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Series & Trilogias Literarias
Resgatada da ruína...
A herdeira americana Daisy Vanreid está desesperada para evitar o casamento com o aristocrata idoso que seu pai abusivo escolheu para ela. Ela fará qualquer coisa, até mesmo prender o notório duque de Trent ao casamento, para escapar de seu destino. Perder o coração para o lindo marido após o casamento não faz parte dos planos.
Nada é o que parece...
Um espião de elite, Sebastian, o duque de Trent, está em uma missão para desvendar atentados a bomba nas cidades da Inglaterra. Forçado a se casar com Daisy como parte de seu disfarce, ele não tem intenção de se apaixonar por uma mulher suspeita de traição. Mas, se sente atraído pela beleza agressiva com que se casou e não pode negar a maneira como ela o faz se sentir, embora saiba que ela pode ser a inimiga que procura.
Dever contra amor...
Quando o perigo surge, Sebastian deve escolher entre Daisy e sua lealdade à Coroa. E quando Daisy descobrir a verdade finalmente, ela o perdoará?
Capítulo 01
Londres, fevereiro de 1881
A atrevida garota americana não tinha nada a ver com dinamite. Sebastian apostaria sua vida nisso. Ele a observou através do salão de baile dos Beresford, enquanto ela flertava com o conde de Bolton. Ele foi treinado para tomar nota de cada detalhe, cada nuance sutil da linguagem corporal de sua presa.
Estudá-la não foi uma tarefa desagradável. Ela era bonita. Um vestido de baile de seda azul se agarrava a seu corpo pequeno, enfatizando a curva de sua cintura enquanto caía em ondas suaves ao redor de quadris exuberantes até uma cauda com detalhes em pregas. Rosas, em tom de rosa, enfeitavam seu decote baixo, chamando a atenção para as voluptuosas protuberâncias de seus seios. Seu cabelo dourado estava trançado e preso em sua coroa, mais rosas aparecendo de seus cachos. Diamantes em sua garganta e orelhas refletiam a luz, brilhando como um farol para caçadores de fortunas. Ela usava a riqueza obscena do pai como se fosse um anúncio do sabonete Pears.
Tudo nela, desde a maneira como se portava, a maneira como se vestia, até sua reputação, indicava uma mulher firme. Problemas, sim. Mas não a variedade de problemas que exigiam sua intervenção.
Ela bateu no braço de Bolton com o leque e jogou a cabeça para trás em uma demonstração descarada de diversão. Sua acompanhante — uma tia nova-iorquina chamada Caroline — estava ausente do elegante ambiente de senhores e damas reluzentes. A querida tia Caroline tinha um fraco por champanhe e homens atrevidos e, provida de tentações suficientes, desapareceu com facilidade.
Sebastian não era o único que estava ciente das deficiências da tia, no entanto. Ele estava observando a Srta. Daisy Vanreid por semanas. Tempo suficiente para saber que ela não se importava com sua reputação, que tinha beijado Lordes Wilford e Prestley, mas não ainda Bolton, que ela apenas sorria quando tinha uma audiência e que esperava que sua tia ficasse magoada antes de fingir a coquete devotada.
Enquanto observava, a Srta. Vanreid pediu licença para sair de Bolton, quadris balançando com uma sugestão inegável enquanto ela caminhava na direção da sala de descanso das senhoras. Sebastian passou pelos alegres convidados, seguindo-a. Não porque precisasse — esta noite seria a última que desperdiçaria perseguindo uma joia americana malcriada, — mas porque conhecia o conde de Bolton.
Seu maldito senso de honra não permitiria que ficasse de braços cruzados enquanto a garota tola era arrebatada por tal sem vergonha. Wilford e Prestley eram jovens, quase nenhum finesse1 de cidade. Gerenciável. Bolton era outro assunto. A Srta. Vanreid estava tão perdida quanto fingia ou sua necessidade pela emoção do perigo havia aumentado dramaticamente. De qualquer forma, ele cumpriria seu dever e pela luz fria da manhã, ela não seria mais sua responsabilidade.
Ele saiu do salão a tempo de ver uma cauda azul desaparecendo em uma esquina do corredor. Droga, onde diabos a atrevida estava indo? A sala de descanso das senhoras ficava na direção oposta. Seus instintos lhe disseram para seguir, então ele o fez, direto para uma pequena sala de estar privada.
Ele ultrapassou a soleira e fechou a porta atrás de si, surpreso ao encontrá-la sozinha, e não nos braços de Bolton. Ela ficou no centro da sala, batendo o leque fechado na palma da mão, os lábios carnudos comprimidos em uma linha tensa de desaprovação. Seu queixo se ergueu em desafio. Ele não detectou nenhum sinal de surpresa em sua expressão.
— Sua graça. — Ela fez uma reverência mais baixa do que o necessário, lhe dando uma visão perfeita de seus amplos seios. Quando ela se levantou com igual elegância, ela o prendeu com um olhar direto. — Talvez você não se importe de explicar por que está me seguindo no último mês.
Não idiota, então. Uma sensível perspicácia brilhou em seu olhar verde vivo. Ele a olhou com um novo senso de apreciação. Ela o tinha reparado. Não importa. Ele confiava em sua visibilidade como disfarce. Ostentava sua riqueza, suas amantes. Ele desempenhou o papel de libertino experiente. Enquanto isso, ele observou.
E tudo o que observou até agora sugeria que a raposa diante dele precisava ser colocada em seu lugar. Ela era muito ousada. Muito linda. Muito descaradamente sensual. Tudo nela foi projetado para fazer os homens a cobiçarem. Eles a cobiçaram com luxúria. Ela tinha posto a sociedade em sua orelha. Corria o boato de que seu astuto papai estava prestes a casá-la com o idoso lorde Breckly. Ela parecia estar fazendo o possível para frustrá-lo.
Ele a encarou com um olhar altivo.
— Não acredito que fomos apresentados.
Ela deu uma risada suave e gutural que enviou uma onda de calor indesejado para sua virilha.
— Você quer contar com suas boas maneiras inglesas agora, quando esteve me observando todo esse tempo? Que engraçado, mas já sei quem você é, assim como você certamente deve saber quem sou.
Seu olhar viajou sobre ela, inspecionando-a de uma forma que deveria confundi-la. Talvez a tivesse subestimado, pois na privacidade da sala, ela parecia mais astuta do que ele acreditava.
— Eu observo todo mundo.
O som do seu leque contra sua palma novamente, o único sinal externo de sua irritação além de sua carranca.
— Eu também, Sua Graça. Você não é tão sutil quanto deve supor. Devo admitir que achei um tanto estranho que você queira espionar meu tête-à-tête com o visconde de Wilford.
A senhorita Vanreid foi completamente descarada, ousando referir-se a seu comportamento descarado como se nada desagradável tivesse ocorrido. Ocorreu-lhe que ela sabia que ele a observava, e deliberadamente trocou beijos com Prestley e Wilford, talvez até para o benefício dele.
Ele cruzou a sala, seus passos abafados pelo carpete grosso. Os gostos de Lady Beresford sempre foram para o extravagante. Não parou até quase tocar as saias da Srta. Vanreid. Ainda assim, ela se manteve firme, recusando-se a recuar. Algum demônio interior o fez deslizar o dedo indicador pela fina protuberância de sua clavícula. Apenas a sombra de um toque. A consciência despertou entre eles. Os olhos dela se arregalaram quase imperceptivelmente.
— Wilford e Prestley são rapazes verdes. — Ele teve o cuidado de manter o tom brando. — Bolton é uma raposa no galinheiro. É melhor ficar longe dele.
Ela engoliu em seco, e ele ficou fascinado por seu pescoço, a forma como seus diamantes ostentosos se moviam, brilhando mesmo na penumbra.
— Estou desapontada por você me achar tão desmazelada e estúpida como uma galinha. Obrigada por sua preocupação desnecessária, Sua Graça, mas raposas não me assustam. Nunca me assustaram.
Sua bravata o irritou. Até o cheiro dela era ousado, uma mistura exótica de bergamota, âmbar cinza e baunilha que chegaram até ele e invadiram seus sentidos. Nunca deveria ter tocado nela, pois agora não conseguia parar, seguindo sua clavícula até o corte de seu corpete, as rosas bordadas tão estrategicamente colocadas. Ele não tocou nas rosas. Não. Seu dedo deslizou ao longo da plenitude de seu seio cremoso. Sua pele era macia, exuberante como uma pétala.
— Você parece possuir uma predileção absurda por sua ruína, Srta. Vanreid.
Ela o assustou ao se aproximar, a saia ondulando contra suas pernas.
— Alguém poderia dizer o mesmo para você. Por que você fica olhando, Sua Graça? Isso te intriga? Talvez você queira uma chance.
Jesus. A luxúria o golpeou, quente, dura e exigente. Ele nunca, em todos os seus anos de operações secretas, ficara com o pau duro durante uma investigação. Graças à raposa dourada à sua frente, ele tinha um agora. Embora tivesse decidido que ela não estava envolvida na trama, ainda estava de plantão até que se apresentasse a Carlisle pela manhã. Ele não deveria se sentir atraído por Daisy Vanreid, que não era exatamente o que parecia.
Ainda assim, encontrava-se achatando a palma da mão sobre o coração dela, absorvendo seu rápido batimento, que lhe disse que ela não estava tão calma quanto fingia. O contato com sua pele nua, mais do que a mera ponta de um dedo, o abalou.
— Você está me oferecendo uma? — Perguntou finalmente.
Seus cílios abaixaram, seus lábios carnudos e rosados se separaram.
— Sim.
E ele soube naquele momento que estava errado sobre Daisy Vanreid.
Ela era a dinamite.
Desespero.
Fraqueza.
Medo.
Essas foram as razões pelas quais Daisy ficou sozinha em uma sala privada com o duque de Trent, no meio da multidão do Baile de Beresford, desafiando-o a beijá-la. Além disso, talvez apenas um toque de loucura.
Mas era uma loucura e um desespero nascidos da necessidade. Um medo formado pela violência. A fraqueza era um pecado puramente seu, e ela se odiava por isso. Oh, como ela gostaria de ser forte e desafiadora. Poderia ser corajosa, sem medo, a autora de seu próprio resgate.
Mas, não conseguiu.
Por que não, então, o belo duque que a vinha seguindo discretamente no último mês? Sua reputação o precedeu. Ele era um libertino, um patife que pertencia ao círculo mais fechado da sociedade londrina. Sussurros e rumores sobre ele abundavam, mas ela não se importava. Era um tipo de homem perigoso, embora não da maneira que fez sua boca secar e seu corpo se preparar para um golpe.
Então, por que não? Normalmente, ela suportava o toque de um homem como um meio para um fim. Deus sabia que ela estava fingindo flertar com tantos cavalheiros adequados quanto podia encontrar, na esperança de frustrar os planos de seu pai para ela. No brilho da sociedade londrina, ela se tornou uma bon-vivant2, perita em esconder o estremecimento que a marcava como uma mulher com medo de violência.
O homem à sua frente, o lindo duque de Trent, de alguma forma ultrapassou todas as barreiras que ela manteve cuidadosamente protegendo seu verdadeiro eu de todos os outros. Não precisava fingir sua atração por ele. Nem mesmo lutou contra o desejo de estremecer, pois nenhum estremecimento havia surgido.
Algo sobre ele falava com ela em um nível primitivo, de uma forma que nunca soube que existia. Sim, o duque de Trent possuía uma aura de perigo totalmente diferente. Não estava preparada para o contato de sua mão grande e quente em sua pele nua, para a forma como parecia enviar faíscas de eletricidade através do ar entre eles. Sem medo. Quase nenhuma antecipação de dor não suprimida. Nada além dele, consumindo seu mundo.
Com tal proximidade, ele era ainda mais bonito do que supôs. Seus olhos eram do tom de azul mais incomum que já vira, brilhantes e mais claros do que o céu em um dia impecável de verão. Eles a estudavam agora, mergulhando em sua boca.
Ela tinha acabado de lhe oferecer uma chance? Ela não se reconheceu. Na verdade, tudo sobre esse momento encantado e sem preocupações sugeria que estava sonhando. Logo, ela iria acordar. Certamente.
— Eu não posso decidir, — ele falou lentamente, sua maneira aristocrática sem esforço, — se você é imprudente consigo mesma porque você é maquinadora, ou porque você é tola o suficiente para pensar que não será pega. — Por fim, ele moveu a mão, seu toque deslizando para cima, de volta sobre sua clavícula para se curvar como se estivesse em casa em torno de seu ombro. — Mas, por mais tentadora que seja sua oferta, Srta. Vanreid, infelizmente devo recusar.
Com isso, ele a soltou e deu um passo para trás. Ela sentiu a perda de seu toque como uma dor em algum lugar baixo em sua barriga. Claro que deveria saber que ele não seria uma conquista tão fácil. Por que, então, ele a estava perseguindo nas últimas semanas se não era a fortuna americana que ele estava procurando?
A menos que não a estivesse seguindo ou observando? Talvez tenha sido sua imaginação excessivamente zelosa, alimentada por muitos romances góticos que escondeu dos olhos censuráveis de seu pai. Afinal, ela havia cruzado com o mesmo número de senhores e damas no desfile interminável de eventos sociais para os quais marchou obedientemente ao lado de tia Caroline.
Ela teve que admitir que era possível que ele tivesse sido apenas um convidado nos mesmos eventos, e que acidentalmente tropeçou em seu abraço com Lorde Wilford. A ideia de Wilford bastou para azedar seu humor. Ele estava embriagado e beijava como imaginava que um peixe faria. Até sua boca tinha gosto de uma combinação improvável de champanhe e algas.
Ainda assim, Daisy o teria escolhido como marido em vez do visconde Breckly, e foi por isso que foi tão decepcionante quando Wilford murmurou um pedido de desculpas e desapareceu depois que ela enrijeceu ao avistar um intruso.
Aquele intruso estava diante dela agora, bonito como o pecado. Esbelto, largo, e de pele muito bronzeada e musculoso, de forma para se misturar com seus companheiros aristocratas. Ela tinha visto um flash dele na porta parcialmente entreaberta da sala de música, para onde ela fugiu com Wilford. E estava o aguardando, desde então.
Mas, parecia que o enigmático duque não queria jogar um jogo que não fosse de sua autoria, e o tempo estava se esgotando para ela. Em apenas uma semana, seu pai chegaria de Nova York, e deixou suas intenções claras. Ele esperava que um noivado fosse finalizado entre ela e o inoportuno Lorde Breckly, um homem que era trinta anos mais velho que ela, e cheirava a suor e a lençóis sujos. Um homem que havia tentado levantar suas saias e forçá-la na sala há menos de dois dias. Que o teria feito, se tia Caroline não tivesse voltado da biblioteca com o livro que procurava em seu estratagema frágil para forçar Daisy a passar um tempo sozinha com o vilão.
Daisy sentiu uma pontada de decepção ao perceber que o duque não seria a resposta para seus problemas mais do que Wilford. No entanto, manteve sua expressão neutra, como não se importasse se ele ficasse ou se fosse embora.
— Se você deve recusar, então agradeceria se você não se demorasse. Lorde Bolton deve chegar a qualquer minuto e seria terrivelmente estranho se o encontrasse aqui.
O duque lançou um olhar severo de avaliação sobre sua pessoa que a deixou com a impressão de que a via muito mais do que ela teria preferido. Na verdade, ela não disse uma palavra a Lorde Bolton. Ela flertou, mas ele só tinha olhos para seus seios, e ela deu uma batida sonora de seu leque em seu braço pela sua imprudência.
— Lorde Bolton tem uma reputação da qual você sem dúvida desconhece, — disse ele, então. — Corra de volta para a sua acompanhante, e esqueça que já ouviu o nome dele.
Tia Caroline já estava cansada de beber e, em festas como essa, zombava do termo — acompanhante, — para grande alívio de Daisy. Isso tornou suas tentativas de frustrar os planos de seu pai um pouco mais sustentáveis. Mas, ela tinha apenas uma semana de liberdade restante, e o duque de Trent estava invadindo os dias que ela ainda tinha.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Obrigada pelo conselho, Sua Graça.
Precisava encontrar alguém para se casar com ela às pressas, e não era este homem. Contradizer seu pai só lhe renderia os hematomas mais cruéis que se possa imaginar, todos estrategicamente colocados onde os olhos de ninguém enxergariam. Ele gostava de bater em seu estômago. Sabia como puxar o cabelo sem arrancá-lo da raiz, enquanto causava o máximo de dor. Sua bota poderia causar o maior dano, ela descobriu da última vez em que foi contra sua vontade.
Esse conhecimento sombrio era a fonte final do desespero que a impulsionava — a necessidade frenética de escapar de seu pai e da vida que predestinou para ela. Se pudesse escolher entre se casar com Lorde Breckly e qualquer outra pessoa, ela decidiu que qualquer um serviria. Qualquer pessoa que pudesse ajudá-la a evitar um casamento detestável com um bruto ou outro punho levantado.
— Talvez seus costumes americanos não sejam os mesmos, senhorita Vanreid, — o duque de Trent disse então, seu tom paternalista. — Só uma coisa acontecerá com você aguardando Lorde Bolton nesta sala para um compromisso, e isso com certeza não irá beneficiá-la. Você ficará arruinada.
Verdadeiramente. Para um homem que não queria nada com ela, ele era um tipo estranho. A menos que... sua mente lutou com a breve troca de palavras entre eles, com o punhado de vezes que o pegou olhando-a.
Seu orgulho a fez questionar-se, mas seu bom senso agora a lembrava de que ele tinha vindo para esta sala. Ele a tinha procurado intencionalmente. Seus olhares se encontraram brevemente antes, e ela esperava que a seguisse depois que ela saísse do salão de baile. E ele a tinha seguido. Algo nele decididamente não era o que parecia.
De qualquer forma, sua paciência estava no fim. Se ele não queria beijá-la, não precisava mais dele. Pois, precisava estar arruinada. Comprometida. Quanto mais cedo, melhor evitar se tornar viscondessa Breckly, e escapar da ira de seu pai.
Ela seguiu em frente, com a intenção de sair da sala.
— Boa noite, Sua Graça. Se você não vai embora, eu irei. E se você não se importa, procure outra pessoa para assediar no futuro. Condescendência ducal não é do meu agrado.
Mas quando ela iria passar por ele, ele agarrou seu braço com firmeza, mas com delicadeza, forçando-a a encará-lo. Seu cheiro a atingiu, uma mistura masculina de sabonete de barbear e almíscar. Ela bebeu da sua visão contrariando a sua vontade. Algo sobre toda aquela perfeição a fez desejar perturbá-lo. Bagunçar seu cabelo, soltar um botão.
Ele era perfeito, com uma bela simetria: cabelo cor de mogno, maçãs do rosto salientes, lábios esculpidos, furo no queixo... até seu buço parecia perfeito demais, com a barba do dia por fazer, e pela sombra dos bigodes escuros em um convite ao pecado.
Por uma batida sem fôlego, imaginou-se pressionando a boca ali, no sulco logo acima da dele. Esses bigodes seriam ásperos para seus lábios. E ela inevitavelmente deslizaria seus lábios mais para baixo, até que suas bocas se fundissem. O duque de Trent não beijaria como um peixe, e nem sentiria o gosto de algas. Ela sabia.
— Por que você procura se arruinar, Srta. Vanreid? — Ele exigiu, como se tivesse todo o direito de sua resposta. — Há alguém em Nova York para quem você gostaria de voltar?
Ela pensou rapidamente em Padraig McGuire, o homem que supervisionava as operações das fábricas de seu pai em Nova York. Ela se importou com ele uma vez. Não mais. Ele e o pai dela cuidaram disso.
Mas, não permitiu que seus pensamentos aparecessem enquanto enfrentava o duque com desafio. Ele era um estranho e não tinha o direito de fazer uma pergunta tão íntima. Nenhum direito de invadir a sala para a qual escapou, nenhum direito de tocá-la, nenhum direito de oferecer conselhos não solicitados.
Sem direitos.
— Como você se atreve a me perguntar uma coisa dessas? Em suas palavras, Sua Graça, não acredito que tenhamos sido apresentados.
Ele zombou, a imagem perfeita de arrogância.
— Se há um jovem em Nova York, é melhor esquecê-lo. Assim como seria melhor se ficasse longe de Bolton.
Daisy se desvencilhou de suas mãos.
— Enquanto estamos dando conselhos, duque, é melhor você ficar longe de mim. Não preciso e nem quero sua interferência. Se você se considera um Galahad, vá fazer isso com outra pessoa.
Sem olhar para trás, ela saiu da sala. Depois dessa noite, ela tinha apenas seis dias restantes. Cerberus estava em seus calcanhares, e ela pretendia garantir sua liberdade por todos os meios possíveis. O arrogante duque de Trent poderia ser enforcado por tudo que ela se importasse.
Capítulo 02
— Apostaria tudo o que tenho que a garota não sabe nada sobre qualquer conspiração feniana, — Sebastian anunciou ao duque de Carlisle enquanto eles se encontravam em uma sala privada de seu clube na manhã seguinte. — Ela é mais inteligente do que permite que os outros percebam, mas sua preocupação mais urgente parece ser arruinar-se de qualquer maneira possível.
E isso significa que a noite anterior teve o conde de Bolton sendo o primeiro, e depois ele mesmo. Por um breve e indesejado instante, lembrou-se da sensação suave de sua pele cremosa sob seus dedos. O cheiro de bergamota seria para sempre contaminado por pensamentos de uma raposa americana de cabelos dourados que o desafiou a beijá-la.
Explosão.
Carlisle tomou um gole de seu café fumegante e colocou a xícara de volta no pires antes de responder. Ele era um homem quieto, taciturno por natureza, do tipo que observa sem nunca parecer participar do mundo ao seu redor. Agora, seu olhar escuro e avaliador fixou Sebastian em seu assento com a precisão implacável de uma adaga.
— Desde quando você aposta alguma coisa, Trent? Não sabia que você era um jogador.
Ele lutou contra o desejo de mudar para uma posição mais confortável. Com as imagens da Srta. Daisy Vanreid esvoaçando pelo canto corruptível de sua mente, suas calças ficaram extremamente apertadas.
— Apenas uma figura de linguagem, Carlisle.
O duque continuou sua prática de dissecar interiormente a pessoa com quem dialogava. Ele desenvolveu um método de estudar o tom, a linguagem corporal, as palavras e os maneirismos que fazia com que metade de seus irmãos de armas acreditassem que ele era um leitor de mentes. Sebastian nunca se viu recebendo o tratamento antes, e tinha que admitir que não gostava disso.
— Não gosto de figuras de linguagem, — Carlisle disse por fim. — Elas têm uma maneira de tornar a interpretação precisa do que se pretende dizer em uma maldita imprecisão. Diga-me, o que você captou dela na enormidade da casa de Beresford?
Ele tomou muito cuidado para permanecer quieto e manter sua expressão em branco, pois por mais que confiasse em Carlisle e tivesse trabalhado diretamente abaixo dele nos últimos cinco anos, algo sobre o encaminhamento dessa entrevista enviou apreensão por sua espinha como um calafrio.
— Nada de importante.
— Nada? — Carlisle levantou uma sobrancelha imperiosa. — Entendo que você a seguiu até uma sala durante o baile. Vocês permaneceram na sala juntos por oito minutos. Certamente, muito pode ser dito durante um período tão generoso de tempo.
A apreensão floresceu em seu peito, forte e pesada. Jesus, ele era suspeito? Ele não tinha se exposto. Não havia nenhuma maldita razão para Carlisle ter um homem o seguindo.
— Você tinha alguém me observando na noite passada?
— Você conhece nossa regra, Trent. — O tom de Carlisle era calmo, improvisado, como se descrevesse algo tão fútil quanto uma recente visita à ópera. Esse também era o seu dom, nunca permitindo que ninguém visse por baixo das máscaras que ele apresentava ao mundo. — Olhos e ouvidos em todos os lugares.
É claro que ele conhecia a maldita regra, mas acreditava que ele era os ouvidos e os olhos. Ele enrijeceu antes que pudesse se controlar.
— Ouvidos e olhos em seus próprios homens? Para qual propósito?
— Só um tolo confia cegamente, — Carlisle brincou. — Oito minutos, Trent. Você os gastou com sabedoria?
Não, droga, não tinha. Ele havia perdido o equilíbrio por um momento, — pela primeira vez em que conseguia se lembrar — e ficou impressionado com a beleza inegável da Srta. Vanreid. Sem mencionar sua ousadia.
Talvez você queira uma chance.
Ele ainda não conseguia acreditar que a atrevida havia pronunciado aquelas palavras provocativas. Ela o chocou. Pior, queria fazer o que ela convidou. Beijar aquela boca carnuda e rosada, puxar o corpete completamente para revelar a generosidade de seus seios, e descobrir se seus mamilos combinavam ou não.
Sua boca estava mais seca do que um sapato velho e gasto. Mas, não mostraria sua fraqueza para Carlisle. Hoje, não. Não depois de descobrir que foi seguido.
— Confirmei que a Srta. Vanreid é exatamente como suspeitei durante o mês em que a observei. Ela é linda, inteligente e manipuladora. Ela... parece ter pouca preocupação com sua reputação. Perguntei se ela tinha ou não um namorado em casa em Nova York, como você pediu, mas ela se recusou a responder de uma forma ou de outra.
Carlisle acenou com a cabeça como se nenhuma das informações fosse uma surpresa.
— Imagino que ela usou suas artimanhas contra você, Trent.
Fogo do inferno. Levou todos os seus anos de treinamento para suprimir o calor que queria subir para as maçãs do rosto.
— Solicitei esta reunião para que pudesse ser dispensado de minhas funções em relação à Srta. Vanreid. Nada que descobri no mês passado me levou a acreditar que ela tivesse algum conhecimento de produção de dinamite, fenianismo ou quaisquer planos para ajudar no lançamento de bombas em Londres, para dizer o mínimo do que aconteceu em Salford. Eu respeitosamente solicito a reatribuição, pois posso pensar em inúmeras maneiras de utilizar melhor meu tempo e talentos do que perseguir uma atrevida americana enquanto ela flerta seu caminho através da alta sociedade.
Carlisle ficou em silêncio por muito tempo, tomando seu café como se não se importasse. Os únicos sons na sala foram causados por sua xícara tilintando de volta no pires. Por fim, ele se dignou a falar novamente.
— Eu preciso discordar. Você se esqueceu de quem é o pai da menina?
Claro que não. James Vanreid era bem conhecido na Liga, e seu envolvimento com os fenianos3 em Nova York era inegável. Embora seu pai fosse holandês, sua mãe era uma imigrante irlandesa, e Vanreid não havia abandonado suas raízes. Ele era pecaminosamente rico, tendo acumulado uma fortuna como magnata da navegação e presidindo, por nada menos, que uma dúzia de fábricas prósperas. Por acaso, uma delas era uma fábrica de armamentos. E um número exagerado de armas de fogo Vanreid ilegais circulou recentemente em Londres. Vanreid tinha laços fortes com o mais agressivo dos Fenians na América, tinha navios, e um poço inesgotável de fundos que usava para atrair, tudo sob o disfarce de suas várias participações empresariais, e ele era, simplesmente, um grave perigo para Inglaterra.
Sebastian soube de todos esses fatos na primeira vez que seus olhos pousaram em Daisy Vanreid em meio a uma multidão de salão de baile. Mas como os muitos homens que pairavam sobre ela, atraídos pela combinação ofuscante de sua beleza sensual e sua fortuna, ele não se importou. Pela primeira vez em seus anos com a Liga, sua missão tinha sido reunir informações sobre uma mulher tão inofensiva quanto uma bolsa. Primeiro, sentiu-se atraído por ela, depois ficou irritado e confuso por sua atração inconveniente.
Tirando tudo isso, vinha observando Daisy Vanreid de perto. E ele era um espião muito bom. Não estava disposto a permitir que Carlisle o atropelasse. Seus instintos raramente estavam errados. Juntamente com o fato de que sua observação sobre ela produziu os mesmos resultados que teria previsto se estivesse monitorando qualquer outra debutante, a insistência de Carlisle de que Daisy Vanreid era algum tipo de ameaça secreta era ridícula.
— Sei malditamente bem quem é o pai dela, — ele rangeu. — Sei também que ela come ovos escaldados com molho holandês no café da manhã, não tolera morangos, prefere chocolate ao chá, recebe visitas da uma às três da tarde, lê como se fosse sua ocupação, e gosta de cortejar escândalos. Sua tia é conhecida por acompanhá-la, mas a velhota fica bêbada em vez disso, e a Srta. Vanreid conduz seus pretendentes em uma dança alegre enquanto a boa e velha tia Caroline está roncando em seu peito ou se pegando com um safado em uma alcova escura.
Ele fez uma pausa, tentando controlar a raiva que começou a queimar por dentro enquanto falava, antes de silenciar seu superior com uma mão levantada e continuar em seu discurso.
— Jesus, você ouviu como isso soa ridículo, Carlisle? Algum desses detalhes insignificantes parece importante, por Deus? A segurança de nossa nação está em risco, e estou perseguindo uma megera sobre salões de baile e repassando informações por meio de suas malditas camareiras, então sei a qual baile ir. Me sinto como uma marionete, brincando de ser um espião com seu irmão mais novo.
Carlisle levantou uma sobrancelha imperiosa.
— Você terminou com sua pequena birra, Trent?
Birra. Maldição, Sebastian desejava esmagar seu punho na perfeição do nariz longo e aquilino de Carlisle.
— Eu não estou tendo um maldito acesso de raiva. Estou informando que esta tarefa absurda deve chegar ao fim. Daisy Vanreid é tão perigosa quanto uma governanta idosa e estou cansado de segui-la como um maldito cachorro spaniel.
— Ela é incrivelmente valiosa para a nossa causa. — Carlisle bateu com o punho. O café espirrou na borda de sua xícara, a delicada porcelana tilintando em protesto. — Ela é filha do homem responsável pelo financiamento dos fenianos em Nova York, uma filha que, sem dúvida, está a par de todo tipo de informação que poderia ser útil para nós. Manter-nos perto dela nos mantém perto de Vanreid. Quanto mais sabemos sobre Vanreid, melhor estamos preparados para desmantelar sua teia e impedi-lo de prejudicar alguém sob nossa supervisão. Precisamos fazer tudo — muito bem, qualquer coisa — que pudermos para descobrir as identidades dos dinamitadores escondidos em nosso meio. Se não fizermos nada, mais virá, e seremos malditamente afundados. Eles não vão parar por nada até que vejam a Inglaterra abatida.
— Entendo a importância da tarefa em mãos, — Sebastian retrucou. — Apenas questiono a sabedoria de desperdiçar tanto tempo e recursos com uma maldita mulher.
— O Ministério do Interior acredita que ela tem fortes laços com os fenianos.
— Laços com os fenianos? — Ele não conseguiu conter seu cinismo. Daisy Vanreid, uma exuberante herdeira cuja maior preocupação era qual vestido de baile usar e que cavalheiro deveria beijar? Quem esvoaçava pela sociedade como uma borboleta exótica que fazia todo homem em Londres querer pegá-la e torná-la sua? Não parecia provável. Na verdade, parecia ridículo. Inacreditável.
As informações que o Ministério do Interior recebera de seus contatos nos Estados Unidos eram balela.
Carlisle deu um breve aceno de cabeça, entusiasmado com sua causa.
— A senhorita Vanreid estava prometida a um senhor, Padraig McGuire, em Nova York. O noivado não durou muito por motivos que ainda não estão claros. No entanto, o que está claro é que Padraig McGuire é um membro declarado feniano e um membro conhecido do Emerald Club. Também é o braço direito de Vanreid. Acredita-se que McGuire seja o homem principal do fundo de conflito Feniano, que conta com o dinheiro de Vanreid para apoiar seus malditos esforços.
Sebastian também tinha ouvido boatos sobre McGuire de suas fontes na América. Saber que ela estava noiva do bastardo certamente a tornava um pouco mais intrigante, mas dificilmente o suficiente para justificar que continuasse a segui-la.
— Você acredita que ele está aceitando dinheiro para facilitar a fabricação de dinamite?
— Eu sei isso. Nas últimas semanas, ele fez uma turnê para falar em público para conseguir apoio financeiro para sua causa. Levando em conta os relatos de multidões de aplausos saudando-o, parece apenas uma questão de tempo antes que as coisas piorem. As informações que chegam da América são terríveis. Os fenianos e seus simpatizantes ficam mais fortes, maiores e mais determinados a cada dia. Você sabe tão bem quanto eu que as consequências prometem ser mortais, Trent. Um menino inocente morreu nas mãos desses monstros.
Todo o calor que vinha crescendo em seu corpo desde o encontro com Daisy Vanreid na noite anterior sumiu de repente. Ele ficou com o dolorido e arrepiante frio de inverno. O tipo de frio que um homem sente nos ossos.
Grupos irlandeses-americanos vinham clamando por um governo autônomo por qualquer meio que se fizesse necessário há anos. Mas recentemente, a ligação deles tinha se tornado cada vez mais cruel. Cada vez mais, eles buscavam atingir seu objetivo pelo uso da violência, travando uma campanha de medo, destruição e morte, tendo a dinamite como sua principal arma.
Três meses antes, a cidade de Salford tinha visto a primeira demonstração da capacidade mortal dos Fenianos, quando uma bomba explodiu no arsenal de lá. Um rapaz que teve a infelicidade de estar passando na hora da detonação foi morto.
Se a srta. Vanreid estava noiva de um homem que ocupava cargos de liderança em uma organização feniana conhecida, era quase impossível para ela ignorar os planos que estavam sendo colocados em prática. A rede de espiões da Inglaterra, na América, deixou claro que a detonação de uma bomba em Londres era iminente.
Sebastian e seus companheiros de operação em solo nativo estavam fazendo tudo ao seu alcance para garantir que tal atrocidade nunca se tornasse realidade. Londres era muito mais populosa e vulnerável a golpes do que Salford. As baixas seriam muito maiores do que um garoto, embora aquele garoto solitário tivesse sido uma vítima a mais.
Ele respirou fundo para digerir a informação que seu superior acabara de revelar. Claro, era a maneira de Carlisle dar a ele apenas um grão de fato em um mar de verdades em constante mudança. Foi informado que a senhorita Vanreid tinha um suspeito conhecimento da campanha de dinamite originada dos fenianos na América. E então, ele ficou assistindo-a flertar e beijar à vontade em cada baile, musical e jantar oferecido no último mês, seguindo atrás dela como um homem com uma venda nos olhos.
Será que ela era ainda mais esperta do que havia imaginado? E tudo entre eles na noite passada tinha sido uma atuação? Uma tentativa de distraí-lo de seu intento? Uma tentativa de obter informações dele?
O que foi que ela lhe disse com seu jeito ousado e teimoso? Ah, sim. Raposas não me assustam. Elas nunca fizeram isso. Ele estava começando a ter uma imagem diferente da Srta. Daisy Vanreid, e não gostou. Nem um pouquinho. Pois, parecia que talvez ela fosse a raposa afinal, ou pelo menos a amante de uma.
Com determinação implacável, ele cerrou a mandíbula e encarou Carlisle.
— O que você quer que eu faça?
Carlisle parou no ato de levantar sua xícara para outro gole fortificante de café.
— Receio que a resposta a essa pergunta não seja aquela que você está preparado para ouvir.
A apreensão se espalhando por ele se transformou em um mau presságio. Em nome da Coroa e do país, ele foi esfaqueado, baleado e quase queimado até a morte. O que poderia ser pior?
— O que é, Carlisle? — Demandou. — Dificilmente poderia ser mais difícil do que qualquer coisa que suportei enquanto estava sob seu comando.
O duque colocou a xícara de volta no pires sem tomar um gole e, pela primeira vez, no conhecimento de Sebastian com ele, revelou um segredo. Ele fez uma careta.
— Você deve se casar com a garota, — Carlisle anunciou.
E Sebastian percebeu que estava errado em pensar que nada poderia ser pior do que os perigos que enfrentou e os riscos que correu até agora. Casar-se com a Srta. Daisy Vanreid era certamente o pior destino que poderia imaginar.
Havia devoção ao país e, em seguida, pura estupidez.
— Não, — Negou com veemência. — Não irei fazer isso.
— Não, — disse Daisy. — Não irei fazer isso.
Tia Caroline demorou mais do que o necessário para reagir à explosão de Daisy. Sem dúvida, o atraso tinha algo a ver com as quatro taças de vinho que ela bebeu durante o jantar elegante de seu anfitrião.
— Mas, Daisy, se Lorde Breckly solicitar, você deve dançar com ele. Ele chegou a um acordo tácito com seu pai para sua mão. Não seria bom rejeitar seu futuro marido de uma maneira tão pública.
A ideia de qualquer acordo envolvendo a sua mão — quanto mais o resto dela — e o visconde Breckly era uma abominação. Isso fez uma sensação desagradável e doentia percorrer seu estômago. O calor da multidão no salão de baile não ajudou a situação. Suas bochechas estavam vermelhas, sua pele formigando. Um som estrondoso atingiu seus ouvidos.
Restavam quatro dias até a chegada de seu pai.
Ela passou de desesperada à frenética. E decidiu que hoje à noite, no baile de Darlington, teria que encontrar um noivo substituto. Qualquer um serviria. Dançar com Breckly com certeza não se encaixava em seus planos de impedir o casamento iminente com o desgraçado.
Em pânico. Essa era a palavra adequada para descrever sua condição atual.
Quatro dias, droga.
— Tia Caroline, ele cheira a gordura de cabelo e linho sujo. Não vou aguentar com este calor, — disse ela com sinceridade. — Me sinto mal só de pensar nisso agora. Há também a questão do que ocorreu na sala.
A irmã de seu pai franziu a testa para ela, mas o efeito geral foi um tanto diminuído por um soluço indiscreto.
— Oh, céus. Receio que o peixe sempre tende a me afetar de uma forma monstruosa. Mas isso não importa. Não seria adequado para você negá-lo, e ponto final. Seu pai tem uma opinião elevada sobre o visconde e, se vocês não combinarem, ele vai tirar a minha pele. Tenho certeza de que seu senhorio foi dominado por sua beleza, como todos os homens. Você brinca com eles, Daisy, transforma-os em bestas.
Claro que tia Caroline colocaria a culpa do incidente em Daisy. Tia Caroline tinha as mesmas características e atitudes que seu pai. Seu casamento na família Knickerbocker, de sangue antigo, em Nova York, os anos que ela passou no exterior, e o fato de que concordou com ele em todas as coisas, fez com que fosse a escolha clara de seu pai como acompanhante.
— Seria apropriado eu perder meu jantar por causa de Lorde Breckly? — Daisy perguntou com falsa polidez.
Uma matrona enfeitada passou por elas, lançando um olhar de desaprovação mal disfarçado em sua direção. Daisy estava acostumada a um desprezo velado. Não era fácil ser uma garota americana que não se encaixava nos moldes da feminilidade inglesa. Ter um pai comerciante rico que era meio irlandês e uma tia que gostava de beber não combinava exatamente em ser a bela de nenhum baile. Se não tivesse seu juízo e a riqueza de seu pai, não teria desenterrado nenhum pretendente.
— Silêncio, — tia Caroline ordenou antes de emitir outro soluço. — Você nunca deve falar o que pensa, Daisy, e certamente não em um salão de baile, entre todos os lugares. Alguém pode ouvir.
Daisy não se importava muito se alguém ouvisse. Qual a melhor forma de anunciar que estava disponível, pronta para a ruína? Seu dote valia uma pequena fortuna. Certamente algum aristocrata empobrecido iria forçá-la por resgatá-la do terrível destino que a esperava?
Ela se abanou, perguntando-se se seu rosto estava tão brilhante quanto parecia. Claro que tinha deixado seu pó de pérola em casa esta noite.
— Tia Caroline, me perdoe. É apenas que estou me sentindo acalorada nesta multidão de pessoas. Acho que preciso sair para respirar.
— Do lado de fora? — Os olhos de sua tia se estreitaram com uma dúvida premonitória.
— Antes que eu desmaie, — acrescentou Daisy para garantir. Não se sentia nem um pouco culpada por conduzir tia Caroline pelo caminho do jardim, pois ela estava tão determinada quanto seu pai em vendê-la para Breckly. — Eu odiaria causar uma cena. Você se importaria de segurar meu champanhe?
O olhar semicerrado de tia Caroline pousou na taça de champanhe.
— Muito bem então, mas não demore. E não se aventure longe. Nada de bom vem de moças esvoaçando no escuro.
Daisy pressionou o copo na mão estendida da tia, completamente ciente de que o copo estaria vazio quando voltasse.
— Eu nem sonharia com isso, tia.
Com isso, se despediu de tia Caroline que, se as ações passadas fossem uma indicação do futuro, provavelmente se entregaria ao seu champanhe e passaria as próximas horas esquecendo que tinha uma sobrinha. O que era bom, pois Daisy precisava encontrar um solteiro desavisado da maneira mais conveniente possível.
Ela tomou muito cuidado para passar pelos foliões e em direção à saída como havia dito que faria, para que sua tia não assistisse. Em apenas alguns minutos, tia Caroline deveria estar suficientemente distraída e Daisy poderia entrar novamente no salão para avaliar sua presa.
Enquanto ela ia, seus olhos examinaram a sala. O tempo de flertar e beijar estava acabando. Ela precisava conseguir um marido por todos os meios possíveis. O único meio que podia imaginar que forçaria seu pai a concordar com um casamento diferente daquele que ele havia escolhido, era se arruinar.
Sim, esta noite, ela precisaria criar um grande escândalo. Um escândalo que destruísse sua reputação e a deixasse sem nenhum recurso, exceto o casamento com alguém que não fosse o visconde Breckly.
Enquanto estudava os cavalheiros presentes, seus olhos colidiram com um olhar familiar. O efeito foi tão impressionante que ela parou onde estava. A consciência faiscou entre eles na forma de fios elétricos. A respiração pareceu congelar em seus pulmões, e um calor indesejado fluiu por ela da cabeça aos pés, banhando-a com um mormaço que não tinha nada a ver com o abafamento do ar e tudo a ver com o homem que a observava.
O duque de Trent.
Como era possível que ele estivesse ainda mais bonito esta noite do que a última vez em que o viu? Inexplicavelmente, lembrou-se da sensação de sua grande mão, quente e pesada, pressionada sobre seu coração, diretamente em sua pele nua. Ele a seguiu novamente esta noite? Por que a observava agora, sem vacilar, sua expressão intensa e ilegível? Ela não disse a ele para ir jogar Galahad com outra pessoa?
No entanto, de alguma forma, aqui estava ele, separado dela por poucos metros e alguns lordes e damas entre eles. Olhando-a como se a visse por dentro, direto ao seu coração. Ela nunca quereria ser contemplada de outra forma pelo resto de sua vida. Ele a fez sentir como se todo o seu corpo fosse uma corda esticada, esperando a carícia amorosa de um arco.
Alguma parte perversa dela pensou que se devia prender algum homem, certamente não havia mal em selecionar um homem tão bonito como ele para ser seu tolo. Um homem que poderia fazer pensamentos devassos consumi-la diante de um salão de baile lotado de pessoas enquanto ela estava lá em sua seda e diamantes.
Sim, que seja ele.
Por fim, ela cortou o contato, virando-se para continuar sua retirada do salão de baile e sua multidão barulhenta. Sentiu o olhar dele em suas costas como um toque, picando suas omoplatas. Daisy se abanou ao entrar na noite calmante. Estava excepcionalmente quente para o final de fevereiro, e vários outros passeavam lentamente pelo terraço principal.
Ela contornou o perímetro e se escondeu nas sombras, mais longe do barulho do baile e olhos curiosos, mais longe da razão e da sanidade, e mais fundo em um território desconhecido e perigoso. Pois, se pretendia levar a cabo seu plano ao máximo, precisaria de privacidade.
Ela parou quando alcançou uma estátua alta e assustadora que pairava sobre ela na noite prateada. Zeus, talvez? Na escuridão, não tinha certeza. Estava longe o suficiente para não ouvir mais as conversas dos convidados no terraço. Longe o suficiente para o que pretendia.
Então, uma pontada de culpa a atingiu, pois, atrair qualquer homem para o casamento, muito menos o duque insuportável, era a última coisa que queria fazer. Mas, quando sua única outra opção era aceitar o destino cruel que seu pai havia escolhido para ela, sabia o que precisava fazer.
Salvar-se.
— Confesso que estou bastante curioso para saber por que você tem um gosto tão peculiar por desaparecer nos bailes, Srta. Vanreid.
A voz, baixa e cortada em um inglês puro, enviou-lhe uma nova onda de desejo. Sabia sem se preocupar em virar, que era ele. Como ele caíra perfeitamente em sua armadilha.
Ela procurou pela bravata que parecia ter fugido de repente, enquanto se voltava lentamente. Ele estava a poucos passos de distância, lindo, mesmo na penumbra. Daisy ofereceu-lhe uma reverência completa e perfeita, pois ela poderia se comportar sempre que necessário. Simplesmente preferia não se comportar, tendo passado a vida forçada a fazê-lo.
— Sua graça. Você parece ter um gosto semelhante e peculiar por me seguir nos bailes. Talvez também deva perguntar o motivo?
— Pergunte o quanto quiser, querida.
Havia algo no modo como ele pronunciou o termo carinhoso que transformou a palavra comum — querida — em uma carícia que ela sentiu por todo o corpo. Especialmente em sua barriga e... mais abaixo.
Ela poderia brincar de flertar muito bem agora, mas ele tinha uma maneira patente de desarmá-la, deixando-a fora de forma. Daisy deu um passo em sua direção, desejando manter seu objetivo em primeiro lugar em sua mente. O desejo de trocar e lutar verbalmente com ele era forte. Mas o confronto com o duque de Trent não a comprometeria, por isso precisava recorrer a diferentes táticas.
— Se eu perguntar, você vai responder? — Ela deu outro passo até que estava perto o suficiente para sentir o cheiro dele, e sua essência começou a doer profundamente dentro dela. A necessidade de algo que não entendia.
Ele ainda não tinha se movido, seu grande corpo iluminado pelo brilho da lua.
— Depende.
Outra etapa.
— De quê?
— Se devo ou não esperar um de seus pretendentes.
Ela sorriu apesar de si mesma, gostando do jogo e, afinal, incapaz de resistir a provocá-lo.
— Você se refere ao conde de Bolton? Ou talvez, Wilford? Prestley? Diga-me, Sua Graça, você mantém um livro-fiscal de todos eles?
— Duvido que qualquer livro-fiscal meu contenha páginas suficientes. — Seu tom era severo.
Ela se encolheu com o insulto, mas forçou-se a dar mais um passo. Afinal, ela conquistou sua reputação, mesmo que fosse em nome de uma boa causa: seu próprio resgate. Pouco espaço os separava agora e, apesar de sua singular falta de charme, ela ainda estava determinada a escapar das garras oficiosas de Lorde Breckly.
— Alguém deve estar se perguntando, Sua Graça, por que você me seguiu, se sua opinião sobre mim é tão ruim, — disse então, tomando cuidado para manter seu tom irreverente e não afetado.
Finalmente, ele se moveu, com uma rapidez relâmpago que a pegou de surpresa, quando trouxe seus corpos juntos. Suas mãos pousaram em sua cintura quando ela teria perdido o equilíbrio, prendendo-a a ele. Seus seios pressionados contra seu peito. A respiração dele parou em seus lábios.
— Eu nunca disse que minha opinião sobre você era ruim, Srta. Vanreid, — disse, lentamente. — Muito pelo contrário, na verdade.
— Perdoe-me se duvido disso. — A falta de ar em sua própria voz a assustou.
A indecisão a ameaçou de repente, fazendo-a se sentir nervosa. Na escuridão, o duque era uma força da natureza, alto, grande e potente. Ela não conseguia afastar a estranha noção de que sob seu exterior polido estava uma besta feroz, esperando para atacar. Reivindicar.
Havia muito mais no duque de Trent do que jamais havia imaginado. Mas, podia sentir isso agora, no calor e na força dele, na selvageria mal contida do jeito que ele a pegou tão habilmente em sua armadilha.
E todo esse tempo, ela estava imaginando que o havia prendido. De repente, parecia exatamente o oposto. Mas ela não estava com medo. Em vez disso, ele a intrigou.
— Decidi que quero minha chance, — disse ele.
Ela piscou, desejando que pudesse ver melhor sua expressão através da escuridão. Desejando poder lê-lo, mas o homem a tinha deixado completamente perdida.
— Como, Sua Graça?
— Você me perguntou antes se eu queria uma chance. — A mão dele viajou da cintura para o queixo com uma ternura que desmentia a força que irradiava. A gentileza inesperada a sacudiu. Seu polegar roçou seu lábio inferior, enviando uma onda de sensações por seu corpo frenético.
Ah sim, ela tinha, tolamente em seu último encontro. Mas ela pretendia insultá-lo, arrancar a verdade de porque ele parecia controlar cada movimento dela pela sociedade. Pode ter sido tudo coincidência, é claro. Qualquer outra pessoa — qualquer pessoa cuja mente não funcionasse como a de Daisy — provavelmente nunca teria notado. Nunca teria se perguntado. Nunca teria suspeitado. Caro Senhor, não de um par do reino, e nem de um duque ainda.
Mas Daisy não era outra pessoa. Era ela mesma e se conhecia bem o suficiente para saber que era uma esquisitice. Ela não parecia se encaixar com ninguém em lugar nenhum, embora seu pai tivesse feito um trabalho admirável ao tentar forçá-la a qualquer número de papéis que convinham a ele. Até agora, havia se esquivado de todos e não pretendia que isso mudasse em quatro dias.
O que a trouxe de volta ao seu plano. Sua necessidade.
Ela precisava que o duque de Trent a comprometesse. Esta noite.
Ela respirou fundo para se acalmar e exalou sobre o polegar que continuou sua exploração lenta de seu lábio.
— Então, tenha a sua vez, Sua Graça. Pegue isso, agora.
Ele fez um som profundo com a garganta, e ela não sabia se era um grunhido ou um zumbido de satisfação.
— Acredito que irei.
Na próxima respiração, sua boca estava na dela, dura e exigente como ela tinha imaginado que seria. Daisy já havia sido beijada muitas vezes antes, mas nunca do jeito que o duque a beijava. Seus lábios se curvaram, encaixando-se perfeitamente, com uma fome voraz. Este beijo reivindicou. Isso enviou uma onda de algo estranho passando por ela, algo que era parte langor, parte necessidade.
Ela agarrou seus ombros largos, apertando-o enquanto ele devastava sua boca, sentindo os músculos poderosos escondidos sob sua elegância noturna. A língua dele varreu a costura de seus lábios, buscando entrada, e ela abriu sem hesitação. Nada no modo como o duque de Trent a afetou foi fingido ou forçado. Havia algo indefinível — algo primitivo e cru — dentro dele que a chamava. Isso lhe disse que ela estava onde pertencia.
Em seus braços.
Sim, se tivesse que se casar com qualquer homem, por favor, Senhor, que fosse um homem que beijasse como o duque. Que cheirasse como o duque. Que parece e sentisse como ele. Que fosse simplesmente ele.
Só ele.
A boca dele deixou a dela para percorrer um caminho de fogo em sua garganta, demorando-se sobre o oco sensível sob sua orelha. Quem sabia que tal lugar não só desejaria ser beijado, mas também que seus lábios roçando nela enviariam uma pulsante dor de prazer a seu núcleo? E então, ele a lambeu, sua língua lançando-se para provocar sua carne, prová-la. Para deixá-la louca.
Um som choramingado saiu dela. Ela queria mais, embora não soubesse o que mais era. Ele pegou o lóbulo da orelha dela com os dentes e puxou, lambendo a espiral de sua orelha. Seu hálito era quente e decadente enquanto movia a boca ainda mais para baixo, para sua clavícula e de lá para baixo para o decote.
Ele beijou a protuberância de seu seio e ela sentiu um desejo pungente. Como desejava que ele a libertasse de seu vestido e espartilho, para ser livre para mover sua adorável boca sobre cada centímetro de seu corpo. Especialmente nas pontas dos seios doloridos, que começaram a formigar de uma forma alarmante.
Ela se perguntou vagamente por que nenhum homem antes dele jamais havia tomado tal liberdade, e então, ficou instantaneamente feliz por não terem. Pois, ela não podia imaginar desfrutar dessa maldade com alguém, exceto ele. Sentiu que foi feita para ele.
E então, ele agarrou o delicado tule de sua manga e puxou. O som do tecido se rasgando dividiu a noite, enviando uma lufada de ar frio sobre ela. Ela endureceu em seus braços, uma atitude tão arraigada que apesar de precisar completar o compromisso consigo mesma esta noite, ela quase o empurrou. Um corpete rasgado era a marca definitiva do pecado. O que ele poderia estar pensando? Daisy não conseguiria enfrentar a tia ou voltar ao salão com um vestido de baile que havia sido danificado.
Talvez ele tivesse perdido a cabeça, pois parecia não se deixar abater pelo estrago que acabara de causar, continuando a beijar seu caminho através de seu seio nu. Uma estranha calma se apoderou dela então, uma calma que não sentia desde que podia se lembrar.
Ela estava arruinada.
E parecia, em uma palavra, divino.
Vencida pelo desejo, correu os dedos pelos cabelos grossos e macios dele e, em seguida, deu um beijo impulsivo em sua cabeça. Até seu cabelo cheirava bem. Ele parou em sua exploração, seus lábios ainda pressionados em sua pele.
Ela tinha ido longe demais? Ele percebeu o quão longe, por sua vez, tinha ido? Nunca saberia, porque ele deu um puxão rápido e forte, e tudo — seu corpete, espartilho e camisa — foram ao chão. Seus seios estavam nus, em plena exibição ao luar.
Daisy, garota perversa que era, esqueceu que só pretendia permitir que as coisas chegassem a um certo ponto, antes de exigir recatadamente que ele a devolvesse à tia junto com uma proposta de casamento. Esqueceu que estavam não muito longe de um salão de baile cheio de pessoas. Esqueceu-se de que não tinha por que conduzir os beijos do duque para baixo, para o lugar que mais os queria.
Porque no próximo instante, ele a tomou em sua boca.
E no instante seguinte, ela ouviu a exclamação chocada de ninguém menos que a tia Caroline, que estava de pé ao luar, olhando para eles com um estranho ao seu lado.
Capítulo 03
— Daisy? — sibilou a tia, parecendo desmaiar.
— Trent, é você? — Perguntou Carlisle, dando uma boa impressão de indignação para um homem que tinha intencionalmente levado a tia para a escuridão em busca de sua sobrinha errante, sabendo o que eles iriam encontrar. — Meu Deus, isso é um ultraje. Você vai ter que se casar com a Srta. Vanreid imediatamente.
Casar.
A palavra transformou a luxúria que percorria seu corpo em gelo. Apressadamente, ele puxou o corpete da Srta. Vanreid de volta ao lugar. Mas, não antes de analisar para mais um vislumbre da maturidade luxuriante de seus seios no brilho da lua. Não havia dúvida sobre isso — a Srta. Daisy Vanreid era uma tentação pura e sem adulteração. E ele sucumbiu.
Apesar de sua extrema desconfiança, apesar de saber que ela era uma paqueradora manipuladora que provavelmente levou meia dúzia de outros pretendentes pelo mesmo caminho na escuridão, apesar de seu profundo ressentimento por ser forçado a comprometê-la, e entrar em um casamento em nome da Coroa que ele certamente não queria... apesar de tudo, ele gostava de beijá-la.
Gostava de como ela era responsiva, como seus lábios se moviam sob os dele, do seu sabor. Ele até gostou de rasgar a manga dela, para promover sua causa, e puxar para baixo seu corpete para tomar o botão doce e duro de seu mamilo na boca. Ele não deveria ter se permitido despi-la. Também não, que seu abraço aumentasse tanto. Alguns beijos e uma manga rasgada bastariam.
Mas, Sebastian queria mais.
Ele ainda queria, seu pênis era um lembrete rígido do quanto, um lembrete de que nem mesmo o resfriamento de seu ardor poderia domar.
— Perdoe-me, — ele disse ironicamente por fim. — Parece que perdi a cabeça.
Palavras mais verdadeiras nunca foram ditas.
A senhorita Vanreid permaneceu estranhamente silenciosa para uma mulher que ele sabia ser muito franca. A tia gaguejou, em boa indignação, exigindo que a situação fosse corrigida. Carlisle fez sua parte, oferecendo um conforto sombrio.
— Calma, senhora Stanley — disse o duque. — Tenho certeza de que o duque fará as correções o mais rápido possível. Não é assim, Sua Graça?
Sebastian deu um aceno rígido.
— Por favor, aceite minhas sinceras desculpas pelo insulto que fiz a sua sobrinha esta noite, Sra. Stanley. Fique tranquila, pois contatarei logo de manhã para fazer uma oferta formal pela mão da Srta. Vanreid.
Isso pareceu rebater as críticas da tia.
— Uma oferta formal?
— Naturalmente, — ele mordeu fora. — Minha admiração por sua sobrinha é grande. Ficaria honrado em torná-la minha esposa. Enquanto isso, para amenizar o escândalo, você precisará levar a Srta. Vanreid para casa.
Tudo bem. Ele disse isso. Fez o que jurou que não faria, o que não tinha certeza se se permitiria no passeio de carruagem. No que diz respeito aos sacrifícios, este foi um dos últimos, independentemente de ser ou não concedida uma anulação na conclusão da missão como Carlisle prometeu. Casar-se com Daisy Vanreid era mais do que gostaria de ceder, mas tinha jurado proteger seu país. Se estava disposto a perder sua vida pela segurança de sua terra natal, então poderia muito bem se ajustar a qualquer mulher no mundo. Mesmo que ela fosse tão adorável quanto enganadora. Mesmo se ele tivesse motivos para suspeitar que ela possuísse potencialmente a astúcia e a letalidade de uma víbora.
Por Deus, ele manteria distância. Deixando de lado a aberração desta noite, é claro. Essa façanha foi necessária para garantir que o pai da Srta. Vanreid concordasse com o casamento. Havia algo acontecendo entre Vanreid e Lorde Breckly, cuja mãe era irlandesa. Por alguma razão Vanreid estava determinado a casar sua filha com um réprobo idoso. Vanreid estava ciente de que estava sob suspeita, e a Liga não podia ter certeza de que Vanreid teria aceitado o acordo de Sebastian, apesar de ele ser um duque.
Mas uma ruína testemunhada pela tia da moça não justificaria nada menos ou arriscaria atrair atenção indevida sobre Vanreid, e seus negócios obscuros com os fenianos.
E então ele fez tudo, exceto levantar as saias da Srta. Vanreid e pegar o que queria: tudo dela.
O que seu corpo queria, era isso. Pois não havia como negar o efeito que ela tinha sobre ele. Sua mente, entretanto, era diferente. Ele podia governar sua mente, e sua mente poderia, por sua vez, governar seus instintos mais básicos. Não tocaria em Daisy Vanreid novamente. Nem mesmo se Carlisle dissesse que a segurança da Rainha dependia de Sebastian se deitar com a megera.
A senhorita Vanreid finalmente quebrou o silêncio, interrompendo o turbilhão de seus pensamentos.
— Tia Caroline, temo que meu vestido esteja... em mau estado.
— Santos misericordiosos. — A tia realmente deu um soluço então, e ele se perguntou o quanto ela já havia caído naquela noite. — Como vamos conseguir tirá-la daqui sem causar um escândalo? Seu pai ficará furioso. Você está prometida a se casar com Lorde Breckly.
Carlisle falou, sempre o manipulador.
— Minha querida Sra. Stanley, felizmente, conheço bem o jardim, tendo sido um convidado aqui em muitas ocasiões. Acredito que haja um portão nos fundos do jardim pelo qual você e sua sobrinha poderão passar discretamente, sem que nenhum dos outros convidados saiba.
A tia foi tão veemente em sua apreciação que quase vibrou de gratidão. E outro soluço.
— Vossa Graça, estou em dívida com você por sua gentileza esta noite. Acredito que podemos ter sua — hicc — discrição completa neste assunto?
— Naturalmente, Sra. Stanley. Contanto que Trent esteja disposto a fazer as pazes casando-se com sua sobrinha o mais rápido possível, considerarei todo esse evento apagado da minha memória para sempre, — Carlisle assegurou.
A mandíbula de Sebastian apertou. Seu superior estava sendo um pouco dramático demais para seu gosto. Ele nunca se sentiu mais como um vilão do que então, cheio de uma vergonha combinada por seu compromisso intencional com a Srta. Vanreid e sua perda de controle. Como um agente secreto que passou os últimos doze de seus trinta anos a serviço do ramo de espionagem secreta de elite da Coroa, a Liga Especial, ele só precisou usar mulheres como peões algumas vezes, e detestou imensamente cada vez. Mas, ele nunca se casou com nenhuma delas.
Nem nunca quis nenhuma delas do jeito que desejava deslizar para dentro da senhorita Vanreid.
Sebastian empurrou o pensamento indesejável de sua mente.
— Ficarei mais do que feliz em tornar a Srta. Vanreid minha esposa o mais rápido possível, — forçou-se a dizer. — Mas, por enquanto, recomendo a Sra. Stanley e a Srta. Vanreid se despedirem antes de chamarmos mais atenção para o assunto. Numa situação perplexa dessa magnitude, ninguém será sensato.
— Espero você amanhã, meu jovem, — disse a tia embriagada, capaz de dar uma bronca nele, apesar do champanhe e do vinho que havia consumido naquela noite. — Você tem muito a responder.
Ele não estava acostumado a ser criticado ou chamado de — jovem— em vez de — Sua Graça.
— Claro, senhora. — Ele teve o cuidado de manter o tom arrependido. Não seria bom irritar a tia, que parecia estar se controlando com notável autoconfiança até então, mas que poderia perder a calma em qualquer momento graças ao seu estado de embriaguez.
A tia criando uma cena era a última coisa que qualquer um deles precisava.
Um público mais amplo causaria escândalo e ruína em torno da Srta. Vanreid, mas também impediria seus esforços como espião no processo. Quanto menos pessoas soubessem de seu escândalo, melhor. A pressa de suas núpcias seria alimento suficiente.
Mas isso era assunto para outro dia.
O trabalho daquela noite tinha ido bem, mesmo que isso o tivesse deixado estranhamente excitado e vazio ao mesmo tempo, como se sua consciência estivesse em guerra com seu pau. Ele se tornou perito em enterrar a culpa e banir as emoções de cada ação. Nenhum homem poderia manter segredos de todos ao seu redor com sucesso, mentir para os outros e matar por seu país, sem remover o sentimento fraco de sua vida como um membro infectado.
No entanto, apesar de tudo isso, apesar de uma dúzia de anos e missões que imaginou que o haviam endurecido tão certamente quanto um pedaço de carvão se formando na terra, sentia-se como um detestável completo ao encarar a Srta. Vanreid novamente ao luar. Ela permaneceu estranhamente quieta, exceto por sua única revelação do estado de seu vestido. Ele havia rasgado sua manga, causando danos irreparáveis a ela. Para os dois.
Por uma boa causa.
Mas que droga, se ele ainda não sentiu algo se deslocar dentro de seu peito quando pegou a mão enluvada da Srta. Vanreid na sua e a levou aos lábios para um beijo. Ele se curvou com uma formalidade de salão. Havia muitas razões para desconfiar dela, e nada sobre a atrevida sugeria inocência, mas havia uma pequena chance de que ela não fizesse parte dos esquemas diabólicos de seu pai. Que ela não tinha nada a ver com dinamite, tramas fenianas ou qualquer coisa mais malévola do que ser uma namoradeira horrível.
Claro, havia também a chance de que fosse tudo o que Carlisle suspeitava dela e pior. Que estivesse conspirando com McGuire. Que estivesse usando seus ardis contra ele para obter informações para o inimigo. Que tentasse causar danos — talvez até a morte — aos inocentes de Londres e, na verdade, a toda a Inglaterra.
De alguma forma, o último era difícil para ele conciliar com a mulher suave, perfeitamente curvada e totalmente bonita que ele beijou e segurou em seus braços. Ele respirou fundo, com cuidado para manter seu tom desprovido de qualquer emoção antes de falar.
— Senhorita Vanreid, eu sinto muito. Por favor, aceite minhas sinceras desculpas por qualquer insulto que lhe fiz esta noite.
Ela se inclinou para perto dele, o primeiro movimento real que fez desde que foram interrompidos sem cerimônia.
— Desculpas aceitas, Sua Graça, é claro. — E então, ela o surpreendeu ao se aproximar ainda mais, quase empurrando o seio em seu rosto. Seus lábios roçaram sua orelha enquanto ela sussurrava apenas para ele. — Mas você deve saber que eu não sinto muito.
Puta merda. Uma coisa era certa: Daisy Vanreid era um problema. Quanto antes ele pudesse mudar para uma nova atribuição e obter a anulação, melhor. Seu primeiro ato como marido seria encomendar a ela um guarda-roupa inteiro de vestidos de gola alta que se abotoassem até a garganta.
Capítulo 04
Uma emoção singular dominou Daisy quando acordou na manhã seguinte: alívio.
Ficou com ela, desabrochando em sua barriga como uma flor de verão, enquanto se vestia e fazia sua toalete com a ajuda da criada. Ela teve um cuidado extra ao escolher um vestido matinal de seda púrpura que realçava com vantagem sua pele e cabelo loiro. Abraçava suas curvas e tinha uma saia de babados elaborada e um enfeite de renda no corpete que chamava a atenção para seus seios.
Ela notou que os olhos do duque de Trent tinham tendência a permanecer ali. E na noite anterior, sua boca estava sobre ela. A lembrança fez com que o calor a inundasse, colorindo suas bochechas.
— Senhorita Daisy, você é uma visão com esse vestido, — disse Abigail enquanto ambas examinavam seus esforços no espelho.
— Não exatamente uma visão, — negou Daisy. — Mas isso vai servir, eu acho.
— Vai mais do que servir, senhorita. — Sua criada foi rápida em refutá-la daquela maneira efusiva que ela tinha feito. Abigail estava com ela desde que Daisy se lembrava, e seus sorrisos generosos e bajulação às vezes pareciam não naturais. — Não são muitas as mulheres que conseguem levar bem a cor berinjela, mas você pode reivindicar essa distinção.
— Obrigada, Abigail. Nós duas sabemos que eu não poderia levar nada se não fosse pela sua ajuda. Você é uma especialista com penteados. — Ela fez uma careta para seu reflexo, dissipando a imagem serena que apresentara.
Se havia algo que ela aprendeu em seus vinte anos de vida, foi que nunca deveria levar a si mesma ou a qualquer outra pessoa muito a sério. Uma vez, tinha feito isso e pagou caro por seus erros. Ela confiou e acreditou. Amou com a adoração fidelíssima de uma verdadeira ingênua. E ela tinha sido, como a criança advertida sobre um fogão quente, mesmo assim estendendo a mão para testar sua superfície escaldante, completamente queimada.
Os sonhos podem ser destruídos em um dia. Um coração pode ser facilmente partido.
Nada era para sempre. Nada estava certo.
Finalmente percebeu que não tinha escolha, nenhuma opção como uma mulher dependente de seu pai, de sua riqueza infinita e crueldade igualmente infinita, e ela se transformou em uma nova Daisy. Esta Daisy sabia como se vestir, como pentear o cabelo, sabia como flertar com um homem e atraí-lo para uma alcova escura para um beijo roubado. Manteve o coração longe da luva. Era descarada e ousada, e usou todas as armas de seu arsenal para conseguir o que queria.
A noite passada não foi diferente. Hoje não seria diferente.
A única coisa que importava era que finalmente alcançaria o que mais queria. Estaria livre do controle de seu pai, e livre de ser forçada a se casar com o repugnante Lorde Breckly.
— Tudo vai mudar para mim em breve, acho, — disse à criada com uma confiança que foi apenas ligeiramente abalada por saber que sabia muito pouco sobre o homem a quem logo se ligaria. Dois encontros e um abraço apaixonado dificilmente bastavam para chamá-lo de conhecido, quanto mais casar-se com ele. Mas o édito de seu pai tinha sido claro e seu retorno, junto com o anúncio de seu noivado com Breckly, era iminente. Colocada em tal posição, o que poderia ter feito de diferente?
Onde mais poderia ir em Londres, uma cidade relativamente estranha para ela, sem fundos e sem amigos para falar? Ela poderia vender sua fortuna em diamantes, tentar fugir e começar uma nova vida em outro lugar. Mas a única outra vez que tentou tal façanha, seu pai a encontrou com facilidade. Vender um magnífico tesouro de diamantes era uma forma de tornar o anonimato impossível. Sua volta ao lar lhe rendeu uma costela quebrada.
Quando ela deixou seu quarto e desceu as escadas para encontrar tia Caroline no salão, o alívio dentro dela diminuiu lentamente, deixando em seu rastro uma forte sensação de apreensão. Muito ainda pode dar errado. Seu pai ainda poderia recusar o casamento e exigir que ela se casasse com o noivo escolhido. O duque poderia decidir não oferecer por ela. Ou, pior, poderia acabar sendo um homem violento contra as mulheres. Ou um libertino. Ou algo igualmente odioso.
No momento em que ela entrou no salão para encontrar não apenas sua tia, mas também o duque de Trent, ela estava torcendo as mãos na cintura, um hábito horrível que nunca conseguia se livrar quando estava pouco à vontade. Não importa o quão impróprio fosse para uma dama. Quando seu olhar encontrou o do duque, ela parou, a meio caminho da soleira, e separou as mãos.
Uma explosão inexplicável de nervosismo a assaltou. Ele chegou cedo. Ou talvez, ela estivesse atrasada. Não tinha importância. Tudo o que importava era que ele estava aqui. Tinha vindo. E ele parou à frente dela na meia entrada da sala, jovial em sua jaqueta cinza e colete prateado, alto e taciturno e ainda mais bonito do que na noite anterior. Sua expressão possuía uma intensidade que parecia chamar toda a atenção dela. Todos os seus sentidos se concentravam no homem lindo que na noite anterior havia puxado seu corpete e levado seu seio nu em sua boca como se ela já fosse dele.
Nenhum homem jamais foi tão ousado com ela.
Pensar no calor úmido de sua boca em seu mamilo enviou uma dor entre suas coxas. Céus, ela tinha realmente acabado de pensar sobre tal coisa na luz brilhante da manhã, com sua tia como audiência? Que vergonha.
— Daisy — disse tia Caroline então, seu tom tenso com a mesma desaprovação que usara para ajustar sua roupa durante a viagem de carruagem para casa na noite anterior. — Você manteve Sua Graça esperando.
Daisy não conseguia desviar os olhos do duque, que a encarou com um olhar semelhante e extasiado.
— Me desculpe. — Tardiamente, ela percebeu que ainda não tinha entrado na sala. Forçou-se a seguir em frente com tanta graça quanto podia reunir enquanto seus olhos quase a consumiam. — Bom dia, Tia Caroline, Vossa Graça.
— Nenhuma desculpa é necessária, Srta. Vanreid, já que tal beleza vale a pena esperar, — disse o duque com charme suave.
Daisy se sentou em um sofá ao lado da tia.
— Você é muito gentil, duque.
Ele inclinou a cabeça, como se suas maneiras não permitissem que ele argumentasse. O ar ficou tenso quando o silêncio caiu sobre a sala ensolarada. Um relógio na cornija tiquetaqueando. Por fim, tia Caroline interrompeu o silêncio desconfortável.
— Como eu estava informando Vossa Graça antes de minha sobrinha chegar, o Sr. Vanreid chegará a Londres em breve. Ele estava trabalhando em Liverpool, mas foi informado da... situação. Ele telegrafou esta manhã para dizer que somente ele conduzirá todos os outros assuntos diretamente com você após seu retorno, Sua Graça.
Seu pai estava em Liverpool? Daisy pensara que ele ainda estava viajando pelo Atlântico. O conhecimento de que ele não estava, a incomodou e surpreendeu. Aparentemente, tia Caroline era mais informada dos negócios de seu pai do que Daisy. A constatação fez Daisy olhar para a tia com novos olhos. Ninguém sabia melhor do que Daisy o quão implacável e cruel seu pai podia ser.
