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"Somos os Dolophoni. Diligentes. Vigilantes. Ferozes e ineludíveis. Serventes das Fúrias, somos a mão direita da justiça e ninguém está acima de nós.
O filho do Warcraft e de Haja, Cratus passou toda a eternidade guerreando para os antigos deuses que lhe deram vida. Dava a morte a qualquer um que cruzasse em seu caminho. Até o dia que depôs suas armas e foi condenado ao exílio.
Agora um antigo inimigo foi libertado e nossos sonhos foram escolhidos como seu campo de batalha. A única esperança que temos é um deus que jurou nunca voltar a lutar.
Como uma Dream-Hunter, Delphine passou a eternidade protegendo à humanidade dos predadores que nos atacam em nosso estado inconsciente. Mas agora que seus aliados lhe deram as costas, sabe que para sobreviver, os Dream-Hunters precisam de um novo líder. Alguém que possa treiná-los para lutar contra seus novos inimigos. Cratus é sua única esperança. Mas ela é uma amarga recordação de por que ele decidiu não continuar lutando.
O tempo está correndo e se ela não puder conseguir que ele seja seu aliado, a humanidade será exterminada e o mundo que conhecemos logo deixará de existir.
Este livro é outro contribuição à série dos Dream-Hunters. Muitos personagens encontrarão sua morte e uma nova ordem surge...
O mundo dos Dream-Hunters cambaleia quando os Skoti se revoltam contra os Oneroi e definem as linhas de batalha. Seu mundo nunca mais será o mesmo.
Cratus é um personagem obscuramente torturado. Complexo e inclusive um pouco atemorizante..."
PRÓLOGO
Eles viriam atrás dele.
Cratus se deteve sobre o ponto mais alto do Olimpo, contemplando o belo pôr-do-sol. Laços de cor quente atravessavam o céu obscurecido, recordando-lhe uma brilhante opala de fogo, lampejando e tremeluzindo.
Em nenhum lugar ele era mais impressionante que ali e queria observá-lo uma última vez antes de que se submetesse a seu bem merecido castigo.
Não podia pedir clemência. Não havia necessidade. Conhecia melhor que ninguém a ira de Zeus. Durante séculos, ele tinha sido o martelo do deus Olímpico, espalhando sua justiça.
Agora essa justiça se voltaria contra ele.
-Foge e fugirei contigo.
Baixou o olhar à pequena forma de sua irmã Nike. Onde suas asas eram negras, as dela era de um branco puro. Seu encaracolado cabelo negro estava recolhido com uma fita branca que combinava com seu
vestido. A personificação da vitória, tinha sido sua cúmplice durante toda sua vida.
Eles, junto com seus outros irmãos e irmãs tinham sido os Sentinelas de Zeus. Amados guardiães, tinham sido considerados como um tesouro pelo pai dos deuses inclusive mais que os próprios filhos de
Zeus. Até que Cratus tinha cometido um imperdoável pecado... tinha perdoado uma vida que deveria ter tirado. Não era sua função questionar a seu mestre, somente obedecê-lo. Ainda não podia entender por
que o tinha feito. Os deuses sabiam que a compaixão era uma emoção alheia para ele.
E ainda assim, aqui estava... prestes a morrer.
Cratus suspirou pesadamente.
-Não posso te pedir isso, akribos. Ainda tem o favor de Zeus. Não se culpe por meus atos. Além disso, não posso fugir da justiça do Olímpo. Sabe tão bem quanto eu. Não há maneira de que me esconda,
ele me encontraria.
Nike tomou sua mão e a levou ao rosto.
-Sei por que o fez e o respeito por isso.
E isso não mudava nada.
O fato, feito estava. Agora não havia nada exceto o castigo.
Afastou o olhar do sol para contemplar a sua irmã ali a seu lado. Seu belo rosto ainda sumido na palma de sua enorme mão. Em toda a eternidade, ela era a única em que tinha acreditado realmente. Sua
irmã, com pálidos olhos azuis e cuja coragem e lealdade não tinha igual. Por ela, faria qualquer coisa.
Mas não a sacrificaria por sua estupidez.
-Fique aqui, onde estará a salvo.
Ela apertou mais forte sua mão.
-Preferiria estar com você, irmão. Até o final, como sempre.
Ele acariciou seu rosto com ternura antes de deixar cair sua mão e baixar o olhar onde os templos dos deuses descansavam como ovos adornados através da verde folhagem.
-Fique aqui, Nike... por favor.
Ela assentiu, mas ele viu a relutância em seus olhos.
-Só por você.
Dando a Nike seu elmo dourado para que conservasse uma lembrança de suas batalhas juntos, Cratus a beijou na face antes de dirigir-se montanha abaixo, para a sala de espera dos deuses. Seu escudo
era tão pesado como sua consciência, motivo pelo qual inclinou sua grosa lança para mantê-lo equilibrado em seu lugar.
Como prometeu, Nike ficou atrás, mas podia sentir seu olhar sobre ele enquanto caminhava. Ela se oferecia para fugir com ele. Mas não estava em sua natureza fugir de algo ou render-se. Ele era um
guerreiro e isto era tudo o que conhecia. Tudo pelo que vivia.
Lutaria até o final.
Mais que isso, negava-se a dar a seus inimigos a satisfação de arrastá-lo ante Zeus algemado. Tinha vivido sua vida sobre seus próprios pés e morreria assim.
Sozinho. Sem estremecer, sem rogar ou com medo.
Este era um final apropriado em realidade. Depois de todas as vidas que ele tinha tomado insensivelmente para Zeus, esta seria sua penitência. Deteve-se ante as portas que levavam ao lugar onde os
deuses estavam reunidos.
Tinha caminhado por ali, entre eles, centenas de milhares de vezes.
Mas hoje, seria a última.
Com a cabeça erguida, abriu de repente as enormes portas douradas. Logo que o fez, o silêncio alagou a sala de espera quando todo mundo conteve a respiração ao mesmo tempo, esperando ver como Zeus
o castigava.
Zeus ficou congelado em seu trono, seus olhos escuros e ameaçadores. O olhar de Cratus foi à direita do assoalho onde tinha estado durante todos esses séculos.
Já não seria mais seu posto.
Respirando profundamente para dar-se coragem, deixou cair seu escudo justo ao lado da porta. O som oco e metálico ressoou fortemente no silêncio e imitou o vazio do coração de Cratus.
Mesmo assim, ninguém se moveu.
Nem sequer os vestidos das mulheres rangiam.
Seu olhar se centrou com determinação no de Zeus, elevou a lança sobre seu ombro e a lançou com força para enterrá-la na parede à direita da cabeça do Zeus... um último ato de desafio que fez com
que cada deus presente ofegasse surpreso.
Cratus tirou a espada e a bainha por cima da cabeça e a lançou aos pés de Ares. Depois tirou sua aljava e arco, os quais estendeu a Artemis. Com cada passo que dava se aproximava de Zeus. tirou uma
peça de sua armadura e a atirou ao chão de mármore onde ressoou com força. Primeiro os antebraços, então as luvas, sua couraça e finalmente seu cinturão.
No momento em que chegou a Zeus, não levava nada exceto sua tanga marrom. Fechou suas asas e inclinou a cabeça em uma silenciosa saudação ao rei dos deuses.
Zeus amaldiçoou em voz alta antes de tirar um relâmpago de sua luva prateada e usá-lo para rasgar o rosto de Cratus.
Cratus provou o sangue quando seus olhos e rosto estalaram em dor aguda. Cobrindo o rosto com a mão, sentiu o calor do sangue de sua ferida emanando entre seus dedos.
-Como se atreve a vir aqui depois do que fez! Ninguém me ofende!
O posterior golpe o derrubou e o enviou rodando através do chão. O frio mármore arranhou sua pele e machucou seus músculos.
Foi parar aos pés de Apolo. Baixando o olhar com repugnância, o deus se mofou dele antes de afastar-se, fora da linha de fogo de Zeus.
Cratus limpou o sangue do rosto que gotejava de seu rosto ao chão antes de ficar em pé.
Não foi longe. Zeus plantou seu pé sobre sua coluna e o manteve ali sobre seu estômago.
-Me desobedeu. Quero que rogue por minha piedade.
Cratus sacudiu a cabeça em negação.
-Eu não rogo por nada.
Zeus o chutou e mandou um luminoso relâmpago lhe atravessando o ombro e lhe cravando ao chão.
Cratus gritou ante a aguda agonia que pulsava com cada batida de seu coração.
-Você, cão insolente. Se atreve a me desafiar inclusive agora?
-Eu não... -Suas palavras se romperam em um uivo quando Zeus incrustou outro relâmpago em seu flanco e depois em seu outro ombro. Curvando os lábios, Zeus retrocedeu. Passou um imperioso olhar ao
redor dos deuses congregados.
-Há alguém entre vocês que fale a favor deste desafiante verme?
Com seu olho são, Cratus olhou a seus irmãos.
Um por um, voltaram-se. Hera, Afrodite, Apolo, Atena, Artemis, Ares, Hefestos,
Poseidón, Demeter, Hélio, Hermes, Eros, Hipnos... etc. Mas as que unicamente lhe doeram foram as de sua mãe e sua irmã, Bia.
Elas deram um passo atrás e afastaram o olhar, envergonhadas.
Então era isso.
Em seu coração, sabia que Nike teria falado em seu favor. Mas ela tinha feito o que lhe tinha pedido e ficou para trás.
Zeus o perfurou com outro relâmpago que deveria haver machucado mais se seu corpo tivesse sido capaz de sentir mais dor.
-Parece que aqui não importa a ninguém.
Que grande surpresa. Cratus riu, cuspindo sangue, quando recordou o dia em que tinha obrigado Hefestos a encadear Prometeo a uma rocha para seu castigo eterno. O deus tinha resitido a cumprir suas
ordens e tinham chamado Cratus por sua desumana obediência às ordens de Zeus.
Cratus por sua vez se burlou da pusilânime compaixão do Hefestos. Havia dito ao deus que era melhor ser o carrasco que a vítima.
Agora era sua vez de sofrer. Não se surpreendia que ninguem falasse com ele.
Não merecia nada melhor.
Zeus o levantou do chão pela garganta. Todo seu corpo estava intumescido pelo palpitante relâmpago que ainda perfurava sua carne. Cratus não podia fazer nada exceto ficar olhando ao pai dos deuses.
-Recolherá suas armas e lutará por mim?
Cratus negou com a cabeça. Nunca serviria outra vez como um cão estúpido que obedece cada capricho de seu amo.
-Então sofrerá por toda a eternidade e me rogará cada dia por minha misericórdia.
CAPÍTULO 1
Nova Orleáns, 2009.
6000 anos depois antes... Difíceis (Ponha ou tire alguns séculos).
Delphine se deteve para conseguir se orientar, olhou ao redor dos velhos edifícios com balcões de ferro ou grades de madeira profusamente trabalhados, muitos dos quais tinham toldos sobre as janelas.
Que cidade tão estranha... mas claro, não estava acostumada a estar no reino mortal, salvo através dos sonhos humanos. O mundo real dos humanos parecia totalmente diferente.
Este lugar extremamente ruidoso e brilhante a desconcertava. Por não mencionar o horrível aroma de algo que, pensava, poderia ser algum tipo de esterco...
Deu um salto quando um som forte e dissonante a assustou, enquanto um carro passava a toda velocidade.
Phobos a agarrou pelo braço e com um puxão a colocou junto a ele sobre a desigual calçada.
-Tome cuidado. Se um carro te atroplelar, a machucará.
-Sinto muito. Não estava prestando atenção.
Ele assentiu antes de olhar ao longo da rua, onde vários carros estavam estacionados diante de uma fila de edifícios que estavam muito próximos entre si, ela se perguntava se não compartilhariam uma
parede.
-A oficina deve ser aquela de lá.
Ela olhou para onde estava apontando. Landry´s Garage, Detalhes e Reparações.
-Tem certeza de que ele está ali?
Phobos a dedicou um olhar zombador.
-Sua presença não é o que está em dúvida, e sim como nos receberá. Teremos sorte se não nos estripar mais rápido que Noir.
Tirou com a mão um pouco de suor da face. Mas foi substituído rapidamente por mais. Nunca tinha estado em um lugar tão quente em sua vida. Pobre Phobos, toda a sua roupa era preta, não é que estivesse
apropiadamente vestida tampouco. Via-se tão sufocado pelo calor quanto ela. Sempre lhe tinha considerado como um dos deuses mais atraentes com seu excepcional cabelo negro e feições marcadas.
Alto e ágil, movia-se rápida e correntemente. Algo que aterrorizava a seus inimigos e o fazia terrível na luta. Seu trabalho era inspirar temor, e houve um tempo no qual ele e seu irmão gêmeo, Deimos,
tinham causado estragos nos antigos campos de batalha. Em séculos mais recentes, converteram-se em guerreiros para as Fúrias, castigando a quem contrariava aos deuses.
Até há dois dias, quando tudo tinha mudado...
Tremeu com a lembrança. Embora não devesse sentir nada, seu estômago ainda se embrulhava pelo horror que tinha presenciado. Ainda tentavam juntar as peças de seu mundo depois do perverso ataque de
Noir.
-Novamente, como fomos escolhidos para isto? -perguntou ela.
-Não estávamos ali quando Zeus o desterrou e, portanto, não deve nos odiar tanto quanto odeia aos outros deuses. -soprou burlonamente- O mais importante, é que formamos parte dos poucos que não foram
nem presos, nem mortos.
Isso era tão reconfortante...
Não, absolutamente.
E não significava que Cratus lhes escutasse, ou que se importasse realmente em ajuda-los.
-Acha que teremos uma oportunidade?
-Como um bloco de gelo no Equador. Mas Cratus tira seus poderes da mesma Fonte Primitiva de que nasceu Noir. Sem ele em nossa equipe, estamos completamente fodidos.
Ainda não estava segura a respeito de tudo isto. Zeus os tinha enviado aqui para rogar um favor a um antigo deus que provavelmente lhes estriparia assim que aparecessem. Ela nunca tinha conhecido
Cratus, mas sua desagradável reputação era legendária.
Não tinha piedade de ninguém.
Sua brutalidade só tinha sido igualada por seu fanatismo e sua decidida determinação. Embora Zeus tenha tirado seus poderes de deus, outros deuses continuavam temendo-o. Que por si só, dizia tudo
sobre sua personalidade "vitoriosa". O mesmo Hefestos a havia avisado que não se podia raciocinar com Cratus.
O homem estava zangado e era anti-social.
E isto era antes de que seu castigo o tivesse conduzido à loucura.
-Tem certeza que não há nenhuma outra maneira?
As feições de Phobos se obscureceram.
-A metade de seus irmãos estão mortos, e cada vez que os meus saem do esconderijo,conseguem que os chute de volta à Idade da Pedra. Acredite em mim, me arrastar sobre meu estômago para este idiota
é a última coisa que quero fazer.
Mas era um mal necessário.
-Zeus é quem deveria estar fazendo isto -se queixou ela, enquanto limpava o suor da face.
Phobos soprou.
-Quer dizer isso a ele?
Dificilmente. O pai de todos os deuses não tolerava que ninguém lhe fizesse perguntas.
Ela o olhou com os olhos entrecerrados.
-É sua brilhante ideia, Phobos. Lidere a marcha.
-O que acontece com você? Assustada?
Ela lhe dedicou um desagradável sorriso. Devido a seu sangue meio humano, tinha mais emoções que a maioria de seus irmãos DreamHunter, mas eram sórdidas em comparação com as humanas.
-Se fosse capaz de odiar, provavelmente, o odiaria.
Ele expulsou o fôlego bruscamente através dos dentes.
-Sabe, consegue-se o melhor sexo com uma mulher quando está zangada e o odeia.
-Como se alguma vez tivesse tido relações sexuais com uma mulher. Como poderia sabê-lo? -deu um suave empurrão em seu ombro para fazê-lo avançar- Estamos em uma missão, Dolophonos. Recorda que se
falharmos, seu gêmeo morre.
-Acredite em mim, não o esqueci. -Cruzou a rua decididamente.
Delphine o seguiu A pesar do mau pressentimento que não podia espantar. Isto não ia sair bem. Sabia.
Entraram no escritório da oficina para encontrar-se com uma menina pequena que fazia ganchos de ferro sobre uma folha de papel e a uma mulher em torno dos trinta anos que se inclinava sobre uma sovada
escrivaninha de metal. A mulher era bastante bonita, com pequenos olhos marrons e o cabelo negro. Seu sorriso era brilhante quando os olhou.
-No que posso ajudá-los?
Phobos passou ao lado de Delphine para aproximar-se da escrivaninha.
-Procuramos um sujeito chamado Cratus.
-Não conheço ninguém com esse nome. -disse franzindo o cenho-Sinto muito. Possivelmente esteja na oficina que há ao final da rua.
Phobos coçou a cabeça, evidentemente tão desconcertado quanto Delphine.
-Tenho certeza de que trabalha aqui, nesta garagem. Acreditem, minhas fontes são infalíveis.
A menina limpou o nariz e empurrou seus óculos com os nós dos dedos.
-Perderam a seu amigo, Mami?
-Faz seus deveres, Mollie. -Voltou sua atenção de novo a Phobos- Olhe, realmente sinto muito, mas nunca escutei o nome do Cratus antes. Estou trabalhando aqui há cinco anos e lhes asseguro que nenhum
de nossos rapazes se chama assim. Não é exatamente um nome que se esqueça verdade? -O telefone começou a soar. Pôs a mão sobre ele- Há algo mais que possa fazer por vocês?
-Não -Phobos observou através do comprido vitrô que separava os escritórios da zona da garagem para os homens com macacões de serviço que estavam trabalhando em vários carros.
Delphine seguiu seu exemplo e congelou quando viu o homem que procuravam.
Santo deus...
Ninguém poderia ignora-lo.
Por tudo era filho do deus da força e da guerra... Aquele formidável poder emanava por cada poro de sua pele. Ultrapassava o metro oitenta e três de estatura, estava constituído por músculos bem definidos.
Enquanto ela o olhava, ele limpou a graxa das mãos em um pano azul escuro. Seu macacão de trabalho estava aberto e as mangas estavam amarradas ao redor da magra cintura, deixando seu torso coberto por
uma camiseta tanque negra que só enfatizava mais sua musculatura. Tatuagens negras tribais decoravam ambos os braços dos pulsos até os ombros.
Mas era seu rosto o que a fez ofegar. Nunca tinha visto um homem tão incrivelmente bem feito, apesar da cicatriz irregular que percorria todo o lado direito de seu rosto, do nascimento do cabelo até
o lóbulo da orelha. Seu olho direito estava coberto com um emplastro negro dando profundidade à cicatriz, ela se perguntou se teria perdido completamente o olho como conseqüência da ferida.
Entretanto, de maneira nenhuma lhe subtraía beleza. Em todo caso, acrescentava-lhe. O cabelo negro como o azeviche estava suarento e ligeiramente encaracolado ao redor de um rosto cinzelado como o
aço e sombreado com uma barba incipiente.
Um poder feroz emanava de cada polegada dele. Forte e mortifero, você podia vê-lo em um campo de batalha, espada em mão, matando e mutilando a seus inimigos, não preso em uma oficina, trabalhando
nos carros.
Era tudo o que tinha escutado dele e muito mais.
Que os deuses os ajudassem...
Se não os matasse a ambos, ela se surpreenderia.
Phobos jogou uma olhada por cima do ombro a Delphine.
-Ele definitivamente está aqui.
A secretária franziu o cenho enquanto pendurava o telefone e olhava a Cratus através do vitrô.
-Está procurando Jericho?
Phobos a olhou.
-Refere-se a Cratus.
Ela assinalou ao homem que Delphine comia com os olhos.
-É Jericho Davis. Está aqui a tão somente umas duas semanas. Tem algum problema com a lei ou algo do tipo? Se estiverem aqui para processa-lo...
-Não. Nada disso -Phobos lhe dedicou um sorriso quase encantado- Somos velhos amigos.
Ela entrecerrou os olhos com receio.
-Bom, se seu nome não for Jericho Davis, temos que saber. Landry é muito rigoroso sobre que o seu pessoal tenha uma conduta irrepreensível. Aqui não temos sentenciados ou escoria. Este é um negócio
respeitável, e temos a intenção de mantê-lo assim.
Phobos levantou as mãos.
-Não se preocupe, estou seguro que não é um criminoso. Só preciso falar com ele um minuto.
A secretária soprou.
-Pensei que havia dito que o conhecia.
-E conheço.
-Então como vai dirigir-se a um homem que é mudo?
Phobos dirigiu sua atenção a Delphine, que estava tão impressionada como ele por aquele descobrimente.
Certamente Zeus não teria sido tão cruel...
O que lhe passava? Estava louca? É obvio que o seria.
Doente pelo pensamento, Delphine olhou para "Jericho", que tinha a cabeça sob o capô de outro carro. O que lhe tinham feito exatamente? Zeus tinha arrebatado sua divindade, sua vida e parecia que
também sua voz e seu olho.
Obter sua ajuda parecia menos e menos provável a cada segundo.
-Fique aqui -disse Phobos enquanto agarrava o trinco da porta que separava o escritório da oficina.
Não havia nenhum problema. Ela preferia enfrentar a um leão raivoso que tentar pedir um favor a um homem que os deuses haviam fodido tão duramente. Por que na terra ou além dela, este homem deveria
ajuda-los?
Esperando o melhor, aproximou-se do vitrô para olhar Phobos. Fechou os olhos e se expandiu para o espaço para poder ouvir a conversação.
A loja estava cheia de ruídos mecânicos e do som da rádio tocando "Leve Your Life" de T.I. Vários dos homens conversavam e brincavam enquanto trabalhavam. Um deles cantava desafinando, enquanto introduzia
ar no pneu de um Jipe vermelho.
Phobos se deteve ante o Intrepid branco na frente do qual estava Cratus. Este elevou o olhar e seu rosto congelou um instante antes de que voltasse a baixá-lo para continuar trabalhando. Phobos se
aproximou mais.
-Temos que falar. -Cratus fez caso omisso- Cratus...
-Não sei o que você está fazendo aqui -disse um homem mais velho também vestido com um macacão que se deteve ao lado do Phobos-Mas perde seu tempo se tenta dirigir-se a Jericho assim. O rapaz não
pode falar -deu uma palmadinha no braço de Jericho- não que precise. Seu trabalho com os carros é mágico -olhou aos outros homens e sorriu- Tentam falar com o Jericho... -Mais risadas se uniram as de antes,
enquanto se dirigia para o Jipe onde o homem estava cantando.
-Jericho. -Phobos o tentou outra vez- Por favor, me conceda um minuto de seu tempo.
Se as olhadas pudessem matar Phobos estaria morto imediatamente. Jericho afastou a mão de um puxão antes de dirigir-se a outro carro.
Phobos lançou uma olhada a Delphine que deu de ombros em resposta. Ela não tinha nem idéia de como convencê-lo.
Suspirando, Phobos o seguiu.
-Vamos, eu...
Jericho virou sobre ele tão rápido que ela não se deu conta nem sequer que se havia movido até que teve arrojado a Phobos sobre o capô do carro e o prendeu nele com uma mão na garganta.
-Foda-se e morra, bastardo podre -grunhiu na antiga língua grega dos deuses enquanto golpeava com fúria a cabeça de Phobos contra o capô.
Cada mecânico que ouviu seu profundo grunhido se deteve observá-los.
-Diabos, -disse um alto e magro afroamericano- afinal pode falar. Alguém sabe que idioma é esse?
-Russo?
-Nah, acredito que é alemão.
-Cara, -disse um garoto mais jovem, puxando o braço do Cratus- vai amassar o capô e quando o fizer, descontarão de seu salário.
Grunhindo, Cratus afastou Phobos do capô, lançando-o como a uma boneca de trapos. Phobos percorreu a metade da oficina rodando antes de deter-se.
Com o semblante alterado, Phobos ficou em pé. Quando falou, contínuou usando seu idioma de modo que os humanos não pudessem entendê-los.
-Precisamos de sua ajuda, Cratus.
Enquanto passava ao lado de Phobos para retornar ao Intrepid, fez com que seus ombros se chocassem, provocando em Phobos uma careta de dor e que se esfregasse o braço.
-Cratus está morto.
-É o único...
Cratus grunhiu.
-Estão mortos para mim. Todos vocês. Agora, fora.
Delphine projetou seus pensamentos a Phobos.
-Deveria entrar?
-Não. Não acredito que isso ajude. -Phobos se dirigiu a Cratus- O destino do mundo está em suas mãos. Não se importa?
O selvagem olhar que Cratus lhe dirigiu disse que não. Bom isso, e que podia ir ao Tártaro e apodrecer.
Delphine suspirou. O que iam fazer agora? Eles precisavam do deus da força. Alguem que pudesse dirigir o poder da fonte primitiva para combater ao mais perverso dos seres. Sem Cratus, não havia oportunidade
de ganhar de Noir e seu exército de Skoti.
O mais velho dos homens caminhou para Cratus.
-Assim, finalmente, de que país é?
Cratus o ignorou e voltou a trabalhar em silêncio.
Phobos se moveu até se colocar a seu lado.
-Zeus está disposto a te perdoar pelo que fez. Oferece de volta sua divindade. Toda ela. Precisamos de você.
Quando Cratus ainda se negou a responder, Phobos deixou escapar um suspiro de frustração.
-Olhe, entendo por que está fodido. Mas a vida de meu irmão está em jogo aqui. Se não me ajuda, Noir o matará.
Cratus nem se alterou.
A Phobos começou a palpitar um músculo da mandíbula.
-Bem. Quando o mundo e seus habitantes estiverem mortos, recorda que é o único que poderia ter evitado isso.
Cratus continuou ignorando. Phobos se virou e se dirigiu para ela.
Delphine esperava que Cratus o reconsiderasse e detivesse Phobos. Mas realmente parecia querer dizer o que havia dito. Não lhe importava.
Inclusive ela, que não tinha nada mais que emoções amortecidas, parecia ter mais que as manifestadas por este homem.
-Estamos mortos -disse Phobos em um tom grave quando se aproximou dela- Talvez devessemos reunir outra equipe antes de nos convertermos em picadinho.
Delphine pousou um esperançoso olhar para o homem na oficina.
-Talvez eu deveria tentá-lo.
Ele negou com a cabeça.
-Não há maneira de chegar a ele. Não ajudará.
-Esta noite posso tentar contatar com ele em seus sonhos. Assim não será capaz de fugir de mim. Ele não disse que não, mas seu olhar expressou o que pensava sobre que estava perdendo tempo.
-Quer apoio?
-Acredito que serei mais eficaz sozinha.
Phobos bufou.
-Boa sorte. Se precisar de mim, estarei à espera.
Delphine voltou a olhar Cratus. Estava trabalhando, mas ela viu agonia em seu olho. Era tão profundo e penetrante que sentiu dor por ele...
Como estranhava ter esses sentimentos. Mas não significava nada. Tinha uma missão que cumprir.
Verei-te esta noite. E definitivamente não tinha nenhuma intenção de falhar.
Jericho se deteve quando viu a graxa em sua mão, cobria a tatuagem que fez para ocultar as palavras de condenação que sua própria mãe tinha gravado a fogo em sua pele por ordem de Zeus. Velhas lembranças
o atravessaram de novo, quando pensou na maneira em que os Olímpicos se voltaram contra ele.
E tudo porque se negou a assassinar a um recém-nascido. Fechando os olhos, recordou aquele momento muito claramente. A pequena choça... os gritos da deusa que lhe rogava misericórdia.
-Mate a mim, não a meu bebê, por favor! Pelo sagrado Zeus, o bebê é inocente. Farei qualquer coisa.
Tinha agarrado ao menino, com a plena intenção de cumprir com seu dever. O pai do pirralho se aproximou pelas costas. Mas o deus do sofrimento, Dor, tinha-o atacado e reduzido junto à deusa que tinha
tentado desesperadamente salvar a sua família.
O único pecado daquele bebê tinha sido seu nascimento.
E quando olhou à pequena e confiante carinha e o bebê lhe sorriu, inconsciente do que ocorreria, vacilou.
-Mate-o -grunhiu Dor.
Cratus colocou a adaga em sua garganta com a intenção de fatiá-la. Rindo, o bebê se estirou para lhe alcançar, seus olhos brilhando com fogo e deleite quando seus diminutos dedos rodearam seu enorme
mão.
Então tinha feito a única coisa que podia fazer. Tinha usado seus poderes para pôr a dormir ao bebê, logo o escondeu e o deu a uns camponeses para que lhe criassem.
Um momento de compaixão.
Uma eternidade de vergonha, abuso e degradação.
Agora se atreviam a lhe pedir um favor depois de tudo o que lhe tinham feito. Eles lhe tinham jogado fora de suas mentes.
E ele havia feito o mesmo.
-Hey, homem -disse Darice, aproximando-se dele- por que alguma vez nos disse que podia falar?
Porque se falava com Darice poderia dar lugar a uma amizade. E se cometia esse engano, Darice estaria morto antes que ele. Brutalmente e sem piedade.
Zeus lhe tinha tirado tudo.
Assim enquanto ignorava a Darice tirou o alternador que precisava ser reparado.
Darice fez um som de desgosto.
-Como quer. Suponho que é muito bom para te relacionar com o resto de nós.
Era melhor que pensasse isso. É muito mais fácil que tratar de dar explicações sobre uma verdade que nunca aceitaria. Estava sozinho neste mundo. Como sempre.
Darice se dirigiu à Toyota no qual tinha estado trabalhando. Paul e ele brincavam com naturalidade enquanto limpavam a fundo o radiador e os cabos.
Jericho tinha retirado o alternador quando uma sombra caiu sobre ele. Procurando, encontrou ao dono da oficina, Jacob Landry. Baixo e rechonchudo, Landry tinha o cabelo grisalho com entradas e um
par de ávidos olhos azuis.
-Ouvi que aqui houve alguns problemas contigo.
Jericho negou com a cabeça.
-Um...hmm. Charlotte também me disse que pode falar. É certo?
Assentiu.
-Moço, por que me mentiste? Disse quando o contratei que não queria idiotices. Se quer trabalhar aqui, vem a tempo completo, e guarda sua vida pessoal em casa e não me vem com problemas e mentiras.
Compreendido?
-Sim, senhor. -disse enquanto tratava de manter a hostilidade fora de sua voz. Odiava ter que arrastar-se de bunda só para poder comer- Não voltará a acontecer de novo, Senhor Landry. Eu prometo.
Landry deu uma palmada brusca em seu ombro.
-Melhor que seja assim.
Jericho apertou a chave que tinha na mão, querendo dar a Landry uma amostra do que era capaz de fazer. Houve um tempo em que teria estripado a quem lhe falasse assim. E muito menos, se o tocavam sem
permissão antes de que sua vida humana tivesse começado, todos os que entraram em contato com ele tremeram por temor a sua força e severidade.
Landry era um idiota. Desfrutava do minúsculo poder que tinha sobre as pessoas que trabalhavam para ele. Só se sentia bem quando os fazia se arrastar para conseguir seu sustento.
E tanto como isto fodia, Jericho necessitava o trabalho. Enquanto o mundo se fazia mais moderno, era mais difícil e mais difícil encontrar gente que fizesse cartões de identificação falsas por um
preço razoável e quem estivesse disposto a deixá-lo viver de aluguel.
A outros imortais se permitia acumular riquezas, mas isso também, lhe tinham negado. Cada vez que tratava de guardar um só dólar, Zeus o tirava. Uma catástrofe atrás da outra.
Assim tinha sido sua existência durante tantos séculos que já nem sequer se incomodava em contá-los.
Não tinha nada e nunca voltaria a ter nada. Nem sequer a dignidade.
Suspirando, voltou para trabalho, odiava a si mesmo e esta vida.
Pode muda-la...
Tinha que ser grave para que Zeus enviasse alguém para pedir sua ajuda.
Poderia ser de novo deus...
O sonho do pensamento o atormentou. Era tentador, exceto por uma coisa. Teria que tratar com os mesmos seres que lhe tinham dado as costas e o tinham deixado neste patético estado.
Cada um desses bastardos o tinham ignorado.
Cada um deles.
Ou pior ainda, tinham-lhe torturado.
Cada noite. Durante milhares de anos, os Dolophoni -os filhos das Fúriase os deuses dos sonhos o tinham visitado e matado. E cada manhã, ressuscitava para viver esta miserável existência que tinha
abandonado a noite anterior.
Uma e outra vez. Sangue e violência. Não importava quão duro tentasse lutar contra eles, não tinha poderes para usar. Desfrutavam golpeando-o e martirizando-o para maximizar a dor em sua condenação.
Todos os órgãos de seu corpo lhe tinham sido arrancados tantas vezes que a dor se gravou a fogo em seu DNA. Temia a chegada da noite e o horror que indevidamente chegaria.
Justo ontem de noite, dois deles lhe tinham arrancado o coração... Outra vez.
Ao final do dia, nunca esqueceria o que lhe tinham feito. Assim que... O que lhe importava o perigo que corria o mundo? Se o mundo acabava, ao menos teria um pouco de paz.
Possivelmente esta vez permaneceria morto realmente.
Delphine retornou ao Olimpo para poder passar o resto do dia investigando para seu último objetivo. Durante horas, tinha-o observado trabalhar em solidão. Enquanto que os outros homens brincavam e
riam entre si, ele se continha. Amargamente sozinho. A cada certo tempo, observava-o olhar aos outros e seu companheirismo com um brilho de nostalgia tão potente que a fazia sofrer.
Ignoravam-no como se fosse invisível.
Às seis e meia, asseou-se depois que os outros tivessem terminado e partido. tirou o macacão e o meteu em uma mochila negra que jogou sobre o ombro e se dirigiu a uma motocicleta do velho estilo.
Deteve-se brevemente em um pequeno supermercado da esquina, onde agarrou uma barra de pão, salada de frango temperada, um livro e um pacote de seis cervejas. Sem falar com uma só pessoa, pagou, colocou
tudo na mochila e foi para casa, um diminuto apartamento de um quarto. O lugar estava destroçado, havia gretas, inclusive no centro do chão de linóleo. Ela se perguntou como o edifício não caía sobre ele.
Era a coisa mais deprimente que jamais tinha visto.
Não havia móveis de nenhum tipo. Nenhuma só peça, nem sequer uma televisão ou computador. Velhos lençóis usados penduravam das janelas como cortinas, e sua cama era só uma desgastada manta no chão
com um travesseiro que estava tão velho e esmagado, que melhor seria se não tivesse nada. Perto disto, havia um adicional par de sapatos, um pequeno montão de roupa e uma velha jaqueta de algodão.
Isso era tudo.
Seu coração sofreu enquanto o observava abrir uma cerveja, logo lavar o macacão na pia antes de pendurá-lo para secar no desmantelado banheiro. Passando suas mãos por seu cabelo negro, retornou à
cozinha sem fogão, onde somente havia uma suja geladeira, para fazer um sanduíche com o pão que se esmagou na mochila. Comia em silêncio enquanto que sentado na manta de dormir, lia seu livro.
De vez em quando, levantava o olhar espectador ante qualquer súbito som. Uma vez que estava seguro que não era nada, retornava à leitura.
Exatamente depois da meia-noite, suspirou e olhou fixamente ao teto.
-Onde diabos estão, idiotas? Têm medo ou algo assim?
Esperou, como se realmente esperasse uma resposta. Manifestadamente furioso, pôs o livro no chão e tirou a camiseta mostrando um peito cheio de horrorosas cicatrizes. Poderia-se pensar que eram feridas
de batalha, mas eram tão irregulares e rasgadas que pareciam como se seus órgãos vitais tivessem sido brutalmente arrancados de seu corpo.
-Bem -disse ele, com um tom cheio de indignação-, simplesmente não deixem o lugar destroçado. Estou cansado de ter que limpar o sangue a primeira hora da manhã e não fodam meu livro. Por uma vez queria
terminá-lo- Apagou as luzes e foi dormir.
Só e em completa solidão.
Com quem tinha estado falando?
Tinha perdido a cabeça desde seu castigo... Hefestos lhe tinha advertido a respeito de seu delicado estado mental. Obviamente, o deus tinha razão.
Delphine se sentou na escuridão, esperando que Cratus alcançasse o estado de sonho, coisa que lhe estava tomando muitíssimo tempo, já que parecia que lutava para não dormir. Era como se estivesse
esperando que alguém o atacasse e queria estar alerta quando o fizesse.
Enquanto esperava, tudo o que queria fazer era consolá-lo e nem sequer entendia o por que. Nunca havia sentido uma compulsão como essa antes.
Provavelmente, porque sabia o que era sentir-se marginalizada do mundo, não tanto como o estava ele, mas ainda recordava os desolados sentimentos de sua antiga vida. Como uma moça, tinha vivido entre
os seres humanos e se havia sentido como uma deles. Mas inclusive então tinha sabido que algo não era correto nela. Nunca sentiu as emoções como o faziam os humanos.
Não foi até sua adolescência que seus poderes se manifestaram completamente. Tinha tido tanto medo da rejeição e hostilidade de sua família e amigos, que os havia mantido ocultos e não tinha comentado
com ninguém nada sobre seus vívidos sonhos e atemorizantes poderes.
Até que o DreamHunter, Arik, tinha aparecido em seus sonhos e lhe explicou quem e o que era ela realmente. Explicou-lhe que sua mãe tinha sido seduzida por um Deus dos Sonhos, dando lugar a seu nascimento.
A partir desse dia, devia sua própria prudência a Arik. Só ele a tinha explicado como os Oneroi os deuses do sonho tinham sido criados para ajudar à humanidade em seus sonhos. Noite atrás noite, tinha-a
visitado, treinando-a até que teve controle completo de seus poderes. E uma vez que ela foi capaz de canalizá-los, levou-a a Ilha Desvanecida, onde viviam os de sua classe, e a tinha apresentado aos outros
deuses.
Eram amigos desde fazia séculos.
Ainda quando Arik, eventualmente, converteu-se em Skoti, diabólicos deuses do sonho que caçavam aos humanos enquanto dormiam, sentia-se muito agradecida por seu guia. Tanto que nunca o tinha açoitado
para lutar contra ele como tinha feito com outros Skoti.
Mas Cratus não tinha a ninguém que o protegesse...
Um fato que se manifestrou brutalmente um instante depois, quando o ar ao redor dele girou. Delphine começou a entrar, mas um sentido interno lhe disse que não o fizesse.
Algo mau estava a ponto de acontecer.
Ela podia sentir a maldade nisso. O feroz poder desceu por sua coluna vertebral, dolorosamente, e a congelou no lugar.
Em uma piscada, uma das mais mortais de todas as criaturas, materializou-se sobre sua adormecido forma. A primeira vista, Azura parecia pequena e frágil. Mas as aparências eram mais que enganosas.
O puro coração do mal, ela era mais mortal que qualquer criatura à exceção de seu irmão e irmã. Sua pele era azul, refletindo a dura frieza de seu coração. Seu cabelo, olhos, pestanas e lábios eram brancos
como a neve. Vestida com uma blusa e calças de couro, ajoelhou-se ao lado de Cratus.
Delphine tentou teletransportar-se ao interior, mas não pôde.
Azura olhou por cima do homem e sorriu como se soubesse que Delphine podia vê-la.
-Todos vós perecerão. -disse brandamente antes de alcançar e tocar Cratus no braço.
Ele despertou, preparado para a batalha.
Azura esquivou suas mãos.
-Acalme-se, Titã. Não estou aqui para te machucar.
Cratus se congelou quando se encontrou ante a presença de um dos deuses originais do universo. O único problema era que ela era maldade concentrada. De acordo, não era tão sinistra como seu irmão
Noir ou sua irmã Braith, mas apostaria seu dinheiro a que tinha uma boa porção.
-O que está fazendo aqui?
Ela sorriu.
-Sabe por que estou aqui, bebê. Vim para te fazer uma oferta que não vai querer recusar.
Ele fez uma careta de desprezo.
-Não estou interessado em brigar pelos deuses.
Ela o acariciou gentilmente o rosto.
-Doçura, subestima-nos enormemente. -deixou cair a mão sobre seu braço.
Cratus vaiou de dor enquanto as palavras que sua mãe lhe tinha colocado aí o queimavam como fogo. A agonia era tão grande que não podia mover-se. Não podia respirar. Desejava empurrá-la longe, mas
inclusive isso era impossível.
Ela sussurrou na primeira linguagem do universo e enquanto o fazia, ele sentia sua vontade desvanecer-se. Sua vista obscurecer-se.
Então a dor se foi e seu coração esteve tão vazio como a pocilga que chamava lar.
-Nos siga Cratus e servirá à mão direita dos mestres. Ninguém será capaz de te converter novamente.
Queria dizer que não, mas a parte de seu coração que resistia estava fechada e selada. Em seu lugar, viu todos os séculos de seu sofrimento. Sentindo todas as degradações pelas quais tinha passado,
começando por Zeus prendendo-o no chão com seus raios de poder.
Como o filho de Guerra e Ódio, desejava vingança.
Não, queimaria-se pela vingança.
-Vêem comigo, Cratus e faremos com que Zeus rogue por sua misericórdia.
"Vivo em um mundo onde se algo parecer muito bom para ser verdade, sempre é."
Dedicou-lhe um doce e calmo sorriso.
-Esta vez não. Terá todo o poder que deseja. Todo o dinheiro que possa imaginar. Não mais inclinar-se ante um chefe que despreza. Não mais ser torturado no plano humano. Não mais ter que lutar com
os deuses que lhe amaldiçoaram por isso. -se inclinou para frente para sussurrar em seu ouvido- Vingança...
Vingança.
Ela roçou seu rosto com a sua mão.
-Toma minha mão, Cratus e o levarei longe desta miséria, para um lugar onde nunca desejará nada mais.
Não o faça. Havia algo mais do que ela dizia. Sempre havia. Dentro de si, ele sabia, e mesmo assim, enquanto jazia aí, tudo o que via era o passado. O interminável ciclo de miséria que Zeus lhe tinha
dado.
Se não havia mais nada, pelo menos Azura o mataria e o tiraria do sofrimento.
Não tinha nada pelo que viver. Nada.
Morrer era fácil. Tinha feito isso cada noite durante milhares de anos. Mas para ter um minuto livre do que tinha sido sua vida...
Ele aceitaria.
Com um profundo olhar sobre ela, assentiu.
-Sou teu.
Rindo, Azura tomou sua mão.
-Então vêem, meu precioso guerreiro. Vamos lançar fogo e destruição nos Olímpicos e nos humanos. A guerra final começou.
CAPÍTULO 2
Delphine se virou para trás com horror. Tentou se transportar da melhor maneira possível à habitação de Cratus para detê-los.
Não pôde. Azura a tinha bloqueado e nada podia fazê-la entrar.
-Não! -Gritou. Mas era muito tarde. Tinham desaparecido do apartamento, e agora ele estava nas mãos da maldade definitiva.
O que fizeram?
Como podia ter acontecido isto?
Mais que nada, por que não tinha podido impedir que acontecesse? Não teria que haver esperado até que fosse dormir. Deveria ter feito com que soubesse que estava ali e ficar sem importar os protestos.
Teriam que estar observando-o até que se rendesse.
Mas isso não tinha sentido. Seria, poderia, deveria, não mudava o fato de que Cratus agora lutava contra eles.
Maldição.
Havia só um pequeno punhado de deuses que poderia atrair o poder da Fonte e a maioria já tinham desertado para o lado de Noir. Dos que ficavam do seu lado, nenhum podia igualar as habilidades de Noir.
Só Cratus teria sido suficientemente forte para brigar contra eles. Pior, agora teria que enfrentar a Phobos e Zeus com seu fracasso.
Teria sorte se não a matavam.
Mas não era uma covarde. As coisas se complicaram e precisava informa-los o mais breve possível, assim poderiam preparar-se adequadamente para a guerra que se aproximava.
E sua inevitável derrota.
Olha pelo lado bom. Provavelmente estaria morta em poucos minutos em vez de prisioneira por toda a eternidade.
Tragou com força, o que queria era fugir e esconder-se. Encontrar um lugar seguro no mundo.
Se só pudesse. Mas agora não havia segurança. Noir e Azura tinham retornado e não se deteriam até ter a todos encarcerados.
Até que tivessem conquistado o mundo dos homens.
Seu coração retumbava com medo, abandonou a pequena habitação para viajar ao Olimpo. Para o Hall dos deuses, onde Zeus e os outros se reuniam normalmente a esta hora do dia para comer, fofocar e conspirar.
Como uma semideusa, ela, em sua maior parte, evitava este lugar. Nunca se tinha sentido bem-vinda ali. Os deuses tinham seus grupinhos e tratava de estar fora da linha de fogo, especialmente, dado que
muitos tinham terríveis problemas de ciúmes. Tinha escutado de deusas menores que se converteram em todo tipo de monstros pela única razão de que um dos deuses a havia olhado enquanto sua esposa estava
presente. Não queria converter-se em uma Gorgona, aranha deformada ou algo do estilo, Delphine tinha evitado o lugar a toda custa.
Até hoje.
Engolindo um medo que um DreamHunter não deveria sentir, Delphine empurrou as portas para ver três grupos de deuses reunidos ali. Apolo tocando sua lira, enquanto Afrodite e Ares compartilhavam um
tigela de ambrósia. Hermes estava com Atenas, jogando uma partida de xadrez com peças vivas em miniatura.
Zeus descansava em seu trono, enquanto Hera estava sentada a seu lado conversando com Perséfone. Era uma animada cena que odiava ter que perturbar.
Enquanto caminhava para frente, Phobos apareceu e a agarrou para detê-la.
-O que apareceu?
-Cratus desertou.
Poderia jurar que tinha sussurrado as palavras, mas todo som e atividade se detiveram no salão como se tivesse gritado.
Zeus se levantou lentamente, seus olhos flamejando com todo o peso da fúria. Alto e loiro, poderia ter sido muito bonito se não fosse por essa desagradável disposição e tendência a assassinar a todo
aquele que lhe produzira o menor desgosto.
-Não me diga que fracassou em trazer Cratus aqui.
Não, enquanto me esteja olhando assim, não lhe direi isso. Teve que morder a língua para não deixar escapar essa brincadeira. Dado seu humor, não seria exatamente amável, nem a compreenderia.
Os olhos do Phobos lhe advertiram que se mantivesse em silêncio, como se o necessitasse, antes de voltar-se para o Zeus para defendê-la.
-Um contratempo menor, meu Senhor. De verdade.
Isso não apaziguou ao rei dos deuses.
-Está disposto a tomar seu lugar debaixo de minha tocha?
-Devo fazê-lo?
Zeus gritou com ira.
-Não estou satisfeito com nenhum dos dois.
Enquanto Zeus começava a caminhar para eles, Nike deu um passo adiante.
-Meu Senhor? -Perguntou brandamente- Posso ter umas palavras com eles?
Olhou-a como se fora a ser a próxima coisa destroçada, justo depois de acabar com eles.
-Que seja muito curto.
Nike assentiu antes de descer do podio onde o trono do Zeus estava situado. Apolo lhe bufou, mas não lhe prestou atenção enquanto caminhava até o lado do Delphine.
Nike a atraiu mais perto dela.
-Me diga o que aconteceu.
De novo, Delphine falou no mais tranqüilo dos tons.
-Azura o convenceu antes de que eu pudesse. Prometeu-lhe liberdade e vingança se se unisse a eles.
Zeus amaldiçoou.
-Teria que matar aos dois por isso.
Nike ficou em frente de Delphine.
-Meu Senhor, por favor, me permita. Sou a deusa da vitória, e Cratus é meu irmão.Acreditem em mim, se houver alguém nesta habitação que sabe como chegar até ele e influenciá-lo, sou eu.
Zeus curvou seus lábios.
-Então, influencia-o, mas isto não tem nada nada a ver com suas vidas.
Lançou um malévolo olhar para Phobos e logo a Delphine.
A Delphine definitivamente não gostava para onde as coisas estavam se encaminhando, e o que queria era escapar da furiosa desaprovação de Zeus. Também teve que tragar a pergunta de por que Nike, para
começar, se amava tanto a seu irmão, não se oferecia.
Mas o ponto disto era salvar sua vida, não provocá-los para que a matassem.
-O que meu irmão precisa, eu não posso dar.
Nike lançou um fixo olhar a Delphine.
-Ela pode. Nos dê uma oportunidade, meu Senhor. Sei que podemos ganhar sua lealdade.
A fúria do Zeus se intensificou até que Delphine esteve segura de que cairia sobre ela.
Mas depois de alguns horrendos segundos, cedeu.
-Uma oportunidade é tudo o que têm. Azura e os outros matarão aos reféns em duas semanas e logo virão atrás de nós. Têm doze dias para convencê-lo ou matá-lo.
Delphine sacudiu sua cabeça ante essa ordem.
-Cratus não pode ser assassinado.
Zeus riu amargamente.
-OH, sim, pode. Ainda se seus poderes fossem restaurados em sua plena potência, apunhalem no coração e morrerá.
Delphine franziu o cenho.
-Como?
O orgulho na cara do Zeus lhe caiu mau.
-Seu coração imortal foi arrancado do peito quando o expulsei daqui, e o que tem agora é um frágil coração humano. Crava-o e morrerá, simples e singelo. Não haverá ressurreição para ele na manhã como
a houve no passado.
Viu um brilho de dor nos olhos do Nike.
-Vêem comigo, Delphine.
Delphine seguiu à pequena deusa até as portas que levavam a balcão com vista para a cascata de arco-íris e à folhagem verde e espessa que rodeava o salão. Quando Phobos tentou segui-las, Nike o enviou
de volta para dentro.
-Isto não é para você, Phobos. Por favor, compreenda.
Inclinou a cabeça antes de retornar para dentro e fechar as portas atrás dele.
No momento em que estiveram sozinhas, Nike levou a Delphine ao canto mais afastado do balcão antes de lhe falar em um tom muito baixo.
-Sabe o que está em jogo assim não vou repetir o mesmo. Mas o que desconhece é que existe uma parte de meu irmão da qual só eu estou ciente. Ambos estamos unidos porque me protegia de nossos pais,
e o adoro por isso. É um bom homem, mas não é fácil encontrar essa parte que mantém muito dentro e o que era antes de seu castigo. Tem que recordar que é o filho do Ódio e Guerra, e essas duas coisas são
como leite materno no que a ele concerne. É o que faz melhor.
Delphine não entendia o que isso ver tinha a com sua missão. Seu nascimento não lhe importava, só sua rendição.
-E como posso derrotá-lo?
-Não pode. Não se tiver sua força completa. Essa é a pura verdade. Nosso próprio pai tratou de destrui-lo quando alcançou a maturidade, e Cratus lhe deixou uma lembrança de sangue pelo esforço. A
única razão pela que Zeus pôde lhe fazer mal, foi porque não se defendeu. Se assim o tivesse feito, seria agora o rei dos deuses.
-Então vou ter que matá-lo.
-Não!
A ferocidade do tom fez que os olhos do Delphine se abrissem.
-Meu irmão não merece isso. Agora está sofrendo porque poupou a vida de um infante. Essas não são as ações de alguém inalcançável. Quando eramos crianças, recebeu muitas surras em meu lugar que ninguém
deveria sofrer. Não desejo que o mate. Desejo que me ajude a salvá-lo e trazer-lo de volta aqui onde pertence.
-Como?
Nike fez uma profunda inalação antes de responder com lágrimas nos olhos.
-Brigará e morrerá pora proteger o que ama. Até a tumba. Faz com que se preocupe com você mais do que se preocupa com a vingança, e se unirá ao nosso lado.
Isso era ridículo.
-Não o conheço e só temos uns poucos dias.
Era apenas tempo suficiente para assassiná-lo, não para tratar de seduzir a um homem que nem sequer conhecia.
-Por que não é você a que vai, dado que é seu irmão?
Nike negou com a cabeça.
-Não me escutará. Passou-se muito tempo e nunca fui vê-lo. Não em todos estes séculos. Só um, acredito, pode-o fazer. Freqüentemente é tudo o que se necessita. Cratus é a mais vingativa das pessoas
quando sente que foi prejudicado. Por isso deve seduzi-lo. Tem uma pequena quantidade de tempo, lembra, não sabia nada do infante que salvou e entretanto, arruinou sua vida por esse pequeno ser. Por favor,
Delphine. Por mim, trata de salvá-lo. É um grande homem, embora não seja perfeito. Como a deusa da vitória, sei que há uma só verdade acima de todas as coisas. Só poderá vencer quando seu coração é puro
e quando a vitória está motivada pelas razões corretas. Dê a ele uma razão para viver, lhe dê uma razão para lutar com toda sua força, e todos ganharemos com isso.
-E se não puder?
Seus olhos se tornaram ainda mais escuros enquanto deixava escapar um triste suspiro.
-Conhece a resposta, e sabe o que Zeus fará a vocês se falhar.
Delphine assentiu. Perderiam sem ele. Necessitavam de sua força e seus poderes para combater Noir e seu exército. E quanto a seu destino, seria afortunada se escapasse tão facilmente como o tinha
feito Cratus.
-Devo conseguir que Eros lhe dispare? Seria a maneira mais fácil de seduzi-lo.
Nike negou com a cabeça.
-Esses poderes não funcionam com o Cratus e tentar isso só o enfureceria. Acredite em mim, essa é a última coisa que quereria fazer. Deverá ser ganho honestamente.
OH, isso não ia ser fácil...
Não.
-Como posso seduzi-lo? Não tenho emoções.
-Isso não é verdade e ambas sabemos. -sussurrou Nike- Tem tudo o que precisa. Não é uma Oneroi completa. Ainda conserva um espírito humano e emoções dentro de si. Elas a guiarão.
Apertou-lhe ligeiramente o ombro.
-Agora vá e o conquiste.
Conquistá-lo. Fazia com que parecesse fácil. Mas enquanto Delphine a observava partir, tudo o que podia ver era sua própria condenação.
E a dos outros deuses que confiavam nela. Era impossível.
Phobos se uniu a ela no balcão.
-Está bem? Parece mais pálida agora do que quando Zeus ladrou para você.
Realmente, sentia-se mais doente agora. Mais atemorizada.
-Como se seduz a um homem?
Riu ante sua pergunta.
-Acho que me ofende que me pergunte isso. O que? Acha que tenho algum tipo de experiência nesse tema?
Lançou-lhe um cômico olhar.
-Estou falando sério, Phobos.
-Eu também-disse, ofendido- Seduzir homens não é exatamente algo em que tenha experiência. Nem é algo no que passe o tempo pensando.
Lançou um olhar a porta para assegurar-se de que estava completamente fechada. Quando falou, era apenas um audível sussurro.
-Talvez devesse perguntar a Zeus.
Pôs os olhos em branco. Se as histórias fossem certas, tudo o que uma mulher precisava para seduzir a Zeus era ser uma fêmea. Nem sequer tinha que respirar.
-Não é engraçado, Phobos. Preciso de ajuda com isto. Ajuda real. Do que gostam os homens?
-Isso depende do homem. Eu gosto dos seios. Uma boa dianteira me convence a fazer o que for. Inclusive coisas estúpidas.
Ela deixou escapar um grunhido frustrado.
-É tão ofensivo!
-OH, por favor -disse descaradamente- Tenho dez mil anos de idade. É afortunada de que não seja mais chauvinista do que já sou. Neném, percorri um longo caminho.
E não a ajudava o mínimo.
-Só vai embora.
Phobos vacilou como se não estivesse seguro de qual era o melhor que podia fazer.
Ela assinalou para a porta.
Ele levantou suas mãos rendendo-se.
-Está bem. Vou. Mas se precisar de mim...
-Prefiro arrancar meus olhos.
Tomou isso com um sorriso muito natural.
-Como a personificação do medo, Freqüentemente tenho esse efeito nas mulheres. Talvez devesse tentar trocar de lugar com Himerus1. Me disseram que as mulheres rasgam a roupa no momento em que aparece.
