliar o comprimento, comparando-o com o tamanho do abismo. Seria mais que suficiente.

— O que foi? — perguntou a Princesa, curiosa.

Luke não respondeu. Em vez disso, tirou do cinto uma fonte de alimentação, pequena mas pesada, e amarrou-a em uma ponta da corda. Depois de certificar-se de que estava bem segura, aproximou-se o mais que pôde da borda da plataforma.

Girando a extremidade da corda em círculos cada vez maio­res, arremessou-a para o outro lado. A corda chocou-se com um eletroduto e caiu. Pacientemente, o rapaz recolheu a corda e tor­nou a enrolá-la para uma nova tentativa.

Mais uma vez a fonte de alimentação começou a girar em círculos crescentes e depois foi arremessada através do abismo. Luke já podia sentir atrás de si o calor do metal fundido.

Desta vez, a corda se enrolou em um grupo de canos que passava ao lado da outra plataforma. O peso da ponta escorre­gou, desceu um pouco e ficou preso no espaço entre os canos. Luke recuou e puxou a corda com toda a força. A corda nem se mexeu.

Depois de enrolar várias vezes na cintura e no braço direi­to a outra ponta da corda, o rapaz colocou o braço livre em torno da cintura de Leia.

Alguma coisa morna e agradável tocou os lábios de Luke, fazendo uma corrente elétrica percorrer-lhe o corpo. Olhou cho­cado para a Princesa, ainda com o gosto do beijo na boca.

— É para dar sorte — murmurou a moça, com um sorriso quase tímido, enquanto o abraçava. — Vamos precisar.

Luke segurou a corda firmemente com as duas mãos, res­pirou fundo e pulou. Se houvesse calculado mal, os dois não chegariam à plataforma, mas iriam chocar-se com a parede de metal. Neste caso, Luke sabia que não teria força para conti­nuar segurando a corda.

A travessia foi. completada em menos tempo que o rapaz levou para concluir o pensamento. Quando viu, estava do outro lado, jogando-se de bruços no chão para não correr o risco de cair de volta no poço. Leia largou-o no último momento, com um senso admirável de distância. Rolou sobre a plataforma, co­locando-se graciosamente de pé, enquanto Luke lutava para de­sembaraçar-se da corda.

Um sibilar distante transformou-se em um forte chiado e depois em um gemido, quando a porta do outro lado finalmente cedeu, caindo para dentro do poço. Luke não a ouviu tocar o fundo.

Alguns disparos atingiram a parede de metal. Luke sacou a pistola e respondeu ao fogo, enquanto a Princesa o puxava para o corredor.

Assim que passaram pela porta, Luke apertou o botão. A porta se fechou. Nos minutos seguintes, pelo menos, não te­riam que temer um tiro pelas costas. Por outro lado, Luke não tinha a mínima idéia de onde estavam, e começou a se preocupar com o que teria. acontecido a Han e Chewbacca.

Solo e o companheiro haviam conseguido despistar vários perseguidores. Mas tinham a impressão de que, assim que se livravam de alguns soldados, outros surgiam para substituí-los. A estação inteira parecia estar atrás deles.

À frente, uma série de portas estava começando a se fechar automaticamente.

— Depressa, Chewie! — gritou Solo.

Chewbacca rosnou mais uma vez, respirando como um mo­tor em mau estado. A despeito da imensa força, o wookie nun­ca seria um bom fundista. Apenas a passada enorme o permitia acompanhar o ágil coreliano. Chewbacca deixou um tufo de ca­belo em uma das portas, mas os dois conseguiram passar pelas cinco portas, antes que se fechassem.

— Isso nos dá alguns minutos de vantagem — disse Solo, exultante. O wookie respondeu com um grunhido, mas o piloto não se deu por achado.

— Claro que sei como chegar ao Millennium! Os corelianos nunca se perdem!

Chewbacca replicou com outro grunhido, desta vez em tom acusador. Solo deu de ombros.

— Tocneppil não conta; ele não era coreliano. Além do mais, eu estava bêbado na ocasião.

 

Ben Kenobi mergulhou nas sombras de uma estreita passa­gem, parecendo tornar-se parte da própria parede no momento em que um grande destacamento de soldados passou por ele. Esperou um momento, para assegurar-se de que o último soldado havia passado, e então tomou a direção oposta. Mas não notou que era seguido por um vulto vestido de negro.

Kenobi havia evitado várias patrulhas, aproximando-se aos poucos do hangar onde estava o cargueiro. Agora estava a pou­cos metros do hangar. O que faria em seguida dependia do que os companheiros houvessem feito durante sua ausência.

A julgar pela atividade que havia observado no caminho de volta, o jovem Luke, o impetuoso coreliano e seu ajudante e os dois irrequietos robôs haviam feito muito mais do que aguardar tranqüilamente seu retorno. É claro que todos aqueles soldados não estavam apenas a sua procura!

Mas outra coisa os preocupava, pois tinha ouvido rumores a respeito de um importante prisioneiro que havia escapado. A coincidência o deixara intrigado, até se lembrar do temperamen­to inquieto de Luke e Han Solo. Na certa os dois eram de alguma forma responsáveis pela fuga do prisioneiro.

Ben sentiu que havia alguma coisa à frente e reduziu o pas­so. Era uma sensação familiar, um odor mental bem conhecido, mas que não conseguia identificar.

Então, o vulto vestido de negro apareceu no final do cor­redor, bloqueando o acesso ao hangar. Kenobi reconheceu-o ins­tantaneamente. Apenas a maturidade da mente que havia pres­sentido o impedira de identificá-lo mais cedo. Instintivamente, levou a mão ao sabre de luz.

— Há muito tempo espero por este momento, Velhi-ban Kenobi — disse Darth Vader, solenemente. — Afinal nos en­contramos. O círculo se fechou. — Kenobi sentiu uma satisfa­ção sádica nas palavras do outro. — A presença que senti há algumas horas só podia ser você.

Kenobi olhou para o gigante que bloqueava a passagem e fez que sim com a cabeça. Parecia mais curioso do que ame­drontado.

— Você ainda tem muito que aprender.

— Foi meu professor — admitiu Vader — e aprendi muito com você. Mas o tempo passou, e hoje o mestre sou eu.

A falta de lógica, que sempre constituíra o ponto fraco de seu discípulo mais brilhante, continuava a mesma, pensou Ke­nobi. Sabia que não adiantava argumentar com o outro. Ligando o sabre, assumiu a posição de combate com a graça e a elegância de um bailarino.

Vader imitou-o, mas não com a mesma agilidade. Durante vários minutos os dois ficaram, parados olhando um para o ou­tro, como se estivessem à espera de um sinal.

Kenobi piscou várias vezes, sacudiu a cabeça e tentou lim­par os olhos lacrimejantes. A testa ficou coberta de suor. As pálpebras tremeram novamente.

— Seus poderes já não são os mesmos — observou Vader, sem emoção. — velho, você nunca devia ter voltado. Poderia ter terminado seus dias tranqüilamente, em vez de ter um fim violento.

— Sente apenas uma parte da força. Darth — murmurou Kenobi, com a segurança de alguém para quem" a morte é apenas uma sensação como qualquer outra, como dormir, fazer amor ou tocar uma vela acesa. — Como sempre, você percebe tão pouco da força quanto uma panela percebe o gosto da comida que con­tém.

Movendo-se com uma rapidez incrível para um homem de sua idade, Kenobi desfechou um golpe mortal contra o Lorde Negro. Vader bloqueou o golpe com igual rapidez, respondendo com uma estocada que quase apanhou o velho desprevenido. Outra esquiva, e Kenobi atacou novamente, aproveitando a opor­tunidade para passar para o outro lado de Vader.

Continuaram a trocar golpes, agora com Kenobi de costas para o hangar. Afinal, os feixes dos dois sabres se encontraram e a interação dos campos de energia iluminou a cena com uma luz fantástica. Os dois mantiveram os sabres na mesma posição, sabendo que quem recuasse primeiro estaria perdido.

 

Pezero enfiou a cabeça na porta do hangar, contando os guardas que vigiavam o cargueiro.

— Onde estarão eles? Oh, oh!

Recuou a cabeça no momento em que um dos guardas olha­va em sua direção. Da segunda vez que espiou, os resultados foram mais animadores. Pôde ver que Solo e Chewbacca esta­vam escondidos em outra entrada do hangar.

Solo também estava preocupado com o número de guardas. Murmurou para o companheiro:

— Será que vieram todos para cá?

Chewbacca rosnou e os dois se voltaram, apenas para da­rem um suspiro de alívio e baixarem as armas ao verem que se tratava de Luke e da Princesa.

— Por que demoraram tanto? — reclamou Solo, impiedosamente.

— Encontramos alguns amigos — explicou Leia, ofegante. Luke estava olhando para o cargueiro.

— A nave está em condições de voar?

— Parece estar — respondeu Solo. — Acho que não ti­raram nada, nem mexeram nos motores. O problema vai ser chegar lá.

De repente, Leia apontou para o outro lado do hangar.

— Vejam!

Iluminados pelo clarão dos dois feixes de energia, Ben Ke­nobi e Darth Vader acabavam de entrar no hangar. A luta atraiu a atenção geral. Os guardas se aproximaram para apreciar melhor o duelo titânico.

— É a nossa oportunidade — observou Solo, adiantando-se. Os sete guardas que vigiavam a rampa saíram correndo em direção aos combatentes, tentando ajudar o Lorde Negro. Pe­zero mal teve tempo de recuar quando passaram pelo túnel onde estava. Voltando-se para o interior da passagem, gritou para o companheiro:

— Desfaça a ligação, Erredois. Vamos embora!

Assim que o outro retirou o braço do soquete, os dois andróides começaram a avançar cautelosamente em direção ao car­gueiro.

Kenobi ouviu o ruído às suas costas e arriscou um olhar. Ao ver os soldados que avançavam, compreendeu que estava cercado.

Vader aproveitou-se da distração momentânea para desferir um violento golpe de cima para baixo. No último momento, Kenobi desviou-se para o lado e bloqueou o feixe de energia com o feixe de sua própria arma.

— Você ainda conserva a mesma habilidade, mas a força não é mais a mesma. Prepare-se para morrer, Velhi-ban.

Kenobi calculou a distância que o separava dos soldados e olhou para Vader com ar de piedade:

— Esta é uma luta que não pode vencer, Darth. Sei que seu poder amadureceu desde aquele tempo, mas eu também tive tempo de aprender muito. Se meu feixe encontrar o alvo, você simplesmente deixará de existir. Mas se me partir em dois, fi­carei ainda mais poderoso. Acredite no que estou dizendo.

— Sua filosofia já não me afeta, Velhi-ban — disse Vader com desprezo. — Agora o mestre sou eu.

Desferiu uma nova estocada; no momento em que o velho se esquivou, Darth Vader descreveu um longo arco com o sabre, com precisão mortal. O feixe de energia cortou Kenobi em dois. Houve um pequeno clarão e os pedaços da túnica caíram lenta­mente no piso.

Mas Ben Kenobi não estava no interior das vestes. Pres­sentindo algum embuste, Vader retalhou o tecido com o sabre. Mas não viu sinal do velho. Era como se nunca tivesse existido.. Os guardas se reuniram em torno de Vader e o ajudaram a examinar o local onde Kenobi estivera até momentos antes. Nem a presença temível do Lorde de Sith impediu que alguns sentis­sem uma ponta de medo.

 

No momento em que os guardas deixaram seus postos para ajudar Vader, Solo e os outros saíram correndo em direção ao cargueiro. Mas quando Luke viu Kenobi ser cortado em dois, mudou de direção e investiu contra os soldados.

— Ben! — gritou o rapaz, disparando a pistola a esmo. Solo soltou uma imprecação, mas parou e também começou a atirar.

Um dos disparos atingiu o mecanismo que mantinha sus­pensa a porta do túnel, fazendo-a descer com estrondo. Tanto Vader como os soldados conseguiram esquivar-se a tempo. Os guardas pularam para o interior do hangar, enquanto Vader re­fugiou-se no túnel.

— Não adianta, Luke! — gritou Leia. — Está acabado!

— Não! — exclamou o rapaz, soluçando.

Foi então que ouviu uma voz familiar, a voz de Ben.

— Luke... escute! — foi tudo o que disse.

Luke olhou em torno, espantado. Tudo que viu foi a Prin­cesa acenando para ele da base da rampa.

— Venha, Luke! Depressa!

Com a voz imaginária ecoando no cérebro (seria imaginária mesmo?) o rapaz hesitou, derrubou mais alguns soldados e saiu correndo em direção à nave.

