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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


HIGLANDER PERVERSO / Donna Grant
HIGLANDER PERVERSO / Donna Grant

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Alguns argumentariam que nascer MacLeod era um destino pior que a morte. Mas Quinn MacLeod o via como uma honra. Isso até que foi incapaz de salvar sua esposa e filho da destruição que varreu todo o mundo que conhecia e amava. Quando se tornou quase impossível para Quinn suprimir o deus dentro de si, ele decide que precisa de algum tempo longe de seus irmãos, apenas para ser capturado pela pervesa inimiga Deirdre .
Marcail Douglas esteve abrigada num vale isolado nas profundezas das montanhas toda a sua vida. A pequena comunidade onde ela cresceu. A magia era um modo de vida. Sabia que o povo de sua aldei a protegia, mas nunca soube por que exatamente. Sua avó só dizia que ela era especial, que carregava algo dentro dela que poderia salvar o mundo. Mas a aldeia é atacada e Marcail é jogada no Poço para que Guerreiros a matem. Uma vez que Quinn inala o cheiro dela, sabe que precisa salvá-la. Estava à espera de seus irmãos para libertá-lo como sabia que aconteceria, mas com Marcail, tudo mudou.

 


 


CAPÍTULO UM
Cairn Toul Mountain, Highlands da Escócia
Julho 1603

Deirdre estava na sacada com vista para a caverna que compunha seu grande salão. Lá não havia janelas altas para deixar entrar a luz solar pois estavam no fundo da montanha.
Em vez disso, haviam vários candelabros grandes e ovais pendurados no teto arqueado acima deles derramando sua luz. No espaço aberto o brilho das velas não podia alcançar todos os lugares. E era assim que ela gostava.
Wyrran com sua pálida pele amarela se misturavam com seus guerreiros de todas as cores imagináveis. Pareciam um arco-íris abaixo, mas ela só via o puro poder destrutivo que esses Guerreiros tinham o potencial de criar. Eram homens com deuses primitivos dentro deles, cada um com um poder diferente que os distinguiam dos outros. E eram dela para governar. Os Guerreiros olhavam para ela, sua enlevada atenção, enquanto esperavam para ouvir por que os convocou.
—Ouçam-me. Sintam-me. Toquem-meeee ... — Impotente para ignorar a chamada da montanha, Deirdre fechou os olhos e se perdeu no canto das pedras. Esqueceu os guerreiros e por que os chamou para ela e colocou a mão sobre o túmulo de rocha ao lado dela. Sucumbiu ao doce esquecimento que as rochas lhe davam, sempre deram. E sempre dariam.
Era assim desde seu décimo inverno. Ela acordou para ouvir o chamado da montanha acenando para ela. Saiu da sua casa e olhou para a montanha distante, sabendo que um dia faria a viagem para o alto pico.
Aquele dia foi há eras atrás, mas ainda podia sentir o cheiro do pão cozido da mãe, ainda sentir o chicote que seu pai usava em seu traseiro por não fazer suas magias corretamente. E ainda podia ainda ver os olhos da irmã olhando para ela. Sempre observando.
Mesmo numa idade tão jovem, Deirdre tinha mais poder que qualquer drough em sua pequena comunidade. Ela o escondeu bem, pois qualquer drough cujo poder era tão grande era morto instantaneamente. Porque os droughs se alinhavam com o mal e criavam magia negra, e seu poder podia ser imenso — e mortal.
Deirdre tinha planos. Então esperou, e aprendeu.
Os druidas só se dividiram em duas facções por um curto período de tempo antes que chamassem os deuses de sua prisão no inferno, mas nesse tempo, os droughs não se misturavam com os confiantes mie. O mie com seu discurso de bondade e de magia pura deixava Deirdre doente.
Algumas comunidades de drough se uniram. A de Deirdre foi uma das últimas. Seu pequeno grupo era majoritariamente família e agregados, mas a luta pelo poder passou a ser diária.
Em seu décimo oitavo ano Deirdre ofereceu seu sangue no ritual para se tornar uma drough.
Quando seu sangue escorreu dos cortes em seus pulsos, uma dor lancinante a cortou. Naquele instante, viu seu futuro enquanto a magia negra e o mal invadia sua alma e a reclamava para si mesma.
No dia seguinte, começou a caçar os pergaminhos que sabia que sua tia mantinha ocultos.
Ouviu o sussurrar dos anciãos sobre eles algumas noites, como se a simples menção dos pergaminhos fizesse os mie descerem sobre eles.
Uma vez que encontrou os pergaminhos tomados dos mie soube por que os anciãos sussurravam, com seus olhares furtivos em busca de ouvintes. Dentro dos pergaminhos estavam laminados feitiços que deveriam ser destruídos. Deirdre sorriu enquanto ela enfiou um em particular em sua manga e se virou para ir embora.
—Como se atreve! — A tia gritou enquanto olhava para Deirdre da porta.
Deirdre sorriu para esconder sua surpresa. Esperava ser pega, apenas não por sua tia. Mas qualquer pessoa serviria para seu propósito. —Atrevo-me a muitas coisas, tia.
—Vai pagar por espiar onde não deve, sua pequena víbora, — disse a tia, cuspe voando de seus lábios finos. —Sempre gostou de mexer em pertences que não são seus.
—E o que acha que fará sobre isso?
Sua tia levantou a mão para enviar uma explosão de magia. Deirdre desviou seu pulso e sua tia bateu de volta contra a porta de seu chalé, com os olhos arregalados pelo reconhecimento do quão poderosa era Deirdre.
Sem hesitar, Deirdre desembainhou a adaga que mantinha em sua cintura e a mergulhou no coração de sua tia.
Foi a primeira vez que matou. Mas não seria a última.
Deirdre deixou a casa e se virou para olhar para sua montanha. Foi quando sentiu os olhos da irmã sobre ela mais uma vez. Se virou para sua gêmea, Laria. Ambas partilhavam o loiro cabelo e olhos azul-celeste de sua mãe, mas era aí que as semelhanças terminavam.
Como sua irmã gêmea, muitas vezes Laria sabia quando Deirdre fazia alguma travessura. Deirdre não esperava ter uma aliada em sua irmã. Na verdade, Deirdre sabia que teria que matar Laria.
—O que fez? — Laria perguntou calma, mas seus olhos astutos viam tudo.
Deirdre olhou para os olhos azuis que combinavam com os seus próprios. Ela procurou magia em sua irmã, mas como sempre, não havia nada. Ainda assim, Laria era sua irmã gêmea. —O início de algo maravilhoso, irmã. Não vai se juntar a mim?
—Sabe que não vou.
—Uma pena, — disse Deirdre e levantou a adaga.
Laria olhou a arma, como se fosse uma flor em vez de uma arma com o sangue gotejando pela extremidade.
—Vai matar todos nós?
Deirdre começou a rir quando um pensamento se enraizou. Soltou um grito que fez todos correrem em sua direção. Com sua irmã observando, Deirdre se colocou no desempenho de sua vida.
—A Tia ganhou poder, — Deirdre gritou enquanto falsificava suas lágrimas e tropeçava ao redor. —Ela tentou me matar. Disse que ela e o tio reinariam sobre todos nós.
Assim como Deirdre esperava, o caos explodiu. Viu como todo mundo se ligava em todos os outros enquanto acusações voavam. A matança seguiu. Deirdre se afastou indo embora, mas não conseguia tirar os olhos do sangue e da morte. A visão diante dela era horrível... e impressionante, alimentando o mal dentro dela.
Vinde a mim.
A montanha. A chamava sem descanso, e já não podia ignorá-la. Deirdre virou as costas para sua comunidade e olhou para a montanha que era dela. Era tempo de abraçar seu destino.
—Vai pagar pelo que fez, Deirdre.
Ela olhou por cima do ombro para sua irmã gêmea. O sangue escorria de um corte profundo no braço de Laria e seu lábio foi cortado.
—Acha que pode me parar? Nós duas sabemos que fui a única a receber toda a magia. Fique feliz por que não vou cortar sua garganta, irmã.
Deirdre se virou e caminhou para sua montanha. Lá, nas pedras frias, encontrou o primeiro contentamento de sua vida. Nada mais importava, apenas a montanha e as pedras a chamando.
E soube que tinha poder sobre elas. Podia fazer as pedras se moverem e rolar.
Foi como criou seu palácio no interior da enorme montanha. A única casa real que já conheceu.
Unhas afiadas deslizaram pelos cabelos e a trouxeram de volta ao presente. Deirdre abriu seus olhos e olhou abaixo para encontrar um wyrran olhando para ela com seus grandes olhos amarelos enquanto reverentemente acariciava seus cabelos.
Por quanto tempo se perdeu no passado? Por quanto tempo as pedras abaixo a puxaram desta vez?
Deirdre acariciou a cabeça lisa do wyrran. O wyrran era sua própria criação. Ela usou sua magia negra e criou as criaturas que serviam apenas a ela. Eram seus animais de estimação, embora ouvisse alguns dos guerreiros os chamarem de seus filhos.
Olhou para William. Seu olhar estava sempre sobre ela, o desejo em seus olhos, difícil não notar. O guerreiro de pele azul royal compartilhou sua cama por um tempo curto. Até que capturou Quinn MacLeod.
Quinn. Finalmente, tenho você para mim mesma.
Uma vez que Quinn se curasse dos ferimentos sofridos em sua captura, Deirdre esperava que ficasse grato. Deveria saber que ele seria insolente, mas era por isso que o queria tão desesperadamente.
Os MacLeods foram os primeiros guerreiros que criou. Depois de séculos dos deuses estarem vinculados, ela os soltou em Fallon, Lucan e Quinn. Infelizmente, os irmãos MacLeod escaparam antes que pudesse concretizar seus planos. Um erro que tinha certeza de não cometer novamente.
Por trezentos anos procurou fazer com que todos os três irmãos voltassem sob seu controle. Tinha Quinn para começar, e por agora era suficiente.
Lamentou a decisão precipitada de jogá-lo no Poço, mas ele tinha que aprender que ela estava no controle. Era sua amante, e a obedeceria em todas as coisas.
Nas últimas semanas se obrigou a ficar longe dele. Ela o queria desesperadamente em sua cama, para dar-lhe a criança profetizada que a faria subir — um mal diferente de qualquer outro no inferno.
Para ter Quinn tinha que quebrá-lo. Ele se estendia na esperança que seus irmãos viessem por ele, mas antes que o fizessem, Deirdre tinha que forçar o deus dentro de Quinn a assumir completamente. Só então ele poderia ser dela.
E uma vez que fosse dela, seus irmãos logo cairiam.
Deirdre pensou em Fallon e Lucan MacLeod e nas mulheres que reivindicaram.
Lucan encontrou uma druida, uma druida com sangue drough em suas veias, graças aos seus pais. A druída teria dado muito poder a Deirdre, mas os irmãos lutaram e venceram essa escaramuça.
Quem pensaria que poderia haver uma guerreira? No entanto, era exatamente isso que Larena Monroe era. E Fallon a reivindicou como sua mulher.
Deirdre esfregou as mãos ao longo das pedras. Quando os irmãos caíssem, suas mulheres o fariam também. Tudo que Deirdre queria estava lentamente dando frutos. Ela só precisava de paciência. Não era uma virtude que já praticou antes, mas por seus planos, faria o que precisasse para conseguir.
Havia uma briga e silvos de raiva de uma mulher atrás dela. Deirdre se virou e olhou a druida de cabelos escuros, a pequena presa entre dois guerreiros. A Druida que enviou seus homens numa perseguição selvagem através da Escócia, mas finalmente a pegaram.
Deirdre estudou suas unhas compridas um momento antes de dizer, — É uma coisa boa ter isto enterrado no fundo da sua mente, Marcail.
"Isto" era o feitiço que unia os deuses aos Guerreiros. Depois de tudo que Deirdre passou, depois de tudo que fez, não havia como permitir que uma pequena Druida arruinasse tudo.
O feitiço supostamente seria destruído quando os deuses presos nos Guerreiros originais batalhassem em Roma pelo controle da Grã-Bretanha. Mas como o encantamento para liberar os deuses, o feitiço foi mantido oculto. Até agora.
Foi apenas por puro acaso que Deirdre encontrou as informações sobre Marcail e sua história familiar.
—Como queria ter, — disse a Druida, sua voz misturada com repugnância. —Prenderia todos os deuses num instante, se pudesse.
Deirdre sorriu e olhou Marcail com novos olhos. Ela gostava de uma mostra de espírito. A maioria dos druidas se encolhia de medo ou implorava para poupá-los. Mas não esta mie em particular. Não, Marcail lutou desde o momento que ela foi tomada.
Talvez tivesse algo a ver com sua família. Marcail era descendente de alguns dos mais fortes Druidas que sobreviveram nestes séculos para nada. Mesmo que Deirdre não conhecesse a família de Marcail, o fato da Druida usar as tranças de titular dizia tudo a Deirdre.
—Ah, mas se o feitiço não estivesse escondido, eu mataria todos com quem já falou dele, em vez de apenas você. Mas... poderia fazê-lo de qualquer jeito só para ter certeza que ninguém soubesse o feitiço. Não posso destruir meus planos perfeitamente definidos, agora, posso?
Os olhos azul-turquesa de Marcail faiscavam de ódio. Ela tremia de raiva, fazendo com que o ouro das presilhas que prendiam as pequenas tranças em cima de sua cabeça batessem juntos.
—Vai pagar por seus pecados, Deirdre.
Deirdre olhou para a Druida. Marcail tinha uma beleza clássica com seu rosto oval e altas maçãs do rosto. Suas curvas, obviamente, chamavam a atenção dos homens pelos olhares dos Guerreiros observando Marcail.
Mas era a mágica de Marcail que realmente a fazia brilhar. Era uma das razões que Deirdre odiava a mie. Toda essa bondade só fazia mal.
—Você, pobre mie, com seus pensamentos de um acerto de contas. O que não percebe é que serei uma deusa em breve. Não há ninguém que possa me derrotar agora, e quando assumir o mundo, ninguém vai pensar em ficar contra mim.
Em vez de choramingar, Marcail riu.
—Que grandes ilusões você tem. Posso não estar aqui para vê-la cair, drough, mas será destruída.
Por um instante, Deirdre sentiu medo real. Druidas possuíam magia poderosa, e alguns podiam ver o futuro com precisão alarmante. Empurrou a apreensão de lado e levantou uma sobrancelha. Deirdre não ganhou seu poder entrando em pânico.
—É isso mesmo, mie? E quem pode ser este salvador de vocês?
—Os MacLeods, é claro.
—Os MacLeods? — Deirdre repetiu. —Tem certeza disso, pequena Marcail?
Marcail acenou com a cabeça cheia de cachos castanhos, fileiras e mais fileiras de pequenas tranças caindo em torno de seu rosto e nos ombros e se misturando com os cabelos. —Está se espalhando como fogo por toda a Highlands. É só uma questão de tempo.
Deirdre olhou para os Guerreiros segurando Marcail e sorriu. Os guerreiros começaram a rir, seus grandes corpos musculosos se agitando com alegria.
Deirdre se voltou para a multidão abaixo dela e levantou a mão para chamar sua atenção.
—Minha prisioneira diz que seus salvadores são os MacLeods.
Risos explodiram e encheram a grande caverna. Ela esperou até que se acalmasse antes de virar para a druida que tinha o potencial de arruinar tudo.
—Não acha que os MacLeods tem mais poder que você? — Marcail perguntou, seus olhos incomuns estreitados em Deirdre.
Deirdre deu de ombros.
—Não tenho idéia. Por que não pergunta a um você mesma?
Os olhos de Marcail se arregalaram quando os guerreiros a puxaram abaixo pelas escadas da entrada do Poço. Deirdre sorriu e esfregou as mãos. Adorava chocar as pessoas.
Marcail foi muito fácil, porém.
Deirdre inclinou as mãos sobre as pedras que se alinhavam no parapeito de sua varanda e olhou as criaturas abaixo.
—Eis... — disse ela e ergueu o braço na direção de Marcail e os Guerreiros a levando ao Poço.
Os wyrran e os outros guerreiros se afastaram para deixá-los passar. Marcail continuava a lutar, chutando os guerreiros tanto quando era capaz. Era uma lutadora com certeza. Se Deirdre achasse por um momento que poderia trazer a mie para o lado dela, o faria.
Mas o que Marcail guardava no recesso escuro de sua mente podia desfazer tudo que Deirdre colocou no lugar e mais algumas coisas. Deirdre não podia sequer ter a chance de matar a Druida — apesar do quanto queria.
Marcail vinha de uma poderosa linha de druidas e havia encantamentos e maldições colocadas em torno de toda Marcail, bem como no seu sangue. Quem a matasse teria uma boa surpresa.
—Capturamos outra Druida, — Deirdre continuou. —A Mie que se atrevia a me desafiar.
Os guerreiros por toda a caverna começaram a bater seus pés, golpeando-os como um tambor contra as pedras. Marcail levantou os olhos para Deirdre quando os dois guardas pararam no meio da caverna.
Havia uma pitada de medo no olhar de Marcail, mas não o terror que Deirdre sempre causava. Marcail poderia ser um problema, razão pela qual estava sendo jogada no poço. Poucos Guerreiros sobreviviam nas sombras. Não havia como uma mie durar um dia. Se os Guerreiros estuprassem Marcail ou matassem, tudo que importava era que a Druida estaria morta... é claro que os próprios guerreiros morreriam por machucar Marcail, mas Deirdre não se importava. Queria se concentrar em outras coisas. Como Quinn.
Com um aceno de cabeça, Deirdre ordenou abrir o alçapão. Marcail gritou quando o chão se moveu e abriu embaixo dela. Os pés da Druida deslizaram debaixo dela. Ela agarrou as pedras, procurando uma maneira de impedir cair na escuridão escancarada abaixo dela.
Deirdre não estava preocupada que Marcail pudesse ficar livre. Seus guerreiros amavam um bom show, e não seria negado.
Queria ver o que Quinn e os outros fariam com a Druida, mas sabia que a antecipação de ver Quinn faria sua adesão muito melhor.
Deirdre virou as costas para o Poço e os gritos e assobios dos Guerreiros. Se dirigiu para seu quarto para que pudesse sonhar com Quinn. Seu corpo já latejava por seu toque.
Mas não demoraria muito agora. Ele ia sucumbindo, já que o Poço era o melhor para arrebatar sua esperança. Só mais algumas semanas e ele seria dela.
Isla, escondida de Deirdre acima nas sombras, olhou para a ação abaixo com interesse. Como uma das poucas druidas que não foram mortas, Isla estava interessada no que fez Deirdre colocar a mão nessa mais nova Druida — Marcail. Não demorou muito para Isla descobrir que Marcail tinha enterrado em sua mente o feitiço que prenderia os deuses nos Guerreiros.
Só isso já era suficiente para Deirdre colocar Dunmore, seu mortal caçador, na procura de Marcail. Dunmore levou muito mais tempo que Deirdre esperava para trazer Marcail para a montanha.
Isla observou Druida após Druida morrer sob a magia de Deirdre. Deirdre apreciava derramar o sangue de um druida, uma vez que lhe dava mais poder mágico, mas geralmente preferia fazê-lo em sua câmara especial onde podia ter certeza que nenhuma mágica escapava. Isla percebeu a Magia potente de Marcail assim que a Druida entrou na montanha, então por que Deirdre tinha reunido todos na caverna?
Mal esse pensamento passou pela mente de Isla quando os guerreiros transportaram Marcail para a entrada do Poço. Os dedos de Isla cavaram nas pedras, fazendo com que as unhas dobrassem para trás. Ela não sentia o sangue escorrendo da pele sensível sob as unhas enquanto observava a queda de Marcail no Poço.
Olhou para a cova, esperando que os guerreiros atacassem Marcail e a rasgassem em pedaços, o que normalmente faziam a qualquer coisa que tivesse a infelicidade de ser jogada na escuridão. Isla olhou para o lugar onde Deirdre estava, apenas para vê-la indo embora.
Quando Isla voltou sua atenção para o Poço, viu um guerreiro de pele negra saltar no topo de Marcail. Isla nunca imaginou que Quinn MacLeod aceitaria seu deus assim facilmente. Depois de tudo que ouviu falar dos irmãos MacLeod, ficou desapontada.
Começou a se afastar quando viu Quinn jogar algo fora do caminho, algo que parecia suspeito como o corpo de uma mulher.
Um sorriso lento se espalhou no rosto de Isla.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO DOIS

O grito ficou preso na garganta de Marcail quando o piso inclinou sob seus pés. Ela estava caindo.
No Poço.
Fique forte. Foco. Pense!
Seu corpo bateu na pedra com um golpe forte, e se esforçou para segurar a inclinação da rocha. Ignorou a dor por todo seu corpo e se concentrou em não cair. Seus dedos continuavam escorregando na pedra lisa, a escuridão se levantando para encontrá-la mais rápido e mais rapidamente com a porta baixando.
Então, agradecendo aos santos, encontrou algo para agarrar. Segurou pela sua vida, seus dedos doendo pelo esforço. Queria apenas um momento para se orientar antes de arranhar seu caminho de volta.
Mas deveria ter pensado melhor.
Ela se esqueceu dos Guerreiros e wyrran em torno dela. Tarde demais, viu o Guerreiro vindo para ela pelo canto do olho. Seu pé conectou com as costelas, a dor aguda e terrível.
Seus dedos se soltaram, ao mesmo tempo seu cérebro gritou para ela não se deixar ir. E então estava caindo.
Bateu no chão ao seu lado com um baque que a deixou atordoada e com a cabeça girando. Ela não se mexia, com medo das dores que encontraria. Segundos passaram, enquanto a multidão acima gritava e berrava seu entusiasmo. O que sabiam que ela não?
Em seguida, ouviu.
Não estava sozinha na escuridão.
Marcail empurrou a dor de seu corpo e levantou sobre um cotovelo para perscrutar as sombras. Quem estava lá? Ou melhor... o quê? Podia senti-los olhando para ela. E esperando.
Os pêlos na parte de trás do seu pescoço se levantaram quando ouviu o primeiro rosnado. Seu estômago subiu e desceu quando o medo se apoderou dela com uma mão fria. Soube então o que a cercava. Guerreiros.
Seu corpo todo doía, e temia que suas costelas podiam estar quebradas. Não houve tempo para pensar, não quando a morte certa estava diante dela.
O primeiro Guerreiro saiu das sombras em pé. Sua pele era verde brilhante, como a cor dos primeiros brotos da primavera. Se agachou diante dela, os lábios puxados para desnudar suas grandes presas. Seu cabelo estava opaco e de uma cor indistinguível pela sujeira, caindo em seu rosto, mas não escondia os ardentes olhos verdes.
Ele ia dar o bote nela e rasgar sua carne com suas garras longas e verdes. Ela usou toda a sua coragem com Deirdre. Agora, tudo que restava era o terror que se instalou em torno dela como um manto pesado, a impedindo de se mover ou mesmo respirar.
Levante-se. Você é uma druida. Aja como tal.
Mas ela não tinha armas, nada para se defender com exceção de alguma magia que não seria nada boa contra esses guerreiros. Queria se enrolar numa bola e deixar que as lágrimas viessem.
O que sua avó acharia?
Outro Guerreiro se juntou ao primeiro. Este tinha a pele da cor de sua égua favorita cinza.
O Guerreiro inclinou a cabeça para o lado e lambeu os lábios.
Por favor, Deus.
Um guerreiro branco saiu das sombras e a considerou com sua leitosa piscina de olhos brancos. Parecia quase desinteressado nela, como se estivesse mais preocupado com o que os outros guerreiros estavam fazendo.
Um rugido profundo e feroz cheio de ameaça e morte soou à esquerda, que fez todos os outros Guerreiros olhar nessa direção. Um suor frio de medo sobre a pele de Marcail a surpreendeu.
Aconteceu tão rápido. Num momento os guerreiros a estavam procurando na escuridão, no próximo o rosnar começou a sério. Cresceu e cresceu até que suas orelhas soavam.
E então algo grande e preto saltou das sombras para pousar em cima dela.
Marcail engoliu um grito e se preparou para a dor que sabia estar por vir.
Apenas não houve nada.
Algo a agarrou na altura da cintura e a jogou nas sombras, como se pesasse nada mais que uma folha. O corpo já ferido de Marcail se abalou com renovada dor quando bateu contra as paredes de pedra. Sua cabeça bateu contra algo rígido.
Tentou se concentrar, mas tudo que ela viu foi uma massa de corpos coloridos cada um esfolando o outro vivo.
E então a escuridão a tomou.

Quinn esperou até que os outros guerreiros percebessem que iria combatê-los para sempre se precisasse.
Um por um, voltaram para suas cavernas. Não saiu até que o único que restava em pé se movesse de volta para as sombras. Ele levou dias combatendo cada um dos Guerreiros no Poço para carimbar seu domínio sobre eles depois que chegou pela primeira vez.
Continuavam a testá-lo, no entanto. Afinal, eram Highlanders.
No entanto alguns se aliaram a ele e vigiavam suas costas. Não que confiasse totalmente em alguém neste inferno.
Quinn suspirou e se virou para onde jogou a mulher. Ele a cheirou antes que Deirdre a jogasse no poço. Seu cheiro era de sol e chuva. Ele sabia o que Deirdre queria dos Guerreiros, e logo que a Druida a trouxe para o alçapão lhes deu um aviso para ficar longe da Druida.
Ele não se surpreendeu quando os outros Guerreiros foram em sua direção. Não que os culpasse. A mulher era apenas o que qualquer homem gostaria depois de ficar assim no escuro por tanto tempo, especialmente com os desejos, tanto físicos como mentais, dos guerreiros tratados constantemente.
Mas Quinn sabia que não podia ceder aos impulsos de Apodatoo, o deus da vingança, que estava dentro dele. Não agora, não antes que seus irmãos viessem por ele.
Os deuses ressuscitaram dos estragos do Inferno todos esses séculos atrás, para assumir os corpos dos mais fortes guerreiros celtas para a batalha de Roma e seu grande exército.
Os druidas não perceberam o que fizeram quando soltaram os deuses, não que tivessem escolha. Roma estava destruindo pouco a pouco a Grã-Bretanha. Os celtas fizeram o que tinham que fazer para garantir que a terra ficasse com eles.
No entanto, quando os romanos foram derrotados, os druidas não foram capazes de persuadir os deuses a deixar os homens. Os celtas se tornaram Guerreiros, homens com imortalidade e poderes além de sua imaginação. Tão poderosos como os druidas eram com sua magia, não eram páreo para os Guerreiros.
Os druidas, divididos em seitas do bem e do mal, uniram forças para prender os deuses dentro dos homens como um último recurso. Funcionou, mas nenhum deles poderia imaginar que os deuses viajassem de geração em geração através do sangue, na esperança de ser soltos mais uma vez.
E então aconteceu. Começando com Quinn e seus irmãos.
Quinn apertou os olhos fechados, enquanto pensava naquele dia fatídico e na morte e sangue que manchou a terra que amava. Sua vida foi irremediavelmente alterada numa fração de segundo, e não havia nada que pudesse fazer para mudar isso a não ser lutar contra o deus dentro dele. E se agarrar ao último resquício de esperança que possuía.
A fim de impedir seu deus de tomar o controle, Quinn fez o que sabia que seus irmãos fariam — salvar a mulher.
Ele flexionou os dedos, suas longas garras mortais clicando juntas, e estremeceu com as feridas de um lado e atrás. Elas se curariam, mas não rápido o suficiente, não se outro Guerreiro atacasse novamente. E eles queriam. Queriam a mulher.
Mas assim o fez.
Ele caminhou para sua caverna onde a jogou e parou na frente dela. Sentiu sua magia assim que ela desembarcou no Poço. O que Deirdre pretendia jogando uma Druida aqui com os Guerreiros? E mais importante, por que a Druida não se movia?
A jogou com tanta força que a deixou inconsciente? Ou pior? Se a matou? Quinn tentava segurar sua força, mas se esquecia, por vezes, o quão forte seu Deus o fazia.
Quinn se ajoelhou ao lado da mulher e colocou o dedo sob seu nariz. Sua respiração escorreu quente e firme sobre sua pele negra, e soltou um suspiro de alívio.
—Ela está machucada?
Quinn olhou acima do ombro para encontrar Arran o observando. O guerreiro branco reconheceu o nome de Quinn e se alinhou a ele poucos dias depois que Quinn foi jogado no Poço.
—Ela respira, mas temo que posso a ter jogado muito duro, — respondeu Quinn.
Arran caminhou lentamente em direção a ele, seu olhar buscando as sombras onde os outros Guerreiros esperavam e assistiam. No Poço, nenhum Guerreiro podia se dar ao luxo de mudar da forma de seu Deus com o risco de ser morto.
Quinn olhou para a mulher. Ela gritou quando as pedras se moveram sob ela, mas não fez um som desde então. Nem mesmo quando um Guerreiro de Deirdre a chutou, e sabia que a feriu por ela estremecer.
—Ela caiu duro, — disse Arran. —Muitos ossos quebram na queda.
Quinn assentiu. Sabia, desde que quebrou o braço e algumas costelas em sua queda.
Se ela quebrou alguma coisa, precisava descobrir onde para que pudesse verificar, mas orou que não tivesse. Ela era mortal e não podia se curar como eles faziam.
—Quer que eu verifique? — Arran perguntou.
Quinn quis recusar a ajuda de Arran desde que não queria que ninguém tocasse na fêmea.
Ele a reinvindicou quando a salvou. Era sua para cuidar. Quinn meneou a cabeça e percebeu que estava agindo como Lucan fez quando seu irmão trouxe Cara para seu castelo. Era ridículo para Quinn querer a Druida só para si. Mesmo reconhecendo sua fome por ela, apesar de tudo.
A fome que começou no momento que viu sua coragem, sua beleza.
—Você pode ajudar, — ele cedeu.
Juntos os homens a inspecionaram, e para alívio de Quinn não encontrou nada quebrado. Havia um galo considerável na parte de trás da cabeça, e temia que suas costelas a incomodassem por algum tempo. Se não estavam rachadas, poderiam estar machucadas, e mesmo isso seria doloroso e lento para consertar.
—O que vai fazer com ela? — Arran perguntou de onde estava.
Quinn deu de ombros e sentou numa grande pedra ao lado da mulher. —Não sei.
—Deirdre, obviamente, a quer morta.
—Depois do show que deu, pensam que ela está.
Arran bufou.
—Deirdre quer você, caso tenha esquecido. Ela ficou afastada, mas quanto tempo acha que vai levar antes que venha por você? E então encontrará a fêmea?
—Não tenho respostas, Arran. Só sei que tinha que salvar a mulher. Vou continuar a protegê-la, enquanto estiver no Poço.
Arran levantou as mãos na frente de si mesmo, suas garras brancas brilhando na escuridão e seu longo cabelo escuro se misturando com as sombras.
—Devagar, Quinn. Sabe que tem minha lealdade. Só espero que saiba o que está fazendo. Uma mulher aqui embaixo com Guerreiros que não viram ou cheiraram uma mulher há anos poderia ser uma coisa terrível.
Quinn passou a mão pelo rosto. O que faria? Sim, a druida tinha um cheiro celestial, e sim, trouxe para fora seus instintos protetores. Mas Arran estava certo. Os outros Guerreiros no Poço iriam querê-la, e não para rasgar. Eles a queriam para saciar seu desejo por ela.
E, se Deus ajudasse, não podia culpá-los.
Seu pênis estava duro desde que recebeu uma lufada de seu perfume de sol e chuva.
Apesar do monstro que era e do lugar horrível que estava, não podia ficar de lado e não ajudá-la.
—Ian e Duncan deram sua lealdade, — disse Arran. —Vão nos ajudar nisso.
—Sim. — Quinn olhou para os dois guerreiros que estavam de ambos os lados da caverna que Quinn usava como sua. Os gêmeos. Assim como Quinn e seus irmãos, eram fortes lutadores, mas quando lutavam juntos, eram letais.
Ian e Duncan olhavam à sua volta. Mas quanto tempo levaria até que a luxúria levasse a melhor?
O olhar de Quinn encontrou o de um guerreiro de pele cobre pelo caminho. Charon se mantinha sozinho, nem lutando, nem se alinhamento com Quinn, mas observou Quinn muitas vezes. No entanto, podia ver os olhos de cobre de Charon sobre a mulher, a luxúria enchendo seu olhar.
Santo Inferno.
Quinn soltou um longo suspiro. A vida era um inferno no Poço, e acabou de aumentar seu tormento. Disse a si mesmo que salvou a mulher, porque estava mantendo sua humanidade, mas na verdade, fez isso porque uma vez que a cheirou, viu, tinha que tê-la.
O que estava errado com ele? Deveria se concentrar em impedir seu deus de tomar posse enquanto esperava que Fallon e Lucan o resgatasse. Quinn não tinha dúvidas que seus irmãos viriam por ele. Tanto desejava como temia.
Se Deirdre capturasse seus irmãos também, estariam condenados de maneira que não podia começar a entender.
Quinn amaldiçoou a si mesmo como fez muitas vezes desde que acordou com Deirdre na odiada montanha. Ele fugiu de seus irmãos, do amor que lhe deram, porque não suportava ficar em torno de Lucas e sua mulher, Cara. O amor que compartilhavam lembrava Quinn de tudo que nunca teve e nunca teria.
Mas agora tudo que queria era voltar para um castelo em ruínas e todas as memórias que estavam nas pedras em ruínas.
—Nós podemos escondê-la por um tempo.
Quinn saltou quando a voz de Arran penetrou em seus pensamentos.
—Talvez. Existem pelo menos doze guerreiros aqui. Muitos para controlar porque se mantêm a si mesmos.
—Depois que deixou claro que governa o Poço, — Arran disse com uma pitada de humor em sua voz.
Quinn ergueu os olhos para Arran e bufou. A semana que levou para dominar o Poço foi torturante e não apenas por causa de seus ferimentos corporais, mas porque tinha que deixar seu deus solto a fim de sobreviver.
Só ele, Arran e os gêmeos sabiam que, quando Quinn estava nas sombras da sua caverna se transformava novamente em homem. Era um risco enorme para Quinn a cada vez, mas já estava tão perto de permitir que seu deus assumisse que não podia arriscar a possibilidade que isto realmente acontecesse.
Não depois de sobreviver a esta montanha nessas últimas semanas.
—Ouviu o que Deirdre disse? — Quinn perguntou para levar seus pensamentos longe do desespero que levava mais de sua alma todos os dias.
Arran caiu de cócoras ao lado dele.
—Estava vigiando os outros para ver o que fariam quando a mulher caisse. A fêmea é uma Druida, não é? Sinto a magia.
—Está correto, Arran. Ela é uma druida. Por que não matá-la como Deirdre fez com as outras druidas, entretanto? — Duncan perguntou.
Quinn olhou para a direita para encontrar a pele azul clara de um dos gêmeos. Atrás de Duncan estava Ian, que se aproximou para ser capaz de ouvir.
—É isso que estive pensando, Duncan. Cada Druida que traz para a montanha, ela mata.
—Há alguns que ainda vivem, — Arran o corrigiu. —Isla é uma que Deirdre mantêm viva.
—Sim. — Quinn coçou o queixo barbudo, desejando que pudesse raspar. —Alguns ela mantém. Mas não esta. Por quê?
Ian cruzou os braços sobre o peito e considerou a mulher aos seus pés com um elevar de testa.
—O que há de tão especial sobre ela?
Quinn fez um sinal aos seus homens mais próximos. Não queria que isto fosse mais longe.
—Tem que haver uma boa razão para Deirdre não matar essa Druida e usar seu sangue para o poder. Algum de vocês tem alguma idéia do que poderia ser?
Os gêmeos trocaram um olhar um com o outro antes de agitar suas cabeças.
—Não sabemos quase nada de Druidas, Quinn. Sabe disso, — disse Duncan.
Quinn olhou para Arran para encontrar a testa do Guerreiro franzida, o olhar distante. —Arran?
—Diria que a Druida sabe de alguma coisa, mas se o fizesse, Deirdre apenas a mataria. Isso não faz sentido. Tem que haver uma boa razão para Deirdre não a matar para ganhar sua magia.
—Precisamos descobrir o que é. — Quinn se levantou e olhou para as mãos com suas garras negras se mostrando ainda. As garras eram longas e afiadas o suficiente para cortar através de uma árvore. Não foram feitas para lidar com a pele preciosa de uma mulher.
Durante trezentos anos a raiva de Quinn por perder sua esposa e filho no massacre de seu clã permitiu que seu deus ganhasse muito controle sobre ele. Agora, odiava ver o deus se exibindo de qualquer forma.
—Vamos ter que esperar até que ela acorde. Até então, vigiamos. Não quero nenhum dos outros Guerreiros chegando perto dela, — Quinn ordenou.
Os três guerreiros balançaram a cabeça e se moveram para tomar suas posições na entrada de sua caverna.
Quinn olhou para o Poço. No centro, havia um espaço considerável em que Deirdre jogava suas vítimas e assistia as batalhas acontecerem. Fora de cada lado da área estavam as cavernas que os guerreiros reivindicavam como suas casas. Ou prisões sem grades, como Quinn pensava nelas.
A sua era a maior, pois veio com o território que reivindicou. Não teve que matar todos os Guerreiros em sua luta pela supremacia, e a caverna era grande o suficiente para que permitisse que ele e os outros três guerreiros a ocupassem sem ficar lotada. Apesar disso, Arran e os gêmeos tinham suas próprias cavernas, ambas bem ao lados da de Quinn.
A caverna também tinha uma placa na parte de trás que Quinn usava para deitar, não que costumasse dormir. O sono havia escapado desde que estava na montanha. Era o melhor de qualquer maneira.
Sempre que fechava os olhos via os rostos de seus irmãos ou seu sonho onde seu deus ganhava o controle dele e se alinhava com Deirdre.
Quinn carregava muita culpa por deixar seus irmãos e colocá-los na situação de libertá-lo para querer ver seus rostos e abrir suas memórias.
Passaram quase 300 anos garantindo seu castelo e lutando contra qualquer wyrran que se atrevesse a chegar muito perto de sua casa. Mais Guerreiros chegaram a eles, prontos para lutar na guerra contra Deirdre que chegava.
E o que ele fez? Quinn arruinou tudo ao fugir.
Como podia ter feito isso com Fallon e Lucan? Depois de tudo que fizeram para ele? Inúmeras vezes seus irmãos estiveram lá, tentando convencê-lo a controlar seu deus.
Foi Lucan que os levou de volta ao castelo, porque pensou que ajudaria Quinn. Quinn não queria ir, mas Lucan tinha razão. Retornar para sua casa ajudou a acalmar Quinn de maneiras que não podia explicar.
Com um suspiro, Quinn juntou a Druida em seus braços e levantou. Ela não pesava mais que uma pena, mas a sensação de seu corpo macio fez Quinn perceber há quanto tempo estava sem uma mulher.
Ele segurou seu corpo agradável e curvílineo mais que o necessário antes que a colocasse sobre a laje que usava como sua cama. Ansiava por ficar ao seu lado e sentir seu calor, faminto por tocar sua pele. Desejava saborear seus lábios. Empurrou os cachos escuros de cabelo do rosto, surpreso ao encontrar linhas de tranças minúsculas na coroa de sua cabeça e suas têmporas.
Quinn sorriu enquanto pegava uma das tranças. Era uma criança Celta. Sua magia retumbava através de suas veias para que todos pudessem sentir. Era forte, muito forte.
Ele perguntou novamente por que Deirdre não a matou. Embora estivesse muito abaixo do espaço que Deirdre usava como seu grande salão, Quinn ouviu a Druida dizer a Deirdre que achava que os MacLeods poderiam salvá-la.
Era porque a mulher sabia dele e de seus irmãos? Não, não achava que isso deteria Deirdre. Tinha que haver algo mais. Se havia uma coisa que Quinn conhecia sobre Deirdre era sua auto-preservação. Deirdre pensava em si mesma em primeiro lugar em tudo.
Era uma das muitas razões por que durou tanto tempo. Isso e a magia negra que usava. O ódio de Quinn por Deirdre inchou dentro, fazendo seu deus rosnar e ansiar para ficar livre. O deus prometia vingança contra Deirdre, e por um instante, Quinn quase cedeu. Se concentrou na batalha contra o deus e ganhou o controle novamente. Cada vez se tornava mais difícil. Quinn não sabia quanto tempo tinha antes do deus assumir. Orava que seus irmãos chegassem a ele antes que isso acontecesse.
Quinn se acalmou quando a fêmea gemeu. Ela estava com dor, mas não havia nada que pudesse fazer para ajudá-la. Estava também frio no Poço. Estavam muito abaixo do solo e a água constantemente descia pelas paredes, tornando o Poço úmido também.
Esfregou as mãos ao longo de seus braços nus e sentiu o quão fria sua pele estava. Quinn atormentou sua mente para o que Lucan ou Fallon fariam pela mulher. Não tinha comida, nem cobertores, e nada para aliviar suas dores. Se tivesse apenas prolongaria sua morte?
Quinn caiu sobre a laje perto de suas pernas e se permitiu pensar em Lucan e na mulher de seu irmão amado. Cara era um ajuste perfeito para seu irmão em todos os sentidos. Se perguntava se casaram. Supunha que sim, e o pensamento da cerimônia sem ele deixou uma dor no peito de Quinn que tornava difícil respirar.
Seus pensamentos, em seguida, voltaram para Fallon. Como mais velho, Fallon foi ensinado desde seu nascimento os deveres de um Laird. Nenhum deles podia imaginar que um mal como Deirdre varreria seu clã, não deixando nada atrás.
Quinn viu o quão difícil foi para Fallon lidar com o deus dentro de si, mas Quinn não foi capaz de ajudar seu irmão quando sofria por sua esposa e filho.
Como sempre Lucan estava lá para mantê-los juntos. Quinn odiava a si mesmo pelo ciúme que sentia de seu irmão. Lucan tinha ombros tanto para a raiva de Quinn como para o bêbado Fallon, que merecia contentamento.
Em vez de compartilhar a alegria com Lucan, Quinn se ressentiu. Quinn invejava Lucan porque Lucan tinha o que Quinn sempre procurou — amor. A mais pura forma, mais verdadeira de amor.
Mas Quinn nunca conheceria esse tipo de carinho, estava certo.
Virou os olhos para a mulher ao lado dele. Era pequena e tão magra que não parecia mais que uma criança, à primeira vista. Até que se olhava para o peito e via as curvas dos seios, cheios e atrevidos.
Seu vestido era de tecido comum, mas as presilhas de ouro que prendiam as tranças diziam que era muito mais do que parecia. Como todos os druidas eram.
Incapaz de evitar, se inclinou para a frente e inalou seu perfume novamente. Ela cheirava tão bem que quase pensou estar de volta à sua posição no castelo nos penhascos com o vento do mar despenteando seus cabelos e os borrifos das ondas molhando a roupa sobre ele.
O olhar de Quinn abrangeu seu rosto. Estava coberto de fuligem, os cílios longos descansavam contra seu rosto, e sobrancelhas escuras arqueavam levemente acima dos olhos. Estava curioso para saber qual a cor dos olhos, para ver se eram tão exóticos como o resto dela.
Tinha maçãs do rosto salientes, um nariz pequeno e empinado, e uma boca que implorava para ser beijada.
Suas bolas apertaram, o desejo tornando sua respiração áspera. Tocou um dedo nos lábios antes que pudesse pensar melhor. Eram tão suaves, tão gostosos que quase se inclinou para prová-los. Para saborear. Desfrutar. Reclamar.
Segure-se!
Quinn apertou sua mão e a moveu em seu colo, enquanto seu sangue acelerava e corria para seu pênis. Mas não podia tirar o olhar dela. O aumento constante e queda do peito atraia seus olhos. Queria rasgar o vestido dela e ver seu corpo em toda sua glória nua.
Para festejar seu olhar sobre sua pele cremosa, suas curvas exuberantes. Para acariciar. Segurar. Abraçar.
—Santo inferno, — ele xingou quando uma onda de luxúria o engoliu.
Não era como se tivesse permanecido celibatário como Fallon e Lucan. Não, Quinn dava o que seu corpo pedia, quando não podia negar mais. Seus irmãos nunca sabiam quando deixava o castelo. Com alguma parte de seu deus sempre se mostrando, Quinn saia durante a noite, se mantendo nas sombras e escuridão.
Mas nunca quis uma mulher como queria tocar, sentir... a Druida ao lado dele.
A mulher emitiu um longo gemido baixo que fez Quinn afastar seu olhar para o rosto e morder de volta um gemido próprio. Pelo canto do olho viu Arran e os gêmeos também olhar na sua direção.
Ela levantou a mão trêmula e tocou sua testa, sua respiração falhando quando a dor se registrou em sua mente.
—Não se mova, — ele sussurrou avisando da dor que estava por vir.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO TRÊS

—Tem um galo bastante desagradável na parte de trás de sua cabeça, e acho que suas costelas estão machucadas.
Marcail se acalmou ao som da voz rica e profunda, que parecia a névoa que descia das montanhas. Um arrepio tomou seu corpo e não tinha nada a ver com a baixa temperatura a rodeando.
Por esse breve momento, esqueceu o latejar de sua cabeça e como doía respirar. Tudo que conseguia pensar era a quem pertencia tal sensual e comandante voz.
E se atrevia a descobrir?
A cada latejar dentro de sua cabeça, lembrou de tudo que aconteceu ao longo da última semana, começando com sua fuga através da floresta e sendo encurralada por Dunmore e o wyrran. Então, foi trazida para Deirdre e jogada no Poço.
Lembrou de estar cercada por guerreiros antes que alguma coisa grande e preta saltasse em cima dela. Puxou uma respiração forte e imediatamente se arrependeu quando a dor explodiu em seu peito.
—Devagar.
A mesma voz suave e sedutora a cercava mais uma vez, seu tom a deixando se sentir segura e protegida. Era um ardil, sabia, mas em sua condição atual não havia nada que pudesse fazer sobre isso.
Marcail lambeu os lábios em seguida, pouco antes de um gemido pelo simples movimento fazer a dor explodir em sua cabeça mais uma vez. Ela ficou imóvel por um momento pensando que ouvia o que parecia um canto. Quanto mais tentava ouvir, mais rápido ele desaparecia até que não havia nada.
A qualquer momento esperava que sua cabeça explodisse de dor. Quando nada aconteceu, abriu um olho para ver que estava rodeada pela escuridão. Odiava o escuro por causa do que representava — o mal. Com um suspiro, fechou os olhos e se concentrou em aliviar as dores de seu corpo.
Ela colocou a mão em sua testa e sentiu uma mão grande e quente cobrindo a dela.
—Não tenho nada para ajudar com sua dor.
Havia preocupação em sua voz? Ela engoliu em seco para molhar a boca seca.
—Vou consertar tudo.
—É uma curadora, então?
Ela começou a sacudir a cabeça, mas sua mão a segurou imóvel. Em vez disso, disse:
—Não. Me foi ensinado como acelerar a cura de meu corpo.
Marcail não tinha certeza por que disse isso ao estranho. Não devia confiar nele, mesmo se a salvou. Ou tinha? Era apenas outro truque de Deirdre?
—É preciso se consertar, então, — ele disse, sua voz rouca ficando ainda mais baixa. —Ao salvá-la, a coloquei num perigo terrível. Vou protegê-la, mas com seus ferimentos, será mais difícil.
Ela nunca gostou de ser um fardo para ninguém, mas havia algo em sua voz, um fio de desespero e sofrimento que refletia suas próprias emoções e mexeu algo dentro dela. Tinha que saber seu nome. —Quem é você?
—Meu nome não importa. Descanse e se cure, Druida.
A dor de seu corpo começou a arrastá-la, mas lutou para ficar acordada, para descobrir mais sobre o misterioso homem ao lado dela.
—Marcail. Meu nome é Marcail.
—Tem minha palavra que vou protegê-la. Agora durma.
Ela podia jurar que adormeceu quando ele sussurrou seu nome.
Quinn levou a mão à testa de Marcail outra vez e teve certeza que estava dormindo. Pegou sua pequena mão e a colocou em seu estômago. Incapaz de evitar, passou os dedos sobre o dorso de sua mão, sentindo sua pele macia, suave. Não foi até suas garras a tocarem que se preocupou com ela discernir o que era.
Foram Guerreiros, afinal, quem a jogaram no Poço. Confiava nele agora, mas quanto tempo duraria uma vez que percebesse que estava cercada por mais Guerreiros, a maioria dos quais queria seu corpo?
Disse a si mesmo para se afastar e deixá-la dormir, mas não conseguiu se fazer levantar. Ele não lutou contra o desejo de ficar perto dela. Parecia bastante inofensivo. Mas quando o desejo de tocá-la cresceu dentro dele, fechou suas mãos sobre as coxas até que esmagar a necessidade de colocar as mãos sobre ela novamente. Era assim que Lucan se sentia quando tinha Cara em seus braços?
Quinn soube naquele instante que cometeu um erro fatal. Havia algo na mulher que mexia profundo com ele, uma reação escura e primitiva dentro dele. Essa emoção podia muito bem ser a sua morte.
Com uma maldição Quinn saltou de pé e saiu para a entrada da caverna. Marcail era tentadora demais, doce demais para ser deixada sozinho com os gostos dele. Só a arrastaria abaixo como fez com tudo na sua vida.
—Ela acordou? — Arran perguntou.
Quinn quase não respondeu.
—Brevemente. Está com uma tremenda quantidade de dor. No entanto, me disse que sabia como ajudar a se curar.
—Não é de estranhar. Cada Druida detém um tipo especial de mágica. É muita sorte que a fêmea possa curar a si mesma.
Quinn resmungou, não querendo mais falar de Marcail, uma vez que seu corpo ansiava pelo dela.
—Algum sinal de problema?
Arran cruzou os braços sobre o peito e girou o queixo para a esquerda.
—Têm o cheiro dela. Sangue de Deus, Quinn, todos sentimos o cheiro dela. É como um banquete para um homem faminto, de muitas formas. Vamos ter as mãos cheias.
—A estarei vigiando eu mesmo. — Quinn sabia que sua voz saiu mais como um rosnado que outra coisa, e estreitou o olhar no branco Arran. Quinn sabia que o Guerreiro ouviu o desafio nele.
—Acha que eu lutaria por ela? — Arran perguntou, sua voz dura com descrença. —Dei minha palavra que estaria ao seu lado. Duvida de mim?
—O que questiono é a necessidade dentro de todos nós, inclusive eu.
Arran suspirou e passou a mão pelo rosto.
—Nenhum de nós merece estar aqui, especialmente a druida, porque não tem a menor chance contra nós numa luta. Será que ela disse mais alguma coisa?
—Me disse o nome dela. É Marcail.
—Marcail, — Arran repetiu. —Um nome incomum. Por acaso não disse por que Deirdre não a matou, não é? "
Quinn meneou a cabeça.
—Ainda não.
—Vamos esperar que acorde logo para que possamos descobrir mais sobre ela. — Arran se virou e olhou para Marcail por cima do ombro.
Quinn observou Arran, esperando o momento em que teria que combater um dos poucos homens a quem deu sua confiança.
—Ela me lembra minha irmã, — Arran disse depois de uma longa pausa.
—Você tinha uma irmã?
Arran balançou a cabeça e desviou o olhar de Marcail, o cenho franzido.
—Duas na verdade. Uma mais velha e uma mais jovem. Marcail me lembra minha irmã mais nova. Ela era pequena e sempre estava em algum tipo de problema. Costumava chamá-la de duendezinha.
—O que aconteceu com ela? — Saiu da boca de Quinn, antes que pensasse melhor.
—Ela morreu, — Arran murmurou distraído.
Quinn não pressionou por mais. Não havia um só guerreiro lá fora que não houvesse sofrido terrivelmente quando Deirdre o encontrou. Quinn descobriu isto de maneira dura.
Com Arran perdido nas memórias de seu passado, Quinn encarou os gêmeos. Ambos os irmãos eram altos e musculosos. Estavam igualmente com os pés afastados e braços cruzados sobre o peito enquanto olhavam para os outros guerreiros, esperando alguém fazer um movimento contra Quinn.
Duncan e Ian eram tão parecidos que usavam o cabelo de forma diferente para ajudar as pessoas a saber quem era quem. Ambos tinham cabelos castanhos claros mesclados com ouro, mas Ian usava o seu cortado perto de sua cabeça, enquanto Duncan preferiu deixar o seu crescer até abaixo de suas costas.
Ian virou a cabeça para olhar para ele.
—A Druida acordou.
Não era uma pergunta. Quinn assentiu.
—Está se curando agora. Estou pensando em questioná-la mais uma vez quando acordar de novo.
—Ela sabe onde está? — Duncan perguntou.
Quinn encolheu os ombros.
—Se encontrarem qualquer alimento, me deixem saber. Marcail vai estar com fome.
Eles só se alimentavam uma vez por dia, e apenas algum pão. Mas era o suficiente para eles.
Quinn planejava dar mais a ela, talvez toda a sua comida se precisasse.
—Vou ver com ele, — disse Ian e se afastou.
Duncan coçou o queixo e olhou seu irmão gêmeo.
—Quanto tempo acha que vai demorar para Deirdre descobrir que a Druida não está morta?
—Não o suficiente, — admitiu Quinn. —Nem próximo do suficiente.

