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Series & Trilogias Literarias
Na Londres vitoriana, se você não é um sangue azul do Escalão, então você não é nada. As Grandes Casas governam a cidade com punho de ferro, impondo seus estritos “impostos de sangue” sobre a nação, e a Rainha é apenas uma marionete em uma corda...
Lena Todd é a espiã perfeita. Ninguém suspeita que a debutante coquete possa ser uma simpatizante do movimento humanista que assombra a elite de sangue azul de Londres. Nem mesmo o implacável Will Carver, o único homem que ela não pode torcer em seu dedo mindinho, e o único homem cujo beijo ela não consegue esquecer...
Atingido por lupinismo e considerado pouco mais do que um servo-sem-colarinho dos sangues azuis, Will não quer nada com o Escalão ou a perigosa beleza que o leva ao limite do controle. Mas quando ele encontra uma carta codificada em Lena - um código que corresponde ao que ele viu em um suspeito de bombardeio - ele percebe que ela está com problemas. Para protegê-la, ele deve seduzir a verdade dela.
Com os humanistas procurando começar uma guerra com Escalão, Lena e Will devem correr contra o tempo - e um exército autômato - para parar a trama humanista antes que seja tarde demais. Mas enquanto eles lutam para salvar uma cidade à beira da revolução, o maior perigo pode ser apenas para seus corações.
Capitulo 1
Londres, 1879
O nevoeiro agarrava-se ao Tamisa como uma saia de luz para um rico patrono. Aqui e ali, a luz do gás brilhava, piscando fogo-fátuo na névoa de sopa de ervilha que envolvia. Era a noite perfeita para não ser visto.
Will Carver galopou por telhados e frontões, saltando por um beco e parando atrás de uma chaminé perto de Brickbank.
Um homem pousou levemente nos ladrilhos ao lado dele, respirando com dificuldade pelo esforço. Ele usava couro preto da cabeça aos pés, e as únicas armas que carregava eram um par de navalhas, enfiadas em seu cinto. — Maldito inferno. Você está tentando me matar? — Blade murmurou.
As palavras foram baixas, mas o som foi carregado na noite calma. Os lábios de Will se curvaram e ele olhou para seu mestre.
— Eles não vão ouvir por nós, fanfarrão. — Blade se endireitou, olhando para a coluna de fumaça avermelhada à frente deles. — Não com aquela queima. E nenhum deles como seu coração.
Uma coluna vermelha brilhava contra o céu noturno à frente, apenas abafada pela névoa. Cada vez que Will respirava, ele podia sentir o gosto das cinzas no ar. À frente, um enorme portão e uma parede de tijolos bloqueavam o caminho para a cidade. Uma companhia de casacos de metal passeava na frente do portão, luminárias a gás brilhando nas placas de aço brilhantes de seus baús blindados. Com os apêndices do lança-chamas no lugar do braço esquerdo, eles pareciam formidáveis o suficiente para manter a ralé geral sob controle. Eles eram, entretanto, autômatos e não humanos.
Ele há muito aprendeu que eles não olhavam para cima.
— Sobre? — Ele perguntou.
— Eu tenho meu perdão agora, — Blade disse. — Poderia valsar direto através dos portões e eles não diriam uma palavra. — A luz diabólica em seus olhos disse que ele queria tentar. Não havia nada que Blade gostasse mais do que torcer o nariz para os sangues azuis que governavam a cidade.
— Sim, bem, não temos tanta sorte, — Will o lembrou. — Eu ainda tenho um preço pela minha cabeça.
Blade suspirou, olhando o enorme edifício. — Acabou, então.
— Você está ficando preguiçoso.
— Eu deveria estar em casa, enfiado no charuto e um bom copo de vinho de sangue quente. — O que ele não acrescentou foi o fato de que provavelmente não estaria fazendo nenhuma dessas coisas. Se o fogo não os tivesse chamado para fora, Blade estaria na cama com sua esposa, Honoria.
Will deu alguns passos para trás. Não adiantaria ele estar em casa. O apartamento que ele alugava ultimamente era frio e pouco convidativo. Não havia nada para ele voltar.
Um grande salto o fez cruzar a rua e chegar a um telhado ao lado do portão. Começando a correr, ele saltou para cima e por cima da parede antes que o guarda no topo terminasse de sacudir a chama do fósforo. Os olhos humanos às vezes eram tão ruins quanto os autômatos.
Passos ecoavam nos telhados enquanto ele esvoaçava levemente pela noite. A névoa se dividiu em torno dele, flutuando em seu rastro, mas ele estava se movendo rápido demais para que qualquer um pudesse ver.
Aqui na cidade, as ruas eram um pouco mais largas, os prédios não tão amontoados como na colônia de Whitechapel que ele chamava de lar. O sangue corria por suas veias enquanto ele saltava de telhado em telhado. Ele ficou preso por muito tempo; ele precisava disso.
Gritos alcançaram seu ouvido junto com os gritos organizados de pessoas que tentavam controlar bombas d'água. Pequenos flocos de cinzas flutuavam no ar, quase grossos o suficiente para sufocar um homem. Will parou na curva de uma chaminé.
À frente, o mundo parecia estar em chamas. Gotas ondulantes de chamas alaranjadas lambiam os céus e uma espessa nuvem escura de fumaça pairava sobre o rio. Filas de pessoas operavam bombas de água, tentando desesperadamente impedir que as chamas se propagassem.
— Jesus. — Blade amaldiçoou enquanto se ajoelhava ao lado de Will.
— As fábricas de drenagem —, disse Will. — Alguém incendiou as fábricas.
Isso era impensável. A linha de fábricas ao longo do rio pertencia ao governante do Escalão para filtrar e armazenar o sangue coletado nas taxas de sangue. Isso seria um grande golpe para eles.
Os olhos de Blade se estreitaram. — Você e eu devemos sair daqui, rápido e esperto. — Suas narinas dilataram-se. — O lugar estará repleto de casacos de metal antes que percebamos.
Will deu um passo para trás. Ele sabia o que Blade não estava dizendo. Não era possível encontrar mais dois bodes expiatórios perfeitos. A maior parte dos aristocráticos do Escalão ficou furiosa com o perdão da rainha e o título de cavaleiro de Blade há três anos. E Will era apenas um servo sem colar aos olhos deles.
Um tilintar de metal atingiu seus ouvidos. Pés com botas de ferro em paralelepípedos distantes. Uma legião de casacos de metal ao que parecia. — Vá. — Ele estalou, empurrando Blade nas costas.
Blade não precisava de incentivo. Ele escalou as telhas do telhado, uma fratura nas nuvens banhando-o com o luar. Uma vez, alguns anos atrás, seu cabelo teria se iluminado como um farol. Agora tinha escurecido para um marrom claro, e sua pele não era mais tão pálida quanto mármore.
Will seguiu em seus calcanhares em um galope fácil, seus ouvidos alertas ao menor som atrás deles. Eles viram o que vieram ver. Sem dúvida, a notícia disso estaria nas ruas pela manhã.
Um movimento à frente chamou sua atenção. Um redemoinho de uma capa preta agitando a névoa. Will saltou para frente e empurrou Blade, cobrindo-o com seu corpo.
— Uau, — Blade ofegou. Ele ergueu a cabeça. — Obrigado, mas eu já tenho uma esposa...
— Cale-se. — Will pressionou a mão entre as omoplatas do outro homem, agachando-se. Seu olhar varreu a névoa. Lá. Uma fenda metálica. Vozes nas sombras.
Da quietude de Blade, ele as ouviu também.
— Fique aqui, — Will respirou, perto de seu ouvido. — Mantenha sua maldita cabeça baixa e eu verificarei.
— Eu pareço precisar de uma babá maldita?
Will olhou para ele. Três anos atrás, não. Blade tinha sido a coisa mais perigosa para perseguir a noite. Mas o cabelo e a cor da pele não foram as únicas mudanças nele desde que começou a beber o sangue de Honoria.
— Você vai para a esquerda. — Ele finalmente murmurou. A não ser amarrar Blade à chaminé com seu cinto, não havia muita chance de deixá-lo aqui.
Ambos desapareceram na névoa. As vozes à frente estavam se distanciando. Will se movia como um fantasma pela noite, o movimento ondulando seu casaco de lã escura ao redor de seus quadris. Por baixo, ele usava um colete de couro pesado que tinha sido modificado com inserções de aço, bem como gorros de aço sobre os joelhos. Ninguém poderia não ser muito cuidadoso em um mundo onde a arma principal de um homem poderia ser uma faca ou uma chave inglesa. Seu vírus de lupino poderia curar quase tudo, mas ser esfaqueado ainda doía.
Metal retiniu e um par de maldições espalhou-se pelo ar. Em seguida, silêncio, como se as duas pessoas congelassem para ver se haviam sido ouvidas. Will diminuiu a velocidade, rastejando pelos ladrilhos com um pé colocado cuidadosamente na frente do outro. Ele se ajoelhou, apoiando as mãos e os pés em torno da borda de uma chaminé. Não havia sinal de Blade, mas Blade era ainda melhor nesse tipo de coisa do que ele.
— Você larga isso de novo e Mercúrio pegará sua cabeça. — Alguém rebateu.
Duas figuras. Ambas vestidas de preto e se movendo com a eficiência de um salteador. O mais baixo pegou algo pesado. Um tubo oco de metal, como os lança-chamas que os Lançadores de Chamas usavam.
— Mercúrio não está aqui, está? — Perguntou o homem mais baixo, erguendo o lança-chamas sobre o ombro. — E quando ele souber como nos saímos bem, ele nos enterrará em cerveja e putas.
— Isso se o Escalão não arrancar suas tripas primeiro. — Blade disse agradavelmente, materializando-se do nada.
Merda.
Will saltou para frente, mesmo quando os dois homens se voltaram contra seu mestre. Apesar de suas brigas, eles se moviam com eficiência militar. O mais baixo ergueu o lança-chamas, assim que o outro sacou sua lâmina. O tubo tossiu e, em seguida, uma chama laranja brilhante se espalhou através da névoa, destacando o telhado e todos nele.
Blade girou baixo, tirando os pés do portador da lâmina de debaixo dele. Will agarrou o cano do lança-chamas e deu uma cotovelada no rosto do homem. Houve um barulho satisfatório, então sua mente registrou o quão quente o tubo estava. Ele o deixou cair e rolou em direção à beirada do telhado, prendendo-se na sarjeta.
— Só vocês dois meninos? — Blade zombou, nem mesmo se preocupando em sacar uma espada. Ele se curvou para trás, evitando o golpe da espada com um movimento que desafiava a gravidade, antes de se levantar.
O homem que ele estava enfrentando enrijeceu. — Sangradores de merda! — Ele enfiou a mão no bolso para apertar algo e então a agonia gritou na cabeça de Will.
O som foi como um furador de gelo para o cérebro, apagando todo senso de tempo e lugar e até mesmo a conexão com seu corpo. Ele bateu nos ladrilhos, lutando cegamente para se apoiar enquanto começava a deslizar.
Algo o atingiu com força sob o queixo, jogando sua cabeça para trás com força retumbante. Palavras soaram, distorcendo o grito agudo, mas ele não conseguiu decifrar nenhuma delas. Então o movimento ficou turvo no limite de sua visão. Outro golpe violento na bochecha. O sangue salpicou seu rosto, úmido e quente.
Will tapou os ouvidos com as mãos, desabando no chão. Aquele som! Como navalhas em sua cabeça.
No bolso dele. Algo no bolso do homem. Uma espécie de dispositivo, fazendo barulho.
Rangendo os dentes, ele viu o homem mais baixo levantando o lança-chamas bem alto. Sem tempo para pensar. Ele chutou, mirando no joelho do homem.
Um grande peso caiu sobre ele e os dois grunhiram. O grito latejante de ruído bateu no ritmo de seus batimentos cardíacos. Will se levantou com as garras e cambaleou para frente, procurando por Blade.
Lá. No telhado. O outro homem se ajoelhou sobre ele e Will percebeu que ele tinha uma adaga enterrada no peito de Blade. Tentando arrancar seu coração.
— Não! — Ele rugiu, vendo vermelho.
A raiva se apoderou dele, engolindo-o inteiro e queimando-o em seu rastro. Ele agarrou o homem pelo colarinho e o jogou longe. Blade engasgou, colocando a mão no cabo da adaga, mas suas reações ainda eram lentas, desorientadas.
O barulho.
Will derrubou o homem com força e puxou seu bolso. Um pequeno dispositivo vibratório foi liberado. Ele o esmagou com o punho e o mundo ficou em silêncio.
Will cambaleou, jogando de lado os pedaços esmagados. Seus ouvidos ainda zumbiam, mas pelo menos ele conseguia pensar. Respirar. Mover.
O cheiro de sangue quente e acobreado o envolveu.
— Blade. — Ele rosnou, saltando sobre o homem ofegante no telhado e deslizando de joelhos ao lado de seu mestre.
Blade ergueu a cabeça e desabou de volta no chão. — Maldito... Tire... é prata. — Ele ergueu os dedos e se encolheu ao roçar no cabo da adaga.
— Fique quieto. — Will disparou. Um anel de suor frio gotejou em sua testa. A adaga estava enterrada até o cabo. Ele não tinha ideia do dano que tinha feito, ou o que aconteceria se ele o removesse.
Atrás dele, os dois homens ajudaram um ao outro a se levantar. Will os olhou, mas eles estavam tentando fugir, agora que a vantagem havia mudado mais uma vez para ele e Blade.
— Estripado por um humano. — Blade riu incrédulo. — Sempre pensei... seria um do Escalão. No final.
— Pare de choramingar. — Will arrancou a camisa, um arrepio de frio gelado percorrendo sua espinha. Os sangues azuis eram notoriamente difíceis de matar. Esse foi um dos motivos pelos quais a Revolução Francesa guilhotinou seus aristocratas. A única outra maneira de pará-los era arrancar seu coração ou causar graves danos a ele. Ele engoliu em seco e enfiou a camisa ao redor do ferimento para estancar o sangramento. — Nada mais do que um arranhão. Teremos você saudável em um momento.
Blade encontrou seu olhar. Seus dedos eram surpreendentemente fortes quando se fecharam em torno dos de Will. — Jure que você vai cuidar dela, — ele rosnou. — Se... se eu não...
Will baixou o olhar. — Sim. Você sabe que vou fazer isso. — Ele devia sua vida a Blade, não importava o que pensasse pessoalmente de Honoria. — Segure firme. Você precisa de sangue.
A escuridão deslizou pelos olhos pálidos de Blade. Sua cabeça rolou para o lado. — Parece... entorpecido... — Ele murmurou.
O pânico atravessou as entranhas de Will. — Não se atreva! — Rasgando a pesada faca de caça que carregava, ele embalou a cabeça de seu amigo nas mãos. — Aqui. Sangue. Isso vai ajudar.
Foi um trabalho curto cortar a veia de seu pulso. Ele segurou a parte de trás de sua cabeça e segurou a boca de Blade em seu pulso.
Um momento de hesitação que nunca existiu. Ele sabia o que Blade estava pensando. Ele parou de tomar diretamente de qualquer uma das veias de seu servo quando Honoria entrou em sua vida. Agora ele bebia seu sangue dela ou frio, da geladeira.
— Não seja idiota. Ela não vai se importar. — Will rosnou.
Essa sugestão de escuridão varreu as íris de Blade novamente. O peito de Will travou. Não com medo. Deuses, isso não. A antecipação correu por suas veias, incendiando-as. Já fazia muito tempo que ele não era um dos servos de Blade. Ele não percebeu o quanto sentia falta disso.
Quando a boca de Blade se fechou sobre seu pulso, sua língua deslizando sobre a ferida irregular, Will caiu para frente em suas mãos. Um suspiro saiu de seus lábios. Um sentimento o inundou que não sentia há anos. Ele ficou confuso quando Blade o pegou pela primeira vez como um servo, mas não era nada mais do que a reação de seu corpo aos produtos químicos na saliva de seu mestre.
Mas o momento de proximidade...
Isso era tudo que ele teria disso.
Ele cerrou os dentes e tentou negar a atração. Duas vezes mais severa após três anos de abstinência. E tão confusa.
Ele não se sentia assim com as mulheres.
Ou ele nunca sentiu. Até Lena entrar em sua vida.
E eu não estou pensando nela. Will mordeu o lábio, tentando ignorar a onda de prazer que esse pensamento trouxe. Cabelo escuro, olhos escuros, aquele sorrisinho coquete que o deixava louco... Sua virilha se apertou e ele rosnou, a cabeça baixa enquanto a sensação contra seu pulso aumentava.
Tudo acabou rápido demais. Will caiu de costas, segurando o pulso contra o peito. A pele latejava, ainda sentindo a marca da boca de Blade. O calor correu pelas bordas irregulares do corte da faca - seu vírus, curando rapidamente a ferida. Teria ido embora no final da hora, apenas uma ruga rosa contra sua pele morena.
Blade engasgou, puxando seus pés. Seus olhos brilharam com fogo negro, e ele agarrou a alça do punho e cerrou os dentes. Gritando, ele tirou-a do peito e desabou no telhado, ofegando.
O ferimento ainda estava sangrando, mas lentamente agora. Com seu sangue fluindo através do sistema de Blade, havia uma forte chance de que ele superasse. O sangue Verwulfen era três vezes mais potente do que o de um humano.
— Honoria vai... me matar... — Blade engasgou.
Isso se ele sobreviver. Will deu uma olhada na cor acinzentada de seu rosto e desviou o olhar rapidamente. Danos ao coração sempre eram perigosos. Ele tinha que levá-lo de volta para o cortiço, onde Honoria, com sua formação médica, poderia ser capaz de ajudar.
Preparando uma bandagem improvisada, ele segurou o casaco no lugar para suprimir o sangramento e depois amarrou as pontas da camisa. — Pronto. Isso vai durar até chegarmos em casa. — Deslizando o braço sob o ombro de Blade, ele o ajudou a se sentar.
Blade engasgou, agarrando seu peito. A visão rasgou outra haste de gelo no estômago de Will. Seguido por uma punhalada quente de raiva. Três anos atrás, Blade teria rido disso. Ele não estava mais à beira do Desvanecimento - quando o vírus do desejo finalmente ultrapassava um sangue azul e ele se transformava em outra coisa, algo pior - mas por um momento, Will não sabia se isso era melhor.
— Você aguenta?
Blade lutou para ficar de pé, seus olhos vidrados de dor.
— Você tem que aguentar, — Will avisou, curvando-se e colocando o outro homem sobre o ombro. — Eu vou te levar para casa. Para Honoria. Ela saberá o que fazer. Apenas espere.
Honoria ajeitou os cobertores e baixou o cabo do lampião. A luz era silenciada, lançando uma variedade de sombras pelo quarto enquanto Blade dormia. Will caminhou na frente do fogo, seu pulso formigando enquanto a pele sarava.
Honoria lavou as mãos, afastando-se da cama. Seu rosto estava composto, mas sombras profundas permaneciam nas cavidades sob seus olhos avermelhados. Quando ela se virou, a luz atingiu seu perfil e por um momento Will parou de respirar, vendo o rosto de outra pessoa nas sombras. Então ela olhou para cima, arqueando uma sobrancelha para ele e a imagem se foi. Ela compartilhava os mesmos olhos escuros e cabelos cor de mogno que sua irmã, mas o rosto de Lena era mais bonito e ela era alguns centímetros mais baixa do que Honoria.
Apenas o fantasma de sua imagem permaneceu, assombrando-o.
Um movimento rápido da cabeça significava que Honoria queria falar com ele. Lado de fora.
Dando uma última olhada em Blade, ele caminhou até a porta. Uma velha camisa de Blade estava frouxa sobre seu peito. Ele não conseguia abotoá-la, e as mangas esticadas sobre seus braços. Loucura. Mas ele não estava batendo na porta de Rip - o outro tenente de Blade - e pedindo uma camisa que poderia ter uma chance melhor de caber nele.
Honoria fechou a porta com cuidado. — Eu acho que ele vai ficar bem. O sangramento parou e vou colocar mais sangue nele. Obrigada por trazê-lo para casa para mim.
Will concordou. Ele nunca teve muito a dizer a ela. Eles tentaram, depois que ela se casou com Blade, encontrar algum terreno comum entre eles. Mas ele sabia o que ela pensava dele - tinha ouvido por acaso em detalhes bastante explícitos na noite antes de ele sair do labirinto.
Perigoso.
Imprevisível.
Uma ameaça para sua irmã.
Às vezes, ele não tinha certeza se ela não estava meio certa.
Seu olhar caiu para o pulso dele. — Você precisa de cuidados-?
— Vai curar.
— Algo para comer então? Tem ensopado... na cozinha. Eu vou apenas...
— Não estou com fome. — Ele acenou com a cabeça em despedida dela, então girou nos calcanhares. A nuca estava coçando.
— Will. Por favor.
Ele parou de se mover e olhou por cima do ombro.
— Você sabe que pode voltar para casa agora. Parte o coração dele que você está vivendo por conta própria. E você sabe... ela também não está mais aqui.
Honoria nunca entenderia. Ele balançou sua cabeça. — Ela não foi a razão pela qual eu parti. — Ele rosnou. Não a única coisa de qualquer maneira.
Então ele se virou e saiu na escuridão, sentindo os olhos dela em suas costas durante todo o caminho.
Não adiantava ir para casa.
Will olhou para o fogo à distância, ainda furioso, fora de controle. Algo o incomodou sobre o ataque. O dispositivo misterioso. O lança-chamas. A adaga de prata. Esses homens estavam preparados para enfrentar um sangue azul e incapacitá-los.
Ele respirou fundo pelo nariz. Era difícil pegar uma trilha de cheiro com a aderência avassaladora de cinzas no ar, mas não impossível. Movendo-se para o leste, ele galopou pelos telhados, sua inquietação crescendo enquanto os homens circulavam de volta para o norte. Em direção a Whitechapel.
Pouco antes da parede que circundava a colônia, elas caíam dos telhados e desapareciam em um beco. Will conhecia bem a área. Era um beco sem saída.
Ele os seguiu e olhou para a parede de tijolos atrás dela. Os aromas maduros da colônia espalharam-se pelas ruas circundantes. Ele torceu o nariz e olhou em volta. Havia uma grade nas pedras do calçamento, mas certamente não teriam caído. Isso levava aos esgotos e de lá para a notória expansão do Subterrâneo. Não havia nada morando lá agora, apenas fantasmas e sussurros. As pessoas tentaram voltar depois que o vampiro que matou seus residentes foi morto, mas algo os fez voltar.
Se eles voltaram.
Todo aquele espaço, as cavernas e casas esculpidas no antigo esquema de túnel subterrâneo. Vazio. Ou não?
Will puxou a grade para fora da calçada e caiu no escuro, pousando suavemente nas almofadas dos pés. Seu nariz disse que não havia nada ali. Nada além de recusar e o estranho rato fugindo.
Sem as cinzas ou a brisa, era mais fácil seguir a trilha. Os homens não estavam se movendo rápido, provavelmente pensando que estavam a salvo do Escalão e seu exército de metal aqui. Will balançou a cabeça. Homens mortos caminhando. O Escalão não confiava apenas nos casacos de metal. Dê a eles uma hora e os túneis estariam cheios de Falcões da Noite, a infame guilda de rastreadores que fazia a maior parte da captura de ladrões na cidade. Sangues Azuis Renegados que podiam cheirar quase tão bem quanto ele e rastrear uma sombra sobre a pedra, ou assim foi dito.
Ele teria que se apressar se quisesse colocar as mãos neles primeiro.
Ele entrou no riacho lento, seu nariz quase fechando. Ele cheirou coisas piores - o vampiro veio à mente - mas agora eles eram apenas uma memória distante. Era a maldição dos sentidos aguçados. Ele podia sentir o cheiro de tudo, desde o almíscar natural de uma mulher até o leve toque de veneno em uma xícara; ele podia ver por quilômetros e se ele escutasse, ele poderia ouvir coisas que as pessoas não queriam que ele ouvisse.
Como passos furtivos, algumas centenas de metros à frente dele.
Will não fez nenhum som enquanto os perseguia. Sussurros ecoaram e então uma luz apareceu. Um lampião de contrabandista com venezianas, pelo que parecia.
— Peguei ele, — o baixinho e gordo cantou. — Bem no peito. Não vai ser tão alto e poderoso agora, vai?
Os olhos de Will se estreitaram.
— Cale a boca, — a sombra mais alta rosnou. O cheiro acre de medo-suor lavou dele. — Você não viu o rosto ensanguentado dele?
Um encolher de ombros. O homem baixo espirrou na água sem cuidado. — Tudo parece igual para mim. Abutres de cara pastosa.
— Era ele —, respondeu o outro homem estremecendo. — O próprio diabo!
— O Diabo de Whitechapel? — O rosto do homem mais baixo se esticou em um sorriso encantado. — Caramba, Freddie! Todos esses anos e o próprio Escalão não foi capaz de chegar perto dele! E você acabou com ele! Você é famoso agora!
— Estou morto, é o que estou —, Freddie retrucou. — Se aquele fosse o diabo, então você sabe quem era o outro!
Will deu mais um passo à frente, puxando a lâmina ao seu lado. Ele sorriu. Isso mesmo, seu filho da puta. Você está com problemas agora.
— Quem?
— A Besta. — Will sibilou, sua voz ecoando na escuridão.
Freddie gritou e balançou o lampião.
Will o empurrou para o lado e ele atingiu a água e chiou. A escuridão caiu como uma cortina de teatro, mas ele já estava se movendo, cravando o punho sob o movimento sibilante de um braço e acertando um par de costelas. Ossos estalaram e então Freddie caiu com um grito gorgolejante, espirrando na água.
Will se acalmou, ouvindo o som frenético de respiração.
— Freddie? — O gordo sussurrou. Ele tateou as laterais do esgoto, sua respiração acelerada e ofegante.
Will deu um passo lento para frente, a água batendo em seus joelhos.
— Oh Deus. — O gordo tentou correr. — Oh Deus não! Eu não tive nada a ver com isso! Foi Freddie! Me deixe em paz!
Will agarrou sua capa e puxou-o de volta. Ele caiu com um respingo, suas pernas chutando na água do esgoto enquanto ele gritava como um porco caído. Pegando a capa, Will a enrolou na garganta do homem gordo e então o puxou com força.
— Quem é você? Para quem você trabalha?
O gordo chutou, fazendo sons estrangulados. Will o segurou por tempo suficiente para que o chute diminuísse, então o jogou na água.
Movimento passou atrás dele. Ele atacou, pegando o tubo de metal pesado enquanto Freddie o balançava e seguia com um soco. O sangue espirrou quando seu punho atingiu o nariz de Freddie. O sabor acobreado disso temperou o ar, e Freddie gritou e caiu de volta na água.
— Jesus. — O gordo soluçou, a garganta rouca.
Will o agarrou pelo casaco e o jogou contra as paredes viscosas. Ele deslizou a mão no casaco do homem, vasculhando seus bolsos. Um canivete que o idiota era burro demais para usar, um pedaço de papel encerado e um estranho dispositivo em forma de dedo. Outro daqueles criadores de ruído. Ele guardou o papel.
— Considere-se com sorte por ele não estar morto. — O pensamento desencadeou uma explosão de raiva em sua cabeça, e ele jogou o homem gordo contra a parede. Então novamente.
— Por favor, por favor, não me mate!
Cuidado, uma vozinha avisou. Não perca o controle.
Will rosnou, o som ecoando desumanamente em sua garganta. Eles já o achavam uma besta. Por que diabos ele não deveria separá-los? Eles colocaram uma adaga em Blade. Ninguém tocava em sua família adotiva e sobreviveria para contar a história.
Gritos ecoaram pelos túneis. A cabeça de Will disparou e ele cerrou o punho. Falcões da Noite. Já estavam na trilha, droga.
Ele se aproximou e cheirou o ar ao lado da orelha do homem. — Peguei seu cheiro agora, — ele sussurrou. — Você chega perto de Whitechapel novamente e eu irei atrás de você. Vou rasgar você, um pedaço de cada vez... e alimentá-lo com isso. Você não quer isso, quer?
O fedor de urina encheu o ar e o homem soluçou em concordância. Will o deixou cair com um respingo e então girou nos calcanhares.
Os Falcões da Noite sentiriam o cheiro dele, mas não o pegariam. Este era o terreno de Will aqui, e eles não ousariam cruzar a parede ao redor de Whitechapel para caçá-lo. Era hora de dar o fora dali. Ele deu a Freddie e seu amigo gordo um último olhar faminto, então se virou e fugiu para a escuridão.
Eles se lembrariam de sua ameaça. Isso era tudo o que importava.
Will jogou a camisa fora com um tapa molhado e começou a abrir os botões de suas calças. Ambos fediam dos túneis, mas ele se sentia muito melhor. A tensão entre seus ombros diminuiu com cada golpe que ele deu.
Ele queria sangue. Queria matar. Mas às vezes era melhor deixá-los vivos. Testemunhas. Homens que espalhariam as histórias em voz baixa nas cervejarias locais, alertando os outros para não arriscarem a ira da Besta de Whitechapel. Era tudo parte da lenda que ele estava cultivando cuidadosamente. Uma lição que ele aprendeu com Blade.
O medo costumava ser a melhor defesa.
O ar estava frio quando ele tirou o resto das roupas e foi até a pia. Ele geralmente não notava o frio, mas ele estava molhado por horas e seu estômago estava vazio. Esfregando o fedor de si mesmo, ele colocou um cobertor em volta dos quadris e então se virou para a cozinha. Sobrou pão e queijo, e uma jarra de água limpa.
Apoiando as costas na mesa, ele mordeu a comida e olhou para a camisa. Havia algo saindo dela. Um pedaço de papel. O bilhete que o gordo carregava.
Ele caminhou pela sala e se ajoelhou, mastigando lentamente. O papel estava grosso de cera. Quem quer que o tivesse escrito queria que ficasse seco, o que significava que ele pensava que o destinatário iria se molhar em algum momento. Will franziu a testa. Para onde estavam indo aqueles dois - nos esgotos? A água nesta época do ano mal chegava aos joelhos.
Havia sussurros de que era mais profundo lá embaixo, no entanto. Em algumas partes do Subterrâneo.
Pegando-o aberto, ele o inclinou em direção ao único lampião. Linhas de símbolos cruzavam o papel - letras, números e estranhas marcas de corte. Uma bagunça incompreensível.
Em que diabos ele tropeçou? Will deu outra mordida em seu pão com queijo e se levantou, aproximando-se do lampião. A melhor luz não fazia sentido para os símbolos, não que ele esperasse que fizessem.
Will virou o papel, mas não havia nada atrás. Sem cheiro, mas a estranha substância cerosa. Ele franziu a testa. Queimar as fábricas que escoam, letras codificadas, dispositivos estranhos que obviamente foram feitos para incapacitar os sangues azuis... Alguém estava querendo começar uma guerra.
Capitulo 2
— Que espetacularmente... espalhafatoso.
Lena desviou o olhar da plataforma com cortinas, sua atenção foi atraída pela maldade gotejante no tom de sua amiga. — O que você quer dizer, Adele?
Adele Hamilton - uma antiga diamante da sociedade - se aproximou e ergueu os lábios. — Eles têm fantoches. Estou surpresa que a Srta. Bishop não tenha convidado um zoológico inteiro para se apresentar para nós esta noite. Ou uma trupe de circo.
— Você está com ciúmes porque ela assinou um contrato de servidão com Lorde Macy e você pensou que ele iria oferecer para você. — Lena virou a cabeça para a varanda onde a Srta. Bishop estava bebendo champanhe e brilhando de felicidade. Tendo assinado um contrato de servidão com Lorde Macy, a Srta. Bishop estava decidida para o resto da vida. Era a maior ambição de qualquer debutante. Para ser protegida. Banhada em diamantes e luxuosas carruagens a vapor dourados. Pingando pérolas.
Tudo o que custava era um pouco em troca.
Sangue.
Lena estremeceu e olhou para a taça meio vazia.
— Como se eu fosse aceitar alguém como Macy. — Adele cheirou e esvaziou sua taça. No entanto, seus lindos olhos amendoados observavam o par na varanda como um falcão.
Macy pousou a mão na luva da Srta. Bishop e acariciou lentamente seus dedos. Mesmo dos jardins abaixo, Lena podia ver sua respiração acelerar e os olhos de Macy escurecerem de desejo. Ele parecia muito mais velho do que a Srta. Bishop naquele momento. Muito mais poderoso. Isso fez Lena se sentir mal do estômago.
Pare com isso, ela disse a si mesma bruscamente. Não pense nisso. Foi a escolha da Srta. Bishop. Ela não estava sendo forçada a isso.
Exceto pelas circunstâncias.
— Eu não posso acreditar que eles estão agindo assim em público, — Adele continuou. — Ele pode muito bem jogá-la no chão agora e ficar com ela.
Pega em seu próprio desconforto, a voz de Lena foi mais cortante do que ela pretendia. — Embainhe suas garras antes de se cortar.
Adele lançou-lhe um sorriso devastador, que conquistou metade dos corações do Escalão. E então os quebrava. — Miaow. — Ela ronronou.
Apesar de sua inquietação, Lena não conseguiu evitar um sorriso em resposta de puxar seus lábios. Adele era o tipo de amiga em que você certamente não podia confiar, mas depois do desastre do ano passado em que foi pega nos jardins com Lorde Fenwick - que mais tarde se recusou a contratá-la - Adele também era uma espécie de pária. Ela havia lutado para voltar à sociedade com um coração gelado e um sorriso inabalável, mas seu tempo, como o de Lena, estava se esgotando. E ao contrário de Lena, que estava aqui com um propósito, Adele não tinha outras opções na vida.
Uma multidão estava se reunindo em frente ao palco com cortinas. Drones de serviço pairavam, as travessas de prata colocadas em suas cabeças oferecendo uma variedade de bebidas. Lena tirou outro par de taças de champanhe da bandeja, evitando a saída de vapor do drone. Eles eram muito práticos, rolando silenciosamente pela multidão, mas o vestido de mais de uma jovem tinha sido arruinado e Lena estava usando seda violeta amassada.
Ela manteve o ouvido aberto enquanto se movia pela multidão, ouvindo preguiçosamente - e depois descartando - as conversas. Ser debutante era o disfarce perfeito. De certa forma, ela era quase invisível. As pessoas diziam coisas na frente dela que, de outra forma, teriam ficado quietas.
Era a maneira mais conveniente de espionar. Ela quase não tinha que fazer nada.
— Fantoches. — Adele balançou a cabeça. Mesmo assim, ela também se reuniu na frente do palco, desesperada para não perder nada.
A noite estava amena, estrelas brilhando no alto. Lena olhou para cima, sua visão se ajustando à luz. Mil diamantes, sua mãe costumava dizer quando ela era uma garotinha. “Tudo por mim”, gritava Lena, e sua mãe ria e lhe dava um beijo de boa noite.
Agora as estrelas pareciam ter perdido um pouco de seu brilho, e os diamantes também. O mundo ao redor dela era muito brilhante, muito brilhante, todo seda e ouro e risadas maliciosas. O mundo do Escalão já foi a única coisa que ela sempre quis, e agora que ela dançava ao longo de sua orla, ela não podia deixar de se perguntar se havia algo mais lá fora para ela.
Não que ela fosse admitir isso.
Ela implorou a sua irmã, Honoria, por essa chance quando ficou claro que não havia mais nada em Whitechapel para ela. Suplicou por semanas para poder voltar à sua vida anterior e a possibilidade de fazer um contrato de servidão.
Estranhamente, um aliado tinha vindo de uma fonte inesperada: Leo Barrons, seu meio-irmão. Como herdeiro do duque de Caine, Leo nunca poderia revelar a verdade sobre sua conexão - e sua própria ilegitimidade - mas ele se ofereceu para tomá-la como sua protegida e Lena aceitou com gratidão. Quando seu pai estava vivo, ela pairava na borda do Escalão. Agora, com um homem tão poderoso como Leo como seu guardião, ela estava completamente abraçada.
E ela nunca se sentiu mais sozinha.
Uma sensação desconfortável levantou os cabelos de sua nuca. A sensação aguda e horrível de ser observada. Lena olhou em volta, mas não havia ninguém lá. Algo assobiou e ela se encolheu. Parecia uma chaleira dando vazão à sua raiva. A multidão se aproximou e a conversa diminuiu. No palco, o som metálico de um tocador de órgão começou a tocar.
Isso atingiu uma corda em sua memória; os sons roucos e as risadas de Whitechapel, a pressão de corpos sujos e a linguagem obscena que ela fingiu não memorizar. Música nas ruas, nas casas dos pobres. Um som que era melhor esquecido. Ela havia deixado Whitechapel para trás um ano atrás. Parecia mais tempo. Naquela época, ela perdeu todas as suas pretensões juvenis e percebeu exatamente em que tipo de mundo ela vivia - e o fato de que havia muito pouco que ela pudesse fazer sobre isso.
Mas o que ela pudesse fazer sobre isso, ela faria. Havia um movimento se formando para restaurar os humanos ao status de sangue azul - sem taxas de sangue, sem lei marcial, sem servos involuntários - e ela estava em uma posição ideal para ajudá-los. Lena tinha acesso a uma série de segredos do Escalão... se ela mantivesse os ouvidos abertos.
— Parece que a Srta. Bishop tem um macaco, afinal. — Adele sussurrou.
— Shhh. — Disse Lena, ficando na ponta dos pés para ver. Ao fazer isso, ela correu o olhar pela multidão, relaxando apenas quando percebeu que não havia ninguém olhando para ela.
Apenas nervosismo... Ela estava segura aqui, com a multidão e Adele ao seu lado.
As cortinas se abriram com um puxão melodramático. No terraço, os lampiões a gás de repente se apagaram, as chamas silenciadas lançando uma luz azul surreal sobre a multidão. O vapor se enrolou, obscurecendo uma figura no centro do palco. Seus braços saltaram no ar, as cordas claramente visíveis contra a luz a gás.
— Marionetes. — Rejeitou Adele.
O Baile de Contrato da Srta. Bishop havia sido citado no último mês como o evento da temporada. A fofoca prometia delícias e curiosidades muito além de qualquer coisa já vista, mas até agora a noite tinha sido decepcionante. Lena relaxou sobre os calcanhares no momento em que a multidão deu um suspiro apreciativo.
— Oh meu, — disse Adele. — Olha, as cordas caíram!
E assim elas fizeram. A marionete deu um puxão fraco, os braços caindo para os lados. E então, lentamente, com o misterioso vapor ondulando em torno de seus pés, ela começou a se endireitar.
— É um autômato. — Disse Lena.
A criatura de metal começou a se mover, suas mãos subindo como se ela tivesse alguém em seus braços. Contra a música metálica do tocador de órgão, ela começou a valsar.
A boca de Lena caiu aberta. Ela tinha visto vários drones de serviço e dezenas de casacas de metal blindados que protegiam as ruas e impunham a vontade do Escalão, mas ela nunca tinha visto nada assim. Ora, as juntas eram aerodinâmicas e o movimento do autômato era peculiarmente fluido, quase humano.
A apresentação chegou ao fim, o tocador de órgão desacelerando lentamente. O ritmo do autômato diminuiu e começou a vacilar no ritmo da música. Quem quer que fosse o controlador, ele era um homem de grande habilidade.
Lena bateu palmas com entusiasmo. Ela queria olhar mais de perto. Ela era talentosa com seus relógios de aço, mas isso era uma arte em um nível que ela mal conseguia compreender.
Infelizmente, a maioria da multidão também queria um olhar mais atento. Lena se viu separada de Adele e rodopiou para o lado, como um pedaço de destroço em uma corrente violenta.
Tirando uma pena de sua visão, ela procurou Adele.
E foi então que ela o viu.
O calor foi drenado de seu rosto. Alaric Colchester, o duque de Lannister, a observava do outro lado da multidão, um sorriso predatório em seus lábios finos enquanto bebia um copo de vinho de sangue. Seu coração pulou uma batida. Contra a pele pálida e empoada de seu rosto, seus lábios manchados de vermelho passaram por sua mente, uma reminiscência de muito tempo atrás. Mas dessa vez, o sangue não tinha sido regado com vinho.
Ele não deveria estar aqui. Ela se certificou disso antes de aceitar qualquer convite nos dias de hoje. Com uma reunião convocada na Torre de Marfim entre o Conselho dos Duques que governava a cidade, ela tinha certeza de que estaria segura.
Deve ter terminado mais cedo.
Lena desviou o olhar, seu coração trovejando em seus ouvidos. Não corra. Se ela aprendeu alguma coisa ao longo dos anos, foi que o medo despertava um sangue azul para fomes incontroláveis.
Um olhar rápido mostrou movimento no meio da multidão. O loiro pálido e brilhante de seu cabelo enquanto ele a perseguia. Lena se esforçou na ponta dos pés. Para onde Adele foi? Às vezes havia segurança nos números.
Se Colchester quisesse seguir as regras.
Afinal, ele era um duque. Chefe de uma das sete grandes casas que governavam a cidade. Se ele quisesse levá-la aqui, agora, então ele poderia arrastá-la e ninguém ousaria dizer nada. Seu guardião, Leo, o único homem com força para se opor a Colchester, tinha estado na reunião da Torre de Marfim, substituindo seu pai, o Duque de Caine.
Lena se moveu para a multidão, um sorriso colado em seu rosto. O pedaço de pele nua na nuca formigou. Erguendo a taça, ela tentou pegar uma dica de seu reflexo, mas a multidão era muito densa.
Maldito seja. Ela lançou um olhar por cima do ombro.
Muitas pessoas, juntas e rindo dos fantoches mecanizados. Nenhum sinal de Colchester.
Música e risos assaltaram seus ouvidos. A multidão era uma profusão de cores vivas enquanto ela girava a cabeça, um punho cerrado nas saia . Não corra. Deus, não corra. Mas para onde diabos ele foi?
Uma grande pena de avestruz rosa flutuou em sua visão. Adele. Lena empurrou em sua direção. Duas senhoras fofocavam atrás de seus leques e Lena cambaleou entre elas, direto em um peito firme. Mãos enluvadas agarraram seus ombros, como se para firmá-la.
— Sinto muito. — Ela murmurou, então congelou ao ver o casaco de veludo preto, com suas dragonas douradas e uma borla pendurada em seu ombro direito.
— Você está pálida, minha querida. — Colchester sorriu seu sorriso de tubarão e suas mãos se apertaram enquanto ela instintivamente tentava recuar. — Como se você precisasse de um pouco de ar.
Seu aperto a impeliu para o lado, em direção ao jardim. Lena enfiou os sapatos e balançou a cabeça, um sorriso desesperado colado no rosto. Ela não podia deixar ninguém ver sua angústia. Isso só iria começar rumores que ela não podia pagar. A reputação de uma dama era tudo o que a impedia de ser reivindicada por qualquer sangue azul como sua prostituta de sangue pela noite.
De alguma forma, ela forçou uma risada. Era sua única defesa. — Au contraire, Vossa Graça. — Um gesto rápido para os jardins ao redor deles. — Eu não tenho nada além de ar, ao que parece.
Seus olhos brilharam com prazer sombrio. Os pelos ao longo de sua coluna se arrepiaram, mas de alguma forma ela conseguiu encolher os ombros despreocupadamente. Colchester sentiria o cheiro do aumento do medo, acre em sua pele. Um molho delicado, ele uma vez disse a ela, para dar sabor à refeição...
— Obrigada por me pegar, Sua Graça. Mas temo que devo encontrar minha amiga, Adele. Ela estava se sentindo mal. Eu deveria ir buscar um pouco de água para ela.
— Uma pena, — ele acalmou, sua mão caindo sobre a dela. Ele acariciou seus dedos através da seda de suas luvas. — Eu estava esperando que você guardasse uma dança para mim. O assah, se você quiser.
Uma dança projetada para tentar, para melhor exibir as qualidades de uma serva em potencial para um sangue azul. O erotismo esfumaçado disso era algo que ela nunca se renderia em público, mas testemunhar isso... Oh, testemunhar era outra coisa. — Receio que...
— Eu não estava perguntando.
Lena puxou sua mão, mas os dedos de ferro dele se enrolaram em seu pulso, uma sugestão de sombra escurecendo seus olhos claros.
— Não me tente, minha querida. Estou tentando ser cortês, mas temo que sua beleza me deixe... fora de mim. — Um sorriso, então ele roçou as costas de uma mão contra sua bochecha.
A risada surgiu na multidão, fazendo-a pular. Elas eram tão próximos e, no entanto, podiam muito bem estar no Oriente, por todo o bem que fariam a ela.
— Você pensou mais em minha oferta? — Ele perguntou.
— Receio ter estado terrivelmente ocupado...
— Faz um mês.
Não o suficiente. Ela nunca seria sua serva. Lena ergueu o queixo e o olhou diretamente nos olhos. — Tem sido um mês agitado, Sua Graça.
— Colchester. Eu disse para você me chamar de Colchester. Afinal, — um sorriso malicioso. — nós somos bastante conhecidos, não é?
Ela queria quebrar o vidro de sua taça de champanhe e apunhalá-lo no olho com a haste. O pensamento de Colchester com a boca em seu corpo fez seu estômago torcer.
Nunca mais.
— Devo esperar mais um mês por uma resposta?
— Deixe-me ir, Sua Graça. Isso é impróprio.
— Responda à pergunta.
— Lena! — O grito de Adele veio do nada. — Aí está você!
Uma explosão de perfume caiu sobre eles, então Adele estava lá, as penas em seu cabelo fazendo cócegas no nariz de Colchester. Ele se encolheu, seu rosto se contraindo de fúria. Adele levou a mão à boca e riu, aparentemente superada pelo champanhe. — Oh, Sua Graça! Eu não vi você aí. Me desculpe.
A multidão os pressionou. Ele não teve escolha a não ser deixá-la ir.
Lena puxou a mão para perto do corpo, como se ele a machucasse. Os dedos roçaram nos dela e, em seguida, Adele apertou a outra mão.
Colchester deu a ela um breve aceno de cabeça. — Até a próxima vez. Vou exigir uma resposta. — Então ele se virou e caminhou no meio da multidão.
De repente, Lena não conseguia respirar. Adele deu uma olhada em seu rosto e empurrou-a para longe, para os limites do jardim.
— Aqui —, disse Adele, pegando uma taça de champanhe do prato de um drone de serviço. — Beba isso.
— Eu... eu não posso... — A única coisa que a mantinha de pé era a mão de Adele.
Uma pequena loucura apareceu, obscurecida pelo resto do grupo no jardim. Adele a girou, forçando-a a colocar as mãos na grade e se inclinar para frente. Rasgando os botões de Lena, ela afrouxou as cordas do espartilho.
Lena desabou para a frente, respirando fundo. Seu corpo tremia da cabeça aos pés. Ela não sabia o que tinha acontecido. Só que ela não era capaz de respirar. Ainda não conseguia, realmente.
O calor espalhou-se por suas bochechas e ela correu para elas com as mãos enluvadas. Adele esfregou pequenos círculos nas costas.
— Obrigada. — Ela nunca teria esperado que Adele, de todas as pessoas, viesse em seu resgate.
A mão de Adele fez uma pausa. — Eu só queria que houvesse alguém lá... por mim.
Lena olhou para cima e encontrou seu olhar, sua respiração estremecendo por ela. — Achei que você foi de boa vontade com Lorde Fenwick?
— Esse foi o boato que ele espalhou. Todos eles sabem, é claro. — Os lábios de Adele se estreitaram. — Virou esporte entre os círculos mais jovens. Eles acham que tomar uma mulher como serva é antiquado. Por que apoiá-la pelo resto da vida quando você pode tirar o que quiser dela e depois deixá-la de lado?
— Mas... isso é terrível!
— Um passo removido de uma serva de sangue. — Adele encolheu os ombros estreitos. — A razão pela qual eu estava perseguindo Lorde Macy é porque ele é um tradicionalista. Ele acredita em proteger seus servos. Se eu fosse você, Lena, procuraria alguém mais velho. E não se contente com nada menos do que um contrato de servidão. É a única proteção que você ou eu temos atualmente.
— Por que ninguém diz nada?
— Quem ousaria? — Adele riu, mas não havia humor nisso. A expressão dela endureceu. — E por que alguém do Escalão deveria mexer um dedo para nos ajudar? Nós somos comida, Lena. O único interesse que eles têm em nos manter vivas ou nos escravizar é porque é mais fácil para eles. Somos como gado encurralado.
A raiva aumentou. — Eles não são todos assim. Meu guardião, Leo...
— Sabe o que está acontecendo com tanta certeza quanto nós. E ele disse uma única palavra sobre isso?
Lena abriu a boca. E não disse nada. Tudo o que ela viu no rosto de Adele foi apenas um eco de como ela mesma se sentia. Presa.
Não. Não é presa. Ela respirou fundo, estremecendo. Presas não revidavam; elas não encontravam uma maneira de fazer a diferença, e era isso que ela estava fazendo.
— Siga meu conselho, — Adele continuou. — Eu vi a expressão no rosto de Colchester. Você precisa de proteção. Seu guardião não é suficiente - ele nem está aqui, está? Se eu fosse você, encontraria algum velho senhor decrépito com poder suficiente para enfrentar Colchester e induzi-lo a tomá-la como sua serva.
— Essa não deve ser a única opção que tenho.
— Infelizmente, para garotas como você e eu, não há escolha. Quanto mais cedo você abrir os olhos para o mundo em que realmente vive, melhor. Do contrário, você não passa de uma tola - e os tolos não sobrevivem por muito tempo aqui.
— O que há de errado com você esta manhã?
Lena abriu os olhos, a cabeça apoiada na janela da carruagem. Sua companheira, a Sra. Wade, olhava para ela por cima do crochê. Não havia nenhum sinal do ataque que a atormentara na noite anterior, mantendo-a longe do baile de Lorde Macy.
Esfregando os olhos doloridos, Lena se sentou. — Nada. Não dormi muito bem noite passada, só isso.
— Talvez devêssemos voltar para o Waverly Place. — A preocupação envolveu os olhos da Sra. Wade. — Você poderia descansar mais um pouco.
Os olhos de Lena se estreitaram. — Suas motivações são totalmente transparentes. — Inclinando-se para a frente, ela espiou pelas cortinas de veludo da janela da carruagem, seus dedos batendo na caixa em sua mão. Ela não se atreveria a perder isso de vista.
A Sra. Wade teve a boa vontade de corar. Ela tinha seus próprios sentimentos sobre o que constituía atividades recreativas adequadas para mulheres. Projetar brinquedos mecânicos não era um deles. — Estou simplesmente preocupada com a sua reputação. Se alguém nos ver naquela loja...
— Quem nos veria aqui? E se o fizeram, estou apenas comprando um novo relógio.
A carruagem a vapor parou em frente ao Empório Mecânico de Mandeville. Seus olhos saltaram sobre os maltrapilhos sujos brincando nos becos e as moças de carvão deslizando pela multidão com os baldes equilibrados sobre os ombros. Ela tinha visto muito disso durante sua estada nas colônias de Whitechapel, após a morte de seu pai. Na verdade, essa já fora ela, antes que o Sr. Mandeville a aceitasse como sua aprendiz.
Simpatia a sufocou. Não importava os perigos de sua própria vida na corte, eles não eram nada em comparação com o que as moças do carvão arriscavam, andando pelas ruas desprotegidas. Pelo menos na sociedade ela nunca seria deixada para morrer sangrando nas sarjetas, sua vida sem valor para os sangues azuis. Sua posição cuidava disso. Ela era uma presa em potencial - mas também era uma presa protegida.
A porta se abriu e um lacaio apareceu. — Senhorita.
— Obrigada, Henry. — Lena aceitou sua mão e desceu para a calçada. O Sr. Mandeville a viu chegando e abriu a porta para ela. Com as pontas enroladas de seu bigode encerado, o par de lentes de aumento empoleiradas em seus cabelos grisalhos varridos pelo vento e uma característica distinta de patchwork em seu colete, ele nunca seria recebido nas grandes casas. No entanto, ele era um dos melhores relojoeiros que ela já tinha visto.
E muito mais.
Ele também tinha sido seu salvador, arrastando-a para fora das calhas, quando ela tinha estado sangrando, uma moça de carvão descartada, e cuidando dela em sua loja. Oferecendo um trabalho respeitável. Então, mais tarde, dando a ela algum senso de esperança quando ela começou a perceber que sua vida na corte não era o mundo seguro que ela estava procurando.
Ela podia se lembrar muito bem do dia em que voltou para pegar sua capa e o ouviu discutindo segredos que poderiam fazer um homem enforcar. O choque quase a derrubou. Sr. Mandeville, um humanista? Ela manteve o segredo para si mesma por dias, revirando-se à noite enquanto as perguntas começaram a atormentá-la. Excitação. Finalmente ela o confrontou e exigiu se juntar à causa.
— Senhorita Todd, — o Sr. Mandeville cumprimentou, embora ele uma vez a tenha chamado de “Lena” e ameaçado bater em seus dedos se ela derrubasse algum de seus relógios.
— Senhor Mandeville, — Ela respondeu, oferecendo a caixa. — Você está parecendo bem. O ar de verão deve estar combinando com você.
— É isso? — Seus olhos brilharam quando ele viu a caixa.
Uma faísca quente de algo pecaminosamente orgulhoso cresceu em seu peito. Havia muito poucas coisas em que ela tinha sido boa. — É, — ela respirou. — Oh, você deveria ver isto. Funciona exatamente como eu planejei.
— Posso?
Com o aceno dela, ele a conduziu em direção ao balcão. As paredes pareciam invadir quanto mais se entrava na loja, devido a dezenas de relógios pendurados e tiquetaqueando que surgiam do gesso. Como sua aprendiz, Lena havia se acostumado a vê-los. A Sra. Wade, entretanto, pairava perto das janelas, olhando para os pêndulos oscilantes das profundezas seguras de seu chapéu.
O Sr. Mandeville colocou a caixa no balcão e olhou para a Sra. Wade. — O velho Bafo do Dragão ainda está no escuro?
— Ela acha que vim ver se você tem algum pedido para mim. — O trabalho era firme o suficiente para mantê-la ocupada, embora ela tivesse que fazê-lo em nome do irmão. Um brinquedo mecânico original de Charlie Todd tinha um preço bastante generoso. Nem sempre eram para crianças, embora Lena gostasse mais dessas encomendas.
— Hmm. — Mandeville abriu a caixa e deslizou seus longos dedos sob o relógio de trinta centímetros de altura. Ele o ergueu com reverência e o colocou no balcão. — Oh meu. Oh, Lena, este é o seu melhor trabalho. Ele é absolutamente magnífico. De onde você tirou inspiração para uma coisa dessas? Presumo que anda?
Placas de aço sobrepostas atraíam a atenção, polidas até um brilho polido. A escultura mecânica era um homem, uma figura robusta esculpida em folhas de ferro e fervendo com um interior de molas e espirais. Estava em uma placa de metal, com uma chave de corda na parte de trás. O calor invadiu suas bochechas. A última coisa que ela podia admitir era sua inspiração. Ela nunca antes ousara tirar esta imagem das folhas de papel que esboçou para trabalhar em folhas de ferro. — Faz mais do que isso. Aqui, deixe-me mostrar-lhe.
A chave ficou cada vez mais apertada para girar. A figura tremeu, seu rosto áspero se contraindo quase com violência. Que apropriado, ela pensou, então soltou a chave.
Por um momento, nada aconteceu. O homem de ferro viril estremeceu e então lentamente as engrenagens começaram a girar. As placas deslizaram uma sobre a outra, revelando um rápido vislumbre das engrenagens internas. Então uma criatura começou a se formar, tão selvagem e feroz quanto o homem de ferro tinha sido.
Mandeville prendeu a respiração. Lena observou seu rosto enquanto ele puxava as lentes de aumento e olhava mais de perto. — Meu Deus, Lena! É incrível. Olhe para ele se transformar! Um momento um homem, no próximo um lobo.
Ela colocou a mão na dele. — Espera.
Sem fôlego, os dois assistiram enquanto o lobo escorregava de volta para o homem, as engrenagens mecânicas girando cada vez mais devagar, até que finalmente parou, preso na transição, o rosto do homem carrancudo diante de um indício das mandíbulas do lobo.
— Bem? O que você acha?
Mandeville soltou a respiração e limpou os vidros. — Você realmente tem um dom, minha querida. Isso é incomparável. Além! — Seu coração inchou, até que ela o viu balançar a cabeça. — No entanto, você nunca vai vender. O que diabos você deu para criar tal coisa? O Escalão fará com que você seja jogada nas masmorras da Torre de Marfim!
— Talvez um ano atrás, — ela respondeu, olhando por cima do ombro para a Sra. Wade. A voz dela caiu. — Os tempos estão mudando, Sr. Mandeville. Fala-se do Império Escandinavo enviando uma embaixada a Londres.
O Sr. Mandeville ficou imóvel. — Onde você ouviu isso?
— Há uma grade solta... no teto do escritório do meu guardião, — ela admitiu. — Costumo fazer parte do meu trabalho no solar acima.
Um sorriso conspiratório. Como se sua engenhosidade o tivesse surpreendido.
— Leo estava entretendo os duques de Malloryn e Goethe ontem de manhã. Ainda não é do conhecimento geral, mas o Conselho está preocupado.
Mandeville se inclinou mais perto, olhando para o mecanismo de transformação do relógio através de seus vidros. Sua atenção, entretanto, estava toda voltada para ela. — Ainda não vejo como isso muda. O Escalão exterminou os clãs verwulfen escoceses em Culloden. Esta... esta peça desperta sentimentos perigosos em relação a um antigo inimigo.
Ele pegou o mecanismo do relógio de volta e começou a aninhá-lo com segurança em sua caixa, onde poderia nunca mais ver a luz do dia.
— O duque de Malloryn disse que o Escalão estava considerando um tratado de paz com os clãs escandinavos. — Ela deixou escapar.
O Sr. Mandeville congelou. Ambas as sobrancelhas lentamente desapareceram na linha do cabelo. — Isso é inédito. Os verwulfen escandinavos estão em desacordo com a Grã-Bretanha desde Culloden. Não há chance de eles concordarem com um tratado.
— Isso é tudo que eu sei. A Sra. Wade me descobriu e eu fui forçada a ir olhar os gorros.
— Meu Deus, — Mandeville sussurrou. — Vou ter que passar essa informação adiante. De uma vez só.
Lena olhou para a Sra. Wade, que batia na bolsa com impaciência. — Você acha que eu deveria me encontrar com o Mercúrio? Para contar a ele o que eu sei? Em primeira mão?
Por meses, Mercúrio foi apenas uma invenção da imaginação dela. Como o chefe misterioso do movimento humanista secreto que trabalhava aqui mesmo em Londres, ele era pouco mais do que mantos e sombras. Dizia-se que o Conselho dos Duques postou uma recompensa extravagante com os infames Falcões da Noite por sua captura.
— Não. Não, vou passar a informação adiante. Não seria bom se você se envolvesse mais. Quanto menos pessoas souberem da identidade de Mercúrio, mais seguro ele estará.
— Eu nunca contaria a ninguém.
— Oh, Lena, você ainda é terrivelmente inocente. — Ele deu a ela um sorriso triste. — Existem maneiras de um sangue azul fazer uma jovem dizer a eles tudo o que eles querem saber. Especialmente aqueles bastardos podres da Torre de Marfim. — Ele deu um tapinha na mão dela. — Vou passar a mensagem adiante. Espero que possamos usar essas informações. Se esta aliança entre o Escalão e os clãs de verwulfen forem adiante, haverá pouca chance para os humanistas derrotarem o Escalão. Eles serão muito poderosos.
Ele deslizou um envelope dobrado em sua direção, sob um maço de pedidos. — O local de costume, se você quiser?
Lena espalmou, fingindo vasculhar as ordens. Sua voz se elevou. — Claro. Obrigada pelas comissões. Vou selecionar as que considero apropriadas.
— Avise-me se ouvir mais. — Uma carranca cruzou seu rosto. — Estou muito curioso para saber por que eles estão falando de paz.
— Eu vou.
Lena pegou a caixa com o mecanismo quebrado dentro e deu as costas para ele. Colando um sorriso no rosto, ela ignorou a curiosidade que iluminou o rosto da Sra. Wade e fez um gesto em direção à carruagem. Ela estava prestes a tornar o dia de sua companheira muito pior.
— Oh, olhe, nós temos tempo para visitar meu irmão e irmã. — Ela disse levemente, embora na verdade ela tivesse planejado isso.
Sra. Wade empalideceu. — Não as colônias, Lena. Se alguém ver...
— Seremos discretas. E eles são minha família, afinal, mesmo que sejam considerados persona non grata para o Escalão. — Ela passou pela porta da loja para o sol quente. — Pretendo presentear Charlie com este brinquedo. O Sr. Mandeville não quer. — E ela não podia suportar desperdiçá-lo. Foi a melhor coisa que ela já criou, mesmo que fosse uma familiaridade impressionante para um certo bruto corpulento que ela conhecia.
Não que ela o visse a esta hora do dia. Ela tinha vivido no labirinto por tempo suficiente para saber os tempos em que Will ia e vinha. O meio-dia geralmente o encontrava dormindo após sua estada noturna guardando a colônia.
O que combinava perfeitamente com ela.
Ela não se importaria se ela nunca o visse novamente.
Se Honoria ficou surpresa por vê-lo tão cedo, não deu sinais disso. Will rosnou uma saudação e passou por ela. A luz do sol se espalhou pela janela do sótão, partículas de poeira girando em seus feixes. O fedor de produto químico tomou seu fôlego, com o leve cheiro de sangue e chá de camomila.
— Blade ainda está na cama, — Honoria disse, colocando uma mecha de cabelo escuro atrás da orelha. — Ele está se recuperando bem, embora não tão rapidamente quanto eu gostaria...
Nem tão rápido quanto antes. Will assentiu bruscamente. — Eu o vi.
— Claro.
Foi o primeiro lugar que ele teria ido.
Tirando as lentes de aumento, ela começou a tirar o avental. O sótão foi dividido em duas salas, uma para o laboratório de Honoria e a outra para o salão de boxe de Blade. Will nunca esteve aqui antes. Era domínio exclusivo de Honoria e, embora esperasse bancos e equipamentos esterilizados, ficou surpreso com o par de poltronas estofadas e aconchegantes ao lado da lareira e dos montes de papelada. Honoria lhe parecia uma pessoa obsessivamente organizada.
— Posso lhe ajudar com algo? — Sem dúvida, ela estava quase tão surpresa de vê-lo aqui quanto ele.
Will tirou a carta do bolso. Ele não conseguia entender, mas a mente curiosa de Honoria adotava códigos como um pato na água. — Você pode decifrar isso?
Ela o pegou, coçando a unha do polegar na substância cerosa que o revestia. — Hmm. Eu posso tentar. Pode demorar um pouco. É importante?
— Poderia ser.
Ela olhou para ele.
— Encontrei nos homens que esfaquearam Blade.
A cor sumiu de seu rosto e ela olhou para a carta. — Vou fazer o meu melhor então. Quando você recuperou isso?
— Esta manhã, — ele murmurou. — Rastreei-os nos esgotos.
— Eles ainda estão respirando?
— Sim.
A surpresa alargou seus olhos - então eles se estreitaram com uma expressão que era bastante sanguinária. — Posso perguntar por que?
— Os Falcões da Noite estavam atrás de mim. Eles estão sob custódia, sem dúvida.
— Isso não é típico de você, deixar um inimigo para trás. — Cruzando para o banco, ela bateu a carta contra os lábios.
Sua deixa para sair.
Como se percebesse, ela olhou por cima do ombro, os cílios fechando seus olhos luminosos. Foi como um soco no estômago, o gesto lembrava tanto Lena que ele engoliu em seco. Definitivamente, era hora de sair daqui.
Mas, ao se virar, ouviu passos na escada.
— Posso pedir um favor a você, Will?
Sua mão pairou sobre a maçaneta, narinas dilatadas. O cheiro de couro e vinho de sangue invadiu seu nariz. Blade. O que significava que Honoria o havia prendido perfeitamente. Ele não poderia ser rude e escapar. — O que?
— Blade sugeriu que eu deveria colher uma amostra de seu sangue.
Claro que sim. Ela passou os últimos três anos furando o marido. Sem dúvida Blade pensou que era hora de ela voltar aquela mente obsessiva para outra pessoa. Um arrepio percorreu sua espinha. Agulhas. Agulhas de congelamento.
Vendo a expressão em seu rosto, ela se apressou. — Para ver se há alguma chance de encontrar uma cura. Ou vacinação. — Com um suspiro, ela acrescentou: — Meu trabalho aqui estagnou. Charlie não está respondendo ao sangue vacinado da mesma forma que Blade. E os resultados de Blade atingiram um platô no momento. Os níveis de vírus estão baixos, como 48, há seis meses, graças a Deus.
A porta se abriu. O olhar de Honoria passou direto por Will. Pela primeira vez, ele estava grato por não ser o destinatário daquele olhar de diamante. — O que diabos você pensa que está fazendo fora da cama?
Blade chutou a porta com o calcanhar. Branco como um papel e se movendo mais duro do que um homem de oitenta anos, ele lutou para recuperar o fôlego. — É bom ver você também, amor.
— Eu dei instruções estritas para que você permanecesse acamado pelos próximos três dias. Então, nós renegociaríamos.
— O que significa que ela decidirá se eu posso ou não me levantar. — Blade piscou para Will. — Eu não aguentaria ficar sem você mais um momento, amor. Eu estava quebrando.
Honoria apontou. — Cadeira. Agora.
Entregando a Will sua garrafa de vinho de sangue, ele se acomodou em uma das poltronas perto da lareira enquanto Honoria cacarejava e o repreendia. Blade suportou com boa vontade, mas seus olhos brilhavam sempre que ela estava de costas.
Will mudou de posição, mas Honoria viu o movimento e ergueu os olhos de onde estava colocando um banquinho sob os pés do marido. Uma sobrancelha delicada se arqueou em questão.
— O que foi, amor? — Blade perguntou, percebendo o olhar.
— Eu perguntei a Will se ele consentiria em ter um pouco de seu sangue examinado.
— Você não precisa. — Blade se apressou em assegurá-lo.
Isso era o que ele mais odiava agora. A maneira hesitante com que falavam ao seu redor, como se temesse que ele saísse pela porta e nunca mais voltasse.
Cruzando os braços sobre o peito, ele olhou para Blade. Como se ele fosse abandoná-lo. Sem Blade ele provavelmente ainda estaria preso em uma gaiola, reduzido a pouco mais do que um animal.
Um pequeno carvão quente ganhou vida dentro dele. Se ao menos ele não tivesse estado lá naquela noite. Se ele não tivesse ouvido Honoria perguntar se ele era perigoso, se pudesse confiar nele perto de Lena...
E então a hesitação.
Ele nunca duvidou de si mesmo antes. Nunca duvidou de seu controle. Anos na gaiola o ensinaram a controlar a raiva, a besta dentro. Ele a sufocou, prendeu-a em sólidas barras de ferro - uma manifestação da gaiola na qual ele havia passado dez anos. Ninguém poderia chegar lá.
Até Lena aparecer.
Ela o deixou quase louco. Para ela, não passava de um jogo, um flerte, uma provocação. Uma forma de testar sua crescente feminilidade em alguém que ela pensava estar seguro. Mas ele não estava seguro. E ele não jogou. Depois de dois anos vivendo com ele, as bordas da gaiola começaram a ficar irregulares. Se Blade tivesse notado a ronda inquieta da besta dentro dele, se Honoria tivesse... Então, o quão perto ele esteve de perder o controle?
Há quanto tempo eles o observavam? Não confiavam nele?
— Will? — Perguntou Honoria.
— Faça isso, — ele estalou, um pouco mais duro do que ele pretendia. — Mas se apresse. Tenho coisas para fazer hoje.
Capitulo 3
— Seja corajoso, Will, — Blade chamou. — Não é nada. Só uma picadinha, muito parecida com a sua. Você não escuta as garotas reclamando, não é?
Will o xingou e olhou ferozmente para a parede enquanto Honoria enfiava a agulha. A prata começou a queimar imediatamente. O ferro frio curou em segundos, mas a prata manteve a ferida aberta tempo suficiente para que ela pegasse sua amostra. O suor gotejou em seus olhos e um arrepio percorreu seu rosto. A bile se agitou em seu estômago.
— Aqui vamos nós. Quase pronto, — Honoria sussurrou, dando tapinhas em seu ombro. — É uma bela amostra de vermelho, Will. Eu me acostumei com o sangue azul de Blade.
O som de passos leves no corredor chamou sua atenção. Sua cabeça girou quando ele virou o rosto dessa forma, o frio espiralando por ele. Um aroma floral quente ondulou em seu nariz. Madressilva. Oh não. Ela não. Agora não... Em algum lugar distante ele pensou ter ouvido Blade perguntando se ele estava bem. Enquanto a sala zumbia, ele olhou para a agulha e o frasco cheio de sangue.
Um erro.
A próxima coisa que ele sabia, ele estava deitado de costas no chão e empurrando os sais de cheiro horrível que alguém acenou sob seu nariz. Seus dedos roçaram o peito de uma senhora e seus olhos se abriram quando Lena caiu para trás, os sais aromáticos se espalhando por toda parte.
Meses desde que ele a viu. Meses em que a imagem dela havia desaparecido até que a memória era quase um borrão. Agora aqui estava ela, tão vibrante e bela como sempre, suas saias vermelhas vistosas se espalhando pelo chão como uma poça de sangue. A fome nele, o calor furioso, borbulhou, inundando sua visão até que ele soube que seus olhos eram ouro de lobo. A visão se aguçou, separando cada mecha de cabelo que caía sobre seus ombros, o orvalho em seus lábios, a luz refletindo nas pontas descoradas de seus cílios.
Minha, algo dentro dele rosnou. Por um momento o mundo ficou turvo e quando ele puxou de volta seu controle, sua mão estava meio levantada em direção a ela.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Ele retrucou, ainda desorientado. O suor frio envolvia seu decote.
Blade pegou sua mão. — Calma aí. — As palavras eram leves, mas Will as conhecia pelo aviso que eram.
Controle-o.
O esforço o deixou sem fôlego. Quando sua visão voltou ao normal, ele percebeu que todos estavam olhando para ele em vários estados de cautela.
— Estou bem. — Ele murmurou.
Blade ajoelhou-se sobre os calcanhares. — Bom. Não acho que eu poderia enfrentá-lo ainda.
Lena se sentou, o rosto pálido. A cor café escura de seu cabelo era do mesmo tom preciso de sua irmã, mas seus olhos castanhos eram mais quentes, mais amendoados. Olhos sorridentes, para tentar e provocar.
Eles não estavam sorrindo agora.
Os lábios de Lena se curvaram, mas isso não iluminou seu rosto como poderia. — Meu Deus —, disse ela em um tom falsamente brilhante. — Quanto sangue você tirou, Honor?
— Não fazia ideia que você tinha medo de agulhas. — Disse Honoria, olhando para o minúsculo frasco.
— Achei que pudesse lidar com isso. — Já fazia muito tempo que ele desmaiava.
— A exibição? — Blade perguntou.
Onde ele encontrou Will quando menino. Acorrentado no palco no Extremo Leste de Londres e forçado a exibir sua força monstruosa e capacidade de cura para a multidão ofegante. O diretor do circo, Tom Sturrett, cortava-o com lâminas de ferro. Apesar da presença do vírus lupino, as más condições e a falta de comida faziam com que ele nem sempre se curasse tão rapidamente quanto desejavam. Então a Sra. Sturrett iria costurá-lo com sua agulha grossa.
Não demorou muito para que apenas a visão fosse o suficiente para fazer o sangue correr para fora de sua cabeça.
Lena juntou as mãos enluvadas no colo, mechas de cabelo castanho macio escapando de seu coque. Ela devia estar com pressa, pois seu chapéu ainda estava inclinado alegremente sobre a testa, uma pena escarlate escorrendo por uma bochecha. Seu olhar permaneceu na pena.
— A exibição? Que exibição? — Ela perguntou.
Blade encontrou seu olhar. — Quando...
— Nada. — Ele retrucou.
Todos olharam para ele novamente e Will amaldiçoou sua franqueza. Nada despertaria mais a imaginação de Lena do que uma negação brusca. Ele já podia ver a curiosidade se formando em seus olhos. Ela estaria atrás de seus segredos agora como um furão.
Talvez fosse melhor dar a eles a versão condensada. — Costumava ser exibido nas lojas de como uma curiosidade. Ou no palco no Covent Garden. — Tornando a voz mais alta, ele imitou o grito do diretor Sturrett. — Venha e veja a Besta feroz! Testemunhe o último verwulfen restante de Londres acorrentado! — Ele quase podia sentir o cheiro do tabaco felpudo barato que o público fumava e o fedor de corpos velhos e sujos. — Depois de cantar e dançar, eu era o evento principal. Eles me arrastariam para fora em uma gaiola e o público jogaria comida estragada em mim. Ou às vezes eles me vestiam com peles de lobo e alguns dos atores representavam os sangues azuis. Normalmente acabaria quando eles me atacassem com espadas.
Os olhos de Lena se arregalaram. — Eles realmente te apunhalavam?
— Com ferro. — Sua voz estava dura. — Cura bem rápido. A menos que seja de liga de prata.
— Uma semelhança que você compartilha com Blade. — Honoria meditou.
— Honestamente, Honoria. Como você pode pensar sobre a doença depois de ouvir algo tão terrível! — Lena retrucou a irmã. Então olhou para ele. — Eu pensei que você tinha quinze anos quando Blade o trouxe para casa?
— Eu tinha. Ou quase. Não acompanhei muito o tempo, na gaiola.
Os olhos de Lena suavizaram com angústia.
Will não esperava que ela o defendesse ou simpatizasse. A maior parte da multidão era formada por estranhos e coisas semelhantes, mas às vezes um dos Escalão pagava Sturrett para exibi-lo em suas grandes casas em Mayfair. As senhoras usavam sedas finas e brincavam com os extravagantes diamantes e pérolas em volta do pescoço - mulheres chiques vestidas como Lena - mas pelo menos não jogavam nada nele. Em vez disso, elas o olhavam com seus olhinhos quentes, sussurrando e sorrindo maliciosamente atrás de seus leques.
Os cavalheiros não gostavam nada disso. Will não teve coragem de dizer a eles que compartilhava seus sentimentos. Não teria importado de qualquer maneira. Ninguém o ouviu quando ele estava na jaula. Ele se tornou pouco mais que um animal para eles. No final, ele parou de falar, rosnando e mordendo com eles quando se aproximavam dele. Esse foi o pior da degradação. Se Blade não estivesse na plateia uma noite e forçou Sturrett a libertá-lo, ele estremeceu ao pensar como ele poderia ter acabado.
— Ambas as doenças não gostam da presença de prata —, ponderou Honoria. — O que sugere um ancestral comum, por assim dizer? Quanto mais sabemos, maior a probabilidade de encontrar uma cura. Vou examinar a amostra no microscópio e começar os testes. Talvez fosse melhor se você não estivesse aqui, Will?
Não era a visão de sangue como ele, tanto quanto as agulhas. Mas ele tinha que sair daqui. Sua pele estava coçando.
— Sim. Eu vou embora.
— Não saia da casa —, disse Honoria. — Você não está apto para sair ainda. Eu quero verificar você antes de ir. Lena?
A cabeça de Lena se ergueu como uma corça assustada. — Sim? — Ela perguntou com cautela.
Honoria respirou fundo, como se considerasse suas palavras. — Você pode acompanhar Will até a cozinha e sentar-se com ele um pouco? Certifique-se de que ele coloque algo em seu estômago. Você sabe como ele fica depois de alguma empolgação.
— Isso não é necessário. — Disse ele.
Lena trocou olhares com ele. — Eu esperava falar com você, Honoria.
Até Blade olhou para ela, uma pergunta silenciosa em seu olhar. Os olhos de Honoria encontraram os dele e de alguma forma a pergunta foi respondida. Blade rosnou baixinho e assentiu. — Melhor colocar algo em você, Will. Estaremos lá em breve.
Não haveria ajuda para isso. Ele estava preso a ela e a sala de repente ficou muito pequena. Will abriu a porta e entrou. Lena correu atrás dele em um farfalhar de saias com uma maldição murmurada sobre os cavalheiros permitirem que as damas fossem primeiro.
— Eu não sou nenhum cavalheiro.
— Bem, todo mundo sabe disso, — ela murmurou. — Eles não chamam você de Besta por nada.
As palavras não deveriam ter doído. Ele foi chamado de coisa pior durante anos. Na verdade, ele assumiu o nome, moldando-se a ele. Usando-o para manter curiosos à distância e predadores na ponta dos pés.
Mas, por alguma razão, ouvir isso de seus lábios foi como uma faca no peito.
Seguindo seu nariz até a cozinha, ele a encontrou vazia. Dama Luck não estava com ele hoje. Embora uma panela de sopa borbulhante no fogão tivesse evidências da governanta de Blade, Esme, não havia sinal da mulher real.
Um leve toque atrapalhou seu pulso. A seda macia de suas luvas até o cotovelo. — Aqui — disse Lena, puxando a mão dele em direção a um dos bancos baixos perto da lareira. — Sentar. Vou buscar um pouco de sopa para você.
Ela o deixou ir, mas a sensação de seu toque permaneceu, como impressões digitais fantasmas. Will afundou lentamente no banquinho, observando enquanto ela se agitava na cozinha.
Lena parecia deslocada. A lareira dominava a cozinha e emitia um manto constante de calor. A fuligem manchava o teto, e as bancadas eram pesadas e marcadas pelo uso frequente. Cordas de cebolas e ervas estavam penduradas no banco principal, junto com uma fileira de potes de cobre pendurados em ganchos de metal. Era acolhedora e convidativa. Precisamente tudo o que Lena não era.
Suas saias de veludo vermelho estavam enganchadas apenas o suficiente para revelar uma espuma sedutora de saia de baixo, e seu espartilho estreitava uma cintura já esguia para um tamanho que ele poderia abranger com as mãos. Faixas pretas de renda decoravam seu corpete e os painéis de suas saias. Quando ela estendeu a mão para tentar pegar uma tigela, os montes cremosos de seus seios ameaçaram cair de seu corpete. Uma sugestão de renda preta afiou sua pele cremosa.
Os dedos de Will coçaram.
Ele podia se lembrar da primeira vez que a tinha visto, movimentando-se ao longo do Beco Petticoat com suas saias Serge cinza balançando ao redor de seus tornozelos e seu chapéu surrado mal protegendo-a da chuva. Segurando um jornal encharcado sobre a cabeça, ela escorregou na beira da sarjeta e o jornal se rasgou em dois, desintegrando-se nas mãos de Lena. Com uma risada indefesa de um par de meninos de rua, ela deu de ombros e jogou o jornal de lado. O som de sua risada foi direto para ele; era o tipo de som que sempre fazia Will se sentir como um estranho olhando para dentro. A alegria irradiava dela, como o calor do fogo em uma noite fria de inverno, e Will sentiu uma agitação quase invejosa, como se quisesse estender as mãos e pegar um pouco de sua felicidade efervescente. Arrastando o chapéu da cabeça, ela inclinou o rosto para a chuva enquanto ela molhava seus lábios, seus cílios tremulando contra suas bochechas pálidas, e Will quase caiu do telhado enquanto se esforçava para olhar.
As mulheres o incomodavam na melhor das hipóteses. Sua própria mãe o vendeu assim que ficou claro que ele era verwulfen, e a única outra mulher em sua vida tinha sido Esme. Depois de um ano ou mais de sua presença no labirinto, ele começou a relaxar perto dela, mas tudo sobre Lena o deixava nervoso. Uma sensação curiosa e desconfortável que ele não entendia. Com um vampiro perseguindo as colônias, ele estava encarregado de ficar de olho nos irmãos mais novos Todd e proteger a casa à noite. Todos os dias ele seguia Lena para o trabalho e depois para casa novamente, sem que ela soubesse. Reclamou disso para todos que conhecia, mas a verdade é que ele começou a saborear os momentos em que ela aparecia na porta do relojoeiro, dando um aceno alegre de volta para a loja. Na dura realidade da vida de Will, Lena se tornou a única faísca brilhante, um anseio por algo que ele nunca teve ou sentiu antes.
Era seguro para ele se sentir assim. Ela era uma estranha ainda, nenhuma ameaça para ele, nem ele para ela. Não foi até que ficou cara a cara com ela que percebeu como a realidade poderia ser diferente. Pisando no telhado uma noite em sua camisola, de todas as coisas, Lena olhou para ele como se ele fosse algum bruto corpulento, lançando um olhar rápido para a janela que ela tinha entrado.
Com as palmas das mãos suando e a garganta apertada, Will não conseguia falar. Então, de repente, as palavras vieram, rudes e estranhas. — Você não chegaria a tempo —, ele disse. — E se você não poderia me evitar, então você pode não evitar qualquer um. Você é estúpida, garota, de vir aqui com a criatura à solta? Ou só quer morrer?
A pior coisa que ele poderia ter dito, pois seus olhos se estreitaram e ela se esboçou como se fosse uma rainha e ele o mais baixo da escória das ruas.
Ela o fazia se sentir como o menino pequeno e indefeso que ninguém queria - ninguém além de Sturrett, que tinha visto uma maneira de ganhar dinheiro com ele. Will tinha jurado que nunca se sentiria impotente novamente, mas vê-la sempre o jogava em um turbilhão de emoções, e mesmo agora a parte faminta e zangada dele estava inquieta. Sua besta, rondando como um lobo enjaulado dentro de seu peito.
Não posso deixar isso sair.
Nunca posso deixar isso sair.
— Você não precisa fazer isso —, disse ele sem rodeios, enquanto ela se movimentava pela cozinha. — Eu posso cuidar de mim mesmo.