 

LUKE entrou cambaleando no cargueiro, sem ouvir o ruído dos projéteis que se chocavam a todo instante com os defletores da nave, explodindo sem causar danos. Não estava preocupado com a própria segurança. Com os olhos marejados de lágrimas, passou por Chewbacca e Solo, que ajustavam os controle.

— Espero que o velho tenha conseguido desligar o raio de tração — estava dizendo o coreliano.

Ignorando-o, Luke foi para o compartimento de carga e dei­xou-se cair em um banco, colocando a cabeça entre as mãos. Leia Organa observou-o silenciosamente por um momento, en­quanto tirava o casaco. Aproximando-se, abraçou-o com carinho.

— Não havia nada que você pudesse ter feito — murmu­rou, tentando consolá-lo. — Foi tudo tão rápido!

— Não posso acreditar que ele esteja morto — replicou Luke, com voz trêmula. — Simplesmente não posso!

Solo puxou uma alavanca e olhou apreensivo para a porta do hangar. Mas a porta havia sido construída para se abrir au­tomaticamente quando uma nave se aproximasse. Em poucos segundos, estavam no espaço, fora da estação.

— Nada — suspirou Solo, aliviado, depois de consultar vários indicadores. — Nada nos está puxando para trás. O ve­lho fez o serviço, não há dúvida.

Chewbacca rosnou alguma coisa e o piloto olhou para outra série de indicadores.

— Tem razão, Chewie. Quase me esquecia de que existem outras maneiras de nos fazer voltar. — Mostrou os dentes, era um sorriso de determinação. — Mas só entrarei de novo naquela tumba ambulante depois de morto. Assuma os controles.

E saiu correndo da sala de controle.

— Venha comigo, garoto! — gritou para Luke, quando en­trou no compartimento de carga. — Ainda não ganhamos a parada!

Luke não respondeu, não se mexeu, e Leia olhou zangada para Solo.

— Deixe-o em paz! Não compreende o que o velho signi­ficava para ele?

Uma explosão sacudiu a nave, quase fazendo Solo perder a equilíbrio.

— E daí? O Velho se sacrificou para nos dar uma oportu­nidade de escapar. Quer desperdiçar isso, Luke? Quer que o sa­crifício de Kenobi tenha sido em vão?

Luke levantou a cabeça e olhou para o coreliano com olhos vazios. Não, vazios não... no fundo daqueles olhos havia algu­ma coisa triste e indelével. Sem dizer palavra, o rapaz se le­vantou e colocou-se ao lado de Solo.

O piloto sorriu para ele e apontou para um corredor estrei­to. Luke fez que sim com a cabeça e entrou no corredor, en­quanto Solo se encaminhava para outra passagem.

Luke foi parar em uma grande cúpula rotativa que se pro­jetava de um lado da nave. Do centro do hemisférico transpa­rente, saía um tubo comprido. Era fácil adivinhar para que ser­via. Luke sentou-se e começou a examinar rapidamente os con­troles. Ativador aqui, botão de disparo ali... O rapaz estava muito acostumado a lutar com este tipo de armas... em sonhos.

Na sala de comando, Chewbacca e Leia estavam atentos às telas de radar, aguardando a aproximação dos caças inimigos. De repente, Chewbacca soltou um grunhido e mexeu em vários controle, enquanto Leia exclamava:

— Aí vêm eles!

As estrelas giraram em torno de Luke no momento em que um caça Tie do Império passou como um relâmpago por cima do cargueiro, desaparecendo ao longe. O piloto do caça não havia antecipado a manobra de Chewbacca. Ajustando os controles, descreveu uma curva suave e apontou de novo o nariz do avião para a nave fugitiva.

Solo atirou em outro caça, cujo piloto quase ultrapassou o limite de resistência da nave na tentativa desesperada de evitar os disparos. A manobra o colocou do outro lado do cargueiro. Foi a vez de Luke abrir fogo.

Chewbacca estava dividindo a atenção entre os instrumen­tos e as telas de radar, enquanto Leia lutava para distinguir as estrelas distantes dos assassinos próximos.

Dois caças mergulharam ao mesmo tempo sobre o cargueiro, tentando obter um bom ângulo de tiro. Solo disparou contra eles, e segundos mais tarde Luke o imitou. Ambos erraram. Os caças atiraram na nave em fuga e se afastaram rapidamente.

— Estão vindo depressa demais! — gritou Luke pelo co­municador.

Um novo disparo atingiu a proa do cargueiro, sobrecarre­gando os defletores. A nave estremeceu violentamente. Os in­dicadores mostraram que o consumo de energia estava chegando ao limite máximo.

Chewbacca murmurou alguma coisa para Leia, que respon­deu baixinho como se tivesse compreendido as palavras do antropóide.

Outro caça abriu fogo contra o cargueiro, só que desta vez o raio conseguiu penetrar na blindagem sobrecarregada e atin­gir o casco da nave. Embora defletido parcialmente, ainda lhe restava energia suficiente para destruir um grande painel de con­trole no corredor principal, provocando uma chuva de fagulhas. Erredois Dedois encaminhou-se para o local do incêndio, enquan­to o balanço da nave atirava Pezero em um armário cheio de peças de reposição.

Uma lâmpada de advertência começou a piscar na sala de controle. Chewbacca resmungou para Leia, que olhou para ele preocupada e frustrada por não compreender o que o wookie estava dizendo.

Então, um caça emparelhou com o cargueiro danificado, bem na mira de Luke. O rapaz apertou o botão de disparo. O piloto conseguiu esquivar-se no último momento, mas quando acabou de passar por baixo do Millennium, Solo já estava com o dedo no gatilho. De repente, o caça explodiu em um clarão multicolorido, reduzido a mil pedaços.

Solo virou a cabeça e acenou para Luke, que respondeu da mesma forma. Mas quase não tiveram tempo para comemorar, pois outro caça se aproximava, tentando atingir a antena para­bólica do transmissor.

No meio do corredor principal, um pequeno cilindro metá­lico estava cercado pelas chamas. Da cabeça de Erredois Dedois saía um fino jato de pó branco. O pó estava fazendo as chamas recuaram.

Luke tentou relaxar, tornar-se parte da arma. Quase instin­tivamente, atirou em um caça que se afastava. Quando deu por si, os fragmentos em chamas da nave inimiga formavam uma bola de fogo no céu. Foi sua vez de virar a cabeça e sorrir pata o coreliano.

Na sala de controle, Leia estava ajudando a verificar os in­dicadores, além de procurar visualmente novos atacantes. A mo­ça falou pelo alto-falante:

— Acho que só restam dois. Mas parece que perdemos os monitores laterais e o defletor de boreste.

— Não se preocupe — disse Solo, procurando acreditar nas próprias palavras — o Millennium vai agüentar. — Olhou para as paredes, com ar de súplica. — Está-me ouvindo, Millennium? Agüente firme! Chewie, tente mantê-los a bombordo. Se nós...

Foi obrigado a interromper-se quando um caça Tie parecea surgir do nada e investiu contra o cargueiro, cuspindo fogo. O outro caça atacou do lado oposto e Luke se surpreendeu atiran­do sem parar, ignorando as violentas explosões que faziam estre­mecer a nave. No último momento, quando o caça já estava qua­se fora de alcance, o rapaz ajustou mais uma vez a mira e aper­tou convulsivamente o botão de disparo. O caça do Império se transformou em uma nuvem de poeira fosforescente. O piloto do último caça pareceu hesitar por um momento, como se ava­liasse a situação, depois fez uma curva e afastou-se a toda velo­cidade.

— Conseguimos! — gritou Leia, abraçando Chewbacca. O wookie deu um grunhido, mas foi um grunhido afetuoso.

 

Darth Vader entrou na sala de controle, encontrando o Governador Tarkin parado diante do mapa estrelar. Mas não era a visão deslumbrante de milhares e milhares de estrelas que ocupava no momento a atenção do Governador. Deu a impressão de que sequer havia percebido a chegada do outro.

— Onde estão eles? — perguntou o Lorde Negro.

— Acabam de entrar no hiperespaço. No momento, devem estar comemorando a brilhante fuga. — Tarkin voltou-se final­mente para Vader, com uma expressão preocupada nos olhos. — Estou correndo um sério risco, por sua insistência, Vader. Tem certeza de que o transmissor está bem escondido a bordo do cargueiro?

Vader transpirava confiança por trás da máscara negra e luzidia.

— Não se preocupe, tudo vai dar certo. Já conseguimos acabar com o último Cavaleiro de Jedi. Em breve, assistiremos ao fim da Aliança e da revolução.

Solo trocou de lugar com Chewbacca, que estava precisando de um descanso. Quando o coreliano estava indo para a popa verificar a extensão dos danos, encontrou Leia no corredor.

— Então, garota? — perguntou Solo, irradiando contentamento. — Nada mau, hem! Às vezes fico espantado comigo mesmo.

— O que não deve ser muito difícil — admitiu a jovem prontamente. — O importante não é a minha segurança, mas o fato de que as informações do andróide R-2 continuam intactas.

— Afinal, o que há de tão importante nessas informações? Leia olhou para o céu estrelado.

— Na memória do robô está a planta completa da estação espacial. Esperamos que estes dados permitam descobrir algum ponto fraco nas defesas da base. Não ficarei sossegada enquanto a estação não for destruída. Esta guerra ainda não terminou, você sabe.

— Pois para mim, terminou — objetou o piloto. — Es­tou interessado em economia, e não em política. Pode-se ganhar dinheiro, qualquer que seja o governo. E não fiz o que fiz por seus belos olhos, Princesa. Espero ser bem pago por arriscar minha nave e minha pele.

—Não se preocupe com a recompensa — disse a moça, desapontada. — Se é dinheiro que quer... dinheiro terá.

Afastando-se de Solo, a moça encaminhou-se para o compartimento de carga. No caminho, cruzou com Luke. Ao passar pelo rapaz, comentou:

— Seu amigo é mesmo um mercenário, Não se importa com coisa alguma... e com ninguém.

Luke ficou olhando para a moça até ela desaparecer no compartimento de carga. Então, murmurou baixinho:

— Pois eu me importo, Leia... eu me importo.

Então foi para a sala de controle e sentou-se no lugar de Chewbacca.

— O que pensa dela, Han? Solo nem pestanejou.

— Procuro não pensar.

Luke provavelmente não pretendia que o comentário fosse audível, mas Solo ouviu distintamente quando o rapaz murmu­rou:

— Ótimo.

— Mas a verdade — continuou Solo, pensativo — é que a menina é um bocado valente, além de ser uma gracinha. Não sei, acha que é possível que uma Princesa e um sujeito como eu...

— Não — interrompeu Luke, secamente. E não disse mais nada.

Solo achou graça no ciúme do outro, mas ficou sem saber se havia dito aquilo apenas para mexer com o amigo, ou se havia algum fundo de verdade.

 

Yavin não era um planeta habitável. A atmosfera do gi­gante gasoso era assolada por tempestades ciclópicas, com ventos de seiscentos quilômetros por hora. O núcleo relativamente pe­queno era composto de gases congelados. Um mundo belo e ma­jestoso, mas estéril.

Por outro lado, várias das muitas luas do gigantesco planeta eram de dimensões planetárias, e dessas luas, três reuniam as condições necessárias para sustentar a vida. Particularmente fa­vorável era o ambiente do satélite designado pelos descobridores do sistema como número quatro. Brilhava como uma esmeralda no colar de luas de Yavin, era rico em vida vegetal e animal. Mas seu nome não constava da lista dos mundos colonizados pelo homem. Yavin ficava muito longe das zonas habitadas da galáxia.

Talvez a última razão, ou ambas, ou uma combinação de causas ainda desconhecidas, fosse responsável pelo aparecimento de uma raça inteligente, raça esta que havia desaparecido muito antes que o primeiro explorador humano pisasse no planeta. Pouco se sabia a respeito desta antiga civilização, que nada ha­via deixado a não ser alguns monumentos.

Agora tudo que restava eram aqueles estranhos edifícios cobertos pela vegetação. Mas embora os construtores pertences­sem ao passado, sua obra e seu mundo continuavam a ser úteis.

Estranhos gritos e lamentos quase imperceptíveis habita­vam cada árvore e cada moita; uivos, guinchos e grunhidos de criaturas que passavam a vida escondidas na densa vegetação. Quando o sol raiava na quarta lua, anunciando mais um longo dia, o coro se tornava ainda mais frenético, ressoando na névoa espessa.