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO QUATRO

Quando Marcail acordou de novo, se sentiu imensamente melhor. Havia ainda uma dor surda em sua cabeça, mas ia desaparecer. Tentou puxar uma respiração profunda e foi recompensada com nenhuma dor.
Ao longe ouviu o canto de novo, bem como a música. Por um instante, Marcail achou que sentia a magia na música, mas como antes ela desapareceu antes que pudesse discernir mais da mesma.
Foi num piscar de olhos depois que percebeu que não estava sozinha. Era o homem com a voz que fazia vibrar seu estômago? Ou era alguém ou algo... mais?
Marcail abriu os olhos na escuridão mais uma vez. Se tornou ciente do constante gotejamento de água por perto, e pelo ar frio sabia que ainda estava na montanha de Deirdre.
—Como está se sentindo?
Ela virou a cabeça na direção da voz já tão familiar. Não estava com ela como antes, mas estava ao lado. Por mais que tentasse, não podia discernir mais que sua silhueta na escuridão. Queria ver o rosto dele, saber seu nome.
—Estou melhor.
—Bom.
Marcail sentou lentamente, testando seu corpo. Quando não gritou de dor, balançou as pernas para o chão. Foi quando viu que a pouca luz vinha de uma tocha do lado de fora do que parecia ser uma caverna. O Poço.
Do outro lado da caverna estavam ainda mais cavernas, embora parecessem menores. E no meio estava o grande espaço aberto, onde ela caiu.
Oh, Deus. Guerreiros.
Ela agarrou a laje de pedra, sentou com ambas as mãos e tentou manter sua respiração estável. Nunca temeu os Guerreiros antes de Deirdre a tomar como prisioneira. Principalmente porque, em sua opinião, não eram culpados pelo que estava dentro deles.
Agora que entrou em contato com aqueles sob controle de Deirdre, tinha uma opinião diferente dos homens.
—Foi aquele que me jogou depois que cai? — Ela perguntou ao homem. Ele se levantou à sua esquerda, imóvel como uma estátua.
Houve uma pausa e, em seguida,
—Sim.
—Quem é você?
—Por que é tão importante saber meu nome?
Foi surpreendida por seu tom rígido e raivoso. Por que deveria se importar em dar seu nome?
Houve um suspiro alto, em seguida uma sombra se moveu na entrada da caverna. A luz da tocha resvalou sua pele, mas foi o suficiente para que visse a extensão de seu leitoso peito e as calças rasgadas que pendiam sobre seus quadris.
Lembrou de olhar em seus olhos brancos, nos olhos de um Guerreiro. Quando o deus era solto e aparecia para todo mundo ver, a pele do Guerreiro ficava de qualquer cor que o deus escolhesse. Adicionado às garras, seus olhos mudavam, bem como a cor que assumia o olho inteiro.
—Não tem nada a temer de nós, — o Guerreiro branco disse. —Sou Arran MacCarrick, trazido aqui por Deirdre até que queira mudar para o lado dela ou morrer.
—Quantos vocês são? — Ela perguntou hesitante.
Outra forma se moveu na entrada. Desta vez, ele sacudiu a tocha fora do seu suporte e a trouxe em sua direção. Marcail olhou para dois rostos muito semelhantes, sua pálida pele azul, com kilts iguais, mas um com cabelo longo e outro curto.
—Somos Duncan e Ian Kerr, — o de cabelos longos segurando a tocha disse. —E esse, —apontou na frente dele, —é Quinn MacLeod.
Marcail virou seu rosto para o Guerreiro escondido nas sombras. Tudo fazia sentido agora.
Deirdre ostentou que mantinha um MacLeod, mas Marcail não acreditou nela.
—Não queria que eu soubesse que era um MacLeod?
Quinn bufou.
—Por que ia querer que soubesse? Depois que todo mundo ouviu você declarar que seriam os MacLeods que fariam Deirdre cair, mas um está capturado em sua montanha? Isso não inspira exatamente confiança, não é?
Com a tocha agora perto o suficiente, podia vê-lo de pé, alto e poderoso, com os punhos apertados e o olhar tão feroz como um Highlander prestes a entrar em batalha.
Queria ver o rosto claramente, para enraizar sua imagem em sua mente. A única coisa que podia ver, além de sua túnica de linho vermelho liso e calças surradas era seu cabelo. Era da cor do caramelo e caía em longas ondas grossas passando dos ombros e em torno de seu rosto.
Não foi até que deixou seu olhar cair nas pontas de seu cabelo que viu o torque de ouro ao redor de seu pescoço. O metal largo estava torcido numa trança tão grande ao redor como seu dedo médio. E em cada extremidade do torque havia uma cabeça de lobo, com a boca aberta num rosnado. A imagem de uma criatura astuta e inteligente parecia se encaixar no irmão mais novo dos MacLeods.
Marcail levantou e enfrentou Quinn. Teve um vislumbre de sua pele quando desapareceu do preto para a de um homem que passou muito tempo no sol.
Se perguntou por que ele não queria que o visse em sua forma de Guerreiro, mas ela o faria mais cedo ou mais tarde. Viu a parte mais importante, porém, a cor de seu deus era meia-noite.
—Obrigada por me salvar.
Ele balançou a cabeça, abanando o cabelo sobre os ombros musculosos.
—Não tenho tanta certeza que o fiz. Cada Guerreiro no Poço a quer para si mesmo agora.
Ela se perguntou se a queria também. Suas palavras a levaram a olhar por cima do ombro para os outros três Guerreiros. A observavam fixamente. Um dos gêmeos inalou profundamente, as narinas queimando como se a estivesse cheirando.
Ela passou a mão em suas saias, desejando ainda ter sua adaga. Mesmo se tivesse uma dúzia de espadas, nada ajudaria a manter os guerreiros longe se a quisessem.
—Por que me salvou, então? — Ela perguntou a Quinn.
Ele encolheu os ombros por suas palavras.
—O que sabe de Deirdre?
—O de sempre. Tem vivido por incontáveis ??anos e tem mais poder que qualquer Druida, mie ou drough, tem direito. Captura Druidas há séculos e os mata. E todo mundo sabe o que faz aos homens que pensa que poderiam ser Guerreiros.
Arran balançou a cabeça e caminhou até ficar ao lado de Quinn.
—Deirdre não apenas mata druidas, Marcail. Ela toma seu sangue e com ele sua magia. Deirdre os mata ela mesma, cuidando de recolher toda a magia dentro de seu sangue.
Marcail olhou para Quinn para confirmar. Ele balançou a cabeça e fez seu sangue se transformar em gelo. Como nenhum dos druidas em sua aldeia sabia disso? Ou será que sua avó sabia e não disse?
Ela agarrou o tecido da saia na mão para ajudar a se firmar.
—Então por que não me matou?
—Essa é a pergunta que todos queremos resposta, — disse Quinn.
—Sei. — Marcail colocou os braços em volta da cintura e tentou não tremer. —Deirdre me quer morta. Por que então me jogar aqui para você fazer isso?
Duncan estreitou os olhos escuros nela.
—Por que ela quer você morta?
Marcail lambeu os lábios e se perguntou se devia dizer. Manteve seu segredo por tanto tempo que começava a pensar que sua avó falou falsamente. Até Dunmore a caçar.
—A maioria dos druidas podem traçar sua linhagem familiar aos mesmos druidas que ajudaram a vincular os deuses dentro de você. Minha família era uma dessas.
O olhar firme de Quinn deslizou dela.
—Por isso é importante?
—Porque um dos meus antepassados ??foi quem ajudou a recitar a ligação.
O ar se tornou espesso pela expectativa. Era uma das razões por que não queria dizer. Dava esperança. E ela teria que matá-la.
—A magia é transmitida através de cada geração, — continuou Marcail. —Minha mãe morreu quando eu era muito jovem e não a passou para mim. Minha avó, no entanto, o fez.
—O que é isso? — Arran perguntou ansiosamente. —Pode falar agora?
Marcail balançou a cabeça e olhou para o lado dos Guerreiros.
—Minha avó me disse quando eu era apenas uma criança. Usou uma mágica para empurrá-la tão longe em minha mente que não a recordo.
—Nem um pouco? — Ian perguntou.
—Sinto muito, não. — Ela queria poder ajudá-los. Faria isso num piscar de olhos. Qualquer coisa para derrotar um mal como Deirdre.
Quinn se levantou.
—Como sabe que possui a magia, então?
—Não sei. — Ela finalmente se fez olhar para Quinn. —Os druidas com quem vivi assumiram que eu tinha o conhecimento, assim como eu fiz. Ajudaram a proteger as pessoas da minha família, porque esperamos que um dia eu seja capaz de usar a magia.
Não que Quinn não acreditasse nela. Sabia por experiência própria que os druidas eram capazes de grande magia, mas algo não estava soando verdadeiro.
—Diz que sua avó te deu o feitiço?
—Sim, — disse ela.
—Como?
Marcail encolheu os ombros.
—Ela me disse.
—Se lembra quando ela te deu o feitiço?
—Lembro dela sentada comigo por muito tempo após o pôr do sol. Foi poucos dias depois que minha irmã morreu. Minha avó era tudo que restava da família. Me disse que tinha algo importante para me dizer.
—E então falou o feitiço? — Duncan perguntou.
—Sim, — Marcail sussurrou. —Lembro de vê-la mover os lábios, mas não lembro das palavras.
Quinn podia ver o quão agitados seus homens estavam ficando. Sentia essa torrente de antecipação pelas palavras de Marcail da mesma forma que eles.
—Se não consegue lembrar do feitiço, como o dará ao seu filho ou filha?
—Não sei. — Ela abriu caminho entre ele e Arran e entrou nas sombras.
Quinn não se apressou para acompanhá-la desde que ela não saiu da caverna. Ela ficou de frente para a parede, de costas para ele. Tremia de frio e esfregou as mãos ao longo de seus braços para se esquentar.
Ele suspirou e tentou pensar na melhor forma de abordar Marcail. Queria que ela confiasse nele, queria que olhasse para ele para tudo. Quinn não sabia de onde os sentimentos vinham, mas uma vez que os reconheceu, não podia afastá-los.
Foi o som de sua respiração entrando, instável e baixo, que o fez diminuir a distância entre eles. Puxou uma respiração profunda de seu perfume e a deixou passar através dele. O acalmava de uma forma que não podia explicar, assim como sua proximidade enviava desejo furioso através das suas veias e seu corpo tremia de necessidade.
Teve que começar uma preensão de si mesmo. Quinn mentalmente balançou a cabeça para limpá-la, mas não havia nada que pudesse fazer por sua ereção. Enquanto Marcail estivesse perto, a queria.
—Estamos apenas tentando descobrir por que Deirdre não a matou ela mesma. — Quinn falou baixinho, querendo atraí-la mais perto. —Não parece com ela, e não deixaria passar a chance de ganhar alimentação. Não a menos que haja uma possibilidade que vai ser prejudicada.
E isso era que o golpeava.
—O que mais sua avó fez para você, Marcail?
Ela lentamente se virou para ele, seu corpo afastado apenas um palmo.
—Ela era Druida, Quinn. Estava sempre murmurando feitiços de algum tipo.
Pela primeira vez, Quinn se permitiu olhar em seus olhos. Graças ao poder de seu deus, podia ver tão bem no escuro como podia na luz. E o que viu foram olhos turquesa, tão cativantes que não conseguia desviar o olhar. Adormecida, era linda. Desperta, era deslumbrante.
Todos os seus sentimentos podiam ser vistos em seus movimentos e olhos. E agora olhava para ele com desespero e miséria tal que queria tomá-la em seus braços e dizer que tudo ficaria bem.
A última mulher que teve em seus braços foi sua esposa, uma mulher que não queria nada a ver com ele uma vez que se casaram.
Quinn se recusou a pensar em Elspeth. Em vez disso, se perdeu na impressionante e pequena Druida diante dele.
—Existe uma possibilidade que poderia ter protegido você de alguma forma?
—Se conhecesse minha avó, saberia que tudo era possível. Ela sempre disse que a morte da minha mãe poderia ter sido evitada, assim como a de minha irmã.
—E seu pai? — Quinn perguntou.
Ela desviou o olhar, um pequeno franzir marcando sua testa.
—Meu pai, assim como meu marido, foram mortos protegendo nossas casas dos wyrran.
Quinn sentiu como se levasse um soco nos rins.
—Você se casou?
—Por um curto período de tempo.
—Há quanto tempo?
Ela levantou um ombro magro.
—Mais de um ano. Foi um casamento arranjado. Queriam o melhor lutador que tinham para me proteger.
Não foi só o que ela disse, mas o modo como disse, com tal ressentimento, que chamou a atenção de Quinn.
—Não gostava de seu marido?
—Rory era um bom homem. Tentei ser feliz no meu casamento.
—E seu povo queria protegê-la?
Ela assentiu com a cabeça.
—Sempre abrigaram minha família.
Porque ela sabia o feitiço para ligar os deuses? Ou era outra coisa, algo que Deirdre também sabia e por isso não queria — ou não podia — matar Marcail?
Muitas malditas perguntas.
—O que vai acontecer agora? — Marcail perguntou.
Quinn não conseguiu se deter e estendeu a mão para tocar a pele impecável de sua face. —Você fica viva.

 

 

 

CAPÍTULO CINCO

Isla andou pelos corredores estreitos da montanha sozinha. Era assim como preferia. Se fosse por sua vontade, nunca mais veria outra face, humana, guerreiro ou wyrran, mais de uma vez para o resto de seus dias.
Mas sua vida não era dela mesma. Não por muito tempo. Logo Deirdre iria chamá-la. No início, Isla tinha esperança que nem todos os convocados acabariam com o mal e a morte.
Não levou muito tempo para perceber que sua esperança era falsa. Desde então, vivia cada dia como se fosse o último. E na verdade, não esperava viver muito mais tempo.
Pelo menos se fosse por sua vontade, não o faria.
—Minha senhora.
Isla parou com a voz suave. Virou lentamente a cabeça para ver um dos outros druidas que Deirdre mantinha em sua montanha. Estes Druidas, porém, não se limitavam às masmorras ou eram trancados esperando a morte. Não, estes Druidas foram transformados para o lado de Deirdre, sua magia removida.
Deirdre ordenava que os druidas mantivessem suas cabeças cobertas com tecido preto o tempo todo porque não queria olhar para seus rostos, rostos que Deirdre deformou. Mesmo quando os escravos Druidas falavam, falavam num sussurro, para que ela não pudesse distinguir suas vozes.
Havia apenas três Druidas que não precisavam usar a cabeça coberta. Aqueles eram Isla, sua irmã e sua sobrinha.
Isla levantou uma sobrancelha para o servo. Não era segredo que odiava estes druidas, pois foram suficientemente fracos para ceder a Deirdre, porque temiam a morte.
—O que quer?
—Foi solicitada.
Isla ficou tensa. Não esperava que Deirdre a chamasse por algum tempo ainda, mas haviam outros que muitas vezes a chamavam.
—Por quem?
O servo curvou a cabeça.
—Sua sobrinha, minha senhora.
Essa notícia deveria aliviar Isla, mas isso não aconteceu. Na verdade, a deixou mais nervosa. Fazia mais de um mês desde que viu pela última vez Grania, e poderia passar o resto de seus dias sem vê-la novamente.
Isla saiu atrás do servo quando foi levada para Grania. Sua sobrinha era mantida numa Câmara trancada pela magia de Deirdre. Para ver Grania, Deirdre tinha que conceder a Isla permissão, que era a única forma que alguém podia passar pela barreira de magia.
Até Isla chegar à câmara de sua sobrinha, seus nervos estavam desgastados. Nada de bom podia vir desta reunião, pelo que sabia.
—Existe alguma coisa que precise, minha senhora? — O servo perguntou quando ela se afastou para a porta.
Isla olhou no interior da câmara para encontrar sua sobrinha.
—Não há nada. Pode ir agora.
Ela esperou até que o servo fechasse a porta antes de Isla se virar para Grania. Lembrou do dia que Lavena trouxe Grania para o mundo. O parto foi longo, e comemoraram o nascimento de um bebê saudável, com muita alegria.
Lavena prontamente chamou o bebê de Grania, o nome significando amor. Era um perfeito fim de dia. Isla pensava que sua felicidade não acabaria nunca. Mas apenas três anos depois, Deirdre entrou em suas vidas.
—Bom dia, tia, — disse Grania de sua cadeira esculpida na parede.
Toda vez que Isla via Grania era como um punhal torcendo em seu coração. Deirdre tomou gosto imediato pela criança e usou sua magia para impedir Grania de envelhecer. Nunca.
Mas Isla sabia que o carinho de Deirdre não era a única razão pela qual mantinha Grania criança.
Isla nunca faria nada para colocar Grania em perigo. Uma Grania adulta que se virasse para o lado de Deirdre, porém, seria mais fácil de lutar. Deirdre conhecia Isla muito bem.
—Grania. Como se saiu?
A criança riu e saltou para o chão.
—Sabe que tão bem quanto uma rainha, Tia.
Isla apertou as mãos na frente dela e esperou. Não adiantava tentar incitar Grania. A criança era tão manipuladora como Deirdre, e quase tão má. Onde estava a adorável criança amorosa que Isla costumava balançar para dormir?
—Me fale da mie que Deirdre jogou no Poço.
Isla manteve suas feições frias. Não gostava do interesse que Grania tinha em Marcail e nada de bom poderia vir disso.
—O que quer saber?
—É verdade que a Druida sabe como ligar os deuses?
—Você sabe que sim.
Grania riu de novo, o riso que Isla daria qualquer coisa para ouvir.
—Sim. Mais uma a mãe e sua visão ajudaram Deirdre na sua missão.
—Sim.
A criança retomou seu assento nas rochas.
—Agora, me conte que viu a queda da mie no Poço. Os servos não viram o que aconteceu depois disso. Quero saber o que você viu.
—Os Guerreiros a atacaram.
—Mas não está morta, está?
Isla hesitou. Havia algo na maneira como Grania falava que fez os cabelos da sua nuca arrepiar.
—Não fiquei para ver o corpo. Por quê?
—A mie foi protegida por um feitiço. Quem derramar seu sangue vai morrer de uma morte horrível. Desde que não ouvi gritos de dor no Poço, suponho que a Druida não está morta, apenas levemente ferida.
Pelo menos agora Isla sabia por que Deirdre não reivindicou o sangue de Marcail para si mesma.
No entanto, não demoraria muito tempo para Deirdre perceber que Marcail não estava morta. E depois?
—Agora me diga, — Grania exigiu, —todos os Guerreiros atacaram a Druida?
—Quase. Foi brutal. Teria adorado. Agora, devo ir. Tenho deveres a fazer.
Os olhos azuis de Grania se estreitaram.
—Não me faça chamar você. É minha tia, afinal. Deve me visitar muitas vezes. Se tiver que chamá-la de novo, não vai gostar do que farei com você.
—Não é minha intenção ignorá-la, Grania. Minhas funções me levam para longe da montanha, como bem sabe.
Mas Grania não estava mais prestando atenção. Isla deu passos medidos fora da câmara. Não foi até estar no corredor que respirou livremente. Sua sobrinha, uma vez vivaz, foi transformada num monstro perverso com uma sede de sangue e fome de violência que rivalizaria com os Romanos.
***

Marcail perdeu o sol. Foram apenas horas desde que o viu pela última vez, mas já ansiava por ele. Não havia necessidade de Deirdre torturá-la ou jogá-la no Poço. Apenas negar o calor e a luz do sol e Marcail aos poucos enlouquecia.
—Trouxe uma coisa, — Quinn disse quando se agachou diante dela, que estava sentada no chão.
Os olhos de Marcail tinham se acostumado à penumbra, e era capaz de ver o rosto de Quinn claramente. Finalmente. Ele puxou o cabelo para trás num rabo na base de seu pescoço, revelando um rosto por que uma mulher morreria.
Quinn era a perfeição. Seu queixo forte estava polvilhado com pelos escuros, dando-lhe uma aparência letal e acentuando seus lábios firmes e bochechas cavadas. A barba não era completa, que dizia que a raspou há não muito tempo atrás. Embora não se importasse com a barba, queria vê-lo sem ela.
Sua testa era alta com sobrancelhas escuras que cobriam olhos do verde mais claro.
Ela viu o suficiente de sua silhueta em seu curto período de tempo para saber que era tão alto e musculoso como qualquer outro homem no Poço. Mas havia uma presença sobre ele, um ar de comando, que chamava a atenção de todos. Incluindo ela mesma.
—Marcail?
Ela piscou e se obrigou a desviar o olhar de seus olhos espetaculares.
—Perdoe-me. Acho que nunca vi olhos da cor dos seus.
Um canto da boca levantou.
—Poderia dizer o mesmo a você.
Por um momento, olharam um para o outro.
Finalmente, Quinn pigarreou.
—Seus olhos se adaptaram à escuridão, então?
—Estão melhores, sim. A luz da tocha também ajuda. Disse que me trouxe alguma coisa?
—Sim. Alimentos. Não é muito, mas é alguma coisa.
Marcail estava tão enjoada de ficar no escuro que não percebeu como estava com fome. Só então seu estômago roncou.
—Coma até encher, — Quinn disse quando entregou um pedaço de pão. —Vou pegar mais, se precisar.
Marcail colocou a mão em seu braço antes que ele pudesse sair. A sensação do grosso tendão apertado sob a palma da mão a fez ansiar por tocar mais.
—Me deixe dividir com você.
—Você precisa mais do que eu.
—Por favor, Quinn. Não quero ninguém passando fome para que eu possa ficar alimentada. — Ela partiu o pão no meio e o segurou. —Não vai comer comigo?
Por um breve momento pensou que ele ia recusar. Finalmente pegou o pão e se moveu para se sentar ao lado dela.
Talvez fosse porque a salvou, talvez fosse porque era um MacLeod, mas confiava em Quinn. Essa confiança podia muito bem acabar com sua vida, mas sabia que iria morrer na montanha de Deirdre de uma forma ou de outra.
—Vê no escuro, não é? — Perguntou ela.
Ele balançou a cabeça lentamente.
—Por que, então, há tochas aqui embaixo?
—Para Deirdre. Pode ser poderosa e imortal, mas não tem os poderes que nossos deuses nos deram.
Marcail puxou um pedaço de pão e o colocou na boca.
—Interessante.
—Como Deirdre a capturou?
Ela ficou surpresa pela pergunta. Olhou para Quinn quando terminou de mastigar.
—Wyrran foram vistos perto da nossa aldeia. No passado, pequenos grupos de wyrran percorriam o campo à procura de Druidas. Aqueles que sempre lutavam. Mas desta vez, tinham um líder. Um homem.
—Dunmore, — Quinn cuspiu.
—Sim. Sabia que vieram me procurar. Não podia suportar a ideia de alguém ser morto assim tomei a decisão de deixar a aldeia. Nesse tempo metade da aldeia tinha partido para se salvar.
—Isso foi uma tolice.
—É o pensamento de cada pessoa na terra para viver mais um dia. Todos sabíamos o que nos esperava se Deirdre nos capturasse. Não os culpo por fugir.
—Então se deixou pegar?
—Foi. Impedi Dunmore e os wyrran de seguir os outros. Fui para a floresta e os despistei por quase uma semana.
Suas sobrancelhas se levantaram.
—Uma semana? Isso é impressionante.
—Só porque conhecia a terra. Impressionante seria escapar.
—Não pode escapar de um wyrran, Marcail. A magia os ajuda em sua missão de encontrá-la.
—Eu sei.
—O que aconteceu quando chegou aqui?
Marcail respirou fundo.
—Fui levada imediatamente para Deirdre. Ela sabia que eu tenho conhecimento da magia presa em minha mente, mas não tentou encontrá-la. Por quê?
—Estou supondo que seja porque está com medo.
—Não acredito nisso.
Quinn virou de lado para que a encarasse.
—Deirdre não é nada além de inteligente. Ela não conseguiu o poder que tem agora tomando decisões custosas. Acho que sabia que não podia matá-la ou extrair o feitiço da mesma forma que sabia que tinha a magia primitiva.
—E como é isso?
—Magia negra.
Marcail balançou a cabeça.
—Como Druida sei o quão poderoso pode ser a magia, mas obter respostas da forma como ela faz... Tem que haver algo mais.
—Conhece a magia mie. O que não conhece é a magia drough. Magia negra tem muito mais poder que a sua. E enquanto Deirdre viver e adquirir seu poder, sua magia é praticamente ilimitada.
—Se é assim, por que ela não tem seus irmãos?
Quinn se viu sorrindo novamente. A mente de Marcail era rápida.
—Provavelmente pela mesma razão que levou seus trezentos anos para me capturar.
—Qual é?
—Lutamos contra ela.
Marcail sorriu, fazendo Quinn esquecer de respirar. Ele nunca se cansava de olhar para ela. Era excelente. Tão pura em espírito e forma que confundia sua mente, sentada ao lado dele.
—Há druidas que lutam contra ela. A diferença é que nossa mágica não pode tocar a dela, — ela disse.
Quinn não queria mais falar sobre Deirdre. Estendeu a mão e tocou uma das pequenas tranças que pendiam da têmpora de Marcail abaixo pelo peito.
—Por que trança seu cabelo assim?
—O portador do feitiço sempre prendeu o cabelo desse jeito. É uma tradição na minha família desde antes de Roma deixarem a Grã-Bretanha.
Ele olhou para a riqueza das ondas negras que caiam pelas costas quase até os quadris e queria mergulhar as mãos nas suas costas.
—Eu gosto, — disse ele.
—E o seu torque? Isso também é uma tradição dos antigos.
—Isso é. No meu clã a família do Laird sempre usava um torque. Foi minha mãe que escolheu os animais que enfeitam o meu e os torques dos meus irmãos.
Ela estendeu seu dedo para tocar na cabeça de lobo em seu torque. Seu sangue acelerou quando a mão dela roçou contra o peito, enviando correntes de calor espalhando dentro dele.
—Bonito. O lobo lhe convém, eu acho.
—Como pode dizer isso? Não me conhece.
Ela encolheu os ombros, o corpo se inclinando mais para olhar para o torque, o provocando com seu perfume e curvas. Quinn forçou as mãos a ficar como estavam, em vez de alcançá-la.
—Talvez, — disse Marcail. —Talvez não. No entanto, sei que o lobo é astuto e inteligente. Vi essas mesmas características em você.
Quinn cavou suas mãos no pão para não acariciá-la. Passou muito tempo desde que beijou uma mulher que esqueceu como, mas queria provar seus lábios, para varrer sua língua em sua boca e descobrir sua essência.
Queria se afogar em seu cheiro de sol e chuva, sentir o cabelo sedoso o cercar e sua pele macia nua ao seu toque.
Marcail de repente sentou e abaixou a mão.
—E seus irmãos? Que animal estão em seus torques?
Quinn abriu a boca para falar e teve que limpar a garganta antes do som sair.
—Fallon, o mais velho, tem um javali. Lucan tem um grifo.
—São animais poderosos que sua mãe escolheu.
—Meus irmãos são homens poderosos, e sua escolha se encaixa em cada um deles.
Marcail inclinou a cabeça para o lado, as tranças balançando com o movimento.
—Está me dizendo que não acha que sua mãe escolheu bem para você?
—Nem um pouco. — Quinn virou a cabeça e coçou o queixo, pouco à vontade sempre que pensava em se comparar com seus irmãos.
—Mentiroso.
Aquela palavra trouxe seu olhar de volta para ela.
—Por que você diz isso?
—Está nos seus olhos, — ela sussurrou.
Quinn não sabia como responder. Deveria estar com raiva por tê-lo chamando de mentiroso, mas na verdade ela estava correta. Ele mentiu.
Ele olhou para baixo para descobrir que ela tinha comido todo o pão dela.
—Está com sede? Posso mostrar onde encontrar água.
—Arran já trouxe, obrigada.
Mal as palavras saíram de sua boca, ela bocejou e colocou os braços em torno de si.
—Quanto conseguiu dormir na semana passada enquanto estava fugindo de Dunmore?
Ela levantou um ombro.
—Não muito. É uma das razões pelas quais ele finalmente me pegou.
—E comida?
—Comi o que podia encontrar de frutas enquanto corria.
Quinn colocou o pão em suas mãos.
—Coma. Sem discussão, Marcail. Vai precisar de sua força aqui em baixo.
—E você?
—Tenho um deus dentro de mim. Lembra?
Ela mordeu o pão.
—Fale-me do seu deus.
Quinn falaria sobre qualquer coisa, contanto que ela comesse.
—Ele é Apodatoo, o deus da vingança.
—É verdade, então, que um único Deus está em você e seus irmãos?
—Sim. Cada deus escolhe o Guerreiro mais forte de qualquer linhagem para ficar dentro.
Ela engoliu em seco e assentiu.
—O que significa que você e seus irmãos eram os três mais fortes.
—Correto. Cada um de nós é um lutador forte, mas quando batalhamos juntos com o deus desencadeado, somos imbatíveis.
Marcail franziu a testa com suas palavras.
—Não pode lutar contra Deirdre dessa forma?
—Se fosse assim tão fácil. Talvez no início, poderíamos, mas agora ela também tem wyrran e muitos Guerreiros em torno dela.
Quinn percebeu como Marcail rapidamente comia o resto do pão. Ela estava, provavelmente, com fome demais, e precisava de carne para ajudar a recuperar sua força. Carne que não tinha.
—Há quanto tempo está aqui? — Perguntou ela.
—Não sei. Você perde a noção do tempo quando não pode ver o sol.
—Esteve no Poço o tempo todo?
—Não. Fiquei acorrentado em outro calabouço por um tempo e sendo espancado diariamente. Deirdre achava que poderia me quebrar dessa forma.
—Mas não o fez, — Marcail disse com um sorriso. —Vê? Você e seus irmãos vão nos salvar.
Quinn desejava que fosse assim tão fácil.
—Como acabou aqui?
Quinn fez uma careta enquanto pensava no que Deirdre queria dele.
—Ela quer que eu lhe dê um filho. Me recusei, então me colocou aqui para me fazer mudar de ideia.
Os olhos azul-turquesa de Marcail se arregalaram.
—Por que ela quer um filho seu?
—Algo sobre uma profecia. Ela disse que eu daria o que ela pedia um dia.
—Não basta usar a magia para forçá-lo?
—Provavelmente pelo mesmo motivo que não a matou, ela não pode.
Marcail inclinou a cabeça atrás com suas palavras. Quinn pensou umas mil vezes sobre o incidente com Deirdre. Esperava que ela o forçasse, mas ela não o fez. Ela precisava que estivesse disposto, e disposto nunca estaria.
Só de pensar em fazer sexo com Deirdre, Quinn queria vomitar. Mataria a si mesmo, antes que concordasse em dar-lhe sua semente de boa vontade.
Quinn olhou para encontrar os olhos de Marcail se fechando e sua respiração igualando no sono.
Sua cabeça inclinou em direção ao seu ombro. Ele estendeu a mão e a encostou contra ele, para que não se machucasse sobre as pedras irregulares nas paredes.
O Poço não era um lugar barulhento. Os Guerreiros ficavam sozinhos a maior parte do tempo. Poucos falavam, e quando o faziam era em sussurros. Quando Quinn foi previamente jogado no poço, o constante gotejamento da água quase o deixou doido, mas agora não notava.
O que o avisou de uma conversa em curso entre um par de Guerreiros. Estava rapidamente crescendo, o que significava uma luta se formando. Uma batalha entre Guerreiros podia ficar alta. Quinn estendeu a mão e cobriu os ouvidos de Marcail com a mão para ajudar a abafar o ruído que sabia que viria.
De sua posição, podia ver o movimento perto da entrada de sua caverna. Outros Guerreiros se aproximaram da ação para descobrir o que estava acontecendo.
Quinn avistou Duncan e sabia que o Guerreiro relataria tudo que descobrisse. Quinn gostaria que os outros pararassem de lutar entre si e aprendessem a se unir para lutar contra Deirdre, mas nada que disse pode convencê-los.
Também tinha uma suspeita que Deirdre tinha um espião no Poço. Essa suspeita devia ser testada logo, porque se houvesse um espião, denunciaria Marcail para Deirdre logo que pudesse.
Quinn sabia que uma vez que Deirdre soubesse que Marcail estava viva, não havia nada que pudesse fazer para salvá-la. Deirdre não podia matar Marcail por si mesma, mas faria o que fosse preciso para ver a Druida morta por causa do feitiço que carregava.
Se Quinn apenas pudesse obter o feitiço de Marcail então poderiam usá-lo contra Deirdre e vincular todos os deuses mais uma vez. Sem seus Guerreiros, Deirdre só tinha seus wyrran.
Embora os wyrran fossem difíceis, podiam ser mortos com bastante facilidade.
Quinn se encontrou fechando seus olhos. Devia estar pronto e ver a luta entre os Guerreiros, mas era tão bom ter Marcail ao lado dele, a cabeça inclinada sobre seu ombro enquanto ela dormia.
Esfregou seu rosto contra o topo de sua cabeça e sentiu suas tranças. Não podia imaginar quanto tempo levava para trançar os cabelos, mas gostaria de assistir. Fazia trezentos anos desde que deixou uma mulher tocá-lo como Marcail fazia. As mulheres que tomou para se aliviar estavam no escuro, onde não podiam vê-lo, e nunca quis abraçá-las.
Com Marcail era diferente. Mas, então, muita coisa mudou desde que Deirdre o capturou. Era capaz de gerir seu deus agora, algo que não foi capaz de fazer em centenas de anos. Quinn não podia esperar para contar aos seus irmãos. Marcail se aninhou mais confortavelmente contra ele. Quinn sorriu e se deixou apreciar o pequeno momento. Até o rosnado indicando que a luta entre os Guerreiros começou. Logo, o cheiro de sangue e morte encheria o Poço.
Os ratos sempre presentes se aproximaram da briga, na esperança de encontrar algo para comer. Quinn sentiu quando um chegou na entrada de sua caverna e começou a se mover para dentro.
—Fora. Agora, — Quinn disse ao animal. —Não vai entrar aqui ou chegar perto de mim ou da mulher.
O rato imediatamente se afastou da caverna. Quinn descobriu seu poder apenas quando despertou no calabouço de Deirdre. Todos esses anos e não tinha ideia do poder que mantinha. Por três séculos não desenvolveu esse poder ou aprendeu a usá-lo. Como lamentava a fúria que correu em sua vida. Faria tantas coisas de maneira diferente se pudesse. Mas não havia como voltar e reviver o passado. Havia apenas o futuro.
E parecia sombrio.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO SEIS

Quinn abriu os olhos. Não se deixou divagar profundamente desde que foi jogado no poço. Qualquer coisa poderia ter acontecido com ele... Ou com Marcail. Abaixou o olhar para encontrar metade da Druida deitada em seus braços. Sua cabeça devia ter escorregado de seu ombro enquanto ele cochilava. Felizmente, a encaixou em seus braços e seu rosto contra seu peito.
Seus lábios se separaram enquanto ela dormia, seu braço apoiando a cabeça enquanto seu cabelo enrolava sobre o braço e pernas. Quinn poderia dizer honestamente que nunca viu mulher mais bonita em todos os seus dias.
Havia uma pureza sobre Marcail que brilhava para todo mundo ver. Mas havia força lá também. Marcail era inteligente o suficiente para fugir e levar Dunmore e os wyrran de sua aldeia. Salvou inúmeras vidas ao fazê-lo. Requeria muita coragem, coragem que Quinn não esperava de uma mulher.
Incapaz de se conter, Quinn ergueu a mão livre e correu seus dedos pela pele macia do rosto de Marcail. Sua mão tremia pelo desejo, fome de tocar mais dela. Mesmo saber que não era suficientemente bom para ela não detinha o desejo de conhecê-la como só um homem poderia. Queria beijar, lamber cada centímetro do seu corpo. Seu pau latejava. Agravado pela sensação dela nos braços. Trezentos anos era muito tempo para não sentir a suavidade de uma mulher como agora.
O olhar de Quinn se prendeu na boca de Marcail. Uma boca luxuriosa e decadente. Seus lábios eram cheios, muito amplos e deliciosos. Sabia que teria um sabor celestial, e que um beijo nunca seria suficiente. Abaixou a cabeça, antes que percebesse o que estava fazendo. Pouco antes de seus lábios tocarem os dela, conseguiu parar. O que ela pensaria quando acordasse para encontrá-lo a beijando?
Quinn não queria descobrir. Ela olhou para ele com confiança em seus lindos olhos turquesa. Não queria que isso mudasse. Sua mão livre trouxe uma mecha de seu cabelo para o nariz. Quinn respirou o perfume que era só dela. Mas não era o suficiente. Queria mais. Com uma inclinação de sua cabeça, se encaixou na curva de seu pescoço e se afogou pela fragrância de sol e chuva. Ainda podia sentir o cheiro do sol em sua pele.
Lentamente levantou a cabeça, com medo que ela acordasse. E medo que não o fizesse. Suas pálpebras levantaram, e se viu olhando em seus olhos. Por vários batimentos cardíacos eles não se moveram, não falaram. Quinn percebeu que ainda tinha uma mecha de seus cabelos em suas mãos, mas não conseguia soltar.
—Não quis que se tornasse minha cama. — Sua voz era pouco mais que um sussurro, macia e sedutora.
As bolas de Quinn se apertaram em resposta.
—Foi um prazer.
Seus lábios se inclinaram num sorriso.
—Não permanece em sua forma de deus como os outros fazem. Por quê?
—Porque é o que Deirdre quer. Estou muito perto do meu deus tomar o controle sobre mim. Se isso acontecer, sou dela.
Marcail pôs a mão em concha em seu rosto e sua testa franziu.
—Se arrisca permitindo que seu deus fique solto.
—Devo isso aos meus irmãos.
—E a si mesmo? — Perguntou ela.
Ele começou a sacudir a cabeça dizendo não quando seu polegar roçou os lábios.
—Não se atreva a dizer não. — Ela sentou e colocou seu rosto perto do dele. —Pode vencer o que Deirdre tenta usar para atraí-lo ou prendê-lo. Ouvi contos sobre você e seus irmãos por toda a minha vida, Quinn. Foram os três que a enganaram por centenas de anos.
Quinn fechou os olhos contra suas palavras. Não podia se mover, não com a mão sobre ele, mas não queria ouvir suas palavras. Não sabia a verdade sobre ele, a pessoa que desgraçou seus irmãos e colocou seu plano em perigo. Ninguém queria conhecer essa pessoa — nem mesmo Quinn.
—Não sabe o que está dizendo, — Quinn disse finalmente. —Há coisas sobre mim que não sabe.
—Ninguém é perfeito, Quinn MacLeod. Precisa perceber isso, antes que seja tarde demais.
Antes que pudesse responder, ela se foi. Seu toque, seu calor... desapareceu. Quinn se sentiu privado, como se fosse mostrado um vislumbre do céu naqueles poucos momentos que ela esteve em seus braços. Mas quando abriu os olhos, ainda estava no Inferno.
Ele encontrou Marcail recolhendo água numa pedra oca. Ela bebeu e, em seguida, espirrou água em seu rosto. Quinn queria ir com ela, mas não tinha nada a dizer. Não estava prestes a dizer-lhe o que realmente era. Era uma das poucas pessoas que o viam como ele queria ser. Estranho que reconhecesse isso tão rapidamente. Talvez fosse porque ela afirmou que os MacLeods iriam salvá-la, e queria ser a pessoa que faria isso. Por alguma razão, quando ela estava perto, o fazia querer ser o homem que via em seus olhos.
***
Lucan MacLeod lavou o sangue de sua túnica no lago e envolveu a túnica ao longo de um galho de árvore para secar. Pela terceira vez em dois dias, foram atacados pelos wyrran.
—Haverá mais ataques, — disse Ramsey.
Lucan olhou para o Guerreiro, calmo e reservado. Ramsey era o que ouvia, formava suas opiniões, e depois falava. Então, quando declarava algo, era para todos se beneficiarem a tomar conhecimento.
Fallon suspirou e esfregou a nuca.
—Claro que haverá mais. Deirdre sabe que viríamos por Quinn. Não vou deixar meu irmão em sua montanha podre para fazer o que ela quer.
Lucan olhou de seu irmão para Larena. A esposa de Fallon era a única mulher Guerreira que conhecia, e seu poder de se tornar invisível era um grande trunfo que planejavam usar uma vez que chegassem à montanha de Deirdre.
Desde que Quinn foi levado, Lucan se preocupava com seu irmão mais novo. Quinn sempre foi estourado, permitindo que seu temperamento o dominasse em vez de ouvir a razão. A fúria que montou Quinn era compreensível. Lucan não sabia como lidaria com a perda de Cara, muito menos uma criança junto com ela. Era uma das razões por que Cara e Larena tomavam uma bebida especial que as impedia de engravidar, apenas como prevenção.
Não havia registro de um guerreiro engravidando uma mulher, mas Lucan não queria arriscar até que Deirdre estivesse morta. Quinn tinha todo o direito de querer sua vingança contra Deirdre, mas não aprendeu a controlar sua raiva. Era essa raiva que preocupava mais a Lucan.
—Acha que ele não vai sobreviver, não é? — Galen perguntou a ele.
Lucan parou para pensar como Galen sempre sabia o que estava pensando. Galen disse que podia ler as expressões das pessoas e como moviam seus corpos, mas Lucan começava a suspeitar que era muito mais que isso.
—É verdade que estou preocupado, — admitiu Lucan.
Galen levantou uma sobrancelha escura loira. Ainda estava na forma de Guerreiro, sua pele verde escuro camuflada pela floresta. Galen flexionou as garras de sua mão direita e olhou para o chão.
—Quinn está sobrecarregado pelas mortes de sua esposa e filho, como sabe. Mas há mais.
—Eu sei. — Lucan passou a mão pelo rosto e se abaixou num tronco caído. Desejava mergulhar nas águas frias do lago, mas não havia tempo para pequenos prazeres como esse. —Fallon me disse tudo que Quinn admitiu a ele sobre seu relacionamento com Elspeth.
Lucan pensava que Quinn e Elspeth se amavam. É verdade que não era um amor como o de seus pais, mas Lucan achava que seu irmão era feliz. Nenhum deles sabia o quão miserável Quinn foi.
—Acha que Quinn está perdido para nós? — Lucan perguntou a Galen. A pergunta estava presa na sua garganta, mas era aquela que fazia a si mesmo a cada hora de cada dia.
A pele escura de Galen piscou verde e as garras e presas desapareceram. Ele olhou para Lucan com sábios olhos azuis e encolheu os ombros.
—Não saberemos até chegarmos. Há uma coisa que nunca pode duvidar, Lucan.
—O quê?
—Você e Fallon são tudo que Quinn tem neste mundo. O vínculo que mantém os três juntos é mais forte que toda a magia de Deirdre.
Lucan pensava sobre suas palavras quando Galen foi embora. O olhar de Lucan se voltou para os outros seis que viajavam com ele. Havia Fallon que finalmente tomava seu lugar como líder, e Larena sua esposa. Em seguida, Galen, Ramsey, Logan que mantinha todos rindo com suas piadas, e Hayden, que tinha um ódio por droughs que o consumia.
A vida de Quinn repousava sobre o destino de sete Guerreiros que estavam indo libertá-lo.
—Também desejava que pudessemos chegar mais cedo, — disse Fallon o alcançando.
Lucan ficou com raiva no início por que Fallon não podia usar seu poder para saltá-los do castelo de Cairn até a Montanha Toul num piscar de olhos. Fazia muitos anos desde que qualquer um deles esteve na montanha, e se Fallon pulasse e acabasse no meio de uma rocha, estariam todos mortos. Deviam estar seguros, e isso significava viajar a pé.
—Vamos chegar lá, — respondeu Lucas. —Corremos mais rápido que os cavalos e podemos manobrar rapidamente se precisar.
Fallon concordou, mas Lucan viu o cansaço no rosto de seu irmão.
—Galen me disse algo que não pensei antes.
Fallon riu e empurrou o longo cabelo marrom escuro longe de sua face.
—Não estou surpreso. Me diga.
—Ele disse que o vínculo entre nós, irmãos, é mais forte que qualquer magia de Deirdre.
—Acha que está certo?
Lucan considerou um momento e assentiu.
—Sim, irmão, acho. Quinn pode ser muitas coisas, mas vai lutar contra Deirdre.
—Apenas um homem pode durar tanto tempo em sua montanha, Lucan.
—Então é melhor a gente se apressar.
Fallon deu um salto, com o cenho franzido. Era um olhar que Lucan conhecia bem. A mente de seu irmão estava girando com um plano.
—Vamos nos dividir, — disse Fallon. —Os wyrran só podem atacar um grupo de cada vez.
—E o outro?
Fallon sorriu, o brilho da batalha brilhando em seus olhos verde-escuros.
—Os outros seguirão à frente.
Lucan bateu nas costas de seu irmão.
—Vamos começar então. Quinn esperou tempo suficiente por nós. — Ele pegou sua túnica ainda úmida e a puxou sobre sua cabeça.
Com um aceno de Fallon, Lucan sinalizou para Hayden, Logan e Galen para se aproximarem e continuou o caminho. Fallon levou Larena e Ramsey por uma rota diferente para a Montanha de Deirdre.

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO SETE

Marcail se viu observando Quinn enquanto sua mente se afastava do canto e da música que jurava ouvir mais uma vez. Toda vez que Quinn caminhava sobre a caverna ou falava com seus homens, seu olhar o localizava. Seus movimentos eram fluidos e poderosos.
Ela notou a maneira como ele e seus homens procuravam pelo Poço com seus olhos implacavelmente. Não demorou muito tempo para entender o que Quinn queria dizer quando disse que a colocou em maior perigo ao salvá-la.
Mesmo nas sombras da caverna de Quinn, podia sentir os olhos dos outros Guerreiros sobre ela. Não havia privacidade para ela, mas enquanto ficasse na caverna, estava segura.
Segura, porém, era uma palavra relativa no momento. Enquanto Deirdre a mantivesse, Marcail nunca estaria segura. Apesar de saber disso, não podia se obrigar a deixar Quinn. Deirdre não podia matá-la, mas Deirdre se asseguraria que fosse morta.
O pensamento de nunca olhar para o olhar verde pálido de Quinn novamente deixou uma sensação doente no estômago de Marcail. Cada Druida na Grã-Bretanha sabia o quão importante os MacLeods eram para sua sobrevivência. Era a ideia, como Quinn disse, dele e de seus irmãos nos histórias que ouviu que a fazia olhar para ele como seu salvador?
É mais do que isso. Eu sei que é.
Marcail viu nos olhos de Quinn. Ela vislumbrou para si as sombras que o perseguiam, mas também o viu assumir o comando. Todo Guerreiro no Poço o considerava como líder. Talvez nem todos estivessem do lado dele, mas sabiam melhor que questionar sua autoridade.
Quinn se virou e a pegou olhando para ele. Ele franziu a testa e perguntou com apenas um movimento de cabeça se estava tudo bem. Ela balançou a cabeça e desviou o olhar. Mas era muito tarde. O viu se aproximar pelo canto do olho.
—O que foi? — Perguntou ele.
Marcail puxou as pernas até o peito e apoiou o queixo nos joelhos. Ela estava sentada na laje que Quinn usava como cama desde que ela o deixou naquela manhã. Seu traseiro estava dormente, mas estava com medo de se mover, com medo de atrair mais atenção para si mesma.
—Marcail?
—Não é nada. Estava olhando você com seus homens.
Ele sentou ao lado dela e apoiou os cotovelos sobre os joelhos.
—Nenhum dos Guerreiros atreve a vir aqui dentro da minha caverna. Pode se movimentar livremente.
—E se Deirdre descobrir sobre mim?
—Na verdade é apenas uma questão de tempo antes que ela o faça.
Marcail lambeu seus lábios enquanto sua pele ondulava com um arrepio.
—Por que adiar o inevitável então? Estou colocando você, Arran e os gêmeos em perigo, me escondendo aqui.
Quinn se endireitou e virou a cabeça para olhar para ela.
—Acha que ligo para o que Deirdre vai fazer conosco? Marcail, ela coloca as pessoas que quer quebrar no Poço. Vamos para o lado dela ou morremos. É a única maneira de qualquer um de nós ser liberado.
—Então acha que ela vai me deixar aqui?
—Isso passou pela minha mente. Você mesmo disse que ela a quer morta.
Marcail esperava que Quinn estivesse certo. Tinha chance maior de sobrevivência com Quinn do que em qualquer outro lugar. —Espero que esteja certo.
—Estou. Meus irmãos estão vindo por mim, e quando o fizerem, vou tirar você daqui.
—Tem certeza que seus irmãos sabem que está aqui?
Quinn sorriu ironicamente.
—Oh, sim. Deirdre me disse que deixou uma missiva. Sabem que ela me tem.
—Como Deirdre o capturou?
Pela maneira Quinn franziu a testa, e ela desejou não ter perguntado.
—Não importa, — disse ela. —Não importa.
—O que as histórias dizem sobre mim e meus irmãos?
Ela hesitou, sem saber por onde começar.
—Fomos informados que os três foram os primeiros Guerreiros que Deirdre encontrou, que matou seu clã inteiro para chegar a vocês três.
—Isso é verdade. Deirdre matou tudo, desde o gado até crianças e bebês. Nada que estava na terra MacLeod sobreviveu.
A maneira como disse fez sua alma doer. Ela ouviu o horror e a aceitação em sua voz, o que a entristeceu.
—Sinto muito, Quinn.
—Minha esposa e filho morreram no massacre, juntamente com meus pais. Estava com Fallon e Lucan e um punhado de membros do clã indo ao encontro da pretendida de Fallon. Deirdre deve ter atacado logo depois que saímos.
O estômago de Marcail rolou. Ela não tinha ideia que Quinn foi casado e pai. Colocou a mão em cima da dele em sua perna.
—Não há nada que possa dizer que diminua a dor da perda de uma esposa e um filho.
—O que mais ouviu?
Ela retirou a mão e limpou sua garganta. Era óbvio que não gostava de falar sobre sua esposa e filho, não que pudesse culpá-lo. Ela sempre ouviu que o tempo curava todas as feridas. Podia diminuir a dor, mas nunca se esqueciam os mortos.
—As histórias dizem que foi à procura de Deirdre.
—Não, — disse Quinn com um aceno de cabeça. —Ela nos enviou uma nota dizendo que sabia quem nos atacou. Meus irmãos e eu nunca percebemos a armadilha que era. Logo que pisamos neste monte, ela nos acorrentou e desencadeou o deus.
—Como foi ter o deus desacoplado?
—Mais doloroso que possa imaginar. — Ele suspirou e se recostou contra as pedras. —Era como se todos os ossos do meu corpo se partissem em dois e depois fossem fundidos outra vez juntos. Meu sangue era como fogo em minhas veias quando o poder do deus fluiu através de mim. Meu corpo tremia de dor, mas o poder que o deus nos deu superou até mesmo isso. Quebramos as correntes que ela nos colocou e fugimos antes que ela percebesse o que acontecia.
—Vocês três tiveram sorte.
—Muita. Embora no momento não pensamos nisso. O que as histórias dizem que aconteceu conosco?
Marcail enfiou suas pernas sob ela.
—Uma vez que escaparam de Deirdre desapareceram, sempre lutando contra ela.
—Desaparecemos. — Quinn deu uma risadinha. —Vivemos por cinqüenta anos como animais nas montanhas, lutando entre nós. Estávamos com muito medo de ir às aldeias. Foi Lucan que nos levou de volta ao nosso castelo.
—Castelo MacLeod?
—Sim.
Marcail não podia acreditar.
—Ninguém jamais imaginou procurar lá. As terras MacLeod foram divididas entre os clãs e todos assumiram que o castelo estava vazio.
—Havia uma aldeia perto do castelo que se tornou interessante para nós. Nós os levamos a acreditar que o castelo era assombrado.
—E você nunca saiu do castelo?
Quinn encolheu os ombros.
—Às vezes, eu o fazia, mas meus irmãos não. Queríamos ficar escondidos de Deirdre, e a qualquer momento que víamos um wyrran o matávamos.
—Foi assim que foi capturado?
Quinn abaixou a cabeça. Marcail estava cheia de perguntas. Podia não querer que soubesse a realidade sobre ele, mas sairia eventualmente. Nunca se importou em mentir, mas não queria mentir para ela, nem que a confiança desaparecesse de seus olhos azul-turquesa.
—Não, Marcail. Fui capturado por que Lucas se apaixonou por Cara, e eu não podia suportar vê-los juntos.
—Porque perdeu sua esposa?
Se fosse assim tão simples.
—De certa forma. Deirdre atacou o castelo num esforço para capturar Cara, que é uma Druida. Derrotamos os Guerreiros e wyrran para salvá-la, e Cara apesar de ser mortal e Lucan imortal, seu amor não tem limites. Então, fugi para ter algum tempo para mim. Vi um wyrran e o persegui apenas para cair numa armadilha. Mais uma vez.
—Então, Deirdre descobriu onde você e seus irmãos estavam?
—Ela o fez. Tenho certeza que atacou novamente desde aquela época, e se conheço meus irmãos e os outros Guerreiros com eles, Deirdre não teve chance.
—Há outros Guerreiros com seus irmãos? — Perguntou ela, choque em sua voz.
Quinn fez uma pausa em sua história. Marcail não se moveu desde quando confessou ter fugido de seus irmãos. Estava curioso para saber o porquê.
—Sim, há outros. Quando sai, quatro haviam se juntado a nós para combater Deirdre.
—Será que ela sabe disso?
—Ela sabe.
Os olhos de Marcail estavam arregalados pela descrença e esperança.
—Espera que mais Guerreiros se juntem a você?
—Meus irmãos esperam mais, e Arran, Duncan e Ian se juntaram a mim.
—Isso será suficiente para derrotar Deirdre?
—Terá que ser.
Marcail colocou a mão em seu braço e chegou mais perto dele. O coração de Quinn disparava a cada vez que ela o tocava. Queria arrastá-la em seus braços e beijá-la até que estivessem sem fôlego e deitá-la para que pudesse cobrir seu corpo com o dele. Pressionando sua suavidade, até ouvi-la gemer de desejo.
—Outra Druida pode ajudar, — disse ela. —Posso participar com você?
A boca de Quinn de repente ficou seca. O rosto de Marcail estava a uma respiração de distância, o seio roçando seu braço. Seu corpo estava em chamas e a única coisa que o saciaria era a mulher rogando com seus exóticos olhos azul-turquesa.
—Claro, — respondeu ele. —Cara vai gostar de ter outra Druida no castelo.
O sorriso de Marcail foi cegante.
—Obrigada.
Era Quinn que devia estar agradecendo a ela. Marcail era especial, e não apenas porque era uma druida. Era extraordinária, pois o fazia se sentir como um homem novo.
O desejo inundando suas veias deve ter se mostrado em seus olhos, porque o sorriso lentamente deixou seu rosto. Ela não se moveu para longe dele, apesar de tudo. E isso foi tudo que Quinn precisou para ceder à vontade de beijá-la.

 

 

 

 

 


CAPÍTULO OITO

—Quinn.
A voz de Arran interrompeu qualquer coisa entre Marcail e Quinn. Marcail desviou o olhar para Quinn não ver o quão desesperadamente queria seu beijo. Era uma sensação assustadora querer que a tocasse. Durante seu breve casamento, Marcail não gostou do toque de Rory, ou seus insensíveis beijos castos.
Mas com Quinn tudo era diferente. Seu coração disparava, a respiração acelerava, e seu corpo queimava. Não entendia como um homem podia fazer essas coisas com ela, mas gostava demais para questionar.
Marcail lambeu seus lábios enquanto Quinn se levantava. Não haviam mais palavras entre os homens. Seja o que fosse que Arran queria saber de Quinn, apenas dizer seu nome transmitiu a informação.
Quinn fez um breve aceno para Arran, antes se se virar para ela.
—Fique nas sombras. Não se mova, e pelo amor de Deus, não faça nenhum som.
—É Deirdre? — Perguntou ela.
—Não acho isso, mas seja quem for, não quero que saiba de você.
Marcail endireitou os ombros.
—Vou fazer o que pedir.
Quinn deu uma piscada e soltou seu cabelo antes de encharcar a tocha.
Ele hesitou por um momento, mas foi o suficiente para que percebesse que se transformou num Guerreiro.
A caverna foi mergulhada na escuridão, deixando Marcail se sentindo sozinha. Ela se amontoou contra as pedras frias. Não achava que houvesse tempo para se mover para um dos cantos mais escuros.
Pela luz das tochas Marcail podia ver Quinn e Arran tomando lugar na entrada da caverna de Quinn. Também avistou Ian, o gêmeo de cabelo curto, se movendo perto deles.
—Fique onde está, — disse Duncan quando chegou para ficar na frente dela. —Vou proteger você.
Quando Marcail inclinou a cabeça para o lado, pode ver Quinn e sua pele meia-noite sumindo nas sombras que o cercavam. Sua curiosidade era grande demais para não querer saber o que estava acontecendo. Seu coração batia forte em seus ouvidos enquanto sua ansiedade aumentava.
—Quieta, — Duncan sussurrou para ela. —Tudo vai ficar bem.
Marcail queria acreditar no Guerreiro de luz azul, mas nada esteve "bem" para ela nas últimas semanas, anos mesmo.
—Não é Deirdre.
Ela olhou para o grande Guerreiro. Apenas sua silhueta podia ser visto, mas mesmo esse pouco mostrava seu olhar voltado para Quinn.
—Como sabe? — Perguntou ela.
—Os outros Guerreiros. Se fosse Deirdre, iriam se esconder.
Só podia vislumbrar um Guerreiro além de Quinn, Arran e Ian, na frente deles. O Guerreiro inclinou um ombro casualmente contra as pedras, seus braços cruzados sobre o peito largo.
A luz das tochas tremeluziam, revelando sua pele cobre e o cabelo marrom no comprimento do queixo repartido ao meio e caindo de cada lado do rosto. Seu kilt estava em melhores condições que o dos gêmeos, mas não reconheceu o tartan. Em ambos os lados das têmporas do Guerreiro havia dois chifres grossos que se curvavam em torno de sua testa.
Se o Guerreiro fosse qualquer indicação, Duncan estava correto e não era Deirdre que estava entrando no Poço. Mas se não era Deirdre, então quem era?
—Quinn, — uma voz profunda ecoou pelo Poço.
Quinn não estava surpreso ao descobrir Broc acenando para ele. O que o Guerreiro voador queria, entretanto? Quinn tinha o desejo de olhar atrás para Marcail, mas manteve sua cabeça para a frente e confiando em Duncan para vigiá-la.
—Quer que vá com você? — Arran perguntou.
—Não. Vou lidar com Broc por minha conta.
Quinn não entendia a necessidade de Broc atormentá-lo enquanto estava na montanha, mas o Guerreiro azul fazia questão de olhar para Quinn com frequência suficiente.
Seja o que fosse que Broc queria, não queria que os outros ouvissem. Broc não tinha medo de nada, nem mesmo ser atacado no Poço. Esse era o plano de Quinn. Atacar o Guerreiro, e ficar livre. Apesar de Arran e dos gêmeos toparem a tarefa, os outros Guerreiros se recusavam a se comprometer com o plano.
Quinn levou seu tempo para caminhar até a porta que os prendia no Poço. Tal como acontecia com tudo, a porta era feita de pedra, com um grande quadrado grande suficiente para os alimentos serem passados, mas pequena demais para qualquer um escapar. Além disso, Deirdre usou sua magia, e não importava o poder de um Guerreiro, não seria capaz de fugir do Poço, sem a porta estar aberta. E mesmo assim era arriscado.
—O que quer? — Quinn exigiu quando chegou à porta.
Broc flexionou as grandes asas que pairavam sobre sua cabeça e cruzou os braços sobre o peito.
—Seu tempo está se esgotando.
—Será que Deirdre o enviou aqui para me irritar, porque não está me dizendo nada que eu ainda não saiba.
Broc revirou os olhos.
—Pode ser o esperto dos irmãos, mas às vezes, Quinn MacLeod, você é denso.
Agora chamou a atenção de Quinn. Se aproximou da porta e baixou a voz.
—Do que está falando?
—Realmente acredita que Fallon e Lucan virão por você?
—Sem dúvida. — Embora tivesse suas reservas uma vez ou duas. Afinal, não foi o melhor dos irmãos.
Broc olhou para o guarda à sua esquerda e baixou a voz.
—Ela tornará mais difícil para eles e você. Ela o quer, Quinn, quer você o suficiente para ter certeza que nunca sairá.
—Por que está me dizendo isso?
—Acho que precisa entender onde está. Está no Poço há poucas semanas. Já declarou sua autoridade com os Guerreiros, que apenas provou a Deirdre que é o único que ela precisa.
Quinn estreitou seu olhar em Broc.
—Não importa com o que ela me ameace, jamais sucumbiria a ela.
—Cuidado com o que diz, — advertiu Broc e recuou um passo. —Seu tempo está acabando.
Quinn queria chamar Broc de volta e perguntar por que repetiu essa última afirmação. Mas o que Broc sabia? Quinn sabia melhor que perguntar ao Guerreiro, mas desejava chamá-lo de volta. Se Broc quisesse que ele soubesse, o Guerreiro diria.
Quinn se virou e caminhou de volta para sua caverna. Não parou na entrada, mas continuou dentro até Marcail. Assim que o viu, ela levantou, uma vez que Duncan se moveu ao lado.
—Quem era? — Perguntou ela.
—Um dos Guerreiros de Deirdre, chamado Broc. É o único Guerreiro que sei que tem asas.
—Asas, — ela repetiu, os olhos arregalados.
Quinn assentiu com a cabeça e olhou para a tocha que Duncan agarrou para reacender.
—Todos os Guerreiros são diferentes.
—Estou começando a perceber isso, — ela murmurou. —O que Broc queria?
—Me avisar. — Quinn olhou de Arran para os gêmeos. —Broc perguntou se eu tinha certeza que meus irmãos viriam.
Arran bufou.
—Claro que virão.
Quinn começava a se perguntar, no entanto. Talvez Deirdre não tenha dito aos seus irmãos onde estava, como foi levado a acreditar. Talvez dissesse a Lucan e Fallon que se juntou a ela. Nunca deveria ter fugido de seus irmãos, não importa o quão doloroso fosse ver Lucan e Cara juntos. Se não, quando escapasse da montanha, Quinn iria direto para seus irmãos implorando seu perdão por ser um burro por três séculos.
—O que mais Broc disse? — Ian perguntou.
Quinn encolheu os ombros.
—Só queria me lembrar que Deirdre percebeu como dominei aqui em baixo.
—Presumo que a tenha agradado, — Arran disse secamente.
—Infelizmente. — Quinn olhou para suas garras negras. Eram longas e afiadas, e viram muito sangue desde que seu deus foi desvinculado. Quanto sangue mais teria que ser derramado antes que encontrasse um pouco de paz?
A mão de Marcail tocou seu braço. Num piscar de olhos ele empurrou seu deus abaixo. Não gostava dela ficar perto dele quando se transformava. Era bobagem, sabia. Viu os outros em sua forma Guerreiro, mas ele passou tantos anos com alguma parte de seu deus se mostrando que queria provar a si mesmo que estava em completo controle.
Levou um instante para perceber que os outros deixaram ele e Marcail sozinhos.
—Nunca estão longe de você, — ela disse de seus homens.
Quinn olhou para a mão em seu braço.
—Me toca de forma mais livre do que alguém já fez.
—E isso te incomoda? — Ela deixou cair o braço ao lado dela.
—Não deveria.
—Minha avó me ensinou que, às vezes, um toque pode fazer mais por uma pessoa que qualquer quantidade de palavras.
Quinn apertou sua mão num esforço para não fechar os dedos em volta do pulso e puxá-la contra ele.
—Sua avó era muito sábia.
—Por que meu toque te incomoda tanto
—Disse a você. É porque não estou acostumado com isso.
Ela balançou a cabeça, as linhas de tranças caindo em seus olhos.
—Isso é muito triste.
—Minha esposa não gostava do meu toque.
Quinn não tinha certeza do que o fez compartilhar esse segredo com Marcail. Podia ser porque a Druida não o julgou de forma alguma, ou por que só queria falar sobre Elspeth.
Marcail agarrou seu punho com as duas mãos e gentilmente abriu seus dedos. Sentou na laje e o puxou para o lado dela.
—Que tipo de mulher não gostaria de seu toque? É um homem bonito, que vem de uma família poderosa. Teve sua escolha na mulher, não foi?
—Foi, — confessou Quinn. —Minha esposa e eu crescemos juntos. Ela estava sempre em torno de mim. Para um rapaz, ela era um aborrecimento. Quando fiquei mais velho nos tornamos amigos.
—Ela deve ter te amado muito.
—Eu pensava assim. — E foi sua ruína. Sua mãe o advertiu que antes de casar com Elspeth procurasse outras mulheres, mas Quinn não a escutou. Pagou caro por seu erro.
—Foi casado por quanto tempo?
—Quase quatro anos. — Pareciam quatro vidas.
Marcail suspirou, com as mãos ainda em volta das dele.
—Quer me dizer o que aconteceu?
Quinn não queria fazer tal coisa. Mas sua boca abriu, e as palavras derramaram.
—Elspeth ficou grávida quase que imediatamente. Eu estava tão feliz, e ela parecia estar tão bem. Teve um tempo difícil, no entanto. Ficou doente na maior parte da gravidez e raramente podia sair da cama. Toda vez que eu chegava perto ela me pedia para sair.
—Algumas mulheres não têm uma vida fácil. Nada disso foi culpa sua.
Ele sabia disso agora, mas antes não.
—Quando meu filho finalmente chegou pensei que tudo daria certo, mas ele foi rejeitado. Ela ficou em trabalho de parto durante horas. Num ponto a parteira não acreditava mais que Elspeth viveria. Quase dois dias depois que entrou em trabalho de parto nosso filho nasceu.
—Um momento alegre com certeza.
Quinn sorriu, lembrando como Lucan, Fallon e seus pais comemoraram.
—Oh, sim. Foi uma grande festa, me disseram depois. Não participei, porque queria ficar com Elspeth.
Os lábios de Marcail se ergueram num sorriso.
—Como devia ser.
—A parteira disse a Elspeth que não arriscasse ter mais filhos. Deu a Elspeth algumas ervas para tomar diariamente para que não engravidasse com meu filho novamente.
Marcail interiormente se encolheu. Sabia o que Quinn diria a seguir, mas não o parou. Precisava compartilhar isso.
—Elspeth se recusou a tomar as ervas por medo de não funcionar, e não queria arriscar sua vida novamente. Nem sequer me permitia dormir na cama com ela porque achava que eu iria forçá-la.
Marcail não podia acreditar que a esposa de Quinn foi tão egoísta. Se realmente conhecesse Quinn, Elspeth perceberia que nunca iria machucá-la.
—Nunca falou com ela sobre isso? — Perguntou ela.
Quinn meneou a cabeça.
—Tentei algumas vezes no início, mas não quis ouvir a razão. Parei de tentar depois disso.
—Ninguém sabia, não é? Sua família? Achavam que você era feliz?
Quinn a olhou como se fosse estranho que ela o entendesse, e isso fez seu coração falhar. As histórias que ouviu sobre os MacLeods não diziam muito sobre os irmãos. Certamente nunca disseram como Quinn era bonito ou como fazia desejar ter a magia de dar-lhe toda a felicidade que ele queria.
—Não, — respondeu ele depois de um longo trecho de silêncio. —Minha família nunca soube. Queria que fosse desse modo. E a sua? Será que sua avó sabia que era infeliz?
Marcail soltou sua mão e virou a cabeça. Escutar os outros sempre era mais fácil que revelar algo sobre ela, especialmente uma parte que desejava nunca existir. Para sua surpresa, Quinn segurou sua mão numa de suas grandes. Um dedo da outra mão delicadamente virou o rosto atrás para o seu.
—É muito doloroso?
—Só porque gostaria que nunca tivesse acontecido. Rory não era abusivo, mas temia a magia que corria no sangue da minha família.
As sobrancelhas de Quinn se juntaram com suas palavras.
—O quão poderosa?
—Suficientemente poderosa para minha avó esconder o feitiço em algum lugar na minha mente.
—E a magia é sua?
Engoliu em seco e baixou os olhos.
—Minha mãe e avó não tiveram um relacionamento fácil. Minha mãe achou que deveríamos esquecer os costumes Druidas. Por isso, não me foram ensinados os feitiços, e minha mãe se recusava a permitir que minha avó chegasse perto de mim para que eu pudesse ser ensinada.
—Não sabe magia?
—Sei, mas não como deveria. Quando meu pai foi morto defendendo nossa aldeia dos wyrran, acho que minha mãe percebeu o quanto esteve errada. No entanto, a dor que sentia pela morte do meu pai a fez esquecer de mim e meu irmão. Não muito tempo depois ela morreu. Quando minha avó chegou, começou a me ensinar tanto quanto podia, mas muitos anos se passaram.
O polegar de Quinn esfregou sobre o dorso de sua mão.
—Sabe como curar a si mesma.
—Sim, e posso sentir o humor das pessoas. Minha avó disse que era meu maior poder, mas poderia ser muito maior se minha mãe fizesse como devia. Você vê, nem todos os Druidas tem magia especial.
—Por que isso? — Ele se recostou contra as rochas e trouxe um joelho acima para colocar seu braço.
—Minha avó diz que é porque começaram a se afastar dos costumes Druidas ou sua magia não era muito forte para começar.
Quinn meneou a cabeça.
—Não entendo. Ou tem ou não tem poder. Cara, a mulher do meu irmão, não tinha ideia que era uma druida. Todos descobrimos por acaso quando ela estava tentando fazer um jardim.
—Ah. É parte de cada mie querer ver algo crescer. Temos esse poder.
—Como descobrimos com Cara. Foi quando ficou com raiva e a planta absorveu e começou a morrer que percebemos a magia que ela tinha.
—Está aprendendo sua magia? Existe uma Druida para ensiná-la?
Quinn levantou um ombro.
—Quando saí, Lucan estava tentando procurar uma Druida para Cara, mas não sei o que aconteceu desde que fui levado.
—Se não houver uma Druida para ajudar Cara, então eu vou.
—Você é uma boa mulher, Marcail.
Ela sorriu, à vontade, mais uma vez.
—Agora, me conte de Rory.


