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Series & Trilogias Literarias
Nell, Lady Needham, ganhou sua reputação escandalosa ao devotar seus dias a uma enxurrada interminável de festas selvagens após a devastadora traição de seu marido. Mas seu apetite por distração não é mais tão voraz como antes. Ela anseia por um casamento verdadeiro e uma família, e finalmente encontrou o homem que lhe daria ambos. Tudo o que precisa fazer é convencer o Marquês de Needham a conceder-lhe o divórcio que ela requer para que possa seguir em frente.
Três anos atrás, Jack arruinou seu casamento em um momento de estupidez por causa de bebida. Ele deu à esposa a distância que ela desejava e merecia, em um esforço para expiar seus pecados. Mas quando ela lhe escreve pedindo o divórcio para que possa se casar com outro homem, ele percebe que chegou a hora de voltar para casa e tentar recuperar a mulher que nunca deixou de amar.
Nell não tem intenção de dar a Jack uma segunda chance, pois a dor que ele lhe causou é muito profunda. Quando seu belo marido inicia uma guerra de sedução para reconquistar sua confiança, ela está determinada a permanecer impenetrável como sempre. Mas velhas tentações são difíceis de resistir e, desta vez, Jack não vai desistir sem lutar. Fará qualquer coisa para provar que o coração dela ainda é dele, mesmo que seus pecados passados ameacem consumi-los.
Capítulo 01
Inglaterra, 1879
Nell estava com um humor festivo.
Razão pela qual estava dançando sobre a mesa no grande salão de jantar enquanto cantava o Coro Nupcial de Lohengrin. Talvez o vinho do Porto que consumiu após o jantar tivesse contribuído. E agora que pensou sobre isso, adoraria outro copo. Tom não estava aqui para se preocupar com ela, e ela estava se deleitando com a perspectiva de sua futura liberdade, junto com as duas dúzias ou mais de convidados que já haviam chegado à sua última festa na casa de campo.
Três anos de espera. Três anos de miséria, tristeza, solidão, agonia... finalmente, teria o que queria.
Um divórcio.
Com essa feliz perspectiva em mente, ela balançou as saias, levantou as pernas e dançou sobre a mesa polida que estava na família de seu marido nos últimos dois séculos. Pareceu apropriado pisar em cima da mesa, da mesma forma que ele havia pisoteado seu coração.
Mas o problema de dançar em mesas bem polidas quando se estava alcoolizada era que, quando seu pé escorregava, ela não conseguia recuperar o equilíbrio e tombava para trás. A música morreu em sua garganta, e se preparou para uma dolorosa aterrissagem em seu traseiro.
Mas em vez disso, um par de braços fortes a agarrou.
— Fique firme, — disse uma voz baixa e masculina. — Eu tenho você.
Era uma voz que ela reconheceria em qualquer lugar. Três anos não haviam apagado isso da sua lembrança. Nem diminuiu sua lembrança dele.
— Jack! — Seu nome a deixou como uma exclamação horrorizada.
— Nell, — ele retrucou severamente, sem sorrir. — Você poderia ter quebrado o pescoço.
Ela disse a si mesma que era seu estado de nervosismo e embriaguez que fazia seu olhar viajar avidamente sobre ele. Ele parecia o mesmo — lindo. Cabelo escuro e ondulado, olhos verdes brilhantes, lábios carnudos, queixo forte, maçãs do rosto devastadoras. E ainda diferente. Ele tinha uma barba agora. Seu rosto estava mais estreito, com uma aparência quase esquelética, mesmo sob a barba bem aparada.
Mas a aparência não importava. Porque seu lindo exterior escondia um coração infiel. Ele a enganou. Traiu-a. Ela não tinha esquecido.
Ela ergueu uma sobrancelha zombeteira.
— Se eu tivesse quebrado o pescoço, talvez tivesse feito um favor a nós dois.
Suas narinas dilataram-se, como se as palavras dela o tivessem cortado.
— Que diabo você estava fazendo, Nell?
— O que parecia que eu estava fazendo? — Ela se contorceu, desesperada para sair de seus braços.
Ele era um homem alto, notavelmente forte e atlético devido a seus dias jogando críquete em Cambridge. Isso não mudou muito.
— Parecia que você estava cantando uma ópera e tentando mostrar suas calças a qualquer um que passasse, — ele cortou friamente.
Quão valioso. Como se entre ambos, ela fosse a decepção.
— Eu estava comemorando. — Empurrou o peito dele, odiando ter notado seu cheiro — sândalo e almíscar — enquanto o fazia.
— Ponha-me no chão, Needham.
Uma risada rouca interrompeu o momento quando Lorde Hilburton e Lady Monmouth tropeçaram na soleira. O corpete de Lady Monmouth tinha sido claramente apalpado por Hilburton, seus mamilos estavam quase visíveis. A leviandade morreu quando seus olhares se fixaram na cena diante deles.
Ela dificilmente poderia culpá-los pelo choque. Era uma cena incomum, com certeza. O Marquês de Needham tinha vivido feliz longe dela nos últimos três anos. Principalmente no continente, ela concluiu. Desde que nunca cruzasse com ele, ela não se preocuparia com onde ele estava.
Isso era mentira.
Ela sempre sabia onde ele estava. Droga, seu malandro disfarçado.
— A festa acabou, — ele anunciou a Lorde Hilburton e Lady Monmouth.
Suas bocas caíram abertas, e mais uma vez, ela sabia o motivo. Suas festas eram lendárias. E elas nunca acabavam depois de apenas um dia de malícia.
— A festa certamente ainda não acabou, meus amores, — ela disse, piscando como se não se importasse com o mundo. Isso também era mentira.
— Needham irá embora em um instante.
Os braços em volta dela enrijeceram.
— Você sabe que esta é a minha casa, senhora.
A última frase fria foi dirigida a ela.
— Temos um acordo, Needham.
Um músculo em sua mandíbula saltou.
— Não mais.
— Liberte-me, — ela exigiu, odiando a sensação de estar perto dele, contra seu peito... o lugar que uma vez amou estar.
— Insisto que você pare com esse absurdo de uma vez.
— Não. — Seu tom era ácido enquanto ele seguia em frente, primeiro passando pelo casal de olhos arregalados, então por um punhado de outros convidados espalhados.
— Needham, não serei maltratada por você, — ela rangeu, batendo em seu peito.
Quando ele a ignorou, ela foi para sua bochecha. Toda a agonia e traição dos últimos anos se desencadeou na forma de suas unhas arranhando sua pele. Ela o arranhou com tanta força que tirou sangue.
E ainda assim, ele não parou. Nem a soltou.
Uma linha fina escorria de sua bochecha até a barba. O sinal de sua própria violência a assustou. E, no entanto, ela sabia que era merecido. Como ele ousava voltar assim, levando-a para longe de sua própria festa, dizendo aos convidados que a festa estava acabando? Como se atreveu a voltar aqui, para seu único santuário, o lugar onde ele havia prometido que não iria visitar?
— Você ainda tem garras, eu vejo. — Sua voz era irônica enquanto abria caminho para o escritório e fechava a porta atrás deles.
— Algumas coisas não mudam, não é, querida?
— Por que você está aqui? — Ela exigiu quando ele a pôs de pé, finalmente.
Calmamente, ele tirou um lenço do bolso do colete, pressionando-o contra a bochecha.
— Estou aqui em resposta à sua carta, é claro.
— O que quer dizer com você está aqui em resposta à minha carta? — Ela examinou seu semblante, lutando para entender. O vinho do Porto embaçava sua mente.
— Você não deu nenhuma indicação de um plano para visitar aqui quando escreveu.
Seus olhos voaram sobre ela, avaliando.
— Esta é a minha casa no campo, não é? Por que eu não deveria visitá-la após uma ausência prolongada?
Suas mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo.
— Porque você concordou que não faria, maldito seja.
— Ah, sim. — Ele dobrou o quadrado de linho cuidadosamente e o devolveu ao bolso, tudo com um sangue-frio alarmante que a lembrou de quão pouco realmente conhecia este homem, seu marido.
— Não estou mais concordando com o nosso acordo prévio. Não haverá divórcio.
Se ele tivesse atirado direto no coração dela, ela não poderia ter ficado mais surpresa. Todo o sangue parecia correr de sua cabeça. Ela estava tonta. A luxuriante sensação de conforto que o vinho do Porto enviou para suas veias desapareceu.
— Isto é impossível. — Ela apertou as mãos em suas saias de seda rosa.
Este vestido, como tantos outros, era extravagante. Ela não poupou despesas com roupas. Vestir roupas bonitas e dar festas selvagens eram os únicos pontos positivos em sua vida. Até que Tom apareceu, claro.
— É muito possível. — O olhar de Needham voou sobre seu vestido, demorando-se no corte ousado de seu corpete.
— Eu não quero o divórcio.
Ela lutou contra o desejo de puxar o corpete mais para cima, proporcionando maior cobertura. Algo sobre aquele olhar verde viajando sobre sua carne nua parecia pecaminoso. Porque por tudo o que se passou entre eles, e apesar do tempo e da distância física, eles já foram amantes. Ela não tinha esquecido, embora realmente desejasse que pudesse.
Em vez de se cobrir, Nell puxou o corpete para baixo em desafio. Até que seus mamilos quase se soltaram. Aí, deixe-o olhar o suficiente e se lembrar do que havia perdido, o bastardo.
— Sua carta sugeria o contrário, — disse ela com uma frieza que não sentia.
Mostrar qualquer vulnerabilidade ao Marquês de Needham estava fora de questão.
— Você esquece o quão bem eu te conheço. — Ele ainda a olhou calmamente, parado entre ela e a porta.
— Se tivesse lhe contado minhas intenções, você teria começado a tramar maneiras de me frustrar, ou você teria fugido com seu amante.
Ela enrijeceu, os punhos cerrados na saia com tanta força que as unhas se cravaram nas palmas das mãos.
— Você mentiu, então. Acho que não devo ficar surpresa. Afinal, você é um dissimulador contumaz.
Seus lábios se apertaram, a única indicação de seu desagrado.
— Nenhuma vez eu lhe disse uma mentira, Nell.
Ela riu amargamente.
— Que podridão. Guarde isto para uma de suas prostitutas. Não sou tão facilmente enganada como antes.
Fora do escritório, o som inegável de um homem perseguindo uma mulher que ria descontroladamente se seguiu.
— Espere até eu te curvar, sua vadia travessa, — falou o cavalheiro.
Embora não pudesse ter certeza, Nell pensou que a voz em questão poderia pertencer ao Conde de Wickersham.
Needham ergueu uma sobrancelha zombeteira.
— Que tipo de reunião é essa, senhora esposa?
— O tipo que você gostaria, marido mulherengo. — Ela então caminhou em sua direção, determinada a voltar para sua festa e pôr fim a essa conversa indesejada.
— Se me der licença, gostaria de voltar a ela antes que minha ausência seja notada. Não tenha medo, se você quiser foder uma das senhoras presentes desta vez, não darei a mínima.
Suas palavras foram grosseiras. Imprópria para uma dama. Assim como suas ações e esta mesma festa, uma das dezenas que havia realizado nos últimos três anos. Ela não deu importância.
Ele a agarrou pelo braço com força antes que ela pudesse contorná-lo, impedindo sua saída.
— Quem diabos você se tornou, Nell?
Ela inclinou a cabeça para trás, encontrando o olhar dele, e fazendo tudo ao seu alcance para conter as lágrimas que ameaçavam subir de seus olhos.
— Eu sou o que você criou.
— Eu sou o que você criou, — disseram os lábios rosados e perfeitos de sua esposa.
Uma esposa que mal se parecia com a mulher de quem se separou três anos atrás.
Oh, ela ainda era Nell — pequena, mas lindamente arredondada, como uma Madonna renascentista ganhando vida. Flutuante, cabelo dourado, piscando os olhos azuis que não eram nem puramente azul nem cinza, um nariz fofinho, e uma boca suculenta que foi feita para beijar.
Uma boca que sem dúvida fora conhecida por incontáveis homens em sua ausência.
Ele escondeu aquele pensamento angustiante, porque sabia o por que. Na verdade, de todas as acusações que ela havia lançado desde que ele a salvou de cair sobre sua cabeça idiota durante sua dança na mesa na sala de jantar, esta última o atingiu como uma lâmina no estômago.
Porque havia verdade nisso.
Ele tinha criado toda essa confusão.
Um momento de estupidez devido à bebida.
Seu estômago apertou e ele se sentiu tão enjoado como se estivesse a bordo de um navio sacudido pela tempestade.
— Sinto muito.
Três palavras. Ele as havia falado mais vezes do que podia contar. Ele as escrevera em praticamente todas as cartas que enviara a ela. Nenhuma dessas cartas foi respondida até a última.
Aquela exigindo o divórcio para que ela pudesse se casar com seu amante.
Ela enrijeceu e tentou se livrar de suas mãos.
— Seu pedido de desculpas não muda nada.
Ele não a deixou ir. Não poderia fazer isso. Ainda não. Seu coração estava batendo forte, um formigamento estranho viajando por sua carne, e sob seu toque, ela era tão quente, vital e suave. Deus, ele tinha sentido falta de sua pele.
Tinha sentido falta de seu cheiro, sua voz, sua risada, seu olhar. Sentia falta de acordar com ela enroscada em torno dele. Do jeito que ela deixava seus vestidos e roupas íntimas espalhadas por todos os seus apartamentos particulares. Ele sentia falta de ficar acordado até o amanhecer com ela em seus braços, lendo poesia e bebendo muito vinho.
Ele reprimiu um estremecimento. Atualmente, ele não sentia falta do vinho. Apenas das memórias. O tempo em que Nell fora dele e só dele. Quando ela o olhava com amor temerário em seu olhar cintilante, em vez de desconfiança miserável, raiva fria.
— Precisamos conversar Nell — disse ele.
— Não, nós verdadeiramente não precisamos. — Seus lábios se curvaram.
— Solte-me, Needham.
Ela não o chamava pelo nome de batismo desde seu primeiro suspiro assustado quando ele a salvou da calamidade. Ele notou a dilatação de suas pupilas, o brilho de seus olhos. O cheiro de licor, mesclando-se com lírio-do-vale, era inegável.
Nell estava um pouco bêbada.
— Você está bêbada. — Ele se perguntou onde diabos seu amante estava, por que o bastardo a permitiu dançar em mesas polidas em suas botas de seda de salto alto.
— E você desaprova? — Ela mordeu uma risada que não continha alegria.
— Quão rico.
Ele também não era o homem que tinha sido há três anos. Mas seu ódio era mais forte do que imaginava. Sabia que ela ficaria com raiva. Seu silêncio era condenatório. Três anos de cartas sem resposta. Três anos de distância.
Mesmo assim, ela fervia de fúria, como nunca vira antes. Essa raiva era diferente daquela noite longínqua e da horrível manhã seguinte. A Nell que ele conhecera, a esposa que amava, era agora uma estranha irritada.
— Eu não bebo mais o veneno, — ele disse.
Na verdade, ele não tocou em uma gota de licor de qualquer tipo em três anos. Não depois do dia inteiro de estupor raivoso e autodestrutivo em que ele se meteu após seguir a algazarra. Aquele que terminou com ela exigindo que a deixasse em paz.
Para sempre.
Para sempre foi um maldito longo tempo. Principalmente quando sua esposa queria se divorciar para se casar com outro homem.
— Devo lhe aplaudir? — O ácido em sua voz era virulento. Ela puxou o cotovelo novamente.
— Bravo para meu senhor abstêmio. Estou certa de que você também não tem dormido com metade do continente.
Ela foi a última mulher com quem ele se deitou. A única mulher com quem gostaria de ir para a cama. Mas não esperava que ela acreditasse nisso. Nem alegaria seu caso. Não aqui, não enquanto ela estava bêbada e havia uma festa deprava na casa se desenrolando ao redor deles.
Não, enquanto seu amante estivesse sob o mesmo teto. A própria lembrança de Sidmouth — um homem que ele tinha sido tolo o suficiente para considerar um amigo — na cama de Nell, o fez querer vomitar.
Mas apesar de suas melhores intenções, havia algo em seu sarcasmo que o fez provocá-la de volta.
— Você foi casta como uma freira na minha ausência, hmm, Nell?
Ela sorriu. E Deus ajude qualquer homem quando Nell sorri. Ela já era adorável por si só, mas quando seus lábios carnudos se curvaram em um convite sensual, foi como um soco no estômago. Seu corpo, faminto depois de três anos sem ela, três anos de celibato sem nada para curar o que o afligia exceto sua mão, pegou fogo.
Seu pau ganhou vida.
— Eu já fodi metade de Londres agora, meu amor, — ela zombou.
— Você não ouviu os rumores?
Tanta feiura, tanta maldade.
Como ele se atreveu ter esperança de que três anos moderariam as ondas de raiva dela? Na verdade, este rio aumentou mais do que o triplo de seu tamanho original, sobrecarregando as margens. Dizimando tudo em seu caminho.
— Claro que ouvi os rumores. — E ele tinha.
Suas festas em casa haviam se tornado lendárias. Ele se torturou lendo cada palavra de fofoca. Analisando cartas enviadas de amigos preocupados, páginas de escândalo com suas referências veladas a Lady N. e suas festas selvagens. Lady N. dançando na mesa. Lady N. e seus amantes e flertes sem fim. As calças de Lady N. em exibição. Lady N. não está usando calças...
— Não finja que você dá à mínima, — ela retrucou, e desta vez, quando ela puxou seu braço, ele a soltou.
— Você já me contou mentiras suficientes.
Ela tropeçou então, sem dúvida por causa daquelas malditas botas de seda, e seja lá o que diabos ela havia derramado em sua garganta esta noite. Ela quase caiu sentada, e sem dúvida teria caído, se ele não tivesse se precipitado, colocando as mãos de volta em sua cintura para equilibrá-la.
— Firme, — ele a advertiu, carrancudo.
— Quanto você bebeu esta noite, Nell?
A noite estava começando. O mordomo o informou que o jantar tinha sido servido uma hora atrás, e ainda assim ela parecia irremediavelmente manchada. Seus convidados não eram melhores, perambulando por Needham Hall em vários estados de desânimo e embriaguez. Ele havia entrado em uma orgia na galeria de fotos em seus esforços para localizá-la. A imagem do pau peludo de Lorde Townshend iria assombrá-lo pelo resto de sua vida.
Nell inclinou a cabeça para trás, acariciando seu peito imitando a maneira como ela o havia tocado uma vez.
— Não finja que se importa Needham. Isso só zomba de nós dois. Eu não vou cair. Você pode me deixar ir agora.
Mas ele não podia deixá-la ir. Porque tê-la tão perto, no arremedo de um abraço, fez com que a lembrança o atingisse.
— Não posso. Nunca irei deixar você ir, Nell.
Ele precisava que ela entendesse isso.
Quando a carta dela chegou, a compreensão o inundou. Todo esse tempo separado, todos esses dias de ausência forçada, de penitência, e acreditava que ela um dia o perdoaria. Que um dia o aceitaria de volta em sua vida. Mas suas intenções, expressas no rabisco ousado e familiar de sua mão — aquelas letras sem fim, como se não pudesse se dar ao trabalho de terminá-las — lhe disseram o quão errado ele estava.
Seus anos separados não foram sobre Nell obrigando-o a pagar por seus pecados.
Não, tratavam de Nell começando uma vida inteiramente nova.
Uma, sem ele nela.
— Você deve, — ela rosnou. As mãos dela estavam nas dele de repente, as unhas cravadas em seus dedos com persistência viciosa.
— Liberte-me. Liberte-me do seu domínio e deste casamento insuportável. Quero me livrar de você finalmente.
— Não. — Ele se manteve firme.
Foi a única coisa que ele pôde fazer. Jack estava congelado. Imóvel. Ele sentiu como se libertá-la fosse afastá-la para sempre. Era um pensamento estúpido. Ela não poderia se divorciar sem sua ajuda no assunto, e ele havia retornado, refutando quaisquer alegações que ela pudesse fazer em relação ao abandono. De sua parte, mesmo que ela tivesse de fato se deitado com metade de Londres, ele não pediria o divórcio por conta de adultério.
— Deixe-me ir, Needham. — Ela o arranhou agora, marcando sua pele.
A dor o cortou. Pela segunda vez desde seu retorno, ela o estava machucando. Fazendo-o sangrar. Mas isso também era penitência. Ele lhe devia algumas reparações pelo que tinha feito. Ele lhe daria o que ela precisava.
Exceto deixá-la ir.
Isso não.
Isso nunca.
— Não posso, — ele admitiu, a verdade arrancada dele.
— Você é minha esposa, Nell. Nada vai mudar isso.
— O divórcio vai mudar isso, que é o que pedi. — As unhas dela o arranharam novamente.
— Maldito seja, Needham, o que você quer de mim?
— Eu quero que você seja minha esposa. Não apenas no nome, mas na verdade. — Seus dedos se apertaram em sua cintura.
— Eu já fui sua esposa, — ela sibilou. — Você perdeu o direito no dia em que recebeu Lady Billingsley em sua cama.
Este argumento era antigo. Como era surreal que dias, semanas, estações, anos pudessem se passar e eles estivessem de volta onde seu impasse tinha começado.
— Eu nunca a recebi em minha cama, — ele se defendeu. Era verdade, embora ele tivesse poucas esperanças de que Nell acreditasse agora, quando não acreditou há três anos, e quando ficou claro que ela havia passado todo o tempo que estiveram separados acreditando que ele era um réprobo infiel.
— Não acredito em suas mentiras mais do que antes. — Novamente, ela cravou as unhas em sua carne.
— Nem você dá boas-vindas à verdade, — ele mordeu fora.
Ele não podia negar que sua falta de fé doía. A distância o acalmou. Mas agora, que ela estava mais uma vez ao alcance — agora que a estava tocando, respirando o mesmo ar — toda a agonia latejante havia retornado. A ferida não tinha cicatrizado como imaginava, mas sim infeccionou.
— Vá para o diabo, Needham. — Com um grito selvagem, ela se desvencilhou de suas mãos.
Ele permitiu desta vez, sabendo que estava apenas torturando a ambos com sua insistência. Ele não havia retornado para uma escaramuça ou mesmo uma batalha. Ele havia retornado para vencer a guerra.
Ele encontrou seu olhar fervente.
— Tenho vivido no inferno nos últimos três anos, querida esposa. É hora de você se juntar a mim lá.
Com esse aviso, ele girou nos calcanhares e saiu da sala.
De uma forma ou de outra, essa maldita festa na casa estava terminando.
Capítulo 02
Nell acordou com uma dor de cabeça.
E batendo. Batidas terríveis. Batidas horríveis e implacáveis.
— Vá para o diabo! — Ela grunhiu, lutando cegamente com os lençóis que a envolviam antes de pegar um travesseiro e pressioná-lo sobre a cabeça.
Quanto do Porto ela consumiu ontem? Ela havia dito algo ofensivo para seus convidados? Mostrou a alguém suas calças? Exagerou nas bebidas? Beijou algum dos senhores presentes? Mais importante, o latejar vinha de dentro de seu crânio ou de algum outro lugar?
Emitindo um gemido patético, ela rolou de bruços.
— Nell?
Havia uma voz masculina vindo de algum lugar. As batidas pararam, graças a Deus. O som inconfundível de cortinas das janelas sendo puxadas de lado invadiu seu quarto em seguida. E luz.
Uma luz terrível, violenta, de partir a cabeça.
— Não, — ela gemeu, lutando por outro travesseiro, seus olhos fechados com força.
O saco macio de penas golpeou sua cabeça, bloqueando o brilho. Ela inalou lentamente, tentando reunir seu juízo. Como tantas festas em casa antes, ela afogara suas mágoas na bebida. Sempre havia o brilho caloroso inicial, depois o selvagem abandono do excesso de indulgência. Seguido pela manhã de tristezas e arrependimentos.
— Nell.
A voz estava de volta. Ao lado de sua cama. Insistente. Abafado pelo travesseiro acalmando sua cabeça dolorida. Quem era esse intruso?
E onde diabo estava sua empregada de quarto? Tom tinha chegado cedo? Que horas eram?
— Tom? — Ela murmurou, ainda segurando o travesseiro.
— Feche as cortinas, por favor. Minha cabeça dói.
O que aconteceu ontem à noite? Ela se lembrou do jantar. Seguido por uma grande quantidade de vinho do Porto. Depois, uma mesa. Ela estava dançando. Cantando também...
O travesseiro foi arrancado de sua cabeça abruptamente.
— Não sou o Maldito Tom.
— Mmm. — Ela enterrou o rosto no colchão em um esforço para impedir a entrada da luz intrusiva.
Ele disse que não era o maldito Tom? Ele rosnou essas palavras para ela? Que diabo estava acontecendo e quem estava em seu quarto? Meu Deus, ela não levou ninguém para a cama, levou? Três anos de castidade e meses negando Tom a cada passo. Ele nunca a perdoaria se ela tivesse permitido outro homem em sua cama. Nem ela se perdoaria. Ela tinha bebido demais nos últimos meses e bem sabia disso, mas não suportaria acreditar que algum dia trairia Tom.
Ela iria?
Beijos e flertes eram uma questão.
Cama era outra.
Ninguém sabia disso melhor do que Nell, que tinha sido repugnantemente e ridiculamente fiel a seu marido infiel nos últimos três anos...
Seu marido.
Jack.
A memória surgiu. Ela estava dançando na mesa e caiu, apenas para ser pega por um par de braços fortes e implacáveis. Os braços de Jack. Certamente que não? Certamente isso tinha sido um pesadelo...
— Nell.
Lá estava à voz novamente, e sem o abafamento causado pelo travesseiro, era inegável.
Reconhecível.
Não tinha sido um sonho.
Sua cabeça se ergueu. Ela piscou com a luz forte, sua cabeça latejando de novo enquanto uma onda de enjoo tomou conta dela. Ela não tinha imaginado isso. Needham pairou sobre sua cabeceira, seu belo rosto severo.
Ela procurou o travesseiro. Sua mão encontrou sua suavidade. Seus dedos o apertaram. Seu braço ergueu-se. Ela jogou seu míssil. Isso o atingiu, embora apenas em seu peito.
— Saia do meu quarto, — ela ordenou.
Ele se abaixou, recuperando o travesseiro e o jogou de volta na cama.
— Não.
— Eu quero Tom, — ela disse, deleitando-se com a maneira como ele se encolheu com aquelas três palavras, a menção do homem com quem ela queria se casar.
Um homem que já fora seu amigo.
Ela estaria mentindo se dissesse que o apelo original de Tom não foi sua amizade com o marido. Inicialmente, ela ficou tão devastada, como uma besta ferida, tentando se defender de qualquer maneira que pudesse. Mas, com o passar do tempo, Tom provou sua coragem e devoção. Ele era um bom homem.
Pena que ela não o amava.
Mas o amor era estúpido. E inconstante. O amor não era governado por ordem, razão, ou mesmo se a pessoa a quem foi concedido era digna dele ou não. No caso dela, Needham com certeza não era digno.
Tom a amava, e ela também não era digna.
Adequado.
— Sidmouth ainda não chegou, — cortou o marido.
Seu marido, por enquanto.
Porque ela continuava decidida a se divorciar de sua bunda miserável.
— Por que você ainda está aqui? — Ela exigiu.
— Você não tem o direito de estar em meu quarto.
Sua mandíbula cerrou.
— Tenho todo o direito de estar em seu quarto, Nell. E estou aqui porque fiquei preocupado. É meio-dia e meia e você ainda está na cama. Achei que algo estava errado.
Algo estava errado.
Ele não deveria estar aqui. Não apenas aqui em Needham Hall, mas aqui na Inglaterra. Ele deveria estar muito longe. Vê-lo a lembrava de muito.
Ela olhou para ele.
— Eu estava dormindo, Needham.
— Suponho que deva agradecê-la por isso, pois tornou mais fácil enviar seus convidados para casa. — Ele ainda estava pairando sobre a cama dela, tão alto, seu rosto um estudo de desaprovação.
Ela se sentou com muita pressa, agarrando os lençóis contra o peito ao perceber que estava nua embaixo deles. Sua cabeça girou.
— A festa em casa apenas começou.
Acima de sua barba escura e bem aparada, os arranhões que ela fizera em sua bochecha na noite anterior eram visíveis. Mais arranhões estavam marcados em sua mão quando ele a passou sobre o queixo.
— Não irei aprovar uma casa cheia de convidados, Nell. Temos muito que discutir e nada disso requer uma audiência. Quando o resto de seus convidados chegarem hoje, incluindo Sidmouth, eles também serão rejeitados.
A irritação cresceu, perseguindo a batida incessante em seu crânio por um momento.
— Você não pode recusar meus convidados. Principalmente Tom.
Ela se perguntou como ele sabia que mais convidados chegariam hoje. Como sabia que Tom era um deles. O mordomo, Reeves, ela supôs. Ou a governanta, Sra. Harris. Eles eram fiéis empregados, e nenhum deles jamais aprovara suas festas em casa.
— Eu não hospedarei seu amante. Sidmouth não é bem-vindo aqui em Needham Hall. Nunca.
As palavras sucintas e raivosas a fizeram parar. Certamente Needham não tinha ciúmes de Tom, quando ele sem dúvida estivera desfrutando dos encantos de várias damas durante sua separação?
— Claro que ele é bem-vindo aqui, — ela rebateu.
— Esta é a minha casa. Você não pode simplesmente aparecer na sala de jantar e começar a agir como déspota. Você esteve fora por três anos.
— A seu pedido. — Ele era severo, todos os ângulos severos.
Irritantemente lindo.
— Porque você dormiu com Lady Billingsley, — ela o lembrou.
— Não ouse agir como se fosse um anjo, meu senhor. Nós dois sabemos que você não é. Agora, por favor, retire-se do meu quarto. É muito cedo para eu lidar com canalhas infiéis.
— É de tarde, — respondeu, sua voz ainda fria.
— E eu não levei Lady Billingsley para a cama.
Mentiras. Isso foi tudo que ele já lhe tinha dado. Ela não se enganava tão facilmente como antes. Lady Billingsley se entregou a suas recompensas, mas sua morte não desfez o que acontecera. Nell nunca esqueceria.
— Cale a boca, Needham. — Sua paciência estava diminuindo. Sua boca estava azeda e parecia que tinha sido recheada de algodão. E a cabeça dela também. Seu estômago apertou, ameaçando vomitar.
E isso ela não faria na frente dele. Vomitar em um penico depois de uma noite de excessos era vergonhoso o suficiente sem uma audiência.
— Suas maneiras deterioram em minha ausência, — observou ele, imperturbável.
Por que ele protelava? Era sua intenção torturá-la?
— Minhas maneiras são afetadas negativamente pelo ódio que sinto por você. — Ela o encarou com um olhar quando dois tipos diferentes de agonia a espetaram: emocional e física.
— Para não falar do fato de que estou a cerca de dois minutos de vomitar em você.
Ela nunca mais beberia Porto.
Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso.
— Cometer excessos com uma garrafa não é tão agradável pela manhã, não é, querida?
— Você deveria saber, — ela murmurou, pensando em todas as noites de safadeza que já haviam compartilhado.
Como foram selvagens, uma vez.
Seu sorriso desapareceu.
— Não mais. Realmente não bebo mais destilados. Se você não tivesse ficado tão bêbada na noite passada, talvez se lembrasse de nossa conversa.
Ah, sim. Ele lhe disse que agora era abstêmio, não foi? Era esse o motivo de sua arrogância? Por mais que ela o conhecesse tão bem, ele parecia um estranho agora. Se apenas suas velhas memórias de familiaridade pudessem ser mortas.
Ou pelo menos mutiladas.
Ela franziu a testa para ele.
— Presunção não combina com você, Needham.
— Assim como ser traído, — ele disparou em um tom gelado.
Sua acusação irritou.
— De fato? Bem, a traição me deixa enjoada. Aproxime-se mais e vou vomitar em cima de você.
— Encantadora como sempre, Lady Needham. — Ele se curvou com um ar cortês que desmentia a estranha intimidade do momento.
Ela cerrou os dentes contra outra onda de náusea.
— Quantas vezes devo repetir antes de você sair? Se você insiste em falar comigo, que seja assim que eu estiver vestida.
Seu olhar passou rapidamente sobre ela, avaliando. E maldito seja, mas ela sentiu aquele olhar como uma carícia. Como era possível para ela sentir algo por ele depois de tudo o que tinha acontecido? De onde surgiu aquele frisson indesejado de desejo, desdobrando-se por sua espinha?
Aqueles olhos esmeralda pareciam permanecer em seus seios.
— Talvez você esqueça que já vi cada centímetro de você, querida esposa.
Mesmo tão mal quanto ela se sentia, seus mamilos endureceram com o olhar dele, e suas palavras enviaram uma onda surpreendente de calor através dela.
— Espero que sua memória esteja intocada, meu senhor, porque você nunca mais me verá em tal estado. Agora, saia.
Ele lhe deu um meio sorriso. O tipo que uma vez a fez sentir vontade de beijá-lo.
— Como você está errada, esposa. Eu não posso ter um herdeiro com você se não puder vê-la.
Eu não posso ter um herdeiro com você.
Essas palavras pareceram tirar todo o ar da sala.
O choque roubou-lhe a capacidade de falar. Com outro olhar demorado, ele se virou e caminhou pelo quarto dela, indo para a porta que dividia seus apartamentos.
— Não haverá herdeiros de minha parte! — Ela o chamou finalmente.
Mas era tarde demais. Quando ela encontrou sua língua, Needham já havia fechado a porta, deixando-a sozinha. Seu estômago embrulhou.
Nell mal conseguiu chegar ao pote do quarto a tempo.
Estranhamente, de todos os retornos para a casa que Jack imaginou — e houve muitos, depois que sua decisão foi tomada — não conseguiu imaginar um envolvendo uma casa depravada cheia de convidados, uma Nell bêbada dançando na mesa e enfrentando o homem que estava aquecendo a cama de sua esposa em sua ausência.
Um homem que já fora seu amigo.
Ele cruzou as mãos atrás das costas para manter a tentação de acertar o visconde de Sidmouth.
— Você não pode ficar aqui.
A mandíbula de Sidmouth se contraiu.
— Se eu não puder ficar, Nell deve vir comigo.
Nell.
Seu nome de batismo era um pequeno lembrete da familiaridade desse homem com sua esposa.
— Lady Needham permanecerá em residência comigo. Preciso lembrar qual de nós é o marido dela, e qual de nós possui todos os direitos no que lhe diz respeito?
Eles estavam no escritório, uma sala que não havia mudado muito desde a última vez que ele a usara, além da notável ausência de qualquer um de seus pertences pessoais. Havia mais relíquias de seu pai do que ele se lembrava, e muitas cenas pastorais e de caça enfeitando as paredes. A mobília era toda do século passado. E o cheiro rançoso no ar sugeria que Nell não a havia usado enquanto ele esteve fora. Pequenas misericórdias, ele supôs.
— Eu não entendo, Needham, — Sidmouth dizia agora.
— Nell escreveu para você sobre nossos planos e disse que você concordou.
— Eu concordei que precisávamos conversar, — corrigiu, irritado com a insistência do homem na familiaridade.
— Concordei em voltar para que pudéssemos discutir a natureza de nosso casamento. No entanto, não concordei com o divórcio para que ela pudesse se casar com você.
Sidmouth parecia um garoto vendo seu filhote se afogar em um rio.
— Não foi isso que Nell disse.
— Talvez Nell devesse ter lido a carta que enviei com mais cuidado, — sugeriu ele, tentando e não conseguindo conter sua raiva.
— Talvez você deva encontrar uma senhora que ainda não seja casada para se tornar sua esposa.
Sidmouth o encarou com um olhar feroz, fervilhando com mesma fúria que Jack, sem dúvida, refletia em seus olhos.
— Você a abandonou.
— Eu voltei.
— Ela te despreza.
Ouvir essa notícia do amante de sua esposa fez Jack estremecer. Claro, sabia que ela o odiava. Ela já havia lhe dito isso. E ele sabia todos os motivos.
Seu lábio se curvou.
— Isso é lamentável para ela. No entanto, os casamentos existem, há séculos, independentemente das emoções ternas dos homens e mulheres envolvidos. Uma união sem amor dificilmente é algo novo.
As mãos de Sidmouth cerraram-se em punhos ao lado do corpo.
— Eu a amo, maldito seja. Deixe-a ir. Permita-a ser feliz.
Sidmouth faria Nell feliz? A ideia fez Jack hesitar. De alguma forma, tinha sido mais fácil ignorar o relacionamento que sua esposa havia construído com o visconde antes que o homem estivesse diante dele.
— Você está em boa companhia, — ele disse ao visconde severamente.
— Eu também a amo.
Embora a emoção não tenha feito nada de bom para ele.
Sidmouth franziu a testa.
— Se você a ama, você tem a própria maneira do diabo de demonstrar. Nenhum homem que passasse os últimos anos no continente em vez de ao lado de Nell é digno dela.
Jack nunca foi digno dela. Sabia disso. Quando se conheceram, ele era um perdedor sem importância, mais preocupado em molhar o pau e beber até o esquecimento do que qualquer outra coisa. Não mudou muito depois que se casaram, além de ele mergulhar cada vez mais na bebida e sua determinação de permanecer fiel aos seus votos.
Uma determinação em que falhou.
Ele tinha beijado outra mulher. Que não tivesse sido intencional não importava. Sua aversão a si mesmo permaneceu como um ácido em seu intestino, corroendo-o.
— Foi por decreto de Nell que parti, — ele rosnou, perguntando-se por que se deu ao trabalho de se defender de Sidmouth.
Ele não devia nada ao visconde. Enquanto Sidmouth lhe devia um pedido de desculpas por invasão.
— Você pode culpá-la? — Sidmouth respondeu com desprezo.
— Você sempre foi um carroceiro perseguidor de saia, mas o que fez com Nell está além do limite. Você poderia tê-la poupado da humilhação de se deitar com outra mulher sob seu próprio teto. E uma de suas amigas, nada menos.
— Sim, uma coisa terrível, não é? — Ele não conseguiu esconder a amargura de sua voz.
— Um amigo e um marido?
As bochechas do visconde ficaram vermelhas com a sugestão velada nas palavras de Jack.
— Nunca fomos amigos, Needham. Na verdade, eu me sentiria pressionado em supor que você é amigo de outra coisa que não a garrafa.
Essa farpa atingiu muito perto da verdade. Embora na verdade, eles tivessem sido amigos. Já não.
— Você tem precisamente um minuto para sair desta casa, Sidmouth, — ele rosnou.
— Permaneça um segundo a mais por sua conta e risco. Do jeito que está, me impedir de espancá-lo até deixá-lo a poucos centímetros de sua vida está me custando todo o controle que ainda tenho.
Mas Sidmouth não foi.
— Eu não vou deixar Nell.
A raiva o percorreu. Ele avançou em direção a Sidmouth. Toda a sua intenção de agir como um cavalheiro fugiu.
— Você não tem escolha, Sidmouth.
Sidmouth não se intimidou. Ele ficou estoico.
— O que aconteceu com o seu rosto, Needham?
— Não é da sua maldita preocupação, — ele rangeu entre os dentes cerrados.
— Você tem até a contagem de dez.
— Não irei a lugar nenhum até que tenha certeza de seu bem-estar. — Sidmouth permaneceu teimoso, implacável.
— Apostaria que esses arranhões em seu rosto são dela, não são? Por Deus, se você a machucou de alguma forma...
Como se ele fosse fazer mal a Nell. Ele adorava a mulher. Ele preferia cortar a própria mão do que erguê-la contra ela. Mas isso não era da conta do visconde. Seu casamento com Nell era particular. Era apenas entre ele e Nell. E não terminaria para que este pálido senhor pudesse tomá-la para si.
— Um, — ele começou a contar, — dois. Saia.
— Não.
A raiva continuou a ferver quando Sidmouth se recusou a recuar. Nem mesmo um passo. Algo dentro de Jack se estilhaçou pela primeira vez desde que recebeu a carta de Nell na qual ela pedia o divórcio. Ele parou de contar quando alcançou o visconde. Sua mente e seu corpo estavam separados. Seu punho, com vontade própria, colidiu com o nariz de Sidmouth.
Houve um ruído satisfatório de ossos. A dor subiu por seu braço. Ele mal sentiu isso. O sangue jorrou do rosto do visconde. Seus olhos estavam arregalados com o choque quando ele colocou a mão sobre o nariz sangrando, escarlate gotejando por seus dedos. Jack enfiou a mão no bolso do colete, retirou o lenço e deu uma chicotada no rosto de Sidmouth.
— Você está bagunçando meus tapetes, Sidmouth — disse ele, impassível, sentindo-se quase como se observasse a cena se desenrolando de outro cômodo.
A fúria permaneceu dentro dele. Mas ele não podia negar a gratificação repentina que crescia. Bater em Sidmouth, tirar seu sangue, expôs a besta dentro dele. Na verdade, deveria ter dividido o bastardo em dois por transar com sua esposa. Tempo e distância não importavam. Nell era sua marquesa, droga.
— Tom!
O grito de Nell quebrou o silêncio chocado do escritório. Ela correu pela sala, em um estado chocante de desamparo. O vestido dela, nada mais. E embora estivesse abotoado até a garganta e a bainha creme caísse até o chão, Jack não pôde deixar de notar seus pés descalços e a maneira como ela voou para o amante, jogando os braços em volta dele.
Seu cabelo estava preso em uma trança simples, usada por cima do ombro. Ela soube da chegada de Sidmouth no meio de sua toalete, ou não se incomodou com a decência porque seu amante já a tinha visto assim. A implicação do último fez com que Jack flexionasse os dedos doloridos mais uma vez com um novo desejo de cometer violência.
Ela engasgou-se enquanto olhava nos olhos de seu amante.
— Tom, querido, o que aconteceu com você?
Tom, querido.
Ele nunca deveria ter ido embora. Jack percebeu isso agora. Deveria ter ficado onde estava. Disse a ela para o inferno com seus ultimatos. Deveria ter feito qualquer coisa diferente do que tinha feito.
— Needham me deu um soco, — Tom choramingou, acusação em sua voz nasal enquanto segurava o lenço de Jack contra o nariz que jorrava.
— Meu senhor, como você ousa? — Ela se virou para Jack enquanto abraçava seu amante, como se para protegê-lo de novos golpes.
— Você pode ter quebrado o nariz dele, sua besta!
Ele esperava a Deus que sim. Isso serviria bem para Sidmouth.
Ele flexionou os dedos novamente.
— Eu lhe pedi para ir, e ele se recusou.
Os olhos de Nell se arregalaram.
— Isso não é motivo para atacá-lo! Meu Deus, o que há de errado com você?
O que havia de errado com ele? Sua esposa — a mulher que ele amava — havia lhe escrito com a intenção de se casar com outro homem. De acordo com o que conseguiu dos servos ao voltar, Nell e Sidmouth estavam praticamente brincando de marido e mulher.
O pensamento o deixou doente.
Isso o fez perceber como Nell deve ter se sentido naquela noite longínqua. Naquela festa horrível e maldita em casa. Quando ela entrou em seu quarto. Quando o pegou em flagrante delito com Lady Billingsley. Mas o que ela testemunhou não foi o que ela supôs.
E, neste caso, tinha certeza de que Nell estava transando com Sidmouth. Ela o segurava como uma amante faria.
Tempos atrás ela o tinha abraçado, dane-se para o inferno.
— Needham? — Nell exigiu então, sua voz estridente, cortando seus pensamentos como um chicote.
— Você não tem nada a dizer por si mesmo?
— Eu não terei seu amante sob meu teto, — ele forçou.
— Quero que ele vá embora, minha senhora.
Suas narinas dilataram-se. Ela estava olhando para ele como se pudesse cortar sua garganta com nada mais do que seus olhos.
— Eu quero que você vá embora, Needham.
— Nell, meu amor — Sidmouth falou finalmente, acariciando a coluna de Nell em um movimento que denotava familiaridade.
— Você deve ficar calma, querida. Isto não irá aborrecer você.
Foi necessário todo o mínimo de sua vontade para conter sua raiva cada vez maior. Forçou-se a olhar para Nell sozinho.
— Já que esta é minha casa e você é minha esposa, isso é uma impossibilidade. Não irei embora. Sidmouth, entretanto, deve ir. De uma vez só.
— Ele está sangrando, — Nell cuspiu, olhando-o como se ele fosse um monstro.
Por Deus, ele se sentia como um.
Ela trazia à tona o pior nele.
Ele encolheu os ombros. Sidmouth poderia pegar o primeiro barco através do rio Styx, no que lhe dizia respeito.
— Ele vai parar de sangrar.
— Como você ousa ser tão insensível? — Ela exigiu.
— Você pode ter quebrado o nariz de Tom com suas palhaçadas tolas. E o que você conquistou com sua violência desnecessária? Eu ainda te odeio e ainda pretendo me divorciar de você para me casar com Tom enquanto for jovem o suficiente para ter filhos com ele.
Se ela estava tentando acalmá-lo e fazê-lo obedecer, Nell escolhera as palavras erradas. Com as mãos ao lado do corpo estavam mais uma vez cerradas em punhos.
— Não haverá divórcio, e só posso acreditar que realmente quebrei o nariz de Sidmouth. Vou quebrar o nariz dele e o nariz de qualquer outro homem que se atrever a tentar tirar você de mim. Você é minha, Nell. Minha.
Seu queixo se ergueu.
— Compreendo. Como um cachorro com um osso, agora que posso ser tirada de você, você me quer mais. Você não é melhor do que um vira-lata, meu senhor. Você não mudou nada.
— Veja aqui, Needham, Nell é dona de si, — vociferou Sidmouth.
— Você não pode forçá-la a suportar esta união odiada. Você a abandonou por três anos. Temos um caso.
Era realmente difícil levar um homem a sério quando ele segurava um quadrado de linho sobre o nariz mutilado e sangrando.
— Claro que ela é dona de si, — ele retrucou.
— Isso nunca foi contestado. No entanto, o fato é que ela é minha esposa. Não é sua, Sidmouth. Nunca será sua. Não haverá nenhum caso. Nem haverá divórcio.
Nell deu as costas para ele, enfrentando seu amante.
— Venha, meu querido. Vou levá-lo a outro lugar para que eu possa cuidar do seu pobre nariz.
— Você não vai. — Jack avançou, agarrando o cotovelo de Nell e detendo-a quando ela tentou tirar o amante da sala.
— Você não vai a lugar nenhum com ele.
Ela cambaleou como se ele a tivesse golpeado.
— Como você ousa, meu senhor? Você mentiu para mim, me traiu com minha própria amiga nesta verdadeira casa e depois me abandonou por três anos. Serei amaldiçoada antes de permitir que você tire minha felicidade de mim.
Sua felicidade?
Puta que pariu.
— E eu serei amaldiçoado se permitir que Sidmouth tire minha felicidade de mim. — Porque ela era sua felicidade. Sempre foi. Sempre seria. Mesmo olhando para ela agora, entendendo que seu ódio por ele só tinha crescido em sua ausência em vez de diminuir, quase provou sua ruína.
Ela sempre seria a única mulher que ele sempre quis.
A única mulher que ele amou.
— Sua felicidade? Em me fazer infeliz? — Ela perguntou.
— Não há necessidade de mais violência, Needham, — interrompeu Sidmouth antes que Jack pudesse responder.
— O que você está dizendo, Tom? — Nell ergueu os olhos para o rosto de seu amante, agarrando-se a seus ombros como se quisesse evitar que ele fugisse.
— Você deve permanecer exatamente onde está. Você foi desesperadamente ofendido. Ou se você tiver que ir, eu o seguirei.
Sidmouth enxugou o nariz, que estava bastante inchado e machucado, com crostas de sangue, embora a inundação parecesse ter parado.
— Estou perfeitamente bem, meu amor. Vou me hospedar na aldeia. Não irei longe, prometo.
Esses pequenos murmúrios entre sua esposa e o visconde o incomodavam. O mesmo acontecia com a maneira como sua esposa se apegava ao amante.
— Por que a aldeia, Sidmouth? — Ele perguntou friamente.
— Por que não voltar para Londres? Fico feliz em pagar sua passagem.
Sidmouth se endireitou.
— Não vou deixá-la aqui com você. Não me atrevo a confiar em um homem que atacaria outro sem provocação.
— Sem provocação? — Jack gaguejou.
— Eu deveria pensar que um homem tentando roubar minha esposa é uma grande provocação.
— Cesse essa loucura! — Nell interrompeu, sua voz zangada, seu tom quase estridente.
— Tom, você vai ficar aqui, e Needham, você irá para o diabo, onde pertence.
— Se ele ficar, — alertou ele à esposa, — não serei responsabilizado por minhas ações. Não vou parar no nariz de sua senhoria.
Enquanto Nell estava cheia de bravatas, Sidmouth não estava.
Ele acalmou Nell com um tapinha reconfortante em seu ombro.
— Não é nenhum problema, minha querida. Não estarei longe. Nos próximos dias, resolveremos esse assunto terrível de uma vez por todas.
— Sim — concordou Jack sombriamente, seus olhos nunca deixando Nell.
— Nós devemos.
Capítulo 03
Needham atacou Tom.
Nell ainda mal conseguia acreditar.
A visão do rosto do pobre Tom, um rio de sangue jorrando de seu nariz enquanto ele tentava estancar o fluxo, não a deixava. Caminhou pelos limites de seus quartos particulares mais uma vez. Ela se escondeu aqui, depois da cena miserável de uma hora atrás, precisando se afastar de seu marido.
Precisando de tempo.
Distância.
Uma chance de limpar sua mente da névoa que a infectava.
Tom tinha sido adorável e cavalheiresco como sempre, é claro. Fiel à forma, ele estava mais preocupado com ela do que com seu nariz inchado. Segurou a mão dela até a porta, prometendo que voltaria para visitá-la no dia seguinte.
Tudo enquanto Needham pairava nas redondezas, como um demônio sobressaindo sobre eles, carrancudo e irradiando desaprovação. Nell tinha se despedido de Tom antes de correr para seu quarto, onde prontamente fez seu desjejum com uma bandeja de chá e torradas para acalmar seu estômago ainda doente.
O chá e as torradas zombaram dela agora em uma mesa baixa, ao lado de uma pilha de volumes encadernados em couro. Três deles, ao todo. Um para cada ano em que ele partiu. Em seu ressentimento, ela os arrancou do esconderijo de seu próprio guarda-roupa.
Ela disse a si mesma que não iria lê-los.
Mas uma curiosidade nova e implacável a dominou. Talvez seja porque ele voltou. Talvez fosse porque ela sempre se perguntou o que seu marido tinha feito enquanto estava no exterior. Seus ensaios sobre viagens foram bem recebidos.
Ela os havia adquirido sem a intenção de lê-los.
Por que os comprou?
O que concluiria ao lê-los?
O que seria ficar aqui, com o marido que ela não queria mais?
Com um suspiro, cruzou a sala e afundou em uma cadeira. Claro, não tinha escolha a não ser permanecer onde estava. Needham possuía todo o poder nesta farsa. Um homem podia obter o divórcio com mais facilidade do que uma mulher, por isso seu acordo foi necessário.
Mas ele não concordou, certo?
Ela preparou uma xícara de chá e tomou um gole. Suas palavras anteriores voltaram para ela. Needham queria um herdeiro. Impossível. Como havia dito a ele, não haveria herdeiros. Porque ela preferia dar as boas-vindas a uma áspide em sua cama, do que ao Marquês de Needham.
O chá era doce em sua língua. Ela fechou os olhos por um momento, tentando se recompor. Tanta coisa aconteceu no decorrer de um dia. Mas não deveria permitir que isso a fizesse desviar do caminho que escolheu. Ela não estava ficando mais jovem e, se desejava a oportunidade de ser mãe, precisava se libertar de Needham.
De uma vez.
Mas o Needham que havia retornado não era o mesmo homem que havia partido. Ela abriu os olhos, seu olhar pousou na pequena pilha de livros mais uma vez. Talvez se quisesse entendê-lo — se tivesse alguma esperança de persuadi-lo de que o divórcio era a melhor opção para os dois — ela devesse ler. Deveria descobrir o que ele estivera fazendo.
E com quem.
Nell pegou o primeiro volume que ele publicou e abriu o livro no frontispício. Um Britânico no Estrangeiro. Não é um título terrivelmente inventivo, disse a si mesma. Mas foi ao virar para a próxima página que fez uma pausa, na dedicatória.
Este livro foi escrito para minha esposa.
Quando Jack terminou a reunião com seu administrador, era quase hora do jantar.
Apesar das festas selvagens que ela estava dando, era evidente que Nell tinha tomado muito cuidado ao supervisionar a administração da propriedade. Os arrendatários estavam felizes. Suas colheitas eram excelentes. Os reparos necessários em Needham Hall foram feitos. Embora as cartas que recebera de Jones durante suas viagens sempre sugerissem o mesmo, ouvi-lo por si mesmo, ignorar os livros contábeis e encontrar Jones em pessoa foi gratificante.
Isso também o fez perceber o quanto havia sentido falta não apenas de Nell, mas de Needham Hall também.
Estar de volta parecia certo.
Tudo o que precisava fazer era encontrar sua esposa.
Após a altercação com Sidmouth, ela fugiu para seu quarto. Ele havia permitido, é claro. Não estava particularmente orgulhoso de ter quebrado o nariz do amante de sua esposa. Mas tinha que admitir que, assim como voltar para Needham Hall, dar um soco em Sidmouth também pareceu certo.
Ele fez o seu caminho para seu quarto, pensando realmente em como era estranho, agora que ele havia retornado, parecia de certa forma como se nunca tivesse partido. Ele parou na porta de Nell, e bateu.
— Quem é? — Ouviu a voz desconfiada dela.
— Jack, — ele disse.
— Vá para o diabo!
Ele fez uma careta, tentando abrir a porta e descobrindo que estava trancada. Nenhuma surpresa nisso.
— Você vai se juntar a mim no jantar?
— Não. — Sua resposta curta também era esperada.
Ela estava com raiva dele. Provavelmente, o golpe que desferiu no nariz de Sidmouth não ajudou sua causa.
— Preciso falar com você, Nell, — ele tentou novamente.
— Você não pode permanecer em seu quarto para sempre.
— Sim, eu posso. — Sua teimosa insistência ecoou pelo portal que os separava.
— Não desejo vê-lo nunca mais.
Droga de mulher.
— Você está sendo uma criança. As questões entre nós devem ser resolvidas. Mantive minha distância por três anos, mas esse tempo acabou agora, e você deve encarar isso.
Assim como ele teve que encarar que sua ausência havia sido um erro.
O silêncio foi de encontro ao seu pronunciamento.
Ele bateu na porta, estremecendo quando seus dedos doloridos se conectaram com a madeira.
— Nell. Não vou a lugar nenhum até que você fale comigo.
— Não desejo falar com você. — Sua voz, embora abafada, parecia mais próxima.
Um bom sinal, talvez?
— Precisamos falar, — ele tentou novamente.
Ela fez um som de irritação baixo em sua garganta antes que a porta se abrisse, revelando que ela ainda estava em seu penhoar.
— O que você quer, Needham?
Você.
Ele não disse isso, entretanto. Era muito cedo. Havia muitas emoções instáveis entre eles. Muita dor.
Ele encontrou seu olhar.
— Quero falar com você.
— Você já falou comigo. — Seus lábios se estreitaram em uma linha sombria.
— Exaustivamente. Não há nada que você tenha a dizer que eu queira ouvir, a menos que seja um pedido de desculpas por abusar de Tom.
Sua mandíbula ficou tensa.
— Nenhum pedido de desculpas está vindo. Eu faria de novo, se tivesse meia chance. Será sensato dizer isso a Sidmouth também. Não tolerarei mais sua interferência em nosso casamento.
O desafio brilhou em seus olhos brilhantes.
— Não temos nenhum casamento.
Ocorreu-lhe então que eles haviam passado mais tempo separados do que juntos.
— É minha intenção retificar o que aconteceu entre nós, — disse ele com sinceridade.
— Para deixar o passado para trás. Quero um casamento com você, Nell. Eu sempre quiz. Isso nunca mudou.
Abruptamente, ela deu um passo para trás, abrindo a porta enquanto o fazia.
— Se você insiste em assombrar minha porta, você pode muito bem entrar. Dessa forma, podemos encerrar essa discussão de uma vez.
Pela segunda vez naquele dia, ele cruzou o limiar do quarto de sua esposa. Nos seus domínios. Houve um tempo em que sabia sem questionar que era bem-vindo. Como era estranho ser um convidado indesejado. À distância e o tempo, de alguma forma, tornaram essa parte de tudo — sua separação — mais fácil de engolir. Mas agora, ele não podia deixar de reparar.
A porta se fechou em suas costas com um estalo e ele se virou para encará-la. Ela não estava tão pálida agora quanto antes, mas ela era tão bonita. Ele queria tocá-la. Para tomá-la em seus braços como tinha feito ontem.
Ele se conteve, sabendo que precisava tomar seu tempo, pelo bem de ambos.
— Você não vai se vestir para o jantar? — Ele perguntou suavemente.
Ela olhou para si mesma, como se acabasse de perceber que não usava nada além de seu elegante penhoar.
— Não vou jantar com um vilão.
Ele esperava algo menos?
Ele inclinou a cabeça.
— Felizmente, o jantar esta noite é comigo, minha querida.
Sua tentativa de leviandade não pareceu impressioná-la.
— Você é o vilão de quem eu estava falando e sabe disso.
— E se eu não for o vilão que você pensa que sou? — Ele se atreveu a perguntar.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Sua pergunta é um ponto discutível, Needham. Você é exatamente o vilão que eu acho que é. Suas ações anteriores, ao atacar o pobre Tom, confirmaram isso.
Ele se ocupou em se mover pelo quarto dela, fazendo um inventário agora de uma maneira que não tinha se incomodado antes, quando tinha se preocupado por ela permanecer na cama por tanto tempo. Ela havia mudado os revestimentos das paredes, ele notou. Damasco rosa substituiu o antigo amarelo brilhante. Bugigangas como molduras e flores, pequenas esculturas e livros estavam espalhados. Sua escrivaninha estava lotada de papéis, o diário que ela perpetuamente mantinha no topo de tudo.
— Vamos falar primeiro sobre Sidmouth, — sugeriu ele, passando o dedo sobre um pequeno recipiente de cerâmica com uma tampa curiosa.
— Você deve pôr fim ao seu... relacionamento com ele imediatamente.
Ele odiava até mesmo pensar no que ela compartilhou com Sidmouth, muito menos falar sobre isso. De alguma forma, tinha imaginado tolamente que ela teria permanecido celibatária, como ele. Mas enquanto se lançava às viagens e escrevia relatos de suas viagens ao exterior, ela se jogava nos braços de outro homem.
Isso acabou hoje, por Deus.
— Não vou acabar com minha associação com Tom, — disse Nell friamente.
— Ele é o homem com quem pretendo me casar quando estiver livre desta união indesejada.
Ele parou de se perguntar sobre o propósito do vaso de cerâmica e se virou para ela.
— Eu quis dizer o que disse ontem. Não haverá divórcio. Você não tem fundamentos para apresentar uma petição aos tribunais e, embora presumivelmente o faça, graças ao seu caso com Sidmouth, não desejo pôr fim à nossa união.
Aí está. Tudo isso era verdade. As leis do divórcio eram a seu favor como homem, e não a ela como mulher. Só precisava provar que ela havia cometido adultério para abrir um processo contra ela e um amante. Ela, entretanto, precisaria provar muito mais.