O fato de seu pai querer tratar dos assuntos com o duque, entretanto, a angustiava ainda mais. Pois ele não havia enviado uma aceitação total de um casamento iminente. Um punho de pavor fechou-se no coração de Daisy.
Ela se recusou a acreditar que poderia estar tão perto da liberdade, apenas para ser contrariada.
Não.
Dois pares de olhos se voltaram para ela.
Ela disse isso em voz alta? Aparentemente sim. Ela enrubesceu.
— Tia Caroline, você não pode agir no lugar do pai?
As sobrancelhas de sua tia quase tocaram a linha do cabelo.
— Você não pode estar falando sério, mocinha. Encontramo-nos em uma situação insustentável provocada por sua própria imprudência impensada e comportamento perverso. Não me atreveria a falar em nome de seu pai. Posso imaginar que ele tem muito a dizer a você e a Sua Graça, e não posso pensar que nada disso será bom.
Bem. Parecia que tia Caroline decididamente não estava do lado dela. Supôs que não deveria se surpreender, pois sua tia estava sempre anunciando o ilustre casamento que seu pai planejara para ela com Lorde Breckly. Não era como se elas tivessem compartilhado algo mais do que a companhia uma da outra. Certamente nunca um abraço caloroso.
Tia Caroline não tinha filhos e não havia nada de maternal nela. Daisy sentia a familiar e antiga pontada de perda sempre que pensava em sua própria mãe, que se fora há tanto tempo que era nada mais do que uma mecha de cabelo pressionada atrás de um vidro em um alfinete de luto e uma lembrança sombria.
O duque pigarreou, sua expressão cada vez mais dolorida.
— Sra. Stanley, temo que a culpa dessa 'situação insustentável', como você a chamou, não deva ser atribuída a ninguém além de mim. Estou apaixonado por sua sobrinha desde que a vi pela primeira vez, e ontem à noite permiti que minha natureza vil prevalecesse. A única maneira de retificar o insulto que fiz à Srta. Vanreid é oferecendo casamento, o que pretendo fazer quando o Sr. Vanreid chegar.
Tia Caroline não era influenciada tão facilmente. Na ausência de vinho, ela era uma guardiã absoluta. Ela dirigiu uma expressão de extremo desagrado na direção do duque.
— Tenho certeza de que você ficou deslumbrado com a beleza de Daisy. Todo mundo fica. No entanto, há a questão de seu noivado iminente com Lorde Breckly a ser considerada agora. O Sr. Vanreid permanece estabelecido com o Lorde em questão.
O duque sorriu, mas não atingiu seus olhos.
— Tenho certeza de que você vai concordar que, dada a virada dos acontecimentos de ontem, um casamento entre Lorde Breckly e a Srta. Vanreid não é mais possível.
Ele não parecia mais feliz do que tia Caroline por estar envolvido nesta audiência matinal. Talvez ele se arrependesse de suas ações e desejasse poder se livrar por meios menos permanentes do que o casamento.
Mas era tarde demais. A tinta foi lançada. E Daisy não tinha intenção de se tornar Lady Breckly. O Sr. Vanreid permanece com o Lorde em questão. No entanto, certamente seu pai concordaria que um duque, mesmo aquele que a comprometeu, era um partido muito melhor do que um mero visconde. Certamente neste caso, senão em nenhum outro em sua vida, seu pai veria a razão.
Por um instante, a memória da última vez em que se decidira se casar com um homem voltou à sua mente. Ela o tirou de sua mente, guardando-o de volta no passado, onde pertencia. Os hematomas em seu corpo haviam desaparecido há muito tempo. O hematoma em seu coração demorou muito mais para desaparecer.
— Não posso presumir saber com o que meu irmão concordará, Vossa Graça — disse tia Caroline então, agitando ainda mais os temores de Daisy. — Ele deseja o melhor para minha sobrinha.
Isso foi uma falsidade flagrante. Seu pai desejava o que era melhor para si em todas as coisas. As palavras de sua tia sugeriam o que Daisy começou a suspeitar — que seu pai não abandonaria necessariamente o plano de casá-la com Breckly. O que era que o homem tinha sobre seu pai? Daisy gostaria de saber. Desejou que entender a teia emaranhada em que se encontrava. A cada dia, ficava mais e mais convencida de que seu pai estava envolvido em algo nefasto.
E aquele Padraig também estava.
Ela não sabia como as peças do quebra-cabeça se encaixavam, mas tudo o que sabia era que não queria fazer parte de nada dele. O simples pensamento da chegada de seu pai era o suficiente para deixá-la enjoada. Ela tinha estado liberta de sua presença, vivendo uma vida encantada em Londres, por dois meses. Seu retorno ameaçou mudar tudo.
O olhar do duque estava mais uma vez preso a ela, e ela não pôde evitar pensar que ele a avaliou, absorvendo muito mais do que ela teria preferido. O que quer que ele tenha visto em sua expressão, o fez voltar para a tia Caroline com uma carranca severa.
— Sra. Stanley. — Seu sotaque era perfeitamente modulado, nítido. — Tenho certeza de que o Sr. Vanreid achará meu pedigree impecável. Até que ele chegue e possamos ter certeza de sua bênção, entretanto, gostaria de sua permissão para cortejar formalmente a Srta. Vanreid, começando com uma volta pelos jardins. Você é favorável a isso?
Tia Caroline parecia exatamente o oposto de favorável, mas ela se deparou com um enigma espinhoso: insultar um duque ou aderir a sua lealdade equivocada ao irmão. Seus lábios se comprimiram em uma linha firme.
— Muito bem, — ela cedeu. — Mas você não pode sair da janela de vista, Sua Graça. Eu estarei observando.
Um sorriso curvou o canto de seus lábios sensuais, seu primeiro verdadeiro sinal de leviandade até agora.
— Naturalmente, senhora. Não aceitaria de outra maneira.
Sebastian guiou a Srta. Vanreid para o ar fresco da manhã, muito ciente do brilho direcionado para suas costas pela tia. Ela era muito mais formidável quando não estava confusa com a bebida, disso era certo. Assim como também era certo que a mulher segurando seu braço com um aperto de algema temia o pai.
E, a menos que seus instintos estivessem errados, ela temia muito o pai. Ele reconheceu o brilho em seus olhos, o conjunto tenso de seus ombros, a maneira como ela parecia se retirar. Toda a coragem, ousadia e brilho de Daisy Vanreid murcharam e morreram na sua frente, no salão com a menção do retorno de seu pai.
Parte dele sabia que não deveria dar a mínima para os terrores do passado que assombravam a bela sedutora ao seu lado. Mas outra parte, uma que não se importou em examinar muito de perto, sugeriu que aprender a história por trás da angústia da Srta. Vanreid o ajudaria em sua causa.
Quanto mais informações pudesse descobrir sobre Vanreid, melhor. Talvez ganhar a confiança da filha também trouxesse algumas informações adicionais. Se ela estava envolvida nos planos da dinamite, mostrar sua bondade poderia ser uma forma de contornar quaisquer barreiras que ela tentasse erguer entre eles.
Havia também a questão preocupante que ele realmente sentiu... algo quando notou o terror sutilmente reprimido da Srta. Vanreid. O fato de ter sentido qualquer coisa o irritou. Ele era treinado, droga. Não deveria sentir nada. Sem emoção, sem pena, e certamente sem gentileza. Sem preocupação ou cuidado.
Absolutamente não protetor.
Ele se recusou a acreditar que qualquer uma dessas emoções era a fonte do estranho aperto em seu peito quando parou com ela agora, pouco antes de uma roseira adormecida e ainda à vista de sua tia desaprovadora. Onde estava uma garrafa de champanhe e o duque de Carlisle quando precisava dele? Perguntou-se severamente.
Sebastian olhou sem ver os jardins desidratados por um momento antes de se virar para a Srta. Vanreid. Tentou não notar como ela era bonita, mesmo de perfil. Ao ar livre, longe de sua tia e do espectro crescente de seu pai, ela ofuscava o sol. A púrpura de seu vestido realçava sua pele cremosa e os cachos polidos de seu cabelo espesso. Tudo no vestido, desde a cintura apertada até o enfeite de renda, foi pensado para chamar a atenção para sua figura impecável e a curva doce de seus seios. A túnica que ela vestiu para afastar o ar frio fez pouco para esconder sua bela figura.
Droga, ele pensou enquanto examinava seu perfil, um guarda-roupa de vestidos que abotoavam até o pescoço não seria o suficiente para domar sua beleza ou seu efeito sobre ele. Puta merda. Talvez não seja sensato realizar essa tarefa completamente.
Mas não. Ele tinha um dever. Fez um juramento. A vida de tantos inocentes estava em perigo.
— Senhorita Vanreid, — ele rosnou, perturbado com o tumulto que ela desencadeou. — Você parecia pouco à vontade no salão. O que te causa tanto sofrimento?
Ela ficou em silêncio, aparentemente absorta em um estudo das roseiras adormecidas.
— Não desejo me casar com Lorde Breckly, Vossa Graça. — Sua voz era baixa, sem tom. — É sua intenção se casar comigo?
Casar-se com ela? Tudo dentro dele gritava não. Para cama com ela? Tudo dentro dele gritava sim. Seu pênis subiu contra suas calças e ele se mexeu ligeiramente para minimizar a evidência de seu efeito extremo sobre ele. Ela era uma anomalia. Enigmática, bela, sedutora, mas também quieta e imbuída de uma tristeza que ainda não compreendia. Ele iria conhecê-la. Aprenderia cada um de seus segredos antes que ele terminasse.
— Seria uma honra, Srta. Vanreid, torná-la minha esposa, — mentiu.
Ela virou-se finalmente, submetendo-o a toda a força de sua beleza inegável.
— Você já bateu em uma mulher?
Sua pergunta tirou o ar de seus pulmões. Que tipo de mulher perguntava uma coisa dessas? Do tipo que foi abusada, seus instintos lhe disseram. Do tipo que procurava evitar se enredar em uma situação semelhante àquela em que já se encontrava.
— Claro que não, — respondeu após seu choque, parando por um momento para ler sua expressão. — Você confia em mim?
Ela apertou os lábios, demorando para responder.
— Sei pouco sobre você, Sua Graça, então se disser que confio, implicitamente faria de mim uma mentirosa.
Ah, havia franqueza, ele supôs, apontada como uma adaga.
— Tal sabedoria de alguém tão jovem é uma raridade.
Quando as palavras o deixaram, percebeu o quão pomposo parecia. Que ducal. Ele não quis dizer que ela não era inteligente. Longe disso, seu intelecto e sua ousadia eram os dois traços que mais o atraíam. Qualquer pessoa pode ser bonita. Mas nem todo mundo pode ser ousado, inteligente e destemido. A lady diante dele — inimiga dúbia da Coroa ou não — era todas essas coisas.
Ela era o tipo de mulher que, em tempos diferentes, ele teria orgulho de chamar de duquesa. Dadas as circunstâncias, a nuvem duvidosa de suas associações e o fato de que ele tinha sido acusado de vê-la como uma inimiga, seus sentimentos neste momento não poderiam estar enraizados em nada menos racional do que o dever. Para o espião, o controle era tudo. As emoções tinham que ser extirpadas com cuidado, como infecção de uma ferida, do contrário todo o membro precisaria ser amputado.
Pensamento sombrio, isso. Mas adequado.
Ela endureceu, alheia à inclinação perturbadora de seus pensamentos, seu queixo se ergueu em um desafio arrebatador.
— A idade é um indicador enganoso de inteligência, Sua Graça.
— Realmente, — reconheceu, dando um passo em sua direção. As saias dela ondulavam em suas calças. Seu cheiro o envolveu. A manhã estava mais uma vez estranhamente quente, mas ainda fria, então ele não podia ter certeza se o tremor quase imperceptível que passou por ela naquele momento era do frio ou de alguma outra coisa. — Você é sábia em negar sua confiança até que seja merecida. Mas, saiba que eu nunca causaria mal a você intencionalmente.
Isso era mesmo verdade? Inferno, ele não sabia mais. Nunca iria bater nela. Nunca lhe traria dor física. Algo mais? Ele não podia prometer. Seu tempo com ela era tão efêmero quanto a própria vida.
Seus grandes olhos verdes, vibrantes neste jardim adormecido de marrons desbotados e musgo murcho, sondaram os dele.
— Você deve saber que eu não tenho escolha, Sua Graça. Se você é um homem desonesto, nenhuma dor que você pudesse me fazer superaria aquela que já suportei. Perdoe-me pela minha honestidade, mas você é o menor de todos os males, tanto quanto posso discernir.
O olhar dela não se desviou, e ele soube então que parte do enigma que era Daisy Vanreid havia sido lhe revelado. Uma sensação desconhecida, preocupante e tensa, cresceu dentro dele quando a compreensão total se estabeleceu. Havia apenas uma conclusão aqui que fazia sentido.
Gentilmente, ele tocou seu cotovelo, não desejando causar-lhe mais angústia.
— Seu pai bateu em você, querida?
Ela desviou o olhar em um sinal claro de que tinha adivinhado corretamente.
— Claro que não.
— Senhorita Vanreid, — ele pressionou, pegando seu queixo teimoso e guiando seu rosto de volta. — Daisy. Se devo ajudá-la, você deve ser honesta comigo. Seu pai infligiu violência contra você?
Ela fechou os olhos e respirou fundo.
— Sim. — A vergonha impregnou seu tom.
Lá estava de novo, aquela sensação espiralada em seu peito. O aperto. Uma fúria cruel e crua acendeu dentro dele. Seu pai a havia golpeado. Mais de uma vez. Ele causou sua dor, fez sua violência. Um desejo primitivo de defender sua rosa, lutando pela supremacia sobre todas as outras emoções. Até por seu trabalho como espião. Ele não questionou. Não pensou duas vezes.
— Ele nunca levantará a mão para você novamente, uma vez que for minha esposa, — prometeu, sua voz tremendo com o furor preso. — Isso eu juro. Nem vou abusar de você de qualquer maneira.
Essas eram promessas que poderia fazer.
Jesus, essas eram as únicas promessas que poderia fazer.
A Srta. Vanreid — a beleza vibrante e sedutora que nunca se rebaixou ou deu uma chicotada desde que ele a estava observando — tremeu sob seu toque. O cínico nele o lembrou de que tudo poderia ser um ardil. Alguém tão ousado e livre com sua reputação como ela, parecia estar em desacordo com a mulher vulnerável e assustada diante dele agora.
Seu treinamento, porém, o levou a acreditar na sinceridade dela. Talvez o verdadeiro ato tenha sido a Daisy Vanreid que ela mostrou ao mundo, porque por dentro ela estava apavorada e desesperada para escapar das garras do pai. Tão desesperada que se jogaria nos braços de qualquer homem que a pegasse.
— Não posso ter certeza de que ele permitirá uma união entre nós, Sua Graça, — ela sussurrou, como se temesse que sua tia pudesse de alguma forma distinguir o diálogo deles mesmo dentro da elegante casa em suas costas. — Por alguma razão, ele decidiu que eu deveria me casar com o visconde Breckly. Tia Caroline diz que eles chegaram a um acordo sobre minha mão. O anúncio do noivado estava apenas aguardando a chegada de meu pai.
Havia algo realmente suspeito sobre a determinação de Vanreid de casar sua única filha com um réprobo envelhecido. Ele arriscaria supor que o ímpeto tinha algo a ver com a propriedade ancestral de Breckly na Irlanda. Ele era um homem bastante influente em seu país. Claramente, Sebastian precisaria investigar melhor a conexão entre os dois homens.
A senhorita Vanreid parecia ser o cordeiro em sacrifício que os unia. E relutantemente, pelo jeito das coisas, não podia culpá-la. Ninguém tão adorável, jovem e atraente como ela deveria ser selada com um velho imbecil como marido. O mero pensamento de Breckly em sua cama era o suficiente para deixar Sebastian enjoado.
— Acho curioso que você acredite que seu pai preferiria um mero visconde a um duque que é muito mais próximo de você em idade. — Ele procurou em sua expressão por qualquer sinal de que ela sabia mais do que aparentava.
Mas os olhos musgosos dela nunca se desviaram dos dele.
— Eu também, Sua Graça. Parece haver uma razão para a preferência de meu pai quanto ao pretendente, mas não consigo pensar em nada que recomende Lorde Breckly.
— Nem eu. — Ele notou que uma pequena mecha de cabelo escapou intencionalmente de sua touca para se enrolar contra sua orelha, e antes mesmo que percebesse o que estava fazendo, a segurou com os dedos. Era tão sedoso e macio como ele imaginou que seria, e dane-se se ele não conjurasse uma imagem dela com o cabelo solto, aquelas ondas douradas caindo sobre seus ombros. Nua. Em sua cama.
Bom Deus.
Ele ficou rígido em suas calças. Era um efeito que ela parecia exercer regularmente sobre ele. Um que não podia controlar, independentemente da natureza séria de sua designação ou do fato de que ainda não podia confiar nela e não tinha intenção de ser um verdadeiro marido. Quanto antes eles pudessem obter uma anulação, melhor. Mas primeiro, precisava se casar com ela.
— Eu não quero me casar com Lorde Breckly, — ela disse de repente. — Meu pai... quando voltar, não sei o que irá fazer.
Suas palavras efetivamente esfriaram seu ardor. Ele colocou o cacho errante atrás da orelha, cortando sua conexão física, pois isso nublou seu julgamento.
— Você tem motivos para temê-lo?
Ela fechou os olhos, prendendo a respiração. Suas pálpebras se abriram novamente, lágrimas não derramadas brilhando e transformando seus olhos em um tom ainda mais brilhante de verde.
— Não posso estar aqui quando ele voltar. Eu não vou. Nem vou me casar com Lorde Breckly. Farei qualquer coisa, Sua Graça. Qualquer coisa.
Sua veemência atingiu um acorde dentro dele. A verdade é que Carlisle havia obtido uma licença de casamento pelo registrador. O bastardo cauteloso já o tinha sob controle antes mesmo de se dignar a informar Sebastian da necessidade de se casar com a Srta. Vanreid. Ele nunca deixaria de surpreendê-lo com o quanto poderia ser realizado — quantas leis e regras poderiam ser ignoradas, postas de lado e quebradas — em nome da segurança da Inglaterra. A Liga era sombria, mas onipotente.
Ele decidiu-se. Não haveria nenhum cortejo para Vanreid como Carlisle queria, nem nenhuma insinuação para o pai da Srta. Vanreid na esperança de ganhar sua mão de uma maneira apressada, mas, no entanto, adequada. Sebastian era um espião e sua aliança era com a Inglaterra, mas ele também era um cavalheiro. E não havia nenhuma maldita maneira de ficar de braços cruzados sabendo que ela seria brutalizada por ações que eram de sua própria responsabilidade.
Havia peões, e depois, havia peões. Nunca lhe pediram para descer a este nível antes, para arriscar sua própria descendência, a linha do ducado de Trent, em nome da Coroa e do país. Para se casar com uma mulher que ele nada sabia, uma mulher que poderia ser uma traidora, uma espiã ou pior. Para fechar os olhos para ao fato de que seu pai claramente batia nela com frequência e forte o suficiente para aterrorizá-la.
Isso ele não faria. Não entregaria Daisy Vanreid a nenhum inferno que fosse maior do que aquele que ela já havia estado.
— O quanto de liberdade você tem aqui? — Perguntou secamente.
— Nenhuma, a menos que tia Caroline esteja distraída de outra forma.
Ele conhecia o tipo de distração que atrairia a querida tia Caroline. Carlisle tinha um rosto pelo qual as mulheres desmaiavam. Cristo sabia por que, na maior parte do tempo, Sebastian ansiava por cravar o punho no queixo arrogante do homem. Apenas seu juramento o manteve longe do caos.
— Se a tia Caroline tiver distração suficiente amanhã à tarde, você acha que poderia ir embora sem avisar ninguém? — Perguntou, saboreando a perspectiva de informar a Carlisle que ele precisava dançar com uma harpia de meia-idade com uma queda por bebidas alcoólicas e homens. Talvez não nessa precisa ordem.
Os olhos da Srta. Vanreid se arregalaram.
— Acredito que poderia. O que você tem em mente?
— Às duas horas de amanhã, e você vai descobrir. — Ele forçou seus olhos para longe do adorável rosto voltado para cima da Srta. Vanreid bem a tempo de ver sua tia avançando em direção a eles, as saias balançando com indignação. Parece que ele ficou muito tempo sob o sol e a presença decadente da Srta. Vanreid. — Estarei esperando em uma carruagem sem identificação. Traga apenas o que você precisa.
— Minha consciência exige que eu o avise que meu pai quase certamente rescindirá meu dote se eu o desafiar, Vossa Graça, — ela começou, apenas para que ele a interrompesse.
— Não exijo o seu dote. Embora seja um fato bem conhecido que muitos de meus colegas são bolsos vazios, não preciso temer a penúria. Tenho uma quantia substancial própria, então você não precisa se preocupar com isso. — Ele fez uma pausa enquanto a tia se aproximava cada vez mais. — Acredite que irei me certificar de que seu pai nunca mais coloque as mãos em você novamente.
Ela deu um suspiro de alívio, como se ele tivesse acabado de resgatá-la das garras da ruína certa.
Mal sabia ela que sua espiral descendente estava apenas começando. Não haveria punhos ou força bruta contra ela. Mas haveria um acerto de contas. Ele determinaria o quanto ela sabia e se ela era cúmplice ou não. E se ela fosse cúmplice, seu pai seria o menor de seus medos.
Capítulo 05
— estarei de volta em instantes, — Daisy disse a sua tia Caroline mais tarde naquela tarde, quando a carruagem parou do lado de fora de uma chapelaria. Felizmente, a partida do duque deixou sua tia tão exausta que ela bebeu vários copos de porto. Como resultado, Daisy a convenceu a permitir uma excursão que tia Caroline normalmente não aprovaria. Especialmente porque a honra de Daisy tinha sido comprometida recentemente.
Mas Daisy não se importou. Ela precisava ver Bridget, e faria isso de qualquer maneira.
Sua tia soluçou.
— Não acho que você deveria se aventurar sem acompanhante. Seu pai não aprovaria.
— Eu tenho Abigail, — argumentou sobre sua criada. — Estaremos de volta na carruagem em um piscar de olhos.
Claro, havia a possibilidade natural de que sua tia simplesmente cochilasse nos confins quentes da carruagem onde esperaria pela sua volta, o que tornaria as coisas muito mais simples. Ela sabiamente se absteve de dizer isso.
Sua tia resmungou.
— Muito bem. Mas vou te dar cinco minutos, e cinco minutos apenas. Você sabe que aquela garota não é...
— Estou ciente — interrompeu Daisy bruscamente, para que sua tia embriagada deixasse que quaisquer segredos de família escapassem de seus lábios na frente de sua criada. — Voltarei rapidamente. É tudo muito correto, tia.
A boca de tia Caroline se apertou em um nó de desaprovação.
— Seja rápida, então.
Daisy não demorou mais um segundo antes de descer da carruagem com a criada seguindo seu rastro. Ela esperava sinceramente que Bridget estivesse de plantão hoje, pois não teve tempo de mandar uma mensagem.
Dentro da chapelaria, a cena era familiar — um bando de chapéus em exibição, todos na primeira moda. A loja era excelente e Bridget ocupava um cargo sênior, embora Daisy preferisse que ela tivesse ouvido a razão e vindo para ficar com ela e a tia Caroline. Bridget, é claro, fora igualmente teimosa em sua recusa e veemente em sua antipatia por Daisy.
Mas Daisy estava decidida e, por isso, continuou a visitar a chapelaria sempre que podia para ver a meia-irmã que sempre soube que existia a um oceano de distância, mas que nunca conheceu até chegar a Londres. Como uma menina solitária, Daisy sonhava em conhecer a irmã mais velha nascida fora do casamento, concebida durante os primeiros anos do casamento de seus pais. Para seu pai, Bridget era um sinal de vergonha. Para Daisy, era família. Daisy a procurou imediatamente, mas ela não a recebeu com as boas-vindas que esperava.
Tempo, lembrou a si mesma. Sua irmã precisava de algum tempo para tratá-la com carinho. Daisy sabia que os primeiros anos de Bridget na Irlanda não foram fáceis. Sua mãe morreu quando ela era apenas uma menina, e ela tinha vindo para Londres para sobreviver. Embora a vida de Daisy também não tivesse sido fácil, ela conhecia a riqueza e os privilégios.
A própria Madame Villiers estava no térreo hoje, seus cachos de mogno artisticamente arranjados, uma franja da moda cortando sua testa alta.
— Como posso ajudá-la, mademoiselle?
Daisy sorriu.
— Gostaria que dez de suas mais novas criações, por favor, madame, fossem entregues imediatamente em meu endereço. Confio no seu senso de moda impecável implicitamente.
Os olhos de Madame Villiers brilharam.
— Mas é claro, Mademoiselle Vanreid. Não daremos nada além do melhor, les meilleurs chapeaux. Nossos designs rivalizam com os da moda parisiense.
— Mudei de ideia, madame — disse Daisy em voz alta o suficiente para levar aos outros clientes que circulavam por ali. — Eu gostaria de quinze dos seus melhores.
A mulher sorriu, parecendo nada mais do que um felino satisfeito. Suas criações, embora procuradas, eram preciosas. Uma encomenda de quinze chapéus valia uma bela soma.
— Naturellement. Teremos o maior prazer em enviar quinze dos nossos melhores para a célebre herdeira, Mademoiselle Vanreid, que todos em Londres admiram. Estamos muito honrados.
Perfeito. Felizmente para Daisy, Madame Villiers não exigia muita bajulação para recorrer a linguagem bombástica. Em uma voz muito mais baixa, ela disse apenas para os ouvidos da modista:
— E, é claro, se a Srta. O'Malley estiver de serviço, gostaria de receber uma palavra.
— Ah, oui, — disse Madame, em um tom igualmente moderado. — Acredito que você encontrará a Srta. O'Malley em seu posto usual, trabalhando com as penas.
— Merci, — disse Daisy, em voz baixa, antes de instruir sua criada a esperá-la na loja principal. Sua meia-irmã precisava dela, e Daisy devia muito a ela. Ela havia sido criada em uma vida de privilégios e fartura enquanto Bridget sofria. Ela tinha jurado cuidar para que sua irmã fosse sempre mantida, e uma união com o duque poderia colocar essa promessa em questão.
Era algo que ela não havia considerado em seu desejo egoísta de ganhar sua própria liberdade de um casamento insuportável com Breckly. Mas ela não esqueceria sua irmã, nem lhe daria as costas. Tanto dependia dela agora. O peso de tudo isso ameaçou consumi-la.
Ela mantinha a esperança de que Trent possuísse um lado mais suave, uma compreensão. Ele tinha jurado protegê-la contra a ira de seu pai, não tinha? No entanto, quase parecia bom demais para ser verdade, a perspectiva de libertação da tirania e da violência.
No entanto, ficou pendurado lá, uma isca tenuamente ao seu alcance. Dela, se apenas a pegasse.
Daisy entrou discretamente na sala indicada por madame Villiers. Lá dentro, sua meia-irmã estava sozinha. Bridget, esforçando-se para posicionar corretamente uma pena de avestruz, parou ao entrar. Apesar de seu cabelo negro e do fato de que ela teve uma mãe diferente, as feições de Bridget eram muito parecidas com as de Daisy. Elas tinham três anos de diferença de idade, e mundos de diferença em todos os outros aspectos, exceto na aparência.
Ela prendeu Daisy com uma carranca proibitiva agora.
— E o que você está fazendo aqui, Srta. Altíssima e Poderosíssima herdeira?
Quando o duque de Carlisle deu uma festa privada em seu endereço em Belgravia, ele envergonhou os antros do vício de elite. Sebastian percebeu a decadência diante de si com um olhar preconceituoso. Alguns dos homens mais poderosos da alta sociedade lotaram o salão de baile, girando com o crème de la crème dos cipriotas londrinos. Champanhe fluiu em abundância. As senhoras estavam pintadas e seminuas, os homens já bêbados. E maldição, se ele não sentiu o cheiro enjoativo de ópio no ar.
O ópio provavelmente emergia de uma das salas circundantes, onde o duque mantinha quartos dedicados ao pecado. Em sua lenta perambulação, Sebastian notou uma sala onde uma mulher nua servia como prato de delicatessen, uma sala envolta em baixa iluminação com almofadas no chão, e ainda outra onde os casais entravam e saíam em vários estágios de nudez.
Festas sensuais como esta eram o que Carlisle considerava — esconder-se à vista de todos, — um dos melhores meios de se comunicar e manter sua fachada sem levantar suspeitas. Se todo o mundo educado o considerasse um libertino dissoluto, ninguém estaria inclinado a questionar as companhias que ele mantinha. De sua parte, Sebastian adotou o mesmo estilo de vida voluptuoso, sem as festas hedonísticas que duram a noite inteira.
Ao contrário de Carlisle, ele precisava dormir.
Aceitou uma taça de champanhe de um criado carregando uma bandeja dourada, e fingiu tomar um longo gole. Na verdade, ele precisava de uma cabeça limpa esta noite, pois o último de seus planos seria posto em prática. E ele com certeza precisaria de uma cabeça limpa no dia seguinte, quando enfrentasse o equivalente matrimonial da forca.
Por mais que seu corpo reagisse à ideia de Miss Daisy Vanreid se tornando sua esposa, sua mente não podia deixar de sentir exatamente o oposto. Ele aprendeu há muito tempo que seu corpo era fraco. Sua mente estava mais forte. Poderia aproveitar sua atração inconveniente por ela em uma energia mais focada — perseguindo os conspiradores antes que eles ferissem ou assassinassem centenas de civis inocentes.
Fingindo mais um gole de champanhe, ele deu uma olhada discreta no relógio de bolso. Graças a Deus. A hora marcada havia chegado. Com cuidado para se misturar aos foliões barulhentos, ele saiu do salão de baile e fugiu para o portal secreto escondido atrás dos elaborados painéis de madeira rococó que enfeitavam o grande salão. Ele se certificou de que estava sozinho antes de localizar o mecanismo atrás de um pergaminho que permitia que a porta se abrisse para dentro.
Carlisle já o esperava enquanto o painel se fechava em suas costas. A sala oculta foi mantida intencionalmente esparsa para que um criado jamais descobrisse inadvertidamente sua existência: uma escrivaninha, duas cadeiras, uma lâmpada, decantador e copos. Parecia nada mais do que um lugar onde um homem ofendido poderia ter escapado de sua esposa bruxa para uma bebida pacífica.
Exceto que Carlisle não tinha uma esposa, e o único propósito da sala oculta era de natureza muito mais clandestina. Tinha ocorrido com os últimos dois duques, e continuaria se Carlisle tivesse um filho. A Liga fez juramentos que se estendiam à sua descendência. Com o título, veio o fardo. E antes disso, uma vida inteira de preparação.
O duque estava sentado, um copo de uísque à mão.
— Você se encontrou com ela?
Sem saudação. Sem pretensão de amizade. Mas Sebastian estava acostumado com Carlisle agora.
— Sim, — confirmou, caminhando pela pequena sala e dobrando seu corpo em uma das desconfortáveis poltronas de frente para seu superior em comando. — De acordo com a tia e a garota, é improvável que Vanreid altere o curso de uma união entre a Srta. Vanreid e Breckly. Eu a encontrarei clandestinamente amanhã à tarde e nos casaremos imediatamente. Mas você tem certeza de que é necessário que eu me case com a garota?
Carlisle permaneceu impassível. O homem não tinha consciência, disso Sebastian tinha certeza. Muito provavelmente nenhuma alma também.
— O casamento é uma necessidade, então faça o que deve. Precisamos de um motivo para nos mantermos próximos a ela e a Vanreid, McGuire e o resto dos conspiradores. Prendê-los agora só prejudicará nossos esforços e, do jeito que está, não temos o suficiente contra eles para mantê-los na prisão por muito tempo. Precisamos de mais informações.
— Informações que você espera que eu adquira, — Sebastian terminou por ele.
Carlisle inclinou a cabeça.
— Você fez bem em se entrincheirar na vida de um canalha. Depois de se casar com a garota, você abordará Vanreid sobre um dote, fazendo parecer que você a arruinou intencionalmente para que pudesse se beneficiar com a união. Pressione-o para obter informações sobre sua fábrica de armas de fogo e o comércio ilegal de armas que pratica aqui.
O estratagema parecia totalmente transparente.
— Você espera que ele confesse que está envolvido na venda ilícita de armas nas ruas de Londres para um homem que comprometeu sua única filha e arruinou o casamento que pretendia para ela? Perdoe-me, mas isso parece muito improvável.
— A ganância nunca é improvável, especialmente com o tipo de Vanreid, — disse Carlisle. — Entendo sua aversão a esta missão, mas você não pode permitir que isso atrapalhe o que deve ser feito. Por mais desagradável que seja esse arranjo, estamos travando uma batalha única. Temos homens em roupas civis, misturando-se com gente comum nas ruas, com a intenção de matar inocentes. Tempos extraordinários exigem medidas extraordinárias. Se pudermos colocar Vanreid na prisão por causa das armas ilegais, é lógico que poderemos negociar com ele por muito mais informações. Os nomes de todos os conspiradores podem estar ao nosso alcance.
Droga. Não haveria prorrogação da última hora para ele em tudo, parecia.
— Terei uma anulação sem qualquer repercussão? Não encaro meu dever familiar levianamente. Um dia, vou precisar de um herdeiro.
Ele não iria — não poderia — sacrificar o futuro do ducado a um casamento forçado com ninguém, muito menos com alguém tão inescrutável como Daisy Vanreid. Uma mulher que poderia estar conspirando contra seu país e seu povo.
O duque inclinou a cabeça.
— Seu serviço para a Coroa será recompensado. Tenho todas as suspeitas de que esta operação terminará com a prisão da Srta. Vanreid, o que só ajudará à sua causa.
Um arrepio de pressentimento percorreu impiedosamente sua espinha. Não importava o quanto ele desconfiava dela, a ideia de Daisy presa fazia seu peito se apertar.
— A prisão dela?
— Sim. — A expressão do duque endureceu como mármore rival. — Tenho vários olhos nela. Esta tarde, ela se encontrou com uma vendedora irlandesa que se acredita estar ligada as tramas. A garota foi vista conhecendo vários suspeitos fenianos aqui em Londres.
Jesus. Ele permitiu que a informação vasculhasse seu cérebro. Claro, ele não ficou chocado ao saber que Carlisle tinha outros agentes seguindo a Srta. Vanreid. Sebastian tinha a tarefa exclusiva de segui-la em eventos sociais e aprender o máximo que pudesse sobre seus hábitos e associações, tudo o que ele havia feito com lealdade. Mas as evidências — evidências verdadeiras — de sua cumplicidade em qualquer campanha de dinamite pareciam implausíveis, na melhor das hipóteses.
— A senhorita Vanreid não apresentou qualquer indicação de culpa para mim, — disse rigidamente. Uma estranha onda de algo passou por ele. Defesa? Em nome de uma mulher que mal conhecia? Que absurdo.
E, no entanto, lá estava ele, à espreita como um convidado indesejado. Inegável.
Carlisle levantou uma sobrancelha, sua expressão parecendo nada mais do que um abutre que cheirou carniça.
— Se você desenvolveu uma fraqueza pela garota, talvez seja melhor enviar outro homem em seu lugar amanhã. Briarly faria o mesmo, eu acho.
Maldito seja o inferno. Briarly era um filho-da-puta insensível, membro da Liga ou não, e a ideia dele suplantando Sebastian no dia seguinte não caía bem. De modo nenhum. O homem permitiu que seis pessoas morressem queimadas dentro do prédio de um comerciante em Cheapside, e quase matou Sebastian no processo. O incêndio destruiu o local, resultando em um espetáculo tão severo que até o Príncipe de Gales visitara as ruínas carbonizadas no dia seguinte. O público em geral nunca saberia a verdadeira história do que aconteceu, mas Sebastian nunca iria esquecer. Desde aquele dia, nunca mais tolerou a presença de Briarly. E Carlisle sabia disso.
— Ela é uma lady, Carlisle. Você não pode simplesmente casá-la com quem você quiser.
— Ela é um peão, e seria bom lembrar disso. — A voz do duque era fria como o gelo do lago Wenham. — Além disso, ela pode ser perigosa. Não deixe que um rosto bonito e um par de peitos atraentes o distraiam de seu objetivo principal, Trent. Eu vi o jeito que você a tocou ontem à noite, e sei que você a quer, mas não pode tê-la. Ela é um veneno para você. Vidas estão em jogo. Repito: se você não pode cumprir sua missão, eu o tiro da tarefa. Briarly é mais do que qualificado. O incidente em Cheapside não poderia ter sido evitado e seu histórico permanece excelente aos olhos da Liga.
Sebastian apertou sua mandíbula. Com certeza, bom Briarly não era. Mas ele não precisava ser repreendido ou lembrado dos riscos que todos correram em nome de manter a Inglaterra a salvo dos canalhas sedentos de sangue que procuravam espoliá-la. Também não gostou de ser repreendido e ameaçado, mesmo que parte dele interiormente admitisse que era merecido. Ele era um bom espião, droga, um dos melhores.
O que havia em Daisy Vanreid que afligia sua mente? Não era sua beleza inegável, pois ele viu e se deitou com muitas mulheres adoráveis. Tampouco era sua fortuna, pois ele próprio possuía uma soma formidável graças ao serviço de seu pai à Coroa e a gerações de investimentos moderados. Não era sua atração indesejada por ela. Outras mulheres tinham deixado seu pau duro antes. Outros iriam atrás dela.
Que diabo foi isso, então? O desgosto próprio guerreou com irritação.
— Não pensei duas vezes nos seios dela, — mentiu com uma altivez gelada que combinava com os de Carlisle. Ele os havia tocado, por Deus, beijado as ondas cremosas que ele exibiu ao luar. E eram mais macios do que seda. O tipo de tentação que mal podia suportar. O tipo de tentação que trovejava em suas veias com uma potência muito mais atraente do que qualquer droga ou espírito.
— Daisy Vanreid é um meio para um fim. — O duque deu uma lenta tragada no uísque, prolongando o ar de reprovação que pairava pesado entre eles na minúscula sala secreta.
— Ela foi espancada pelo pai, — informou a Carlisle, esperando que a revelação pudesse oferecer uma explicação para ambos sobre o motivo de Daisy Vanreid, por todos os relatos, uma sereia indigna de confiança, potencialmente cúmplice de um círculo perigoso de aspirantes a assassinos, afetá-lo do jeito que ela fez.
— De acordo com a lady, eu imagino? — A voz de Carlisle gotejava com escárnio. — Meu Deus, homem, o fogo apagou toda a memória do treinamento de sua mente? Ganhar a simpatia de seu alvo é um dos truques mais antigos do maldito livro.
Claro que era, mas seu treinamento e sua experiência haviam mostrado a ele como reconhecer a verdadeira emoção e o verdadeiro medo quando o via. O medo pode ser capitalizado, manipulado para obter uma vantagem sobre o oponente com relativa facilidade. No caso da Srta. Vanreid, seu medo apenas o deixou fraco. Porque algo — algum instinto profundo em seu intestino — lhe disse que ela era inocente. Que ignorava qualquer complô de dinamite, e não queria participar de quaisquer negócios insidiosos em que seu pai estava envolvido.
Não passou desapercebido a ele também que Carlisle se referiu ao incêndio de Cheapside de uma forma tão arrogante, como se não tivesse sido nada mais do que um passeio no parque. Sebastian tinha cicatrizes nas mãos e nos braços que atestavam isso. Demorou todo pedaço de treinamento, ao qual Carlisle havia aludido, para manter a calma.
— Meu treinamento sugere que o medo que ela tem do pai é genuíno.
Carlisle olhou-o daquele jeito penetrante e desconcertante novamente. Quase como se pudesse ler a mente de Sebastian.
— Se ela teme ou não o pai, e se ele bate ou não é irrelevante para o assunto em questão. É melhor você se cuidar, Trent. Qualquer sinal de fraqueza pela garota, e não hesitarei em tirá-lo desta missão.
Sebastian se manteve rígido. Talvez tivesse merecido o desprezo de seu superior, mas ele não conseguia se livrar de sua intuição. Em todos os seus anos de serviço, seus instintos nunca falharam. Ainda assim, ele não teve escolha senão prostrar-se, porque a ideia de qualquer outro homem — Briarly em particular — se casando com Daisy Vanreid o deixava horrorizado.
— Compreendido, Sua Graça.
O duque assentiu, aparentemente apaziguado.
— Você vai se casar com ela amanhã, então?
— Sim, — Sebastian grunhiu com grande relutância.
O casamento com qualquer pessoa, muito menos com um peão, e especialmente com Daisy Vanreid, não o atraía nem um pouco. Amarrar-se a uma mulher que Carlisle pretendia jogar na prisão, uma mulher suspeita de traição, era um sacrifício intensamente pessoal e que não o faria facilmente. E ainda assim ele tinha que reconhecer que havia uma parte desonesta dele que não estava totalmente triste com a perspectiva de se algemar a ela.
O que diabos estava acontecendo com ele?
— Nosso plano prosseguirá sem alterações adicionais?
O nojo o cortou com a mordida de uma lâmina. Ele não podia deixar de sentir que era tão peão quanto a Srta. Vanreid, uma peça de xadrez manobrada no tabuleiro da Liga. Ele não gostou de saber que todas as suas interações com Daisy — desde segui-la no jardim na noite passada até propor casamento antes, até se casar com ela — foram planejadas e mapeadas por Carlisle como um general elaborando uma estratégia de batalha.
Apenas uma parte não tinha sido predeterminada, e essa tinha sido a luxúria animal que o assolava com Daisy em seus braços. Seu desejo por ela não era fingido ou planejado. E certamente não controlável.
O duque aguardou sua resposta, então ele inclinou a cabeça.
— Nosso plano vai prosseguir. Vou encontrá-la às duas horas da tarde de amanhã.
— Excelente. — Carlisle deu outro gole na bebida.
— Há apenas um problema, — acrescentou com grande prazer.
— Jesus, Trent. Você está derrubando a balança esta noite, e não está em seu maldito favor, — o duque advertiu.
— A tia da senhora vai precisar se distrair. — Ele sorriu. — E ela gostou de você. Dobre a velhota com um pouco de bebida e ela será toda sua. Se não o fizer, não posso prometer que a Srta. Vanreid conseguirá escapar.
Com aquele tiro de despedida, ele saiu da sala, as maldições rosnadas de Carlisle se arrastando atrás dele.
Capítulo 06
A Duquesa de Trent.
Sua Graça.
Que estranho. Que absurdo. Ela, Daisy Vanreid, que ganhou sua reputação cuidadosamente afiada em Londres como uma namoradeira ousada e rebelde, que tinha sido desprezada pela elite Knickerbocker, de Nova York, e um número incontável de aristocratas arrogantes, tinha acabado de se casar com um duque. E não qualquer duque, mas o duque mais bonito que ela tinha posto os olhos desde o desembarque na sombria costa da Inglaterra. Sebastian Fairmont, o duque de Trent.
Daisy olhou para seu reflexo no espelho estranho no quarto igualmente estranho. Ela não parecia diferente. Seu cabelo permaneceu penteado na mesma trança grega que Abigail tinha lhe feito antes de conseguir fugir da casa de tia Caroline. Ainda usava seu vestido de tarde, uma seda esmeralda vibrante enfeitada com renda, cordões na cor marinho e um buquê de rosas de veludo amassado no corpete. Não seu melhor vestido, e certamente não o vestido que imaginou como seu vestido de noiva, mas uma escolha mais inspirada teria despertado as suspeitas de tia Caroline. Daisy não estava disposta a correr o risco.
Sacrificar sua vaidade pelo bem de seu futuro foi a decisão mais sábia a tomar. E em uma vida marcada por uma série de decisões imprudentes, para Daisy, o lindo vestido de tarde — não tão impressionante quanto a maioria de seu guarda-roupa — era um sinal de que estava pronta para virar uma nova página. Para começar de novo. Para viver uma vida livre de medo ou ameaças de violência.
Para ser... seu verdadeiro eu, algo que ela nunca teve a oportunidade de ser. Sob o olhar vigilante de seu pai, tinha sido quieta e reservada, cada ação sua, acima de qualquer reprovação, para não merecer sua raiva. Com tia Caroline como acompanhante, ela tinha sido outra pessoa, um flerte desesperado cuja confiança era basicamente um fingimento.
E agora aqui estava ela, despojada de ambos os papéis. A velha e simples Daisy. Daisy que não sabia o que fazer. Deveria ser ousada? Deveria ser tímida? Deus, ela nem conhecia o duque, o homem com quem acabara de se casar. Ela havia mostrado tantos rostos diferentes para tantas pessoas diferentes — tudo em um esforço para escapar da violência e desaprovação de seu pai de uma forma ou de outra — que ela não tinha certeza se sabia quem era.
Suas mãos tremiam enquanto alisava uma ruga imaginária de sua saia e beliscava suas bochechas pálidas para dar-lhes um toque de cor. Ela não tinha uma criada. Sem valise. Nenhum outro vestido. Tudo o que tinha estava refletido no espelho: ela mesma, a aliança de ouro sem adornos do duque que ele deslizou em seu dedo, o vestido e as roupas íntimas por baixo, o peso das joias de diamante que ela cuidadosamente encheu seus bolsos ocultos.
Isso foi tudo.
Traga apenas o que você precisa, o duque havia instruído, e Daisy havia seguido sua instrução. A única exceção era as joias no valor do resgate de um rei em diamantes que seu pai lhe havia concedido, a maioria dos quais foram presentes depois que ele a machucou e tudo isso foi seu meio de mostrar ao mundo o quão incomensurável era sua riqueza. Não, os diamantes não eram necessários, mas algo dentro dela — aquele velho instinto de sobrevivência — disse-lhe para pegá-los antes de fugir.
Seu dote, pensou com um sorriso severo, pois duvidava muito que seu pai lhe concedesse outro centavo depois que ela o ostentava e o desafiava de maneira tão pública e irrevogável. Ganhou por cada hematoma que ela já tinha sofrido, cada golpe de um punho em seu corpo.
Ela suportou sua crueldade. Havia se permitido desfilar primeiro diante da alta sociedade de Nova York e depois de Londres, vestida com as mais luxuosas sedas e cetins parisienses. Adornada por riquezas suficientes para rivalizar com qualquer rainha. Aceitara seus tapas, empurrões, espancamentos brutais quando o desapontava ou ia contra seus decretos rígidos.
Mas, finalmente atingiu seu limite. Entregar-se à vida que ele escolheu para ela foi o último ultraje. Suportar sua raiva mais uma vez quando sua liberdade pairava ao seu alcance tinha sido uma impossibilidade. Partir não foi uma decisão difícil. Ela nunca conheceu um verdadeiro lar ou família em sua vida. Tia Caroline só se importava com a atenção que ser sua acompanhante lhe trazia. Seu pai se importava apenas com a riqueza e as conexões que ela poderia lhe dar com o casamento.
Como era irônico que um quase estranho — agora seu marido — fosse a única pessoa em sua vida que não queria usá-la para seu próprio ganho egoísta. E não havia dúvida sobre isso, Trent não tinha nada a ganhar casando-se com ela. Mesmo a isca de seu imenso dote não poderia ser suficiente, já que seu pai o revogaria e ela não fez segredo do fato.
Daisy lia os jornais de fofoca, que muitas vezes vomitavam um veneno velado contra ela. Para um duque se casar com uma garota americana que desrespeitou as convenções e cortejou a ruína — mesmo que sua motivação para isso fosse justificável — que passou o último mês em uma tentativa desesperada de beijar o maior número possível de solteiros na esperança de conseguir uma proposta, para o duque de Trent se casar com a notória Daisy Vanreid, ele teria que ser motivado por apenas duas coisas. Seu desejo por ela e sua honra.
Sua consciência a picou então, um lembrete indesejado de que forçou sua mão, o encorajou quando nenhuma senhora o faria. Não importava que ele a estivesse rondando como um tubarão no último mês. Ela não precisava tê-lo atraído para o jardim iluminado pela lua. Não precisava ter ousado.
Pegue a sua chance.
E sua resposta? Acredito que irei.
O lembrete enviou um frisson de algo estranho por sua espinha. Algo delicioso e assustador ao mesmo tempo. Ela apertou as mãos com força na cintura. A qualquer momento, uma batida soaria na porta contígua ao quarto em que ela agora estava ao lado do dele.
Não conseguia pensar no belo quarto que a rodeava como sendo dela. Ainda não. Talvez nunca. Tudo acontecera com muita pressa, e agora Daisy não conseguia deixar de sentir-se atolada em um sonho do qual logo acordaria.
Depois de seus votos simples no escrivão, eles cavalgaram em um silêncio constrangedor para a casa do duque. Agora sua casa. Ele fez uma introdução superficial aos seus criados. Compartilharam chá e alguns muffins. Daisy estava nervosa demais para provar além de uma pequena mordida.
O duque mal havia tocado no chá e no muffin também. Em vez disso, um rubor manchou sua garganta, chamando sua atenção para seu pronunciado pomo de Adão. O pensamento absurdo passou por sua mente para pressionar um beijo ali, para enterrar o nariz em seu pescoço e inalar profundamente seu cheiro forte e masculino.
— Precisamos... consumar essa união, — ele anunciou abruptamente. — Sinto muito, pois sei que tudo isso aconteceu com uma rapidez incomum. Mas, dado o tratamento que seu pai lhe dispensou e o fato de que ele se oporá a uma aliança entre nós, não consigo pensar em outra maneira.
As palavras dele ressoaram em sua mente como alfinetes na caixa de uma costureira. Um barulho selvagem até que encontraram seu lar em sua pele. Render. União. Ele quis dizer que iriam consumar. E é claro, que eles fariam. Afinal, eram casados. Ela era sua duquesa. Tudo foi feito corretamente.
Exceto que ele permaneceu um estranho para ela. Da mesma forma, ele pouco a conhecia. Daisy vinha usando o manto de flerte consumado por tanto tempo, na ausência da tirania de seu pai, que havia se esquecido de contemplar as consequências finais de seus atos.
Desempenhar um papel era uma coisa. Tornar-se esposa era outra.
— Não podemos retardar, Sua Graça? — Ela perguntou.
Seu respeito tinha sido franco, beirando o severo.
— Você deseja dar a seu pai algum meio de dissolver esta união?
— Não, — ela sussurrou, olhando para o círculo perfeito de chá perfumado aguardando seu consumo. A porcelana de sua xícara de chá era fina e delicada, com pelo menos um século de idade, e enfeitada com o brasão de sua família. Um lembrete de que independentemente de quanta riqueza seu pai tinha acumulado com sua ganância incansável, o ducado de Trent era o tipo de privilégio antigo que os Vanreids nunca poderiam aspirar a alcançar.
O duque recolocou sua xícara no pires com nenhum som.
— Nesse caso, seria melhor descartar qualquer meio da forma mais conveniente possível.
Um método tão frio e sem emoção de anunciar a ela que eles iriam consumar o casamento, Daisy pensou agora, enquanto continuava a olhar para seu reflexo. E então, a tão esperada batida soou na porta.
— Entre.
A voz dela carecia da nota normal de confiança. Também se foi a qualidade sensual, quase esfumaçada que inevitavelmente o levou a ter o tipo errado de pensamentos. Pensamentos que envolviam pele cremosa, seios exuberantes, uma cintura lindamente marcada e quadris cheios. Pensamentos que o fizeram imaginar o tom preciso de seus mamilos. Afinal, estava escuro nos jardins do baile de Darlington. O luar a banhou com um brilho etéreo prateado, como o de uma deusa.
Maldito seja o inferno. O que ele estava fazendo, falando sobre ela dessa maneira? Ele não tencionava consumar sua união. Deveria manter o fingimento diante de sua casa para que não houvesse nenhuma dúvida. Para que o bastardo do seu pai não pudesse tentar deslegitimar o casamento.
Para que sua falsa união parecesse genuína. Um casamento por amor, em vez de um meio para ele obter acesso a Vanreid, e qualquer informação que Daisy possuísse sobre seus negócios.
Sebastian hesitou por algumas respirações, desejando que sua excitação feroz diminuísse, antes de abrir a porta do quarto adjacente. O quarto da duquesa. De alguma forma, era mais fácil pensar nisso nesses termos do que chamá-lo de ‘’o quarto dela”.
Para chamá-lo de ‘o quarto de Daisy”.
Pois, dadas as circunstâncias, isso parecia totalmente errado. E íntimo demais para uma mulher que era um peão, uma mulher cuja presença e memória acabariam sendo apagadas de casa. Do próprio Sebastian.
Como? Algo — algum demônio interior — fez a pergunta antes que pudesse descartá-la. Como ele poderia esquecê-la? Jesus, ele estava com muito medo de não conseguir, não importa o quanto tentasse.
Precisou de todo o seu treinamento para manter a calma e o propósito ao entrar no quarto. Ela se levantou, completamente vestida com o mesmo vestido verde elegante que usou para se casar com ele. Suas tranças douradas ainda estavam confinadas em uma elaborada espiral de tranças. Seus olhos se arregalaram quando ele cruzou o quarto até ela, e seus dedos se entrelaçaram na cintura de vespa como se rezasse.
Dois pensamentos o atingiram em rápida sucessão.
Sua beleza o fazia sofrer.
Ela estava nervosa.
Ele parou com apenas alguns passos entre eles, perto o suficiente para sentir o cheiro de bergamota. A suspeita o cortou, misturando-se com a luxúria. Ela parecia tão nervosa quanto uma lebre selvagem, prestes a correr para um esconderijo caso ele desse um passo em falso. Seus nervos eram os de uma noiva casta que acabara de se casar com um estranho? Ou sua consciência estava trazendo uma pontada indesejada de culpa por seu engano? As possibilidades eram claras, uma dicotomia estranha. Ou sabia o que seu pai planejava e ela era parte de um intrincado esquema para se infiltrar na Liga, ou era uma inocente sendo usada por ambos os lados.
Mas não devia pensar na última, pois seu dever não era questionar. Era para cumprir as missões que lhe foram apresentadas. Para manter a casa e o coração seguros para todos. Certo como o inferno que não simpatizava com a mulher na sua frente. Uma mulher vibrante, adorável e atraente em quem não podia confiar. Uma mulher cujo pai planejou morte e destruição.
— Esqueci de lhe atribuir uma criada, — ele percebeu em voz alta. Ele nunca teve uma mulher em sua residência antes, sob seus cuidados. Sua mãe faleceu quando ele tinha quinze anos, e seu pai não muito depois disso. Ele passou metade de sua vida como solteiro. Provavelmente, seu descuido foi a causa do pedido de sua governanta para se encontrar com ele. Um pedido que negou em sua necessidade de ver a tarefa diante de si realizada da maneira mais conveniente possível.
Um lindo rubor rosa rastejou sobre sua pele cremosa.
— A Sra. Robbins cuidou disso, Sua Graça. Eu estava muito envolvida em meus pensamentos para chamá-la. Peço desculpas. Você gostaria que a chamasse agora?
Ah, a Sra. Robbins era uma mulher mais do que capaz. Deveria saber que ela amarraria todas as suas pontas soltas, como sempre. Nem mesmo sua chegada sem aviso prévio com uma noiva a havia perturbado.
— Sebastian, — ele corrigiu a Senhorita Vanreid suavemente.
Não senhorita Vanreid, lembrou a si mesmo. Pois ela era sua esposa agora, mesmo que sua união não fosse real ou fosse para durar. Não podia pensar nela como sua duquesa, podia? Daisy, ele decidiu. Uma flor que simbolizava a inocência. Que irônico.
— Sebastian, — ela ecoou, sua cor se aprofundando. Seus dedos entrelaçados se apertaram até que os nós dos dedos se projetaram em completo alívio. — Devo chamar a criada para ajudar na minha... preparação?
Ou ela poderia rivalizar com a melhor atriz que já pisou no palco, ou era tão inocente quanto seu homônimo. Em questões de carne, se nada mais.
— Não há necessidade de chamá-la agora. Não tenho intenção de consumar o casamento.
Seus lábios largos e sensuais se abriram de surpresa, suas sobrancelhas douradas se juntando.
— Você não irá?
— Não. — Cada instinto básico e rude em seu corpo trovejou para ir contra seu melhor julgamento. Para tomá-la nos braços e saborear aquela boca flexível mais uma vez. Para encontrar os botões escondidos em seu corpete e tirá-los de suas amarras. Tirar todas as suas camadas até que cada centímetro de sua carne macia e lhe doce fosse revelada. Para terminar o ataque que ele começou ao luar.
Seu pênis ficou completamente rígido com as imagens que tais pensamentos indignos produziram. Santo Deus. Isso não fazia parte do maldito plano. Por que ela tinha que ser tão tentadora?
Seu rosto expressivo traiu sua confusão.
— Receio não entender.
— Precisamos de tempo para nos conhecer, — elaborou. — A pressa incomum com que nossas núpcias aconteceram nos roubou a chance de cortejar.
— Você deseja me cortejar? — Ela olhou-o. Seu vestido realçava o tom esmeralda de seus olhos. Os dedos que haviam sido entrelaçados com tanta força agora puxavam suas saias, ajustando a queda da seda sobre o modelador de crinolina do vestido. Algumas de suas bravatas características retornaram. Aqui estava a mulher que o desafiou a fazer a sua vez. — Você já levou uma mulher para a cama antes, Sua Graça?
Ele quase engoliu a língua. Jesus. Ela o achava virgem? Ele malditamente não beijava como um virgem. E que tipo de mulher fazia uma pergunta tão insultante e intrometida? Sua pele estava inexplicavelmente quente. Querido Deus, ele não poderia estar corando, poderia? Um cavalheiro não corava. Ele não corava, porra.
Ele pigarreou.
— Sim, embora eu ouse dizer que este não é uma conversa apropriada para... marido e mulher. Em um casamento, é melhor deixar o passado onde ele pertence.
Referir-se a eles como tal, um casal, fazia seu corpo inteiro se contrair. Parecia tão íntimo. Na verdade, era íntimo. Um homem não poderia estar mais perto de qualquer outra mulher. E, no entanto, seu casamento era uma mentira. Tudo sobre isso era falso. Ele teve que se lembrar. Ela estava diante dele, sua para ser tomada. E ainda assim, não poderia tê-la.
Não deveria querê-la.
A queria com um desespero ardente de qualquer maneira.
— Perdoe-me se o insultei, — disse ela, então. — Os cavalheiros não costumam agir com honra comigo. Cultivei uma reputação, você entende.
Sua admissão o fez apertar a mandíbula com tanta força que seus dentes doeram. Que homem a desonrou? Ele queria alimentar com dentes qualquer bastardo que tivesse a tocado. Mas é claro que não tinha o direito. E era ridículo nutrir tal sentimento de posse primitiva. Ela não era dele. Não verdadeiramente. Nem jamais seria.
Ele reprimiu as emoções primitivas surgindo através dele.
— Daisy.
— Não quero sugerir que minha reputação seja outra coisa senão uma reputação, — ela tagarelou. — Eu... eu beijei alguns pretendentes, e não nego. Sei o que você deve pensar de mim, mas estava desesperada para escapar do casamento que meu pai queria para mim. Teria feito qualquer coisa, até mesmo me casar com um homem que mal conheço.
Brilhante. Ela o considerava virgem, e ela só concordou em se casar com ele para escapar de ser algemada a Breckly, a escolha de seu pai. Quão sombrio. Sua mente e seu corpo estavam em conflito, lutando pelo controle. A ideia de outro homem beijando-a, as lembranças das vezes em que a vira nos braços de seus pretendentes, o fez querer bater em todos eles. Ninguém deveria beijá-la, exceto ele, droga.
Pensamento ridículo. Tolice até mesmo apreciar tal idiotice. Não conseguia se livrar disso. A ideia agarrou-se à parte mais profunda dele, uma parte que enterrou sob anos de trabalho exaustivo para a Liga. Anos sem permitir que ninguém se aproximasse. Não era apenas porque ela era sua esposa. Era que ela era dele. Sabia disso em seus ossos.
Ele deu um passo para mais perto. Então, outro. O seu cheiro quente o envolveu completamente: bergamota, baunilha, âmbar cinza e Daisy. Seus dedos coçaram para tirar os grampos de seu cabelo, libertá-lo de suas tranças cuidadosas, para vê-lo cascatear em ondas sedosas por suas costas. Sua boca ansiava por sentir o seu calor suave.
Este era realmente um território perigoso. Ele não deveria querê-la. Não deveria tocá-la ou tomá-la. Mas, era apenas um homem, afinal. E ela o empurrou. Muito longe. Talvez no limite.
Ele a agarrou pela cintura e puxou-a. Suas mãos pousaram em seus ombros, seus olhos ainda mais arregalados. Tão verde. O verde do musgo no início da primavera. Tão bonito.
— Você está sugerindo que só concordou com esse casamento para escapar de um casamento com o visconde Breckly? — Ele demandou.
— N-não inteiramente.
— Por que você se casou comigo, Daisy? — Ele ansiava por uma resposta. Uma resposta verdadeira. Talvez ele pudesse sacudi-la. Chacoalhar a ambos. Não gostava da ideia de abrigar um inimigo da Inglaterra sob seu teto.
Ou de querer o dito inimigo debaixo dele.
Ela piscou.
— Você me propôs.
Ele não conseguia controlar seu corpo. Não pôde evitar segurar seu adorável rosto, passando o polegar sobre seu lábio inferior.
— A verdade, Daisy.
Sua boca se abriu, o vento quente de sua respiração queimando-o.
— Eu o encurralei. Pronto, já disse isso. Peço desculpas, Sua Graça. Eu o reparei. Você esteve me observando do perímetro de cada baile. E eu estava ficando sem tempo.
Suas palavras o surpreenderam. Ele não esperava uma admissão. Não esperava honestidade. Mas seus instintos lhe disseram que era isso que ela lhe oferecia agora. Doce Jesus, a mulher pensou que o tinha enganado para se casar com ela. Não é de admirar que parecesse tão pouco à vontade.
— Você me encurralou?
— No Jardim. Decidi que gritaria, chamando a atenção de outros sobre nós. E teria, mesmo que minha tia não tivesse vindo até nós. Queria que você me seguisse. Queria que você me arruinasse. — Sua voz falhou na última frase, mas seu olhar permaneceu inabalável. — Sinto muito. Me sentia como se não tivesse escolha. Você me perdoa, Sua Graça?
Maldito inferno. Ele olhou-a, confuso.
— Sebastian. Se sou seu marido, você deve dispensar as formalidades agora. Me chame de Sebastian.
— Sebastian, então. — Seus olhos brilharam.
Cristo. Ela estava prestes a chorar? Isso não poderia ser uma atuação. Poderia?
Suas mãos se apertaram em sua cintura.
— Eu lhe perdoo. A menos que haja algo mais, algo que você não está me dizendo?
Suas narinas dilataram-se, sua cor empalideceu. Seu olhar disparou para um canto do quarto antes de retornar para o dele.
— Claro que não há mais nada.
A pista estava lá. Ela estava mentindo. Uma sensação sombria caiu sobre ele, deslocando a luxúria. Substituindo tudo, exceto seu dever. Dever para com a Coroa e o país. Dever para com os inocentes. Dever para com todos, menos com a mulher adorável e enganosa que está em suas mãos.
Sua maldita esposa.
Ele a afastou dele.
— Obrigado por sua franqueza, minha querida. — Levou tudo nele — todos os seus anos de treinamento — para manter seu tom uniforme. A raiva ricocheteou através dele, afastando as últimas tensões de ardor. Limpando sua mente confusa.
Não dele. Ela não era dele. Não poderia ser.
Ele se abaixou e tirou uma faca de sua bota, abrindo-a.
— Faremos com que os servos acreditem que nosso casamento foi consumado. — Ele pressionou a lâmina no polegar que havia tocado seu lábio, uma punição adequada, cortando sua carne. Ele nem mesmo sentiu a dor.
— Você se cortou! O que em nome do céu você está fazendo?
Ele ignorou sua pergunta assustada e caminhou até a cama, puxando as roupas de cama. Apertando sua ferida, ele espalhou uma quantidade generosa de sangue nos lençóis brancos para amenizar qualquer dúvida. Manter as aparências era um componente essencial de sua missão. Os agentes duplos podiam estar em qualquer lugar, desde a mais humilde copeira até o mordomo, embora confiasse em Giles implicitamente.
— Selando nossos destinos, — disse finalmente, seu tom áspero, até mesmo para seus próprios ouvidos. Ela o seguiu e ele pegou mais uma sugestão de seu cheiro. Maldição, se isso não contornasse suas defesas, ameaçava atraí-lo de volta para a névoa da luxúria. — Ninguém, nem os criados, nem seu pai, ninguém vai questionar a veracidade de nossa união depois disso.
— Sua graça?
Ele se afastou das listras brilhantes de escarlate estragando os lençóis e lançou um olhar sobre ela. Poucos dois passos os separavam agora, e o animal nele queria atacar, puxá-la contra ele e devastar sua boca. Para curvá-la sobre a cama e levantar as saias.
Ele soltou um suspiro, desejando que sua fome se acalmasse.
— Sebastian, — lembrou-lhe.
— Sebastian, então. — Ela baixou o olhar, emanando uma timidez súbita e incomum. — Temo que haja um problema com o seu plano.
Seu plano. Ele ergueu uma sobrancelha, seu estômago apertando. Não gostou de sua escolha de frase, e a suspeita guerreou com o desejo que o atormentava desde que a viu pela primeira vez.
— Oh?
Seus olhos encontraram os dele, aquelas bochechas corando em um tom ainda mais profundo de vermelho.
— Ainda estou vestida.
Capítulo 07
Talvez ela pudesse ter falado de melhor maneira, Daisy refletiu enquanto o duque a olhava boquiaberto com uma intensidade abrasadora. Sua pele estava inexplicavelmente quente. Seu corpo inteiro, de fato, parecia febril, um estado que poderia ser devido em parte à sua observação contundente e em parte à sua reação a ele.
Ele era lindo, seu marido.
Sebastian, ele insistiu, embora ainda parecesse estranho pensar nele em termos íntimos. Estar tão perto que seu cheiro, notas de pinheiro e almíscar, a inundaram. Estar sozinha com ele em um quarto — seu quarto.
Estranho e de alguma forma inebriante. Todos os seus sentidos foram intensificados, seu corpo inundado de antecipação. Ela podia sentir seu olhar como uma carícia, de seus mamilos endurecidos à dor entre suas coxas. Ela o queria, mas ele não a queria. Seu sangue manchando os lençóis, o corte no polegar, a rigidez de sua mandíbula, tudo indicava antipatia. E não podia culpá-lo. Ele era um homem cujas mãos foram forçadas, que foi carregado com um fardo repentino e indesejado.
Exceto que ele não estava olhando-a agora com a mesma expressão rígida que usava desde que cruzou a porta. Não, de fato. Ele estava olhando da mesma maneira que ela imaginava que um leão da montanha aparecesse pouco antes de apertar suas mandíbulas em torno de sua presa.
Ele estava olhando-a como se quisesse consumi-la.
— Você quer que eu te ajude a se despir? — Perguntou, sua voz um estrondo baixo e áspero que enviou uma emoção deslizando por ela.
— Sim, — deixou escapar. Meu Deus, ela estava apenas piorando as coisas. — Isto é, claro que vou precisar de ajuda. Se você quer que os criados acreditem que nós... consumamos o casamento, então você não pode propor me deixar sozinha em meu quarto, com minha toalete intacta. Receio não poder me despir sozinha, dada a construção deste vestido. Portanto, é lógico que você precisará me ajudar.
Mais do que qualquer outra coisa, ela não queria dar ao pai nenhum motivo para tentar provar a nulidade do casamento. Ela mal sabia o que ele faria quando percebesse que ela não só se arruinou, mas o desobedeceu, destruindo qualquer chance de sua tão desejada conexão com Lorde Breckly. Ninguém desafiou seu pai sem sofrer profundamente por sua ousadia.
A memória da última vez em que fez isso a cortou com a precisão de uma lâmina e com tanta dor, antes de expulsá-la de sua mente. Ela não pensaria em Padraig agora ou nunca mais, se pudesse evitar. Ele era seu passado e o homem diante dela era seu futuro. Eles não poderiam ter sido mais diferentes.
Ela não podia permitir que uma criada questionadora, que notasse que Daisy ainda estava perfeitamente e impecavelmente vestida — lençóis ensanguentados ou não, abrisse a porta para seu pai. Ela não voltaria a viver sob seu teto. Nem sofreria sobre mais uma de suas fúrias.
— Muito bem. — Sebastian fechou a distância entre eles em duas longas passadas. — Presumo que este maldito vestido tenha botões em algum lugar?
Sua respiração ficou presa quando os dedos dele traçaram o painel frontal de seu corpete, começando logo abaixo de seus seios, e então descendo sobre suas costelas. Através de seu espartilho duro e camadas de roupas íntimas, ainda podia sentir o calor dele. Ela observou suas mãos grandes e capazes traçando para baixo, sobre sua cintura. Os botões estavam escondidos em suas costas, e alguma parte perversa dela desejava segurar sua língua, para fazê-lo continuar sua busca infrutífera apenas pelo delicioso deslizar de seus dedos sobre seu corpo.
— Atrás. — Seu olhar viajou de suas mãos para sua boca. Como seria ter aqueles lábios sensuais dobrando-se sobre os dela novamente, desta vez sem ninguém para interromper e sem estorvos?
Ele agarrou sua cintura e a girou tão abruptamente que ela perdeu o equilíbrio e caiu sobre ele. Uma distinta rigidez cutucou a parte inferior de suas costas, e ela lutou e perdeu o desejo de esfregar-se contra ele como um gato. Seus dedos apertaram sua cintura, puxando-a de volta e ancorando-a completamente. Um som escuro e carnal saiu dele. Sua boca estava sobre ela na próxima respiração, beijando a mesma pele sensível atrás da orelha que ele havia trazido à vida naquela noite ao luar.
Seus lábios roçaram a concha de sua orelha, então deslizaram mais abaixo, deixando uma série de beijos decadentes em sua garganta. Quando ele parou para lamber e mordiscar ali, uma pontada de algo novo começou em seu núcleo e irradiou por todo seu corpo. O inebriante feitiço mágico que caiu sobre ela no baile de Darlington voltou.
Ela ansiava por algo que não compreendia inteiramente. Tudo o que sabia era que doía com uma necessidade que só ele poderia saciar. Sebastian. Seu marido. Autopreservação era a última coisa em sua mente enquanto se contorcia contra seu corpo poderoso, querendo mais de sua boca, mais de seus beijos, mais de seu toque.
Daisy sentiu alfinetes sendo arrancados de seu cabelo, o peso de suas tranças afrouxando e abrindo. Uma de suas mãos havia migrado de sua cintura e estava enterrada em suas mechas semiabertas, agarrando-as, inclinando sua cabeça para trás para que ele pudesse se banquetear em seu pescoço.
— Cristo, você cheira tão bem, — ele rosnou contra sua garganta.
Ele também, e ela teria dito se pudesse pronunciar uma única palavra coerente. Mas ele havia lhe roubado a habilidade de conduzir uma conversa inteligente. Pensar em qualquer coisa que não fosse ele, seus lábios perversos, seu toque conhecedor.
Ela inalou profundamente, seus dedos voltando para afundar em seu cabelo escuro. Talvez eles não precisassem de fingimento. Algum impulso selvagem dentro dela o imaginou despindo seu vestido, cobrindo seu corpo na cama. Consumando sua união. Foi uma frase tão morna, uma maneira seca de descrever o intenso prazer que ele lhe deu. Como seria se entregar a ele? Para se tornar sua esposa tanto de fato quanto de nome? Seu pulso disparou.