CAPÍTULO NOVE

Quinn odiava dizer o nome do marido dela, saber que outro homem provou seus lábios e sentiu sua pele na dele. Fazia Quinn borbulhar de raiva pelo ciúme que rapidamente surgia. Lutou para manter seu deus sob controle, orando que Marcail não percebesse o quanto estava rígido.
—Não há nada para contar. Não queria se casar. É simples assim.
—Nada é tão simples, — disse Quinn. —Pode não tê-lo amado, mas os dois poderiam ser amigos.
—Não acho que existiu essa possibilidade, — ela sussurrou. —Ele não queria se casar comigo mais do que eu queria casar com ele. Nenhum de nós tivemos escolha. Fizemos o que era melhor para a aldeia.
—O que era melhor? — Quinn sabia o que era estar casado com alguém que desejava não estar. Mas pelo menos ele e Elspeth foram amigos uma vez. Marcail e Rory, aparentemente, não poderiam dizer o mesmo.
Marcail inclinou a cabeça contra as rochas e suspirou.
—Não fiquei feliz quando ele morreu, mas tive o prazer de estar livre. Ele questionava tudo sobre mim. Não gostava do meu cabelo, não gostava da minha magia, mas odiava quando eu não sabia tudo que um Druida deveria saber.
—Ele poderia ser o melhor lutador de sua aldeia, mas era o homem errado para você.
Ela riu.
—Obrigada. Ninguém admitiria isso na aldeia.
—Eles são idiotas.
Seu sorriso era contagiante quando se virou sobre ele.
—Você me faz rir, apesar da minha situação.
Assim como ele fez antes, se encontrou se afogando em seus olhos azul-turquesa, seu corpo exigindo que a puxasse contra ele e beijasse. Reivindicar seus lábios e seu corpo como dele. Não queria nada além que envolver seus braços em seu pescoço e ouvi-la suspirar quando seu corpo afundasse no dele.
Mas então pensou em sua conversa com Broc e nas palavras de advertência do guerreiro.
—Está franzindo a testa, — Marcail disse.
—Broc me disse que eu estava ficando sem tempo.
—O que significa isso?
Quinn se inclinou e colocou os cotovelos sobre os joelhos. Sua cabeça caiu quando soltou uma respiração profunda.
—Não tenho idéia. Estou assumindo que tem algo a ver com Deirdre. Tudo neste lugar amaldiçoado tem a ver com essa cadela.
—Lucan e Fallon virão, Quinn. Sei que sim.
Quinn desejava ter sua confiança.
***

Charon bateu sua garra cobre contra as rochas na entrada de sua caverna. Ele odiava o Poço, odiava a montanha, mas como o resto deles, não ia sair em qualquer momento em breve.
Sairia antes de muitos deles, no entanto. Deirdre fez uma oferta que não podia recusar. Todo mundo suspeitava que havia um espião no Poço, mas ninguém descobriu quem. Embora estivesse interessado no que Quinn MacLeod fazia, Charon não gostava de espionar quando era forçado a isso. Gostava de escolher seus próprios vícios, e tinha muitos.
Ficou surpreso com a rapidez com que Quinn carimbou sua dominação sobre os Guerreiros no Poço. Charon não lutou com ele. Ainda. O faria, eventualmente. Mas Charon estava ganhando tempo. Todo mundo tinha uma fraqueza, incluindo o grande Quinn MacLeod. Charon teria que encontrar seu ponto fraco e usá-lo em sua vantagem contra Quinn e Deirdre. Era tudo uma questão de tempo antes que Charon deixasse esse monte de pedras para trás e voltasse para as atividades que apreciava.
Charon sorriu para Arran, o Guerreiro branco que sempre estava perto de Quinn. Arran não confiava em Charon, assim não deveria. O interessante foi Quinn salvar a mulher. Não que Charon não teria ajudado. Era um homem depois de tudo. Fazia um tempo muito longo desde que saciou seu desejo entre as coxas de uma mulher. E a Druida pequenina certamente era deliciosa o suficiente.
Quinn, no entanto, a alcançou primeiro. E agora Quinn a protegia como se ela fosse a resposta às suas orações. Arran e os gêmeos nunca ficavam longe da mulher. Fascinante, fascinante.
Charon não se surpreendeu quando Arran atravessou o espaço até ele.
—Mais proteção que o habitual, não é?
Arran parou na frente dele.
—Diga-me, Charon, por que não se alinhou com a gente? Não ajuda Deirdre. Quanto mais Guerreiros do lado de Quinn, melhores nossas chances de escapar.
—Faz muitas décadas desde que alguém escapou desta montanha. Não espero ver alguém fazê-lo tão cedo.
—Por que não ajuda?
—Por que deveria? — Charon perguntou.
Um músculo na mandíbula de Arran saltou.
—Porque estamos aqui para morrer ou nos converter. Pessoalmente, prefiro não fazer nenhum dos dois. Quinn é nossa melhor esperança.
—Ele é sua melhor esperança. Para mim, olho por mim mesmo.
—Um dia vai precisar da minha ajuda, e vou estar na posição de dizer não.
Charon riu.
—Esse dia nunca chegará.
—Veremos, — disse Arran antes de girar nos calcanhares e se afastar.
Ele manteve o sorriso no lugar, mesmo quando Arran desapareceu na caverna de Quinn. Charon não fazia previsões de qualquer tipo, porque aprendeu desde cedo o quão longe um prenúncio podia ir.
***

Marcail tentou passar o tempo pensando nas magias que sua avó ensinou em vez de olhar para Quinn como uma menina que nunca viu um homem bonito antes. Ela viu homens bonitos, mas nenhum deles era Quinn MacLeod.
Conversando com Quinn, Marcail percebeu que manteve muitas das ideias de sua mãe ao longo de seu aprendizado. Os costumes Druidas não foram parte da educação de Marcail, de modo que ouvir sua avó dizendo palavras como "guerra para acabar com todas as guerras" e "o fim de tudo que é bom neste mundo" não tinham muito significado para Marcail. Não tinham até Dunmore e os wyrran aparecerem em sua aldeia. Todo o tempo que Marcail fugiu através da floresta, tentou recordar cada palavra que sua avó já lhe disse. Mas já era tarde demais.
A magia que deveria deslizar facilmente dentro do seu corpo não respondeu quando a chamou. Ela podia se curar sim, mas apenas porque sua avó a fez praticar todos os dias enquanto estava viva. Sua avó fez Marcail praticar, tantas vezes que se tornou a segunda natureza para ela, ao contrário de qualquer outra magia sua. Marcail tinha um grande poder discernindo os sentimentos das pessoas, vindo a ela em momentos inesperados. E outras vezes, como agora, quando queria descobrir o que mantinha Quinn tão reservado, sua magia ignorava a chamada. Estava além de frustrante. E a odiava naquele momento. Sua avó tentou avisá-la, tentou prepará-la para o que estava por vir. Talvez porque Marcail não prestasse atenção, que sua avó teve que enterrar o feitiço para ligar os deuses na mente de Marcail.
Marcail estendeu as mãos. A luz bruxuleante da tocha lançava nas mãos um brilho vermelho alaranjado. Ela tinha as mãos de uma Druida, com forte sangue Druida em suas veias, mas não podia ajudar os homens ao seu redor a lutar contra um mal implacável.
Certa vez os mies poderiam ter ficado contra Deirdre, mas Deirdre manteve seu crescente poder para si mesma, em silêncio caçando todos os Druidas e roubando seu poder. Quando os mies perceberam o que era, a magia de Deirdre era forte demais. Muitos mies teriam se erguido contra Deirdre, mas os Druidas, tanto Mie como droughs, estavam igualmente com muito medo dela. Marcail suspirou e apertou suas mãos. Podia concentrar seu poder e fazer uma flor, mas não tinha nada com que lutar contra Deirdre ou ajudar Quinn e seus irmãos em sua missão. Era inútil como Druida.
Não era de admirar que Deirdre não tivesse tempo para matá-la ela mesma. Não havia suficiente magia em seu sangue para fazer a Deirdre qualquer bem. Uma sombra passou e veio em sua direção. Marcail visualizou a pele azul-claro e o longo cabelo castanho de Duncan. Ele a olhou um instante em silêncio.
—Está quieta, senhora.
—A tristeza me faz refletir sobre o passado, o que nunca é uma coisa boa.
—Não podemos mudar nosso passado, não importa o quanto queremos.
Sábias palavras.
—É sempre quieto aqui embaixo?
—Às vezes. Às vezes há brigas entre os Guerreiros como houve na outra noite.
Marcail franziu a testa. Houve uma luta? Não lembrava de ter ouvido uma, mas tinha sono pesado. Havia uma possibilidade distinta que dormiu direto por ela.
—Já se envolveu numa briga?
—Só se precisar, — ele disse com um encolher de ombros. —A minha lealdade é para meu irmão, Quinn e Arran. Estou sempre ao lado deles na batalha.
—Quanto tempo está aqui?
—Muito mais que Quinn, mas não tanto como Arran.
O que não dizia nada, mas novamente, uma pessoa podia perder a noção do tempo na escuridão.
—Eram amigos de Arran antes de Quinn vir?
—Não lutamos entre nós se é isso que quer dizer.
Marcail olhou para Quinn novamente. Ele não se moveu de seu lugar na entrada da sua caverna. Estava nas sombras, mas sentia sua presença.
—E Quinn? Será que você lutou com ele?
—Assim que ele foi capturado, os Guerreiros de Deirdre não paravam de se gabar que pegaram um dos MacLeods. Tinha a esperança de encontrar Quinn, mas nunca esperava que Deirdre o atirasse no poço.
—Mas ela o fez.
—Sim, fez. Ian e eu soubemos pelo jeito que ela falou a Quinn que ele poderia ser o MacLeod sobre quem ouvimos tanto. Deirdre teve o cuidado de não dizer seu nome. Não levou muito tempo para descobrir isso, porém.
—Percebeu se os outros lutaram contra ele?
Duncan coçou o queixo.
—A maneira de sobreviver aqui é provar que não pode ser vencido, que é o mais forte, o mais poderoso. Quando alguém novo é jogado, uma luta é a primeira coisa que acontece. Foi assim com Quinn. Ian e eu ficamos atrás e assistimos. Todas as histórias que ouvimos contar dos grandes lutadores que os MacLeods eram não eram mentira.
Marcail estava fascinada, mas sempre esteve cativada pela história dos MacLeod. Sua avó contava a história toda noite, nunca desviando uma única palavra.
—Será que Arran lutou com ele?
—Arran fez como o que nós fizemos, observou. Quinn não precisava de nossa ajuda, mesmo quando seis Guerreiros atacaram de uma só vez.
A boca de Marcail se abriu em estado de choque.
—Seis? Seis e não o ajudou?
Duncan riu e mexeu seus pés.
—Devia o ter visto lutando. Uma vez que o faça, vai entender por que foi tão fácil para ele ser o líder aqui.
—Não queria sua posição?
—Antes de Quinn havia batalhas todos os dias, quase o dia todo. Cada um de nós tentava ser melhor que os outros.
—Mas são Guerreiros. Cada um de vocês é poderoso, ou pelo menos foi o que nos contaram em nossas histórias.
Duncan cruzou os braços sobre o peito.
—Cada um de nós tem um deus dentro de si não ligado, sim, mas Quinn é o mais antigo de nós. Vive com seu deus por mais tempo. Além disso, existem alguns deuses que são mais fortes que outros.
—Qual o seu deus?
—Ian e eu temos o deus Farmire. Ele é o deus da guerra, ou pai da batalha, como gosta de ser conhecido.
—Ambos têm o mesmo deus?
—Sim, — respondeu Duncan. —Somos gêmeos, então compartilhamos tudo, até mesmo o deus. Quinn e seus irmãos têm o mesmo deus.
Ela assentiu com a cabeça.
—Quinn me disse. Como isso é possível? Pensei que havia um só deus em cada homem?
—Vai ter que perguntar aos deuses, — disse Duncan, antes de se afastar.
Marcail estava agora, mais do que nunca, curiosa sobre Quinn. Nenhuma das histórias dizia que os irmãos dividiam o mesmo deus. Se Marcail acreditasse em Duncan, isso fazia os irmãos MacLeod mais fortes. Desejava agora ser capaz de vê-lo lutar com os outros Guerreiros, quando foi jogada no poço. Poucas vezes viu homens lutando, e nunca achou intrigante. Mas, novamente, nenhum deles era Quinn MacLeod.

 

 

 

 


CAPÍTULO DEZ

Não importa o quão duro Quinn tentasse esquecer que havia uma mulher muito atraente, muito bonita apenas a alguns passos dele, não podia. Tentou pensar em Deirdre e num plano de fuga, mas tudo em que sua mente podia se concentrar era na forma dos lábios cheios de Marcail e seu perfume delicioso. Cada gota de sangue estava agora centrada na virilha, e pela dor ali instalada, não ia embora tão cedo.
Os outros Guerreiros no Poço começavam a ficar impacientes também. A cheiravam, ouviam. Não importa como, Quinn nunca seria capaz de deixar o Poço ou um deles a tomaria. Esse pensamento fez sua raiva subir.
Quinn virou a raiva em sua vantagem e a canalizou para se comunicar com os ratos. Embora não dominasse seu poder na forma humana ainda como Lucan fazia, Quinn estava ficando mais forte a cada tentativa.
Já se transformava em seu deus a cada vez que queria ser visto. Seu poder rodava dentro dele, cada vez maior e potente a cada batida do seu coração.
—Encontrem os outros guerreiros. Os mordam, ataquem, irritem. Os mantenham ocupados, — Quinn ordenou aos ratos.
Sua audição afiada pegou o arranhão das garras dos ratos quando se apressaram para cumprir suas ordens. Quinn não escondeu o sorriso quando ouviu o rosnado, antes de um guerreiro ser mordido. A distração não era muita, mas os ratos manteriam os guerreiros ocupados por um longo tempo. Quinn não podia esperar para sair da montanha e tentar seu poder lá fora com outros animais — gostava de cavalos.
Gostava de montar. Sua montaria favorita era um garanhão baío. Quinn perdeu o cavalo. Desde que se tornou imortal, não montou. Não havia um motivo para isso quando podia se mover tão rápido, ou mais rápido que qualquer cavalo podia correr. Ainda assim, ansiava por sentir um cavalo abaixo dele e ver o chão borrado sob os cascos do animal, como se movia sobre a terra. Trezentos anos atrás, correr com sua montaria o fizera se sentir como um deus. Como foi ingênuo.
Quinn sentiu uma presença ao seu lado e olhou para encontrar Arran. O guerreiro olhava a frente da caverna de Charon. Por alguma razão, Arran odiava Charon, mas Quinn não descobriu o porquê.
—Reinvindicou a fêmea como sua, mas não quer ficar perto dela, — Arran disse antes de voltar seu olhar para Quinn.
Só a menção de Marcail fez esquentar o sangue de Quinn.
—Não é uma questão de querer, é uma questão de merecimento. Não sou o homem para ela.
—Mas você a quer.
—Mais do que quis alguma coisa há muito tempo. Ela é uma boa pessoa que foi pega na teia de Deirdre. Tenho o mal dentro de mim, Arran.
—O mal dentro de nós não nos faz perversos. Nós temos essa escolha.
Quinn sorriu e balançou a cabeça.
—Soa como Lucan. Ele disse a mesma coisa para mim uma vez.
—Então seu irmão é, obviamente, o inteligente, e não você, como dizem.
Quinn revirou os olhos.
—Admito que Lucan e Fallon são homens melhores e, às vezes, Lucan mostra ser quase tão inteligente quanto eu, mas nunca me enganou.
O sorriso de Arran, fraco como era, caiu de seus lábios.
—Se quer Marcail, tome-a. Vi o jeito como ela olha para você, meu amigo. Será um tolo se permitir que este momento passe por você. Vivo diariamente com arrependimentos. Aprenda comigo.
Quinn vivia com seus próprios arrependimentos.
—Não posso arriscar, Arran. Deirdre vai descobrir Marcail em breve. Já a pus em perigo por salvá-la. Se a tomar como desejo fazer, a ira de Deirdre será feroz.
—E se preocupa com Marcail?
—Sim. Deirdre a quer morta. Acredito que Deirdre vai deixar Marcail aqui até morrer, a menos que Deirdre descubra que tomei Marcail como minha. Pode estar certo que verá a ira de Deirdre então.
Arran passou a mão pelo rosto.
—Pode estar certo. Quem sabe quanto tempo tem antes que Deirdre leve você? Ela quer seu filho.
Quando Quinn caiu no poço a primeira vez, esperava ficar lá até que fosse resgatado ou morresse. Mas quanto mais tempo ficava e quanto mais vezes Broc e Isla o visitavam, Quinn sabia que chegaria o dia que Deirdre cansaria de seu jogo e o chamaria. Era isso que Broc quis dizer quando disse a Quinn que o tempo estava se esgotando?
—Santo inferno, — murmurou Quinn. Confiava em Arran e nos gêmeos, mas quanto tempo sua honra duraria, quando confrontados pela beleza de Marcail diariamente, sem Quinn lá?
Não muito.
Arran lhe deu um tapa nas costas.
—Exatamente.
Quinn bocejou e esfregou os olhos. Quando olhou atrás viu Marcail se estender na laje com os braços envoltos em torno de si, tremendo.
—Vá para ela, — disse Arran. —Esperou muito tempo.
Quinn não discutiu, não quando ansiava estar perto de Marcail novamente. Caminhou até ela e olhou sua forma quando descansou ao seu lado, de frente para ele. Seus olhos estavam fechados, mas não estava dormindo. Ainda.
Ele manteve a vigília até que sua respiração desacelerou. Então se abaixou ao lado dela. A laje era grande, mas não grande o suficiente para caberem duas pessoas confortavelmente de costas.
Felizmente, com Marcail virada de lado, Quinn foi capaz de deitar de costas e se aproximar dela. Quinn levantou o braço mais próximo de Marcail e enfiou a mão sob sua cabeça. Como se ela sentisse seu calor, chegou mais perto dele. Os minutos passavam enquanto Quinn estudava seu rosto. Era a beleza personificada. Sua pele era impecável, exceto por uma pequena pinta do lado esquerdo do lábio superior. Mas, mesmo isso não desviava a atenção de sua beleza.
Incapaz de evitar, Quinn traçou sua bochecha e o queixo com os dedos. Sua pele era tão boa como arminho. Para sua surpresa, a cabeça de Marcail se moveu até que ela descansou contra seu peito. O coração de Quinn saltou. Nenhuma mulher, nem mesmo sua esposa, já havia ficado assim. Ele abaixou o braço que estava atrás da cabeça e envolveu Marcail. Seus arrepios diminuíram pela adição do seu calor corporal.
No começo, ele ficou com medo de se mover, com medo de acordá-la. Gostava dela envolta em seu peito como estava, e se nunca saísse seria cedo demais. Forçou-se a relaxar e tomar o tempo que seu corpo precisava para descansar.
***

Deirdre passeava por sua câmara. Não gostava de ser negada. Por qualquer motivo. Ela disse a si mesma que prendendo Quinn o deixaria finalmente muito mais agradável, mas estava começando a duvidar disso. Parecia que não importava quanto tempo Quinn permanecesse no Poço, isso não o estava enfraquecendo. Ficou muito feliz ao vê-lo tomar posse como fez. Provou a ela que era, de fato, o Guerreiro para governar ao seu lado. Ou tanto quanto ela permitiria governar.
—Talvez ele precise de algum incentivo.
Deirdre parou e girou a cabeça para William, que descansava nu em sua cama. Esqueceu que ainda estava em seu quarto. Embora ele ocupasse sua cama há algumas semanas, não encontrava a satisfação que sabia que a aguardava nos braços de Quinn. A pele azul royal de William ainda brilhava pelo suor de fazer amor recentemente. Deirdre achava legal ter os Guerreiros com suas presas e garras em sua cama. Proibia qualquer um deles de se converter para suas formas humanas, uma vez que prometiam sua lealdade a ela. Eles não tinham ideia que quanto mais tempo permanecessem na sua forma de deus, mais o deus tinha poder sobre eles. Tão atraente como William era, sabia que ele detestava Quinn. Ela entendia. William queria ser o único a dar-lhe um filho e governar. Mas nunca o faria.
—O que tem em mente? — Ela perguntou ao guerreiro.
—Quanto mais pedir, ou até mesmo exigir Quinn em sua cama, mais ele vai negar. Pegue alguma coisa dele. Essa é a única maneira de quebrá-lo.
Deirdre jogou seu longo cabelo branco por cima do ombro e considerou as palavras de William. Sabia pelos relatórios de Charon que os gêmeos, Duncan e Ian, bem como Arran, estavam do lado de Quinn. Charon não relatou nenhum dos outros guerreiros, mas isso não significava que não fossem mais. Não confiava em Charon, mas estava se mostrando mais confiável que pensou primeiro.
—Tome algo de Quinn, — ela murmurou para si mesma. Sorriu para William. —Acho que pode ter alguma coisa aí.
William se levantou de sua posição na cama e caminhou até ela.
—Deixe-me fazê-lo. Deixe-me ser o único a tomar algo de Quinn.
—Não foi suficiente que fosse você a pessoa a capturá-lo?
—Não. Quero provar que ele não é o homem que pensa que é.
Deirdre inclinou a cabeça para olhar para o Guerreiro. William a servia fielmente por mais de dois séculos, desde que desvinculou seu deus. Ela sabia que era apaixonado por ela, ou tão apaixonado como um Guerreiro podia ser, e sempre usou isso em sua vantagem.
—Só porque pretendo levar Quinn para minha cama não significa que não será mais bem-vindo, William.
Seus olhos azuis royal se estreitaram.
—Ainda vai me quer?
—Sempre quero você.
—Então posso ser o único a ferir Quinn?
Ela assentiu com a cabeça.
—Sim, meu amante. Mas primeiro, quero mais do seu corpo.
William rosnou e envolveu suas mãos em sua cintura, suas garras raspando sua pele. Ele se virou e a jogou sobre a cama. Ela o chutou, atingindo-o no queixo. Ele mostrou os dentes num rosnado e agarrou o tornozelo antes que ela pudesse chutá-lo novamente. Com um empurrão, a puxou para o final da cama enorme e para seu pênis. Deirdre engasgou pela sensação de ser empalada em seu eixo tão de repente. Ele tirou só para empurrar duro e rápido nela, assim como ela gostava. Ela se agarrou às costas com suas unhas compridas enquanto as pernas envolviam sua cintura. Ele agarrou punhados de seu longo cabelo e puxou. Era muito ruim William não ser o único a dar-lhe o filho do destino. Ela podia controlá-lo facilmente, e era um grande amante. Mas era Quinn quem prendia sua atenção. Como se sentisse seus pensamentos, William cavou suas garras em seus quadris e golpeou violentamente. Ela gritou quando o clímax veio sobre ela sem aviso prévio.
William arrancou cada tremor antes de virá-la em seu estômago e deslizou nela por trás. Sua noite de sexo apenas começava, e quando terminasse com ela, Deirdre estaria tão saciada como poderia ficar.
***

Quinn acordou com a sensação mais deliciosa de uma mulher aconchegada contra ele. Sorriu enquanto percebia as pernas de Marcail entrelaçados com as dele e seu braço jogado sobre o peito. Foi o cheiro de pão que o alertou que dormiu, e dormiu profundamente. Mesmo na dura rocha embaixo dele, dormiu como se estivesse numa cama de penas. E era tudo por causa de Marcail.
De alguma forma, estar ao redor da Druida o relaxava, bem como trazia um desejo que nunca conheceu. Custou tudo que tinha não esfregar sua vara dolorida em sua perna. Seria tão simples virá-la de costas e cobrir seu corpo com o dele. Santo inferno.
Precisava manter distância de Marcail antes que cedesse a este anseio que o consumia. E apesar de todas as fibras do seu ser dizer para se levantar, não podia. Marcail confiava nele, um Guerreiro, com sua vida. Moldou seu corpo no dele pelo calor e segurança enquanto dormia. Isso significava mais para ele que qualquer coisa que pudesse ter feito. Sua própria esposa não confiava nele dessa forma, uma esposa que o conheceu por quase toda a sua vida.
Marcail o conhecia há tão pouco tempo. Qual a diferença? Por que Marcail o entendia quando Elspeth não o fez? Quinn alisou as tranças que caíram no rosto de Marcail enquanto ela dormia. Ela piscou e abriu os olhos. Por um piscar de olhos não se moveu. Então inclinou o rosto para o dele.
—Eu diria boa manhã, mas não tenho certeza que hora do dia é.
Ele sorriu.
—Costumamos receber pão de manhã, e desde que há algum esperando por nós, acho que é seguro dizer boa manhã.
—Me manteve quente enquanto eu dormia.
Quinn olhou para longe.
—Estava congelando. Não tinha cobertor para oferecer. Só eu mesmo.
—Obrigada, — ela sussurrou.
—Foi um prazer. — E ele quis dizer cada palavra.
Com um sorriso tímido, Marcail levantou e se moveu para a água atrás da cabeça de Quinn. Sentou e esfregou os olhos. Assim como na manhã anterior, bebeu na mão antes de salpicar água em seu rosto e pescoço. Quinn pegou o pão para partí-lo na metade quando viu três outras peças ao lado. Olhou para seus homens. Ele não pediu, ou esperou que compartilhassem seu alimento com Marcail, mas eles o fizeram. Deu um aceno de agradecimento antes de arrancar um pedaço do seu para adicionar à pilha.
Quando Marcail caminhou de volta para ele e viu o pão, balançou a cabeça com um sorrisso.
—Você e seus homens?
—Queremos ter certeza que está alimentada.
—Não preciso de tudo isso.
Quinn a parou com uma mão em seu braço antes que pudesse devolver o pão.
—Se devolver o pão, vai ofendê-los. Eu não pedi que compartilhassem com você. Fizeram isso por conta própria.
—Eu vejo, — disse ela. —Estou... tocada.
—Você é um ser protegido, Marcail. E não só porque é uma Druida. É uma mulher em primeiro lugar.
Ela riu.
—Fraca, você quer dizer.
—Isso não foi o que quis dizer. Como homens, somos criados para proteger as mulheres e crianças, dar nossas vidas se necessário. É o que um Highlander é.
Marcail arrancou um pedaço de pão e o esmagou entre os dedos.
—As coisas eram diferentes na minha aldeia. Os homens olharam de fora para as mulheres e crianças, mas não como você diz. Meu pai deu sua vida por nós, mas não esperaria que qualquer outro homem morresse por mim.
—Então, obviamente, não encontrou um Highlander de verdade.
Seu sorriso aqueceu seu coração.
—Ao que parece, Quinn MacLeod. Você é o primeiro Highlander que conheci, e devo dizer, estou devidamente impressionada.

 

 

 

 


CAPÍTULO ONZE

Quinn não sabia o que pensar da sensação de calor em seu peito ao acordar com Marcail em seus braços. O jeito como ela olhava para ele, tão aberta e honesta, e do jeito como falava com ele, como se não o temesse, só o fez querer estar mais perto dela. Adorava ver seus muitos sorrisos, seus sorrisos tímidos e os sorrisos de boca aberta que a iluminavam de dentro para fora.
Falaram bobagens através da sua refeição, e isso foi muito fácil, muito confortável de acordo com Quinn. Raramente costumava falar com alguém sobre algo. Inferno, metade das vezes nem sequer comia com seus irmãos. Por que então não podia ficar longe de Marcail? O que havia sobre ela que o fazia se sentir à vontade, como se pudesse dizer qualquer coisa?
Quinn agachou ao lado da água e puxou a túnica. Jogou a túnica vermelha escura de lado, a odiando porque veio de Deirdre. Mas era usá-la ou ficar nu uma vez que teria que remover as calças e botas também. Como a coleta da água era também onde bebiam, Duncan conseguiu garantir um pequeno balde. Quinn usava o balde para colher um pouco de água. Então, espirrou a água em seus braços, peito e rosto num esforço para se manter limpo antes de despejar o resto sobre sua cabeça. Jogou sua cabeça para o lado lateral para remover o excesso de água antes que passase as mãos pelo rosto. Quinn sentia falta do mar que amava. Sentia falta da pesca e da caça como nunca pensou que faria.
Mas mais do que isso, sentia falta de sua casa, seus irmãos, e da terra que estava em sua alma. Queria sair da montanha de Deirdre, e faria isso mesmo que tivesse que cavar seu caminho através das rochas por si mesmo.
Uma mudança na atmosfera do Poço alertou Quinn que alguém estava vindo, e não era Broc. Quinn soltou seu deus quando se pôs de pé. Se virou para encontrar Arran correndo na direção dele.
—Quem é? — Quinn perguntou.
Arran hesitou, mas era toda a resposta que Quinn precisava.
Deirdre.
—Por que a cadela não me deixa em paz, — resmungou Quinn.
—Não sabemos se é ela. Poderia ser Isla.
Quinn meneou a cabeça e deu a volta em Arran para a entrada.
—Conheço a sensação de sua magia, Arran. Isla é forte, mas esta... esta é Deirdre.
O resto dos Guerreiros no Poço devem ter percebido, porque se apressaram para suas cavernas e se esconderam na escuridão. Quinn não os culpava. Gostaria de fazer o mesmo. Não por medo, mas porque não podia olhar para Deirdre.
Arran situou-se à direita de Quinn, enquanto Ian tomava a esquerda de Quinn. Alertou os Guerreiros para ficar longe dele quando Deirdre o visitava, mas nunca os escutaram antes. Duvidava que o fariam agora.
Quinn virou a cabeça, seus olhos buscando Marcail. Estava caminhando em direção a ele quando Duncan a parou. Quinn deu um pequeno aceno de cabeça. Felizmente, foi o suficiente para que Marcail fosse com Duncan.
O Guerreiro a enfiou num canto e parou na frente dela. Quinn sabia que Duncan queria ficar mais perto, mas nenhum deles correria o risco de deixar Marcail perto de Deirdre. Duncan cruzou os braços sobre o peito grande e, lentamente, balançou a cabeça para Quinn. Protegeria Marcail com sua vida. Quinn voltou o aceno de cabeça e encarou a porta que faria Deirdre entrar.
Não tiveram que esperar muito tempo.
Quinn avistou Deirdre pelo quadrado na porta. Sua pele arrepiou pela necessidade de afundar suas garras nos olhos brancos de Deirdre. O mal que a rodeava podia ser sentido através das pedras, mas quando estava perto, era como se o mal estivesse sufocando a vida de Quinn.
Ele curvou os dedos, as unhas crescendo ainda mais. O sangue encheu sua boca quando sua língua raspou suas presas. Nunca sentiu tanto ódio por outra pessoa antes. Toda vez que via Deirdre lembrava do massacre de seu clã e da morte de seu filho.
Com apenas um aceno da mão de Deirdre a porta se abriu com um rangido enquanto umas poucas rochas raspavam umas contra as outras. Quinn não ficou surpreso ao ver o guerreiro azul royal que passou a desprezar quase tanto como Deirdre.
William.
Ele se atreveu a atacar o castelo duas vezes, e foi ele quem quase levou Cara. Apenas porque Fallon finalmente soltou seu deus foi que Lucan teve tempo para alcançar sua mulher. Quinn mataria William também. A morte do Guerreiro lhe daria muito prazer, mas não o mesmo prazer que a morte de Deirdre daria a Quinn.
Deirdre e William passeavam no Poço como se estivessem andando pelas ruas de Edimburgo. Eram um par perfeito, Deirdre e William. Ambos estavam submersos no poder do mal e o ansiavam como seu corpo ansiava uma lufada.
—Quinn, — Deirdre disse quando parou na frente dele. —Está parecendo bem. Ou, como tão bem como se pode esperar vivendo no Poço.
Ele não se preocupou em responder.
Ela olhou de Arran para Ian, depois olhou para dentro da caverna para Duncan. —Vejo que já assumiu.
—Pare, — exigiu Quinn. —Sabia desde o dia que fui jogado aqui.
Ela riu, o som como um grito de banshee.
—Sabia, Quinn. Está pronto para vir comigo e tomar seu lugar ao meu lado? E na minha cama? Para me dar a criança que preciso?
—Prefiro comer meus próprios olhos.
O sorriso saiu de seu rosto fino. Suas narinas queimaram e a raiva dela derramou em ondas.
—Isso pode ser arranjado.
—Contanto que não tenha que ver você, — Quinn a insultou. Sabia que não devia, mas não podia evitar.
Tão repentinamente quanto sua raiva veio, ela a deixou. Ela respirou fundo e ergueu o queixo.
—Por que luta comigo? Estamos destinados a ficar juntos. Tenho a profecia para provar isso.
—Eu não acredito em destino. Tomo minhas próprias decisões, e minha resposta a você será sempre nunca.
William rosnou ao lado de Deirdre. Quinn retraiu os lábios e arreganhou os dentes.
Estava ansioso por uma outra luta com o bastardo. Agora era um momento tão bom quanto qualquer outro.
—William, — Deirdre latiu.
Instantaneamente, o Guerreiro azul royal foi silenciado. Virou seu olhar para Deirdre com reverência. Fez Quinn querer esganá-lo.
—Diga-me, — disse Deirdre quando uma mecha de cabelos brancos levantou do chão para acariciar o peito de Quinn. —Com que se preocupa mais neste mundo?
Quinn mordeu a língua para não fazer uma observação maliciosa destinada a ela. Queria afastar o cabelo dela, que gostava de usar como uma arma.
—Seriam seus irmãos. Suponho que Cara agora está adicionada a isso também, já que é de Lucan.
Custou muito esforço não deslizar para longe de seus cabelos. Quinn apertou sua mandíbula e tentou pensar no som das ondas quebrando nos rochedos, outra coisa além da raiva crescente dentro dele.
O sorriso conhecedor de Deirdre cresceu.
—Está longe de seus irmãos há mais de um mês agora. Muitas coisas poderiam ter mudado. Fallon porventura poderia ter encontrado sua própria mulher.
Pense nas ondas. Pense nas ondas.
—Melhor ainda, — Deirdre continuou, —vamos falar sobre os homens em torno de você agora. O que faria, a fim de salvá-los?
O controle de Quinn acabou.
—Você os toca, qualquer um deles, e vou tornar sua morte tão dolorosa como eu puder.
—Não acho isso. Na verdade, sei que nunca vai acontecer. Vai ser meu, Quinn. Vai tornar isso fácil ou difícil?
Ele cortaria sua própria garganta antes de se tornar dela, mas não havia necessidade de a alertar de seu último recurso.
—Como disse, minha resposta é nunca.
—William, — disse Deirdre com um estalar de dedos.
No momento seguinte o caos reinou. William se lançou sobre Ian enquanto Deirdre usava o cabelo dela para prender Quinn. Arran tentou ajudar, mas foi atirado atrás com uma explosão de magia de Deirdre.
Quinn usou suas garras para cortar o cabelo de Deirdre. Logo que um fio foi cortado, se restaurou instantaneamente. Houve um grande rugido atrás de Quinn quando Ian foi arrastado. Havia uma mancha de azul pálido enquanto Duncan atacava William, a fim de salvar seu irmão.
Antes que Duncan pudesse alcançar Ian, Broc e seis outros guerreiros correram para a cova. Quinn berrou sua raiva quando Duncan ficou inconsciente e Ian foi arrastado longe. O cabelo de Deirdre enrolou em volta do pescoço de Quinn, o sufocando.
—Está começando a me deixar irritada, — Deirdre disse a ele. —Ian é meu agora. Vou torturá-lo, matá-lo e trazê-lo de volta à vida para fazer tudo de novo até que venha para o meu lado.
—Não.
—Sim, — ela gritou. —Vou fazer isso a cada um de seus homens. Se isso ainda não o fizer vir prazerosamente para a minha cama, vou fazer você ver como torturo os jovens Druidas que capturei.
Ela caminhou em direção a ele e colocou as mãos sobre seu peito.
—Vou deixar você pensar sobre o que eu disse. Da próxima vez que eu vier por você, sugiro que aceite minha oferta.
No momento que o cabelo dela o soltou, Quinn cambaleou atrás. Ian tinha ido embora, talvez para sempre. A ira de Duncan não conhecia fronteiras, e era tudo culpa de Quinn. Não deveria ter zombado de Deirdre.
Do outro lado Quinn avistou Charon o observando. Arran já tinha alcançado Duncan e arrastava o grande Guerreiro em sua caverna e de Ian.
Quinn nunca se odiou mais que naquele momento. Seu próprio futuro valia mais a pena que as vidas de seus amigos? E Deus o livre se Deirdre descobrisse Marcail. O que faria para Marcail seria pior do que o que faria a qualquer um dos Guerreiros.
Ele se virou e fez seu caminho dentro da caverna, mas o peso esmagador do que acabava de acontecer o derrubou de joelhos. Quinn enrolou os braços em volta de sua cabeça e soltou toda a raiva, frustração e ressentimento em seu rugido. Mas mesmo isso não o fez se sentir melhor.
Quando sentiu a presença de Marcail, sentiu sua magia, ele se dobrou.
—Me deixe.
Marcail não podia se afastar de Quinn mais do que podia parar a magia de seus antepassados. Sua própria magia vibrava pelos sentimentos que saiam de Quinn.
Queria ajudá-lo, ou melhor, tinha que ajudá-lo. Era evidente que se culpava, mas a culpa estava apenas de uma única pessoa — Deirdre.
O coração de Marcail sangrou pela mágoa que ainda ecoava no rugido de Quinn. Nunca viu alguém sofrer tanto antes. Ele apenas ia piorar uma vez que Duncan acordasse. Somente pensar em seu grunhido irritado quando levaram Ian a fez estremecer de pavor.
Deirdre achava que estava quebrando Quinn e os outros, mas tudo que estava fazendo era reforçar sua determinação de lutar contra ela. Marcail lentamente se ajoelhou na frente de Quinn. Sua mão tremia quando estendeu a mão para ele, mas não de medo. Estava abalada pela profundidade de seus sentimentos. Podia fazer ele se sentir melhor. Tudo que tinha a fazer era tocá-lo.
—Quinn, — ela sussurrou e correu as mãos sobre as costas nuas.
Seus músculos saltaram ao seu toque, mas ele não se afastou. Marcail começou a levar sua raiva e frustração. Sempre que fez isso no passado, ficou se sentindo tonta e doente de seu estômago. Mas agora, tudo que sentia era a pele quente, preta e grossa de Quinn e os músculos sob as palmas das mãos. Fechou os olhos quando seus braços envolveram seus quadris e a cabeça repousou sobre suas pernas. Seu cabelo ainda estava úmido, e desejava passar os dedos pelos fios ondulados.
Quando os dedos de Quinn se enfiaram através de seu cabelo, ela não se afastou. Ele ergueu os ombros e começou a se endireitar, o tempo todo com a cabeça tocando seu estômago, seus seios e depois o peito. Sua respiração irregular aumentou enquanto suas mãos se aproximavam das costas. Mas foi seu coração que ameaçou saltar de seu peito quando a puxou contra ele. Estavam pressionadas juntos desde os joelhos até o peito.
Seus lábios se abriram por conta própria quando descobriu seu rosto a uma mera respiração do dela. Um braço musculoso a envolveu com força, moldando-a ao seu peito que ondulava com tendões. Com seu corpo em chamas por uma necessidade que nunca sentiu antes, Marcail empurrou os dedos nos cachos de seu cabelo. Os fios de seda úmidos a ajudaram a se ancorar contra a maré do desejo que ameaçava a engolir.
Esse desejo afogou as emoções violentas que estavam tomando Quinn. Ela observava, fascinada, como seus olhos que estiveram inundados de preto instantaneamente se alteraram para verde pálido.
Ela não precisava olhar para sua pele ou mãos para saber que o negro havia desaparecido e as garras já não eram visíveis. Mas o desejo que viu em seus olhos apenas alimentou o dela mesma.
Marcail sussurrou seu nome quando sua mão envolveu sua nuca. Quando sua cabeça abaixou, deixou seus olhos se fecharem. O primeiro contato de seus lábios nos dela roubou seu fôlego. Ela estremeceu e ele a puxou mais apertado contra ele, se isso fosse possível. Podia sentir as batidas do seu coração, ouvir sua respiração dura.
E então ele a beijou novamente. Desta vez mais, seus lábios aprendendo com os dela. Ela suspirou quando ele a lambeu, e então sua língua varreu sua boca. Marcail gemeu, o corpo inundado pelo calor que se concentrava entre as pernas pelo gosto dele. Ele aprofundou o beijo até que ela estava agarrada a ele. Desesperada por mais. Desesperada por ele.
Seu corpo já não era dela. Cada toque, cada movimento de sua língua contra a dela fazia sua vontade crescer até que seu corpo tremia com ele.
—Meu Deus, — disse Quinn.
Ela piscou para ele, sem saber se poderia usar sua voz. Mas ele se inclinou sobre sua boca novamente. O braço preso em torno dela se moveu para a parte inferior das costas. Ele a apertou contra ele, e sentiu a haste grossa de sua excitação. E Deus a ajudasse, ela o queria. Queria senti-lo, vê-lo, e o experimentar. Nada mais importava no momento, apenas Quinn e o desejo que compartilhavam.

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO DOZE

Quinn nunca provou nada tão doce como os beijos de Marcail. Não a queria perto dele, mas ao primeiro toque da mão em suas costas, ficou impotente para empurrá-la longe. Agora, com seu corpo flexível contra ele e seu gemidos suaves enchendo seus ouvidos enquanto a beijava, tudo que queria era fazer amor com ela. Afundar em sua suavidade, ter suas pernas envolvendo sua cintura. Ouvi-la gritar seu nome. Passou as mãos pelo corpo dela para sua cintura fina e os quadris sempre tão convidativos.
Mas não conseguia parar de beijá-la. Fazia centenas de anos desde que beijou, e nunca teve uma mulher o beijando com fervor, tanto desejo como Marcail. Seu pênis pulsava pela necessidade, e suas mãos tremiam quando segurou suas nádegas e a puxou contra ele, pressionando os seios contra o peito. Ela gemeu, fazendo seu já aquecido sangue ferver pela necessidade. Desejo. Saudade.
Com a fome de sentir mais dela o perseguindo, se esqueceu de tudo, exceto a mulher descontroladamente linda em seus braços. Quinn não parou de beijá-la quando a levantou do chão e colocou suas pernas em torno de sua cintura. Só então a abaixou de costas.
—Gosto de sentir você, — ela sussurrou em seu ouvido quando seu peso se acomodou sobre ela.
Ele gemeu e a beijou novamente. Poderia beijá-la por uma eternidade e nunca seria suficiente. Com as mãos se movendo em suas costas e ombros, Quinn segurou seu seio.
Suas unhas cravaram nas costas quando o dedo circulou o mamilo através de seu vestido e ele sentiu a ponta crescer. Seu suspiro assustado disse que nunca conheceu esse tipo de prazer, e estava determinado a dar-lhe ainda mais.
Ela não o parou quando ergueu sua saia até que pudesse tocá-la na parte interna da coxa. Por um momento, deixou as mãos descansando sobre a pele lisa de sua perna antes de se mover por ela até seu sexo. Suas bolas apertaram quando sentiu a umidade entre as pernas.
Incapaz de se segurar, Quinn colocou a mão sobre seu sexo antes de deslizar um dedo dentro dela.
—Quinn. Pelos santos, — ela sussurrou em seu ombro. —O que está fazendo comigo?
—Estou te dando prazer.
Ele a beijou novamente enquanto seu dedo circulava seu clitóris. O corpo de Marcail tremia em seus braços. Mal começou a tocá-la, mas sabia que ela estava perto de um pico.
Quinn deslizou outro dedo dentro dela e começou a se mover dentro dela, deixando seu polegar provocar seu clitóris, lentamente e levemente. Alterou o ritmo de seus dedos. Primeiro mergulhando dentro dela duro e rápido, então macio e sem pressa. Seus quadris se moveram e subiram ao mesmo tempo que seus impulsos, sua respiração vindo em suspiros irregulares. Quinn nunca viu nada tão bonito. Até que ela se desfez em seus braços.
Ele olhou para seu rosto paralisado e o prazer que a consumia. Soube nesse instante que uma vez nunca seria o suficiente quando se tratava de Marcail. Quinn tirou a mão e empurrou suas saias para baixo antes que ele pudesse mergulhar seu pau dolorido dentro dela. A teria, mas a realidade de onde estavam desceu sobre ele muito logo.
Os olhos de Marcail se abriram e ela sorriu para ele com um olhar de puro contentamento.
—O que fez comigo?
—Nunca gozou antes?
Ela balançou a cabeça.
—Isso acontece muitas vezes?
—Toda vez que eu tocar em você, — prometeu.
Ela cobriu o rosto com ambas as mãos antes que o beijasse. Lentamente, sem pressa.
—Não me tomou. Como um homem faz, — ela terminou em voz baixa.
Quinn queria cavar seu marido fora do solo e arrancar sua cabeça por ser tão insensível com uma mulher assim como Marcail.
—Eu a quero. Mais que tudo, quero você, Marcail. — Ele pegou a mão dela e a colocou sobre seu eixo. —Quero te beijar novamente, te provar novamente.
—Espero que o faça.
Ele suspirou e baixou a testa na dela. Não percebeu o quanto precisava ouvir essas palavras até que ela as disse.
—Como se sente? — Perguntou ela.
Foi então que Quinn percebeu que todas as emoções que o consumiam pela tomada de Ian foram embora. Ergueu a cabeça e olhou em seus olhos.
—O que fez?
Marcail encolheu os ombros.
—É minha magia. Isso nem sempre funciona. Lembra quando disse a você que podia sentir as emoções das pessoas? Também posso levar esses sentimentos embora.
Quinn piscou. O pensamento de toda sua raiva dentro de Marcail fez seu coração despencar.
—Os levou para dentro de si?
—O fiz no passado, mas desta vez... desta vez com você foi diferente.
—Qual a diferença?
—Nas poucas vezes que usei minha magia desse jeito, fiquei doente. Mas não com você. Me deu prazer além de qualquer coisa que soubesse que existia.
Quinn olhou para ela por um momento antes que a beijasse novamente. E então tudo se partiu quando Duncan acordou. Duncan demorou menos de um segundo para lembrar que Deirdre levou seu irmão gêmeo.
Ian!
Nesses anos todos, nunca se separaram. Eram unidos de uma maneira que a maioria das pessoas não conseguiam entender, e isso antes de seu deus ser desacoplado. Agregado ao poder de seu deus, seu vínculo apenas se fortaleceu. Duncan não conseguia controlar a fúria dentro dele. Tinha que deixá-lo sair de alguma forma ou explodir.
—Devagar, Duncan.
Ele ignorou Arran e tentou se levantar, mas o peso esmagador da perda de Ian era demais. As garras de Duncan rasgaram as palmas das mãos e sua visão nadou pela raiva se produzindo dentro dele.
O rugido cresceu dentro dele, e era impotente para detê-lo. Mas essa pequena libertação não era nada pela perda seu irmão gêmeo. Quinn correu na caverna e parou diante de Duncan.
—Se soubesse o que ela faria...
—Não, — Duncan parou. —Nenhum de nós poderia saber. Fez o que qualquer um de nós teria feito. Não o culpo por isso.
—Deveria, — disse o líder. —Eu o faço.
Se havia alguém que podia começar a entender o que Duncan estava passando, era Quinn. Duncan se levantou, até que olhou para Quinn no olho. Uma parte dele queria culpar Quinn, mas a culpa estava diretamente em Deirdre.
—Me bata, — disse Quinn. —Desconte sua raiva em mim antes que ela o consuma.
Duncan baixou os olhos e balançou a cabeça.
—Não, Quinn. Ela poderia ter levado qualquer um de nós.
—Vou trazê-lo de volta, — Quinn disse quando apertou o ombro de Duncan. —Juro.
Duncan assentiu, embora soubesse que as chances eram pequenas que seu irmão fosse o mesmo homem que era quando voltasse. Todos viram o que Deirdre era capaz, e todos sabiam que seu tempo na montanha era limitado. Mas nunca ocorreu a Duncan que seu irmão gêmeo podia ser levado.
Duncan puxou uma respiração profunda.
—Será que Deirdre viu Marcail?
—Não, — disse Arran. —Ela a teria levado em vez de Ian, tenho certeza.
—Vá para Marcail, — Duncan disse a Quinn.
—Vou consertar isso, — prometeu Quinn novamente. —Vou trazer Ian de volta.
Com um último olhar, Quinn saiu da caverna. Duncan se abaixou numa das pequenas pedras que usavam como assento e colocou a cabeça entre as mãos.
O que os outros não sabiam era que Duncan sentia cada corte, cada soco que era dado em Ian. Seja o que fosse que Ian sofresse, Duncan também sentiria.
***

Marcail se esticou preguiçosamente, seu corpo ainda cheio de prazer além de seus sonhos. Sentou e abraçou as pernas junto ao peito. Se viu sorrindo sonhadoramente, seus pensamentos centrados num homem bonito, um Highlander imortal.
Nesses momentos preciosos com Quinn, Marcail se esqueceu de onde estavam, esqueceram de Deirdre e seu plano maligno, até esqueceram que sua vida pairava por um fio. Tudo que importava era a maneira requintada que Quinn tocou seu corpo.
A realidade entretanto caiu sobre eles muito logo. Marcail esfregou as mãos sobre os braços através das mangas do vestido. A única vez que ficava quente era quando estava com Quinn. Qualquer outro momento, as temperaturas frias sugavam até a última gota de calor de seu corpo. As primeiras notas de uma melodia flutuaram em sua mente, uma música que reconheceu instantaneamente. Um instante mais tarde e começou a cantar. Tão de repente quanto chegou, desapareceu, deixando Marcail com a sensação de privação e desejando que pudesse ouvir a música novamente.
Ela levantou num esforço para ficar quente quando avistou o Guerreiro cobre do outro lado. O olhar de Charon, como sempre, estava voltado para Quinn. Marcail não precisava estar na caverna de Duncan para saber quem Charon olhava. Por que o Guerreiro de cobre ficava tão intrigado com Quinn, ela não sabia.
Duncan disse a ela que não haviam se aliado com Quinn. Por que, então, Charon estava tão interessado em tudo que Quinn fazia? Marcail dava um passo em direção a Charon para perguntar quando Quinn caminhou de volta para sua caverna.
Seu olhar se prendeu em Quinn, e o sorriso que tinha há poucos momentos reapareceu. Os passos de Quinn diminuiram quando a viu. Sua túnica estava ainda desaparecida, e ele mais uma vez estava transformado em seu deus.
Ela o encontrou no meio da caverna. Levantou a mão dele, examinando a pele preta e as garras. Assim que tocou uma daquelas longas garras mortais, ele começou a mudar de volta.
—Não, — ela implorou. —Me deixe sentir você. Todo você.
Ele hesitou por um momento, e quando ele não se mexeu, ela novamente tocou sua garra. Suas garras eram mais que dedos e, ela imaginava, mais penetrantes que qualquer espada. Era incrível vê-lo mudar de homem para Guerreiro e vice-versa. Ela não sabia para onde as garras e presas iam, e não se importava. Diante dela estava a razão de Roma não governar a Grã-Bretanha, e por isso ela era grata.
—O que vê? — Quinn perguntou.
Ela olhou em seus olhos negros. Essa era a parte de um guerreiro a que nunca se acostumaria. Deixou de ver os olhos verdes de Quinn, mas mais que isso, quando o olho inteiro mudava, removendo qualquer íris e o branco dos olhos, era... perturbador.
—Vejo força e poder, — ela sussurrou. —A evidência da magia está diante de mim em toda sua glória ébano impressionante.
—Magia?
Ela balançou a cabeça e ergueu a mão para que a palma da mão ficasse diante dela.
—Não precisa de espada ou punhal para se defender. Tem suas armas aqui. Dez, na verdade. Isso não é magia?
—É o mal.
—É? — Ela largou a mão dele e se aproximou até tocar uma de suas presas. —Não sente a magia correndo em seu sangue cada vez que permiti que seu deus se mostre? Não lembra como os Druidas e celtas sacrificaram tanto apenas para salvar esta terra?
—Lembro todos os malditos dias, Marcail. Como pode olhar para mim e não sentir repulsa? Tenho dentes e garras, como uma fera, — disse ele com um rosnado.
Ela entendeu naquele momento que não havia nada que pudesse dizer a Quinn para provar que, mesmo em sua forma Guerreiro, era magnífico para ela. Talvez fosse porque acabava de ter a experiência mais maravilhosa de sua vida, mas Marcail sentia ousadia. Se levantou na ponta dos pés e beijou Quinn. As pontas de seus dentes roçaram seus lábios, mas ela não se importou. No primeiro contato de sua boca contra a dela, o calor que enchia seu corpo um pouco antes a percorreu mais uma vez.
Os braços de Quinn se enrolaram ao redor dela enquanto ele inclinava sua boca sobre a dela. Ele teve o cuidado de não cortar os lábios, e não importa o quanto ela tentasse aprofundar o beijo, ele não deixava.
—Meu Deus, — ele sussurrou quando terminou o beijo. —O que está tentando fazer comigo?
Marcail sorriu.
—Queria mostrar o que penso de você como o homem Quinn MacLeod ou como o Guerreiro lendário que toda a Escócia fala.
—Se continuar assim, vou ter você de costas.
Ela amava como ele brincava com ela, mas também sabia que estava muito sério. E emocionado além de sua razão.
—Sério?
Ele suspirou e a puxou contra ele, enquanto passava os braços em torno dela.
— É como os primeiros raios de sol depois de um duro inverno. Não deve ficar neste lugar escuro e mal, Marcail.
—Nem você, Quinn.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO TREZE