Definitivamente é melhor ser o deus da luxúria que do medo.
Sacudiu a cabeça ante sua superficialidade enquanto se encaminhava para dentro. Como desejaria poder parecer-se um pouco com ele. Nada parecia tocar a Phobos ou sacudi-lo. Honestamente, estava amedrontada,
e mesmo em silêncio, essa emoção era amarga.
Sozinha, olhou através do luxuoso jardim e considerou seu próxima curso de ação.
Cratus estava com seus inimigos...
E ela estava encarregada de seduzi-lo ou assassiná-lo. Que grande desafio.
Enquanto pensava em alguma maneira de aproximar-se Phobos reapareceu, sua expressão furiosa e preocupada.
-Os Skoti de Noir estão atacando o salão dos espelhos.
Agarrou sua mão e a teletransportou de volta à Ilha Desaparecida antes de que pudesse sequer piscar.
Sem dúvida, havia um grupo do Skoti destroçando os portais que usavam para controlar o sonho humano e unir-se aos adormecidos. Todo o salão de vidro estava em ruínas. Peças de cristal e espelho estavam
esparramadas por todo o chão enquanto um punhado de deuses do sonho tentava lutar com eles.
Delphine manifestou uma espada para atacar ao Skotos que tinha mais perto.
O Skotos riu.
-Quer brincar, garotinha?
Lançou-se para ele, lhe mostrando exatamente quão mortifera era. Apagando instantaneamente o sorriso de seu rosto. Era mortalmente precisa e tinha praticado toda sua existência para brigar com os
demônios que perseguiam os humanos enquanto dormiam.
Havia bem poucos Oneroi com mais talento que ela.
Phobos estava lutando com dois mais, tratando de proteger os portais restantes. Embora, tecnicamente, podiam fazer seu trabalho sem eles, não era nem remotamente tão fácil. Nem sequer eficiente. Os
portais tinham que ser salvos.
Justo quando Delphine estava por correr para seu oponente, alguém a agarrou por trás. Uma mão rude se aferrou a sua garganta, paralisando seu corpo inteiro.
Não havia nada aí a não ser uma profunda e escura névoa. A aura de maldade era tangível. Esse era Noir.
E estava em suas garras. Algo frio acariciou sua rosto um instante antes de que lhe voltasse a cabeça e a escuridão invadisse cada parte dela.
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1 Na mitologia grega, Hímero (em grego antigo .µe... Himeros, 'desejo' era a personificação da luxúria e o desejo sexual. Era filho da Afrodite, que tinha nascido da espuma do mar grávida dele e
de Eros, o deus do amor. Era representado como um jovem alado, igual a ao resto dos Erotes, e com freqüência acompanhado de Eros e Poto, deuses do amor e do desejo.)
Azura riscou um pequeno círculo ao redor de Jericho enaqunto sorria orgulhosamente.
Fechou os olhos, deixando que o poder da Fonte o enchesse de novo. Tinha passado tanto tempo.
Muito tempo...
Estava completo uma vez mais, e se sentia incrível. Como tinha sentido falta disso. A visão e o aroma de seus poderes. A sensação que o percorria como fogo vivo. Flexionando sua mão, viu como seus
dedos se convertiam em garras metálicas que eram como afiadas laminas. Desaparecidas estavam as palavras que sua mãe tinha queimado em sua pele, e em seu lugar as tatuagens brilhavam vividamente na suave
luz.
Ninguém nunca o controlaria de novo. Estava de volta e estava furioso. Violento.
E preparado para a vingança.
Azura embalou seu rosto na mão.
-Você gostaria que reparasse seu rosto e olho?
-Não. -grunhiu. Queria um aviso do que ser fraco havia custado. Nunca cometeria de novo esse engano.
-Muito bem. Tem completamente restaurada sua divindade. Faz que nos sintamos orgulhosos.
Essa era sua intenção.
Afastou-se para trás, assim poderia se ver no espelho da parede. Tinha desaparecido o sujo humano que tinha que mendigar trabalho e satisfazer-se com restos de comida e roupas rasgadas, tudo enquanto
esperava aos assassinos de Zeus que vinham de noite a massacrá-lo.
Seu cabelo já não era negro. Uma vez mais era do mais puro branco dos deuses e contrastava agudamente com suas roupas negras.
Azura lhe entregou uma espada e um chicote.
-Não são os que está acostumado, mas acredito que os considerará a seu gosto.
Sentiu o sangue vivo do universo na folha. Vibrava como um ser vivo.
-O que é isto?
-Foi forjada nas vísceras da Fonte. A essência mesma do universo está em seu interior. A espada transpassará o que seja. Além disto, transpassará a qualquer um.
Passou o dedo ao largo da borda, apreciando o fio. Sussurando, viu a gota de sangue que tinha aparecido. Sangue que rapidamente se evaporou como se seu corpo se curasse por si só.
Como o de um deus.
Mais que isso, a lamina absorveu seu sangue como se estivesse alimentando se dele.
-Tem que alimentar à espada regularmente -explicou Azura, passando uma unha sobre o fio- A espada requer sangue fresco para prosperar. Com ela, pode matar Zeus e absorver seus poderes.
Fez uma pausa e se encontrou com um olhar tão furioso como sua alma rogando por justiça.
-Pode ser o rei dos deuses do Olimpo... Imagine isso Cratus. Todos eles prostrados ante ti.
Curvou os lábios ante suas palavras.
-Cratus está morto. -disse em um tom gutural- Meu nome é Jericho2.
Ela riu.
-Não poderia pensar em um nome melhor para você. Maldito e reduzido a cinzas. E como o poderoso Fênix, renasce da destruição de seu passado para fazer chover fúria sobre aqueles que o amaldiçoaram.
E desfrutaria banhando-se em seu sangue. A espada de sua mão nunca estaria faminta enquanto a sustentasse.
Azura deu um passo atrás.
-Por agora, comandará o exército Skoti. Queremos neutralizar o Olimpo e usar a seus deuses do sonho para atacar aqueles que precisamos controlar.
-Considera-o feito.
Estava mais que disposto a jogar Zeus e seu séquito aos lobos. Mereciam isso e mais por toda sua crueldade.
Um raio de luz quase o deixou cego. Levantando um braço para defender seu olho, franziu o cenho enquanto a negra névoa se transformava no único ser que conhecia, ainda mais malvado que Azura.
Noir.
Alto e moreno com cabelo e olhos negros, Noir exsudava um poder supremo sem misericordia. Inclusive Jericho tinha que admitir que era bonito da única maneira em que os deuses o eram. Mas este era
um dos primeiros seres que tinham sido criados.
Ou mas bem, no caso do Noir, o primeiro em ser engendrado.
Vestido com armadura ornamentada de borgonha, Noir levava uma capa vermelho escuro que estava bordada em ouro. O frio olhar de Noir se entrecerrou em Jericho até que se dirigiu a Azura.
-Felicitações, irmãnzinha.
-Disse que poderia convencê-lo para que ficasse de nosso lado.
Noir inclinou sua cabeça para ela.
-E eu marquei um tanto do outro lado.
-Sério?
-Olha por si mesma.
Estendeu sua mão para mostrar em sua palma um buraco negro onde um grupo de Oneroi estava jazendo em profunda miséria. Jericho esperava que a visão o fizesse supremamente feliz. Mas enquanto via seus
torturados e machucados corpos, uma não solicitada onda de compaixão o percorreu.
Por que?
Não podia imaginar. Os deuses sabiam que eles não teriam piedade no que a ele concernia. Muitas vezes, riam quando o assassinavam. Mas enquanto inspecionava os prisioneiros, um em particular capturou
sua atenção.
Sem pensar, deu um passo adiante.
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2-(Jericó foi uma antiga cidade bíblica destruida até seus alicerces. (N. do T.) )
Azura prestou toda sua atenção nele.
-Vê algo que você goste?
Jericho virou afastando-se da mulher de cujo rosto não podia afastar-se. Não sabia por que o atraía. Tinha sido um movimento estúpido de sua parte.
-Não.
-Então deixarei que uma de minhas servas te mostre seus novos aposentos. Acredito que os considerará de muito melhor gosto que aquela fossa na qual estava vivendo.
Azura estalou seus dedos e uma jovem ao redor dos dezesseis anos apareceu.
Ao menos é o que parecia a princípio. Mas sua bronzeada pele mantinha uma iridescente qualidade que lhe recordava os olhos de um dragão.
Era uma demônio muito formosa.
-Me siga, meu Senhor. -disse brandamente.
Fez isso e se assombrou ante a opulência do palácio dourado que Azura e Noir chamavam lar. A diferença dos Olímpicos, viviam na entranha mais escura do centro da terra. Contudo, estava longe de ser
escuro ou depressivo.
-Por quanto tempo estivesse aqui?
Lançou-lhe um olhar sobre seu ombro.
-Nasci aqui, meu Senhor.
-E que idade tem?
-Um pouco mais de dois mil anos.
Abriu uma porta negra com placas de ouro.
Jericho deixou sair um apreciativo ofego ante a vissão de sua nova moradia. Luxuosa e rica, convidava-o a entrar. Caminhando devagar junto à demônio, foi tudo o que pode fazer para não correr para
a cama e jogar-se sobre ela. Tinha passado tanto tempo desde que tinha dormido em uma cama que não podia sequer recordar a sensação.
A garota fechou a porta e se deslocou para a chaminé. Arrojando rajadas de chamas de sua mão, acendeu o fogo. Logo se voltou para ele com um brilho calculista em seus escuros olhos.
-Há algo mais que possa fazer por ti, meu Senhor?
Entendeu o significado imediatamente e não tinha intenções de ir ali. Ao menos, não com uma demônio e não nesse momento.
-Não.
Pareceu aliviada.
-Se mudar de opinião, me chame. Rielle. Virei imediatamente.
-Obrigado.
Pareceu surpresa por sua gratidão antes de desvanecer-se.
Sozinho, Jericho deixou sua espada na penteadeira. Moveu-se ao redor do aposento, percorrendo com suas mãos a fina madeira polida dos postes da cama. Esta recordava a sua cama no Olimpo. Do tempo,
antes da história registrada, quando tinha sido respeitado e temido.
Estava de volta.
E estava zangado. Que a Fonte oferecesse piedade aqueles que lhe tinham feito zangar.
Porque no final do dia, ele não teria nenhuma para eles.
-O que está fazendo? -Perguntou Noir bruscamente.
Azura fez uma pausa enquanto sua serva pousava o corpo da cadela Olímpica sobre a mesa ante ela.
-Não viu a maneira em que a olhou?
Noir deu de ombros.
-É atraente. Era de se esperar.
-Sim, mas precisamos manter a nossa nova ferramenta feliz. A última coisa que queremos é que se volte contra nós. Sem seu Malachai, precisaremos dele quando atacarmos a fonte.
Passou a mão sobre o inconsciente corpo da mulher, apreciando sua pequena estatura.
-É uma beleza, não é verdade?
-Se você gostar das mulheres pálidas e insípidas. Pessoalmente, prefiro-as com mais cor.
Azura sorriu quando a atraiu mais perto e passou a língua ao longo de sua garganta. Calafrios percorreram sua pele. Ainda quando se chamavam entre eles irmão e irmã, não havia nada que os unisse por
sangue, exceto sua mútua busca de poder e a fome de morte. Nisso, eram família.
A realidade era uma história diferente.
-Não agora, querido. Desejo apresentá-la a Cratus.
-Jogue-a em seus aposentos, então. Ou mate-a. Qualquer coisa está bem para mim.
Azura conjurou um colar de restrição para os poderes da mulher. A última coisa que precisavam era tê-la solta por sua casa. Não é que pudesse fazer muito. Era meramente uma questão de princípios.
Logo que teve os poderes da Olímpica restringidos, desatou o pálido cabelo da mulher para que caísse como uma cascata sobre seus ombros.
-Sim, muito bonita.
Satisfeita, Azura se teletransportou até a residencia de Cratus. Estava observando pela janela como se tratasse de encontrar um inimigo de algum tipo. No momento em que apareceu, voltou-se como se
estivesse preparado para lutar.
Suprimiu a urgência de burlar-se dele por algo que era em realidade admirável. Era inteligente ao não confiar neles. A maioria das pessoas, para seu extremo detrimento, faziam-no. O fato de que só
ele suspeitasse de alguma traição dizia muito do por que era um valioso aliado.
-Não há necessidade de ficar nervoso.
Seu rosto era uma absoluta pedra.
-O que está fazendo aqui?
-Trouxe um presente.
Jericho arqueou uma sobrancelha, perguntando-se que tipo de jogo estava jogando, e sabia que estava tramando algo. Todo seu comportamento lhe advertia que tudo o que procurava era pô-lo ainda mais
furioso. E não estava nervoso. Era só que conhecia a traição que vivia no coração de todas as criaturas. Era tudo o que esperava delas.
Não se podia confiar em nenhuma.
Em realidade, isso não era certo. Poderiam ser de confiança para foder as pessoas a seu ao redor quando isso servia a seus propósitos. Isso podia confiar.
-Presente?
Seu sorriso era malicioso e mais frio que o gelo.
-Bon appetit, precioso. -disse Azura enquanto estalava seus dedos.
O som ainda ressonava em seus ouvidos quando uma pequena forma se materializou ante seus pés.
Jericho ofegou ante a visão da diminuta mulher...
Uma que estava completamente nua.
CAPÍTULO 3
Delphine ficou rígida ao despertar e encontrar-se estendida de barriga para baixo sobre o frio chão de mármore. Nua. Envergonhada. Aterrorizada.
Levantou-se ligeiramente e tentou cobrir-se com as mãos, mas lhe faltavam extremidades para fazê-lo. E, se por acaso isso não fosse suficientemente mau, era mais que consciente do par de botas negras
masculinas das que não podia afastar os olhos. Em sua maior parte, porque não queria olhar a esse homem, quem quer que fosse, diretamente nos olhos depois de que a tivesse visto completamente nua.
Invadiu-a o calor e queria arrastar-se até um buraco, um que com sorte tivesse roupa dentro, e esconder-se.
Amaldiçoando de maneira tão imprópria que a fez sobressaltar-se, o homem se ajoelhou. esticou-se, esperando o pior e se preparou para lutar até a morte.
Mas não a tocou.
Em vez disso, furou o dedo com uma pequena faca e o sangue da ponta do dedo teceu a seu redor formando uma capa cálida de cor carmesim que a cobriu totalmente. E ainda assim não olhou-o. Não podia
olhá-lo estando tão envergonhada.
-Isso não era necessário. -grunhiu com esse tom profundamente masculino que recentemente tinha aprendido a reconhecer como pertencente a Cratus.
Sua voz retumbava como um trovão irado.
Foi Azura quem lhe respondeu.
-É nossa oferenda para mostrar nosso agradecimento por sua lealdade.
Completamente coberta e com certo esboço de dignidade, Delphine se levantou e encontrou Cratus olhando iradamente a Azura, que estava no canto ao lado da porta. A maligna deusa parecia completamente
satisfeita consigo mesma.
Sorriu malévolamente para Delphine e a assinalou.
-É sua escrava.
Delphine ofegou com a revelação embora Jericho não dissesse nada.
-Bloqueei seus poderes e a entrego. -continuou Azura- Faz com ela o que quizer. Embora deva saber que é uma dos Oneroi e amiga dos Dolophoni que odeia tanto... os que te estiveram torturando durante
séculos. Hei-lhe devolvido todas as emoções para que possa te agradar da forma que deseje.
Começou a sair mas se deteve.
-Ah, provavelmente quererá saber que é uma das deusas favoritas de Zeus. Me disseram que a valoriza enormemente.
Delphine abriu a boca para negá-lo, mas não lhe saiu nenhuma palavra. Azura havia bloqueado sua voz.
Se tivesse seus poderes durante um segundo...!
E um minuto a sós com essa cadela trapaceira.
Com ar presunçoso, Azura se desvaneceu em uma nuvem de fumaça azul.
Jericho olhou seu novo "presente" com a intenção de devolvê-la a Azura imediatamente, mas no momento em que seus olhares se encontraram, ficou petrificado.
O cabelo loiro, comprido e ondulado, contrastava agudamente com a capa vermelha que tinha criado para ela. Mas eram seus olhos os que o mantinham prisioneiro. De um castanho esverdeado, mostravam-lhe
um medo intenso que ela, sendo uma DreamHunter, não deveria ser capaz de experimentar. E mais ainda, mostravam-lhe seu espírito e sua vontade de lutar. Estava tensa de controlar-se embora soubesse que
não tinha nenhuma oportunidade se enfrentasse a ele. O fato de que estivesse disposta a lutar de qualquer forma dizia muito dela.
Era miúda, com o rosto terso como a porcelana, os maçãs do rosto altos e um pequeno bico de viúva. Parecia-se tanto a uma Dream Hunter que tinha conhecido que não pôde evitar perguntar.
-Leta3?
Franziu o cenho.
-Meu nome é Delphine.
Delphine...
Deu um passo atrás e de novo foi consciente de exatamente quão frágil de aparência era. Podia esmagá-la e, mesmo, com a relação que tinha com o Zeus, não podia suportar a idéia de lhe fazer mal e
maldito se soubesse o por que. A amabilidade era algo no que não tinha prática. Estava em sua natureza lançar o primeiro golpe.
Como se sentisse seus pensamentos, pôs mais espaço entre eles.
-Não serei sua escrava.
Seu desafio o divertiu.
-Não acredito que tenha muitas opções.
Levantou o queixo desafiante.
-Lutarei até que um dos dois esteja morto.
Consumia-o uma obscura urgência de tranqüilizá-la. Era algo que não havia sentido desde que consolava sua irmã quando eram pequenos e nunca o tinha sentido por outra pessoa. Até agora.
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3- A historia de Leta é contada em Dark Hunter 20- Uma vez ao claro da meia noite
Não tinha sentido querer tranqüilizar ao mascote do Zeus depois do que o sacana tinha feito a ele e ainda assim, não podia suportar a idéia de que ela tivesse medo dele.
-Não vou te fazer mal.
Delphine queria acreditar nele, mas estava passando mau, especialmente desde que a crueldade de suas novas emoções a faziam sentir-se enjoada. Eram agudas e muito confusas. Como as pessoas podiam
suportá-las?
-Onde estou?
-Na Azmodea.
Delphine se encolheu com o nome, cuja tradução era "demônio furioso". Aqui era onde Noir e Azura tinham estabelecido seu lar e onde se regozijavam torturando a suas desafortunadas vítimas. Não tinha
nem a menor dúvida de que isso era o que a esperava agora que a tinham também como refém.
Seu olhar caiu sobre a espada que estava sobre a cômoda polida ao fundo.
-Realmente lutará junto a um mal tão implacável?
O único olho cintilou com o peso de sua ira quando grunhiu.
-Não sabe nada sobre mim.
-Não é certo. Sei que foi amaldiçoado por Zeus e que viveste completamente sozinho depois.
Riu amargamente.
-Só quando tinha sorte.
Olhou-o com o cenho franzido.
-O que quer dizer?
Toda emoção abandonou seu rosto. Embora o ódio nu gotejava por seus poros com um calor tão potente que podia jurar que chamuscava o ar entre eles.
-Não te devo nada.
Delphine não podia respirar ante a fúria que se destilava de seu olho bom. Era evidente e aterradora.
-Nunca a machucaria.
Antes de que pudesse piscar, agarrou-a pela garganta e a apertou contra a parede. Apesar da rapidez e a ferocidade do gesto, não lhe fez mal. Simplesmente sujeitava seu pescoço com a grande garra
que era sua mão com um apertão suave, enquanto esse olho profundamente azul a perfurava.
Jericho queria lhe partir o pescoço em dois. A fúria contida pedia que o fizesse. Mandá-la de retorno a Zeus aos pedaços.
Mas não podia matá-la.
Chiou os dentes e a soltou.
-Não me provoque.
Olhou aos olhos sem estremecer.
-Não pensava que o provocaria por simplesmente expor um fato.
Estava consternado por sua inesgotável temeridade, que parecia impedilá-la de calar-se, embora fosse o mais prudente a fazer.
-Não tem idéia do que é a autoproteção?
-Não tem idéia do que é um comportamento como é devido?
Isso sim que o fez querer machuca-la de verdade, porque o feriu profundamente. Houve um tempo em que se comportou como era devido. Inclusive tinha sido cortês. Mas as passadas degradações tinham matado
tudo isso fazia muito tempo. Ninguém lhe tinha mostrado piedade, assim por que deveria mostrar-lhe a alguém?
-Não, não tenho.
Delphine sentiu um sussurro de vento antes de que se desvanecesse do aposento. Olhou ao seu redor, mas não havia nem rastro dele. Inclusive sua espada não estava. Embora o que a surpreendeu era que,
em seu lugar, havia roupa para ela. Jeans, sapatos e uma camiseta rosa sem mangas.
Por que se tinha incomodado?
Estava agradecida embora não tivesse sentido. Deixou cair a capa e agarrou a roupa. No momento em que o fez, deu-se conta do frio que fazia no aposento. Calafrios a percorreram, fazendo com que seus
dentes batessem.
O ambiente era absolutamente gelado.
Com o cenho franzido, tocou a capa que vibrava com calidez. Realmente era como o calor de um corpo vivo...
Era por causa de seu sangue? Não tinha nem idéia mas agradecia a calidez. E nesse momento, queria ter algo entre a pele e sua capa.
Com as mãos tremulas se vestiu rapidamente. Continuava tentando usar seus poderes, mas o colar de contenção era mais que eficiente.
Fodidos cães...
Furiosa com o apuro em que se encontrava, abriu a porta para sair e parou bruscamente. No corredor estava o que devia ser o demônio maior e mais feio que tinha visto em sua vida. De uns três metros,
tinha a pele bulbosa e cheirava tão mal que teve que conter a respiração.
Deu um passo para trás imediatamente e fecho a porta com um estrondo.
A risada malévola ressoou fora.
Delphine revirou os olhos.
"É tola? Ou estúpida? É obvio que tinham guarda. Que parte de 'é uma prisioneira' não entendeu?" castigou-se em voz alta.
Sentia-se doente, frustrada e alterada. Cruzou os braços ao redor do peito e se perguntou o que podia fazer para ajudar aos outros de onde se encontrava. Esse tinha que ser o lugar aonde os Skoti
os levavam. Se pudesse encontrar o lugar onde estavam prisioneiros, possivelmente poderia libertá-los...
E depois podia concentrar-se em pôr a Jericho de novo ao seu lado. Isso seria a melhor coisa do mundo.
Literalmente.
Como se seduz a alguém? Realmente não tinha nem idéia. A maioria de suas interações com as pessoas tinham sido através dos sonhos e posto que não era uma Skotos erótica, jamais tinha se envolvido
sexualmente com eles. Só atuava como guerreira para combater aos Skoti e libertar o adormecido de seu feitiço.
Como humana...
Bom, isso tinha há muito tempo. E embora recordasse ter apreciado a alguns dos meninos de sua cidade, esses sentimentos se apagaram.
Agora suas emoções eram outra coisa. Cruas. Feridas. Dolorosas.
Melancólicas.
A ira a queimava porque a mantinham presa e queria ferir alguém.
Felizmente, compreendia que era só uma fúria exagerada e não realmente ira. Tinha que acalmar-se e pensar racionalmente.
A janela...
Aproximou-se e retirou as cortinas. A chuva se lançava silenciosamente contra o vidro. O céu cinza se estendia interminavelmente cheio de nuvens inchadas e feias. Seu olhar via um mar que fervia e
estalava contra pedras negras. Colocou a mão sobre o vidro e a retirou imediatamente. Estava tão frio que queimava.
-Acalme-se -sussurrou, tentando recordar tudo o que sabia sobre a Azmodea.
Na verdade, não era muito. Dizia-se que era o resíduo primitivo que tinha ficado uma vez que se criou o universo. Temerosa de que pudesse poluir a beleza do resto do universo, a Fonte o tinha banido
a parte mais profunda da terra, para que não voltasse a ser vista de novo.
Quando Noir e suas irmãs se elevaram com o poder, tinham profanado a luz e a tinham adotado como sua residência. contava-se que as paredes do palácio estavam pintadas de vermelho com o sangue das
vítimas que tinham torturado.
Olhou a pintura bordô. Não, não era sangue seco. Era só uma história para assustar Às pessoas.
Pois têm feito um trabalho soberbo.
Deixa disso já!
Era racional e não era dada a ataques de pânico, embora um calafrio percorresse sua espinha dorsal. Embora o aposento fosse amplo e bem dotado de móveis com intrincados gravados, a atmosfera austera
o fazia pouco acolhedor. A verdade era que, preferia o buraco em que Jericho tinha vivido na terra a esse lugar. Ao menos o barracão não era tão insidioso nem estava tão gelado. Horripilante. Continuava
esperando que algo saltasse das paredes e a agarrasse.
Nervosa e indisposta, foi para o espelho e tentou tirar o colar embora soubesse que seria uma perda de tempo. Mas era melhor que não fazer nada. Não estava em sua natureza não lutar.
Mas, depois de uns minutos, sua frustração cresceu e a deixou dando puxões do colar até que começaram a surgir manchas roxas.
Não valia a pena.
-Onde está, Jericho? -E o que era mais importante, o que estava fazendo?
Jericho parou ante a porta onde Azura o tinha levado a primeira vez. Havia dito que era a sala de guerra, o que tinha sentido. Mas enquanto estava ali, sentiu uma dor aguda no peito. Custava lhe respirar.
Pensar.
As imagens cintilavam por sua cabeça, rápidas e intensas. Viu a si mesmo como tinha sido no reino humano. Sentiu fome e dor.
Aposto que desejaria não ter se voltado contra Zeus, né?
Não sabia o nome do Dolophonos que o tinha matado aquela noite, mas se alguma vez encontrasse ao covarde, banharia-se em seu sangue.
Agarrou com força o punho de sua espada, morrendo de vontades de usá-la contra o que se atrevesse a cruzar-se em seu caminho. E, outra vez, surpreendeu-lhe a calidez da espada. Verdadeiramente era
como se estivesse viva e sabia que era uma espada feita para matar.
Por que Azura deu-lhe um presente tão valioso? As criaturas como ela e Noir não eram estúpidas. Queria algo mais que um guerreiro. Podia-o sentir no fundo de sua alma.
Mas, andavam exatamente atrás do que? E por que era tão importante para eles?
Querendo averiguá-lo, empurrou a porta e descobriu que Azura estava sozinha na sala.
Voltou-se para ele com uma sobrancelha arqueada.
-Acontece algo?
-Onde está Noir?
Estalou os dentes.
-Não temos que te responder, amor. Luta para nós e isso é tudo. Nunca esqueça seu posto.
Essas não eram as palavras certas para deixá-lo feliz. Era tudo o que podia fazer para não responder que se fodesse.
Seus traços se suavizaram enquanto indicava com o queixo a porta a suas costas.
-Venha, por que não está se entretendo com seu novo mascote?
O tom e sua atitude não o agradou. Mas não ia dizer isso... ainda. Tinha algumas coisas que investigar antes.
-Quero ver os Onerois que trouxe.
Olhou-o com o cenho franzido de desagrado.
-Por que?
Suas incessantes perguntas estavam começando a irritá-lo.
-Tenho uma conta que saldar com a maioria deles.
-Não tenha medo. Estão fazendo com que se sintam adequadamente miseráveis em seu nome. Asseguro que se impressionaria sua atual condição.
Suas suspeitas se acentuaram com sua negação contínua.
-Está dizendo que também sou um prisioneiro?
-Não disse isso. Mas tem que entender que duvidamos de sua lealdade para nós tanto como você duvida da nossa. Você, Noir e eu só temos uma débil aliança de momento. Uma aliança que não foi posta a
prova.
-E ainda assim me dão esta estranha espada?
-Uma oferenda de amizade e esperança em nosso futuro juntos.
Algo não se enquadrava neste cenário. Cada instinto que tinha estava em guarda. Havia algo mais na espada. Algo que ela não estava dizendo.
-Por que?
-Já disse isso. Queremos que fique de nosso lado. Enquanto esteja conosco, daremos tudo o que desejar.
E se os desgostava, o fariam pagar. Era uma ameaça velada que pesava ao seu redor. Uma que não tomava com agrado. Tinha estado nessa situação e se espatifou.
Mas se queria conceder todos os seus desejos...
-Desejo ver os Onerois.
Riu.
-Menino persistente. Com o tempo seremos abertos contigo e poderá fazer o que quiser. Mas não ainda. Volta para o seu mascote. Ou se preferir, posso te devolver a sua oficina e voltar a tirar seus
poderes.
Esteve tentado a dizer que os metesse no rabo, mas se conteve embora a única coisa que queria era atacá-la pelo tom condescendente.
Isso seria um suicídio.
Descansa, recupera seu porte. Ataca só quando estiver em uma posição de força.
Sabia o código do guerreiro de cor.
Ainda assim não podia afastar a sensação de temor. Algo ia vagamente mal. Mas não sabia o que.
Agitado e infeliz, voltou para seu quarto e percebeu que Delphine se vestiu com o jeans e a camiseta que tinha deixado para ela. Também levava sua capa apertada contra o corpo como se fosse um escudo
blindado. Pouco sabia que na verdade o era. Nada podia atravessá-la.
Estava sentada na cama, nervosa, olhando a porta como se esperasse que alguém entrasse e a atacasse. O que, dado o lugar em que estavam, não era um medo infundado.
Parou na metade do caminho da cama, não sabendo bem o que lhe dizer. A conversação insubstancial não era algo de que tivesse participado muito, nem mesmo antes de deixar o Olimpo.
Caramba! Quase não tinha falado com ninguém em séculos.
E especialmente, não com uma mulher atraente. Seu pau se pôs duro de necessidade só a olhando. Um dos castigos mais cruéis de Zeus tinha sido fazer com que ardesse por cada mulher que via e, no momento
em que estava só com ela, ficava mole. A frustração de querer ter sexo e nunca ser capaz de ter havia o tornado louco. Nem sequer podia ocupar-se de si mesmo.
Só isso era suficiente para fazer com que desejasse retorcer o cangote do deus do Olimpo.
Assim aprendeu a sequer pensar nisso. A manter-se tão afastado das mulheres e seu aroma como podia e assim doeria menos do que já doía. Mas na verdade, sentia falta de ser tocado e abraçado. Sentia
falta da suavidade de uma mulher nua nos braços.
E ali estava ela, tão bonita. Tão tentadora.
Um toque...
Mas não podia. Conforme acreditava, ficaria flácido. E isso faria com que se zangasse mais ainda.
-Tem fome? -grunhiu-lhe.
Ela franziu o cenho. Tinha a expressão preocupada e assustada.
Era ruim que o tivesse perguntado? Em vez de acalmá-la, tinha-a posto mais em guarda. Ou talvez fosse seu tom. Como podia tranqüilizá-la?
Realmente alguém devia escrever um manual. Depois de tudo, que os deuses tentem se comunicar com seus reféns era tão estranho que ninguém ia querer se incomodar em escrevê-lo.
-Quero que tire o colar de mim -disse com tom severo.
-Não posso fazer isso.
-Por que não? Tem medo de mim se tiver meus poderes?
Ele soprou.
-Sim, com certeza. Me chamando de covarde não vai conseguir nada. Acredite em mim, é uma amadora neste campo e me chamaram de coisas piores.
Delphine não perdeu a nota de dor em sua voz embora tentasse ocultá-la. Dado o que tinha visto de sua vida, estava certa de que tinham feito mais que insultá-lo. Mas isso não mudava o fato de que
era sua prisioneira e o odiava.
E sobretudo, não podia entender por que estava ali.
-Por que se uniu a eles?
Jericho parou ante a pergunta, considerando a melhor maneira de responder. Se ao menos entendesse seu raciocínio ou seus motivos. Afinal, saberia a verdade. Teria que experimentar o inferno pelo que
tinha passado para compreendê-lo.
Levantou as mãos e criou um arco brilhante de poder que palpitava entre sua palmas. Pela primeira vez em séculos podia criar e lançar um raio divino para fritar a todos e a tudo. Essa sensação estimulante...
saber que não voltariam a pisoteá-lo.
Só por isso, venderia sua alma, sua vida e qualquer coisa que quisessem. Como podia dizer não ao que Azura lhe oferecia? Mas não tinha intenção de discutir isso com Delphine.
-Não te interessa.
Deixou cair as mãos e apoiou uma delas no punho de sua espada.
Lançou-lhe um olhar frustrado com o cenho franzido.
-Noir destruirá o mundo.
-E o que? Quem diz que vale a pena salvá-lo?
Delphine queria sacudi-lo por sua obstinação. Nunca tinha conhecido a ninguém tão curto de compreensão nem tão imperdoável. O que tinham feito a ele para que ficasse assim?
-Mataria ou escravizaria a todo mundo? Há muita beleza no mundo que destruiriam. Como pode não vê-lo?
Burlou-se dela como se fosse uma criança.
-Fala como alguém que sempre viveu entre almofadões no mundo dos sonhos. Não tem nem idéia de como é o mundo real. Não sabe o que as pessoas te fariam se soubessem que ficariam impunes. As pessoas
são absolutamente cruéis e eu digo para darmos todo o poder possível a Noir para que o destroce.
-Podem ser cruéis as vezes. -admitiu-Mas eu vi o melhor das pessoas. Suas esperanças e seus sonhos.
Por isso lutava com força pela humanidade.
-E eu vi o pior.
A dor em seu olho a queimava.
E também explicava muito dele e de seu raciocínio. Mas não fazia com que tivesse razão.
-Então tudo o que faz está justificado, não é isso? Fizeram-lhe mal, e por isso te parece bem que façam mal a eles?
Deu de ombros despreocupadamente.
-Parece justificável.
Deixou escapar um comprido suspiro. Como podia chegar a ele? Fazer com que entendesse e, o mais importante de tudo, preocupar-se pelo que estava fazendo?
-Sempre foi tão amargurado?
Jericho paralisou-se ante sua inesperada pergunta. Ninguém tinha perguntado isso antes.
Ninguém. E forçou-o a lançar um olhar duro a seu interior.
Nunca tinha gostado de si mesmo. Nem quando servia a Zeus nem, definitivamente, quando o desterraram. Desde o dia em que nasceu, tinha sido um deus com um destino imposto.
Mantem o equilíbrio com seus irmãos. Serve a seu amo. Faz o que lhe dizem. Sem perguntas. Sem vida...
E assim tinha existido até o momento em que já não pôde obedecer cegamente.
E tudo acabou. Nascimento, destruição, morte e renascimento. Era a lei do universo.
O código de conduta da Fonte. Quem era ele para discutir?
Mas a verdade continuava sendo dura.
-Sim -disse com tom frio- Sempre fui tão amargurado.
Soltou um suspiro cansado.
-Então, sinto muito muito por você.
-Pois não sinta. Não preciso da piedade de alguém que sabe tão pouco da vida.
Delphine sacudiu a cabeça.
-Isso não é verdade. Cada vez que entrei em um sonho, vi a vida. Vi o amor e a alegria em sua forma mais pura. É belo contemplá-los embora estejam inconscientes pelo sonho.
Fez um ruído grosseiro de desacordo.
-Vive como um subproduto.
Isso elevou sua ira a um nível de raiva que nunca antes tinha experimentado.
-E você não? Sabe? Também o vi. Não se relaciona com ninguém. Nem sequer diz adeus quando parte. Que tipo de vida é essa?
Tremiam-lhe as aletas do nariz de raiva e conteve o fôlego enquanto avançava para ela com uma fúria tão potente que tentou escapar só para que a encurralasse em um canto. Teve que jogar a cabeça para
trás para olhá-lo. Era incrivelmente grande. Tão feroz. E aquele único olho brilhava com um ódio absoluto.
Jericho queria lhe explicar por que não podia relacionar-se com as pessoas. Queria brigar a golpes com ela e fazê-la pagar pelo que o Zeus lhe tinha feito. Mas enquanto estava ali em pé, seu aroma
o golpeou e paralisou todo seu corpo.
E o pior de tudo, evaporou sua fúria e pôs seu pau tão duro que estava seguro de que podia usá-lo como martelo. Ela se converteu no centro de seu raciocínio, não de seu ódio.
Ela e aquela pele suave e o delicado corpo que tão desesperadamente queria saborear.
Seu olhar se focou nos lábios que estavam entreabertos por sua rápida respiração. Seriam tão suaves como pareciam? Podiam lhe dar o prazer que não tinha conhecido desde que lhe condenaram e amaldiçoaram?
Não tinha beijado a uma mulher fazia séculos... Se lembraria de como se fazia?
Mata a cadela e segue com sua vingança. Entregá-a a Zeus em pedacinhos. Faça-o saber o que se sente quando se sofre. Tira dele o que ele tirou de você.
Mas não podia. Mesmo com suas palavras e sua própria raiva, não era suficiente para obrigá-lo a machucá-la. E maldito fosse se sabia por que.
Não, não queria tomar isso dela.
Antes de saber o que estava fazendo, agarrou uma grossa mecha de cabelo de seu ombro. Seu cabelo era incrivelmente suave. O enrolou ao redor do dedo, provocando sua carne. Levantou-o até o rosto,
fechou os olhos e inalou o suave aroma e imaginou o que seria lhe fazer amor até que ambos estivessem saciados.
Seu pau saltou de necessidade quando a imaginou nua em seus braços.
Delphine não podia respirar enquanto o olhava. Uma parte dela esperava ainda que a atacasse. Mas não o fez.
Em vez disso, esfregou a mecha de cabelo contra os lábios. Lábios que estavam tão perto dos seus...
Nunca a tinham beijado. E até esse momento, nunca tinha pensado nisso. Posto que realmente não sentia luxúria, não tinha sido um problema. Mas agora, pela primeira vez, seu corpo se sufocava de calor.
Sentia que o coração se acelerava com um peso profundo que não tinha experimentado nunca antes.
Queria que a tocasse...
Inclinou a cabeça como se fosse beijá-la. Mas justo quando seus lábios iam tocar-se, enterrou a cabeça em seu cabelo e inalou. Como não estava muito segura do que fazer, agarrou-lhe a cabeça com uma
mão e passou o outro braço a seu redor. Não estava preparada para quão bem que se sentia abraçando-o assim. Cheirava a couro e a especiarias intensas, a homem. O cabelo branco e espesso era suave como
uma pluma, roçando seu rosto e fazendo com que estremecesse. Podia sentir seus músculos ondulando-se embaixo de sua mão, a suavidade de seu cabelo loiro em sua palma...
Jericho afundou o rosto em seu pescoço e imaginou todas as coisas que queria fazer com ela. Imaginou que bom sabor teria. Queria respirá-la desesperadamente.
A sensação de suas mãos sobre seu corpo... Era o paraíso. E o inferno.
Não queria sentir-se assim. Não queria ser fraco outra vez e definitivamente, não por outra pessoa.
Que alguém o controlasse. A última vez que se permitiu o luxo de sentir algo por alguém, tinha perdido tudo. Até sua dignidade. Furioso com o pensamento, grunhiu do fundo de sua garganta e se arrancou
de seu abraço. Não necessitava toda essa suavidade nem esse consolo. Não necessitava que o tocassem. Zeus o tinha ensinado. Podia sobreviver bastante bem sem ninguém ao seu redor. Era mais forte sozinho.
-Afaste-se de mim! -grunhiu-lhe.
Parecia desconcertada por suas palavras.
-Você veio a mim.
-Não me pressione, mulher!
Entrecerrou os olhos.
-Olhe, todas estas emoções também são novas para mim. Não sei como lutar com todas estas coisas tão conflituosas e que grite comigo não me ajuda precisamente... Homem!
-Não me levante a voz!
-Idem, colega, idem.
Não se tinha dado conta de que se aproximou tanto dele que estava o olhando quase nariz com nariz. Sua raiva realmente lhe doía mas não podia fazer nada por ele. Nada absolutamente e a frustração
o fazia querer retirar-se a algum lugar onde pudesse se sentir de novo segura.
-Quero ir para casa.
Jericho se encolheu mentalmente ante as palavras ditas tão suavemente. Era um grito que tinha ressoado tantas vezes durante o primeiro século de seu desterro, que ainda o fazia sentir no coração uma
dolorosa e nua necessidade. Quantas vezes tinha fechado os olhos e recordado o som da risada de Nike? A beleza de sentir-se respeitado?
Tudo o que tinha querido era mudar o que tinha feito e pedir que o perdoassem para poder voltar para casa também.
Mas com o tempo, aprendeu a não querer. Aprendeu a não recordar.
Ao menos ele não a torturava nem a degradava como tinham feito a ele.
-É melhor que se acostume a estar aqui. Logo não haverá um lar aonde voltar.
Estava aterrorizada.
-Mataria a sua própria mãe?
Só albergava frieza em seu interior no que concernia a deusa Styx.
-Minha mãe foi a que me despojou de meus poderes e me jogou no mundo. O que acha?
-Acredito que sua mãe deveria ser açoitada por sua crueldade e provavelmente Zeus também. Mas o resto de nós não teríamos que morrer porque eles dois estiveram errados.
Sim, mas não era suficiente para aplacar sua ira. Nem de longe.
-Não sabe nada de vingança.
-Tem razão. Não sei. Tudo o que sei é proteger as pessoas. É o que tenho feito sempre.
-Porque é uma autômato sem cérebro.
Levantou o queixo.
-Melhor ser uma autômato sem cérebro que protege, a ser um assassino que arrasa com tudo sem preocupar-se com os outros. Que minhas emoções estivessem presas não me faz mais inconsciente do que você
quando suportava os castigos do Zeus depois de seu desterro. Hephestos me contou como te suplicou que não fizesse mal a Prometeo. E ainda assim impôs a Hephestos e o fez encadear ao deus a rocha para que
pudessem lhe destroçar cada dia para o resto da eternidade.
-Já viu quão bem resultou. Me acredite, paguei com acréscimo minha obediência cega. Se pudesse, voltaria atrás. Afundaria minha espada em Zeus assim que tivesse a oportunidade.
Delphine levantou as mãos e deu uma palmada entre eles.
-Mas não o fez. Fez o correto e agora te peço que volte a fazê-lo. Una-se a nós nesta batalha. Não deixe que o mal domine o mundo.
Riu amargamente.
-Não se dá conta de que, a única vez em minha vida que fiz o correto, amaldiçoaram-me? Esse fato não me motiva a repetir a experiência. Quando Zeus perguntou se algum deus me defenderia, todos me
voltaram as costas. Foram os que começaram isto. Todos eles. Agora pretendo terminá-lo e também a eles. E que se foda o mundo.
-Assim será. -disse engasgando-se com a desesperada dor que brotava em seu interior- Assim será. -Respirou fundo antes de voltar a falar- E então no que se converterá?
-A quem importa?
-Se não se importa, como poderia importar a outros?
Franziu os lábios.
-Não retorça minhas palavras com sua psicologia de merda. Não gosto de ninguém. Buuuuh. A verdade é que me importa uma ova. E agora se me desculpar, tenho um exército para conhecer e treinar.
Desvaneceu-se.
Delphine exalou um comprido suspiro ao esclarecer o ar a seu redor. Sua ira e dor eram tão densos que quase eram tangíveis.
Como podia chegar até ele?
Seria possível?
Embora o mais triste de tudo era que não podia culpá-lo nem sequer um pouco por sua reação. O que tinham feito a ele era ruim. Era imperdoável. Como teria reagido ela em seu lugar? Salvar uma vida
e destroçar a sua...
O sacrifício parecia tão injusto.
E o relógio seguia correndo. O tempo se acabaria logo.
Se não puder convencê-lo, deverá lhe destruí-lo...
Não havia outra forma.
CAPÍTULO 4
Desta vez, Jericho encontrou a Noir na sala de guerra e sem sinais de Azura. Embelezado com sua armadura borgonha, o deus primitivo estava sentado em uma cadeira com as pernas sobre a mesa e os tornozelos
cruzados. Seus olhos meio abertos, seus dedos entrelaçados enquanto suas mãos descansavam sobre seu estômago.
Se Jericho não o conhecesse melhor, pensaria que Noir tinha estado cochilando.
-Quer algo?
Jericho se deteve ante as bruscas palavras. Embora Noir não tivesse acrescentado um insulto ao final, soaram com mais desprezo do que estava implícito.
-Azura me disse que estou aqui para liderar um exército. Eu gostaria de conhecer esses soldados.
Noir sorriu com satisfação.
-Entende o que lhe estamos pedindo que faça?
-Matar a Zeus e pôr de joelhos aos Olímpicos.
O rosto do Noir era impassível e frio.
-Acha que pode fazê-lo?
Jericho não se deixaria intimidar. Embora soubesse que Noir era o mais poderoso dos dois, realmente não dava uma merda por ele.
-Sou um Titã e lutei com Zeus para encerrar a meus irmãos por ele. Você o que acha?
-Acredito que se mantiver essas valentes palavras, será um valioso aliado.
-Duvida de mim?
Noir deu de ombros antes de bocejar como se lhe aborrecesse sua conversação com ele.
-Eu duvido de todo o mundo. Ainda não encontrei uma pessoa a quem não possa corromper e/ou possuir. Todo mundo está a venda. É só questão de negociar o preço correto.
-Então provavelmente devia ter pedido mais.
Noir riu.
-Sim, deveria havê-lo feito. Esperava que fosse difícil de convencer, mas não tinha tido em conta seu imenso ódio por Zeus. -tomou uma profunda baforada de ar, saboreando-a- Adoro o aroma do ódio
e a vingança. É o mais embriagador das beberagens.
Jericho não estava de acordo.
-Pessoalmente me sinto mais inclinado para o sangue. Não há melhor aroma no universo que esse, combinado com o aroma da aterradora morte.
Noir ofegou com força como se se emocionasse sexualmente pela descrição do Jericho.
-OH, eu gosto de você . Os verdadeiros espíritos afins são difíceis de encontrar.
-Esquece quem e o que me deu a vida.
Noir assentiu enquanto fazia girar os polegares.
-Lástima daqueles que nasceram no lado da luz. Eles não entendem quão sedutora é a crueldade. A melodia feita de gritos e rogos de piedade. Mmm. Nada melhor.
Jericho juraria que podia sentir a folha tremendo a seu lado, mas se era em aprovação ou medo, não podia assegurá-lo.
-Asmodeus! -gritou Noir repentinamente- Mostre-se.
Uma nuvem escura se formou ao lado de Noir. Esta se solidificou lentamente até converter-se em um ser que recordava a Jericho a um elfo alto. Suas agudas feições se inclinavam para a beleza, contudo,
seus escuros olhos cinzas não mostravam outra coisa que crueldade. Vestido todo de negro, o demônio parecia sinistro e sem emoções.
-Chamou-me mestre?
Noir lhe dedicou um frio olhar.
-Eu nunca o chamaria de amo, lesma. -elevou o queixo para indicar Jericho- É nosso novo aliado. Quero que mostre Zeth e o resto dos cães Olímpicos que lutam para nós.
Asmodeus se inclinou de forma verdadeiramente aduladora.
-Alguma coisa mais, Mestre? lamber suas as botas? limpar seu o traseiro?
Noir se moveu para frente, mas não se levantou do assento.
-Foda-me, verme, e isso será a última coisa que faça.
Os olhos do Asmodeus se alargaram enquanto acrescentava.
-E com essa nota, Mestre, levarei-o ante Zeth. -se deteve ao lado do Jericho- Vêem comigo, Mestre Menor. Mostrarei-te o caminho.
O demônio se dirigiu para a porta.
Que criatura mais bizarra. Jericho vacilou em seu lugar durante um momento mais enquanto Noir continuava com o olhar perdido.
-Há algo mais? -perguntou Noir de sua posição meio em repouso. Inclusive embora parecessse como se o tivesse esquecido, Jericho tinha tido a sensação de que nada escapava a atenção do Noir.
-Só é curiosidade. Quando dominar o mundo, O que planeja fazer com isto?
-Desfrutar. Passou muito tempo da última vez que fomos reverenciados pelas massas. Uma vez que o tenha provado, entenderá-o. E o recordará. Somos os Senhores Supremos. É leite materno para os de nossa
classe.
Noir tinha razão. Jericho não podia recordar a última vez que alguém tinha mostrado algum tipo de respeito por ele ou inclusive decência comum. Tinham passado anos de seu passado encerrado nas prisões,
masmorras e outros infernais buracos nos quais Zeus o tinha arrojado. Nenhuma parte dele tinha ficado sem violar.
sse era o por que queria estar coberto com o sangue dos Olímpicos. O Motivos pelo qual queria lambê-lo de seus dedos...
Inclinando a cabeça para o antigo poder, Jericho se deu a volta e seguiu o demonio. Asmodeus saiu da sala e desceu por um corredor que parecia iluminar-se. Que estranho.
-De onde vem a luz? -perguntou ao demônio.
Asmodeus elevou o olhar, então voltou a olhar ao chão enquanto caminhavam.
-Um, não acredito que queira que responda a isso, Mestre Menor.
-Por que não?
-Isso possivelmente o incomode.
-Então me incomode.
Asmodeus vacilou outros poucos segundos antes de responder finalmente.
-É pelo sangue dos Cali, não a deusa Kali, porque combinamos, fazê-la sangrar só a zangaria e não é pouca coisa já que ela é malditamente muito poderosa, embora provavelmente já sabe. Assim que esta
vem dos pequenos e inofensivos demônios Cali que foram criados quando furou o dedo com uma rosa. Esses Cali. Aparentemente seu sangue brilha. Quem sabe, verdade?
Jericho se deteve enquanto levantava o olhar. Os Cali eram uma benevolente raça de demônios que ajudavam a humanidade. Dado que ele nunca lutou com eles, não tinha nem idéia se seu sangue era azul
ou brilhava.
O sangue fluía através dos tubos, lhe recordando uma lanterna.
-Quantos foram utilizados para iluminar o corredor?
Asmodeus se encolheu visivelmente.
-Bom, verá, o problema com o sangue é que este freqüentemente se seca, e tem que ter um constante fornecimento disso, o qual não é realmente algo do que se supõe que falemos e por isso te disse que
não queria realmente que respondesse a sua pergunta. Tinha razão, huh?
O estômago do Jericho se encolheu ante o pensamento da fria brutalidade de matar a uma espécie só para usar seu sangue para iluminar. Então, pensou outra vez em que os humanos agarravam vaga-lumes
pela mesma razão. Não podia contar o número de pessoas as que tinha visto rir disso lubrificando o abdômen do pobre inseto sobre sua pele para fazê-la brilhar e então gargalhar disso.
Supunha que basicamente era o mesmo princípio, na verdade. Jericho continuou atrás de Asmodeus.
-Quantos demônios e pessoas estão escravizados aqui?
-Defina escravizado. -Asmodeus voltou para o mesmo.
-Retidos contra sua vontade.
-Boa definição. -se arranhou o queixo pensando - A mim?
-Por que não?
-Provavelmente um par de milhões... você sabe, é realmente difícil contar um milhão, além disso sempre estão morrendo e alguns novos entrando. Tentei contá-los uma vez, mas se fez realmente deprimente
assim me detive. O constante acrescentar e tirar. Realmente, não é meu forte.
Isto fazia que Jericho se perguntasse qual era o forte do demônio. Então outra vez, provavelmente, era melhor não perguntar.
-Quanto tempo faz que está aqui?
-Não sei. De novo tentei contá-lo uma vez, deprimi-me e o deixei. Encontro mais fácil só ir com a corrente. Fácil como as ervilhas.
Jericho franziu o cenho.
-Fácil como as ervilhas?
-Sim, -disse lentamente- entretanto, não é uma lembrança agradável. Vamos esquecer que o mencionei -se deteve a entrada de uma porta- Aqui estão. Possivelmente deveria avisar antes de que entremos.
Jericho passou por ele e abriu a porta de repente.
-OH, possivelmente não. Só entremos sem avisar e surpreendamo-los, verdade?
Jericho estava definitivamente estupefato pelo que encontrou. Havia Skoti bêbados por todos lados. Alguns entrelaçados em cenas que o Kama Sutra apreciaria. Teve que deter-se junto a um casal. A escarpada
flexibilidade requerida para fazer o que eles estavam fazenda era assombrosa...
Diabos, ambos necessitariam depois um quiroprático.
Se isto não os matasse primeiro.
-Estão bêbados de sangue. -disse Asmodeus explicando quando puxou o braço de Jericho.
-Parece que nunca celebraram antes suas vitórias. Pessoalmente me recordam um punhado de garotos bêbados de fraternidade, mas o que sei eu? Só vi o filme Animal House4. Ao menos nenhum deles está
pretendendo ser chefe.
Asmodeus deu de ombros.
Jericho franziu o cenho ante a confusão do demônio.
-É sempre tão prepotente?
Ele assentiu falador.
-Principalmente. Isto realmente irrita a Noir, o que é só mais um incentivo para mim. Ao menos tanto tempo como posso excedê-lo.
Jericho lhe dedicou um duro e investida olhar.
-OH! -se viu um pouco sacudido- Não vais chamuscar os meus testículos por isso,certo? Jericho admirou que fizesse essa seca pergunta que obviamente tocava de perto o querido coração do demônio.
-Não palanejo fazer isso.
Asmodeus se animou imediatamente.
-Bem. Então podemos ser amigos.
Amigos? Dada a personalidade do demônio, não estava tão seguro a respeito disso. Mas Asmodeous parecia bastante inofensivo e uma fonte de informação. Possivelmente não fosse tão mau tê-lo ao redor.
A condição de que pudesse acalmar-se. Havia algo sobre o demônio que lhe recordava um nervoso terrier Jack Russel5.
Jericho voltou sua atenção de novo aos quentes Skoti fora de controle.
-Quem os lidera?
-Aquele.
Asmodeus apontou para um sofá onde um macho Skotos estava enrolado com duas fêmeas meio nuas.
-Acredito que estão tendo problemas para ajustar-se às emoções que têm fora de seus sonhos. Pelo menos, continuam atuando como dementes adolescentes de quinze anos de uma versão porno de um filme
do John Hughes6.
Jericho franziu o cenho.
-Como está tão informado sobre a cultura pop?
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4-Filme de comédia americana, em espanhol "Desmame À Americana"
5-O Jack Russell Terrier é um cão ágil, que Apesar de seu tamanho pequeno tem muita força e resistência. É um Terrier de trabalho, alerta, tenaz e independente com a capacidade de ir clandestinamente.
Um excelente cão de companhia para pessoas ativas.
6-John Hughes foi uma das personalidades mais populares e representativas do cinema dos 80. Criador do Brat Pack, descobridor de Molly Ringwald, Anthony Michael Hall e Macaulay Culkin e reinventor
da comédia adolescente. Sua carreira como diretor, desenvolvida principalmente nos 80, abrange tão só 8 títulos, desde Dezesseis velas (1984) À pequena pícara (1991).
-Estiveste apanhado em um infernal buraco? Quando não está sendo torturado pelos psicopatas, não há muito mais que fazer. Além disso, eu gosto de Molly Ringwald7. Ela tem esse olhar demoníaco que
realmente me acende. Desejaria poder conseguir lhe tirar as calcinhas durante alguns minutos.
Claro... bom, ao menos isto explicava muito a respeito da lucidez do demônio.
Jericho observou ao Skotos, que era alheio ao feito de que ali tinha convidados não desejados enquanto beijava um atalho descendente pelo corpo da mulher.
-O tipo que os dirije é Zeth?
Asmodeus sorriu.
-Oooh, alguém estava prestando atenção na aula. Sim. Zeth. Apresentaria-o mas tampouco eu gosto dele. E desde que é o único destes meninos que gosta de arrancar asas dos demônios...
-Você não tem asas. -lhe recordou Jericho.
-Já não. Eis aí a palavra chave.