Ainda mais estranhos eram os sons que provinham de um certo ponto. Ali estava o mais majestoso dos edifícios que a raça desaparecida havia levantado em direção aos céus. Era um tem­plo, uma pirâmide tão colossal que parecia impossível que tives­se sido construída sem o auxílio da antigravidade. Mas tudo in­dicava que os nativos haviam empregado apenas a força manual, máquinas simples... e talvez artefatos de outros mundos.

Embora a ciência dos habitantes desta lua não os tivesse levado às viagens espaciais, havia produzido várias descobertas que sob certos aspectos superavam tudo que o Império fora ca­paz de realizar — entre elas, o método, ainda inexplicado, usado para cortar e transportar gigantescos blocos de pedra.

O templo havia sido construído com esses blocos monu­mentais. A selva havia chegado até o topo, cobrindo a pirâmide com um manto verde e castanho. Apenas perto da base, na fren­te do templo, a selva se abria para revelar uma passagem escura, aberta pelos construtores e alargada pelos ocupantes atuais.

Uma pequena máquina apareceu na floresta, o brilho metá­lico contrastando com o verde da folhagem. Zumbia como um besouro enquanto transportava os passageiros em direção à en­trada do templo. Depois de atravessar a clareira, foi engolida pelas sombras, deixando a selva mais uma vez nas patas e garras dos predadores invisíveis.

Os construtores nunca teriam reconhecido o interior do tem­plo. Em lugar da pedra, agora havia chapas metálicas; as divi­sões de madeira haviam sido substituídas por painéis de plástico. Os andares subterrâneos também eram recentes: hangares c mais hangares, ligados por possantes elevadores.

Depois de transpor a entrada do templo, o carro diminuiu a marcha e parou. Um grupo de homens que conversava animada­mente ali perto se desfez imediatamente e todos saíram correndo em direção ao veículo.

Felizmente, Leia Organa saltou rapidamente do carro, caso contrário teria sido arrancada à força pelo primeiro a chegar, tão grande era sua satisfação ao vê-la. O homem contentou-se em abraçá-la efusivamente, enquanto os companheiros a saudavam.

— Está viva! Pensamos que havia morrido. — De repente, ele caiu em si, recuou e fez uma reverência. — Quando soube­mos o que aconteceu com Alderaan, pensamos que havia pere­cido com o resto da população, Princesa.

— Tudo isso são águas passadas, Comandante Willard — disse Leia. — O futuro é que importa. Alderaan não existe mais — A voz assumiu um tom gélido, assustador em uma pes­soa de aparência tão delicada. — Cabe a nós assegurar que a tragédia não se repita. Não temos tempo para lamentações, Co­mandante. A estação espacial nos seguiu até aqui.

Solo abriu a boca para protestar, mas Leia o fez calar-se com um gesto.

— É a única explicação para nossa fuga — continuou ela. — Mandaram apenas quatro caças Tie atrás de nós, quando po­deriam ter mandado cem.

Solo ficou calado, pensativo. Leia apontou para Erredois Dedois.

— Comandante, precisa elaborar um plano de ataque com base nas informações contidas na memória deste andróide. É nossa última esperança. A estação é uma ameaça mortal. — Baixou a voz. — Se a análise dos dados não revelar nenhum ponto fraco, a revolução estará condenada.

Luke então teve ocasião de assistir a um acontecimento ra­ro. Vários técnicos se reuniram em torno de Erredois Dedois e levantaram-no cuidadosamente do chão. Foi a primeira vez, z provavelmente a última, que o rapaz viu um robô ser carregado respeitosamente por um grupo de homens.

 

Teoricamente, nenhuma arma seria capaz de penetrar na ro­cha excepcionalmente dura de que era feito o antigo templo. Entretanto, Luke havia visto o que restara de Alderaan e sabia que para aquela incrível estação espacial, a lua inteira constituiria apenas mais um interessante problema de conversão de massa em energia.

O pequeno Erredois Dedois repousava confortavelmente em um lugar de honra, o corpo ligado por fios a um computador. A informação gravada em sua memória estava sendo transferida para a máquina maior: diagramas, tabelas, especificações.

Os dados eram inicialmente analisados e classificados pelos sofisticados programas do computador. Em seguida, as informa­ções mais importantes eram fornecidas aos humanos para uma análise mais profunda.

Cetrês Pezero permaneceu o tempo todo ao lado de Erre­dois, tentando imaginar como fora possível armazenar tantos da­dos complexos na mente de um robô tão simples.

 

A sala principal de reuniões estava localizada no centro do complexo, muito abaixo do antigo templo. Em uma das extremi­dade do espaçoso auditório, havia uma mesa sobre um estrado e uma grande tela eletrônica. Os assentos da platéia estavam to­mados por pilotos, navegadores e alguns andróides R-2. Impa­cientes, e sentindo-se bastante deslocados, Han Solo e Chewbacca ficaram de pé, o mais longe possível do palco. Solo correu os olhos pela multidão à procura de Luke. O rapaz não dera ouvi­dos às ponderações do amigo e se apresentara como piloto vo­luntário, sendo imediatamente aceito. O coreliano não conseguiu localizar Luke, mas reconheceu a Princesa, que conversava com um velho cheio de medalhas.

Quando um homem alto e sério, com muitas mortes nas costas, se levantou na extremidade da mesa, todas as atenções, inclusive a de Solo, se voltaram para ele. Assim que a platéia fez silêncio, o General Jan Dodonna ajeitou o minúsculo micro­fone que trazia pendurado no pescoço e apontou para o pequeno grupo sentado à mesa.

— Todos conhecem estas pessoas — afirmou. — São os senadores e generais dos mundos que nos apóiam, de forma os­tensiva ou disfarçada. Quiseram estar conosco neste momento, que talvez seja o mais importante de toda a nossa luta.

— A estação espacial do Império de que todos já ouviram falar está-se aproximando deste sistema. É preciso detê-la, é pre­ciso destruí-la, antes que faça com esta lua o que fez com Alderaan.

A menção do planeta, aniquilado de forma tão brutal, des­pertou murmúrios na platéia. Dodonna prosseguiu:

"A estação é muito bem defendida e dispõe de um poder de fogo maior do que metade da frota do Império. Mas as defesas foram planejadas para rechaçar ataques maciços, de grande escala. Um pequeno caça de um ou dois lugares talvez consiga furar o bloqueio.

Um homem ágil e esguio, que parecia uma versão mais ve­lha de Han Solo, levantou-se e fez sinal de que queria falar.

— O que é, Líder Vermelho? — perguntou Dodonna.

O homem apontou para a tela, que mostrava a imagem da estação espacial.

— Desculpe a pergunta, General, mas que é que os nossos pobres caças podem fazer contra essa monstruosidade?

Dodonna pensou um pouco e depois explicou:

— É evidente que o Império não teme que um caça se aproxime da estação, caso contrário as defesas seriam mais com­plexas. Aparentemente, estão convencidos da que a blindagem da estação é invulnerável a qualquer ataque com armas de pequeno porte.

"Entretanto, uma análise das plantas fornecidas pela Prin­cesa Leia mostrou que existe um ponto fraco na blindagem. Um cruzador não conseguiria aproximar-se o suficiente para tirar par­tido desta deficiência, mas um caça X ou Y talvez possa fazê-lo.

"Trata-se de uma pequena abertura na carcaça externa. En­tretanto, comunica-se diretamente com o núcleo do reator prin­cipal. Como é usada para descarregar o combustível em caso de emergência, não pode dispor de uma blindagem contra partículas. Um impacto direto no núcleo do reator daria origem a uma rea­ção em cadeia capaz de destruir totalmente a estação.

Um murmúrio de incredulidade percorreu a platéia. Os pi­lotos mais experientes eram também os mais céticos.

"Não disse que vai ser fácil — advertiu Dodonna. Apontou para a tela. — Será preciso passar entre esses dois edifícios e voar junto à superfície até... este ponto. O alvo tem apenas dois metros de diâmetro. E para que o projétil atinja o reator, o caça terá que estar exatamente sobre a abertura no momento do disparo.

— Como já disse, o poço não dispõe de blindagem contra partículas. Entretanto, a proteção contra radiação é total. Isso quer dizer que vamos ter que usar torpedos de prótons.

Alguns pilotos riram nervosamente. Um deles foi um ca­louro sentado ao lado de Luke, que se chamava Wedge Antilles. Erredois Dedois também estava presente, ao lado de outro robô R2-D2, que soltou um longo assovio de descrença.

— Um alvo de dois metros, a toda velocidade... e ainda mais com um torpedo! — exclamou Antilles. — É impossível, mesmo para um computador!

— Pois eu não acho — protestou Luke. — No meu pla­neta natal, costumava caçar ursos do deserto com um velho T-16. E eles não tinham muito mais do que dois metros de compri­mento.

— É mesmo? — replicou o outro, ironicamente. — En­tão me diga, quando você mergulhava atrás de um deles, será que havia milhares de outros, como é mesmo o nome, "ursos do deserto", com rifles na mão, tentando derrubá-lo? — Sacudiu a cabeça, tristemente. — Não, com a estação inteira atirando em nós, vai ser preciso muito mais do que uma boa pontaria, acre­dite.

Como que para confirmar o pessimismo de Antilles, Dodonna mostrou na tela uma série de pontos luminosos.

— Observem a localização destas baterias. O fogo da esta­ção está concentrado em anéis paralelos ao equador, mas tam­bém existem baterias ao longo de alguns meridianos.

"Além disso, os geradores de campo da estação devem dar origem a uma séria distorção, especialmente no espaço entre os edifícios. Calculo que a maneabilidade perto da superfície não deve chegar a zero vírgula três.

A platéia respondeu à última observação com novos mur­múrios e alguns suspiros.

"Lembrem-se — prosseguiu o General — de que o impacto deve ser direto. A esquadrilha Amarela cobrirá a Vermelha no primeiro ataque. A Verde cobrirá a Azul no segundo. Alguma pergunta?

Um rapaz alto e elegante se levantou. Não parecia ser o tipo capaz de sacrificar a vida por um ideal tão abstrato como a liberdade.

— E se os dois ataques falharem? O que acontecerá em seguida?

Dodonna sorriu para ele.

— Não haverá nenhum "em seguida". — O homem assentiu lentamente, compreendendo o que o outro queria dizer, e sentou-se. — Alguém mais?

O silêncio tomou conta do recinto, um silêncio tenso, cheio de apreensão.

— Então vão para suas naves, e que a força os acompanhe. Imediatamente, homens, mulheres e máquinas se levantaram e se encaminharam para as saídas.

Os elevadores trabalhavam sem parar, carregando as peque­nas espaçonaves dos hangares subterrâneos para o hangar prin­cipal na superfície, quando Luke, Pezero e Erredois Dedois se aproximaram da entrada do hangar.

Nem as equipes de vôo, nem os pilotos, nem mesmo os so­fisticados equipamentos de teste atraíram a atenção de Luke. No momento, só estava interessado na atividade de duas figuras mui­to mais familiares.

Solo e Chewbacca estavam carregando uma pilha de peque­nas caixas a bordo de um aerociclo, ignorando totalmente os preparativos para o combate.

Solo levantou os olhos por um instante, depois continuou o que estava fazendo. Luke limitou-se a observá-lo, sentindo-se um joguete de emoções conflitantes. Solo era arrogante, irresponsá­vel, intolerante e pretensioso. Também era valente, sincero e um otimista incurável. A combinação o tornava um amigo desconcertante, mas que nem por isso deixava de ser um amigo.

— Afinal conseguiu a recompensa — observou, finalmente, Luke, apontando para as caixas. Solo fez que sim com a cabeça.

— E vai embora, não é?

— Isso mesmo, garoto. Tenho algumas dívidas antigas para pagar, e mesmo que não tivesse, não acho que seria bobo de ficar por aqui mais tempo. — Olhou para Luke com admiração.

— Gosto do seu jeito, garoto. Por que não vem conosco? Es­tou precisando de outro assistente.

O brilho mercenário nos olhos de Solo só serviu para deixar Luke furioso.

— Por que não olha em torno e tenta ver alguma coisa além de você mesmo? Sabe o que está acontecendo aqui. Sabe contra quem eles estão lutando. Precisam desesperadamente de bons pilotos. Mas você lhes dá as costas.

Solo não pareceu abalado com o discurso de Luke.

— De que adianta uma recompensa, se a gente não está vivo para usá-la? Atacar aquela estação espacial não é o que chamo de coragem... soa mais como um suicídio.