Mas assim como a curiosidade se misturou com o desejo, ele arrancou a boca de seu pescoço e a afastou dele.
— Jesus, — ele murmurou, soando tão abalado quanto ela se sentia. Seus dedos patinaram sobre sua espinha. — Onde estão os malditos botões, Daisy?
O feitiço foi quebrado. A realidade voltou para ela. Era dia claro. O barulho dos transportes na rua abaixo alcançou seus ouvidos. O que estava pensando para se permitir ficar tão entusiasmada? Ele era um estranho, mesmo sendo seu marido, e ele claramente se ressentia dela.
Claro, como ela poderia encontrar defeitos nele depois de confessar a maneira como planejou contra ele? E então, mesmo um suspiro depois, quando ele lhe perguntou se havia algo mais que precisasse desabafar, enganou-o novamente. Tinha mentido para ele. Parte dela queria contar a ele sobre Bridget, mas outra parte a lembrava de que não sabia com que tipo de homem tinha se casado. Gostaria de acreditar que ele nunca a machucaria, mas ela sofrera muitas decepções em sua vida, e o cínico nela não permitiria esperança ou confiança cega.
— Os botões, Daisy. — A voz dele estalou como um chicote em seus pensamentos confusos.
Com as mãos trêmulas, ela estendeu a mão para trás para encontrar a fileira de botões habilmente disfarçada sob uma abertura de veludo.
— Aqui.
Seus dedos roçaram os dela por um breve momento, e o contato foi como uma faísca de eletricidade. Rapidamente, ela afastou as mãos para arrancar mais alguns alfinetes de seu penteado. O ar frio beijou seus ombros nus acima de sua camisa e espartilho enquanto ele abria a parte de trás de seu vestido.
— Pronto. — Ele puxou as mangas para baixo, seu corpete indo junto. — Vou soltar seu espartilho. Acredito que você possa gerenciar o resto?
Seu tom era frio mais uma vez. Quase impessoal.
Era como se ele tivesse duas partes opostas de si mesmo em guerra. Ele estava gelado em um momento e escaldante no seguinte. Um homem frio e imperioso que ela não conseguia ler em uma curva e um amante sensual e perverso na próxima. Qual era ele?
Ela engoliu em seco, a confusão guerreando com os remanescentes de desejo. Ele deve estar decepcionado com ela por seu engano, apesar de sua afirmação em contrário.
— Posso cuidar do resto, Sua Graça. Eram apenas os laços e os botões que não conseguia alcançar. Obrigado pela ajuda.
— Sebastian. — Os laços de seu espartilho afrouxaram quando ele desfez o nó sólido que Abigail tinha amarrado antes e puxou as cordas cruzadas para soltá-las. — Espere mais uns vinte minutos antes de chamar sua criada.
— Sim, Sua..., Sebastian. — Ela engoliu em seco, segurando o corpete contra o peito enquanto ele passava por ela, espreitando na direção de seu quarto.
— Estarei saindo em breve. Acomode-se como quiser, — ele falou por cima do ombro, nem mesmo se preocupando em olhar em sua direção.
Seu tratamento insensível depois de um momento tão íntimo doeu mais do que deveria. Não era como se ela o amasse. Deus, não era como se o conhecesse. Mas de alguma forma, nada disso importava enquanto o observava se afastar. Ele queria que ela o chamasse pelo nome de batismo, mas não queria consumar o casamento e mal podia esperar para se retirar de sua presença.
— Você vai estar em casa para o jantar? — Ela chamou atrás dele.
Ele hesitou por um momento antes de voltar para seu quarto.
— É duvidoso. Se sua família chamar ou lhe causar qualquer problema indevido, informe Giles para que mande uma mensagem para mim imediatamente. Ele saberá onde me encontrar.
E então a porta se fechou atrás dele, deixando-a sozinha em seu novo quarto, seminua e mais à deriva do que jamais esteve em sua vida.
Ele estava ficando louco.
Ele havia treinado para suportar a tortura da água, para sofrer ossos quebrados, unhas arrancadas, truques mentais e espancamentos. Aprendeu a arte de se defender com os punhos e a destreza, com o estalo perito de uma pistola ou o movimento hábil do pulso e uma lâmina afiada. Passou noites em um frio brutal, dias na companhia dos homens mais sádicos e criminosos grosseiros do país. Sobreviveu a um assassino e a um inferno mortal.
Ele muito bem deveria ser capaz de resistir a uma mulher. Mesmo que ela fosse uma bela deusa de mulher que cheirava deliciosamente, cuja pele macia o fazia querer prová-la em todos os lugares, cuja mera presença em uma sala o fazia querer tomá-la tão forte e profundamente que não sabia onde terminava e ela começava.
— Porra, — murmurou, olhando para o copo meio vazio de uísque em suas mãos antes de engolir o resto do conteúdo em um gole de fogo. A queimadura o distraiu por um segundo, e a bebida não fez nada para acalmar seus nervos em frangalhos.
— Jesus, Sebastian. — Griffin, o duque de Strathmore e um dos melhores e mais antigos amigos de Sebastian na Liga, lançou-lhe um olhar de pena. Eles estavam sentados na sala de bilhar de Strathmore, bebendo uísque. — Não posso acreditar que você concordou em se casar com a garota.
Isso fez dois deles.
Sebastian bateu com o copo na mesa de mogno entalhada entre as cadeiras e pegou a garrafa para enchê-la com outra boa dose de um líquido cor de âmbar.
— Eu fiz um juramento. Faço o que me é pedido.
Independentemente de quão absurdo fosse. Independentemente do quanto detestasse ser o cordeiro sacrificial. E independentemente de como fazer o que lhe pediram parecia errado pela primeira vez hoje.
Seu juramento e seu senso de honra estavam atualmente em conflito, causando estragos em sua consciência. Tudo dentro dele queria reivindicar Daisy Vanreid como sua no início daquela tarde. Mesmo sendo uma mulher em quem ele não podia confiar. Mesmo que fazer isso fosse o mesmo que usá-la, manipular uma mulher com quem logo não estaria mais casado. Se ela fosse inocente, ele nunca se perdoaria. Mas se ela fosse culpada, seria um inferno a pagar. Nada disso — não a maneira como se sentia ou sua reação a ela — fazia sentido. Na verdade, nada sobre toda essa missão ajudou, e com certeza não ajudou que Carlisle o estivesse mantendo em grande parte no escuro.
Griffin deu uma tragada no cigarro e exalou lentamente.
— Não sei se poderia fazer o mesmo. A ideia de me casar com alguém — quanto mais com uma atrevida mulher americana suspeita de traição — é o suficiente para me deixar doente.
Traição.
Ouvir a palavra em correlação com Daisy foi como a lâmina afiada de uma adaga em suas entranhas.
— Não acho que ela tenha conhecimento de nada do que Carlisle suspeite que ela saiba.
Seu amigo olhou para ele, seu olhar especulativo. Quase suspeito.
— Você não acha? Você leu muito bem o relatório que ele enviou para a Liga?
Claro que sim. A carta chegara transcrita em um código cuidadoso que para o observador externo teria parecido despretensioso como uma carta simples de uma tia solteira. Mas, na verdade, continha informações privilegiadas. A mesma informação sobre Daisy que Carlisle lhe dera anteriormente. Conexões com uma lojista irlandesa suspeita de trabalhar com os dinamitadores, um noivado rompido com um líder feniano. Nada novo e nada substancial.
O olhar penetrante de seu amigo o fez tomar outro gole de álcool.
— Li.
Ele leu duas vezes e então queimou, assim como fez com toda a correspondência da Liga.
— E? — Griffin ergueu uma sobrancelha, levando o cigarro de volta à boca para outra tragada.
Sebastian lutou contra o desejo absurdo de pegar um dos cigarros do amigo da caixa sobre a mesa e fumá-lo ele mesmo. Talvez isso o acalmasse, mas desde o incêndio, ele não conseguia suportar trazer qualquer tipo de fumaça para os pulmões. Isso o deixou cauteloso, o levou de volta ao dia em que quase morreu.
Em vez disso, contentou-se com uísque.
— E é uma evidência frágil na melhor das hipóteses, Griff. Não estou dizendo que confio em Daisy, mas também não acredito que seja da natureza dela conspirar para matar civis inocentes.
Não, percebeu enquanto falava as palavras em voz alta. Nada em seu trato com ela mostrou que ela possuía a capacidade para a crueldade, ou a habilidade de ferir os outros sem remorso, que ele testemunhou em tantos outros inimigos ao longo dos anos. Ela era uma mulher estranha, às vezes ousada e ardente com audácia e paixão, outras vezes assombrada pelas brutalidades que afirmava ter recebido de seu pai. Ele ansiava por acreditar que ela era inocente, por aceitar tudo o que ela lhe disse como verdade, e esse conhecimento era uma revelação indesejada para ele.
Pois havia algo que ela estava escondendo. Ela havia mentido para ele antes, ousadamente e sem remorso. Essa pequena hesitação a delatou.
— Você já dormiu com ela? — Seu amigo perguntou abruptamente no silêncio que caiu sobre eles.
A necessidade de defender sua honra cresceu. Ele era um paradoxo, se é que algum dia existiu.
— Não, — retrucou. — Não que seja da sua conta.
— Você quer ir para a cama com ela, — Griffin concluiu.
Corretamente, maldita seja sua pele.
— Não, — mentiu. — Não levo peões para cama. Nunca levo.
A última parte era verdade, pelo menos.
— Ela é uma beleza. — Griffin esmagou a ponta do cigarro em um cinzeiro de prata. — Teve metade dos homens da alta sociedade cheirando suas saias. Cristo, você deve ter ouvido os rumores sobre ela. Ela não pode ser uma donzela inocente nesta conjuntura. Ninguém iria culpá-lo por querer provar você mesmo.
Claro que ele ouviu os rumores. Tinha visto com seus próprios olhos a maneira como ela conduzia os homens em uma dança alegre, atraindo-os com suas artimanhas. Beijou-os. Mas algo se desenrolou dentro dele então, alguma necessidade ardente de defendê-la, um ultraje abrasador em seu nome. A Daisy Vanreid que lhe perguntou se já havia batido em uma mulher estava desesperada. E não merecia o desprezo de nenhum homem. Ele acreditou nela. Contra toda razão e racionalização, ele acreditou.
— Você foi longe demais, — alertou o amigo. — A dama é minha esposa.
— Não, realmente. — A expressão de Griffin mudou de desdenhosa para incrédula enquanto examinava o semblante de Sebastian. — Bast. Você a está defendendo como um homem apaixonado. Você está louco?
Que irônico que seu amigo tivesse chegado à mesma conclusão que ele. O que existia em Daisy que o desfez? Sua boca se curvou em um sorriso sombrio e triste.
— Provavelmente.
— Leve-a para a cama, então. — Griffin tomou um longo gole de uísque. — Tire ela do seu sangue. Mas é melhor você dormir com uma adaga debaixo do seu maldito travesseiro.
Sebastian terminou o resto de sua segunda taça. A essa altura, o material finalmente havia começado a fazer seu trabalho, enchendo suas veias com um langor calmante. Beber até o torpor parecia um bom curso de ação para a noite do dia de seu casamento. Talvez isso o impedisse de cometer erros maiores do que os que já havia cometido.
— Griff?
Griffin olhou para o fogo na lareira, aparentemente hipnotizado pelas chamas dançantes.
— Sim? — Ele grunhiu sem olhar para cima.
— Vá para o inferno, — disse sem calor.
Os olhos escuros de seu amigo encontraram os seus, enquanto ele erguia o copo para uma saudação zombeteira.
— Já estou lá, meu velho.
Embora Griffin falasse as palavras casualmente, Sebastian sabia que seu amigo sofria de demônios causados pelo que ele tinha visto e feito, assim como todos eles. Griffin nunca mais foi o mesmo depois de voltar de Paris. Ele era um agente jovem e otimista, apanhado no cerco e feito refém pelos franceses. Quando Sebastian e outro espião finalmente o localizaram e o libertaram, Griffin parecia em nada mais do que um cadáver espancado e emaciado.
Na Liga Especial, sempre havia um preço a pagar, e cada membro pagou sua parte justa em libras de carne.
O peso do momento se estabeleceu em seus ossos. Ele procurou algo irreverente para dizer, alguma forma de distração para os dois.
— O inferno tem um uísque muito bom.
Griffin sorriu e bebeu o resto de seu copo.
— Isso é sim. Quer um jogo de bilhar?
Sebastian terminou seu uísque também. Tinha sido o segundo ou o terceiro? O quarto? Quem ligava. Ele estava ficando embriagado esta noite. Foi o único remédio que lhe restou.
— Prepare-se para perder, meu amigo.
Capítulo 08
Bem. Isso deu um novo significado à velha frase cansada bêbado como um lorde. Embora talvez neste caso, seria mais adequado dizer bêbado como um duque.
Daisy olhou para os olhos turvos de seu marido, que acabara de aparecer, justamente quando ela estava a caminho para o café da manhã sozinha. Ele usava as mesmas calças, casaco e colete que havia saído no dia anterior. Estava amarrotado, seu cabelo desgrenhado, meias-luas escuras estragando a carne sob seus olhos. O cheiro inegável de bebida perfumava o ar.
— Parece que cheguei na hora certa, — anunciou, como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo. — Giles me disse que você está prestes a quebrar o jejum.
Ela preferia de longe quebrar um vaso. Por causa de seu porte arrogante.
Sua boca se apertou enquanto o examinava ainda mais. Como ele ousa, o canalha? Onde esteve? O que estava fazendo além de saquear o estoque de uísque de Londres? Ontem, ela pensou que ele se ressentia de ter que se casar com tanta pressa. Sentiu-se culpada por sua parte em todo o caso. Tinha conhecido um desespero agudo por sua atitude taciturna. Quando ele a deixou sozinha, desejou muito que ele ficasse.
Mas, tentou afastá-la com algum falso senso de honra e desapareceu. O que ele disse? Precisamos de tempo para nos conhecer. Ah, sim, e sua favorita: a pressa incomum com que nossas núpcias aconteceram, roubou de nós a chance de cortejar.
Que absurdo. A única coisa que ele estava cortejando era um mergulho completo. Que tolice dela ter conhecido um momento de remorso por usá-lo para escapar das garras de seu pai. O homem diante dela — de alguma forma ainda bonito, mesmo em seu estado vergonhoso — não merecia uma gota de pena. Era um bêbado ou achara a perspectiva de se casar com ela tão repugnante que precisava encontrar consolo em uma garrafa? Perguntou-se se ele já tinha batido em uma mulher, mas talvez houvesse uma pergunta mais importante que deveria ter feito.
Ele caminhou em sua direção quando ela manteve um silêncio frio.
— Você não tem nada a dizer para mim, esposa?
Lá, na frente dos criados que esperavam para servir em um café da manhã formal, ela varreu a pessoa do duque com indisfarçável desdém.
— Você está bêbado.
Suas sobrancelhas se juntaram.
— E você é impertinente. Garanto a você, não sou nada do tipo.
— Você está usando o traje de ontem. — Ela estava tão irritada que não se importou que não era para dizer o que pensava, e que era decididamente demais fazê-lo na frente dos criados.
Ele fingiu inspecionar a si mesmo antes de encontrar seu olhar mais uma vez com uma indolência que ela achou particularmente irritante.
— Já que estou usando agora, acho que é o traje de hoje.
Um olhar mais atento para seu casaco e calças amassados sugeriu que ele dormiu com eles. Ela não tinha certeza do porquê tal observação lhe traria alívio. Se ele passou a noite nos braços de uma amante, isso não era de sua conta. O casamento deles não foi por amor. Ele nem parecia gostar dela. E, por sua vez, ela só o escolheu porque estava desesperada.
E porque gostava de seus beijos.
Daisy tirou aquela aberração de pensamento da sua mente.
A compulsão de se retirar de sua presença era forte. Como poderia ser afetada por sua atração inconveniente, quando ele passou toda a noite de núpcias bebendo até o esquecimento e cometendo, Deus sabe, que tipo de pecado?
Era isso. Ela precisava escapar.
— Se me der licença, excelência, temo ter perdido o apetite. Vou me retirar para meu quarto pelo resto do dia.
— Não. — Sua expressão era teimosa.
O diabo. Ela o espetou com um olhar feroz.
— Perdão, Sua Graça?
— Acredito que me ouviu, Sua Graça, — ele falou lentamente.
O sinal óbvio da maneira como ele estava desperdiçando a noite — e talvez de manhã cedo também — enrijeceu sua coluna. Por um momento, ela pensou na mulher que ela tinha sido antes, em Nova York, sob o olhar atento de seu pai e éditos severos. Essa Daisy nunca se atreveria a contradizer nenhum homem. Não seu pai. Não seu marido.
Mas o tempo que passou na Inglaterra a mudou. A Daisy que ela se tornara não seria insultada pelo homem com quem se casou. Um homem que parecia ter prazer em deixá-la balançada, que se apresentava num momento fumegante, num outro gelo, e no próximo um malvado.
Ela girou nos calcanhares, apresentando-lhe as costas e uma impressão silenciosa do que ela pensava de seu comportamento grosseiro. Daisy Vanreid — repare nisso — Daisy Trent, como se chamaria agora, não obedeceria humildemente a uma ordem. De qualquer um. Nunca mais.
Naquele exato momento, Giles, que estava imperturbável desde o momento em que ela o conheceu no dia anterior, correu para o meio deles em um ritmo acelerado, sua expressão estranhamente dolorida.
— Vossas Graças, me perdoem, mas infelizmente temos um convidado que se recusa a sair sem audiência, — disse o mordomo.
— Não estamos em casa, — disse o duque sem pensar duas vezes.
Como ele estava acostumado, ela pensou, a sua vida de privilégios aristocráticos. Um duque exigia certo respeito de todos. De seus colegas, de seus servos. Parecia que Daisy era a única que não admirava o marido.
— O cavalheiro em questão afirma ser o pai de Sua Graça — informou Giles em voz baixa, seu olhar indo de Daisy para o duque.
Que estranho todo esse quadro deve parecer, ela pensou ironicamente enquanto uma sensação doentia de mau presságio se desenrolava dentro dela. Ela ficou tensa da mesma forma que sempre fazia antes de um ajuste de contas com seu pai. Desta vez, ele não seria capaz de golpeá-la.
Ele iria?
Ela engoliu em seco e tudo ao seu redor pareceu desacelerar para um ritmo entorpecido. Ela estava muito consciente de cada som, desde o arrastar incomum dos pés de um criado até os passos que se aproximavam pelo corredor. As pisadas pesadas e raivosas de seu pai.
Daisy os reconheceria em qualquer lugar.
Ele espreitou ao virar da esquina, seu olhar iluminando-se sobre ela, a fúria em chamas por cada poro.
— Sua prostituta desgraçada! — Ele gritou.
O mundo ficou pequeno de repente. Tudo girava em torno do homem de cabelos brancos correndo em sua direção como um touro selvagem. Um círculo preto nublou sua visão. A tontura a assaltou. Um som soou em seus ouvidos. Pensou que estivesse preparada para vê-lo novamente. Mas, não estava. Sua reação foi tão aterrorizante e indefesa como sempre.
— Pai, — ela sussurrou. Ele veio em sua direção, mais rápido do que ela esperava, enquanto ela permanecia enraizada no chão, ofegando, o pânico fazendo seu coração bater forte e sua boca ficar seca. Não conseguia se mover. Não conseguiu se defender. Ele ergueu o punho. E ela fechou os olhos, preparando-se para o golpe inevitável.
Sebastian ainda estava bastante nebuloso de sua sessão noturna de bebida com Griffin. Sem mencionar que sua cabeça latejava. Mas, ainda poderia dar um maldito soco como o guerreiro que era. As sessões de boxe o mantiveram em seu melhor desempenho. Então, quando viu o bastardo do pai de Daisy avançando contra ela com a clara intenção de golpeá-la, seus instintos entraram em ação.
Ele se jogou na frente dela, a raiva autêntica passando por ele quando agarrou o punho de Vanreid no ar. Sua outra mão agarrou a gravata do filho da puta e puxou, fechando seu suprimento de ar. As instruções cuidadosas de Carlisle com relação ao homem desapareceram da mente de Sebastian, dissipadas por uma combinação de bebida e emoção crua.
Não importava que ele arriscasse seu disfarce e reputação. Tampouco dava a mínima por não ter sido feito para chamar atenção indevida para si mesmo, já que isso poderia colocar em risco sua missão. Tudo o que importava era a necessidade de proteger Daisy, feroz, rápida e consumidora.
— Você nunca mais irá, — rosnou, a fúria nítida colocando tudo em foco, — levantar a mão contra minha esposa. Você me entende, Vanreid?
O homem era alto, robusto como um boi, mas não era páreo para a força superior de Sebastian. Seu rosto ficou vermelho enquanto engasgava-se para respirar e lutava para remover a mão de Sebastian de sua gravata, sem sucesso. Ele se perguntou como uma beleza delicada e graciosa como Daisy havia saído de uma besta.
— Nunca mais, — repetiu, observando com uma satisfação sombria enquanto seu oponente continuava lutando para respirar. Por um momento, algum demônio selvagem dentro dele imaginou apertar seu domínio e não ceder até que o porco sucumbisse. Havia uma maneira mais rápida e limpa de sufocar um homem, porém, que exigia muito menos esforço. E, em geral, era um plano ruim cometer assassinato diante de seus criados.
Finalmente soltou Vanreid, recuando e puxando Daisy para um abraço protetor ao seu lado. Eles enfrentaram seu pai como uma frente unificada, e embora nada fosse o que parecia, Sebastian sabia que ele faria qualquer coisa para impedi-la de retornar às duvidosas garras deste bruto.
Vanreid ofegou para respirar, seus olhos queimando os dois como carvão em brasa.
— Você se casou com ela?
Tardiamente, ocorreu a Sebastian que — como cometer um assassinato — envolver-se em um diálogo sensível não deveria ser feito na frente dos criados. Seu público atual consistia em uma criada de olhos arregalados, dois lacaios e Giles. Talvez consumir uma grande quantidade de destilados na noite anterior tenha sido imprudente, afinal. Sua cabeça começou a latejar e tudo o mais desapareceu diante da feia intrusão de Vanreid.
Ele limpou a garganta e lançou um olhar significativo para seus criados.
— Talvez devêssemos adiar para uma sala mais privada, Sr. Vanreid.
Um olhar severo de Giles foi tudo o que foi necessário para que os criados se dispersassem com pressa silenciosa, mas respeitosa. Sebastian, Vanreid e Daisy ficaram sozinhos no silêncio assustador, cada um cambaleando de uma maneira diferente, ele suspeitava, sobre os eventos do dia.
A cor de Vanreid havia voltado ao normal, mas ele ainda estava obviamente lívido.
— Preferiria ter uma audiência com minha filha sozinha.
Sebastian lançou um olhar para Daisy, que tinha ficado notavelmente silenciosa durante toda a conversa. Ela estava com os olhos arregalados e pálidos. Estar na presença de seu pai tinha tirado o vento de suas velas. A mão que ele colocou nas costas dela absorveu um tremor.
— Não haverá audiência com minha esposa, — retrucou. Nenhuma chance para o vigarista punir Daisy. Nenhuma chance para machucá-la nunca mais. — Você vai falar na minha frente ou de ninguém.
Os lábios de Vanreid se curvaram em um sorriso de escárnio.
— Quem você pensa que é? Poderia mandar prendê-lo por sua conduta! Apalpando-a em um lugar público, raptando-a para um casamento secreto. Meu Deus, não tenho nenhuma prova de que esse casamento seja válido.
Sebastian deu um passo ameaçador para frente, trazendo Daisy com ele. O desejo de fincar o punho diretamente no nariz de Vanreid era extremamente forte.
— Nosso casamento é legal, vinculativo e consumado. Você falará com minha esposa na minha frente ou não falará. Além disso, você a tratará com cortesia. Você vai lhe dar o respeito que ela merece como Duquesa de Trent. Se você se atrever a dizer uma palavra contra ela, vou expulsá-lo imediatamente.
A mão de Daisy, pousada na curva de seu cotovelo em busca de apoio, apertou-lhe em agradecimento tácito. Mas, ele não queria sua gratidão. Ele queria sua liberdade. Seu casamento era complexo, suas circunstâncias ainda mais. De uma coisa, entretanto, tinha certeza, e era que nunca mais queria ver Daisy Vanreid se encolher de medo de um imundo como seu pai.
— Vá embora agora, pai — disse Daisy, finalmente usando sua voz e reivindicando o poder que havia tanto tempo fora-lhe negado. — Não desejo falar com você.
Vanreid tinha olhos apenas para sua filha, e Sebastian não gostou do que leu nas profundezas sinistras.
— Você me traiu. Paguei generosamente para conseguir um marido para você, e você se desgraçou, agindo como uma vagabunda. Sempre soube que você tinha a natureza pecaminosa de sua mãe.
Daisy empalideceu, seus dedos mordendo a carne de Sebastian.
— Você pagou para que eu cumprisse suas ordens, para me casar com um canalha decrépito cuja crueldade se iguala à sua. Fiz o que precisava para garantir minha liberdade de uma união tão terrível. Quanto à minha mãe, você não é digno de falar o nome dela. Saia agora e nunca mais volte.
— Você vai partir por conta própria — grunhiu Sebastian quando o desgraçado hesitou, parecendo como se quisesse vomitar mais raiva ácida — ou será removido à força, Vanreid. A escolha é sua.
Os olhos escuros de Vanreid brilharam a negritude da noite mais dura e escura enquanto olhava primeiro para Daisy e depois para Sebastian.
— Eu irei. Mas guarde minhas palavras. Este será o seu maior arrependimento.
Sebastian enfrentou oponentes muito mais dignos do que um tirano de rosto avermelhado com tendência a abusar de sua filha inocente. Mas, mesmo assim, algo no semblante de Vanreid gelou seu sangue.
Mantendo sua expressão cuidadosamente rígida, chamou por Giles, que se afastou o suficiente para o decoro, mas não muito longe. O mordomo apareceu, dois lacaios corpulentos de prontidão.
— Sua graça?
— Leve o Sr. Vanreid até a porta, por favor, — Sebastian instruiu Giles, tomando cuidado para manter seu tom lânguido. Seu treinamento estava estampado em sua medula. Não mostre nenhuma fraqueza. Não se incline para ninguém. Não ofereça misericórdia. — Não acho que ele vai voltar.
— Você vai se arrepender disso — sibilou Vanreid, seu tom tão sombrio quanto sua expressão. Aqueles olhos sombrios e diabólicos focados apenas em Daisy. — Marque minhas palavras. Um dia, você vai se arrepender disso, mas então será muito, muito tarde para se salvar.
Daisy caiu sobre Sebastian e ele a segurou com facilidade. Foi um gesto natural, uma reação instintiva, sendo seu apoio. Algo dentro dele queria arrancar a garganta de Vanreid. Para espancá-lo até virar uma polpa de sangue por ousar fazer mal à mulher ao seu lado. Por ousar tentar controlá-la e impingir sua beleza exuberante e vibrante, e sua mente a um velho libertino para seu próprio benefício.
— Vá para o inferno, — Sebastian rosnou enquanto os criados — que eram na verdade muito mais do que meros criados — cercavam Vanreid, estimulando-o a começar sua retirada.
— Você vai se juntar a mim lá um dia, Trent — Vanreid jurou antes de se virar e se afastar.
O pai de Daisy desapareceu de vista no grande salão. O mesmo aconteceu com os criados e o sempre vigilante Giles. No momento em que ele se foi, Daisy se separou de Sebastian. Ele sentiu a partida abrupta como se uma parte de si mesmo tivesse sido removida repentinamente.
— Ele se foi agora, — disse à esposa, desnecessariamente. E porque o silêncio entre eles era estranho, e porque estava perfeitamente ciente de que havia passado a noite de núpcias bebendo uísque, e porque sabia que ela estava descontente com ele.
Não importava que ele não soubesse quem Daisy Vanreid realmente era. Que ela era um enigma para ele. Uma mulher contra a qual foi advertido, mas, mesmo assim ordenado a manter-se perto. Uma mulher que poderia ser capaz de enganos e depravações incríveis se as informações que recebeu sobre ela fossem verdadeiras. Uma mulher por quem foi atraído mais do que qualquer outra pessoa antes dela, contra todo bom senso e certamente contra toda razão.
Ela o encarou, tão augusta quanto a rainha.
— Você nunca voltou ontem à noite.
Ele apertou os pulsos atrás das costas, sem se desculpar porque não podia se dar ao luxo. Mas sentindo-se um canalha, de qualquer maneira.
— Não.
— Você cheira a álcool, — ela acusou. — Diga-me, Sua Graça. Espero que nosso casamento possa pelo menos começar com honestidade. Você tem uma amante? É onde você passou a noite?
Ele olhou-a, sem saber o que dizer. As mulheres não foram feitas para ser tão diretas. Seu pai manteve sua posição na Liga Especial escondida de sua mãe durante toda a união. Também manteve uma amante por quinze anos. Sua mãe nunca soube de nenhum dos fatos.
Mas Sebastian, sim. Sua mãe tinha sido uma boa mulher, de bom coração e gentil. Ela merecia muito mais do que a decepção insensível de seu pai. Sebastian tinha pensado nisso então, e pensava agora. A única diferença era que agora entendia como era carregar o fardo oneroso de ser membro da Liga.
Isso fomentou o engano. Tirou a vida de um homem de suas próprias mãos.
— Não. Não passei, — respondeu a Daisy com sinceridade. Não que seja da sua conta. — Este não é o tipo de diálogo que devemos ter aqui.
Não com os criados por perto. Não quando ainda estava meio embriagado, a cabeça ainda latejando como se o próprio ferreiro do diabo estivesse usando seu crânio como uma bigorna. Melhor ainda, era uma conversa que eles nunca deveriam ter, pois o que ele poderia dizer?
Como iria se explicar quando não podia? Quando não podia nem mesmo confiar nela? Quando ela era sua maldita esposa, e não havia nada que ele quisesse mais do que arrancá-la de suas camadas de roupas e se perder em sua suavidade, mas ele não podia tocá-la? Ontem foi um erro. Ele não tinha o direito de tocá-la, beijá-la, desejar mais. Hoje foi um erro. Estar aqui, agora, no mesmo espaço que ela, respirando seu perfume exótico, era um erro grave.
A miséria deslizou por ele. Não deveria sentir nada por ela. Ela era um meio para um fim. Então, por que diabos seu rosto pálido e ferido o abalou? Por que vê-la tão vulnerável o fazia querer tomá-la em seus braços?
— Onde devemos ter tal diálogo, Sua Graça? — Ela perguntou baixinho no silêncio que havia caído entre eles. — Porque desejo muito saber onde estou.
Uma sensação estranha de aperto começou em seu peito e se instalou em seu intestino.
Culpa.
Certamente, não. Ele foi treinado para nunca ter empatia. Sua capacidade de emoção foi contaminada por anos de vida secreta, de nunca permitir que ninguém violasse suas defesas.
Ele engoliu em seco, incapaz de desviar o olhar dela. Daisy. A mulher com quem ele se casou. A mulher que Carlisle queria jogar na prisão. Jesus, como se ela já não tivesse sofrido o suficiente. Foi culpa, certo. Ele se sentia pior do que um verme maldito.
Ele estava mentindo para ela. Manipulando-a. Usando-a.
Ela poderia ser inocente. Ou ela poderia ser culpada como pecado.
— Venha para o meu escritório em duas horas, — ele rosnou, comprimindo sua consciência firmemente de volta para as profundezas mais distantes e inalcançáveis de si mesmo. Precisamente, onde pertencia.
Capítulo 09
Daisy teria jurado que enfrentou um homem inteiramente diferente ao entrar no escritório do duque.
Ele ficou parado quando ela chegou, mais uma vez mergulhado em sua arrogância costumeira. Nem uma ruga foi encontrada em sua jaqueta, nem um fio de cabelo escuro fora do lugar. Ele parecia bonito e revigorado. Por um momento, foi difícil lembrar sua ira anterior por ter sido abandonada na noite de núpcias em troca de uma garrafa de uísque.
Difícil, mas não impossível.
— Daisy, — ele cumprimentou, seu tom formal ao invés de caloroso. — Sente-se, minha querida.
Ela não sabia qual versão do homem com quem casou-se poderia esperar. Ele era às vezes proibitivo, às vezes insuportavelmente sensual, outras distante e indiferente. Esta manhã, ele havia chegado como o perdedor dissoluto e se metamorfoseado em seu campeão antes de mais uma vez se fechar para ela. Quem ele seria agora?
Arrumando as saias com cuidado, ela se sentou em frente a sua mesa imponente.
— Você já tomou café da manhã? — Ela perguntou, desejando instantaneamente que pudesse chamar as palavras de volta assim que elas deixaram seus lábios.
Ela tomou seu café da manhã sozinha e pensou em enviar-lhe uma bandeja, mas não o fez no último momento, considerando-o indigno de tal ato de consideração. A culpa tinha sido um nó que crescia gradualmente em sua barriga desde então, mesmo que ele não merecesse. Uma coisa tão estranha, ter outra pessoa com quem se preocupar. Viver em uma casa estranha com um homem estranho, com criados cujos nomes ainda não conseguia lembrar e ainda não se sentia pertencer.
Uma expressão estranha passou por seu rosto, como se ela o tivesse assustado, mas também o desagradado ao mesmo tempo.
— Peguei uma bandeja em meu quarto. Obrigada por sua preocupação.
Ela engoliu em seco, entrelaçou os dedos no colo e tentou não parecer tão estranha quanto se sentia.
— É meu dever como sua esposa cuidar de você, Sua Graça.
Sua mandíbula ficou rígida.
— Não, não é. Vou cuidar de mim mesmo como sempre fiz.
Ele estava zangado com ela, mas ela não sabia o porquê. A maioria dos homens não esperaria que uma esposa se certificasse de que estavam bem satisfeitos e bem alimentados? Na casa de seu pai, mantê-lo contente era sua principal preocupação. Com o tempo, descobriu que ajudava a acalmar seus ataques de temperamento. Coisas pequenas, como certificar-se de que cada refeição continha apenas seus pratos favoritos, servidos na temperatura certa, na hora certa do dia.
Mas este homem não era seu pai. Nem, ela esperava, que ele se parecesse com ele. Naturalmente, isso seria visto mais tarde. Ele havia prometido nunca machucá-la, mas ainda sabia tão pouco sobre ele. E o que sabia, a deixou com nada além de perguntas e consternação.
Então, novamente, talvez a revelação dela de que ela tentou prendê-lo fosse a fonte de sua inquietação. Era um pecado seu que possuía totalmente, pois só ela o havia conduzido ao luar. Ele era igualmente responsável pelo que ocorrera a seguir, mas a isca inicial fora obra dela.
Ela apertou os lábios, considerando suas palavras com cuidado.
— Não é minha intenção desagradar você.
Por mais que ele a tenha machucado, ela estava disposta a perdoar. Afinal, ela o havia manipulado. Ter que se casar de maneira tão abrupta não poderia ser fácil para ninguém. Senhor sabia que não tinha sido por Daisy, embora ela achasse sua união com Trent infinitamente mais palatável do que um casamento forçado com Breckly.
Deixando de lado suas ações irritantes, ela queria que eles tivessem um novo começo. Para que seu casamento pouco ortodoxo tivesse uma chance de florescer em vez de naufragar. Embora tivesse passado a maior parte de sua vida sem mãe, ansiava por seus próprios filhos um dia. A ideia encheu seu coração com uma espécie de alegria estourando, enquanto olhava para o estranho ameaçador a sua frente.
Seus filhos seriam dele, por mais estranho que parecesse, e ela não levaria as crianças para uma união infeliz. Ela havia sido o produto de um, e não desejava causar o mesmo pecado a um inocente. No mínimo, teria certeza de que poderiam alcançar o respeito mútuo, se o duque estivesse disposto.
Ele franziu a testa então, mas a severidade disso apenas pareceu intensificar sua aparência, em vez de diminuí-la.
— Você não me desagrada, Daisy.
E ainda assim, cada reação dele sugeria o completo oposto.
— Claro que sim, ou então você não teria me deixado no dia do nosso casamento apenas para voltar na manhã seguinte cheirando a uísque, usando as mesmas roupas com que saiu.
Pronto. Ela disse isso. E uma lágrima humilhante estava pairando no canto de seu olho, droga. Não permitiria que caísse. Não permitiria. Quando ele não falou imediatamente, ela iniciou outro discurso, temendo o silêncio e o que isso faria com ela.
— Entendo que você se ressinta por tê-lo prendido. Não foi justo da minha parte colocar o meu próprio bem-estar e desejos a frente dos seus. O medo de meu pai não é desculpa suficiente. Se eu pudesse refazer o que fiz, o faria, sabendo o quanto estava errada. Mas, gostaria muito que nosso casamento fosse cordial... até agradável. Acho que talvez possamos ser amigos, se você me conceder seu perdão e uma segunda chance. Você acha que pode, Sua Graça?
— Sebastian. — Ele se levantou tão abruptamente que sua cadeira voou para trás, quase tombando.
Ela deveria ter se levantado também, mas algo sobre o homem e o momento a manteve enraizada em sua cadeira, incapaz de se mover.
— Sebastian, — repetiu hesitante enquanto ele circulava a mesa e se aproximava.
Ele era inescrutável, mas determinado. Ele deslizou entre suas saias e a frente de sua mesa, apoiando suas grandes mãos nos braços polidos da cadeira e abaixando a cabeça para encontrar seu olhar.
— Daisy.
Seus olhos eram piscinas gêmeas de fogo quente e azul, queimando nela onde estava sentada.
— Sim?
— Você não me prendeu.
— Claro que sim, — argumentou. — É a razão de você estar tão frio. A razão pela qual você não quer consumar nosso casamento. Compreendo. Verdadeiramente, eu compreendo. O que fiz é desprezível. Eu também não iria me querer.
— Eu quero você. — Seu tom se suavizou. Ele se inclinou, apertando as mãos dela e puxando-a para ficar de pé. Um puxão e ela caiu contra ele. — Segui você. Eu te beijei. Eu desonrei você. Me casei com você. Meu comportamento ontem à noite foi... lamentável. Sinto muito por deixá-la aqui sozinha para se perguntar. Tudo que posso dizer é que minha mente está girando desde que coloquei os olhos em você.
Ela gostou da sensação de seu corpo queimando no dela. E queria acreditar nele, mesmo que uma tendência perturbadora que não conseguia identificar tingisse suas palavras. Seu olhar a devorou com uma fome que ameaçou acender um fogo em resposta dentro dela. Como gostaria de conhecer seu coração. Ouvir o funcionamento interno de sua mente capaz. Ele estava sendo honesto com ela agora? Ou estava, como ela suspeitava, retendo alguma parte de si mesmo?
— Você está apenas tentando amenizar minha culpa, — ela rejeitou, tentando desenredar suas mãos de seu aperto. — Você não deve, Sebastian. O que fiz foi inescrupuloso. Só posso pensar que foi um momento de fraqueza, temendo o retorno iminente de meu pai, o que me levou a agir como fiz.
Ele não permitiria, segurando firme, a conexão de sua pele nua com a dela acendendo a necessidade sempre presente dentro dela em uma chama total e envolvente.
— Você vai parar, minha querida. Um pedido de desculpas não é o que preciso neste momento.
Ela não deveria ousar perguntar o que ele precisava. Tudo sobre seu comportamento havia mudado. Ele quase fumegou. Mas ele era seu marido agora, alguma maldade dentro dela lembrou. Ele era dela. Poderia ousar como quisesse.
Daisy ficou na ponta dos pés, quase encostando sua boca na dele. Sua respiração estava quente, passando por lábios que formigavam com antecipação. Lábios que desejavam ser reclamados.
— O que você precisa, Sua Graça?
Um sorriso de lobo puxou sua boca sensual.
— Sebastian. O que você precisa, Sebastian?
— Sebastian, — ela cedeu. E então sua mente voltou para ela, perfurando a névoa rosa formada por sua necessidade tola. Ele a abandonou na noite anterior, apenas para retornar esta manhã. Embriagado. — Se você me quer tanto quanto afirma, e se não está com raiva de mim por forçar sua mão, então nada faz sentido. Por que você me deixou ontem à noite, Sebastian?
Ele respirou fundo, quase como se ela o tivesse surpreendido com sua ousadia. Bom.
Aqueles belos lábios franziram para ela.
— Honra.
Aqui, finalmente, estava algo arrancado dele com um toque de verdade. O resto, ela estava começando a suspeitar, era pura sedução masculina. Mas, ela enfrentou muitos libertinos bonitos, e tendo vivido vinte anos com medo de seu pai, poderia se endurecer melhor do que ninguém. Ela passou a vida inteira se reforçando contra todos — era uma espécie de talento nesta conjuntura.
E foi este mesmo costume que a levou agora. Não podia esquecer que, por mais bonito e atraente que seu marido fosse, não o conhecia e não podia confiar nele. Assim como nunca foi capaz de confiar em ninguém além de si mesma. Sempre. — Honra fez você se perder em uma garrafa de uísque e só voltar no café da manhã?
— Não exatamente, botão de ouro. — Sua carranca se transformou em um sorriso, embora contivesse pouco calor. — Mas, suspeito que você já sabe disso, sendo a mulher inteligente e cheia de recursos que você é. O que levanta a questão: o que você quer de mim?
Ela não hesitou.
— Honestidade.
Por todos os céus, ela não tinha escapado de uma situação insustentável para outra. E se tivesse interpretado mal os sinais, se retiraria o mais rapidamente possível. Desde seus votos, um novo senso de compreensão havia surgido. Pela primeira vez em sua vida, ela não foi afetada pela tirania vigilante de seu pai. Durante sua temporada, tia Caroline perpetuou o crime por procuração. Mas agora, ela estava livre.
Livre para ser ela mesma. Quem quer que fosse Daisy Vanreid.
Risque isso, ela se lembrou novamente. Quem quer que fosse Daisy Trent. Pois ela estava casada agora. Daisy Vanreid tornara-se duquesa de Trent. Goste ou não. Decepcionante noite de núpcias ou não. Eles estavam presos para sempre. Ela se contentaria com o diabo que escolheu, em vez do diabo que conhecia.
— Honestidade, — disse ele lentamente, como se fosse uma ameaça. — Você quer me dizer que você já foi totalmente honesto comigo, mulher?
Não. Ela não tinha. Ela pensou em Bridget. Pensou em flertes e beijos sem sentido, todos indesejados, encenados em uma manobra desesperada para escapar do destino que seu pai lhe havia escolhido. Eles deveriam importar agora, quando nunca importaram? De alguma forma, tudo o que ela fez voltou à sua consciência naquele momento, zombando dela. Seu noivado tolo, Padraig, amor jovem que não tinha sido amor de forma alguma.
— Você não é o único homem que pensei em uma armadilha em casamento, — confessou, pois ainda não tinha certeza se deveria confiar nele sobre sua irmã. — Eu beijei outros homens, como você sabe. Fiz o papel de namoradeira. Não vou dar desculpas por minhas ações, exceto para dizer que fiz tudo que podia para escapar do destino ao qual estava condenada. — Ela havia dito isso antes, embora não com tanta franqueza.
Um grunhido saiu dele, e então suas mãos seguraram seu rosto, forçando-a a olhar apenas para ele. Como se seus olhos fossem se aventurar em outro lugar. Ele era tudo o que ela via. Tudo que ela queria ver.
Para sempre.
— Não há outros, — ele lhe disse implacavelmente, suas mãos quentes e exigentes sobre ela, — deste momento em diante. A simples menção deles me faz querer rasgá-los membro por membro.
Ela desejou que seu toque não fosse tão delicioso.
— É isso que te incomoda, então? É por isso que você saiu sem dizer nada e se afogou na bebida?
Sua boca endureceu.
— Besteira. Eu sei muito sobre você, Daisy. Muito mais do que você pensa, eu apostaria, mas aqui estou eu.
Ele estava olhando para ela, não estava? Quantas vezes seus olhares foram capturados? Em quantas ocasiões ele habilmente derrubou um vaso ou pisou em uma tábua que rangia no momento certo para evitar que ela se arruinasse? Houve Wilford e quantos outros?
Uma emoção densa, escura e indefinível — algo que lembrava suspeita — se desenrolou dentro dela.
— Por que você estava me olhando? Sempre achei que era porque você também estava interessado em mim. Não foi por isso, foi?
Nunca tinha ocorrido a ela até agora que ele tinha sido a causa de cada interrupção que a poupou de sua ruína. Como um protetor. Ou alguma outra coisa. Algo preocupante. Algo muito preocupante, de fato.
Ele encontrou seu olhar agora, sem vacilar.
— Eu olhava porque queria você para mim. — Seu polegar traçou o canto de sua boca. — Você estava correta em sua suposição. Então, você vê, minha querida? Não estou zangado com você por me prender, pois fui eu quem prendeu você. Foi minha consciência culpada que me afastou de você na noite passada, e minha consciência culpada que me manteve longe.
— Sua consciência culpada, — ela repetiu, pois era realmente difícil dar sentido a qualquer coisa quando o polegar dele adorava o arco de seu lábio superior, demorando-se com uma carícia delicada que fez seu coração disparar em um galope constante. Ele pensou que a tinha prendido?
— Sim. — Seu olhar estava fixo em sua boca agora, faminto e brilhante. Mas uma sugestão de carranca permaneceu entre suas sobrancelhas escuras. — Minha consciência culpada. Bem quando pensei que não tinha uma.
Sua admissão a atingiu, e não pôde evitar sentir que ele tinha sido o mais sincero desde que o conheceu. Durou apenas um instante, e então o sedutor experiente voltou. Seu polegar seguiu a costura de seus lábios, uma, duas vezes.
Ela beijou a almofada carnuda, permitindo que sua língua disparasse contra sua pele para provar. Salgado e delicioso, e Sebastian. Ela queria mais. Mas, também queria uma conversa. Alguma ideia de quem eles eram e para onde estavam indo.
— Parece, então, que nenhum de nós deveria mais suportar o peso de uma consciência culpada, — observou ela, permitindo-se tocá-lo pela primeira vez desde o início da estranha entrevista. As mãos dela deslizaram para dentro de seu casaco, pela seda de seu colete, a carne firme e musculosa ondulando sob suas camadas de civilidade. Ele parecia, em uma palavra, divino.
Tão bom que não pôde evitar deslizar todo o caminho ao redor de seu abdômen tenso até que alcançou suas costas. Aqui, ele estava rígido. Calidez brilhou por ele. Ela pressionou as palmas das mãos no côncavo logo acima de seus quadris. Apertou-os com força, deslizando ao longo de músculos e ossos, a rigidez de seu comportamento, absorvendo-o, aprendendo-o, marcando-o como dela.
Tanta liberdade, a habilidade de tocá-lo como desejasse. Para admirar sua masculinidade sólida, tão diferente de suas curvas suaves. Ela era exuberante onde ele era magro, e ele era forte e robusto onde ela era pequena. Que dicotomia deliciosa era o homem e a mulher.
Nunca havia lhe ocorrido antes deste momento como era incrivelmente perfeito, como ela se encaixava nele e ele, nela. Mas agora, ela sentia isso, e era... incrível. Sua respiração ficou áspera, combinando com a dela. Sua boca estava muito perto. Ela tentou não olhar para aqueles lábios perfeitamente cinzelados de desejo. Tentou não querê-lo.
Mas, falhou miseravelmente.
— Daisy. — Uma palavra — o nome dela — arrancada dele. Ele parecia estar com dor.
Talvez ele estivesse. Seu lindo rosto estava todo rígido quando ela tirou os olhos de sua boca. Ela não sabia o que dizer neste momento de intensa possibilidade, desejo zumbindo no ar como uma corrente. Sua mente disparou, enredando-se em nós, e tudo o que conseguia pensar era que era errado sentir uma emoção tão arrebatadora por um homem que mal conhecia.
Ela queria conhecê-lo. Tudo dele. Queria saber como soava a risada dele, como a pele dele cheiraria se pressionasse o nariz no ângulo sombreado de sua mandíbula.
— Não sei nada sobre você. — Tentou entender o efeito que ele tinha sobre ela. — Não faz sentido que eu deva sentir o que sinto por você.
Ele acariciou sua bochecha com uma ternura que desmentia o calor abrasador de seu olhar.
— Nada faz sentido, botão de ouro. Nem você, nem eu, nem o que estamos fazendo aqui ou como nos encontramos, e onde estamos. Me diga, o que você sente? Por mim?
Por alguma razão, sua mente sobrecarregada pensou primeiro na forma de seu físico: sua força ilusória, músculos tensos, nem um indício de carne sobressalente sobre osso. Ele era maior do que ela havia percebido em tal proximidade. Capaz de fazer mal a ela se quisesse. E ainda assim, não o temia. Ele abaixou a cabeça, trazendo seus lábios cada vez mais perto. Perto o suficiente para que ela pudesse balançar para frente, tomar sua boca.
— Saudade, — ela sussurrou. — Eu desejo... e eu sofro. Ninguém nunca me fez sentir como você, Sua Graça.
— Sebastian. — Com uma mão, ele segurou seu rosto, posicionando-a como se ela esperasse seu beijo. Sua outra mão vagou. Seus dedos viajaram por sua garganta, demorando-se por um momento no oco onde seu pulso batia forte. — É gratificante ouvir isso, considerando que sou seu marido.
A severidade em seu tom não passou despercebida por ela. Oh céus. Ela estragou tudo, não foi? Mas como poderia pensar corretamente quando suas mãos estavam sobre ela e ele estava tão perto, seu toque tão conhecedor e delicioso, enfraquecendo qualquer resolução que ela ainda tivesse?
— Você é um estranho para mim, — ela o lembrou. — Minha surpresa vem do fato de que eu te conheço há tão pouco tempo, e você já mudou muitas coisas para mim.
— Mais do que você imagina, botão de ouro. — Sua boca se apertou enquanto seus dedos percorriam seu decote, através das protuberâncias gêmeas de seus seios. Ela esperava que ele não percebesse que ainda estava usando o mesmo vestido de ontem. Em algum momento, ela precisaria buscar seus pertences, se de fato seu pai permitisse.
Ela engoliu em seco, tentando conter o desejo, enquanto ele deslizava a renda e o corpete com acabamento de contas antes de deslizar para baixo de seu espartilho.
— Fale-me sobre você, Sebastian.
— Não há muito o que contar. — Ele encontrou seu mamilo, rolou-o entre o polegar e o indicador.
Daisy não conseguiu conter o suspiro. O peso entre suas pernas pulsava com cada puxão de seus dedos inteligentes.
— Quantos anos você tem?
— Tenho trinta anos. — Ele se inclinou mais perto, pressionando um beijo na pele logo abaixo da orelha. — Quantos você tem, querida?
Céus, sua língua estava sobre ela. Lambendo. Escaldante. Seus dentes beliscaram suavemente. Ela não conseguia pensar. Aqui estava o homem, por quem ela estava atraída, finalmente em seus braços. O sedutor. O amante perverso. O que ele perguntou?
Anos, lembrou-se tardiamente. Ele perguntou por sua idade.
— Vinte. — Ela se preparou contra seu poderoso fascínio. — Você tem irmãos? Uma mãe?
Ele fez uma pausa, seus lábios contra sua garganta.
— Ninguém neste mundo.
Ela reconheceu a dor em sua voz, o arrependimento. Um vislumbre do homem verdadeiro, cru e real, apareceu através de sua fachada arrogante.
— Sinto muito, Sebastian. — Ela passou as mãos nas costas dele em carícias suaves, procurando acalmá-lo.
— Puta merda. — Abruptamente, ele se endireitou, afastou seu toque e colocou as mãos firmes em sua cintura, afastando-a dele. Sua respiração estava difícil, seus olhos escuros e ilegíveis. — Eu prometi a você um namoro, não uma foda na mesa do meu escritório.
Suas palavras fizeram seu rosto queimar. Ela já tinha ouvido falar essa palavra grosseira antes, o suficiente para saber o que significava. Mas, pela primeira vez, teve um apelo até então desconhecido para ela. O apelo dos ímpios. Verdade seja dita, não se oporia a uma foda na mesa de seu escritório, e quaisquer delícias desconhecidas que tal coisa acarretaria.
Ela sabiamente se absteve de dizer isso em voz alta, mesmo enquanto sentia a perda de seu toque tão intensamente como se ele tivesse tirado uma parte intrínseca dela. Cruzou os braços sobre o peito, observando-o enquanto ele se transformava mais uma vez diante dela. Ele era tão mutável quanto o tempo, parecia. Ensolarado, garoa, uma torrente. Não podia prever qual versão de si mesmo ele seria de um momento para o outro.
— Jesus. — Ele passou a mão pelo cabelo, fixando o olhar em algo por cima do ombro enquanto tentava se recompor. — Sinto muito, Daisy. Não deveria ter dito algo tão profano a uma dama. Para minha esposa.
— Acho que já ouvi coisas piores. — Ela procurou amenizar sua preocupação, mesmo quando notou a inflexão estranha em sua voz quando a chamou de sua esposa. Como se fosse algo insondável. Ou talvez até mesmo indesejado.
Ela não foi criada para ser uma flor delicada. Embora seu nome fosse Daisy, ela nunca se relacionou com seu homônimo — caules delgados e flores brilhantes e alegres que não murchavam. Todo aquele show brilhante e cabeças penduradas como se envergonhassem dentro de alguns dias. Seu pai queria que ela fosse esse tipo de mulher. Bonita por fora, mas mansa e suave, facilmente dobrável. Ela o havia desafiado uma e outra vez, suportando as terríveis consequências. Ele ainda não a tinha esmagado. E talvez, ela estava começando a perceber, a verdade real era que ela era intransponível, afinal.
— Mesmo assim, — ele disse rigidamente, — imploro seu perdão. Agora, se você me dá licença, minha querida, tenho alguns assuntos que precisam da minha atenção. Te vejo no jantar, sim?
Ela estava sendo dispensada. Um arrepio percorreu seu corpo. Incrustável, mas tinha seu orgulho.
— Sim, claro. Me perdoe. Sem dúvida, há uma série de coisas que devo cuidar também.
Sim, ela tinha certeza de que havia. Ela tinha uma casa para administrar. Uma casa e criadas para se familiarizar. Em algum lugar, havia uma biblioteca repleta de livros que poderia ler. E, no entanto, o que queria mais do que qualquer uma dessas coisas era permanecer aqui, desfrutando da presença do duque de Trent. Como ele a confundia.
Talvez fosse assim que o casamento fosse tratado entre a aristocracia. Tendo passado a maior parte de sua vida em Nova York, sem mãe, Daisy mal sabia o que esperar. Ninguém a havia preparado. Tia Caroline lhe havia contado algumas bobagens sobre sempre ser uma esposa obediente, atendendo a todos os caprichos do marido. Nunca expressando uma opinião contraditória.
Ela se virou para ir embora, percebendo que estava parada ali olhando para ele como uma jovem camponesa olhando para o primeiro homem bonito que já tinha visto. Ela sabia quando sua presença não era mais desejada, e não desejava permanecer onde não era desejada. Havia cometido um erro ao se casar com o duque? Presa pelas circunstâncias, ela poderia estar. Tola, ela não era. Parece que só o tempo pode decidir.
A mão de Daisy estava na maçaneta intrincada da porta do escritório quando ele a chamou.
— Daisy.
Ela se virou para encará-lo. Ele ficou onde ela o havia deixado, diante de sua mesa, tão bonito que seu coração deu uma pontada no peito.
— Sim?
— Seu vestido. — Ele acenou com a mão para abrangê-lo, da cabeça à bainha. — Você fica deslumbrante nele, mas não se pode deixar de notar que é uma repetição do de ontem. Irônico vindo da mulher que me repreendeu por um crime semelhante.
Ela franziu os lábios.
— O crime não foi semelhante em todos os sentidos. Além disso, a pura verdade é que só cheguei aqui ontem com este vestido e mais nenhum outro. Não tenho certeza se meu pai vai me permitir voltar para recuperar meu guarda-roupa.
— Você não vai voltar lá, — ele ordenou com o ar de um homem acostumado a dar ordens. Afinal, era um duque. — Envie um intermediário e, se o Sr. Vanreid não permitir que você fique com seus pertences, encomende novos vestidos. Vestidos com botões até a garganta. Disseram-me que essa é a moda atualmente.
Afinal, ele havia notado.
— Obrigada, Sebastian. — Ela se virou para sair novamente com um pensamento em mente.
Que estranho que ele prestasse atenção especial à moda feminina. Principalmente quando corpetes de gola alta eram decididamente demais. Sim, isso era realmente muito estranho.
Capítulo 10
ela estava atrasada.
Sebastian caminhou enquanto esperava que Daisy se juntasse a ele para o jantar. Ele puxou o relógio para descobrir que apenas um maldito minuto havia passado desde a última verificação. Droga, ela o tinha em um alvoroço. Sua mente estava confusa como um campo após a batalha e tão sombrio e desolado.
Seu atraso não era o único pecado que ele poderia colocar em sua porta. Ela o estava deixando louco, porra. Louco de culpa, louco de frustração, louco de aversão a si mesmo e, o pior de tudo, louco de luxúria.
Sua necessidade era como uma besta pulsante e furiosa, que queria pular fora de sua jaula e devorá-la com uma única e voraz mordida. O que havia em Daisy Vanreid que o fazia querer lamber, beijar e mordiscar, pilhar, moer e foder até que a enchesse com sua semente?
O pensamento foi o suficiente para deixá-lo rígido como uma lenha, mesmo vestido para o jantar e irritado, espreitando o sinteco polido enquanto a esperava. Ele desejou que sua luxúria esfriasse. Contou seus passos. Um, dois... dez... quinze. Olhou para o retrato do Terceiro Duque de Trent, algum dia Lorde Privy Seal. Pensando em como era uma bênção que os homens não fossem mais obrigados a usar perucas em nome da moda. Lembrou-se da aparência de Paris após o cerco, seus cidadãos reduzidos a comer ratos, edifícios transformados em escombros, cadáveres por toda parte.
Vinte e dois... vinte e nove... trinta e quatro.
Não estava funcionando, droga.
Nada poderia distraí-lo dela. Do que tinha feito. Do que queria fazer e do que quase fez. Jesus, ele quase a tomou. Em sua mesa. Em seu escritório. Sabendo que ela era suspeita de traição. Sabendo que Carlisle pretendia vê-la lançada em uma prisão. Tudo nele pedia que a virasse, levantasse a saia e deslizasse para dentro. Era terrível perceber o quão bem e verdadeiramente depravado ele se tornara ao longo de seus anos servindo a Coroa.
O que diabos estava acontecendo com ele?
E Daisy? Ela foi gentil. Doce, na verdade. Genuína também. Como ele, ela desempenhou muitos papéis e mostrou uma série de rostos diferentes para as pessoas ao seu redor. Mas ela estava se entregando e sendo verdadeira. Ele ouviu muito claramente a simpatia autêntica em sua voz quando ele revelou que não tinha família viva, exceto ele mesmo. Sentiu o conforto em suas mãos gentis, em seu abraço.
Maldito, maldito inferno.
Simpatia era a última coisa que queria dela. O que queria mais do que tudo era o corpo dela sob o dele. Tomando-o, estremecendo contra ele, saboreando sua reivindicação sobre ela. Ele não queria gostar dela. Não queria se preocupar com o fato de que, para uma mulher que havia sofrido abuso brutal nas mãos de seu pai, ela era rápida com compaixão e preocupação. Que ele a estava manipulando, enganando, e ela poderia ser inocente. Que nada — nenhuma quantidade de consciência ou raciocínio — diminuiu o quanto queria reivindicá-la. Mesmo se estivesse errado. Mesmo que fosse fingimento. Mesmo que tudo entre eles fosse uma mentira cuidadosamente elaborada para traí-la e torná-la vulnerável.
Nada disso fazia o menor sentido.
Assim como não fazia sentido que ali estivesse ele, andando de um lado para o outro pelo corredor como um tigre enjaulado, esperando por ela, quando muito bem poderia ter ido tomar um copo de uísque, e Giles o chamaria quando ela finalmente se dignasse a se juntar a ele para jantar.
Finalmente, ela apareceu no topo da escada, começando sua descida graciosa como se não estivesse — ele consultou o relógio novamente — trinta e três minutos atrasada. Quando ele olhou-a, sua boca ficou seca e uma fome que não tinha nada a ver com o jantar, e tudo a ver com ela bateu direto em seu peito.
Seu vestido era de brocado púrpura com saias amplas e em camadas com alfinetes de flores e enfeitadas com rendas. Seus ombros de marfim estavam nus de dar água na boca acima das mangas pequenas e delicadas. Mas a característica mais marcante de seu vestido era a fita que se cruzava sobre um corpete que abraçava seu busto maduro e cintura marcada com perfeição. A fita amarrada em um lindo laço entre os seios.
Ele nunca quis desamarrar uma fita mais em sua vida do que agora, enquanto bebia sem palavras, ao ver a mulher mais bonita que já tinha visto. Sua mulher, e sentia a posse dela em seus ossos como se fosse tão certo, natural e necessário quanto seu próprio sangue. Algum demônio nele, algum impulso selvagem, queria mantê-la.
Para sempre.
Que diabos?
Ele franziu a testa, sentindo como se uma salva de canhão tivesse explodido em sua cabeça.
— Você está atrasada, — gritou, sua voz um pouco mais afiada do que pretendia.
Ela vacilou no último degrau, perdendo o equilíbrio e caindo para a frente. Como uma criança atraída por um doce, ele já havia caminhado até a base da escada, seu corpo inconscientemente procurando por proximidade. Quando ela caiu, foi diretamente em seus braços. Ele a pegou, suave e quente, com cheiro de bergamota, e insuportavelmente adorável.
Seus cachos dourados roçaram sua mandíbula.
— Sebastian. — Ela parecia sem fôlego.
Suas pequenas mãos espalmadas contra seu peito, marcas gêmeas através de três camadas de tecido. Quando ela deu um passo para trás, ele a segurou firme. Ele disse a si mesmo que era para ter certeza de que ela estava firme em seus pés. A verdade era que queria abraçá-la. Ele a desejava. Tinha que tê-la.
— O jantar foi definido para meia hora atrás. — Alguma parte grosseira dele, aquela parte em guerra consigo mesmo, o forçou a emitir a admoestação fria. Poderia ter dito tantas outras coisas. Dizer-lhe como estava incrivelmente linda, por exemplo. Exigir que girasse sobre os calcanhares e voltasse para seu quarto para que ele pudesse tirar o vestido que ela levou metade da tarde para vestir.
O empurrar e puxar dentro dele foi como um gongo. Tinha que tê-la. Não poderia tê-la. Não deveria. Não poderia. Precisava. Desejava. Droga, quando essa missão se tornou tão complicada? O primeiro momento em que ele pôs os olhos na deusa deslumbrante e complexa que era Daisy Vanreid. Foi exatamente quando.
Ela inclinou a cabeça para trás, considerando-o com aquele traço, a intensa consideração dela. Uma carranca franziu as sobrancelhas, a única imperfeição em seu rosto, e ele queria alisá-la com os lábios.
— Perdoe-me por deixá-lo esperando. Foi preciso muita... persuasão por parte dos criados enviados à casa de meu pai. Quando meus vestidos chegaram, já era bem tarde.
Sua voz, doce e quente, deslizou por ele como mel para os seus sentidos. Por Deus, parecendo-se, cheirando e soando como ela, ele poderia perdoá-la de qualquer coisa. Até traição, sussurrou uma voz insidiosa dentro de sua mente.
Consciência? O diabo? Ele não sabia.
Ele se forçou a limpar a garganta repentinamente grossa e formar uma resposta.
— O jantar é servido às oito aqui. Agora que você tem os enfeites de que precisa, espero que seu atraso não aconteça novamente.
Sua expressão mudou, seu sorriso desaparecendo. Ele sentiu a perda daquele sol tão visceralmente quanto uma extração de dente. Estava sendo um canalha. Sabia disso. Mas maldição, nunca esteve tão dividido entre o dever e o que sentia. Ele não foi feito para ter sentimentos. Era malditamente feito para não sentir nada. Em. Tudo.
— Já que meu atraso perturbou tanto o seu bom humor, talvez você deva me soltar para que possamos ir ao jantar sem mais demora. — Seu tom era azedo. As profundidades de seus olhos brilharam com algo indefinível.
Ela era feroz. E certo. Jesus, ele ainda a segurava em seus braços como se não pudesse suportar libertá-la. Não a deixou ir. Isso era o quão perfeito ela se encaixava, o quanto a besta dentro dele precisava para mantê-la ali.
Ele a afastou como se ela fosse feita de chamas em vez da carne feminina mais tentadora que já havia tocado.
— Claro. Queria ter certeza de que você estava firme em seus pés.
O olhar que ela lhe deu era sabedor.
— Sim, naturalmente. Obrigada por verificar minha... estabilidade.
O que ele poderia dizer para tal atrevimento? Gostaria muito de colocar sua estabilidade em perigo mais uma vez, arrastando-a para o quarto mais próximo, levantando suas saias e passando a mão por sua coxa até a fenda em suas calças. Ele acariciaria sua pérola até que ela gritasse por ele, deslizando os dedos dentro para testar sua abertura apertada e prepará-la para seu pênis.
Querido Deus, o fogo nele estava queimando fora de controle. Ela havia envenenado seu chá da tarde? Ele engoliu em seco. Curvou-se para ela com uma precisão formal que era a antítese da fria crueza que se agitava dentro dele.
— Permita-me acompanhá-la ao jantar, Duquesa?
Ela segurou seu braço estendido.
— Achei que você nunca iria perguntar, duque. O jantar será servido às oito, você sabe.
Embora ela parecesse tão equilibrada e majestosa como qualquer dama nascida para desempenhar o papel de duquesa, havia um tom inconfundível de riso em sua voz. Ela zombou dele. A ousadia da mulher nunca deixaria de surpreendê-lo. Enquanto a conduzia para a sala de jantar, ele percebeu, com bastante atraso e para sua consternação, que também estava sorrindo.
Estava louco, então.
A descida havia começado.
Daisy mal provou a sopa de repolho. A sopa estava saborosa, mas doce, indescritivelmente deliciosa, embora ela não levasse mais do que cinco colheres cheias aos lábios antes de acenar para um dos criados presentes para levá-lo embora. Seus olhos eram apenas para o homem sentado à sua frente.
Sebastian. Duque. Marido.
Ele era todas essas coisas e ainda assim permaneceu, mais do que qualquer uma dessas descrições, um enigma. Um homem que não conseguia entender, mas a quem foi atraída pela loucura de uma criança olhando para o sol. Essa loucura só poderia levar a um final ruim. Cegueira? Uma dor de cabeça? Pior?
Não importa. Não estava com fome de sopa.
Estava faminta por ele.
Por suas mãos sobre ela, pela maneira como a segurava, como se fosse tão necessária quanto o ar. Tanta força gentil naquele toque. Nem um grama de raiva, nem mesmo quando ele travou uma batalha silenciosa dentro de sua mente. Ele não conseguia se esconder dela tão bem quanto imaginava que poderia.
O silêncio se estendeu, estranho e interminável, enquanto o próximo prato era colocado diante deles. Salmão com Creme — um belo pedaço de peixe envolto em um molho delicado. Daisy deu uma mordida, mas não levou aos lábios. Durante a maior parte da refeição até agora, Sebastian evitou cuidadosamente seu olhar.
Por outro lado, ela não conseguia tirar os olhos dele. Estranho como nunca havia notado como as cordas de seu pescoço eram tentadoras. Um impulso errante de colocar seus lábios nele, absorver seu pulso, provar sua pele, a atingiu. Ele ergueu os olhos do jantar naquele momento e seus olhares se encontraram. A consciência chiou entre eles, mesmo quando ela corou ao ser pega olhando para ele como se nunca tivesse visto um homem em carne e osso.
— Minhas maneiras são negligentes? — Ele perguntou em um tom de provocação, seu gelo anterior derreteu.
Suas bochechas ficaram mais quentes. Ela ansiava por pressionar as palmas das mãos neles.
— Me perdoe. Nunca fui adepta do silêncio.
Isso, pelo menos, era verdade, embora o estivesse cobiçando apenas pelo prazer que isso lhe dava. Não havia necessidade de lhe dizer isso, no entanto. Ela já tinha feito papel de boba.
Um meio sorriso curvou seus lábios. Ela sentiu seus efeitos sensuais em uma onda de desejo que a inundou tão repentinamente quanto o sol enchia um quarto escuro.
— Que reconfortante. Achei que talvez tivesse bechamel no queixo.
Daisy apertou os lábios, suprimindo um sorriso. Como era agradável brincar com ele. Esse lado relaxado e carismático dele — um lado que ele parecia reservar e revelar apenas com moderação — a fazia sentir como se todo o vinho que bebeu tivesse subido à cabeça.
O que ele disse de novo? Ah sim. Agora se lembrava. Ela ergueu uma sobrancelha.
— Tenho certeza de que você deve saber que o molho do prato de peixe não é bechamel, Vossa Graça.
Ele deu a ela um sorriso devastador e completo.
— Nunca fui adepto da cozinha francesa. Atrevo-me a dizer que isso nos deixa quites, botão de ouro.
Botão de ouro.
Gostava quando ele a chamava assim.
— Meu atraso para o jantar e sua confusão sobre o molho?
Seu olhar procurou o dela antes de pousar em seus lábios.
— Concordo, então. Uma troca justa, não? Vou te perdoar por me fazer esperar pelo meu jantar, e você vai me perdoar por ser um idiota ignorante.
— Posso pensar em muitas maneiras de descrevê-lo, mas 'idiota ignorante' nunca seria uma delas, — ela confessou antes que pudesse pensar melhor em sua admissão. Afinal, não seria bom permitir que ele tivesse muito poder. Para deixá-lo saber o quão facilmente a afetou.
— Oh? — O olhar dele deslizou de sua boca, voltando para seus olhos com tanto calor que seus mamilos se endureceram ali mesmo na mesa com servos de sentinela, e uma mesa de porcelana e talheres, e comida fina entre eles. — Você se importaria de me esclarecer?
Lindo. Sedutor. Arrogante. Misterioso. Sensual. Perigoso.
Ela forçou sua mente a parar de desencadear a torrente de possibilidades, nenhuma das quais falaria em voz alta. Muitos adjetivos na língua inglesa poderiam ser aplicados ao homem singular à sua frente. Se suas bochechas estavam quentes antes, agora estavam positivamente em chamas. O jeito que ele a olhou — uma fome tão franca e uma civilidade mal controlada — a deixou sem fôlego.
Ela se contentou com alguns com conotações menos condenatórias.
— Distraído e ocasionalmente irritante.
Ele riu então, e foi agradável e profundo. A risada dele encheu sua barriga com calor. Ela não tinha ouvido isso antes, e não conseguia afastar a impressão de que ele não ria com frequência. Talvez ela pudesse trazer mais leveza ao seu mundo. Seus olhos se enrugaram, uma covinha até então invisível aparecendo em sua bochecha direita. Apenas o certo. Ela queria beijá-lo.
Que bobo, e ainda assim seus lábios desejavam conhecer aquele sulco tanto quanto seu coração desejava fazê-lo rir novamente. Fazê-lo rir com frequência. Sua vida tinha sido de muita miséria e solidão, para sempre presa sob o domínio de outra pessoa, para sempre forçada a ceder às expectativas de seu pai.
Agora, ela estava livre, e sentiu aquela nova liberação de verdade pela primeira vez enquanto sentava-se lá com seu salmão não comido, e o homem com quem ela se casou em um redemoinho rindo em frente. A esperança era uma coisa delicada e arejada crescendo dentro dela como um balão de ar quente.
— Eu me oponho ao irritante, — ele disse finalmente, ainda sorrindo para ela mesmo depois que sua alegria diminuiu. Uma sugestão daquela covinha preciosa permaneceu, envolvendo seus lábios macios. — Distraído, no entanto, terei prazer em admitir.
Seu tom era íntimo e sincero. Ela engoliu em seco, pensando que seria muito imprudente se apaixonar pelo marido no segundo dia de casamento.