Jericho sentiu um calafrio de simpatia por sua dor. Não estava seguro se ainda tinha suas próprias asas ou não. Como humano, as tinham arrebatado. E desde que seus poderes tinham sido restaurados,
ainda não tinha tentado tirá-las.
Não querendo pensar nisso agora mesmo, atravessou o corredor e passou dos enlaçados corpos ao sofá onde Zeth parecia tão bêbado quanto o resto deles.
Ele não elevou o olhar até que Jericho se esclareceu garganta.
Zeth levantou a cabeça da garganta da mulher para o olhar.
Jericho franziu o cenho. Em vez dos comuns olhos azuis dos Skoti, os do Zeth eram negros. Tão negros, que nem sequer podia ver as pupilas do homem. Estavam dilatados ou algo tinha causado isso?
Zeth o olhou de cima abaixo.
-Quem é?
-Sua novo comandante.
Zeth bufou.
-Vá embora. Não preciso de outro, para foder.
-Muito tarde. -Jericho olhou ao redor para fazer uma idéia de quantos Skoti estavam na sala. Parecia ser várias centenas e nenhum se via sóbrio- Estão todos os seus soldados aqui?
Zeth inclinou a cabeça de novo de modo que uma das mulheres pudesse sugar seu pescoço.
-Não sei. Possivelmente.
Jericho tirou a mulher de Zeth, então o agarrou pela camiseta e o elevou até pô-lo em pé.
-Concentre-se, idiota. O que há com você?
A cabeça do Zeth caiu para trás.
-Não posso me concentrar. Há muita sobrecarga sensorial.
Zeth riu quando aplaudiu a Jericho no ombro.
-Precisa relaxar.
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7-Atriz juvenil dos anos oitenta.
Jericho teve que obrigar a si mesmo a não lhe dar a bofetadas juízo. Mas era difícil manter o controle.
-Preciso de você sóbrio. Como pode lutar com os Oneroi desta maneira?
-Não precisamos encurralá-los. Convertemo-los.
Aborrecido, Jericho o deixou ir e Zeth voltou a afundar-se no sofá. Sem uma palavra, Zeth rodou sobre outra fêmea enquanto a primeira se esfregava a si mesmo atravessando suas costas de modo que pudessem
retomar o sexo oral.
Ridículo.
-Asmodeus! -chamou-o Jericho, convocando de novo ao demônio.
Ele apareceu instantaneamente.
-Chamou Mestre menor?
-Estou procurando um deus chamado Deimos. Está aqui?
Asmodeus enrugou a cara antes de responder.
-Define aqui. De acordo, bem, não me grite. Eu não gosto que me gritem. Não está aqui nesta sala, obviamente, mas está no reino, se souber o que quero dizer.
-Me leve a ele.
Asmodeus olhou ao redor envergonhado.
-Supõe-se que tenho que fazê-lo?
-Se não o fizer, vais receber algo muito mais doloroso do que lhe arrancarem as asas.
Ele ofegou e então cobriu a si mesmo.
-É mau, é muito mau.
Jericho não tinha intenção de lhe fazer isso, mas não ia deixar que o demônio soubesse.
-E você está a ponto de sentir dor.
-Bem. Levarei-te. Mas se o "OH, Primeiro Grande Mal" se inteira, jogarei-te imediatamente a culpa. Não é meu incêndio. Não é meu problema. Não o possuirei, nem sequer por um amigo. Você mesmo com
isto, cara.
Desta vez Asmodeus não caminhou. Tocou o braço de Jericho e os transportou dentro de um escuro, iridescente buraco. Um insuportável aroma impregnava o lugar, como o faziam os gemidos e os rogos por
morrer finalmente. Noir definitivamente devia chamar a isto de lar, mas Jericho, apesar de seu desejo de vingança, não podia chamá-lo outra coisa que inferno.
-Onde estamos?
Asmodeus criou uma bola de luz em suas mãos, de modo que pudessem ver os corpos devastados que estavam encadeados e sangrando por toda parte.
-O lugar feliz de Noir. É para aonde traz os seres com os quais quer brincar.
-Castigar.
-Você diz castigar, eu digo brincar. Quer ver agora a Deimos?
Jericho tentou não se compadecer das pobres almas presas nesse triste lugar.
-Isso é pelo que estou aqui.
Asmodeus apontou para trás dele.
-Ele é a quinta vítima da parede. Acredito. É difícil dizê-lo, na verdade. Uma vez que foram o bastante golpeados suas feições começam a desfigurar-se e inchar, então imaginar quem é quem é uma putada.
Mas tinha fios loiros em seu cabelo quando o trouxeram. Se o sangue não o tingiu muito, possivelmente isso possa te ajudar a encontrá-lo.
Jericho lhe dedicou um olhar desgostoso antes de que começasse a abrir passo para as pessoas que estavam penduradas algemadas ao longo da parede. Asmodeus tinha razão. Não podia dizer quem eram e
isso honestamente o deixava doente.
Inimigos ou não, eram pessoas. E tinham sido torturados até a soleira da morte. Tendo sofrido muitos abusos a última eternidade, odiava vê-los na mesma situação a qual ele se viu reduzido em incontáveis
ocasiões.
Quando chegou ao quinto, viu os fios loiros através do escuro cabelo. Deimos estava pendurado como se estivesse morto. Seus inchados olhos estavam fechados, sua cabeça descansando contra seu ferido
braço. Estilizadas tatuagens negras ziguezagueavam desde sua têmpora descendo por seu rosto. Suas roupas estavam rasgadas e ensangüentadas. Entre os rasgões do tecido, Jericho podia ver as profundas lacerações
e feridas.
Noir devia ter passado um excelente momento com o Dolophonos que atualmente tinha pouca semelhança com seu gêmeo, Phobos.
No momento em que Jericho se deteve frente a ele, Deimos abriu os olhos e investiu para ele, preparado para lutar apesar de seu patético estado.
Jericho retrocedeu e quase o golpeou por reflexo.
Seus olhares se encontraram e se cravaram. Deimos deixou escapar um desvanecido grunhido quando o reconheceu.
-Cratus?
Ele inclinou a cabeça.
-O que está fazendo aqui? -seu olhar baixou ao intacto corpo do Jericho antes de que amaldiçoasse- Traidor!
Sua condenação fez estalar a fúria de Jericho. Como se atrevia esse bastardo a olhá-lo dessa maneira.
-Traído.
-Foda-se!
Jericho curvou os lábios.
-Agora sabe como me senti, irmão. Lembra o dia no qual se voltou contra mim?
-Como pôde?
Isso era cômico.
-Essa era a mesma pergunta que me perseguiu desde que o olhei enquanto Zeus me mantinha no chão e você olhava a seus pés. -Jericho agarrou a cabeça do Deimos e fez que encontrasse seu olhar- Me reteve
enquanto minha mãe queimava suas palavras em minha carne. Ainda posso sentir a dor de seu braço ao redor de minha garganta.
-Ganhou seu castigo.
Jericho se conteve para não golpeá-lo e aumentar a sua dor. Como podia Deimos não desculpar-se depois do que lhe tinha feito? Tinham sido amigos antes disso. Isso era pelo que não sentia lástima por
nenhum deles. Eles não a tinham tido com ele. Que se fodessem todos.
-E você ganhou o seu, -disse ele sem piedade- filho das Fúrias. Quanta gente torturou através dos séculos por sua mãe e Zeus? Fede ser você agora, huh?
Deimos tentou golpeá-lo com a fronte, mas Jericho se afastou.
-Noir vai matar-nos.
-Assegurarei-me de que tenha um encantador réquiem.
Deimos sacudiu a cabeça.
-Assim, é assim então? Não tem remorsos?
Jericho abriu os braços e deu de ombros lhe subtraindo importância.
-Somos os produtos de nosso passado. Mas se isto o faz sentir algo melhor, sinto muito por você.
Deimos se burlou.
-Sentirá inclusive mais quando também estiver pendurado nesta parede. Não pense nem por um minuto que Noir não te fará isto. É o deus que inventou a traição, e estou seguro que já tem um espaço aqui
com seu nome gravado nele.
Jerico riu ante sua advertência.
-OH, irmão, todos vocês me ensinaram bem. Nunca me porei nessa posição outra vez... Acredite em mim. Aprendi minha lição das mãos dos Dolophoni sob seu mando. Não tenho intenção de dar a Noir nenhuma
razão para voltar-se contra mim. Sou seu comandante. Para sempre.
-Jericho?
Atônito de que alguém nesse buraco conhecesse o nome que tinha adotado, Jericho olhou para sua direita ao próxima prisioneiro pendurado na parede. Como a Deimos, tinha sido grosseiramente golpeado.
Seu escuro cabelo pendurava ao redor de um rosto deformado por inchados lábios e um olho arroxeado tão grave que toda a parte branca desse olho era vermelho pelos vasos sangüíneos arrebentados.
Levou-lhe um minuto inteiro reconhece-lo. Foram aqueles olhos os que lhe deram a resposta. Um marrom escuro e outro de um brilhante verde...
Jaden.
Jaden era o único dos demônios ao que convocavam sempre que queriam intercambiar favores com Noir ou Azura. Jericho sabia que Jaden vivia ali com eles, mas tinha pensado que o negociador teria um
lugar ao que chamar próprio, não ser encerrado com o resto das vítimas.
Atônito, Jericho liberou Jaden e retrocedeu.
-O que está fazendo aqui?
Jaden riu com amargura.
-Meus aposentos lhe ofendem? Fiz bastante uso deles. Embora uma vista de algo que não sejam corpos destroçados seria uma mudança agradável.
Jericho franziu o cenho.
-Você serve à fonte. É um deles.
Jaden sacudiu a cabeça.
-Sirvo a Noir e Azura. Palavra de sábio, não os incomode. Por alguma razão, parece que eu não posso me deter. Suponho que os velhos hábitos dificilmente morrem -baixou o olhar seu a destroçado e ensangüentado
corpo que já estava coberto por roupas- Como eu. Mas não se preocupe. Estou seguro de que serão mais amáveis com você do que o foram comigo. Mantive sua inimizade durante muito tempo antes de que viesse
aqui, o qual é parte da razão pela que gostam de me estripar cada vez que têm oportunidade.
Ele olhou além do Jericho para ver Asmodeus ocultando-se nas sombras. A luz de sua mão era tênue e mortiça. Jaden o chamou.
-Mo, quanto tempo sem verte.
-Sim, também se vê melhor que a última vez. Disse a você que não fodesse a Noir. Um dia vai me escutar.
-Por que começar agora? -disse Jaden.
Asmodeus assentiu.
-Ah, tem razão. O fato de sangrar tanto agora realmente não importa, não é?
Deimos franziu o lábio.
-Todos vocês me deixam doente -puxou as correntes como se tentasse quebrá-las.
Jaden o ignorou enquanto fixava seus desiguais olhos sobre Jericho.
-Por certo, seu bebê vive.
Jericho não tinha idéia do que estava falando o homem. Ele não tinha um bebê.
-O que?
-O bebê que salvou faz todos esses séculos. Só queria que soubesse que nunca sofreu em vão. O bebê viveu e cresceu saudavel.
Bom para o pirralho.
-Acha que me importa?
Jaden deu de ombros.
-Deu sua divindade por ela. Pensei que possivelmente o fizesse.
O cenho franzido do Jericho se fez mais profundo.
-Ela?
Que incrível, mas nem se incomodou em comprovar o sexo do infante antes de entregá-lo. Não lhe tinha importado então. Tudo o que tinha visto era o sorriso do bebê e seus quentes olhos.
Jaden assentiu.
-A Oneroi Delphine é o bebê que você salvou.
Jericho desabou pelas notícias. O ar deixou seu corpo quando essas palavras o atravessaram. Sacudiu a cabeça em incredulidade.
Não podia ser.
-Sabe que é verdade, -disse Jaden, sua voz profunda e segura- no momento em que viu-a, reconheceu-a pelo tanto que se parece com sua mãe.
Ainda assim, negava-se a acreditá-lo. Quais eram as probabilidades?
-Está mentindo.
-Por que o faria?
-Todo mundo mente.
-Eu não.
Jericho estremeceu quando se sentiu ainda mais traído por isso. E ainda assim quando o considerava, sabia que Jaden não estava mentindo. Algo que ele sabia instintivamente.
Ele tinha salvado Delphine...
A mulher que esperava em seu quarto era a mesma pessoa pela qual tinha dado toda sua vida.
A fúria o atravessou. OH, aquilo era pura ironia.
E ela tinha para com ele uma dívida que estava mais do que interessado em cobrar. Antes de que esse dia tivesse terminado, ia obter satisfação de sua parte.
CAPÍTULO 5
Com a fúra invadindo-o com força, Jericho entrou de repente em seu quarto. Então parou em seco quando encontrou a Delphine adormecida sobre a cama, debaixo de sua capa de sangue. O semblante pálido,
com o cabelo loiro caindo em cascata ao redor dela em uma confusão suave e enredada que fazia que sua mão se agitasse pelo desejo de tocá-lo.
Tinha um débil ronco que estranhamente gostou de ouvir e o esquentou.
Assim em vez de gritar com ela por algo que não era sua culpa, cruzou o aposento e se ajoelhou ao seu lado. Era difícil reconciliá-la com aquele doce e feliz bebê, que tinha envolto seus dedinhos
ao redor dos seus e tão apertadamente, que o afetou como nada alguma vez o tinha feito.
Agora compreendia por que seus olhos tinham lhe dado calma.
Tinha-o impregnado fundo, como o fez então. Mas, por que? O que é que isso tinha que o sossegava? Quem em seu são julgamento ia destruir toda sua vida e seu futuro para salvar a um estranho?
Certo, tinha conhecido sua mãe, mas não a fundo. Realmente tinham sido estranhos. Tinha conhecido o nome de Leta. Era uma deusa do sonho. Mas francamente, nunca tinha se preocupado além disso. Dado
que Leta nunca tinha incomodado a Zeus e não se moveu nos mesmos círculos que ele, não havia nenhuma razão para serem amigos.
Entretanto, a noite em que seus mundos tinham se chocado violentamente, tinham perdido tudo.
Zeus, furioso sobre o sonho que um dos Onerois tinha lhe dado, exigiu que todos os deuses dos sonhos se reunissem para a sentença. Leta e todos aqueles que se casaram com humanos, deviam perder para
a morte, a seus maridos e a qualquer descendência que tivessem tido. Zeus não tinha querido que ninguém com possibilidades de feri-lo outra vez sobrevivesse.
Os Onerois tinham sido torturados e despojados de suas emoções para toda a eternidade. Zeus imaginou que se não tinham emoções, não se sentiriam tentados por nenhum motivo a brincar com os sonhos
de ninguém outra vez.
O que não tinha tido em conta, é que através dos sonhos poderiam ser capazes de canalizar as emoções dos adormecidos. Tanto é assim, que alguns dos Onerois se converteram em viciados nisso, já que
era a única maneira em que podiam sentir algo mais que o vazio.
Assim foi como nasceram os Skotis. Então chegou a ser o trabalho dos Onerois vigiar e matar a seus irmãos com o fim de que nenhum deles sofresse de novo as conseqüências sob o mandato de Zeus.
Em uma parte desse círculo vicioso, Jericho tinha prejudicado a Leta inclusive mais do que os Dolophonis e Onerois o tinham prejudicado. Só o tinham matado. Tinha tirado a Leta tudo o que mais amava.
A seu marido e a sua filha.
Os gritos desesperados de Leta ainda ecoavam em sua cabeça. Tinha gritado até a rouquidão e não podia culpá-la por isso. Considerando o que era arrebatado dela.
Talvez os últimos séculos servissem de justificativa. O que tinha feito a ela tinha sido imperdoável. O minimo que podia ter feito era informá-la de que ele tinha salvo a sua filha. Mas tudo tinha
ocorrido tão rápido, que não tinha tido tempo suficiente. Por não mencionar que se alguém se interasse do ocorrido, teriam matado Delphine.
Imediatamente.
Aqui estava ela... viva. Porque a tinha escondido e nunca havia dito nenhuma palavra.
Jaden tinha razão. Seu sofrimento não tinha sido em vão. Ela tinha crescido e era formosa.
Colocando a mão sobre o cálido rosto de Delphine, inclinou a cabeça para estudar suas feições enquanto descansava. Era tão parecida com sua mãe. E ao mesmo tempo tão diferente. O cabelo loiro fazia
seus traços mais suaves. Convidativos.
Seu coração se acelerou ante a suavidade de sua pele sob a ponta dos dedos. Realmente, não havia tocado a uma mulher em incontáveis séculos.
Passou a mão do rosto ao cabelo. Uma parte dele queria tanto beijá-la que não estava seguro de como evitar fazê-lo. Possivelmente porque estava adormecida e não queria violar a paz que parecia ter
encontrado.
Sonharia ela?
Com que sonhavam os Onerois? Seus próprios sonhos estavam cheios de batalhas. Jamais tinha conhecido a paz no reino do sonho. Como um deus imortal, tinha sido violento e cruel. Os sonhos refletiam
essa realidade.
Como humano, não tinha sonhado absolutamente, já que tinha passado a noite como um cadáver. Não, isso não era certo, tinha sonhado enquanto estava acordado. E nesses, tinha escapado a refúgios pacíficos.
Uma praia tranqüila. Uma cabana no bosque. Um oásis no deserto. Lugares que estavam isolados do mundo onde ninguém podia faze-lo se sentir pequeno e sem nenhum valor. Onde ninguém podia matá-lo ou lhe
fazer nenhum tipo de dano.
Onde tinha sua velha força de volta e ninguém podia tocá-lo...
Agora voltava a tê-la. Tinha poder. Tinha dignidade. E o mais importante de tudo, tinha a uma formosa mulher em sua cama...
O motivo pelo qual perdeu tudo.
Odiou-a por isso. Ela tinha crescido sem saber que sua vida tinha sido paga com mais sofrimento do que jamais poderia imaginar.
Fechou a mão em seu cabelo, querendo lhe fazer mal por tudo isso. Mas era consciente de que não era sua culpa. Tinha sido uma menina inocente.
Tinha sido sua própria decisão a que arruinou sua vida. Poderia havê-la matado como Zeus ordenou e tudo teria sido mais simples.
Para ele.
-Valeu a pena meu sacrifício? -sussurrou.
Seus olhos piscaram antes de abrir-se como se suas palavras a tivessem alcançado. No momento que o viu, saltou com um forte ofego. Ele tentou afastar a mão, mas seu cabelo se enredou ao redor dos
dedos. Ela gritou quando o movimento puxou seu cabelo.
-Sinto muito -disse, perguntando-se por que o fazia, quando tinham sido as próprias ações dela o que tinham provocado o dano, não as suas.
-O que estava fazendo? -acusou ela.
-Nada.
Delphine franziu o cenho devido a seu tom triste e zangado. Sua conduta recordava a um menino surpreendido com as mãos em um pote de bolachas. Esfregando o lugar dolorido da cabeça, esmagou sua própria
cólera.
-Aonde foi?
-Fui ver Deimos.
Ela se sentou enquanto um tremor de entusiasmo a percorria.
-Viu m'Adoc? Está vivo?
Jericho sentiu um golpe de ciúmes ante o óbvio interesse e preocupação que tinha pelo líder dos deuses do sonho. M'Adoc nunca se sacrificou por ela.
-Não, não o vi.
Viu que estava desiludida, e isto acabou com qualquer satisfação que ele pudesse sentir.
-Deimos está bem?
Tratava-se de uma questão de opinião. Pessoalmente, nunca tinha pensado que o deus estivesse de todo bem, mas era discutível.
-Já o vi melhor. Calma, está vivo, embora Noir o tenha trinchado bastante bem.
-E suponho que isso o faz feliz.
-Não. -respondeu com sinceridade- Apesar do fato de querer gopeá-lo eu mesmo, não quero ver ninguém torturado.
-Nem sequer a Prometeo?
-Por que me provoca? -grunhiu.
Delphine se deteve ante sua pergunta. Honestamente, não sabia. Realmente não estava em sua natureza alfinetar às pessoas. Entretanto, no momento em que ele se aproximava, ela queria sua jugular. Totalmente
fora de seu caráter.
-Irrita-me.
-Irrito você?
Ela assentiu com a cabeça.
-Tem o poder de salvar as pessoas e apesar disso tem a intenção de lutar para o Noir. Isso me irrita.
Ele soprou ante suas palavras.
-Me dê uma razão verdadeiramente tangível pela qual deveria lutar para um deus que me mostrou quão pouca consideração me tem. Ou para um panteão inteiro que passou milhares de anos me atacando.
-É o correto. -mas soou ridículo inclusive para ela.
Ele arqueou uma sobrancelha.
-Bem. Admito que não tem sentido, mas é a melhor razão. É um bom homem. Sei disso.
Ele riu amargamente enquanto se aproximava do aparador para deixar sua espada. Sua mão se atrasou sobre a bainha como se temesse soltá-la. E deste ângulo, ela tinha uma vista muito agradável de suas
musculosas costas. Alto e bonito, facilmente podia deixar sem fôlego a uma mulher, fazia com que seu coração se acelerasse.
-Não sabe nada a respeito de mim. -disse ele simplesmente.
-Estou disposta a aprender.
Ele voltou a girar com ira.
-A que jogo está tentando jogar?
Ela retrocedeu na cama. Não atemorizada com ele, mas preocupada de seguir irritando-o inclusive quando não era sua intenção.
-A nenhum, Jericho. Estou aqui. Sou sua prisioneira. Azura me entregou a você nua para que me atacasse e me fizesse mal. -disse enquanto recolhia uma esquina da capa que ainda a rodeava- Me cobriu.
Estas não são as ações de alguém inatamente cruel. Acredito que há algo verdadeiramente bom dentro de você. -Estava disposta a apostá-lo- Por que me cobriu?
Jericho chiou os dentes. Porque ninguém merece ser envergonhado dessa maneira. Sabia por experiência pessoal. Mas jamais o diria em voz alta. Não queria que soubesse o quanto era fraco, no concernente
a ela. Poderia utilizar isso contra ele, e tinha tido mais que suficiente de deuses brincando com sua vida. Nunca ninguém voltaria a ter controle sobre ele.
-Asmodeus? -chamou.
Esperou até que apareceu o demônio.
-Chamou, oh, malvado Mestre Menor?
-Tenho fome. Onde posso encontrar comida aqui?
Asmodeus alargou desmesuradamente os olhos como se lhe parecesse uma loucura que Jericho fizesse essa pergunta.
-Para falar a verdade, não o aconselho a comer neste reino. Quero dizer, pode, se você quiser, mas...
-Mas o que? -incitou Jericho, quando Asmodeus parecia ter balbuciado e haver-se detido.
-Temos alguns demônios que se excitam pelo aroma da comida -disse enquanto se retorcia as mãos- Tendem a voltar-se bastante violentos quando a cheiram. Pessoalmente não serei apanhado comendo nada
porque acabaria morto. Talvez você não. Mas ainda há outra coisa sobre eles, têm um mau aroma, muito mau, pode chegar a estragar seu apetite. Uma vez mais, pode ser que não. Como ocorre a Noir. Acredito
que abre o seu apetite, especialmente quando os estripa. Doentio, mas certo.
Asmodeus olhou a Delphine e seus olhos se alargaram outra vez, desta vez com apreciação e interesse.
-OH, olá, preciosidade, não nos conhecemos. -Dedicou-lhe um sorriso encantador enquanto a beijava meigamente a mão-Asmodeus, demônio extraordinário a seu serviço. Qualquer serviço que você possa requerer,
especialmente esses que implicam nudez e juntar partes do corpo com partes do corpo de outras pessoas.
-Asmodeus! -disse bruscamente Jericho-Não a verá, ouve-me?
Saltou para trás como se algo o tivesse eletrocutado.
-Completamente cego, Mestre Menor. A audição está intacta -fez um gesto com as mãos abrangendo o aposento- Há alguém aqui, além de nós dois? Não? Bom. Agora vou a menos que o Mestre Menor tenha outra
tarefa preferivelmente não dolorosa para mim.
-Está dispensado.
-Fantástico. -Asmodeus desapareceu.
Delphine olhou com o cenho franzido a Jericho.
-Não está bem, verdade?
-Sim, acredito que Noir poderia ter golpeado-o na cabeça muitas vezes e com força.-Olhou-a- Quer se unir a mim para comer algo?
-Enquanto não implique vísceras de demônios, poderia ser tentada.
-As vísceras de demônio não me atraem, as de Zeus é outro assunto.
Ela enrugou o nariz ante o pensamento.
-Oh.
Estirou a mão para ela.
Delphine vacilou, perguntando-se se deveria fazê-lo em lugar de encontrar um caminho para M'Adoc e Deimos, mas não podia consegui-lo sem Jericho. Talvez a comida o predisporia a um humor mais agradável.
Contra seu bom julgamento, deu-lhe a mão.
Assim que o fez, ele os teletransportou a New Orleáns, a um pequeno beco no Exchange Place. Parecia as primeiras horas da tarde, mas era difícil de dizer com certeza porque o tempo na Terra era diferente
que nos outros reinos. O que poderia parecer quinze minutos na Azmodea poderia ser um ano na Terra. Um ligeiro exagero, mas...
Ela observou o beco deserto que estava bordeado de lojas. Que lugar tão estranho para escolher. Não sabia o que esperava, mas não era isto.
-O que estamos fazendo aqui?
Ele trocou sua roupa por um par de jeans, uma camisa negra e cabelo escuro antes de dirigir-se para a rua.
-Vamos comer. O que foi? Tem Alzheimer?
Ela entrecerrou os olhos.
-Não, mas não vejo nenhum restaurante por aqui.
Dedicou-a um olhar de "evidente".
-Se tivéssemos chegado diretamente no interior do restaurante, as pessoas se teriam posto a gritar enlouquecidas. Para não mencionar, a webcam que têm e que faria muito mais difícil fazer poof no
interior. As malditas pessoas modernas e seus instrumentos mágicos. -disse sarcásticamente- Como sinto falta dos dias em que podíamos matar e assar um frango, não?
Ela revirou os olhos.
-Realmente não pode deixar de ser um idiota, não é?
-Provavelmente poderia, mas não vale a pena o esforço. Os deuses a proibem de se apaixonar realmente por mim. Assim aonde nos conduziria?
-Não tenho a menor ideia, mas possivelmente esteja disposta a me arriscar.
Seu olhar se obscureceu.
-Não quer ver o que há dentro de mim, Delphine. Não é nada bonito.
Delphine se aproximou até tocar a cicatriz que desaparecia sob o emplastro.
Agarrou a mão dela em um forte apertão.
-Não disse que pode me tocar.
-Não, não o fez. Sinto muito. -Soltou sua mão e viu como se encaminhava rigidamente para a rua onde havia um restaurante chamado Acme Oyster House.
Delphine o seguiu apesar de que seu coração se ressentia pela culpa de ir comer, enquanto seus irmãos sofriam.
Convence-o e poderá salvá-los. Que mais podia fazer? Enquanto não tivesse seus poderes de deus, estava a sua mercê.
Estremeceu quando ela finalmente entendeu o verdadeiro horror de tudo o que ele tinha padecido. Era tão difícil viver sem os poderes que tinham sido uma parte dela quase toda sua vida. Estar à mercê
de outros. Como ele tinha suportado isso?
O mundo era aterrador. E isso deu a ela uma nova apreciação pelos humanos que habitavam este lugar. Sobretudo porque eram a presa para muitos seres mais poderosos.
Ela se deteve na porta enquanto a garçonete agarrava os menus e olhava a toda a gente reunida. Pessoas que não tinham nem idéia que Jericho era um deus e ela sua prisioneira...
A garçonete os sentou em uma mesa diante de uma janela que dava à rua. Embora a televisão estivese ligada e as pessoas falassem, podia escutar a música da Bourbon Street, a qual estava a uns poucos
metros de distância.
Como desejava que Deimos e os outros pudessem estar aqui agora e não em alguma cela de retenção onde os teria posto Noir.
-Ocorre-te algo? -perguntou Jericho.
O olhou e suspirou.
-Estou preocupada com meus amigos. Parece-me mal comer, enquanto Noir os tortura.
Jericho deixo o menu para dedicar a ela um olhar reprovador.
-Em primeiro lugar, não me quer muito faminto. Jamais. Sou um bastardo, inclusive mais do que o normal e estive morto de fome durante séculos, não estou disposto a que ocorra de novo quando não tenho
porque fazê-lo. Em segundo lugar, me deixe te dizer algo a respeito de seus amigos. Deimos me sujeitou enquanto era marcado e logo me levou ao reino humano onde fui abandonado sem nada. Nenhuma roupa,
nenhum dinheiro. Nada que pudesse considerar meu. Daí a fome já mencionada.
Ela se encolheu pelo que descrevia.
Mas ele não teve piedade dela.
-Cem anos mais tarde, M'Ordant -um dos líderes dos Onerois que tinha sido mentor de Delphine- me lançou dentro de um campo de prisões em Esparta e disse à comandante que eu tinha traído a sua gente.
Realmente não vai querer saber o que os espartanos faziam às pessoas que consideravam traidoras. D'Alerian -o terceiro líder que com M'Adoc formavam a equipe- me deixou dentro de uma prisão turca no século
XV onde fui empalado depois de uma tortura que durou três semanas. -Seu rosto era estóico, mas a dor que refletia seu olho era insuportável- Por tudo isso, terá que me perdoar se não me provocar nenhum
remorso sua situação. Pelo menos ninguém lhes está empurrando uma aguda ponta pelo traseiro.
A ela lhe fez um nó no estômago com os horrores de seu passado.
-Foi empalado?
Sua expressão se voltou impenetrável.
-Sabe o pior sobre o empalamento? Não morre imediatamente. Pendura sangrando e dolorido enquanto a ponta vai percorrendo lentamente seu caminho através de seu corpo até que perfura algum órgão vital.
Reza aos deuses que adora para que nunca saiba o que se sente.
Afastou o olhar, incapaz de fazer frente às emoções que a encheram. Como podiam haver feito isso a um dos seus? Por outra parte, tinham sido mais cruéis com outros por razões insignificantes. Era
pelo que ela tinha feito todo o possível para manter-se fora de seu alcance.
Com a garganta fechada, sentiu deslizar uma lágrima pela rosto.
Jericho se congelou quando viu o brilho à luz das velas. Sem pensar, aproximou-se para tocar o seu rosto molhado.
-Lágrimas?
Afastou sua mão e limpou as lágrimas.
-Sinto o que fizeram. De verdade.
Lágrimas...
Por ele. Nunca ninguém tinha chorado por ele antes. E quando ela se encontrou com seu olhar, seus olhos verdes avelã ainda lacrimejavam. Algo se quebrou dentro dele dolorosamente. A fazia sentir dor.
Como podia ser?
Não, não era possível. Era outra artimanha destinada a debilitá-lo. A arruiná-lo.
Um profundo grunhido percorreu sua garganta.
-O que está fazendo?
Olhou confusa por sua pergunta.
-Nada. Estou só sentada aqui.
Agarrou-a pelo pulso.
-Está jogando comigo?
-Jogando com você como?
Apertou mais seu pulso.
-Juro que se está tentado me atrair a seu lado, matarei-a. E precisará mais do que umas quantas lágrimas falsas para me influenciar.
Ela arrancou o braço de sua mão.
-Realmente é tão cínico que não pode pensar que alguém pode sentir-se mal pelo modo com que o trataram?
Ele não respondeu.
Delphine se horrorizou pela incapacidade que ele mostrava para compreender a compaixão.
Queridos deuses, com a falta de emoções que tinha, deveria ter sido um Oneroi.
-Certo, então serei uma cadela, já que é a única coisa que compreende. - Agarrou e abriu o menu para começar a ler.
Jericho queria estar zangado e ofendido, mas se sentia de algum modo... Mal.
Teve que tragar realmente uma desculpa.
Por que? Havia dito a verdade. Não queria emoções fingidas desenhadas para debilitá-lo.
E se não o eram?
O que aconteceria se fossem honestas e reais?
Não vá por aí, idiota. Sabe melhor que ninguém. As pessoas que nasceram com você não puderam sentir piedade nem compaixão por você. Como poderia uma estranha?
Era certo. Não era nada para ela e ela era... o motivo de seu sofrimento.
Olhou o menu, logo voltou a observá-la. Sua fronte estava franzida enquanto lia e uma mecha loira caía sobre seus olhos. Tinha o olhar completamente concentrado na comida. Por alguma razão que não
podia entender, tinha o desejo de colocar aquela mecha de cabelo em seu lugar.
O que está errado comigo?
-Como cresceu? -perguntou antes de dar-se conta.
-Perdão? -aprofundou o cenho de sua fronte.
-Sua família. Como era?
Delphine quis lhe dizer que não era de sua conta, mas a sinceridade que refletiam seus olhos a deteve. Parecia realmente interessado, e não queria que se encolerizasse outra vez. Verdadeiramente preferia
as conversações tranqüilas. E eram tão poucas.
-Não conheci meu verdadeiro pai. - Era algo do que nunca tinha falado realmente com ninguém. Em sua maior parte porque ninguém jamais tinha perguntado ou tinha se importado- Arikos me contou que meu
pai era um Skoti que seduziu a minha mãe em um sonho. -Uma parte dela ainda desejava que a tivesse procurado depois de haver-se unido a suas fileiras. Era seu lado humano que queria pôr rosto em seu misterioso
progenitor. Teria sido agradável ter conhecido ao que entre os milhares deles a tinha engendrado.
Mas não queria estender-se nisso.
-Minha mãe era uma mulher amável. Encantadora. -Um pequeno sorriso apareceu na comissura de seus lábios, ao recordar a beleza no rosto de sua mãe e a ternura de seu toque. Tinha amado sinceramente
a sua mãe, que jamais levantou a voz a ninguém. Não queria dizer que não fizesse frente às pessoas. Só o fazia de uma maneira tranqüila, doce que Delphine sempre tinha admirado.
-Fazia umas bolachas de mel que eram tão deliciosas que se derretiam na boca antes de poder engoli-las. -Fechou os olhos quando sentiu um nó na garganta ante a familiar dor que a provocava o fato
de que sua mãe já não estava com ela- Perguntei a ela uma vez que ingrediente especial utilizava. Disse-me que era o amor que sentia por mim o que acrescentava. -Delphine piscou afastando as lágrimas ante
a lembrança.
Como podia continuar sentindo falta de uma mulher que não tinha visto em séculos? E, entretanto, sempre haveria uma parte dela que teria saudades de sua mãe, de seu coração amável e de sua alma aprazível.
-Teve um padrasto?
Assentiu com a cabeça.
-Foi um bom homem. Um ferreiro. Estava acostumado a levar bebida para ele enquanto trabalhava, e ele inventava histórias engraçadas para me entreter. -Ainda guardava o coração de prata que tinha feito
para ela quando era uma menina, com a marca de ferreiro. Tinha-o guardado em uma pequena caixa em seu quarto da Ilha Desaparecida. Inclusive com as poucas emoções que tinha, tinha-os amado muitíssimo,
e isso dizia mais deles que dela. O fato de que a podiam fazer sentir como se eles...
Uma parte que a entristecia era que não havia posuído por completo um coração humano para lhes dar todo o amor que eles mereciam.
Jericho apartou o olhar de seu rosto nostálgico, desejando poder estabelecer uma conexão. Mas o mundo que descrevia não era nada parecido ao de sua infância. Seus pais poucas vezes eram amáveis e
os dois tinham lutado ferozmente.
-E irmãos? Teve algum?
Ela negou com a cabeça.
-Não. Fui filha única. Acredito que é a razão pela qual me adoravam dessa maneira.
-Foram bons com você?
Delphine franziu o cenho suspeitosamente. Não é que a culpasse. Estava sendo intrometido, mas tinha que saber se tinha feito o certo por ela. Por favor, me diga que não sofri sem razão...Tinha que
ouvir que tinha servido para algo, embora não estivesse seguro do porquê era tão importante para ele. Tudo o que sabia é que uma parte dele morreria se tivesse sido de algum jeito prejudicada por sua decisão.
-Por que se importa? -perguntou-lhe.
-Tenho curiosidade...
Entretanto, a suspeita seguia dançando em seus olhos cor avelã. Queria uma razão tangível, mas não podia dar-lhe.
-Sim, foram muito amáveis comigo. Apesar de sermos pobres, nunca precisei de nada. Acredito que já que não podiam ter mais filhos, derrubaram todo seu amor em mim.
Jericho não sabia por que seu coração se aliviou, mas o fez. Tinha escolhido bem seus a pais.
Bem.
Ela tomou um gole de água.
-E quanto a você? Teve uma boa relação com seus pais?
Um bufo lhe escapou antes de dar-se conta. Mas, por que ocultar a verdade? Não era como se em todo o Olimpo não soubesse que tipo de família teve.
-Minha mãe é a deusa do ódio e meu pai o deus da arte da guerra. Minhas irmãs são as deusas da força e a vitória, meu irmão, o deus da rivalidade. Digamos só que suas personalidades não se encaixavam
em um tranqüilo e pacífico lar. Em qualquer momento em que as coisas começavam a ir muito bem, Zelos estava ali para nos jogar uns contra os outros.
E essas são as boas lembranças. Seu pai tinha passado sua infância lhes fazendo "mais fortes". Sua mãe os enchia de ódio porque segundo suas palavras: "O amor é volúvel, e traiçoeiro. Mas o ódio dura
para sempre. Dá-te força e nunca o deixará frio".
O fato de que os outros deuses, incluído Zeus, jurassem sobre sua mãe e logo estivessem aterrorizados de romper esse juramento por medo a sua ira, dizia muito a respeito da personalidade "delicada"
de sua mãe.
Sua idéia de lhe agasalhar na cama quando era jovem, tinha sido lançá-lo a um fossa de lava e ver como esta lhe cobria.
-Por que fez isso?
-Será por sua força pelo que te conhecerá. Nunca deve depender de outro para procurar ajuda.
Todo mundo se afunda ou nada por seu próprio esforço. Nunca esqueça isso.
-É uma fossa de lava.
Sua resposta tinha sido como um insidioso revés.
-Suportará isso. Saberá lutar e jamais me envergonhará.
Sim...
Sua infância tinha sido grandiosa.
Delphine sacudiu a cabeça, enquanto retorcia um canudo entre as mãos.
-Encontrei-me com seu irmão Zelos uma vez. Foi um completo idiota.
-Não tem nem idéia. -Ela deveria haver-se criado com esse malvado bastardo para fazê-lo.
Jericho se deteve quando a garçonete voltou para tomar nota de seu pedido.
Delphine ficou indecisa quando foi sua vez de escolher. Olhou o menu com incerteza.
-Não sei o que comer.
Jericho se recostou na cadeira.
-Prova o prato combinado. Tem um pouco de tudo. Se você não gostar, sempre pode pedir outra coisa.
-Tudo bem. -fez o pedido e a seguir entregou o menu à garçonete- Come freqüentemente aqui? -perguntou uma vez que ficaram novamente sozinhos.
Ele olhou através da janela à pequena fila de pessoas, que esperavam para entrar e tomar assento.
-Não. A noiva do Darice trabalha aqui e costumava levar-lhe a comida durante o almoço. Sempre parecia e cheirava bem, assim quis prová-la.
Jericho se deteve quando se deu conta do que estavam fazendo... Estava comendo acompanhado. Não o tinha feito em séculos.
Mais que isso, conversavam. Compartilhavam. Algo que nunca tinha feito com ninguém.
Era estranho.
Delphine ficou calada enquanto esperava a comida. Seguia pensando em M'Adoc e Deimos, junto com os outros prisioneiros de Noir. O que estaria ocorrendo com eles? Sabia que estavam sofrendo, tinha
isso presente constantemente.
Enquanto lançava um olhar ao restaurante, perguntou-se o que seria dos lugares como este se Noir obtinha seus planos. Deixaria algum em pé, ou os destruiria todos?
Não era correto nem justo. Nenhuma das pessoas que falavam e riam tinha a menor ideia de que o mal estava ao seu redor. Que estavam a beira da aniquilação total e que uma das pessoas que podia evitá-lo
estava sentada frente a ela sem se importar.
Viu um casal sair pela porta agarrados pelo braço. Franziu o cenho, não podia apartar os olhos enquanto se detinham fora e se beijavam. Pareciam tão felizes e apaixonados.
O que se sentiria?
-Parece que nunca viu ninguém beijar-se.
Desviou o olhar para Jericho.
-Vi-o. Simplesmente que não na vida real.
Olhou ao casal até que desapareceu da vista. Logo voltou seu penetrante olhar para ela.
-Alguma vez beijou?
Dedicou a ele um olhar divertido.
-Arik me levou a Ilha Desaparecida quando tinha quatorze anos. Portanto, não. Nunca beijei. Os Onerois não são precisamente pródigos em afeto. Tudo o que implique sentimentos me é desconhecido.
Jericho teve que concedê-la esse ponto. Zeus fez um bom trabalho com todos eles.
-Alguma vez tiveste a tentação de ser Skoti?
-Passou por minha mente brevemente, mas não, não realmente. Nunca chegaria a ser um deles.
Sua forte veemência o surpreendeu. Tinha alcançado algo dentro dele.
-Por que?
Seu olhar se entristeceu enquanto revolvia o gelo de seu copo com o canudo.
-Havia uma mulher em minha aldeia quando eu era uma menina. Bonita e doce, trazia pão fresco a meus pais e fazia roupa para mim. Então uma tarde, dei-me conta de quão cansada parecia. Não tinha dormido
durante dias. Cada noite, seus sonhos pioravam. Depois de duas semanas, havia-se voltado louca devido a eles e isso ocorreu antes de que os Skotis tivessem perdido suas emoções. Voltaram para alimentar-se
nada mais que por crueldade.
Delphine estremeceu, as lembranças eram duras, mesmo agora.
"Ainda posso escutar os lamentos de seus filhos quando a encontraram. Havia se suicidado para fugir dos demônios de seus sonhos. Não foi até que Arik veio a mim que aprendi que foram os Skotis os
que a conduziram à loucura e porque é tão importante lutar para detê-los. Sempre que considerei a possibilidade de que minhas emoções me governem, penso em Nirobe, nunca machucaria a alguém da mesma forma
que a machucaram a ela. É errado caçar pessoas".
OH, desejava ter essas convicções. Mas realmente, sentia-se justificado de tomar qualquer ação contra a humanidade.
Ainda...
Ela sacudiu a cabeça.
-Não entendo por que as pessoas não podem ser agradáveis uns com os outros. Por que sempre alguém tem que empurrar a outro.
Ao contrario dela, entendia-o completamente.
-É intoxicante sentir o poder. Saber que sua vida ou sua morte estão em suas mãos. Que não importa o que façam ou o arduamente lutem, não são rivais para você.
Seu olhar se voltou duro e condenatório.
-Realmente se sente satisfeito quando os esmaga sabendo que eram mais fracos que você? Que não podiam ganhar a batalha? É essa uma verdadeira vitória?
Jericho a olhou.
-Diga você. -disse, com a voz rouca cheia de convicção- Quero entender isso porque realmente não o consigo.
Jericho tragou, não podia fazer frente a seu olhar enquanto recordava todas as vezes que em seu passado tinha açoitado a inimigos mais fracos. Havia uma verdade em tudo isso, e era uma em que não
queria pensar.
-Sempre há um vazio depois. A exaltação da vitória é momentânea e fugaz. Quando se há sentido, foi-se.
-Então, por que fazê-lo?
Porque era melhor que sentir o vazio interior. Ao menos assim, por um momento havia algum tipo de sentimento, além de ódio e dor. Isso era o que sabia. Por isso Nike foi tão importante para ele. Tinha
feito com que sentisse algo mais.
Mas mesmo assim sempre tinha sido fugaz. Nada podia tirar ou acalmar a raiva e o ódio em seu coração. Ao menos não mais do que uns poucos minutos de uma vez.
Eram esses minutos os que desejava.
Afastou-se para trás quando a garçonete trouxe seus pratos e os deixou diante deles. Em silêncio, comeu as ostras enquanto Delphine rebuscava delicadamente em sua comida. Enrugou o nariz ligeiramente
quando a provou.
-Não está bom?
-Sim -disse ela depois de limpar a boca- Mas me esperava outra coisa. Picante. Não estava preparada.
Empurrou uma cesta de bolachas que havia sobre a mesa para ela.
-Isto ajudará a acalmar o ardor.
-Obrigada. -começou a morder o pacote sem desembrulhar.
-Espera. -disse, tirando-se o da mão- Tem que tirar o plástico.
-O que?
Sacudiu a cabeça, divertido com sua confusão. Podia estar tão informada e ser tão infantil. Mas claro, suas experiências no mundo tinham sido através dos sonhos e não baseadas na realidade. Era uma
grande diferença.
CAPÍTULO 6
Delphine estava mais que disposta a golpear a Jericho por suas cruéis intenções quando o seguiu para fora do restaurante. Quem queira saber que não merecesse morrer, e pelo que podia ver, era uma
das duas jovens mulheres.
Ou, Zeus o proibisse, ambas.
O que acontecia a ele que tinha esquecido toda a compaixão? O que poderiam lhe haver feito essas garotas para desejar matá-las? Pareciam tão inofensivas, como poderiam ser...
Ao menos, esse foi seu pensamento até que viu o demônio entrar precipitadamente no escuro beco para atacar às duas jovens mulheres que tinham estado seguindo.
Ela tentou bombardear ao demônio, só para recordar que seus poderes se foram completamente.
Jericho se lançou contra o demônio e o agarrou por trás. Com nada mais que 1.76 de altura, o demônio tinha a pele escura, relampejantes olhos escuros e uma calva. Magro, robusto e extremamente bonito,
lutou contra Jericho.
Jericho tirou o demônio da gritaria das universitárias.
-Tira as garotas daqui. -gritou para ela.
Fez o que ele disse, já que sabia que não poderia combater o demônio na presença de testemunhas. Os humanos realmente não queriam saber o que havia fora no mundo "real" fazendo presa deles.
Logo que ela limpou o beco e as chorosas garotas estivessem em segurança, Jericho soltou o demônio, que se voltou contra ele com cintilantes presas. Jericho apanhou os ombros do demônio quando se
equilibrou sobre ele e o lançou ao chão.
Em um fluido movimento, tirou a adaga de sua bota e a sujeitou contra a garganta do demônio. Agora incapaz de mover-se sem machucar-se, os olhos do demônio se voltaram vermelhos e suas marcas de demônio
apareceram em sua cabeça calva.
-O que está fazendo aqui, Berith? -exigiu Jericho em um frio e perigoso tom.
Os olhos do demônio aumentaram quando se deu conta de quem era Jericho.
-Kyrios? -perguntou com excitação, usando o término que significava "Amo"-. É tão bom vê-lo outra vez. Tinha ouvido que tinha sido banido. Despojado de seus poderes.
Jericho o manteve no lugar.
-Estou seguro que meu pai encheu sua cabeça de tolices. Como pode ver, estou são e inteiro, e querendo te estripar. Agora, por que foi atrás dessas garotas?
-Ordens.
-De quem?
Berith deu de ombros.
-Não tenho a menor ideia. Um garoto que diz que comprou meu anel em uma loja de antiguidades. Conhece as regras. Não posso questionar suas ordens. Só as levo a cabo.
Delphine estava completamente confunsa pelo que estava ocorrendo mas não quis interrompê-los.
Jericho tirou sua faca da garganta do demônio e se acocorou.
-Onde está esse garoto que possui seu anel?
-Em alguma coisa chamada "Dormitório Universitário" não longe daqui. É um lugar pequeno. Depois que resolvesse o assunto da garota, a próxima coisa que quer é que lhe consiga uma casa. Uma grande,
em um lugar chamado Garden District. Não estou seguro do que é. Terei que investigá-lo.
Delphine finalmente interrompeu.
-Assumo que conhece este demônio?
Assentindo, Jericho ficou em pé, puxando o demônio para levantá-lo com ele.
-Foi um dos generais de meu pai até que o desgostou. Por suas ofensas, meu pai o confinou à escravidão em um anel. Se possui o anel, também possui a Berith.
Berith endireitou suas roupas com puxões exagerados.
-E dói cada vez que me conjuram. Juro que se sente como se alguém esfolasse minha pele completamente.
Ela moveu a cabeça tendo piedade dos dois. Cruzando os braços sobre seu peito, olhou a Jericho.
-Deve ter tido uma grande infância com um homem como seu pai.
-Sim. Tudo era filhotinhos, arcos íris e essas estranhas pessoas peludas com cabides revestidas e acolchoadas em suas cabeças, esses que parecem extraterrestres do espaço em ácido.
Berith deixou de remover os farrapos de suas roupas, franzindo o cenho.
-Quer dizer os Teletubbies?
Jericho lançou-lhe um sorriso afetado.
-O fato de que saiba ao que me refiro, Berith, realmente me assusta.
Berith deu de ombros.
-Como um demônio de tortura, tenho que saber todas as coisas que são profundamente incomodas. Estariam assombrados de quantas pessoas na idade moderna não têm tanto medo dos zombies como dos Teletubbies.
Jericho soprou.
-A verdade é que não. Mas bem lutaria contra um zombie come cérebros qualquer dia, antes que ouvi-los cantar.
-Ambos estão doentes. -disse Delphine.
Contudo, sua conversação a divertiu estranhamente.
Jericho a ignorou.
-Assim, o que ia fazer com as garotas?
Berith esfregou os olhos antes de responder.
-A uma ia comer, a outra, o garoto queria para que fosse sua noiva. Você sabe que ainda tenho que levar-lhe a ele, não é?
-Não, não o fará. -disse Jericho em tom lacônico.
-O que quer dizer?
A voz de Berith se encheu de medo. Retrocedeu dois passos.
-Pensa me matar?
-Não. Vou te libertar.
Berith retrocedeu outro passo, sua cara se distorceu com suspeita.
-Esse é um eufemismo demoníaco para a morte...
-Não vou te matar, Berith.
-Sério? -Arrastou lentamente a palavra- Por que não?
A forma com que o disse foi cômica. Era quase como se estivesse desiludido.
-Porque preciso de um aliado e não posso pensar em um melhor.
Berith se mofou.
-Claro que pode. Posso pensar em uma boa quantidade de deuses com mais poder que um demônio preso.
-Sim, mas sei suas debilidades, o que quer dizer que pensará duas vezes antes de me trair.
-Muito bom ponto. Você obtém o anel e eu sou seu, a suas ordens.
Jericho olhou a Delphine.
-Fazemo isso?
-Tenho escolha?
-Não realmente.
-Não acredito assim.
Berith os levou diretamente ante seu amo, que acabou sendo um estudante universitário cheio de espinhas de dezenove anos. Foi um miúdo amo. Na verdade, molhou suas calças no momento no qual se transportaram
a seu quarto.
-O que é que querem? -perguntou com voz agitada encolhido de medo em um canto de seu quarto.
Jericho cruzou os braços sobre seu peito em uma posição rude enquanto franzia o cenho para o garoto.
-Quero o anel do Berith.
-É meu. Comprei-o legalmente.
-Garoto. -Jericho disse severamente-Me dê isso. Compensarei-te. Sobretudo, dê-me isso sem se queixar, e o deixarei viver.
O menino engoliu. Olhou para Berith.
-Que acontece sobre nosso trato?
Berith apontou a Jericho com seu polegar.
-O homem não me quer incomodando-o com isso e, sem intenção de ofender, não o zangaria. Vi o que pode fazer e é com o que os filmes de horror parecem. Partes de corpo agitando-se, sangue. Montes de
sangue e tortura -se inclinou para frente para sussurrar forte- E a mulher conosco... A deusa dos pesadelos. Estes dois podem te pôr a dormir e podem despertar. Poderia querer deixá-los ter o anel, assim
podem ir-se pacificamente.
-Mas...
Delphine deu um passo adiante.
-Nenhum mas, amorzinho. Nos dê o anel antes de que alguém saia machucado.
Berith esclareceu voz.
-Esse alguém pode ser você, simplesmente como elucidação.
Os olhos do menino se alargaram antes de que tirasse de seu dedo mindinho o anel e oferecesse-o.
-Só queria que Kerry me conhecesse.
Jericho tomou.
-Para que conste em ata menino, invocar a um demônio para seqüestrá-la, não é a melhor forma para conhecer uma mulher. Normalmente produz o resultado contrário.
Delphine arqueou uma sobrancelha ante isso.
Jericho não fez comentários sobre seu tácito sarcasmo.
A próxima coisa que Delphine soube, era que estavam de retorno na Azmodea, no quarto de Jericho.
Ele se voltou para o demônio.
-Berith, volta para anel. Agora.
Berith o saudou antes de concordar. Jericho deslizou o anel em seu dedo. Pequeno e de ouro, sustentava uma só pedra vermelha como o sangue e tinha uma caveira gravada em uma placa. O anel parecia
bem horripilante, e dado o fato de que alojava a um demônio, era bastante apropriado.
-O que pensa fazer com isso? -perguntou, indicando o anel.
Ele deu de ombros.
-Nunca faz mal ter uma surpresa que seus inimigos não esperam. Inclusive o mais forte de nós tem necessidade da cavalaria de vez em quando.
Isso tinha sentido para ela. E Berith não ganharia nada trabalhando para o Noir.
Sem mencionar que Jericho não confiava em Noir.
Embora não o disse com palavras, ela soube pela maneira em que estava mais mais em guarda aqui do que o tinha estado no restaurante.
Ele poderia falar do jogo, mas conhecia as instruções. Deu-lhe crédito por não seguir cegamente a alguém. Não tinha nenhuma dúvida de que poderia voltar-se contra ele, pior ainda que quando o tinha
feito contra Zeus.
Caminhou para Jericho. Seu cabelo era comprido e loiro outra vez, o tinha feito cortar para sua breve viagem a New Orleáns, provavelmente porque parecia ter aversão a se destacar. Mas agora parecia
o deus que era, com o olho completamente fulgurante de cor.
Era muito maior que ela. Mais forte. Deveria temê-lo e, ainda assim, tinha a sombria compulsão de esfregar-se contra ele. De fazer com que a sujeitasse.
Apesar desses sentimentos, ela brincalhonamente estreitou seu olhar.
-A propósito, quero voltar para o comentário que fez antes. Não é assim como nos conhecemos?
Ele se mofou.
-Já vê que assombrosamente doce foste comigo como resultado disso. Fez de tudo menos me morder.
Ela cruzou suas mãos atrás de suas costas e sorriu diabólicamente.
-Provavelmente deveria ter feito isso enquanto tive a oportunidade.
-Pois bem, sempre há um amanhã. Estou seguro que encontrará a forma de resolver isso.
Não havia humor em seu tom. Era mortalmente sério.
-Estava brincando.
-Claro que o fazia.
Ela o agarrou quando passava frente a ela.
-Não confia em ninguém, certo?
-O que você acha? Estou seguro de que se voltaria contra mim como todos os outros o têm feito. Não é como se fôssemos familiares ou inclusive amigos. Como Noir disse, todos estamos a venda. Só é questão
de preço.
-Eu não acredito isso. Não há nada que pudesse me voltar contra M'Adoc.
Sua risada zombadora ressoou em seus ouvidos.
-É fácil para você dizê-lo. Nunca foi tentada.
-É aí onde se equivoca.
-Como?
Ela se voltou lhe dando as costas. Elevando sua camisa, lhe mostrou as cicatrizes que normalmente encobria com seus poderes. Desde que seus poderes foram contidos, estava segura de que eram visíveis
agora.
Jericho se deteve quando viu as cicatrizes que ela tinha de surras passadas. Como tinham passado desapercebidas antes? Então, ele tinha estado ocupado em mantê-la coberta e tentando não enfocar a
atenção em seu corpo. Porque sabia que vergonhoso era estar nu diante de desconhecidos, tinha mantido seu olhar longe de sua pele nua.
