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IMMORTAL EVER AFTER / Lynsay Sands
IMMORTAL EVER AFTER / Lynsay Sands

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Um beijo não quer dizer que seja para sempre...
Valerie Moyer não acredita em vampiros... até que é sequestrada por um psicopata com presas. Depois de escapar de um renegado, não quer saber de nada das criaturas da noite. Até que se vê sob a proteção de um moreno muito bonito chamado Anders.
Anders não só espera que aceite que ele é um imortal, mas também que ela é a mulher destinada a ser sua companheira.
... Ou quer?
Anders sentiu uma conexão com Valerie no momento em que estreitou seu corpo machucado entre os braços. Mas antes de reclamá-la deve destruir o vampiro que quase a rouba para sempre. Seu trabalho seria mais fácil se Valerie não lutasse com ele a cada passo do caminho. E a pesar de tudo, Anders adora suas provocações e acha que vale a pena lutar pela beleza de olhos verdes!

 


 


Capítulo 1

Os olhos de Valerie piscaram abertos na escuridão. Por um momento se sentiu desorientada e se perguntou o que a tinha despertado, então notou passos acima.

Ficou quieta, escutando como alguém andava pela cozinha na parte superior das escadas, esticando-se quando os passos pararam e escutou a abertura de uma primeira, depois outra, e finalmente uma terceira fechadura. Passou um momento de silêncio antes que a porta se abrisse. A luz imediatamente correu pelas escadas através do chão de concreto do porão. No momento em que chegou a sua jaula, era débil e sem brilho, mas até essa pouca luz a fez piscar depois de ver tudo negro a maior parte do dia.

Podia ouvir outras mulheres se agitando e sentir a tensão atrás dela. O medo de repente era algo vivo, no escuro e úmido porão. Valerie tentou não se deixar apavorar também e começou a contar de trás para frente a partir de cem para se distrair.

Precisava da cabeça pensando com claridade se quisesse escapar. O medo conduzia à ações e reações de pânico. Isto conduzia a enganos, e não havia lugar para enganos se quisesse sair dali e tirar às demais dessa casa dos horrores.

Sua atenção foi reclamada quando parte da luz de cima de repente foi bloqueada por uma grande figura que enchia a soleira. Viu que era Igor com uma bandeja na mão, enquanto a luz emoldurava sua silhueta. Essa luz dançava ao redor de seu corpo enquanto o chão se movia quando ele começou a descer. O surdo ruído de suas botas na escada de madeira era forte no súbito silêncio. As mulheres estavam tão quietas agora, como cervos deslumbrados pelos faróis.

Valerie conteve a respiração e esperou que Igor chegasse ao pé da escada. Passou diante de sua jaula sem olhá-la, em direção à parte traseira do local, até as jaulas que estavam alí. Sempre começava na parte do fundo, distribuindo uma garrafa de água, um tigela de aveia e uma fruta para cada cativa até chegar à parte da frente. Todo mundo teria comida com exceção da mulher que tinha sido escolhida para a diversão da noite. Com esse conhecimento, Valerie tentou distinguir quem estava recebendo comida e quem não, mas sua jaula na parte da frente e a escuridão em que as outras mulheres estavam tornava difícil ver algo. Achou que Igor tinha parado em cada jaula, mas não podia ter certeza.

Quando parou em frente a sua jaula, Valerie percebeu que agora a bandeja estava penduranda junto a sua perna, vazia. Deixou escapar o fôlego em um lento chiado silencioso. Era sua vez de uma “noite fora”, então. Ficou quieta enquanto ele deixava a bandeja no chão e tirava as chaves do bolso dianteiro de sua calça. A bandeja ficaria ali até que ela voltasse para sua jaula. Ele a usaria para levar todas as tigelas que acabava de distribuir.

Bom, faria isso se fosse voltar, mas ela não tinha a intenção de permitir.

A porta da jaula se abriu, mas Valerie esperava seu lacônico: “Venha”, antes de ficar em suas mãos e joelhos para se arrastar. Seu lar durante os últimos dez dias era de um metro e meio de altura, um metro de largura, e um metro de profundidade. Não havia espaço para ficar de pé, ou mesmo se deitar em seu interior. Durante dez dias tinha permanecido agachada e enrrolada no chão, ou sentada com os joelhos flexionados até o peito. A única vez que chegou a endireitar plenamente suas pernas foi quando saiu da jaula, como agora, o que só tinha ocorrido uma vez desde que foi arrastada para cá. Fora isso, tinha passado todo seu tempo nessa jaula, comendo e até se aliviando no penico que lhe foi entregue. O conteúdo destes era retirado uma vez ao dia quando recolhiam os pratos após a refeição, e os devolviam uma vez esvaziados.

—Suba —a ordem lacônica chegou quando parou sobre suas mãos e joelhos no frio chão de cimento. Valerie não se surpreendeu quando a ordem foi acompanhada de um Igor que agarrava seu braço e a puxava para cima. Depois de tanto tempo sem poder esticar as pernas, precisava da ajuda e conteve um gemido de dor quando ficou em posição vertical. Estava agradecida pela mão que sustentava seu braço enquanto a acompanhava em silêncio pelas escadas.

Para o alívio de Valerie, o pior da dor passou no momento em que chegou ao topo da escada, mas continuou apoiando-se em seu agarre, até tropeçou deliberadamente no último passo para dar a impressão de que não estava completamente estável em seus pés. Ele esperaria isto. Normalmente, os efeitos dos medicamentos que punham na farinha de aveia agora estariam desaparecendo e se esperava que fosse lenta e que estivesse com um pouco de falta de coordenação.

Ela não estava.

Valerie tinha deixado de comer a aveia depois de sua última “noite fora”. Estava lúcida. Sua única preocupação era que ia estar mais fraca que o normal depois de quatro dias sem comer. Mas não havia nada que pudesse fazer a respeito, e só teria que contar com suas habilidades, sua força e o elemento surpresa para ver o que acontecia. Não tinha nenhuma intenção de morrer em sua própria sujeira nessa maldita jaula fedorenta no porão.

Valerie continuou se apoiando no agarre de Igor e projetou um casual tropeção enquanto a conduzia através da cozinha. Deixou que sua cabeça pendurasse para frente como se estivesse muito cansada e drogada para se sustentar. Ao fazer isso, pôde olhar rapidamente ao redor sob o manto de seu comprido cabelo enquanto procurava uma possível arma, ou a oportunidade de escapar.

Não havia nada. A pia da cozinha e a mesa estavam livres de algo útil. Não havia cabos de facas que saíssem de um prático bloco de facas, não havia copos ou taças que ela pudesse quebrar e utilizar como arma, nem sequer uma máquina de café ou torradeira. Poderia muito bem ser uma casa vazia.

Valerie seguiu adiante, procurando com o olhar enquanto ele a conduzia por um corredor e por outra série de escadas até o andar superior da casa. Não se surpreendeu quando ele a dirigiu a sua esquerda no patamar, conduzindo-a para a parte de trás da casa. Ela tinha estado alí antes, mas estava drogada daquela vez. Suas lembranças do corredor, do retrato renascentista na parede, as paredes com painéis, e o tapete azul estavam ligeiramente distorcidos em sua memória.

O corredor terminava em um grande quarto. Ela se negou a olhar a cama de quatro colunas fora de moda quando passaram para o banheiro da suíte. A casa tinha provavelmente mais de cem anos, mas o banheiro mostrava que já tinha sido reformado. Ela achou que teria ocorrido nos anos cinquenta ou sessenta. Era verde, as paredes estavam pintadas de verde, o box e o lavatório eram verdes, e havia uma banheira verde com pequenos azulejos verdes que a cobriam.

É incrivelmente feio, pensou Valerie enquanto Igor a conduzia para o lado e passava junto a ela, dobrando-se sobre a banheira e começando a preparar seu banho. Valerie sabia o que viria depois, mas se negava a entrar em pânico. Seu olhar se deslizou ao redor do pequeno lugar, até a disposição de um conjunto de elementos na pia do lavatório: uma toalha, uma bucha, um sonete, xampu, condicionador, e um roupão branco e limpo. Tudo isso era para ela, e estava colocado com cuidado na pia do lavatório para “prepará-la para o jantar”, como Igor chamava.

Valerie tinha começado a afastar o olhar da coleção quando mudou de idéia. Igor foi endireitando-se depois de ajustar o tampão e abrir as torneiras. Ele voltou sua atenção a seu lado. Sem tempo para perder, Valerie pegou o xampu, abriu a tampa, e jogou no rosto de Igor quando ele se virou para ela. Quando o homem deu um grito de surpresa, e seus dedos alcançaram seus olhos, ela seguiu com um chute em seu abdômen.

Valerie tinha a esperança de jogá-lo rodando para trás no banheiro, mas fosse porque ele estava mais firme em seus pés que a maioria ou porque ela estava mais fraca do que esperava depois de quatro dias sem comer, ele apenas cambaleou dando um passo atrás, e mesmo enquanto fazia isso empurrou com seu braço, golpeando-a no peito.

O golpe foi como uma carga explosiva detonando frente a ela. Valerie saiu voando pelos ares, e para fora do banheiro. Aterrissou em algo com impacto suficiente que scaísse sob seu peso com estrépito, enquanto sua cabeça ricocheteava no chão.

Valerie ficou sem ar e viu estrelas estalando detrás de seus olhos fechados.

Ela girou sobre seu estômago, com a intenção de ficar em pé e começar a correr, mas parou quando sua mão caiu sobre um eixo de madeira. Era a melhor parte de uma das pernas do banco aos pés da cama no qual tinha caído.

Então foi nisto que aterrissei, pensou Valerie enquanto observava que a perna uma vez retangular se dividiu diagonalmente quando o banco se quebrou. Isso deixou uma ponta muito afiada. Uma espécie de estaca, pensou, agarrando a peça justo quando a mão de Igor segurava seu ombro. Seus dedos se cravaram dolorosamente em sua pele e músculos enquanto ele a puxava sobre suas costas.

Valerie não lutou. Em vez disso, usou o impulso para encaixar sua estaca no peito do enorme bastardo. Ambos se congelaram e se olharam simplesmente, mas Valerie olhou para seu peito para ver onde a tinha enterrado. Tudo aconteceu tão rápido, que não tinha tido oportunidade de apontar. Entretanto, a sorte esteve com ela, porque o tinha acertado no coração. Se é que tem um, pensou sombria, negando-se a sentir culpa pelo que acabava de fazer.

A respiração rouca de Igor atraiu seus olhos de novo enquanto a soltava. Retrocedeu um passo, boquiaberto ante a improvisada arma em seu peito, e de repente caiu para trás. Igor caiu sobre o chão de madeira com um sólido golpe que não cobriu o ruído de sua cabeça ao rachar a madeira.

Por um momento, Valerie se permitiu o luxo de apenas ficar onde estava. O peito lhe ardia onde Igor tinha aplicado o golpe que a fez voar, a cabeça pulsava como louca por ter batido no chão, e o resto de seu corpo, as costas em especial, queixava-se dos abusos que tinha sofrido quando caiu no banco. Mas tinha derrubado o monstro que as tinha submetido às humilhações e maus tratos.


Bom, um dos monstros, reconheceu Valerie com um suspiro. Igor não era o chefe.

Trabalhava para o filho da puta que a tinha sequestrado na rua e a trouxe para cá. E já que Igor a estava preparando para o jantar, sem dúvida esperava que seu chefe retornasse logo. Não tinha tempo para pensar sobre a possibilidade de voltar a reunir forças ou tomar cuidado de não fazer besteira.

Fazendo uma careta, Valerie se obrigou a sentar com as costas retas, depois pegou a coluna mais próxima da cama e alongou. Sua cabeça dava voltas, e um raio de dor atravessou suas costas, mas conseguiu se endireitar. Enquanto esperava que o enjôo parasse, Valerie olhou para baixo e viu que havia um pedaço de madeira manchada de sangue que transpassava o assento estofado manchado também com sangue, o banco quebrado no qual tinha caído. Parecia que Igor não era o único que tinha conseguido estacar.

Uma rápida conferida revelou que a parte traseira direita de sua suja camiseta estava manchada de sangue. Valerie se sacudiu a roupa, estirando a cabeça para ter uma melhor vista dos danos. Para seu alívio, parecia que era somente uma ferida superficial. Estava sangrando muito, mas pelo que podia dizer, nenhum órgão vital tinha sido atingido.

Valerie levou a mão à ferida, tentando estancar a perda de sangue, depois deu um olhar em Igor. Estava de barriga para baixo, aparentemente morto. Tranquila, voltou sua atenção ao quarto em si. Havia um telefone no criado mudo mais afastado do banheiro da suíte. Assim como a decoração, o telefone era velho, mas não lhe importava desde que funcionasse.

Afastando-se da coluna da cama, Valerie se dirigiu ao criado mudo, um pouco alarmada ao descobrir que mal se sustentava sobre seus pés. Ignorando isso, ligou para a polícia.

As pernas tremiam e sua cabeça flutuava enquanto esperava que atendessem sua ligação. Com medo de cair, Valerie quase se sentou na cama, mas depois mudou de idéia. Podia não ser capaz de voltar a se levantar.

Felizmente, o criado mudo estava entre a cama e a parede exterior, e uma janela estava apenas a um metro de distância. Puxando o antiquado cabo tensamente, acomodou-se na janela, apoiando-se no batente enquanto lhe respondiam.

-Polícia.

-Preciso da polícia e uma ambulância. Imediatamente —disse Valerie, franzindo o cenho ante o fraco e tremente que soava sua voz.

-Qual é sua emergência e seu endereço? —perguntou a operadora.

-Não sei o endereço. Fui sequestrada e...

-Sequestrada? —A operadora a interrompeu.

-Sim. E há outras seis mulheres no porão. Ou havia-acrescentou sombria, olhando para Igor. -Acho que ele tomou muito sangue e uma ou até duas delas poderiam estar mortas.

-Tomou muito sangue? -perguntou a operadora, mostrando surpresa em sua voz anteriormente profissional. -Disse que foi sequestrada, senhora? E essas outras mulheres também foram sequestradas?

-Sim-respondeu ela impaciente. -Serão necessárias mais de uma ambulância. Estou ferida, Igor está morto, e há outras mulheres.

-Igor? A voz da operadora tomou um tom de suspeita enquanto anotava o nome de Valerie e o que as outras mulheres tinham dado a seu carcereiro. -Disse que Igor está morto?