— Suponho que depende da definição do termo, — disse asperamente para se distrair do quão bonito ele era, e quão facilmente poderia cortejá-la quando ficava charmoso. — Cutículas soltas também são uma distração. Assim como farpas e dores de cabeça.
Ele jogou a cabeça para trás e riu de novo, o som rico e incontido. A covinha voltou com força total e ela não conseguia desviar os olhos.
— Você pode não ser adepta do silêncio, querida, mas você tem um talento especial para uma pausa adequada.
Ela nunca teria ousado falar com tanto abandono antes. A vida sob as regras estritas de seu pai a ensinou a segurar a língua e erradicar qualquer indício de audácia ou opinião. Mas, não estava mais sob o controle do pai e estava começando a apreciar esse fato de novas maneiras.
Ela se viu sorrindo para seu marido muito bonito.
— Eu estava exercitando a lógica, Sua Graça. Entenda como quiser.
Ele ficou sério, seu olhar se tornando intenso, sua expressão de uma fome sem disfarce.
— Acho que terminamos o prato de peixe, — anunciou aos servos, sem nem mesmo olhar na direção deles. — Traga o próximo em vinte minutos. Qualquer pessoa que nos perturbar antes que esse tempo tenha passado, será demitido sem referência. — Seu olhar prendeu o dela, derretido e faminto, cheio de significado.
Daisy sentiu toda a força daquele olhar, começando com uma pulsação de necessidade entre as coxas e irradiando por todo o corpo. Seus mamilos já duros se endureceram ainda mais, e ela sentiu uma urgência repentina de mais uma vez ter a boca dele ali. Sucção. Mordiscando, talvez até.
Deus do céu. Seu olhar estava fazendo coisas perversas com seus sentidos e mente. Desviou o olhar para observar enquanto os servos partiam obedientemente, fechando a porta atrás deles com uma graça prudente.
Eles estavam sozinhos, com vinte minutos para chamar de seus. Talvez devesse ficar envergonhada por ele ter dado uma ordem tão flagrante aos criados. Vinte minutos sozinhos, entre os pratos. Sua motivação seria óbvia para eles, é claro. Não se detinha um jantar pela metade. Não, a menos que as intenções de alguém sejam escandalosas. Impuro. Perigoso. Outro adjetivo veio à tona em sua mente quando ela voltou os olhos para o marido a tempo de vê-lo desdobrar o corpo alto e musculoso de sua cadeira.
Delicioso.
— Por que você interrompeu o jantar, Sua Graça? — Ela perguntou, sem fôlego, apesar de suas melhores intenções. Ele não a envergonhou diante de seus servos? Golpeie isso. Diante de seus servos? — Pensei que sua fome fosse a razão de seu ressentimento anterior comigo por causa do meu atraso.
Ele se moveu com a graça cautelosa de um gato predador. Um gato grande e predatório. Um tigre, ela pensou, antes de pensar melhor na escolha. Não, era um leão. Orgulhoso, forte e selvagem. E bonito. Sim, era inegavelmente isso.
— Agradeço a pontualidade, — disse ele, como se isso explicasse seu comportamento. — E é Sebastian, botão de ouro, como eu já lhe disse. Não há mais formalidade entre nós. Não gosto disso.
Ele contornou a mesa, sem tirar os olhos dela. Nenhum senhor que ela já vira dignificar os salões de baile de Londres era como ele. Era como se ele fosse uma raça própria, mesmo que ela não pudesse determinar exatamente o que o diferenciava de todo o resto. Riqueza e títulos nunca significaram nada para ela. Bondade, sim. Compaixão, também — duas coisas das quais ela vira muito pouco até agora, seja em casa ou aqui na Inglaterra.
Mas, não era isso. Qualquer um poderia ser compassivo. Qualquer um poderia ser gentil, se quisesse. O duque — Sebastian, ela deve pensar nele assim agora — tinha sido as duas coisas para ela por vezes. E ainda, havia algo mais sobre ele que o marcava como diferente. O mistério, as sombras em seus olhos, a força potente, a maneira como distribuía partes de si mesmo em pequeníssimas quantidades, que ela tinha certeza de que só tinha conhecido o equivalente a um dedal cheio... eram todas essas coisas e mais. Ele era como uma tempestade de verão: agressivo, repentino e bonito em seu jeito severo e poderoso.
Ele não parou até estar atrás dela. Ela ficou paralisada, esperando, seu coração batendo mais rápido do que os cascos de um cavalo assustado em uma estrada. Cada parte sua clamava por seu toque. Por fim, as mãos dele, grandes e quentes, pousaram em seus ombros nus, logo acima das mangas em camadas de seu vestido de noite. Apenas um toque, a pele dele na dela, e ainda assim parecia insuportavelmente íntimo. O desejo ricocheteou por ela.
Sua respiração estava quente, seus lábios roçando em sua orelha enquanto ele falava.
— Um verdadeiro cavalheiro nunca deve se levantar na presença de uma dama enquanto ela permanece sentada.
Ela sabia disso, é claro. Afinal, havia sido treinada. Seu pai havia feito o possível para que ela se casasse com o marido de sua escolha. Um aristocrata nascido na púrpura com título. Talvez ela devesse ter ficado quando ele o fez, por uma questão de educação. Mas ela estava muito preocupada em observá-lo para tomar nota de qualquer outra coisa.
Respire, repreendeu-se, respire. E ela o fez, inalando lentamente, recusando-se a ceder à tentação de virar a cabeça e encontrar sua boca com a dela. Afinal, eles estavam cortejando, não estavam? Além disso, ele continuou a ser um homem que ela pouco conhecia, apesar de agora serem marido e mulher.
— Você não é um verdadeiro cavalheiro, então? — Forçou-se a perguntar quando os polegares dele começaram a traçar um padrão preguiçoso de círculos em sua clavícula.
— Um cavalheiro seguiria uma dama ao luar, com a intenção de seduzi-la? — Algo quente, úmido e firme — sua língua, ela percebeu, traçou as pontas de sua orelha.
Ela estremeceu, embora não fosse de medo. Foi com outra coisa, algo muito mais dominante. Sua própria necessidade. Suas mãos permaneceram no colo, mas agora ela agarrou punhados de tecido, apertando o brocado para evitar tocá-lo.
— Uma dama levaria um cavalheiro ao luar? — Ela injetou uma leveza em seu tom que ela mal sentiu. Afinal, não estava isenta de culpa na situação em que agora se encontravam atolados. Ela não tinha se perdoado ainda, mesmo que parecesse que sim.
Suas mãos deslizaram mais para baixo, para os seios dela, continuando sua sedução cuidadosa e constante. Redemoinhos em sua pele. Círculos de desejo que ameaçavam incendiá-la. As pontas de seus dedos roçaram a fita que enfeitava seu decote. Embora soubesse que era devasso e não deveria, ela arqueou as costas ligeiramente, como se estivesse oferecendo. Seus mamilos ansiavam por seu toque. Ela se sentia tão enrolada como uma mola, todo o seu ser uma pilha de gravetos secos prestes a ser incendiados.
— Talvez sejamos uma combinação perfeita, botão de ouro. — Suas palavras eram baixas, tingidas de desejo, tornando-as quase um rosnado selvagem. — Não sou um cavalheiro, e você não é uma dama.
Ou eles revelaram o pior um do outro ou o melhor. Daisy ainda não havia decidido. Tudo o que sabia era que ele a estava incendiando lentamente, e ela não podia suportar mais provocações. Seu corpo ansiava — não, estava faminto — por algo, algo mais profundo e significativo do que o que eles já haviam compartilhado. Não sabia o que era, o que ele poderia lhe dar que já não soubesse, mas seu instinto lhe dizia que ultrapassaria de longe qualquer coisa que ela experimentou até agora.
Queria que ele a reivindicasse. Para fazer coisas perversas com ela. Para torná-la sua.
Ele deslizou sob seu corpete então, entre sua camisa e sua pele, sob seu espartilho. Aqueles dedos experientes encontraram seus mamilos com persistência infalível, rolando-os, mordiscando, puxando. Tirando um gemido dela. Seus lábios pressionaram sua garganta, logo abaixo de sua orelha.
— Por que você mandou os criados saírem? — A pergunta a deixou, uma repetição da pergunta que ela já havia feito. Foi uma tentativa desesperada de autopreservação. Porque cada parte dela desejava que ele continuasse fazendo o que estava fazendo e muito mais. Muito mais. Qualquer coisa que ele desejasse. Céus, este homem era uma pura e feliz tortura.
— Não pode um homem desejar ficar sozinho com sua esposa? — Ele arrastou os dentes lentamente pela coluna de corda de sua garganta. Quando ele alcançou seu ombro, deu uma mordida brincalhona enquanto beliscava seus mamilos novamente.
A dor entre suas coxas aumentou. Seu corpo parecia sem ossos, a respiração presa em antecipação, o centro dela molhado e desejoso de uma forma que nunca tinha conhecido antes. Era vergonhoso o quanto ele podia fazer com que o desejasse.
— Você disse que devíamos cortejar, — lembrou-o enquanto sua boca se abria sobre sua carne, chupando e mordendo antes de acalmar a picada com sua língua.
— Isso é cortejar. — Ele tirou a mão esquerda de seu corpete e baixou-o para o seu colo, acomodando-o onde ela segurava a saia. Seus dedos se enredaram enquanto sua mão direita continuava a brincar com seu mamilo. — Se eu pudesse, teria você curvada sobre esta mesa agora, botão de ouro, com sua saia em volta da cintura e meu pau tão profundo dentro de você que-
Uma batida discreta soou na porta da sala de jantar naquele momento. Como o tempo passou com tanta rapidez? A voz calma e totalmente apropriada do mordomo interrompeu o momento.
— Sua graça? Desculpe a interrupção, mas o próximo prato chegará em dois minutos.
— Droga. — Sebastian exalou contra sua garganta.
Sim, droga, ela ecoou interiormente. Alguma parte perversa dela que não sabia que existia ainda, ansiava por ouvir o resto do que ele estava prestes a dizer. Coisas tão perversas e devassas. Tão baixas e no âmago, ela deveria se ofender como qualquer dama bem educada faria. Mas o que ele disse iria provocá-la a noite toda. Seu pênis dentro dela. A mera ideia foi o suficiente para fazê-la sair de sua pele.
Sua mão se retirou de seu corpete.
— Eu deveria ter pedido uma hora inteira.
Seu tom era severo. Tão sombrio quanto ela se sentia. A perda de seu toque era uma dor latejante, onde quer que sua pele a tivesse tocado pela última vez. Agindo apenas por instinto, ela finalmente soltou a saia, estendendo a mão para trás para detê-lo quando ele queria se soltar. Ela pegou a bochecha dele na palma da mão, as cerdas de seus bigodes uma abrasão bem-vinda em sua palma. Ela havia optado por não usar luvas na ocasião da intimidade do ambiente e estava profundamente feliz por isso agora.
Daisy se virou finalmente, de modo que suas bocas quase roçaram.
Seus olhos encontraram os dele, desafiando as faíscas que ela viu. O calor. O querer.
— Sim, — concordou, — você deveria.
E então, pressionou seus lábios nos dele.
Capítulo 11
ela o beijou.
E era inexperiente. Nem um pouco astuta. Nenhum indício de sedução. Sem provocações. A boca de Daisy simplesmente se voltou para a dele, procurando. Mas, sua abordagem só fez a fera furiosa dentro dele ter fome de mais. E então, ele a encontrou no meio do caminho, reivindicando, obrigando-a.
Ele enfiou a língua em sua boca, gemendo seu apreço por sua ousadia, sua mão agarrando suas saias por sua própria vontade e levantando-as mais alto. Acima, passando dos joelhos, quase até as coxas. Ele encontrou o caminho de volta para o calor convidativo de seu corpete, onde a plenitude de seus seios o fazia desejar mais.
Ele pegou seu lábio inferior entre os dentes e mordeu. Quase tinha estado na fenda doce em suas calças, sua língua tomando sua boca do jeito que desejava reivindicar sua boceta, seus dedos passando por meias e fitas de cetim, sobre as coxas macias que ela separou apenas para ele. E então, outra batida veio na porta. Giles novamente. Sempre discreto. Sempre circunspecto.
Foi um aviso final. Adiar os criados mais uma vez, colocaria as línguas lá embaixo abanando mais do que já haviam feito. Ele e Daisy eram recém-casados e tinham alguma liberdade. Mas, pedir um intervalo de vinte minutos seguido por outro, seguido por apenas-o-Senhor-sabia-o-que, estava testando os limites da propriedade mais do que deveria, e até Sebastian sabia disso. Havia também a preocupação, mordiscando-o, de que os olhos e ouvidos de Carlisle pudessem estar entre seus criados.
Com um beijo final e completo, e um beliscão no botão doce e firme de seu mamilo, ele se retirou. A força de vontade necessária para se libertar dela tinha sido proporcional ao tamanho de seu pênis, ambos os quais tornaram sua retirada repentina de volta para seu assento um esforço decididamente doloroso.
Eles alegremente passaram para o próximo prato, fingindo um ar não afetado que era tão honesto quanto colar joias na garganta de uma atriz. Molho de filé no Bife a Madeira com Feijão Verde, como aconteceu. Foi a primeira vez na vida que ele teve um bife perfeitamente cozido em seu prato e não quis comer uma maldita mordida.
Porque tudo o que queria — o único maldito alimento que o satisfaria — era a linda mulher, imprevisível e indigna de confiança com quem foi forçado a se casar. Como diabos, Carlisle imaginou que um homem poderia casar-se com uma deusa como Daisy Vanreid, sendo ele um membro leal e jurado da Liga ou não, sem que ela o tentasse à ruína?
Sebastian tinha um copo de uísque na mão agora enquanto olhava para a porta adjacente de seu quarto, e ele não conseguia imaginar ninguém que não quisesse foder Daisy até o esquecimento. Ela era tão atraente, tão sensual, tão inatamente bela. Também era ousada e audaciosa, espirituosa e corajosa, inteligente, calorosa e suave, lenta para irritar, fácil de rir.
Normalmente, não bebia com frequência, e especialmente não durante o curso de uma missão, mas algo sobre a situação em que se encontrava o fazia querer beber um barril inteiro de bebida alcoólica, se isso acalmasse os demônios que o devoravam.
Estes que lhe disseram para abrir a porta entre eles, ir até a mulher com quem casou-se e levá-la. Para arrancar cada pedaço de tecido que mantinha seu corpo longe dele até que ela estivesse completamente nua. Para jogá-la na cama, abrir suas deliciosas coxas e tomá-la para si.
Ele gemeu. Sob o robe, seu pênis estava mais duro do que nunca, furioso e pulsando com a ideia de se enterrar em carne macia, molhada e feminina. Mas não qualquer mulher. Daisy. Cristo, sim, havia algo sobre aquela atrevida americana de cabelos dourados que o fez moldar-se a Odisseu, e ela a uma das sereias. Uma bela e inegável isca levando-o para as rochas traiçoeiras da costa.
Seu barco estava fadado a afundar, se a seguisse. No entanto, de alguma forma, não conseguia ficar longe. Não queria. Sua pele era mais macia do que a seda onde ele a provou, a beijou, sentiu o batimento rápido de seu coração. Fosse o que fosse que chiava entre eles, era inegável, e ela sentia isso tanto quanto ele.
Sem nem mesmo perceber que havia se movido, ele se encontrou do outro lado do quarto, a mão na maçaneta que o separava dela. Jesus. Isso estava ficando fora de controle. Ele bebeu o conteúdo de seu copo, saboreando a queimadura que apenas um bom uísque poderia fornecer, e então o colocou de lado. Não houve nenhum som do outro lado da porta enquanto ele respirava algumas vezes e desejou que sua excitação furiosa diminuísse.
Ir ao seu quarto era uma tolice e ele reconheceu. Mas, não conseguia manter distância dela. Uma respiração, duas respirações. Seu pênis estava mais duro do que um busto de mármore. Três, quatro. Ainda não diminuindo. Cristo, essa propensão para contar era tudo culpa dela, e precisava malditamente terminar.
Ele pensou na rainha. Pensou no funeral da avó materna. Cinco, seis. Tentou lembrar de algum poema de Shakespeare, mas as únicas linhas que lhe vieram à mente tinham o nome dela.
Quando margaridas crescem e violetas florescem.
Dane-se tudo para o inferno. Mais palavras voltaram para ele, zombeteiras. O cuco, então, em cada árvore zomba dos homens casados, pois assim canta...
Maldito, maldito inferno. Deixe que Shakespeare zombe dele também, como uma farpa bem posicionada. Ela não era dele. Não para manter, não importa o quanto a desejasse. Isso tudo era tolice. Ridículo. Indizivelmente estúpido. E, ainda assim, não podia tirá-la de sua mente.
O seu cheiro — bergamota, baunilha, âmbar gris — ainda enchia seus sentidos como se ela estivesse diante dele. Seus dedos queimaram com a lembrança da sensação daqueles pequenos botões duros dos seus mamilos.
A distração não estava funcionando. Nem o estava detendo. Ou respirando. Precisava vê-la. Precisava tocá-la. Ele bateu com força na porta. Esperou que ela respondesse. Esperava que o mandasse para o inferno.
Em vez disso, ele ouviu sua voz doce, tão calmante e agradável aos ouvidos.
— Você pode entrar.
E ele realmente entrou. Maldição se ouvir o convite dela não fez o sangue bater mais forte em suas veias enquanto ele pensava em outro tipo de convite. Outra forma de entrada que ele poderia fazer em seu território. Ele era um bastardo inescrupuloso, mas ele caminhou através de seu quarto da mesma forma.
Ela estava de pé perto da cama, vestida apenas com um penhoir de seda com babados e cinto na cintura. Era creme e a cor pálida não fazia justiça a ela, mas parecia o tipo de coisa que uma jovem poderia ter encomendado para o enxoval de casamento. Ele não pôde reprimir a satisfação profunda que se enraizou dentro dele ao perceber que era ele quem a via naquele penhoir e ninguém mais.
O efeito total de sua beleza o atingiu então, visceral e cru. O deixou cambaleando. Ele a acolheu, a mulher com quem se casou, a megera que deveria ser sua ingênua, mas de alguma forma sempre parecia tê-lo na palma de sua mão delicada. Cristo, ela era adorável.
Seu cabelo estava solto, enviando ondas longas e polidas em cascata por suas costas. Ansiava por enterrar o rosto naquelas mechas, agarrar um punhado de meadas douradas, envolvê-las em sua mão, puxar a cabeça dela para trás e abraçá-la com força enquanto ele devastava sua boca com seu beijo. Sua cintura era pequena mesmo sem o espartilho, seus seios cheios e altos, quadris tão exuberantes como imaginou que seriam. Seus pés descalços e tornozelos elegantes apareciam sob a bainha de seu vestido para provocá-lo.
Era assim que ele deveria tê-la visto na noite anterior. Como queria vê-la todas as noites pelo resto de sua vida. O pensamento o atingiu antes que pudesse contê-lo.
Uma palavra ecoou em sua mente. Triunfante. Fervendo. Errado.
Minha.
Terrivelmente errado, mas de alguma forma também certo. Ela era sua. Talvez não para sempre, mas agora, neste momento, era sua esposa. Ele era seu marido. Seu corpo queria o dela, e seu corpo... seu corpo cantava para ele. Era como se ela fosse feita para seu toque. Ele nunca compartilhou um desejo desta magnitude com outra mulher.
Mas havia uma razão pela qual ela era dele, uma razão pela qual casou-se com ela, e o dever não permitiria que ele esquecesse, independentemente do quanto precisasse dela. Ele recebeu ordens de usá-la para obter informações. Obter qualquer pedaço de conhecimento sobre seu pai. Desvendar o que ela sabia sobre fenianos, conspirações e bombas. Possivelmente vê-la enviada para a prisão, e a mera ideia foi o suficiente para fazê-lo sentir a pontada de vergonha nos ossos. Como ele poderia saber a verdade, enganá-la, mas querê-la assim?
— Boa noite, — forçou-se a dizer, fazendo o papel de cavalheiro quando tudo o que desejava fazer era arrancar o penhoir dela, tomá-la nos braços e prendê-la na cama onde poderia beijar, lamber e morder vagarosamente, e foder cada parte dela a noite toda.
Ele parou com uma distância segura. E esta parecia de alguma forma inacessível e imensa ao mesmo tempo.
Daisy parecia nervosa. Seus dedos agarraram o nó do cinto, puxando-o como se procurasse aprender todas as sensações táteis que pudesse.
— Boa noite, Sebastian, — retornou, um sorriso tímido curvando seus lábios generosos.
Ela tinha usado o nome dele sem que pedisse, e ele interpretou isso como um bom sinal. Ele se aproximou ainda mais, o que provou ser um erro no momento em que o cheiro dela o atingiu como um soco no queixo.
Ele engoliu em seco, reprimindo sua excitação com um punho interno de ferro.
— Sinto muito por ontem, — desculpou-se novamente, e não sabia o porquê. As palavras deixaram sua língua antes que pudesse se lembrar delas. Deveria ir embora. Dar uma beijoca na bochecha dela e voltar para seu quarto, onde ele pertencia.
— Ontem já está perdoado. — O sorriso em seus lábios carnudos se aprofundou, floresceu em seu rosto de uma forma que o atingiu diretamente na virilha.
— Generoso de sua parte, — ele rangeu, irritado consigo mesmo pela maneira como ela o afetava. Como era possível que o simples ato de estar em seu quarto, dentro de seu lugar encantado, pudesse reduzi-lo a um jovem inexperiente prestes a se afogar em sua própria luxúria?
Daisy ergueu uma sobrancelha.
— Dificilmente. Eu me considero igualmente necessitada de perdão.
Sua confissão despertou uma parte adormecida dele. O espião voltou à vida. Em sua experiência, sempre houve um grão de verdade a ser encontrado em tudo. Houve algum pecado pelo qual ela precisava de perdão? Será que uma consciência pesada se escondia atrás de sua bela fachada de deusa? Não podia descartar suas associações tangenciais com McGuire e os Fenians, não importava o quanto desejasse. Embora, infelizmente, nem mesmo a suspeita diminuiu sua excitação desenfreada.
Ele manteve o tom suave.
— Perdão, botão de ouro?
Um rubor forte começou a tingir suas bochechas. Seu olhar nunca perdeu o dele.
— Por minha parte em forçar este casamento a você. Sei que você afirma ter me desejado, mas você não tem noção de quanta culpa eu sinto. Eu era tão egoísta, tão desesperada para escapar do que meu pai planejou para mim, e tirei sua liberdade de escolha.
Ah. O espião dentro dele foi adequadamente apaziguado. Ela ainda — ingênua que era — imaginava que tinha sido responsável por seus votos precipitados. Se o que ela afirmava era verdade, quão terrivelmente pouco ela conhecia do mundo em que vivia. Ele poderia ter varrido seu pequeno escândalo para debaixo do tapete e seguir em frente com sua vida. Nesses assuntos, um homem não assume a culpa. Mas, para uma mulher, a ruína era completa e para sempre. Ele não lhe devia — uma bela e descarada herdeira americana com uma reputação já diminuída — nada. Ninguém poderia tê-lo forçado a torná-la sua duquesa para salvar a Coroa.
E, para dizer a verdade, a Coroa tinha feito exatamente isso, embora por nenhuma das razões que Daisy teria suposto.
— Sua culpa é equivocada, — disse-lhe solenemente, seu olhar viajando sobre cada curva e reentrância de seu rosto. Se ele estava procurando uma falha, não encontrou nenhuma. — Já disse que a culpa é só minha.
Outra mentira, mas já havia contado muitas. Mesmo neste momento de descuido em seu quarto, onde não deveriam ser nada mais do que um homem e uma mulher, ele a estava manipulando. Forçado pelas circunstâncias, seu dever e sua missão de mantê-la no escuro.
Ainda assim, embora tivesse suas ordens, elas não exigiam que a seduzisse. Que a usasse. Para saciar suas necessidades em seu corpo lindo e receptivo. Sua presença em seu quarto era um pecado que só ele poderia possuir. Ele se considerava um homem de honra até Daisy entrar em sua vida. Ela o trouxe para a beira de seus limites. Além deles agora, pois as motivações que o conduziam neste momento certamente não eram fruto da honra, do dever ou do bem. Não, seu ímpeto era baixo e profundo, escuro e condenatório. Luxúria. Necessidade. Fome. A dor física de reivindicá-la, de possuí-la. Cristo, sentiu todo o caminho até seus malditos ossos.
— Acho que você é muito generoso, — ela disse, então.
Ele reprimiu a gargalhada amarga que ameaçava emergir. Generoso. Hã. Não era nada disso. Era ganancioso. Egoísta. Pecador. Sua consciência voltou a emergir, lembrando-o de que havia uma missão em mãos. Uma missão de muito maior importância do que afundar seu membro dolorido dentro da boceta da beleza etérea diante dele.
Não importa o quanto a necessidade o separasse por dentro.
— Seu pai, — ele perguntou, aproveitando a abertura em seu diálogo. Seu senso de dever se recusou a permitir que perdesse este momento, independentemente do quanto a queria. — As intenções dele para o seu casamento sempre foram transparentes? Você veio para Londres sabendo o que ele esperava de você?
Seus longos cílios baixaram sobre seus olhos brilhantes por um momento, abanando contra suas bochechas.
— Sabia que ele queria que eu me casasse com um aristocrata. Eu tinha acreditado tolamente que vir para Londres me concederia um mínimo de liberdade. E de alguma forma, imaginei que teria a escolha de quem seria meu marido. Como fui tola em pensar que ele não faria qualquer coisa para me controlar. Eu deveria saber.
A voz dela abafou para quase um sussurro no final. Jesus, se ela era uma atriz, então possuía um talento muito maior do que qualquer atriz que ele já testemunhou pisando num palco. Ele achou que a viu — a verdadeira Daisy Vanreid — pela primeira vez. Ela viveu uma vida de terrível opressão sob a brutalidade de seu pai. Vir para a Inglaterra seria sua fuga. Em vez disso, isso se transformou em sua prisão de mais maneiras do que ela ainda não tinha percebido.
Lá estava ele de novo, aquela consciência maldita que jurou não ter, rasgando-o com a precisão de uma adaga bem afiada. Ela havia sido mantida sob o domínio de seu pai tirano. Ela pensou que, de alguma forma, conseguiu sua independência. Achava que era casada com um bom homem, um homem que merecia suas desculpas, que poderia ser um verdadeiro marido para ela.
Ele não era aquele homem.
E ele já a tinha usado — pretendia usá-la muito pior — do que o pai dela. Em nome da Coroa, do país, da Liga e de seus próprios malditos desejos. Ele era um bastardo, um pecador, um mentiroso e um espião.
Vá embora, a voz dentro dele, uma voz que ainda continha um pingo de honra, avisou. Dê a ela boa noite e vá embora antes de fazer algo de que se arrependerá. E ainda assim, não podia. Não conseguiu se forçar a girar sobre os calcanhares. Não conseguiu proferir gentilezas educadas antes de desejar a ela um sono agradável e se retirar para seu quarto.
Em vez de sair, se aproximou. Um passo, dois passos, três. Lá estava ele mais uma vez, a maldita contagem. E não conseguia parar. Não conseguia parar o que queria fazer. Não conseguia parar a maneira como ela o fazia se sentir. As mãos dele agarraram sua cintura, puxando-a.
Ela caiu sobre ele com a certeza de uma volta ao lar depois de uma longa jornada. Os olhos verdes vívidos se arregalaram, os lábios exuberantes se abriram de surpresa com a brusquidão de sua ação. As mãos dela bateram em seu peito, e ele estava feliz por estar usando apenas um robe, pois isso significava que havia uma fina camada de tecido entre suas peles.
Ele deveria pressioná-la para obter mais informações sobre seu pai, mas não conseguiu. Não podia passar mais um segundo sem esmagar sua boca sob a dele. Ele tomou seus lábios com toda a turbulência agitando-se por ele, e nada da delicadeza que ela merecia. Sua língua traçou a costura de seus lábios uma vez antes de empurrar para dentro para saquear. Ela tinha um gosto decadente, como o molho de framboesa que foi servido sobre o pudim de biscoito no jantar, e como algo escuro e delicioso que era naturalmente, Daisy.
Seu corpo era exuberante e quente sob o esplendor de seda de seu penhoir. Tentando-o. Ele queria arrancar o obstáculo, preencher-se com ela. Para enchê-la com seu pênis. Em vez disso, ele deslizou as mãos pela sua cintura para segurar as protuberâncias redondas de seu traseiro atrevido. Sem pensar em sua inocência, apertou-a contra ele, seu pênis se esticando entre eles, duro e pronto.
Você não pode tê-la. As palavras de Carlisle voltaram à sua mente de repente, batendo nele junto com a luxúria. Um lembrete pontudo, provocando-o. Ele tinha um dever para com a Liga e seu país, juramentos a cumprir. O que diabos estava fazendo, beijando Daisy, prestes a arrancar seu penhoir e se afundar dentro dela? Porra, isso era tolice. Ele arriscou muito. Ela é um veneno para você.
Sim, era, como um botão de ouro. Seu botão de ouro. Linda, ousada, atraente e venenosa. Mas Daisy era o tipo de veneno que o mataria lentamente. Deixá-lo eufórico até que finalmente sucumba. E ele queria aquele veneno. Queria tanto que a necessidade dela ameaçava quebrá-lo.
Não podia confiar nela. Ela era filha de um dos inimigos mais perigosos da Inglaterra, a ex-noiva de um bastardo vil, decidido a morrer e destruir. Carlisle acreditava que tinha evidências suficientes ela para eventualmente vê-la na prisão.
E nada disso importava nem um pouco quando ela estava em seus braços.
Ele a beijou com mais força, procurando puni-la por fazê-lo desejá-la tanto que estava disposto a abandonar tudo o que passou sua vida construindo apenas para tê-la. Mas também queria marcá-la, por seu rótulo. Para ter certeza de que ela saberia que o que quer que acontecesse entre eles, alguma parte dela sempre seria dele, sempre desejaria retornar a esta noite quando foram selvagens e perversos juntos.
Ela gemeu, tensionando contra ele, os picos duros de seus seios cavando em seu peito. Ela tinha mamilos tão doces e responsivos. As mãos dela acariciaram seu peito, mais alto, ligando-se ao pescoço enquanto o beijava de volta com abandono. Línguas duelavam. O sangue trovejou direto para seu pênis, suas bolas apertando como se tê-la assim fosse o suficiente para fazê-lo se passar por um jovem imaturo. Seu coração disparou.
Cama.
Precisava dela na cama. Agora. Precisava dela despojada de cada pedaço de tecido que a mantinha longe, a beleza de seu corpo exposto, as pernas abertas. Queria saborear a essência dela, dar-lhe uma liberação, tremores somente com a sua língua. Inferno, sim.
Um, dois, três. Ele a conduziu para trás sem interromper o beijo. Jesus, aí estava. Contando novamente. Não muitos passos o impedindo de fazer o que queria. Sua língua em sua boca. Seus dentes mordendo seu lábio inferior. Delicioso. Ela era tão deliciosa.
E ele estava louco, sua cabeça nadando com luxúria, corpo encharcado em desejo não saciado, consciência em turbulência. Errado, estar com ela assim era errado. Injusto com Daisy. Uma traição ao seu juramento. Ela pode ser perigosa. Ela poderia estar o enganando. Cristo sabia que a estava enganando.
Ele não deu a mínima para nada além de Daisy enquanto dava outro passo, depois outro, até que sua perna se encaixasse entre as suas coxas macias. Seu penhoir se abriu. Sebastian soltou seu traseiro com uma mão e pegou sua veste, arrastando-o para o lado. Nada além de pele nua serviria. Pressionou-se mais para dentro dela. A parte interna das coxas sedosas deslizou contra ele, deixando-o em chamas. Mais uma vez, lentamente. O beijo se aprofundou. Ele não parou até que ela montou em sua coxa, presa entre ele e a cama em suas costas.
Nada poderia tê-lo preparado para o primeiro toque de seu calor escorregadio. Molhado, tão molhado. E pegando fogo. Maldito inferno, ela o queimou. Com um suspiro chocado, ela se arqueou, arrastando-se por ele, deixando um rastro de sua umidade.
Santo Deus.
Loucura. A loucura pura e absoluta foi o que o fez pegá-la nos braços e colocá-la na beira da cama, com as pernas ainda abertas, o penhoir aberto. Sua coxa estava molhada, e ele sentiu a perda de seu calor em uma pontada que o rasgou. Rompendo o beijo, ele ficou em pé, permitindo-se o prazer de vê-la tão completamente destruída.
Senhor, ela era um espetáculo para ser visto.
A boca dela estava inchada com o beijo dele, lábios vermelhos e suculentos como xarope de framboesa. Seu penhoir se abriu, o nó em sua faixa se soltou em seu ato sexual frenético, deixando seus seios parcialmente livres também. Seu olhar viajou mais para baixo, para o V de seu penhoir. Fatias gêmeas da carne cremosa de suas coxas acenaram, sua boceta quase exposta.
Ele nunca tinha visto uma mulher mais bonita.
Ou uma mulher que ele queria mais.
Jesus, ela o abateu.
— Sebastian? — Daisy estava sem fôlego, seus olhos procurando os dele. Ela parecia atordoada, corada. Consumida pela mesma torrente de desejo que o percorria como uma torrente de sangue.
Ele não sabia qual era a pergunta dela, mas a resposta era sim. Absolutamente. Inegavelmente. Sim. Para tudo. Para qualquer coisa. Para o que ela desejasse. Para Daisy, a resposta sempre seria sim.
Ele reconheceu a verdade disso quando ela se esparramou na cama, esperando que ele fizesse sua reivindicação. Tanta coisa estava em jogo, tantas palavras não ditas, tantas falsidades e bloqueios entre eles, aparentemente intransponíveis. Mas, estava aproveitando este momento porque era um bastardo egoísta, e iria dar a ela o que ela queria. O que ele precisava tanto lhe dar.
Liberação.
Jurou para si mesmo que não a tomaria, não importa o quanto desejasse. Não era certo ou justo para ela, não quando ela não sabia a verdade por trás de sua união. Não quando ele pretendia obter uma anulação. Mas, poderia dar-lhe prazer. Só desta vez, mesmo que isso acabasse com o processo.
— Tire o penhoir. — O comando foi arrancado dele.
Ela engoliu em seco, o olhar procurando o dele, um lindo rubor rosa tingindo suas maçãs do rosto salientes.
— Você deseja consumar o casamento, afinal?
Sim, gritou cada maldita parte dele.
— Não nesta noite, — tranquilizou-a em vez disso, inclinando-se para frente e pegando sua cintura. Lentamente, ele a ergueu sobre o centro da cama e a abaixou até que sua cabeça se aninhasse nos travesseiros, uma abundância de cachos dourados espalhando-se por toda parte. — Hoje à noite nós nos familiarizaremos mais.
Familiarizaremos. Um verbo tão leve e bobo para o que ele pretendia fazer. Quase sorriu com o absurdo disso quando se juntou a ela na cama, se reajustando para manter a barreira de seu próprio robe intacta. Esticando o corpo ao lado do dela, deitou-se de lado, um cotovelo apoiado em um travesseiro para lhe dar apoio. Sebastian não resistiu e afundou os dedos nas exuberantes mechas de seu cabelo. Como seda polida, caiu de volta no travesseiro, provocando seus sentidos com uma nova onda de bergamota e âmbar cinza.
— Você não pode se familiarizar comigo enquanto estou usando meu penhoir? — Daisy perguntou, encontrando seu formalismo em meio a um renovado senso de modéstia.
Ele sorriu então, deslizando uma leve carícia em sua bochecha. Ela ainda estava corada, e dane-se se ela não parecia totalmente deliciosa deitada ali, tímida e bonita como o pecado.
— Posso, mas não será tão agradável para nenhum de nós, botão de ouro.
Seus dedos permaneceram no nó que prendia seu penhoir no lugar, segurando com força.
— Agradável, Sua Graça?
Ele estremeceu com seu retrocesso, o hábito de usar seu título como se fossem estranhos em uma sala de estar trocando gentilezas. Ela parecia voltar à formalidade sempre que ficava nervosa.
— Sebastian, — ele a incitou pela que certamente foi a centésima vez, colocando sua bochecha em sua palma e roçando seu dedo polegar sobre aquele seu lábio inferior irresistível.
Ela precisaria de algum incentivo, parecia. A bravata que a levou a desafiá-lo a ter sua chance no Baile de Beresford foi exatamente isso. Estava começando a entendê-la um pouco, esta tormenta selvagem de verão envolta em uma deliciosa forma feminina. Uma camada interna se escondia sob o rosto feroz que ela mostrava ao mundo, uma que era vulnerável.
— Não tenho certeza se estou de acordo com essa declaração. — Ela o olhou com cautela, seu olhar caindo para sua bochecha direita por um momento antes de pousar mais uma vez nos seus olhos.
Sua covinha desonesta, percebeu, e ocorreu-lhe que a tinha visto olhando para ela em mais de uma ocasião. Obviamente, precisaria fazer uso disso com mais frequência. Por alguma razão maluca, imaginou os lábios dela pressionando o sulco em sua pele. A marca da felicidade, como sua mãe a chamava.
Uma bênção, ela disse, sua voz doce cheirando a amor maternal. Sebastian sempre achou que era uma maldição, uma imperfeição que tornava seu rosto assimétrico. Mas a maneira como o olhar de Daisy se fixava com uma expressão tão extasiada, ele estava começando a pensar que talvez sua mãe estivesse certa, afinal.
— Com qual afirmação você não concorda, querida? — Perguntou-lhe com uma intenção atrevida. — Que nos familiarizaremos sem o robe como um impedimento será agradável, ou meu nome?
— Seu nome, — respondeu a atrevida, surpreendendo-o com um sorriso provocador. — Tenho certeza de que seu nome é algo sensato e apropriadamente arrogante, algo mais na linha de William ou Alistair.
Uma sensação estranha, pesada e quente e totalmente desconhecida, deslizou por seu peito enquanto compartilhava um sorriso com ela. Que diabos foi isso? Alguma sensação estranha de... certo? Essa era a palavra adequada? Não, ele decidiu instantaneamente. Mais do que provavelmente, era outra coisa, causada por um desejo frustrado.
— Sebastian não é um nome sensato? — Ele traçou a ponte de seu nariz com o dedo indicador.
Estranho como até mesmo tocá-la ali, em um local aparentemente tão inocente, fazia suas bolas se contraírem em antecipação. Ele hesitou na ponta, os dois conectados por um toque tão infinitesimal e ainda a torrente de necessidade entre eles tão profunda e furiosa. Ela podia sentir isso também, essa atração inevitável que compartilhavam, acendendo e ameaçando queimar em uma chama completa. Ele podia ver na forma como os olhos dela brilharam, as pupilas dilataram, a boca exuberante se abriu e o hálito de sobremesa de framboesa passou pelos lábios dele.
A framboesa nunca foi tão intoxicante.
— Nunca pensei que fosse um nome sensato, — disse ela no silêncio carregado. — Embora talvez lembre o tipo de homem que fica grosseiro quando sua esposa se atrasa para o jantar.
A risada explodiu dele antes mesmo que soubesse que estava lá. Tinha sido um completo rude com ela, não foi? E apenas porque achava tão difícil mantê-la à distância de um braço quando tudo o que queria era mantê-la aqui, assim: calorosa, sorridente e bonita, os olhos dela rindo nos dele, a boca rosa decadente apenas a um mergulho de sua cabeça para ser beijada.
Puta merda.
Antes que os pensamentos de dever, lealdade e dúvida pudessem detê-lo, ele deixou cair a mão no lugar que já lhe era familiar, sua cintura, e baixou a boca para a dela. Encaixando seus lábios nos dela, ele a beijou, persuadindo-a a responder com uma pressão suave. Ele tomou seu tempo com aquele beijo, bebendo dela, saboreando-a.
— Tenho certeza, — acrescentou ele contra sua boca antes de beijá-la novamente. Desta vez, sua língua provocou a costura de seus lábios, pedindo entrada. Ela abriu-se, e ele entrou. Doce de framboesa e tudo o que era delicioso. Suas línguas duelaram por um momento antes que ele quebrasse o beijo para arrastar a boca por sua garganta.
Por mais que amasse beijá-la, deleitando-se com a inesperada proximidade que esta noite havia trazido sobre eles, não podia negar que seu autocontrole estava diminuindo. Precisava se lembrar da promessa que havia feito a si mesmo. Ele não a tomaria. Não, pelo menos, até...
Jesus, até o quê? Ele pressionou a boca no oco da base de seu pescoço, onde seu pulso batia com mais força. E então, não pôde resistir a lamber a carne macia. Teve que acalmar sua mente rebelde. Não havia futuro nisso, no duque de Trent e Daisy Vanreid. Tudo o que poderia haver era esta noite. Esta noite em que se permitiu ser um bastardo egoísta e esquecer seus juramentos à Liga pelo período de uma hora e não mais.
Nunca mais.
— Estou começando a achar que você estava certo, — disse Daisy com um suspiro.
Ele parou, olhando-a e erguendo uma sobrancelha.
— Em qual afirmação, botão de ouro?
O sorriso que curvou sua boca ofuscante. Isso tirou seu fôlego.
— Ambas.
Capítulo 12
ele era um belo demônio, o duque de Trent.
Não era mais o duque, mas Sebastian, e ela realmente devia se lembrar disso.
Seu marido, pensou novamente. Ainda era tão novo, uma nova ligação com a qual ainda não havia se acostumado. Quão repentina e estranha seu estado civil de casada foi para ela, embora não sem seu próprio fascínio. Ter um marido que beijava como Sebastian não era difícil. Mas o fato de estar instalada em sua casa, rindo com ele na cama, parecia um sonho do qual ela acordaria muito cedo, encontrando-se de volta em seu quarto na casa alugada em Belgravia com tia Caroline.
Não foi um sonho, entretanto, pois ele sorriu de volta agora, libertando sua covinha libertina enquanto seus dedos se fechavam sobre os dela no nó de seu penhoir.
— Estou feliz que estamos de acordo.
Essa era uma maneira de descrever as sensações derretidas que corriam por ela. Soava tão seco e casto, e não era um meio adequado de transmitir a maneira como ele a fazia enrubescer, cada parte de seu corpo formigando como se sacudida por uma corrente elétrica. A vibração de seu pulso, a dor em seu útero, a forma frenética que seu corpo ansiava pelo dele, tudo isso era uma mentira descarada de acordo.
Sem empregar muito esforço, ele afastou as mãos dela. Ela não protestou desta vez, apesar de estar completamente nua na sua frente, por qualquer constrangimento inicial que possa ter sentido, ter sido extinto pela necessidade crua e dolorida que ele evocou dentro dela. Ela gostava desse lado dele, a escuridão que sentia dentro dele dissipada por uma luz rara.
O nó se desfez. Ele a olhou atentamente, seu sorriso desaparecendo, e ela estendeu a mão para traçar sua covinha fugaz. Com a ponta do dedo indicador, ela adorou aquele sulco solitário até que ele se foi. Seus bigodes provaram uma abrasão indutora de calafrios contra sua pele.
Ele virou a cabeça para dar um beijo em sua palma.
— Agora é hora de eu fazer penitência por ser um rude.
Ela mordeu o lábio, não sentindo nenhum sinal de arrependimento por fazer pouco caso de sua arrogância anterior.
— Pelo menos você admite.
Oh, como ela se deleitou com essa liberdade recém-descoberta. Viver na ausência de medo, não mais sob o controle de outra pessoa, a deixava animada. Sebastian a ajudou a alcançar tal liberdade. O homem que agora a olhava como se ela fosse um presente que ele ansiava por desembrulhar.
Como se fosse uma deixa, seu penhoir se abriu, expondo sua carne ao ar frio e ao olhar ardente de seu marido. Sua mão desceu para a pele nua de sua cintura, varrendo lentamente para cima até que segurou seu seio. Ela seguiu seu exemplo, arqueando-se contra ele, seu mamilo já duro pressionando o centro de sua palma. Ele a recompensou rolando o polegar sobre ele em círculos preguiçosos antes de beliscar e puxar suavemente.
— Eles combinam com seus lábios, — ele murmurou, sacudindo seu olhar sobre seus seios nus de uma maneira que parecia outro tipo de carícia.
Suas bochechas ficaram quentes. Céus, ele estava falando sobre...
— Seus mamilos. — Sua fala arrastada era lânguida. — Eles são da cor de flores de rosas selvagens, assim como a sua boca. — Enquanto falava, sua mão livre encontrou o outro seio, fazendo a mesma tortura sensual. — O tom de rosa mais adorável que já vi.
A maneira como ele falava, a maneira como a olhava, uma mistura de reverência e desejo cru, a desfez. Ela emoldurou seu belo rosto com as mãos, precisando tocá-lo também. Algo mudou dentro dela, e sabia que nunca mais seria a mesma. Nada faria.
— Sebastian, — ela disse, amando seu nome em sua língua, uma palavra que passou a englobar seu mundo inteiro no espaço de alguns dias.
A velha Daisy teria questionado seus sentimentos, teria sido incrivelmente protetora com seu coração, sua honestidade e seu corpo. A nova Daisy, no entanto, havia florescido, e não tinha medo e era ousada. Ela era uma mulher casada agora. Ele era seu marido, ela era dele, e nada havia de errado entre eles.
Ela queria começar de novo, se levantar das cinzas da mulher que tinha sido. Para acreditar em toques ternos e gentileza. Queria que felicidade e segurança, e até mesmo amor estivessem ao seu alcance. Porque merecia essas coisas, e sempre mereceu, mas estava com muito medo para saber disso.
Ela o puxou para si e não se importou se suas ações foram ásperas ou desajeitadas. Tudo o que importava era a boca dele caindo, quente e flexível, habilidosa e insistente. Ele encaixou seus lábios nos dela, e nenhum outro beijo parecia tão certo como este, neste momento, com este homem. Sabia instintivamente que se lembraria desse beijo para o resto de sua vida.
Foi o beijo que mudou tudo.
Ele pareceu sentir a mudança repentina também, pois sua boca pressionou com mais força a dela, sua língua afundando em um gemido áspero que ela sentiu entre suas coxas. Suas mãos deixaram seus seios, uma roçando sua garganta até a base de seu crânio, agarrando seu cabelo e virando-a para melhor receber seus beijos. A outra desceu por sua barriga até o osso do quadril, aprendendo cada curva, rasa e inclinada. Ele a tocou como ninguém jamais havia feito, em lugares que ninguém mais tinha visto, e com tanta atenção e cuidado que seu coração não pôde deixar de notar. Sua terna reverência a encheu de admiração.
Aquela mão perversa foi mais longe ainda, enquanto ele a alimentava com beijos, arrastando-se por seu monte e mergulhando em suas dobras, onde encontrou a parte dela que clamava mais por seu toque. Esse pequeno nó secreto que ela encontrou por conta própria. Tinha sido indecente da parte dela, e sabia disso, mas como toda coisa errada, chamou-a de volta para mais. E mais era o que desejava agora. Como poderia ter imaginado o prazer de derreter os ossos que a mão de um homem lhe daria no lugar da dela?
E este homem — bom, doce céu. Sabia o que ela queria, seus dedos trabalhavam sobre ela em um movimento para frente e para trás, suavemente a princípio até que ela empurrou seus quadris para cima, procurando. O tempo para reticências se foi. Ela queria Sebastian, o queria de maneiras que nem conseguia imaginar, maneiras que seu corpo conhecia melhor do que sua mente. Ele entendeu seu apelo sem palavras, aplicando mais pressão, e foi a vez de ela gemer em seu beijo, sua língua brincando com a dele antes de deslizar em sua boca pela primeira vez.
Ele tinha gosto de uísque e pecado, e Sebastian, e ela não conseguia o suficiente. Seus dedos continuaram seu jogo experiente, levando-a ao frenesi. Seu coração disparou, seu corpo zumbia de energia e desejo. Ela prendeu a respiração quando a primeira onda de liberação a ameaçou quebrar, o prazer faiscando de seu centro e queimando para fora até que cada pedaço dela — até mesmo os dedos dos pés — formigou.
Ele afastou a boca e enterrou o rosto em sua garganta, sua respiração áspera, os lábios contra sua pele.
— Sim, amor. Voe para mim.
Mais forte, mais rápido. Ela empurrou os quadris contra a mão dele, impotente e sem pensar em sua necessidade.
— Sebastian, — mordeu fora, e ela não tinha certeza se quis dizer isso como um apelo ou uma maldição. Uma palavra trovejou em sua mente nublada pela luxúria. Mais.
Ela não pensou. Não questionou. O tempo de reserva e medo já havia passado. Essa palavra solitária a estimulou. Mais. Mais dele. Mais de qualquer coisa que ele fizesse. Simplesmente mais.
Ela agarrou o nó de seu robe e o abriu. Os dois lados do tecido fino ficaram frouxos, abrindo-se para fornecer um vislumbre de seu peito nu pela forma como ele angulou seu corpo. E oh, que vislumbre foi. Daisy nunca tinha visto um peito nu masculino, e Sebastian era um espetáculo para ser visto. Perfeitamente esculpido, com músculos retos e levemente polvilhado de pelos. Seus mamilos eram escuros e planos, tão diferentes dos dela, e não pôde resistir a tocá-los.
Ele gemeu e beijou seu pescoço.
— Pequeno botão de ouro curiosa. Você está brincando com fogo.
Ela traçou o círculo, esfregou o polegar sobre a ponta como ele tinha feito com ela. Ele retirou a mão de sua tarefa de agradá-la e espalmou a palma da mão sobre o peito antes de guiá-la para baixo. Descendo por seu abdômen rígido e mais baixo ainda, até que juntos alcançaram algo longo, quente e duro.
Certamente só poderia ser sua masculinidade, mas não era como ela imaginou que seria. Aqui estava uma parte dele que era firme como o resto de seu corpo e ainda suave como veludo. Seus dedos se fecharam sobre ele, e era grande. Impossivelmente grande. Não ignorava o que se passava entre um homem e uma mulher, graças à tia Caroline. Como eles se encaixariam?
Enquanto ele mostrava como tocá-lo, movendo sua mão para cima e para baixo, apertando os dedos sobre seu eixo, ela expulsou a incerteza de sua mente. Por tocá-lo, sentir seu forte corpo empurrar contra o dela, empurrar os quadris, ouvir seu gemido grave, enviou uma pulsação de calor e umidade inundando entre suas coxas.
E então, seus dedos estavam mais uma vez sobre a carne que ele tinha torturado, circulando e brincando, a princípio levemente e depois com mais força. Seu corpo inteiro se contraiu, antecipando uma deliciosa vibração pela espinha. Ele beijou um caminho até seu seio, fechando a boca sobre um mamilo e chupando, mordiscando, lambendo até que ela pensou que ficaria louca. Cada parte dela estava insuportavelmente consciente, desde a maneira como seu cheiro a engolfava até a sensação de que ele a tocava com a boca e os dedos. Foi demais.
Foi tudo.
E ela queria...
— Sebastian, — sussurrou seu nome novamente, quase uma oração. Senhor, como queria. Pela primeira vez em sua vida, sentiu-se viva. Sentiu com tanta alegria, aquela onda selvagem de algo primitivo e revigorante passando por ela.
Ele arrancou a boca de seu seio, respirando mais pesado do que antes, seu olhar encontrando o dela.
— Consuma-se por mim, amor.
Havia algo sobre seu comando — carregado de autoridade, conhecedor, escuro e decadente — que a enviou ao limite. Uma explosão de prazer violento e delicioso a assaltou. Ela gritou, os dedos apertando-o reflexivamente, torcendo a parte inferior de seu corpo no dele. Tremores se apoderaram dela, pequenas explosões de estrelas escuras passaram por sua visão, e ela se desfez como nunca. Tremendo, o coração batendo forte em seu peito, o mundo girando ao seu redor, ela o agarrou em um meio abraço.
— Meu Deus, você é tão linda. — Seus dedos deslizaram de sua pérola para baixo através da costura de suas dobras, procurando. Ele beijou o caminho de volta para sua garganta, adorando cada parte dela com aquela boca maravilhosa. Seu queixo, sua bochecha, sua mandíbula, a ponta de seu nariz. — Eu quero você tão malditamente que dói.
— Sim. — Ela o acariciou do jeito que ele havia mostrado, sabendo que mesmo com a liberação que já havia dado a ela, não se sentiria completa até que eles se juntassem totalmente. Ela o queria dentro dela. Estava vazia e dolorida. Precisando. — Eu quero você também.
A língua dele encontrou a depressão atrás da sua orelha, aquele lugar milagroso que só ele havia descoberto, e quando a passou sobre a sua pele, ela quase gozou de novo.
— Eu não deveria, — ele murmurou, alternando entre beijos e lambidas.
Ela não sabia o que ele queria dizer, mas também tinha certeza de que não se importava. Sua capacidade de raciocínio, lógica e qualquer tipo de pensamento que não o envolvesse e o que estava fazendo com ela, há muito desapareceram.
— Por favor, Sebastian.
Ela não tinha certeza do que foi que implorou. Não importava. Nada importava, exceto a ambos e a paixão depravada que desencadearam um dentro do outro. Ela não queria um namoro. O queria. A ausência de medo era uma coisa emocionante e ridícula. Ela se sentiu tão tonta que teria rido se ele não tivesse tirado os dedos de seu eixo, e se ele não tivesse passado seu comprimento sobre sua carne molhada e sensível onde mais o queria.
— Perdoe-me, — ele disse em seu ouvido, e então sua masculinidade, dura, grossa e exigente, empurrou para dentro.
Sua entrada a deixou sem fôlego. Dor, queimação e força, a cortou. Seu corpo endureceu sob o dele, um suspiro rasgando de sua garganta. Sabia que haveria dor, tia Caroline a avisou, mas ainda a pegou de surpresa, perdida como estava no prazer inebriante que ele já lhe tinha dado.
— Maldito inferno, — Sebastian xingou, segurando-se sobre ela e encarando seu rosto com seu olhar azul escuro preocupado. Ele permaneceu imóvel, rígido e quente e nada indesejado, apesar da intrusão desconhecida e seu acompanhamento desconfortável. — Machuquei você.
Na verdade, ela ficou mais assustada do que qualquer coisa. Os punhos e as botas de seu pai lhe infligiram muito mais danos ao longo dos anos do que Sebastian jamais poderia. Com essa dor viria um grande prazer. Com a outra dor veio apenas o medo de mais, dor e sofrimento inevitáveis.
— Eu devo sobreviver. Já fui ferida muito pior na minha vida. — Piscou para afastar as lágrimas ardendo em seus olhos.
— Sinto muito, — ele pressionou sua testa na dela por um momento, seu hálito quente soprando em seus lábios. — Sinto muito, botão de ouro. Só vai doer na primeira vez. Deixe-me torná-lo melhor para você. Por favor?
Sebastian levantou a cabeça novamente, procurando seus olhos. Ele arrastou o mais gentil dos toques sobre sua bochecha. Seu belo rosto se suavizou, sua expressão carinhosa, marcada com preocupação. Teria dado a ele qualquer coisa naquele momento. Sentiu que havia uma escuridão dentro dele, pois a mesma escuridão habitava dentro dela. Sebastian foi a primeira pessoa que a fez querer regar a escuridão de luz — tanto dele quanto dela. Ela não conseguia afastar a sensação de que, de alguma forma, por mais estranho e incompreensível que parecesse, eles deveriam estar juntos. Assim como não conseguia afastar a sensação de que ele poderia e faria qualquer coisa de melhor para ela.
Ele era o homem que a salvou da ruína, e ela nunca se esqueceria disso.
— Sim, — disse-lhe, pois na verdade, ainda o queria. A dor pulsante havia diminuído. Moveu-se sob ele hesitantemente, puxando-o mais fundo, e embora algum desconforto persistente permanecesse, sua necessidade voltou em uma grande inundação de sensações. — Sim, Sebastian.
Ele a beijou, longo e demoradamente, saqueando sua boca enquanto se movia. Tentando, lentamente. Seus dedos mergulharam entre eles, encontrando a protuberância no centro de suas dobras novamente. A queimação deu lugar a pequenas lambidas de prazer que começaram em seu núcleo e se irradiaram por todo seu corpo. Seus músculos internos se ajustaram, seu corpo se acostumando naturalmente ao dele. Ele retesou-se, preencheu-a e a reivindicou.
E ela gostava da sensação dele, potente, masculino, exigente. Sua boca tomou-o, seus beijos contundentes e carnais, selvagens com necessidade, aberto, faminto e sem vergonha. Ele mordeu o lábio dela, empurrando sua língua contra. Seu corpo cedeu, aqueles dedos perversos sobre ela sabendo onde tocar, quanta pressão, quando aumentar seu ritmo e quando desacelerar para um ritmo torturante que a deixou ofegante em sua boca e arqueando-se.
Ele afastou os lábios, tão sem fôlego quanto ela.
— Daisy, doce Cristo, você vai ser a minha morte. — Beijou seu pescoço novamente, lambendo o oco atrás de sua orelha. — Consuma-se novamente para mim, botão de ouro. Faça tudo valer a pena.
Havia um outro significado em suas palavras, uma pitada de acusação, muito fogo. Não sabia o que ele queria dizer, e um exame mais aprofundado teria que esperar, pois ele estava se movendo novamente, mais rápido e mais fundo. Isso a consumiu. Ele a consumiu. Ela angulou seus quadris, permitindo que suas coxas se abrissem mais, trazendo-o ainda mais fundo. Nada nunca esteve mais certo. Ele era tudo, e ela era tudo, e o mundo estava explodindo com cores e luzes e sons e cheiros, e oh, meu Deus...
— De novo, botão de ouro. — Lá estava sua voz, baixa e exigente, sua língua retomando a exploração de sua pele como se ela fosse uma iguaria colocada diante dele. Atrás de sua orelha, em sua garganta, sondando seu pulso, a curva de seu seio, provocando um mamilo. Ele pegou o pico duro com os dentes, mordiscando, seus dedos trabalhando mais rápido sobre a pérola, sua masculinidade deslizando para dentro e para fora com uma fricção deliciosa.
Ela engasgou-se. Gemeu alguma coisa. Talvez fosse seu nome. Não sabia. Não se importou. Sua respiração ficou mais rápida, o coração galopando, o corpo inteiro em chamas, e ela estava hiper consciente de cada conexão entre o corpo dele e o dela. Pronta para se desfazer.
Êxtase caiu sobre ela, repentino e avassalador, como o mar nas garras de um furacão. Foi feroz, magnífico. Natureza em sua forma mais violenta e apaixonada. Daisy estremeceu, gritando, agarrando seus ombros largos, cravando as unhas nele, esticando-se para cima, procurando mais enquanto o prazer explodia dentro dela.
Ele lhe deu o que queria, deslizando para dentro profunda e rapidamente, movendo-se em estocadas longas e prazerosas que a fizeram se apertar ainda mais em torno dele. E então, seu grande corpo ficou totalmente rígido enquanto se introduzia nela novamente, uma maldição escapando de seus lábios antes que sua boca descesse sobre a dela mais uma vez. Uma nova sensação, quente e úmida, floresceu dentro dela.
Ele se balançou mais algumas vezes, prolongando o momento e o prazer, antes de quebrar o beijo para olhá-la.
— Droga.
E então, retirou-se de seu corpo, rolou para longe e saiu da cama.
— Sebastian, — ela protestou, sentindo a perda de seu toque — a perda dele — como uma dor.
Ele afastou-se, seu robe ondulando atrás dele como uma nuvem escura e raivosa. Ela percebeu tardiamente que nenhum deles havia removido totalmente suas vestes. Quando ele abriu a porta que unia seus aposentos, ela puxou as pontas de seu penhoir, cobrindo sua nudez.
Que tolice, uma tentativa de preservar sua modéstia depois de compartilhar seu corpo inteiro com ele. Depois que ele a conheceu e deu-lhe prazer tão intimamente. Mas ao vê-lo partir, teve plena consciência de que, marido ou não, ele continuava sendo um estranho, e ela começava a temer que não fosse apenas seu corpo que ele reivindicara.
O pensamento a deixou mais gelada do que o ar fresco da noite e a umidade de Londres combinados. Na verdade, isso a gelou direto até a medula.
Capítulo 13
Que diabos acabou de fazer?
Sebastian entrou em seu banheiro particular. Os lampiões a gás permaneceram acesos, pois pretendia fazer sua higiene noturna antes de dormir. Mas em vez disso, foi em busca da única mulher no maldito mundo de quem deveria ficar mais longe. A mulher que não conseguia parar de tocar, beijar, desejar e cobiçar.
A mulher com quem acabara de se deitar.
Realmente acreditava que poderia resistir à tentação de estar no quarto de Daisy novamente sem levá-la? Muito tolo, ele, por tudo o que tinha tido foi o calor úmido de sua vagina e a doçura de seus lábios para fazê-lo arriscar tudo o que procurava preservar. Sua lealdade, seu juramento, seu país, sua honra.
— Porra, — amaldiçoou uma vez com sentimento, e então três vezes mais para confirmar. — Porra, porra, porra. — Essa última manifestação que incluiu, culpou-a também.
Ela o infectou como uma doença. Enterrada sob sua pele como um carrapato. De alguma forma, conseguiu fazer o que nenhuma outra mulher antes fez. E em uma noite, em que permitiu que seu pau governasse sua cabeça, acabou de fazer o que jurou que não faria.
Lavou o sangue de seu pênis, e ele nunca tinha executado outra tarefa que o fizesse se sentir mais baixo. Lá estava, a evidência de sua união. Como diabos ele anularia seu casamento agora, depois de ter tirado sua inocência de forma tão egoísta e estúpida? Oh, não tinha dúvidas de que Carlisle ainda puxaria os pauzinhos para realizar tal feito, mas será que Sebastian, em sã consciência, conseguiria?
Essa pergunta só tinha uma, e apenas uma resposta.
Não.
Ele puxou o robe e deu um nó no cinto. Então, pegou a tigela que normalmente usava para fazer a barba e a encheu com água morna, ainda se xingando. Pegou duas toalhas pequenas antes de voltar para o quarto onde havia deixado Daisy, completamente deflorada. Baixou todas as luzes, exceto uma.
Carlisle teria sua cabeça. Casou-se por um dia, e o tinha consumado. Tinha mais do que consumado. Tinha se exaurido dentro dela. Jesus Cristo, sua estupidez e luxúria furiosa agora significavam que havia a chance de que Daisy pudesse ter seu filho.
A ideia não congelou seu sangue como deveria. Em vez disso, uma onda estranha e exótica de calor inundou seu peito. O que em nome de tudo que é sagrado? Impiedosamente, forçou a sensação a ir embora. Ela não era para ser sua duquesa. Ainda não sabia de que lado da maldita cerca ela estava. Ele a enganou, a desonrou, e em nenhuma circunstância o pensamento de Daisy ficando pesada com seu filho e lhe gerando uma filha com cachos dourados e olhos verdes o faria sentir outra coisa senão repulsa.
Quando voltou para seu quarto, determinação e autocontrole firmemente estavam mais uma vez nas rédeas, uma pontada de alguma emoção indefinível o apunhalou. Ela estava deitada onde a havia deixado, os longos e lindos fios de cabelo em desalinho, o penhoir fechado, as mãos entrelaçadas em um gesto protetor. Sua expressão cautelosa, suas bochechas coraram em um tom de rosa quando fez contato visual com ele.
Ela parecia tão pequena e sozinha, delicada e assustadoramente linda ao mesmo tempo, que suas mãos tremeram, fazendo com que um pouco da água espirrasse das laterais da tigela. Esta caiu em seu pé descalço e no tapete espesso com um barulho. Maldição, como poderia essa mulher que era uma estranha para ele, essa criatura delicada e elegante em quem não se atrevia a confiar, sacudi-lo profundamente?
Não fazia nenhum sentido, mas ela fazia.
Ele continuou a cruzar o quarto, sem parar até chegar ao lado da cama dela. Tudo nele tencionava conservar sua honra e preservar sua virgindade. Ontem, estava no mesmo local, cortando o polegar e espalhando seu sangue nas roupas de cama para manter ambos.
Ele se odiava.
— Sua graça? — Ela perguntou, seu tom hesitante, olhos arregalados olhando para as mãos e para o rosto dele.
Sua guarda estava baixa, era fácil de ver, e ela parecia com uma mulher que teve que viver sua vida pelos caprichos de um homem violento. Ela era cautelosa, seu botão-de-ouro.
Certamente não dele, pensou?
Dele, respondeu algo dentro dele, com a mesma rapidez.
— Prometa-me uma coisa? — Ele depositou a tigela na mesa de cabeceira com cuidado, seu olhar nunca a deixando. — Você vai dispensar a formalidade entre nós para sempre. Deste momento em diante, sou apenas Sebastian para você.
Uma carranca enrugou a perfeição cremosa de sua testa.
— Sinto muito.
Sua auto-aversão aumentou dez vezes.
— Você não fez nada pelo qual precise se desculpar. Por outro lado, eu fiz. Isso... consumando nossa união... Nunca deveria ter vindo até você esta noite. E por isso, devo me desculpar. Prometi-lhe um namoro e, em um dia, me tornei um mentiroso e um canalha.
E pior, acrescentou interiormente.
Um homem sem honra não era um homem.
— Sebastian. — Um sorriso suave transformou suas feições, e se ela era bonita antes, havia apenas uma palavra para descrevê-la agora. Radiante. Ela brilhava. Daisy era uma força.
— Como já tínhamos estabelecido. — Ele se viu sorrindo como um maldito fugitivo de um hospício. — O tipo de rude que não aprecia o atraso da esposa no jantar.
— Sim. — O sorriso dela se alargou, assim como o dele, e por um instante, ele caiu em seus olhos verdes, hipnotizado por aquela maneira simples que ela tinha de fazê-lo ver a leviandade onde tinha certeza de que não havia nada. — Então, você deve me prometer que não vai se desculpar pelo que aconteceu esta noite. Você pode ser um rude, mas um canalha e mentiroso, certamente não.
Cristo, ela não sabia o quanto estava errada.
Não tinha voltado para o lado dela para fazer uma confissão, no entanto. Retornou sua atenção para a tigela de água. Melhor agir enquanto ainda estava quente. E não havia absolutamente nada a ganhar sonhando com sua bela esposa. Uma mulher suspeita de traição.
Por alguma razão, o lembrete não continha tanto gelo e aviso como antes. Ele mergulhou uma das toalhas na tigela, saturando-a, antes de torcer o excesso. Lentamente, ele se juntou a ela na cama.
— O que você está fazendo? — Ela perguntou, os olhos se arregalando.
Curioso que ela só o questionasse agora, quando o estrago já estava feito. Com a mão livre, ele empurrou seus joelhos abertos.
— Cuidando de você, botão de ouro. Permitam-me, por favor?
Ela resistiu.
— Sou perfeitamente capaz de...
— Claro que você é, — ele interrompeu, nem um pouco surpreso. Alguma coisa havia lhe dito que ela seria independente até o fim. Esta era uma mulher que tinha confiado em si mesma e estava sozinha por muito tempo. — Mas, quero fazer isso por você.
Seu rubor aumentou quando seus olhos procuraram os dele. Por fim, ela acenou com a cabeça, sua mandíbula tensa, a única demonstração externa de seu nervosismo.
— Se você quer...
Era um meio de fazer penitência, e um meio pequeno. Ele guiou suas coxas abertas, afastou o tecido de seu penhoir mais uma vez, revelando seu monte em toda sua perfeição. O sangue manchava sua coxa. Sua boceta estava rosa e molhada com a evidência de seu amor. Seu pênis cresceu novamente com a visão, alguma força primitiva saboreando sua reivindicação.
Ela era dele, por Deus.
Ele moveu a toalha molhada sobre ela, limpando-a. Primeiro sua coxa, depois sua linda carne rosada, lavando-a, adorando-a. Ela não tentou se fechar ou afastá-lo, simplesmente permaneceu quieta e em silêncio, permitindo que ele concluísse esta torturante tarefa que atribuiu a si mesmo.
Dois conjuntos de lençóis ensanguentados em duas noites. Não tinha a menor ideia do que os criados iriam pensar, mas era tarde demais para se preocupar com essas repercussões triviais agora. As consequências mais contundentes de todas viriam se Carlisle soubesse disso.
— Eu te machuquei, — disse-lhe novamente, porque ainda se lembrava da maneira como ela ficou rígida sob ele quando rasgou a barreira de sua inocência, e porque se odiava por causar-lhe qualquer tipo de dor, por enganá-la até agora.
Ele a enxugou com a outra toalha, e beijou a parte interna das coxas. Teria continuado beijando todo o caminho até sua boceta, provando-a onde mais desejava prová-la, mas as mãos dela voaram para seus ombros como borboletas gêmeas, incitando-o a subir. Permitiu que ela o movesse para onde queria. Não sonharia em afastá-la, e ele já tinha tomado muito mais do que tinha o direito de tomar.
— Não foi nada. — Ela agarrou seus cotovelos e o puxou em sua direção.
Mas não foi nada. Ele não gostava de machucá-la. Odiava que ainda a estivesse machucando com cada ação, cada pequena decepção. Ele iria compensar isso da única maneira que sabia.
Como se fosse a coisa mais natural do mundo, sua boca se conectou com a dela. O beijo foi longo, lento e profundo. Levando mais uma vez para o caminho da ruína. Com grande relutância, ele afastou a boca e devolveu a toalha à tigela.
Ele nunca tinha passado uma noite inteira na cama com uma mulher, mas também nunca havia deflorado uma inocente antes. Era muito peculiar, mas ele não queria deixá-la. Antes de dar a sua mente racional a chance de confundir as coisas, ele apagou as luzes e tirou o robe. Com a ajuda dela, ele também fez um rápido trabalho com o penhoir de Daisy.
Ela não protestou quando ele puxou seu corpo contra o dele e puxou a roupa de cama sobre os dois. Estavam unidos do tornozelo ao ombro, o braço dele sobre a cintura dela em um aperto possessivo que não conseguiu conter. O calor suave e feminino o queimava vivo. O cheiro de bergamota, baunilha e âmbar cinza combinavam em uma nota inebriante. Cristo, mas tudo sobre ela o levava à distração.
— Sinto muito por te machucar, — disse na escuridão e no silêncio que caiu entre eles. Ele quis exprimir de todas as maneiras possíveis o tanto de sentimento e emoção que estavam juntos naquela frase, que poderia ser um maldito navio mercante carregado da proa à popa, e ainda sim seria pouco.
Sua mão encontrou a dele onde apertou a curva de sua cintura, seus dedos emaranhados.
— Prometi chamá-lo de Sebastian, e você prometeu cessar todas as desculpas por esta noite. Se você pretende voltar atrás com sua palavra, terei de me referir a você como Sua Graça para sempre. Essa pode ser uma sentença longa, de fato, Sua Graça.
Ele detectou o sorriso em suas palavras e percebeu que estava sorrindo de volta para a noite, como um idiota apaixonado. Ficar no quarto dela foi outro erro em uma série de erros graves. Mas, não tinha força de vontade para sair do lado dela agora, e o que era mais um pecado em um catálogo de tantos?
— Touché, botão de ouro. — Ele fez uma pausa, seu sorriso desaparecendo ao pensar novamente nas palavras dela. Já fui ferida por demais na minha vida. Parte dele a sondava agora porque sabia que deveria, e parte dele a sondava porque ele era o homem que tirou sua inocência, e se importava com ela, apesar do fato gritante de que não deveria cometer novo erro. — Você disse que foi ferida ainda mais. Seu pai... o que ele fez com você?
Ele a ouviu engolir em seco, o ritmo constante e regular de sua respiração aumentando em incrementos. Sem luz para iluminar seu rosto, ele leu suas expressões e linguagem corporal. Os dedos emaranhados nos dele se apertaram. Ela não respondeu.
— Daisy, — tentou novamente, com cuidado para manter o tom gentil. — Sou seu marido. Você não vai me dizer?