— Está certo... cuide-se bem, Han — disse Luke em vos baixa, afastando-se. — Mas acho que é o que você sabe fazer melhor, não é mesmo. — E o rapaz encaminhou-se para o fundo do hangar, acompanhado pelos dois robôs.

Solo hesitou por um momento e depois gritou:

— Ei! Luke... que a força esteja com você!

Luke virou a cabeça e viu que o coreliano estava piscando para ele. Um último aceno e desapareceu no meio das máquinas e mecânicos.

Solo sacudiu a cabeça, levantou uma caixa... e então pa­rou, ao ver que Chewbacca estava olhando fixamente para ele.

— O que está olhando, macacão? Sei o que estou fazendo. Continue a trabalhar!

Devagar, ainda olhando de soslaio para o parceiro, o wookie continuou a levar as pesadas caixas para o veículo.

Luke esqueceu-se completamente de Solo ao ver a graciosa figura que o esperava ao lado do caça — o caça que se havia oferecido para pilotar.

— Tem certeza de que é isto mesmo que quer? — pergun­tou a Princesa Leia. — Os riscos são imensos!

— Mais do que qualquer coisa no mundo.

— Então, o que há de errado? Luke encolheu os ombros.

— É Han. Tinha esperanças de que mudasse de idéia. Pen­sei que nos fosse ajudar.

— Cada homem deve seguir seu destino — disse a moça, com ar pensativo. — Ninguém tem o direito de dizer aos outros o que fazer. As prioridades de Han Solo são diferentes das nos­sas. Gostaria que não fosse assim, mas não o condeno. — Colo­cando-se nas pontas dos pés, Leia deu-lhe um beijo rápido, quase tímido. — Que a força esteja com você.

— Como gostaria de que Ben estivesse aqui — murmurou Luke, depois que a moça foi embora.

— Luke! — exclamou um o homem ligeiramente mais velho. — Não acredito! Como chegou aqui? Vai participar da missão?

— Biggs! — Luke abraçou carinhosamente o amigo. — Claro que estarei lá com vocês! — O sorriso esmaeceu ligeira­mente. — Já não tenho mais escolha. — Então tornou a se animar. — Escute, tenho tanta coisa para lhe contar...

A conversa animada dos dois, semeada de sonoras gargalha­das, contrastava com o ambiente austero do hangar. Afinal, o barulho chamou a atenção de um velho soldado, que os pilotos mais novos conheciam apenas como Líder Azul.

O Líder Azul tinha o rosto marcado pelo mesmo fogo que brilhava em seus olhos, um fogo alimentado não pelo fanatismo revolucionário, mas por anos e anos de injustiças sofridas e pre­senciadas. Por trás daquela fisionomia paternal, um demônio furioso lutava para escapar. Breve, muito breve, poderia deixá-lo agir à vontade.

Agora estava interessado nos dois rapazes, que daí a algu­mas horas provavelmente estariam reduzidos a partículas de car­ne congelada girando em órbita em torno de Yavin. Conhecia um deles.

— Você não é Luke Skywalker? Conseguiu a autorização que queria para pilotar um Incom T-65?

— Claro — interveio Biggs, antes que o amigo pudesse responder. — Luke é o melhor piloto de aerociclo desta parte da galáxia.

O velho guerreiro bateu de leve no ombro de Luke.

— É uma boa maneira de começar. Eu mesmo tenho mi­lhares de horas de vôo em aerociclos da Incom. — Fez uma pausa antes de prosseguir. — Conheci seu pai, Luke. Na época, eu era apenas um garoto. Seu pai foi o melhor piloto que jamais conheci. Não se preocupe; se tiver metade da habilidade de seu pai, já estará muito acima da média.

— Muito obrigado. Vou fazer o que puder.

— Não há muita diferença entre os controles de um T-65 de asas em X e os de um aerociclo — prosseguiu o Líder Azul. — A principal diferença está na carga — concluiu, com um sor­riso sádico.

Luke tinha milhares de perguntas para fazer, mas antes que pudesse abrir a boca, o outro já tinha ido embora.

— Tenho que ir também, Luke — disse Biggs. — Na volta a gente continua a conversa, está bem?

— Está certo. Bem que você disse que um dia nos encon­traríamos, Biggs.

— É verdade. — Biggs caminhava em direção a um grupo de caças, ajeitando o traje de vôo. — Vai ser como nos velhos tempos, Luke. A dupla do espaço!

Luke riu. Costumavam usar aquela expressão quando pilo­tava naves estelares feitas de velhos pedaços de madeira pelas ruas poeirentas de Anchorhead... há muitos e muitos anos atrás.

O rapaz tornou a olhar para o T-65, admirando-lhe as li­nhas sóbrias e elegantes. Apesar do que dissera o Líder Azul, teve que admitir que não se parecia muito com um aerociclo. Erredois Dedois estava sendo ligado à tomada R-2, atrás da nacele do caça. Uma solitária figura de metal assistia nervosa­mente à operação, andando de um lado para outro.

— Segure-se bem — estava dizendo Cetrês Pezero para o pequeno robô. — Você tem que voltar inteiro. Se não voltar, com quem vou gritar quando estiver de mau humor? — Para Pezero, a pergunta equivalia a uma declaração de amor.

Enquanto Luke subia a bordo, Erredois respondeu ao amigo com um silvo confiante. Do outro lado do hangar, o Líder Azul já estava instalado na nacele do seu caça e fazia sinais para os mecânicos. Os motores das naves começaram a ser ligados, pro­duzindo um ruído ensurdecedor no ambiente fechado do hangar.

Luke ajeitou-se no assento e começou a examinar os contro­les e instrumentos, enquanto a tripulação de terra ligava às to­madas da nave os diversos fios que saíam do traje de vôo. O rapaz se sentiu mais confiante ao ver que os instrumentos eram muito parecidos com os do seu velho aerociclo.

Alguém bateu-lhe no ombro. Luke olhou para a esquerda e viu que era o chefe dos mecânicos. O homem teve que gritar para ser ouvido.

— Seu R-2 parece meio gasto. Quer trocar por um novo? Luke olhou para o robô antes de responder. Erredois Dedois parecia uma peça permanente do caça.

— Não, obrigado. Esse andróide e eu estamos juntos há muito tempo. Está firme aí atrás, Erredois?

O robô respondeu com um assovio tranqüilizador.

Quando o chefe dos mecânicos se afastou, Luke iniciou a verificação final dos instrumentos. Aos poucos, foi tomando cons­ciência do perigo que iria enfrentar. Não que a decisão já não estivesse tomada. Luke não era mais um indivíduo, agindo ape­nas para satisfazer suas necessidades pessoais. Sentia-se unido em espírito a todos os homens e mulheres que participavam da mis­são. '

Os pilotos já se estavam despedindo, alguns sérios, outros risonhos, mas todos decididos a não deixar transparecer o que estavam realmente sentindo. Luke imaginou quantos deles não teriam contas pessoais a ajustar com o Império.

Os fones do capacete lhe disseram que era hora de partir. O rapaz puxou uma alavanca e o caça rolou pelo chão de con­creto, cada vez mais depressa, em direção à boca escancarada do templo.

 

LEIA Organa estava sentada diante de uma grande tela que mostrava Yavin e seus satélites. Uma grande mancha vermelha se movia lentamente, aproximando-se do satélite número quatro. Dodonna e vários outros altos oficiais da Aliança estavam de pá, atrás da moça, também com os olhos pregados na tela. Pequenos pontinhos verdes começaram a aparecer em torno da quarta lua, agrupando-se em nuvens como se fossem mosquitos cor de esme­ralda.

Dodonna colocou a mão no ombro da moça.

— A estação espacial do Império já penetrou no sistema de Yavin.

— Todas as nossas naves já decolaram — informou um co­mandante atrás do general.

Só havia um homem na gaiola cilíndrica, que ficava no topo de uma comprida torre de metal. Ele e o par de eletrobinóculos que usava eram os únicos sinais visíveis do poder que se abrigara durante tanto tempo no seio da floresta tropical.

Por toda a volta, gritos, gemidos e cacarejos saudavam o novo dia. O ambiente bucólico foi quebrado pela passagem de quatro caças prateados. A sentinela acenou para eles. Mantendo uma formação cerrada, desapareceram em poucos segundos no meio das nuvens.

Fora da atmosfera da lua, os caças se reuniram em esqua­drilhas, formadas por naves com asas em X e em Y. Prepara­vam-se para ir ao encontro da estação espacial.

O homem que havia interrompido a conversa de Luke com Biggs baixou o visor do capacete e ajustou a mira semi-automática antes de se dirigir aos comandados.

— Esquadrilha Azul — disse pelo rádio. — Aqui é o Lí­der Azul. Ajustem os seletores e verifiquem suas posições. Mar­cação do alvo um vírgula três...

À frente, um pequeno ponto iluminado 'que parecia uma das luas de Yavin, começou a crescer. Em poucos minutos, já era possível distinguir um brilho metálico, pouco natural. A vi­são da gigantesca estação espacial fez os pensamentos do Líder Azul se voltarem para o passado. Recordou-se das injustiças incontáveis, dos inocentes levados para serem interrogados e nunca mais vistos de novo... de toda a pletora de crimes cometidos por um governo cada vez mais corrupto e indiferente. E todos esses terrores e agonias eram simbolizados por aquele monstro da tecnologia que iriam combater.

— Lá está ela, rapazes — falou ao microfone. — Azul Dois, está muito afastado. Chegue mais perto, Wedge.

O jovem piloto que Luke havia conhecido no auditório do templo olhou para boreste e depois consultou os instrumentos. Ajustou ligeiramente o curso e disse pelo rádio:

— Desculpe, Chefe. Parece que o indicador de distância está descalibrado. Já passei para manual.

— Certo, Azul Dois. Tome cuidado. Todas as naves, pre­parar para mudar configuração das asas.

Um por um, Luke, Biggs, Wedge e os outros membros da Esquadrilha Azul responderam ao líder:

— Preparado...

— Executem — ordenou o Líder Azul, quando John D. e Piggy comunicaram que estavam prontos.

As asas duplas dos caças T-65 se separaram lentamente. Agora cada caça tinha quatro asas, dispostas de forma a ofere­cer o máximo de maneabilidade e poder de fogo.

À frente, a estação do Império continuava a aumentar. As estruturas da superfície já eram visíveis. Os pilotos podiam re­conhecer os píeres, as antenas parabólicas e outras montanhas e desfiladeiros artificiais.

Ao se aproximar da ameaçadora esfera de metal pela segun­da vez, Luke começou a respirar mais depressa. O sistema de controle ambiental do caça detectou a alteração e fez as corre­ções necessárias.

Alguma coisa começou a sacudir a nave, quase como se Luke estivesse de novo pilotando o aerociclo, lutando contra os ventos imprevisíveis de Tatooine. Experimentou um momen­to de apreensão, até ouvir a voz calma do Líder Azul.

— Estamos passando pela blindagem externa. Agüentem firme. Procurem manter o curso e liguem os defletores na po­tência máxima.

O caça continuou a jogar, cada vez com maior violência. Sem saber que atitude tomar, Luke limitou-se a obedecer às ordens. De repente, a turbulência cessou como que por encanto.

— Pronto, passamos — disse o Líder Azul. — Agora man­tenham silêncio até o último momento. Parece que vamos apa­nhá-los de surpresa.

Embora metade da grande estação ainda estivesse na som­bra, já estavam suficientemente próximos para Luke distinguir as luzes da superfície. Uma nave que passava por fases, como uma lua... mais uma vez o rapaz maravilhou-se com a técnica prodigiosa que havia sido empregada na construção da gigantes­ca base. Milhares de luzes davam-lhe a aparência de uma cidade suspensa no espaço.

Alguns dos companheiros de Luke ficaram ainda mais im­pressionados, já que era a primeira vez que viam a estação.

— Vejam o tamanho dessa coisa! — exclamou Wedge Antilles pelo rádio.

— Nada de conversa, Azul Dois — advertiu o Líder Azul. — Acelerar para velocidade de ataque.

Luke ligou várias chaves do painel e começou a ajustar o sistema automático de mira. Erredois Dedois olhou para a esta­ção do Império e pensou pensamentos eletrônicos intraduzíveis

O Líder Azul verificou sua posição e comparou-a com a do alvo.

— Líder Vermelho — falou pelo rádio — aqui é o Líder Azul. Estamos em posição: pode começar. Trataremos de man­tê-los ocupados.

Fisicamente, o Líder Vermelho era bem diferente do co­mandante da esquadrilha de Luke. Baixo, magro, fisionomia inexpressiva, parecia um tipo insignificante. Mas em coragem e dedicação, nada ficava a dever ao colega e amigo de muitos anos.