-Sim-disse ela, fechando os olhos frustrada e desejando ter guardado essa parte da informação para quando os serviço de emergências chegassem ali. Como não tinha feito isso, tinha que se explicar ou se arriscar que a operadora pensasse que estava louca. -Olhe, Igor é apenas o nome que lhe demos. Nenhuma de nós sabe seu verdadeiro nome. Era ele que nos alimentava e ia nos buscar em nossas jaulas para que seu chefe nos mordesse. E, sim, estou bastante segura de que o matei. Enterrei uma estaca em seu coração.

-Disse mordida? E que lhe enterrou uma estaca no coração? Agora definitivamente suspeitava. Sem dúvida pensava que estava atendendo a um trote.

Valerie, cansada, apoiou a bochecha contra a janela. O cristal estava frio contra sua pele enquanto tentava esclarecer seus pensamentos cada vez mais lentos e encontrar a melhor forma de garantir que sua ligação fosse levada a sério e que enviassem ajuda.

Finalmente disse, -Sei que o que disse provavelmente parece uma loucura e sinto muito por isso. O homem que nos sequestrou é um louco. Gosta de se passar por vampiro e nos morder. Mas acredito que tomou muito sangue de Janey e Beth. Não falaram muito nas últimas duas noites, e se não estão mortas, é provável que estejam morrendo. É preciso que enviem ajuda, os paramédicos e a polícia, muitos deles, e rápido. Ele... Se deteve, rígida quando notou o zumbido longínquo. Percebeu que a porta automática da garagem estava se abrindo, enquanto a adrenalina disparava por todo seu corpo. Provavelmente era o único elemento moderno nesse lugar e estava agradecida como o inferno pela advertência que lhe dava.

-Senhora? - perguntou a operadora quando ela ficou em silêncio.

-Ele está de volta. Envie ajuda -disse entre dentes.

-Quem voltou? -perguntou a operadora.

-Quem você acha? -respondeu com dureza. -O homem que nos sequestrou. E quando chegar aqui e ver que Igor morreu, provavelmente me matará e talvez até mesmo às outras mulheres. Envie a ajuda agora.

-Senhora, apenas mantenha a calma. Eu...

-Ainda não rastreou a chamada? Sabe o endereço? -interrompeu-lhe, e depois quando o zumbido parou, acrescentou, -Não importa. Vou deixar o telefone for a do gancho.

Rastreie a chamada e envie ajuda.

-Senhora, preciso que mantenha a calma e permaneça na linha.

-Sim, bom, eu preciso de uma metralhadora Uzi e balas de prata, mas acho que as duas estamos sem sorte -disse secamente. -Deixarei o telefone for a do gancho.

Rastreie a chamada e envie ajuda -repetiu sombria quando o próximo zumbido começou de novo. Era a porta da garagem se fechando, é obvio, pensou Valerie enquanto deixava o telefone sobre o criado mudo. Ele tinha estacionado, entraria na casa e depois viria aqui. Ela só tinha uns instantes.

Em vez de correr o risco de retornar através da casa e se encontrar com o monstro, tentaria escapar. Valerie se voltou para a janela, aliviada quando esta se deslizou com facilidade. Estava ainda mais aliviada de ver que não havia grades. Graças a Deus era uma casa antiga e obviamente alugada. Poderia ter sido uma casa nova com janelas modernas de luxo que não se abrem até o final e com grades, se fosse assim teria que correr o risco de sair do quarto para procurar uma saída.


Valerie foi até a janela e olhou para baixo. Estava no segundo piso com vistas para um grande pátio traseiro. Não havia árvores à mão ou uma grade pela qual pudesse descer, mas os arbustos debaixo se alinhavam ao redor da casa. Não havia nada mais que amortecesse sua queda.

Fazendo uma careta ante o pensamento, pôs uma perna para fora, depois parou quando ouviu uma porta próxima em algum lugar da casa. Percebeu que era provável que fosse a porta que conectava a garagem à casa; Valerie pôs a outra perna para fora, mas parou de novo. Havia uma janela por baixo desta. E não conhecia muito bem o desenho da casa, por isso não tinha nem idéia se ele poderia estar agora na sala de abaixo. Se estivesse e a visse fugindo...

Valerie fechou os olhos, obrigando-se a esperar e escutar os tênues sons de movimento na casa. Mas no momento em que ouviu o ruído surdo dos passos na escada, saltou.

Anders saiu ao alpendre e aspirou uma baforada de ar fresco. A casa que acabava de deixar não cheirava bem, mas a situação que se apresentava não era boa também.

Não havia visto muitas piores.

Observando Justin Bricker, que voltava pelo caminho, começou a descer os degraus do alpendre, perguntando, -Lidou com a polícia?

-Resolvido -assegurou Bricker enquanto ambos se detinham. Olhou com curiosidade à casa, perguntando, -Encontrou à pessoa que ligou?

-Não -disse Anders carrancudo, agora seu olhar se deslizava também sobre a casa.

Sua equipe tinha sido enviada até aqui graças a uma chamada para a polícia que tinha sugerido que poderia haver algo incomum a respeito da situação. As pessoas não estavam acostumadas a querer balas de prata ou enterrar estacas nos atacantes mortais.

Todas as chamadas para a polícia eram monitoradas em busca de algo que pudesse incluir atividades ilegais que precisassem de limpeza. Esta chamada com certeza se encaixava nessa situação, mas encontraram a polícia mortal já na cena do crime. Uma rápida leitura mental tinha alertado Anders e aos outros sobre o fato de que não se tratava de uma chamada excêntrica, e que em seu interior encontrariam sete jaulas no porão: uma vazia, cinco com mulheres vivas presas, e uma com uma mulher morta.

Também havia meia dúzia de cadáveres de mulheres em um quarto nos fundos. Todas elas, tanto as vivas como as mortas, tinham marcas de mordidas que tinham desconcertado por completo os agentes mortais.

Incapazes de abrir as fechaduras das jaulas, os agentes tinham feito uma busca rápida no piso principal e no andar de cima em busca da pessoa que ligou para a polícia, mas depois tinham saído da casda para pedir reforços, e encontrar algo para abrir as fechaduras das jaulas e liberar as mulheres. Foi então quando Anders e outros chegaram. Enquanto Bricker se encarregou de apagar a memória dos agentes de polícia, o resto dos Executores tinha entrado na casa.

Tinham procurado no andar térreo e no superior primeiro, muito mais a fundo que a polícia. Quando não acharam a pessoa que ligou para a polícia, outros foram ao porão para liberar e atender às mulheres presas enquanto Anders saía para continuar com a busca da mulher desaparecida.

-Há uma janela aberta no dormitório principal. Ela pôde ter escapado - disse Anders.

-Maldição. Bricker fez uma careta. -Se chegar às autoridades e falar a respeito disto vai desperdiçar todo o trabalho que acabo de fazer apagando as lembranças desses policiais antes de mandá-los embora.

-Isso não vai acontecer. Está ferida -disse Anders, sem se incomodar em mencionar que havia sinais de uma briga devido à grande quantidade de sangue no dormitório principal. Mesmo que nem metade desse sangue fosse dela, não poderia ir muito longe por sua conta.

-Ferida? Bricker franziu o cenho à frente da casa. -Não pode estar longe então. O

renegado pode tê-la capturado e levado com ele. Ele retornou durante sua ligação.

-É possível -reconheceu Anders, pensando que seria uma vergonha se fosse verdade.

Quão horrível seria se esta pessoa anônima sem nome que ligou tivesse escapado o tempo suficiente para alertar às autoridades, salvo às outras mulheres, apenas para ser capturada de novo e levada pelo renegado antes que as autoridades conseguissem salvá-la?

-Suponho que teremos que ter certeza então -murmurou Bricker.

Anders assentiu.

-Decker e Mortimer estão vendo as mulheres no porão, enquanto procuramos na redondeza e nos asseguramos de que não esteja por aqui em alguma parte.

-De acordo. O olhar de Bricker se deslizou de novo pela frente da casa . -Onde estava aberta a janela?

Em vez de responder, Anders virou e se dirigiu à parte traseira da casa.

Tinham dobrado a esquina e Anders só havia visto aberta a janela do quarto no segundo piso, quando o telefone de Bricker começou a tocar. Fazendo uma pausa, olhou ao jovem quando pegou seu telefone e verificou o identificador de chamadas; Bricker suspirou e Anders levantou uma sobrancelha interrogante.

-Problemas?

-É Lucian. A explicação foi acompanhada por uma careta.

Anders conseguiu sufocar o sorriso que tentou aparecer em seus lábios. Lucian era o chefe do Conselho Imortal e dos Executores que caçavam aqueles que ignoravam ou violavam as leis do Conselho. Também tinha uma esposa que estava a uma semana de dar a luz a seu filho... o que estava fazendo com que o homem ficasse um pouco louco e propenso a incomodar seus Executores com chamadas telefônicas para se manter a par das coisas.

-Melhor atender então -sugeriu brandamente.

-Sim -suspirou Bricker e depois murmurou, -Provavelmente quer que pegue algo para atender os desejos de Leigh. Deus sabe que não pode deixá-la sozinha e ir ele mesmo.

Com os lábios crispados, Anders lhe deixou e seguiu adiante sozinho. Era tarde, passava da meia-noite, mas havia lua cheia esta noite e seus olhos funcionavam tão bem na escuridão como na luz. Dirigiu-se primeiro aos arbustos ao longo da parte posterior da casa, seus olhos exploravam para detectar qualquer sinal de variação ou sangue no chão em seu caminho. Anders estava de pé debaixo da janela antes de ver qualquer indício de que alguém tinha estado alí. O arbusto estava esmagado, com ramos quebrados e folhas soltas ao redor. A terra que o rodeava também estava revolta.

Anders seguiu o rastro ao longo da parte posterior da casa por um espaço de três metros, depos parou quando viu um pé aparecendo por debaixo dos arbustos. Seus olhos se moveram mais à frente do pé nu à parte inferior de uma calça jeans. Mas não pôde ver o resto do corpo, que estava completamente oculto pelos ramos.

Devia ser a mulher que tinha feito a ligação para a polícia, decidiu Anders. E pelas marcas no chão, parecia como se tivesse se arrastado até aqui e tentado se esconder debaixo dos ramos antes de desmaiar... ou de morrer, pensou sombriamente. O ruído de sua aproximação não a tinha despertado.

Agachando-se, Anders pegou seu tornozelo e deu um passo atrás, arrastando-a para tirá-la de debaixo dos arbustos. Era uma moça com o rosto e o cabelo comprido de cor marrom clara igualmente sujos. Sua roupa era um desastre total, o jeans parecia mais marroms que azul, e sua camiseta estava suja e manchada de sangue, deixando uma parte aqui ou ali que lhe disseram que tinha sido branca. Entretanto, seu peito subia e baixava. Estava viva.

De joelhos, Anders puxou sua camiseta procurando feridas, mas rapidamente retrocedeu quando viu que seu peito não estava ferido, mas sim sem sutiã. Então, sentou-a e imediatamente viu a ferida na lateral de suas costas. Era um buraco de bom tamanho, e ainda sangrava, mas não queria atendê-la alí na terra. Tinha que ir de novo até a caminhonete e procurar o estojo de primeiros socorros.

Anders a estava levantando do chão quando ouviu o Bricker falar com suas costas.

-Sim, encontrou-a.

Uma olhada por cima de seu ombro lhe mostrou que Bricker se aproximava com seu telefone ainda pressionado em sua orelha.

-Lucian quer saber se está viva -disse Bricker, parando atrás dele.

-Está. Anders se endireitou com sua carga. -Ferida, entretanto. Nas costas. Precisa de Dani ou Rachel para verificá-la.

Deixando para Bricker transmitir a informação, Anders começou a se afastar.

Acabava de chegar ao pátio dianteiro quando Bricker o alcançou.

-Lucian disse que devemos levá-la a sua casa -anunciou Bricker, ficando a seu lado.

Quer falar com ela quando estiver consciente. Terá Dani e Rachel chegando lá.

-Será melhor ir dizer isso ao Mortimer então -disse Anders, encolhendo-se de ombros. Te esperarei na caminhonete.

-De acordo. Bricker se separou e se dirigiu para o alpendre dianteiro, deixando Anders levar sua carga à caminhonete. Conseguiu conseguir abrir a porta lateral do veículo com um pouco de malabares com a mulher, depois a colocou em seu interior e pegou o estojo de primeiro socorros que sempre traziam. Tinha-a posto de lado e limpava suas feridas quando ela recuperou a consciência e lançou um grito de dor.

Anders se deslizou automaticamente dentro de seus pensamentos para acalmá-la e poder terminar seu trabalho sem obstáculos.

Mas fracassou.

Com os olhos muito abertos pela surpresa, olhou à mulher mais de perto, notando que ela tinha um rosto bonito debaixo de toda essa terra, e que seu cabelo era de um loiro avermelhado em lugar da cor marrom clara que primeiro tinha pensado.

Também tinha lindos olhos verdes que estavam olhando-o com incerteza.

-Está a salvo -disse bruscamente.

Ela continuou olhando-o, procurando com o olhar... algo que ele desconhecia, mas que encontrou porque de repente relaxou e algo do medo desapareceu de sua expressão.

-Como se chama? -perguntou-lhe, tentando penetrar em seus pensamentos. Mas não teve sucesso. Não podia entrar em sua cabeça. E isso nunca tinha acontecido.

-Valerie. O nome soou com tom áspero.

-Valerie -Anders repetiu em voz baixa. Sinta-o bem, pensou, e disse, -Está a salvo, mas ferida. Tenho que parar a hemorragia.

Ela assentiu, compreendendo.

Anders hesitou, mas não havia nada que pudesse fazer para diminuir sua dor durante o que tinha que fazer, então rapidamente terminou de limpar a ferida. Não ficou surpreso quando ela desmaiou na metade de seu trabalho. Tinha perdido muito sangue, e com isso e a dor que lhe estava causando involuntariamente... bom, ele estava mais surpreso de que ela tivesse resistido todo esse tempo sem gritar de dor.

No momento em que Bricker se reuniu com ele, Anders já tinha limpado e enfaixado a ferida e estava de pé junto à porta da caminhonete olhando à mulher mortal.

-Quer que eu dirija? -perguntou Bricker, olhando com curiosidade à mulher na caminhonete.

-Sim. Anders não quis dizer isso, mas não se surpreendeu quando a palavra saiu. Era uma boa idéia. Bricker podia dirigir e ele podia viajar na parte traseira com Valerie.

Se despertasse durante a viagem, ele estaria ali para manter a calma e evitar que ela se machucasse durante a viagem.

-Vamos-ordenou, metendo-se na parte de atrás e fechando a porta.