— Por que você quer saber? — Ela perguntou finalmente, sua voz baixa, marcada por alguma emoção indefinível. Vergonha, talvez?
Por que de fato?
Porque precisava saber.
Porque precisava acreditar nela, entender sua história, de onde ela tinha vindo e quem ela era.
E também, porque precisava saber o quanto teria que machucar seu filho da puta do pai dela em represália.
— Quero saber o que ele fez com você, Daisy, porque vou fazer cada uma dessas coisas com ele em troca, só que com dez vezes mais depravação. — Foi a resposta mais honesta que ele conseguiu.
— Você não deve dizer isso. — Lá estava sua voz novamente, cadenciada e obsessiva na quietude escura da noite.
— Diga-me, botão de ouro, — pediu, puxando-a mais apertado para seu lado, como se pudesse de alguma forma absorvê-la, enfrentar qualquer dor que ela já tivesse experimentado, apenas para diminuir seu fardo e mantê-la para sempre a salvo de qualquer perigo. Ele o teria feito de bom grado, se fosse possível. Todo o desgosto que sentiu por trair seu dever de alguma forma vacilou sob o brilho ofuscante ao sentir seu corpo confiante ao lado dele.
Ela ficou em silêncio por um período indeterminado. Nenhum som, exceto a ativa Londres lá fora, cascos batendo, sua brisa firme, veículos viajando, tantas pessoas ao redor deles, e ainda, lá estavam eles. Dois corpos nus pressionados um contra o outro. Conectando-se de uma forma que ele nunca imaginou ser possível, uma forma que transcendeu a fisicalidade de uma mera união. Ele dormiu com seu quinhão de mulheres. Mas, não mentiu para si mesmo que qualquer uma dessas ocasiões poderia se comparar a esta.
— Tudo começou depois que minha mãe morreu, — disse ela, baixinho a princípio, e então com mais autoridade ao continuar. — Eu tinha quatro anos e derramei tinta no tapete novo de seu escritório, onde não deveria estar. Ele me bateu com um chicote. À medida que cresci e comecei a agir como sua anfitriã, as punições que ele aplicou mudaram. Principalmente punhos e chutes, embora sempre tivesse o cuidado de nunca me acertar onde alguém pudesse ver a marca.
Jesus.
O ar parecia ter sido sugado diretamente de seus pulmões. Ela falou com calma, com uma aceitação natural que o perturbou. Daisy tinha coragem, o tipo que ele nem mesmo conseguia começar a imaginar que qualquer outra senhora conhecida por ele possuísse.
— Seus punhos. — A voz dele estava sem tom. Os punhos de Vanreid eram praticamente do tamanho de um pernil. E ele os havia usado em uma mulher indefesa, cujos ossos eram delicados como os de um pássaro. O sangue de Sebastian gelou. E chutes. Por Deus, o homem tinha a constituição de um boi e havia chutado Daisy. Para conseguir tal façanha, ela teria que já estar no chão, derrubada por ele. — Onde? Onde ele te machucou?
Ele tinha que saber, mas o conhecimento o deixaria doente.
— Sebastian, — ela protestou. — Não importa.
Oh, isso importava. A retribuição seria dele. Vanreid teria que pagar.
Mas ele não queria empurrá-la muito longe, ou perturbá-la, pedindo-lhe para reviver tal maldade, então ele colocou a cabeça dela contra seu peito e beijou sua coroa.
— Eu levaria cada uma dessas surras para você, botão de ouro. Se pudesse, removeria todas as lembranças delas.
Ela se aninhou mais perto, esfregando a bochecha contra o peito nu dele como um gato, confiando.
— Obrigada, Sebastian.
Ela não tinha motivo para lhe agradecer.
Ela já tinha dado muito mais do que deveria esta noite. Deu-lhe tudo que tinha. E ele pegou. Até o último fragmento. Sua inocência era dele. Seu futuro estava em suas mãos. Mas ela não sabia disso. Ingênua que era, ela não tinha a menor ideia de que ele era o último maldito homem em toda a Londres que deveria ter confiado com um presente tão inestimável.
Ele acariciou seus cabelos, cheirosos e exuberantes como a seda, uma nova onda de proteção se instalando pesadamente em seu intestino. O diabo era que, se tivesse oportunidade, faria tudo de novo.
— Durma agora, botão de ouro, — disse a ela.
Logo, o som constante e rítmico de sua respiração encheu o quarto. Sebastian olhou para o vazio negro da noite, ainda acariciando seus cabelos, incapaz de encontrar o mesmo consolo que apenas o sono poderia fornecer.
Capítulo 14
ela acordou enquanto o amanhecer deslizava pelas cortinas da janela, pintando sombras sonolentas e faixas douradas de luz sobre seu quarto. Por um momento, ela piscou, pensando em si mesma de volta à casa da tia Caroline. Mas não, o tamanho do quarto era desproporcionalmente grande, e estava deitada em uma cama mais firme, do lado errado. Para onde foi o papel de parede listrado?
Levou sua mente desorientada a uma varredura completa do quarto, da esquerda para a direita, até que se lembrou de onde estava. Quem ela era. O que ela fez. Por baixo da roupa de cama, ela não usava nada, seu corpo dolorido e sensível em novos lugares.
Deus do céu. Ela apertou a mão na bochecha escaldante enquanto as memórias da noite a inundavam, uma estranha lambida de antecipação percorrendo sua espinha. Ele tinha estado dentro dela.
Como ela o encararia hoje?
A pergunta assumiu um significado bastante pungente quando seus olhos se ajustaram melhor à luz fraca e percebeu que ele ainda estava em sua cama. Ela agarrou a colcha contra os seios nus enquanto seu olhar faminto o absorvia. Ele estava deitado de costas, a roupa de cama abraçando seus quadris para revelar a beleza de tirar o fôlego de seu peito nu e torso.
Mesmo em repouso, ele exalava força masculina, desde as placas definidas de músculos em seu abdômen até seu peito largo e ombros. Seu cabelo estava penteado para trás de sua testa, sua testa pela primeira vez não marcada por uma carranca, seu nariz uma linha perfeita para combinar com sua boca igualmente perfeita. Seus cílios se espalharam sobre as maçãs do rosto salientes, o crescimento escuro de uma barba pontilhando sua mandíbula.
Ela deveria desviar o olhar.
Seus olhos traçaram as marcas perto dos ossos do quadril, a trilha escura de cabelo que ia abaixo dos cobertores e direto para sua masculinidade oculta. Ela se lembrou da maneira como o sentiu, grosso, macio e quente em sua palma, a maneira sentiu-o empurrando dentro dela. Eles tinham sido tão próximos quanto um homem e uma mulher poderiam ser.
Eles eram marido e mulher. Consumar o casamento era o certo. Mas como era estranho que ele tivesse visto e tocado cada parte de seu corpo. Ora, ela nem sabia o que ele gostava de ler, o que preferia no café da manhã ou como tomava o chá.
E foi, então, que ela percebeu o leve traço de algo em suas mãos e braços. Não cicatrizes elevadas, notou, mas uma descoloração quase imperceptível no brilho da manhã. Ela tinha visto marcas como estas uma vez antes, no rosto de um homem que foi queimado em um incidente em uma das fábricas de seu pai. Seu olhar permaneceu nos braços fortes de seu marido. Sebastian tinha estado em um incêndio?
— São cicatrizes, botão de ouro.
Suas palavras, baixas e íntimas como veludo, arrastaram-se sobre sua carne nua. Não conseguiu suprimir o grito indignado que subiu aos seus lábios. Ruborizando-se ainda mais, arrastou o olhar de volta para o rosto dele para encontrá-lo olhando-a, com as pálpebras pesadas e sensuais. Ele não parecia perturbado pelo seu exame descarado, mas ela sentiu uma pontada de vergonha por ter sido pega.
— Cicatrizes? — Ela perguntou, agarrando a roupa de cama ainda mais forte enquanto pensava em como deveria estar sua aparência.
Seu cabelo estava solto, caindo desordenadamente ao redor de seu rosto, e tinha certeza de que estava com uma aparência assustadora. Esta era sua punição por cobiça-lo. Ela poderia ter escorregado da cama, vestido seu penhoir, escovado seus cachos incontroláveis. Em vez disso, ele a pegou em seu estado mais desarrumado, enquanto olhava-o da mesma forma que um leão enjaulado olhava para um pedaço de carne crua do outro lado das barras.
Ele a observou atentamente, seus lábios sensuais se contraindo enquanto parecia pesar suas próximas palavras.
— Eu estava em um incêndio em uma casa quando menino. Felizmente, sobrevivi quase ileso.
Quase ileso. Ela se perguntou se ele se referia às cicatrizes que carregava ou a algo que não usava na pele, mas carregava por dentro. Um incêndio deve ter sido assustador, e para uma criança pequena ter experimentado... bem, seu coração doeu pelo menino que ele deve ter sido.
Ela correu as pontas dos dedos sobre a evidência daquele inferno de muito tempo atrás. Ele não se afastou de seu toque, simplesmente permitiu. Sua pele era lisa e quente, tão perfeita quanto o resto.
— Sinto muito, — ela sussurrou, e seu pedido de desculpas foi duplo. Ela sentia muito pelo que havia acontecido com ele, e por ficar olhando.
— Não sou digno de sua pena, botão de ouro. — Seu tom era irônico.
— Não tenho pena de você, — ela disse rapidamente, pois não tinha. Empatia e pena eram duas feras diferentes. Tocá-lo tinha um efeito estranho em seus batimentos cardíacos e em sua capacidade de concentração. Seu corpo ansiava pelo dele, mas estava bem ciente de que não queria parecer muito ansiosa. — Estou curiosa. Há tanto que não sei sobre você.
E ela queria saber tudo isso, tudo dele. Ela já conhecia seu cheiro, seu corpo, a maneira como ele se movia nela. Mas, queria mais dele. Queria que seu casamento fosse mais do que uma necessidade.
— Curiosa. — Ele a observava daquela forma predatória que enviou uma emoção direto ao seu núcleo.
— Sim, — ela se forçou a dizer com o máximo de indiferença fingida que conseguiu reunir. — Eu me pergunto se você prefere poesia ou prosa, e se você gosta ou não de açúcar no seu chá.
— Poesia e chá? — A carranca voltou, franzindo a testa. — Se esses são seus malditos pensamentos mais urgentes esta manhã, então fui terrivelmente negligente.
Claro que não foram seus primeiros pensamentos. Ela examinou seu rosto agora, perguntando-se se ele estava consternado ou se estava brincando com ela.
— Você não foi negligente, Sua... Sebastian.
Um lento sorriso curvou seus lábios, sua covinha ressurgindo para provocá-la.
— Devo ter feito algo certo para receber apenas metade de Vossa Graça.
Ele estava brincando com ela, certo. Estava certa disso. Este era um lado diferente de seu marido, um que ela ainda iria ver. Ele parecia ao mesmo tempo controlado e perfeitamente em casa, mas vulnerável. Seu gelo habitual havia derretido. E aqui, nesta singela luz da manhã, ela sentiu como se estivesse vendo o verdadeiro Sebastian pela primeira vez.
— Você fez muitas coisas certas, — disse-lhe, corando ainda mais furiosamente quando as palavras deixaram seus lábios. Santo Deus, o que estava dizendo? Ela quis dizer que ele tinha sido gentil e honrado, que a resgatou de uma situação intolerável quando não devia nada a ela, e que ele se levantou contra seu pai em seu nome. Que a tocou com o tipo de adoração que nunca imaginou ser possível.
Mas quando seu profundo olhar azul perfurou o dela, o ar entre eles ficou repentinamente pesado, carregado com uma insinuação sexual que ela não pretendia.
— Eu poderia fazer mais coisas certas, — ele lhe disse com uma bochecha pecadora. — Talvez possamos reduzi-lo a um quarto de Sua Graça, quando terminarmos nosso jejum.
Um quarto de Sua Graça.
Verdadeiramente.
Ela riu. Jogou a cabeça para trás, o sentimento a envolvendo. Riu como nunca tinha feito antes. Sua vida não tinha muito espaço para alegria. Talvez tivesse chegado a hora de mudar isso, da forma mais improvável: um homem com quem ela se casou por necessidade e desespero. Um homem que carregava um fardo sobre os ombros que ainda não compartilhava com ela, que não tinha família viva e que a defendeu em face da ira de seu pai.
Seu coração estava... leve.
Todo.
Ela ainda estava rindo quando ele rolou por cima dela, pressionando-a contra a cama.
Suas mãos seguraram seu rosto, e ele balançou os quadris contra os dela de forma que, ela sentia agora cada parte maravilhosa do que estava escondido pelas roupas de cama. Ele era duro e exigente, e a sensação de resposta floresceu entre suas coxas, onde suas peles se encontravam. Ela o queria. Sua risada cessou.
Seu olhar se fixou no dela.
— Gosto do jeito que você ri, botão de ouro.
E assim, seu coração parecia... cheio.
Uma nova consciência brotou dentro dela enquanto acariciava os músculos tensos de seus braços e deixava que suas pernas se abrissem para recebê-lo.
— Talvez você até consiga fazer um oitavo, Sua Graça, — ela o provocou de volta.
Ele ondulou contra ela novamente, correndo seu comprimento sobre seu monte escorregadio, esfregando-se contra o botão de seu sexo que ele havia acariciado com uma tortura deliciosa na noite anterior. Lentamente, encaixou sua boca na dela, seu lábio superior se aninhando na costura dela. Ele mordeu seu lábio inferior, limpou a picada com a língua. Suas unhas se afundaram em seus braços, incitando-o em um apelo silencioso.
Ele finalmente interrompeu o beijo, passando o nariz ao lado do dela e inalando profundamente seu cheiro, como se isso o agradasse.
— Estou apontando para um décimo sexto, botão de ouro.
Sua boca, rápida e conhecedora, engoliu sua risada. E então, seus dedos mergulharam entre seus corpos para brincar com sua pérola, enviando um tiro de necessidade através dela, e ela parou de rir, e o beijou de volta com todo o tumulto louco borbulhando dentro dela. Ela agarrou-se ao momento, abraçou seu marido, e ele fez amor com ela enquanto o sol se erguia sobre Londres e o mundo voltava à vida.
E o mundo de Daisy mudou irrevogavelmente.
Capítulo 15
Por que pensar na maldita risada dela fazia o pau dele ficar rígido dentro das calças?
E de onde vinha o cheiro de bergamota?
Por que isso o estava deixando mais duro?
Sebastian estava sentado em seu escritório, folheando a eficiente e ordenada correspondência que seu secretário lhe apresentara, números e letras embaçados diante dele. Até mesmo espiões do reino ainda precisavam administrar seus impérios em casa, e às vezes isso era uma tarefa difícil, principalmente quando deveria se concentrar no preço do trigo, no custo dos construtores e na crescente entrada de queijo americano.
Uma semana se passou desde que se casou com Daisy. Ele desistiu de qualquer pretensão de honra e cedeu à necessidade que tinha dela, raciocinando que tendo-se satisfeito saciaria o desejo que ela alimentou, e que queimava dentro dele. Noite após noite, ele foi para seu quarto. Não apenas noites, para ser honesto.
Ele a teve na biblioteca uma tarde, e em outra ocasião, eles tiveram um orgasmo de causar terremoto bem aqui em sua mesa. Houve a manhã em que ele levantou a saia dela e a fodeu no corredor, onde qualquer um poderia ter cruzado com eles. A maldade — tudo às vistas, à beira de ser capturada por um servo disperso o tempo todo — apenas impulsionou os dois a um crescendo de prazer.
Cada vez que seu corpo deixava o dela, ele tinha certeza de que seria a última, que seria o suficiente. E da próxima vez que se deparava com ela, não conseguia parar de tocá-la, beijá-la, desejá-la.
Mesmo agora, sob o olhar atento de seu secretário, ele a desejava tanto que seus dentes doíam. Ele a deixou na cama horas atrás. Ela deveria ter sido purgada de sua mente, exorcizada de seu corpo. Uma maldita semana se perdendo dentro dela, e ele só precisava de mais.
Nunca deveria ter se deitado com ela em primeiro lugar.
No entanto, como poderia não ter feito?
E como poderia parar, quando já a teve tantas vezes, e ainda assim seu desejo só aumentou em vez de estalar fora como uma velha chama cansada? Quantas vezes foi? Uma, duas, talvez uma dúzia? Outra vez contando, lá estava ele, espiralando mais fundo no abismo. Treze? Quatorze? A cada número, ele dedilhava os dedos na superfície da mesa, como se a sensação tátil pudesse de alguma forma livrá-lo dessa tortura infernal. Livre dessa necessidade insaciável de tê-la novamente, em guerra com o sentimento avassalador de nojo por ele tê-la tomado.
Que ele passou a última semana mais feliz em toda a sua vida, e que ele não queria que isso acabasse.
Maldito inferno, Carlisle teria sua cabeça em uma lança se soubesse a verdade.
Nenhum desses pensamentos estava lhe fazendo bem. Ele amassou a carta que segurava em seu punho.
— Simmonds?
— Sim, Sua Graça? — Seu secretário eternamente eficiente interrompeu suas reflexões sombrias.
— Onde está a carta do meu agente em Thornsby Hall? — Exigiu, e se sua voz era áspera como um chicote, era apenas porque estava fazendo o possível para esconder o estado ridículo de suas calças.
Justa. Muito apertada. Ele se mexeu na cadeira, mas isso não adiantou, então se forçou a olhar para Simmonds, o que certamente forçaria seu pênis a retornar ao seu estado normal de ordem. Seu secretário era todo anguloso, todo masculino, braços desproporcionalmente longos, de forma que seus dedos pendiam até os joelhos, e uma cicatriz em seu lábio superior deixava seu bigode absurdamente descentrado. Ele não tinha cabelos dourados ou mamilos rosados, ou cheirava a uma combinação sensual de sobremesa e conversa sexual.
Cristo, aquele último pensamento desonesto não estava ajudando. Nem um pouco.
Simmonds pigarreou, sua expressão ficando pouco à vontade. Ele era de fácil leitura e Sebastian gostava disso nele. Não seria bom ter um homem que ele não pudesse ver diretamente envolvido em seus assuntos pessoais e patrimoniais. Simmons era confiável, seguro e nunca fazia perguntas.
— Vossa Graça, acredito que a carta em questão está atualmente... em suas mãos, — disse Simmonds, então.
Os olhos de Sebastian se estreitaram. Talvez devesse despedi-lo. Ele achava que era idiota?
— Claro que não é, ou não estaria perguntando sobre o paradeiro dela, certo?
— Perdoe-me, Sua Graça. Simplesmente conheço a ordem da correspondência. Elas são organizadas por nível de importância, e sua preocupação com o custo das melhorias sugeridas em Thornsby Hall me levou a colocá-lo no topo da pilha.
Ele encarou o seu secretário, que o encarou de volta, implacável. Essa era a única falha de Simmonds, sua incapacidade de baixar a cabeça. E, na verdade, não era uma falha no livro de Sebastian. Normalmente, não. Naquele momento, entretanto, era porque estava começando a temer que Simmonds estivesse certo, e que ele estivesse tão distraído por pensamentos sobre sua gloriosa atrevida americana que não conseguia nem mesmo ler bem.
Seu olhar baixou para a folha amassada em sua mão, e ele reconheceu o familiar rabisco inclinado de Carnes, seu agente imobiliário de Thornsby, espiando por entre seus dedos.
— Simmonds, — disse sem olhar para cima.
— Sim, Sua Graça?
— Isso é tudo, — dispensou.
Muito melhor chafurdar em sua humilhação e vergonha por conta própria, raciocinou, do que com seu secretário atento a ele. Com seus ombros largos em seu corpo estreito, o homem parecia um maldito triângulo de cabeça para baixo.
Ele esperou que Simmonds se despedisse antes de soltar a carta, e espalhá-la sobre a mesa em uma tentativa inútil de alisar as muitas rugas. Thornsby Hall era a residência de sua família e sua principal preocupação nos dias de hoje, quando não estava ocupado de outra forma. Seu pai permitiu que caísse em mau estado, e Sebastian começou a empreender o tremendo investimento de restaurá-la à sua glória apropriada. Uma grande e extensa propriedade de sete mil acres, que continha algumas de suas melhores memórias de infância. Thornsby Hall seria sua recompensa quando se aposentasse do serviço à Liga.
Ou quando fosse afastado do serviço, o que parecia muito mais provável devido ao seu recente descuido. Forçou-se a ler a correspondência de Carnes na íntegra, mas sua mente permaneceu distraída.
Cinquenta mil libras pelas melhorias necessárias neste ano. O telhado com vazamentos foi consertado, obrigado porra, mas a parede sul em ruínas precisava ser consertada. Algo sobre um aumento no rebanho de perus. Forragem de repolho, nabos e ovelhas.
Lá estava ela de novo, maldito seja.
Bergamota.
E sua risada na primeira manhã depois que fez amor com ela. A risada dela tinha sido como um presente: inesperado e estimado, uma alegria para sua alma. Aquele som lindo e melífluo havia penetrado nele, gravado em sua própria memória, de modo que nunca mais ouviria a leviandade de outra mulher sem pensar nela. De Daisy, com seus cabelos dourados e seus olhos tristes e uma ousadia insuportável. De como ele uma vez riu com ela e foi a melhor fodida manhã de sua vida.
A única manhã, em um longo período tempo em que conseguia se lembrar, que se permitiu o luxo de ser ele mesmo. Ele tinha sido Sebastian e ela era Daisy, e nada da lama que os rodeava se intrometeu.
A compreensão o atingiu então, com a força de um punho direto na mandíbula. Ele não apenas a desejou. Dormir com ela não se baseava apenas na necessidade sexual básica, da mesma forma que acontecera com suas amantes anteriores. Tinha sido necessário, sim, mas da mesma forma que encher seus pulmões de ar era necessário. Por que outro motivo ficaria preso nela por uma semana inteira, e ainda mais perdido do que nunca?
A bergamota o atingiu novamente.
Ele baixou o nariz até o ombro e deu uma fungada discreta. Jesus, seu pescoço cheirava a ela. Era como se ela tivesse plantado seu perfume nele como outro método de tortura feminina. Ele deve ter sido negligente em sua higiene matinal, mas não podia dizer que se importava agora, pois gostava do cheiro dela.
Ele gostava de Daisy.
Uma batida soou na porta do escritório e, a menos que ele estivesse enganado, não era a batida de nenhum de seus criados. O que só poderia significar uma coisa.
Ela.
Ela não estava satisfeita em invadir sua mente e imprimir seu cheiro nele, mas agora pretendia se infiltrar em seu santuário interno também. Ele a ignoraria, decidiu, passando da carta de Thornsby Hall para a próxima. Ela era sua esposa temporária, lembrou a si mesmo. A união deles não foi feita para durar. Foi uma mentira. Um ardil. Não precisam brincar de marido e mulher. Não era obrigado a convidá-la para seu escritório. E deveria parar de passar todas as noites em seu quarto. Ele o faria, assim que pudesse olhar para ela sem a necessidade de arrancar seus enfeites e enchê-la com seu pênis.
Isso não parecia provável tão cedo.
A batida veio novamente, seguida por sua voz.
— Estive pensando a semana toda e ainda não encontrei uma resposta. O que se segue a um décimo sexto, Vossa Graça?
A mulher estava louca.
Ele deve continuar a ignorá-la. Mande-a embora. Comece a erguer uma distância razoável entre eles. Mas ele estava sorrindo, e isso significava que ele estava tão louco quanto ela.
Adequados para o hospício, os dois.
— Você pode entrar, — ele gritou, e não era apenas com resignação. Não, de fato, havia também uma nota indesejável de antecipação subjacente em suas palavras.
A porta se abriu e ela entrou, uma visão em um vestido listrado rosa e vermelho com saias de renda aparecendo. Seu cabelo estava com um penteado diferente hoje, usado em uma torção solta no topo da cabeça com cachos emoldurando seu rosto. Parecia uma deusa que ele vira em uma foto na Galeria Grosvenor uma vez: atraente, romântica, puramente feminina.
O ar fugiu de seus pulmões enquanto se levantava em deferência e se curvava. Como era possível que ela fosse ainda mais bonita, mais vibrante e magnética do que nunca? Como era possível que ele a quisesse mais do que nunca?
Ela lhe ofereceu uma reverência formal também, mas seus lábios carnudos se curvaram em um sorriso confiante.
— Sebastian.
— Uma parte de trinta segundos4, — ele respondeu, contornando sua mesa e indo até ela. De repente, ele não poderia estar no mesmo quarto que ela sem tê-la em seus braços.
Ele tentou se lembrar de que era um espião com um dever para com a Coroa, mas essa discussão foi ficando cada vez mais abafada à medida que ele conhecia Daisy melhor. Ela o fez lembrar o que ele havia esquecido nos últimos 12 anos: que sob a fachada que foi forçado a apresentar ao mundo, ele também era apenas um homem. Seu treinamento o preparou para a tortura e a morte, ensinou-o a se defender com ou sem armas, a matar com as próprias mãos, a ler o rosto de um homem, a antecipar cada ação de seu inimigo. Mas nada em seu treinamento o preparou para o ataque de uma mulher pequena e ousada.
Os tons quentes de seu vestido realçaram o musgo de seus olhos quando ele aproximou-se, e ele ganhou uma risada dela que se estabeleceu em algum lugar perto de seu coração.
— Meu Deus, essa é uma fração bem pequena. O tempo para se conseguir pronunciar o 'V' de Vossa Graça?
— Não posso ter certeza. — Ele a agarrou pela cintura e puxou-a, saboreando o já familiar aperto de seus seios em seu peito. — Mas pode-se retificar a questão referindo-se ao marido pelo nome de batismo.
— Oh? — Ela levantou uma sobrancelha em fingida inocência e bateu seus longos cílios. — E qual seria? Minha memória é terrível, temo ter me esquecido.
— Talvez eu possa avivar para você, botão de ouro. — Ele cedeu à tentação e baixou a boca para a dela. Como eles se encaixam naturalmente. Como era fácil deslizar a mão nos limites suaves de seu penteado elegante, segurar sua cabeça perfeitamente moldada e posicioná-la exatamente como ele a queria. Sua língua traçou a costura de seus lábios, exigindo entrada, e ela se abriu sem hesitar, sua língua enredando-se com a dele.
Ela tinha gosto de chocolate e decadência, e ele queria mais. Sempre quereria mais. E esse era o problema, não era? Suas mãos apertaram sua cintura e a conduziu para trás até que alcançaram sua mesa. Nunca poderia se fartar dela.
Ele arrastou sua boca da dela e arrastou uma linha de beijos fervorosos até sua orelha, lambendo o pedaço de pele sedosa atrás dela. Ela tinha gosto de baunilha e o leve sal de sua pele. Ela gemeu e agarrou seus ombros. Tão responsiva, sua Daisy.
— Você me enfeitiçou, — ele acusou suavemente em seu ouvido. — Devo cuidar de questões imobiliárias e tudo que quero é levantar suas saias, e sentir se você já está tão molhada para mim quanto suspeito que você está.
Ela ficaria encharcada quando a tocasse, e isso ele sabia pela maneira como ela se esticava contra ele, como se desejasse que todos os pontos de seu corpo estivessem em contato simultâneo. Ele sentia o mesmo. Queria cada centímetro de sua pele perfeita nua e pressionada contra a dele, desde seus mamilos rosados e duros até suas pernas pálidas e curvilíneas.
— Devo deixá-lo com questões imobiliárias? — Ela perguntou, sem fôlego.
Ele afastou os lábios de seu pescoço para examinar o conteúdo de sua mesa. Correspondência. Uma pilha de notícias. Algumas canetas e feixes de papel. Seu livro-razão. Para o inferno com tudo isso. Com um golpe de seu braço, ele enviou tudo para o tapete. Os papéis voaram, dando cambalhotas sobre si mesmos, canetas tilintando juntas, os jornais se amontoando.
— Acredito que já estou farto de questões imobiliárias por agora, — decidiu, sorrindo para ela como um idiota apaixonado.
Não, certamente não estou apaixonado. Nem tolo, corrigiu-se apressadamente. Afinal, fazia apenas uma semana. O amor não vinha sobre um homem tão precipitadamente, especialmente quando a senhora em questão era suspeita de traição. Ele estava certo disso.
Em um esforço para afastar mais sentimento piegas, ele tomou sua boca com a sua mais uma vez, e este beijo foi assumidamente exigente. Ele chupou seu lábio inferior, então o pegou entre os dentes e puxou. Uma necessidade frenética e feroz o atingiu. A necessidade de possuí-la, de consumi-la. Seu pênis se contraiu contra sua calça, suas bolas já apertadas em antecipação à liberação da inundação.
As palmas das mãos dela, que caíram sobre o peito dele e vinham conduzindo uma exploração lenta e torturante sobre seu colete e camisa, empurraram suavemente, colocando distância suficiente entre eles para interromper o beijo. Seu olhar cintilou no dele, o verde do renascimento do início da primavera após a morte estéril do inverno.
— Você tem um dever, Sebastian, — ela disse, então.
Por um segundo, ele parou, o sangue bombeando em suas veias se transformando em gelo. Seria possível que ela soubesse, afinal? Jesus, por que ela repetiria as palavras que sua própria consciência o crivava todos os dias?
E então, ela inclinou a cabeça de um jeito que ele soube que significava que ela estava sendo séria, segurando o queixo dele com a mão.
— Não desejo distraí-lo de seu trabalho. Senti sua falta, mas não desejo exigir demais do seu tempo. Vou deixar você com isso, então. Preciso revisar o cardápio com a Sra. Robbins, e ainda não me sinto à vontade em sua biblioteca. Meu pai achava que ler era um convite para a preguiça, então não li tanto quanto teria preferido.
Ele soltou a respiração que não percebeu que estava segurando. Ela estava balbuciando, e era adorável, e ele iria sair de sua pele se não estivesse enterrado profundamente dentro dela nos próximos cinco minutos.
— Daisy. — Ele deu um beijo em sua palma aberta e a segurou contra si quando ela teria tentado se retirar. — Você pode me distrair quando quiser, botão de ouro. Meu tempo sempre será seu, e se você quiser comprar uma biblioteca nova inteira de livros que são do seu gosto, não vou piscar um maldito olho. Leia até precisar de óculos. Mas você não vai sair desta sala até que eu faça você ter prazer.
Seus olhos se arregalaram, as bochechas ficando rosadas. Fazer amor era uma novidade para ela, embora tivesse se mostrado uma aluna apta e disposta. Ela ainda era muito inocente, entretanto, e ele iria gostar de seduzi-la pelo resto de suas vidas.
O resto de suas vidas.
O pensamento espontâneo enviou algo profundo através dele. E não era medo ou uma sensação de futilidade. Não era culpa ou dever. Foi... Cristo, ele não sabia o que era.
Em vez de complicar ainda mais as coisas, ele a ergueu sobre a mesa. Suas mãos se fecharam em suas saias onduladas, esmagando a seda fina, mas não deu a mínima. Lentamente, seu olhar nunca deixando o dela, ele puxou-as para a cintura, anáguas, camisa e tudo, e os ergueu para que ficassem em cima de sua mesa.
Enquanto examinava sua obra, sua boca ficou seca. Ela estava perfeitamente penteada e recatada da cintura para cima, o corpete no lugar, o cabelo tão elegante como quando ela entrou no escritório. Mas da cintura para baixo, era uma sereia pura e autêntica. As calças rendadas abraçavam seus quadris. Tornozelos estreitos vestidos com meias de seda apareciam por baixo, e seus sapatos preto de salto e couro encontravam-se suspensos do chão, de alguma forma tornavam tudo incrivelmente erótico.
Ele desejou poder mantê-la aqui, neste momento, para sempre.
Linda, ousada e inegavelmente sua.
— Sebastian, — ela disse seu nome baixinho, e conteve uma nota cautelosa de protesto.
— Botão de ouro, — ele respondeu, seus dedos encontrando o botão em suas calças, logo abaixo da ponta de seu espartilho. Ele a livrou da amarração e empurrou a roupa de baixo por suas pernas, deixando-a nua da cintura para baixo, exceto pelas meias, ligas e sapatos.
Ele quase gozou ali mesmo como se estivesse bêbado com a visão dela. Era tão linda que doía olhá-la. Seu peito doía fisicamente. E seu pênis, bem, Jesus, isso era completamente outra questão.
Ele caiu de joelhos no tapete macio, ignorando o som assustado que ela fez, e puxou suas pernas para longe.
— Abertas para mim, querida?
Ele a tinha visto antes, tinha cuidado dela intimamente na primeira noite. Mas isso era diferente, na inegável luz do dia de seu escritório, no meio da tarde, e pretendia bailar um tipo diferente de acompanhamento para ela.
Ela hesitou apenas um momento antes de ceder, abrindo as pernas para que ele pudesse ver o coração dela, tão rosa e bonita quanto sua boca e seus pequenos mamilos duros. Ele murmurou de prazer enquanto corria as mãos ao longo da extensão macia de suas coxas, e abaixou a cabeça.
A língua dele traçou sua pérola lentamente, permitindo que ela se acostumasse com ele. Um golpe, depois outro e outro. Ele correu em círculos sobre ela, provocando, e vagarosamente ouvindo sua respiração, em sintonia com a inclinação de seus quadris e o balanço de seu corpo contra sua boca enquanto aprendia o que a agradava.
Um gemido cadenciado rasgou dela, e era seu nome, e ele sentiu todo o caminho até seu pênis. Ele chupou então, amando-a em sua língua, em sua boca, e a beliscou com seus dentes. Ela tinha um gosto almiscarado e doce e como a afirmação, parecia, a própria vida. Ele passou a língua por sua costura, encontrando-a úmida e quente, e então deixou sua língua encontrar seu lugar natural dentro dela. Encheu-a tão profundamente quanto pôde, empurrando, adorando, reivindicando.
Ela o cercou, envolvendo-o, seus dedos em seus cabelos, sua boceta macia e úmida, e tão doce que ele nunca quereria parar. Com uma mão, segurou seu traseiro atrevido, girando-a contra ele para maximizar sua capacidade de dar lhe prazer. Sua outra mão espalmada sobre seu monte, seu polegar encontrando sua pérola com precisão infalível. Uma e outra vez, afundou sua língua enquanto trabalhava em seu clitóris. Seus gritos de prazer cresceram chovendo ao redor, de forma que ele estava completamente cercado por nada além de Daisy. Seu cheiro em suas narinas, seu gosto em sua língua, seus gemidos em seus ouvidos, sua carne lisa sob seu toque.
Ela iria gozar. Ele sentiu, deleitou-se com isso quando o corpo dela empurrou-se com crescente insistência até que de repente, ela estava arqueando contra ele, tremendo e gritando, sua liberação líquida e mais doce que mel em sua língua. Ele lambeu, seu pênis tão duro que temeu que não conseguiria entrar nela antes de se perder.
Afastando sua boca, ele se levantou e em um movimento rápido, puxou-a de sua mesa e a girou para que ela não o encarasse. Ele não conseguiu olhá-la por mais um momento. Nunca se sentiu mais próximo de outra mulher em sua vida. Nunca quis ninguém do jeito que a desejava. E, no entanto, tudo era mentira. Ele era uma mentira. Mas por mais que não pudesse encará-la, também não suportaria deixá-la ir.
— Sebastian? — Seu tom continha uma nota de pergunta.
— Shhh, — ele acalmou em seu ouvido antes de pressionar beijos em sua garganta. Ele apertou as mãos nas curvas doces de sua cintura e a guiou para frente e para trás, esfregando seus quadris nos dela. — Vou fazer você voar de novo, botão de ouro.
Ele moveu as saias para fora do caminho e tirou a calça. Mergulhou os dedos em seu calor sedoso e, em seguida, espalhou sua umidade sobre seu pênis dolorido. Uma ondulação rápida de seus quadris o trouxe para dentro dela.
— Oh, — disse Daisy.
Ele beijou sua orelha, sua garganta, acalmando-se embora tivesse quase certeza de que parar agora o mataria.
— Você quer que eu continue, amor?
— Mmm, — ela cantarolou, arqueando as costas e trazendo-o ainda mais fundo dentro de seu calor apertado. — Por favor.
Não precisou ouvir duas vezes. Enterrando o rosto em seu cabelo, ele bateu dentro dela. Seus dedos se afundaram em suas dobras, encontrando sua pérola. Ela o encontrou impulso por impulso, sua cabeça para trás, sua respiração ofegante enquanto gritava seu nome. Ela gozou antes dele, apertando seu pênis com tanta força que ele se perdeu no instante seguinte, deslizando para dentro dela enquanto explodia.
Não havia tempo para ele se retirar e, na verdade, não queria. Ele soltou um grito rouco, enquanto o corpo dela o ordenhou até secar. Bem dentro dela, ele gozou, enchendo-a com sua semente, selando seus destinos.
Ela era dele, e pronto.
Ele desabou, beijando sua garganta, ainda dentro dela, e ele nunca tinha conhecido outra experiência em sua vida que tivesse sido tão verdadeira e real.
— Meu Deus, Daisy, — murmurou em sua pele. — Meu Deus.
Não havia mais nada que pudesse dizer.
Capítulo 16
— Vossa Graça, há outra entrega de livros. Onde a senhora prefere que sejam colocados?
Ao som da voz nítida e perfeitamente modulada de Giles, Daisy se afastou da parede de livros que estava tentando organizar. A expressão dele era plácida, imperturbável como sempre. Se ele achou estranho que seu patrão tivesse comprado meia dúzia de caixas de livros para sua nova duquesa, o mordomo não demonstrou por um momento.
— Mais livros? — Ela repetiu em questão, embora não precisasse. A primeira entrega veio logo após o café da manhã, seguida por outra e mais outra. Deveria ter esperado que Sebastian não tivesse terminado. Que ele resolveu dar-lhe este presente como fazia todas as coisas, com um desprezo completo pela meia medida. — Você também pode colocá-los lá em cima. O que é que eles dizem, Giles? Ajoelhou, tem que rezar?
Mas o sóbrio mordomo não respondeu. Ele se curvou.
— Como Vossa Graça deseja. — E então ele desapareceu, deixando Daisy sozinha em um mar de livros mais uma vez.
Colocar em ordem alfabética ou arquivar os livros de acordo com o assunto? Essa era a pergunta que mais a incomodava até o retorno de Giles à biblioteca. Mas, dado o número de entregas que já haviam recebido, outra pergunta estava começando a surgir. Onde colocá-los todos?
Após a conversa em seu escritório — e o interlúdio escaldante que se seguiu, do tipo que ainda fazia seu rosto corar vários dias depois — Sebastian a surpreendeu com uma ida a uma livraria. Como tinha sido maravilhoso estar rodeada por paredes de livros, seu cheiro inebriante de couro e papel, e saber que ela podia ler qualquer um que quisesse.
— São três caixotes, Vossa Graça, — Giles confirmou, então. — Não queria presumir e fazer com que fossem trazidos aqui imediatamente, dado o estado atual da biblioteca.
Daisy lançou um olhar irônico à observação apropriada do mordomo. Caixotes espalhados pelo tapete elegante. Alguns, meio vazios, e outros ainda cheios até a borda. Embora a cena parecesse um caos, estava examinando metodicamente todos os livros nas prateleiras de Sebastian, decidindo quais livros manter, quais armazenar e quais outros poderiam ser doados.
— A biblioteca é sua, — Sebastian lhe disse na livraria. — Remova tudo o que lhe desagrada. Encha-a com o que quiser.
— É a sua biblioteca, — ela disse. — Nem sonharia em invadir.
— Não é invasivo quando você recebe um convite, botão de ouro. — Ele tocou a ponta de seu nariz então, e ela sentiu seu calor mesmo através de suas luvas. Sua expressão era séria, quase triste. — A biblioteca está cheia de velhos tomos mofados dos últimos três duques, e eu não fiz muito para torná-la minha. É justo que você a torne sua.
Suas palavras suaves e consideração solene fizeram seu coração doer. Como era, perguntou-se, que poderia ter estado tão errada sobre ele? Ele parecia arrogante e indiferente. Na primeira noite em que se falaram, combinaram vontades e raciocínios, e ela tinha tanta certeza de que ele era um autocrata como tantos outros senhores. Como seu pai. Mas, na verdade, era multifacetado e complexo, e apareceu em sua vida quando mais precisava dele, libertando-a.
— Vossa Graça, — ela protestou.
O fantasma de um sorriso passou por sua boca sensual então, e ele roçou seu lábio inferior com o polegar.
— Um completo 'Vossa Graça'. Onde eu errei?
Ela franziu a testa para ele, procurando se certificar de que não havia audiência.
— Você é muito generoso.
E ele balançou a cabeça lentamente.
— Sou egoísta. Muito egoísta. Eu gosto da sua felicidade, Daisy. Me ocorre que você bebeu muito menos do que merece. Compre todos os livros que quiser. É por isso que eu te trouxe aqui.
Diante de sua gentileza desconcertante e da tentação de páginas esperando para serem viradas, cedeu. Ela tinha percorrido toda a loja com amor, demorando-se em suas escolhas enquanto reduzia suas seleções para oito livros. Sebastian a seguiu, observando, fazendo várias recomendações. Ele a incentivou a comprar mais, mas ela recusou, não desejando abusar de sua generosidade. Ela deixou a loja emocionada, pensando que o assunto estava resolvido.
Até a primeira entrega chegar naquela manhã. E a segunda. Depois a terceira. Cada caixa aberta revelou mais do que a anterior. Aqui estava um tesouro de literatura esperando para ser devorado: Shakespeare e Chaucer e Trollope e Dickens, Browning e Tennyson e Byron e Austen. Livros de história, livros em francês e latim, as duas línguas que ela lhe disse que conhecia bem.
O melhor de tudo foi o livro único, embrulhado em papel fino e entregue em mãos. Ela o abriu para encontrar uma edição das Viagens de Gulliver, os garranchos de Sebastian na primeira página.
Um favorito para uma favorita
S.
Se seu coração fosse Pegasus, teria galopado e voado de seu peito. Mas seu coração era apenas mortal, formado de carne fraca, e tinha batido em vez disso. Batido com o conhecimento de que os sentimentos misteriosos que passaram por ela nas últimas duas semanas se solidificaram em algo tangível e definível. Algo bastante assustador e totalmente inesperado.
Amor.
Daisy olhou para a fileira de livros à sua frente, sem ver. Nas últimas horas, tivera muito tempo para pensar. Sozinha, nesta vasta sala com nada além de um fogo piscando alegremente na lareira e centenas de pequenos mundos confinados em páginas e palavras, ela percebeu que amava Sebastian.
Não importava que o casamento deles fosse novo, que havia tanto dele que ela ainda tinha que descobrir. O coração sabia o que queria e, teimosamente, queria o homem que a ouviu, que a salvou, que a fez se sentir em casa pela primeira vez na vida. Queria um duque bonito que pudesse fazê-la rir ou derreter-se com igual proficiência.
A porta se abriu e vieram três lacaios robustos, carregando caixotes com mais livros.
— Lá, por favor, — ela ordenou, apreciando a tarefa colocada diante dela. Foi bom finalmente ter um propósito.
Um senso de pertencimento.
Ela sentiu isso por dentro.
Agora, se ao menos conseguisse conquistar o coração de Sebastian da mesma maneira que pretendia se superar na sua biblioteca. Enquanto observava os lacaios fazerem a entrega com cautela, percebeu que ainda estava segurando o volume de Swift. Ela o carregou durante toda a manhã, incapaz de colocá-lo na prateleira.
E de todas as palavras esperando para cair sob seus olhos na sala assombrosa, havia apenas cinco que importavam mais para ela.
Um favorito para uma favorita.
Capítulo 17
A compreensão atingiu Sebastian, tanto quanto suspeitava que um raio pudesse, em uma manhã fria e nublada de março, enquanto chegava a uma conclusão frente a Griffin pela primeira vez desde sua noite de núpcias.
Então, novamente, não foi tanto uma realização quanto foi uma revelação. Ou talvez, para ser mais preciso, uma ilusão. Pois era improvável, temerário e totalmente errado. Ele disse em voz alta nas brumas de qualquer maneira, porque não conseguia mais conter as palavras em sua mente. Nem por mais um momento.
— Vou ficar com ela, — anunciou, ciente de que sua frase estranha fazia parecer mais como se ele tivesse decidido manter um cavalo de corrida em vez de uma esposa e mãe para seus futuros filhos.
Mas lá estava exatamente o que disse, maneira ruim à parte. Dizer isso parecia em partes iguais, alarmantes e libertadoras. E também, certo. Muito, muito certo. Daisy era dele. Ela era dele, e era inocente de toda e qualquer trama feniana. Ela era gentil e boa, doce e generosa, e tudo que uma mulher que passou a maior parte de sua vida sendo abusada por seu pai aparentemente não deveria ser. Ela era a parte de si mesmo que sentia falta. A parte de si mesmo que não sabia que existia até que reconheceu em seus olhos.
— Maldito inferno, Bast, — Griffin mordeu fora. — Você sabe que é impossível.
Sebastian manteve os olhos treinados para a frente enquanto cavalgava, fingindo não ter ouvido o amigo falar. Era cedo e o Hyde Park ainda não fervilhava com a multidão de cavaleiros, e o desfile de modas que inevitavelmente o desordenariam. Há muito tempo, passeios na madrugada eram hábito de ambos — o disfarce perfeito para transmitir informações confidenciais que era melhor não confiar no papel.
Impossível? Não. Improvável? Sim.
Mas, por acaso, Sebastian não estava inclinado a dar a mínima. Pela primeira vez em sua vida, ele se sentiu... em paz. Ele dedicou sua vida à Liga, mas finalmente tinha atingido seu limite. Não mandaria uma mulher inocente para a prisão. Não iria abusar dela depois que ela lhe deu tão livremente seu corpo, mente e coração. Por Deus, não a trataria como um peão por mais um momento.
Porque ela não era um peão.
Ela era Daisy e era forte contra todas as probabilidades, e seu riso era contagiante, e ela o mudara de uma forma que ele nunca imaginou ser possível. Ela havia aberto uma porta para uma vida que ele poderia ter, e Deus o ajudasse, pretendia entrar por aquela porta. Com ela ao seu lado. Ele pretendia pegar aquela vida e torná-la deles.
— Sebastian, — Griffin disse novamente, e desta vez seu tom era severo.
Severo porque ele podia ler Sebastian melhor do que qualquer outra pessoa. Mas Sebastian não queria ouvir nenhum dos sermões do amigo. Não precisava de mais nenhum lembrete e advertência sobre Daisy. Sua mente se afogou neles. A única coisa que o mantinha à tona neste vasto oceano de auto-aversão e confusão que ameaçava consumi-lo era a mesma pessoa de quem Griffin o advertiu para manter longe.
Daisy.
E era por isso que a queria como sua verdadeira esposa, para o resto de suas vidas. Ela era tudo o que queria, e nada que ele alguma vez imaginou que precisava. Percebeu que não poderia tirá-la de sua vida até tirá-la de seu sangue, de sua cabeça e de sua cama. Mas, não podia fazer isso. Não faria isso.
Ela era sua, ponto final.
— Chega, — disse ele em tom de conversa.
Ele não queria ouvir o que Griffin tinha a dizer. Nenhuma palavra.
— Você a levou à ópera, — seu amigo rebateu. — Uma livraria, o museu, inferno, Sebastian, você está cortejando a garota. Você perdeu a cabeça?
Ele continuou a ignorar Griffin, incitando sua montaria a um ritmo mais rápido. Olhos e ouvidos em todos os lugares, pensou amargamente. Aparentemente, os passarinhos de Carlisle o estavam seguindo com mais dedicação ultimamente. Griffin era um desses pássaros? O pensamento era semelhante a uma faca no estômago. Ele era como um irmão para Sebastian. O irmão que nunca teve.
O cavalo castrado de Griffin combinou com o ritmo de sua égua.
— Você vai para a cama com ela, — ele gritou, — e isso está te transformando em um idiota. Faça um favor a si mesmo e encontre outra pessoa para foder.
Essa foi a maldita coisa errada para dizer a ele. A fodida da coisa errada para dizer a ele.
Sebastian freou o cavalo e desmontou, forçando seu antigo amigo a fazer o mesmo. Eles se enfrentaram como dois lutadores premiados, olhando um para o outro. A raiva o percorreu, apertando sua mandíbula até que seus dentes rangeram. Sebastian quebrou o silêncio desconfortável primeiro.
— Nunca mais fale dela desse jeito, — avisou com uma voz que vibrava com fúria mal contida. Ele nunca quis dar um soco no nariz de Griffin do jeito que queria agora, tanto que seus dedos doíam com isso.
— Você quer me bater, Bast? — Griffin zombou. — Por causa de um conjunto de saias que você nem mesmo se deitou por um mês? Vá em frente, seu idiota. Escolha uma prostituta traidora em vez de nossa irmandade. Bata em mim. Veja o que acontece.
Um conjunto de saias. Essa foi a frase que fez isso. Ou talvez fosse uma prostituta traidora. Sebastian nunca saberia com certeza. Tudo o que sabia era que na próxima respiração, seu punho colidiu com a mandíbula de Griffin.
A cabeça de seu amigo se jogou para trás e ele tropeçou antes de recuperar o equilíbrio.
— Jesus, Sebastian. Que diabos?
Ele olhou para Griffin enquanto a dor queimava seus dedos e um hematoma púrpura-avermelhado floresceu na mandíbula de seu amigo.
— Porra. Eu não tinha a intenção de bater em você, Griff. Sinto muito. É apenas que ela...
Ele permitiu que suas palavras diminuíssem por medo de para onde estavam indo. Ela é a mulher que amo. Realmente estava prestes a dizer uma coisa tão ridícula? Claro que não. Havia uma grande diferença entre desejar uma mulher como sua companheira e tê-la em sua cama, e amá-la. Ele só estava casado com ela há quinze dias, meu Deus.
— Ela está conspirando com os fenianos, — Griffin terminou por ele. — Diga-me que você não acha que ela é inocente, Bast.
— O pai dela está em conluio com os fenianos, — corrigiu, friamente. — O pai dela que a espancou violentamente desde que ela era uma garotinha indefesa de quatro anos. Seu pai, que ela nunca mais quer ver novamente. Vanreid é o inimigo que buscamos dominar, não Daisy.
A expressão de Griffin permaneceu dura como pedra, ilegível.
— Suponho que descobriremos a verdade sobre isso em breve.
Havia algo que seu amigo não tinha dito, e sabia disso.
— Significado?
— Está na hora, Bast. — Griffin esfregou o queixo machucado. — Carlisle quer que você prossiga com a abordagem de Vanreid sobre um dote. Ele esperava que você fizesse isso antes, e não está satisfeito. Você deve convidá-lo para sua casa. Precisamos apontar as armas para ele. Recebemos notícias de nossos agentes americanos de que um ataque é iminente. Eles encomendaram um maldito submarino, Bast. Está construído e em condições de navegar, e eles têm toda a intenção de usá-lo para bombardear um de nossos navios. Isso é guerra.
O sangue de Sebastian gelou. Ele sabia o que se esperava dele, mas desejava, como o inferno, que houvesse outra maneira. Que Carlisle mudaria seus planos de batalha e deixaria Sebastian com uma opção mais aceitável.
A ideia de ter Vanreid presente em sua casa fazia sua pele arrepiar. O filho da puta devia ser estripado pelo que fizera a Daisy, e isso era um negócio maldito e horrível. Sebastian tinha visto as consequências deste tipo de assassinato, e embora isso o assombrasse até hoje, mesmo um fim tão horrível como aquele, seria muito misericordioso para Vanreid.
Agora ele deveria fingir que tudo eram rosas e arco-íris, para convidar Vanreid para seu escritório e fazer o papel de libertino dissoluto. Para trazer o bastardo perto o suficiente de Daisy para machucá-la mais uma vez.
Não sabia se poderia fazer isso. Precisava de tempo. Tempo para pensar. Para limpar sua mente. Havia atingido o único homem no mundo que era como um irmão para ele. Mas Griffin não o havia rebatido. Por alguma razão, isso o perturbou mais.
— Obrigado pela mensagem, — ele disse laconicamente, e então, girou nos calcanhares e se jogou em cima do cavalo mais uma vez, antes de cavalgar como louco para longe da única pessoa em quem acreditou que poderia confiar. Longe de deveres indesejados. Longe de tudo e de todos.
As palavras de Griffin ecoaram no trotar dos cascos de seu cavalo.
Isso é guerra.
Sim, droga, era.
Daisy desceu as escadas para jantar precisamente às oito e quinze daquela noite, tal como fazia todas as noites desde o primeiro jantar com ele. O que havia começado como uma pequena afirmação de sua independência, mudou rapidamente. Ela o manteve esperando, e ele a questionou, embora cada vez mais com mais calor sensual do que genuína irritação. Tinha se tornado uma espécie de diversão entre eles.
Ele empurrava, ela puxava. Ele era inflexível e disciplinado, onde ela ansiava por experimentar a vida livre das restrições que uma vez a contiveram. Ela queria absorver cada momento de cada dia nesta nova vida que levava, enquanto Sebastian parecia de alguma forma contido. A tristeza nele permaneceu, assombrando seus lindos olhos. Foi só quando ela o provocou que ele finalmente voltou à vida, tirando a armadura e se permitindo simplesmente ser.
Ela percebeu que seu marido era um homem rígido e disciplinado. Acordava antes do amanhecer, tomava o desjejum cedo, dedicava-se às suas propriedades e outros assuntos, fazia seus exercícios e então a esperava para jantar. E ela gostava de mantê-lo esperando, mesmo que isso significasse que secretamente andava de um lado para o outro no chão de seu quarto, olhando furtivamente para o relógio da cornija, para se certificar de não ser pontual.
Mas havia um ar inegavelmente diferente sobre ele esta noite, quando ela passou a mão direita levemente sobre a balaustrada polida, segurando a saia ligeiramente no alto com a esquerda. Ela se tornou perita em descer as escadas como se planasse, e escolheu um vestido de noite de seda azul, cor de espuma do mar, com rosetas e decote revelador, mas nenhuma dessas trivialidades importou quando seus olhos o encontraram quando ela estava no meio do caminho as escadas.
Ele não estava andando esta noite. Estava de costas para ela, a cabeça inclinada para a frente como se estivesse rezando, as mãos cruzadas nas costas. Não sabia que ele era um homem particularmente religioso e, durante a quinzena em que se casaram, ele nunca perdeu a oportunidade de liberar sua energia enjaulada no piso de parquêt enquanto a esperava.
Algo havia mudado, e ela percebeu da mesma forma que sentiu um arrepio correndo por sua espinha. Ela fez uma pausa, no quarto degrau da parte inferior, observando-o. Este não era o reencontro que esperava depois de receber o valor de uma biblioteca em livros, todos cuidadosamente escolhidos com seus interesses em mente. E especialmente, não depois de uma dedicatória onde a chamava de favorita.
A favorita.
Como se ela fosse alguém a ser querida. Talvez amada, embora fosse uma emoção melhor que ela não esperava dele depois de apenas quinze dias de casamento. Os corações faziam o que deviam, e só porque o dela tinha teimosamente decidido se apaixonar por ele, não significava que o dele, por sua vez, deveria sentir o mesmo.
Ainda assim, essas palavras penetraram profundamente dentro dela para um lugar que nem sabia que existia, fazendo-a sorrir o dia todo. Essas palavras foram responsáveis pelos murmúrios suaves de prazer que emergiam dela enquanto se sentia em casa, na biblioteca. Essas palavras causaram o frisson de desejo que deslizava por ela, mesmo agora, acompanhada pela vibração rápida de seu coração.
Mas ele ainda não tinha se virado para encará-la, e ele deve ter ouvido seus passos na escada agora.
— Sebastian, —chamou suavemente.
Ele virou-se finalmente, sua expressão sombria no momento antes de ele parecer se recompor, e vestir uma de suas muitas fachadas. Um sorriso sensual curvou seus lábios com facilidade.
— Atrasada de novo, botão de ouro? — Ele perguntou, mas não havia nenhuma mordida em suas palavras, apenas uma ressonância agridoce.
Seu coração apertou em seu peito quando ela se forçou a descer o resto da escada.
— Perdoe-me por deixá-lo esperando, — disse nesta noite, da mesma forma que fizera todas as noites anteriores, tomando cuidado extra para manter a irreverência em seu tom. Desta vez, tinha uma nova explicação para seu atraso. — Alguém me enviou o conteúdo de uma livraria inteira, e passei o dia tentando reconciliar as estantes, a literatura existente e os novos volumes.
Ele caminhou em direção a ela com uma confiança que era puramente sua, todo ducal, e de alguma forma elegante e pecaminoso ao mesmo tempo. Seu cabelo escuro estava penteado para trás em sua testa alta, e usava um casaco preto, calças pretas e uma camisa branca por baixo de um colete de brocado de metal. Ele parecia escuro, letal e delicioso.
E dela.
Ele era dela, lembrou a si mesma enquanto ele pegava sua mão estendida e a guiava para o último degrau. A orientação não foi necessária. Seu toque, entretanto, era.
Ela estava sorrindo para ele como uma garota tola, mas ela não se importou.
— Você não tem nada a dizer, Sua...
— Sebastian, — ele interveio, puxando-a para mais perto. Ele abaixou a cabeça e seus lábios quase se encontraram. Seu perfume varreu sobre ela, pinho, homem e marido. — Metade de Vossa Graça é tudo que estou disposto a permitir esta noite, Duquesa.
Seus dedos se apertaram sobre os dele. Ele sempre foi um enigma, mantendo uma parte de si mesmo longe dela. A parte que ela mais queria. Seus olhos eram azuis, muito azuis, mais azuis do que o céu de verão mais brilhante de sua infância, antes de seu pai os ter mudado para a cidade.
— Obrigada, — ela lhe disse. — Pelos livros.
Ele levou a mão dela aos lábios para um beijo, seu olhar a queimando.
— Teria preferido que você mesma os escolhesse, mas você foi teimosa como sempre.
A extravagância dele ainda fazia coisas estranhas em seu interior. Quando ele tentou convencê-la a comprar metade da livraria, ela se opôs. Claro que se opôs. Que mulher sã iria querer que seu marido esvaziasse seus cofres por causa de seus caprichos literários? Seu pai nunca teria permitido tal coisa.
Esse pensamento acabou tornando sua concordância sobre o arrogante presente de Sebastian ainda mais aceitável para ela. Sebastian não estava tentando controlá-la com seu presente. Ele queria agradá-la, e essa era a diferença.
— Sou uma mulher simples, — disse ela, então. — Não preciso de caixotes de livros, casas elegantes ou criados para me satisfazer.
Ele apertou seus dedos, sua expressão inescrutável.
— O que te satisfaz, Daisy?
Você.
Ela quase disse a palavra. Quase revelou-se, tornando-se o mais vulnerável que poderia ser. Em vez disso, ela balançou a cabeça, não querendo dar tudo a ele. Incerta se poderia. Seus sentimentos continuavam muito novos e estranhos. A ideia de dizer a ele que o amava fez sua boca secar e seu coração disparar.
— Estou ansiosa para ler, — ela lhe disse. — Obrigada. Obrigada por me ouvir, por escolher os livros do meu gosto.
— Eles são do seu agrado, botão de ouro?
Sua pergunta foi inesperada. Ninguém nunca esteve tão preocupado com sua felicidade e satisfação quanto Sebastian. Às vezes, sua atenção a confundia. Outras vezes, isso a fazia suspirar.
Neste caso, seu sorriso se alargou.
— As seleções foram muito criteriosas. De alguma forma, você sabe o que eu mais gostaria de ler.
Ele hesitou, e ela não pôde reprimir a sensação de que ele queria dizer mais. Em vez disso, ele inclinou a cabeça e ofereceu o braço.
— Jantar, minha querida?
Era uma frase usual, ela pensou — minha querida — enquanto apertava seu antebraço musculoso. Não era sua querida, era? Essa frase, saiu tão facilmente de sua língua hábil, não significava o que seu coração imprudente desejava acreditar.
A verdade era que ela não tinha a menor ideia do que ele sentia por ela, se é que sentia alguma coisa, além do desejo. A maneira como ele a olhou, como a tocou e segurou, lhe disse tudo o que precisava saber. Mas, embora ele fosse afetuoso com ela, ela não deveria se enganar.
E agora, ele a observava daquele jeito dele que era íntimo e avaliador ao mesmo tempo. Enquanto aqui estava ela, desejando que ele quisesse chamá-la de sua querida no sentido mais verdadeiro. Desejando que ele abrisse mão de todas as maneiras e formalidades, a tomasse nos braços e a levasse para cima.
Oh, coração tolo, tolo.
— Jantar, — forçou-se a dizer, pois era muito mais sábio do que revelar seus sentimentos. — Sim, vamos.
Durante o lombo de carneiro à la Brétonne, Sebastian percebeu que não era por acaso que todos os seus pratos favoritos estavam sendo servidos em um jantar. E soube imediatamente que não era a temível Sra. Robbins a única responsável. Embora esta tivesse sido sua servente por toda a vida, ela nunca, em todos os seus anos de serviço, orquestrou um jantar assim em nome dele, a menos que o tivesse solicitado especificamente.
Ele encontrou o olhar de Daisy sobre o adorável cenário da mesa — flores frescas de estufa cuidadosamente arrumadas em meio a novas toalhas de mesa, prata e porcelana, velas tremeluzindo com um brilho agradável, tudo o que ele tinha certeza de que ela também estava fazendo.
— Deixem-nos, — disse ele aos criados, que dançavam para assisti-los, sem nunca tirar os olhos dela.
Eles permaneceram em silêncio até que estivessem abençoadamente sozinhos.
— Botão de ouro, — disse então, sua garganta ficando constrangedoramente grossa. Teria dito outra coisa, mas não queria se envergonhar ainda mais exibindo seu coração.
Seu maldito coração?
Cristo.
De que inferno esse pensamento trapaceiro surgiu?
O sorriso de resposta que ela lhe deu foi tão ofuscante que lhe roubou o fôlego. Por um momento, olhou, deleitando-se com sua beleza, esquecendo tudo sobre a lama insustentável em que se encontrava atualmente. Submarinos, dinamite e a ameaça feniana — para não mencionar a própria maldita Liga e sua missão indesejada — se dissiparam como uma tempestade afugentada pelo sol.
— O jantar está do seu gosto? — Ela perguntou, repetindo sua pergunta anterior para ela.
Jesus. Ele a devorou com o olhar, desde seu cabelo dourado cuidadosamente trançado e penteado no alto de sua cabeça até sua testa alta, os traços delicados de suas sobrancelhas, seu nariz elegante e aqueles lábios largos e deliciosos que ele adorava morder, lamber e esmagar sob os dele, então abaixo por apenas um segundo, seus seios fartos e cremosos. De repente, não estava mais com fome para o jantar.
— Você organizou isto. — Se sua voz soava arranhada e profunda, isso não poderia ser evitado mais do que sua reação a ela. Ele malditamente não tinha querido se casar com ela. Não queria a atração que consumia tudo que sentia por ela. Não tinha a intenção de se queimar quando a olhava. Querê-la, não, precisava tanto que estava disposto a fazer quase qualquer coisa para mantê-la ao seu lado, como sua duquesa.
Mas, ele fez.
Ela inclinou a cabeça, considerando-o e — ele temia — que estivesse vendo muito.
— Com a ajuda da Sra. Robbins, é claro. Você tem sido infalivelmente gentil comigo, e eu gostaria de transmitir minha gratidão de alguma forma.
A besta nele instantaneamente pensou em outras maneiras de expressar sua gratidão também. Nenhum deles envolvia carne de carneiro ou batatas à la Lyonnaise. Lutando contra um gemido, mexeu-se na cadeira quando o desconforto se instalou pelas suas calças. Uma aflição familiar sempre que estava em sua presença.
E então, pensou em como ela não lhe devia sua gratidão. Não lhe devia nada, e se ela soubesse da metade, nunca falaria com ele novamente. Ao longo das últimas duas semanas, fizera o possível para separar seu dever e a maneira como começara a sentir por Daisy. Mas, eventualmente, os dois se encontrariam, e seu encontro anterior com Griffin tornara esse fato ainda mais real.
Ele tinha um dever. Mesmo se tivesse se apaixonado pela mulher que era obrigado a desconfiar. Mesmo que ainda estivesse preso nas profundezas esmeraldas dos olhos da dita mulher. Ele não podia contar a verdade. Ainda não. Talvez nunca.
A culpa o cortou com a precisão de uma baioneta.
— Você não precisa se sentir em dívida. Não sou o Galahad que você pensa que sou.
Era o máximo de advertência que ele poderia lhe dar sem se entregar, e colocar sua missão e a Liga em risco. A lembrança do que se esperava que fizesse — atrair o bastardo de seu pai, fingir que se casou com Daisy por sua fortuna, trazê-lo perto o suficiente para machucá-la mais uma vez — fez uma rápida pontada de náusea percorrer seu estômago. O carneiro estava delicioso, e era seu prato favorito, mas não conseguiu comer mais nada.
— Você é um bom homem, Sebastian — disse Daisy, as maçãs do rosto ficando rosadas sob seu escrutínio. — É inútil tentar me convencer do contrário.
— Um bom homem não teria arruinado você ao luar sem se importar com sua reputação.
A amargura se desenrolou. Como ela poderia ser tão inocente e boa, tão cega em sua confiança nele, ela que havia sido maltratada e usada por toda a sua vida? Ele a beijou, rasgou seu corpete, nos jardins de um baile onde poderiam ser vistos por qualquer pessoa. Ele a envergonhou, a usou, tudo em nome do dever e sem cuidado. Desde o início, ele a enganou. Sabendo que ela era suspeita de traição, ainda a cobiçava, tomara sua maldita virgindade enquanto pretendia anular seu casamento. E tinha feito tudo isso porque sabia que ainda havia uma chance de ela ser lançada na prisão.
Ele se odiava. Odiava mentir para ela. Mesmo agora, não podia lhe dizer o que tão desesperadamente desejava. Ele tinha feito um juramento à Liga antes mesmo de fazer um juramento a ela. Mas agora, os dois estavam desesperadamente em guerra um com o outro.
Daisy ergueu as mãos, as palmas voltadas para o teto, um sorriso provocante flertando nos os lábios que ele desejava reivindicar.
— Arruinou e ainda aqui estou eu, perfeitamente bem. Sua consciência pode sentir o contrário, mas acredite em mim quando digo que minha ruína foi minha graça salvadora. Não me arrependo daquela noite, Sebastian. Queria isso, e não apenas porque queria me livrar de Lorde Breckly, mas porque queria você.
Suas palavras o penetraram, deixando um caminho de fogo em seu rastro. Por Deus, ele desejava estar livre. Pela primeira vez em sua vida, não tinha mais satisfação em fazer parte da Liga. Pela primeira vez, queria ser... Sebastian. Simplesmente ele mesmo. Sem segredos, sem mentiras, sem perigo, sem preocupação, sem lealdade a ninguém além da mulher que o encarava através da distância de toalhas de mesa brancas, talheres reluzentes e carneiro de cheiro delicioso.
E foi então que ele reconheceu por completo, esse sentimento inquieto deslizando dentro dele, essa sensação de vazio e confusão. A vida que levava — segredo, conluio, perigo — havia deixado de preenchê-lo há muito tempo. Ele queria algo mais, algo real.
Ele não iria trazer Vanreid para sua casa ou para perto de Daisy. Não hoje, não amanhã, nem no dia seguinte. Sobre isso — a segurança de sua esposa — ele não hesitaria em desafiar Carlisle. Ele não a arriscaria. Ela era muito preciosa para ele.
E quando esta missão terminasse, se aposentaria da Liga. Se Daisy o perdoasse depois que ele lhe contasse o máximo possível da verdade, eles iriam para Thornsby Hall e criariam meia dúzia de filhos.
Filhos com Daisy.
Algo quente se instalou em seu interior. O pensamento de plantar sua semente nela, observá-la crescer com seu bebê, tomou seu fôlego e fez seu pênis ainda mais duro do que já estava por estar sentado à sua frente, em sua presença encantadora.
— Sebastian? — Sua voz estava hesitante, questionadora. — Você não vai dizer algo? Temo ter chocado você com minha confissão.
Ele saltou da cadeira com tanta rapidez que esta caiu para trás, tombando de lado no tapete atrás dele. Ele não deu a mínima.
— Você nunca poderia me chocar, botão de ouro, — assegurou-lhe enquanto andava ao redor da mesa.
Estar no mesmo espaço que ela sem tê-la em seus braços de repente era insuportável. Ele tinha que tê-la. Certo. Malditamente. Agora. Todo o resto poderia ser resolvido em outro dia — a Liga, seu pai, sua missão, as mentiras entre eles. Mas aqui, neste momento, iria dar a ela a única honestidade que poderia. Não era o que ela merecia, mas era tudo o que ele tinha.
Seus olhos se arregalaram quando ele a puxou de sua cadeira, antes de dar um golpe completo na mesa atrás dela com o braço. Porcelana, prata e o quarto prato foram todos para o centro da mesa. Ele não dava a mínima se cada placa com monograma fosse quebrada em pedaços. Não se importava se o carneiro fosse para o lixo. Suas mãos foram para a cintura dela, moldando-a facilmente.
Ela deveria comer mais, pensou distraidamente enquanto a levantava e a colocava na mesa às suas costas. As mãos dela foram para os seus ombros, e ela ainda não tinha dito uma palavra, seu choque a deixando sem palavras.
Quando seu traseiro se acomodou sobre atoalha de mesa e ele pegou suas saias onduladas em seus punhos, ela finalmente encontrou sua língua.
— Sebastian! O que você está fazendo? Ainda nem terminamos o jantar ou comemos a sobremesa. O cozinheiro preparou biscoitos de cacau e morangos.
Ela estava sem fôlego, corada e cheirava melhor do que qualquer outra coisa. Ele queria inalá-la, prender seu odor de bergamota, baunilha e âmbar gris em seus pulmões para que, sempre que não estivesse em sua presença, pudesse respirá-la.
Seu olhar caiu para sua boca.
— Você não gosta de morangos.
— Você gosta — Seus dedos se apertaram em seus ombros. — Como você sabe que não gosto de morangos?
Ele não lhe respondeu. Em vez disso, enrolou as saias dela até a cintura, juntando suas camadas volumosas sobre a mesa. E foi então, que ele fez a descoberta mais surpreendente e deliciosa. Sua duquesa não estava usando calças. Nada além de meias de seda, ligas e pernas curvilíneas.
E a boceta mais tentadora que já tinha visto.
Ela era sua.
— Para o inferno com os biscoitos de cacau e morangos, amor. — Ele caiu de joelhos em apreciação, as mãos nos quadris dela, deslizando sobre a seda quente até que alcançaram a pele mais quente. — Tudo o que eu quero é você.
— Sebastian. — Ela parecia em partes iguais escandalizada e sem fôlego. — Você não deve. Estamos no meio do jantar. Os criados...
Minha, pensou enquanto beijava a tentadora pele acima de suas ligas. Primeiro a perna esquerda, depois a direita.
— Ninguém vai nos perturbar. — Havia deixado isso claro para sua equipe após o primeiro jantar. Não haveria nenhuma batida discreta, nenhuma interrupção hesitante.
Ele tinha todo o tempo do mundo para saboreá-la. E iria saboreá-la. Doce Cristo, mas suas coxas eram gloriosas. Havia algo deliciosamente carnal em todo aquele marfim: ligas, seda, pele e a maneira como ela tentava pressionar as pernas uma contra a outra para preservar seu pudor. Minha. Lá estava novamente, sem ser convidado, a reivindicação que ele apostava nela.
Ele quis dizer o que disse a Griffin. Ele foi firme em sua decisão. Esta mulher, que era suave, gentil e bonita, que o fazia rir tanto quanto o fazia cobiçar, pertencia a ele agora, assim como ele pertencia a ela. Não haveria anulação.