O que significava que ela não tinha nenhum caso.
— Você cometeu adultério, — ela rebateu.
— E você me abandonou.
— Eu já disse que nunca me deitei com Lady Billingsley. Ele tentou permanecer calmo e controlado em sua resposta. Na verdade, a facilidade com que ela acreditava no pior ainda o irritava.
— E nem abandonei você. Saí porque você me pediu para ir.
Ela lhe implorou, na verdade.
Ele ainda se lembrava daquela altercação horrível.
As lágrimas em seu rosto pálido, o som de seus soluços. A angústia. Eles discutiram. Ela lhe disse que nunca o amou. Ele havia quebrado quase todos os móveis da sala. E então, ficou bêbado. Quando ficou sóbrio o suficiente para se lembrar do que acontecera, sabia que era melhor partir.
Para o bem de ambos.
— Você não teve que ir tão longe ou por tanto tempo, — ela lhe disse baixinho agora, surpreendendo-o.
Ambos haviam se ferido gravemente. O casamento deles sempre foi repleto de paixão. Mas o amor tinha sido uma caixa de fogo.
Ele se moveu em sua direção, atraído como sempre.
— Você teria me recebido de volta?
Sua expressão se fechou.
— Não foi isso que eu disse, Needham. Você distorce minhas palavras.
Sua trança ainda estava pendurada, grossa e dourada sobre o ombro. Mechas se abriram para cercar seu rosto. Em seu penhoar creme, ela era a encarnação da tentação: seda macia, perfeição feminina. Ele ansiava por tocá-la novamente. Para puxá-la contra ele. Para beijar a careta de seu beicinho.
Em vez disso, se contentou em parar na sua frente.
— Há três anos que escrevo cartas para você, Nell. Você nunca respondeu a nenhuma delas, exceto uma. O que mais eu deveria pensar? Você me mandou ir, e eu já tinha causado dor suficiente. Não queria ser a fonte de mais nada.
Isso também era verdade.
Ele havia feito penitência da melhor maneira que sabia.
Mas nunca houve um dia em que não tivesse pensado nela. Que não a tivesse desejado. Quando ele nem sonhava em voltar. A raiva e a mágoa que carregou consigo por tanto tempo desapareceram com o anúncio dela de que queria se casar com o visconde de Sidmouth.
Essa carta mudou tudo.
O queixo de Nell se ergueu, sua expressão cautelosa.
— Por que eu iria querer mais mentiras de você? Já aguentei o valor de uma vida inteira. E agora, o mínimo que você pode fazer é me libertar. Certamente você me deve essa cortesia, depois de tudo o que aconteceu.
Ele procurou seu olhar.
— O que você quer que eu faça, Nell? Processar você e Sidmouth? Arrastar você pelas sarjetas? Arruinar a todos nós? É isso que você realmente deseja?
Jack não sabia por que havia feito tal pergunta. Mesmo que sua resposta fosse sim, não tinha condições de conceder o que ela queria. Não podia suportar tirá-la de sua vida. Os últimos três anos só se tornaram suportáveis pelo conhecimento de que cada dia que passavam separados era provisório. Que ele estava sempre a um vapor ou a uma viagem de trem de distância dela, aonde quer que fosse.
Ela olhou para ele com os lábios entreabertos.
— Eu... eu quero ser feliz de novo. Isso é o que quero.
Sua admissão foi semelhante a uma faca no coração.
Ele não conseguia se livrar da sensação de que, pela primeira vez desde seu retorno, estava vendo um vislumbre da verdadeira Nell por trás da máscara que ela havia colocado.
— Eu quero sua felicidade também. — Suavemente, lentamente, ele pegou as mãos dela.
Elas estavam frias e macias. Ela não estava usando as alianças de noivado e casamento que ele lhe dera. Em vez disso, havia um novo anel em seu lugar. Ele passou o polegar pelos diamantes e esmeraldas em forma de flor.
Ela enrijeceu.
— Então, me deixe livre. Tom me faz feliz.
— Você está usando o anel dele, — disse ele, desnecessariamente, incapaz de esconder a amargura de sua voz.
— Eu devo ser sua esposa. — Não havia arrependimento em seu tom. Seu olhar não vacilou.
Ele olhou para o anel odiado, o símbolo do que Sidmouth já havia tirado dele. Do que ele esperava roubar em seguida.
— Você é minha esposa, maldita seja. — Ele apertou a mandíbula contra uma onda de sentimento. Ciúmes. Raiva. Confusão. Dor. Orgulho ferido.
— Eu não quero mais ser. — Ela puxou a mão, tentando escapar dele.
Ele segurou firme, relutante em permitir que ela recuasse.
— Nós tivemos um casamento feliz, uma vez. Você não se lembra de como foi bom entre nós, Nell?
Ela não respondeu imediatamente e, por um momento, foi como se a dor, a amargura e a raiva estivessem sido interrompidas. No fundo do olhar dela, ele viu a Nell que conhecera. Ele pensou que a tinha alcançado.
Mas então, suas narinas dilataram e seus lábios se apertaram.
— Antes ou depois de encontrar Lady Billingsley em sua cama?
Ele dificilmente poderia negar o que ela tinha visto. Era verdade. Em uma de suas festas selvagens, ele estava tão embriagado que estava vendo o dobro. Naquela época, sua devoção à bebida ultrapassava sua devoção a qualquer outra coisa, incluindo Nell, e ele tropeçara em seu quarto com uma garrafa de uísque na mão. A última coisa de que se lembrava era de derramar bebida em suas roupas e removê-las, jogando-as em cima do tapete.
Quando ele se ergueu para uma mão, em seu pênis duro, assumiu que a mão pertencia a sua esposa. Os lábios nos dele também, presumiu que fossem de Nell. Mas o cheiro estava errado. As carícias também. Em seu estado confuso, levou muito tempo para perceber a horrível verdade, que Lady Billingsley, também desesperadamente bêbada, tinha vagado para dentro do quarto errado...
Ele voltou ao presente com um choque.
— Não a convidei para ir para lá, Nell. O que lhe disse permanece verdadeiro hoje. Também não fui para a cama com ela. Eu estava dormindo quando ela entrou em meu quarto. E ela estava muito embriagada para perceber que tinha entrado no quarto errado.
Nell puxou as mãos de seu aperto e, desta vez, ele permitiu.
— Uma bela história. Você explica sua perfídia com tanta facilidade.
Ela se afastou, apresentando-lhe as linhas elegantes de suas costas. A plenitude exuberante de sua nádega estava em exibição definitiva em seu penhoar. Ele a seguiu lentamente, com passos determinados.
— Vamos falar daquele dia agora, — ele sugeriu, seguindo-a até a extremidade oposta da sala, onde um trio de pinturas que ele nunca tinha visto antes estava pendurado, mais uma evidência de sua mão sobre Needham Hall.
— Se falarmos sobre isso, talvez possamos finalmente superar isso.
Ela girou a trança voando por cima do ombro com a força de sua ação.
— Como podemos superar isso, Needham? Você me traiu. Você tinha outra mulher em sua cama.
Isso, ele não podia negar.
— Não por escolha. Eu estava bêbado, Nell. Admito isso. Estávamos dando uma de nossas festas selvagens. Eu bebi demais. Mas lhe juro agora, assim como fiz antes, que quando coloquei minha cabeça no travesseiro, eu estava sozinho.
— Você me disse que não se lembrava de ter ido dormir naquela noite, — ela o lembrou, sua voz tão amarga quanto seu semblante.
— Você disse que acordou pensando que Lady Billingsley era eu.
Ele esfregou a mão no queixo.
— Droga, Nell. O que mais você quer de mim? Eu nunca te disse nada além da verdade. Fui dormir sozinho. Acordei com uma mulher na minha cama que pensei que fosse você. No momento em que percebi meu erro...
Ele permitiu que suas palavras se dissipassem, pois não havia sentido em terminar seu pensamento. Não queria lembrar Nell do que acontecera naquela noite. Os detalhes eram excruciantes, mesmo agora.
— Não acredito em você, Needham, — gritou, seus olhos arregalados, seu desafio quase palpável.
— Eu não acreditava na época, e não acredito agora, três anos depois. Eu realmente não confio em você.
Esse era o ponto crucial da questão.
Ela havia afirmado que o amava uma vez, e ainda assim ela estava muito ansiosa para acreditar no pior dele. Sua disposição de assumir que ele havia sido infiel o feriu tão profundamente agora quanto três anos atrás.
Ele foi lembrado, abruptamente, brutalmente, do motivo de ter permanecido no exterior por três anos. Essa guerra interminável com ela era intolerável.
— Devo confiar em você? — Ele perguntou, olhando para trás para o anel em seu dedo, o símbolo mais certo de sua deslealdade, além da visão dela abraçar Sidmouth antes.
— Você deu as boas-vindas a outro homem em sua cama na minha ausência, e está usando o anel dele em seu dedo agora mesmo, embora eu seja o homem a quem você está eternamente ligada.
Seus lábios se curvaram.
— Não eternamente. Existe o divórcio.
— Inaceitável, — ele disse, tremendo de raiva.
Essa era a cena que ele esperava evitar.
Pareciam tão cáusticos um com o outro como sempre. De uma grande paixão também veio grande ódio e grande ruína.
Para não falar de grande dor.
— Não quero mais estar acorrentada a você, Needham — cuspiu Nell.
— Não sei como tornar isso mais aparente do que já fiz. Eu quero me casar com Tom. Ele é o homem com quem desejo passar o resto da minha vida.
Ele balançou a cabeça, recusando-se a aceitar suas palavras. Ele a tinha visto com Tom antes. Sidmouth a bajulava. Tratava-a como se fosse feita da melhor porcelana. Nell nunca foi frágil. Nell era a mulher que dançava na mesa, que sempre caía de pé.
Ou em seus braços.
Sempre nos seus braços, se ele tinha algo a dizer sobre isso.
— Olhe nos meus olhos e diga que você não sente nada por mim. — Ele apertou a mandíbula com tanta força que sua cabeça começou a latejar.
— Vá em frente, Nell. Diga-me.
Ela não disse nada, olhando para ele, aparentemente sem palavras.
— Diga-me como você me despreza, — insistiu.
— Faça isso, Nell. Diga-me como te traí e como você nunca vai me perdoar. Diga-me que Sidmouth realmente te faz feliz. Quero ouvir mais de suas belas mentiras.
O tapa dela o pegou de surpresa. Não tanto a picada de sua pequena palma conectando com sua bochecha, mas a violência de sua ação. Ela o havia arranhado antes, é verdade. Mas nunca bateu nele.
— Você não tem direito, maldito. — Ela inalou em um soluço, e ele sabia que era a fonte de sua dor, assim como ela era a dele.
— Não tem o direito de voltar aqui e me fazer sentir...
Ele aproveitou as palavras dela.
— Fazer você sentir o quê, Nell? Fazer você se lembrar que sou seu marido? Que você se prometeu a mim e só a mim? Você não se casou com Sidmouth. Você se casou comigo.
Ela empalideceu.
— Para minha eterna vergonha. Eu era jovem e tola, facilmente influenciada por um rosto bonito. Deveria saber que você não era o tipo de homem em quem eu pudesse confiar.
— Você pode confiar em mim, Nell. — Como ela poderia não ver a verdade pelo que era?
Ela balançou a cabeça.
— Não, não posso. Você provou isso para mim melhor do que qualquer outra pessoa. Não vou esquecer o que vi. Você não pode explicar isso. Nada muda o que aconteceu. Talvez você, de repente, tenha encontrado uma consciência. Talvez tenha percebido que deseja um herdeiro. Seja qual for o motivo do seu retorno, é inútil. Não vou ter você na minha cama. Não quero estar casada com você. Eu quero outro.
Suas afirmações o levaram à loucura.
— É assim mesmo? Você quer dizer que não sente nada por mim?
— Nada, — ela repetiu.
— Absolutamente nada, Needham. Sem dúvida, isso será doloroso para a sua vaidade, mas essa é a verdade.
Ele não acreditou nela. Porque ele a conhecia. E também conhecia a paixão pulsando entre eles, mesmo agora.
Mas, também sabia que havia pressionado a ambos o suficiente por uma tarde.
— Diga a si mesma se quiser, mas sabemos que você está mentindo. — Ele esboçou uma reverência irônica.
— Te vejo no jantar, querida.
Capítulo 04
Nell seria condenada se fosse se vestir e calmamente descer para jantar com Needham.
Se ele pensava que ela iria desempenhar o papel de esposa obediente agora que ele havia retornado de repente, estava errado. Em vez disso, ela pediu uma carruagem e se preparou para visitar Tom. Ela não se importava que estivesse perdendo a refeição da noite, ou que o trajeto até a aldeia seria um bom momento. O tempo estava bom, e quanto mais ficasse longe de Needham Hall e da presença irritante de seu marido, melhor.
Ela havia se preparado com notável rapidez para sua jornada, sua criada estava bastante acostumada a colocá-la em ordem em pouco tempo. Ela colocou a cabeça para fora do quarto precisamente dez minutos antes do gongo do jantar. Com todos os seus convidados sumariamente perseguidos por Needham, o jantar não foi o grande acontecimento que normalmente era. O corredor estava vazio.
Sem Needham a vista.
Com um suspiro de alívio, deslizou para o corredor, descendo e depois as escadas. Através do grande hall de entrada com suas armas centenárias enfeitando as paredes. Para a porta da frente. Reeves, o mordomo que sempre a olhou com uma expressão de desgosto velado, educadamente lhe disse que sua carruagem a estava esperando.
Com outro olhar por cima do ombro para determinar que não havia nenhum Needham irado aparecendo por trás, ela entrou no pátio. Dois conjuntos de degraus de pedra a conduziram à carruagem. Mas quando a porta se abriu, o mesmo homem que ela procurava evitar já estava sentado lá dentro.
Ela parou ao ver Needham esparramado no banco, seu olhar esmeralda brilhando para ela com uma intenção descarada. Maldito ele. Parecia perfeito como sempre, sua barba escura sombreando sua mandíbula forte, aqueles lábios carnudos e sensuais, que ela não deveria se lembrar de ter beijado, se curvando no mesmo meio sorriso que uma vez a fez ficar fraca.
Se ao menos ela nunca tivesse se casado com ele.
Se ao menos nunca o tivesse amado.
— O que você está fazendo em minha carruagem, Needham? — Ela exigiu.
— Esperando para acompanhá-la em sua jornada, é claro. — Seu semblante estava calmo, como se não se importasse.
— Aonde você estava indo, esposa, e com tanta pressa você pretendia perder o jantar?
Ela o olhou.
— Eu estava indo ver Tom, é claro. Preferiria dispensar uma refeição em vez de jantar com porcos.
Ele permaneceu impenetrável, em vez disso estendendo a mão enluvada de maneira galante.
— Eu nunca convidaria um porco para a mesa de jantar. Todos os marqueses de Needham antes de mim rolariam sobre seus túmulos. Uma mão, meu amor?
Ela ignorou sua oferta.
— Você não está me acompanhando. Saia da maldita carruagem.
— Você é minha esposa. — Seu tom era leve.
— Aonde você for, eu a seguirei.
A raiva cravou dentro dela.
— Não quero ser sua esposa, nem desejo sua companhia em minha jornada. A última coisa que faria seria trazer a chance de mais violência à porta do pobre Tom.
Ele ergueu uma sobrancelha, a mão ainda estendida, permanecendo imóvel.
— Se você não deseja trazer violência ao seu amante, então talvez deva ficar em casa. Ou você já se esqueceu de sua maldade ontem e hoje de novo?
Seu olhar pousou nos arranhões que ela havia deixado em sua bochecha, e ela não se arrependeu mais hoje do que ontem. Ele merecia sentir dor. Merecia tudo o que ela lhe infligira e muito mais, ampliado mil vezes. Isso incluiu o tapa de hoje.
Seus olhos voltaram para os dele, o desafio levantando seu queixo.
— Se você permanecer na carruagem, só posso supor que gostaria de experimentar mais. Talvez possa lhe dar uma marca correspondente em sua outra bochecha.
Ele esfregou a bochecha, sua expressão ficando triste.
— Faça o seu pior, esposa.
Como gostaria que ele parasse de se referir a ela como esposa, e meu amor, e querida. Que parasse de ser tão incrivelmente bonito. Que sua voz não enviasse um frisson em sua espinha. Que a visão de sua boca ainda não fizesse a dela formigar ao se lembrar.
Que ele não houvesse retornado.
Ainda assim, ela não poderia ficar aqui no degrau da carruagem a noite toda. Parecia que estavam mais uma vez em um impasse.
— Por que você gostaria de me acompanhar?
— Porque não confio em você para não fugir. — Ele inclinou a cabeça para o lado, estudando-a daquela maneira intensa que sempre tinha possuído.
Ela abriu a boca para falar.
— Eu...
— Não, — ele interrompeu, — finja que você já não teve o pensamento.
Suas bochechas ficaram quentes. Ela tinha, é claro.
Maldito seja tudo de novo.
— Não aja como se você me conhecesse, Needham, — ela disse friamente, entrando na carruagem finalmente, sempre ciente dos criados ouvindo sua conversa tensa.
Ela tinha deixado de se importar com o que os outros pensavam dela há muito tempo, mas dificilmente queria ficar discutindo com ele pela próxima hora. Quanto mais cedo entrasse na carruagem, mais cedo poderia ver Tom. E parecia que seu marido não tinha intenção de desocupar a carruagem para que ela pudesse viajar em uma solidão pacífica.
A porta se fechou quando ela se acomodou no banco em frente à Needham, ajeitando as saias e fazendo o possível para fingir que ele não estava ali. Uma façanha impossível de alcançar, como aconteceu. Needham sempre acelerou seu pulso e encheu o ar com um pulso de consciência elétrica. Como ele havia dito, maldito seja, algumas coisas não mudaram.
— Eu conheço você, Nell. — Sua voz baixa interrompeu seus pensamentos enquanto a carruagem balançava em movimento.
— Talvez você tenha esquecido o quão bem.
O calor se espalhou profundamente dentro dela. A lembrança a atingiu. Rindo com ele, beijando na chuva, sentado a noite toda em sua cama enorme, bebendo vinho e falando sobre poesia, o belo peso de seu corpo sobre o dela, o deslizar de sua língua em sua boca, seu pênis dentro dela. Desejo — odiado, indesejado — retornou.
Ela fez o possível para bani-lo, fechando as mãos em punhos ao lado do corpo.
Relutantemente, ela olhou para ele.
— Você não me conhece absolutamente, meu senhor. Na verdade, você nunca me conheceu. Ninguém me conhece melhor do que Tom.
Suas palavras tiveram o efeito desejado.
Ele enrijeceu como se ela tivesse lhe dado outro golpe físico.
— Sidmouth não poderia conhecê-la melhor do que eu.
Claro que não. Ela não permitiu ninguém perto de seu coração. Não depois de sua união desastrosa. Needham a machucou profundamente. Sua traição a endureceu, deixando-a cansada e oca.
Vazia.
Mas, estaria condenada antes de admitir isso para o canalha.
— Tom me conhece melhor do que a mim mesma. Ele é tudo que eu sempre esperei encontrar em um marido.
Mentiras.
Na verdade, tudo que ela esperava encontrar em um marido era Needham. Jack. Até que ele a traiu e arruinou seu mundo. Mas, como tantas outras verdades, ela nunca admitiria tanto para ele. Ele já tinha muito poder sobre ela. Mais do que ele supunha. O tempo, à distância e a angústia não haviam dissipado a maneira que ela se sentia, para sua consternação.
Ela duvidou que pudesse, e seu retorno apenas enfatizou essa verdade patética.
— Pena que eu sou seu marido, então. — A voz de Needham estava fria. Zangado também.
Ela encontrou seu olhar, sem vacilar.
— Por enquanto.
Sua expressão se fechou.
— Mais cedo ou mais tarde, você deve parar de persistir nessa crença tola de que pode acabar com nossa união.
Livrar-se do casamento não era impossível. Nem era uma ideia tola. Se ela acreditasse nisso, toda esperança estaria perdida. Ele estava certo ao dizer que tinha mais poder no assunto do que ela. A lei do divórcio, por natureza, favorecia o homem. Mas, nos últimos meses, houve um fato que a consolou: que ela poderia se livrar desse casamento insustentável e começar de novo.
Ela ainda queria sua chance de felicidade. Ainda queria ser mãe.
Tom poderia dar isso a ela.
Needham só poderia causar lhe mais sofrimento, mesmo que pudesse lhe dar um filho.
— Não é uma crença tola, — ela defendeu, tentando manter a calma.
— Por que você deveria querer permanecer casado com uma mulher que te despreza, Needham? Sua perversidade desafia a lógica.
— Você realmente me despreza? — Seu meio sorriso voltou.
— Acho que não, querida.
Ela o desprezou — ou melhor, o que ele fez. A ela. Para eles.
Suas unhas cravaram em suas palmas.
— Desprezo.
— Hmm. — Ele desviou os olhos então, voltando seu olhar para fora da janela para paisagem que passava lentamente.
Sua resposta evasiva a irritou. Não tinha dúvidas de que era isso que ele pretendia. Ela ficou em silêncio por um período interminável de tempo, o único som entre eles era o barulho da carruagem estrondeando sobre a estrada. Ela disse a si mesma para não dialogar mais. Disse a si mesma que o silêncio era muito preferível a suportar mais as brigas e a insistência irritante dele de que ela não se divorciaria como felizmente estivera convencida — até ontem de manhã — que faria.
Mas seu desinteresse a incomodava mais do que sua intensa consideração. Mais ainda do que seus argumentos e afirmações contínuas, ela nunca estaria livre dele. Porque o conhecia bem o suficiente — ou pelo menos pensava — para saber que seu silêncio significava que ele estava conspirando silenciosamente.
E isso a irritou.
Deixou-a no limite.
Ela bateu o pé no chão da carruagem. Suspirou. Mordeu o lábio.
Ele se virou, seu olhar tão intenso como sempre na luz fraca do dia de verão.
— O que é, Nell?
Como ele sabia?
— Você não é tanto um mistério quanto gostaria de acreditar, — acrescentou ele, seu tom presunçoso.
— Não para mim. Você está inquieta e suspirando, como sempre faz quando tem algo a dizer, mas está tentando segurar a língua.
— Não faço isso, — ela mordeu antes que pudesse pensar melhor em suas palavras.
Eles falaram muito. Revelaram muito.
— Não faz o quê? — Ele voltou, ainda calmo, ainda controlado.
Isso tudo era um jogo para ele? Isso era tudo o que sempre foi?
— Não continue a fingir que me conhece, — ela elaborou friamente.
— Já te disse, não sou a mulher que você deixou para trás. Não há nenhuma semelhança entre aquela garota ingênua e a mulher que você vê a sua frente agora.
Isso também era mentira. Bom Deus, ela era tão mentirosa quanto ele.
Nesse sentido, eles combinavam.
Ela mexeu-se novamente.
— O que você quer dizer? — Ele persuadiu mais uma vez, insuportavelmente calmo como sempre.
Sabendo dolorosamente.
Isso era algo que a distância e o tempo permitiram que ela deixasse de lado — o jeito que ele sempre parecia antecipar suas necessidades, seus desejos. A maneira como parecia ler sua mente.
— Por que você voltou, depois de todo esse tempo? — Ela exigiu.
— Por que, quando eu finalmente encontrei minha felicidade, você procura arruiná-la?
Antes que ele pudesse responder, um baque balançou a carruagem e o veículo parou. Alarme trespassou-a. Certamente não era isso o que ela pensava?
— Fique onde está, — Needham disse a ela severamente, antes de se levantar e abrir a porta da carruagem.
Ele saltou do veículo e pousou com uma graça furtiva, de forma que a pequena e perversa parte dela não pôde deixar de admirar. Seu marido sempre foi uma figura elegante. Na verdade, tinha sido uma das qualidades que originalmente a atraíram para ele, na época em que namoravam.
Tanto tempo atrás.
Seu coração deu uma pontada com as memórias que manteve enterrada.
Ele desapareceu de vista então, caminhando para frente da carruagem, provavelmente para encontrar seu cocheiro, a origem do solavanco e sua parada repentina. Ela esperou impacientemente por um período indeterminado de tempo antes de protestar.
Por que ela estava ouvindo Needham? O que estava acontecendo? Por que eles pararam?
Com sua decisão tomada, Nell se levantou de seu assento, foi até a porta da carruagem, levantou a saia e saltou para a estrada abaixo.
— Eixo quebrado, — relatou o cocheiro quando ele se inclinou diante da roda esquerda da frente. — Não haverá conserto aqui. Voltarei a pé se você e sua senhoria quiserem esperar e trarei uma nova carruagem. Vou cuidar dos cavalos antes de ir.
Apesar da insistência de Nell de que ele não a conhecia, Jack não tinha dúvidas de que ela não desejaria esperar por nada. Na verdade, suspeitava que ela provavelmente já estivesse prestes a saltar da carruagem.
— Excelente plano, Gibbons, — disse ao cocheiro.
— Esperamos por você aqui.
Agindo de acordo com seu palpite, ele contornou os cavalos parados bem a tempo de encontrar sua esposa levantando o vestido para revelar meias de seda listradas e ligas vermelhas logo acima dos joelhos. A visão foi tão impressionante — semelhante a um soco no estômago — que ele ficou momentaneamente sem fala. Sentiu como se todo o ar tivesse sido roubado de seus pulmões. O desejo incandescente o queimou, de dentro para fora.
Suas panturrilhas eram tão bem torneadas. Seus joelhos — por Deus, ele sempre adorou seus joelhos. Havia uma pinta no joelho direito que uma vez o encantou. Mas essas meias de seda ousadas, elas o afetaram mais do que queria admitir. Porque eram o tipo de roupa íntima que uma mulher usava quando pretendia mostrá-las para outro.
E aquele outro decididamente não era Jack.
Ela se lançou no ar na próxima respiração, sem se preocupar em esperar por ajuda ou um passo. Ele avançou bem a tempo de pegá-la contra seu peito, firmando-a quando, de outra forma, ela teria sofrido uma queda cruel.
Pela segunda vez em dois dias, ele a estava salvando de quebrar seu lindo pescoço. Sua imprudência o incomodou.
— Que diabo você pensa que está fazendo? — Ele exigiu, apertando-a contra ele, seu coração trovejando em seu peito.
Lírio do vale o atingiu, misturando-se aos aromas frescos do verão: grama, solo quente, trigo. O sol lançava um brilho dourado quente sobre a paisagem. A beleza vibrante do ambiente verdejante empalideceu em comparação com a mulher em seus braços.
Seu chapéu estava adoravelmente torto, seus olhos brilhando com fogo desenfreado.
— Eu estava vendo o que aconteceu com a carruagem e por que paramos.
Ele não a soltou. Agora que a tinha onde queria, como poderia suportar deixá-la ir tão facilmente? Atrás dela, Gibbons já estava voltando para Needham Hall a pé, deixando os dois sozinhos.
— Há um eixo quebrado na roda dianteira, — disse ele.
— Teremos que esperar aqui enquanto o cocheiro retorna e busca outra carruagem.
— Esperar aqui? — Sua desaprovação por tal perspectiva era evidente, tanto em seu tom quanto em sua expressão.
— Sim. — Ainda assim, ele não conseguia se afastar, se soltar. Ela estava tão bem em seus braços.
— A carruagem não pode prosseguir como está. A menos que você prefira caminhar até a aldeia, que estimo ser uma caminhada de duas horas, ou voltar para Needham Hall a pé, não temos escolha a não ser aguardar o retorno de Gibbons.
Ela empurrou seu peito.
— Você planejou isso.
Infelizmente, ele não era tão nefasto quanto ela aparentemente acreditava, pois não tinha feito nada do tipo. O eixo quebrado foi fortuito, pois prolongaria muito tempo antes que ela se reencontrasse com seu amante.
O pensamento o fez dar um passo para trás e colocar alguma distância entre eles mais uma vez.
— Não mexi na carruagem, querida. Apesar do que você gostaria de pensar de mim, não sou um monstro sem consciência.
— Apenas um desleal, então. — Ela olhou para ele, sem sorrir.
A tarde estava quente, e a noite não era tão sufocante. No entanto, o ar ainda estava úmido, iluminado com a promessa do verão. Ela estava corada, suas bochechas desabrochando em um rosa delicado, e ele não pôde deixar de se perguntar se ela estava superaquecida por causa da temperatura ou por causa de sua proximidade com ele.
O Senhor sabia que a combinação de suas pernas vestidas com meias de seda e seu corpo exuberante contra o dele fazia seu pênis se contorcer para a vida. Até que se lembrou da acusação dela.
Ainda de novo.
— Quantas vezes devo dizer que não levei Lady Billingsley para a cama antes de você acreditar em mim? Ele demandou.
— Eu nunca acreditarei em você, — ela disse amargamente, dando voz a um de seus maiores medos.
— Eu vi você a beijando, Needham. Ela estava na sua cama. Você não estava usando um ponto de roupa. A mão dela estava sobre seu...
— Chega, — ele interrompeu, levantando a mão.
— Droga, eu sei o que você viu. O que estou lhe dizendo — o que sempre lhe disse — é que o que você viu e o que é verdade são duas coisas distintas. Eu estava dormindo na minha cama. Tão profundamente no meu porre que estava vendo o dobro. Acordei com uma mulher na minha cama e pensei que fosse você.
A cor em suas bochechas aumentou.
— Sou tão indistinguível de outras mulheres que você não consegue ver a diferença?
Foi a mesma discussão de três anos atrás. A mesma de horas antes também.
Ele tirou o chapéu, quase esmagando-o na mão.
— Claro que não. Você é incomparável, Nell. Você sempre foi e sempre será. Não há outra como você. Você não acha que eu tentei te esquecer? Três anos sem uma palavra sua, três anos mantendo minha distância, dando-lhe tempo para se curar como você havia pedido, mesmo quando soube de suas festas intermináveis e sua sequência de amantes, e ainda não consegui te esquecer. Não pude substituir você, então nem tentei. Porque há apenas uma de você.
Ele parou antes de falar mais, ciente de que sua voz estava tremendo e já havia revelado muito. Ele prometeu a si mesmo que não seria vulnerável a ela. Que iria prosseguir com calma, em vez de raiva dolorida. Que faria uma abordagem diferente. Nell era como um cavalo selvagem que precisava ser domesticado lentamente. E ainda, um dia de volta na presença dela, e ele estava caindo nos mesmos velhos padrões.
Qual era o problema com ele? Não tinha aprendido nada em seu tempo fora?
Nell estava o olhando agora, o lábio inferior tremendo, seu semblante rígido.
— Se eu realmente acreditasse nisso, seria uma tola maior do que você, Needham.
E então, ela girou nos calcanhares e começou a se afastar dele.
Mulher irritante.
Criatura desafiadora.
Anjo lindo, deslumbrante, imprudente e ferido.
Ela era todas essas coisas. E ele havia subestimado o quanto a desejaria. O quanto estar em sua presença o afetaria. O tempo costumava enganar um homem fazendo-o acreditar que estava curado.
Mas agora, sabia o quão errado estava.
Ele seguiu atrás dela da mesma forma, admirando o babado de suas saias enquanto ela se movia na direção da silhueta de Gibbons que desaparecia rapidamente. Ele a pegou em três passadas e a segurou pelo cotovelo, forçando-a a parar e encará-lo.
— Acredite no que estou dizendo, Nell — disse ele então, arriscando-se.
— Você me perguntou por que eu voltei. São muitas razões. Nunca deveria ter ficado tanto tempo longe, mas pensei que chegaria o dia em que você responderia às minhas cartas, pedindo que eu voltasse. Quando você finalmente respondeu apenas para me pedir o divórcio, percebi o quanto me enganei sobre tudo. Não posso me perdoar pelo que aconteceu naquela noite. Por beijá-la de volta. Por ficar tão embriagado que nem conseguia distinguir minha esposa de outra mulher em minha cama. Se você me odeia pelo que aconteceu naquela noite, tenha certeza de que seu ódio empalidece em comparação ao meu. Mas eu não fiz amor com ela.
Ela balançou a cabeça.
— Você está mentindo. Depois, ouvi de outras senhoras que me contaram sobre seus modos de flerte. Incontáveis senhoras a quem convidou para se juntarem a você na cama. Tudo isso enquanto professava me amar. Você me acha estúpida? Me acha?
— Diga-me seus nomes, — ele exigiu.
— Elas estão mentindo, cada uma delas. Fui fiel a você, Nell. Além de beijar Lady Billingsley naquela noite, nunca beijei outra pessoa desde a noite em que nos conhecemos. Você pode dizer o mesmo?
Ele sabia que ela não podia.
Mas sua repentina palidez o gelou, mesmo assim.
— Você espera que eu acredite que você foi celibatário como um monge o tempo todo em que viajou pelo mundo, escrevendo suas reminiscências de viagens?
Ele apertou seus molares.
— Sim, quero. Porque é a verdade, Nell.
— A verdade de acordo com você. — Ela puxou o cotovelo de suas mãos e voltou a andar.
— Isto. É. A. Verdade. — Ele mordeu cada palavra enquanto a seguia. Maldição, por que ela tinha que ser tão teimosa? Tão determinada a acreditar que ele era um canalha sem coração?
Parte dele não poderia culpá-la, pois se a tivesse descoberto bêbada, beijando outro homem, ele teria rasgado o homem membro por membro. Não sabia com que facilidade teria perdoado. Mas, gostava de pensar que não a teria banido por anos, e então continuado com sua vida, beijando alegremente e indo para a cama com quem quisesse, bebendo todas as noites e dançando nas malditas mesas.
Ela parou, girando para encará-lo.
— Por que eu deveria acreditar em uma palavra que você diz? Eu vi o que aconteceu naquela noite. Você a estava beijando de volta...
— Cale a boca, — ele rosnou.
E então, ele a puxou para si e baixou os lábios nos dela, silenciando a feiura que ela estava prestes a lembrá-los. O passado estava onde pertencia. O presente estava aqui. Era agora. Eram Nell e Jack. Precisava que ela se lembrasse disso, assim como ele precisava se lembrar também. Assim como precisava se lembrar dela, essa mulher que ele amava. Esta mulher que de alguma forma se tornou uma estranha.
O primeiro toque de sua boca na dela foi como uma faísca se transformando em chama. Por um momento, ela ficou congelada em seus braços, sem reação. Ele inalou profundamente, respirando seu cheiro, prendendo-o em seus pulmões. Aqui estava à sensação que vinha perseguindo no fundo de cada garrafa há tanto tempo — aquela pressa, aquela onda intensa de sentimento.
Felicidade.
Alegria.
Fosse o que fosse, Nell deu isso a ele. Deveria tê-la beijado ontem. Ele nunca deveria ter ido embora. Deveria ter passado todos os dias dos últimos três anos sitiando-a com poesia e sedução. Mas, tinha sido orgulhoso, magoado e estúpido. E jovens, como os dois haviam sido. Ele gostava de se achar mais sábio agora.
Certamente, apreciava essa mulher em seus braços de uma forma que ele não tinha antes. Ele era como um homem faminto diante de um banquete, e ele não conseguia se saciar. Seus lábios eram macios. O doce e surpreso miado de aquiescência que ela fez enviou um raio de luxúria para seu pênis. E então, os braços dela enlaçaram seu pescoço, em vez de empurrá-lo.
Foi glorioso.
Incrível.
Ele aprofundou o beijo. Ela se abriu para ele, sua língua deslizando contra a dele.
O tempo havia passado, mas isso, a conexão que sempre compartilharam, não mudou. Ela o beijou de volta com uma intensidade furiosa e arrebatadora. E ele a beijou com o mesmo fervor voraz. Estava faminto por ela. Festejando com seus lábios e língua. Suas mãos estavam na parte inferior de suas costas, ancorando-a nele.
Ele desejou não estar usando luvas.
Ele desejou que não estivessem no meio da estrada.
Mas ele era ganancioso e estava há muito tempo sem ela, e a tomaria de qualquer maneira que pudesse tê-la. Ela tinha um gosto doce, tão doce. Poderia beijá-la assim para sempre. Beijá-la no calor do sol poente. Beijá-la com o ar úmido e perfumado ao seu redor. Beijá-la até que sua boca doesse, até que seus lábios estivessem inchados e vermelhos com a força de sua reivindicação.
Ele aprofundou o beijo, sua mão deslizando por sua espinha, até a pele de sua nuca. Seus dedos mergulharam em seu cabelo. Ele se perguntou se era tão sedoso e suave quanto se lembrava. Através de suas luvas finas, estava quente por causa do calor dela, do dia. Segurou sua cabeça, inclinando do jeito que queria, para que pudesse beijá-la com mais força. Mais profundamente. Para que pudesse beijá-la do jeito que queria fodê-la: apagando todas as memórias de qualquer outra pessoa que já tivesse conhecido seus lábios, seu corpo.
O ciúme o atingiu, afiado como uma lâmina, afundando-se nele.
Seus dedos se apertaram em seu cabelo, e ele cravou os dentes na plenitude de seu lábio inferior, punindo-a dessa maneira. Mas ela não pareceu se importar com a picada. Em vez disso, ela fez um ronronar baixo em sua garganta, e então suas mãos estavam em seu cabelo também. Ela estava agarrando tufos, puxando.
O prazer estava à beira da dor.
E ele estava bem com isso. Eles sempre foram explosivos juntos. Agora, havia raiva e inimizade para acompanhar a paixão. Eram mais velhos, não mais sábios. Estavam amargurados, preparados para a briga.
Com a mão aninhada na parte inferior de suas costas, ele a arrastou para mais perto, até que seu pênis rígido estava pressionando a suavidade de sua barriga. Queria que ela sentisse o quanto a queria. Para relembrar todas aquelas noites selvagens que compartilharam. E os dias também. As manhãs.
Ele a tinha levado em quase todos os aposentos de sua casa em Londres. Não foi o suficiente. Nunca o suficiente. Nas longas noites solitárias, ele pensara nesses momentos frenéticos, naqueles encontros acalorados. Eles o sustentaram.
Mas agora, ele a tinha. Tinha sua boca. Seu gosto. Sua língua.
Ele precisava de mais. Sua pele, seu corpo, sua rendição.
Ele se contentaria com sua pele. Ele afastou os lábios dos dela e beijou sua mandíbula, sua orelha.
— Você é minha, — ele sussurrou. Ele beijou sua garganta, encontrando o cordão tenro que sempre provocou uma reação nela, beliscando.
— Minha.
— Não, — ela disse a ele.
— Nunca.
Mas ela não fez nenhum movimento para se livrar de seu aperto. Em vez disso, inclinou a cabeça para trás. Seu chapéu caiu no cascalho a seus pés. Ele inalou profundamente, o cheiro dela aqui: mulher adorável, flores e Nell. Amada. Ele iria marcá-la aqui. Colocar sua reivindicação sobre ela.
Ele deixaria para trás evidências para o maldito Tom sobre de quem ela era esposa. De quem permaneceria esposa. Dele. Talvez o instinto fosse bárbaro, mas desde o momento em que surgiu, não conseguiu se livrar dele. Ele abriu a boca em sua garganta, sugando sua pele cremosa. Chupando até ter certeza de que sua pele estava machucada.
Ela estava salgada e deliciosa.
Ela gemeu, pressionando-se mais perto.
Seu pênis aprovou, aninhado contra ela com tanta firmeza que tudo o que precisava era um pouco de fricção para gozar em suas calças. Ele soltou sua pele, afastando-se o suficiente para ver sua marca sobre ela. A satisfação correu por ele.
Ele tomou seus lábios novamente, asperamente, rudemente. Não pôde evitar. Não havia sutileza nele quando se tratava dela. Não havia cautela, não havia ternura. Havia apenas uma necessidade absoluta e devastadora. Necessidade implacável.
E foi então que ele sentiu. Umidade.
Chuva? Não havia nenhuma nuvem no céu, ele jurou.
Não chovia. Salgado, como sua pele tinha estado. Em seus lábios.
Ele ergueu a cabeça. Os olhos de Nell estavam arregalados, tão azuis que eram quase violetas, carregados de lágrimas. Trilhas rastreadas por suas bochechas. Brilhavam em sua boca devastada por beijos. Impossível. Sua guerreira vigorosa e infatigável estava chorando.
Ele se revolveu contra a onda de sua própria emoção, uma bola subindo por sua garganta.
— Por quê?
Por fim, ela empurrou seu peito, cambaleando para longe. Ela limpou o rosto com as costas da mão, o lábio inferior tremendo.
— Você não tinha o direito.
— De beijar minha esposa? — Ele se moveu em direção a ela, a fúria crescendo, junto com o desejo desenfreado.
— De lembrá-la de como as coisas eram entre nós? O que eu não tinha o direito de fazer, Nell? Diga! De fazer você me querer de novo?
Ela balançou a cabeça.
— Você não tinha o direito de me tocar. De ter familiaridades comigo. Eu não quero você.
— Mentiras. — Ele estava com raiva de si mesmo por perder o controle. Mas, com mais raiva dela por continuar a ser tão teimosa. Por negar o que tiveram uma vez — e o que tinham agora.
— Você me quer, maldita seja. Senti isso em seu beijo, na maneira como você respondeu a mim. Não esqueci como somos juntos, Nell. E nem você, não importa o quão duro você esteja lutando contra mim.
Ela balançou a cabeça.
— Me deixe em paz. Me recuso a esperar aqui com você. Estou voltando para Needham Hall. Sozinha!
O inferno que ela estava.
Mas ela já tinha girado nos calcanhares e estava se afastando dele. Sombriamente, ele se abaixou e pegou o chapéu dela. O sol ainda estava alto o suficiente no céu para que sua pele clara queimasse se ela não tivesse uma aba para proteger o rosto.
Então, foi atrás dela.
Capítulo 05
Retornar caminhando para Needham House tinha sido um erro.
Nell admitiu na manhã seguinte, ao se levantar da cama, os calcanhares doloridos e seus pés com bolhas irradiaram tanta dor que ela gritou e caiu de joelhos. Suas belas botas não foram feitas para a caminhada de um quilômetro até a casa. Recusar-se a aceitar o próprio chapéu das mãos de Needham foi outro erro de julgamento, reconheceu severamente enquanto pressionava a mão na testa aquecida.
Sua pele estava queimada. Seus pés estavam ensanguentados e em carne viva.
Um soluço brotou em sua garganta. Mais lágrimas que ela não tinha vontade de chorar.
Mas o maior erro de ontem? Isso não foi apenas permitir que Needham a beijasse, mas beijá-lo de volta. E o querendo também. Ela havia traído a si mesma, ao seu orgulho e a Tom também.
A porta que ligava o quarto dela ao de Needham se abriu e ele cruzou a soleira, vestindo nada mais que um robe. Era confeccionado em seda azul-marinho e tinha um dragão bordado nele. Provavelmente algo que comprou em suas viagens. O pensamento enviou uma onda estranha e indesejada de ressentimento por ela.
Mas, não teve muito tempo para pensar nisso, pois ele estava correndo, a vestimenta solta batendo em torno de suas panturrilhas bem formadas. Até mesmo seus pés estavam descalços. Ela jurou que avistou um joelho e, acima dele, uma coxa forte e masculina.
— Nell? Que diabo é o problema? Eu ouvi uma comoção. O que você está fazendo no chão? — Ele perguntou enquanto seguia em frente.
Ele se moveu à vontade. Embora a tivesse seguido durante todo o caminho de volta para Needham Hall, segurando o chapéu dela nas mãos como se fosse um pássaro ferido que ele buscava proteger, pedindo que ela o usasse a cada quarto de hora, ele aparentemente não sofreu nenhum efeito adverso da terrível viagem de ontem. O mesmo nunca aconteceria com Tom. Quando chegaram a casa, ela estava desesperadamente exausta, seu estômago implorando para que parasse e finalmente jantasse.
Ela pediu uma bandeja em seu quarto e prontamente adormeceu.
E poderia jurar que havia trancado a porta entre seus aposentos. Talvez estivesse tão cansada que se esqueceu de tomar precauções contra a transgressão de seu marido.
— Estou perfeitamente bem, — ela mentiu. — Meus pés doem um pouco esta manhã e perdi o equilíbrio.
Ele se ajoelhou ao lado dela, o rosto contraído de preocupação.
— Meu Deus, Nell, seus pés estão feridos.
Ele tocou seu tornozelo e ela estremeceu com o contato. Ela não usava nada mais do que um frágil penhoar noturno, puxados até os joelhos, e ele também não tinha muito mais sobre si mesmo.
— Meus pés não são da sua conta, — ela retrucou.
— O que você está fazendo no meu quarto? Saia.
Sendo Needham, ele a ignorou, pegando gentilmente seu pé direito nas mãos.
— Bom Deus, mulher. Você precisa cuidar deles antes que a infecção se instale.
— Eu farei isso imediatamente. — Ela agarrou seu pulso, com a intenção de puxar seu toque para longe dela.
Isso também foi um erro. Porque sob a manga esvoaçante de seu roupão, sua pele estava quente. Tocá-lo enviou um choque através dela. A sensação nítida do cabelo escuro em seu braço deixou-a tensa. Por um momento estranho e inescrupuloso, ela pensou em pegar a mão grande dele e pressioná-la contra o seio.
Seus mamilos ficaram duros, cutucando o tecido de sua camisola. Esperava que ele não percebesse. Ou, se o fizesse, presumiria que ela apenas estava com frio. Que mortificante sentir-se atraída por ele tão desesperadamente, depois de todo esse tempo e de tudo que ele tinha feito.
— Eu cuidarei de você, — ele respondeu calmamente, puxando-se de seu alcance.
Antes que ela pudesse protestar, ele se levantou então se abaixou e a pegou em seus braços como se ela pesasse quase nada.
— Needham!
— Você pode me chamar de Jack, — ele a corrigiu, sua mandíbula dura enquanto caminhava com ela através de seu quarto até a cadeira estofada que ela mantinha perto da lareira.
Chamá-lo de Jack era muita intimidade.
E ela não podia se dar ao luxo de ser íntima com ele. Porque já havia permitido que ele cruzasse muitas fronteiras. Ela já havia se provado tolamente fraca no que dizia respeito a este homem.
— Ponha-me no chão, Needham, — ela exigiu ao invés.
Ele o fez, obedecendo-a para variar, enquanto a abaixava suavemente para a cadeira. Como se ela fosse feita de porcelana em vez de carne e osso. Ele pairou sobre ela então, seus rostos nariz com nariz.
Ele era absolutamente lindo, ainda mais pela luz da manhã. Seu cabelo escuro estava despenteado. Ele estava privado de toda a elegância despreocupada que normalmente o acompanhava. Quando estava assim, ela não conseguia deixar de lembrar como era acordar em sua cama com ele. Rolar contra ele e tomar seu pênis em sua mão, acariciá-lo e beijá-lo em uma leitura desperta.
— Vou buscar uma bacia, um pouco de água, um pouco de sabão e pomada, — disse ele, dissipando sua memória com a frieza de suas palavras.
— Não se atreva a se mover enquanto eu estiver fora.
— Você não pode me dar ordens. — Ela franziu o cenho, magoada por ele — sua presença em seu quarto, sua teimosa insistência em estar para sempre ao seu lado, a maneira como a tocava.
A maneira como a beijou ontem.
— Eu posso, mas estou plenamente ciente de que isso não significa que você vai ouvir. — O olhar dele percorreu o rosto dela e ele também franziu o cenho.
— Sua pele queimou no sol ontem.
Que bom que ele notou.
— Não queimou. — Ela nem sabia por que negava. A prova estava em sua testa rosada e dolorida. Provavelmente se parecia com uma beterraba.
— Você deveria ter me ouvido e aceitado o seu chapéu de volta. — Seus lábios se contraíram. Ele exalava desaprovação mais uma vez.
Ela pensou, de forma bastante absurda, sobre a sensação da barba dele, raspando sobre ela ontem. Não esperava que fosse tão... agradável. Não tinha pensado que gostaria tanto.
— Vá embora e não volte, — disse ela, expulsando todos esses pensamentos de sua mente.
— Vou chamar minha criada de quarto, e ela vai me buscar o que eu precisar.
Ainda assim, ele não se levantou. Ele permaneceu onde estava, perto o suficiente para beijar.
Pensamento estúpido.
Desejo estúpido.
Coração estúpido.
— Permita-me, Nell, — disse ele, atentamente.
E ela não podia deixar de sentir que ele estava pedindo uma concessão maior do que simplesmente para permitir que cuidasse de seus pés com bolhas.
— Por que você se importa se me machuquei? — Ela exigiu, agarrando-se à sua atitude defensiva ao invés de demorar-se nos desejos loucos que a percorriam.
— Deveria pensar que você estaria exultando com o fato de que você estava certo, e se tivesse te ouvido, não teria nem pés com bolhas nem rosto queimado de sol.
Beijá-lo fez algo com ela, claramente.
Confundiu seu juízo.
Ele a assustou ao apontar um dedo indicador longo e solitário e acariciá-lo suavemente pela ponte do nariz.
— Por que eu ficaria satisfeito por você estar com dor? Que tipo de besta você acha que sou? Pensei que você tinha dito que sua pele não tinha queimado.
Ela gostou do calor de seu toque, da ternura do gesto. Demais.
E se odiava por isso.
— Talvez minha pele tenha queimado, só um pouco, — reconheceu, também desprezando o tom rouco de sua voz.
— Você tem sardas, — disse ele, — assim como na vez em que fizemos o piquenique com vista para o lago aqui. Você se lembra daquele dia?
Sim, lembrava. As memórias a queimaram de dentro para fora, enviando uma batida pulsante de desejo diretamente para seu corpo. Apesar da dor das bolhas em seus pés, a necessidade pulsou para a vida, criando uma dor tão forte dentro dela que teve que apertar as coxas para tentar evitá-la.
Ela não teve sucesso, no entanto, porque a ação apenas aumentou a sensação.
Seu olhar mergulhou em seus lábios.
— Você se lembra disso, não é? Alimentei você com morangos. Estávamos observando os patos.
— Você estava observando os patos, — ela corrigiu antes que pudesse pensar melhor em sua admissão.
— Eu estava observando os cisnes.
— Você leu poesia para mim. — Ele sorriu um sorriso verdadeiro, que enrugou os cantos de seus olhos magníficos. — 'Ela dorme um sono encantador: não a desperte. '
Ele lembrou.
— Goblin Market1. O poema era Dream Land.
O volume era de Christina Rossetti. Aquele dia de verão parecia encantador. Ele lhe deu morangos, uma mordida de cada vez, e eles se beijaram, suas línguas emaranhadas, suco de frutas pegajoso e doce em suas bocas. Ela havia lido poemas para ele com a cabeça no colo, acariciando seus cabelos.
Ela havia tirado o chapéu e largado a sombrinha. E mais tarde, seus beijos e poesia não foram suficientes. Ele a rolou de costas e fez amor com ela lá na colina com vista para o lago artificial de Needham Hall.
— Você realmente se lembra, — disse ele.
Como não lembraria? Muitos detalhes retornaram.
Ela disse a si mesma que não significavam nada. Que o dia distante também não significou nada.
Se ela acreditasse em si mesma.
— Também me lembro de outros dias, — acrescentou ela, perseguindo a memória, os pensamentos.
— O dia mais claro de todos é aquele em que você me traiu. Mas essa não foi à única vez em que você foi infiel a mim, foi Needham?
Sua mandíbula ficou tensa sob a barba, os lábios firmes em uma linha fina e áspera.
— O que aconteceu naquele dia foi um erro. Isso nunca aconteceu antes e nem aconteceu depois.
Novamente com seus protestos, ele permaneceu fiel a ela por três anos.
— Não acredito em uma palavra que sai da sua boca, — disse ela.
E oh, que boca bonita e perversa era. Se pudesse parar de imaginar como era a sensação. Como tinha sido seu beijo.
— Você ainda os alimenta? — Ele lhe perguntou de repente.
Instantaneamente, ela soube do que ele estava falando.
Os patos. Os cisnes.
Claro que ainda os alimentava.
— Os pássaros? Não. — A mentira saiu porque queria irritá-lo. Não queria que ele pensasse que ainda tinha o poder de conhecê-la, embora tivesse.
— Eu os deixo para serem cuidados por outros. Estou muito ocupada para eles agora.
Ele inclinou a cabeça.
— Que pena, Nell. Eu sei quanta alegria eles trouxeram para você. Espero que não tenha parado porque...
Aparentemente pensando melhor em suas palavras, ele permitiu que elas parassem e se levantou.
— Por sua causa? — Ela levantou uma sobrancelha para ele, esperando que o fizesse se sentir pequeno e tolo, da mesma forma que ele a fazia se sentir tão frequentemente.
— Não seja um idiota, Needham. Raramente pensei em você em todos estes últimos anos. Certamente não deixaria você me impedir de fazer qualquer coisa que eu quisesse, pois tenho certeza que você já sabe se seguiu as fofocas como diz que fez.
— Claro. — Houve um lampejo de algo em sua expressão, em seus olhos.
— Fique aqui, Nell. Estarei de volta em um momento.
Ele não esperou por sua resposta. Ela o observou ir embora, seu robe esvoaçando ao redor de suas panturrilhas magras, e se perguntou a emoção que vislumbrara. Doeu? Certamente não. Se ele tivesse sentido alguma coisa por ela — se o amor que uma vez professou sentir por ela fosse verdadeiro — nunca teria outra mulher em sua cama. Nem a teria deixado por três anos.
Se ele a amasse, teria lutado por ela. Em vez disso, foi embora.
Ele desapareceu pela porta que ligava seus aposentos. Ela olhou confusa para o espaço onde ele estivera.
Para a surpresa de Jack, Nell ainda estava onde a havia deixado quando voltou com os suprimentos de que precisava — panos, bacia, água, sabão, pomada calmante e um pequeno pote de babosa.
Ela o observou em silêncio, seus pequenos tornozelos cruzados, sua camisola cuidadosamente abaixada para que a bainha roçasse o topo de seus pés. Era evidente que ela havia se arranjado para expor o mínimo possível de sua pele. Ele já tinha visto, conhecido, saboreado e amado cada centímetro requintado dela. Mas sua necessidade de se esconder dele era uma manifestação das paredes que ela continuamente reconstruía cada vez que ele se aplaudia por tê-las derrubado.
Sua testa alta estava vermelha do sol que ela absorveu na tarde anterior em sua determinação de frustrá-lo. Felizmente para ela, ele também tinha um remédio para isso. Graças a suas viagens, ele aprendeu muito sobre como cuidar de suas próprias doenças e ferimentos.
Jack trouxe sua coleção para ela e ajoelhou se a seus pés, no tapete, arrumando todos os seus acessórios.
— Você não fugiu, — ele observou secamente.
Ela franziu os lábios.
— Meus pés doem como o diabo.
Ah, isso explica tudo. Ela estava com muita dor para ser desafiadora.
— Você nunca deveria ter andado com essas malditas botas, — disse ele, mergulhando o pano limpo na tigela de água enquanto pensava nos calçados da moda, mas ainda altamente imprudentes, que ela usara no dia anterior.
A água não estava tão quente quanto ele teria preferido, mas teria que servir. Ele ensaboou o pano, olhando a quando ela fez um som sibilante que ele reconheceu muito bem.
Ela estava irritada com ele.
— Talvez você devesse ter emitido seu aviso ontem, meu senhor. — Sua voz estava azeda.
— Eu fiz. — Ele desviou o olhar de volta para seu rosto lindo. Nem mesmo as horas sob o sol que ela não estava acostumada a ter sobre a pele podiam alterar sua beleza. Mesmo queimada de sol, cansada e com dor, ela era tão linda que o fazia doer.
— Você me disse para ir para a casa de Hades. Repetidamente.
Ela franziu os lábios.
— Acho que também lhe disse para afixar pesos de chumbo em seus tornozelos e entrar no lago.
Ela disse.
Ele escolheu ignorar a farpa então, como fez agora. Segurou seu tornozelo esquerdo e ergueu seu pé destruído. Só de ver as bolhas vermelhas e raivosas em seu calcanhar o deixou abalado. Ela tinha se machucado tão gravemente, tudo para escapar dele. E o que ele fez? Ele a seguiu.
— Certamente você estava com dor ontem, — ele observou em vez disso, usando suavemente o pano sobre sua carne vermelha.
Ela assobiou um suspiro de forma muito mais violenta, seu corpo inteiro estremecendo com o toque do pano em seu calcanhar.
— Eu estava muito ocupada tentando fugir de sua presença odiosa para notar. Isso dói como o diabo, Needham. Você tem que ser tão rude? Acho que você sente muito prazer em me causar dor.
Nunca. Ele nunca mais quis machucá-la de novo. Não fisicamente. Nem emocionalmente.
Ele limpou as bolhas arrebentadas com movimentos lentos e suaves antes de devolver o pano à bacia e torcer, enxaguando o sabão.
— Não desejo machucar você, Nell. Estou tentando ajudá-la. Testemunhe-me, de joelhos, diante de você.
Era verdade. Ele nunca tinha estado de joelhos diante de qualquer outra mulher além dela. Ele podia se lembrar de todas as ocasiões em que estivera assim. E em todas essas ocasiões, seu rosto tinha estado enterrado entre suas belas pernas, em vez de pairar sobre seus pés feridos.
Ela o estudou, seus dedos agarrando os braços de sua cadeira estofada com tanta força que seus nós dos dedos estavam brancos.
— Não confio em você.
Ela deixou isso mais do que aparente. Nos últimos três anos.
Ele largou o pano molhado de volta na bacia e pegou a toalha limpa e seca, gentilmente enxugando sua pele enrugada. Quando ela se encolheu e estremeceu, ele percebeu, desacelerando e suavizando seus cuidados. Ao fazer isso, não pôde deixar de admirar seus pés. Eles eram delicados, tão pequenos. Pelo menos metade do tamanho de seus próprios pés bestiais.
— Você pode confiar em mim, Nellie — disse ele por fim, ousando usar o apelido que outrora usara para ela.
Ela endureceu e tentou puxar o pé de suas mãos, mas ele segurou firme.
— Não me chame disso.
Ele pegou a lata de pomada, abriu e aplicou uma porção generosa sobre as bolhas.
— Por que não?
— Ninguém me chama assim, — ela retrucou.
— Eu sou Nell. Nellie era uma garota estúpida. Uma idiota ingênua. Uma sonhadora sem esperança.
Ele amarrou uma bandagem suave e improvisada em torno de seu calcanhar e depois a olhou.
— Você ainda parece Nellie para mim. Você ainda tem o gosto dela também. Você beija como ela. Você cheira como ela.
Ela se encolheu. Ele absorveu o efeito de suas palavras sobre ela, os dedos ainda persistentes em seu tornozelo. Ele tinha outro pé para cuidar, mas estava trabalhando em mais do que as bolhas, e os dois sabiam disso.
Talvez ele fosse o vilão cruel que ela acreditava, mas de uma forma totalmente diferente.
Porque ele não se via parar. Jack era egoísta, ganancioso e faminto. Não tinha misericórdia quando se tratava dela. Já havia esperado muito tempo. Ele a queria de volta e pretendia conquistá-la, cortejá-la, conquistá-la, da maneira que deveria.
— Eu não sou a garota com quem você se casou, — ela insistiu.
— Nunca poderia voltar a sê-la. Não quero. Aprendi muito.