Capítulo 2

Valerie despertou sentindo-se como a vítima de um acidente de trem. Cada centímetro de seu corpo parecia estar dolorido ou ferido. Mas quando tentou mudar para uma posição mais confortável descobriu que seu lado direito posterior estava pior. O movimento tinha enviado uma flecha de dor através dela que a fez aspirar fôlego muito forte. A memória seguiu à dor, vindo em sua cabeça como um touro furioso. Seus olhos se abriram imediatamente. Piscaram rapidamente, fechando-se quando foram agredidos pela luz brilhante. Depois de passar dez dias em sua maioria na mais absoluta escuridão, parecia que tinha os olhos sensíveis. Mas tinha que saber onde estava e qual era sua situação. Valerie estava bastante segura de que já não estava deitada no chão do lado de fora da casa dos horrores, mas onde estava agora?

Tinha chegado a ajuda? Estava em um hospital? Ou seu sequestrador a tinha descoberto sob os arbustos e a tinha levado com ele? A luz brilhante em vez da escuridão a qual estava acostumada sugeria que estava a salvo, mas Valerie tinha que saber com segurança. Forçou a seus olhos a abrirem um pouco, e depois mais um pouco, e depois mais, até que pôde ver o teto branco no alto. Isso era tranquilizador, disse-se, e abriu os olhos enfocando-os um pouco mais longe, com a cabeça deslocando-se no que parecia um travesseiro para assim poder ver ao redor. A primeira coisa que viu foi um suporte de via intravenosa a sua esquerda com uma bolsa meio vazia de um líquido transparente.

Então se permitiu relaxar um pouco, mas continuou se obrigando a abrir os olhos e olhar ao redor. Um pouco de tensão voltou quando notou o mobiliário de madeira escura na habitação e as paredes de cor azul pálida. Estava deitada em uma cama com rodas, mas também havia um penteadeira, dois criados mudos, uma cadeira contra a parede em um lado da cama, e duas cadeiras e uma pequena mesa junto a uma janela com persianas azul claro do outro lado da cama. Tudo era muito atraente e relaxante... e não era um hospital.


Essa descoberta a fez tentar se sentar. Foi um pouco difícil. Estava debilitada, muito dolorida e ferida por toda parte, mas obteve a façanha, conseguiu se levantar e retirar a agulha intravenosa da parte posterior de sua mão esquerda.

Valerie parou um momento para desfrutar da primeira façanha, depois deslocou seus pés ao chão e desceu pela borda do colchão para ficar de pé com pernas trementes.

Até agora, tudo bem, disse-se quando as pernas não falharam.

-OH, bem, está acordada.

Essa voz alegre atraiu seu olhar para a porta para ver uma morena muito grávida entrando... extremamente grávida. A mulher era pequena por toda parte exceto por ter um ventre quase monstruosamente enorme se sobressaindo frente a ela. Valerie não sabia como a mulher levava essa carga sem uma espécie de tipóia ao redor dela para ajudá-la a suportar o peso.

-Sei. Estou enorme -disse a mulher, esfregando seu estômago com um sorriso tímido enquanto se aproximava da cama.

Ao perceber que estava olhando de forma grosseira sua barriga, Valerie forçou seus olhos a olharem o rosto da mulher.

-Onde estou?

A pergunta saiu com voz quebrada, áspera, e de fato lhe doía a garganta. Sentia-se como se alguém tivesse esfregado o revestimento de sua garganta com uma almofadinha enquanto dormia. Repugnante.

-Uma casa de segurança-respondeu a morena ao chegar a seu lado. Então se inclinou além dela para pegar um copo de líquido claro do criado mudo. Ofereceu a bebida a Valerie. -É água. Está na temperatura ambiente agora, tenho certeza, mas molhará sua rouquidão.

Valerie hesitou, mas depois aceitou o copo. Não conhecia a morena, mas ela havia dito que era uma casa de segurança, e a mulher era pouco ameaçadora. Era difícil imaginá-la aliada com Igor ou seu chefe e drogando sua água, por isso se arriscou e tomou um gole. Ao ver que não ocorreu nada ruim, Valerie relaxou e bebeu a metade do copo de uma só vez. O líquido era sedoso e suave em sua boca e garganta, e atenuou a seca que estava sentindo.

-Obrigada-murmurou Valerie enquanto baixava o copo.

-Não há de que. A morena sorriu amplamente e lhe estendeu a mão. -Sou Leigh Argeneau.

-Valerie Moyer -respondeu ela, colocando sua mão livre na dela para saudá-la.

-É um prazer te conhecer, Valerie -disse Leigh com um sorriso. -Como se sente?

-Dolorida, debilitada e preciso de um banho-respondeu ela honestamente.

-Não estou surpresa de que esteja dolorida-disse Leigh com uma inclinação de cabeça. -Levou uma surra infernal. Tem hematomas por toda parte, e a ferida das costas provavelmente é recente. Temo que só o tempo vai ajudar com isso -adicionou em tom de desculpa. -Mas podemos fazer algo em relação ao banho. Pode caminhar por sua conta, ou devo te ajudar?

-Eu posso caminhar-assegurou Valerie.

-Então me siga -disse Leigh, se virando. Dirigiu-se para uma porta no outro lado da cama, e adicionou, -A debilidade não deve durar muito tempo. Tinha perdido muito sangue antes de que nosso médico pudesse te costurar, mas te deu dois litros de sangue para substitui-lo antes de trocar para a solução salina na intravenosa.

Esperemos que isso e o fato de que só sofreu uma ferida superficial, seja suficiente para que recupere rapidamente as forças e possa se sentir mais você mesma.

Valerie não fez nenhum comentário, mas suspeitava que Leigh tinha razão. Já se sentia menos instável, e provavelmente depois de um banho e um pouco de comida se sentiria ainda melhor. Não podia esperar. Mas também tinha algumas perguntas.

-É segura a casa?

-É minha casa -disse Leigh enquanto abria a porta e a conduzia a um banheiro decorado em tons azul escuro. E lançando um sorriso por cima do ombro, acrescentou, -Bom, minha e de meu marido, Lucian. Dirige a equipe que respondeu a sua ligação para a polícia. Fez uma pausa e depois se virou para Valerie para admitir, -Bom, na verdade Mortimer é o encarregado dos homens, mas ele responde a Lucian.

Encolheu-se de ombros. -De todos os modos, encontraram as outras mulheres no porão e depois procuraram e a encontraram nos arbustos. Levaram as outras mulheres à Casa dos Executores, mas a trouxeram aqui para que o médico pudesse te atender. É o melhor —acrescentou rapidamente quando Valerie franziu o cenho ante o conhecimento de que tinha sido separada das outras mulheres. -Não havia camas suficientes na Casa dos Executores para todas vocês e desta maneira pode conseguir uma atenção mais individual.

Valerie relaxou e assentiu, mas perguntou, -Por que não em um hospital?

-Seu sequestrador escapou e tinham medo de que não estivesse segura em um hospital -disse Leigh em voz baixa.

Valerie ficou rígida ante a notícia. Tinha matado Igor, mas seu chefe, que estava por trás de todos os males que tinham caído sobre ela, conseguiu se safar. Filho da puta.

-Está a salvo aqui -disse Leigh. -Lucian não deixará que nada te aconteça.

Valerie não fez nenhum comentário. Estava mais zangada que preocupada com a fuga do chefe de Igor. Poderia ter sido nocauteada e arrastada uma vez, mas não ia permitir que isso voltasse a acontecer.

E lhe incomodava o fato de que o filho da puta tivesse conseguido escapar.

Entretanto, não havia nada que pudesse fazer a respeito, por isso afastou esses pensamentos quando Leigh disse, -Vou te deixar sozinha para que tome seu banho na banheira.

-Preferiria uma ducha a um banho de banheira-disse com uma careta.

Leigh parou na porta e se voltou para olhar Valerie.

-Sinto muito, mas é melhor um banho de banheira neste momento. Não está muito estável em seus pés e não quero que escorregue na ducha e se adicionem mais hematomas e contusões aos que já tem. Além disso, Dani disse que não deveria ter as bandagens úmidas e esta é a maneira mais fácil de se assegurar disso.

-Dani? -perguntou Valerie.

-A doutora Dani Pimms -explicou Leigh. -Foi ela que te costurou e cuidou de você.


-OH -murmurou Valerie, depois suspirou e se dirigiu à banheira para colocar o tampão e abrir as torneiras, murmurando, -Acho que terá que ser banho de banheira então.

Leigh sorriu fracamente a seu grunhido, e se aproximou para pegar uma bucha e uma toalha do armário ao lado do lavatório, dizendo, -O xampu, o condicionador e o sabonete estão ao lado da banheira.

-Obrigada-disse Valerie, pegando a bucha e a toalha.

-De nada. Acho que vou te deixar por agora-disse Leigh alegre, movendo-se para a porta. -Não esqueça que não deve molhar suas bandagens, por isso não encha muito a banheira. Ficarei na cama se por acaso surgir algum problema. Grite se precisar de mim.

Valerie disse, -Obrigada de novo-fechou a porta e se voltou para inspecionar o banho. A água estava quase na metade da banheira e isso sem ela dentro. Deixou a bucha e a toalha na tampa fechada do vaso sanitário e fechou a água, depois se endireitou e se olhou.

Suas sobrancelhas se levantaram enquanto olhava a bonita camisola de algodão branco que usava. Na verdade não era seu estilo. Uma camiseta enorme era seu pijama habitual. Valerie suspeitava que provavelmente Leigh a tinha posto nela depois de sua chegada aqui.

Se era seu estilo ou não, agradeceu o empréstimo. Suas roupas estavam sujas depois de dez dias com elas, mas saltar pela janela e se arrastar pela terra sob os arbustos as tinham deixado repugnantes.

Talvez até mais repugnantes do que seu cabelo estava agora, pensou ao se olhar no espelho sobre o lavatório. Leigh ou a doutora, obviamente, fizeram alguma tentativa de limpá-la por cima porque seu rosto estava limpo, assim como seus braços, mas seu cabelo loiro estava gordurento, com amontoados de sujeira nele, e seu couro cabeludo estava marrom entre os fios. Caramba, não lembrava da aterrissagem depois de saltar pela janela, mas se tivesse que adivinhar ao observar sua cabeça, diria que tinha aterrissado nela.

Sorrindo muito levemente ante a ridícula idéia, Valerie se voltou e rapidamente tirou a camisola, depois entrou na banheira. Acomodou-se com cuidado nela, mas teve que mover seu pé debaixo de seu traseiro e sentar-se nele para manter sua atadura por cima da linha de água. Com todas as suas dores e machucados, não era uma posição cômoda. Ia ser um banho rápido.

Enquanto tirava com agilidade quase duas semanas de suor e fedor, Valerie pensou em todas as coisas que não tinha perguntado a Leigh ainda. Sua anfitriã havia dito que as outras mulheres tinham sido levadas para a Casa dos Executores, que Valerie supôs ser uma casa de segurança verdadeira. Mas Leigh não havia dito como estavam física e mentalmente, e isso era algo que Valerie estava se perguntando agora que sabia que estava a salvo.

-Como vai indo? -chamou Leigh através da porta.

-Bem -respondeu Valerie.

-Vai precisar de ajuda para lavar o cabelo -disse Leigh. Me Avise quando estiver pronta e te ajudo.

Valerie deu um grunhido, mas agora estava considerando o problema. Não podia se inclinar para atrás e molhar a cabeça na água. Tinha que manter sua bandagem seca.

Seu olhar se deslizou à ducha a uma boa distância por cima das torneiras da banheira.

Era uma com uma longa mangueira unida e coberta de metal. Podia ser utilizada como uma ducha normal, ou podia ser retirada de seu suporte para ângulos mais interessantes.

—Perfeito —murmurou Valerie enquanto ficava de pé e saía da banheira. Depois de se secar rapidamente, envolveu a toalha a seu redor ao estilo sarong e logo se voltou para rpegar a ducha de mão. Estava de pé fora da banheira, inclinando-se para frente, empapando sua cabeça sobre a banheira quando pareceu ouvir seu nome. Fazendo uma pausa, olhou para a porta e escutou, mas não estava segura se tinha ouvido algo ou não sobre a corrente de água. Então a porta se abriu de repente e Leigh a olhou preocupada.

-OH, bom, já está tudo bem -disse, e depois pôs outra camisola de algodão branco na pia enquanto se explicava. -Saí um momento para buscar uma camisola limpa e te chamei para me assegurar que estava bem quando cheguei, mas não me respondeu.

Ela hesitou, e depois entrou no banheiro, dizendo, -Deixe que te ajude com isso.

-Eu consigo-assegurou Valerie.

-Tenho certeza que sim, mas será mais rápido com ajuda e estou preocupada de que os pontos abram.

Dado que os pontos de sutura nas costas já ardiam um pouco dolorosamente, Valerie não protestou mais. No momento em que baixou os braços, o estiramento aliviou, por isso supôs que fosse o melhor.

-Queria te perguntar antes -disse ela enquanto Leigh acabava de lhe umedecer o cabelo e passar um pouco de xampu, -Como estão as outras mulheres? Estão todas bem?

Leigh ficou em silêncio enquanto terminava de lhe ensaboar o cabelo, depois suspirou e admitiu, -Infelizmente uma das mulheres estava morta quando os homens chegaram. Outra morreu durante a primeira noite.

-Bethany e Janey -disse Valerie, apertando a boca. Se estivesse caminhando pela rua e se encontrasse com alguma das mulheres da casa dos horrores, nem sequer as reconheceria. Só as conhecia como vozes na escuridão, mas essas vozes a tinham ajudado a manter sua prudência. Todas tinham se animado mutuamente com esperança nesse inferno. Entretanto, Bethany e Janey se tornaram mais silenciosas a cada dia que tinham estado ali. Janey tinha caído completamente em silêncio na penúltima noite, e Bethany ontem de noite. Valerie temia o pior e parecia que seus temores não eram infundados.

-As outras estão bem -continuou Leigh animando-a quando começou a enxaguar o xampu. -Uma ou duas estavam muito debilitadas, mas se recuperaram depois de uma boa comida e algumas noites de sono.

-Algumas noites de sono? -perguntou Valerie sobressaltada e instintivamente tentou virar a cabeça para olhá-la, mas virou para baixo de novo quando a água caiu em seu rosto.

-Sinto muito. Está bem? Quer uma toalha ou algo para secar seu rosto? - perguntou Leigh.

-Não, está tudo bem. Valerie limpou o pior da água com os dedos. E lhe perguntou, -Quanto tempo estive aqui?

-Sinto muito, deveria ter dito isso antes -murmurou Leigh enquanto lhe lavava o cabelo. -Esta é a terceira noite que está aqui.

-Estive aqui três noites? -perguntou Valerie com incredulidade. -Não lembro nada disso até despertar aqui hoje.