Era rotina para os Onerois serem golpeados cada vez que quebravam as regras. Mas não podia imaginar a Delphine fazendo algo que garantisse tal crueldade. Tocou as cicatrizes apenas perceptíveis quando
uma onda de cólera o consumiu. Que alguém profanasse seu corpo assim.
-Pelo que são elas?
Ela baixou sua camisa e se voltou para o confrontar.
-Por minha negativa em perseguir Arik quando se tornou Skoti.
-Arik? Não conhecia esse nome.
-Foi o Oneroi que chegou quando me acreditava humana. Ensinou-me e me protegeu até que fosse o suficientemente forte para brigar por mim mesma. Perguntou-me se tive a uma irmã... sempre o considerei
um irmão por sua bondade em me ajudar. Por isso me recusei a caçá-lo, até depois de que me ameaçaram e levaram a cabo suas surras. Teria morrido antes de trair o que sentia e devia a ele.
Esse era o tipo de lealdade que Jericho procurava desesperadamente. Uma só vez.
Tentou dizer a si mesmo que a tinha tido com Nike, mas sabia a verdade. Sua irmã pôderia ter ajudado, mas nunca o fez. Nem sequer uma vez em todos esses séculos.
Isso fez com que seu coração se apertasse com força pelo que Delphine era capaz de fazer.
-Elogio sua lealdade. É uma coisa estranha.
Ela negou com a cabeça.
-Acredito que não. E não penso que seja melhor pessoa que qualquer outra. Assim se posso permanecer fiel a meus princípios, sei que as demais pessoas também podem. Neste caso, Deimos e M'Adoc poderiam
voltar-se contra os Olímpicos e poderiam associar-se a Noir, mas preferem ser torturados que trair a sua gente. Não é isso a lealdade?
-Assim o que? -grunhiu- Sou um bastardo por trair aos Olímpicos? É o que está dizendo?
-Não. Eu... -Fez uma pausa como se estivesse frustrada-Esquece-o. Está além de me escutar.
Estava tão imerso em sua fúria que fervia. Estava-o despachando e ele não o podia agüentar.
-Não sou um pedaço de merda que possa desprezar no sanitário e se afastar!
Delphine agarrou seu rosto entre suas mãos.
-Jericho, calma. Não estou te acusando de nada.
-Não tem que fazê-lo. Seus olhos o fazem por você.
Tentou afastar-se, mas o sujeitou.
Esses olhos o rasgaram e o debilitaram quando o olhou gentilmente.
-Não ponha suas inseguranças em mim. Não aceitarei isso de você. Não o condeno pelo que tem feito. Uma só surra por desobedecer ordens não iguala a traição que lhe fizeram, e sei isso. Enquanto estava
ferida, não fui jogada à rua, impotente, para sobreviver por mim mesma.
Não, não o tinha sido, e o fato de que compreendesse a diferença o debilitou até mais.
Nesse momento ela fez algo que ninguém tinha feito em todos os séculos.
Abraçou-o.
Jericho quis amaldiçoá-la e apartá-la a empurrões, mas a suavidade de seu corpo contra o seu... A sensação de seus braços ao redor dele... Não podia mover-se. No mais profundo, no lugar mais escuro
de sua alma que ele sempre tinha negado, desejava isto ardentemente, tão desesperadamente que tudo o que pôde fazer foi saboreá-lo.
Seu cabelo loiro era tão suave em seu rosto. Seu fôlego fez cócegas em seu pescoço. Antes de que pudesse deter-se, embalou sua cabeça em sua mão e se imaginou dentro dela. imaginou como seria que
demonstrasse lealdade para ele e saber que poderia depender dela para permanecer fiel a seu lado, custasse o que custasse.
Como se sentiria?
Querendo estar mais perto dela, baixou sua cabeça e capturou seus lábios.
Delphine não estava preparada para a ferocidade de seu beijo. Apesar de toda sua paixão, foi gentil, como se a saboreasse. Todo seu corpo estalou com calor e necessidade. A dureza dele... a sensação
de sua mão em seu cabelo... era uma mescla venenosa. Não era estranho que os Skotis se convertessem em íncubo e súcubo. Se um beijo continha tanto prazer, o resto poderia lhes deslumbrar.
Seus dentes beliscaram seus lábios e sua respiração se intensificou. Grunhindo profundamente em sua garganta, devastou sua boca.
Delphine se derreteu dentro dele, deleitando-se com os tendões de seu corpo, o poder de seu desejo.
Ele tomou sua mão e lentamente a conduziu para a protuberância em suas calças.
Jericho tremeu quando o escavou através de seu jeans. Tinha passado um longo tempo desde que uma mulher o havia tocado assim. Por séculos, tinha desejado ardentemente a habilidade para permanecer
duro cada vez que uma mulher se aproximava. Até agora, isso só tinha sido um sonho.
E ele estava desesperado por ser tocado...
Precisando de liberação, abriu o ziper de suas calças e se liberou.
Seu toque vacilou.
-Por favor. -sussurrou, pressionando sua mão contra seu pau- Por favor não se afaste.
Delphine teve medo. O que é que ele queria dela? Não estava pronta para ter sexo com ele. Mal se conheciam. Mas ele não parecia conduzi-la nessa direção. Não estava transpassando os limites com seu
corpo. De fato, só usou sua mão para acariciá-lo.
-Isto é tudo o que quero de você. -sussurrou, seu tom era profundo, intenso e sincero.
Assentindo, ela olhou para baixo, a suas mãos entrelaçadas. Este era o homem que não sabia nada exceto sofrer, e isso dava-lhe prazer. Como o poderia privar de algo que não a machucava?
Por alguma razão que não podia nomear, não conseguia resignar-se a machucá-lo.
Ele enterrou o rosto em seu pescoço quando empurrou a si mesmo contra sua mão. Sua respiração era tão errática que a preocupou. Estava bem?
-Jericho?
No momento em que ela disse seu nome, ele deixou sair um feroz e primitivo grunhido, soltando a si mesmo de sua mão. Seu corpo inteiro se estremeceu violentamente. Quando se afastou para trás e se
encontrou com seu olhar, seu olho era uma vibrante sombra de azul. Suas asas saíram disparadas de suas costas e se desdobraram. Eram negras e enormes, revoavam brandamente abanando-a ligeiramente.
Ofegando, apoiou um braço na parede detrás dela e se inclinou para diante enquanto tentava acalmar sua respiração.
-Está bem?
Respondeu-lhe com um beijo tão tenro, que ela tremeu. Seus lábios foram um mero sussurro contra os seus. Envolveu seus braços ao redor dela e a ssegurou como um amante.
Como se ela fosse preciosa.
Ninguém jamais a tinha segurado assim. E algo dentro dela faiscou por isso. Sentia-se tão bem em ser sustentada assim. Ter a impressão de que ela era parte dele de certa forma. Que eram algo mais
que desconhecidos.
Algo mais que inimigos.
Ele levou seus beijos de seus lábios para seu pescoço. Então olhou para baixo, para sua molhada mão.
-Sinto muito. Não tive a intenção de misturar as coisas. -ele fez aparecer uma toalhinha para limpá-la.
Delphine não estava exatamente segura do que tinha acontecido, mas havia uma profunda mudança nele agora. Parecia mais calmo.
Mais amável.
O sexo fazia isso com todo mundo?
Logo que sua mão esteve limpa, levou-a a seus lábios e colocou o mais doce dos beijos em seus nódulos. A forma em como a olhava, fez-lhe tremer. Ela levantou sua mão de seus lábios e tocou o emplastro
sobre seu olho.
-Posso?
Viu incerteza antes de que ele assentisse com uma sutil inclinação da cabeça.
Assustada pelo que encontraria, tirou o emplastro lentamente para ver a profunda cicatriz que dividia em dois seu rosto. Era brutal e cruel. Só podia imaginar quanto devia ter doído quando Zeus a
fez.
Mas ainda tinha seu olho. Era branco como o leite, e pela maneira em que ele enfocou seu olhar nela, podia dizer que não estava cego.
-Por que leva o emplastro?
-Faz com que as pessoas se sintam menos incômodas. Afastam a vista do emplastro. Cravam os olhos na cicatriz quando a descobrem e tentam imaginar o que aconteceu para causá-la.
E o feriam quando faziam isso. Não o disse com palavras, mas seu tom lhe indicou a verdade.
Riscou a forma de sua sobrancelha antes de que ela segurasse sua rosto em sua mão.
-Lamento que o machucassem.
Jericho quis amaldiçoá-la por sua simpatia, mas não podia. Suas palavras o tocaram tão profundamente como sua carícia.
-Devíamos descansar. -disse, sua voz era grossa.
Estava tão satisfeito agora, depois de sua liberação, que tudo o que queria era aconchegar-se e segurá-la. Mas o que o matou, foi o conhecimento de que ela não sentia o mesmo por ele. E não podia
culpá-la.
Ela era uma prisioneira.
Sua prisioneira.
E lhe tinha dado o primeiro prazer autêntico que tinha tido desde que Zeus o aprisionou contra o chão no vestíbulo do templo. Só por isso, daria-lhe qualquer coisa que ela pedisse. Agradecia aos deuses
que não tivesse idéia de quão débil estava nesse momento.
Quanto poder tinha sobre ele.
Quando não protestou por seu desejo para ir à cama, fechou seus olhos e trocou suas roupas por uma camisola rosada. Cobria como um sonho seu corpo magro, ressaltando suas curvas. Seus mamilos estavam
duros e visíveis através do cetim.
O que ele não daria para saboreá-los... Mas não tomaria. Não sem convite. Ela ficou sem fôlego quando a túnica apareceu e cruzou seus braços sobre seu peito.
-Não a machucarei. -prometeu enquanto golpeava o chão com os pés, tragando o desejo de deslizar sua mão dentro do profundo V de sua camisola e sustentar seu seio.
Como poderia machucá-la depois do que acabava de fazer por ele?
-Só vamos dormir.
Dirigiu-lhe um olhar tão carregado de suspeita como as que ele sempre tinha. Ignorando-a, mudou suas roupas por uma calça de pijama de flanela de cor verde escura. Normalmente dormia nu, mas estava
bem seguro de que ela protestaria.
Esquecendo seu emplastro, pregou suas asas em suas costas e puxou-a para a cama.
Delphine não estava segura sobre isso. Mas admirou como exibia seu esculpido traseiro quando se afastou. Ele subiu à cama primeiro, esperando-a.
-Nunca dormi com alguém em minha vida. -confessou.
-Eu tampouco.
Notou que colocava sua espada ao outro lado de seu corpo como se temesse que a pudesse necessitar. A única questão era, quem pensava que poderia atacá-lo? Os outros?
Ou ela?
-O que faz?
-Eu...
Um músculo se esticou em sua mandíbula como se ele a perfurasse com seu feroz olhar.
-Confio em você.
Nesse momento, entendeu que estava mais temeroso dela, que ela dele. Custava muita fé deitar-se ao lado de alguém e confiar em que não o atacassem enquanto dormia.
Estendeu sua mão para ela. Decidindo tomá-la, sorriu.
-Trégua?
-Trégua.
Uniu-se a ele na cama e rodou sobre seu flanco lhe dando as costas.
Depois de alguns minutos, ela sentiu sua mão em seu cabelo.
-O que faz?
-Sinto muito.
Imediatamente pôs mais distancia entre eles.
Tentada a dar volta, recusou-se. Não queria nada mais disto. Se o olhava, ele poderia ler mal suas intenções, e quem saberia onde poderia conduzi-los.
Jericho estava de barriga para cima, observando-a de soslaio. Era tão duro não tocá-la quando estava tão perto. O contorno de seu corpo debaixo dos lençóis era suficiente para fazer avivar seu corpo
uma vez mais.
A próxima vez que gozasse, queria estar dentro dela.
Mas não seria esta noite. Tinha visto o medo em seus olhos quando tinha pressionado sua mão contra ele. Mais que isso, sabia a verdade não dita.
Ela era virgem.
A maioria dos Onerois o eram. Ao menos, os que tinham nascido depois da maldição de Zeus. Dado que não sentiam desejo ou amor, não havia nada que os motivasse ao sexo.
Os Skotis eram um assunto diferente, como o tinha visto antes com Zeth. Mas Delphine...
Ela nunca tinha sido tocada. Ele tinha sido o primeiro a beijá-la.
Esse pensamento trouxe uma onda de ternura possessiva sobre ele. Girando sua cabeça, olhou-a.
Estava completamente relaxada e tinha começado a roncar um pouco.
Sorrindo aproximou-se lentamente dela. O calor de seu corpo o esquentou, inclusive a suavidade de sua pele o chamava para tocá-la. Incapaz de resistir, roçou sua mão debaixo de seu braço enquanto
se inclinava para frente para aspirar seu perfume. Afastou-se para atrás, seu fôlego se obstruiu em sua garganta. A beira de sua camisola tinha sido empurrado para trás, lhe mostrando seus seios descobertos.
Como ela, eram bonitos. Seu corpo explodiu com desejo e chiou os dentes, querendo prová-los.
Desiste...
Tinha-lhe feito uma promessa e estava a ponto de rompê-la. Em lugar disso, beijou-a ligeiramente na cabeça.
-Boa noite, Delphine -sussurrou, saboreando as sílabas de seu nome.
Afastou-se rodando, fechou seus olhos e se obrigou a ignorá-la.
Como se pudesse...
Mas o som de sua respiração o acalmou. E quando relaxou para dormir, uma parte dele imaginou como seria passar a eternidade com ela a seu lado.
-Delphine?
Ante o som de seu nome, Delphine se levantou de onde estava fazendo uma grinalda de flores. Estava em um prado tranqüilo... o mesmo onde brinaca quando era menina. Mas agora havia negras nuvens movendo-se,
bloqueando o sol.
-Quem está aí? -perguntou.
A sombra de Zeth apareceu.
Ela rodou sobre seus pés, pronta para brigar com ele. Era como quando sempre a atacavam. Ele poderia colocar a outros em seu sonho, e podiam derrotá-la.
Zeth era um deus bonito e seus olhos azuis normalmente resplandeciam. Mas parecia doente agora. Seu cabelo pendurava frouxo ao redor de seu rosto magro. Seus olhos, agora eram negros em vez de azul,
estavam afundados.
-Algo está errado. -ele suspirou.
-Nos traiu.
-Não, é mais que isso. Há algo com o que Noir nos alimenta. Não faça isso... -desvaneceu-se pouco a pouco, então reapareceu- Não coma isso.
E então se foi.
Delphine olhou a seu redor, procurando a outros. Era um truque?
Mas não havia ninguém mais.
Tentou usar seus poderes. Outra vez, eram inúteis. Parecia que inclusive neste reino, ela estava presa.
Um relâmpago brilhou, seguido de um tremendo trovão. Um feroz vento esmagou sua roupa contra seu corpo.
Delphine se encaminhou para o bosque onde sua casa tinha estado uma vez. Não foi longe.
Azura estava ali no caminho, bloqueando-a.
-O que ocorre, menina? Tem medo?
-Por que está aqui?
Azura sorriu, mas o gesto não alcançou seus olhos frios.
-Tenho um presente para você.
-Não quero seus presentes.
Ela estalou a língua.
-Quererá este.
Delphine começou a correr. Se pudesse alcançar as árvores...
Não conseguiu.
Azura apareceu ante ela e a apanhou. Gritando, Delphine tentou brigar. Mas não pôde.
Azura a atirou ao chão e empurrão algo em sua boca.
-Engole.
Delphine negou com a cabeça, tentando liberar-se. Tentou cuspir o gel amargo de sua boca. Nada surtiu efeito.
-Engole! -Azura gritou com uma voz demoníaca.
Delphine se engasgou, mas ao final, não pôde resistir a ordem. O gel desceu por sua garganta.
Gritou. Parecia arrastar-se através dela.
Azura riu.
-Gostará mais de você agora. -se retirou e deixou Delphine sobre o chão.
Retorcendo-se de dor, tentou vomitar e não pôde. Mas depois de alguns minutos, a dor diminuiu.
Um calor insuportável começou profundamente dentro dela. Um que não a deixaria dormir outro minuto.
Abrindo os olhos, encontrou-se ainda deitada na cama com o Jericho. A escuridão os envolvia, e ainda podia ver o contorno de seu corpo perfeitamente.
Precisando prová-lo, atacou-o.
Azura ria enquanto retornava ao quarto de guerra, onde Noir, sentado, alimentava a um de seus feios cães negros de caça.
Ele levantou o olhar com o cenho franzido com severidade.
-Parece agradada.
-Estou-o. Garanti-nos um pouco mais de tempo com o Cratus fora de nossos assuntos.
-Bom. -aplaudiu ao cão de caça na cabeça-É muito curioso. Inteirei-me por um de meus mascotes que baixou a falar com o Deimos e Jaden.
Ela vaiou como um gato ante o nome do Jaden. Se havia uma criatura que ela odiava, essa era ele.
-Parece que nosso pequeno negociador não aprendeu sua lição.
-Fará-o alguma vez?
Ela curvou seu lábio.
-Lástima que não o possamos matar.
-Ao menos sangra bem. Algo que outros não fazem.
-Certo. -Azura arrastou sua mão ao longo da parte traseira de sua cadeira.
-Encontrou a seu Malachai?
-Só a cidade. Ma'aty o deus Atlante Aposto-o o protege, assim não posso encontrar sua posição exata. Mas esmigalharei essa cidade até que o faça.
Ela se deteve seu lado.
-Talvez não tenha que fazê-lo.
-O que quer dizer?
-Um de meus demônios me disse que há um grupo de gallu procurando um refúgio.
Noir levantou o olhar com interesse.
-Gallu?
Esses eram demônios sumerios e um pouco mais brutais que qualquer outro demônio. O melhor de tudo, o sangue de um gallu era infeccioso e poderia converter suas vítimas em zombies.
-Vamos convidá-los a entrar?
Noir sorriu.
-Absolutamente. E conheço sua primeira vítima.
-Cratus.
Assentiu e Azura riu. Com Cratus infectado, eles poderiam controlá-lo completa e absolutamente.
Então, ainda sem o Malachai ou seu irmão Braith, o mundo seria deles para sempre.
CAPÍTULO 7
Jericho despertou no momento em que Delphine o tocou. Por um instante pensou que estava lutando contra ele, até que se deu conta de quão incorreta era sua hipótese.
Completamente nua, esfregava o corpo contra o seu.
OH, Ai por mim!... O que fiz, bem?
Seus sentidos saltaram quando a mediu, e seu corpo implorou e ardeu por mais. As mãos estavam por toda parte, acariciando, sondando, apalpando. Com respiração desigual, gemeu de prazer chiando os
dentes.
Não está com sorte. Desperta, idiota!
Mas essa era a última coisa que queria fazer. Queria ser seu brinquedo.
Sobre tudo, queria ser seu brinquedo mordedor.
É mais provável que seja seu bode espiatório. Vai te foder vivo, e não do modo que deseja.
Quando foi a última vez que uma mulher o tentou desta maneira?
Delphine era virgem, e a menos que estivessem em um filme pornográfico de que ele não tinha conhecimento, as mulheres como ela não faziam isso aos homens que as mantinham prisioneiras. Aquela comparação
com a realidade foi como um balde de água gelada. Dando uma sacudida mental, deu-lhe um empurrão nas costas.
-O que está fazendo?
Lhe respondeu com um beijo ardente. Seus sentidos se incendiaram, rodou com ela, apanhando-a embaixo ele. Apesar disso, passou-lhe as mãos pelo corpo, lhe voltando louco de luxúria, sobretudo devido
a que os pêlos na união das coxas se esfregavam contra o osso de seu quadril, fazendo com que desejasse ardentemente degustar essa parte dela.
-Por favor. -rogou Delphine com voz rota- Estou ardendo. Preciso de você.
Jericho congelou quando percebeu de que ela tinha o mesmo olhar drogado nos olhos que Zeth. E que cada gota de seu ser estava fora de controle. E mais, os olhos eram negros como o azeviche, não com
sua sombra habitual.
O que tinham feito a ela?
Mordiscou o queixo, puxando seu cabelo enquanto seguia estremecendo-se contra ele, lhe pondo o corpo duro e grosso.
-Preciso de você dentro de mim. -Era um pedido cru.
Ele inspirou bruscamente quando o sustentou com a mão.
-Para!
Será que está fodido da cabeça? Você quer isto!
Sim, sim, queria isso. Realmente o queria. Mas não com uma mulher que não estava em plenas faculdades mentais.
Sim, a quer. Olha-a. É muito bela e está louca por você. Toma-a!
Só olhe esse corpo...
Sem brincadeira. Realmente era uma deusa em todo o sentido da palavra. À exceção das cicatrizes nas costas, não havia nem um defeito nela.
Então faz o que te peça... que a adore até que ambos fiquem sem forças.
Sua voz interior era implacável. E era difícil manter o controle, mais ainda quando lhe tinha baixado as calças até os quadris, e lhe tinha entre as mãos, lhe massageando o pau.
Maldita fosse, era uma aluna avançada.
Teve que sacudir-se quando ela tratou de o guiar dentro de seu corpo.
-Delphine! -Gritou, tratando de fazer-se ouvir-Pare!
Puxou seu pau.
Esteve a ponto de gozar de puro prazer.
Dê o que ela quer!
Grunhindo de frustração, desdobrou as asas e se moveu longe o bastante para que não pudesse alcança-lo. Seu coração estava acelerado, observando fixamente a cama onde ela estava deitada com as pernas
ligeiramente separadas. Cada parte dele queria unir-se a ela.
Sou um idiota de primeira.
-Jericho.
A súplica rasgou seu coração.
Subiu as calças enquanto se abatia sobre a cama, desejando-a com uma paixão tão aguda, que isto era a única coisa que podia fazer para evitá-lo.
-O que fizeram com você?
Fulminou-o com o olhar.
-Ok. Se não for me ajudar, encontrarei quem o faça. -rodou fora da cama.
Jericho saiu disparado para a porta para bloquear seu caminho, antes de que se fosse e se encontrasse com o Asmodeus, ou algum outro ao que teria que matar por havê-la tocado.
Segurou seu rosto com as mãos.
-Delphine, basta! Me diga o que aconteceu.
Lutou contra ele até que se deu conta de que nem o movia.
-Me responda. -insistiu.
O olhar dela estava desfocado, como a voz quando finalmente saiu.
-Estava sonhando...
-E?
Ela franziu o cenho como se não pudesse recordar.
-Azura estava ali. Perseguia-me.
-O que fez?
Delphine fez de novo uma pausa antes de responder.
-Alimentou-me. Alimento... Zeth me disse que não o comesse, mas não podia detê-la. Obrigou-me a comê-lo.
Jericho amaldiçoou. Então essa era a maneira em que conseguiam os Skotis. Drogavam-os.
Ela gemeu brandamente, enquanto esfregava de novo o corpo nu contra o seu.
-Estou ardendo, Jericho. Por favor me ajude. Não posso suportar o muito que me angustia.
Ele deixou escapar o fôlego. Bem, já o odiava. O obedecê-la não mudaria nada.
Ela agarrou a mão que tinha posta em seu rosto, e a guiou até seu seio. O franzido mamilo se excitou contra a palma, fazendo que ele ficasse mais duro do que nunca tinha estado antes.
-Por favor.
Que homem poderia discutir ante isto, fosse deus ou não? Tomando-a nos braços, levou-a de volta a cama. Registrou o doce aroma de seu corpo quando a acariciou com a mão sobre o estômago nu. Mas não
queria tomá-la enquanto estivesse desse modo. Esta não era ela.
A que falava era a droga. A droga era a que mendigava por ele. Mas ela ainda sofria por isso.
Assim separou as dobras de seu corpo brandamente para acariciá-la. Ela lançou um grito de alívio, e puxou-o aproximando-o para poder beija-lo loucamente.
O corpo do Jericho se esticou, suplicando para possui-la. Mas apesar de tudo o que tinha passado, não era um animal. Não se alimentaria dela.
Estava por cima disso, e pela primeira vez em séculos, assim acreditou.
Delphine tremeu com a incrível sensação desses dedos confortando-a. Provocaram-na e excitaram de uma maneira que não teria acreditado possível.
Por fim algo estava aplacando a atroz dor em seu interior.
Quando ele se separou de seus lábios, realmente gemeu. Aonde ia?
Obteve a resposta quando ele se deslizou para baixo, entre suas pernas, e a tomou em sua boca. Incapaz de agüentar o puro êxtase daquilo, lançou um grito, enterrando a mão no cabelo suave. Nunca tinha
imaginado nada tão incrível. O calor dessa boca, combinada com os golpes da língua e dedos, tinha-a fascinada.
Olhou para baixo para encontrar-se com seu olhar penetrante. O primitivo calor nesses olhos assimétricos a fez arder em chamas.
Jericho grunhiu ante o sabor dela. Seu corpo estava duro e preparado, mas estava acostumado a controlar esses impulsos. Agora mesmo, era o orgasmo dela, o seu seria depois.
E a verdade era que desfrutava de seu sabor, o som dos gemidos prazeirosos enquanto jogava com seu cabelo. Tinha perdido o consolo de ser tocado. O aroma e o gosto de um amante. Poderia passar o resto
da noite assim, simplesmente saboreando-a.
Delphine tremeu ante a larga carícia que ele ofereceu, em especial quando arrastou a rosto sem barbear ao longo de sua fenda. Atravessaram-na espasmos de prazer.
Mordendo o lábio, sentiu como aumentava a tensão em seu corpo, até que não pôde resistir mais. Em um momento de felicidade suprema, seu corpo explodiu.
Gritou, aferrando-se a Jericho enquanto ele continuava lambendo e excitando, fazendo o orgasmo ainda mais intenso.
Quando finalmente conseguiu o último espasmo dela, subiu até descansar o queixo sobre seu estômago, enquanto jazia entre suas pernas. Riscou um pequeno círculo ao redor do umbigo enquanto sustentava
o seu olhar.
-Melhor?
-Sim -suspirou Delphine, ao mesmo tempo em que passava uma mão pelo seu cabelo- Muito melhor.
Ele esfregou as costeletas pelo estômago, acrescentando outro tremor.
Delphine suspirou absolutamente satisfeita quando sentiu que o fogo se extinguia, para ser substituído por um sentimento de completa satisfação. -Assim que isto é o se sente, não? -Não se espantava
que ele ficasse tão tranqüilo e amável depois de seu orgasmo. Agora mesmo, realmente se sentia em paz.
Então percebeu o fato de que estava completamente nua. Exposta.
Ele jazia entre suas pernas abertas...
Ninguém a tinha visto jamais desta maneira. Ninguém.
O calor se arrastou sobre seu rosto quando o horror a encheu.
Jericho se levantou o dar-se conta da mudança nela. Agora estava tensa. O rosto ruborizado, enquanto a seus olhos voltava a formosa sombra que lhe enfeitiçava.
-O que acontece?
Ela tratou de cobrir-se.
-O que fiz? Estou tão envergonhada.
Ele se moveu para colocar-se a seu lado, antes de cobri-la com o lençol.
-Não o esteja. Não tinha controle.
Ela cobriu o rosto com o lençol.
-Como vou poder te olhar depois disto?
Jericho reprimiu um sorriso ante o tom desesperado. Seu acanhamento o divertia, mas se sentia realmente mal por ela. Puxou ligeiramente para baixo a roupa de cama, até que ela teve que olhá-lo.
-É bonita, Delphine. Não há nada vergonhoso no que fizemos.
-Mas...
Beijou-a rechaçando as palavras.
-Nada de mas. Não quero que sinta vergonha comigo. Nunca.
Delphine sorriu agradecida por sua bondade. O que mais a assombrava era o fato de que não se aproveitou dela, mesmo quando o tinha rogado. Tinha-lhe dado uma mão desinteresadamente. Inclusive agora,
sentia a rígidez de sua ereção, mas não exigiu nada dela.
Enganou-se a respeito dele. Apesar de tudo, tinha compaixão. Poderia haver-se desentendido, ou havê-la posuído brutalmente de qualquer modo que tivesse gostado. Mas não o tinha feito. Ainda quando
estava duro, conteve-se.
Por ela.
Seu coração se esquentou com esse conhecimento, colocando a mão em sua rosto com cicatrizes. Deu um mordidinha brincalhona no seu polegar.
-Temos que fazer algo sobre isto, Jericho. Não sei o que Azura me deu, mas é terrível o que provoca.
-Não há nenhum escrito sobre o que encontraram, mas a pergunta é por que dão isso aos Skotis? Por que incapacitar a um exército que quer que lute por você?
-Talvez não queiram que lutem. Talvez vão atrás de alguma outra coisa.
Ele fez uma careta.
-Como o que?
-Não sei. Supõe-se que você é o que tem conexão com a Fonte, e destreza em combate.
-Sim, mas isso não me proporciona nenhuma compreensão do mal. Tem que lembrar que Noir e Azura são feitos de uma massa completamente diferente da minha.
Delphine se alegrou de ouvi-lo dizer isso. Não havia nada redimível em Azura, ou Noir.
Penteando seu cabelo com as mãos, ficou assombrada do quão relaxada que se encontrava deitada nua com um homem. O fôlego dele fazia cócegas no seu rosto, e embora seu peso devesse lhe parecer asfixiante,
era consolador tê-lo pressionando-a.
Isto era amor?
Não, possivelmente não amor; era muito cedo para isso. Mas havia algo muito íntimo dentro deste momento compartilhado. Era familiar e reconfortante.
-Acha que podemos conseguir libertar os outros?
Elevou o olhar de seus olhos díspares para ela.
-Acalmou-se bastante rápido uma vez que eu -lançou-lhe um sorriso diabólico- a apaziguei. Devem estar alimentando constantemente os outros para mantê-los desta maneira. O que nos leva de novo a questão
do porquê.
-Temos que conseguir tirá-los daqui.
Fez um som de desacordo.
-Salvar aos habitantes do Olimpo não é minha prioridade.
Puxou com força seu cabelo.
-Ai!
-Tem sorte de que seja isto tudo o que eu puxe. -disse severamente- Estamos falando dos meus irmãos e irmãs.
Jericho afastou o olhar quando aquelas palavras ecoaram em seu interior. Também eram os seus. Total, para o que os valia.
-Não sou o deus do perdão, Delphine.
-Não, é o deus da força, e a maior força de todas é a de ser capaz de perdoar às pessoas que te tem feito mal. E inclusive maior ainda, a capacidade de lutar para defendê-los. Seja uma pessoa melhor
do que eles foram. Sei que pode sê-lo.
Jericho sacudiu a cabeça.
-Tem mais fé em mim do que mereço.
A intensidade de seu olhar o queimou.
-Não estou de acordo. Vi o seu outro lado , e é a esse ao que estou apelando. Há mais em você que ódio e disputas. Tem um belo coração, Jericho. Sei.
O único problema era que ele não sabia. Não podia encontrar o perdão dentro de si mesmo. Só amargo ressentimento. Ódio absoluto. Desprezo.
Até que a olhava.
Só o tinha feito sentir algo mais. Mas o problema era que não compreendia o que comovia em seu interior. Ao menos outra coisa, além de luxúria. Que ele soubesse intimamente.
Mas a parte que agora a abraçava era nova e o atemorizava. Nem a conhecia, nem a entendia.
A mesma parte estranha que tinha desafiado a Zeus por salvar a vida dela.
Ela lhe devia, e pela razão que fosse, não se via obrigando-a a pagá-lo por seu sacrifício. Só queria o que ela queria lhe dar.
O que é isso que acontece comigo?
Sempre tinha sido do tipo de pessoa que pegava o que queria. Mas era tão diferente com ela. Fechando os olhos, saboreou a sensação da carne sob sua rosto. As passadas suaves dessas mãos por seu cabelo.
Não queria afastar-se nunca.
Delphine percorreu com o dedo a barba incipiente de seu rosto. Adorava sentir a pele dele. Tão diferente da sua. Sobretudo, estava assombrada porque permanecia deitado com ela tão tranqüilo. Conhecia
a violência de que ele era capaz, e ainda assim...
Era como domesticar a uma besta feroz, sabia que não seria tão amável com outra alma vivente.
Só ela conhecia este lado dele, e o valorizou ainda mais. Adorava a ele.
-Jericho?
Ambos se sobressaltaram com a voz serena que sussurrou através do quarto.
Jericho a cobriu.
-Jaden? -Perguntou em um tom igualmente cometido.
Jaden apareceu na esquina, apenas uma névoa visível. Tinha pior aspecto do que quando Jericho o tinha visto antes. Havia contusões recentes no rosto, e sangue em um lado da boca. Mas parecia inconsciente
da dor.
-Estão conspirando contra você.
-Quem?
Jaden o olhou como dizendo "Será que não é óbvio?"
-Seus melhores amigos, bobo, Quem você acha? O Coelhinho de Páscoa, ou o idiota que o trouxe aqui? Para sua informação, estão planejando te servir para os gallu, de modo que possam controlar seus
poderes sem seus enfrentamentos contra eles. Eu em seu lugar, teria ido faz cinco minutos.
Jericho se esticou receoso. Por que Jaden ia ajudá-lo?
-Como sei que não está mentindo?
-Não tenho nenhuma razão para fazê-lo. Mas se quer ficar aí e ser comido, longe de mim o deter. Tal como estão as coisas, meu traseiro é prêmio se me pegam falando com você.
Apesar disso, Jericho se mostrou cético. As pessoas não o ajudavam, e achava difícil imaginar que Jaden o estivesse fazendo sem conseguir algo em troca.
-Eu acredito. -sussurrou Delphine- Não confio em Noir.
Jericho soprou.
-Não confio em ninguém. -E em especial no mal que o havia trazido aqui. Tinha suspeitado deles no instante em que Azura se aproximou pela primeira vez dele.
-Talvez devesse tentar confiar em mim por uma vez. -Comentou ela em tom decidido.
Jericho ficou feito pó. Realmente não sabia se poderia confiar em Jaden, embora não tivesse nenhuma razão para duvidar dele. Isto tinha sentido. Por que lhe devolveriam seus poderes, a menos que soubessem
que tinham controle completo sobre ele? Ele não cometeria semelhante erro, mais ainda considerando a totalidade de seus poderes. Se o houvesse trazido, o teria encerrado em cimento.
Só para estar seguro.
Ver como tratavam a Jaden. Aparentemente o jogo limpo e a bondade não formavam parte de seu mundo.
Mas tinha outro problema.
-Onde vamos?
Delphine franziu o cenho.
-O que quer dizer?
-Se for ao Olimpo com poderes, Zeus, Apesar do que diz, me atacará. Não tenho dúvida.
Ela sacudiu a cabeça.
-Isso não é verdade. Prometeu te devolver todos seus poderes.
Jericho riu.
-Penso que isso é o que ouviu. Nem por um nanosegundo acredito que isso foi o que ele disse.
-Eu não minto.
-Não digo que o faça. Me diga textualmente o que o imbecil dos trovões te disse.
Ela soltou um suspiro frustrado.
-Disse que sempre que lutasse contra Noir e os Skotis, teria seus poderes.
Jericho lançou um olhar penetrante À névoa que era Jaden.
-A que te soa isso?
-A que só tem seus poderes quando luta contra Noir e os Skotis.
-Sim, exatamente.
Delphine franziu o cenho.
-Não é isso o que hei dito?
-Não. -respondeu Jericho- Ouviu que meus poderes me seriam devolvidos. O que eu ouço é que sou um cão fraldigueiro, a menos que lute para proteger suas desprezíveis peles. (N.R.: Fraldiqueiro é quem
se esconde debaixo de saia de mulher)
-Tem razão. Depois do que fez a Cratus, Zeus nunca ia se expor a possibilidade de lhe dar seus poderes sem restrições.
-Sabe o que eu faria com eles e, mais concretamente, o que faria a ele com eles.
Delphine se sentia muito mal por ter sido enganada tão facilmente. Mas por outro lado, como Jericho tinha mostrado, tinha ouvido o que tinha querido ouvir. O que eles diziam tinha muito mais sentido.
-Então, o que faremos?
Ir a Nova Orleans.
A voz de Jaden estava em suas cabeças, como se também tivesse medo de ser ouvido, inclusive em um sussurro.
Encontra a Acheron Parthenopaeus. Conte a ele o que está acontecendo, e ele poderá ajudar.
-Por que o faria? -Perguntou Jericho.
-Pelo amor da Fonte, Jericho. -respondeu Jaden- Faze-o. Agora mesmo ele é a única esperança que tem.
Jericho abriu a boca para discutir. Mas antes de que pudesse emitir um só som, a porta se abriu de repente desintegrando a névoa com a forma do Jaden.
-Toc, toc.
Era um demônio gallu, e não estava sozinho.
CAPÍTULO 8
Jericho vestiu imediatamente a si mesmo e a Delphine. Começou a lançar-se contra os gallus, mas Delphine o agarrou e puxo-o de volta.
-Não pode. Um arranhão ou uma dentada onde seu sangue se mescle com sua saliva ou sangue e estará sob seu controle. Pensa nisso.
Mas não estava nele, não lutar.
Grunhindo com raiva, cobriu o seu corpo com uma armadura negra.
-Melhor que sejam capazes de penetrar o Kevlar.
Delphine estava atônita quando foi atrás deles. Deu ao primeiro um murro tão forte, que levantou o gallu um metro no ar e o lançou, golpeando contra a parede atrás dele. O segundo que o tentou quis
morder a Jericho, mas este agarrou ao gallu pela camiseta e o arrojou por cima do ombro. Em um limpo movimento, tirou sua adaga e foi atrás do terceiro.
Delphine ofegou quando o que estava no chão se levantou e se lançou para ela. Sem armadura ou seus poderes, estava indefesa. Olhou a seu redor mas não havia lugar aonde ir. Não havia maneira de fugir
dele.
Estava acuada.
Exatamente quando o gallu deveria havê-la alcançado, ricocheteou contra uma parede invisível. Tomou-lhe um segundo dar-se conta do que tinha acontecido.
-A-há! -disse ela triunfante quando ele o esmurrou com o punho. Jericho devia ter utilizado seus poderes para defendê-la.
O gallu não estava feliz quando abriu a boca para lhe mostrar duas filas de presas serradas. Ela elevou o queixo e lhe fez seu melhor sorriso "lero, lero".
-Antes ou depois será minha. -prometeu ele.
Ela bufou.
-Cuidado bebê, eu devolvo a dentada.
Só que não hoje e não sem seus poderes. Sorte para ele porque quando entrava na luta, poucas vezes tinha um igual.
Jericho, por outro lado, estava em toda sua glória enquanto os derrotava. Ela nunca tinha visto ninguém desfrutar mais de uma briga. Ao menos não até que cinco mais se uniram aos três primeiros.
Intrépido, seguiu adiante, mas ela não era tão audaz.
Inclusive o mais forte dos fortes pode ser ultrapassado e assassinado quando está em franca desvantagem numérica.
Uma dentada, um arranhão e se iria para sempre.
-Jericho, por favor! -Rogou ela enquanto o atacavam ao mesmo tempo-Não vale a pena. Não desejo que acabe ferido. Por favor, Pare.
Jericho vacilou ante a angústia que escutou na voz de Delphine. Olhando por cima do ombro viu a preocupação em seu rosto enquanto golpeava a um gallu e dava uma patada de tesoura a outro. Sua mão
estava estendida contra a parede invisível que tinha a seu redor. Seu cenho estava tenso enquanto seus olhos rogavam que escutasse.
Via-se tão aborrecida.
Sobre tudo, preocupava-se...
Por ele.
Que coisa tão simples e incrível. Só Nike tinha demonstrado isso alguma vez e nunca com o tipo de paixão que Delphine mostrava. Isto o fez deter-se.
Uma sombra cruzou frente a ele.
Era Noir.
Noir olhou aos gallus com uma careta de desgosto.
-Eu tenho que fazer tudo por vocês, bastardos? Cães estúpidos e sem valor. Prendam-no ao chão e mordam. É tão difícil?
Noir enviou uma rajada diretamente ao peito do Jericho.
Não havia maneira de evadi-lo ou evitá-lo. Jericho amaldiçoou enquanto era enviado desfalecido e miserável pelo chão. A dor fez com que o escudo ao redor de Delphine caísse.
Ela chutou ao gallu quando este correu para onde estava.
Jericho rodou e ficou em pé. Seus instintos eram atacar ao gallu frente a ele e ir atrás o Noir. Em vez disso, esquivou ao gallu e foi atrás de Delphine, que não tinha maneiras de proteger-se.
No momento em que a tocou, os teletransportou para fora do aposento e de volta a seu apartamento para mantê-la a salvo.
Ou isso pensava ele.
Noir e o gallu os seguiram e apareceram dentro do aposento, atrás deles.
Jericho observou a expressão de pânico do Delphine. E soube o que devia fazer. Não havia outra maneira.
O coração do Delphine se afundou quando viu o número de gallus às ordens de Noir. De onde tinham vindo? Não tinham chance contra eles.
Mas não teve tempo de pensar nisso enquanto Jericho a punha frente a ele. Ela estava esperando que ele lutasse contra eles. Pelo contrário, aproximou-a mais dele.
Antes de poder perguntar o que estava fazendo, alcançou seu pescoço.
E lhe tirou o colar.
Aturdida, levou um minuto para dar-se conta do que tinha feito e por que. Não queria feri-la. Estava pondo sua segurança acima da dele.
Uma calidez a percorreu.
-Vai. -disse ele, seus olhos atormentados-Ponha-se a salvo.
-E quanto a você?
-Simplesmente me seguirão A onde quer que vá.
Beijou-a brandamente nos lábios.
-Vai.
Gentilmente a empurrou para afastá-la, logo girou para enfrentar aos demônios.
Nada a tinha comovido mais que o que ele tinha feito.
Por ela.
Encontrou-se com o olhar de Noir e viu claramente sua próxima intenção. Ia usá-la para chegar a Jericho. Cada parte dela queria ficar e brigar, mas sabia que não podia. Era uma responsabilidade que
ele não podia confrontar.
Não havia forma de ganhar isto.
Mas não ia deixar Jericho a sua mercê. Não dessa maneira. Ultrapassavam-no muito em número e inclusive com armadura, não seria capaz de contê-los mais que uns poucos minutos.
Puxando Jericho por trás, envolveu os braços ao redor de seu tenso e musculoso corpo e os teletransportou fora da habitação ao Olimpo.
No momento em que se deu conta de onde estava, voltou-se para ela, seu rosto uma máscara de fúria. Ela podia dizer que ele preferia ser comido pelos gallus que passar um só segundo no Hall dos Onerois.
-O que fez?
-O salvei.
Sua expressão era furiosa.
-Me salvar, meu traseiro! Não posso ficar aqui. Não quero estar aqui.
-Sei, -disse ela tentando acalmá-lo- mas isto nos dá uma pausa de Noir. Não pode vir aqui e condenadamente seguro que não podem trazer os gallus a nosso domínio.
Jericho grunhiu a ela. Era verdade e sabia. Entretanto, isto não mudava o fato de que esse lugar trouxesse vívidas lembranças, os quais queria manter enterrados.
Odiava estar aqui.
Delphine sustentou seu rosto entre as mãos.
-Tudo bem, Jericho. Esquece o passado. As coisas mudaram.
Tinham-no feito?
-Estamos no Hall dos Onerois. Parece igual agora ao que era então.
-Possivelmente pareça isso, mas aqui já não há Onerois. Só estamos nós.
E Phobos, que atravessou a porta com aspecto atônito.
-Não posso acreditar. Voltaram aqui... juntos. Estava certo de que nunca a veria de novo. Que diabos fez?
-Não pergunte. -disse Delphine envergonhada, fazendo que Jericho se perguntasse se não sabia que Phobos estaria aqui.
A aberta hostilidade de Jericho não preocupava ao deus quando avançou para deter-se frente a Delphine.
-Viu a Deimos?
Jericho ia negar-se a responder, mas sabia quão próximos eram os dois. E enquanto ele tinha rancor para o Deimos, não havia razão para ser um completo imbecil com Phobos.
-Está em má forma, mas vive.
O alívio no rosto de Phobos foi evidente.
-Há alguma maneira de tirá-lo dali?
Delphine negou com a cabeça.
-Não sei. Nós quase não escapamos. E agora temos aos gallus atrás de nós junto com o Noir.
A expressão de Phobos era totalmente atônita.
-Os demônios sumérios gallu?
Ela assentiu.
Ele deixou escapar um aborrecido som quando voltou sua atenção a Jericho.
-Maldição, Cratus, tem que foder a tudo o que conhece?
Tendo toda a intenção de surrar ao bastardo, Jericho deu um passo para ele só para encontrar Delphine em seu caminho.
-Não vais fazer lhe mal.
-Quer apostar?
Ela se plantou firmemente em seu lugar, ambas as mãos sobre seus ombros.
-Sim, farei-o. E ganharei eu.
Jericho baixou o olhar e se deteve. Outra pessoa teria sido golpeado com um martelo só por detê-lo. O fato de que era tão diminuta em comparação a ele só o fazia tudo mais risível. Poderia esmagá-la
e não senti-lo sequer.
E ainda assim, não ia tomar vantagem sobre ela, o que era provavelmente a parte mais divertida de todas. O que estava errado com ele que não tinha vontade quando se tratava dela?
Dando um passo atrás, centrou seu olhar em Phobos.
-Agradeça a ela, Dolophonos. Acaba de evitar que eu chute seu traseiro.
Phobos arqueou uma sobrancelha e se adiantou.
-Quieto! -estalou Delphine, voltando-se para o Phobos e obrigando-o a retroceder um passo.- Uma ronda maior de testosterona e juro que os congelo a ambos onde estão.
Phobos elevou as mãos a modo de rendição, o qual fez com que Jericho se sentisse melhor. Não era o único intimidado por um Chihuahua.
O Dolophonos elevou o olhar por cima da cabeça dela para encontrar-se com o de Jericho.
-Alguma idéia de como tiramos meu irmão dali?
-Dinamite. Com um pouco de sorte possivelmente voe também ao bastardo.
A Phobos não soou engraçado.
Delphine deixou escapar um exasperado suspiro antes de responder.
-Jaden nos disse que encontrássemos a alguém chamado Acheron Parthenopaeus. Conhece-o?
Phobos se surpreendeu.
-Claro que sim. Surpreende-me que você não.
-Por que?
-É um deus atlante, conhecido como Aposto-os. Costumava passar muito tempo com a Artemisa, mas não falamos deles. Tende a fazer à ruiva mais ácida do que é normal e faz com que Apolo fique a gritar.
Do ponto de vista de Jericho, isso poderia ser entretido. Não lhe importaria tirar a merda a golpes de Apolo durante alguma ronda.
Delphine franziu o cenho.
-Não passei muito tempo no Hall dos Deuses ou com a Artemisa. Tento evitar qualquer conseqüência nuclear que venha de toda essa equipe.
-Sim, bom, com dois metros e dez, Acheron é um homem difícil de esquecer. De qualquer forma, é o principal menino mau. Mas não sei sequer, se poderá vencer a Noir e ganhar.
Jericho deu de ombros.
-Jaden pensa que sim.
-Então vamos ver meu cupincha e vejamos o que pensa.
Jericho cruzou os braços sobre o peito quando Phobos os levou a uma pequena casa no Bairro Francês. Curiosamente, estava a só uns poucos blocos de onde tinha estado trabalhando para o Landry.
Delphine franziu o cenho ante o ordenado e modesto lugar que tinha uma bonita grade branca. Esta harmonizava perfeitamente com as outras casas da rua. Nada a indicava como algo especial. Mais ainda,
ela não sentia nada fora do comum. Nem poderes ou outras coisas.
-Aqui vive um deus?
Phobos riu ante seu tom.
-Acredite ou não. E este é muito mais bonito e grande que o apartamento que estava acostumado a ter aqui no Nawlin.
Contudo, estava cética. Não podia imaginar a uma entidade todo-poderosa chamando a isto de... lar.
-Se você diz. -disse ela em um tom dúbio.
Phobos sorriu.
-Digo. E também digo que me sigam.
Subiu para a porta e chamou.
-Por que só não aparecemos dentro? -perguntou Jericho enquanto permitia que Delphine subisse as primeiro escadas.
Phobos fez um divertido som.
-Não pode. Tem este lugar protegido. Além disso, é um deus e pode ser repugnante se o zangar. Tenta aparecer em qualquer lugar onde esteja sua amada esposa e o fritará mais rápido que um frango em
KF. (Restaurantes fast food de frango frito). Não tem senso de humor quando se trata dela. Assim tira esse cenho de sua cara antes de que fira seus sentimentos e consiga que o estripem por isso.
Dada a extensa advertência e a paixão na voz do Phobos, Delphine estava esperando que uma deusa abrisse a porta. Alguém que fizesse que Afrodite tremesse de medo e vergonha.
Assim quando a porta se abriu para lhe mostrar uma mulher mediana com indescritível cabelo castanho que estava recolhido em rabichos, ficou confusa. A única coisa que a mulher tinha em comum com a
maioria das deusas era sua altura e seu bonito cabelo. O resto dela parecia completamente humano.
Vestida com uma larga saia bege e um suéter verde, deu-lhes um brilhante e amigável sorriso.
-Hey, Phobos, o que está fazendo aqui?
Phobos lhe devolveu o sorriso.
-Olá, Tory. Estamos aqui para ver o grandalhão. Está por aqui?
-Claro. -ela retrocedeu e abriu a porta para que entrassem.
Phobos entrou primeiro, com Delphine dois passos por trás dele e Jericho fechando a retaguarda. A casa era muito normal. Pitoresca e ordenada, estava decorada em tons neutros: marrons escuros, dourados
e um pouco de ocre. De novo não era nada fora do comum, exceto possivelmente pelos artefatos gregos e as estátuas dos deuses Olímpicos que estavam espalhadas pelos ocos e rincões. Havia também fotos familiares
dispersas por aí e um pequeno gato-de-bengala no canto dormindo sobre o chão enquanto um raio de sol esquentava seu exposto ventre (O gato-de-bengala é uma raça recente de gato doméstico).
O olhar de Delphine se deteve em seco ante uma foto em particular. Esta era a de uma jovem Tory nas ruínas de um antigo templo grego com uma mulher loira e um homem moreno... Um homem a quem Delphine
conhecia muito bem.
-Arik? -disse em tom surpreso.
Tory arqueou uma sobrancelha.
-Não estou certa... se parece com alguém a quem eu conhecia.
-É o mesmo Arik.
Essa tinha que ser a voz mais profunda que Delphine tinha ouvido jamais e estava matizada com um acento que não tinha ouvido em séculos.
Atlante.
Voltando-se na direção de onde vinha, viu um homem extremamente alto sentado em uma poltrona com um violão elétrico negro em seu colo.
Seu cabelo estava tingido em uma profunda sombra púrpura e seus olhos eram uma peculiar cor de remolinante prata. Vestido como um gótico, não parecia muito mais velho que vinte anos. Mas a aura de
poder que o envolvia ativou cada sino de advertência de seu corpo. Este não era um ser humano.
Era um imortal extremamente poderoso.
Um que parecia ser o completo pólo oposto da mulher que lhe sorria. E quando ele devolveu o sorriso, o olhar em seus olhos dizia que Tory era todo seu mundo.
Deuses, que não daria ela para que um homem a olhasse dessa maneira.
Tory se moveu para ficar a seu lado com uma mão sobre seu ombro. O deus pareceu relaxar, e contudo, Delphine não tinha dúvida de que se eles faziam um só movimento que não gostasse, quebraria-os como
a ao pão torrado em um batimento do coração.
-O que acontece, Pho? -perguntou a Phobos.
Phobos riu.
-Como se não soubesse antes de que batesse na porta -ele se voltou para apontar a eles- Delphine e... -Phobos vacilou em como chamá-lo.
-Jericho. -disse ele entre dentes.
Phobos não respondeu à raiva em seu tom.
-Jericho e Delphine, apresento-lhes a Ash Parthenopaeus e a sua esposa Soteria. Tory para abreviar.
Delphine se surpreendeu com a introdução, especialmente desde que sabia que não era a mesma Soteria do Olimpo.
-Chama-se assim pela deusa grega da segurança?
O rosto de Soteria se iluminou, então se converteu rapidamente em um preocupado "OH".
-É uma deles, não?
-Uma de quem? -perguntou Delphine.
-Um dos, -Tory emoldurou a citação no ar com seus dedos- amigos especiais do Ash. Ninguém sabe nunca de onde procede meu nome. É muito obscuro- Ela baixou o olhar a seu marido e sacudiu a cabeça-
Não me espanta que conhecesse Arik. Agora tem sentido completo. Todos os deuses gregos se conhecem entre si?
Ash enlaçou seus dedos com os dela sobre seu ombro.
-Não sempre e definitivamente não intimamente. É um panteão bastante estranho. Delphine é uma Oneroi. Daí que conhecesse o marido de sua prima Geary. Jericho seria melhor conhecido como o deus Cratus.
Tory elevou ambas as sobrancelhas.
-O Cratus que encadeou a Prometeo?
Ash assentiu.
-OH -disse Tory lentamente, olhando de cima a baixo a Jericho com um olhar de apreciação e temor- Estou segura de que ainda é um muito encantador... e... deus, verdade?
A Jericho não pareceu engraçado, mas não ia começar uma briga com ela por isso. Não tinha medo de Ash, mas sabia que um deus todo-poderoso não seria fácil de vencer. Ganhar, perder ou empatar seria
sangrento. E longo. Tory baixou o olhar para Ash. -por que estão aqui?
-Noir está atrás deles.
O fato de que Acheron soubesse sem dizer o dizia muito de seus poderes. Mas isso não respondia a pergunta principal de Jericho.
-Por que Jaden enviou a você?
Ash sorriu com picardia. -Porque sou um cara genuinamente encantador que toca muito bem o violão.
Tory riu.
-Dito só por alguns que não sabem quão resmungão é pela manhã.
Absolutamente divertido, Jericho lhes dedicou um zombador olhar.
-Sabem, possivelmente fosse divertido se a situação não fosse tão horrível. Dá-se conta de que Noir poderia estar aqui a qualquer momento.
Ash deixou ir a mão do Tory para rasgar um acorde como se não tivesse nenhuma preocupação no universo.
-Não, não pode. Quero dizer, em teoria poderia. Mas isso só o faria sangrar rapidamente e enquanto possa ou não ser mais forte do que o sou eu, não se arriscará a minhas represálias.
-Por que não?
-Possivelmente tenha aos Gallu. Mas eu mando sobre os demônios Carontes. Se quiser uma batalha, posso dar-lhe e em números que arruinaria seu melhor dia.
Jericho estava adequadamente impressionado.
-Pensei que os Carontes se desvaneceram com a Atlántida.
-Estava equivocado. Estão vivos e bem, e mais que impacientes por ter um banquete de gallu. De fato, há todo um clube aqui mesmo na cidade.
Jericho arqueou uma sobrancelha.
-Fala a sério?
-Como a uma tumba.
Pela primeira vez, Jericho deixou escapar um aliviado suspiro. As coisas começavam a parecer bem para eles. Os Carontes eram os inimigos naturais dos gallu e o melhor de tudo, eram imunes a suas dentadas.
Com eles a seu lado, ao menos teriam uma oportunidade de lutar.
Ao menos até que Ash falou de novo.
-A outra razão pela qual Jaden os enviou para mim... é que estou treinando ao Malachai.
Jericho não podia estar mais atônito se Ash se levantasse e o golpeasse com o violão.
-Perdeu o julgamento? Por que treinaria um instrumento de destruição?
Ash deu de ombros.
-Todos nós escolhemos nossos destinos. Nosso nascimento não dita nosso futuro a menos que o permitamos.
Jericho revirou os olhos ante a atitude de sua política de não intervenção.
-Quão ingênuo pode ser um deus?
Tory sorriu com indulgência.