Isla não deveria estar surpresa ao descobrir que Deirdre tomou medidas para trazer Quinn para seu lado. Deirdre era conhecida por usar qualquer tática que precisasse para garantir que tivesse o que queria, e queria Quinn, independentemente de tudo o mais.
Isla era uma das poucas que sabia que Quinn supostamente deveria dar a Deirdre uma criança, uma criança que abrigaria todos os males do Inferno. Só em pensar nisso fez Isla estremecer.
—Por onde vamos começar? — William perguntou a Deirdre.
Isla olhou ao redor da pequena câmara. Além de Deirdre, William e dois Guerreiros que seguravam seu prisioneiro, Broc também estava na câmara.
Isla sabia por que Deirdre a queria lá, mas por que Broc? Broc se mantinha normalmente sozinho. Ultimamente, porém, era chamado cada vez mais ao lado de Deirdre.
—Ainda não, — disse Deirdre, interrompendo os devaneios de Isla.
Isla voltou sua atenção para o prisioneiro. Era um dos gêmeos do Poço. Por que Deirdre o pegou, no entanto, era um mistério.
Deirdre se moveu à frente de Ian, que estava sobre os joelhos. Ela se inclinou e colocou seu rosto perto do seu azul pálido.
—Vou perguntar isto apenas uma vez. Vai passar para o meu lado?
—Nunca, cadela.
Deirdre saiu do caminho e William fatiou o peito de Ian com suas garras antes de o socar no rosto. Isla descobriu há muito tempo como evitar seus sentimentos no seu rosto. Mesmo assim, não ficou chocada ao encontrar Deirdre olhando para ela.
—Estou muito decepcionada com você, Ian, — disse Deirdre e se virou para o Guerreiro. — Pensei que entenderia a situação. Quinn se recusou vir a mim, e então alguém tem que experimentar minha ira.
Ian cuspiu um bocado de sangue na bainha do vestido Deirdre e sorriu para ela.
—Faça seu pior, drough.
Em vez de matar Ian como Isla pensou que ela faria, Deirdre apenas deu um passo atrás. Isla estava ao redor de Deirdre por tempo suficiente para saber que nada de bom podia sair de Deirdre quando ficava tão calma em sua raiva quanto estava agora.
—É muito próximo de seu gêmeo, não é, Ian? Me pergunto o quão próximos os dois se uniram através de seu deus.
—Sou um Highlander. Vou resistir a qualquer quantidade de dor que me der, — respondeu Ian, seus lábios levantando num sorriso de escárnio.
Isla ficou impressionada com o Guerreiro, mas com seus comentários não viveria por muito tempo.
—Vou ter certeza que suporta toda a dor que eu te dou, — disse Deirdre. —Eu me pergunto, porém, se já pensou sobre como Duncan suportará a dor, sabendo o que você está passando enquanto ele sofre?
Num flash Ian se empurrou para fora do aperto dos guardas e se lançou em Deirdre.
—Vou matar você, — ele berrou.
A principal arma de Deirdre, seu cabelo, parou Ian antes que pudesse alcançá-la. As brancas tranças apertaram seu pescoço até que ele desmaiou por falta de ar. Uma vez que Deirdre soltou Ian, ele caiu no chão, o tom azul pálido de sua pele desaparecendo.
Apenas a alguns passos de distância de Isla estava um homem com cabelo curto castanho claro e um kilt tão desgastado e desbotado que mal conseguia distinguir as cores.
William e os dois guardas levantaram Ian e o levaram da câmara, deixando Isla sozinha com Deirdre e Broc. Isla uma vez pensou que Broc poderia trair Deirdre, mas o guerreiro azul escuro era tão fiel como sempre.
—Quinn tem esperança da chegada de seus irmãos, — disse Deirdre. —Quero ser capaz de dar-lhe uma prova que Lucan e Fallon, quer sejam capturados ou não, não o alcançarão.
Broc levantou um ombro.
—Enviou wyrrans para deter os irmãos.
—Ah, mas Lucan e Fallon enganaram meus animais de estimação. No momento.
—Então me deixe encontrar os MacLeods, — disse Broc. —Sabe que pode controlar tudo em qualquer lugar. Vou encontrá-los para você.
Deirdre considerou suas palavras.
—Pode prendê-los?
—Isso levará mais de planejamento. Se quer algo bem feito agora, posso garantir que estarão ocupados com... wyrrans até Quinn concordar com seus termos.
Isla não gostou da sensação desagradável que girou em seu estômago pelas palavras de Broc. Por anos Isla odiou os MacLeods porque foi no pergaminho que Deirdre encontrou com eles que encontrou seu nome. Devido a um sobrenome, a vida de Isla foi tirada dela.
Odiava os MacLeods, odiava todos os Guerreiros na verdade, mas mais que qualquer coisa queria sua liberdade. Estava cansada de ser usada como fantoche de Deirdre.
—Tenho outra arma, — disse Deirdre, com os olhos brancos piscando perigosamente, e se virou para Isla.
Isla encontrou o olhar de Deirdre sem pestanejar. Mostrar qualquer medo ou fraqueza garantiria sua condenação.
—Não, — disse Broc para o silêncio. —Ainda não, senhora. Deixe-me deter Fallon e Lucan. Depois de quebrar Quinn, podemos capturar os irmãos. Vão ver que Quinn escolheu você e deixarão de negar que os governe.
Os olhos de Isla desviaram para Broc, mas o Guerreiro se recusava a olhar para ela. Por que não queria que Deirdre a enviasse? Podiam capturar os irmãos, mas por que então Broc queria esperar?
Estava pensando em se aliar aos MacLeods?
Queria falar com ele, mas Isla sabia que não podia arriscar, e nem Broc podia. Se Deirdre suspeitasse de algo, seriam mortos instantaneamente.
—Concordo no momento, Broc, — disse Deirdre e passou a mão abaixo pelo tecido preto de seu vestido. —Mas só porque quero impedir que os irmãos alcancem Quinn ainda. Quero os três irmãos MacLeod sob minhas regras antes da lua terminar seu ciclo este mês.
Broc inclinou a cabeça.
—Vai vê-lo feito, senhora.
—Pode nos deixar.
Isla esperou enquanto Broc deixava a câmara antes dela se virar para Deirdre. A droght não precisava pedir o que queria. Deirdre contaria tudo quando sentisse.
—É hora de você visitá-lo novamente.
Isla tremeu embora se esforçasse para não. Toda vez que via Phelan lembrava que foi a única a enganá-lo, a única a acorrentá-lo na montanha como uma criança.
Lutar contra Deirdre ou tentar convencê-la só faria Deirdre saber o quanto Isla odiava visitar Phelan, de qualquer forma. Em vez disso, Isla apenas deu um aceno de cabeça.
—Me disseram que é a única que pode se aproximar dele.
Isla levantou uma sobrancelha.
—Ninguém pode se aproximar dele, é por isso que está acorrentado. — Constantemente.
—Ele será um dos meus maiores Guerreiros. Ainda comemoro o dia que sua irmã o descobriu. E não vamos esquecer como você o capturou.
A mão de Isla apertou em sua saia enquanto seu estômago rolava. Nunca esqueceria esse dia. Revivia isso todas as noites em seus pesadelos.
Deirdre andou até a porta e parou.
—Fique com ele mais tempo desta vez. Não demora agora, antes que eu precise dele. Tem que ser domado.
***

Dizer que Quinn estava preocupado era falar o mínimo. Não era apenas Duncan e Ian ou Marcail, mas também seus irmãos. Era verdade que Quinn perdeu a noção do tempo na montanha, mas sabia que uma considerável quantidade já passou. Onde estavam Lucan e Fallon? Por que não chegaram até ele?
Ou pior, se tentaram resgatá-lo e Deirdre os tinha? Esse pensamento fez Quinn querer matar alguma coisa. Respirava através de sua boca para acalmar sua fúria, ignorando seu deus. Bastou uma olhada em Marcail para sua fúria desaparecer enquanto seu desejo queimava à vida.
Ela se sentava no chão, a cabeça de lado, com todo o seu cabelo enrolado sobre um ombro, e penteava a parte detrás de seus cabelos com os dedos.
Ele podia sentar-se e olhá-la por horas. A forma como se movia e falava, e fazia tudo o fascinava. O fato de não apenas não ter medo dele, mas parecer gostar de sua forma de Guerreiro, por como o beijou antes fez com que ele a quisesse inteira e mais.
Ela o surpreendia cada vez. Marcail tinha coragem, espírito e força que rivalizava com seus irmãos. Era o que todo Highlander procurava numa companheira.
A visão de Quinn olhando Marcail foi bloqueada por Arran quando entrou na caverna. Quinn voltou sua atenção para Arran, que andava na frente dele.
—O que vão fazer com Ian? — Arran perguntou.
Quinn passou a mão pelos cabelos e fez uma careta.
—Deirdre disse que faria o que fosse preciso. O farão sofrer.
—Será que ela vai matá-lo?
—Só assim poderá trazê-lo de volta.
Arran parou e virou o rosto em interrogação para Quinn.
—Será que realmente fará isso?
—Não tenho ideia, mas com o poder que detém, não me me surpreende.
Arran soltou um longo suspiro.
—Quanto tempo será que ela fará isso?
—Posso acabar antes que ela comece, Arran. É o que deveria fazer. Está apenas machucando Ian para me atingir.
—Não pode, Quinn. Precisamos de você.
—E Duncan precisa de seu irmão.
—Quinn.
Quinn ergueu a mão para detê-lo.
—Sei o que diria, e agradeço por isso. A verdade simples é que meus irmãos são homens melhores do que eu. Eles podem — e vão destruir Deirdre — com ou sem mim.
—Já decidiu, não é? Está indo para aquela vadia.
—Vou.
—E Marcail?
Quinn tentou, sem sucesso, não olhar para a Druida em questão. Ele a perderia.
Queria uma noite para amá-la, provar seus beijos e sentir seu toque aquecido, mas era uma noite que não podia se permitir.
Havia um homem passando por tortura por causa dele. Quinn não podia viver com ele mesmo se permitisse isso.
—Cuide dela por mim, — disse Quinn.
—Não vai lhe dizer adeus?
Deveria, sabia disso.
—Não posso.
Quinn passou por Arran, antes que pudesse detê-lo e caminhou até a porta do Poço. Apesar de Deirdre guardar a porta com seus feitiços e magia, sempre havia Guerreiros de guarda.
Quinn parou na porta e assobiou para chamar a atenção dos guardas.
—Leve-me para Deirdre.
O Guerreiro da esquerda começou a rir.
—Ela disse que ia querer vê-la. Vamos retransmitir sua mensagem para você.
—E que mensagem seria?
—Que está ocupada torturando Ian, e que não deveria a ter recusado.
Quinn amaldiçoou e virou em seus calcanhares. Não esperava esse movimento de Deirdre. Ela queria, sim, mas ele a enfureceu. Agora Ian pagaria por ele com a tortura que provavelmente duraria por vários dias, se não semanas.
Uma vez de volta em sua caverna se inclinou contra o muro de pedra e olhou para a escuridão.
—Santo inferno, — ele soltou.
—Não quis ver você? — Arran perguntou.
—Não. Ela disse que está muito ocupada torturando Ian.
—Merda. O que vai fazer agora?
Quinn encolheu os ombros.
—Não posso fazer nada senão esperar. Sabia que eu desistiria depois que levou Ian. Fez isso para fazer uma declaração. Não há nada que eu possa fazer por Ian agora, mas vou consertar tudo, logo que puder.
—Por mais que não goste de ver Ian ou alguém torturado, acho que é uma ideia muito ruim, — disse uma voz feminina.
Quinn virou a cabeça para encontrar Marcail parada a dois passos dele.
—Que escolha tenho?
—Você e seus irmãos são a chave, Quinn, — argumentou. —Tem que continuar a rejeitá-la.
Ele se afastou da parede e a enfrentou.
—Então o quê? Ela leva Arran ou você? Devo ficar enquanto as pessoas que me ajudaram são atormentadas ou mortas? Não pode me pedir isso.
—Posso, e vou, — disse ela calmamente. —Sei exatamente o que significa dizer que me aliei com os MacLeods. Tenho certeza que se perguntar a Ian ele dirá o mesmo.
Arran assentiu.
—Como eu. Se tiver que morrer, então vou morrer.
—Você é muito nobre agora, meu amigo, — disse Quinn a Arran. —Poderia não ser tão nobre com Deirdre, uma vez que comece a torturá-lo.
—Sou um Highlander, Quinn. Não me insulte.
Quinn inclinou a cabeça.
—Perdoe-me. Sei a coragem que existe dentro de você, e serão Guerreiros como você que ajudarão a derrubar Deirdre.
—Estou pronto para a batalha.
—Como eu, — murmurou Quinn. —Fui preparado para isso desde que coloquei os olhos sobre ela.
Marcail colocou a mão em seu braço.
—A hora vai chegar. Até então, precisa se preparar para o que vem a seguir.
—E tem uma ideia do que vai ser? — Arran perguntou.
Marcail mordeu o lábio inferior enquanto hesitava.
—Deirdre já nos disse. Vai começar com Ian e abrir caminho através de todos nós.
Quinn andou em torno deles, a raiva pela situação subindo dentro dele.
—Vocês dois estão pedindo muito de mim.
—Deirdre decidiu que você tem um destino, — Marcail disse enquanto se arrastava atrás dele. —Acredito que esteja certa.
Quinn parou e girou para encará-la.
—Quer que dê a ela uma criança?
—Não, mas que a mate. A profecia sobre a criança poderia muito bem ser verdade, não sei. O que acho é que Deirdre sabe o quão importante você e seus irmãos são para nós, para o mundo. Sabe que se puder ter você ao lado dela, a batalha estará terminada antes que comece.
Quinn queria acreditar nela, mas não podia. A ideia que os druidas e outros Guerreiros estavam colocando toda a sua esperança nos MacLeods era humilhante e opressiva. Muito grande, especialmente para um homem que há muito perdeu tudo uma vez.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO QUATORZE

As horas passaram lentamente uma vez que Marcail disse a Quinn que acreditava que era seu destino matar Deirdre. Não tinha pirado, mas não estava confortável pela notícia. Não que ela pudesse culpá-lo. Ela certamente não gostaria de ter essa responsabilidade em seus ombros.
Pelo que descobriu de Quinn, ele tinha vergonha de grande parte de seu passado. Era capaz de perdoá-lo porque agiu assim por perder sua esposa e filho. Isso em si já havia quebrado muitos homens. Quinn não quebrou, porém, graças aos seus irmãos. Marcail queria conhecê-los.
Estava curiosa para saber que tipo de homens eram. Quinn falou muito bem deles, o que dizia muito do vínculo que compartilhavam, um vínculo que nunca poderia ser quebrado. Marcail se enrolou na túnica de Quinn contra o frio. Ele a jogou para ela antes de levantar para vigiar. Com Ian levado, Duncan perdido em sua miséria, Marcail não esperava ver Quinn durante várias horas mais ainda.
Mas desejava.
Ansiava por envolver os braços ao redor dele e beijar seus lábios. Queria sentir seu corpo rígido contra o dela, conhecer a carícia hábil de suas mãos. Ele disse que a tomaria, e que Deus ajudasse, queria que fosse hoje. Queria sentir mais uma vez a felicidade absoluta quando gozou pelas mãos e boca de Quinn.
Não saber o que o amanhã traria a fez querer agarrar o aqui e agora, com ambas as mãos e nunca deixar ir, especialmente Quinn. Marcail sabia que era tola sobre se prender a Quinn, como fez, mas ele não apenas a salvou, ele a protegia. E mostrou os prazeres de ser uma mulher.
Seu corpo aqueceu só de pensar em ser tocada e abraçada por Quinn novamente. Apertou as pernas juntas, quando um espiral de desejo a espetou, mas a pressão apenas aumentou seu desejo.
Não se preocupou em deitar sobre a laje. Depois de acordar nos braços de Quinn nesta manhã, cercada por seu calor e cheiro, Marcail preferia cochilar enquanto se sentava. Não foi até conhecer Quinn, sentir seu desejo, e experimentar o desejo dentro de si que percebeu o quão solitária ela foi.
Marcail olhou de volta para a entrada da caverna, quando uma sombra se moveu. Quinn levou a lanterna de sua caverna, o que a deixou banhada em escuridão. Estava descobrindo o Poço, entretanto. Desde que não podia ver tão bem como os guerreiros no escuro, contava com seu ouvidos.
A sombra que se movia estava no alto, e só podia ver a torque em torno de seu pescoço. Quinn. Não percebeu que estava tão perto dela o tempo todo. Seu coração pulou em seu peito, e deu um passo em sua direção.
Marcail se levantou, com as mãos segurando a túnica. Quando ele não fez outro movimento para chegar nela, decidiu ir com ele ao invés. Por muito tempo sentou através da vida e esperou para ver o que viria em seu caminho. Era hora de assumir o comando.
Atravessou metade da distância quando Quinn deu duas passadas largas e a agarrou antes de girá-la contra a parede. Ela suspirou quando seu corpo rígido e quente a prensou contra as pedras frias da montanha. Ficou tão surpresa que suas mãos soltaram seu aperto na sua túnica.
—Deveria fingir estar dormindo, — ele murmurou em seu ouvido.
—Impossível, quando tudo que penso é em você.
Ele resmungou e tomou sua boca num beijo que roubou seu fôlego. Ela não precisava de magia para sentir seu desejo. Cada golpe de sua língua contra a dela dizia a ela tudo que precisava saber. E não podia esperar para sentir mais. Queria tudo, tudo dele, e o teria esta noite.
O corpo de Quinn nunca teve essa fome por uma mulher da maneira que tinha por Marcail. Ela podia ter sido casada, mas seu corpo ainda estava inocente para os caminhos da carne. Mas aprenderia rapidamente.
Agora, ela o mantinha cativo com apenas seus incríveis olhos azul-turquesa. Sabia o tempo todo que se manteve olhando-a que estava acordada. Orou para que ela dormisse para que ele pudesse manter distância, mas devia saber melhor. Seu corpo ansiava por outro sabor dela. Agora, moveria céus e terra para garantir que a tivesse.
Seus dedos escavaram seus quadris num esforço para mantê-la imóvel. Tinha um controle frágil sobre seu desejo, e temia perder tudo isso se ela se esfregasse contra ele. Controlado ou não, tinha que tocar mais dela. Ele deixou suas mãos se moverem até sua cintura pequena, então mais longe ainda. Fez uma pausa e deixou seus polegares descansar contra a ondulação inferior dos seios.
Quinn queria cortar o vestido de seu corpo para que pudesse festejar em cima dela com seus próprios olhos. Parou no último momento, quando percebeu que ela não tinha mais nada para vestir.
Ela arqueou as costas quando ele aprofundou o beijo, empurrando seus seios contra seu peito. Ele tocou os montes, maravilhado pela plenitude que encheu suas mãos. Deslizou levemente os seios com os polegares e ouviu sua ingestão aguda de ar quando tocou seus mamilos. Instantaneamente podia sentir os pequenos botões duros quando empurraram contra o tecido que os continha.
—Quinn, — ela gemeu.
—Vou ter você, Marcail.
Seus dedos deslizaram em seus cabelos e puxaram sua cabeça atrás.
—Sim, vai ter.
Inferno Santo, ela agitava seu sangue. Quinn soltou seus seios e puxou a saia até que estava amontoada na sua mão. Marcail assumiu a partir daí e se apressou a retirar sua roupa.
Ele ajoelhou na frente dela e beijou sua barriga nua enquanto suas mãos removiam seus sapatos e meias de lã. Suas pernas eram ágeis e sua pele suave ao toque. Ele beijou cada joelho antes de levantar e puxá-la em seus braços.
—Estou sem roupa, — disse ela.
Quinn sorriu.
—Posso ver isso.
—Não pode.
—Humm, — ele disse contra o pescoço dela. —Isso porque se eu remover minhas botas e calças, vou parar de fazer isso.
Ela sussurrou seu nome quando ele se inclinou e fechou a boca em torno de um mamilo atrevido. Quinn sorriu contra a suavidade cremosa de seu seio e sugou mais duro.
Ele passou um braço ao redor dela para mantê-la ereta quando ela pendeu contra ele. Sua respiração era irregular, e os gemidos música para seus ouvidos.
Mas não fez quase com ela.
Quinn estendeu o vestido e sua túnica o melhor que pôde com o pé antes de levantar Marcail em seus braços e a pôr sobre as roupas. Não era uma cama, mas era a coisa mais próxima que tinha.
Marcail sorriu para ele, seus olhos semicerrados observando cada movimento seu. Quinn sabia que devia esperar para tirar a roupa, mas queria sentir sua pele contra ela. Sem um outro pensamento, tirou as botas e puxou suas calças.
—Oh, — murmurou Marcail e sentou em seu antebraço. —Está... deslumbrante, Quinn.
—Não, minha Druida. É a única que é impressionante. — Ele se ajoelhou aos seus pés e se arrastou sobre ela. —Tem a pele mais macia que seda e olhos mais exóticos que qualquer tesouro na terra. Você — ele lambeu seu umbigo — me faz — ele beliscou seu seio — queimar.
Ela passou os braços em volta de seu pescoço.
—Estive queimando muito, Quinn. Não me faça esperar. Por favor.
Havia tanta coisa que queria fazer com ela, mas sentiu sua necessidade e combinava com a dele mesma. Faminta. Anseio. Dor.
Tão logo seu corpo tocou o dela, se perdeu. Amou segurá-la antes, mas pele a pele, ansiava chegar mais perto dela. Quinn tomou seus lábios novamente, porque não conseguia o suficiente de seu gosto. Como ficou trezentos anos sem beijar estava além dele, mas sabia, desde que Marcail estivesse perto dele, que iria beijá-la pelo menos uma vez por hora.
Ele gemeu quando suas mãos percorreram mais das costas para as nádegas. Ela apertou e ergueu os quadris para esfregar em sua vara já dolorida. A sensação de seu calor úmido contra ele rasgou o último pedaço de controle. Com apenas um movimento de seus quadris, a cabeça de seu eixo deslizou contra seu sexo.
Sentiu as dobras quentes de seu sexo, e sabia como ela era sensível. Quinn rodou seus quadris para que seu pênis circulasse seu clitóris. Marcail gemeu seu nome quando arqueou atrás e colocou seus pés em torno de sua cintura.
Quinn queria provocar mais seu corpo, mas a necessidade de sentir seu calor ao redor dele o venceu. Passou a mão entre eles e guiou seu pau para sua entrada.
Fez uma pausa antes que empurrasse dentro dela. Queria Marcail com uma intensidade que assustava, mas mais que isso, queria que ela o quisesse também.
—Quinn?
—Quero você, — disse ele. —Quero você desesperadamente, mas...
Ela colocou um dedo sobre os lábios. —Ninguém, ninguém, me tocou como você fez. Se parar agora, acho que poderia morrer.
Era toda a resposta que precisava. Quinn cerrou os dentes juntos, quando o calor molhado o cercou e ele deslizou seu caminho para seu sexo. Ela era tão apertada, tão quente que se sacudiu pelo desejo. Tentou ser gentil, mas seu desejo e seu deus o empurravam para mais.
Quinn empurrou uma vez, sentindo-se ao máximo. As unhas de Marcail cavaram suas costas, e ela prendeu a respiração. Olhou para ela para a encontrar de olhos fechados, a cabeça jogada para trás, e sua boca se abrindo em êxtase.
Ele beijou seu pescoço e começou a se mover dentro dela, lentamente no início e depois, gradualmente, aumentando o ritmo. A fricção do seu eixo nela quase o fez derramar suas sementes então. Foi apenas a maneira como seu corpo começou a se mover com o dele que o impedia de ceder ao clímax.
Quinn se sentiu endurecer e sabia que Marcail estava perto de um pico. Abaixou a cabeça e prendeu seus lábios em torno de seu mamilo. Ele lambeu e sugou o pequeno seixo até que ela estava tremendo. E então mordeu suavemente.
Ele assistiu, maravilhado, como ela se partiu em seus braços. Foi a coisa mais bonita que já testemunhou. Ele continuou a se mover, prolongando seu orgasmo. Quando o último tremor percorreu seu corpo, seu clímax explodiu com ele. Com o rosto enterrado no pescoço de Marcail, Quinn experimentou o mais glorioso, maior orgasmo de sua vida muito longa.
Marcail não queria se mover. Adorava a sensação de Quinn em cima dela, mas mais que isso, adorava a sensação dele dentro dela. Nas poucas vezes que ela e Rory se acasalaram, foi rápido e, embora não doloroso, não foi agradável também. Mas essas memórias não deviam estragar o que acabava de acontecer.
—Você está bem? — Quinn perguntou.
Marcail acenou com a cabeça e deixou seus pés correrem sobre suas nádegas apertadas e as pernas firmes em seus tornozelos.
Não se cansava de tocá-lo. A forma como seus músculos se moviam e agrupavam sob as mãos era hipnotizante. E seu corpo. Ela suspirou. Ele era tão gloriosamente bonito que não podia olhar o suficiente. Não só era finamente esculpido com músculos em seus ombros e braços, mas também no peito, que reduzia sua cintura e a parte inferior firme e pernas. Ele era perfeição em todos os sentidos.
—Não te machuquei, não?
Ela ouviu a preocupação em sua voz e deu-lhe um beijo rápido.
—Não, Quinn MacLeod, você
não o fez. A única coisa que senti foi um prazer tão grande que acho que não posso me mover.
Ele riu.
—É isso mesmo?
—É. Diga-me alguma coisa.
—Alguma coisa.
—O que aconteceu entre nós? Isso é normal?
Ele hesitou por um momento, e Marcail teve medo que ele ou não respondesse, ou ela não gostaria do que ele tinha a dizer.
—Não, não é normal. Um homem geralmente sempre sente prazer, mas não a mulher. Para uma mulher chegar ao clímax, um homem deve estimulá-la.
Assim como ela pensava. Rory não se importou o suficiente com ela para lhe dar algum prazer.
—Então, estou feliz em compartilhar isso com você.
—Sim, Marcail. Concordo.
Ele saiu dela e rolou de costas antes de puxá-la contra seu lado. Ela gostava de descansar a cabeça em seu ombro. Era uma intimidade que nunca teve antes, e que não seria capaz de viver sem agora. Se não fosse por seus dedos acariciando suas costas, pensaria que ele estava dormindo pela forma como estava tranquilo. Ela não era conhecida por sua paciência, e mesmo que dissesse a si que não era da sua conta, queria saber onde estavam seus pensamentos.
—O que está pensando? — Perguntou ela.
Ele soltou um suspiro.
—Meu clã e no dia que todos morreram.
Marcail colocou a mão sobre seu coração, desejando que a magia trabalhasse de imediato, de modo que ela pudesse tirar sua dor.
—O tempo não entorpeceu aquele dia, não é?
—Não. O cheiro de podre e carne queimada era tão grande que fiquei engasgado. Este é um cheiro que espero que nunca tenha que sentir.
—Se Deirdre conseguir seu objetivo, todos sentirão esse odor.
—Sabe do que mais lembro desse dia? — Perguntou ele. —O silêncio. O Castelo MacLeod sempre estava cheio de pessoas. Em meio às conversas estavam homens em treinamento, crianças rindo, o ferreiro no trabalho, e os animais. Assim, muitos sons.
Marcail beijou seu ombro.
—Não posso imaginar.
—O primeiro som que ouvi foi de um corvo. A próxima coisa que soube era que estavam por toda parte.
—As histórias nunca dizem o que vocês fizeram com todos. Os enterrou?
Ele enrolou uma mecha de seu cabelo castanho em torno de seu dedo.
—Nós queríamos, mas era tarde demais. Tivemos que queimá-los.
—Disse que voltou para o castelo.
—Por duzentos e cinquenta anos temos vivido no castelo de nosso nascimento. Não pudemos repará-lo como queríamos porque não queríamos que ninguém soubesse que estávamos lá. As pessoas temiam o que aconteceu ao nosso clã, e ficavam longe do castelo.
Marcail se levantou em seu cotovelo para olhar seu rosto. Ela alisou uma mecha de cabelo castanho de sua testa.
—Teve uma vida muito dura.
—Não, — ele disse com um aceno de cabeça. —Tem sido um inferno, mas outros tiveram pior. Percebi depois que estive aqui. Desejo que pudesse ter visto o castelo antes que fosse arruinado. Era majestoso.
— Vai mostrar isso para mim
Isso trouxe um sorriso ao seu rosto.
—Oh, sim. Certamente farei isso. Lucan tem um dom para transformar a madeira no que ele quiser. Nos fez uma nova mesa e cadeiras e até mesmo reparou nossas camas.
—E Fallon? Qual o seu talento?
—Liderar, — Quinn respondeu sem hesitação. —Nasceu para ser o Laird, e o melhor homem que Deus poderia ter escolhido. Vai liderar Hayden, Ramsey, Galen e Logan bem.
—Quem são esses outros Guerreiros?
Quinn colocou a mão atrás da cabeça, o cenho franzido.
—Galen encontrou Cara primeiro. Cara fugiu de Lucan, porque todos em torno dela foram mortos por Deirdre, e não queria que Lucan morresse.
—Deduzo que Lucan foi atrás dela?
—Ele o fez. No processo, Galen encontrou Cara na floresta. Galen reconheceu o Beijo do Demônio que estava em torno do pescoço de Cara.
Marcail se levantou.
—Cara é uma drough?
—Não. Mas sua mãe era, mas morreram quando ela era muito jovem. Ela escapou e foi criada por freiras. Cara é uma boa pessoa. A única maneira que se tornaria drough seria para salvar Lucas.
—Gosta dela, — disse Marcail.
Quinn assentiu.
—Sim. É boa para Lucan, boa para todos nós na verdade. Foi ideia de Cara Galen vir para o castelo.
—Não teme que seja um espião para Deirdre?
—No começo, é claro. Há algumas pessoas que são honestas e sua palavra é seu vínculo. Galen é um homem. É fácil confiar nele. E quando deixou sinais na floresta para os outros o encontrar, os acolheu muito bem.
Marcail se recostou em seu ombro. Apesar onde estavam, estava contente em ser abraçada por Quinn e ouvi-lo falar.
—Conte sobre eles.
—Há Hayden, que é mais alto que a maioria dos homens com braços tão grandes que podem rodear o tronco de uma árvore. Não sei o que aconteceu com ele em seu passado, mas tem ódio por qualquer drough. Quando saí, ainda estávamos nos certificando que Hayden não fosse deixado sozinho com Cara.
—Mas Cara não é drough.
—Sei, mas para Hayden, ela tem sangue drough, por isso é a mesma coisa.
—Sei, — ela murmurou. —E os outros?
—Ramsey é o silencioso, o ouvinte. Quase se esquece que está lá até que faz um comentário ou sugestão. Tem uma incrível capacidade de resumir tudo numa ou duas palavras, mas também pode trabalhar com dilemas.
Marcail sorriu.
—Uma boa cabeça ele tem.
—E isso vem a calhar com certeza.
—O outro Guerreiro?
—Logan. É o mais novo de nós e sempre sorrindo. Alivia as tensões com gracejos e brincadeiras que fazem todo mundo rir.
Marcail passou a mão abaixo do estômago tenso de Quinn e os músculos ondularam.
—Acha que mais virão para seu castelo?
—Espero que o façam. Vai precisar de mais do que sete de nós para derrotar Deirdre.
—Mas tem Duncan, Ian e Arran, — ela disse. Sua mão parou em seu quadril. Queria dobrar sua mão em torno de sua haste agora flácida, mas não era corajosa o suficiente.
—Dez é melhor que sete.
Então lembrou de seu desejo de se arriscar já que poderia morrer no dia seguinte. Deslizou as unhas na lateral do quadril Quinn até sua coxa antes de mover a mão para seu pau.
Ele respirou fundo quando ela colocou as mãos em torno dele. Ela viu com assombro como sua vara crescia dura diante de seus olhos.
—Marcail, — ele murmurou.
Ela sorriu e beijou seu peito.
—Parece maravilhoso dentro de mim, mas queria saber como parece na minha mão.
Sua mão nas costas dela flexionou e a puxou com mais força contra ele. Marcail moveu lentamente a mão acima e abaixo de seu comprimento, maravilhada como era quente, e duro. Era como se aço fosse forjado sob sua pele, de tão rígido. No entanto, sua pele era tão suave como veludo.
Uma gota de líquido se formou na sua ponta. Ela correu o dedo sobre a cabeça de seu pênis e alisou o líquido sobre ele. Seu estômago se agitou quando ouviu Quinn gemer baixo. Acima e abaixo a mão se movia, descobrindo a sensação dele. Adorava ver o modo como os quadris subiam em resposta ao seu toque.
—Não mais, — Quinn disse quando passou para o lado dela e a beijou. Ele a virou mais até suas costas estarem contra seu peito.
—Gosto de tocar em você.
Ele apertou os lábios contra o pescoço dela e gemeu. A vibração contra sua pele era celestial.
—Eu sei, — disse ele rouco. —Mas quero tocar em você também.
Marcail não podia acariciá-lo nessa posição, mas antes que pudesse se queixar, a mão se deslocou para seu sexo e separou suas dobras. Em seguida, ele afundou um dedo profundidamente dentro dela.
—Hum. Acho que gosto dessa posição. Tenho exatamente você onde quero.
Ela mordeu o lábio quando esfregou seu pau por trás. A outra mão dele encontrou seus seios e agora rolou um mamilo entre os dedos.
—Quinn, — ela murmurou. O desejo pulsando através dela era tão grande que não conseguia que outra palavra saísse.
Como se soubesse exatamente o que ela precisava, levantou a perna e guiou sua vara para sua entrada. Com um movimento de seus quadris estava dentro dela, a sensação dele por trás nova e emocionante.
Marcail gemeu quando prazer a percorreu. Tomando Quinn como fazia, ficava mais profundo, tocava mais dela. E era maravilhoso. Ele levou seu tempo, se movendo lentamente dentro e fora dela, aumentando seu prazer a cada impulso, cada movimento de seus quadris. Quando começou a se mover mais rápido, mais duro, Marcail estava impotente para fazer algo sobre o clímax que se movia rapidamente em sua direção.
As primeiras ondas do orgasmo a engoliram antes que soubesse disso. Quinn a puxou atrás, o nome dela em seus lábios enquanto sua semente quente vertia dentro dela. Saber que atingiram o pico juntos prolongava o prazer dela.
Longos minutos se passaram antes que qualquer um deles pudesse falar enquanto estavam enrolados juntos. Ela pensava que da primeira vez que fez amor foi magnífica, mas a segunda vez foi extraordinária.
—Durma, pequena Druida, — Quinn sussurrou em seu ouvido.
Marcail fechou os olhos quando se empurrou mais firmemente contra ele. Quando se afastou para dormir, percebeu que ele ainda estava dentro dela.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO QUINZE

Isla estava na entrada da porta, mas não podia ir adiante. Já tinha descido profundamente na montanha, muito abaixo do Poço e das outras masmorras. Mas mais escadas a esperavam. Isso levava a um único lugar, um lugar que adiava visitar até que não tivesse escolha. Agora era um desses momentos.
Isla viu os dois primeiros degraus e, em seguida, a escuridão comendo tudo. Escuridão e silêncio. Os sons que a cercavam deslizavam de cima. Ouviu os gritos dos torturados, os gemidos dos moribundos e os grunhidos dos Guerreiros.
Mas descer as escadas era uma história diferente. Já desceu ao ponto que Deirdre mediria sua punição. Não que Isla se importasse. Não havia punição que Deirdre já não houvesse infligido à Isla.
Isla pegou sua saia com uma mão e tomou a primeira escada. Não se incomodou com luz. Conhecia o caminho, mas era mais que isso. Se tropeçasse e caisse abaixo pelas escadas, era nada mais que merecia.
Fez seus pés descerem cada degrau. Havia quase mil mais para descer antes que chegasse ao seu destino. Contou os passos cada vez, mas nunca ficava mais fácil. Muito em breve chegaria ao patamar inferior. Isla parou um instante, dois, antes de se virar para a esquerda e avançar para a prisão na parte detrás. Como sempre seu coração sangrou pelo homem preso lá, porque era culpa dela estar preso.
Ele arreganhou os dentes quando ela se aproximou. Não podia machucá-la, no entanto. Não só estava preso em ambos os pulsos por grossas correntes que mantinham os braços dos lados, como Deirdre usou sua magia para impedi-lo de machucar a si mesmo ou aos outros.
—Olá, Phelan, — disse Isla.
Ele rosnou e empurrou as correntes, fazendo-a tremer contra as pedras. Mesmo enquanto Isla tentava falar com ele, ficava evidente que era inútil. O menino de cabelos escuros e olhos castanhos confiante não existia mais. Era apenas um Guerreiro que não queria nada, só morte pelas mãos dele. Esperava que um dia ele tirasse a própria vida. Era o mínimo que podia fazer para ajudá-lo.
Isla ergueu a mão para revelar a taça de ouro que manteve oculta em suas saias. Se já estava com raiva, ver a taça o empurrou para o limite da insanidade. Puxou com tanta força as correntes que ela temia que pudesse arrancá-las das pedras, mas não havia quantidade de força ou magia que pudesse libertar as correntes, a não ser que Deirdre quisesse.
—Por favor, Phelan, — Isla implorou. —Não torne isso mais difícil do que já é.
Ela deu um passo em direção ao seu braço estendido, e desembainhou a adaga em sua cintura. Havia algo no sangue de Phelan que podia curar qualquer coisa. Embora a maioria do sangue dos Guerreiros pudesse curar outros Guerreiros, Phelan podia curar tudo e todos.
E Deirdre adquiriu gosto por ele. Era ruim o suficiente manter Phelan acorrentado nas entranhas da montanha, mas também tirar seu sangue parecia mais que cruel. Deirdre sabia que Isla se sentia desse jeito, por isso enviava Isla para ele a cada vez.
—Vou matar você um dia, — disse Phelan por entre os dentes cerrados.
Isla levantou a adaga sobre seu pulso. Como Guerreiro, sua coloração de pele e olhos era ouro. Encontrou seu olhar e assentiu.
—Eu sei.
—Não tem medo da morte?
Seria realmente uma bênção.
—Não.
—Confiei em você.
Isla engoliu em seco e baixou o punhal. Isto era mais do Phelan falou com ela desde que ela o trouxe para a montanha. Pensou em voltar naquele dia terrível há muito tempo. Deirdre já havia começado a usar a irmã de Isla como vidente. Lavena ajudou Deirdre a localizar guerreiros em potencial, que foi como encontraram Phelan.
Isla recusou a ordem de Deirdre de trazer a criança para a montanha. Lavena já estava perdida para Isla, mas Isla tolamente pensou que sua sobrinha estava segura. Foi quando Deirdre deu-lhe a opção da morte de Grania ou a prisão de Phelan. Não havia como Isla ver morrer sua amada sobrinha, então foi atrás de Phelan.
—Confiei em você!
Isla recuou abaixo de Phelan. Ela abriu a boca para responder quando uma ofuscante dor de cabeça a cortou. Isla deixou cair a taça e a adaga e segurou sua cabeça entre as mãos quando tropeçou atrás até bater na parede. Ela deslizou para o chão quando a dor cresceu e cresceu.
Sabia o que era, sabia e odiava isso. Porque era Deirdre.
—Testa minha paciência, Isla, — disse Deirdre em sua mente. —Não gosto de ser mantida à espera. Preciso do sangue!
—Estou falando com ele. Assim como pediu, — escorregou através da dor.
A risada de Deirdre ecoou em sua cabeça.
—Sei que só foi aí por isso, então não minta para mim! Vai ser punida quando retornar. Agora, cumpra seu dever.
Isla se dobrou até a cabeça repousar sobre o chão de pedra. Para seu horror, lágrimas não derramadas por centenas de anos começaram a trilhar por suas bochechas. Tudo que lutou tanto para proteger, Lavena e Grania, estavam perdidas para ela. E mesmo se quisesse escapar de Deirdre, estava tão acorrentada como Phelan.
—Isla?
Ela piscou para a voz calma de Phelan e levantou a cabeça. Estava agachado a observando com o cenho franzido. Já era ruim o suficiente chorar, mas ser vista chorando era o pior de tudo.
Isla virou a cabeça e enxugou as lágrimas com as costas da mão. Levantou nas pernas instáveis, a dor ainda latejando em sua cabeça. Com a mão sobre as pedras para se equilibrar, se virou para Phelan. A câmara nadou ao seu redor, os vestígios da dor de cabeça poderia durar dias, como bem sabia.
—Diga-me o que aconteceu, — exigiu Phelan.
Em algum lugar ao longo do tempo o menino inocente se tornou um homem e um Guerreiro. Ela se inclinou para recuperar a taça e o punhal, respirando pela boca para dissipar a náusea que o simples movimento causou.
—Não importa.
—Isso não, — insistiu. Seus olhos de Guerreiro de ouro empalaram nela. —Estava com muita dor.
Isla não queria falar sobre isso, mas mais que isso, estava cautelosa por Phelan mudar de atitude. Um momento antes de Deirdre invadir sua cabeça ele queria matá-la. Agora, seu tom de voz abrandou e já não rosnava.
Ela lambeu os lábios secos e engoliu.
—Posso pegar seu sangue?
Phelan suspirou e deu um empurrão rápido de cabeça. Isla não perdeu tempo em se mover para o Guerreiro e cortar seu pulso. Sangue vermelho escuro jorrou fora do corte e verteu na taça. Isla segurou o copo com cuidado. Cometeu o erro de derramar uma vez, o que significou que teve que cortar Phelan novamente. Não havia como voltar a Deirdre sem uma taça cheia de sangue do Guerreiro.
—Foi Deirdre, não foi? — Phelan perguntou.
Isla olhou para seu rosto.
—Por que quer saber?
—Tudo que sei é o que ouço através das pedras dessa montanha amaldiçoada. Sei que Deirdre é tão má quanto uma pessoa pode ser, mas sei que está enjaulada e que tem vontade de trabalhar com ela.
Sua ferida se curou antes da taça encher completamente com o sangue, mas Isla se recusava a cortá-lo novamente. Já ia ser punida. O que era um pouco mais?
Isla colocou o cálice e o punhal perto da entrada da sua prisão e enfrentou Phelan.
Deirdre disse a ela para falar com ele, de modo que o faria. Se apenas Isla pudesse remover suas correntes ou voltar e mudar o passado.
—Deirdre é uma Druida má chamada de drough. Acumula poderes que vão permitir que domine o mundo.
Phelan cerrou o maxilar.
—Ninguém luta contra ela?
Ela abriu a boca para falar dos MacLeods, mas isso daria esperança, uma esperança que não podia ter.
—Alguns estão tentando, mas é inútil.
—Há outros... como eu, não há?
Ela assentiu com a cabeça.
—Já viu alguns que vieram até aqui.
—Já vi um. Sua pele é azul royal.
—Esse é William. Fará qualquer coisa por Deirdre.
Phelan revirou os ombros e moveu seus pés enquanto absorvia suas palavras.
—Os outros Guerreiros são como eu?
Isla encostou na parede de rocha e encolheu os ombros.
—De certa forma. Todos os Guerreiros se alteram como você. Cada um de vocês é de uma cor diferente, da cor do deus dentro de você. Os Guerreiros que não estão do lado de Deirdre só permitem que seu deus se mostre quando estão lutando contra ela. Como não sabe disso depois de todos esses anos?
—Não perguntei, e ninguém me falou disso.
Se Isla se sentia horrível antes de falar com ele, sentia-se pior agora. Intencionalmente manteve distância dele, porque vê-lo sempre a fazia lembrar do dia que parou de olhá-la como uma amiga, para ser preso e gritar com ela com o assassinato em seus olhos.
—Há coisas que precisa saber, — disse ela. —Cada guerreiro tem um poder diferente, dependendo de seu deus.
Assim que as palavras saíram de sua boca a câmara escureceu, as sombras desapareceram e foi cercada pela luz solar. Estava ao lado de uma colina, a grama alta balançando no vento, e o cheiro da urze e cardo enchendo seus sentidos. Seu olhar deslizou acima para ver um brilhante céu azul sem nuvens, enquanto o sol a aquecia. Sabia que de alguma forma Phelan fez isso. Não sabia como, mas estava gostando muito para questioná-lo.
—Os outros guerreiros podem fazer isso? — Perguntou ele.
Ela virou a cabeça e piscou. Lá se foram as correntes que o prendiam. Foi-se a pele de ouro, as presas e garras de sua forma Guerreiro. Viu um vislumbre do rapaz que foi nos olhos castanhos que a observavam. O homem diante dela com cabelo escuro caído pelos ombros era tão bonito, que não conseguia olhar para ele. Seu corpo era magro e bem desenvolvido. Podia ver a definição de seus músculos na parte superior do corpo, e embora não fosse tão musculoso como alguns dos Guerreiros, podia sentir a força dentro dele.
—Como faz isso? — Perguntou ela.
—Este, — disse ele e estendeu os braços, — é meu poder.
Isla fechou os olhos.
—Por favor, pare.
—Por quê? Prefere as trevas?
Ela preferia a luz do sol, e estar nela, mesmo por pouco de tempo, a fazia querer mais e mais.
—Estou te implorando, — ela implorou.
—Abra seus olhos, Isla.
Quando se atreveu a espreitar, a escuridão mais uma vez a cercava. Ela soltou uma respiração instável, não percebendo até que seus dedos começaram a doer que segurava nas pedras atrás dela.
—Assim, cada guerreiro tem um poder diferente, — disse Phelan. —Quantos são?
—Não são muitos. Alguns alinhados com Deirdre. Os que estão contra ela estão detidos em masmorras.
Phelan sorriu, revelando suas presas.
—Mas nem todos estão presos aqui, estão? Existem alguns que conseguiram escapar e fugir de Deirdre e seus wyrran.
Era verdade, e embora não quisesse mentir para ele, não tinha certeza se podia dizer a verdade.
—Seu silêncio é resposta suficiente, — disse ele. —Por que se comprometeu com Deirdre?
—Porque não tive escolha.
—Há sempre uma escolha.
Isla riu e balançou a cabeça.
—Se as coisas fossem assim tão fáceis. Suspeito que começará a receber visitantes em breve. Cuidado, Phelan. Deirdre tem planos para usar você em seu esquema para dominar o mundo.
Ela pegou a taça e o punhal e caminhou até as escadas.
—Cuide-se, — Phelan disse atrás dela.

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO DEZESSEIS

Quinn sabia que estava em apuros quando acordou e não conseguiu parar de olhar para Marcail. Conseguiu se levantar sem acordá-la, mas agora, tudo que podia fazer era ficar em pé e olhar para sua imagem ao mesmo tempo que a noite juntos se repetia em sua cabeça.
Como desejava que a tivesse conhecido de forma diferente, mas percebeu, como o homem que era antes, não teria o desejo de possuí-la. Ele mudou desde que foi capturado, mudou de uma maneira que pensou nunca ser capaz.
Seu filho continuava perdido, mas compreendeu que coisas ruins acontecem a inocentes. Mesmo que seu filho escapasse, Quinn não ficaria perto dele por medo de machucá-lo.
A necessidade de vingança pela morte de seu filho e esposa não deixou Quinn, no entanto. Mataria Deirdre, ou morreria tentando.
A maldição silenciada fez Quinn se afastar da forma adormecida de Marcail para encontrar Duncan inclinando um braço contra o muro, enquanto o outro segurava seu estômago. Quinn foi para seu amigo.
—Duncan? O que é isso?
—Não me sinto bem, —o guerreiro soltou.
Quinn sabia que ele mentia.
—Foi atacado na noite passada?
—Não, — Duncan disse com um riso frágil.
—Então o que é?
Duncan voltou seus pálidos olhos azuis de Guerreiro para Quinn.
—Nada que eu não possa aguentar.
Quinn inclinou a cabeça e se virou para encontrar Arran do outro lado da entrada. Caminhou para o Guerreiro branco que estava com os braços cruzados sobre o peito assistindo Duncan.
—Ele não está bem, — disse Arran quando Quinn o alcançou.
—Não, não está, mas não me diz o que está errado.
Arran esfregou os olhos com o polegar e o indicador.
—Não gosto desta situação.
—Eu nunca gostei. Prometi a Duncan acertar as coisas, e vou. Preciso de algo seu, apesar de tudo.
Arran bufou e balançou a cabeça com raiva.
—Não me incomodaria em discutir com você novamente, mas sabe que acho que você se entregar a Deirdre é besteira. Já prometi cuidar de Marcail.
—Sim, e aprecio isso. No entanto, isso é mais importante.
Isso chamou a atenção de Arran. Estreitou os olhos e deu um passo mais perto de Quinn.
—O que é?
—Não tenho dúvidas que Lucan e Fallon acabarão por vir. Não importa o que eu diga, não importa o que faça para eles, deve segui-los quando fugirem, porque vão escapar. Vou me certificar disso. Leve quantos Guerreiros puder, mas siga meus irmãos.
—Prefiro ter você ao meu lado.
Quinn queria estar lá, mas Broc estava certo, seu tempo se esgotou.
—Diga aos meus irmãos...
—Eu vou, — prometeu Arran. —Vou dizer tudo.
Quinn respirou profundamente, sentindo-se melhor depois do voto de Arran. Não sabia quanto tempo restava com Marcail, mas imaginou que não era muito. Deirdre marcou seu ponto ontem, mas queria Quinn o suficiente para conceder sua audiência antes de passar muito tempo.
Os sons da porta do Poço diziam que sua refeição da manhã chegou. Quinn se transformou e saiu da câmara. Quando chegou à porta, encontrou Isla de pé além dela.
—Veio por mim? — Ele perguntou à drough.
Ela levantou uma sobrancelha preta e o olhou com seus olhos azul-gelo. Era tão pequena como Marcail, mas seu comportamento frio a fazia parecer mais alta, mais mortal.
—Não.
—Merda, — murmurou Quinn e enrolou suas garras em suas mãos.
—O que você quer, Quinn MacLeod?
Ele inclinou seu rosto para a fresta aberta e rosnou.
—Sabe que quero impedi-la de torturar Ian.
—Sua raiva é lenta para esfriar.
—Por que está aqui? — Quinn exigiu.
Ela levantou um ombro magro.
—Vim para vê-los, jogar o pão e ver se qualquer um de vocês percebeu que prefere servir Deirdre a gastar outro momento no Poço.
—Eu, — uma voz chamou atrás de Quinn.
Virou-se para encontrar um Guerreiro com pele amarelo-laranja saindo das sombras. Quinn se lembrou de lutar contra o Guerreiro em seu primeiro dia lá, mas não via o Guerreiro há semanas.
—Venha, — disse Isla e mandou um guarda abrir a porta. Esperou que o Guerreiro amarelo-alaranjado se movesse diante dela antes de olhar para Quinn mais uma vez e se afastar.
Quinn agarrou seu pão e deixou suas garras cortarem através dele. Estava rasgado entre a raiva por Deirdre fazê-lo esperar e fúria por ter outro Guerreiro do seu lado.
Quando chegou em sua caverna, Marcail o aguardava. Ela tocou o braço dele e disse:
— Ela ainda não vai vê-lo?
—Não. — Quinn deu a Marcail sua parte do pão. —Achava que não ia me fazer esperar. Isla disse que está muito irritada, e se esse for o caso, vai golpear Ian repetidamente.
—Ela pode fazer o mesmo com você.
Quinn duvidava disso.
—Ela quer um filho meu demais para arriscar que eu diga não. Não vai me torturar, não da forma como está torturando Ian, pelo menos.
—Acha que irá capturar seus irmãos?
—Como sei que já não o fez?
A testa de Marcail franziu enquanto mastigava.
—Não ouviu isso da própria Deirdre? Acho que ia querer tripudiar e usá-los como peões para levá-lo a fazer o que seja que planejou para você.
—Pode estar certa. Tanto quanto temo meus irmãos não virem por mim, sei no meu coração que virão. Fiz Arran prometer que irá com eles quando escaparem. Quero a mesma prmessa sua.
—E você?
Ele apontou uma trança que caiu sobre os olhos.
—Vou ser o único que garantirá que todos fujam.
—Vai ficar para trás?
—Vou.
Seus lindos olhos azul-turquesa se arregalaram perturbados.
—Não pode ficar.
—Pensei sobre isso a noite toda, Marcail. Alguém precisa ficar e se certificar que Deirdre não consiga tudo que almeja. Eu serei esse alguém. Não posso fazer isso se estiver preocupado com meus irmãos, com você, ou com os Guerreiros que me deram sua lealdade.
Seu olhar caiu no colo quando ela olhou para seu pão meio comido.
—Pede muito, Quinn. Não acho que serei capaz de deixá-lo aqui com ela.
—Você precisa. Meus irmãos vão mantê-la segura. Estará com outras Druidas e cercada por Guerreiros que não querem nada mais que a morte de Deirdre.
Quando Marcail não respondeu, Quinn colocou um dedo sob seu queixo e levantou seu rosto.
—Por favor. A magia está em algum lugar de sua mente para acabar com tudo isso. Você é necessária.
Marcail não gostou da agitada sensação em seu estômago. Pensar em Quinn, não só indo de livre e espontânea vontade para Deirdre, mas ficando atrás e parecendo se alinhar com ela deixava Marcail doente. Estava se arriscando muito, mas, novamente, entendia o porquê.
—Fallon e Lucan não ficarão felizes com sua decisão. É provável que retornem por você.
Quinn assentiu e soltou seu pão para segurar seus ombros.
—É por isso que preciso que os faça entender. Você e Arran precisam dizer a eles tudo que serei capaz de fazer. Digam a eles que estou fazendo isso por nossos pais, nosso clã. Diga-lhes que estou fazendo isso por eles. Devo muito a eles.
—Vou dizer a eles, — disse ela.
Ele baixou os braços e respirou fundo.
—Há algo mais que precisa saber. Acredito que há um espião no Poço.
—Quem?
—Minha suspeita é Charon. Sempre observa tudo que faço. Não confio nele. Não lutou contra mim ou comigo.
Ela assentiu com a cabeça.
—Charon vigia você constantemente.
A porta do Poço abriu.
—MacLeod!
Marcail levantou. Não podia acreditar que Quinn ia deixá-la. Ele era a única coisa em que começava a confiar, e agora, não teria nada. Antes que pudesse pedir para não ir, ele a puxou em seus braços e beijou com paixão e desejo que combinava com o dela mesmo. Se segurou nele com toda a força.
Se afogando. Naufragando. Cedendo.
As mãos se estenderam ao longo de suas costas, a segurando firme contra seu corpo duro. Seus lábios eram macios, insistentes e implacáveis enquanto tomavam os dela. Ele saqueou sua boca, tirando sua respiração, bem como parte da sua alma, com um beijo de parar o coração. Um beijo que mostrou toda a paixão, toda a saudade que Quinn tinha. Era um beijo que Marcail nunca esqueceria.
Muito breve ele se afastou dela.
—Fique escondida, — disse ele, quando deixou seu deus solto.
—E pelo amor de Deus, não confie em ninguém, exceto Arran e os gêmeos, e meus irmãos.
Então ele se foi.
Marcail tropeçou em pé e correu para a entrada da caverna. Pouco antes de virar a esquina, na esperança de pegar outro vislumbre de Quinn, Arran a puxou de volta para as sombras.
—Não, — Arran, disse em seu ouvido. —Isso é mais difícil para ele do que está mostrando. Se te ouvir, ver, é capaz de mudar de ideia.
—Não é isso que queremos? — Perguntou ela, com lágrimas ardendo nos olhos.
—Com todo meu coração, sim. Tanto quanto odeio ver um amigo ir para seu destino, dei a Quinn minha promessa. Vou mantê-la, independentemente do quanto odeio isso. Seu sacrifício vai salvar muitas vidas.
Marcail se encolheu quando a porta bateu e o ferrolho deslizou no lugar. O Poço já parecia diferente sem Quinn. Sua mera presença enchia o Poço. Agora, a escuridão era interminável. Saiu dos braços de Arran e caminhou até onde ela e Quinn acabavam de se sentar. Sua refeição estava esquecida nas pedras. Ela estava morrendo de fome quando deu a primeira mordida no pão, mas agora, não podia suportar a ideia de alimentos.
Marcail afundou sobre a grande laje de pedra e deixou a cabeça cair em suas mãos. Sabia que seu tempo com Quinn seria curto, mas simplesmente nunca esperou que ele fosse embora tão logo. Muito logo.
Quinn seguia William do Poço através de pequenos corredores até incontáveis degraus. Não precisava tentar memorizar seu caminho. Havia apenas um caminho para o Poço através das escadas, e era encontrado com bastante facilidade.
O que Quinn achou estranho era a forma como William o observava com tal hostilidade aberta. Tiveram sua quota de batalhas, é verdade, mas isso parecia diferente. Como se Quinn estivesse de alguma forma invadindo o território de William. E foi então que Quinn percebeu o que era.
—Percebi que não deseja compartilhar Deirdre.
William girou e jogou Quinn contra a parede. Quinn até mesmo riu quando William usou uma garra para fazer um corte longo na sua garganta.
—Você não estará rindo quando eu terminar com você, — William zombou.
Quinn levantou uma sobrancelha.
—Ela é demais para você lidar, William? É por isso que ela precisa de mim?
—Cale a boca, — gritou William.
—Tente me parar.
Por um momento Quinn achou que começaria a briga que queria, mas William de repente o libertou.
—Tanto quanto quero te matar, não posso. Um dia, porém, MacLeod, Deirdre vai ficar cansada de você. Quando o fizer, vou estar lá para acabar com sua vida.
—Por que esperar? Vamos cuidar disso agora. — Quinn arreganhou os dentes e ampliou sua posição. Precisava desabafar a raiva na forma de Guerreiro, e se fosse uma luta de morte, tanto melhor.
William rosnou baixo em sua garganta quando sorriu.
—Ainda não. Vou gostar do que vem a seguir.
Quinn não gostou do som disso. Não tinha escolha senão seguir William. No momento que pararam, Quinn adivinhou que estavam bem acima do Poço.
Quando William parou ao lado de uma porta e a abriu, Quinn esperava encontrar Deirdre quando pisou no interior da câmara. Em vez disso, estava vazia. O som da porta se fechando atrás fez Quinn se virar. Para encontrar William lá com um sorriso arrogante.
—Acho que vai gostar disso, — disse William.
Quinn se preparou para qualquer coisa enquanto deixava seu olhar vagar pela câmara. Era pequena e sem armas, ou até mesmo cadeiras. A única coisa além da porta era uma grande abertura que mostrava a próxima câmara.
—Onde está Deirdre? — Quinn exigiu.
—Ela ainda não está pronta para conversar com você.
Quinn estreitou seu olhar sobre o Guerreiro. A necessidade de sentir seu sangue em suas mãos, matar, era esmagadora.
—Então por que estou aqui?
—Veja e descubra.
Quinn se voltou para a abertura, quando os sons da sala ao lado deslizaram para ele. Custou tudo que tinha para ficar parado quando avistou Ian. Ainda estava em sua forma de Guerreiro, mas seu rosto estava manchado com sangue e hematomas.
Os guerreiros de cada lado de Ian eram as únicas coisas que o mantinham de pé. Quando o algemaram no centro da câmara de modo que pendurava pelos braços com os dedos dos pés arrastando no chão, Quinn sabia que as coisas só iam piorar.
—Não devia se negar a ela, MacLeod, — William disse enquanto se movia para ficar ao lado de Quinn. —Você e seus irmãos sempre se acharam melhor que o resto de nós.
—Não é verdade. Apenas achamos que éramos melhores que você.
Quinn precisava de uma saída para sua fúria, e William era sua chance.
William não mordeu a isca, no entanto.
—Veja seu amigo sofrer por sua arrogância, MacLeod.
Os dois guerreiros que trouxeram Ian para a câmara, cada um pegou um chicote em sua mão. No final das pontas do chicote, metais oscilavam com arestas denteadas.
—Ian, — Quinn chamou, mas seu amigo agia como se não o ouvisse.
—Não se preocupe, — disse William. —Ele não pode te ouvir ou ver graças à magia de Deirdre.
Quinn agarrou a borda da abertura quando os guerreiros levantaram os braços, os chicotes se movendo sobre o chão. Ele faria qualquer coisa para acabar com isso, até mesmo levar a punição, se pudesse. Cada golpe que tocava as costas de Ian era como um punhal no coração de Quinn. Ian se manteve constante o tempo todo, e quando desmaiou, foi revivido apenas para começar tudo novamente.
As costas de Ian eram uma massa de sangue e pele quando acabaram, mas não tinham acabado com ele. Os Guerreiros abandonaram o chicote e começaram a bater com os punhos e garras em Ian.
Quinn queria pedir que parassem, mas tinha que ser forte. Deirdre o queria, e a faria pagar caro por ferir Ian. Enquanto Ian estivesse vivo, se curaria, e Quinn poderia consertar tudo. Até então, Quinn teria que ficar firme e não ceder ao desejo de correr para lutar como normalmente faria.
—Tenho muito mais na loja para seu amigo, — disse William. —Queria trazer o outro gêmeo, mas Deirdre não permitiu isso. Ainda.
Quinn encarou seu inimigo e arreganhou os dentes.
—Sabe tão bem quanto eu que Deirdre me quer. Já disse a ela que serei dela.
William jogou a cabeça atrás e riu.
—Na verdade, MacLeod, a mensagem nunca chegou a Deirdre. Parou em mim.
Fúria fria atravessou Quinn. Se lançou em William e envolveu a mão em torno da garganta azul brilhante do Guerreiro num piscar de olhos.
—Mate-me, e Ian morre.
Quinn deixou suas garras rasgarem a pele de William e o sangue correu em cinco riachos pelo peito nu do Guerreiro. Quinn podia matar William e derrubar os outros dois Guerreiros com Ian, mas tirar Ian e os outros fora da montanha, sem Deirdre ser alertada, seria impossível. E não ia deixar Ian atrás.
—Por que estou aqui?
William puxou contra a mão de Quinn, mas Quinn não o liberou.
—Fui incumbido da tortura de Ian até amanhã. Deirdre se recusou a falar com alguém até esse momento. Mesmo você, MacLeod.
Quinn soltou William com um rosnado. Caminhava pela pequena câmara e olhou para Ian que estava incapaz de proteger seu corpo contra os golpes brutais.
—Vou matar você por isso, — disse Quinn a William.
William esfregou sua garganta.
—Pode tentar. Até então, pode assistir seu amigo sendo espancado ou vê-lo ser morto.
—Deirdre não ordenou sua morte.
—Talvez não, mas acidentes acontecem.
Quinn deu um passo na direção dele.
—Vou contar o que você fez.
—E tenho dois Guerreiros que vão falar de maneira diferente, — respondeu William.
—O que vai ser, MacLeod?
Não querendo arriscar a morte de seu amigo, Quinn se virou para a abertura. Enquanto observava a tortura continuar, Quinn planejava como vagarosamente e dolorosamente mataria William.