-É verdade -assegurou Leigh. -Dani limpou a ferida e te deu antibióticos no momento em que chegou até você, mas já era muito tarde. A infecção havia se estabelecido, estive com febre até esta manhã. Mas já está recuperada-acrescentou Leigh e rapidamente fechou a torneira. -Espere, vou pegar uma toalha para seu cabelo.

Valerie permaneceu inclinada sobre a banheira e escorreu o cabelo enquanto Leigh fixava a ducha em seu suporte e se afastava. A mulher voltou para seu lado um momento depois com uma toalha na mão.

-Obrigada. Valerie pegou a toalha e a envolveu ao redor de sua cabeça antes de se endireitar.

-Melhor? -perguntou Leigh quando Valerie se voltou para ela.

-Muito -disse com sinceridade. Já se sentia cem vezes melhor. Depois de comer e beber, Valerie estava segura de que estaria quase completamente normal... bem, com exceção de algumas dores, uma ferida em processo de cura e pelo sangue perdido pelas costas, reconheceu ironicamente. Mas estava acostumada a dores e machucados. Valerie praticava artes marciais desde que tinha cinco anos e tinha estado em competições desde que começou. Golpes e contusões eram comuns para ela.

-Um dos homens irá procurar roupa para você em sua casa, mas por agora me temo que está restrita a isto -disse Leigh, pegando a camisola limpa que havia trazido para ela.

Valerie olhou da camisola para Leigh e lhe perguntou com cuidado, -Como sabem onde é minha casa?

-Seu endereço estava em sua carteira de motorista. Encontraram sua carteira na noite em que assaltaram a casa. Não encontraram nenhuma bolsa, entretanto, apenas uma carteira e umas chaves no bolso de um casaco em sua jaula.

-Não tenho bolsa -disse Valerie, relaxando. Sorrindo fracamente, acrescentou, -Então não precisava ter me apresentado antes?

-Não -reconheceu Leigh. -Mas as apresentações são sempre uma boa maneira de começar uma conversa.

Por alguma isto razão desenhou um pequeno sorriso em Valerie. Sacudindo a cabeça, pegou a camisola que Leigh estava oferecendo.

-Obrigada.

-De nada -disse Leigh, e depois olhou para a porta do banheiro já que alguém chamou do quarto. -Deve ser Anders. Ele é o Executor que te encontrou na casa. Meu marido lhe atribuiu a tarefa de te manter a salvo até que capturem o renegado que sequestrou você e as outras mulheres -explicou, depois sorriu e acrescentou, -Ele está aqui para proteger seu corpo.

Valerie sorriu ligeiramente ante suas brincadeiras, mas perguntou, -Executor?

Continua dizendo isso. Quer dizer oficial de polícia, não é? Ou é da Real Polícia Montada do Canadá?

Leigh hesitou, e depois disse, -Eles não são nem da polícia nem da Real Polícia Montada do Canadá. São uma unidade especial que se encarrega de casos únicos, como o seu. Antes que Valerie pudesse fazer mais perguntas, adicionou, -Enquanto estava no banho fui até ele e pedi que te trouxesse um pouco de sopa. Não comeu desde que chegou e deve estar morta de fome.

Valerie assentiu. Não só não tinha comido nos três dias desde que chegou aqui, mas também se negou a comer durante os quatro dias anteriores para evitar as drogas que estavam pondo na farinha de aveia. Não se queixava. Tinha funcionado e estava livre, mas uma das dores que sofria era definitivamente os efeitos da fome.

-Deixarei que entre. Venha para fora quando estiver pronta -disse Leigh, abrindo a porta do banheiro. -Há uma escova para o cabelo na gaveta à direita do lavatório.

Valerie esperou até que a porta se fechou atrás da mulher, e depois deixou cair a toalha e rapidamente passou a camisola emprestada pela cabeça. Tinha um monte de perguntas, mas a maioria podia esperar até depois que comesse. Não tinha nem idéia em que unidade especial trabalhavam Anders e o marido de Leigh, mas ao que parece a atendente da polícia os tinha enviado em resposta a sua ligação. Ou talvez a polícia tivesse respondido antes que estes Executores e eles se encarregaram quando constataram que era um sequestro. O sequestro é um crime federal, não é? Ou é apenas nos Estados Unidos?

Não importava. Estava livre e segura. As outras mulheres estavam livres e seguras.

Tinha fome e todo o resto podia esperar até que comesse.

Valerie se dirigiu ao lavatório e olhou seu reflexo. Seu rosto estava pálido, mas limpo. Foi seu pescoço entretanto que atraiu sua atenção. Uma grande crosta vermelha cobria o lado direito de sua garganta, uma segunda ferida quase curada estava no lado esquerdo.

Lembranças da casa dos horrores, pensou sombriamente Valerie e desejou ter um cachecol ou algo para cobri-las. Entretanto, não tinha, e o desejo não as faria desaparecer, assim era melhor não se preocupar com isso, disse-se, e tirou a toalha de sua cabeça. O cabelo lhe caía molhado e saranhado sobre os ombros; procurou na gaveta a escova que Leigh tinha mencionado. Estava exatamente onde tinha dito que estaria e Valerie rapidamente a arrastou por seu cabelo até que todos os nós se foram, e secando-o rapidamente colocou em ondas ao redor de seu rosto e pescoço. Não era tão bom como um cachecol, mas ocultava o pior de seu pescoço.

Decidindo que estava preparada, Valerie se voltou e abriu a porta para retornar ao quarto, mas parou na soleira. Leigh estava de pé frente à mesa junto à janela, pegando tigelas e colheres de uma bandeja e as colocando em frente a cada uma das duas cadeiras. Mas era o homem alto vestido de negro que a fez parar. Ela observou em silêncio enquanto ele buscava a terceira cadeira do outro lado da cama para uni-la às duas na mesa, e se precaveu de que era de quadris magros e tinha a cintura estreita, mas que em compensação os braços e o peito eram bastante grandes sob sua apertada camiseta. Ele tinha uma dessas magníficas formas que os escultores amavam esculpir e que as empresas contratavam como modelo para seus trajes de banho e roupas íntimas. Imaginava ele deitado em uma praia, com a pele reluzente de bronzeador, os lábios estendendo um amplo sorriso e olhos grandes e bonitos dançando com a alegria de viver.

Valerie não sabia porque esse pensamento lhe veio à cabeça. Estava muito longe de sorrir neste momento. De fato, seu rosto era inexpressivo e um pouco sombrio.

Leigh falou sobre um Anders e Valerie presumia que esse era ele. Entretanto, não tinha esperado que ainda estivesse aqui. Tinha esperado que trouxesse a sopa e se fosse, mas parecia como se fosse se unir a elas.

-Aí está você-disse Leigh com alegria, e quando Valerie olhou em sua direção, ela fez um gesto para o assento frente a ela e lhe disse, -Venha, sente-se enquanto a sopa está quente.

Valerie se dirigiu à cadeira e se deteve atrás dela, com sua atenção na tigela que Leigh tinha posto nesse lugar. Parecia ter sopa de carne, abundante e espessa, com batatas, cenouras, nabos, e o que parecia ser macarrão caseiro. Cheirava incrível e as dores no estômago de Valerie se quadruplicaram em resposta.

Engolindo a saliva que de repente encheu sua boca, olhou para o homem quando ele deixou a cadeira que tinha tomado, colocando-a entre a sua e a de Leigh.

-Este é Anders - apresentou Leigh enquanto pegava um copo de leite da bandeja e o punha junto à tigela de Valerie.

Valerie assentiu com a cabeça para o homem e que lhe devolveu a saudação.

Leigh levantou uma sobrancelha ante a saudação silenciosa, e depois sacudiu a cabeça dizendo, -Sente-se e coma, Valerie! Deve estar morta de fome.

Não precisava um terceiro convite. Valerie se sentou, olhando a seu redor com sobressalto quando Anders se colocou atrás de sua cadeira para ajeitá-la para ela. Foi um gesto cortês e antiquado que não lembrava ter visto nunca fora dos filmes antigos. Ela com certeza nunca desfrutou disso até agora... e por alguma razão a deixou um pouco nervosa.

-Obrigada-murmurou envergonhada quando sua voz soou rouca.

Quando Anders simplesmente grunhiu em resposta, Leigh franziu os lábios e disse secamente, -Ele é um homem de poucas palavras.

Valerie lhe deu um sorriso torcido e voltou sua atenção ao prato de comida diante dela. O mais delicioso aroma provinha dele, e seu estômago estava grunhindo impacientemente e se retorcendo exigindo que o alimentasse. Ela pegou uma colherada da comida e a levou aos lábios para saboreá-la tentativamente. Poderia ter chorado quando o sabor explodiu em sua língua. Era abundante e muito saborosa.

Definitivamente caseira. Valerie cavou com entusiasmo.

-Se acalme, mulher -disse Leigh com uma risada um momento depois. -Me alegra que esteja gostando das delícias de minha cozinha, mas não come há muito tempo.

Seu estômago pode não ser capaz de dirigir muito e muito rápido.

Valerie fez uma careta, mas deixou a colher por um momento para permitir que a comida se assentasse. Bebeu um pouco de leite, enquanto esperava, algo que não tinha desde que era menina, mas ela pensou que não estava ruim. O leite era bom para ela, certo? Infelizmente, as coisas que eram boas para ela com frequência não iam bem. A Valerie não se importava com o leite e o deixou com uma careta depois de um gole.

-Valerie?

-Hmmm -olhou para Leigh interrogante.

-As outras mulheres foram alimentadas com uma comida ao dia. Mas quando Dani te examinou, percebeu que não tinha comido durante um tempo.

-Davam-me aveia e fruta uma vez ao dia assim como às outras mulheres -disse Valerie lentamente. -Mas percebi que a aveia continha droga para nos manter dóceis, então deixei de comer. A noite em que liguei para a polícia foi a quarta noite em que não comi.

-E eles simplesmente lhe permitiam não comer? -perguntou Leigh.

-OH. Valerie sorriu tristemente. -As outras garotas me advertiram que se não comesse, Igor me obrigaria, por isso escondia minha ração diária em minha jaqueta, amontoada em um canto da jaula.

-Ah, isso explica tudo -falou Leigh divertida, depois disse, -Um dos Executores disse que o casaco estava sujo. Pensou que fosse vômito. Deveria ser a farinha de aveia.

Valerie assentiu.

-Igor não percebeu? -perguntou Anders.

Valerie o olhou, surpresa por sua profunda e atraente voz. Deveria ter sabido que se encaixaria perfeitamente a ele, pensou, então retornou sua atenção à sopa e tomou uma colherada de novo.

-Não poderia ter estado alí mais tempo. Estava começando a feder.

Ele assentiu, e disse, -Nos fale de Igor.

-Anders, vamos comer -disse Leigh, soando chateada. -Pode interrogá-la para obter informação mais tarde.

-Está tudo bem -disse Valerie rapidamente. Ela não pensava que tivesse muita informação que pudesse lhes ajudar, mas se tinha e isso conduzisse à captura do chefe de Igor, estava disposta a responder agora.

Quanto a Anders, ela o olhou durante um momento. De perto era ainda mais bonito.

Não era apenas seu corpo que era atraente e impressionava a primeira vista, seu rosto era digno de um olhar ou dez. Sua pele era de um tom café lindo, perfeito e sem manchas, os olhos grandes e negros, com o que pareciam ser manchas douradas neles, embora estava segura de que eram de cor marrom pálido e era um truque da luz ou algo assim. Seus lábios atraentes também, cheios e de aspecto suave.

Entretanto, era a única coisa no homem que parecia suave. Ele definitivamente se exercitava. Como tinha notado, seu peito era trabalhado, e os músculos ondulavam embaixo da camiseta. Seus ombros eram largos, seus braços musculosos e sua barriga plana. Agora estava curiosa de vê-lo por detrás. Suspeitava que teria um bom traseiro também.

Assustada pelo caminho que sua mente tomava, Valerie esclareceu a garganta e olhou a sopa enquanto tentava ordenar seus pensamentos. O que estavam falando?

-Tenho certeza que a descrição de Igor pode esperar uns minutos enquanto terminamos a sopa -disse Leigh com suavidade.

-Ah, claro -disse Valerie aliviada quando sua memória lhe deu uma cotovelada. Ele queria saber de Igor, pensou, depois levantou a cabeça e olhou para Anders. -Por que precisa de sua descrição? Deve tê-lo visto. Era o homem morto no chão do dormitório.

Quando Anders e Leigh se olharam em silêncio, ela se inclinou para trás lentamente em seu assento.

-Ele está morto, não é? Eu o matei. Pelo menos, acredito que matei. Deveria estar ali no chão.

Quando Anders se limitou a sacudir a cabeça, Leigh sugeriu, -Seu chefe deve tê-lo levado.

-Por que? Isso o teria atrasado. Não se incomodaria. A menos que não estivesse morto. Valerie franziu o cenho ante essa possibilidade. Nunca tinha pensado que queria machucar alguém, e muito menos tirar sua vida. Mas depois de suas experiências na casa dos horrores, começava a pensar que existiam algumas pessoas que não mereciam viver. Era isso horrível?

-Possivelmente este Igor estava morto e o levou porque sua identidade poderia revelar a de seu chefe -sugeriu Leigh.

-Como o matou? -questionou Anders, e por alguma razão a pergunta fez Leigh olhá-

lo fixamente.

-Enterrei uma estaca nele... o apunhalei com uma das pernas de um banco quebrado - respondeu, e depois adicionou, -Tenho certeza absoluta que acertei no coração.

-Fez a ligação para a polícia depois? -perguntou Anders e quando ela assentiu, acrescentou, -E seu mestre retornou durante a ligação. Isso não pôde ter durado mais de cinco minutos.

As sobrancelhas do Valerie se levantaram pelo uso da palavra mestre, mas assentiu outra vez.

Leigh e Anders intercambiaram outro olhar e depois Leigh disse, -Então estou segura de que estava morto.

A mulher era uma terrível mentirosa. Parecia óbvio que não estava muito segura, mas Valerie não sabia como poderia ser. A menos que tudo o que presenciou, e que todas as suspeitas de que as outras mulheres falavam, fossem verdade. Um vampiro? Mas isso era ridículo. Ou não?

-As outras mulheres disseram que chegaram dez dias antes da ligação para a polícia-disse Anders agora, distraindo-a para prosseguir com essa linha de pensamento... o que provavelmente era melhor. Tinha certeza absoluta de que isso era uma loucura.

Assentindo em resposta a sua pergunta, Valerie olhou para sua sopa, observando as partes de carne e batatas meio submerssas no espesso caldo.

-Essa é minha conta também. Dez dias.

-Onde e quando a pegaram? -perguntou Anders.