-Acheron é o Arauto da Destruidora Atlante. A profecia dizia que seria o único que destruiria o mundo, e ainda assim, é um de seus mais ferozes protetores. Inclusive embora fosse concebido para ser
a ferramenta que sua mãe utilizaria para sua aniquilação, nenhuma só vez cedeu a seu destino. -baixou o olhar para ele e negou com a cabeça-E os deuses sabem que tem mais direito a desejar que o mundo
se acabe que ninguém que eu conheça.
Acheron lhe beijou a mão.
-Assim já vê, sei uma ou duas coisas a respeito de treinar um destruidor e lhe ensinar como lutar contra seus impulsos naturais. Nós só estaremos em problemas se deixarmos ao Malachai a sua vontade
e então Noir consiga lhe pôr as mãos em cima.
Jericho ainda tinha suas dúvidas a respeito disso.
-Isso diz. Não tem maneira de saber se, uma vez que seja treinado, ele seguirá a você ou a Noir.
-Certo. Mas de novo, está aqui quando só faz umas horas estava decidido a brigar até a morte ao lado de Noir.
-O bastardo me traiu e atacou. Ninguém me converte em um estúpido suplicante. Devia ter pensado melhor antes de tentá-lo.
-E eu acredito que quando chegar o momento, Nick tomará a mesma decisão. Possivelmente me odeie, mas tampouco seguirá a ninguém cegamente.
Dado que Jericho não conhecia a personalidade do Malachai, não ia pôr muita fé nele.
-Sabe com segurança?
-Me chame de otimista, mas vou dizer que sim -Ash moveu a mão para indicar as cadeiras a seu lado- Citando a minha esposa, tomem assento. Temos que averiguar uma maneira de resgatar aos Oneroi e aos
Skotis antes de que Noir os converta em gallus.
Delphine se congelou ante o pensamento. Se isso chegasse a acontecer...
A humanidade estaria completamente condenada.
-Acha que também podemos libertar Jaden? -perguntou ela tomando assento no sofá ao lado de Jericho. Phobos se sentou a seu outro lado.
Acheron negou com a cabeça.
-Infelizmente, Jaden está perdido para nós, mas ainda será um aliado quando puder sê-lo.
Tory franziu o cenho enquanto continuava em pé detrás do Acheron.
-E o Jared?
Delphine duplicou a expressão.
-Quem é Jared?
A resposta do Ash a surpreendeu.
-O último Sephirot.
Os Sephirii tinham sido criados para lutar contra Noir e sua armada do Malachai voltando no tempo antes de que o homem e a história recordassem.
Delphine estava confusa.
-Pensei que depois que Noir e a fonte tivessem tido sua guerra todos os Malachai e Sephirii tinham sido derrotados.
-Foram-no, -explicou Ash- todos à exceção do único Sephiroth que traiu a seus irmãos. Foi condenado a uma eternidade de escravidão. Dado que o universo é realmente uma grande balança, um Malachai
seria liberado para trazer a morte sobre o Sephiroth que deveria libertar. Isso é pelo que os Malachais ainda mantêm todo o poder que necessitam para realinhar todo o universo que poria a Noir à cabeça
da cadeia alimentícia.
Jericho olhou a Delphine antes de voltar-se para o Acheron.
-Por que não está o Malachai com o Noir?
-O pai de Nick rompeu com ele. Ninguém sabe por que. Faz séculos, o mais velho dos Malachai se ocultou, com Noir e Azura perseguindo-o a cada passado do caminho. Faz um par de décadas, decidiu pôr
um ovo e nosso atual Malachai nasceu. Logo que Nick alcançou a idade para substituir a seu pai, o velho Malachai morreu.
Delphine ainda não o entendia.
-Então por que Noir não foi capaz de encontrar a esse Nick?
-Os poderes do Nick foram atados para protege-lo e defende-lo de Noir e lhe dar a oportunidade de retornar a seu propósito original. Não foi até que um deus da Fonte lhe atacou que esses poderes foram
desbloqueados de modo que pudesse defender-se por si mesmo. Estive tentando treiná-lo após isso.
Tory deixou escapar uma afogada risada.
-"Tentando", é verdade.
Jericho entrecerrou o olhar enquanto sopesava essa única palavra e suas implicações.
A última coisa que precisavam era um Malachai treinado em suas gargantas.
-Resiste a isso?
Ash negou com a cabeça.
-Não ao treinamento ou a seu destino. O problema é, que odeia minhas tripas. É um problema pessoal que temos que resolver.
Tory deixou escapar um vulgar bufo.
-Estão trabalhando nisso... lentamente.
-Fantástico. -suspirou Jericho- Assim, onde nos deixa isso com o Sephirot?
-Bom, o problema principal é que seu atual mestre acaba sendo a rainha dos Daimon. Desde que eu e meus irmãos DarkHunter caçamos e executamos a seus Daimons, não está realmente inclinada a ficar de
nosso lado ou nos fazer nenhum favor. Mas quem sabe? Provavelmentee a peguemos em um bom dia.
Sim, claro.
-Esperemos que não sangrento.
-Isso eu também penso.
Delphine deixou escapar um cansado suspiro.
-Estamos completamente arruinados. Meus irmãos estão nas mãos de um demônio, a ponto de converter-se em estúpidos predadores, e a única esperança que temos é um Malachai sem treinar que possivelmente
nos abandone para lutar com eles e um Sephiroth em mãos dos Daimons.
Os Daimons eram uma raça vampírica que viviam roubando e destruindo almas humanas. O melhor de tudo era, que eles odiavam apaixonadamente aos deuses Gregos, já que Apolo tinha sido o único que os
tinha condenado a beber sangue e a morrer dolorosamente à idade de vinte e sete anos. A única maneira de sobreviver além disso era capturando almas humanas.
Como resultado, os Daimons não eram de grande ajuda para ninguém exceto para eles mesmos. Não é que os culpasse. Tinham sido realmente fodidos por seu panteão.
A Delphine adoecia seu credo.
-Não é um bom dia para ser humano, não?
-Tampouco é um bom dia para ser um de nós. -acrescentou Phobos sarcásticamente.
Delphine não podia estar mais de acordo.
-Acha que Noir se juntará com os Daimons?
Ash sacudiu a cabeça.
-Stryker, enquanto não o incomodem, não lutará com eles. Não têm código. Stryker e sua gente não lutam para matar, lutam para sobreviver. Temos sorte nisso. Só permite que sua gente tome as vidas
que precisam... e de alguns DarkHunters que possam encontrar já que somos seus maiores predadores. Embora esteja seguro que não evitaria a dominação do mundo, sua prioridade é a sobrevivência de sua gente.
Noir, por outro lado, mata por prazer e quer derrotar a todos os panteões e destrui-los. Nem a Stryker nem a sua esposa lhes dá bem seguir a outra gente. Lutarão contra ele até que estejam mortos.
Jericho arranhou seu rosto.
-Possivelmente devamos deixar que esses dois o discutissem.
Phobos soprou.
-Isso terei que pagar para ver. Infelizmente, nós seríamos pegos no fogo cruzado.
-Ainda penso que provavelmente se juntem a Noir -insistiu Delphine- isso teria sentido. Os Daimons poderiam ocupar-se dos humanos enquanto os gallus se ocupam do resto.
-Não. -disse Ash firmemente- Conheço Stryker, e além disso, os gallus estiveram com ele até faz uns poucos meses quando tentaram comer a ele, sua esposa e sua filha. Sendo a mais implacável das almas,
não vai lhes dar boas vindas tão cedo. Como resultado, os Daimons abriram a temporada de caça sobre eles. Por agora, nós estamos a salvo nesses términos.
Jericho ainda não estava completamente convencido.
-Mas fodidos em términos de todo o resto.
-Não por completo. -Ash olhou a Phobos- Quantos de sua gente ficou?
-Um par de dúzias... possivelmente.
Ash assentiu pensativamente.
-Podemos trabalhar com isso.
-E quanto aos gallus? -perguntou Jericho.
-Posso conseguir que os Carontes nos ajudem com isso. Isso só nos deixa uma coisa...
-O Sephiroth. -disse Jericho.
Inclusive embora fosse um deus da Fonte, Jericho não podia dirigir sozinho a Azura, Noir, os Skoti e os gallus. Precisavam de ajuda.
-Acredito que temos que falar com os Daimons.
Ash inclinou a cabeça.
-Não poderia estar mais de acordo.
CAPÍTULO 9
Jericho desceu ao inferno. Bom, mas bem ao reino do inferno Atlante chamado Kalosis, mas ainda assim... por que discutir sobre isto ou aquilo?
O Inferno era o inferno, sem importar o panteão.
Delphine tinha ficado atrás com Phobos, depois de muito discutir. Mas Acheron tinha estado de acordo que quanto menos soubessem as pessoas, mais oportunidades teriam. Stryker e sua esposa, Zephyra,
respeitariam a um só emissário. Dois ou mais, provavelmente o considerariam comida.
Tory conduziu a Jericho descendo pelo corredor de mármore negro que mantinha uma débil luz sobre suas cabeças. Esta refletia as paredes com uma estranha luminescência que os atormentaria se fossem
humano. Como eram, encontrava suas distorcidas imagens fascinantes.
Dirigiram-se para a sala de recepção do Stryker.
Já que Acheron não podia vir aqui sem começar o Apocalipse, Tory se tinha devotado voluntária para guiar a Jericho e fazer as apresentações. Aparentemente parte dos deveres de Acheron como Arauto
era libertar a sua mãe de sua prisão... a qual casualmente estava no reino no qual estavam eles.
Se Acheron tão somente fizesse uma insignificante aparição ali, sua mãe se libertaria e destruiria o mundo, assim jamais poderia vê-la.
Teria sido trágico se Jericho fosse capaz de sentir simpatia por alguém. Podia apreciá-lo, mas francamente, não lhe importava.
Tory sorriu para ele.
-É realmente nobre de sua parte arriscar tanto pelos Onerois.
Jericho grunhiu.
-Não dou duas merdas pelos Onerois. Meu plano era lutar contra eles com o Noir, mas ele decidiu que seria mais fácil lançar aos gallu sobre mim e me controlar dessa maneira. Ele declarou esta guerra,
e maldita seja se for deixar que os gallus me ataquem em meu sonho. Passei bastante tempo de minha vida com outros me controlando. Não vou passar nem um momento mais dessa maneira. Noir quer uma briga,
vou lhe dar uma. E não perderei.
Tory deixou escapar um lento suspiro.
-Esqueci que era o filho de Styx e Pallas.
Inclinou a cabeça para ela.
-Sim, e estou completamente cheio de seu veneno. Não comecei nenhuma merda, não serei nenhuma merda. Minha meta é conseguir que os Onerois e os Skotis se recuperem e então acabar com os gallus o mais
rápido possível. Depois disso, a caça aos Olímpicos está aberta.
-Não inclui isso a Delphine?
Ele viu tudo vermelho ante a menção de seu nome. Delphine era um tema que não tinha intenção de discutir com ninguém.
-Ela não é de sua incumbência.
Tory lhe dedicou um olhar apaziguador.
-Sinto muito. Não tentava o ofender ou bisbilhotar. Só apontava que parece que se preocupa por ela.
Claro, mas o problema era que não entendia o porquê. Uma carícia, um sussurro e ele se desfazia por ela.
Por que Delphine, quando ninguém o tinha feito sentir alguma vez assim? Que havia nela que se abria passo através de sua raiva e o fazia sentir...
Calidez.
Humano.
Completo.
Em todos esses séculos, nunca tinha sentido o que sentia cada vez que a tocava. Ela esgrimia mais poder em uma simples carícia que qualquer entidade que jamais tivesse conhecido.
Ela sozinha tinha o poder de pô-lo de joelhos.
Sem estar disposto a pensar nisso, mudou de tema.
-Como é que é capaz de ir e vir deste reino? -Parece estranho que Stryker a tolere aqui.
-Minha sogra me deu total liberdade para visitá-la sempre que sentisse o impulso de fazê-lo, especialmente porque Ash não pode vir. Embora Stryker possivelmente queira me encadear e me oferecer de
alimento aos seus Daimons, não se atreveria. Apollymi pode ser um pouco difícil de derrotar.
-E contudo, Apollymi a tolera?
Ela sorriu.
-Odeia aos humanos. Mas adora a seu filho. Não há nada que não fizesse pelo Acheron.
-Exceto deixar aos humanos em paz.
-Bom, é aqui. -Ela desceu pelo brilhante corredor com uma mão sobre a parede- Sei que não tem sentido. Mas declarou guerra aos humanos e se nega a retratar-se. Entretanto, supõe-se que Ash e todos
os que ama têm imunidade dos Daimons que ela controla.
Havia uma nota em sua voz que fez saltar os alarmes do Jericho.
-Supõe-se?
Sua expressão se voltou sombria e triste, deixando-o saber que o sentia profundamente por todos os envolvidos.
-A mãe do Nick era muito próxima a Ash. Morreu devido a um ataque Daimon faz alguns anos, é o motivo pelo qual Ash e Nick estão agora em guerra um com o outro. Nick culpa Ash disso e não o perdoa.
É realmente triste, seriamente, e me rompe o coração vê-los brigar. Mas dizem que estão melhorando, no que me concerne. Se o que tiverem agora é melhor, odiaria ver o pior.
Ela se deteve em seco quando uma mulher loira lhes saiu ao passo.
Miúda e ágil, vestida com um traje de gato de couro com espartilho, a mulher entrecerrou os olhos sobre eles com um vicioso olhar.
-O que está fazendo farejando pelos arredores, Tory?
Em vez de reagir ao zangado tom, Tory inclinou a cabeça.
-Não acredito que esteja farejando. Não me sinto como uma bisbilhoteira. Bisbilhotei antes e honestamente posso dizer que isto não é.
A mulher a fulminou com o olhar.
-Relaxe, Medea. -disse ela em um tom calmo- Devemos ver a sua mãe.
Ela entrecerrou os olhos.
-É seu funeral.
Tory sorriu com naturalidade.
-Também é sempre agradável ver-te. É como um raio de sol alegre e luminoso, espero com impaciência nossos bate-papos.
Medea se burlou dela.
-Deveria se alegrar de ter me salvado a vida. Agora mesmo, é a única razão pela qual está viva.
Tory soprou.
-E minha vida não tem nada que ver com o fato de que seria torrada se me tocar, verdade?
O olhar que Medea lhe dedicou teria sido mortal.
Jericho não falou quando seguiram a Medea ao interior de um escritório vazio. Decorada em escuros dourados e borgonha, estava obviamente desenhado para amedrontar. Não é que funcionasse com ele. Não
havia muito que o intimidasse. Ou mais concretamente, não havia nada que o intimidasse.
Medea se deteve na soleira.
-Esperem aqui. Trarei-a.
Fechou a porta de repente e a fechou com chave, o qual parecia ridículo dado o fato de que podiam desaparecer-se dali em qualquer minuto. Mas ele estava longe de fazer notar o óbvio.
Logo que estiveram sozinhos, dirigiu-se a Tory.
-Deduzo que Zephyra é sua mãe?
Ela assentiu.
-Acha que temos uma oportunidade com isto?
Tory deu de ombros enquanto olhava ao redor.
-Não saberemos até que falemos com ela. Acredito que possivelmente, e utilizo essa palavra com todo o aplicável otimismo, ajudará-nos.
-Ajudá-los a fazer o que?
Tory se virou no ato para ver Zephyra, que tinha aparecido na sala atrás da escrivaninha de Stryker. Tory olhou intensamente a demônio.
-Aparenta estar bastante bronzeada para uma criatura noturna.
Zephyra a ignorou.
Quase idêntica a Medea, era incrivelmente formosa com luxuriosas curvas que se acentuavam por seu ajustado vestido negro.
-Tem um motivo para esta visita? Ou simplesmente deveria te matar e começar uma guerra? -passou seu olhar de Tory a Jericho-Realmente me chateia que traga um deus a meus domínios.
Jericho lhe piscou o olho, o que só pareceu zangá-la mais.
Incapaz de ver seu gesto, Tory sorriu.
-Sabe que não o faria sem uma excelente razão.
-E essa é?
-Precisamos de Jared.
Zephyra riu incrédula, então se acalmou tão rápido que ele se perguntou se não haveria tido alucinações.
-Estão perdendo o tempo. Vão embora.
Maldição, era uma puta mal-humorada. Isto o fazia perguntar-se como a tolerava Stryker.
-OH, vamos, -disse Tory- não é que o esteja utilizando para nada. Realmente, o que está fazendo agora mesmo?
-Uma coisa que não está fazendo é foder-me, o qual é mais do que posso dizer de você.
-Meninas -disse Jericho, adiantando-se-Vamos tentar de novo. Temos um problema gallu. Dirigidos pelo Noir e pela Azura, estão planejando converter aos Onerois e aos Skotis em gallus de modo que possam
atacar infiltrando-se em nossos sonhos. Quando isso acontecer, ninguém estará a salvo. Ninguém -reiterou friamente- E com isso me refiro a você também. Desde que aos gallus dá no mesmo comer a um Daimon
que a um humano, talvez você queira pensar nisso.
Zephyra entrecerrou seu olhar ameaçador.
-E a gente no inferno quer água fria. Algo que têm mais probabilidades de conseguir que você a meu Jared.
Jericho apertou os dentes para controlar a urgência que tinha de sacudir à estúpida mulher.
-Levantaremo-nos contra Noir e Azura. Tem alguma idéia de quanto sangue vai correr?
Zephyra não respondeu.
-O que quer em troca dele? -perguntou Tory.
-Não há nada que tenha.
De repente um ruidoso choque soou fora da sala. Zephyra os passou correndo para abrir a porta que estava em frente da que tinham utilizado eles para entrar.
Os olhos de Jericho se alargaram quando viu um Daimon no centro da enorme sala. Só que já não era um Daimon. Tinha os olhos leitosos e seu tom de pele era o de uma vítima infectada por um gallu. Os
outros Daimons se afastavam, lhe deixando espaço. Se fazia algum movimento, correriam. Essa era a beleza dos gallus, não só convertiam as pessoas em zumbis, seus zumbis podiam criar mais zumbis.
Se se soltasse, poderia matar a qualquer um sem demora.
Jericho olhou a Zephyra.
-Dizia?
Ela expôs suas presas e lhe vaiou.
-Trouxeram-no aqui?
-Diabos, não. Pelo que entendo, os gallus tem sua própria conta pendente com sua gente.
-Não tem idéia. -Agarrou uma espada da parede e se dirigiu para o Daimon.
Jericho estava extremamente impressionado, quando se precipitou à luta. O Daimongallu foi por ela. Ela esquivou seus braços, girou e com um golpe limpo lhe cortou a cabeça. Sem deter seu movimento,
passou-lhe a espada a outro Daimon.
-Limpa-a, Davyn, diga a Stryker que temos um problema.
-Notei-o.
A atenção de Jericho se centrou no homem extremamente alto de cabelo negro que se uniu a eles. Pelo ar de autoridade e mortal aura, supôs que seria Stryker.
Stryker baixou o olhar ao corpo sobre o chão e vaiou furioso.
-O que estão fazendo agora os malditos gallus?
Jericho respondeu antes que Zephyra tivesse uma oportunidade.
-Estão unindo-se aos Onerois e os Skotis para nos atacar em nosso sonho.
Stryker amaldiçoou audivelmente.
-Devia ter matado aos gallus quando tive a oportunidade.
Zephyra lhe deu um conhecido sorriso.
-OH, baby, pense no engano que teria sido.
-Que engano? -perguntou Tory.
Zephyra cruzou os braços sobre o peito.
-Acredito que a necessidade de encurralar aos gallus. O que têm exatamente em mente com relação ao Jared?
-É imune a eles? -perguntou Tory adiantando-se.
-É imune à maioria das coisas.
Jericho se alegrou de ouvir isso.
-Bem. Nosso plano é liberar os Onerois e os Skotis de Noir.
-O que acontece se eles já estão infectados? -perguntou Stryker.
-Mataremo-los -respondeu Jericho sem vacilar.
Stryker sorriu.
-Quase poderia gostar de você -esfregou o queixo pensativamente enquanto se aproximava mais- O único problema é que os gallus podem infiltrar-se nos sonhos de qualquer um que conheçam.
-Mas nosso sonho está protegido. -disse Zephyra- Com as habilidades que possuímos, podemos lutar com eles nesse reino.
-Inclusive assim, não são tão poderosos nos sonhos como os Onerois. -acrescentou Jericho- A combinação dos dois, é desastrosa. Inclusive para vocês. Um Oneroi ou Skoti infectado, e somos torrada.
O olhar sobre a cara de Zephyra dizia que se opunha firmemente a lhes entregar Jared.
E Jericho tinha tido bastante de sua indecisão.
-Olhe, vou se honesto com você. Necessitamos de alguém que realmente tenha lutado e ganho contra Noir. Embora possa lutar sozinho, quero alguém que conheça a debilidade do bastardo. Esse seria Jared.
Agora entrega-o.
Zephyra arqueou a sobrancelha provocativamente.
-Ou o que?
Jericho tirou as mãos e liberou duas rajadas divinas que passaram roçando-a.
Para seu crédito, ela não se estremeceu nem piscou.
Jericho baixou as mãos.
-Acredite, não quer descobrir.
Stryker franziu o lábio.
-Essas táticas não funcionam aqui. O temor está longe de ser uma grande motivação para nós. Também deveria recordar que eu, sou o filho de um deus e posso te devolver esses disparos... Entretanto,
há algo que quero.
-E o que é?
-Um amuleto verde que Jaden tirou de uma anciã em Nova Orleáns. Estou seguro de que ainda o tem. Daremos o Jared, e você nos entregará esse amuleto.
Cada suspeita impactou no corpo do Jericho afligindo-o.
-O que faz esse amuleto?
-É para proteção.
Agora, por que não acreditava? Possivelmente porque Stryker não parecia ser do tipo de Daimon que necessitasse a proteção de alguma peça do antigo hokum. Não é que se importasse.
Promessas hoje.
Mentiras amanhã.
Se a Jericho não gostava do que fazia esse amuleto, não o traria aqui. Nada dizia que tivesse que cumprir sua parte do trato. A última vez que tinha mantido sua palavra, tinha pago caro por isso.
As coisas agora eram diferentes. Agora ele era diferente. O mais importante era conseguir Jared.
-Feito.
Stryker entrecerrou os olhos.
-Não me falte.
-Não me falte você. -devolveu o tiro Jericho.
Tory sacudiu a cabeça.
-Deixamos aos dois uns chifres e os soltamos na montanha para que se dêem batidas agora?
Stryker dirigiu a ela um duro olhar.
-Não tenho nem idéia do que Acheron viu em você .-voltou a olhar sua esposa- Deixemos que tenham a Jared.
Zephyra fez um sonhoro ruído de desgosto.
-Não ter, meu amor. Emprestá-lo. Jared é só um empréstimo.
-Bem. -disse Jericho- O devolveremos logo que acabemos com ele.
-Melhor que o faça. De outra maneira Stryker e eu nos daremos um banquete com suas vísceras, banharei-me em seu sangue e usarei seus olhos como brincos.
Jericho soprou.
-Sabe, com essa imaginação, deveria escrever para a Hallmark. (N.R.: Empresa americana que fabrica cartões)
Ash acabava de retornar a sua casa quando sentiu algo estranho no ar. Um instante depois, Phobos reapareceu.
Sozinho.
Seus maus pressentimentos se intensificaram quando Delphine não voltou com ele.
-O que aconteceu?
Phobos deixou escapar um suspiro.
-Fomos atacados pelo Zelos quando reunimos aos Onerois.
Ash se sentiu doente pelas notícias. Jericho teria um ataque quando descobrisse que seu irmão tinha tomado aos Onerois.
-O que?
Phobos passou a mão pelo cabelo.
-Estava procurando Jericho e em vez disso nos encontrou reunindo aos outros. Levou tanto a Delphine como a Nike. Aparentemente Zelos sucumbiu ao lado escuro. Noir corrompeu sua mente.
-Não. Está planejado estrategicamente por sua parte. É a aniquilação do panteão por seus próprios membros. É o que o faz tão insidioso. Com Nike e Delphine, acredita que castra a Jericho.
-Sim, bom, de qualquer forma, estamos fodidos.
-Como é isso?
Ash deu um passo atrás quando Jericho, Tory e Jared apareceram. Tory, puxou-a para si para senti-la ali e saber que estava a salvo. Especialmente dado tudo o que estava acontecendo. Se algo acontecia
com ela...
Faria que Azura e Noir parecessem ursos de pelúcia.
Jericho franziu o cenho quando escaneou a habitação e não encontrou o que estava procurando.
-Onde está Delphine?
Phobos respondeu antes de que Ash pudesse suavizar o golpe.
-Seu irmão agarrou a ela e a Nike.
Ash se encolheu ante a brutalidade dos deuses, o qual podia explicar a expressão de Jericho que lhe atravessou como a uma injeção de ácido .
Jericho congelou no lugar quando uma potente raiva que podia saborear se construía em seu interior. Nunca em sua existência tinha estado tão zangado.
-O que?
Phobos teve o bom julgamento de parecer envergonhado.
-Fomos emboscados. Zelos veio e a agarrou antes de que ninguém soubesse sequer que estava ali.
Incapaz de suportá-lo, Jericho utilizou seus poderes para cobrir sua mão com garras de metal. Agarrou a Phobos pela camiseta e o estampou tão forte na parede, que rompeu a alvenaria.
-Bastardo! Como pôde deixar que a pegassem! Vou te matar!
Ash o agarrou e o fez retroceder antes de que pudesse machucar mais a Phobos.
-Acalme-se.
-Eles têm a Delphine!
Tomou cada gota de vontade que possuía não atacar a Acheron. Inclusive agora seu sentido de auto preservação sabia que atacar ao deus Atlante seria um grave engano.
-Ouvi-o -disse Ash calmadamente- Pode ser que o inglês não seja minha língua nativa, mas sou bastante bom entendendo-o.
Ele o libertou.
Jared se adiantou. Coberto com um comprido casaco de couro negro, seu cabelo avermelhado recolhido em um liso rado. O mais surpreendente era que sua pele não estava pálida ou sardenta. Mas bem bronzeada
com traços fortes .
Embora não era nem de perto tão alto como Ash ou Jericho, sua poderosa aura era suficiente para catalogá-lo como um bad boy que chutava traseiros. Seus olhos estavam ocultos atrás de opacos óculos
de sol, mas inclusive assim pareciam luminosos.
-Me dê a espada que Noir te deu.
Isso fez com que Jericho se detivesse.
-Como sabe da espada?
-Pertence-me. Ouço-a me chamar e a quero de volta.
Usando seus poderes, Jericho liberou Phobos, que caiu da parede com um feroz grunhido. Quando Phobos deu um passo para ele, Ash se deteve lhe pondo uma mão sobre o peito.
-Esquece-o, Phobos. Em meu manual você se livrou com muita facilidade. Se tivesse sido Tory a pessoa a quem levaram, você estaria em fatias.
Ignorando-os, Jericho convocou a espada.
No instante em que apareceu, toda a conduta do Jared mudou. Em vez de ficar sério e preparado para a batalha, era reverente e humilde. Ajoelhando-se no chão, Jared tomou a espada de suas mãos e colocou
a folha no chão para que ficasse ante ele.
Sussurrou em uma língua que Jericho não conhecia, o qual teria pensado que era impossível. Um dos benefícios de ser um deus era a habilidade de entender todas as linguagens. Mas esta...
Esta era completamente estranha para ele.
A espada começou a girar no chão por si mesma. Rápido e mais rápido. Uma brilhante luz emanou do punho, cegando-os. Então começou a dobrar-se até formar uma diminuta e formosa mulher, que não era
mais alta que um metro. Sua pele e olhos de brilhante ouro, enquanto que seu cabelo negro caía em cascata pelos ombros até os quadris. Embelezada com um vestido negro solto, tinha longas orelhas de elfo
e seus olhos eram rasgados como os de um gato. Uma pequena coroa dourada mantinha seu cabelo afastado de seu rosto em uma intrincada trepadeira dourada. Diamantes e rubis penduravam da coroa ao redor de
seu afiado rosto. Ela era deliciosa.
Não era surpreendente que a espada tivesse parecido viva. Estava-o.
-Senhora. -disse Jared, tomando sua mão- Perdoe-me.
Seus olhos cintilaram vermelhos quando ela retirou sua mão para lhe tocar o cabelo.
-Passou muito tempo, Jared.
-Sinto-o tanto. -sua voz se rompeu como se estivesse lutando por reter as lágrimas.
Ela se ajoelhou no chão diante dele e lhe tirou os óculos de sol para mostrar seus estranhos olhos vermelho, laranja e amarelos.
-Sei, couran. Mas não é o que tem que rogar perdão. Agora levante-se, e juntos lutaremos outra vez.
Seu olhar era tão atormentado que fez com que o peito de Jericho se contraisse.
-Não falharei de novo, Senhora. Juro isso.
Ela sorriu meigamente.
-Entendo por que o fez. Não há rancor em mim. -Ela agarrou suas mãos nas próprias e as sustentou juntas no centro de seu peito, sobre seu coração-Tem outros aos que salvar agora. Temos que ser o mais
rápidos possível.
Ela o liberou e voltou a sentar-se. Em um flash de luz, voltou a ser outra vez uma espada que permanecia ante ele.
Jared tomou o punho, beijando-a reverentemente e se levantou.
Jericho olhou a Acheron, querendo entender que estava acontecendo.
Ash meteu as mãos nos bolsos.
-Os Sephirii têm dez guerreiros de elite chamados Mimoroux. Cada um eleito pela espada que ele ou ela levam.
Jared manifestou uma capa e a pôs de modo que pudesse levar sua espada.
-Takara passou dois mil anos sem um Shiori.
-Um quê?
-Um guia. -Jared tragou antes de falar de novo- Não estava permitido que ninguém a dirigisse. Não até mim.
Jericho não entendia até que Ash explicou.
-É a mais poderosa das espadas. E quem quer que a dirigisse lideraria a todos os outros Sephirii.
Merda. Os Sepherii tinham sido traídos por seu líder. Pelo escolhido entre todos eles...
Jared sacudiu a cabeça.
-Mereço o que me têm feito e mais. Mas isto não é sobre o passado. Temos que deter Noir. -olhou a Acheron-Tem a seus Carontes?
-Estarão preparados quando nós o estivermos.
Phobos se adiantou.
-Tenho um punhado de sobreviventes Dolophonis e Onerois preparados agora mesmo.
Jared inclinou a cabeça.
-Então atacaremos. Que a Fonte nos guie à verdade.
Jericho se mofou.
-Que se foda a fonte. Esta é nossa vingança, e Noir vai se arrepender inclusive de brincar comigo.
CAPÍTULO 10
Aterrorizada, Delphine foi lançada em uma cela escura por uma das criadas de Azura. A porta se fechou de repente, selando-a em seu interior com um surdo ruído doentio. Não havia luz alguma e na opressiva
escuridão podia escutar a alguém respirando. Onde estava?
Mais importante ainda, o que era?
Pior ainda, Azura havia devolvido o colar de contenção ao seu pescoço. Tudo o que tinha eram suas próprias mãos para proteger-se. Nunca se havia sentido tão vulnerável. -Realmente me estou cansando
de ser agarrada e abandonada. -Durante milhares de anos, tinha lutado sem problemas. Agora parecia que não podia mover-se sem que a fodessem.
Algo tossiu.
Delphine se virou, pronta para a batalha.
-Quem está aí?
-Eu.
A voz era tão fraca que ao princípio não a reconheceu.
-M'Adoc?
-Sim.
Ela seguiu o som da entrecortada respiração para o encontrar no chão junto a seus pés. Agora que estava perto, podia confirmar que o profundo fôlego não era de raiva. Mas bem eram ofegos de dor.
Temendo pisar nele, parou.
De qualquer forma não podia ver além dos tênues contornos de seu corpo.
-Está bem?
-Estupendamente. -disse em um tom seco que traiu a dor insuportável que padecia.
Estirou-se para tocá-lo só para que ele deixasse escapar uma agônica maldição. Sentiu como se tivesse sangue nos dedos e quando ele se sobressaltou, escutou uma espécie de estalo continuado de pesadas
correntes.
-Não me toque.
-Sinto muito -se desculpou ela- Não vejo nada.
-Simplesmente... fique ...aí.
-Há luz aqui?
Ele tossiu.
-Não quer essa luz.
-Por que não?
Escutou algo passar deslizando pelo aposento. Aterrorizada, voltou-se, tratando de ver na escuridão. Mas ali não havia nada absolutamente.
-Confia em mim, menina. Não quer ver o que está aqui conosco.
Algo se arrastou perto da porta, fazendo com que o cabelo da nuca se arrepiasse. Não gostou de nada disso. Nem um pouco.
-Está acorrentado?
-Sim.
-Pode se libertar?
-Não. Encaixaram as correntes através de meu corpo.
Seu estômago se revolveu pelo horror. Como podia suportar a dor que devia estar sofrendo?
-Por que estamos aqui?
-Para alimentar às coisas que chamam a este lugar lar.
Um cru e absoluto medo a percorreu.
-O que? -Sentiu crescer o pânico.
-Acalme-se, Delphine. Tem que fazê-lo.
Ela voltou a escutar o deslizamento. Dando a volta, tratou de localizá-lo.
-Atacam quando sentarem o medo. Deve controlar suas emoções. Sei que é difícil, mas se concentre.
Seu coração batia tão brutalmente, que se surpreendeu que não saltasse de seu peito. Não ajudou nada quando tropeçou e caiu sobre um esqueleto que havia no chão. Quando aterrissou, algo desconhecido
a tocou na perna.
-O que? Quem está aqui?
-Shhhhh. -lhe sussurrou M'Adoc com doçura- Fique calma.
Se falasse isso uma vez mais, gritaria.
-Por que não me responde?
-Porque estou tentando não te assustar mais. Respira devagar. Pensa em algo agradável. Delphine fechou os olhos. No passado, sua mãe teria ocupado sua mente. Mas hoje, era a imagem sorridente de Jericho
que a fazia sentir-se segura. Protegida.
O deslizamento se retirou.
-Essa é minha menina.
Ela se levantou lentamente.
-Há algo que possa fazer para o ajudar?
-Evitar que os monstros ganhem esta guerra. Se assegurar de que Noir seja detido sem importar como.
Isso é o que pretendia fazer.
-Estou tentando isso, M'Adoc.
Escutou-o amaldiçoar pela dor antes de que falasse de novo.
-É uma mulher valente, Delphine. Sempre foi.
-Não me sinto valente, especialmente não agora mesmo. -disse esfregando os braços.
-Isso é valentia, sobre tudo para uma mulher que não está acostumada a ter emoções. Quando sente o profundo e paralisante medo e não deixa que ele te pare, precisa da verdadeira coragem. Nunca há
valentia sem temor. Assim como não há amor sem ódio.
Não estava segura de se era certo ou não. Sua experiência com as emoções era muito recente. O conceito de valentia estava além de sua compreensão.
-Por que o colocaram aqui?
-Não dava a eles o que queriam. Neguei-me a me converter e participar dos planos de Noir. Além disso, Zeus foi mais cruel quando nos castigou por entrar em seus sonhos. Noir e Azura não foram pior
que ele. Posso suportar as surras e a tortura.
Delphine estremeceu quando recordou alguns de seus próprios golpes. Embora os Oneroi fossem imunes às emoções, a capacidade de sentir e experimentar dor tinha permanecido com eles. Por uma parte,
não eram realmente emoções, era uma resposta física ao serem feridos, e por outra, permitia a Zeus e a outros deuses castigá-los quando saltavam as normas.
-E quanto aos outros? Converteram-se?
-M'Ordant está morto. -escutou a angústia em sua voz quando o disse e seu próprio coração doeu pela perda.
M'Ordant tinha sido suscetível com as normas, mas ao mesmo tempo, tinha sido um bom Oneroi. E um grande amigo. Cada vez que precisou de respaldo, tinha estado aí para ajudá-la. Faria muita falta.
-Mataram-no faz dias quando se negou a tomar seu veneno.
Não queria fazer a próxima pergunta, mas tinha que saber a resposta.
-E quanto a D'Alerian?
-Não sei. Não o vi desde que fomos capturados. Uma parte de mim espera que também esteja morto, em vez de torturado como eu fui. De qualquer forma, sei que nunca conseguirão convertê-lo. Que os deuses
o ajudem, onde quer que esteja.
Ela grunhiu com frustração.
-Por que nos estão fazendo isto? Há outros panteões aí fora.
-Mas não com os Onerois. São nossos poderes o que ambicionam. Mais que isso, Zeus nos tirou nossas emoções fazendo dos Skotis um objetivo fácil. Noir foi capaz de infiltrar-se em nossas filas prometendo
lhes devolver os sentimentos. Os estúpidos e crédulos bastardos acreditaram em suas mentiras.
-Não é inteiramente culpa sua. Os drogaram.
-Sei. Trataram de drogar a mim também.
-E não se converteu?
-Não. Não sou o suficientemente estúpido para chamar mestre a essa lesma. Melhor viver a eternidade neste buraco para ser comido vivo que ajudá-lo.
Delphine...
Ofegou ante a demoníaca voz que pronunciava seu nome. Recordava a sua mãe.
Me ajude, Delphine. Por favor.
-Ignorá-os -estalou M'Adoc.
-O que são?
-As almas dos condenados. Se responder, tomará seu lugar para sempre neste inferno e eles serão livres para ir ao reino mortal.
As chamada se fizeram mais altas agora.
Delphine tampou os ouvidos e se obrigou a ouvir a voz de Jericho. Fechou os olhos e imaginou que estava com ele. Sustentando-o.
Isto isso...
A risada se estendeu.
De repente, a luz alagou a cela. Delphine gritou quando viu o horrível fantasma branco frente a ela. Seu rosto oco. Os olhos afundados na escuridão. Mechas de cabelo sujo e cinza flutuando em torno
de um rosto inchado, enquanto se estirava para tentar atrai-la.
-Não o temerei! -gritou- Não temo a nada. Nada! -Ela se preparou para lutar.
O espectro se lançou contra ela.
Delphine esquivou um golpe, esperando que a atacasse. Mas justo quando a alcançava, gritou e se retirou.
Era Jericho.
Tinha à criatura agarrada pelo pescoço.
-Tira Delphine daqui.-gritou por cima de seu ombro. Com um rápido movimento, cortou a garganta da criatura e a lançou longe, bem a tempo para se ocupar do assalto de outro deles.
Phobos correu para ela, agarrou-a e a puxou para a porta.
-Espera! -disse ela, tentando dete-lo - M'Adoc também está aqui.
-O temos já. -Phobos a conduziu para o corredor.
Asmodeus estava fora, esperando.
Delphine se deteve bruscamente, esperando que ele estivesse contra eles.
-O que está fazendo aqui?
-Me conte entre os amigos. Só para que conste, é melhor que não percam. Não quero que fritem meu traseiro, ou qualquer outra parte do corpo, já postos.
-Por que nos ajudaria?
Asmodeus deu de ombros.
-Ouvi dizer que a estupidez é uma doença mortal. Queria comprová-lo eu mesmo para ver se era verdade ou não. Se sobreviver, saberemos que não é. Se morrer... bom, emprestará. Imperfeitamente. E não
serei feliz.
Phobos saiu da habitação com M'Adoc apoiado pesadamente contra ele. M'Adoc tinha a cara golpeada até o ponto de que apenas o reconhecia. Suas roupas estavam rasgadas e mostravam um corpo destroçado
por sangrentas feridas.
-Vamos.
Ela não teve oportunidade de falar antes de deixar esse reino. O que soube a seguir, é que estava em uma enorme sala branca com Tory e vários outros Onerois. Um homem e uma mulher estavam estendidos
no chão, em muda agonia.
Três Carontes apareceram com mais feridos, colocando-os no chão antes de voltar a desaparecer.
-O que está acontecendo? -perguntou a Tory, que estava ajudando a um dos Skoti a beber um copo de água.
-Ash, Jericho, Jared e Phobos estão libertando a tantos prisioneiros como podem.
Ainda assim, Delphine estava confusa.
-Por que os trazem aqui?
-É o lugar mais seguro até que possamos nos reagrupar. Ash quer primeiro contar os sobreviventes.
Delphine olhou a seu redor ao pequeno grupo que havia. Realmente não parecia promissor. Mas ao menos não estavam lutando entre eles. Os Skotis pareciam muito fracos para fazer outra coisa que estender-se
no chão e gemer.
Deixou-a doente vê-los assim.
-Aqui. Me deixe te ajudar.
Virou-se para encontrar-se a uma miúda mulher a seu lado.
-Me ajudar com o que?
Ela sorriu carinhosamente.
-A tirar esse colar. Relaxe, meu nome é Danger e sou um dos administradores de Acheron. Aqui está a salvo, prometo isso. Delphine levantou seu cabelo de modo que pudesse desabotoar o colar e restaurar
seus poderes... outra vez. Estava se cansando realmente de perdê-los.
-Obrigada.
-De nada.
Quando Danger o tirou, um forte aguilhoada a atravessou.
Fazendo uma careta, afastou-se para trás. Mas lhe levou um minuto dar-se conta que não vinha do colar. Eram seus poderes advertindo-a que Jericho estava em sérios problemas.
Jericho deixou a fossa para se juntar a Ash e Jared, que lutavam contra demônios, gallus e outras coisas horripilantes, no buraco principal onde tinham sido levados a maioria dos prisioneiros. Não
podia dar um passo sem ser golpeado por eles.
Mas isso estava bem para ele. Tinha um monte de raiva reprimida que tirar. Pobres deles por ser os receptores. Se não desfrutasse tanto disso, realmente sentiria lástima por eles.
Como não era assim...
Cortou a um demônio pela metade.
Phobos apareceu de novo a seu lado.
-Alguém viu a Deimos?
Antes de responder, Jericho agarrou a outro gallu pelo pescoço, jogou-o no chão e afundou a adaga entre os olhos da criatura para matá-lo.
-Está com Jaden.
-Onde?
-Pendurado na parede.
Phobos lhe dirigiu um enfastiado olhar.
-Pode me indicar?
Deixando a luta a Ash e aos Carontes, Jericho dirigiu Phobos e Jared descendo pelo mesmo corredor que tinha tomado antes com o Asmodeus. Uma das melhores coisas de voltar a ter seus poderes era ser
capaz de lembrar pequenos detalhes como este. Tinha sentido falta da infalível memória dos deuses.
Uma vez que retornaram à sala, tiveram que chutar a porta para entrar. Algo que não era fácil, mas estavam decididos.
Jericho se deteve logo que viu os grotescos restos dos Onerois no interior do aposento. Parecia como se alguém os tivesse destroçado recentemente. O pior era o fedor de seus corpos.
Maldito Noir. Não podia acreditar que tivesse sido tão estúpido para sequer pensar em segui-lo. Que idiota tinha sido.
Phobos deixou escapar um profundo lamento de sua garganta quando correu para seu irmão, que pendurava enfraquecido contra a parede. Não havia sinais de vida.
Mas era o olhar no rosto do Jared o que transpassou completamente a Jericho. Não havia emoções evidentes, e entretanto, seus olhos amarelos e laranjas falavam de uma incomensurável angustia.
Sem uma palavra, Jared foi para Jaden.
Jaden repartiu golpes a torto e a direito até que viu quem o havia tocado. A incredulidade se gravou a ferro e fogo em seu rosto golpeado.
-Jared? O que está fazendo aqui?
Jared respondeu com um furioso grunhido enquanto esfaqueava as correntes que sustentavam a Jaden na parede. Não teve êxito em conrtá-las para libertá-lo, mas a corrente se afrouxava com cada golpe
de espada.
-Te tirar daqui.
-Não pode.
-E merda que não posso.
Jaden o agarrou pelos ombros e dedicou-lhe um olhar penetrante e duro.
-Não pode. -repetiu com força.
Afastando-se para atrás, o grunhido de frustração de Jared ecoou através do fossa.
Jaden se voltou a recostar contra a parede, ofegando de dor, cuidando de seu braço direito.
-Ponha aos outros a salvo e não se preocupe por mim.
-Não quero te deixar aqui.
-Pode e o fará -o grunhido do Jaden igualou ao seu- Por uma vez em sua vida, me escute e faz o que te digo. Sai daqui e deixa de perder o tempo discutindo coisas sem importancia.
Jared agarrou a roupa sobre o ombro de Jaden e a espremeu em um punho.
-Você não é algo sem importancia. Não para mim.
Jaden tocou sua mão.
-Nesta batalha, sou. Não me matarão. Agora vai embora. Salva a tantos dos outros quanto possa.
Jericho não sabia o que tirar de seu enfrentamento quando Jared puxou Jaden para seus braços e o sustentou perto em um firme apertão. A maneira com que se abraçavam um ao outro... era como se fossem
irmãos ou amantes...
Ou íntimos amigos.
-Consertarei isso. -disse Jared, libertando-o- De algum modo, vou fazer o bem. Juro a você.
Jaden o empurrou afastando-o.
-Maldição. Vai!
Jericho voltou sua atenção a Phobos, que tinha Deimos embalado em seus braços.
-Está vivo. -disse Phobos- Ainda.
-Tira o daqui.
Phobos não discutiu. Se teletransportou imediatamente para fora dali.
Jared era outra questão. Vacilava como se não pudesse deixar Jaden. Culpa, medo e dor enchiam claramente seu rosto.
Mas quando uma horda de demônios os assaltou, a atenção do Jericho se voltou para a sobrevivência de Jared.
Ele enforcou ao primeiro gallu que alcançou, então se encarregou do próxima. Rodaram pelo chão. Jericho o golpeou com força na cara antes de levantar-se para agarrar ao próxima que descia sobre ele.
Impactou a um com seus poderes, mas não antes de que o demônio lançasse uma de seus próprias rajadas. Esta o alcançou no peito e o lançou para trás.
Jared cortou ao demônio com uma feroz estocada de espada.
Quando Jericho ficou em pé, sentiu um calafrio percorrer sua coluna vertebral.
Noir estava ali.
Sentiu-o antes de que o deus aparecesse na habitação, a um metro dele.
Noir estalou quando o mediu com seu repugnante olhar.
-Não tem idéia do que começaste.
Jericho se mofou dele.
-Nem sequer você, imbecil. Tudo o que fez foi trapacear comigo. Pensou que seria mais divertido me correr a pontapés, me drogar e assim me dobrar. Mau movimento de sua parte.
Noir riu.
-Voltar-se contra você é o melhor que as pessoas fazem. Ainda não aprendeu isso? Não tem amigos. Não tem nada.
Contra sua vontade uma imagem de Delphine se formou em sua mente.
-Ela? -disse Noir burlonamente como se pudesse ler seus pensamentos- A Delphine não importa. Foi enviada pelo Zeus para te seduzir para sua causa ou te matar.
Aquelas palavras o golpearam. Não podia ser. Ela não faria isso. Estava acima disso.
-É verdade. -insistiu Noir-pergunte a Jaden.
Jericho se voltou para olhar Jaden, que então apartou o olhar como se não pudesse suportar lhe dizer a verdade.
Noir riu.
-É um idiota, tão crédulo. Tanto quanto o valente Cratus. É patético. Se sacrificou por uma mulher que te traiu. Uma que sempre o trairá. Ela não é nada e você tampouco.
A dor esfaqueou o abdômen de Jericho. Baixando o olhar, viu a espada com que Noir o tinha apunhalado.
Noir lhe agarrou o queixo, sustentando-o com força antes de puxar espada para tirá-la. Jericho ofegou quando um cru fogo o atravessou.
-Deveria ter sabido que não foi mais que uma perda de tempo. Muito fraco para dirigir meu exército.
Jericho tartamudeou quando Jared se adiantou para atacar.
Os dois foram um contra o outro como Titãs. Jaden foi ajudá-lo.
-Não se meta nisto, verme! -advertiu Noir.
Jaden não o escutou. Mas tão logo chegou ao lado do Jericho, apareceu uma luz. Uma que perfurou a Jaden, levantando-o por seus pés para fixá-lo à parede igual a algum tipo de doentio experimento de
laboratório.
Jaden gritou de dor enquanto olhava a Noir.
-Se alguma vez consigo te tirar esse colar, estará fodidamente morto.
Essas palavras apenas se registraram na mente de Jericho enquanto tentava usar seus poderes para curar-se.
Não funcionava.
Como podia ser? Fazendo uma careta, tentou-o outra vez e de novo não aconteceu nada.
Noir lhe disparou uma rajada que chispou sobre seu corpo.
-É patético.
Jericho tentou levantar-se, mas algo voltou a golpeá-lo contra o chão. Cobriu o corpo com a armadura.
Nem sequer isso ajudava.
Jared não podia chegar a Noir, Azura tinha cintilado bloqueando seu caminho. Os dois bloqueavam suas espadas e as entrechocavan enquanto Noir se dirigia para Jericho.
Não vou morrer assim...
Por todo o poder da Fonte, não seria derrotado nesse infernal buraco.
Noir o apunhalou pelas costas, fixando-o ao chão.
-Ah... Errei seu coração?
Jericho vaiou quando Noir tirou a espada de sua coluna. Rodando, tentou afastá-lo de um pontapé. Era inútil. Fechou os olhos e convocou todo o poder que podia da Fonte.
Noir lhe sorriu.
-Realmente não acreditou que restauramos completamente seus poderes, não é?
Esfaqueou-o através do peito, errando por pouco seu coração.
Jericho gritou de dor.
Retorcendo a espada, Noir a tirou de um puxão.
-Desta vez, não falharei.
Afundou-a de novo.
Justo quando esta o golpeava, algo impreciso passou junto ao Jericho, alcançando Noir no peito fazendo-o retroceder.
Era Delphine.
Ela manifestou uma arma e a usou para dirigi-la de novo contra ele. A Jericho aterrava vê-la enfrentar a Noir como uma igual. Cada vez que a esquivava, ela fintava e dava uma nova estocada. Seus movimentos
eram uma sinfonia de graça e agilidade, e seus sucessivos golpes estavam incomodando a Noir.
Ela apoiou a arma no chão, então a usou para saltar com todo seu peso sobre o estômago do Noir. Ele grunhiu perdendo terreno.
Delphine se voltou para Jericho.
-Agüenta, bebê. -ofegou antes de teletransporta-lo à casa do Ash no Katoteros -o reino do Paraíso Atlante.
Jazia no chão com Delphine em cima dele, com um cenho franzido de preocupação. As palavras de Noir rasgaram seus ouvidos.
Tudo a respeito dela era uma mentira? Tinha-o traído?
-Por que voltou a me buscar?
Olhou-o incrédula ante sua pergunta.
-Não quero te ver ferido.
-Nem sequer me conhece.
Falou então, mas ele não podia escutar suas palavras pela dor em seu corpo. Em vez disso, sentiu que a escuridão o envolvia, tragando-o por completo.
Delphine sentiu que seu coração se encolhia quando os olhos do Jericho se fecharam e deixou cair a cabeça para trás expelindo um comprido suspiro.
Aterrada de que estivesse morto, inclinou-se tentando sentir um batimento do coração. Não havia nada...
Não, espera. Estava aí. Apenas. Sua respiração se esvanecia, mas era, também, audível.
Graças aos deuses por isso.
-Fizeram uma confusão com ele.
Ela elevou o olhar ao homem loiro que trabalhava como juiz de Acheron. Alexion. Esse era seu nome.
-Há alguma cama onde possa pô-lo enquanto se cura?
Alexion franziu o cenho.
-Não quer transportá-lo ao Olimpo com os outros?
Negou com a cabeça.
-Odeia estar lá. Por favor. Eu posso curá-lo, mas precisa descansar.
Alexion tocou seu braço e Jericho desapareceu.
Abriu a boca para perguntar sobre suas ações, mas antes de que pudesse dizer uma palavra, tinha-a enviado ao mesmo aposento onde Jericho estava estendido em uma larga e intrincada cama negra de colunas.
Os lençóis de linho foram rapidamente manchados pelo sangue de Jericho.
Alexion apareceu a seu lado.
-Não sei o que fazer com ele em relação a essas feridas. Pensei que era um deus.
Como qual Jericho não deveria sangrar assim. Deveria ter sido capaz de curar a si mesmo.
Mas era um caso especial e ninguém sabia melhor que ela.
-É.
-Então por que está sangrando dessa maneira?
Não estava segura, mas tinha a ligeira suspeita de que isso tinha que ver com seu coração humano. Possivelmente Zeus o tinha permitido curar de modo que pudesse matar a Jericho na próxima vez. Zeus
podia ser assim frio e calculísta.
-Não sei. -Embora soubesse que Acheron confiava nesse homem, ela não o conhecia de todo. A última coisa da que queria lhe falar era da debilidade de Jericho. Ninguém precisava sabê-lo, e guardaria
o segredo até a tumba.
-Precisa de algo? -perguntou Alexion.
-Não, obrigado. Posso atendê-lo.
Ele inclinou a cabeça.
-De acordo. Vou ver então aos outros. Me chame se precisar de algo.
Só com o Jericho, Delphine usou seus poderes para tirar a sua camiseta. Fez uma careta ao ver suas feridas e cicatrizes. Alexion tinha razão, Noir fez uma enorme confusão...
Apunhalá-lo no coração. Uma das feridas mal o tinha esquivado.
Congelou-se quando a realidade penetrou nela.
Noir sabia. Algo, alguém lhe havia dito que se podia matar a Jericho lhe atravessando o coração. Não havia outra razão para que tivesse sido esfaqueado dessa maneira.
Mas quem o haveria dito?
Por que?
Se falhassem em deter Noir, todos sofreriam. O Olimpo cairia e ninguém estaria a salvo.
Mas como Jericho havia dito, a maioria das pessoas tinham um preço. Aqueles que não eram poucos nem longínquos entre eles. Possivelmente o deus oculto pensava que podia permanecer do lado de Noir
e evitar ser o objetivo. Ou possivelmente tinha oferecido Jericho como um sinal de boa fé. Ou possivelmente só odiava apaixonadamente a Jericho.
Quem sabia?
Doente com o pensamento de que alguém fosse tão frio, usou seus poderes para curar as feridas, então manifestou água e panos para limpar o sangue. Quando passou o pano sobre os escarpados borde de
seu abdômen, deteve-se ante a visão das cicatrizes daí.
Denteadas e profundas, combinavam com as de seu rosto.
Ela estremeceu ante a visão. Zeus. Conhecia essas cicatrizes. Eram de seus relâmpagos. Doente ante a dor que Jericho tinha confrontado, sentou-se sobre a cama e traçou a linha da cicatriz sobre seu
rosto a seus lábios. Inclusive inconsciente, seu poder era inigualável.
E tinha voltado para para salvá-la.
Suas palavras a Phobos soavam em seus ouvidos. Sim, tinha ido salvar aos outros, mas também o tinha posto como desculpa para ir por ela. Inclusive antes que sua irmã. Ela tinha percebido o precedente.
As lágrimas de tenra gratidão nublaram o seu olhar.
-É tão valente. -sussurrou ela.
Contudo, tinha sangrado por ela. Ele, que tinha jurado que não se bateria com Noir, tinha-o feito. Não só porque Noir o tinha ameaçado. Não acreditava. Desde o começo, tinha-a protegido de uma maneira
que poucas pessoas o faziam.
Jericho odiava o mundo, e ainda assim se converteu em seu autodenominado guardião.
Tomou sua mão nas suas e observou a escura e cicatrizada pele. Áspera e calosa, era quase duas vezes o tamanho das suas. Essas eram as mãos de um assassino e de um amante, e pertenciam ao homem que
tinha cativado uma parte dela.
Seus olhos piscaram ao abrir-se.
-Olá. -ofegou, agradecida de vê-lo acordado.
A raiva franziu seu sobrecenho.
-Estou no Olimpo?
-Não, está no Katoteros. Não permiti que o levassem lá.
Jericho apertou sua mão enquanto seu olhar se voltava tempestuoso.