Lena soltou o chapéu e jogou-o descuidadamente no banco, seguido pelas luvas. A sugestão de pele lisa e unhas bem cuidadas atraiu sua atenção. Ela o tocou uma vez com aquelas mãos e ele nunca esqueceria.
— Você sempre precisa de comida depois de um de seus episódios. — Cantarolando baixinho, ela começou a colocar a sopa em uma tigela.
— Não foi um episódio. — Seu tom era muito mais áspero do que pretendia e ela se acalmou. Amaldiçoando-se, ele continuou: — Eu só fico trêmulo quando me esforço ou perco muito sangue. É apenas o vírus, me curando. Isso é diferente.
— Honoria me disse para alimentá-lo. — Apesar de sua estudada indiferença, ela estava nervosa. Dele. Ele podia sentir o cheiro. — Você pode discutir com ela se quiser. Eu não vou perder meu fôlego.
Como ele não disse nada, ela voltou a servir a sopa.
— Não sabia que você sabia se virar na cozinha —, disse ele, simplesmente para afastar o silêncio desconfortável da cozinha. — Eles ensinam isso em suas salas extravagantes?
Olhos escuros olharam para a tigela. Ela parecia genuinamente surpresa por ele ter feito uma pergunta. Depois de passar os últimos três anos tentando ignorá-la, não havia dúvida do porquê.
— Eu costumava preparar a maioria das refeições depois que papai morreu e quando viemos para Whitechapel —, ela respondeu, baixando os cílios novamente enquanto se concentrava na tigela. — Honoria sempre voltava do trabalho mais tarde do que eu.
— Você cozinhava? — Ele pegou a tigela dela e pegou a colher. A mão dela era pequena ao lado da dele e muito pálida. Mundos diferentes, o par deles.
— Seriamente. — Ela lançou-lhe um sorriso repentino que iluminou todo o seu rosto.
Puta merda. Ele olhou para a sopa. Seis meses desde que a vira pela última vez - um ato deliberado em seu nome - e ele quase se esqueceu de como ela podia aquecer seu sangue com um sorriso, um olhar.
Um beijo descuidado.
— E agora você vai para os bailes. — Ele colocou a zombaria em sua voz, mas o esforço parecia vazio. Refugiando-se na sopa, quase queimou o céu da boca.
— Gosto de dançar. — Seus olhos se estreitaram perigosamente. — E bailes. Os homens lá se comportam como cavalheiros. É uma surpresa agradável.
— Você ainda não tem um contrato de servidão. — Ele estava esperando para ouvir uma palavra sobre isso. Imaginando um daqueles bastardos de sangue azul com a boca e as mãos sobre ela enquanto bebia seu doce sangue.
A cor alagou suas bochechas. — Não. Eu ainda não me decidi. E não há pressa.
— Sem pressa? Você não está ficando perigosamente perto de estar na prateleira?
— Eu mal tenho vinte anos. — Ela retrucou.
— Eu vejo. Você prefere mantê-los pendurados?
— Isso não foi o que eu quis dizer.
— Parece o tipo de jogo que você joga.
Uma expressão perigosa naqueles olhos. Lena girou nos calcanhares, agarrando as luvas. — Espero que você se engasgue com a sopa, seu grande e peludo estúpido. Você não sabe nada sobre mim. Qualquer coisa!
Um pedaço de papel caiu de sua manga quando ela se virou, caindo no chão como uma mariposa morrendo.
— Ah, estamos de volta a isso, não é? — Ele perguntou, colocando a sopa de lado para esfriar. Abaixando-se, ele pegou o pedaço de papel. — Você deixou cair alguma coisa.
Lena congelou na porta. Sua mão foi imediatamente para sua manga, e então ela se virou, seus olhos se arregalando. — Me dê isto!
Will se levantou, quebrando o selo e desenrolando o pequeno rolo de papel. Ele teve apenas um vislumbre de letras pretas grossas antes de Lena tentar puxá-lo para fora de suas mãos.
— Uma carta de amor, aposto. — Ele se virou e fingiu ler.
Uma lufada de perfume o envolveu, as saias dela balançando contra suas pernas. Ela agarrou seu ombro, tentando arrastar seu braço mais para baixo, seus seios esmagados contra a grande extensão de suas costas. Qualquer tentativa de leitura saiu direto de sua cabeça.
— O que você sabe sobre cartas de amor? — Ela subiu no banquinho e pegou o pedaço de papel. O passo a colocou no nível dos olhos dele. Perigosamente íntimo. — O tipo de mulher que gostaria de ter você não é o tipo de escrever poemas.
— Não tenha tanta certeza —, ele disparou de volta. — Você ficaria surpresa com o tipo de poemas que sussurram em meu ouvido.
— Urgh. Você é desprezível.
O banco balançou e seus olhares se encontraram. Lena gritou e se agarrou a ele ao cair. Will se viu com uma braçada de veludo macio e carne quente, e o som de dois corações acelerados.
O mundo desacelerou. Tornou-se nada mais do que a sensação dela em seus braços. Will olhou em seus olhos, então seu olhar caiu, espontaneamente, para seus lábios.
Os olhos de Lena se arregalaram e ela fez um barulho sufocado. — Ponha-me no chão.
Ele mal conseguia respirar. A fome dentro dele de repente o sufocava, desesperado para sair e governar seu corpo. Ele sabia que o âmbar ardente de seu olhar estava se intensificando; ele quase podia sentir o calor derretido percorrendo suas íris conforme a cor mudava.
— Will, — ela sussurrou. — Seus olhos.
A respiração dela estava quente em seus lábios. Ela estava mastigando algo com maçã e canela. Ele podia sentir o cheiro em seu hálito e de repente ele queria saboreá-lo.
Não.
Empurrando-a para longe, ele se virou, o papel amassando em seu punho. Ele tinha que sair daqui. Longe do cheiro dela. Longe da tentação de fazer algo que ela nunca o perdoaria.
Talvez Blade e Honoria estivessem certos. Talvez ele não fosse confiável?
— Will, — ela sussurrou. — Você está tremendo.
Ele olhou para suas mãos. O tremor começou lá, varreu todo o caminho por ele. — Você estava certa —, disse ele com voz rouca. — Talvez eu tenha me esforçado.
— Talvez seja melhor eu ir?
Parecia que algum senso de autopreservação havia se apoderado dela.
Ele acenou com a cabeça, lutando para se segurar. O que diabos havia de errado com ele? O que importava se ela tivesse encontrado... alguém? Instantaneamente a raiva voltou, densa e sufocante, uma névoa vermelha ameaçando sua visão.
— Você não deveria ter vindo. Este não é o seu mundo agora. — As palavras eram duras e ele queria que fossem.
Silêncio. — Eu sei. Achei que você não estaria aqui. Você nunca está aqui ao meio-dia.
Razão pela qual ela só visitava nessas horas.
— Então por que você não vai?
— Minha carta?
Passos suaves se arrastaram atrás dele. A saia dela roçou nas pernas dele e então a mão dela deslizou pelo braço dele, fechando-se sobre a carta em seu aperto. Uma carta que ela estava tão desesperada para recuperar.
Havia apenas uma razão para ela não querer que ele visse.
De repente, ele não conseguiu se conter. Ele tinha que saber, mesmo se a resposta fosse uma que ele particularmente não gostasse. Lena gritou, lutando com ele por isso.
Ele se partiu ao meio e os dois se separaram, deixando um pedaço cada. Will o desenrolou, seu olhar disparando sobre o pedaço de papel. Não cartas. Não escrevendo. Seu olhar se aguçou. Ele já tinha visto isso antes. A mesma cifra que ele encontrou nos homens que demitiram as fábricas de drenagem.
Seu estômago caiu. — O que diabos você está fazendo com isso? — Ele sussurrou, sua voz cheia de um medo frio e inexplicável.
Lena deu um grito estrangulado e disparou para a porta. Will agarrou a saia dela quase como um lado, o choque correndo seus dedos gelados por sua espinha. — Não pense que você vai a lugar nenhum. Não até que você me diga onde diabos você encontrou isso!
— Eu peguei. — Ela mentiu, o cheiro amargo disso tudo sobre ela.
Will a agarrou pelo ombro e a girou em direção ao banco que ela quase derrubou. — Sente-se, — Ele rosnou, empurrando-a no assento. — E explique. E se eu fosse você, não me atreveria a me contar outra mentira.
Capitulo 4
Will se elevou sobre ela com uma carranca.
— Explique. — Ele exigiu.
Seus olhos brilhavam com aquela estranha cor âmbar que mostrava que ele não era exatamente humano. Lena caiu para trás, segurando-se no banco para se manter de pé. Ela não se atreveu a se mover, mesmo quando o banquinho balançou sob ela.
Mas ela não se atreveu a dizer a ele.
— Ou? — Ela perguntou, erguendo o queixo e encontrando seu olhar furioso. Seu batimento cardíaco martelava em seus ouvidos. Ele não a machucaria. Ainda assim, seu olhar caiu para a aljava em suas mãos. Talvez fosse esforço. Talvez não. Ela nunca o tinha visto assim antes.
Suas narinas dilataram-se e ele se virou e bateu com as duas mãos no banco. Com a cabeça baixa, ele respirou fundo. Então outra vez.
— Eu...
— Não fale. — Uma lima gravemente. — Me dê um momento.
Lena engoliu em seco. O que havia de errado com ele? Ela se endireitou, colocando as quatro pernas do banquinho no chão. O relógio na parede marcava os segundos. Cada tique parecia esticar, o tempo diminuindo conforme a tensão se instalava na cozinha. Ela mal podia suportar.
Tão repentinamente quanto ele se virou, Will ergueu a cabeça e se afastou do banco. Seu cabelo castanho dourado estava comprido o suficiente para tocar seu colarinho, e ele o afastou dos olhos com um gesto afiado.
— Sem mentiras, — ele avisou, apontando um dedo para ela. O pedaço de carta ainda estava esmagado em seu outro punho. — Onde você conseguiu isso?
— Eu não posso te dizer.
Will colocou as duas mãos no banco atrás dela e se inclinou para mais perto. Prendendo ela. — Não me faça contar a Blade.
Se Will falasse com Blade, ele falaria com Honoria e então Honoria... bem, ela provavelmente gritaria com Lena sobre o quão estúpida ela tinha sido, se envolvendo em tal coisa.
— Você correria e tagarelaria sobre mim? — Ela ignorou o brilho de raiva de ouro derretido em seus olhos. Will nunca entenderia o que ela estava tentando fazer, e ela estava muito ciente dos perigos de envolver outras pessoas.
Will segurou o queixo dela com os dedos. Seu lábio curvou para trás em seus dentes. — Isto não é um jogo. Eu contaria a Blade porque está claro que você superou sua cabeça. Já vi algo assim antes. Em um homem que incendiou as fábricas no esgoto. Lena, são propriedade do governo! O Escalão destruirá quem fez isso. — Ele acenou com a carta para ela. — Se isso impedisse que você cortasse a cabeça, então tirarei uma página inteira do Times!
— Isso soa quase como se você se importasse.
O pensamento cintilou em seu olhar encoberto. Indecifrável. Ela descobriu que estava prendendo a respiração, o que era ridículo.
— Eu não quero ver você se machucar, — ele disse finalmente. — E sua irmã me esfolaria vivo se alguma coisa acontecesse com você e eu soubesse disso.
Tolice pensar que ele poderia ter se importado, mesmo um pouco. Seus ombros caíram. — Eu prometi a um amigo que entregaria por ele. Eu não tinha ideia do que havia dentro. Eu ainda não sei. Isso poderia ser uma lista de lavanderia, para tudo que você sabe.
— Vamos fingir que não consigo sentir o cheiro toda vez que você mente para mim.
— Essa é a verdade! — Essa foi a parte mais difícil de sua causa - mentir para seus amigos e familiares. Mas se ela os envolvesse agora, quem sabia o que poderia acontecer? Will estava certo. O Escalão mataria qualquer pessoa que suspeitasse de estar envolvido nisso. Ela olhou inquieta para a carta. Mandeville tinha dito que ela estava apenas deixando os pontos de encontro e horários para um dos outros espiões que trabalhavam no Escalão.
Ela enviava as cartas a algum conspirador misterioso e as levava para o Sr. Mandeville. E se uma dessas cartas fosse instruções para queimar as fábricas? Ela precisava desesperadamente ficar sozinha, para pensar.
De repente, o mundo se tornou um lugar muito mais perigoso.
— Lena. — O rosnado que saiu de sua garganta foi quase primordial. O tipo de som que você esperava ouvir em uma floresta com neve, tarde da noite, sozinha. O tipo de grunhido que causou arrepios em sua espinha porque ela sabia que significava que ela era a presa.
Corra, uma vozinha sussurrou.
— Eu... Eu...
Não mais contente em jogar, ele agarrou seu queixo e a olhou fixamente, seus olhos âmbar queimando através dela. Lena parou de respirar. Ela não tinha nada a temer - esse era Will - mas algo nela, alguma parte inconsciente de seu corpo, reconheceu o perigo quando o viu. Os pequenos pelos ao longo de seus braços se levantaram, seu estômago girando em chumbo.
— Eu não estou...
Risos soaram nas escadas. Lena olhou para a porta com alívio quando a governanta de Blade, Esme, e seu marido Rip passaram por ela.
Will se endireitou instantaneamente, os dedos escorregando de seu queixo. Ele desviou o olhar para esconder os olhos dos recém-chegados e se dar a chance de controlar a besta dentro dele. Ele cavalgava perto da superfície de sua pele hoje, um predador sob todos aqueles músculos elegantes e poderosos.
— Lena! — Esme cumprimentou, seu cabelo preto preso para trás em um coque simples. Ela pegou as mãos de Lena e beijou-a na bochecha. — Eu não sabia que você estava me visitando hoje.
— Foi uma decisão momentânea —, Lena respondeu rapidamente. — Você parece bem. A vida de casada combina com você.
Esme sorriu por cima do ombro para Rip. O gigante ameaçador havia assustado Lena no início, com seu braço mecânico pesado e expressão sombria. Nos primeiros meses que ela viveu no cortiço com sua irmã e Blade, Rip estava sofrendo com as primeiras manifestações do vírus do desejo. Ela podia se lembrar de seus gritos e da maneira como ele rasgou seu quarto em fúria. Nem mesmo Blade foi capaz de controlá-lo e apenas Esme poderia acalmá-lo.
— E Will, — Esme disse, com uma leve nota de repreensão em sua voz. — Vejo que você esteve na minha sopa.
— Sugestão de Honoria, infelizmente —, respondeu Lena. Ela sorriu docemente quando Will se virou. — Ele teve um episódio envolvendo um ataque de vapores.
Se olhares pudessem matar...
Mas ela estava segura agora, com testemunhas na cozinha. Quando ele a pegasse sozinha - e ele faria, ela sabia - ele poderia fazer qualquer coisa com ela.
Rip soltou uma risada. — Você desmaiou, garoto?
— Tive de usar meus sais aromáticos. — Respondeu ela, tirando o chapéu e as luvas do banco. Os olhos de Will observaram o movimento, embora seu corpo e rosto nunca se movessem.
— Lena —, disse ele rispidamente. — Você vai dar um passeio comigo?
Não uma oportunidade. Ela lançou-lhe um sorriso encantador. — Eu tenho medo que eu tenha que ir. Tenho um encontro na chapelaria. Foi bom visitar, no entanto. Terei que vir com mais frequência. — Outra mentira descarada. Ela não voltaria aqui a menos que tivesse certeza absoluta de que Will não estava lá.
Ele deu um passo em direção a ela, mas Esme estava no caminho. Will parou, a frustração cintilando em seu rosto. Mas ele não se atreveu a empurrar. Não com Rip montando guarda sobre sua esposa e ainda excessivamente protetor.
— Até a próxima vez. — Disse ela, olhando-o diretamente no rosto.
Ele demorou muito para responder. E quando o fez, ela quase recuou ante a ameaça em seu tom.
— Vai ser mais cedo do que você pensa.
Will bateu a porta, seu olhar vasculhando o pequeno apartamento. Era onde ele morava, mas não era sua casa. Faltava o calor e as risadas do cortiço. Ele jogou o casaco de lado e acendeu uma vela, sua respiração fumegando no ar da noite. Apesar de uma tarde inteira lidando com os negócios de Blade na colônia, o cheiro de madressilva ainda se agarrava a suas roupas.
Ele fez uma careta e encontrou um pedaço de torta restante na geladeira. Ele não queria pensar nisso. Lena pensou que ela tinha escapado dele hoje, mas ela tinha esquecido uma coisa.
Will sempre tinha sua presa. No final.
O que diabos a garota tola estava fazendo? Carregando um documento tão potencialmente devastador? Se alguém no Escalão a encontrasse com isso, haveria perguntas. Se eles soubessem o que significava, ela seria executada.
O frio o atingiu com o pensamento. Sua risada e provocação, para sempre interrompidas. Embora sua presença o deixasse inquieto, ele nunca queria vê-la prejudicada. Na verdade, o próprio pensamento fez sua raiva erguer-se e a fúria ameaçava derramar sobre ele.
Ele nunca se sentiu assim antes. Um vislumbre dela e cada necessidade primitiva correu para reivindicá-lo, ameaçando oprimir suas defesas cuidadosas.
O mero pensamento dela em perigo...
Ele parou. Abaixou o garfo. A veia em sua têmpora latejava quando ele respirou fundo. Então outra vez. Não pense nisso. Não até que ele estivesse sob controle.
Sempre que for. Com uma risada rouca, ele pegou o garfo novamente e espetou-o na torta. Enquanto ele mordia a carne saborosa, um som chamou sua atenção da escada externa.
Alguém se esgueirando até sua porta.
Alguém sobrenaturalmente quieto.
Deslizando o garfo com mais força, ele o segurou baixo contra a coxa e cruzou silenciosamente até a porta. Couro deu sabor ao ar, mas nenhum perfume pessoal. Um sangue azul então. Eles perderam seu cheiro característico quando foram infectados com o desejo.
Will abriu a porta e deu um passo à frente, agarrando o intruso pela garganta e jogando-o contra a parede.
Uma mão agarrou seu pulso, o polegar cravando-se nos tendões com força suficiente para aliviar seu aperto. — Trégua, — Blade disse com voz rouca. — Se eu quisesse você morto, você não me ouviria chegando.
Will o deixou ir com uma carranca de desgosto. — Puta merda. Você deveria estar na cama. — Ele deu um passo para trás. — Honoria sabe onde você está?
— Claro. Você não consegue ouvir a discussão ainda soando? — Blade afrouxou o colarinho. — Eu não sou um homem velho e fraco. E não posso me dar ao luxo de ficar preso na cama pela próxima meia semana.
— Você está bufando como um fole.
— Vou recuperar o fôlego. — Blade olhou além dele. — Você está um pouco arisco aí, Will. Tem alguma coisa em sua mente?
Ele gesticulou para Blade entrar, então fechou a porta atrás deles. Essa coisa toda com Lena o deixou nervoso, esperando sangue azul em cada sombra. — Qual é o problema? Você não gosta de visitas sociais.
Blade inclinou o quadril sobre a mesa e cruzou os braços. — Não sou bem-vindo? — As palavras foram baixas, mas o brilho nos olhos de Blade falava de um monte de outras coisas.
Will bateu na cadeira e pegou a torta. Ele tinha perdido o apetite. — Não seja idiota, — ele murmurou. — Você é sempre bem-vindo.
Um olhar firme, observando-o. Então Blade suspirou. — O que você acha disso? — Ele retirou um papel do bolso e o jogou na direção de Will.
Quem o pegou do ar. Desenrolando-o, ele ergueu o papel contra a luz. As letras eram inclinadas e enroladas. E escrito em ouro.
— 'O Conselho dos Duques pede sua presença no baile de Lorde Harker amanhã à noite às oito'—, ele leu lentamente, atrapalhado com as palavras. — 'A casa será considerada território neutro para a noite'. Traga a Besta. Ele receberá uma passagem segura durante a noite. '
Abaixando-o, ele encontrou o olhar de Blade. — Uma armadilha?
Blade coçou o queixo. — Acho que não. Mas é algum tipo de jogo. Dane-se se eu posso resolver isso. — Seus olhos se encontraram. — Ou por que eles estão envolvendo você.
— Bem. — Will esmagou o papel em seu punho. — Eu não devo nada a eles. E nem você.
— Sim. Mas o que eles querem? — Blade fez uma careta. — Eu comi esses malditos jogos. Atrevo-me a ignorar? Pode ser qualquer coisa. — Com um suspiro, ele se afastou da mesa. — Eu não estou esperando que você venha. É perigoso para você, aquele mundo...
Um pensamento o atingiu. Lena certamente estaria presente. Esse era precisamente o tipo dela. E o último lugar em que ela esperava vê-lo.
Pensou que você poderia correr, não é?
— É perigoso para nós dois, — Will corrigiu lentamente. — Você vai, eu vou. — Ele era o guarda-costas de Blade em todos os assuntos. — E eu tenho outros negócios para fazer lá. É melhor aceitar sua oferta gentil de passagem segura e ver o que os bastardos querem.
— Não seria um negócio de saias?
Will lançou a ele um olhar sombrio.
— Você precisa de uma mulher. — Blade acrescentou sem rodeios.
As palavras evocaram uma imagem: cabelos escuros, olhos escuros, um sorrisinho malicioso. Seu pênis se apertou. — A última coisa que preciso é de uma mulher.
— Você precisa de algo então. — O olhar de Blade vagou por seus arredores escassos. — Você deveria vir, Will. É um lugar frio e solitário. Você não pertence aqui.
Eu não pertenço a lugar nenhum. Na verdade não. Ele desviou o olhar, seus ombros enrijecendo. — Nós tivemos essa discussão. A resposta é não.
Um suspiro longo e prolongado encontrou seus ouvidos. — Sim. Eu vou deixar você com isso então. Só você e os ratos. Esteja pronto então, amanhã às seis. Ah, e Will?
— Sim?
— Não seria preciso fazer a barba.
Capitulo 5
— Preciso de um pouco de ar. — Disse Lena, abanando o rosto vermelho. As penas de pavão roçaram seus lábios, mas ela as ignorou, seu olhar seguindo o belo e jovem duque de Malloryn enquanto ele escoltava a duquesa de Casavian para fora do salão.
Ambos eram chefes de suas casas e membros do conselho governante dos duques. E como o duque de Goethe havia se aposentado há apenas cinco minutos, ela só podia presumir que eles se encontrariam para discutir algo importante.
Esperançosamente, a questão escandinava.
Adele bebeu um copo de limonada gelada. — Isso é sábio?
Olhos verdes encontraram os dela, o olhar duro neles se tornando cauteloso por um momento. Lena apertou a mão dela. — Ele não está aqui. Eu chequei.
— Não se cegue, Lena. Colchester não é o único perigo.
Lena assentiu. O salão varreu ao seu redor em uma profusão de cores enquanto a multidão dançava. Ao redor das paredes assomavam uma dúzia de sangues azuis, bebendo seu vinho de sangue e observando a pista de dança com olhos predadores. — Você estará segura?
— Eles não são os únicos a caçar. — Adele sorriu, mas não tocou seus olhos. — Eu disse que preciso de um patrono.
— Seja cuidadosa. — Lena apertou sua mão enluvada. O duque e a duquesa desapareceram. Dando um último sorriso a Adele, ela correu atrás deles.
A duquesa estava usando um vestido de beringela profundo que realçava a cor de seu cabelo acobreado. Lena saiu do salão. Espiando por cima da balaustrada do segundo andar, ela passou o olhar pela entrada de ladrilhos brancos abaixo. Uma enorme escada ocupava a maior parte do foyer. Mais de uma dúzia de homens e mulheres alinhavam-se nas escadas e na entrada, vestidos em uma variedade de cores brilhantes. Pelo calor de sua pele e a escuridão, cabelos negros em um par deles, eles eram provavelmente humanos, nenhum deles alto o suficiente para receber o presente de sangue infectado. Somente aqueles de boa linhagem e posição passavam pelos ritos de sangue aos quinze anos. Era um sinal de status, de prestígio.
Era preciso mais do que ser um sangue azul para ser considerado parte do Escalão. Qualquer outro infeliz que fosse infectado acidentalmente era considerado pouco mais do que um renegado. Esses sangues azuis eram convocados para os Falcões da Noite, oferecidos um lugar nos Guardas de Gelo que protegiam a Torre de Marfim e o Conselho ou eram mortos.
Os humanos podiam navegar pelas bordas sombrias do Escalão - como ela - mas nunca foram realmente uma parte dele. Eles tinham seu lugar, como servos ou consortes em potencial, se suas linhagens fossem boas.
Evitando a estátua de mármore de um anjo, ela olhou para o corredor. Duas dúzias de parentes distintos de Lorde Harker olharam para ela das paredes. Lena varreu o topo da escada, sua saia verde pavão farfalhando. Havia outro corredor do outro lado.
Ela estava passando pelo enorme relógio de pêndulo que ocupava um lugar de destaque no topo da escada quando um silêncio caiu sobre o foyer.
Dois lacaios mantiveram cada uma das portas principais abertas, seus rostos impassíveis. Blade entrou, balançando uma bengala com ponta de ébano. Ele jogou a cartola para um criado que esperava e saudou o grupo boquiaberto na escada. Outro lacaio passou com uma bandeja de vinho de sangue, e Blade roubou um, examinando o foyer com interesse.
Will caminhava em seus calcanhares, seus ombros esticando o casaco preto que ele obviamente pegou emprestado. Ele usava um colete cinza, cuidadosamente escovado, e suas botas haviam sido esfregadas. A luz das velas brilhava nas mechas acobreadas de seu cabelo, e ele se ergueu sobre os servos pairando. Apesar do treinamento, dois deles fugiram de seu caminho como coelhos assustados. O olhar faminto de Will os seguiu como se ele estivesse pensando em persegui-los.
A respiração de Lena ficou presa, o calor sumiu de seu rosto. — Will. — Ela sussurrou. O que diabos estava ele fazendo aqui?
Will parou no meio do caminho, erguendo a cabeça como uma gazela fedorenta de leão, o âmbar brilhante e ardente de seu olhar fixando-se no dela. Seus lábios se curvaram em um sorriso ameaçador e Lena deu um passo para trás.
— Mais tarde. — Ele murmurou.
Ela desviou o olhar, seu coração batendo loucamente em seu peito. Por um momento ela pensou que ele estava aqui para ela, mas isso era tolice. Não com o preço pela cabeça. O que ele estava fazendo no coração do território Escalão? Eles consideravam sua espécie adequada apenas para ser enjaulada ou acorrentada. Se ele tivesse se metido em problemas...
— Senhor... Blade, — o mordomo se recuperou bem. — Mestre Will. Por aqui, se vocês não se importarem. Lorde Barrons está esperando por vocês.
Leo. Seu meio-irmão teve algo a ver com isso. As mãos de Lena se soltaram de suas saias. Por que Leo os convidaria aqui, quando ele poderia facilmente ter visitado Whitechapel? Ele era um dos poucos membros do Escalão. Blade tinha confiança o suficiente para garantir a passagem para Whitechapel.
O mordomo os conduziu pelo vestíbulo e para um dos corredores inferiores. Pouco antes de desaparecer, Will olhou para cima, lançando-lhe mais um olhar ardente. Queimou por todo o seu corpo, acendendo uma mistura de medo e ansiedade nervosa que ela não conseguia nomear.
Céus. Ela soltou a respiração que estava segurando e voltou para o segundo corredor. Ela tinha que sair daqui antes que ele a encontrasse.
Mas, primeiro, ela tinha um pequeno reconhecimento para terminar. Descobrir o que estava acontecendo entre os membros do Conselho, se ela pudesse.
Então ela iria pleitear um ataque de vapores, o que, considerando a velocidade com que seu coração estava batendo, não deveria ser tão difícil.
— Esteja pronto para qualquer coisa. — Blade murmurou enquanto caminhavam pelos corredores da mansão de Lorde Harker.
Will rolou seus ombros, seus olhos disparando pelas sombras. Blade não precisava alertá-lo. Ele tinha estado no limite desde que saíram da maldita carruagem. Vir aqui, no coração da sociedade, era perigoso. Ele tinha que estar pronto para tudo; sem mais surpresas.
Ele já tinha sua primeira surpresa da noite. Lena. Embora ele estivesse esperando por ela, mesmo saboreando a oportunidade, a visão dela temporariamente o deixou mudo. Ela sempre esteve bem vestida, mas envolta em sombras, a luz a gás destacando as curvas suaves e as profundidades misteriosas de seu corpo... Ela estava de tirar o fôlego.
Seu cabelo caía sobre o ombro em uma elaborada cascata de cachos, um pente elegante o segurando. Esmeraldas pingavam no V profundo de seu vestido verde, atraindo seu olhar para baixo. Ele mal podia esperar para ficar sozinho com ela. A expectativa latejava em suas veias, alertando todos os seus sentidos.
Ele só não sabia ainda se queria estrangulá-la ou beijá-la.
Uma porta se abriu e uma faixa de luz dourada cortou as sombras. Will refreou seus pensamentos rapidamente. Sem tempo para distrações. Melhor maneira de cortar a garganta.
Um homem apareceu, vestindo preto da cabeça aos pés. Ele se movia com a graça perigosa de um espadachim, seu corpo magro e rígido e seus olhos escuros cautelosos enquanto ele examinava o corredor escuro. Um brinco de diamante piscou em sua orelha e, embora ele não usasse armas, uma aura de violência sombria pairava sobre ele.
Leo Barrons. O guardião de Lena e possivelmente o único sangue azul que Will poderia tolerar além de Blade.
— Blade. — Barrons ofereceu sua mão. Seu olhar examinou a cena rapidamente, mas Will sabia que ele notou tudo ao redor deles, desde o padrão nos tapetes vermelhos, até a queda de seus casacos. — Momento excelente. O príncipe consorte deve chegar a qualquer momento.
— O consorte? — Blade arqueou uma sobrancelha. — Que coisa, que coisa, eles devem querer muito algo de mim, se estão trazendo à tona a pastosidade real.
Os lábios do Barrons se curvaram astutamente, mas ele sacudiu a cabeça em advertência. — Os outros estão lá dentro. — Uma deixa para Blade calar a boca. Barrons se adiantou com uma mão oferecida. — Will. Você parece uma montanha, como sempre.
— Mais perto do que antes, inclusive. — Blade murmurou.
Will o olhou friamente. — Tenho meu próprio conjunto de quartos agora.
— Sim, e ainda assim você ainda está na minha maldita cozinha toda vez que eu me viro. — Um sorriso cauteloso; Blade estava jogando por causa do Barrons - e dos outros dentro - mas não tinha esquecido onde estavam.
— Entrem, — disse Barrons, gesticulando para a porta. — Vou mandar buscar algum vinho de sangue. Will, você quer alguma coisa? Cerveja? Vinho?
Will deu a ele um longo olhar. Nenhuma chance no inferno de ele comer ou beber qualquer coisa que venha desta casa. — Prefiro me manter sagaz sobre mim.
— Ah, o guarda-costas estóico.
— Alguém precisa cuidar das costas de Blade.
Barrons e Blade trocaram um olhar. Blade caminhou em direção à porta. — Eles não vão me esfaquear aqui. Esse não é o jeito deles. Estariam em um beco uma noite, quando eu menos esperar. Isso são apenas jogos. Vamos, Will. Vamos ver o que o Conselho quer.
Quando Blade menos esperava... como na sala de estar de uma mansão enquanto uma festa estava em pleno andamento. Will caminhou atrás dos dois, preparado para pular para frente em um segundo. Eles pegaram suas armas na porta, mas isso não importava. Seu corpo era uma arma.
A luz do fogo se espalhava pelo salão, as sombras tremeluzindo. Will olhou para cima, seus olhos atraídos pelos painéis esculpidos que revestiam as paredes e os tetos ornamentados. Ele nunca tinha visto tanto ouro em toda sua vida.
E cortinas de seda. Que piada sangrenta. Metade da população de Londres mal podia pagar os impostos exorbitantes do Escalão, mas aqui estava um de seus senhores, em uma casa que provavelmente poderia alimentar Whitechapel por um ano. Ou cinco.
Ele não estava aqui para ficar boquiaberto com os móveis. Will baixou o olhar, mesmo quando Blade girou nos calcanhares, olhando para cima. — Ora, você deveria olhar para isso, — Blade disse. — O teto não é um espetáculo para se ver? Todos aqueles querubins e nuvens.
— Obrigado, — uma voz fria disse. — A mansão está na minha família há oito gerações.
O olhar de Will se estreitou no falante. Lorde Harker, ele presumiu. Em pé perto do fogo, com as mãos cruzadas atrás dele.
Os outros estavam sentados em um semicírculo ao redor dele. Ele sabia quem devia ser a mulher. Havia apenas uma mulher de sangue azul na Inglaterra, Dama Aramina, Duquesa de Casavian. A conheceu uma vez e não confiava muito no olhar dela. Ainda assim, quando o Conselho segurou a vida de Blade em suas mãos, ela foi o voto final, sua escolha selando seu destino. Por alguma razão - capricho ou política - ela escolheu deixá-lo viver.
Um dos outros homens era alto, com nariz aquilino e barba bem aparada. Toques de cinza salpicavam seu cabelo, sinais de um ar distinto, em vez de idade e fraqueza. Manderlay, o duque de Goethe. Outro que deu seu voto a favor de Blade.
O que deixou o último pequeno senhor, que recostou-se em sua cadeira Luís XIII, examinando o jogo de luz em seu vinho de sangue. Os anéis cintilavam em seus dedos e seu colarinho tinha sido deixado despreocupadamente aberto. Uma garrafa meio vazia descansava ao lado de seus pés calçados com botas. Will não o reconheceu, mas o sinete de grifo em seu dedo dizia que aquele era Auvry Cavill, o jovem duque de Malloryn. A ameaça menos provável, Will pensou, voltando o olhar para Goethe. Ele sabia quem era o homem mais perigoso na sala.
Todos eles votaram a favor de Blade. Will sentiu o cheiro de política no ar, rançoso como um casaco comido por traças. O príncipe consorte deve querer muito algo.
— Como está a sua esposa? — Perguntou o duque de Goethe.
— Curiosa. Teimosa. O mesmo de sempre. — Um sorriso genuíno suavizou o rosto de Blade.
— E como vão seus experimentos? — Perguntou a duquesa.
A única maneira que ela poderia ter sabido deles era se ela estivesse tendo o cortiço vigiado. Os olhos de Will se estreitaram. Nenhum dos três mostrou qualquer sinal de surpresa. O que significava que o Conselho provavelmente sabia tudo o que entrava e saía do cortiço.
Algo que Will teria que ver quando eles saíssem daqui.
— Ela gosta de mexer, — Blade respondeu com um encolher de ombros. Ele jogava este jogo muito melhor do que Will jamais poderia. — Acha que ela vai me curar um dia.
— Você acha que ela vai? — A duquesa deu um gole em seu vinho de sangue. A luz do fogo transformava seu cabelo acobreado em uma coroa flamejante ao redor de sua cabeça, mas apesar dos olhos castanhos de conhaque e do toque de cor em suas bochechas, seus modos eram tão frios quanto o inverno. Uma pequena aranha mecânica rastejava sobre seu ombro, amarrada por uma fina corrente de aço a um alfinete em seu peito. A cúpula de vidro de seu corpo mostrava as engrenagens de latão requintadas de seu interior mecânico. Ele tinha visto o tipo antes. Vire-os e a barriga será um relógio.
— Mantém-no divertido e fora de mim. — O sorriso de Blade era cortante. — Todo mundo sabe que não há cura para o desejo.
— Sim, mas o pai dela era Sir Artemus Todd. Não foi ele o gênio que descobriu todas aquelas armas para Vickers, antes de você matar o duque? Ouvi dizer que Todd estava perto de descobrir uma cura naquela época. Talvez sua esposa soubesse algo sobre o trabalho dele?
Blade pode ser bastante razoável às vezes. Mas não quando Honoria estava preocupada. Ele mostrou os dentes - algumas pessoas podem ter chamado de sorriso - mas Will sabia que era apenas a expressão que ele usava antes de cortar a garganta de alguém. — Talvez ela queira. Como venenos que realmente funcionam em um sangue azul ou uma arma com balas que explodem com o impacto. Mas nada de cura, princesa.
Para seu crédito, a senhora nem mesmo se encolheu. Em vez disso, ela pegou a aranha mecânica, deixando-a rastejar sob seus dedos. — Vejo que seu título de cavaleiro não tirou nada de sua selvageria.
— Você esperava que fosse?
— Cinquenta anos atrás você era perigoso, Blade. Os tempos mudam. Nossos recursos mudaram. Se quiséssemos nos livrar de você, simplesmente enviaríamos os Lançadores de Fogo e queimaríamos o cortiço. — A duquesa derramou mais vinho de sangue em sua taça e mexeu como se fosse chá. Como se ela não estivesse falando de guerra. — No momento, você é... um inconveniente. Fora da vista e longe da mente. Como o primo ovelha negra e constrangedor de alguém que continua aparecendo nos bailes.
— Se você está tentando me engraxar para este favor que você quer de mim, você não está fazendo um ótimo trabalho, princesa.
A duquesa parou de mexer, bateu três vezes com a colher na taça e a deixou de lado. Seus olhos amendoados se ergueram, cílios grossos e escuros tremulando contra suas bochechas suaves e pálidas. — Quem disse que o favor que desejávamos era de você?
Todos os olhos se voltaram para Will.
Leo fez uma careta. — Eu pensei em avisar você...
Os cabelos da nuca de Will se arrepiaram. Ele cruzou os braços sobre o peito e olhou de volta. — Não.
— Você ainda não sabe o que é. — Murmurou o jovem duque de Malloryn.
— Eu não gosto mais de você do que Blade gosta. E eu não confio em você tanto quanto eu poderia te jogar. — Ele olhou para o jovem pavão e mostrou os dentes. — Um sangue azul como você? Ora, eu acho que também poderia te lançar de maneira justa.
Malloryn ergueu os olhos preguiçosos para ele. Um rápido movimento de seu pulso e uma adaga apareceu, equilibrando-se na ponta de seu dedo. — Você teria que chegar perto o suficiente.
— Auvry, isso é suficiente. — Barrons murmurou. Seus olhos se encontraram e Barrons se endireitou, sua postura gritando o desafio silencioso no ar entre eles.
Malloryn encolheu os ombros - e a adaga desapareceu. — Você não é mais divertido, Barrons.
— Vamos pelo menos permanecer civilizados por tempo suficiente para dar algum crédito à nossa reivindicação de sermos cavalheiros. — Barrons se acomodou graciosamente em uma cadeira perto do fogo, enganchando seu tornozelo sobre o joelho. Apesar da aparência de relaxamento, seus olhos de pálpebras preguiçosos examinavam o lugar.
— E vocês são os que mais querem, — Blade respondeu, afundando em uma das outras cadeiras. Ele testou, impressionado com o enchimento. — Nunca trate com um homem tão velho como uma lâmina em sua garganta. É o que eu sempre digo.
Will ficou em guarda. Um som no corredor o alertou. Três passos separados, todos se movendo com propósito em direção à sala.
A porta se abriu e um par de guardas de gelo de elite entrou primeiro. Como parte da comitiva do príncipe consorte e zeladores da Torre de Marfim, eles foram tirados de suas famílias quando ficou claro que haviam sido infectados, colocados nos rígidos acampamentos da torre e treinados para matar. Will avaliou o par deles. Um deles devolveu o olhar com uma vigilância cautelosa. Não tendo medo. Mas marcando-o como um adversário em potencial.
O homem que os seguia elevava-se sobre os guardas. Com cabelos castanhos grossos e olhos vítreos, quase incolores, ele entrou na sala como se fosse o dono. Seu longo casaco vermelho girava em torno de seus quadris e um peitoral de metal brilhante protegia seu peito.
Will sempre pensou que o príncipe consorte era um homem mais velho. Ele ficou surpreso ao descobrir que talvez fosse mais jovem do que Blade. Ascendendo à Regência quase trinta anos atrás, ele conduziu a jovem princesa humana através das águas traiçoeiras do Escalão depois que seu pai foi derrubado. Para consolidar seu poder, ele então se casou com ela quando ela atingiu a maioridade, dez anos atrás.
O fato de ter sido ele quem derrubou o rei humano não era algo que geralmente era mencionado em companhias educadas.
— Sua Alteza. — Os homens se levantaram e se curvaram.
O príncipe consorte caminhou até o fogo, estendendo as mãos para aquecê-las. Ele olhou para cima, seus olhos azuis gelados examinando Will. — Então esta é a Besta de Whitechapel?
Um rosnado soou baixo na garganta de Will. Ambos os guardas de gelo se endireitaram, as mãos apoiadas em suas pistolas.
Os lábios do príncipe consorte se curvaram, apenas ligeiramente, e Will se forçou a relaxar. Jogos sangrentos. Testando-o para ver que tipo de homem - ou monstro - ele era.
O príncipe consorte examinou a sala. — Eles disseram por que você está aqui?
— Você quer algo de mim. — Respondeu Will. Não admira que eles quisessem que ele e Blade viessem aqui. Uma reunião poderia ter sido marcada em qualquer lugar da cidade para eles se tivesse envolvido apenas o Conselho. Mas o príncipe consorte era outro assunto.
— Eu tenho uma proposta. Uma... oportunidade para você.
— Quão gentil de sua parte, — Will falou lentamente. — Cuidar de seus interesses como esse.
Outro sorriso oleoso. — Bem, sim, também uma oportunidade para nós. Mas vou declarar isso claramente. Não pretendo usar você sem o seu conhecimento. E você será habilmente compensado.
Como se ele nunca tivesse dado a mínima para dinheiro.
A duquesa falou. — Fala-se que os franceses estão discutindo com os fanáticos iluministas do Novo Catalão. É um conceito incômodo, para dizer o mínimo.
Verwulfen era o inimigo natural de um sangue azul, a única criatura perigosa o suficiente para matar um sangue azul e fazer isso facilmente. Mas aos olhos da Iluminação, qualquer criatura sobrenatural era uma abominação que precisava ser eliminada. As histórias da Inquisição do Novo Catalão bastavam para fazer estremecer até os mais corajosos.
— E como posso ajudar? — Will perguntou.
— Nós não somos o único país com interesse nos procedimentos através do Canal, — Barrons respondeu. — Se a Iluminação ganhar um ponto de apoio na França, eles terão acesso às águas do norte, além de todos os dirigíveis da França. Estamos considerando uma aliança com os escandinavos para evitar isso. Temos navios - os encouraçados - e os escandinavos têm seus navios-dragão e frota aérea.
Inferno sangrento. Uma risada rouca saiu de sua garganta. — Vocês acham que os clãs escandinavos se aliariam a vocês? Os açougueiros de Culloden? Não vamos esquecer o que foi feito desde então. Todos eles, verwulfen presos em gaiolas e comprados e vendidos como escravos.
Blade segurou seu braço enquanto dava meio passo para frente. Um cuidado. Will se desvencilhou, tentando se concentrar através da explosão de raiva incandescente. A batida trovejou em seu sangue, ecoando sombriamente em seus ouvidos.
— Culloden foi há muito tempo. — O príncipe consorte respondeu friamente. Seus guardas deram um passo à frente como se temessem um ataque, mas ele se acomodou em uma cadeira e sacudiu um fiapo da manga.
— Não foi há muito tempo para alguns de nós.
— Culloden foi um erro. — As palavras vieram de trás, de Barrons. Todas as cabeças se viraram em sua direção e ele deu de ombros, como se admitisse uma verdade que eles estavam com vergonha de reivindicar. — Você não pode massacrar uma raça inteira sem consequências. Eliminar os clãs verwulfen escoceses só iria incitar a raiva. Mas foi feito por nossos antepassados e não há nada que possamos fazer sobre isso, Will.
— E os Poços de Manchester? Onde eles nos jogam com cães selvagens e ursos como isca? Ou nos colocam um contra o outro por esporte sangrento?
— Eles são empresas privadas, — o príncipe consorte respondeu, seus dedos tamborilando lentamente no braço da cadeira. — A maioria delas pertence a humanos, na verdade.
O que significava que ele não dava a mínima. Will sabia o que era ficar preso atrás das grades, ou aberto para o prazer de uma multidão. E ainda não havia nada a ser feito... Verwulfen eram proscritos na Grã-Bretanha e capturá-los e usá-los como escravos não era apenas legal, mas encorajado.
Olhando para o príncipe consorte com seu rosto pálido e sem sangue, Will mal conseguiu controlar a onda de raiva que ferveu em seu intestino. — O que os clãs escandinavos acham de suas políticas?
Os dedos do príncipe consorte pararam de bater. — Você sabe o que eles fazem com os sangues azuis na Escandinávia? — Um pequeno sorriso tenso apareceu em sua boca. — Como estou disposto a ignorar certas coisas para um bem maior, eles também estão. Esta ameaça do continente é uma preocupação muito maior do que alguns indivíduos.
Will lançou um olhar de puro ódio para o homem. — Então eu não estou inclinado a ser amável. Você terá que usar outra pessoa.
Girando nos calcanhares, o calor da fúria queimando em suas bochechas, ele sacudiu a cabeça em direção a Blade. Para ele, essa audiência havia acabado.
— Nem por dez mil libras? — O príncipe consorte mal levantou a voz, mas Will ouviu.
Ele riu sombriamente. O Escalão. Pensando que poderiam comprar um homem com seu peso em ouro.
Ele tinha uma mão na maçaneta da porta quando Barrons falou. — E se os termos fossem os que interessam a você?
— Você não pode me comprar. Nem mesmo você, Barrons.
— E se o preço fosse uma mudança na lei?
Will congelou, com a mão na maçaneta.
Como se encorajado, Barrons se aproximou, suas botas afundando nos tapetes felpudos. — Se você nos ajudar a assinar este tratado com a Escandinávia, estaremos dispostos a fazer algumas mudanças na lei. Chega de gaiolas ou caçadores, Will. Nós proibiríamos a luta no poço se você desejasse.
Sua respiração ficou presa em seu peito e ele girou nos calcanhares. Os cinco sangues azuis o encaravam sem expressão. A visão deu-lhe a impressão de que essa tinha sido a armadilha o tempo todo. — Por que vocês precisam tanto de mim? Parece que vocês tem isso quase assinado.
— Existem facções opostas em cada acampamento, — Barrons respondeu com uma careta. — Os clãs noruegueses estão furiosamente convictos de que não precisam de nós, e há um ou dois membros do nosso Conselho que se opõem a isso.
Will deu outra olhada ao redor. Não apenas os que votaram para que Blade vivesse então, mas aqueles que queriam que este tratado tivesse sucesso. — E eu vou cortejar os clãs noruegueses?
— Eles são antiquados, — o príncipe consorte respondeu. — E brutos. Mas eles também são uma voz alta em Riksdag. Gostaríamos de mostrar que nossas duas espécies podem viver amigavelmente. — Seu sorriso se alargou. — E você é um representante perfeito. Você os atrairia imensamente.
— Acho que acabou de chamá-lo de bruto. — Blade murmurou.
Will o ignorou. — Se eu conseguir conquistar os clãs noruegueses e ver o tratado assinado, você revogará a lei que proíbe os verwulfen?
O príncipe consorte assentiu.
— Vou querer isso por escrito —, disse Will. — E testemunhado.
Um ligeiro estreitamento dos olhos do príncipe consorte. — Acordado.
— Isso não é tudo. Eu quero os poços proibidos. Todos os verwulfen que estão enjaulados ou escravizados devem ser libertados e receber direitos iguais aos humanos... ou sangue azul.
Outro aceno de cabeça.
— E o preço pela minha cabeça será levantado, entendeu? Eu venho e vou quando quero. — Chega de se esgueirar pela cidade, correr pelos telhados à noite. Livre para ir aonde quisesse. Livre para andar pelas ruas da cidade sem que as pessoas tentem matá-lo ou prendê-lo.
O príncipe consorte acenou com a mão negligente. — Você gostaria disso por escrito também?
Will mostrou os dentes. — Absolutamente.
— Isso foi bem feito. — Blade disse, puxando-se para dentro do vagão a vapor com um grunhido.
Will acenou com a cabeça para Rip, que usava uma libré de cocheiro e uma capa pesada. Sob aquela capa escondia-se um arsenal de armas, bem como o pesado braço mecânico que o condenaria nesta companhia. Na parte de trás da carruagem pairava o Homem de Lata, outro dos homens de Blade. A luz brilhou na tampa de metal que estava presa em seu couro cabeludo. Ele não conseguia falar, mas era muito bom com uma lâmina.
— Leve-o para casa —, disse Will, batendo no ombro do Homem de Lata. — Certifique-se de que ele chegue lá.
Blade enfiou a cabeça pela janela. — Onde você está indo?
— Cuidando de uma promessa que fiz.
— Sozinho?
— Eu tenho passagem segura, — ele respondeu. — É melhor usá-la esta noite.
Uma longa pausa. — Seja cuidadoso.
— Sempre. — Ele girou nos calcanhares e caminhou de volta para o baile. Apesar da presença avassaladora de sangue azul, um pequeno sorriso brincou em seus lábios.
Desta vez, Lena era dele.
Capitulo 6
Nenhum sinal do duque ou duquesa em qualquer lugar.
Lena resmungou baixinho e recuou pelo corredor. Não seria bom ser pega aqui sozinha. Por mais que ela quisesse descobrir mais sobre o tratado escandinavo, ela não era tola o suficiente para começar a procurar cômodos sozinha em um baile cheio de predadores.
O barulho tomou conta dela quando ela voltou para a entrada. Mantendo os olhos abertos para um certo verwulfen que desejava evitar, ela entrou no salão de baile.
Hora de partir. Ela só tinha que encontrar Adele e sua mãe - que a estava acompanhando esta noite - e alegar estar nervosa. Colando um sorriso pálido no rosto, ela deslizou ao redor do salão de baile, procurando por elas.
Um circuito completo a levou de volta às portas principais. Adele estava vestida de branco, como convinha a uma mulher procurando ativamente por um protetor, mas nenhuma das debutantes de vestido branco era ela. Um pequeno tique de medo começou no peito de Lena. Ela não teria saído do salão de baile, certo? Adele sabia das consequências disso tão bem quanto ela. Aqui, as duas tinham uma ilusão de segurança.
A menos que... ela tivesse saído com alguém de propósito. Talvez ela tenha encontrado alguém disposto a tomá-la como serva?
Lena correu ao longo das janelas, olhando para os jardins sombreados. Adele - a astuta e inteligente Adele - nunca mais colocaria tanto risco à sua reputação novamente. Não sem um contrato de servidão de ferro em mãos.
Sorrindo para a mãe de Adele, que fofocava com outra matrona, Lena abriu caminho pela multidão e cambaleou para a entrada. O relógio do avô tiquetaqueando lentamente no meio da escada, mas o salão estava vazio.
O banheiro. Talvez ela estivesse lá?
Empurrando-se pelo salão, ela correu para a Duquesa de Casavian.
A mulher a segurou com mãos fortes e pálidas. Anos atrás, seu pai a infectou com o desejo para que, quando ele morresse, sua Casa não se desvanecesse na obscuridade. Aramina deveria ser considerada uma ladra, mas sua Casa era uma das Grandes Casas. Após inúmeras tentativas de assassinato, ela de alguma forma sobreviveu, alguns disseram que ela chantageou seu caminho para o poder, forçando o Escalão a aceitá-la.
— Sinto muito —, disse Lena. — Eu estava procurando pela minha amiga.
Os olhos de Aramina se estreitaram. — Você é pupila de Barrons, não é?
E tarde demais, Lena se lembrou da rixa de sangue entre seu meio-irmão e essa mulher. — Sim.
— Uma garota como você não deveria estar aqui sozinha. É perigoso.
— Eu sei. Não consegui encontrar minha amiga... E não vou voltar sem ela.
A consideração iluminou aqueles olhos castanhos-conhaque. Então os lábios cor de rubi da duquesa se estreitaram. — Vou procurá-la. Qual é o nome dela?
— Adele Hamilton —, disse Lena, desabando contra a parede de alívio. — Ela está vestindo branco.
A duquesa parou com a mão na maçaneta da porta. — O nome não é desconhecido para mim. Não foi ela a garota pega com Lorde Fenwick no ano passado?
— Não por escolha. — Admitiu Lena, perguntando-se se a duquesa se importaria.
Eles todos sabiam sobre isso, afinal de contas.
Depois de um longo olhar, a duquesa deslizou pela porta. — Eu vou encontrá-la. Fique aqui; deve ser seguro.
Lena se abanou furiosamente. De todas as coisas que aconteceram, ela nunca teria imaginado que a Duquesa de Casavian a ajudaria. Ela era conhecida por seu comportamento frio e temperamento frígido.
E seu ódio por todas as coisas da Casa de Caine, incluindo Leo.
Por que ajudar a proteger seu inimigo?
A menos que ela realmente não fosse procurar por Adele... O leque de renda preta de Lena diminuiu a velocidade. A duquesa disse a ela para ficar aqui, não retornar ao baile, onde ela poderia estar segura. Era altamente improvável que um lorde de sangue azul tropeçasse no banheiro, mas também era o lugar perfeito para uma emboscada. Escuro, isolado... Longe o suficiente para que ninguém a ouvisse gritando por causa da música.
Tudo que a duquesa precisava fazer era encontrar um dos jovens mais perigosos e sussurrar em seu ouvido. Então Lena estaria arruinada - apenas mais um peão perdido no jogo entre a duquesa e Leo.
Ela não podia ficar aqui.
Correndo para a porta, ela saiu para o corredor escuro. Era sua imaginação ou as lâmpadas a gás foram desligadas? Com o coração batendo forte no peito, ela correu para o salão de baile.
Tarde demais, ela viu sombras mudando no canto do olho. Alguém saiu de trás da estátua de um anjo e uma grande mão bronzeada cobriu sua boca. Não! Os olhos de Lena se arregalaram quando ela foi arrastada de volta para o peito sólido de um homem. Então, os pés chutando inutilmente, ele a arrastou para a escuridão de um dos muitos quartos.
Lena gritou contra a carne de sua mão, seus pés calçados chutando suas canelas. O sorriso predatório de Will sumiu. Ele pretendia assustá-la, mas o terror que emanava dela despertou todos os seus instintos perigosos.
— Shhh, — ele sussurrou em seu ouvido e ela estremeceu. — Lena, sou eu. É Will.
A tensão foi drenada dela tão absolutamente que ele teve que pegá-la contra ele. Com um soluço, ela se virou para ele, colocando o rosto contra seu peito. Cada pequeno suspiro esticava seu espartilho e seus dedos se fechavam em sua camisa, perigosamente perto da área acima de seu coração. Will congelou, sua mão pairando sobre o cabelo dela.
O que a assustou tanto? De alguma forma, ele não pensou que fossem suas próprias ações; pelo jeito que ela relaxou em suas garras, ela estava esperando outra pessoa. O pensamento correu por sua mente, trazendo com ele uma onda vermelha. O cabelo ao longo de sua nuca se arrepiou, um rosnado consumindo suas cordas vocais.
— Lena?
— Estou bem —, ela retrucou. Cerrando o outro punho, ela o socou no braço. — Você estava tentando assustar dez anos da minha vida?
Ele mal sentiu o golpe. — Por que você está tão assustada? Quem está caçando você?
Lena congelou. Seu outro punho se abriu de sua camisa e ela deu um passo para trás, suas saias farfalhando ruidosamente. — Ninguém está me caçando.
Mentira.
— Ninguém exceto você. — Seus olhos se estreitaram. — O que você está fazendo aqui? Você está louco? Eles vão te separar!
— Tenho passagem segura esta noite.
— Por quê? — Um olhar de preocupação cruzou seu rosto e ela pegou seu braço, os dedos enluvados descansando em sua manga. — Não confie neles. Não deixe que eles o confundam em seus esquemas. Se houver uma maneira de contornar o que eles prometeram, eles a encontrarão.
Palavras curiosas de uma mulher que sonhava em viver entre o Escalão por anos.
Ele olhou para a pequena mão apoiada em seu braço. E percebeu que eles estavam sozinhos, em uma sala escura juntos.
O olhar de Will deslizou para a concha baixa de seu decote e a curva completa de seus seios. A luz da lua brilhava através das cortinas, lançando um brilho prateado em sua pele. Ela era bonita. Uma deusa da noite, iluminada por uma luz prateada. Cada curva de sombra o acenava misteriosamente, desafiava-o a colocar as mãos sobre ela, para traçar as depressões e curvas que preenchiam seu vestido. Cristo. Seu pênis endureceu, lutando contra o tecido de suas calças. Ele quase podia sentir o perfume quente de sua pele.
Dando um passo para trás, ele afastou a mão dela. — Você me deve algumas respostas.
— Eu não tenho tempo. Não no momento.
Ele agarrou o pulso dela e acariciou a pele sensível com o polegar. — Então faça isso.
Ela cambaleou para ele, a outra mão apoiada levemente em seu peito. Algo deve ter aparecido em seu rosto, pois ela respirou fundo. — Por favor, Will. Agora não. Há algo que devo cuidar.
— Claro que existe.
— Você não entende. Eu tenho que encontrar minha amiga. Acho que ela pode estar em apuros.
Seu cheiro mudou. Algo amargo e afiado. Medo. Will a deixou ir, olhando para aquele rosto em forma de coração. — Que tipo?
— Há um... um jogo que os sangues azuis jogam. Se eles pegarem uma garota sozinha. — Ela esfregou o pulso inconscientemente.
— Continue.
— Adele nunca teria partido por vontade própria. Ela conhece as consequências. Por favor, tenho que encontrá-la. Antes que seja tarde.
— Você não vai sozinha.
— Se alguém me ver com você...
Ela estaria arruinada. Ele ficou meio tentado por um momento. Ela nunca seria capaz de retornar a este mundo com o estigma de ser pega sozinha com um verwulfen.
Mas ela fez suas escolhas. Este era o mundo que ela queria. Não havia nada para ela em Whitechapel; ela mesma disse isso.
Ele se inclinou mais perto, deixando sua voz sussurrar em seu ouvido. — Então eles não me verão. Mas estarei lá.
Pode ter sido sua imaginação, mas ele pensou, por um momento, que ela estremeceu.
Os acordes de uma valsa flutuaram do salão de baile enquanto Barrons subia as escadas. Ele esperava ter uma chance de falar com Will antes de partir, mas o homem havia desaparecido.
Olhando para um dos corredores ao cruzá-lo, ele viu o contorno das saias cor de berinjela e a sugestão sedutora de cabelo acobreado desaparecendo em uma sala.
Ele parou em seu caminho.
Interessante.
A valsa acenou. A risada apareceu. Mas de alguma forma seus pés desviaram do corredor.
Escorregando silenciosamente pela porta, Leo se viu em uma sala sombria. A luz da lua fluía pelas janelas, destacando o cabelo brilhante da Duquesa de Casavian. Ela espiou por uma porta de comunicação, a cabeça inclinada como se estivesse ouvindo.
— Procurando por algo?
As palavras arrancaram um suspiro de seus lábios. Ela girou, os olhos brilhando friamente.
— Ou é alguém? — Ele se encostou na porta fechada e cruzou os braços sobre o peito.
— Não é da sua conta, Barrons. — Ela deslizou sinuosamente em direção a ele, a cremosa carne de seu decote exibida convidativamente. Um estratagema, é claro, destinado a atrair os olhos dos homens, fazê-los esquecer de olhar suas mãos.
Ele nunca tinha sido tão tolo. A mulher era perigosa e Leo sabia disso. Ela gostaria de nada mais do que vê-lo e ao duque de Caine mortos, sua casa nada além de uma memória. Ainda assim... a vista era tentadora.
— Saia do meu caminho. — Ela ordenou. Outro passo a trouxe mais perto, suas saias rodadas varrendo seus tornozelos. Como se ela achasse que ele obedeceria.
— Por que eu deveria? — Leo deu um passo à frente. Suas saias roçaram suas coxas e seu queixo se ergueu. — Está uma linda noite e você é uma linda mulher. — Ele estendeu a mão, gesticulando para a sala com um sorriso zombeteiro. — E estamos sozinhos.
Um movimento rápido. Ele a agarrou pelo pulso, a luz da lua refletindo no punho enfeitado de uma adaga. Seus olhos se encontraram. Não havia sinal de seu desconforto. Nada além da peculiaridade de sua testa.
Uma princesa de gelo.
De repente, ele queria derreter sua máscara fria.
Girando suas costas contra a porta, ele forçou seu pulso - e a adaga - alto. A outra mão dela se moveu em um movimento cortante, mas ele a pegou também. Bateu de volta contra a madeira dura.
Fixada.
A respiração de Aramina ficou presa. — Não pense que isso me torna menos perigosa.
— Eu não sonharia com isso. — Ele murmurou. O cheiro de seu perfume enrolou-se em seu nariz. Canela picante. Sedutor. Quase o suficiente para fazer seu aperto suavizar, seu corpo encostar no dela.
Quase.
— Uma joelhada nas bolas? — Ele perguntou.
Ela sorriu. Não havia calor nele. — Uma adaga seria preferível.
Leo estremeceu. — Você é impiedosa, minha querida.
— Eu posso ser. — O olhar de Aramina baixou. Examinou sua boca.
Leo congelou. A suavização de sua expressão o atraiu, uma mariposa para a chama. A mulher era sua inimiga, sua Casa e sua rivalidade de sangue um com o outro. E ainda assim ele não podia negar que ela o fascinava.
— Eu também posso ser impiedoso, — ele sussurrou, seu rosto baixando para o dela. — Mas você gostaria disso, não é?
Ela molhou os lábios. Afastou o rosto. A respiração de Leo agitou os cachos em sua orelha. Seu coração batia forte enquanto seus lábios roçavam sua mandíbula. O chute doce de sua carótida provou que ela não era tão imune a ele quanto fingia. Ele deslizou os lábios sobre ele, sentiu a pulsação em suas veias. O calor chamejou, seu pênis moendo contra ela. De alguma forma, as mãos dele estavam nos quadris dela.
— Você deveria olhar para sua casa. — Ela sussurrou.
Ele traçou a curva de sua garganta com a língua, os dentes pastando na veia. Deus, como ele queria seu sangue. — O que você quer dizer com isso?
Uma risada suave. O rosto de Aramina se virou para ele, seus lábios roçando sua bochecha enquanto ela sussurrava em seu ouvido. — Onde está sua pupila, Barrons?
Algo afiado cravou em sua virilha. A adaga.
Ele sibilou. — O que você fez com ela?
— Eu? Nada. — Aramina ficou na ponta dos pés, os seios roçando no peito dele. — Isso —, disse ela. — foi quase fácil demais.
A lâmina o forçou a se afastar dela. Aramina abriu a porta, olhando casualmente por cima do ombro. A adaga havia desaparecido. — Eu estava realmente tentando fazer uma boa ação para a garota. Eu gosto dela. — Um sorriso rápido. — E ela tem seus usos. — Escorregando pela porta, ela lançou por cima do ombro, — Você a encontrará no banheiro.
Lena caminhou pelo corredor, verificando cômodo após cômodo. A pele de seus braços e pescoço formigou, sabendo que Will assistia. Ela não podia vê-lo em lugar nenhum, mas sua presença lhe deu o tipo de confiança que ela não sentia há muito tempo.
Fechando a porta do escritório de Lorde Harker, ela congelou. O que é que foi isso? Um grito suave no escuro? Dando um passo silencioso em direção à biblioteca, ela manteve a cabeça inclinada.
Lá. Veio novamente. — Não. Por favor.
Adele. Na Biblioteca.
A raiva queimou através dela, incandescente. Ela abriu a porta com força. Uma única vela tremeluzia, destacando o sofá-cama junto à lareira fria. Adele estava murcha como uma flor murcha, sangue escorrendo pela coluna lisa de sua garganta. Seu corpete estava encharcado, o escarlate brilhante vívido contra a seda branca.
Um homem olhou para cima, seus lábios pintados de vermelho e o preto de seus olhos refletindo a luz das velas. Benjamin Cavendish, o filho mais velho do Barão Rackham, e um do bando mais jovem.
Ele enxugou a boca com as costas da manga, um sorriso insolente no rosto. — Ah, o prato principal chega.
— Saia de cima dela.
— Eu estava feito de qualquer maneira. — Seu olhar deslizou sobre ela sinuosamente. — É a senhorita Todd, não é?
Adele choramingou, com as mãos na garganta. Seus olhos assustados encontraram os de Lena. — Corra.
Os punhos de Lena cerraram-se. O bastardo pensou que a tinha encurralado. A presença silenciosa de Will deu a ela uma força que ela não percebeu que tinha. Ela pegou um atiçador da fogueira e o encarou. — Afaste-se dela agora.
— Uma agressiva. É muito mais divertido quando elas lutam. — Ele riu.
Lena ergueu o atiçador quando ele deu um passo furtivo em sua direção. — Você é um covarde. Perseguir garotas nos bailes... É tudo para o que você serve. Você não é um homem; você é apenas um pequeno valentão que cresceu.
Os olhos de Cavendish se estreitaram. — Você vai se arrepender dessas palavras.
Ele agarrou a saia dela. Lena trouxe o atiçador com prazer. Pegue isso, seu cretino nojento. — Tire suas mãos de mim!
Os próximos segundos aconteceram rápido demais para ela acompanhar. Num momento, Cavendish estava sibilando para ela, segurando sua mão ferida. No próximo, ele foi jogado contra a lareira, a mão de Will em volta de sua garganta.
— Will! Você não deveria se mostrar!
— Ele colocou as mãos em você.
A profundidade de sua voz causou arrepios nela. Perigoso. Brutal. Uma voz que não se rendeu, nenhum meio de acertar as contas com ela. Ela tinha que detê-lo antes que ele matasse alguém.
— Ele mal me tocou. Will! Deixe ele ir. — Ela largou o atiçador e agarrou o braço dele. Foi inútil. Seu peso leve nem mesmo o deslocou. — Will! e você o machucar, eles o matarão.
— Você! — Cavendish engasgou, seus olhos cheios de malevolência. Eles mudaram para ela. — Pequena vadia do verwulfen. Eu vou...
O que quer que ele estivesse prestes a dizer foi sufocado quando os dedos de Will se apertaram.
— Olhe para mim —, disse ele, o predador dentro dele cavalgando logo abaixo da superfície. Cavendish foi incapaz de desobedecer. — Se você chegar perto dela de novo, eu vou te matar. E não será rápido. — Ele sorriu e Lena estremeceu. Havia uma riqueza de maldade naquele sorriso. — Não pense que há algum lugar onde você possa se esconder. Eu posso chegar até você, não importa quantos guardas você pensa que tem. Você entendeu?
Os dedos de Cavendish rasgaram a mão de Will. Seu rosto estava ficando roxo rapidamente, mas de alguma forma ele conseguiu assentir.
Will o deixou ir e Cavendish cambaleou para trás, caindo contra a lareira.
— Se houver um sussurro sobre esta noite - sobre Lena - eu irei atrás de você, — Will prometeu. — Agora dê o fora daqui antes que eu mude de ideia.
Cavendish correu para a porta.
A facilidade com que Will fez isso... Lena sentiu uma breve pontada de ciúme. Oh, ser um homem, ser forte, ser temido...
Uma tosse estrangulada veio do sofá-cama e ela se virou, a saia girando em torno de seus tornozelos enquanto corria para Adele.
— O que aconteceu? — Lena se ajoelhou, virando o rosto da amiga para o lado para ver o dano. Ele a cortou profundamente, usando uma das pequenas lâminas elegantes que o Escalão preferia. Alguns dos mais cruéis sangues azuis afiavam seus dentes em pontas, mas a maioria usava lâminas.
Pelo menos ele teve a presença de espírito de lamber a ferida depois. O que quer que estivesse na saliva de um sangue azul, promovia uma cura rápida.
— Aqui. — Ela murmurou, rasgando uma tira de sua calçola. Enrolando-a em um quadrado, ela rasgou outra tira e colocou o curativo no ferimento.
— Vim procurando por você. — Sussurrou Adele.
— Eu estava indo apenas para o banheiro.
— Colchester... chegou.
As mãos de Lena pararam. Então ela continuou limpando o sangue. — Você ainda não deveria ter vindo sozinha.
— Vi Colchester conversando com Cavendish. — Adele engoliu em seco. — Ele saiu da sala e eu pensei...
— Eles armaram para você. — Maldito Colchester. Ele deliberadamente enviou um de seus comparsas para emboscar Adele. As ações dela na outra noite devem ter atraído sua ira.
— Quem é Colchester?
Lena congelou. Ela tinha se esquecido completamente de Will. Suas saias farfalharam quando ela se virou para olhar para ele, sua mente correndo. Ela viu a expressão em seu rosto quando ele sufocou Cavendish. Se ela contasse a ele sobre o duque, então havia uma chance de que ele fosse atrás dele.
— O duque de Lannister —, respondeu ela com cuidado. — Ele tem alguma queixa contra Leo.
Adele se mexeu e Lena apertou a mão dela em aviso. Não diga uma palavra.
Will olhou para ela, seu rosto inexpressivo.
Ao lado dela, Adele pigarreou. — Quem é?
— Ele é o homem de Blade. — Ela respondeu, voltando sua atenção para sua amiga ferida. A bandagem diminuiu o sangramento. Não havia como salvar o vestido, no entanto. Eles teriam que tirá-la daqui sem ninguém ver.
— Cavendish disse que ele era... — Adele parou.
Lena nunca a vira parecer assustada antes. Cansada do mundo e cínica, sim, mas não realmente assustada. Ela olhou para cima e então parou, percebendo como isso pareceria para Adele. Will pairava nas sombras, mas tudo nele era intimidante para alguém que não o conhecia. E mesmo assim...
Adele teria ouvido histórias - histórias de sangue azul - sobre verwulfen e suas paixões violentas e desenfreadas. Para o Escalão, Will era perigoso e nada mais do que um monstro.
— Verwulfen? Sim, — Ela respondeu, ajudando-a a se sentar. Ela sorriu para Adele e se inclinou para sussurrar: — Não se assuste com a carranca. Ele acha que é impressionante. Mas ele é um coração mole sob o exterior sombrio. — Lena não pôde deixar de sorrir. — Alguns meninos estavam afogando um saco de gatinhos uma vez e ele os resgatou. Durante meses, eles o seguiram pelo labirinto. Receio que isso tenha arruinado sua reputação cuidadosamente cultivada aos meus olhos. Tudo o que posso ver é a Mãe Galinha e suas pequenas pupilas. — Seu sorriso desapareceu. — Os únicos monstros aqui são Colchester e seus amiguinhos.
Os olhos de Will pareciam sonolentos. Um sinal perigoso. Isso significava que ele estava pensando e ela não queria isso. Encontrando seu olhar, ela ergueu o queixo. — Temos que tirá-la daqui sem ninguém ver. Se o fizerem, ela está arruinada.
Will tirou o casaco e o ofereceu. Adele se encolheu, mas respirou lentamente e deixou Lena pendurá-lo nos ombros. Estava deliciosamente quente e ela respirou, enchendo o nariz com o cheiro dele.
Will arregaçou as mangas da camisa e a luz das velas brilhou em seus antebraços bronzeados. Não pela primeira vez, ela se perguntou se a pele dele era o mesmo ouro derretido por toda parte.
Pensamentos perigosos. Ela desviou o olhar rapidamente.
— Aqui, — ele disse, tentando a sua própria maneira ser educado. — Eu posso carregar você.
Os olhos de Adele se arregalaram, mas ela assentiu e o deixou deslizar os braços ao redor dela. Will se endireitou, levantando Adele facilmente. Seu olhar procurou o de Lena. — Para onde?
Com Will ao seu lado, negociar nos corredores escuros era fácil. Seus sentidos superiores os salvaram de serem descobertos várias vezes. Escorregando pela entrada dos criados e pelo jardim, eles se apressaram em direção à carruagem a vapor dos Hamilton.
Fraca pela perda de sangue, Adele se acomodou na carruagem com sono. Lena colocou o tapete sobre ela e verificou a bandagem improvisada, então se virou para murmurar para um dos lacaios que esperavam. — Você vai buscar a Sra. Hamilton?
Havia um último assunto a tratar. Subindo no degrau da carruagem, ela se virou para encarar Will com relutância. — Obrigada. Por me ajudar com Adele.
Ele ficou de costas para a luz a gás, o rosto nas sombras. Um fino brilho âmbar indicou seu humor. — Você e eu precisamos conversar.
— Não há nada para falar. — Ela se virou, com a intenção de se acomodar dentro da carruagem, mas ele agarrou um punhado de sua saia.
— Eu não vou embora, Lena.
Um vislumbre por cima do ombro revelou a verdade agressiva disso em seu rosto.
— Por que você não deixa ser? Não é da sua conta. — Não era nem como se ele se importasse. Ele estava apenas fazendo isso por causa de Blade.
Virando-se no degrau, ficou cara a cara com ele. Embora ela sempre se sentisse em desvantagem com sua falta de altura, de repente era muito íntimo. O calor de seu grande corpo a protegeu da brisa fresca da noite, e suas saias pressionaram contra suas coxas. Ela procurou em seu olhar por algo, qualquer coisa, para dizer a ela que ela estava errada. Que ele estava aqui por ela.
— Por quê?
Seu olhar se desviou, pensativo. — Encontrei o mesmo código em um homem que apunhalou Blade no coração. Algo está acontecendo, Lena. Não vou deixar que ele - ou a colônia - seja pega nisso. — Seu olhar ardente pegou o dela. — E eu acho que você sabe mais do que está dizendo.
Seus lábios se estreitaram. Claro. Blade. E a colônia. — Você realmente acha que eu estaria envolvida em qualquer coisa que pudesse machucar Blade - e através dele, minha irmã e meu irmão?
— Eu não sei. — Disse ele calmamente.
Naquele momento ela o odiou. Não importando seus muitos defeitos, ela nunca arriscaria a vida de Honoria ou Charlie. Alcançando a porta da carruagem, ela lhe lançou um último olhar. — Vá para casa, Will. Você não pertence aqui, nem é desejado. Vá para casa e patrulhe sua pequena parte de Londres. Não vou visitá-lo e não espero ver você na cidade.
Ela deu a sua mão um olhar gelado e ele a soltou lentamente, a tensão percorrendo seus ombros.
— Não foi isso que eu quis dizer —, disse ele. — Eu sei que você ama seu irmão e irmã.
— Uma das poucas coisas que você parece saber sobre mim. — Colocando as saias dentro da carruagem, ela foi fechar a porta.
Will pegou, inclinando-se mais perto. As mangas de sua camisa esticadas sobre seus braços. — Lena, droga...
— Eu digo... Este camarada está incomodando você?
Com Will tão perto, ela não percebeu que mais alguém estava lá. Nem ele, pelo choque que estremeceu por ele.
Dando-lhe um último olhar penetrante, ela olhou por cima do ombro para o jovem lorde ligeiramente embriagado e sorriu. Salvo por um sangue azul. Que irônico. — Ele estava saindo. Obrigada.
— O prazer é meu. — O jovem fanfarrão piscou para ela e fez uma saudação. Ela o tinha visto antes, embora seu nome momentaneamente escapasse dela.
Will baixou a mão da porta. — Eu vou deixar você em paz. Desta vez.
Lena fechou a porta e sorriu para ele através do vidro. Com um grunhido, ele se virou e lançou ao jovem senhor um olhar que fez seu rosto ficar pálido. Então, com as mãos nos bolsos, ele caminhou para as sombras, a névoa girando em torno de seus tornozelos.
— Então, — Adele murmurou, descansando a cabeça contra o assento da carruagem. Ela ainda estava aninhada no casaco preto. — Conte-me sobre este Will.
— Hmm? — Lena ergueu os olhos de onde estivera alisando as saias. — O que tem ele?
Os olhos de Adele se estreitaram. Uma sugestão de sua antiga centelha estava começando a aquecer suas bochechas. — Parece que ele quer comer você, Lena. E não de uma forma assustadora.
— Will? Ele não faz nada disso! Ele faz isso bastante... — E então ela parou, ciente do que ela estava prestes a revelar.
— Bastante...? — Adele perguntou. Quando Lena não disse nada, um sorriso cansado apareceu em seu rosto. — Você sabe que não vou deixar isso aí, minha querida.
Olhando pela janela, Lena observou as luzes brilhando nas janelas da mansão de Lorde Harker. Não demoraria muito para que o lacaio trouxesse a mãe de Adele. Então ela estaria protegida de perguntas intrometidas.
No entanto... um desejo repentino brotou. A necessidade de confiar em alguém, até mesmo em Adele. Ela estava segurando tanto dentro dela por meses que ela se sentiu quase prestes a explodir.
— Eu o beijei, — ela deixou escapar. — Não sei por quê. Sempre foi apenas um jogo que fiz com ele. Um flerte. Nunca quis dizer nada com isso. — Não quis? Lena franziu a testa. Ela não podia, na verdade, responder a essa pergunta. — Foi terrível. Ele nem mesmo me beijou de volta. E quando eu parei... — Suas bochechas estavam queimando agora. — Ele me disse que toleraria meus joguinhos infantis pelo bem de Blade, mas que preferiria que eu não me jogasse em cima dele. Especialmente porque morávamos sob o mesmo teto. — A própria lembrança disso revirou seu estômago. Ele estava tão zangado com ela que tremia. Então ele se virou e foi embora sem outra palavra.
De alguma forma, ela deu de ombros despreocupada por causa de Adele. — No dia seguinte, ele saiu do cortiço. E decidi que era hora de voltar à sociedade. Não sobrou nada para mim em Whitechapel.
— Ele nunca te beijou de volta?
— Nem um pouco.
As sobrancelhas de Adele se juntaram. — Que incomum. Pois eu teria suspeitado exatamente o contrário, minha querida. Ele não conseguia tirar os olhos de você. E quando Cavendish tentou agarrá-la, pensei que ele fosse matá-lo.
— Sua lealdade é para com Blade. Se ele permitisse que eu sofresse algum dano, ele teria que explicar a ele. E Honoria.
— Hmm. — Adele se recostou no assento, aninhando-se cansada. — Vou apostar cem libras que você está errada.
— E como podemos provar isso? — ela perguntou asperamente. — Não vou perguntar a ele.
Os olhos de Adele se fecharam. Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. — Porque da próxima vez, tenho certeza de que ele vai beijar você.
A porta do escritório particular de Lorde Harker se abriu.
Colchester olhou por cima da borda do copo. Seu olhar percorreu Cavendish, desde a gola amarrotada de seu casaco até a fúria fervente em seus olhos. Se ele não estava enganado, havia um grande hematoma se formando na garganta do outro homem.
— Que diabo aconteceu? Certamente ela não lutou tanto assim?
Cavendish lançou-lhe um olhar sujo e foi até a garrafa de licor. — Você se esqueceu de mencionar que ela tinha proteção. — Ele jogou uma dose generosa de vinho de sangue em um copo e o esvaziou.
— Proteção? — Colchester perguntou suavemente. Seus olhos se ergueram novamente para aquele hematoma. — Que tipo de proteção?
Cavendish baixou o copo e murmurou: — Nada.
Colchester ficou de pé, jogando de lado o jornal que estava lendo. Abaixo, o baile ainda estava em pleno andamento ao som dele, mas ele tinha pouca intenção de se juntar à multidão rodopiante. Não, ele tinha outros planos.
Planos que Cavendish poderia ter arruinado.
— Eu pensei que você fosse um sangue azul, Cavendish. Não um humano pulando. Eu pedi para você arruinar a garota e você não conseguiu nem lidar com isso. — Ele zombou, circulando o outro homem. — Ela bateu em você com sua bolsa? Ou havia mais de um deles? Todo um bando de debutantes para assustar você...
Um brilho de raiva transformou os olhos de Cavendish em sombras. — Eu gostaria de ver você enfrentar a Besta. Parece que sua vadia foi e arranjou um verwulfen imundo para cuidar dela.
— O que você quer dizer com isso?
Cavendish zombou. — Provavelmente saqueando a garota agora, enquanto conversamos. Parece que você não vai colocar as mãos naquele, afinal.
Colchester o segurou pela garganta antes que ele percebesse. — Besta de Whitechapel?
Cavendish lutou para assentir.
O choque o atravessou. A pequena cadela. Achava que poderia encontrar um protetor, não é? Quando Cavendish fez um som estrangulado, Colchester o largou e se afastou, tirando os copos da bandeja. O vidro se espatifou no chão, espalhando-se pelos tapetes. Lena era sua. Mas se ela se poluiu com uma daquelas criaturas imundas, então ela não era mais adequada para ser sua serva. Por Deus, ele a faria se arrepender desse ato.
Cavendish caiu contra a mesa, observando-o com cautela. — O que você vai fazer? — Ele perguntou, e Colchester percebeu que ele tinha falado em voz alta.
Ruim o suficiente para que o resto do Conselho tentasse se aliar com essas criaturas. Agora um deles se moveu para roubar sua servidão debaixo de seu nariz. Isso, se nada mais, o fez querê-la ainda mais.
Ele sorriu. Sombriamente. — Deixe-me lidar com isso. Vou fazê-la se arrepender. — Tirando o copo da manga, ele se virou em direção à porta. — Vou fazer os dois se arrependerem.
Capitulo 7
— Entre.
Will lançou um olhar para o corredor, os saltos das botas abafados pelo corredor turco. Ele podia sentir Lena em algum lugar da casa, mas não por perto. O que lhe convinha perfeitamente no momento.
Deslizando para dentro do escritório, ele fechou a porta atrás de si. A luz da manhã entrava pelas janelas. Uma hora terrível da manhã, na verdade. Ele mal dormiu, sua mente repassando cada cena da noite anterior. Assim que ele ficava perto da beira do sono, a memória do cheiro do medo de Lena iria varrê-lo e seus olhos se abririam novamente. Ele precisava saber mais. Especialmente sobre o nome que a assustava.