-Às dez da noite da quarta-feira. Estava caminhando com Roxy antes de me deitar e... Se deteve ante a lembrança de sua cadela. Apesar de sua própria situação, preocupou-se em várias ocasiões por Roxy enquanto estava na casa dos horrores, mas esta era a primeira vez que tinha pensado em seu pastor alemão desde que despertou aqui. Isso despertou um pouco de culpa nela. Alguém teria encontrado ou alimentado Roxy nestas duas semanas?

-Será melhor que vá buscá-la -disse Valerie, empurrando para trás sua cadeira.


-Quem? -perguntou Anders.

-Roxy -explicou Leigh quando ele se levantou e ficou diante de Valerie quando ela ficou de pé.

Valerie ficou olhando a parede que era o peito de Anders, observando distraída que seu aroma era bastante encantador, que seu peito era muito amplo, que sua ajustada camiseta parecia ressaltar a curva de seus músculos e... por que faz tanto calor de repente? Perguntou-se quando uma onda de calor se deslizou sobre ela. Talvez a febre não tivesse passado por completo, isso lhe preocupava, sem saber que Leigh também se levantou e rodeou a mesa até que lhe tocou o braço, lhe dizendo, -Não pode.

Aliviada pela distração, Valerie se voltou para Leigh, perguntando confusa, -Não posso o que?

-Ir em busca de Roxy. Não está em forma para ir a nenhum lugar no momento.

Precisa descansar e se recuperar -disse Leigh.

Roxy, pensou Valerie. Como ia esquecer Roxy? Franziu o cenho, e sacudindo a cabeça disse, -Ela esteve por aí duas semanas, Leigh. Algo pôde ter acontecido a ela.

Poderia estar no canil. E se a põem a dormir ou algo assim?

-Não vão pôr ela para dormir -assegurou Leigh com firmeza, conduzindo-a de volta para a cadeira. -Ela tem licença, não é mesmo? Talvez até uma placa de identificação com seu número? Saberão que tem casa, e que provavelmente a esteve procurando.

-E não puderam me encontrar. Deveria ir...

—Não tem nenhuma roupa, Valerie -assinalou Leigh pacientemente. -E é mais alta que eu. Nenhuma de minhas roupas se ajustaria a você. O melhor que pode fazer agora é se sentar, comer e recuperar suas forças. Ligarei eu mesma para todos os refúgios de animais enquanto come. Vá em frente-acrescentou com firmeza quando Valerie não tomou a colher imediatamente. E não esperou que ela começasse, deu-se a volta e disse, -Anders, se assegure de que coma enquanto faço as ligações.


Capítulo 3

Anders olhou para Valerie quando Leigh saiu do quarto. A expressão da mulher estava cheia de preocupação e descontente. Ela, obviamente, estava preocupada, e não estava contente de não estar procurando seu mascote. Seu olhar se deslizou sobre Valerie, notando que seu cabelo estava quase seco e agora caía em ondas suaves, douradas, ao redor de seu rosto. Seu rosto limpo, notou. Anders não tinha visto Valerie desde que a entregou na Casa dos Executores. A sujeira que então a havia impregnado tinha oculto o que agora via que eram feições muito finas. A mulher tinha uns olhos incríveis; amplos, quase de um verde esmeralda com largas e grosas pestanas rodeando-os. Tinha um nariz arrebitado e lábios que eram encantadores: cheios e inchados, pequenos, perfeitos, pálidos, rosados que deveriam ser beijados.

Linda.

-Tenho algo no rosto?

O olhar de Anders piscou ante a pergunta quando percebeu que tinha estado olhando-a fixamente. Negando com a cabeça em resposta a sua pergunta, ele afastou o olhar, mas depois inclinou para trás e assinalou seu prato.

—Coma.

Valerie agarrou sua colher, mas não começou a comer. Em vez disso, simplesmente brincou com o utensílio e se mordeu o lábio, seu olhar se disparou à porta de novo.

Pensando em seu cão, supôs.

Suspirando, deixou a colher.

-Acho que não tenho fome. Quero dizer, está muito bom, mas é uma sopa muito espessa, mais como um guisado, e não comi muito ultimamente. Deveria ter uma fome voraz, inclusive. Sempre achei bom comer e... Ela fez uma pausa, mordeu-se o lábio inferior, e depois murmurou, -Sinto muito. Estou divagando. Acho que estou preocupada com o Roxy.

Anders começou a acomodar a tigela vazia de Leigh e o copo de volta na bandeja, e disse simplesmente, -Beba seu leite e termine de me falar da noite em que foi sequestrada.

Valerie assentiu, mas não disse nada imediatamente. Em vez disso, sua expressão se tornou pensativa e Anders suspeitava que estava voltando mentalmente à noite em que tinha sido sequestrada. Preocupou-lhe. Ele não podia lê-la nem controlá-la. Se pensar de novo nesse momento a afetasse ao ponto da histeria, não poderia deslizar-se em sua mente e acalmá-la. Estava pensando que teria sido melhor se tivesse esperado Leigh ou alguém mais que estivesse presente para fazer estas perguntas, quando ela começou a falar. Para seu alívio, sua voz era completamente tranquila.

-Tudo aconteceu muito rápido. Nem sequer tenho certeza do que ocorreu exatamente.

Lembro de Roxy imóvel de repente, ladrando, depois senti alguém me agarrando...

Ela fez uma pausa e Anders a observou com atenção. Várias expressões cruzaram seu rosto em rápida sucessão. O medo, a ansiedade e a ira se encontravam entre eles.

Finalmente disse com tristeza, -Achoo que chutou Roxy. Lembro dela uivando de dor e então me arrastou contra seu peito e...

Valerie voltou a hesitar e suspeitava que estava tentando decidir o que devia e não devia lhe dizer. Sem dúvida sentia que a menção das presas e de ser mordida poderia lhe fazer acreditar que estava louca. Não se surpreendeu quando de repente sacudiu a cabeça e murmurou, -A seguinte coisa da qual me lembro foi que despertei nessa jaula na escuridão. Meu pescoço estava sangrando e estava debilitada e desorientada.

Não podia ver nada, mas podia sentir os barrotes da jaula, e escutar uma mulher chorando. Chamei e... Ela fechou os olhos antes de continuar, -Elas responderam uma a uma, vozes assustadas na escuridão. Cindy, Bethany, Janey, Kathy, Billie e Laura. Uma de nós para cada noite da semana. Engolindo em seco, ela o olhou nos olhos e disse, -Leigh me disse que Bethany e Janey não sobreviveram.

Era uma afirmação mais que uma pergunta, mas assentiu de todos os modos, verificando que era verdade.

Valerie se afundou em seu assento, olhando-o mais resignada que nada quando disse, -Ambas soavam muito debilitadas e esgotadas na noite que cheguei. Elas só pioraram à medida que passavam os dias. Tinham estado ali por mais tempo, e não estavam aguentando bem. Suponho que é por isso que não foram levadas para cima na primeira semana que estive ali. Foi apenas cinco dias depois que fui sequestrada que me levaram para cima também.

-Comeu no começo? -perguntou-lhe, pensando que devia ter comido. Tinha estado ali dez dias. Ela não teria tido a força para fazer o que fez se não tivesse comido em todo esse tempo.

Valerie assentiu.

-A primeira ração diária de aveia e fruta foi servida de noite depois que cheguei. Ao menos suponho que era um dia e uma noite depois. Encolheu-se de ombros. -Igor levou Cindy para cima depois de passar sete tigelas. Perguntei às demais por que ele a tinha levado e onde, mas não queriam falar disso e simplesmente me disseram que comesse ou Igor me obrigaria a comer à força. Estava morta de fome, então comi.

Fez uma careta.

-As coisas ficaram bastante imprecisas depois disso. Sei que ele retornou e limpou a jaula de Cindy enquanto ela não estava. Mas não acredito que ele recolheu as tigelas até que trouxe Cindy de volta. Não tenho certeza. Como disse, as coisas ficaram imprecisas e a única coisa que queria fazer era dormir. Negou com a cabeça. -Percebi que era a aveia, que estava drogada, mas pensei que o esgotamento e o sono constante se deviam à ferida no pescoço.

Anders assentiu com a cabeça, e depois perguntou, -Quando percebeu que a comida estava drogada?

-Depois de minha primeira noite fora -respondeu ela com um sorriso triste.

-Noite fora? -perguntou-lhe.

-É como a chamávamos. A noite fora de nossa jaula. Não era uma noite completa, apenas algumas horas na verdade. Encolheu-se de ombros. -Cinco noites depois que cheguei, deram a todas as demais uma tigela, menos a mim, e me levaram para cima.

Parou de novo, desta vez contendo o fôlego, e Anders se esticou, temeroso de que essas lembranças pudessem ser muito para ela, mas depois de um momento, deixou escapar o fôlego em um pequeno sopro e continuou.

-Não estou acostumada a perder a calma em uma crise. Quero dizer, o funcionamento de uma clínica veterinária às vezes pode ser tão estressante como a sala de emergências de um hospital. Os cães são atropelados, ou têm outros acidentes ou enfermidades e chegam de surpresa, então temos que ser capazes de entrar em ação.

Não podemos enlouquecer, ou desmoronar.

-É obvio -disse quando ela ficou em silêncio. Isso pareceu animá-la.

-Quando Igor chegou para me levar tinham passado vinte e quatro horas desde nossa última comida e as drogas deveriam ter desaparecido, mas ainda estava fora de equilíbrio. Minha visão se via afetada, ou talvez fosse meu cérebro -murmurou sombria. -O que quer que fosse, tudo parecia distorcido, minha visão entrava e saía de foco como uma emissora de rádio ruim, minhas emoções eram exageradas e estavam por todo o lugar. Mas o pior de tudo, minha coordenação não existia e não era capaz de lembrar nada de meu treinamento em artes marciais. Era como se todas essas habilidades que tinha aperfeiçoado e praticado durante anos apenas sumissem.

Ela parecia desconcertada, e talvez até um pouco traída por esse fato, notou Anders.

Tentou pensar em algo que dizer para fazê-la se sentir melhor, mas antes que lhe ocorresse algo, Valerie continuou com cansaço.

-Quando Igor me levou para cima, forçou-me até um banheiro e dentro de um roupão de seda branca, eu já era uma completa confusão. Não parecia ter um pingo de minha calma habitual, meu eu racional tinha me abandonado. Era um punhado de crua emoção e terror quando me arrastou para o dormitório principal. Tinha certeza de que seria violentada. Quero dizer, por que prender sete mulheres se não era para violentá-

las, certo? Não havia homens no porão. Então tinha que ser estupro, e isso me enfureceu porque não seria capaz de impedi-lo. Não parecia ter os meios ou a coordenação para lutar contra isso.

Era evidente que ainda estava zangada por isso, decidiu Anders, tendo em conta a forma em que estava apertando suas mãos. Seus nódulos estavam brancos.

-O chefe de Igor estava vestido com uma túnica de veludo vermelho e descansando sobre um monte de travesseiros na enorme cama de casal como um pachá ou algo assim -disse de repente com desgosto. -Lutei, mas... maldição, Igor era um sujeito enorme. Um gigante. E super forte também. Simplesmente não havia forma de escapar nesse ponto.

Quando parou de novo, Anders esperou paciente. Mas desta vez uma grande luta tinha lugar em seu rosto. Não tinha que ser capaz de ler sua mente para saber que ela tinha uma batalha interna sobre o que dizer a seguir. E não era que tinha sido violentada. Anders sabia que não foi. Embora não pudesse ler Valerie, não teve nenhum problema em ler as outras mulheres que tinham sido aprisionadas com ela.

Cada uma delas tinha experimentado a mesma coisa em sua “noite fora”, por isso não tinha dúvida de que sabia o bastante. Além disso, Dani tinha examinado a fundo Valerie. Ela não tinha sido violentada. Mas tinha sido aterrorizada e maltratada; sua garganta destroçada pelo que ela chamaria de vampiro. Ela pensava que com muita dificuldade poderia lhe dizer isso. Nenhuma das mulheres havia sentido que podia.

Todas elas haviam dito que estava louco. Que pensava que era um vampiro. Que tinha dentes falsos ou algo assim, ou talvez uma faca, mas que ele tinha perfurado seus pescoços de alguma forma.

Anders não tinha nenhuma dúvida de que Valerie diria o mesmo, em parte para evitar soar louca, e em parte porque dizer a verdade era intolerável. Sua mente simplesmente não podia aceitar que existiam essas coisas. Era muito horrível de contemplar para a maioria dos mortais... e essa era sua grande preocupação. Se não podia aceitar que existiam vampiros, nunca poderia convencê-la a ser sua companheira de vida.

O som da porta ao abrir fez que ambos olhassem para ela. Leigh estava de volta.

-Ela não está em nenhum dos refúgios de animais -anunciou Leigh, andando como um pato pelo quarto para se sentar em seu lugar à mesa. -Então liguei para Lucian e me disse que um de seus homens estava em sua casa para recolher um pouco de roupa para você e que lhe faria verificar com os vizinhos. Tenho certeza de que alguém a reconheceu e abrigou até que retornasse. Ele a encontrará e a trará para cá.

-Obrigada-disse Valerie em voz baixa, mas preocupada com o que faria se Roxy não estivesse com um de seus vizinhos. O que aconteceria se o golpe que tinha feito com que Roxy uivasse a tivesse matado?

-A boa notícia é que não pode estar morta -continuou Leigh. -Do contrário, teria sido conduzida a um dos refúgios para ser eliminada e eles teriam me dito isso.

-Isso é verdade -disse Valerie lentamente e sentiu um pouco de sua tensão aliviar. Se Roxy estava viva, a encontraria. Tinha posto um chip no cão desde que era apenas uma cachorrinha. Se um dos vizinhos não estivesse com ela, ligaria para pedir que rastreassem o chip de localização.

-Agora, o que interrompi? -perguntou Leigh alegremente.

-Valerie estava me contando o que aconteceu -disse Anders em voz baixa, e depois a olhou e lhe recordou, -Igor a fez tomar banho e colocar o roupão branco?

-Certo -murmurou, a memória de novo a levou de volta à casa dos horrores e ao medo de que ia ser violentada. Não tinha sido violentada, mas o que tinha passado foi quase tão ruim. Assim que esteve o bastante perto, o mestre de Igor tinha agarrado uma de suas mãos agitando-a, tirou-a do agarre de Igor e a pôs sobre a cama.

No princípio, tinha a mantido em seu lugar e riu com crueldade de suas aterrorizadas lutas. Mas então tinha brincado com ela, como um gato brinca com um rato, deixando que pensasse que estava livre, que poderia escapar, depois a pegava e jogava de costas sobre a cama antes de rir um pouco mais. Parecia gostar de atormentá-la, mas quando sua luta se debilitava, ele se cansava do jogo. Tinha a agarrado pela garganta, arrastando-a até seu colo, sorrindo para seu rosto pálido e abrindo a boca, revelando umas enormes presas pontudas.