— Sebastian. — As mãos dela voaram para os ombros dele primeiro, depois para o cabelo. Mas, em vez de afastá-lo, os dedos dela abriram um caminho até o couro cabeludo. — Isso é perverso.
— Mmm. — Ele cantarolou sua satisfação enquanto beijava mais acima, acariciando suas coxas com gestos lentos e lânguidos enquanto a encorajava a se abrir. — Quero te provar, amor. — Outro beijo, depois outro, e ela permitiu que ele afastasse suas pernas.
Um ruído saiu de sua garganta também, meio gemido, meio miado, e ele nunca tinha ouvido um som mais doce do que Daisy perdendo o controle que tentava manter. Lentamente, ele abriu suas pernas, centímetro por centímetro torturante. Ele beijou cada parte interna das coxas. Minha. Beliscou-a com os dentes, fazendo-a estremecer quando os dedos ficaram tensos em seu cabelo. Minha. Lambeu a pele macia para acalmá-la. Minha. Foi mais acima, sua boca se arrastando sobre ela, adorando, amando.
E então, ela estava completamente aberta, e ele deslizou as mãos para segurar seu traseiro nu e puxá-la para mais perto. Ele era como um homem perdido em uma planície desértica que acabara de tropeçar em um riacho murmurante, ajoelhando-se para pegar aquela fonte de vida e trazê-la para seu corpo com um desespero nascido de pura necessidade. Ele passou a língua sobre sua costura, uma, duas, novamente e novamente. Provocando. Degustando. Ela se moveu embaixo dele, gemendo, se retorcendo, as pernas segurando sua cabeça.
Ele tirou a mão de seu traseiro para acariciar sua coxa, acalmando-a, deixando-a ajustar-se ao ataque de sensações. Doce. Ela era tão doce. Almiscarado e feminino e algo mais exclusivamente ela. Ela preencheu seus sentidos, envolvendo-o, até que não existisse mais nada. Havia apenas Daisy em sua língua, seus sons ofegantes de desejo indefeso, os dedos de Daisy em seus cabelos, as coxas macias contra ele, o seu calor úmido e delicioso.
Minha. Ele encontrou o prêmio que procurava, sua língua sondando suas dobras lisas para descobrir sua pérola. Sacudiu aquele pacote requintado de sensações, trabalhando-o com sua língua. Minha. Ele soprou uma corrente de ar quente sobre ela.
— Oh, — ela disse, e então, — oh, Sebastian.
Muito suavemente, ele mordeu, pegando-a entre o lábio superior e os dentes antes de raspar a pérola novamente e novamente. Ele a chupou, olhando para cima para encontrá-la olhando-o, sua expressão relaxada e desprotegida, sua exuberante boca parcialmente aberta, seu peito arfando a cada respiração difícil.
Seus olhares se encontraram e ele permitiu que ela se afastasse de seus lábios com um pop vigoroso.
— Solte-se para mim, Daisy. Quero fazer você gozar com nada além da minha língua.
Isso era tudo que ele poderia lhe oferecer até que estivesse livre da Liga: seu corpo e seu prazer. Poderia fazê-la voar, poderia dar sua liberação, e ele queria isso para ela agora mais do que qualquer coisa. Ela merecia muito mais, e muito melhor. Merecia sua honestidade e seu amor, e ele lhe daria os dois assim que pudesse.
No momento, só poderia correr a língua sobre sua fenda novamente — uma, duas, cinco vezes, mais — antes de afundá-la o mais fundo que pudesse. Apontando a língua, ele enfiou dentro dela novamente e novamente. A mão dele viajou por sua coxa para a pele revelada sob seu espartilho, diretamente acima de seu útero. Aqui, ela carregaria seus bebês. Ele espalmou a mão sobre ela. Minha. E sua mão pousou sobre a dele, seus dedos se enredando.
— Por favor, — disse ela.
Seu apelo o estimulou. De volta à sua pérola, ele foi lambendo, chupando, mordiscando, aprendendo o que ela mais gostava. O ponto particularmente sensível abaixo do doce botão e ligeiramente à direita a fez saltar e enlouquecer. Ele fechou a boca sobre ela, arranhando-a com os dentes até que finalmente ela explodiu. Ele a observou enquanto ela gozava, com as costas arqueadas, a cabeça jogada para trás em êxtase para revelar a coluna graciosa de sua garganta, seus seios lutando contra o corpete.
— Sebastian, — ela chorou. — Eu te amo.
A pressa de sua liberação foi líquida e instantânea, e ele perdeu sua capacidade de formar um pensamento coerente.
Minha. Maldito, fodido inferno. Minha.
Ela tinha dito aquilo? Aquelas três palavras? Não se atreveu a ter esperança, a acreditar. Quando se convenceu de que se enganara, ele a ouviu gemer baixinho, e era inegável. Eu te amo, eu te amo, eu te amo.
Ah, meu Deus. Esta mulher seria sua ruína. Ele finalmente arrancou sua boca dela, puxando-a em seus braços para um abraço apertado. Se ele tivesse sido capaz de puxá-la para dentro de si mesmo, o teria feito, tão feroz e inesperada foi sua reação às palavras dela e sua necessidade dela.
— Obrigado, meu amor, — ele disse em seu ouvido. — Agora vamos subir as escadas para que possamos terminar o que começamos.
Ela beijou sua mandíbula, os braços apertando ao redor dele.
— Sim, — foi tudo o que disse.
Ele afastou-se e a ajudou a devolver o vestido à aparência de ordem. Sem palavras, ele a pegou pela mão e a conduziu para seu quarto. Uma vez lá, fez amor com ela duas vezes, uma com abandono frenético e outra com paixão lenta e terna. Com seu corpo, ele disse a ela as palavras que ainda não estava livre para dizer. Palavras que não diria até que essa missão esquecida por Deus terminasse, e ele pudesse ser sincero com ela. Palavras que ela merecia ouvir depois que fosse libertado das algemas de seu juramento, e seu único dever seria para com ela.
Quando por fim se deitou com ela enrolada contra ele na escuridão, ambos exaustos, a respiração de Daisy indicando que estava dormindo, ele beijou seu ombro nu.
— Eu também te amo, — sussurrou na noite.
Capítulo 18
Na manhã seguinte, Sebastian quebrou o jejum de sua maneira costumeira: perto do amanhecer, sozinho, e com o The Times passado e colocado ao lado de seu prato. Ele garfou um pedaço dos ovos cozidos e mastigou pensativamente enquanto sua mente se distanciava dos assuntos parlamentares e das notícias do mundo no exterior.
Para o inferno com tudo o que é normal. Hoje não era um dia qualquer. Hoje, tudo mudou. O sol nascendo para quebrar a névoa sombria de Londres parecia estranhamente brilhante. Seu café tinha um gosto melhor do que nunca. Seu peito estava mais leve, e não conseguia parar de sorrir como um idiota.
Daisy o amava. E ele a amava.
Sim, Cristo o ajudasse, por mais repentino, estranho e imprudente que parecesse, havia encontrado a mulher que queria passar o resto de seus dias amando. Seu relacionamento com Daisy era cordial e fácil. Ela possuía inteligência, determinação e sagacidade, tudo realçado por um vivo senso de humor. Quando estava irritado, ela o fazia rir. Quando era arrogante, ela sutilmente o lembrava. Quando estendeu a mão, ela a pegou.
Ela tinha se atrasado para o jantar todas as malditas noites, e ele nem se importou, embora tivesse certeza de que ela o deixava esperando. Quando ela chegou, com um sorriso zombeteiro nos lábios, resplandecente em seus trajes finos, tudo o que ele pôde fazer foi não tomá-la nos braços, carregá-la de volta escada acima e fazer amor com ela a noite toda.
Ela era como o brilho do sol depois de um temporal. Algo sobre a mulher era incrivelmente charmoso, e não era apenas sua beleza. Era uma qualidade indefinível que nunca conheceu em outra mulher. Ou talvez tenha sido ela, Daisy, que o afetou tanto. Ela o teve em guerra consigo mesmo, desde o início, metade dele querendo-a desesperadamente e a outra metade, determinada a mantê-la à distância de um braço de onde ela pertencia.
Mas com o passar dos dias, as palavras — peão — e — anulação — foram empurradas sem cerimônia para os recessos de sua mente. Ele a observou, é claro, e vasculhou seus pertences pessoais, não sem uma pontada de culpa perfurante a cada vez. Ele localizou seu diário e leu cuidadosamente cada anotação. Tudo o que conseguiu descobrir foi que ela ficou emocionada ao começar a ler o conteúdo de sua biblioteca e que sua caligrafia era surpreendentemente inclinada e imperfeita.
Ele franziu a testa para o jornal, as palavras borrando diante dele. Além da deficiência de caligrafia, Daisy era exatamente como ele suspeitava: uma jovem bondosa e vivaz que havia sido maltratada pelo pai e estava desesperada para escapar dele e do decrépito lascivo que ele escolhera para casar-se com ela.
A tarefa mais urgente era reunir evidências de sua inocência para fornecer a Carlisle. Quanto antes pudesse remover Daisy como suspeita, melhor. Perguntas preocupantes permaneceram, é claro. Sua ligação com a vendedora irlandesa e Padraig McGuire, o chefe deles. Ele reconheceu que seu amor por ela não a desculpava. Claro, o espião endurecido dentro dele teve que reconhecer que havia uma chance de ela ser culpada como pecado afinal, e ele permitiu que seus sentimentos nublassem seu julgamento.
De qualquer forma, havia apenas uma conclusão para a situação em que se encontrava. Daisy era culpada ou inocente, e Sebastian era um idiota ou não.
Para isso, continuaria a seguir pistas e construir um caso para Carlisle. Ele tinha todas as esperanças de que o levassem à conclusão inevitável de que Daisy não tinha nenhuma participação na conspiração do pai com os fenianos. Que a mulher por quem estava tão atraído — a mulher por quem se apaixonou perdidamente contra todos os seus instintos e todos os seus anos de treinamento combinados — não tinha mais a ver com planos de dinamite do que a própria rainha.
— Perdoe a interrupção, Sua Graça, mas você tem alguma correspondência esta manhã, — Giles interrompeu, seu tom perfeitamente formal.
Ele baixou o jornal esquecido e cumprimentou seu mordomo, aceitando a correspondência como se fosse provavelmente tão inofensiva quanto uma carta de uma tia solteira. Sebastian esperou até que Giles retomou discretamente seu lugar ao lado do aparador antes de abrir o selo da carta. Seus olhos percorreram o familiar e breve rabisco, aquele velho e desgastado nó ressurgindo. Seu sangue gelou.
A mensagem foi codificada, seu conteúdo parecia inocente o suficiente.
Você gostaria de me encontrar para um passeio matinal? O céu parece muito sinistro para esperar até a tarde.
Não estava assinado, mas isso pouco importava. Ele conhecia o autor da nota assim como sabia que tinha um par de mãos e o sol brilhava no céu acima dele, embora não pudesse vê-lo de onde estava sentado.
Carlisle queria se encontrar imediatamente.
E nada sobre uma convocação repentina do duque de Carlisle era motivo de regozijo.
O pavor, pesado, duro e intragável como o inferno, se contorceu em seu intestino. Esse breve idílio com Daisy estava fadado a ser interrompido. Mas, dane-se, se ele não tinha desfrutado de cada momento enquanto durou.
O diabo, ao que parecia, sempre cobraria o que lhe era devido. Ele podia amar Daisy tanto que fazia seu peito doer fisicamente, mas não estava livre para perseguir esse amor ainda. Por enquanto, estava vinculado por sua honra, sua palavra, sua lealdade à Coroa e seu legado familiar. Ele os sentiu como algemas de aço circulando seus pulsos. Mantendo-o prisioneiro. A partir do momento em que fez seus votos, sua vida deixou de ser sua.
Tudo mudou, mas, mesmo assim nada mudou.
Ele dobrou a nota em três, cuidadosamente mantendo sua expressão suave para o bem do lacaio e mordomo que o servia. Ele deveria ter permanecido no quarto de Daisy, seu corpo elegante e macio, quente e nu em seus braços. Poderia tê-la acordado com seu beijo e, em seguida, deslizado seu pênis para dentro dela.
Em vez disso, havia se levantado cedo e se vestido da maneira habitual, solicitando os jornais e seu café da manhã. Ele tinha feito tudo isso porque, apesar do fato de que não gostaria de nada mais do que fingir que era livre para amar Daisy do jeito que queria e do jeito que ela merecia, ele não era. E permanecer em sua cama apenas prolongou sua própria tortura e tormento.
Ah, mas se ele tivesse ficado, beijado seus doces lábios, a virado de costas...
Mas, não. Ele supôs que o bilhete o teria encontrado em qualquer lugar. Ainda assim, teria sido muito mais prazeroso passar a manhã chupando os lindos mamilos rosados de sua esposa do que ler um artigo no The Times sobre o governo da Índia e o Ameer de Cabul, antes de correr para cumprir as ordens de Carlisle. Sebastian deslizou o bilhete no bolso do casaco, terminou o café da manhã em várias outras mordidas, e então anunciou que precisaria de sua montaria selada enquanto colocava o traje de montaria.
Sim, era hora de o diabo cobrar o que era devido.
A viagem para a residência pessoal de Carlisle foi fria, tornada ainda mais infeliz por uma umidade incessante que desceu sobre a cidade. Para uma convocação como esta, suas instruções eram que, deveriam sempre se encontrar em Blayton House. Como eles frequentavam os mesmos círculos e fingiam amizade com a maior frequência possível, dois duques podiam encontrar-se facilmente e discretamente. Mais do que no esconderijo de Carlisle à vista de todos, por assim dizer.
Não demorou muito para chegar a Blayton House, e antes que percebesse, Sebastian estava entregando suas rédeas a um cavalariço, e sendo levado para o interior do santuário de Carlisle por seu desagradável mordomo de cabelos grisalhos. Carlisle estava para na entrada de seu escritório na chegada de Sebastian.
— Trent. — Carlisle era o rosto da civilidade genial. — Quer uma bebida?
Era o papel que ele desempenhava para o mundo — safado bêbado, libertino endurecido, homem alegre na cidade. Na verdade, o duque de Carlisle era uma figura estranha — severo, áspero, escuro e mortal. Sebastian uma vez o testemunhou estripar um homem com sua lâmina antes de limpá-la calmamente com um lenço com monograma.
Por alguma razão estranha, a visão e o cheiro daquele momento passado retornaram a ele agora. França, dez anos antes, nos arredores de Paris. Estavam em uma missão para libertar Griffin e foram atacados por um pequeno grupo de soldados alemães. As chances estavam contra eles — Sebastian e Carlisle contra cinco — mas eles prevaleceram. Carlisle tinha sido um selvagem, matando dois dos alemães com as próprias mãos e um terceiro com sua faca. Sebastian despachou os outros dois. Estranho, tão estranho, que se lembrasse daquele dia agora.
O mordomo desapareceu, a porta se fechou.
Sebastian enfrentou seu superior.
— Vou precisar de uma bebida por qualquer motivo que você me pediu para vir aqui?
— Dois minutos — murmurou o duque, sua expressão se tornando tão sombria quanto uma máscara mortuária.
Era muito incomum para Carlisle revelar que tinha a capacidade de experimentar emoções. Ver esse lado dele o perturbou, vendo seu superior caminhar até o aparador, pegar uma garrafa e servir uísque em dois copos. Nem mesmo depois de matar os três alemães Carlisle ficou tão desarticulado.
Sebastian tirou seu relógio de bolso, atendendo ao aviso de Carlisle de que não seria seguro falar livremente até que dois minutos inteiros tivessem se passado. Ele aceitou o uísque que o duque lhe ofereceu, inclinou a cabeça para trás e engoliu o conteúdo em um gole de fogo. Este queimou um caminho direto para seu intestino.
Ele deu outra olhada no relógio.
— Dois minutos se passaram.
— Uma bomba foi descoberta esta manhã por um policial noturno, — Carlisle disse, tomando um grande gole de seu próprio uísque antes de continuar. — Não detonou, graças a Deus. O pobre coitado viu uma caixa fumegante e foi tolo o suficiente para apagar a chama. Graças à sua tolice, a residência do senhor prefeito ainda está de pé.
Uma onda desolada de desespero serpenteou por ele. Eles tinham ouvido sussurros de seus agentes lotados na América por muitos meses, que Londres era um alvo agora. A explosão no arsenal de Salford foi apenas o começo. O inimigo feniano vinha crescendo em número, poder e audácia. Mas até agora, a ameaça parecia nada mais do que isso — uma ameaça a ser monitorada e destruída antes de se manifestar de maneiras muito mais perigosas do que em conversas entre espiões, manifestações exaltadas e artigos incendiários. Londres, a Liga tinha certeza, seria um alvo muito arriscado para os fenianos perseguirem.
Parece que foi uma grande falácia.
Por fim, seu maior medo se tornou realidade no coração de Londres.
— Jesus, — ele disse lentamente, passando a mão pelo rosto. O uísque havia começado o aquecimento agradável e independente de seus sentidos, mas não fez nada para entorpecer a urgência do assunto que enfrentavam. O aviso de Griffin do dia anterior o atingiu: o maldito submarino. Isso é guerra. Porra. — Que informação você tem?
— Não muito neste momento. O policial levou a caixa para a estação Bow Lane. Havia quase dezoito quilos de pólvora enchendo a maldita coisa, junto com alguns jornais estrangeiros e dois endereços, um em Londres e outro em Liverpool. — Carlisle voltou para o aparador, batendo seu copo de uísque meio cheio no mogno entalhado com tanta força que Sebastian ficou chocado por ele não ter se quebrado. — Nossos homens estão investigando os endereços enquanto conversamos. Se o policial não tivesse passado na hora que fez, a bomba teria explodido. Ele tem muita sorte de não ter sido morto. Mais trinta segundos talvez, e estaria.
Dezoito quilos de pólvora. Santo Deus. Os bastardos que haviam fabricado a bomba pretendiam causar uma grande destruição. Eles precisavam ser interrompidos por todos os meios necessários e o mais rápido possível.
Uma sensação nauseante de inevitabilidade se instalou dentro dele. Pensou em Daisy, então, e em como se permitiu acreditar que poderia realmente se livrar do fardo desta vida e de todos os seus deveres e obstáculos. Griffin estava certo. Isso era guerra, droga, e o inimigo havia se infiltrado em Londres, preparado para mutilar e matar tantos inocentes quanto possível. Como ele poderia deixar a Liga agora, em um momento de necessidade?
Tinha imaginado que algum dia poderia deixar esta vida? Que poderia simplesmente ser um homem apaixonado por uma mulher? Que poderia se aposentar em Thornsby Hall e criar bebês de cabelos dourados com Daisy? No espaço de uma hora, tudo mudou. Uma bomba foi armada. Vidas estavam em perigo. Isso era maior do que todos eles. Maior do que seus próprios desejos egoístas.
Ele sabia o que deveria fazer.
Ele enrijeceu em seu assento.
— Como posso ser útil?
— O Escritório quer você em Liverpool imediatamente. — A resposta de Carlisle foi rápida e decisiva. Ele provavelmente passou as horas da madrugada elaborando sua estratégia.
— Por que Liverpool? — Ele perguntou, reconhecendo que tal tarefa o afastaria de Daisy quando a última coisa no mundo que queria fazer era sair do seu lado, especialmente com tantos negócios inacabados entre eles. Na noite anterior, ela lhe disse que o amava. Precisava contar a verdade, implorar seu perdão.
Mas primeiro, tinha um juramento a cumprir.
E ele manteria lealmente aquele juramento até que encontrasse o seu próprio fim ou até que fosse dispensado de seus deveres, o que viesse primeiro. À parte os últimas quinze dias, ele era capaz de pensar e agir como um súdito leal e racional da Rainha. Como um homem encarregado de defender a Inglaterra e seu povo de todas as supostas ameaças, fossem ou não sereias lindas, de cabelos dourados e lábios deliciosos que cheiravam a baunilha e bergamota.
O olhar de Carlisle estava nele, duro e avaliador.
— Liverpool é onde Vanreid passou muito tempo. Suspeitamos que ele esteja trazendo suprimentos e fundos para ajudar os fenianos já sitiados na Inglaterra. O endereço dentro da caixa pode ter sido plantado para nos enganar ou pode ser um recurso valioso para nossa causa. De qualquer forma, precisamos de um de nossos melhores homens para ser nossos olhos e ouvidos lá pelo menos pelo próximo mês. Se houver um grupo usando dinamite com base em Liverpool, vamos jogá-lo em uma maldita área antes que possam colocar mais uma bomba.
Sebastian concordou. Vanreid novamente. Por que Carlisle não podia aceitar que Vanreid, um animal corpulento que havia batido em sua própria filha e tentado casá-la com um réprobo envelhecido, era a fonte do mal que queriam derrotar? Que Daisy não participou disso? Que ela era uma vítima inocente que merecia muito mais do que um casamento falso com um homem que não tinha feito nada além de enganá-la desde o dia em que a conheceu? Por sua vez, nessa farsa, Sebastian não conseguia evitar que sua garganta subisse cada vez que pensava nisso.
Mas, não questionou. Ele devia sua lealdade à Liga e ao seu país primeiro, independente de quão desagradável achasse sua tarefa atual.
— Vou precisar informar Daisy sobre meus planos.
— Não. — Carlisle avançou novamente, escuro como uma nuvem de tempestade. — Você não a informará de nada. Sua parte nesta trama permanece obscura, mas ela não é confiável. Na verdade, você nem mesmo deve pensar nela como sua esposa. Ela é um meio para um fim. Nada mais. Me fiz entendido, Trent?
As palavras rodopiaram em sua mente, instalando-se em suas veias, frias como o gelo do inverno. Um meio para o fim. Nada. Ele viu o rosto dela, adorável e expressivo. Pensou em como ela ganhava vida em seus braços, toda fogo e inocência. Ouviu suas palavras. Eu te amo. Ela havia passado por suas muralhas e se arrastado por baixo de sua pele, e ele nunca poderia fazer o que Carlisle pedia. Não mais.
Enquanto vivesse, o sabor dela — doce, selvagem, delicioso — permaneceria com ele. Alguma inquietação há muito esquecida dentro dele ansiava por ela. Poderia beijá-la sem sentido em mil noites sob uma centena de luas diferentes, e ainda a desejaria mais do que na noite anterior.
Ela não era — nunca poderia ser — apenas um meio para um fim.
— Ela é inocente nisso, Carlisle. — Sebastian o encontrou no meio do caminho, sem medo e sem remorso. Sim, ele tinha um dever, mas também tinha uma mente própria, e tudo nele lhe dizia que Daisy não fazia parte do mal que seu pai semeava. Talvez fosse o que queria acreditar. Algo mudou desde o momento em que a conheceu, e isso o deixou questionando tudo: sua lealdade, seu juramento, a Liga, seus instintos, sua própria maldita honra.
Tudo.
O duque o considerou.
— Você tem dormido com ela contra minhas ordens, então.
Não foi uma pergunta, mas uma declaração. A raiva o invadiu ao ouvir Carlisle falar tão cavalheirescamente sobre ela, como se ela não fosse melhor do que uma prostituta de taverna. Ele cerrou os punhos ao lado do corpo para não esmagar um deles na mandíbula de seu superior.
— Vá para o inferno.
— Jesus. — Carlisle olhou para ele, sua expressão pela primeira vez sem disfarces. Era nojo puro e autêntico. — Eu nunca teria esperado isso de você, Trent.
Ele não queria discutir Daisy com ninguém, especialmente com o duque de Carlisle. Parecia uma traição a ela.
— Maldito seja, Carlisle, a Liga não é dona do meu pau, e farei com ele o que quiser. Além disso, juro a você que não descobri nada que sugira que ela tenha ao menos uma vaga ideia das tramas fenianas. Ela não consegue obedecer ao pai, que a espancava e queria casá-la com Breckly, apesar de suas veementes objeções.
— Isso é o que ela quer que você acredite. Atrevo-me a dizer que esta não é a primeira vez que um bom homem é vítima de uma boceta traidora. — Carlisle bufou. — Certamente não será o último.
Ele nunca desejou tanto espancar um homem em toda sua vida. Sebastian deu um passo ameaçador para frente.
— Não ouse menosprezá-la na minha presença novamente.
Carlisle o encontrou no meio do caminho. Eles se enfrentaram, passo a passo, na mesma altura de um para o outro. Sebastian era um pouco mais magro do que Carlisle, mas tinha certeza de que poderia vencer facilmente em uma luta de socos.
— Empurre-me por sua conta e risco, Trent, — Carlisle avisou, seu tom suave, mas de alguma forma tão áspero como um chicote. — Esqueça qualquer feitiço que ela lançou sobre você com suas artimanhas. Temos tarefas muito mais importantes em mãos. Mais bombas serão fabricadas e acesas nas ruas. Eles já destruíram um prédio e mataram uma criança. Vidas inocentes serão tiradas a menos que ajamos, porra.
Sim, dane-se tudo para o inferno. Sebastian respirou fundo, a severa advertência de seu superior lembrando-lhe o que estava em jogo. Dinamite. Morte e destruição. Muitas vidas estavam em perigo. Quantos mais inocentes derramariam seu sangue e suas vidas nas mãos desses monstros, a menos que fossem parados? Ele havia jurado defender seu país e, independentemente do que sentisse por Daisy, tinha que permanecer fiel ao juramento.
— Liverpool, — Sebastian murmurou, flexionando as mãos. Não iria bater em Carlisle. Hoje não. Outro dia, talvez. Por enquanto, restava um tipo diferente de guerra para lutar.
— Sim. — Os olhos de Carlisle brilharam com algo semelhante à loucura. — Preciso de você em Liverpool. Preciso de você lúcido e alerta. Você sempre foi um dos melhores, Trent, e não podemos perdê-lo agora.
Ele iria, embora a ideia o deixasse frio e vazio. Sensação curiosa, isso. Por todos os seus anos servindo na Liga, apenas uma outra missão o fez parar. Essa que tinha se casado com Daisy Vanreid.
— Você não vai me perder, — disse ele com voz rouca. — Vou cumprir meu dever até o fim. Vou viajar para o Hades se a Liga precisar, e você sabe disso.
Carlisle deu a ele um sorriso fugaz.
— Não Hades ainda, Trent. Mas você deve partir imediatamente.
De uma vez só. As palavras ecoaram por ele, indesejadas como gelo descendo por sua espinha.
— Vou sair agora?
Ele pensou em Daisy, enrolada de lado, nua sob as roupas de cama, quente e cheirosa. Ela o amava. Ele a amava. E agora, teria que deixá-la como se ela significasse menos do que nada para ele.
Carlisle acenou com a cabeça.
— Espero que não seja um problema. Você não pode dizer à srta. Vanreid para onde está indo ou por quanto tempo ficará fora. Ela não é confiável. Você enviará a ela uma nota informando-a de que um assunto em uma de suas propriedades requer sua intervenção.
Ele queria argumentar que Daisy não era mais a Srta. Vanreid. Ele estava orgulhoso de dar a ela seu nome, para envolvê-la na proteção de sua família. Ela era Daisy Trent agora e pertencia a ele, ao seu lado. Mas como poderia reivindicá-la quando estava prestes a abandoná-la, deixá-la com um bilhete e nada mais?
A ideia o deixou frio. Sua boca ficou seca. Não queria fazer isso. Nem hoje, nem nunca. Nenhuma parte dele queria deixar Daisy para trás. Mas ele estava dividido como sempre entre seu dever e a mulher que inexplicavelmente passou a amar.
O que eram mais mentiras em um mar cada vez maior delas?
— Um assunto sobre uma das minhas propriedades?
— Cólera, — Carlisle mordeu fora. — Diga-lhe que ela deve permanecer em Londres para sua própria segurança. Tudo que você precisa estará o esperando no ponto de encontro em Cheapside. Quando você chegar em Liverpool, envie-me um telegrama dizendo que o tempo está bom. Vou me juntar a você lá assim que puder.
Sebastian concordou. Este era um papel que ele havia desempenhado antes, e talvez muito bem. Ser espião estava em seu sangue. Ele poderia fazer tudo o que precisava. Faria tudo o que precisava. Ser quase queimado vivo não foi o suficiente. Por que parar agora? Na verdade, por que parar quando havia outros, muito mais vulneráveis do que ele, para serem protegidos? Daisy incluída. Talvez fosse assim que ele pudesse finalmente provar a Carlisle que ela não tinha nada a ver com os fenianos ou seus planos.
— Farei o que você pedir, — disse finalmente, embora ainda se recusasse a ser o primeiro a dar um passo em retirada. Sebastian Fairmont, duque de Trent, não recuou diante de um desafio, nem se afastou de seus juramentos e deveres. Jurou proteger a todo custo. Sabia que poderia chegar o dia em que teria que sacrificar sua própria felicidade por um bem maior.
Esse foi aquele dia.
E de repente, o dia estava sombrio e nada era o que parecia.
Carlisle, por acaso, era um homem que sabia quando mudar de tática. Teria sido um maldito general brilhante. Ele evitou Sebastian e caminhou de volta para o aparador, as mãos cruzadas atrás das costas como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo.
— Bom homem, Trent, — ele falou por cima do ombro.
Sebastian ainda estava com vontade de bater nele. Ele precisava sair do escritório antes de fazer algo tolo, como atacar seu superior e alimentá-lo com seus dentes irritantemente regulares.
— Vossa Graça, — ele disse ao invés, mantendo sua voz cuidadosamente modulada com uma mistura de respeito e formalidade. Nem mesmo Carlisle poderia culpá-lo. — Vou partir.
— Faça, Trent. — O duque chamou com desdém por cima do ombro. — Pegue o que você precisar e vá para Liverpool imediatamente.
Rangendo os dentes contra uma réplica ainda mais imprudente, Sebastian girou nos calcanhares e caminhou até a porta do escritório. Colocar espaço entre ele e o duque era essencial. Muito mais tempo na presença do bastardo sem coração anularia os fragmentos restantes de honra e dignidade aos quais ele atualmente se agarrou.
Sua mão pairou sobre o botão de filigrana quando a voz de Carlisle o parou.
— Ah, e Trent? Faça um favor a si mesmo quando chegar a Liverpool. Encontre uma prostituta e foda-a. Você pode me agradecer mais tarde.
Lá se foi o último fio de sua sanidade, como se fosse uma tesoura atacando um fio de bordado fino. Tesourada. Ele estava prestes a se desfazer. Para explodir tão certo quanto a dinamite que perseguiam. Mas, não. Não iria. Carlisle adorava incitar. Para empurrar um homem até o limite da razão, e então chutá-lo para fora da borda.
Sebastian não cairia em sua armadilha. Ele forçou um suspiro, controlou-se.
— Vá para o inferno, Carlisle, — rebateu com uma calma que mal sentia.
Rosnando outra maldição feroz, abriu a porta como um selvagem rugindo para a vida por dentro e a bateu atrás de si. Ainda assim, a pequena demonstração de violência não foi suficiente. Ele teria que deixar Daisy para trás hoje. E, Jesus Cristo, algo dentro dele não tinha certeza se poderia.
Ele partiu com uma agressão que combinou com a fúria turbulenta que tinha por dentro. O dever chamou. Ele tinha uma aliança com seu país e sua rainha, e isso superava em muito os caprichos egoístas do coração humano.
Nada importava, exceto esta missão. Não era o que ele queria, não a conexão indelével que sentia com a mulher com quem se casou, e certamente não suas próprias necessidades. Ele havia quebrado a regra fundamental do espião e se permitido esquecer que estivera desempenhando um papel, que o prazer de seus dias com um peão fora fabricado e temporário.
O tempo pareceu passar em um piscar de olhos, e ele estava de volta onde havia começado, sua imponente cidade natal atuando sobre ele, zombando dele. Tantos enganos construíram aquela casa. E ele era mais um duque vivendo uma vida de segredos, uma vida que nunca seria sua.
Ele sentiu uma profunda pontada de ressentimento com a conhecimento sobre isso antes de bani-lo. Ele não tinha o direito de sentir que estava devendo algo, pois sabia como seria um membro da Liga quando fez seu juramento. Perdeu o direito de fazer suas próprias escolhas. Fez o que a Liga ordenou. Protegeu a coroa e o povo a todo custo.
Ele não colocou, droga, todos os seus anos de treinamento e lealdade em risco por causa de uma mulher americana de cabelos dourados, mesmo que seu coração teimoso a amasse, e mesmo que ela o fizesse rir e mesmo que a presença o lembrasse da vida que ele queria, aquela que estava além de seu alcance. Não podia ser egoísta agora, mesmo que cada parte dele quisesse dizer a Carlisle para ir para o diabo para que pudesse ficar onde estava, familiarizando-se com o adorável enigma com o qual se casou.
Não, não era para ser.
Talvez Daisy não fosse assim, e ele apenas se enganou ao imaginar que isso acabaria de forma diferente. Com intenção sombria, ele entregou as rédeas a um cavalariço. Ele voltaria para seu quarto, escreveria um bilhete para Daisy e partiria antes que ela soubesse que havia partido. No final, um rompimento limpo seria mais fácil para os dois. Mais preferível, parecia, do que enfrentá-la e contar uma mentira prolongada. Carlisle poderia muito bem enfiar suas bobagens de cólera em sua bunda intrometida.
Amor e dever não se misturavam muito bem, e ele estava desesperadamente à deriva.
Capítulo 19
Daisy dormiu muito mais tempo do que costumava. Quando acordou, o dia estava claro e nítido, brilhando através da fachada da janela em um lembrete de que não deveria ser preguiçosa como tinha sido. Parte dela esperava que Sebastian estivesse deitado ao lado dela na cama, mas essa mesma parte estava destinada ao desapontamento, pois o lado da cama que ele normalmente ocupava estava vazio.
Ela rolou para o lado, passando uma perna e um braço sobre o lugar onde ele deveria estar. Estava frio, o que significava que Sebastian havia sumido há algum tempo. Ela esperava que ele protelasse? Que retribuísse depois de sua declaração embaraçosa ontem?
O mero pensamento do que tinha ocorrido foi o suficiente para fazê-la bater com as costas da mão na testa. Sebastian tinha... Deus do céu, ela não conseguia nem formar palavras na privacidade de seus próprios pensamentos sobre o que ele tinha feito com ela. Durante o jantar. Na mesa. Com os criados provavelmente cientes do que ele estava fazendo.
E o que ela fez? Não só se deleitou com isso, mas trouxe todo o interlúdio deliciosamente perverso sobre si mesma por não usar roupas íntimas. Ela ainda não tinha roupas íntimas suficientes. Era uma bobagem e ela se sentia totalmente ridícula, mas quando mandou buscar o guarda-roupa da casa do pai, nem todas as suas roupas íntimas haviam chegado. Do jeito que estava, estava terrivelmente sem roupas íntimas. Precisava adquirir mais, e a noite passada tinha sido uma prova disso.
Então, novamente, se evitar as roupas íntimas significava que seu marido iria fazer amor de forma tão decadente, ela poderia ficar tentada a não usá-las todas as noites. Ela poderia se acostumar a tal tratamento.
O pensamento lascivo fez suas bochechas ficarem quentes.
Era isso. É hora de se levantar e ver seu dia.
Ela desejou não ter se envergonhado dizendo a Sebastian que o amava. Em um momento de fraqueza, as palavras escaparam dela, uma grande corrida, antes que fosse capaz de contê-las. Não houve como contê-las.
Senhor, tenha piedade. Eles estavam casados há quinze dias. O que estava pensando? Daisy jogou para trás as roupas de cama e forçou-se a sair da cama para o ar frio da manhã. Claro, ela sabia o que estava pensando. Aqui estava um homem capaz de muita bondade e gentileza, que a beijou e a tocou como se ela fosse preciosa, que riu com ela, que teve tempo para conhecê-la.
Ele prestou atenção ao menor detalhe no que dizia respeito a ela. Antes dele, o único outro homem que ela já tinha estado perto no mesmo sentido tinha sido Padraig, seu prometido, e isso não tinha terminado bem. Padraig também foi carinhoso e gentil. Ele a fez sonhar com um mundo no qual ela não vivesse sob o controle de seu pai.
Então, chegou o dia em que seu pai decidiu que seu casamento com Padraig não era mais benéfico para ele. Daisy arrastou-se pelo tapete até o puxador do sino para chamar sua criada de quarto enquanto estremecia com o ar da manhã. Por que estava pensando nisso agora, quando sua felicidade com Sebastian encheu seu coração perto de explodir?
Era bobagem, na verdade, mas por alguma razão estranha, lembrou-se do dia em que seu pai lhe disse que ela não se casaria com Padraig McGuire. Seu pai chamou a ela e a Padraig em seu escritório, e deu a Padraig um ultimato: case-se com minha filha ou comande meu império. Claro, Padraig escolheu o último. Quem não teria? Seu pai era dono de metade da cidade de Nova York e fábricas suficientes para abrir seu próprio país. Qualquer homem teria escolhido o império.
Essas velhas feridas sararam, como uma contusão, com o tempo. Agora, ela estava terrivelmente feliz por ter descoberto o tipo de homem que Padraig era antes de se ligar a ele. Não, a escolha de Padraig não a incomodava mais, mesmo que suas costelas se lembrassem de cada momento do que aconteceu depois daquela entrevista estranha quando seu coração foi partido. Por seu desafio, ela recebeu a ira de seu pai. Costelas quebradas, como se viu, eram muito mais dolorosas e infinitamente mais difíceis de recuperar.
Mas recuperar-se, ela tinha feito. Não se arrependia de seu passado, por tudo isso — o bom, o ruim, o doloroso, o triste — a moldou na mulher que se tornou. Seu passado a tornara forte, mostrara que apesar de tudo, ainda havia o bem no mundo. Ainda havia um libertino arrojado que a resgatou, que riu com ela, que sabia que ela não gostava de morangos, que fez amor com tanta ternura que o simples pensamento enviou uma dor dentro dela.
Sua porta se abriu para revelar a forma familiar de Abigail entrando apressada no quarto, e Daisy estava mais uma vez contente por ter sido capaz de mantê-la como criada de quarto. Seu pai a dispensou de seu posto sem referência após a fuga de Daisy, e ela encontrou o caminho para a residência do duque, onde Daisy a contratou instantaneamente.
— Bom dia para você, Sua Graça, — Abigail cumprimentou.
— Está um bom dia, não é? — Daisy retribuiu o sorriso, apesar da turbulência de suas emoções. Não fazia sentido ficar pensando no passado ou se preocupar com o futuro. Ambos existiam, um eixo inevitável de sua vida.
Abigail ergueu uma folha de papel dobrada que trazia um selo.
— Sua Graça ordenou que isso lhe fosse entregue.
Que estranho, pensou Daisy ao aceitar o bilhete. Uma esperança breve e ingênua passou por ela de que era uma declaração de seu amor. Ela o abriu para examinar seu conteúdo. Uma carta de amor, com certeza não era.
Querida Daisy,
Um assunto muito particular e urgente exigiu minha partida imediata de Londres. Eu voltarei o mais rápido possível.
Atenciosamente, infelizmente,
Sebastian
Ela leu a nota seis vezes antes de sua mente chocada finalmente começar a absorver as palavras que continha. Seus olhos sempre voltavam para duas em particular: partida imediata. Partida. Imediata. Elas tocaram em sua mente como uma canção provocadora, enviando um nó frio e duro de pavor em seu estômago.
Ela cambaleou, recuperando o equilíbrio no estribo da cama.
Sebastian tinha... ido embora?
— Sua Graça foi embora? — Ela perguntou à criada, sentindo-se desorientada, como se tivesse acordado de um longo sono e não conseguisse entender onde estava.
— No início desta manhã, Sua Graça, — Abigail confirmou com um sorriso alegre, como se o coração de Daisy não estivesse se partindo ali mesmo em seu peito.
Ela disse a ele que o amava, e na manhã seguinte, ele a deixou com nada mais do que uma nota de duas frases. Nem mesmo a acordou antes de partir, tinha desaparecido de sua cama na luz do amanhecer, e saído de sua vida sem nenhuma explicação. Um assunto privado e urgente. O que isso significava? Para onde tinha ido, e quando, em nome dos céus, voltaria?
— Sua graça?
A voz de Abigail a alcançou como se viesse do lado oposto de um longo corredor. Daisy piscou. A nota caiu de seus dedos, voando para o chão. Lágrimas arderam em seus olhos e uma sensação nauseante a invadiu.
— Sua graça? Algo errado? — Abigail perguntou novamente. — A Sra. ficou pálida.
Sebastian a havia deixado.
Ele se foi.
E ela ia ficar doente.
Ela correu pelo quarto, mal conseguindo chegar ao penico antes de vomitar.
Capítulo 20
24 de março de 1881
Querido Sebastian,
Espero que esta carta o encontre com boa saúde. Uma semana se passou e ainda não recebi nenhuma palavra sua. A nota que você deixou era bastante concisa e imprecisa. Na verdade, você se esqueceu de mencionar por quanto tempo sua ausência seria e qual era seu destino. No seu lazer, você pode me avisar? Espero que você não fique longe por muito tempo.
Sua amada esposa,
Daisy
Uma semana inteira se passou sem notícias de Sebastian. Cada dia parecia mais interminável do que o anterior. Daisy sentia-se uma sonâmbula, agindo com o passar das horas sem se dar conta do que estava fazendo. Ela se reuniu com a Sra. Robbins para planejar menus e supervisionar a casa como se nada estivesse errado. Ela cumprimentou Giles no café da manhã. Ela continuou organizando a biblioteca.
Mas a casa estava terrivelmente silenciosa e imensa sem Sebastian. Sentia sua falta no jantar. Entrava em seu quarto apenas para sentir o cheiro persistente dele, entrava em seu escritório na esperança de encontrá-lo lá. À noite, ansiava por ele e se odiava pela fraqueza. Ela não tinha ninguém para rir, ninguém para surpreendê-la com beijos ou encontrar seus olhos em um olhar perverso sobre a mesa.
Era inabalável, essa sensação que tinha como se uma parte dela tivesse desaparecido. Queria aquela parte de sua vida novamente. Duas semanas depois de uma vida inteira de espera não foram suficientes. Ela queria protestar contra a injustiça daquilo, protestar contra ele, encontrá-lo — onde quer que tivesse ido — e trazê-lo de volta.
Mas, também queria dar a mais intensa e esmagadora reprimenda da história das reprimendas. Queria exigir que ele a encarasse, que explicasse como pode ter desaparecido de sua vida tão repentinamente tanto quanto entrou. Como pode tê-la deixado assim, deixando-a pensar que significava menos do que nada para ele? Teria ido para uma amante? Tinha partido porque ela confessou seus sentimentos?
As perguntas a atormentavam, dia após dia. Acordava e se perguntava. Sua mente viajava durante o dia em tentativas sem sentido de se distrair, enquanto se perguntava. Deitada na cama à noite, desejando que estivesse com ela, ainda se perguntando. Onde ele estava? Quando voltaria?
Quando a primeira semana de sua ausência se fundiu com a segunda, a tristeza que permeou Daisy começou a se transformar em resolução. Na manhã de segunda-feira, ela e a Sra. Robbins sentaram-se juntas para o planejamento habitual da semana seguinte.
— Gostaria de um pouco de bolo de raiz de cacau, Sua Graça? — Perguntou a gentil governanta. Seu cabelo era cinza-aço e finas linhas de riso cercavam seus olhos e boca. Era sincera e gentil, e sempre cheirava a sabonete fresco e talco.
Daisy passara a apreciar a sua presença constante, mas podia ouvir claramente a simpatia que transparecia na voz da mulher mais velha. Era a mesma simpatia que vira na expressão de Giles quando perguntou se ele sabia para onde Sua Graça tinha ido ou quando poderia voltar. Receio que não, Sua Graça. Embora eu tenha certeza de que ele retornará assim que puder. Tais questões ocasionalmente o afastam.
Tais questões. Assuntos privados e urgentes. O mero pensamento a fez enrolar os lábios, enquanto se sentava no salão sombreado de sol com a governanta de seu marido.
Ela endireitou a coluna.
— Para que, Sra. Robbins?
— É a coisa certa para quem sofre de crises de preocupação ou insônia, — disse a Sra. Robbins gentilmente. — Aí está agora, Sua Graça. Sei que a senhora está preocupada com Sua Graça, e é claro que a senhora não está descansando ou se alimentando tanto quanto precisa. Vou pedir a Sally que lhe prepare uma xícara, está bem?
— Não, — ela disse rispidamente, observando, enquanto o sorriso da governanta desaparecia antes de adicionar, — obrigada. Talvez eu tente mais tarde.
— Claro, Sua Graça. — A Sra. Robbins assentiu. — Perdoe-me por minha presunção. Desejo ver seu conforto.
Daisy se obrigou a sorrir, pois nada disso era culpa da governanta e ela era uma querida.
— Não há necessidade de pedir meu perdão, Sra. Robbins. Agradeço imensamente sua preocupação, bem como toda sua orientação em questões domésticas. Sei que minha presença aqui foi um tanto quanto ortodoxa e inesperada. Você tem uma habilidade inestimável. Verdadeiramente.
A governanta enrubesceu de prazer.
— Obrigada, Sua Graça.
As perguntas borbulhando dentro dela se aglomeraram em sua língua, então. Na noite anterior, havia entrado no quarto dele, determinada a vasculhar da prateleira mais alta até o ponto mais baixo embaixo de sua cama de carvalho esculpida, na esperança de encontrar qualquer pista de onde ele tivesse ido. Nada parecia fora do lugar. Tudo estava em perfeita ordem, nenhum móvel fora do lugar. Nada, isto é, exceto pelo bilhete que ela localizou, deslizado entre as páginas de um livro, dobrado três vezes e datado do dia em que ele partiu. Você gostaria de me encontrar para um passeio matinal? O céu parece muito sinistro para esperar até a tarde.
Essa nota, não assinada e escrita em garranchos masculinos e em negrito, foi a chave para sua partida abrupta. Daisy tinha certeza disso. Se ao menos pudesse descobrir seu autor e o que significava. Ele não disse nada sobre os planos de encontrar alguém para um passeio matinal. Ela teria se lembrado.
— Sra. Robbins, — ela começou delicadamente, buscando as palavras adequadas, — Sua Graça já partiu abruptamente de Londres no passado?
Uma rara carranca firmou os lábios da governanta.
— Instruí as cozinheiras a manter todos os pratos quentes. Você acha que a temperatura deles está a seu gosto, Sua Graça?
Daisy piscou.
— Os pratos estão sempre devidamente aquecidos. Mas, Sua Graça... isso é um hábito dele? Ninguém da família parece particularmente surpreso. Como uma noiva relativamente nova, que não tinha a menor ideia de que ele havia planejado uma viagem, você pode entender por que me pergunto, não é, Sra. Robbins?
A Sra. Robbins engoliu em seco.
— As castanhas de ontem. Elas estavam do seu agrado? Disse a Monsieur Gascoigne que as castanhas deviam ser fervidas antes de serem assadas, mas ele discordou de mim e continuou a assar. Você está ficando cansada de vagens? Parece-me que Monsieur os favorece com demasiada frequência. Pelo menos ele tem o bom senso de não os picar como alguns cozinheiros fazem.
A governanta estava balbuciando, e isso não era característico dela. Foi a vez de Daisy franzir a testa.
— Sra. Robbins, as castanhas estavam adoráveis, e devo dizer que não gosto de vagem, mas você não respondeu à minha pergunta.
— Oh, meu Deus. — Sobrancelhas cinzentas se ergueram sobre os olhos cor de xerez. — Tem certeza de que não gostaria de um pouco de Root?
Deus do céu. Por que a Sra. Robbins insistiria em evitar suas perguntas? A insidiosa sugestão cresceu dentro dela novamente, de que ele tinha uma amante escondida no campo. Talvez ele tivesse ido para ela.
— Nada de Root's, Sra. Robbins — disse severamente. — Você tem sido fixa aqui desde o último duque, não é?
Os lábios da serva se apertaram.
— Estou muito honrada, sim, Sua Graça.
— Então você conhece meu marido, o duque, desde sempre.
— Sim, e não existe um cavalheiro melhor, Sua Graça, — a Sra. Robbins disse com firmeza.
Havia um tom de verdade na voz da governanta, mas isso não satisfez Daisy.
— Então, certamente você pode dizer se ele já havia desaparecido ou não de maneira tão repentina e inesperada. Você deve compreender que estou... preocupada com o bem-estar dele. Ele não deixou nenhuma indicação de para onde poderia estar indo ou por quanto tempo ficaria fora.
A Sra. Robbins suspirou.
— Não é minha função dizer, Sua Graça.
Daisy olhou fixamente, a frustração crescendo, misturada com raiva e desespero.
— Sua Graça gosta de aspargos? — Ela perguntou de repente.
A governanta piscou, parecendo assustada com a mudança abrupta na discussão.
— Ora, não, não acredito que ele goste, Sua Graça.
— Excelente, — ela rangeu com um sorriso que não sentia. — Certifique-se de que será servido todos os dias desta semana.
— Claro, Sua Graça. — A expressão da Sra. Robbins era de confusão flagrante.
— Eu gosto de aspargos, — explicou. Ela iria ter todo vegetal de que gostava, até chegar a um de que ele não gostasse, e essa era a verdade.
5 de abril de 1881
Querido marido,
Tomei a liberdade de enviar cópias desta carta a cada uma de suas propriedades, caso você se encontre em alguma delas. Você faz falta em Londres. Embora eu entenda que a natureza de sua partida foi — privada — e — urgente, — como você declarou, acredito que, como sua esposa, tenho pelo menos o direito de saber quando você retornará. Que seja mais cedo ou mais tarde.
Sua,
Daisy
Liverpool era uma cidade de becos sem saída.
Pelo menos, era assim que parecia.
Sebastian estava firmemente alojado ali por mais de duas malditas semanas, e tinha poucas pistas preciosas. Nos quartos pequenos e indefinidos que ele mantinha no Barrel and Anchor, o barulho da taverna decadente o atingiu como um ataque áspero aos seus ouvidos: gargalhadas estridentes, música e gritos femininos. Seus quartos cheiravam a cerveja velha e charutos, e ontem ele interrompeu um encontro entre um estivador e uma prostituta no corredor.
Viu-se em uma espécie de purgatório sombrio aqui, onde ele era o Sr. George Thompson, e não o duque de Trent, e entrava e saía de seus aposentos sem que ninguém se importasse se ele vivia ou morria. Esconder-se à vista de todos era um de seus dons como espião, mas isso não significava que gostasse, especialmente quando cada partícula de informação que conseguiu reunir em seus dias de vasculhar a cidade e questionar os químicos, revelou-se ser inútil.
Ele ainda não havia descoberto evidências da fábrica de dinamite que Carlisle suspeitava que estava sendo retirada da cidade. Nenhuma grande compra de glicerina, ácido nítrico e ácido sulfúrico — os ingredientes necessários para a criação da dinamite — foi registrada em qualquer uma das farmácias que visitou até agora. Ele estava se convencendo de que ou Vanreid estava usando seus navios para de alguma forma guardar a dinamite ou os bastardos tinham escolhido outra cidade como sua base.
Murmurando uma maldição, ele caminhou até a jarra lascada e a tigela em cima de um lavatório igualmente danificado e jogou água no rosto. O homem que o encarava no espelho rachado era um estranho ameaçador. Estremecendo, tirou o bigode falso colado em seu lábio superior.
A remoção doeu, mas não tanto quanto ficar longe de Daisy. Cada dia que se afastava dela, incapaz de contatá-la, longe dela e de sua cama onde desejava estar, era como uma lâmina nua encontrando seu lugar em seu intestino.
Duas batidas bruscas em sua porta, seguidas por uma pausa, e então mais três em rápida sucessão interromperam seus pensamentos. Usando o trapo de toalha que ficava no jarro e na tigela, ele enxugou o rosto antes de girar e caminhar de volta pelo quarto. Hesitou apenas um momento antes de bater uma vez na porta.
A pessoa do outro lado bateu novamente o sinal que haviam combinado.
Griffin finalmente havia chegado. Sentindo uma pequena onda de alívio por seu amigo e camarada finalmente ter se juntado a ele, abriu a porta, tomando cuidado para não ficar à vista para que ninguém o visse sem bigode.
Seu amigo levantou uma sobrancelha dourada para ele quando passou pela soleira, e a porta se fechou em suas costas. Como Sebastian, ele usava calças simples, camisa e jaqueta de trabalho. Tinha deixado crescer a barba e parecia um bandido de Whitechapel.
— Irmão George, é você? — Ele brincou.
— Claro que você deve saber que sou eu, irmão John, —respondeu, sorrindo.
Eles se bateram nas costas com firmeza.
— É bom ver você, Bast, — Griffin disse. — Estou muito feliz por Carlisle ter decidido nos juntar neste caso.
— Assim como eu. — Embora fossem melhores amigos, não trabalharam juntos em muitas missões. Quando recebeu a palavra de Carlisle, dois dias antes, de que Griffin se juntaria a ele, ficou mais do que satisfeito, apesar do último confronto. Griffin tinha um olhar aguçado, inteligência perspicaz, mão firme e o cálculo frio de um guerreiro experiente. — Mesmo que isso signifique que vou ficar preso na droga de Liverpool por mais duas semanas, pelo menos.
Amanhã, eles se mudariam para uma nova parte da cidade, ocupariam quartos diferentes e começariam a Químicos Irmãos Thompson. Visto que o trabalho de Sebastian, até então, havia descoberto muito pouco, iriam agir como uma isca, vendendo seus produtos no atacado abaixo do preço de mercado. Ou os fenianos estavam comprando seus ácidos e glicerina em pequenas quantidades de uma variedade de químicos para evitar a detecção, ou eles nem estavam em Liverpool.
A Irmãos Thompson deve — dentro de um prazo relativamente curto — fornecer-lhes os meios para determinar a resposta. Se os conspiradores estivessem em Liverpool, era lógico que comprariam suprimentos mais baratos, e cabia a Sebastian e Griffin monitorar os clientes e suas compras.
— Liverpool é onde mais precisamos de olhos e ouvidos, — disse Griffin, então. — Recebemos uma mensagem do cônsul na Filadélfia de que existem planos em andamento para explodir prédios públicos aqui na cidade.
O sangue de Sebastian gelou.
— Jesus. A informação é confiável?
Griffin assentiu.
— Vem diretamente dos Pinkertons.
Inferno. O trabalho da Agência de Detetives Pinkerton sempre foi sólido.
— Ainda não tenho evidências de que a dinamite está sendo fabricada aqui. Corri todas as pistas que tive e não consegui nada.
— Estou aqui agora, meu velho. Encontraremos esses bastardos de uma forma ou de outra e acabaremos com eles. — Embora o tom de Griffin fosse agradável, seu semblante era tudo menos isso. Sua expressão era bastante assassina.
— Sim, nós faremos. — Ele fez uma pausa então, seus pensamentos indo, inevitavelmente, para Daisy. Cristo, o que ela deve pensar dele? Ele se casou com ela, se deitou com ela e saiu com nada além de uma nota concisa e nenhuma indicação de quando poderia retornar. Embora soubesse que suas ações eram fruto do dever e não da insensibilidade, ela não sabia, e a ideia o estava deixando louco na última quinzena. Ansiava por ela como nunca sentiu por outra, e embora se amaldiçoasse por sua fraqueza, não podia negar. — Você tem alguma notícia de Londres?
— Puta que pariu, Bast. É sobre a sua ardilosa americana?
Sua cabeça parecia que ia explodir.
— Ela. Não. É. Ardilosa, — ele mordeu fora.
— Oh, Cristo. — Griffin o estudou de sua maneira, de maneira penetrante que fez oponentes muito mais dignos do que Sebastian tremer de medo. — Não me diga que você se imagina... apaixonado pela garota.
Ele cuspiu a palavra — amor — como se fosse um palavrão, algo para odiar, um gosto amargo que ele mal podia esperar para remover da língua.
O calor subiu por sua garganta. Bom Deus. Ele não enrubesceu, e ainda... como explicar o calor queimando sua carne, alcançando até suas bochechas? Ele pigarreou.
— A garota é minha esposa.
Os lábios de Griffin se estreitaram.
— Você se esqueceu das circunstâncias que a fizeram sua esposa?
— Não, porra, — ele rosnou.
Claro que não tinha esquecido. Como poderia, quando o engano que ele perpetrou o engolia inteiro cada vez que pensava nisso? Ele passou toda a sua vida adulta como um espião, mentindo para todos ao seu redor. Manipulando, dissimulando, usando, vestindo qualquer nome e disfarce que quisesse no momento. Mas, pela primeira vez, o credo pelo qual viveu — qualquer coisa em nome da Liga — não era mais suficiente.
— Eu vi várias raparigas atrevidas na taverna abaixo. Você pode escolher o lote da noite, se é isso que o incomoda. — O olhar de Griffin era firme, implacável.
Maldito seja.
— Eu não quero uma prostituta, — ele mordeu fora. — Sou casado com ela, por Deus. Devo a ela minha fidelidade, se nada mais.
— Porra. — Griffin balançou a cabeça. — Eu disse a Carlisle que não deveria ser você, mas ele estava inflexível de que você era o homem para a tarefa. Ele não o conhece como eu. Você tem o coração mole demais para isso, e agora ela conseguiu fazer você pensar que não é a vadia enganadora que realmente é.
Sebastian não pensou. Na verdade, seu cérebro parecia se despedir do resto do corpo, pois era quase como se os dois estivessem desconectados quando seu punho balançou descontroladamente, encontrando apoio rígido na mandíbula de seu melhor amigo pela segunda vez em algumas semanas. Ele viu quando a cabeça de Griffin estalou para trás, quase como um sonho. Um maldito pesadelo.
Mas Griffin o empurrou longe demais, e isso... ele não seria insultado. Não permitiria que sua lealdade fosse posta em questão, nem por ninguém e principalmente pelo homem que considerava um irmão. A maneira como ele falara de Daisy, depreciando-a, como se ela fosse uma sereia que o enfeitiçara e como se qualquer outra mulher pudesse facilmente tomar seu lugar. Não era para ser suportado.
Griffin era um lutador experiente e era frio como gelo. Sempre. Então, o punho encontrando a mandíbula de Sebastian poucos segundos depois não foi nenhuma surpresa, embora a explosão de dor e as estrelas estragando sua visão o tenham surpreendido por meio segundo. Lá. Supôs que desta vez eles estariam quites.
— Você não tem notícias dela? — Ele perguntou com tristeza, esfregando o lugar onde o gancho de direita de seu amigo bateu em seu rosto.
— Puta que pariu— Griffin rosnou, olhando-o como se ele fosse um estranho.
— Quem a vigia? — Sebastian pressionou, impassível em sua busca por alguma notícia de Daisy, por menor e insignificante que fosse. Por Deus, sentia sua falta e com um desespero que era totalmente humilhante. — Certamente alguém, senão você. Ela está segura, pelo menos?
Deixá-la tinha sido difícil o suficiente, mas deixá-la sabendo que o bastardo do seu pai estava na mesma cidade, ainda capaz de alcançá-la e machucá-la... isso era um tipo diferente de tortura. O tipo de tortura para a qual nenhum de seus treinamentos poderia tê-lo preparado.
— Ela está segura. — Os lábios de Griffin se curvaram em um sorriso de escárnio. — Qual é a próxima, Bast? Você vai levá-la para o campo e começar a fazer-lhe pirralhos? Homens como nós não foram feitos para essa vida. Devemos colocar a Liga em primeiro lugar.
Sebastian encontrou seu olhar, sem vacilar. Seu amigo não estava errado, não sobre nada disso, e ele estava sendo dilacerado de dentro para fora, estendido em duas direções opostas. Amor contra lealdade, dever contra necessidade.
— Estou colocando a Liga em primeiro lugar ou não estaria aqui, droga.
A expressão de Griffin ficou atordoada.
— Isso não é típico de você.
Não, não era. Mas ele nunca tinha se apaixonado antes.
— Talvez você não me conheça, — disse calmamente.
Porque a verdade é que começou a perceber que nem ele mesmo se conhecia. O homem que acreditava ser tinha sido uma ilha em um vasto oceano, sem responsabilidade para com ninguém, intocável e inquebrável. O homem que pensava que era nunca teria se apaixonado por uma garota americana mais forte do que qualquer pessoa que já conheceu. Ele não era ele mesmo sem ela, e ela era a parte que estava faltando o tempo todo. Com Daisy, ele estava completo.
— Estou começando a achar que não, — Griffin disse, parecendo cansado. — Mas temos o dever de defender e uma missão a cumprir.
Sim, eles malditamente tinham.
Capítulo 21
15 de abril de 1881
Sua graça,
Mais de um mês se passou sem notícias. Sinto-me temer pelo seu bem-estar. Nenhum membro da equipe sabe de seu paradeiro ou o motivo de sua saída abrupta. Na verdade, é como se você tivesse desaparecido. Se sua ausência é devida a mim, talvez você pudesse fazer a gentileza de me informar para que eu possa fazer as pazes.
Espero ouvir de você em breve. Enquanto isso, espero que você não se importe com meu recente aumento de despesas. Encomendei um guarda-roupa totalmente novo e comecei a fazer algumas alterações muito necessárias em nossa casa em Londres. Tenho certeza de que você concordará que as pinturas dos ex-duques eram decididamente demais e que precisavam ser substituídas. Mandei-as para o sótão.
Atenciosamente,
Daisy Trent
Daisy foi conduzida ao salão da Duquesa de Leeds por um mordomo que parecia estar mais em casa nas docas do que em seu traje formal. Ele não possuía nada do formalismo formidável de Giles, e parecia muito jovem para a posição. Alto, largo e imponente, com cabelos pretos na cabeça e uma cicatriz perversa descendo por sua bochecha direita.
Ele era quase bonito, embora não no sentido clássico. Em vez disso, sua atratividade era crua e vigorosa, e era mais desarmante em um criado destinado a se misturar ao papel de parede, a menos que fosse necessário. Este homem nunca se misturaria com papel de parede. O tecido adamascado não poderia contê-lo.
O convite da duquesa chegara dois dias antes, desarmando Daisy, pois não se lembrava de ter conversado muito com a duquesa de Leeds. E poucos convites preciosos foram feitos para a americana que fugiu com o duque que posteriormente desapareceu.
Daisy lia as folhas de fofoca, mesmo sabendo que não deveria. Estava mais do que ciente de sua reputação e do que se dizia dela. Não foi nada bonito.
— Sua Graça, a Duquesa de Trent, — o homem disfarçado de mordomo anunciou.
Daisy entrou no salão com uma visão inesperada. A Duquesa de Leeds estava sentada em um sofá dourado, cercada por um bando de cachorros, um gato laranja enrolado em seu colo. Um cachorro, um lindo terrier com queixo para fora, levantou-se e caminhou na direção de Daisy, cheirando suas saias.
Daisy não pensou duas vezes antes de se abaixar ao nível do cachorro, oferecendo-lhe a mão para uma cheirada criteriosa. Ele cheirou profundamente por alguns momentos, pressionando seu focinho quente em sua palma, antes de dar uma lambida.
— Vossa Graça — disse a duquesa, atraindo a atenção de Daisy de volta para ela com um sorriso que só serviu para realçar sua beleza exótica. Ela tinha bonitos cabelos castanhos, maçãs do rosto salientes e olhos verdes brilhantes. — Parece que você obteve a aprovação de Hugo.
— Ele é um querido. — Daisy tirou a luva para esfregar a cabeça acetinada de Hugo. Ele a recompensou ficando de cócoras e lambendo-a diretamente na boca.
— Oh céus, Hugo. Calma, garoto. — A voz da duquesa ecoou pelo salão, cortante e autoritária. — Minha querida duquesa, por favor, fique de pé, temo que o pequeno vira-lata enfie a língua em sua garganta.
Daisy riu enquanto Hugo lambia sua bochecha.
— Não me importo.
Quando menina, ela ansiava por um cachorro, e esse mesmo desejo voltou com pressa agora, provavelmente agravado por um mês inteiro de solidão e isolamento. Março havia se transformado em abril, o clima esquentava, a primavera florescia na cidade, e seu marido ainda não havia retornado. Nenhuma palavra. Nenhuma indicação de que ele ainda respirava. A pontada em seu peito aumentou, e o cachorrinho pareceu sentir sua angústia, pois sua simples lambida se transformou em um frenesi de beijos caninos molhados e excessivamente zelosos.
— Oh céus, seu pequeno canalha, — a duquesa repreendeu. — Calma, Hugo!
O cachorro finalmente obedeceu, acomodando-se sobre as patas traseiras e piscando para ela com grandes olhos cor de chocolate. Daisy deu outro tapinha na cabeça dele antes de se levantar, lembrando-se de suas maneiras enquanto fazia uma reverência.
— Chega, nada disso agora, — a duquesa disse, um sorriso aberto e amigável curvando seus lábios e deixando-a ainda mais adorável. — Eu não acredito em cerimônia. — Ela gesticulou alegremente. — Sou uma espécie de colecionadora de vadios, sabe.
Uma colecionadora de cães de rua — sim, fazia sentido, desde os cães, ao gato e ao mordomo. Daisy não pôde deixar de se perguntar se a estranha mulher à sua frente a via como mais uma.
— Que bom coração da sua parte. — Daisy lutou pela diplomacia. — Obrigada por seu convite, Sua Graça. Eu me considero uma estranha em Londres.
— Você não deve me agradecer. Entre e se instale, — a duquesa ordenou. — E, por favor, você deve me chamar de Georgiana, eu insisto. Ludlow trará chá em breve.
Daisy, hesitante, dirigiu-se para uma cadeira que estava ao lado da duquesa, Hugo arrastou-se alegremente ao seu lado e sentou-se na bainha de sua saia depois que ela encontrou seu assento. Elas conversaram educadamente até o improvável mordomo retornar, parecendo quase ridículo enquanto carregava uma delicada bandeja de prata em suas mãos grandes. Daisy não perdeu o olhar que a duquesa trocou com o homem antes que ele se retirasse silenciosamente da sala mais uma vez.
A conversa inocente continuou durante o chá, Daisy grata pela companhia e pela distração. Georgiana, como se viu, era uma herdeira americana. Tendo crescido em grande parte no exterior, possuía o sotaque culto de qualquer senhora muito bem-nascida. Daisy sentiu-se entusiasmada com a tagarela duquesa, que ria rapidamente e era igualmente generosa nos seus sorrisos. No decorrer de seu tête-à-tête, ela quase esqueceu a miséria de sua situação atual.
Até que Georgiana olhou para ela com simpatia por cima do chá e proferiu a observação que menos desejava ouvir.
— Você parece terrivelmente precisando de uma amiga, Daisy.
Daisy quase cuspiu o chá em todo o vestido de seda. Sim, supôs que precisava terrivelmente de uma amiga. Mas quem era essa mulher estranha que mal conhecia, que mantinha uma coleção de animais pequenos e tinha um mordomo terrível, para dizer isso?
— Estou perfeitamente contente, — seu orgulho a forçou a dizer.
A duquesa não se deixou enganar. Inclinou a cabeça, considerando-a.
— Você parece perfeitamente miserável, querida.
Daisy firmou os lábios, sufocando a onda indesejada de emoção evocada pelas palavras de sua futura amiga.
— Eu estou... — Solitária, miserável, abatida, com o coração partido. Ela engoliu em seco. — Uma amiga seria adorável.
— Excelente. Você pode se surpreender ao saber que temos muito mais em comum do que vir da mesma terra natal. — Georgiana colocou sua xícara de chá no pires. — Eu também tenho um marido dado a desaparecimentos abruptos e segredos.
Daisy considerou sua nova amiga, lutando para entender as implicações do que acabara de revelar. Durante o tempo em que vagou pela sociedade da moda de Londres, nunca tinha visto o próprio duque de Leeds.
— Sua Graça não está na residência? — Perguntou hesitante.
A expressão radiante de Georgiana ficou estranhamente sombria.
— Ele afirma estar na América em uma prolongada expedição de caça. Naturalmente, não acredito em uma palavra disso.
Daisy franziu a testa, sentindo-se incomodada com esse vislumbre do casamento de dois estranhos irreais.
— Você não acredita?
— Encontrei alguma correspondência na lareira de seu escritório, meio queimada. Foram apenas algumas frases, observações sem sentido sobre o tempo, e eu não conseguia entender por que teria se dado ao trabalho de queimar tal coisa. — Georgiana fez uma pausa. — Só mais tarde, quando encontrei algumas outras cartas enfiadas em seus livros, é que percebi que estavam escritas em código. Não era o que parecia.
Cartas escritas em código.
O que em nome do céu...
A mente de Daisy voltou à nota estranha que encontrara no quarto de Sebastian, dobrada em três partes. O céu parece muito sinistro para esperar até a tarde. Um arrepio desceu direto por sua espinha.
— Você conseguiu traduzi-los? — Perguntou.
Georgiana acenou com a cabeça lentamente.
— Meu marido não caça, Daisy. Ele está na cidade de Nova York. Ainda não descobri o que está fazendo ou o porquê, mas tem algo a ver com os fenianos. Além do mais, havia um nome em uma das letras.
O medo rastejou por ela, desenrolando-se, e então estalando em seu coração como uma algema. De alguma forma, ela sabia o que Georgiana diria a seguir.
— Era meu nome, não era?
A duquesa assentiu.
— Então, só parece apropriado, você vê, que nós devamos unir forças e trazer nossos miseráveis maridos de joelhos.
Daisy pousou a xícara de chá com os dedos dormentes enquanto a suspeita, a mágoa e a confusão guerreavam dentro dela.
— O que propõe que façamos?
Georgiana sorriu, mas desta vez o sorriso não alcançou seus olhos.
— Faremos uma campanha nossa. Os homens não são tão diferentes dos cães em alguns aspectos. Ambos são bastante territoriais. Quando terminarmos, eles estarão implorando para nos dizer a verdade.
30 de abril de 1881
Sua graça,
Se se dignasse responder a qualquer uma de minhas cartas, ou retornar a Londres, onde o espero, faria-me a maior gentileza. Seu silêncio é tão desanimador quanto seu abandono.
Espero que você não se importe com os saraus que estou promovendo, que às vezes custam caro. Confesso que fiquei surpresa ao perceber que gastei quase cem libras em esculturas de gelo ao longo do mês. Para ser justa, no entanto, as esculturas eram requintadas.
Atenciosamente,
Duquesa de Trent
Abril transformou-se em maio.
Durante o dia, Sebastian e Griffin supervisionavam a loja de produtos químicos, mantendo a esperteza, e os olhos e ouvidos abertos. Sua clientela era estável e previsível. Sem compras de ácidos ou glicerina em grande escala. Nada que pudesse ser motivo de suspeita ou alarme.
À noite, eles vasculhavam as ruas de Liverpool. Suas informações sobre os Pinkertons, na América, eram concisas e claras. Haveria um ataque. O diabo era que, além de saberem que a detonação de uma bomba era iminente, eles eram incapazes de impedir que a destruição se desenrolasse sem evidências que os levassem à origem da conspiração.
— Todas as estradas levam a Vanreid, — Griffin apontou desnecessariamente enquanto estavam sozinhos em sua loja vazia uma noite.
Sebastian se acalmou no ato de contabilizar o livro-razão do dia. Embora nunca tivesse se interessado por comércio, aqui estava uma parte de seu dever que gostava. Os números eram tão precisos. Não havia confusão quando se tratava de aritmética. Um estava correto ou incorreto, e não havia nada de subjetivo nisso. Tão diferente de todas as outras partes de sua vida que quase encontrou paz ao trabalhar com a caneta no livro com capa de couro. De qualquer modo, era uma distração para deixar de sentir falta de Daisy e se perguntar o que diabos ela deveria pensar sobre o desaparecimento repentino dele.
O dever era uma coisa terrível.
— É claro que todos os caminhos levam a Vanreid, — disse por fim, medindo suas palavras com cuidado ao terminar uma soma. — Ele é a principal fonte de recursos. É dono da fábrica de armas, dos barcos. Esconde todas as suas más ações sob o pretexto de negócios inocentes. E ainda, por tudo isso, continua a ser a raposa astuta que nos enganou, entrou no galinheiro e comeu até a última ave, pois não podemos comprar provas contra ele.