Barrons levantou o olhar de sua escrivaninha, seus olhos escuros se alargaram ligeiramente. — Will. — Ele se recostou na cadeira, seu progresso marcado pela movimentação do couro bem oleado. Vestido com um casaco de veludo preto, o único sinal de cor era o derramamento de renda branca em seus pulsos e pescoço. Um pequeno alfinete de rubi piscava contra a renda. — Você percebe que o preço pela sua cabeça não está levantado até que você assine o documento do príncipe consorte? — Ele ergueu um maço de papéis, carrancudo. — Que está bem aqui, eu acredito.
Will cruzou os braços sobre o peito. — O que você sabe sobre um homem chamado Colchester?
— Colchester? — As mãos do Barrons se imobilizaram no papel. — Ele era um amigo, até eu orquestrar o duelo entre seu primo Vickers e Blade. Por que você pergunta?
— Por que Lena teria medo dele?
Barrons se endireitou, um olhar perigoso surgindo em seus olhos de obsidiana. — O que você quer dizer?
— Tive negócios com ela ontem à noite. Quando a encontrei, ela ficou apavorada. Por ele.
Barrons se recostou na cadeira. — Conte-me.
Will relatou a história, omitindo qualquer menção ao código ou à letra. — Não o conheço. Nunca ouvi muito sobre ele. — Ele coçou a barba por fazer em sua mandíbula. — Ele é perigoso?
— Todos os sangues azuis são perigosos.
Will encontrou seu olhar. — Ele pode chegar até ela?
Por uma vez, a calma compostura do Barrons se desvaneceu. A incerteza sombreou sua testa. — Eu não sei. Ela tem um acompanhante e só vai aos eventos acompanhada por um acompanhante ou sozinha. Mas existem maneiras de contornar isso para um homem como Colchester.
— O que ele quer com ela?
— Só posso presumir, — respondeu Barrons. — Vingança contra mim. Ou talvez algum interesse pela própria Lena. Rumores dizem que ele está caçando outra serva.
— Você não deixaria isso acontecer?
Barrons lançou um olhar intenso sobre ele. — Qual é o seu interesse no assunto?
— Blade protege os seus, — ele respondeu prontamente. — E eu o protejo. Ele não sobreviveria enfrentando outro duque. Quero que isso pare antes de chegar a esse ponto.
— Eu vejo. — Barrons gesticulou para a cadeira diante dele. — Como você propõe parar isso?
Will afundou na cadeira. — Pensei em uma maneira de proteger Lena e ajudar na tarefa do príncipe consorte. Matando dois coelhos com uma cajadada só, por assim dizer.
Barrons fez um gesto para que continuasse.
— Esse truque do príncipe consorte - eu, vestido como um bobo da corte e bobina de acordo com sua melodia - não vai funcionar. Eu não conheço nada da corte.
— E?
— Quem melhor para me ensinar do que Lena? Impedindo-me de fazer papel de bobo demais ou pisar no dedo do pé errado.
— A menos que sejam de Colchester... em quem você deseja pisar com bastante firmeza, se posso adivinhar onde isso vai dar? — Barrons se inclinou para frente. — Ele é um homem perigoso, Will.
— Eu também sou.
Barrons o examinou por um longo momento. Então acenou com a cabeça. — Um guarda-costas verwulfen. Certamente faria a maioria dos homens sãos hesitar. Feito. Vou informá-la de que ela deve ajudar a apresentá-lo a corte e questioná-lo sobre.
— Se ela está comigo, ele não pode se mover.
— Não faça nada desagradável, — advertiu Barrons. — Lembre-se de sua causa - se você matar Colchester, você pode acenar para qualquer ajuda ou boa vontade do príncipe consorte. Incluindo esta reforma das leis que você está tão ansioso para estabelecer.
Will mostrou os dentes em um sorriso de antecipação. — Você gostaria de deixar Lena saber sobre suas novas funções, ou posso?
“Aumento dos impostos de sangue!” As manchetes gritavam.
Lena mergulhou a colher na cratera de seu ovo cozido, seu olhar disparando sobre o artigo. — Sra. Wade, você viu isso? — Ela perguntou, gesticulando com a colher. Uma gema escorrendo gotejou sobre o papel e ela o largou apressadamente. — Eles estão aumentando os impostos de sangue! De dois a três litros por ano. Qualquer pessoa que não doou no último mês deve comparecer a uma sangria obrigatória nos próximos dois meses.
— Uma jovem não fala dessas coisas. Especialmente na mesa do café da manhã. — Cortando meticulosamente a salsicha, os lábios da Sra. Wade se estreitaram. — Você leu as páginas da sociedade? O que você achou da descrição do vestido da Srta. Hambley?
— Um narciso seco? Bastante preciso, se é que posso dizer, — ela respondeu distante. — Deve ser em resposta ao incêndio das fábricas de drenagem. O Escalão deve estar perigosamente com falta de sangue.
Embora eles mantivessem servos por sangue fresco, eles também precisavam de um suprimento de sangue frio disponível. Era perigoso tirar muito de um servo, e drená-lo até a morte era de péssimo gosto. Os únicos senhores que podiam manter servos suficientes para sobreviver eram os grandes duques que governavam a cidade. O resto do Escalão era forçado a comprar sangue das fábricas de drenagem do governo ou manter servos de sangue.
— A classe trabalhadora não ficará muito feliz com isso. — Já haviam ocorrido três tumultos este ano, dois sobre trabalhadores de fábricas de autômatos aceitando empregos e, novamente, quando uma jovem foi encontrada morta em um beco.
A Sra. Wade fez um som de desaprovação e esfaqueou um pedaço de salsicha.
Uma batida soou e Leo apareceu na porta da sala de jantar, vestido em seu preto estrito de sempre. — Senhoras. — Ele cumprimentou.
A Sra. Wade levou o guardanapo aos lábios. — Bom dia, meu senhor. Você está se juntando a nós para o café da manhã?
— Receio que não. — Ele olhou para ela e Lena se acalmou. Pela expressão em seus olhos, Leo estava tramando algo.
— Sim? — Ela perguntou, seu coração começando a bater. Ele tinha ouvido falar do que aconteceu com Adele? Ou Cavendish?
— Tenho um favor a pedir. — Disse ele, apoiando o quadril na borda da mesa de jantar.
— Claro. O que é?
O movimento mudou no limite de sua visão. Will. Entrando na sala, suas mãos enfiadas nos bolsos e satisfação queimando em seus olhos.
Lena ficou olhando. Seu colarinho estava aberto, revelando uma fatia saudável de carne bronzeada, e ele não se preocupou em se barbear. Com seus olhos âmbar ardentes e a barba por fazer em sua mandíbula, ele parecia eminentemente perigoso. Uma garra de prata pendurada na tira de couro em sua garganta.
Sua boca se curvou com um sorriso enferrujado, enviando seu pulso a um ritmo frenético. Oh senhor! Ela raramente o tinha visto sorrir. E certamente não para ela. O resultado foi bastante devastador.
Leo pigarreou e Lena desviou o olhar. — Absolutamente não. — Ela retrucou.
— Você ainda não ouviu a proposta.
— Eu não preciso.
— Carver recebeu uma comissão da Coroa. — Leo continuou.
As palavras desviaram sua atenção de Will. — Uma comissão? — O que o príncipe consorte poderia querer dele? Pois era daí que a comissão deveria ter vindo. A rainha poderia sentar-se no trono, mas ela era a marionete do príncipe consorte. Ela mal ousava falar sem a permissão dele.
— Há uma delegação chegando da Escandinávia em uma semana.
— Há sim? — Ela perguntou sem fôlego.
— Apenas alguns assuntos políticos para o Conselho e o príncipe consorte, — Leo disse. — Nada interessante, receio. Mas você sabe como funcionam os sentimentos entre nossos dois países. Sentiu-se que a presença de Will poderia ser algum tipo de fator calmante.
Lena balançou a cabeça lentamente, sua mente escaldada pelo choque. Will estava envolvido nisso?
— Ele precisa ser arrumado, — Leo continuou. — Tanto nos modos como na aparência. E ele também precisa de alguém para guiá-lo nas águas perigosas da corte. Infelizmente, não tenho tempo...
Ai sim. Ela viu aonde isso estava indo.
— Você quer que eu o acompanhe. — Seus olhos se estreitaram em Will. — Eu me pergunto de quem foi essa ideia?
Ele nem mesmo teve a graça de parecer culpado. Encostado na porta, ele sorriu seu sorriso de gato.
Aquele que causava tantos danos às suas entranhas.
— Sua habilidade de navegar no Escalão seria muito útil para o seu país. — Respondeu Leo.
— Que coisa, é tão terrivelmente bem pensado. — Por dentro ela estava fervendo. Como ele ousa? E, no entanto, foi precisamente sobre isso que o Sr. Mandeville a advertiu quando ela concordou em espionar para os humanistas. Ela não podia permitir que seus sentimentos interrompessem tal oportunidade.
Descobrir o tratado escandinavo era mais importante do que quebrar a cabeça de Will Carver com a terrina de sopa.
— Você vai nos ajudar então? — Leo perguntou.
— Eu dificilmente poderia recusar uma oferta tão graciosa. Começaremos amanhã. — Ela correu o olhar sobre o cabelo despenteado de Will, os gloriosos fios castanho-mel que se enredavam em seus ombros. — Embora Deus saiba por onde vou começar.
— Ele não precisa ser perfeito —, disse Leo. — Apenas polido. E saber o que dizer.
— Ou melhor, o que não fazer. — Seus olhos se estreitaram. — Ele terá que parecer um cavalheiro, pelo menos. Um corte de cabelo, uma barba... possivelmente despiolhamento. — Um sorriso floresceu. — Um guarda-roupa totalmente novo. Aulas de dança.
Will arqueou uma sobrancelha. — Eu não estou dançando.
— Você vai dançar se eu disser para dançar. Você se curvará quando eu disser e manterá uma língua civilizada. — Uma parte dela quase não podia esperar. — Caso contrário, lavarei minhas mãos sobre todo esse assunto e você não quer isso, quer?
Oh não, ele queria ser bom e próximo. Para ficar de olho nela.
Seus olhos se estreitaram, a mensagem neles perfeitamente clara. Isso seria uma guerra. Mas ele não tinha escolha a não ser aceitar seus termos.
Leo olhou entre eles. — Há algo que eu deva estar ciente?
— Não. — Ela e Will responderam.
— Absolutamente nada. — Acrescentou ela, olhando para ele para se certificar de que ele não mencionou nada a Leo.
— Suponho que você ache isso engraçado. — Disse Lena, colocando as luvas com um puxão forte.
Will se encostou na parede, olhando preguiçosamente para ela. Suas bochechas estavam pálidas, mas seus olhos cuspiam fogo. Ele queria beijá-la, queria pressioná-la contra o papel de parede chinês e lamber sua garganta.
Perigoso.
Ele podia controlar esse impulso, esse desejo. Ele tinha que controlar.
Flexionando os dedos, ele olhou para o corredor. A acompanhante pairava como um zangão de serviço, os olhos arregalando-se cada vez que o via olhando, como se suspeitasse que ele a atacaria. Will ficou tentado a rosnar para ela. Ver se ela tinha um ataque de vapores.
— Você se incomodaria se eu admitisse que estava curtindo cada minuto disso?
Lena fez uma pausa, sua cartola descansando levianamente em sua cabeça. Seus dedos se enredaram nas fitas roxas e seus olhos se encontraram no espelho.
— Eu te avisei. — Ele sussurrou, inclinando-se mais perto para que sua imagem aparecesse no vidro polido também. Com seu casaco escuro, ele parecia uma enorme sombra atrás de sua esguia figura roxa. O lobo grande e mau, pronto para devorá-la.
O cheiro dela o envolveu, tentando-o a fazer exatamente isso. Ele queria apertar o rosto em seu pescoço e respirá-la, deixar suas mãos percorrerem a curva espartilhada de seus quadris...
Lena ergueu os olhos para ele, desamparada. Alguma sugestão de sua fome deve ter mostrado em seu rosto por seus lábios separados com uma exalação suave.
— Vou descobrir o que você está fazendo. — Alertou.
Ela quebrou o feitiço, puxando fortemente suas fitas enquanto as amarrava. — Aproveite o momento, Will. Será a última vez que você levará o melhor de mim. — Com um sorrisinho doce, ela acrescentou: — E considere isso meu aviso.
— O que você quer dizer?
Ela virou uma espuma de saias. — Este é o meu mundo agora e você não tem ideia de quais são as regras. Você não vai aprender nada e eu... vou ter muito prazer nisso.
Ela tentou passar por ele e ele se recusou a recuar e lhe dar o quarto. A respiração de Lena se acelerou, mas não havia nenhum sinal em seu rosto quando ela passou, seus quadris roçando na coxa dele.
— O que você-?
— Amanhã. Ao meio-dia — disse ela, pegando sua sombrinha, um pedaço de tecido rendado que não faria nada para evitar o mau tempo. — Não seria bom que você viesse aqui com muita frequência. As pessoas podem começar a se perguntar. Então eu irei até você. No cortiço. Posso afirmar que estou visitando minha irmã ou ajudando-a em algum projeto —. Ela deu uma última olhada nele. — Tente estar limpo e vestido apropriadamente. Arrumar você para a sociedade já será uma tarefa monumental.
Capitulo 8
Will caminhou até a borda do telhado, olhando por cima da parede que circundava Whitechapel. Cânticos e gritos ecoavam do norte, perto da saída de Bishopsgate. Parecia o estrondo baixo de um trovão, e a cada hora aumentava a intensidade da tempestade até que Charlie e Lark pudessem ouvir.
— O que está acontecendo? — Charlie perguntou, sentando em uma chaminé e batendo os calcanhares contra a alvenaria.
A seus pés, Lark estava sentada de pernas cruzadas na base da chaminé, mastigando uma mecha de seu longo cabelo castanho. Desde que Honoria se mudou para o cortiço com Lena e seu irmão mais novo, Charlie, a dupla era inseparável.
— É um motim. Ou o início de um. — Will respondeu.
Os olhos de Charlie se arregalaram e ele sorriu. Aos dezessete anos, ele ainda era jovem o suficiente para não entender o que estava para acontecer. — Um motim? Como é impressionante! Podemos ir ver?
— Não seja um idiota —, Lark retrucou. Criada nas colônias, ela entendia as conotações muito melhor do que Charlie jamais entenderia. — Nada além de sangue virá disso.
— Tudo do melhor. — Charlie sorriu, uma sugestão de sombras escuras nadando em seu olhar.
Lark deu um soco na coxa e ele estremeceu. — Você nunca viu um tumulto resolvido antes, seu tolo. Não será um espetáculo para ver. Nada além de corpos esmagados e ossos quebrados. Homens, mulheres e crianças. — Ela balançou a cabeça. — O Escalão não aguentará muito. Eles vão liberar a cavalaria de Troia para destruí-los e então haverá sangue nas ruas. — Ela estremeceu. — Não aqui, entretanto. Não perto de nós.
Will olhou para os telhados, suas narinas dilatadas. — Perto de Langbourn.
— Oh. — Os ombros de Charlie caíram. — Eu estava apenas brincando. Eu não quis dizer isso.
— Você não pensou. — Lark corrigiu. Charlie podia ser de sangue azul e três vezes mais forte que ela, mas o equilíbrio de poder entre eles ainda pesava em sua direção. Ela tinha malandragem e uma astúcia rápida - e vários “tios” adotados mais velhos para apoiá-la se alguém lhe desse algum rebatimento.
Will ignorou a briga deles, caminhando ao longo da borda do telhado. Um rápido olhar mostrou-lhe o sol no céu, lutando bravamente atrás de várias nuvens cinzentas fofas. — Charlie, que horas são?
Charlie puxou seu relógio de bolso. — Um quarto para o meio-dia, senhor.
Meio-dia.
Uma extremidade inquieta o percorreu. Ela disse que tinha vindo aqui para a aula. Sua mente percorreu um mapa mental da cidade. Se Lena viesse por Aldgate, ela provavelmente evitaria o problema. Mas se ela saiu pelo Bishopsgate, então...
Um grunhido retumbou em sua garganta.
— Ah... está tudo bem? — Charlie perguntou. Até ele sabia como evitar o temperamento de Will.
— Talvez. — Ele se virou e atingiu os dois com um olhar. — Fiquem aqui. Continuem assistindo. E não deixem, em hipótese alguma, a colônia. Se o problema se soltar, vocês voltem para o cortiço.
— Sim senhor! — Charlie chamou a atenção. — Onde você vai?
Will caminhou em direção à borda da parede. — Para buscar sua irmã idiota. Ela disse que viria aqui hoje. Não me surpreenderia se ela se envolvesse nisso.
A carta do Sr. Mandeville chegou cedo naquela manhã.
Lena ergueu os olhos da bancada de trabalho, uma variedade de engrenagens e tiras de chapa de ferro espalhadas pela mesa. Empurrando suas lentes de aumento no topo da cabeça, ela recuperou a carta e deslizou uma chave de fenda por baixo do envelope para abri-la.
Uma batida lenta e constante começou em seu peito.
Cara Srta. Todd,
Espero que esta carta te encontre bem. Recebi uma comissão impressionante para você, em relação ao mecanismo original que você me mostrou outro dia. Eu ficaria muito satisfeito em discutir isso pessoalmente com você, conforme sua conveniência.
Seu,
Arthur Mandeville.
Colocando a mão no peito, ela se levantou lentamente. O mecanismo de transformação! Alguém queria uma cópia!
— Sra. Wade! — Ela chamou, correndo para fora do quarto para os aposentos de sua companheira. — Sra. Wade!
Em meia hora, ela empurrou sua companheira no vagão a vapor e partiu para o Empório Mecânico de Mandeville.
As ruas estavam cheias e o progresso era lento. Lena puxou as cortinas para o lado, olhando para a multidão e para os veículos à frente. Passando pelo Bishopsgate, um dos enormes portões que protegiam a cidade propriamente dita, ela brincou impacientemente com sua bolsa. — Qual é o caso?
A Sra. Wade se inclinou para fora da janela e conferenciou com o motorista. Quando ela se sentou, estava sem fôlego. — Um protesto. Em Langbourn e a Lime Street. Esses mecanistas estão de volta.
Lena olhou para fora com curiosidade. Ela tinha ouvido tudo sobre os mecânicos - aqueles que trocaram anos de serviço com o Escalão em troca de membros biomecânicos ou órgãos mecânicos. Alojados em seus enclaves fumegantes na cidade, eram tratados como um pouco melhores do que animais. Não se podia confiar em um homem meio metal. Na verdade, muitos no Escalão argumentavam que, ao assumirem os membros de metal, eles estavam se tornando menos humanos e, portanto, não tinham os direitos de um homem completo.
— Eles deveriam conduzi-los de volta aos seus enclaves e trancá-los. — A Sra. Wade fungou.
— Não vejo qual é a diferença. Só porque alguém tem um braço de metal, isso não o torna menos homem. — Respondeu Lena. Dois dos homens de Blade, Homem de Lata e Rip, tinham membros mecânicos. Por direito, os dois deveriam ter sido aprisionados nos enclaves, mas ninguém ousou mencionar isso a Blade.
— Você não pode confiar neles. — Respondeu a Sra. Wade.
— Por que não? O metal não afeta a mente. Eles ainda são os mesmos de antes de receberem as melhorias.
— Não é natural, é o que é.
Não fazia sentido discutir com alguém que não tinha refutações racionais. Lena mordeu a língua e tentou dar uma olhada mais de perto na manifestação.
— Esperançosamente eles enviarão os casacos de metal e os limparão, — a Sra. Wade acrescentou. — Fazer esse tráfego andar novamente.
Não era muito longe para o empório. Ela havia caminhado dez vezes essa distância quando morava na colônia. — Por que não vamos andando?
A sugestão foi recebida com grande horror. — Com todos aqueles mecanistas correndo por aí?
— Vamos levar um dos lacaios. A carruagem pode nos encontrar lá assim que o tráfego congestionado começar a se mover novamente. — Lena estendeu a mão para a porta.
— Espera! Sua sombrinha! — A Sra. Wade bufou atrás dela, trazendo seu chapéu, sombrinha e a cesta de crochê que ela sempre carregava enquanto Lena descia da carruagem. Seus olhos dispararam como se esperassem um mecanista pular e atacar a qualquer momento.
A multidão diminuía à medida que se aproximavam de Mandeville. A maioria das pessoas era pobre, agitando cartazes e punhos, como se o Escalão fosse notar. Ainda assim, Lena conseguia entender a necessidade de fazer algo.
Várias ruas adiante, o som era bem mais intenso. Lena as conduziu na outra direção, embora isso as desviasse das ruas. Ela não tinha nenhuma intenção de ser pega na multidão.
Um homem corpulento com uma placa de metal curvada em seu crânio cambaleou para ela, cheirando a álcool. Sua mão também era mecânica, ajustada aproximadamente à carne de seu pulso. Pelas bordas da pele com cicatrizes, o trabalho fora feito às pressas, e muito mal. Ele avistou suas saias vermelhas e olhou para cima, seu olhar passando pelas pérolas em sua garganta e as penas em seu chapéu. Eles eram os únicos adornos que ela usava e na maioria das circunstâncias ela não teria se sentido desconfortável andando pelas ruas assim.
— Ei agora, — ele zombou, agarrando seu pulso. — Uma pequena prostituta de sangue azul, sozinha.
— Eu me deixaria ir se fosse você, — ela sugeriu em seu tom mais firme. — E eu não diria que estaria sozinha.
A Sra. Wade apontou sua sombrinha para ele como se fosse uma arma. — Solte ela, seu brutamontes mecanista!
Lena lançou um olhar furioso para ela e balançou a cabeça. Precisamente o tom e as palavras erradas para a situação. Ela ergueu a mão apaziguadora. — Não temos interesse em seu...
— Bruto? — Ele rosnou. — Um brutamontes como eu? O quê, você acha que é melhor do que nós?
Ao redor deles, as pessoas estavam começando a se interessar.
— Deixe-a ir ou você sentirá a ira do Duque de Caine! — A Sra. Wade retrucou, como se aquele nome tivesse algum peso aqui.
Lena se apressou em amenizar a situação. — Não achamos que somos melhores, ou diferentes ou...
— Vamos, rapazes! — Ele rugiu. — Este pedaço de tecido está virando o nariz para nós!
Murmúrios e resmungos surgiram. Lena olhou em volta desesperadamente. — Não, eu não! Eu nunca disse isso.
— Vocês na cidade, vocês torcem o nariz para nós. Bem, é só você esperar. Sua hora está chegando. — Ele olhou para ela. — Temos maneiras de lidar com sua espécie agora.
— Solte ela! — O lacaio insistiu, pegando o homem pelo braço. — Senhorita Lena, você está bem?
Assobios de repente gritaram no ar e, ao mesmo tempo, a multidão se virou com um suspiro.
— É a cavalaria de Troia! — Alguém gritou.
Gritos assustados rasgaram a multidão e eles explodiram em uma multidão em pânico, fluindo para a segurança da praça à frente. Lena foi arrebatada pelas bordas, seu pulso foi arrancado do aperto do homem.
Alguém a agarrou pela cintura, levantando-a do chão. — Perdão, senhorita. — Henry, o lacaio, disse. Um rapaz robusto de quase um metro e oitenta, até ele teve que lutar para manter os pés contra a horda enquanto avançava para o lado da multidão.
A Sra. Wade se inclinou em uma porta, abanando-se com a mão. — Oh, Lena! Oh, graças a Deus! — Ela a arrastou para a segurança da alcova e Henry usou seu corpo para protegê-las da multidão.
— O que está acontecendo? — Lena olhou sob seu braço estendido.
— O Escalão deve ter libertado a cavalaria, senhora —, Henry respondeu, com o rosto pálido. — Por favor, não se mova. Eles vão cortar qualquer coisa em seu rastro.
— Mas nem todo mundo está causando problemas. — Ela protestou.
— Não importa.
Uma batida começou a soar nas pedras do calçamento. Como o som de cem cavalos marchando em uníssono perfeito. Um arrepio percorreu sua espinha. A cavalaria de Tróia era usada para limpar a maioria das turbas e tumultos - já que os Lançadores de Fogo com bombas incendiárias podiam causar muitos danos. Havia pouca coisa que pudesse resistir aos cavalos de metal fortemente blindados, e ela ouviu rumores de que eles simplesmente derrubavam um homem. Nada era destruído dessa forma. Apenas o homem.
Lena olhou para o fim da rua. — O que nós vamos fazer?
— Fique aqui. — Henry disse severamente.
A porta estreita mal era larga o suficiente para caber os três. A maior parte de Henry estava saindo para a rua. Mesmo agora, a multidão apavorada trombava e os derrubava enquanto eles passavam.
— Não podemos ficar aqui. É muito perigoso. — O Sr. Mandeville não ficava longe. Eles poderiam fazer isso se se apressassem. E ela conhecia essas ruas como a palma da sua mão.
A Sra. Wade tossiu, seu rosto branco como um lençol. O coração de Lena afundou. Sua companheira idosa nunca chegaria tão longe com tanta pressa. Pelo som de seus suspiros, ela estava à beira de um ataque histérico.
A menos que...
Abaixando-se sob o braço de Henry, Lena olhou para a saliência da sarjeta. — Henry, quando eles enviam a cavalaria, eles enviam algum dos Lançadores de Fogo ou Casacos de metal?
— Não há necessidade disso. Não sobra muito depois que a cavalaria passa.
A maior parte da multidão havia desaparecido. No final da rua, a luz do sol refletia na armadura polida de uma fileira de cavalos de metal.
— Venha, Sra. Wade, — Ela disse gentilmente, pegando sua companheira pelo braço. — Temos que nos apressar.
Sra. Wade balançou a cabeça. — Não, não posso! Eles vão nos derrubar.
— Henry, você acha que é possível levantá-la?
Ele pensou um pouco sobre a questão, uma expressão duvidosa em seu rosto. — Eu não posso dizer até onde eu poderia carregá-la.
— Nem um pouco longe. — Ela ergueu os olhos. — Vamos cruzar os telhados.
— Claro! Por que não pensei nisso?
Porque ele nunca viveu na colônia, onde Blade e Will - e a maioria de seus homens - usavam os telhados como sua própria rodovia.
Persuadindo a Sra. Wade a sair, ela ajudou Henry a levantá-la. — Você vai ter que agarrar a sarjeta!
— Eu n-não posso!
— Você pode e vai fazer — rebateu Lena. — Eu já tive o suficiente desses histéricos. Se você não se apressar, Henry e eu não teremos tempo de segui-la e então você terá que explicar ao meu guardião como conseguiu me atropelar!
Isso causou uma grande agitação. A Sra. Wade chutou e bufou, lutando para o telhado. Henry lutou para erguê-la acima dos ombros, os olhos apertados com força, enquanto as volumosas dobras das saias da Sra. Wade revelavam uma grande quantidade de suas coisas não mencionáveis ao mundo.
Cascos de aço ecoaram nas pedras do calçamento. Lena olhou nervosamente para a rua.
— Você é a próxima, senhorita. — Disse Henry.
Lena se apoiou no joelho dobrado e depois no ombro, agarrando-se à sarjeta. Ela precisava se apressar. A Sra. Wade havia custado muito tempo a eles. Mordendo o lábio, Lena subiu no telhado, depois se virou e se deitou, olhando para Henry.
— Rápido!
A cavalaria estava quase sobre eles. Os cavalos tinham quase dois metros e meio de altura na cernelha, com peitos largos e pesados e enormes cascos de tigela de sopa. Projetado como um cavalo de batalha, o vapor soprava e bufava de suas narinas. A visão foi o suficiente para gelar seu estômago.
— Henry! — Ela estendeu o braço. Seus grandes olhos azuis olharam para ela.
— Eu só vou puxar você para baixo. — Disse ele, balançando a cabeça.
Lena arrancou a sombrinha da Sra. Wade e a deixou cair em suas mãos. — Prenda-a na sarjeta e use-a para ajudar a aliviar o seu peso! Sra. Wade! — Ela olhou para trás, para onde sua companheira estava esparramada nos ladrilhos. — Segure meus tornozelos e faça o que fizer, não deixe ele me puxar!
Um par de mãos carnudas envolveu seus tornozelos, com o peso considerável da Sra. Wade para ancorá-la.
A cavalaria de metal partiu de um trote para um galope. Um homem correu à frente deles e caiu sob os cascos de aço esmagadores. No meio deles cavalgavam os tratadores, cada um conduzindo uma manada de dez com suas pequenas caixas pontiagudas e o sinal de rádio que os controlava.
— Henry! — Lena gritou, estendendo a mão para agarrar seu braço enquanto ele lutava bravamente para se erguer.
Atrás dela, a Sra. Wade gritou e deslizou alguns centímetros pelo telhado. Lena avançou de bruços, o rosto e os ombros balançando na sarjeta. Ela puxou o braço de Henry, mas ele perdeu o controle que tinha na sarjeta e estava pendurado ao lado da sombrinha.
— Não se atreva a me deixar ir! — Lena gritou.
Henry enfiou os pés para cima desesperadamente, tentando não ser atingido quando a primeira linha de cavalos de metal passou trovejando. Uma poeira sufocante subiu da rua. O centímetro da manga que ela segurava escorregou ainda mais por entre os dedos até que...
— Não!
Atrás dela, a Sra. Wade gritou e a soltou. Os olhos de Lena se abriram e ela caiu para frente, suas saias deslizando sobre os ladrilhos. Ela teve um vislumbre dos olhos arregalados e horrorizados de Henry quando ela caiu em direção à rua e então...
Algo a agarrou pelas saias.
Com uma chave inglesa, ela caiu de costas no piso ao lado da Sra. Wade, piscando para Will. Seus ombros largos estavam delineados contra as nuvens inclementes, os músculos de seus braços nus contraídos enquanto seus punhos se fechavam. — Devia saber que você estaria em apuros.
— Henry! — Ela engasgou, apontando para a borda do telhado.
Will se ajoelhou, o couro de suas calças esticando-se sobre suas coxas musculosas. Ele se abaixou e pegou a sombrinha, então se endireitou como se mal fizesse qualquer esforço.
Henry se ergueu no ar, chutando debilmente a ponta da sombrinha. Will agarrou sua mão e o puxou para o telhado, onde ele desabou em estremecimentos violentos.
— Oh, Senhor, — ele sussurrou. — Oh, Srta. Lena! Achei que você fosse! Você nunca deveria ter se arriscado.
— Bem, eu não estava prestes a deixar você cair. — Ajoelhando-se ao lado dele, ela o examinou em busca de ferimentos. Suas próprias mãos estavam começando a tremer. Tão perto. Perto demais, na verdade.
Uma sombra caiu sobre ela. O estômago de Lena embrulhou.
Quando ela olhou para cima, Will estava com uma carranca assassina. — O que diabos você estava pensando?
— Eu...
— Você não estava! — Seus braços explodiram no ar. — Você não poderia ter estado! Que idiota sai de uma carruagem no meio de uma maldita multidão? Você não pensou uma vez sobre como isso era perigoso?
— Eu estava tentando evitar. O Sr. Mandeville fica a duas ruas. Se nós...
— São duas ruas longe demais! Você tem ideia do que passou pela minha cabeça quando encontrei a maldita carruagem? Virada de lado e abandonada? Com seus malditos lacaios sentados em um telhado, fumando charutos!
Lena se levantou, sacudindo as saias. — Eu não pensei que um motim iria explodir tão rapidamente. E obviamente a carruagem não era mais segura.
— Não pensou? Não pensou? — O último saiu como um rugido que fez a Sra. Wade e Henry estremecerem.
O calor queimou suas bochechas. — Eu cometi um erro. Mas já passei por esse tipo de situação antes. Eu não estava apenas...
— O que você quer dizer com já esteve nessas situações antes?
Lena respirou fundo. Pela expressão em seu rosto, ela estava a um passo de ser sacudida como uma boneca de pano. — Quando eu estava trabalhando na casa do Sr. Mandeville. Não havia dinheiro para pegar o bonde para casa, então tive que caminhar. Eu fui pega nas bordas de um motim duas vezes. — Quando sua expressão escureceu, ela se apressou em assegurá-lo. — Subi no telhado da primeira vez e me escondi na casa de um homem na segunda. Ele foi terrivelmente legal sobre isso.
Will respirou fundo. Então outra vez. Seus ombros ainda estavam tensos, seus olhos selvagens. — Se você sair para as ruas desprotegida novamente, eu vou estrangular você.
— Passei seis meses caminhando para casa por essas ruas quando tinha dezesseis anos —, ela retrucou. — E eu tinha a Sra. Wade e Henry comigo desta vez. Isso é muito mais seguro do que quando éramos pobres e nos escondíamos de Vickers.
Um ruído estrangulado saiu de sua garganta. Lena fechou a boca. Não era hora de mencionar todas as coisas horríveis que aconteceram com ela durante aquele período terrível após a morte de seu pai.
Ele se virou e olhou para Henry com um olhar que fez o rapaz engolir em seco. — Nunca mais, você me entendeu?
O rapaz assentiu bruscamente.
— Venha, — Will disparou. — Eu vou levar você de volta para o cortiço. Então, veremos como levá-la para casa.
— Eu tenho que ver o Sr. Mandeville primeiro.
Ele girou nos calcanhares e Lena deu um passo para trás.
— Ele está me esperando —, disse ela. — Se eu não chegar, não quero que ele saia para a rua à minha procura.
Seus lábios se estreitaram. Quando ele se virou, ela pensou que ele havia murmurado alguma coisa, mas não conseguiu entender.
Ela podia, no entanto, ver o sangue escorrendo do rosto da Sra. Wade.
Capitulo 9
— Graças a Deus você está bem!
O Sr. Mandeville a pegou nos braços e deu um suspiro de alívio.
Lena deu-lhe um abraço rápido. — Você viu algum problema aqui?
— Não dessa vez. Eu podia ouvi-los gritando, porém, ao longo das ruas. — Seu olhar cintilou por cima do ombro. Então congelou.
— Você conhece a Sra. Wade e Henry. — Ela gesticulou para o par cansado. Will se virou de onde estava olhando para as ruas. A luz da janela iluminou suas íris âmbar em chamas. — E este é William Carver. Um amigo do marido da minha irmã.
A rigidez nos ombros do Sr. Mandeville dizia muito. Ele sabia exatamente o que aqueles olhos significavam. — É um prazer conhecê-lo. — Disse ele, com um movimento brusco de sua cabeça.
Lena colou um sorriso no rosto para disfarçar sua grosseria. — Will nos ajudou com algumas coisas desagradáveis no tumulto. Ele está aqui para me acompanhar até em casa.
— Eu vejo. — O olhar do Sr. Mandeville disparou entre ela e Will. — Você recebeu minha mensagem?
— Eu recebi. Eu queria discutir mais a comissão, se você quiser?
— A sala dos fundos?
— Eu não vou demorar. — Vendo o olhar furioso de Will, ela se apressou em acrescentar. — Eu prometo.
Pegando o braço do Sr. Mandeville, ela o conduziu para a sala dos fundos. Assim que a porta se fechou, ele se virou para ela, mas ela ergueu a mão em aviso e bateu no ouvido.
— Então, alguém queria comprar o mecanismo de transformação? — Ela perguntou, pegando uma de suas canetas de primavera e escrevendo em um pedaço de papel. Não diga nada que você não queira ouvir.
O Sr. Mandeville coçou a ponta do bigode. — Eu repassei isso a um certo amigo meu. — Mercúrio, escreveu ele. — Ele está interessado em apresentá-lo como um presente ao Embaixador da Escandinávia assim que o tratado for assinado. Ele ficou muito impressionado com os detalhes.
Para qual propósito? O incidente com as fábricas de drenagem ainda estava fresco em sua mente, embora ela não pudesse pensar em nenhum uso nocivo para seu mecanismo de transformação.
Ele quer fazer seus próprios acordos com os escandinavos. Em voz alta, o Sr. Mandeville acrescentou: — Ele nunca viu nada parecido.
Então, respirando fundo - e perguntando quanto a comissão provavelmente pagaria - ela escreveu hesitantemente. Você sabe alguma coisa sobre o conteúdo dessas cartas? Ou sobre as fábricas de drenagem em chamas?
O Sr. Mandeville coçou o bigode. — Eu deveria imaginar que você poderia cobrar uma taxa bonita. Ele quer que seja concluído em duas semanas.
— Duas semanas? — Ela gritou.
— Os escandinavos chegam na próxima semana. Presumo que haverá as rodadas habituais de conversas e entretenimentos sociais. — Pegando a caneta, ele escreveu: Não somos os únicos trabalhando contra o Escalão. Há outra pequena facção com noções um tanto mais drásticas de como derrubá-los. As cartas, tanto quanto eu sei, contêm datas e horários de reuniões.
Ele mal largou a caneta antes que ela a pegasse. Mas você não tem certeza disso?
Uma hesitação. Não. Eu não. Mas eu não toleraria tais atos de terror.
Bom. Ela encontrou seu olhar incisivamente. Porque eu também não quero fazer parte disso.
Tenho outra mensagem que precisa ser entregue. Você vai fazer isso?
Lena olhou para a folha de papel. A dúvida era uma pequena cócega inquieta. Uma coceira que ela não conseguia coçar. Eu quero conhecer o Mercúrio.
A cabeça do Sr. Mandeville disparou. — Isso não é possível. — Disse ele em voz alta.
Balançando a cabeça com raiva, ela pegou a caneta. Então não quero mais nada com isso. Não saberei de atos que possam matar pessoas inocentes. Havia guardas nessas fábricas. Guardas humanos. Quero falar com quem sabe o que está escrito nessas cartas.
O Sr. Mandeville olhou para ela, seus lábios apertados. — Vou passar a palavra sobre a comissão. Fica a critério dele reunir-se com você. — Franzindo os lábios, ele ergueu a carta. — Você vai aceitar?, ele murmurou.
Lena olhou para ele. Tão inócuo. Apenas um pedaço de papel. Lentamente, ela estendeu a mão e aceitou, colocando-o no corpete. Ninguém o encontraria lá. Desta vez, ela escreveu. — Obrigada. Vou começar a trabalhar no transformacional. — Inclinando-se, ela escreveu, quero me encontrar com o Mercúrio.
O Sr. Mandeville assentiu brevemente. — Vou ver o que posso arranjar. — Ele a deixou quase chegar à porta antes de acrescentar: — Foi bom conhecer a fonte de sua inspiração, Lena. Mas eu recomendaria cautela. Os sangues azuis não são o único perigo para uma jovem hoje em dia.
Suas bochechas aqueceram. — Eu sei o que estou fazendo, obrigada, Sr. Mandeville.
— Sim. Suponho que você pense que sim.
Will entrou no labirinto com as mãos enfiadas nos bolsos. Se ele as deixasse livre, ele pensou que poderia estrangulá-la. Dois segundos mais e ela teria caído, esmagada pelos cascos de ferro da cavalaria de Troia. O frio pegou em seu peito. Uma sensação horrível de falta de ar que ele não reconheceu. Melhor não pensar nisso.
Atrás dele, o lacaio ajudou a velha gorda enquanto ela bufava e reclamava escada acima. Lena sugeriu baixinho que Henry levasse a Sra. Wade à cozinha para um drinque bom e forte. Pelos sons do jargão que ela estava proferindo na última meia hora, Will suspeitou que ela poderia precisar da maior parte da garrafa.
— Bem — suspirou Lena, ficando ao lado dele no topo da escada e observando sua companheira ser levado embora. — Pelo menos ela esperou até depois do caos para sucumbir à histeria.
O delicioso aroma de seu sabonete subiu de sua pele quente. Se ao menos ela usasse outra coisa pelo menos uma vez. Ele passou a associar aquele cheiro com Lena e até mesmo uma sugestão dele no ar fez seu pau despertar.
As saias dela roçavam suas canelas enquanto ela olhava para o corredor. — Onde você gostaria de começar a lição? Sala de Blade?
O andar térreo do cortiço era uma bagunça de poeira e teias de aranha, com piso de tábuas rangendo e papel de parede descascado. Não havia nada para ver aqui. Nada de valor. Um impedimento para ladrões e qualquer pessoa que possa estar se reportando ao Escalão. No andar de cima, no entanto, era uma morada totalmente diferente. Tapetes luxuosos e pinturas finas, o cheiro de cera de abelha no ar e a maioria dos quartos aquecidos com lareiras ornamentadas. Muito poucas pessoas eram confiáveis o suficiente para ver a seção de cima.
Will assentiu bruscamente. — Vai servir.
— Vou buscar um pouco de chá e bolos. — Ela olhou para ele. — Está com fome?
Ele estava sempre com fome. A raiva e o medo nele apenas queimavam mais combustível de seu corpo. — Sim.
— Vou trazer algo com mais substância então.
Enquanto ela cambaleava em direção à cozinha, ele abriu a porta da sala. O ar frio roçou seu rosto. As fogueiras não eram acesas há algum tempo. Blade preferia se sentar no laboratório de Honoria no andar de cima atualmente.
O frio mal o afetava, mas Lena gostava de se sentar diante de uma lareira boa e quentinha. Em vários aspectos, ela era bastante parecida com uma gata. Ele a vira enrolar-se no tapete muitas vezes, mexendo nos pedaços de um relógio quebrado. O funcionamento interno de tais dispositivos estava além de sua compreensão, mas Lena conseguia encaixá-los como se fossem nada mais do que um quebra-cabeça de criança.
Quando ele teve uma chama saudável crepitando na lareira, ela voltou. Ele ouviu o farfalhar de saias vindo do corredor, e o cheiro de rosbife quente encheu o ar. Saliva inundou sua boca e ele a interceptou na porta, seu olhar atento à pesada bandeja em suas mãos.
— Aqui. — Ele murmurou, pegando-o dela.
O olhar de Lena se desviou para o fogo. Ela foi até lá, estendendo as mãos pálidas. — Sra. Wade está se recuperando. Ela afirma que chegará em um momento. — Uma torção irônica dos lábios. — Eu não acho que ela confie em você sozinho com minhas sensibilidades de donzela.
Calor enrugou os cantos de seus olhos. Will lentamente colocou a bandeja em uma pequena mesa de leitura. Uma mulher mais inteligente do que ele acreditava, Sra. Wade.
— Está com fome? — Ele perguntou. O cheiro de carne o atraiu para a bandeja. Will levantou a tampa e examinou o prato. A carne assada de Esme com galões de molho e pão grosso e pingos.
— Não particularmente.
Ele equilibrou o prato em seu colo e comeu com gosto. Uma tarifa muito melhor do que estava acostumado atualmente.
Lena se sentou em frente a ele, puxando a saia para o lado. Ela serviu chá para os dois e pegou um prato de bolo de especiarias para ela. Embora seu suave murmúrio se misturasse ao reconfortante tilintar de talheres, um toque de tensão percorria o ar, pesado como o silêncio. Os cílios de Lena vibraram contra suas bochechas quando ela lançou um olhar para ele, então desviou o olhar rapidamente.
Tinha sido assim por um ano. Desde aquele dia ela rastejou em seu colo, agitou seus cílios para ele, e então pressionou seus lábios contra os dele.
Bem ali, naquele sofá fodido ao lado deles.
Ele olhou para as almofadas bordadas. Seu primeiro beijo e foi um fiasco fodido do início ao fim. Assim que o choque perfurou seu cérebro, ele não foi capaz de escapar rápido o suficiente. Seus lábios, como seda contra os dele, úmidos e exuberantes. Então o dardo de sua língua enquanto ela o lambia, desafiando-o a beijá-la de volta. De alguma forma, seu punho cerrou-se em suas saias. A outra mão estava meio levantada, prestes a capturar sua nuca e puxá-la para mais perto antes mesmo que ele percebesse o que estava acontecendo.
Em seguida, ele se levantou, Lena caindo de volta nas almofadas, os olhos arregalados e assustados e as saias verdes derramando-se ao redor dela. Um vislumbre de seus tornozelos, as panturrilhas com meias tentando-o a explorar mais. Pequenos golpes de martelo de visão piscando para ele. Momentos de movimento em que ele nem tinha consciência de ter feito isso.
Perigoso. Ele só perdeu o controle - perdeu tempo - uma vez. Que ela pudesse fazer isso com ele tão facilmente o assustava mais do que um exército inteiro de casacos de metal.
Se ele perdesse o controle, se a machucasse, se a infectasse... ele nunca se perdoaria.
— A primeira lição —, disse ela, sua voz suave se intrometendo em seus pensamentos, — é que um cavalheiro não olha para uma senhora tão... tão ousadamente.
O calor se espalhou por suas bochechas quando sua visão entrou em foco. Ele tinha estado olhando para ela. Como um idiota desesperado. Lembrando daquele beijo. Lembrando o gosto de sua boca.
Olhando para baixo, ele espetou um pedaço de carne com o garfo. — Como está sua amiga? — Ele perguntou. — A loira.
Lena quebrou um pedacinho de bolo com o garfo. — Adele? Conversei com ela esta manhã. Os pais dela disseram que ela adoeceu - pelo menos até a marca desaparecer.
A saliva de um sangue azul acelerava o processo de cura, mas ele já tinha visto cicatrizes suficientes em seu tempo para saber que nem sempre desapareciam completamente. Na verdade, se ele não fosse verwulfen, sua própria garganta pareceria um trilho de trem.
— Você acha que vai?
— Eu levei um pouco de pomada para ela. Algo que Leo usa para seus servos. — Mexendo com o garfo, ela perguntou: — Você acha que Cavendish vai manter a boca fechada?
— Ele vai se quiser continuar respirando.
— Você não pode simplesmente sair por aí ameaçando sangue azul, Will. Pode funcionar aqui na colônia, mas você estará no mundo deles e deve aprender a jogar de acordo com as regras deles.
— Diga-me que você não gostou. — Ele colocou o prato vazio de lado e recostou-se na cadeira, afundando no estofamento macio.
— Isso não vem ao caso. Claro que gostei de vê-lo receber o que merece. O homem é um valentão e um bajulador. Ele embosca mulheres jovens em cantos isolados e se força contra elas. Não há ruína para ele ou sua reputação. — Seu rosto escureceu. — Só para nós.
— Nós?
As bochechas de Lena empalideceram. — Uma má escolha de palavras. Eu quis dizer as jovens do Escalão. Ele nunca fez qualquer ameaça aberta contra mim antes.
— Mas se ele o fizer, você vai me dizer?
Lena o olhou diretamente nos olhos. E mentiu. — Claro.
— Lena. — Ele avisou, encontrando seus pés.
Ela pegou sua xícara de chá e nervosamente a colocou entre eles. — Não sou contra quem ele vai retaliar. Você o fez de bobo ontem à noite, Will. Ele não vai esquecer isso. Prometa que você vai tomar cuidado.
Inclinando-se, ele apoiou as mãos no apoio de braço de cada lado dela. Os lábios de Lena se firmaram e ela pousou a xícara de chá no colo.
— Você não vai me distrair. — Disse ele, estendendo a mão e capturando o queixo dela entre o polegar e o indicador.
Um erro. A pele de Lena era sedosa e macia, e a leve separação de seus lábios quando ela olhou para cima quase o desfez. Seus olhos se suavizaram, a respiração presa em seus pulmões. Apesar de toda a sua atitude despreocupada, naquele momento sua expressão era estranhamente inocente. Hesitante. Incerta de si mesma.
A sugestão de vulnerabilidade quase o desfez.
Will puxou a mão para trás como se escaldado e se virou, o fôlego dele saindo forte. — Se ele te ameaçar, você vai me dizer?
O olhar de Lena caiu para seu colo. — Claro.
O que diabos havia de errado com ela agora? — Você não tem medo dele?
— Eu posso lidar com homens como Cavendish. — Pondo a xícara de chá de lado, ela murmurou: — São alguns outros que me dão dor de cabeça.
— Colchester?
— Não. — Uma carranca juntou suas sobrancelhas. — Por que você o mencionaria?
— Ele te assusta, — Will admitiu, sua voz baixando. — Você quer que eu o mate para você?
Ela ficou de pé. — Você está louco? Ele é um duque! Mesmo se você pudesse chegar até ele, o Escalão iria destruí-lo. — Aqueles grandes olhos castanhos encontraram os dele e então ela agarrou seu pulso. — Will, prometa que você não fará nada do tipo! Prometa que não irá atrás de Colchester.
O cheiro de medo estava de volta. Mas desta vez ela não tinha medo de si mesma.
Will esfregou a nuca, olhando a mão dela com cautela. Ninguém nunca deu a mínima para ele antes. Além de Blade. — Eu não deixo ninguém tocar no que é meu.
— Eu posso lidar com Colchester. — Ela enfatizou.
A minúscula sugestão de dúvida em sua voz o fez se irritar. — Como? Sorrindo? Flertando?
— Jogando o jogo! Escondendo-se à vista de todos e não permitindo que ele me pegasse sozinha.
— Sim, e o que vai te fazer se ele não pegá-la sozinha?
Ela não tinha nada a dizer sobre isso.
Will a puxou contra ele. — Bem?
— Existem... maneiras. — Suas mãos descansaram contra seu abdômen, tentando contê-lo. — Deixe-me ir, Will. Isso é impróprio.
— Que tipo de maneiras?
Lena olhou para ele. — Eu submeto. Tudo o que ele quer é sangue. Não me custa nada. Ele não pode se dar ao luxo de tomar muito e me ver morrer. Eu não sou... não apenas uma pobre moça do carvão desprotegida.
As palavras o perfuraram como uma lâmina. Uma fúria incandescente queimou seu cérebro, o mundo se estreitando ao seu redor até que tudo o que viu foi o rosto assustado de Lena. — Como diabos você vai.
Lena se encolheu quando suas mãos se apertaram inconscientemente. — Pare com isso, Will. Me deixe ir!
Um suspiro vindo da porta chamou sua atenção. A Sra. Wade estava lá, suas saias pretas envolvendo-a como a vela de um navio. — Deixo você sozinha por cinco minutos e é isso que acontece! Senhor, você removerá as mãos imediatamente.
Ele nem mesmo a ouviu chegando.
Qualquer que fosse a expressão em seu rosto, Lena sussurrou: — Não ouse.
A expressão dela se tornou obstinada, completamente sem medo dele. Foi isso que rendeu à Sra. Wade um indulto. Poucas pessoas viram um homem quando olhavam para ele. Apenas um monstro. Ele não conseguia manchar sua imagem nos olhos de Lena. Não poderia agir como a besta que o mundo pensava.
Fechando os olhos, ele abriu as mãos e ela deu um passo para trás, respirando fundo, esfregando os braços.
Will pegou sua saia e se aproximou. Ele não iria terminar pela metade. — Se ele fizer um único movimento em sua direção, vou matá-lo, Lena. Vou enterrá-lo bem fundo, ninguém nunca vai encontrá-lo. Então, ou você encontra uma maneira de detê-lo. Ou eu vou.
Capitulo 10
Cinco dias depois, Lena colocou uma cereja na boca e a mordiscou, observando Will andar pela sala. Ele passou a manhã sendo equipado para um novo guarda-roupa com Leo. Embora ela fosse encarregada de apresentá-lo ao Escalão, havia alguns eventos que ela não tinha permissão para supervisionar.
Uma pena, ela pensou, passando o olhar pelos ombros largos dele.
— Costas retas, — ela falou, enquanto se espreguiçava no sofá da sala de estar de Leo. — Tente andar como se estivesse dando um passeio, em vez de perseguir algum ladrão pelos becos.
Ela não podia negar que sua graça de movimento era atraente, mas havia algo perigoso na maneira como ele se movia. Mesmo quando ele estava parado, ele parecia pronto para atacar.
Will lançou a ela um olhar sombrio. — Eu não vou picar como um daqueles abutres de camisa bufante. Não importa quantas vezes você me obrigue a fazer isso.
Lena se sentou. Esta era a quarta lição que eles tinham e ele estava lutando com ela a cada passo. O problema não era que ele não pudesse fazer isso; o problema era que ele não dava a mínima para as regras de etiqueta. — Mais uma vez. — Disse ela, desafiando-o a desobedecer.
Will cruzou os braços sobre o peito. — Eu não vejo o ponto.
— Você nunca vê. A questão é que eu disse para você fazer isso. E você concordou em me obedecer. Eu conheço este mundo. Você não. E agora, você parece um brutamontes preparado para quebrar a cabeça de alguém.
Rangendo os dentes visivelmente, ele se virou e caminhou de volta para a janela.
Lena levou a mão aos olhos, contendo-se para não suspirar. Esta seria uma longa tarde. — Diga-me, quantas fontes de energia existem no Escalão?
— O Conselho dos Duques toma todas as decisões.
— E quem tem assento no Conselho?
— Os sete chefes das grandes Casas e o príncipe consorte.
— Quem pode anular seu voto?
— Tecnicamente a rainha, através do Direito de Regência, — Ele replicou, girando nos calcanhares com um floreio que quase a lembrou de Blade. — Embora ela fale com a voz do príncipe consorte.
As palavras poderiam ser suas. Apesar de sua falta de educação, Will poderia repetir as coisas para ela literalmente.
— Como você se lembra de tudo isso? — Até agora ele não tinha perdido uma única pergunta, embora quando ela lhe deu um sermão sobre os jogos de poder do Escalão ela tinha certeza de que ele não estava prestando atenção nela.
— Blade me ensinou. Não escrevemos coisas no cortiço. Portanto, temos que nos lembrar de tudo. Quem nos deve um pouco, quanto, quem pagou, endereços, nomes, quem está batendo na cara dele... — Ele deu de ombros. — Não é difícil.
Will caminhou de volta para ela. Ele tirou o casaco, como sempre fazia quando estava dentro de casa. Um colete de tweed cinza esculpia os planos largos de seu peito e ele arregaçou as mangas novamente. Na parte interna de seu pulso havia uma tatuagem de um par de adagas cruzadas. A marca de Blade. Uma tatuagem que toda a gangue de Ceifeiros usava.
— Você vai ter que parar de fazer isso —, ela observou. — As mangas permanecem abaixadas. — E o casaco continua. Mas ela estava gostando da vista o suficiente para não mencionar. Pegando outra cereja, ela girou o caule e a deslizou entre os lábios.
Seu olhar permaneceu em sua boca. — Qual o próximo? Nós cobrimos como se curvar e se esquivar, falar sobre quem eu preciso ser cauteloso, quem tem o poder, quem não tem, o que eu devo vestir...
Lena mordeu a polpa carnuda e suculenta e engoliu em seco. — Dançando.
— Não mais dançar. — Ele se ajoelhou na beira da espreguiçadeira e pegou uma das cerejas. — Já fizemos isso.
Com a Sra. Wade assistindo como uma mãe desaprovadora. Agora que eles estavam sozinhos... — Definitivamente mais dança.
Puxando um par de cerejas, ele se inclinou para frente, balançando-as sobre os lábios. — Você está fazendo isso para me torturar.
Lena mordeu uma delas e puxou-a com os dentes. — Absolutamente.
Levando a outra à boca, ele mastigou de maneira ponderada. — Mais tarde, — ele disse. — Todo esse papo furado de me aborrecer e eu ainda não dormi.
— Sinto muito por minha companhia estar cansando você.
Inclinando-se para trás em sua mão, ele deslizou seus pés para que pudesse se sentar corretamente. Ele parecia cansado, o arranhão de sua barba sombreando sua mandíbula e seus olhos mais escuros do que o normal. — Não é sua companhia. Ontem à noite alguém decidiu incendiar uma loja para a qual Blade ofereceu sua proteção. Tive que encontrá-los. Algum idiota bêbado que quase cagou quando nos viu. Tão encharcado de gim que ele nem tinha visto o par de adagas cruzadas cravadas na porta.
— Tudo bem —, disse ela, sentando-se. — Talvez possamos guardar a dança para mais tarde.
— Nada mais de palestras também.
Os lábios de Lena se firmaram. — Sem dança. Sem instrução. Talvez você encontre uma demonstração melhor?
— Definitivamente.
Com um pequeno sorriso, ela ficou de joelhos. A porta permaneceu aberta e de vez em quando a Sra. Wade colocava a cabeça para dentro, mas no momento eles estavam sozinhos. E ela teve vontade de lhe ensinar uma lição sobre achar sua companhia cansativa.
— Diga-me, — ela murmurou. — Como uma mulher demonstra sua disponibilidade como uma serva em potencial?
— Não é o mais nebuloso.
Arrastando as saias atrás dela, Lena se levantou e foi até a tigela de cereja, adicionando um pequeno zunido extra ao seu passo. Pegando a tigela dourada, ela se acomodou ao lado dele, sua saia esmeralda roçando suas coxas. Era mais fina do que o que ela normalmente usava para o dia, mas ele nunca saberia disso.
Will ficou tenso. Ela nunca tinha percebido quanto poder enrolado seu corpo musculoso segurava, mas estava quase vibrando nele.
— Ela usa branco, para começar — disse Lena, puxando outra cereja da tigela. — Mas só à noite, pois é considerado antiquado durante o dia. Cereja?
Ele a encarou enquanto ela a levava aos lábios. Por um momento ela não teve certeza de que ele iria tirar dela, mas então ele estendeu a mão e mordeu a fruta doce, o suco vermelho vibrante colorindo seus lábios.
— Você faria isso? — Ele perguntou densamente. — Por um sangue azul?
Lena ergueu os olhos por baixo dos cílios. Em seguida, lambeu o suco derramado de seus dedos. — Eles me considerariam rápida. Essa é uma reputação perigosa para uma debutante.
Seus cílios baixaram, fechando aqueles lindos olhos. — Então este é um jogo que você está jogando? Comigo?
— É tudo um jogo —, respondeu ela, dando de ombros. Observando a cor de seus olhos mudar, ela ergueu outra cereja em direção aos lábios dele. — Eu não estou colocando você para dormir, estou?
Will segurou seu pulso. — Não.
Tirando a cereja de sua mão presa, ela a mordeu. — Bom. — Inclinando-se mais perto, ela gesticulou para sua garganta, arrastando os dedos levemente pela pele ali. — Existem certos pontos no corpo de uma mulher que ela revela quando está procurando um patrono. Cobri-los significa que ela não está interessada.
— A garganta, por exemplo. — Arqueando o pescoço, ela apresentou a pele lisa a ele com graça lânguida. — Nenhuma debutante usa colar ou gargantilha, a menos que esteja em processo de assinatura de contrato.
As pupilas de Will se dilataram, seu olhar caindo sobre sua garganta e abaixo, para sua clavícula e para cima de seus seios. O vestido era ousado, mesmo para ela. O tipo de coisa que ela usaria apenas para ele.
— Onde mais? — As palavras eram suaves, mas golpearam sua pele, causando um arrepio.
Seus olhos eram um desafio.
Inclinando-se mais perto, ela apresentou o interior de seu pulso para ele. A pele macia e cremosa, as veias pulsando em azul por baixo. — Aqui. — Seus olhos se encontraram. — Você se lembra de como cumprimenta uma mulher?
Ele pegou a mão dela por reflexo, mas ela manteve o pulso levantado, em direção a ele. Will se acalmou, a incerteza apertando os planos duros de seu rosto.
— Você pressiona seus lábios nas costas da mão dela, — Ela sussurrou, levantando o pulso em direção a ele. — Para que uma mulher demonstre seu interesse, ela apresenta seu pulso.
Sua cabeça abaixou, seus lábios roçando a delicada pele interna de seu pulso. Uma carícia legal. Quase um fantasma de sensação. O arrepio de sua barba por fazer raspou através dela, seus mamilos pressionando com força contra a renda preta rígida de seu espartilho. Lena pressionou a língua contra os dentes para abafar um suspiro.
— Se um sangue azul está interessado, ele permanece, — ela murmurou. — Talvez um traço de sua língua.
Will abaixou a cabeça novamente, seus olhos a observando. Os lábios de Lena se separaram quando a boca dele cobriu seu pulso, sugando a carne macia. O som áspero da língua dele pareceu tocá-la bem no fundo e ela apertou as coxas, sentindo-o ali, sentindo a fricção de sua roupa intima.
— Isso —, ela sussurrou. — é bastante provocativo para um sangue azul.
A boca de Will se separou de sua pele, seu hálito quente esfriando a umidade. O coração de Lena trovejou por trás da constrição de seu espartilho. O que ele estava fazendo com ela? Como ele havia virado o jogo com tanta habilidade? Ela não aguentaria.
Sua mão estava quente na dela, uma chama de calor acolhedor. Um olhar de consideração apareceu em seus olhos. — Com que frequência você apresenta seu pulso?
— Por quê? — Ela mudou.
O âmbar em suas íris se alargou. — Conte-me.
A qualidade possessiva de sua voz a emocionou. — O que isso importa?
— Diga-me. — Seu aperto na mão dela aumentou.
— Uma vez, — ela admitiu. — Eu era jovem e Lorde Ramsay era bonito. Aprendi minha lição, no entanto. Não o ofereci desde então. Não até agora.
— Não estou interessado no seu sangue.
— Então no que você está interessado? — Lena se inclinou para frente, sabendo que seu corpete estava aberto e seus cachos caíam em torno de seu rosto.
Um longo momento sem fôlego. Will se inclinou em direção a ela inconscientemente, como se alguma força invisível o atraísse. Estendendo a mão, ele roçou as costas dos dedos contra o corpete dela, acariciando levemente a seda como se memorizando a textura. O toque faiscou através dela e ela se inclinou contra ele, forçando a mão dele contra seus mamilos doloridos. Era onde ela queria ser tocada. Lá.
Cada fio de pelo em seu corpo enrijeceu. Um súbito desejo ganhou vida, uma necessidade desesperada de ter suas mãos sobre ela. Lena se inclinou para frente, sua mão deslizando sobre sua coxa, sentindo o poder nos músculos agrupados, seu rosto se inclinando em direção ao dele...
Abrindo a boca, Will tentou dizer algo, mas as palavras morreram em um rosnado áspero. — Droga, Lena. — Seu olhar deslizou para longe. Ele a empurrou com firmeza e se recostou, os braços estendidos nas costas do sofá-cama. — Aprender como fazer o que estou fazendo aqui. Isso é o que me interessa.
Só assim, ela o perdeu. A confusão e a frustração se abriram como um buraco dentro dela. Necessidade não satisfeita. Ela nunca teve problemas para envolver os homens em torno de seus dedos, mas Will constantemente a desafiava.
Ela mal conseguia respirar. Fez uma última tentativa. — É claro que, assim como a garganta, um pulso coberto também tem significados diferentes. — Gesticulando para suas luvas sobre a mesa. — Você notará que eu uso o corpo inteiro para a noite ou luvas que cubram meus pulsos com bastante decência.
— Como você deve. — Ele murmurou.
Ela lançou-lhe um olhar, mas sua expressão era plana, ilegível. Ele apoiou os cotovelos nos joelhos e olhou duramente para ela.
— Uma senhora usando meias luvas é outra questão. Ela mostra o pulso aos lábios de um sangue azul. Um sinal claro de que ela está disponível, talvez até um pouco rápido.
— E pulsos nus?
— Nunca. Apenas um patrono vê uma mulher com os pulsos nus. É considerado altamente pessoal.
— No entanto, você não os está usando agora.
— Você mesmo disse que não está interessado no meu sangue.
Sua expressão escureceu. Lena encostou-se na parte de trás do sofá-cama, os dedos brincando com a manga dele. — Você pode estar mais interessado na distinção entre direitos do sangue e direitos da carne. — Ela murmurou.
Os músculos de seu braço se contraíram. — O que isso significa?
— Uma mulher oferece seus direitos de sangue a seu patrono quando ela se torna sua serva em troca de proteção e provisão. Seus direitos carnais são outra questão. Esse é um dos erros que a classe média comete. Eles presumem que um patrono pode levar sua serva para a cama, bem como beber de seu corpo.
O olhar de Will disparou para o dela.
— Não a menos que ela concorde, — ela adicionou suavemente, sabendo que ela estava pisando em terreno perigoso. — Seus direitos carnais são dela para dar livremente. Talvez seja mais para a sua área de interesse? — Inclinando-se mais perto, ela lambeu os lábios, observando seu olhar cair para eles. — Você deseja carne, Will?
— Você está oferecendo isso? — Sua voz era áspera. — Porque nós temos uma palavra para isso, de onde eu venho. — Empurrando para longe dela, ele encontrou seus pés como se estivesse caçado.
— Você está confundindo os dois —, respondeu ela. — Os direitos da carne são dados gratuitamente. Por nada mais do que o custo do prazer.
Uma cor quente iluminou as bochechas de Will. Ele enfiou as mãos nos bolsos. — E como um cliente sabe se eles estão sendo oferecidos?
Lena arqueou uma sobrancelha. Acariciou com o dedo o arco liso de sua clavícula. — Ele a encontra nua em sua cama.
A declaração ousada atraiu um assobio dele. Por um momento ela se perguntou se ele imaginava. Do jeito que ela era. O pensamento enviou uma emoção através dela.
— Geralmente não se fala disso —, Lena continuou, — mas assim como as aulas de etiqueta, costura e música, uma jovem frequentemente recebe... dicas... de como agradar um homem, caso ela decida oferecer a ele seus direitos carnais.
Não que ela tivesse aprendido muito antes de seu pai ser assassinado e ela ser arrastada para Whitechapel. Mas ele não precisava saber disso.
Seus olhos se estreitaram. — Tenho quase certeza de que você não deveria falar sobre isso com um homem que não é seu patrono.
— Verdadeiro. — Outro encolher de ombros, exibindo a pele macia e cremosa de seu ombro. — Estou apenas provocando.
— Mais jogos —, disse ele com desgosto. Mãos cruzadas atrás dele, ele compassou o pequeno tapete na frente dela. — Talvez você precise de uma lição sobre o que um homem faria em meu mundo, se uma mulher fosse tão ousada com ele.
— Você não ousaria. — Foi uma declaração, não um desafio. Ela sabia o quão longe ela poderia empurrá-lo. Soube que ele recuaria no momento em que ela tornasse o jogo sexual.
Will se virou. Encontrou seu olhar. — Não?
Ele se inclinou para frente, apoiando os nós dos dedos nos quadris dela. Um joelho pressionado entre suas pernas, separando suas coxas e prendendo suas saias. Lena congelou quando ele estendeu a mão e capturou uma mecha de cabelo escuro que caía sobre seu ombro. — Todos esses jogos que você joga... Eu me pergunto o que você faria se eu jogasse de volta?
A excitação correu por suas veias. Ele nunca flertou de volta antes. — Não me diga que estou irritando você? — Ela sussurrou.
— Me deixa nervoso, mais parecido. — Seus dedos esfregaram suavemente o cabelo dela. Em seguida, afundou na pilha de cachos lindamente amarrados na base de sua nuca. Isso arrancou um suspiro de seus lábios quando ele inclinou seu rosto em direção ao dele. Sua respiração se misturou. Desconfortavelmente perto.
E Lena estava ciente de que estava presa, perfeitamente presa embaixo dele. Pegando um punhado de sua camisa, ela olhou para ele. Seu olhar era duro, quase cruel. De repente, ela não gostou mais desse jogo.
— Deixe-me ir. — Ela sussurrou.
— Por quê? Não é isso que você quer? Minhas mãos no seu corpo? Não é isso que você tem tocado na última hora? Ou eu ultrapassei os limites? Ou diga o que quer dizer, Lena. Ou eu vou levar este joguinho seu onde você não pretende levá-lo.
Uma palavra. Sim. Uma palavra e ele o faria. Mas quando ela encontrou o olhar de aço naqueles olhos extraordinários, ela percebeu que ele não estava jogando. Quando isso se tornou mais do que um jogo? Mais do que um flerte leve?
Vou apostar cem libras que você está errada, a voz de Adele sussurrou em sua cabeça. Que ele vai beijar você da próxima vez.
Sim? Ou não? O coração de Lena martelou no peito. Ela o beijou uma vez. Um jogo, nada mais. Mas sua mensagem agora era muito clara. Will não aceitaria mais jogos. E uma parte dela estava com medo de jogar de verdade.
Ela não era tão corajosa. Porque se isso não significava nada para ele, se ele a usasse e depois a descartasse sem se importar, ela de repente percebeu que isso importaria. A ela.
— Não. — Ela sussurrou.
O olhar de Will se fechou. — Não mais disso então. Eu tive jogos suficientes. Chega dessas lições por hoje. A maior parte é inútil de qualquer maneira. — Ele a soltou e se endireitou.
Isso atraiu sua ira. Ela ainda se sentia trêmula, surreal. Como se o mundo tivesse girado em seu eixo e ela não conseguisse acompanhar. — Não é inútil. Estou tentando ajudá-lo, mas você não dá a mínima para nada do que estou dizendo.
— O Escalão não vai me aceitar de qualquer maneira. Eles querem uma besta, e eu darei a eles. — Um olhar zombeteiro enquanto ele desenrolava as mangas.
Lena lutou para se sentar. Suas saias estavam desarrumadas. E também suas emoções. Will pegou seu joguinho e o virou de cabeça para baixo. Ele nunca ousou responder antes. Anos de picadas nele, espetando-o enquanto ele a ignorava... Ela pensou que isso era o pior que ele poderia fazer - fingir que ela não existia - mas não era. A pior coisa que ele poderia fazer era revidar, destruir totalmente as defesas dela e então ficar aqui desenrolando as mangas como se o momento não o tivesse incomodado nem metade do que ela.
— Então não há sentido para essas aulas. — Ela se descobriu dizendo. Incrível como sua voz mal tremia.
Will congelou, no meio de uma manga.
— Não adianta — sussurrou ela — e, portanto, não há razão para você continuar vindo aqui. Ou me acompanhando na sociedade.
Ela podia ver o pensamento agitando-se em seus olhos. — Não — ele disse rispidamente. — Não. Vou continuar com isso.
— Por que eu deveria perder meu tempo? — Ela conseguiu se levantar, ajeitando a saia e alisando o corpete. Uma rápida olhada no espelho mostrou seu cabelo caindo livre dos grampos. Ela os fixou impiedosamente, sentindo os olhos dele nela.
Sua pele formigou. Maldito seja.
— Você não vai ouvir nada do que eu digo, você zomba de todas as regras da sociedade e zomba de meus esforços, — ela continuou, tentando ignorar o sentimento. Sua pele ainda parecia muito pequena, coçando. — Você sabe o que é pior, Will? O pior é que eles veem você como uma besta e você os deixa. — Ela se virou então, encontrou seu olhar. — Você faz tudo ao seu alcance para viver de acordo com a imagem, a reputação, e então você os despreza por zombar de você.
O calor flamejou em seu olhar. Ele deu um passo em sua direção. — Essa reputação pode ser tudo o que nos mantém seguros, — ele rosnou. — Além disso, eu sou verwulfen. Eles nunca vão me ver como qualquer outra coisa.
— E nem você!
A explosão chocou a ambos. Lena soltou a respiração, olhando para ele desafiadoramente. — Você se considera uma besta, Will, porque você acredita nisso. Uma parte de você pensa que você não é nada melhor do que o que eles afirmam. — Respirando fundo, ela continuou. — Você está lutando contra mim em cada etapa dessas aulas porque odeia o Escalão, mas não estou apenas tentando ajudá-lo a aprender a se encaixar, estou tentando mostrar-lhe outra maneira de viver.
O silêncio estremeceu no ar entre eles. Will olhou para ela em choque, em vez de raiva. Encorajada, Lena deu um passo na direção dele.
— Tome minhas aulas, — ela sussurrou. — Use-as para ser quem você quer ser. Force o Escalão a olhar nos seus olhos. Desafie-os a tratá-lo como um homem. Um homem perigoso, se necessário, mas não... não um animal.
Ele desviou o olhar, como se a verdade de suas palavras o tivesse atingido um golpe. Então seus olhos se estreitaram. — E quanto a você?
— E eu?
— Como você vai me tratar?
Lena balançou a cabeça, sua boca trabalhando silenciosamente. — Não tenho certeza se...
Sua expressão endureceu. — Você sabe o que eles vão dizer. O que eles vão pensar quando virem você comigo. Você vai jogar junto? Você vai rir por trás de sua mão com eles, para garantir que seu próprio lugar no mundo deles não esteja em risco? Ou você vai arriscar a censura deles? Arriscar tudo para provar o valor de suas palavras? Pois isso terá um custo, marque-me as palavras. E você será a única a pagar.
Ela olhou para ele, a proximidade de seu corpo a enervando. Nem uma vez ela pensou no custo para si mesma de investigá-lo. Ser vista com ele, com um verwulfen, era equivalente a um suicídio social.
— Sim, — ele murmurou. — Pensei isso. — Alcançando, ele segurou sua bochecha, virando seu rosto em direção ao dele. — Você pode brincar comigo, Lena, porque aqui ninguém pode ver. Bem, estou cansado de ser seu brinquedinho. Talvez você esteja certa. Talvez eu esteja deixando os outros ditarem como eu me vejo. Mas apesar de todas as suas palavras corajosas, você também.
As palavras foram um golpe. Apesar de todo o seu ódio pelo Escalão, ela se conformara com suas regras tão seguramente quanto ele. Ela as deixou definir quem ela era. O que ela pensava. O que ela ousava fazer.
Sua própria jaula.
Will deixou seu rosto ir, então deu um passo para trás. — Você nunca pensou nisso, não é? — Seus lábios se curvaram em um sorriso amargo e ele agarrou o casaco da mesa, jogando-o sobre o ombro. — Acho que te vejo na apresentação oficial. — Com um aceno curto em sua direção, ele se encaminhou para a porta. — Então veremos se suas palavras valem alguma coisa.
Dois dias depois, Will estava escorado em uma parede de tijolos, examinando a enorme torre branca que se erguia a meio caminho do céu. O mármore de alabastro brilhava mesmo na chuva sombria da tarde, uma lembrança sempre presente do poder do Escalão. Amanhã à noite, eles sediariam o baile de apresentação oficial lá, assim que o delegado escandinavo chegasse. Ele teria que usar suas melhores maneiras e charme, tentar convencer os escandinavos a assinar o tratado. Uma tarefa hercúlea que molhou suas palmas.
E se ele falhasse?
Ele nunca percebeu o quanto uma parte dele ansiava pela respeitabilidade de ser um homem livre. Sem preço por sua cabeça, capaz de ir e vir quando quisesse, sem olhar por cima do ombro. Capaz de fazer o que quisesse... ser o que quisesse... sem se resignar ao fato de que era apenas um músculo contratado.
Ele não se preocupou em pensar muito nisso, mas as palavras de Lena no outro dia estavam correndo e girando dentro de sua cabeça. Ele devia a Blade o mundo, mas uma parte dele se irritou com a constrição de sua vida. Algo faminto e ansioso espreitava dentro de seu coração e ele não sabia o que era ou como consertar.
Seus olhos se estreitaram quando uma carruagem a vapor dourada parou em frente aos portões da torre, fumaça espessa de carvão saindo de seu escapamento. Ele a rastreou desde Mayfair, onde esteve vigiando a mansão do Barrons toda a manhã. A chuva ajudou a escondê-la e os lacaios nunca olharam em volta. Todos tolos. Isso só serviu para provar o quão facilmente Colchester poderia chegar até ela se quisesse.
Um lacaio abriu a porta e uma mão esguia apareceu, apoiada na do lacaio. Saias da cor de pétalas de rosa esmagadas apareceram, então Lena desceu, olhando nervosa para a torre.
A visão dela nunca deixava de tomar fôlego. De repente, a necessidade desconhecida, a fome dentro dele, tinha um nome e um rosto.
E isso o preocupava mais do que todo o Escalão combinado.
Você não pode tê-la.
Ela era humana e ele verwulfen. Ele nunca poderia estar em sua cama sem arriscar sua vida, arriscando infectá-la com o vírus. Algo que ele não deveria ter que se lembrar.
Com uma carranca, Will cruzou os braços sobre o peito e se acomodou para esperar. Ele não podia protegê-la dentro da Torre de Marfim e isso fez a pele de sua nuca se arrepiar. Ele apenas teria que confiar que Lena estaria segura.
A alternativa era impensável.
Lena olhou por cima do ombro enquanto acariciava a pena brilhante do corvo. A colônia no topo da Torre dos Corvos estava cheia de gaiolas barulhentas que o Escalão costumava usar para enviar mensagens. Agora, com a invenção dos tubos pneumáticos e da radiofrequência, não havia necessidade deles, mas os corvos eram tradição. Não vê-los circulando na ponta da torre pareceria realmente estranho.
E as pessoas ainda os usavam ocasionalmente. Tornou-se moda entre sangue azul e jovens debutantes enviar mensagens secretas uns aos outros. Conseguir um corvo significava muito mais do que flores atualmente.
Encontrando o pássaro velho e feio que ela conhecia e reconhecia, ela abriu a gaiola e prendeu-o no pulso. Nem sempre tão preciso quanto um pombo-correio, se um corvo fosse treinado adequadamente, ele poderia encontrar a casa em que havia sido criado. Então um servo o levaria de volta à torre para sua próxima mensagem.
Não havia nenhum brasão preso a esta gaiola de corvo; ela não tinha como saber a quem pertencia.
Uma tira de aço amarrou sua perna esquerda, então ela tirou o pequeno tubo de couro de seu decote e o prendeu com força. Ela não teve a chance de enviar a mensagem que o Sr. Mandeville havia dado a ela ainda. Muitas visitas ao cortiço poderiam apenas levantar suspeitas e levou dias de deliberação antes que ela decidisse enviá-la.
Este era a última até que ela pudesse falar com o Mercúrio.
Olhando por cima do ombro, ela o levou para o relógio aberto que dominava o lugar. O pesado relógio de bronze no topo da torre atraía todos os olhares, o vento frio entrando por suas facetas abertas. O tique-taque constante do ponteiro dos segundos passou por seu rosto enquanto ela erguia o corvo e o lançava no ar.
A Torre de Marfim elevou-se diante dela. A Torre dos Corvos era uma das quatro torres menores que cercavam a enorme torre. Seu corvo subiu em espiral, circulando a torre branca e brilhante antes de desaparecer sobre uma catedral abandonada próxima.
Com o dever cumprido, Lena se voltou para a escada, deslizando entre as gaiolas de madeira. Ela tentou rastrear o corvo uma vez com uma luneta, mas sabia apenas que ele se dirigia para o oeste um pouco antes de cair em espiral.
Mayfair ou Kensington, ela suspeitava.
O que significava que seu contato era altamente entrincheirado no Escalão. Um servo, talvez? Mesmo um escravo altamente colocado? Alguém com acesso aos segredos do Escalão. Pelas informações que repassaram, quase tiveram que estar próximos do próprio Conselho dos Duques.
Nos dois dias seguintes, um corvo em resposta arranharia sua janela com um bilhete para entregar em Mandeville. Leo presumiu que ela tinha um namorado.
Fechando a pesada porta de madeira da colônia, ela a trancou e se virou. Um lampejo de seda negra varreu sua visão e alguém a puxou de volta contra seu corpo, a ponta afiada de uma adaga pressionando levemente contra sua carótida.
— Não se mova. — Veio o sussurro rouco.
Lena congelou, seu coração pulando em sua garganta. Alguém a seguiu? Eles sabiam o que ela acabara de enviar?
— Que rosto tem a morte? — Poderia ser homem ou mulher, ela não sabia. Mas ela reconheceu as palavras. Sinal de outro humanista.
— Um pálido. — Ela sussurrou.
O fio da adaga diminuiu. Mas não desapareceu.
— A delegação escandinava chega amanhã —, disse a voz. — Eu quero que você destrua qualquer chance de eles assinarem o tratado.
— Você está enganado —, ela disse. — Estou farta disso. Falei com Mandeville.
O fio da adaga apertou e Lena arqueou para trás, engolindo em seco. Quem a segurava era mais alto do que ela, mas não esmagadoramente.
— Você acabará com isso quando Mercúrio disser que você acabou. — Voz fria, mãos cruéis.
Lena respirou fundo. — Você é o Mercúrio?
Houve um longo momento de silêncio. — Eu passo as ordens do Mercúrio.
— Como faço para parar o tratado? Eu não sei...
— A Besta, — A voz sussurrou. — Use-o.
Lena cerrou os dentes. — Não.
A resposta afiada ecoou no corredor de pedra. A mão em volta da cintura dela deslizou. — Talvez isso mude sua mente?
Algo metálico e angular foi colocado em sua mão. Lena levantou apenas o suficiente para ver, seu coração gaguejando quando ela percebeu o que era.
Um dos soldados mecânicos de Charlie. Ela mesma fez isso. A última vez que ela viu, estava em sua prateleira.
No quarto dele.
— Destrua o tratado. — O sussurro foi áspero. — Ou então vou levar mais do que seus brinquedos.
Então a pressão desapareceu de sua garganta e ela cambaleou para a frente enquanto passos líquidos disparavam pelo corredor.
O único vislumbre que ela teve do humanista foi de uma capa preta rodopiante. Mas uma coisa chamou sua atenção; nenhum humano poderia se mover tão rapidamente.
Tinha sido um sangue azul.
Capitulo 11
O ar ao longo das docas do sul estava impregnado de perfume. Não conseguia disfarçar o sabor terroso do Tâmisa, ligeiramente mais maduro agora que era verão. Aqui e ali, as mulheres compravam bolsas perfumadas de perfume no nariz e algumas até as costuravam em seus leques.
Casacos de metal cobriam a plataforma que havia sido erguida ao longo das docas, cada um em posição de estrita atenção, a iluminação azul em suas fendas de olho apagada para um brilho neutro. Luzes de gás tremeluziam sobre suas couraças de ouro polido; o esquadrão imperial era composto de apenas duzentos autômatos, mas eles eram impressionantes. Usadas principalmente para fins cerimoniais, as lâminas circulares de arremesso presas aos braços também os tornavam altamente perigosos.
O nervosismo percorreu a pele de Lena. O entusiasmo da multidão era contagiante, mas Lena não conseguiu esboçar um sorriso. A maior parte do Escalão estava presente, vestidos com joias cintilantes e sedas brilhantes. Qualquer um deles poderia ser o sangue azul da torre.