Ele não queria pensar no que ela pode ter aprendido. Parte de seu conhecimento talvez fosse carnal. As fofocas certamente sugeriam isso. Ele não podia pensar naquilo que não podia mudar. Ela ainda era a mulher que ele amava, apesar de seus protestos em contrário.
— Você sempre será a garota com quem me casei. — Ele se esforçou para manter a voz calma até mesmo quando retirou o outro pé dela e começou a fazer as mesmas abluções.
— Você não pode mudar isso, não importa o quanto você desejasse que pudesse. Você será para sempre minha Nellie, a garota que me alimentou com abacaxi e uvas com sua mão, que lia poesia para mim e alimentava os pássaros do lago, que galopava pelo parque comigo, que fazia amor comigo nos jardins nas noites enluaradas de verão...
— Pare, — ela grunhiu.
— Pare de falar.
Ela não deixava de ser afetada por ele, por suas memórias, por quem eles eram um para o outro. Ele sabia disso. Ele percebeu isso. Ontem, quando ela o beijou de volta, ele teve a resposta para a pergunta que o atormentava desde que decidiu que deveria voltar para ela independentemente de seus desejos.
Ele poderia conquistá-la?
Sim.
Ele tinha esperança. Ela não era uma fortaleza.
— Você não se importa em lembrar, Nellie? — Ele perguntou calmamente, aplicando pomada nas bolhas arrebentadas de seu outro pé.
— Pare de me chamar assim, — ela ordenou entre os dentes.
Sua voz estava quase desesperada. Deveria ter pena dela, mas estava decidida a desconfiar dele, a acreditar no pior, a deixá-lo por outro homem.
Nunca. Não enquanto eu ainda tiver respiração em meu corpo.
Ele também colocou uma bandagem em volta do calcanhar.
— Parar de chamá-la de Nellie ou pare de lembrá-la do que tínhamos?
— Ambos. — Seu tom era duro. Cortante. Amargurado.
— O que tínhamos era uma mentira e, como já disse, não sou a mesma garota que você conheceu.
— O que aconteceu com ela? — Ele perguntou, acariciando seu tornozelo, embora tivesse terminado sua tarefa.
Ele não podia suportar interromper este momento, sua conexão. Se ele não podia alcançá-la emocionalmente, tinha que acreditar que podia fisicamente. Acariciou a saliência do osso do tornozelo com o polegar.
— Uma nova Nell ressuscitou das cinzas. — Ela puxou o pé para longe dele.
— Aquela que não quer nada com você. Obrigada por sua gentileza. Mas agora, por favor, saia. Eu gostaria de me vestir.
Ele pensou em se oferecer para fazer o papel de criada também, mas decidiu não pressioná-la muito. Quando se tratava de reconquistar sua esposa, ele precisaria travar um cerco lento e constante.
Ele se levantou e ofereceu a ela o pote de babosa.
— Como quiser minha querida. Mas você pode querer usar isso em sua queimadura de sol. Ele faz maravilhas para resfriar e curar sua pele confie em mim neste assunto. Vejo-te no café da manhã.
Capítulo 06
Nell evitou o café da manhã.
Em vez disso, pediu uma bandeja em seu quarto, mandou um bilhete a Tom na aldeia pedindo-lhe que se juntasse a ela para que pudessem finalmente falar, e então mancou para a biblioteca. Ela se acomodou perto das enormes janelas com vista para o lago, um livro no colo, e tentou se distrair.
Mas não importava o quanto tentasse ficar absorta no último volume de poesia, publicado por sua querida amiga Maggie, marquesa de Sandhurst, ela não conseguia parar de pensar nos escritos de viagem de Needham, escondidos em seu quarto, o primeiro volume meio lido. Também não conseguia parar de pensar nele cuidando de seus pés com bolhas.
De onde vinha à pomada e o unguento que ele lhe dera para as queimaduras de sol?
Por que estava sendo tão solícito, tão amável? Como se estivesse preocupado com ela?
Ela franziu a testa para a página, e então voltou seu olhar para a janela. A grama era verde, a colina descia em direção ao lago. No lado oposto, grupos de flores desabrochavam em amarelo, rosa e lavanda. O dia estava ensolarado e quente mais uma vez.
— Achei que talvez fosse encontrar você aqui.
Ela saltou e emitiu um grito nada feminino pela voz inesperada e baixa que cortou o silêncio pacífico. Needham cruzou a soleira da biblioteca, usando botas de montaria. Seu cabelo ondulado parecia ter sido despenteado pelo vento. Suas calças abraçavam suas coxas magras e musculosas.
Ela bufou um suspiro irritado.
— O que você está fazendo aqui, Needham?
Parecia ser a pergunta que ela fazia com muita regularidade.
— Eu moro aqui. — Ele deu a ela um de seus sorrisos sem esforço que a fizeram se lembrar de seus dias de namoro.
Ela havia se esquecido de como seu marido podia ser encantador. Como era lindo também. Ele exalava um magnetismo raro e sensual que a maioria dos cavalheiros jamais esperaria possuir. Quando ele entrava em uma sala, o ar parecia chiar.
— Eu sei por que você está em Needham Hall, ou pelo menos porque afirma estar aqui. — Ela o encarou com um olhar penetrante.
— Queria perguntar por que você está na biblioteca. Você não vê que desejo ficar sozinha?
— Talvez eu desejasse algum material de leitura próprio, — ele sugeriu, seu sangue frio impecável enquanto caminhava em sua direção.
— Ou talvez desejasse verificar o bem-estar da minha paciente. Você não estava no café da manhã desta manhã, minha querida doente.
— Não sou uma inválida, — ela argumentou.
— Meus pés estão melhores, no entanto. Obrigada.
O último, ela ofereceu a contragosto.
Seu olhar percorreu seu rosto enquanto se aproximava dela.
— Você não aplicou a babosa no rosto, não é?
Ela franziu os lábios.
— Não.
— Teimosa. — Ele estalou a língua e sentou-se ao lado dela no divã.
Perto demais. Sua coxa roçou seu vestido. Seu cheiro a envolveu — ar fresco, ar livre, sândalo, almíscar. Ela se afastou dele, procurando escapar.
— Não sou teimosa. Realmente não queria espalhar suas misturas por todo o meu rosto antes que Tom chegasse — ela rebateu, lutando por uma calma que combinasse com a dele.
Ele enrijeceu.
— Por que diabos Sidmouth está voltando?
— Pedi para me visitar. — A irritação de Nell aumentou mais uma vez.
— É completamente irracional da sua parte esperar que eu não veja o homem com quem pretendo me casar.
Ele pegou a mão dela.
— Você já é casada, Nell. Comigo.
Como se ela pudesse esquecer esse fato infeliz. Ela se retirou de seu toque, odiando a maneira como isso acelerou seu pulso.
— Esse problema é facilmente resolvido se você usar a lógica.
— Obter o divórcio não é fácil e, se houver algo mais ilógico do que terminarmos nossa união, não consigo imaginar o que seria. — Sua voz era sombria.
— Você nega a paixão que existe entre nós?
Como ela podia?
Sua reação a ele era enfadonha.
Totalmente indesejada.
— Minha reação foi instintiva. — Mais uma vez, ela correu para a extremidade oposta do divã.
— É o mesmo para mim com todos que eu beijo.
Isso não era verdade, é claro. Ninguém jamais a afetou da maneira que Needham fez. Tinha sido uma tola por supor que o tempo e a distância diminuiria isso.
— Todos? — Ele mordeu fora, sua voz tensa enquanto seu olhar verde sondava o dela.
— Quantos outros você beijou, Nell, além de mim?
Needham foi seu primeiro beijo. Uma vez que era o único homem que ela beijou.
Ela encontrou seu olhar, desafiadora.
— Perdi a conta.
Ele se encolheu como se ela o tivesse golpeado.
— Entendo.
Por que ela sentiu uma pontada de culpa em sua reação, como se o tivesse traído? Ele fez o possível para bani-la.
— Estávamos morando separados, Needham. — Ela desviou o olhar dele então, voltando sua atenção para a janela mais uma vez.
— Por sua insistência, — ele acrescentou, corretamente.
— Porque você se deitou com outra mulher enquanto era casado comigo, — ela retornou.
— Não tenho nenhum desejo de me envolver em outra rodada interminável de discussões com você, Needham. Nenhum de nós vai vencer, e é infrutífero.
— Eu não estava discutindo, Nellie. Você estava. — Seu tom era suave mais uma vez.
Inalterado.
Ela também não gostava disso, não mais do que gostava de ser chamada de Nellie em seu decadente tom barítono.
— Eu disse para você parar de me chamar por esse nome.
— Você me disse muitas coisas desde meu retorno. — Ele parecia divertido.
Seu olhar se voltou para ele. Seus olhos estavam enrugados nos cantos. Seu coração deu uma pontada, e ela também não gostou.
— Alguém tem que desiludir você de suas noções equivocadas. — Oh, como ela se desprezou pela qualidade repentina e ofegante de sua voz.
— Não sei de quantas outras maneiras posso deixar claro para você que não desejo que essa farsa de casamento continue. Nem quero ser chamada de Nellie ou lembrada do passado. Deixe-o onde pertence, Needham, e me deixe em paz.
Sua expressão se tornou contemplativa.
— Por que isso te incomoda tanto? Se você não fosse afetada como finge, não se importaria com o nome pelo qual a chamo, nem faria objeções à nossa história compartilhada. Se você não sentisse absolutamente nada, não teria me beijado de volta.
Ela cerrou os dentes e lançou-lhe um sorriso que esperava que fosse selvagem.
— Ah, mas como já estabelecemos, eu teria retribuído o beijo de qualquer pessoa.
— É isso que estabelecemos meu amor? — Ele se inclinou para frente, até que sua respiração passou calorosamente pelos lábios dela.
— Porque entendi que a única coisa que estabelecemos é que você é uma mentirosa.
Ela engoliu em seco, reprimindo uma onda de desejo.
— Não sou uma mentirosa.
— Sim, você é. — Ele lhe deu seu meio sorriso, aquele digno de desmaio.
— Você sabe o que penso? Acho que você não quer que eu a chame de Nellie porque isso traz de volta todas as memórias do que éramos um para o outro. É mais fácil para você continuar com essa crença absurda de que quer Sidmouth quando não está pensando no que tem a perder.
Ela passou a língua nos lábios repentinamente secos.
— Já perdi o que tínhamos. De fato, eu nunca tive. O que quer que tenhamos compartilhado uma vez era uma ficção. Uma quimera. Mentiras.
— Era isso? — Ele acariciou seu queixo com aqueles dedos longos e elegantes.
— Quando fiz amor com você, pareceu uma ficção? Quando disse que te amava, parecia uma quimera? Diga-me, você tem uma fração da paixão que compartilhamos com Sidmouth. Eu te desafio.
Ela olhou para ele, perplexa. Porque ele estava certo, maldito seja. Não compartilhava dessa paixão com Tom. Ele não a deixava desesperada. Não enviava um desejo incandescente por ela simplesmente sentando-se ao seu lado em um divã. Ele não fazia seus mamilos endurecerem com um olhar ousado.
Na verdade, Tom nunca deu a ela um olhar ousado. Nunca, pelo menos não em sua lembrança.
Tom era... fofo. Agradável. Bom.
Morno, sugeriu uma voz interior. Silenciou aquela voz traidora.
Seguro. Tom era seguro. Porque ela sabia que nunca se importaria com ele do jeito que se importou com Needham. Sabia que embora se importasse com ele, não o amava. Não da maneira imprudente, selvagem e abrangente que uma vez amou o homem diante dela.
— Diga-me, Nellie, — Needham murmurou agora, seu olhar mergulhando em sua boca.
— Continue.
— O que sinto por Tom é diferente, — ela conseguiu dizer, com a voz trêmula. Hesitante.
— Ele se preocupa muito comigo.
Sua cabeça abaixou um pouco.
— Mas o que você sente por Sidmouth, Nellie?
O que ela sentia? O relacionamento deles era confortável. Ela confiava em Tom implicitamente, e essa confiança havia sido conquistada com dificuldade por ele. Ele havia mostrado a ela, com o tempo, que esperaria dela. Que era paciente. Que amava-a a tempos, mesmo quando ela fora cortejada por Needham. Ele nunca a pressionou. Nem mesmo por intimidades. Ele não a beijou e a fez sentir como se estivesse prestes a se transformar em chamas.
Mas talvez fosse essa a diferença — um homem era permanente e verdadeiro. O outro tinha sido excitante, mas muito charmoso, muito imprevisível. Um a traiu e o outro nunca.
— Não é da sua conta o que sinto por Tom, — disse a Needham.
— Meu relacionamento é com ele, e apenas com ele.
— Seu relacionamento é comigo, querida. — Seu sorriso ficou sombrio.
— Você é minha esposa. Você é amante dele. Um tem muito mais permanência do que o outro.
Oh, como ela odiava sua teimosa insistência de que permaneceriam amarrados um ao outro. Ela queria liberdade. Estava finalmente ao seu alcance, assim como a chance de se tornar mãe.
— Tom prometeu me dar o que quero o que é mais do que posso dizer sobre você ou qualquer outro homem, — disse ela com sinceridade, antes que pudesse refletir sobre as ramificações de tal declaração.
Needham, no entanto, agarrou-se a isto, arqueando as sobrancelhas escuras.
— De fato, querida esposa? Diga-me, doce Nellie, o que Sidmouth prometeu dar a você que eu não?
Ela se recusou a desviar o olhar de seu olhar.
— Crianças.
A palavra solitária pairou no ar entre eles.
Crianças.
Nell queria tornar-se mãe.
Tendo sido criado por uma mãe que era muito jovem quando o teve, e sofrendo com um pai frio e glacial, Jack não quis ter filhos assim que se casaram. Em vez disso, havia feito todos os esforços, na verdade, para evitar tal perspectiva, pensando que era importante para eles crescerem juntos. Se conhecer. Para passar o tempo bebendo descontroladamente, dando festas, fazendo amor em cada maldito quarto.
O pensamento de seu filho no ventre de Nell o encheu de uma explosão de desejo tão forte e súbito que ele quase tremeu com a força disso.
A ideia de outro homem primeiramente colocar seu filho lá, o fez querer cometer um assassinato.
— Eu posso te dar filhos, — ele disse a ela, afirmando o óbvio enquanto lutava para dar sentido à revelação dela.
— Você é minha esposa. Diga a palavra e podemos ir para cima e começar nossas tentativas agora. Maldito inferno, podemos começar aqui.
Ela balançou a cabeça, sua expressão comprimida.
— Não. Não quero filhos com um homem em quem não posso confiar.
O diabo leve isso. Como poderia provar-lhe que era digno de sua confiança? Não sabia a resposta a essa pergunta três anos atrás, assim como não sabia a resposta agora. E cada conversa com ela era semelhante a bater em uma parede de tijolos. Justamente quando pensava que eles estavam fazendo progresso, ela se mostrava implacável mais uma vez.
— Você ama Sidmouth? — Ele exigiu, a própria questão enchendo-o com uma explosão amarga de agonia.
Se ela amava outro, como poderia forçá-la a ficar? Também tinha seu orgulho.
Suas narinas dilataram-se. Antes que ela pudesse responder, no entanto, uma batida soou na porta da biblioteca. De todo o tempo podre...
— Entre, — ele mordeu fora.
Reeves apareceu na soleira.
— Lorde Sidmouth chegou, meu senhor, minha senhora.
— Diga a ele para voltar de onde ele veio, — Jack mordeu fora.
— Traga-o até mim, Reeves, — Nell disse simultaneamente.
— Meus pés estão doendo muito, eu acho.
O mordomo olhou de Jack para Nell.
— Se você tentar me impedir de vê-lo, encontrarei uma maneira, — Nell avisou, em voz baixa.
Amaldiçoe-a, provavelmente o faria. E acabou se machucando pior do que ele já havia feito no processo. Ou, pior, botar o bastardo para correr. Jack não podia tolerar nenhum desses resultados.
— Traga-o para a biblioteca, por favor.
— Como meu senhor e minha senhora desejam. — Reeves fez uma reverência e então desapareceu.
Jack se voltou para sua esposa.
— Você não respondeu minha pergunta.
Ela piscou para ele.
— Esqueci o que você perguntou.
Ele apostaria tudo o que tinha que ela não tinha esquecido.
— Perguntei se você ama Sidmouth.
— Isso não é da sua conta. — Ela se levantou de repente, gritando enquanto se erguia.
Ele se levantou também, estendendo a mão para ela.
— Droga, Nell, seus pés estão em carne viva. Você não deveria ter andado tão longe de seu quarto.
— Eu estou bem. — Ela ergueu a mão como se quisesse afastá-lo.
— Não se aproxime. Simplesmente esqueci que meus pés estavam machucados. Sua pomada faz maravilhas quando a pessoa está sentada, mas o efeito não é quase o mesmo quando a pessoa está se movendo.
— Você deveria estar descansando, — ele insistiu, irritado com ela.
Zangado com ela.
Por sua teimosia. Por não ter cuidado de si mesma. Por perseguir Sidmouth. Por se recusar a acreditar nele.
— Eu tenho bolhas. Devo viver. — Ela fez um gesto de desprezo.
Exploda-a.
— Você também está queimada de sol. — Ele permitiu que seu olhar vagasse sobre ela, observando seu vestido pela primeira vez desde que entrou na biblioteca. Era de seda, azul celeste, e combinava perfeitamente com sua linda silhueta. Parecia mais uma elegante marquesa do que a mulher selvagem e perversa sobre a qual os fofoqueiros adoravam balançar a língua.
Ele se perguntou qual Nell era a verdadeira.
Ela era um criptograma, sua esposa.
— Usei meu pó de pérola e agora está bem escondido, — disse ela, curvando-se para pegar o livro que segurava no colo, que caiu no chão na pressa de se levantar.
Então ela aplicou pó, ele pensou severamente. Ele percebeu isso quando esteve perto o suficiente para beijá-la. As sardas que ele amava mal eram visíveis na ponta de seu nariz. Mais uma prova do cuidado que ela havia tomado com sua toalete, tudo por Sidmouth.
Jack desejou que o bastardo tivesse um segundo nariz para quebrar.
Nell levantou-se, estremecendo novamente. Jack estendeu a mão para ela, colocando a mão em sua cintura quando parecia que seus joelhos fraquejaram.
— Tenha cuidado, — disse ele.
Com a mão livre, ela o empurrou.
— Pare de me tocar, Needham. Não vou permitir que você me apalpe quando Tom chegar.
— Deus me livre, — ele disse a ela acidamente.
Ela agarrou o livro com força.
— Não vou permitir que você presida meu encontro com Tom como se fosse algum acompanhante draconiano. Você não tem outro lugar para estar?
Como diabos permitiria que ela ficasse sozinha com Sidmouth.
— Querida, vou comer minhas botas de montaria antes de deixá-la sozinha com seu amante, — ele falou lentamente, odiando a palavra em sua língua.
Amante.
Odiando o homem.
Odiando a situação.
Odiando a si mesmo.
Mas não odiando Nell. Não, ele nunca poderia fazer isso. Ele a amava demais. Ele sempre amou. Sempre faria. E lutaria por ela também. Lutaria como deveria ter feito há muito tempo.
— Por que você insiste? — Nell sibilou para ele, seus olhos brilhando como fogo índigo.
— Porque você é minha esposa, — ele respondeu.
— E porque eu te amo. Eu te amei três anos atrás. Te amei no dia em que te fiz minha. Meu Deus, acho que te amei desde o momento em que te conheci. Nunca parei de amar você Nell. Acredite no que quiser de mim, mas não duvide do que sinto por você. Nunca.
Ele não tinha a intenção de dizer as palavras em voz alta, nem com tal veemência quebrada. Não aqui, não agora. O momento era... horrível. Não havia outra maneira de descrever isso. Que experiente encantador ele era, dizendo à esposa que estava apaixonado quando o amante dela estava para chegar a qualquer momento.
Deveria ter dito a ela ontem, quando a beijou sem sentido sob o calor do sol de verão. Quando ela estava flexível e aquiescente em seus braços. Quando ela o beijava com uma ferocidade que o abalou profundamente.
E Nell? Seus lábios se separaram. Ela parecia chocada. Então, como se ela fosse dizer algo...
— Lorde Sidmouth, — Reeves anunciou na entrada da biblioteca, quebrando a tensão do momento.
Porra.
Ele cerrou os punhos e girou para ver a chegada mais indesejada. Sidmouth entrou na biblioteca e fez uma reverência formal. Jack reprimiu uma risada amarga com a ação. Como se ele não tivesse acertado o punho no nariz do bastardo ontem. Como se o homem não estivesse tentando roubar-lhe sua maldita esposa.
Como se ele não o tivesse traído.
Mas não, não pensaria nisso. Ele não pensaria nos amantes que Nell tivera. De nada servia, pois ele conhecia a verdade de seus sentimentos por ela, as profundezas terríveis: apesar do que ela lhe fizera apesar do que pensava dele, ele a amaria para sempre. Nada poderia mudar isso. Nem tempo, nem distância, nem o maldito Sidmouth, nem ninguém, nem nada.
Ele ofereceu uma breve reverência e Nell fez outra, embora seus pés certamente estivessem doendo.
— Sidmouth, — ele mordeu fora.
— Needham, — reconheceu seu ex-amigo, igualmente solene.
O nariz do visconde estava inchado e descolorido, a única imperfeição no rosto do homem, de outra forma impecável. Sidmouth era um rapaz quieto, dado a noções românticas e poesia. Enquanto Jack estava envolvido com o atletismo, Sidmouth estava absorvido pelas artes. Mesmo assim, eles eram amigos, porque Jack apreciava tanto o físico quanto o intelecto.
Suas diferenças pareciam gritantes, aqui na luz forte do dia, no meio da biblioteca, a mulher que ambos amavam em pé entre eles. Jack era moreno, como sua mãe, com os olhos verdes e frios de seu pai. O visconde era loiro. Dourado. Meu Deus, ele combinava com Nell, quase como se os dois fossem um par.
— Tom, — Nell o cumprimentou calorosamente, seu sorriso genuíno, seu afeto aparente.
— Como está seu nariz? — Ele perguntou a Sidmouth incisivamente.
O olhar de Sidmouth desviou-se de Nell por fim, pousando em Jack e, naquele olhar castanho-escuro, ele detectou muito ressentimento, fúria e raiva reprimida.
— Passável. Não graças a você, Needham.
— Eu devo há você muito mais do que um nariz quebrado, — ele respondeu, querendo dizer aquelas palavras.
Ele não era um homem que normalmente se entregava à violência. Na verdade, podia contar com uma mão o número de vezes que já havia dado um soco, a menos que fosse a uma luta de aquecimento bem-humorada. Mas estar na presença do visconde Sidmouth o deixou desesperado.
— Não tenho nada além do maior respeito por Lady Needham — Sidmouth disse a ele calmamente.
Muito calmamente.
Maldito bastardo. Ele não poderia pelo menos perder um pouco de sua confiança?
— Como não tenho nada além de respeito e saudações calorosas para você, Tom, — Nell disse, oferecendo a seu amante um sorriso caloroso.
O tipo que ela uma vez deu a Jack.
O tipo que queria que ela lhe concedesse novamente.
Isso era insuportável. Ele se certificou de manter o olhar fixo em Sidmouth, e não em Nell. O que ele estava prestes a sugerir exigiria cada mínimo de bravata que possuísse.
— Vou ser claro com você, Sidmouth. Você parece persistir na esperança de que eu seja capaz de me divorciar de minha esposa. Eu não sou. Se eu fosse pedir o divórcio, o processo demoraria e envolveria um escândalo considerável para todos nós. É isso mesmo que você deseja?
— Ela não quer ficar casada com você, — Sidmouth respondeu.
— Você realmente deseja forçar uma mulher a permanecer ligada a você quando ela ama outro?
— Ah, mas ela disse que te ama, Sidmouth? — Ele não resistiu a alfinetar o outro homem.
Isso também exigia coragem. Ele estava assumindo que Nell não tinha falado essas palavras ao amante porque ela hesitou em sua resposta.
E Jack não podia negar o prazer presunçoso que o inundou com a maneira como a calma de Sidmouth se dissipou.
— Esta conversa não tem nenhum propósito, — o visconde retrucou.
— Finalmente, um assunto com o qual podemos concordar. — Ele fez o possível para injetar calma em sua voz, em seu semblante.
— Pare com isso, — Nell interrompeu então, dando a cada um deles um olhar sufocante.
— Vocês estão se comportando como crianças. Needham gostaria de um tempo com meu convidado.
— Sem chance, — ele rosnou para sua esposa.
— Por favor, Needham. — Seu tom se tornou suplicante.
— Quero falar com Tom sem público. É o mínimo que você pode fazer.
Sua resposta foi instantânea.
— Não.
Raiva e ciúme guerreavam pela supremacia.
— Needham, seja razoável, — ela incitou, sua voz suavizando.
— Conceda-me esta cortesia. É tudo o que peço. O tempo de uma hora, nada mais.
Seu queixo teimoso estava inclinado para cima, e ele sabia instintivamente que essa não era uma batalha que ele iria ganhar.
— Tempo de meia hora. Isso é tudo que eu vou te dar. — Com grande relutância, ele se voltou para Sidmouth.
— Se você tocá-la, vou quebrar o resto do seu rosto.
— Eu estarei pronto para você desta vez, — Sidmouth ousou dizer.
Os punhos de Jack já estavam cerrados ao lado do corpo. Ele estava preparado de forma semelhante. Mas ocorreu-lhe que, se estava disposto a ceder, Nell poderia ser igualmente receptiva.
Então, ele segurou a língua, ofereceu aos dois uma reverência zombeteira e saiu da biblioteca. Porque venceria este cerco, senão a batalha.
Capítulo 07
Nell esperou que Jack saísse, e não foi até que suas costas largas tivessem desaparecido sobre o batente da porta que ela percebeu que estava segurando a respiração. Ele deixou a porta entreaberta, é claro, e ela não ficaria surpresa se ele se demorasse no corredor para espiar, levando ainda mais longe sua interpretação de uma matrona.
— Venha e sente-se comigo, — ela convidou Tom, acomodando-se novamente no divã que havia desocupado recentemente.
Seus pés ainda doíam, e estava cansada de ficar em pé.
Tom estava ao seu lado em um instante, e ela não pôde deixar de notar a diferença entre a presença dele e a de Needham. Tom a fazia se sentir à vontade. Ele a fazia se sentir confortada, valorizada.
Mas não havia desejo.
Nenhum.
Ele pegou a mão dela e levou-a aos lábios para um beijo reverente.
— Como você está minha querida? Needham não incomodou você, não é?
Ela olhou para o hematoma e o inchaço em seu pobre nariz.
— Estou bem, e ele não me incomodou. Mas e você, Tom? Seu nariz...
— Deve curar, — ele terminou.
— Não se preocupe comigo. Você sabe que sou feito de material duro.
Sim ele era. Forte, bom, verdadeiro.
Ela sentiu uma forte pontada de culpa ao pensar em como havia beijado Needham no dia anterior. De como ele a fez sentir.
— Sinto muito, — ela lhe disse, apertando seus dedos.
— Se eu tivesse alguma ideia de que Needham voltaria correndo para cá assim, nunca teria te chamado aqui. Na verdade, eu nunca teria escrito para ele.
Tom deu a ela um sorriso triste.
— Se você não tivesse escrito para ele, não poderia ter pedido o divórcio.
Um divórcio que seu marido parecia cada vez menos inclinado a dar-lhe.
— Mas era melhor do jeito que era antes, não era? — Ela suspirou, tentando confundir seus sentimentos pesados.
— Eu era livre para viver minha vida como desejasse.
— Era como você desejou? — Tom franziu a testa. — Todas essas festas em casa, se afogando em vinho. Você não bebia muito na festa em casa sem a minha presença para moderar sua indulgência, não é?
Ela puxou sua mão da dele.
— Claro que não. E você dificilmente é meu guardião, Tom. Sou uma mulher adulta, bastante responsável.
Que desgraçada ela era. Tudo o que ela parecia ter feito era mentir.
— Eu vi Hilburton na estação ferroviária, — disse Tom suavemente.
— Ele me disse que você estava dançando nas mesas de novo.
Nojento Hilburton e sua língua balançando. Tom pediu que ela parasse de agir de forma imprudente. Para beber menos. Para oferecer menos festas em casa.
— Eu estava comemorando, — ela se defendeu, assim como ela fez para Needham.
— Acreditava que minha liberdade era iminente. O que mais devo fazer?
— Você prometeu que se comportaria, — disse ele.
— Eu prometi que tentaria. — Ela tentou um sorriso, mas havia muito pouca leveza a ser obtida neste momento sombrio, e ela sabia disso.
— Acho que falhei.
Não foi o único esforço em que falhou, Deus sabia.
Ele suspirou.
— Nell, eu te amo. Você sabe que eu não quero nada mais do que fazer de você minha esposa, não é?
Ele era bonito de uma maneira diferente de Needham, e isso também fazia parte de seu fascínio. Ele era claro onde Needham era escuro, quieto e calmo onde Needham era intenso e selvagem. Mas qual era a utilidade de comparar os dois?
Ela engoliu em seco.
— Claro que eu sei disso, Tom, e você sabe que eu quero o mesmo.
— Nada mudou com o retorno de Needham, — ele adicionou, sua expressão ficando sombria.
— Vou lutar por você. Se necessário, fugiremos juntos.
— Não podemos fugir, — ela descartou instantaneamente.
— E a sua reputação? O escândalo de viver abertamente com uma mulher casada iria contaminá-lo.
— Pode ser a única maneira, — ele insistiu. — Pense nisso, Nell. Se você viver abertamente comigo, o caminho para o seu divórcio será mais fácil. Serei nomeado no processo, mas terei todo o gosto em suportar qualquer escândalo para libertá-la dele. Para fazer você minha.
A abnegação de Tom fez com que outra pontada de culpa a espetasse.
— Ele me beijou, — ela deixou escapar.
Tom se encolheu como se ela o tivesse golpeado.
— Needham se impôs a você?
— Não. — A palavra foi arrancada dela, pois era uma admissão. — Ele não se forçou, Tom. Foi ontem. Eu ia falar com você e o eixo quebrou na roda da carruagem. Needham insistiu em me acompanhar. Quando o cocheiro voltou para buscar uma carruagem substituta, decidi voltar para casa sozinha em vez de ficar com Needham. Mas de alguma forma... ele me beijou.
Um músculo pulsou na mandíbula de Tom.
— Você disse que ele não a incomodou, Nell.
— Eu... — Ela lutou para encontrar as palavras adequadas e falhou. Ela precisava ser honesta com Tom, disso ela sabia. — Suas atenções não foram forçadas sobre mim, Tom.
Ele empalideceu.
— O que você está dizendo?
O que ela estava dizendo, de fato? A verdade era que suas emoções eram uma confusão desesperada e confusa. Ela tinha gostado dos beijos de Needham. Amou a maneira como se sentiu, estar de volta em seus braços. A paixão que ele despertou nela era inegável, tão real como sempre tinha sido. Ela não queria querê-lo. Mas ela queria.
— Eu gostei, — ela admitiu, porque sabia que deveria. — Sinto muito, Tom. Estou confusa. Desesperadamente, terrivelmente confusa. Não queria que ele me beijasse. Na verdade, nunca tive a intenção de que isso acontecesse. Eu parei, é claro, e voltei para casa depois disso. Mas queria ser honesta com você. Eu não terei mentiras entre nós.
Tom levantou-se como se o divã tivesse pegado fogo, afastando-se dela, passando os dedos pelos cabelos. Seu silêncio foi ensurdecedor.
— Tom? — Odiando-se por sua revelação, por sua fraqueza no que dizia respeito à Needham, ela se levantou, fechando a distância entre eles. A agonia disparou de seus pés com bolhas, mas ela a engoliu quando irradiou pelas panturrilhas.
— Você não vai dizer algo? Por favor?
Ele girou, uma emoção que ela não estava acostumada a ver afiar seu semblante.
— O que você quer que eu diga, Nell? Ele é seu marido e eu sou o homem que você nem mesmo trouxe para a cama. Você o quer em vez de a mim? Você mudou de ideia?
Ela olhou para ele, lutando consigo mesma para encontrar a resposta.
— Claro que não o quero. Eu... era um sentimento antigo, voltando para mim. Eu me esqueci. Não vai acontecer de novo, prometo a você.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Como você prometeu que se comportaria? Como você prometeu que não beberia muito Porto e dançaria nas mesas?
Se ele a tivesse golpeado, não poderia ter lhe infligido mais dor.
— Eu sinto muito por te machucar, e sinto muito sobre o Porto e a dança. Sinto muito por tudo, Tom. Você pode me perdoar?
A expressão de Tom permaneceu implacável. Feroz.
— Você o ama?
Sim, disse seu coração estúpido.
— Não, — ela negou. — Claro que não.
— Você me ama, Nell? — Ele perguntou a seguir.
Amaldiçoe Needham por sua pergunta anterior. Estava pendurada entre eles agora, pesada e perigosa. Ah, mas ela disse que te ama, Sidmouth?
— Eu me importo com você, Tom, — disse ela, sabendo que não poderia enganá-lo sobre isso, seus sentimentos.
— Mas você não me ama.
— Não sei se acredito no amor, — disse ela. — Sempre fui sincera com você sobre isso. Depois desse casamento desastroso, em que posso acreditar? Tudo o que sei sobre o amor é a dor.
Ele deu uma risada amarga e sem humor.
— Que familiar.
— Eu sinto muito, — ela repetiu. — Não vai acontecer novamente.
Ele parecia arrasado. E ela tinha feito isso. Ela era a fonte de sua dor — tanto o nariz quebrado quanto o coração.
— Você precisa pensar no que quer, Nell, — ele disse por fim. — Eu te amo há anos. Estou disposto a esperar por você, lutar por você, suportar o escândalo de tê-la ao meu lado. Mas se você preferir ficar com ele, preciso saber.
— Não é isso que eu quero. — Ela agarrou as mãos dele, tomando-as nas dela, desejando que o toque de sua pele lhe desse o mesmo choque de consciência que Needham tinha dado. — Quero me divorciar dele, e quero ser sua esposa. Eu quero ser mãe.
— Bom. — Seu olhar procurou o dela. — Se é isso que você quer, venha comigo.
Suas palavras a deixaram se sentindo estranhamente vazia. Dormente.
Mas era isso que ela deveria querer, não era? Era o que ela estava convencida de que ansiava.
— Quando? — Ela perguntou, molhando os lábios repentinamente secos.
— Vou precisar de algum tempo para fazer os arranjos. Três dias, talvez quatro.
Ela tinha tempo, então. Por que o conhecimento foi tão reconfortante?
— Sim, — ela concordou. — Eu irei com você, quando você estiver pronto para mim. É o que devemos fazer. Temo muito que Needham não me liberte deste casamento de outra forma.
Tom levou cada uma de suas mãos aos lábios, então.
— Mandarei recado. Espere por mim. E se ele tentar forçá-la ou coagi-la, prometa-me que vai embora.
Ela assentiu.
— Eu prometo.
Nell estava mais uma vez ausente para o jantar.
Quando Jack perguntou a criada de quarto, ele foi informado de que sua senhoria estava se sentindo mal e pediu uma bandeja. Mas Jack também estava se sentindo um tanto bilioso depois de permitir que sua esposa passasse um tempo sozinha com Sidmouth naquele dia. E ele não estava inclinado a permitir que ela continuasse se escondendo.
Com isso em mente, ele bateu com os nós dos dedos fortemente na porta que unia seus aposentos.
— Nell?
— Vá embora, Needham. — Sua voz estava abafada, como se ela estivesse na extremidade oposta dos apartamentos de tamanho generoso.
O diabo que ele faria.
— Por que você não estava no jantar? — Ele perguntou, tentando abrir a porta e descobrindo que estava destrancada.
— Meus pés estão doendo demais para que eu me mova muito. — Um rangido nas tábuas do assoalho do outro lado da porta desmentiu suas palavras.
— Então, eu irei até você.
— Não.
Isso estava se tornando um padrão entre eles.
— Precisamos conversar, — ele apontou, tentando apelar para o senso de razão dela. — Eu lhe dei o tempo que você solicitou com Sidmouth mais cedo. O mínimo que você pode fazer é retribuir o favor e me ouvir.
A porta se abriu, revelando Nell em outro penhoar, este de seda rosa claro com babados de renda amarela. Seu cabelo estava solto em volta dos ombros, uma profusão de cachos louros caindo por suas costas.
Ela franziu a testa para ele.
— Diga o que você deseja dizer, Needham. Estou cansada.
Ela não iria dispensá-lo tão facilmente, a atrevida teimosa.
Ele baixou o olhar para os pés dela, que ainda tinham as ataduras que ele havia amarrado em volta deles esta manhã.
— Preciso verificar suas feridas.
Ela cruzou os braços sobre o peito em uma postura defensiva que só serviu para aumentar seus seios deliciosos.
— Você se tornou médico em suas viagens?
Tão desconfiada, essa nova Nell.
— Não, — disse ele calmamente, — mas sou um homem que se preocupa com sua esposa.
Ela riu, mas o som continha pouca ou nenhuma leviandade. Nem a risada alcançou seus olhos.
— Guarde suas mentiras para sua próxima esposa.
Ele havia se esquecido de como a risada dela era linda, havia esquecido como a fazia franzir o nariz, a maneira como seus olhos brilhavam. Ele ansiava por isso agora, com um desespero que o pegou de surpresa.
— Não haverá próxima esposa, Nellie, — disse ele, apoiando o braço no batente da porta e inclinando-se para frente. — Já tenho a única esposa que sempre quis.
Seus lábios se estreitaram.
— Pena que ela não quer você.
— Pena que não acredito em você. — Ele a estudou, tomando nota das sardas, a carne avermelhada pelo sol agora visível. — Você lavou o rosto.
Suas sobrancelhas se juntaram.
— Como você sabe?
— Seu pó de pérola acabou. — Ele estendeu a mão, traçando suavemente a curva de sua bochecha orgulhosa com o polegar. — Ainda sem babosa, meu amor? Por que você insiste em ser tão teimosa?
Ela engoliu em seco e ele absorveu a vibração disso.
— Pelo que sei, sua mistura vai piorar a queimadura.
Ela realmente acreditava nele tanto como um vilão sem coração, ou ela estava apenas tentando irritá-lo? Ele não sabia dizer.
Seus olhos estavam fixos nos dela.
— Eu nunca iria querer machucar você, Nellie.
Ela fez um som de aflição.
— Eu disse para você não me chamar por esse nome.
— Por quê? — Ele não resistiu a acariciar sua bochecha antes de colocar uma mecha rebelde de cabelo atrás da orelha. — Você ainda é Nellie para mim. Você vai me deixar louco de desejo por você.
Seus lábios se separaram e os discos de jato de suas pupilas ficaram maiores.
— Cesse essa loucura.
Mas ela não se afastou, apesar de suas palavras. Em vez disso, ela permaneceu imóvel. Ele traçou o polegar sobre a espiral de sua orelha, então gentilmente pegou o lóbulo gordo e o esfregou.
— Você se lembra de quando eu brincava de empregada doméstica para você?
A lembrança chamejou em seus olhos. Ele viu e sabia que ela se lembrava assim como ele se lembrava. Depois de uma folia à noite, ele iria ao quarto dela, soltar seu cabelo, escová-lo. Remover os brincos e o colar deixá-la nua. Tornou-se um jogo sensual para eles.
— Meus pés doem e estou cansada, — ela retrucou, então se afastou de seu toque.
Mas ela não o enganou. Cada dia que passava na presença dela trazia consigo uma cachoeira de lembranças. Memórias que ele escondeu porque carregá-las perto era muito doloroso. Estar juntos novamente fez o mesmo por ela.
O casamento deles nunca foi frio, nem casto.
Tinha sido uma fúria ardente e passional.
Não era de se admirar que eles quase tivessem se queimado, como casas em chamas.
— Preciso verificar seus pés, Nellie. — Desta vez, ao contrário dos outros, seu apelido carinhoso para ela surgiu sozinho.
Suas defesas estavam espalhadas ao redor de seus pés. Ocorreu-lhe que esse era um dos motivos de ele ter ficado tanto tempo no exterior: estar perto dela tornava isso impossível de esquecer.
— Por quê? — Ela sussurrou.
E ele sabia que sua pergunta se referia a muito mais do que meramente sua necessidade de cuidar de suas bolhas.
— Porque você é uma parte de mim, — ele disse a ela, dando-lhe a verdade crua. — Você sempre foi e sempre será. Porque quero ter certeza de que você está se curando corretamente. Porque você é minha. Porque eu amo você.
Pronto. Ele disse de novo. Essas três palavras terríveis.
Ela se encolheu.
— Por favor, não tente me encantar. É fútil.
— Por que você não gosta de ouvir? É a verdade.
— Jack. Pare. — Sua voz estava rouca. Crua de emoção.
Por fim, ela usou o nome dele. Ele não tinha ouvido em seus lábios desde que a pegou em seus braços na noite em que chegou. Ouvir isso agora o encheu de uma sensação de estar certo. Ele odiava muito a maneira como ela insistia em se referir a ele como Needham. Tão afetado, tão frio, como se nunca tivessem se conhecido com uma intimidade tão viva.
— Parar o quê? — Ele persistiu, sabendo que precisava empurrá-la. Para cutucá-la.
Se ele tinha esperança de reconquistá-la, ele precisava derrubar suas paredes. Cada. Última. Pedra.
— Você sabe. — Ela deu o meio suspiro ofegante que sempre fazia quando estava agitada.
Todos esses pequenos pedaços dela que ele empurrou de sua mente. Eles voltaram agora.
— Diga-me, Nellie, — ele ousou. — O que a faz ficar tão perturbada? Não te vejo tão chateada desde o dia em que escalou a macieira e estava sem calças.
Suas bochechas ficaram vermelhas.
— Você é um canalha por me lembrar daquele dia.
— É uma boa lembrança minha, junto com tantas outras. — Seu olhar mergulhou para a plenitude de seu beicinho.
Deus, ele queria beijá-la novamente. Para sentir seus lábios. Para prová-la. Para fazê-la enrolar o corpo contra o dele.
Ela tinha beijado Sidmouth antes?
Ele perseguiu o pensamento indesejado. Ele lhes havia dado pouco tempo. Não o suficiente... Inferno. Pode ter sido o suficiente. Ele perseguiu esse pensamento também.
— Você era a razão pela qual eu estava sem calças naquele dia, — ela disse então, chocando-o com sua vontade de cair na memória. — Você também foi aquele que sugeriu que eu subisse na árvore.
Ele se viu sorrindo, revivendo aquele dia longínquo, no final do verão, não muito depois de terem se casado.
— Você se gabava de sua destreza em subir em árvores desde sua infância, pelo que me lembro. Eu meramente te desafiei para uma demonstração.
Eles estavam loucamente apaixonados. Ridiculamente felizes. Tudo era dourado — o sol, seu cabelo, o ar quente, espesso e perfumado com o final do verão e o cheiro das maçãs maduras nos galhos.
— Não subi em árvore desde então. — Ela sorriu de volta para ele, melancolicamente.
— Você se limitou a dançar nas mesas? — Ele brincou.
— Sim. — Seu sorriso morreu abruptamente. — Você está tornando isso muito mais difícil do que o necessário.
— Eu não vou parar de lutar por você, — a advertiu.
Sua carranca voltou.
— Você parou há três anos. Como se costuma dizer, o navio zarpou. Deixe-me ir, Jack.
— É isso que você quer? — A pergunta foi arrancada dele, de dentro, de seu coração, de seu intestino, de sua alma. — É nisso que você realmente acredita que parei de lutar por você? Saí porque você me pediu isso, Nellie.
— Você foi embora porque me traiu, — ela rebateu.
Ele balançou sua cabeça.
— Não da maneira que você pensa.
Ela fechou os olhos por um momento, como se tentasse controlar suas emoções. Ele conhecia bem o sentimento.
— O que você quer de mim?
Tudo.
O coração dela.
O amor dela.
Seu corpo.
Seu beijo.
A liberdade de tocá-la quando quisesse. Ela em sua cama quando o sol nasceu alto e quente no céu. Ela gerando seus filhos. Ele queria sua esposa de volta. Queria sua casa. Queria tudo o que eles haviam negado.
— Outra chance, — disse ele sem rodeios. — Isso é o que quero. Quero provar que sou digno de ser seu marido. Quero provar que não sou o homem que era três anos atrás. Que eu mudei.
Ela olhou para ele, seu olhar avaliador. Penetrante.
— Você pode ver minhas bolhas. Isso é tudo.
Ele não conseguiu conter o sorriso.
— Eu quero ver suas queimaduras de sol também. Um pouco de babosa antes de dormir à noite, e prometo que você se sentirá muito melhor pela manhã.
Sua mandíbula se apertou, mas ela assentiu e deu um passo para trás para que ele pudesse cruzar a linha de demarcação que os separava.
— Isso é tudo, e então você deverá retornar para seu próprio quarto.
— Claro Nellie — ele concordou facilmente, reprimindo o sorriso enquanto entrava no quarto dela.
Afinal, não seria bom para ela ver como ele estava satisfeito.
Cerco, ele lembrou a si mesmo. Esta era uma campanha lenta e sutil. Ele iria resistir. E vencer a maldita guerra.
Capítulo 08
Nell agarrou um punhado de milho quebrado da cesta apoiada na dobra do cotovelo e, em seguida, atirou-a para a grama a sua frente. Um pato macho e uma fêmea cambalearam em direção a sua oferta. Ela inalou profundamente o ar doce do verão, tentando acalmar seus nervos em frangalhos.
Este era seu ritual matinal enquanto residia em Needham Hall, alimentando os patos e cisnes no vasto lago artificial. Mas, na loucura que baixou após o retorno inesperado de Needham, ela negligenciou seus deveres por vários dias seguidos. O pato macho grasnou enquanto seu bico trabalhava freneticamente sobre o milho rachado, quase como se a estivesse castigando por sua ausência.
Ela dificilmente o culpou. Errou ao se perder tão facilmente.
Errada e idiota também.
A noite anterior não foi diferente, pensou franzindo o cenho enquanto pegava outro punhado de milho e o jogava na direção dos cisnes que estavam nadando. Ela estava terrivelmente despreparada para lidar com um marido que havia retornado abruptamente do Continente. Odiá-lo era fácil quando ele estava ausente. Sua raiva foi alimentada pelo tempo e pela distância. O ressentimento se espalhou, como as chamas descontroladas de um incêndio.
Ela havia permitido que Needham entrasse em seu quarto na noite anterior. Ele tinha sido terno e preocupado. Cuidou de seus pés com bolhas e, em seguida, de suas queimaduras de sol. E ele saiu, deixando-a se sentindo estranhamente desolada enquanto observava sua forma em retirada voltando para seus aposentos.
Ela balançou a cabeça para si mesma e continuou seu passeio no caminho de cascalho, que circundava o lago. As flores desabrochavam abundantes, grandes aglomerados delas. Rosas amarelas, lilases e rosas. O dia prometia mais sol. Mais calor. E, no entanto, ela sentiu como se uma nuvem de chuva a estivesse seguindo. Sentia-se sombria, enrolada e terrivelmente confusa.
Tom queria se casar com ela. Havia lhe pedido que fugisse com ele. Ele a idolatrava. E, no entanto, ela não estava preparada para simplesmente se jogar em seus braços. Se ela realmente quisesse, não tinha dúvidas de que poderia tê-lo seguido no dia anterior, quando ele saiu de Needham Hall. Ela poderia tê-lo acompanhado, forçado o divórcio.
Ela poderia ter ido para a cama com Tom, ou uma dúzia de outros homens, se ela quisesse.
Ela não tinha querido.
Porque realmente não queria. Porque a verdade terrível, horrível e miserável era que não havia nenhum homem que ela quisesse do jeito que queria Jack. Nem, ela temia, jamais haveria.
— Você realmente ainda os alimenta. Você mentiu.
As declarações, proferidas naquele barítono profundo e delicioso que ela conhecia tão bem, pegaram-na de surpresa. Com um sobressalto, ela girou para encontrar Jack se aproximando com passos fáceis e masculinos. Ele se movia com uma graça letal. Apenas observá-lo era devastador.
— Como você sabia onde me encontrar? — Ela perguntou em vez de cumprimentá-lo.
Ele era injustamente bonito, um sorriso curvando seus lábios, um chapéu vistoso cobrindo seu rosto e vestido informalmente, vestindo apenas as mangas da camisa e um colete, com calças amarelas.
— Eu olhei para fora da janela.
Sua resposta foi estranhamente desanimadora. Ele não estava procurando por ela ou perguntando por ela, então. Ela não tinha certeza do por que isso deveria afetá-la, mas de alguma forma, afetou.
— Entendo, — ela disse simplesmente, esforçando-se para esconder seu desapontamento em sua voz.
Seu sorriso se aprofundou.
— Você imaginou que eu estava te espionando? Ou que havia encarregado a equipe de me manter informado de onde você está o tempo todo?
Sim.
Por que ele tinha que conhecê-la tão bem, o idiota?
Ela voltou sua atenção para os patos, que quase haviam terminado o milho.
— Claro que não.
Ele parou ao lado dela, tão perto que seus cotovelos quase roçaram, e o dia quente de repente ficaram mais quentes. — Como está suas bolhas esta manhã?
— Curando, — disse ela, pegando outro punhado de milho e jogando quando outro casal de patos se juntou ao primeiro.
— E sua queimadura de sol?
Sua pergunta à fez pensar sobre a maneira como ele cuidou dela na noite anterior. Ele aplicou seu creme de aloe vera no rosto dela com cuidado, verificou suas bolhas nos pés, deu-lhe um beijo na bochecha e saiu.
— Está melhor hoje, obrigada. — Ela lançou-lhe um olhar. — Foi muita gentileza sua ficar preocupado comigo.
Seu olhar era mais caloroso do que os raios do sol.
— Você é minha esposa, Nellie. É meu dever me preocupar com você.
Ele lhe disse que a amava ontem. Duas vezes.
Ela não se atreveu a acreditar nele. Se a amasse, nunca teria beijado Lady Billingsley, não importa o quão profundamente estivesse bêbado. Ele nunca a teria em sua cama. Nem teria deixado para viajar pelo mundo por três malditos anos.
— Não serei sua esposa por muito tempo, — ela o lembrou tanto quanto a si mesma.
Seu sorriso desapareceu.
— Teimosa como sempre.
— Determinada. — Ela olhou de volta para os patos. Os cisnes estavam nadando da outra extremidade do lago, sem pressa.
— Por quê? — Sua pergunta suave à fez se virar para ele mais uma vez. — Você não pensa em como éramos bons juntos?
— Até aquela noite, — disse ela incisivamente. — Até descobrir quem você realmente é.
— Mas você, Nellie? — Ele inclinou a cabeça, considerando-a. — Verdadeiramente?
A irritação cresceu dentro dela. Ele não tinha o direito de voltar e fazer com que ela questionasse sua decisão.
— Claro que sim. Não pense que cuidar de meus pés com bolhas irá banir a memória daquela noite. Nada mudou.
— Eu mudei. Não sou mais o mesmo bêbado imprudente que era. — Sua expressão, assim como sua voz, era séria. Intensa. — Tendo passado os últimos três anos sem você, eu a aprecio de uma forma que nunca havia imaginado.
Ela não podia negar que ele estava diferente. Estava mais sombrio do que antes. Ela não o tinha visto beber uma gota de bebida alcoólica. No entanto, isso também não diminuiu sua culpabilidade.
— É tarde demais, Jack.
— Nunca é tarde demais, — ele rebateu. — Você ainda é minha esposa e eu ainda sou seu marido.
A agonia a atravessou. Porque parte dela queria esquecer o que acontecera três anos atrás. Parte dela queria acreditar que ele havia mudado para melhor e que podia confiar nele, que o que eles haviam compartilhado uma vez não tinha sido uma mentira. Mas, não poderia passar por tanta dor novamente.
Ela não podia se dar ao luxo de acreditar nele. A primeira vez quase provou sua ruína.
Ela desviou o olhar dele, olhando de volta para os patos.
— Apenas no nome.
Nell enfiou a mão na cesta para pegar mais milho e espalhou-o desordenadamente na grama.
— Isso também pode ser alterado. — Sua voz baixa enviou um frisson por sua espinha.
A promessa sensual não podia ser ignorada. Nem a reação de seu corpo traidor. Ela não conseguia manter trancados os sentimentos de paixão que haviam compartilhado, assim como não conseguia parar de respirar.
Ela se fortaleceu contra isso, contra sua reação a ele.
— Não, eu não posso. Vou casar-me com o Tom.
— Tenha meus filhos.
Suas palavras enviaram um choque direto através dela. Se não tivesse enganchado a alça da cesta no braço, a teria deixado cair.
Ela olhou para ele, seu coração batendo forte. Ele não estava rindo, sorrindo ou provocando. Seu charme comum e imperturbável estava ausente. Ele estava falando sério.
Uma pontada de desejo a rasgou. Uma vez, ela sonhou em ter seus bebês.
— Jack, por favor, pare.
— Por quê? — Ele pegou a cesta dela e colocou-a na grama aos pés deles e então segurou as mãos dela. — Você age como se eu fosse o homem mais ridículo do mundo, querendo permanecer casado com minha esposa, querendo que ela tivesse meus filhos. Você me disse que queria ser mãe. Eu quero fazer um com você. Eu preciso de um herdeiro. Você quer um filho. Já estamos casados. Nada faz mais sentido.
Quão perigoso ele era. Suas mãos nas dela eram quentes, reconfortantes. Ela não conseguia reunir o desejo de se livrar de suas garras. Em mais de uma maneira.
— Você me machucou, Jack, — ela admitiu, odiando-se pelo tremor em sua voz, pelo jeito que quebrou. — Eu confiei em você uma vez, e você assumiu essa confiança e a quebrou em mil pedaços na noite em que permitiu que Lady Billingsley fosse para sua cama. Quero ser mãe com um homem em quem confio quando ele me disser que me ama.
E ela confiava em Tom. Tom esperou por ela, pacientemente, docemente, por tanto tempo. Ele ainda estava esperando por ela.
Os dedos de Jack se apertaram nos dela.
— Eu sinto muito, sinto muito por aquela noite. Desejo a Deus que nunca tivesse acontecido. Gostaria de não ter estado tão envolvido com bebida a ponto de beijá-la de volta. Mas não fiz amor com outra mulher desde que nos casamos. Tenho sido fiel a você, além daqueles beijos esquecidos por Deus.
Ele era tão sério. Seu olhar nunca vacilou.
— Parte de mim gostaria de poder acreditar em você. — A admissão fugiu dela antes que pudesse pensar melhor. — Mas todos aqueles rumores, Jack... seu tempo no continente. Mesmo que eu não tivesse visto Lady Billingsley em sua cama...
O que ela estava dizendo? Que queria acreditar nele? Ela queria?
Querido Deus. Ela ainda o amava? Não. Ela não podia. Não era possível. Ela se recusava a acreditar que era tão fraca, tão tola, tão estúpida.
— Você pode acreditar em mim, Nellie, — ele insistiu.
— Não! — A veemência de sua negação ecoou, quicando na colina gramada atrás deles e ecoando sobre o lago.
Ela se desvencilhou de seu aperto e girou para longe, precisando colocar alguma distância entre eles. Seu grito e a pressa de seus movimentos assustaram os patos, que voaram de volta para a segurança da água cintilante. Seus passos a seguiram, esmagando o caminho de cascalho. Ela se moveu mais rápido, o desespero correndo por ela.
Seu pé de repente se prendeu na bainha do vestido e ela não conseguiu se salvar. Ela tropeçou, caindo de joelhos, as mãos pegando o peso de sua queda. A dor irradiava de suas palmas e joelhos.
— O diabo lhe carregue, mulher. — Ele estava lá, é claro, com as mãos nos cotovelos dela, ajudando-a a se levantar. Franzindo a testa para ela. — Você está decidida a fazer mal a si mesma?
— Estava tentando me afastar de você, o que parece um destino de Sísifo, — retrucou, irritada consigo mesma e com sua falta de graça, tanto quanto estava com raiva dele por fazê-la sentir coisas que não desejava sentir. — Há dias venho dizendo para você ir embora e me deixar em paz. Por que você não faz isso, Needham?
Ele virou as mãos dela, inspecionando o dano que ela tinha feito nas palmas. O cascalho afiado rasgou sua pele. Ele escovou delicadamente a sujeira grudada em sua carne ferida.
— Porque você é minha esposa, droga. E você claramente precisa de um guardião. Antes que a semana acabe, você será pouco mais do que um grande curativo.
Ela não pôde conter a risada indefesa que crescia em sua voz. Escapou antes que ela pudesse contê-la. Ele não estava errado — ela havia sofrido muitos contratempos após sua volta.
— Aí está, — ele disse suavemente.
Seu olhar se voltou para ele. Ele a observou com uma expressão estranha e extasiada.
— Aí está o quê?
— Sua risada. — Ele sorriu, os cantos dos olhos enrugando. — Senti saudades disso.
Ele ficava tão lindo quando sorria. Suas palavras enviaram uma nova pontada ao coração dela.
Ela fez o possível para ignorá-la.
— Eu poderia argumentar que todos os ferimentos que me aconteceram foram por sua causa.
Seu sorriso desapareceu.
— Hmm. Ou por causa de sua teimosia. Se você tivesse me ouvido sobre a espera pela carruagem, não teria sofrido bolhas. Se você estivesse de chapéu, o sol não teria queimado sua linda pele. E se você não estivesse fugindo de mim agora, não teria caído.
Mais uma vez, ele não estava errado, maldito seja.
Ela puxou as mãos dele.
— Como você gosta de se pintar de herói.
— Quando você pensa sobre isso, sou um herói. — Seu tom ficou irônico. — Afinal, te salvei de quebrar o pescoço quando você estava dançando na mesa da sala de jantar.
Droga de homem.
— Eu teria caído de pé.
— Sem dúvida. — Ele levantou uma sobrancelha, sua expressão de descrença descarada.
— Eu teria — ela insistiu.
— Como estão seus joelhos? — Ele perguntou em vez de discutir com ela.
Eles doíam. Provavelmente, ela os esfolou.
— Perfeitamente bem, — ela disse brilhantemente.
Ele deu a ela outro olhar astuto e se agachou. Ele pegou sua bainha e a levantou.
— Jack! — Ela protestou. Sua missão anterior, ele a tinha visto aqui das janelas, lembrando-a de que qualquer um poderia estar olhando para eles agora. — Não levante minhas saias.
— Estou verificando seus joelhos, não planejando violentar você. — Seu toque vagou levemente sobre seus joelhos doloridos enquanto a ignorava. — Apesar de que, já estive sob suas saias muitas vezes no passado.
O velhaco.
Ela se afastou dele.
— Não preciso de você para verificar meus joelhos. Eles ficarão bem.
— Suas meias estão arruinadas, — ele relatou, ignorando-a. — Há aquela pequena pinta adorável que sempre adorei no seu joelho direito, perfeitamente ilesa. Não acredito que você tenha cortes. Apenas hematomas.
— Pequenas misericórdias, — ela murmurou, puxando a saia de volta no lugar enquanto ele se levantava, pairando sobre ela. Suas bochechas estavam quentes, e não tinha nada a ver com o calor do sol de verão lá em cima.
— Venha, — disse ele, estendendo a mão para ela. — Precisamos limpar os arranhões em suas mãos.