 

 


CAPÍTULO DEZESSETE

Marcail estava perdida, como nunca esteve antes. Ainda não podia acreditar que realmente Quinn se foi. Por mais que quisesse acreditar que voltaria, sabia que não o faria. Uma vez que Deirdre o tivesse, nunca o liberaria.
Ela se agachou nas sombras com seus braços envolvidos em torno de si mesma. Embora ansiasse para se esconder e fingir que não estava no pior lugar na Escócia, se manteve perto da entrada para que pudesse ver qualquer movimento. Muitas vezes antes viu Charon com mais que apenas interesse curioso em Quinn e seus homens. Agora, os interesse se deslocou para Arran.
Arran estava na caverna junto com Duncan, que não era visto desde que Quinn foi levado do Poço. Quanto mais Charon observava, no entanto, mais interessado o Guerreiro cobre parecia ficar no que fosse que Arran e Duncan estavam fazendo.
Pensou sobre as palavras de Quinn sobre Charon ser um espião. Tudo que tinha eram suas suspeitas, e nem sabia o que fazer com elas. Marcail segurou o final de uma trança e correu os dedos sobre o ouro que prendia o cabelo. Se houvesse alguma forma de ajudar Quinn. Se quisesse ajudar Quinn teria que correr riscos que normalmente não correria, e isso significava deixar a segurança da caverna de Quinn. Antes de mudar de ideia, levantou e caminhou até Charon.
O Guerreiro cobre levantou uma sobrancelha quando a viu.
—Errou o caminho, pequena Druida?
Ela odiava ser menor que os outros, porque alguém sempre usava isso contra ela.
Olhou para o Guerreiro alto e os chifres cobre grossos.
—Conheço meu caminho.
—Você? Uma vez que veio para mim, será que quer algo agora que MacLeod se foi?
—Quero algo de você.
Ele se afastou da parede e sorriu para ela.
—Proteção? Percebeu que Arran e Duncan estão em falta?
—O que percebi é que você é espião de Deirdre.
Ele piscou, surpreso com suas palavras. Marcail gostou de surpreendê-lo.
—Não tem nada a dizer? — Perguntou ela.
—Se fosse um Guerreiro, eu a mataria, apenas por falar essas palavras.
Marcail era esperta o suficiente para ter medo, mas sabia em seu intestino que suas suspeitas eram corretas.
—Porque são verdadeiras, talvez?
—Pelos dentes de Deus, você é uma mulher ousada. Foi isso que Quinn achou tão atraente em você?
Ela se recusou a permitir que a discussão mudasse de rumo.
—Por que está espionando para Deirdre?
Ele deu um passo na direção dela e contraiu seus lábios para mostrar seus dentes.
—Se eu fosse você, esqueceria que já tivemos esta conversa e focaria sua atenção em ficar viva.
Um baixo, torturado gemido encheu o Poço. Soube imediatamente que era Duncan. Marcail esqueceu Charon e correu ao covil de Duncan para encontrá-lo deitado de lado, os braços em em torno de sua cintura enquanto se enrolava em si mesmo.
—Marcail, — Arran soltou. —Volte para a caverna de Quinn.
Um filete de sangue escorria pelo canto da boca de Duncan. Tudo que estava sofrendo era ruim. Precisava de sua magia para ajudar, e faria o que fosse necessário para garantir que sua magia funcionasse.
—Posso ajudá-lo.
Arran balançou a cabeça.
—Ninguém pode ajudá-lo.
Ela não se preocupou em discutir. Em vez disso, empurrou Arran do caminho e se ajoelhou ao lado de Duncan. Colocou a mão na sua cabeça e sentiu o calor de sua pele. Tremia incontrolavelmente e seus olhos estavam espremidos apertados.
Marcail lambeu seus lábios e rezou para sua magia vir a ela facilmente. Se concentrou em sua magia dentro dela, assim como sua avó a ensinou. A música começou de novo, apenas um sussurro que flutuava em torno dela. Levou um momento, mas sua magia mudou dentro dela quando o canto desapareceu. Ela não perdeu tempo em comemorar tal feito, mas empurrou sua magia através de suas mãos em Duncan. Com o contato, instantaneamente sentiu a dor e a agonia se contorcendo dentro do Guerreiro. Assim que começou a puxar as emoções de Duncan, Marcail começou a sentir tonturas e náuseas.
O sofrimento de Duncan era tão grande que levou mais tempo do que esperava para atrair seus sentimentos em si mesma. No momento que terminou, seu corpo doía tanto que não conseguia levantar a mão para afastar o cabelo em seus olhos. Pelo menos Duncan descansava confortavelmente agora.
—O que fez? — Arran perguntou, sua voz firme.
—Tomei suas emoções. É o que minha magia pode fazer. Ele estava sofrendo, e sabia que podia ajudar.
Arran olhou dela para Duncan e de volta para ela.
—Para onde essas emoções vão?
Marcail tentou dar de ombros, mas só acabou perdendo o equilíbrio. As mãos de Arran a agarraram pelos ombros enquanto ele amaldiçoava.
—Quinn vai me matar, — ele murmurou.
—Não. Quinn nunca vai saber.
Arran resmungou algo baixinho e a levantou.
—Venha, Marcail. Precisa descansar.
Ela tentou caminhar, mas não importava quantas vezes dissesse aos seus pés para se moverem, não se moviam. Arran acabou levantando-a nos braços. Quando saíram da caverna de Duncan, viu Charon os observando, seu olhar cobre centrado nela.
Marcail queria dizer a Arran de suas suspeitas sobre Charon, mas seu estômago embrulhou violentamente. Ela se arrastou dos braços de Arran quando ele chegou na caverna de Quinn e esvaziou seu estômago.
Com a ajuda de Arran se deitou sobre a laje. A quantidade de sentimentos que tomou de Duncan era mais que já tinha puxado de uma pessoa antes. Não tinha certeza de quanto das emoções tirou do Guerreiro, mas quanto mais tempo ficassem dentro dela, mais mal fariam.
Tremores se acumularam em seu corpo enquanto sua força se dissolvia. Doía para respirar, e passou do quente para o frio num instante.
—Marcail, me diga o que precisa? — Arran perguntou.
—Ela precisa de tempo.
Marcail abriu os olhos para encontrar Charon em pé na entrada da caverna.
Arran rosnou pela intrusão.
—Saia.
—Preste atenção em mim, Arran, — Charon disse em voz baixa. —Ela pode piorar. Não deixe seu lado e dê-lhe água em abundância.
Marcail teve que fechar os olhos de novo quando o quarto começou a girar. Mesmo deitada se sentia como se estivesse à deriva no mar.
Ela deve ter cochilado, porque quando abriu os olhos já se sentia melhor, mas qualquer pequeno movimento enviava tremores através de seu estômago.
—O que fez comigo?
Ela virou a cabeça para ver Duncan caminhando em sua direção. Ela lambeu os lábios e disse:
— Eu usei magia.
Ele abaixou de cócoras ao lado dela.
—Sentiu o que estava dentro de mim, não é?
Ela assentiu com a cabeça.
—Não sei quanto tempo as emoções levarão para desaparecer.
—Vou estar preparado para eles da próxima vez.
Ela não sabia como alguém se preparava para a dor como a que estava dentro de Duncan.
—Não sabia que estava doente.
—Não estava.
E então ela soube.
—Ian, — ela sussurrou.
Duncan deu um aceno lento de cabeça.
—Sinto muito, Duncan.
—Trocaria de lugar com ele se pudesse.
Ela cobriu sua mão com a dela.
—Estarei lá da próxima vez para tirar a dor novamente.
—Não, — disse Duncan. —Ficou terrivelmente mal. Aprecio o que fez, mas não faça novamente.
Argumentar com ele seria inútil, então deixou o assunto morrer. Por agora. O ajudaria novamente, e ele não seria capaz de fazer qualquer coisa sobre isso, porque estaria dominado pela agonia da tortura de seu irmão.
—Descanse, Marcail. Arran e eu estamos guardando você.
—Já ouviu falar de Quinn?
Duncan balançou a cabeça.
—Não houve nada, e saiu há horas.
Ele não disse as palavras que todos sabiam em seus corações, que podiam nunca ver Quinn novamente.
***

Cara estava nas ameias do castelo MacLeod, seu olhar para o norte, para onde seu amado Lucan viajou com os outros. Sentia falta do marido, a dor em seu peito por sua ausência maior a cada dia. Mas pior era a preocupação que Deirdre o capturasse, pois tinha Quinn.
Tudo que Lucan e Fallon começaram no castelo estava praticamente paralisado. Cara já não ouvia os risos e brincadeiras dos Guerreiros enquanto trabalhavam para reconstruir as torres e reconstruir as casas da aldeia.
O castelo parecia mais deserto que no dia que ela olhou para ele antes de Lucan salvar sua vida. Cara tinha certeza que ficaria maluca se estivesse sozinha. Mas não estava. Lucan pediu a Camdyn para ficar para atrás. O Guerreiro não pareceu se importar, mas ela o viu olhando na distância, como ela fazia agora. Havia também Sonya, a outra Druida. Sonya queria acompanhar o grupo até a Montanha Cairn Toul, mas ficou atrás para ajudar Malcolm a se recuperar de seus ferimentos.
Cara suspirou enquanto pensava no primo de Larena. Era o único homem no castelo que não era um Guerreiro. Malcolm se arriscou muito para ajudar Larena a ficar escondida de Deirdre. Se apenas Malcolm não tivesse sido atacado por Guerreiros e deixado para morrer. Como estava, ficaria com cicatrizes e seu braço direito estava quase inútil. Sonya usava magia diariamente para tentar ajudar sua recuperação, mas passou muito tempo desde que parou de melhorar.
O descontentamento de Malcolm crescia a cada dia. Apesar de seu braço direito inútil, ainda era capaz de empunhar uma espada com o esquerda como provou quando ele e Camdyn brigaram. Mas Malcolm se chamava a si mesmo de inútil.
Cara podia entender. Era um druida que podia ajudar as ervas em seu jardim a crescer e ajuda Sonya na sua cura, mas não podia fazer mais nada. Sonya trabalhava com Cara em feitiços que todos os druidas deviam saber. No entanto, nada funcionava com Cara. Mesmo crescendo sozinha no convento, nunca se sentiu tão solitária como naquele momento.
O som de botas nas pedras chamou sua atenção, e olhou acima para encontrar Malcolm. Parou ao lado dela e suspirou.
—Eles vão voltar, — disse ele.
Cara olhou para o homem que era o próximo na fila para ser líder do clã Monroe.
—Diz isso para aliviar minha mente ou a sua?
Malcolm bufou e esfregou o ombro direito, onde nunca a dor constante o deixava. Os Guerreiros que o atacaram tinha arrancado o braço de seu encaixe, rasgando o músculo e tendões no processo.
—Para nós dois, acho. Vi Larena na batalha e sei que é capaz de se defender.
—Ela é sua prima.
—E minha amiga. Sei que Fallon vai protegê-la, mas não posso evitar me preocupar.
— Fallon morreria antes de deixar algo acontecer com sua esposa.
Malcolm coçou o queixo, onde a sombra de uma barba crescia.
—Nunca gostei de ser deixado para trás.
—Eles têm poderes que nenhum de nós tem. Só ficaríamos no caminho.
—Ah, mas você é uma Druida, Cara. Tem mágica.
Ela tocou o Beijo do Demônio em volta do seu pescoço. O pequeno frasco continha o sangue de sua mãe, dado no sacrifício drough para unir um Druida à magia negra. Era a única coisa que restava de sua mãe, mas também um lembrete de tudo que perdeu.
—Às vezes tenho dúvidas, Malcolm.
—Sente sua magia?
—Eu... — Ela olhou para suas mãos, mãos em que sentia o pulso através da magia nas sementes que plantou. —Sim.
—Então é uma Druida. Não duvide de si mesma. Lucan não o faz.
Ela sorriu e se virou para Malcolm.
—E quanto a você?
—Eu?
—Vai permitir que Sonya continue a usar sua magia no seu braço?
Malcolm franziu a testa e virou o rosto.
—Está desperdiçando sua cura em mim. Soube que meu braço nunca mais ia funcionar no momento que o senti sendo arrancado de seu encaixe. Quebraram cada osso em minha mão, Cara. Não só o braço, mas minha mão também. A maior parte das vezes nem sinto meus dedos.
—Não sabia.
Ele acenou com a cabeça.
—Não poderia. Pedi a Sonya para não contar a ninguém. Larena estava tão preocupada comigo que temia que não fosse com Fallon, e precisam dela para resgatar Quinn.
Cara voltou seu olhar para as montanhas distantes.
—Deus ajude Deirdre se Lucan não voltar para mim.
—Sim, — Malcolm murmurou. —Deus a ajude.

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO DEZOITO

Broc voou alto das árvores, voando com as nuvens. Graças a Poraxus, o deus dentro dele, tinha olhos de falcão junto com suas asas. Fechou os olhos e se perdeu no vento e no sol.
Abaixo dele wyrrans corriam pelo campo como um exército em movimento rápido. Broc tentou mantê-los tão longe das aldeias e casas como podia. A superstição falava mais alto nas Highlands, então se alguém visse as pequenas criaturas amarelas, as atribuíriam a um dos muitos demônios que achavam que vagavam pela terra.
Broc abriu os olhos para olhar na frente dele onde Fallon e Lucan MacLeod estavam. Seu poder de ser capaz de rastrear qualquer pessoa em qualquer lugar permitiu que encontrasse os MacLeods com bastante facilidade. Não esperava descobrir que se dividiram em dois grupos, no entanto.
Com um aceno de sua mão, Broc enviou metade dos wyrran numa direção, enquanto a outra metade ficava com ele. Seu comando silencioso ia pressionar os MacLeods a voltarem a ser um grupo, como precisava deles.
Broc assobiou baixo para os wyrran restantes, dizendo para parar e esperar por ele. Dobrou suas asas suaves atrás dele e mergulhou para o chão. Pouco antes de bater nas árvores, abriu as asas e deslizou por cima delas. Com sua visão aguçada viu Ramsey bem antes que seu velho amigo o visse.
A cabeça preta de Ramsey se ergueu e seus olhares se confrontaram. Broc voou para cima e de volta ao redor da terra numa pequena clareira na floresta, onde os MacLeods e seu grupo viajavam. Broc dobrou suas asas atrás dele uma vez que seus pés tocaram a terra e fez uma pausa.
Só precisava esperar que os wyrran empurrassem Lucan e seu grupo para junto de Fallon e os outros. Os wyrran não atacariam até Broc dar o sinal.
Lucan foi o primeiro a romper por entre as árvores. Seus olhos verdes se estreitaram em Broc enquanto Ramsey, Hayden e Logan se moviam para ambos os lados de Lucan.
—Broc, — disse Ramsey.
Broc desviou o olhar para o homem que chegou a chamar de seu amigo. Tomaram uma decisão enquanto ambos estavam presos na prisão de Deirdre, que seria um escapar e o outro espionar. Ramsey saiu. Broc supostamente era o espião. Mas isso foi a cem anos atrás. Muitas coisas mudaram.
Antes que Broc pudesse responder, Fallon, Larena e Galen surgiram na clareira. Fallon olhou para o irmão, antes de seguir para Broc.
—O que está acontecendo? — Fallon exigiu.
Broc levantou uma sobrancelha. Alguma vez ficou tão irritado? Tomou decisões precipitadas como os MacLeods? Não conseguia lembrar, e isso realmente não importava.
—Estão cercados por wyrran, — disse Broc.
Lucan se transformou em Guerreiro num piscar de olhos.
—Veio nos dizer isso? Estivemos lutando contra essas criaturas desagradáveis ??por dias.
Broc olhou de Fallon e Lucan para Ramsey. Teria que escolher um lado mais cedo ou mais tarde. Quando, porém, era a questão.
—Deirdre capturou uma Druida que detém o feitiço para ligar nossos deuses no fundo de sua mente. — Ele disse ao pequeno grupo.
Larena engasgou. Logan amaldiçoou e Hayden apenas o olhou.
—A Druida está morta? — Fallon perguntou.
—Não, — respondeu Broc. —Por alguma razão Deirdre não pode matá-la. Em vez disso, jogou a Druida no Poço. Onde Quinn está sendo mantido. Deirdre queria que os Guerreiros do Poço matassem Marcail.
—Ah, inferno, — Lucan murmurou enquanto passava a mão pelo rosto. —Assim, a Druida está morta.
—Deirdre pensa isso.
Ramsey deu um passo na direção dele, seus olhos cinzentos intensos quando olharam para Broc.
— Mas você não?
—Não.
—Por que está dizendo isso? — Fallon perguntou.
Broc debateu sobre o que dizer aos irmãos.
—Quinn assumiu o Poço no primeiro dia que Deirdre o jogou lá em baixo. Quanto mais prova sua força, mais ela o quer. Não está satisfeita esperando Quinn quebrar.
—É por isso que está aqui, — Ramsey adivinhou. —Ela quer que você nos capture.
Hayden rosnou, sua pele se transformando no vermelho do seu deus.
—Vou morrer antes de permitir que me mantenha prisioneiro novamente.
—Estou vendo que estão atrasados em sua tentativa de chegar à montanha. Ela quer todos vocês de volta sob seu controle, mas sua atenção está em quebrar Quinn no momento. Há uma profecia que foi dita que acha que Quinn vai cumprir, — disse Broc.
—E qual é? — Fallon perguntou.
—Ela quer que Quinn lhe dê um filho. Essa criança vai abrigar todos os males do mundo. Uma vez que tenha Quinn sob seu controle, virá por cada um de vocês.
Ramsey caminhou em direção a Broc, só parando quando ficou na frente dele.
—Preciso saber de que lado está. Por que está nos avisando?
—Pelo entretenimento, talvez.
Ramsey balançou a cabeça.
—Esquece, Broc, que o conheço melhor do que ninguém.
—Você me conhecia. Faz muito tempo. As coisas mudaram.
—Seu ódio por Deirdre mudou?
Broc não pode responder, mas seu silêncio era bom o suficiente para Ramsey.
—Não penso assim, — disse Ramsey. —Diga-me o verdadeiro motivo por que Deirdre não está tentando nos capturar agora.
Broc olhou de Ramsey para os outros Guerreiros à espera de sua resposta. A verdadeira razão pela qual já não tomou o partido dos MacLeods foi porque Deirdre tinha uma maneira de descobrir as coisas, e Broc queria ser capaz de recolher tantas informações dela quanto pudesse.
—Eu a convenci a manter sua atenção em Quinn, — Broc finalmente respondeu.
A próxima coisa que Broc soube era que estava cercado por Guerreiros. Lucan e Fallon estavam de ambos os lados de Ramsey. Broc ergueu as mãos antes que alguém falasse.
—Não, — alertou. —O poder de Deirdre é imenso, e usa uma vidente para ganhar mais informação. Descobre coisas que não devia saber. Se quiser minha ajuda, se quiser Quinn libertado, não posso dizer muito mais.
Fallon suspirou e trocou olhares com sua esposa.
—Então nos diga o que puder.
—Há 200 wyrran comigo.
Hayden bufou.
—Serão facilmente mortos.
—Sim, mas vão atrasar seu progresso.
—Não temos escolha, exceto combatê-los, — disse Lucas. Se virou para Broc e perguntou: —Pode manter um olho em Quinn?
Broc assentiu.
—Quando saí, Deirdre estava pronta para fazer qualquer coisa para ter Quinn. Enquanto está no Poço, não só assumiu o controle, como três guerreiros passaram para o lado dele. Ela levou um desses Guerreiros para torturar até Quinn concordar em ser dela.
—Merda, — disse Fallon. —Não temos muito tempo.
—Farei o que puder, — prometeu Broc. —Até então, cheguem à montanha tão rápido quanto puderem.
Não esperou que respondessem quando voou para o ar. Logo que os wyrran o viram sair, atacaram. Broc queria ficar e ajudar os Guerreiros, mas não conseguiu.
Deirdre mandou que liderasse os wyrran aos MacLeods e depois voltasse para ela.
Se flertasse muito tempo, Deirdre poderia suspeitar de algo. E se ia ajudar os MacLeods a livrar Quinn, tinha que ficar perto dela, em vez do calabouço.
***

Marcail sentou cautelosamente. Quando o estômago não se rebelou, rastejou lentamente para a bacia de água e colocou a mão no líquido frio. Estava com sede, mas foi cuidadosa em não beber muito para que não perturbasse seu estômago, mais uma vez.
O martelamento de sua cabeça, entretanto, não iria embora tão cedo. Era um efeito colateral pelo uso de sua magia, mas valeu a pena para ver Duncan forte e caloroso novamente.
Marcail usou a parede para se ajudar a ficar em pé. Olhou ao redor para ter certeza que Arran e Duncan estavam ocupadas antes que atravessasse o caminho para a caverna de Charon.
Assim que saiu do covil de Quinn, Charon saiu das sombras. Não queria que Arran e Duncan soubessem o que ela planejava, então entrou na Caverna de Charon.
—Estou surpreso por te ver tão cedo, — disse ele.
Ela encolheu os ombros.
—Estou bem.
—Não parece bem. Devia estar deitada.
—Não posso, — disse ela. —Não terminamos nossa discussão anterior.
Seus lábios se achataram em aborrecimento.
—Não há nada a dizer, Druida.
—Não há. Quero que diga a Deirdre que estou viva. Deixe que saiba que estou aqui.
—Por quê? — Ele perguntou, sua voz misturada a descrença. —Ela vai te matar.
—Tenho certeza que vai tentar. Mas quero que a faça trazer Quinn de volta em troca de mim.
Charon balançou a cabeça.
—Não vai funcionar.
—Vai se disser a ela que me lembrei da magia para ligar os deuses.
O Guerreiro ficou totalmente imóvel. Seus punhos apertaram e abriram várias vezes antes dele falar.
—O que acabou de dizer?
—Enterrada na minha mente está a magia transmitida por minha avó que vai outra vez ligar seus deuses.
—Já não seria imortal? Ou teria o poder do meu deus?
Ela balançou a cabeça.
—Não, não terá nada disso.
—Será que Quinn sabe disso?
—Ele sabe.
Charon soprou um fôlego.
—Agora entendo porque a protegeu assim. Diga-me, Druida, por que Deirdre não a matou?
—Quinn acha que minha avó me protegeu de alguma forma. Nada disso importa agora. Vai dizer a Deirdre que lembrei da magia?
—Não.
Ela piscou para ele.
—Por quê?
—O que tem dentro de sua mente provavelmente pode salvar a todos.
—Possivelmente. Se algum dia eu me lembrar. Esse é um risco que não estou disposta a correr. Se quiser sair desse lugar e longe de Deirdre, então deve se alinhar com Quinn.
Ele passou sua mão através do ar para impedi-la.
—Está no Poço a apenas alguns dias. Não tem ideia do que qualquer um de nós passou nas mãos de Deirdre. Existe apenas uma pessoa que me interessa em tudo isso e sou eu. Quinn não me deu uma razão para passar para o lado dele. Deirdre o fez.
Marcail só podia olhar para ele, espantada que alguém pudesse ser tão egoísta.
—Sinto muito por você.
—Não quero sua simpatia, Druida.
—O que eu tenho que possa te dar de modo que diga a Deirdre o que quero?
Ele virou de costas para ela.
—Não há nada que tenha que possa me tentar.
Marcail, sentindo-se mais derrotada que quando Dunmore a capturou, se virou para sair. Houve um rugido alto, vicioso perto dela. A próxima coisa que soube era que Charon a jogou contra a parede enquanto usava seu corpo para protegê-la do ataque. Seus braços estavam apoiados de cada lado da sua cabeça, e seu corpo grande a impediu de ver quem a atacou. Estremeceu quando Charon jogou a cabeça atrás e berrou quando foi atingido por trás. Novamente e novamente ouviu as garras rasgando sua carne cobre, mas nenhuma vez deixou de protegê-la.
Se alguém perguntasse um momento antes se achava que Charon salvaria sua vida, teria dito que não. Marcail deu um olhar em torno do ombro grosso de Charon e viu a pele branca de Arran.
—Pare com isso, — ela gritou, mas os rosnados de Arran e Charon a afogaram.
—Arran, pare, — ela tentou novamente.
Charon virou quando Arran saltou para ele. Os dois Guerreiros se encontram com um choque de ossos. Caíram no chão e rolaram ao redor, suas garras deixando rastros de sangue atrás.
Tudo que Marcail podia fazer era assistir em horror. De repente, Arran saltou em pé. Ficou numa posição agachada, os olhos do Guerreiro branco fixos em Charon. Uma vez que Charon ficou em pé, começaram a rondar um ao outro. Arran foi o primeiro a atacar. Afundou suas garras profundamente no peito de Charon enquanto suas presas brilhavam. Charon agarrou os braços de Arran, num esforço para puxar as garras fora.
Marcail não perdeu tempo em se apressar para Arran e pousar a mão em seu braço.
—Arran, pare.
Não chegou a ver seu braço alcançando. Atingiu seu peito com tal força que arrancou o ar de seus pulmões e a mandou para trás voando. Um grito saiu de seus lábios quando bateu na parede e escorregou para o chão.
—Por tudo que é santo, — Arran disse enquanto se ajoelhava na frente dela.
Mal as palavras saíram da boca se dobrou de dor. Depois de alguns momentos, levantou a cabeça.
—Marcail, me desculpe. Não sabia que era você.
Ela tentou falar, mas não podia colocar ar em seus pulmões. Charon ergueu a mão e olhou em seus olhos.
—Acalme-se e permita que seus pulmões se encham.
Levou um momento, mas finalmente pode respirar. Acenou agradecida a Charon que soltou a mão dela e saiu.
—O quanto está ferida? — Arran perguntou, seu rosto uma máscara de pesar.
—Vou ficar bem. O que aconteceu depois que fui atingida?
Arran encolheu os ombros.
—Não tenho certeza. Foi mágico, uma magia que acho que veio de você.
—Quinn estava certo, — ela murmurou. —Minha avó me protegeu com magia.
—Nunca senti nada tão doloroso, — confessou Arran. —Se isso foi só por que atingi você, não posso imaginar a dor que experimentaria se a matasse.
Marcail assentiu.
—Agora sei por que Deirdre não me matou. Agora me diga por que atacou Charon?
—Pensei que a levou por conta própria.
Ela deu um sorriso e um tapinha na mão.
—Não, tinha que falar com ele.
—Falar com ele? — Arran repetiu. —Sobre o quê?
—Para ver se podia ajudar a me trocar por Quinn.
Os olhos de Arran se arregalaram de horror.
—Não tente isso, Marcail. Quinn está disposta a se sacrificar, mas se retornar e não estiver aqui, é capaz de matar todos nós.
Por mais que gostasse de pensar que Quinn se preocupava com ela e que essa era a razão de Arran a olhar tão surpreso, sabia que era por causa do feitiço que tinha e nada mais. Mas como desejava que fosse diferente.

 

 

 

 


CAPÍTULO DEZENOVE

Quinn pensou que a tortura de Ian nunca acabaria. Ian nunca pediu e nunca chorou, e Quinn sabia que a dor foi torturante. Não só chicotearam e bateram em Ian, mas puxaram suas garras para fora. Várias vezes Quinn tentou livrar Ian, e cada vez Ian era espancado mais, até que Quinn parou de tentar. Se vivesse para sempre, Quinn nunca esqueceria da visão de seu amigo atormentado. E para piorar a situação, Quinn sabia que era culpa dele. Nunca se sentiu tão impotente em sua vida, impotente e inútil. Tanta coisa por ser um dos grandes MacLeods.
—Não se preocupe com seu amigo, — William disse com um sorriso maroto. —Suas garras vão crescer novamente.
Quinn apertou suas mãos e deixou suas garras furar as palmas das mãos. Era a única coisa que o impedia de atacar e matar William.
Ele enfrentou o guerreiro azul royal.
—Um dia vou conseguir a batalha que quero entre nós. Quando acontecer, será um grande prazer matar você.
—Ah, MacLeod, certamente pode tentar. Tanto quanto Deirdre pode gostar de nos ver vergando, nunca deixará que qualquer um de nós morra.
Quinn se certificaria que William morresse, independentemente do que custasse mais tarde.
—Acho que é hora de retornar ao Poço, — disse William.
Quando Quinn foi levado da câmara avistou Isla sendo levada em direção a ele por quatro mulheres cobertas de preto. O sangue escorria das mãos de Isla até o chão. No rosto da drough haviam círculos claros e escuros que podiam ser vistos sob os olhos. William parou na frente de Isla.
—Bem, bem, bem. Vejo que Deirdre foi completa na sua punição.
—Saia do meu caminho, — Isla exigiu do Guerreiro.
—Ou o quê?
Os olhos azul-gelo de Isla miraram na testa de William.
—Realmente se importa em descobrir?
William riu e se afastou para deixá-la passar. Assim que passou por ele, William deu um tapa nas costas dela. Isla assobiou e tropeçou, mas não parou e nunca olhou atrás.
Quinn continuou olhando Isla depois que William desviou sua atenção, de modo que o Guerreiro azul royal perdeu a forma como Isla teve que se segurar na parede para ajudar a se sustentar e o jeito como mancava. Quinn se viu perguntando o que a Druida fez para ser punida.
—MacLeod! — William berrou.
Quinn se virou de Isla e avançou para William, mas seus pensamentos estavam na drough. Se Deirdre a torturou como William sugeriu, então, talvez, Quinn pudesse fazer Isla se virar para o lado dele. A questão era, quanto de aperto Deirdre tinha em Isla?
Quanto mais perto Quinn chegava da cova, mais seus pensamentos se voltavam para Marcail. Não tinha ideia de quanto tempo saiu, uma vez que as horas se desfocaram, mas orou que ainda estivesse segura.
Estava ansioso para vê-la, abraçá-la... beijá-la.
Só em pensar em ter suas curvas suaves contra ele fez suas bolas apertarem em antecipação. Seus ouvidos se esforçaram para ouvir sua voz enquanto esperava que a porta fosse aberta. Inalou e tentou pegar seu cheiro de sol e chuva. Mas tudo que cheirava era sangue e morte.
Seu coração acelerou quando o medo se enraizou. Marcail foi ferida, ou pior, morta? Deirdre de alguma forma soube de sua presença enquanto Quinn estava afastado?
Assim que a porta abriu, se empurrou de lado e entrou na cova. A primeira pessoa que viu foi Charon encostado contra as pedras como tivesse todo o tempo do mundo.
—MacLeod, — disse Charon quando Quinn passou.
Quinn fez um aceno de cabeça.
—Charon.
Quando Quinn chegou à entrada de sua caverna, fez uma pausa. Arran e Duncan não a estavam guardando, e não havia nenhum sinal de Marcail.
—Graças a Deus, — Arran disse enquanto ia para Quinn.
Quinn apertou seu braço em saudação.
—Como foram as coisas?
O olhar de Arran caiu no chão.
—Precisa vir aqui dentro.
Instantaneamente, a preocupação de Quinn por Marcail aumentou. Empurrou Arran, apenas para parar a poucos passos dentro da caverna, quando avistou Marcail.
Ela lentamente se levantou, os lábios entreabertos e se inclinando num sorriso. Nunca ficou tão feliz em ver alguém em sua vida. O horror das horas passadas desapareceu enquanto a olhava com sua beleza.
—Você voltou, — disse ela.
—Sim. — Ele não podia fazer qualquer outra coisa passar por seus lábios, não quando queria beijá-la desesperadamente como queria. Socou seu deus, não querendo prejudicá-la com suas garras e presas. Indiferente de quem estava por perto, ele a puxou em seus braços enquanto seus lábios tomavam os dela. A beijou profundamente, apaixonadamente, a fome no interior só aumentando com o doce sabor da sua boca e a sensação de suas mãos sobre ele.
Ele tomou sua boca, deixando o desejo que pulsava dentro dele crescer até que o sacudiu. Lembrou vividamente de como era estar dentro dela, e queria que suas paredes lisas o cercassem mais uma vez.
—Poderia beijá-la pela eternidade, — disse ele enquanto beliscava o lóbulo da sua orelha.
Ela sorriu contra sua face e o abraçou.
—Isso soa celestial.
Ele esfregou as mãos até as costas e a sentiu endurecer. Quinn a segurou pelos ombros e olhou em seus olhos azul-turquesa.
—O que aconteceu?
—Não foi nada, — disse ela.
—Não quero contar isso, — disse Arran ao mesmo tempo.
Quinn olhou de um para o outro.
—Alguém explique melhor.
—Fui falar com Charon, — Marcail começou e colocou uma mecha de cabelo e uma pequena trança castanha atrás da orelha.
—Charon? — Quinn repetiu. —Por quê?
Ela levantou um ombro magro.
—Queria saber se ele podia ajudá-lo.
Arran coçou o queixo.
—Eu a vi por lá e achei que Charon a tinha levado. Eu o ataquei.
—E eu cometi o erro de tentar pará-lo, — disse Marcail. —Deveria saber melhor.
—Não devia ter atingido você.
Quinn voltou seu olhar para Arran e começou a tremer de raiva.
—Você bateu nela?
Marcail agarrou a mão de Quinn.
—Só porque não sabia que era eu. E realmente não me bateu. Foi mais um empurrão.
—Santo inferno, — murmurou Quinn.
—Foi um acidente, — Marcail repetiu. —Por favor, não fique com raiva de Arran.
Quinn olhou para o Guerreiro branco.
—Estava correto ao pensar que ela tinha magia de proteção em torno dela, — disse Arran.
Quinn franziu o cenho.
—Foi machucado?
—Foi uma dor diferente de tudo que já senti. Não é nenhuma maravilha que Deirdre não quisesse ferir Marcail ela mesma. Eu nunca quis machucá-la.
—Acredito em você, meu amigo. Foi tudo que aconteceu?
Quinn não perdeu o olhar que passou entre eles. Abriu a boca para perguntar o que estava acontecendo quando Arran falou.
—Duncan está... melhor. Mas ainda não é ele mesmo.
—Não espero que seja. — Na verdade, Quinn estava surpreso que Duncan não tivesse tentado abrir caminho através das pedras para chegar ao seu irmão gêmeo. E se Duncan tinha a menor ideia do que estavam fazendo com Ian, Quinn sabia que Duncan faria qualquer coisa para alcançar Ian.
Os dedos de Marcail se entrelaçaram nos dele, chamando a atenção de Quinn de volta para ela. A carranca vincando sua testa disse que algo a incomodava.
—O que foi? — Insistiu ele.
Ela olhou para Arran antes de dizer:
—Parece haver uma ligação muito estreita entre Duncan e Ian.
—Claro que há. Não só são irmãos, mas são gêmeos.
—É muito mais que isso.
Quinn se moveu para que pudesse sentar numa grande pedra.
—Acho melhor explicar.
—Tudo começou depois que foram levados, — disse Arran. —Duncan não deixou sua caverna, então fui vê-lo. Foi quando o encontrei no chão, se contorcendo em agonia.
Marcail sentou ao lado de Quinn.
—Não sei quanto tempo passou antes que eu ouvisse seus atormentados gemidos. Corri para Duncan para encontrar sangue escorrendo de sua boca e seu corpo martirizados pela dor.
Quinn fechou os olhos não querendo ouvir mais nada, mas sabendo que precisava.
—Usou seu poder, não foi?
—Sim, — Marcail sussurrou. —Parecia estar morrendo, Quinn. Não tive escolha.
Ele balançou a cabeça.
—Eu sei. Obrigado por cuidar dele.
Arran bufou.
—Prefiro que não o faça novamente porque a deixou muito mal.
—Arran, — Marcail soltou.
Quinn a silenciou, virando seu rosto para ele.
—Quanto de doente?
—Nada que não pudesse tolerar.
—Não foi o que perguntei, Marcail. Quanto de doente?
Ela suspirou.
—Havia muita dor e angústia dentro dele. Puxei tanto quanto minha magia permitia.
Quinn a puxou contra seu peito e beijou o topo de sua cabeça. O assustava que ela fizesse tal coisa quando não estava lá para olhar por ela, mas também era grato por ela ajudar Duncan.
—Obrigado.
—Não sei quanto tempo vai durar, — disse Marcail quando olhou para ele. —Duncan poderia recomeçar a qualquer momento. Me disse que podia sentir a tortura a que Ian foi submetido.
Quinn esfregou os olhos enquanto pesar e ressentimento se estabeleciam em suas entranhas.
—Onde Duncan está agora?
—Descansando, — Arran respondeu. —O que aconteceu, Quinn? Viu Deirdre?
Quinn brevemente pensou em não contar, mas todos tinham o direito de saber, especialmente Duncan. Embora Quinn preferisse cortar seu próprio braço a tem que dizer a Duncan o que fizeram ao seu irmão.
—Nunca vi Deirdre, — começou ele. —William me levou para uma pequena câmara onde tive que assistir Ian sendo torturado hora após hora. Tentei detê-lo, mas William ordenou que Ian fosse morto se eu desse um golpe em William.
—Meu Deus, — Marcail murmurou.
Quinn olhou para Arran para encontrar o Guerreiro com os braços cruzados sobre o peito e sua cabeça baixa. Podia muito bem imaginar o que Arran pensava dele agora.
—Teria trocado de lugar com Ian se pudesse, — disse Quinn.
Arran moveu seus pés.
—Nunca duvidei disso. Só estou tentando descobrir o que William quer.
—Me odeia quase tanto quanto eu o desprezo. Prometeu matá-lo por isso, e o faria.
—O que não entendo é onde estava Deirdre? Pensei que queria que você cedesse? — Marcail perguntou.
Quinn assentiu.
—Essa foi minha pergunta. Parece que Deirdre disse a William que não queria falar com ninguém. Garanto que não tinha ideia que William me fez assistir Ian ser torturado. Nem mesmo sabe que já tinha pedido para vê-la, já que meu pedido não passou de William.
Arran baixou os braços e levantou a cabeça.
—O que vamos fazer?
Quinn sabia exatamente o que ia fazer, mas não estava disposto a dizer a Arran ou Marcail. Não entenderiam. Mas não tinha escolha agora. Havia muita coisa que precisava consertar.
—Vamos esperar, — respondeu ele. —É tudo que podemos fazer.

 

 

 

 

 


CAPÍTULO VINTE

Marcail não podia acreditar que Quinn estava realmente de volta. Pensou que nunca o veria novamente. No entanto, ali estava ele, seu corpo pressionado duramente contra o dela. Ela lambeu os lábios, ainda sentindo o beijo que ele lhe deu. Havia esse desejo, tal fome naquele beijo que a abalou até seu núcleo. Não precisava de sua magia para saber que estava se prendendo a Quinn. Apesar desse conhecimento, não podia se afastar dele.
Era como se Quinn tivesse magia própria que a atraía para seu lado. Estavam no pior lugar do mundo, mas tudo em que pensava era Quinn e como a fazia sentir. A revelação de Quinn sobre ter que assistir Ian ser espancado fez seu coração se contrair.
Não podia imaginar ter que suportar algo tão terrível, sabendo que não havia nada que pudesse fazer para impedir.
—Está realmente tudo certo? — Quinn perguntou quando puxou suavemente uma de suas tranças.
Ela sorriu para ele e balançou a cabeça.
—Estou muito melhor agora que voltou.
Sua mão acariciou através de seu cabelo. Ela fechou os olhos e inclinou a cabeça em sua mão. Ela chegou até começar a soltar suas tranças para que ele pudesse mover os dedos pelo seu cabelo quando ele a parou.
—Não, — ele sussurrou e beijou seu pescoço. —Amo suas tranças. São parte do que faz você.
Marcail acariciou sua bochecha e queixo sem barbear antes de deixar seu dedo traçar seus lábios. Os sentimentos que se agitavam nela estavam despertando gloriosos. E não queria que acabassem.
—Quinn.
Nada mais precisava ser dito. Os braços dele a envolveram com força, a esmagando contra seu peito, mas ela não se importou. Não podia chegar perto o suficiente dele.
Sua boca beliscou e mordiscou a dela, e então sua língua lambeu ao longo de seus lábios. Ela gemeu e se abriu para ele. Sua língua varreu dentro da boca de Marcail rápido, engolindo seu gemido de prazer.
Marcail foi levada por uma onda de êxtase maior que qualquer coisa que já conheceu.
A boca de Quinn conquistou a dela, seduzindo e reivindicando-a com apenas o toque de sua língua. Ela não o impediu, quando Quinn a ergueu e acomodou em seu colo para que as pernas montassem nele. Marcail ofegou quando sentiu o comprimento rígido de sua excitação contra a carne sensível do seu sexo.
Ela latejava com uma necessidade tão profunda, tão intensa que esfregou seus quadris contra ele, enviando espirais de desejo por ela a cada vez que entrava em contato com seu pênis.
—Está me deixando louco, — Quinn disse a ela, sua respiração vindo em grandes suspiros.
Marcail queria dizer a ele que fazia o mesmo com ela, mas sua voz não saía.
Agarrou seus ombros quando ele começou a massagear os seios. Um de seus dedos roçou o mamilo, enviando ondas de choque ao seu centro. Ela gritou e se arqueou para ele. Tinha que ter mais dele, tudo dele.
Ela agarrou sua túnica, querendo poder sentir sua pele sob as palmas das mãos. Ele a soltou o suficiente para passar a peça sobre sua cabeça. Marcail suspirou de contentamento, passando as mãos sobre os músculos de suas costas e estes se moveram sob suas mãos. Sua boca estava fazendo coisas maravilhosas, surpreendentes ao seu pescoço, o que a deixou ofegante e necessitada.
Ela enfiou os dedos em seus brilhantes cachos marrons e inclinou a cabeça atrás.
—Retire seu vestido antes de eu arrancá-lo do seu corpo.
Marcail estremeceu pelo desejo em sua voz áspera. Com mãos trêmulas, tentou tirar a roupa. Ouviu uma costura rasgando quando as mãos de Quinn se juntaram às dela e deram um puxão rápido. Mas não se importou. Não quando estava nos braços de Quinn.
Seus lábios fecharam em torno de um mamilo e começaram a provocá-lo com a língua e os dentes. Ela choramingou quando sua língua girou em torno do broto minúsculo. Ela esfregou os quadris contra ele buscando a liberação que estava crescendo a cada aperto de seus dentes.
Ela se estendeu entre eles e agarrou seu pênis através de suas calças. Ele gemeu, o êxtase soando em seus ouvidos. Assim como antes, ficou maravilhada pela dureza em sua mão.
—Quero tocar em você, — disse a ele.
No instante seguinte, ele desabotoou as calças e as empurrou abaixo, deixando sua vara livre. Marcail a pegou na mão e ficou maravilhada pela sensação dele. Era espetacular. E por enquanto, ele era dela.
—Se não parar, vou derramar.
Queria fazê-lo chegar ao clímax com a mão, mas a necessidade de tê-lo dentro dela era maior. Ela se levantou de joelhos e se posicionou sobre ele.
Ele olhou em seus olhos, enquanto seus dedos comprimiam seus mamilos, misturando prazer e dor, pelo que ela gemia e balançava em sua direção.
Ela se abaixou sobre seu grosso eixo rígido. Marcail fechou os olhos quando se sentou totalmente. A sensação de Quinn dentro dela era uma que nunca se cansava.
A mão de Quinn enrolou no cabelo dela e segurou a cabeça no lugar.
—Olhe para mim. Quero ver seus olhos quando gozar.
Um tremor passou por ela com suas palavras. Como podia tocá-la apenas com sua voz, ela não sabia, mas gostava que pudesse. Abriu os olhos. Com a mão livre, segurou seu quadril e começou a movê-la atrás e adiante. Marcail mordeu o lábio quando uma onda de arrebatamento correu através dela.
Ela nunca desviou dos surpreendentes olhos verdes iluminados de Quinn, nem mesmo quando ele empurrou dentro dela, esfregando seu clitóris no processo.
Era incrível o controle que tinha por estar em cima dele. Ela girou seus quadris, amando o som de seu gemido quando o fez. Também usou as pernas e se levantou e para abaixou em seu eixo. Mas depois se tornou muito. Sua liberação estava tão perto que não conseguia evitar por mais tempo.
Quinn assumiu em seguida, balançando para a frente e para trás até que seu mundo caiu. Sua respiração prendeu em seus pulmões e luzes brancas a cegaram quando seu corpo convulsionado em torno de Quinn.
—Marcail, — ele sussurrou enquanto dava uma estocada final e ela o sentia empurrando dentro dela.
Ela desabou sobre seu ombro enquanto suas mãos acariciavam suas costas. Agora que Quinn retornou, a ansiedade que a atormentou desapareceu, e tudo que queria fazer era deitar em seus braços por toda a eternidade.
Cada vez que fazia amor com Quinn, parecia que uma parte dela se abria, como se sentisse mais, ficasse mais experiente. Se entendesse mais.
A música estranha que ouvia desde que foi jogada no Poço, de repente encheu sua mente e ficou mais alta do que antes. Ela se perdeu no canto. Embora tentasse, só podia pegar algumas palavras, mas reconheceu a linguagem como a dos celtas.
O que isso significava, porém, não tinha ideia.
Quinn beijou seu pescoço, lembrando-a que estava nua e Arran ou Duncan poderiam entrar a qualquer momento. Ela sentou quando o canto desapareceu e olhou em torno procurando seu vestido.
—Não vão nos incomodar ainda, — disse Quinn com um sorriso.
Ela estremeceu enquanto imaginava os sons que ela fez.
—Eles nos ouviram, então?
O riso de Quinn era música para seus ouvidos.
—Não sei, e não me importo. Você?
—Sim, eu o faço. O que fizemos é pessoal.
—É verdade, mas não estamos exatamente num lugar privado.
Ela pensou sobre suas palavras e, em seguida, deu de ombros. Nunca mais veria a luz do dia novamente. Quem sabia quantos dias tinha antes de ser morta? Por que se importaria se todos na montanha sabiam que ela e Quinn faziam amor?
—Está certo, — ela concordou. —Não acho que me importo.
—Mentirosa, — disse ele com um rápido beijo nos lábios. —Gosto que seja tímida sobre nossa relação. Me faz querer tomá-la novamente até que grite meu nome.
O corpo de Marcail latejou pela idéia.
—É mesmo?
—Você sabe o que faz.
Uma risada escapou quando ele a derrubou de lado até que estavam deitados cara a cara na laje de pedra.
Charon desviou o olhar, incapaz de ver Quinn e Marcail outro momento. Ele não precisava os espionar enquanto faziam amor, mas não conseguiu evitar. A maneira como se tocavam, olhavam um para o outro era diferente de tudo que viu antes. Tinham magia juntos, algo que Charon sabia que nunca teve em sua experiência de vida muito longa.
Ele se virou na entrada e refez seus passos para sua própria caverna. Desde que Marcail lhe dissera que tinha o feitiço para vincular seu deus, sua mente estava trabalhando.
Dados seus duzentos anos de vida, sabia melhor que se alinhar com um lado que estava destinado a perder. No entanto, podia ir contra Deirdre que era tão poderosa. A admissão de Marcail, no entanto, deu-lhe apenas o que precisava. Ele planejava falar com Quinn sobre isso, e estava feliz por não ter feito. O plano de Charon era ele mesmo. Nunca precisou de ninguém antes, e certamente não precisava de ninguém agora.

 

 

 

 

 


CAPÍTULO VINTE E UM

Depois de todo o mal que Quinn testemunhou pelas mãos de William nas últimas horas, parecia certo algo tão bom quanto Marcail em seus braços. Ela limpou a mancha do mal dele, fazendo Quinn lembrar que havia o bem neste mundo.
—Está bem? — Perguntou ela.
Ele começou a sacudir a cabeça, depois parou.
—Poderia suportar qualquer quantidade de punição e tortura que pudessem me dar, exceto o que vi hoje. Saber que Ian estava sendo torturado por minha causa foi demais.
Marcail entrelaçou os dedos com os dele.
—Não posso imaginar o que passou. Acabaram com Ian?
—Não acho, não se conheço Deirdre.
—Isso não augura nada de bom para nós, então.
Ele levantou suas mãos e beijou as costas dela.
—Não vou deixá-los levar você. — E isso significava, ela acreditasse ou não.
—Eu sei, — respondeu ela. —É estranho como sua vida pode ser alterada no espaço de um batimento cardíaco. Apenas na outra semana estava lamentando o fato que minha vida era chata. Fiz as mesmas tarefas de todos os dias sem nada para olhar à frente. Estava sozinha, e provavelmente ficaria sozinha pelo resto dos meus dias.
—Não está sozinha agora.
Ela sorriu.
—Não, não estou. Agora, estou presa nesta montanha desejando poder voltar para minha casa e arrancar ervas daninhas dia após dia do meu jardim, recolhendo e secando minhas ervas, e praticando meus feitiços. Não percebi o quão boa era minha vida até que me trouxeram aqui. Estranho, não é?
—Não. Durante três séculos estive contra meus irmãos em tudo que pediram porque não podia deixar partir minha raiva e culpa. Deveria tê-los escutado.
—Ah, mas terá muitas chances para isso, — brincou ela.
—Será? Duvido. — Ele odiava amortecer seu humor, mas precisava que ela entendesse que não ficaria com ela por muito mais tempo.
Apenas o pensamento o fez querer arrancar seus próprios olhos, mas era a verdade. Precisava garantir que ninguém mais fosse ferido por sua causa. E podia fazer isso ao lado de Deirdre.
—Por favor, não diga isso, — Marcail sussurrou.
Ele envolveu seu rosto.
—Gostaria que houvesse outra maneira, mas não há.
Ela piscou rapidamente.
—Eu tinha um gato quando era garotinha. Um grande gato preto como a meia-noite. Ele tinha os olhos mais verdes incomuns, e era ferozmente protetor comigo.
Quinn a ouviu, entendendo sua necessidade de mudar de assunto.
—Era ele?
—Sim. Encontrei-o quando era apenas um gatinho. Vagava como os gatos machos fazem, mas sempre voltava. Às vezes, estava tão cortado que me perguntava se iria viver. Felizmente, minha avó usava sua magia para deixá-lo melhor.
—O que aconteceu com ele?
—Morreu há dois anos, numa noite de inverno em meus braços. Como estavam ficando mais velho, vagava cada vez menos. Tinha o hábito de dormir comigo todas as noites enrolado nos meus pés. — Ela sorriu de repente. —Eu dormia ouvindo-o ronronar.
Para Quinn doía ouvir a tristeza na voz de Marcail por seu amado animal de estimação. Ela perdeu tantas pessoas em sua vida que não queria que perdesse mais.
—Certa manhã acordei para ouvi-lo chiando quando respirava. Sabia que seu tempo era curto. Viveu uma vida longa, mas eu não estava pronta para deixá-lo ir. Ele estava com tanta dor todos os dias. Não importa o que eu fizesse, não podia chamar minha magia para aliviar. Três dias depois ele morreu.
Quinn não sabia o que dizer ou até mesmo por que ela contou a história.
Os olhos azul-turquesa de Marcail estavam cheios de lágrimas.
—Não tenho controle sobre minha magia, Quinn. Não quero nada mais que ajudá-lo, dar-lhe o feitiço para ligar seu deus, mas não posso.
Ele enfiou a cabeça em seu pescoço e suspirou. Entendia muito bem a necessidade de ajudar, controlar algum aspecto do que estava acontecendo. A única que tinha o controle era Deirdre, e não abriria mão tão facilmente.
—Meu pai costumava nos dizer que, como homens, devemos ser capazes de olhar atrás em nossas vidas e saber que fizemos o melhor que podíamos em tudo. Não podia dizer isso antes, mas serei capaz de dizer em breve.
Marcail levantou a cabeça para encontrar seus olhos.
—Você é o melhor homem que já conheci.
Ele ficou humilhado por suas palavras, embora soubesse que não eram remotamente verdadeiras. Havia muitos homens melhores que ele.
—Obrigado.
—Quando acha que Deirdre virá por você?
—William irá adiar enquanto puder. Tornou-se ligado à Deirdre e não deseja compartilhar.
Marcail riu.
—Ligado? Está me dizendo que tem sentimentos por ela?
—Não tenho certeza se é sentimento genuíno ou se apenas gosta do poder que estar perto dela dá a ele. Ela concedeu-lhe muito comando enquanto está com raiva de mim.
Marcail se moveu com a sobrancelha franzida.
—Isso não nos dá muito tempo.
—Muito tempo para quê?
—Para convencer os outros a se aliarem a você.
Quinn amava como sua mente funcionava, mas às vezes as coisas não eram tão fáceis como ela imaginva.
—Não vai acontecer. Só temos Duncan e Arran. Isso não é suficiente.
—Se lembra quando me disse que pensou que Charon era um espião?
Ele teve uma sensação de mal estar no estômago enquanto olhava em seus olhos.
—Essa foi a razão real pela qual foi falar com ele, não é?
—Foi. Ele não admite abertamente, mas não nega tampouco. Acho que é o espião, Quinn.
—Então o que te fez pensar que ele poderia ajudar?
Ela franziu o rosto.
—Pensei que talvez o que Deirdre usa para fazê-lo nos espionar pudesse ser voltado contra ela ou nos ajudar.
—E... — Quinn perguntou. Pensou em enfrentar Charon ele mesmo, e foi surpreendido por Marcail fazer isso sozinha. Ela arriscou muito ao tomar essa atitude.
—Ele se recusou. Aparentemente, o que Deirdre está usando para fazê-lo espionar é grande demais para sequer considerar ir contra ela.
—Merda, — murmurou Quinn. Estava com um homem a menos sem Ian. Ajudaria muito ter Charon ao seu lado. Qualquer palavra que Marcail pudesse ter falado foram abafadas pelo som inconfundível do alçapão sobre a abertura do poço. Quinn saltou em pé e puxou acima as calças.
—Fique nas sombras, — Quinn disse quando olhou para Marcail por cima do ombro. Ele se transformou. Quinn chegou à entrada da caverna um momento antes que algo grande desembarcasse com uma pancada forte no chão. Não ficou surpreso ao ver a pele laranja de um Guerreiro no chão.
—Amigo ou inimigo? — Arran perguntou quando deu um passo ao lado de Quinn.
Quinn não tirava os olhos do recém-chegado.
—Vamos descobrir em breve.
Duncan se moveu para o outro lado de Quinn.
—Estou precisando de uma luta.
Naquele momento o Guerreiro de pele laranja saltou em pé, sangue escorrendo ao lado de seu rosto e seu saiote esfarrapado e manchado. Ele rosnou, mostrando uma de suas presas ausente.
—Acho que está procurando uma boa luta, Duncan, — disse Quinn.
Mas não era com o Guerreiro que Duncan queria lutar. Quinn abaixou o ombro no momento que viu o guerreiro laranja se aproximar dele. A força de propulsão do Guerreiro o empurrou para trás, e Quinn bateu nas rochas.
—Por que ela o jogou aqui embaixo? — Quinn perguntou.
O recém-chegado riu.
—Ela me disse que tentaria me enganar.
Quinn ficou tão surpreso com suas palavras que não colocou o braço a tempo de evitar que seu peito fosse cortado. Ele gemeu e socou o Guerreiro na mandíbula.
—Não vou ouvir, — berrou o Guerreiro laranja. —Vou morrer se ouvir você.
Quinn envolveu sua mão em torno da garganta do Guerreiro.
—Se não me ouvir, vai morrer. Deirdre somente envia Guerreiros aqui que quer quebrar.
—São os maus, — disse o Guerreiro se agarrando aos dedos de Quinn. — Ela está tentando nos impedir de fazer isso. Tentou evitar que meu deus tomasse o controle, mas era tarde demais.
Quinn jogou o Guerreiro de lado e jogou a cabeça atrás quando rugiu. Deirdre sentiu a alma fraca do novo Guerreiro, percebeu isso e fez com que não quisesse acreditar numa palavra que Quinn dissesse.
O Guerreiro laranja ficou de pé, desconfiado e à espera.
—Quando foi transformado? — Quinn perguntou.
Olhos alaranjados frenétcos olharam ao redor do Poço para os outros Guerreiros que estavam assistindo.
—Dois dias atrás.
Quinn passou a mão pelo rosto.
—Com o tempo vai descobrir que o que Deirdre diz é tudo mentira. É a única não ligada a um deus, amigo. É a única que é má.
Mal as palavras saírem da boca de Quinn o guerreiro atacou. Mais cortes apareceram no peito de Quinn enquanto lutava contra o Guerreiro frenético.
Não havia como falar, não agora. Tempo, no entanto, era o amigo de Quinn.
—Quinn, — Arran gritou em alerta.
Quinn viu a garrafa nos dedos do Guerreiro laranja. Rolou até que jogou o recém-chegado no chão, mas de alguma forma o Guerreiro tinha desarrolhado a garrafa. Quinn conseguiu segurar o braço do Guerreiro do lado quando algo escuro e vermelho derramou para fora da garrafa.
Não precisava cheirar o líquido para saber que era sangue, mas por que o Guerreiro queria derramar sangue sobre ele?
—Pare ou vai morrer, — alertou Quinn. Não ia matar o Guerreiro, mas sabia que Arran ou Duncan o fariam.
—Vou ser resgatado se eu te matar, — gritou o Guerreiro laranja.
Quinn não sabia o que Deirdre estava planejando, mas não se esqueceria de descobrir. O Guerreiro jogou a garrafa em Quinn, visando seu peito e suas múltiplas feridas.
Quinn conseguiu abaixar o frasco, mas Duncan já havia removido a cabeça do guerreiro laranja de seu corpo no momento que Quinn olhou para cima.
—Não queria vê-lo machucado, — disse Duncan à guisa de explicação.
Quinn assentiu e se levantou do corpo morto do Guerreiro. A única maneira que poderia ser morto era por decapitação, e apesar de Quinn não querer o guerreiro morto, era provavelmente o melhor.
Risos ecoaram quando Quinn lembrou tarde demais que estava sendo observado. Olhou para cima e encontrou Deirdre o observando com um sorriso cruel nos lábios.
—Eu a abomino, — ele murmurou. Um bom homem morreu por sua culpa.
—Ela tem tantos Guerreiros que pode matá-los tão facilmente agora? — Arran fez a pergunta que passava pela mente de Quinn.
Quinn se recusou a se mover até que o alçapão foi fechado. Se virou para seus homens, mas uma batida na entrada Poço chamou sua atenção. Será que isso significava outro ataque? Suas feridas se curariam, mas precisava de um pouco de tempo mais para estar completamente restaurado.
Viu Broc pela abertura na porta. Ao aceno do Guerreiro alado, Quinn caminhou até ele.
—O que foi aquilo? — Quinn exigiu. —Um Guerreiro morreu por nada.
Broc levantou uma sobrancelha.
—O homem está morto. O deus não.
—Explique.
Isla pisou ao lado de Broc e fixou seus olhos azul-gelo em Quinn.
—Assim como o deus passou pelas linhagens, encontrando o melhor Guerreiro, vai continuar a fazê-lo até a linhagem se esgotar.
—Está me dizendo que o deus do Guerreiro deixou seu corpo e agora viaja para outro de sua linhagem de sangue?
—Isso é exatamente o que estou dizendo, — Isla respondeu. —Olhe para si mesmo.
Quinn olhou por cima do ombro para ver que a pele laranja do Guerreiro se foi. Em seu lugar estava um rapaz que mal havia atingido a idade adulta. Rangeu os dentes juntos e enfrentou Broc e Isla.
—E agora? — Perguntou ele. —Será que Deirdre quer tripudiar? Passei muitas horas assistindo Ian sendo torturado para ela querer mais.
—O que disse? — Broc perguntou.
Isla virou a cabeça ligeiramente para Broc.
—Deirdre está com raiva. Colocou William no comando durante algumas horas.
Broc soltou um suspiro medido.
—Será que William tocou em você?
Quinn achou sua pergunta estranha, especialmente para alguém que trabalhava para Deirdre.
—Será que importa?
—Sim, — disse Isla. —Responda a pergunta.
Quinn olhou de um para o outro.
—Não, — ele finalmente respondeu. —Ele não o fez. Pareceu ser mais esperto.
—O Guerreiro jogado no poço foi uma maneira de Deirdre dizer que pode fazer o que quiser, — disse Isla.
Quinn deu uma risadinha.
—A cadela sempre foi capaz de fazer o que quer, exceto quando se trata do meu corpo. Acho estranho que não tente usar magia em mim. Deve ser porque não pode. E a criança da profecia não nasceria, a menos que desse meu corpo de bom grado.
Isla deu um leve aceno de cabeça.
—Está correto, MacLeod.
—O que quer? — Broc perguntou. —Em troca. O que quer para ir de bom grado para Deirdre?
Quinn pensou de novo no amor que ele e Marcail experimentaram, como seu toque trazia luz para seu mundo. Tanto quanto queria libertá-la agora, não podia. Tinha que manter seus irmãos longe de Deirdre. Marcail seria libertada o mais rápido que pudesse.
—Meus irmãos, — disse Quinn. —Quero que sejam deixados em paz.
Isla levantou a mão e Quinn viu o ligeiro estremecimento que passou rapidamente sobre seus traços contidos.
—Isso ela não vai conceder. Precisa de seus irmãos.
Se Quinn falasse de Marcail agora, Deirdre provavelmente a mataria imediatamente, independentemente das magias de proteção. Quinn não podia pedir a liberação de Arran e Duncan porque ninguém ficaria ali para proteger Marcail.
—Ian. Quero Ian solto não apenas da tortura, mas da montanha. Mande-o embora.
A boca de Isla tremeu no que parecia ser fúria.
—Ian é um guerreiro, MacLeod. Pode resistir muito.
—Ele resistiu mais do que ninguém deveria.
—É realmente o que quer, trocar sua semente por...? — Isla perguntou.
Quinn franziu o cenho. Parecia haver mais nas palavras de Isla do que ela estava falando. Mesmo Broc olhou para ela de forma estranha. Se apenas estivessem sozinhos, Quinn poderia falar com ela.
—O que quer que eu peça? — Quinn perguntou.
Os olhos azul gelo de Isla pareciam chamas de emoção.
—Isso não sou eu que tenho que dizer.
Quinn estava tão cansado de enigmas e respostas evasivas. Só queria fazer a coisa certa e proteger as pessoas que se preocupava. Estava cada vez mais difícil, contudo.
Isla se aproximou da porta.
—Dizem, MacLeod, que seus irmãos se aproximam.
—Dizem também que Deirdre enviou um exército de wyrran para detê-los, enquanto Guerreiros armam uma armadilha para capturá-los, — disse Broc.
A esperança de Quinn cresceu apenas para ser esmagada tão rapidamente.
—Se pegar meus irmãos, nunca darei meu corpo.
—Não diga nunca, — advertiu Isla. —Não sabe o quão poderosa se tornou.
Broc assentiu.
—Isla não está mentindo. Seja cauteloso, MacLeod. Deirdre sempre fica com o que quer no final. Precisa decidir como planeja sair quando tudo isso acabar.
Quinn viu Isla sair. Sabia como sairia no final. Faria na cama um grande mal, apenas para gerar a maior maldade que já andou na terra. Se isso acontecesse, qualquer bem que ainda podia estar no mundo partiria para sempre.
—Pense bem, MacLeod, — disse Broc. —Tudo que escolher para negociar seu corpo não poderá ser desfeito. Deirdre te concederá este único presente. Não o desperdice.
—Não me dará o que realmente quero, que é a liberdade dos meus irmãos.
—Isso é tudo que realmente quer?
Quinn pensou em Marcail, em seus exóticos olhos azul-turquesa e tranças que emolduravam seu belo rosto.
—Há muita coisa que quero.
—Então vou retornar no dia seguinte para sua decisão.
Quinn se virou e encostou na porta. Agora sabia quanto tempo tinha com Marcail. E não parecia perto o suficiente. Temia que a eternidade não fosse suficiente.