Uma mão pressionada contra sua espinha, um sussurro frio roçando seu ouvido. — Relaxe. Ele não vai tentar nada aqui. Não se ele quiser continuar respirando, de qualquer maneira. — Leo se aproximou dela, a mão quente na curva de suas costas.
Colchester. Ela quase se esqueceu dele.
— Eu sei. Aqui não. Não está à vista do público, de qualquer maneira. — Ela olhou para o lado. — Você não ouviu nada de... de Will?
Fazia três dias. Leo mandou entregar o guarda-roupa de Will, mas ele apenas mandou um bilhete dizendo que estava ocupado com alguma coisa. Suas palavras no outro dia tocaram um nervo. Para ambos. Lena havia se ocupado com o mecanismo de transformação, tentando não pensar nele.
Mais fácil falar do que fazer. Não importava que ela estivesse lidando apenas com as engrenagens internas neste estágio; mais cedo ou mais tarde ela começaria a soldar as placas de ferro do exterior no lugar, formando o físico áspero de seu guerreiro mecânico. Mesmo com um relógio - o único lugar em que ela sempre foi capaz de desligar sua mente ocupada e simplesmente juntar as peças do quebra-cabeça - ela não podia escapar dele.
— Ele estará aqui. — Uma declaração, não uma pergunta. O olhar escuro de Leo percorreu a multidão de sangues azuis vestidos de maneira espalhafatosa. — Terei que me juntar ao Conselho quando os escandinavos chegarem. Mas não vou deixar você sem vigilância.
— Eu vou ficar bem.
Leo procurou seu olhar. Então acenou com a cabeça. — Fique aqui. Vou ficar de olho em você da plataforma.
Acima do rio, o céu explodiu de repente. Suspiros temperaram o ar e as pessoas aplaudiram.
Um cata-vento girando em tons de rosa e azul rasgou o céu aveludado, pontuado pelo grito de foguetes. Uma bola de fogo laranja floresceu, destruindo a visão noturna de Lena.
— Lá vêm eles, — Leo murmurou. — É melhor eu ir embora.
Enquanto Lena piscava, uma sugestão de um contorno escuro apareceu no rio. Ele deslizou pelas águas oleosas, tão elegante e seguro quanto uma serpente. As risadas e aplausos morreram em um sussurro abafado quando o navio-dragão apareceu. O único som era o gemido do lançamento dos fogos de artifício.
Com quase sessenta metros de comprimento, lembrava vagamente os escaleres de seus ancestrais. Uma sinuosa cabeça de serpente servia como figura de proa, e enormes asas de lona estavam bem presas nas laterais. O casco de metal brilhava com tinta dourada, e escudos de joias cobriam os lados, cada joia cintilando à luz a gás.
Dois outros flanqueavam, seus envelopes de hélio esvaziados e guardados. Eles podiam ser usados tanto no ar quanto na água e eram perigosos para ambos. Guerreiros altos alinhavam-se no convés, vestidos com uniformes azuis escuros com cruzamento militar de ouro no peito e capacetes com altas penas pretas. A luz a gás nas docas refletia no brilho âmbar de seus olhos.
— Olhe para eles —, sussurrou uma mulher nas proximidades. — Que bárbaros.
— Estou olhando. — Outra mulher murmurou atrás de seu leque e as duas riram.
Fogos de artifício explodiram com entusiasmo frenético. O céu estava banhado de ouro, azul e rosa. Lena não se conteve. Ela olhou para cima, seu olhar desviado dos navios silenciosos no rio.
Ela sentiu seu olhar muito antes de vê-lo.
Um formigamento em sua pele.
A tênue antecipação terrena de seu corpo reconhecendo o perigo - embora se emocionasse com isso.
Will.
Prendendo a respiração, seus dedos apertando o leque, ela olhou para baixo. Pontos cegos dançaram em sua visão, mas ela o procurou. A multidão não importava. Nem os navios que se aproximam. Nem mesmo Colchester.
Ela esteve em um estado de agitação o dia todo, incapaz de se estabelecer. Incapaz de fazer mais do que brincar com sua comida ou ler um parágrafo do Times. Suas palavras continuaram brincando em sua mente. Então veremos se suas palavras valem alguma coisa.
Lena estremeceu. Ela podia sentir que ele a observava.
Murmúrios começaram atrás dela. A multidão mudando. Um arrepio na nuca. Quando ela se virou, abanando-se em agitação, a multidão se separou, as saias balançando para fora do caminho como o Mar Vermelho. Por um momento ela não conseguiu vê-lo. Apenas um homem vestido de preto imaculado, que entrou no encalço da multidão com desdém arrogante, caminhando como se pertencesse àquele lugar.
Ela olhou além do corte elegante de seu casaco, abotoado estritamente no lado esquerdo de seu peito. E então seu olhar disparou de volta para ele, seus olhos se arregalando.
Ai meu Deus...
Lena realmente parou de respirar.
Ela nunca o tinha visto em nada além de uma camisa larga e um casaco. A visão dele vestido para a noite era totalmente devastadora. O preto totalmente de seu casaco chamou a atenção para o ouro escuro de sua pele, e seu cabelo - os lindos cachos âmbar que seus dedos sempre coçavam para tocar - tinham sumido.
O leque parou de se mover, as pontas fantasmagóricas de suas penas dançando sobre seus seios. Will saiu das sombras, a luz do gás destacando os ossos rígidos de suas bochechas e sobrancelhas, o bronze polido de seus olhos fixos nela com uma intensidade que nenhum espectador poderia confundir com outra coisa senão interesse. Interesse puro e predatório.
Ele tinha que parar de olhar para ela assim.
Lena se virou com um solavanco, prendendo a respiração freneticamente. Se eles vissem a intensidade de seu olhar, sua reputação estaria arruinada.
Que foi exatamente como ele previu que ela reagiria.
Seus ombros caíram. Ele praticamente a desafiou a negar sua associação com ele. E embora a zombaria tivesse atado seu tom, havia uma sugestão de dor em seus olhos.
Como se soubesse que nunca seria bom o suficiente.
Com a cabeça baixa, ela se virou para ele, ciente dos olhos maliciosos que os observavam. Se ao menos ele não estivesse parado ali em silêncio, esperando que ela tomasse a decisão de cortá-lo ou renunciar para sempre a qualquer chance de se juntar a este mundo brilhante.
Mas como o Escalão poderia aceitá-lo se ela não o aceitasse?
Will ofereceu-lhe o braço, tão suavemente como se eles tivessem praticado mil vezes e não apenas dezenas. Havia um brilho diabólico em seus olhos. Um desafio. — Devemos?
Apesar de suas luvas, ela podia sentir o calor anormal de seu corpo através da manga quando ela aceitou. Murmúrios começaram enquanto caminhavam em direção à plataforma e o sorriso nos lábios de Lena morreu.
— Eu não deveria estar lá. — Ela sussurrou. Acima dela, fogos de artifício ganharam vida, o grito estridente dos foguetes roubando suas palavras.
Will se aproximou. Agora que ele estava de perfil, ela podia ver que seu cabelo estava preso em uma mecha, as mechas de veludo da fita roçavam sua nuca.
— Achei que você tivesse cortado o cabelo. — Ela desabafou.
— Você parece aliviada. Achei que meu cabelo estava fora de moda.
Nem mesmo uma dica de que ele estava tão abalado quanto ela. Lena cerrou os dentes. — Está.
— Então eu vou cortar.
Em seu olhar chocado, um sorriso curvou-se em seus lábios. Seu olhar se fixou nele. Perigoso. O pequeno tique de seu batimento cardíaco vibrou em advertência.
— Tudo isso. — Ele alisou a mão sobre o couro cabeludo. — Me irrita de qualquer maneira.
— Faça o que quiser —, ela mentiu. — eu não me importo.
O sorriso que ele deu a ela foi resposta suficiente.
— Lá vamos nós. — Disse ele, olhando para a plataforma. Não havia sinal do príncipe consorte ou da rainha, mas todos os sete do Conselho esperavam.
Will respirou fundo e, pela primeira vez, Lena percebeu que ele estava nervoso. Ela apertou o braço dele. — Você nunca conheceu outros de sua espécie antes?
— Nunca. — Seu olhar varreu o rio, demorando-se nos oficiais da marinha que se alinhavam no convés do navio-dragão. — Passei a maior parte da minha vida naquela jaula, depois preso em Whitechapel pelo preço da minha cabeça.
Algo apertou em seu peito. Lena deslizou a mão na dele, escondendo-a contra a saia. Todos os olhos estavam voltados para o rio. Ela apertou seus dedos e ele olhou para baixo, considerando por um momento antes de apertar de volta.
— Trégua, — Ela sussurrou. — Só por esta noite?
— Trégua. — Ele concordou.
Uma brisa agitou seus cabelos enquanto subiam as escadas, trazendo consigo o rico aroma de canela do perfume de Dama Aramina. Lena se posicionou ao lado da duquesa e puxou sua mão da de Will.
Abaixo do barulho dos fogos de artifício e do murmúrio da multidão, cresceu um zumbido estranho e latejante. Uma espuma de água se agitou cem metros atrás do último navio-dragão, e a cabeça escura e lustrosa de algo emergiu.
— O que é isso? — Ela perguntou.
— Um kraken submergível, — a duquesa respondeu, seus olhos cor de conhaque atentamente observando a onda. — O furtivo assassino das forças navais escandinavas. É a única coisa que derrubou um de nossos Encouraçados.
Surpresa com a resposta da mulher, Lena ousou perguntar mais: — Achei que os Encouraçados eram invencíveis?
— Você não pode lutar contra o que você não pode ver, — a duquesa respondeu. — E é só no último minuto que você pode sentir o latejar das hélices chegando. Pego sozinho, até mesmo um Encouraçado pode ser afundado por seus tentáculos de aço.
A pulsação ecoou pelo ar, quase zumbindo contra a pele de Lena. Ela só podia imaginar a força necessária para criar tal perturbação.
— Eles geralmente não se aventuram tão longe de suas águas, no entanto, — Aramina meditou. — Eles devem estar tentando nos impressionar.
— Eles conseguiram. — Respondeu Lena, olhando para os rostos maravilhados na multidão enquanto o metal abobadado e a cabeça de vidro do submergível surgiam na água para se apresentar.
O primeiro navio-dragão atracou. Duas das tripulações do navio usavam o uniforme azul do exército sueco, com dragonas com borlas de ouro. Cada um deles era tão alto quanto Will. Eles se moveram com uma eficiência militante e ficaram em posição de sentido quando um trio de oficiais apareceu no convés de proa.
O último navio arrastou-se com desdenhosa facilidade para as docas, afastando-se um pouco dos navios suecos. Marinheiros grisalhos e com cicatrizes guarneciam os trilhos, olhando furiosamente para a multidão. Peles grossas de lobo caíam sobre seus ombros e a maioria deles tinha barbas pesadas.
Os clãs noruegueses.
Atrás dela, o som de botas de metal ecoou nas pedras do calçamento. Uma carruagem entrou na praça, reluzindo com incrustações de madrepérola, parando bem em frente à plataforma. Os casacos de metal imperiais criaram um caminho, rifles cerimoniais pendurados em seus ombros blindados.
O príncipe consorte saltou em toda a sua glória elegante e a multidão aplaudiu.
Lena não sabia para onde olhar. O mundo era uma conflagração de cores enquanto os fogos de artifício enlouqueciam. O príncipe consorte abriu a porta da carruagem e entregou a pequena rainha humana para o cais. Atrás deles, os escandinavos faziam fila, um homem enorme com um casaco escarlate conduzindo-os. Ele estava mesmo a centímetros de Will, e os contornos esculpidos de suas bochechas eram suavizados apenas por uma boca carnuda.
Will se encolheu ao lado dela em cada explosão acima, suas narinas dilatadas. De curso. Isso tudo era tão novo para ele.
Ela puxou sua manga. — Presumo que esse homem seja o líder da delegação sueca. Conde Stefan Hallestrøm de Skåld. Eles o chamam de Martelo de Guerra. Até os clãs noruegueses o contornam com leveza e não têm medo de nada.
Olhos ambarinos preguiçosos a consideraram. Ele estava relaxando, que era exatamente o que ela pretendia.
— Os noruegueses são... complicados —, respondeu ela. — Oficialmente, o Storting foi dissolvido e agora eles se ajoelham perante a Corte Sueca. Na capital, a maioria se adaptou aos novos costumes; no entanto, no país antigo são bastante mais tradicionais. — Ela olhou para o bando de noruegueses carrancudos nas docas. — O homem na frente é Magnus Ragnarsson, o Fenrir do Clã Corvo. Ele pode usar um tapa-olho e ser mais velho do que você e eu juntos, mas ele é considerado astuto e seus homens são mortalmente leais. À sua direita está seu filho, Eric. — Seus olhos se arregalaram ligeiramente. Ela tinha ouvido relatos de que ele era bonito, mas quando o guerreiro loiro sorriu, metade das damas presentes parou de respirar. Os leques vibraram como um enxame inteiro de borboletas. — Não se deixe enganar por seu charme. Você não sobe na hierarquia do clã sem matar alguém pelo caminho. Quanto mais alto eles ficam, mais sangue eles derramam. E ele está programado para assumir o papel de seu pai um dia.
O silêncio saudou esta declaração. Ela olhou para cima e encontrou Will olhando para ela com olhos perigosamente estreitos. — O que?
— Eu não acho que preciso me preocupar com seu charme.
O calor subiu por sua garganta e bochechas. Ela se abanou rapidamente. — Eu não sei o que você quer dizer.
— Você suspirou.
— Eu não.
— Parece que você tem uma fraqueza perigosa por homens verwulfen.
— Eu garanto que não. — Ainda assim, ela não conseguia evitar que seu olhar curioso deslizasse de volta para a figura dourada nas docas, com sua cota de malha de folha de prata e o machado pesado em seu cinto. Ela uma vez acusou Will de ser um bárbaro, mas aqui estava um em carne e osso.
Um deus nórdico, pelo menos.
Uma fanfarra soou e as fileiras de noruegueses se separaram para permitir a passagem de alguém. O verwulfen havia vencido a batalha; todo mundo estava esticando o pescoço para ver quem merecia tal alarde.
Uma jovem atravessou os clãs.
— Oh. — Lena murmurou.
Um silêncio caiu sobre a multidão. Foi bem merecido. A mulher não era apenas alta e bem-torneada, com seios bem formados, mas também tinha o tipo de rosto que poderia deixar um salão de baile em silêncio. Uma cascata de ondas loiras soltas caia em sua cintura e uma tiara de ouro pousava em sua testa. Ela usava nada mais do que um vestido branco simples, com uma pele de lobo libertina jogada sobre um ombro, mas ela não precisava de mais. Ouro e joias só teriam passado despercebidos por causa de seus lábios carnudos e sua estrutura óssea gloriosa.
— Jesus. — Will arqueou uma sobrancelha.
Uma pequena faísca quente queimou dentro de seu intestino. Lena pisou no pé dele e colocou todo o seu peso minúsculo nele. — Cale a boca antes que você engasgue com alguma coisa, — ela retrucou. — Ela não é tanta coisa.
Ciente de que ele ainda a estava observando, ela olhou em volta. O calor de seu olhar permaneceu em sua pele e ela se encontrou se abanando um pouco mais rapidamente.
— Você está com ciúmes? Eu pensei que isso fosse apenas um jogo?
O leque diminuiu a velocidade. Ela olhou para a intensidade ardente de seu olhar. As palavras foram ditas levemente, mas o olhar em seu rosto era tudo menos isso. — Eu não estou. Olhe para ela o quanto quiser. Eu não me importo. Mas minha intenção é fazer você parecer um pouco mais do que um caipira criado em um cortiço, não é? Você quer impressioná-los?
Enquanto ela queria aliená-los.
Seu aperto no leque aumentou quando a pontada de culpa a encheu. — Não olhe para mim. — Ela sussurrou.
— Você ainda é a mulher mais bonita em que já coloquei os olhos.
Um tamborilar em seu peito. — Você não deveria dizer essas coisas.
Ele encolheu os ombros. Como se isso não significasse nada para ele.
Embora significasse o mundo para ela.
Mil elogios sem sentido caíram de lábios de sangue azul durante seu tempo na corte. Palavras destinadas a encantar e seduzir. Mas Will nunca disse nada que não quisesse. Algo em seu peito aqueceu.
Então ela murchou. Se ele soubesse que ela pretendia destruir o tratado, ficaria furioso. Não haveria mais sorrisos em seu caminho, não haveria mais elogios. Will a odiaria. Os dedos de Lena se enrolaram em torno do leque, uma onda de calor brotando em seus olhos. Ela desviou o olhar rapidamente, engolindo em seco. Ele nunca poderia saber. Ganhar o apoio dos escandinavos não era tão importante quanto a vida de Charlie.
— Você sabe muito sobre eles. — Will disse, enquanto o príncipe consorte avançava e acenava para a embaixadora sueca. As palavras formais de saudação foram trocadas, junto com muitos sorrisos cortantes e mãos apertadas.
A embaixadora curvou-se diante da rainha, a curva de suas costas mais profunda do que a que tinha oferecido ao príncipe consorte. Ele precisava saber quem realmente governava a Grã-Bretanha; este foi um insulto, um dos primeiros de muitos, sem dúvida.
Talvez sua tarefa não fosse tão difícil, afinal?
— Eu estava curiosa. — E ela precisava saber quem seriam seus alvos. Mais uma vez, uma agitação inquieta de culpa revirou seu estômago.
— Este Magnus, — ele murmurou. — Ele está no comando dos noruegueses?
Ela não negaria a ele a informação que ela passou horas fofocando para conseguir. — Existem apenas cinco clãs restantes na Noruega. Magnus comanda um, mas para esta delegação ele fala com suas vozes. A verdadeira fonte de poder na Noruega é Valdemar Einarsson, o jarl de todos os clãs. — Outro olhar roubado para a jovem curvando-se para a rainha. — Ela deve ser filha dele, Dama Astrid.
— O que acontece quando todos eles terminarem de se atirar e se desfazer?
— Retiramo-nos para a Torre de Marfim e o baile de boas-vindas começa.
Uma leve sugestão de desconforto em seus olhos.
— Sim, Will. Dançar, — ela disse, saboreando o momento. — Agora vamos ver se você manteve alguma das minhas lições.
A luz cintilava. As paredes oficiais do salão de baile do estado exibiam espelho após espelho, as bordas enroladas em dourado e intercaladas com pinturas elegantes. Will parou no topo da escada com carpete vermelho quando seu nome e o de Lena foram anunciados.
Centenas de rostos se viraram em sua direção. Sangues azuis, verwulfen e humanos. Uma breve varredura da multidão revelou os noruegueses reunidos no canto, expressões cautelosas e ponderadas. O Fenrir fixou seu olhar nele, seu tapa-olho preto claramente fora de cogitação aqui neste paraíso reluzente. A pele eriçada em seus ombros e sua barba cinza-ferro falava do peso dos anos. Will se sentiu como se tivesse sido pesado e medido por aquele único olho.
Não era um homem que ele gostaria de cruzar.
— Venha. — Sussurrou Lena, puxando sua manga.
Por que diabos ele concordou com isso? Sentindo-se caçado, ele desceu as escadas ao lado dela.
A hora seguinte foi um turbilhão de sutilezas sociais de ranger os dentes e sorrisos falsos quando Lena o apresentou aos membros do Escalão. Olhares duros bateram em suas costas e ele viu mais do que alguns olhares azuis trocados. Os olhares eram fáceis de interpretar. O que diabos ele estava fazendo aqui? Que jogo o Conselho estava tramando?
Luzes. Música. Riso. Tão brilhante e cintilante, dezenas de lustres iluminados a gás lançando calor pelo salão. Com as narinas dilatadas, ele interceptou uma taça de champanhe da bandeja de um drone e a entregou a Lena. Ela servia como sua única âncora neste mundo que ele não entendia e não queria.
Combinava com ela. Ela ria e dava tapinhas nos ombros das amigas com o leque dobrado, mantendo-o constantemente envolvido na conversa quando ele preferia apenas ficar em seu ombro e fazer uma careta. Esta noite inteira foi fácil para ela. Até mesmo os sangues azuis dançavam em sua melodia, mantidos no lugar com um sorriso coquete e uma piada arrastada.
Ele queria esmagá-los na cara por cada sorriso que recebessem.
— Eu preciso de ar. — Ele rosnou em seu ouvido.
— Ainda não. — Ela deu uma olhada em seu rosto e acenou com a cabeça, pensativa. — Venha. Dance Comigo.
Só por ela ele suportaria tal tortura.
Pegando-a pela mão, ele a levou para a pista de dança e a puxou para seus braços. Os olhos de Lena se arregalaram quando a mão dele deslizou sobre suas costas, as coxas roçando em suas saias. Mas ela não se atreveu a castigá-lo em voz alta por segurá-la tão perto.
A música os varreu e Will a girou em seus braços, concentrando-se fortemente em contar os passos. Deveria parecer ridículo - ele era enorme contra sua estatura delicada -, mas Lena tinha uma graça sobre ela que de alguma forma funcionava. Era como segurar um pião nas mãos. Ela flutuava, cada movimento ágil e elegante, com um leve toque de coquete. Se ele vacilasse, ela o encorajaria com um sorriso de cílios baixos que fez com que todos os passos saíssem de sua mente.
Todos os seus pensamentos, na verdade.
— Pare de contar. — Ela murmurou, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.
Ele olhou para ela, girando-a em uma pirueta. Deste ângulo, ele podia ver diretamente em seu vestido a suave ondulação de carne cremosa que ela exibia com muita complacência. Pérolas pingavam no profundo V de seu vestido, atraindo seu olhar para baixo. — Achei que era moda as mulheres em busca de um protetor deixarem a garganta e o pescoço descobertos?
Lena olhou para cima, por cima do ombro, enquanto ele a guiava em uma pirueta. — Mas eu não estou.
— Não está quê?
Houve uma ligeira hesitação. — Procurando por um protetor.
Seus dedos se apertaram nos dela. Não deveria importar. Ela nunca poderia ser sua de qualquer maneira. Mas o pensamento ainda o inundou com uma sensação feroz de satisfação. De posse.
Seu corpo se curvou ao redor dela, puxando-a de volta contra seu peito enquanto ele segurava suas mãos para cima. O movimento empurrou seu peito para frente e arqueou seu pescoço. Cada passo do assah foi projetado para tentar, para mostrar ao sangue azul as melhores características de uma mulher. Will não desejava o sangue dela, mas a inclinação suave de seu pescoço e ombro atraiu seu olhar. Ele queria correr os lábios sobre sua pele, senti-la tremer, prová-la enquanto sua pele se endurecia e ela ofegava suavemente.
Seu pênis se excitou. Pensamentos perigosos. Principalmente aqui, no meio de um salão de baile. O assobio de sua agitação contra sua virilha foi uma coceira devastadora, incitando-o a comprimentos mais duros.
— Você está me segurando muito perto. — Ela sussurrou.
O sorriso em seu rosto era descuidado, como se ela não soubesse do fato. Uma charada para quem está assistindo.
Sua respiração, entretanto, contava outra história.
O que ele estava fazendo? Will respirou fundo e desviou o olhar. Ele a girou em um círculo leve e ela voltou para seus braços, de frente para ele desta vez. O olhar dela o devastou.
Talvez tenha sido na outra tarde? Desafiando-a a aceitá-lo em público. Desafiando-a em seus próprios jogos.
Não havia sentido para isso. Ela não era dele e nunca poderia ser. Mas... era tão tentador abraçá-la, torturar-se com sua proximidade quando ele sabia que nunca poderia tê-la.
Só desta vez.
— Will, — ela sussurrou. — Pare com isso.
Ele não podia deixá-la ir. Não era possível colocar a distância adequada entre eles. A música o varreu, um quarteto de cordas e flautas com um leve zumbido do Oriente Médio como contraponto exótico. Cada etapa veio facilmente agora. Ele não estava pensando muito. Apenas seguindo seu corpo pelos passos da dança sinuosa. Predador para presa. Mas desta vez a presa tinha todo o poder, atraindo-o, puxando-o para mais perto.
Ele não falou. E nem ela. Tudo o que precisava ser dito foi falado pelo entrelaçamento de seus corpos. Lena se rendeu ao inevitável, suas bochechas ficando rosadas enquanto ela murchava com seu toque.
E ele a reivindicou como sua; os dedos dele algemaram seus pulsos enquanto ela se virava, então deslizando para baixo em seus quadris espartilhados, uma mão firme em suas costas enquanto ele a puxava de volta para seu abraço. Ele já havia esquecido os passos. Criou os seus próprios. Predador para presa, cada movimento profético.
A música parou enfumaçada. As palmas explodiram e Will se acalmou, os braços apertados em volta dos quadris dela. Lena olhou para cima, sua expressão atordoada desaparecendo quando ela percebeu onde eles estavam. O rosa de suas bochechas se aprofundou, seus olhos passando por seu ombro.
Muitos olhos interessados olhavam em sua direção. Lena puxou seu aperto. Ele segurou por um momento, forçando seu olhar para ele, então a deixou ir.
Com um sorriso educado, ela fez uma reverência. — Obrigada, — ela murmurou, sabendo que cada palavra que ela falasse seria ouvida. — Por uma dança maravilhosa.
Ele baixou a cabeça, um sinal de respeito que não daria a nenhuma outra mulher aqui. — Eu gostei.
Uma surpresa em si. Mas sua presença tornara um momento doloroso e delicioso. Ele descobriu que queria continuar.
Qualquer desculpa para mantê-la em seus braços...
Will desviou o olhar. Ele não podia se dar ao luxo de ter pensamentos assim. Seu olhar vagou sobre os noruegueses no canto. A razão pela qual ele estava aqui. Algo que ele não deveria esquecer.
— Toda mulher aqui quer dançar com você agora. — Murmurou Lena.
— Eu só danço uma vez.
Um leve sorriso. — Acho que se eu perguntasse, você mudaria de ideia.
— Você está me perguntando?
Lena ergueu os olhos por baixo dos cílios. — Eu não acho que devemos. Se eu dançar com você de novo, vamos chamar a atenção.
— Nós já temos.
Lena considerou o salão. — Eu preciso dançar com outra pessoa. — Ela respondeu. Os acordes leves da música estavam começando novamente, desta vez uma dança mais tradicional. Uma valsa, ele suspeitou.
Ele agarrou seu pulso. — Não o assah.
— Não?
— Não.
Essa dança era dele.
Seu sorriso floresceu, fazendo com que o fôlego parasse em seu peito. — Não o assah então. Vá. Encontre seus noruegueses. Vou protelar a fofoca que você sem dúvida está causando. — Ela torceu os lábios pesarosamente. — Você vai me levar à confusão, sabia disso?
Não era mais do que ela estava fazendo com ele. Graças a Deus ele não foi o único afligido por essa loucura entre eles.
Com um último olhar esfumaçado por cima do ombro, ela caminhou para a multidão, apontando um dedo para um jovem senhor de casaco amarelo. Ele engoliu em seco e correu para o lado dela, oferecendo uma mão educada enquanto a conduzia para a valsa.
Will se virou e caminhou no meio da multidão, murmurando suas desculpas enquanto passava. Muitas pessoas. O ar estava muito abafado. E uma parte dele não queria vê-la no braço de outra pessoa.
Encontrando uma sala com bebidas disponíveis, ele puxou a gola do casaco. O ar frio passou por seu rosto, e as poucas pessoas mexendo na mesa de refrescos perceberam quem ele era e correram de volta para o salão principal. O que combinava perfeitamente com ele.
Pegou um prato e empilhou doces, salgadinhos e aqueles bolinhos que Lena parecia gostar. Passos suaves arrastaram o tapete atrás dele e ele se acalmou, pegando um indício de uma sombra pálida refletida na tigela de cristal cortado à sua frente.
Não demorou muito.
Querendo saber quem eles tinham enviado, ele se virou, olhando o estranho sem surpresa.
Com um sorriso nervoso para ele, Dama Astrid cruzou a sala até a mesa de refrescos. Seu vestido branco era cortado para se mover a cada passo, criando um efeito sinuoso e gracioso que nenhuma mulher humana poderia esperar imitar.
— Você é William Carver. — Ela murmurou, passando os dedos pela toalha de mesa enquanto caminhava em direção a ele. Um sorriso rápido. Não tão nervoso agora. Se ela já tivesse tido. Não havia nenhum indício disso em seu cheiro. — Não esperávamos encontrar um dos nossos aqui.
— Não esperava estar aqui eu mesmo. — Respondeu ele. Não adiantava tentar jogar jogos de palavras. Ele era quem ele era. Nenhuma quantidade de polimento poderia mudar sua natureza ou deixá-lo confortável com os jogos que os sangues azuis gostavam.
Astrid deu a ele um olhar de soslaio. — Por que não?
— Este não é o meu mundo.
Ela o examinou como se ele tivesse feito algo inesperado. — Você é escocês, sim?
— Originalmente. Nascemos em uma fazenda perto de Edimburgo.
Aproximando-se mais, ela deixou seu braço roçar no dele. — Quantos anos você tinha quando recebeu o presente?
Ele olhou por cima do ombro em direção ao baile. Através do arco, ele podia ver as saias brilhantes do vestido de baile rosa de Lena. Conversando com algum filhote que prestava atenção em cada palavra dela. Segura por enquanto.
Ele voltou sua atenção para a mulher na frente dele. — Eu tinha cinco anos. E não foi um presente.
Ele mal conseguia se lembrar do estranho que um dia entrara na carroceria de uma carroça, com febre e suando, os braços cheios de arranhões sangrentos. Eles chamaram o médico, mas o homem ficou furioso, jogando os homens de lado como se eles não pesassem nada. Will foi o único que ficou de pé, olhando para o estranho com medo virulento. Ele não conseguia se lembrar do que aconteceu a seguir. Mas eles disseram que foram necessários cinco homens para afastar o estranho de sua garganta.
Ninguém esperava que ele vivesse. O homem o havia dilacerado como um coelho gordo e bonito. Mas de alguma forma seu corpo se reconectou. Quando perceberam o motivo, já era tarde demais. Ele estava bem na primeira transição.
— Eu vejo. — Seus olhos suavizaram em simpatia, mas seu cheiro ainda era duro. Uma lição para ele. Confie em seu nariz e não em seus olhos. — Como você aprendeu a se controlar? Havia outros?
— Minha mãe me vendeu para um diretor de circo em viagem. — Uma velha ferida, curada e com crostas, mas ainda com cicatrizes. — Fiquei trancado em uma jaula por dez anos. Se eu tentasse escapar, eles me chicoteavam até que eu caísse. — Ele tomou um gole de champanhe, a amargura borbulhando em sua língua. — Aprendi da maneira mais difícil a não perder a paciência.
Os dedos de Astrid foram para o amuleto em volta do pescoço e ela brincou com ele, com uma expressão preocupada no rosto. — Como você consegue ficar aqui? Ao redor deles? Sabendo que suas leis trancaram você por anos?
— Estou simplesmente fazendo um trabalho.
— Uma tentativa de suavizar nosso favor? Eles não nos conhecem bem, não é? — Outro roçar em sua manga. A mão dela deslizou sobre a dele, as luvas farfalhando. — Então, quanto esta sua pequena tarefa lhes custa? — Ela respirou fundo, os seios inchando. — O que isso envolve?
Ele a deixou acariciar sua mão. Ela era linda, mas não era Lena. — Eu peço que você assine o tratado.
— E o que você ganha?
— Eu consigo liberdade.
— Vale mais do que seu peso em ouro. — Ela murmurou.
— Por todos os verwulfen nas Ilhas —, acrescentou. — Chega de gaiolas, chega de lutas de cova ou preços em nossas cabeças. Homens livres. E mulheres.
A inquietação picou seu cheiro. Apesar do sorriso em seu rosto, ele picou sua consciência.
— Uma causa digna . — Seu dedo acariciou a junta dele, mas sua mente estava a quilômetros de distância. Ela franziu o cenho. — Você deveria vir e encontrar meu tio. Ele pode estar interessado no que você fala.
— Seu tio?
— Magnus.
Will considerou isso. Então acenou com a cabeça. Ele gesticulou para o prato. — Deixe-me levar isso para minha companheira, Lena.
Capitulo 12
Levou dez minutos inteiros para cair nas boas graças dos noruegueses.
Lena mordeu uma torta de limão, sorrindo para o jovem senhor à sua frente enquanto olhava disfarçadamente por cima do ombro. Will apertou a mão do Fenrir grisalho e cumprimentou seu filho, Eric.
O movimento mudou. Uma mão deslizando pela parte inferior de suas costas. Lena quase engasgou com sua torta. Seus olhos se estreitaram. Essa bruxa norueguesa. Ela o conhecia há apenas um quarto de hora e já estava tentando reivindicar.
Gaguejando uma resposta vaga a algo que Lorde Folsom lhe perguntou, ela se esforçou para ver melhor. A deusa loira sorriu para ele, sua mão acariciando possessivamente o corte liso de seu casaco. Will olhou para ela com uma expressão divertida franzindo os olhos.
E o coração de Lena deu um nó no peito.
— Você está bem, minha querida? — Perguntou Lorde Folsom. Ele era apenas humano, sua família não era considerada importante o suficiente para receber o presente dos rituais de sangue.
— Muito bem —, ela conseguiu dizer, passando-lhe o prato. — Apenas um leve toque de náusea. Acredito que precise escapar da confusão.
Ela deveria ter trabalhado contra Will em vez disso, mas descobriu que não tinha coragem para isso. Ela precisava limpar a cabeça. Reunir-se. Antes que ela fizesse algo tolo como pedir a Eric para dançar o assah com ela.
Ela sabia exatamente como Will aceitaria isso.
Abrindo caminho pela multidão, ela se viu na beira do salão de baile. A sala estava localizada no segundo andar mais alto da Torre de Marfim, com uma vista deslumbrante de toda Londres. Uma colunata circulava do lado de fora, uma chance para uma jovem passear a uma distância vigilante do salão de baile.
Ela empurrou as portas francesas, o vento chicoteando seu cabelo fora de seu rosto quando ela se encostou no corrimão. Centenas de metros abaixo, a grama acenava. Mais de um sangue azul foi jogado para a morte aqui. Mas nunca quando um baile estava acontecendo. Essas coisas não foram feitas.
Tirando as luvas, ela arriscou outro olhar para trás no salão. Com o salão de baile tão bem iluminado, tudo dentro dela estava totalmente visível enquanto ela permaneceria escondida nas sombras. Ela encontrou Will com bastante facilidade. Seus nervos pareciam ter se acalmado, pois ele compartilhou um raro sorriso com os clãs noruegueses enquanto o cortejavam.
Seu próprio povo.
Vista-o com peles e deixe-o parar de se barbear por um ou dois dias e ele pode ter sido confundido com um deles.
Virando-se, ela fechou as luvas em seu punho e se apoiou na grade. Loucura. Você sabia que ele nunca foi para você. No entanto, a última semana a havia embalado com uma sensação de falsa esperança. Um sorriso aqui, o roçar de seu corpo contra o dela, sua provocação...
Se ele soubesse o que ela estava fazendo, nunca mais falaria com ela.
Perdida em sua própria miséria, ela mal ouviu a porta abrir. O vento esfriou sua pele, mas os cabelos que se levantaram na nuca não tinham nada a ver com a brisa.
Girando, ela congelou contra a grade. Colchester sorriu para ela, fechando a porta com um clique suave. Atrás dele, dançarinos passavam, suas imagens distorcidas pelas janelas. Tão perto e tão longe.
Lena deu um passo para o lado e Colchester a repetiu. Um arrepio percorreu sua espinha.
Inclinando o queixo para cima, ela puxou as luvas de volta. Se alguém os pegasse, não havia necessidade de divulgar rumores de que ela o encorajou. Um pulso nu era equivalente a expor seu seio.
Colchester observou a seda deslizar sobre seus braços. — Isso não vai ajudar, entende?
— Estou apenas observando as propriedades.
Ele caminhou mais perto, usando seu corpo para prendê-la contra a grade. Alcançando com ambas as mãos, ele prendeu cada lado de sua cintura.
Ela arriscou uma olhada em direção ao salão de baile. As costas largas de um homem bloqueavam as portas pelas quais ela havia entrado. Cavendish, pelo que parece. Impedindo que alguém saia. — Eu disse que não decidi. — Disse ela, prendendo a respiração quando ele se aproximou.
Seu olhar percorreu sua garganta com fumaça. — Talvez a oferta tenha sido rescindida de qualquer maneira. Por que eu iria querer bens sujos?
As pontas dos dedos roçaram a curva de sua clavícula. Ela pressionou contra a grade, mas não havia para onde ir. Apenas ar vazio e vento atrás dela. — Bens sujos?
— Outro sangue azul que eu poderia ter te perdoado. Mas não uma daquelas bestas imundas. — Sua mão se fechou sobre sua garganta levemente.
Lena não conseguia respirar. Ela olhou naqueles olhos insanos e sabia que ele faria isso. — Não faça isso. Aqui não. As pessoas estão assistindo.
Seus dedos se apertaram. — Você acha que eu dou a mínima? — Uma gargalhada. — Eu sou um duque, Helena. E você... você não é nada.
Ela agarrou seu pulso, tentando aliviar seu aperto sufocante. Sua cabeça estava girando. — P-por favor...
Seu aperto diminuiu. — Eu sinto muito? Você está implorando por sua vidinha patética? Você não está fazendo um trabalho muito bom, minha querida.
Pense, droga.
— Você está enganado. O que quer que você pense que está acontecendo, você está errado. Leo me pediu para ensinar Will a se mover pelo Escalão. Isso é... estritamente negócios, nada mais.
Um olhar de consideração apareceu em seus olhos. Ele acariciou sua garganta. — Negócios? Depois dessa dança? A besta parece terrivelmente possessiva com você, minha querida.
Ela forçou um sorriso. — Um hábito bruto do qual estou tentando quebrá-lo. Realmente... — Ela deu uma risada frágil. — Me acusando de tal coisa. Você sabe que prefiro as coisas boas da vida. Algo... sofisticado.
— Mmm. — Seus olhos se estreitaram. — Não estou totalmente certo de que você me convenceu.
Com um movimento brusco, ele a agarrou e a girou em direção ao corrimão, pressionando-a com força contra ele. Seus sapatos balançaram contra o chão, e ela se agarrou à grade com um grito. As pedras abaixo pareciam estar a quilômetros de distância.
— Vinte e quatro pessoas passaram por cima desta grade, — Ele sussurrou em seu ouvido. — Com você bebendo champanhe a noite toda, seria terrivelmente fácil convencer a todos que você escorregou.
Agarrando-a pela agitação, ele a empurrou inexoravelmente para frente. Ele soltou a nuca dela por um momento e com um instinto que ela não sabia que possuía, ela jogou a cabeça para trás.
Um estalo ensurdecedor soou em seu ouvido e Colchester gritou. A pressão em suas costas foi embora e ela caiu contra a grade. Tão perto. Perto demais... Colchester segurou o rosto, sangue escorrendo entre os dedos. Ele teve um vislumbre dela e assassinato brilhou em seus olhos.
Lena disparou para a porta. Uma dor cortante atingiu-a no braço e o sangue respingou no vidro. Ele sacou sua lâmina, a pequena que ele usava para derramamento de sangue. Evitando o aperto de sua mão, ela abriu a porta e empurrou para dentro do quarto.
Cavendish cambaleou para fora do caminho dela, a surpresa alargando seus olhos. Cabeças se viraram e Lena colou um sorriso nos lábios, os dentes cerrados. O salão flutuou em seu pânico, joias, rostos e vestidos se infiltrando. Pondo a mão no braço, ela empurrou a multidão sussurrante.
Ele não ousaria atacá-la aqui. Não com o nariz quebrado. Nenhum sangue azul sobreviveria à indignidade de ser derrotado por uma simples garota humana.
O batimento cardíaco que ameaçava sufocá-la começou a diminuir. Tudo o que ela precisava fazer era encontrar Leo ou Will. Segura. Ela estava segura agora.
Mas ela não sentiu. O sangue gotejou entre seus dedos enluvados enquanto ela abria caminho através da multidão de sangues azuis. Eles a olharam com muito interesse para seu conforto. A música ralou severamente em seus nervos.
Uma lacuna se abriu e de repente ela estava olhando para Will. Seu olhar cintilou sobre ela, então se estreitou em seu braço sangrando. O salão poderia muito bem ter ficado silencioso. Nenhuma mudança em sua expressão, nada que indicasse seu humor, mas de repente ela percebeu o quão perigoso ele era.
Cobre brilhante brilhava em seus olhos. A mulher ao seu lado fez uma pergunta, acariciando suavemente sua manga. Ele se afastou da mesa na qual estava encostado, ignorando-a completamente. Lena não conseguia fazer os pés se moverem. Tudo o que ela podia fazer era olhar para ele e silenciosamente permitir que ele não fizesse uma cena.
Atrás dela, ela ouviu a voz de Cavendish, cada vez mais perto enquanto ele procurava por ela. Will ouviu também, sua cabeça disparando naquela direção com um brilho assassino em seus olhos.
— Não. — Ela sussurrou.
Mas era tarde demais. Ele se virou para Cavendish, os punhos cerrados. Caminhando descuidadamente no caminho de um par de dançarinos, ele interrompeu a valsa inteira.
Se ela não fizesse algo, ele mataria Cavendish. Então eles não teriam escolha a não ser executá-lo. De repente, ela podia se mover novamente. Interrompendo-o no meio do caminho, ela agarrou sua manga.
— Pare, — ela assobiou. — Não se atreva!
Nenhum homem olhou para ela com aqueles olhos acobreados em chamas. Ela estava tão certa de que ele nunca, jamais a machucaria, mas por um momento até ela congelou com a fúria que olhava para ela. O selvagem por dentro.
— Will. — Só havia uma maneira de detê-lo nesse estado de espírito, apenas uma coisa que poderia distraí-lo. — Will, estou sangrando. Preciso ir para casa, cuidar do meu braço. Não me sinto muito bem. — Ela fez seus joelhos amolecerem, seu peso se apoiando nele.
Ele a pegou, como ela sabia que faria. Blade uma vez disse que Will era o homem mais perigoso que ele já conheceu, mas seus instintos de proteção sobrepunham os violentos. Um lobo até o âmago.
Enquanto ele a pegou nos braços, Lena escondeu o rosto em seu ombro. Era isso. O fim de qualquer chance que ela tivesse com o Escalão. Ela poderia ser capaz de caminhar por sua borda, mas ela nunca faria parte dele novamente. Sussurros os seguiram enquanto Will saía do salão.
Um último olhar por cima do ombro enquanto eles passavam pelas portas. Os vestidos, as joias, as damas elegantes em todas as suas roupas elegantes. Se foi. A chance dela se foi no instante em que ela se enrolou em seus braços. E, estranhamente, um peso foi retirado de seus ombros.
Lena virou o rosto para o pescoço dele, respirando o perfume masculino de sua pele. Ela não sabia o que faria. Não havia nada para ela na colônia, nada para ela no Escalão. Seus dedos se curvaram contra seu colarinho. Só uma coisa que ela sempre quis e ele não a queria de volta.
Mas se você lutar duro o suficiente?
Ela enterrou o rosto em seu casaco, com muito medo de olhar para a resposta a essa pergunta. Ela não lutou, não disse a ele como se sentia. Com muito medo de ter seu coração despedaçado, então ela nunca ousou exibi-lo.
Ele nunca saberia o quanto seus jogos com ele eram tudo que ela arriscaria.
— Onde? — Ele perguntou.
Ela olhou para a enorme escada circular que espiralava através do coração da Torre de Marfim. Mil passos, alguns disseram, embora ela nunca se preocupasse em contá-los.
— A câmara de elevação. Eu quero um pouco de privacidade.
Ele olhou para o par de senhoras que os seguiram do salão de baile e os fez fugir com um olhar furioso. — Problema resolvido.
— Não discuta. Você não pode me carregar todo o caminho descendo essas escadas. Estamos no nono andar.
Seu rosto se voltou para o dela, sugestões de âmbar queimando ao redor de sua pupila. — O que aconteceu?
Ela balançou a cabeça. Ela tinha que tirá-lo daqui antes que ele explodisse novamente. — A câmara de elevação.
O lacaio de libré acenou com a cabeça para eles como se visse damas sendo carregadas para fora do salão todas as noites. As portas de latão polido para a câmara de elevação se abriram lentamente, revelando os painéis de latão liso das paredes.
Will a carregou para dentro e as portas se fecharam.
Ela gesticulou para que ele a colocasse no chão. Uma carranca juntou suas sobrancelhas, mas ele obedeceu.
— O que diabos aconteceu? — A câmara balançou em movimento e ele agarrou a parede, seus olhos selvagens.
— Eu fui tomar um pouco de ar na varanda. — Não havia como contornar a verdade. — Colchester saiu atrás de mim.
O olhar de Will caiu para sua luva ensanguentada. Suas narinas dilataram-se. — Ele cortou você.
As palavras eram uma ameaça prometida. Ela tinha que difundir a situação. — Eu quebrei o nariz dele. É uma troca justa.
— Lena.
— É quase nem um arranhão...
— Você estava apavorada. — Ele retrucou. Virando-se, ele golpeou a parede com o punho e o painel de latão cedeu sob seu punho.
Ela se encolheu. — Por favor. Não.
Se controlando com um aperto visível de sua vontade, ele deslizou a mão pela parede. — Eu não te machucaria. Você sabe disso. Eu nunca te machucaria.
Ela percebeu que estava pressionada contra a parede oposta, seus nervos tensos demais para relaxar com o temperamento dele cavalgando pela câmara como um ciclone.
— Sim, eu estava com medo —, disse ela. — Mas estou segura agora. Isso é tudo que importa.
— O quê ele fez pra você? O que ele disse?
Ele ameaçou me matar. Ela empalideceu e balançou a cabeça.
O solavanco constante enquanto os motores a vapor nas profundezas dos porões da Torre de Marfim os puxavam para baixo tornou-se quase hipnótico. Will não os achou assim. Ele vagava pelo pequeno espaço, as mãos cruzadas atrás das costas e os olhos brilhando de raiva.
— Eu odeio espaços pequenos. — Ele disse, muito branco aparecendo em seus olhos.
E de repente ela percebeu que seu temperamento não era apenas controlado por causa de Colchester. — Isso... isso te lembra da gaiola? — Ela teve que limpar a garganta para pronunciar as palavras.
Seu olhar cortou para o dela e ele assentiu.
— Aqui, — ela disse, deslizando sua mão na dele. — Estou aqui.
Acenando para ela, ele desviou o olhar. Mas os dedos dele deslizaram pelos dela, apertando com força. — A gaiola não era tão ruim. Eu podia ver através das barras. — Sua expressão escureceu. Como se visse algo mais, algo além das paredes lisas da câmara de elevação. — Quando eu desobedecia, eles costumavam me espancar até ficar inconsciente. Mas, à medida que fui crescendo, a ameaça disso não me assustou mais como costumava. — Will lambeu seus lábios. — Havia uma adega. No subsolo profundo. Eles costumavam me trancar lá. Por dias. Ou semanas. De algum jeito, estava sempre escuro. Nem mesmo um rato lá embaixo.
Um garotinho perdido no escuro. Seu coração doeu por ele. — Você está livre agora.
O olhar de Will encontrou o dela. — Não estou livre, Lena. Ainda não. É só que a gaiola está maior agora. Não posso vagar por Whitechapel.
— Mas você está aqui agora.
Uma torção de raiva em sua expressão. — Até que o tratado seja assinado. Tenho que garantir que os noruegueses assinem, senão estou de volta ao cortiço e os outros, como eu, ainda estão acorrentados.
Suas palavras tiraram seu fôlego.
— Isso é o que eles prometeram a você? — Um desastre. Um desastre absoluto. — Eles prometeram liberdade a você?
— Eu e todos os verwulfen do Império.
Ela se encostou na parede, a mão no peito. Will estava mais envolvido nisso do que ela esperava. Movendo-se contra ele, trabalhando contra ele, ela estava ameaçando destruir suas chances de liberdade.
Ela não poderia fazer isso.
Mas e quanto a Charlie? Sua mão caiu para o lado. O que ela ia fazer? O calor doeu atrás de seus olhos.
— Lena?
Will esperou por uma resposta. Ela não conseguia pensar rápido o suficiente. — A filha do conde parecia gostar de você — disse ela automaticamente, como se seu coração não sentisse o golpe. — Se você a encantou... — Ela não podia dizer mais. As palavras murcharam em sua boca.
— Eu não sei nada sobre encantos.
Lena riu, um pequeno som miserável. Ela tinha que sair dali. As paredes pareciam estar se fechando sobre ela. — Essa é a verdade.
A câmara de elevação parou estremecendo e ela girou. A campainha tocou e as portas começaram a abrir. Lena passou por elas assim que ficaram largas o suficiente para acomodá-la.
Mais um lance de escada para a entrada do térreo. Ela juntou as saias rosa e começou a descer correndo, mas Will saltou na frente dela, uma carranca no rosto. — O que há de errado?
— Nada. — Ela tentou passar por ela, mas ele bloqueou seu caminho. Ficar dois degraus abaixo dela colocou seu rosto no mesmo nível do dela. — Will, estou cansada. Eu quero ir para casa. Isso não é...
— Seu cheiro mudou. — Ele deu um passo para cima, suas coxas pressionando contra as saias dela. — Assim que eu te contei o que eles prometeram.
A culpa tinha seu próprio cheiro? Ela pressionou as pontas dos dedos contra o peito dele. Se deveria mantê-lo afastado ou atraí-lo para mais perto, ela não sabia. O superfino de seu casaco era macio sob seus dedos.
— Mudou de novo, — Ele admitiu, pequenas faíscas de cobre derretido queimando em sua íris. — Quando você mencionou Dama Astrid. — Sua cabeça abaixou, o olhar caindo para sua boca. — Assim como mudou agora.
O coração de Lena começou a bater mais rápido. Cada emoção, cada esperança, sonho e desespero que ela pensava ter mantido escondido dele foram traídos por seu cheiro. Ela encontrou seus olhos e não conseguiu ler a expressão neles. Âmbar quente. Olhos nos quais ela poderia se afogar se ele deixasse. A cor deles suavizou, derreteu, quando ele se aproximou.
Suas intenções roubaram seu fôlego. Ele pretendia beijá-la. No foyer da Torre de Marfim, na frente de quem desceu as escadas. A alegria saltou por cada nervo de seu corpo.
— Não se atreva. — Ela sussurrou.
Ele fez uma pausa, sua boca a uma polegada da dela. — Eu nunca entendo você. — Seus olhos escureceram com o calor. — Sim ou não, Lena?
Hálito quente contra seus lábios. A mão dela suavizou em seu peito. Ela sabia a resposta antes que sua boca traidora pudesse dizer as palavras. E ele também.
Will capturou o sim em seus lábios, suas mãos segurando seu rosto e inclinando-o para ele. O primeiro gosto dele foi inebriante. Lena agarrou as lapelas dele e ficou na ponta dos pés.
O mundo ao redor deles desbotou. Tudo o que ela podia sentir era o calor de seu corpo duro, pressionado firmemente contra o dela, e o gosto de sua boca, de champanhe e tortas de limão. Arremessando sua língua contra a dele, ela engoliu seu gemido suave. Como se sentisse permissão, sua própria língua encontrou a dela e ele a devorou, toda quente, posse masculina.
A mão de Will espalmou sobre seu traseiro e ele a puxou contra ele. Cada centímetro em chamas. Ela podia sentir as camadas de tecido amontoadas entre eles, e a sugestão de seu eixo, pressionado com força contra seus quadris. Querendo mais, precisando de mais, ela deslizou as mãos em seus cabelos, abandonando-se ao sabor de sua boca. Não havia habilidade envolvida, nem sutileza, nenhum dos beijos cuidadosos com os quais ela flertou no Escalão. Nada além de fome e a fúria crua mal contida que ela podia sentir sob sua pele.
Levá-lo para a cama nunca seria manso. Nunca seguro. E ela queria isso mais do que ela já quis qualquer coisa em sua vida.
— Leve-me para casa —, ela sussurrou, antes que ela ousasse pensar sobre isso. — Sua casa.
Will ergueu a cabeça, uma imobilidade de ferro percorrendo seu corpo. Pequenas faíscas quentes de cobre queimaram em seu olhar e ela soube imediatamente que disse a coisa errada.
Ela o beijou novamente, mordendo seu lábio inferior, mas ele não se levantou para encontrá-la. Segurando o rosto dela com as duas mãos, Will recuou, respirando com dificuldade, a testa pressionada contra a dela.
— Lena. — Uma palavra cheia de fome e necessidade negada. — Eu não posso. Não podemos.
Ela deslizou as mãos pelo peito dele, pairando sobre seu abdômen. — Sim, nós podemos. Ninguém saberia. — Um arrepio percorreu seu corpo. — Eu quero você, Will. Eu preciso de você. Preciso disso. Não é um jogo para mim. — As últimas palavras foram um sussurro.
Ele estremeceu, os olhos fechados, lutando contra algo que ela não entendia. — Não posso. — Ele se afastou dela, o calor vermelho lavando suas bochechas. O olhar que ele lançou para ela era sombrio, perigoso. Com fome. Lentamente ele balançou a cabeça. — Mesmo isso nunca deveria ter acontecido.
Ele poderia muito bem ter esfaqueado ela no coração.
— Você me queria. — Ela sussurrou.
— O que eu quero e o que devo fazer não é o mesmo. — Ele passou as mãos pela cabeça, bagunçando a fila bem organizada. Fios grossos de ouro-mel cascatearam em torno de seu rosto, acariciando as maçãs do rosto rígidas.
A negação a abalou. Como se estivesse zombando, seu pulso correu por suas veias, algo quente e pesado latejando entre suas coxas. Seu corpo não percebeu o que o resto dela tinha.
— Por quê?
— Porque eu sou verwulfen, Lena.
— Eu não me importo. Você sabe que eu não me importo
Will segurou seus pulsos. — Eu me importo.
Tudo o que ela sempre temeu. O calor subiu por trás de seus olhos e ela virou o rosto. Esta tinha se transformado em uma das noites mais horríveis que ela já teve.
— Me solte. — Ela disse.
Os momentos passaram. Então ele a soltou e se afastou. Finalmente algum espaço para respirar. Engolindo em seco, ela forçou as lágrimas de volta e agarrou as luvas arruinadas. — Você também pode voltar ao baile —, disse ela. — Você tem um trabalho a fazer. Eu encontrarei meu caminho para a carruagem.
— Lena...
— Eu prefiro que você volte. Eu quero ir para casa. — Onde quer que seja. — Para Waverly Place.
Incapaz de suportar a presença dele, ela passou com uma enxurrada de saias e fugiu.
Capitulo 13
A campainha da loja tocou.
O homem atrás do balcão olhou para cima, seu sorriso empalidecendo um pouco quando viu quem estava lá. Um olhar mercenário percorreu a camisa de trabalhador de Will e as calças de couro. — Senhor, como posso lhe ajudar?
As vitrines brilhavam sob a fraca luz do sol. Fileiras e mais fileiras de pistolas enchiam as caixas. No canto havia outro estojo com formas menos comuns de armamento; uma besta dourada, destinada a uma dama; uma maça de mão; até mesmo um par de luvas de couro sem dedos, com navalhas cortadas nas costas. Um soco e você mataria um homem com elas. Will olhou para eles demoradamente, então empurrou as pistolas. Ele não estava aqui por si mesmo.
— Estou atrás de uma pistola —, disse ele. — Algo delicado.
As sobrancelhas do dono da loja se ergueram. — Algo assim não sai barato.
Sem olhar para ele, Will jogou uma bolsa para ele. Ela quicou no balcão, moedas pesadas tilintando umas nas outras. — Não estávamos esperando.
Ele se inclinou sobre o balcão, espalhando as mãos enquanto examinava o conteúdo. Uma derringer pesada, um Reichsrevolver M1879 de fabricação alemã, uma pistola de disparo a vapor... E ali, algo pequeno o suficiente para caber na mão de Lena.
O embutimento era de madrepérola, os acessórios dourados. Uma mira de bronze foi montada no cano e delicadas gravuras pequenas forraram o cabo. — Aquela. — Disse ele, apunhalando o dedo no vidro.
— Uma bela peça, senhor. Posso perguntar seu propósito? Foi projetada para tiro ao alvo.
— Proteção.
O dono da loja destrancou a caixa e retirou a caixa de mogno em que a pistola estava. — É um calibre dezessete. Não vai parar muito mais do que um pombo ou pequeno animal, infelizmente. A menos que você seja um ótimo atirador.
— Vai acontecer quando eu terminar com isso. — Ele tocou o cano liso. Algumas alterações e Lena seria capaz de derrubar um urso - ou um sangue azul. Seu próprio pai havia projetado um tipo de bala que explodiria com o impacto. Tudo o que ele precisava fazer era replicar a mistura química e refinar as balas para algo que coubesse na pistola compacta.
O dono da loja se preocupou com ele até que seus dentes estavam no limite, agora que Will provou ter um bom dinheiro.
— E estes. — Ele disse instintivamente, apontando para as meias-luvas antes que fosse tarde demais.
Lá fora, a luz do sol dançava sobre a rua. Os transeuntes olharam para ele com curiosidade, mas nenhum disse uma palavra. Uma jovem em algodão bordado amarelo agarrou a mão do filho e puxou a criança que o observava para fora do caminho. Will ficou tentado a sorrir para ela com os dentes arreganhados, mas algo no que Lena havia dito parecia verdade. Ele não era uma besta. Não de verdade. Não importa o que a mulher viu quando olhou para ele. Forçando um breve aceno de cabeça, ele passou por ela como se pertencesse aqui.
A noite foi longa e o sono foi difícil de encontrar. Colchester brincava com sua mente, o adversário que ele não conhecia o suficiente.
Ainda.
Se Lena pensava que sua melhor defesa contra um sangue azul era deitar e se submeter, então ela tinha outra coisa vindo. A noite passada a assustou. Mesmo em uma reunião de quase quatrocentas pessoas, Colchester conseguiu chegar perto dela.
Ele encontrou o caminho de uma joalheria e caminhou protegido do vento. Um par de sangues azuis examinava as mercadorias no balcão, revestidos de veludo e renda. Um usava uma peruca perfumada, muito no estilo da época da Geórgia, e se apoiava pesadamente em uma bengala. Sob o perfume persistia um leve cheiro podre que fez Will erguer os pelos.
À beira do Desvanecimento. O sangue azul não teria muito tempo antes que alguém decidisse tirá-lo de sua miséria - e poupar a cidade de outro massacre de vampiros.
O homem de meia-idade agarrou seu braço quando o mais velho se virou, apoiando-se pesadamente na bengala. — Aqui, avô. Sente-se. — Ele o guiou até uma cadeira e gesticulou para o lojista. — Vinho de sangue. Agora.
Nenhum deles o tinha cheirado ainda. Will rondou os armários, lutando contra o desejo de virar e mantê-los à vista o tempo todo. O cheiro fez seu sangue gelar. Ele só enfrentou um vampiro. E um era o suficiente, como as cicatrizes em seu abdômen atestavam. Essas eram as únicas feridas que seu vírus não tinha sido capaz de curar completamente.
Na época da Geórgia, uma onda de vampiros quase afogou a cidade em sangue. Custou dez mil vidas antes que o Escalão conseguisse destruir todos eles. Agora, quando o vírus finalmente os alcançava e o Desvanecimento ameaçava, um sangue azul era observado de perto. Assim que seu corpo começava a empalidecer - seus olhos escureciam e seus dentes se afiavam - um machado era enviado.
A campainha da loja tilintou e um par de botas pesadas entrou. Will teve um vislumbre do reflexo do recém-chegado no vidro do armário.
Uma grande capa preta e comprida enrolada nos ombros do homem, com um nó de renda em sua garganta. Seu colete era de veludo vermelho, um relógio de bolso dourado brilhando contra ele. Luvas brancas enroladas em torno de uma bengala de cabo dourado e ele olhou para o par no canto, seus lábios se curvando sob o nariz machucado.
— Que diabo, pegue, Arsen, — o homem estalou, puxando um lenço perfumado. — Você ainda não enterrou aquela velha relíquia?
Ambos os homens congelaram. Enquanto o mais jovem gaguejava, o mais velho ergueu o rosto pálido e empoado, uma pitada de malícia naqueles olhos escuros. — Eu não estou morto ainda, Colchester. Talvez eu te leve comigo.
Colchester.
— Eu gostaria de ver você tentar, Monkton, — Colchester zombou. — Talvez eu possa fazer o trabalho que Arsen evidentemente tem negligenciado.
Colchester era mais jovem do que ele imaginava, com o tipo de bochechas macias e cabelo despenteado que faria virar a cabeça de uma dama. Um sujeito grande, de ombros largos, movia-se com a graça de membros lisos de um espadachim.
Seus olhos azuis olharam para o traje de Will e o dispensaram. Esse foi seu primeiro erro. Qualquer verdadeiro predador teria olhado além das roupas para o homem dentro. Obviamente, anos de posição o haviam acostumado aos perigos do mundo. No Escalão, se um sangue azul se queixava de outro, eles duelavam. Will, no entanto, estava acostumado a ruas onde os homens pegavam o que queriam com uma lâmina rápida nas costas.
— Por favor, Sua Graça, — Arsen gaguejou. — Vovô não quer dizer nada com isso. Temos observado ele de perto. Nós apenas pensamos que um pouco de ar fresco faria bem a ele.
— Um machado seria melhor.
Os lábios de Monkton se curvaram. — Sim. Como aquele que você esqueceu de levar para a tarde, Vickers não lamentava até que fosse tarde demais? — Ele riu, um som ofegante. — Ouvi dizer que foi um duelo glorioso com a peruca do duque arrancada na frente da corte e a verdade de sua condição revelada. Dizem que demorou uma semana para tirar o fedor da podridão do átrio.
O punho de Colchester se apertou inconscientemente. — Não faça um inimigo perigoso, Monkton. Você não é nada além de uma ramificação secundária da Casa de Malloryn. E Auvry é um querido amigo meu. Será que vou sussurrar em seu ouvido e ver o assunto tratado de forma adequada?
Ambos os homens empalideceram. O mais jovem agarrou seu avô pelo braço envolto em veludo e empurrou-o para fora da joalheria com um fluxo constante de desculpas. Colchester os observou partir com uma expressão entediada no rosto. Ele tirou uma lata de rapé do bolso e inalou uma pitada, estremecendo com o nariz machucado.
Seus olhos se encontraram no espelho de joias na parede oposta.
— Você não está fora de seu alcance aqui? — Colchester perguntou, enfiando a lata de rapé de volta no bolso.
— Você ficaria surpreso. — Respondeu Will. Suas mãos tremeram. Um momento de violência e Lena nunca mais teria que olhar por cima do ombro... Ele deu um passo em direção ao duque.
O lojista reapareceu com um par de óculos equilibrado em uma bandeja. Ele piscou para encontrar a sala vazia. Colchester pegou uma taça de vinho de sangue ao passar por ele.
— Realmente, Griffith. As pessoas que você permite que entrem aqui — ele murmurou, olhando para um camafeu antigo. — Eu posso ter que levar meu negócio para outro lugar.
— V-Vossa Graça... — O lojista gaguejou.
A raiva borbulhou no peito de Will. A chance foi perdida.
Colchester ergueu os olhos. — Você ainda esta aqui?
— Tenho negócios aqui. — Respondeu ele, saindo das sombras. O calor nadou atrás de seus olhos e todos os músculos de seu corpo se contraíram. Este bastardo tinha feito algo para Lena. Ele não sabia o quê, mas era o suficiente para aterrorizá-la.
Matá-lo seria muito doce. E ainda assim, com ele iria qualquer chance que ele tinha de se libertar e seus companheiros das jaulas e arenas.
O instinto exigia que ele matasse o duque. Mas o intelecto frio argumentou contra isso. Ele quase podia ouvir as vozes de Blade e Lena em seu ouvido, tentando explicar a ele que seria errado. O suor escorria de sua testa. Este era um mundo que ele não entendia e nunca entenderia completamente. Mas ele confiava neles, sabia que eles não ficariam satisfeitos se ele fizesse isso.
Colchester nunca saberia o quão perto da morte esteve quando se endireitou. — Você tem alguma ideia de quem eu sou?
— Sim. Eu sei exatamente quem você é.
O olhar de Colchester se aguçou com interesse. Will podia sentir o calor de sua raiva queimando por ele. Pela primeira vez, ele a deixou vir à superfície apenas o suficiente para mostrar, o ouro derretido transformando seus olhos no reflexo do espelho.
Colchester respirou fundo e colocou a mão no cinto, como se tentasse pegar uma lâmina.
— Não faria se eu fosse você. — Will respirou fundo e desviou o olhar. Pequenas joias quebravam a luz do sol de volta para ele, em milhares de tons e cores diferentes. Anéis, colares, pulseiras. Um canto inteiro cheio de gargantilhas de pérolas que valiam mais que sua vida. Ele se concentrou nelas furiosamente, tentando ignorar o perfume do duque.
A imagem de Colchester oscilou no vidro, seus olhos se estreitando nas costas de Will. — Você é aquele que eles chamam de Besta, não é? Aquele com o preço na sua cabeça se você pisar dentro da cidade?
Will olhou por cima do ombro. — Eles não te contaram?
Os olhos de Colchester se tornaram fendas. — Me contaram o quê?
— O próprio príncipe consorte me perdoa.
Colchester foi até a janela, as mãos cruzadas atrás das costas. Seus movimentos eram puros e precisos; ele estava no limite, preparado para lutar em um segundo. Will vagou na outra direção, correndo as pontas dos dedos levemente ao longo do balcão de vidro.
Uma dança perigosa. O dono da loja recuou até a porta do depósito, sem saber o que estava acontecendo, mas ciente das tendências ocultas na loja.
— Entendo, — Colchester zombou. — Essa piada de aliança que eles estão anunciando. Eu não estava ciente de quão totalmente eles envolveram você até a noite passada.
— Acho que você não é tão importante quanto pensa que é.
Se olhares pudessem matar. — Eu lavei minhas mãos semanas atrás. Demorou anos para colocá-los em seus devidos lugares. Por que convidá-lo a voltar para nossas vidas com uma expressão de cordialidade? — Seu olhar correu para Will. — Todo o conceito é um insulto.
A farpa passou longe de sua marca. Ele não se importava com o que Colchester pensava dele.
Como se percebesse, Colchester se aproximou. — Devo admitir que estou desapontado. Depois do que Cavendish me disse, eu esperava um lunático delirante. Eles controlaram você bem, ao que parece.
— Há uma hora. E um lugar.
— Mmm. — Colchester se inclinou, examinando um lindo broche de borboleta. Quando apertadas, as asas batiam. — Diga-me —, disse ele, desenhando pequenos círculos no vidro com o dedo. — Ela já lhe falou sobre mim?
Silêncio. — Ela?
— Helena. — Disse Colchester, colocando ênfase íntima no nome. Ele olhou para cima. O sorriso em seus lábios não era nada comparado ao de seus olhos quando percebeu que suas palavras finalmente haviam tirado sangue. — Minha querida e doce Helena Todd.
Will se segurou com a mais fina das correias. — Por que ela iria?
— Porque ela vai ser minha próxima serva...
Não.
Will o agarrou pela garganta antes que ele percebesse. Seus dedos se cravaram na pele pálida enquanto Colchester ria.
— Você a deixará em paz, — Will rosnou, sua voz fria e áspera. — Você pega apenas uma cheirada dela e se virará e caminha para o outro lado.
— Uma cheirada? — Colchester conseguiu gorgolejar. — Já bebi mais do que isso, seu imundo.
— O que você disse?
— Ela não... te contou? — Deleite tornou os olhos azuis claros de Colchester quentes. Em seguida, eles incharam quando o aperto de Will aumentou.
Ele mal conseguia ver através da névoa vermelha que o sufocava. Uma torção e ele poderia arrancar a cabeça do bastardo de seus ombros. Mas o movimento chamou sua atenção. O dono da loja, tremendo na porta enquanto olhava horrorizado.
Aqui não. Agora não.
Mas um dia, ele prometeu a si mesmo.
Forçando a mão aberta, ele empurrou Colchester para trás. O duque cambaleou até as caixas de vidro, espalhando vidro pelo chão. Ele ainda estava rindo e o som disso acertou os nervos de Will como uma serra. Ele viu o vermelho novamente e se afastou, respirando com dificuldade.
— Ela tem o sangue mais doce, sabe? — Colchester ligou. — Ronrona como um gatinho sob o toque...
A próxima coisa que ele sabia, ele estava batendo de cara em Colchester em outro caso. O lojista se encolheu, mas a risada finalmente morreu. Will arrastou o duque para fora da bagunça de vidro e joias e bateu com o punho em sua barriga. Colchester se curvou como um saco de sebo derramado, sangue e vidro cobrindo seu rosto.
Uma bota enganchada atrás da dele e os dois caíram. Algo quente atingiu suas costas, mas ele não prestou atenção, cavalgando a borda da tempestade dentro dele. Travando o braço em volta do pescoço do duque, ele torceu e o jogou no chão duro, tropeçando em cima dele com o punho levantado...
Ele nunca desceu.
Uma mão agarrou a sua, dedos de ferro envolvendo seu punho como uma algema. — Isso é o suficiente! — Alguém latiu.
Will olhou para cima, os dentes à mostra.
— Controle-se. — Vociferou uma voz vagamente familiar. O estranho era quase tão alto quanto o próprio Will, mas era magro e forte. Seus olhos eram do mesmo azul frio de uma geleira e ele usava couro preto da cabeça aos pés, a dura carapaça de uma placa peitoral cobrindo seu peito.
Will piscou, finalmente notando a dupla de guardas atrás do estranho. Ele olhou para baixo para encontrar sua outra mão torcida no colete de Colchester. O sangue corria pelo rosto pálido do duque, com lascas de vidro incrustadas em sua bochecha.
— Tire ele de cima de mim, — Colchester estalou, cuspindo sangue. — Exijo que esta criatura seja presa.
E foi então que Will percebeu quem era o estranho.
Sir Jasper Lynch, mestre da guilda de caçadores de ladrões Falcões da Noite. Eles trabalharam juntos três anos atrás para derrubar o vampiro. Lynch era um homem duro, mas eficiente. Infelizmente ele também era um sangue azul.
Puxando Will para ficar de pé, Lynch olhou para o duque por seu nariz de falcão. — Vossa Graça, — ele disse em uma voz completamente sem inflexão. — Em que acusações?
— Assalto. — Colchester ficou de pé, limpando o vidro do casaco. Ele olhou ao redor. — Danos materiais. — Um sorriso malicioso apareceu. — Tentativa de roubo.
Will rosnou e se esticou para a frente, mas Lynch puxou seu braço para trás e o empurrou de cara na parede. Mesmo dominado pela fúria, ele reconheceu um homem que conhecia os pontos de pressão certos para pressioná-lo para mantê-lo ali, apesar de sua força superior.
— Não seja idiota, — Lynch sussurrou mortalmente suave. — Isso é exatamente o que ele quer. — Então ele deu uma última chave de boca no braço de Will e o soltou.
Will se desvencilhou, olhando para Colchester.
— Precisamos que você faça uma reclamação formal na sede da guilda —, disse Lynch. — Então teremos que encontrar um magistrado que irá acusá-lo. E a testemunha, é claro. — Acrescentou, com um aceno de cabeça para o lojista.
Colchester fez uma pausa no ato de se limpar. — Para que diabos nós precisamos dele? Você viu ele. Ele me atacou sem provocação.
— Receio ter intervido de maneira prematura —, respondeu Lynch. — Eu só vi dois homens lutando.
Os dois se entreolharam. Os olhos de Colchester se estreitaram. — Você está cometendo um erro, Lynch. Vou substituí-lo antes do pôr do sol.
— Improvável, Vossa Graça —, respondeu Lynch. — O Conselho comanda a aplicação da lei na cidade. Você não.
Um momento de silêncio pesado desceu antes de Colchester desviar o olhar. — Que assim seja. — Os punhos de Colchester cerraram-se ao lado do corpo e ele olhou além de Lynch para Will. Seus dentes estavam ensanguentados quando ele sorriu. — Não pense que você será o primeiro. A putinha tem gosto por isso.
Foram necessários três Falcões da Noite para detê-lo desta vez. Will lutou para passar por ele, lutando por Colchester. O duque ajeitou a lapela, limpou os cacos de vidro da bochecha e saiu pela porta.
— Deixe-o ir, — Lynch rosnou. — Você só vai se matar e ele não vale a pena.
Will ergueu os olhos. Eles o prenderam contra a parede e ele estava remotamente ciente de algo quente e úmido escorrendo por suas costas. Lynch olhou para ele por um momento, depois acenou com a cabeça bruscamente e recuou.
— Deixe-o ir, meninos.
Eles se afastaram, respirando com dificuldade.
— Você está sangrando. — As narinas de Lynch dilataram-se.
Will estremeceu. A raiva saiu dele, meia dúzia de cortes e hematomas de repente chamando sua atenção. A pulsação em suas costas se intensificou quando o calor saiu de sua cabeça e sua visão voltou ao normal. Ele olhou por cima do ombro, então praguejou enquanto isso puxava os músculos de suas costas. Havia algo afiado ali.
Lynch estendeu a mão e arrancou uma lasca de vidro de seu músculo.
Filho de uma cadela. Will assobiou. — Algum aviso teria sido bom.
— Você vai se curar. — Lynch disse. — Talvez isso te ensine a manter a cabeça fria. — Ele olhou para um de seus camaradas. — Faça o depoimento de uma testemunha, Garrett. E uma estimativa dos danos.
Pela primeira vez, Will olhou em volta. Vidro espalhado, joias preciosas caindo de suas caixas no chão de madeira. O sangue gotejava de uma lasca de vidro nojenta e ele teve o prazer da memória de esmagar o rosto de Colchester nela, uma e outra vez.
O lojista olhou para o dano silenciosamente. Seus olhos estavam arregalados e sem piscar. — Como vou contar a Martha? — ele sussurrou. — O duque vai denegrir meu nome. Ele vai me destruir.
Os dedos de Will se curvaram de vergonha. Ele deveria ter controlado seu temperamento. — Eu pagarei a conta dos danos.
Lynch agarrou seu braço e gesticulou em direção à porta da frente. O sombrio rastejar da noite escureceu o céu lá fora, espessas nuvens fervendo no horizonte. — Eu sugiro que é hora de você ir embora. Não me surpreenderia se Colchester retornasse - com alguns amigos. Ele provavelmente não aceitará isso sem fazer nada. E eu fiz o máximo que pude.
Will concordou. Cristo. O que ele estava pensando? Ele obviamente não tinha. Uma menção a Lena e a raiva o dominou completamente. Então seus olhos se estreitaram. — Por quê?
— Por que o que?
— Por que me ajudar? — Ele podia contar o número de pessoas que já se ofereceram para ajudá-lo por um lado; em sua experiência, sempre havia um preço.
Lynch parou na porta, olhando a curiosa multidão que estava começando a se formar. Pequenas linhas surgiram nos cantos de seus olhos e suas sobrancelhas escuras se uniram em uma carranca. — Três anos atrás, Blade salvou minha vida nos esgotos. Eu devo a ele. Considere este reembolso.
Will olhou para os ombros tensos do outro homem. — E?
Lynch acariciou sua mandíbula lisa. — Há... uma certa pressão vindo do Conselho. Preciso localizar um revolucionário chamado Mercúrio. Ele lidera o movimento humanista aqui em Londres e é o responsável direto pelo incêndio das fábricas. Não sou idiota, Carver. Blade tem ouvidos em lugares que eu nunca poderia alcançar. — Um olhar direto nos olhos de Will. — E você também. Eu podia sentir o seu cheiro nos túneis quando prendemos a dupla responsável pelas fábricas de drenagem.
— Não tivemos nada a ver com isso.
— Eu sei. O par nos contou tudo. Eles pensaram que tinham matado Blade.
— Só o prenderam um pouco. — Não há necessidade de espalhar a notícia de que Blade era falível. Sua lenda manteve o Escalão afastado por cinquenta anos. — Você quer notícias de Mercúrio, então?
— Qualquer coisa que você sabe.
Um arrepio percorreu sua espinha. Lynch estava desesperado. Ele podia sentir o cheiro do nervosismo nele. Sem dúvida, o Conselho estava apertando o nó em sua garganta. Todo mundo sabia que os Falcões da Noite eram compostos de sangues azuis desonestos - aqueles criados ilegal ou acidentalmente. A maioria dos vampiros eram mortos quando eram infectados pela primeira vez com o desejo. Aqueles que podiam se controlar tinham outra escolha: uma vida sombria e solitária como um Falcão da Noite, mantido na coleira do Conselho. Eles eram úteis para o Escalão, mas nunca fariam parte deles.
Descartáveis.
Especialmente se eles não atuassem.
A imagem da carta codificada que ele encontrara em Lena veio à mente. Se houvesse alguma maneira de ela estar conectada aos humanistas, a este Mercúrio... O medo cresceu, corroendo seu estômago. No que ela se envolveu? Primeiro Colchester e agora isso.
— Vou manter os olhos abertos —, disse ele, ciente de que Lynch o observava atentamente. — E irei passar adiante.
Lynch procurou seu olhar. — Eu não me cruzaria nisso, Carver. Se houver alguma coisa que você saiba - qualquer coisa - é melhor você me dizer.
Will concordou. O Falcão da Noite havia percebido a tensão em seu corpo, sem dúvida. — Sim. Mandarei recado se ouvir alguma coisa.
Primeiro ele tinha que descobrir exatamente o que estava acontecendo.
Capitulo 14
Uma brisa fresca passou sobre sua pele. Lena ergueu os olhos da confusão de engrenagens que cobriam sua pequena escrivaninha. Deslizando as lentes de aumento no topo da cabeça, ela colocou de lado o alicate fino e se levantou. Seu robe da noite caiu sobre seus pés descalços, a seda rosa acariciando suas canelas.
— Olá? — Ela chamou, puxando seu robe com força e fechando a faixa. Era quase meia-noite. A Sra. Wade havia se aposentado horas atrás, mas não conseguia dormir. Muitas coisas girando em sua mente. Ela decidiu que também poderia usar o tempo para trabalhar no relógio transformacional em tamanho real que Mercúrio queria que ela criasse. Relógios eram fáceis e eles sempre se encaixavam... Ao contrário de sua vida. Além disso, ela tinha apenas uma semana até a assinatura oficial do tratado. Ela havia começado o mecanismo interno da peça, mas uma semana mal dava tempo para terminá-la. Ela teria que usar a ajuda de Mandeville para o revestimento externo.
A porta entre a sala de estar e seu quarto chiou, soprando uma brisa que não deveria estar ali. Lena pegou o atiçador.
Seu coração batia forte no peito enquanto ela se arrastava em direção à porta. Ninguém ousaria atacá-la aqui, não é? O lugar era bem guardado, mesmo à noite, pois não era raro que ocorressem assassinatos no Escalão. O duque de Caine ficava frequentemente indisposto e Leo governava como chefe interino da Casa. Sem dúvida, meia dúzia de ramificações menores da Casa estavam começando a se tornar ambiciosas.
O trovão retumbou ao longe.
O brilho suave de uma lâmpada a gás diminuída mal iluminava o quarto sombreado além da porta. Por um momento, Lena sentiu-se tentada a acordar a família. Mas se a trava apenas tivesse se aberto, ela as teria acordado em vão.
Seus olhos dispararam ao redor do quarto quando ela deslizou pela porta. Cortinas transparentes e macias flutuavam com o vento, a chuva espirrando no chão polido. Uma das portas francesas de sua varanda estava destrancada, mas não havia sinal de ninguém no quarto.
— Maldito vento.
Fechando a porta, ela a trancou com força. Um relâmpago brilhou e de repente o chão rangeu atrás dela.
Um grito saiu de sua garganta, capturado pela grande mão de um homem. Ele a puxou de volta contra seu peito duro e a água de suas roupas encharcou suas costas. Seus lábios pressionaram úmidos em sua mão e seu hálito quente roçou seu ouvido.
— Shhh.
Will. Ela podia sentir o cheiro dele agora, de almíscar, chuva e ar fresco. O atiçador caiu de seus dedos nervosos. Ele o pegou com a bota antes que batesse no chão, depois o jogou no tapete.
O coração de Lena bateu forte. Seus pés pararam de tamborilar contra seus tornozelos e ela desabou em seu aperto, os seios pressionando contra seu antebraço. No canto, um movimento chamou sua atenção. Um espelho de corpo inteiro independente, mostrando os dois juntos em um abraço ilícito. Os olhos de Lena se arregalaram ao encontrar os dele. Ele estava enorme, úmido e pensativo, o brilho âmbar de seus olhos brilhando em advertência. Sem dúvida de uma briga, pelo jeito dele.
Seus olhos se estreitaram. Ele não era o único que queria uma discussão. Esta seria a última vez que ele a assustaria.
Ela mordeu a almofada carnuda de sua palma.
— Se eu te deixar ir, você vai se comportar?
Lena se contorceu furiosamente.
— Vou assumir que significa 'não'. — Levando-a para a cama, ele a jogou sobre ela. Antes que ela pudesse pular, ele puxou um lenço de seda do chão e a amordaçou com ele.
Os olhos de Lena se arregalaram ainda mais e ela o chutou, fazendo um som estrangulado atrás do lenço. Will a prendeu, suas mãos conduzindo seus pulsos na cama e suas pernas montadas nas dela. A camisola enrolou-se em torno de suas coxas na luta e ela se acalmou quando o olhar dele caiu. Havia um mundo de calor naquele olhar.
— Trégua?
Lena assentiu com cautela. Quando ele se recostou, ajoelhando-se sobre ela, ela estendeu a mão e puxou o lenço da boca.
— O que diabos você está fazendo aqui?