Por que ele insiste em ser tão gentil? Tão preocupado com ela? Isso tornou a raiva que ela carregava por ele nos últimos três anos mais difícil de agarrar. Sem dúvida, isso fazia parte de seu plano.
— Eu mesma cuidarei deles.
Ele não disse nada, simplesmente ficou ali, a mão estendida, olhando para ela com calma.
Com um suspiro, ela cedeu, colocando a mão na dele.
— Você provavelmente vai me perseguir a cada passo do caminho.
Seus dedos se enredaram levemente nos dela, evitando sua palma ferida.
— Você não pode me abalar, Nellie. Desista.
— Nunca, — ela jurou.
Mas alguma parte dela não pôde deixar de se perguntar se sua resistência não estava desaparecendo.
Jack tinha esquecido a excelente amazona que Nell era.
Enquanto cavalgava ao lado dela na periferia da vasta floresta de Needham Hall, ele não pôde deixar de admirar seu traseiro. Já era um milagre que ela aceitasse seu convite para cavalgar, embora com as garantias de que ele faria o possível para se comportar. Mas a visão dela também era milagrosa por si só. O traje de montaria que ela vestia era escarlate. Seu chapéu era vistoso, seus cachos dourados presos em uma trança grossa que descia por suas costas.
Ela parecia um convite para pecar, e ele queria muito aceitar a oferta.
Cerco, ele se lembrou mais uma vez. Lentamente, com certeza, ele venceria essa guerra entre eles. Apenas precisava esperar seu tempo.
— Você se lembra da última vez que cavalgamos juntos? — Ele não resistiu em perguntar.
Ela o olhou carrancuda.
— Não.
Ele estava igualmente certo de que ela lembrava.
— Foi aqui em Needham Hall, — ele a lembrou. — Nós corremos e você venceu. Depois, amarramos os cavalos no riacho e fiz para você uma tiara de miosótis.
O azul das flores combinava com seus olhos.
Ela tinha suspeitado que ele permitiu que ela ganhasse, mas ele não tinha. Na verdade, sua montaria havia ultrapassado a dele.
— Não me lembro disso, — ela disse friamente.
A expressão em seu lindo rosto dizia o contrário.
— Suas mãos estão doendo? — Ele perguntou, mudando de assunto, por enquanto.
A Nell que ele conhecia já estaria galopando pelo campo.
— Eu não sou tão imprudente quanto antes, — ela disse suavemente. — Caí de Thunder e fiquei gravemente ferida.
Isso era novidade para ele.
— Quando? — Ele definiu. — Por que não fui informado?
— Foi cerca de dois meses depois que você saiu. — Ela manteve o rosto treinado para a frente, o olhar fixo no bosque de árvores no horizonte. — Eu não queria que você soubesse.
— Quão gravemente você foi ferida? — Ele perguntou em seguida, alarme queimando dentro dele.
— Um pulso quebrado e costas gravemente machucadas. — Ela lançou-lhe um olhar rápido. — Não foi tão sério quanto poderia ter sido. Eu o estava montando rápido demais e estava bebendo vinho. A culpa foi minha.
Ela estava bebendo. Andando de forma imprudente. Ela não havia dito, mas os dois sabiam o motivo. Ele.
Ele apertou seus molares.
— Droga, eu teria retornado. Teria querido saber. Você não tinha o direito de esconder isso de mim.
— Eu temia que se escrevesse para você contando o que tinha acontecido, você voltasse. — Outro relance em sua direção, este bastante sufocante. — E eu queria que você ficasse longe.
Suas palavras alojaram suas farpas firmemente em seu coração. Ela preferiu sofrer sozinha ao invés de vê-lo voltar.
— Você não deveria ter montado um cavalo enquanto estava bêbada, Nellie. Você sabe melhor.
— Eu sei. — Ela estava mais uma vez voltada para a frente, seu perfil sereno. — Mas, não me importei. Por muito tempo, não me importei com nada nem com ninguém. Mais especialmente comigo. Mas eu gostava de Thunder, e temia machucá-lo com minha tolice.
— Quando cheguei a Paris, bebi vinho suficiente para matar um homem, — disse ele. — Passei um dia inteiro bebendo e desejando a perdição.
Ela lançou-lhe um olhar.
— Passei muito tempo lhe desejando a perdição.
E ele quase a encontrou lá.
— Também te desejei lá, — confessou. — Eu dediquei muito tempo amaldiçoando o dia em que me casei com você. Para me odiar por te amar tanto.
Sua testa franzida.
— Você estava com raiva de mim? Perdoe-me por não perceber o porquê.
— Eu estava furioso com você. — Suas mãos apertaram as rédeas quando a lembrança o invadiu. — Sua falta de fé em mim foi devastadora. Ainda é. Mas também tive três anos para refletir sobre tudo o que aconteceu e perceber que teria acreditado no mesmo de você, se tivesse entrado em uma cena semelhante.
Seu queixo se ergueu, seu olhar voltou a um ponto em algum lugar além deles.
— Eu nunca tive outro homem na minha cama, Jack.
— Então, — ele concordou, odiando a onda de ciúme que acompanhou o lembrete.
— Sempre, — ela disse.
Foi à vez de ele franzir a testa.
— Lembro-me claramente de você alegremente informando que tinha fodido metade de Londres na minha ausência.
— Era uma mentira, — ela admitiu. — Não recebi ninguém na minha cama.
Ele já havia dito a si mesmo que o que ela fizera durante o tempo separados não importava. Ainda assim, ele não podia negar que ela o havia chocado.
— E quanto a Sidmouth?
— Ainda não. — Sua voz estava fria. — Decidi na próxima vez que recebesse um homem em minha cama, ele seria meu novo marido. Não desejava uma sequência interminável de amantes. Meu coração estava maltratado e machucado demais para isso.
Ela não tinha dormido com o visconde insuportável e pálido.
— Quanto tempo ele esperou até que eu saísse para farejar suas saias? — Ele perguntou severamente, sabendo que não deveria fazer a pergunta. Saber que não queria ouvir a resposta.
Sidmouth estivera apaixonado por Nell anos atrás, quando Jack a cortejava. Mas todos estavam apaixonados por Nell. Ela era cativante. Vivaz. Bonita. Tudo o que uma mulher deveria ser.
— Tom não estava farejando. — Seu tom estava irritado. Defensiva. — Você o faz parecer um cão de caça.
— Ele é um cão de caça, — ele cortou. — Eu deveria quebrar o nariz dele de novo.
— Ele tem sido um cavalheiro perfeito, — ela defendeu.
Ele apertou a mandíbula com tanta força que seus dentes doíam.
— Não se atreva a elogiá-lo para mim, madame. Você é uma mulher casada.
— Uma mulher casada com a intenção de se divorciar de seu marido indesejado para que ela possa se casar com outro. — Sua voz era áspera, sua coluna rígida.
Rapidamente, toda esperança e promessa viva dentro dele se dissiparam.
A raiva voltou sombria e amarga. Ameaçando consumir.
— Por favor, me diga por que você é tão rápida em ver o melhor em outro homem, quando você foi tão apressada em pensar o pior de mim, — ele rosnou.
Ela olhou para ele.
— Porque eu vi você, Jack.
Maldito inferno.
— Você viu uma mulher magoada que por engano se encontrou na cama errada em uma festa em casa. Não foi a primeira vez que aconteceu e nem, imagino, será a última. As festas em casa são notórias por tais acontecimentos, e Lady Billingsley estava a caminho do quarto de Sandhurst quando por engano encontrou o meu. Ele se forçou a respirar fundo, reprimindo a frustração e a dor que ele estava fazendo de tudo para manter sob controle.
— Eu poderia ter entendido tal circunstância se você não a tivesse beijado, e se ela não tivesse a mão debaixo da sua roupa — rebateu Nell.
— Desejo a Deus nunca ter tocado em uma gota de álcool naquela noite, — disse ele com firmeza. — No entanto, não posso alterar o passado. Só posso alterar o futuro.
E seu futuro a tinha nele.
Ou ele não tinha futuro.
— Não sei por que concordei em vir cavalgar com você. — Ela balançou a cabeça. — Essa discussão não vai a lugar nenhum.
— Porque você se recusa a permitir que vá a qualquer lugar, — ele apontou.
— Tom nunca me traiu, — disse ela calmamente. — Você me traiu. Já faz algum tempo que ele tem sido maravilhosamente paciente, esperando que eu tenha certeza de que ele é quem eu queria. Por todo esse tempo, não lhe permiti nada mais do que beijos, e ele está contente. Ele tem sido respeitoso, doce e gentil.
Ela beijou Sidmouth?
— Vou rasgá-lo membro por membro, — jurou.
— Chega de violência, Jack.
— Então despache seu cão, — ele disparou de volta.
Um violento estalo de trovão explodiu acima, interrompendo sua troca acalorada. Exatamente o que eles precisavam: uma tempestade. Ele olhou por cima do ombro e fez duas descobertas instantâneas. A primeira era que o céu atrás deles era de um cinza escuro agourento. A segunda era que a tempestade iria alcançá-los antes que pudessem retornar a Needham Hall.
— O céu parece furioso—, observou Nell, acalmando sua montaria com a mão enluvada.
Eles estavam tão atentos um ao outro e às terríveis memórias do passado que não perceberam que o céu estava prestes a lançar uma torrente sobre eles. O relâmpago se formou entre um par de nuvens escuras. Outro trovão estourou.
— Estamos muito longe de Needham Hall para voltar antes que a tempestade caia sobre nós, — disse ele. — Não temos escolha a não ser buscar abrigo agora e esperar até que passe.
— Não, — ela negou instantaneamente, seus olhos arregalados. — O único lugar onde poderíamos buscar abrigo tão longe da casa principal é...
— O castelo, — ele terminou por ela.
— Não lá, — disse ela. — Em qualquer lugar, menos lá.
Ele sabia o motivo de seu protesto. O castelo havia sido construído no século passado pelo sétimo marquês de Needham. Era para se parecer com as ruínas de um castelo medieval, mas estava longe o suficiente da casa principal para que também possuísse um pequeno estábulo. Era um lugar a que iam com frequência quando estavam na residência. Eles cavalgariam e entrariam no encantador mundo do castelo para fazer amor.
O trovão estrondou mais uma vez e outro raio iluminou o céu. O cavalo de Nell moveu-se nervosamente. Um vento quente soprou obviamente a antecipando a fúria. A tempestade estava chegando. Rápido.
— Receio que não tenhamos escolha, Nellie. Se tentarmos voltar para Needham Hall agora, correremos apenas o risco de sermos atingidos por um raio.
Ela deu um tapinha no pescoço de seu cavalo, parecendo preocupada.
— Muito bem. Se não houver outra opção a não ser essa, suponho que não temos escolha.
O trovão estalou novamente.
— Siga-me, — ele disse a ela, esporeando sua montaria na direção da construção. — Não temos tempo a perder.
Capítulo 09
O traje de montaria de Nell estava encharcado.
Eles não tinham chegado à construção antes que os céus se abrissem, liberando sua fúria. Ela caminhava pelo chão de pedra agora, esperando o retorno de Jack. No momento em que alcançaram a segurança, os dois estavam encharcados e o relâmpago parecia estar diretamente sobre eles. Ele a ajudou a desmontar, colocou-a para dentro do castelo enquanto ele cuidava de suas montarias, amarrando-as dentro dos velhos estábulos.
O castelo estava escuro, suas poucas janelas emitindo pequenas preciosas luzes por causa do céu escuro. A chuva açoitou a construção e outra onda de trovão veio rápido. Um flash brilhante disse a ela que mais relâmpagos seguiriam o trovão. Jack ainda estava lá fora, cuidando dos cavalos.
O vento aumentou, golpeando as paredes de pedra da velha construção, assobiando. Árvores balançaram, seus galhos dobrando-se sob o ataque. E se algo tivesse acontecido com ele?
Ela torceu as mãos enquanto caminhava pela sala mais uma vez. O cheiro era familiar — úmido e terroso, com um toque de mofo. Antes, este tinha sido um de seus lugares favoritos na propriedade. Quantas vezes ela e Jack fizeram amor aqui? Não é de admirar que as paredes não fossem assombradas pelos ecos de suas antigas risadas, os fantasmas de sua alegria anterior.
O trovão caiu.
Certamente já tinha passado tempo suficiente para ele cuidar dos cavalos? Com o medo aumentando, ela se moveu para a porta, abrindo-a. Uma parede de água a atingiu. E então lá estava ele, correndo em sua direção através da confusão da tempestade.
— Jack? — Ela gritou.
— Fique onde está! — Ele gritou por causa do vento e da chuva enquanto segurava o chapéu no lugar e apertava os olhos contra a água que o assaltava.
Mas ela não deu ouvidos. Ela correu em direção a ele, seu terror de que algo tivesse lhe acontecido misturado com seu alívio por ele estar ali, tangível, real, bem. Ela o pegou nos braços e, juntos, tropeçaram no limiar do castelo, Jack batendo e trancando a porta em suas costas.
Ela o segurou com força, seus corações batendo forte como um só.
— Jack.
— Eu lhe disse para ficar dentro de onde era seguro, — ele disse com voz rouca, suas mãos se movendo para cima e para baixo em suas costas em carícias lentas e suaves.
— Droga, mulher.
— Estava com medo de que algo tivesse acontecido com você, — admitiu, sua voz trêmula.
Ela inclinou a cabeça para trás, olhando-o através da escuridão.
— Você teria realizado o seu desejo. — Sua voz era sombria. — Você teria se livrado de mim para sempre.
— Não, — ela sussurrou, porque algo sobre a selvageria da tempestade repentina a fez perceber que era a última coisa que queria.
Uma vida sem Jack?
Todas as emoções que ela fizera o máximo para banir e esconder para sempre nos últimos três anos — nos últimos dias — caíram sobre ela. A chacoalharam com a força dos ventos furiosos da tempestade. O desejo correu sobre ela, tão feroz e inesperado que ela não conseguiu contê-lo.
Ela segurou o rosto de Jack com as mãos. Sua barba estava molhada como sua pele. Os dois estavam encharcados. Mas ele era caloroso e familiar. Ela traçou as maçãs do rosto com os polegares. Eles olharam um para o outro em compreensão silenciosa. A paixão que sempre existiu entre eles desde que se conheceram tomou conta, fervendo sob o céu do momento.
Talvez ela pudesse ceder ao seu desejo. Pegar o queria e deixá-lo para sempre. Machucá-lo como ele a machucou. Quebrá-lo como a havia quebrado. Talvez fosse a hora de empatar o placar entre eles.
Ela parou de pensar. Em vez disso, agiu. Puxou sua cabeça, reivindicando seus lábios.
Ele tinha gosto de chuva. Chuva e Jack.
Delicioso. Deus, tão delicioso.
Como ela sofreu por este homem.
Ele fez um som baixo com a garganta, e então a beijou de volta. Freneticamente. Com força esmagadora. Carnal, úmido e áspero. Sua boca se moveu sobre a dela, sua língua deslizando para dentro. Ela deu as boas-vindas à invasão, ficando na ponta dos pés para pressionar-se contra ele. Um gemido escapou dela.
Ela queria mais do que beijos.
Ela estava pegando fogo por ele. Além do dever. Além do bom senso. Tudo o que conseguia pensar era em Jack. Seu cheiro estava em seus pulmões, seu gosto em seus lábios, seu corpo grande e musculoso irradiando calor úmido para o dela. Ele a ergueu em seus braços sem quebrar o beijo, de alguma forma conseguindo manobrar tanto ela quanto seu pesado traje de montaria encharcado com facilidade.
E então, ele a estava carregando pelo chão de pedra do castelo, suas botas ecoando no espaço cavernoso, juntando-se ao estrondo da tempestade além das paredes. Ela se agarrou a ele enquanto a carregava, beijando-o com toda a necessidade reprimida que sentia. Ela ficou selvagem. Mordeu seu lábio inferior, empurrando sua língua contra a dele.
Ele parou abruptamente, interrompendo o beijo.
— Onde diabo está a cama?
Sua respiração era áspera e quente, caindo sobre seus lábios. Demorou um pouco para perceber que ele lhe fizera uma pergunta. Ah, sim. A cama.
— Eu a removi, — ela admitiu sem fôlego.
Muitas memórias.
Embora guardasse isso para si mesma.
— Droga, — ele murmurou. — Por que você-
— Cale a boca, — ela interrompeu, e então ela o beijou novamente. Muita conversa. Muito pensamento.
Ela não queria usar sua mente. Ela queria o físico. Queria um toque. Desejo. Ela queria seu corpo. E iria ter. Uma vez, prometeu a si mesma. Só uma vez. Queime-o como uma pilha de gravetos secos. Tire-lhe a confiança e as desculpas. Faça-o fraco, rebaixe-o.
Então, nunca mais toque-o.
Ele a beijou de volta, o movimento de seus lábios, língua e dentes tornando-se selvagens. Era como se tentasse marcá-la da mesma forma que havia deixado uma em seu pescoço, que ela fora forçada a cobrir com pó de pérola.
Ela afastou a boca, tentando respirar.
— Cadeira.
Jack a beijou novamente.
— Boa ideia.
Ele a carregou até uma velha e grande poltrona posicionada perto da lareira. Girando-os, ele a beijou novamente antes de se acomodar, com ela em seu colo. Suas pesadas saias molhadas se agruparam ao redor deles. Ela montou nele, o tecido encharcado de sua calça escovando seu núcleo latejante. Ele estava rígido contra as anáguas. Ela se firmou contra ele, amando a fricção, procurando mais.
O calor do dia tornava o frescor de suas roupas molhadas de alguma forma mais erótico. Ela jogou o chapéu no chão. O dele já havia desaparecido no furor dos abraços. Seus dedos estavam na linha de botões viajando pela frente de seu traje de montaria, arrancando-os de suas amarras.
Ela mordeu o lábio inferior e afastou a picada com um beijo. Beijou-o como desejava fazer, bem no fundo, desde os beijos que compartilharam na carruagem. Seus joelhos machucados protestaram contra sua posição, mas ela os ignorou. Um pequeno desconforto não iria impedir a necessidade abrangente de se tornar um com Jack.
Nell balançou sobre sua crescente ereção. Ela estava tão encharcada quanto suas roupas, e por um motivo totalmente diferente. Se não o tivesse dentro dela logo, morreria, tinha certeza disso. O som de tecido se rasgando a alcançou, mas ela estava longe demais para se importar. Ele empurrou seu corpete para baixo de seus ombros, e para baixo em seus braços. Ela se mexeu, ajudando-o, e juntos eles tiraram o tecido encharcado até a cintura.
— Nellie. — Não havia como confundir a reverência em sua voz. — Deus, Nellie.
Ele beijou sua garganta, então sua clavícula, beliscando-a levemente com os dentes até que ela gemeu, empurrando contra ele mais uma vez. Os cadarços de seu espartilho afrouxaram. Ele puxou, e seus seios saltaram livres. Ele rasgou sua camisa ao meio. Seu ardor feroz combinava com o dela, e ela não se importou com o que ele rasgou. Ela se preocuparia com isso mais tarde, quando a razão se voltasse para ela.
Por enquanto... Por enquanto, tudo o que queria era Jack.
O primeiro toque de sua boca em seu seio foi elétrico.
Ela agarrou um punhado de seu cabelo escuro e espesso. Ele chupou seu mamilo, enviando uma doce sensação irradiando através dela, outra onda de umidade entre suas coxas. Ele passou a língua em seguida, uma longa e lenta exploração, antes de beliscá-lo.
— Oh, Jack.
A mão dele viajou por baixo de suas saias, seus dedos percorrendo a parte interna de sua coxa até que finalmente ele traçou sua costura.
— Tão molhada para mim, Nellie. Sempre tão molhada.
— Sim. — Estúpida, ela empurrou em seu toque.
A visão de seu rosto bonito aninhado contra a curva pálida de seu seio, sua boca travando no pico, juntamente com a proximidade de seu toque onde ela mais o queria, quase a desfez. Ela estava inquieta, imprudente, impotente, devassa.
Ela estava louca de desejo. Enlouquecida de necessidade. Afogando-se em paixão. Além das paredes da loucura, a tempestade parecia combinar com a deliciosa turbulência dentro dela. Um relâmpago iluminou o céu, brilhando através da sala enquanto o trovão se espalhava por cima.
— O que você quer? — Ele perguntou, circulando seu dedo provocadoramente em torno da pérola dolorida, sem tocá-la ali, onde ela era mais sensível.
— Você, — ela admitiu facilmente. — Toque-me, Jack. Toque-me do jeito que você costumava fazer.
Por fim, ele lhe deu o que ela queria. Ela engasgou quando ele girou os dedos nela. O tempo passou. Os últimos três anos poderiam nunca ter existido. Ela estava de volta quando eles eram jovens, selvagens e tão apaixonados.
Ela se inclinou, beijando-o com tanta força, os dentes batendo juntos. Ela não deu a mínima. Não era hora para fazer amor bonito ou delicadeza. Este era um inferno que só poderia ser extinto de uma maneira. Ele não parecia se importar com o fervor dela. Na verdade, isso o estimulou. Ele rosnou baixo em sua garganta e afundou um dedo dentro dela, mantendo o polegar trabalhando sobre sua pérola.
Ela estava pronta para ele. Desesperada por ele. Havia esquecido como eram longos seus dedos, como ficavam deliciosos dentro dela. Ele deslizou um segundo dedo, curvando-os e alcançando aquele lugar secreto que nunca falhava em fazê-la perder o controle. Ela não teve chance.
O prazer rugiu por ela, muito parecido com o trovão estrondoso lá fora. Ela o beijou com mais força, choramingando quando uma onda intensa de prazer a agarrou. Ela estava subindo, voando. Um relâmpago cruzou o céu, refletindo um eco da sensação espiralada por Nell. Ela se deu prazer nos três anos de sua separação. Claro, que tinha. Mas o toque dela não era nada parecido com o dele.
Quando as últimas ondas de seu clímax a deixaram, ele retirou os dedos, encerrando o beijo. Ele inclinou a cabeça para trás na cadeira, respirando pesadamente, olhando para ela. Seu olhar verde escuro a queimou.
— Agora é sua chance de me dizer para parar, — ele murmurou.
E ela sabia o porquê. Também sabia o que ele queria dizer. Ele a estava tornando cúmplice. Mas ele não precisava, porque ela sabia o que estava fazendo. Foi ela quem começou isso, com o beijo. Havia passado os últimos três anos ressentida com ele, dolorida por ele. Ela iria ser egoísta agora. Só desta vez. Iria pegar o que queria. Encontrar seu prazer.
E então ela seguiria em frente, esqueceria que tudo isso havia acontecido. Deixá-lo para trás nas cinzas de sua união.
Primeiro, ela iria tê-lo.
Uma última vez.
Uma mecha de cabelo escuro tinha caído levianamente sobre sua testa. Ela o afastou suavemente.
— Não pare, Jack. Quero você dentro de mim.
Verdade. Isso não significava que ela o amava. Isso não significava que queria permanecer casada com ele. Tudo o que isso significava é que ela correu atrás dele. Seu corpo queria o dele. Isso não mudou muito.
— Graças a Cristo, — ele murmurou, estendendo a mão entre eles para arriar suas calças.
E então, a grossa cabeça de seu pênis estava onde seus dedos estiveram. Ele correu sobre suas dobras, espalhando a evidência de seu desejo por toda parte, por cima de si mesmo. Ele roçou a saliência de seu sexo uma, duas vezes, enviando um novo choque através dela. Ela balançou os quadris, incitando-o.
— Pegue o que quiser, Nellie — disse ele, correndo para cima dela novamente.
Ela não hesitou. Afastando seus dedos com os dela, ela o agarrou. Por um momento, saboreou o peso dele em sua mão, a força aveludada e o calor. Ele era tão bom, tão longo. Dela.
Só por hoje.
Ela o guiou até sua boceta e afundou em cima dele. Ele bombeou nela ao mesmo tempo. E ele era profundo, muito profundo. E foi bom, muito bom. Ele a encheu, a esticou. Nell ficou imóvel, os olhos fechados enquanto absorvia a decadência disso, o prazer proibido.
Eles suspiraram como um. O trovão caiu. A luz iluminou o céu por um momento fugaz. Ele estava tão bem, ela nunca quis deixá-lo ir. Mas esse era um pensamento perigoso. Perigoso, tolo e errado.
Ela ficou de joelhos, até que ele quase escorregou dela, e então ela avançou novamente, enchendo-se ao máximo. Ele tomou seu mamilo em sua boca e chupou. Uma de suas mãos agarrou seu ombro enquanto a outra ainda estava enterrada em seu cabelo. Ela o segurou contra o peito enquanto pegava o que queria, aumentando o ritmo, seus seios balançando com cada impulso.
— Oh, Deus, Jack. — Ela iria gozar. Novamente.
Ele se moveu com ela, aumentando o ritmo e a força de suas estocadas. Ele enterrou o rosto em sua garganta, segurando-a perto enquanto eles perseguiam sua paixão juntos.
— Goze para mim, Nellie, — ele sussurrou.
Ela gozou. Ela cedeu a ele. Obedeceu. Seu segundo orgasmo foi tão potente quanto o primeiro. Ela se agarrou a ele, a felicidade a despedaçando. Ultrapassando-a.
Céu. Era assim que ela parecia.
Estar dentro de sua esposa depois de anos separados era extraordinário. Ela apertou-se nele, trincando, puxando-o mais profundamente nos doces recessos de seu corpo. Ela estava tão molhada, tão quente. E ele estava há muito tempo sem ela.
Ele respirou profundamente, beijando sua garganta onde sua pulsação disparava, antes de inclinar a cabeça para trás para vê-la mais uma vez. Ela era uma deusa. Sua deusa.
Se havia pensado que a visão dela cavalgando era um milagre, ele estava terrivelmente errado. Pois essa imagem empalideceu em comparação com a visão dela montando nele. Seus seios estavam nus, ofertas com pontas rosa esmagadas novamente em seu peito, os mamilos duros se esfregando em seu peito com cada impulso. Eles eram exatamente como se lembrava: o suficiente para preencher suas palmas, e tão primorosamente responsivos.
Ele os segurou em suas mãos, rolando seus mamilos entre seus polegares e indicadores enquanto ele se enfiava dentro dela, tentando prolongar o momento. Mas fazia muito tempo desde que ele fez amor com ela pela última vez, suas bolas já estavam apertadas. Sua vagina ainda estava tremendo ao redor dele com a força de sua liberação, e ele se juntaria a ela em breve.
Era inevitável.
Tão inevitável quanto este momento entre eles tinha sido.
Ele tinha provado o quanto ela o queria em seu beijo na estrada dias atrás. Embora ela resistisse continuamente, embora recuasse e se apegasse tenazmente à sua insistência de que eles se divorciariam, aqui estava uma prova definitiva como nenhuma outra. Nell estava meio despida, esmagando-se sobre ele, a cabeça jogada para trás e os olhos fechados em êxtase.
O amor por ela se abriu dentro dele, desabrochando como um botão fortemente enrolado ao sol de verão. Ele havia se mantido sob controle por problemas, mas hoje, essa restrição se foi. Enquanto a tempestade rugia lá fora, refletia os sentimentos dentro dele.
Uma e outra vez, ele empurrou nela. Quando ele não conseguiu segurar mais um segundo, ele selou seus lábios com um beijo. Seus quadris deixaram a cadeira quando se chocou contra ela. Duro e profundo. Ele derramou enquanto enfiava a língua em sua boca, reivindicando-a de todas as maneiras que podia. Sua liberação foi uma torrente, inundando-a, enchendo-a com sua semente.
Alguma parte egoísta dele esperava que a engravidasse. Se ela tivesse seu filho, nunca o deixaria. Mas ele sabia que era um pensamento indigno, mesmo enquanto balançava embaixo dela, o resto de sua coragem o deixando. Ele não tinha nenhum desejo de fazer sua reivindicação dessa maneira. Para prendê-la.
Mas o que acabara de acontecer não poderia ser desfeito. Ele desabou contra a cadeira embaixo dela, sem ossos. Sem peso. Sem mente.
Grato.
Tão malditamente grato.
Que poder ela ainda tinha sobre ele. Poder diferente de qualquer outra mulher antes dela. Poder que nenhuma outra poderia exercer. Ela foi a única que segurou seu coração em suas mãos. Distância, tempo, dor — nada poderia alterar esse fato inevitável.
Ela era como uma feiticeira, e ele estava indefeso e feliz em sua escravidão.
Ela interrompeu o beijo primeiro, arrancando sua boca da dele, sua respiração tão irregular. Seus olhos estavam arregalados, vidrados, seus lábios entreabertos e inchados com a selvageria de seus beijos. Suas bochechas estavam vermelhas de prazer, seu cabelo úmido agarrado ao rosto em mechas douradas.
— Isso não pode ser repetido, — disse ela.
Quaisquer outras cinco palavras unidas não poderiam tê-lo enfurecido mais. Nem acabou o estupor da luxúria e do amor infectando sua mente com mais eficiência.
— Sim, pode, — ele respondeu. — E vai acontecer.
Ela balançou a cabeça, sua expressão ficando aflita.
— Não, eu não posso.
Nell pulou de seu colo, ajeitando a saia no lugar, puxando furiosamente o espartilho e a camisa. Ele permaneceu onde estava, o eco de sua liberação ainda latejando em suas bolas.
— Você está ignorando o óbvio, meu amor. — Severamente, ele observou enquanto ela lutava para endireitar o tecido molhado e se cobrir.
Seus seios balançaram tentadoramente. Difícil imaginar que a boca e as mãos dele estiveram adorando aquela pele macia e cremosa, e agora ela tentava esconder isso de sua vista.
— Estou afirmando o óbvio, ao invés de ignorar, — ela o corrigiu friamente. — Você não vai, pelo menos, se tornar decente?
Seu pênis já estava meio duro novamente. Amaldiçoe a mulher. Ele se agarrou apenas para irritá-la, acariciando lentamente. Ele ainda estava coberto por seu creme e os restos de sua semente. Se ela queria desafiá-lo, ela escolheu a hora errada para se posicionar. Isso não iria lavar. De jeito nenhum ela não sentiu a intensidade de sua união.
— Se você não gosta do que vê, então desvie o olhar, — ele disse secamente. — Não há nada mais natural do que marido e mulher serem íntimos. O que acabamos de compartilhar estava muito atrasado.
Seu olhar pousou em seu pênis, e o efeito foi instantâneo.
Sua ereção se projetou para frente.
— Jack! — Seu tom era escandalizado, mas ela não desviou o olhar.
Porque ela não estava tão impassível quanto gostaria que ele acreditasse. Ele não se enganou — Nell queria não ser afetada por ele. Ela não queria ter saudades dele. Não queria sofrer por ele. Mas ela sofria. Sofria, e ele sabia disso, porque sentia o mesmo.
— Eu poderia dizer o mesmo para você, querida. Você também não está decente, com seus lindos seios ainda em exibição, — ele apontou, querendo encontrar seu caminho sob suas defesas mais uma vez.
— Você é um canalha. — Ela girou, dando-lhe as costas enquanto continuava a lutar com o vestido e as roupas íntimas que ele havia retirado em seu frenesi para possuí-la.
Ela se arrependeu do que tinha acontecido.
E ele odiava esse arrependimento.
Jack enfiou-se de volta nas calças e nas cuecas, depois abotoou a camisa. Ele se levantou da cadeira com uma intenção sombria.
— Você não parecia me achar um canalha alguns minutos atrás, — ele não resistiu em observar.
Se ela pensava que poderia agir alegremente como se não tivessem acabado de fazer amor, ela estava errada. Se ela pensava que ele não estava lutando por ela, também estava errada. Ele lutaria por ela para sempre. Ele estava travando guerra de todas as maneiras erradas. Mas ele sabia a diferença agora.
Ele estava de volta e não iria a lugar nenhum.
— Foi um erro, — disse ela friamente, ainda lutando para colocar o espartilho de volta no lugar. — Temia que algo tivesse acontecido com você, e em meu estado emocional, perdi o juízo. Como eu disse, isso não deve acontecer de novo.
Oh sim, deve, ele prometeu silenciosamente.
Em voz alta, ele disse:
— Permita-me ajudá-la.
A violência de sua paixão havia deixado as cordas de seu espartilho abertas. Se ela tinha uma esperança ou uma oração para conseguir que os botões daquela roupa indecente e justa se fechassem, ela precisava ser apertada mais uma vez. Ela teria que deixar de lado seu orgulho.
— Eu não quero sua ajuda, Jack. — Ela lançou-lhe uma carranca por cima do ombro. — Você já causou danos suficientes.
Ele inclinou a cabeça.
— Então causei, e então serei eu quem vai consertar. A menos que você não confie em si mesma, certo?
Seu orgulho venceu. Seus lábios franziram.
— Vá em frente, então. Amarre meu espartilho de volta, por favor. É terrivelmente difícil colocar roupas molhadas de volta no lugar. Não confunda meu pedido, entretanto. Só porque permiti que minha natureza mais vil superasse meu julgamento, não significa que voltarei a ser tão tola.
Ele se aproximou dela, na tentativa de conter a ira que crescia dentro dele. A união deles foi explosiva. Foi um dos momentos únicos e mais eróticos de sua vida. Perder a calma agora não ajudaria em sua causa.
Parte de seu cabelo se soltou dos grampos, enviando cachos grossos descendo pelo pescoço. Ele acariciou sua nuca, satisfeito quando ela sacudiu com o contato. Havia aquela conexão que ela procurava ignorar. Lá estava aquela faísca, pronta para explodir de volta em uma chama intransponível.
Sua pele era macia. Como ele desejava colocar seus lábios ali. Para deixar uma pequena mordida de amor na curva onde seu ombro encontrava sua garganta. Ele não fez. Em vez disso, ele permitiu que as pontas dos dedos percorressem sua pele nua. Apenas uma carícia lenta e decadente.
Ela estremeceu.
— Pare de me acariciar e amarre meu conjunto, por favor.
Tardiamente, ele percebeu que a tempestade havia se acalmado. O trovão rolou mais longe, e o céu clareou. Os pássaros começaram a cantar mais uma vez, vibrando intensamente. Era como se os momentos de paixão que compartilharam nunca tivessem acontecido. Nenhuma evidência permaneceu, exceto o estado de seu traje de montaria e espartilho.
— Paciência, Nellie — disse suavemente, indo finalmente trabalhar em seus cadarços.
Ele começou no topo, abrindo caminho por sua espinha, apertando-os com força. Ela endireitou as costas, inalando. Quando ele alcançou a base de seu espartilho, logo acima de seu delicioso traseiro, levou todo o controle que possuía para mandar os laços irem para o Hades e segurar seu traseiro. Sua esposa possuía as curvas mais atraentes.
— Eu não tenho nada além de paciência para você, — ela disse a ele, um tanto friamente.
Ele amarrou os laços e a ajudou a puxar o tecido úmido de seu corpete.
— Pelo contrário, minha querida esposa. Eu acho que você não tem o suficiente.
— Você tem sorte de eu ter qualquer uma. — Sua voz estava áspera quando ela enfiou os braços nas mangas. — Não te devo nada.
Em sua pressa, ela pulou um botão de sua roupa, deixando o colarinho alto lamentavelmente torto. Ele avançou, assumindo o comando dos botões, deslizando-os de suas amarras.
— O que você acha que está fazendo? — Ela exigiu, golpeando suas mãos. — Você não tem o direito de me tocar com tanta familiaridade.
— Na verdade, sim. — Ele encontrou seu olhar, parando quando alcançou o botão que foi pulado. — Você é minha esposa e, aos olhos da lei, estou perfeitamente dentro do meu direito de tocá-la quando quiser. Para exigir meus direitos conjugais também.
Seus olhos brilharam, seu corpo inteiro enrijeceu.
— A lei não torna isso certo. Não sou mais sua, Jack. Não verdadeiramente.
— Você sempre será minha, Nellie, — ele lhe disse. — Goste ou não. Mas você não precisa se preocupar. Estou te ajudando. Que pobre criada você seria. Você pulou um botão. Imagine como seria, nós dois voltando para Needham Hall com seu traje de montaria desalinhado, obviamente tendo sido desfeito e abotoado mais uma vez às pressas. O que Tom diria se alguma notícia chegasse a ele, hmm? Não posso imaginar que ele estaria tão ansioso para se casar com você se acreditasse que você me fodeu no meio de uma tempestade.
Sua boca se apertou.
— Isso é uma ameaça, Needham?
Ah, então ele não era mais Jack.
Talvez ele tivesse empurrado sua esposa megera longe demais. Ainda bem, pois ela certamente fizera o mesmo com ele.
— Claro que não, esposa. Aqui não é uma ameaça, mas uma promessa: meu objetivo é mantê-la. Você é minha esposa, e se pensa que não vou lutar com tudo em mim para reconquistá-la, para tê-la ao meu lado onde pertence, então não me conhece de forma alguma. Você será minha, mas não por meio de coerção ou ameaças. Você será minha porque o que acabou de acontecer entre nós era inegável. Você sabe. Eu sei isso.
Seus olhos eram luminosos, largos.
— Eu nunca serei sua novamente. Quero minha liberdade.
— Diga a si mesma que não me quer do jeito que gosta, Nellie. Ambos sabemos que é uma mentira.
Sem se preocupar em ouvir sua resposta, ele saiu do castelo, mais determinado do que nunca.
Capítulo 10
Nell não podia dormir.
Ela se virou para a direita.
Para a esquerda.
As cobertas estavam torcidas sobre ela. Ela estava muito quente. Muito fria. Sua mente não parava de correr. Ela estava com febre? Ela pressionou as costas da mão na testa na escuridão. Não. Teria sido uma excelente desculpa. Talvez a única razoável pelo que tinha feito.
Ela tinha feito amor.
Com Jack.
No castelo. No meio de uma tempestade.
Quando Tom estaria de volta em questão de dias para fugir com ela.
Ela gemeu, rolou de barriga e enterrou o rosto no travesseiro. O que estava pensando? O que estava pensando? Como permitiu sucumbir a sua fraqueza por ele? Ela podia culpar a tempestade, o medo de que algo ruim tivesse acontecido a ele enquanto ele cuidava de suas montarias, a sua ânsia de se vingar. Certamente, foi o que ela disse a si mesma inicialmente.
Mas à luz sombria da lua, ela teve que admitir que era uma inverdade flagrante, gritante e hedionda. Ela tinha feito amor com Jack porque queria. Porque, independentemente do que tinha acontecido entre eles, independentemente do tempo, distância, dor e desconfiança, ela o queria mais do que já quis a qualquer outro homem.
Mais do que queria Tom.
— Santos, preservem-me, — ela murmurou em seu travesseiro.
Que idiota ela era. Os últimos três anos de sofrimento, solidão e dor não lhe ensinaram nada?
Aparentemente não, porque ficar deitada aqui em sua cama sozinha, pensando em Jack na porta ao lado, estava fazendo uma necessidade dolorida ganhar vida entre suas coxas. Sua pérola latejava. Seus seios estavam pesados, seus mamilos duros. O desejo vibrou em seu sangue. Que maldito ele era. Para seu coração, para sua vida.
Por que ele não poderia ter ficado longe? Por que não poderia ter permanecido no continente, ou onde quer que tenha estado em suas viagens? Por que concordou em ir cavalgar com ele? Por que a tempestade veio com uma força tão repentina, deixando-os sem escolha a não ser buscar abrigo no castelo?
Eram as perguntas que a mantinham acordada. As perguntas e o desejo infernal e destrutivo.
Ela rolou de costas e olhou para as sombras no teto. Ela sabia o que estava lá, independentemente da luz — delicado trabalho de gesso com pergaminhos e rosas — mas sua intrincada beleza se perdeu agora. Tudo o que ela conseguia pensar era nele.
Jack.
Com um suspiro de frustração, jogou as roupas de cama para trás e se levantou da cama. O sono não vinha, estava claro. Ela caminhou até as janelas na outra extremidade da sala, separou as cortinas e olhou para a noite.
Quente.
Ela estava tão quente. A noite de verão estava quente. Seu sangue estava quente. Sua carne estava quente e faminta. No fundo do seu âmago, o desejou novamente. Ela latejava e doía. Por que permitiu que a tocasse? Por que o permitiu dentro dela?
Porque agora ele era tudo que ela queria. Tudo o que desejava.
Não. Ela deve acabar com essa loucura. Certamente não eram nada mais do que velhas paixões, há muito adormecidas, agora despertadas. Certamente ela se sentiria da mesma maneira se fosse com Tom que ela estivesse sozinha no castelo, a tempestade que assolava ao redor deles...
Um grito de dor saiu dela quando descansou a cabeça na janela, porque ela sabia a resposta. Não teria reagido da mesma forma a Tom. Ela não o teria beijado sem fôlego, e ele nunca a teria puxado para seu colo, nem ela teria se esfregado contra seu pênis tenso...
Ela precisava parar de pensar no que havia acontecido. Ela teve que parar de sofrer por Jack. Ele a havia quebrado uma vez, e ela não suportaria permitir que ele tivesse a oportunidade de fazê-lo novamente. Essa era a diferença entre Tom e Jack: o perigo para seu coração. Um não representava absolutamente nada, e o outro possuía um poder terrível de esmagá-la.
Além das vidraças de chumbo, a lua estava grande e cheia, alta no céu, cintilando no lago em prata, acenando. Como parecia atraente na escuridão, cheia com a promessa de resfriar sua pele. Distraindo-a. Extinguindo seu ardor sem resposta.
Fazia anos que não nadava, desde que era uma criança rebelde. Mas havia algo sobre o fascínio da água fria deslizando sobre sua carne que a chamou. Talvez seja essa a solução. Talvez um bom e longo mergulho fosse a distração de que precisava. Se nada mais, isso certamente a acalmaria.
Sua mente decidiu, ela vestiu seu roupão e deslizou para o corredor escuro. A caminhada até o lago foi tranquila. Lá fora, o ar de verão estava quente e perfumado com o cheiro de grama cortada e rosas florescendo enquanto caminhava pelo caminho de cascalho. O mundo estava tão quieto e silencioso, nada além de uma leve brisa e o pio de uma coruja para interromper o silêncio. A lua estava tão brilhante que ela não precisava de nenhuma iluminação para guiá-la.
Ela parou na margem do lago, depois tirou o robe e a capa de proteção, dobrando-os em uma pilha organizada. O ar da noite beijou sua pele nua, fazendo seus mamilos se contraírem. Na verdade, o peso entre as pernas só aumentou. Com um suspiro, entrou na água. Quando atingiu a cintura, ela mergulhou para frente em um longo mergulho.
Se seu estado atual fosse qualquer indicação, ela precisaria nadar no maldito lago a noite toda para apagar o fogo em seu sangue. Mas ela estava determinada. De uma forma ou de outra, tiraria Jack de sua mente.
O que diabos ela estava fazendo, vagando sozinha no meio da noite?
Jack correu pela escuridão até a margem do lago, com o coração disparado. Ele não tinha acreditado em seus olhos quando viu a figura vagando pelo caminho ao luar. O reconhecimento foi instantâneo. Ele reconheceria sua forma em qualquer lugar — o beliscão doce de sua cintura, a curva de seu traseiro, a forma elegante como ela se movia. Os cachos polidos caindo em cascata por suas costas eram todos muito familiares.
Ele estava andando de um lado para o outro em seu quarto, sem conseguir dormir, quando parou diante da janela. Os pensamentos sobre Nell o fizeram sair da cama, onde ele já se descontrolara sem sucesso. Tinha se sentido miserável, deitado sozinho, sabendo o quão perto ela estava — apenas uma porta os separando — e ainda assim ela estava fora de seu alcance.
Eles haviam retornado a Needham Hall após a tempestade e sua paixão consumidora em um silêncio gélido. Pelo resto do dia, ela se enclausurou mais uma vez em seus aposentos, recusando-se a sair. Ele engoliu seu orgulho o suficiente para bater, e ela o desejou mais uma vez que ele fosse para o inferno.
A noite estava quente o suficiente, e seu sangue fervia o suficiente para ele supor que já estava lá.
Ele correu por uma curva do caminho, ainda sem ver sua esposa errante à frente, quando ouviu um barulho. Jack aumentou o ritmo, seus pulmões queimando. E quando chegou à margem do lago, tudo o que viu foi uma pilha de roupas de cor creme cuidadosamente dobradas na grama e nada de Nell.
— Nellie! — Ele chamou, sua voz ecoando na superfície do lago.
O silêncio o encontrou.
Ele rasgou seu robe, jogando-o na grama.
E então, entrou no lago.
— Nell, droga, me responda!
Por Deus, a imprudência da mulher não tinha limites? Ele nem sabia se ela sabia nadar. E, no entanto, ela não só deu um passeio depois da meia-noite, sozinha, como também entrou no lago. Sozinha.
Quando ele a encontrasse, iria estrangulá-la. E então, iria beijá-la até deixá-la sem sentido. Ou talvez beijá-la sem sentido primeiro e estrangulá-la depois.
A superfície do lago abriu-se diante dele, a cabeça de Nell apareceu com um respingo.
— Nell, graças a Deus, — disse ele, nadando em sua direção.
— Jack? — Ela parecia muito descontente.
Enquanto ele estava aliviado. Ele a alcançou com alguns golpes. A água era profunda nesta parte do lago, embora não sobre sua cabeça. Ele a pegou pela cintura, puxando-a contra ele.
— Mulher tola. — À luz da lua, ela era como uma deusa pagã ganhando vida. O desejo de beijá-la sem sentido voltou. — O que você está fazendo aqui no lago no meio da noite?
Ela se contorceu, tentando escapar dele, mas o movimento só fez seus seios macios esfregarem contra o peito dele. A água do lago estava fria, mas não o suficiente para afastar uma onda repentina de luxúria. Seu pau subiu insistentemente.
— Estou nadando, seu cretino. — Ela espalmou as palmas das mãos nos ombros dele e empurrou. — O que você está fazendo aqui? Me seguindo?
— Cuidando de você, — ele disse severamente. — Alguém deveria, já que você parece não ter nenhum respeito por si mesmo.
Sua vida não era nada mais do que uma série de arranhões, um após o outro? Meu Deus, ele estremeceu ao pensar no que acontecera a ela em sua ausência. Quem cuidou dela nos últimos três anos? Sidmouth?
O pensamento amorteceu seu ardor, mas não o suficiente para baixar a furiosa posição de pau.
— Não preciso que você cuide de mim. — Seus dedos se cravaram em seus ombros. — Tenho me saído muito bem nos últimos três anos, e vou me sair bem nos anos que virão, também sem você.
— Sem mim? — Ele apertou seu aperto em sua cintura. — É isso que você realmente quer, Nellie? Porque não é o que eu senti hoje cedo, quando você estava montando meu pau.
Ela engasgou-se.
— Seu canalha miserável. Como você ousa?
— Qual é o problema, querida? — Ele zombou, sabendo que estava sendo desagradável e não se importava. Ela o empurrou até o limite. Quem ele estava enganando? Ela o havia empurrado muito bem para fora da borda. — Você não gosta de ser lembrada de como você estava molhada para mim? Quão docemente você gozou para mim? Você não deseja lembrar o quão profundo eu estava dentro de você, como me senti bem?
A respiração dela estava irregular quando ele terminou. E a dele também. O desejo zumbia entre eles. Inegável. Era como uma loucura de novo.
— Impulsos animalescos, nada mais, — ela disse, mas sua voz era baixa. Gutural.
As unhas dela cravaram em sua pele.
O doloroso prazer só o deixou mais duro.
Ele avançou, a água batendo em torno deles. Ela estava completamente nua. Sua pele sedosa e úmida. Seu pênis roçou sobre suas dobras.
— Diga-me que você não me quer agora.
A respiração sibilou dela.
— Eu quero nadar.
Ele não a estava deixando ir tão facilmente. Manteve seus corpos pressionados juntos, sua ereção a estimulando.
— Não sabia que você sabia nadar.
— Há muitas coisas que você não sabe sobre mim, Jack. — Ela não estava mais se contorcendo. Também não estava tentando escapar de seu domínio. Em vez disso, ela se aproximou.
— Talvez você deva me dar a chance de conhecê-las. — Ele roçou o nariz no dela, sua frustração dando lugar à ternura.
Deus, como ele amava essa mulher.
Ele amava sua teimosia.
Amava sua imprudência.
Ele a amava quando ela ficava irritada e baixava as defesas. Ele a amava sonolenta em sua cama desarrumada pela manhã, e a amava em seus braços à noite. Ele amava sua boca. Seu beijo. O sorriso dela.
Tudo. Cada parte dela.
— Você teve sua chance, — ela sussurrou.
— Eu quero outra. — Ele a beijou. Um selinho rápido e casto.
Ela prendeu o lábio inferior entre os dentes.
— É muito tarde.
— Então, você me disse antes. — Ele beijou o canto da boca dela. — Nunca é tarde para o amor.
— Pare de dizer isso. — Sua voz falhou. — Amor. Pare de me dizer que você me ama. Não é justo.
— Eu realmente amo você, Nellie. — Ele beijou o outro canto de seus lábios. Então, sua orelha. — Estou desesperadamente, tolamente, estupidamente apaixonado por você. Sempre fui e sempre serei.
— Eu não acredito em você. — Ela se moveu novamente, tentando escapar dele finalmente, mas tudo que conseguiu fazer foi alojar seu pênis mais firmemente entre suas pernas.
Ele queria estar dentro dela novamente. Tanto que até seus dentes doíam.
— Acredite em mim, — ele rangeu, beijando sua garganta. Gotas de umidade grudaram em sua pele, deixando seus lábios úmidos.
— Não posso, Jack. Me deixar ir. — Mas ela não o estava afastando mais.
— Nunca, — ele jurou.
— Eu quero nadar.
— Tola teimosa. — Ele beijou seus lábios, demorando-se desta vez, separando-os com a língua.
Ela se abriu com um suspiro. A língua dela se enredou na dele. Seus lábios estavam molhados, os corpos entrelaçados sob a calma da água. Ele segurou seu traseiro, guiando suas pernas ao redor de sua cintura.
Mas quando ele deslizou os dedos sobre sua costura, ela enrijeceu e puxou a cabeça para trás.
— Pare de tentar me seduzir, Jack. Vim aqui para nadar. Sozinha.
Maldita seja.
— Nade então, — ele grunhiu, soltando-a e se afastando. — Mas serei amaldiçoado se deixar você aqui fora sozinha, nadando nua, no meio da noite. Eu vou esperar você no banco.
Mas sua mulher enlouquecedora ainda era teimosa até o fim.
— Já te disse, não preciso que você faça o papel de protetor.
— E eu já disse que você precisa. Sou seu marido, Nellie, e estarei esperando por você no maldito banco. — Com aquele pronunciamento severo, nadou para longe dela.
Nell nadou até não poder nadar mais.
E então, ela prendeu a respiração e nadou mais uma volta apenas para desafiar a figura solitária de seu marido que a esperava na margem do lago. Esperava que ele desistisse, ou pelo menos se cansasse de ficar de pé enquanto ela batia os pés no lago. Certamente esperava evitar outro confronto com ele.
Porque ela tinha feito algumas descobertas mais perturbadoras na água fria, sob a luz da lua grande e brilhante.
A natação não clareou sua mente nem diminuiu sua necessidade por Jack, que era evidente antes de sua chegada e se tornou positivamente inegável a partir do momento em que ele a tomou nos braços. Sua vagina ainda agora pulsava de desejo delicioso, mesmo enquanto seus pulmões queimavam e seus braços e pernas começavam a ficar flexíveis como uma geleia.
Ela teria que ceder e nadar até a margem.
Nua.
E se Jack a tocasse, ela não teria como resistir.
Mas a alternativa era se afogar de fadiga, e esse não era um destino tão agradável quanto era afogar-se no desejo.
Por fim, ela caminhou até a beira do lago. Nadou o máximo que pôde, até que a água se tornou muito rasa, porque o barulho da lama entre os dedos dos pés a fez estremecer. Isso era outra coisa que ela tinha aprendido — ela não gostava da noção de nadar na água escura e misteriosa com uma série de outras criaturas, quase tanto agora, quanto ela não gostava quando era uma menina.
Algumas coisas mudaram. Mas, a propósito, o que ela sentia pelo marquês de Needham não era uma delas.
Disse a si mesma que deveria agir como se Jack não estivesse ali, sentado na grama com seu robe, parecendo um sultão real ao luar enquanto a observava. Seu joelho direito estava dobrado, seu braço o segurava. Bem como se ele não se importasse. Ele era lindo mesmo na escuridão, a luz da lua refletindo em seu cabelo escuro e ondulado, seu rosto um estudo de sombras, segredos e magnetismo injusto.
Uma respiração profunda para ter coragem. Ela forçou seu olhar para a água, para o luar brincando sobre seu próprio corpo enquanto ela emergia da água. Ombros para trás, cabeça erguida, ela se obrigou a pensar em outra coisa. Algo mais.
Exceto, ela só podia pensar nele.
Seus pensamentos eram uma triste repetição deles. Nada poderia limpar Jack de sua mente. De seu corpo. De seu coração. De sua própria alma.
Mesmo agora, ela podia sentir o olhar dele sobre ela, e quando o vento aumentou, fresco àquela hora da noite e mais frio ainda sobre a carne que acabara de ser submersa na bênção infantil da água do lago, ela estremeceu. Mas a rigidez de seus mamilos, o arrepio subindo, não tinha nada a ver com o ar pós-meia-noite e tudo a ver com o homem que a observava.
— Nascimento de Vênus, — ele disse calmamente enquanto ela caminhava sobre a terra.
A água agarrou-se a seus quadris agora, seus seios já expostos. Logo, tudo dela estaria em exibição.
— O que você disse?
— Você me fez lembrar de uma pintura que vi quando estava viajando pela Itália. — Seu tom de barítono profundo e decadente enviou um novo arrepio por ela. — Nascimento de Vênus, de Botticelli. Ele retrata Vênus chegando às costas de Chipre, saindo da água, cabelos dourados voando ao vento. Ela é bonita. Uma deusa.
Suas palavras não deveriam fazer o calor se desenrolar em seu estômago. Nem piscina morna entre suas coxas. Mas elas fizeram.
Ela se enrijeceu contra seu charme, seu fascínio. Mais alguns passos. A água atingiu seus joelhos. Ela se concentrou no movimento suave da lama, cedendo sob seus pés. Escoando. Graças a Deus, suas bolhas se curaram com o uso de sua pomada. Caso contrário, estariam queimando agora.
— Guarde sua bravura para a próxima Lady Needham, — ela o aconselhou. — Temo que seja um desperdício comigo.
— Há apenas uma Lady Needham.
A certeza em sua voz fez com que o olhasse. O olhar dele era escuro e brilhante, irreconhecível. Ele não havia mudado de postura, e ela não pôde deixar de notar a maneira como seu robe estava aberto. Seus olhos devoraram a visão de sua coxa nua e musculosa antes que ela pudesse se conter.
— Mas depois do divórcio, haverá outra —, disse ela, injetando uma leveza em seu tom que não sentia.
Na verdade, a ideia de uma substituição — outra mulher se tornando esposa de Jack, outra mulher conhecendo seus toques ternos, seus beijos intensos — parecia uma lâmina afiada sendo inserida entre as costelas.
— Preciso demonstrar mais uma vez por que não haverá nenhuma outra Lady Needham, exceto você? — Ele perguntou calmamente.
Ele estava tão imprevisível como sempre, este homem com quem ela se casou. Uma vez, isso a atraiu para ele, a maneira pela qual ele era tão mutável: ao mesmo tempo rindo, charmoso e provocando, às vezes um amante selvagem e outras vezes um namorado terno, tanto o homem que cuidava de suas bolhas quanto o homem que tinha quebrado seu coração. Agora, parecia que sua imprevisibilidade provocaria sua queda.
A água estava em torno de seus tornozelos agora. Ela lutou contra o desejo de se proteger dele, pois isso apenas revelaria quão pouca confiança ela possuía neste momento. Quão pouco controle.
— Chega de suas pequenas demonstrações, por favor. — Ela manteve a voz fria quando seu pé descalço atingiu a grama e a terra finalmente. — Já estou farta disso, Needham.
— Por que você insiste em fazer isso? — Ele inclinou a cabeça, considerando-a, ainda permanecendo de outra forma ainda na margem.
— Fazer o quê? — Ela fez uma careta ao sentir a lama pegajosa entre os dedos dos pés e, um por um, os esfregou na água para limpá-los.
— Referir-se a mim como Needham, — ele elaborou. — Antes, eu era Jack. Quando eu estava dentro de você, eu era Jack.
Suas palavras desencadearam uma aguda lança de necessidade.
— Precisa me lembrar da minha loucura? — Ela retrucou, procurando por sua camisola descartada e penhoir, e encontrando apenas o seu lindo marido canalha. — O que você fez com minhas roupas?
— Roupas? — Seu sorriso torto ao luar e seu tom provocador o denunciaram.
— Você os escondeu, seu patife? — Ela cruzou os braços sobre os seios e cruzou as pernas.
— Um canalha agora, eu sou? — Ele fez um som de repreensão que lembrava o dragão de uma governanta, Srta. Richards, que aterrorizou sua infância. — Que vergonha, Lady Needham. Essa insolência não vai lhe trazer de volta sua camisola e seu penhoir.
Ela cerrou os dentes.
— Estou com frio, seu bruto indescritível e mal-educado. Você não vê que não tenho um pedaço de roupa e estou ensopada?
— É o que diz a mulher que decidiu dar um mergulho depois da meia-noite. — Seu tom era leve.
Ainda assim, ele não se moveu.
O limite.
O cafajeste completo.
— Decidi ir nadar sozinha. Você e seus métodos de furto de roupas decididamente não foram convidados, — ela retrucou, esticando sua mão. — Agora dê para mim, por favor.
— Hmm. — Ele fez uma pausa, como se estivesse contemplando o pedido dela. — Não, não acredito que devo.
— Sim, você deve, — ela respondeu, sua irritação e desejo crescendo em medidas iguais.
O que havia sobre ele? Por que não conseguia se livrar do efeito que ele exercia sobre ela? Ele a seguiu até aqui, quando tudo que ela estava fazendo era buscar consolo e separação dele, a chance de limpar sua mente e lavar toda a necessidade indesejada infectando-a até o âmago.
— Pergunte-me lindamente, então.
Sua sugestão a irritou.
Ela apertou seus molares.
— Vá para o diabo. Devo voltar nua, se é isso que você quer. Que visão, a marquesa de Needham, desfilando com a bunda de fora por Needham Hall para todos os criados verem. É isso mesmo o que você deseja?
— Claro que não é isso que eu desejo. — Sua voz se suavizou, ficando mais tenra. Íntima. — O que desejo é que você pare de insistir que esse divórcio sem sentido entre nós vai acontecer. O que desejo é que você veja a razão. O que desejo é que siga em frente comigo, deixando o passado para trás, para que possamos construir um novo futuro juntos. O que eu desejo é você na minha cama todas as noites.
— Isso não vai acontecer, — ela rosnou, passando por ele.
Chega dessa conversa. Chega de permanecer sob a luz da lua, de trocar palavras e farpas. Uma das vantagens de sua agitação incessante no lago Needham Hall era que ela estava cansada. Finalmente. Talvez pudesse finalmente se juntar à Rainha Mab.
Sua grande e quente mão se fechou sobre seu pulso, detendo-a.
— Nellie.
Maldito seja, ele era o único que a chamava assim.