— Vamos iniciar o ataque. Fique por perto e assuma o comando, se alguma coisa acontecer.

— Certo, Líder Vermelho — respondeu o outro. — Va­mos sobrevoar o equador e tentar desviar o fogo. Que a força esteja com você.

Duas esquadrilhas de caças se destacaram da formação. Os caças com asas em X mergulharam em direção à superfície, en­quanto os caças Y se dirigiram para o pólo norte da esfera.

Dentro da estação, os alarmas começaram a soar quando os soldados finalmente compreenderam que a fortaleza inexpugná­vel estava sendo atacada. O Almirante Motti e seus estrategistas estavam certos de que os rebeldes se concentrariam na defesa da própria lua. Não esperavam uma contra-ofensiva.

As forças do Império procuraram compensar rapidamente este erro tático. Todo o repertório de destruição da base foi colocado de prontidão. Os soldados correram para guarnecer as baterias. Poderosos motores colocaram os canhões de raios em posição de tiro.

— Aqui é Azul Cinco — anunciou Luke, preparando-se para entrar em ação. Baixou o nariz do caça. — Lá vou eu.

— Estou bem atrás de você, Azul Cinco — disse uma voz que Luke reconheceu como a de Biggs.

Enquanto Luke estava mergulhando em direção a um obje­tivo imóvel, as defesas do Império se viam diante de um alvo extremamente rápido e pequeno. Os canhões do caça cuspiram fogo. Houve uma explosão na superfície da esfera de metal, dando origem a um grande incêndio que duraria enquanto a tri­pulação não conseguisse cortar o acesso de ar à parte atingida.

A alegria de Luke se transformou em terror, quando per­cebeu que não conseguiria desviar a nave a tempo de evitar uma bola de fogo de composição desconhecida.

— Volte, Luke, volte! — estava gritando Biggs.

Mas, a despeito dos esforços do rapaz, os comandos não obedeceram a tempo. O caça mergulhou na nuvem de gases superaquecidos.

Segundos depois, estava do outro lado. Uma rápida verifi­cação dos instrumentos o deixou tranqüilo. O calor intenso não tinha sido suficiente para danificar nenhum componente vital, embora as quatro asas estivessem enegrecidas.

Luke tirou o aparelho do mergulho e afastou-se da estação, bem a tempo de escapar a novos disparos.

— Você está bem, Luke? — perguntou Biggs, preocupado.

— Fiquei um pouco chamuscado, mas estou bem.

— Azul Cinco — disse o líder da esquadrilha — é melhor ir mais devagar. Sua missão não é abalroar a estação.

— Sim, senhor. Acho que já peguei o jeito. Como o se­nhor mesmo disse, não é exatamente como pilotar um aerociclo.

Feixes de energia e bolas de fogo continuavam a criar um labirinto cromático no espaço em torno da estação, enquanto os pequenos caças cruzavam a superfície em vôos rasantes, dispa­rando em tudo que lhes parecia um alvo decente. Dois pilotos se interessaram por uma usina de força. A usina explodiu, pro­vocando uma verdadeira tempestade de centelhas elétricas.

Dentro da base, explosões secundárias se sucediam, despe­daçando homens, robôs e equipamentos. Em alguns pontos, a carcaça externa havia sido perfurada, e o escapamento de ar lan­çara soldados e andróides ao espaço.

Mas alguém se mantinha calmo em meio ao caos. Um gi­gante vestido de negro: Darth Vader. Um comandante se apro­ximou, ofegante.

— Lorde Vader, são pelos menos trinta, de dois tipos. São tão pequenos e rápidos que os sistemas automáticos não conse­guem rastreá-los com precisão.

— Então vamos usar os caças Tie. Teremos que ir atrás deles e destruí-los um por um.

Nos hangares, luzes vermelhas começaram a piscar e um alarma insistente soou. Os pilotos do Império correram para as naves.

— Luke — pediu o Líder Azul, enquanto atravessava ileso uma chuva de fogo — avise-me quando for atacar de novo.

— Vai ser agora mesmo.

— Tome cuidado. O fogo está muito intenso à direita da­quela torre de reflexão.

— Já vi, não se preocupe — respondeu Luke, confiante.

O rapaz mergulhou novamente em direção à estação espa­cial. Antenas e pequenas construções explodiram em chamas, quando as asas do caça cuspiram fogo com precisão mortal.

Luke deu um sorriso ao nivelar a nave, escapando por pou­co a um intenso feixe de energia. Afinal, era mesmo como caçar ursos do deserto nos estreitos desfiladeiros de Tatooine.

Biggs iniciou o ataque, no momento em que os pilotos do Império se preparavam para decolar. Nos hangares, as tripula­ções desligavam apressadamente os cabos de força e faziam os últimos testes sumários.

Uma das naves estava sendo preparada com mais cuidado, aquela em que Darth Vader acabara de embarcar.

Na sala de comando do templo, a atmosfera era de expec­tativa. Todos estavam com os olhos grudados na grande tela, con­versando por sussurros. Em um canto do aposento, um técnico consultou de novo os instrumentos antes de falar do microfone:

— Atenção, líderes de esquadrilha! Atenção, líderes de es­quadrilha! Captamos novos sinais do outro lado da estação. Ca­ças inimigos a caminho.

Luke recebeu a mensagem ao mesmo tempo que os outros Começou a esquadrinhar o céu à procura dos caças do Império. Baixou os olhos para o painel de instrumentos.

— Nada na tela. Não vejo nada.

— Continue a observação visual — instruiu o Líder Azul. — Não confie nos instrumentos. Lembre-se de que a estação pode interferir com todos os sensores a bordo de sua nave, exceto seus olhos.

Luke olhou de novo, e desta vez viu um caça do Império perseguindo de perto um T-65, cujo prefixo reconheceu pronta­mente.

— Biggs! — gritou. — Há um atrás de você... cuidado!

— Não consigo vê-lo — respondeu o amigo, assustado. — Onde está? Não posso vê-lo!

Luke ficou olhando impotente, enquanto o caça de Biggs se afastava bruscamente da estação, seguido pelo caça do Impé­rio. O piloto inimigo disparou várias vezes, e cada disparo pa­recia passar mais perto do que o anterior.

— Ele é teimoso — disse Biggs pelo rádio. — A situação está ficando preta.

Biggs mudou bruscamente de curso, aproximando-se nova­mente da estação, mas o piloto que o perseguia continuou colado a sua cauda, disposto a não o deixar escapar.

— Agüente firme, Biggs! — gritou Luke, fazendo uma cur­va tão fechada que os giroscópios zumbiram em protesto. — Eu vou aí!

O piloto do Império estava tão preocupado com Biggs que não pressentiu a aproximação de Luke. O rapaz esperou que o computador de bordo enquadrasse o alvo e apertou o botão de disparo. Houve uma pequena explosão no espaço — pequena em comparação com a enorme energia que estava sendo desencadea­da pelas defesas da estação. Mas a explosão teve uma importân­cia toda especial para três pessoas: Luke, Biggs e, principalmente, para o piloto do caça Tie, que foi desintegrado juntamente com a nave.

— Peguei-o! — murmurou Luke.

— Este está no papo! — exclamou alguém pelo rádio. Luke reconheceu a voz de um jovem piloto chamado John D.

Sim, lá estava o Azul Seis perseguindo outro caça do Império O T-65 fez vários disparos em rápida sucessão até que o caça Tie se partiu em dois, arremessando fragmentos de metal em todas as direções.

— Boa pontaria, Azul Seis — comentou o líder da esqua­drilha. Então, acrescentou rapidamente: — Cuidado, há um na sua cauda!

Dentro da nacele do caça, o sorriso vitorioso do rapaz desa­pareceu instantaneamente e ele começou a olhar em volta, sem conseguir localizar o inimigo. Alguma coisa explodiu a sua di­reita, tão perto que a ponta de uma asa se partiu. Então houve um disparo ainda mais certeiro e a nacele se transformou em um mar de chamas.

— Fui atingido, fui atingido!

Foi tudo o que o infeliz piloto teve tempo de gritar antes do golpe de misericórdia. De onde estava, o Líder Azul viu a nave de John D. transformar-se em uma bola de fogo. Sua única reação foi comprimir ligeiramente os lábios. Tinha coisas mais importantes para fazer.

Na quarta lua de Yavin, a tela principal se apagou junto com a vida de John D. Os técnicos saíram correndo em todas as direções. Um deles parou diante de Leia, dos comandantes e de um robô de pele cor de bronze.

— O receptor de alta freqüência está com defeito. Vai levar algum tempo para consertar...

— Faça o que puder — disse Leia. — Enquanto isso, po­deríamos deixar ligado o sistema de áudio.

Alguém atendeu à sugestão, e em poucos segundos os sons da batalha distante enchiam o aposento, entremeados com as vo­zes dos participantes.

— Mas para a direita, Azul Dois, mais para a direita — estava dizendo o Líder Azul. — Cuidado com aquelas torres.

— Fogo cerrado, chefe — avisou Wedge Antilles — a vin­te e três graus.

— Estou vendo. Volte, volte. Vamos atacar em outro lugar.

— Não acredito — estava resmungando. Nunca vi tamanho poder de fogo!

— Volte, Azul Cinco. Volte! — Uma pausa, e depois: — Luke, está-me ouvindo? Luke?

— Estou aqui, chefe — respondeu Luke. — Achei um bom alvo. Vou fazer um estrago.

— É muito arriscado, Luke — disse Biggs. — Saia daí, Está-me ouvindo, Luke? Saia daí.

— Volte, Luke — ordenou o Líder Azul. — O fogo está muito cerrado. Luke, estou repetindo, volte! Não consigo vê-lo. Azul Dois, está vendo Azul Cinco?

— Negativo — respondeu Wedge, rapidamente. — Desa­pareceu no meio das chamas. Meus sensores não funcionam. Azul Cinco, onde está você? Luke, você está bem?

— Acho que o perdemos — murmurou Biggs, com voz trêmula. Então soltou um grito de alegria —Não, espere... lá está ele! O leme está um pouco avariado, mas o garoto escapou!

Os ocupantes da sala de controle deram um suspiro de alí­vio. Um sorriso iluminou o rosto de uma jovem princesa.

Na estação, os soldados exaustos ou feridos foram substi­tuídos por tropas de reserva. Nenhum deles tinha tido tempo de especular sobre o desfecho da batalha, e no momento nenhum deles se importava muito, um fenômeno que sempre afligiu o soldado comum, desde tempos imemoriais.

Luke sobrevoou mais uma vez a estação, com os olhos fixos em um objetivo distante.

— Não se afaste, Azul Cinco — preveniu o comandante da esquadrilha. — Aonde vai?

— Localizei o que parece um estabilizador lateral — repli­cou Luke. — Vou tentar destruí-lo.

— Tome cuidado, Azul Cinco. Fogo cerrado à frente. Luke ignorou o aviso e apontou o caça para a protuberância metálica. Sua persistência foi recompensada. Depois de dis­parar várias vezes contra o alvo, viu-o explodir em uma bola es­petacular de gás superaquecido.

— Acertei em cheio! — exclamou. — Vou para o sul pro­curar outro alvo.

Na base rebelde, Leia escutava atentamente. Parecia ao mesmo tempo zangada e apreensiva. Afinal, voltou-se para Pezero e murmurou:

— Por que Luke está correndo tantos riscos desnecessários? O robô não respondeu.

— Atrás de você, Luke! — estava dizendo Biggs. — Atrás de você!

Leia esforçou-se para imaginar a cena. E não estava sozi­nha.

— Ajude-o, Erredois — murmurou Pezero para si mesmo — e segure-se bem.

Luke continuou o mergulho enquanto olhava para trás, con­seguindo finalmente localizar o caça contra o qual Biggs o havia prevenido. Então se afastou relutantemente da superfície da es­tação, abandonando o ataque. Mas o outro também era um bom piloto e continuou a segui-lo.

— Ainda está atrás de mim — disse Luke.

Um outro caça cortou o céu, aproximando-se das duas na­ves.

— Estou chegando, Luke — gritou Wedge Antilles. — Agüente firme!

Luke não teve de esperar muito. Wedge tinha boa ponta­ria. Em poucos segundos, o caça Tie explodiu em mil pedaços.

— Obrigado, Wedge — murmurou Luke, com um suspiro de alívio.

— Bom serviço, Wedge — disse a voz de Biggs. — Azul

Quatro, agora é a minha vez. Cubra-me, Porkins.

— Estou com você, Azul Três — respondeu o outro pi­loto.