CAPÍTULO VINTE E DOIS

Fallon quebrou o pescoço de um wyrran e jogou a criatura no chão. Procurou sua mulher para encontrar Larena terminando com um dos últimos wyrran. Ela piscou para ele para que soubesse que estava bem.
Ele caminhou para ela, olhando para o sangue que a cobria.
—Algum é seu?
—Não, — ela respondeu com um aceno de sua cabeça dourada. —É tudo wyrran.
Fallon olhou para o chão que estava coberto pelas pequenas criaturas. Estavam lutando há horas. Estava com fome e cansado. Mal se moveu com Larena para encontrar um pouco de água quando ouviram um estrondo. Sua cabeça girou ao redor para olhar para a fonte.
—Acredito que Hayden está gostando disso, — disse Larena, seus olhos azuis esfumaçasdos cheios de travessura.
—Hmm. Acho que está correta. — Fallon observava enquanto Hayden e Logan acabavam com a última dúzia de wyrran.
Fallon pegou a mão de Larena e a levou até a linha das árvores, onde os outros se sentaram. Ela soltou um suspiro quando deslizou abaixo na árvore para descansar contra ela.
—Haverão mais? — Lucan perguntou.
Fallon encolheu os ombros. Seu cabelo tinha soltado da tira em seu pescoço. Puxou a tira de couro e reatou o rabo.
—Imagino que haverão.
—Não, — disse Galen. —Deirdre da próxima vez enviará Guerreiros para nos capturar.
Ramsey olhou para Fallon com cinzentos olhos frios, seu cabelo preto preso para enfrentar o suor.
—Então sugiro não ficarmos aqui.
Fallon sabia que queriam que ele os saltasse pela montanha. Ficaria feliz em fazê-lo sozinho, apesar do fato que não se lembrava de sua localização exata, mas se recusava a pôr em perigo alguém, especialmente Larena.
—Espere, — Ramsey disse antes que Fallon entreabrisse os lábios para falar. —Todos queremos seguir em frente, mas o que dizer do contrário?
Logan rosnou quando ele e Hayden se juntaram a eles.
—Quer dizer voltar ao castelo?
Ramsey balançou a cabeça.
—Não. Não todo o caminho até o castelo, mas longe o suficiente.
—Isso poderia funcionar. — Fallon coçou o queixo. —Broc nos encontrou com bastante facilidade da primeira vez, contudo.
Larena alisou seus cabelos dourados de seu rosto.
—Pensei que Broc estava agora do nosso lado?
—Está, mas ainda está tentando enganar Deirdre, — disse Ramsey. —Isso não é uma coisa fácil de fazer. Terá que ser muito cuidadoso para não ser preso.
Fallon concordou, sua decisão tomada.
—Sei de um lugar onde possa levá-los. É isolado, e nos dará algumas horas para descansar e comer antes de voltarmos aqui.
Lucan saltou para seus pés.
—Quer dar uma olhada antes de sairmos? Prefiro retornar mais adiante, se pudermos.
—Fiquem seguros, — Larena falou atrás deles.
Com sua velocidade, Lucan e Fallon cobriram uma grande distância num curto espaço de tempo. Fallon deu uma parada e olhou para as montanhas proibidas à frente deles. Seu irmão estava lá sofrendo só Deus sabia que tipos de tortura e dor.
—Poderíamos já estar em Cairn Toul se não tivéssemos que lutar contra os wyrran, — Lucan disse enquanto também olhava para o enorme monte de rocha.
—Concordo. Me sinto melhor sabendo que Broc está com Quinn.
Lucan coçou o queixo e franziu a testa.
—O que é isso? — Fallon perguntou.
—Deirdre poderia montar uma armadilha para nós em qualquer lugar.
Fallon já havia pensado nisso.
—É um risco que devemos correr. Felizmente, vai estar ocupada com Quinn.
—O que vai nos permitir entrar, — Lucan terminou. Bateu no ombro de Fallon. —Espero que esteja certo, irmão.
—Eu também, — Fallon murmurou antes de pular de volta ao grupo.
***
Marcail abriu os olhos para se encontrar de volta em sua casa, ou melhor, na casa da avó. Piscou e sentou. Tudo estava em ordem e como deveria ser. Nem um pouco como quando os wyrran atacaram, procurando por ela.
Ela franziu a testa e balançou as pernas sobre a cama. Algo não estava certo.
Marcail agarrou suas saias quando sua avó entrou na casa. Fazia tanto tempo que viu a mulher que a criou e ensinou os costumes Druidas que, por um momento, Marcail não conseguia respirar.
—Há muito a ser feito, Marcail. Deve se levantar agora, — disse a avó no mesmo tom sábio e amoroso que sempre usava.
—Vovó? — Marcail mal podia acreditar no que estava vendo, e embora soubesse que estava sonhando, era tão bom ver sua avó novamente.
Sua avó colocou a cesta de ervas sobre a mesa e se virou para Marcail com um sorriso caloroso no rosto enrugado. Sempre foi uma mulher pequena com os ombros curvados para a frente, mas tinha uma força dentro dela que Marcail invejava.
—O que é isso, minha filha?
Marcail se ergueu nas pernas bambas. Não queria que o sonho acabasse.
—Está morta.
Sua avó jogou a cabeça de cabelo prata para trás e riu.
—Claro que estou. Ouça com atenção, porque não há muito tempo. Escondi de você muito mais do que provavelmente deveria. Se lembra de uma coisa que eu disse para seguir acima de qualquer outra?
—Sim. Meu coração.
—Exatamente. — Sua avó acenou com a cabeça em aprovação. —Siga seu coração, minha querida filha. Ele vai te ajudar a tomar as decisões que alterarão sua vida.
Marcail balançou a cabeça.
—Não entendo. O que escondeu de mim?
—Isso não importa agora. Já está nas mãos de Deirdre. Não iria ajudá-la.
—Como posso escapar?
O sorriso de sua avó morreu.
—Temo que não possa.
Marcail soltou uma respiração instável e endireitou os ombros.
—O que devo fazer?
—Lembre-se do feitiço para ligar os deuses.
—Não posso. Você o enterrou bem fundo.
O braço fino de sua avó cortou o ar.
—Não está ouvindo sua magia, minha filha. Ouça e deixe que sua magia flua através de você. Uma vez que o fizer, vai descobrir o feitiço.
A casa começou a se desvanecer. Marcail estremeceu quando as pontas das unhas de sua avó tocaram sua mão.
—Ouça, minha filha.
—Vovó, — gritou Marcail quando a cabana desapareceu completamente.
Os olhos de Marcail se abriram para olhar a escuridão e melancolia do Poço. Seus pulmões queimavam por sua respiração rápida. Por que sonhou com a avó agora, e o que a visão significava? De alguma forma, havia uma mensagem no sonho que a avó estava tentando passar. Marcail virou para seu lado e repetiu o sonho em sua mente mais uma vez. Foi tão reconfortante ver a avó. Era muito ruim a mulher mais velha e poderosa não estar com ela agora. Marcail gostaria de ver sua avó mostrar a Deirdre uma coisa ou duas.
Quinn podia dizer pela forma como Marcail acordou que ela sonhou. Se perguntou o que enchia seus sonhos. E tão egoísta como era, esperava que ela sonhasse com ele depois que partisse. Inclinou-se com o ombro contra as rochas na entrada de sua caverna. Tanto quanto queria dormir com Marcail, segurar seu corpo contra o dele, sabia que precisava vigiar.
O Guerreiro que Duncan matou já não estava no meio do Poço. Vários guardas de Deirdre tentaram vir e levá-lo, mas os outros no Poço fizeram um rápido trabalho de cortar o homem morto em pedaços.
Era óbvio para Quinn que muitos dos Guerreiros presos no Poço perderam seu juízo e sua humanidade. Seus deuses tomaram o controle deles, e Quinn temia que partilharia seu destino eventualmente. Apenas orava que saísse dessa montanha primeiro.
—Quinn?
—Estou aqui, Arran, — ele respondeu. —O que foi?
Arran hesitou.
—É Duncan.
—Estou bem, — Duncan arrastou quando saiu de sua caverna. Olhou para Arran quando passou por ele para ficar ao lado de Quinn. —Estou bem, Quinn.
Quinn olhou dos olhos brancos de Arran para os pálidos azuis de Duncan.
—Diga-me.
—A dor... está voltando.
Quinn baixou os olhos e suspirou. Temia dizer ao seu amigo o que acontecia com Ian, mas Quinn não podia deixá-lo de fora.
—Você sente a dor de Ian.
—Eu o faço, — Duncan concordou. —Você o viu?
—Não fui capaz de falar com ele, e ele não tinha ideia que eu estava lá, mas eu o vi. — Disse a Duncan tudo que aconteceu no dia anterior com William e Ian. Quando terminou, Duncan estava com os punhos cerrados e a morte em seus olhos.
—Vou matar William por isso.
Quinn assentiu.
—Estou pensando em fazer o mesmo. Ian está se mantendo bem, meu amigo.
—Quanto mais pode suportar? — Arran perguntou.
Duncan se moveu até que estava cara a cara com Arran.
—Ele vai suportar tudo isso.
—Calma, — disse Quinn e empurrou os dois homens separados. —Arran não está duvidando da força de Ian. Está preocupado, assim como eu estou, sobre Deirdre transformar Ian à sua vontade.
Duncan abriu seus lábios para revelar suas longas presas.
—Nunca. Ian nunca se renderá a ela.
Quinn queria acreditar em Duncan, mas Duncan não viu a tortura.
—Seja como for, devemos ficar preparados de qualquer maneira.
—Conheço meu irmão. Não vai se submeter a ela, — Duncan repetiu.
Arran cruzou os braços sobre o peito e empurrou o queixo até a entrada do Poço.
—O que aconteceu com Broc antes?
—Eram Broc e Isla, — disse Quinn. —O Guerreiro laranja foi para me provar que Deirdre manda em tudo.
—Mas deixou um Guerreiro ser morto, — disse Duncan.
Quinn suspirou.
—Ela matou o homem que abrigava o deus. Não matou o deus.
—Merda, — Arran murmurou. —Mesmo com os deuses não ligados não podem ser mortos?
Quinn meneou a cabeça.
—Os deuses descerão sobre o mais forte na linhagem.
—Exceto por sua linhagem, — Duncan apontou. —Você, Fallon e Lucas são os últimos dos MacLeods.
—Eu sei, — disse Quinn. —Independentemente disso, Deirdre marcou um ponto. Se não nos submetermos, encontrará aqueles que o farão.
Arran suspirou.
—Isso era tudo que Broc tinha a dizer?
—Deirdre me concedeu uma benção em troca de ir até ela. Broc retornará amanhã para minha decisão.
Duncan se virou e olhou para Marcail.
—Não disse a ela, não foi?
—Não, — admitiu Quinn. —Quando estiver com Deirdre, farei meu melhor para livrar todos daqui. Duvido que vá me permitir voltar e falar com qualquer um de vocês, por isso fiquem atentos para todas as oportunidades de escapar.
Quinn viu que ambos, Duncan e Arran, estavam prestes a discutir a questão. Avistou Charon e acenou para o Guerreiro cobre.
—O que o traz ao meu lado do Poço, MacLeod, — Charon disse enquanto esfregava um de seus chifres. —Será que Arran confessou que bateu na sua mulher?
Quinn não acreditava na atitude indiferente que Charon tentava mostrar. Os olhos do Guerreiro viam tudo.
—Sim, — Quinn finalmente respondeu. —Arran e Marcail me contaram o que aconteceu.
A sobrancelha escura de Charon subiu.
—Interessante.
—O que acho interessante, Charon, foi estar disposto a espionar para Deirdre.
Instantaneamente o comportamento do Guerreiro cobre mudou. Se empurrou da parede e olhou para Quinn.
—Ousa muito ao falar comigo de tal forma.
—Vou falar com você como eu quiser. Vou admitir que Deirdre é poderosa. Sua magia é feroz e rápida, e ela não tolera traição. Mas este é seu povo morto em sua montanha.
—Não meu povo, — Charon rosnou.
—Você é um Highlander. Todo homem, mulher e criança trazido a esta montanha, que seja Druida ou Guerreiro, é um Highlander. Então, sim, seu povo. Negue o quanto quiser, mas é a verdade.
Charon virou a cabeça.
—Tomei você por um Guerreiro forte, — Quinn continuou. —Vi a maneira de observar todos aqui em baixo. Usa seu charme quando pode e seus músculos quando precisa. O que não entendo é como pode ser tão fraco para não lutar contra Deirdre.
Num piscar Charon estava em seu rosto.
—Não sabe nada do que fala.
—Sei muito mais do que jamais saberá. — Quinn empurrou Charon para longe dele. —Todos temos histórias tristes, e todos tivemos alguém que amamos tirado de nós. Deve saber a diferença entre o bem e o mal.
—Sei a diferença.
Havia algo nos olhos do Guerreiro, algo mal-assombrado, que impediu Quinn de falar mais.
—Talvez saiba.
Charon se virou e caminhou para sua caverna, sem outra palavra.
—Eventualmente, Charon, vai ter que escolher um lado.
Uma dura risada seguiu as palavras de Quinn.
—Já escolhi, MacLeod.

 

 

 

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

O Intestino de Isla se agitou com a bile, mas não ousou se mexer. Ficou parada como uma pedra na câmara que Deirdre usava para matar Druidas e tomar sua magia.
Era uma sala que Isla odiava com cada fibra do seu ser. Só estar dentro dela fazia sua pele arrepiar, mas ter que assistir um Druida morrer a fazia querer vomitar.
—Dunmore fez bem, não foi? — Deirdre perguntou.
Isla balançou a cabeça, incapaz de falar. Engoliu em seco e tentou não olhar para a temerosa jovem Druida amarrada à mesa de pedra no centro da câmara.
Deirdre inclinou a cabeça para o lado enquanto considerava a jovem.
—Graças à magia de sua irmã, Isla, já não tenho que esperar até o equinócio da primavera para encontrar aqueles que procuro. Era tão entediante ter que esperar, especialmente quando estou construindo um exército.
Isla abriu os lábios e respirou pela boca para conter a náusea que rolava em seu estômago.
—Levei muito tempo para perceber que você, Isla, é mais forte que sua irmã. Sim, Lavena é vidente, mas você, você é quase tão perfeita quanto os Guerreiros.
Isla ouviu o suficiente, e sabia que seria punida novamente, se não tivesse cuidado.
—Sabe que não a obedeço de bom grado.
—Ah, mas voluntariamente se submeteu ao meu comando uma vez. Disse a você, então seria sempre minha, Isla. Quis dizer exatamente isso.
—Por que manter Grania? Não é nada para você, apenas uma garotinha.
O sorriso de Deirdre desapareceu quando ela zombou de Isla.
—Suponho que sua tortura não foi suficiente, ontem. Devo pegar o chicote para você mais uma vez, por ser tão insolente?
Isla se virou para enfrentar a Druida prestes a morrer.
—Faça o que quiser, Deirdre. Não me importo.
E essa era a verdade. Isla parou de se preocupar. Lavena já não era sua irmã, e Grania, a querida e preciosa Grania, não era mais a menina adorável que amou tanto. Tanto a irmã como sua sobrinha foram corrompidas por Deirdre.
Isla compreendeu então o que não fez há muito tempo: não podia salvar Lavena ou Grania. Se soubesse antes, podia ter salvo sua própria alma. Mas era muito tarde agora. Estava condenada a uma eternidade no inferno, e depois de sofrer sob a ira de Deidre, não havia nada no inferno que pudesse assustá-la.
—Agora, — disse Deirdre enquanto caminhava para a Druida sobre a mesa. Colocou a mão sobre o peito da garota e sorriu. —Para alguém tão jovem, sinto muito magia em você.
—Por favor, — implorou a jovem Druida. —Deixe-me ir.
Deidre enfiou uma mecha de cabelos brancos atrás da orelha.
—Receio que não será possível. Preciso da sua magia, e para que eu pegue sua magia, você tem que morrer.
Isla cruzou as mãos atrás das costas quando a menina começou a chorar lágrimas silenciosas. Não ia implorar a Deirdre novamente, no entanto.
—Se quer minha magia, vai ter que forçá-la para fora de mim, — disse a menina. —Não merece a magia que foi dotada.
Deirdre respirou cansada.
—Basta.
—Não, sua bruxa viciosa. Vai pagar pelos pecados que cometeu, e...
As palavras da menina foram cortadas quando o cabelo de Deirdre se enrolou em seu pescoço.
—Eu disse que era o suficiente. Não vou ouvir sua ladainha incessante porque está com muito medo de morrer.
Isla piscou quando a Druida começou a rir. Ninguém ria de Deirdre.
Os olhos de Deirdre perderam sua cor azul e ficaram brancos quando sua magia negra se estreitou na jovem Druida.
—Posso fazer isso tão doloroso para você como eu quiser.
—Faça, — a menina respondeu asperamente.
Isla sabia que o melhor era virar as costas. Viu muitos de seus companheiros Druidas, tanto droughs como mie igualmente, morrer na mesa de Deirdre. E apesar de Isla saber o que ia acontecer, ainda se encolheu quando a lâmina cortou os pulsos da garota.
Os cortes foram profundos e longos, e o sangue drenou rapidamente das veias da menina nas partes ocas da mesa onde o sangue derramava, em seguida, em cálices no chão.
Enquanto o sangue fluia, Deirdre ficou ao lado da Druida e começou a recitar um antigo feitiço. Isla conhecia as palavras pelo coração, a magia negra que chamava Satanás e todo o seu mal. Mas toda vez que via a nuvem negra se erguendo do centro da mesa, Isla ainda tinha que lutar para se manter quieta e não fugir do quarto.
A menina gritou, embora fraca pela perda de sangue. A nuvem, um espírito mau do inferno, desceu sobre a Druida. A menina se debatia, seus gritos ecoando em todo o alto pé-direito da câmara quando a aparição tomou sua alma.
—Eu sou tua! — Deirdre gritou e mergulhou o punhal através do espírito no estômago da menina.
O espírito desapareceu, e os olhos sem vida da menina olhavam acima dela. Mas a cerimônia estava longe de terminar.
Os dois funcionários cobertos de preto saíram de seus cantos e coletaram as taças cheias de sangue da Druida. As levaram para Deirdre para que bebesse cada taça, lambendo os lábios manchados de vermelho com sangue.
Os servos voltaram apressadamente quando o vento começou a uivar e girar em torno de Deirdre enquanto a magia nova se misturava com a dela. Ela jogou a cabeça atrás, seu comprido cabelo branco se elevando acima e em torno dela.
—Sou invencível! — Deirdre gritou.
Deirdre prendeu Isla com um olhar quando o vento começou a diminuir. Sem mover um músculo Deirdre prendeu Isla contra a parede, com os pés pendurados fora do chão.
Isla queria agarrar a mão invisível que segurava sua garganta, mas manteve as mãos nas suas saias. Combater Deirdre só fazia a dor pior.
E não importava a quanto sofrimento Deirdre a submetesse, Isla sabia que Deirdre não ia matá-la. Ainda não, de qualquer maneira. Deirdre tinha um domínio sobre Isla que não foi capaz de duplicar outra vez. Não havia como arriscar machucar Isla.
—Mandei aos MacClures uma mensagem através de Dunmore, — disse Deirdre.
Isla esperou, imaginando o que Deirdre podia desejar dos MacClures. Isla não tinha nenhum desejo de voltar a esse clã. Teve relações suficientes com eles quando os wyrran destruíram sua aldeia procurando a Druida Cara, que agora estava vinculada à Lucan MacLeod.
Claro, foram os MacClures que tomaram um grande pedaço das terra dos MacLeod, terra que incluia o castelo dos MacLeods, reivindicado como deles.
—Acho que Fallon e Lucan precisam de algo para ocupar seu tempo, — disse Deirdre.
Isla sabia que devia ficar em silêncio, mas não pode evitar.
—Pensei que queria capturar os MacLeods?
—Oh, eu quero. E vou. Quero que sofram primeiro. Os MacLeods podem ter espantado os MacClures de suas terras, mas vou garantir que os MacClures tenham o que precisam para conseguir suas terras de volta. Uma vez que tenham o que exigem, você vai ficar com os MacClures.
Isla mordeu a língua para não falar de novo.
Deirdre a liberou da posse mágica. Os joelhos de Isla vergaram quando bateu no chão, mas conseguiu ficar de pé se agarrando nas pedras na parede.
—Ficou muito audaciosa recentemente, Isla. Recebi a informação justo esta manhã, e acho que vou precisar de você para fazer uma viagem.
O sangue de Isla esfriou em suas veias. Sabia o que aquilo significava, mas era impotente para combater Deirdre. Um relâmpago dividiu o quarto, mas era apenas a magia de Deirdre. Isla agarrou sua cabeça e recuou com um grito de dor quando a voz de Deirdre cresceu em sua mente dando-lhe instruções que seria incapaz de rejeitar.
***

Não importa o quão duro Marcail tentasse, seu sono acabou depois do sonho com sua avó. E para piorar a situação, Quinn não veio para ela.
Quando o viu andando pela caverna, sentou e se inclinou para o lado. Não estava preparada para vê-lo falando com Charon, mas o que estavam falando não era bom, porque era óbvio pela forma dura no rosto de Charon que ele estava com raiva.
Marcail os observou por longos momentos até Quinn voltar para ficar ao lado de Duncan e Arran. Estava curiosa para saber o que Quinn tinha a dizer a Charon.
Puxou as pernas contra o peito e colocou os braços ao seu redor. Estava entediada e ansiosa. Quinn queria que ficasse nas sombras, e embora compreendesse isso, estava acostumada a se movimentar e fazer suas tarefas diárias. Não estava acostumada a se sentar hora após hora no escuro.
Marcail empurrou uma trança que caíu em seus olhos. Quinn fez sua estadia no Poço tolerável, mas quando ele fosse embora, então o quê?
Vou ficar ficar maluca.
E essa era a verdade. Como Druida, o sol, ar e água a sustentava. Nas trevas e escuridão de uma montanha cheia de magia do mal e escura, seria apenas uma questão de tempo até que a pouca magia de Marcail se fosse.
Fora da escuridão, o estranho musical começou a cantar novamente. Era tão fraco que mal podia ouvi-lo. Marcail inclinou a cabeça de lado e fechou os olhos.
Se concentrou no canto, em ouvir as palavras. Quanto mais se concentrava, a música se tornava mais alta. Se perdeu na música suave, lírica, as palavras escorrendo sobre ela como uma tempestade de verão e infundindo sua alma com magia.
—Marcail?
Seus olhos se abriram para encontrar Quinn diante dela, uma careta no rosto.
—Está bem? — Perguntou ele.
Ela engoliu em seco, sentindo falta do estranho canto.
—Estou.
—Estive chamando seu nome durante algum tempo.
—Devo ter adormecido. — Mesmo que dissesse as palavras, não acreditava que estava sonhando. O que sentiu foi algo completamente diferente.
Quinn se agachou diante dela e pegou suas mãos.
—Charon é espião de Deirdre, assim como você suspeitava.
—Por isso foi falar com ele?
—Uma das razões. Ele provavelmente ficará longe de você na maior parte do tempo, mas não espere que a ajude de qualquer forma, não importa o que possa ter dito a você.
—Quer dizer quando você for embora. — Bastava dizer as palavras para formar um nó em sua garganta. Como desejava não se importar com Quinn, tanto quanto o fazia. Já perdeu muitas pessoas na sua vida. Saber que perderia Quinn de novo — era demais.
Quinn suspirou e balançou a cabeça.
—Gostaria de poder garantir que está segura, mas aqui embaixo, ninguém está seguro.
—Eu sei, — ela sussurrou.
—Duncan e Arran estarão com você sempre. Disse a eles, e vou te dizer, Deirdre não me permitirá voltar, mas fique atenta a qualquer sinal que possa escapar. Será rápido, e terá que estar pronta a qualquer momento.
Ela afastou uma mecha de seu cabelo castanho claro de seus olhos.
—E você? Enquanto escapo, ainda ficará aqui?
—Sim.
A maneira como disse era terminal.
—Sei o que dirá, e peço que não o faça, — disse Quinn. — Isso é difícil o suficiente como é, e o pensamento de deixá-la aqui... Não gosto, Marcail.
—Sempre que eu estava indecisa com alguma coisa, minha avó costumava me dizer para seguir meu coração, que iria me guiar para fazer a coisa certa.
—É isso que estou tentando fazer. Por você, por meus irmãos, por todos.
O nó de medo e pavor cresceu no peito de Marcail até que ela achou difícil respirar.
—E acha que dando a Deirdre uma criança estará nos ajudando?
Quinn sorriu e tocou uma de suas tranças.
—Nunca disse que lhe daria uma criança.
—Mas... — Marcail balançou a cabeça. —Se for para ela, é exatamente o que ela vai esperar.
—Não há dúvida que é exatamente o que ela vai esperar, mas pretendo fazer coisas interessantes. Vou tentar dar-lhe tempo e aos outros para fugir desta montanha atroz e encontrar meus irmãos.
Marcail jogou os braços ao redor dele e enterrou o rosto em seu pescoço.
—Está arriscando muito.
—Alguém precisa, e sou o único perfeito. — Suas mãos esfregaram acima e abaixo de suas costas.
E esse era o problema. Ele era perfeito demais.

 

 


CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Broc sobreviveu a outra reunião com Deirdre. Toda vez que estava com ela, esperava que ela revelasse que sabia de sua duplicidade. Era um jogo perigoso, mas um que não tinha escolha, apenas participar. Esperava falar com Quinn em privado no dia anterior, mas Isla exigiu ir junto com ele. A pequena drough era uma das ferramentas favoritas de Deirdre em sua proposta para dominar o mundo.
Pelo que tinha visto, Isla era uma força a ser considerada, razão pela qual não tentou dissuadi-la de acompanhá-lo à cova. Deirdre podia muito bem ter enviado Isla para espioná-lo, como Deirdre costumava fazer.
Broc viu a maneira cuidadosa como Isla se movia quando andou até o Poço.
Foi punida por Deirdre, como todos eram, num momento ou outro. Deirdre gostava de se certificar que todos soubessem que podia matá-los a qualquer momento que quisesse.
Quando Broc andou pelos corredores, suas asas rasparam o topo do teto. Odiava ficar na montanha. A liberdade de um céu aberto, o sabor do ar sobre seu corpo, era o que desejava.
E Sonya.
Suas mãos apertaram quando pensou na Druida. Ramsey dissera que Sonya estava no Castelo MacLeod, mas Broc não foi capaz de ver por si mesmo. Se preocupava interminavelmente por ela, e até que estivesse livre de Deirdre, tanto Sonya como sua irmã, Anice, teriam que ficar escondidas.
Broc ignorou os servos cobertos de preto que ficaram de lado para deixá-lo passar. Sua mente, como sempre, estava em Sonya. Ela não sabia dele, não sabia que foi o único a salvar ela e sua irmã da morte quando eram apenas crianças. E não queria que ela soubesse.
Forçou Sonya para o fundo de sua mente e se concentrou na tarefa em mãos. Broc precisava ver Quinn novamente. Esperava que Deirdre ainda estivesse com raiva demais para falar com Quinn, mas ela ouviu falar do pedido de Quinn para vê-la.
Se houvesse tempo, Broc planejava deixar Quinn saber que seus irmãos estavam a caminho.
Quanto tempo restava, porém, era a questão. Broc não tinha dúvidas que os irmãos MacLeod pensariam numa forma de chegar à montanha, sem serem capturados. Pelo menos esperava isso.
Broc fez uma pausa na metade da passada quando alcançou a escada que se desviava em diferentes direções. Podia virar à direita e subir as escadas em direção às câmaras de Deirdre, ou podia ir em frente e descer os degraus que conduziam ao Poço. No entanto, foi do vão das escadas à sua esquerda, que levavam ao fundo da montanha, do qual ouviu o rugido inconfundível de um Guerreiro.
Pelo que Broc sabia, não havia um sendo mantido abaixo, nunca foram mantidos nenhum abaixo. Mas era óbvio pelo ronco, irado e solitário que ouviu, que alguém foi colocado lá em baixo.
Broc decidiu que olharia mais tarde. Quanto mais soubesse de Deirdre, melhor para os MacLeods. Com um suspiro, Broc desceu as escadas na frente dele e seguiu para o Poço. Havia sempre pelo menos dois guardas postados do lado de fora. Broc sempre pensava que era inútil.
A porta estava trancada com magia negra. Não importa o quão forte era um Guerreiro, não saia do Poço, a menos que Deirdre o quisesse fora.
Broc cumprimentou os guardas e olhou através da janela da porta. As tochas que Deirdre permitia eram escassas, mas suas chamas vermelho-laranja ajudavam a derrotar a escuridão. Achou divertido Deirdre precisar das tochas para ver quando era tão poderosa como dizia ser.
Broc respirou fundo, porque as coisas estavam prestes a ficar muito interessantes.
Quinn deixou os dedos correr pelo comprimento do cabelo castanho de Marcail enquanto a segurava contra o peito. Podia sentir seu desconforto, sabia que ela estava mais assustada do que queria que visse. Era uma moça um valente, uma mulher que ficaria orgulhoso de chamar de sua. E a chamaria de sua, se fosse capaz.
Marcail levantou a cabeça para olhar para ele. Ele olhou para seus olhos turquesa claros e tentou memorizar cada centímetro de seu rosto.
—Desejava que pudesse encontrá-la antes, — disse Quinn. —Você teria sido boa para minha alma.
—Apenas para sua alma? — Ela perguntou com um sorriso provocante.
Ele balançou a cabeça.
—Você tem sido boa para mim.
—E você tem sido bom para mim. — Sua testa franziu por um momento. —Quinn, há tanto que eu diria a você de como me sinto.
Ele colocou o dedo sobre seus lábios. Se ela dissesse que se importava com ele, não seria capaz de deixá-la. Só de pensar que ela tinha algum sentimento por ele fazia seu coração falhar uma batida. Quinn a beijou. Se deixou afogar em seu gosto inebriante. Queria, agora, fazer amor com ela em vez de ficar de guarda. Havia muitas maneiras que Quinn queria desfrutar de seu corpo, muitas maneiras que queria ver como ela atingia o pico e gritava seu nome.
Seus braços se envolveram ao redor de seu pescoço e seus dedos deslizaram em seus cabelos. Ele gemeu e aprofundou o beijo, com intenção de tê-la uma última vez.
—Quinn!
Ambas as cabeças giraram para o lado. Quinn fechou os olhos com pesar. Quando os abriu, o medo que viu nas profundidades de Marcail corroeram sua alma.
—Vou tirar você daqui, — prometeu. —Só me prometa que vai ficar escondida.
Ela assentiu com a cabeça, tensa.
—Quinn, eu... fique seguro.
Ele se perguntava o que ela estava prestes a dizer, mas decidiu que era melhor se não soubesse.
—Você também.
A coisa mais difícil que já fez foi baixar os braços de seu corpo e se mover para longe dela. Ele se levantou para encontrar Arran e Duncan esperando por ele.
—Não podemos fazê-lo mudar de ideia? — Duncan perguntou.
—Não, meu amigo, não pode.
Arran deu um tapa no ombro.
—Não deixe que ela tome sua alma.
Quinn apertou o antebraço de Arran, antes que fizesse o mesmo com Duncan.
—Fiquem vigilantes, — avisou antes de virar as costas e caminhar até Broc.
Os olhos índigo de Guerreiro de Broc estacam focados em Quinn quando se aproximou da porta. Quando Quinn estava a poucos passos, a porta abriu e ele entrou por ela.
Quinn fez uma pausa quando a porta fechou atrás dele batendo. Cada fibra do seu corpo queria se virar e dar uma última olhada em Marcail, mas não se atrevia. Não agora, talvez nunca mais.
—Mudou de ideia? — Broc perguntou.
Era imaginação de Quinn, ou o som de Broc parecia esperançoso?
—Não.
—Hum, — Broc disse enquanto a boca formava uma linha fina. —Já decidiu o benefício que vai pedir?
Quinn não pensou em outra coisa.
—Já.
—Então vou levá-lo para Deirdre.
Ele seguiu Broc pelos corredores e pelas escadas quando deixaram o Poço atrás. E ainda, tudo que Quinn podia pensar era em Marcail, não no mal que o aguardava. Devia se concentrar em como se afastaria de Deirdre por um dia ou dois, não se preocupar se Marcail estava segura ou não.
—Está preocupado, — disse Broc.
Quinn levantou uma sobrancelha. Broc não virou uma vez para olhar para ele, assim Quinn não sabia como o Guerreiro alado sabia o que estava acontecendo com ele.
—Prefiro ser levado para minha própria morte que para Deirdre.
—Então por que está indo para ela? — Broc parou e se virou para Quinn.
—Faço isso porque preciso.
Broc baixou os olhos por um momento.
—Tem certeza disso, Quinn?
—Por que não me conta? — Quinn não estava com disposição para palavras enigmáticas. —Tenho outra escolha?
Broc encolheu os ombros.
—Têm insistido que seus irmãos virão por você.
—E você me disse que Deirdre enviou wyrran para atrasá-los. Diga-me, Broc, Deirdre já tem meus irmãos?
—Não, — respondeu Broc. —Ela pretende isso, uma vez que você concorde em dar-lhe o filho da profecia.
Quinn passou a mão pelos cabelos, frustrado com tudo.
—Por que ela não pode ficar apenas comigo?
—Porque, quando os três combatem como um só, são imcontroláveis.
E foi aí que Quinn percebeu o quão fúteis seus esforços foram. Não importava quanto tempo ficassse contra Deirdre. Ela teria o que queria não importa quanto tempo levasse para conseguir.
Quinn pensou em Cara e como ela e Lucan olhavam um para o outro. Assim como os pais de Quinn faziam. Não queria que Lucan perdesse a única mulher que capturou seu coração.
—Tem que ir com ela agora, — disse Broc, sua voz baixa.
Quinn olhou para o Guerreiro azul escuro com desconfiança.
—Por quê?
—Porque pediu para vê-la. Ela espera que você cumpra. Deve, Quinn. Seus irmãos estão chegando, mas precisa dar-lhes algum tempo.
Quinn deu um passo atrás do Guerreiro.
—O que está tentando fazer?
Broc amaldiçoou baixinho e se aproximou de Quinn.
—O que acha? Estou arriscando tudo apenas por falar com você.
—Espera que eu acredite que está do lado dos meus irmãos? Não acredito nisso mais do que no absurdo de qualquer destino que Deirdre pensa que tenho.
—Então é um idiota maior do que eu pensava. Siga-me, MacLeod.
Quinn ficou grato quando Broc continuou adiante. Não podia suportar ouvir outra palavra que Broc dissesse, e não quando inspirou esperança para queimar em seu peito, esperança que sabia que seria frustrada logo que percebesse que bancou o tolo.
Orou para que pudesse passar por tudo. Apenas olhar para Deirdre era uma tarefa árdua, e pensar na cama com ela virou seu estômago.
Santo Inferno. O que vou fazer?
Faria o que devia por seus irmãos, Marcail, e os homens que confiaram nele. Mesmo que isso significasse sacrificar sua alma para Deirdre, o faria.
Broc parou diante de uma porta e fez sinal para Quinn prosseguir. Quinn olhou para o Guerreiro, mas Broc não olhou para ele. Quinn empurrou a porta e se encontrou mais uma vez na câmara de Deirdre.
Da última vez que esteve aqui se encontrava nu em sua cama. Se perguntou o que ela fez com ele enquanto estava inconsciente, mas não permitiu que sua mente se debruçasse sobre isso por muito tempo, com medo de descobrir o que ela fez.
Deirdre estava na porta de seu dormitório, o cabelo branco tocando o chão. Usava seu vestido preto normal de um tecido que abraçava suas formas.
—Me disseram que queria falar comigo? — Ela disse com um sorriso.
Ele balançou a cabeça e cruzou os braços sobre o peito.
—Sim. Me pergunto, Deirdre, se sabe tudo que William vem fazendo em seu nome.
Num instante seu sorriso se foi. Ela respirou fundo e estreitou seus brancos olhos para ele.
—Explique-se.
—Pedi para vê-la poucas horas depois levar Ian. William veio por mim, mas se recusou a me permitir falar com você. Em vez disso, me fez ver como torturavam Ian.
—William não ia trazê-lo para mim?
Ele quase sorriu pela raiva que abalou sua voz.
—Não.
—Traga William, — ela ordenou a Broc.
Quinn olhou acima do ombro para encontrar Broc o observando, um pequeno sorriso em seu rosto, quase como se aprovasse o que Quinn acabava de fazer.
—William me disse que você favoreceu sobre qualquer outra, — disse Quinn após Broc sair para atender o pedido de Deirdre.
Ela acenou para longe suas palavras.
—William gosta de estar no comando. Dou-lhe um pouco de poder de vez em quando.
—Para mantê-lo na linha? — Quinn perguntou. —Sua espera é tão tênue que precisa recorrer a tais métodos mesquinhos?
Seus lábios apertaram com raiva.
—Se atreve a me questionar?
—Sim.
—Vou te mostrar o quão poderosa sou neste seu jogo e eu jogo, Quinn. Depois, vai perceber o quão inútil é me negar qualquer coisa.
Ele bufou.
—Duvido.
Ela abriu a boca para retrucar quando William atravessou a porta com toda a confiança arrogante de quem conseguiu tudo que desejava.
—Queria me ver, senhora, — disse ele. Então, avistou Quinn e sua confiança vacilou.
Quinn sorriu lentamente. Queria que William sofresse, porque se Quinn fosse capaz de conversar com Deirdre, Ian não seria torturado.
Deirdre ficou na frente de William e passou a mão de seu peito nu até suas calças numa carícia íntima.
—Diga-me, meu caro William, Quinn pediu para me ver antes de agora?
William olhou de Quinn para Deirdre.
—Você disse que não queria ser incomodada.
—Em todos os resto, mas sabia que eu estava esperando ouvir Quinn. Não sabia? — Ela disse enqunto se abaixava e agarrava suas bolas.
William se encolheu enquanto Deirdre espremia.
—Não, senhora.
—Não ouse mentir para mim, — disse Deirdre por entre os dentes cerrados.
O queixo de William baixou para seu peito.
—Não quero dividir você.
Com um rosnado, Deidre empurrou William longe dela.
—Por sua causa, um dia foi desperdiçado. Vai ser punido.
—Como quiser, — William murmurou.
Quinn ficou surpreso quando Deirdre voltou seus olhos brancos impuros para ele.
—Como ele deve ser punido? — Perguntou ela.
A resposta foi fácil para Quinn.
—Quero que ele sofra, assim como Ian sofreu. Cada golpe, cada corte, cada mordida do chicote, quero que William sinta. E não vamos esquecer de retirar suas garras também.
William rosnou, seu lábio enrolando com raiva. Quinn abaixou os braços, pronto para lutar com ele, mas Deirdre se colocou entre eles. Instantaneamente, William se acalmou.
Quinn revirou os olhos para a facilidade com que William fazia o que ela pedia. Nem sequer se recusou ao ser arrastado por dois guardas. Quinn sabia que um dia mataria o Guerreiro, e gostaria imensamente.
—Agora, — disse Deirdre, ganhando sua atenção. —É hora de me seguir.
Tanto quanto Quinn não queria ficar perto dela, precisava saber tudo que pudesse, assim poderia dizer aos seus irmãos e poderiam matar a cadela do mal.
Deirdre não disse uma palavra quando o levou para fora da sua câmara e abaixo por vários corredores até que chegaram a um arco que combinava com portas duplas.
As portas se abriram quando Deirdre se aproximou. Quinn passou do limite e olhou com repulsa e admiração para a mulher que pairava sobre o chão, cercada por chamas ônix.
—Ela não é magnífica? — Deirdre perguntou.
Quinn não tinha certeza de quem estava olhando.
—Quem é ela?
—Ela era uma druida, uma mie, que tinha o dom especial de ser um vidente.
—Como ver o futuro?
Deirdre deu de ombros.
—Desse tipo.
—E você está usando sua habilidade?
—Claro.
Quinn se aproximou da mulher. Seus olhos estavam abertos, mas olhava sem ver a
parede oposta. Seu cabelo longo e preto flutuava em torno dela como se estivesse na água, e seu vestido provava que estava presa há vários séculos, se não mais.
Havia algo sobre a mulher que parecia familiar, como se a tivesse visto antes. Era jovem, sua pele clara e sem mácula. Seus braços caídos dos lados, enquanto as chamas negras, que quase não pareciam reais, lambiam sua pele.
Quinn ergueu a mão para tocar no fogo.
—Não, — Deirdre o advertiu.
Quinn moveu seu olhar para Deirdre.
—O que são as chamas?
—Minha magia, Quinn. Magia forte. A prende num estado de transe para que eu possa usar suas habilidades de vidente a meu favor, mantendo-a viva, desde que eu queira.
Estava revoltado pela forma como Deirdre pouco valorizava a vida.
—Há quanto tempo a têm?
Deirdre sorriu.
—Não por tempo suficiente. Será que parece familiar para você?
—Parece, — admitiu ele com cuidado.
—Ela é Lavena, a irmã de Isla. Eu prendi ambas, bem como a filha de Lavena anos atrás.
Quinn rangeu os dentes pela menção da criança.
—E o que aconteceu com a criança?
Uma porta se abriu de repente e entrou uma criança com cabelo tão negro que parecia azul, assim como Isla e sua mãe. Frios olhos azul gelo fitaram Quinn.
—Pensei que disse que as pegou anos atrás, — disse Quinn, enquanto olhava para a filha, com não mais que oito anos.
Deirdre fez que sim.
—Eu o fiz. Grania ficará nesta idade para sempre.
Quinn olhou para a criança e viu a mesma malícia nela que existia em Deirdre. Teria que usar muito bem a astúcia que seu pai sempre elogiou, se ia sobreviver ao mal ao seu redor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO VINTE E CINCO

A batida da porta ainda ecoava no Poço muito tempo depois que Quinn se retirou. A angústia e melancolia que tomou Marcail era difícil de romper. Quinn se foi novamente. Desta vez, sabia que era para o melhor.
No fundo do seu coração, compreendia que as razões para Quinn se entregar a Deirdre eram boas, nascidas do amor e devoção ao povo que se preocupava. No entanto, estava irritada com seus irmãos por não virem por Quinn até agora, assim não teria que ceder à Deirdre.
Mas seus irmãos não estavam lá.
Arran e Duncan não saíram da caverna de Quinn desde que ele a deixou. Marcail sabia que estavam de guarda, mas não ligava mais. Nada importava sem Quinn.
Basta! Pare de sentir pena de si mesmo!
Marcail suspirou e focou em fazer a única coisa que podia para ajudar Quinn e todos os Guerreiros, que era lembrar o feitiço para prendia seus deuses.
Mas não importava quanto procurasse em sua mente, quantas vezes lembrava tudo que sua avó ensinou, Marcail não conseguia encontrar o feitiço.
Ela se levantou de seu lugar na laje e começou a andar pela caverna, para não ficar louca. Sua mente estava em Quinn, no sacrifício que fez por todos eles, e como ansiava por ele. Se surpreendeu ao perceber que sentia falta dele mais do que ao perder sua família ou sua avó.
—Se importa muito com ele, não é? — Duncan perguntou.
Marcail balançou a cabeça para encontrar o Guerreiro azul pálido olhando para ela.
—Sim. Muito, muito. — Mais do que jamais imaginou ser possível.
Duncan assentiu.
—É óbvio que ele se importa com você também.
—Quinn se sente protetor comigo, sim, — disse Marcail. —Se preocupa porque precisa me manter segura para que eu possa ajudar a acabar com tudo isso.
Duncan bufou e balançou a cabeça lentamente.
—Acredite nisso se quiser, Druida, mas vi Quinn e como ele olha para você. Ele se importa.
Marcail queria que fosse verdade, nas profundezas de sua alma orou que fosse verdade, mas conhecia a realidade. Não era nada mais que alguém que deu a Quinn conforto num lugar escuro, mal.
Quinn despertou algo dentro dela que não sabia que tinha. Ela desejava seu toque, seus beijos, seu corpo. Adorava o modo como seus pálidos olhos verdes a olhavam. Amava a maneira como seu cabelo castanho estava muito longo e tendia a cair em seu rosto. Adorava a maneira como ordenava tal poder e autoridade que qualquer outro homem perto dele sabia que Quinn podia mais que eles. Adorava a maneira como se colocou em perigo apenas para protegê-la e àqueles que amava.
Ela amava... a ele.
Marcail agarrou a parede, quando a verdade a golpeou. Amor? Nunca pensou em saber o que significava se apaixonar por um homem, e isso aconteceu sem que sequer soubesse.
—Marcail? — Arran disse quando veio em sua direção. —Está pálida.
—Eu o amo, — ela sussurrou. —Eu... o amo. E o perdi.
A grande mão de Duncan a pegou pelo braço, tendo o cuidado de evitar que suas garras cortassem seu vestido.
—Precisa ??sentar.
—Tenho ficado muito tempo sentada, — disse ela e puxou o braço de seu alcance. —Preciso fazer alguma coisa. Qualquer coisa.
—Então, lembre-se do feitiço, — disse Arran. —É a única coisa que pode ajudar Quinn agora.
Marcail balançou a cabeça.
—Tenho tentado, Arran. Não sei o que minha avó fez, mas está enterrado. Muito profundo, receio.
***
Quinn procurou no rosto de Grania qualquer inocência que sempre cercava as crianças, mas tudo que viu foi a mancha da maldade.
—Estava tão desesperada por um filho que precisava mantê-la dessa forma? — ele perguntou à Deirdre enquanto apontava para Grania.
Deirdre riu.
—Agora venha, Quinn. Sabe que só faço coisas que me beneficiam. Tive minhas razões para manter Grania nesta idade, e essas razões não foram alteradas. Na verdade, duvido que algum dia serão. Grania é... bem, vamos apenas dizer que ela mantém as pessoas certas fazendo o que deveriam.
Sabia que falava de Isla. Era a única explicação.
—Faça-a sair. — Não podia olhar para a criança por mais tempo.
—Verei você mais tarde, — disse Deirdre para Grania.
Um dos servos cobertos veio para a frente para acompanhar a criança para fora da câmara. Quinn olhou para cada um dos outros três servos. Todos usavam véus negros que cobriam suas faces, e até mesmo os cabelos, completamente.
—Por que usam véus?
Deirdre sorriu e levantou uma sobrancelha branca.
—Estes são os que se atreveram a me desafiar, os druidas que pensavam ter mais magia do que eu.
—Então os escravizou.
—De certa forma, — ela disse com um encolher de ombros. —Os fiz ver o erro de cruzar meu caminho.
—Em outras palavras, os torturou até que pediram pela morte e você, então, ofereceu torná-los escravos.
Ela riu e inclinou a cabeça.
—Me entende melhor que a maioria.
—Não se empolgue. Você é má. Não é difícil decifrar as coisas que faz a fim de obter o que deseja. Agora, me diga porque os véus.
Ela acenou para um servo vir até ela e tirou o véu.
—Gostaria de olhar para isto?
Quinn escondeu o estremecimento, enquanto olhava para o rosto cheio de cicatrizes e queimado da serva. Ela foi uma druida orgulhosa, mas agora mantinha os olhos baixos e seu rosto escondido. Mesmo seu cabelo vermelho escuro foi despojado de sua cabeça.
Deirdre jogou o véu para o servo e acenou.
—Não pense em tentar voltar meus servos contra mim. Toda a sua magia é minha.
—Como conseguiu isso sem matá-los?
Um sorriso malicioso puxou seus lábios finos.
—Há muito que sou capaz de fazer com meu poder, Quinn. Mais do que jamais poderia imaginar.
—Então, por que demorou tanto tempo para me capturar?
Ela suspirou.
—Está ficando cansativo.
Ele olhou para ela com desdém.
—Não acho que tem o poder que deseja que todos pensem que tem.
—Devo provar isso para você, então? Talvez um de seus homens do Poço como exemplo?
Quinn fechou a boca. Não queria ver ninguém ferido por suas ações.
—Deixe-os sozinhos.
Ela riu, o som áspero e oco.
—Não é preciso muito para deter essa sua língua.
Quinn se virou para Lavena mais uma vez. As chamas negras a devoravam, mas seu corpo permanecia incólume. Mas pela reação de Deirdre quando tentou tocá-la, isso o machucaria.
Se perguntou se Isla sabia como sua irmã estava sendo usada, e adivinhou que sim.
Quinn tentou imaginar o que sentiria se Lucan ou Fallon estivessem no lugar de Lavena. Uma coisa sabia com certeza, não permitiria que Deirdre os prejudicasse. Mataria a si mesmo antes de Deirdre poder colocá-los em tal estado.
—Não vê o quanto minha magia atinge, Quinn?
Ele endureceu quando Deirdre veio ficar ao lado dele.
—Vejo que usa e mata as pessoas que quer.
—Para mostrar minha boa fé, ofereci um presente como tenho certeza que Broc disse. O que quer em troca da livre concessão de sua descendência?
—Meus irmãos, — disse ele, embora soubesse que ela ia recusar.
Ela balançou a cabeça e olhou para ele como se fosse uma criança.
—Broc já disse a você que não vou conceder isso. Preciso dos seus irmãos.
Quinn não achava que podia desprezar ninguém como fazia com Deirdre. Sabia que Fallon e Lucan eram a resposta para tudo que Deirdre planejava, e sabia que não podia ser nada bom.
—Se não me der meus irmãos, vou voltar para o Poço. — Ele sabia que estava forçando Deirdre, mas não se importava. Enquanto seus irmãos estivessem livres de Deirdre, Quinn podia se concentrar em deixar seus homens e Marcail livres.
—Disse que recusava, — Deirdre respondeu, seu tom duro.
Quinn encolheu os ombros.
—Então é melhor eu voltar para o Poço.
Ele virou de costas e partiu para a porta. Se perguntava quanto tempo levaria antes que ela cedesse, porque pretendia fazê-la ceder ou ela não receberia nada.
—Pare, — disse ela quando ele alcançou a porta.
Quinn se virou com um suspiro exagerado.
—O que é?
—Sabe que preciso de sua semente.
—Por mais que me revolte, sim, eu sei.
Ela estreitou seus incomuns olhos brancos e caminhou na direção dele.
—Também preciso de seus irmãos.
—Não pode ter tudo.
—Posso. E vou.
—Não desta vez, — disse ele.
—Um compromisso, então?
Quinn a olhou em silêncio por um momento. Teria que ter cuidado e usar toda a astúcia que seu pai disse que tinha para garantir que Lucan e Fallon nunca fossem pegos por Deirdre. —Estou ouvindo.
—Vou deixar seus irmãos sozinho até nosso filho nascer. Quando a criança nascer, terei seus irmãos.
Quinn considerou suas opções, que eram poucas, e sabia que era o melhor que ia conseguir.
—Diga-me, por que não usou magia para me levar para sua cama?
—Se a criança da profecia está para vir a este mundo, tem que ser feita sem magia.
—E se eu não puder... tocar em você?
As narinas de Deirdre queimaram com raiva.
—Oh, Quinn, vou garantir que o faça.
—Sem magia?
—Sim.
Não havia como ele pudesse dormir ela. Ela era tudo que odiava no mundo.
—Temos um acordo? — Perguntou ela.
Já que Quinn sabia que não havia como, sem magia, ele ficar duro e montar nela, balançou a cabeça.
—Temos um acordo.
Com um estalar de dedos de Deirdre, um Guerreiro entrou na câmara.
—Chame os que estão atrás dos MacLeods.
—Senhora? — Perguntou ele.
—Faça-o. Agora, — ela exigiu.
O Guerreiro correu da câmara para cumprir suas ordens, e quando Deirdre se virou para Quinn, sabia que ela ia querê-lo mais cedo do que estava preparado.
—Preciso tomar banho, — disse ele antes que ela pudesse abrir a boca. —E preciso de novas roupas.
Ela sorriu, seu olhar entre as pernas.
—Um kilt, talvez?
—Prefiro túnica e calças que eu sempre usei.
—Uma pena, — disse ela com um suspiro. —Vou providenciar. Venha comigo.
Eles voltaram para seus aposentos onde a comida estava servida. O cheiro do assado de peixe, faisão, cordeiro fez água em sua boca e seu estômago roncar. Há tanto tempo que não tinha mais que pão e água que queria mergulhar no alimento e encher a boca com tudo isso de uma vez.
—Sirva-se, — disse Deirdre enquanto sentava para assistir.
Quinn a ignorou e pegou o cordeiro primeiro. Arrancou um pedaço de carne e o enfiou na boca. Uma explosão de sabor quase o fez gemer de satisfação.
Logo estava trinchando os alimentos e se sentou para desfrutar da pequena festa. Um servo serviu uma taça de vinho que só aumentou a diversão. Quanto mais comia, mais queria, e encheu o prato de madeira três vezes antes que estivesse cheio.
Quinn apoiou os cotovelos sobre a mesa e pensou como essa refeição seria melhor se estivesse cercado por seus irmãos, seus homens e Marcail. Então, realmente seria magnífica.
Em vez disso, estava nos aposentos privados de Deirdre enquanto ela salivava, esperando que ele subisse em sua cama.
—Seu banho está pronto, — a voz de Deirdre invadiu seus pensamentos.
Quinn levantou sem olhar para ela e seguiu o servo esperando para levá-lo ao banho. Uma grande banheira de madeira foi trazido para a câmara e enchia de vapor a água. O calor subia do banho, e Quinn não podia esperar para entrar.
Tirou suas roupas e rapidamente entrou na água. Fechou os olhos por apenas um momento antes que começasse a esfregar a sujeira do Poço de sua pele e cabelo, então raspou sua barba. Felizmente, Deirdre o deixou sozinho, embora a cama diante dele fosse um lembrete constante do que o aguardava.
Quinn não demorou muito tempo no banho. Saiu da água e se secou. Não ficou surpreso ao encontrar um conjunto de roupas numa cadeira e correu para vestí-las. Então subiu na cama e fechou os olhos.
Estaria dormindo quando Deirdre o encontrasse, e exausto demais para acordar e realizar seu "dever" com ela. Não era muito para um plano, mas era um começo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO VINTE E SEIS