— Você não acha estranho, Bast, a maneira como ele pode prever nossos movimentos? — Griffin perguntou do outro lado da sala.
Ele enrijeceu. Agindo com base nas informações de agentes americanos, eles invadiram os navios de Vanreid em quatro ocasiões, apenas para se depararem com mercadorias legítimas, em cada uma. Nenhum indício de dinamite ou ingredientes para fazer dinamite para ser encontrado.
— Você quer sugerir que eu compartilhei informações confidenciais com Daisy? — Perguntou calmamente, sua caneta ainda rabiscando no livro-razão. Era melhor se envolver em tais tarefas do que ficar pensando na dúvida crescente que seu melhor amigo cobrava a cada dia que passava. Como sua missão se revelou cada vez mais infrutífera, a tensão entre eles só piorou.
— Eu nunca questionaria sua lealdade, Bast. — O tom de Griffin era calmo, contemplativo. — Esse, eu acho, é bem o ponto. A sua lealdade a ela é tão forte quanto à Liga?
Ele não sabia a resposta para a maldita pergunta, nem queria considerá-la. Dez garrafões de ácido nítrico, ele leu, e então congelou.
— Você organizou uma grande venda de ácido nítrico hoje?
— Não, — Griffin retrucou. — Não tente me distrair, Bast. É hora de resolvermos isso entre nós dois. Você não falou uma palavra sobre ela desde a noite em que cheguei.
Não, ele não tinha. Daisy era um assunto privado e, na sua opinião, ela não tinha nada a ver com suas obrigações em Liverpool. Ela era, simplesmente, sua. E não iria discuti-la como se ela fosse uma inimiga ou suspeita, quando ela era a mulher que possuía seu coração. Mas isso não estava nem aqui nem ali no momento, pois estava olhando para uma linha em branco onde os rabiscos do ajudante de loja, James, indicavam uma compra excessivamente grande de ácido nítrico, junto com quatorze garrafões de ácido sulfúrico.
Deviam ser entregues no dia seguinte em um endereço não muito distante. A isca finalmente funcionou, droga.
Ele ergueu a cabeça para encontrar Griffin andando de um lado para o outro no chão da loja, uma carranca endurecendo suas feições.
— Acredito que precisamos fazer uma visita a um tal de Reginald White.
— O que você está falando? — Griffin caminhou até ele.
Sebastian empurrou o livro na direção de seu amigo, apontando para a entrada em questão.
— Dê uma olhada por si mesmo. Parece-me que Reginald White comprou uma quantidade muito grande para um mero pintor. Na verdade, parece-me que o bastardo comprou o suficiente para fazer dinamite.
Griffin examinou o livro-razão, sua mandíbula cerrada.
— Puta merda. O que você sabe? Parece que encontramos nosso canário, afinal.
Sebastian levantou uma sobrancelha.
— Vamos lá.
O sol já havia se posto, todas as lojas fechadas. Os habitantes noturnos do Liverpool, ruidosamente, haviam saído para jogar. Era quase meia-noite, o que significava que não tinham um minuto a perder. Trabalhando com pressa, fecharam a loja, trancaram tudo, apagaram as luzes e seguiram a pé até o destino.
O número três da Castle Street era um edifício bastante indefinido. Nenhuma luz acesa dentro. À luz da rua, Sebastian leu a placa pendurada sobre a pequena loja. Reginald White, Pintor e Decorador. Eles haviam alcançado sua presa e ele conheceu um momento de emoção pura e genuína. Aqui estava a parte de seu trabalho na Liga que o chamava, que o fazia sentir-se em casa. O perigo o excitava.
E ainda, por alguma razão, esta noite a emoção parecia, depois de sua onda inicial... oca. Talvez fosse porque sabia que, em Londres, a mulher mais requintada que ele já conheceu estava organizando sua biblioteca e se perguntando onde diabos ele tinha ido. Jesus, ela provavelmente o estava amaldiçoando, odiando-o. Quando ele finalmente voltasse, não havia como dizer se ele seria capaz de reconquistá-la.
Mas não era a hora nem o lugar para esse pensamento. Por enquanto, ele era um membro jurado da Liga e tinha uma missão para cumprir. Para Daisy, e para todos os outros inocentes que seriam uma vítima involuntária, ele precisava colocar Vanreid na prisão para sempre.
É isso, meu velho. Raciocínio sobre você. É hora de partir.
— Vamos examinar o perímetro, ter certeza de que ninguém está dentro, — ele disse a Griffin simplesmente. Você segue pelo Leste, eu irei pelo Oeste e nos encontraremos na retaguarda.
— Feito, — Griffin concordou, sua mão indo para a pistola que ele mantinha sob sua jaqueta.
— Vá com Deus, irmão, — disseram em uníssono.
E então, se separaram e mergulharam na noite. Cerca de vinte minutos depois, eles se reencontraram em uma porta dos fundos trancada.
— Não tem ninguém dentro, — Griffin grunhiu os pensamentos de Sebastian em voz alta. — Precisamos obter acesso, ver o que há dentro.
Sebastian acendeu um fósforo para iluminar a fechadura da porta.
— Você tem suas malditas chaves?
— Um cervo caga na floresta? — Griffin perguntou triunfante, tirando do bolso o molho de chaves mestras que sempre mantinha à mão.
Ele teria rido se a situação fosse menos terrível. O dom de Griffin era abrir fechaduras. Ele tinha sete chaves, e se nenhuma delas encaixasse na fechadura, Griffin poderia forçar até a próxima funcionar. Ele nunca tinha visto uma porta que o duque de Strathmore não pudesse abrir com sua sensibilidade inata.
Griffin voltou sua atenção para a porta. A chave de Sebastian estourou, mas pouco importou. Em menos de dois minutos, Griffin abriu a porta. Eles entraram, fechando o portal atrás deles e acendendo os lampiões a gás, andando com o máximo de cuidado possível para que ninguém deixasse os quartos acima da loja. A loja parecia bastante inocente.
Sebastian seguiu Griffin para a sala dos fundos, e esse foi o local preciso onde o inocente se transformou em algo decididamente mal.
— Garrafões de ácido nítrico, — Griffin relatou calmamente. — Dezessete, ao todo.
— Dez de sulfúrico, — Sebastian acrescentou severamente.
A evidência ficou mais contundente conforme eles continuaram. Na caldeira, um barril de nitroglicerina fervia.
— Maldito inferno, — Griffin murmurou.
Foi nesse preciso momento que o olhar de Sebastian encontrou um pedaço de papel com um rabisco quase ilegível. Ele o agarrou, lendo três vezes, certo de que estava errado. Claro que ninguém, especialmente não o tipo de inimigo que estava preparando dinamite sob o nariz dos espiões de elite da Inglaterra nos últimos dois meses, poderia ser tão tolo.
— Porra. — Ele examinou o conteúdo novamente para uma boa medida. Meia-noite. Dale Street. — Vai haver uma explosão esta noite na delegacia de polícia.
— Jesus. Temos que chegar lá para avisá-los, — Griffin disse desnecessariamente.
Tomando muito cuidado para deixar o local exatamente como o haviam encontrado, voltaram juntos, apagando todas as lâmpadas, saindo e trancando a porta. A Dale Street não ficava longe a pé, então saíram correndo. Quase alcançaram a delegacia quando a explosão aconteceu. A terra retumbou, o som da detonação reverberando de forma sobrenatural, explodindo em seu peito. Vidro estilhaçado. Uma mulher gritou.
E, por fim, a guerra da qual foram avisados chegou a Liverpool. Mas, Sebastian e Griffin chegaram tarde demais para pará-la. Eles pararam no meio do caminho, observando a fumaça subir na esteira da explosão e a comoção resultante se desencadear.
— Puta que pariu, — Sebastian respirou, fumaça e a ascensão amarga de enxofre queimando seus pulmões.
— Inferno na terra, — Griffin concordou amargamente. — Dane-se suas peles. Nós os pegaremos, Bast. Vamos pegar até o último dos bastardos podres.
Sebastian observou o brilho das chamas, a fumaça subindo no ar. Ele pensou em Daisy, em sua inocência, na maneira como a havia deixado pela última vez, e seu coração doeu. Então, pensou no pai dela, o filho da puta dúbio que financiava esses planos esquecidos por Deus. E uma parte dele se ressentia dela, por ser tão inocente, boa e ingênua. Por ser a mulher que amava, e também a filha do inimigo que precisava destruir. Não era justo, droga. A vida não era justa.
Porque nada era o que parecia e tudo estava prestes a mudar.
Capítulo 22
23 Maio de 1881
Sua graça,
Você ficará feliz em saber que fiz muitos amigos em sua ausência. Existem muitos cavalheiros ansiosos por me conhecer agora que a Duquesa de Leeds me colocou sob sua proteção.
Em particular, o conde de Bolton é um homem nobre e generoso, e não como você o descreveu. É uma pena que seu assunto — particular — e — urgente— o afaste de Londres, pois acho que você se daria com ele tão bem quanto eu.
Atenciosamente,
Duquesa de Trent
Daisy olhou para o homem que um dia fora seu prometido e lutou contra a conhecida explosão de náusea que a assaltava intermitentemente no último mês. Alto e magro, com cabelo preto e olhos azuis brilhantes, ele era tão bonito quanto no dia em que o conheceu em um dos jantares de seu pai. Padraig McGuire, com seu sotaque cadenciado da costa da Irlanda, seus sorrisos fáceis e charme perverso.
Ela se apaixonou por esses encantos uma vez.
Estranho para onde a vida os havia conduzido, seus caminhos divergentes os trazendo a este momento. Agora, quando olhou para ele, viu um estranho. Que garota ingênua tinha sido ao pensar que estava preparada para se casar com ele. Ela sabia agora que a fantasia feminina que sentira fora baseada no desejo ardente de escapar de seu pai mais do que qualquer outra emoção.
E cerca de dois anos depois, aqui estava ela, uma duquesa abandonada em uma terra estrangeira, não mais feliz como a duquesa de Trent do que seria como a Sra. Padraig McGuire. Dois anos, e ela não aprendeu nada sobre confiar seu coração aos cuidados de homens. Que sóbrio.
— Por que você veio, Sr. McGuire? — Ela perguntou no silêncio que havia caído entre eles.
Ela ficou perto da janela do pequeno salão onde recebia visitas, um raio de sol aquecendo seu rosto. A sala estava cheia de flores, uma prova dos esforços do mês anterior. Seu acordo com Georgiana estava progredindo com sucesso. Juntas, elas conseguiram irritar a alta sociedade com todos os tipos de fofoca, na esperança de que causassem furor suficiente para trazer seus maridos para casa e obter as respostas que tanto mereciam.
Hugo se sentou aos pés dela, protegendo-a como era seu costume. O filhote turbulento provou-se muito mais devotado a ela do que qualquer pessoa jamais fora.
Padraig deu um passo para mais perto dela e Hugo rosnou.
— Maldito inferno, Daisy. Você precisa ter aquele vira-lata aqui? — Ele lançou um olhar preconceituoso para seu amado companheiro.
Seu queixo se ergueu.
— Sim, devo, e você está sendo muito íntimo, Sr. McGuire. Você pode me chamar de 'Sua Graça' ou pode ir embora.
Outro passo o trouxe para mais perto e por um momento ela se perguntou se deveria temê-lo. Afinal, ele dirigia os negócios de seu pai. Ela não deveria tê-lo recebido de novo hoje, sua quarta visita na última quinzena desde seu reaparecimento repentino em sua vida. E especialmente, porque ele estava usando um nome falso por motivos que se recusou a divulgar. Na verdade, ela não teria se ele não tivesse pendurado a única isca que não poderia resistir.
Bridget.
Sua irmã havia abandonado abruptamente seu cargo com Madame Villiers, e havia desaparecido. Daisy não tinha notícias dela e estava terrivelmente preocupada. Madame não tinha ideia de para onde tinha ido ou o porquê, deixando Daisy à deriva.
— Perdoe-me, Sua Graça. — O tom de Padraig era zombeteiro, mas ele parou onde estava, o tapete de que ela escolheu para substituir o antigo entre eles. — Você está feliz, então? Como duquesa? É a vida que você queria?
Seu próprio marido a abandonou como se ela não tivesse maior importância do que o jornal que ele jogou fora no dia anterior. E ela deu-lhe seu coração, ou pelo menos ao homem que imaginou que ele fosse. Pois o verdadeiro Sebastian era um enigma para ela. Um mistério que não conseguia resolver. Claro que essa não era a vida que queria, passando cada dia em diversões frívolas, trabalhando com Georgiana para causar o máximo de fofoca possível, na esperança de obter as respostas que tanto procurava.
Onde você está, Sebastian? Perguntou-se silenciosamente. E, mais importante, quem é você?
Ela forçou um sorriso nos lábios.
— Esta é a vida que ganhei. Estou contente. Mas isso é conversa fiada o suficiente, Sr. McGuire. Você disse que tinha notícias da minha irmã que exigiam uma audiência. Não desejo ouvir nada do que você diga se não for da sua conta. Posso lembrá-lo de que suas outras visitas foram infrutíferas? Que cada vez que você afirma ter informações sobre o paradeiro dela, elas levam a becos sem saída?
A boca de Padraig se achatou em uma linha dura.
— Você me detesta.
Ela detestava? Antes, talvez, ela tivesse, mas o tempo, a distância e o conhecimento poderiam curar qualquer ferida. Agora, ela olhou-o e não sentiu nada. Ele não era o homem que ela acreditava que fosse, e ela não era mais a garota que ele conhecera.
— Você é o emissário de meu pai. Minha aversão por você vem somente desse fato.
— Já disse que não estou aqui por ordem dele. — O olhar de Padraig procurou o dela enquanto uma carranca franziu a testa. — Ele não sabe que falei com você, embora não tenha feito segredo disso. Eu não respondo a Vanreid.
Ela não tinha certeza se acreditava nisso, mas não queria discutir seu pai com ele. Todos os laços, exceto sua irmã, foram cortados, e ela pretendia manter isto assim para sempre.
— Você tem notícias de Bridget ou não?
— Sim.
A resposta de uma única palavra fez pouco para conter a apreensão que se desenrolava dentro dela.
— E? Onde ela está? O que aconteceu?
Padraig caminhou em sua direção, fechando a distância. Hugo rosnou novamente, fazendo-o parar antes de alcançá-la.
— Ela não está mais em Londres. Sua localização exata é desconhecida, mas temo que ela esteja em perigo.
Perigo. A apreensão se transformou em medo. Suas mãos apertadas em suas saias.
— Que tipo de perigo?
— Bombas, Daisy, — disse ele simplesmente.
E ela não se preocupou em corrigir seu tratamento familiar desta vez, pois sua mente inundada estava muito ocupada tentando dar sentido ao que ele acabara de lhe dizer.
— Bombas.
— Dinamite, para ser mais específico. — Sua expressão se apertou. — O perigo é grave.
Bom, céus. Os jornais estavam fervilhando com assuntos sobre a explosão em Liverpool e sobre os levantes Fenianos. Daisy nunca imaginou que tais males tivessem algo a ver com o desaparecimento da irmã.
— Você quer dizer que ela está envolvida com os fenianos?
Padraig inclinou a cabeça.
— Não posso dizer. Tudo o que direi é que você não deve confiar em ninguém, inclusive em mim.
Ele pegou a mão dela então, e Hugo deu um pequeno latido de protesto quando ele a levou aos lábios para um beijo. Daisy arrancou a mão de seu aperto, olhando-o, perguntas e pavor correndo por ela como águas de inundação.
— Por que você está me contando isso? Padraig, você está conectado a isso? É por isso que você se apresentou pelo nome de John Greaves em vez do seu?
Ele balançou a cabeça lentamente.
— O perigo é grave, — ele repetiu, curvando-se para ela. — Desconfie das pessoas mais próximas de você, e cuide-se.
Ela o viu se virar para sair, levando a mão ao coração que batia loucamente. Pouco antes de chegar à porta, ele se virou para ela, um breve fantasma de um sorriso esvoaçando em seus lábios.
— Se estivesse em meu poder, eu o teria impedido de te machucar, — disse em um tom estranho. — Saiba disso. Adeus, Daisy Vanreid.
Tão rapidamente quanto ele reapareceu em sua vida, Padraig McGuire se foi, a porta de painéis se fechou em suas costas. Ela olhou para o espaço onde ele tinha estado, sabendo de alguma forma que esta era o último contato que faria.
— Daisy Trent, — ela corrigiu, não que isso importasse.
25 de maio de 1881
Prezado Senhor,
Enquanto nos preparamos para entrar no terceiro mês de sua ausência, escrevo-lhe notícias inesperadas. Estou esperando seu filho. Embora você tenha demonstrado amplamente sua falta de sentimento por mim, não posso deixar de esperar que você possa ser um pouco menos reticente em relação a um inocente.
Em outras questões, espero que você não se importe por ter substituído recentemente todos os tapetes por um bom Axminster, a 8 xelins o metro. Redecorar o antigo berçário será ainda mais caro, temo.
Atenciosamente,
Duquesa de Trent
— Certamente até você pode admitir que ela se tornou uma responsabilidade agora, Trent.
Carrancudo, Sebastian ergueu os olhos do relatório do Ministério do Interior que o duque de Carlisle ofereceu para sua leitura. Após a explosão na delegacia de polícia, Carlisle se juntou a Sebastian e Griffin em Liverpool. Eles prenderam três fenianos responsáveis pela operação de dinamite na Castle Street, mas havia literalmente centenas de outros suspeitos e pistas para perseguir. A última quinzena tinha sido um borrão de buscar pistas para fundamentar.
Mas agora, um tipo diferente de borrão desceu sobre Sebastian. Palavras chacoalharam em sua mente, tentando se transformar em pensamentos coerentes. A raiva passando por ele não permitiria que uma frase completa se formasse. As palavras, separadamente, significavam pouco.
Calças. Isso explicava a fortuna que ela gastou em um estabelecimento de propriedade de Madame Blanc. Festas selvagens. E isso explicava absolutamente as milhares de libras em despesas que ele notou desaparecerem de suas contas. Ele continuou a ler. Escândalo. Artistas e dramaturgos. O conde de Bolton.
Calças. Merda. O maldito conde de Bolton?
A imagem de Bolton tocando Daisy — tomando-a nos braços e beijando seus suaves lábios rosados, ouvindo seus suspiros de satisfação, despindo-a de suas roupas e perdendo-se em seu corpo delicioso — o fez querer bater com o punho na mesa. Através de uma parede. Através da porra do rosto do conde de Bolton.
O que ela disse naquela primeira noite no baile de Beresford?
Obrigada por sua preocupação desnecessária, Sua Graça, mas raposas não me assustam. Elas nunca fizeram isso.
O diabo. Se ela tivesse permitido que Bolton tocasse mais do que sua mão, ele... O que faria? Ele não a deixou sem dizer uma palavra? Tinha partido há quase três meses, um período muito mais longo do que a quinzena em que a conheceu. Culpa dele. Ele a afastou. Ele escolheu o dever sobre ela.
Mas se o conteúdo do relatório fosse confiável, ela era infiel. Uma ira de esmagar a alma queimou por ele com o pensamento. Ela poderia ter esperado que ele voltasse. Por Deus, ela alegou amá-lo. Mentiras, sussurrou uma voz dentro de sua mente. Ela mentiu para você. Que outras mentiras ela contou?
Ele ignorou a bile. Obrigou-se a se acalmar. Respirou fundo. Dois.
Então. Ele não sentiu nada. Graças a Cristo, Carlisle escolheu entregar este relatório em particular enquanto Griffin estava fazendo reconhecimento com alguns homens do Escritório. E então, ele sentiu algo novamente. Súbito e explosivo, diretamente nas proximidades de seu peito.
— O conde de Bolton? Diga-me, Carlisle. Ela está dormindo com o conde de Bolton? — Ele não tinha a intenção de rosnar essas perguntas específicas para a parede de tijolos que era o homem olhando para ele. Mas elas emergiram, cruas e viscerais, de algum lugar dentro dele.
— Provavelmente enfeitiçou Bolton da mesma forma que te enfeitiçou, — Carlisle disse, seu tom azedo. — Ela tem uma boceta mágica?
Sebastian cerrou os punhos. Ele não golpearia o líder da Liga. Não iria.
— Vá para o inferno.
Carlisle levantou uma sobrancelha.
— Talvez devêssemos perguntar a Bolton.
Sebastian se lançou da cadeira com tanta força que ela tombou. Iria bater em Carlisle até virar uma polpa.
— Foda-se, Carlisle.
— Eu já pensei que você era inabalável. — Carlisle assobiou, inclinando a cabeça para considerá-lo como se o estivesse vendo pela primeira vez. — O homem que sobreviveu a um incêndio e à lâmina de um assassino, abatido por um pedaço de saias americanas coniventes. Mas continue lendo, Trent. Parece que há outra pessoa que pode ter gostado de seus amplos encantos também.
Maldito Carlisle. Ele era como um leão apalpando um rato, e Sebastian não conseguia evitar a sensação de que parte do homem gostava disso. Gostava de atormentá-lo. Seu corpo fervilhava de fúria e a necessidade de esmagar algo ou alguém. Tardiamente, seu treinamento retornou. Forçou os músculos tensos de seu corpo a relaxarem, seu rosto a ficar sem expressão. Se Carlisle pretendia provocá-lo a fazer algo estúpido, não facilitaria para o bastardo.
Sebastian pegou o relatório de volta e rapidamente vasculhou o conteúdo, retornando aos últimos três parágrafos que havia perdido. O sangue gelou em suas veias.
Padraig McGuire contatou Sua Graça e foi recebido em quatro ocasiões distintas, a primeira durante um quarto de hora, a seguinte durando vinte minutos, meia hora a terceira...
O restante do relatório girou diante de seus olhos. Ela tinha estado sozinha com seu ex-prometido. Um homem perigoso, e que talvez ela nunca tivesse deixado de amar. A traição, afiada e repentina como qualquer lâmina, retorceu-se através dele.
Ele ia matar McGuire.
Quando chegasse a hora, o atacaria ferozmente e teria grande prazer nisso. Uma faca no estômago, talvez, após a tortura da água. Mas Daisy... O que diabos ele faria com sua linda megera de esposa se o relato fosse verdadeiro? Bolton e McGuire? Calças e escândalo? Parecia muito com a Daisy Vanreid que ele conheceu.
Talvez essa fosse a verdadeira Daisy. Talvez tudo tivesse sido uma mentira, desde o abuso de seu pai até seu medo. Aquela cena nauseante com Vanreid no dia seguinte ao casamento deles foi encenada para tirar proveito dele?
Querido Deus, sua esposa estava cortejando a ruína e tendo amantes. Nos últimos meses que passou longe dela, era um homem dividido entre seu dever e a mulher com quem se casou. Quantas noites seus pensamentos se desviaram para ela? Quantas vezes ele desejou seu cheiro, a visão de seus cachos lustrosos, sua boca e corpo maduros sob o dele? Quão desesperadamente ele ansiava pelo som de sua voz, o toque de sua mão? Quão completamente seu amor por ela o comera vivo?
E o tempo todo, ela planejou e levou outros homens para a cama. Em sua própria maldita casa. Seria possível que o tempo todo ele pensava que a estava usando, e tinha sido de fato ela o usando? A ideia era muito feia para contemplar, as implicações muito amplas e severas.
Seu coração estúpido e maldito bateu forte no peito. Tudo tinha sido um ardil? Se tivesse, ele precisava ser sacrificado como um cavalo aleijado. Como seus instintos sobre ela podiam estar tão errados? Como poderia amar alguém capaz de tal decepção, ele que foi treinado melhor do que ninguém para reconhecer até o mais astuto subterfúgio?
— Trent? — A voz de Carlisle — tingida com algo que ele jurou ser preocupação se não soubesse melhor — perfurou a névoa de ira que infectou sua mente.
— O que você quer que eu faça? — Murmurou.
O rosto esculpido de Carlisle endureceu ainda mais.
— Você precisará voltar para Londres imediatamente. Griffin irá acompanhá-lo quando ele retornar. De acordo com toda a inteligência que o Escritório conseguiu reunir, os sinais indicam fortemente que ela foi encarregada de se infiltrar na Liga Especial. Parece que você é o alvo dela.
Seu alvo.
As duas palavras ecoaram em sua mente, uma provocação. Tudo fazia sentido perfeito e nojento. Uma bela herdeira que tinha posto a nobreza em seus ouvidos. Ela dançou seu caminho através de uma série de pretendentes e bailes, lançando línguas abanando, mas evitando a ruína. Daisy era a sereia destinada a atrair seu navio para as rochas irregulares. Ela deu uma bela demonstração de temor ao pai. E ele foi empático. Sua honra exigia que ele a protegesse, mesmo em face de toda a lógica, razão e sim, dever.
Ele não era o alvo de ninguém, droga. Era um dos melhores espiões de toda a Inglaterra. Não havia nenhuma maneira no inferno que se permitiria ser ultrapassado por uma sereia sensual que cheirava a bergamota e o deixava duro simplesmente por estar na sala.
Ele se endireitou, forçando-se a se concentrar.
— Volto para Londres e depois? Esperar que aqueles desgraçados detonem outra bomba?
Uma expressão estranha cruzou o rosto de seu superior.
— Não. Você precisa ficar de olho em sua esposa. Descubra o quanto ela sabe. Descubra suas conexões. Reúna o máximo de informações possíveis para que possamos enviar mais operativos duplos para se infiltrar em suas fileiras. E faça o que for preciso para quebrá-la e obter as informações de que precisamos.
Para quebrá-la.
A ideia não deveria enchê-lo de... o quê, tristeza? Ele não conseguia definir a sensação que o esvaziava. Não queria.
— As suas ordens, Sua Graça. — De repente, precisava escapar. Ele sentiu como se o ar tivesse sido sugado da sala e ele não pudesse respirar corretamente. — Vou me retirar e começar os preparativos para meu retorno rapidamente.
Ele girou nos calcanhares, pronto para fugir. Tentando não sair correndo da sala. Dos demônios. Pelo preço de fazer o que deve. Do peso do dever.
— Trent?
Sebastian parou, voltando-se para seu superior.
Carlisle tinha a aparência de um homem no funeral de sua mãe. Uma sensação estranha percorreu Sebastian, enchendo-o de pavor. Ele sabia o que o duque iria dizer antes mesmo que as palavras saíssem de sua boca. Seu corpo inteiro se apertou, preparando-se para isso.
— Prepare-se, Trent, — Carlisle disse finalmente. — Ela é uma mulher, eu sei, mas sob as circunstâncias adequadas, um curso de ação mais ousado pode ter seus méritos, se você me entende.
Ele tinha certeza de que sim, mas queria ter certeza.
— Você quer que eu... a mate?
Fazer a pergunta o encheu de gelo. O medo se expandiu em seu peito. A repulsa coagulou seu intestino.
Seu superior inclinou a cabeça, o olhar firme.
— Eu quero que você tome todas as medidas que julgar necessárias ao cumprir seu dever para com a Coroa e os inocentes sob nossa proteção.
Jesus. A boca de Sebastian ficou seca. O duque de Carlisle queria que ele matasse Daisy. Estava lhe dando permissão. Uma ordem indireta. Mesmo que ela fosse culpada de todos os crimes dos quais Carlisle suspeitava e mais, mulheres e crianças eram... droga, eram mulheres e crianças. Os homens podem ser estripados, fuzilados, enforcados ou afogados. Queimado vivo. Qualquer número de fins torturantes poderia ser o destino deles em nome do dever. Mas não mulheres.
Não Daisy.
Não sua esposa, independentemente de quão dúplice e conivente ela possa ser.
Ele fez um juramento para a Liga, para sua Coroa, sim. Mas, também fez um juramento diante de Deus. Um juramento para ela. E mesmo que ela fosse a víbora mais enganadora de toda a Inglaterra, ainda a amava. Puta merda.
Sem outra palavra, afastou-se. Ele conseguiu sair pela porta antes de jogar suas considerações na lama e na rua coberta de esterco.
Capítulo 23
Daisy voltou de mais uma noite de entretenimento. Já passava da meia-noite e ela estava cansada, tanto pelo adiantado da hora e pela tensão da charada que mantinha como por sua delicada condição.
Durante toda a noite, ela fingiu sorrisos e flertou loucamente. Dançou com tantos libertinos e canalhas quanto pôde encontrar. Ela riu, fingiu ser uma esposa alegre que não se importava no mundo por ter sido deixada.
Fingiu que não foi deixada para juntar poeira em uma casa em Belgravia, como se não tivesse maior importância do que as paisagens e as pinturas dos ex-duques que revestiam as paredes. Que ela não se importava se não tinha ideia do paradeiro de seu marido e nenhum lugar para enviar uma carta adequada além de bombardear suas propriedades. Que não recebeu dele uma palavra esquecida por Deus.
Era como se ele tivesse desaparecido tão certo quanto Bridget.
Uma vez acomodada na solidão de seu quarto, arrancou os brincos das orelhas e tirou os sapatos. Eram cetim de cor água-marinha, criações atraentes que combinavam perfeitamente com seu conjunto, mas horas de aperto nos saltos deixaram seus pés doendo.
Fechando os olhos e dando um suspiro, ela rolou a cabeça sobre os ombros, procurando afrouxar os músculos tensos. Ela instruiu Abigail a não esperá-la, e Hugo já estava dormindo na cama confortável que ele preferia no salão inferior. Ela estava sozinha. O silêncio depois de uma noite tão estridente foi agradável.
Com um suspiro, ela abraçou a curva suave e quase imperceptível de sua barriga onde uma criança crescia. Foram necessárias as observações perspicazes de Georgiana sobre sua aparência pálida e frequentes acessos de náusea para perceber que estava grávida de Sebastian. A ideia inicialmente a encheu de esperança de que ele pudesse, finalmente, voltar para ela. Mas, mais dias se passaram, mais cartas sem resposta, mais silêncio, mais espera, e começou a se acomodar na aceitação sombria de que seu marido não dava a mínima para ela.
Não se preocupe, pequenino, prometeu ao bebê agora com uma pontada no coração. Vou te amar o suficiente por nós dois.
— Onde você esteve esta noite, esposa?
A voz, profunda e escura e sedosa ameaçadora, cortou a calma silenciosa.
Um grito indigno saiu dela, os olhos se abrindo. Sebastian estava diante dela, como se conjurado de seus pensamentos perturbados. Malvadamente bonito, alto, moreno, elegante. Expressão sólida como granito, mandíbula rígida. Olhos azuis brilhando.
Por fim, seu marido havia retornado.
Todo o ar fugiu de seus pulmões, como se ela tivesse caído de um cavalo a galope. Seu coração batia forte, a raiva e o ressentimento girando dentro dela lutando contra uma frágil explosão de esperança de que ele estivesse de volta. A carta dela chegou até ele, então? Ela o bebeu antes que pudesse lembrar a si mesma que ele a havia deixado sem uma palavra ou expectativa de encontrá-lo por quase três meses inteiros.
— Que irônica sua atitude fazendo tal pergunta, — ela disse asperamente quando finalmente encontrou sua voz. — Pois estive pensando o mesmo de você, marido. Onde você esteve nos últimos meses?
Mas ele não respondeu. Em vez disso, permaneceu ameaçador e imóvel, examinando-a com um olhar insolente. O calor se espalhou por seu corpo. Uma pontada de desejo intenso começou baixo em sua barriga e irradiou para fora antes que ela pudesse contê-la implacavelmente.
Como ela era tola, carne e coração a traindo. Pois, sentia falta do marido que ela apenas começara a conhecer. Sentiu falta de sua provocação, seus sorrisos raros, seu toque sensual, a maneira como ele beijava. Seu frágil coração começou a acreditar que havia encontrado um futuro que não só seria preferível a seu destino como viscondessa Breckly, mas um no qual poderia encontrar a felicidade. Ela não podia ignorar o quão desolada sua ausência a deixou.
E agora que ele estava aqui, ao alcance, era como se uma parte que faltava dela tivesse sido restaurada.
Ele era tão bonito quanto ela se lembrava. Mais ainda, na verdade. Mas havia algo diferente nele. Algo na maneira como ele se mantinha tão rígido, na maneira como a olhava fixamente, seus lábios finamente formados se curvando em um sorriso de escárnio.
De repente, ela soube o que era esse algo. Sentiu como um golpe que baniu sua ingenuidade e sua fraqueza interminável por ele. Este não era um feliz regresso a casa.
Ele estava furioso.
Seus brincos, diamantes pesados e ouro duro aquecidos por sua pele, morderam sua palma.
— Sebastian, — ela disse, irritada com a qualidade ofegante de sua voz. — Você não tem nada a dizer por si mesmo?
Ele inclinou a cabeça, carrancudo.
— Você estava esperando outra pessoa, então?
Daisy franziu a testa.
— Outra pessoa?
— Outra pessoa. — Ele aproximou-se. Estava tão perto que seu cheiro, claro, masculino e delicioso, a invadiu. — Alguém como o conde de Bolton, talvez? Ou qualquer um de seus outros amantes?
Ah. A fofoca finalmente o alcançou onde quer que ele estivesse se escondendo. Ela identificou um breve momento de satisfação que sua devoção sem fim para expulsá-lo de onde estava tinha sido bem-sucedida. Mas o prazer era vazio, pois ele havia retornado como um estranho colérico. E ela estava com raiva dele também. Queria respostas. Queria protestar contra ele, exigir saber por que a deixara com tanta pressa, nada além de uma vaga missiva para explicar. Para saber os segredos que o levaram dela.
— Bem? — Ele retrucou, sua voz afiada como um florete. — Ainda segurando sua língua, querida? Você não sabe que esta é a parte de nossa pequena tragédia em que você tenta explicar por que tem recebido outros homens em sua cama?
Ela se encolheu, endurecendo-se.
— O que você ouviu?
— Que você está me fazendo de corno. — Ele deu outro passo mais perto, perseguindo-a como se ela fosse sua presa.
Daisy resistiu ao desejo frenético de recuar. Ele não iria bater nela. Sua era acidez era palpável. O medo invadiu seu coração quando lembrou-se de todas as vezes que seu pai havia investido contra ela. As vezes que ele bateu nela. A ocasião em que a atingiu com tanta força que ela caiu no chão e seu pé calçado com a bota atingiu seu diafragma. Seu pecado? Envergonhá-lo no jantar por rir muito alto. Ainda se lembrava da sensação de todo o ar sendo arrancado de seu corpo com pressa, a queimação em seus pulmões.
Mas, se manteve firme agora contra a raiva de Sebastian, porque ela não era a garota que tinha sido antes. Era uma mulher agora. Independente e forte. Seu queixo se ergueu em desafio.
— Não tenho feito nada disso.
Mais duas passadas e suas longas pernas roçaram as duas pontas de suas calças especialmente feitas sob medida. Calças que logo não caberiam mais nela com a realização confortável de sua figura florescente. Ele fez um show ao rondá-la com um olhar que varreu sua forma e a fez sentir como se estivesse nua diante dele, em vez de completamente vestida.
— O que diabos você está vestindo?
— Você tem olhos que funcionam, — apontou com um ar petulante que ela mal sentiu. — O que parece que estou vestindo?
Seu traje de noite era, ela sabia, incomum. Como parte de sua campanha para provocar escândalo suficiente para trazer seus maridos de volta para eles, ela e Georgiana buscaram a ajuda e o gênio criativo da talentosa Madame Blanc, que teve o prazer de criar guarda-roupas lindos e caros com calças bem desenhadas e corpetes. Daisy os adorava e, em vez disso, imaginou que os usaria, embora seu propósito original para eles — que começassem a falar o suficiente para trazer o marido de volta para casa — tivesse acabado.
— Parece que você está vestindo uma fantasia de prostituta. — Sua voz era gelo puro. — O que você pode estar pensando, vagando por Londres usando essas malditas calças? Não era o suficiente ter prazer com qualquer homem que você pudesse encontrar? Você precisava me humilhar também, é isso?
Suas palavras a cortaram mais do que ela esperava. Quando ela e Georgiana colocaram seu plano em ação, ela não considerou todas as ramificações. Foi movida pelo desespero, pelo desejo. Sentia falta dele. Estava preparada para fazer qualquer coisa — vestir calças, flertar com libertinos, incitar sussurros e desaprovação a cada passo. Céus, havia escrito uma cascata de cartas para ele, desesperada por alguma maneira de fazê-lo voltar.
Mas o escândalo foi como um incêndio. Não podia ser controlado. Assim que começou a queimar, sua fome de destruição tornou-se voraz. Agora, parecia que todos os seus esforços frustrados se voltaram contra ela com um efeito desastroso.
Ele estava finalmente em casa, mas não acreditava nela. Ele acreditou na fofoca. E bem, por que não deveria? Eles eram estranhos, não eram? Casados por vários meses, apenas duas semanas passadas na presença um do outro. O que poderia ter esperado? Seu coração parecia um peso em seu peito, igual ao nó de pavor que girava em seu estômago.
No entanto, foi ele quem criou o abismo. Ele que a havia abandonado com uma carta rabiscada às pressas como explicação. A solidão, o isolamento e a confusão dos meses sem ele a atingiam agora com a força de uma locomotiva. Uma ira igual à dele se transformou em uma chama. Onde ele esteve? O que estava fazendo? Quem era o verdadeiro Sebastian, duque de Trent?
— Como você ousa me insultar? — A emoção reprimida tornou sua voz estridente. — Você, que me abandonou sem nenhuma explicação real, nenhuma noção de para onde você foi ou quando poderia retornar?
— Era um assunto privado de extrema urgência, — ele rangeu. — Eu disse que voltaria assim que pudesse. Minha partida de Londres foi necessária. Se eu tivesse sido capaz de evitar, teria feito de todo o coração.
— Um assunto privado. Necessário. — As palavras deixaram um gosto ruim em sua boca e a suspeita premente que tinha sido sua companheira constante nos últimos meses voltou. E se ele tivesse se envolvido em uma forma diferente de segredo do que Georgiana suspeitava? Os golpes eram bastante comuns, embora dificilmente uma conversa apropriada na sala de estar. Algumas missivas com frases estranhas não foram suficientes para provar algum tipo de vasta conspiração. — Você estava com sua amante?
— Não, porra. — De repente, suas mãos agarraram seus braços, grandes e quentes em sua pele nua. O contato enviou a mesma necessidade ardente de sempre lambendo através dela. — Já disse a você que não tenho uma amante. Tenho sido fiel aos nossos votos, o que é mais do que posso dizer de você.
Ela queria acreditar nele, mesmo quando sua afirmação contínua de que ela tinha sido infiel a deixou fria.
— Eu não fiz de você um corno.
Ele a puxou para si e as mãos dela voaram para seu peito largo, procurando apoio, os brincos caindo esquecidos no chão. Seu olhar caiu para sua boca. Eles estavam tão perto que se ela ficasse na ponta dos pés, seus lábios se encontrariam. Como ela sentiu falta de seu beijo. Por um instante, não importou que ele tivesse partido, que tivesse retornado um estranho frio e amargo. Seu corpo ainda ansiava pelo dele.
Doeu por ele.
Ela ainda o amava.
— Você se importaria de explicar o que tem feito a portas fechadas com o conde de Bolton? — Seu tom se tornou enganosamente suave mais uma vez. Seus olhos percorreram o rosto dela, estudando. — Você está linda como sempre, Daisy. Não é de admirar que metade dos homens de Londres estejam esperando na fila para levantar suas saias. Quantos outros além de Bolton?
Ela sabia que receber o conde de Bolton fora um erro grave. Na época, a antipatia de seu marido pelo homem serviu como seu principal impulso.
— A porta nunca foi fechada. Esse foi um boato provavelmente iniciado pelo próprio conde.
Isso era verdade. Bolton havia deixado claro seu desejo de que ela se tornasse sua amante. Daisy recusou e deu um tapa nele pelo insulto, e provavelmente foi por isso que ele espalhou tal história — um bálsamo para seu orgulho ferido. O único homem que ela queria era o que estava diante dela, e era uma verdade que não podia negar. Tinha feito votos para ele e apenas para ele. Seu coração batia por ele. Quebrou por ele.
— Você gritou do jeito que fez para mim, querida? — A mão dele deixou seu braço para deslizar sobre sua mandíbula, então segurou sua bochecha. O polegar dele pressionou a plenitude de seu lábio inferior com uma pressão áspera que a surpreendeu. Mas, ela gostou. A selvageria nele fez seu pulso saltar, seu corpo inteiro ganhar vida. Era estranho e preocupante e, no entanto, ali estava. — Conte-me. Você gostou quando ele te fodeu? Você fingiu que ele era eu, só por um momento? Nós dois sabemos que ele não poderia ter feito você gozar do jeito que eu fiz.
Ela engoliu em seco, a memória de seu intenso ato de amor junto com sua dureza magra contra ela — seu perfume masculino e força envolvendo-a — fez o calor florescer entre suas coxas. A carne que ele trouxe à vida ficou faminta e molhada. Seus mamilos se apertaram contra seu espartilho. Sua raiva deveria tê-la perturbado, deveria ter diminuído seu desejo. Coisas tão provocativas e feias, ele disse. Ele estava sendo rude e bruto, deliberadamente cruel. A maneira como ele a tocou — magistral embora distanciado — deveria tê-la deixado fria.
E, no entanto, ela não conseguia evitar o que sentia. A maneira como ele a fazia sentir. Quente. Sem descanso. Saudade. Seu coração ainda doía por ele e, apesar de tudo — lógica, razão, dor, bom senso — ela não podia negar.
Ela mordiscou seu polegar, saboreando-o — sal e calor e homem — e ele o removeu, permitindo que ela falasse.
— Não fiz nada com o conde de Bolton. Nada com qualquer outro homem, por falar nisso.
— Você espera que eu acredite em você? — Seu tom era frígido. Seu toque era tudo menos isso. Era quente, agressivo, exigente. Urgente.
Seus dedos percorreram sua garganta, demorando-se no colar de diamantes que ela ainda usava, uma lembrança pesada de sua vida anterior. A carícia enviou faíscas deslizando sobre sua pele, a necessidade pulsando profundamente em seu interior.
— É a verdade, — ela sussurrou.
— A verdade. Quão rico. — Um sorriso sombrio curvou seus lábios sensuais. Foi sombrio, duro. Não havia nenhum indício da covinha que ela uma vez desejou beijar. Nem um traço de humor permaneceu dentro dele, parecia. Foi como se um estranho tivesse tomado seu lugar. Um estranho amargo, quebrado e zangado. Onde ele esteve nos últimos três meses e o que fez? Talvez, mais importante, o que foi feito com ele?
Mas ela se manteve firme. Estoica.
— Sim, a verdade. Eu nunca trairia nossos votos, Sebastian.
— Você não acha que eu acredito em uma palavra que escapa de seus lindos lábios, não é, querida? Não quando você está agindo como está. Festejos selvagens, um colar de amantes, usando calças, pelo amor de Deus. Você foi tão tola em acreditar que esse assunto não chegaria até mim? Que eu não saberia de suas travessuras e sua libertinagem?
Ela deveria estar assustada. Mas, não estava. Embora sua linguagem fosse grosseira e seu toque carecesse do hábil jogo de sedução lenta que estava acostumada, ele não a machucaria. Ela sabia disso instintivamente.
— Como a notícia chegou até você? — Ela perguntou ao invés. — Você recebeu minhas cartas? — Uma carta em particular. Aquela em que ela revelou o nascimento iminente de seu filho. O único bem que surgiu das cinzas de sua turbulenta união.
— Eu ouso dizer que o assunto já chegou até a América agora. Você não fez nenhuma tentativa de esconder sua luxúria. — Ele zombou. — Você nem se deu ao trabalho de esperar até que me fornecesse um herdeiro antes de dormir com o conde de Bolton.
Isso respondeu a sua pergunta, então. Ele não tinha lido uma única de suas cartas.
A decepção floresceu quando os dedos dele viajaram para baixo, parando na borda cortada com fita de seu decote. Ela engoliu em seco contra uma nova onda de necessidade. Sua crueldade deveria ter diminuído a resposta de seu corpo a ele, mas parecia que nada poderia. Seus mamilos ansiavam por seu toque, sua boca. O arranhão de seus dentes. Ele segurou seu seio, e foi um toque possessivo de propriedade, nada doce nisso. Através de seu espartilho, calças e seda, os dedos dele apertaram sua pele com pressão suficiente para arquear suas costas.
Ela queria mais, e sua reação a assustou. Não sabia que a escuridão e a raiva podiam formar uma teia tão poderosa de sedução. Ainda assim, ele lhe devia tanto quanto ela devia a ele, se não mais. Foi ele quem partiu. Ela tinha estado bem aqui, esperando por ele, o tempo todo.
— Diga-me onde você esteve, — ela desafiou impetuosamente. — Diga-me a verdade.
Se preocupe comigo o suficiente para me dar isso, se nada mais.
— A verdade é que, embora você tenha se deitado com outros amantes, você ainda me quer, não é, botão de ouro? — Ele se acalmou, seus olhos intensos e brilhantes, faiscando com fogo sexual puro enquanto queimavam os dela. — Seus lindos lábios rosados podem mentir, mas seu corpo não.
Maldito seja.
— A verdade, — ela exigiu novamente. — Onde você estava? Por que você partiu?
— Ah, eu vejo o jeito disso. — Ele sorriu sem alegria, seu tom amargo. — Você acha que pode me tentar com seu corpo, e vou confessar tudo. Mas não vou te dar a gratificação de te foder, Daisy. Você gostaria muito.
A maldade e arrogância de suas palavras deveriam tê-la repelido. Ele estava sendo uma besta, mas de alguma forma a fez ansiar por ele ainda mais. Seus seios formigaram. A carne entre suas coxas ansiava por ele, por seu toque, sua reivindicação. Por fim, seu corpo parecia dizer, mesmo que sua mente não pudesse formar o reconhecimento, finalmente.
Daisy apertou-se contra ele, os seios esmagando em sua mão, em seu peito. Seus lábios estavam a poucos centímetros de distância. A respiração dele passou por sua boca, quente e promissora. Suas pernas se enredaram, livres do peso das saias, e ela sentiu a excitação dele, rígida e inegável, cortando sua barriga.
Ele a queria, não importa o que ele dissesse. Naquele momento, ela tinha um poder infinito sobre ele e sabia disso.
E ela gostou.
Ela balançou para frente, deslizando seu corpo ao longo de seu comprimento rígido. Seu lábio inferior roçou o dele uma, duas vezes.
— Você sabe o que eu acho, Sebastian? — Ela fez uma pausa, um ímpeto perverso de chocá-lo crescendo por dentro, de cutucá-lo, empurrá-lo para fora do precipício ao qual ele se agarrou. — Acho que você está mentindo para mim. Mentindo para si mesmo. Você não quer me foder porque você tem medo de que você goste muito.
Isso.
Uma palavra, crua, vulgar e errada. Sua palavra. Foder. Usada nele como uma arma. Mas teve o efeito desejado, e ela não sentiu uma gota de vergonha quando ele rosnou no fundo da garganta e a forçou a recuar, guiando-a com as mãos na cintura e passadas largas. Levando-a para a cama grande onde ela tinha ficado acordada tantas noites se perguntando onde ele estava e se voltaria ou não. Onde o imaginou se juntando a ela, a amando lentamente, beijando-a e despindo-a, conhecendo cada pedacinho de sua carne antes de juntarem-se como um.
Mas isso não seria nada parecido com suas fantasias tolas, ou mesmo com seus encontros anteriores, e ela sabia disso pela aspereza em sua expressão, a selvageria de seu toque. A parte de trás dos joelhos bateu na maciez da cama. Ele não a jogou como ela pensava que faria. Em vez disso, ele parou e olhou para ela.
— Explique-se, — ele ordenou.
Ela engoliu em seco, sem saber o que ele queria ouvir. O que ele quis dizer. Ela estava sem fôlego com a espera, com desejo, com uma maré profunda e decadente de antecipação.
— O que você quer que eu diga, Sebastian? Que passei esses últimos meses me perguntando onde você esteve? Que tenho flertado como uma louca escandalosa e cortejado em todas as oportunidades apenas para que você volte para mim?
— Não. — Suas narinas dilataram-se.
Ele era ferozmente bonito, seu corpo mais estreito contra o dela, afiado em ângulos fortes e musculosos. Tudo nele havia se tornado escuro, poderoso e implacável. Até os ombros dele eram mais severos e duros sob suas mãos enquanto ela as colocava ali para se ancorar.
Mas ela não tinha terminado. Deixe-o pensar dela o que quiser. Havia apenas uma maneira de vencer essa batalha entre eles.
— Você quer ouvir como eu fiz tudo ao meu alcance para encontrá-lo, e quando tudo o mais falhou, decidi provocar o seu retorno causando o máximo de escândalo possível? Pois essa é a verdade.
— Não, porra, — ele retrucou. — Chega de suas mentiras.
— Minhas mentiras? — Ela esfregou a perna contra a dele, porque era bom e porque ela não conseguia resistir à tentação. Sua proximidade fez coisas selvagens para seus sentidos. Mas mesmo enquanto ela o provocava, se defendendo desta batalha sensual entre eles, ela não tinha esquecido que tinha tantos motivos quanto ele para estar com raiva. Ainda mais. — E quanto a você, Sebastian? Onde você esteve?
Céus, sim, ela tinha todo o direito de estar devidamente enfurecida. Ele havia desaparecido sem explicação. Meses sem nenhuma palavra se passaram. Mesmo assim, ele invadiu sua vida com a graça de uma canhoneira, enfurecido e decidido a destruir. Como ousava chamá-la de mentirosa, acusá-la de rebaixar seus votos, quando ainda não tinha nenhuma ideia de onde ele tinha ido, o que ele fez, ou com quem esteve durante sua longa ausência?
— Você quer fazer perguntas, botão de ouro? — O sorriso que ele lhe deu era forte e letal. Nem um sinal de alegria. Nem uma gota de simpatia ou contrição. Sua covinha apareceu por uma fração de segundo antes de desaparecer. — Muito bem. Mas eu tenho que perguntar primeiro.
Suas mãos apertaram sua cintura, seu único aviso antes que ele a erguesse em um movimento fluido e a jogasse de volta na cama. Ela não esperava sua reação repentina, então ela aterrissou em uma pilha bastante indigna, com as pernas abertas, deitada de costas. A expressão de seu marido era sombria e implacável como uma tempestade de verão. Ele caminhou para frente, entre as coxas dela, e se inclinou para frente, plantando as mãos em cada lado dela enquanto a prendia no colchão. Seu abdômen musculoso pressionado contra o dela, roubando seu fôlego.
Sebastian abaixou a cabeça de forma que suas testas quase se tocaram. Seus olhos brilharam nos dela, intensos e queimando com tanta cólera que ela estremeceu.
— Quem diabos é Padraig McGuire para você, Daisy?
Capítulo 24
ela empalideceu ao ouvir o nome de seu ex-prometido, toda a cor se esvaindo de seu belo rosto. Maldito inferno. Não era o que ele queria ver, mesmo que tivesse previsto. Mesmo se ele tivesse feito a viagem entre Londres e Liverpool para se reconciliar com o fato de que a mulher com quem se casou — a mulher que o forçou a passar os últimos três meses cheio de culpa e dividido entre seus sentimentos por ela e o seu dever — era uma fraude, uma mentirosa e uma jade conivente. Possivelmente até uma conspiradora e possível assassina. E então havia a outra parte dele, a parte que estava desesperada para encontrar razões pelas quais ela não poderia ser, ou maneiras que ele poderia salvá-la se ela fosse.
Patético da parte dele, realmente.
Sua mandíbula endureceu, os dedos agarrando as roupas de cama de cada lado de sua forma ágil, uma nova onda de raiva explodindo por ele. A reação dela não foi a de uma mulher inocente, por Deus. Foi a reação de uma mulher culpada como pecado. Uma mulher que acabara de perceber que a elaborada teia de mentiras e enganos que havia criado se transformou em uma armadilha para ela mesma.
— Padraig McGuire. — Ele cuspiu o nome como se tivesse deixado um gosto amargo na boca.
Claro que sim. O pensamento de qualquer outro homem tocando Daisy, beijando-a, passando as mãos por suas curvas nuas, afundando dentro dela... Jesus, isso o deixou lívido o suficiente para que não se confiasse sozinho em um quarto com qualquer um deles. Quem quer que fossem. Bastardos sem rosto. Cristo sabia quantos. Ele queria rasgá-los membro por membro.
Padraig McGuire, no entanto, era o único homem acima de qualquer um — mesmo acima do conde de Bolton — que o enfureceu a ponto de uma sede de sangue irracional e imprevisível. McGuire era um conspirador feniano. Um maestro de morte e destruição. Mais importante e perigoso de tudo, ele era um homem que Daisy uma vez amou o suficiente para desejar se casar com ele.
Um homem que ela recebera em particular pelo menos quatro vezes.
Maldição, ele era um idiota. Pois mesmo com os antolhos removidos, ele ainda não podia se ajudar e deixar de desejá-la. Seu pênis estava rígido, lutando contra a abertura de suas calças, projetando-se no calor suave de sua coxa esquerda. Ela era ainda mais adorável do que se lembrava durante seus meses longe dela. Quando seus olhos a encontraram pela primeira vez esta noite, quando ela cruzou a soleira, ele ficou momentaneamente sem fala. Talvez fossem as calças, que acentuavam sua cintura fina e o alargamento feminino de seus quadris e tornozelos elegantes à perfeição. Ou talvez fosse simplesmente ela, Daisy.
Deusa. Bruxa. Sereia. Mentirosa.
— Vou perguntar mais uma vez, — rosnou, percebendo que ela ainda não tinha respondido e seu corpo estava ficando muito acostumado com sua posição em cima dela. Seu corpo, na verdade, queria se enterrar bem no fundo dela. Era uma coisa terrível, como seu pênis e sua mente podiam lutar um contra o outro tão impiedosamente, mas ali estava. — Quem diabos é Padraig McGuire para você?
Ela se encolheu e engoliu em seco. A franja espessa de seus cílios caiu sobre os olhos.
— Como você sabe esse nome? Ele não usou quando entrou em contato.
Ouvi-la confirmar o que ele já sabia, que o bastardo tinha estado com ela — em sua maldita casa — como se tivesse sido uma visita social inocente, enviou outro ataque de fúria ricocheteando através dele. Lentamente, todas as implicações do que ela disse foram diminuindo.
Ele involuntariamente revelou muito para ela. Para esta mulher, com os seios apertados contra o corpete, as pernas bem abertas em calças de cetim, com os olhos arregalados e a boca o atraindo, que era uma cadela enganadora e traidora.
Para esta mulher, que sabia muito e sempre soube mais do que demonstrava. Sua esposa, a mulher que ele cobiçou por três longos e intermináveis meses. A mesma mulher que teve amantes no momento em que ele sumiu de vista. A mulher que ele amava.
Puta merda. O coração era apenas uma fraqueza. Um tolo incapaz de identificar a razão. Pois não havia nenhuma razão nesta terra — nenhuma maldita — para que ele ainda sentisse esse peso em seu peito, essa conflagração dentro dele por estar na presença dela.
— Você não tem o direito de pedir nada de mim, — ele retrucou, sentindo um frio gelado afundar direto na medula de seus ossos. — Eu faço as perguntas. Você as responde, ou esta noite não será boa para você. Você entende?
Ela endureceu enquanto avaliava a profundidade de sua raiva, trazendo as palmas das mãos entre eles para empurrar ineficazmente em seu peito. O medo em sua expressão o teria feito sentir vergonha em qualquer outro dia. Independentemente do que foi ordenado a fazer, e independentemente da profundidade de sua traição, ele nunca a machucaria fisicamente.
Mas hoje era diferente. Hoje, queria que ela se afogasse de medo do que ele faria. Queria fazê-la pagar e, ao fazê-lo, aplacar um pouco de sua própria dor. Tinha acreditado nela. E ela mentiu. Ele ficou de joelhos e agarrou seus pulsos com mãos de algemas, abaixando cada um para o lado dela e prendendo-os na cama. Ela estava indefesa. Ele balançou seu corpo contra o dela, em parte pelo simples prazer e em parte para deixá-la saber que ele era a força dominante. Que ela respondia a ele.
— Quem é Padraig McGuire? — Ele colocou a questão mais uma vez, desta vez com seu pênis moendo contra a parte dela que ele mais queria.
Ele decidiu que, independentemente de quanto se desprezaria à luz da manhã, não iria parar até que se enchesse de Daisy esta noite. Ele a possuiria, apreciando o som de suas calças vergonhosas sendo arrancadas de seu corpo. Ele rasgaria o corpete em pedaços, cortaria o espartilho dela com a faca em sua bota. Então, ele afundaria tão profundamente dentro dela, bateria tão forte, até que ela não poderia evitar gritar de necessidade selvagem. Chupar seus mamilos, afundar seus dedos em seus fartos cabelos. Sim, por Deus, ele a tomaria, a puniria. E ele iria desfrutar de cada segundo depravado disso.
Talvez até amarrasse seus pulsos. O pensamento fez seu pau estremecer, e rolou seus quadris contra os dela por instinto, meio horrorizado consigo mesmo por estar tão consumido pela luxúria com a ideia de foder uma traidora sem consciência.
Mas ela estava imóvel e com o rosto pálido sob ele, os lábios comprimidos. Não complacente. Não disposta como queria que ela estivesse. A fome queimando dentro dele esfriou. Não sentia prazer em forçar uma mulher, independentemente de quão longe ela o levasse ao limite da sanidade.
— Quem. É. Ele? — Ele pressionou.
— Por favor, Sebastian. — Ela fez uma pausa, sem fôlego, umedecendo os lábios. — Não é o que você deve pensar.
Isso era uma maldita mentira, e ele sabia disso. O relatório ficaria para sempre guardado em sua memória. Padraig McGuire visitou Sua Graça e foi recebido em quatro ocasiões distintas. Ela estava sozinha com McGuire. Na maldita casa de Sebastian. Meia hora na terceira visita. Escassos quinze minutos no último, mas ele não se incomodaria com isso agora. Talvez a essa altura, McGuire já tivesse se satisfeito e precisasse apenas de um acoplamento apressado para satisfazer sua luxúria.
O pensamento de Padraig McGuire em cima de Daisy, da mesma forma que estava agora, enviou mais gelo em suas veias.
— A verdade, — ele ordenou, incapaz de resistir a pressionar seu corpo mais profundamente no dela até que seus seios empurraram contra seu peito e seu abdômen se esmagou contra o cinto rígido de seu espartilho.
Ela tinha se esquecido de como as coisas eram entre eles tão facilmente? Ou sua introdução ao desejo só a deixou faminta por mais com o homem com quem ela quase se casou? Nada que eles compartilharam era real? A reação de seu corpo a ele, mesmo agora, era fingida?
Maldição, nem mesmo seu desgosto por ela atrapalhou sua luxúria furiosa. Seu pênis se apertou nela em uma imitação crua do que ele queria fazer, apesar do fato de que ela tinha permitido o mesmo privilégio a outros em sua ausência.
Não importa que ela nunca tivesse sido criada para ser sua esposa de verdade. Pelo que ela sabia, ela era sua duquesa para sempre. E mesmo que ele tivesse sido chamado para um assunto urgente, ela jurou ser fiel e obedecer. Quão rápido ela quebrou seus votos. Sem nem mesmo mencionar os sentimentos que ela alegou ter por ele. Seus protestos de amor voltaram a ele agora, a lembrança de sua voz doce e rouca fazendo chover as palavras sobre ele: Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.
E ele tinha acreditado, tolo que era. Como um homem faminto ávido por um pedaço para colocar em sua barriga vazia, ele estava desesperado. Desesperado para acreditar nela e em sua inocência. Quão errado estava. Seus instintos eram inúteis agora. E ela tinha feito isso. Só ela havia escapado de suas defesas, fazendo-o se apaixonar por ela, fazendo-o querer construir um verdadeiro casamento com ela após o término de sua missão. Fazendo-o querer desistir do trabalho de sua vida só para ficar com ela.
Que piada maldita. Que lunático ele era. Talvez devesse se aposentar da Liga de qualquer maneira, apenas por conta de sua própria estupidez. Ele era um inútil. Insensato. Como poderia olhar qualquer um de seus companheiros, membros da Liga, ou seu superior nos olhos novamente, sabendo o que ele fez ao permitir que aquele pedaço de mulher o controlasse e o abatesse?
Dalila, ele pensou. Ela era sua maldita Dalila.
— A verdade, — ela disse finalmente, rompendo seus pensamentos, sua voz calma, mas tão decadente como veludo para os sentidos, assim como sempre tinha sido. Seus cílios se levantaram e seu olhar encontrou o dele. Aquele verde vivo, vibrante e claro parecia ver através dele. — Não lhe disse nada além da verdade. Você deveria saber disso, Sebastian. Assim como você sabe que fui noiva de Padraig McGuire em Nova York. Mas, ele veio aqui por um bom motivo.
Sempre perceptivo. Ele poderia reconhecer que ela era inteligente. Inteligente demais, aliás — e cautelosa e reticente — para seu próprio bem. Suas habilidades como atriz, no entanto, ofuscaram qualquer outro dom que ela tivesse, até mesmo sua beleza inegável. Seu protesto de que McGuire a visitara por um bom motivo quase parecia genuíno.
Ele não negou que sabia da relação dela com McGuire. Por que fingir?
— Você não achou que esse assunto chegaria até mim? Que eu não queria saber de suas frequentes, e privadas visitas com um cavalheiro particular? Que não iria assumir a responsabilidade de coletar informações sobre com quem minha esposa sentiu a necessidade de passar o tempo na minha ausência?
Visitas privadas de um conspirador feniano. Eles discutiram os planos para lançar bombas e depois foderam? Cristo, não pensaria nisso agora. Deveria odiá-la pelo que ela fez. E, no entanto, de alguma forma, não conseguia.
O olhar de Daisy não vacilou no dele. Tirando a respiração ofegante e as batidas de seu coração que ele podia sentir contra o peito, ela parecia a imagem perfeita de calma e elegância.
— Claro que eu sabia que as notícias chegariam a você, ou pelo menos esperava que sim. O que você teria feito no meu lugar? Fui abandonada por meu marido sem amigos ou família para falar, e você certamente não respondeu a nenhuma das minhas cartas, nem se deu ao trabalho de mandar um recado perguntando por mim. Você desapareceu com apenas uma nota concisa. Tudo o que tentei falhou — ninguém sabia para onde você tinha ido ou quando voltaria. Então, decidi tentar atraí-lo de volta para cá criando tanto escândalo que você não teria escolha.
Lá estava sua atriz descarada mais uma vez, retornando das cinzas da criatura quebrada que ela queria que ele acreditasse que era. Que ousadia da parte dela sugerir que recebera, em particular, visitas de cavalheiros em sua ausência, a fim de trazê-lo de volta para seu lado. Meu Deus, ela mentiu tão rapidamente que ele quase quis acreditar nela.
Seus dedos se apertaram em seus pulsos. Seu olhar se fixou no dele, alerta e investigador. Ele não lhe permitiu nada, mantendo os olhos e sua expressão frios como os diamantes que ela usava em sua garganta.
— Você espera que eu acredite que você teve amantes para que eu voltasse para você?
— Claro que não. — Ela puxou os pulsos, tentando se libertar. — Sebastian, me solte.
Ele não estava inclinado a ouvir sua exigência. A besta dentro dele estava enjaulada por muito tempo. Não aliviou seu aperto. Em vez disso, abaixou o rosto para mais perto dela, até que o cheiro dela o inundou. Por algum milagre de autocontrole, ele se absteve de enterrar o rosto nas mechas douradas de seu cabelo. Mas ao observá-la agora, desejou ter tirado os alfinetes de sua touca antes de pular sobre ela.
— Devo lhe agradecer por se deitar com uma série de amantes, incluindo seu ex-prometido, em minha própria casa? — Ele fervia. As últimas palavras emergiram como um rugido.
— Não! — Ela gritou de volta, transformando sua tentativa fraca de escapar dele em uma batalha em grande escala. Ela se contorceu e resistiu embaixo dele, tentando em vão libertar os pulsos. Mas todos os seus esforços a prenderam mais confortavelmente embaixo dele. — Ouça-me, Sebastian.
Mas ele estava além de ouvir. E na verdade, ela se debatendo como um gato feroz só aumentava sua excitação. Cada sacudida de seu corpo causava a mais prazerosa fricção contra seu pênis. Seus seios tensos contra ele, sua boca tão perto da dele que quase podia prová-la. Seu corpo se encaixou ao redor dele, suas curvas exuberantes derretendo em sua dureza e ângulos. Um ajuste perfeito. Mesmo meio louco de raiva e luxúria, ainda podia sentir a justiça dela estar sob ele.
Uma maldita vergonha que a única mulher que mais queria no mundo fosse a mesma mulher que ele estaria mandando para a prisão junto com seu amante. Primeiro, porém, pegaria o que era dele. O que sempre foi dele. E a tomaria tão ferozmente que ela nunca esqueceria em todos os seus dias que ele era o homem que a reivindicou, de corpo e alma.
— Continue se movendo assim, e veja o que acontece, — ele a advertiu, sua voz áspera e baixa, saturada pelo tumulto do momento. Dicotomias o atormentavam. Ele a queria, mas se odiava por sua fraqueza; ela era linda, mas era uma maldita criminosa, inimiga da Coroa. Sua inimiga. A mulher que o traiu e o enganou.
Ela ficou imóvel embaixo dele.
— Você ainda não acredita em mim.
— Claro que não acredito em você, botão de ouro. — Lentamente, ele deslizou seus pulsos ao longo da cama até que ambos estivessem presos acima de sua cabeça. Ele se inclinou para trás para examinar sua obra. Ela era como uma oferenda diante dele, os seios para cima, o rosto vermelho, o lábio inferior suculento preso entre os dentes.
Ele queria mordê-la ali também. Para beliscá-la apenas o suficiente para causar-lhe dor sem tirar sangue. Ela precisava pagar pelo que fizera, pelo mal que pretendia infligir aos inocentes, ajudando e incitando Padraig McGuire e seu pai. Pelo que fez a ele, infiltrando-se em sua mente e corpo tão completamente como ópio. A fúria o devastou, misturando-se com a luxúria.
Retribuição era o que era. Ele a faria expiar seus pecados. Ele a tomaria uma última vez para que pudesse dormir à noite quando ela se fosse.
— Estou dizendo a verdade, — ela insistiu. — Não importa se você acredita em mim ou não. Sebastian, você me deixou. Você não merecia minha lealdade. Mas estou aqui esperando seu retorno do mesmo jeito. Mesmo agora, não posso te negar porque eu te amo demais.
A amargura o envolveu.
— Sua manipulação não funcionará mais comigo. Todas aquelas pequenas mentiras inteligentes, Daisy. Você é uma atriz brilhante, admito. Mas agora o tempo para o engano chegou ao fim.
Seus pulsos de ossos finos eram pequenos e delicados o suficiente para que ele pudesse segurar os dois em um punho, ele descobriu, o que deixava sua mão direita livre para fazer o que quisesse. Ele desceu rapidamente o comprimento de seu braço nu até a renda em sua manga. Para baixo sobre os seios e, em seguida, para seus quadris, seu joelho.
— É verdade, — ela disse, e havia um tremor em sua voz que quase o fez sentir um traço de remorso. — Eu te amo.
Ele pressionou sua testa contra a dela.
— Mentirosa.
Ela puxou os pulsos, pensando ingenuamente que poderia de alguma forma dominá-lo e escapar. Ela não pode.
— Ao contrário de você, eu falo a verdade. Você ainda não disse onde estava. Você vai me contar? Por favor?
Ele ignorou seu apelo. O sangue correu por ele, direto para seu pênis. Ele não queria ouvir mais nada que ela tivesse a dizer. Não há mais falsidades ou fingimentos. Sem mais protestos. Uma última vez. Apenas esta noite, ele prometeu a si mesmo silenciosamente, esta noite para exorcizá-la dele.
Ele a beijou. Tomou sua boca com a dele para impedir que ela se movesse. Ou pelo menos é o que ele disse a si mesmo quando a luxúria o atingiu. Ela tinha um gosto doce, mais doce do que se lembrava, e embora quisesse que o beijo fosse um castigo, no momento em que ela correspondeu, gemendo em sua boca, encaixando seus lábios nos dele, ele sabia que não poderia ser.
O único que ele puniu foi ele mesmo.
Porque seu corpo clamava por ela, mas o mesmo acontecia com seu coração. Maldição, a parte mais fraca queria acreditar quando ela professava amá-lo. Quando ela alegou que suas travessuras tinham sido uma tentativa de provocar o seu retorno. Que a quinzena que eles passaram juntos tinha sido real — o riso, o amor, tudo isso. Que ela não era uma feniana. Dinamite, ele pensou enquanto arrastava a boca para baixo, garganta abaixo, através da extensão sedosa de pele cremosa. Ela era sua dinamite.
Ele tinha sentido falta dela. Querido Deus, como ele tinha sentido falta dela.
— Quer isto? — Perguntou antes que lambesse o oco na base de sua garganta, logo acima de seus diamantes brilhantes.
— Sim. — A palavra escorregou de seus lábios em um suspiro. — Te quero tanto que não posso suportar.
Obrigado, porra. Ele pegou seu corpete na mão e rasgou a seda delicada. Ou pelo menos a metade. Com um movimento de seu pulso, o corpete se foi. Ele agarrou o espartilho dela e usou o polegar para liberar o primeiro fecho. Não demorou muito para abrir o espartilho de cetim vermelho com bordas de renda preta. Sua camisa permaneceu, protegendo-a dele. Ele rasgou o tecido fino também. Ela estava nua da cintura para cima.
Seus seios eram cheios e altos, os mamilos rosados e doces de que ele se lembrou inúmeras vezes enquanto estava secreto em Liverpool, duros e convidativos, apontando para cima. Ele não pôde resistir a abaixar a cabeça para tomar o botão endurecido de seu mamilo esquerdo em sua boca. Ele chupou, saboreando a maneira como ela se contorcia contra ele, arqueando em seu corpo, apertando seus quadris com as coxas. Ela gemeu. Ele a pegou entre os dentes, puxou.
Ela implorou.
— Por favor, Sebastian.
A necessidade rugiu fora de controle. Trovejou por suas veias. Acendeu um fogo que queimava logo abaixo de sua pele. Suas bolas se apertaram, seu pênis moendo contra seu centro. Jesus. Ele nunca quis tanto uma mulher. Sua reação a ela era ridícula. Sabia o que ela era, o que tinha feito. Cristo, ele provavelmente nem sabia da metade. E ainda não haveria como purgá-la de seu sangue até que a tivesse esta noite.
Ele soltou seu mamilo com um pop alto e úmido, inclinou a cabeça para que seus olhos se encontrassem novamente. Um verde profundo e intenso o perfurou. Sua boca estava aberta, sua respiração irregular. Ele soprou em seu mamilo uma vez. Duas vezes. Beliscou novamente, seu olhar nunca deixando o dela.
— O que você quer, Daisy? — Quando fez a pergunta, ele inclinou os quadris, pressionando o cume exigente de seu pênis contra ela mais completamente. — Diga-me. O que você quer?
Seus seios subiam e desciam, sua respiração mais rápida. Ela engoliu em seco e passou a língua pelo lábio inferior.
— Quero que você acredite em mim.
— Faça-me acreditar em você, — ele ousou. O desafio era uma mentira, ousada e tola, pois ele sabia que não havia nenhum meio terreno pelo qual ela pudesse persuadi-lo de que não era de fato a víbora traiçoeira que descobriu que era. Todas as evidências levaram a apenas uma conclusão. Ela era filha de seu pai. Ela o traiu. Era uma atriz, uma manipuladora, uma mentirosa infiel. E ele foi vítima dela.
Agora, ele queria exigir um pouco de sua própria vingança, antes que ela precisasse enfrentar seu fim inevitável. Entregá-la às forças de Carlisle e da Liga não seria fácil quando chegasse a hora, independentemente do que ela tivesse feito.