Valerie tinha se assustado. Era como um pesadelo. De fato, não tinha certeza de que não fosse. Mas então tinha atacado sua garganta com as presas e a agonia que a atravessou a tinha convencido de que não era um sonho. O som de sua sucção e do ruidoso beber de seu sangue apenas tinha acrescentado a qualidade de pesadelo a toda a experiência.

Pelo menos isso é o que ela pensava que tinha experimentado. Tinha despertado em sua jaula no dia seguinte quando Igor foi distribuir as tigelas de aveia, e Valerie se convenceu de que era uma loucura, uma ridícula alucinação provocada pelo terror, o esgotamento e a situação.

Ao dar-se conta de que estavam esperando que dissesse algo, Valerie espetou, -Depois do banho, e de eu colocar o roupão, Igor me levou a seu chefe, que era um monstro violento aspirante a vampiro que me mordeu e rasgou minha garganta com umas presas falsas.

Valerie fez uma breve pausa, observando um intercâmbio de olhares entre Leigh e Anders, que não estavam terrivelmente surpresos por isso. E ficou surpreendida de que não estivessem hiperventilando com a menção das presas falsas.

Dado que não estavam, continuou.

-Perdi muito sangue na noite em que me sequestraram, mas isto era pior. Desmaiei e quando acordei estava na jaula e Igor estava distribuindo a aveia da noite seguinte e levando Cindy de novo. Sua boca se apertou ante a lembrança de Cindy pedindo entre soluços que não a levassem outra vez. Não podia suportar. Por favor, só queria que a matassem.

Valerie engoliu em seco e afastou essas lembranças, dizendo, -Não tinha fome, e estava muito fraca para mastigar de todos os modos, mas não queria ser alimentada à força, por isso como já disse, derrubei o tigela em minha jaqueta e a empurrei para o canto. Depois me encolhi em uma bola e dormi até que ele chegou na noite seguinte com a comida. Sentia-me melhor na ocasião, um pouco mais forte; com fome, mas também lúcida, pela primeira vez desde a noite em que fui sequestrada. Que foi como percebi que estavam drogando a comida-explicou.

Também foi quando Valerie tinha decidido que, um: as drogas tinham confundido seus pensamentos e na verdade não tinha visto as presas, ao menos não eram reais. E

dois: que não ia comer de novo enquanto estivesse nessa jaula, que ia dispensar as comidas para evitar as drogas e ter suficiente lucidez para escapar na próxima vez que fosse levada para sua “noite fora”.

Valerie esclareceu a garganta, encolhendo-se de ombros.

-Então parei de comer. Bebia a água porque era engarrafada e não parecia estar drogada. Mas continuei jogando a comida em minha jaqueta e colocando-a no canto de minha jaula.

-E este Igor não percebeu? -perguntou Leigh com interesse.

-Não, apesar de que ele o faria em outro dia ou dois. Estava começando a feder.

Valerie ficou em silêncio. Tinha omitido um pouco de informação, incluindo o fato de que as outras mulheres lhe haviam dito que tinham certeza de que Igor podia ler suas mentes. Devido a isso ela se assegurou de recitar letras de canções em sua cabeça cada vez que ele vinha. Tinha sido difícil concentrar o suficiente para lembrar as letras no final. Estava tão faminta... e tentando pensar em uma forma de escapar com uma parte de sua mente, enquanto recitava as letras com a outra, o que foi difícil. A única coisa que a manteve em funcionamento foram Bethany e Janey. Seu prolongado silêncio a tinha preocupado. Mas também contava que seu estado tinha piorado e que por isso Igor as tinha saltado quando era a vez delas. Também tinha saltado a vez de Laura, que não estava tão mal como elas, mas cujo estado estava piorando. Era provável que essa fosse a única razão de que seu plano tinha funcionado. Não estava segura se teria sido bastante forte para levá-lo em frente se tivesse que passar outra noite sem comer.

-Então escapou por não comer a comida drogada -disse Leigh com uma inclinação de cabeça. -Muito inteligente.

-Isso, e pegando-o de surpresa. E muita sorte -disse Valerie com secura, pensando que se o banco não tivesse se quebrado debaixo dela, lhe dando uma arma, ou se ele não a tivesse jogado justo em direção ao banco, ou se não tivesse acertado o banco...

na verdade teve muita sorte. Então lhes contou sobre como lhe atirou o xampu no rosto e o apunhalou com o a perna quebrada do banco.

-Como acabou nos arbustos? -perguntou Anders quando, tranquila, calou-se de novo.

Valerie olhou em sua direção, notando então que apesar de ele ter trazido comida e bebida para ela e Leigh, ele não tinha nenhuma. Franziu o cenho outra vez quando respondeu, -Deixei o telefone e saltei pela janela quando o chefe de Igor voltou para casa. Mas me machuquei e o melhor que pude fazer foi me arrastar a três metros ou menos de distância ao longo da casa e me esconder sob os arbustos antes de perder a consciência.

-Bom, já basta deste assunto desagradável-anunciou Leigh abruptamente. -É hora de relaxar-se e... Se interrompeu e franziu o cenho quando viu a tigela de sopa de Valerie. -Não terminou sua sopa.

-Acho que estou cheia-disse Valerie em tom de desculpa, e depois se apressou a acrescentar, -Mas estava muito boa. Obrigada.

Leigh assentiu, mas fez um gesto para seu leite apenas provado.

-Não é uma grande fanática de tomar leite?

-Não, sinto muito. Nunca me interessei muito por leite. Mesmo quando era menina -

admitiu Valerie.

Leigh assentiu e se levantou.

-Então, vamos descer e encontrar algo mais para beber. Temos que repor os líquidos o máximo possível o podemos fazer isso no terraço. Depois de ficar presa em uma jaula durante todo esse tempo, um pouco de ar fresco te fará muito bem e temos um lindo terraço com sombra onde se pode desfrutar deste dia ensolarado.

Valerie se levantou e se aproximou para recolher seu prato e copo, mas se congelou quando suas mãos se chocaram com as de Anders quando ele se aproximou para fazer o mesmo. Ficou completamente imóvel por um momento enquanto uma estranha espécie de carga corria por suas mãos a partir do ponto de contato, depois procurou seus olhos. Mas sua cabeça estava inclinada, seu olhar centrado com firmeza no tabuleiro da mesa. Não podia dizer se estava experimentando o mesmo que ela ou não. Mordendo o lábio, ela retirou suas mãos, rompendo o contato, e ele pôs rapidamente os elementos na bandeja e a recolheu.

-Vamos -disse Leigh alegre.

Valerie engoliu em seco, e se apressou a seguir à outra mulher quando esta se dirigiu para a porta.

-Para dizer a verdade, um pouco de ar fresco viria bem para mim também -

acrescentou Leigh secamente enquanto entrava no corredor. -Meu marido se preocupa em excesso com o bebê e não me deixou sair muito nas últimas três semanas. Tem medo que eu entre em trabalho de parto no carro ou algo assim.

Disse ela como se a idéia fosse ridícula, mas quando Valerie a seguiu pelo corredor, decidiu não culpar o homem por sua preocupação. Leigh parecia a ponto de explodir.

Não disse isso, entretanto, mas perguntou, -Para quando está esperando?

-Para a semana passada -disse Leigh secamente, com uma mão movendo-se por seu estômago. -A pequena aqui é tão teimosa como seu pai, esta doçura leva seu próprio tempo.

-Sabe que é uma menina? -perguntou Valerie com um sorriso.

-Sim -respondeu Leigh mesmo com Anders dizendo “não” atrás delas.

Quando Valerie levantou as sobrancelhas e olhou por cima do ombro para o homem que as seguia, Leigh atraiu sua atenção de novo ao admitir, -Não sabíamos o que uma ecografia faria, por isso não quis correr o risco, mas tenho certeza que é uma garota.

-Nunca ouvi falar que os ultra-sons fossem ruins para os bebês -disse Valerie surpreendida ao chegar a umas escadas.

-OH, estou segura de que não são para os mortais...

-Leigh-um grunhido de advertência veio de Anders e deteve a mulher bruscamente.

Ela piscou um par de vezes, depois forçou um sorriso e lhe disse, -Meu Deus, me esqueci! Os homens insistem que eu agarre o corrimão quando estou nas escadas.

Como se isso fosse a a causa dos grunhidos de Anders. Em seguida, fez uma demonstração de como agarrar o corrimão e começou a descer as escadas dizendo, -Tenho certeza que os ultra-sons são bons, mas sabe como é a tecnologia moderna.

Dizem que uma coisa é boa ou má para um em um minuto, e depois mudam seu discurso no minuto seguinte. A manteiga era ruim e devíamos comer margarina e depois acabou que a margarina era ruim e que devemos usar azeite de oliva, etc. E

depois havia essa droga que se supunha ia fazer bem e então foi retirada do mercado porque as mães grávidas abortavam ou tinham bebês mutantes ou o que seja. É

melhor prevenir que remediar.

Valerie seguiu à mulher, com a diversão curvando seus lábios. Leigh tinha balbuciado tudo de uma só vez e sem respirar. Incrível, pensou.

No momento seguinte, sua atenção foi desviada pelo ambiente. O quarto no qual tinha despertado tinha sido agradável, e o corredor só era um corredor, mas na metade da escada, notou que bem diante dela havia uma parede de pé direito duplo com janelas ao redor de um conjunto de portas duplas. Mais à frente das janelas havia um grande pátio com árvores, flores e jardins. Era lindo, e uma grande diferencia do porão escuro e úmido no qual ela tinha passado dez dias.

-É lindo, não é verdade? -disse Leigh, fazendo uma pausa dois passos debaixo dela para olhar para fora. -Nunca me cansarei desta vista.

-Não imagino que o faça -disse Valerie em voz baixa, notando que mais à frente do gramado estava o que parecia ser um bosque de árvores. -É esta a parte de trás da casa?

-Não, a frente -disse Leigh. -A estrada está além das árvores e o caminho de entrada está fora da vista à direita. Ela fez um gesto com a mão e depois se explicou. -O que parece um bosque é só uma faixa de uns vinte ou trinta metros. O verdadeiro bosque está atrás da casa. Que se estende por vários quilômetros. E continuou descendo as escadas, adicionando, -Há árvores que margeiam os lados do pátio também, assim não tem que se preocupar de que os vizinhos lhe vejam em minha camisola.

Valerie olhou a si mesma, de repente consciente de que tinha estado sentada com uma fina camisola de algodão na última meia hora com dois completos desconhecidos. Teria que ter ficado incômoda. Mas não foi o que aconteceu. Embora, agora Valerie olhou timidamente para Anders e sentiu que se ruborizava quando viu a forma em que seus olhos estavam se deslizando sobre sua figura no fino material.

Girando bruscamente para frente, apressou-se atrás de Leigh, que já estava descendo o último degrau e girando à direita. Valerie tinha chegado ao último degrau quando de repente soou uma campainha do lado de fora, que parecia ecoar através da casa.

Ficou olhando as grandes portas duplas diante dela, capaz de ver um homem jovem em couro negro através das janelas de cristal da porta.

Anders passou junto a ela com a bandeja. Colocou-a sobre uma mesa ao lado das escadas, e depois se dirigiu para destrancar e abrir a porta para o homem alto e sorridente que levava uma mala e uma bolsa de viagem que se parecia muito a dela.

-Justin. Leigh voltou e parou ao pé da escada ao lado dela. -É a roupa de Valerie?

-Sim, senhora -disse alegre, entrando na casa e sorrindo para Valerie. Seus olhos viajaram com admiração sobre ela na camisola enquanto deixava as coisas. Tudo, desde roupa íntima até sapatos. Marguerite chegou para fazer a bagagem -acrescentou com um sorriso tranquilizador para Valerie quando se endireitou e a olhou de novo. -Eu sou apenas o burro de carga.

-Mais conhecido como asno -murmurou Anders e Valerie riu surpreendida.

-Marguerite? -perguntou Leigh, movendo-se para a porta para olhar. -Onde está ela?

-Julius ligou quando chegamos. Ela parou para falar com ele e me disse que viesse sem ela -disse Justin. -Chegará em um minuto.

-OH. Leigh se voltou para sorrir a Valerie. -Deveria fazer chá. Você gosta do chá?

Valerie assentiu.

-Bom, então teremos chá -decidiu e se dirigiu para a parte traseira da casa, adicionando, -Vai gostar de Marguerite. É minha cunhada, a cunhada de Lucian na verdade, e é uma dama muito bonita. OH, isto vai ser agradável... chá e uma visita na terraço.

-Ela não sai muito -disse Justin com diversão quando Valerie ficou olhando a sua balbuciante anfitriã.

Lhe deu uma olhada, notando o sorriso apreciativo que ainda estava em seu rosto e de que ele outra vez passava o olhar sobre sua camisola. Depois seu olhar passou a Anders quando de repente este se agachou para pegar as bolsas que Justin tinha deixado.

-É provável que queira se vestir-disse enquanto se endireitava.

-OH, sim-disse Valerie imediatamente.

Assentindo, colocou-se junto a ela nas escadas com as malas.

-Levarei estas a seu quarto. Quando Valerie lhe seguiu, acrescentou por cima do ombro, -Faça algo útil, Bricker. Ajude Leigh com o chá.


Capítulo 4

-Esperarei no corredor -disse Anders, pondo suas bolsas sobre a mesa à qual estavam sentados há alguns momentos. Valerie estava a ponto de dizer que não era necessário que a esperasse, mas então percebeu que se não o fizesse poderia ter problemas para encontrar os outros quando terminasse. Não conhecia esta casa, e a julgar pelo comprimento do corredor deste andar que tinha percorrido duas vezes, era enorme.

Assim assentiu e disse, -Obrigada-quando Anders a deixou sozinha.

Abriu sua mala e bolsa de viagem, e estava examinando o conteúdo antes que ele fechasse a porta atrás de si. Era estranho ver muitos de seus objetos pessoais perfeitamente embalados no interior. Valerie os reconheceu, eram todos dela, mas pareciam de algum modo alheios depois de suas experiências. Isso a fez se perguntar se tudo ia golpeá-la dessa maneira.