-Por que está sendo agradável comigo?
-O que quer dizer?
-Tenho te ameaçado e intimidado. Mal conhecemos um ao outro, e ainda assim está sendo amável. Por que?
-Tenho que ter uma razão?
Seu olhar se voltou sombrio e acusatório.
-Todo mundo mente. Todo mundo tem um preço. O que você ganha por sua amabilidade?
Estava confusa por sua hostilidade.
-Não tenho mais motivação do que te devolver o favor por me salvar.
Essas palavras pareceram zangá-lo mais.
-Assim, está me dizendo que não fez um trato com o Zeus para me seduzir?
CAPÍTULO 11
Jericho observou o estupor e o pânico atravessando o rosto de Delphine. Conhecia o olhar de alguém que tinha sido pego com as mãos na massa e desgostava-lhe a facilidade com que tinha sido enganado.
Como tinha podido sequer acreditar nela?
-Assim é verdade. -Curvando os lábios, afastou a mão de um puxão afastando a de seu apertão- Deveria ter adivinhado.
Quando começou a levantar-se, quase imediatamente o empurrou de volta à cama. Nunca a havia visto furiosa antes, mas agora mesmo seus olhos despediam fumaça.
-Não se atreva a tomar esse caminho santarrão e ir embora, estúpido. Sim, Zeus me disse que o seduzisse. Não negarei isso. E também o disse sua irmã, de fato. Mas, quando os escutei? Zeus também me
disse que capturasse a Arik e nem sequer fiz isso, como viu.
-Seduziu-me. -Odiava a nota de dor que havia em sua própria voz, mas não podia reprimi-la. Sobretudo, odiava que se importar o suficiente para se sentir machucado. Depois de todos esses séculos tratando
de proteger a si mesmo, abriu caminho em suas defesas e tinha alcançado seu coração de uma tacada, assim queria devolver-lhe o golpe.
Ela o olhou atônita.
-Como? Sendo amável com você? Disso se trata tudo isto? Por alguma razão, pensei que a sedução era muito mais complicada que tudo isso.
Sua raiva se acendeu.
-Não se atreva a me tratar de forma condescendente.
-Não sou a que está sendo condescendente com você, Jericho. Faze-o você se pensar que o seduzi. Tudo o que tenho feito é te tratar como a um ser humano.
-Então. Como é que me sinto tão patético com tudo isto?
Ela golpeou seu estômago. Não com força, só o suficiente para chamar sua atenção. Mas foi suficiente para enfurecê-lo.
-Não é patético -grunhiu ela- Não carece de valor. Mas está ferido. Possivelmente um pouco confuso e provavelmente muito transtornado, mas não é patético.
-Transtornado?
-Bom, irrompeu no inferno para salvar a uma mulher o bastante idiota para deixar-se agarrar... Quantas vezes até agora? Pessoalmente não o teria tentado depois da primeira vez. Isso me diz quão transtornado
está.
Jericho queria lhe gritar. Quis rechaçá-la e zangar-se. Machucá-la e amaldiçoar sua existência. Contudo, quando a olhava, tudo o que via era uma boca perfeita que pedia para ser beijada e um bonito
sorriso que esquentava seu coração. Viu os olhos verdes com reflexos dourados em um rosto que o cativava.
Como o fazia? Como podia querer estrangulá-la em um minuto e estar bem no próximo? Mas suas palavras abriram passo através de sua raiva, fazendo com que ela diminuisse até que esteve perdido.
Pela primeira vez em séculos, não se sentia patético ou sem de valor, e não era por ter recuperado seus poderes. Era porque ela o via como algo mais que isso.
Acima de tudo, queria ser o homem que ela via.
E antes de poder evitá-lo, beijou-a.
Delphine estava atônita por suas ações. Como podia passar de áspero a isto em um batimento de coração?
-Não está bem da cabeça, verdade? -perguntou-lhe enquanto ia mordiscando-a um caminho até a orelha.
-Não. Definitivamente há algo errado em mim. -Apartou-a para olhá-la- Quero te odiar, mas nem sequer posso permanecer zangado com você.
Ela entrecerrou os olhos em seu olhar.
-Sabe, acredito que necessita mais lições sobre como seduzir que eu. Por que não me chama gorda e feia enquanto está nisso?
Ele riu.
O som a agarrou completamente com a guarda baixa. Era profundo e nascia do coração, não era zombador ou sarcástico. Era real.
-O que? Isso é uma risada?
Tentou ficar sério.
-Não.
-Sim, foi. Ouvi-a. Vaca sagrada -brincou- Que chamem Hermes para que difunda a notícia. Acredito que acaba de começar o fim do mundo... Tem que ser um sinal apocalíptico. -Sua brincadeira morreu repentinamente
quando captou um olhar ferido nele que ocultou rapidamente- Jericho, estava brincando. Nunca te faria mal intencionalmente.
-Bem, isso é porque vive em um lugar dentro de mim onde só você pode me fazer mal.
Delphine congelou ante as palavras apenas audíveis.
Seus olhares se travaram.
-Odeio-a por isso.
-Não tem que me odiar. Sabe que antes me mataria a te machucar.
Ele baixou o olhar.
-Não, não sei. Está-me pedindo que confie em você quando todos aos que conheci me traíram?
-Nike não o traiu.
-Foi Nike quem indicou a Noir como me matar. -disse com uma careta.
-O que? -surpreendeu-se Delphine.
-Enquanto me esfaqueava, projetou-me as imagens do momento em que lhe informou.
O repreendeu com o olhar.
-Azura também te disse que eu era a favorita de Zeus, o que não é certo absolutamente. São mentirosos, Jericho. Não sabem o que é a verdade. Acredite em mim, se moverem os lábios, é para mentir. Garantido.
Sua irmã o ama. Foi sua acérrima defensora. Por que o trairia a seguir, revelando como o matar?
-Então, quem o fez?
Ela deu de ombros.
-Havia uma sala cheia de deuses quando Zeus o castigou. Poderia ter sido qualquer um deles.
Jericho bufou ante sua cegueira. Poderia ter sido Nike. Era possível.
-Como pode ter fé em alguem depois de tudo o que aconteceu?
-Porque é minha opção. Não vou deixar que gente como Zeus e Noir arruínem minha vida me fazendo suspeitar de todos aqueles que me rodeiam. Não vou lhes dar esse poder. Não vale a pena.
Jericho também queria acreditar isso, mas era tão difícil. Não sabia se ficava confiança dentro dele. Tinha sido traído muitas vezes.
O empurrou para a cama e o cobriu com o lençol.
-Precisa descansar. Embora tenha atendido suas lesões, está ainda dolorido e ferido. Dê a seu corpo tempo para sarar completamente.
-Há muito que fazer. Preciso saber...
-Não.
Ele piscou, não podia acreditar que lhe houvesse dito "não". Com força e rudeza.
-Não, não o fará.
-Sim, farei-o -se burlou ela- Não me faça usar meu truque Jedi Ninja sobre você. Poderia foder-te e fritar seus miolos.
Ele não pôde reprimir um sorriso ante suas infundadas ameaça.
-Agradeço a preocupação, mas Noir segue intrigando e temos que falar com Deimos e M'Adoc. Talvez saibam algo que possamos usar.
Ela mordeu o lábio e o olhou como se não gostasse da idéia. Deuses, como gostava daquele olhar inquieto.
-Sabe que o único modo de vê-los é ir ao Olimpo. É realmente o que quer?
-Não. Mas quero o coração de Noir em meu punho e se para isso tenho que ir...
-Quê-lo mais que o de Zeus?
Ela tinha um ponto. Era difícil decidir a quem queria matar mais.
Preferivelmente aos dois.
-Possivelmente.
Ela revirou os olhos.
-Acredito que só consegue se zangar.
-Não realmente. -A ira só parecia ser seu principal sustento- Mas Noir está atrás de nós por uma vingança pessoal. Não há tempo de ser apreensivo ou tímido. A melhor defesa é um bom ataque. Temos
que fazer do leão um coelho e fazê-lo correr à toca.
-O que acontece se não podemos?
-Não quero pensar isso. Noir é nosso e vamos fazer que deseje não ter tirado nunca a cabeça da Azmodea.
Delphine não podia negar a paixão que demonstrava. Só desejava que houvesse uma melhor maneira de fazê-lo. Mas se estava disposto...
-Então ao Olimpo. Mas trata de se comportar. Sei que é difícil para você, mas...
-Não vou mijar no chão. -disse com um grunhido.
-Não é o chão o que me preocupa. São seus flocos de milho.
Com um zombador cenho franzido, vestiu-se com uma camiseta e calças negras antes de teletransporta-se à Ilha Desaparecida, onde Acheron e sua gente tinham levado aos sobreviventes restantes.
Delphine seguiu Jericho, preparando-se ela mesma para um duro enfrentamento. Uma coisa que tinha aprendido sobre Jericho era que seu temperamento sempre acabava estourando. E pelo que tinha visto
de Deimos e M'Adoc, não necessitavam que alguém lhes desse outra surra.
Entraram na sala do templo, onde costumavam reunir-se Onerois para festejar, fofocar ou compartilhar informação. Hoje em dia, a sala se converteu em uma grande enfermaria. Havia alguns Onerois atendendo
aos feridos.
Mas foi o semideuos ao que tinham posto a cargo o que a surpreendeu.
Zarek da Moesia tinha nascido humano. Pior que isso, tinha crescido como um escravo que tinha sido injustamente culpado de violentar a sua proprietária e logo executado por isso.
Durante milhares de anos, tinha vivido como um dos DarkHunter que davam caça aos Daimons. Ao menos em teoria. Em realidade, Zarek tinha estado a um passo da loucura -nem sequer um passo completo.-Tinha
sido mantido longe da humanidade para protegê-la.
Faz uns anos, Artemisa o tinha declarado uma ameaça para a humanidade e tinha enviado a um assassino atrás dele. Mas não antes de que Acheron tivesse solicitado à deusa da justiça, Themis, um veredicto
sobre sua culpabilidade. Incapaz de fazê-lo ela mesma, Themis enviou a sua filha, Astrid, para que o julgasse. Astrid não só tinha sentenciado que Zarek estava cordato, mas sim lhe tinha salvo a vida e
se apaixonou por ele.
Após, os dois eram inseparáveis.
Alta, loira e formosa, Astrid estava no lado oposto da habitação com uma fêmea Oneroi a que estava assistindo.
Zarek dirigia aos pacientes que estavam mais saudaveis e coordenando ao resto dos Onerois e Dolphonis. Embora agora o considerasse um deus, ainda conservava a selvageria humana. Não ajudava que seu
cabelo estivesse curto e tingido de negro azeviche. Combinando com seu recortado cavanhaque de cabrito. Havia um ar de ameaçador poder sobre ele que provocava que o cabelo da nuca se arrepiasse.
Cruzou a sala logo que os viu.
-Caras, Ash me disse que não iriam se reunir conosco.
Temendo que Jericho pudesse dizer algo para incomodar a Zarek, Delphine se interpôs entre eles.
-Mudança de planos. Por que está aqui?
-Pedi-lhe que viesse. -disse Astrid, quando se uniu a eles- Nem todos os Skotis retornaram, assim temo outro ataque. Por alguma louca razão, vários deles seguem do lado de Noir.
Zarek inclinou a cabeça para sua esposa.
-Assim se os imbecis vêm aqui, vão dançar com o diabo e conseguirão meter-se onde não são chamados.
Astrid sorriu orgulhosa enquanto envolvia com os braços sua cintura e lhe dava um apertão.
-Ninguém melhor que meu Zarek para arrancar a cabeça de alguém. -Ela olhou a Jericho- Vocês dois se dariam às mil maravilhas.
Entretanto, ambos estavam receosos quando mediram um ao outro. Aquilo seria divertido se não tivessem tanto do que ocupar-se.
-Onde está Deimos? -perguntou Jericho.
Astrid indicou um canto afastado.
-Phobos retornou para ajudar a outros e a salvar a tantos quanto pudesse.
-Obrigado. -Jericho conduziu a Delphine longe do Zarek e Astrid para onde Deimos estava descansando. Baixou o olhar para Delphine quando a culpa o consumiu-. Eu também deveria estar ali, os ajudando.
-Não pode. -acariciou o centro de seu peito, sobre seu coração- Noir sabe como o matar. Temos que te tirar do jogo ou nos arriscar a o perder.
-O medo não me controla.
Dedicou-lhe uma seca careta.
-Sei, cara durão. Mas tem um condenado interruptor que, estou segura, afetaria a qualquer um da equipe.
-A única coisa que sei é que tudo no universo tem um ponto fraco. Noir conhece o meu. Nós temos que encontrar o seu.
Deimos se queixava quando chegaram a ele. Estava ferido e sangrando ainda. Alguém lhe tinha enfaixado a cabeça e um de seus olhos estava coberto por uma gaze branca.
-Encontrar, meu traseiro. Me olhe. Nem sequer podem me curar dos danos que me tem feito. Quando foi a última vez que me viu destroçado desta maneira?
Desconcertado pela pergunta, Jericho deu de ombros.
-Desde o negociante de escravos na Tracia. Phobos e você entraram ali até que tive que os separar. Depois ambos se viam iguais.
Deimos começou a rir, então amaldiçoou.
-Só você recordaria isso.
-Estou seguro que Phobos tampouco o esqueceu.
-Possivelmente.
Delphine se ajoelhou a seu lado. A dor pelo que deveria estar passando... ao contrário de Jericho, nunca o tinha visto dessa maneira.
-O que está passando, Deimos? por que Noir veio a nós desta maneira depois de todo este tempo? Sei que quer aos Skotis, mas por que não atacou antes?
Ele deixou escapar um comprido e cansado suspiro antes de responder.
-Em resumo, porque o Malachai voltou. No momento em que o velho Malachai se voltou contra Noir e fugiu, seus poderes começaram a debilitar-se significativamente.
Ela franziu o cenho.
-Não entendo.
-Sabe como se debilitam nossos poderes quando não temos A ninguém que nos adore?
Essa era a teoria. Entretanto, ela sempre se perguntou por isso.
-Sim, mas os poderes dos Onerois realmente nunca necessitaram adoradores. Não igual aos outros deuses.
-Isso é porque Acheron começou utilizando aos DreamHunters para ajudar a seus DarkHunters a sarar através do estado do sonho. Numerosos e com a necessidade de que sua gente os ajudasse a sarar, os
DarkHunters ajudaram aos Onerois a manter a força de seus poderes.
-OH... -Assim era por isso que seus poderes realmente nunca se debilitaram. De repente estava mais agradecida a Acheron do que tinha estado antes.
-Bem, muitos dos poderes de Noir, -continuou Deimos- dependem do Malachai e sua lealdade. Azura foi capaz de manter algo de seu poder porque se alimenta de Jaden, que por sua vez se alimenta dos Demônios
e sua necessidade dele. Mas uma vez que o pai de Nick fugiu, Noir começou a se debilitar imediatamente. Quando os poderes de Nick foram restaurados isto tirou Noir de um estado quase comatoso. Quanto mais
o Malachai use os poderes, mais forte se tornará Noir. Isso é pelo que precisa do Malachai tão desesperadamente, e o motivo de que continue nos atacando. Está esperando conduzir o Malachai para ele.
Isso tinha sentido, e explicava onde tinha estado Noir todos estes séculos passados. Mas havia um poder sombrio que ainda não tinha mostrado sua escura cabeça.
-E quanto a sua irmã, Braith?
-Noir e Azura a estão procurando. Até o momento, não têm idéia do que tenha acontecido a ela.
Jericho respondeu.
-Eles podem surfar os sonhos e encontrar a Nick?
Deimos assentiu.
-Quantos mais deuses jurem servir a Noir, mais poderoso se voltará. Nós somos poderosos quando os humanos acreditam em nós, mas quando se trata de um deus, isto nos faz duas vezes mais fortes -olhou
a Jericho- Você pode trazê-lo de volta e ele sabe.
Isso era verdade, exceto por um fatal defeito pelo que Zeus fazia a Jericho apenas muito fácil de matar.
-Qual é a debilidade de Noir?
-Jaden.
Jericho franziu o cenho ante a inesperada resposta.
-O que quer dizer?
Deimos deu de ombros como se a dor lhe atravessasse antes de responder.
-Se libertarmos Jaden, podemos derrotar tanto a Noir como a Azura. Ele tem o poder, mas agora mesmo está escravizado por eles e está proibido de lhes fazer mal. E libertá-lo seria quase impossível.
Por agora Noir estaria limitado devido a seu apreciado mascote.
Delphine olhou a Jericho antes de que ele falasse de novo.
-Assim que o mais fácil é matar ao Malachai para evitar que Noir obtenha mais poder.
Deimos bufou.
-Seria o lógico. Mas aqui há um problema mais importante. Sua vida está atada a de Acheron. O mate e Acheron cairá imediatamente depois dele.
Delphine deixou escapar um frustrado suspiro.
-Se Acheron morrer, a Destruidora se libertará e o mundo se acabará.
Deimos assentiu.
Jericho amaldiçoou.
-Quem acreditou que isso era uma boa idéia?
-Ash, quando não sabia que Nick era o Malachai.
Imagine. Jericho o condenaria por sua estupidez se ele mesmo não tivesse feito estupidezes. Começando por ter salvo a mulher que estava ao seu lado.
Bom, possivelmente não era tão estúpido depois de tudo...
-Então, que vamos fazer? -perguntou Delphine.
-Agora mesmo o mais urgente é matar ou recuperar aos Dolophonis, Onerois e Skotis que trabalham com o Noir. Enquanto um só deles o sirva, estaremos fodidos.
Sim, a última coisa que precisavam era ser vulneráveis enquanto dormiam. Ninguém necessitava uma distração com Freddy Krueger.
Jericho cruzou os braços sobre o peito.
-Quantos temos de nosso lado?
-Perto de uma centena.
Delphine elevou o olhar.
-Mas teríamos mais. Podemos lutar e trazê-los para casa.
-Ou matá-los. -acrescentou Jericho. Pessoalmente, preferia o último. Se não vinham voluntariamente, em sua mente nunca seriam de confiança. Melhor desfazer-se deles que aceitá-los e sentir lástima.
Delphine lhe dedicou um irritado olhar.
-Temos que lançar outro ataque sobre eles.
-Necessitam de um líder. -disse Zarek unindo-se a eles- Para um maciço e concentrado ataque sobre a sala de espera dos espelhos para capturar aos que estão no reino dos sonhos, e outro para aqueles
que estejam acordados.
Jericho assentiu.
-Será sangrento, mas Zarek tem razão. Temos que controlar aos Skotis e curar aos outros de modo que possamos acabar com isto.
Delphine sacudiu a cabeça enquanto o considerava. Não estava segura de que tivessem uma oportunidade conforme estava a situação atualmente.
-Mas quem vai liderar? M´Adoc...
-Não é um comandante militar .-disse Deimos, interrompendo-a. Elevou o olhar para o Jericho- Você é a melhor oportunidade que temos. Pode monitorar a atividade da Fonte e sabe como chegar até o Noir
e Azura. Além disso tem a experiência e os conhecimentos de mando necessários para enfrentar aos inimigos e executá-los.
Zarek parecia menos que encantado.
-Não pode fazê-lo sozinho. Quantos deuses da Fonte temos?
Astrid respondeu:
-Quatro. Jared, Acheron, Nike... -fez uma pausa enquanto intercambiava um olhar com ele- e Jericho.
-Há dois mais. -disse Daimos.
Astrid franziu o cenho.
-Quais?
-Os deuses Sumerios, Sin e seu irmão gêmeo, Zakar.
Agora foi a vez do Delphine de mostrasse confusa.
-Por que brigariam conosco?
-Sin é o genro de Acheron.
-Oh! -disse ela ao entender. Isso mudava tudo- Então, pode ser que funcione.
Zarek se mofou.
-Ou explodira na nossa cara.
Um malicioso olhar iluminou os olhos do Jericho.
-Bom, a outra alternativa é despertar a alguns Titãs e lançá-los sobre todos eles.
Zarek riu diabólicamente como se tivesse na mente uma boa imagem disso.
-Zeus cagaria gatinhos.
Jericho encolheu os ombros.
-A algum de nós importa?
Delphine e Astrid levantaram as mãos.
Astrid esclareceu a garganta.
-Em caso de que o tenham esquecido, meninos, os Titãs estão um pouquinho irritados por seu eterno aprisionamento. Deixá-os sair agora, e acredito que teremos um problema pior que Noir. Sem contar
que eles são muitos mais.
Delphine assentiu.
-O que disse ela e algo mais.
-Tenho uma idéia melhor. -disse M´Adoc aparecendo detrás deles.
Delphine se surpreendeu de o ver ali, inclusive mais de que tivesse estado escutando às escondidas sua conversação.
Mas ainda estava instável sobre seus pés e não passou muito antes de que caísse.
Jericho o agarrou antes de que caísse e o ajudou a sentar-se no chão.
M´Adoc tomou um segundo para estabilizar-se antes de explicar sua idéia.
-Nossa debilidade são os Skotis. Noir promete a eles devolver suas emoções. Uma vez ali...
-São drogados. -acabou Delphine, recordando a advertência de Zeth sobre os efeitos de ingerir a comida.
M´Adoc assentiu.
-Enquanto os mantenha assim, não poderão lutar contra ele. Mas se conseguem libertar Zeth, podemos reunir aos Skotis com os Onerois. Com nossas emoções intactas, a revoltante fúria do que nos têm
feito nos abastecerá como combustível. E mais que isso, Noir não terá nada que lhes oferecer. Especialmente depois de que ele atacasse a todos nós.
Jericho ainda seguia sendo cético. Parecia algo muito fácil.
-Está seguro disso?
M´Adoc assentiu.
-Necessitamos nosso sentido de lealdade e imparcialidade restaurada. Com a restrição eliminada, voltaremos a ser o que fomos.
-Como podemos fazê-lo? -perguntou Delphine-Acreditei que uma vez que uma maldição se impunha era eterna.
-Não sempre. Mas tem que ser levantada pelo deus que a impôs. Além disso, esta já se está debilitando. As emoções que tem, Delphine, não notou que estão ficando mais fortes?
-Pensei que eram resíduos de lutar com os Skotis.
M´Adoc negou com a cabeça.
-Zeus não é tão poderoso como costumava ser. Como Noir, quanto menor é o número de seguidores que o adorem, mais fraco se torna.
Deimos assentiu.
-E ao contrário de Apolo, não tem uma raça de Daimons que crêem nele para alimentar seus poderes. -Exatamente. Tem a habilidade de revogar a maldição. Ao contrário da de Apolo, não é fatal e pode
ser desfeita.
Jericho deu um passo atrás.
-Então terei umas palavras com traseiro de trovão.
Delphine se voltou para ele com uma aterrada expressão que o enterneceu.
-Não pode, o matará.
-Acaso se importa?
-Importa-me.
Jericho sorriu enquanto sustentava seu rosto na palma da mão. Nenhuma palavra tinha significado tanto para ele, e lhe assombrava que fosse tão sincera.
-Estarei bem. -a empurrou para o Zarek- Jogue um olho nela até que eu volte.
-Sabe -disse Deimons, incorporando-se para sentar-se- Acredito que talvez não esteja muito equivocada. Possivelmente queira algo de respaldo antes de ir falar com o Zeus.
Conhecendo o bastardo, isso o foderia até mais. A Zeus não gostava das audiências quando se demonstrava que estava equivocado. Aquilo teria um fim definitivo sempre e quando não houvesse outra testemunha
disso.
-Permaneci a sua mão direita durante séculos. Sei como falar com o homem.
Deimos soprou burlonamente.
-Também conseguiu um de seus castigos mais duros.
-O qual quer dizer que sei quando o empurrar muito longe. Não se preocupe.Não cometerei o mesmo erro outra vez.
Delphine voltou um preocupado olhar a M´Adoc.
-M´Adoc fala com ele.
-Não sei se possor, Delphine. Você tem melhor oportunidade que eu.
-E nem sequer você pode.
Jericho começou a partir, mas Delphine o deteve.
-Tome cuidado. Por favor.
Guardando essas preciosas palavras, inclinou a cabeça antes de teletransportar-se da Ilha Desaparecida diretamente ao templo privado de Zeus.
Jericho sentiu frio quando as velhas lembranças o assaltaram. Ele e seus irmãos tinham feito guarda ali enquanto o pai dos deuses se banhava ou dormia com qualquer ninfa ou deusa que tivesse cativado
seu interesse. Só um diminuto punhado de outros deuses tinham sido admitidos aqui. E nada tinha mudado em todos esses séculos. Ainda era o mesmo frio salão de mármore que sempre tinha sido. Fechando os
olhos, Jericho estendeu seus poderes para localizar Zeus. Estava no banheiro, esperava que sozinho. Jericho tomou um momento para devolver o emplastro ao olho e manifestar sua armadura. Os invertebrados
dedos de sua mão direita voltavam a ser garras metálicas e liberou suas asas. Não estava ali para suplicar. Estava aqui simplesmente para expor seu caso e discutir se fosse necessário. Se Zeus queria uma
briga, então haveria uma briga.
Jericho deixou que seu cabelo flutuasse livremente a suas costas, enquanto caminhava através do corredor de mármore branco e dourado para a parte de trás do templo. O banheiro era um enorme átrio
com uma cascata ao fundo que alimentava a banheira, a qual era de um tamanho, perdoem a ironia, de uma piscina olímpica.
O vapor flutuava saindo da água, deixando-o saber que era quente e relaxante.
Zeus se recostava no extremo oposto da cascata com seus olhos fechados, enquanto que uma ninfa sentada sobre um tamborete próximo tocava uma lira para ele. Desde sua avantajada posição, viu-o completamente
relaxado e inconsciente do fato de que Noir estava a um passo de sua garganta. Estúpido bastardo. A ninfa levantou o olhar e ofegou ante a visão de Jericho. Zeus ficou direito. Amaldiçoando, voltou-se
na água para lhe fazer frente.
-O que está fazendo você aqui?
-Vim de visita... Pai.
Zeus curvou os lábios antes de ladrar a inocente ninfa:
-Peia, nos deixe.
A ninfa se desvaneceu instantemente. Sua lira caiu ao chão com uma nota dissonante.
Zeus se estirou por sua larga túnica e a envolveu a seu redor enquanto ainda estava na piscina. Usando seus poderes, levitou antes de dar um passo sobre o chão, para poder aproximar-se de Jericho.
-Ficou louco?
Jericho ignorou seu tom resmungão.
-Sinto-me assim alguns dias. Mas não. Estou cordato e estou aqui para falar com você.
-A respeito do que?
-Pelo que você vai fazer.
Zeus entrecerrou os olhos ameaçadoramente.
-E isso seria?
-Libertar os Onerois.
CAPÍTULO 12
Zeus lançou-lhe um olhar sarcático enquanto parava exatamente diante dele e puxava o cinturão da bata em um nó apertado.
-Está louco.
Estranhamente, havia uma serena tranqüilidade no interior do Jericho, que não reagiu ao ser acossado. Que estranho. Normalmente, depois de tal reprimenda, estaria indo pela garganta do Zeus.
Possivelmente Delphine estava influindo sobre nele, porque jurava que podia ouvi-la lhe dizendo que se acalmasse.
-Não. -disse lentamente- A única loucura seria que me ignorasse. Os Skotis e os Onerois precisam de suas emoções para lutar efetivamente contra Noir.
Zeus sacudiu a cabeça.
-Voltarão-se contra nós. Pode confiar em mim nisso.
Qão estúpido poderia ser um deus? Estava cego?
-Em caso de que não o tenha notado, já o têm feito. E estão se separando de seu panteão um deus cada vez. Os Onerois e os Dolophonis não são nada mais que, perdoa o trocadilho, um sonho ruim.
Jericho cruzou os braços sobre o peito, muito seguro.
-Se lhes devolver suas emoções, sua lealdade ao panteão possivelmente triunfe sobre sua luxúria e ambição atuais. Além disso, Noir não terá nada que lhes oferecer. A única razão pela qual agora não
têm emoções é porque as proibiu. As restaurar é a única esperança que têm.
Zeus curvou o lábio.
-Como sabe?
-Ainda está vivo neste momento, verdade? Embora não sonhei com nada mais que te matando durante todos estes séculos. Embora o odeie com cada pedaço de mim, ainda está vivo por causa da lealdade que
tenho por ser grego. E ao ódio que sinto pelo Noir por ter tratado de me usar. Isso é o que necessitamos para voltar a despertá-los.
Zeus bufou.
-Nenhuma delas me motiva para as repor.
-Então me diga o que o fará.
Zeus entrecerrou os olhos enquanto o considerava. Jericho jurava que podia ouvir as engrenagens girando na mente do deus.
-O que me está oferecendo exatamente?
Não o faça, idiota. Diga que sua vida.
Mas sabia que as ameaças não conseguiriam o que precisava. Zeus era o único que podia levantar a proibição. Este não era o tempo nem o lugar para a arrogância nem a fanfarronice.
Faz isso pelo futuro de Delphine...
Estava pedindo pela liberdade dela. Sua vida. De algum modo o fazia mais fácil para ele.
-O que seja para acabar com a maldição que nunca lhes deveria ter dado.
Zeus inclinou a cabeça como se ouvisse os pensamentos de Jericho. Seu olhar se obscureceu ameaçadoramente.
-Isto é pela pequena Oneroi que enviei atrás de você, verdade? Não lhe importam os outros. Só quer libertá-la -riu em tom zombador- Vá. O poderoso Cratus está caído por um simples deus do sonho. Te
enviar esse traseirinho quente funcionou de verdade.
-Não a chame assim. -grunhiu Jericho.
Era tudo o que podia fazer para não atacá-lo. Delphine não era um objeto e maldito seja se permitisse que Zeus a reduzisse a um.
Zeus riu outra vez, fazendo com que Jericho tivesse vontade de lhe arrancar a arrogância com um murro na cara.
-Acha que se recuperar as emoções poderá te amar, não é? Que se preocupará com você. Nike me contou que ela seria uma debilidade que não poderia negar. E tinha razão. Não há nada como um rosto bonito
para debilitar a um homem, especialmente a um ao qual foi proibido o sexo tanto quanto a você.
Essa era provavelmente a última coisa que Zeus o deveria ter recordado, porque neste momento estava contendo seu gênio por uma margem muito estreita.
-Deixa-a fora disto.
Por sorte, o deus sabia quando se retirar.
-Bem. Me pediu um favor e o concederei isso com uma condição.
-E é?
-Uma vez tenhamos aos Skotis controlados, será meu obediente escravo durante o resto da eternidade.
-Que se foda.
A resposta de Jericho voou fora de sua boca antes de poder detê-la. O bastardo não estava bem da cabeça? Pensava realmente Zeus que seria tão parvo outra vez?
Zeus deu de ombros como se o destino de todo seu panteão não descansasse em sua decisão.
-Então nenhum trato. Só espero que sua pequena Oneroi seja melhor combatente que eles. De outro modo...
Jericho estava espantado ante sua indiferença.
-É completamente estúpido? Se Noir consolidar sua posição sobre os gallu governados pelos Skoti, estarão condenados. Todos estaremos condenados.
-Meus sonhos estão protegidos, uma precaução que tomei faz muito tempo. Meu único temor é Noir, e com você fora do caminho, é uma ferramenta a menos que terá -Zeus sorriu burlonamente- Sim, quer me
chatear e lutar por ele, mas não o fará. Não agora. Não depois de que viu a sua bela Delphine. Não a machucará, verdade?
-Cala a boca.
-Por que? A verdade o ofende?
Rugindo com ira, estendeu as asas e agarrou a Zeus pela garganta.
O deus não estremeceu enquanto Jericho o sustentava contra a parede.
-Continua. Me mate. -alfinetou- Devolve meus poderes à Fonte. Mas se não os pode dirigir, e ambos sabemos que não pode, irão a Noir e lhe fará mais poderoso. Ou pior, arrebentarão o universo e matarão
a todo ser vivo. É isso o que quer?
Jericho apertou seu punho, querendo matar o bastardo. Queria banhar-se em seu sangue e provar suas vísceras.
-Odeio-o.
-Me odeie tudo o que queira. Mas é sua decisão ao final. Pode lhes ajudar aceitando minhas demandas, ou se negando e lhes olhando cair ante Noir e Azura. Qual será?
Jericho sacudiu a cabeça, tratando de compreender as razões do Zeus e seu egoísmo.
-Como pode não se importar com o que lhes aconteça?
-Não estou isento de compaixão, mas nunca evitei o que deve ser feito. Jamais. Matei a meu próprio pai para governar este panteão. Pensa por um minuto que vacilaria em matar ao resto deste panteão
para proteger meu lugar como rei?
Jericho apertou a garganta enquanto imaginava Zeus jazendo morto a seus pés. Mas ao final, soube que Zeus tinha razão. Com seu coração humano, não poderia absorver esses poderes. Mataria-os a ambos
e outorgaria os poderes a Noir.
Ou destruiria a todos.
-Assim, o que vai ser, Cratus?
Delphine congelou enquanto algo doloroso arrebentava dentro dela. Sentia como se seu coração tivesse explodido e enviasse fogo através de suas veias. Gritando, caiu de joelhos, agarrando o peito.
Cada fôlego a cortava. Cada pulsado do coração era agonizante.
Que demônios lhe acontecia?
Aterrorizada de que fosse um novo ataque de Noir e seu exército, olhou ao redor do vestíbulo onde os outros Onerois e Skotis também se retorciam de dor. Nenhum dos Dolophonis pareciam estar afetados
por isso.
-O que está acontecendo? -perguntou A M'Adoc.
M'Adoc ofegava e gemia.
-Ele fez. São nossas emoções sendo desbloqueadas.
Podia ser...?
Foi só quando o ardor se deteve e as emoções desbloqueadas a varreram que ela se deu conta exatamente de quão oca tinha estado sempre. Tudo a seu redor era mais vibrante e nítido. Cada som, cada sabor.
A luz era cegante enquanto as emoções a alagavam. Ódio. Amor. Simpatia. Temor. Tristeza. Felicidade. Ria e chorava. Envergonhava-se querendo gritar de alegria.
-Respira. - M'Adoc disse em seu ouvido- Deixa-o assentar-se.
Tentou-o o melhor que pôde, mas era tão difícil. Mesmo Azura que, ainda as havendo desbloqueado, isto não era nada comparado com o que sentia agora. A deusa só deveria ter desbloqueado a parte humana,
porque não havia comparação com isto.
-Como os humanos as manejam?
-Alguns as manejam melhor que outros, e estão mais acostumados a elas já que as têm desde que nascem. Se acostumará a elas também... ao final.
Ele parecia haver-se recuperado.
Ela era outro assunto. Era tudo muito cru.
Até que Jericho apareceu. Um grito ressoou dos Onerois e Skotis que lhe davam as boas-vindas, mas não lhes prestou atenção. Seu olhar era só para ela enquanto avançava em sua direção.
As lágrimas turvaram sua visão enquanto ele a levantava em seus braços.
-Obrigada. -suspirou.
Inclinou a cabeça antes de cintilar fora do vestíbulo por volta do quarto dela.
Pôs a mão em seu rosto, descansando o polegar no emplastro que ele tinha substituído. A alegria e o amor que sentia por ele eram incríveis. Nunca em sua vida se havia sentido assim.
-Como o convenceu?
-Não se preocupe por isso, não é importante.
Sim, era-o. Ele não tinha a menor ideia do que significava para ela compreender finalmente a parte que sempre tinha estado bloqueada. Não é de estranhar que os Onerois se tornaram Skotis. A sensação
era tão vertiginosa e intoxicante. Queria experimentar tudo. Sentir todas as emoções tão profundamente como fosse possível.
-É assombroso, meu Jericho.
Jericho se congelou ante as palavras, que lhe cortaram profundamente no coração.
-O que há dito?
-É assombroso.
-Não, o que me chamou?
Sorriu para ele.
-Meu Jericho.
Era estranho como o pensamento de pertencer a Zeus desgostava até um nível de enlouquecedor que mal podia compreender. Mas ser posuído por ela...
Seria o céu.
Fechando os olhos, beijou-a profundamente, precisando senti-la em seus braços. Por ela tinha trocado duas vezes sua liberdade. Mas pelo menos agora sabia uma só verdade. Ela o valia.
Noir se esticou rigidamente enquanto sentia a poderosa onda que penetrava em seu reino. Emprestava ao Olimpo. Sobre tudo, fedia a Zeus.
O que tinha feito esse bastardo?
Não foi até que olhou aos Skotis a seu lado, quando o compreendeu. Zeus os havia libertado. As emoções retornavam a eles. Um grito jubiloso soou enquanto se abraçavam uns aos outros como irmãos perdidos
faz muito tempo.
Azura apareceu a seu lado.
-Que demônios é isto?
Noir curvou o lábio com repugnância.
-Os habitantes do Olimpo. Tentam uma nova tática -passou diante dela onde seus demônios olhavam ao redor, aturdidos- Gallu! Convertam a qualquer habitante do Olimpo que possam encontrar. Agora!
Os gallu atacaram, mas os Skotis, que agora estavam em pleno controle de si mesmos, defenderam-se com uma habilidade sem precedentes. As drogas que tinha utilizado para intumescê-los tinham desaparecido
de seus sistemas no instante em que suas emoções retornaram.
Azura se girou para ele com temor nos olhos.
-Isto não é bom.
-Não se assuste. É um reverso temporário e nada que não possamos vencer.
Noir utilizou seus poderes de selar seu reino. Embora não pudesse evitar que os Skotis se fossem, podia evitar que alguém, ou algo, entrasse.
Por agora isso evitaria que os atacassem até que encontrasse um modo de rebater este último giro. Jericho era engenhoso, reconhecia isso. Mas não era competidor para Noir.
Noir sabia como motivar às pessoas.
E agora tinha a Kessar e a seus gallu...
Ia ganhar isto sem importar a quem tivesse que matar.
-Então a profecia é verdadeira.
Vestido com calças azuis e uma camiseta azul escura, Zeus se virou ante o som da voz ressonante de Hera. Tinha estado planejando voltar para vestíbulo onde os outros deuses estariam jantando jámas
isto o deteve de repente.
-O que está fazendo aqui, Hera?
Sua mulher se manifestou exatamente diante da porta que ia de seu dormitório ao corredor principal. Alta com cabelo castanho escuro, era uma das deusas mais formosas. E, inclusive embora a enganasse
de vez em quando, sabia que não tinha igual. Sinceramente, era deliciosa e valente. Seu par perfeito.
-Só queria dizer quão surpresa estou de que tenha mimado alegremente a uma profecia contra a que lutou tanto por evitar.
-Não sei do que está falando.
-OH, vamos, amor. Sabe exatamente do que falo. É isso contra o que estiveste lutando desde dia em que desterrou as emoções de todos os Onerois. Ambos sabemos que não foi o sonho. Nenhum Oneroi brincou
com seus sonhos. Não teriam se atrevido, não importa quanto os zangasse. Foram as palavras de Tiresias o que o fez massacrar e subjugar a todos.
Respirando com ofegos, olhou-a. Como se atrevia a trazer isto a tona? Era algo que tinha relegado ao passado distante. Algo que lhe tinha feito mais que cuidadoso fazia séculos. A profecia tinha sido
evitada e o mundo voltou para a normalidade.
Mas Hera continuava, inconsciente de sua ira crescente.
-Em cinco de junho, uma criança nascido de homem e dos deuses celestiais convocará aos maiores Titãs e deporá ao poderoso Zeus. Em suas mãos gira a vontade dos Destinos, e o grande Kosmetas dos habitantes
do Olimpo não o será mais. Ela esgrimirá o último poder e andará entre o mundo dos homens e dos sonhos. Seu amor, sua compaixão, serão o final da ordem do Olimpo e um Titã os governará a todos outra vez.
Era a maldição que seu pai lhe tinha dado depois de que Zeus o castrou.
Será arruinado, e eu rirei enquanto cai...
A fúria do Zeus estalou.
-Para. -grunhiu, preparado para arremeter contra ela.
Hera foi implacável.
-Sabe que é verdade. O dia que Tiresias te contou que o bebê Oneroi tinha nascido, o único que um dia o destronaria, chamou as Fúrias e aos outros para persegui-los reclamando que tinha sido assaltado
em um sonho. Assegurou-se especialmente que essas filhas mestiças que tinham sido profetizadas para ser as que nos substituíssem fossem mortas brutalmente. O que foi o que disse?, "Não deixe a nenhuma
viva", assim que os Dolophonis e os outros empaparam a terra de vermelho com o sangue das criaças híbridas. Ninguém se atreveu a questionar ao grande Zeus, cuja palavra é lei. Mas ambos sabemos a verdade.
Não queria desterrar suas emoções e massacrar a suas filhas por um sonho que nunca ocorreu. Queria manter seu lugar como o rei dos Deuses.
Mofou-se dela.
-Não a vi defendendo-os então.
-Como poderia havê-lo detido? Era um deus posuído, e não era o bastante estúpida para impedir o seu passo. Só Cratus foi, e esse bebê pelo que enviou a todos à morte... Sabia que sobreviveu?
Zeus se congelou ante a pergunta.
-O que? É impossível. Dor me jurou que tinha matado ao bebê. Torturou a Leta com contos de como sua filha tinha morrido. Com que alegria a tinha massacrado.
-Dor quis lhe causar sofrimento e matou a uma menina, correto. Mas não era ela. Seu bebê viveu.
Nesse momento, Zeus quis matar a sua mulher.
-Por que não me disse isso? Como pode ter mantido isto em segredo?
-Não o soube até agora.
-O que quer dizer?
-O demônio com o que voltaram, Asmodeus. Tive um bate-papo agradável e longo com ele a respeito dos planos de Noir e o futuro do demônio aqui entre nós no Olimpo. Contou-me que ouviu por acaso como
Jaden dizia a Cratus que Delphine é a filha de Leta e seu marido humano. É o bebê que Cratus foi enviado a matar. O bebê que se negou a assassinar.
-Não...
Zeus cambaleou para trás quando as implicações o golpearam completamente.
Como podia não havê-lo visto? Porque a profecia nunca quis ser frustrada.
Sou o rei dos Deuses...
Ninguém era mais poderoso que ele. Nem essas três rameiras chamadas Destino. Não seria derrubado por alguma abominação humana mestiça.
Era Zeus. O rei de todos os Deuses do Olimpo e de todo o poder que lhes pertencia.
Mas o que o fez rugir de fúria foi o conhecimento de que tinha posto sem saber a Delphine junto a Cratus. Tinha semeado as sementes de sua própria destruição.
Por causa de Nike. Essa pequena puta pagaria sua parte disto. Se ele sobrevivesse.
Não é tarde demais.
Não, ainda poderia parar tudo. Cratus tinha um coração humano e estava amarrado a Zeus. Nike estava presa nas mãos de Noir. Podiam facilmente deixá-la morrer.
Quanto a Delphine...
Encontrou-se com o escuro olhar de Hera.
-Os dois precisam ser sacrificados.
-Concordo.
Ele arqueou a sobrancelha, surpreso por seu apoio. Normalmente lutava contra seus decretos.
-Está de acordo?
-Certamente não quero ser substituída por uma bastarda meio humana. Somos os governantes do Olimpo e, pela Fonte e todo seu poder, que assim seguiremos. Não importa o que nos custe.
Um lento sorriso se estendeu pelo rosto de Zeus. Era bom ter a sua mulher de seu lado em uma discussão por uma vez.
-Então convoca às Phonois.
Assassinato, Morte e Matança, eram um trio de deusas que prosperavam ao tomar vidas. Sem consciência ou misericórdia, atacariam. E o melhor de tudo, sabiam como matar a um deus e não arrebentar o
universo.
Zeus riu ao pensar em soltar sua destruição.
-Tenho uma nova vítima para elas.
CAPÍTULO 13
Delphine pousou a mão no rosto de Jericho, deixando que seu bigode lhe acariciasse a palma da mão, enquanto que com o polegar acariciava seus lábios.
-Tem idéia de quanto significa para mim?
Jericho tragou ante a pergunta. Esperava que a resposta expressasse ao menos o que sentia por ela. Do contrário tudo se iria a merda.
-Não.
Ela agarrou suas mãos entre as suas.
-Mais do que qualquer palavra possa expressar.
Essas sílabas seguiam soando em seus ouvidos quando ela utilizou seus poderes para dissolver suas roupas. Totalmente nua, levou sua mão ao seio.
-Faça amor comigo, Jericho. Me mostre o que posso experimentar com todas as minhas emoções intactas.
Seu corpo inteiro reagiu imediatamente a sua petição enquanto que sua voz interior gritava de satisfação.
-Tem certeza?
-Absolutamente.
Fez desaparecer também suas roupas, antes inclusive de que ele tivesse uma ocasião de pensar nisso. Jericho se deixou cair sobre a cama com ela fortemente recolhida em seus braços. Ah! A sensação
do veludo de sua pele contra a sua...
Sim ele morreria agora mesmo, não podia pensar em uma despedida melhor.
Seus lábios se encontraram enquanto ele inalava o quente aroma de seu corpo. Havia passado uma eternidade sozinho. Mas de algum jeito, tocá-la aliviava seu passado. Era como se a conhecesse sempre.
Como se não pudesse imaginar um mundo sem ela.
Não queria afastar-se dela nunca. Se pudesse ter ao menos esse sonho.
Delphine tremeu ante sua dureza quando se pressionou contra ela. Tinha o corpo marcado com músculos tensos. Duros e suaves. Sentia-o tão incrivelmente bem em cima dela. Deleitou-se passando as mãos
pelas suas costas até a magra cintura e os escuros quadris. Embora fosse muito maior que ela, encaixavam perfeitamente, seu cabelo branco e suave caía sobre seu rosto.
Afundou as mãos em seu cabelo, jogando-o para trás enquanto suas línguas dançavam. Estava tão faminto de seus beijos que quase temeu que a devorasse. Fechou as pernas sobre seus quadris, embalando-o
com seu corpo. Sentiu que os calafrios a percorriam quando ele deixou um rastro quente de beijos do pescoço até a orelha.
Delphine ofegou ante a sensação de sua língua riscando espirais no lóbulo da orelha. Deveria sentir-se vulnerável e exposta, mas não. Tudo o que podia sentir era a Jericho. Queria possuí-lo e ficar
com ele para sempre.
Seu amor por ele queimava seu coração em vermelho vivo, estendendo-se a cada centímetro de seu corpo. Só ela conhecia essa faceta dela. Só ela via essa parte dele que era amável e generosa.
Para o resto do mundo era brutal, mas para ela era dócil e gentil.
Quase riu ante a idéia de que fose doce. Mas era verdade. No que a ela concernia, o era. E a fazia perguntar-se como seria com um filho próprio.
Podia imaginar perfeitamente.
Queria ser a que desse a ele esse legado e a paz. Abraçá-lo forte, longe do mundo que pudesse prejudicá-lo. Não queria que lutasse mais. Tinha tido mais que suficiente. Queria mostrar a ele um mundo
de confiança e amabilidade. Um mundo no qual ninguém o machucasse ou traísse. Outra vez.
-Fica comigo, Jericho. -sussurrou em seu ouvido.
-Enquanto me abraçar assim, não vou a nenhuma parte.
Sorriu ante as roucas palavras. Seu tom a emocionou tão profundamente que tocou seu coração.
-Sempre estará a salvo comigo.
Jericho aspirou ante sua declaração e promessa. Nunca acreditou nessas tolices, mas um profunda parte dele queria acreditar. A parte que caminharia pelos fogos do inferno somente para tocar seu rosto.
Apesar de sua armadura, ela abriu caminho até sua alma. Estava perdido. Não havia esperança para ele. Tudo o que podia fazer era esperar que ela mantivesse sua promessa. Confiar em que não fosse outra
pessoa em que não devia confiar nunca.
Não me faça mal, Delphine. A silenciosa petição se entupiu em sua garganta, provocando-lhe dor embora seu toque o mitigava.
Suas mãos se deslizavam pela pele quase sem roçá-la, provocando-o e deleitando-o. Fazia tanto tempo que não o mimavam assim.
Não. Ninguém o tinha feito nunca. Pela primeira vez, estava nos braços de alguém que se preocupava com ele. Não nos de uma deusa empenhada em deixar ciumentos a seus outros amantes. Ou os de uma ninfa
que queria dar umazinha.
Acima de tudo, estava o sentimento de que importava a alguém. Alguém que significava algo mais que uma rápido queda.
Delphine tocava algo mais que seu corpo. Tocava seu coração e sua alma. E morreria para protegê-la.
Por que não? Já vendi minha liberdade por ela.
Duas vezes.
Deveria estar mais que zangado. Mas não o estava. A idéia de que agora estava a salvo era suficiente para ele.
Não vai dizer isso quando Zeus estiver te torturando.
A verdade é que sim. A lembrança deste momento mitigaria o castigo do Zeus e nunca se lamentaria. Sabia. Sua própria vida já não importava tanto quanto a dela.
Ela era sua vida e a estava protegendo, entregando sua liberdade. A liberdade era um preço pequeno e estava contente de pagá-lo.
Afastando-se, olhou-a no rosto. Riscou a linha de seu rosto enquanto seus olhos não abandonavam os seus.
-É tão bonita.
Estendeu a mão e tocou o emplastro do olho antes de tirá-lo e deixá-lo cair ao chão. Sempre se havia sentido coibido pela cicatriz e o olho branco, mas com ela não. Queria que o visse tal qual era.
E o via com todas as suas faltas e suas fortalezas e não a importava.
Sorrindo tão docemente que fez com que sua respiração parasse, pô-lhe as mãos suaves sobre o rosto. Dobrando a cabeça, a beijou no interior do pulso.
-Sinto muito o que Zeus fez com você.
-Tudo bem. Valeu a pena.
Uma parte dele queria contar o motivo de sentir-se assim, porque tinha sido por ela.
Mas a outra parte não queria destroçar as lembranças de sua infância. O que ganharia lhe dizendo que se salvou graças a ele?
Não a ajudaria. Contar o ocorrido só serviria para que ela o amasse pelo que tinha feito tempos atrás. E não queria isso.
Queria o que estavam compartilhando agora. Não por gratidão ou dever. Desejava seu amor sincero.
Não podia acreditar no que estava pensando. Mais ainda, não podia acreditar que quisesse seu amor ou o de qualquer outra. Era um deus de ódio e força. Sempre tinha desprezado todas as emoções muito
sensíveis. Burlava-se de qualquer um que se comportava como um idiota por algo tão passageiro como o amor.
Entretanto, tal e como estava aqui, nu com ela, não havia nada dentro dele, salvo uma suave paz que não queria que terminasse nunca. O conhecia. Tinha-o visto em seus piores momentos e ainda assim
o tinha curado com gentileza e amabilidade, sem render-se.
Ela era sua melhor parte e sabia.
Nunca em toda sua existência tinha suplicado a ninguém por nada. Mas por ela, sacrificaria alegremente sua dignidade e sua vida.
Algo que entregaria logo que Zeus colocasse as mãos em cima dele. Mas estava bem. Podia viver com isso.
-No que pensa? -perguntou- Parece tão triste.
Beijou sua sobrancelha.
-Só que eu gostaria de poder permanecer assim para sempre. Que não tivéssemos que sair desta cama.
-Seria bonito, verdade?
Jericho assentiu antes de arrastá-la, colocando-a sobre ele para medir seus seios com as mãos. Embora de pequeno tamanho, eram os mais perfeitos que jamais viu.
Delphine ficou sem fôlego quando Jericho se levantou para lamber seu seio direito. Cada passada de sua língua provocava uma contração em seu estômago. Estava ardendo, desejava-o com uma loucura que
mal entendia. Era como se tivesse um vazio dentro que só ele pudesse encher e até que não o fizesse, ia sofrer por isso.
Segurou sua cabeça entre as mãos enquanto a lambia. Sua dura ereção pressionava contra seu ventre. Desejava ter mais experiência para saber como agradá-lo. Que fizesse com que isto fosse especial.
-O que posso fazer por você?
Olhou-a com o cenho franzido.
-O que?
-Quero agradar você. Mas não sei como.
Seu sorriso a tocou muito fundo.
-Bebê, sou feliz só a saboreando. Mas... -pegou sua mão e a ensinou como agarra-lo. O grunhido de prazer a fez sorrir. Ao menos até que o apertou muito forte e vaiou.
-Suavemente, amor, suavemente.
-Sinto muito.
Jericho riu por seu tom compungido. Adorava que se preocupasse tanto por ele e seu prazer. Sobre tudo, queria banhar-se em seu aroma até que o tivesse gravado em seus sentidos. Até que estivesse coberto
dela.
Colocou-a de costas outra vez sobre a cama e se afastou para trás para olhá-la A tênue luz. Sua pele pálida era preciosa e suas pernas ligeiramente separadas eram um aberto convite. Amaria-a tão fundo
que jamais esqueceria este momento.
Zeus poderia pôr as cadeias em qualquer momento. Mas antes de ir-se, queria levar consigo esta lembrança. Ela seria o único bálsamo que conheceria.
Delphine estava assombrada pela ferocidade de seu beijo quando voltou para seus lábios. Mas não se deteve aí. Moveu-se por seu corpo devagar, a fundo, beijando e lambendo cada centímetro. Da garganta
até os seios e depois mais abaixo até os quadris. Abriu caminho pelas pernas até os dedos dos pés. Chiando de prazer, teve que se esforçar para não lhe dar um pontapé quando chupou cada um dos dedos.
Mas seu verdadeiro prazer começou quando ele se colocou entre suas pernas para provar a parte que mais lhe ansiava. Levantou-a pelos quadris enquanto sua língua pinçava profundamente dentro dela.
Delphine não podia respirar pela intensidade do calor que percorria seu corpo. Enterrou a mão em seu cabelo enquanto a saboreava a fundo.
-Goza para mim, Delphine. -grunhiu- Me Deixe provar seu prazer.
Mas não cedeu até que ele afundou os dedos em seu interior. No momento em que o fez, liberou-se com um grito quando as ondas do êxtase percorreram seu corpo.
Jericho sorriu ante o som de seu orgasmo. Ao fim chegava o momento que mais desejava. Seu corpo ainda se convulsionava quando se colocou sobre ela e a penetrou.
Delphine ofegou quando sentiu a repentina plenitude dentro de seu corpo. Ante a sensação de Jericho inteiro e duro. Nunca na vida teria e imaginado como se sentiria bem. E quando começou a balançar-se
lentamente contra ela, realmente pensou que ia morrer de prazer.
Segurou-se sobre um braço para olhá-la.
-Está bem?
Ela envolveu suas pernas ao redor de seus quadris, para introduzi-lo mais profundamente.
-Absolutamente. Não poderia estar melhor.
Seu sorriso fez com que seu coração palpitasse. Pô-lhe a mão no rosto marcado de cicatrizes, olhando seus olhos de duas cores enquanto via o prazer passar por seu rosto. Introduziu-se mais profundamente
em seu interior e depois se imobilizou. Agarrando-a nos braços, virou-a e a pôs em cima dele.
Ela ofegou quando a levantou pelos quadris.
-Me cavalgue, Delphine. Quero a olhar quando te der prazer.
Sentia-se insegura, tímida ao princípio, tinha medo de machucá-lo de alguma forma. Mas quando se moveu e ele grunhiu meigamente, voltou-se mais audaz. A verdade era que adorava poder olhá-lo de acima.
Ver a forma em que se moviam os músculos de seu abdômen.
Com os olhares entrelaçados, ele se aproximou até onde seus corpos se uniram. Ela não tinha nem idéia do que pretendia fazer até que acariciou seus clitóris.
No momento em que a tocou, saltou de prazer.
-Ai, meu deus!
Ele sorriu outra vez.
-Você gosta disso, não é?
Incapaz de falar, assentiu.