E maldito seja ele duas vezes, ela amou o jeito que soou em sua voz, em seus lábios.
Do jeito que ela amava seus lábios nos dela, sua mão em sua pele. Seu pênis profundamente dentro dela. Ah, não. Pare com isso, Nell. Cesse essa loucura imediatamente.
Mas ela não deu ouvidos a seu próprio conselho, pois parou, descalça na grama, voltando-se para ele.
— O que você quer, Jack?
— Você, Nellie. — Ele se levantou, elevando-se sobre ela com seus ombros largos e força masculina. — Somente você. Sempre você.
Suas palavras a afetaram. Como não afetariam?
— Você me teve e me abandonou, — ela o lembrou. — Você saiu. Por três anos.
— Sua escolha, não minha. Por que você tem que ser tão teimosa?
— Por que você escondeu minhas coisas? — Ela atirou de volta.
— Eu farei uma troca com você, — ele propôs então, ignorando sua demanda.
Seus olhos se estreitaram. Ela não confiava nele. Nem um pouco.
— Que tipo de troca?
— Suas roupas e chinelos em troca de uma hora do seu tempo quando voltarmos para Needham Hall.
— Chantagem, — ela zombou, mas seu pulso miserável acelerou, de forma bastante irregular. Para não falar da dor entre suas coxas, lembrando-a de que ainda estava nua diante dele.
— Uma hora, é tudo que peço, e não farei nada que você não queira. Eu juro, Nellie. — Sua expressão era solene.
Ela deveria dizer não.
Engula seu orgulho e volte para Needham Hall nua como no dia em que nasceu.
— Meia hora, — ela negociou.
— Uma hora.
Ela fez uma careta para ele.
— Quarenta e cinco minutos.
— Uma hora, esposa.
Ele estava imóvel, e ela estava nua. Que escolha ela tinha?
— Uma hora, — ela disse finalmente. — Você, senhor, é um vilão obsceno.
— E você, querida, é insuportavelmente teimosa.
Justo.
— Meus pertences, por favor?
Ele deu a ela seu meio sorriso.
— Eu pensei que você nunca iria perguntar.
Ele soltou seu pulso e se virou, recuperando seus chinelos e roupas dobradas debaixo de uma árvore próxima.
Ele pagaria por isso, ela jurou interiormente. Oh, sim, ele pagaria.
Capítulo 11
Jack teve Nell onde queria.
Em seu quarto.
Pela próxima hora.
Mas o diabo era que ambos fediam a lago.
Eles precisavam de um banho. Felizmente, seu pai, embora um tolo antiquado em alguns sentidos, tinha sido surpreendentemente previdente em outros. Needham Hall era uma das poucas casas senhoriais de sua época equipadas com água corrente, aquecimento sob demanda e quartos de banho especiais para acomodar os hábitos exigentes do ex-marquês.
Na luz fraca de seu quarto, enfrentou sua esposa agora. Seu cabelo estava molhado e havia um pedaço verde de algum tipo de vegetação saindo de seus cabelos.
— O que você deseja de mim, Needham? — Ela exigiu, franzindo os lábios e assumindo aquele olhar de agitação afetada que nunca deixava de fazer seu pau inchar.
Então, novamente, quando ela fez uma expressão que falhou em endurecer seu pau?
Ele era um escravo dela e do seu desejo por ela, afinal.
Ele estendeu a mão e arrancou um pedaço de vegetação de seu cabelo, segurando-o no alto para sua inspeção.
— Um banho.
Ela franziu a testa para a vegetação.
— Não.
— Vou desenhar, — disse ele calmamente, como se ela não tivesse falado. — Não há necessidade de despertar os criados a esta hora da noite porque Lady Needham queria nadar nua no lago.
Seus lábios se apertaram.
— Não vou tomar banho, Jack.
— Você está correta, — ele concordou, mantendo seu tom amigável enquanto passeava para o quarto de banho em seu quarto de dormir. — Você não vai tomar banho. Vamos tomar banho.
— Eu não vou tomar banho com você!
Ele sorriu ante a indignação dela, mantendo o silêncio enquanto enchia a enorme banheira de porcelana com água morna. Algumas gotas de óleo perfumado e o doce cheiro de frutas cítricas perfumavam o ar.
— Jack.
Ela o seguiu, é claro, ainda protestando. Ele fechou a garrafa de óleo e se virou para ela. Seu roupão estava abotoado até a garganta, escondendo dele a glória de sua figura. Mas isso não duraria muito. Seu cabelo tinha começado a secar e era uma massa de cachos selvagens caindo sobre seus ombros.
— Nell. — Ele ergueu uma sobrancelha. — Preciso lembrá-la da nossa barganha?
Ela o encarou com um olhar.
— Concordei com uma hora do meu tempo. Não quero ficar nua em uma banheira com você.
Ele encolheu os ombros.
— Você não perguntou o que estaríamos fazendo com nossa hora. Esse foi um passo em falso infeliz da sua parte. Preciso lembrá-la das muitas ocasiões em que você esteve nua em uma banheira comigo no passado? Ou o quanto gostou?
Suas bochechas coraram em um tom de rosa apropriado com suas palavras.
Seus olhares se encontraram.
E ele sabia que ela estava sendo assediada pelo mesmo ataque de memórias de seus banhos compartilhados que ele. Bem aqui, nesta mesma banheira. Nesse quarto. Ele tinha o prazer de lavá-la, seus dedos inevitavelmente encontrando o caminho para sua boceta para que pudesse fazê-la gozar.
—Você é insuportável, — disse ela agora.
— Cheiramos a pântano, — disse ele. — Estou fazendo um favor a nós dois.
— Não vou entrar na banheira com você.
A água estava subindo. Ele mergulhou um dedo e o girou para testar a temperatura. Morna, mas não quente. Excelente.
Ele lançou outro olhar para ela.
— Sim, você vai, meu amor. Você fez uma promessa.
— Assim como você, — ela rebateu. — Preciso te lembrar do que aconteceu?
Mulher obstinada. Sustentando seu olhar, ele se endireitou e começou a desfazer o nó, mantendo o roupão no lugar.
Seus olhos se arregalaram.
— O que você está fazendo?
— Entrando no banho. — Manter a voz calma foi uma luta.
Ela estava prestes a ver o quanto ele a queria sem a escuridão e a água para escondê-lo. Foi uma aposta. Um risco.
Ele largou o roupão no chão, encarando-a com ousadia. Seus lábios se separaram, seu olhar mergulhando em seu pênis. O efeito foi instantâneo, pois se contraiu, crescendo. Duro. Ele tinha muito orgulho de ser atlético. Seu corpo era naturalmente forte e sempre foi. Mas em suas viagens, havia feito um esforço para aumentar sua atividade. Agora que ele não bebia mais, sua forma estava mais esguia do que nunca.
Jack identificou o momento de vulnerabilidade comovente, então, percebeu que esta era a primeira vez que ficava completamente nu diante dela desde seu retorno. Ela ainda o achava agradável? A maneira faminta como o olhar dela viajou sobre ele sugeria que sim.
Obrigado, Cristo, por isso.
Ele entrou na banheira e se acomodou em uma das mãos, dobrando as longas pernas para ter certeza de que haveria espaço suficiente para ela na extremidade oposta.
— Bem, Nellie? Você está com muito medo de se juntar a mim ou vai entrar?
Sua provocação era apenas o estímulo de que ela precisava.
Seu queixo subiu.
— Não estou com medo. Por que você imagina, Jack, que não posso me controlar no banho com você?
Ele ergueu as sobrancelhas, sem dizer nada. A água continuou subindo na banheira. Eles se envolveram em uma partida de encarar e Nell foi a primeira a se render, desviando o olhar com seu silvo padrão de irritação, as narinas dilatadas.
— Maldito seja, — ela mordeu fora.
E então, seus dedos estavam na longa linha de botões. Ela tirou o penhoir. Em seguida, a camisola noturna, já quase transparente com o efeito de sua pele molhada por baixo, passou por cima de sua cabeça.
Ele se esqueceu de respirar.
No brilho quente das lâmpadas, ela era uma revelação de pele cremosa, doce e curvas femininas. Ele bebeu ao vê-la enquanto ela endireitava os ombros e cruzava o chão de ladrilhos. Seus tornozelos eram delicados, suas panturrilhas e coxas bem torneadas, seus seios cheios e pontilhados com mamilos rosa-rosados que ele adorava chupar. Os cabelos de cachos dourados entre as pernas escondiam a decadência de sua linda boceta.
— Você poderia ter evitado encarar, seu canalha, — ela disse enquanto entrava na banheira.
A banheira era funda e grande o suficiente para duas pessoas, e Nell era pequena, suas pernas curtas, o que significava que ele teve um vislumbre de dobras rosa brilhantes antes que ela afundasse na água na extremidade oposta.
— Eu poderia, — ele concordou, sorrindo para ela. — Mas eu queria ver você.
Ela puxou os joelhos contra o peito, protegendo os seios de sua visão, e franziu a testa.
— Você já me viu antes.
— Poderia te ver mais mil vezes, Nellie, e nunca seria o suficiente. — Ele fechou a torneira e pegou um pano e sabão.
Embora suas palavras fossem a verdade absoluta, ela o olhou como se ele fosse o mentiroso mais notório que ela já tinha visto. Supôs que, para uma mulher que passara os últimos três anos acreditando que ele se deitara voluntariamente com outra, certamente parecia o pior tipo de vilão.
— Esta será a última vez, — ela prometeu severamente.
Nunca.
Mas ele não discutiu. Em vez disso, ele ensaboou o pano com sabão e enfiou a mão sob a água para encontrar um de seus tornozelos magros.
— O que você está fazendo? — Ela fugiu para trás, mas havia apenas um ponto que ela poderia ir.
— Lavando seus pés, — disse ele calmamente, levantando o tornozelo direito da água e cobrindo-o generosamente com sabão. — Suas bolhas estão curando, mas você ainda precisa tomar cuidado. E como já estabelecemos, você parece estar precisando de um guardião.
— Você decidiu se tornar um estorvo. — Sua voz era fria, mas ela não fez nenhum esforço para arrancar o pé de suas mãos como ele supôs que faria. — Essa é a única coisa que estabelecemos no que me diz respeito.
Ele recordou precisamente onde ela sentia cócegas. Os arcos em suas solas. Jack não resistiu a correr o dedo indicador, arranhando a unha. Só uma vez.
Ela estremeceu, emitindo um guincho estridente, e escorregou na banheira escorregadia. Sua cabeça afundou na água. Ela apareceu, esbravejando, indignada.
— Nellie, — disse ele, arrependido de cortá-lo. — Me perdoe. Se eu tivesse percebido...
— Seu salafrário! — Ela interrompeu, enxugando a água de seus olhos. — Você fez isso intencionalmente.
— As cócegas foram intencionais, — ele conduziu timidamente. — O resultado, decididamente não.
E porque ele era o salafrário que ela o acusava de ser, ele não conseguia desviar o olhar da visão de seus seios gloriosos, boiando na água. Ele não pôde deixar de se lembrar de como tinha sido pressioná-los juntos, deslizar seu pênis entre eles...
— Este é suficiente do exterior, — disse ela, como se estivesse lendo seus pensamentos.
E então, antes que ele pudesse reagir, ela se lançou sobre ele. Uma mulher molhada, quente e flexível pousou em seu colo. Seus olhos brilhavam em seu rosto pálido, o cabelo ainda escorrendo por suas bochechas. Ela parecia selvagem. Bonita. Ela caminhou os dedos pelos lados dele.
Uma risada incontrolável o atingiu.
Por Deus, a atrevida havia se lembrado de onde ele sentia cócegas também.
Mas de forma alguma ele iria ficar sentado lá obedientemente enquanto ela o reduzia a uma pilha de risinhos. Ele fez cócegas em seus quadris, na suavidade de sua barriga. Seus dedos encontraram suas axilas em seguida, enquanto ambos lançavam um ataque total um ao outro. Ela fez cócegas em suas coxas. Água espirrou sobre a borda da banheira.
As risadas e gritos indefesos ecoaram quarto de banho de ladrilhos.
Se algum dos empregados estivesse por perto, provavelmente suspeitariam que o senhor e a senhora da casa estavam lutando até a morte. A guerra continuou até que os dois ficaram sem fôlego e encharcados, Nell caindo por cima dele.
De repente, o ar entre eles mudou.
Seu sorriso morreu.
Seus olhares se encontraram, e seu pênis subiu, grosso e insistente sob seu traseiro. Ele viu o brilho de reconhecimento em seus olhos, junto com a consciência.
— Nellie, — ele sussurrou, sem fôlego.
Ela pressionou um dedo molhado sobre os lábios dele.
— Silêncio.
Nell estava louca.
Essa foi a única explicação para permanecer onde estava, praticamente no colo de Jack enquanto seu pênis inchava sob ela, seu dedo pressionou sobre seus lábios. Esse também foi o motivo do desejo surgindo por ela. A dor feroz ganhando vida entre suas coxas.
E foi definitivamente a razão pela qual ela substituiu o dedo pelos lábios.
Porque ela beijou Jack.
Porque os braços dela envolveram seu pescoço.
Porque deslizou a língua ao longo da costura de seus lábios até que ele gemeu e empurrou sua língua contra a dela.
Loucura. Luxúria. Fraqueza. Muito disso. Suas emoções eram um tumulto, agitando-se por ela. Do que mais ela poderia culpar essa imprudência? Jurou a si mesma que manteria distância até que Tom voltasse. Que poderia resistir a este homem.
Mas a verdade é que não podia. Ela ainda o queria. Ela sempre o desejaria. E era por isso que ela precisava acabar com este beijo, sair do banho, voltar para seu quarto. Sozinha.
Certamente o tempo que ela havia concordado tinha acabado?
Certamente esse beijo saciaria sua fome voraz?
Não. Não saciou. Ela o montou, e embaixo dela, seu pênis deslizou sobre suas dobras. Duro, grosso e insistente. Seda na água. Delicioso. Seu núcleo latejava. Ela o queria dentro dela. Ela tinha sentido falta de sua boca. Parecia uma vida inteira desde o castelo.
Fazia apenas horas.
Céus, ela estava perdida. Porque esse beijo, esse homem, era tudo o que queria. Como ela era egoísta. Quão gananciosa. Ela se odiava. Disse a si mesma para parar. E então, o beijou mais.
Ela gemeu e cravou as unhas nos ombros molhados. Ela queria marcá-lo, arranhá-lo, lutar com ele, marcá-lo, possuí-lo de corpo e alma. Da maneira como ele a possuía. Mas ela também carregava tanta raiva e dor, tanta ferida, traição. Não o suficiente para impedi-la de amar o toque de seus dedos, separando suas dobras sob a água. Não o suficiente para se afastar dele quando ele circulou sua pérola com dois dedos conhecedores.
Seus quadris se sacudiram. Santo anjos abençoados. Mais disso. Só mais.
Ele chupou seu lábio inferior, seus olhos nos dela, queimando-a com intensidade esmeralda.
Ela fechou os olhos para excluí-lo. Para impedi-lo de ver diretamente nas profundezas dela, para o lugar que jurou que ele nunca mais alcançaria. O lugar que ela nunca mais o permitiria: seu coração.
Ele interrompeu o beijo, seu hálito quente caindo sobre os lábios em um véu tentador.
— Abra seus olhos.
Ela os manteve fechados e procurou sua boca com a dela. O beijo deles tornou-se quase violento. Forte, uma batalha pelo poder. Ele a mordeu. Ela o mordeu. Duro. Deve ter doído pela força suficiente. Ainda assim, ela manteve os olhos fechados.
Ele afastou a boca.
— Não, Nellie. Abra-os. Olhe para mim. Olhe para o homem que você está beijando.
Ainda assim, a raiva fervia dentro dela, misturando-se com a ferocidade esmagadora de seu desejo. Ela queria machucá-lo. Feri-lo. Machucá-lo da única maneira que ela conhecia. E então, ela manteve os olhos bem fechados.
— Se eu os abrir, — ela sussurrou contra seus lábios provocativamente, — não posso fingir que você é Tom.
No instante em que aquelas terríveis palavras a deixaram, ela se arrependeu. Mas era tarde demais. Elas já haviam sido ditas. Jack se acalmou embaixo dela, seu corpo inteiro ficando tenso.
Sua mão deslizou em seu cabelo, e ele agarrou um punhado, movendo a cabeça para trás.
— Olhe para mim.
Desafiá-lo aumentou sua excitação. Talvez ela fosse perversa. Mas seu pulso estava batendo forte, assim como a carne entre suas pernas. Seus seios estavam pesados e doloridos. Ela mordeu o lábio inferior.
— Não.
Ele rosnou, e o som ecoou pelo quarto de banho, feroz e perigoso. Isso também a fez desejá-lo mais. Se ela já não estivesse na água, ela tinha certeza de que estaria gotejando para ele.
— Maldita seja, Nell. — Sua voz era curta, tensa. — Eu não sou Sidmouth, e você sabe disso. Abra seus olhos.
Ainda assim, ela não abriria. Este, seu poder sobre ele, a excitava. Durante toda a sua união, ele a manteve sua prisioneira. Ele tinha sido o libertino perverso, o encantador. O lindo herdeiro de um marquesado, o visconde mais procurado de Londres. Ela tinha sido uma garota do campo, a filha de um barão para sempre em seu temor. Quando ela se casou com ele, ela ganhou todos os seus amigos, entrou facilmente no círculo da Casa Marlborough. Eles se divertiram, foram muito amados. De repente, ela era alguém por causa dele. Até em sua ausência, ela se tornou alguém apesar dele.
Mas mesmo após o retorno de Jack, ele chegou com seu sangue frio e seu rosto bonito e sua barba malditamente perfeita e seus protestos de inocência. E ela nunca deixou de desejá-lo. Sua atração por ele foi para sua medula. Apesar de sua determinação em resistir, apesar da dor de três anos sem ele, e embora ele tivesse descaradamente outra mulher em sua cama diante de seus próprios olhos, Nell ainda sentia saudades dele.
Era irritante. Não fazia sentido. Aqui estava sua chance de recuperar o poder que havia perdido para ele. Para fazê-lo sofrer, só um pouquinho.
Com os olhos ainda fechados, ela se apoiou nele, roçando seu peito com os seios. Seus mamilos já estavam endurecidos em picos exigentes, e a sensação de sua carne úmida e masculina contra ela era o suficiente para fazê-la gemer. Ela deslizou a mão direita entre eles e agarrou seu pênis.
Ele ainda estava duro. Ainda está pronto.
— Você poderia ser qualquer um, — ela disse a ele suavemente. — Não pense que não gostei da companhia de outras pessoas em sua ausência. Posso não tê-los recebido em minha cama, mas ainda assim encontrei meu prazer de outras maneiras.
Seus dedos se apertaram em seu cabelo. O puxão em suas raízes era primoroso. Não doloroso, mas magistral. Ela já sabia que ele era maior e mais forte do que ela. Poderia maltratá-la como quisesse. Mas ele não iria, porque embora ele fosse um otário sem consciência, ele também era Jack. Sua raiva incitou seu desejo.
— Nell.
Seus olhos ainda estavam bem fechados. Ela sorriu para ele. Docemente. Lambeu seus lábios, saboreando-o — sal, fome e homem. Jack. Ela balançou, roçando os mamilos sobre ele mais uma vez, e então acariciou seu pênis até que o fôlego o deixou em uma exalação rápida.
— Hmm? — Ela perguntou, comovida demais com o momento inebriante para se importar com qualquer coisa.
Ela nunca se sentiu intoxicada sem ter consumido uma única gota de álcool. Mas sentiu-se agora. Estava bêbada de prazer. Nele.
— Eu posso fazer você abrir os olhos. — Ele puxou seu cabelo levemente, como se para provar seu ponto.
Sim, se ele puxasse seu cabelo com força suficiente, doeria e seus olhos se abririam instintivamente.
— Faça o seu pior, — ela convidou.
Afinal, esta era uma guerra entre eles. Guerra doce e sedutora.
E ela pretendia sair vitoriosa.
— Ou o meu melhor, Nellie. — Ele puxou seu cabelo até que sua cabeça fosse puxada para trás, deixando sua garganta vulnerável a ele. O primeiro toque de seus lábios aveludados em sua pele foi incendiário. Ele cravou os dentes nela, então beliscou um cordão sensível. — Apenas o meu melhor.
Condenação.
O desejo líquido tomou conta dela. Ela não pôde reprimir seu sinal de apreciação. A boca de Jack nela sempre foi o paraíso. Tempo, distância, traição e uma mudança de circunstância não alteraram isso.
Ele chupou sua pele. Beijou um caminho de fogo em seu ombro enquanto os dedos em sua pérola aumentavam sua pressão e ritmo. Ela se lançou contra ele, empurrando sua boceta em sua mão enquanto acariciava seu pênis. Tudo ao seu redor estava escuro, deixando seus outros sentidos dolorosamente conscientes. O cheiro de frutas cítricas e Jack subiu no ar. A água estava quente, deslizando sobre sua pele. Abaixo dela, seu corpo era grande, musculoso e forte. Ela passou o polegar pela cabeça do pau dele do jeito que ela lembrava que ele gostava.
A dor de resposta dentro dela não podia ser negada.
Ele mordeu o ombro dela. Mais uma rotação inteligente de sua pérola e ela se estilhaçou. Seu clímax foi repentino, forte e inegável. Ela estremeceu quando a força disso trovejou por ela. A dor era deliciosa. Requintada. E também, demais, o prazer.
Ela engasgou-se, mas não disse seu nome ou olhou para ele.
Ela tinha toda a intenção de vencer este jogo sensual. De ganhar tudo.
Um de seus dedos deslizou dentro de seu canal.
Profundo. Conhecimento. Ela mordeu o lábio e se abaixou sobre ele, arrastando-o para dentro enquanto as ondas de seu prazer irradiavam através dela, apertando e segurando-o exatamente onde o desejava.
A boca dele agarrou-se ao seu seio agora, e ele chupou. Duro. Chupou-a enquanto a fodia com o dedo. Ela estava perto de outro clímax. Perigosamente no limite. Maldito seja ele e o que fazia com ela. Maldito seja sua boca perversa, seus longos dedos, seu grande pau, seu corpo duro, seu cabelo escuro e olhos verdes brilhantes. Droga, ele não permitiria que ela esquecesse o que compartilharam no passado. Maldito seja por chamá-la de Nellie, por cuidar de seus pés com bolhas, por cair de joelhos diante dela.
Maldito seja por dizer que a amava. Por mentir sobre o que acontecera com Lady Billingsley. Por reaparecer em sua vida quando ela estava prestes a encontrar sua felicidade tão esperada. Por acalmá-la com a falsa crença de que ela era mais forte do que o soldado que ele conhecera, de que poderia ir além dele e esquecer que já conhecera seu nome.
Porque ela nunca poderia esquecer Jack, não enquanto vivesse. Ele era uma parte dela. Ele a conhecia melhor do que ela queria admitir. E estar com ele parecia mais certo do que estar com qualquer outra pessoa. Todos aqueles beijos bêbados, aqueles flertes tolos, empalideciam em comparação com a atração vibrante e decadente que ela compartilhava com Jack.
Dentro e fora, seu dedo ia. Ele acrescentou um segundo, empurrando-os profundamente enquanto brincava com a pérola dela com o polegar. Ela estava inchada. Dolorida. Desesperada. Ele mordeu seu mamilo, e ela viu estrelas sob suas pálpebras. Sua libertação estava ao alcance. Inevitável.
Mas não queria permitir que ele a fizesse gozar duas vezes enquanto ele ainda não tinha encontrado sua felicidade. Não, de fato. Ela queria abatê-lo da mesma maneira. Para desfazê-lo. Para desmontar todas as suas paredes defensivas.
— Chupe mais forte, — ela ordenou.
E então, ela pegou seu pulso e puxou seus dedos dela.
Sua respiração emergiu em suspiros agitados.
Ele soltou seu mamilo com um pop vigoroso que pareceu reverberar pela quietude da noite.
Ela agarrou seu pênis e o trouxe para sua entrada, precisando dele dentro dela.
Mas ele a segurou com a mão presa em sua cintura. Um rosnado baixo.
— Não até você abrir seus malditos olhos, Nellie.
— Eu não quero ver você, — ela disse a verdade.
Vê-lo significava se abrir para todas as vulnerabilidades que estava fazendo o possível para evitar. Vê-lo significava perder o controle.
— Você precisa me olhar, — ele insistiu. — Você quer meu pau?
— Mmm. — Um som indefeso de concordância fugiu dela. Claro que ela queria. Ela estava vazia. Dolorida. Desesperada. Ansiosa. Morrendo de fome.
— Olhe para mim, Nellie. Olhe para o homem que te ama. — Sua ordem sombria enviou um novo frisson por sua espinha. Uma que não seria contida.
Ela não sabia dizer o que a levou a abrir os olhos finalmente. Mas ela o fez, piscando para abri-los. Seus rostos estavam próximos. Surpreendentemente. Em tal proximidade que ela podia discernir a vasta gama de pigmentos que compunham o verde: ouro, marrom, cinza, um toque de azul. Gotas de umidade grudaram em sua pele. Seus narizes quase roçaram. Sua respiração estava quente, seus lábios entreabertos.
Em um impulso, ele estava dentro dela.
Profundo.
Tão profundo.
— Diga meu nome, — ele comandou.
— Jack. — Ela gemeu seu nome. Não pode evitar. Não havia como fingir neste momento de felicidade pura, genuína e erótica.
Ele a beijou. Apenas, não foi apenas um beijo, mas uma conflagração. Seus olhos ainda estavam abertos, e ele a enchia, e todos os seus sentidos estavam afiados como navalhas. A lambida da água quente em sua pele, o ângulo dele por dentro, seus lábios nos dela, suas respirações se misturando e se tornando uma quando seus corpos se uniram. Tudo se fundiu de uma vez, o desejo crescendo, sua posse dela não apenas bem-vinda, mas opressora.
As mãos dele agarraram sua cintura e ele a ergueu.
Água espirrou ao redor deles, derramando-se nas bordas da banheira. Ele deslizou por seu canal com tanta facilidade. E então, seus quadris subiram no mesmo instante em que a guiou para baixo. Ela foi deliciosamente esticada mais uma vez.
Ela segurou o rosto dele nas mãos e destruiu sua boca com beijos. Desespero e luxúria entrelaçados. Seu olhar estava preso no dela, penetrante. Ela não conseguia desviar o olhar. Não poderia parar essa loucura se ela desejasse.
E ela não desejou.
Eles se moviam juntos em um ritmo selvagem, empurrando, beijando. Sons emergiram de sua garganta. Sons miados, ofegantes e indefesos. Ele empurrava para dentro e para fora, a água batendo contra seus corpos, bocas acasalando. Ela chupou sua língua. Ele rosnou. Mais água voou da banheira enquanto sua vida amorosa crescia cada vez mais sem ser tensa.
Ele interrompeu o beijo, arrastando a boca pela garganta dela. Quando ela desceu sobre ele mais uma vez, ele mordeu seu ombro. Era tudo que ela precisava para voar sobre a borda. Ela se agarrou a ele, puxando-o tão profundamente quanto podia, e tremeu com o poder de sua libertação. Nell não conseguiu conter o grito de felicidade triunfante.
— Nellie, — ele gemeu contra sua pele, balançando sob ela. — Deus, Nellie, você se sente tão bem.
Ela poderia dizer o mesmo dele, mas ela estava além das palavras. Incapaz de pensar ou falar. Ela não podia fazer nada a não ser surfar nas ondas de seu pináculo. Nada além de montá-lo. Ele se moveu embaixo dela, seu corpo ficou tenso, e ela sabia que ele estava perto. Outra bomba feroz e um delicioso calor se espalhou dentro dela. Ele gozou com um grito áspero, mordendo seu ombro novamente enquanto se esvaziava dentro dela.
Ela o agarrou, saciada, sem ossos e sem fôlego, desejando que este momento nunca acabasse.
Deveria saber disso, para sua própria autopreservação e para o bem de seu coração.
Capítulo 12
Jack acordou exatamente como quando tinha toda a manhã nos últimos três anos.
Sozinho.
Maldição, deveria ter carregado Nell para a cama no meio da noite, quando terminaram de tomar banho. Ela estava corada e sonolenta, e surpreendentemente complacente. Ele tinha suspeitado que persuadi-la a dormir com ele não teria exigido muito persuasão.
Mas ele estava fazendo o possível para não apressá-la. Para permitir que isso — fosse o que fosse — entre eles ocorresse no ritmo dela. Foi muito difícil. Porque tudo o que queria fazer era arrastá-la para seus braços e beijar o diabo dela. Ele a queria em sua cama. Queria que ela o deixasse retornar ao seu coração. Ele queria que sua barriga inchasse com seu filho. Queria que ela o escolhesse.
Ele não se enganou pensando que qualquer uma dessas coisas seria fácil de realizar. Do jeito que estava, as velhas pausas que se acendiam entre eles eram a única razão pela qual ela permitiu que ele fizesse amor com ela. A atração deles sempre foi inegável. Foi como ele soube, no momento em que a vira pela primeira vez em uma regata de vela, há muito tempo, que a faria sua esposa.
E ele tinha.
Mas então, ele a havia perdido.
Severamente, ele puxou as roupas de cama e se levantou. Ele tinha uma chance agora de recuperar o que já tiveram. A princípio, supôs que sua persistência seria o suficiente. Mas ter seu corpo não era suficiente. Ele queria tudo dela.
Uma nova estratégia lhe ocorreu, que exigiria um retorno ao passado, em certo sentido. Um retorno para quando se apaixonaram pela primeira vez.
Ele vestiu o roupão e chamou seu valete.
Denning chegou e o guiou em suas abluções matinais. Mas, enquanto seu criado aparava sua barba e Jack se sentava diante do espelho, outra ideia lhe ocorreu. Se ele queria levar Nell de volta no tempo, ele também teria que ter uma aparência adequada.
— Raspe, Denning — ordenou ele, com apenas um momento de tristeza porque seus bigodes bem cuidados seriam removidos tão sumariamente. Ele não era um homem vaidoso, mas havia se acostumado a se ver barbudo.
Seu valete fez uma pausa, carrancudo.
— Como, meu senhor?
— A barba, — ele elaborou. — Sem aparar hoje. Eu gostaria de fazer a barba. Um novo começo, agora que voltamos para a Inglaterra.
Denning o acompanhou em todas as suas viagens. Ele tinha visto Jack em seu pior estado e era uma presença calma e criteriosa. Um companheiro confiável.
— Você tem certeza, meu senhor? — Denning perguntou.
— Certeza. — Ele olhou para seu reflexo, pensando que era hora. — Os bigodes podem crescer novamente, se eu mudar de ideia.
— Claro, — concordou Denning.
Mas havia algo em seu tom que fez Jack hesitar.
— Você acha que serei uma besta feia sem ele? — Ele perguntou. — Estou tentando impressionar Lady Needham.
Dizer as palavras em voz alta o fazia parecer um tanto tolo. Ele se sentia como um rapaz cortejando sua futura noiva: incerto, um feixe de nervos agitado e esfarrapado. A esperança era uma lasca dolorosa em seu coração. Que homem impressionou sua esposa por mais de quatro anos?
Um homem que cometeu erros suficientes para quase perdê-la para sempre.
— Se o seu objetivo é impressionar sua senhoria, posso sugerir também um corte em seu cabelo? — Denning perguntou, pegando a navalha, o sabonete e a escova.
Jack levou a mão ao cabelo. Talvez esteja um pouco longo.
— Você acha que é necessário?
— Acho que isso ajudaria a sua causa, meu senhor. — Denning foi educado como sempre. Sério.
Seu senso de moda era impecável, no entanto.
Jack inclinou a cabeça para trás, dando ao criado melhor acesso aos seus bigodes sentenciados.
— Minha causa precisa de toda a ajuda que puder conseguir, Denning. Faça o seu melhor.
Havia um estranho à mesa do café.
Um deus de olhos verdes com o rosto bem barbeado, e cabelo curto e escuro, que parecia exatamente como o homem que roubou seu coração cinco anos atrás.
Nell parou na soleira da sala de jantar quando uma onda de lembrança a assaltou. Todas as severas advertências que emitia para si mesma desde o momento em que se levantara ao amanhecer, com um corpo que doía em lugares que não ganhavam vida há anos desapareceram. Seu coração deu uma pontada. Jack parecia mais jovem sem a barba e, embora não tivesse imaginado que fosse possível, ainda mais bonito.
A linda simetria de seu rosto estava em plena exibição agora, complementada pelos lábios sensuais que ela conhecia e desejava nos dela.
Ele se levantou em sua entrada e ofereceu-lhe uma reverência elegante.
— Bom dia, minha senhora.
Ela se forçou a fazer uma reverência de resposta e reunir seu raciocínio disperso.
— Lorde Needham.
Ele estava ao lado dela em um instante, e cheirava tão divino quanto parecia. Seu olhar era quente enquanto queimava no dela. Ela não pôde deixar de lembrar a maneira como ele a olhou nos olhos na noite anterior, quando esteve dentro dela. A conexão deles era mais profunda do que física. Para sua vergonha, ela havia baixado suas defesas. Mas, deveria erguê-las novamente hoje.
Como? Perguntou seu coração desanimado.
Jack ofereceu-lhe o braço tão galantemente como qualquer jovem.
— Permita-me guiá-la até seu assento e encher seu prato, minha querida.
De fato, como?
Ciente da audiência deles, ela colocou a mão na dobra do seu braço. Sob sua mão, o braço dele era uma força reconfortante. Ela tentou se forçar a pensar em Tom. Mas seu coração estava batendo forte. E tudo em que conseguia pensar era no homem ao seu lado.
Seu marido.
Ela não podia negar o efeito que ele tinha sobre ela. Em uma névoa, permitiu que ele a sentasse. Ela disse a si mesma que precisava endurecer o coração. Para ignorar essa mudança repentina em sua aparência. Ele não era o Jack por quem ela se apaixonou naquele mês de agosto na regata. Ele era o homem que a traiu.
Mas suas palavras da noite passada voltaram para ela, zombeteiras. Provocando. Tentando.
Olhe para o homem que te ama.
Não. Ela não podia se dar ao luxo de acreditar nele. Não podia se permitir cair sob seu feitiço mais uma vez. Ontem a havia deixado perigosamente perto do limite.
Ele dispensou os servos dançando sobre o aparador carregado, deixando-os sozinhos. Ela viu quando ele pegou um prato e começou a enchê-lo para ela.
— Como você presume que sabe o que eu quero? — Ela lhe perguntou, forçando-se a falar.
— Bacon, ovo pochê e frutas frescas da estufa, não? — Ele voltou alegremente.
Ele estava certo, maldito seja.
Parte dela queria contradizê-lo, mas então seria ela quem sofreria com um desjejum com alimentos que não tinha vontade de comer. Em vez disso, ela preparou uma xícara de chá para si mesma.
— Que vai fazer.
Ele se virou para ela, segurando um prato cheio de comida demais.
— Você se lembra da manhã, não muito depois de nos casarmos? Fizemos o café da manhã na cama e as framboesas estavam na estação?
Ele as colocou em seus mamilos, e depois as comeu.
A lembrança fez seu rosto ficar quente. Ela apertou as coxas para afastar uma onda de desejo.
— Não me lembro disso.
Jack colocou o prato diante dela, inclinando-se, seus lábios roçando em sua orelha.
— Mentirosa.
Claro que ela era uma mentirosa.
— Como você saberia do que me lembro e do que não? — Perguntou afetadamente, afastando-se dele.
— Espinhosa como sempre nesta manhã, — observou ele, sentando-se mais uma vez diante de seu jornal, que havia sido bem passado e colocado para sua leitura.
— Irritante como sempre, — ela brincou. — Você percebe que sua alegria está equivocada, não é? A noite passada não se repetirá.
Ele lhe lançou um olhar.
— Hmm.
Sua resposta evasiva diminuiu.
— Eu estava profundamente embriagada e fora de mim.
Jack ergueu uma sobrancelha.
— Estranho. Não senti o gosto de nenhum destilado na sua língua quando estava na minha boca.
Ela agarrou a alça de sua xícara de chá com força suficiente para quebrá-la.
— Você é vulgar.
— Ainda assim, você ainda me quer. — Ele voltou seu olhar para o The Times, como se achasse a conversa deles desinteressante. — Não há como negar, Nellie.
Pense em Tom, ela insistiu para si mesma.
Tom seguro, reconfortante e familiar. Tom nunca quebraria seu coração. Ele também não a trairia. Tom a amava. Ela não deveria esquecer isso. E ela retribuiu o seu amor cedendo à sua luxúria por Jack.
Que criatura miserável ela era. Ela confessou o beijo para Tom, mas como explicaria que foi muito além de um simples beijo? E em duas ocasiões separadas, nada menos?
— Também quero vinho, chocolate e grandes quantidades de bolo, — rebateu ela com calma, quebrando a casca do ovo pochê com uma colher. — Mas nada disso é bom para mim.
— Você está me comparando a um bolo? — Ele perguntou, parecendo divertido. — Verdadeiramente, Nellie. Acho que você protesta demais.
Como ele estava calmo. Quão seguro de si. Naturalmente, ela lhe havia dado todas as razões para ser assim. Ela cedeu. Ela era fraca.
— Estou apenas sugerindo que você não é bom para mim da mesma maneira. — Ela tomou outro gole calmante de seu chá.
— Eu discordaria, mas você está usando seu olhar severo de governanta, e atrevo-me a dizer que não é um bom presságio para eu ganhar uma discussão com você. — Ele espetou um pedaço de abacaxi com o garfo e o levou aos lábios.
Oh, que lábios.
Até o ato comum de comer frutas era atraente quando Jack comia, maldito seja.
Ela o observou mastigando, o calor queimando dentro dela. Espontaneamente, os pensamentos da noite anterior voltaram. Beijando-o no lago. Beijando-o no banho. A forma como ele ficou dentro dela, a água quente envolvendo-os enquanto buscavam freneticamente o prazer.
— Minha governanta era uma mulher terrível, — disse ela, sacudindo-se e tentando tirar da mente a necessidade louca de olhar para a boca dele.
— Senhorita Richards, — ele disse.
Seus olhos voltaram para ele, com a surpresa a formigando.
— Você se lembra do nome dela.
Ele lhe deu um de seus meios sorrisos.
— Claro que me lembro. Como posso esquecer a sua história de ter se vingado da desgraçada derramando tinta em uma de suas botas?
Ela lhe sorriu de volta antes de se conter e forçar seu semblante a ficar sério mais uma vez.
— Ela mereceu isso e pior.
— Você não acha que a minhoca na cama dela foi pior? — Ele perguntou.
Maldito seja, ele tinha que se lembrar de tudo?
Ela franziu o cenho, muito magoada.
— O que aconteceu com seus bigodes?
Seu sorriso se aprofundou quando ele esfregou a mão no queixo pontudo.
— Saíram pela maneira usual. Um barbeado por Denning. Achei que era hora de uma mudança. Você gosta disso?
Ela adorou. Além disso, ela gostava dele. E esses eram dois fatos cada vez mais problemáticos.
— A barba ficava melhor em você, — ela resmungou, olhando para o prato, embora não fosse verdade.
Jack era lindo com ou sem bigodes, o cabelo desgrenhado, ondulado ou cortado rente. Era lindo na noite escura de luar e à luz do sol cada vez mais forte. Ele era simplesmente lindo, o diabo safado.
— Hmm, — ele disse novamente.
Ela olhou-o mais uma vez, mas ele havia retornado seu olhar para o jornal espalhado à sua frente.
— O que isso significa? — Ela perguntou finalmente, perdendo sua guerra interior para permanecer quieta.
— Significa que não acredito em você, minha querida esposa. Seus lábios dizem uma coisa, mas seus olhos dizem outra. — Seu tom era confiante.
Ele estava fazendo um bom trabalho cavando sob sua pele esta manhã. Na verdade, ele vinha fazendo isso desde seu retorno, agora que pensava nisso.
— Desejo da sua parte, talvez, — ela sugeriu asperamente. — Realmente me mantenha fora do seu acompanhamento do que acontece hoje no mundo, eu peço. Acho que ser forçada a manter uma conversa com você durante o café da manhã me torna bastante enjoada.
Ela estava sendo terrível com ele, mas não se importava.
— O Times é sempre uma fonte de informação. — Ele parecia divertido.
Ela lançou-lhe um olhar irritado para descobrir que ele estava sorrindo, o idiota.
— O que é tão engraçado, Needham?
Sua leviandade apenas parecia dobrar.
— Needham, não é? Ontem à noite eu era Jack.
— Ontem à noite, permiti que minha natureza mais vil dominasse minha mente racional, — ela retrucou. — Não se iluda acreditando que vou me comportar com uma estupidez tão precipitada de novo.
— Nellie, você se lembra do dia em que nos conhecemos? — Ele perguntou então, sua expressão suavizando.
Claro que ela se lembrava. Ela nunca, jamais esqueceria.
— Temo tê-lo apagado da minha memória, — disse a ele do mesmo jeito, baixando o olhar para o prato.
Ela nunca seria capaz de consumir tanta fruta — fatias frescas de laranja, abacaxi, morangos. Seu apetite estava visivelmente ausente esta manhã. Tudo o que sentia era doença. Mas forçou-se a tomar muito cuidado ao cortar um morango em pedaços pequenos da mesma forma.
— Foi em Cowes, — ele disse suavemente. — Num baile. Você estava usando um vestido rosa com rosas de seda bordadas e os mais delicados babados de renda, como teia de aranha. Tinha uma fita combinando e rosas trançadas em seus lindos cachos. Quando te vi pela primeira vez, você estava dançando com Lorde Whitby. Você riu de algo que ele disse, e eu fiquei encantado. Implorei a Falkland por uma apresentação, depois de ele ter rido da maneira como eu não conseguia tirar os olhos de você.
Não, não, não.
Ela não queria ouvir nada disso. Também não queria reviver aquele dia, que antes parecia tão encantador. O melhor dia da vida dela. Como o tempo provou-se errado para ela. Tampouco queria saber que ele se lembrava dos detalhes do vestido que ela usara, ou com qual cavalheiro ela estava dançando quando ele a viu pela primeira vez.
Ela o ignorou, continuando a comer seu café da manhã em silêncio, seu olhar firmemente fixado em seu prato.
Mas Jack não havia terminado.
— Nós dançamos Le Moulinet, e eu estava muito frustrado porque parecia que, tanto como eu estava ao seu alcance, você estava girando para longe novamente. Perguntei se eu poderia visitá-la depois, e você disse que sim. Mas eu não podia esperar, porque as horas entre aquele momento e o dia seguinte pareciam intermináveis. Eu te encontrei numa alcova e você me deu a fita do seu cabelo. Quis beijá-la então, mas estava tentando agir como um cavalheiro, então me conformei com a fita. Ele fez uma pausa em sua longa recitação. — Eu ainda tenho a fita, sabe.
Nell se fortaleceu contra as palavras dele, que foram como um dardo envenenado diretamente em seu coração. Ela espetou um morango com tanta força que o deixou macerado no prato. Suco rosa acumulou-se na porcelana fina. Ela engoliu em seco contra uma onda de emoção indesejada.
— Carreguei comigo por todos os lugares que viajei, — ele continuou suavemente, — junto com sua foto e todas as cartas que você já me escreveu quando estávamos namorando.
Ela fechou os olhos e mordeu o lábio para evitar uma torrente de lágrimas. Não choraria diante dele, disse a si mesma. Permaneceria impenetrável. Ela iria ignorá-lo. Ignore as lembranças.
— Você sabia que para todos os lugares que eu viajava, ficava esperando ver você? — Ele riu, o som era amargo. — Era um hábito tolo, reconheço. Em Paris, vi uma mulher pequena com cabelos dourados nas ruas e me convenci de que ela era você. Ela virou-se um pouco antes que eu pudesse alcançá-la na Rue Notre Dame des Victoires, e vi seu perfil. Ela não era você. Não importa onde eu estivesse, seja em Colônia, Roma ou Constantinopla, você nunca estava em qualquer lugar, exceto no meu coração.
Maldito seja a perdição. Seu garfo caiu com um estrondo no prato. Por fim, forçou seu olhar de volta para ele.
— O que você espera de mim, Jack? — Ela mordeu fora. — Você me traiu. Você nos traiu, nosso casamento, tudo que compartilhamos. Você quebrou meu coração. Você se foi por três anos e agora esperava voltar com tudo isso, esse sentimento indesejado, e ter o quê de mim? Cair aos seus pés? Você quer meu coração entregue a você como despojos de vitória? Devo me sentir mal porque você só percebeu o que tínhamos quando era tarde demais, e você já havia convidado outra mulher para sua cama?
A fúria a fez tremer. Estava com raiva, com muita raiva. Zangada consigo mesma por fazer amor com ele ontem. Por desejá-lo do jeito que desejava. Zangada com Jack pela maneira como ele havia retornado como se nunca tivesse partido, todo sorrisos provocadores, charme e protestos de amor e inocência.
— Nellie, — ele começou, sua expressão dolorida, — por favor...
— Não, — ela interrompeu, levantando-se de repente. — Não mais. Se você me der licença, perdi o apetite.
Sem esperar que ele respondesse, ela fugiu da sala de jantar.
Mas o mais importante, ela fugiu de Jack e de todas as memórias compartilhadas, junto com toda a tentação de cair de cabeça novamente. Porque ela sabia o quão desastroso seria.
Já havia planejado seu futuro, e o Marquês de Needham não estava em lugar nenhum.
Capítulo 13
Jack não podia encontrar sua esposa.
Ele a procurou em todos os lugares desde que ela fugiu do café da manhã naquele dia.
Nenhuma sorte além de saber que ela havia tirado um cavalo do estábulo. E então ele fez o mesmo como resposta, determinado a encontrá-la. Ela podia correr, ele havia raciocinado, mas não podia se esconder. Não dele. Não para sempre.
Mas ele estava cavalgando por horas, parando para descansar a montaria e voltar a Needham Hall, para ver se sim ou não, sua esposa havia voltado de sua segunda saída temporária, apenas para ficar desapontado a cada vez. Ele esporeou seu cavalo agora, vasculhando o horizonte em busca de qualquer indício dela.
Ela já havia partido há horas. Ele a pressionou fortemente no café da manhã e sabia disso. As emoções delas estavam intensas — por mais que ela gostasse de acreditar que ele não pudesse lê-la, seu semblante era tão expressivo como sempre foi, denunciando-a. Ele a sacudiu. Em vez de trazê-la para mais perto, no entanto, ele a afastou.
A conexão deles ontem, embora principalmente física, era inegável. O desejo era como sempre tinha sido. Elétrico, cru, carnal e totalmente consumidor. Ainda mais agora, já que haviam passado tanto tempo desnecessariamente separados.
Ainda assim, nada disso importava se ele não pudesse localizá-la, falar com ela. E quanto mais tempo passava, mais sua frustração se transformava em medo. Needham Hall era uma propriedade enorme. Ela poderia estar em qualquer lugar. Se tivesse cavalgado de forma imprudente e sido jogada de sua montaria novamente, como havia lhe confessado, acontecera no passado...
Moendo seus molares, ele esporeou sua montaria em direção a uma floresta que acabou dando lugar a um pequeno riacho natural. Quando menino, tinha sido um de seus lugares favoritos para visitar. Longe o suficiente da casa principal para que ninguém pudesse encontrá-lo. Tranquilo o bastante para relaxar, mergulhar na água com as calças enroladas até os joelhos. Escapar das intermináveis disputas e ódio de seus pais.
Ele levara Nell lá uma vez e, embora parecesse realmente uma tolice supor que ela estaria lá agora, estava disposto a procurá-la em qualquer lugar. Seu desespero pela preocupação dela não conhecia limites, ao que parecia. Ele era, como sempre, o seu tolo.
Condenado a ser assim, desde o momento em que a vira dançar nos braços de outro.
Seu coração sempre seria dela.
Mas estava começando a perceber uma verdade mais desesperadora: se ela não pudesse ir além do passado, ele a perderia para sempre, e seu orgulho o forçaria a deixá-la ir. Ele não podia fazer com que ela o amasse. Não poderia fazê-la feliz. E uma vida com uma Nell infeliz, embora a amasse tanto, seria pior do que uma vida sem ela. Não podia suportar sua dor.
E Nell? Ela ainda não acreditava nele. Duvidou de sua palavra. Duvidou de sua fidelidade. E embora ele não pudesse negar que Lady Billingsley estivera em sua cama naquela noite, e embora não fosse desculpa, ele nunca havia traído Nell além de estar muito bêbado quando a mulher errada deslizou para sua cama, nua e pronta a seduzir.
Ele alcançou o início das árvores e diminuiu a velocidade. O antigo caminho permanecia largo o suficiente para um cavalo passar. E só havia uma maneira de isso ser possível, após três anos de sua ausência. Nell estava vindo aqui.
A esperança se ergueu, afiada como uma faca, por dentro.
Lentamente, com cuidado, guiou seu cavalo ao longo do sombreado caminho que conduzia ao riacho. Depois de um tempo, viu o que estava esperando, o que tinha esperança. O cavalo de Nell estava amarrado a uma árvore, farejando um pedaço de grama que brotava à luz do sol entre os enormes carvalhos antigos.
O alívio o atingiu.
Ela estava aqui. Em algum lugar. Ele apenas tinha que encontrá-la.
Jack freou sua montaria e a amarrou a uma árvore não muito longe da montaria de Nell. E então, foi a pé pela trilha onde ela se tornou estreita, tortuosa e repleta de velhas raízes de árvores subindo da terra, tornando-a realmente traiçoeira para viagens equinas.
Estranho como ele poderia ter estado ausente de um lugar por tanto tempo, e ainda assim conhecia cada curva do caminho de cor. Ele sabia que o musgo crescia espesso, onde uma grande rocha de quartzo se projetava branca e cintilante da terra, onde flores silvestres brotavam como velhas amigas todos os anos. E sabia o momento preciso em que ouviria o gorgolejar do riacho.
Um passo, dois.
Lá estava. O riacho.
E lá estava ela, sua Nellie.
Ela estava sentada, de costas para ele, a saia ondulando ao seu redor, em uma cama de miosótis. O sol estava brilhando sobre ela através da falha nas árvores acima, fazendo-a parecer que brilhava. Como se ela fosse um anjo, enviado do céu.
Nada disso era verdade.
Ela era muito humana, muito real.
Ao se aproximar, percebeu que ela parecia estar debruçada sobre algo em seu colo.
— Nellie, — ele disse suavemente, odiando o jeito que ela endureceu com sua voz.
Ela lançou-lhe um olhar frio por cima do ombro.
— Por que você está aqui, Jack?
Ele se acomodou ao lado dela, tomando nota do livro aberto em suas saias.
— Eu estava preocupado com você. Você se foi há horas.
Ela suspirou.
— Intencionalmente. Quero ficar sozinha.
Parecia que ele estava sempre a perseguindo, em um impasse amargo. Ele a pegaria, seguraria, ficaria com ela?
— Você me despreza tanto, Nellie? — Ele perguntou, prendendo a respiração enquanto esperava sua resposta.
Ela demorou, desviando o olhar para o riacho.
— Eu desprezo o que você fez, — ela disse finalmente.
— Sobre isso, estamos de acordo, — ele disse suavemente.
Uma noite foi o suficiente para arruinar seu casamento e destruir sua vida. Um momento.
Ela olhou para ele, sua expressão endurecendo.
— Você está admitindo agora?
Ele encontrou seu olhar, sem vacilar.
— Estou admitindo a verdade, como sempre fiz. Eu estava bêbado. Lady Billingsley veio para a cama errada. Achei que ela fosse você. Eu a beijei. Eu nunca dormi com ela.
— Mesmo que o que você diga seja verdade, eu vi você beijando-a, Jack. Como você pode confundi-la comigo? — Havia tanta angústia em seu rosto, e ele se odiava por ter sido o responsável por isso.
Por ser responsável por sua dor.
Por ser aquele que os separou.
— Não há desculpa, Nellie. Eu era um idiota bêbado. Estúpido, imprudente e egoísta. — Havia aprendido muito sobre si mesmo nos últimos três anos. Ele tinha seus próprios pecados. — Desejo a Deus que aquela noite nunca tivesse acontecido, que eu nunca te machucasse.
— Por que você o dedicou a mim? — Ela perguntou de repente.
Sua pergunta o surpreendeu. Ele franziu a testa, tentando entender.
— Perdão?
— Seu livro. — Ela ergueu o volume abandonado em seu colo, e o reconhecimento deslizou sobre ele. — Por que você o dedicou a mim?
Ela deve estar falando de uma de suas memórias de viagem. Mas ele dedicou cada volume a ela, o que significa que ela só tinha lido um até agora.
— Penitência, — disse ele com sinceridade. — E amor.
Seus lábios exuberantes se apertaram.
— É um relato excelente.
Seu elogio soou relutante. Ele não pôde deixar de sorrir, apesar da seriedade do momento.
— Você está surpresa? Talvez você esperasse que fosse baboseira ou seco como poeira?
— Não. — Ela balançou a cabeça, sua expressão ficando triste. — Você sempre foi terrivelmente conhecedor em tudo que tenta, Jack. Não estou nem um pouco surpresa que seus livros de viagem tenham sido tão bem recebidos.
— Não sou conhecedor de tudo, — ele disse cuidadosamente, estudando-a. — Ainda tenho que ganhar minha esposa de volta, por exemplo.
— Isso é uma impossibilidade de qualquer maneira. — Seu queixo subiu.
— É isso? — Ele cobriu a mão dela com a sua. — Deixe um homem com sua esperança, não é?
— Por que você está fazendo isso, Jack? — Ela não afastou a mão da dele, mas seu semblante estava fechado como sempre. — Por que você não pode simplesmente me deixar livre?
— Porque eu não posso, — ele admitiu com honestidade crua. — Você é minha, Nellie. Você sempre foi minha.
— Eu não sou uma posse. Eu sou uma mulher. — Ela fez uma pausa, afastando-se dele, seu olhar voltando para o córrego. — Eu tenho um coração, Jack. Sentimentos. Necessidades e desejos. Me deixe ir, te imploro. Essa loucura não pode continuar entre nós. Dói muito.
Suas palavras o cortaram. Não eram o que ele queria ouvir.
Seus dedos se apertaram nos dela.
— Você realmente quer me dizer que escolheu Sidmouth em vez de mim? Que você prefere suportar o escândalo do divórcio e se casar com outro homem do que continuar sendo minha esposa? Mesmo depois de tudo o que compartilhamos? Depois de todos esses anos? Depois de como estamos juntos?
— Eu já te disse. — Ela olhou para ele, decidida. — Não posso continuar casada com um homem em quem não confio. O resto disto... isto não é suficiente.
— O desejo não é suficiente? — Ele pressionou. — Meu amor por você não é suficiente?
— Não foi o suficiente três anos atrás. — Sua voz era sombria.
Ele se recusou a acreditar que ela era inalterável.
— Talvez precisemos desses três anos, Nellie. Você já pensou nisso? Éramos jovens e selvagens quando nos casamos. Mas aquele tempo separados, tempo de aprender quem somos, de crescer... talvez nos tenha fortalecido. Talvez possa nos trazer de volta juntos, em vez de nos manter separados.
Por um longo tempo, ela ficou em silêncio, sua mão ainda sob a dele, seus dedos entrelaçados sem sua participação.
— Você quis dizer o que disse esta manhã?
Ele apertou os dedos dela.
— Eu sempre quis dizer tudo o que digo para você.
— Que você me viu em suas viagens, — ela elaborou, seus olhos brilhantes fixos nele. — Que você pensou que me viu em Paris.
Jack deu a ela um sorriso triste.
— Sim. — Idiota patético que ele era.
— Nos primeiros meses em que você se foi, fiquei esperando que voltasse. Estava convencida de que voltaria. Eu acho que ouvi sua voz em uma sala. Te via em todos os lugares. Mesmo em meus sonhos. Mas você nunca esteva lá, Jack. — Lágrimas brilharam em seus olhos, agarrando-se a seus longos cílios.
Ela piscou, lutando contra elas.
Sempre lutando, sua Nellie.
Ele admirava isso nela. Mas, também odiava. Porque ela estava lutando contra ele. Lutando contra eles.
— Estou aqui agora, — disse ele, toda a urgência dentro dele tremendo em sua voz.
Ela balançou a cabeça.
— Não é suficiente.
Dane-se ela.
Jack apertou o punho.
— Me dê uma chance, Nellie. Você me deve muito.
Ele parecia desesperado. Mas, estava. Não podia perdê-la. Recusou-se a contemplar isso. E, no entanto, ao ler a tristeza em sua expressão, a dor em seus olhos, ele sabia que ela era uma mulher no limite.
— Você pede demais, — ela sussurrou. — Deixe-me ir, Jack. A hora chegou.
— Quinze dias, — ele tentou novamente. — Dê-me quinze dias para reconquistá-la. Se você ainda se sentir da mesma forma no final desse período, vou concordar com o divórcio.
As palavras foram esmagadoras. Devastadoras. Necessárias, entretanto. Ele não poderia passar o resto de sua vida tentando conquistá-la. Seu amor por ela era mais forte do que sua necessidade; se permanecer como esposa lhe traria muita miséria, ele teria que amá-la o suficiente para libertá-la.
Mesmo que perdê-la fosse uma sentença de morte para ele.
— Você está falando sério, Jack? — Seu olhar sondou o dele. — No final da quinzena, você concordará com o divórcio?
Toda a respiração parecia ter sido sugada de seus pulmões. Mas ele concordou.
— Sim. Se você ainda quiser o divórcio no final da quinzena, prometo que será seu.
Nell acenou com a cabeça uma vez, o movimento espasmódico.
— Uma quinzena. Não mais. E eu não vou compartilhar sua cama.
— Compartilhar minha cama não é um requisito. Eu posso te conquistar de outras maneiras. — Ele levou a mão dela aos lábios, beijando seus dedos. — Tudo que preciso é que você deixe de lado suas armas.
Um pequeno e triste sorriso apareceu em seus lábios.
— Eu nunca tive nenhuma arma contra você, Jack, e esse é o problema.
Como ela estava errada. Ninguém poderia cortá-lo até a medula do jeito que ela podia.
Uma quinzena.
Querido Deus, com o que ela concordou?
Quatorze dias. Quatorze dias vendo Jack, ele falando sobre todas as memórias que compartilharam, ele olhando-a com aqueles olhos esmeralda de quarto de dormir e fazendo-a derreter.
As mãos de Nell tremiam quando desceu a escada naquela noite a caminho do jantar. Foi a primeira vez que ela não levou uma bandeja em seus aposentos. Ela teve cuidado na escolha com o vestido — era sombrio e preto, um velho vestido de luto que ainda tinha depois do falecimento de sua mãe. De pescoço alto e afetado, abotoado até a garganta com uma linha de contas negras e uma rede de renda caindo sobre sua silhueta sombria.
Enquanto sua criada de quarto a ajudava em sua toalete, ela traçava um plano de batalha para a noite. Iria ficar bêbada. Era a única maneira de sobreviver a um jantar com as zombarias inteligentes e o charme provocador de Jack.
Jack apareceu à sua frente. Estava lindamente vestido, seu cabelo curto penteado para trás em sua testa alta, seu colete marrom um contraste vibrante com seu casaco e calças pretas e a brancura de sua camisa. Ele a observou descer, uma expressão curiosa em seu rosto bonito.