Ele colocou a mão sobre sua boca. — Se Barrons me encontrar aqui, seremos contratados para casamento antes de sabermos disso. — Seus olhos se encontraram. — Nenhum de nós quer isso, não é?
Seu coração bateu incerto. Então ela sacudiu a cabeça com veemência. Ela tinha visto a felicidade e boa sorte de sua irmã. A única coisa pior do que um casamento feito por dever seria um sentimento não correspondido.
Will a encarou por um longo momento, sua expressão endurecendo. A mão dele caiu de sua boca, passando por sua bochecha antes de cair em seu colo.
— Ele não nos forçaria de qualquer maneira, — ela murmurou. — Leo provavelmente fingiria que nunca tinha visto você aqui - depois de escoltá-lo até a porta e remover a treliça de fora da minha janela.
— Não me impediria. — Seus dedos brincaram com a faixa de seu robe. Então Will percebeu o que ele disse. — Se eu quisesse entrar.
— Pare com isso. — Sua mão bateu palmas sobre a dele. Sua palma se achatou contra seu abdômen, diabolicamente quente. — Você está tomando muitas liberdades.
— Não seria a primeira vez que isso aconteceu.
Algo em sua expressão a advertiu. — O que você quer dizer com isso?
Um longo silêncio. — Nada.
Ela teve a sensação de que ele não estava falando sobre o beijo que eles compartilharam. Lena empurrou a mão dele. — O que você quer? O que você está fazendo aqui?
A água alisou seu cabelo contra a cabeça, escorrendo pelo colarinho aberto de sua garganta. Seu olhar era duro e plano. Ele ergueu um pedaço de papel e ela percebeu que era o outro pedaço da carta que ele havia arrancado dela.
A última vez que o viu, enfiou-o na chaminé, atrás de um tijolo solto, onde poderia ter tempo para tentar decifrá-lo.
— Procurando a verdade —, disse ele. — Já que provavelmente não vou conseguir de você.
— Isso é meu. — Lena o agarrou, mas seu aperto era firme. Eles se encararam. Sua camisa agarrou-se aos ombros de forma indecente; as mangas estavam enroladas até os cotovelos e seu colete de couro esculpia cada músculo de seu peito. Uma gota d'água pairou em seu lábio, outra deslizando por sua bochecha áspera. Deus, ela queria correr as mãos sobre os ombros dele, traçar aquela gota d'água com a língua.
Afundar as mãos na bagunça molhada de seu cabelo e arrastar sua boca para baixo. Para ela.
Respirando fundo, Lena estremeceu de desejo não correspondido. — O que você vai fazer com isso? Decodificar?
— Sim.
Lena lambeu os lábios. — Talvez seja o melhor. — Ela queria saber o que aquilo dizia tanto quanto ele. — Contanto que você não diga uma palavra a ninguém sobre isso.
— Com medo de que Honoria grite?
— Com medo de que ela me trancar em um convento.
— Talvez você devesse ser. — A cor dourada de seus olhos estava derretida.
Lena congelou. Ele deixou bem claro que beijá-la foi um erro. E ainda... Seus mamilos se endureceram sob seu olhar ardente. A maneira como ele estava olhando para ela era quase comestível. Esse humor dele era imprevisível.
Ela tinha que tirá-lo daqui antes que fizesse algo tolo.
— É só por isso que você veio? — Ela largou o pedaço de papel. — Você me assustou quase até a morte.
A chuva batia nas janelas enquanto ele se ajoelhava. Ele não parecia ter pressa em sair.
— Will? Seja o que for, você poderia ter esperado até amanhã.
A expressão de Will permaneceu encoberta. — Você e eu precisamos conversar.
— Não essa noite. Se alguém...
— Esta noite, — ele rosnou, e outro estrondo baixo de trovão retumbou pelo quarto. — Eu te dei chances suficientes. Esta noite eu tive o suficiente. Eu quero respostas e você vai muito bem me dar. Tudo o que você vai fazer é responder sim ou não, entendeu?
Lena balançou a cabeça lentamente. Will sempre manteve seu temperamento calmo e controlado. Ele não se atrevia a deixá-lo solto. Esta noite havia um clima selvagem que exigia cautela.
— Você sabe quem é Mercúrio?
Sua respiração ficou presa. — Eu não... não tenho certeza do que...
Will pressionou um dedo nos lábios dela. — Sim. Ou não. Você sabe quem é Mercúrio?
Onde ele tinha ouvido esse nome? E por que ele suspeitaria que ela tivesse uma conexão com isso? Ela tinha que jogar certo, ou quem sabe como ele reagiria? Lena acenou com a cabeça hesitante. — Sim.
Ele não gostou disso, ela percebeu. Uma carranca juntou suas sobrancelhas. — Droga, Lena. Em que diabos você se envolveu?
Não havia como responder com um simples sim ou não.
Como se percebesse suas intenções, seus olhos se estreitaram. — Você tem algum envolvimento com os humanistas? Com Mercúrio?
— Sim. E não.
— Lena, os Falcões da Noite estão caçando Mercúrio! Não demorará muito para que eles a encontrem e qualquer pessoa ligada a ele. Hoje eu tive que prometer a Sir Jasper Lynch que ficaria de olho em qualquer sinal dele. Mesmo enquanto dizia as palavras, sabia que estava mentindo, pois sabia que você estava envolvida. — Com um olhar enojado, ele passou as mãos pelos cabelos. — O que eu vou fazer com você?
A pergunta trouxe à mente várias respostas. Mas ela não achava que ele aprovaria qualquer uma deles.
— Bem? Você vai me dizer o que está acontecendo?
A resposta para isso era bastante simples. O pânico passou por ela. — Não.
— Essa é a resposta errada, amor.
— Essa é a única que você está recebendo.
— Eu poderia fazer você me dizer. — Ele se inclinou mais perto, pairando sobre ela.
Lena voltou a subir na cama até que suas costas bateram na cabeceira da cama. — Eu dificilmente acho que você ousaria. Já que você não quer ser encontrado em meus aposentos mais do que eu quero que você seja encontrado. Vou gritar.
O olhar em seu rosto fez sua respiração estremecer.
— Você vai tentar. — Disse ele. Uma grande mão agarrou seu tornozelo, o calor obsceno de sua pele marcando-a. Seus olhos ficaram completamente lupinos quando a puxou para si.
Sua camisola deslizou sobre os lençóis de seda, subindo em volta dos quadris. O manto estava caindo de seus ombros. Houve um momento em que ela poderia ter salvado. Um momento em que a sanidade se intrometeu. Um momento em que ela se lembrou do olhar em seus olhos... Era real? Ou ela apenas tinha imaginado? Ele a queria?
O céu me ajude, ela orou silenciosamente. Então ela deu de ombros e o manto escorregou de seus ombros, agrupando-se em torno de sua cintura.
Ela tinha que saber.
O olhar de Will se aguçou. Calor. Fome. Uma intensidade que a escaldou por dentro. Ela estava certa. Não foi o desinteresse que apertou sua expressão e tensionou os músculos de seus antebraços.
A compreensão foi inebriante. Ela mal conseguia respirar quando ele estendeu a mão e segurou seu queixo com uma das mãos. Sim, oh Deus, sim.
Ele virou o rosto dela para o lado, seu olhar quente percorrendo sua garganta. Em seguida, para o outro lado. Lena franziu a testa, capturando seu pulso. O que ele estava fazendo?
Ignorando o delicado decote de renda recortada de seu vestido, ele agarrou seu pulso e o ergueu.
Não. Sua respiração ficou presa e ela puxou o braço contra o peito em choque. Ela sabia exatamente o que ele estava procurando agora.
— Lena. — A mão dele agarrou-se à barra da camisola.
O brilho âmbar a assustou. Não havia lucidez nisso, nenhum sinal de Will. Apenas o predador, seu rosto tenso de raiva. Agarrando a mão dele, ela deslizou mais alto, sobre a parte interna de sua coxa e a cicatriz elevada ali.
A horrível lembrança do que Colchester tirou dela naquele dia no beco.
— É isso que você está procurando? — Ela o empurrou e correu para o lado da cama. A dor era uma dor aguda e penetrante em seu peito. Por um momento, apenas um momento, ela pensou que ele fosse beijá-la novamente.
Deslizando o manto sobre os ombros, Lena puxou a faixa com força e amarrou-a. — Como você sabia?
Não houve resposta.
Lena se virou e o encontrou ajoelhado no meio da cama, a cabeça baixa e as mãos cerradas nos lençóis. Um tremor percorreu seus ombros e sua mão estremeceu. Lentamente, sua cabeça se ergueu. Um arrepio percorreu sua espinha quando seus olhos se encontraram.
— Colchester me contou. — Sua voz estava rouca. — Me disse que ele teve você.
Uma linha de calor surgiu em suas bochechas. Droga, agora não. Inclinando a cabeça discretamente para o lado, ela enxugou os olhos com a manga. — Você viu ele? Onde? Eu disse para você não fazer nada precipitado.
— Eu estava na joalheria. Ele entrou. — Um movimento de lençóis e então seus pés calçados com botas apareceram. Will se ajoelhou na frente dela. Tão perto, ela podia ver a rachadura em seu lábio e o hematoma leve em sua bochecha. Alguém bateu nele. Colchester, ela tinha certeza disso.
— Lena? — A parte de trás de seus dedos acariciou sua bochecha úmida. — O que aconteceu?
Sua gentileza quase a desfez. Ela passou em uma rajada de seda, o pânico prendendo sua respiração em seu peito. — Eu não quero falar sobre isso.
Três passos antes que ele a pegasse. Ela se virou para afastá-lo e se viu no círculo de seus braços. Seu peito estava firme contra sua bochecha, seu calor a envolvendo. Deus a ajudasse, mas ela não conseguia evitar que seus dedos se enrolassem em sua camisa. Ela se sentia tão segura aqui em seus braços. A luta foi drenada para fora dela. Se ele pudesse abraçá-la assim para sempre.
Se ele apenas quisesse.
— Droga, o que ele fez com você? — A voz de Will foi estrangulada. — Ele... ele estuprou você?
— Não, — ela deixou escapar. — Mas não por falta de tentativa. — A memória a manchava. Colchester, um belo jovem dândi nas ruas, parando para sorrir e encantá-la. Ela não achou nada estranho, pois estava acostumada a esse tipo de flerte antes da morte de seu pai. Ela até o reconheceu como o herdeiro do duque de Lannister, embora tivesse sido uma tola ao pensar por um segundo que ele a via como qualquer outra coisa além de uma moça de carvão. Presa fácil.
— Ele tirou meu sangue. — Forçou-a a voltar para o beco. Empurrou-a com força contra a parede. Seus baldes se espalharam por toda parte, carvão caindo nas pedras sujas. Ela tentou dizer não, incapaz até então de compreender o que estava acontecendo. — Eu não queria. Eu não quis. Mas ele continuou dizendo que sim, que eu gostaria.
O calor queimou em suas bochechas. Assim que percebeu que estava chorando, um soluço a dominou. Colchester estava certo. Ela gostou, no final. Os produtos químicos em sua saliva haviam desencadeado algum tipo de reação em seu corpo.
As mãos de Will subiram e pressionaram suavemente contra suas costas. — Calma agora, mo cridhe1. — Ele esfregou círculos suaves contra suas costas. — Você está segura agora. Eu entendo você.
Mas ela não estava segura. As lágrimas vieram com mais força. Segura era um mundo sem o Escalão e seus gananciosos sugadores de sangue nele. Sem humanistas ameaçando sua família, ou Colchester perseguindo-a. Seguro era um mundo onde ela era amada e feliz. A segurança estava aqui. Nos braços de Will.
— E os humanistas?
— Eu n-não queria me envolver em tudo isso. — Mas as palavras eram mentiras. Ela queria encontrar algo, qualquer coisa, que lhe desse um senso de propósito na vida.
— Se envolver em quê? — Sua voz estava mais baixa, rouca. — Lena? — Ele sussurrou, tirando o cabelo de seu rosto pegajoso. — Conte-me.
Ela se afastou do conforto de seus braços e se afastou, limpando descaradamente o rosto no ombro da camisola. Ela sabia o que ele queria, mas ela tinha que explicar para ele primeiro, para mostrar a ele que seus motivos para tudo isso não tinham sido apenas um capricho frívolo. Talvez então ele não a odiasse tanto se descobrisse o que ela deveria fazer. — Não havia nada para mim em Whitechapel. Honoria estava com Blade. E Charlie estava se adaptando. Nós sempre fomos próximos, mas ele não queria ficar perto de mim quando se tornasse um sangue azul. E então... — Sua voz falhou ligeiramente e ela se apressou. — Você se foi. E ninguém me queria lá.
— Achei que se voltasse para a sociedade as coisas mudariam. Foi para isso que fui criada. Honoria sempre teve papai e seu trabalho, mas enquanto crescia não havia nada para mim a não ser aulas de etiqueta e coisas que uma jovem deve saber. Quando papai morreu e fomos forçados a nos esconder em Whitechapel, eu estava prestes a fazer minha estreia. Foi a época mais feliz da minha vida. — Sua voz sumiu. — Eu só queria voltar a isso.
Todos elogiaram sua beleza e charme na época, e o vislumbre que ela teve do Escalão apenas alimentou sua empolgação para se juntar a ele. Mas ela olhou para ele com olhos inocentes. Whitechapel havia mudado tudo sobre ela. Ela não era mais aquela jovem ingênua com estrelas nos olhos. Não havia como voltar atrás, e demorou muito para perceber isso.
— A podridão não é aparente no início —, disse ela. — Leo patrocinou a minha estreia e todos foram tão charmosos e elegantes. Claro que sim. Eles queriam algo de mim. Ofereceram-me três contratos de servidão na primeira semana. Foi muito emocionante.
— Você nunca os aceitou.
Ela não conseguia se virar e olhar para ele. Cruzando os braços sobre o peito, ela balançou a cabeça. — Um deles - Lorde Ramsay - me convidou para passear no jardim com ele. Eu sabia o que ele pretendia. Não é incomum uma mulher oferecer sangue antes de um contrato ser assinado. — A voz dela caiu. — Eu não poderia. Quanto mais eu pensava nisso, mais me aborrecia. Eu não conseguia respirar. Tudo o que eu conseguia pensar era em Colchester. Nesse beco. Fiquei tão exausta que Lorde Ramsay me deu um tapa e então Leo estava lá e me levou para casa e eu...
Braços quentes deslizaram ao redor de sua cintura. — Não chore, Lena. Droga.
Claro que ele não iria querer que ela chorasse em cima dele. Ela tentou secar os olhos. — Eu sinto muito. Eu não posso evitar. Eu sinto muito.
— Não é você que deveria se desculpar. — Palavras terríveis. Uma sugestão de ameaça subjacente a elas. Sua mão acariciou seu quadril, sua cintura. — Eu odeio ver você chorar.
— Você odeia? — Ela sussurrou. Sua mão acariciou círculos suaves sobre seu quadril. Tão levemente que era quase hipnótico. De alguma forma, ela se encontrou relaxando no círculo de seus braços.
O mundo se revirou quando ele a ergueu em seus braços. Com um suspiro, ela colocou os braços em volta dos ombros dele. — Will?
Ele a estava carregando para a cama. — Você está tremendo.
E ela estava, ela percebeu, seus lábios tremendo com o frio do quarto - e suas memórias. Colocando o rosto contra o pescoço dele, ela fechou os olhos e respirou o cheiro almiscarado dele. Ele a colocou sob os lençóis e, em seguida, colocou os cobertores em volta dela. Então ele se endireitou.
Não vá. Ela pegou a ponta dos dedos dele em um apelo mudo.
Will hesitou. — Não é apropriado. E eu estou molhado...
— Estou com frio —, ela sussurrou. — E você é quente. Por favor.
— Minha camisa está encharcada.
— Então tire.
Algo sombrio e impiedoso passou por seu olhar. Ele respirou fundo. Olhos dourados queimando na escuridão da noite. O caçador? Ou a presa?
— Por favor, — ela sussurrou. — Apenas por um momento. Só para aquecer meus lençóis. — Se ela estremecesse um pouco mais do que o estritamente necessário... Bem, ele nunca precisaria saber disso.
O momento de indecisão se estendeu, passando por seu rosto. — Conte-me mais —, ele finalmente disse, puxando o colete. — Diga-me em que você está envolvida.
Lena rolou para o lado, olhando para ele. A luz do lampião a gás iluminou seus ombros largos. Seu rosto era pouco mais que uma sombra e o brilho ardente daqueles olhos.
O calor a envolveu, aquecendo-a por dentro. Seus mamilos se endureceram, a seda de sua camisola esfolando-os levemente enquanto ele estendia a mão sobre a cabeça e tirava a camisa. Ela se sentia uma bagunça, com o rosto e o nariz molhados e manchados, mas mal podia desviar os olhos do que se submeter a um sangue azul.
A luz brilhou sobre a maciez úmida de sua pele, destacando o jogo dos músculos em seu peito e a ondulação de seu abdômen. Ele tirou as botas e olhou para cima, o cabelo úmido caindo quase até os ombros.
Muito longo e rebelde para estar na moda. Mas, doce Senhor, como ela queria passar os dedos por ele. Tocá-lo.
A antecipação nervosa percorreu sua pele. Ela nunca tinha visto um homem seminu. Um arrepio subiu por seu corpo e ela se contorceu contra o calor úmido e desconhecido entre as coxas. A cama afundou sob seu peso.
— Como você os conheceu?
— Conheci-os? — Ela olhou para cima, perguntando-se por um momento de quem ele estava falando. — Os humanistas?
Will estava deitado de costas, a cabeça apoiada nos braços enquanto se virava para olhar para ela. — Sim.
Lena deslizou para mais perto. O primeiro indício do calor de seu corpo nos lençóis enviou um arrepio delicioso por sua espinha. Ela não tinha percebido o quão fria ela estava. — Eu já conhecia um, embora só tivesse percebido no que ele estava envolvido depois. Até eu precisar.
— Quem?
— Você não precisa saber disso. — Ela se aconchegou mais perto, estendendo a mão hesitante para acariciar seu peito.
Will enrijeceu. Mas ele não se afastou. Aceitando isso como permissão, ela se aninhou ao lado dele, colocando a cabeça suavemente em seu ombro. O calor estava delicioso.
— Lena, não posso protegê-la, a menos que você me diga tudo.
O som de sua voz retumbou em seu peito. — Ele salvou minha vida, Will. Foi ele quem assustou Colchester. Então ele me tirou do beco e me deixou chorar por cima do ombro dele. — Ela balançou a cabeça. — Eu não vou traí-lo. Eu devo a ele mais do que você jamais saberá.
Will rolou, virando-se para encará-la. A cabeça dela deslizou para a curva de seu braço e a posição colocou distância entre eles. A respiração dele envolveu seu rosto. — Mandeville.
— Por que você...
— Eu já suspeitei.
— Por favor, — ela sussurrou. — Não faça nada. Eu não quero vê-lo ferido. Ele me deu um emprego, Will. Ele me manteve fora das ruas e cuidou de mim como se eu fosse sua.
Algo em seus olhos escureceu. — E onde estava sua maldita irmã em tudo isso?
— Eu nunca disse a ela. — Quando ele se mexeu em protesto, ela colocou um dedo em seus lábios. — Você não sabe como era. Eu não pude. Nós duas estávamos trabalhando até os ossos apenas para fornecer comida e abrigo, e Charlie estava doente com os primeiros sinais de desejo. Eu não queria ser um fardo. — Novas lágrimas brotaram de seus olhos. — E estávamos discutindo tanto que eu não senti como se pudesse contar a ela.
Lágrimas escaldaram suas bochechas. Ela achava que não tinha sobrado nada, mas essa era uma dor antiga, muito coberta e remendada. Honoria tinha feito as pazes com ela sobre as constantes discussões que elas tiveram, mas ela nunca soube o que causou o ressentimento ardente. Lena estava tão sozinha, tão zangada e assustada.
Will a puxou para perto, apertando-a contra seu corpo. Lena se agarrou a ele, enterrando o rosto em seu pescoço. — Estou uma bagunça —, ela tentou dizer, mas as lágrimas não paravam e as palavras eram distorcidas. — Eu sinto muito.
— Você não deveria estar arrependida. — Sua voz estava sombria. — Sua maldita irmã precisa de seu pescoço torcido. E quanto a Colchester...
Ela ergueu os olhos alarmada. — Você prometeu que não chegaria perto dele.
— Isso foi antes de eu saber o que ele fez. — Um sorrisinho desagradável se curvou em seus lábios. — Se serve de consolo, ele não é tão bonito quanto era.
— Oh, Will, o que você fez?
— Arrastei-o de cara através de algumas caixas de vidro.
O pensamento enviou uma emoção vingativa por ela. E então ela balançou sua cabeça. — Você não deveria. Ele nunca vai esquecer. Ele virá atrás de você.
Houve um leve toque em sua bochecha. — Espero que sim. — O som disso estava perto de seu ouvido.
A realização veio lentamente. Seus lábios roçando sua testa. Lena ficou imóvel. Seu coração disparou. — Will? — Ela ergueu a cabeça.
Sua expressão era sombria, considerando. Ele acariciou seu rosto com a mão, segurando seu queixo. Sua boca estava perigosamente perto da dela. — Deus me ajude.
Então ele se inclinou e a beijou.
Seus lábios estavam quentes e hesitantes. Lena respirou fundo, o coração batendo forte nos ouvidos. A pele de suas bochechas estava tensa e seca por causa das lágrimas, mas ela não se importou. Ela ficou quieta, sem ousar respirar com medo de que todo o sonho fosse embora.
Como se sentisse sua hesitação, ele recuou.
— Não, — ela sussurrou e agarrou um punhado de seu cabelo. — Não se atreva.
O medo de perdê-lo quebrou as barreiras da barragem. Seus lábios encontraram os dele nas sombras. Ela se apertou desenfreadamente contra seu corpo, afundando os dedos em seu cabelo.
Ele ofegou quando a língua dela saiu e acariciou a dele. Suas mãos seguraram seu traseiro, seu corpo vindo sobre o dela e a apertando contra ele. Cada centímetro duro dele estava pressionado intimamente contra ela. O calor se espalhou por ela, envolvendo-a. Ela girou os quadris instintivamente, puxando outro suspiro dele.
Doces céus, isto é felicidade. Ela queria mais. Ela queria que ele capturasse sua boca, a tomasse, ali mesmo. Mas sua hesitação permaneceu nas beliscadas suaves que ele deu em seus lábios.
Se ele se afastasse novamente... isso a mataria. Lena deslizou os braços ao redor de seus ombros úmidos, sua língua deslizando em sua boca. Suas costas arquearam, o suficiente para pressionar seus quadris contra os dela e ainda beijá-la, com a disparidade de altura. Lena engasgou, bebendo de sua boca com avidez, suas mãos famintas na pele lisa de suas costas.
Will agarrou seus pulsos e apertou-a, afastando sua boca da dela. — Não. — Ele engasgou.
Lena lutou contra seu aperto. — Estou cansada de ouvir isso. Droga, Will, você sabe que não me importo que você seja verwulfen. Eu provei isso!
Ele se afastou, erguendo-se sobre os joelhos. — Esse não é o único problema.
— Você não me quer? — Ela passou as mãos pelos seios, sentindo os bicos inchados de seus mamilos através da fina camisola. — Nós dois sabemos que é mentira.
O rosto de Will escureceu e ele rolou em direção à beira da cama. Percebendo sua intenção, ela envolveu as pernas ao redor de seus quadris e rolou com ele. De alguma forma, ela acabou montando em seus quadris. Quando Will olhou para ela com surpresa, ela aproveitou a vantagem e o empurrou de costas.
Nenhuma força na terra poderia fazê-lo ficar se ele não quisesse com sua força. Ela prendeu seus pulsos em uma manobra desesperada e então percebeu que ele não fez nenhuma tentativa de sair. Seu olhar estava fixo em seu peito. Ou o botão que faltava que, de alguma forma, se soltou na luta, ela presumiu.
Deslizando as mãos para baixo sobre os músculos esculpidos de seus braços, ela se sentou, descansando-os em seu peito. A fivela de seu cinto se cravou na carne tenra de sua coxa e ela se mexeu, cavalgando sobre a protuberância dura de suas calças. Ela sabia o suficiente para entender o que isso significava.
Ambos pararam.
— Eu poderia te machucar.
Inclinando-se, ela roçou a boca na dele. Apenas levemente. Provocadoramente. — Eu não acho que você machucaria. — Ela murmurou. Lambendo seu lábio e depois sugando-o em sua boca, algo acobreado queimando sua língua. Sangue. Seu sangue. A fenda em seu lábio.
Seus dedos se afundaram na carne macia de suas coxas e ele respirou fundo. A tensão de sua ereção roçou contra ela e ela se acalmou, uma onda de calor pulsando por ela. Que sensação deliciosa. Com um pequeno arrepio, ela girou os quadris novamente, esfregando-se contra ele.
Os olhos de Will ficaram vidrados. — Você não entende. — Ele respirou fundo, o silvo raspando entre os dentes. — Não consigo pensar. Quando você faz isso. Droga. — Sua mão a pressionou contra ele. — Pare com isso, Lena.
Lena jogou a cabeça para trás, cavalgando sobre ele novamente. — Por que eu iria querer fazer isso? — Ela se engasgou, a umidade sufocando suas partes intimas. Era tão bom. Tão certo. E isso o estava deixando louco.
Ele mostrou os dentes para ela. O branco de seus olhos estava aparecendo. — Vou feri-la. Eu não posso. — Suas mãos, porém, contaram outra história. Eles agarraram a barra de sua camisola, esticando os nós dos dedos. — Droga.
Lena se apertou contra ele novamente. Ela estava completamente molhada, a sensação arrancando outro suspiro de seus lábios.
O som de seda rasgando abriu seus olhos. O frio do quarto a penetrou e ela olhou para baixo enquanto ele rasgava sua camisola no meio.
— Will!
Ele se inclinou, mordendo os lábios dela, puxando seus braços. Desta vez não houve hesitação quando ele reivindicou sua boca asperamente, empurrando seus quadris contra ele. A camisola pendurada em seus ombros, prendendo seus braços ao lado do corpo. Ela queria tocá-lo, correr as mãos sobre a pele lisa de seus bíceps, mas não podia.
Seus seios estavam nus, o pelo em seu peito esfregando contra as pontas sensíveis. A sensação explodiu dentro dela e ela perdeu o tempo e qualquer senso de propriedade. Seus beijos cuidadosos e experientes deram lugar a uma fome sem sentido, conduzindo sua língua contra a dele, seu corpo pressionado com força contra o dele. Gemendo, ela tirou a camisola de seus braços e a colocou ao redor do pescoço dele.
Seu pênis estava enorme e firme contra ela. Will mordeu o lábio, depois o queixo, deslizando a boca por sua garganta. Lena jogou a cabeça para trás e gemeu quando ele mordeu seu caminho para baixo em sua carne sensível.
— Deus, você tem um gosto tão bom. — Ele rosnou.
Arqueando as costas, ela cravou as mãos em seu cabelo sedoso. Sua boca raspou sobre seu mamilo, os dentes roçando o botão sensível. Os olhos de Lena se arregalaram, seus quadris sacudindo involuntariamente. Era tão bom. O calor a atravessou, afundando suas garras em seu estômago e mais abaixo... Ela não conseguiu se conter. Seu corpo parecia propriedade de outra pessoa. Uma criatura necessitada. De fomes frenéticas. Empurrando o seio em sua boca, ela passou as unhas pelos ombros dele, pelos cabelos, cerrando os punhos úmidos enquanto sua boca causava estragos em seu corpo.
Olhos selvagens e âmbar encontraram os dela e Will arrastou sua cabeça para trás, sugando a pele macia de sua garganta, seus dentes afundando na curva suave de seu ombro. O pelo em seu peito raspou contra seus seios e Lena gritou, agarrando uma de suas mãos, deslizando-a mais para baixo, sobre sua coxa e sob a camisola. Ela precisava que ele a tocasse. Precisava... de algo.
Ela se contorceu em um tormento de vergonha e desejo quando a palma da mão se espalhou entre suas coxas.
— Não pare. — Ela sussurrou, passando as mãos pelo cabelo dele. Ela estava tão perto... Do quê, ela não sabia, mas se ele parasse agora, ela o mataria.
Um enorme estrondo de som rompeu sua concentração. Will endureceu, seus dedos parando.
Lena puxou o rosto dele de volta para o dela, balançando a cabeça. — Apenas um drone, — ela sussurrou, lambendo sua boca e sentindo o gosto de sangue novamente. — Apenas os servos.
— Lena. — Ele agarrou seus pulsos, retirando sua boca da dela. — Lena!
— Não vá.
— Eu sinto muito. — Ele olhou para ela, sua voz rouca de desejo, olhos selvagens com necessidade. — Isso foi um erro.
A expectativa nervosa desapareceu. Lena segurou seu pulso quando ele se afastou dela e se sentou. — Um o quê?
— Um erro. — Ele repetiu asperamente, forçando suas mãos agarradas longe.
Ele não poderia ter dado um golpe mais firme. Ela puxou as ruínas da camisola até os seios e o olhou fixamente, o desespero doendo em seu peito. Ele não poderia fazer isso com ela novamente.
Dando um passo para trás da cama, ele procurou por sua camisa. — Eu tenho que ir. — Esse brilho insano ainda estava em seus olhos.
— Will, — ela sussurrou, agarrando-se a sua camisola rasgada. — Você não tem que ir. Ninguém nos ouviria. Ninguém jamais saberia...
O olhar que ele deu a ela era cru, áspero. — Eu tenho que ir. Eu sinto muito.
E então ele se foi, o vento e a chuva caindo no quarto, relâmpagos brilhando contra a caixa.
Capitulo 15
— Alguma coisa em sua mente? — Blade perguntou.
Will acertou outro punho no saco de pancadas, ganhando um grunhido de Blade. Ele seguiu com uma combinação esquerda-direita-esquerda, os nós dos dedos queimando. — Nada. — Ele grunhiu, desencadeando um gancho que fez o saco - e Blade - recuar trinta centímetros.
— Aguarde. — Blade levantou a mão, respirando com dificuldade. — Precisa de um momento. Você está aqui e no nosso. Nem todos nós temos a resistência hoje em dia.
Will passou a mão pelo cabelo. Ele mal estava sem fôlego. E ainda no limite. A memória do corpinho ágil de Lena estava gravada em sua pele. Ele tinha passado metade da noite com uma carranca, incapaz de manter sua mente em seu trabalho. Rip estava rondando os telhados da colônia com ele, de olho nas coisas. Finalmente, o outro homem disse a ele para comprar uma prostituta e colocar sua mente de volta ao trabalho antes de partir com nojo.
Nenhuma mulher. Não para ele. Ele nunca deveria ter ido com ela na noite passada. Nunca cedido à tentação.
Ele precisava aliviar a pressão da única maneira que sabia. Um caminho seguro.
— Você quer uma luta no ringue?
— Absolutamente não. — Blade ergueu os olhos de onde estava curvado, as mãos nos joelhos. — Não sei o que te desencadeou esta manhã, mas não vou a lugar nenhum perto desses punhos hoje.
Will se virou, agarrando sua toalha. Ele afrouxou o colarinho e arrastou a toalha pela nuca. O desejo de pedir conselho a Blade era quase irresistível. Mas Blade tinha suas próprias preocupações. A última coisa que ele precisava era Will dizer a ele que ele quase perdeu a cabeça na noite passada e fodeu a irmã de sua esposa. Ou sobre a carta curiosa que ele encontrou sobre Lena e a ameaça de Colchester.
Nenhum deles poderia permitir que Blade fosse levado a um confronto com o Escalão.
Blade afastou seu cabelo castanho claro dos olhos. Parecia escurecer a cada dia que passava, cortesia do sangue vacinado de Honoria. Will fez uma careta. Ele foi aquele a quem Blade se voltou quando temeu que estava perto de se tornar um vampiro; aquele que deveria matá-lo antes que isso acontecesse. Ele poderia agradecer a Honoria por tirar o fardo daquela tarefa pesada, mas agora outro problema surgia.
Endireitando-se, Blade suspirou. — Não olhe para mim com esses olhos fodidos. Bem. Talvez seja uma luta rápida. Apenas lembre-se, eu não sou quem está lhe causando tristeza.
Will tirou as botas e pisou no carpete macio, jogando a camisa em uma cadeira próxima. Blade se despiu também, esfregando os nós dos dedos. Embora mais baixo que Will por quase trinta centímetros, ele era magro e musculoso - e perigosamente rápido. Não havia um truque que ele não conhecesse, e nenhum sinal do ferimento da lâmina que ele havia sofrido. O vírus do desejo o curou completamente.
— Não vi muito de você esta semana. — Blade disse, erguendo os punhos.
— Tenho estado ocupado.
Blade deu um passo à frente com um gancho de direita que Will saiu do caminho para evitar. — Quem é ela? Você nunca conheceu uma mulher, pelo que me lembro.
— Não tenho uma agora. — Ele se esquivou de uma combinação complicada e bateu com o punho para frente, sob a guarda de Blade.
Blade cambaleou para trás, rangendo os dentes. — Bem. Vamos fingir que você está amarrado com mais força e um alaúde sem motivo. A única coisa que leva a isso é o problema de uma mulher.
Will desviou de outro gancho de direita e deu um passo direto para o punho esquerdo de Blade. O soco jogou sua cabeça para trás, mas faltou a força que tinha antes. Anos atrás, Blade foi capaz de levá-lo para o tatame em quase todas as sessões. Agora ele tinha sorte se pudesse fazer isso uma vez por mês.
Will balançou a cabeça e se esquivou de um pé que Blade estalou em direção a seu rosto. Ele disparou para frente, seu ombro dirigindo-se para a barriga de Blade e seus braços envolvendo-o. Ambos caíram com força.
Blade prendeu as pernas em volta da cintura e o virou. Will levou outro soco no rosto e sentiu o gosto de sangue. Chutando Blade, ele rolou e enxugou a boca.
— Você está ficando mais lento.
Os olhos de Blade se estreitaram e ele deu um soco na lateral de Will. O ar expelido do peito de Will e ele grunhiu, evitando o próximo golpe por um centímetro.
— Devagar o suficiente? — Blade rosnou.
Will olhou para cima, seu sangue fervendo em volta das orelhas. — Você tem que parar de beber o sangue dela.
As palavras caíram na sala repentinamente silenciosa.
— O que diabos você quer dizer com isso? — Blade perguntou, abaixando as mãos.
Amaldiçoando o impulso imprudente que o fez deixar escapar, ele balançou a cabeça. — Nada.
— Sim, você disse. Você sabe exatamente o que quer dizer. — Blade olhou para as costas das mãos, esticando os dedos. — Minha pele está ficando mais escura. Meu cabelo também. E estou ficando mais fraco. Fraco e lento. — Latindo uma risada, ele passou as mãos pelos cabelos. — Três anos atrás eu tinha matado para ser mais humano. Eles dizem que você deve ter cuidado com o que deseja. — Respirando fundo, ele admitiu: — Eu só tenho recolhido o suficiente de seu sangue para ela não suspeitar. O resto eu bebo frio, fora da geladeira. Honoria acha que os níveis de meu sangue atingiram uma parada. — Ele olhou para baixo. — Se o Escalão descobrir, estamos mortos.
Will concordou. A reputação do Diabo de Whitechapel era a única coisa que os mantinha fora da colônia. Se eles pensassem que ele tinha uma fraqueza, eles o atacariam como uma matilha de cães.
— Há quanto tempo você sabe?
— Um ano. Depois que comecei a bater em você regularmente, comecei a me perguntar. — Will respondeu.
— Merda. — Blade se virou e saiu das esteiras. — Eu não estou pensando, talvez eu deva voltar a beber sangue normal um pouco, aumentar os níveis de vírus. Mas como eu digo isso? Ela está obcecada em me curar.
Will o seguiu, seus músculos ainda distendidos. Ele queria mais trabalho no ringue antes que Lena chegasse para a aula - se ela chegasse - mas estava claro que Blade tinha terminado com isso. — A última coisa que posso oferecer é um conselho sobre as mulheres.
Blade soltou uma risada. — Verdade de Deus. — Ele agarrou sua camisa e a puxou pela cabeça. Ao contrário de Will, sua pele estava seca. Um sangue azul não suava.
— Mas você não precisa se preocupar com o Escalão. Você não é o único sangue azul que temos agora. Temos Rip e Charlie. E eu. — Will pegou sua toalha.
— E o que o Escalão verá? Um sangue azul desonesto com um braço mecânico, um menino lutando para controlar seus impulsos de sangue e uma besta que deveria ser enjaulada.
Era verdade, mas ainda doía. Will pendurou a toalha nos ombros e pendurou nas duas pontas. — Pode ser verdade. Mas lembre-se de que você não está sozinho. Eles vêm atrás de você e precisam passar por mim primeiro.
— Você não estará aqui para sempre.
Will enrijeceu. — Não sabia que estava indo embora.
Blade deu a ele um olhar astuto. — Você precisa de mais do que isso, Will. Eu acho que você está apenas começando a descobrir isso sozinho.
Will abriu a boca para replicar, mas a cabeça de Blade se inclinou. Will ouviu o som um segundo depois. Saias. Balançando nas escadas.
— Honoria. — Blade olhou em volta com culpa. — Ela não pode saber.
— Ela não é nenhuma boba.
— Ainda não, — Blade rosnou e se moveu para abrir a porta. — Não até eu resolver alguma coisa.
Will se virou, arrastando a toalha sobre o peito. Atrás dele, a porta se abriu e o cheiro de Honoria entrou. Com ligeiro travo a madressilva. Seu intestino apertou. Lena. Diretamente nos calcanhares de Honoria. Ela veio para a aula.
Uma parte dele não esperava que ela aparecesse. Não depois da noite passada. Com a culpa e o desejo queimando um buraco irregular em suas entranhas, ele enxugou a carranca do rosto e pegou sua camisa.
— Meu Deus, — Honoria murmurou para Blade. — Isso é sangue nas suas juntas?
— Sim. Will se esqueceu de abaixar.
Seu olhar foi direto para os dois. Lena pairava na porta, parecendo em cada centímetro a senhora da sociedade em amarelo limão. Seu cabelo estava artisticamente enrolado sobre um ombro, escondendo a marca de mordida em seu pescoço, e um pequeno chapéu vistoso destacava os reflexos brilhantes em seu cabelo escuro.
O olhar de Lena caiu, disparando sobre a camisa em suas mãos e seu peito nu antes que ela desviasse o olhar. Um pequeno sorriso congelado estava gravado em sua boca carnuda. Sua defesa, ele percebeu. A maneira como ela se escondia do mundo, até de sua própria família. Dele.
A confissão dela na noite anterior fez seu peito doer. Ele queria ir atrás de Colchester com um machado, mas o som de sua dor rasgou algo dentro dele. Ele a esmagou perto, tentando segurar a dor, mas era até os ossos.
Sozinha. Ela esteve sozinha durante tudo isso. Incapaz de dizer a sua família – para não sobrecarregar sua irmã. Mantendo aquele sorriso lindo fixo no lugar como se nada tivesse acontecido quando bem no fundo a ferida infeccionou e cresceu.
Ele rasgou a camisa pela cabeça quando Honoria se ergueu na ponta dos pés e pressionou seus lábios afetuosamente contra os de Blade. Era muito tentador agora agarrá-la pelos ombros e perguntar onde ela estava quando Lena estava deitada sangrando em um beco. Ele sabia que não era culpa dela; as circunstâncias eram o que eram, mas a fúria nele não reconhecia isso. O instinto lutava contra a lógica e ele tinha sido um lobo por muito tempo no coração para não seguir seu instinto. Ele tinha que sair daqui.
— Onde você está indo, Will? — Honoria perguntou, percebendo o movimento dele com o canto do olho. O sorriso que ela exibia era quase o mesmo de Lena, mas muito mais genuíno.
— Tenho uma lição com Lena.
A cabeça de Lena se ergueu e o carmesim se espalhou por suas bochechas. Ela o olhou nos olhos, o queixo inclinado com desdém glacial. Legal. Intocável. Despreocupada.
Com o fio da navalha da dor azedando seu cheiro.
— Você não quer saber sobre aquela carta que você me trouxe? — Perguntou Honoria. — Fiz algum progresso com o código.
O breve lampejo de cor sumiu do rosto de Lena e seus olhos se arregalaram de descrença.
— Mais tarde, — ele disse. — Depois da minha aula.
Honoria murmurou algo para Blade enquanto ele caminhava para a porta. Lena saltou para fora de seu caminho como se tivesse medo de que ele realmente a tocasse. Demasiado tarde para isso, querida. Ele tinha suas mãos, seus lábios, seus dentes por toda parte.
E isso não poderia acontecer novamente.
A presença dela o levou direto ao limite e ameaçava empurrá-lo. Ela era muito perigosa, muito estimulante. Mesmo na noite anterior, ele voltou da fúria da paixão para ver as marcas de mordidas e hematomas por toda a pele pálida. Verwulfen havia caminhado através do fogo e perdido braços e pernas em tal estado, mesmo sem perceber. A fúria, a selvageria, o levou a ações que ele não conseguia se lembrar, muito menos controlar.
Não haveria nada pior do que ver o sangue dela em sua pele. Ou medo em seus olhos. Por mais que a desejasse, tanto quanto sempre a desejou, ele nunca poderia confiar em si mesmo.
E então havia a própria ameaça do lupinismo.
Respirando fundo, ele ofereceu-lhe o braço. — Vindo?
Isso era tudo que ele teria dela. Toques roubados, olhares roubados. E a dor desesperada e ansiosa em seu peito e pênis.
— Claro. — Descansando as pontas dos dedos enluvados levemente em seu braço, ela o seguiu para fora da porta.
Eles mal deram três passos antes de Lena arrancar a mão da dele e se virar para encará-lo. — Você contou para ela?
— Não aqui. — Não com a audição de Blade.
A raiva endureceu seus ombros. Pegando um punhado de suas saias, ela passou na frente dele. — Para onde?
Considerando sua pergunta, ele colocou a mão na parte inferior de suas costas e a direcionou para a cozinha. — O Jardim. Espere por mim aí. Eu tenho algo para você.
Olhos escuros brilharam por cima do ombro em suspeita. — O que é isso? Isso está perdendo um tempo valioso, Will. Você foi bem na outra noite, mas há algumas coisas que preciso repassar com você.
— Isso é importante.
Depois de um olhar penetrante, ela ergueu as mãos e suspirou. — Por que não? Vá buscá-lo então. Quanto mais cedo terminarmos, mais cedo poderei voltar para casa. Tenho que me preparar para o jantar que Leo vai receber.
Ele a machucou na noite passada. E fez isso deliberadamente. Por um momento, ele quis dar um passo à frente, agarrar o pulso dela e dizer que estava errado, que sentia muito. Para erguer o rosto dela e beijá-la até que ela estivesse ofegante novamente, seu corpo derretendo sob seu toque.
Mas talvez fosse melhor se ela estivesse com raiva dele.
Para os dois.
Esperando até que ela se virasse e partisse para o quintal, ele trovejou escada acima e pegou a pequena bolsa que havia deixado na sala de estar de Blade. Quando ele chegou ao quintal, Lena estava andando de um lado para o outro, os braços cruzados sob os seios e uma pequena expressão triste e pensativa no rosto.
Quando ela o viu, a expressão se derreteu como se nunca tivesse existido. Com um arquear desdenhoso de uma sobrancelha, ela olhou para a bolsa. — Eu não posso aceitar nenhum item pessoal. Não são o tipo de coisa que um homem dá a uma mulher que não está cortejando. — Seu tom ficou gelado. — Não queremos mais erros sem intenção, não é?
Talvez dar a ela uma pistola nesse estado de espírito fosse equivalente a suicídio.
Ele mordeu a língua e tirou um pequeno saco de Hessian da bolsa de couro. — Comprei isso para você. Ainda não terminei de mexer nela, mas quanto mais cedo você aprender a usá-la, melhor.
— O que é isso?
Ele abriu o saco. A pistola brilhava contra o tecido áspero, a incrustação de madrepérola quebrando a fraca luz do sol em meia dúzia de arco-íris.
— Uma pistola? — Ela disse estupidamente. — Você está me dando uma pistola?
Ele pegou a mão dela e a segurou, fechando os dedos ao redor dela. — Pequena o suficiente para caber em sua bolsa. Você já disparou uma?
— Não seja absurdo. — Seus olhos escuros se arregalaram. — Quando diabos eu usaria uma pistola?
— Honoria sabia como usar uma.
— Meu pai a ensinou. Ele não tinha tempo para mim.
Will acariciou os nós dos dedos enluvados com o polegar. — Por quê?
— Nunca fui inteligente o suficiente para entender seu trabalho ou metade do que ele dizia. Ele foi um inventor famoso. Tínhamos pouco em comum.
— Você é inteligente. Você sabe mexer com relógios.
— Um hobby inútil. — Ela baixou a pistola. — Ele não teria ficado impressionado. Ele teria sido capaz de fazer isso sozinho na metade do tempo que eu poderia. Você não entende.
— Eu não? — A quietude de suas palavras a fez erguer os olhos. — Eu não poderia fazer isso. Eu costumava ver você brincando no tapete com todas aquelas peças espalhadas, colocando-as de volta como se fossem um quebra-cabeça. Me deixou perplexo.
— Sim, mas você tem outros talentos —, ela respondeu. De alguma forma, ele não achava que ela percebeu que ele ainda estava acariciando sua mão. — Você é forte e não tem medo de nada. Você poderia matar um homem com as próprias mãos. — Algo sombrio entrou em seus olhos. Sombras que o faziam crescer. — Você poderia matar um sangue azul. Eu invejo você, sabe?
— Com isso você pode ser forte. Você pode ser destemida.
Seu rancor se desvaneceu. Ela olhou para a pistola, vendo-a com novos olhos. — Você acha que eu poderia matar um sangue azul com isso?
Ele tentou ignorar a forma como as palavras dela mexeram com seu temperamento. — Quando eu terminar com isso. Vou modificá-la como seu pai fez com a pistola de Honoria. Ela me ensinou como fazer balas de fogo. Já as vi arrancar uma cabeça de sangue azul antes. Explode como melão podre.
Lena estremeceu. — Isso parece terrível.
— Você só precisa usar uma vez.
Uma luz estranha entrou em seus olhos. Ela estava imaginando. Imaginando a cabeça de Colchester explodindo enquanto a fumaça da pistola se dissipava. — Me ensine. — Ela exigiu.
Will olhou para o quintal. Era de tijolos, as paredes que o cercavam quase de dois metros e meio de altura. Gato, o enorme gato sarnento que considerava Blade seu servo, caminhou ao longo da parede, mantendo um olho verde feio sobre eles.
Hera agarrava-se a duas das paredes e a um portão de ferro enrolado cortado no tijolo. Pequenos vasos de ervas e flores davam uma sensação de calor, sinais de Esme tentando transformar o labirinto em alguma aparência de casa.
Ele rolou um barril de vinho contra a parede oposta, em seguida, pegou uma das velhas garrafas de leite que Esme havia decidido coletar. — Aqui, — ele disse, colocando-o em cima do barril. — Vamos praticar com isso.
— Mas as pessoas não vão se preocupar?
— Na colônia? — Ele ergueu uma sobrancelha. — As pessoas ouvem tiros no cortiço e vão se virar e andar para o outro lado. Rápido. Apenas no caso de serem apanhados em qualquer confusão que acham que está acontecendo.
Lena apontou a pistola loucamente na direção do cano. — Como vamos começar?
— Com balas. — Disse ele, incapaz de tirar o olhar dela. Ele colocou aquele sorriso em seu rosto. Perseguiu as sombras de seus olhos. Enfiando a mão no bolso, ele tirou um punhado. — E aprender cada parte dos mecanismos da pistola.
A luz selvagem em seus olhos era inebriante. Ele se atrapalhou com as balas e colocou uma na palma da mão estendida. Ela estava alheia à falta de ar dele, olhando para a pistola como se se perguntasse o que fazer com ela. Ele nunca a tinha visto assim fora do quarto na noite passada. Tão viva. Tão apaixonada. Quase exuberante de alegria.
Destemida.
Ele queria manter aquele olhar em seus olhos para sempre. Colchester tinha ameaçado apagá-lo, mas ele não deixaria o homem. Ele o mataria primeiro.
Lena sentiu seu olhar e ergueu os olhos. O brilho diminuiu um pouco. — O que é?
Ainda não perdoado. Talvez ele nunca fosse. Will respirou fundo e gesticulou para a pistola. — Você está entendendo errado. Aqui. Deixe-me te mostrar.
Ele a protegeria. Ou ensinaria a se proteger.
De Colchester.
Do mundo.
De si mesmo.
Honoria afastou a saia para o lado e aninhou-se no colo do marido. Blade se recostou na poltrona, observando-a com um olhar astuto.
— O que você planejou? — Ele murmurou, um sorriso curvando seus lábios.
— Nada. — Respondeu ela, brincando com o colarinho. Correndo um dedo por sua camisa, ela tentou parecer inocente quando a textura mudou de seda para o veludo mais áspero de seu colete. Ele nunca havia superado seu amor por materiais vistosos, apesar de sua influência orientadora. E ela descobriu que gostava bastante. Onde antes o colete vermelho bordado a teria feito levantar uma sobrancelha de pura perplexidade por alguém poder realmente usar tal coisa, agora era tão familiar para ela quanto a visão de seu rosto.
E a textura disso, a sensação do veludo e os fios ásperos do bordado contra sua pele... Isso era algo que ela tinha gostado muito.
— Mesmo? — Ele falou lentamente, agarrando seu pulso. — Eu sei quando esse pequena mente tortuosa está funcionando. Eu posso ouvir as engrenagens com prática...
Uma explosão de som quebrou o silêncio.
Honoria caiu na poltrona quando Blade saltou para a janela, seu pé batendo no serviço de chá e fazendo uma xícara cair. Ela se espatifou, a porcelana se espatifando no chão.
— O que é isso? — Ela gritou, seus sapatos esmagando os pedaços enquanto ela se sentava. — Estamos sob ataque?
Blade puxou para o lado a cortina da janela do laboratório dela, seu rosto sombrio e sua mão indo para uma das navalhas que carregava em seu cinto. Então ele se inclinou mais perto do vidro, uma carranca surgindo. — Maldito inferno.
Outro tiro soou. Honoria se levantou bruscamente e correu para o lado dele. Sua postura relaxou, acalmando a batida irregular de seu coração. Se Blade não estava preocupado, então ela também não. Ela confiava em seus instintos implicitamente.
— O que? — Ela ficou na ponta dos pés, tentando ver. O parapeito da janela a impedia, pressionando sua cintura. Muitos bolinhos ultimamente, ela suspeitou. Depois de meses que ela passou morrendo de fome para alimentar Lena e Charlie, Blade tinha se encarregado de engordá-la, com bons resultados. Ele odiava a ideia de que ela uma vez esteve a um passo de vender seu sangue para os Drenadores na rua por puro desespero.
Com um sorriso divertido, ele dirigiu seu olhar para o quintal abaixo. — Sua irmã está tentando matar uma garrafa de leite. Suspeito que sobreviverá de algum modo.
Honoria olhou mais de perto, pressionando o rosto contra a janela. Ela mal conseguia ver pelos ombros largos de Will. Seu corpo estava curvado em torno do de Lena, as mãos nos quadris dela enquanto ele mostrava a ela a postura correta. Pegando a irmã dela pelo pulso, ele ergueu a pistola, olhando para o comprimento do braço de Lena. Lena não estava olhando para o alvo, seus sentimentos estampados em seu rosto enquanto ela o olhava.
— Oh.
Blade a ergueu em seus braços com uma risada. — Agora, onde estávamos? — Ele a puxou de volta para a poltrona e a acomodou em seu colo.
Honoria montou nele de uma maneira totalmente pouco feminina, o olhar fixo na janela. — Mas...
— Não. — Ele pegou seu queixo e virou seu rosto para ele. Pela primeira vez, ele parecia totalmente sério. — Foi sua decisão deixá-los fazer isso pelo menos uma vez. Ela está mais velha agora. Idade suficiente para lidar com suas próprias consequências. E você disse que confiava nele.
— Você? — Ela perguntou sem rodeios. Ele conhecia Will muito melhor do que ela.
Blade acariciou sua garganta com as costas dos dedos. — E ele nunca a machucará.
— Mas se ele fizer? — Ela nunca se perdoaria.
— Já passamos por isso. — Seus olhos verdes encontraram os dela. — Tentamos separá-los uma vez e foi desastroso. — Ele fez uma pausa para respirar fundo. — Eu sei que ela é sua irmã, amor. Mas não posso perdê-lo. De novo não. Ele significa muito para mim. Passou mais tempo sob este teto na semana passada do que em um mês.
— Para as aulas dela. — Ela respondeu calmamente.
— Para ela. — Ele beijou sua bochecha. — Não se preocupe tanto, amor. Com o Verwulfen de Will. Ele morreria antes mesmo de machucar alguém que ele se importa.
— Então por que você estava tão cauteloso com eles no início? Por que você o avisou para ficar longe dela?
Outro beijo leve contra seus lábios. Ela o conhecia bem o suficiente para saber quando ele estava tentando distraí-la. — Blade. — Ela avisou, empurrando em seu peito.
— Não é nada. Apenas uma história velha que ouvi uma vez.
Honoria lançou-lhe seu olhar mais terrível e ele ergueu as mãos em derrota.
— É uma lei escandinava. Eles dizem que nenhum verwulfen pode se acasalar com um humano. Sob pena de morte.
— Isso é tudo que você sabe?
Ele assentiu.
— Que costume estranho —, disse ela. — Eu me pergunto por que eles fizeram uma lei como essa?
— Você pode perguntar a eles se quiser.
Ela considerou esse pensamento. — Eu acredito que vou.
Capitulo 16
O calor de seu corpo se imprimiu em sua pele. Lena engoliu em seco, erguendo a pistola e olhando cegamente para o alvo. Como diabos ele achava que ela poderia se concentrar com ele pressionado contra ela assim? Sua agitação era uma defesa fraca; até mesmo o espartilho fez pouco para conter a sensação de rigidez de seu corpo. Especialmente quando a memória daquele corpo pressionado contra o dela na noite passada continuava repetindo em sua mente.
Sua boca em seus seios, os dentes puxando seus mamilos. Mãos calejadas deslizando entre suas pernas e pressionando a palma da mão na umidade ali.
— ... através de uma visão como esta... Aqui... Coloque o dedo no gatilho... — Sua respiração aqueceu seu ouvido.
Lena puxou o gatilho com um gemido suave. A poeira saltou da parede de tijolos.
— Não se preocupe, — Will murmurou. — Você vai conseguir.
Ela queria jogar a maldita coisa na garrafa de leite. Talvez ela tivesse mais chance de acertar.
Com um grunhido de desgosto - e frustração - ela se virou e empurrou para ele. — Eu tive o suficiente. Já estamos nisso há quase uma hora e meu objetivo está piorando.
— Você vai conseguir...
A empolgação com a pistola havia muito se esvaído com sua proximidade. Só serviu para lembrá-la da noite anterior e do erro, como ele o chamou. Seu corpo estava vermelho de calor e sua cabeça começou a latejar. — Acho que estou ficando com um resfriado. E você ainda não explicou por que contou a Honoria sobre minha carta. Não pense que esqueci disso.
O olhar de Will se fechou. — Eu mesmo não tenho cabeça para códigos.
— Então você envolveu minha irmã? — Ela exigiu. — Minha irmã insaciávelmente curiosa que não consegue evitar meter o nariz nos negócios de outras pessoas?
— Eu não tive escolha. — Uma pitada de raiva brilhou em seus olhos. — Se você tivesse me contado no que está envolvida desde o início, eu não teria que recorrer a medidas drásticas.
— Então, isso é minha culpa?
Um som estrangulado saiu de sua garganta. — Eu não estou dizendo que é sua culpa. Eu só queria que você tivesse me contado. Droga, Lena. Estou tentando te ajudar. Você sabe como era ver aquela mensagem e saber que você se meteu em problemas? Que você não me diria como lidar com isso? Como te ajudar?
— Eu nunca pedi sua ajuda. Eu posso lidar com isso. — De alguma forma. Ela cruzou os braços sobre o peito, sem conseguir encontrar seus olhos. Ela disse a ele o que podia.
— Eu não me importo se você quer minha ajuda fodida ou não, você está conseguindo. — Ele a agarrou pelos braços, severamente determinado. — Não importa onde você vá, eu estarei assistindo. Eu não vou deixar ninguém perto de você. Não Colchester. Não os humanistas. Não os Falcões da Noite.
— Então por que você está tão determinado a me ensinar como usar uma pistola?
Seus olhos piscaram para o bronze âmbar do lobo e voltaram. — A única razão pela qual eu não estarei lá é se eu estiver morto. — Ele disse calmamente. — Você é a última linha de defesa. Não vou deixar você sem uma arma ou os meios para usá-la.
As palavras eram assustadoras. — Não. — O pensamento dele deitado a seus pés, o calor drenado de seu corpo, foi quase o suficiente para desfazê-la. Isso era exatamente o que ela não queria. A razão pela qual ela tentou impedi-lo de descobrir seus segredos. Ela agarrou as mangas da camisa dele em perigo. Maldita determinação de manter uma atitude distante hoje. Era de sua morte que ele estava falando. — Eu gostaria de nunca ter contado a você.
Ela deveria ter continuado mentindo para ele, mantendo-o no escuro. Mas ela estava vulnerável na noite passada, revelando os segredos do ataque de Colchester. A sensação de seus braços ao redor dela a tinha desfeito. Ela nunca foi capaz de compartilhar o ataque com ninguém, ou lamentar a dor que ele causou. Ela a trancou bem no fundo e fingiu que nada estava errado.
— Tarde demais agora.
Tarde demais... Talvez. Lena balançou a cabeça. Ela tinha que encontrar uma maneira de conter esse desastre. — Se você vai se envolver...
Seus olhos brilharam. — Não há 'se' sobre isso.
— Se — ela repetiu. — eu deixar você se envolver... então você o fará ao meu comando. Falo sério, Will. Trabalhamos juntos - sob minha direção - ou cortarei todos os laços e acabarei com essa loucura. Isso significa que você não dirá uma palavra sobre isso para Honoria ou Blade. Não quero mais ninguém envolvido. Já é ruim o suficiente que você seja. Não quero sangue de ninguém em minhas mãos.
Ele esfregou a barba áspera em seu queixo. Não importa quantas vezes ele se barbeasse, ele sempre parecia ter uma sombra de crescimento ao longo de sua mandíbula. — O que você quer dizer com trabalhar sob seu comando?
Lena soltou um suspiro irregular. Ela não tinha certeza de que ele concordaria. — Eu tomo as decisões. Você não vai embora por conta própria — Uma maneira segura de se matar. — A menos que eu diga. Eu preciso descobrir o que os humanistas pretendem. Não entendi totalmente as consequências do que escolhi fazer. Droga, Will, eu estava com tanta raiva. Eu não fiz perguntas suficientes. Acho que não queria saber. E agora estou envolvida e não sei exatamente no que estou envolvida. — Ela respirou fundo. — Eu preciso resolver isso antes de fazer qualquer outra coisa. Eu sei o que eles defendem - a abolição dos impostos de sangue, direitos iguais para o homem e uma voz para votar. Só não sei mais como eles pretendem fazer isso.
Um rápido arco de suas sobrancelhas. — Atear fogo às fábricas de drenagem não vai conseguir isso.
Nem destruiria este tratado. — Sim, bem, o Sr. Mandeville parecia certo de que era algum tipo de grupo guerrilheiro dentro do todo. — Uma pequena pausa. Quem a ameaçou? Os legítimos humanistas ou um dos rebeldes? — Você concorda com meus termos?
— Sim. Eu farei o seu lance, — Ele finalmente disse. — Com uma condição.
— Que tipo de condição?
— Eu vou te dar o controle disso. Mas se a situação ficar desagradável ou parecer perigosa, então você feche sua boquinha bonita e me escute. — Lena abriu a boca para protestar, mas ele pressionou o dedo indicador contra os lábios dela, interrompendo o fluxo de palavras. — Não —, disse ele com firmeza. — Não é para negociação. Qualquer sinal de perigo e eu estou no comando, entendeu?
Sua respiração se partiu em torno de seu dedo. O olhar de Will caiu como se ele sentisse em outros lugares e de repente ela também. O calor a fez se contorcer, suas entranhas se amarrando em nós. A ideia de se amarrar a ele, deixá-lo seguir seus passos, era de repente uma agonia insuportável.
E uma necessária.
Dando um passo para trás, Lena colocou-se fora do alcance de suas mãos - aquelas mãos traiçoeiras e tentadoras - e alisou a saia. A ação simples lavou a emoção de seus pensamentos e, muito provavelmente, de seu rosto. Ela não tinha escolha neste assunto. Se ela não concordasse, ele apenas encontraria outra maneira de mancá-la. Pelo menos assim ela estaria no controle. A maior parte do tempo. — Você é teimoso como um touro, — ela murmurou. — Bem. Concordo.
— Se você quebrar sua palavra, vai se arrepender. — Ele disse suavemente.
Lena estourou. — Eu já me arrependo.
Três exaustivas horas depois, Will a colocou no vagão a vapor em que ela havia chegado. Lena se acomodou nos assentos de veludo macio, mal percebendo o barulho constante do motor.
Pairando fora da carruagem, ele lançou um olhar rápido ao redor para as ruas escurecidas. — Aqui —, disse ele, puxando um pequeno pacote embrulhado em papel de seu colete. — Eu não comprei só a pistola para você.
Lena olhou para a caixa em suas mãos enluvadas. Will enxugou as mãos nas calças e as enfiou fundo nos bolsos. A ação apenas esticou o material sobre suas coxas, algo que ela tentou não notar.
— O que é? — Ela perguntou, sacudindo a caixa.
— Abra.
Puxando o cordão marrom que amarrava o pacote, ela não podia ignorar sua tensão repentina. Ele se encostou na carruagem, uma das mãos na porta aberta enquanto a observava brincar com as cordas. Ela tinha alguma intenção de prolongar o momento, de ver sua inquietação crescer, mas não adiantava. Esse era o tipo de jogo que ela brincava com ele quando era uma jovem tola.
Rasgando o papel, ela desenterrou uma pequena caixa de veludo vermelho. Uma coroa de ouro foi gravada no material. Ela sabia exatamente de onde tinha vindo. A maioria das moças sim. — Will? — Ela disse sem fôlego. — Eu disse que não poderia aceitar itens pessoais.
Suas mãos quentes deslizaram sobre as dela, forçando a caixa a se abrir. — Considere isso prático, então.
Um último raio de sol moribundo brilhou através de um rubi vermelho-sangue. Ela quase fechou a caixa. Quase. — Nunca perguntei o que você fazia em uma joalheria. — Ela balançou a cabeça. — Eu não posso. É lindo demais. Muito caro.
Will o pegou, a aliança de ouro simples caindo em sua mão. Espinhos gravados em filigrana enrolados no rubi, segurando-o no lugar. — Vê aqui? — Ele sacudiu um dos espinhos e saltou para fora, surpreendentemente afiado.
Ela estendeu a mão para testá-lo com o dedo e ele puxou a mão dela. — É um anel de veneno, Lena. Levei séculos para encontrar um joalheiro que tivesse um. — Inclinando-se, ele olhou para o motorista e sussurrou em seu ouvido. — Cheio de uma mistura de cicuta que vai incapacitar um sangue azul por alguns minutos. Quanto tempo depende de quantos anos ele tem, de quanto o vírus do desejo o dominou.
Ele estava dando a ela muito mais do que um anel. Outra arma. Outro meio de se defender. Lena engoliu em seco, olhando para o rosto dele enquanto ele demonstrava como o anel funcionaria.
— Isso deve ter custado uma fortuna.
Will encolheu os ombros. — Eu não gasto muito. Nunca.
— Will, eu não posso.
Ele colocou a agulha de volta na fenda e fechou os dedos dela sobre ele. Aquele olhar teimoso que ela estava começando a conhecer tão bem apareceu em seu rosto. — Não está aberto para discussão.
— É assim que você acha que vai me impedir de discutir a partir de agora?
Um raro sorriso suavizou seus lábios.
Lena suspirou. — Bem. Eu vou levar. — Tirando a luva, ela deslizou o lindo anel em seu dedo. — Obrigada.
— Me salva de me preocupar.
Lena olhou para as facetas do rubi. Ele não se preocuparia se não se importasse, não é? Seu sangue esquentou com o pensamento. Não. Ela cerrou o punho, escondendo o anel de vista. Não pense que isso é mais do que é.
Passando a mão pelo cabelo, ele olhou ao redor. — Sobre a noite passada...
O calor foi drenado de seu rosto. — Não —, ela retrucou. — Você deixou bem claro do que se tratava a noite passada.
— Lena, eu preciso explicar...
— Eu não quero ouvir isso. — Ela se virou, os ombros rígidos e o rosto congelado enquanto alisava as saias. — Eu entendo que fiz papel de boba. Isso não vai acontecer de novo.
— Lena, você...
— Um cavalheiro manteria a boca fechada agora. — Ela o lembrou, caindo de volta em seu tom de sermão. Qualquer coisa para se controlar.
Will olhou para ela, seu olhar um toque íntimo que ela se recusou a encontrar. — Muito bem. — Ele disse suavemente.
— Eu deveria estar indo. Está ficando tarde. E tem aquele jantar que devo comparecer.
— Você está saindo?
— Resumidamente. Depois, voltarei a trabalhar na comissão do Sr. Mandeville. Eu preciso terminar o mecanismo interno do transformacional. Estou tão perto. Não há necessidade de você me verificar esta noite. Eu prometo que não vou ter nenhum problema.
Ele considerou suas palavras por um longo momento. Em seguida, enfiou a mão no bolso novamente. — Eu quero que você mantenha isso com você o tempo todo —, disse ele, puxando um apito. Estava pendurado em uma fina corrente de ouro e ele deslizou sobre a cabeça dela, em seguida, enfiou-o no corpete de seu vestido como se mal tivesse notado a respiração trêmula de sua respiração. — Faz um som que você não vai ouvir, mas... Vai alertar qualquer sangue azul - ou a mim - nas proximidades, se você precisar de ajuda. — Recuando, ele fechou a porta da carruagem e acenou para o motorista. — Eu encontrarei você amanhã antes do... do...
— O lançamento do balão, — ela o lembrou. — No Parque Hyde. Com os escandinavos.
— Certo. — Will fez uma careta. — Não temos que subir em um deles?
— Também tem medo de altura?
— Eu vou ignorar isso. — Ele largou a carruagem e deu um passo para trás, lançando-lhe um olhar direto - e um lembrete. — Sem problemas esta noite, Lena.
— Eu teria problemas?
— Você é um ímã para isso.
Capitulo 17
Um rubi. Ele comprou um rubi para ela.
Lena estendeu a mão nua. Ela não conseguia parar de olhar para ele, observando o jogo de luz através da gema polida. Era do tamanho de sua unha mais pequena. Ela tinha visto algo maior. Uma dúzia de vezes no Escalão, onde gostavam de cobrir seus servos com joias para indicar o status de seus mestres. Mas o fato de Will ter comprado algo assim o tornava mais precioso do que o maior diamante do mundo.
Fechando os olhos, ela inclinou a cabeça para trás contra o assento. O que ela ia fazer? Como ela poderia manter seu coração trancado com segurança quando ele fazia coisas assim por ela? Pois estava ficando perigosamente claro que seus sentimentos por ele estavam crescendo.
Enxugando a transpiração em sua testa, ela suspirou. Pelo latejar em sua cabeça, ela estava prestes a tomar uma boa xícara de chá de casca de salgueiro quando chegasse em casa.
Uma sacudida repentina a jogou no assento.
Lena agarrou a alça da carruagem e olhou pela janela. Eles pararam. O motorista era um dos homens de Leo, bem hábil no uso das carruagens movidas a vapor sem cavalos. Embora eles mal tivessem deixado Whitechapel para trás, as estradas não eram ruins e ninguém ousaria atacá-la tão perto da relva de Blade. Cada homem e mulher na colônia sabiam a quem pertencia o falcão dourado da carruagem. Blade declarou a passagem segura de Leo para seu reino. O custo de cruzar sua palavra era a morte.
— Cocheiro? — Ela chamou quando a carruagem parou. — Henry? — Não havia sinal do lacaio cavalgando nas costas quando ela olhou pela janela. — O que está acontecendo?
O silêncio a cumprimentou. Considerando que era começo da noite, as ruas estavam terrivelmente desertas.
Das sombras de um beco próximo, um olho azul brilhante de repente se iluminou. Lena se encolheu na carruagem enquanto uma sombra se destacava do resto. Elevou-se a uma altura de quase dois metros e, de repente, desdobrou-se ainda mais até chegar a quase dois metros e meio. O misterioso azul iluminado por gás de seus olhos lembrava um casaco de metal.
Mas nenhum casaco de metal jamais se ergueu tão alto.
Trancando a porta da carruagem, ela olhou ao redor em busca de algo - qualquer coisa - com que se defender. Apenas algumas almofadas abandonadas saudaram seu olhar. Will pegou a pistola de volta, determinado a melhorá-la para ela.
A criatura de metal saiu do beco, movendo-se em passos largos e bruscos. Ela era um casaco de metal, as placas sobrepostas do seu peito e do abdómen brilhante com aço a frio. A cabeça era quadrada, coroada com um elmo de aço demoníaco. Uma fenda fina de vidro em sua garganta era o único sinal de fraqueza, e atrás do vidro havia um par de olhos. Olhos humanos.
Erguendo seu punho enorme, ele desferiu um golpe em sua direção. Lena gritou e mergulhou no assento quando o vidro da janela espalhou-se por toda a carruagem. Ela abriu a outra porta e caiu nas pedras, desabando em uma poça de saias amarelas.
Algo puxou seu cabelo. Alcançando-se, ela encontrou a fina corrente de ouro e seguiu até o apito que Will tinha pendurado em seu pescoço. Mangueiras hidráulicas sibilaram atrás dela e a carruagem estremeceu. Lena enfiou o apito na boca e soprou.
Não houve nenhum som. Nada além de aço guinchando enquanto a carruagem lentamente tombava na beirada, a criatura monstruosa tentando virá-la.
Agarrando suas saias, ela saiu do caminho. A carruagem se espatifou nas pedras do calçamento, exatamente onde ela acabara de se ajoelhar. Ofegante, ela se lançou para frente às cegas e se chocou contra algo sólido e quente.
Mãos a pegaram pelos braços. Lena recuou instintivamente e se livrou das garras de um homem. Um rosto malicioso apareceu. Ele elevava-se sobre ela, vestindo pouco mais do que um gibão de trabalhador áspero e calças de couro apertadas. Um aparente arsenal de metal pendurado em seu cinto. Ela não parou para olhar. Em vez disso, ela se virou e disparou de volta por onde veio.
Os homens estavam por toda parte. Abaixando-se sob as mãos de arrebatamento, ela correu por uma luva de bandidos irregulares e incompatíveis.
O som zumbia atrás dela. — Eu tenho ela.
Lena gritou quando algo se enrolou em seus tornozelos. Jogando-se de cara no chão, ela bateu com força nas pedras do calçamento. A dor rasgou seu lábio e seus pulmões encolheram a um quarto do tamanho. Por um momento, ela não conseguiu respirar. Havia um grande vácuo em seu peito e ela sugou e sugou por ar, mas nenhum veio. Então, de repente, seus pulmões se expandiram e ela inspirou profundamente.
Doeu todo o caminho através dela.
O passo lento de um par de botas soou nas pedras atrás dela enquanto alguém se dirigia para ela.
— Devíamos nos apressar, Mendici. — Um menino, ao que parece. — Não é possível manter as ruas limpas para sempre.
— Ninguém vai chegar, Jeremy. — O gigante riu. — Não nestas partes.
O olhar de Lena pousou no apito, caído no chão à sua frente. Ela tentou pegá-lo, mas uma bota veio do nada e o prendeu sob seu calcanhar.
O gigante sorriu para ela. — Bem, você não é uma gatinha bonita?
Ela tentou se colocar de joelhos. Suas saias estavam enroladas firmemente em seus tornozelos por uma corda pesada e ela não chegou a lugar nenhum com seus esforços. Atrás dela, uma pesada bota de metal avançou, o sistema hidráulico sibilando.
— Rollins, — O gigante gesticulou. — Pegue-a e vamos nos mover.
— O que ela quis dizer com aquele apito? — Um jovem rapaz com bochechas sujas apareceu, seus olhos disparando nervosamente. — Não havia nenhum barulho com isso. — Ele olhou para ela. — O que você quis dizer com esse apito?
Lambendo o sangue de seu lábio partido, ela convocou um sorriso. Ela mal conseguia ver por causa do latejar de sua cabeça. — Você está com problemas agora.
O autômato de metal se inclinou com um silvo de aço, sua mão enorme fechando em torno de sua cintura. — Peguei ela. — Chamou uma voz ecoante de dentro. Então se endireitou e ela teve um vislumbre do homem envolto no metal.
— Problema? — Mendici ergueu os olhos para ela enquanto ela balançava precariamente. — De quem? O próprio Diabo?
Vários homens riram.
— Nós sabemos como lidar com os sangradores. — Disse um deles.
— Cole-os com uma lâmina revestida de cicuta. — Falou outro, fazendo um movimento de esfaqueamento.
— Ou um gritador.
— Coloque Rollins e Percy neles. — Disse outro.
A risada cresceu.
Um arrepio de inquietação a percorreu. Longe de ser a ameaça que era, esses homens pareciam gostar da ideia e pareciam extremamente bem preparados para lidar com ela. Se Will tivesse ouvido o apito, ele estaria caminhando diretamente para uma emboscada. Como ela desejou nunca ter estragado tudo.
— Vamos lá rapazes. — Mendici piscou para ela. — Vamos levá-la para ver o mestre.
Will estava sentado no balcão da cozinha, observando Esme mexer seu ensopado. O cheiro fez sua boca salivar. Este era o único lugar que parecia um lar para ele. Ele passou horas aqui ao longo dos anos, cochilando levemente no canto enquanto Esme fazia seus trabalhos.
Quando ela se tornou serva de Blade, ele achou sua presença desconcertante. Até aquele momento, o labirinto era estritamente masculino e ele tinha pouco a ver com mulheres desde que sua mãe o vendeu para Tom Sturrett.
Esme estava sofrendo pela perda de seu marido, uma situação desesperadora forçando-a a aceitar a proteção de Blade. Foi ela quem o ensinou a ler e o alimentou com boa comida quando seu corpo tentou superá-lo. Aquela que enfaixou seus cortes quando suas primeiras incursões na colônia terminaram em brigas - brigas que ele tinha procurado.
Ele tinha poucas lembranças de sua própria mãe. Esme estava o mais perto que ele poderia chegar.
— Então, — Ela murmurou, batendo a colher de pau contra a panela e se virando para encará-lo. — O que está acontecendo entre você e Lena?
A pergunta não deveria tê-lo chocado. Não havia segredos no cortiço, com quatro deles possuindo audição sobrenatural. Mas ele não se lembrava de ter dito nada que pudesse ter dado a eles motivo para boatos. — O que você quer dizer?
Esme deu uma olhada nele. — William Carver, não vamos fingir que sou idiota de alguma forma. Ou cega. Você não gostaria de me insultar, não é?
— Não há nada acontecendo entre ela e eu. E é assim que pretendo manter isso.
Com uma expressão especulativa no rosto, ela enxugou as mãos no avental e foi sentar-se ao lado dele. — Por quê? — Ela deslizou uma mão quente sobre a dele. — É claro que você tem sentimentos por ela, Will.
Ele fez uma careta para o banco da cozinha marcado. — Eu não posso, Esme.
— John sentia o mesmo, você sabe, — ela sussurrou com um olhar simpático em seus olhos verdes. — Ele estava com medo de me machucar. Com medo de que ele não pudesse se controlar perto de mim. Demoramos, mas funcionou para nós.
Will esfregou a nuca. — Esme, não é tão simples.
— Oh?
— Rip tem desejo —, disse ele. — Espalha através do sangue para contato com o sangue. Lupinismo é diferente. Espalhado pelo sangue, pela semente de um homem...
Uma luz cúmplice surgiu em seus olhos.
— Eu nunca posso estar com ela, — ele rosnou as palavras. — Eu não a sujeitaria a uma vida como esta. E isso se ela sobreviver à infecção inicial.
— Oh, Will...
A porta se abriu.
Will empurrou Esme atrás dele. Rip olhou carrancudo na porta, seu olhar seguindo a mão que a pressionou contra o canto. Uma luz escura entrou em seus olhos ameaçadores e Will puxou suas mãos, segurando-as no ar. Se fosse necessário, ele poderia levar Rip e os dois sabiam disso. Mas agora o homem não estava pensando. Governado por seus próprios demônios pessoais, tudo o que viu foi outro homem tocando sua esposa.
— Apenas protegendo ela, Rip.
— O que há de errado, John? — Esme perguntou.
— Ouvi um apito. — Seu olhar disparou sobre os dois. — Onde está Blade? Alguém está com saudades?
O frio tocou a nuca de Will. — Onde você ouviu isso? A quanto tempo?
— Fora da parede. Perto da Rua do Velho Castelo. Cerca de dez minutos atrás, talvez.
A caminho de Aldgate.
Lena. O calor rugiu através dele, deixando sua mente em branco. Ele já estava se movendo antes de pensar a respeito, pegando as meias luvas laminadas do banco e sua faca de caça.
— Quem é? — Rip perguntou, sua voz soando como se estivesse distorcida pelo vidro.
Esme agarrou o braço de Will. — É Lena, não é?
A próxima coisa que soube foi que estava subindo nas sarjetas do cortiço. A colônia se estendia à sua frente, um labirinto de edifícios decrépitos e alpendres. Dando um salto correndo, ele se dirigiu para a parede que circundava Whitechapel.
Construída há cinquenta anos, durante a época de problemas quando Blade chegou pela primeira vez ao cortiço, tinha quase seis metros de altura. Mais um símbolo do que um edifício sólido, foi construído com tudo o que estava à mão, a fim de manter o Escalão fora.
Saltando por cima dele, ele caiu em um telhado bem abaixo. Outro salto e ele estava na rua.
As pessoas olharam para ele e se espalharam. Enquanto caminhava para a Rua do Velho Castelo, ele viu uma multidão pairando em torno de algo na rua. Um brilho dourado chamou sua atenção e seu coração saltou para a garganta. Empurrando a multidão, ignorando os gritos, ele cambaleou até parar na frente da carruagem de Caine. Estava inclinada de lado, o vidro espalhado nas pedras do calçamento. Alguns tipos empreendedores já haviam começado a tentar tirar o dourado e as cortinas haviam sumido há muito tempo.
Virando-se, ele passou o olhar pela multidão, procurando por alguém que ele reconheceu. Bill, o Curtidor encontrou seus olhos e se encolheu. Will o agarrou pelo colarinho.
— O que aconteceu aqui?
— Não sei, — Bill murmurou, seu hálito fedia a gim e seus olhos desiguais disparando de forma independente. — Não estávamos aqui, chefe. Não vi nada.
Will o puxou até que estivessem cara a cara, deixando o calor - a Besta - passar por seus olhos. — Você sabia que eu posso sentir o cheiro quando um homem mente? Pense bem, Bill, se você viu alguma coisa aqui.
— Eu não posso, — Bill soluçou. — Eles vão me matar. Disse que fariam isso se eu dissesse uma palavra.
O punho de Will apertou até que Bill mal conseguia respirar. — O que te faz pensar que eu não vou?
Agarrando seu colarinho, os olhos de Bill se espantaram. — Eles têm... um monstro com eles... Um monstro cuspidor de fogo! Eu não posso. Ele vai me assar... como uma perna de cordeiro! Melhor você do que eles!
— Eles levaram uma jovem mulher com eles, não é? Ela é minha, Bill. Minha mulher. E eles a levaram. — Ele forçou o punho a se abrir e largou o homem nas pedras antes de matá-lo.
O desejo de fazer isso era quase irresistível. A veia em sua têmpora latejava, sua visão se apagava em alguns momentos. O tempo e o espaço tornaram-se vinhetas estranhas de som e movimento. Bill escalou de volta através das pedras e então o mundo borrou novamente.
Alguém segurou seu pulso. Ele mal sentiu. Olhando para baixo com um rosnado, ele parou quando viu o jovem rapaz olhando para ele com um rosto branco como um fantasma.
— Não me machuque pai, — ele implorou. — Eles foram por ali. — Em seguida, ele apontou para o beco mais próximo, um que terminava em uma parede de tijolos e um túnel fechado para a velha linha ELU abandonada.
O mundo voltou, estreitando-se com a precisão do cristal no túnel fechado. Claro.
— Subterrâneo.
Capitulo 18
— Para onde vocês estão me levando? — Lena exigiu, enquanto alguém arrancava a venda de seus olhos.
Piscando contra o brilho fosforescente dos lampiões do contrabandista que carregavam, ela olhou ao redor. Apesar do frio no ar, a transpiração umedeceu seu cabelo. Sua cabeça parecia estar cheia de enchimento de algodão, especialmente seus seios da face.
Os túneis fediam a mofo e ar viciado. Os homens estavam quietos e moviam-se com confiança; eles vinham por aqui com frequência, ela imaginou.
Um pequeno estremecimento de medo pulsou em seu peito. Os velhos túneis abandonados da Linha Oriental continham os fantasmas de todos os trabalhadores que morreram quando os túneis desabaram. Alguns homens foram esmagados até a morte e outros presos na escuridão para sufocar lentamente ou morrer de fome. A ELU desistiu do esquema depois que ele os levou a um território escuro e ninguém se preocupou em vê-lo concluído. Lentamente, ano após ano, os túneis foram tomados por empreendedores o suficiente para ganhar a vida no subsolo quando as colônias começaram a transbordar.