Jericho riu enquanto a acariciava ao ritmo de suas investidas. Adorava olhá-la quando mordia os lábio enquanto acelerava suas carícias. Ele queria gozar de tantas maneiras que podia degustá-lo, mas
não queria que isto terminasse. Queria ficar em seu interior para sempre.
Por que o sexo tinha que ser tão curto?
Apertou os dentes, tratando de retardar o clímax, mas quando ela encontrou sua própria libertação explodindo ele em seu interior, foi incapaz de consegui-lo. Jogando a cabeça para atrás, rugiu pela
ferocidade de seu orgasmo.
Merda...
Introduziu-se em seu interior tão fundo quanto pôde enquanto seu corpo estourava de prazer. Ah, sim! Valia todo um inferno e mais. E venderia sua alma ao preço mais baixo se pudesse ficar assim com
ela para sempre.
Maldito seja, Zeus. Mas tinha feito sua própria cama e agora tinha que dormir nela.
Por Delphine. Não devia perder de vista nunca o motivo de ter feito o pacto. Era por ela e só por ela...
Tinha tido razão. Às vezes a gente faz coisas por outros sem esperar nada em troca.
O amor era real e o sentia em cada parte de si mesmo. A única coisa precisava era saber que ela era feliz e com isso tinha o suficiente.
Sou um tolo da pior espécie.
Mas inclusive com a consciência gritando, não podia arrepender-se do que tinha feito. Isto era exatamente o que ela tinha tentado lhe explicar, e não entendeu até que finalmente o tinha experimentado.
Sua mãe estava errada. O ódio não era o sentimento mais forte. O que sentia por Delphine lhe dava mais coragem e mais determinação que todo o ódio que lhe tinha corrompido. Esta era a razão de viver.
Não por vingança e definitivamente não por ódio.
Vivia por seu amor.
Suspirando, Delphine se deixou cair sobre ele. Pousou a cabeça sobre seu peito para poder ouvir pulsar seu coração enquanto seu corpo se acalmava. Rodeou-a com os braços fazendo-a sentir-se protegida
e, tão exagerado como era, amada. Não se iludia no que a ele concernia.
Pensava que o amor era uma debilidade que devia evitar. Se pudesse fazê-lo compreender o que sentia por ele.
Mas não ia ser assim. Só podia sonhar que Jericho a amava como se amaram seus pais. Inclusive nestes momentos, recordava como tinha chorado sua mãe quando seu pai morreu.
Tinha treze anos quando seu pai pegou uma infecção. Sofreu durante semanas enquanto sua mãe fazia tudo o que podia para curá-lo.
Foi-se no meio da noite. Sua mãe despertou com os gritos de angústia as primeiras horas da manhã. Necessitou-se a força de três homens para separá-la do corpo de seu pai, e não houve consolo para
ela.
Sua mãe só tinha vivido seis meses mais antes de sucumbir à mesma enfermidade. Ao menos isso é o que disseram a Delphine. Mas ela sabia a verdade. Não pôde seguir vivendo sem seu pai, deixou-se morrer.
Delphine foi incapaz de fazer algo que alegrasse a sua mãe.
"Algum dia encontrará o amor, filha. E o compreenderá. Só espero que quando chegar, sejam capazes de envelhecer e viver décadas juntos." Aquelas foram as últimas palavras que lhe disse sua mãe.
Arik havia a trazido aqui três dias depois.
Desde o dia em que chegou À Ilha Desaparecida, Delphine tinha deixado de tentar compreender o que sua mãe, tão desesperadamente, tinha querido lhe explicar.
E quando ao final tinha chegado, encontrava-se no mais inverossímil dos lugares. Nos braços de um deus do ódio...
Quem o teria imaginado?
Apoiou a cabeça na mão para olhar seus belos olhos.
-Foi incrível.
Ele riu brandamente enquanto passava os dedos por seu cabelo enredado.
-Estou bastante seguro de que me quebrou.
Incorporou-se bruscamente, preocupada pelo que havia dito.
-O que? O machuquei?
-Não. É só que estou muito contente para me mover.
Devolveu-lhe o sorriso.
-Equivoca-se.
Jericho a encerrou em seus braços e a abraçou forte contra ele até que protestou. Nunca em sua vida se havia sentido assim por outro ser.
Sem ira. Sem dor.
Só ela.
Pelo menos até que um estrépito agudo se ouviu o outro lado da porta. Podia ouvir vozes iradas e algo que soou como cristais quebrados.
A ira destruiu sua paz tão duramente ganha.
-Deveria ter suposto que era muito cedo para me sentir satisfeito.--se queixou enquanto se vestia.
-Esperemos, pelo menos, que não sejam gallus.
Olhou-a com o cenho franzido. O tom de sua voz dizia que era a pior coisa que podia imaginar.
-Por quê? Não são todos maus, pestilentos, imundície, com necessidade de matar a qualquer sujeito que encontrem em seu caminho.
-Justo o que eu pensava. -vestiu-se e ficou junto a ele ao lado da cama.
Jericho a agarrou pela mão e a conduziu através do aposento, assegurando-se de manter-se entre ela e a possível ameaça a que se dirigiam.
Quando chegaram ao vestíbulo, três Onerois sujeitavam A Zeth enquanto M'Adoc sacudia a roupa. Parecia que Zeth o tinha atacado.
Embora pelo menos, M'Adoc parecia estar melhor. Alguns das manchas roxas se haviam curado e não estava tão pálido quanto antes.
-Quero seu coração em meu punho -grunhiu Zeth.
M'Adoc lhe lançou um tranqüilo olhar.
-Como todos. Mas, por agora, estamos bloqueados para chegar a Azmodea. O melhor que podemos fazer é nos preparar para lutar até que encontremos uma forma de entrar.
Zeth se debateu contra os homens que o sujeitavam. Deixou escapar um grito de batalha que ressoou ao redor de todos eles.
-Tranqüilo, tigre. -disse Jericho, soltando a Delphine para unir-se ao pequeno grupo.-Não quero essa merda ressonando em meus ouvidos. Se o volta fazer, terá um problema pior que Noir. Serei eu o
que te chute o traseiro.
Zeth se sacudiu dos outros. Endireitou-se e jogou um olhar de cumplicidade a Jericho.
-Lembro de você. Tentou falar comigo quando estava sob os efeitos das drogas.
Jericho inclinou a cabeça.
-Não estava em condições. -Olhou aos Skotis e os Onerois que o rodeavam... e lembrou um tempo em que os dois grupos se relacionavam.-Caras, já estão bem?
M'Adoc deu de ombros.
-Depende. Agora que voltamos a ter sentimentos, alguns sentem rancor e ressentimento. -olhou significativamente a Zeth- Enquanto que outros só querem matar porque não podem controlar sua ira.
-Soa a um passeio pelo parque normal e comum. -se burlou Jericho.
M'Adoc riu sarcasticamente.
-Estamos tentando reestruturar nossas obrigações e alguns de nós estamos em desacordo sobre quem deve ser os novos líderes.
Zeth franziu os lábios.
-Os Skotis precisam de seu próprio representante. Não confiamos em vocês, imbecis. Foram muitos séculos nos matando e nos perseguindo.
M'Adoc grunhiu profundamente.
-Desculpa? Foram vocês os que nos provocaram. Nenhum de vocês sabe comportar-se e estão a um passo de trazer a ira do Zeus sobre todos nós. Sendo um dos primeiro aos que torturou posso lhes dizer
que nós fomos mais amáveis do que ele foi conosco.
Zeth revirou os olhos.
-O que você disser.
Jericho olhou de soslaio a Delphine, que parecia tão desconcertada como ele pela discussão. Sem mencionar que estava ressentido de verdade porque lhe tivessem arrancado de seus braços por algo tão
estúpido. Tinham sorte de que se sentisse um pouquinho doce neste momento.
Delphine olhava a reunião dos Onerois e Skotis.
-Parece que todos têm a cabeça mais clara. Que mais decidiram?
M'Adoc assinalou a vários dos Onerosi que o rodeavam.
-Vamos no desfazer da nomenclatura que Zeus nos forçou a adotar.
Jericho se burlou.
-Ao que?
-A M, a V, o D e os apóstrofos de nossos nomes. Zeus nos impôs isso como castigo e para nos despojar de nossa individualidade. Nossos verdadeiros nomes foram proibidos e utilizou as letras só para
nos humilhar nos recordando que fomos seus obedientes servos e não entidades livres.
Os olhos azuis do Zeth brilharam de ódio.
-Cada letra designava uma tarefa que se supunha devíamos levar a cabo. Os da M eram os que se faziam de polícia dos Onerois e os Skotis, basicamente os tiras do grupo. Os V ajudavam aos humanos enquanto
sonhavam e os D ajudavam aos deuses e aos DarkHunter. Por isso, uma das primeiras coisas que os Skotis fizeram quando se rebelaram foi voltar para os nomes que lhes puseram quando nasceram. Em quase todos
os casos. Houve alguns como V'Aidan, que não o fizeram. Mas sempre pensei que era um idiota.
M´Adoc lançou um olhar A Zeth.
-E agora somos uma força unida. Certo, Zeth?
-Que te peguem, corno.
Os Onerois que estava a suas costas deram-lhe um sopapo. Zeth girou para atacar, mas não tinha dado nem um passo quando M´Adoc o agarrou com uma chave ao pescoço.
-Não esgote minha paciência, Zeth. É perigosamente escassa -com um profundo suspiro olhou de novo a Jericho.-Realmente faz com que se pergunte como consegue Ash dirigir aos DarkHunter, não?
Jericho riu.
-Então, como o chamo?
Liberou Zeth, que grunhiu, mas o pensou melhor antes de lhe atacar outra vez.
-Fico com o Madoc. Recordará-me porquê não podemos deixar que Zeus ou qualquer outro volte a nos subjugar.
-Por isso respeitá-lo. E acredito que sei como dirige Ash a sua gente.
Jericho tirou o chicote que Azura lhe tinha dado e o estendeu a Madoc.
E ao fazê-lo, veio-lhe uma idéia à cabeça.
-Filho da... Sei como podemos entrar em Azmodea.
Os olhos do Madoc se iluminaram com a mesma excitação que sentia.
-Como?
-Asmodeus! -gritou, convocando ao demônio.
O demônio apareceu imediatamente.
-Chamaste Mestre Me... Bom, já não é o Mestre Menor, não é? Como tenho que te chamar?
Jericho entrecerrou os olhos, ameaçador.
-Pensa em um termo educado, demônio.
Asmodeus abriu muito os olhos.
-Então será Senhor Mestre. No que posso servi-lo?
-Nos faça entrar em Azmodea.
O demônio cuspiu com incredulidade.
-Por que, em nome dos pés fedorentos, querem voltar ali? O que ganhariam com isso?
-Precisamos tirar Jaden.
-Não podem.
Jericho se voltou quando Jared se aproximou. Devia haver-se teletransportado bem depois do demônio. Ainda estava vestido de negro e parecia surpreendentemente fresco e ileso apesar da luta que tinham
tido.
-O que quer dizer? -perguntou Jericho.
Os inquietantes olhos do Jared estavam tristes.
-Jaden se pôs a seu serviço voluntariamente. O tirem dali sem sua permissão e morrerá. Acreditem em mim, o teria tirado dali se tivesse podido.
Delphine suspirou. Isto se estava pondo feio. Graças a Zeus não podiam enviar a Jericho e agora tampouco podiam usar a Jaden.
-Então, como detemos Noir e Azura se não podermos contar com Jaden?
-Devem usar a Cam e a Rezar. Só eles têm o poder para aprisionar a Noir e Azura.
Delphine olhou ao redor, agradecida ao comprovar que não era quão única pensava que a Jared faltavam alguns parafusos.
-A quem?
Jericho respondeu com tom frio, morto.
-Os deuses primitivos do sol e o fogo. Diz-se que são os mais poderosos deuses da criação.
Jared inclinou a cabeça ante ele.
-Exatamente. Só eles têm o poder de anular a Azura e Noir.
Ar e escuridão. Só podiam ser extintos pelo sol e o fogo.
Isso ao menos, deu um pouco de esperanças a Delphine.
-Onde estão?
Jared deu de ombros.
-Ninguém sabe. Depois da primeira guerra, eles, desgostosos pelo que tinham visto dos deuses e a humanidade, retiraram-se à clandestinidade.
Jericho amaldiçoou.
-Está me tirando o sarro.
Jared negou com a cabeça.
-A única pessoa que pode encontrá-los ou inclusive identificá-los é Jaden. Ou Noir e Azura. Posto que estou relativamente seguro de que eles não vão querer encontrá-los, não apostaria a que esses
dois queiram nos ajudar.
Jericho soltou um suspiro agitado.
-Assim não há maneira de derrotá-los completamente.
-São deuses, Jericho. Já lutou na guerra. Quantos séculos lutaram você e os Olímpicos? A derrota de um deus não é fácil. A melhor maneira de fazer é com armadilha, e com muita cautela, e posto que
sabem estão em guarda...
-Então o que fazemos? -perguntou Madoc.
-Têm que anular a ameaça gallu. Protejam aos humanos e esperarem que o Malachai desenvolva seus poderes. E rezar todo o tempo para que não se una a Noir. -Jared olhou aos Onerois reunidos.-E mantê-los
fora de nossos sonhos. Estou seguro de que os gallus atacarão por esse frente. O plano de Zarek é a melhor opção. Recuperar, neutralizar ou matar a cada olímpico que está com eles. Sem lhes mostrar misericórdia.
Zeth franziu o cenho.
-Mas diz que não podemos ganhar.
-Não, não podemos. Por enquanto. Não será esta semana, nem este ano. E definitivamente não será hoje. Mas se reunirmos a equipe adequada e não cometemos enganos, podemos derrotá-los e pô-los em um
lugar onde nunca sejam capazes de voltar a fazer mal a outra pessoa ou a outro deus.
Delphine tragou com força ante a funesta profecia.
-E se falharmos?
Madoc suspirou.
-Ser humano é uma merda.
-É mais merda ser a gente. -disse Zeth com tom áspero.
Jared assentiu.
-Não posso acreditar que tenha sido tão estúpido para acreditar em Noir. Passar ao lado escuro. Temos biscoitinhos -resmungou Zeth.
Jericho lhe deu uma palmada nas costas.
-Não seja tão duro contigo mesmo. Não foram as bolachas o que o tentaram. Não. Quando te negam as necessidades básicas, está disposto a fazer qualquer coisa para as conseguir. -Jericho procurou o
olhar de Delphine- Acredite, sei e quase cometi o mesmo engano que você. O Mal é sedutor. É o que faz que os dois sejam tão perigosos.
-Não -disse Jared com tom sério- É nossa disposição a acreditar em suas mentiras e a ver o que queremos ver o que os faz tão perigosos. Embora saibamos, mentimos a nós mesmos e aí é onde está a traição.
Zeth assentiu.
-Como disse o poeta: "Sei fiel a ti mesmo".
Todos o olharam atônitos.
-O que? -perguntou com ar ofendido- Pensam que um Skotos não pode ser aficionado à leitura? Dá-se a casualidade de que eu adoro Shakespeare. Hamlet é um de meus favoritos.
Jericho se burlou.
-Não o tocaria nem com pinças e nem com uma máscara de gás -se virou para o Madoc- A que outras mudanças concordaram, caras?
Madoc assinalou a Zeth e a ele mesmo.
-Não sabemos se D'Alerian vive ou não. Espero que sim, mas até que não saibamos com certeza, necessitamos a alguém para dirigir aos Onerois para os ajudar a adaptar-se ao que está passando -seus olhos
se entristeceram, e vacilou antes de falar de novo- M'Ordant está morto, e nossa hierarquia está em ruínas. Por muito que me doa admiti-lo, acredito que é correto que Zeth seja o comandante que os ajude.
Foi o líder Skoti durante muito tempo e tendem a escutá-lo.
-Para deixá-lo claro, eu era a terceira opção depois do Solin e Xypher. -se mofou Zeth.
Madoc lhe lançou um olhar que não era nada divertido.
-E considerando-o tudo, provavelmente seja o mais sensato. Xypher é mais demônio que Skotos e Solin... só se interessaria em observar e ajudar a nossas mulheres.
Deimos soltou uma breve gargalhada mostrando sua conformidade.
-Phobos e eu ainda estamos ao mando dos Dolophonis. Nada mudou, exceto que agora ajudaremos mais aos Oneroi que o fazíamos no passado.
A Jericho tudo parecia genial, exceto por um pequeno detalhe.
-Informou a Zeus de tudo isto?
Madoc negou com a cabeça.
-Ainda não, mas não acredito que se oponha. Contanto que mantenha limpos seus sonhos, estará de acordo. Zeth não parecia tão convencido.
-E se nos volta a tirar as emoções?
-Não o fará. -disse Jericho totalmente convencido.
Embora Zeth seguisse cético.
-Como está tão seguro?
Jericho não tinha intenção de fazer saber seu acordo com o safado. Não precisavam saber que se rebaixou para os beneficiar.
-Pus uma proteção. Se romper sua palavra, não vai muito bem.
Asmodeus franziu o sobrecenho enquanto girava a cabeça a direita e esquerda para observar ao grupo.
-Então, onde encaixa minha qualidade de demônio?
Deimos segurou seu braço pelo ombro.
-Conselheiro técnico. Posto que conhece tão bem a nossos inimigos, vamos escavar em sua cabeça.
Asmodeus abriu os olhos como pratos.
-Direi tudo o que queiram saber. Não há nenhuma necessidade de me torturar.
Deimos olhou ao seu redor e sua cara era uma máscara de incompreensão.
-Que?
Delphine riu antes de explicar-
-Escavar em sua cabeça é uma expressão idiomática, Asmodeus. Significa que vai ter que nos contar coisas. Não vamos te futucar a cabeça realmente.
Deixou escapar um comprido suspiro de alívio.
-Ah, graças à Fonte! Não posso suportar que me abram o crânio. Dói de verdade.
Deimos franziu o rosto em solidariedade.
-Me alegro de não ser um demônio.
Asmodeus voltava a parecer ansioso.
-Por onde começamos?
Madoc olhou a Jericho e a Deimos.
-Com a Azura e Noir. Temos que atacá-los e debilitá-los. Enquanto os mantenhamos defendendo-se não serão capazes de tramar nada. Quanto mais utilizemos a nossos Onerois, melhor. Terão que dormir em
algum momento.
-Eu posso ajudar .-se ofereceu Jared- Sempre que minha dama o permita. A propósito, -olhou a Jericho- não lhes permitam nunca que se apossem do medalhão de Jaden.
-Por quê?
-Quando se coloca sobre o coração de um deus, deixa-o sem poderes.
Jericho o olhou boquiaberto e lhe ocorreu uma idéia.
-Podemo-lo usar com o Noir?
-Estou bastante seguro que essa é a razão de que queira a Jaden.
-Então, por que não o usa? -perguntou Zeth.
Jared o olhou ironicamente.
-Tentou alguma vez pôr algo ao redor da garganta de um deus que o odeia? Não é tão fácil. Estou seguro de que se fosse tão simples, Jaden já o teria feito.
-Ok, bom ponto, mas...
-Necessitamos esse amuleto -terminou Jericho.
Jared assentiu.
-Mas uma vez que Zephyra saiba que não o têm, vai me convocar.
-Pode ser que sim e pode ser que não. Pode ser que sejamos capazes de voltar a negociar com ela.
Jared se burlou.
-Negociar com ela não é tão fácil. A maioria das vezes implica derramamento de sangue. E quero dizer o meu.
-Delphine?
Delphine franziu o cenho ao ver uma mulher Oneroi chamando-a do outro lado da habitação.
-Conhece-a? -perguntou Jericho.
-Não, mas obviamente ela me conhece. -lhe sorriu- Volto em seguida.
Jericho a olhou partir com o coração oprimido. Pelo que mais se arrependia era que, como escravo do Zeus, não voltaria a vê-la.
Estaria perdida para ele.
Não queria pensar nisso e voltou para a conversação. Não se arrependia do que tinha feito. Só do futuro que seria negado a ambos.
Delphine segui a Oneroi que a conduziu fora da sala. O que quereria a mulher? E por que não podia falar no salão diante dos outros?
Com curiosidade, aproximou-se da deusa que finalmente se deteve.
-Precisa de algo?
Miúda e com o cabelo negro como a asa de um corvo, a mulher recordava a alguém, mas não sabia a quem. Voltou-se para Delphine com um sorriso.
-Sim, há algo que preciso.
-E o que é?
A mulher se dividiu em três deusas idênticas. Antes de que Delphine pudesse mover-se, a tinham apanhada.
-Sua morte -disse a primeira um instante antes de rasgar a sua garganta.
CAPÍTULO 14
Jericho se deteve em frente as grandes janelas que davam à serena praia, ao longe. Era bonito, e se perguntava quantas vezes Delphine ficou neste balcão incapaz de apreciar quão encantador era, por
causa do que Zeus lhe tinha feito.
Isso já não seria um problema para ela.
Madoc se uniu a ele.
-Sabe, fingi não ter emoções durante tanto tempo que realmente não estou seguro de como as mostrar agora. Ainda quero estar completamente estóico. Absurdo, huh?
Jericho deu de ombros.
-Para mim tem sentido. Quando vive uma mentira tanto tempo, em certo modo se converte em verdade.
Embora depois de todos esses séculos que tinha passado vivendo como um mudo, tinha sido difícil acreditar quão fácil se adaptou a falar outra vez.
Isto o fazia perguntar-se, se de algum modo, Delphine poderia abrir-se a ele da mesma maneira.
Não. Ninguém tinha tido sequer esse efeito sobre ele. Ela era única, e sem ela, teria estado perdido por toda a eternidade.
Madoc se aproximou e baixou a voz.
-Não quero dizer nada diante dos outros, mas Zeth e eu falamos. Nós gostaríamos de te oferecer a terceira posição como líder dos Onerois. Pensamos que é perfeito para isso.
Jericho franziu o cenho.
-Eu não sou um Oneroi.
-Não, mas é um guerreiro com experiência prática fora dos sonhos. Precisamos de alguém que nos ensine novas táticas contra os demônios. Que encantador mundo seria esse. Mas sua nova realidade jamais
lhe permitiria esse tipo de luxo.
-Sim, bom, eu adoraria, mas tenho que decliná-lo.
-Por quê?
Jericho lançou uma olhada à porta por onde se desvaneceu Delphine.
-Meu tempo está comprometido e não há maneira de sair disso. Sinto muito. Mas posso pensar em alguém que seria fantástico para isso. Alguém que pode mover uma cadeia de montanhas com nada mais que
a escarpada força de sua obstinada vontade.
Madoc sorriu como se entendesse perfeitamente.
-Delphine?
Antes de que Jericho pudesse responder, a porta se abriu de repente para lhe mostrar a Delphine lutando com três mulheres idênticas. Vestidas de negro, lançavam-se sobre ela com espadas mesmo quando
ela dançava a seu redor, bloqueando seus ataques com sua arma e as fazendo retroceder com uma habilidade que a maioria dos homens invejariam.
Jericho reconheceu a aquelas letais bruxas imediatamente, já que uma vez tinham sido aliados nos antigos campos de batalha.
As Phonois.
A raiva o consumiu ante a visão. Como se atreviam a atacá-la! Sem nenhum pensamento racional, colocou-se as costas de Delphine de modo que pudesse protegê-la enquanto ela lutava. Mas no momento em
que o fez, as Phonois de desvaneceram.
-Covardes! -gritou ele- O que? Temem enfrentar a alguém que sabem o que pode lhes chutar o traseiro?
Mas assim era como trabalhavam. Nunca atacavam abertamente. Moviam-se como fantasmas. Saíam da escuridão para matar e retirar-se.
Assustado por Delphine, voltou-se para olhá-la. Havia um horrível corte em um lado de seu pescoço que fez que sua raiva se elevasse inclusive mais.
-O que lhe fizeram?
Ela fez uma careta e dissolveu sua arma.
-Tentaram me cortar a garganta. Mas a menos que meus poderes estejam bloqueados, não estou indefesa.
Graças aos deuses por isso, porque ele ainda queria sangue pelo ataque.
Ela vaiou quando se roçou a ferida.
-Embora, doa.
Jericho passou o olhar dela a Madoc, que se tinha detido perto deles.
-Madoc, pode curá-la?
O Oneroi não perdeu tempo. Colocou sua mão sobre a ferida e a selou imediatamente. Mas seus olhos estavam tão preocupados como os do Jericho.
-Quem acha que as enviou?
Delphine passou a mão sobre o pescoço e roupas, tirando o sangue de ambas.
-Por que as enviariam?
Jericho ficou olhando.
-A quem você zangou?
-Só a você e a Noir. Com todo mundo sempre tendi a manter um baixo perfil para evitar sucessos como este.
-Bom, obviamente fodeu a alguém mais.
Os Phonoi só serviam a um punhado de deuses. E ele estava decidido a descobrir quem estava atrás disto.
Jericho convocou a Jared. O Sephiroth veio instantaneamente, mas havia um rastro de sangue na comissura de seus lábios que limpou com um nódulo. Se era seu ou de alguém mais, Jared não o disse.
-Há algo que precise? -perguntou Jared.
Jericho assentiu.
-Enquanto que eu extraio meus poderes da Fonte, sei que você está em mais sintonia com esta. Necessito que escute e me diga quem enviou as Phonois atrás de Delphine.
-Esse conhecimento o ajudará?
Jericho olhou a Delphine.
-Absolutamente.
Jared separou os braços de seu corpo e estendeu as mãos como se estivesse conectando com algo que nenhum deles podia ver ou ouvir. Seus olhos se dilataram a um sólido negro e então se voltaram completamente
vermelhos. Inclusive as pupilas. Sua pele se voltou tão pálida que parecia morto. As veias de suas têmporas se fizeram mais marcadas quando sussurrou na linguagem dos mais antigos deuses.
Então sua voz mudou para a Da Fonte. Nem masculina nem feminina, era um suave sussurro e pronunciada em uma linguagem que eles pudessem entender.
-Nos convocou em nosso sonho. Nos diga o que busca.
Jericho cruzou os braços sobre o peito.
-O nome do deus que está controlando às Phonois.
-Já sabe a resposta, querido Cratus. Não há necessidade de nos incomodar com algo tão corriqueiro.
-Tenho minhas suspeitas, mas preciso conhecer a verdade.
-Zeus.
O nome ecoou através do hall. Jericho grunhiu do mais profundo de sua garganta quando sua fúria se elevou com força
-Por quê?
Uma só lágrima de sangue correu pelo branco rosto de Jared.
-Ela é quão única pode destruí-lo. Concebida por um homem mortal e do ventre de uma deusa ela nasceu. Isso é pelo que foi enviado faz todos aqueles séculos a matá-la. O porquê sua mãe lutou com tanto
afinco para protegê-la.
Delphine franziu o cenho enquanto tentava entender o que estava lhes dizendo a Fonte.
-Minha mãe era humana.
-Não. -sussurrou a fonte-Madoc estava ali a noite em que eles foram atrás de você. Lutou ao lado de sua mãe.
-Eu briguei com Leta, mas Jericho não estava ali. -disse Madoc.
-Já a tinha pego em custódia quando ele se uniu a Dor em sua pequena choça. Embora não o visse, ele estava ali, e salvou a vida de uma menina a que Zeus estava desesperado por matar.
-Eu não... -Madoc se deteve- Não, Zeus nos castigou por um sonho que teve.
-Ele sabia a verdade então, como que você sabe agora. Nenhum Oneroi foi castigado como o único que deu a Zeus esse sonho. Você inclusive o suspeitou então, mas nunca se atreveu a expressar suas suspeitas
em voz alta por temor ao que pudessem te fazer. Se algum Oneroi se atrevesse a lhe humilhar, Zeus tomaria ao único responsável e pulverizaria seus restos como uma advertência para todos outros.
Madoc amaldiçoou.
-Ele tem razão. Sempre me perguntei por que Zeus falhou em dar com o responsável. Por que nos proibiu inclusive de nos emparelhar outra vez...
Jared olhou a Delphine.
-Uma profecia é só tão poderosa como o que acredita nela. Agora que sabe a verdade, é só você quem pode levá-la a cabo.
Jared vaiou quando seus olhos e sua pele voltaram para a normalidade.
Ele tinha quebrado sua conexão com A Fonte.
Delphine ainda não se moveu enquanto tentava pensar em todas essas coisas.
-Minha mãe não foi minha mãe? -ela olhou a Madoc- Por que não me disse isso?
-Não sabia. Quero dizer, sabia que se parecia com Leta, mas nunca, nem em minhas mais selvagens alucinações teria sonhado que fosse sua filha supostamente morta. Graças aos deuses que nunca falei
com Zeus de você.
Certamente. E graças aos deuses que ela tinha tido o acerto de evitar aos outros. Nunca teria suspeitado...
Mas isto a fazia perguntar-se a respeito da mulher que lhe tinha dado a vida. A mulher que nunca tinha conhecido.
-Minha mãe ainda está viva?
-Sim. Vive no reino humano com seu marido.
Delphine deixou escapar um choro de felicidade e tristeza quando suas lágrimas alagaram seus olhos. Sua mãe estava viva.
Voltou-se para olhar a Jericho.
Ele não estava ali.
-Jericho?
Franzindo o cenho olhou ao redor da sala, mas não estava em nenhuma parte.
Madoc franziu o cenho quando o buscou também.
-Estava aqui mesmo.
O mesmo pensamento os atravessou ao mesmo tempo.
-Zeus.
Jericho tinha ido atrás do pai dos deuses...
CAPÍTULO 15
Zeus estava rindo com Hermes quando sentiu uma brisa malévola. Era tão potente, tão tangível que o atravessava como uma faca serrada.
Lançando uma olhada ao redor, tentou encontrar ao deus ou deusa que se atrevia a lhe desafiar... Mas não viu nada. Nem sequer ninguém lhe estava prestando atenção.
Estava alucinando?
-Algo vai mau? -Perguntou Hera do trono a sua direita.
-Não sente isso?
-Sentir o que?
Antes de que pudesse responder, a porta do templo se abriu. Vestido com seu uniforme completo de batalha como direito, Jericho irrompeu através das portas. A larga túnica negra se aderia ao corpo,
perfilando cada músculo que tinha sido moldado para matar. Agudas pontas agudas se sobressaíam de cada ombro, curvando-se para o rosto como um marco letal.
As asas estavam desdobradas, enquanto que o comprido cabelo branco flutuava sobre os ombros e caía pelas costas. As mãos estavam cobertas de afiadas garras de metal, afundadas contra o ouro da porta,
como as unhas sobre uma lousa.
As botas negras e prateadas ressonavam em um diabólico repico, enquanto cruzava caminhando o chão de mármore com um olhar que pressagiava o inferno, e uma vingança sem piedade esculpida nas afiadas
feições.
Ninguém se moveu.
Ninguém se atrevia. Só Zeus sabia quem era seu objetivo. O resto continha o fôlego conjuntamente, com ansioso temor de que Cratus lhes falasse e tivessem que enfrentar-se com ele.
Não havia dúvida de que todos recordavam a última vez que ele tinha sido perfurado com raios naquela sala.
Mas hoje era diferente...
-Ares! -chamou Zeus a seu filho, o deus da guerra- Protege a seu pai! Ponha esse a cão de joelhos! Agora!
Ares se cobriu com a armadura, e logo saltou da mesa ao encontro de Jericho. Sem vacilar, Jericho convocou o escudo e a espada antes de que o deus atacasse. Os escudos chocaram barulhentamente, quando
Jericho utilizou o seu para fazer retroceder ao deus.
Ares firmou o pé, e se inclinou com todo o peso contra o escudo, mas não foi suficiente para bloquear a Jericho. Era como um rolo compressor, com uma única determinação na mente.
Zeus.
-Seu sangue não me apaziguará, Ares. Mantenha-se fora disto, ou sente uma ira como a que jamais imaginou.
Ares o apunhalou sobre o escudo.
Grunhindo, Jericho levantou a borda do escudo para rechaçar o golpe, logo o devolveu com um de sua própria espada. A espada curta se curvou ao redor do lado descoberto de seu oponente, abrindo um
talho no antebraço de Ares.
Farto do obstáculo, Jericho lançou o próprio escudo ao chão e utilizou a espada para perfurar o escudo de Ares. Mais rápido do que o deus pudesse contar, Jericho encaixou navalhada, golpe detrás navalhada,
e golpe baixo sobre o escudo de ouro, dobrando-o rápida e furiosamente até que se afundou no braço de Ares. O deus gritou quando o ouro se rompeu e lhe mordeu a carne.
Jericho o chutou de novo, lhe enviando de costas através do chão.
Usou seus poderes para arrancar a espada da mão de Ares, e recolhê-la no punho de sua garra esquerda. Cruzando as espadas em um arco, deixou-as cair aos lados. Jericho se voltou, olhando a todos os
deuses e deusas reunidos.
-Alguém quer sangrar por este bastardo?
Zeus lhe lançou um raio luminoso.
Jericho o esquivou com a espada.
-Não me submeterei a você jamais.
Outro raio foi para ele. Esta vez, atirou a espada de Ares e agarrou o raio na mão. Este impactou contra as garras prateadas, fumegando e chispando. Mas não o machucava através da armadura.
-Está senil, Olímpico? Nunca mais.
-Tem um coração humano! Pode ser assassinado!
Jericho lançou o raio luminoso de volta a Zeus, que apenas o esquivou.
-Então faz isso. Se você ou qualquer dos cegos estúpidos que o seguem acreditam honestamente que podem... adiante. Estou com humor para um esquartejamento. Assassinato e Morte, também.
Os olhos do Zeus se alargaram quando captou o significado do comentário de Jericho, e a fonte de sua fúria.
Atenas, Apolo, Dionisio e outros deuses se levantaram como se lutassem do lado do Zeus. Mas antes de que pudessem, Jericho sentiu uma poderosa presença atrás. Esperando um ataque, voltou-se preparado
para a luta.
Então se congelou no lugar.
Detrás dele estava Delphine, com Madoc, Zeth, Zarek, Astrid, Jared, Deimos, Phobos, Asmodeus e duas dúzias do Onerois. E se viam abertos a negociar, e preparados para defender-se.
Mal podia compreender o que estava vendo.
Os outros deuses retrocederam imediatamente.
Delphine e seu grupo se adiantou até rodeá-lo como um arco protetor. Dedicou-lhe uma maliciosa piscada.
-Não acreditou realmente que ia ficar sozinho, não é?
-Sim, acreditei. -Jericho estava ainda horrorizado pela gratuita amostra de apoio.
Nunca em suas mais selvagens imaginações teria visto chegar a isto.
Nunca o tinha pedido ou esperado.
Madoc se burlou.
-É um novo mundo, irmão. E nós, os oprimidos, estamos o recuperando - olhou a Zeus com um feroz grunhido-Não seremos nunca mais suas ferramentas. Se considere tombado.
Zeus grunhiu em voz baixa, enquanto fulminavam de um a outro com o olhar.
-Como se atreve! Realmente acha que um punhado de números nos assustam?
Zeth bufou.
-Assustaremos o bastante por ter massacrado a nossas filhas. Que tipo de deus teme a um recém-nascido?
Os deuses Olímpicos sussurraram entre eles.
-É a hora. -disse Jared- Ordenou duas vezes a morte do Delphine, e ainda vive.
Zeus se mofou de Jericho.
-Por suas próprias palavras, sou seu proprietário. Jurou que se libertasse as emoções dos Onerois, submeteria-se a mim para sempre.
Jericho deu de ombros.
-Sim, disse isso, não é? Deveria ter me feito jurar por minha mãe um juramento inquebrável... Oops. Hoje fede estar do seu lado.
Zeus ficou vermelho de fúria.
-Não pode se negar.
-Nunca o faria, se você não tivesse ido atrás da única razão pela que fiz o trato para começar -Jericho retraiu as garras sobre a mão direita para tomar a de Delphine-Se não tivesse mentido, e a tivesse
deixado em paz, o teria deixado viver em paz enquanto mantinha meu juramento. Mas não servirei a ninguém que tenta matar à única pessoa que me importou. Não me prenderei a você, e a deixarei desprotegida
contra você, ou contra os ataques de seus subordinados.
Delphine apertou sua mão.
Ares se levantou do chão. Sem seu escudo, embalava o braço quebrado contra o peito.
-Podemos lutar contra eles, Pai.
-Pode lutar, -se mofou Jericho- mas nunca ganhará.
-Pai? -perguntou Ares com incerteza.
Zeus os fulminou com o olhar.
-Não serei seu prisioneiro.
-Não terá que sê-lo. -Madoc se moveu para ficar em frente do Zeus- Não queremos nem sua posição, nem sua autoridade. Os deuses sabem, definitivamente não queremos tratar com as queixa e pequenas imbecilidades
que o resto de vocês levam a cabo em um dia normal.
Deimos se burlou.
-Não sei. Acredito que foi divertido quando Dionisio atropelou ao DarkHunter com uma limusine do Mardi Gras faz alguns anos. Isso me divertiu durante dias sem fim. -riu igual a um vilão de desenhos
animados.
Jericho revirou os olhos . Seu velho amigo sempre tinha estado um pouco louco. Essa era a razão pela qual os dois se davam tão bem.
Eros e Psyche se levantaram da mesa para aproximar-se da esquerda de Jericho. Com asas brancas e cabelo loiro, Eros era o epítome da beleza. Também estava vestido com um par de calças de couro negros,
uma camiseta negra, e botas de motorista humano. O cabelo vermelho de Psyche estava recolhido limpando o rosto, e vestia-se como a uma garota motoqueira. Deu a mão a Eros.
Jericho se esticou quando caminharam para ele e seu grupo. Mas o que mais o assombrou foi quando Eros estendeu a mão em sinal de amizade.
- Aqui nem todos somos imbecis. E agora mesmo, acredito que temos muito com que nos preocupar, com o Noir e sua equipe tramando contra nós. Nos considere aliados.
Zeus bramou de raiva.
-Não tenha um aneurisma, ancião. -lhe disse Madoc vilmente - O que proponho é uma trégua. Você e sua corte permanecem como estão, planejando e tramando uns contra os outros, enquanto nos deixam em
paz para nos encarregar de nossos assuntos.
Zeus estava atônito.
-Dividiria este panteão?
Madoc negou com a cabeça.
-Este panteão está dividido a muito tempo tempo. Já estamos fartos de ser seus cães mulherengos, e viver aterrorizados por sua raiva. Temos coisas muito mais importantes nas quais nos enfocar, que
suas pequenas intrigas e flertes. -olhou a Jericho- E com um Titã entre nós, agora temos o poder de lhe dizer isso sem que nos empurre inclusive onde Hélio não brilhou.
Zeth levantou a cabeça para dirigir-se aos deuses que os rodeavam.
-Se algum de vocês está disposto a brigar contra Noir e Azura, são bem-vindos a nossa equipe. O resto de vocês podem voltar para seus assuntos como sempre.
Atenas e Hades deram um passo adiante. Como sempre, Atenas elevava em um vestido vermelho solto e cabelo negro. A deusa da guerra e da sabedoria conduzia a si mesma com toda a fluidez da elegância.
Hades, por outro lado, era escuro e sinistro. Deus do Inframundo, só tinha paciência com sua esposa, que estava notavelmente ausente.
-Estamos com vocês.
Zeus deixou escapar um som de desgosto.
-Perdeu a cabeça, Hades?
-Não. Preferiria encontrar minha alma. Noir e Azura nos declaram guerra. O mínimo que podemos fazer é oferecer uma resistência que não esquecerão tão cedo... irmão.
-Então bem-vindos -disse Madoc voltando-se para Zeus- O deixaremos em paz, e você nos devolverá o favor.
-Sim! -Gritou Asmodeus, inchando o peito.
Zarek se inclinou para diante e sussurrou.
-Possivelmente não queira fazer isso, grandalhão. O homem zangado do trono não tem muito senso de humor.
-Oh! -Asmodeus se ocultou detrás de Jared.
Zarek riu até que se deu conta de que outras pessoas o estavam olhando.
Imediatamente ficou sério voltando para seu "O matarei e dançarei sobre sua tumba".
-Temos um acordo? -Perguntou Jared.
Zeus os fulminou com o olhar, mas no fundo sabia que era a melhor oferta que obteria sem uma guerra. Uma guerra que muito bem podia perder.
-Temos um acordo.
Podia dizê-lo com menos entusiasmo? Mas o ponto era que o havia dito.
Madoc inclinou a cabeça para Zeus e os outros deuses, antes de voltar-se e deixar seu grupo sair do aposento.
Jericho soltou a Delphine e recuperou o escudo de onde o tinha arrojado, aos pés da Artemisa. Esbelta e elegante com vibrante cabelo vermelho, deu uma olhada a Delphine, que estava esperando a que
ele voltasse.
-Se realmente a ama, Cratus, faça saber cada dia. E sempre coloque-a antes de você e ao que quer, como fez hoje. Toma o de alguém que sabe. O amor perdido é a carga mais difícil de levar nos ombros,
e é quão única não pode pôr no chão - enquanto falava, fez aparecer o arco e a capa de flechas que lhe tinha dado faz séculos.
Assombrava-lhe que ela o conservasse.
-Meu presente para você. Sua pontaria sempre será certeira, e sua capa nunca estará vazia enquanto o leve.
-Obrigado.
Ela inclinou a cabeça e deu um passo atrás.
Jericho voltou ao lado de Delphine, e seguiu aos outros de retorno à Ilha Desaparecida.
Logo que se materializaram, Delphine o encurralou no lado exterior do hall.
-Realmente foi entregar sua liberdade por mim?
Ele apartou o olhar envergonhado.
-Jericho. - virou seu rosto para ela- Por que o fez?
Sua pergunta o irritou. Não queria ser interrogado, e definitivamente não por algo tão...pessoal.
-Por que acha?
O fulminou com o olhar.
-Porque sou uma bruxa mandona, e preferiria estar escravizado a um homem que o odeia, que fazer entendimentos comigo.
Isso fez com que sua raiva crescesse inclusive mais.
-Sabe... -Se deu conta de que estava brincando com ele. A raiva se converteu em indignação- Não tem graça.
-Acredito que sou histérica, e quero ouvir por que fez tal trato.
Jericho tentou afastar-se, mas ela não o permitiria. Precisava ouvi-lo.
Tocou-lhe a boca em sua suave mão.
-Vamos, doçura, pode dizê-lo moveu a boca brincalhonamente- Não fede, Delphine -disse imitando uma voz profunda- Eu... você. Vamos Jericho. Só mordo na cama. Pode fazer isso. Sei que não é realmente
mudo.
Mas por que tinha que dizer? Não era óbvio? Que mais tinha que fazer, para lhe demonstrar o muito que significava para ele?
Mas sabia que não o deixaria em paz.
Não até que lhe dissesse as palavras que queria ouvir.
-Porque te amo... Pestilenta e tudo.
-Pestilenta! -aproximou-se dele, mas em vez de lhe fazer mal, fez-lhe cócegas.
Jericho riu, surpreso pelo jogo. Ninguém tinha sido tão amável com ele. Aproximou-a e a beijou com força.
-Obrigado por vir atrás de mim.
-Não. -respondeu, ficando instantaneamente séria- Obrigada a você por me defender. - lhe empurrou com brutalidade no peito- Mas nunca volte a fazê-lo outra vez. Não quero que jamais se arrisque por
minha causa.
-Por quê?
Ela encontrou seu olhar, e a sinceridade naqueles olhos celestes o queimou.
-Porque também te amo, e não posso suportar ser a razão pela qual seja ferido, ou o matem.
Ele levou sua mão aos lábios.
-Não se preocupe. Nunca vou te deixar sozinha. Mete-se em muitos problemas sem mim.
Lhe grunhiu.
-OH, por favor. Jamais me meti em problemas até você.
-Uh, huh.
-Um, caras, -disse Phobos, aparecendo com a cabeça pela porta- ódeio interromper o que quer que seja que estão compartilhando, mas temos uma situação aqui que possivelmente queiram comprovar.
Franzindo o cenho, Jericho se dirigiu à sala para encontrar um novo grupo de Skotis... Confuso por sua aparência, olhou a Madoc em busca de uma explicação.
-O que está acontecendo?
Madoc levantou as mãos e deu de ombros.
-Não estamos seguros. Simplesmente apareceram.
Cintilou outra rajada de luz quando Nike apareceu em meio dos Skotis. Permanecia de costas para ele, em pé com as asas inclinadas em um torpe ângulo.
Jericho deu um passo para ela, logo congelou quando se voltou para lhe enfrentar e encontrou seu olhar.
Nike era um gallu.
Madoc e Phobos amaldiçoaram enquanto manifestavam espadas para atacar.
-Não! -Gritou Jericho, lhes apartando dela- É minha irmã.
Madoc o olhou como se fosse uma tímida gota de tinta.
-Está infectada. Matará a todos.
-Não me importa.
Ainda era sua irmã. Jericho armou a si mesmo antes de aproximar-se dela.
Grunhindo, ela se aproximou como um animal selvagem, o esfaqueando com as mãos e tentando mordê-lo. Estendeu as asas, ele as arrumou para agarrá-la por atrás e sustentá-la ali, enquanto as asas se
chocavam com ele. Ela gritou e esperneou, logo tentou lhe dar cabeçadas.
Inclusive armado, ainda podia sentir os pontapés contra as panturrilhas.
-Preciso de uma caixa. -grunhiu.
Delphine fez uma do tamanho de um pequeno armário. Mas era o bastante larga para conter a Nike, até que pudessem encontrar algo que a ajudasse.
-Aqui.
Jericho empurrou a sua irmã ao interior, e sobressaltou-se ante a visão dos olhos brancos e dente serrados. A boca espumava, enquanto se estirava através das barras para os alcançar.
Eros e Zarek intercambiaram um olhar preocupado, antes de lançar uma olhada aos Skotis. Eros esfregou o queixo.
-Estou pensando que também deveriam ser encerrados, antes de que se lancem como Linda Blair8 sobre nós.
Um dos jovens Skotis se levantou.
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8-Linda Blair, atriz do filme "O Exorcista"
-Fomos infectados. Mas conosco atua com mais lentidão.
Jericho franziu o cenho.
-O que?
-Estão provando um novo veneno conosco para ver se podemos infectar a um dos nossos durante uma briga, sem que os outros saibam que estamos infectados. De modo que quando voltarmos a casa, possamos
propagá-lo aos outros.
Que rasteiro. Além disso isso faria com que todos suspeitassem uns dos outros, inclusive depois de que tivessem lutado.
Zarek amaldiçoou.
-Como lutamos contra isso?
-Tem que matar ao que os infectou.
Voltaram-se para Jared, que tinha falado em um tom impassível.
-O que? -Perguntou Madoc incrédulo.
-Zephyra o descobriu. -explicou Jared- Se matarem aos gallus que os converteram em zumbis, os zumbis voltarão para a normalidade.
Eros simulou o ruído de um pum com a boca.
-Bom, isso é totalmente estúpido. Quem teria feito algo assim?
-A deusa Egípcia MA´at. Os gallus invadiram seus domínios faz séculos, e ela os modificou para lhe dar a sua gente uma oportunidade de lutar.
Madoc sacudiu a cabeça com desgosto.
- Estupendo, simplesmente estupendo.
-Sim. -assentiu Eros- De qualquer maneira, será melhor que ninguém diga a MA´at que dise que isso era estúpido. Tem um caráter repugnante, e não necessito um golpe baixo de sua parte.
Jericho ignorou a absurda paranóia.
-Assim, como adivinhamos quem a infectou?
Zarek encolheu os ombros.
-Matamos a todos, e deixamos que Hades o averigue.
Cruzando os braços sobre o peito, Hades lhe devolveu o olhar.
-Para que conste, não limparei seus destroços. E nenhum gallu se aproximará de meus domínios. Quão último preciso é um reino cheio de mortos infectados. Isso é ter Cessar Romero9 por todos lados.
Eros levantou a mão.
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9-César Romero (César Julho Romero Jr.) foi um ator de cinema e televisão americana de longa trajetória, considerado um ícone de Hollywood por sua personalidade e trajetória profissional de 1933
A 1995. (N. da Tradutora)
-Uh, Hades, esse é George Romero10. César é o que costumava fazer o Curinga na série de TV do Batman. Hades lhe dedicou um olhar fixo.
-Vejo-me como se me importasse? E como é que sabe?
-Psyche e eu vamos ver filmes com o Acheron. É um dos maiores fãs de zumbis.
Ignorando o comentário, Asmodeus deu um tímido passo adiante.
-Descobrirei quem a infectou.
Jericho franziu o cenho ante o oferecimento do Asmodeus.
-O que?
-Posso entrar ali sem que ninguém suspeite. Com sorte, encontrarei ao gallu e o matarei.
Delphine sacudiu a cabeça.
-Asmodeus...
-Olhe, está bem. -disse o demônio, interrompendo - Sei que soa tão fodido como o inferno, mas todos vocês me têm feito sentir parte de uma equipe. Nunca tinha tido isso antes. E quero pôr meu grão
de areia. Se algum de vocês vai, Noir os matará. ...Só me tortura. Possivelmente estrangule, e insulte. Possivelmente inclusive alguma puta me esbofeteie. Mas sou a única esperança que têm.
Delphine dirigiu um olhar preocupado a Jericho, antes de voltar a olhar a Asmodeus.
-Não podemos o enviar sozinho lá.
-Hei, estarei bem. Noir me odeia de qualquer modo.
-Mas se ele suspeitar de você, o matará.
O demônio deu de ombros.
-Quem quer viver para sempre? Bom, para que conste, eu, mas quero fazer isto por vocês.
Jericho o deteve antes de que se fosse. Tirou o anel do dedo e o ofereceu.
-Toma isto.
Asmodeus curvou o lábio, enquanto se encolhia retrocedendo ante aquilo.
-Não vou me casar com seu asqueroso traseiro, menino. Não se ofenda, mas não é meu tipo. Eu gosto de meus encontros com menos pêlo corporal... e com partes femininas acrescentadas por natureza.
Jericho deixou escapar um grunhido ofendido.
-Não é um anel de bodas, imbecil. Se se meter em problemas, pode lhe convocar para que o ajude a sair de lá.
Isso mudou completamente sua atitude.
-Oh, hei, isso poderia valer um contrato. -Asmodeus sorriu abertamente enquanto o tocava- Se não voltar em algumas horas... Bom, não quero pensar nisso. Possivelmente mude de opinião sobre fazer isto.
Pensarei em coisas agradáveis. Tripas de cão desidratado, e filete putrefato. Sim. Ñam. -se desvaneceu.
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George Andrew Romero é um diretor, escritor e ator de cinema americano. É famoso por seus filmes de terror que envolvem mortos viventes (Zombies). (N. da Tradutora)
Delphine envolveu o braço ao redor do de Jericho, e fez o que pôde para não pensar nas imagens da partida de Asmodeus, ou no fato de que chamasse a isso de comida. Não sabia por que, mas estranhamente
gostava do demônio. Era como seu socialmente, pouco desenvolvido, e ilegítimo... primo.
-Acha que vai estar bem?
-Não é com isso que deveria estar se preocupando.
Eles se voltaram para Hades.
-Mas como?
-Não acabaste com o Zeus. Estou seguro disso. Não atacará hoje, mas vocês, garotos, o envergonharam publicamente, e se sei uma coisa a respeito de meu irmão... é que não ficará a gosto com isso.
-Isso é certo. -disse Madoc- Vamos assegurar nosso lugar aqui.
-E precisam nos encerrar. -disse outro dos Skotis- Têmos feito bastante mal nos unindo a Noir. Não queremos fazer mais.
Jared e Madoc os encerraram, enquanto Delphine considerava tudo o que tinha estado acontecendo. Queria fazê-lo lentamente, mas não havia nada que pudesse fazer.
Estava-se pondo aterrador por minutos.
-Sinto muito por Nike.
Jericho ficou olhando-a, os olhos tristes.
-Eu também. Maldição, não deveria me haver distraído. Deveria ter permanecido na Azmodea até havê-la localizado.
-Não pode se culpar.
-Então a quem culpo? Fui o único que a deixou ali.
-Por que estava preocupado por mim. -sussurrou Dephine- Se eu não estivesse ali, não teria que se desviar.
Ele a estreitou.
-Isso não é definitivamente culpa sua, bebê. Tomei a decisão e a abandonei. Tenho que ter fé no Asmodeus.
Hades se aproximou deles.
-Retorno ao Inframundo. Me avisem se precisarem de mim.
-Faremos isso. Obrigado.
Hades inclinou a cabeça antes de desvanecer-se.
Jericho observou aos outros que estavam limpando o hall, lhe devolvendo sua anterior beleza. Mas era a tristeza nos olhos de Madoc o que o incomodava.
Deixando Delphine, foi comprovar o Oneroi.
-Está bem?
Madoc começou a assentir, então negou com a cabeça.
-Sinto falta de meus irmãos. Nunca antes estive sem eles, e sigo me perguntando que faria D´Alerian se estivesse aqui. Que dirá quando voltar.
Se voltar. Mas Delphine lhe tinha ensinado a não ser tão insensível para dizer isso em voz alta.
-Está fazendo um grande trabalho. -se aproximou de Delphine, e lhe aplaudiu o braço- De verdade. Ninguém poderia fazê-lo melhor, e sei que D´Alerian estaria orgulhoso de você, e do que está fazendo
para nos proteger.
-Obrigado. -baixou o olhar e sorriu tristemente- Por certo, falei com Zeth a respeito do que Jericho sugeriu. Nós gostaríamos de convidar você para ser nossa terceira líder.
Delphine estava surpresa pela oferta.
-Eu?
Madoc assentiu.
-Se não fosse por você, nenhum de nós estaria aqui agora. É a única que salvou a Jericho e nos ajudou a nos libertar. Sem você, ainda estaria acorrentado ao chão.
Possivelmente, mas Delphine não estava acostumado a ser um líder de nenhuma especie.
-Não sei.
-É fantástica para isso. -disse Jericho com uma confiança que definitivamente ela não sentia.
Não sabia por que, mas vindo dele, a frase significava mais que tudo.
-De acordo. Tentarei-o. Mas se fizer algo errado, vocês me ajudarão a arrumá-lo.
Madoc riu.
-E vamos tentar algo um pouco diferente.
-O que?
Madoc olhou a Zarek.
-Vamos acrescentar dois generais. Zarek e Jericho.
-OH, cara. -disse Eros sarcasticamente- Poderia ter eleito a duas pessoas mais ariscas?
-Isso é o motivo pelo qual estarão a cargo de nosso exército. Que os deuses tenham piedade de qualquer um que os incomode, porque Zarek e Jericho não terão deles.
Zarek esclareceu a garganta.
-Melhor se alegrar de que me tome como uma adulação. De outra maneira, teria te estripado.
Jericho assentiu de acordo, com um brilhante olhar de aborrecimento.
-O mesmo digo eu.
Delphine ria quando Astrid apareceu com um choroso bebê. Tinha os olhos de um azul tão brilhante, que tinham pensado que era um DreamHunter a não ser porque tinha o mesmo cabelo loiro de Astrid, e
parecia com seu pai... salvo pela barba de cabrito.
Com cara triste, Astrid o estendeu A Zarek.
-Menoeceus quer a seu pai.
-Bob está chorando porque quer que sua mãe deixe de chamá-lo por esse nome asqueroso. -Zarek abraçou ao menino lhe balançando gentilmente contra o ombro, enquanto ele seguia chorando. Com força...
-Está bem, Bob, papai está aqui agora. Salvarei-o do mau gosto do nome de sua mãe. Também choraria se minha mãe me chamasse com um nome idiota.
-Menoeceus é um grande nome. -disse Astrid à defensiva.
Zarek bufou.
-Para um ancião, ou um produto de higiene feminina. Não para meu filho. E a próxima vez eu escolherei o nome do menino, e não será algo que soe como a meningite.