Quando ela chegou ao último degrau, ele lhe ofereceu uma elegante reverência.
— Permita-me apresentar-me. John Reginald Ainsworth, Marquês de Needham, Conde de Marbury, Visconde Pelham, etc. Mas todos os meus familiares me chamam de Jack. — Seu meio sorriso característico curvou sua boca sensual.
Ela queria beijar aqueles lábios, amaldiçoá-lo.
Nell fez uma reverência abreviada, determinada a se proteger contra seu charme.
— Que jogo você está jogando agora, Jack?
— Nenhum jogo. — Seu sorriso desapareceu quando ele encontrou seu olhar, a intensidade daquelas órbitas verdes queimando-a. — Pensei que talvez pudéssemos começar de novo esta noite. Começar de novo.
— Isso não ajudará em nada a sua causa, — ela o alertou, pegando o braço que ele lhe ofereceu.
— Mas certamente vale a pena tentar. — Sua voz era suave. Não afetada.
Ele não se parecia com o homem que viera até ela no riacho. Aquele Jack estava em carne viva, sem seu polimento, quase desesperado. Estava preocupado com ela. E, apesar de si mesma, ela havia sido tocada.
Suas palavras voltaram à sua mente enquanto caminhavam para a sala de jantar.
Você é minha, Nellie. Você sempre foi minha.
Meu Deus, se ele soubesse. Resistir a ele, lutar contra ele, custou-lhe todo o mínimo de resolução que possuía.
O jantar começou sem muito alarde.
Ela estava sentada muito mais perto dele do que teria preferido, mas não ia fazer barulho diante dos criados ou de seu marido. Quanto menos alguém — especialmente Jack — percebesse o quanto ele a afetava, melhor. Ela se sentou afetadamente, muito ciente de sua presença e olhar fixo.
— Diga-me, minha senhora, — disse ele quando o primeiro prato chegou, — o que a traz ao país?
— Por que você insiste nesse pretexto absurdo? — Ela murmurou.
— Eu imploro seu perdão. — Ele agitou os cílios para ela como se fosse um coquete. — O que foi que você disse, Lady Needham?
Ela mordeu o lábio para conter a risada. Mesmo quando parecia ridículo, ele era lindo de uma forma que nenhum mero mortal deveria ser. Injusto. Muito injusto. Ela esperou até que os criados se retirassem para o perímetro da sala, onde não podiam ouvir a conversa.
— Se você quer saber, meu senhor, eu estava comemorando, — ela disse incisivamente.
— Diga? A feliz ocasião do retorno de seu marido, não foi? — Ele sorriu para ela.
Ele estava gostando disso, o limite.
— Não, exatamente.
Ela voltou sua atenção para o potage à la prince em sua tigela. Ela não se lembrava de ter aprovado aquela sopa rica de perdiz com castanhas — uma de suas favoritas.
— Esta sopa é deliciosa, não é? — Ele perguntou, como se estivesse lendo sua mente. — Uma senhora que admiro considera-a uma das melhores.
Ela ignorou a implicação de suas palavras, tomando um gole delicado da sopa.
— Não consigo imaginar por que ela a recomendaria. Parece o tipo de prato pelo qual o entusiasmo de alguém inevitavelmente diminuiria. Muito parecido com um marido indesejado.
O último foi desnecessariamente cortante, mas se ela iria sofrer por mais quatorze jantares, precisava construir as paredes malditamente altas.
Ela precisava construir uma droga de fortaleza.
— Ou, — ele sugeriu após um longo silêncio, — é o tipo de prato que deixa o paladar mudado para sempre. Independentemente do tempo que tenha passado ou das outras sopas que tenhamos experimentado, potage à la prince mantém o seu encanto.
Ela o cutucou com um olhar.
— Você está se superando com metáforas tolas, meu senhor.
Ele ergueu uma sobrancelha escura.
— Estava apenas falando sobre o prato de sopa, minha querida.
Rangendo os dentes, ela voltou sua atenção para a comida diante dela. E para seu vinho. Ela estava em sua segunda taça quando os rissoles à la reine chegaram. A natureza das trufas era um deleite para seus sentidos, pois também era outra de suas favoritas. A menos que errasse o palpite, seu marido inteligente havia reescrito o cardápio da noite para certificar-se de que seria atraente para ela.
— Estremeço só de pensar no que vem a seguir, — resmungou ela, dando uma delicada garfada no molho bechamel e salsinha frita. — Não caberei em nenhum de meus vestidos amanhã de manhã.
— Se eu tivesse meu caminho, você não precisaria de vestidos pelos próximos quinze dias, pelo menos, Lady Needham, — seu marido canalha lhe disse, em voz baixa.
O desejo a invadiu. Ganhou vida em seu núcleo, a dor tão intensa que quase emitiu um gemido de frustração, bem ali na mesa de jantar diante de um par de lacaios. Do jeito que estava, ela engasgou-se com um pedaço de sua comida.
Ela tentou se recuperar derramando o resto do vinho na garganta.
— Nellie? — A alegria havia desaparecido de sua expressão e tom. Em seu lugar estava uma preocupação absoluta.
Ela bebeu freneticamente em seu vinho até que acabou e então cuspiu enquanto esperava que um lacaio enchesse sua taça.
— Perfeitamente bem, — ela engasgou-se.
— Essa não foi bem a reação que eu esperava. — Seu tom era irônico.
Nell bebeu um pouco mais de vinho, notando que ele não tinha nenhum em sua mesa. Ela não o tinha visto beber, nem saborear nos lábios, desde sua volta. Talvez aquela parte do que lhe disse fosse verdade. Ainda assim, sua posição era muito pouca, muito tarde.
E quanto a ela? Ela não tinha posição, exceto uma: o divórcio. Preservando seu coração também. Crie os dois.
Ela soluçou em seu vinho. Adorável. Exatamente o que ela precisava. Primeiro quase engasgou-se, e agora estava soluçando. Sua humilhação não teria limites?
Nell lançou-lhe um olhar feroz e bebeu mais um gole de vinho, depois prendeu a respiração para garantir.
— Isso não funciona, você sabe. — Seu tom era conhecedor. — Só há uma maneira de você se livrar de seus soluços, meu amor.
Ela intensificou a força de seu olhar e soltou a respiração que estava prendendo.
— Se o meu engasgo inicial foi o que exigiu que você parasse de jogar seus jogos idiotas, suponho que deveria estar — soluço — grata.
Golpeado.
— Devo provar a veracidade da minha afirmação? — Ele perguntou calmamente, seu olhar mergulhando em sua boca.
Seus lábios formigaram. O mesmo aconteceu com o lugar entre suas coxas. Para sua mortificação, ela estava molhada. Pela memória de sua boca nela. A partir daquele olhar verde. Seu pulso estava batendo forte em sua pérola. Ela precisava de mais vinho, claramente.
Ela deu a ele sua carranca mais feroz.
— Não, obrigado. Soluço.
Espontaneamente, as lembranças de como ele havia curado seus soluços voltaram. Com beijos, sempre. E às vezes, com mais. Uma vez, eles tinham estado em um baile e ambos haviam bebido até ficar bêbados. Ela soluçou durante uma valsa e ele a conduziu a uma sala escura, curvou-a sobre uma cadeira e deslizou profundamente dentro dela.
Ela soluçou novamente, suas bochechas esquentando com a memória. O olhar de Jack sobre ela lhe disse que se lembrava também. Ele afastou o olhar dela.
— Deixe-nos aproveitar o restante desta refeição, — ele instruiu os lacaios.
Eles desapareceram em um momento, a porta fechando em suas costas.
Jack se levantou de seu assento.
Ela balançou a cabeça.
— Não! Soluço.
Mas seu marido não deu ouvidos. Claro que não. Ele nunca ouvia. Não quando se tratava do desejo dela de manter distância entre eles. Ele pegou as mãos dela e ajudou-a a se levantar, puxando a cadeira.
— Você ainda está soluçando, meu amor, — ele observou, puxando-a contra seu peito.
Ela foi. Sim ela foi. Mais tarde, ela colocaria a culpa no vinho. Diria a si mesma que estava bêbada. Mas, por enquanto, pressionou-se contra seu corpo grande e forte. Ela estava desejosa e ansiosa. Um cordeiro para o matadouro. Esquecendo todas as razões pelas quais deveria manter distância.
— Eu não — soluço — estou, — ela protestou sem fôlego, com as mãos em seu peito.
Com ternura, ele tirou um cacho de sua bochecha. Segurou o rosto dela com suas mãos grandes e quentes.
— Você acabou de provar que está errada. Eu estaria mentindo se dissesse que não gostei da ironia, só um pouco.
Ela deveria se afastar dele. Voltar para a cadeira dela. Comer o jantar em paz.
Em vez disso, se encontrou derretendo-se nele. Ele era tão robusto, tão musculoso. Nunca falhou em fazê-la se sentir segura. Protegida. Querida. Sempre querida. Até o dia em que ele não tinha mais feito isso.
Mas de alguma forma, ela não conseguia pensar sobre isso agora, enquanto outro soluço fugia de seus lábios.
— Se acha que vou permitir que você cure meus soluços da mesma maneira que no baile de Desborough, você está errado, — ela lhe disse, pontuando sua frase com outro soluço.
Seus polegares percorreram as maçãs do rosto.
— Você quer que eu te foda na mesa da sala de jantar no meio do jantar, Nellie? Diga a palavra e eu comerei sua boceta doce no próximo prato em vez da torta de carneiro.
Sua vulgaridade só a fez desejá-lo mais. Havia algo errado com ela, com certeza. Só uma idiota se sentiria tão desesperada de desejo por um homem que se provou não confiável da maneira mais covarde possível. Mas a dor estava lá. Inegável.
Ela lambeu o lábio inferior.
— Torta de carneiro é o próximo prato? — Ela perguntou, apenas para provocá-lo.
Porque a verdade era que ela estava louca de desejo por ele. Somente pela sua proximidade, seu toque, seu cheiro, seus olhos verdes presos em seus lábios, suas palavras perversas. Há quanto tempo ele não a satisfazia assim? Anos. Muito tempo. Há muito, muito tempo.
A mera menção disso fez sua pérola inchar. Pronto. Querido Deus, as façanhas sensuais que ele uma vez realizou nela com seus lábios, dentes e língua.
— Vou fazer você esquecer a maldita torta de carneiro, — jurou.
A boca dele estava na dela na próxima respiração, forte, insistente. Exigindo.
Fazendo-a esquecer tudo, incluindo todas as razões pelas quais ela deveria resistir. E especialmente todas as razões pelas quais não deveria beijá-lo de volta. A língua dele deslizou em sua boca. Ela gostou disso.
Eles estavam se movendo, então. Movendo-se enquanto ele a beijava. Movendo-se enquanto ele possuía sua boca. Ele a guiou para trás. Suas mãos caíram para a cintura dela, agarrando-a, e no momento seguinte, ela estava sendo levantada para a mesa. Ela tinha sagacidade o suficiente para segurar-se nas palmas das mãos, tateando freneticamente por louças e talheres.
Suas mãos encontraram nada além de madeira fria e polida.
Jack deu um passo para trás, terminando o beijo, olhando para ela com uma expressão inescrutável, seu peito arfando com a força de seus pulmões. Sua boca estava escura de seus beijos compartilhados.
— Levante suas saias.
Ela poderia negá-lo. Ela sabia disso. Ela poderia acabar com isso.
Mas ela tinha ido longe demais. Ela não queria acabar com isso. Ela queria sua língua nela, dentro dela. Mais uma vez, ela era fraca, muito fraca, por ele.
Ela pegou pedaços de seda preta e os ergueu. Mas porque ela não podia permitir que ele assumisse o controle total, ela manteve os joelhos juntos. Suas saias estavam amarrotadas na cintura, as pernas vestidas com meias em exibição. Não usava calças esta noite porque as achou incômodas. Suas ligas eram rosa, sua meia de um vermelho brilhante, em forte contraste com seu vestido triste. Ela não imaginou que ele a veria quando se vestiu.
Mas isso tinha sido três taças de vinho e meia dúzia de beijos intensos com Jack atrás.
— Sem calças. Porra, eu amo suas pernas, — ele disse, sua voz um rosnado baixo. — Abra-as. Vou chupar sua doce pérola até você gritar.
Bom Deus.
Ela mordeu o lábio. Duro. Lutou contra a onda de necessidade potente e inebriante. E manteve os joelhos bem apertados.
— Só se você pedir educadamente.
— Por favor. — Sua resposta foi instantânea.
Mas foi sua vez de provocar. Sua vez de ser a única no controle. Seus soluços já haviam passado e ela não conseguia nem fingir que era disso que se tratava. Não, de fato. Este momento roubado era sobre o prazer dela.
— Você precisa ser mais específico, meu senhor, — ela disse. — O que você quer?
Suas mãos estavam em suas coxas, deslizando para cima e para baixo em uma fricção deliciosa. Seu pênis estava duro e comprido, pressionado contra suas calças. Não havia como negar o quanto ele a queria. O conhecimento foi gratificante.
— Eu quero enterrar meu rosto entre suas belas coxas e lamber sua pérola, — ele disse em voz baixa. Decadente. Isso enviou um trinado sombrio por sua espinha. — Quero te foder com minha língua. Quero você resistindo embaixo de mim. Não vou parar até que você esteja tremendo, desesperada e selvagem.
Ainda assim, não foi o suficiente.
— Implore-me, — ela disse. — Fique de joelhos e implore.
Ele acariciou suas coxas. — Nellie.
Ela estava pedindo muito de um homem como ele, ela sabia. Mas era o que ela queria — não — o que precisava dele. Ele a machucou tanto. Tinha lhe quebrado bem baixo. E se ele queria lhe dar prazer desta vez, teria que merecê-lo, maldito seja.
— De joelhos, — ela repetiu. — Implore-me para lamber minha boceta.
Ele murmurou uma série de maldições, mas fez o que ela pediu, ajoelhado na sala de jantar, com as mãos nos joelhos.
— Por favor, Nellie. Eu estou implorando. Venha, minha língua.
Melhor. Ela gostava bastante desse poder sobre ele.
Ela separou as pernas um pouco, apenas o suficiente para dar-lhe um vislumbre.
— Eu vou deixar você me dar prazer com uma condição.
Seu olhar estava no ápice de suas coxas. Com fome.
— Diga.
— Eu sou a única que goza esta noite. E depois, continuaremos o jantar e irei me retirar para o meu quarto. Sozinha. — Ela não sabia onde encontrara forças para fazer tal exigência, mas não podia negar a onda de deliciosa necessidade que isso lhe proporcionava.
— Concordo, — ele grunhiu.
Ela separou suas coxas.
Ele estava em cima dela em um instante, as mãos espalhando sobre sua carne, espalhando-a mais amplamente. Seu olhar era quente, ardente, como um toque. Ela gostou de seus olhos sobre ela. Ela se perguntou o que ele viu e tentou imaginar: um contraste de saias pretas, coxas claras e pele úmida e rosada.
Seu coração batia forte, assim como seu núcleo enquanto ela o observava, esperando seu próximo movimento. Sua cabeça se aproximou, mas ele ainda não a tocou com a boca. Em vez disso, ele inalou profundamente, como se estivesse hipnotizado pelo cheiro de sua excitação.
— Eu amo sua boceta, — ele disse suavemente. — Tão encharcada para mim, querida. Tão faminta.
Lentamente, ele a acariciou com os dedos, parando quando alcançou suas dobras. Gentilmente, ele a separou com os polegares, segurando-a aberta. Ele franziu os lábios e soprou uma lufada de ar sobre sua pérola.
Sua provocação era uma agonia. Doce e deliciosa agonia. Seus mamilos estavam duros, seus seios pesados e doloridos. Ela se adiantou em um esforço para conseguir o contato que queria, mas ele se retirou, um sorriso conhecedor nos lábios.
— Tão impaciente, Nellie. — Ele soprou outra corrente de ar sobre ela. — Você me fez implorar, e agora é a sua vez.
Quão rápido, quão facilmente ele virou o jogo contra ela. E não era assim que aconteciam com eles? Justamente quando ela acreditava que o havia frustrado, ele a fez desejá-lo, e ela se tornou uma escrava de sua necessidade.
— Eu quero sua língua, Jack, — ela disse. — Me dê isto.
— Implore-me. — Ele olhou para ela, seu sorriso malicioso.
Ela continuou segurando as saias presas com uma das mãos e, com a outra, estendeu a mão para ele. Seus dedos se afundaram em seu cabelo sedoso.
— Por favor, me dê o que eu quero.
— Com prazer.
Ele a lambeu, então. Um golpe lento em sua pérola. Um gemido roubado dela. Era tão bom, a sensação disparando por ela. Ele passou a língua, para cima e para baixo, focalizando o botão necessitado em seu centro. Os sons dele dando prazer a ela aumentaram seu entusiasmo.
— Tão molhada para mim. — Ele beijou sua pérola, então a chupou em sua boca. — Tão malditamente deliciosa. De quem é essa boceta, Nellie?
— Sua.
Ele a soltou, mantendo a boca perto, mas negando-lhe o prazer que acabava de conceder.
— Resposta errada, amor.
Ela soltou um suspiro trêmulo. Ela estava dolorida — tremendo — de desejo. Mas esta era uma batalha entre eles.
— Faça isso, droga.
— Não até que você me diga. — Em vez disso, ele deu um beijo na parte interna da coxa.
Ela estava tremendo agora. Gotejando. Estúpida. Desesperada.
— Sua, — disse finalmente, rendendo-se a ele, ao prazer. — Minha boceta é sua.
Porque era verdade. Ela nunca se sentiu assim por qualquer outro homem. Como se fosse morrer se não tivesse seu toque, seu beijo, sua língua.
Ele deu a ela. Com um grunhido baixo de triunfo, ele lambeu sua costura. Então, pegou sua pérola entre os dentes e deu-lhe um beliscão que fez seus quadris saltarem e arquear as costas. Êxtase disparou por ela, começando em seu núcleo e explodindo para fora.
Ela passou os dedos pelos cabelos dele e se pressionou contra o seu rosto. Ele alternava entre pequenas lambidas e longas chupadas, dando-lhe prazer com aquela boca perversa que ela tanto amava. Ela ficou ainda mais molhada. Ele gemeu enquanto enterrava sua língua dentro dela, empurrando novamente e novamente. E ela montou sua língua do jeito que queria montar seu pênis, pressionando sua cabeça no ápice de suas coxas.
Ela queria cobrir seu rosto com ela. Queria marcá-lo. Queria que ele fosse para a cama com ela em seus lábios e seu pênis duro e dolorido, desejando que ele pudesse mergulhá-lo dentro dela. Queria que ele se contorcesse em sua cama grande.
Um gemido indefeso escapou dela enquanto se ondulava contra ele.
Sua cabeça caiu para trás. Seus olhos se fecharam e ela se entregou às sensações.
De repente, ela estava falando. Balbuciando. Dizendo coisas perversas e proibidas.
— Mais tarde, quando você estiver sozinho na cama, quero que pegue seu pau grande e grosso na mão e pense em mim. Quero que você goze forte, pensando sobre a forma como eu gozei, e como você estava desesperado para me ter em sua língua. Mas será apenas a sua mão que você estará fodendo, Jack. Não esta boceta.
Suas provocações o deixaram selvagem. Ele esfregou o rosto sobre suas dobras e atacou sua pérola com uma deliberação quase cruel. Chupando, usando os dentes. Quando ele mergulhou dois dedos dentro dela, empurrando-os para dentro e para fora em uma fricção deliciosa, ela perdeu o controle que tinha sobre seu controle.
Ela empurrou contra ele mais uma vez. Ele a chupou e enrolou os dedos, e ela gritou quando sua liberação explodiu. Agarrou-se a ele, trazendo-o mais profundo, êxtase branco e quente disparando de seu centro e lavando cada parte dela. Mesmo os dedos dos pés enrolaram-se em seus calcanhares.
Sua respiração estava irregular, seu peito arfando com a força de seu clímax. Enquanto as últimas ondas de prazer balançavam por ela, ele soltou sua pérola e retirou os dedos. Eles brilhavam com a evidência de seu gosto. Capturando seu olhar, ele girou-os sobre seu botão dolorosamente sensível.
Ele a faria gozar novamente.
Só para provar a ambos quão pouca limitação ela tinha quando se tratava dele. Como se precisasse de uma prova. Seus lábios estavam inchados e úmidos.
— Minha, — ele murmurou, aumentando sua pressão.
Ela mordeu o lábio, determinada a enfrentar o que quer que ele lhe desse, mas negar-lhe a satisfação de admitir o quão completamente ele a possuía mais uma vez. Ele se moveu mais rápido.
— Tão bonita, rosa e molhada, — disse ele. — Para mim. Tudo para mim.
Ele se moveu mais rápido.
Ela já estava no limite. Desesperada por outra amostra do que só ele poderia lhe dar. Mas ela era teimosa. Não permitiria que ele vencesse.
Enquanto ele trabalhava em sua pérola com a mão direita, ele deslizou sobre suas dobras com o indicador esquerdo, separando-a. Ele deslizou de volta para dentro de sua passagem e ela se agarrou a ele instantaneamente, deixando-a com um suspiro. Ela mordeu o lábio com mais força.
— Cada parte de você é minha, Nellie. — Ele retirou o dedo, depois o deslizou mais fundo, acrescentando um segundo dedo, depois um terceiro.
Ela estremeceu com a sensação. Emocionante. Seus nervos estavam vivos. Em chamas. Ela estava pegando fogo. Desmoronando. Ela prendeu a respiração enquanto ele trabalhava nela.
Ela queria mais.
— Diga, Nellie, — ele rangeu. — Cada parte de você é minha. Diga que você me quer. Que você quer que eu te foda e te preencha até que você grite.
Ela não podia dizer isso. Porque estava além das palavras. Porque ele deslizou seus dedos ainda mais fundo, e sua posse dela era tão intensa que ela mal conseguia respirar. Ele esfregou seu broto, e ela gozou novamente.
Mais forte do que antes, seu corpo se contraindo e ela estava subindo. Voando. Desmoronando.
Ela gemeu seu nome enquanto gozava contra sua mão, enquanto apertava seus dedos. Como ele provou a ambos o quão certo ele estava. Sobre ela. Sobre o jeito que ela se sentia por ele. Sobre tudo. Ela estava esticada, cheia e latejando, e não importava o quanto quisesse resistir a ele, ela nunca iria parar de querê-lo.
Maldito seja seu belo homem.
Não que ela fosse admitir.
— Você estava certo sobre uma coisa, — ela disse a ele em vez do clímax que ele havia dado a ela. Ela colocou a saia de volta no lugar. — Você me fez esquecer tudo sobre a torta de carneiro.
O sorriso que ele lhe deu derreteu um pouco do gelo em seu coração.
— Você está malditamente certa de que eu fiz.
Capítulo 14
Treze dias para convencer sua esposa a permanecer sua esposa.
Jack suspirou e agarrou seu pênis. Desde a noite anterior, no jantar, ele vinha apresentando uma ereção perpétua. E Nell teve todo o prazer que ele lhe deu e prontamente fugiu para a santidade de seu quarto. Ele havia tomado um banho frio para diminuir seu ardor. Não tinha funcionado.
Então, ficou sozinho em sua cama, agarrando-se aos pensamentos de uma sereia de cabelos dourados que era dona de seu coração. Sua vagina tinha sido tão doce em sua língua. Mais doce que mel. E vê-la se desfazer tinha sido uma arte erótica própria. Ela estava tão desesperada por ele quanto ele por ela, ondulando e empurrando-se em sua boca.
Como ela tinha sido magnífica, fazendo-o implorar para dar prazer a ela. E como tinha sido satisfatório lhe mostrar que ela era tão doida por ele e vice e versa. A atração sempre esteve lá, ardente. Ameaçando consumir. E ele não pôde deixar de sentir que, se continuasse a cansar sua resistência, apelando para seus desejos, talvez pudesse encontrar o caminho de volta ao seu coração.
Ainda assim, não parecia nem um pouco perto de convencê-la a encerrar esse divórcio sem sentido pela a luz brilhante desta manhã do que na noite anterior, quando estivera batendo em sua boceta ensopada com a língua.
Suas bolas se apertaram quando a lembrança o atingiu. Suas palavras zombeteiras voltaram para ele agora.
Será apenas a sua mão que você vai foder, Jack. Não esta boceta.
Dane-se ela.
Ele precisava de alívio, e parecia que era o único disposto a fornecê-lo no momento. Mas, iria esperar sua hora. Faria o que ela desejasse. E iria procurar todas as oportunidades para derrubar suas paredes fazendo amor.
Ele não conseguiu conter o gemido ao pensar nela na mesa da sala de jantar, com as pernas abertas, completamente à mostra para ele. Do jeito que ela balançou-se, até que ela comandou todos os seus sentidos. Da maciez de seu desejo revestindo sua língua.
Uma gota de energia vazou da ponta de seu pênis enquanto ele acariciava com mais força. Imaginou-se fodendo muito forte, ficando todo molhado e escorregadio com seus sucos. Ele a imaginou gemendo embaixo dele, querendo mais. Ele iria lentamente no início, alimentando-a com seu pênis em estocadas superficiais...
— Foda-se, — ele gritou enquanto gozava, sua semente jorrando por todo seu abdômen em jatos grossos. Ele agarrou com firmeza seu aperto quando o último de seu clímax trovejou por ele.
Seu coração estava batendo forte, sua respiração irregular. Ela o havia transformado em uma besta escravizada e dominada pela luxúria. A cabeça de Jack caiu para trás contra os travesseiros.
De repente, a porta que ligava seu quarto ao de Nell se abriu.
— Jack? Algo errado? — Ela perguntou, entrando no quarto, vestindo nada mais do que sua camisola.
Ele não se preocupou em se cobrir.
Seus olhos se arregalaram quando ela parou, observando a cena.
— Oh!
Ele tinha certeza de que parecia um sátiro, deitado ali com seu pau mole e sua semente cobrindo sua barriga.
— Feche a porta, por favor, — ele disse a ela.
— Eu... me perdoe. — Suas bochechas ficaram vermelhas. Ela fechou a porta como ele havia pedido. — Eu devia ter batido primeiro. É apenas que eu ouvi um grito...
Ele esperava como o inferno que a criada de sua senhora não estivesse na porta ao lado, mas se estivesse, a última coisa que ele queria era que a pobre mulher desse uma olhada em sua depravação.
— Eu estava seguindo as ordens de minha senhora, — ele disse calmamente.
E já, seu pau tão abusado estava se contorcendo de volta à vida agora que Nell estava quase ao alcance mais uma vez.
Ela engoliu em seco, seu olhar mergulhando em sua crescente ascensão.
— Minhas ordens?
— Suas ordens, — ele concordou, se acariciando mais uma vez. — Acredito que suas instruções foram pegar meu pau na mão e pensar em você. Não foram, Nell?
Seus lábios se abriram e se fecharam.
— Posso ter dito algo semelhante.
— Oh, você disse. — Ele sorriu, acariciando novamente. — Você me disse que queria que eu gozasse forte, pensando em como você gozou e como eu estava desesperado para te ter na minha língua. E eu fiz isso, Nellie. Eu me acariciei assim, e pensei em como sua boceta era como um néctar na minha língua, e pensei em como você cavalgou meu rosto e o quanto você gostou...
— Pare! — Suas bochechas ficaram vermelhas e até suas orelhas ficaram vermelhas. — Não continue, seu canalha. Foi perfeitamente depravado de sua parte fazer no meio do jantar. Tudo aquilo.
Ele estava duro mais uma vez. Se ela cruzasse a sala e se sentasse em seu pênis, ele iria fodê-la insanamente e gozar de novo. Ela era uma bruxa.
— Você sabe o que mais eu pensei, Nellie? — Ele continuou, ignorando seus protestos. — Pensei em te foder. Sobre colocar meu pau dentro de você, e quão apertada e quente você estaria.
— Jack! — Seus olhos estavam arregalados.
Ele a havia chocado com sua vulgaridade. Mas ela também estava excitada. Ele podia ver na maneira como mordeu o lábio. Ele parou de se acariciar e lhe apontou o dedo.
— Venha aqui.
Para seu choque, ela obedeceu. Ela se moveu devagar e graciosamente pelo quarto.
— Isso é tudo culpa sua, Nellie, e agora você vai ter que fazer penitência, — disse ele.
Ela lambeu os lábios, o desejo fazendo sua expressão afrouxar.
— O que você quer de mim?
— Você fez essa bagunça, — ele disse a ela, sabendo que era um risco. — O que você vai fazer sobre isso?
Saber que estava sendo ridiculamente, tolamente ousado. Mas sabendo que tinha que fazer tudo ao seu alcance para conquistar esta mulher para sempre. E a única maneira que parecia que poderia alcançá-la era através do desejo. Ele estava mudando de tática. Este cerco tinha se tornado um ataque sensual.
Treze dias.
Isso era tudo que ele tinha.
Nell sabia que nunca deveria ter cruzado a fronteira que separava seu quarto do dele. Mas ela havia se levantado com a intenção de ler por alguns minutos antes de chamar a sua criada, quando ouviu o grito de Jack. Ela estava preocupada com ele. Antes que tivesse a chance de refletir sobre a sabedoria de suas ações, seus pés estavam instintivamente voando, levando-a para ele.
Ela nunca esperava ver o que estava diante dela agora.
Jack, nu, a prova do que estivera fazendo pouco antes de sua interrupção em seu estômago tenso. E o que ela fez? Permaneceu. Aventurou-se para mais perto. Permitiu que seu corpo traidor dominasse sua cabeça.
Suas palavras perversas e a visão dele acariciando seu pênis grosso em prontidão mais uma vez, a fez doer.
— Bem, Nellie? — Sua voz baixa cortou suas reflexões perturbadas, estimulando-a. — O que você vai fazer?
Ao fazer a pergunta, ele a agarrou pela raiz.
Ela não conseguia tirar os olhos dele.
Ela ia fazer algo muito, muito ruim. Algo que não deveria estar fazendo. Mas, quando fez o que devia no que dizia respeito a Jack? Ele a fez fraca e a fez desejá-lo. E sempre faria.
Ela rastejou em sua cama e se moveu em sua direção de quatro. Na noite anterior, ele arruinou o jantar quando deu a ela dois dos orgasmos mais deliciosos de sua vida. Agora, era hora de ela retribuir o favor.
— Pare de se tocar, — ela lhe ordenou quando chegou ao seu lado.
Ele estava deitado de costas na roupa de cama amarrotada, sonolento e lindo. E nu.
O corpo de Jack era todo masculino, quase ameaçador em sua perfeição. Pernas longas com cabelos escuros, ombros largos, quadris magros, braços fortes. Seu estômago era uma série de placas musculares, vivas com cada movimento, cada respiração. A sombra de seus bigodes voltando para sua mandíbula a excitou. Assim como a maneira como ele a observava com seu olhar esmeralda. O mesmo aconteceu com o conhecimento de que ele estivera pensando nela, fantasiando sobre todas as coisas pecaminosas que faria a ela, quando perdesse o controle e se esgotasse.
Ele soltou seu pênis, finalmente fazendo o que ela havia pedido. Ela se acomodou entre suas coxas.
— Nellie? O que você está fazendo? — Ele murmurou.
Havia um tremor em sua voz, a sugestão de que ele não confiava totalmente nela.
Bom.
Não queria que ele pudesse prever o que ela faria a seguir. Ela queria todo o poder esta manhã. Todo o controle.
— Limpando minha bagunça, — ela disse antes de plantar as mãos na roupa de cama macia ao lado de seus quadris e abaixar a cabeça em direção a ele.
Ela tinha esquecido o quanto amava o gosto dele. O quanto tinha amado seu pênis em sua boca, como ela se divertiu em torturá-lo até que ele se esgotasse. Mas, lembrou-se agora. A carne entre as pernas dela estava pesada e pulsando com a lembrança da sensibilidade.
— Puta que pariu, — disse ele com um gemido gutural.
Segurando seu olhar, ela lambeu um caminho diretamente para a base de seu pênis. Então, passou a língua pelo comprimento aveludado, passando-a ao redor da cabeça. Ela o pressionou contra a fenda onde uma gota branca se acumulou e agarrou-o na mão, acariciando-o.
Tudo voltou para ela. Como torná-lo selvagem. Como tocá-lo. O que ele gostava. O que o fazia empurrar os quadris para ir mais fundo em sua garganta.
Ela o agarrou e massageou suas bolas pesadas, lambendo a ponta antes de retirar a boca. Apenas o suficiente para atormentá-lo. Apenas o suficiente para fazê-lo gemer.
— Implore-me, — ela sussurrou, lambendo os lábios.
Ela ainda o saboreava. E era gananciosa. Queria mais. Mas, também queria fazê-lo trabalhar por isso. Ela o queria tão selvagem quanto na noite anterior. Dois poderiam jogar este jogo. E ela sairia vitoriosa.
— Chupe meu pau, — ele rangeu, sua mandíbula cerrada pelo esforço de se conter.
Ela moveu a mão para cima e para baixo em seu eixo, mas lhe negou sua boca.
— Eu disse, implorar.
Nell não conseguiu reprimir o sorriso conhecedor em seus lábios.
Um músculo pulsou em sua mandíbula.
— Bruxa.
Ele estava sendo teimoso. Tudo bem. Ela não tinha mais nada para se divertir esta manhã, exceto as reminiscências das viagens dele. E por mais interessante que fosse seu relato sobre Constantinopla, ela preferia isso.
— Você sabe o que eu acho, Jack? — Ela correu o polegar sobre a cabeça do pau dele. — Acho que você quer que eu chupe seu grande e duro pau até que você passe pela minha garganta. Acho que você quer meus lábios em volta de você.
— Por favor, — ele explodiu, interrompendo-a. — Leve-me em sua boca.
Seu sorriso cresceu. A antecipação aumentou junto com a necessidade. Ela se sentia poderosa. Estava no controle disso e estava fazendo o que lhe dava prazer. Torná-lo fraco e desesperado de luxúria deu a ela isso. Ela saboreou a maneira como poderia derrubá-lo.
Saboreou fazê-lo implorar.
Ela não fez nenhum dos dois esperar mais. Abaixou a cabeça e tomou o máximo que pôde. O gemido espremido dos lábios dele fez sua boceta pulsar. Ela já estava escorregadia de desejo e eles mal haviam seguido adiante. Ele se sentiu bem em sua boca. Ela esticou os lábios sobre os dentes e acariciou-o enquanto chupava. Simultaneamente, ela massageou suas bolas e agarrou sua raiz.
Seu pênis estava molhado com as primeiras gotas de seu prazer e com sua saliva. Ele deslizou para dentro e para fora dela com facilidade. Ela lambeu a cabeça, trabalhou a parte inferior onde sabia que ele era sensível, chupando forte. E então, exalou pelo nariz quando o levou em sua garganta.
Seus quadris se moveram sob ela, trazendo-o mais fundo. Tão profundamente que ela quase engasgou-se. Mas seu domínio sobre si mesma venceu no final, e ela se moveu com ele, permitindo que fodesse sua boca. Seus dedos estavam em seu cabelo, apertando os fios soltos. Ela tirou a mão da base de seu pênis e agarrou seu quadril, cravando as unhas nele.
Ela o conhecia bem o suficiente para saber o momento em que ele alcançou o fim de seu controle. Seus quadris se moviam em um ritmo agitado embaixo dela. Sua respiração estava irregular. Ele era dela. Totalmente sob seu controle.
— Droga, Nellie, chega, — ele mordeu fora. — Eu quero dentro de você.
Não. Ela não ia dar o que ele queria. Ela pegaria o que queria, e isto era seu abandono completo. Ela chupou com mais força, cravou as unhas na coxa dele e apertou suas bolas. Seu corpo inteiro ficou tenso. Seu aperto em seu cabelo aumentou. E ela permaneceu imóvel enquanto seu pênis pulsava em sua boca, sua semente disparando em sua garganta.
Ele gritou. Ela cantarolou sua aprovação, sugando-o até secar, engolindo tudo o que ele tinha para dar. Tomando isso como despojo dela. Quando ele terminou, ela o soltou, erguendo a cabeça, a respiração forte o suficiente para corresponder à dele.
Seus lábios formigavam. Sua boceta doía com tudo o que permanecia tão inacabado entre eles. Mas, por agora, teve sua vitória. Ela o tinha superado nesta partida de controle e inteligência. Conseguiu o que queria: a rendição dele.
Ela lambeu os lábios.
— Mais treze dias, Jack, — ela zombou.
E então, ela deslizou de sua cama e saiu de seu quarto.
Ela esperava que ele não pudesse ver como suas pernas estavam bambas. E, certamente esperava que não pudesse ver o quanto ela desejava ficar. Porque ela tinha toda a intenção de arruinar este homem antes de deixá-lo treze dias a partir de agora. Ele merecia cada punição que ela decidisse aplicar, e mais um pouco.
Ela disse a si mesma que não iria gostar. Mas quando a porta se fechou às suas costas e ela voltou ao vazio zombeteiro de seu quarto, soube que era uma mentira amarga e comovente.
Capítulo 015
Jack estava pairando fora da sala de desenho como um maldito visitante em sua própria casa. Ouvido pressionado contra a porta. Tentando recolher qualquer sugestão de conversa que pudesse.
Porque, embora ele tivesse levantado da maneira mais requintada, o destino havia escolhido as horas singelas após o café da manhã para desferir o golpe final. Depois da visita inesperada de Nell naquela manhã, ele adormeceu. Muito diferente do seu costume, pois preferia acordar cedo. Ele havia se levantado depois de ter perdido a hora do café da manhã, em circunstâncias não melhores do que antes.
Embora Nell o tivesse drenado, ainda estava desesperado por ela. Seu corpo ansiava pelo dela. Seu coração doía por ela também. Razão pela qual, depois de se vestir e fazer a barba com a ajuda de seu criado, ficou tão consternado ao saber que Lady Needham estava na sala de estar com uma visita muito indesejada.
Maldito Visconde Sidmouth.
Fodido Tom.
Teria sido pedir demais para que a carruagem do vigarista tombasse? Ou para ele encontrar a esposa de outra pessoa para ofegar atrás?
Ele pressionou o ouvido na madeira fria da porta, esforçando-se para ouvir.
— ...venha comigo agora. — A voz baixa de Sidmouth era veemente.
Ele parecia zangado. Indignado, até.
Jack se perguntou como o visconde se sentiria se soubesse que a boca de sua querida estivera no pênis de Jack naquela mesma manhã. Por um breve momento, ele fantasiou sobre informar o próprio bastardo, e então quebrar seu nariz novamente.
Mas isso seria rude.
Em vez disso, esperou na porta.
Ouvindo. Prendendo a respiração. Esperando sua hora. Esperando não ouvir aquilo que não desejava ouvir.
— Tom, por favor... — A voz de Nell era suave. Muito tranquila. Jack não conseguia distinguir o resto do que ela dizia.
A voz de Sidmouth se elevou.
— Você me prometeu, Nell. Você prometeu que viria comigo, quando eu estivesse pronto. Você concordou que era a única maneira. Agora você está me dizendo que precisa de mais duas semanas com ele?
Treze dias, Jack pensou severamente. Ele já estava com um a menos.
— São apenas treze dias, — Nell disse em um tom suave, ecoando a mente de Jack. — Needham me prometeu o divórcio no final desses dias. Será melhor para todos nós.
— Melhor para quem? — Sidmouth interrompeu, o som de seus passos no tapete dizendo a Jack que ele estava se afastando de Nell ou indo em na direção dela.
Esperava como o inferno que estivesse longe dela. Sua mão se fechou em um punho ao seu lado.
— Melhor para você e para mim, Tom. — Mais uma vez, a voz de Nell era apaziguadora. — Se eu for com você agora, e se vivermos abertamente juntos, o escândalo será muito pior do que um divórcio. Needham finalmente concordou em ser civilizado sobre este assunto.
Você e eu.
Pensar em Nell e Sidmouth como um par combinado deixou Jack doente.
— Não há um osso de civilidade no corpo daquele vilão, — Sidmouth disse friamente. — Por que o atraso? Por que quinze dias?
— Treze dias — corrigiu Nell novamente, fazendo uma pausa. — Ele acha que será capaz de me persuadir a mudar de ideia.
Correção, querida. Eu vou mudar sua mente.
Jack apertou seus molares.
— Como ele pretende mudar sua mente? — Sidmouth exigiu. — Ele tem forçado mais suas atenções sobre você?
Forçado? Forçado? Por Deus, ele nunca forçou Nell. Ela sempre foi uma participante mais do que disposta em sua vida amorosa. Ela dissera a Sidmouth que Jack forçou-se sobre ela?
A raiva o pegou de surpresa, misturada com o furor possessivo que ele parecia não conseguir conter. Nell era sua esposa. Dele, droga. E Sidmouth estava fazendo o possível para roubá-la dele.
Sem pensar, Jack irrompeu pela porta.
Num momento, Nell estava tomada pela culpa, prestes a confessar tudo a Tom, e no seguinte, a porta da sala de estar estava sendo aberta. Jack cruzou a soleira, a fúria gravada em cada ângulo severo de seu rosto.
A mão de Tom estava em seu cotovelo, e o olhar de Jack pousou nessa conexão.
Mais culpa a atingiu. Mas essa culpa era diferente. Era culpa porque seu marido estava vendo outro homem tocá-la. Suas bochechas ficaram quentes e ela resistiu ao impulso de se desvencilhar das mãos de Tom. Quão tolo foi esse instinto. Tom era o homem que se tornaria seu marido. Ela deveria estar inundada de culpa por ter sido íntima com Jack.
A safadeza que cometeu com ele foi muito mais do que uma mera mão na manga de seu vestido.
— Sidmouth — Jack mordeu fora, sem se preocupar com a formalidade. — Solte minha esposa.
O aperto de Tom sobre ela aumentou enquanto ele enfrentava Jack sem recuar.
— Não.
Jack parou perto deles, e a raiva que emanava era quase palpável. Seu olhar queimou o dela, a acusação brilhando nas profundezas surpreendentes, antes que ele voltasse para Tom.
— Não quero ter de lhe dar outra surra hoje, Sidmouth, mas se você não parar de maltratar Nellie, não serei responsável por minhas ações.
— Nellie? — Tom repetiu, lançando um olhar questionador na direção de Nell.
— Isso não significa nada, — ela o tranquilizou suavemente.
Mas isso era uma mentira, assim como grande parte de sua vida era. O que ela e Jack compartilhavam era tudo. Essa conexão permaneceu, o vínculo, o magnetismo e a centelha. O amor. A única diferença era que ela era mais sábia do que antes. Ela sabia que não era mais o suficiente. Sabia o quanto ele poderia machucá-la.
E sabia que Tom nunca o faria.
Claro, Tom nunca a violaria em uma mesa de jantar, também.
Violentamente, ela descartou esse pensamento indigno.
O aperto de Tom sobre ela aumentou, como se ele estivesse tentando reivindicá-la ali mesmo. O olhar de Jack queimou nela.
— Não é nada, Nellie? — Ele perguntou suavemente. — Não parece nada, não é, o que temos?
Ele estava certo. Maldito seja, como ele estava certo.
Mas ela não podia escolhê-lo. Não dessa vez. Ela tinha que fazer o que era melhor para seu coração. Tom era a escolha segura. Tom era um homem em quem ela podia confiar. Ele a amava, e seu amor era puro e verdadeiro. Não era cáustico como o de Jack.
Ela ergueu o queixo.
— Parece vazio, Needham. Treze dias, e então terei minha liberdade, não é certo?
Havia algo em seu semblante — ferido, ela pensou. Isso a comia. Ela sentiu como se estivesse sangrando lentamente, perdendo-se.
— Se você ainda quiser o divórcio no final dos treze dias, será seu, — ele concordou rigidamente.
E isso também parecia uma traição.
— Treze dias não vão mudar sua mente, vai, Nell? — Tom lhe perguntou, sua voz afiada.
Ela se virou para encontrá-lo olhando para ela atentamente.
— Claro que não.
Não importava quanto tempo passasse ou quanto Jack a fizesse sofrer. Ele não poderia apagar a confiança quebrada ou a traição. O passado era imutável. Ele a tinha quebrado. Não permitiria que ele fizesse isso novamente.
— Saia da minha casa, Sidmouth, — Jack exigiu, sua voz baixa, carregada de advertência.
Tom enrijeceu.
— Eu irei quando tiver certeza de que você não se imporá a Nell. Você pode ser o marido dela agora e está dentro da lei exigir seus direitos de marido, mas serei amaldiçoado se a deixar aqui para sofrer suas atenções indesejadas.
Oh, céus.
Jack riu, embora o som não fosse leviano.
— Você tem minha palavra, não vou me impor à minha esposa. E você também tem minha garantia de que minhas atenções não seriam indesejadas. Seriam, Nellie?
Ele a estava provocando. Desafiando-a.
Ela congelou. Certamente ele não revelaria a verdade para Tom? Era uma confissão que ela mesma precisaria fazer. Quando chegar a hora certa. Quando Jack não estivesse presidindo o diálogo.
— Qual é o problema, querida esposa? — Jack cutucou. — Sem palavras?
Ela finalmente encontrou sua voz.
— Parem com isso, vocês dois. Não serei submetida a tais degradações, os dois lutando por mim como se não fossem melhores do que cães babando por um osso. Needham, você terá seus treze dias. Tom, vejo você no final deles.
Tom procurou seu rosto.
— Você está determinada a fazer isso?
— Sim, — ela disse suavemente.
— É hora de você ir, Sidmouth, — Jack disse.
— Venha até mim se alguma coisa mudar, — disse Tom a ela. — E eu voltarei em treze dias.
Ela cobriu a mão dele com a dela.
— É o melhor, Tom. Eu prometo.
Se ela acreditasse em suas próprias palavras.
Jack estava furioso.
Ver Sidmouth tocar Nell de maneira tão possessiva, observá-la tomar o partido daquele bastardo, ouvi-la tranquilizá-lo, despertou a fera interior. Ele sabia que tinha uma luta pela frente, mas as evidências foram flagrantes e indesejadas diante dele: ainda tinha uma chance muito real de perder Nell para sempre.
Ele precisou de todo o controle para esperá-la na sala de estar enquanto ela se despedia de Sidmouth. Como estava, ele caminhava pelo chão como um leão preso em uma gaiola, inquieto e sedento de sangue. Ele meio que esperava que ela se escondesse em vez de retornar como disse que faria.
Mas a porta clicou e ela estava lá.
Ela pairou na soleira, parecendo pálida e incerta. Miserável, na verdade. Ela parecia como ele se sentia por dentro: devastada.
— Eu sei como você deve ter se sentido naquela noite, — ele disse, sua voz rouca enquanto caminhava em sua direção. — Eu sei o quão devastador deve ter sido. Porque quando vi a mão dele em você, a maneira como ele te tocou como se você já fosse dele, eu quis rasgá-lo membro por membro.
Ela balançou a cabeça lentamente.
— Multiplique esse sentimento por mil, por cem mil, e então talvez você conheça minha dor. Você acha difícil ver a mão de outro homem em meu cotovelo? Imagine como seria encontrá-lo nu na minha cama, me beijando.
Não. Maldito seja. Ele não iria imaginar isso.
Ele passou os dedos pelos cabelos, sentindo como se estivesse prestes a rastejar para fora de sua pele.
— Você o beijou, não foi, Nellie? Você mesma me disse. O que mais você fez? Você chupou o pau dele também?
Seu tapa ecoou no silêncio repentino da sala. Sua bochecha ardia, mas ele saboreou a dor. Ele queria sua raiva, sua dor, sua fúria. Queria sacudi-la de sua torre. Traga-a para a sujeira humilde com ele.
Ela olhou para ele, sua expressão ferida.
— Como você ousa?
— Como você ousa? — Ele voltou, sentindo-se malvado. — Como você ousa se recusar a acreditar em mim, se recusar a me perdoar, e então escolher outro homem ao invés de mim? Você não vê? O que você está fazendo com Sidmouth é quase uma traição, só que pior. Porque você não está bêbada. Você está lúcida e bem acordada. Não há confusão aqui. Todas as suas ações foram cometidas com grande intenção.
— Não, — ela negou. — O que fiz não se compara à sua traição. Fui fiel a você, Jack. Sempre .
— Não depois que eu parti, — ele rebateu, precisando que ela visse que não era o anjo que imaginava ser.
Ambos tinham falhas. Seres imperfeitos. Unidos em seus destroços.
Juntos, eles poderiam se tornar inteiros novamente. Ela tinha que ver isso.
Ela enrijeceu como se tivesse sido ele a esbofeteá-la.
— Beijos, nada mais.
O sorriso que ele lhe deu parecia feio.
— Como nossas histórias soam familiares, meu amor. No entanto, estou disposto a perdoar e você não.
— Não estamos nessa situação por causa do que eu fiz, — ela o lembrou friamente. — É por causa do que você fez, e apenas você.
— Isto é? — Ele perguntou solenemente. — Parece-me que ambos somos culpados desta nossa tragédia. O perdão é uma façanha tão impossível?
— Você me destruiu. — Sua voz estava crua, tremendo de emoção. — Por muito tempo, fiquei com medo de não sobrar nada, que eu nunca me recuperasse. Você quebrou meu coração e quebrou minha confiança, e então você vagou pelo mundo por três anos como se eu não existisse mais! Eu te odeio por isso, Jack! Te odeio pelo que você fez para mim, para nós.
Lá estava — emoção real e verdadeira dela.
Como ele poderia mover a ambos além desse impasse insustentável?
Jack agiu por instinto, puxando-a para seus braços, contra seu peito.
— Você estava comigo, em todos os lugares que eu fosse. Eu vi você em todos os lugares. Eu saí porque você pediu para mim, não porque eu queria ir. Você sabe o que eu acho, Nellie? Acho que você não me odeia de forma alguma. Acho que você ainda me ama. Que você nunca parou, assim como eu nunca deixei de te amar.
Lágrimas brilharam em seus olhos, deslizando por suas bochechas. As palmas das mãos achataram em seu peito, mas ela não o empurrou.
— Você está errado, Jack.
— Eu não estou, — ele jurou, forçando-a a segurar seu olhar, enquanto ele segurava seu rosto e pegou uma lágrima em seu polegar. — Você sabe por que Sidmouth não quer que você fique aqui comigo pelos próximos treze dias, Nellie? É porque ele tem medo de perder você para sempre. Ele pode ver o que há entre nós, o que sempre existiu entre nós. Ele sabe que é muito mais forte do que tudo o que você tem com ele.
Ele acreditou nessas palavras. Ele tinha que fazer isso, porque se não o fizesse, não teria chance de reconquistá-la.
— Jack, — ela protestou. Mais lágrimas deslizaram por suas bochechas.
Ele as pegou com os lábios. Beijando-as.
— Pare de lutar contra isso, Nellie, — ele sussurrou. — Pare de lutar comigo.
Sua dor era salgada em seus lábios. Ele lambeu tudo.
— Eu tenho que lutar com você, ou vou me perder. — Ela empurrou seu peito, mas com força indiferente.
Não o suficiente para movê-lo.
— Talvez você se encontre. — Ele beijou outra lágrima, sem pressa, pegando cada uma com muito cuidado.
— Tudo que vou encontrar com você é puro prazer. O físico.
Criatura teimosa, teimosa.
Ele beijou o canto dos lábios dela.
— É mais do que isso, e você sabe disso.
— Meu corpo quer você, mas meu coração não. — Mas mesmo enquanto dizia as palavras, os braços dela envolveram o pescoço dele e pressionou os lábios nos dele.
Ele a beijou lenta e docemente, tentando banir de sua mente todos os pensamentos do passado, traição ou dor. Principalmente todos os pensamentos de Sidmouth. Ela se abriu para ele com um suspiro, sua língua deslizando em sua boca primeiro.
A conexão física entre eles era mais forte do que nunca.
A paixão estava lá.
O amor viria em seguida.
Tinha que ser.
Ela tinha o gosto de suas lágrimas e chocolate. Os biscoitos de cacau de Cook, se ele quisesse apostar. Ela sempre amou chocolate. E ele sempre amou a doçura de seu beijo. Ainda amava agora. Ele a amava.
Ele a amava e a reconquistaria. Não haveria rendição. Sem divórcio. Nada de Nellie indo para Sidmouth.
Jack chupou a plenitude de seu lábio inferior e depois o mordeu. Por Deus, ele queria consumi-la. Para violentar sua boca e banir de sua mente a ideia de se casar com outro homem, por Deus.
Ela o beliscou de volta. Seu beijo se tornou agressivo, cada um deles lutando pelo domínio. Ele quebrou o selo de suas bocas, arrastando beijos por sua garganta. Ela cheirava tão doce lá, sua pele sedosa perfumada com notas florais exóticas. Ele queria pegá-la em seus braços e carregá-la de volta para seu quarto.
Em vez disso, ele se forçou a parar.
Para dar um passo para trás.
Seus lábios estavam inchados de seus beijos, separados, sua respiração tão dura quanto a dele. Seus olhos estavam vidrados de paixão, toda a angústia desapareceu de seu semblante. Ele jurou mantê-la assim. Para passar todos os dias lembrando-a do porquê deveria escolhê-lo em vez de Sidmouth.
— Ceda, Nellie — disse ele suavemente. — Você sabe como é para nós. Como somos bons juntos.
Ela balançou a cabeça, como se estivesse saindo de um estupor.
— Você não é bom para mim, Jack. Beijos e paixão não significam nada.
— Me dar seu corpo significa alguma coisa? — Ele pressionou, frustrado.
Sua expressão se fechou.
— Não.
Frustração sombria passou por ele. Ainda assim, nada além de um impasse. Ela aceitou seus beijos e seu pênis, mas não seu amor.
— Você é uma mentirosa, Nellie. Uma linda e assustada mentirosa. Você não confia em si mesma comigo. Não confie na sua capacidade de resistir a mim.
Seu queixo subiu.
— Você está se iludindo, Jack. Eu nunca mudarei minha mente. No final desses treze dias, vou deixá-lo, e você não terá escolha a não ser aceitar.
O inferno que ela faria.
Ele lutou para manter sua calma exterior.
— Veremos isso, Nellie. Diga a si mesma se isso faz você se sentir melhor. Mas no final, a prova está bem aqui, entre nós. A prova está no seu beijo. Em seu toque. A maneira como seu corpo responde tão docemente ao meu.
Com isso, ele ofereceu a ela uma reverência, e então saiu da sala antes de dizer algo de que se arrependeria.
Capítulo 16
Doze dias restantes, e mais uma vez, Jack estava certo, embora ela iria engolir a última gota de seu orgulho antes de admitir isso para ele.
Era bem cedo de manhã, quando Nell percorreu o caminho de cascalho que circundava o lago. Ela estava a caminho da alimentação habitual de patos e cisnes, a alça da cesta pendurada no braço.
No silêncio do sol de verão nascendo alto no dia, rico em promessas de ouro, ela podia reconhecer isso para si mesma. Ela passou o resto do dia anterior se escondendo dele e da verdade indesejada. Não confiava em si mesma com ele, nem em sua capacidade de resistir a ele.
Porque ela não tinha nenhuma confiança.
Ela dobrou a curva do caminho onde as sebes cederam e o lago se espalhou em toda a sua majestade. Mas não foi a beleza do lago que a fez parar. Em vez disso, era o homem.
Usando linhos leves, um chapéu elegante cobrindo seu cabelo escuro, estava sentado o homem que havia assombrado seus sonhos. O homem de quem não conseguia parar de fugir. O homem que ela também não conseguia parar de correr na direção. Ele estava sentado na grama como se não se importasse, um braço magro envolto em seu joelho dobrado.
Com o cenário de um lago cintilante atrás dele e a flora exuberante e verdejante, ele poderia ser uma pintura. Ela podia olhar para a vista à sua frente e nunca se cansar ou ficar entediada com isso.
E esse é inteiramente o problema, minha menina, ela disse a si mesma.
— Jack, — ela disse, parando a uma distância segura dele. — O que você está fazendo aqui?
Embora ele só tivesse sido visível para ela de perfil, ele se virou para encará-la agora, lançando-lhe o meio sorriso que nunca deixava de fazê-la derreter.
— Já pisamos neste solo cansado antes, querida esposa. Eu moro aqui.
Então, ele morava.
Que estranho ainda parecia. Quase surreal.
— Você está sendo deliberadamente obtuso, — ela acusou. — Você sabe muito bem que quis dizer o que você está fazendo aqui perto do lago a esta hora da manhã?
E durante a hora que ela sempre alimentou os patos e cisnes, nada menos.
— Desenhando, — disse ele, segurando um pequeno livro que estava escondido na grama ao seu lado. — Você acredita que encontrei meus livros antigos e carvão? Alguém os viu embalados e armazenados ordenadamente no sótão. Me pergunto quem poderia ter sido.
Tinha sido ela, é claro, e os dois sabiam disso. O que ele não sabia eram todas as ocasiões em que ela se aventurara no sótão, que cheirava a vigas velhas e a séculos de ocupantes, e que invariavelmente era abafado nos meses de verão. Ele não sabia quantas vezes ela tinha ido lá, aberto aquele caixote, tirado seus livros e folheado páginas e páginas de esboços.
Flores, árvores, o lago, os cisnes e os patos.
Muitos deles eram de Nell. Cenas comuns, todas elas. Nell lendo na biblioteca, ela caminhando no jardim, adormecida, os cabelos espalhados em desordem selvagem no travesseiro. Ela parecia com aqueles esboços e a angústia tinha sido tão real e forte como no dia em que se separaram.
Cada vez que os colocava de volta em sua caixa, ela prometia a si mesma que seria a última vez que os procuraria. E, no entanto, sempre voltava.
Ela forçou as memórias de sua mente agora e se aproximou dele timidamente, sabendo que só iria reforçar sua afirmação de que ela não confiava em si mesma para resistir-lhe se ela mantivesse uma certa distância.
— Pedi aos servos que empacotassem todos os pertences pessoais que você esqueceu de levar. Eu não tinha noção do que estava lá. Se você o encontrou agora e optou por se familiarizar novamente com uma arte de que sempre gostou, estou satisfeita por você.
— Você está? — Ele levantou uma sobrancelha escura, estudando-a. — Então, por que você parece que gostaria de me acertar na cabeça com a pedra mais próxima, e depois me jogar no lago?
Ela não conseguiu conter a risada chocada com a sugestão dele.
— Você está sugerindo que eu pareço uma assassina para você?
— Talvez não exatamente uma assassina — Ele acariciou o queixo de forma contemplativa. — Mas irada o suficiente para me machucar fisicamente, certamente. Não finja que seria a primeira vez que você me machuca. Você já me arranhou como um gato zangado e me deu um tapa duas vezes.
— Tudo bem merecido, — ela lhe disse asperamente. — Considere-se afortunado por não ter sido pior.
— Faça o seu pior para mim, Nellie, — ele convidou, seu sorriso se aprofundando. — Talvez, eu até goste.
O limite. Claro que ele viraria a conversa para o erótico. E, claro, seu pulso aumentaria e seu corpo inteiro ficaria vermelho de consciência. Por que, oh, por que esse homem tinha que afetá-la tanto?
Seus lábios se contraíram com o desejo de sorrir, mas ela não podia se dar ao luxo de encorajá-lo.
— Você deseja, meu senhor.
Ele balançou as sobrancelhas com um efeito cômico.
— Tenho muitos desejos. Você se importaria de ouvi-los?
Ela tinha que pôr fim a este momento alegre.