Lucan varreu a área, e embora não conseguisse ver nada, sabia que algo estava lá fora. E esse algo eram Guerreiros.
—O plano não funcionou, — sussurrou Fallon de lado.
—Chegamos mais longe do que antes, e isso nos deu algum tempo para descansar e curar nossas feridas.
Fallon grunhiu em resposta. Olharam a terra ao redor e atrás das árvores. Nada mudou nos trinta minutos que estavam procurando, mas seus sentidos de Guerreiro diziam mais que seus olhos jamais poderiam.
—Quanto tempo quer esperar? — Lucan perguntou.
Fallon suspirou.
—Não quero esperar um momento sequer, mas estaremos em desvantagem. Vamos ser capturados se nos apressarmos.
—Concordo. Quero ir para a montanha, mas não assim. Não faremos nenhum bem a Quinn então.
—Talvez se enviarmos dois ou três lá fora e ver o que acontece?
Lucan assentiu.
—Gosto dessa ideia. Eu vou.
—Não, — disse Fallon. —O principal é que nenhum de nós seja levado.
Lucan descansou sua testa na árvore e soltou um suspiro de frustração.
—Vai ficar olhando. Se parecer que estou sendo levado, pode me ajudar.
O silêncio de Fallon disse a Lucan que não gostava do plano, mas Fallon estava pensando nele.
—Tudo bem, — Fallon finalmente concordou. —Fique onde eu possa ver você, irmão. Já perdi um de vocês, não posso perder outro.
Lucan balançou a cabeça, e se virou para abrir caminho lentamente até os outros.
—O que você vê? — Larena perguntou quando avistou Fallon.
O rosto de Fallon estava marcado por linhas sombrias.
—Os guerreiros estão lá. Não podemos ver quantos, mas estão esperando que a gente faça um movimento.
—Eu estou pronto para eles, — disse Hayden enquanto mordia uma maçã.
Lucan estava pronto, também, mas sabia que Fallon seria extremamente cuidadoso nesta batalha. Viu como Fallon pegava a mão de Larena e a puxava para perto dele.
Lucan sentia falta de Cara, e gostaria de tê-la ao seu lado, mas Cara não era uma Guerreira como Larena. Cara estava mais segura no castelo, mas não podia esperar para chegar até ela, abraçá-la, beijá-la.
—Três de nós vão sair e ver o que temos como saudação dos Guerreiros.
Lucan disse.
—Eu vou. Quem quer ir comigo?
Hayden se adiantou e deixou de lado sua maçã comida pela metade.
—Estou pronto.
—Não vamos mantê-los esperando, — Logan disse quando se moveu para ficar ao lado de Hayden.
Lucan balançou a cabeça e, em seguida, se virou para Fallon.
—O resto de vocês ficam escondidos.
Como se fossem um, se viraram e começaram a voltar para onde Lucan pela primeira vez sentiu os outros Guerreiros. Fallon, Larena, Ramsey e Galen assumiram seus postos nas árvores e chão para vigiar enquanto Lucan, Hayden e Logan continuavam andando.
Lucan flexionou suas garras, ansioso para livrar a Escócia dos Guerreiros do mal que se alinharam com Deirdre. Olhou para a direita para ver a pele vermelha de Hayden quando o loiro grande mostrou seus dentes num sorriso.
Quando Lucan olhou para a esquerda viu a pele prata de Logan. Logan sorriu para ele, pronto e ansioso, como qualquer um deles pela próxima batalha.
E assim como Lucan esperava, dez Guerreiros caíram das árvores à frente deles.
Hayden esticou o braço enquanto uma bola de fogo se formava em sua mão. Jogou no Guerreiro próximo e rapidamente formou outra.
Lucan se agachou e estava prestes a se lançar nos quatro Guerreiros próximos vindo na sua direção quando de repente eles pararam. Depois de um momento, os Guerreiros se viraram e correram de volta para as árvores.
—O que, em nome de tudo que é mais sagrado, aconteceu? — Logan perguntou.
Lucan encolheu os ombros.
—Não sei. Poderia ser uma armadilha. Sabem que vamos seguí-los.
—Merda, — Hayden rosnou e cerrou os punhos. —Estava apenas começando.
Lucan olhou por cima do ombro para Fallon, que estava sentado num galho alto de uma árvore. Depois de um breve aceno de seu irmão, Lucan fez sinal para Hayden e Logan segui-lo.
—Vamos ver onde os bastardos estão indo.
Mas quando alcançaram a ponta do monte e viram os Guerreiros continuar na direção da montanha, Lucan ficou num impasse. Algo estranho estava definitivamente acontecendo.
—O que aconteceu? — Fallon perguntou enquanto corria para o lado deles.
Lucan balançou a cabeça.
—Estão fugindo.
—Posso ver isso. O que quero saber é por quê?
—Tiveram medo de mim, — disse Hayden e deu um tapa no ombro de Lucan. —Vamos desfrutar da nossa vitória e libertar Quinn.
Lucan se virou para Fallon.
—O que você acha?
—Não tenho ideia, — disse Fallon. —Poderia ser qualquer coisa. Deirdre os chamou de volta, e a única razão para ela fazer isso é...
—Quinn, — Lucan terminou por seu irmão. —Quinn deve ter se entregado a ela.
—Mas ela quer todos nós, — disse Fallon.
—Agora que ela tem Quinn do seu lado, sabe que vou fazer tudo por ele.
Fallon passou a mão pelos cabelos e soltou uma respiração irregular.
—Acho que precisamos entrar na montanha. Agora.
—Acho que está certo.
***

Deirdre esperou tanto quanto pode para dar a Quinn algum tempo para si mesmo. Sabia que ele não a queria agora, mas pelo tempo que ficasse com ele, ele pensaria nela e apenas nela pelo resto de seus dias.
Ela sorriu enquanto sua antecipação crescia. Até gostava de vê-lo comer, como desejava vê-lo tomar banho, mas isso viria mais tarde. Agora ele era dela.
Ela esfregou as mãos e sorriu. Era realmente dela. Depois de todos estes séculos, tinha o homem que sempre quis. Deirdre levantou da cadeira e se moveu para a mesa onde a comida foi servida.
Derramou um pouco de vinho na taça e bebeu onde os lábios de Quinn estiveram há pouco tempo atrás.
Ela fechou os olhos e gemeu quando o provou misturado ao vinho. Seu sexo palpitava pela necessidade, e apenas imaginá-lo deslizando seu pênis dentro dela a deixou molhada e dolorida.
Deirdre passeou pela câmara até que não aguentou mais. Abriu a porta e espiou dentro para encontrar a banheira vazia. Com um leve empurrão, abriu mais a porta e procurou na câmara por Quinn.
Não foi até que olhou para a cama que o viu estendido de costas, um braço jogado sobre os olhos. A raiva a encheu ao encontrá-lo dormindo. Ele deveria ter vindo a ela quando terminou o banho, mas foi para a cama.
Esperando por você, talvez?
Ela considerou isto. Poderia ser, mas Quinn não parecia decidido a ir para a cama com ela.
A menos que fosse um ardil.
Deirdre gostava quanto mais pensava nisso.
Ela caminhou até a cama e arrastou as mãos dos pés de Quinn até seu peito. Ele roncou um pouco quando ela puxou as botas e as colocou ao lado da cama. Então, se endireitou e olhou para ele.
Sabia em primeira mão o que os Guerreiros experimentavam no Poço e sono não era algo que Quinn tinha muitas vezes. Uma estranha emoção nova, plena a encheu, quase... bondade enquanto considerava lhe permitir descansar.
Deirdre se moveu para o outro lado da cama e rastejou ao lado dele. Tocou sua mandíbula por um momento antes de se virar de lado para dormir. Tinham a eternidade juntos agora. O que eram mais algumas horas?
Os olhos de Quinn entreabriram quando Deirdre se afastou dele. Não podia acreditar que seu engano funcionou, mas estava desesperado por qualquer coisa para não tocá-la. Era ruim o bastante que ela estivesse na mesma cama com ele.
Fazia muito tempo desde que se deitou numa cama. Acordar preso na cama de Deirdre não contava em sua mente. Mesmo quando ele e seus irmãos voltaram para o castelo foi incapaz de dormir na cama do seu velho quarto. A noite era seu território de caça. Corria pela terra que tanto amava, indiferente aos animais que via.
Quando sua solidão ficava muito terrível e sentia a necessidade de aliviar seu pau, encontrava uma cidade e fazia uso rápido de uma mulher.
Então percorria o castelo e as falésias. Às vezes cochilava por uma hora ou duas, mas estava sempre acordado para ver o sol despontar no horizonte.
Mas foi a suavidade da cama que o atraiu agora, lembrando o quão bom seria ter Marcail ao lado dele. Ele fez amor com ela várias vezes, mas nenhuma vez numa cama com lençóis de linho frescos sob seu belo corpo.
Ele queria vê-la à luz do sol, festejar em suas curvas à luz do dia. Queria vê-la estendida na sua cama, o xadrez dos MacLeod abaixo dela com a luz de velas e tochas iluminando sua pele com um brilho dourado.
Havia tanta coisa que queria fazer com Marcail. Muito.
O peito de Quinn doía quando imaginava Marcail amontoada na sua caverna, na fria escuridão.
Não era um lugar para uma Druida, especialmente uma que significava tanto para ele. Sabia que se importava com Marcail, mas o carinho era muito mais profundo que a responsabilidade que deveria sentir. Quinn não tinha certeza de quando seus sentimentos mudaram, apenas sabia que mudaram.
E agora não seria capaz de tocá-la, beijá-la novamente.
Não queria que Marcail visse o que ele se tornaria com Deirdre. Quinn não seria capaz de completar seu plano, se soubesse que Marcail olhava para ele com vergonha e repulsa.
Talvez devesse ter dito a Marcail o que pretendia fazer, mas não queria dar-lhe uma chance de falar com ele sobre qualquer coisa. Como estava, queria correr de volta para ela e deixar Deirdre torturá-lo se quisesse.
Exceto que a tortura seria em alguém, menos nele, e era isso que o mantinha em sua cama ao invés de retornar para Marcail.
Os próximos dias seriam os mais difíceis. Não poderia manter Deirdre longe muito tempo antes que exigisse o uso de seu corpo.
Pelo menos seus irmãos estavam a salvo, por enquanto, e continuariam a estar até a criança nascer. Quinn estremeceu ao pensar como uma criança dessa seria criada. A concepção de um bebê deveria ser uma ocasião alegre. Precisava se fortalecer sabendo que teria que matar a criança na primeira chance que tivesse. Algo tão mal não podia andar nesta terra, mesmo por um momento.
Mas que tipo de homem era esse que conspirava para matar seu próprio bebê, quando lamentou tanto a perda de um filho que quase o destruiu?

 


CAPÍTULO VINTE E SETE

Marcail balançou com a música hipnotizante. Estava em êxtase enquanto ouvia o canto mágico mais uma vez. Por um tempo, pensou que havia desaparecido de si para sempre, mas um pensamento de Quinn e a música voltou numa onda de som.
As palavras ficaram mais altas, mas ainda só conseguia entender algumas delas. Sentiu que eram importantes, mas para quê, não sabia.
Ela se deixou levar pela melodia, a deixou cercá-la e puxá-la em sua magia. Parecia como se centenas de vozes cantassem, mas não podia ver ninguém.
A brisa que se movia suavemente ao seu redor começou a girar e ficar mais forte quando o canto se levantou. Era como se Marcail estivesse no centro de tudo enquanto a magia se movia em sua direção, em seguida, se retirava apenas para avançar novamente, chegando cada vez mais perto, cada vez vindo para ela.
Ela se sentiu protegida, como se pertencesse à magia. Quanto mais a tocava, mais forte se sentia. Era um sentimento maravilhoso, lindo, que queria que nunca acabasse.
As palavras do canto se tornaram claras num piscar de olhos, seu significado conhecido. Ela engasgou, seu coração falhou uma batida quando percebeu que o mantra era o feitiço para ligar os deuses.
Marcail não conseguia acreditar que finalmente foi capaz de encontrar a magia, embora no fundo de sua mente, sabia que não fez isso sozinha. Foi sua avó? Ou era outra coisa?
Não importava. Seria capaz de ajudar Quinn a derrotar Deirdre. Excitação derramou através dela pela perspectiva. Sua concentração foi quebrada e a bela melodia desapareceu enquanto mãos suaves a sacudiam. Marcail abriu os olhos para encontrar Arran e Duncan de cócoras diante dela.
—Por que fez isso? — Gritou ela. Em vez de ouvir e memorizar o canto, estava pensando em Quinn. Só sabia metade do feitiço, e metade não era bom o suficiente.
—Está sentada há horas, Marcail, — disse Arran. —Ficamos preocupados.
Ela mordeu o lábio. Não queria que soubessem que ela estava tão perto de libertá-los, pelo menos não ainda. Se a notícia se espalhasse antes que descobrisse o resto do feitiço, não faria nenhum bem. Além disso, tinha que se preocupar com Deirdre descobrir e terminar toda a esperança.
Marcail levantou de sua posição no chão e se moveu para a água para salpicar o rosto.
—Da próxima vez, por favor, não me perturbe. Não estou sendo machucada de alguma forma.
—Estava sentada assim desde quando Quinn foi levado. Quase um dia inteiro, — Duncan disse.
Marcail parou. Não percebeu que o canto a puxou tão completamente.
Teria voltado se os Guerreiros não a acordassem? Não tinha certeza. Sabia que teria que dizer-lhes antes que tentasse encontrar o canto novamente.
—O que aconteceu enquanto estive... descansando? — Perguntou ela.
Arran balançou a cabeça, o rosto sombrio.
—Nada, e é isso que me incomoda.
—Faz apenas um dia, — disse Marcail. —O que esperava que acontecesse?
—Alguma coisa, — respondeu Duncan. —É quase como se a montanha estivesse prendendo a respiração.
Marcail sentia a mesma coisa.
—Sei o que quer dizer. É mais provável que leve dias ou semanas antes que Quinn possa fazer algo para nos ajudar a escapar. Até então, precisamos ficar vigilantes como ele pediu.
Arran olhou para a entrada da caverna.
—É mais que isso, Marcail.
Ela olhou de Arran para Duncan, e em seguida, de volta para Arran.
—Diga-me.
Duncan olhou para longe. Foi Arran quem finalmente falou.
—Vimos Charon falar com alguém antes.
—Então, — disse ela com um sorriso. Isso era o que estavam preocupados? Isso não era nada.
—Charon provavelmente quer governar o Poço como Quinn fez. Parece que Charon vai falar com alguns dos guerreiros para colocá-los do seu lado.
Arran engoliu em seco e coçou o pescoço com suas garras brancas.
—Ele não estava falando com os guerreiros no Poço, estava? — Ela perguntou quando a apreensão começou a assombrá-la novamente.
Arran balançou a cabeça.
—Não tenho certeza com quem falou na porta, mas quem fosse, ficou lá por um tempo.
Marcail ficou doente quando percebeu.
—Eu sei o que ele estava fazendo.
—O quê? — Duncan perguntou.
—Quando Quinn foi levado da primeira vez, eu disse a Charon para dizer a Deirdre que sabia o feitiço, esperando que ela me levasse no lugar de Quinn.
Arran esmurrou as rochas.
—Merda!
Duncan resmungou alguma coisa sob sua respiração.
—Será que Quinn sabe que fez isso? — Arran perguntou.
Ela assentiu com a cabeça.
—Disse a ele. Não ficou feliz. Charon não ia fazê-lo, no entanto. Não acho que diria a Deirdre sobre mim, porque ficou angustiado ao saber que eu tinha o feitiço e estava sob controle de Deirdre.
—Não pode confiar em Charon, — Duncan resmungou. —Ele só se preocupa com ele mesmo. Ninguém mais importa para ele. Ninguém.
Ela percebeu isso agora. Infelizmente, já era tarde demais para ela.
—Virão por mim. Nenhum de vocês deve impedi-los de me levar.
—Juramos a Quinn que iríamos protegê-la, — disse Arran.
—O que vão fazer é serem agredidos e mortos, — argumentou. —Deixe que me levem. A melhor coisa que podem fazer por mim e Quinn é permanecerem vivos e ilesos.
Arran suspirou alto, obviamente, não gostando de sua lógica.
Ela se virou para Duncan.
—Já teve mais alguma dor que precise ajudá-lo antes que eu seja levada?
—Nada que eu não aguente, — disse ele. —Não estão mais batendo em Ian.
Ela colocou a mão no braço de Duncan, em seguida, fez o mesmo com Arran.
—Ambos são homens bons. Quinn está contando com vocês. Não o desapontem.
—Nunca, — jurou Duncan.
Ela sorriu porque ouviu a verdade em suas palavras.
—Deirdre não pode me matar, lembrem-se.
—Não pode matá-la, mas pode mandar outros fazê-lo, — disse Arran. —Não se esqueça disso, Marcail.
Como podia, quando estaria em breve de frente com essa possibilidade? E se sabia algo sobre Deirdre, sua morte seria muito, muito dolorosa.
—Não pode ir para ela, — disse Duncan. —Se fizer isso, nunca voltaremos a ser os homens que já fomos.
Marcail doía pelos Guerreiros.
—Não vejo como possa ter muita escolha. Se pudesse, ficaria com vocês.
—E se dissermos aos outros Guerreiros no Poço o que carrega em sua mente? Podem nos ajudar a protegê-la, — disse Arran.
Ela balançou a cabeça.
—Poderia tentar, mas não acho que isso vá funcionar. Além disso, quer que todos saibam sobre um feitiço que não consigo lembrar?
—O que quero é que saibam que podemos nos livrar dos deuses para sempre.
—Você pode realmente? — Perguntou ela. —Deirdre pode mais uma vez desvincular seus deuses, e imagino que há Guerreiros com ela que não desejam ser mortais novamente.
Arran amaldiçoou e se afastou. Ela entendia sua decepção porque se sentia da mesma maneira.
—Que escolha temos? — Duncan perguntou. —Precisa ser protegida de Deirdre.
Marcail sentiu a tristeza pesar sobre seus ombros.
—Temo que seja impossível.
***

Quinn fingiu dormir bem depois da hora que Deirdre levantou da cama. Quando ela ficou ao lado dele e passou as mãos sobre seu corpo, fez tudo que podia fazer para não empurrar as mãos longe dele. Até que finalmente deixou a câmara, e ele se levantou da cama. Encontrou um jarro de água e espirrou um pouco no rosto.
Estava sentado para puxar as botas quando a porta abriu e Deirdre ficou parada, a fúria piscando de seus olhos brancos maus.
—Não dormiu bem? — Perguntou ele, indiferente sobre o que a irritou tão cedo pela manhã.
—Meu sono não lhe diz respeito neste momento.
—É mesmo? — Ele puxou sua segunda bota e levantou. —Então o que deve me preocupar?
—Marcail.
Quinn sentiu como se alguém tivesse enfiasse a mão no seu peito e arrancasse seu coração. Não conseguia puxar ar para seus pulmões. O chão oscilou sob seus peés, pois estava travado entre a fúria e a confusão sobre como Marcail foi descoberta.
Deirdre andou até ele.
—Me disseram que lhe deu abrigo no Poço. Por que não a matou?
—Por que você não o fez? — Quanto mais Deirdre falava sobre Marcail, mais furioso ele ficava. Deirdre não era digna de pronunciar o nome de Marcail.
—Tinha minhas razões, — Deirdre respondeu. —A Druida é um incômodo, Quinn. Joguei-a no Poço para que fosse morta. Deveria ter permitido que isso acontecesse.
Ele cruzou os braços sobre o peito.
—E por que isso?
—Ela disse que provavelmente sabe o feitiço para vincular seus deuses. Ela mentiu. Ela tem o feitiço que irá permitir que seus deuses assumam completamente.
Quinn meneou a cabeça e bufou.
—Pare com as mentiras. Marcail tem o feitiço para vincular nossos deuses. Não a matou você mesma porque teme o que vai acontecer com você se machucá-la. Todos os feitiços de proteção devem ser uma irritação para alguém tão todo-poderosa como você.
—Então não me conhece de fato. Não temo nada.
—Não é verdade. Teme a magia da avó de Marcail. Vi o que pode acontecer a alguém que machuca Marcail. Não é algo em que queira se meter, Deirdre.
Uma única sobrancelha branca subiu na testa de Deirdre.
—Acha que sabe tudo, não é?
—Matou quase todos os Druidas que já capturou, mie e drough por igual, de modo que possa reivindicar sua magia. Estive me perguntando, por que não quer a poderosa magia que corre no sangue de Marcail? Foi suficiente fácil descobrir.
Deirdre caminhou lentamente em torno de Quinn até que estava às suas costas.
—Diga-me, Quinn, qual seu interesse em Marcail?
Ele sabia que devia escolher suas palavras cuidadosamente. Não que Deirdre soubesse como eram profundos seus sentimentos por Marcail, especialmente porque ainda tentava decifrá-los para si mesmo.
—Eu a salvei. É minha responsabilidade.
—Hum. Gostaria de saber se seus sentimentos são mais profundos que isso. Dormiu com ela, então deve ter encontrado algo ao seu gosto.
Quinn a encarou. Não queria estragar o que aconteceu entre ele e Marcail, mas também não podia deixar que Deirdre suspeitasse de algo.
—Fazia muito tempo que deitei com uma mulher. Estava agradecida por que a salvei e me pagou com o uso de seu corpo.
—Poderia ter a mim, — disse Deirdre.
—Prefiro cortar minha própria garganta.
Deirdre de repente sorriu.
—Ah, mas meu querido Quinn, concordou em ir para a cama comigo em troca de deixar seus irmãos sozinhos.
—Eu o fiz. Não posso faltar em meus votos.
—Não tenho dúvida que vai fazer sua parte, mas me pergunto quanto tempo vai tentar me manter afastada.
Quinn cerrou o maxilar. Não esperava que Deirdre descobrisse Marcail tão rapidamente. Porra.
—O que quer? — Ele perguntou com a voz mais calma que podia.
Ela riu.
—Sempre gostei de ter este tipo de poder. É emocionante.
—O quê. Você. Quer?
—Quanto a vida de Marcail vale para você?
Quinn queria dar um soco no rosto de Deirdre, arrancar o coração de seu corpo e jogá-la num fogo.
—Não quero ninguém mais morrendo.
—E Marcail? O que fará para garantir que eu a deixe viver?
—O que você quer?
—Você. Na minha cama imediatamente.
Quinn passou a mão pelo rosto. Não tinha outra escolha. Não podia viver consigo mesmo se fosse a causa da morte de Marcail, só porque achava Deirdre repulsiva.
—Com uma condição. Você permite que Marcail deixe a montanha. E quero ver por a mim mesmo que a está libertando.
Deirdre levantou um ombro.
—Concorda em ir para a cama comigo depois que ela se for?
Ele balançou a cabeça, incapaz de dizer as palavras. Como as coisas deram tão errado tão cedo?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO VINTE E OITO

—Finalmente, — Fallon disse quando estavam em pé diante da montanha de Deirdre.
—Não vai ser fácil, — afirmou Ramsey quando olhou para o monte de rocha diante deles.
Logan riu.
—Entrar vai ser fácil, a parte de sair é que estou preocupado.
—Talvez devesse ficar atrás, — disse Hayden.
—E deixar você se matar? — Logan bufou. —Precisa de mim para observar sua volta.
Fallon sacudiu a cabeça pela brincadeira entre Logan e Hayden. A necessidade de se apressar e encontrar Quinn era demais para suportar, mas por causa de Larena, Lucan e os outros, Fallon era cuidadoso.
—Sabe o que tem que ser feito, — disse Larena.
Ele franziu a testa, odiando que estivesse certa.
—Prefiro não.
—É a razão pela qual vim, Fallon.
Lucan assentiu.
—É preciso deixá-la entrar.
Fallon sabia que o poder de Larena de se tornar invisível permitiria encontrar Quinn, mas pensar em sua esposa, a mulher que segurava seu coração em suas mãos, na montanha de Deirdre o deixava frio.
—Posso me cuidar, — disse Larena. —Sou uma Guerreira. Tenho provado para você inúmeras vezes que posso cuidar de mim.
—Sim, amor, sei que pode. Só gostaria de estar ao seu lado, apenas no caso.
Ela se inclinou e beijou-o.
—E eu te amo por isso, mas precisa me deixar ir agora. Temos que encontrar Quinn.
Fallon com relutância recuou.
—Não fique mais do que precisar. Encontre-o e saia.
—Encontrá-lo vai levar mais tempo, — disse Galen. —Quinn poderia estar em qualquer lugar na montanha.
Fallon envolveu ambos os lados da face de Larena.
—Encontre Deirdre primeiro. Se Quinn não estiver com ela, é provável que descubra onde está preso. Então será uma questão de encontrar onde está localizado depois disso.
—Vou encontrá-lo, Fallon, — prometeu.
—Não tenho nenhuma dúvida. — Ele a puxou em seus braços e a abraçou. —Só me prometa que não será pega.
Ela se inclinou para trás para olhar em seus olhos.
—Vou voltar para você. Não há outro lugar onde eu possa pertencer.
Custou toda a vontade de Fallon libertá-la. Num piscar de olhos ela se transformou, sua espetacular pele iridescente brilhando à luz do sol um momento antes de se tornar invisível. Larena soltou as roupas rapidamente depois disso.
Sentiu uma pressão suave em seu rosto antes que ela sussurrasse:
—Eu te amo.
—Eu te amo, — disse ele. —Volte para mim, Larena.
Não houve resposta, não que precisasse de uma. Ela voltaria se pudesse. Era sua vida, e se por algum motivo Deirdre prendesse Larena, Fallon moveria céus e terra para libertar sua esposa.
—Vai dar tudo certo, — disse Lucan.
Ramsey balançou a cabeça em concordância.
—Graças a Deus temos Larena do nosso lado.
—Sim, — disse Fallon, embora desejasse ser o único que pudesse ficar invisível. Ele se colocaria em qualquer tipo de perigo no lugar de sua esposa.
***
Marcail soube no momento que a porta do Poço abriu que vieram por ela. Na entrada da caverna estava o alto Guerreiro alado. Arran e Duncan se recusaram a deixá-lo passar, de modo que Marcail foi até ele.
—Veio por mim? — Perguntou ao Guerreiro.
—Sim.
—Broc, — disse Arran. —Não a leve.
Portanto, este era Broc, de quem Quinn falou muitas vezes. Marcail olhou para suas grandes asas e não pode evitar se perguntar como seriam abertas.
—Ele não tem escolha, — disse Marcail.
—Todo mundo tem uma escolha, — disse Duncan.
Marcail colocou as mãos sobre Duncan e Arran quando passou por eles para ficar ao lado de Broc. Enfrentou os dois Guerreiros que a protegiam.
—Lembrem-se do que eu disse.
—Marcail, — advertiu Arran.
—Deixe-a, — disse Broc. —Ela tem que vir comigo agora.
As pernas de Marcail tremiam tanto que ameaçaram dobrar. De alguma forma conseguiu acompanhar Broc pelo Poço, sem se fazer de tola. Quando passou pela Caverna de Charon, viu o Guerreiro cobre olhando para ela, seus olhos assombrados.
Não mostrava a expressão de um homem que conseguiu o que queria. Na verdade, parecia quase derrotado.
Quando ela e Broc deixaram o Poço e a porta se fechou atrás dela, Marcail puxou uma profunda respiração e tentou se manter firme como estava na caverna.
Não era fácil.
Ela não tinha ideia de onde Broc a levaria e se a levaria à morte iminente.
—Aguente, — disse Broc por cima do ombro.
Marcail tinha que levantar as saias e praticamente correr para acompanhar seus passos largos. O Guerreiro azul escuro parecia estar com muita pressa.
—Já viu Quinn? Ele está bem? — Ela sabia que não devia perguntar, mas precisava saber.
—Mantenha seus pensamentos para si mesma.
Ela parou.
—Não.
Broc abrandou, depois parou e se virou para encará-la.
—O que disse?
—Eu disse não. Quero saber de Quinn ou não vou me mover.
Ele deu um passo em sua direção.
—Poderia jogá-la sobre meu ombro.
—Podia.
Depois de um momento Broc suspirou.
—Quinn está bem. Deirdre não o machucou. Agora, venha comigo, Druida.
Agora que Marcail sabia que Quinn não estava sendo machucado, continuou atrás de Broc. Sabia em seu coração que Deirdre planejaria uma morte dolorosa para ela.
Marcail nunca teve medo de morrer, mas queria mais tempo com Quinn.
Essas horas preciosas foram as melhores de sua vida, apesar de serem gastas na Montanha de Deirdre.
Mas seu arrependimento era não lembrar do feitiço. Quase conseguiu. Esteve tão próxima. Se apenas reconhecesse o que era esse canto antes, já poderia ter o feitiço e libertado tantos homens de seus deuses, bem como frustrar Deirdre.
Marcail parou pouco antes de atingir as asas sem penas de Broc quando ele deu uma parada súbita. O Guerreiro a olhou e apontou para uma porta que estava aberta e levava a uma câmara escura.
—Precisa ir lá.
Marcail olhou para a câmara e respirou calmante.
—Diga-me o que me espera.
—Liberdade. Se você se apressar.
Ela franziu a testa, os lábios abertos em confusão.
—Está brincando?
—Não. Entre, — disse ele e tomou seu braço para a empurrar no quarto.
Marcail girou para ver que Broc a seguiu e fechou a porta atrás dele.
—O que está acontecendo? — Ela exigiu.
—Estou tentando ajudá-la e Quinn.
Ela queria acreditar em Broc, mas desde que não podia ver seu rosto, não conseguia olhar em seus olhos e ver suas emoções.
—Existe uma luz?
Tão logo disse as palavras, uma vela acendeu. Broc acendeu mais duas antes de cruzar os braços sobre o peito.
—Diga-me porque está me ajudando, — ela insistiu.
Broc deu um aceno lento da cabeça.
—Será que isso importa? Tenho minhas razões.
Marcail queria saber as razões, mas podia dizer, pelo conjunto de sua obstinada mandíbula que não tiraria mais nada dele. Tinha que decidir se confiava nele ou não, e com sua vida na mira, não tinha muita escolha.
—Tudo bem.
—Ótimo. Agora, vou ajudar Quinn a sair, mas primeiro preciso que fique longe de Deirdre. Ela descobriu que estava no Poço.
De alguma forma, não a surpreendeu.
—Será que Charon disse a ela?
—Sim, — murmurou Broc. —Não culpe o Guerreiro, no entanto. Deirdre tem maneiras de extrair informações, a pessoa querendo dar ou não. Estou surpreso que fosse capaz de permanecer no Poço como fez.
—Foi Quinn. Ele me manteve segura.
Broc assentiu.
—Todo mundo sabe disso.
—Deirdre não ficará feliz com ele.
—Ela me mandou levá-la para ela. Não sei de seus planos para você, mas não devem ser bons. Ouvi dizer que vai usar você para conseguir Quinn em sua cama mais rápido.
Marcail se inclinou contra a parede e apertou os olhos.
—Querido Deus. Isso não pode acontecer. Quinn não pode dar-lhe o bebê que ela quer.
—Concordo. Vou dizer a Deirdre que você escapou.
—Será que ela não vai puni-lo?
Um dos lados da boca de Broc se ergueu num meio sorriso.
—Posso resistir a ela. O importante é você sair da montanha. Leve isto, — disse ele e entregou o que parecia ser um véu negro.
—O que é isso?
—Os servidores o usam. Vai cobrir seu rosto e mantê-la despercebida. Cuidado com o cabelo, contudo. Todas as mulheres tiveram seu cabelo arrancado. Nenhuma de vocês pode mostrá-lo.
—Meu vestido importa? — Ela disse quando olhou para baixo para encontrá-lo manchado.
—Sim. Consegui um dos vestidos dos empregados para você também.
Ela orou que Broc realmente a estivesse ajudando e não a levando para Deirdre se divertir.
—Obrigada.
—Os servos mantêm suas cabeças baixas e não falam a não ser se perguntados. Deve ser capaz de se mover livremente. Para sair da montanha, precisa sair dessa câmara e virar à direita. O corredor é longo, mas permaneça nele. Não arrisque descer qualquer das escadarias. Se ficar no corredor principal, chegará ao nível superior.
Ela olhou para ele, absorvendo tudo que dizia.
—Entendo.
—Há uma porta no nível superior. Vai ter que passar pelas câmaras de Deirdre. Suas portas estão sempre fechadas e Guerreiros de guarda. Depois de passá-las, vai pegar o corredor seguinte pela esquerda. Ele vai levá-la até um lance de escadas até a porta. A porta não pode ser vista facilmente pelos mortais. Vai ter que procurar a maçaneta.
—Primeiro corredor à esquerda depois da câmara de Deirdre, — repetiu.
—Não vou poder ficar com você. Quando eu sair, vou ter que dar o alarme imediatamente para que Deirdre não suspeite. Se troque e saia daqui assim que puder.
Marcail lambeu os lábios e engoliu.
—Certo.
Ele parou na porta e se virou para olhar para ela.
—Boa sorte.
—Obrigada, Broc. Se precisar de alguma coisa, tudo que precisa fazer é pedir.
Ele deu um breve aceno de cabeça, e então se foi.
Marcail saiu de seu vestido e correu vestir o outro dada a ela. Era grosseiro e desbotada de toda cor, mas a ajudaria a se misturar. Deixou o cabelo enfiado na parte de trás do vestido e puxou o véu sobre a cabeça, certificando-se que seu rosto estava coberto.
O véu era longo e passava dos ombros, e não era fácil ver através do material escuro. Qualquer coisa, no entanto, era melhor que o que a esperava com Deirdre.
Marcail soprou as velas e abriu a porta. Olhou primeiro numa direção, então na outra antes de entrar no corredor. Manteve a cabeça baixa como Broc aconselhou.
Broc não mentiu sobre espalhar o alarme imediatamente. Vários Guerreiros vieram correndo em sua direção. O coração de Marcail batia tão alto em seu peito, que tinha certeza que seria ouvido.
Parou e se colocou de costas contra a parede para permitir que os Guerreiros passassem. Eles não olharam em sua direção enquanto corriam pelo corredor.
Marcail sorriu para si mesma quando o alívio se derramou através dela. Graças a Broc, sairia da montanha, com certeza.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO VINTE E NOVE

Quinn olhou para a parede de pedra na frente dele. Não levantou dos pés da cama de Deirdre desde que descobriu que ela sabia de Marcail.
Tudo que conseguia pensar era em Marcail e seus extraordinários, impressionantes olhos azul-turquesa e suas pequenas tranças que emolduravam seu rosto e estavam presas por bandas de ouro. Podia ainda saborear a doce inocência de seu beijo, ainda sentir seus braços em torno dele, e como foi o primeiro a despertar os desejos de seu corpo.
Pensou que ela estaria segura no Poço até que pudesse libertá-la e a seus homens. Como esteve tão errado? Quem disse a Deirdre?
E então soube. Charon.
O bastardo de pele cobre pagaria por colocar a vida Marcail em perigo, Quinn se prometeu. Gostaria de fazer Charon sofrer por muito tempo e repetidamente.
Quinn passou as mãos pelo seu cabelo quando abaixou a cabeça em seu peito. Deirdre o deixou em seus aposentos, trancado, tinha certeza. Ela não disse nada, apenas se virou e saiu quando um dos wyrran sussurrou algo em seu ouvido. Não tinha certeza se Deirdre liberaria Marcail como ele pediu ou não.
Talvez pudesse falar com Deirdre para não matá-la. Pelo menos se Marcail estivesse em algum lugar da montanha, ele seria capaz de alcançá-la de alguma forma. Mas sabia que Deirdre não ficaria satisfeita até Marcail estar morta. Deirdre era muito rancorosa para fazer qualquer outra coisa.
Quinn não achava que podia odiar Deirdre mais, mas parecia que estava errado. Estava com raiva, sim, mas a tristeza por perder Marcail superava a fúria.
Olhou para suas mãos. Suas garras não eram visíveis, e sua pele não tinha nenhum indício da negritude total. Era quase como se o deus não estivesse mais dentro dele.
A porta da câmara se abriu. Quinn não se virou para olhar Deirdre. Podia sentir sua magia negra e o mal dentro dela.
—Marcail está esperando, — disse Deirdre. —Está mais que insistente em deixar minha montanha. Não entendo como alguém pode querer deixar este lugar maravilhoso.
Quinn não se preocupou em responder. Levantou e enfrentou Deirdre, grato que Marcail seria capaz de sair.
—Leve-me para ela.
Deirdre levantou uma sobrancelha branca.
—Não tente falar com ela, Quinn. Estou permitindo que a veja. Isso deve ser bom o suficiente.
Não era, mas caso se queixasse, Deirdre provavelmente o manteria na câmara.
—Leve me para ela, — ele repetiu.
Deirdre se virou e saiu da sala. Quinn a seguiu, indiferente das escadarias e entradas por que passou. Sua atenção estava concentrada toda em Marcail.
Quando a viu, foi como uma explosão de luz solar no rosto. Estava tão bonita. Simplesmente olhou para a pequena mulher com suas curvas cheias que capturaram sua atenção tão rapidamente.
Queria ir até Marcail e pegar uma de suas tranças, que sempre caiam em seu rosto. Queria se inclinar abaixo e inalar o cheiro do sol e chuva que era só dela.
Mas teria que se contentar apenas em vê-la.
Os olhos azul-turquesa de Marcail se juntaram aos dele. Ela deu um pequeno sorriso antes que seguisse o wyrran até o conjunto de escadas onde uma porta estava aberta.
Quinn se voltou e deparou com um dos servos de Deirdre. Ela suspirou, e Quinn murmurou um pedido de desculpas. Estava perdido no perfume Marcail, um cheiro que sabia que nunca desfrutaria novamente.
Ele não olhou para o servo, não quando Marcail estava prestes a ser perdida para sempre.
Assim que Marcail atravessou a porta, Quinn subiu as escadas, três degraus de cada vez e ficou na porta.
—Eu disse que iria libertá-la, — Deirdre disse quando veio ficar ao lado dele.
Quinn assentiu com a cabeça e viu Marcail descendo a montanha na traiçoeira neve.
—Então você o fez.
—Está pronto para manter sua palavra?
Ele suspirou e virou a cabeça para ela.
—Estou.
—Ótimo. Retorne para meu quarto e me espere. Tenho um negócio... Inacabado que devo atender primeiro.
Quinn desceu as escadas e passou pelo servo que tinha pisado. Ela não curvou a cabeça como os outros faziam, e não pode evitar, mas sentiu como se ela olhasse para ele.
Tudo na montanha de Deirdre era estranho, então não pensou muito sobre o servo. Voltou para a câmara de Deirdre e sentou em cima da cama.
Deve estar exaltado que Marcail tinha sua liberdade, mas o peito ainda se sentia pesado. Seus irmãos estariam sozinhos e Marcail estava fora da montanha. Era porque seus homens ainda estavam trancados? Tinha que ser, Quinn supôs. Conseguiu quase tudo que queria de Deirdre.
Agora, a parte mais difícil estava diante dele.
***

Larena correu tão rápido que podia pelo corredor. Ramsey tinha razão, era decididamente muito fácil entrar na Montanha Cairn Toul.
Uma vez que estava no interior da base da montanha, Larena se levantou e ouviu os Guerreiros. Ouviu falar de uma Druida que de algum modo fugiu de Broc.
Larena não sabia se a Druida realmente fugiu ou se Broc a ajudou. Se era a mesma mulher que Quinn ajudou, então estava certa que Broc a estava ajudando.
Larena só esperava que a druida fosse capaz de ficar fora do caminho de Deirdre e se libertasse.
Tanto quanto Larena queria ajudar a mulher, sua primeira prioridade era Quinn. Pensar em voltar para Fallon e Lucan para dizer-lhes que não encontrou Quinn era algo que se recusava a fazer. Se ao longo do caminho fosse capaz de ajudar Marcail ou qualquer outra coisa, então Larena faria isso.
Reduziu a velocidade e chegou num impasse, pois um grupo de Guerreiros vinham em sua direção. Não podiam vê-la, mas se não saisse do caminho, topariam com ela.
Larena abriu a primeira porta que viu e entrou. A câmara estava vazia, embora sangue seco se espalhasse pelas pedras aos seus pés.
Quando os Guerreiros passaram, ela ouviu o nome de Quinn ser mencionado. Saiu da câmara e seguiu os Guerreiros tempo suficiente para saber que Deirdre convenceu Quinn a se virar para o lado dela.
A notícia quebraria o coração de Fallon. Larena balançou a cabeça, ainda determinada a encontrar Quinn e ver por si mesma.
Se virou e refez seus passos. Ramsey e Galen disseram que provavelmente encontraria Quinn nas câmaras de Deirdre se não estivesse mais sendo mantido como prisioneiro. E depois de ouvir os Guerreiros, era óbvio que Quinn não estava mais nas masmorras.
Uma vez que encontrasse Quinn, então o perigo realmente começaria. Para falar com ele, teria que estar sozinho. Desde que não a conhecia, havia uma chance que não quisesse acreditar nela. Mas tinha algo que o faria acreditar.
***

Deirdre bateu as unhas compridas na parede de pedra. Quinn acreditou ver Marcail aindo da montanha, quando na verdade não era nada mais que magia — magia negra. Se tentasse falar com Marcail, perceberia que não era ela.
Onde a putinha da mie foi, no entanto, era o que deixava Deirdre com raiva e a impedia de encontrar Quinn para que pudesse, finalmente, ter seu corpo só para ela.
—Não a encontrou? — Deirdre perguntou a Broc.
O Guerreiro alado balançou a cabeça.
—Estava derrotada e sabia que seu tempo escondida se acabou. Não esperava que fugisse.
—Sabe que vou repreendê-la por isso. Severamente.
Broc inclinou a cabeça.
—Não esperava menos.
—Usou seu deus, Broc? — Deirdre perguntou.
Ele deu um aceno de cabeça único.
—Ela ainda está na montanha.
—Mas pode encontrar qualquer um.
Seus olhos anil de Guerreiro estreitaram uma fração.
—Não falhei com você antes. Não vou falhar desta vez.
Ela não se deixou enganar pela sua humildade. Dentro de Broc surgia uma natureza vingativa que ela até agora conteve. Quanto de controle ainda tinha sobre ele, não sabia. Mas teria certeza de mantê-lo pelo tempo que queria.
—Vá ajudar William e os outros. Quero esta montanha virada de cima abaixo. Ela não saiu, e se tenho algo a dizer sobre isso, não vai sair.
—Sim senhora, — disse William ao lado de Broc antes de partirem.
William ainda estava se recuperando da tortura que Quinn exigiu, mas William estava sempre disposto a servir.
Deirdre se voltou para dar ordens ao servo que viu em pé perto deles só para ver que a mulher desapareceu.
—Onde está o servo que estava aqui? — Ela perguntou aos Guerreiros restantes.
O wyrran puxou a saia dela e apontou para seu quarto.
O olhar de Deirdre se estreitou. Acariciou a cabeça do wyrran e se dirigiu para sua câmara. Viu o servo parado à porta de seu quarto. Deirdre apareceu atrás dela e arrancou o véu de sua cabeça.
Em vez de cabelos curtos, Deirdre viu cabelo castanho enfiado nas costas de um vestido. Marcail se virou, as tranças no topo e nas laterais de sua cabeça girando com ela.
—Não pode ficar longe dele, não é? — Deirdre perguntou. —Podia ter escapado se esquecesse Quinn.
—Nunca poderia esquecê-lo, — Marcail disse entre os dentes cerrados.
Deirdre riu.
—E isso, minha querida, será sua ruína. Tenho algo especial planejado para você.
Com um estalar de dedos, Guerreiros rodearam Marcail. Deirdre olhou para a Druida de cima abaixo. Não sabia o que chamou a atenção de Quinn, mas, tanto quanto ele sabia Marcail estava muito longe. E ia ter certeza que nunca pensasse o contrário.
—Leve-a para a câmara para se preparar, — Deirdre ordenou.
Por mais que Deirdre quisesse ir para Quinn, precisava cuidar de Marcail primeiro. Se Quinn descobrisse que ela o enganou, nunca iria para a cama dela e daria a criança que precisava.
Deirdre seguiu seus Guerreiros enquanto levavam Marcail cada vez mais longe de Quinn.
Deirdre esfregou as mãos. Podia não ser capaz de matar Marcail, mas podia fazer a próxima melhor coisa.
Os Guerreiros empurraram Marcail na câmara para que caisse em suas mãos e joelhos. Deirdre cheirou o sangue e magia, e sorriu.
—Aqui é onde mato Druidas.
Marcail se levantou e encontrou o olhar dela.
—Não pode me matar.
—O que a faz pensar isso?
—Se pudesse, já teria feito isso quando fui trazida à montanha. Em vez disso, me jogou no Poço esperando que um dos Guerreiros me matasse. E sofresse as consequências da magia da minha avó.
Deirdre deu de ombros.
—Suponho que não há nenhum ponto em negar qualquer coisa agora. Não, Marcail, não vou te matar. Como vê, sua avó era uma druida poderosa.
—Eu sei, — disse Marcail.
Deirdre ignorou a interrupção.
—Ela sabia que havia uma chance de eu capturá-la, assim fez questão de lançar feitiços de proteção sobre você. São muitos e são poderosos o suficiente para que se for morta, o responsável tenha uma morte horrível.
—É muito ruim que você descobrisse sobre as proteções tão logo, — disse Marcail. — Minha morte não seria nada se trouxesse a sua.
—Ah, mas você é brava, — disse Deirdre. —É realmente corajosa que se erguerá contra mim ou o medo é tão grande que cairá aos meus pés, implorando por misericórdia?
Marcail revirou os olhos.
—Vi o que sua magia negra pode fazer. Sei como é fácil para você tirar a vida de alguém. Ao mesmo tempo que a temo, você já me mostrou que mesmo com com seu poder, tem uma fraqueza.
—Não tenho nenhuma fraqueza.
Um sorriso lento se espalhou sobre o rosto de Marcail.
—Mas tem. Quer o filho da profecia. Quanto tempo esperou, Deirdre? Seu útero cresceu frio e oco? Será que seu corpo pode mesmo sustentar a vida?
Deirdre estendeu a mão e deu um tapa em Marcail antes que ela pudesse pensar melhor. A cabeça da Druida virou de lado pela força do golpe. Deirdre sorriu por ter colocado Marcail em seu lugar. Até que ouviu o riso da Druida.
—É o melhor que pode fazer? — Marcail perguntou quando tocou o lábio, que agora sangrava.
Deirdre abriu a boca para responder quando uma picada cruel a cortou. Era uma dor diferente de qualquer coisa que já sentiu, e soube naquele instante que era a proteção guardando Marcail.
Deirdre fechou os olhos para lutar contra a pulsação, mas o riso de Marcail apenas aumentou. Por algum tempo Deirdre não pode fazer nada, apenas ficar imóvel e combater a agonia que enchia seu corpo. Era como se centenas de lâminas minúsculas perfurassem e cortassem sua pele.
E se não fosse por sua magia contendo a maior parte dela longe, cairia de joelhos. Quando finalmente foi capaz de suportar a dor, Deirdre abriu os olhos para ver Marcail sorrindo para ela.
—Espero que tenha gostado mesmo, porque para onde vai, não haverá nada.
—Agarrem-na, — Deirdre gritou.

 

 

 

 

CAPÍTULO TRINTA

Marcail deveria saber melhor que desfrutar do desconforto de Deirdre, mas foi maravilhoso ver a drough com dor. Se isso aconteceu por apenas um tapa, o que aconteceria se alguém a matasse? Marcail estava quase com medo de descobrir.
Ela lutou em vão contra o aperto dos dois Guerreiros que pegaram seus braços. Meio a arrastaram, meio a carregaram para o centro da câmara, onde estava uma mesa com tiras que prenderiam seus braços e pernas.
—Não se preocupe, — Deirdre disse com uma voz muito agradável. —Isso não é para você, embora gostaria que fosse.
Marcail nunca conheceu o ódio, como fez naquele momento.
—Como pode matar sua própria espécie?
—Facilmente, — disse Deirdre. —Se soubesse a força da magia que recebi com todos os que matei, ia entender.
—Nunca poderia entender o mal, como você.
Deirdre estalou a língua.
—Uma pena. Devo dizer o que planejei para você?
Marcail mordeu a língua para se manter em silêncio.
—Não tem nada a dizer dessa vez? — Deirdre riu. —Ah, bem, não vou deixar você esperando. Vê Lavena atrás de você?
Os Guerreiros viraram Marcail de modo que olhava uma mulher que parecia estar flutuando, embora não houvesse água ao seu redor, apenas chamas negras.
Deirdre ficou ao lado de Marcail.
—Adorável, não é? Eu a mantenho assim, há centenas de anos.
O sangue de Marcail se transformou em gelo quando percebeu que Deirdre faria o mesmo com ela. Esteve tão perto de fugir, mas quando viu Quinn, teve que parar e olhar para ele, tentar falar com ele. Custou tudo que tinha não o alcançar e tocar, dizer que era ela. E agora, já era tarde demais.
Deirdre começou a sussurrar palavras que Marcail reconheceu como gaélico, o antigo idioma Celta. Enquanto o feitiço continuava, chamas azul- gelo subiram das pedras no chão até o teto numa massa rodopiante de magia.
—Espero que goste de sua nova casa, — disse Deirdre. —Vai ficar comigo para sempre, Marcail. Nunca saberá o feitiço para ligar os deuses agora.
Marcail engoliu em seco e piscou as lágrimas. Desejava ser a Druida que sua avó queria que ela fosse. Desejava poder ajudar todos os Guerreiros e os outros Druidas que estavam presos na montanha. Mas acima de tudo desejava poder dizer a Quinn que ela o amava.
Foi quando percebeu a ligação entre o canto que ouvia em sua cabeça e Quinn. Sua avó disse para sempre seguir seu coração. Quinn foi o primeiro que Marcail amou, e quando o fez, o canto começou.
Sua avó tinha certeza que quando Marcail se apaixonasse aprenderia o feitiço. Mas agora já era tarde demais. Para todos.
Os Guerreiros empurraram Marcail na frente do cilindro de chamas azuis, detendo seus pensamentos sobre o feitiço e Quinn enquanto o pânico tomava conta.
—Assim que as chamas tocarem sua pele, deixará de sentir qualquer coisa, — disse Deirdre.
Marcail ergueu o queixo. Era uma Druida. Não se acovardaria na frente de Deirdre.
—Seu reinado vai acabar em breve. Aproveite o poder que tem agora, porque em breve terá ido.
—Fantasie, pequena mie. Atire-a nas chamas, — disse Deirdre aos Guerreiros.
O último pensamento de Marcail foi para Quinn quando as chamas azuis a envolveram. Houve um momento de dor gelada e depois... nada.
Broc amaldiçoou em voz baixa, enquanto observava os Guerreiros arrastando Marcail longe. Sabia que era a Druida quando Quinn esbarrou nela enquanto assistia a falsa Marcail deixar a montanha.
Se não houvessem tantos wyrran e outros Guerreiros, Broc diria a Quinn o que estava acontecendo. Mas Broc sabiamente manteve sua boca fechada ou todos estariam sentindo a ira de Deirdre.
Broc abriu a porta das câmaras de Deirdre e entrou. Esperava ouvir Fallon ou alguém do grupo para deixar que Broc soubesse onde e como ajudar Quinn a escapar, mas Broc não podia esperar mais. Não agora que Deirdre tinha Marcail.
Encontrou Quinn sentado na cama de Deirdre, a cabeça entre as mãos. De repente Quinn ergueu a cabeça e olhou para Broc.
—O que quer? — Quinn exigiu num tom liso, desprovido de qualquer sentimento.
Broc não tinha certeza de como começar. Quinn esteve na câmara de Deirdre por um dia inteiro. Deirdre poderia ter feito algo para ele.
—Broc? — Quinn insistiu em voz cautelosa.
Broc olhou por cima do ombro para a porta e se perguntou quanto tempo tinha antes que Deirdre voltasse.
—A Marcail que viu deixar montanha não era a verdadeira.
Os pálidos olhos verdes de Quinn se estreitaram e as sobrancelhas franziram.
—Que tipo de brincadeira é essa?
—Nenhuma. O servo que esbarrou era Marcail.
—Está mentindo!
Broc respirou profundamente enquanto lutava por paciência. Precisava que Quinn acreditasse nele, não tinha momentos preciosos tentando fazer Quinn entender.
—Não estou. Ajudei Marcail a fugir dos outros Guerreiros. Ela ia deixar a montanha vestida como um dos servos de Deirdre e procuraria seus irmãos.
—Pare com isso, — murmurou Quinn enquanto se levantava e começou a andar na câmara. —Não sei o que está tentando fazer, mas simplesmente pare. Marcail está segura. Meus irmãos estão seguros.
Broc olhou para sua pele azul escuro e longas garras. Viveu com Deirdre por tanto tempo que Quinn não ia acreditar nele sem provas, e já que Lucan e Fallon não estavam lá, Broc não tinha nada para mostrar Quinn.
—É uma luta que quer? — Quinn perguntou. —Quer ver se pode ser melhor que eu?
Broc balançou a cabeça.
—Não estou procurando lutar contra você, Quinn. Deve acreditar em mim.
—Sim, Quinn, deve acreditar em Broc.
A voz feminina vinha do lado de Broc, mas não havia corpo. No entanto, ele reconheceu a voz.
—Larena?
—Sim, — respondeu ela. —Estou aqui, Broc. Me encontre algo para me cobrir, por favor.
Broc correu para a cama e puxou uma coberta.
—Que diabos está acontecendo? — Quinn ordenou.
Houve um puxão suave e o cobertor foi tirado de Broc. Larena piscou e se materializou ao lado dele, a coberta envolta em torno dela para esconder sua nudez.
—Estava começando a pensar que não ia chegar, — disse Broc.
Larena fez uma careta.
—Eu os vi levando Marcail.
—Eu sei. Estou tentado convencer Quinn.
Quinn golpeou a parede de pedra enquanto sua pele ficava preta com sua raiva.
—Me. Conte. O que. Está. Acontecendo.
Larena deu um passo na direção de Quinn.
—É bom finalmente conhecê-lo, Quinn. Sou Larena, a esposa de Fallon.
Quinn ficou em choque silencioso, enquanto olhava para a mulher de cabelos loiros diante dele. Ela simplesmente apareceu do nada. Era bonita com sua beleza clássica, mas não se comparava com Marcail.
—Esposa de Fallon? — Repetiu ele, sem saber se ouviu corretamente.
Ela sorriu.
—Sim. Também sou uma Guerreira. Deirdre tentou me pegar algumas semanas atrás, mas Fallon e os outros me ajudaram a ficar fora de suas mãos.
Quinn esfregou os olhos com o polegar e o indicador. Já não sabia o que era real e o que não era. Mas Fallon casado? Isso, não podia — nem o faria — a menos que Fallon dissesse a Quinn, ele mesmo.
—Não temos muito tempo, — disse Larena. —Quinn, não sei o que Deirdre vai fazer com Marcail, mas precisamos chegar nela rapidamente.
—Deirdre não pode matar Marcail, — disse Quinn. —Mas é inútil falar dela. Vi Deirdre a libertando.
Larena balançou a cabeça, a longa trança loira indo e voltando pelas costas.
—Tem que saber que Deirdre está te enganando. Será que ela voluntariamente desistiria de uma Druida assim facilmente?
—Não sei mais o que é real, — ele gritou. Quinn foi para longe deles, seu estômago apertando quando imaginou Deirdre o enganando e fazendo só Deus sabia o que com Marcail. Se Broc e Larena estavam falando a verdade... Quinn não podia sequer completar o pensamento.
—Ficou longe de seus irmãos por um tempo, — disse Larena com uma voz suave. —Eles pensam em você todos os dias. Desde que foi levado, não fizeram nada exceto tentar encontrar uma maneira de tirá-lo daqui.
Acreditava nisso. Ele e seus irmãos podiam brigar, mas o amor compartilhado era inquebrável. Quinn sabia que atravessaria o próprio inferno para libertar seus irmãos.
—Olhe para mim, — ordenou-lhe Larena.
Quinn se virou e ficou olhando enquanto ela movia de lado o cobertor do pescoço para mostrar um torque de ouro com cabeça de javali, assim como o de Fallon.
—Fallon me presenteou com isto quando concordei em me tornar sua esposa, — disse Larena. —Estamos casados há dias, Quinn. Nem Lucan nem Fallon vão descansar até que você esteja mais uma vez no Castelo MacLeod com eles.
Quinn não conseguia tirar os olhos do torque. Era a prova que de fato Larena era esposa de Fallon. Quinn lembrou do dia que sua mãe deu a Fallon o torque. Ela disse a ele que seria seu presente para a mulher que conseguisse seu coração. Estariam ligados para sempre.
Assim como Lucas e Cara ficaram ligados quando Lucan deu-lhe um punhal com a cabeça de seu lobo nele.
Quinn olhou para Broc.
—E você?
—Estive espionando Deirdre durante anos. Foi um pacto entre Ramsey e eu. Vou explicar tudo, uma vez que estiverem livres desta montanha.
—Santo inferno. Deirdre realmente está com Marcail, não é? — Quinn perguntou, incrédulo.
Broc e Larena assentiram.
Quinn olhou para sua mão e observou suas garras negras na ponta de seus dedos. Fúria como jamais conheceu rugiu através dele. Se agarrou em suas entranhas, exigindo liberdade e vingança pela tomada de sua mulher. Exigindo sangue.
—Vou matar a cadela.
—Espere, — disse Larena. —Fallon quer que eu o tire daqui primeiro.
—Não vou embora sem Marcail.
Broc caminhou até a porta.
—Sei onde Deirdre levou Marcail. Vou levar Quinn. Existe uma porta no fundo do corredor que se abre para fora da montanha. Que os outros entrem por lá.
—Então o quê? — Larena perguntou. —Estamos em desvantagem com os wyrran e os Guerreiros.
Quinn sorriu enquanto olhava para Broc.
—Não com todas as pessoas e Guerreiros presos nas masmorras.
—Vou libertá-los em seguida, — disse Broc. —Agora venha. Temos que ir.
O coração de Quinn saltou em seu peito. Pela primeira vez num longo período de tempo era bom liberar seu deus. Gostaria de matar Deirdre, e o faria lento e excruciante.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO TRINTA E UM