Pessoas tentando se esconder do Escalão ou dos Falcões da Noite por qualquer motivo, ou aqueles que eram simplesmente pobres demais para poder alugar um dos casebres acima do solo. Ela só podia imaginar o quão apavorados eles ficaram de viver aqui, com o sussurro de fantasmas e a presença muito real da gangue Golpeadores - aqueles que amarravam um homem em uma maca e drenavam seu sangue para vender nas fábricas. .
Então, três anos atrás, o vampiro fixou residência aqui, saturando-se com o sangue de todos até que os túneis estivessem quietos novamente e houvesse ainda mais fantasmas para sussurrar. O vampiro se foi, morto pelo próprio Blade, foi dito, mas os túneis sombrios a apavoraram.
— Quem é você?
O homem que eles chamavam de Mendici acenou com a mão em sua direção. — Cale-a. — Ele acertou um sinalizador contra sua perna e o brilho fosforescente aceso iluminou a escuridão que pressionava. Segurando-o alto, ele deu um passo cauteloso à frente, passando pelos trilhos. O túnel se abriu em uma caverna enorme, os trilhos se desfazendo em nada. Mendici chutou uma pedra pela beirada e ela ouviu em silêncio, mal respirando, esperando que atingisse o fundo.
Um plop distante ecoou. Água. Havia água lá embaixo.
Então algo se debateu lá embaixo. Lena sentiu o sangue escorrer de seu rosto. — O que é isso? — Uma gota de suor desceu por sua garganta até o corpete e ela estremeceu.
— O Guardião, — o menino murmurou ao lado dela. — Aqui, fique quieta agora. Existem outras coisas na escuridão. Você não quer acordá-los agora, quer?
Lena olhou para seu rosto pálido e fantasmagórico e balançou a cabeça.
Um cabo de aço esticado na escuridão. Mendici entregou o sinalizador para um de seus homens e puxou algo do bolso. Parecia uma haste de metal com um gancho. Abrindo-a, ele revelou um par de alças, então pendurou o gancho no cabo e o trancou com força.
Seu olhar foi direto para aquele buraco aberto e aberto quando ela percebeu suas intenções. De jeito nenhum. De jeito nenhum ela iria repassar o que quer que estivesse escondido nas profundezas das águas.
Mendici estalou os dedos para ela.
Lena balançou a cabeça, mas dois de seus homens a agarraram pelo braço e a puxaram para frente. Sem cerimônia, ela foi empurrada contra a lateral do gigante corpulento e seu braço deslizou ao redor de seus quadris.
— Rollins —, chamou Mendici. — É melhor você voltar. Não posso trazer Percy sobre isso. Leve-o para casa e lubrifique-o. Ou o que quer que você faça com essa maldita coisa.
O olho iluminado a gás do autômato ganhou vida. Em seguida, girou, passos retinindo ecoando de volta para o túnel oco.
— Pronta para o passeio da sua vida, amor? — Mendici sorriu para ela.
— Não. Eu não estou. Eu não vou.
Ele agarrou um punhado de suas saias e a empurrou em direção ao abismo. Lena gritou, agarrando seu pulso. Seus sapatos dançaram na beira do penhasco, as pedras desmoronando sob seus pés quando seu olhar horrorizado encontrou o dele.
— A escolha é sua. Você pode nadar ou passar por cima disso.
Seu olhar disparou para o tênue punho. — Bem. — Ela lambeu os lábios secos. — Eu vou lá.
Mendici a puxou de volta para seu lado. — Você segure firme então. Não gostaria que eu escorregasse. — Com uma risada desagradável, ele a puxou com força contra ele. Através do espartilho, ela podia sentir os músculos rígidos do homem e relutantemente colocou os braços em volta do pescoço dele. Ele pegou seu sinalizador de volta e segurou-o entre os dentes, em seguida, colocou as duas mãos nas alças. — Pronta?
— Não.
Com outra risada, ele saltou para o nada.
Lena gritou, enterrando o rosto em seu ombro enquanto eles se moviam em direção ao outro lado da caverna. O ar passou por suas orelhas, esfriando suas bochechas coradas, e suas saias chicoteando em torno de suas pernas. Parecia uma eternidade, mas dentro de momentos ele estava enrolando os pés embaixo dele e caindo com um solavanco em uma saliência rochosa.
— Certo, meninos. Nós pousamos. — Ele chamou.
Lena desabou sobre as mãos e os joelhos, o corpo tremendo. Ela se sentia como se fosse lançar suas contas, o mundo ainda girando em torno dela.
— Anime-se, amor. Você está segura. Por enquanto. — Mendici abriu a alça e a guardou novamente. Ele a pôs de pé e olhou mais de perto. — Aqui, você não parece muito bem.
— Não estou me sentindo bem.
Ele agarrou seu queixo, então sentiu suas bochechas com as costas da mão. — Cristo, você está queimando.
— Minha cabeça doeu a tarde toda —, ela admitiu. — Acho que estou ficando com um resfriado.
O sinalizador iluminou seu rosto com um verde assustador, destacando o brilho escuro de seu olho bom e o tapa-olho de aço. O pensamento cintilou por trás de seus olhos. — Sim, bem, não cheguem perto de mim homens. Nenhum de nós precisa estar doente agora.
O menino, Jeremy, saiu voando da escuridão, o rosto iluminado de alegria. Ele pousou e cambaleou até parar, então desabotoou a alça. — Acabei, rapazes!
Um após o outro, eles vieram navegando pela escuridão até que apenas dois permaneceram na borda oposta. Mendici puxou um relógio de bolso e verificou as horas, andando inquieto na beira da saliência. Lena se encostou na parede da caverna, exausta demais para fazer qualquer coisa. Não havia sentido em tentar escapar. Eles a atropelaram em segundos, e a ideia de se perder nesses túneis a apavorava. Quem sabia o que mais se escondia na escuridão, como o Guardião?
Um rugido maciço ecoou pelos túneis. Mendici girou nos calcanhares e apertou os olhos no escuro.
— O que é que foi isso? — O menino perguntou. — Mendici?
Mendici ergueu a mão para acalmá-lo. Outro rugido quebrou a quietude dos túneis. Os dois homens na saliência acima correram para prender seus cabides no cabo, olhando por cima dos ombros. No túnel, raios de luz laranja piscaram e morreram.
— Rollins —, resmungou Mendici. Ele lançou-lhe um olhar sombrio. — Parece que aqueles amigos seus decidiram vir brincar no nosso mundo. Espero que você não goste muito deles?
Lena se levantou, apoiando-se com força na parede. Will. A fonte daquele som enfurecido foi subitamente aparente. — Não tenha tanta certeza. — Ela disse, olhando para cima. Por favor, faça tudo certo. Por favor, não se machuque.
O silêncio caiu. Os dois homens na saliência olharam por cima dos ombros, seus movimentos diminuindo. Um sorriso de alívio cintilou em um de seus rostos.
Então um dos homens enrijeceu. Ele gritou alguma coisa e saltou para o cabo. Seu corpo se arqueou no ar de forma irregular. Apenas um segundo depois, o segundo homem deu seu salto, deixando cair seu sinalizador na borda atrás dele.
Lena se pegou prendendo a respiração. Será que Will realmente enfrentará o monstruoso Percy e sobreviverá? O fogo que os Lançadores de Fogo usaram poderia queimar qualquer coisa, e ela viu o cano do lança-chamas preso ao braço mecânico de Percy.
Uma sombra se destacou da boca do túnel, tornando-se um homem com ombros largos e familiares. Lena soltou um suspiro trêmulo. Ele estava vivo.
Will se aproximou da saliência, o brilho fosforescente destacando sua camisa chamuscada. A luz lançou um jogo de sombras sobre os ossos rígidos de seu rosto. Havia algo em sua mão. Ele o ergueu; a cabeça quadrada de Percy.
Mendici respirou fundo. — Traga-me a garota.
Alguém a empurrou para ele. Ele agarrou um punhado de seu cabelo e a empurrou para frente, seus sapatos balançando na borda da borda. Lena congelou, olhando para a escuridão. Will deu um passo à frente também, fúria e frustração brincando em suas feições. Apenas quinze metros os separavam, mas poderia muito bem ser um quilômetro.
— Você a quer? — Mendici rugiu. — Então venha e pegue-a.
Lena olhou para o sorrisinho desagradável em seu rosto. — Não! Não, Will! Eu vou ficar bem...
Uma mão envolveu sua boca, cortando suas palavras.
Will enrolou um punho carnudo em torno do cabo e balançou, um olhar severo de determinação em seu rosto. O coração de Lena saltou para a garganta. Maldito seja. Por que ele não a ouvia? Seu coração martelou contra suas costelas. Se ele se machucou tentando salvá-la, ela nunca se perdoaria.
— Pronto, Lowerston? — Mendici perguntou, observando Will balançar mão após mão no cabo.
— Peguei ele. — Alguém murmurou atrás dela.
Uma forma tubular fina surgiu do canto de seu olho. Lena virou a cabeça, a mão de Mendici escorregando de sua boca vagamente. Um metro e meio atrás dela, um homem espiou pela mira com um rifle.
Ela não pensou. Ela nunca o alcançaria a tempo. Em vez disso, observando seu dedo acariciar o gatilho, ela deu um passo à frente do rifle.
Com uma maldição murmurada, ele puxou a arma para cima, uma explosão de som disparando na escuridão escura do telhado da caverna. Assim que a bala atingiu, ela explodiu, faíscas caindo em cascata acima como fogos de artifício. Uma dúzia de morcegos gritando voou para fora das sombras e um silêncio pesado caiu, estragado apenas pelo movimento sinuoso da água lá embaixo.
Lena olhou para o homem com o rifle, a respiração congelando no peito. O que diabos ela acabou de fazer? Se isso a tivesse atingido, ela seria pouco mais do que pedaços de carne e vísceras, espalhados pela borda.
— Você está louca? — Mendici rugiu, arrancando-a do caminho e sacudindo-a.
Um pavor gelado correu por suas veias. — Não. — Ela se ouviu dizer, as palavras claras e distintas. Seus joelhos cederam e Mendici a deixou cair no chão.
— Recarregar! — Ele estalou para o atirador, olhando bruscamente para Will como se para medir sua distância. — Puta merda.
Lowerston procurou por balas, os dedos tremendo. As narinas de Mendici dilataram-se. — Parece que vou ter que fazer isso sozinho.
Tirando algo do bolso, ele ergueu um pequeno cilindro de metal. Quando o polegar dele pressionou o botão no topo, ela esperou pela explosão.
Não veio nada.
Mas Will perdeu o controle do cabo com uma mão, seu corpo estremecendo quase de dor. Ele colocou o braço sobre as orelhas e o rosto, seu corpo se dobrando sobre si mesmo. O outro punho se enrolou em torno do cabo com uma pegada de ferro, os nós dos dedos ficando brancos.
— Vamos, seu bastardo. — Mendici murmurou, olhando para ele com olhos brilhantes.
— Ele não pode aguentar por muito tempo —, disse o rapaz. — Ninguém resistiu a um gritador antes.
Will se endireitou lentamente, os músculos de seu corpo rígidos. Com os dentes cerrados, os olhos faiscando selvagens, ele pegou o cabo com a outra mão, cada movimento lento e preciso, como se tivesse que forçar seu corpo a funcionar corretamente.
Venha, ela sussurrou em silêncio, as mãos apertadas ao seu lado. A apenas seis metros de distância agora.
— Maldição —, disse Lowerston, parecendo ligeiramente pasmo. — Ele está fazendo isso.
— Não por muito tempo —, rosnou Mendici, arrancando um machado de um de seus homens. Ele caminhou em direção à borda da saliência, o punho enrolado em torno do cabo de madeira. Não que isso fosse muito bom contra um verwulfen totalmente dominado pela fúria da batalha. — Hora de encontrar o Guardião.
Ele o balançou - não no pesado cabo de ferro, como ela esperava - mas na polia de madeira que o prendia à parede.
A madeira foi cortada, batendo no chão e depois se projetando na escuridão do abismo.
— Não! — Lena gritou.
Will voou para longe na escuridão, sua camisa branca como um fantasma. Ele atingiu o outro lado do penhasco, deslizando vários metros abaixo do cabo. Então ele estremeceu e mergulhou na escuridão abaixo.
Segundos depois - o que pareceram horas - ela ouviu o barulho quando ele atingiu a água e o som faminto de tudo o que espreitava abaixo.
Capitulo 19
Will rastejou para fora da água com um rosnado, as mãos cobertas de graxa e sangue e um tentáculo de aço em seu punho. Seus ouvidos ainda zumbiam, e a dor em sua bochecha dizia que ele poderia ter quebrado alguma coisa. A fúria ferveu em seu sangue, junto com a lassidão arrepiante do resultado de uma luta empolgante. Ele a ignorou.
Forçando-se a ficar de pé, ele olhou para o tentáculo de aço mole. O que quer que tenha sido, foi cruel. Ele mal se encontrou na água antes de estar sobre ele, membros de aço se debatendo e alcançando-o.
Ele não conseguia se lembrar muito da luta - ele nunca poderia, na verdade, além de imagens de visão e som - mas ele podia se lembrar vagamente da boca aberta que sugava água para alimentar seu núcleo movido a vapor, e a debulha afiada como navalha lâminas de seus dentes. Esmagando seu punho direto através da fina lâmina de aço de seu corpo. A exalação de vapor ardente em seu rosto enquanto ele arrancava um tentáculo, usando a fraqueza dos rebites em seu próprio benefício.
Era aí que os inventores fizeram sua falha fatal com os monstros de metal e autômatos que criavam. Para um casaco de metal, era a dobradiça de seus joelhos e braços; para a lula de aço, era a junção segmentada dos tentáculos ao seu corpo. Rasgue isso e tudo que você tinha era uma concha ferida que balançava como uma tartaruga de costas.
Destruí-lo não foi sem custo, no entanto.
Will cambaleou contra uma estalactite e pressionou a mão ao lado do corpo. Seus dedos ficaram pegajosos, resultado daqueles dentes de ferro. Cada músculo de seu corpo latejava com a dor da queda e a sensação da superfície lisa da água como se ele tivesse mergulhado em pedras pesadas.
Ele queria tropeçar no chão e dormir para afastar a dor. Uma fraqueza fatal para sua espécie. Quase imparável, uma vez que estavam em fúria total, mal cientes de ferimentos ou dor, verwulfen caíam como pedras depois que a excitação passava.
Will limpou o sangue de seus olhos e cambaleou para frente. Não poderia dormir. Ainda não. Lena estava lá fora. Ele a ouviu gritar enquanto mergulhava na água, ouviu a perda de estilhaçar a alma em sua voz enquanto ela gritava.
Quem quer que a tivesse - e ele estava começando a ter uma ideia de sua identidade - ia desejar nunca ter ousado tocar em sua mulher.
Eles viajaram ao longo de túneis desgastados pelos pés.
Ela não viu nada disso.
Os homens falavam e riam entre si, dando tapinhas nas costas de Mendici como se ele fosse um herói.
Ela não ouviu nada disso.
Ela existia apenas em um mundo de cores monótonas e som abafado, vendo Will cair no fosso escuro novamente e novamente.
Ele não poderia sobreviver a isso. Poderia? O pensamento a fez sentir-se mal, um peso pesado em seu peito até que ela teve medo de não conseguir respirar. Oh Deus, o que ela fez? Ela soprou aquele apito, temendo por sua vida, sabendo que ele viria para ela e tornaria tudo seguro para ela novamente. Mas ele não fez. Ele não era invencível. Não importava o quão rápido ele pudesse se curar, quão forte ele era, ele era apenas carne e osso no final, o mesmo que ela.
Eu sempre virei para você. Mas desta vez ela estava sozinha, pois Will estava... perdido. Ela não conseguia pensar na alternativa ou ela quebraria, tornando-se uma coisa cega e trêmula, pairando em sua própria miséria. Ela tinha que sobreviver ao que quer que estivesse por vir, tinha que encontrá-lo, descobrir se...
Ela afastou o pensamento e olhou para cima, tentando se concentrar. A luz floresceu à frente. Uma pesada porta de ferro pendurada nas sombras, com um homem guardando-a. Ela vislumbrou aço frio. Sua mão, uma manopla de metal, com pesadas placas de ripas até o cotovelo.
Trabalho mecânico.
O frio desceu até os ossos, mas ela se sentiu estranhamente removida. Para aguentar, ela embrulhou aquela parte que gritava de dor e forçou sua mente a trabalhar analiticamente. Para examinar, entender, encontrar uma fraqueza...
Mecanicistas. A palavra sussurrou em sua cabeça. Presos aos enclaves e forçados a cumprir seus contratos para pagar pela tecnologia que lhes deu vida ou membros. Menos que humano, o Escalão decretou. Mantidos fora da vista e da mente.
— Muito bem, irmão —, disse o guarda, dando um passo à frente e segurando o braço de Mendici. Seu olhar curioso deslizou sobre ela. — Eles estão lá dentro. Esperando. Você não foi seguido?
— Nós fomos, — Mendici respondeu. — O Guardião provavelmente está tirando os restos de seus dentes.
Outra facada no coração. Lena respirou fundo. Ela não poderia ir lá, para aquele lugar frio e vazio bem no fundo. Ainda não.
O estranho acenou com a cabeça, correndo seu olhar sobre o grupo irregular. — Arranje algo para aquecer a barriga. Vou levá-la até lá.
— Acredito que irei —, anunciou Mendici, colocando os polegares atrás do cinto. — Estou me perguntando do que se trata.
— Ele mesmo está com um humor curioso. — Avisou o estranho.
— Eu tenho tanto direito de estar lá quanto você. Tenho tantos direitos quanto qualquer homem livre.
— Você pode explicar isso para ele. Venha. — O estranho gesticulou para ela.
Empurrar a porta de ferro revelou uma sala no meio de todos os túneis. Os caixotes estavam empilhados do chão ao teto, e a luz das velas tremeluzia, aquecendo as sombras. Seu brilho se estendia apenas até certo ponto, entretanto. Ela não conseguia ver onde as paredes começavam. Apenas um labirinto sem fim de caixas.
O murmúrio de vozes os tirou da escuridão como um farol. Mendici bateu em outra porta, seu olhar se afastando. Não tão confiante quanto parecia.
Uma fenda na porta se abriu e um único olho cinza olhou para ela. Então a fenda se fechou e o clique de uma fechadura soou.
— Você está atrasado.
A voz era suave, melódica. Um homem acostumado à inflexão bem entonada de comando. A porta se abriu e a luz entrou, cegando-a por um momento.
— Tive que cuidar de uma coisinha. — Respondeu Mendici, avançando.
Lena olhou feio para as costas dele. Suas palavras de desprezo doem. Will era mais que uma coisinha. Corajoso, forte e teimoso, ele tinha mais valor no dedo mínimo do que Mendici em todo o corpo.
— É ela?
Lena sentiu o empurrão de trás ao passar pela porta. Seus olhos lentamente se adaptaram à luz. A sala além tinha uma mesa enorme rodeada por doze cadeiras e os restos de uma refeição. Duas mulheres ergueram os olhos da mesa, uma esparramada com uma graça arrogante na cadeira e a outra vasculhando um maço de notas. Suas mãos estavam manchadas de tinta, seus olhos quentes e escuros de curiosidade. Ela usava calças justas de homem e uma camisa branca apertada contra suas curvas exuberantes com um colete de tweed cinza. Um par de óculos de aumento estava colocado em seu cabelo acobreado e sua mão direita era uma manopla de metal, os dedos se movendo com uma graça delicada que Lena raramente vira. Um relógio de bolso de ouro atraiu sua atenção para o peito, mas Lena tinha certeza de que o efeito era inconsciente.
Outro mecanicista.
A outra mulher usava um casaco de couro preto, abotoado no peito esquerdo com botões de latão. Dragonas reluzentes coroavam seus ombros, e suas botas envolviam panturrilhas musculosas. Ela sacudiu a cinza em seu charuto, seus olhos castanhos felinos percorrendo Lena. O olhar frio se moveu, curvando os lábios com desdém. — Você desperdiçou todo esse esforço nisso?
Um homem saiu das sombras, o mesmo homem que atendeu a porta. Sua mão se curvou sobre o ombro da mulher, ligeiramente possessiva. — Paciência, Ingrid. Isso não é maneira de tratar um convidado. — A voz estremeceu na pele. Um homem acostumado a hipnotizar as pessoas só com isso. Um ator.
Um casaco de retalhos emoldurava seu corpo magro. À primeira vista, o casaco parecia surrado e mau, mas Lena não passara horas rangendo os dentes de tédio por causa da costura à toa. O casaco era enganosamente bom, os remendos colocados deliberadamente, ela tinha certeza. Uma gravata manchada na garganta aberta de sua camisa, e suas luvas pretas foram cortadas nos dedos, revelando a pele bronzeada de seus dedos.
Mas não foi isso que atraiu sua atenção. Uma tira de couro segurava uma ocular monocular de latão sobre um dos olhos, a boca escondida por uma meia máscara de latão e couro. Juntos, eles obscureciam seu rosto de modo que tudo que ela pudesse ver era um olho cinza penetrante. Seu cabelo era do mesmo cobre escuro como o da primeira mulher.
— Uma convidada? — Lena exigiu, sacudindo sua cabeça maçante. — Sua hospitalidade é um pouco deficiente. Quem são vocês? O que vocês querem comigo?
— Você desejava ver o Mercúrio, não é? — Suas mãos se espalharam, as palmas voltadas para ela.
As palavras roubaram o fôlego de seus pulmões. — Mercúrio? Você é o Mercúrio?
— E você, minha encantadora Srta. Todd, é um pequeno pacote bastante surpreendente. — Seus dedos acariciaram distraidamente o cabelo castanho e espesso de Ingrid. — Esta é um dos nossos pombinhos —, murmurou ao camarada. — Uma protegida do engenhoso Sr. Mandeville. E ela mesma bastante engenhosa. Ela é a mente e as mãos por trás do nosso presente para a embaixada da Escandinávia.
A maneira como ele agia, o leve tom de humor zombeteiro que envolvia cada palavra... Isso fez seus dentes rangerem. Ele a sequestrou das ruas quando ela teria ido de boa vontade. Se ele simplesmente tivesse pedido, Will estaria sentado no labirinto, jantando com o resto de sua família.
Lágrimas brotaram de seus olhos. O elogio não tinha sentido, toda a causa não tinha sentido. Ela não conseguia invocar nada além de tristeza. — Por que a charada? Seus homens poderiam ter me pedido para vir. Uma menção do seu nome e eu estaria disposta. — Um olhar sombrio para Mendici. — Você destruiu a carruagem do meu guardião, deixou meus lacaios inconscientes e... machucou um homem que considero um amigo. Agora você presume que eu deveria ter alguma boa vontade para com você.
Os dedos de Mercúrio congelaram, o sorriso vacilando. Ele olhou para Mendici como se procurasse uma explicação.
— O guardião dela é um sangrador —, Mendici respondeu com um sorriso de escárnio. — Se eu pudesse, eu quebraria cada uma de suas lindas carruagens. E seu suposto amigo, minha querida, claramente não era humano. Não ter enfrentado Percy dessa maneira, ou cruzado aquele cabo tão rapidamente. — Seu lábio se curvou. — Eu não confio nela.
— No entanto, você espera que eu confie em você — retrucou Lena. — Eu não acho que eu quero mais parte disso. Achei que os humanistas desejassem ser iguais, mas você não. Em vez disso, você deseja inverter a ordem social, moer o Escalão e os sangues azuis sob seu calcanhar. Para torná-los escravos, ou um pouco melhor.
— Para torná-los mortos. — Retrucou Mendici.
— Eles não são todos desumanos, — ela respondeu. — Eu conheci alguns poucos que considero confiáveis e heroicos. Meu próprio cunhado é o Diabo de Whitechapel e considera seus homens sua família. Meu guardião é igualmente gentil e trata seus servos com respeito...
— Viu? — Mendici rosnou para Mercúrio. — Ela é uma amante maldita! Aposto que ela está se prostituindo por eles. Ousaria dizer que, se algum dia localizarmos o corpo daquele homem, descobriremos que ele está no primeiro ciclo do desejo. Certamente não gostou do gritador...
Lena se virou para ele com raiva, os punhos cerrados. — Will não é um sangue azul, seu imundo. Se você tivesse metade da coragem dele...
— O suficiente! — Mercúrio rugiu. Ele se afastou da parede e lançou um olhar sombrio para Mendici. — Acredito que dei ordens para que você e seus homens buscassem uma barriga quente e uma cama. Por quê você está aqui?
Mendici cruzou os braços sobre o peito enorme. — Alguns dos homens estão se perguntando sobre suas últimas ordens. E a clemência que você mostrou com o último lote de sangue azul que pegamos.
— Você está me questionando? — As palavras eram suaves como a seda. Mortal.
— Eu e os homens, não gostamos de nada. — Mendici fez uma careta. Ele ergueu a mão mecânica. — Você nos prometeu vingança, por isso. Para aqueles enclaves gerados pelo inferno. Não arriscamos nossas vidas, perdemos nossos amigos, para escapar dos enclaves à toa. Eu quero sangue. Sangue azul. Eu quero ver todas as suas cabeças em pontas de sangue. — Ele apontou o dedo para ela. — Por que ela é tão importante?
— Porque ela é um par de orelhas onde não temos nenhuma. — Mercury respondeu.
Outro sorriso de escárnio. Mendici deu um passo de advertência à frente, sua mão escorregando para o lado. Quando surgiu, ele estava segurando uma pistola. — Alguns dizem que você está ficando fraco. Misericordioso. Temos conversado, eu e os meninos...
Uma pistola respondeu.
Um pequeno buraco vermelho floresceu no meio de sua testa e, boquiaberto, ele tombou lentamente para trás. O barulho de seu casaco de aço quando ele bateu no chão abalou seus nervos.
Lena cambaleou para trás, sua espinha batendo na parede. A sala estava quieta enquanto todos se voltavam para a mulher com a pistola fumegante.
Suas mãos manchadas de tinta nem mesmo tremeram quando ela baixou a arma. Afinando os lábios, ela gesticulou para Ingrid. — Livre-se dele. Faça com que os outros entendam o que fazemos com aqueles que falam em motim aqui.
A morena amassou seu charuto e rolou para ficar de pé. Lena não tinha percebido até aquele momento o quão alta a mulher era. Quase uma boa polegada em Mercúrio, com ombros largos afinando para uma cintura estreita. Apenas a exuberante curva de seus seios e quadris a salvava de uma figura masculina.
Pegando Mendici pelo braço, ela o jogou por cima do ombro com o mesmo esforço que Will faria. — Você tem certeza disso, Rosalind? — Ela perguntou. — Os homens gostavam dele.
A pequena ruiva assentiu bruscamente. — Eu não posso arriscar a insubordinação. Não agora, quando estamos tão perto. Leve-o embora. — Ela olhou para a figura mascarada encostada na parede. — Deixe-nos. — Ela murmurou.
Seu olhar cintilou em direção a Lena.
— Ela quer saber se pode confiar em nós —, Rosalind respondeu à pergunta não formulada. Seus olhares se encontraram. Manteve-se. — Talvez uma demonstração de confiança seja o que ela precisa.
Com um extravagante encolher de ombros, ele deu um passo em direção à porta. — Em sua cabeça, que seja. Vou ver se posso ajudar Ingrid a descobrir de quem as línguas estão batendo. E quão longe ele foi.
Dois passos e ele passou pela porta, com Ingrid em seus calcanhares.
Fechou atrás deles e Lena se virou para encarar a mulher. Ela era muito alta e talvez até mesmo velha. Ou talvez não. A pele pálida de Rosalind tinha a cremosidade da juventude e seu nariz inclinado dava-lhe uma aparência permanentemente jovem. No entanto, o comando com o qual ela havia falado não era de alguém inexperiente.
Você desejou para ver Mercúrio, não foi?
Foi só agora que Lena percebeu que o homem nunca se referiu diretamente a si mesmo como tal.
— Você é o Mercúrio, não é?
Aqueles lábios carnudos franziram. — Eu não vou te machucar. — Rosalind deslizou a pistola em um coldre em seu quadril com uma destreza e facilidade que Lena invejou.
— Quem era ele? O homem?
— Meu irmão, Jack. Ele também é Mercúrio. Assim como Ingrid às vezes. Mercúrio usou muitos nomes e rostos ao longo dos anos, para melhor se esconder do Escalão. — Rosalind sorriu ligeiramente, gesticulando em direção a uma cadeira. — Sente-se. Fale comigo. Estamos muito curiosos sobre você.
— Assim como eu. — Lena arrastou uma cadeira, dando-se bastante espaço para se mover se ela precisasse. Essa jovem bonita e amuada parecia bastante amigável, mas ela não esqueceria a facilidade com que matou um homem. Nem o olhar frio e sem emoção em seus olhos quando ela fez isso.
Rosalind se acomodou em sua cadeira, recostando-se com os braços nas costas da cadeira ao lado dela. O cálculo esfriou seus olhos castanhos. — Existem muito poucos que sabem a verdade por trás do segredo de Mercúrio.
— Eu nunca iria revelar isso.
— Mesmo que suas simpatias para com a organização sejam conflitantes?
Lena parou por um momento. — Eu não te trairia. Se eu decidir virar as costas para isso, então vou embora e tento esquecer tudo que já vi.
— Ir embora? — Rosalind murmurou. — Para onde? Sua vida na corte? Para implorar a um sangue azul para ter misericórdia de você e tomá-la como serva? Quanto tempo você acha que isso vai durar, com sua incapacidade de permitir que um sangue azul se alimente?
A única pessoa que sabia disso era o Sr. Mandeville. A traição a arranhou com garras de ferro.
Rosalind arrumou as pilhas de papel à sua frente e as empurrou sobre a mesa em sua direção. — Isso é tudo o que sabemos sobre você. Compilado cuidadosamente no ano passado. Jack e Ingrid podem pensar que isso é um risco, contando a você o segredo do Mercúrio, mas eu não acho que você ousaria.
Um esboço a carvão estava no topo. Lena olhou para o próprio rosto. A representação era requintada, mas a expressão era ligeiramente desdenhosa, uma sobrancelha arqueada em rejeição. Uma namoradora bonita e obstinada.
Ela o ergueu com cuidado, revelando detalhes sobre ela e sua vida. O nome de Charlie. Isso fez seu sangue ferver. Honoria. Até Blade e Will. O detalhe foi além, examinando as minúcias de sua vida. Quando ela entrava e saía da Casa Caine. Uma breve pergunta sobre por que Leo a havia aceitado como sua protegida, que estava circulada em tinta vermelha, e detalhes diários sobre seu relacionamento com ele que eram assustadoramente íntimos.
Nenhum sinal dela compartilhando sua cama. Ou seu sangue. Eu não consigo entender a relação ainda, mas vou...
Outra página.
Eles brincaram com sua irmã, Honoria, esta manhã como se ele a conhecesse bem. O relacionamento é mais profundo?
E mais abaixo.
Acho curioso que o duque de Caine tenha desistido de visitar a casa desde a chegada da garota. Falei com os servos, os escravos sobre isso. Sua Graça vinha regularmente todas as tardes de domingo para jogar xadrez com seu filho, mas não o faz mais. Eles nunca foram próximos, mas uma serva afirma que os ouviu discutindo sobre a senhorita Todd. Sua Graça insistiu fortemente que seu filho “removesse aquela cobra de duas faces” de sua casa, mas o filho recusou. Algo nessa situação me parece fora do comum. Por que o herdeiro do duque tomaria uma garota sem importância como sua protegida? O duque já foi patrono de seu pai, mas, segundo todos os relatos, isso acabou mal, embora eu não saiba por quê. Vou me esforçar para encontrar mais.
Um traidor na Casa Caine que estava observando cada movimento seu. Dedos gelados correram por ela. — Sra. Wade. — Ela sussurrou, de repente com medo por Leo. Se alguém percebesse exatamente qual era o relacionamento deles, estaria arruinado. Ou pior.
— A lealdade dela era fácil de comprar. Ela tem algumas dívidas pendentes —, explicou Rosalind. — Você foi um risco potencial desde o início. Um com acesso a muitos recursos. Votamos se você era muito perigosa para usar. Ingrid queria matar você.
Lena ficou de pé, a cadeira rangendo no chão. Ela não conseguia parar de tremer. O suor de antes havia desaparecido, seu corpo parecia como se alguém tivesse mudado a torneira de quente para fria. — O que você pretende fazer comigo?
— Se eu quisesse você morta, você estaria. Essa nunca foi minha intenção. — Rosalind gesticulou para o lado. — Você gostaria de um pouco de chá? Você ficou branca como um fantasma.
— Eu não quero nada do seu maldito chá, muito obrigada. E considerando os eventos recentes, não tenho certeza se acredito em você.
— Mendici? Isso não foi nada.
— Estou falando sobre o humanista que segurou uma adaga na minha garganta outro dia e ameaçou meu irmão! — Ela retrucou.
Rosalind se acalmou. — Não sei nada sobre isso.
Lena lambeu os lábios, sem saber se acreditava ou não. — Você quer que eu quebre o tratado.
— Você disse ao Sr. Mandeville que não, que queria nos encontrar primeiro.
— Então, alguém não estava ouvindo —, respondeu Lena. — Eu estava entregando a mensagem de Mandeville para meu contato no Escalão. — Ela ergueu o queixo. — Alguém me abordou e colocou uma adaga na minha garganta. A pessoa disse que eu tinha que destruir o tratado ou eles machucariam meu irmão. Eles tinham um de seus brinquedos, de seu quarto. Um lugar que ninguém deveria ser capaz de chegar. E, — ela sussurrou. — Era um sangue azul.
A cor sumiu do rosto de Rosalind. — Você tem certeza? Eles não seguiram você lá...
— Eles conheciam os códigos humanistas —, respondeu Lena. — Sabia coisas que só alguém próximo ao Conselho poderia saber. Sobre o envolvimento de Will no tratado. E para onde eu entregaria a carta. Tinha que ser meu contato.
— Isso não teve nada a ver conosco. — Disse Rosalind.
— Eu pensei que você estava no comando?
Um longo e prolongado momento. — Nem tudo por aqui é o que parece, — Rosalind murmurou. — E se eu lhe disser que as fábricas de drenagem não são obra nossa? Que eu não sabia nada sobre essa ameaça contra você?
Lena a olhou nos olhos, obrigando-se a ser forte. Ter coragem. Como Will teria. Não, não pense nisso. Ela cerrou os punhos. Sufocou a dor. Ela poderia desmoronar mais tarde. — E se eu dissesse que não acredito em você?
Rosalind fez uma careta e recostou-se na cadeira. — O que estou prestes a dizer a você nunca deve sair desta sala. — Com o aceno de Lena, ela continuou. — Como tenho certeza de que você percebeu, existem duas facções entre os humanistas. Aqueles que lutam pela liberdade e aqueles que lutam pela vingança. Nem sempre foi assim, mas um ano atrás nós fizemos um ataque ousado em um dos enclaves e libertamos um grupo de mecanicistas. Precisávamos de suas habilidades para trabalhar metal. Infelizmente, eles não foram tão cooperativos quanto esperávamos. Há um grupo dissidente dentro da facção, tomando o assunto em suas próprias mãos e usando nosso nome e informações para causar estragos.
— Por que não cortar seus laços com eles?
Outro longo olhar, como se estivesse se perguntando se deveria confiar nela. — Venha, — Rosalind finalmente disse, colocando-se de pé. — Eu tenho algo para te mostrar.
Não adiantava resistir. E ela estava começando a ficar curiosa agora. — Onde estamos indo?
— Para os porões.
Empurrando para o corredor escuro, Rosalind agarrou um lampião da parede e a conduziu ao longo do túnel até que finalmente chegaram a uma pequena porta. O cheiro de produto químico persistia no ar. Pendurando o lampião em um prego na parede, Rosalind puxou uma chave de sua camisa e abriu a porta à frente delas.
Sombras escuras esperavam em silêncio, o brilho fraco da luz do lampião brilhando no aço frio. Rosalind ergueu o lampião e entrou, espalhando luz na enorme caverna e afastando as sombras. Dezenas de enormes autômatos parados e em silêncio, a faísca da luz a gás ausente de seus olhos. Dezenas de outros ternos de metal nos quais Rollins estava amarrado. Linhas de Percys.
— Estes são os Ciclopes. — O orgulho aqueceu a voz da outra mulher e ela entregou o lampião para Lena. Dando um passo à frente, ela passou a mão pela mangueira hidráulica do pesado braço de aço. O tubo oco do lança-chamas em seu braço brilhava.
Inclinando-se sob o braço, Rosalind apertou um botão. Com um chiado, a cavidade torácica se abriu e a cabeça deslizou para trás, revelando um espaço oco grande o suficiente para caber um homem. Rosalind se apoiou no joelho dobrado do ciclope e saltou para dentro da cavidade. Virando-se, ela recuou e colocou um cinto de couro em volta do peito e da cintura. Duas alças descansadas na altura do braço. Ela os agarrou, pressionando várias alavancas e girando um botão. A carapaça de aço do peito deslizou de volta ao lugar, um som latejante vindo de dentro.
— Leva alguns minutos para aquecer as embalagens da caldeira, — Rosalind explicou, seu pequeno rosto em forma de coração espiando por cima do peitoral. Com uma expressão de concentração, ela brincou com algo dentro e então as mangueiras hidráulicas sibilaram, o ciclope se endireitando até sua altura total de três metros. — Eles são totalmente móveis, com mais flexibilidade e controle do que um casaco de metal e funcionam com um litro de água por dia. — Com um sorriso repentino, ela forçou o braço a levantar. — Nós modelamos os lança-chamas nos Lançadores de Fogo. Queima como sodomia quando você acerta algo com ele. — Os dedos na ponta do braço de ferro se mexeram, revelando destreza completa. — Trabalho mecânico —, explicou Rosalind. — A coisa toda é trabalho mecânico.
— É por isso que você precisa deles.
Rosalind fez uma careta e o Ciclope afundou de volta, seus motores parando. Ela abriu a placa de aço do tórax e saltou. — Sim. Os planos eram nossos. — Um breve olhar em sua direção. — Mas o trabalho é deles. — Uma risada enferrujada. — O Escalão os forçou a entrar nos enclaves para trabalhar aço para eles e ganhar o reembolso de seus aprimoramentos mecânicos. Nem uma vez eles suspeitaram que veríamos sua própria tecnologia - as habilidades que ensinaram aos mecanicistas - contra eles. É a única coisa que nós, humanos, nunca fomos capazes de combater. Poderíamos ter sido capazes de dominar os sangues azuis na França e colocá-los na guilhotina, mas nossos sangues azuis são mais espertos e se escondem atrás de exércitos autômatos. A carne humana não pode lutar contra o metal. Portanto, devemos equilibrar as probabilidades.
— Para lutar pela liberdade —, disse Lena, com uma cadência ligeiramente sarcástica. — Parece muito com lutar por vingança.
— Você acha que o Escalão vai simplesmente dar meia-volta e nos dar nossos direitos? — Uma ponta de raiva agitou a voz de Rosalind. — Talvez se pedirmos com educação?
— Pessoas vão morrer.
— Elas já morrem. Quatrocentos e trinta homens e mulheres tomaram as ruas para protestar contra o último aumento nas taxas de sangue. O Escalão os abateu com a cavalaria de Troia, deixando apenas cem vivos.
— Eles não teriam aumentado as taxas de sangue se as fábricas de drenagem não tivessem explodido. Agora há uma escassez e o Escalão precisa de sangue rapidamente. Você não vê? Isso se torna um ciclo de sangue e morte!
Rosalind arrancou o lampião das mãos de Lena. — Estou desapontada. Achei que você fosse entender. Especialmente considerando de onde vieram os planos para o Ciclope.
— O que você quer dizer com isso?
— Seu próprio pai. Sir Artemus Todd, com sua mente brilhante e errática. Ele passou o último ano de sua vida descobrindo as fraquezas de um sangue azul. Usamos a toxina que ele criou para incapacitá-los e suas balas de fogo para matá-los. Em vez de fugir de Vickers com você, com sua família, ele arriscou sua vida para colocar seus planos finais para o Ciclope em nossas mãos. Custou-lhe tudo, mas ele será lembrado para sempre entre nossas fileiras.
Lena mal conseguia se lembrar da noite em que foram forçados a fugir. Ser sacudida para acordar de manhã cedo e ser colocada em uma carruagem. Seu pai exigia que ela cuidasse de Charlie e, embora o tivesse visto falando com Honoria, colocando um diário codificado em suas mãos, ela não ouviu nenhuma das palavras deles.
Aquela noite mudou sua vida para sempre. Arrancada de suas aulas, seu mundo, suas esperanças de um futuro entre o Escalão, ela foi arrastada para os confins sombrios dos cortiços. Tudo que ela sabia era que o patrono de seu pai, Vickers - o duque por quem ele realizava seus experimentos brilhantes - os queria mortos.
Ela nunca soube por quê.
— Meu pai era um humanista? — Ela perguntou, sua voz falhando ligeiramente.
— Ao osso.
Outro choque em uma série aparentemente interminável deles. Lena estendeu a mão, tentando encontrar a parede enquanto seus joelhos tremiam.
— É por isso que queríamos você, — Rosalind continuou. — Sua irmã traiu a memória dele ao se casar com um sangue azul. Ela não poderia ser útil para nós. Você, no entanto, mostrou alguma habilidade com um relógio e engrenagens. Você projeta coisas que podem ser úteis...
A mente de Lena deu um salto. — Você acha que eu poderia aprender a criar o Ciclope? — Então não haveria mais necessidade de mecanicistaas. Rosalind - ou melhor, Mercúrio, pois ela estava começando a ver a diferença entre os dois - simplesmente os mataria? Do jeito que ela fez com Mendici? Um arrepio percorreu sua espinha. O que Mercúrio faria se Lena dissesse não?
Não havia para onde correr. Esconder. Nenhum aliado restante. Nem mesmo...
Não, não pense nele. Ela fechou os olhos com força e respirou fundo para se acalmar, tentando ignorar a náusea.
Pense.
A única maneira de Rosalind saber da habilidade de Lena com o mecanismo de um relógio era com o Sr. Mandeville. De repente, a maneira como ele sempre a observou com tanto cuidado tornou-se algo muito mais sinistro.
— Eu desenho brinquedos. — Ela sussurrou.
— Mas você poderia fazer um Ciclope. — Rosalind deu um passo à frente. — O mecanismo de transformação é a prova de que você tem a habilidade e a capacidade de projetar essas coisas. — Seus olhos brilharam como chocolate aquecido. — Você seria uma heroína.
Uma heroína. Três semanas atrás, ela ainda poderia se importar com essas coisas. Reconhecimento, finalmente, mas nunca de seu pai. Ele havia morrido pelos mesmos esquemas que iluminavam o rosto dessa mulher com entusiasmo.
Tudo em sua vida era mentira. A Sra. Wade espionava ela e o Sr. Mandeville também, sem dúvida. Seu pai, um homem que praticamente a ignorou como uma espécie de bonequinha, havia projetado armas para derrubar o Escalão.
E Honoria provavelmente sabia.
Lena encostou a cabeça na parede e fechou os olhos. Em quem ela poderia confiar? Havia tantos segredos que ela sentia como se sua cabeça fosse explodir. Mas ela também estava escondendo os seus de sua família, não estava?
A solidão a atingiu como um soco no estômago. Ninguém em quem confiar, ninguém para contar. Ninguém que conhecesse seus segredos ou tivesse compartilhado os seus. Ninguém exceto Will e ele estava...
Lena caiu de joelhos e vomitou, seu corpo inteiro tremendo de miséria. Ela havia tentado tanto não pensar nele, tentando manter a dor enterrada, mas ela brotou, sufocando-a, forçando seu estômago a se contrair.
Lágrimas queimaram seus olhos e ela enxugou o rosto com a manga. Oh Deus, o que ela iria fazer? Como ela diria a Blade que Will... que ele se foi? O pensamento era inconcebível. Ele era tão grande, tão cheio de vida e calor e fogo, seus olhos lançando chamas âmbar sempre que ela olhava para ele. Ela não podia suportar o punho de dor profundamente dentro. Ela precisava ver o corpo, precisava trazê-lo de volta para ela. Para enterrá-lo adequadamente.
Para dizer a ele que se ela tivesse suspeitado que ele poderia tê-la beijado de volta, então ela nunca teria retornado ao Escalão. Para essa bagunça.
Mas primeiro ela tinha que sair daqui. Ela ergueu os olhos. Para o par de botas brilhantes à sua frente e as fileiras de drones de metal.
— Não, — ela sussurrou. — Eu não vou fazer isso.
— Não é bem a resposta que eu esperava —, Rosalind disse calmamente. O martelo da pistola recuou. — Que decepcionante. Venha. Fique de pé. Não tenho mais uso para você.
Capitulo 20
— Não vou contar a ninguém — disse Lena, olhando para o cano da pistola. Projeto próprio de seu pai. Que irônico. — Eu não quero mais nada com isso. Tudo que eu quero é ir para casa e esquecer todo esse pesadelo.
Rosalind se ajoelhou, a pistola pousada em seu joelho. — Você não percebeu? Isto não é um jogo, Senhorita Todd. Você sabe muito.
— Eu não vou dizer uma palavra sobre isso...
— Infelizmente, não tenho certeza se acredito em você.
A amargura cresceu. — Você nunca iria me deixar ir, não é? Você é pior do que os sangues azuis, do que o Escalão. Você usa as pessoas e depois as descarta quando não atendem mais aos seus propósitos.
Um olhar distante surgiu nos olhos da outra mulher. Seus cílios baixaram, vibrando contra as bochechas pálidas. — Surpreende-me o quão inocente você ainda é. — Um sorriso amargo. — Eu sou o que fui feita. Uma arma. Um falcão caçador, finalmente libertada das armadilhas de seu dono. Não pode haver misericórdia, pois não espero nenhuma.
A arma vacilou novamente.
— Espere! — Gritou Lena desesperadamente. — Por favor. Por favor, não faça isso. Eu perdi tudo hoje. Não sobrou nada para mim. — As lágrimas turvaram sua visão, fazendo a pistola desaparecer. Ela prendeu a respiração, os olhos cerrados com força, esperando a resposta da pistola, a dor.
Silêncio.
Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ela olhou para cima. Rosalind rosnou de desgosto e apontou a pistola para o teto.
— Parece que sobrou um pequeno pedaço de misericórdia em mim, afinal. Eu sei que vou me arrepender disso.
Lena soltou um suspiro trêmulo, seu coração batendo forte atrás das costelas. — Eu prometo que você não vai.
Agarrando-a pelo braço, Rosalind a colocou de pé. — Venha. Vou vendar você e fazer com que Jack ou Ingrid joguem você perto dos ensopados.
— Não Ingrid. — Lena teve a sensação de que se Ingrid descobrisse esse momento de clemência, ela cuidaria do assunto em silêncio.
Os lábios de Rosalind se estreitaram. — Você não está em posição de fazer exigências. Venha...
Um grito soou à distância.
Ambas congelaram.
— É melhor que não sejam amigos seus. — Os olhos de Rosalind se estreitaram. Ela empurrou o lampião nas mãos de Lena e a empurrou pela porta, segurando a pistola contra suas costas. — Ou todos os negócios estão cancelados.
O som de aço contra aço ecoou pelos túneis, depois um rugido de fúria de estilhaçar a terra.
Não podia ser... O coração de Lena começou a bater forte, sua respiração ficou presa nos pulmões. Ela queria correr em direção ao som, mas algo a segurou. A mão enluvada de Rosalind em seu braço.
Rosalind a empurrou contra a parede e olhou para a esquina. Evidentemente não avistando nada, ela puxou Lena atrás dela. — Isso está vindo da sala da guarda.
Lena não ousou ter esperanças. Ele não poderia ter sobrevivido àquela queda, não é?
Outro rugido encheu o ar e algo que soou como uma cadeira batendo contra a parede.
— Saia do caminho! — Uma mulher gritou. — Deixa eu cuidar disso.
Rosalind sibilou entre os dentes. — Ingrid. — Ela começou a correr, o que era exatamente o que Lena queria também.
A porta à frente delas se abriu e um homem passou por ela, deslizando pelo chão liso do túnel. O sangue emaranhado de seu cabelo e ele lutou para rolar. Rosalind praguejou baixinho e se ajoelhou, segurando seu queixo enquanto o examinava.
A porta aberta revelou o caos. Pedaços de cadeira estavam espalhados como palitos de fósforo e um pé com bota estava imóvel, o resto da pessoa perdida de vista.
Will estava no meio da bagunça, respirando com dificuldade. Seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo, os ombros tremendo de raiva mal contida. O sangue manchava sua camisa molhada onde estava colada ao seu lado e seu cabelo estava molhado contra o couro cabeludo.
Lena respirou fundo, parando. — Will. — Ela sussurrou, seu coração inchando dentro do peito. Ela tropeçou, agarrando-se à parede. Ele estava vivo! Ela mal podia acreditar. Então seus olhos se estreitaram no sangue que manchava seu lado. Vivo e ferido.
Olhos âmbar escaldantes ergueram os olhos. O choque quando seus olhares se encontraram varreu através dela. Seu punho se enrolou com força em torno da lâmina que segurava. — Lena. — Ele rosnou, e era um tom que ela nunca tinha ouvido dele antes.
Sem tempo para saborear a doçura do momento. Em meio às lágrimas, ela viu Ingrid surgir do nada, a perna de uma cadeira em uma das mãos. Ela balançou com força e Will agarrou seu pulso com um rosnado desdenhoso.
Deveria ter sido o fim de tudo. Mas Ingrid se moveu mais rápido do que Lena acreditava ser possível e bateu com a palma da mão na junta de seu cotovelo. Enquanto Will rugia de dor, ela o seguiu com uma perna, varrendo a dele debaixo dele.
Will bateu no chão com força e Ingrid balançou a perna da cadeira na cabeça dele. Ele deu um chute, arrancando o pedaço de madeira da mão dela e então se curvou para trás sobre os ombros e se levantou. Rosnando de raiva, ele bateu em Ingrid pela cintura e a carregou para o chão.
Lena deu um passo cauteloso à frente, examinando a sala. Ele fez uma bagunça com isso. Homens gemendo espalhados pelo chão, agarrando-se a ossos quebrados e hematomas. Porém, nenhum deles estava morto.
Ainda.
O borrão enquanto ele e Ingrid lutavam era rápido demais para seguir. Usando sua força bruta, ele forçou a outra mulher no chão, puxando seu ombro para trás e ajoelhando-se sobre ela. Ingrid rosnou, seu rosto colado ao chão e seus olhos derretidos de raiva.
Olhos de bronze.
Outro verwulfen.
Will forçou seu braço mais alto. O corpo de Ingrid tremia e ela estremeceu, a outra mão agarrando o chão. Seu olhar escureceu e ele colocou uma mão contra a junta de seu ombro, suas intenções claras.
— Não —, gritou Lena. — Não faça isso!
Saltando para frente, ela agarrou seu braço e puxou inutilmente. Will rosnou para ela, todos os olhos e dentes selvagens e seu coração saltou em sua garganta com a loucura que viu lá. Por um momento, ela não teve certeza se ele iria atrás dela também. Ela viu em seus olhos, viu a necessidade, o desejo de matar brilhando de volta para ela.
— Will. — Ela sussurrou, deslizando o pulso na frente do nariz dele. Se ele a cheirasse, a reconhecesse, ele nunca a machucaria.
Ele relaxou no braço de Ingrid. Com as mãos trêmulas, Lena tocou suavemente sua bochecha. — Will, olhe para mim. É Lena. Você me conhece. — Acariciando a linha de sua mandíbula, ela engoliu em seco quando ele se virou e mordeu suavemente a almofada carnuda de sua palma.
Uma mordida e seu sangue fluiria, misturando-se com o sangue que manchava sua bochecha fraturada. Uma mordida e ela seria infectada. Tremendo violentamente, ela deu um gritinho ofegante enquanto sua língua raspava sobre a carne sensível. Então ele a soltou, seus dentes deslizando suavemente sobre sua pele.
Atrás dela, Rosalind gritou para alguém: — Assim que você tiver um tiro certeiro, pegue.
— A garota está atrapalhando. Quer que eu atire nela?
Lena congelou e olhou por cima do ombro. Jack olhava para ela com um rifle enorme, focalizando através do monóculo de vidro.
— Se você atirar em mim —, disse ela, surpresa com o quão calma sua voz soou, — você nunca vai impedi-lo. — Ela deslizou uma mão firme sobre o ombro de Will. — Ele veio por mim. Por causa da maneira como Mendici me levou. Eu posso pará-lo.
As narinas de Rosalind dilataram-se. Seu olhar cintilou para Will e para trás. — Ele está além de parar.
Deslizando o corpo entre eles, tentando cobrir Will o máximo que podia, Lena balançou a cabeça. — Ele vai me ouvir.
Rosalind vacilou. Lena podia ver em seus olhos.
— Vou falar com ele —, disse ela. — Acalmá-lo. Então nós dois saímos daqui. Vou guardar seus segredos.
— Ou podemos matar vocês dois. — Disse Jack.
Os olhos de Lena se estreitaram. — Experimente e você descobrirá porque ninguém ousa cruzar um verwulfen. Você tem que atirar em mim primeiro e ele a matará.
— Faça isso. — Rosnou Ingrid.
— Cale-se. — Jack abaixou o rifle ligeiramente, o olhar frio considerando. Sua expressão se suavizou ligeiramente quando ele olhou para Ingrid e Lena percebeu que havia algum senso de compaixão, alguma fraqueza dentro dele. — Uma condição. Queremos o transformacional. Conclua o projeto e entregue-o em cinco dias. Esse é o custo da nossa cooperação.
Ontem ela poderia simplesmente ter concordado. — Por quê? O que vocês pretendem fazer com isso?
— É um presente. Para o embaixador escandinavo. Já fizemos contato com eles. Eles estão esperando por isso.
O transformacional era apenas um brinquedo, na verdade. Concedido, um em tamanho real quando ela terminasse. — Nunca vou completá-lo em cinco dias.
O rifle estremeceu. — Você não tem escolha.
Horas de trabalho, soldando chapa de aço ao aço. Ela havia terminado a maior parte do mecanismo de relógio que o movia, mas ainda...
O ombro de Will estremeceu sob seu toque. Sem pensar, ela acariciou seu braço, inclinando-se mais perto. — Concordo —, disse ela. — Vou entrar em contato com Mandeville e pedir ajuda a ele. Quando estiver pronto, vou entregá-lo na loja dele.
— Você está sendo cautelosa conosco? — Rosalind perguntou.
— Eu só cometo um erro uma vez.
Seus olhos se encontraram. Rosalind baixou a pistola e assentiu. — Jack.
— Fale com ele primeiro. — Ele nunca tirou o olhar de Ingrid.
Lena se virou. Will estava tremendo, seus olhos cerrados com força e seus dentes à mostra como se ele lutasse alguma batalha interna que ela nunca poderia entender. Ela o tinha visto fazer isso antes, porém, sabia como ele se controlava.
— Estou segura —, ela sussurrou. — Eu só preciso que você volte para mim, para me ajudar a sair daqui e ir para casa. Respire, Will. Profundamente e lentamente. É isso aí. — Acariciando seu rosto, sua mandíbula, ela se inclinou mais perto, deixando-o cheirá-la. — E uma outra vez. Esse é o caminho. — Deslizando a mão pelo braço dele, sobre o linho áspero que estava enrolado até os cotovelos e a pele bronzeada e lustrosa de seu antebraço, ela lambeu os lábios. A mão dela deslizou sobre a dele, enrolando-se entre seus dedos. — Deixe ele ir, Will. Pegue minha mão. Estou aqui. Eu estou com você.
Deslizando os dedos entre os dele, ela retirou sua mão, sabendo que ele a deixava. Os ombros de Ingrid relaxaram e seus olhos se voltaram para Lena de forma assassina.
— Eu não faria isso —, disse Lena. — Mesmo ferido, ele derrubou você facilmente. Não vou ser capaz de dissuadi-lo de novo. — Ela deslizou a mão de Will sobre seu joelho e pressionou-a ali, então se virou para a outra.
Os dedos de Will tremeram sobre o pulso de Ingrid. Lena se aproximou, esfregando o rosto em sua mandíbula. Seu perfume encheu suas narinas, escuro e almiscarado. Ela queria pressionar os lábios contra a pele dele, para confirmar que ele estava realmente aqui, que estava vivo.
Droga. Não havia regras da sociedade aqui e ela estava além de se importar com o que os outros pensavam. Virando o rosto, ela pressionou os lábios em sua bochecha, sua mão deslizando sobre a outra bochecha. Vivo. Caloroso. O pulso batendo forte em seu peito. Um grito ficou preso em sua garganta. Tão perto de perdê-lo... Lágrimas queimaram seus olhos. Nunca mais.
A raspagem de sua barba por fazer queimava seus lábios muito sensíveis. Piscando para afastar as lágrimas, ela aliviou seu aperto no pulso de Ingrid, os dedos sangrando de sua bochecha. — Venha para casa comigo, Will. Me leve para casa.
Sua mão se abriu. Seus olhos ainda estavam firmemente cerrados.
O corpo de Ingrid desabou no chão e ela estremeceu ao puxar o braço ferido para cima.
— Não se mexa — Lena avisou, deslizando os braços em volta do pescoço dele. — Levante-se, Will. — Ela soprou as palavras em seu ouvido. — Me leve para casa. Sua casa.
Ele olhou para cima então, a loucura sugando de seu olhar. A besta não havia desaparecido completamente. Ele olhava para ela com fome, uma loucura própria, e seus mamilos se contraíram dolorosamente contra a raspagem de sua camisa de linho.
— Sim —, ela sussurrou. — Quando chegarmos em casa.
— Casa. — Sua voz estava rouca. Ele olhou em volta, percebendo que ainda estava ajoelhado sobre Ingrid. Então ele olhou para cima e algo sombrio cintilou em seu olhar.
— Guarde o rifle! — Ela gritou quando Will a empurrou atrás dele.
Não havia chance de pará-lo se ele decidisse ir atrás de Jack. Agora não. Suplicando com os olhos, ela tentou deslizar os braços em volta da cintura de Will. Qualquer coisa para retardá-lo, para lembrá-lo de sua humanidade.
Jack baixou lentamente o rifle. — Não achei que você pudesse fazer isso. — Ele acenou com a cabeça bruscamente para ela. — Cinco dias.
— Cinco dias. — Prometeu Lena, seu corpo relaxando com um suspiro de alívio.
Jack olhou com cautela para Will. O que quer que tenha visto no rosto de Will, o fez dar meio passo para trás. — É melhor você ir. — Outro olhar para Ingrid. — Porque eu não posso garantir que posso convencê-la do limite.
A fúria que o mantinha em movimento começou a desvanecer quando chegaram à superfície. Seu peso era demais para ela suportar sozinha.
— Vamos — disse Lena em tom alegre. — Não muito mais longe. — Ela deu uma olhada desesperada ao redor. O cortiço estava a quase oitocentos metros. Nessas ruas, com Will incapaz de se defender, eram oitocentos metros perigosos.
Will cambaleou contra uma parede de tijolos, o sangue secando de seu lado. Ele nunca faria todo o caminho até o cortiço. Lena mordeu o lábio e olhou para a pequena rua lateral onde ele morava atualmente. Ela nunca tinha estado lá dentro, mas ela sabia sua localização.
— Por aqui. — Disse ela, envolvendo os braços em volta da cintura dele e tentando guiá-lo em direção à escada que levava à sua porta.
Dois meninos fumavam charutos na base da escada. Um ou dois anos mais jovem que Charlie, ela não gostou da maneira como eles olhavam para ela.
— Olá, senhora. Por que você não larga o velho e vem se sentar conosco? — Um deles gritou.
Não havia como passar por eles. Will enrijeceu como se tivesse ouvido o insulto, e ela acariciou o músculo magro de suas costas. — Eles são apenas meninos, — ela sussurrou. — Sem perigo.
Ela esperava.
Levantando a voz, Lena olhou para quem falara mortalmente. Ela enfrentou sangues azuis e humanistas. Este era apenas um menino, tentando impressionar seu amigo. — Aqui agora. Quer ganhar algumas moedas?
— Que tal eu oferecer um pouco de lata? — Outro sorriso malicioso.
Lena agarrou a camisa de Will. — Não se atreva. — Dando um passo à frente, ela manteve um olhar cauteloso sobre ele. Ele podia estar perigosamente perto de desmaiar, mas se a fúria o dominasse, poderia ser o suficiente para levá-lo ao limite da morte. — Eu preciso que uma mensagem seja entregue à minha irmã.
O outro rapaz ergueu o queixo. — Quem é sua irmã?
— Esposa de Blade.
Ambos os meninos pararam. Aquele que deu sua dor empalideceu e saltou sobre seus pés. — Não quis dizer nada com isso, senhorita. O que você quer que digamos?
— Diga a ela que Lena está na casa de Will. Que ela precisa vir. — Will escolheu aquele momento para cair e ela balançou perigosamente com ele.
O outro rapaz deu um passo à frente para ajudar.
— Não! — Ela gritou enquanto um rosnado coagulava na garganta de Will. O menino congelou. — Não toque nele. Não me toque. Ele não é ele mesmo no momento. Apenas passe minha mensagem.
O que quer que tenham visto no rosto de Will, eles nem mesmo a questionaram sobre a moeda. O nome de Blade tinha peso aqui. Em segundos ela estava sozinha, enfrentando o obstáculo da escada.
Seu próprio corpo gritou de exaustão. Lena finalmente levou Will ao topo e empurrou a porta aberta. Ele não se preocupou em trancá-la. O par de adagas esculpidas na porta indicava a quem pertencia esta casa e nem mesmo o mais corajoso dos ladrões ousaria cruzar a soleira.
Segurando-o por baixo dos braços, Lena fechou a porta com um chute com o sapato estragado. Ela havia perdido o outro nos túneis e mal conseguia sentir aquele pé por causa do frio. — Aqui agora, — ela murmurou, guiando-o contra a porta. Sua visão turvou. — Fique aqui enquanto eu pego um lampião.
Will desabou. — No fogão.
Ela viu o contorno do fogão contra o brilho pálido da lua através das cortinas transparentes. Demorou um minuto para acender, então um brilho alegre iluminou a sala.
Lena olhou em volta. — Meu Deus, Will. Você sabe que pode comprar móveis?
Não havia nada além de um pequeno catre no canto, coberto com um par de colchas de retalhos, uma mesa e duas cadeiras e as necessidades básicas da cozinha. O apartamento era pequeno. Quase tão pequeno quanto o que ela compartilhou com seu irmão e irmã quando eles começaram a se esconder no cortiço.
— Certamente Blade te paga. — Ela murmurou em um tom chocado.
— Ele me paga. — Will deu um passo em direção à cama e cambaleou perigosamente. — Não tenho muita necessidade . . de gastar...
Lena saltou para frente, agarrando-o pela cintura. O peso dele a atingiu com força e ela cambaleou para trás, os joelhos batendo na cama. Os dois caíram, Will um peso pesado e esmagador em cima dela.
Seu rosto estava enterrado em seu ombro. Lena se contorceu mais alto para poder respirar, então caiu para trás com um suspiro. — Will! Você está me esmagando!
Nenhum sinal de movimento em seu rosto. Ele respirou devagar e ela percebeu que ele estava naquele estado quase inconsciente que se seguia a um grande esforço. Empurrando seu ombro, ela conseguiu deslizar apenas o suficiente para que seu peso não fosse mais esmagador.
Puxando sua camisa para fora da cintura, ela esticou o pescoço para verificar seu ferimento. Uma crosta sangrenta o cobria. Tocando suas costelas com ternura, ela verificou qualquer sinal de lesão. Nesse estágio, havia pouco que ela pudesse fazer. O vírus se congregaria no local da ferida e faria mais do que ela - ou mesmo um médico - poderia.
Ciente de que ele não estava mortalmente ferido, ela desabou contra o travesseiro. O frio que parecia permear seus ossos ainda estava lá. E Will estava queimando de calor.
Aconchegando-se contra seu peito, ela pressionou seus lábios frios em seu pescoço. O calor de seu corpo a fez se sentir um pouco melhor, embora a náusea de antes tivesse passado, graças a Deus. Lena piscou sonolenta. Ela mal conseguia manter os olhos abertos. O peso da exaustão a atingiu com força e ela mal teve tempo de se perguntar se sua mensagem chegaria a Honoria antes que a escuridão a levasse.
Capitulo 21
O sol da manhã entrava pelas cortinas. Lena piscou, a dor golpeando seus olhos muito sensíveis. Ela estava com tanta sede, sua boca seca. — Onde estou?
Uma sombra se moveu no limite da visão. Lena ficou alerta, seu batimento cardíaco desacelerando quando Charlie sorriu para ela.
— Ela está acordada!
Honoria se materializou, o rosto pálido de falta de sono. Sua mão deslizou pela testa de Lena, deliciosamente fria. — Charlie —, ela murmurou. — Você poderia buscar mais água? E algo para comer? — A última pergunta foi dirigida a Lena.
Ela assentiu bruscamente. Seu estômago roncou com o pensamento, contorcendo-se com o vazio.
Honoria levou um copo aos lábios. Água fria molhou sua língua seca e ela engasgou avidamente com isso. A porta se fechou atrás de Charlie enquanto Honoria se acomodava na beira da cama.
— Beba devagar —, disse Honoria. — Você está dormindo há muito tempo.
Quando ela esvaziou o copo, ela estava se sentindo um pouco melhor. Olhando ao redor, ela reconheceu seu antigo quarto no cortiço.
— Will?
— Ele ainda está dormindo. — Honoria passou a mão pelo cabelo úmido. — Lena, sua temperatura está anormalmente alta. Você está queimando de febre. Como você está se sentindo?
Ela considerou seu corpo. — Com fome?
A preocupação passou pelos olhos escuros de Honoria. — O que aconteceu? Você consegue se lembrar? Tudo o que Rip pôde nos dizer foi que ouviu um assobio de socorro e então Will se foi. Encontramos sua carruagem virada na rua, mas nenhum sinal de nenhum de vocês. Blade e Rip procuraram nos túneis, mas perderam o rastro do cheiro de Will. Alguém pulverizou a área com algum tipo de produto químico que obliterou o cheiro.
Tudo o que aconteceu passou por sua mente. Ela abriu a boca. Então fechou. Ela jurou que não falaria sobre os humanistas com ninguém. E ela não se atreveu a envolver sua irmã.
Lágrimas surgiram em seus olhos, suas emoções estranhamente cruas. — Honor, se eu fizesse uma pergunta, você responderia?
— Claro.
Seus olhos se encontraram. — Meu pai era um humanista?
A quietude irradiou pelo corpo de sua irmã. — Por que você perguntaria tal coisa?
— É verdade então. — A voz de Lena endureceu e ela lutou para se sentar. — O que mais você achou que era melhor manter em segredo de mim? O trabalho do pai para a Vickers? A verdade do que ele estava realmente fazendo?
Honoria ficou rígida. — Onde você descobriu sobre isso?
— Não importa. É tudo verdade, não é?
Algo antigo encheu os olhos de Honoria. — Sim. Não sei o quanto você sabe, mas é verdade. Nos últimos anos de sua vida, papai ficou insatisfeito com o jeito do mundo. Ele começou a trabalhar em uma cura para o desejo pde Vickers, mas em seu próprio tempo ele pesquisou as fraquezas de um sangue azul. Ele queria descobrir métodos de destruí-los.
Lena pressionou as mãos contra o rosto. Tudo o que Rosalind disse a ela estava correto.
Honoria colocou a mão hesitante em seu ombro. — Lena? Você não está com raiva de mim? Eu fiz o que achei melhor. A informação é perigosa. Eu só estava tentando proteger vocês dois.
— Você deveria ter me contado. — Assim que disse essas palavras, percebeu como a declaração de Honoria parecia familiar. Eram todas desculpas que ela mesma havia usado. Uma semelhança que ela nunca pensou que compartilharia com sua irmã. Elas eram tão diferentes no coração, mas ela não podia negar que Honoria arriscaria a própria vida por ela e Charlie sem pausa. Deslizando a mão sobre a de sua irmã, ela apertou suavemente.
— Lena, o que aconteceu nos túneis?
Um mundo que ela nunca poderia revelar. — Alguém me sequestrou. Não tenho certeza de quem é. Will veio atrás deles e me salvou.
A história era muito breve para apaziguar sua irmã e ambas sabiam disso. Mas qualquer que seja a culpa que atualmente esfolasse Honoria, ela não ousou questionar a declaração.
— Você acha que eu poderia ver Will? — Lena perguntou baixinho.
— Ele está dormindo.
— Só para ver como ele está. — Ela pensou que ele estava perdido. O desejo de ter certeza de que ele estava seguro e vivo de repente era uma necessidade esmagadora. — Por favor.
Honoria suspirou. — Eu vou permitir. Mas só porque entendo o que você está sentindo.
Honoria passou a mão pela testa da irmã, alisando os cachos úmidos. Embora ela tivesse deixado Lena sentada em uma cadeira ao lado da cama de Will, quando ela voltou com mais água, ela a encontrou dormindo enrolada em cima dos cobertores, seus dedos entrelaçados nos dele.
Os braços de Blade deslizaram ao redor de sua cintura por trás e ele apoiou o queixo em seu ombro. — O que há de errado?
— O que você quer dizer?
— Você está preocupada. — Disse ele simplesmente.
Pressionando um dedo contra os lábios, ela o levou para fora do quarto e fechou a porta atrás dela. Embora ele arqueasse uma sobrancelha em questão, ela balançou a cabeça e o levou escada acima para sua sala de trabalho.
— O que é, amor? — Ele perguntou, franzindo a testa enquanto fechava a porta atrás de si.
Ninguém iria ouvi-los aqui. Honoria foi até a escrivaninha e puxou um livro pesado da estante. Ela abriu até a marca de página e pressionou o dedo na escrita aranha. — Leia-o.
Blade apertou os olhos para a página, seus lábios se movendo lentamente. — Não entendo. Este é o primeiro estágio do vírus da lupa e seus efeitos.
— Eu estava estudando para tentar encontrar a cura de Will, — ela admitiu. — O primeiro sinal do lupinismo é febre. Dores de cabeça, ondas de calor e frio, suores...
Ele entendeu imediatamente.
— Ela está queimando —, sussurrou Honoria. — Ela não deveria estar com tanto calor, não sem graves sinais de desconforto, mas tudo o que ela sente é fome e sede.
O rosto de Blade empalideceu.
Honoria mordeu o lábio. — Tem mais. Você sabia que o lupinismo é uma doença extremamente virulenta e, no entanto, existem poucos verwulfen por aí? — O calor queimava atrás de seus olhos e ela acariciou a página à sua frente. Ela veio aqui para ler mais assim que suspeitou do que estava acontecendo. — Blade, as estatísticas de sobrevivência à febre inicial são extremamente pobres. Talvez um em cada quinze faça a transição. Na Escandinávia e na Alemanha, apenas os guerreiros mais fortes podem ser infectados. Eles devem provar seu valor em um teste primeiro, para garantir que tenham a maior chance de sobreviver. — Sua visão ficou turva. — É por isso que nenhum verwulfen tem permissão para acasalar com um humano. Oh Deus, o que eu fiz? — Suas palavras se transformaram em um sussurro, uma dor queimando em seu peito. — Eu nunca deveria ter permitido ela perto dele. Eu deveria ter percebido. Eu deveria ter...
Braços fortes a puxaram para perto, enterrando-a contra seu peito. — Tenho a sensação de que nada do que fizemos poderia mantê-los separados. — Ele acariciou seus cabelos. — Shhh, amor. Não é sua culpa. Você não poderia saber. Há tão pouca informação sobre o lupinismo girando. E quem sabe, ela pode ser forte o suficiente.
Honoria soluçou um soluço. — Os guerreiros mais fortes, Blade. E a maioria deles não sobrevive.
— Então, — ele disse, levantando o queixo dela em direção a ele. — nós precisamos descobrir o que ela precisa. Como 'auxiliar'.
O pensamento penetrou onde nenhum falso conforto jamais poderia. Isso ela poderia fazer. Ela agarrou o livro e enxugou as lágrimas dos olhos. Ela não tinha sido capaz de salvar seu irmão do vírus do desejo, mas ela estaria condenada se deixasse a vida de sua irmã desaparecer.
— Sente. Leia —, disse ele, empurrando-a para uma cadeira. — Vou buscar um bule de chá e algo para comer. Então vou ver como estão.
Os olhos de Honoria já percorriam as linhas da página. — Obrigada.
O mundo abaixo dela se moveu. Lena piscou sonolenta. Arqueando os dedos, ela os cravou no corpo macio sob o dela e bocejou. Seu travesseiro ameaçou desalojá-la e ela agarrou os lençóis.
Will rolou para o lado, piscando com cautela para ela. Grossos músculos cobriram seu peito e ombros, e por um momento, a necessidade de passar a mão pelos pelos de seu peito foi quase irresistível.
Agarrando o lençol para evitar que caísse muito, ele enrijeceu. — Estamos no cortiço. — Uma carranca. — O que aconteceu?
— Você não lembra? Você desabou, — ela disse. — e Blade trouxe você aqui. Você dormiu o dia todo. Como você está se sentindo?
Seu olhar vagou além, em direção ao jarro de água.
— Aqui. — Disse Lena, pulando da cama de camisola e servindo um copo para ele. Ela o estendeu para ele, mas ele agarrou o jarro e o inclinou para cima. Os músculos de sua garganta trabalharam, riachos de água escorrendo por sua mandíbula e pela clavícula.
O calor queimava entre suas coxas e ela agarrou o vidro frio com força. O desejo puro era quase uma lâmina peito. Ela havia prometido a si mesma que falaria com ele se ele sobrevivesse, diria como se sentia, mas de repente ela estava nervosa e com a língua presa novamente. A maneira como ele sempre a fazia sentir.
Ela, uma mulher que poderia torcer um homem em torno de seu dedo com um sorriso simples se quisesse.
Uma rachadura apareceu no vidro. Então outra. Lena olhou para baixo com espanto quando o vidro se estilhaçou, pedaços desmoronando no tapete. O sangue jorrou de seus dedos.
Will abaixou a jarra, seu olhar caindo para o vidro. — Inferno fodido, Lena. — Ele saltou da cama, movendo-se com a mesma graça econômica que sempre chamou sua atenção.
Um excesso de pele dourada. Pele nua. Os olhos de Lena se arregalaram. Ela teve um segundo de graça para baixar o olhar antes que ele praguejasse e puxasse o lençol em volta da cintura, colocando a ponta para dentro.
Oh meu Deus.
Os livros de anatomia nem chegam perto de retratar a verdade. O calor sumiu de seu rosto. Ela teve apenas um vislumbre de seu membro, meio excitado e enorme, balançando na espessa mecha de pelo escuro que o aninhava. A respiração ficou presa em sua garganta. Não havia nenhum possível modo que poderia caber...
— Aqui, — Will rosnou, pegando os restos do copo dela e rasgando um pedaço do lençol. Ele o mergulhou na jarra de água e torceu, então enxugou com ternura o corte em sua mão. — O que aconteceu?
— Ele rachou na minha mão. — Disse Lena, distante. Um arrepio de necessidade passou por ela, acendendo desejos que ela mantinha trancados a sete chaves em seu coração.
Will hesitou.
— O que?
— Tem um pedaço de vidro aí. — Uma carranca juntou suas sobrancelhas. — Lena, você não sente isso? — Um golpe trêmulo sobre algo em sua mão.
Ela desviou o olhar da extensão larga e nua de seu peito e viu o pedaço de vidro saindo de sua mão. Assim que o viu, sentiu uma pontada de dor e mordeu o lábio. — Um pouco. Não dói muito.
— Lena, olhe para mim.
Olhos quentes castanhos com seus cílios impossivelmente grossos. Ela se inclinou para frente, descansando a mão livre contra o peito dele, sentindo o delicioso deslizamento de pele macia e sedosa sob as pontas dos dedos.
Will prendeu a respiração. Então seu olhar caiu e a dor latejou em sua mão. — Entendo. — Disse ele. Enxugando o corte, ele o examinou em busca de qualquer sinal de vidro e então amarrou outra tira de lençol ao redor dele firmemente.
O cheiro dele, quente e almiscarado, envolveu seus sentidos. Assim que ele soltou sua mão, ela a colocou contra seu estômago, sentindo um estremecimento sob a ponta dos dedos.
— Lena —, alertou ele, em uma voz rouca. O calor em seus olhos contradiz seu tom. — Não podemos.
— Por que não? — Ela sussurrou, deslizando as costas dos nós dos dedos para baixo em seu abdômen ondulado. — Você quer. Eu quero. — Lágrimas picaram em seus olhos e de repente sua garganta estava grossa. — Eu pensei que tinha perdido você. Que você se foi. Para sempre. — Uma lágrima quente e salgada desceu por sua bochecha. Ela balançou a cabeça e ergueu os olhos ferozmente. — Nada mais importa. — Uma respiração profunda, seu coração batendo loucamente em seu peito. Ela não conseguia encontrar seus olhos, mas isso não importava. — Eu estava com tanto medo de nunca ter a chance de tocar em você. Para beijar você de novo. Para te dizer...
— Me dizer o quê? — Ele agarrou seus pulsos, empurrando-os para trás.
Seus mamilos esfolaram a camisola de linho. Ela olhou para ele, para a expressão feroz em seu rosto. Lampejos de âmbar aquecido iluminaram seus olhos. Era isso que ela queria mexer. A paixão incontrolável nele. A necessidade. Ela se inclinou mais perto, deixando seus seios esfregarem contra sua pele. A sensação disparou por seu abdômen, apertando-se com um calor branco entre suas coxas.
— Me dizer o quê? — Ele repetiu, mais do âmbar abafando o castanho de seus olhos.
Lena se inclinou para frente e beijou seu peito. Will estremeceu, o aperto em seus pulsos afrouxando. — Quanto eu sinto sua falta, — ela sussurrou. — Eu joguei com você, Will, porque eu tinha medo que se estivesse falando sério, e você não fosse... que eu... eu queria que você me beijasse. Tentei levá-lo a isso, mas você nunca ousaria. Achei que você não me queria e doeu tanto, porque eu queria você.
Outro estremecimento de necessidade conflitante dentro dele. Ele balançou a cabeça, seus lábios se separando. — Eu não posso. — Mas as mãos dele estavam relaxando em seus pulsos e de repente foi fácil escapar de suas mãos.
Ela deslizou as mãos sobre o peito dele e se aproximou. Will recuou, seus joelhos batendo na parte de trás da cama. Ele caiu na cama, seu punho cerrado nos cobertores. O lençol em torno de seus quadris ameaçou se soltar. Lena se ajoelhou na beira da cama, colocando a perna sobre os quadris dele.
Seus músculos se contraíram. — Lena, você não entende.
— Você me quer ou não? — Um momento sem fôlego enquanto esperava pela resposta.
— Claro que sim, mas...
Ela pressionou um dedo contra seus lábios. A camisola subiu em torno de suas coxas, a borda rendada arrastando sobre suas panturrilhas sensíveis. Lambendo os lábios, ela relaxou em seu colo, ofegando ao sentir seu membro rígido contra seu calor úmido.
Tão sensível. Tão doce a sensação. Ela jogou a cabeça para trás e arqueou os quadris, esfregando-se contra ele.
Dedos cerrados em seu traseiro, quase dolorosamente apertados. Ele a pressionou contra ele novamente e Lena gritou quando a necessidade apertou dentro dela.
O lençol estava preso entre eles. Ela podia sentir seu próprio corpo molhando-o, o raspar do linho contra a protuberância sensível que a deixava louca. De repente, não era o suficiente. Ela queria mais. Precisava de mais. Afundando as mãos em seu cabelo, ela o agarrou e arrastou sua boca até a dela.
Will mordeu o lábio dela, sugando-o em sua boca. Suas línguas se chocaram e ela se apertou contra ele, esfregando seus seios, seus quadris, sua boceta contra seu corpo duro. O gosto de sua boca era inebriante.
O lençol a deixou louca. Ela deslizou a mão entre eles e puxou o comprimento que ele tinha enfiado na cintura. Tarde demais ele percebeu suas intenções e segurou seu pulso. Lena segurou a ponta, sentindo-a se desfazer embaixo dela. Ela apertou os quadris contra os dele e desta vez foi a carne que encontrou a dela. Carne dura e inchada.
— Não posso.
Ela o beijou, sem ousar deixá-lo ir. Seu pênis subiu, enorme e potente contra ela e ela o molhou com seu próprio corpo, cavalgando ao longo da borda dele. Will fez um som estrangulado em sua garganta, suas mãos cavando em suas coxas e seus olhos vidrados. A cabeça de seu pênis roçou contra ela, uma sensação de alongamento...
O queixo de Lena caiu. Will a agarrou pelos quadris e então a dor e o estiramento desapareceram e ele a jogou de costas contra a cama, pairando sobre ela com um rosnado tenso. Suas mãos prenderam seus pulsos na cama.
— Não. — Respirando com dificuldade, suas costas pesando com o esforço, ele olhou para cima e encontrou o olhar dela. Âmbar queimava desesperadamente.
— Você quer.
— Eu quero, — ele admitiu. Algo passou pelos olhos dele, uma tristeza que fez seu coração apertar. — Não posso, Lena. Eu prometi que iria te proteger. Até de mim mesmo.
— Eu confio em você, — ela sussurrou. — Você não me machucaria.
Ele cerrou os olhos. — Lena, você nunca pensou em como o lupinismo é espalhado?
Ela abriu a boca e congelou. Nenhuma vez ela havia considerado isso. — Não sei muito sobre isso. — Poucas pessoas sabiam. Ninguém no Escalão falou sobre isso. — O desejo é espalhado pelo sangue.