Biggs chegou a algumas dezenas de metros da estação e abriu fogo com tudo que tinha. Ninguém podia saber ao certo o que o piloto rebelde havia atingido, mas a pequena torre que recebeu o impacto dos feixes de energia era obviamente mais importante do que parecia.

Uma série de explosões secundárias varreu a superfície da estação, saltando de um terminal para o seguinte. Biggs já havia passado pela área atingida, mas o companheiro que o cobria recebeu em cheio a descarga de energia.

— Estou com um problema — anunciou Porkins. — Meu conversor está rateando. — O piloto não estava contando toda a verdade. De repente, todos os instrumentos de bordo tinham deixado de funcionar.

— Salte... salte, Azul Quatro — aconselhou Biggs. — Azul Quatro, está-me ouvindo?

— Não é preciso — replicou Porkins. — Posso controlar a nave. Dê-me um pouco de tempo, Biggs.

— Está voando baixo demais — gritou o companheiro. — Suba, suba!

Com os instrumentos avariados, e à altitude em que estava voando, Porkins era uma presa fácil para as defesas da estação. As grandes baterias abriram fogo. O pequeno caça explodiu em chamas.

Perto do pólo da estação, a situação era relativamente cal­ma. O ataque das esquadrilhas Azul e Verde havia atraído a atenção dos defensores para a região equatorial. O Líder Ver­melho sabia que a falsa paz não duraria muito tempo.

— Líder Azul, aqui é o Líder Vermelho — anunciou pelo rádio. — Vamos começar o ataque principal. O objetivo já foi localizado. Por enquanto, está tudo tranqüilo aqui em cima. Nem caças, nem fogo antiaéreo. Parece que não vamos encon­trar resistência, pelo menos da primeira vez.

— Entendido, Líder Vermelho — respondeu o comandante da outra esquadrilha. — Vamos continuar a mantê-los ocupados aqui embaixo.

Três caças com asas em Y mergulharam em direção à su­perfície da estação. No último momento mudaram de direção para penetrar em um profundo desfiladeiro artificial, um dos muitos que havia no pólo norte da Estrela da Morte.

O Líder Vermelho olhou em volta, constatando com alívio que não havia nenhum caça do Império nas proximidades. Ajus­tou um controle e falou para os comandados:

— Chegou a hora, rapazes. Não se esqueçam: quando acha­rem que não dá para descer mais, cheguem ainda mais perto antes de largarem nosso presentinho. Desviem toda a força para os defletores dianteiros. Não é hora de pensar na retaguarda.

As tropas do Império que guarneciam o setor perceberam de repente que aquela parte da estação, ignorada até o momento pelos rebeldes, estava sendo submetida a um ataque. Reagiram rapidamente, e em pouco tempo os caças estavam tendo que en­frentar uma barreira de fogo. De quando em quando, um raio mortífero atingia um dos caças de raspão, fazendo-o estremecer.

— Eles são meio agressivos, não são? — disse Vermelho Dois.

O Líder Vermelho não estava achando graça na situação.

— Quantas baterias você calcula, Vermelho Cinco?

Vermelho Cinco, conhecido pela maioria dos pilotos rebel­des apenas como Pops, conseguiu a façanha de fazer um levanta­mento das defesas inimigas enquanto pilotava o caça no meio de um mar de chamas. O capacete que usava parecia mais um destroço, resultado de mil batalhas anteriores.

— São umas vinte baterias — anunciou afinal. — Algumas na superfície, outras montadas em torres.

O Líder Vermelho agradeceu a informação com um mur­múrio, enquanto ligava o sistema de mira controlado por compu­tador. Explosões continuavam a sacudir o caça.

— Ligar computadores de aproximação — ordenou.

Aqui é Vermelho Dois — respondeu um piloto da esqua­drilha — computador ligado e estou recebendo um sinal. — O rapaz estava visivelmente emocionado.

Mas o piloto mais velho do grupo, Vermelho Cinco, sentia-se calmo e confiante, embora murmurasse baixinho, quase para si mesmo:

— É, a coisa não vai ser fácil.

De repente, todo o fogo defensivo cessou. Uma estranha quietude tomou conta da superfície,

— O que é isso? — perguntou Vermelho Dois, em tom preocupado. — Eles pararam. Por quê?

— Não estou gostando nada — resmungou o Líder Ver­melho. Mas a falta de resistência tornaria muito mais fácil a missão.

Pops foi o primeiro a adivinhar o que estava por trás da ati­tude aparentemente suicida do inimigo.

— É melhor ligarmos os defletores de ré. Os caças vêm aí.

— Tem razão, Pops — concordou o Líder Vermelho, olhando para o painel de instrumentos. — Já os vejo nos senso­res. Três alvos às duas e dez.

Uma voz mecânica continuou a recitar a distância que os separava do alvo, mas os caças Tie já estavam próximos.

— Não podemos ignorá-los — observou o líder da esqua­drilha. — Seríamos todos abatidos.

— Vamos ter que ir até o fim — aconselhou Pops. —

Não nos podemos defender e atacar o alvo ao mesmo tempo..— Lutou para dominar velhos reflexos quando os sensores mos­traram três caças Tie em formação precisa, mergulhando em di­reção a eles.

— Três-oito-um-zero-quatro — anunciou Darth Vader, en­quanto ajustava calmamente os controles. — Quero pegá-los pessoalmente. Cubram-me.

Vermelho Dois foi o primeiro a morrer. O jovem piloto nem teve tempo de saber o que o atingira. Apesar de toda a sua experiência de combate, o Líder Vermelho quase entrou em pânico quando viu o caça ao lado dissolver-se me chamas.

— Estamos encurralados aqui. Não temos espaço para ma­nobrar, os edifícios estão muito próximos, Temos que subir. Temos que...

— Conserve o rumo — advertiu uma voz mais velha. -— Conserve o rumo.

As palavras de Pops fizeram o Líder Vermelho cair em si. Os dois caças continuaram a aproximar-se do alvo, ignorando os caças Tie, cada vez mais próximos.

Acima deles, Vader permitiu-se um sorriso de satisfação en­quanto tornava a ajustar o computador de tiro. Os caças rebel­des estavam voando em linha reta. Eram alvos fáceis.

Um clarão iluminou a nacele do líder da esquadrilha. O fogo começou a consumir o painel de instrumentos.

— Pops! — gritou o Líder Vermelho. — Fui atingido Fui atingido...!

O caça explodiu em uma bola de metal vaporizado. Alguns fragmentos sólidos chocaram-se com as paredes dos edifícios. Vermelho Cinco assistiu a tudo e não agüentou mais. Manipu­lou os controles e o caça descreveu uma curva ascendente, seguido de perto pela nave de Vader.

— Vermelho Cinco para Líder Azul. Estou sozinho. Os caças apareceram de repente... Tenho que desistir...

O inimigo implacável apertou mais uma vez o botão fatal. Quando o raio partiu, Pops estava perto do topo dos edifícios. Mas havia esperado demais.

O motor de bombordo foi atingido e explodiu, levando com ele metade da asa. Perdendo o controle, o caça iniciou uma longa curva descendente em direção à superfície da estação.

— Você está bem, Vermelho Cinco? — perguntou uma vos preocupada.

— Eles nos apanharam de surpresa, quando iniciávamos o ataque — explicou Pops, com voz cansada. — É impossível ma­nobrar no meio dos edifícios. Sinto muito... agora fica por sua conta. Adeus, Dave...

Foram as últimas palavras do veterano piloto. O Líder Azul procurou não deixar que o tom de voz reve­lasse o que estava sentindo pela perda do amigo.

— Esquadrilha Azul, aqui é o Líder. Encontro em seis vírgula um. Respondam.

— Líder Azul, aqui é Azul Dez. Mensagem recebida.

— Aqui Azul Dois — respondeu Wedge. — Já estou a caminho, Líder Azul.

Luke estava esperando a vez de falar, quando uma luz co­meçou a piscar no painel de controle. Um rápido olhar para trás confirmou o que os sensores de bordo estavam acusando: um caça do Império às suas costas.

— Aqui é Azul Cinco — declarou, iniciando uma mano­bra evasiva. — Estou com um pequeno problema. Mas não vou demorar.

Iniciou um mergulho em direção à superfície metálica, de­pois nivelou o caça quando as baterias abriram fogo contra ele. O caça inimigo não desistiu.

— Estou vendo você, Luke — disse Biggs. — Não se preo­cupe.

Luke olhou para cima, para baixo, para os lados, e nem sinal do amigo. Enquanto isso, os disparos do caça Tie estavam passando cada vez mais perto.

— Raios, Biggs, onde está você?

Alguma coisa apareceu, bem à frente de Luke. Movia-se com uma rapidez incrível. Um feixe de energia concentrada passou a poucos metros do caça do rapaz, atingindo seu perse­guidor. Apanhado totalmente de surpresa, o caça do Império se desintegrou antes que o piloto pudesse compreender o que estava acontecendo.

Luke fez a volta e dirigiu-se para o ponto de encontro, acompanhado por Biggs.

— Obrigado, Biggs. Você também me pegou de surpresa.

— Estou só começando — anunciou o amigo, enquanto fa­zia uma manobra brusca para evitar o fogo da superfície. Colo­cou-se ao lado de Luke e balançou as asas do caça. — É só escolher um alvo para mim. Qualquer alvo.

Na base dos rebeldes, Dodonna encerrou uma reunião de emergência com os assessores e dirigiu-se ao transmissor de longo alcance.

— Líder Azul, aqui é Base Um. Não iniciem o ataque en­quanto houver caças inimigos por perto. Os alas devem ficar para trás e dar o máximo de cobertura possível. Poupem metade do grupo para o ataque seguinte.

— Entendido, Base Um — foi a resposta. — Azul Dez, Azul Doze, venham comigo.

Duas naves se colocaram dos dois lados do Comandante da esquadrilha. O Líder Azul esperou até que estivessem na posi­ção correta para o ataque. Então escalou o grupo que os segui­ria se fossem malsucedidos.

— Azul Cinco, aqui é o Líder Azul. Luke, leve Azul Dois e Azul Três com você. Mantenha-se fora do alcance das bate­rias e espere minha ordem para iniciar o ataque.

— Entendido, Líder Azul — respondeu Luke, o coração batendo mais depressa. — Que a força esteja com o senhor. Biggs, Wedge, venham cá.

Os três caças assumiram uma formação cerrada, muito aci­ma da furiosa batalha que as esquadrilhas Verde e Amarela ain­da travavam com as forças do Império.

O Líder Azul iniciou a aproximação.

— Azul Dez, Azul Doze, fiquem comigo até chegarmos à superfície. Depois, tentem defender-me dos caças.

Os três T-65 chegaram à superfície, nivelaram e rumaram para o alvo. Os dois alas foram ficando para trás, até que o Líder Azul se viu sozinho no desfiladeiro cinzento.

As baterias estavam caladas. O Líder Azul olhou em torno apreensivo, verificando várias vezes os mesmos instrumentos.

— Alguma coisa está errada — murmurou para si mesmo. Azul Dez também parecia preocupado.

— O senhor já devia estar vendo o alvo.

— Eu sei. Mas a distorção aqui embaixo é inacreditável.

Acho que meus instrumentos pararam de funcionar. Pelo me­nos estou no rumo certo?

De repente, as defesas de superfície abriram fogo contra o líder da esquadrilha. À frente, uma grande torre dominava o desfiladeiro de metal, vomitando imensas quantidades de energia.

— Não vai ser fácil passar por aquela torre — declarou o Líder Azul, desanimado. — Talvez seja melhor vocês se apro­ximarem um pouco.

Tão abruptamente como havia começado, o fogo de superfí­cie cessou. O Líder Azul sabia o que isto significava.

— Agora toda atenção é pouca — disse para os alas. — Os caças vêm aí.

— Meus sensores não funcionam — declarou Azul Dez, nervosamente. — Excesso de interferência. Azul Cinco, pode vê-los de onde se encontra?

Luke percorreu com os olhos a superfície da estação.

— Nem sinal de... espere! — Três pontinhos brilhantes se moviam rapidamente em direção ao desfiladeiro. — Lá estão eles. Marcação três e cinco.

Azul Dez olhou na direção indicada. O sol se refletiu nas asas dos caças Tie quando iniciaram a manobra descendente.

— Estou vendo, Luke. Obrigado.

— Estou no rumo certo! — exclamou o Líder Azul, quan­do o computador de bordo começou a emitir um sinal contínuo. Ajustou o mecanismo de disparo. — O alvo está bem à frente. Preciso de apenas alguns segundos. Mantenham-nos ocupados.