Sacudindo a cabeça, Valerie escolheu a roupa íntima, um sutiã, uma camiseta, uma calça jeans e começou a se vestir. Enquanto fazia isso, lembrou de Leigh dizendo que o homem que foi procurar sua roupa verificaria com seus vizinhos a respeito de Roxy, mas o cão não estava com Justin. Então não o tinha encontrado com nenhum dos vizinhos, percebeu Valerie, e franziu o cenho. Teria que ligar para que rastreassem o chip de Roxy. Com esse pensamento preponderando em sua mente, terminou de se vestir e depois se apressou a sair ao corredor e encontrou Anders esperando com paciência, apoiado contra a parede, com as pernas cruzadas nos tornozelos e os braços cruzados sobre o peito.

-Isso foi rápido -a felicitou quando se endireitou.

-Sim -esteve de acordo Valerie com distração, partindo pelo corredor. Quando ele começou a caminhar a seu lado, disse-lhe, -Roxy não estava com esse homem, Justin, Bricker ou como quer que se chame. Leigh o tinha chamado Justin, mas Anders o tinha chamado Bricker. Não estava segura de como devia referir-se a ele.

-Seu nome é Justin Bricker -disse Anders. -Mas não, o cão não estava com ele.

Perguntarei a ele o que encontrou ao chegarmos lá embaixo. Se ainda estiver aqui.

Ambos estavam franzindo o cenho por essa idéia tardia quando começaram a descer as escadas. Mas não precisavam ter se preocupado, Justin Bricker ainda estava ali.

Valerie podia ouvir o murmúrio de uma voz masculina quando avançaram pelo corredor para a parte traseira da casa.

-Aí estão -disse Leigh alegremente enquanto Anders levava Valerie até a cozinha que era combinada com a sala de estar.

Era um grande espaço aberto que parecia ocupar toda a metade posterior do andar térreo. A cozinha estava à esquerda, separada da sala de estar à direita por um longo balcão de granito, com tamboretes e cadeiras com encosto a seu redor. Ambas as partes estavam decoradas em tons madeira e terra. Assim como a frente da casa, a parede exterior aqui era mais vidro que qualquer outra coisa, com portas francesas de ambos os lados que davam para um terraço coberto. E Leigh não estava brincando sobre um bonito terraço com sombra. Videiras cresciam grosas e nas colunas e nas bordas, acrescentando encanto e proporcionando mais sombra. O ponto de vista mais à frente era tão incrível como a vista da parte dianteira da casa, só que aqui também havia uma piscina.

-Venha conhecer Marguerite, Valerie.

Desprendendo-se da vista, dirigiu-se à cozinha, onde Leigh e uma segunda mulher se inclinavam sobre o balcão a ambos os lados de uma bule fumegante. Valerie olhou a recém chegada com curiosidade enquanto se aproximava. Marguerite era quase uma cabeça mais alta que Leigh, com uma aparência que a maioria das mulheres mataria por ter. Usava um vestido vermelho que ficava lindo com sua pele pálida e cabelo comprido castanho avermelhado, e tinha o rosto mais lindo que Valerie tinha visto em toda sua vida. Assim como Anders, a mulher poderia ter sido uma modelo.

Também como Anders, parecia ter entre vinte e cinco e trinta anos, do mesmo modo que Leigh e Justin.

-Olá, Valerie -disse Marguerite sorrindo amplamente e oferecendo sua mão quando Valerie parou em frente as duas mulheres. -É um prazer te conhecer.

-Prazer em conhecê-la -disse Valerie com cortesia, agitando a mão que lhe oferecia.

-Sinto muito, não encontramos seu cão -disse Marguerite em tom de desculpa quando terminaram a saudação e liberaram suas mãos.

Os ombros de Valerie se desabaram. Era o que esperava, mas mesmo assim era decepcionante. Forçando um sorriso torcido, disse, -Obrigada por tentar.

-Na verdade, eu não o fiz -admitiu com ironia, -Foi Justin. Estava empacotando sua roupa enquanto ele verificava com seus vizinhos. Mas nem todo mundo estava em casa. Ele voltará esta noite, por isso ainda pode encontrá-la - disse Marguerite.

-Na verdade, havia mais pessoas que não estava em casa, do que as que estavam-disse Justin Bricker, entrando na cozinha através das portas francesas. -No meio da tarde, a maioria das pessoas está trabalhando. As únicas pessoas que encontrei em casa eram as de duas casas perto da esquina e...

-E a senhora Ribble da porta ao lado -terminou Valerie por ele com um sorriso irônico.

-Não. A da casa em frente a sua -corrigiu Bricker.

As sobrancelhas de Valerie se elevaram pela notícia e disse, -Mas a senhora Ribble tem pelo menos oitenta anos. Sempre está em casa.

Bricker franziu os lábios, pensativo.

-De que lado é sua vizinha? Do lado esquerdo ou direito?

-Do lado direito se estiver frente à casa na rua -respondeu Valerie.

-Não houve nenhuma resposta ali -disse Bricker com firmeza e acrescentou pensativo. -Entretanto, um cão latiu quando chamei.

-Ela não tem cão -disse Valerie com o cenho franzido.

-Bricker, acho que pode ter encontrado Roxy afinal-comentou Anders.

Valerie o olhou com surpresa, mas então percebeu que ele tinha razão. Tinha que ser isso... a não ser que a senhora Ribble tenha conseguido um cão nas últimas duas semanas, era provável que fosse Roxy que Bricker tinha ouvido latir. Endireitando-se, disse, -Tenho que ir ver se é Roxy.

-Não, você tem que permanecer aqui -disse Anders com firmeza. -Bricker voltará.

-Não lhe abriu a porta na primeira vez, o que te faz pensar que vai abrir se voltar?

-perguntou impaciente.

-O que te faz pensar que vai responder a vocêi? -perguntou Anders. Só se mudou para a vizinhaça há uma semana ou algo assim, antes de ser sequestrada.

Valerie franziu o cenho.

-Não estava pedindo permissão para ir. Não sou uma prisioneira... ou sou?

-acrescentou sombria.

-Não, é obvio que não -disse Leigh imediatamente, passando a seu lado para acrescentar seu apoio. -E acredito que todos deveríamos ir ver se é Roxy.

-OH, não -disse Anders de uma vez. Lucian vai arrancar minha pele se te deixar sair em sua condição.

-Então Valerie não é prisioneira, mas eu sou? - perguntou Leigh com doçura.

Anders franziu o cenho.

-Nenhuma das duas é prisioneira, mas é seu melhor interesse permanecer aqui. Você, Leigh, porque poderia entrar em trabalho de parto a qualquer momento, e Valerie porque...

-Tenho certeza de que um curto trajeto de carro à casa de Valerie e de volta não será um problema -interrompeu Marguerite com ternura.

-Acreditaria se não soubesse que Valerie vive em Cambridge, Marguerite -disse Anders secamente. -Isso é um passeio de quarenta e cinco minutos e se Lucian voltar enquanto não estamos...

-Não voltará - assegurou Marguerite. -Alguns novos caçadores chegarão hoje e tem que se reunir com eles. Disseme que dissesse a Leigh que ligasse se acontecesse algo, mas pelo resto chegaria um pouco tarde.

-Temos novos caçadores? -perguntou Anders surpreso.

-Sim -disse Bricker com um sorriso. -Lucian disse que com seus homens caindo como moscas precisávamos de ajuda adicional.

Valerie franziu o cenho. Quão perigoso seria o trabalho dos caçadores lidando com sujeitos como aquele que a tinha mantido sequestrada? Bastante perigoso, supôs, mas afastou do pensamento pela preocupação com Roxy. O pastor alemão era sua responsabilidade... e amava o cão. Queria saber se estava bem e onde estava.

Movendo-se com impaciência, perguntou, -Leigh, posso usar o telefone?

-Sim, é obvio, Valerie - disse imediatamente. -Mas, para que?

-Vou chamar um táxi para que me leve em casa - respondeu, e vendo o telefone no outro extremo da cozinha se dirigiu para ele.

-OH. Leigh lhe sorriu insegura, depois se voltou para Anders e lhe espetou, -E

então?

Valerie estava pegando o telefone quando escutou Anders liberar um suspiro exasperado.

-Certo -disse com secura. -Desligue, Valerie. Levarei você.

Valerie hesitou, mas depois desligou o telefone e se virou para ele.

-Obrigada-disse em voz baixa.

-Muito bem-disse Leigh feliz. -Talvez possamos parar para comprar um sorvete no caminho. Sei de um bom lugar onde vendem sorvetes com com calda de caramelo e...

-Não vai -disse Anders interrompendo-a com firmeza. -Fico com Valerie, mas você vai ficar aqui com Bricker. Não vou arriscar me à ira de Lucian para que possa tomar um sorvete.

-Está tudo bem, Leigh -disse Marguerite tranquilizando-a. -Vamos esperar até que saiam e então pediremos que Bricker nos leve para comprar um sorvete... e talvez vamos às compras.

-Está bem -disse Leigh, sorrindo de repente, e depois acrescentou com emoção, -Ooooh, e se Lucian for chegar tarde, também seria bom ir jantar, não acha?

-Bricker não vai levá-las a lugar nenhum -disse Anders com firmeza.

Marguerite se encolheu de ombros.

-Então esperaremos até que ele esteja ocupado e pegaremos o carro de Leigh e iremos nós mesmas. Ela sorriu docemente para Anders e acrescentou, -Não pode no vigiar o tempo todo. Terá que ir ao banheiro em algum momento.

Para a grande surpresa de Valerie, Anders realmente grunhiu entre dentes pela frustração. Mas então levantou as mãos em sinal de derrota e se virou para sair da cozinha dizendo, -Está bem. Virão conosco. Mas até lá, depois voltaremos. Não pararemos para comprar sorvete. Nem para almoçar. Nem iremos às compras. Só ida e volta, e isso é tudo.

-Mmmm, isto está realmente bom - murmurou Valerie, colocando a colher em seu sorvete e tirando um grande bocado.

-Eu te disse.

Valerie se moveu no assento dianteiro e sorriu para Leigh. A mulher grávida estava sentada entre Bricker e Marguerite no assento traseiro da caminhonete, onde os três estavam cada um tomando seu próprio sorvete com calda de caramelo, nozes e uma cereja.

-Tinha razão - assegurou Valerie, depois se recostou em seu assento, e seu olhar se deslizou a um Anders carrancudo no assento do motorista. O homem tinha estado com o cenho franzido desde que saíram da casa. Seu olhar foi ao sorvete colocado no suporte entre eles e disse, -Realmente deveria parar e comer o seu antes que derreta por completo, Anders. Só levará alguns minutos.

-Não tenho nenhum sorvete para comer -disse Anders com gravidade. -Este é de Leigh. Ela disse que queria dois, por isso tem dois.

-E eu te disse que menti para que pudesse tomar um, porque sabia que estava muito chateado para pedir um para você -disse Leigh pacientemente. -Pare e coma, Anders.

Prometo que é o melhor que jamais provei.

Quando ele não respondeu, Marguerite disse, -Por que não lhe dá de comer você, Valerie? Dessa maneira não tem que parar, e poderá desfrutar dele.

Os olhos do Valerie se aumentaram.

-OH, não acredito...

-Só finja que é um menino doente e de mau humor que tem que alimentar - disse Marguerite com diversão.

Os olhos de Valerie se dispararam para Anders a tempo de ver que lançava um olhar assassino para o espelho retrovisor, sem dúvida a Marguerite. E dado que a mulher de repente se pôs a rir, supôs que Marguerite tinha captado o olhar.

Valerie olhou o sorvete derretendo. Parecia ser uma vergonha que fosse ser desperdiçado. Era um bom sorvete. E não tinha sido barato.

-Somente lhe dê uma provada, Valerie, então ele parará e o comerá -sugeriu Leigh.

Valerie hesitou, mas pararam em um semáforo vermelho que não interferiria com a condução, por isso pegou uma porção generosa de seu próprio sorvete e se inclinando se aproximou para lhe oferecer uma colherada.

Anders olhou o oferecimento, mas no princípio não abriu sua boca. Ela estava a ponto de dar-se por vencida, sentar e comer ela mesma quando de repente ele a abriu.

Valerie moveu a colher entre seus lábios abertos, observando em silêncio enquanto ele fechava a boca ao redor da colherada de sorvete. E quase pôde ter jurado que as bolinhas douradas em seus olhos brilhavam maiores e mais brilhantes em sua íris negras; depois ele fechou os olhos com um gemido comprido que soou quase sexual.

Valerie ficou com os olhos abertos enquanto ele saboreava a comida, depois retirou a colher agora limpa e se afundou em seu assento com incerteza.

-Disse que você gostaria -disse Leigh divertida do assento traseiro.

Quando Anders não respondeu, mas ficou quieto e com os olhos fechados, Bricker disse, -Eu, ah... cara. O semáforo abriu.

Anders piscou abrindo seus olhos, viu que Bricker estava dizendo a verdade, e pôs o carro de novo em movimento. Entretanto, só dirigiu meia quadra, antes de parar no estacionamento do centro comercial para terminar seu sorvete.

-Que tipo de cão é Roxy?

Valerie olhou a seu redor, surpreendida ante a pergunta de Leigh. Tinha adormecido em seu assento pouco depois de ter terminado seu sorvete. Não tinha querido isso, mas supunha que dormiria muito durante o tempo suficiente para poder se curar. Na verdade, ainda estava cansada e continuaria dormindo sem dúvida se não fosse porque sua cabeça escorregou do encosto do assento e se chocou com a janela lateral.

Esclarecendo sua garganta, voltou-se para poder ver as pessoas no assento traseiro e respondeu.

-É um pastor alemão.

-Quantos anos tem? -perguntou Marguerite com interesse.

-Aproximadamente três -disse Valerie, e depois acrescentou, -Era um animal arredio.

É um dos muitos cães que trouxeram para minha clínica depois de inspeção em um criadouro de cachorrinhos.

-Sua clínica? -perguntou Anders, sem evitar olhar para ela, antes de voltar os olhos para a estrada.

-Sim. Sou veterinária -explicou Valerie. -Tenho uma clínica em Winnipeg.

-Tem uma clínica em Winnipeg, Manitoba, mas vive em Cambridge, Ontario?-

perguntou Bricker, e antes de que ela pudesse responder, comentou, -Isso é uma viagem do inferno.

Valerie sorriu, mas negou com a cabeça.

-A casa em Cambridge é de aluguel. Estou ali enquanto faço alguns cursos na Universidade do Guelph.

-Mudança de carreira? -perguntou Anders com curiosidade.

Valerie negou com a cabeça.

-Não, os cursos na verdade são na clínica veterinária da universidade. Estou investindo na carreira que já tenho -disse, e quando ele levantou uma sobrancelha em pergunta, explicou, -Me formei ali. Mas existiram avanços na área nos últimos anos e queria ficar atualizada com as últimas técnicas.

-Todos os veterinários fazem isso? -perguntou Leigh com curiosidade.