— Lupinismo também. — Seu corpo se suavizou sobre o dela, os quadris a empurrando para a cama, precisando de um tom duro em seus olhos dourados. — E também através da semente de um homem. Por que você acha que não estive com uma mulher?
Outra revelação impressionante. — Nunca? — Ela sussurrou surpresa.
Ele balançou a cabeça, os olhos escurecendo. — Nunca.
Alguma sensação feroz de posse queimou dentro dela. — Eu não sabia. Eu pensei... — Sua mente disparou. Nenhuma vez ela se lembrava de tê-lo visto com uma mulher. Ela nunca tinha pensado nisso antes, preferindo assumir que ele mantinha seus encontros em segredo.
O aperto de Will diminuiu e ele se ajoelhou sobre ela, as mãos nas coxas. Seu pênis balançou contra seu estômago, mas o desânimo em seus ombros disse a ela tudo que ela precisava saber. Agarrando o resto do lençol, ele o enrolou em seus quadris.
— A menos que uma mulher já tenha. Eu não poderia.
Lena balançou a cabeça. Isso não poderia estar acontecendo. Justo quando ela finalmente admitiu para si mesma a profundidade de seus sentimentos por ele... — Talvez... — Ela lambeu os lábios secos. — Eu não me importaria. Se pudéssemos ficar juntos...
— Não! — Sua expressão endureceu. — Você não sabe o que está perguntando. Já fui cortado, espancado e até meio destripado antes, e eles não são nada - nada - em comparação com a agonia do lupinismo quando ele atinge pela primeira vez. Nem todo mundo sobrevive, Lena. — Ele esfregou a mão no rosto. — Eu não poderia fazer isso. Não para você.
As lágrimas turvaram sua visão. O futuro tênue com que ela começou a sonhar foi lavado com o turbilhão de suas palavras.
— Lena —, ele sussurrou. Uma mão gentil acariciou a parte de trás de sua bochecha. — Não chore.
— Não estou —, respondeu ela, tentando secar os olhos nas mangas. De alguma forma, ela convocou um sorriso fraco. Ele vacilou. — Ontem eu pensei que você estava morto. Eu disse que faria qualquer coisa para ter você de volta, para tê-lo seguro... — As palavras se quebraram. Ela não podia dizer mais nada. Soluços a alcançaram.
Lençóis farfalharam e então Will a arrastou contra ele. — Eu nunca quis te machucar. — Ele murmurou. — Eu tentei ficar longe de você.
Ela assentiu, trêmula, respirando fundo. — Eu posso ver isso agora. — Todas as vezes que ela pensava que ele não se importava com ela e ele só estava tentando impedir isso antes que fosse longe demais.
Ele beijou sua bochecha, seus lábios molhados com suas lágrimas. Então sua mandíbula. Os lábios dela. Lena virou o rosto para ele com avidez, envolvendo o corpo com força contra ele. Eles se beijaram desesperadamente, agarrados um ao outro e ela quase desabou de novo, sabendo que esta era a última vez que ela poderia fazer isso.
Seus dedos se enroscaram nas mechas sedosas de seu cabelo. Will a puxou para mais perto dele, seu pênis uma presença enfática contra sua coxa. Sua boca se arrastou mais para baixo, mordiscando seu queixo, então seu pescoço, sua língua traçando a geada salgada de suas lágrimas.
O choque da mão dele contra seu seio a fez prender a respiração. — Will?
— Só isso. Só uma vez. — A outra mão deslizou sua camisola mais para cima, seu antebraço embalando a curva de seu traseiro nu.
O calor correu por ela. Nunca houve a intenção de dizer não. Se isso fosse tudo que ela pudesse ter dele... — O que você vai fazer?
Will a colocou de volta na cama e se ajoelhou sobre ela. A raspagem de sua barba por fazer contra sua garganta a fez sair da cama e ela cravou as unhas em seus ombros. — Já pensei nisso... sonhei com isso. — Os dentes roçaram a coluna vulnerável de sua garganta, uma mordida provocadora que ameaçava e tentava a ambos. — Eu quero provar você.
Ela estremeceu de desejo. Ele estava pedindo sua rendição. Ela deu completamente. — Faça.
Seus lábios acalmaram a dor da mordida. Mãos deslizando sobre sua camisola com necessidade febril, ele a agarrou pela bainha e a ergueu.
O ar frio agitou-se contra sua carne nua. Lena ergueu os quadris e ombros para fora da cama, permitindo que ele a removesse. Will jogou a camisola de lado, sem tirar os olhos dela. Eles queimaram como a forja de um ferreiro, o calor empolando sua alma.
A incerteza batendo em seu peito, ela baixou as mãos contra os lados. Sua respiração levantou seus seios, atraindo seu olhar para eles. Seus mamilos endureceram e ela deixou seu olhar vagar por seu rosto, procurando por algo, qualquer coisa.
Sua expressão se suavizou. Ainda feroz em seu desejo, a estranha sugestão de desejo formou sua boca. — Você é linda. — Gentilmente, ele traçou sua clavícula, seus dedos fazendo cócegas sobre sua pele. Eles desceram, desenhando círculos concêntricos suaves ao redor de seu seio esquerdo. — Perfeita.
— Muito pequena. — Ela sussurrou.
Ele se encostou ao lado dela, uma perna jogada sobre a dela. Capturando seu olhar, ele deslizou sua palma áspera sobre seu seio, segurando-o. — Perfeita. — Ele rosnou e abaixou a cabeça.
Os lábios traçaram a curva suave de sua carne. Ela engasgou quando os dentes encontraram seu mamilo e o mordeu suavemente. A mão em seu seio deslizou para baixo, patinando em seu estômago trêmulo. Tanta sensação. Ela mal pôde conter isso, especialmente quando a mão dele mergulhou entre suas coxas.
Um novo mundo. Ela se sentiu extremamente desajeitada, sem instrução. Ela não sabia nada disso, do prazer. A teoria não tinha nada em prática. Os dedos de Will a encontraram e ela jogou a cabeça para trás, ofegante, contra os lençóis.
— Tire seu cabelo. — Ele sussurrou, um dedo traçando pequenos círculos contra o botão molhado entre suas coxas.
Ela mal conseguia se mover, presa pela sensação de sua mão. — Eu não posso. — Ela engasgou, seus quadris tremendo.
O movimento cessou. Ele pressionou a palma da mão contra o monte dela. — Tire-o.
A demanda encheu sua voz. Lena ergueu os braços sobre a cabeça e começou a trabalhar na trança. Seu cabelo caiu sobre os lençóis em ondas soltas, grossas e escuras. A expressão de Will tornou-se preguiçosa, com as pálpebras pesadas. Ele baixou a boca até o mamilo e o sugou. — Isso é melhor.
A espiral em seu estômago cresceu. Ela deslizou as mãos sobre os ombros dele, conhecendo os músculos lisos de sua carne. Então, através de seu cabelo, agarrando o comprimento dele, incapaz de unir pensamentos ou sons coerentes enquanto seus lábios brincavam com seu seio.
Uma língua quente varreu sobre ela, raspando em seu mamilo. Um som inarticulado ecoou em sua garganta, áspero e gutural. Um apelo sem palavras por mais. Como se em resposta, seus dedos dançaram levemente sobre sua carne molhada, circulando a entrada de seu corpo.
— Sim — Lena ofegou, arqueando as costas de forma obscena. — Will!
— Você gosta disso? — Uma pitada de curiosidade brilhou em seus olhos. Isso também era novo para ele, mas ele se movia com uma confiança que a enganava.
Um dedo deslizou profundamente em sua passagem e ela apertou em torno dele, os olhos revirando em sua cabeça. Uma risada suave ecoou contra sua carne, um estrondo de satisfação satisfeita. Tão masculino.
— Sim?
Os dedos dela estavam cerrados em seu cabelo com tanta força que ele tinha que sentir. Ela tentou relaxar. E falhou. — Sim.
Outro dedo a esticou e ela sentiu a queimadura profunda enquanto seu corpo relaxava para acomodá-lo. Sombras encheram seus olhos - ele queria que fosse seu próprio corpo - e ele mordeu a curva suave de seu seio com um grunhido quando o âmbar alcançou suas íris.
Lena ergueu os quadris para a mão dele, exigindo silenciosamente mais. O mundo se estreitou, tornando-se pouco mais do que o som de lençóis se mexendo e suspiros suaves e a sensação de seus dedos bombeando dentro dela.
Algo acenou, uma sensação que ela sabia que queria sentir. Jogando a cabeça de um lado para o outro, ela tentou encontrá-lo, tentou empurrar com mais força contra sua mão. O polegar de Will percorreu a protuberância de sua carne e ela apertou com um suspiro, agarrando seu pulso.
— Pronto, — ela sussurrou desesperadamente. — Ali.
— Aqui? — Um polegar pressionou com força contra ela.
Ela gritou, seus quadris levantando mais alto. Tão perto. Quase... A borda ameaçou desabar sob ela e seu polegar a montou novamente. Lá-
Lena gritou quando a sensação a percorreu, cegando-a para todo o resto. Nada além da sensação de seu corpo permaneceu, seu dedo penetrando profundamente dentro dela. Reivindicando-a como ela desejava que seu corpo pudesse.
Demais. Ela gritou e pegou sua mão, apertando os joelhos com força enquanto rolava para o lado. Ofegante, seu rosto pressionado contra os lençóis, ela voltou ao mundo lentamente. Will se enrolou em torno dela, seu rosto acariciando sua nuca e seu eixo pressionado contra seu traseiro.
Ela mudou, conduzindo-o entre suas coxas, sua própria maciez criando um vácuo. Will respirou fundo, as mãos apertando-a com força. — Lena.
Ainda assim, seus quadris pressionaram contra seu traseiro, o ninho de pelo elástico na base de seu eixo fazendo cócegas nela. Sua carne quente montou contra seu cerne sensível e ela engasgou novamente, luzes brancas dançando atrás de seus olhos.
Afundando o punho em seu cabelo, Will puxou seu rosto para trás, descobrindo sua garganta. Seus quadris resistiram contra ela novamente, rasgando uma nova sensação por ela.
Dentes afundando no músculo macio de seu trapézio. Seu punho, uma presença dominante em seu cabelo. Ela não conseguia se mover, presa por seu corpo. Will se apertou contra ela uma e outra vez, empurrando com força entre suas coxas. Ela cerrou os joelhos, os dedos cavando no lençol.
— Minha — Ele rosnou. — Você é minha.
— Sempre! — Ela gritou, seu corpo tombando sobre aquele fio elétrico afiado novamente.
Seu grito ecoou o dela, a semente quente inundando seu estômago. Lena desabou contra os lençóis, ofegando com dificuldade. Não houve tempo para relaxar. Will a empurrou de costas, seus olhos selvagens enquanto ele limpava a semente de sua pele. Só quando o último vestígio sumiu seus ombros relaxaram. Ele enrolou o lençol e jogou-o fora.
Lena estendeu a mão para ele. — Venha aqui.
O músculo tenso em suas coxas. — Eu não deveria. — Seu olhar vagou para o lençol, a voz rouca. — Eu não deveria ter arriscado nem mesmo isso.
O calor lânguido se instalou em seu corpo. Ela queria dormir, desesperadamente. Se espreguiçando como um gato, ela sorriu para ele. — Isso não foi uma pergunta, Will.
Ele a possuía totalmente. E ainda, quando se tratava disso, ela possuía uma parte dele também.
Ele gozou, seu corpo pressionando com força o dela, empurrando-a contra o colchão. Lena sorriu para si mesma e o abraçou, esfregando a bochecha contra sua garganta.
Eu te amo.
Mas eram palavras que ela não ousava pronunciar, palavras que só causariam dor neste momento. Ela não queria chorar. Não queria ver aquela satisfação sonolenta sumir de seus olhos. Este momento era para eles. O último que eles poderiam ter.
O pensamento a fez sorrir ligeiramente, mas ela o forçou a se afastar. Meu, ela disse a si mesma, deslizando os braços ao redor dele e o segurando com força. O cheiro familiar de seu corpo inundou suas narinas e ela pressionou o rosto em seu cabelo e respirou fundo.
Sem pensar no futuro. Nenhum pensamento sobre o que não poderia ser.
Apenas o momento.
Um que ela nunca quis abandonar.
Capitulo 22
Uma mão suave acariciava seu peito.
Will bocejou e lutou para abrir os olhos. Ele se sentia melhor do que há anos, tão relaxado que mal conseguia levantar a cabeça do travesseiro. O quarto estava escuro, os lençóis manchados com o cheiro de Lena e o cheiro almiscarado de...
Ele congelou.
Em seguida, pegou a mão que acariciou seu peito.
— Lena. — Ele sussurrou, levantando a cabeça do travesseiro. A luz das estrelas brilhava através da fresta entre as cortinas.
— Mmph? — Ela fez um som sonolento e se aconchegou contra ele.
Ela estava nua, com a perna jogada sobre a dele e a cabeça apoiada em seu ombro. O pânico estourou, seu coração explodindo em um staccato acelerado. Ele podia sentir cada centímetro de pele incrivelmente lisa, seu corpo liso contra o dele.
O cheiro de sexo. De sua semente, misturada com o delicioso aroma de seu próprio corpo.
A ponta solta da bandagem em sua mão fez cócegas em seu peito. O que ele fez? Olhando ao redor desesperadamente, ele viu o rolo de folha descartado. A memória inundou de volta. Seus dedos, úmidos no calor de seu corpo, Lena ofegando embaixo dele, seu rosto torcido em êxtase. Empurrando com força entre suas coxas, seus joelhos se apertaram como um torno enquanto ele derramava sua semente contra seu estômago...
A cabeça de Will bateu no travesseiro. Graças a Deus. Ele não a tinha levado. Não a infectou. O alívio o inundou e ele pegou a mão dela, apertando-a suavemente.
A bandagem fez cócegas em seus dedos. Ele levou a mão dela à boca e beijou a ponta dos dedos. Lena mal se mexeu.
Franzindo a testa, ele rolou para o lado. Ela caiu em seus braços como uma boneca de pano, uma onda de suor em sua pele nua e brilhante.
— Lena? — Ele sussurrou. Por que diabos ela não estava respondendo?
Seu lado estava molhado onde ela estava deitada contra ele. As sobrancelhas de Will franziram ainda mais e ele pressionou a mão contra sua testa.
A transpiração encharcava seus cabelos. Ela gemeu levemente, sua cabeça pendendo como se ela procurasse remover sua mão. Ele puxou de volta, a mente correndo.
Ela estava quente. Na maioria das vezes, a pele de um humano parecia fria contra seu calor ardente. Lena sempre parecia, seu corpo parecendo seda fria contra o dele. Para ele registrar sua pele tão quente, ela tinha que estar queimando, quase tão quente quanto ele mesmo.
Havia apenas uma razão possível para isso.
— Não. — Ele sussurrou, virando seu queixo para olhar seu rosto.
Círculos fracos de vermelho sombreavam suas bochechas. O suor brilhava em seus seios e manchava os lençóis embaixo dela. Will ficou de joelhos, seu olhar caindo sobre a bandagem em volta da mão dela.
Ele a arrancou, perdido a qualquer sensação de ternura. Lena choramingou, torcendo a cabeça no travesseiro e os fios de cabelo molhados grudando na garganta. Ele quase não quis olhar, com muito medo de saber a verdade.
Forçando-se, ele abriu seus dedos curvados e olhou fixamente para a palma de sua mão.
Pele pálida e lisa.
Nem mesmo um sinal de vergão.
— Não. — Ele sussurrou, jogando-se para fora da cama. O pânico agitou seu estômago e ele passou as mãos pelos cabelos, lançando-lhe um olhar incrédulo.
Não pode ser. Ele tinha sido tão cuidadoso com ela. Sem sangue, sem sexo... E ele sabia que a saliva era segura ou ele nunca a teria beijado.
Um pavor frio o envolveu. — Lena —, ele sussurrou, cruzando para a cama. — Lena?
Ela piscou sonolenta, estremecendo como se sua cabeça doesse. — Will? — Um murmúrio suave, a cabeça pendendo para o lado.
Will segurou seu queixo. — Você não se sente bem, não é?
Suas pupilas pareciam do tamanho de pequenas bolas de gude. Ela olhou além dele, seu olhar focando em nada. — Só... dor de cabeça...
— Quanto tempo? — Seus olhos começaram a fechar novamente e ele a agarrou pelos ombros e a sacudiu suavemente. — Droga, Lena. Há quanto tempo você está se sentindo mal?
Piscando para ele, ela pegou suas mãos, seu próprio aperto fraco. — Dói.
— Eu sei. — Ele rangeu os dentes e a deixou ir. — Eu sinto muito. Há quanto tempo está doendo?
— Dias? — Ela sussurrou, lambendo os lábios secos. — Na manhã seguinte que você veio... ao meu quarto.
Will caiu na beirada da cama. — Dias? — Ele repetiu. O que diabos aconteceu naquela noite? Ele a beijou. Provou sua pele. Seus seios. Mas nada mais. Deve ter sido sangue, mas ele não conseguia se lembrar se ele estava sangrando. Ele sempre foi tão cuidadoso. — Eu estava ferido? Você viu algum sangue em mim?
Ela balançou a cabeça, recostando-se no travesseiro como se seu corpo doesse. Como sem dúvida. — Não sei. — Colocando as mãos sobre o rosto, ela choramingou. — Dói.
Ele pairou sobre ela inutilmente. — Eu sei. — Deus, como ele sabia. Articulações doendo, corpo em chamas, cabeça latejando como se fosse se partir. A necessidade insaciável de água. Ele acariciou suas costas, círculos leves para aliviar a dor que ele sabia que ela estaria sentindo.
— Vou buscar um pouco de água para você. — Disse ele, inclinando-se e beijando sua testa.
— Por favor.
— Fique aqui. — Seu coração martelou em seu peito enquanto ele pegava sua camisola e a colocava sobre ela. Qualquer coisa a mais apenas irritaria sua pele. Puxando o par de calças que encontrou espalhado no final da cama, ele saiu do quarto e fechou a porta silenciosamente.
Um gemido suave ecoou de dentro, apunhalando-o com força no peito. Will se encostou na porta, fechando os olhos em desespero.
O que ele fez?
A realidade da situação não o atingiu de verdade até que ele a ajudou a terminar um jarro cheio de água. Enquanto Lena desabava sobre os lençóis em um sono febril, ele arrastou um lençol limpo que encontrara sobre ela e se afastou, olhando para sua pequena figura. Ela estremeceu, sua pele úmida ao toque.
Will recuou, engolindo em seco. O que eu fiz? Ele nunca deveria ter encostado um dedo nela.
Mas anos de dolorosa solidão tiveram seu preço. Ele sempre desejou Lena. Demais. Quando ele pegou a carta dela pela primeira vez, ele deveria ter ido direto para Blade. Deixado que ele cuide da bagunça, com a proteção de Lena. Ele sabia o quanto ela representava uma tentação para ele.
Com os pés arrastando, ele subiu lentamente as escadas até o sótão. O leve sussurro das saias disse a ele quem estava acordado ali.
Um murmúrio de vozes o saudou quando ele ergueu a mão para bater. Blade também, então. A culpa o sufocou, mas ele se forçou a bater na grossa porta de madeira. Não havia nada que ele pudesse fazer agora. Lena precisava de sua irmã.
— Entre, Will. — Honoria chamou.
A luz atravessou a escuridão quando ele abriu a porta. O coque de costume de Honoria era uma bagunça enlameada enquanto ela se acomodava em uma poltrona perto da lareira. Blade vasculhava os livros nas prateleiras, olhando atentamente para as lombadas.
Honoria encontrou seu olhar, círculos escuros engolindo seus olhos.
Ela sabia.
Ele vacilou na porta, balançando a cabeça, incapaz de falar.
— Oh, Will, — ela sussurrou, pondo-se de pé. — Como ela está?
Ele abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Apenas um som inarticulado de dor e culpa. A sala ficou turva enquanto o calor enchia seus olhos. — Eu não - eu sempre fui tão cuidadoso. Eu não sei como... — E então um lampejo de imagem nadou em sua mente. Da joalheria. — Meu lábio —, disse ele, tocando-o. — Eu tive uma briga com Colchester e ele partiu meu lábio. — A culpa o golpeou no peito. — Eu a beijei. Eu não pensei. — Ele estava mais preocupado em não ir para a cama com ela, em lutar contra o desejo de reclamá-la como sua. Ele tinha esquecido, por um momento, os perigos de seu sangue. E a ferida tinha sido tão pequena...
Honoria colocou os braços em volta da cintura dele e pela primeira vez ele deixou. — Não é sua culpa, Will. Não importa o que todos dissemos, ela nunca teria ficado longe de você. — O calor de seu corpo absorveu o dele e ele apoiou o queixo no topo de sua cabeça, segurando-a desajeitadamente.
— Eu deveria ter deixado ela. — Ele recuou e enxugou os olhos com a manga. — Eu nunca deveria ter pensado que poderia fazer isso. Eu deveria ter ido direto para Blade quando tudo isso aconteceu. Deixado ele lidar com ela.
— Quando tudo o que aconteceu?
Muitos segredos. Ele fechou a boca e passou as mãos pelos cabelos. — O que nós fazemos?
Honoria o encarou por um momento penetrante, depois deixou passar. Ela se virou, gesticulando para os livros entreabertos que enchiam a sala. — Eu não sei, Will. Temos lido o dia todo...
— Você sabia?
— A temperatura dela está muito quente. Não é humano. E eu poderia adivinhar.
Ele deu um passo em sua direção, repentinamente zangado. — Por que diabos você não me contou?
— Você não estava em condições, — ela respondeu simplesmente. — E sabíamos pouco sobre o lupinismo. Eu precisava descobrir mais antes de começar a tratá-lo.
— Calma, rapaz. — Blade avisou, seus olhos escurecendo. Ele tinha as mãos enfiadas nos bolsos, mas a maneira como se balançava na ponta dos pés indicava um movimento rápido, se necessário.
Will se virou, balançando a cabeça. Não adiantava ficar com raiva. A única coisa importante agora era Lena. — Você encontrou alguma coisa? Qualquer coisa?
Uma ligeira hesitação. — Não há nada sobre como lidar com a transição ou os primeiros estágios iniciais do vírus. O lupinismo não é uma doença muito bem documentada na Grã-Bretanha. Não acho que ninguém no Escalão se importasse se as pessoas sobreviviam. O que eles fizeram quando você foi infectado pela primeira vez?
Ele olhou para a parede. — Eu não sei. Não me lembro muito. — Apenas calor, calor incessante. Seu corpo doía. Gritando por uma garganta recém-tricotada enquanto seu corpo mudava. E a misericordiosa frieza do porão enquanto seu pai tentava baixar sua temperatura. — Frio —, disse ele. — O frio ajudou. Meu pai me colocou no porão onde era legal. — Ele se virou. — Ela vai estar com sede. Você tem que mantê-la bebendo. — Um encolher de ombros. — Não consigo me lembrar de mais nada.
— Isso não é muito para continuar. — Honoria mordeu o lábio.
— Eu sei —, ele retrucou. — Eu tinha apenas cinco anos e quase não estava lúcido. Você acha que eu não mencionaria nada se pudesse me lembrar?
— Eu não estava acusando você de nada, Will.
Blade deu um passo mais perto.
Will se virou, os punhos cerrados. — Eu sinto muito. Estou no limite. Eu não posso acreditar... — Seu pior pesadelo. Ganhou vida.
Uma mão deslizou sobre sua parte inferior das costas. — Nós sabemos —, sussurrou Honoria. — Venha. É melhor nos prepararmos. Não acho que vai demorar muito para que sua temperatura comece a subir. Ela já está com as bochechas rosadas. É a seguinte febre que vai...
Como se percebesse o que estava prestes a dizer, ela parou.
— Espere. — Blade disse.
Os dois se viraram para ele.
— Não há nada em seus livros e Will não se lembra —, disse ele. — Mas há alguns em Londres agora que podem saber como lidar com isso.
— Os escandinavos —, sussurrou Honoria. Ela levou a mão à cabeça. — Por que não pensei neles?
— Você está distraída.
— É provável que ajudem? — Honoria ergueu os olhos para Will.
Ele franziu a testa. — Eu mal os conheço. Mas eles podem.
— Você terá que ir. — Honoria exigiu.
— Eu não vou deixá-la.
— Esta é a sua melhor chance, — ela enfatizou. — Por favor, Will. Você sabe que vou cuidar dela. Eu não deixaria nada acontecer com ela.
Ele vacilou. Honoria faria o que pudesse, mas ele mal suportaria partir, sabendo que Lena poderia... Arreganhando os dentes, ele assentiu. — É a sua melhor chance. Vou buscar um deles.
— Eu gostaria que não soasse como se você fosse arrastá-los aqui, querendo ou não. — Blade murmurou.
Will bateu na porta da mansão que os noruegueses estavam alugando durante sua estada. A chuva gotejava sem parar, enredando-se em seus cabelos e escorrendo pelo rosto. A jornada para a cidade tinha sido estúpida. Ele mal conseguia se lembrar de nada disso.
Olhar para o relógio a cada poucos segundos fez pouco para aliviar a tensão que o dominava. Levou vinte minutos. Vinte minutos em que ele não sabia o que estava acontecendo com Lena.
Passos finalmente soaram na entrada e a porta se abriu para um mordomo de aparência atormentada. — Sim?
Ele empurrou para frente, para a porta. — Dama Astrid está?
— Receio que ela não esteja em liberdade...
Ele pegou o homem pela garganta em segundos. — Você vai buscá-la —, disse ele calmamente. — Ou vou arrancar seu coração pelas narinas, entendeu?
O homem caiu esparramado quando Will o soltou e tropeçou nas telhas de mármore.
— O que está acontecendo aqui? — Alguém latiu.
O Fenrir saiu das sombras da biblioteca, vestindo seu traje da corte. A pele de lobo estava presa em torno de seus ombros largos com uma conta polida de âmbar, e sua barba e cabelos grisalhos haviam sido penteados. A ameaça em seus olhos quase jogou Will sobre a borda.
Não olhe nos olhos dele. Respire fundo...
— Você se atreve a entrar em minha casa assim? — O Fenrir perguntou em uma voz mortalmente suave. — Você ousa tratar meus servos assim?
— Tio. — A voz de Astrid. Calmante e calma. Ela caminhou até o lado de Magnus e passou a mão em seu braço. — Olhe para ele. Ele mal se contém. Algo o incomodou. — Com um olhar apaziguador, ela se virou para Will. — O que está acontecendo?
Ele respirou fundo, dominado pelo cheiro de muitos de sua espécie. — É Lena.
— Sua mulher? — Ela franziu a testa, então a compreensão surgiu. — Ela tem o lupinismo, não é?
— Eu tinha apenas cinco anos. Não me lembro como lidar com isso, como ajudá-la...
— Pode não ser de nenhuma ajuda, rapaz, — Magnus resmungou, cedendo. Ele acariciou sua barba. — Ela é a menina?
Ele e Astrid trocaram olhares.
— Ela é obstinada, — Will deixou escapar. — Ela vai lutar.
— Você deveria ter ficado longe dela, — Magnus disse, apertando os lábios. — Há uma razão para não acasalarmos com humanos.
— Eu não toquei nela.
— Não importa —, disse Astrid, lançando um olhar para o tio. — Deixe-me buscar minha capa. Eu irei. Quer ajude ou não...
— Obrigado.
— Onde está sua carruagem? — ela perguntou.
Will balançou a cabeça. — Vim a pé. No telhado.
Astrid olhou para ele, suas saias brancas pálidas balançando ao redor de seus tornozelos. Em seguida, um sorriso ofuscante surgiu em seus lábios. — Que interessante. Deixe-me me trocar.
Magnus segurou o braço dela quando ela se virou para ir embora. — Você não vai sozinha.
— Todo mundo deveria estar no baile do seu nome. Aquele urubu com cara de machadinha que se acha engraçado.
— O duque de Morioch, — Magnus respondeu secamente. — Pegue Eric. Tenho certeza que ele vai adorar a oportunidade de evitar outra noite de tédio. — Ele voltou seu olhar para Will. — Estou lhe dando meu filho e minha sobrinha. Você os traga de volta para mim ou eu irei montar sua cabeça em uma estaca, entendeu?
Ele assentiu. Um homem que falava sua língua. — Perfeitamente.
— As colônias, hein? — Eric saltou do telhado para as ruas lamacentas abaixo, sua capa forrada de pele girando em torno dele.
Will o seguiu, passando para liderar o caminho. O cortiço apareceu e parte da tensão saiu de seus ombros.
— Eu esperava uma mansão — murmurou Astrid, pousando ao lado deles e olhando para a aparência decrépita do prédio. — Você tem um porão? Ou gelo?
— Você ficaria surpresa. — Ele murmurou, empurrando a porta da frente aberta.
Rip guardava a porta da frente, a mão perdida para o cinto quando a porta se abriu. Charlie e Lark estavam sentados na parte inferior da escada, discutindo sobre quem ganhou o jogo de valetes. O queixo de Charlie caiu quando Astrid o seguiu.
Ela vestia um par de calças justas de couro, com um colete que apertava sua cintura até um tamanho ridículo. Seu cabelo estava trançado firmemente para trás, deixando suas maçãs do rosto nuas, e a capa de pele que ela usava a transformou em uma princesa bárbara. Até a sobrancelha de Rip se ergueu.
Eric a seguia. O nórdico sorriu, bagunçando o cabelo de Lark como se ela fosse uma garotinha. Charlie parecia estar contemplando uma capa de pele e uma cota de malha em seu guarda-roupa.
— Como ela está?
Charlie piscou, desviando o olhar do par exótico. — Não sei. Honor não me deixa entrar. O que está acontecendo, Will? Eu ouvi Lena chorando...
Ele passou, subindo direto as escadas.
Sons suaves de choramingos vieram de dentro do quarto de Lena. Batendo suavemente na porta, ele enfiou a cabeça para dentro.
Lena se contorcia na cama, as bochechas queimando de febre. A camisola grudava no corpo com o suor e Honoria pairava sobre a cabeça com um pano frio. Blade estava tentando mantê-la quieta, um copo d'água na mão.
— Eles vieram? — Honoria perguntou, a tensão aparecendo em sua boca.
Ele não conseguia tirar os olhos de Lena. — Como ela está?
A boca de Honoria se torceu. — A temperatura dela está subindo.
Algo o empurrou para fora do caminho e Astrid passou por ele. Ela viu a cena de relance, jogando a capa sobre uma cadeira próxima. — Você precisa esfriar ela. Rápido. Precisaremos de gelo e algo grande o suficiente para colocá-la dentro.
— Uma banheira? — Blade perguntou.
— Você tem uma?
— Em meus aposentos. — Respondeu ele.
— Perfeito. — Ela pressionou a mão contra a têmpora de Lena, fechando os olhos. — Muito perto do pico, mas ainda não. Há tempo.
— Ela vai ficar mais quente? — Honoria ofegou.
— Ela morre se esquentar — respondeu Astrid sem rodeios. — Will, traga-me gelo. Muito.
Ele passou os próximos vinte minutos quebrando os pesados blocos de gelo em pedaços, em seguida, carregando-o dos porões profundos para o quarto de Blade. Os porões estavam congelando; Blade precisava de um suprimento contínuo de gelo para manter seu sangue gelado.
Astrid e Honoria assumiram o banheiro. Astrid encheu a banheira até a borda com água fria, depois despejou baldes de pedaços de gelo nela.
— Tem certeza de que é seguro? — Perguntou Honoria. — Eles costumavam fazer isso com os internos do instituto onde eu trabalhava. Foi terrível.
— Vai doer, sim, — Astrid respondeu, sua expressão imutável. Ela encontrou seu olhar, sabendo que ele seria o único a protestar. — O que quer que ela faça, você não deve interferir.
— Quanto vai doer? — Ele perguntou.
— Como fogo. — Ela estendeu a mão para detê-lo. — Esta é a sua única chance. Na Noruega, usamos o mar para aplacar a febre.
Ele pairou na ponta dos pés. A pior coisa era saber quanta dor Lena estava sentindo agora. Quanta dor viria. Ele passou dois dias arranhando a sujeira do porão antes de a febre estourar.
Mas não havia como evitar. — Quanto tempo?
Astrid deu a ele um olhar sério. — Dois ou três dias. Talvez um já tenha passado. Ela parece estar no meio disso.
Essa era sua única esperança, ele lembrou a si mesmo, embora a ideia de machucá-la o deixasse doente. — Eu vou ficar com ela.
Capitulo 23
No momento em que a colocaram na água, ela começou a gritar.
Will a segurou, apesar de sua debilidade, seus dentes cerrados e seu corpo tenso. Astrid dissera que o choque do frio poderia matá-la, mas sem ela a temperatura continuaria subindo até a morte.
A água gelada queimou seus braços, seus dedos eventualmente entorpecidos. Ele só podia imaginar o que sentiu por Lena. E foi tudo culpa dele. Seus olhos turvaram com o calor enquanto ele a segurava, sussurrando para ela que ele estava lá, que ela ficaria bem.
Não demorou muito para que ela se debatesse e seu corpo caísse em seus braços. — O que está acontecendo? — Ele perguntou. — Lena? — Não houve resposta. Apenas o leve tremor de seu lábio enquanto ela estremecia.
— Traga-a para fora. — Ordenou Astrid.
Will a embalou cuidadosamente em seus braços, água gelada espirrando por todo o piso de mármore. Eles a secaram, com Astrid monitorando sua temperatura e o relógio que Honoria lhe dera.
— E agora? — Ele perguntou. — Ela está melhor?
— A temperatura dela caiu um grau —, disse Astrid, tirando o termômetro. Ela trocou um olhar com Honoria. — Will, eu preciso de mais gelo.
— Mais gelo?
— Para a próxima vez.
Ele balançou sua cabeça. Lena relaxou em seus braços, sua pele úmida de frio, mas queimando com um brilho interno. — Quantas vezes?
— Cada vez que a temperatura dela sobe. Até que a febre passe.
O desespero da situação o atingiu. — Ela não vai sobreviver, vai?
Astrid acariciou os fios molhados da testa de Lena. — Você me disse que ela é obstinada, não?
— Teimosa como uma rocha. — Lágrimas queimaram seus olhos.
— Então traga mais gelo, Will. — Inclinando-se, ela sussurrou no ouvido de Lena. — Você deve lutar, pequena. Lute por seu homem, como ele luta por você.
A noite se estendeu, hora após hora brutal. Uma vinheta sem fim enquanto ele quebrava os pesados blocos de gelo em cacos e os carregava escada acima, então a banhava na água. Honoria começou a chorar, lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto. Ele não conseguia olhar para ela ou iria quebrar. Lena mal se mexia quando a colocavam na banheira agora.
— Venha, mo cridhe. — Ele beijou sua testa, desejando que houvesse algo, qualquer coisa que ele pudesse fazer. Mas não havia nada que ele pudesse matar aqui, nada que ele pudesse protegê-la. Sua própria inutilidade o agrediu.
Muito tarde...
Por tantas coisas. Tarde demais para abraçá-la agora. Tarde demais para beijá-la, para se entregar a ela como sempre temera fazer. Para dizer a ela que a amava, como ele sabia que ela desejava ouvir.
Ele a segurou à distância, por medo do que estava acontecendo agora.
— Eu vou te dar o mundo —, ele sussurrou, acariciando o cabelo de sua testa. — Eu vou te proteger, eu juro. Nunca vou deixar você se machucar de novo, eu prometo. Apenas volte, Lena. Volte e deixe-me amar você.
Mas ela não o ouviu.
Perdida pela febre, ela não ouviu nada.
Demasiado tarde.
— O coração dela mal está batendo. — Disse Astrid em voz baixa.
A manhã havia rompido, a luz do sol entrando pela janela. O quarto estava encharcado, como se alguém tivesse travado uma guerra no banho. Talvez, ele pensou, tenha sido uma espécie de guerra. E agora estava ficando claro que eles estavam perdendo.
Ele podia ouvir a batida forte de seu coração. Segurando a mão dela, Will a segurou contra seu peito, esperando entorpecido por aquele momento horrível em que Astrid o forçaria a colocá-la de volta na banheira. Ele não achava que Lena aguentaria mais.
Ele mal conseguia.
Suas mãos estavam enrugadas e ele estremeceu enquanto segurava seu corpo molhado em seus braços. Ele mal podia ver ou ouvir o mundo ao seu redor, seu corpo lutando para dormir, para se renovar.
Tudo o que ele podia sentir era o corpo em seus braços, o calor de sua pele enquanto a febre aumentava, apesar de suas tentativas de contê-la. Na última hora, sua temperatura havia aumentado dois graus. Um humano já estaria morto há muito tempo.
Venha. Ele a balançou, murmurando canções de ninar que mal conseguia se lembrar de sua juventude. Quando sua mãe não olhava para ele como se estivesse se perguntando como um monstro daqueles poderia ter roubado seu filho.
Venha de volta para mim.
Uma mão suave tocou seu ombro. Astrid. — Will, você deve deixá-la ir.
Não! Ele rosnou e a sacudiu. Se eles tentassem tomá-la, ele os mataria. Todos eles.
Sussurros silenciosos. —... Tarde demais. Ele se entregou a ela... Se ela morrer, ele vai definhar...
Honoria. Choro.
Ele se forçou a ficar de pé e cambaleou em direção à banheira. Era mais fácil agora, pois ele mal sentia nada. Abaixando-se na banheira, ele arrastou Lena contra seu peito, a bochecha dela apoiada em seu ombro. O lento tique-taque de seu batimento cardíaco pulsou contra seu peito. O gelo queimou em sua pele até que ele ficou completamente dormente.
O mundo desapareceu.
Em seguida, mãos o arrastaram para fora da banheira, arrastando Lena de seus braços. Ele rosnou e os jogou para longe dele, tentando alcançá-la. O rosto de Blade apareceu. — Calma agora, vamos, Will. Vamos lá...
Ele agarrou Blade pela garganta e o jogou de lado. Eric estava ajudando Astrid com Lena. Ele foi até eles, jogando Eric de volta no espelho. Ele se estilhaçou e Astrid ficou rígida.
— Saiam! — Ela gritou. — Todo mundo saia. Deixe-o com ela. Antes que ele mate alguém.
Empurrando Lena em seus braços, ela recuou, arrastando seu primo com ela. A porta se fechou e ele ficou sozinho, o banheiro uma bagunça em ruínas.
— Lena —, ele sussurrou, enrolado em torno dela na miséria. Por que ela não voltaria? — Eu sinto muito. Deuses, sinto muito.
A banheira estava meio vazia. Ele não podia mais fazer isso com ela. Ela estava tremendo como estava, arrepiada em toda sua pele.
Arrastando-se para ficar de pé, Will cambaleou em direção ao quarto. Se ela morresse, ele não queria mais que ela sentisse frio. Tirando sua camisola, ele a deitou nos lençóis da cama e a secou com cuidado. Cada centímetro dela estava branco de frio, suas bochechas e peito avermelhado com uma erupção na pele. Cada vez que ele a tocava, ele sentia o frio gelado de sua pele e aquela fornalha ardente dentro dela. Um coração de fogo enterrado sob o gelo.
Começando com seus pés, ele começou a irritar o calor de volta para ela. Não haveria mais frio. Ele não podia deixá-la morrer dessa maneira. Mesmo agora, seu batimento cardíaco era um eco fraco em seus ouvidos.
Demorou muito para esfregar o frio de sua pele. Tirando suas roupas molhadas, ele se enrolou ao lado dela, arrastando os cobertores por cima deles. Ele a puxou para seus braços, tentou usar o calor de seu próprio corpo para de alguma forma reanimá-la.
Longas horas se passaram enquanto ele sentia o calor queimando profundamente dentro dela. Ele respondeu ao seu próprio, subindo à superfície até que ambos ficaram úmidos de suor. — Sinto muito. — Ele sussurrou, de novo e de novo, beijando seu ombro úmido.
O suor brotou de sua pele, junto com um violento ataque de calafrios. Will enterrou o rosto na nuca dela e respirou o cheiro fraco de seu corpo. Ele estava tão cansado. Ele só queria fechar os olhos e nunca mais acordar, mas algo estava lutando contra ele.
Um suspiro.
Um corpo se contorcendo fracamente, a pele escorregadia de suor, em seus braços.
Abrindo os olhos granulados, ele olhou incrédulo enquanto Lena choramingava e tentava afastá-lo.
— Quente. — Ela murmurou. Suas pupilas ainda estavam enormes, seu olhar desfocado.
Will sentou-se abruptamente e ela caiu de costas, mal conseguindo se mover. — Lena?
Lábios secos e rachados, as bochechas vermelhas. Ela nunca esteve tão bonita. Empurrando os cobertores de lado, ela tentou se mover e se esparramou no colchão de cara.
Agarrando o cobertor, ele a envolveu e tentou ajudá-la a se sentar. — Lena? — Agarrando seu queixo, ele ergueu sua pálpebra. Um anel de cobre brilhante circulou suas pupilas. A respiração incrédula expandiu seus pulmões. — Você sobreviveu. — Sua testa estava úmida de suor quando ele colocou a palma da mão contra ela, mas o calor intenso havia diminuído. — A febre baixou.
Ela o empurrou fracamente.
Afundando os travesseiros sob suas costas, ele a apoiou contra eles. — Vou pegar um pouco de água para você. Fique aqui. Não se mova. — Ele não pôde evitar capturar o rosto dela com as mãos. Ela mal estava lúcida, mas a febre havia cessado. — Eu te amo. — Ele a beijou com força, então recuou quando ela tentou choramingar novamente. — Vou trazer muita água para você.
Honoria caminhava pela cozinha, as bochechas queimando de lágrimas e os olhos secos. Não havia mais nada nela. Ela fez tudo que podia e ainda falhou.
Blade a puxou de volta para seus braços. — Ainda há esperança. Ela ainda não terminou ou saberíamos.
— Me sinto mal. — Ela o empurrou e se encostou no banco quando um punho de náusea ameaçou sufocá-la.
Ela podia sentir Blade pairando sobre ela, tentando fazê-la beber um copo d'água. De repente, ele ergueu os olhos e ela girou em direção à porta. — O que é isso?
A dupla de noruegueses esperava no canto, os rostos tensos de tensão. Ela soube assim que olhou para eles que era Will descendo as escadas.
— Oh, Deus. — Ela sussurrou, seus joelhos dobrando debaixo dela.
Blade a pegou, puxando-a para que ficasse de pé quando Will entrou pela porta.
O suor brilhava sobre seu corpo nu. Olhos selvagens, cabelos rebeldes, seus músculos queimados de calor. O queixo de Honoria caiu e ela desviou o olhar enquanto ele pegava o jarro de água do banco.
— Ela está com sede. — Will rosnou, então se virou e desapareceu por onde viera.
— Com sede? — Honoria sussurrou. Ela se virou na direção de Astrid. — Isso significa...?
Os olhos de Astrid estavam arregalados. — Meu Deus, — ela murmurou. — Que pena que ele já está ligado a ela...
Eric deu um soco de leve no braço dela e sorriu. — Coloque os olhos de volta na cabeça, prima. — Ele se levantou e deu um tapinha nas costas de Blade. — Se ela está com sede, então está tudo bem. A febre deve ter baixado.
Honoria se virou para a porta, mas Eric a segurou pelo pulso e balançou a cabeça. — Não, — ele disse. — Devemos confiar que ele cuidará dela. Deixe-os em paz ou arrisque que sua cabeça seja entregue a você.
Vendo sua expressão, Astrid sorriu. — Ele está agindo inn matki munr. Como um macho recém-acasalado. Ele será insuportável por dias, especialmente considerando que ele quase a perdeu. Deixe-os em paz e dê-lhes tempo para se acalmarem.
Capitulo 24
A luz do sol brilhou através das cortinas de renda transparente.
Lena gemeu baixinho e tentou cobrir os olhos. Então ela piscou. Este não era o quarto dela. Onde ela estava?
Sentar enviou uma onda de dor latejante pela base de seu crânio. Estremecendo, ela abriu as pálpebras e olhou em volta.
Piso de madeira nua. Móveis talhados em bruto. Uma mesa no canto com uma única cadeira sentada ao lado dela. E um par de botas, presas a longas pernas musculosas.
Will.
Ela estava no apartamento de Will.
A luz do sol atingia as pontas acobreadas de seu cabelo e lustrava sua pele bronzeada. Ele cochilava, apoiado em uma velha poltrona, os braços cruzados sobre o peito e a cabeça balançando para a frente. Círculos escuros sombreavam seus olhos e sua mandíbula apresentava sinais de crescimento áspero de vários dias.
A última vez que ela o viu, ele estava frenético; colocando-a em sua própria cama, murmurando que ela estava segura, que ela ficaria bem agora. Dizendo a ela repetidamente que sentia muito.
Lena franziu a testa. Quando isso aconteceu? Ela teve uma vaga lembrança de dor e calor, e então gritou quando alguém a jogou no que parecia ser um tanque de óleo queimando. Honoria a olhava preocupada enquanto tentava dar-lhe água. Will gritando com Honoria, expulsando-a do quarto enquanto arrastava Lena para fora da cama e a trazia aqui.
O que diabos aconteceu?
Jogando os cobertores de lado, ela tentou se levantar. O mundo girou e ela cambaleou para a cama, a camisola caindo em volta dos tornozelos. O leve odor de lavanda agarrou-se a ela. Não era seu sabonete usual. Alguém deve ter dado banho nela.
Will piscou sonolento. — Lena? — Ele saltou e a agarrou, como se ela fosse muito frágil para ficar de pé. — O que você está fazendo fora da cama?
O calor de seu corpo era uma sensação bem-vinda. Ela enterrou o rosto no peito dele e respirou fundo. Seu cheiro era tão familiar, tão quente e masculino, mas por baixo disso ela captou uma miríade de aromas. Linho engomado, sabão, suor, uma pitada do perfume de sua irmã, até mesmo o óleo que ele usou para limpar a pesada faca de caça que usava presa à coxa.
Que curioso.
— Você pode fechar as cortinas? — Ela perguntou. — É tão brilhante.
Seu cheiro mudou, tornou-se de alguma forma mais nítido. — São os seus olhos. Eles vão se ajustar, mas vai demorar alguns dias.
— Ajustar para quê?
Outra pausa. Seu cheiro ficou ainda mais amargo. — Lena. — Ele pigarreou. — Você se lembra de alguma coisa do que aconteceu?
A seriedade em seu rosto e tom a deixaram sóbria. Ela lutou para se lembrar e falhou. — O que há de errado? O que aconteceu? Está todo mundo bem?
— Como você está se sentindo?
Uma pergunta estranha. Ela considerou seu corpo. Agora que ela estava de pé, ela se sentia melhor, uma incrível leveza de ser que ela não conseguia explicar. — Muita sede? — E outra necessidade urgente que ela não queria admitir. O calor correu por suas bochechas. — Você acha que eu poderia... usar o seu banheiro?
Will olhou para ela por um longo momento, anéis de cobre queimando ao redor de suas pupilas. Ele deu um breve aceno de cabeça. — Claro.
Conduzindo-a ao banheiro como se ela fosse inválida, ele começou a segui-la para dentro.
— Will! — Ela tentou fechar a porta na cara dele. — O que você está fazendo?
— Cuidando de você.
— Não aqui —, respondeu ela com firmeza. — Fora!
Demorou um pouco, mas seus lábios se estreitaram e ele girou nos calcanhares. — Vou buscar um pouco de água para você se lavar.
Ele trouxe água, sabão e uma pequena toalha. Assim que ele fechou a porta, ela se voltou para o impronunciável. Talvez ela tenha se precipitado. Quando ela lavou as mãos na jarra d'água em seu lavatório, seus joelhos tremiam. E a água parecia muito boa. Ela estava meio tentada a beber direto de sua jarra, mas se forçou a apenas enxaguar a boca e esfregar os dentes. Usando o pano dele, ela tirou a camisola e se lavou com o pano e o sabão. O cheiro de lavanda a assaltou. Ele definitivamente estava dando banho nela.
Puxando a camisola sobre a cabeça, ela ignorou suas roupas intimas descartadas. Ela queria roupas limpas, algo para beber e uma boa refeição quente.
— Will? — Ela girou a maçaneta, mas a porta se abriu em seu aperto. Will pairava do outro lado com um copo d'água para ela.
Agora que ela cuidou de uma necessidade, outras estavam implorando por atenção. Seu olhar passou direto por ele, para a geladeira, assim que seu estômago deu um rosnado embaraçoso. Ela pegou o copo e engoliu.
— Eu tenho ensopado de carneiro —, disse ele. — E pão e queijo. Não é muito, mas tem muito. Eu mandei eles mandarem tanto quanto Esme poderia assar.
Ensopado. Sua boca encheu de água. Mas havia outras preocupações mais urgentes. — Will, por que estou aqui? O que tem acontecido? Eu mal consigo me lembrar do último dia.
— Já faz quatro, na verdade.
— O quê?
Passando a mão pelo cabelo, ele se afastou dela. — Aqui. Eu vou te mostrar. — Pegando o pequeno espelho de cabo de osso do lavatório, ele o segurou perto, como se não quisesse que ela visse.
Um pavor repentino a encheu. O que havia de errado com ela? Suas mãos voaram para suas bochechas, mas sua pele parecia normal. Pegando o espelho, ela o pegou e olhou para seu reflexo.
— Meus olhos, — ela sussurrou. Eles a olhavam de volta, as pupilas rodeadas por brilhantes faixas de cobre. Lentamente ela abaixou o espelho. — Mas como...? O que...?
Will não conseguia encontrar seu olhar. — Deus, eu sinto muito. Eu disse que nunca deveria ter chegado perto de você. — Ele olhou para cima, calor e raiva girando em seus olhos. — Isso é o porquê. Quase te perdi. Eu quase matei você!
Ele girou nos calcanhares e se afastou, as mãos entrelaçadas atrás da cabeça. Lena arriscou outra olhada rápida no espelho. — Eu tenho o lupinismo? — Ela perguntou maravilhada.
Ele se encolheu como se ela tivesse batido nele.
— Will. — Colocando o espelho de lado, ela foi em direção a ele, mas ele se afastou, circulando a mesa e a cadeira como se ela o estivesse caçando. Respirando lentamente, ela colocou as mãos nas costas da cadeira e se apoiou nela. — Eu não me importo. Eu disse que não me importaria. Se eu pudesse ficar com você...
— Você quase morreu! — Ele retrucou, os olhos revirando de branco.
E ela percebeu então o quão perto deve ter sido. Suas mãos se apertaram e ele desviou o olhar, afastando o olhar dela.
— Quão ruim foi?
— Nós pensamos que você não iria sobreviver —, respondeu ele com voz rouca. — Eu pensei que você estava morrendo, antes de a febre estourar. Você não sabe o que isso fez comigo. — Ele esfregou o peito. — Eu fiquei um pouco louco. Eu joguei Blade pelo quarto e trouxe você aqui. Honoria vem todos os dias, mas eu não podia deixar ela... Não até você acordar...
Seu coração doeu pela dor estampada em seu rosto. — Eu sobrevivi.
— Mal.
— Não importa.
Seus punhos cerraram-se e ele desviou o rosto. — Sim. Você não sabe o que isso significa.
— O que isto significa? — Ela empurrou a cadeira para fora do caminho. Depois a mesa. Foi ridiculamente fácil. — É que você não tem mais desculpas.
Will recuou contra a cama, as mãos postas à sua frente. — Droga, Lena —, ele rosnou. — Eu infectei você! Sua vida não vai ser a mesma.
Ela o perseguiu. — Eu certamente espero que não.
— Você não entende...
— Eu entendo perfeitamente. — Parando na frente dele, ela empurrou seu peito e ele tropeçou de volta para a cama, uma expressão de surpresa em seu rosto.
Olhando para as mãos com admiração, ela não conseguiu conter o sorriso. — Quão forte você acha que eu sou agora?
— Por quê?
— Sem motivo. — Eu me pergunto se eu poderia balançar um certo sangue azul pela borda da Torre de Marfim?
O mundo se tornou um lugar diferente, cheio de cores brilhantes, calor e aromas. Partículas de poeira giravam através do feixe de luz que os iluminava. Ela ergueu as mãos, mexendo com elas. Toda a sua vida ela se sentiu como se tivesse sido cega, com os detalhes do mundo ao seu redor apenas recentemente revelados.
— Você vê isso como uma maldição —, disse ela, deslizando para o colo dele. Os músculos de suas coxas ficaram tensos. — Eu não. Eu sei que haverá limitações. Eu sei que meu tempo no Escalão acabou - acabou no momento em que você me carregou para fora do salão. — Vendo sua boca aberta, ela pressionou o dedo contra seus lábios. — Faz muito tempo que estou com medo, Will. Não estou com medo agora. Nem um pouco. Isso é parte disso?
Seu olhar se fixou no dela. Revolta queimado lá. Ele não acreditava nela.
— Não há nada sobre minha antiga vida que eu queira voltar. — Ela sussurrou, deslizando sua perna para cima para escarranchar seus quadris. A camisola deslizou ao redor de suas coxas e ele respirou fundo, os dedos se cerrando nos cobertores. Lena se balançou contra seus quadris, o ruído dos botões de sua calça percorrendo a parte interna de sua coxa.
— Eu quero uma nova vida, — ela disse a ele. — Contigo. Eu sei disso agora. — Deslizando as mãos sobre seus ombros, ela se inclinou mais perto, respirando seu delicioso perfume almiscarado. — Eu finalmente sei o que eu quero. E não tenho mais medo de admitir.
— Lena. — Sua mão se enrolou contra seu traseiro, como se estivesse advertindo. — Você é verwulfen agora. Uma escrava aos olhos do Escalão. Você pode nunca mais ser capaz de deixar o cortiço novamente.
— Quem disse que eu preciso? — Ela roçou a boca na dele. — Quem disse que eu preciso sair desta cama?
Outra respiração ofegante. Mas seus olhos estavam queimando agora, ficando quentes com uma inundação de cor âmbar.
— Você é meu, Will. — Um sorriso de vitória curvou-se em seus lábios assim que viu a mudança. — Você não pode me machucar mais. Você não tem mais desculpas. Você pode se odiar o quanto quiser, mas, francamente, estou bastante impressionada com as mudanças.
Quando ela se inclinou em direção a ele, ele se inclinou para trás. Homem teimoso, teimoso. Lena o seguiu, ajoelhando-se sobre ele e bebendo a visão daquele corpo tentador.
— Você não está com fome?
— Mmm. — Ela beijou sua boca, lambeu. — Sim, eu estou.
Mãos pairaram ao lado dela. Dedos rígidos, quase alcançando ela. — Lena, droga. Você não estava bem.
— Qualquer um pensaria que você é uma noiva nervosa em sua noite de núpcias. — Uma risada esfumaçada, sua voz baixando. — Agora que você não pode me machucar, pense em todas as coisas que você poderia fazer comigo.
Seu olhar escureceu. — Você acabou de se recuperar de uma febre.
— Me sinto maravilhosa. — Ela mordeu seu lábio inferior, sugando-o em sua boca. — Eu me sinto melhor do que maravilhosa. — Ela riu, cravou as unhas em seu peito. — Eu sinto que poderia fazer algumas coisas muito perversas com você, agora.
As mãos se apertaram em cada lado de seus quadris, e ele se abriu para ela, sua boca perseguindo a dela. — Maldita seja, eu pensei que tinha perdido você. — Um estremecimento o percorreu. — Não tenho palavras para dizer... Não posso mais lutar contra isso. — Admitiu ele com voz rouca.
— Então não faça isso.
Suas bocas se encontraram, o gosto dele quente e furioso, cheio de fome negada. Parecia tão certo. Ela quase estremeceu, pressionando-se contra ele, desesperada para se aproximar, pele sobre pele, para deixá-lo mergulhar profundamente dentro dela. A necessidade a inundou. Necessidade furiosa e desesperada.
Agarrando a barra de sua camisola, Will a ergueu. Eles interromperam o beijo apenas o tempo suficiente para colocá-la sobre sua cabeça, então ela estava nua contra ele, a aspereza de sua camisa arranhando seus mamilos, suas mãos apertando na carne macia de seu traseiro. Lena passou os dedos pelo cabelo dele, agarrando os fios sedosos com os punhos.
Um gemido rasgou sua garganta. Ela jogou a cabeça para trás quando sua boca quente se fechou sobre a coluna de sua garganta. — Sim. — Ela sussurrou. Seus olhos se arregalaram quando os dentes dele roçaram a curva suave de seus seios.
Suas mãos meio levantadas para se cobrir, mas ele as segurou e as segurou bem abertas.
— Não, — ele rosnou. — Você me prometeu tudo que eu poderia fazer para você. E eu devo a você por aquele comentário tímido da noiva.
A dominação em sua voz a emocionou.
— Instinto. — Ela respondeu e jogou a cabeça e os ombros para trás. A luz brilhou em sua pele pálida, seus mamilos duros e rosados. Um punho sem fôlego se torceu em seu estômago ao olhar nos olhos dele.
— Você gosta deles? — Ela sussurrou.
Lábios duros capturaram os dela. A resposta foi evidente contra sua coxa, o calor espesso e pesado dele marcando-a intimamente. A língua dele entrou em sua boca, enquanto suas mãos pegavam seus quadris e a apertavam contra ele.
Era tão bom. Lena choramingou, as mãos deslizando pelo cabelo dele, as unhas arranhando seu couro cabeludo. A risada foi embora, desbotada. Em seu lugar estava uma loucura desesperada, uma fome, uma necessidade de consumir. A dor vazia entre suas coxas quase a desfez. Ela agarrou sua camisa, rasgando-a sobre os ombros até que apenas os mais breves pedaços de linho pendurados em seus cotovelos, ainda abotoados nos pulsos.
— Calma. — Ele rosnou em sua boca, as mãos capturando seus pulsos.
— Não. — Ela agarrou o primeiro botão da calça dele, mas ele afastou as mãos dela.
— Muito tempo.
— Agora. — Ela exigiu.
Dessa vez foi a vez dele rir. Enjaulando-a em seus braços, ele a apertou contra seu peito, sua boca possuindo a dela. Beijos longos, lentos e quentes. O suficiente para deixá-la louca. Ela se contorceu, querendo mais, bebendo desesperadamente em sua boca.
— Eu... — Ele a derrubou de costas, seu corpo duro empurrando-a de volta para o colchão enquanto a prendia. — Não vou apressar isso.
— Quem disse que você tinha escolha?
Outro sorriso. Seu sorriso especial. O que a derretia por dentro. — Eu ainda sou mais forte do que você.
Lena acariciou seu abdômen com os dedos. — E maior. — Definitivamente maior. Ela estremeceu. Espalhou as mãos sobre o peito. — Sempre quis fazer isso.
— Fazer o que?
— Isto. — Ela arrastou as unhas pelo estômago dele, puxando o cós da calça dele. — Quando eu era mais jovem, depois que me mudei para o cortiço. Eu queria te tocar. Para provar você. Eu sonhei com você. — Ela admitiu, o calor ruborizando suas bochechas.
Will encontrou os olhos dela, os seus, sóbrios. — Eu não poderia.
— Eu sei. — Ela encolheu os ombros como se isso não importasse.
— Eu queria. — Outro sorriso devastador. — Droga, Lena, você não sabe o quanto eu queria. Você me deixava louco. Nunca senti tal coisa por uma mulher antes e você era muito jovem... Também... Achei que fosse apenas um jogo para você. Eu tive que sair.
— Não foi. Não verdadeiramente. — Ela sorriu, agarrando-se às poucas palavras que a interessaram. — Você nunca quis uma mulher antes?
— Só você.
Um brilho quente a iluminou por dentro. Ela puxou a cintura dele, deslizando o dedo atrás do botão. Ele se abriu e os olhos de Will se estreitaram.
— Já estou farta de querer. Chega de espera. — Ela disse.
— Você está impaciente.
Mas ele correu as costas dos dedos sobre a curva de seu seio, observando o movimento com uma fascinação extasiada. Lena sentiu aquele toque em outros lugares. Ela estremeceu, contorcendo-se embaixo dele.
— Toque-me. — Ela sussurrou.
— Eu estou.
Círculos largos e lentos ao redor de seu seio, aproximando-se cada vez mais de seu mamilo. Ela se arqueou sob seu toque, como um gato.
— Você não está. Você está me provocando.
— Mmm. — O humor caloroso encheu seus olhos. — Acho que sei como é isso.
O diabo. Ela mordeu o lábio e estendeu a mão para ele, mas ele se afastou.
— Não. Coloque as mãos na cabeceira da cama.
— Eu não quero. Eu quero te tocar.
Ele agarrou seu pulso, forçou seus dedos ao redor da cabeceira da cama de ferro. — Eu não estava perguntando. — Pegando a outra mão, ele repetiu o movimento. — Não me faça amarrar você.
Amarrar ela? O pensamento enviou um arrepio de necessidade direto por ela. Ela considerou a demanda, então relaxou as mãos em torno do ferro. — Muito bem. Só não demore muito.
Will abaixou a cabeça, seus lábios roçando sua clavícula. Uma risada suave sussurrou sobre sua pele. — Você não está em posição de fazer exigências.
— Eu estou...
Sua boca se fechou sobre seu mamilo, o calor escaldando-a. Sua boca abriu. — Oh.
— Você gosta disso? — Ele olhou para ela, sua língua traçando o botão endurecido, um olhar diabólico em seus olhos. Desde quando ele era tão brincalhão?
Ela lambeu os lábios. — É bom. Eu suponho.
Os dentes roçaram sua pele macia. O calor branco tornou sua visão vazia. Quando ela conseguiu respirar novamente, ele estava rindo dela.
— Eu disse para você manter as mãos na cabeceira.
De alguma forma ela cerrou os dedos em seu cabelo.
— Aposto que você não pode mantê-las lá.
Com os lábios firmes, ela agarrou a cabeceira e enrolou os dedos em torno dela. — Aposto que posso. O que eu ganho?
— Hmm. — O murmúrio estremeceu sobre sua pele. Ele a lambeu novamente, girando sua língua ao redor de seu mamilo. — Se você ganhar... Talvez eu deixe você retribuir o favor.
— Amarrar você? — Ela prendeu a respiração. Seus braços tremiam. Era cada vez mais difícil manter seus pensamentos corretos. — E se eu perder?
— Então, por uma semana, você fará tudo o que eu disser, sem nem mesmo um único argumento.
Lena ergueu a cabeça do travesseiro. — Sem chance.
— Então não mova suas mãos. Não importa o que aconteça, Lena.
Abaixando a cabeça, ele beijou seu caminho até o outro seio e deu a mesma atenção sobre ele. A sensação passou por ela como o relâmpago carregado que o Escalão usava e armazenava em potes de Leyden.
Durante tudo isso, ela se agarrou à cama, arqueando os quadris para cima, implorando desesperadamente por algo, qualquer coisa mais. Suas coxas estavam molhadas com sua própria necessidade, o cheiro disso temperando o ar. Ele tinha que saber.
— Respire, — ele disse a ela, orgulhosamente enxugando a boca. — Está prestes a melhorar.
— Melhorar?
Seus dedos fizeram cócegas em sua coxa. A boca dele desceu por seu estômago e ela se esqueceu de respirar. Pequenos pontos brancos dançaram diante de seus olhos. — Will!
Se aninhando na mecha de pelo escuro entre suas coxas, ele as afastou mais. — Já ouvi muitas histórias sobre o que uma mulher gosta. Pode exigir um pouco de prática. Diga-me como estou.
Sua boca se fechou sobre sua carne sensível e úmida. Os olhos de Lena se arregalaram. — Will! — A palavra foi quase um grito, o choque disso a cortou em ondas de sensação.
O calor a queimou quando sua língua mergulhou profundamente dentro dela. A raspagem de sua barba por fazer contra sua pele hipersensibilizada arrancou outro suspiro de sua garganta. Deus do céu! O que ele estava fazendo? Como ele soube? Ele se aninhou mais alto, chupando a protuberância tenra no centro da sensação.
Lena perdeu sua aposta.
Ela se agarrou a seus ombros, seus quadris sacudindo sob ele enquanto ele passava a mão em sua carne delicada. — Não pare! — Ela arqueou os quadris para cima, tentando se forçar contra a boca dele. — Oh meu Deus! Não se atreva a parar!
A deliciosa tensão se estendeu e se enrolou profundamente dentro dela. Com a cabeça jogada para trás, ela engasgou quando ele a lambeu, sugando-a em sua boca. Tão perto... Tão perto do limite...
Ela gritou quando quebrou dentro dela. Gritou quando ele a chupou forte, levando seus espasmos mais altos, forçando a sensação através dela. A sensação finalmente cessou quando ele ergueu a cabeça, os olhos escuros de diversão. Ele lambeu os lábios e ela rolou para o lado, tremores involuntários disparando por seu corpo enquanto ela respirava desesperadamente.
As pontas dos dedos subiram por sua coxa, circulando seu quadril. O músculo saltou sob seu toque. — Lena. — O humor temperou sua voz. Ele beijou seu quadril. — Você gostou disso?
— Eu ouso dizer que gostei bastante, — ela engasgou. — Mas não tenho certeza no momento. O mundo parece ter mudado.
Ele riu, sua voz caindo para um sussurro enfumaçado. — Você tem um gosto delicioso. — Outro beijo, contra a curva de seu quadril. Ele rastejou sobre ela, empurrando de lado seu braço e capturando seu mamilo entre os lábios.
Era muito, muito cedo. Mas ela mal poderia tê-lo afastado agora do que jamais poderia. Rolando de costas, ela deslizou as pernas ao redor de seus quadris com um estremecimento. — Você ainda está de calças.
Ele pegou seus dedos exploradores e a pressionou de costas. Quando ele capturou sua boca, ela saboreou seu próprio corpo em seus lábios. — E você perdeu sua aposta.
Lena se perdeu no gosto de sua boca. — Você está ficando melhor nisso. — Ela sussurrou, traçando sua língua com a dela.
Um beliscão em seu traseiro a fez pular. — Primeiro a noiva ruborizada, agora você questiona minha habilidade em beijar? — Agarrando-a pelos quadris, ele os rolou até que se deitou no colchão e ela montou nele. — Já que você é a única com toda a experiência, vou deixá-la liderar.
Lena deslizou as mãos sobre seu peito nu. Will colocou as mãos atrás da cabeça, a própria imagem do repouso masculino. — Gosto do fato de você nunca ter beijado outra mulher antes —, ela protestou. — Eu gosto de ser a sua primeira. E pretendo ser a sua última. — As últimas palavras saíram como um rosnado baixo.
Ela deslizou as mãos para baixo e puxou os botões da calça dele. O cume pesado de seu pênis esticado contra o tecido, em seguida, saltou em suas mãos com um impulso ansioso.
Ele era enorme, seus dedos mal fechando em torno de sua cintura. Uma gota de um branco perolado brilhava na cabeça inchada, veias grossas curvando-se ao redor de seu eixo.
Ela não sabia o que fazer. Todas as lições sobre seus direitos carnais voaram direto de sua cabeça.
— Aqui, — ele disse, vendo seu olhar indefeso. Agarrando as mãos dela, ele as enrolou ao redor de seu pênis. — Como isso.
Lena molhou os lábios, as mãos acariciando-o com cuidado. Seus olhos ficaram vidrados e ele jogou a cabeça para trás, os lábios curvados em um grunhido silencioso enquanto ele agarrava a ponta da cama. Músculos grossos tensos em seus bíceps enquanto ele os apertava com força.
— Você gosta disso? — Ela sussurrou, suas mãos soltas enquanto o acariciava.
— Mais forte.
Apertando seu aperto, ela bombeou a pele lisa e sedosa em suas mãos. Ela não conseguia desviar o olhar de seu rosto, observando enquanto a violência do prazer retorcia suas feições, o fazia ofegar. Ela o fez ofegar. O pensamento foi inebriante e com ele a inspiração o atingiu.
Anos atrás, ela viu imagens de como agradar um homem e uma coisa sempre ficava presa...
Lena se abaixou e lambeu a fenda na latejante ponta de seu eixo. Os quadris de Will bombearam e ele gritou sem palavras. Tinha sido tão bom para ela, então avidamente o sugou em sua boca, sentindo o gosto salgado de sua semente em sua língua.
Uma mão agarrou seu cabelo, conduzindo-a mais para baixo, seus quadris empurrando para cima, enchendo sua boca, sua garganta, com seu pênis. Uma luz feroz brilhou nos olhos de Will e ele ergueu a cabeça da cama para assistir.
— Deus, Lena. — Um suspiro. — Isso é tão bom pra caralho. — Ele desabou contra a cama, suas mãos a empurrando para longe dele. — Você tem que parar.
— Eu não quero. — Ela lambeu a fenda fina na cabeça dele. Ela mal tinha começado a descobrir o que ele gostava
O mundo mudou. Ele a puxou para cima, esfregando seu eixo entre suas coxas. — Não posso. Tenho que estar dentro de você. Agora. — Rosnando, ele abaixou seus quadris, a ponta de sua carne pesada esticando-a.
Lena engasgou. Ela podia sentir o estiramento inexorável de seu corpo enquanto ele se aprofundava. A dor queimou. Ela não poderia fazer isso. Ele era muito grande.
Como se reconhecesse sua angústia, ele congelou.
O suor brilhava em seu couro cabeludo. Os músculos de seus braços tremeram. — Estou tentando. Tentando segurá-lo. — Sussurrou ele com voz rouca.
E ele faria. Ele se afastaria disso se pensasse que a estava machucando. Acorrentaria qualquer turbulência que o tenha impulsionado bem fundo, forçaria de volta para a gaiola. A fome brilhava em seus olhos, a necessidade absoluta de possuí-la, mas ele o faria.
Por ela.
Lena empurrou para baixo, sua mente marcada pelo choque enquanto ele a enchia. Will sibilou, seus dedos cavando em seus quadris, mesmo quando a dor a atingiu.
Ela engasgou, murchando sobre ele, seu corpo tão cheio dele que ela não sabia onde ela começava e onde ele terminava. A dor era uma pulsação onde eles se juntaram, mas com isso veio a satisfação de finalmente estar em seus braços, finalmente revestindo-o em seu corpo. Ela faria qualquer coisa, pagaria qualquer preço para ser dele.
A mão de Will deslizou por suas costas, segurando sua nuca. — Droga, Lena. Eu não quero te machucar, mas você parece tão bem, tão apertada.
— Está sumindo. — Ela sussurrou, levantando um pouco a cabeça. A dor estava diminuindo, o lupinismo a curando. Uma parte dela queria possuir aquela dor, marcar-se com a prova de sua posse.
Os quadris de Will flexionaram. Ele gemeu, jogando a cabeça para trás contra o travesseiro. — Eu sinto muito. Eu não posso...
Ela beijou seu peito, uma sensação de calafrio se espalhando por ela. — Então não pare. Eu quero ser sua. — Girar os quadris trouxe outro suspiro aos lábios dele. Ela tentou novamente, apertando-o profundamente, seu corpo sabendo instintivamente o que sua mente não sabia.
Os dedos de Will cravaram em seu traseiro. Ele empurrou para cima, o calor de seu corpo queimando-a por dentro.
A dor foi embora, expulsa de seu corpo por uma alegria nascente. Ele era dela. Ele finalmente era dela, e ela nunca iria deixá-lo ir. Lena jogou a cabeça para trás, as mãos dele ajudando-a a encontrar o ritmo que o agradava e zombava dela. Cada deslizamento escorregadio a trouxe tentadoramente perto da borda.
Will se levantou do travesseiro e reivindicou sua boca. O movimento a empalou mais profundamente, seus joelhos cravados no colchão e a base de seu eixo esfregando contra sua fenda. Apertando o corpo, ela engasgou, mas não havia como escapar. De sua boca. Pela sensação dele, bem no fundo. Das mãos que seguravam a base de seu crânio.
Com os dedos cerrados em seu cabelo, ele arrastou sua cabeça para trás, seus dentes afundando na carne macia de seu trapézio. Marcando ela. Reivindicando-a. Levando-a ao limite.
Lena gritou quando isso a levou. Seu corpo se apertou ao redor dele e ele gemeu, seus quadris desacelerando, suas estocadas se tornando mais profundas. Gritando, ele estremeceu violentamente contra ela, uma mão contra a parte inferior de suas costas enquanto a empurrava contra ele.
Longos minutos ofegando sem fôlego enquanto ela voltava a si mesma. Ela nunca se sentiu mais segura, mais em paz, do que neste momento em seus braços.
A pele escorregadia de suor, o coração dele batendo forte contra o dela, ela ergueu a cabeça lentamente. Will estremeceu. Seus olhos brilhavam como moedas de cobre e cheios de incerteza. — Eu não te machuquei?
Ela sorriu e mordiscou sua orelha. Seu corpo doía com a posse de sua união. E ela adorou. — Não.
— Você é tão apertada, mo cridhe. — Ele acariciou seu rosto com ternura.
Lena colocou a mão em concha contra o rosto. Mo cridhe. Palavras incompreensíveis, ela conseguia se lembrar dele sussurrando para ela na febre, entre outras. — O que isso significa?
— Pequena. — Ele sorriu, mas a tensão permaneceu em seus olhos aquecidos pelo bronze.
— Eu não acho que isso signifique nada.
— Não?
Ela beijou sua palma, olhou profundamente em seus olhos. — Não.
Will riu contra sua pele e a arrastou contra seu peito enquanto se deitava. Seu corpo ainda aninhado dentro dela. — Vá dormir. — Ele disse, com um bocejo satisfeito. Seus cílios tremeram contra suas bochechas. — Antes que eu seja tentado a me deixar maluco com você novamente.
Ele acordou algum tempo depois, apenas o tempo suficiente para rolá-la sobre o estômago e morder sua nuca. Lena piscou sonolenta quando ele puxou seus quadris para cima e empurrou dentro dela. Desta vez não houve gentileza. Qualquer que fosse o pensamento que o tenha despertado, ele o apagou em seu corpo, enchendo-a, possuindo-a. Reivindicando-a com tanto desespero que ela desabou ofegante na cama, incapaz de respirar, seu corpo ainda formigando com os tremores secundários.
E de novo. Poucas horas depois, com a noite escurecendo o céu. Levando-a para o colchão, seus olhos brilharam como cobre, perdidos para o lado selvagem de sua natureza.
Isso acendeu algo dentro dela. Desejos que ela nunca sentiu antes. Eles se beijaram, se morderam e se empurraram, desesperados para deixar alguma marca, alguma sombra de si mesmos na pele um do outro. A escuridão dentro dela se desenrolou e ela cravou as unhas nas costas dele enquanto gritava de prazer na noite.
Ela perdeu a conta de quantas vezes ele a levou. O mundo desapareceu. Tornou-se pouco mais do que pele e suor e semente, o impulso de seu corpo, a aceitação do próprio. Algum tempo antes do amanhecer, os dois desmaiaram, o cansaço percorrendo seus corpos.
Will saiu da cama e preparou um prato de ensopado para ela, esquentando-o no fogão. Sua fome mudou e ela comeu dois pratos vorazmente antes de desabar de volta na cama. Quase não havia espaço para dois, mas ele se enrolou em torno dela, arrastou os cobertores sobre eles e se aninhou em seu cabelo. Uma parte dela gostou do fato de que a cama não era maior.
— Durma. — Ele sussurrou, como se ele não fosse a causa de sua noite sem dormir.
Ela se aconchegou contra ele, seus cílios tremulando fortemente contra suas bochechas. — Só... se você me deixar...
Ela estava dormindo antes de terminar a frase.
Capitulo 25
Uma batida forte na porta a acordou. Lena ergueu a cabeça do travesseiro quente em que ela repousava - o peito de Will - e piscou sonolenta. Apesar das duas tigelas de ensopado que ela consumiu, seu estômago roncou como se ela tivesse passado fome por uma semana.
Os músculos abaixo dela ficaram tensos. — Fique aqui.
Ele rolou para fora da cama, vestindo as calças. Lena preguiçosamente apreciou a vista, tentada a arrastar as unhas sobre suas nádegas nuas. Ela uma vez o achou muito volumoso e grosseiro, mas ela estava errada. Ele era perfeito. Todo músculo esculpido e pele bronzeada. Ao lado dele, os sangues azuis empalideciam até a insignificância com seus ombros acolchoados e pele pálida.
Um dos botões de sua calça estava faltando, sem dúvida em seu entusiasmo na noite anterior. Ele lançou-lhe um olhar exasperado e foi até a porta. Lena se sentou, procurando sua camisola. Seu olhar pousou em uma pilha de linho branco abandonado perto da porta. Arrastando o lençol ao redor de seu corpo, ela o enfiou entre a fenda de seus seios e tentou pentear os emaranhados de cabelo.
A porta trovejou sob o peso da fúria de alguém.
— Estou indo. — Will murmurou e a abriu.
Honoria entrou cambaleando no quarto, o rosto pálido e os olhos brilhando de fúria. — Você me deixe entrar! — Ela gritou. — Eu tive o suficiente. Eu quero vê-la! Ela é minha também, você sabe... — Seu olhar pousou em Lena e ela disparou sob o braço estendido de Will com um grito suave. Deslizando de joelhos, ela colocou os braços em volta de Lena e a puxou para perto.
— Eu te enviei uma mensagem. — Will murmurou.
Lena respirou fundo, enchendo os pulmões com o cheiro familiar da irmã. — Estou bem. — Disse ela enquanto Honoria desatava a chorar.
Blade caminhou para dentro com um encolher de ombros. — Você tem cinco dias, — ele disse a Will. — Isso é tudo que eu poderia fazer.
Will tentou fechar a porta, mas ela deu um salto em sua direção e Charlie entrou com um sorriso alegre. Ele desapareceu quando ele a viu, transformando-se em uma carranca intrigada. — Por que você não está usando roupas?
Com o calor queimando em suas bochechas, Lena ajudou Blade a coletar Honoria. — Dê-me tempo para me lavar e me vestir. — Ela murmurou. Pegando sua camisola, ela disparou para o banheiro.
Apenas um minuto depois, Will a seguiu para dentro, um olhar atormentado em seu rosto.
— Muito da minha família?
Seu olhar vagou por seu corpo nu e ele pegou a toalha. — Sim. Preciso de um momento. Deixe-me ajudá-la.
Ela gritou baixinho quando ele deslizou a toalha entre suas coxas. — Will! — Abaixando a voz, ela puxou-a de seus dedos. — Não se atreva!
Lavando-se rapidamente, ela puxou a camisola por cima da cabeça. — Suponho que você não tenha pensado em trazer nada para eu usar com você?
— Eu não estava planejando mantê-la vestida. — Ele fez cócegas em seu traseiro.
Pegando seus dedos, ela olhou para ele. — Você está de raro bom humor esta manhã.
— Sim. — Ele se aninhou mais perto, sua respiração deslizando sobre sua garganta. — Me ajuda a me lavar?
— Isso não vai nos tirar daqui apressadamente. — Ela sussurrou.
— Eu sei. — Suas mãos deslizaram sobre seus quadris.
Baixando a voz para um sussurro, ela o empurrou. — Não com minha família no quarto ao lado, obrigado. Lave-se e vista-se. — Aproveitando a chance, ela se abaixou sob o braço que a segurava e saiu pela porta.
Honoria estava enxugando os olhos quando reapareceu.
Lena pegou sua mão e a conduziu até a cadeira. — Sente-se —, ela instruiu, empurrando os ombros de Honoria. Parecia estranho dar ordens, quando Honoria sempre fora quem as emitia. Inclinando-se mais perto, ela beijou a bochecha molhada de sua irmã. — Anime-se. Estou bem.
— Verdadeiramente?
Arrastando um dos cobertores sobre os ombros para cobrir a camisola fina, Lena assentiu. — Eu não consigo me lembrar muito disso. Eu me lembro da sua voz. Obrigada por cuidar de Will.
Honoria trocou um olhar com Blade. — Não que ele permitisse muito. Ele sequestrou você.
Blade despejou água em uma chaleira velha e surrada. — Você vai deixá-la ir algum dia, amor.
Os lábios de Honoria se estreitaram.
— Tenho vinte anos. — Lena a lembrou com um sorriso.
— Você ainda é minha irmãzinha.
— E eu posso vencê-la em uma queda de braço agora.
O lembrete não caiu bem com Honoria. Lena riu e se acomodou na beira da cama. Will escolheu aquele momento para entrar, puxando sua camisa no lugar. A água tornou seu cabelo com pontas douradas mais escuro, cravando seus cílios. Sua respiração ficou presa. Tão bonito.
— Urgh, — Blade murmurou. — Diga que não éramos tão ruins?
Demorou um pouco para Charlie compreender. Seus olhos se arregalaram. — É por isso que você está aqui! Você e Will? Isso é incrível! Quando isso aconteceu?
— Charlie, não se esqueça. — Corrigiu Honoria.
Um rolar de olhos. — Sim, senhora. — Ele deu um soco no ombro de Will. — Como você gosta disso, hein? Outro homem da família. Graças a Deus não é nenhum daqueles sangues azuis empinados do Escalão. Nunca pensei que ela fosse sensata o suficiente para escolher um homem decente.
— Sim, bem —, disse Lena. — não acredito que eles vão me aceitar de volta tão cedo.
Charlie olhou em seus olhos. — Eu gosto dele. — Declarou ele.
— Ora, obrigada. — Ela riu, então percebeu que Blade e Honoria estavam trocando outro daqueles longos olhares que falavam muito. — Por quê? O que é isso?
— Leo visitou três vezes —, disse Honoria. — O príncipe consorte quer saber por que Will não está cumprindo seu dever e solicitou a presença de Lena. Leo está tentando acalmá-lo.
— Eles estão assinando o tratado amanhã, — Blade disse. — Se os noruegueses vierem para a festa.
Will colocou uma mão possessiva sobre seu ombro. — Eles não podem ver Lena. Espalhar o lupinismo é punível com a morte.
A mão de Lena disparou para a dele. — O que você quer dizer? — Ela olhou dele para Blade. — Eles não vão machucar Will, vão?