— Guarde-os para sua próxima marquesa, eu imploro.
Seu sorriso desapareceu e ela sentiu uma pontada de perda. Ele pareceu de repente, inexplicavelmente triste.
— Doze dias, Nellie.
— Doze dias para a liberdade, — ela rebateu.
— Ou doze dias para a felicidade. — Ele se levantou, deixando seu caderno de desenho e carvão na grama a seus pés.
— Posso me juntar a você?
Ela queria negá-lo, mas isso apenas provaria o que ela estava fazendo o máximo para refutar.
— Suponho que não posso impedi-lo.
— Permita-me carregar isso para você, — ele ofereceu galantemente, alcançando a cesta.
Ela estava relutante em deixá-la, mas ele já estava deslizando a alça de vime de seu braço.
— Eu mesma carrego isso há três anos, — ela não resistiu em apontar para ele.
Ela também não conseguia esconder a amargura de seu tom.
Ela ainda se ressentia de sua ausência. Seu retorno não mudou isso.
— Eu deveria ter estado aqui, — ele disse, como se estivesse lendo sua mente. Sua expressão era sombria. — Eu nunca deveria ter ido. Deveria ter ficado e lutado por você.
Parte dela desejou que ele tivesse. Parte dela ficou aliviada por ele não ter feito isso.
Como ela teria resistido?
— Os patos provavelmente estão com fome, — disse ela, continuando o caminho. — Não devemos deixá-los esperando.
Ele suspirou atrás dela, mas o barulho de suas solas no cascalho lhe disse que ele a estava seguindo. Ela não o olhou por cima do ombro, mantendo o olhar fixo no lago. Uma fumaça quente soprou o cheiro de feno cortado para ela. Os patos nadavam na superfície lisa da água, os cisnes não estavam longe. Quando ela se aproximou da beira da água, os patos começaram a grasnar e a nadar em sua direção.
— Eles estão muito satisfeitos em espiar a chegada do café da manhã, — Jack observou, parando ao lado dela. — Parece que temos uma família inteira de patos para alimentar hoje.
Um pato macho e uma fêmea estavam na frente, uma trilha de sete patinhos meio crescidos se espalhou atrás deles na água. Ela tinha visto os bebês crescerem durante todo o verão, desde pequenas bolas de penugem até os patos quase maduros em que se tornaram.
— Havia originalmente nove deles, — ela disse suavemente enquanto os patos se aproximavam. — Dois desapareceram em algum lugar ao longo do caminho.
— Pobre mamãe pato — disse Jack, mas seu olhar estava em Nell, e não nos patos.
Algo dentro dela mudou. Derreteu. A maneira como ele a estava olhando a fez pensar em quão imprudente ela tinha sido com ele. No calor de sua semente dentro de seu corpo. Mesmo agora, seu filho poderia estar crescendo em seu ventre. A ideia não era tão indesejada quanto deveria ser.
Ela pigarreou.
— É o jeito da natureza, suponho. A raposa precisa do jantar, assim como o pato.
— Verdade, — ele concordou. — Nellie, não importa o que aconteça nos próximos doze dias, se houver repercussões, prometa que me contará.
Repercussões. Um bebê.
O bebê de Jack.
Ela mordeu o lábio contra uma onda de dor e desejo que não tinha o direito de sentir.
— Eu nunca iria para o Tom carregando o filho de outro homem. Você não precisa temer que eu esconda tal coisa de você.
Sua mandíbula cerrou-se e ele parecia querer dizer mais, mas então, acenou com a cabeça e voltou sua atenção para o lago. Os patos alcançaram a borda e chegaram à margem gramada, prontos para o milho. Tentando se distrair, ela enfiou a mão na cesta.
Mas Jack teve a mesma ideia. Seus dedos se roçaram e um solavanco subiu pelo braço dela, passando pelo cotovelo. Ela puxou a mão como se ele a tivesse queimado. Seria sempre assim? A conexão física deles é tão inquebrável? Ela não pôde deixar de se perguntar.
Se ao menos sentisse uma fração da mesma intensidade com Tom. As mesmas necessidades loucas.
Rangendo os dentes, Nell agarrou um punhado de milho e espalhou para os patos. Os cisnes demoraram a chegar esta manhã, ainda demorando para se aproximar. Jack espalhou um pouco de milho também, tomando cuidado especial para espalhar um pouco mais perto dos patinhos.
— Eu também os quero, sabe, — disse ele, pegando outro punhado de milho e espalhando na grama diante deles.
Ela engoliu em seco.
— Patos?
— Crianças. — Ele olhou para ela, e o olhar que lhe deu foi acalorado. — Quero ser pai. A hora chegou. Preciso de um herdeiro, é verdade, mas também anseio por um bebê para segurar em meus braços. Uma menininha com mechas de cabelos dourados e um nariz igual ao seu.
Ela não queria ouvir isso.
— Jack, — ela protestou, cegamente pegando um pouco mais de milho e espalhando para os patos.
— E ela teria seus olhos azuis e seus longos cílios, — ele continuou como se ela não tivesse falado. — Ela me chamaria de papai, e eu a ensinaria a nadar no lago quando ela tivesse idade suficiente, e você lhe mostraria como montar um cavalo corretamente. E então, um irmão também. Ele seria teimoso como você, e talvez herdasse meu nariz e queixo.
Ele estava partindo seu coração. Sua mão tremia quando ela alcançou outro punhado de milho. Ela lutou para manter sua compostura externa.
— Que imaginação fantástica você tem, meu senhor.
— Não me diga que você nunca pensou nisso, Nellie. — Sua voz era baixa. Sabendo.
Claro que sim, maldito seja.
— É um ponto discutível, — ela disse friamente. — Pois, isso nunca vai acontecer.
— Poderia, — ele pressionou. — Nosso bebê pode estar crescendo dentro de você, mesmo enquanto falamos.
— Não acredito que o destino seja tão cruel.
— Seria cruel? — Ele perguntou suavemente. — Você odiaria tanto, Nellie?
Não, não odiaria nada. E esse era inteiramente o problema.
— O que isso importa? — Ela perguntou. — Por que você se importa?
— Porque me importo com você, Nellie. — Sua mão fechou-se sobre a dela na cesta de milho. — Porque te amo.
O desespero a fez afastar a mão de seu toque.
— Pare de dizer isso.
— Por quê? — Ele estava calmo. — É mais fácil mentir para si mesmo quando não te lembro que meu coração bate por você e só por você?
Nell não aguentou mais aquilo. Como sobreviveria a mais dias de tal agonia? Ela não tinha ideia. Tudo o que sabia era que precisava escapar dele.
Ela apertou a mandíbula.
— Termine de alimentar os patos por conta própria. De repente, estou sofrendo de uma dor de cabeça.
Com isso, ela se virou e começou a refazer apressadamente seus passos no caminho.
— Aí está você, Nellie, fuja de novo, — ele gritou atrás dela, sua voz zombeteira. — Correr não vai resolver seus problemas.
Ele estava certo de novo, exploda-o.
Mas ela correu de qualquer maneira.
Dez malditos dias.
Jack estava ficando sem tempo e tinha uma esposa que acreditava que poderia passar a maior parte do tempo restante, escondendo-se dele em seus quartos.
Ela estava prestes a descobrir que estava errada.
Ele bateu na porta ao lado de seus aposentos.
— Vá embora, Jack, — ela disse no que se tornou uma rotina bastante familiar. Uma maldição indesejada.
Ele olhou para a porta, que era o símbolo de sua resistência contínua e seu fracasso contínuo.
— Se você não destrancar a porta, vou arrombá-la, — alertou.
— Não seja uma besta, — ela disse. — Eu tenho enxaqueca.
Sua voz estava abafada e indiferente.
Ele não acreditou nela.
— Você está com enxaqueca há dois dias, — ele rebateu. — Quando fizemos este trato, você sabia muito bem que eu não tinha intenção que você passasse os próximos quinze dias se escondendo em seus quartos.
— Eu não estou me escondendo, — ela rebateu.
Sua voz estava mais perto.
Não perto o suficiente.
— Escondendo, correndo, mentindo, — ele listou, sua irritação levando o melhor dele. — Você tem até a contagem de cinco para abrir a porta antes de eu colocar meu ombro nela e quebrá-la.
— Você não se atreveria.
— Um, — ele contou severamente. — Dois, três, quatro...
— Pare com essa bobagem imediatamente, — ela o repreendeu com sua voz severa de governanta.
— Cinco, — ele disse. — Afaste-se.
Ele deu um passo para trás, inclinou seu corpo para que seu ombro pudesse suportar o impacto de seu movimento para a frente e se jogou contra a porta.
— Jack!
O choque em sua voz lhe disse que ela não esperava que ele cumprisse sua ameaça. Bom. Ele queria chocá-la. Também queria abrir a maldita porta.
Ele lançou-se nela novamente, satisfeito com o barulho das dobradiças.
A trava rachou e a porta se abriu.
Nell estava lá, vestindo apenas o penhoir. Seu cabelo estava solto e segurava o terceiro volume de suas memórias de viagem contra o peito com uma das mãos como se fosse um escudo.
Mas nem mesmo o conhecimento de que ela estava se escondendo, lendo suas palavras, foi o suficiente para acabar com sua frustração. Seu ombro doía e ele não gostava de ter que danificar sua própria casa só para finalmente convencê-la a abrir a porta.
— O que você estava pensando, seu idiota? Você quase quebrou a porta, — ela disse.
— Eu te avisei que faria, — ele disse calmamente, passando por ela, cruzando a soleira.
— Eu insisto que você saia do meu quarto, — ela disse. — Não te dei permissão para entrar. Apenas abri a porta para evitar que você agisse como um bárbaro.
Ele ignorou suas palavras provocativas. — Onde estão suas roupas íntimas? Seu espartilho?
— Por quê? — Ela retrucou, seguindo atrás dele com uma expressão vexada beliscando seu adorável rosto. — Você pretende roubá-los?
— Nunca, meu amor. — Ele se manteve calmo com grande esforço. — Vou ajudá-la a vesti-los.
— Eu já tenho uma criada de quarto. — Ela colocou seu livro sobre uma mesa próxima e cruzou os braços sobre o peito. — Se eu precisar dela, a chamo.
— E ainda assim, você não fez isso, não é? — Ele respondeu, caminhando para o guarda-roupa dela e abrindo a primeira porta que pôde alcançar.
— Saia daí! — Ela correu em sua direção, tentando se colocar entre ele e as roupas superficiais penduradas ordenadamente dentro do guarda-roupa.
Ele notou uma caixa de madeira, estranhamente deslocada entre as bugigangas.
— O que você está tentando esconder de mim, Nellie? — Ele perguntou. — Já vi suas calças.
Seus olhos dispararam um fogo desafiador. — Não preciso de sua ajuda para me vestir, nem quero que remexa em meus pertences. Este é o meu espaço, Jack, e você não pertence aqui.
— Eu pertenço a qualquer lugar que você esteja, — ele rebateu. — Não do outro lado de uma porta malditamente trancada. E também não, em nenhum outro lugar do mundo. Eu pertenço exatamente aqui. Agora, podemos prosseguir com o dia de hoje em uma ou duas maneiras: você me deixará ajudá-la a se vestir, ou lhe carregarei por cima do meu ombro e a arrastarei para o café da manhã em nada mais do que seu penhoir. Qual você preferiria?
— Nenhuma!
Sua paciência diminuiu. Ele a pegou pela cintura com as mãos e a ergueu com facilidade, colocando-a de lado. Em seguida, tirou uma anágua e algumas calças. Ela se lançou sobre ele, caindo de costas e esmurrando-o com seus punhos delicados. Ele balançou para frente sob a força de seu ataque — ela era surpreendentemente forte para uma coisa tão pequena — e derrubou a caixa de madeira no chão.
A tampa caiu e seu conteúdo se espalhou pelo carpete.
Ele se abaixou para recuperar os itens e devolvê-los ao seu antigo local de custódia. Ela se ajoelhou ao lado dele, golpeando suas mãos.
— Não! Não toque nas minhas coisas! — Ela gritou.
Que diabo a deixou tão indignada? Ele pegou um punhado de cartas dobradas.
— Ama sonetos de Sidmouth? — Ele perguntou, sentindo-se repentinamente sombrio.
Mas então, reconheceu o rabisco em uma das cartas, por acaso.
Dele.
— Não é da sua conta o que eles são, — ela repreendeu, enfiando apressadamente um lenço de volta na caixa, junto com um punhado de cartas.
Também havia um anel, ele notou, e um broche. Um par de brincos de esmeralda. Um ramo desbotado de flores secas. Uma delicada coroa de miosótis murchados. Um desenho.
— Estes são todos presentes que lhe dei, — disse calmamente, voltando seu olhar para ela. — Cartas que escrevi para você. Flores que escolhi para você. Seu anel de noivado. O broche da minha mãe.
Seu queixo subiu.
— Eu tinha esquecido onde os mantinha.
Sua voz, uma oitava acima do natural, denunciou-a.
— Você sempre foi uma péssima mentirosa, Nellie — disse ele suavemente.
Algo em seu rosto mudou. Sobre o que mais ela estava mentindo?
Suas narinas dilataram-se, e ela voltou sua atenção para os objetos espalhados pelo tapete, colocando-os de volta na caixa o mais rápido que pôde.
— Não estou mentindo.
Mas sua objeção era desnecessária, porque ambos sabiam muito bem que ela era.
— Você viu todas as minhas coisas serem removidas para o sótão, — ele pressionou. — E ainda, esta caixa não foi. Por quê?
— Eu te disse, tinha esquecido onde eu as mantinha, — ela murmurou, pegando os miosótis e fazendo um som baixo quando eles se separaram. — Oh, maldição, eles estão arruinados.
Ele colocou a mão sobre a dela, acalmando-a de suas ações frenéticas.
— Por que você deveria se importar se eles estão arruinados?
Ela ficou rígida.
— Eles eram bonitos.
Mas seus olhos contavam uma história diferente. Eles estavam luminosos com lágrimas não derramadas.
— Você os guardou, — disse ele, — todo esse tempo.
— Isso não significa nada, — sussurrou.
— Errado, meu amor. — Ele entrelaçou os dedos. — Significa tudo.
Ela engoliu em seco, balançando a cabeça.
— Não, Jack. Isso não muda nada. Eu... essas eram lembranças de uma época melhor. Uma época que foi a mais feliz da minha vida. Mas esse tempo acabou.
As chamas de sua esperança ficaram cada vez mais brilhantes.
— Eu não morri e você não se foi. — Ele apertou os dedos dela. — Eu estou aqui. Você está aqui. Estamos aqui.
— Não podemos voltar àquela época.
— Por que deveríamos querer, quando o que temos agora pode ser muito mais? — Ele procurou seu olhar, vendo sua luta interior.
A compreensão o atingiu então, com a força de uma locomotiva descarrilada.
Todo esse tempo, ele tinha acreditado que a maior guerra que ela travou foi contra ele. E na verdade, tinha sido contra ela mesma. Ela o queria não apenas em sua cama. Ela também sentia algo por ele. Independentemente de quanto gostava de fingir que não. Jack a conhecia, e sabia que ela nunca preservaria todos aqueles objetos ao alcance, a menos que significassem algo. A menos que ele significasse algo para ela.
Você ainda não venceu, Sidmouth, pensou ele, triunfante com esse novo conhecimento. Nellie é minha mulher, minha esposa. E seu coração não se esqueceu de mim mais do que seu corpo.
— Por favor. — Seu lábio inferior tremeu. — Por favor, Jack, me deixe em paz. Eu não posso fazer isso com você. Não aqui, não assim.
Porra.
Aquilo.
Eles estavam fazendo isso. Para o inferno com o café da manhã. Para o inferno em forçá-la a se vestir. Para o inferno com o resto das memórias do noivado derramadas pelo chão. Para o inferno com qualquer outra coisa e para a maldita perdição com qualquer um que não fosse Nellie, e qualquer um que ousasse interromper.
— Você pode. — Ele se levantou, lhe puxando a mão até que ela ficou com ele, sua expressão incerta. Despedaçada. — Não irei a lugar nenhum, Nellie. Nunca. Vou cortejá-la novamente. Vou comprar uma nova caixa, escrever novas cartas, colher novas flores.
— Não quero ser cortejada.
Ela queria, e ambos sabiam disso.
— Você merece ser cortejada. E por um homem melhor do que aquele que te cortejou, então. — Ele puxou o corpo dela contra o dele. — Por um homem que viveu sem você por tempo suficiente para saber que nunca mais quer viver sem você.
Seu corpo era macio e desejoso contra o dele, todas as curvas femininas. Seus mamilos estavam duros, cutucando seu peito. Suas pupilas estavam dilatadas. Seus lábios se separaram. E ela podia negar o quanto quisesse, mas ele conhecia todas as respostas sutis de seu corpo. Ela o queria.
— Eu não quero nada disso, — ela disse, permanecendo teimosa como sempre.
— Prove para mim, — ele a desafiou, sabendo que a maneira mais certa de incitá-la a agir era testar seu orgulho.
— Vá embora.
Antes que ela pudesse se livrar de seu abraço, no entanto, ele agiu rapidamente. Sua boca caiu sobre a dela. Dura. Ele a beijou com toda a fúria, a esperança e o amor guerreando por dentro. Mordeu o delicioso lábio inferior que ela tantas vezes segurava com os dentes. Então, beliscou o doce arco na parte superior para uma boa marca.
Ela gemeu em seu beijo, os braços envolvendo seu pescoço. Ele não perdeu tempo em deslizar a língua em sua boca e saboreá-la. Sua resposta a ele foi fervorosa, como sempre. Ela poderia lhe negar com suas palavras tudo o que quisesse, mas seu corpo não mentia. O seu corpo era dele. Seu coração também seria. Ele jurou.
Ele a beijou com mais força, inclinando sua boca sobre a dela, colocando todas as suas emoções nesta conexão de seus lábios e línguas. Mas as palmas das mãos dela rastejaram até os ombros dele, e ela as plantou ali, empurrando-o para longe.
Ele puxou sua boca da dela, terminando o beijo.
— Vá em frente, — ele a encorajou, sentindo-se tão cru quanto já se sentia desde seu retorno. Seu coração não era nada além de um órgão pulsante e inflamado em seu peito. Ele a queria tanto, a amava tanto, mas ela estava sempre o negando e o afastando. — Afaste-se de mim agora, Nellie. Faça isso.
— Maldito seja, Jack, — ela gritou. — Por que você insiste em me torturar?
— Porque vale a pena salvar nosso casamento. Nosso amor vale a pena ser salvo. — Ele fez uma pausa, procurando seu olhar, esperando que ela visse o quão sincero ele era. — Porque não vou deixar você me deixar sem lutar muito, Nellie. Você é minha esposa. Minha. O que quer que você tenha com Sidmouth, não pode ser comparado. Me recuso a acreditar.
Em vez de responder, ela puxou sua cabeça para baixo e o beijou novamente. Ele estava pegando fogo por ela. Não tinha a intenção de entrar em seu quarto e beijá-la. Inferno, nem mesmo tinha a intenção de tocá-la além dos requisitos de bancar a criada. Mas agora que ele tinha, não conseguia parar. Ver o modo cuidadoso com que ela preservou os presentes de noivado, o comoveu.
E agora, ele tinha que tê-la.
Todas as suas boas intenções fugiram enquanto os conduzia através de seu quarto, encontrando seu beijo por beijo, em direção a sua cama. Seu pênis já estava em atenção, duro e latejante, suas bolas apertadas. Ele estava pronto, tão pronto para ela. E se a maneira como ela o beijou de volta era qualquer indicação, ela estava igualmente pronta.
Ele estava tão decidido a beijá-la que não percebeu que já os havia movido através do quarto até que não pudesse movê-la mais. Perderam o equilíbrio como um só e caíram na cama.
Capítulo 17
Nell caiu de costas, Jack aterrissando em cima dela na maciez flexível de seu colchão. Ele pegou a maior parte de seu corpo em seus antebraços para não esmagá-la com seu grande corpo. Mas, naquele momento, ela não se importou se ele a prendesse com seu peso. Não queria preocupação ou consideração cavalheiresca. Queria cru, desenfreado.
Ela queria que ele transasse com ela sem sentido.
— Te machuquei? — Ele perguntou sem fôlego, olhando-a com tanta ternura em sua expressão que o coração dela deu uma pontada. — Me perdoe, amor. Eu estava tão perdido em você que não tinha percebido que estávamos nos aproximando da cama até que fosse tarde demais.
Ela estava tão perdida nele, mas não ousava admitir em voz alta. Viu-se mais uma vez incapaz de resistir a ele, embora soubesse que deveria. Seu coração nunca esteve mais confuso. Seu corpo, entretanto, tinha certeza do que queria.
Jack.
Sempre, apenas Jack.
— Você não me machucou, — ela o tranquilizou finalmente. — Não dessa vez.
— Nem nunca mais. — Ele a beijou rapidamente. — Prometo.
Ele havia lhe prometido antes, e veja o que aconteceu.
Ela não se atrevia a acreditar nele. Mas não era sua ternura ou promessa que queria agora. Era seu corpo. Sua resistência havia fugido no momento em que ele a beijou. Talvez até antes disso.
Ela enrolou os braços em volta do pescoço dele e o beijou de volta. Seus lábios eram mais suaves do que veludo, quentes e firmes. Comandando, persuadindo e possuindo. Ela se entregou ao encontro de lábios, língua e dentes. Seus sentidos estavam agitados. O cume pesado de seu pênis aninhado no ápice de suas coxas. Ele estava tão pronto para ela quanto ela para ele.
Ela já estava encharcada e latejando. Ela rolou seus quadris sob os dele, procurando a fricção para aliviar sua dor. Mas só havia uma solução para o que a afligia, e ela sabia qual era.
Nell deslizou os dedos pelo cabelo dele e o agarrou, puxando até que ele ergueu a cabeça, interrompendo o beijo.
— Tire suas roupas.
Com um grunhido, ele fez o que ela ordenou, rasgando todas as camadas de suas roupas. Ele estava vestido para o café da manhã. Bonito e elegante. E agora estava selvagem e bruto. Seus olhos estavam escuros de paixão tempestuosa. Ela o ajudou com o colete e a camisa. Juntos, retiraram rapidamente suas calças e cuecas até que ele finalmente ficou nu.
Seu corpo era uma maravilha. Tão masculino, tão magnífico. Ela acariciou seu peito, pressionou beijos na parede de músculos. Passou a língua sobre sua pele para saboreá-lo.
— Eu quero você nua, — disse, puxando o cinto de seu penhoir.
Ela queria ficar nua também.
— Sim, — ela concordou, tirando as mãos dele apenas para ajudar a se libertar do penhoir de seda e sua linha de botões.
Os dois estavam completamente nus, seus corpos entrelaçados como antigos amantes. Seu corpo conhecia o dele tão bem. Sua boca acariciou a dela em beijos leves, provocando enquanto suas mãos acariciavam seus seios. Ele puxou seus mamilos, então os rolou entre seus polegares e indicadores.
Com um rosnado frustrado, ela tentou aprofundar o beijo. Mas Jack estava mais uma vez no controle quando ela já havia perdido todas as esperanças de se conter. Ele recuou, olhando para ela.
— Tão impaciente e gananciosa, — ele disse, lambendo os lábios como se saboreasse o gosto dela. — Devagar, Nellie. Eu quero aproveitar isso.
Como ele acendia o fogo e depois tomava o seu tempo.
Mas, quando abaixou a cabeça para sugar um mamilo em sua boca, ela se esqueceu de se importar. Um desejo quente disparou em seu âmago. A visão de seu belo rosto aninhado contra seu seio foi ao mesmo tempo comovente e erótica. Ela não aguentava vê-lo lhe dar prazer, mas também não conseguia desviar o olhar.
Ele chupou com mais força, então mordeu suavemente, pegando o pico entre os dentes e puxando. Querido Deus, ela iria derreter antes mesmo que ele deslizasse dentro dela. Ela alcançou entre seus corpos, seus dedos infalivelmente encontrando seu pênis. Ela o agarrou, acariciando-o da raiz à ponta, agradecida quando ele fez um zumbido baixo de aprovação e passou a língua sobre seu mamilo.
Ela o queria dentro dela.
Estava errado e sabia disso. Tudo errado. Ela disse a si mesma que não iria sucumbir aos seus desejos novamente. Que mentirosa ela era, para si mesma, para todos ao seu redor. Como poderia resistir a este homem? Ela não podia, e esse era o problema.
Resistir tinha sido fácil quando ele estava do outro lado do mundo, fora de alcance. Agora que ele voltou, estava tão desesperada como sempre tinha sido. Exceto, se alguma coisa importasse, o tempo e a distância a deixaram mais desesperada por ele. Faminta.
Jack voltou sua atenção para o seu outro seio, segurando o que acabava de torturar na palma quente de sua mão enquanto mamava no outro. Ela o acariciou com força, ondulando contra ele, procurando levá-lo onde ela mais o queria.
Ele pegou seu pulso com um aperto suave e removeu sua mão, sacudindo a língua em círculos preguiçosos ao redor de seu mamilo.
— Safada. Se você não parar de me tocar assim, não poderei fazer isso.
— Eu não quero que isso dure. — Ela já estava sem fôlego. Sua pérola latejava com a necessidade de ser tocada.
Em vez disso, ela se acariciou, gemendo ao roçar o botão inchado. Ela estava tão escorregadia. Sua própria necessidade aumentou seu desejo. Ela estava à mercê dele e gostou disto. Era uma criatura desesperada e trêmula. Uma escrava de sua própria luxúria.
Mas ele agarrou seu pulso mais uma vez, removendo sua mão antes que ela pudesse chegar ao limite.
— Ainda não, querida, — disse ele.
— Posso me tocar se você não, — ela reclamou. — Estou desesperadamente pronta para você, Jack. Tão molhada.
Suas narinas dilataram-se, e contra ela, seu pênis se contraiu, evidência de que ele não estava tão no controle quanto fingia.
— Você não pode se tocar a menos que eu dê permissão. Sua boceta é minha. Você ainda não se esqueceu, não é?
Queridos Céus.
Suas palavras perversas enviaram outra pulsação de desejo líquido a seu núcleo.
— Eu menti, — ela disse, apreciando os jogos de ambos, a batalha pelo poder e controle entre eles. — Menti quando disse que minha boceta era sua, só porque queria sua boca em mim.
— É isso mesmo?
Ela lambeu os lábios repentinamente secos.
— Sim. É minha, Jack. Não é sua. Nunca sua.
Ele levou os dedos dela à boca, sem desviar o olhar. Seus dedos estavam molhados com seus sucos. Ele envolveu seus lábios ao redor deles e chupou, chicoteando-a com sua língua, sugando até a última gota dela.
— Sua boceta tem gosto de minha, Nellie — disse ele, em voz baixa.
O que ela poderia dizer sobre isso? Sua inteligência estava muito dispersa para formar uma resposta. Ele a estava desfazendo. Lentamente, e com uma promessa doce e sedutora.
Ele chupou os dedos dela novamente, cantarolando sua aprovação.
— Eu quero mais.
Ela queria que ele tivesse mais também. Queria sua língua nela, dentro dela. Qualquer coisa que ele quisesse fazer, ela queria tudo. E então, iria querer de novo.
Isso era o quão louca sua necessidade por ele a deixava.
Ele se acomodou entre suas pernas, acariciando sua parte interna das coxas e espalhando-a amplamente. Ela se perguntou se ele iria provocá-la novamente como da última vez, atormentando-a até que ela rendesse.
— Sua boceta se parece com a minha também, Nellie — ele murmurou, seu olhar aquecido devorando sua carne mais íntima.
Ela choramingou quando ele arrastou o dedo indicador por sua costura na sensação de um toque. Não era pressão suficiente. Insuficiente. Ela se arqueou, procurando mais. Mas, ele evitou sua pérola.
Em vez disso, ele segurou seu monte. Era uma maneira tão carnal de reivindicá-la, e ela sabia que deveria estar chocada, mas a ação só a fez desejá-lo mais. Ela empurrou contra sua palma com um gemido.
— Sua boceta parece minha, — disse ele. — Tem certeza de que não é minha?
— Claro, — ela rosnou, agarrando-se ao último resquício de seu orgulho.
— Eu vou ter que ter uma outra prova. Apenas uma, — ele disse, removendo a mão e arrastando o dedo de volta para baixo em sua costura. Em sua entrada, ele fez uma pausa, perseguindo-a com movimentos circulares leves que alimentaram seu frenesi. — Uma longa e lenta lambida em seu centro. Talvez um gostinho de sua pérola. Isso deve me dar a resposta de que preciso. O que você acha, querida?
Ela pensou que ia explodir se ele não a agradasse logo.
— Faça isso, — ela rangeu.
— Hmm. — Ele continuou seus círculos suaves ao redor de seu canal, lentamente, deliciosamente provocando. — Acho que você deveria me perguntar docemente, Nellie.
— Por favor. — A palavra solitária sibilou dela.
Aparentemente, foi o suficiente, porque depois de um longo tempo, ele abaixou a cabeça e fez o que havia prometido. Sua língua substituiu seu dedo, girando em torno de sua entrada sem mergulhar dentro, antes de deslizar para sua pérola. Ele agitou sua língua contra ela levemente.
Apenas o suficiente para atormentar.
Então, ergueu a cabeça novamente. A umidade dela cobrindo seus lábios. Ela queria lamber isso deles. Mas primeiro, queria que ele a fizesse gozar com aquela língua esperta.
— Eu estava certo, — disse ele. — Você tem o gosto da minha.
— Então, me leve, — ela o desafiou, o desespero e o desejo dominando todo o resto.
Ele abaixou a cabeça novamente, e desta vez, não se conteve. Ele chupou forte em sua pérola, e então lambeu seu canal, empurrando sua língua dentro. A mão esquerda dela voou para os lençóis ao seu lado, agarrando um punhado. A direita se acomodou em sua cabeça, os dedos se enredando no cabelo dele.
Ele gemeu enquanto enfiava a língua nela novamente e novamente. Ela apertou seu rosto mais profundamente, segurou-o lá enquanto ele a devorava, empurrando-se contra ele. Ele a lambeu como se ela fosse a melhor sobremesa. Como se não conseguisse o suficiente. Como se a saboreasse em sua língua.
Ela estava perto. Tão perto. Sua tortura sensual intensificou todos os seus sentidos. Quando ele chupou o botão de seu sexo de volta em sua boca, ela voou. Seu clímax foi poderoso e explosivo. Sua respiração fugiu enquanto seu corpo inteiro se enrijeceu, curvando-se da cama.
Jack passou a língua pela pérola inchada de Nell enquanto ela gritava. Ele a lambeu lentamente, deliberadamente, prolongando seu ápice o melhor que pôde. Ele ficou onde estava, o rosto entre suas belas pernas, saboreando cada momento de seu prazer. Amava o gosto dela, a maneira como ela se desfazia. Amava quando ela apertou sem pensar a boceta em seu rosto, enterrando-o em seu calor doce e picante. Ela ainda estava tremendo, quadris ainda trabalhando em pequenas estocadas rápidas.
Mas, não achava que poderia durar muito mais tempo. Suas bolas já estavam apertadas e seu pênis estava rígido e pronto. Com um último e prolongado beijo na carne que acabara de dar prazer, ele se ergueu sobre ela, agarrando-se a si mesmo. A cabeça de seu pênis mergulhou em seu núcleo, beijando-o com umidade. O desejo de se perder dentro dela era forte.
Ele se manteve imóvel com grande esforço, encontrando o olhar dela.
— Você me quer dentro de você?
— Sim. — Ela envolveu uma perna em volta da cintura dele, seu dedo delicado esfregando na bochecha de sua bunda para estimulá-lo. — Faça.
Ele deslizou dentro dela. Ela o agarrou com força, trazendo-o profundamente. Maldição, ela se sentia tão bem. Tão bom. Sentia-se em casa. Ele gemeu, permanecendo plantado dentro dela ao máximo, saboreando este momento, a unidade deles, a proximidade que cresceu entre eles. Quando eles faziam amor, todo o resto desaparecia. Todo o conflito, todo o tempo separados, toda a dor e agonia do passado. Se ele pudesse mantê-la na cama para sempre, suas chances de reconquistá-la aumentariam explicitamente, pensou sombriamente.
Ela enrolou a outra perna em volta da cintura dele, movendo-se inquieta embaixo dele. Suas mãos encontraram seus ombros, suas unhas marcando sua pele.
— O que você está esperando, Jack? Foda-me.
Ele não tinha palavras para comparar com o comando vulgar em seus lábios.
Ele se retirou quase totalmente e então mergulhou com força. Ela gritou, sua cabeça voltando para os travesseiros, fechando os olhos com força. Sua garganta estava exposta, cremosa e nua. Ele abaixou a cabeça e a mordeu enquanto a penetrava mais uma vez com força punitiva. Ele transou com ela com tanta força que a cama enorme rangeu, a cabeceira aparentemente imóvel se chocando contra a parede.
Ele a penetrou em uma repetição desmedida, enchendo-a, transando com ela. E ela se moveu com ele, passando as unhas por suas costas, encontrando-o impulso por impulso, fazendo os mais deliciosos ruídos de prazer desesperado. Ele se transformou em um animal selvagem. Ele beliscou seu lóbulo da orelha, seu ombro. E ela o agarrou com abandono primoroso.
Mais um impulso profundo, e ela se apertou nele, seu grito ecoando pelo quarto enquanto ela gozava sem pensar, uma onda de líquido banhando seu pênis. Ele aumentou o ritmo, batendo nela com mais força, mais agressivamente, enchendo as mãos com seu traseiro e inclinando-a para que pudesse afundar seu pênis o mais fundo possível em seu calor delicioso.
Ele estava vindo.
Com pura força de vontade, ele se retirou dela no último segundo, agarrando seu eixo com força enquanto passava por toda sua boceta. Ele pintou suas lindas dobras rosa com sua semente, marcando-a como sua. Era primitivo, mas ele tinha outra razão para não liberar sua semente dentro dela.
— Minha, — ele rosnou, reivindicando sua vitória como ele a reivindicou. — Sempre minha.
E então, rolou de costas ao lado dela, saciado e sem ossos. Seu coração batia forte no peito e não se lembrava de quando gozara com tanta força em sua vida. A respiração de Nell era tão rápida e irregular quanto a dele. Ela também ficou imóvel, como se não pudesse se mover.
Por alguns momentos, desprotegidos, eles estiveram completamente unidos, e ele estava totalmente em paz, enganando-se a acreditar que essa paz poderia durar para sempre. Que certamente esta sessão de amor, tão poderosa e apaixonada, mudou sua mente para sempre. Que certamente ela nunca poderia querer ir para outro homem depois do que acabaram de experimentar.
— Você não terminou dentro de mim, — ela disse de repente, quebrando o silêncio por fim.
E assim, a realidade voltou para ele.
— Não, — ele concordou, desejando não ter que dizer mais nada, esperando que ela não o fizesse reconhecer a possibilidade de sua derrota iminente.
— Antes, quando nos casamos, você também não — Nell persistiu, virando o rosto para ele com um olhar questionador. — Porque não estávamos prontos para ter um filho. No entanto, nas outras vezes que fizemos amor desde o seu retorno, você fez.
— Eu perdi o controle, — ele admitiu. — Estive tanto tempo sem você que eu... não conseguia me controlar.
— Você se controlou desta vez. Por quê?
Ela o faria dizer isso.
Ele suspirou.
— Porque não vou prender você com um bebê. Eu preferiria conceder o divórcio a você do que passar o resto da minha vida sabendo que você permaneceu ligada a mim por causa de uma criança.
Ele tinha muito orgulho por isso, mas também amava Nell demais para isso. Ele queria, mais do que tudo, a felicidade dela. Se não fosse com ele, a escolha seria dela e só dela. Estava fazendo tudo ao seu alcance para mudar sua mente.
— Isso é... cavalheiresco de sua parte, — ela disse pausadamente.
Ele desejou poder ler seu semblante. Seu rosto, normalmente tão expressivo e fácil para traduzir, estava cuidadosamente em branco.
— Você parece surpresa, — ele observou, seu tom tão sombrio e desolador quanto sentia por dentro. — Já disse antes, não sou a besta que você pensa que sou, Nellie. Eu te amo. Te amei há três anos e te amo hoje. Isso não mudou, nem nunca mudará. Mas, não vou segurar você neste casamento se você não puder me amar de volta.
— Não sei se consigo, Jack.
Sua suave confissão o surpreendeu. Foi uma concessão maior do que esperava dela, dada a maneira como ela continuava a afastá-lo.
— Sua incerteza me dá esperança. — Ele não pôde resistir a tocá-la, estendendo a mão para acariciar sua bochecha sedosa antes de traçar seu toque para se estabelecer sobre seu coração batendo selvagemente. — Talvez você ainda possa encontrar espaço aqui para mim.
Seus lábios franziram, e então ela rolou para longe dele, dando-lhe as costas.
— Você deveria ir, Jack. Suspeito que já estejamos muito atrasados para o café da manhã e terei de fazer algumas abluções e chamar a minha criada.
Ela o estava dispensando.
Ele olhou incrédulo quando ela se levantou, presenteando-o com uma visão de dar água na boca de seu traseiro arredondado. Seus longos cachos dourados sacudiram enquanto seus quadris balançavam. Por mais irritado que estivesse com ela por sua subsequente retirada mais uma vez, não pôde deixar de admirá-la quando ela se curvou para pegar algo do chão.
— Deixe-me ficar, — disse ele. — Deixe-me pelo menos cuidar de você.
Ele se sentiu repentinamente culpado por sua exibição de posse. A que ela o reduziu? Ele era um bárbaro?
Claramente, a resposta a essa pergunta foi um retumbante sim, porque o pensamento de sua semente, quente e pegajosa entre suas coxas — o conhecimento de que ela ainda devia senti-lo ali — o agradava. Isso também fez seu pau voltar à vida.
Ela se levantou e se virou, jogando uma pilha de roupas para ele. Calça, camisa, colete, cuecas, etc. Pousaram em sua ereção de uma forma bastante simbólica.
— Eu já disse a você muitas vezes, Jack, vou cuidar de mim mesma, — ela disse, sua voz azeda. — Agora, por favor, me deixe para que eu possa me preparar para o dia.
— Muito justo — resmungou ele, sentindo-se como se tivesse acabado de ser flagrado com uma mulher traindo o marido, e agora precisava fugir antes que o sujeito irado o pegasse. Mas isso era o diabo, não era? Ela ainda era sua maldita esposa. — Não há mais enxaquecas, no entanto. Sem mais desculpas. Pretendo passar os próximos dez dias cortejando o inferno em você, mulher.
Com esse aviso, ele deslizou de sua cama, agarrando suas roupas descartadas.
Capítulo 18
Quando Jack estava em sua forma mais encantadora, o efeito era devastador.
E na sequência de seu fervoroso amor dois dias atrás, ele havia envergonhado seu ser mais encantador. Ele a provocou até que a fez rir apesar de si mesma. Cantou para ela enquanto ela tocava piano. Leu a poesia dela na biblioteca. Acompanhou-a em passeios no jardim e colheu suas flores.
Ainda ontem de manhã, tinha sido uma tiara de miosótis esperando por ela ao lado de seu prato quando desceu para o café da manhã.
— Para substituir aquele que eu inadvertidamente arruinei, — ele explicou, dando a ela aquele meio sorriso, que nunca falhou em fazê-la derreter por dentro.
O que ela fez? Ela carregou cuidadosamente a tiara para seu quarto ao final do café da manhã e a colocou sobre a escrivaninha, onde poderia secar. Porque queria preservá-la. Porque ela era claramente uma candidata ao hospício.
Mas ela não estava sozinha.
Os criados estavam todos de excelente humor. Até Reeves, que sempre, ela secretamente acreditava, a desaprovava, sorriu para ela recentemente. Em pelo menos duas ocasiões. A governanta, Sra. Barnes, não conseguia parar de cantarolar. De repente, o cozinheiro estava preparando todas as suas sobremesas favoritas diariamente. Até os lacaios e as camareiras pareciam mais felizes. Jack havia aumentado o salário anual de todos, descobriu mais tarde.
Então, havia os patos, aqueles pequenos traidores grasnadores.
Eles haviam se apegado a ele. Um se apegou tanto que o seguia. O pato era uma fêmea, naturalmente.
Razão pela qual não foi nenhuma surpresa quando ela saiu de madrugada para sua costumeira alimentação dos patos, e encontrou Jack e aquele patinho desgraçado que já a esperavam no caminho de cascalho.
Ele tinha sua própria cesta de milho pendurada no braço e estava vestido mais uma vez com linhos de verão que mostravam seus ombros largos e pernas longas. O pato ficou a seus pés como se fosse o lugar ao qual pertencia, e ofereceu a Nell um grasnado de advertência quando ela dobrou a curva, como se dissesse que você está atrasada.
Ela tinha acordado mais tarde do que o normal esta manhã, era verdade. Mas o ataque sensual dele a estava desgastando em mais de uma maneira.
Jack ofereceu-lhe uma reverência digna de uma apresentação no tribunal.
— Elsa e eu estávamos começando a nos perguntar onde você estava esta manhã.
Ela franziu a testa, o que era realmente difícil quando Jack estava sorrindo para ela com seu rosto bonito, e havia um pato parado ao lado dele. Um pato que ele nomeou de Elsa.
Nell se aproximou e Elsa grasnou com maior insistência, abrindo as asas como se fosse ameaçar um predador. Essa era a outra coisa sobre o maldito pato. Até Elsa fora conquistada pelo charme indomável de Jack. E a pata não gostou particularmente de Nell ficar muito perto de seu amado.
— Acalme-se, seu desgraçado — disse Nell ao pato. — Isso nunca vai acabar bem para você, sabe. Ele é um homem e você é uma ave. Por que você não vai encontrar um de sua própria espécie?
Elsa grasnou e bateu as asas novamente.
Jack riu.
Ele vinha fazendo isso mais recentemente, rindo. Ela amava o calor e a profundidade daquele som. Era contagioso, e ela sentia falta disso tanto quanto sentia falta dele. Isso era outra amarga descoberta que tinha feito nos últimos dias: ela estava desfrutando de sua campanha o cortejar o inferno nela, como ele tão grosseiramente se expressou.
— Elsa sabe que meu coração só bate por uma mulher, não sabe, Elsa? — Ele perguntou ao pato antes de lhe oferecer um punhado de milho.
Ela comeu na palma da mão dele.
Nell conhecia a sensação.
Oito dias, ela se disse interiormente. Mais oito dias até que ela estivesse livre para partir. Certamente, poderia suportar seu charme e a necessidade insaciável de seu corpo por ele, e todos os sinais do mundo ao seu redor que apontavam para o fato indiscutível de que todos amavam Jack — incluindo ela. Incluindo um pato amaldiçoado.
— Não ficaria surpresa se eu encontrasse este pato empoleirado na biblioteca em seguida, — ela disse secamente, irritada tanto com o homem quanto com o pato.
Ela tinha alimentado aquelas malditas aves sempre que estava na residência nos últimos três anos. Ele estava explorando Paris, Egito e Grécia. Estava aprendendo como curar suas queimaduras de sol com babosa e encontrando tinturas de ervas para aliviar as dores nos pés com bolhas.
Sim, ela havia terminado de ler todos os seus livros.
Cada um tinha sido dedicado a ela.
E lê-los só aumentou sua miséria interior.
Seus livros eram perspicazes, interessantes e espirituosos. Ele tinha estado fora, conquistando o mundo e aprendendo sobre si mesmo enquanto ela estava exatamente onde ele a havia deixado: bebendo muito, dando festas perversas e desejando que ela pudesse ter sua antiga vida de volta, aquela antes de seu marido a trair.
Ela se ressentia dele pela disparidade em suas situações. Ressentia-se por deixá-la, por permitir que Lady Billingsley entrasse em sua cama, por conquistar os servos e o pato, por colher suas flores, por fazer de seu corpo um escravo de seu desejo por ele...
Por tudo. Ressentia-se por tudo.
Elsa terminou seu lanche, olhou para Nell e grasnou como se em reprovação.
Mas Nell se recusava a acreditar que um pato pudesse ler mentes.
— Elsa está dizendo que não deseja ficar na biblioteca — disse Jack, interrompendo os pensamentos turbulentos de Nell. — Ela disse que nunca suportaria sair do lago.
Ela revirou os lábios para evitar sorrir de sua tolice.
— Você fala a língua dos patos agora?
Sua leviandade voou.
— Parece ser o único idioma em que me destaco.
Ela sustentou seu olhar, recusando-se a aceitar toda a culpa pelo impasse.
— Eu não teria tanta certeza de que o problema é o idioma que você fala. Seu inglês, sua bajulação e charme são mais do que proficientes.
— Mas não minha humilhação, ao que parece, — disse ele, inclinando a cabeça. — De que outra forma posso dizer, Nellie? De quantas outras maneiras posso lhe provar o quanto sinto muito e o quanto te amo?
O maldito pato grasnou. Duas vezes.
— Vá para o diabo, sua pequena cabeça de pena, — disse ela a Elsa.
— Você está discutindo com meu pato? — Ele perguntou, o riso de volta em sua voz.
— Estou discutindo com aquela ameaça emplumada que pensa que não pode sair do seu lado, — ela corrigiu, olhando para Elsa.
— Com ciúmes, Nellie? — Seu sorriso estava de volta, tão profundo que fez ranhuras nos cantos dos olhos.
Esse sorriso a atingiu como um golpe.
— Ela pode ter você só para ela em oito dias, — disse ela com uma fungada.
O sorriso dele morreu, e algo dentro de seu coração murchou também com a visão.
Ela o estava machucando. E quanto mais tempo eles passavam juntos, mais odiava cada olhar sombrio dele, as sombras em seus olhos, a distância entre eles.
Por mais que ela nunca quisesse sair.
E esse era o maior problema de todos.
— Ainda tenho oito dias para mudar sua mente, — ele a lembrou.
— Você não vai — prometeu ela, passando por ele e pelo pato no caminho, certificando-se de deixar Elsa bem afastada.
Ela não iria esquecer o pato para caçá-la.
— Não teria tanta certeza se fosse você, — Jack rebateu atrás dela. — Acredito que estou lhe desgastando, Nellie, amor.
Ele a estava desgastando mais do que imaginava.
Mas, nunca admitiria isso. Porque o conhecia, e ele só exploraria essa fraqueza recém-descoberta até que ela não pudesse resistir. Tudo enquanto ela sabia, no fundo de seu coração, que não ousaria confiar nele novamente.
Ela tinha confiado e ele tinha arruinado essa confiança da maneira mais cruel.
Só uma idiota lhe daria uma segunda chance.
E ela estava começando a temer que fosse uma idiota. Que ela fosse a idiota de Jack.
— O resto dos patos estão com fome, — ela gritou por cima do ombro, ignorando suas palavras provocativas. — Vou alimentá-los com o café da manhã. Você e seu amiguinho podem fazer o que quiserem.
Elsa grasnou.
Nell não achou que imaginou que o som fosse triunfante.
Nell estava logo à frente de Jack no lago. Ela estava de costas para ele, o cabelo solto e flutuando ao redor dela como uma serpente de seda. Assim como na noite em que ele a pegou nadando sob a plenitude da lua, ela estava nua. Nadando para longe dele. Sempre longe.
Por que ela nunca nadou em sua direção? Por que ela nunca foi até ele e o tomou nos braços? Por que nunca rompeu essa distância intransponível que os mantinha separados?
Ele tentou chamá-la, mas sua voz parecia não funcionar. Ela engrossou, engolida pelos vastos ecos do ar livre. Ela se afastou dele e ele remou mais rápido, desesperado.
Mas, por mais que ele insistisse, se debatesse e lutasse através da água, seu progresso parecia estagnar. Não conseguia se mover. E Nell continuava a remar ao longe, seus braços de marfim se arqueando no ar, espirrando na água enquanto nadava para longe.
Ele tentou chamá-la repetidamente, mas sua voz estava estranhamente silenciosa. Não conseguia gritar o nome dela. E Nell foi ficando cada vez menor, mais longe de seu alcance. O desespero o atingiu. Tentou nadar mais rápido, mas a água lutou contra ele. Algo pareceu pegá-lo das profundezas da água, arrastando sua cabeça para baixo.
Ele tossiu, lutou, cuspiu por ar.
Ele estava se afogando.
— Jack?
Uma voz suave rompeu seu terror.
Ele acordou com um aperto no peito, como se mãos invisíveis procurassem tirar todo o fôlego de seus pulmões. Ele estava ofegante, seu coração batendo forte. A noite estava escura ao seu redor, e levou um momento para que seu juízo se recuperasse onde estava.
Casa, em Needham Hall, em seu quarto. Tudo tinha sido um pesadelo. Obrigado, Cristo.
Mas não estava sozinho. Havia uma presença ao seu lado, uma mão acariciando suavemente seu braço em conforto. Nell, ele percebeu.
— Eu ouvi você gritando, — ela disse suavemente. — Algo está errado?
— Um pesadelo, — disse ele, sentindo-se um tolo. — Nada mais. Perdoe-me por acordar você. Estou bem.
Na verdade, não estava bem. Não realmente. O sonho o tinha abalado. A sensação de ter perdido Nell ainda era real, iminente. Porque depois de uma semana na busca furiosa de sua esposa, Jack teve que admitir que estava falhando abissalmente em sua cruzada para reconquistar o coração dela. Sete dias.
Isso era tudo que ele tinha.
E pode não ser o suficiente.
— Você está tremendo, — ela observou, preocupação em sua voz.
Deus, estava mesmo. Que imbecil patético ele era.
Ele passou a mão pelo cabelo.
— O que é isso? Preocupação comigo?
Ele não queria soar tão amargo.
— Claro que estou preocupada. — Ela continuou acariciando seu braço como se ele fosse um animal selvagem que precisava se acalmar para não morder. — Você me deu um grande susto. Achei que você estava com dor.
— Estou com dor, — ele murmurou.
Ela não conseguia ver? Ele estava com o coração partido.
— O que dói? — Ela perguntou, colocando a mão na testa dele. — Você não está com febre, está?
— Meu coração, — ele disse. — Meu coração é o que dói.
Ela tirou a mão, e ele a sentiu enrijecer ao lado dele.
— Jack, por favor.
Ele pegou a mão dela na escuridão e puxou-a contra o peito.
— Sinta isso, batendo por você. Sempre por você, e você não quer.
Seu peito estava nu, e o calor de seu toque o queimou como uma marca.
Ela puxou sua mão, tentando escapar, mas ele não estava pronto para soltá-la. O pesadelo ainda não havia saído totalmente dele. A crença esmagadora de que ela estava fora de alcance o relembrando sempre. Precisava dela aqui. Precisava tocá-la, para se assegurar de que ainda tinha sete dias.
— Você está tornando isso muito mais difícil do que deveria ser, — disse ela.
Ele poderia argumentar o mesmo sobre ela.
— Meu pesadelo era com você, — ele disse. — Estávamos no lago e você nadava para longe de mim. Eu estava tentando nadar atrás, mas você ficava cada vez mais longe. E eu estava me afogando sem você, minha cabeça debaixo d'água até que não conseguia respirar.
— Foi um sonho, Jack. Nada mais.
— Mas é assim que parece a perspectiva de te perder, Nellie, — ele admitiu. — Se eu te perder, serei um homem que está se afogando.
Algo sobre a escuridão e o pesadelo tornava a honestidade mais fácil. Estava dizendo a ela que a amava desde que voltou. Inferno, lhe disse em todas as cartas que enviou do exterior — as cartas que ela nunca tinha lido. Mas ele nunca disse a ela o quão devastado ficaria se a perdesse para sempre.
— Jack.
Havia muita tristeza em sua voz. Determinação também.
— Me perdoar é uma impossibilidade? — Ele perguntou. — Ou você me odeia tanto assim?
— Eu não te odeio de jeito nenhum, — ela sussurrou.
— Você disse que sim, — Jack a lembrou. — Mais de uma vez.
— Eu pensei que sim, mas você me confunde. — Ela fez uma pausa, como se reunisse seus pensamentos. — Não acho que poderia odiá-lo. Te amei demais para isso.
Amei. Pretérito. Sua escolha de palavra não foi perdida por ele.
— Você ama Sidmouth? — Ele havia lhe perguntado antes, mas ela nunca lhe dera uma resposta adequada. Essa conversa foi interrompida pela chegada de Sidmouth.
Ele precisava saber agora.
— Não.
Sua admissão foi tão suave, quase inaudível.
Mas ele ouviu. Ouviu, e isso lhe deu uma onda feroz de esperança.
— Não acho que sou capaz de amar alguém, — acrescentou ela, esmagando a explosão incipiente. — Você me quebrou, Jack. Sua traição me quebrou.
Não era isso que ele queria ouvir. Talvez fosse algo com que ele pudesse trabalhar, no entanto.
— Deixe-me torná-la inteira, Nellie, — disse ele. — Deixe-me reparar o dano. Juro para você, nunca mais vou te machucar.
Ele quis dizer essas palavras. Quis dizer isso mais do que qualquer coisa que já havia falado.
Mas elas não foram suficientes para convencê-la. Nunca foram suficientes, suas palavras. A única maneira pela qual poderia alcançá-la era através de seu corpo. Seu coração, ela mantinha cuidadosamente trancado, fora de alcance.
— Você tem mais sete dias. — Ela puxou a mão livre de seu aperto. — Eu deveria voltar para o meu quarto agora e deixá-lo descansar.
— Ou você pode ficar, — ele convidou.
— Jack.
— Nellie. — Ele estendeu a mão novamente, encontrando seu seio com uma pontaria infalível, mesmo na escuridão. Ele o segurou, esfregando o polegar sobre o mamilo. — Você tem mamilos famintos. Todo duro e pronto, esperando pela minha boca.
Ele sabia que ela adorava quando dizia coisas perversas para ela.
Ela fez um som que era meio ronronar, meio gemido.
— Meu corpo é um tolo.
Ele moveu-se para o decote de seu penhoir e encontrou os botões já abertos. Em sua pressa de ir até ele, ela apenas a fechou com a faixa em sua cintura. Vagarosamente, ele acariciou sua pele sedosa, deslizando a mão dentro de seu penhoir para descobrir que ela não estava usando uma camisola.
— Talvez seu corpo seja sábio. — Ele segurou o seu redondo e pesado seio.
Seu calor o queimou. Ele beliscou o topo de seu seio, então puxou. Sua respiração estava mais rápida agora. Superficiais, pequenos tremores lhe disseram que ela o desejava tanto quanto ele a ela. Se ela lhe negasse seu coração, ele tomaria cada pedaço dela que pudesse obter até que não pudesse mais tê-la.
O último pensamento causou uma intensa explosão de angústia.
Ele baniu. Não há tempo para dor agora. Apenas prazer. Ele iria se perder em seu doce corpo.
Com a outra mão, ele desamarrou o cinto do penhoir e o empurrou pelo ombro. Ele desejou que houvesse luz no quarto, porque queria vê-la. Queria ver suas mãos em seus seios, a maneira como ela arqueava as costas para preencher as palmas das mãos. Ele brincou com seus mamilos, beliscando-os com mais força.
Ela fez um ruído inquieto com a garganta.
— Jack.
— Você quer isso, — disse ele. — Você quer o prazer que só eu posso lhe dar, não é?
Nell não respondeu.
— Se eu tocar na sua boceta agora, vou encontrar você pingando para mim, não é? — Ele cutucou.
Sua respiração ficou mais irregular. Ele continuou acariciando seus seios, brincando com seus mamilos.
Chega de espera. Seu pênis estava rígido e pronto. Colocou as mãos na cintura dela e as moveu em um movimento suave, deixando-a de costas e ele em cima dela. Suas pernas se separaram naturalmente para acomodá-lo. Seus dedos mergulharam entre suas pernas, separando-a, encontrando sua pérola inchada.
— Eu estava certo, não estava? — Meu Deus, ela estava quente e encharcada. — Tão úmida e cremosa para mim, Nellie.
Ela estava tão molhada que os sons dele trabalhando em sua pérola se juntaram aos sons de sua respiração frenética. Seu pênis ficou ainda mais rígido em resposta.
— Por favor, Jack. — Seus quadris se moveram sob ele, inquietos e procurando.
Ele abaixou a cabeça, levou um mamilo à boca e o chupou.
— Por favor, o quê? — Ele perguntou, soprando sobre seu mamilo.
— Por favor, goze dentro de mim. — Seus dedos se fecharam em torno de seu pênis, e ela apertou.
Prazer intenso se construiu, enrijecendo suas bolas e lambendo sua espinha. Ela o acariciou do jeito que sabia que ele gostava, seu aperto forte.
— Se você continuar assim, eu gozarei em sua mão antes que eu possa colocar meu pau dentro de você, — ele avisou, puxando a mão dela.
Ele posicionou seu pênis em sua entrada, mergulhando a ponta em seu calor liso.
— Agora, — ela implorou.
Ele deslizou dentro dela, e seu canal o agarrou em boas-vindas. Um golpe, e ele estava enterrado até o punho.
— Droga, — ele rangeu. Porque ela se sentia bem, tão bem.
Bom demais.
Ele nunca teve essa conexão com ninguém, e sabia instintivamente que nunca teria. Nell era sua outra metade. Se ela o deixasse, ela levaria parte dele com ela. Mas ele também não deveria pensar nisso agora.
Ele se moveu dentro dela, deslizando quase completamente fora, e então batendo nela novamente. Suas estocadas eram punitivas. Nell não pareceu se importar. Se qualquer coisa, isso a deixou mais selvagem. Ela envolveu as pernas em volta da cintura dele, encontrando impulso por impulso.
Jack a beijou então, reivindicando sua boca com os lábios da mesma forma que reivindicou sua boceta com seu pênis. Ele alcançou entre eles, encontrando o botão de seu sexo e o esfregando. Queria que ela se perdesse. Para gastar todo o seu pênis e inundá-lo com mais umidade.
Ela gozou com um grito, sua boceta apertando-o com tanta força que ele teve que se concentrar para não perder o controle. Ele bateu nela, absorvendo seus gritos com seu beijo, batendo dentro e fora, até que não pudesse se conter por mais tempo.
Ele quebrou o grude de seus lábios e se retirou de seu corpo, rasgando-se enquanto se derramava sobre sua barriga. Ofegante, saciado, ele se atrapalhou em busca de um pano e a limpou suavemente. Ela se mexeu de seu estupor saciado.
— Eu deveria voltar para meu próprio quarto, — ela disse, quebrando o silêncio entre eles.
— Não vá, — ele disse, envolvendo-a em seus braços e deitando-se com ela. — Fique.
Para sua surpresa, ela não se opôs. Em vez disso, ela permitiu que ele puxasse a roupa de cama sobre os dois, e permaneceu dobrada ao lado dele.
O resto de seu sono foi sem sonho.
Capítulo 19
Nell acordou na cama de seu marido pela primeira vez em anos.
Por um momento, piscou, desconcertada. Ela esperava estar em seu próprio quarto, em vez dos aposentos do marquês, com sua pesada mobília masculina e madeira escura.
Mas então, a lembrança a atingiu. Havia sido acordada durante a noite pelos gritos de Jack e foi até ele, preocupada que algo estivesse errado. Suas palavras foram tão ternas, tão devastadoras. Seu toque, igualmente.
E ela sucumbiu a ambos, como sempre fazia.