Mas Darth Vader também estava ajustando o mecanismo •de disparo do caça Tie, enquanto mergulhava como uma flecha em direção aos rebeldes.

— Cubram-me. Vou atacar.

Azul Doze foi o primeiro a cair, com os dois motores estou­rados. Azul Dez iniciou uma manobra em ziguezague.

— Não vou agüentar muito tempo. É melhor disparar en­quanto pode, Líder Azul. Eles estão chegando perto,

O comandante da esquadrilha estava com os olhos colados ao visor, onde, dois círculos se aproximavam com irritante len­tidão.

— Estou quase lá. Vamos, vamos... Azul Dez olhou em torno, desesperado.

— Estão em cima de mim!

O Líder Azul estava admirado com a própria calma. O visor era parcialmente responsável, permitindo que se concentrasse em imagens abstratas, ajudando-o a ignorar o resto do universo hostil.

— Vamos, vamos... — sussurrou. Então, os dois círculos coincidiram e uma cigarra começou a tocar. — Torpedos lança­dos, torpedos lançados.

Momentos depois, Azul Dez também soltou seus projéteis. Os dois caças iniciaram uma manobra ascendente, enquanto lá embaixo as explosões se sucediam.

— Conseguimos! Conseguimos! — gritou Azul Dez, histericamente.

A resposta do Líder Azul tirou toda a alegria do rapaz.

— Não, não conseguimos. Os torpedos não entraram Ex­plodiram a borda do poço.

Em sua decepção, os dois pilotos se esqueceram de olhar para trás. Os três caças do Império continuavam a segui-los. Vader disparou mais um vez, abatendo Azul Dez. Então mu­dou ligeiramente de curso, colocando-se atrás do comandante da esquadrilha.

— É o último — anunciou, friamente. — Deixem comigo. Vocês dois podem voltar.

Luke estava tentando enxergar o grupo de ataque em meio às chamas quando ouviu a voz do Líder Azul.

— Azul Cinco, aqui é o Líder Azul. Coloque-se em posi­ção para atacar, Luke. E só atire quando estiver em cima do alvo. Não vai ser fácil.

— O senhor está bem?

— Estão atrás de mim... mas não se preocupe.

— Azul Cinco para alas... vamos! — ordenou Luke. Os três caças iniciaram a longa descida.

Enquanto isso, Vader finalmente conseguira atingir a pre­sa com um disparo que, embora pegasse de raspão, havia pro­vocado um incêndio no motor número um. O robô R-2 do caça rastejou sobre a asa danificada e tentou apagar o incêndio.

— R-2, desligue a alimentação do motor número um de boreste — disse calmamente o Líder Azul, olhando resignado para o painel de instrumentos. — Segure-se bem, que a coisa está ficando preta.

Luke percebeu que o Líder Azul estava com problemas. —- Estamos bem acima do senhor — declarou. — Mude para zero zero cinco que vamos cobri-lo.

— Perdi um motor — respondeu o chefe da esquadrilha.

— Então vamos até aí.

— Negativo, negativo. Mantenham o curso e preparem-se para atacar.

— Tem certeza de que não precisa de nós?

— Vou verificar... espere um minuto.

Na verdade, o caça do Líder Azul levou menos de um mi­nuto para cair em parafuso e despedaçar-se na superfície da estação.

Luke observou do alto a grande explosão, compreendendo imediatamente o que havia ocorrido. Pela primeira vez, come­çava a duvidar do sucesso da missão.

— Acabamos de perder o Líder Azul — murmurou qua­se para si mesmo.

Na base rebelde, Leia Organa levantou-se bruscamente e começou a andar de um lado para outro. As unhas, normalmen­te impecáveis, já estavam roídas até a metade. Mas era o único sinal palpável de sua ansiedade. O anúncio da morte do Líder Azul havia criado um ambiente de consternação na sala de co­mando. Todos estavam silenciosos. Afinal, a Princesa criou co­ragem para perguntar:

— Será que vale a pena continuar?

O General Dodonna respondeu com suave firmeza:

— É preciso, Leia.

— Mas já perdemos tantos homens! Sem o Líder Vermelha e o Líder Azul, quem vai comandá-los?

Dodonna abriu a boca para responder, mas foi interrompido pelos alto-falantes.

— Chegue mais perto, Wedge — estava dizendo Luke, a milhares de quilômetros de distância. — Biggs, onde está você?

— Bem atrás de você.

Logo depois, Wedge respondeu:

— Muito bem, Chefe, estamos em posição.

Dodonna olhou para Leia. O General parecia preocupado.

Os três caças de asas em X estavam-se aproximando rapi­damente da estação. Luke olhou para o painel de instrumentos e verificou irritado que um dos controles não estava funcio­nando.

Alguém falou alguma coisa no ouvido de Luke. Era uma voz ao mesmo tempo velha e jovial, uma voz familiar: calma, confiante, tranqüilizadora. Uma voz que o rapaz havia escuta­do atentamente no deserto de Tatooine e nas entranhas da es­tação espacial.

— Confie na força, Luke — foi tudo o que a voz que tanto se parecia com a de Kenobi disse.

Luke deu um tapinha no capacete, sem saber ao certo se a voz era real. Mas não tinha tempo para pensar no assunto. Estavam quase chegando.

— Wedge, Biggs, vamos lá — disse para os alas. — É melhor mergulharmos a toda velocidade, antes mesmo de loca­lizarmos o alvo. Assim talvez os caças Tie não cheguem a tempo.

— Vamos ficar um pouco para trás, para cobri-lo — afirmou Biggs. — Tem certeza de que não vai bater nos edifícios, a essa velocidade?

— Está brincando? — replicou Luke, enquanto iniciavam o mergulho. — Vai ser como nos velhos tempos.

— Estou com você, Chefe — disse Wedge, frisando bem a palavra “chefe”. — Vamos!

Os três caças desceram na vertical, desviando-se apenas no último momento. Luke passou tão perto do casco da estação que a ponta de uma asa roçou em uma antena, provocando uma chuva de fagulhas. Imediatamente, foram envolvidos em uma chuva de raios de energia e projéteis explosivos. Ao entrarem no estreito espaço entre os edifícios, o fogo ficou ainda mais cerrado.

— Parece que estão nervosos — observou Biggs, como se estivesse assistindo a uma exibição de fogos de artifício.

— Por enquanto, está ótimo — comentou Luke, surpreen­dido com a boa visibilidade à frente. — Posso ver tudo.

Wedge não parecia tão animado.

— Já localizei a torre, mas não consigo enxergar o poço. Deve ser ridiculamente pequeno. Tem certeza de que o compu­tador pode encontrá-lo?

— Tomara que sim — murmurou Biggs.

Luke não disse nada. Estava ocupado tentando manter o oirso em meio à turbulência criada pelas explosões sucessivas. De repente, o fogo cessou. O rapaz olhou para cima, procurando °s caças Tie, mas não viu nada.

Levantou a mão para colocar o visor em posição. Hesitou, apenas por um momento. Então completou o gesto que havia iniciado.

— Cuidado com os caças — disse para os companheiros.

— E a torre? — perguntou Wedge, preocupado.

— Cuidem dos caças — replicou Luke — que eu cuido da torre.

Estavam cada vez mais próximos do objetivo. Wedge olhou para cima e seu coração disparou.

— Aí vêm eles!

Vader estava ajustando os controles quando um dos alas quebrou o silêncio.

— Estão indo depressa demais... não vão conseguir su­bir a tempo.

— Acabe com eles — ordenou Vader.

— A essa velocidade, é impossível fazer pontaria anunciou o piloto, com convicção.

Vader olhou para os instrumentos de bordo e descobriu que o outro estava certo.

— Mas vão ter que reduzir antes de chegarem àquela torre. Luke não tirava os olhos dos dois pequenos círculos.

— Está chegando a hora. — Segundos depois, os círculos se encontraram. O rapaz apertou o botão de disparo. — Tor­pedos lançados! Vamos subir, vamos subir!

Duas explosões sacudiram a estação, uma de cada lado da pequena abertura. Os três caças Tie evitaram a bola de fogo e reduziram rapidamente a distância que os separava dos rebel­des.

— Agora é a nossa vez — disse Vader, friamente. Luke tomou uma decisão.

— Wedge, Biggs, vamos-nos separar. É a única maneira de um de nós escapar.

As três naves subiram mais um pouco e depois partiram em três direções diferentes. Os três caças Tie foram atrás de Luke.

Vader disparou duas vezes, errou e fez uma careta.

— A força naquele piloto é maior do que o normal. Es­tranho... Mas vou cuidar dele.

Luke mergulhou entre duas torres e fez uma curva brusca para a direita, sem resultado. Um dos caças Tie continuou co­lado a sua cauda. Um raio roçou a asa, perto do motor. Este engasgou. Luke lutou para controlar a nave.

Ainda tentando desvencilhar-se do teimoso perseguidor, o rapaz mergulhou de novo entre os edifícios.

— Fui atingido — anunciou — mas não é sério. Erredois, veja o que pode fazer.

O pequeno andróide saiu de onde estava e foi trabalhar na asa, enquanto os raios de energia passavam perigosamente pró­ximos de onde estava.

— Cuidado para não cair — preveniu Luke, fazendo o caça serpentear entre as torres que se projetavam da estação.

Afinal, uma série de indicadores no painel de controle co­meçou a mudar de cor; três ponteiros vitais voltaram à posição normal.

— Acho que você conseguiu. Erredois — disse Luke, ra­diante. — Devagar... pronto, é isso mesmo. Mantenha a vál­vula exatamente nesta posição.

Erredois respondeu com um assovio, enquanto Luke olhava para trás.

— Acho que nos livramos do último. Esquadrilha Azul, aqui é Azul Cinco. Estão-me ouvindo? O rapaz mexeu nos controles e o caça se afastou rapidamente da estação.

— Estou aqui em cima esperando, Chefe — anunciou Wedge. — Não consigo vê-lo.

— Estou a caminho. Azul Três, está-me ouvindo? Biggs?

— Tinha companhia — explicou Biggs. — Mas acho que consegui despistá-lo.

Uma luz de advertência no painel de instrumentos mos­trou que Biggs estava errado. Um olhar para trás bastou para confirmar que o caça Tie que o perseguia há alguns minutos continuava atrás dele. Mergulhou novamente em direção à es­tação.

— Falei cedo demais — disse Biggs para os outros. — Espere um instantinho, Luke. Não vou demorar.

Os fones reproduziram uma voz metálica.

— Agüente firme, Erredois, agüente firme!

Na base rebelde, Pezero baixou os olhos, envergonhado, quando todos os presentes olharam para ele.

Quando Luke já estava bem longe da estação, um outro caça de asas em X veio a seu encontro. Reconheceu a nave da Wedge. Os dois começaram a procurar o terceiro caça.

— Estamos esperando, Biggs. Apareça. Biggs, está-me ou­vindo? Biggs! — Não havia sinal do amigo. — Wedge, você está vendo Biggs?

— Negativo, Luke. Espere mais um pouco. Ele vai apa­recer.

Luke olhou em torno, consultou vários instrumentos, pen­sou um pouco e tomou uma decisão.

— Não podemos esperar mais. Temos que ir agora. Acho o caça Tie o derrubou.

— Ei, pessoal — perguntou uma voz jovial. — Que esta esperando?

Luke olhou para a direita e viu que estava sendo ultrapas­sado por um caça idêntico ao seu.

— O velho Biggs sempre cumpre o que promete — disse o outro pelo rádio.

 

Na sala de controle da estação espacial, um oficial correu para um homem que estava parado diante de uma grande teia e entregou-lhe uma pilha de papéis.

— Governador, acabamos de analisar o plano de ataque dos rebeldes. Estamos em sério perigo. Pretende evacuar a estação? Tomei a liberdade de colocar sua nave de prontidão.

O Governador Tarkin olhou incrédulo para o oficial, que recuou um passo.

— Evacuar a estação? — rugiu. — Quando estamos a um passo da vitória final? A principal base dos rebeldes está à nossa mercê e você vem falar-me em evacuar a estação? Não seja ridículo! Saia da minha frente!

Intimidado pela fúria do Governador, o oficial baixou os olhos e retirou-se da sala.

 

— Vamos atacar de novo — anunciou Luke, baixando o nariz da nave. Wedge e Biggs o seguiam de perto.

— Coragem, Luke — disse a voz que o rapaz havia ouvi­do antes.