— Não, se eu tiver algo a dizer sobre isso. — Blade ficou sério. — É tarde demais para pensar. O príncipe consorte já sabe. Acredito que Dama Astrid contou a ele. Ela provavelmente pensou que não importava muito.
— Ele não ousaria machucar Will, — ela disse, encontrando seus pés e puxando o cobertor mais apertado ao redor dela. — Ele não pode arriscar alienar os escandinavos até que eles assinem o tratado. Will, sua melhor chance é aparecer amanhã, forçar sua mão. Faça com que ele me reconheça publicamente e o que aconteceria quando ele tiver que enfrentar os escandinavos.
Will olhou para ela. — Eu não estou levando você para o coração do Escalão. Não com a lealdade dos noruegueses ainda em dúvida e aqueles vermes pastosos enxameando ao nosso redor. Não até que o tratado seja assinado e você esteja segura pela lei.
— Mas eles não vão mudar a lei a menos que os noruegueses assinem, — ela disse suavemente. — Você acha que eles vão?
O silêncio de Will foi resposta suficiente. — Astrid e Eric nos ajudaram. Mas eles não estão no poder. E não acho que o Fenrir governe com o coração. Acho que ele sabe exatamente de que maneira vai jogar e por quê.
— Então precisamos convencê-lo do contrário, — Ela disse seriamente. — Eu sei que você não me quer em perigo. Mas não vou sentar e assistir quando é a sua cabeça que está em jogo!
— Não.
— Você prometeu que trabalharíamos juntos-
— A menos que eu achasse que fosse perigoso...
— Para você! Não para mim.
— Você não sabe disso —, disparou Will. — Você nunca levou uma cusparada ou teve mulheres escondendo seus filhos de você. Você nunca ficou presa em uma jaula, Lena, enquanto os sangues azuis zombavam de que era ali que você pertencia. Eu tentei te dizer. Este é um mundo diferente e eu sinto muito por isso. Vou tentar fazer com que eles assinem o tratado, mas não vou arriscar você. De novo não. Eu não suportaria perder você. Você sabe disso.
Ela respirou fundo. Discutir com ele era inútil. Ela tinha que ser racional se tivesse alguma chance de ganhar sua aprovação. — Você não conhece a corte. Você não conhece os perigos que podem ser encontrados lá. Você não os vê porque não joga esses jogos, portanto, não espera que eles sejam jogados. — Ele abriu a boca, mas ela se apressou, determinada a terminar. — Não serão lâminas, punhos ou brigas em becos escuros, Will. Vai ser jogado com palavras. Você nem perceberia o problema até que estivesse enterrado nele. Você precisa de mim. Eu conheço este mundo. Eu sei como jogar.
— Não vou colocar você em perigo.
— Se você falhar, você morre —, ela respondeu sem rodeios. — E não haverá ninguém para me proteger. Principalmente a lei.
Ele não gostou disso. — Droga, Lena...
— Você sabe que estou certa.
A tensão embranqueceu sua mandíbula e seus olhos ficaram brancos. Mas seus ombros caíram e ela sabia que o tinha.
— Você não sai do meu lado. Nem por um momento. Se alguém fizer um movimento contra você, eu vou matá-lo.
— Eu acredito em você, — ela disse suavemente. Sentindo sua angústia - deixá-la fazer isso ia contra todos os instintos que ele possuía - ela acariciou sua mão. — Obrigada.
— Bem. Nunca pensei que veria esse dia. — Blade riu e deu um tapinha nas costas de Will. — Você sabe que está em apuros quando é enganado por um mero deslize de uma moça.
— Não ria —, advertiu Honoria. — Acho que é hora de tirar o pó de suas roupas da corte e aparecer. Podemos ajudar a proteger Lena.
Blade estremeceu. — O Escalão vai adorar isso.
Lena raspou o resto da sopa da tigela e olhou para dentro com tristeza. Ela já tinha comido meia torta de rim, um prato de guisado, duas fatias de pão e agora a tigela de sopa. E ela ainda sentia fome.
Os outros ocuparam a sala de estar de Blade no cortiço e estavam discutindo sobre como convencer os escandinavos a aceitar o tratado amanhã. Will olhou para ela com uma carranca, então olhou para a tigela. — Mais?
Ela balançou a cabeça. — Eu não deveria.
Ignorando-a, ele tirou a tigela de suas mãos e foi até a terrina de sopa sobre a mesa. — Tenho que manter sua força.
— Vou engordar.
Ele encolheu os ombros e encheu a tigela. — Não é provável, mas não importa de qualquer maneira.
A tigela aqueceu suas mãos quase tanto quanto suas palavras aqueceram seu coração. Lena olhou para o caldo. Durante toda a sua vida ela não foi nada mais do que um rosto bonito para a maioria dos homens. Princesa de seu pai. Um pedaço de espuma para o Escalão.
Só Will a via como outra coisa. Algo mais.
Uma batida soou na porta e Blade girou bruscamente quando Esme entrou. — Desculpe, — ela murmurou com um sorriso alegre. — Mas tenho uma carta para Lena.
— Lena? — Will se endireitou.
Lena franziu a testa, aceitando a carta. Quem pensaria em encontrá-la aqui? O único que sabia que ela a visitava com grande regularidade era Leo.
Deslizando uma miniatura sob a borda do envelope, ela o abriu. Estava vazio, exceto por um pequeno cacho de cabelo, cuidadosamente amarrado com uma fita.
Cabelo loiro. Bem sedoso.
Cheirava a Charlie.
Lena congelou. — Onde você conseguiu isso? — Ela perguntou roucamente.
A sala se acalmou quando todos sentiram seu medo repentino. Esme lambeu os lábios. — Havia um homem na porta poucos minutos atrás. Disse que tinha uma carta para você.
Blade foi até as janelas, puxando as cortinas para o lado. — Como ele era?
Enquanto Esme gaguejava uma resposta vaga, Will pegou o tufo de cabelo dela e cheirou-o. Ele lançou um olhar para Charlie, então levantou uma sobrancelha interrogativa para ela.
Lena pôs a sopa de lado, com o apetite destruído. Ela sabia exatamente o que significava. Ela não estava tendo o desempenho esperado. Alguém queria que ela destruísse este tratado e até agora ela não fez nenhum progresso.
— O que está acontecendo? — Will perguntou.
Lena balançou a cabeça, pondo-se de pé. Sua garganta parecia espessa. Tinha que ser a pessoa da Torre dos Corvos. Se ele pudesse chegar até Charlie aqui, chegar tão perto a ponto de roubar uma mecha de seu cabelo...
Ela congelou, as mãos apertando as saias. O que ela poderia fazer? Destruir o tratado e ela arriscaria a vida de Will. Mas se ela não...
— Lena? — Uma mão quente deslizou sobre suas costas.
Todos estavam olhando para ela.
— Eu... eu...
Will a odiaria por isso. Ela pensou em seu sorriso, apenas alguns momentos antes, na maneira gentil como ele acariciava suas costas agora.
— É de Charlie, não é? — Honoria perguntou baixinho, os olhos fixos na mecha de cabelo. — O que está acontecendo? Lena?
Dizer a eles e ela arriscaria perder Will... Mas não, isso era um pensamento egoísta. Seu estômago se apertou. A vida de Charlie estava em risco, assim como a de Will. Isso havia crescido além de sua capacidade de resolver.
Seus ombros afundaram. — É de Charlie. É... — Um olhar para Will, como se ela não pudesse se conter. — Eu não poderia lhes dizer. Alguém me ameaçou. Eles tinham um dos soldados mecânicos de Charlie que haviam tirado de seu quarto. Eles disseram que se eu não destruísse o tratado, eles o machucariam. — As palavras não parariam agora. — Eu pensei que se eu fizesse o que eles diziam, tudo estaria bem. Mas não consegui. Não quando isso significava sua liberdade...
Will parecia como se ela tivesse batido nele. Lena se encolheu e agarrou sua mão. — Eu sinto muito. Eu nunca quis fazer isso. Eu nunca quis...
Ele ergueu a mão e ela se encolheu. Will congelou, então lentamente estendeu a mão e roçou os dedos sob sua mandíbula, inclinando seu rosto em direção a ele. — Alguém te ameaçou? — As palavras eram suaves. Perigosas.
Lena estremeceu. — Eu disse a eles que não queria mais nada com isso.
Suas sobrancelhas se juntaram. — Lena, eu não vou te machucar. — Seus dedos se apertaram em suas bochechas. — Vou quebrar a cabeça de outra pessoa contra a parede, mas nunca machucaria você.
O alívio brotou como uma inundação repentina. Uma lágrima quente escorreu por sua bochecha. — Achei que você ficaria com raiva de mim...
— Cristo. — Ele a agarrou com força, envolvendo-a contra seu peito. — Não há mais segredos entre nós. Promessa?
Ela assentiu com a cabeça, respirando seu cheiro familiar. Seus dedos cerrados em sua camisa.
— Você é minha, — ele murmurou. — Conspirações tolas e tudo.
Afagando o cabelo pegajoso de seu rosto, ele abaixou a cabeça e roçou sua boca contra a dela. Lena o beijou desesperadamente, agarrando-se à camisa dele.
Atrás deles, alguém pigarreou. — O que, precisamente, está acontecendo? — Perguntou Honoria.
Eles eram os quatro olhando para ela. Blade examinou a situação, seus olhos se estreitaram. — Alguém entrou aqui, pegou um dos brinquedos de Charlie, não foi? Tirou uma mecha de seu cabelo?
Charlie colocou a mão na cabeça, como se procurasse a falta.
Will respirou fundo. — Lena? Você também pode contar a eles. Blade precisará saber, se quisermos manter o menino seguro.
Lena deslizou a mão na dele e fixou o olhar em Honoria. — Prometa que não vai gritar.
Honoria cruzou os braços sobre o peito. — Eu não gostaria de fazer uma promessa que poderia quebrar.
Esse era o preço de guardar segredos. Lena endireitou os ombros e contou tudo a eles.
Quando ela terminou, todos estavam olhando para ela. A boca de Honoria era um hífen, mas pelo menos ela não estava gritando.
— Humanistas, — Blade murmurou. — Como seu pai?
Honoria acenou com a cabeça bruscamente. — Presumo que isso tenha algo a ver com o texto cifrado que Will queria que eu decodificasse?
Lena deu um suspiro de alívio. — Sim. Achei que seriam apenas horários e datas para eles se encontrarem. Em formação.
Seu olhar esperançoso morreu quando o olhar de Honoria se desviou. — Eu tentei uma cifra de chave automática, mas não consegui decifrá-la —, disse Honoria. — Então eu perguntei a Leo. Seu colega, Lorde Balfour, tem esta máquina maravilhosa, baseada em um dos projetos incompletos de Babbage. É uma máquina de criptografia de rotor eletromecânica e...
— A mensagem. — Blade interrompeu com um leve sorriso.
— “Projeto Pássaro de Fogo abortado. Suspeita de sabotagem de dentro, adiando e aguardando ordens. Mecanistas sob controle mais uma vez. Aguarde mais instruções. ”
— O que isso significa? — Lena perguntou.
Honoria encolheu os ombros.
— Pássaro de Fogo, — Will murmurou. — As fábricas de drenagem?
— Mas Ros... Mercúrio alegou que eles não tinham nada a ver com isso.
— Então ela mentiu —, disse Will. — Ou outra pessoa está enviando essas mensagens da facção humanista.
— Política fodida. — Blade murmurou.
Honoria franziu a testa. — O que eu quero saber é por que você guardou tudo isso para si mesma. Por que você não nos contou?
— Já disse — gaguejou Lena. — Eu não percebi...
— Você não. — Seu olhar atingiu Will. — Vocês.
Ele olhou para Blade, então para longe. — Eu pensei que poderia lidar com isso.
Os olhos de Honoria se estreitaram. Ela olhou entre os dois homens. — O que está acontecendo?
— Nada. — Will murmurou.
Blade a encarou, os braços cruzados defensivamente sobre o peito. — Will não queria que eu enfrentasse o Escalão.
— Mas você...
— Tenho bebido sangue humano de novo —, disse ele de repente. — É por isso que os resultados do meu vírus não estão caindo mais.
O queixo de Honoria caiu de surpresa. — Mas... mas por quê? Meu sangue vacinado estava curando você. Se continuarmos, os resultados do seu vírus podem quase se negar. Você pode estar completamente curado. Você deve ser...
— Humano, — Blade disse suavemente. Ele parecia um homem de frente para o tumbrel. — Isso tira a ameaça do vírus, amor, mas me tira a força e a velocidade. — Seu rosto se contorceu. — É o suficiente para saber que não estou enfrentando o Desvanecimento mais. Não posso me dar ao luxo de ser mais fraco. O Escalão estaria sobre nós como uma matilha de cães raivosos. Will estava tentando impedir que isso acontecesse.
Honoria o fitou impotente, os olhos brilhando de lágrimas. — Por que ninguém me conta essas coisas? — Seu olhar quente passou para Lena. — Eu sou realmente tão raivosa, tão medrosa, que vocês estão com muito medo de me dizer? Eu só quero o melhor para você. Para todos vocês.
Blade soltou um suspiro afiado, como se temesse o pior. — Não é isso, amor. Eu não queria te decepcionar. Você estava tão determinada a uma cura.
— Não sou irracional. — Disse ela.
— Você é muito racional. — Blade disse com um sorriso hesitante. Ele acariciou seus dedos e ela lentamente virou a palma em direção a ele, aceitando o toque. O alívio inundou sua expressão.
— Bem. — Honoria soltou um suspiro profundo. — Já que estamos tão decididos a revelar nossos segredos hoje. — Ela pressionou a mão no diafragma e deixou escapar: — Acho que estou grávida.
A cor sumiu do rosto de Blade. Por um momento ele ficou com a mesma aparência de três anos atrás, quando encarou o Desvanecimento no rosto. — Honor? — O sussurro era uma mistura de terror e espanto.
A alegria inundou o peito de Lena. — Você está certa? — Ela perguntou, pegando a irmã pelas mãos.
— Eu vi a parteira ontem. — Respondeu Honoria, com os olhos marejados de novo.
Lena a abraçou forte, a felicidade surgindo por ela. — Você merece —, ela sussurrou. — Você vai ser uma mãe maravilhosa. — Ela não pôde evitar um sorriso triste. — Você tem muita prática em ser mãe de todos nós.
Esme abraçou as duas. Por cima do ombro de Honoria, Lena viu Blade cambalear contra a poltrona. Charlie o pegou com um sorriso. Até os lábios de Will se curvaram em um sorriso.
— Maldição, — Blade murmurou. — Isso... isso é incrível.
Então ele estendeu a mão e arrastou Honoria em seus braços.
No dia seguinte, Lena respirou fundo e alisou o tafetá de berinjela nos quadris. A garota no espelho parecia uma estranha; com espartilho e agitado, com penas elegantes no cabelo e um dos belos broches de relógio que ela desenhou em seu peito. As asas de latão da minúscula libélula vibravam ritmicamente e ela sabia que isso tiraria o foco de seus olhos.
Will disse que eles mudariam, o anel acobreado em torno de suas pupilas gradualmente assumindo o controle. Lena gostava bastante deles. Era um sinal de que essa linda garota que a encarava não estava mais impotente. Não era mais presa.
Ela sorriu e o reflexo sorriu de volta para ela, os dentes ligeiramente à mostra. Sim. Isso era melhor. Isso era mais ela mesma agora. Ela estava cansada de ter medo, e contar a todos seus segredos tirou o último peso de seus ombros. Blade havia reforçado a segurança no cortiço e Charlie estava são e salvo agora. Ninguém se aproximaria dele.
Tudo o que faltava era encerrar esse tratado.
Seus olhos se estreitaram. Ela iria gostar muito de arruinar os planos do misterioso agressor.
— Você está pronta? — Leo chamou, batendo em sua porta aberta. Ele insistiu que ela o acompanhasse. Não apenas ajudaria a disfarçar os rumores sobre o relacionamento preciso dela com Will, mas o peso de seu título ofereceria proteção adicional. Se o misterioso agressor fizesse um movimento em sua direção, ele estaria esperando. Entre ele e Blade, os dois resolveram desenterrar o traidor.
— Você viu a Sra. Wade na porta?
A primeira coisa em que ela insistiu quando voltou para Waverly Place na noite anterior. Ela estava farta de ser manipulada e traída. Mandeville terminou o revestimento externo do transformacional e pegou o interior esta manhã, professando suas sinceras desculpas, mas ela sentiu que demoraria muito antes que pudesse confiar nele novamente.
— Com uma referência. — A expressão sombria de Leo traiu sua curiosidade, mas ele não perguntou. Eles nunca compartilharam um relacionamento assim. Ele a protegeu e guiou através das águas perigosas do Escalão, mas ele sempre a manteve a uma pequena distância. Na verdade, uma distância com a qual ele segurava o mundo.
— Obrigada, — ela murmurou, esticando-se na ponta dos pés para pressionar os lábios em sua bochecha. — Por tudo que você fez por mim. Por me acolher quando eu não sabia o que fazer da minha vida.
Uma pequena pausa. Em seguida, uma elevação enigmática de sua sobrancelha quando ele se afastou, uma onda de calor curvando-se em suas bochechas. — Eu acredito que o que você está dizendo é um adeus.
Ela assentiu. — Eu sei onde pertenço agora.
— Com Will.
— Como você... ?
— Lena — disse ele secamente. — Existem muitas maneiras de espalhar o lupinismo. Eu nem quero imaginar como você pegou, já que você é minha...
— Sua irmã. — Ela solicitou.
Ele respirou fundo. — Eu nunca poderei ser seu irmão. Não em público. Você sabe disso. Isso foi tudo que eu poderia dar a você.
Sempre tão rígido e distante. Ela sorriu maliciosamente. — Você vai ser tio, sabe?
Seu olhar baixou rapidamente para o diafragma dela, depois se afastou.
— Eu não. — Ela riu.
Uma expressão incrédula apareceu em seu semblante tão apropriado. — Bom Deus. Ele está criando.
— Ele é seu cunhado, — ela o lembrou. — Com alguma sorte, o bebê deles será como ele.
O horror deu lugar a uma expressão calculada. — Sim, — Leo murmurou. Um sorriso apareceu em seus lábios. — Isso seria justiça.
Ele riu então, o som dela os seguindo por todo o caminho até a carruagem.
Carruagens a vapor despejaram seus ocupantes no pátio pavimentado fora da Torre de Marfim. Lena juntou as saias e procurou por Will. O pátio era uma enxurrada de cores, com guarda-sóis brilhantes e chapéus elegantes. Em um baile, esperava-se que uma debutante em busca de um protetor usasse branco. Durante o dia, a natureza vibrante do Escalão ganhou vida.
— Onde está Will? — Ela meditou.
— Eu não vejo a carruagem de Blade, — Leo murmurou. — Talvez eles ainda não estejam aqui. O trânsito nas ruas está bastante congestionado.
Seus olhos encontraram um grupo conservador perto da escada. — Os noruegueses. — Abrindo a sombrinha, ela se endireitou. — Vou falar com eles enquanto esperamos.
— Lena...
Com um sorriso alegre, ela se virou e pisou em alguém. Elas colidiram em um emaranhado de saias, e Lena agarrou o braço da outra mulher antes que ela pudesse se conter.
Os olhos verdes se arregalaram e Adele desviou o olhar bruscamente. — Perdão. — Ela murmurou, tentando se mover.
Os dedos de Lena se apertaram. — Não faça isso. Por favor, Adele.
Uma expressão de dor cruzou o rosto de sua amiga. — Eu não posso, — ela sussurrou. — Meu pai está prestes a assinar um contrato de servidão por mim com Lorde Abagnale.
— Aquele velho bruto?
Adele olhou ao redor. — Eu não posso ser vista com você. Você sabe como eles são. Esta é minha última chance.
— Adele, há rumores de que ele matou sua última serva!
A cor desbotou das bochechas lisas de Adele. — Você não acha que estou ciente disso? — Ela desviou o olhar e o olhar de Lena foi atraído para a pesada gargantilha de pérolas que cobria sua garganta.
— Por que você está vestindo isso?
Adele balançou a cabeça. — Não importa.
— Conte-me. — Ela estendeu a mão, como se fosse movê-la, mas Adele agarrou seus dedos e olhou para ela suplicante.
— Eles pensam que eu sou o jogo de qualquer um agora. Colchester me encontrou sozinha...
— Colchester? — Lena sibilou. — O quê ele fez pra você?
— Ele disse que já que eu gostava tanto com Cavendish... não pude impedi-lo. É por isso que preciso de Abagnale. Ele é rico e dá as suas servas tudo o que desejam.
— Isso é para compensar as contusões.
— Eu não me importo. — O aperto de Adele aumentou. — Se ele me der o suficiente, talvez eu possa penhorá-lo. Talvez eu consiga dinheiro suficiente para fugir. Para América. Para Nova Iorque.
O estômago de Lena apertou. Para uma serva quebrar seu contrato significava execução. — Eles vão encontrar você.
Os ombros de Adele caíram como se ouvir a verdade tivesse roubado sua última esperança. — Então ficarei com Abagnale enquanto... quanto puder.
Não era justo. Lena havia encontrado seu próprio senso de liberdade, se pudesse convencer os noruegueses a aceitar o tratado. Mas Adele não tinha. E nenhuma das moças se abanava na praça, fingindo que tentava desesperadamente atrair um benfeitor.
— Não o aceite —, disse ela, tirando a luva. Pegando o rubi em seu dedo, ela o torceu e o pressionou na mão de Adele. — Tem uma mistura dentro dele que vai incapacitar um sangue azul. Aqui. Como isso. — Ela rapidamente tirou o pequeno espinho e mostrou a Adele o que fazer. — Isso lhe dará uma chance de escapar se algum deles tentar machucá-la novamente.
Uma luz forte passou pelos olhos de Adele. Então desbotou. — E depois?
Maldito mundo. Lena queria gritar com a injustiça daquilo. — Se precisar de ajuda, você pode vir até mim. Ou para Leo. Diga a ele que eu te enviei. — A inspiração repentina bateu. Uma forma de proteger aqueles como ela, que não tinham como lutar. — Isso é o que eu vou fazer, — ela sussurrou. — Vou abrir uma casa. Um lugar para moças com problemas irem, onde ninguém pode machucá-las ou forçá-las a se submeter. Um lugar onde elas podem ficar o tempo que quiserem, até que possamos encontrar uma nova vida para elas.
Adele olhou para ela. — E como elas escapam?
— Vou começar uma nova moda —, declarou ela. — Em anéis de rubi.
Adele olhou para baixo, para a gema brilhando em seu dedo. — Eu gostei. — Ela sussurrou e uma pequena sugestão de esperança voltou a sua expressão.
— Adele! — A Sra. Hamilton agarrou-a pelo outro braço, lançando a Lena um olhar que ela poderia ter dado a um estranho. — Venha. Lorde Abagnale queria admirar seu lindo colar novo.
— Não tome nenhuma decisão — Implorou Lena. — Ainda não.
Então Adele foi engolida pela multidão e Lena foi deixada para trás, com um novo sonho ardendo em seu coração.
Fazer tal coisa significaria enfrentar os sangues azuis que gostavam de seu joguinho. Também significava sobreviver no dia seguinte. Forçar o príncipe consorte a reconhecer o que Will estava fazendo e mantê-lo em sua promessa de mudar as leis.
Seu olhar determinado pousou nos noruegueses.
Eles a viram chegando, os olhos do velho Fenrir grisalho estreitando-se sobre ela. Ele fez pouca concessão ao evento, ainda usando seu tapa-olho austero e pele de lobo presa sobre o ombro. Os dois jovens bonitos a seu lado haviam tirado as próprias peles e usavam uniformes da marinha combinando, abotoados no peito esquerdo, com sapos dourados e dragonas. Ela reconheceu Eric, com seu cabelo dourado varrido pelo vento e a fila de damas que enxameava por perto.
Lena acenou com a cabeça para o Fenrir. — Meu Senhor.
— Então você sobreviveu. — Ele rosnou de volta.
— De fato. — Respondeu Lena, ignorando sua grosseria.
Virando-se, ela cumprimentou os outros membros da comitiva. Dama Astrid exibia um leve sorriso, seu cabelo loiro claro brilhando contra a mecha prateada de pelo sobre seu ombro.
— Considerando o quão doente eu estava, estou bastante surpresa com a rapidez da recuperação. Sinto-me com uma saúde excelente. — Disse Lena.
— A febre inicial é o único perigo —, respondeu Astrid. — As tentativas do seu corpo de repelir o vírus são o que o ameaça. Assim que a febre diminui, o vírus cura você rapidamente.
— Rápido, furioso e um tanto violentamente apaixonado —, ponderou Lena. — Lembra-me de alguém que conheço.
Astrid sorriu. — Ainda vai levar meses para que todas as suas forças se instalem. Você vai descobrir que seu humor está instável e você está sujeita a explosões emocionais. Você deve aprender a controlá-las, com medo de machucar alguém.
— Até uma mulher sofre de tais temperamentos?
— Especialmente uma mulher. — Eric brincou.
Astrid voltou seu olhar sufocante para ele. — Considerando quantas vezes você foi jogado no mar ou acorrentado na gaiola, você tem coragem de falar.
— Jogue bem. — Magnus colocou a mão em ambos os braços. Seu olhar faminto se estreitou em alguém. — Estamos sendo vigiados.
A brisa agitou as saias de Lena enquanto ela seguia seu olhar. O Martelo de Guerra os observava do outro lado do pátio. A Duquesa de Casavian conversava com ele, mas não foi isso que chamou a atenção de Lena. Do outro lado dele, o duque de Lannister olhava para ela por cima de uma taça de champanhe.
Colchester.
Ela não percebeu que deu um passo em direção a ele até que Astrid pegou seu braço. A súbita fúria ardente que sentiu quase a sufocou. Ele a ameaçou, caçou e quase a matou. E então ele tentou fazer o mesmo com Adele. Uma névoa vermelha cintilante se estabeleceu em sua visão.
— Você deve respirar. Fundo e lentamente, — Astrid a advertiu. — É disso que estou avisando. Essa fúria. Essa necessidade incontrolável. Você deve deixar para lá.
— Eu não quero. — Com a fúria correndo por ela, ela se sentia poderosa, invencível. Sem ele, ela estava com medo de se sentir como sempre - um pequeno rato tímido, fugindo enquanto Colchester a perseguia.
— Você não iria alcançá-lo —, disse Astrid. — Eles vão cortar você e depois se voltar contra nós. Você sabe que isso é verdade.
Uma mão pesada pousou em seu ombro. — Respire —, ordenou o Fenrir. O peso de sua mão a acalmou. — Inspire. — Enquanto ela obedecia, sua voz hipnótica continuou. — E quando você expira, você deve deixar ir.
Colchester inclinou sua taça de champanhe em direção a ela em uma saudação zombeteira.
Os punhos de Lena cerraram-se. — Eu o odeio. Eu o odeio muito.
— Você deve deixar isso ir, — Magnus ordenou. — Respire, Senhorita Todd. Aqui está o seu jovem cabeça quente. — Ele a virou em direção à fila de carruagens. — O que ele vai fazer se te ver tão chateada?
Will iria rasgar Colchester em pedaços. Lena respirou fundo. Ela não podia permitir isso. — Eu sinto muito.
— Nós entendemos, — Magnus respondeu. — Mais do que a maioria. — Um breve sorriso cruzou suas feições duras. — Deixe ir. Deixe sua raiva e seu ódio irem. Deixe isso passar por você. Como o vento. Limpando você. Trazendo paz para você.
Fechando os olhos, Lena ouviu o timbre suave de sua voz. Os músculos de seus ombros relaxaram.
— Eu acho melhor você tirar sua mão dela, — Eric murmurou. — Ou arriscar um incidente internacional.
O calor de seu toque se foi. Lena abriu os olhos para ver Will caindo sobre eles com Blade e Honoria a reboque.
Ele usava um colete de couro marrom, os botões de latão pregados na costura e um lindo casaco longo de veludo que à primeira vista parecia preto. Apenas em uma inspeção de perto ela percebeu que era um azul marinho tão escuro que parecia meia-noite. O vento bagunçava seu cabelo castanho dourado emaranhado enquanto ele caminhava pelo quintal em direção a ela, espalhando mulheres e sangues azuis.
Subindo as escadas de dois em dois degraus, ele pulou para o lado dela. Lena não pôde evitar olhar para baixo. Botas de couro flexíveis com acabamento logo acima do joelho, com um par de esporas de latão de estilo militar tilintando nas telhas de mármore.
Ela não pôde evitar. Ela teve que tocá-lo, roçando as costas dos dedos em sua coxa. — Onde você conseguiu isso?
— As botas? Elas foram o pequeno presente de Blade para mim esta manhã.
— Eu deveria ter suspeitado de seus gostos, — ela respondeu, olhando o resto dele com apreciação. — O casaco também?
— Eu me considero sortudo, é o único veludo. — Will respondeu. Seus olhos estavam quentes com o calor e a necessidade não dita.
Lena se inclinou na direção dele e se obrigou a parar. Eles tinham que se comportar impecavelmente hoje. Não importava o quanto ela quisesse agarrar sua lapela e puxar seu rosto para beijá-la.
Blade guiou Honoria escada acima com uma mão protetora na parte inferior de suas costas. Lena olhou para o casaco de couro que ele usava e o colete vermelho berrante. — Você está certo. — Poderia ter sido pior.
Honoria era toda charmosa, cumprimentando o Fenrir e seu grupo com facilidade praticada. Ignorando seus olhares distantes, Blade adicionou seus próprios cumprimentos.
— Este é o seu mestre? — Astrid murmurou, olhando Blade com hostilidade aberta.
Blade bufou. — Quando for conveniente para ele. Quando não, ele apenas me diz para ir embora.
— Entendo, — Magnus murmurou. — Você não é do Escalão. — Não foi uma pergunta.
— Larvas de rosto pastoso. — Blade piscou para Magnus e examinou a multidão com um ar ligeiramente predatório. — Veja todos eles arrulharem e se agitarem agora, como se eu fosse um gato jogado com eles. Vamos apenas dizer que minha presença não era esperada.
Will se inclinou na direção dela e sussurrou em seu ouvido: — Nós encontramos a garota que pegou o soldado mecânico de Charlie e cortou um pouco de seu cabelo. Foi uma de suas doadoras de sangue. Disse como um senhor chique pagou por isso. Mas nunca vi o rosto dele.
O alívio a inundou. — Ela não é uma ameaça?
Seu olhar endureceu. — Não mais. Charlie está bebendo seu sangue frio de agora em diante e eu coloquei o temor de Deus nela.
— Melhor isso do que morto.
— Sim. — Respirando fundo, ele se virou para o Fenrir. — Eu tenho um pedido de desculpas a fazer. Eu perdi a cabeça na outra noite. Eu nunca deveria ter me forçado a entrar em sua casa ou feito tantas exigências de você. Eu sinto muito.
Magnus o encarou por um longo tempo. — Em minha terra natal, se um dos Fenrisúlfr - esse verwulfen que você nos chama - perdesse o controle dessa maneira, nós o prenderíamos e ele seria chicoteado. É necessário. Para aprender a controlar a fúria. A única vez em que mostramos clemência é durante os rituais de primavera, quando um guerreiro escolhe sua companheira. Esses tempos são difíceis. Nossos instintos superam o que sabemos que devemos fazer. — Ele balançou a cabeça lentamente. — Você não tem que pedir desculpas. Desta vez, concedo-lhe clemência, pois você mesmo sofre essa loucura primaveril.
— Uma vez, — Eric repetiu. — Ele quis dizer isso.
— Eu joguei você do outro lado da sala. — Will disse, desconfortável com a boa natureza do homem. Em seu lugar, Will estaria em sua garganta.
— Eu não deveria ter procurado sua mulher. — Eric encolheu os ombros. — Tudo está bem. Não sou homem de guardar rancor. — As sombras escureceram seus olhos azuis. — E eu entendo como você se sente.
Chifres soaram. A conversa se acalmou enquanto todos se voltavam para a entrada da torre, preparados para a assinatura.
— Hora de assistir a essa tolice. — Magnus rosnou.
Astrid segurou o braço de Lena. — Posso ter uma palavra, Srta. Todd? Eu gostaria de falar com você e seu homem.
O trio de noruegueses congelou.
— Astrid? — Magnus arqueou uma sobrancelha.
— Continue. — Ela acenou para eles em direção à porta. — Eu vou demorar apenas um momento.
Circulando a colunata, Astrid olhou por cima da amurada, o vento chicoteando seus cachos loiros para trás como um estandarte. — Meu tio está velho —, disse ela de repente. — Um tradicionalista. Ele se lembra de quando nós lutamos contra os sangues azuis e temo em seu coração que ele não possa aceitar este tratado.
Will se recostou na grade, cruzando os braços sobre o peito. Seu coração batia forte. Lena podia ouvir sobre a batida dele.
— Por que você está nos contando? — Ele perguntou.
— Você tem uma participação pessoal neste assunto —, respondeu Astrid. — Mas eu aprecio sua honestidade. Você nunca tentou nos manipular. Eu confio nisso. Eu confio em vocês. E preciso de respostas honestas agora.
Lá dentro, a maioria do Escalão estava reunida no Grande Salão, preparada para assistir ao episódio histórico. O príncipe consorte e a rainha ainda não haviam chegado, mas o Conselho dos Duques estava se reunindo. Will precisava trabalhar rápido, mas Lena sabia a resposta antes que ele a pronunciasse.
— Você as terá.
Ele era muito leal, muito honesto para este trabalho. Essa era uma das razões pelas quais ele não duraria muito neste mundo sozinho. E ainda assim ela prendeu a respiração quando Astrid assentiu. Se ele tivesse tentado enganá-los, os rudes noruegueses o aceitariam?
— Seu príncipe consorte é confiável? Pode o seu Conselho de Duques? — Astrid perguntou.
Para isso, ele olhou para Lena. — Eu não confio neles como um todo. Mas minha opinião contra eles não é totalmente racional. Lena sabe mais.
Lena considerou a pergunta. — O príncipe consorte... Não. Não, acho que não. Quanto ao Conselho, eles se opõem a ele em alguns assuntos, mas não em todos. Ele tem vários deles no bolso, mas cada um deles tem sua própria agenda. Existem alguns poucos em que você pode confiar. Leo é um. O duque de Goethe. Talvez o duque de Malloryn. E os motivos da duquesa de Casavian são totalmente opacos. Não sei que jogo ela está jogando, se houver.
— O embaixador sueco pretende aceitar este tratado. Estou presa em um lugar difícil. Se não aceitarmos, ficaremos presos entre dois impérios poderosos. Os suecos há muito querem destruir o último de nossos clãs e, com os britânicos do lado deles, não temos aliados. Se aceitarmos, nos tornamos a minoria neste tratado. Envolver-nos é um gesto, nada mais. — Astrid franziu a testa. — Devo encontrar um aliado para meu povo. Não há nenhum no continente. O Império Habsburgo controla seu verwulfen para seus exércitos, e os franceses são incitados com esse novo culto da Iluminação. O único lugar que preciso pesquisar é aqui. Em Londres.
E se não com o Escalão, então quem? A respiração de Lena ficou presa, sua mente dando um daqueles saltos rápidos que às vezes acontecia. — Você não pode confiar neles! — Ela deixou escapar.
Will e Astrid olharam para ela.
— Confiar em quem? — Astrid perguntou.
— Os humanistas.
Astrid ficou imóvel. — Tal conversa é traição. Especialmente quando eu sei de quem eles realmente são inimigos.
— Eu nunca trairia você para o Escalão. — Lena engoliu em seco. — Você pode confiar em mim, porque fui um deles até muito recentemente. Eu sei que eles pretendiam abordar suas delegações, para fazer seus próprios acordos com eles.
— Fomos abordados. — Admitiu Astrid com relutância.
— Eles têm suas próprias agendas. Fui instruída a interromper esse tratado a todo custo. Isso é o que eles realmente querem. Eles estão planejando uma guerra, Astrid. Eles têm esses monstros de metal enormes aos quais se amarram. Assim que tiverem o suficiente para ameaçar até mesmo o Escalão, eles atacarão.
— Eles terão sucesso? — Astrid perguntou.
— Acho que não —, respondeu Lena. — Existem facções dentro do grupo. Um lado deseja esperar, para ver o que o Escalão fará. Os outros já tentaram começar uma guerra. Eles estão se matando por dentro.
Astrid soltou a respiração. — Então eles não podem me oferecer nada. Eu preciso de ajuda agora. — Seu punho se cerrou. — Eu esperava... — Ela balançou a cabeça.
A inspiração atingiu novamente. De repente, Lena sabia exatamente o que tinha que fazer. Eles estavam errados o tempo todo. Magnus pode ser o responsável pelo partido norueguês, mas é aqui que reside o poder.
— Você precisa de alguém em quem possa confiar. — Lena sorriu brilhantemente. — E precisamos que você assine nosso tratado. E se eu pudesse garantir uma maneira de ter sua voz ouvida igual à da sueca?
Os olhos de Astrid se estreitaram com curiosidade. — E como você realizaria este milagre?
— Bem, — ela admitiu. — Vou precisar de uma ajudinha.
Capitulo 26
— Espero que funcione. — Will murmurou.
— Confie em mim. — O sorriso de Lena irradiava confiança. — Eu disse que conheço este mundo.
O príncipe consorte e sua rainha invadiram o Grande Salão com muita fanfarra. Elevando-se quase trinta centímetros acima de Blade e Honoria, Will tinha uma boa visão do salão.
O Conselho esperava em silêncio, junto com ambas as partes dos escandinavos. Leo Barrons descansava à vontade, mal ciente da trama que logo o envolveria. Astrid precisava de alguém em quem pudesse confiar e Will conhecia o homem perfeito. O único sangue azul além de Blade que ele deixou em suas costas.
Cruzando os braços sobre o peito, ele se permitiu um sorriso tenso. Quando ele mencionou o nome de Leo como um embaixador em potencial para os noruegueses trabalharem, Lena concordou após uma ligeira hesitação.
— Alguém como Leo, — ela disse firmemente. — Claro. Alguém em quem você pode confiar. Alguém que vai manter você em maior consideração do que o sueco delegado. Alguém que até Magnus poderia aceitar.
As duas mulheres trocaram olhares.
— Alguém em quem podemos confiar. — Repetiu Astrid, gostando da ideia.
Os discursos prosseguiram até que ele rapidamente perdeu o interesse. Ele queria que o tratado fosse assinado agora. Então ele poderia retornar para Whitechapel, levando Lena junto com ele.
— Preste atenção, — ela ordenou, estremecendo com a tensão elevada. — Eles estão prestes a chegar ao tratado.
O embaixador sueco deu um passo à frente com um sorriso malicioso e disse todas as coisas certas. Atrás dele, Magnus se posicionou ao lado de Leo e sussurrou algo em seu ouvido. Nem mesmo Will podia ouvi-lo com o toque alto da voz do conde sueco.
Leo piscou em consideração. Depois de um momento, ele acenou com a cabeça e então cruzou para o lado do príncipe regente para sussurrar algo.
Havia muito para assistir. Will aplaudiu quando o conde sueco finalmente terminou e o príncipe regente deu um passo à frente para fazer suas próprias observações.
— Senhoras e senhores, — ele explodiu. — Um dia auspicioso para nossos dois impérios. Como todos sabem, estamos aqui para assinar um tratado com nossos amigos, os escandinavos. Esperamos que seja uma união longa e frutífera e, para tanto, decidimos anunciar a nomeação de nosso novo embaixador.
Sussurros estouraram. Vários duques trocaram olhares penetrantes. Só Leo parecia à vontade, e todos notaram. A duquesa de Casavian lançou-lhe um olhar estreito, então olhou para o príncipe consorte e a rainha.
— Esta nomeação tem grande peso e muita responsabilidade —, continuou o príncipe consorte. — Temos o prazer de anunciar o Sr. William Carver como nosso novo contato com a aliança Verwulfen.
O mundo caiu sob ele. Cabeças se viraram enquanto todos procuravam encontrá-lo, e o som de dezenas de suspiros chocados encheu o salão.
Will congelou, as mãos preparadas para bater palmas. — Este não era o plano.
— Bem, vá em frente! — Lena sussurrou, uma pitada de alegria desesperada em seus olhos. — Sinto muito, Will. Leo foi uma sugestão muito boa, mas havia outra pessoa que era melhor. Você era o único que não conseguia ver isso.
— Não posso ser embaixador. — Sibilou.
Ao redor deles, as palmas da multidão começaram a diminuir quando todos se viraram para ver o que estava demorando tanto.
— Então o tratado foi cancelado — sussurrou Lena, o sorriso desaparecendo de seu rosto. — Por favor. Eu sei que você não gosta da ideia. Mas pense em quanto poder você poderia ter! O suficiente para garantir que suas leis sejam alteradas. O suficiente para oferecer proteção a qualquer verwulfen que precisasse. E eu estarei lá para você. Eu não vou deixar você fazer isso sozinho. Sinto muito, Will. Esta foi a única maneira que eu pude pensar em protegê-lo.
Ele respirou fundo. O salão estava se fechando sobre ele, de repente muito pequeno. Toda sua vida ele esteve preso na jaula, e então nos confins de Whitechapel. Era demais para ele.
Uma mão deslizou na sua e apertou com força.
— Você pode fazer isso —, ela sussurrou, com a maior certeza. — Aqui está a sua liberdade, Will.
A mão dela se tornou uma âncora em um mundo que girava ao redor dele, uma profusão de cores. Lena estava certa. Barrons poderia fazer isso, mas nunca teria suficiente lealdade, suficiente interesse nisso para realmente se importar. Os verwulfen precisavam de alguém que estivesse do lado deles. E o príncipe consorte precisava de alguém para aplacar seus aliados orientais.
Mas ele tinha outras responsabilidades. Outras dívidas de honra. Blade encontrou seu olhar, seus olhos verdes sabendo.
— Vá em frente. — Ele disse suavemente.
— A respeito...
Blade balançou a cabeça. — Os músculos de Rip são o suficiente para me fazer cumprir. E isso vai lhe dar um poder que você nunca viu antes. Use-o, — ele disse implacavelmente. — Os tempos estão mudando. Eu, um cavaleiro do reino e você como embaixador? — Ele riu. — Tenho que me adaptar.
— Bem. — Will olhou para Lena. — Eu vou ser terrivelmente antiquado, no entanto, e insistir no casamento. Eu não vou fazer isso sozinho.
Uma luz quente infundiu seus olhos, o cobre neles brilhando. — Que classe média, Will. Casamento? Verdadeiramente? Não apenas uma consorte? — Com uma risada feliz, ela o empurrou em direção ao centro da multidão. — Eu aceito. Agora vá.
O coração de Lena inchou de orgulho ao vê-lo apertar a mão do príncipe consorte e aceitar sem rodeios a nomeação. Os sussurros no corredor eram insuportáveis. Colchester parecia que ia explodir de fúria, seus olhos fixos em Will.
De repente, ele sorriu.
Um tremor de premonição desceu por sua espinha. Não Will. Ele poderia fazer qualquer movimento contra ela que quisesse. Mas não Will.
Ficando na ponta dos pés, ela percebeu que de repente estava muito longe para ajudar se ele fizesse algo. Sabendo que era irracional - Colchester nunca ousaria, não aqui - ela abriu caminho passando por Blade, usando sua força recém-descoberta para abrir espaços na multidão onde não havia nenhum.
Magnus apertou a mão de Will com um pequeno sorriso tenso. Aliados talvez, mas Magnus lutaria pelo que pensava ser o melhor para seu povo. O conde sueco o examinou com um olhar penetrante e pegou sua mão. Will estava fazendo um trabalho excelente, apesar de seu desconforto. Ele disse as coisas certas, até conseguiu sorrir.
O príncipe consorte pediu os papéis. Dois criados uniformizados avançaram apressados, carregando uma pequena mesa de autógrafos com um tinteiro de ouro. Radiante de satisfação ao ver todos os seus planos virem a ser concretizados, o príncipe consorte fez um pequeno gesto para o lado.
— E agora, um pequeno símbolo de nossa gratidão! — Ele chamou.
Um par de rapazes saltou para frente, vestidos de preto e dourado e arrastando uma plataforma pesada à vista. A figura tinha dois metros de altura, envolta em um lençol de seda branca imaculada. A multidão aplaudiu quando o embaixador sueco aceitou o presente de boa vontade.
— O que é isso? — Perguntou o conde.
Um dos rapazes agarrou a ponta do lençol e puxou-o para longe com um floreio. Um homem pesado com banho de ferro estava de pé na plataforma de rolamento, seus braços e peito esculpidos, o revestimento áspero de seu rosto era afiado e cru. Ela não se preocupou em arquivar as arestas. Combinava com ele - sua interpretação mecânica pesada de Will.
Lena se acalmou quando a multidão explodiu em palmas ruidosas. O que ele estava fazendo aqui? A última vez que ela viu, ela deu para o Sr. Mandeville manter com uma boa viagem.
Os rapazes recuaram e, ao fazê-lo, ela avistou um de seus rostos.
O menino que ajudou Mendici a sequestrá-la.
Os humanistas.
Seu mundo desacelerou, o som drenando nas bordas. O conde sueco gesticulou para Dama Astrid, que deu um passo à frente com um leve sorriso para dar corda.
— Que lindo. — Disse ela, e Lena ouviu as palavras claras como um sino.
Algo estava errado. Lena olhou para ele freneticamente, reconhecendo sua própria arte. E reconhecendo, também, a junção defeituosa ao longo da lateral. Onde foi adulterado.
Astrid girou a maçaneta uma vez. Duas vezes. Isso a afetou como nunca deveria. Algo foi preso perto da mola principal ou um dos cames. Quando Astrid o soltou, o homem de ferro começou a tremer, as engrenagens de seu relógio soando como o tique-taque de um relógio.
Tique-taque
Tique-taque.
— Will! — Ela gritou, sua voz cortando o barulho. Através da névoa de seu pânico, ela viu seus olhos âmbar dispararem para os dela. Apontando para Astrid, ela mal começou a falar antes que ele decolasse.
Lançando-se através do salão, ele empurrou Astrid para o chão, cobrindo-a com seu corpo pesado. As pessoas se espalharam para fora do caminho, confusas com suas ações, mas reconhecendo algo em sua expressão que incitou medo.
Muitas pessoas. Esmagadas juntas. A maior parte do Escalão, incluindo todo o Conselho e o príncipe consorte. O lugar perfeito para destruir os sangues azuis.
— Vai explodir!
Seu grito foi absorvido, ecoou pela câmara. Gritos soaram e ela se viu jogada de lado. O autômato mecânico estremeceu violentamente, incapaz de completar sua transformação. O vapor sibilou através de suas placas vibratórias.
Tendo um vislumbre de Will, ela o viu empurrar Astrid nos braços de Eric, então se virar para procurá-la. Lena cambaleou quando alguém se chocou contra ela, captando seu olhar. Ela balançou a cabeça desesperadamente. Eles estavam em lados opostos do salão. É mais seguro passar pelas portas opostas.
Ela apontou, então tentou freneticamente gesticular. — Volte!
Um corpo se chocou contra ela. Ela perdeu o equilíbrio, presa no redemoinho de empurrar e empurrar as pessoas. A última coisa que ela viu foi Will, seu rosto numa máscara de determinação severa enquanto ele abria caminho em direção a ela através da multidão.
Por que ele não estava voltando?
Ela cambaleou pela porta, varrida para fora da corrente violenta como um pedaço de destroço. Braços fortes a pegaram, envolvendo seu corpo como aço.
— Obrigada, — Ela engasgou, se esforçando para ver Will através da porta.
— Oh, — disse uma voz familiar e sedosa. — Eu não acho que você vai me agradecer, minha querida.
O sangue de Lena gelou quando algo afiado se cravou em sua espinha. — Colchester. — Ela sussurrou.
Capitulo 27
Will empurrou freneticamente a segunda porta com reforço de ferro, a onda de pessoas surgindo de repente. Atrás dele, o tique-taque lento e constante da morte ameaçada transformacional, o vapor sibilando agora com consistência de chaleira.
Onde ela estava?
Ele empurrou um homem para fora de seu caminho e lutou para se livrar da multidão. Lena estava bem aqui, com o braço de Colchester em volta da cintura. O olhar em seus olhos ao perceber quem estava atrás dela alimentaria seus pesadelos por meses.
A névoa vermelha ameaçou dominá-lo. Ele caçou no corredor, mas não havia sinal dela. Colchester escolheu seu momento perfeitamente. As multidões turvaram seu rastro de cheiro e o bastardo poderia usá-los para se esconder.
Ele tinha que estar em algum lugar perto. Em algum lugar próximo.
Mas onde?
De repente, o mundo ficou incandescente, jogando-o no chão. Ele bateu na parede e caiu com força, a dor cortando seu lado. Gritos encheram o ar, o som de gesso rachando rasgando o corredor. Dentro do Salão Principal, chamas lamberam os móveis e a fumaça subiu pelas portas abertas, transformando o corredor em um pesadelo congestionado.
Ele não conseguia ver. Não conseguia sentir o cheiro de nada além de fumaça.
— Lena. — Sussurrou ele, levantando-se desesperadamente. Ela tinha que estar aqui em algum lugar.
E foi então que ele ouviu.
Sons fracos da mulher que amava, gritando.
Colchester a empurrou para uma antecâmara, sua adaga afiada de derramamento de sangue em seu punho. Lena tropeçou em uma cadeira, tropeçando em suas malditas saias. Ele a cortou, a lâmina cortando sua bochecha e jogando gotas de sangue sobre os tapetes claros.
A cadeira se estilhaçou embaixo dela quando ela caiu. Lena se ergueu sobre as mãos e os joelhos e viu a pesada perna antiga da cadeira ao lado dela. Pegando-a, ela se levantou e se virou para encará-lo, brandindo-o como um porrete.
Colchester trancou as portas duplas com um clique ameaçador. Inclinando-se contra eles, ele sorriu preguiçosamente. — E agora, eu finalmente tenho você sozinha.
— Não por muito tempo, — ela o lembrou. — Will não estará muito atrás.
— Eu duvido. — Ele olhou para cima, em direção ao andar acima deles. — Aquela explosão deveria ter destruído a maior parte do Salão Principal e do corredor. 'Nem o fogo nem o ferro foram contra eles' —, disse ele, repetindo a famosa citação sobre os verwulfen, — mas nem mesmo ele poderia sobreviver a tal coisa. Receio que você esteja por conta própria.
Por sua conta. Um tremor começou, bem no fundo de seu corpo. — Você sabia, — Ela disse. — Você sabia que isso ia acontecer.
O olhar de Colchester deslizou em sua direção. — Você nunca vai provar tal coisa.
— Você sorriu. Pouco antes de Astrid começar a dar corda no transformador. E você se posicionou estrategicamente próximo à porta.
Ela contornou uma pequena escrivaninha quando ele se aproximou dela. O horror disso a chocou. Ela sabia que as cartas que carregava entre a Torre de Marfim e Mandeville vinham de alguém do alto escalão do Escalão, mas ela nunca esperava que fosse ele.
— Uma feliz coincidência. — Colchester pegou a ponta da mesa e a jogou de lado. — Nenhum lugar para se esconder, minha querida. — A pequena lâmina de derramamento de sangue cortou o ar ameaçadoramente. Vai e volta.
Lena lambeu os lábios secos. Para onde foi sua coragem? Sua confiança? Onde estava a onda de invencibilidade que ela sentiu no quintal? Ela disparou atrás do sofá em um raio de sol.
Colchester rondava para frente, um caçador completamente à vontade. Se ela deixasse, ele iria matá-la, bem aqui, e ninguém jamais saberia quem tinha feito isso.
Colchester saltou para o sofá e por cima dele, o casaco chamejando ao seu redor quando ele passou pelo raio de sol. Ela mal teve tempo para pensar antes de balançar a perna da cadeira para cima e acertá-lo no rosto com ela.
Sangue escuro voou, respingando nas paredes creme. Lena subiu no sofá, uma onda de excitação correndo por suas veias. Os gritos de Colchester a perseguiram e ele ficou de pé, segurando o rosto arruinado. Toda a sua maçã do rosto cedeu, o osso brilhando através da carne rasgada.
A visão disso a excitou de uma forma que não deveria. Ela se sentiu tremendo, uma onda de frio intenso correndo por suas veias. — Venha —, disse ela. — Não tenho mais medo de você.
Quando ela ergueu o rosto, ele congelou de repente.
— Sua pequena puta, — ele sussurrou. — Sua besta imunda. Você o deixou infectar você?
Ele não tinha visto seus olhos até agora. Lena ergueu a perna da cadeira. — É o maior presente que qualquer homem já me deu.
As palavras o incitaram a uma raiva que ela nunca tinha visto antes. Ignorando seu rosto arruinado, ele virou o sofá para cima e para baixo, em seguida, jogou para o lado a pequena mesa de leitura. Detritos espalharam-se por toda parte enquanto ele derrubava uma estante de livros.
Virando-se para ela com um grunhido, ele segurou sua lâmina com intenção mortal. — Eu poderia ter te dado tudo.
— Você ameaçou tirar tudo que eu tinha. Eu te odiei. Eu temia você. Eu não faço mais. — O sangue queimava em suas veias, gelado. Seu coração batia forte quando ela deu um passo em direção a ele. — Você é o monstro, Colchester. Will é um homem maior do que você jamais poderia esperar ser. Você não é nada ao lado dele. Nada.
Ele gritou de raiva e se lançou sobre ela. Antes, o movimento teria sido rápido demais para ela seguir, mas alguma parte dela reconheceu a mudança de peso de seu corpo, um precursor do movimento. Quando ele saltou, ela balançou a perna da cadeira, atingindo-o nas costelas.
A adaga atingiu seu ombro. Parecia gelo, chiando uma vez, a dor desaparecendo rapidamente. Colchester se enrolou sobre o porrete que ela empunhava, então dirigiu para frente, batendo em seu corpo.
Lena bateu com força no chão. O fôlego saiu de seus pulmões, seu corpo montou no dela até o chão em um emaranhado de saias. Ela podia sentir sua respiração fria em seu rosto, suas mãos apertando em torno de sua garganta. Olhos enlouquecidos olhavam para ela.
Sem medo. Não havia medo nela, mesmo quando sua visão se estreitou, a escuridão ameaçando surgir. Com o canto do olho, ela viu a adaga dele, jogada no tapete. Tentando pegá-la, ela segurou a alça com as pontas dos dedos enquanto Colchester colocava toda a pressão em sua garganta.
A sala escureceu. O entorpecimento se espalhou por ela até que tudo que ela podia sentir era o cabo da adaga. Cerrando os dedos em torno dele, ela o dirigiu para cima, direto em seu peito.
Ele gritou, as mãos saltando de sua garganta, o cabo curto da lâmina espetada em seu peito. Aproximando-se dela, tossindo sangue azulado, ele encontrou seu olhar. — Levarei você... comigo. — Seus dedos se fecharam sobre a adaga e ele a arrancou do peito em uma onda de sangue fresco.
Lena gritou quando a lâmina subiu.
A adaga nunca caiu. Em vez disso, um som explosivo rasgou a sala, sangue fresco respingando nela.
Colchester rugiu de dor, seu braço esquerdo faltando do cotovelo para baixo. O preto inundou seus olhos, um sinal de que o demônio nele havia assumido o controle. Ele não sentiria dor agora, mal notaria o sangue que escorria do coto de seu braço arruinado. Ela não deve ter batido em seu coração.
Olhando além dele, Lena olhou para seu salvador em estado de choque.
A fumaça saiu da boca de uma pistola e Rosalind olhou para ela com severidade. Ela usava couro preto da cabeça aos pés, roupas masculinas que de alguma forma combinavam com ela, cobertas por um longo casaco preto que alargava em seus quadris. Um chapéu bonito cobria seu cabelo distinto e uma máscara escondia a metade inferior de seu rosto.
Virando-se, Colchester agarrou a adaga do chão - dos dedos arruinados que estavam no tapete - e atirou-a.
— Tenha cuidado! — Lena gritou.
Rosalind cambaleou para trás, segurando a lâmina em seu lado. — Isso não deveria ter acontecido, — ela sussurrou, a pistola caindo de seus dedos nervosos. — Nós descobrimos, ainda esta manhã, o que eles planejaram. A transformação se foi e também... meu irmão mais novo, Jeremy.
Colchester cambaleou em sua direção. — Você é uma humanista. — Ele rosnou.
Lena ficou de pé quando os joelhos de Rosalind cederam. — Não! — Ela disparou para frente, dirigindo seu corpo contra Colchester. Ambos caíram.
Colchester agarrou seu cabelo com a mão restante e puxou sua cabeça para trás. Lena agarrou seu rosto, pegando um vislumbre da miséria negra e sem alma de seus olhos e seus dentes brancos e brilhantes quando ele foi para sua garganta.
— NÃO!
O berro sacudiu o ar. Os dentes cegos afundaram em sua garganta, mordendo com força suficiente para rasgar a carne. Lena gritou.
Então, de repente, mãos ásperas arrancaram Colchester dela. Will elevou-se sobre ele com toda sua fúria, então se virou e jogou o duque contra a parede.
Colchester ficou de pé. Ele encontrou Will no meio do caminho, cambaleando pela perda de sangue, mas não menos perigoso. Lena viu um lampejo de prata quando ele puxou uma adaga da bota com a mão restante.
— Will! — Ela gritou. — Ele tem uma adaga!
Will bloqueou o golpe, seu punho se esticando enquanto forçava o braço do duque para trás. Batendo-o na parede, ele dirigiu a lâmina em direção ao rosto de Colchester.
— Vamos ver se você gosta do sabor da lâmina. — Ele rosnou e enfiou-a na garganta do duque.
Lena se virou quando Colchester fez um gemido gorgolejante. O cheiro brilhante de sangue quente e fresco encheu o ar e o som áspero da lâmina cortou sua traqueia.
O corpo atingiu o chão com um baque forte, a cabeça quase decapitada. Lena olhou em volta, seu peito subindo com sua respiração áspera. O punho de Will estava ensanguentado, a adaga cerrada em seus dedos. Uma expressão sombria e violenta apareceu em seu rosto e ele se virou lentamente para olhar a forma curvada de Rosalind.
Lena disparou entre eles, estendendo as mãos. — Will. Não.
Cobre brilhante queimado em seus olhos. Ele olhou para ela, os lábios curvados.
— Ela salvou minha vida —, Lena disse a ele. — Ela atirou nele.
— Ela é a pessoa por trás da bomba. — Ele deu um passo ameaçador à frente.
— Eu vim parar com isso, — Rosalind corrigiu. Com uma respiração profunda, ela arrancou a lâmina de seu lado e estremeceu. O sangue borbulhava contra seu colete. — Eu vim tarde demais. Nós nunca quisemos isso. Depois que a fumaça se dissipar, o Escalão vasculhará a cidade procurando por quem fez isso. Não podemos nos permitir o escrutínio. Ainda não. Não somos fortes o suficiente.
— Você encontrou seu irmão? — Lena perguntou, ajudando-a a se levantar.
— Não há sinal do corpo dele lá em cima. Ele deve ter escapado. — A voz de Rosalind era monótona. — Eu sabia que ele gostava de Mendici. Eu permiti. Eu deveria ter percebido que os mecanicistas envenenaram sua mente, enchendo-o de histórias gloriosas. Eles o enviaram para entregar o transformacional. Os bastardos o enviaram para morrer.
O mundo estava começando a se intrometer. Gritos e berros. Passos batendo forte no corredor do lado de fora.
— Temos que ir —, disse Lena, pegando Rosalind pela manga e olhando para ele. — Se eles nos encontrarem aqui por cima do corpo, eles vão nos matar. Ele é um duque. Ninguém pode saber o que aconteceu aqui.
Um estremecimento violento passou pelo corpo de Will. Suas pálpebras baixaram, um olhar preguiçoso e perigoso para Rosalind que deixou o coração de Lena em um paroxismo. — Se não fosse por você, ele não poderia agarrá-la.
Rosalind se abaixou, pegando algo do chão. Agarrando Lena pela cintura, ela a puxou de volta ao corpo, empurrando a pistola sob o queixo. O focinho atingiu sua pele macia e Lena congelou.
— Não se mexa — Lena o avisou. — Ela tem as mesmas balas que você estava fazendo para mim.
— Balas de fogo. Tira um braço ou coisa pior. — Rosalind estalou.
— Me deixe ir.
— E ele arrancar minha cabeça? — Rosalind rosnou. — Não é muito provável.
— Ele não vai machucar você — disse Lena, prendendo e segurando seu olhar. — Dou minha palavra de que ele não vai te machucar.
— Vou entregá-la a você —, disse Rosalind. — Mas se você fizer um movimento em minha direção, eu vou atirar nela primeiro. Eu juro.
Lena cambaleou em seus braços enquanto Rosalind a empurrava nas costas. Ela mal teve tempo para pensar antes de Will empurrá-la atrás dele, usando seu próprio corpo para protegê-la.
— Will! — Ela agarrou seu casaco, envolvendo os braços em volta de sua cintura. — Eu prometi a ela que você não a machucaria.
— Mas eu não fiz, — ele sussurrou. — Esta é a segunda vez que você ameaçou a vida dela...
— Eu salvei uma vez, — Rosalind respondeu, apontando a pistola direto para o peito dele. Ela lambeu os lábios. — Isso conta, não é?
— Mal. Você queria matar Colchester mais do que queria salvar Lena.
— Eu sou uma mulher prática. Duas bênçãos pelo preço de uma.
— Se você chegar perto dela de novo e eu juro que vou arrancar sua cabeça.
A pistola baixou um pouco. Rosalind colocou a mão sobre a ferida em seu lado, curvando-se um pouco. — Eu prometo. Ela nunca mais vai me ver. — Uma leve careta. — Eu tenho certas coisas para colocar em ordem, ao que parece.
— Como você vai sair daqui? — Lena perguntou. — Sem os guardas vendo?
— Da mesma forma que eu entrei. — Rosalind foi até a estante que Colchester tinha meio arrancado da parede. Ela abriu, revelando uma escada escondida. — Todo o lugar é crivado de túneis. Roubamos os esquemas há meses. Venha. — Ela deu a Will um aceno cauteloso. — Vou tirar vocês daqui sem que ninguém veja. Podemos nos separar na parte inferior. Isso me deixa quite, não?
Lena esfregou a parte inferior de suas costas, saindo de trás dele. — Will? — Eles tinham que sair daqui sem que ninguém os visse.
Ele acenou com a cabeça para Rosalind. — Você vai primeiro. Onde posso te ver.
Capitulo 28
Abrindo a porta da carruagem a vapor de Leo, Will ajudou Lena a entrar. Estremecimentos violentos sacudiram seu corpo e seus olhos estavam distantes. Quando ele perguntou a ela o que estava errado, ela tentou chamar um sorriso e um encolher de ombros. Antes que ele pudesse perseguir seus pensamentos, Blade e Honoria apareceram.
Blade e Leo conseguiram tirar Honoria, então Leo voltou para ajudar. A fumaça saiu do prédio e os guardas da torre tentavam freneticamente assumir o controle.
Hora de sair daqui. Antes que as pessoas começassem a apontar o dedo.
Blade ajudou Honoria a subir em sua carruagem. Mal havia espaço para mais dois e Will queria ficar sozinho com Lena por um momento. Ele não teve uma única chance desde a explosão, e o desejo de arrastá-la em seus braços, para se certificar de que ela estava bem, o estava deixando fora de sua mente.
Dando instruções rápidas ao cocheiro, ele entrou na carruagem e fechou a porta. Ele entrou em movimento, saindo da fila e indo para as ruas. Will fechou a veneziana.
Lena piscou, finalmente saindo de seu devaneio. — Você sabe que esta é a carruagem de Leo?
— A caminhada vai fazer bem a ele —, respondeu ele, afastando a saia dela e sentando-se ao lado dela. — Lena. — Uma hesitação. — Você está bem?
Ela sorriu, mas ele segurou sua mão. — Não, — ele disse. — Não me dê esse sorriso. Sei que você está chateada. — Acariciando suas luvas sujas, ele a lembrou: — Posso sentir o cheiro.
Seu olhar caiu, seus ombros caindo. — Ele finalmente se foi.
— Quem?
— Colchester. — Lágrimas brilhantes brilharam em seus olhos. — Eu me sinto tão exausta, Will. Estou observando por cima do ombro há meses, sabendo que ele estaria lá, sabendo que mesmo se eu estivesse na companhia, nunca estaria segura. Quando ele olhou para você e sorriu hoje, isso me assustou muito. Achei que ele ia fazer algo com você. Mas foi a explosão. Ele sabia disso. Não sei como. A princípio pensei que ele fosse meu contato na torre, mas agora acho que não. Ele ficou enojado quando percebeu que Rosalind era uma humanista. — Ela puxou uma das mãos da dele e enxugou os olhos. — Estou feliz que ele esteja morto, — ela disse ferozmente. — Mas eu não consigo parar de tremer. Eu não posso acreditar que nós dois estamos seguros. Que você está seguro. — Seu punho se enredou em sua camisa. — Eu quase perdi você...
Arrastando-a para seu colo, ele enterrou o rosto dela em seu ombro. Ele odiava vê-la chorar. — Ele nunca mais pode machucar você.
— Eu sei, — ela sussurrou. Suas mãos deslizaram sobre seus ombros, frenéticas com a necessidade. — Toque-me, Will. Lembre-me que você está aqui. Que você é meu.
— Sempre, mo cridhe. — Ele sussurrou, encontrando sua boca nas sombras.
Lena o beijou como se nunca o deixasse ir, sua boca faminta e suas mãos insaciáveis. Will juntou as saias dela e puxou-as para fora do caminho, colocando-a em seu colo. Seu pênis se enfureceu atrás da aba de suas calças e ele a apertou contra ele, a língua colidindo com a dela. Isso era inebriante. Isso era vida. Cada momento quente, suado e ofegante disso.
Ele mordeu sua garganta, puxando os cordões de suas calças. Lena engasgou, balançando-se contra seus dedos, incentivando-o a continuar.
— Depressa. — Ela sussurrou.
Ele os puxou para baixo, mas ela o estava montando e o material amontoou-se ao redor de suas coxas. Rosnando de frustração, ele os rasgou em dois, afundando os dedos na curva carnuda de sua bunda.
— Deus —, ele gemeu. — Tenho que... provar você.
Caindo com ela de volta no assento, ele se ajoelhou entre suas coxas. O cabelo escuro e espesso caiu sobre seus ombros e ela engasgou quando ele arrastou seus quadris até a borda do assento, jogando suas pernas sobre cada um de seus ombros. Empurrando suas saias para cima, ele segurou sua bunda e mergulhou sua língua profundamente em sua boceta.
O choro de Lena era música para seus ouvidos. Ele queria afastar suas lágrimas, reivindicá-la como sua mulher mais uma vez. Provando-a, chupando e mordiscando-a, ele ouviu os sons ofegantes de seus suspiros e sentiu a tensão aumentar em seu corpo. Ele queria descobrir cada centímetro dela, descobrir a si mesmo como agradá-la melhor.
As unhas arranharam seus ombros. — Pare! — Ela engasgou. — Eu quero...
Ele a lambeu profundamente, sugando a pérola molhada de seu clitóris entre os dentes. — Quer o quê?
Lena estremeceu, os joelhos apertando em torno da cabeça dele. Ofegando de necessidade, ela arrastou seu olhar para o dele. — Eu quero você, — ela sussurrou. — Dentro de mim.
— Em um minuto.
— Agora.
Foi a determinação em sua voz que o desfez. Ele puxou sua calça aberta e libertou seu pênis, colocando-o em sua mão. Empurrando para cima, ele a encheu com uma única estocada, arrastando-a para mais perto da borda do assento.
Tão apertada. Tão molhada. Tão quente.
Lena gritou, suas coxas apertando em torno de seus quadris. Agarrando-se ao pescoço dele, ela puxou seu rosto para o dela para um beijo devorador e faminto, sem dúvida sentindo o gosto almiscarado de seu próprio corpo. Os quadris de Will se moveram por vontade própria, mergulhando nela, seu corpo inteiro tremendo de necessidade. Deus, ela era tão doce. Ele queria foder com força, levá-la para as almofadas da carruagem e enchê-la com seu pênis.
Pequenos suspiros urgentes quebraram entre eles. O corpo de Lena ondulou contra o dele, deixando-o louco de necessidade. Ele a segurou contra ele, moendo a base de seu eixo contra ela. Estremecimentos percorreram seu corpo e seus músculos internos se contraíram ao redor dele. Ela gostava disso, gostava do que ele estava fazendo com ela. Ele podia sentir a ponta de algo se construindo dentro dela, na repentina falta de atenção que ela deu ao beijo. Vendo em seus olhos arregalados enquanto ela gritava silenciosamente, seu corpo sacudindo ao redor dele.
Um pequeno punho se apertou em seu peito. Sua mulher. Dele. Ninguém poderia tirá-la dele agora e ele não poderia machucá-la. Ela poderia ser sua para sempre. A esperança inchou em seu peito quando ele cerrou os dentes e estremeceu. Tão perto. Ele a montou através da tempestade, entregando-se à sensação que o percorreu.
Lena gozou, arrastando-o com ela. Will beijou seus lábios, ganhando uma resposta indiferente quando seu corpo deslizou do dela. Ela fez um protesto sem palavras, mas ele enfiou o pênis de volta em suas calças e a arrastou para seu colo.
Sua respiração desacelerou, seu coração trovejando em seu peito. Will enterrou o rosto nos comprimentos de mogno quente de seu cabelo e respirou o cheiro dela.
Lena colocou o rosto contra sua garganta, se enrolando em seu colo. Ela acariciou seu peito, espalhando a mão sobre seu coração, em seguida, segurou-o imóvel, como se ouvisse a batida dele. — O que acontece agora?
— Agora?
Uma ligeira hesitação. — Com o tratado?
Ele mal conseguia pensar, suas pálpebras ameaçando fechar. Mas ela não tinha prestado atenção em nada do que tinha acontecido desde que eles saíram do porão. — Blade disse que eles vão reagendar. Se a explosão não tivesse destruído metade dos sangues azuis também, poderia ter sido uma história diferente. Os verwulfen podem ter culpado o Escalão e da mesma forma. Barrons quer chegar ao fundo disso.
— Ele vai gostar disso, — ela murmurou. — Ele gosta de quebra-cabeças.
— Você vai contar a ele?
— Dizer a ele o quê?
— Sobre Rosalind?
Lena pensou sobre isso. — Não, eu não penso assim.
— Você não deve nada a ela —, ele rosnou. — Eles vão causar problemas, você me marca as palavras.
— Posso entender como ela se sente —, respondeu ela. — Desamparada. Lutando por uma causa perdida. Eu não vou traí-la, Will. A menos que ela faça um movimento contra alguém que eu amo.
Ele acariciou a ossatura com espartilho de seda que cobria suas costas. Seu senso inato de lealdade era uma das coisas que ele mais gostava nela. — Ela faz um movimento errado e eu vou direto para Leo.
— Obrigada. — O dedo de Lena emaranhado no colarinho de sua camisa. Ela ergueu o rosto manchado de lágrimas, olhos brilhantes queimando com emoção não dita. — Will... você está com raiva?
— Raiva? Sobre o que?
— Sobre o truque que Astrid e eu jogamos? Sobre exigir você como embaixador em troca da fidelidade dos noruegueses.
Ele pensou sobre isso. — Não é algo que eu desejaria para mim mesmo. — Sentindo a tensão em seu pequeno corpo, ele se apressou. — Mas eu sou o único que pode. A ideia de mudar me assusta, Lena. Eu odeio o Escalão, odeio lidar com eles. Eu estava feliz em ser o segundo em comando de Blade, porque isso significava que eu nunca teria que me deixar a salvo, pequeno mundo. — Ele respirou fundo. — Você estava certa. Sobre deixá-los fazer de mim o que eu era. Whitechapel era apenas mais uma pequena jaula em que eu estava me permitindo ser colocado. Não posso dizer que estou emocionado com isso, mas talvez eu precise disso. — Ele a apertou com força. — Eu sei que preciso de você.
— Você não está bravo? — Ela traçou os dedos sobre os lábios dele.
Will balançou a cabeça. — A vida iria mudar de qualquer maneira.
— Oh?
— Você, — ele admitiu. — Eu não esperava que você morasse comigo naquele pequeno casebre.
Um sorriso tímido tocou seus lábios. — Ficar lá com você foi alguns dos momentos mais felizes da minha vida.
O punho em seu peito ficou mais apertado. — Eu também, — ele admitiu rispidamente. Capturando o rosto dela, ele o puxou para o seu, testa contra testa. — Você é tudo para mim.
Brincando com seu colarinho, ela deu um sorrisinho atrevido. — Você está tentando me dizer algo?
— É o seguinte?
— O quanto você me adora?
Will beijou sua bochecha. Talvez.
— Quanto... você se importa comigo. — Outro olhar levemente sedutor para ele. Seus olhos brilharam com malícia enquanto ela acariciava a barba áspera de sua mandíbula. Então eles ficaram sérios. Ela abriu a boca, mas ele a selou com um beijo. Uma maneira de dizer a ela as respostas às perguntas que ela fazia, sem dizê-las.
Ela estava sem fôlego quando ele recuou. Mas não silenciado. — Quanto você me ama? — O sussurro foi um desafio.
Ele não sabia por que ela precisava ouvir as palavras, quando ele tinha certeza de que tinha mostrado a ela exatamente como se sentia. Era alguma carência desconhecida que ele não esperava encontrar nela, ela com seus modos confiantes.
Will beijou seus lábios levemente, afastando o tom questionador. — Você sabe que eu te amo —, disse ele. Seu corpo estremeceu contra o dele, mas ele pressionou um dedo em seus lábios, impedindo-a. — Eu morreria por você, — ele disse a ela. — Eu mataria por você. Eu enfrentei lulas mecânicas, humanistas e lições de etiqueta por você. Eu dancei em um baile por você.
O sorriso em seu rosto aqueceu seu coração. A radiância brilhou do centro de seu ser. Ele não se importou com o que ele tinha a dizer para manter aquele olhar em seu rosto.
— Eu te amo —, disse ele severamente. — Eu sempre vou. Você é a única mulher que já vi. A única mulher que eu sempre quis. Eu sei que não sou um grande partido...
Desta vez foi a vez dela colocar o dedo nos lábios dele. — Não se atreva. — O calor brilhou em seus lindos olhos com anéis de âmbar. — Sou a mulher mais sortuda de Londres. No mundo.
— Sim, talvez. — Ele deslizou os braços em volta da cintura dela. — Você está tentando me dizer alguma coisa?
Ela riu. — Olhe para você, procurando elogios.
— Não são elogios. — Alertou.
Lena o beijou, segurando seu rosto com as mãos. — Eu também te amo, — ela disse calmamente. — Oh, Will. Acho que estou meio apaixonada por você há anos.
— Só demorei um pouco para perceber.
— Como você não poderia? Desisti do Escalão por você. Enfrentei duques, bombas mecânicas e clãs verwulfen. Eu estraguei três conjuntos de luvas.
— Três? — Ele sorriu. — Vou ter que substituí-las.
— Sim, você vai, — ela avisou. — Não vou mais exibir meus pulsos em público.
Possessão enrolada por ele. Seus braços se apertaram. — Não, você não vai. Só eu consigo ver seus pulsos. Entre outras coisas.
Recuando, Lena brincou com as fitas de seu corpete. — Falando nisso... Não parece que estamos indo muito longe com esse tráfego. Eu não suponho que você esteja disposto a me entreter... ?
— Entreter? — Ele falou lentamente, o calor deslizando por sua virilha. — É assim que eles estão chamando agora?
— De fato. — Ela puxou as fitas abertas. — Eu acredito que algumas áreas da minha educação estão faltando. Eu vou te ensinar como pertencer a este mundo, contanto que você me ensine outra coisa... como agradar você.
O leve inchaço de seus seios curvou-se sobre o topo de seu espartilho. A boca de Will ficou seca.
— Confie em mim, amor —, disse ele, sentando-se para ajudá-la a se despir. — Você sabe como me agradar.
Epilogo
— O que diabos aconteceu aqui?
O príncipe consorte entrou pelas portas duplas. A fúria fria apertou suas feições e um punhado de Guardas de Gelo enxamearam pela sala, garantindo que fosse seguro para ele e destruindo metade das evidências de Sir Jasper Lynch.
Lynch trocou um olhar revelador com o Barrons. — Não se mova, — ele avisou um dos guardas. O homem congelou e Lynch apontou para a pegada ensanguentada que ele estava prestes a pisar. — Estrague isso e eu não posso rastrear o proprietário. — Ele se endireitou, encontrando o olhar duro do príncipe consorte. — Sua graça. Parece que o duque de Lannister foi assassinado.
O príncipe consorte olhou para o corpo. Então girou nos calcanhares e começou uma série de invectivas. — Bombas sangrentas! Os escandinavos uivando por respostas e agora isso! Como?
— Lâmina no peito, tiro que arrancou metade de seu braço e quase decapitou. Acredito que foi a decapitação que o matou, embora o tiro me incomode —, recitou Lynch. — É uma daquelas munições de fogo que descobrimos em certos membros da população.
— Humanistas. — O príncipe consorte cuspiu.
— Talvez. — Respondeu Lynch. Ele nunca fez um julgamento até que todas as evidências estivessem presentes. E havia mais de uma pessoa nesta sala. Ele conseguiu rastrear os sinais; os fios de cabelo, respingos de sangue, até mesmo as trilhas de cheiro. Quatro pessoas e uma briga, se ele não estava enganado.
E ele tinha quase certeza de que sabia quem deu o golpe mortal. Como os outros não podiam sentir o cheiro de almíscar pesado de um homem verwulfen - um homem que Lynch conhecia bem - ele nunca saberia. Talvez fosse toda a colônia que eles usavam? Ou talvez, pensou, olhando o olhar frio do Barrons, alguns deles soubessem precisamente quem tinha estado aqui.
— Não temos certeza se o assassinato foi relacionado ao bombardeio ou simplesmente uma oportunidade da qual alguém se aproveitou —, disse Barrons. Ele parou por um momento revelador. — Sua Graça, Lynch me informa que um de seus informantes humanistas repassou informações sobre um possível bombardeio na semana passada. Como Colchester estava encarregado de encontrar os humanistas, Lynch relatou a descoberta diretamente a ele.
O príncipe consorte se virou, a fúria embranquecendo seu rosto. — Você está me dizendo que Colchester sabia sobre isso?
— Sim, — disse Barrons brandamente. — Tanto quanto o próprio Lynch sabia.
Esperando pela explosão, Lynch se manteve rígido. — Se eu acreditasse que ele não iria repassar, eu teria buscado uma audiência com o Conselho. Foi meu descuido, Sua Graça. E a informação falava apenas de uma possível tentativa de assassinato.
— Por que ele guardaria essa informação para si mesmo? — O príncipe consorte perguntou suavemente. O tom deixou os nervos de Lynch em alta. Foi quando o consorte estava mais perigoso.
Barrons hesitou. — Ele não escondeu seus sentimentos sobre este tratado e os escandinavos. E se você olhar para as pessoas mais próximas da bomba - o Conselho, você, até mesmo a rainha - havia uma chance de que ele pudesse ser o homem mais poderoso remanescente no Império.
Quietude. Os olhos do príncipe consorte brilharam. — Vou ver a Casa de Lannister destruída.
— Tal ato deixaria o Conselho desequilibrado. — Barrons protestou.
Lançando um olhar severo ao redor da sala, o príncipe consorte o ignorou. — Quem era a garota? Aquela que gritou o aviso? Eu quero que ela seja encontrada...
— Ela é minha pupila — disse Barrons rapidamente. — Senhorita Lena Todd. Ela cria joias e brinquedos mecânicos e os vende para um relojoeiro em Clerkenwell. Ela reconheceu que o autômato havia sido adulterado e gritou o aviso.
Lynch não disse nada enquanto o jovem lorde ficou em silêncio, mas ele podia ler as correntes ocultas na sala. Barrons estava protegendo alguém. A resposta óbvia seria sua pupila, mas Lynch costumava descobrir que seguir o caminho óbvio cegava a pessoa para a verdade.
Um pedaço de material chamou sua atenção. Preto. E manchado de sangue. Estava preso em um pino do estofamento de uma cadeira.
— Você. — O príncipe consorte apontou um dedo para Barrons. — Você está encarregado de descobrir quem tentou assassinar metade da minha corte. E como eles entraram no coração da própria torre. E você...
Lynch se endireitou.
— Encontre os humanistas. — O príncipe consorte girou sobre os calcanhares, em direção à porta. — E traga-me suas cabeças.
Barrons deixou escapar um profundo suspiro quando as portas se fecharam atrás do príncipe consorte e seus homens. — Bem, — ele disse. — Correu tudo bem, pensei. Ele não estava muito preocupado com quem assassinou Colchester.
Lynch se ajoelhou. Tocou o pedaço de tecido. O sangue manchou seu dedo e o calor nadou por trás de seus olhos ao vê-lo. — Eles provavelmente o pouparam de aborrecimentos.
Ele lambeu o dedo. O gosto explodiu em sua língua, o êxtase de uma sede há muito negada. Sua boca ficou seca e ele teve que forçar seu corpo a se acalmar. Pelo leve cheiro no tecido, ele uma vez adornou uma mulher.
— O que você encontrou?
Lynch esfregou a mancha de sangue entre as pontas dos dedos. O resíduo persistente de pólvora atingiu seu nariz. — Um mistério. — Ele olhou para cima. — Havia quatro pessoas nesta sala. Colchester, dois verwulfen e este. Uma humana.
— Qual é o mistério disso?
— Esta... esta era a humanista —, disse ele. — Aquela que disparou a arma.
E ele iria encontrá-la.
Bec McMaster
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