O motivo era lamentavelmente aparente: continuava desesperadamente apaixonada por Jack. Não tinha deixado de amá-lo quando ele a traiu três anos atrás. Ela não tinha parado em todos os anos de sua ausência. E desde seu retorno, esse amor só tinha se tornado mais forte e mais profundo.
Ainda assim, não importava quantas vezes ele professasse seu amor, parte dela temia não poder confiar nele. Parte dela queria confiar nele, acreditar em cada palavra sua, voltar para a vida que um dia compartilharam. Para reacender sua velha felicidade mais uma vez. Ela estava começando a pensar que esta última parte estava ficando maior e mais forte do que a anterior a cada dia que passava.
Ela rolou para o lado agora, observando-o dormir nos acordes dourados do amanhecer que passavam pelas cortinas. No sono, ele parecia mais jovem e despreocupado, tão bonito. Seu coração doeu.
Ela teria que deixar Needham Hall. Se permanecesse aqui por mais uma semana como ele havia pedido, perderia toda a habilidade de resistir a ele. Precisava de tempo e distância. Algum espaço para respirar e buscar dentro de si para descobrir o que realmente queria.
Com cuidado para manter seus movimentos curtos para não acordá-lo, ela escorregou da cama. Pegando seu penhoir descartado, ela apressadamente enfiou os braços nele antes de silenciosamente rastejar de volta, através do quarto, para seus próprios aposentos. Foi só quando ela alcançou os limites familiares de seu quarto que percebeu que estava prendendo a respiração.
Era cedo, e se ela agisse com pressa, havia a possibilidade de fugir antes que Jack acordasse, pegando o primeiro trem de volta a Londres. Deixá-lo seria incrivelmente difícil. Mas antes que ela permitisse que essa loucura continuasse, ela tinha muito o que fazer.
Ela chamou pela ajuda de sua criada de quarto e começou a fazer os preparativos para sua partida. Era imperativo que ela fosse antes que Jack se levantasse, porque sabia que ele apenas tentaria impedi-la. E isso era algo que ela precisava fazer por si mesma.
Por sua conta.
Ela já havia chegado a uma resposta importante: ela não se tornaria a esposa de Tom. Ele merecia coisa melhor do que uma mulher incapaz de amá-lo. Uma mulher apaixonada por outra pessoa. Mas, devia dar-lhe a notícia pessoalmente, e não por carta. Ele tinha sido constante, leal e verdadeiro com ela.
Depois de dar a notícia a Tom, ela precisava pensar profundamente por conta própria. Sem os sorrisos provocadores de Jack, mãos conhecedoras e lábios perversos para distraí-la. No último momento, ela rabiscou apressadamente uma nota simples para Jack e deixou-a sobre a escrivaninha. Era a melhor explicação que ela poderia dar em seu estado de aflição, embora soubesse que era no mínimo insignificante.
Foi tudo o que ela conseguiu reunir.
Em meia hora, ela estava vestida, arrumada e voltando para Londres. Observou da janela da carruagem enquanto Needham Hall ficava cada vez menor à distância, meio que esperando que Jack surgisse e corresse atrás dela.
No final, ele não o fez, e ela sufocou a pequena pontada de decepção em seu coração. Disse a si mesma que precisava desse tempo de separação. Que precisava ter uma mente que não estivesse embaçada pela luxúria e amor quando ela tomou sua decisão.
Jack rolou na cama e sentiu o cheiro de Nell em seus lençóis.
Que perfume glorioso: lírio do vale misturado com o perfume almiscarado de seu amor na noite anterior.
— Mmm, — ele cantarolou feliz, estendendo a mão para ela enquanto seus olhos se abriam para a luz brilhante da manhã.
Sua mão encontrou a roupa de cama torcida e vazia.
Ela havia deixado sua cama. Ele realmente tinha imaginado que ela permaneceria? A frustração o atingiu, junto com uma onda de decepção inevitável. Acreditava que haviam feito uma conexão mais profunda na noite anterior. Ela havia permanecido com ele, adormecido em seus braços após sua paixão frenética. Ela até admitiu que não amava Sidmouth.
Ele não podia deixar de considerar isso uma vitória por si só.
Mas então, ela escorregou de sua cama como se não fosse onde ela pertencia.
Ela havia fugido dele.
Dane-se ela.
Ele se levantou e chamou seu valete. Uma olhada em seu relógio de bolso revelou que havia dormido demais. Eram nove e meia, e ele normalmente se levantava logo depois do amanhecer para se juntar a Nell na alimentação dos patos. Elsa teria sentido falta dele, embora supusesse que sua esposa certamente não.
Ele vestiu um roupão, sentindo-se repentinamente em desacordo com o mundo. Foi o diabo de uma coisa: ele havia acordado com um sorriso no rosto apenas para perceber a terrível dificuldade em que continuava a se encontrar.
Denning finalmente chegou, seu semblante indecifrável.
— Faça a barba, por favor, Denning, — disse ele antes de fazer uma pausa e dar uma outra olhada em seu valete. — Por que você está tão cara de sexta?
— Lamento ver sua senhoria partir com tanta pressa esta manhã, milorde — respondeu Denning.
Jack congelou.
— Sua senhoria?
Nell tinha ido embora?
— Sim, — disse Denning. — Ela e a criada partiram para Londres. Perdoe-me, milorde, por minha familiaridade, mas lá embaixo estava cheio de conversas sobre uma reconciliação entre você e Lady Needham. Eu sei o quanto você esperava por tal resultado, e sinto muito.
Jack acenou com a mão desdenhosa.
— Você não precisa pedir perdão por nada, Denning. Já passamos por coisas demais juntos para esse absurdo. Diga-me tudo o que você sabe de uma vez.
— Talvez eu tenha falado fora de hora, meu senhor. — Denning franziu a testa. — Você não sabia da viagem de Lady Needham? Pareceu bastante repentino.
Inferno, sim, foi repentino. E inesperado. Ela havia prometido a ele mais sete dias, maldita seja. Eles tinham acabado de fazer amor. Ela havia passado a noite em seus braços, dissera que não amava Sidmouth.
— Eu não sabia, — admitiu amargamente.
Ele não estava exagerando quando disse a Denning que eles haviam passado por muitas coisas juntos para ter formalidade. Ele era o empregador de Denning, era verdade, mas em seu tempo no exterior, este provou ser amigo, além de criado.
— Sinto muito, meu senhor. — O tom de Denning foi moderado.
— Assim como eu. — Ele apertou a mandíbula, lutando para dar sentido ao golpe inesperado.
Nell estava assustada com o que eles haviam compartilhado que estava fugindo como um cavalo? Ela era tão covarde? Ele tinha perfurado sua armadura tão completamente?
Ou, pior, ela finalmente decidiu que estava escolhendo Sidmouth? Ele tinha se movido muito rápido? Maldito seja a perdição, pensava que vinha obtendo ganhos significativos com ela. Pela primeira vez desde seu retorno, ela permaneceu em sua cama. Tinha adormecido em seus braços.
O que deu errado?
— Fui informado de que sua senhoria pretendia retornar a Londres — Denning ofereceu, hesitante.
Londres.
Bom Deus. Tudo dentro de Jack esfriou. Porque sabia exatamente o que ela procuraria em Londres: Sidmouth.
A frieza se transformou em dormência.
Nell havia escolhido Sidmouth em vez dele.
Depois de tudo que se passou entre eles. Depois de tudo que eles compartilharam — a paixão, a emoção, as confissões.
Maldito inferno.
Não. Ele se recusou a acreditar. Talvez ela tivesse voltado a Londres para finalmente se separar de Sidmouth. Muito atrasado, isso.
— Sua senhoria me deixou um bilhete? — Ele perguntou finalmente, surpreso com a falsa calma em sua voz.
Ouvindo-se falar, ele nunca saberia que estava à beira de perder sua maldita mente.
Nellie, por que você faria isso comigo? Para nós?
Denning pigarreou.
— Eu ficaria mais do que feliz em perguntar em nome de Vossa Senhoria.
Para o inferno fazer a barba.
Para o inferno com tudo e qualquer coisa, exceto reivindicar sua mulher e descobrir por que diabos ela o deixou.
— Por favor, — ele concordou com um aceno de cabeça. — Faça isso, Denning.
Com uma reverência, seu valete se despediu.
Jack estava sozinho novamente. Sozinho com seus pensamentos, com suas preocupações, todos os seus medos. Disse a si mesmo que haveria uma nota enquanto percorria toda a extensão de seu quarto. Então, desceu mais uma vez e disse a si mesmo que não haveria nenhuma, que deixá-lo era a resposta final, mais explicativa do que qualquer palavra poderia ser.
Ele caminhou três vezes em seu quarto, a porta que conectava seu quarto aos aposentos da marquesa parecendo uma sirene.
— Maldição, — ele resmungou finalmente, sem paciência.
Ele abriu a porta e entrou em seu quarto. O quarto ainda cheirava a ela. Florais exóticos e Nell. A cama estava arrumada, todo o aposento limpo e organizado, quase como se ela nunca tivesse estado ali.
Mas ela tinha estado lá.
E ela estava alojada dolorosamente, firmemente em seu coração, como sempre estivera.
Ele rondou seu quarto, procurando por sinais dela, procurando por uma nota. Por fim, quando ele estava prestes a desistir, ele viu um pedaço de papel dobrado na escrivaninha com o nome dele em sua caligrafia extravagante.
Jack.
Ele o pegou e desdobrou em um movimento fluido, desesperado pelas palavras dentro dele. Esperando por respostas.
Jack,
Estou voltando para Londres. Imploro seu perdão por renunciar à quinzena que lhe prometi. Não posso pensar com você na residência. Portanto, estou voltando para um lugar onde posso ter a cabeça limpa para tomar minha decisão. Rezo para que não me siga. Eu preciso fazer essa escolha sozinha.
Sua,
N.
A carta o deixou com mais perguntas do que respostas. Ele a amassou em seu punho sem pensar.
Para o inferno com seu pedido de não segui-la. O que ela esperava, que ele se sentasse e esperasse calmamente que Sidmouth levasse sua mulher? O diabo que ele faria. Nell era sua esposa e pretendia lutar por ela. Para mantê-la.
Para amá-la para sempre.
Ela tomaria a decisão. A única decisão. A única escolha que havia — seu casamento, seu amor. Ele não viu o quão desesperado e completamente seu coração era dela, para sempre?
Ainda segurando a carta, ele voltou para seu quarto para encontrar Denning esperando por ele com um semblante solene.
— Não havia nenhuma nota, meu senhor, — disse ele.
— Eu mesmo encontrei a maldita nota, — ele rosnou. — Estamos voltando para Londres imediatamente, Denning. Veja tudo preparado, por favor.
Denning franziu a testa.
— Fazer a barba, meu senhor? Café da manhã?
Ele balançou sua cabeça.
— Eu não exigirei nada além de uma carruagem. Preciso estar em Londres o mais rápido possível.
— É claro, — concordou seu fiel criado com uma reverência. — Vou cuidar disso imediatamente, meu senhor.
— Obrigado, — ele administrou.
A nota em sua mão parecia queimar sua carne. Mas a dor em seu coração era muito pior. Não suportava acreditar que a estava perdendo. Que ela realmente o abandonou depois da noite passada. Estavam mais próximos do que nunca. Ela passou a noite inteira em seus braços.
E então, ela se levantou pela manhã e se esgueirou para fora de seu quarto como um ladrão roubando a prata da família, levando seu coração com ela.
Ainda assim, tinha que acreditar que eles tinham uma chance. Cada reação dela desde seu retorno lhe deu esperança. Esta última retirada era um sinal, ele rezou, de que a resistência dela estava diminuindo.
Disse isso a si mesmo e começou a se vestir para a viagem.
Nell chegou à casa de Tom imediatamente após sua chegada em Londres. Ela mandou sua criada ir para sua casa com seus pertences. Esta era uma conversa que precisava conduzir sozinha. Na verdade, era uma conversa que ela nem sabia como proceder.
Como ela diria ao homem que a tinha adorado nos últimos anos que tudo estava acabado? Que ela ainda amava o marido e sempre amaria? Que não poderia, em sã consciência, casar-se com ele afinal?
Ela havia passado boa parte da jornada nas profundezas de seus pensamentos, imaginando todas as maneiras pelas quais ela poderia proceder a conversa. Mas, permanecia tão mal preparada como sempre. Desde o retorno de Jack, ela se convenceu de que este dia nunca aconteceria.
Nervosa, ela o aguardou no hall de entrada enquanto seu mordomo a anunciava. Ela era uma visitante comum aqui em sua casa. O relacionamento deles, como era, não tinha sido secreto. Embora, não tivessem compartilhado camas, ela havia bancado a anfitriã para ele em muitas ocasiões entre seus conhecidos. Em muitos aspectos, sua casa era tão familiar para ela quanto a de Needham.
Os passos que voltavam para ela agora, ecoando no vestíbulo de mármore, não eram do mordomo. Tom apareceu diante dela, seu rosto bonito uma máscara de preocupação.
— Nell. — Um profundo “v” de preocupação franziu a testa. — A quinzena ainda não acabou. O que aconteceu? Needham...
Ela balançou a cabeça, sentindo-se miserável. Sabia o que ele estava perguntando. Jack a forçou? Claro que não. Tudo que ela fez com ele — cada beijo, cada toque, cada vez que eles fizeram amor — ela estava perfeitamente disposta.
— Não, Tom, — ela disse calmamente.
Ele examinou seu semblante e então assentiu, sua mandíbula tensa.
— Venha, então, vamos a algum lugar mais privado onde possamos conversar.
Ele ofereceu-lhe o braço, e ela o aceitou, permitindo uma onda de emoção. Quando ela o tocou, não sentiu nada da consciência que irradiava através dela sempre que estava na presença de Jack. Nenhuma atração, nenhuma faísca. Parte dela desejava que pudesse.
Mas agora que estava com Tom novamente, estava dolorosamente claro que o que sentia por ele empalidecia em comparação com o amor que carregava em seu coração e o poderoso magnetismo que sempre sentiu por Jack. Havia algo inegável entre eles. Sempre foi e sempre seria. Era maior do que os dois. Transcendeu o tempo, à distância, a traição.
O tempo sem ele à fez acreditar que poderia se contentar com outra pessoa e ser feliz. Isso não era verdade.
Tom os conduziu a um pequeno salão azul que ele costumava usar para entretenimento íntimo. Embora ela tivesse estado dentro dessas quatro paredes em muitas ocasiões no passado, esta noite era provavelmente a última vez que seria bem-vinda aqui. O pensamento não a encheu de tristeza como suspeitava. Em vez disso, levantou um peso de seu peito. Isso a animou. Parecia certo.
Ela estava tomando a decisão certa com Tom.
Mas não seria fácil.
— Você se importaria de se sentar? — Tom perguntou a ela rigidamente. — Devo chamar para o chá?
— Não, — ela disse novamente, liberando seu braço e dando um passo à frente dele. — E não, obrigada. Não vou demorar. Por favor, perdoe-me por aparecer de repente, mas precisava vê-lo assim que pudesse.
Tom respirou fundo e depois soltou o ar.
— Você escolheu Needham.
Foi mais uma declaração do que uma pergunta.
Ele a conhecia bem, Tom.
Ela baixou a cabeça, sentindo-se como se tivesse traído seu amor e sua confiança. Nunca teve a intenção de fazer isso, mas fez. E como alguém cujo amor e confiança também haviam sido traídos uma vez, ela sabia o quão ruim era o ferimento resultante.
— Sinto muito, Tom, — disse ela dolorosamente, lutando para encontrar as palavras adequadas quando não havia nenhuma. — Ainda estou apaixonada pelo meu marido. Sempre estive. Seria injusto para você continuar, sabendo que não sinto por você o que sinto por ele.
Um músculo pulsou na mandíbula de Tom.
— Você se esqueceu do que ele fez com você, Nell? Você esqueceu que ele levou outra mulher para a cama e depois passou os últimos três anos te abandonando? Ele disse que foi fiel a você durante a peregrinação do pecador? É disso que se trata? Ele a convenceu de que nunca errou e se deitou com outra prostituta durante todo o tempo em que esteve fora? Como você pode ser tão ingênua, meu amor?
Ela apertou as mãos na cintura, suportando o peso da raiva dele, da sua dor, como sabia que era seu dever. Ela havia causado tudo, embora desejasse muito não ter feito isso.
— Ainda não decidi se procuro ou não o divórcio, — disse ela. — Isso ainda está para ser visto. O que percebi, entretanto, é que não posso me casar com você. Preocupo-me muito com você, Tom, para vê-lo dedicar sua vida a uma mulher que não pode retribuir seu amor. Você merece mais do que isso. Você merece muito mais em uma esposa do que uma mulher como eu, que está perdidamente apaixonada por outro.
— Você está apaixonada por um homem que não é digno do seu amor, — Tom rosnou. — Você percebe, não é, que sem mim para ajudar em sua causa, será ainda mais difícil para você obter o divórcio? Você percebe, que passei os últimos anos de minha vida dedicado a você, mostrando que sou confiável, constante e leal, e que a amo mais do que qualquer outro homem poderia, não é? Você não percebe?
Tom raramente ficava zangado. Ele era calmo e pacífico. Sua personalidade era agradável, até reconfortante. Este era um lado diferente dele, que ela havia causado.
Ela se encolheu.
— Eu não chego até você com essa decisão facilmente, Tom. E agradeço sua constância nos últimos anos. Você sempre foi uma fonte de conforto e alegria. Estou eternamente em dívida com você pelo que fez por mim. Mas, certamente você vê a injustiça de continuar. Eu iria atolar você em um escândalo, arruinaria sua reputação, e eu... eu não te amaria. Não da maneira que amo meu marido.
— Seu marido é um canalha galanteador, — Tom retrucou. — Um desperdício bêbado de carne. Não merece você ou seu amor. Não fez nada para merecê-lo. Quem esteve ao seu lado, firme?
— Você, — ela respondeu sem hesitar, — e eu lhe sou grata, Tom. Me importo com você. Te agradeço por sua companhia e carinho. Mas não consigo te amar. Eu não te amo. Não posso ser sua esposa.
As narinas de Tom dilataram-se. Seu nariz ainda estava inchado, mas os hematomas haviam desaparecido. Mais um pecado para colocar a seus pés — o nariz quebrado que ele sofreu por causa dela.
— Você pode ser minha esposa, Nell. A escolha é sua, — ele persistiu. — Eu sempre lhe prometi que iria ajudá-la nisso. Não dou a mínima para o escândalo. Tudo que me importa é você. Você é tudo que eu sempre quis. Te queria antes de ele te conhecer. Te queria antes de você se casar com ele. Eu te amava desde então.
Ela fechou os olhos contra a visão de sua angústia. Como ela odiava causar-lhe dor. Ele estava lutando por ela, e era inútil. Ele a amava, e ela não. Quão errada ela tinha suposto que poderia ser feliz como sua esposa.
— Não sei mais o que dizer, Tom. — Ela fez uma pausa, pesando suas próximas palavras com cuidado. — Eu sempre me importei com você. Você sabe disso. Achei que poderia ser feliz como sua esposa, mas...
— Mas, então ele voltou, — Tom interrompeu, zombando. — Eu só era bom o suficiente quando ele não estava aqui para me desafiar.
O que ela poderia dizer sobre isso?
— Você merece felicidade e amor, Tom, — ela disse calmamente. — Não posso te dar nenhuma dessas coisas. Lamento ter demorado tanto para perceber, mas estou te libertando agora. Antes que seja tarde demais para você.
Porque já era tarde demais para ela. Ela estava condenada a amar para sempre um homem em quem não podia confiar. Um homem que traiu seu casamento. Um homem que ela testemunhou beijando outra mulher na cama dele.
Na cama, que ela acabara de sair naquela manhã.
Uma nova onda de confusão tomou conta dela. Ela se sentiu como se fosse um bote à deriva em mar aberto, continuamente sob o risco de tombar e afundar em uma sepultura de água.
— E se eu nunca ficar livre de você, Nell? — Tom perguntou então, sua voz rouca com a emoção reprimida. — E se você for a única mulher que já amei, a única mulher que irei amar?
Ele estava tão desolado como ela jamais o tinha visto.
Mas ela teve outra compreensão sombria naquele momento. Ela não era responsável pela felicidade de Tom. Continuar com ele não lhe traria felicidade, e nem para Tom no final. O verdadeiro contentamento não pode ser forçado. Nem o amor verdadeiro ou a paixão verdadeira.
— Sinto muito, Tom, — disse ela simplesmente. — Sinto mais do que minhas palavras podem transmitir. Você é um bom homem e nunca quis machucá-lo.
— Saia, — ele rangeu, seu tom se tornando venenoso. — Saia e não ouse voltar. Nem mesmo quando ele te jogar para a próxima promiscuidade. Não estarei esperando, Nell. Você entende? Não serei mais seu idiota.
Ela assentiu com a cabeça, engolindo um novo nó de emoção enquanto tirava o anel de esmeralda e diamante que ele lhe dera, antes de estendê-lo para ele. — Compreendo. Desejo a você apenas o melhor, Tom. Desejo-lhe felicidade e uma futura esposa digna de seu amor. Sinto muito que não possa ser eu. Queria que fosse eu. Verdadeiramente, eu queria. Mas o coração... não pode ser controlado.
— Não, — ele concordou amargamente, pegando o anel dela. — Não pode. Eu desejo a Deus que pudesse.
Era um sentimento que ela entendia muito bem.
Ela fez uma reverência para ele, e então se despediu sem olhar para trás. Machucar Tom, ver sua dor, foi difícil. Mas, sabia no fundo de seu coração que havia tomado a decisão certa.
E ela ainda tinha mais uma coisa para fazer.
A maior decisão de todas.
Capítulo 20
Nell agradeceu que Lorde e Lady Sandhurst estavam na cidade enquanto ela esperava em seu formidável hall de entrada. Tinha sido uma aposta vir aqui sem aviso prévio. Simon e Maggie podiam estar no país ou em qualquer outro lugar. Ela não via nenhum dos seus amigos há vários meses. Não desde a feliz reconciliação deles.
Mas ela precisava de amigos mais do que nunca agora.
O mordomo voltou e guiou Nell até a sala de estar de Maggie. Sua amiga estava lá dentro, parecendo serena e maternal, segurando seu filho nos braços. Ela sorriu para Nell com genuíno deleite.
— Nell! — Maggie cumprimentou. — Senti tanto sua falta. Que surpresa agradável é essa.
Herdeira americana, ela havia firmado um casamento de conveniência com Lorde Sandhurst, que se transformou em um casamento por amor. Como tudo se desenrolou — com os dois inconscientemente jogados juntos em uma das festas mascaradas de Nell — ainda era uma fonte de orgulho para Nell.
— Perdoe-me por chegar tão de repente, — ela disse, sentando-se no divã em frente a Maggie. — Estou aliviada por você estar em Londres. Também senti sua falta, minha amiga. E veja como o seu pequeno senhor já cresceu. Mal posso acreditar!
O filho de Maggie tinha nascido vários meses antes, e Nell a assistiu enquanto estava deitada. Ver sua amiga segurar o bebê em seus braços pela primeira vez, e observar o vínculo entre mãe e filho tinha sido o que convenceu Nell a pedir a Jack um divórcio. Ela queria tanto ser mãe.
Ela sentia aquela mesma atração maternal agora, mais forte do que nunca.
Mas desta vez, ela não estava mais pensando em Tom como o pai de seus futuros filhos, e isso a apavorou.
— Simon tinha alguns assuntos para tratar aqui na cidade, — Maggie disse facilmente, seu sotaque americano bastante proeminente. — Pensei que você estivesse no campo em uma de suas festas em casa. Essa foi a última carta que você me enviou, não foi? Você e Tom planejavam celebrar o acordo de Needham de que você deveria se divorciar e ter sua liberdade.
Isso parecia uma eternidade agora.
Nell engoliu em seco.
— Esse era para ter sido o plano, sim. No entanto, parece que fui precipitada em minhas comemorações. Não entendi a resposta de Needham. Ele não quer o divórcio.
As sobrancelhas de Maggie se ergueram.
— Ele não quer? O que ele pretende?
— Ele quer salvar nosso casamento. — Nell mordeu o lábio enquanto fazia uma pausa, tentando encontrar as palavras certas. — Ele afirma que ainda está apaixonado por mim.
— Oh, Nell. — O semblante de Maggie suavizou com simpatia. — O que você vai fazer?
— Eu... não sei, — ela admitiu, incapaz de evitar uma torrente de lágrimas. Seus olhos se encheram de lágrimas e ela piscou quando sua visão ficou embaçada. — Ele voltou do exterior e fiz uma barganha com ele. Deveria dar a ele duas semanas para reconquistar meu coração. Mas, não pude continuar com isso, Maggie.
O filho de Maggie fez um som de descontentamento, e ela deu um tapinha gentil em seu traseiro para acalmá-lo.
— Por que você não pôde?
— Porque eu ainda estou apaixonada por ele, — ela admitiu, uma lágrima finalmente escorrendo por sua bochecha. — Eu nunca parei. Seu retorno provou isso para mim, sem dúvida. Mas tenho medo. Ele me traiu uma vez. Como posso dar a ele minha confiança de novo?
A expressão de Maggie ficou pensativa.
— Nell, há algo que devo lhe contar. Espero que me perdoe por não ter feito isso antes, mas parecia tão feliz com Lorde Sidmouth e não queria incomodá-la depois de já ter aguentado tanto. Eu também não tinha certeza da veracidade das afirmações de Lady Billingsley. Pensei que talvez ela as fizesse como uma forma final de machucar Simon.
Nell franziu a testa, tentando entender a súbita mudança de comportamento da amiga.
— O que ela disse?
— Quando Lady Billingsley morreu, ela deixou uma carta para Simon, — Maggie disse suavemente. — Nela, ela escreveu sobre aquela noite com Lorde Needham.
Lady Billingsley já fora amante de Simon. Quando ele escolheu o amor de Maggie em vez do dela, Lady Billingsley saltou de uma janela, cometendo suicídio de forma brutal.
Nell endureceu agora, preparando-se.
— Diga-me o que ela escreveu, por favor.
— Ela alegou que o que aconteceu entre ela e Lorde Needham foi um erro, — disse Maggie. — Que os dois estavam mergulhados bêbados, e que Lorde Needham estava dormindo em sua cama quando ela inadvertidamente entrou no quarto, pensando que era de Simon. Ela escreveu que eles se beijaram e nada mais, que ela nunca o traiu. Eu... espero que você possa me perdoar por não ter lhe contado antes. As afirmações dela não fizeram diferença para Simon, porque ele seguiu em frente comigo, e pensei que seria o mesmo para você. Agora, não tenho tanta certeza.
Nell cambaleou com a informação.
Era a mesma história que Jack contara a ela, quase literalmente.
Será que a história dele sobre aquela noite tinha sido verdadeira?
— É exatamente o que Jack me disse, — ela disse a Maggie. — Me recusei a acreditar nele. Parecia muito conveniente, e Lady Billingsley não está mais aqui para contar sua versão da história.
— As palavras dela permanecem. — A expressão de Maggie foi atingida. — Oh, minha querida amiga, sinto muito por esconder isso de você. Eu nunca deveria. Ao pensar em poupar você de mais aborrecimentos, acredito que só criei mais.
Nell balançou a cabeça.
— Absurdo. Você se tornou uma amiga querida para mim, e sei que você nunca tentaria me machucar. Você não é responsável pelo meu casamento desastroso. Eu sou.
Na verdade, se o que Lady Billingsley escrevera e o que Jack lhe dissera fossem verdade, Nell era mais culpada do que jamais imaginara. Se ela tivesse acreditado nele, confiado nele, três anos atrás, ele poderia nunca ter partido. Eles poderiam nunca ter se separado. A compreensão foi devastadora.
— Se você ainda ama Needham e ele tem a intenção de reconquistá-la, talvez não seja tão desastroso quanto você supõe, — Maggie sugeriu suavemente.
O pequeno Lorde Hill, tão conhecido como herdeiro de Sandhurst, começou a reclamar de novo, desta vez com mais veemência. Nell conhecia a sensação. Ela estava se sentindo bastante angustiada no momento. Incerta também. Mais confusa do que nunca.
Maggie se levantou de seu assento e balançou suavemente o filho para acalmá-lo enquanto caminhava. Nell também se levantou.
— Posso segurá-lo, Maggie?
Ela não o segurou desde o dia de seu nascimento. Que milagre ele tinha sido, com o rosto vermelho e gritando, o tufo de cabelo escuro e sedoso arrepiado em sua cabeça. Mas a vontade de abraçá-lo agora não podia ser contida.
— Claro que sim, minha querida. Venha e pegue-o.
O sorriso orgulhoso de Maggie e o olhar de terna adoração quando lhe entregou o filho fez seu coração doer. Lorde Hill era uma mistura adorável da mãe e do pai, olhando para ela com grandes olhos azuis. Ela correu o dedo sobre sua bochecha rechonchuda. Como ele era macio. Quão precioso.
— Aí está você, querido. Senti sua falta, — ela murmurou para ele.
Ele lhe deu um sorriso com covinhas e arrulhou, como se dissesse que também tinha sentido sua falta.
— Esse olhar te transforma, — disse Maggie.
Ela olhou de volta para sua amiga para encontrar Maggie olhando-a com um olhar astuto. O desejo cresceu dentro dela, profundo e inegável.
— Tenho desejado ser mãe, — ela admitiu. — Quando estive com você na Casa de Denver pelo seu resguardo, isso mudou algo em mim.
— Você será uma mãe maravilhosa, Nell, — disse sua amiga, sua voz soando com certeza.
— Estou com medo, Maggie. — Ela acariciou a bochecha do bebê novamente. — O que devo fazer? Quero acreditar em Jack. Quero o amor que uma vez compartilhamos. Mas nem tenho certeza se isso é possível. Posso realmente confiar nele?
— Confie em seu coração, — Maggie aconselhou. — Seu coração irá guiá-lo. Foi o que aconteceu comigo, e nunca me arrependi de minha decisão de encontrar minha felicidade com Simon. Não se esqueça, já estive em sua posição uma vez, decidida a me divorciar de meu marido. Podemos não ter tido o início de nosso casamento mais convencional, mas onde há amor, sempre há esperança. Nosso amor nos uniu, nos tornou mais fortes. E agora, temos o pequeno Alexander. A recompensa vale muito mais do que os riscos.
Ela ousaria confiar em seu coração? Ela ousaria confiar em Jack?
— Eu amo meu marido desesperadamente, estou com medo. — As palavras foram arrancadas dela. — Pobre Tom... Acabei de terminar com ele e temo ter quebrado seu coração. Mas eu sabia que não era certo. Sabia que nunca poderia gostar dele do jeito que amo Jack. Não há comparação entre os dois.
— Então, parece que você já tem a resposta, Nell. — Maggie deu a ela um sorriso encorajador. — Sua segunda chance está esperando por você. Tudo que você precisa fazer é pegá-la.
A porta da sala de estar se abriu para revelar o marido de Maggie, Simon, Lorde Sandhurst. Ele sorriu e se curvou.
— Duas das minhas mulheres favoritas. Nell, você está parecendo majestosa como sempre. Sentimos sua falta, e Alexander, da sua madrinha.
— Senti saudades de todos vocês também, — ela voltou. — Acabo de regressar do interior, de forma bastante inesperada, e pensei em fazer uma visita para os meus amigos mais queridos. Espero que você não se importe.
— Nunca, — Simon disse, indo para o lado de Maggie e dando um beijo ardente em sua testa. — Você vai se juntar a nós para jantar, espero?
Ela não havia planejado isso, mas não havia ninguém esperando por ela na casa da cidade. De repente, a perspectiva de voltar para uma casa vazia parecia assustadora. Observou a intimidade silenciosa passando entre seus dois amigos, a adoração nua em suas expressões. A felicidade deles a agradou.
E ocorreu-lhe, com pressa, que queria assegurar essa mesma intimidade, um contentamento obstinado para si mesma.
Com Jack. Sempre, apenas, com Jack. Ele possuía o coração dela desde a primeira dança em Cowes. E ainda era o dono. Pela primeira vez desde seu retorno, o peso sobre seu coração havia diminuído. Ela viu claramente o que precisava fazer.
A resposta tinha estado lá o tempo todo, mas ela foi muito teimosa para admitir.
— Eu adoraria me juntar a vocês para jantar, — ela decidiu. — Terá que esperar até outra hora, entretanto. Tenho um marido para reconquistar.
Voltar para sua casa após uma ausência tão longa parecia estranho.
Mais estranho ainda encontrá-la vazia.
Nell não estava aqui. Ela fora diretamente para Sidmouth ao retornar a Londres e ainda não voltara para casa. A descoberta foi um golpe de peso. Jack estava sentado na sala que outrora servira de escritório. As paredes estavam cheias de pinturas que ela havia adquirido. Os revestimentos de damasco das paredes foram substituídos por listras e rosas. O tapete era igualmente floral e até os divãs eram forrados com estofados floridos. Sua escrivaninha fora substituída por uma escrivaninha de pau-rosa e havia um piano no meio da sala.
Ele estava sentado ao piano agora, os dedos descansando preguiçosamente nas teclas.
Ela estava com Sidmouth agora.
Ele a tinha perdido.
Havia um aparador cheio de bebidas alcoólicas chamando-o do outro lado da sala. Ele poderia afogar suas tristezas de maneira verdadeira. Beber até o esquecimento. Entorpecer a dor comendo-o vivo.
O velho Jack teria feito isso. Mas o velho Jack fora imprudente, tolo e impulsivo. O velho Jack deveria ter ficado e lutado pela mulher que amava. Deveria ter engolido sua dor e seu orgulho. Ele nunca deveria ter ido.
Ele tinha ido, no entanto.
O passado não podia ser desfeito.
Ele fechou os olhos e abaixou a cabeça. Seus dedos moveram-se sobre o marfim, começando um canto fúnebre apropriado para o momento. Pela perda agonizante. Ele teria que deixá-la ir agora, conceder-lhe o divórcio. Não a forçaria a permanecer sua esposa.
Ela havia tomado sua decisão, e não tinha sido por ele.
Ele tocou e tocou. As lágrimas estavam quentes em seus olhos, em suas bochechas. E ainda assim continuou, desencadeando o tormento dentro do instrumento musical. Até que percebeu outra presença na sala. Ele sentiu de repente como se estivesse sendo observado. Seus dedos pararam sobre as teclas, a música morrendo.
— Jack.
Ele abriu os olhos ao ouvir sua voz suave para encontrá-la parada na soleira da sala, observando-o.
Maldito inferno, ele era uma bagunça chorona. Ele se levantou, pegando apressadamente um lenço para enxugar as lágrimas piegas.
Jack pigarreou.
— Nell. Você voltou de seu encontro com Sidmouth, pelo que vejo.
— Sim, — ela concordou, movendo-se em direção a ele em um farfalhar sedoso de saias. — Eu o visitei assim que voltei para Londres.
Embora ele já soubesse, sua admissão ainda doeu. Seu lenço estava úmido agora, mas o enfiou de volta no colete mesmo assim. — Tenho certeza de que Sidmouth apreciou sua vitória. Você não precisa temer que eu permaneça em seu caminho por mais tempo. Vou concordar com o divórcio. Nunca foi minha intenção forçá-la a permanecer minha esposa. Eu só esperava que você mudasse de ideia.
Ela parou diante dele, seu olhar azul implacável.
— Eu disse a ele que não posso me casar com ele, Jack.
Ele congelou.
— Você disse?
— Eu disse, — ela concordou, solene.
Essa esperança estúpida, velha e fútil voltou, brilhando de volta em uma chama.
— Por quê? — Ele perguntou com voz rouca.
— Porque já sou casada com o homem que amo. — Ela deu mais um passo à frente, segurando seu rosto com as mãos macias. — Eu não quero o divórcio. Quero ser sua esposa. Quero ter seus filhos. Quero passar o resto da minha vida compensando o tempo que perdemos.
— Você me ama, — ele repetiu estupidamente.
— Eu te amo, Jack. — Ela sorriu então, mas havia lágrimas brilhando nas profundidades brilhantes de seus olhos. — Eu te amei desde o momento em que te conheci, em Cowes. E te amei todos os dias depois. Eu nunca parei. Nunca, nunca vou parar de te amar.
Ele colocou as mãos em sua cintura, precisando tocá-la, para provar que ela era real. Que este momento era real. Aquela Nellie, sua Nellie, o amava.
— Você quer dizer isso? — Ele exigiu, com medo de acreditar.
Ela assentiu com a cabeça e, pela primeira vez, sua expressão estava desprotegida e cheia de ternura. Tanta ternura inabalável. Tudo por ele. Só para ele.
— Eu deveria ter acreditado em você naquela noite, — ela disse. — Nunca deveria ter pedido para você sair. Sinto muito por duvidar de você. Depois de visitar Tom, visitei Lorde e Lady Sandhurst, e soube que Lady Billingsley deixou uma carta para Lorde Sandhurst. Nela, ela contou seu lado da história daquela noite, e foi exatamente como você disse. Um erro bêbado. Você pode me perdoar por não acreditar em você e por nos separar ainda mais quando eu deveria ter lutado para nos manter juntos?
— Não há nada a perdoar, meu amor. Se eu não tivesse sido um idiota bêbado naquela noite, nunca teria acontecido. E se tivesse permanecido em vez de discutir com você e depois ir embora, e se eu não tivesse permitido que meu orgulho ferido me afastasse de você por tanto tempo, tudo teria sido diferente. — Ele baixou a testa para a dela. — Eu te amo, Nellie. Eu te amei desde a primeira vez que te vi naquele vestido rosa em Cowes, e nunca parei. Nada vai me fazer parar. Nem tempo, nem distância. Nem ninguém, nem nada.
— Oh, meu amor. — Lágrimas agarraram-se a seus longos cílios. — Prometa-me que nunca mais irá embora.
Ele beijou as lágrimas de sua bochecha.
— Eu prometo. Onde quer que formos a partir deste momento, iremos juntos.
— Eu irei acompanhá-lo nesta promessa, — ela disse, antes de selar seus lábios em um beijo prolongado. — Por enquanto, o único lugar que quero ir com você é para o quarto de dormir.
Ele sorriu. Deus, como ele amava essa mulher.
— Isso pode ser arranjado, minha querida.
Se os criados ficaram chocados ao ver o Marquês de Needham carregando sua Marquesa pelos corredores e escada acima, foram sábios o bastante para não dizer nada e fingir intenso interesse em qualquer trabalho doméstico que estivessem realizando.
Nell jurou que um dos lacaios piscou para ela enquanto Jack a carregava triunfantemente.
Ela havia protestado que podia andar perfeitamente bem sozinha, mas sua afirmação foi prontamente ignorada. Eles percorreram todo o caminho até os aposentos do marquês e passaram pela soleira, antes que ela percebesse que deveria tê-lo conduzido até seu quarto.
Ele parou na soleira.
— Não há um maldito pedaço de mobília aqui.
Sua voz ecoou na sala cavernosa e vazia.
— Eu removi tudo, — ela admitiu. — Passei a maior parte do tempo em Londres e não suportava olhar para as suas coisas.
— Espero que haja uma cama no quarto da marquesa? — Ele perguntou ironicamente.
Ela estremeceu.
— Sim, claro. Você pode me colocar no chão agora, Jack. Sou totalmente capaz de andar.
— Eu nunca vou deixar você ir de novo, mulher, — ele rosnou. — É uma coisa muito boa que você tenha recuperado o bom senso, porque eu não dormiria no chão.
Ela deu uma risadinha enquanto ele a carregava para o seu quarto, que estava totalmente mobiliado e preparado.
— Não estou planejando dormir esta noite, — ela anunciou.
Ele fez um som baixo e chutou a porta fechada atrás deles. — Mulher má.
— Muito má, — ela o assegurou, sorrindo. — Acredito que você não se importe.
— Eu não faria de outra maneira. — Ele a pôs de pé finalmente.
Por um momento, eles se encararam.
Então, estavam nos braços um do outro. Seus lábios estavam fundidos. Sua língua estava em sua boca. Ela a chupou avidamente, faminta por ele, desesperada por ele estar dentro dela. As roupas começaram a cair. O vestido dela foi primeiro, depois o casaco e o colete dele. Sapatos e botas foram descartados com pressa febril. As meias desapareceram. Espartilho, anágua, calças, camisa, cuecas e calças foram os próximos.
Nell se viu deitada de costas no meio da cama, o corpo poderoso de Jack um peso delicioso em cima do dela. Ele a beijou profundamente, docemente, ternamente. Seus lábios se curvaram sobre os dela, dando ao invés de receber, dizendo a ela sem palavras o quanto ele a adorava. E ela beijou-o de volta, livremente, com todo o amor irrestrito em seu coração. Ela o beijou de volta com gratidão, desejo e muita fascinação.
Ele interrompeu o beijo e enterrou o rosto em sua garganta. Entre eles, seu pênis estava grosso e rígido. Sua boceta estava dolorida e molhada. Ela o queria dentro dela. Mas Jack não tinha pressa.
Ele mordeu o lóbulo da orelha dela, então lambeu a cavidade abaixo dela, enviando uma pulsação de calor para seu núcleo.
— Eu te amo, Nellie. — Ele arrastou os lábios em sua garganta, então afundou os dentes em um cordão particularmente sensível em seu pescoço. — Eu te amo em todos os lugares, em todos os sentidos. Eu amo sua pele, seus lindos seios, sua boca deliciosa. — Ele beijou um caminho ao longo de seu ombro, antes de dar-lhe outro beliscão brincalhão. — Eu amo seu cheiro e os sons que você faz quando goza. Amo o seu gosto, e amo a maneira como você se sente envolta de mim quando estou bem dentro de você.
Ela ondulou contra ele, suas palavras aumentando sua necessidade.
— Quero você dentro de mim agora, Jack. Por favor.
— Eu também gosto da maneira como você implora. — Ele beijou seus seios. — Gosto dos seus mamilos rosados e duros. — Ele chupou primeiro um pico e depois o outro, arrancando um gemido dela. — Eu gosto da maneira como você geme também. Vou fazer você gemer muito mais, antes que a noite acabe, Nellie querida.
Sua pérola estava pulsando.
Sua tortura sensual era requintada.
Ele era primoroso. E dela. Todo dela.
— Diga-me o que mais você gosta, — ela o incitou, sua voz rouca.
Ele sorriu contra a curva de seu seio.
— Eu gosto de morder seus mamilos até que você faça aquele chorinho doce e depois lamber a picada. Você não quer isso agora, quer, meu amor?
— Sim, — ela assobiou. — Eu quero.
Ele pegou um mamilo com os dentes e puxou. A sensação ricocheteou por ela, acumulando-se entre suas pernas. Ela ficou ainda mais molhada. Sua língua sacudiu sobre ela, matando o doloroso prazer como ele havia prometido.
Ele cantarolou sua aprovação e se moveu mais para baixo. Beijos percorreram sua barriga. Ele lambeu seu umbigo, suas mãos acariciando seus quadris.
— Gosto da suavidade da sua pele aqui, de todas as suas curvas femininas. — As mãos de Jack deslizaram para a parte interna das coxas, espalhando-a ainda mais. Abrindo-a. — E eu amo sua boceta, e como ela fica encharcada para mim.
Ela gemeu novamente, querendo sua boca nela. Estava tão perto, seus lindos lábios a poucos centímetros de distância.
— Esta é a sua boceta, — ela disse a ele, contorcendo-se sob o ataque daquele olhar esmeralda. — Toda sua. Sou toda sua, coração, corpo, alma. Para sempre.
— Você é minha, não é? — Ele lambeu sua fenda. — Você prova como minha.
Céus, o deslizar quente e úmido de sua língua sobre ela era incendiário. Se ela tivesse explodido em chamas naquele momento, não ficaria nem um pouco surpresa. Seus quadris empurraram em sua boca, procurando mais.
— Sim, eu sou, — disse ela. — Sua. Cada parte de mim.
Ele lambeu sua pérola com golpes rápidos e deliciosos. Justamente quando ela estava convencida de que não suportaria mais, ele a chupou. Os sons molhados dele lhe dando prazer aumentaram seu ardor. Ela era selvagem por ele. Ele a pegou entre os dentes.
Ela gozou com um grito agudo e lamuriante, gozando tanto que sentiu uma onda de umidade inundar sua passagem. Ele rosnou e então sua língua estava dentro dela, tão profunda, lambendo-a novamente e novamente.
— Eu te amo, — disse ela, sem fôlego e sem mente. — Eu te amo, eu te amo.
Era uma ladainha sem fim, em seu coração, em seus lábios.
Ela nunca tinha estado mais feliz.
A língua de Jack estava profundamente na boceta de sua esposa.
— Eu te amo, eu te amo, eu te amo, — ela cantou enquanto ele lambia todo o seu creme.
Ele a amava também.
Querido Deus, como a amava.
Ele amava que ela fosse sua, para sempre. Amava que ela o tivesse escolhido. Ele adorava que ela quisesse preservar seu casamento, ter filhos e passar o resto de suas vidas juntos. Amava o gosto dela, a maneira como ela se contorcia em sua língua. Se apenas esta noite pudesse durar para sempre. Mas, ele sabia que não podia. Nem ele podia.
Além disso, suas bolas doíam. Seu pênis estava dolorosamente ereto contra seu estômago enquanto ele fodia sua esposa com a boca. Ela era tão perfeita, tão molhada, tão quente. E ele iria afundar seu pau dentro dela a seguir. Com um último mergulho de sua língua e então uma lambida saborosa, ele se levantou, sua língua roubando os traços dela de seus lábios.
Ele agarrou seu eixo e arrastou-o sobre suas dobras. A cabeça de seu pau roçou contra sua pérola inchada, fazendo seus quadris sacudirem. Ele gostou da sensação, sua carne faminta e escorregadia o banhando em seu gozo, então ele fez isso um pouco mais.
Ela gemeu novamente.
Ele levou um momento para devorar a visão dela espalhada abaixo dele, todas as curvas doces claras e rosa. Seu cabelo ainda estava meio preso porque eles estavam muito quentes para remover todos os grampos de cabelo. Como ela era linda. Que gloriosa. Que perfeita.
— Diga-me o que você quer, Nellie, — ele insistiu, deslizando seu pênis por suas dobras.
Puta que pariu, ela estava molhada. Mais molhada do que ela jamais esteve.
— Eu quero seu pau dentro de mim, — ela disse sem hesitação. — Encha-me com isso. Estique-me. Me reivindique. Derrame sua semente dentro de mim.
Condenação. Um frisson cru de desejo desceu por sua espinha, e ele teve que cerrar os dentes contra a necessidade de gozar agora, em todas as dobras bonitas e brilhantes como tinha feito antes.
Ele queria demorar, no entanto. Ele queria saborear isso. Saboreá-la.
Ele curvou a cabeça e chupou seu mamilo, ainda brincando em sua boceta com seu pênis. Mas ela estava inquieta, sua Nellie. Ela estava fazendo miados e empurrando contra ele. As unhas dela arranharam sua bunda, estimulando-o.
— Agora, — ela ordenou a ele.
Ele soltou seu mamilo com um estalo.
— Boas maneiras, minha senhora Needham.
— Por favor, — ela rangeu.
Ele colocou a ponta de seu pênis dentro de seu canal e mordeu seu outro mamilo, então beliscou suavemente a protuberância de seu seio.
— Por favor, o quê, Nellie, amor?
Ele adorava fazê-la dizer coisas perversas. A conversa vulgar a deixava selvagem, e ele adorava isso também.
— Por favor, me foda, — disse ela. — Alimente-me com seu pau.
Quando ela disse isso, quem diabos era ele para negá-la?
Ele empurrou para frente e foi imediatamente engolfado por seu calor úmido. Ela se sentia tão bem. Melhor do que nunca. Por um momento, ele ficou quieto, profundamente dentro dela. E então, começou a se mover.
Ela era uma sedução de seda. Felicidade. Puro êxtase.
Tudo o que ele sempre quis.
Desta vez, ele não teria que se conter. Desta vez, ele a inundaria com sua semente.
— Sim, — ela gritou enquanto ele dirigia dentro dela novamente e novamente. — Sim, meu amor.
Para dentro e para fora, ele mergulhou, inclinando-se para que pudesse observar o que estava fazendo com ela. Para que ele pudesse ver seu pênis entrando nela. Ele mordeu o lábio para manter o foco e continuou batendo nela. Mais duro. Mais profundo. Mais rápido.
Ela estava cada vez mais perto de se perder. Ele podia dizer por sua respiração entrecortada, e a maneira como se movia embaixo dele. Ele alcançou entre seus corpos conectados, encontrando o cerne de seu sexo e circulando-o. Ele aplicou uma pressão lenta e constante enquanto a fodia.
Nell deu um grito, seu corpo curvando-se da cama enquanto seus olhos se fechavam. Ela o chupou profundamente, apertando seu pênis. Ele não conseguiu se conter. Mais duas estocadas e suas bolas se apertaram. A pressa de sua libertação foi tão repentina quanto poderosa. Ele derramou profundamente dentro de sua esposa enquanto ela ordenhava até a última gota de seu pênis.
Ele desabou em cima dela, o coração batendo forte, pretendendo se mover, mas odiando se retirar dela ainda. Odiando interromper sua união.
Jack abaixou a cabeça para a dela e beijou-a lenta e suavemente.
— Eu te amo, — ele conseguiu dizer através de sua respiração irregular.
Ela também estava ofegante, tão exausta quanto ele.
O corpo dela era tão bom contra o dele, ao redor dele.
Como o céu.
— Eu também te amo, Jack. — Ela segurou sua bochecha, olhando em seus olhos. — Obrigado por voltar por mim, por lutar por nós. Obrigado por sempre acreditar no nosso amor.
— Sempre, — ele prometeu, beijando-a novamente. — O tempo e a distância podem nos separar, mas pertencemos um ao outro. Eu sou seu, Nellie. Meu coração, meu corpo, minha alma. Tudo de mim é seu, agora e para sempre.
— Agora e sempre, — ela concordou, acariciando sua bochecha.
Ele rolou para o lado, levando-a consigo, e eles se abraçaram com força, suas respirações se misturando, seus corações batendo forte. Ele beijou sua cabeça, tão malditamente grato por esta mulher, por seu amor, tão desesperadamente feliz por estar de volta onde pertencia.
Finalmente.
Epílogo
Nell estava em um humor de celebração.
Razão pela qual segurou sua filha Emma em seus braços enquanto cantava o Coro Nupcial de Lohengrin, girando sobre o berçário redecorado em Needham Hall. Afinal, a música era uma das favoritas dela. Ela adorava ópera, mesmo sendo péssima em cantá-la sozinha.
Mas esta não era uma noite comum, nem era uma emoção comum pulsando dentro dela: essa sensação brilhante e maravilhosa de esperança, paz e justiça. Esta era uma ocasião de celebração. Ela suportou três anos de espera. Três anos de miséria, tristeza, solidão, agonia sem Jack...
Até que ele voltou. Até que seu amor prevaleceu, apesar de suas imperfeições, falhas e tolices. No final, o amor venceu, como sempre deveria, e ela se sentiu feliz. Tão abençoada. Tão feliz. Mais feliz do que jamais imaginou que poderia ser.
Finalmente, ela tinha o que sempre quis.
Uma família.
Especificamente: sua família com Jack. E sua família estava prestes a crescer em número. Ninguém sabia disso ainda. Ela só suspeitava disso há várias semanas, mas ela não ousou comentar isso com ele, aguardando até que pudesse ter certeza. A ausência de seus ciclos mensais, o inchaço na barriga e o enjoo matinal que começara a visitá-la eram fortes demais para serem ignorados.
Ela contorceu o rosto em uma série de expressões idiotas para a alegria de Emma, girou-as novamente e gorjeou um pouco mais. Jack estaria aqui em breve. Ele estava terminando o capítulo de suas últimas memórias de viagem. Eles haviam retornado recentemente de uma viagem de um mês em que levaram a pequena Emma para a América, e Jack estava ocupado escrevendo suas reminiscências das cidades de Nova York e Filadélfia.
Emma sorriu para ela, dois dentes minúsculos saindo de sua gengiva superior. Emma faria um ano amanhã. Seu pequeno punho rechonchudo estava fechado em volta do polegar de Nell.
Nell deu-lhes outro giro rápido e depois enterrou o rosto no pescoço pequeno e macio de Emma, enchendo-o com beijos.
— Mamãe! — Emma chorou de alegria, dissolvendo-se em risos.
A risada de sua filha era um dos melhores sons que Nell já ouvira. Ela terminou de cantar e deu mais um giro antes de parar, sem fôlego, quando notou Jack parado na soleira. Havia tanto amor em seus olhos que ela teve que engolir contra a onda de sua própria emoção.
Uma explosão brilhante de amor explodiu em seu coração.
Amor por este homem, por sua filha, pela nova vida que haviam começado juntos. Contentamento, também, por seu novo começo.
Seus lábios se contraíram com o esforço de conter o sorriso.
— Há quanto tempo você está parado aí nos observando, papai?
Ele sorriu enquanto entrava no berçário, fechando a distância entre eles.
— Tempo suficiente para saber que você é péssima cantando Tristão e Isolda.
Ela riu.
— Homem safado. Você sabe muito bem que era Lohengrin.
— Era isso? — Ele alcançou Nell e Emma, passando o braço em volta da cintura de Nell e trazendo-as para perto. — Ouso dizer que não sabia.
Vestido informalmente em mangas de camisa, colete e calças, o tom de seus bigodes escurecendo sua mandíbula, ele parecia nada menos que delicioso. Ela não conseguiu reprimir o impulso de desejo que sentia por ele. Nell passou o braço em volta dele também e, ignorando sua provocação bem-humorada sobre ela cantar, ela terminou o refrão.
— Bravo, minha querida, — disse ele quando ela terminou, inclinando-se para um beijo apressado. — Essa era a música que você estava cantando na noite em que voltei. Você se lembra daquela noite?
Suas bochechas ficaram quentes, e ela voltou sua atenção para Emma, que ainda estava sorrindo, suas bochechas rosadas e cachos dourados fazendo-a parecer um pequeno querubim.
— É claro que me lembro daquela noite, — disse ela ao marido. — Eu estava dançando na mesa.
— E eu te peguei quando você teria caído e se machucado gravemente. — Ele deu um beijo em sua testa. — Graças a Deus, cheguei nessa altura.
— Sou grata por você também. — Na verdade, ele não era, e em vez disso ela teve sua vida acabada da maneira que ela estava tão convencida de que deveria, com ela como esposa de Tom um dia...
Porque ela não podia nem mesmo suportar pensar nisso agora, com a querida filha deles em seus braços e Jack envolvendo-as em seu abraço amoroso e protetor.
— Você está feliz, Nellie? — Ele perguntou solenemente, estudando-a com seu olhar intenso.
Era uma pergunta que ele fazia de vez em quando. Sua resposta era sempre a mesma.
— Mais feliz do que jamais poderia ter imaginado, meu amor, — ela disse, sorrindo através da picada de lágrimas em seus olhos.
— Bom. — Ele beijou a ponta do nariz dela. — Por que você está se transformando em um regador?
Claro que ele viu as suas lágrimas, maldito seja. Jack sempre via tudo. Ele a conhecia melhor do que ela mesma, ao que parecia.
— Porque meu coração está preenchido. — Ela beijou a bochecha aveludada de Emma, inalando seu doce perfume de bebê. — E quando meu coração está preenchido, me transformo em um regador.
— Você também se transforma em um regador por outro motivo. O mesmo motivo que a faz tirar cochilos à tarde e se sentir enjoada todas as manhãs. — Jack beijou a outra bochecha de Emma, mas seu olhar esmeralda permaneceu intenso em Nell. — Quando você supostamente iria me contar, Nellie?
Ele já sabia.
Ela torceu o nariz para ele.
— Eu queria ter certeza. E agora, você estragou nossa surpresa, papai. Emma e eu íamos lhe dizer que você será papai de novo.
— Me perdoe. — Ele piscou, e então as soltou, se virou e caminhou de volta para a porta, passando por ela e fechando-a nas costas.
— Papa! — Emma chorou.
Nell se sentia tão confusa quanto a filha. Ela beijou o nariz de Emma.
— O que papai pode estar fazendo, me pergunto? O que você acha, boneca Emma?
Uma batida soou na porta do berçário.
— Papai, — Emma disse novamente.
Ela suspeitou que sua filha estava certa.
— Entre, — ela chamou.
A porta se abriu e Jack voltou para o berçário, fazendo uma reverência elegante.
— Minha senhora Needham, senhora Emma.
Comprimindo os lábios para evitar que uma gargalhada alegre explodisse, Nell fez uma reverência com Emma.
— Meu senhor Needham.
— Papa, por favor. — Ele sorriu. — Esse é o título que uso com mais orgulho. Papai e marido, é claro.
Sua alegria não pôde mais ser contida.
— O que você está fazendo, papai?
— Começar de novo. — Ele deu outra piscadela. — Vendo como eu arruinei isso da primeira vez com meus modos idiotas. Felizmente, sei por experiência que a nova versão muitas vezes prova ser muito melhor do que a tentativa original.
— Somos a prova viva disso, meu amor. — Outra onda de lágrimas brotou de seus olhos. Seu amor por ele era tão intenso, tão forte. Mais forte agora do que nunca.
Embora ela ainda se arrependesse de seus anos separados, ela aprendeu a ver aquele tempo de sofrimento e dor como um presente. Perdê-lo a fez perceber o quanto ele significava para ela. Restaurar seu amor a deixou profundamente grata. Ela sabia que o apreciava mais agora do que poderia antes. De suas lutas veio uma grande recompensa.
— Sim, nós somos. — Ele encontrou seu olhar, e ela ficou surpresa ao encontrar um brilho de lágrimas em seus olhos também. — Estou muito grato por isso, Nellie. Para você e Emma. Para nossa família. Agora, conte-me suas novidades antes que eu me transforme em um regador também, por favor.
Ela riu de novo, e era uma risada misturada com lágrimas de alegria. Uma deslizou por sua bochecha.
— Mamãe, — Emma disse, sorrindo e mostrando seus novos dentes.
Todas as palavras inteligentes que ela planejou se dissiparam.
— Emma vai ter um novo irmão ou irmã no próximo verão, — disse ela. — E você será papai mais uma vez.
Uma lágrima se soltou, rolando por sua bochecha. Uma lágrima de gratidão, felicidade e amor. Muito amor.
Os braços de Jack a envolveram novamente enquanto ela piscava seus olhos que enchiam de lágrimas.
Ele olhou para ela, sua expressão terna e cheia de amor.
— Eu não poderia estar mais feliz, Nellie. Deus, eu te amo.
Seus lábios encontraram os dela em um beijo rápido. Foi um beijo de amor, de promessa, de esperança para o futuro.
— Eu também te amo, Jack, — ela disse quando ele ergueu a cabeça.
— Mamãe! — Emma disse feliz, batendo palmas com as mãos rechonchudas. — Papa!
— Eu acredito que vocês duas me devem esta dança, — Jack disse com falsa formalidade.
O coração de Nell se encheu de amor.
— Você pode ter esta dança e todas as outras.
— Cobrarei de você essa promessa, meu amor. — Lentamente, ele começou a guiá-las pelo berçário, girando-as no compasso de uma valsa.
Nell sorriu em meio às lágrimas. Emma riu e bateu palmas. Jack as segurou com força, girando-as pela sala.
Como o amor deles, era uma promessa que Nell pretendia cumprir.
Scarlett Scott
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