Fallon passeava para a frente e para trás, fora da montanha. Desde que Larena saiu, estava ansioso e assustado que alguma coisa acontecesse com sua esposa e não estivesse lá para ajudá-la.
—Vai dar tudo certo, — disse Hayden.
Fallon esperava que seu amigo estivesse correto, pois se algo acontecesse com Larena, não sabia o que faria. Ela era a própria vida dentro dele, a única coisa que o mantinha respirando, e a única coisa que o ajudava a se lembrar de ser o homem que sempre quis ser.
Ela saiu há muito tempo, no entanto. A Montanha de Deirdre era enorme, mas não havia tantos lugares que Larena pudesse ser pega. Devia ser ele a entrar. Um homem não colocava sua esposa em perigo desta forma. Fallon esfregou a parte de trás do seu pescoço, que começava a doer.
Houve um rumor de algo atrás dele. Em seguida, ouviu a coisa mais doce do mundo, a voz de sua esposa.
—Preciso das minhas roupas, — ela sussurrou.
—Todos virem de costas, — Fallon disse aos homens.
Uma vez que obedeceram, viu Larena se materializar na frente dele e colocar apressadamente suas roupas.
—Tudo bem, — disse ela, quando estava coberta.
Fallon agachou ao lado dela quando puxou as botas.
—Achou Quinn?
—Achei. Demorou algum tempo para convencê-lo quem eu era. Foi o torque que fez isso.
Fallon olhou para Lucan.
—Onde está Quinn agora?
Larena estendeu a mão e puxou Fallon para seus pés.
—Ele seguiu sua mulher.
—Sua mulher? — Lucan repetiu. —A Druida que Broc falou?
—Sim, — disse Larena. —Broc tentou ajudar Marcail a escapar, mas Deirdre a pegou. Quinn e Broc foram tentar parar Deirdre.
Hayden se adiantou.
—Então o que estamos esperando?
Fallon apertou suas mãos e amaldiçoou.
—Sabia que deveria ter ido para a montanha. Então saberia onde nos saltar.
—Posso ajudar, — disse Galen.
Fallon ergueu as sobrancelhas.
—E como?
Galen se moveu para o lado de Larena e colocou a mão em sua cabeça.
—Pense o melhor lugar para chegarmos, um lugar na montanha que os Guerreiros não nos encontrem. Pode fazer isso?
—Sim, — respondeu ela.
Galen, em seguida, colocou a outra mão sobre a cabeça de Fallon. Num instante Fallon viu pelo olho de sua mente um lugar na montanha. Não hesitou para saltar os três para a montanha.
A escuridão da montanha consumia Fallon. Endireitou os ombros e olhou para Galen.
—Vai ter que me dizer como fez isso.
—Assim que voltarmos ao Castelo MacLeod. Agora vamos buscar os outros.
Fallon deu a Larena um beijo rápido e pulou de volta para pegar o resto dos Guerreiros.
***
Deirdre olhou para Marcail agora imóvel. O fogo azul era a magia perfeita para prender a irritante Druida. Considerando que o fogo negro que detinha Lavena permitia que ela falasse com Deirdre de suas visões, o fogo azul que prendia Marcail mantinha seu corpo vivo, mas isso era tudo. Também continha toda a magia das magias de proteção, impedindo qualquer um de se aproximar e machucar Deirdre.
Estava tão animada em ter Marcail e seu feitiço presos que decidiu passar mais tempo olhando para sua obra. Quinn estaria esperando por ela agora.
Afinal, pensava que sua preciosa Marcail estava em segurança fora da montanha.
Que idiota era, mas, novamente, todos os homens eram tolos. Deirdre pensou que Quinn fosse diferente. No entanto, uma vez que tivesse o bebê de Quinn, a criança da profecia, tudo mudaria.
Deirdre esfregou as mãos em expectativa. Podia muito bem conceber hoje à noite. E o início de uma nova era ia começar.
***
—Sabe onde Ian está sendo mantido? — Quinn perguntou a Broc enquanto desciam o corredor.
Broc assentiu.
—Está em condições de ajudar, apesar de tudo.
—Maldição. Ainda precisamos libertá-lo. — Quinn queria alcançar Marcail, mas sabia que precisaria de tempo para tudo funcionar perfeitamente. Com seus irmãos e os Guerreiros leais a eles vindo ajudar, juntamente com seus homens no Poço, tinham uma chance de derrotar Deirdre.
Broc o levou por vários corredores e escadarias, antes que parasse na frente de uma porta.
Quinn destravou a porta para encontrar Ian pendurado no teto pelos pulsos.
—Ian, — ele disse quando correu para seu amigo.
Ian levantou a cabeça, sangue seco cobrindo seu rosto e peito.
—Quinn?
—Sim, sou eu. Vim com Broc para tirá-lo daqui.
Quinn e Broc liberaram Ian de suas correntes e o ajudaram a ficar em pé.
—Pode ajudar Broc a liberar seu irmão e Arran do Poço?
Ian aprumou os ombros e se firmou em seus pés.
—Sim.
—Então se apresse. Há muitos nas masmorras que precisam ser liberados. Precisamos do caos total.
—Vamos fazer, — prometeu Broc.
Quinn os viu sair antes de voltar para o corredor. Broc disse como alcançar a câmara que Deirdre levou Marcail, e não conseguia chegar lá rápido o suficiente. O temor que já fosse muito tarde o levou abaixo mais rápido pelo corredor.
Sabia que Deirdre não mataria Marcail ela mesma, mas isso não significava que Deirdre não faria alguém fazer isso. Seus wyrran fariam qualquer coisa por ela, como provaram inúmeras vezes.
Tanto quanto Quinn sabia que seria benéfico esperar o transtorno para começar a libertar os prisioneiros, não podia. Marcail precisava dele, e não permitiria que outra pessoa com quem se importava morresse por causa de Deirdre.
Quinn manteve seus passos largos e rápidos quando seguiu as instruções de Broc. Quando virou uma esquina, viu dois Guerreiros. Eles pararam e se afastaram para ele.
Quando os alcançou, parou.
—Vou te dar uma chance. Ou luta comigo ou morre aqui mesmo.
Os Guerreiros se entreolharam e riram. Quinn soltou seu deus e atacou ambos ao mesmo tempo. Enquanto usava suas garras para cortar um Guerreiro no peito, o outro cortou a parte detrás do joelho de Quinn.
Quando Quinn tentou se levantar, não podia usar uma perna, mas isso não o impediu. Furou o Guerreiro que o feriu, derrubando-o de volta. Quinn não perdeu tempo antes de usar suas garras para cortar a cabeça do Guerreiro.
Quinn o jogou de lado e se virou para o segundo Guerreiro. Apesar de ter se desequilibrado pela perna ferida, Quinn não daria ao Guerreiro qualquer chance de se libertar.
Saltou sobre o Guerreiro, afundando os dois conjuntos de garras em seu pescoço. O sangue fluiu pelo pescoço do Guerreiro quando seus olhos se arregalaram. Com um toque das mãos de Quinn, cortou sua cabeça.
—Deveria ter escolhido lutar comigo, — disse Quinn quando o Guerreiro morto caiu aos seus pés.
Quinn continuou seu caminho, determinado a converter ou matar todos os Guerreiros que encontrasse. Matou outro antes que ouvisse um barulho e levantasse a cabeça para ver seus irmãos.
Se esqueceu do terceiro Guerreiro morto aos seus pés e sorriu enquanto se dirigia para Lucan e Fallon.
—Meu Deus, é bom ver você, — disse Lucan quando puxou Quinn contra ele para um abraço.
Quinn nunca ficou tão feliz em ver seus irmãos. Lucan o soltou e logo depois os braços de Fallon o envolveram.
—Pensei que nunca o veria novamente, — disse Fallon.
Quinn deu uma risadinha.
—Não desisto tão facilmente. — Ele recuou e olhou para Larena. —Ouvi dizer que se casou.
Fallon fez uma careta.
—Deveríamos ter esperado por você.
—Não, — disse Quinn. —Tem que pegar toda a alegria que puder encontrar.
Logan limpou a garganta.
—Será que vamos ficar por aqui e relembrar o dia todo, ou vamos matar Deirdre?
Quinn assentiu com a cabeça para Logan, Galen, Ramsey e Hayden.
—Vamos matar Deirdre, mas primeiro, vamos salvar Marcail.
—Onde está Broc? — Ramsey perguntou.
—Ele e Ian foram libertar meus homens do Poço. Em seguida, os quatro começarão a liberar os outros das masmorras.
Lucan riu.
—Gosto do seu plano, irmão mais novo. Nos conduza, e vamos salvar sua Marcail.
Quinn correu pelo corredor, as palavras de Lucan ecoando em sua cabeça. Sua Marcail.
Quinn gostava do som disso. Gostava muito.
Conseguiram subir dois níveis antes que encontrassem um grupo de wyrran. As pequenas criaturas amarelas pálidas não tiveram a menor chance contra oito Guerreiros. Em questão de minutos, os wyrran estavam mortos.
—Espero que haja mais, — disse Hayden.
Quinn limpou o sangue das mãos em sua túnica.
—Não haverá. Estou dando a todo Guerreiro que encontro a chance de lutar por mim. Se recusarem, morrem.
Hayden riu e acenou com a cabeça.
—Senti sua falta, Quinn.
Lucan caminhava ao lado de Quinn com Larena e Fallon atrás dele. Cada momento de Quinn longe de Marcail era como uma faca em seu estômago. Não foi muito mais longe, mas pareciam milhões de léguas de distância.
Abaixo deles Quinn começou a ouvir gritos e gemidos das masmorras.
—Meus homens estão libertando os prisioneiros.
—Tenham cuidado para não matar os Guerreiros errados, —Fallon alertou a todos.
***
Isla caiu contra a parede, as rochas arranhando seu braço ferido e costas. Estava tão cansada... Tão cansada. Quando acordou do transe que Deirdre a colocou, foi para se encontrar lutando por sua vida com um homem três vezes do tamanho dela.
Foi somente com uso de sua magia que foi capaz de fugir, e tão duro quanto tentou não olhar, viu os corpos de uma mulher, uma menina e um menino pequeno.
Isla só acordou do transe no meio do seu "dever" para Deirdre uma vez antes. Tentou fugir, e pagou caro por isso mais tarde com uma punição que a deixou confinada na cama por quase três meses.
No entanto, uma pequena parte dela queria fazer outra tentativa. Queria ir o mais longe de Deirdre que pudesse. Então correu e não olhou para trás. Então pensou em sua irmã e sobrinha. Precisavam dela, mesmo que não soubessem.
Isla encontrou um cavalo e voltou rapidamente para a montanha. Não ia fugir mais, e chegou em Cairn Toul em menos de um dia. Uma vez lá dentro, no entanto, sabia que alguma coisa aconteceu.
E teve uma ideia que era tudo por causa de Quinn.
Os irmãos MacLeod não ficariam parados vendo Deirdre tomar Quinn. Isla esperava há semanas por Lucan e Fallon. Agora, parecia que tinham chegado.
Isla fez seu caminho para as escadas que levavam a Phelan. Tropeçou várias vezes nas escadas escorregadias, e uma vez quase despencou.
Diminuiu seus passos, embora soubesse que o tempo era essencial. Seu corpo, no entanto, não acompanhava o que ela queria fazer. Sangue encharcava sua manga direita e escorria por sua mão. Havia também algo correndo pelas costas, que suspeitava ser mais sangue.
Sem ideia de quantas lesões tinha ou por quanto tempo seu corpo continuaria em pé, Isla se arrastou escada abaixo. Assim que viu Phelan das escadas, suas pernas cederam e bateu nos degraus com um baque estridente.
A cabeça de Phelan girou em sua direção e ele rosnou.
Ela não tinha energia para a batalha de palavras com ele hoje. Veio libertá-lo, contudo. Suas correntes não estavam presas com chave, mas com magia negra.
Isla levantou a mão e focou sua magia sobre as correntes. Repetiu as palavras que ouviu de Deirdre apenas uma vez antes, mas Isla as memorizou, esperando que um dia pudesse liberar Phelan.
Os punhos de Phelan soltaram e cairam de seus pulsos com um som oco. Isla respirou profundamente quando sua visão nublou. Fechou os olhos para se manter firme. Depois de um momento, os abriu para encontrar Phelan de pé sobre ela.
—Por quê? — Perguntou ele.
Ela balançou a cabeça.
—Não deveria estar aqui. Você é livre, Phelan. Fuja para o quão longe puder.
Ele olhou para as escadas e inclinou a cabeça para os sons chegando até eles.
—O que está acontecendo lá em cima?
—Suspeito que houve uma revolta contra Deirdre. Ela pegou um dos irmãos MacLeod.
—Quinn, — disse Phelan.
Isla concordou.
—Seus irmãos, Lucan e Fallon, vieram por ele. O ruído que está ouvindo são os prisioneiros libertados.
Phelan se inclinou perto dela e cheirou.
—Está ferida.
—Deixe a montanha. O mundo mudou muito desde que foi trazido aqui. Esteja preparado para isso.
Ele a estudou por muito tempo, momentos de silêncio.
—E você? O que vai fazer?
Isla pensou em Lavena e Grania.
—Tenho outra coisa que preciso fazer. — Ela só esperava ter força para voltar a subir as escadas e completar sua tarefa.
—Está morrendo.
Isla sorriu tristemente.
No instante seguinte, Phelan a levantou nos braços e subiu as escadas. A colocou gentilmente em pé quando chegaram na porta.
Isla agarrou a parede e forçou um sorriso.
—Boa sorte para você. Se precisar de algo, procure os MacLeods. São homens bons em que pode confiar.
Ele não se preocupou em responder, apenas levantou a cabeça e olhou em volta. Um momento depois, estava correndo pelo corredor.
Isla conseguiu livrar uma das pessoas por quem era responsável. Mais duas, e talvez pudesse encontrar alguma paz em seus pesadelos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO TRINTA E DOIS

Deirdre não podia acreditar em como foi fácil interceptar Marcail, embora desejasse ter pensado nisso mais cedo em vez de colocar Marcail no Poço com Quinn. O que não saiu conforme o planejado.
Na verdade, nada a ver com Quinn saiu como previsto. Mas isso mudaria agora. Estava sob seu controle, e não demoraria muito para que ele lhe desse seu deus.
Quando isso acontecesse, teria o primeiro dos MacLeods, com Lucan e Fallon a seguir logo depois. Se virou para a porta para voltar para Quinn, quando ouviu uma inspiração de respiração. Deirdre fez uma pausa. Conhecia o som. Era Lavena prestes a ter uma visão.
Deirdre voltou correndo para a Druida. Os olhos azul gelo de Lavena nublaram quando as chamas pretas lamberam o rosto dela. Quando falou, sua voz soava como se viesse do fundo de um túnel, macia e arejada.
—Estão chegando, — disse Lavena. —Tomou sua mulher, e você vai pagar.
A raiva pulsou através de Deirdre. Sabia que Lavena falava de Quinn, e podia assumir que"eles" eram Lucan e Fallon vindo para ajudar seu irmão.
—Quem disse a Quinn sobre Marcail? — Deirdre perguntou.
Às vezes Lavena respondia, às vezes não o fazia.
Desta vez, a vidente não o fez.
—Sua morte é iminente.
Deirdre nunca teve motivo para desacreditar a vidente, mas sabia que tinha magia suficiente para lutar contra mil Guerreiros.
—Então deixe-os vir, — disse Deirdre e encarou a porta.

***

Quinn soltou seu deus. Atrás dele, seus irmãos e os outros Guerreiros esperavam que abrisse a porta que levaria para sua maior batalha.
—Prestem atenção no cabelo dela, — Galen avisou.
Larena sorriu.
—Vou cuidar do seu cabelo.
Quinn enfrentou os outros Guerreiros e olhou o rosto dos homens — e mulher — que arriscavam suas vidas por ele. Diante dele estavam poderosos Guerreiros que lutavam pelo bem sobre o mal e não pediram para ter um deus dentro de si.
—O poder de Deirdre cresceu. Estejam preparados para qualquer coisa.
—Se é tão poderosa como podemos derrotá-la? — Logan perguntou.
Ramsey sorriu lentamente.
—Atacamos juntos e continuamos atacando. Ela não pode lutar contra todos nós.
—Ela não vai estar sozinha, — disse Quinn. —Haverão wyrran e Guerreiros com ela. Se encontrar William, o Guerreiro azul royal, guarde-o para mim. Devo-lhe uma morte agradável.
—Considere feito, — Hayden prometeu. —Vou encontrá-lo eu mesmo.
Quinn deu um aceno para Hayden.
—É tempo do reinado de Deirdre acabar.
—Prontos, assim que você estiver, irmão, — disse Fallon.
Quinn se encontrou orando a Deus, algo que não fazia há séculos. A trepidação dentro dele por Marcail crescia a cada batida do seu coração.
Se virou para a porta e a chutou para abrir. Deirdre estava na frente de uma mesa de pedra, um sorriso maligno inclinando seus lábios.
—Estive esperando por você, amado, — disse ela.
***

Broc deixou Arran e os gêmeos libertando o resto dos prisioneiros. Desde que ouviu o rugido abaixo, sabia que era um Guerreiro, provavelmente acorrentado na escuridão. Ninguém estava autorizado a descer as escadas que levavam abaixo da superfície da Terra, mas Broc já não servia Deirdre e faria todos os seus colegas Guerreiros livres.
Entrou pela porta para o primeiro degrau e parou boquiaberto com a grande caverna. Embora fosse muito escuro para um mortal ver, com o deus dentro de si, Broc não teve nenhum problema.
As escadas levariam muito tempo para descer, então abriu as asas e foi para a parte inferior.
Broc aterrissou, atordoado ao descobrir que quem quer estivesse preso aqui em baixo já havia sido libertado. Estava feliz por vê-lo, embora gostaria de saber quem era o Guerreiro e por que Deirdre o mantinha separado de todos os outros.
O som da batalha podia ser ouvido ecoando através das rochas. Broc ergueu suas asas quando voou de volta para a porta.
Havia uma batalha épica sendo travada, e sua ajuda seria necessária.
***

Quinn arreganhou os dentes para Deirdre.
—Realmente achou que podia me enganar como fez?
—Teria funcionado, — ela disse com um sorriso malicioso. —Quem te disse?
—Será que isso importa? — Fallon disse. —Ele sabe o que fez. Devolva Marcail para ele.
Deirdre jogou a cabeça atrás e riu.
—Oh, receio que não seja possível agora.
Quinn seguiu seu dedo quando apontou e sentiu seu coração despencar quando avistou Marcail.
—Não, — ele sussurrou.
—Nunca será sua, — disse Deirdre.
Lucan agarrou seu braço.
—Quinn.
Mas Quinn não podia ajudar seus irmãos agora, não quando Marcail estava nas chamas azuis que a mantinham acima do chão e imóvel. Se sentiu mal do estômago. Mais uma vez foi incapaz de ajudar uma mulher com quem se preocupava. Que tipo de Highlander e Guerreiro era ele que não conseguia salvar suas mulheres?
—Quinn, — Fallon gritou.
Quinn se voltou para seus irmãos, sua alma rasgada ao meio.
—Sabe o que tem que ser feito.
Eles acenaram com a cabeça e como um só, o pequeno grupo se lanççou sobre Deirdre. Quinn se permitiu apenas um momento para ver como Larena ficava invisível e tirava as roupas. Hayden lançou enormes bolas de fogo em qualquer wyrran que visse, e os outros cercaram Deirdre.
Quinn se aproximou de Marcail. Por mais que quisesse ser o único a drenar a vida de Deirdre, Marcail importava mais. Tocou as chamas azuis e gelo se formou na ponta de seus dedos.
—Santo inferno, — ele murmurou.
Não sabia como ele ia tirar Marcail das chamas, mas sabia que não podia fazê-lo sozinho.
Quinn voltou para a batalha para descobrir algo puxando o cabelo de Deirdre por trás. Larena, provavelmente. Deirdre gritou quando as garras de Larena cortaram o cabelo no pescoço. No momento seguinte os cabelos voltaram a crescer.
Fallon parabenizou sua esposa antes de desaparecer, apenas para reaparecer em algum outro lugar da câmara. Quinn piscou, não tinha certeza do que via, até Fallon fazer uma e outra vez.
—Impressionante, não é? — A voz de Larena disse, ao lado dele.
—Sim, — disse Quinn.
Não teve tempo para mais palavras quando fechou os olhos e chamou seu poder.
—Vinde a mim, — ele chamou todos os animais dentro da montanha.
Alguns momentos depois ratos, insetos e outros animais começaram a chegar na câmara. Quinn sorriu.
—Ataquem Deirdre, — ordenou.
Como um, os animais convergiram para Deirdre. Ela moveu seu poder de atingir Guerreiros ao lado para matar os animais.
Lucan se deslocou para a sombra e se juntou ao redor de Deirdre enquanto Galen, Logan e Ramsey a fatiavam com suas garras. Fallon saltou na frente dela e cortou seu rosto, então saltou fora antes que ela pudesse usar sua magia sobre ele.
Quinn começava a avançar para se juntar ao grupo no banho de sangue de Deirdre quando houve um tumulto na porta. Se virou e encontrou Arran, Ian e Duncan.
Assim que viram o ataque, saltaram para a briga. Um momento depois, chegou Broc na câmara e se juntou ao bem. Com tantos atacando Deirdre, Quinn a podia ver enfraquecendo. Seria apenas questão de tempo antes que estivesse morta.
Hayden continuou a matar os wyrran que via, evitando que Quinn tivesse que se defender das criaturas vis. Quinn estava prestes a se juntar aos seus irmãos, quando um rugido chamou sua atenção.
Se virou para encontrar ninguém menos que William, que vinha por ele.
—Estive esperando por isso, — disse William.
Quinn sorriu com antecipação.
—Pare de falar. Começar a lutar.
Ele se abaixou num balanço vicioso da mão de William, que visava sua cabeça e tirou sangue pela primeira vez com um corte no estômago de William.
William cambaleou atrás e rosnou.
—O que ela viu em você?
—Mais do que viu em você, — Quinn o insultou.
William empurrou o ombro no abdômen de Quinn, tirando o fôlego de Quinn e jogando-o contra a parede. Quinn deu uma cotovelada no Guerreiro na parte detrás do pescoço duas vezes antes de esperar que William o soltasse o suficiente para Quinn dar uma joelhada na cara dele.
Quando William se ergueu do golpe, suas garras acertaram o lado de Quinn e braço. Antes que Quinn pudesse dar outro golpe, William o mordeu no ombro, seus dentes afundando na pele de Quinn.
Quinn berrou e usou suas garras para rasgar a pele de William sempre que podia. Sangue escorria pelo braço de Quinn, mas não sentia, não quando a necessidade de matar era tão forte.
William se afastou, com a boca e dentes cobertos de sangue.
—Vou gostar de tomá-lo pedaço por pedaço, MacLeod. Não está apto a ser um Guerreiro, muito menos comandar sobre nós.
—Não é minha culpa se Deirdre não quis um filho seu. Onde falhou, William?
Assim como Quinn esperava, a raiva de William levou a melhor sobre ele. Quanto mais crescia, mais ele atacava imprudente, e dava a Quinn a vantagem que precisava quando se moveu cada vez mais perto das chamas negras onde Deirdre mantinha a vidente.
Apesar da fúria de William, foi capaz de acertar vários golpes em Quinn, tirando mais sangue. O corpo de Quinn doía pelos cortes que o cobriam de seu rosto até as pernas, mas não ia parar, não até que William estivesse morto.
As garras de William afundaram no estômago de Quinn, antes que ele o empurrasse de lado, deixando uma ferida aberta na barriga de Quinn. Quinn olhou abaixo e viu o estrago. Sentiu seu corpo ficar leve, quando a exaustão tomou conta.
—Quinn.
Ele piscou. Era a voz de Marcail, não tinha dúvida.
—Pode fazer isso, — disse Marcail em sua mente. —Acabe com ele.
Quinn sacudiu a cabeça para limpá-la e se concentrou mais uma vez em William. Marcail estava certa. Podia matar William.
Sorriu para o Guerreiro e deu um passo na direção dele. William zombou e tentou mordê-lo novamente.
—Já tive o bastante de você. — Com um empurrão Quinn jogou William nas chamas pretas.
O guerreiro gritou e arranhou seu rosto e pele, começando a se debater. Atingiu a vidente nas chamas, mas já era tarde demais para William. O fogo preto o tomou, deixando-o no mesmo estado calmo, imóvel da vidente dentro dele.
—Quinn, — disse Lucan e o agarrou pelos ombros. —Precisamos chegar ao castelo.
—Não vou embora sem Marcail.
—Deirdre está quase morta. Vamos sair daqui, — pediu Lucan.
Quinn olhou para o irmão.
—Não pude proteger Elspeth. Não serei responsável pela morte de Marcail também.
Houve um grito que ameaçava explodir seus ouvidos. Quinn cobriu os ouvidos e se virou para encontrar Deirdre gritando e Charon a segurando pelo pescoço.
O Guerreiro cobre tinha a morte em seus olhos, e pela forma como apertava, ela não viveria por muito mais tempo.
Houve uma abertura onde Charon quebrou o pescoço com uma mão. Ele removeu sua cabeça com um puxão e a deixou cair no chão antes de jogar a cabeça em cima de seu corpo.
Hayden em seguida, a queimou no fogo.
—Acabou, — disse Lucan.
Mas, para Quinn, não acabaria até Marcail estar em seus braços.

 

 

 

 

CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

Isla estava nas sombras e viu o triunfo dos MacLeods sobre Deirdre, mas era em Lavena que Isla focava. Veio salvar sua irmã da vida sem fim da Vidente de Deirdre, mas alguém fez isso por ela.
Não precisava ir até Lavena e verificar se havia fôlego para saber que sua irmã estava morta. Queria lamentar a perda de sua irmã, mas fez isso há séculos. Finalmente, Lavena estava em paz.
Que só deixava Grania agora.
Isla se virou para ir em busca de sua sobrinha. Como esperava, Grania estava em sua câmara.
Quando viu Isla, Grania levantou de seu assento e caminhou em sua direção.
—O que está acontecendo? — Grania exigiu.
Isla lambeu seus lábios e estendeu a mão para Grania, forçando atrás a dor em seu corpo.
Sua sobrinha se afastou antes que Isla pudesse tocá-la.
Não era um bom começo, mas Isla estava determinada a ser a tia que sua irmã gostaria.
—Grania, tenho uma má notícia, — Isla começou.
—É sobre Deirdre? — A criança perguntou. —Diga-me que não se trata de Deirdre.
Isla hesitou por um momento.
—Não, trata-se de sua mãe. Sinto muito, mas está morta.
—Não me importo com Lavena. Deirdre era mais que uma mãe para mim.
—Não sabe o que está dizendo.
—O faço de fato.
Isla soube naquele momento que olhou para os olhos azuis iguais ao dela mesma, que Grania estava perdida para sempre.
—Por favor, Grania. O reinado de Deirdre foi longo. Ela se foi.
—Não, — Grania gritou e tentou fugir do quarto.
Isla agarrou seu braço e puxou a criança em sua direção. Não viu o punhal na mão de Grania até o último momento. Foi puro instinto que levou Isla a usar sua magia para prender o punhal.
Grania resmungou e caiu de joelhos, com os olhos cheios de dor.
Isla se ajoelhou ao lado da sobrinha enquanto lágrimas caíam pelo rosto.
—Oh, meu Deus, o que fiz? — ela se perguntou quando viu o punhal no peito de Grania.
Não queria matar Grania, apenas remover a arma.
—Deirdre vai fazer você morrer mil mortes por isso, — Grania murmurou. Ela caiu de lado enquanto o sangue escorria de sua boca e seus olhos sem vida olhavam para Isla.
Isla não podia acreditar que Grania se foi. Começou a odiar a criança sim, mas apenas por causa do mal que Deirdre colocou em sua sobrinha. Isla esperava que um tempo longe de Deirdre ela voltasse a ser a criança que foi uma vez, inocente e pura.
Mas sabia no íntimo, a mentira que era.
Custou três tentativas antes de Isla ficar em pé. Não se importava com nada mais. Tinha que ficar o mais longe da montanha e de Deirdre que pudesse.
***
—O que faremos? — Fallon perguntou a Quinn, em torno de Marcail.
Quinn teve uma ideia, quando William empurrou a vidente em suas chamas.
—Tenho que tirar Marcail das chamas, mas vou precisar que alguém me segure para que possam me tirar também. Uma vez que esteja lá, não serei capaz de fazer qualquer coisa.
Lucan assentiu.
—Vou segurar você.
—É melhor segurarmos também, — disse Ramsey.
Quinn escondeu o estremecimento quando se moveu para Marcail. Estava perdendo sangue rapidamente, e embora fosse imortal, ferimentos graves demoravam um pouco mais de tempo para curar. Teria que conseguir ajuda em breve, mas ainda não. Não antes que Marcail estivesse fora das chamas.
—Alguém vai pelo outro lado para pegá-la, — disse Quinn.
Fallon se moveu para o outro lado de Quinn.
—Vou levá-la para Sonya, logo que estiver fora.
Quinn encontrou o olhar de seu irmão. Não precisava dizer a Fallon como Marcail era importante para ele. Seu irmão sabia.
—Espere, — disse Larena, enquanto corria para dentro da câmara. Estava vestida e não mais em sua forma de deusa.
Quinn percebeu que era uma coisa boa. Quanto menos pessoas soubessem o que era, melhor.
—O quê? — Ele perguntou.
—A outra mulher. Ela morreu — disse Larena. —Tem certeza que devemos tirar Marcail das chamas?
—Tenho certeza, — respondeu Quinn. —Deirdre manteve a vidente por vários séculos. Provavelmente está morta há algum tempo e Deirdre mantinha seu corpo vivo pelas visões.
Arran jurou.
—Por tudo que é santo.
Quinn não podia concordar mais. Olhou para o dedo que tocou a chama azul. Não havia nenhuma cor em sua pele e estava tão frio como a morte. Não achava que sobreviveria ao fogo azul, e embora desejasse ficar com Marcail, faria qualquer coisa para salvá-la.
Com um aceno de Fallon, Quinn entrou nas chamas, estendeu a mão para dar em Marcail o empurrão que precisava para ser jogada.
Instantaneamente, Quinn foi ultrapassado pelo frio. Tentou puxar um fôlego, mas não conseguiu. Lutou contra o frio, mas este assumiu seu corpo em questão de segundos.
Pensou em Marcail e como nunca conseguiria abraçá-la novamente. De repente, lembrou de uma conversa com seu pai.
—Filho, — disse o pai, —é bastante simples. Quando encontrar uma mulher que ocupe seus pensamentos a cada hora de cada dia e sonhar com ela e um futuro juntos, isso é um sinal. Quando não puder esperar para ver seu sorriso, sentir seus braços sobre você, e provar seu beijo, então você a ama. Quando souber que daria de bom grado sua própria vida, independentemente da dor, a fim de salvar a dela, então a ama.
O coração de Quinn queria explodir de seu peito enquanto percebia que seu pai tinha razão sobre tudo isso. Amava Marcail, realmente a amava como sempre sonhou amar uma mulher.
Lamentava o futuro com ela que nunca poderia ser, mas pelo menos seus irmãos a manteriam segura no castelo. Lá, Marcail prosperaria com Cara.
O último pensamento de Quinn antes que o frio o tomasse foi o doce sorriso e os olhos azul-turquesa de Marcail.
—Tirem-no! — Fallon gritou.
Ele segurava o corpo gelado de Marcail em seus braços, assim estava impotente para fazer qualquer coisa, mas viu como Lucan e Ramsey tentavam puxar Quinn das chamas.
—Maldição, Quinn, — Lucan gritou. —Não se atreva a desistir!
Os dois Guerreiros azuis pálidos que eram, obviamente, gêmeos e um Guerreiro branco pisou ao lado de Lucan e Ramsey e acrescentaram sua força para puxar o corpo de Quinn.
—Graças a Deus, — Larena disse enquanto enxugava as lágrimas de seus olhos.
—Se movam, — Fallon disse enquanto ia para Quinn. Precisava levar os dois para Sonya.
A palidez de sua pele cinza e o gelo que pendurava de seu cílios e pêlos não dava a Fallon muita esperança.
O Guerreiro branco levantou Quinn por cima do ombro.
—Vai precisar de ajuda.
Fallon olhou para sua esposa antes de tocar o Guerreiro branco e saltá-los para o grande salão do castelo.
—Merda, — uma voz masculina disse quando Fallon apareceu.
—Busque Sonya e Cara, — ele gritou para Malcolm enquanto corria até as escadas com Marcail ainda em seus braços.
Atrás dele, o Guerreiro branco o seguia. Fallon pensou em colocar Quinn e Marcail em quartos diferentes, então pensou que seria mais fácil para Sonya se estivessem juntos. Sem outro pensamento, Fallon caminhou para o quarto de Quinn.
O Guerreiro passou por ele e puxou as cobertas da cama de modo que Fallon pudesse deitar Marcail. Uma vez feito, ajudou o Guerreiro a deitar Quinn.
—Sou Arran, — o Guerreiro disse. —Dei minha fidelidade à Quinn no Poço.
Fallon acenou para ele.
—Agradeço por isso.
Sonya e Cara correram para dentro do quarto então. Sonya não disse uma palavra quando foi para a cama e examinou o casal. Se endireitou e virou para Fallon.
—Preciso saber cada detalhe e, especialmente, se magia esteve envolvida.
—Havia magia. A magia de Deirdre para ser preciso. —Fallon então passou a contar o que aconteceu.
Os lábios de Sonya apertaram.
—Isso vai tomar um monte da minha magia. Se tivéssemos outro Druida.
—Marcail é uma Druida, — disse Arran. —E tem a capacidade de se curar. Será que faz diferença?
Sonya balançou a cabeça lentamente.
—Talvez. Se puder fazê-la me ouvir, posso conseguir que me ajude.
—E Quinn? — Fallon perguntou.
—Farei meu melhor, — disse Sônia.
Cara se adiantou então.
—Onde estão os outros?
—Lucan está seguro, — Fallon assegurou. —Vou pegá-los uma vez que saiba que Sonya tem tudo que precisa para atender Quinn e Marcail.
—Eu tenho, — disse Sonya, de costas para ele enquanto levantava a mão Marcail na dela. —Traga os outros.
Fallon olhou para Arran.
—Há outro Guerreiro aqui, Camdyn. Encontre-o e conte tudo. Ah, e se Malcolm ainda estiver aqui, precisa saber também.
—Vou fazer, — disse Arran antes de girar nos calcanhares e sair do quarto.
Fallon olhou mais uma vez para o corpo sem vida de seu irmão antes de saltar de volta para Cairn Toul para recuperar os outros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

Sonya baixou os olhos para Marcail e Quinn e soube que custaria cada milímetro de sua magia salvá-los, e mesmo assim podia não ser suficiente.
—Cobertores, — disse ela. —Vamos precisar de cobertores. E um fogo.
Cara correu para empilhar cobertores em cima do casal antes que começasse a empilhar madeira na lareira.
—Vou fazer isso, — disse Camdyn quando entrou no quarto. —Arran me contou tudo. O que precisa, além de um fogo, Sonya?
Sonya suspirou.
—Orações.
Confiava nas pessoas ao seu redor para garantir que tivesse tudo que precisava. Cara ficaria ao seu lado, acrescentando sua magia, tanto quanto podia.
Este era um dos momentos em que Sonya gostaria de ter mais druidas no castelo. Quanto mais houvessem para acrescentar sua magia na dela, mais seria capaz de curar Quinn e sua mulher.
Sonya esfregou as mãos antes de colocar uma mão sobre o coração de Marcail primeiro, em seguida, de Quinn. Só devia curar um de cada vez, mas se fizesse isso, um deles morreria.
Começou a cantar, usando apenas certa inflexão e suavizando o tom. Sonya podia sentir a bolha mágica dentro dela antes que se derramasse através de suas mãos em Marcail e Quinn. Se concentrou em Marcail, na esperança de encontrar a Druida e levá-la a ajudar com a cura.
—Me ouça, Marcail, — Sonya sussurrou na mente da Druida. —Não é mais prisioneira de Deirdre. Estou tentando curar você, mas preciso de sua ajuda. Use sua magia.
Novamente e novamente Sonya repetiu, mas a Druida nunca respondeu.
Sonya respirou fundo e derramou mais de sua magia no casal. Podia sentir o corpo de Quinn começando a se afastar dos efeitos da magia negra de Deirdre, mas com Marcail, não havia nada.
***
Fallon voltou à montanha e teve que se agarrar numa parede com a montanha balançando e tremendo.
—O que está acontecendo? — Ele perguntou.
Larena correu para ele, seus grandes olhos azuis esfumaçados confusos. —Tudo começou não muito depois que você saiu. O corpo de Deirdre desapareceu e a montanha começou a tremer.
—Precisamos sair daqui. Agora, — disse Lucan.
Fallon pegou Larena e Lucan, e ao mesmo tempo Larena colocou a mão no braço de Duncan.
Na próxima piscada Fallon os levou de volta ao seu castelo.
—Encontre Sonya, — disse ele para Larena. —Ela pode precisar de ajuda.
Larena acenou com a cabeça e correu para atender. Fallon saltou de volta na montanha. Fez mais duas viagens antes de trazer o resto do grupo para sua casa.
Depois da última viagem, Fallon passou a mão pelo rosto.
—Sintam-se em casa, — disse aos recém-chegados. —Se precisarem de alguma coisa, me avisem.
Fallon subiu as escadas para verificar o progresso de Sonya. Sentiu uma presença atrás dele e encontrou Broc. Era estranho ver o Guerreiro sem suas asas e a pele indigo de seu deus, e pela maneira como Broc continuava girando os ombros, Fallon sabia que Broc não estava acostumado a ficar em sua forma humana também.
Fallon correu para dentro do quarto de Quinn para encontrar Sonya e Cara em pé juntas, com suas mãos sobre Quinn e Marcail. Aos olhos de Fallon, a cor de Quinn parecia melhor, mas Marcail estava inalterada.
—Como estão? — Sussurrou para Lucan.
Lucan balançou a cabeça, seus olhos verde-mar dizendo a Fallon as palavras que não podia. As coisas não iam bem.
Fallon foi até Larena e enfiou os dedos nos dela. Só estar ao lado dela dava-lhe força. Larena sorriu tristemente e deitou a cabeça em seu ombro.
Quando Fallon olhou para a porta, a encontrou cheia pelos Guerreiros e Malcolm. Eram uma família agora, e todos se reuniam para dar tudo que podiam pela recuperação de Quinn e Marcail.
—Ela está grávida, — disse Sonya no silêncio. —Marcail carrega a criança de Quinn.
—Sangue de Deus, — disse Lucas. —Vamos perdê-lo, com certeza neste momento, se Marcail morrer.
A garganta de Fallon fechou pela emoção quando olhou para Quinn deitado assim imóvel na cama. Arriscou sua própria vida para salvar Marcail. Deus ajudasse a todos, se Marcail morresse e Quinn sobrevivesse.
Sonya oscilou em seus pés, movendo os lábios com palavras que Fallon não podia ouvir. Larena foi a primeira a alcançar Sonya e ajudou a firmar a Druida.
Fallon não gostava de se sentir impotente, mas era exatamente assim que se sentia. Tudo estava nas mãos de Sonya, e ela era uma druida poderosa, mas tinha magia suficiente para rebater a magia negra de Deirdre?
Houve um suspiro alto de todos quando ouviram Quinn puxar uma respiração funda e lentamente a soltar. Fallon observava como Sonya movia toda a sua atenção para Marcail, a testa franzida e o rosto marcado pela preocupação.
Minutos se transformaram em horas antes que Sonya finalmente se afastasse da cama. —Fiz tudo que pude, — disse ela. —O resto é com Marcail.
Sonya não sabia como ainda estava de pé. Seu corpo estava fraco de usar tanta magia. Nunca usou tanta antes, mas depois que descobriu o bebê crescendo no ventre de Marcail, Sonya não queria desistir. Ainda estaria lá, se sua magia fosse interminável.
—Obrigado, — Fallon disse quando pegou uma das suas mãos e inclinou a cabeça.
Lucan se adiantou e fez o mesmo.
—Salvou nosso irmão.
Sonya olhou por cima do ombro para a cama.
—O que é Marcail para Quinn?
—Tudo, — Arran disse.
—Achei isso. — Ela suspirou, tentando segurar o cansaço que ameaçava derrubá-la. —Se Marcail não melhorar logo, nunca o fará.
Um homem alto, com longos cabelos castanhos caindo no meio das costas se adiantou. Ele e outro homem pareciam idênticos, exceto seu cabelo.
—Não há nada mais que possa fazer por Marcail?
—Usei toda a minha magia, mais do que já usei antes.
Sonya tinha que sair do quarto e ficar sozinha. Precisava descansar. Talvez, então, sua magia crescesse novamente e podia voltar para Marcail.
Caminhou até a multidão de Guerreiros na porta. Não mostravam a forma de seus deuses, mas um guerreiro pareceu diferente dos outros, homens mortais.
Seu olhar foi atraído para um guerreiro bonito, que estava na porta atrás dos outros.
Tinha olhos escuros e misteriosos, e cabelos loiros ondulados que caiam em seus ombros. Mechas de cabelo dourado caiam sobre seus traços, mas não parecia notar.
Seu rosto era tão perfeito que poderia ser formado pelos próprios deuses. Sonya se forçou a desviar o olhar de seu peito nu para que não se envergonhasse tocando sua pele dourada, como desejava fazer.
Saiu do quarto e se agarrou na parede no corredor para se firmar.
Pela maneira que seu corpo estava reagindo, não chegaria em seu quarto sem desmaiar.
Colocou um pé na frente do outro, determinada a não deixar ninguém ver o quão fraca estava, quando de repente as pernas cederam. Antes que batesse no chão, braços fortes se fecharam em torno dela e a seguraram contra um peito de aço.
—Tenho você, — disse uma voz profunda e sensual em seu ouvido.
—Estou bem. Posso fazer isso sozinha.
Ele a levantou nos braços, apesar de suas palavras. Sonya de alguma forma não ficou surpresa ao ver que era o Guerreiro com cabelo dourado e rosto perfeito que a segurava.
—Não está bem. Agora, me diga onde é seu quarto. Acho que não quer que os outros a vejam assim?
Ela balançou a cabeça.
—Não, não quero. Meu quarto é no corredor à esquerda.
Ele começou a andar, seu passo fácil e longo. Ele olhou para ela uma vez, seus olhos escuros e insondáveis como o céu noturno.
—Quem é você? — Ela perguntou.
Uma carranca passou pelo seu rosto tão rapidamente que quase não a viu.
—Broc MacLaughlin.
—Broc, — repetiu.
Queria perguntar se era o mesmo Broc que sua irmã conheceu, mas sabia que não seria possível. Seria?
Os olhos de Sonya começaram a fechar e ela descansou a cabeça no ombro de Broc, sua pele quente contra sua bochecha. Queria agradecer por ajudá-la quando a deitou sobre a cama, mas o sono a puxou.
Broc puxou o cobertor sobre os ombros de Sonya antes de se permitir tocar a trança de fogo.
—Finalmente a encontrei. Graças a Deus está segura. Descanse bem, doce Sonya.
***

Quinn se encolheu debaixo das cobertas. Nunca sentiu tanto frio na vida. Sua mão roçou contra um corpo, e se viu girando para o cheiro de sol e chuva que reconhecia. Estava prestes a cair no sono quando ouviu seu nome.
—Quinn?
Conhecia essa voz de algum lugar. Quinn abriu os olhos.
—Fallon?
O rosto de Fallon se abriu num enorme sorriso cheio de alívio e um pouco de tristeza.
—Sim, irmão. Como se sente?
—Frio.
Mais cobertores foram empilhados de repente em cima dele. Olhou ao redor para encontrar a câmara cheia de Guerreiros, incluindo seus próprios homens. Havia um par de homens que não reconheceu, entretanto.
—Esse é Camdyn, — disse Lucas. —Ele é outro Guerreiro amigo de Galen.
Fallon apontou para o outro homem no grupo, um homem obviamente mortal, pela recente cicatriz em seu rosto.
—Este é Malcolm Monroe, primo da minha esposa. Vou contar tudo sobre como Larena e eu nos encontramos e como Malcolm ajudou assim que você estiver de pé.
Quinn franziu o cenho. Por que estava na cama e não se sentia muito bem? Em seguida, tudo voltou rapidamente.
—Deirdre, — ele soltou.
—Ela está morta, — disse Ian. —Charon a matou.
Quinn olhou em volta procurando o Guerreiro cobre.
—Onde está Charon?
Duncan encolheu os ombros.
—Desapareceu depois de matar Deirdre.
Quinn tocou a mão de Marcail por baixo das cobertas e sentiu sua pele gelada. Sua respiração era superficial e irregular, e sabia, sem olhar no rosto dela que ainda estava inconsciente.
—Sonya trabalhou muito e bem com sua magia para curar vocês, — disse Lucas.
Quinn assentiu com a cabeça e se inclinou sobre o cotovelo para olhar Marcail. Puxou as cobertas até o queixo e passou o dedo pelo seu rosto.
—Eu a perdi, não foi? — Ele perguntou a ninguém em particular.
—Ela poderia se curar a si mesma como antes, — Arran ofereceu.
Era possível.
—Há quanto tempo ela está assim?
O silêncio foi ensurdecedor.
Quinn descansou sua testa contra a dela e apertou os olhos fechados. Seu coração estava em pedaços, sua alma rasgada. Ele finalmente encontrou uma mulher que amava, amava verdadeiramente, e era tirada dele antes que sequer dissesse a ela o que significava para ele.
Estava destinado a passar a vida sozinho?
—Sangue de Deus, — disse ele. —Não posso fazer isso novamente.
Houve um movimento e depois duas mãos repousaram em seu ombro. Seus irmãos. Como sempre, estavam lá por ele.
—Eu a amo, — disse Quinn. —O amor que sempre pensei que nunca encontraria me encontrou na escuridão da montanha. Mas Deirdre pela segunda vez o levou de mim.
Uma das mãos apertou seu ombro.
—Deirdre está morta, — disse Lucan. —Não será capaz de nos machucar novamente.
Mas isso não importava mais. Nada importava sem Marcail.
Quinn jogou as cobertas e levantou da cama. Não se moveu com a facilidade que normalmente fazia. Os efeitos residuais da magia de Deirdre provavelmente, mas faria o que precisava ser feito.
—O que está fazendo? — Fallon perguntou.
Quinn ignorou seu irmão mais velho e levantou Marcail em seus braços.
—Ela ficou no escuro por dias. Precisa da luz.
Ninguém o deteve, enquanto carregava sua mulher do quarto. Saiu do castelo para o pátio. Apenas brevemente percebeu que já tinha um portão.
Continuou através da porta aberta para as falésias. Queria mostrar a Marcail sua casa e as falésias que amava. Esta era sua única chance, e nada o impediria.
Quinn encontrou um ponto e a desceu no chão. Olhou para o rosto de Marcail, que estava pálido e gelado ao toque. Uma de suas tranças caiu sobre os olhos.
Quinn suavemente a empurrou fora e beijou sua testa.
—Gostaria que pudesse ver isso, Marcail, — disse ele. —O sol está descendo no céu, deixando as águas escuras do mar laranja e bronze. É um dos meus momentos favoritos do dia.
Ele engoliu o nó na garganta.
—Abaixo de nós está a praia onde meu pai ensinou a mim e meus irmãos a nadar e pescar. À noite, quando fecho meus olhos, posso ouvir as ondas se chocando contra os rochedos. É um som suave, que acho que você chegaria a desfrutar.
Uma lágrima rolou pelo seu rosto. Suspirou e fechou os olhos, desejando ter a magia para fazer Marcail ajudar a si mesma.
Ele olhou para seu rosto, agora iluminado pelo brilho vermelho-alaranjado do sol poente.
—Teria sido feliz aqui. Gostaria de ter certeza disso.
Não importa o quão duro a olhava, Marcail não se movia ou respondia. Tanto quanto o coração de Quinn gritava em negação, sabia que Marcail estava perdida para ele. Seria apenas questão de horas antes que seu coração já enfraquecido, parasse.

 

CAPÍTULO TRINTA E CINCO

A primeira coisa que Marcail sentiu foi o calor. Percebeu que foi retirada das chamas azuis, uma vez que a magia de Deirdre já não a mantinha congelada. No entanto, não conseguia acordar. Sabia que seu coração estava falhando, podia sentir a tensão de seus pulmões enquanto lutavam para respirar.
Por um tempo, sentiu outra coisa também, a magia mie. Havia outra Druida tentando ajudá-la? Como não conseguia ouvir nada além do silêncio, Marcail não sabia.
Embora não quisesse morrer, a única coisa que queria — Quinn — foi tirado dela.
O que havia para viver agora? Mas ainda assim seus pulmões atraíam o ar. Podia morrer ou podia usar sua magia e ajudar a se curar. Sua avó disse uma vez que sua vida ficaria pendurada na balança e Marcail deveria ser capaz de se curar de qualquer coisa.
Sua avó teria previsto o que Deirdre faria com ela?
Marcail procurou sua magia, mas não encontrou nada. Era uma mie, uma druida que só conhecia a bondade. Sua linhagem podia ser rastreada até os antigos celtas, quando seus antepassados mantinham um grande poder. Sua magia não podia ser tirada dela.
Então... sentiu um pedaço de magia e a alcançou com sua mente. Sustentou essa linha pequena e se focou sobre ela, puxando-a em seu corpo e através de seu sangue, coração e pulmões.
A cada respiração lutava contra a magia negra que queria sua morte. Várias vezes a magia negra quase ganhou, mas Marcail se recusava a desistir. Sua avó a ensinou bem, e Marcail não permitiria que sua formação e magia não fossem usadas.
Sua magia começou a crescer quando uma luz branca brilhou dentro dela. Quanto mais se concentrava, mais ela crescia, até ultrapassar a magia negra venenosa dentro dela que a matava.
Rapidamente, um som encheu seus ouvidos. Aves cantando, vento assobiando ao seu redor, e ondas batendo abaixo dela. Mas, o mais maravilhoso de tudo, eram os braços fortes que a seguravam, um abraço que reconheceria em qualquer lugar.
Quinn.
Ela abriu os olhos para vê-lo com o olhar perdido na distância. Em torno dela o céu estava vivo pela cor. Nuvens variavam do lavanda ao laranja e rosa brilhante e vibrante. Desviou o olhar e encontrou o sol se pondo no horizonte.
Marcail foi capaz de vislumbrar o último pedaço do globo laranja antes de desaparecer e a noite ter seu domínio sobre a terra.
Virou seu olhar de volta para Quinn e sorriu. Ela não sabia como chegaram tão longe de Deirdre, e isso não importava. Ela estava em seus braços, o único lugar que queria estar.
Seu coração estava prestes a explodir de felicidade, mas a tristeza no rosto de Quinn a fez parar.
Ele respirou fundo e olhou para ela. Seus olhos se arregalaram com descrença.
—Marcail? — Ele sussurrou.
Ela sorriu e chegou a tocar em seu rosto.
—Sim, Quinn. Estou aqui.
—Como?
—Magia. Minha magia.
Sua mão tremia quando acariciou seu rosto.
—Santo inferno. Pensei que tinha perdido você. Não faça isso comigo novamente.
—Nunca, — jurou.
Ele a esmagou contra seu peito e ela se congratulou com seu calor. Era tão bom tocá-lo, abraçá-lo novamente, que nunca queria sair.
—Está no Castelo MacLeod, — disse ele quando se inclinou atrás. —Todos os prisioneiros foram libertados de Cairn Toul. Duncan, Ian, Arran e Broc voltaram com a gente.
Marcail mordeu o lábio.
—O que aconteceu com Deirdre?
—Está morta, — disse Quinn. —Nunca te machucará novamente.
Marcail estava sobrecarregado pelas notícias. Desejava ter visto isso, mas era o suficiente que o mal de Deirdre não fosse mais parte do seu mundo.
Quinn acariciou seu rosto e ela se viu perdida em seu olhar verde-pálido.
—Percebi uma coisa quando vi o que Deirdre fez com você.
—O quê?
—Eu te amo.
Em todos os seus sonhos, nunca pensou em ouvir essas palavras dele.
—Me ama?
—Sim. Toda a minha vida sonhei em encontrar uma mulher que eu amasse. Nunca pensei que fosse possível.
Ela se inclinou para que seus lábios ficassem perto dele.
—É definitivamente mais que possível, Quinn MacLeod. Temo que me apaixonei por você no momento que me salvou no Poço.
Seus lábios tomaram os dela num beijo ardente abastecido pela saudade, paixão e a promessa de um futuro.
—Não quero ser separado de você novamente. Nunca.
Ela riu, sua alma tão cheia de alegria que mal podia suportar.
—Eu concordo.
Quinn rolou de costas e a puxou contra ele.
—Não posso esperar para mostrar tudo e encontrar meus irmãos. Quando estiver acomodada, talvez Sonya e Cara possam ajudá-la a encontrar o feitiço para ligar nossos deuses.
Marcail franziu a testa e olhou para longe dele.
—O que foi? — Ele perguntou.
—Deirdre quase matou minha magia. Eu a trouxe de volta, e embora ela esteja mais forte, tenho medo que possa ter perdido o feitiço para sempre. Sabe, eu comecei a lembrar dele enquanto estava no Poço. Você o disparou.
Ele levantou uma sobrancelha.
—Eu?
—Minha avó sempre me disse para seguir meu coração em tudo. Acho que ela camuflou o feitiço até que eu me apaixonasse. Quanto mais te conhecia e te amava, mais ouvia a estranha canção na minha cabeça. Foi só depois que foi levado que eu percebi o que era. Quase o tinha quando Broc veio para me ajudar a escapar. Não fui capaz de tentar desde então.
Quinn sorriu e a beijou.
—Vai dar tudo certo. Se encontrar o feitiço, vamos usá-lo. Se não...
—Você viverá para sempre, enquanto eu vou morrer.
Seus lábios se apertaram com suas palavras.
—Prefiro ter a eternidade com você, mas vou me contentar com tudo que eu tiver.
E no seu coração, ela concordava com ele.
—Perdemos tanto tempo.
Quinn rolou de costas e ficou de pé. Estendeu as mãos para ela e suavemente a puxou ao lado dele.
—Não posso esperar para que conheça Lucan e Fallon.
Marcail riu e virou a cabeça para ver o grande castelo com suas pedras cinzentas e grandes torres.
—É magnífico.
—Muito trabalho foi feito para restaurá-lo, — disse ele. —Tanta coisa aconteceu enquanto estive fora.
—E você mudou.
Ele balançou a cabeça e a puxou em seus braços.
—Para melhor. Nunca sonhei que diria isto novamente, mas você será minha esposa, Marcail?
Ela balançou a cabeça enquanto a felicidade transbordava dentro dela.
—Não sonharia em ficar com nenhuma outra pessoa.
Ele gemeu e inclinou a cabeça para outro beijo, um beijo que era o início do amor mais glorioso que qualquer um podia imaginar.

 

 

 

 

 

EPÍLOGO

Quinn não conseguia parar de sorrir. Marcail não só devolvia seu amor, mas agora seria sua esposa. Parecia a coisa certa, como nada nunca foi antes. Mesmo saber que seu deus poderia nunca ser ligado, e Marcail era mortal, não era suficiente para amortecer seus espíritos e a esperança de seu futuro.
—É bom vê-lo sorrindo novamente, — disse Lucan quando parou à direita de Quinn.
Quinn assentiu e levantou a taça para Marcail que estava com Cara e Sonya na outra extremidade do grande salão. Sonya lhes disse anteriormente sobre a gravidez de Marcail. Quinn ficou impressionado e muito feliz, apesar de um fio de medo não o deixar desde a notícia.
—É bom sorrir, — admitiu Quinn.
Fallon se moveu à esquerda de Quinn.
—Como as coisas mudaram por aqui. Acho que nossos pais aprovariam.
—Sim, — concordou Quinn. —Derrotamos Deirdre, conseguimos nosso castelo de volta graças à influência de Malcolm com o rei, encontramos grandes mulheres para compartilhar nossas vidas, e temos uma nova família.
—Posso beber a isso, — disse Lucan e ergueu a taça.
Fallon riu e brindou ao lado de Lucan. Foi um choque para Quinn descubrir que Fallon parou de beber vinho. Água podia ser encontrada em sua taça agora.
—Pelo nosso futuro, — disse Quinn e colocou sua taça ao lado da de seus irmãos.
Lucan sorriu e disse:
—E nossas mulheres.
Cada um bebeu profundamente e soltou um suspiro.
Foi Fallon quem falou primeiro.
—O que vamos fazer agora que Deirdre se foi?
—Estive pensando sobre isso, — disse Quinn. — "Não há necessidade de Guerreiros. Acho que devemos encontrar o feitiço para ligar nossos deuses. Marcail está disposta a tentar.
Lucan balançou a cabeça quando baixou a taça da sua boca.
—Concordo. Gostaria de envelhecer com minha esposa.
Quinn passou a concordar com Lucan. Sem mencionar que com o bebê a caminho, Quinn queria uma vida normal para sua nova família.
—Pergunto-me se deveria voltar para a montanha, — disse Fallon.
Quinn olhou para o irmão para ver se Fallon falava a sério.
—Por quê?
—Pode haver pessoas precisando de nossa ajuda que não puderam sair. Sem falar que gostaria de ter certeza que todos os wyrran estão mortos.
Lucan coçou o queixo.
—Fallon tem razão. Talvez devêssemos voltar. Outros druidas podem estar feridos ou presos.
O pensamento de voltar àquela montanha deixava Quinn suando frio. Sabia que Deirdre estava morta, viu seu corpo com seus próprios olhos, mas ainda não conseguia afastar a sensação que ela não foi embora para sempre como disse Marcail.
—Vou levar Hayden e vamos amanhã, — disse Fallon.
Quinn riu.
—Ah, seu poder de saltar de um lugar ao outro. Esse é um bom poder.
Fallon deu de ombros, mas não se preocupou em esconder seu sorriso.
—É, embora não possa saltar num lugar onde nunca estive antes. Falando de poderes, tem um que nunca nos falou?
—Posso falar com os animais.
Lucan assobiou.
—Quando isso começou?
—Enquanto estava na masmorra de Deirdre. Odiava ratos. Depois que descobri como mantê-los à distância, nunca me incomodaram de novo.
—Ah, — disse Lucas. —Você foi a razão pela qual todos os animais atacaram Deirdre.
—Deus ajude qualquer mortal tolo o bastante para tentar tomar o castelo de nós, — Fallon disse.
Larena se aproximou e abraçou Fallon.
—Já está planejando uma guerra?
—Eles nunca estão contentes, estão? — Cara disse quando se juntou a Lucan.
Quinn sorriu e pegou a mão de Marcail na sua quando a puxou contra seu peito para que pudesse passar um braço em torno dela. Ele olhou para a pulseria em torno de seu braço com a cabeça de lobo nela, combinando com seu torque e os unindo para sempre.
—Faremos o que for preciso para manter nossas mulheres seguras.
—Não espero nada menos de um Guerreiro, — Marcail disse antes de se levantar na ponta dos pés para beijá-lo.
A sala irrompeu em aplausos. Quinn riu com Marcail. Levaria algum tempo para se acostumar com uma vida tão cheia de amor e felicidade, mas estava pronto para descobrir.
***
Isla tropeçou na neve e caiu de joelhos. Ela voltou enquanto tentava descer a montanha, e agora temia que nunca iria abandoná-la.
Seus dedos estavam congelados e já não podia sentir seus pés, por isso, continuava tropeçando nas coisas. A neve começou a cair, prejudicando sua visão, mas, novamente, em Cairn Toul, sempre havia neve.
Ela se empurrou para fora da neve e viu sangue, onde a mão estava. Precisava ver seus ferimentos em breve. Já tinha perdido muito sangue. Qualquer um que a procurasse simplesmente tinha que seguir o sangue para encontrá-la.
Uma lágrima caiu de seus olhos. Ela a limpou e tentou empurrar Grania de sua mente. Foi um acidente matar sua sobrinha, mas a dor do que fez a perseguiria para sempre.
Se Deirdre não a encontrasse primeiro.

 

 

                                                   S.D. Perry         

 

 

 

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