Luke sacudiu a cabeça e olhou em torno. Parecia que o som vinha de trás. Mas não havia nada naquela direção, apenas um painel de metal. Intrigado, Luke tornou a concentrar-se nos controles.

Mais uma vez as baterias abriram fogo. Mas não foram os disparos inimigos que fizeram a nave de Luke estremecer. Vá­rios indicadores estavam chegando novamente ao ponto crítico.

— Erredois, parece que aquela válvula se soltou de novo. Veja se consegue colocá-la no lugar. Preciso ter controle com­pleto da nave para o que vamos fazer.

Ignorando as explosões que se sucediam em torno do caça, o pequeno robô foi até a asa consertar o defeito.

Quando os três caças atingiram o espaço entre os edifícios, Biggs e Wedge ficaram um pouco para trás para cobrir Luke, que estendeu a mão para o visor.

Pela segunda vez, o rapaz sentiu uma estranha hesitação. Demorou-se para colocar o dispositivo no lugar, como se estivesse passando por um conflito íntimo. Foi então que as bate­rias pararam de atirar.

— Vai começar tudo de novo — comentou Wedge, quan­do os três caças do Império se aproximaram.

Biggs e Wedge começaram a voar em ziguezague atrás de Luke, procurando desviar a atenção dos caças.

Luke olhou pelo visor por um momento e empurrou-o para o lado. Ficou olhando para o aparelho, como se estivesse hip­notizado. Então colocou-o de volta no lugar e constatou que os dois pequenos círculos já estavam bem próximos.

— Depressa, Luke! — advertiu Biggs. — Estão vindo mais depressa desta vez. Não vamos poder agüentar muito tempo.

Com precisão inumana, Darth Vader apertou mais uma vez o botão de disparo. Um grito de agonia, um violento estrondo e o caça de Biggs transformou-se em mil fragmentos incandes­centes.

Wedge ouviu a explosão pelo rádio.

— Perdemos Biggs — falou ao microfone.

Luke não respondeu imediatamente. Estava com os olhos cheios d'água. Enxugou-os com raiva. Queria enxergar bem o alvo.

— Somos a dupla do espaço, Biggs... — sussurrou, com voz rouca.

A nave de Luke balançou ligeiramente quando um disparo quase o atingiu. Então o rapaz disse pelo rádio:

— Chegue mais perto, Wedge. Já estamos quase em cima do alvo. Erredois, veja se pode aumentar a potência dos defletores de ré.

O robô apressou-se em cumprir a ordem, enquanto Wedge acelerava um pouco, colocando-se ao lado de Luke. Os caças Tie também aceleraram.

— Fico com o líder — disse Vader para os companheiros. — Cuidem do outro.

Luke desviou o caça ligeiramente para a esquerda, ficando um pouco à frente de Wedge. Os caças do Império dispararam mais uma vez, errando por pouco. Os dois pilotos rebeldes tro­cavam repetidamente de posição, tentando confundir os perse­guidores.

Wedge estava completando uma dessas manobras quando uma parte do painel de controle explodiu em chamas. O piloto teve que lutar para controlar a nave.

— Estou com um defeito sério, Luke. Não posso ficar com você.

— Está bem, Wedge, dê o fora.

Wedge murmurou um sentido pedido de.desculpas e levan­tou o nariz do caça..

Vader fez pontaria no único caça que restava e disparou.

Luke não viu a explosão quase fatal que ocorreu acima de uma das asas do caça. Nem teve tempo de examinar a carcaça fumegante de metal retorcido que ainda se agarrava a um dos motores. Os braços do pequeno andróide penderam inertes.

 

Os caças Tie continuaram a perseguir Luke. Atingi-lo era apenas questão de tempo. Só que agora só havia dois caças do Império na perseguição. O terceiro transformou-se em uma bola de fogo, da qual choviam pedaços de metal incandescente.

O outro ala de Vader olhou em volta apavorado, à pro­cura do atacante. Os mesmos campos de força que haviam inu­tilizado os instrumentos dos rebeldes agora confundiam os dois caças Tie.

Apenas quando o cargueiro eclipsou o sol foi que a nova ameaça se tornou visível. Era uma nave coreliana, muito maior do que um caça, e estava mergulhando diretamente para o desfiladeiro de metal. Porém, parecia mais veloz do que um car­gueiro.

Quem estava pilotando aquele veículo devia estar louco, pensou o ala. Fez uma manobra brusca para evitar a colisão. O cargueiro desviou-se no último momento, mas o ala já estava quase em cima do companheiro.

Houve uma pequena explosão quando os dois caças Tie se chocaram de raspão. O ala lutou inutilmente para controlar a nave, que acabou por espatifar-se contra um edifício próximo.

Ao mesmo tempo, o caça de Darth Vader começou a girar sobre si mesmo. Ante o olhar desesperado do Lorde Negro, os vários controles e instrumentos forneceram indicações que eram brutalmente verdadeiras. Completamente fora de controle, o pe­queno caça perdeu-se para sempre nas profundezas infinitas do espaço.

 

O piloto do cargueiro não tinha nada de insano. Podia estar um pouco emocionado, é verdade, mas suas faculdades estavam perfeitamente em ordem. Ficou sobrevoando o desfiladeiro de metal, bem acima de Luke.

— Está tudo bem, garoto — disse uma voz familiar. — Agora destrua essa coisa para a gente ir para casa.

O conselho foi acompanhado por um grunhido de apoio que só poderia vir de um certo wookie.

Luke olhou para cima e sorriu. Mas o sorriso desapareceu quando o rapaz olhou de novo pelo visor. Sentia uma coceira dentro da cabeça.

— Luke... confie em mim — disse uma voz distante. Luke olhou para a tela. Os dois círculos estavam quase superpostos, como na vez anterior... a vez em que errara o al­vo. O rapaz hesitou, mas apenas por um segundo, antes de desligar o sistema de mira. Fechou os olhos e mexeu com os lábios, como se estivesse conversando com alguém. Com a se­gurança de um cego em um ambiente conhecido, Luke passou a mão pelos controles e apertou um botão. Pouco depois, uma voz preocupada perguntou pelo rádio:

— Base Um para Azul Cinco. Seu sistema de mira está desligado. O que houve?

— Nada — murmurou Luke, baixinho. — Nada.

O rapaz piscou e esfregou os olhos. Era como se acor­dasse de um sonho. Olhando em volta, verificou que se estava afastando rapidamente da estação. A frente, o vulto protetor do cargueiro de Han Solo o esperava. De acordo com as indica­ções do painel, havia soltado os dois últimos torpedos. Mas não se lembrava de haver apertado o botão de disparo.

— Você conseguiu! Você conseguiu! — estava gritando Wedge. — Acho que foram até o fundo!

— Boa pontaria, garoto — disse Solo, a voz quase abafada pelas comemorações de Chewbacca.

Luke pouco a pouco foi voltando ao normal.

— Que bom... que vocês estavam aqui para apreciar. Agora, vamos dar o fora antes que a estação vá pelos ares. Es­pero que Wedge esteja certo.

Os caças sobreviventes e o velho cargueiro aceleraram ao máximo, rumando para Yavin.

Atrás deles, a estação estava ficando cada vez menor. De repente, seu lugar foi tomado por alguma coisa que era mais brilhante do que o planeta gasoso, mais brilhante do que uma estrela. Por alguns segundos, a noite eterna do espaço se tor­nou dia. Ninguém ousou olhar diretamente para o fenômeno. Nenhum filtro seria capaz de atenuar aquela terrível claridade.

O espaço ficou coalhado de fragmentos microscópicos, ar­remessados pela energia liberada por um pequeno sol artificial.

Os restos da estação espacial continuariam a queimar durante vários dias, constituindo durante aquele breve espaço do tempo o túmulo mais espetacular da galáxia.

 

UM grupo alegre de técnicos, mecânicos e outros membros da Aliança cercava cada caça no momento em que aterrava e taxiava para o hangar do templo. Vários pilotos sobreviventes já haviam deixado suas naves e estavam à espera de Luke para cumprimentá-lo.

Do outro lado do caça, o grupo era menor e mais sóbrio. Consistia em dois técnicos e um robô humanóide, que observou, preocupado, quando os homens subiram na asa do caça e levan­taram com cuidado um pequeno cilindro de metal enegrecido.

— Oh, não! Erredois? — chamou Pezero, curvando-se so­bre o robô carbonizado. — Está-me ouvindo? Diga alguma coisa! — Olhou para um dos técnicos. — Você pode consertá-lo, não pode?

— Vamos fazer o possível. — O homem examinou o me­tal parcialmente fundido, os componentes pendurados para fora. — Ele está muito danificado.

— Tem que consertá-lo! Escute, se precisar de um dos meus circuitos, terei o máximo prazer em doá-lo...

Os três se afastaram lentamente, ignorando o tumulto que os cercava. Entre os robôs e os técnicos que os consertavam existia uma relação muito especial. Um assimilava coisa do ou­tro, e às vezes a linha divisória entre homem e máquina se tor­nava bastante indistinta.

No centro da atmosfera de festa, estavam três figuras que competiam para ver quem cumprimentava os outros com maior efusão. No setor dos tapinhas nas costas, entretanto, Chewbacca não tinha rivais. Todos riram quando o wookie olhou preocupado para Luke depois de quase esmagá-lo com um abraço.

— Sabia que você ia voltar — estava gritando Luke. — Eu sabia! E chegou bem a tempo de me salvar, Han!

Solo logo mostrou que continuava o mesmo.

— Ora, não ficaria bem eu deixar um garoto do interior atacar sozinho aquela estação espacial. Além disso, comecei a achar que talvez fosse bem-sucedido, Luke... e nesse caso que ria estar por perto para participar da festa e receber, quem sa­be, parte das recompensas.

Nesse momento, uma jovem chegou correndo e atirou-se nos braços de Luke.

— Você conseguiu, Luke, você conseguiu! — gritava Leia Organa.

Em seguida, a moça abraçou Solo. Como era de esperar, o coreliano recebeu o abraço com toda a naturalidade.

Sentindo-se um pouco atordoado, Luke afastou-se do gru­po. Ficou olhando para o castigado caça, com ar de aprovação. Depois, olhou para o alto, para muito além do teto do templo. Por um segundo, julgou ouvir um suspiro de prazer, que o fez lembrar-se de um velho guerreiro que havia conhecido há muito, muito tempo. Provavelmente não era mais do que uma cor­rente de ar, mas assim mesmo Luke sorriu para aquele que só podia ver com os olhos da mente.

 

Os técnicos da Aliança haviam reformado quase todo o in­terior do templo. Entretanto, ninguém tivera coragem de alte­rar a beleza clássica da sala do trono. Tinham-na deixado exa­tamente como era originalmente, limitando-se a limpá-la de tem­pos em tempos.

Pela primeira vez em milhares de anos, a grande câmara estava repleta. Centenas de soldados e técnicos estavam reuni­dos pela última vez antes de partirem para novos postos e lares distantes.

As bandeiras dos muitos mundos que haviam apoiado a re­volução tremulavam na leve brisa que penetrava no templo.

A multidão havia deixado um corredor no meio da sala. Na extremidade do corredor, estava uma jovem vestida de branco: a Princesa Leia Organa.

Um grupo apareceu na outra ponta do corredor. Entre eles estava um vulto grande e peludo, que andava relutantemente, puxado pelo companheiro. Luke, Han, Chewie e Pezero leva­ram vários minutos para chegar ao outro lado da sala.

Pararam diante de Leia, e Luke reconheceu o General Dodonna entre os outros dignitários que ladeavam a Princesa. Nes­se momento, um robô R-2, brilhando de novo, mas que todos reconheceram, veio juntar-se ao grupo, colocando-se ao lado de Pezero, que não coube em si de felicidade.

Chewbacca mexia-se nervosamente, pouco à vontade. Solo repreendeu-o com um gesto quando a Princesa se aproximou. Ao mesmo tempo, as bandeiras foram inclinadas para a frente e todos fizeram silêncio.

Leia pendurou uma medalha de ouro no pescoço de Solo. Depois, foi a vez de Chewbacca — a Princesa teve que ficar na ponta dos pés — e finalmente chegou a vez de Luke. Então, Leia fez um sinal para a multidão, e todos puderam dar vazão livremente a seus sentimentos.

Cercado pelos vivas e aplausos, Luke descobriu que não estava pensando no futuro da Aliança, nem em uma possível vida de aventuras com Solo e Chewbacca. Toda a sua atenção estava voltada para a linda Princesa.

Leia notou o olhar de admiração do rapaz, mas desta vez limitou-se a sorrir.

 

                                                                                George Lucas  

 

                      

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