Astrid parou com as mãos nos quadris, pé com pé com seu marido.
-Mantenha isso, e a próxima vez será você quem dará a luz. Não se meta comigo, cara, tenho conexões nesse departamento. Um homem grávido não é uma impossibilidade em minha vizinhança.
Começou a afastar-se dele.
-Sim, bom, pois estarei encantado de dar a luz se isso quer dizer que posso chamá-lo por um nome normal. -gritou Zarek.
-Claro, claro. Isso o diz um homem que choraminga como uma criança de dois anos quando machuca o dedo. Eu gostaria de ver-te sofrer dez horas de parto.
-Não sou um bebê! -Zarek jogou um ameaçador olhar sobre todos eles-Tenho malditas cicatrizes para prová-lo.
-Você é o homem. -disse Eros- Não esse que choraminga por golpear o dedo do pé, isso é algo que não tem comparação. O mesmo que eu.
Contudo, o bebê continuava chorando como se lhe rompessem o coração.
Bob? Gesticulou Delphine a Jericho, tentando não rir de algo que obviamente era um ponto espinhoso entre Zarek e Astrid. O nome era tão pouco convincente para o pequeno querubim loiro, como a suavidade
do homem feroz que lhe sustentava enquanto lhe balançava.
-Quero meu fluff-fluff -chorou Bob.
Zarek se viu aterrorizado.
-Fluff-fluff... -deu o menino a Jericho- O segure um segundo.
-Não acredito... -Jericho se deteve quando Zarek literalmente lhe atirou o menino. Apavorado, não teve outra opção que o agarrar.
Sustentando ao menino frente a ele, não estava seguro do que fazer. Não havia segurado um bebê em séculos. Com os olhos abertos de tudo, ficou olhando ao pequeno, que estava tão assustado dele, como
Jericho o estava de Bob. O menino estava absolutamente em silêncio.
-Olhe o que fez. -estalou a Zarek- O quebrei.
Delphine riu.
-Não o quebrou. Ele gosta.
Jericho não estava seguro disso. Tragando com força se aproximou mais a ele, e imitou o balanço de Zarek.
Bob tirou a mão da boca e a plantou contra o rosto cheio de cicatrizes de Jericho.
Jericho fez uma careta horrível.
-OH, gah, babou-me.
Bob riu.
Rindo também, Delphine se estirou para limpar seu rosto.
-Não é baba. É um beijo de bebê.
-É baba. -disse Zarek voltando com uma manta azul brilhante que tinha a cabeça de uma ovelha em uma das esquinas. Dirigiu a cabeça para o Bob
- Olá Bobby -disse em falseto- Sou a grande ovelha má que vem a te dar um abraço. Smack -fez um som de beijo.
Chiando de felicidade, Bob agarrou a manta e a beijou.
Delphine estava horrorizada ante a visão dos dois enormes e agressivos homens mimando a um menino tão diminuto.
-Precisamos disto para o Youtube. -disse Astrid com uma piscada.
-Absolutamente.
Zarek voltou a agarrar Bob de modo que seu filho pudesse abraçar a manta. O pequenino colocou a manta sob o rosto, a qual descansava sobre o ombro de seu pai.
-Vê, só precisava de sua pelúcia.
Zarek dedicou a Astrid um olhar zombador.
-Depois precisarei algo da minha também.
Astrid olhou a Delphine com um seco olhar fixo.
-Realmente vou estrangulá-lo.
Zarek beijou a seu filho na cabeça, antes de devolve-lo a Astrid.
-Quando precisar de uma mão paternal especialista...
-Acudirei a Jericho.
Jericho pareceu horrorizado.
-Um, poderia esperar ao menos, até que essa coisa destroce a casa?
Zarek riu.
-Sabe, assim é como me senti também. Deveria ter visto minha cara quando me disse que estava grávida, tive um momento de total harakiri, mas uma vez que passou o choque, e depois de que passaram os
meses, realmente me acostumei a idéia. Acredite ou não, realmente crescem em você. Com babas e tudo.
Delphine envolveu os braços ao redor da cintura do Jericho.
-OH, vamos, Jericho. Não quer uma pequena miniatura sua brincando de correr ao seu redor?
-A verdade não, e não posso imaginar tampouco que você queira outro como eu.
O empurrou brincalhonamente antes de ir unir se a Madoc.
Zarek e Astrid o deixaram para atender a Bob.
Sozinho, Jericho se voltou para Nike.
-Conseguiremos ajuda, Nike. Prometo-o.
Lhe vaiou.
-Vamos, Asmodeus. -sussurrou- Não me falte.
-Oh, irmãozinho, esse incompetente demônio é a menor de suas preocupações.
Jericho ficou quieto ante o som da voz do Zelos atrás dele. Voltou-se, com a intenção de saudar seu irmão. Mas no momento em que o fez, Zelos lhe enterrou uma adaga profundamente no peito. Completamente
até o punho...
Atravessando seu coração humano.
Ofegando, cambaleou-se, caindo nos braços de Nike.
CAPÍTULO 16
-Não! -Gritou Delphine enquanto via Zelos apunhalar a seu irmão tão rápido, que não pôde reagir. Seu coração se contraiu ante a visão do Jericho caindo enquanto Nike o aferrava e atacava por detrás.
Uma fúria inimaginável a envolveu. Uma que não pôde explicar ou mitigar.
Tudo o que podia saborear era a necessidade de sangue.
O sangue do Zelos.
Antes de que se desse conta, ela se moveu e o teve contra o chão, estrelando sua cabeça contra o piso enquanto sua fúria a remontava com força.
-Delphine, pare! Vai matá-lo.
De alguma lugar, através da névoa de sua ira, reconheceu a voz de M´Adoc, que tratava de afastá-la de Zelos. Ela soltou o cabelo negro de Zelos. Levantando-se, chutou-o com força nas costelas.
-Segure-o. Porque se Jericho morrer, vou arrancar o coração de seu peito e alimentá-lo com ele.
Os olhos do Zeth se abriram.
-Dada a surra que lhe acaba de dar, estou seguro de que o fará. -olhou para M´Adoc- Me lembre de nunca enfurecer a esta mulher.
Delphine apenas o escutou enquanto corria para Jericho. Deimos o tinha afastado de Nike, mas não antes de que ela o tivesse mordido.
Ele estava ofegando e agitando-se enquanto jazia no chão.
Ajoelhando-se junto a ele, engasgou-se ante a onda de agonia que a percorreu. Seu olhar alagado de lágrimas.
-Bebê? -sua voz se rompeu quando a dor a sobressaltou.
Ele tomou sua mão na sua, sustentando-a enquanto Deimos pressionava um tecido na ferida de seu peito.
-O que faremos? -Perguntou Deimos- Nunca tinha visto um deus sangrar assim.
-Tem um coração humano... Mas pode ser ressuscitado. Os Onerois e os Dolophonis o matavam cada noite durante séculos, e cada manhã era trazido de volta à vida.
-Por Zeus. -a recordou Deimos- E, sem ofender, não acredito que ele esteja disposto dado o que lhe acabamos de fazer.
As lágrimas fluíram por seu rosto enquanto observava o rosto de Jericho empalidecer ainda mais. Sua respiração ficando mais lenta.
-Não me deixe, Jericho. -sussurrou ela, embalando seu rosto marcado em sua mão-. Por favor. Não posso lutar com estas emoções que me deu. Não posso. E não quero estar sem você. Preciso de você comigo.
Ele levantou sua mão para seus lábios para um delicado beijo.
-Em todo este tempo, cada vez que morria, nunca quis despertar de novo. Rogava cada noite para que fosse a última morte. E agora...
Ele se engasgou e cuspiu uma baforada de sangue.
Delphine soluçou alto enquanto tratava de ajudá-lo a que não se afogasse em seu próprio sangue. Estava coberta dele, e era evidente o fato de que estava morrendo. Seu corpo inteiro se sacudiu, ela
sabia que o estava perdendo e não podia suportar esse pensamento. Ela não o perderia.
-Necessita um coração imortal! -gritou a M'Adoc, olhando sobre seu ombro. Seu olhar foi dele para seu prisioneiro.
Ela se congelou enquanto a solução a golpeava como um punho no estômago. Isso era brutal, mas...
Quem melhor para dar sua vida pelo Jericho, que o traidor entre eles? O irmão que o traiu. O irmão que sempre o tinha vendido a ele e a cada deus egoísta que ficou em contato com ele.
Zelos.
Encontrou o olhar de Deimos sobre o corpo do Jericho e soube que ele tinha tido a mesma idéia que ela.
-Fica com ele. -Deimos se levantou e cruzou a habitação.
Delphine apartou o cabelo do rosto de Jericho.
-Respira, bebê, respira. Agüenta. Não vamos deixar que vá.
As mãos de Jericho que a seguravam se debilitaram.
-Ao menos tive você por um tempo.
-Não. -lhe espetou- Foste obstinado do momento em o conheci. Não se atreva a ser complacente agora. Briga com isto por mim. Escuta-me?
Ele assentiu enquanto cuspia mais sangue.
Delphine escutou uma luta atrás dela, mas não quis voltar-se para olhar. Honestamente, não se importava. Qualquer um que fizesse isto a seu próprio irmão não merecia clemência.
Deixem-no morrer.
Deimos retornou com o coração de Zelos em sua mão. Enojada pela visão, Delphine estremeceu. Madoc apareceu a seu lado. Ele a girou em seus braços para defender seu rosto enquanto Deimos intercambiava
os corações.
O estável, profundo e rítmico palpitar do coração de Madoc a ajudau a enfocar-se enquanto mantinha sua mão envolta na de Jericho. Não havia forma de que ela o deixasse ir. Nunca mais.
Depois do que pareceu uma eternidade, ela escutou Jericho ofegar. A mão que ela segurava apertou mais forte.
Com o coração martelando, soltou-se de Madoc para vê-lo olhá-los com fixidez.
Ele tossiu e lançou um olhar de fúria sobre Madoc.
-Se for levar minha garota, Madoc, o mínimo que pode fazer é esperar até que eu esfrie.
Levantando suas mãos em sinal de rendição, Madoc riu.
-Nunca levaria sua mulher. É o único homem que conheço que poderia voltar do Tártaro só para me massacrar por isso.
Deimos procurou o olhar dela.
-Delphine, talvez queira voltar sua cabeça outra vez. Tenho que cauterizar a dentada antes de que o infecte.
Delphine o fez, mas ainda assim escutava as maldições de Jericho enquanto Deimos queimava a dentada do gallu. E, ainda quando acreditava que Jericho devia estar passando por uma agonizante dor, o
apertão em sua mão nunca se voltou doloroso.
Logo que Deimos terminou, ela se lançou perto do Jericho.
-Meu pobre bebê. -disse ela, beijando sua rosto- Nunca volte a me assustar assim outra vez. Juro que se o fizer o golpearei até o cansaço.
Jericho a içou para seus braços e a sustentou apertadamente. Honestamente, não queria chegar tão perto de deixá-la de novo, tampouco. Beijou-a no alto da cabeça, e pelo canto de seu olho, viu o corpo
de seu irmão. Provavelmente deveria haver-se sentido mau ou culpado, mas não se sentiu.
Zelos sempre tinha sido um bastardo ressentido, e tinha feito sua infância insuportável.
-Quem tomou seus poderes?
Madoc se destacou e a Zeth.
-Repartimo-nos.
Zeth se aproximou.
-Quer que o joguemos?
-Não. Apesar de tudo, é meu irmão. Levem seu corpo para minha mãe e deixem que ela faça sua vontade.
Deimos bufou ante sua preocupação.
-Acha que ele teria tido a mesma consideração com você?
Jericho se impulsionou para cima.
-Não. Mas alguém, -lançou um significativo olhar a Delphine- me ensinou a ser uma pessoa melhor que isso.
-Muito bem -disse Zeth com um suspiro- hora de fazer limpeza.
Ele suspirou.
-Estou pensando que talvez deveríamos contratar a uma equipe em tempo integral para isso.
Madoc o empurrou brincalhão.
-Dado que a maior parte disto foi causado por seu grupo, não quero o escutar se queixando.
Jared vaiou quando começou a aproximar-se para eles.
Jericho ficou rígido, temeroso de que os atacasse agora. Maldição, não podiam ter um minuto de paz?
-O que é o que acontece?
Jared se via doente e pálido.
-Convocaram-me em casa. Tenho que ir. Zephyra não gosta que resista.
Jericho pregou suas asas e limpou suas roupas.
-Quer que fale com ela?
-Isso não fará nenhum bem. Está impaciente por minha demora, e a menos que tenha o que ela quer... Ele olhou ao redor com uma agonizante expressão que dizia que ia sentir falta de sua companhia. Não
duvidava que sentiria falta de não ser torturado acima de tudo.
-Boa sorte para todos.
Inclinando sua cabeça, Jared se desvaneceu.
Delphine franziu o cenho enquanto ele se ia.
-Sinto-me tão mal por ele...
-Eu também. Desejaria que alguém houvesse uma maneira de liberá-lo.
Ela suspirou pesadamente.
-Estou segura que ninguem deseja isso mais que ele.
Ela olhou a Nike.
-Pensa que deveríamos nos preocupar com o Asmodeus?
-Sim. -disse Deimos sarcasticamente- Dada a sorte que tivemos, provavelmente foi estripado enquanto falamos.
Asmodeus escapuliu através da parede traseira por onde, usualmente, só os roedores se escorriam. Estava fazendo o melhor por manter-se fora do campo de visão, audição ou aroma. Noir e Azura deviam
estar fora de si pela ira neste momento, golpeando tudo o que tivessem perto.
Não era de estranhar que se foi daí. Mas isso não o salvaria se eles o encontrassem agora. Eles o estripariam e lhe fariam pagar por havê-los deixado.
-O que está fazendo?
Ele saltou e quase gritou ante a profunda voz que saiu da escuridão.
-Maldito seja, Jaden -sussurrou furiosamente- quem o desacorrentou?
-Noir. Temeu que alguém me libertasse enquanto estavam resgatando e combatendo aos Skotis. Assim fui exilado ao corredor onde os de fora não podem perambular.
Asmodeus torceu sua cara quando viu o dano que tinham feito a Jaden. Como podia sequer falar com a maneira em que seus lábios estavam inflamados? Mas a parte mais assombrosa era que Jaden podia usar
seus poderes para esconder suas feridas quando os demônios o convocavam ao mundo exterior.
Ninguém de fora conhecia os horrores que se viviam neste reino do inferno.
Jaden se inclinou para frente para olhar dentro do quarto onde Asmodeus havia estado procurando um possível caminho.
-O gallu que buscas é o que está na parte traseira da sala.
-Odeio quando lê os meus pensamentos.
-Eu sei. Acredite, não é um privilégio para mim tampouco. Não preciso saber quão desequilibrado é. Tenho meus próprios problemas.
-Sim... assim, alguma brilhante idéia sobre como posso conseguir o gallu, matá-lo sem ser mordido e não ser apanhado?
-Não tem que fazê-lo.
Asmodeus agarrou a própria cabeça enquanto uma onda de temor o percorria. Estava Jaden planejando assassiná-lo?
-O que quer dizer?
Jaden tirou um brilhante amuleto verde de seu bolso.
-Leva isto a Jericho e lhe diga que liberte a meu... que liberte Jared de sua ama, e eu me ocuparei do gallu por você.
Aturdido, Asmodeus não se pôde mover. Atreveria-se a confiar nisso?
-Está seguro? Pode fazer isso?
Assentindo, Jaden pôs o amuleto em sua mão.
-Jure pra mim que não ficará com ele. Porque se o faz, ninguém me deterá de...
-Sei, sei. Estripará-me. Não se preocupe, não o trairei.
-Obrigado.
Jaden começou a afastar-se dele.
-Hei, Jaden?
Ele se deteve e girou para enfrentá-lo.
-Por que é tão importante para você que Jared seja libertado?
-Porque... -Quando terminou a oração, seu tom era tão baixo que Asmodeus não estava sequer seguro de ter escutado corretamente- eu sou a razão pela qual foi condenado. Agora vai antes de que os outros
o encontrem.
Asmodeus inclinou a cabeça ante ele antes de usar seus poderes para teletransportar-se fora do depressivo buraco para o iluminado salão onde seus amigos o estavam esperando.
Amigos.
Quem teria pensado que um demônio como ele pudesse ter algo como isso?
Delphine ficou em pé tão logo viu que Asmodeus retornou. Ela olhou A Nike, mas a deusa não tinha mudado de sua forma gallu.
-O que aconteceu?
Asmodeus cortou a distância entre eles.
-Jaden disse que ele se encarregaria do gallu por nós.
Estendeu o colar a Jericho.
-E me disse que entregasse isto a você, assim você poderia comprar a liberdade de Jared.
Jericho soprou com incredulidade enquanto sustentava a cara antigüidade.
-É sério?
Asmodeus assentiu.
E antes de que Jericho pudesse falar outra vez, escutou Nike gritar de dor. Ela caiu sobre seus joelhos ao chão, onde se balançou para trás e para frente como se estivesse queimando-se. Os outros
Skotis reagiram da mesma maneira.
No momento em que Jericho chegou até a jaula, Nike levantou o olhar até ele, seus olhos eram normais de novo. Estava confusa e atemorizada.
-Cratus?
Jericho assentiu enquanto a alegria corria através dele. Tinha funcionado. Não podia acreditar. Abrindo a porta, içou a sua irmã para seus braços e a sustentou com força.
-Está bem?
-Estou confusa. Estava em um buraco e Zelos chegou até mim com um demônio. Ele estava tão enfurecido. Disse-me que me unisse a eles, mas me neguei. Não confio em Noir ou Azura, e eu não abandonarei
a minha gente -sacudiu sua cabeça- Zelos me chamou de tola e logo fez que o demônio me mordesse -soluçou contra seu ombro.
Jericho a tranqüilizou.
-Não se preocupe, Nike. Zelos já não está aqui.
-Aonde se foi?
-Deimos o matou.
Ela ofegou, logo fez uma careta.
-Queria sentir por ele o que senti por Bia quando morreu. Mas não havia muito em Zelos para lamentar. Só espero que com sua morte, tenha finalmente encontrado um pouco de paz.
Com seus traços afetados, Nike girou e viu Delphine em pé a seu lado. Seu olhar se entrecerrou conscienciosamente e enquanto seu olhar ia de um a outro.
-Tinha razão sobre meu irmão, não é verdade?
Delphine sorriu.
-Absolutamente, e não posso te agradecer o suficiente.
Nike desviou o olhar para Jericho.
-Tenho a sensação que é mútuo.
-É. Mas é tudo o que direi sobre o assunto.
Jericho se afastou dela.
-Agora, se a vocês, damas, não importar, tenho algo do que preciso me encarregar.
Jericho vacilou na lustrosa escuridão do corredor que tinha visitado antes com Tory. Talvez não devesse estar fazendo isto.
Jared tinha sido categórico em que Zephyra nunca deveria ter o amuleto. Mas depois de tudo o que Jaden e Jared faziam por eles, parecia incorreto deixar Jared escravizado.
Tendo vivido essa sentença no inferno, tinha tido um momento difícil entregando-o a alguém mais. Especialmente quando ele não o merecia.
-O que está fazendo aqui?
Deteve-se ante o perigoso tom da Medea.
-Sempre está vigiando o corredor?
-Não, mas posso sentir quando alguém estranho está aqui e eu não gosto de gente sem convite em meu domínio.
Ele deu de ombros como se não fosse nada.
-Pode ir baixando. Não ficarei muito tempo. Só estou aqui para ver sua mãe.
-Mamãe? -chamou ela, sem incomodar-se em levá-lo ao estudio desta vez.
Zephyra chegou molesta e ansiosa.
-Pensei que te havia dito que não...
Sua voz se quebrou quando viu Jericho.
-O que você está fazendo aqui?
Maldição, podia ter posto mais aversão nessa simples frase? Um homem com menos confiança estaria raspando-se a si mesmo do chão.
-Vim buscar Jared.
Ela soprou desdenhosamente.
-Infernos, não. Ele está de volta onde...
Sua voz se desvaneceu enquanto ele tirava o amuleto de seu bolso e o deixava pendurando entre seus dedos para que assim pudesse vê-lo.
Com seus olhos excitados e famintos, ela foi atrás dele.
Jericho o afastou.
-Não até que liberte Jared para mim.
Ela vaiou.
-Bem.
-E, -disse ele rapidamente antes que ela pudesse atuar- quero uma promessa de você.
Ela o olhou como se fosse a criatura mais repugnante jamais criada.
-Está louco? É afortunado de continuar vivo.
-Acredite, eu sei. -disse com uma risada amarga- Mas não vou te dar os meios para que fira aqueles que me ajudaram. Te darei isto com a condição que nunca o usará contra Acheron ou sua mãe. Jamais.
Ela pôs os olhos em branco.
-Como se eu fosse assim estúpida. Com minha sorte, o mínimo é que não funcionaria neles e me matariam pelo insulto. Agora me dê o medalhão.
Ele o retirou de novo.
-Primeiro Jared.
-Jared! -gritou ela.
Ele apareceu imediatamente a seu lado, seus traços tensos e firmes. Logo que viu Jericho, seu olhar se entrecerrou ceticamente.
-O que fez, Jericho?
-Um favor por um favor.
Zephyra o empurrou para Jericho.
-Eu voluntariamente o liberto de meu serviço por ele. Agora vai.
Jared sacudiu sua cabeça com grande pânico quando viu o medalhão.
-Não pode fazer isso!
Jericho vacilou. O último que queria fazer era cometer um engano com isso. Mas certamente Jaden não o teria enviado se isto os matasse a todos.
-Por quê?
-Porque prefiro que Jaden o use para negociar sua liberdade. Por favor.
Sua voz estava cheia de agonia.
-É muito tarde. -Zephyra o arrancou da mão de Jericho-Agora vão embora antes que alimente a meus Daimons com ambos.
Jared fez uma careta enquanto ela e Medea desapareciam. Um músculo se esticava em sua mandíbula como se quisesse amaldiçoar.
Jericho se sentiu mal por ele. Devia ser terrível para Jared não encontrar nenhuma alegria em ser livre.
-Sinto muito.
-Eu também -disse ele pensativamente.
-Ao menos é livre agora.
Jared tocou o colar de restrição que rodeava seu pescoço.
-Dificilmente.
-Posso tirá-lo.
Lançou a Jericho um olhar simples e triste.
-E morrerei quando o fizer. Só a Fonte pode me liberar de meu castigo.
-Eu não preciso de um escravo, Jared. Tem toda a liberdade que deseje.
Jared assentiu miseravelmente.
Estranho, Jericho teria pensado que ele estaria mais feliz que isso. Mas claro, sua liberdade tinha sido comprada as custas de Jaden. Dado que não sabia que eram um do outro, não tinha forma de saber
quão duro era.
Jared deixou sair uma profunda pausa.
-Tenho que residir na Ilha com os outros?
-Não. Pode viver onde você quiser.
Jared pareceu aliviado por isso.
-Se precisar, chama. Agora sou teu para que me ordene como te parece.
Não sabia como perder o veneno que entre linhas tinha seu tom. Era óbvio que outros o tinham usado e deixado amargura sobre ele.
-Agora, se posso tomar minha permissão... Amo.
-Eu não sou seu amo, Jared. Sua vida é sua para que faça o que te pareça. Não tenho necessidade de um escravo. Mas sempre é bem-vindo como um amigo e aliado.
Ele estendeu sua mão para ele.
Jared vacilou, como se tivesse temor de tomá-la. Franziu o cenho a Jericho antes de finalmente aceitar sua mão.
-Obrigado.
-De nada. Agora melhor ir antes que Zephyra cumpra sua ameaça.
Jericho esperou até que Jared esteve seguro em seu caminho antes de voltar para Delphine.
Noir entrou na sala com a fúria queimando através de seu sangue.
-Fomos traídos.
Azura olhou para cima aterrada.
-Por quem?
-Quem pensa?
-Jaden -fez uma careta depreciativa- O esfolarei por isso.
Noir tinha tido o mesmo pensamento por si mesmo.
-Não há nada que possamos fazer com respeito disso. Os Skotis que tomamos desertaram de retorno aos Onerois. Zelos morreu, à mãos de Madoc. Nike foi liberada e Cratus restabelecido.
Azura amaldiçoou. Com Cratus de volta com todo seu poder, poderia libertar Jaden deles... ou pior, encontrar Cam e Rezar. Isso seria desastroso.
-Temos que encontrar a Braith.
Tudo no universo era equilibrio.
Sua irmã Braith era o seu. Era uma contrabalança necessária e sem importar o que, eles precisavam dela.
Noir grunhiu baixo em sua garganta.
-E o Malachai. Temos que nos assegurar de que o matemos ou o convertemos.Porque ele sozinho sustenta o poder de dominar toda a Fonte de deuses e sacudi-los a todos. Se ele, inclusive, absorve seus
poderes nem sequer Jared poderia detê-lo.
Seria capaz de destruir toda a criação e devolver ao universo de volta a zero.
Esses poderes precisavam ser de Noir. Com eles, não haveria panteão ou poder que se levantasse contra ele.
Azura aguçou seu olhar.
-Pelo menos temos aos gallus. Poderiam ser mais efetivos que os Skotis de qualquer forma.
Ele assentiu.
-Mas isto tomará um plano mais cuidadoso de nossa parte. Os gregos têm mais recursos dos que lhes demos crédito.
-Não. Cratus teve mais recursos. Mas está bem. Esta é só uma batalha. A guerra será nossa.
Noir inclinou sua cabeça para ela.
-Sim, será-o. Quanto a Jaden...
Azura riu.
-Será um lamentável intermediário.
-Sim, será-o, e terei um pouco de diversão com nossos novos amigos.
Ela arqueou uma sobrancelha ante isso.
-Que novos amigos?
-Os gregos. É tempo de lhes deixar conhecer que não teremos piedade com eles. Além disso, temos um aliado que eles nem sequer conhecem... ainda.
Azura riu.
Certo. E é um do que nunca suspeitariam.
Delphine se sentou em uma pequena sala com M'Adoc, Zarec e Zeth. Por suas duras expressões, Jericho soube que algo tinha passado enquanto se foi.
-O que?
Zeth mostrou uma frágil peça de pergaminho ante ele. Mal o olhou, as palavras se escreveram através dele.
-Noir nos declarou oficialmente a guerra e aos DarkHunters. Se dermos o Malachai, deixará-nos viver, se não...
Jericho riu
-Fará-nos viver um inferno.
-Não é engraçado. -estourou Zeth.
Impávido, Jericho levantou os ombros.
-Não, não é, mas sabíamos que aconteceria.
Zarek se sentou de retorno em sua cadeira e uniu suas mãos atrás de sua cabeça.
-Temos que encontrar Cam e Rezar.
Jericho assentiu.
-E treinar ao maldito Malachai.
Zarek soprou.
-Boa sorte nisso.
-Por quê?
-É um odioso pequeno bastardo. Quis matá-lo faz anos, mas Ash não me permitiu. Depois de tudo o que tem dito e feito, Ash talvez desejaria não me haver contido.
Depois de tudo o que tinha dito e feito, todos eles talvez o estariam desejando.
Jericho se moveu para parar junto à cadeira de Delphine.
-Bom, não há nada mais que fazer esta noite. Por uma vez, estou exausto. Fui ameaçado, golpeado, mordido e assassinado, e isso só na última hora.
Delphine assentiu com seu rosto para ele.
-Necessita a alguém que o agasalhe, querido?
-Por isso, minha deusa, renderei-te culto por sempre.
Rindo, ela se levantou e o levou até seu quarto.
Ele olhou a seu redor, todo a fita de seda branca e os babados faziam que seu quarto fosse unicamente dela.
-Sabe, este lugar é realmente feminino.
Ela vacilou.
-Quer que o redecore?
-Não -disse ele dissolvendo suas roupas e ocultando suas asas em suas costas para poder deslizar na cama - Amo o fato de que tudo aqui cheire como você.
Ela levantou um canto de seu cobertor e o cheirou.
-Não, não é certo. Eu não cheiro.
Ele riu ante seu tom ofendido.
-Não fede, mas sua essência está sobre tudo e isso é pelo que não quero que troque nada. Amo a forma em que cheira. Conforta-me. Agora, vêem para a cama e me deixe te abraçar.
Ela se paralisou e ele também o fez.
-É uma ordem?
-Não -disse com um bocejo de cansaço- é o som de mim te rogando.
-Está realmente fora de prática nisso.
Ele sorriu.
-Certo.
Nua, Delphine se amoldou a suas costas e o envolveu com seus braços. Em toda sua vida ninguém o tinha abraçado desta maneira. Inclusive tão cansado como estava, deleitou-se na comodidade de seu amor.
-Estou assustada, Jericho -sussurrou em seu ouvido- e não estou acostumada a lutar com o medo.
-Está bem. Eu não estou acostumado a lutar com o amor e a confiança.
Ele tomou sua mão na sua e beijou seus pálidos e delicados nódulos.
-Podemos ser o cego guiando ao cego.
Delphine apertou sua mão.
-Enquanto estejamos juntos...
-Nada nos tocará, você é tudo o que me importa, meu anjo, e caminharei através do inferno só para tocar seu rosto.
-E eu caminharei através do inferno só para te levar comida.
Jericho riu.
-Bem, porque quando despertar, estarei morrendo de fome.
-Terei algo esperando por você. O que vai querer?
Ele se girou sobre si mesmo e a puxou contra ele.
-Você nua em minha cama. Isso é todo o sustento que precisarei.
CAPÍTULO 17
Jericho estava em pé no topo da montanha absorto, onde uma vez, esperou morrer. Recordava esse dia com toda claridade. O pôr-do-sol seguia sendo a mesma sombra de opala de fogo.
Por Delphine, tinha deposto as armas e se resignado ao castigo de Zeus. Hoje, não podia pensar em um lugar melhor para declarar-se ante ela que este, o mesmo lugar onde tudo tinha começado.
Girou para encontrá-la a seu lado, com um vaporoso vestido branco e flores presas em seu claro cabelo. Apesar de que as deusas e deuses não tinham bodas parecidas com as humanas, queria fazer algo
especial para ela.
-Você me devolveu minha vida. -disse enquanto a puxava pela mão.
Lhe beijou os nódulos machucados.
-Parece-me justo posto que não teria tido absolutamente nenhuma se não tivesse encontrado seu coração e me tivesse salvo. Quem teria pensado alguma vez, que um simples ato de bondade o levaria por
este caminho?
O levaria até ela?
Incapaz de lhe dizer o que estava em seu interior, ficou sobre um joelho.
Delphine estava encantada pelas ações de Jericho. Coberto com sua armadura negra, levantou o olhar para ela com esses duais olhos coloridos. Com seu branco cabelo despenteado pela brisa, era incrivelmente
bonito.
-Não tenho muito que te oferecer, minha Senhora. Mas me comprometo com você. Sempre.
As lágrimas nublaram seus olhos.
-Isso não é verdade, Jericho. Tem muito que oferecer.
-O que?
-Tudo o que é bom em minha vida é por sua causa. E eu juro por sua mãe Styx, que nunca o machucarei. Que nunca o trairei.
-E eu juro por minha mãe que cada dia que vivas saberá o muito que significa para mim.
Delphine sorriu.
-Bem, porque foi bastante difícil sobreviver a este cortejo. Estremeço-me ao pensar o que teria que suportar ao me apaixonar por alguém mais.
Ele arqueou uma sobrancelha ante isso.
-Desculpa?
-Ouviu-me. -ajoelhou-se frente a ele-Agora me dê um beijo e me mostre sua sinceridade.
Uma risada profunda saiu da garganta dele.
-Senhora, me leve até sua cama e te mostrarei muito mais que minha sinceridade.
-Bom, nesse caso... -Ela os levou de retorno a seu quarto onde poderiam estar nus na cama.
Depois de tudo, os votos não significam nada sem consumação.
Nike fez uma pausa quando entrou nos escritórios de M'adoc. O Oneroi estava sozinho, observando pelas janelas, por volta do mar.
-Necessita algo? -perguntou sem voltar-se para ela.
-Sim. Recordei algo que escutei quando estive em Azmodea.
Isso conseguiu que se girasse para confrontá-la.
-E o que foi?
-Um de nossos deuses alimentando a Noir com informação sobre nós.
-Seu irmão Zelos.
-Não. -disse com convicção- Conheço essa voz e sei que a escutei antes. Mas não posso localizá-la.
-Então, como sabe que é um de nós?
-Porque ele queria tomar o lugar de Zeus e ter a Afrodite como sua noiva.
-Mas não pode recordar quem era? -perguntou Madoc, franzindo o cenho.
-Não, e o tentei repetidamente. Noir não vai dar-se por vencido conosco, e não posso apagar a terrível sensação de que algo muito ruim está a caminho.
Madoc riu.
-Algo mau está sempre em nosso caminho. -a ofereceu um amável sorriso-Não se preocupe, Nike. Temos a vitória de nosso lado. Um calafrio percorreu sua coluna ante isso. Madoc estava escondendo algo.
Ela podia senti-lo.
-Então o deixarei com suas tarefas.
Madoc a observou enquanto o deixava sozinho. Eles tinham ganho esta round. Os Skotis e Zeth foram devolvidos ao rebanho. Ele estava livre, Jared uma vez mais estava em seu lugar e Jericho não se converteu.
Mas como Nike, sentia a fissura e isso o congelava. Tinham estabelecido uma nova ordem, mas, por quanto tempo?
Zeus e os outros poderiam fazer maquinações junto com Noir e Azura.
Suspirando, voltou o olhar por volta do furioso mar. Neste momento, não tinha nenhuma dúvida de que ia chegar antes de que todas as feridas estivessem curadas. Sua única pergunta era, quem, de todos
eles, sobreviveria?
CAPÍTULO 18
Jericho se deteve na esquina do St. Ann e Royal enquanto ele e Delphine esperavam que Acheron se unisse a eles. Que diabos estava acontecendo?
Tinham sido uns dias estranhamente tranqüilos enquanto esperavam pelo próxima ataque de Noir. Sabiam que estava chegando e pendia sobre eles como um manto.
Mas inclusive assim, tinha a tranqüilidade de saber que Delphine estava a seu lado e enfrentariam ao que se interpusesse em seu caminho.
-O que estão fazendo aqui?
Voltou-se ante o som da voz de Jared, surpreso de vê-lo em New Orleáns. Essa era a primeira vez que tinha visto o Sephiroth desde que deixaram Kalosis.
-Estamos esperando Ash. -respondeu Delphine- O que você está fazendo aqui?
Jared indicou a um casal por cima de seu ombro.
-Babá para demônios.
Delphine franziu o cenho quando viu um fêmea Caronte com comprido cabelo negro, vestida como uma humana gótica em uma minissaia, espartilho e leggins com listras, com outro demônio vestido como um
menino de um mundo de fantasia. A fêmea quase passava por humana exceto pelo par de chifres vermelhos em sua cabeça.
Como o Caronte, o cabelo do demônio era negro, uma confusão de mechas com óculos protetores enterrados neles. Tinha uma pequena barba de cabrito e luvas negras sem dedos que se sobressaíam de seu
casaco. Mas o mais peculiar era um coelhinho rosa enganchado a seu quadril por um cinturão e um mutilado ursinho Teddy amarrado do outro lado.
Sim, viam-se estranhos, não havia dúvida.
E estavam comendo um sorvete de duas bolas e olhando vitrines igual a dois estudantes aos quais o mundo traz sem cuidado. Ao menos até que o menino acabou com uma mancha de sorvete sobre o nariz.
Rindo, a garota o apagou, lambendo-se depois os dedos.
-Quero saber isso? -perguntou Delphine.
-Não realmente. Mas enquanto não estejam comendo aos turistas ou nativos, é uma boa coisa e não estou me queixando. -Jared inclinou a cabeça para a rua atrás dele.
-Aí está Ash.
Delphine se voltou para vê-lo cruzando a rua a pernadas com uma mochila negra ao ombro. Seu comprido abrigo negro ondeando fora de seus velhos jeans e camiseta "Criado por Morcegos" para luzir seus
Doc Martens borgonha. Sim, Delphine estava apaixonada por seu marido e o considerava o homem mais atraente do universo, mas havia algo em Ash que fazia que uma mulher o notasse.
Ash tirou um relógio de bolso para olhar a hora quando se uniu a eles.
-O que estamos fazendo aqui? -perguntou Jared.
Ash voltou a colocar o relógio em seu bolso.
-Estamos esperando.
Isso não pareceu apaziguar a Jericho.
-Por?
Um jaguar XKR prata líquida chegou voando sobre a rua para fazer um agudo giro. Este freou de repente e derrapou até estacionar em um espaço atrás de um caminhão negro a um lado da rua a poucos metros
de onde estavam eles.
A única maneira em que Delphine pudesse havê-lo duplicado teria sido utilizando seus poderes.
Como se de um sinal, a porta se abriu. Um alto, loucamente bonito homem de cabelo negro com chamativos olhos negros saiu do carro. Mas não foi isso o que fez com que fosse consciente dele. Era o o
duplo arco e flecha sobre seu rosto.
Era o sinal de um DarkHunter.
E quando o homem se uniu a eles, Delphine sentiu o poder e o ódio que estavam arraigados nele. Poucas vezes o havia sentido tão igualados. Esse homem... tinha algumas das mais estranhas habilidades
com as que nunca se cruzou.
Deixou cair um apenas tolerante olhar sobre Acheron antes de olhar a Jared com repugnância.
-Por que estou aqui, Rex? -Sua voz estava colorida com um acento Cajún e arrastou a última palavra como um espinhoso insultoso.
Ignorando-o, Acheron franziu o cenho ante o carro.
-Diabos, menino, quão preguiçoso é? Por que não caminha? Só estamos a uns poucos blocos de sua casa.
Rodou os ombros em um casual, ao mesmo tempo que irritante, encolhimento.
-Eu gosto de meu carro.
Ash revirou os olhos.
-Jericho. Delphine. Pensei que possivelmente queriam conhecer ao imbecil ao estão ajudando a proteger. Nick Gautier, estes são Jericho e sua esposa, Delphine.
Jericho se deteve surpreso.
-Este é o Malachai?
Ash sorriu amplamente com maldade.
-Em toda sua "dor no traseiro" gloria.
Nick lançou um olhar a Ash.
-Estamos já todos, Papai? Posso ir jogar com meus amigos se prometo ser um bom menino? Inclusive tentarei chegar em casa antes do toque de silêncio.
Ash riu diabolicamente.
-OH, absolutamente, filho. De fato, aqui vêm seus novos companheiros de jogo.
Delphine se voltou quando uma Hayabusa 11 de pescoço comprido rugiu baixando a rua com um som que era todo poder e rapidez. Esta estacionou justo em frente do caminhão, bloqueando-o, seguido por um
Lamborghini Morcego, e outra Gixxer Hayabusa que estacionou frente a essa.
Delphine cruzou os braços sobre o peito quando tiraram os capacetes para mostrar a uma mulher incrivelmente sexy com incrível cabelo castanho encaracolado. Concedido, Delphine não se sentia atraída
por outras mulheres, mas tinha que admitir que a mulher era absolutamente espantosa. Sua roupa de motociclista só acentuava seus esbeltos e longos membros, e tinha um caminhar que dizia que chutaria o
traseiro de qualquer um que fosse bastante idiota para cruzar-se com ela na direção errada.
Depois de baixar o ziper de sua jaqueta para mostrar um Top de suspensórios vermelho sangue, colocou um par de opacos óculos de sol Versace.
A outra moto a montava um homem com o cabelo negro curto e barba pequena, ajustada em agudos ângulos que recordava a Delphine a Tony Starks em Iron Man. Com músculos muito desenvolvidos, tinha um
rebolado que dizia que não aceitava uma merda de ninguém nem de nada. Uma pequena fila de aros subiam por sua orelha esquerda e seus braços estavam cobertos com coloridas tatuagens.
O Lamborghini era conduzido por um homem que se via mortal com liso e comprido cabelo loiro que tinha recolhido em uma rabo-de-cavalo. Mais esbelto que a morena, ainda tinha um aura que dizia que
estava disposto a cuidar de qualquer um que visse como um inimigo.
Delphine tinha estado rodeada de guerreiros e deuses durante toda sua vida, mas nunca tinha visto nada igual às atitudes de caras maus desse grupo.
Fecharam filas igual a uma manada de ferozes leões preparados para patrulhar a selva. Não, não patrulhar...
Conquistar.
Ash os apresentou quando se uniram a seu pequeno grupo.
-Caras, apresento-lhes a Samia, a mais feroz amazona em sua tribo.
A mulher inclinou a cabeça para eles.
-A enorme montanha é Blade. O mais sangrento senhor da guerra na Mercia.
Blade não os reconheceu absolutamente. Parecia mas bem medi-los para as bolsas de cadáveres.
Ash indicou ao alto loiro.
-Ethon é um antigo Ateniense. Só lutou com uma brigada de Espartanos. Durante milhares de anos depois de que morreu, seu nome foi o equivalente do homem do saco na antiga Esparta.
Ethon cintilou um encantador olhar.
-Tudo em uma jornada trabalhista é boa. Assim aqui estou, a quem tenho que matar agora?
-Menos, menino. Tenho outros planos para você.
Ethon franziu os lábios como se lhe doesse.
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11-A Hayabusa (Suzuki GSX1300R Hayabusa) é uma motocileta da Suzuki que está considerada como uma das mais velozes do mundo e de maior aceleração
-Maldição, Acheron. Não me diga que finalmente me libertou do inferno para não matar nada. Isso não está bem. Ash lhe deu palmadinhas no braço.
-Não se preocupe. Estou certo de que terá logo sua oportunidade para matar e mutilar.
Elevou o queixo para outro homem que se dirigia para eles.
Delphine se voltou e ofegou com força ante o último guerreiro que se uniu A eles. Um pouco mais baixo que os outros, era Asiático e cada pedaço era devastador e mortal.
-Raden. -disse Ash quando se uniu a eles- Um Shinobi treinado que nunca aprendeu a deixar esfriar o sangue.
-Por que deveria? O sangue sempre tem melhor sabor quando está quente.
Delphine arqueou as sobrancelhas ante isso. Por seu tom e a maneira como lambia as presas, não sabia se estava brincando.
Ash ignorou seu comentário.
-Tafari, Roman, Cabeça e Kalidas se unirão depois a nós.
-Roman, -cuspiu Samia- Ficou louco?
Ash lhe enviou um frio e contundente olhar que era inclusive mais mortal do que parecia o grupo.
-Comportará-se e se manterá afastada dele, assim, ou me ajuda, Sam... ou você não gostará da repercussão.
-Romano babão de merda.
Nick deixou escapar um aborrecido suspiro e revirou os olhos.
-Sabe, tenho um aterrador dèja vu aqui. E honestamente, não me impressiona. Deveria conhecer esses ...
-Nem o mencione -disse bruscamente Ash, cortando seu próxima insulto- No país dos meninos maus só você acabou assim. Se os DarkHunters tivessem presidiários, esses seriam eles. Conhecidos como os
Cães da Guerra porque nisso é que se destacam, são de sangue-frio e intolerantes. -Aplaudiu a Nick nas costas- Parabéns, cara, esses são seus novos protetores. E ao contrário dos outros DarkHunters, não
drenam uns os poderes dos outros.
Nick bufou.
-Como é possível?
Blade agarrou a Ethon e lhe deu um cabeçada. Normalmente quando um DarkHunter assaltava a outro sentiam o golpe dez vezes pior que a pessoa que o recebia. Mas Blade não mostrava sinais disso.
-A dor é meu melhor amigo.
Ethon o golpeou com força em resposta. Seu próprio nariz explodiu com sangue, mas o olhar em sua cara dizia que realmente não lhe importava quanto machucasse a si mesmo. Limpou o sangue enquanto Blade
fazia o mesmo.
Ash suspirou enquanto sacudia a cabeça.
-Não é que seus poderes não se drenem. É que são tão poderosos para começar, que não o advertem realmente da maneira em que o fazem os outros. E como viu, têm um profundo apego masoquista muito parecido
a Zarek.
Nick estava horrorizado...
-Está contando sete...
-Oito -o corrigiu Ash.
Nick amaldiçoou em voz alta.
-Oito desses perdedores sobre New Orleáns? Ficou louco? Como vai controlá-los?
Ash se encolheu despreocupadamente.
-Isso é pelo que tenho a Jericho, Jared e Zarek.
Nick balbuciou.
-Traseiro Psicopata? Trouxe Traseiro Psicopata de volta?
-É Senhor Traseiro Psicopata para você, guri. -disse Zarek materializando-se atrás de Nick e pondo uma mão hostil sobre seu pescoço. Apertou o bastante forte para retorcê-lo e tirar um grunhido de
Nick.
-Quem está se fazendo de babá de quem?
Jericho bufou.
-Parece que vou ser o único que se vai fazer a todos de babá.
Delphine riu ante seu horrorizado tom.
-Está bem, doçura. Aperfeiçoarei-me em curativos.
EPÍLOGO
Knob Crek, Tennessee
Delphine estava extremamente nervosa enquanto se aproximavam do pequeno conjunto de escadas que conduziam a uma cabana de troncos no alto de uma montanha enorme, no quinto pinheiro. Fazia frio e estava
nevando, mas a paisagem era impressionante.
Mesmo assim, isto não podia acalmá-la.
-Talvez devessemos ter ligado primeiro.
Jericho fez um som de repreensão no profundo de sua garganta.
-Não pode dizê-lo a sério. É só sobre o que falou durante as últimas duas semanas.
-Sim, mas como me apresento? E se ela não lembra de mim?
Ele pôs os olhos em branco.
-É sua filha, Delphine. Acredite em mim, isso não é algo que ela vá esquecer.
Talvez, mas era a filha que sua mãe tinha pensado que estava morta. Ou melhor ela tinha-a expulso de sua mente completamente e tinha seguido com sua vida.
-E se...
Levantou-a e a levou nos braços.
-Jericho! -espetou, temerosa de que ele escorregasse na neve e nas pedras e se ferissem- Me solte. Não quero me reunir com ela desta maneira.
Lançou-lhe um olhar severo antes de agradá-la e deixá-la no chão bem diante da porta de madeira vermelha.
Delphine ainda estava tentando acostumar-se a suas emoções, as quais estavam completamente desequilibradas a respeito disso. Estava assustada e feliz. Apreensiva e nervosa.
Nada disto a fazia sentir-se bem.
Mas Jericho estava certo. Uma vez que se aclimou à realidade de que tinha uma mãe que estava viva, obcecou-se a se reinir com ela.
Entretanto, agora que estava aqui... não era tão fácil como tinha pensado que seria.
-Estou aqui mesmo, neném. -disse Jericho brandamente, colocando uma mão firme em seu ombro para reconfortá-la- Bate na porta.
-Certo -ela tomou uma longa e profunda inalação.
Apertando os punhos, contemplou a porta, que era de algum jeito intimidante de uma forma não ameaçadora. Ela tinha lutado contra deuses e demônios, Daimons e gallus. Então, por que achava tão condenadamente
duro isto?
Só chama...
Sua mão tremeu quando a levantou e chamou timidamente. Girando para o Jericho, deu de ombros.
-Bem, suponho que não estão em casa. Tentarei-o outra vez mais tarde.
Pôs-se a andar para as escadas só para conseguir que Jericho a agarrasse e arrastasse de volta àporta. Com um franzir de cenho contido, ele esticou a mão e golpeou na madeira com tanta força que fez
estralar as dobradiças.
-O odeio. -vaiou ela.
-Me ama. -disse ele com um tenro sorriso- Inclusive quando a irrito.
Ela estava a ponto de corrigi-lo quando ouviu o som de alguém abrindo a porta. Seu coração golpeou furiosamente temeroso e espectador.
Jericho a girou ao mesmo tempo que a porta se abria para lhe mostrar uma mulher que era quase idêntica a ela, exceto por seu cabelo negro e seus vivos olhos azuis.
Vestida com um suéter branco de inverno e jeans, sua mãe a contemplou como se ela fosse um fantasma. Sua respiração se agitou.
-É uma brincadeira de mau gosto?
Seu olhar agudo foi de Delphine a Jericho, e logo se entrecerrou com ódio. Chiou ultrajada:
- Bastardo! Não tem o bastante com o que me fez?
Delphine a agarrou quando ela investiu contra Jericho.
-Mamãe?
Sua mãe lutou contra ela até que aquela palavra se registrou em sua mente mais à frente de sua fúria. As lágrimas enchiam seus olhos azuis quando retrocedeu para olhar a Delphine outra vez.
-Iole? -inalou incrédula- Realmente é você? Pode ser?
Delphine soluçou enquanto assentia com a cabeça.
-Sou eu, Mamãe. Cratus não me matou tal como Zeus lhe ordenou. Escondeu-me longe para me proteger.
Leta a puxou para abraçá-la tão estreitamente que mal podia respirar, mas a Delphine não importou.
Esta era sua mãe. Sua verdadeira mãe. Estava viva e aqui... e lembrava dela.
Que coisa tão tola, e apesar disso até este momento ela francamente tinha tido medo de que sua mãe a rechaçasse. De que a tivesse esquecido.
-A amava tanto. -soluçou Leta, lhe acariciando o cabelo- Odiei a todos eles durante muito tempo... Não passou nem um só dia sem que pensasse nisso e me perguntasse como teria sido você se tivesse
vivido. -Beijou o cabelo de Delphine, logo seu rosto. Sacudindo a cabeça, cavou seu rosto e a contemplou com um resplandecente orgulho no profundo de seus olhos azuis- Olhe para você! Tem os belos olhos
de seu pai e está tão crescida.
Delphine riu através de suas lágrimas.
-Parece minha irmã.
Leta riu até que seu olhar voltou para Jericho. Era condenatório de novo.
-Por que não me disse que estava viva? Como pôde haver me escondido isso?
-Zeus o castigou sem piedade. - explicou Delphine.
Jericho manteve o olhar de Leta com integridade, querendo lhe dar a conhecer que não lhe tinha feito mal de propósito.
-Se tivesse havido um modo de faze-la saber, o teria feito. Juro isso. Mas se eles soubessem que estava viva Zeus a teria matado.
Leta elevou a mão e tocou seu rosto cheio de cicatrizes.
-Isto foi...
-Por salvá-la? Sim.
As lágrimas da Leta fluíram ainda mais enquanto o atraía dentro de seus braços e lhe beijava a rosto com cicatrizes.
-Obrigado, Cratus. Obrigado por salvar a meu bebê e trazer-me a de volta.
Delphine viu como os olhos dele se empanavam ao olhá-la.
-Acredite, sou eu quem devo gratidão aqui.
Leta se retirou com o cenho franzido.
-O que quer dizer?
Delphine sorveu pelo nariz enquanto alcançava e tomava a mão de Jericho.
-É meu marido, mamãe.
-Está casada? -Leta voltou a abraçá-la-. Isto, Oh, é... isto é... maravilhoso!
-Leta? Está bem?
Delphine enxugou as lágrimas quando um homem alto e loiro atravessou a porta. Mas o que mais a surpreendeu era que o conhecia.
Aidan O'Conner. O famoso ator. Não sabia em quantos sonhos de mulheres tinha estado que fantasiavam com ele.
Era muito estranho.
Não obstante a coisa mais impactante era o bebê de cabeça morena, envolto em um vestido rosa sem mangas em braços do Aidan.
Rindo, Leta tomou à garotinha e a abraçou estreitamente.
-Não poderia estar melhor, Aidan.
-Então por que está gritando e está em pé aqui fora onde está congelando sem um casaco?
Beijou seu rosto antes de voltar-se para Delphine.
-Kari, apresento a sua irmã mais velha, Iole.
Delphine riu enquanto o bebê agitava seus braços para ela e dizia um muito tímido olá.
-Tenho uma irmã? -perguntou, encantada pelas notícias.
-Tenho outra filha? -perguntou boquiaberto Aidan.
Leta assentiu com a cabeça.
-Aidan, apresento a Cratus...
-Jericho -corrigiu ele.
Leta franziu o cenho confusa.
-Jericho?
Ele assentiu com a cabeça.
-Cratus morreu faz tempo.
Ela inclinou a cabeça como se o compreendesse totalmente.
-Jericho salvou a meu bebê de Dor quando ele nos atacou e a criou.
-Uf, não. -corrigiu Jericho com uma risada nervosa- A dei a uns camponeses que a criaram, de outra forma isto seria realmente arrepiante.
Delphine sacudiu a cabeça ante ele e sua paranóia.
-E passei a ser Delphine.
Leta pareceu surpresa por isso.
Jericho deu de ombros envergonhado.
-Eu não sabia o nome que ela tinha, e você não estava sendo naquela noite exatamente amável conosco. Não é que a culpe. Só a entreguei e voltei antes de que alguém se desse conta do que tinha feito
com ela. Eles lhe deram seu próprio nome. Sinto muito.
Leta moveu suas mãos afastando suas palavras.
-Nunca peça perdão pelo que fez. Eu nunca o questionaria sobre esse tema. -ela acariciou as costas do bebê quando a neném espirrou- Mas Aidan tem razão. Faz realmente frio aqui fora, e temos um fogo
agradável dentro. Por favor entrem e unam-se a nós.
Jericho os seguiu ao interior de uma cabana pitoresca que estava decorada em azul marinho e verde com influências do campo. A vista das montanhas através do marco das janelas era incrível.
-Têm uma casa bonita.
-Obrigado. -disse Aidan.
Leta baixou a Kari para que pudesse apoiar na mesa de centro onde seus brinquedos estavam espalhados.
-Posso lhes oferecer algo para beber?
-Não, estamos bem. -Delphine se sentou no sofá.
Sua mãe se sentou a seu lado ao mesmo tempo que sua irmã deixava os brinquedos para dar palmadas nos joelhos de Delphine. Encantada com ela, Delphine a agarrou e a colocou no regaço para assim poder
aconchegá-la.
Aidan e Jericho ficaram atrás com pose de caras durões.
-Assim, quando se casaram?
Jericho deu de ombros.
-Faz umas semanas.
Aidan franziu o cenho.
-Lamento não ter sabido. Sem dúvida alguma teríamos estado lá.
Leta lhe sorriu.
-Em realidade, não é assim como os deuses o fazem, querido. Você simplesmente se declara casado e o está.
-Um pouco anticlímax, não?
Jericho sacudiu a cabeça.
-Talvez, mas o matrimônio vai mais sobre o compromisso que sobre os votos.
-Não. -disse Leta enquanto abraçava tanto a Delphine como a Kari- O matrimônio vai sobre o amor mais que sobre qualquer outra coisa.
Delphine elevou a vista para Jericho e sorriu. Sua mãe tinha definitivamente razão. E ela estava agradecida de que houvesse gente em sua vida que formasse parte de sua família. Tanto aqueles ligados
a ela pelo sangue como aqueles ligados a ela por escolha.
Ilha Desaparecida
M'adoc, sentado sozinho em seu escritório, contemplava a cena de Delphine e sua família. Sim, estava bisbilhotando, mas ela tinha falado tanto sobre isso que tinha medo de que lhe saísse mal. Por
sorte isto não tinha passado.
Mas claro, Leta sempre tinha sido de bom coração e afetuosa. Muito, algumas vezes.
E em realidade, invejava aquela felicidade. Houve um tempo no qual ele tinha ansiado aquele tipo de situação caseira, mas tinha sobrevivido a muito e ele havia mudado.
Agora tinha coisas muito mais prementes das que encarregar-se.
Os ventos da mudança estavam levantando bolhas enquanto reuniam força, e logo chegariam. Sentiu uma repentina mudança no ar atrás dele. Era Jared.
Madoc lançou um olhar por cima do ombro.
-O que faz aqui?
-Ajudo a treinar ao novo Malachai e queria saber algo.
-O que?
-Sabe de alguém mais que está relacionado com ele?
Sherrilyn Kenyon
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