Mas por esta noite, ela era dele, e só dele.
— Eu não deveria ter que fazer você acreditar, — ela rebateu, teimosa até o fim. Essa era Daisy — bravata, coragem e manipulação, uma flor vibrante que era muito ousada e desonesta para seu próprio bem. — Sou sua esposa. Nunca dei a você motivo para duvidar de mim.
Tudo o que ela fez, lhe deu motivos para duvidar. Os relatórios do Escritório o fizeram duvidar dela. Suas próprias ações o fizeram duvidar. O fato de seu pai ser o titereiro de uma teia cada vez maior de conspiradores fenianos o fazia duvidar dela. Mas a dúvida e a necessidade eram duas propulsões separadas.
Ele lambeu seu mamilo, e ela arqueou em um gemido ofegante, responsiva como sempre. E então, ele a beliscou novamente. Não forte o suficiente para machucar, mas o suficiente para que ela engasgasse e se contorcesse contra ele em frustração óbvia. Ela podia ser uma mentirosa, mas não havia nenhuma pretensão na forma como seu corpo queria o dele. Nem da maneira que ele a queria. Seu desejo por ela o consumia.
— Solte minhas mãos, — disse ela.
Ele lambeu a carne enrugada que acabara de morder.
— Não.
— Eu quero te tocar.
Porra. A saudade bateu nele com suas palavras simples. Queria que ela o tocasse. Ele poderia dominá-la em um instante. Qual era o perigo, o risco?
Apenas seu coração.
De onde diabos esse pensamento desonesto veio? Dos recessos escuros de sua mente. Bem enterrado e maldito. Ele fez o que ela pediu e, com as duas mãos livres, tirou a faca da bota e a abaixou até o cós da calça dela. Um golpe rápido e cuidadoso, e ele cortaria direto a seda e sua calça. Tecido rasgado. Ele jogou a faca no chão, onde ela caiu com um baque abafado pelo tapete. E então, ele pegou o tecido rasgado em suas mãos e o rasgou pelo corpo dela em um movimento fluido.
Seus olhos se arregalaram.
— Sebastian.
Ele olhou para seus corpos, ele pronto para entrar, apesar da barreira de roupas que ainda usava. O dela... maldito inferno. Ele observou um comprimento curvo de coxa cremosa, um joelho impossivelmente perfeito, uma panturrilha suavemente torneada e um tornozelo elegante. Mas não foi isso que fez sua boca ficar seca. Não. Seu olhar deslizou de volta por seu corpo, demorando-se na carne macia no ápice de suas coxas. Ah, sim. Não tinha esquecido o gosto dela, a maneira como ela reagiu. Aqui estava seu prêmio, finalmente, o que ansiava por cada dia aparentemente interminável dos três meses que passara longe dela.
Seus dedos deslizaram em suas dobras, encontrando-a tão escorregadia que ele não conseguiu suprimir seu gemido. Seu pênis subiu. Querendo. Precisando. Seu coração disparou.
— Daisy. — Ele circulou seu pacote de carne responsivo uma, duas vezes, então traçou a costura até sua entrada.
Ele estava tenso e imóvel como as cordas de um violino esperando o deslizar de um arco. Ele precisava se acalmar, desacelerar. Seu batimento cardíaco martelava em seus ouvidos, seu pênis tão rígido que teve que respirar fundo algumas vezes para recuperar o equilíbrio.
Um dois três.
Contando de novo, exploda-se tudo. A possua.
— Sebastian, — ela disse seu nome novamente em um suspiro, e isso o matou. — Eu quero você tanto que sinto dor com isso. Queria você todos os dias em que você se foi, e quero você agora mais do que nunca, embora me odeie por isso.
Jesus. Ele conhecia a sensação. A respiração que ele inalou sibilou de seus pulmões. Quando ele encontrou sua voz, era sombria e baixa com a mesma raiva reprimida que o guiava desde o momento em que a viu pela primeira vez, resplandecente em suas roupas de noite, calças e tudo.
— Maldita. Como é que eu te quero tanto, Daisy? Não faz nenhum sentido, mas te quero tanto que queimo com isso.
A palma direita dela acariciou seu peito, sobre o plano tenso de seu abdômen, antes de descer mais. Buscando e ousando. Seus dedos percorreram as calças diretamente sobre seu pênis. Ele empurrou dentro dela, e os dedos dela enrolaram em torno de seu comprimento.
Sua boca desceu sobre a dela, machucando, escaldando, possuindo. Este beijo não foi pela metade. Era para violá-la. Tomá-la. Lembrá-la de que ela era dele. Que ele era o marido dela, gostasse ou não.
Na verdade, não.
Lá estava ele novamente, sua consciência santificada, interrompendo no momento mais inoportuno. Mas nada, nem o fato de que ela estava desfilando seus amantes dentro e fora de sua casa, nem que ela estava trabalhando para os fenianos, nem sua duplicidade, nem o fato de que deveria removê-la como uma ameaça, poderia esfriar o incêndio violento dentro dele. Nem mesmo sua consciência o impediria de afundar profundamente dentro dela esta noite.
Ele empurrou contra sua mão, pegou seu lábio entre os dentes e mordeu levemente. Sua mão livre segurou um de seus seios cheios e bonitos, seu polegar trabalhando em seu mamilo. Em todos os lugares que ele a tocava, ela era quente, suave como seda. O cheiro dela, o cheiro que o havia assombrado em sua ausência, subiu para sua cabeça como um bom uísque.
Ele beijou seu pescoço, lambendo e mordiscando. Ela tinha um gosto doce, como baunilha com um traço de bergamota, e por Deus, poderia lamber cada pedacinho dela a noite toda, se não fosse pelo estado doloroso de seu pênis enrijecido.
— Abra minhas calças, — ele ordenou contra sua pele, antes de tocar sua língua sobre a cavidade elegante onde sua garganta e ombro se encontravam e seu pulso disparava.
Ela hesitou apenas um momento antes de seus dedos encontrarem o fechamento da cintura dele. Lentamente, sua calça foi desabotoada.
Ele arrastou a boca mais para baixo em apreciação, sobre o seio até o mamilo que ele não estava puxando entre o polegar e o indicador. Sua língua provocou o pico rígido, para frente e para trás, arrancando um gemido de seus lábios. Incapaz de negar a si mesmo ou a ela por mais tempo, ele cedeu e a puxou para sua boca. Ele usou os dentes contra ela, uma pressão sutil projetada para aumentar sua excitação, antes de liberá-la.
— Toque-me, — disse ele, pressionando um beijo ao lado daquele lindo mamilo. Rosa, tão rosa. O rosa mais doce que ele já tinha visto, rivalizado apenas por seus lábios deliciosos. Ele beijou a ponta.
Ela o agarrou então, e a provocação de seus dedos sobre seu comprimento nu foi o suficiente para quase desmanchá-lo. Em outra noite, quando não estava tão levado ao limite por sua mistura de raiva e luxúria, ele teria demorado. Ele teria tirado as botas e as malditas calças. A camisa.
Mas esta não era uma noite comum, e nada sobre a paixão explodindo entre eles parecia comum. Parecia muito incendiário, na verdade. Se ele não se embainhasse dentro dela no minuto seguinte, iria gozar em sua mão como um rapaz que acabava de ver sua primeira boceta.
E então, ele rodou seu clitóris, e trabalhou nele. Correu o dedo ao longo de sua costura úmida, cobrindo os dedos com a evidência de que ela o queria tanto quanto precisava tê-la. Ele passou seu dedo sobre ela uma e outra vez, provocando em sua entrada, chupando seu mamilo, prestando atenção aos sons suaves de apreciação que ela cantarolava, a maneira como ela angulava seus quadris para ganhar mais sensação.
Daisy estava perto de atingir seu auge. Sua respiração estava ofegante, seu corpo arqueando-se na cama. Finalmente, ele voltou para a pérola que originalmente procurava, exercendo maior pressão, levando-a a um frenesi. E então, ele afundou um dedo profundamente dentro de sua vagina, testando-a, provocando-a. Molhada. Tão quente e úmida e... droga, tudo nele clamava por mais. Ele enganchou o dedo, pressionando contra a parte mais sensível, fodendo-a em estocadas lentas e profundas.
Ele soltou seu mamilo, arrastando-se de volta por seu corpo flexível para sua boca. E beijou-a como se ela fosse tudo para ele, sua fonte de vida, e ele não se cansasse.
Naquele momento austero e louco, ela era.
Suas línguas se enredaram, e ela estremeceu, mais umidade inundando seus dedos já encharcados quando ela gozou. Ele tomou seus gritos com a boca e os engoliu, seus para sempre.
Não houve tempo para tirar sua camisa. Não tinha paciência suficiente para puxar para baixo as calças e a cueca. Ele guiou seu pênis para sua entrada lisa. Ele forçou tudo — a traição dela, o que viria amanhã — de sua mente. Em um impulso rápido, estava dentro dela até o final. Ela estava tão apertada, seu corpo úmido e quente e tão decadente que tirou seu fôlego.
— Sebastian, — ela gritou, puxando-o mais profundamente, seu corpo apertando o dele como se ela nunca fosse deixá-lo ir.
Ele não queria que ela fizesse isso, maldição. Ele entrou dentro dela novamente e novamente até que se afastou dela, explodindo nas cobertas da cama.
Dinamite.
Como diabos ele poderia deixá-la ir?
Capítulo 25
Daisy estremeceu quando a porta que unia seus aposentos bateu.
Ele não acreditou nela, mesmo depois do que eles acabaram de compartilhar. No momento em que ele rolou para longe e endireitou sua roupa, sua expressão impassível, ela soube. Ela tinha criado em abismo e isto ameaçou engolfar os dois.
Uma parte dela queria reclamar por ele duvidar tão facilmente. Mas, a outra parte sabia que se quisesse sua honestidade e sua confiança, ela precisaria encontrá-lo no meio do caminho. Queria a verdade dele, queria que ele abaixasse as paredes que havia erguido ao redor de si mesmo, pelo bem de seu casamento, mas o mais importante por causa de seu filho.
Sabendo o que precisava fazer, ela se levantou da cama e pegou um penhoir, prendendo-o na cintura. Seus pés a levaram até a porta que ele acabara de fechar. Ela não bateu, não hesitou antes de girar a maçaneta e cruzar a soleira. Essa distância entre eles tinha que acabar.
Ele estava na janela, de costas para ela. As cortinas que ele puxou estavam fechadas com tanta força em seu punho que seus nós dos dedos estavam brancos.
— Saia, — sua voz profunda cortou o silêncio, o único reconhecimento que ele fez de sua presença.
— Não. — Ela não parou até que estava tão perto dele que seu cheiro familiar a atingiu, e ela espalmou a palma da mão em seu ombro. — Olhe para mim, Sebastian.
Ele ficou tenso sob seu toque, mas permaneceu imóvel.
— Não consigo nem olhar para você.
Ela tinha pensado que ele se dobraria? Quando ele fez isso? Seu peito apertou quando ela se lembrou da encantadora quinzena que eles passaram juntos. Rindo com ele. Amando com ele. Uma parte de trinta segundos Sua Graça. O valor da biblioteca de livros que ele entregou em sua porta. Um favorito para uma favorita. Essas duas semanas foram as melhores que ela já conheceu. Ela queria aquela vida com ele de volta, o queria de volta. Para sempre.
— Padraig McGuire estava aqui por causa da minha irmã, — ela disse suavemente. — Tenho uma meia-irmã, Bridget. Ela trabalha — trabalhou — na loja de uma chapelaria aqui em Londres. Há alguns meses, ela saiu sem dizer nada. Padraig tinha informações sobre ela. Foi por isso que atendi aos seus contatos.
Sebastian virou-se rapidamente, seu rosto esculpido em linhas duras e sombrias que não fizeram nada para diminuir sua aparência surpreendente. Mesmo em sua raiva, ele era lindo.
— Padraig?
Ela deu um passo para trás, estremecendo com seu tom furioso e expressão severa.
— Sr. McGuire. Eu o conheço há vários anos, Sebastian, e sim, eu fui prometida a ele uma vez. Mas eu era jovem e tola, e estava desesperada para escapar de meu pai. Não há nada entre nós agora, nem desde que nosso noivado foi rompido.
Um músculo pulsou em sua bochecha.
— Você o ama?
— Claro que não. — Cedendo à necessidade de tocá-lo novamente, ela se aproximou, chegando ao conjunto rígido de sua mandíbula. Quando ele não se retirou de seu toque, uma breve vibração de otimismo bateu em seu peito. — Eu te amo.
Ele ficou em silêncio por tanto tempo que ela temeu que ele não falasse. Seus olhos a devoraram, avidamente varrendo seu rosto e baixando, mergulhando em sua boca.
— Maldita seja, — ele sussurrou.
— Não, meu amor. — Ela deslizou a palma da mão sobre a barba espinhosa de seus bigodes, acariciando-o. — Maldito seja por partir. Por que você se foi? Onde? Diga-me, por favor. Eu quero entender. Deixe-me entrar, Sebastian. Deixe-me te amar.
Mas ele permaneceu inflexível, mesmo que permitisse seu toque.
— Essa sua irmã. Fale-me sobre ela.
Não era o que ela esperava que ele pensasse, mas também não a estava afastando, então supôs que, pelo menos, era alguma coisa.
— Bridget nasceu fora do casamento logo depois que meus pais se casaram. Meu pai estava em negócios na Irlanda. Sua mãe trabalhava em uma taberna. Quando soube que ela estava aqui em Londres, fiquei muito feliz. Sempre desejei conhecê-la, sabe?
— Ela é uma vendedora.
— Sim. Queria que ela deixasse seu cargo e ficasse com a tia Caroline, mas ela recusou. Meu pai... ele não iria reconhecê-la ou ajudá-la de forma alguma. — Respirou fundo, procurando seus olhos. — Eu queria te contar sobre ela antes. Esperava que ela pudesse morar conosco. Mas então, vocês dois se foram. Estou preocupada com ela, Sebastian. O Sr. McGuire me disse que ela está envolvida com os fenianos.
O olhar de Sebastian se aguçou. Ele pegou a mão dela e a tirou do rosto.
— O que mais McGuire lhe disse?
Ela se concentrou em suas mãos entrelaçadas, o calor de sua pele queimando a dela. Ele não a tinha deixado ir.
— Ele disse que ela estava em perigo, que de alguma forma ela foi pega pelos dinamitadores. Por que você pergunta?
Todas as suas suspeitas se abateram sobre ela naquele momento. Sua partida abrupta, a nota estranha que ela descobriu, o tempo que ele esteve fora, a escuridão e o sigilo que ela sempre sentiu nele. As palavras de Georgiana ecoaram assustadoramente em sua mente. Tonta. Ela se sentiu tão tonta.
Meu marido não é caça, Daisy... tem algo a ver com os fenianos... havia um nome em uma das letras.
O nome na carta era de Daisy.
No dia seguinte à partida de Sebastian, os jornais foram preenchidos com notícias de um plano de bomba Feniano frustrado. A bomba foi descoberta antes da detonação. As pessoas clamavam por respostas e garantias. A resposta do governo permaneceu em segredo, mas era lógico que não mostraria sua mão aos jogadores sentados à sua mesa. Não, a Coroa manteria seus emissários envoltos em segredo, para melhor ganhar vantagem sobre o inimigo. Sigilo, como um marido que desapareceu sem uma palavra.
Querido Deus.
O quarto girou ao redor dela. Uma batida soou em seus ouvidos, sua respiração ficando superficial. Ela não conseguia sugar ar suficiente para os pulmões. Ou talvez fosse muito ar. Pequenos pontos de luz turvaram sua visão. Tentou se livrar do aperto de Sebastian, mas ele se recusou a soltá-la.
— Você é um espião, — ela acusou.
Ele olhou para ela, não negando sua acusação.
E então, seu mundo escureceu.
Maldito inferno.
Sebastian pegou Daisy contra seu peito antes que ela caísse para trás como uma pilha amassada no chão. Com pouco esforço, pegou-a em seus braços e a carregou através do quarto, deitando-a em sua cama. Sua mente girando, ele acariciou suas bochechas pálidas.
— Daisy, amor. — Seus dedos encontraram seu pulso, firme e latejante em sua garganta. Seu peito subia e descia em respirações normais. Cristo, ela desmaiou. E no momento em que viu o desabrochar de suas bochechas, seus olhos se arregalaram enquanto ela emitia aquela alegação solitária e correta, ele sabia.
Seu instinto não estava errado. O interlúdio acalorado que ele compartilhou com ela perfurou a névoa de ciúme que nublava seu cérebro, o desfez de uma forma que nada mais poderia. Ele se retirou para seu quarto, tentando obter alguma perspectiva, para estudar objetivamente a situação e os fatos. Mas, ela tinha acabado de baixar o martelo para ele.
Ela estava dizendo a verdade. Nem mesmo a maior atriz viva poderia ter conseguido fingir o choque em seu rosto, a palidez fantasmagórica que sua pele adquirira, a queda sem peso. Não havia como confundir a sensação de fraqueza de um corpo inconsciente para quem já o conheceu.
Daisy não era uma conspiradora feniana. A vendedora irlandesa com quem ela entrou em contato era a maldita irmã nascida do lado errado do cobertor. As peças irregulares da verdade formaram um quebra-cabeça perfeito. Ele passou as mãos sobre ela agora, esfregando seus braços, pedindo-lhe para acordar. Pela primeira vez desde seu retorno, ele se permitiu saborear a sensação dela, quente e suave. Tranquilizadora. Amada.
Ele acreditou nela. Acreditou em tudo. Sua inocência, sua imprudência em tentar forçar seu retorno, seu amor por ele. A culpa o atingiu com a força de uma carruagem em fuga. Tinha duvidado dela. Mentiu e usou. Abandonou-a quando ele nunca deveria ter saído do seu lado.
Ele não era digno de seu amor, e ela estava deitada em decúbito dorsal, desmaiada, tão imóvel e pálida que o assustou.
— Daisy, volte para mim, — disse ele, acariciando sua bochecha novamente.
Um gemido baixo saiu de seus lábios entreabertos. Cílios dourados vibraram em suas bochechas. Seus olhos se abriram, surpreendentes e verdes.
— Sebastian?
— Botão de ouro. — Ele pressionou um beijo fervoroso em sua testa. — Graças a Deus.
As mãos dela voaram para seus ombros, hesitantes no início, enquanto ela ficava lúcida mais uma vez. Então ela o agarrou, seus dedos cavando através do tecido de sua camisa.
— Quem é você?
Cristo, se ele soubesse. Agora, neste momento, era um homem que amava a mulher a sua frente. Um homem que a ofendeu em nome do dever. Um homem que queria muito expiar seus pecados.
Ele se abaixou na cama ao lado dela, emoldurando seu rosto com as mãos. De alguma forma, precisava desabafar com ela. Devia-lhe sua honestidade. Devia-lhe muito mais.
— Sebastian Fairmont, Oitavo Duque de Trent, Marquês de Sunbury, e outros títulos menores.
Sua tentativa de leviandade encontrou uma carranca que franziu a extensão lisa de sua testa.
— Não foi isso que eu quis dizer, e você sabe disso.
Ele poderia fazer isso? Ele ousaria revelar-lhe a verdade? Um grande medo escancarado o paralisou por um momento. Ele tinha sido um espião durante toda a sua vida adulta. Ele negociava segredos. Enganou a todos que conhecia. Não conseguia se lembrar de quando sua vida tinha sido dele. Quando tinha sido livre. Viveu e morreu por seu juramento. Ele estava vinculado à Liga.
Mas agora, aqui, com a mulher ao seu lado, havia uma forma totalmente diferente de vínculo. O tipo que transcende tudo e todos. Por mais que ela fosse dele, ele também era dela.
— Sebastian. — A voz dela o cutucou, devorou-o, forçou seu caminho através da indecisão. Aqueles olhos verde-musgo examinaram os seus. — O que quero saber é se você é um espião ou não.
Um espião.
Tudo o que ele precisava dizer era uma palavra. Uma Resposta. A verdade.
Ele fechou os olhos e sussurrou a resposta.
— Sim.
O silêncio se estendeu entre eles na sequência de sua admissão incapacitante. Ela ficou rígida. Ele continuou segurando seu rosto porque não podia suportar soltá-la, acariciando suas bochechas com os polegares com ternura. Estrutura óssea tão delicada, tão refinada. Régia como uma rainha.
— Você tem me espionado, não é? — Ela perguntou finalmente, um brilho de lágrimas não derramadas brilhando na luz, tornando seus olhos ainda mais vibrantes, verdes musgosos.
Ele queria mentir. Cristo, seria muito mais fácil.
— A verdade, Sebastian, — ela exigiu quando ele hesitou novamente. — É por isso que você estava me seguindo quando nos conhecemos. É por isso que se casou comigo, porque desapareceu. Como você sabia que eu estava prometida a Padraig, como sabia que ele havia entrado em contato. Aposto que você não ganhou essas cicatrizes em um incêndio na infância, não é? Não minta para mim mais.
Ele passou quase metade de seus trinta anos mantendo a verdade protegida, trancada longe de todos que não faziam parte da Liga. Liberá-lo fez seu peito apertar, como se o ar estivesse sendo arrancado de seus pulmões por um soco sonoro no estômago.
— Você é... minha missão, — ele admitiu por fim.
Ela empurrou seus ombros, desalojando seu aperto suave sobre ela. Um suspiro escapou dela, e foi o som cru de dor, e ele foi a sua causa, e isso o destruiu até os malditos ossos.
— Algo disso era verdade?
Porra. Ele engoliu em seco a bile subindo em sua garganta. Não era assim que pretendia dizer a ela. Sua dor foi como uma faca em seu peito.
— Você e eu, Daisy e Sebastian. Isso era verdade. É verdade. O que sinto por você é tão real e verdadeiro quanto o telhado sobre nossas cabeças e as estrelas iluminando o céu noturno.
Sua mão subiu para a boca como se ela tentasse conter o soluço que a estremecia.
— Meu Deus. Estava... agora mesmo, fazendo amor comigo, isso fazia parte da sua missão?
— Não, amor. — Sentindo-se o maior safado do mundo, ele tocou seu ombro, procurando consolá-la.
Mas, ela não queria seu conforto.
Ela encolheu os ombros para longe dele e fugiu rolando sobre a cama, não parando até que jogou os pés no chão e ficou do lado oposto dele, uma deusa pálida, corajosa como sempre. Seu coração doeu por ela. E se odiava pelas decepções que perpetrou contra ela. Nunca deveria ter consumado seu casamento, não enquanto estivesse sendo desonesto. Não sem dar a ela a escolha de saber quem e o que ele era.
Ele reconheceu agora, quando ela o encarou com o olhar de uma mulher cujo mundo acabara de ser despedaçado.
— Não ouse me chamar assim. E não me toque. Nosso casamento é ao menos vinculativo ou isso também fazia parte das suas mentiras?
— É vinculativo. Você é minha esposa e eu sou seu marido. — Não era para permanecer assim, sua consciência o atormentou. Droga, ele tinha que contar-lhe tudo e esperar que pudesse de alguma forma reconquistar sua confiança. Ele contornou a cama, indo para ela novamente, pegando suas mãos frias. — Você quer toda a verdade, Daisy?
— Solte-me. — Ela puxou as mãos inutilmente. Ele não a estava deixando ir. Agora não. Nunca.
— A verdade, — ele continuou, entrelaçando seus dedos nos dela e forçando-a a encontrar seu olhar, — é que eu deveria anular o casamento na conclusão de minha missão. Seu pai está profundamente envolvido com os fenianos, que estão lançando bombas em toda a Inglaterra. Ele os está financiando, administrando navios com suas armas e suprimentos, mas ele é um bastardo inteligente e ninguém foi capaz de fornecer uma prova absoluta de sua culpa. Fui designado para me aproximar de você, recolher o máximo de informações que pudesse.
— Coletar informações de mim. — Ela puxou as mãos de seu aperto e espreitou ao redor dele com tanta fúria que seu penhoir ondulou ao redor dela. No meio do quarto, parou e se virou para encará-lo. — E você pretendia aprender os segredos do meu pai me seguindo em um jardim enluarado? Casando comigo? Ao consumar o casamento que você pretendia anular?
— É complicado. — Maldito Carlisle, para o inferno pelo que ele o forçou a fazer. Maldito seja por fazer isso. Ele a seguiu, parando apenas quando a bainha de seu penhoir roçou em suas calças e o doce perfume dela flutuou sobre ele. Tão perto que ele podia ver as manchas de ouro em seus olhos. — Não deveria ter feito metade do que fiz. Minha missão era me casar com você, mantê-la por perto, chegar ainda mais perto de seu pai e reunir evidências suficientes contra ele para vê-lo jogado na prisão. Mas, desde o momento em que te vi pela primeira vez, não conseguia parar de te querer. Tentei ao máximo evitar a consumação do casamento, mas você não era mais um peão para mim no momento em que a trouxe aqui como minha esposa.
Ela deu uma risada amarga, cruzando os braços em uma postura defensiva.
— Como você foi honrado por se abster de consumar nosso casamento pelo período de um dia inteiro.
Bem, Cristo. Quando ela colocou nesses termos... ele era uma maldita besta, e sabia disso. Como esse anjo dourado veio à terra, confiado a ele, e ele a abandonou? Ele passou a mão pelo rosto, tentando organizar seus pensamentos, para conduzi-los a algo digno de ser ouvido.
— Não sou um homem honrado. Quando deveria ter colocado meu dever em primeiro lugar, em vez disso segui meus próprios desejos egoístas e, quando deveria ter colocado você em primeiro lugar, atendi ao chamado do dever. A verdade é nua e crua, mas se você quer saber de uma coisa, botão de ouro, saiba disso. Casei-me com você por obrigação, mas me apaixonei por você em algum ponto entre você me censurar por aparecer meio embriagado no café da manhã, e naquela manhã em que deitamos na cama rindo e fazendo amor. Você se lembra disso?
Ela balançou a cabeça.
— Não.
— Não o quê? — Outro passo juntou seus corpos. Suas mãos encontraram sua cintura, apoiando-a nele. — Não dizer que te amo? Como não? Amo você, Daisy, Duquesa de Trent. Você selou meu destino no momento em que me desafiou a participar do baile de Beresford. Você tinha tanto fogo, tanta ousadia, de um tipo que nunca vi em uma mulher. Você me humilha. Você me inspira. Você me faz querer ser melhor para que eu seja digno de ser seu marido.
— Não, — ela gritou, tremendo contra ele. As palmas das mãos achatadas em seu peito. — Pare com isso, Sebastian.
Ele não conseguiu. Ele a segurou contra si, a fez ouvir, porque não conseguia afastar a sensação de que se ele permitisse que ela fosse embora agora, a perderia para sempre. E não podia suportar isso. Mesmo com as acusações no relatório passando por sua mente, fúria e ciúme causando estragos nele durante toda a viagem de Liverpool a Londres, ele estava pensando em maneiras de reformá-la, convencê-la a ver a razão. Mantê-la segura e ao seu lado.
— Há anos que vivo uma mentira. Dediquei minha vida inteira ao dever e à proteção da Coroa e do país. Não sei ser diferente de quem sou, mas sei que te amo. Eu te amo e vou mudar por você. Farei qualquer coisa por você, botão de ouro.
— Você não vê? — Ela exalou, seu tom impregnado de tristeza quando ela tocou seu rosto por um momento fugaz. — Não quero que você mude. Tudo o que sempre quis de você foi seu amor e sua honestidade. Mas você veio a mim em mentiras. Tudo o que compartilhamos surgiu de seu engano. Você acha que pode me dizer a verdade e tudo mais vai se encaixar, que desmaiarei em seus braços em gratidão? Porque posso garantir que não. Eu não vou. Sou mais forte do que isso.
Claro que ela era forte. Era a mulher mais forte que ele já conheceu. Ele estava maravilhado com ela.
— Estou lhe contando tudo isso porque lhe devo a verdade, Daisy.
— A verdade ou a sua versão dela? — Seus olhos brilharam quando o enfrentou, vibrando em sua ira. Mais bonita do que ele já a tinha visto quando ela o enfrentou. — Porque a meu ver, a verdade é que você voltou esta noite acreditando nas fofocas e mentiras, e em qualquer informação que você recebeu. Acreditou que eu havia traído nossos votos. Não consigo entender o que mudou sua mente, mas não esqueci suas palavras no início desta noite. Você é um hipócrita, senhor, para me acusar de enganá-lo quando você é o maior dissimulador de todos. Um hipócrita e um mentiroso, e não quero mais nada com você! Conceda-me a anulação que eu deveria ter.
Com aquele tiro final de despedida, ela girou nos calcanhares e saiu. A porta se fechou, zumbindo em seu batente. Ele permaneceu onde estava, no centro do quarto. Poderia muito bem estar no meio de um maldito deserto, apesar de poder encontrar as respostas para o que fazer a seguir.
Porque ela estava certa. Ele era um hipócrita e um mentiroso. E não merecia uma mulher tão boa quanto Daisy. Não a merecia em absoluto.
Infelizmente, essa percepção não o fez desejá-la ou amá-la menos.
— Porra, — ele rosnou na noite.
Capítulo 26
Quando o sol começou a nascer sobre Londres, Daisy chegou a uma dolorosa conclusão.
Ela passou a noite andando de um lado para o outro em seu quarto, lutando para dar sentido ao tumulto dentro dela. O choque tornara impossível dormir. Seus pés doíam. Suas costas doíam. Estava cansada, emocionalmente esgotada e mais confusa do que jamais esteve em sua vida. Mas sabia o que precisava fazer.
Ela estava deixando Sebastian.
Suas mãos deslizaram sobre sua barriga crescente. Ela precisava de tempo e espaço para decidir se o estava deixando ou não para sempre. Havia o bebê a considerar. Ele a enganou, a manipulou, a abandonou.
Que tola ela era, se apaixonando por um homem que apenas cumpria seu dever. Um homem que suspeitava que ela fosse culpada de crimes hediondos. Um homem que acreditou no pior dela até que fosse tarde demais. Quão ingênuo da parte dela ter imaginado que ele era a única pessoa em sua vida que não a tinha usado para seu próprio benefício.
Ele a tinha usado mais completamente do que qualquer um.
A traição dele foi tão profunda que não tinha certeza se algum dia poderia se recuperar.
Ela estava tão envolvida em seus pensamentos torturados que não percebeu que não estava mais sozinha em seu quarto até que o som característico de uma arma sendo engatilhada soou no silêncio. Com o coração na garganta, ela girou para encontrar a última pessoa no mundo que ela poderia ter imaginado apontando uma pistola para ela.
Sua criada de quarto.
Um suspiro rasgou dela quando um novo ataque de choque a atingiu. Abigail, que sempre fora agradável, educada e sorridente, que tinha sido sua fiel assistente, primeiro como enfermeira e depois como criada de quarto, estava friamente apontando uma arma para ela. Ela deu um passo instintivo para frente, as palmas das mãos levantadas em súplica.
— Não dê mais um passo ou você vai se arrepender, — Abigail avisou, sua voz tão fria e dura quanto o chão congelado em uma manhã de janeiro.
Daisy congelou, sua boca ficando seca.
— Abigail, o que você está fazendo?
— Devolvendo você ao seu pai. Ele está esperando em uma carruagem lá embaixo, — Abigail disse com uma calma misteriosa que desmentia o peso do momento. Como se Daisy não estivesse olhando para o cano de uma arma. — Venha em silêncio e você não se machucará.
Ela balançou a cabeça, o medo formando um gelo em sua espinha.
— Não desejo ir a lugar nenhum com ele. Nunca mais quero vê-lo novamente.
— Vadia ingrata. — Seus lábios se curvaram. — Assim como sua mãe.
— Como você ousa depreciar minha mãe? — As palavras saíram correndo dos lábios de Daisy antes que pudesse pensar melhor nelas. Mas ela era ferozmente defensiva da memória de sua preciosa mãe — a única parte dela que permaneceu.
— Ouso por que tenho uma pistola. — Abigail seguiu em frente. — Você não vale mais muito para mim, então você se serviria melhor fechando a boca, e fazendo o que digo.
O tom de Abigail ao falar da mãe de Daisy a atingiu, então. Amargo, misturado com rancor e ódio. Repentinamente nauseada, ela espalmou a palma da mão sobre a barriga onde, mesmo agora, seu bebê crescia inocentemente. Ela faria qualquer coisa para proteger seu filho. Seus instintos lhe diziam que obedecer à outra mulher seria um grave erro.
Sua mente girando, de repente lembrou que ela tinha um meio de se defender. Enquanto caminhava no Axminster antes, descobriu a faca esquecida de Sebastian no chão e a colocou no bolso de seu penhoir. Se ela pudesse distrair Abigail suficientemente, teria uma chance de golpear com a faca e derrubar a arma de sua mão.
Sim, precisava distraí-la. A mantenha falando. Pense, Daisy. Pense.
— O que você sabe da minha mãe? — Perguntou.
— Ela não merecia seu pai, — Abigail retrucou. — Ela nunca o amou como eu. Agora vá para a porta. Não temos muito tempo.
Daisy hesitou, lutando com a revelação da mulher mais velha.
— Você ama meu pai?
— Eu o amo há anos.
— E ainda assim ele te expulsou sem referências, — ela foi rápida em apontar.
— Você acreditou tão facilmente, não é? Você arruinou nossos planos ao fugir com aquele duque patife, e eu precisava de um motivo para ficar perto de você. — Os olhos de Abigail se estreitaram. — Agora, para a porta! Chega de enrolação.
Daisy temeu que adoecesse.
— Que planos?
Abigail atingiu sua cabeça com a coronha da pistola. Dor a cortou. Ela tropeçou, perdendo o equilíbrio, gritando. Lágrimas arderam em seus olhos. A mulher diante dela, de olhos arregalados e rosto severo, não era a mulher que ela conhecera em toda a sua vida. Era como se um estranho tivesse vindo habitar seu corpo. Mas esse era o presente, ela supôs, do mal. Ele poderia se esconder à vista de todos, esperando o momento certo para atacar e abater os inocentes.
— Ande até a porta, — a mulher rangeu, — ou vou bater ainda mais forte na próxima vez.
Daisy se forçou a se mover. Um pé na frente do outro. Passo a passo. Pense, Daisy. Distraia ela.
— Que planos? — Perguntou novamente.
Abigail agarrou seu braço e colocou a pistola em suas costas, incitando-a a se mover mais rápido.
— Você se casaria com Lorde Breckly para solidificar a posição de seu pai na Liga Nacionalista Irlandesa. Teria sido o contraste perfeito. Seu pai teria se livrado de você finalmente, e sua influência e poder teriam crescido incomensuravelmente. Mas você não podia obedecê-lo, não é?
Querido Deus. Seu pai era um feniano, assim como Abigail. Tudo começou a fazer um sentido horrível e doentio. Por que ela falhou em ver isso antes? O governo de Sebastian havia suspeitado de Daisy e, o tempo todo, a verdadeira conspiradora fora a sua criada de quarto, a única mulher em quem confiava mais do que até mesmo em sua própria tia.
Ela forçou sua mente atordoada a fazer mais perguntas, mais distrações.
— Por que você está fazendo isso, Abigail? Que utilidade eu tenho para o meu pai, agora que me casei com outro?
— Você é uma vantagem, é claro. — Abigail a empurrou para frente com tanta força que ela tropeçou novamente. Ela se endireitou, a arma cravada em suas costas. — Não foi difícil enganar os idiotas ingleses fazendo-os acreditar que eu serviria como informante. Eles já suspeitavam de seu pai e nós sabíamos disso e usamos a suspeita em nosso benefício. Você sabia que eles me pagaram quinhentas libras para lhes dizer que você estava conspirando para obter a independência da Irlanda da tirania inglesa?
Elas alcançaram a porta do quarto, e o coração de Daisy martelou em seu peito, uma combinação do que Abigail havia lhe revelado e a compreensão de que precisava agir agora para se salvar. O que quer que Abigail e seu pai pretendessem para ela, sabia sem questionar que não era tão inofensivo quanto Abigail queria que ela acreditasse. Casar-se com Sebastian foi a primeira vez que foi contra os decretos de seu pai. Lembrava-se muito bem da fúria dele na manhã seguinte ao casamento. Ele ficou furioso porque sua moeda de troca foi arrancada de suas mãos.
Não, ela não podia esperar mais. A hora havia chegado.
Ela nunca se considerou corajosa. Por tantos anos, ela suportou os espancamentos brutais de seu pai. Aprendeu a não desafiá-lo, a se conformar com seus desejos, a agradá-lo para que ele não batesse nela. Desempenhara o papel de filha amorosa para seus amigos e colegas de trabalho, e nunca o contestou. Às vezes, ele batia nela de qualquer maneira, por infrações percebidas. Depois disso, ele sempre a recompensou com diamantes e bondade. Era um ciclo vicioso e Daisy iria acabar com isso.
Aqui. Agora. Hoje.
Ela nunca foi corajosa antes, mas agora ela tinha um bebê inocente crescendo dentro dela, e amava aquela vida mais do que amava a sua própria. Ela protegeria seu filho com tudo dentro dela, lutaria até que o último suspiro escapasse dela, se não houvesse outra maneira.
— Abra a porta, — Abigail comandou. — Nós iremos pela escada dos criados. Você não dirá nada. Se alguém te vir, você vai sorrir e dizer que estou doente e que vai me levar aos meus aposentos para fazer um cataplasma. Lá embaixo, eles já pensam que você é um anjo, então não será difícil para acreditarem. Se você disser pelo menos uma palavra, eu vou...
Daisy enfiou a mão esquerda no bolso do vestido, seus dedos encontrando o cabo da lâmina de Sebastian. Já era tempo. Com o máximo de velocidade que conseguiu, ela puxou seu braço direito do aperto de Abigail e enfiou o cotovelo na barriga da outra mulher. Ela retirou a faca, erguendo-a bem alto, um grito primitivo saindo dela. No exato momento em que sua lâmina acertou a parte carnuda da parte superior do braço de seu oponente, a pistola disparou.
Uma dor agonizante passou por ela, mas sua faca tinha feito seu trabalho. A manga de Abigail estava rasgada, sangue jorrando pelo tecido rasgado. Sua pistola caiu no chão. Daisy mergulhou para pegá-la, a faca ainda na mão.
Sebastian estava sentado à mesa de seu escritório. As lamparinas a gás bruxuleantes iluminavam as cartas que ele apenas começara a ler. Todos elas foram escritas com a caligrafia elegante de Daisy, enviadas de suas várias propriedades. Dezenas e dezenas delas. Ela deve ter escrito até doer os dedos.
Como ele duvidou dela? Cada nova linha que lia era como um chute no estômago. Quão profundamente ele a prejudicou. À luz da manhã, ele não podia culpá-la por mandá-lo para o diabo na noite anterior. Ele era tudo de que ela o acusou e muito mais. Pior. Ele casou-se com ela em mentiras, uniu-a a ele em um engano gerado por sua própria incapacidade de resistir a ela, a deixou sem palavra ou explicação em nome do dever, e voltou por acreditar que ela estava errada.
Quando a única pessoa que errou foi Sebastian Fairmont. Oitavo duque de Trent, Primeiro Marquês de Babaca Egoísta. Daisy sempre foi verdadeira, boa e indigna das situações em que se encontrava. Foi usada, e todos se aproveitaram dela. Primeiro, seu pai, abusando dela e usando-a como isca para pretendentes que iriam melhorar e aumentar sua riqueza, então seus pretendentes a pretendentes, e a Liga ao arruiná-la, forçando-a a um casamento falso. Mas, finalmente, havia Sebastian. Ele não apenas tirou vantagem de cada fraqueza dela, ele havia ultrapassado suas defesas. Ela disse-lhe que o amava.
E o que ele fez, covarde que era? Tinha desaparecido de sua vida.
Enquanto folheava suas cartas, podia sentir seu humor mudando. Suas cartas começavam com hesitação e esperança. Com o passar do tempo, começou a enumerar todas as coisas que sabia que iriam enfurecê-lo. Aqui, em tinta preta e papel, estava toda a prova que alguém poderia exigir. Sim, essas cartas lhe provavam que Daisy sempre fora honesta com ele.
Quando chegou à série final de cartas, sentiu como se o vento tivesse batido nele.
Eu te escrevo com notícias inesperadas. Estou esperando seu filho. Embora você tenha demonstrado amplamente sua falta de sentimento por mim, não posso deixar de esperar que você possa ser um pouco menos reticente em relação a um inocente.
A carta caiu de seus dedos, flutuando para sua mesa sem sequer um sussurro de som. Uma criança. Um bebê. Daisy carregava seu bebê. E ela não lhe disse. Não, em vez disso, exigiu a anulação.
Querido Deus, ele tinha sido muito rude com ela na noite passada? Como poderia ter falhado em perceber o que as pequenas mudanças em seu corpo implicavam? Notou a ligeira curva em sua barriga, a generosidade em seus seios. Mas ele tinha gostado, nunca imaginando como isso mudaria sua vida, quão lindo e maravilhoso, e fodidamente glorioso.
Uma batida repentina soou em sua porta, assustando-o.
Ele não queria ser arrancado deste momento de celebração autêntica. Este momento de perceber que sua esposa carregava seu bebê dentro de seu corpo. Seu descuido, sua estúpida e maldita imprudência, acabou se revelando sua graça salvadora.
Seu filho. O filho de Daisy. Seria uma garota com cachos dourados e um senso de bravura infalível? Ou um menino loiro com olhos verde-musgo e uma inclinação para ousar? Seu coração batia com um ritmo selvagem e incontrolável. Sentiu-se completo pela primeira vez. Repleto. Não falta uma parte dele.
Um bebê. Que coisa incrível. A ideia o impressionou.
A batida soou novamente, desta vez mais forte que a anterior.
Não há mais como evitar. Dê ao diabo o que lhe é devido.
— Entre, — ele chamou.
Mas não foi seu mordomo Giles quem abriu a porta como ele imaginou que seria, e ultrapassou a soleira como havia previsto. Foi Griffin. E não estava sozinho. Sebastian ficou de pé, a boca ficando seca, o estômago apertando. Parecia que seu sangue escorria de seu corpo quando ele viu os quatro homens que flanqueavam seu melhor amigo. Guardas do Escritório, ao que parecia, embora nenhum de seus rostos fosse familiar para ele.
Certamente eles não tinham vindo por Daisy. Carlisle lhe disse para cuidar dela pessoalmente. Ele achou que tinha tempo, pelo amor de Deus. É hora de alinhar todas as informações num quadro correto. Hora de ir até Carlisle com a prova inegável da inocência de Daisy para que o Ministério do Interior pudesse inocentá-la de uma vez por todas.
— O que diabos é isso, Griffin? — Ele murmurou, até a última gota de exultação vazando de seu corpo. Não poderia perdê-la, não iria perdê-la agora.
— Onde está Sua Graça? — Griffin perguntou em vez de responder. Sua expressão hostil era a de um homem indo para a batalha.
— Ela está deitada em seu quarto. — Ele avançou. — Maldição, Griffin. Por que você está aqui?
— Ela está em perigo, Bast. Um de nossos agentes duplos entrou em contato comigo. Não temos um minuto a perder. — O tom de seu amigo era calmo, mas seus olhos contavam uma história diferente.
Se um homem tão endurecido quanto Griffin estava preocupado, o perigo era real. Tudo dentro dele se transformou em gelo. Daisy estava em perigo. Seu bebê estava em perigo. Cristo. Suas mãos tremiam. Mas não houve tempo para demorar. Eles precisavam agir, chegar até Daisy, protegê-la.
— Vamos subir enquanto você me diz o que diabos está acontecendo, — exigiu de seu amigo e irmão em armas.
Ombros a ombro, eles saíram do escritório, os quatro homens de rosto sombrio os seguindo.
— A criada de quarto de sua senhora é uma Feniana, — Griffin disse em voz baixa. — Ela está ligada a Vanreid.
Droga. Sebastian mal se lembrava da criada de quarto, que apareceu em sua casa depois que Daisy saiu da casa do pai.
— Você tem certeza?
Griffin assentiu enquanto subiam a escada, de dois em dois degraus.
— Ela era a fonte anônima que fornecia informações falsas sobre Daisy para o Escritório.
Uma fonte anônima forneceu informações sobre Daisy. Informação condenatória e incorreta. Por que isso não lhe ocorreu? Claro. Fazia o perfeito e maldito sentido. E ele havia permitido que a mulher entrasse em sua casa, para permanecer perto de Daisy. Perto o suficiente para atacar.
Um grito abafado soou então, seguido pelo disparo de uma pistola. O ar correu dele. O grito foi de Daisy.
Não. Não. Não.
Sebastian começou a correr.
Com o coração batendo mais rápido do que nunca, subiu as escadas de três em três, correndo pelo corredor. Vagamente, estava ciente do barulho dos pés de Griffin e de seus homens seguindo em seu rastro. Mas não se importou. A terra poderia ter se aberto sobre si mesma e engolido todos, exceto Daisy e ele mesmo, e ele não teria dado a mínima.
Griffin apareceu ao seu lado, correndo para acompanhar o ritmo.
— Droga, Bast, deixe-me entrar primeiro. Estou armado.
Porra. Isso era o quanto amava aquela mulher. Por ela, teria corrido de cabeça para o fogo inimigo sem uma arma e sem pensar duas vezes. Pelo bem de Daisy, seria muito melhor permitir que um homem armado entrasse primeiro no quarto. Ninguém tinha uma pontaria mais mortal do que Griffin.
Ele apontou para a porta do quarto de Daisy enquanto corriam.
— Aquele.
Griffin ergueu a mão quando eles se aproximaram da porta, retirando sua pistola. Com um rápido chute de sua bota, a porta se abriu. Ele avançou com a arma em punho e apontada, preparado para a batalha.
Sebastian não estava muito atrás quando Griffin parou em seu caminho.
— Sua graça?
Daisy ficou parada, parecendo nada mais do que uma deusa vingativa da guerra, sua faca ensanguentada em uma das mãos e uma pistola na outra. Seu cabelo solto caía em cascata descontroladamente por suas costas, e estava vestida com nada mais do que um penhoir que se abria bastante na parte superior e inferior. Mas não foi o penhoir que chamou sua atenção. Em vez disso, era a manga direita rasgada e a carne por baixo, rasgada pela trajetória inegável de uma bala. A mão de Daisy que segurava a pistola estava encharcada de sangue vermelho escuro que pingava no chão, ensopando os tapetes.
Jesus Cristo.
Ele correu para frente, registrando a figura caída de outra mulher no chão, também em uma poça de sangue.
— Daisy, — ele gritou. — Você levou um tiro.
— Ela estava tentando me forçar a ir com ela, — disse Daisy em uma voz estranhamente sem tom. Sua pele estava pálida, muito pálida. O branco perfeito da cor de creme fresco. Ela ia desmaiar, ele percebeu. A perda de sangue e o choque combinados seriam suficientes para abater até o soldado mais experiente. — Oh, Deus. Meu pai está esperando em uma carruagem lá embaixo. Sebastian, você deve prendê-lo.
Seu coração se apertou, e ele estava mais orgulhoso do que nunca. Sua brava guerreira. Ela não precisava ser resgatada. Ela havia se resgatado muito bem. Dois dos mais ferozes espiões de sua majestade e um punhado de músculos do Escritório não tinham sido capazes de realizar o que uma pequena e feroz duquesa americana tinha.
Griffin manteve sua arma apontada para a mulher que gemia no chão.
— Prenda-a, — ele ordenou a um de seus homens.
Sebastian não perdeu um segundo. Ele foi até Daisy, tomou-a nos braços, e puxou-a para si com toda a força que pode.
— Botão de ouro. — Ele pressionou o rosto em seu cabelo, inalando profundamente seu perfume delicioso e doce. Ela estava viva, e a gratidão o atingiu com tal ferocidade que ele estremeceu sob seu peso. Se a tivesse perdido... Cristo, não conseguia nem suportar pensar nisso.
Mas ela precisava de um médico. A ferida em seu braço sangrou muito. Seu sangue estava quente e pegajoso, escorrendo nele.
— Precisamos de um médico, — gritou com firmeza. — Rapidamente!
— Meu pai. — Daisy caiu em seus braços. Sua cabeça pendeu para trás, seus olhos assumindo a aparência vítrea e fixada de alguém que acabara de testemunhar um grande trauma. Ele tinha visto aquele olhar muitas vezes para saber disso. — Providencie para que ele seja preso, Sebastian. Impeça que ele machuque mais alguém. Por favor.
Ele olhou para Griffin, que lhe deu um aceno severo antes de conduzir os três homens restantes para fora do quarto. Vanreid não sairia vencedor. Ele estava derrotado e desarmado.
— Calma, amor, — disse a Daisy. — Fique comigo, agora. Griffin vai prender seu pai. Você está segura. Acabou.
Ela piscou para ele como uma coruja.
— É isso? — Suas palavras eram lentas, arrastadas. — Está realmente acabado?
Ele se perguntou por um momento sombrio se ela se referia às conspirações de seu pai ou sua união. Mas, antes que pudesse perguntar, ela desmaiou.
Capítulo 27
2 de junho de 1881
Querida Daisy,
Espero que está carta a encontre bem. Transmita meus agradecimentos à Duquesa de Leeds por conceder-lhe a hospitalidade solicitada. Seu médico me garantiu que você vai se curar e que nosso bebê saiu ileso, e estou profundamente feliz, pois não consigo imaginar uma vida sem vocês dois nela.
Bravo, botão de ouro. Os jornais estão fervilhando com notícias sobre a ousada duquesa. O Escritório me garante que seu nome está limpo e não há sombra de dúvida a respeito de sua integridade, bravura e coragem. Você foi — e é — magnífica.
Estou indescritivelmente arrependido por tudo — te enganando, duvidando de você, te machucando. Espero que encontre dentro de você a capacidade de me perdoar algum dia, embora eu saiba que não mereço sua clemência. Apesar de tudo, estou excessivamente orgulhoso de minha bela, feroz e ousada Duquesa.
Embora deva dizer que cem libras em esculturas de gelo foram um tanto exorbitantes.
Seu,
Sebastian
PS: Comecei investigações sobre o paradeiro de sua irmã. Não vou parar de procurar até que seja encontrada.
Daisy terminou de ler o bilhete e permitiu que caísse em seu colo. Parecia que suas cartas finalmente haviam chegado às mãos de Sebastian. E ele as tinha lido. Não só isso, mas ele estava procurando por Bridget em seu nome. Seu tolo coração disparou em seu peito.
— Bem? — Georgiana exigiu, segurando um gato branco contra o peito enquanto se sentava ao lado da cama de Daisy. — O que ele tem a dizer sobre si mesmo?
Ela engoliu em seco, reprimindo as emoções perturbadas que as palavras de Sebastian trouxeram de volta a vida e que fervilhavam dentro dela. Uma semana se passou desde que seu mundo foi despedaçado. Abigail e seu pai foram presos, junto com uma série de outros conspiradores em Londres e em uma série de outras cidades. Ainda assim, Padraig McGuire e Bridget permaneceram desaparecidos, e Daisy só podia esperar que, onde quer que estivesse e o que quer que tivesse feito, sua irmã não tivesse se envolvido profundamente na perigosa organização Feniana.
A própria Daisy estava se curando bem. Felizmente, a bala só havia passado por seu ombro. Daisy havia perdido uma boa quantidade de sangue, mas o médico conseguiu suturá-la e, até o momento, continuava sem infecção. O bebê continuava a crescer, felizmente inconsciente de tudo isso. Ela escolheu se recuperar na casa de Georgiana em vez de ficar com Sebastian, e ele honrou seu pedido mantendo distância. Não o tinha visto desde o terrível dia que Abigail tentou tomá-la como refém.
Ela passou a última semana descansando em um quarto de hóspedes, comendo doces e sentindo pena de si mesma. No furor do momento, havia deixado Hugo para trás com Sebastian, o que significava que ela estava se conformando com a companhia do zoológico de Georgiana — que havia crescido para incluir uma família de ratos, um papagaio e um lagarto assustadoramente curioso — enquanto ela se recuperava.
— Daisy? — A voz gentil de sua amiga a lembrou de que ela havia lhe feito uma pergunta.
Ah sim. A nota agridoce de Sebastian.
— Ele diz que os jornais estão me chamando de Duquesa Ousada.
Georgiana riu.
— Ele está certo nesse ponto, de qualquer maneira. Você está sendo saudada como uma verdadeira deusa. Sua bravura será matéria de lendas.
— Não houve bravura, apenas necessidade. — Ela fez uma pausa, franzindo a testa. — Você quer dizer que as pessoas que antes me esfolavam viva agora estão elogiando meus louvores?
— Você ajudou a pegar parte da ameaça feniana. — Georgiana piscou, dando ao gato uma carícia completa atrás das orelhas. — Lady Philomena Whiskers gosta disso, não é?
Daisy riu, apesar de suas emoções turbulentas, e então fez uma careta quando o movimento de seu corpo puxou os pontos em seu ombro.
— Que nome ridículo para uma gata.
— Para alguns gatos, talvez, mas não para esta, — disse Georgiana com um sorriso e sobrancelhas erguidas. — Ela é descendente da realeza felina. Basta olhar para suas patas delicadas e seu doce nariz em forma de coração. Ela está destinada a se casar com um marquês, pelo menos. Nenhum segundo filho para ela.
A mulher era tão ridícula quanto os nomes que dava a seus amigos animais.
— Mas mentes questionadoras anseiam por saber — como ela se dá com a família dos ratos?
— Os liliputianos, você quer dizer? — Georgiana piscou. — Ludlow está cuidando deles. Lady Philomena Whiskers não prefere a companhia deles. Em vez disso, ela preferiria a companhia deles, mas apenas se eles fossem gentis o suficiente para ser seu jantar, e não podemos ter isso.
A mera noção da estranha montanha, que era o mordomo de Georgiana, cuidando de uma família de ratos era demais. Daisy teve um ataque de riso.
— Não. Você está brincando.
A duquesa de Leeds ergueu uma sobrancelha imperiosa.
— Garanto a você, eu nunca faria piada sobre uma coisa dessas. Você teria que ver para acreditar. Mas Ludlow tem um coração batendo sob sua pele rígida e cheia de cicatrizes. Eu juro.
Como é revigorante cair na risada. Por um breve momento, isso a distraiu dos pensamentos sobre Sebastian. Mas na respiração seguinte, a dor estava lá, batendo em seu coração, pois liliputianos a lembravam do presente que ele uma vez lhe deu.
Um favorito para uma favorita.
Ela nunca iria parar de amá-lo. Mas precisava de tempo, tempo para se encontrar. Tudo que conhecia foi despedaçado, e muitas das pessoas mais próximas a ela — Sebastian incluído — a enganaram. Este momento de cura era para seu corpo, sua mente e seu coração.
Ou pelo menos, essa era sua esperança mais fervorosa.
5 de junho de 1881
Querida Daisy,
Renunciei ao meu cargo, com efeito imediato. A única posição que desejo ocupar é a de seu marido. Quando, e se você estiver pronta, espero por você aqui. Além disso, se for de amizade que você precisa, posso oferecer meus serviços? Visto que não sou mais um agente secreto, temo que estripar o conde de Bolton possa me levar a Newgate.
Seu,
Sebastian
Ela não respondeu as duas primeiras cartas que lhe enviou.
Sebastian estava sentado à escrivaninha em seu escritório, que ainda era entalhada de maneira complexa e polida. Sua superfície permaneceu organizada com a precisão meticulosa que ele preferia. Tudo estava igual. Pela intimidade que tinha disso, nada deveria ser mudado. Seu secretário empilhou sua correspondência mais recente em três pilhas organizadas no quadrante superior direito. O inferior mantinha sua caneta. A esquerda continha as cartas que Daisy lhe enviara, todas abertas, todas lidas pelo menos meia dúzia de vezes.
Suas palavras eram janelas para ela.
Ele podia lê-las e saber facilmente o que ela experimentou enquanto as escrevia. E assim, embora todos os pequenos pedaços de sua vida permanecessem aparentemente os mesmos, tudo havia mudado.
Ele havia mudado.
Griffin havia protestado contra ele, implorado para que não se aposentasse da Liga. E ele o tinha feito de qualquer maneira. Seus anos de serviço foram cumpridos. A vida que queria era uma vida com Daisy. Ele a queria de volta. Queria seu bebê. Ele queria amor, risos e felicidade até o próximo maldito século. Queria encher Thornsby Hall com crianças, amor e contentamento. Ele até traria o vira-lata.
Hugo, como era chamado, vagava pelo escritório, cheirando judiciosamente aqui e ali. Ele tinha estado sentado perto da porta pela última meia hora, encarando Sebastian, até que desistiu daquele jogo e começou a vagar.
Ele observou o cachorro cheirar, empinar para o centro do tapete.
— Oh, maldito inferno, Hugo. Não!
E levantou sua perna.
— Droga.
Algum tempo e esforços de limpeza depois, Sebastian colocou a caneta no papel para escrever outra carta a Daisy. Ela pediu tempo e espaço, e ele honrou seus desejos. Mas, maldição, ainda iria lutar por ela. E se tivesse algo a dizer sobre isso, iria conquistá-la.
7 de junho de 1881
Botão de ouro,
O Axminster é adorável, mas temo que sua besta o tenha sujado em pelo menos três ocasiões. Todos os ultrajes mencionados ocorreram em meu escritório. Acho que ele me detesta. Além disso, oito xelins por metro parecem um pouco perdulário, pois estou razoavelmente certo de que o preço atual é de seis.
Sua besta e eu sentimos profundamente sua falta.
Seu,
Sebastian
Daisy levou a mão à boca enquanto lia a última carta de Sebastian, suprimindo sua inesperada alegria.
— O que é tão engraçado? Diga. — Hoje, Georgiana segurava um gatinho preto meia-noite em seus braços. Ele estava ronronando alto, cochilando tão profundamente que sua pequena boca se abriu.
— Hugo está marcando seu território no novo Axminster. — Ela sorriu.
— Bem feito para ele, não é, Kitty Quixote? — Georgiana coçou o queixo do gato, mas ele continuou ronronando e cochilando do mesmo jeito.
Foi a vez de Daisy levantar uma sobrancelha.
— Não tenho certeza do que é mais notório, Lady Philomena Whiskers ou Kitty Quixote.
— Não tenho certeza. — O tom de sua amiga era meditativo, pensativo. — Pode-se dizer que todos estamos jogando contra moinhos de vento em um ponto ou outro, não? Talvez a única coisa notória seja o crime de nos levarmos muito a sério. O que você acha, querida Daisy?
Um sorriso em partes iguais, triste e reservado, curvou os lábios de Georgiana. O escândalo que ela causou com Daisy não havia despertado seu marido. Ele não tinha voltado de Nova York para a Inglaterra, determinado a lutar por seu coração. Continuou a ignorá-la. Georgiana era uma mulher forte, mas até Daisy percebeu que a indiferença do duque a magoava.
— Acho que estou ficando mais confusa a cada dia, — ela admitiu.
11 de junho de 1881
Querido Botão de ouro,
Você estava certa sobre minhas cicatrizes. Elas não são de um incêndio de quando eu era menino. Um anarquista ateou fogo no prédio de um comerciante em Cheapside durante uma de minhas missões, e eu tive a sorte de escapar apenas com queimaduras nos braços e nas mãos. O anarquista não teve tanta sorte.
Além disso, aplaudo a sua substituição do retrato do Terceiro Duque de Trent, Lorde Privy Seal. Sua peruca por si só era suficiente para deixar um homem irritável.
Sempre seu,
Sebastian
Ele caminhou pelos limites da biblioteca, Hugo trotando em seus calcanhares. A sala cheirava a couro, papel e madeira oleada. Familiar, reconfortante. Os livros estavam organizados por assunto agora. Ele descobriu isso em sua jornada. Descendo uma fileira de livros, subindo outra. Daisy dera sentido a cada título, organizando cada volume encadernado de acordo com seu gosto. Nenhuma coluna estava fora do lugar.
Ele espreitou a biblioteca repetidamente, observando todos os livros que esperavam por ela. Centenas. Milhões de palavras. Tantas histórias, mundos, personagens. Tudo dela para usar. Esses livros o escarneciam, porque esperavam que ela voltasse da mesma forma que ele.
A cada dia, escrevia para ela, esperando que fosse o dia em que ela pudesse perdoá-lo e voltar para casa. Cada dia, encontrava o silêncio dela. Nem mesmo uma resposta de uma palavra. Manter distância enquanto ela se recuperava quase foi sua ruína, mas queria realizar seus desejos acima de tudo, mesmo acima de sua preocupação por ela. Seu pai roubou-lhe o poder de escolha por toda a vida. Ela havia passado por tantas perturbações — sabendo que seu pai e a sua criada de quarto estavam envolvidos em um caso, e que conspiravam contra ela, que a incriminaram — ele não conseguia nem imaginar.
Não queria adicionar mais estresse e preocupação à vida dela. Mas ela não podia permanecer acampada com a duquesa de Leeds para sempre. Queria sua esposa de volta. Queria uma vida com ela.
Ele se acalmou, seus olhos pousando em uma lombada de livros acima de tudo.
As viagens de Gulliver.
Ele se perguntou se ela tinha lido.
Hugo cutucou sua perna, dando um ganido necessitado e chamando sua atenção. Ele se abaixou, coçando a cabeça macia do cachorro. Olhos castanhos e calorosos o encararam.
— Precisamos dela de volta, não é, garoto?
Hugo lambeu o rosto, e essa foi a única resposta que ele precisava.
15 de junho de 1881
Meu amor,
Seu médico me disse que você está totalmente curada e que o bebê continua a florescer. Estou, e sempre estarei impressionado com sua força.
Pretendo partir para minha propriedade, Thornsby Hall, pela manhã. Estou supervisionando melhorias na biblioteca e em várias outras salas. Seu animal me acompanhará, embora seja sensato ele cessar sua tendência alarmante de aniquilação do tapete. Espero que esteja em boas mãos com Sua Graça. Se precisar entrar em contato comigo, mande um recado.
Depois de muito refletir, postulei a teoria de que um Vossa Graça de trinta segundos consistiria na abertura da boca como se fosse formar o som de um — V — e nada mais. Eu tentei em um copo em várias ocasiões, e estou razoavelmente certo de que estou certo. Você está convidada a debater o assunto.
Seu como sempre,
Sebastian
P.S. Eu Te Amo.
P.S. Eu te amo como amo o sol em meu rosto, a respiração em meus pulmões, a grama verde da primavera, um céu de verão impecável. Eu te amo tanto que sofro com isso.
Daisy terminou de ler a última nota de Sebastian.
Seu coração estava tão cheio que doeu.
— Daisy, — disse Georgiana.
Ela olhou para cima, os olhos turvos pelas lágrimas. Sua amiga segurava um pequeno spaniel nos braços, apenas um cachorrinho.
— Qual é o nome dele? — Ela perguntou, porque era a única coisa que poderia dizer sem se transformar em uma cachoeira.
Sua condição delicada a estava deixando piegas. Mas então, Sebastian também estava.
— Puppenstein, — sua amiga respondeu, seu tom sério.
— Eu o amo, — Daisy deixou escapar. — Não consigo parar de amá-lo, não importa o quanto eu tente. Ele me faz rir e me faz chorar, e me faz querer acordar todas as manhãs com ele e ir para a cama todas as noites ao seu lado.
Georgiana piscou de forma exagerada.
— Puppenstein? Não fazia ideia de que gostava tanto dele. Ele é seu, se você quiser.
— Não. — Ela balançou a cabeça, sorrindo como uma idiota. — Sebastian Fairmont, Oitavo Duque de Trent.
Georgiana deu um tapinha em sua mão.
— Então, vá até ele.
Capítulo 28
Daisy o encontrou na biblioteca com Hugo.
Eles estavam sentados em uma poltrona de couro estofada, Hugo aninhado contra a coxa de Sebastian, um livro aberto em seu colo. Sua falta de graça na entrada — empurrando a porta aberta com tanta força que sacudiu a parede de prateleiras atrás dela — fez sua cabeça se levantar. Seus olhares se encontraram e se mantiveram.
Ela estava sem fôlego de correr para ele, mas não parecia que poderia alcançá-lo com rapidez suficiente uma vez que a decisão foi tomada. A visão de seu rosto bonito a encheu de prazer com volta ao lar.
Ele se levantou, sua expressão fechada.
— Daisy.
Hugo latiu e saltou para cruzar a biblioteca e saltar sobre suas saias. Ela caiu de joelhos, recebendo a saudação de deleite canino puro do cão, nunca tirando o olhar de Sebastian. Ele permaneceu imóvel no lado oposto da biblioteca, vestido com perfeição em calças pretas, uma camisa branca e um colete de brocado preto, sem jaqueta. Havia algo de delicioso nele em mangas de camisa.
— Sebastian, — ela o cumprimentou finalmente, ficando de pé mais uma vez.
— Você veio por sua besta, então? — Sua voz era cautelosa, calma.
— Não.
— Não?
Ela se aproximou, atraída pelo magnetismo que ele exalava, pela necessidade de estar perto dele mais uma vez. Como ela manteve distância por tanto tempo? Parecia incompreensível agora que parou diante dele, inclinando a cabeça para trás para considerar sua beleza rude.
— Não, — disse novamente. — Vim debater sua teoria.
Ele ergueu uma sobrancelha, conseguindo de alguma forma parecer autocrático e adorável ao mesmo tempo.
— Minha teoria?
Ela sorriu.
— Uma parte de trinta segundos Vossa Graça. Tenho certeza de que é apenas o ato de abrir a boca, nem mesmo a formação de um 'v'. Uma parte de trinta segundos é uma fração bem pequena, como você sabe.
Sua boca sensual se curvou em um sorriso de resposta.
— É realmente muito pequeno. Você tem um argumento válido. — Ele pegou suas mãos sem luvas nas suas, entrelaçando seus dedos. — Como estão você e o bebê, botão de ouro?
— Nós dois estamos bem. Melhor agora. — Ela estudou seu rosto amado. — E você?
— Depende da natureza de sua visita, — ele disse suavemente, apertando seus dedos.
— Você disse que iria embora pela manhã.
— Eu disse. — Ele a puxou para mais perto, suas saias se esmagando contra suas calças. — Há muito tempo venho fazendo melhorias em minha sede no campo. Chegou a hora de eu dedicar minha atenção às pessoas e lugares que mais importam para mim.
— Você não precisa desistir de espionar por mim. — Ela retirou as mãos das dele para que pudesse tocá-lo, deslizar a palma da mão sobre os bigodes que encontrou pela sua mandíbula. — Entendo que você estava cumprindo seu dever.
Ele deu um beijo em sua palma.
— Desisti por todos nós. — A outra mão dele foi para o abdômen dela, achatando a ligeira curva escondida sob o espartilho. — Quero construir uma nova vida com você e o bebê e pelo menos mais meia dúzia, se tiver sorte. Quero que Thornsby Hall soe com risos e amor. Diga que você virá comigo, minha ousada duquesa. Diga-me que você deseja essa vida tanto quanto eu.
— Oh, meu querido, — ela disse ternamente. Seu coração não poderia conter mais amor do que naquele momento, de pé na biblioteca que ele havia feito para ela, enquanto falava de seu futuro e a olhava como se ela fosse um anjo vindo para caminhar entre os homens. Como se fosse a pessoa mais preciosa e querida para ele. — Claro que irei com você. Irei com você para Thornsby Hall ou para o outro lado do mundo, se você me pedir. Eu te amo exatamente como você me ama. Como amo o sol em meu rosto, a respiração em meus pulmões, a grama verde da primavera, um céu de verão impecável. Te amo tanto que sofro com isso.
Ela repetiu suas palavras para ele, palavras significativas, palavras maravilhosas. Tão poderosas que enfraqueceram seus joelhos. Seu peito estava leve. Seu coração parecia inteiro. Este era o lugar onde ela pertencia. Ele era dela, e ela era dele, e isso importava muito mais do que dever, ou países, ou distância, ou tempo.
— Você me perdoa, meu amor? — Seus olhos procuraram os dela. — Você pode me perdoar por enganá-la e por duvidar de você?
— Claro, meu Amor. Você estava fazendo o que o juramento que fez exigia que você fizesse. — Levou algum tempo e um exame de consciência para perceber isso, mas quando o fez, sua decisão veio facilmente. Ele havia cumprido seu dever para com a Coroa, ficado preso por sua lealdade e honra. No entanto, apesar de tudo, ele a amava, e ela o amava. O amor bastava para curar qualquer ferida. — Chega de falar sobre o passado agora. Existe apenas o futuro para nós, e mal posso esperar para entrar nele com você.
Com um grunhido, ele a puxou para seus braços, sua boca descendo sobre a dela em uma reivindicação feroz. A mão dela deslizou sobre seu cabelo grosso e macio para cobrir a base de sua cabeça, e beijou-o de volta com todo o amor e necessidade que queimava por dentro. Ela se abriu para sua língua, e ele tinha gosto de conhaque, Sebastian e decadência. Nada jamais teve um gosto melhor. Nada parecia mais certo.
Ele afastou os lábios dos dela, arrastando-os pelo pescoço, mordiscando e beijando enquanto o fazia.
— Eu te amo. — Outro beijo. — Te amo. — Um deslizar sedoso de sua língua em sua carne. — Te amo. — Um mordiscar de seus dentes. — Cristo, como te amo.
Sebastian a ergueu então, e a carregou para a cadeira estofada antes de afundar nela e puxá-la para seu colo. Suas saias se esmagaram ao redor deles, mas ela não se importou quando sua boca encontrou a dele. Eles se beijaram, e se beijaram, até que Hugo tentou pular na cadeira ao lado deles.
Sebastian interrompeu o beijo, sua cabeça caindo para trás contra a cadeira.
— Controle sua besta, Duquesa.
Ela traçou o arco de seu lábio superior, seu dedo demorando no sulco perfeito de seu buço.
— Qual besta?
— Bem merecido, — ele reconheceu, beijando seu dedo. — O peludo, senhora.
Ela deu uma cutucada suave em Hugo.
— Xô, Hugo. Seu papai e eu precisamos nos reaproximar, e não precisamos de sua ajuda.
Com um gemido de protesto, Hugo saltou para o Axminster.
— Não sou o papai daquele vira-lata, — ele resmungou.
Daisy arrastou o dedo para baixo, sobre a linha dura de sua mandíbula antes de enterrar o rosto na tentadora extensão de seu pescoço e beijá-lo ali.
— É por isso que você o estava abraçando quando eu entrei?
— Eu não abraço.
Sua voz era um estrondo profundo e delicioso contra seus lábios, e ele cheirava tão maravilhosamente que ela não pôde resistir a passar a língua sobre sua pele. Ela cantarolou seu prazer ao beijar o pomo de adão em seguida.
Ele gemeu.
— Daisy, amor?
Ela começou a trabalhar nos botões de sua camisa, removendo-os de suas amarras enquanto dava beijos em cada pedaço recém-revelado de seu peito. Sentindo-se perversa, ela se balançou contra ele, trazendo seu comprimento rígido em contato com a parte dela que mais doía. Ah, sim, isso era o paraíso. Ela revirou os quadris novamente, procurando mais.
— Droga, botão de ouro, — ele reclamou, — Quero tanto você que vou explodir, mas sua maldita besta está assistindo.
Ela caiu na gargalhada.
— É melhor você me levar para a cama então, meu amor, e seja rápido. A Ousada Duquesa está pronta para conquistar seu duque diabólico.
Ele a pegou em seus braços e se levantou em um movimento rápido, um sorriso ardente curvando sua bela boca. Sua única covinha reapareceu.
— Ela já fez isso, botão de ouro.
Ela o beijou então, porque não conseguiu resistir, seus dedos continuando a trabalhar em seus botões.
— Então, talvez seja a sua vez de conquistá-la.
Suas bocas se encontraram novamente, e quando seus lábios finalmente se separaram, o duque de Trent levou sua ousada duquesa para seu quarto, e ele tomou a sua vez.
Scarlett Scott
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