-Como faz com sua clínica? Tem que fechá-la durante sua ausência? -perguntou Bricker.

-E não há escolas de veterinária em Winnipeg? -interveio Marguerite. -Isto parece um longo caminho apenas para se atualizar.

Valerie fez uma careta ante a inundação de perguntas, mas respondeu, -Não sei se outros veterinários fazem cursos de atualização. Tenho um sócio, e outros dois veterinários trabalhando na clínica, que estão me cobrindo até que eu volte. E Guelph é onde me formei. Pareceu mais fácil voltar lá para fazer estes cursos que em outro lugar.

Suas respostas eram verdadeiras em sua maioria, e também eram as explicações que dava a outros. Não era assunto de ninguém o que escolhesse estudar e fazê-lo em Ontario, porque queria estar fora de Winnipeg por um tempo.

-Então nasceu e se criou em Winnipeg ou em Ontario? -perguntou Anders.

-Em Cambridge, Ontario -respondeu Valerie a contra gosto, sabendo a pergunta que viria depois.

E foi Bricker que perguntou.

-Então, porque abriu uma clínica em Winnipeg?

Valerie considerou a melhor maneira de responder, mas na verdade só havia uma resposta.

-Um homem.

O silêncio encheu o caminhonete por um momento, depois Anders disse, -Não está casada.

O comentário não foi formulado como pergunta, mas como uma ordem, pensou, e se perguntou sobre isso, mas disse, -Não. Nunca estive casada. Mas comecei a sair com outro estudante em meu primeiro ano na universidade. Saímos os sete anos da escola, mas ele era de Winnipeg. Queria voltar depois de nos graduarmos e me pediu que fosse com ele. E se encolheu de ombros. -Me mude para lá com ele, e abri a loja.

-Mas não se casou? -perguntou Anders e ela o observou para ver que tinha os olhos entrecerrados sobre o caminho. Havia uma tensão nele que não entendia.

-Não. Ela se voltou para olhar pela janela à paisagem que passava e disse, -Nos separamos no final, mas a clínica já era um sucesso, e fiz amigos ali. Então fiquei.

Separou-se nove meses depois de dez anos juntos. Dez anos nos quais ele tinha assegurado que nunca quis se casar porque um certidão de casamento não significava nada para ele. Não precisavam disso. Duas semanas depois de se separar, ele estava saindo com Susie, e seis semanas depois pediu a Susie que se casasse com ele.

Parecia que não era que ele não quisesse se casar, mas sim que nunca quis se casar com Valerie. E ela não tinha nenhum desejo de ficar na cidade quando lhe disse o que desejava fazer, com a mulher com a qual queria se casar. Não é que não o tivesse superado. Ela o tinha superado muito antes de que tivessem encontrado o momento de terminar. Não era que seu coração não pudesse suportar isso. Era seu orgulho.

Doía que Larry nunca tivesse querido se casar com ela, e entretanto, tinha feito o pedido a sua nova garota em questão de semanas. Que diabos era isso? Por que não tinha sido seu tipo de mulher para se casar?

Não tinha nem idéia e isso lhe incomodava.

-OH, chegamos -disse Marguerite de repente. -E agora não chegamos mais.

Valerie piscou centrando sua vista pela janela para ver que eles... seguiam além de sua casa. Voltou-se para Anders interrogativa.

-Por que...?

-Ponha isto -a interrompeu, sustentando uma boné de beisebol e uma jaqueta.

Valerie reconheceu os objetos. Ele tinha ido até o andar de cima para buscá-los antes de partir da casa, e os pôs no chão quando tinham entrado no veículo.

Quando ela não aceitou imediatamente os objetos, perguntou a ela, -Já esqueceu de Igor e de seu chefe? Podem estar vigiando sua casa.

-Por que fariam isso? -perguntou ela com o cenho franzido.

-Por que a sequestraram em primeiro lugar? - respondeu, e depois admitiu, -Pode ser que eles não estejam vigiando, mas poderia ser que sim, e não é melhor prevenir que remediar?

Valerie assentiu, pegou os objetos, rapidamente vestiu a jaqueta sobre sua roupa, e depois colocou o boné sobre a cabeça.

-Esconda seu cabelo debaixo - instruiu Anders enquanto passava por sua casa de novo, enquanto seus olhos revistavam a área.

Valerie tirou o boné, recolheu seu cabelo em um rabo-de-cavalo, torceu-o ao redor em um coque na parte superior de sua cabeça e depois o manteve em seu lugar enquanto colocava o boné sobre ele.

-Assim está bem?

Ele deu uma olhada, assentiu e voltou sua atenção à estrada, masdeu mais uma volta com o carro antes de ir pelo caminho de entrada da senhora Ribble.

Valerie já tinha a porta aberta e se apressava pelo caminho de entrada quase antes que a caminhonete parasse por completo. Entretanto, não se dirigiu à porta principal, foi diretamente pelo lateral da casa até a cerca que atravessava o final da entrada, e deu a volta para o pátio traseiro. Não teve que ir à porta e perguntar à senhora Ribble se Roxy estava alí. Podia ver Roxy no pátio traseiro.

Estava a meio caminho da porta quando o pastor alemão a viu e correu para a cerca latindo com entusiasmo. Sorrindo, Valerie correu os últimos metros e chegou à cerca para destrancar fecho. Nem bem tinha começado a abrir a cerca quando Roxy saiu pela estreita abertura como uma bala. A cadela rodeou Valerie, latindo e movendo a cauda como louca; esfregou-se contra suas pernas e girou em círculos frente a ela.

Roxy estava feliz e excitada, mas não a ponto de esquecer que não devia saltar sobre as pessoas.

Rindo, Valerie se ajoelhou para abraçar o cão e acariciar sua pelagem. Depois pegou sua cara entre suas mãos e lhe esfregou as bochechas e as orelhas, dizendo, -Olá, bebê. Está bem? Estava preocupada com você. Também senti saudades -sussurrou alegremente enquanto a cadela lhe lambia o rosto.

-Eca. É sério que a deixa te lamber o rosto?

Valerie olhou a seu redor pelas palavras de Bricker para ver que ele, Anders, Leigh e Marguerite a tinham seguido. Enquanto Anders parecia tenso e estava dividindo sua atenção entre observá-la saudar seu cão e a rua, Leigh e Marguerite sorriam com indulgência. Bricker, entretanto, parecia aborrecido. Rindo entre dentes ao ver sua expressão, ela disse, -É óbvio que não tem um cão.

-Não -reconheceu. -Mas Anders esteve tentando conseguir um.

-Sério? -perguntou Valerie, olhando para Anders com interesse.

-Estive investigando as raças para ver qual seria uma boa opção para mim - disse em voz baixa, enquanto seus olhos olhavam brevemente a Roxy antes de voltar a olhar ao redor da área de novo.

-Roxy? Roxy, garota! Onde está?

Valerie olhou para o pátio traseiro até onde estava a tremente e velha voz. Deu um último mímo em Roxy e ficou em pé, caminhando para a cerca para dirigir sua atenção à porta traseira da casa.

-Olá, senhora Ribble.

-Valerie? -disse a mulher com amargura, entrecerrando os olhos para ver melhor.

-Sim. Obrigada por cuidar de Roxy por mim. Agradeço muito-disse, olhando para baixo e acariciando o cão quando se inclinou a seu lado.

-OH, bom, estava sentada no alpendre gemendo uma noite e eu não podia dormir, então a recolhi -disse a senhora Ribble, e franziu o cenho a Valerie. -Não é que se preocupe. Você deixou a pobre garota sozinha durante duas semanas. Poderia ter morrido. A anciã franziu o cenho mais duro e acrescentou, -Não acredito que deva tê-

la se não pode cuidar dela.

-Valerie desapareceu duas semanas e você não se incomodou em chamar à polícia e denunciar sua ausência? - replicou Anders de repente atrás de Valerie. Parecia muito zangado.

-Bom... A mulher franziu o cenho. -Como podia saber se não estava fora em uma festa ou algo assim?

-Você sabia -disse Anders com uma tranquila certeza. -Mas queria o cão.

Surpreendida, Valerie o olhou, depois à senhora Ribble quando de repente se moveu e inclinou as costas com clara culpabilidade em seu rosto antes que pudesse dar a volta.

-Só pegue ela e vá embora. E não espere que a vigie da próxima vez.

A porta se fechou atrás da anciã com um golpe e Valerie levantou uma sobrancelha em direção a Anders, lhe dizendo com cuidado, -Foi um pouco rude com ela.

Anders deixou de lhe franzir o cenho à porta, agora fechada, e olhou a Valerie, mas negou com a cabeça.

-Não o bastante. Sabia que você não estava e que algo devia ter te acontecido, mas não fez absolutamente nada a respeito. Nem sequer se incomodou em chamar à polícia. Tinha medo que levassem Roxy e ela a queria.

-Não sabe isso -protestou com uma gargalhada.

-Sei – assegurou ele.

-Como? -desafiou Valerie.

Anders abriu a boca, fez uma breve pausa e depois disse, -Dirigi pela frente da casa três vezes, em cada uma delas a cortina da parte dianteira se moveu e ela olhou para fora. Garanto que a mulher estava em sua sala olhando a rua. É provável que veja tudo o que ocorre, incluindo o ataque na noite em que levou Roxy para dar um passeio. Pôde ter sido ligeiramente impreciso pela distância, mas deve tê-lo visto de qualquer forma e pôde ter deduzido o suficiente para saber que lhe atacaram, sequestraram, e depois Roxy chegou coxeando em sua casa.

-Como sabia que o ataque aconteceu nesta rua? -perguntou ela surpreendida.

Anders se deteve de novo, mas depois se encolheu de ombros.

-É uma mulher. Imagino que se mantém em sua rua a altas horas da noite e a rodeia várias vezes em vez de se aventurar mais longe.

Valerie franziu o cenho. Tudo soava muito provável. Era sentido comum e lógica verdadeira, mas havia algo na forma em que estava evitando seus olhos que lhe sugeria que havia mais.

-Deveríamos ir-disse Anders de repente, pegando o braço de Valerie e dando as costas à entrada.

Ela não protestou, e lhe permitiu levá-la caminhando de volta à caminhonete. Roxy ia junto a seu outro lado como se estivesse colada, chocando-se contra ela a cada passo. Os outros foram um passo atrás deles e estavam quase no veículo quando Valerie se deteve de repente.

-Devo conseguir a comida para cães de Roxy enquanto estamos aqui -anunciou quando Anders fez uma pausa e a olhou interrogante.

Ele franziu o cenho, enquanto seus olhos viajavam pela rua e depois a sua casa.

-É uma boa idéia, Anders. Roxy tem que comer -assinalou Marguerite. -Além disso, pode haver coisas que Valerie precise nas quais não pensei quando fiz sua mala.

-Meu computador-anunciou Valerie imediatamente. -Preciso dele para as aulas. E

preciso de minha anotações e livros.

-Certo -disse Anders sombrio e se deu a volta para dar a Bricker suas chaves. -Mova a caminhonete até o caminho de entrada de Valerie. Será mais fácil para carregar.

-Farei isso-respondeu o homem enquanto tirava outro jogo de chaves de seu bolso e as ofereceu. -Precisará destas.

-Minhas chaves -disse Valerie quando as reconheceu.

-Foi assim que entramos antes para pegar sua roupa -explicou Bricker. -Estavam no bolso de seu casaco na casa.

Valerie assentiu, recordando Leigh mencionar que os homens tinham encontrado sua carteira e as chaves em um casaco em sua jaula dentro da casa.

Anders pegou as chaves e a conduziu em direção a sua casa alugada.

-Nós iremos ajudar -anunciou Leigh, arrastando-se atrás deles. Quando Anders diminuiu a marcha e olhou para trás, adicionou, -Será mais rápido.

Suspirando, ele assentiu e acelerou de novo.

Era tão estranho entrar em sua casa alugada depois de terem levado a roupa para ela.

Parecia um pouco estranho. Valerie afastou essa sensação de lado e se dispôs a fazer aquilo pelo qual estava ali. Dirigiu-se primeiro à cozinha para reunir os pratos de comida e a água de Roxy, a enorme sacola de biscoitos para cães, sua coleira reserva, sua cama e alguns de seus brinquedos favoritos. Valerie os pôs sobre a mesa da cozinha enquanto recolhia cada artigo, mas quando encontrou uma sacola para colocar os objetos menores, Marguerite a pegou.

-Leigh e eu empacotaremos isto. Vá em frente, pegue seu computador e tudo o que precisar -sugeriu.

-Obrigada -disse Valerie e saiu da cozinha, consciente de que Roxy e Anders estavam muito atentos e logo atrás dela. Encontrou seu computador e a mochila com suas anotações e livros para seus cursos na sala de estar. Começou a recolhê-los, mas Anders simplesmente os tirou dela e os jogou sobre seu próprio ombro.

-Algo mais? -perguntou-lhe.

Ela hesitou, mas depois se dirigiu a seu quarto para examinar seu guarda-roupa.

Marguerite fez um bom trabalho ao recolher roupa para ela, mas havia algumas coisas que Valerie pensou que poderiam ser úteis. Tirou-as do armário, rapidamente as enrolou e empacotou em uma bolsa de lona que Anders desceu da prateleira superior de seu armário.

O banheiro era o último, e Valerie estava muito consciente de que Anders estava a meio metro, esperando com paciência. Tiria gostado de lhe pedir que saísse, mas ela era uma pessoa adulta, e ele era adulto e com idade suficiente para conhecer a fisiologia do corpo feminino, por isso tomou uma profunda respiração, ajoelhou-se para abrir o armário debaixo do lavatório e pegou os absorventes íntimos. Seu período devia vir na próxima semana, e não sabia quanto tempo teria que permanecer na casa de Leigh.

Valerie colocou os produtos femininos sobre a pia, depois se dirigiu ao outro extremo do armário para pegar um pouco de maquiagem e um creme hidratante de uma gaveta.

Quando se deu a volta com os novos elementos, Anders com calma empacotou seus produtos de higiene feminina na bolsa de lona com sua roupa.

-Obrigada -murmurou ela com acanhamento enquanto deixava os novos artigos.

Depois Valerie se dirigiu ao estojo de primeiro socorros. Suas pílulas anticoncepcionais ainda estavam ali. Não sabia se Marguerite as tinha esquecido ou se tinha pensado que já que Valerie tinha estado sem elas durante as últimas duas semanas e agora estava em prisão preventiva por um período indeterminado de tempo graças a eles, não precisaria delas, mas Valerie as levou, e as jogou sobre a parte superior dos outros artigos na bolsa de lona que Anders tinha na mão.

Ela fechou o zíper com um alegre “Pronto”, depois se inclinou para acariciar Roxy, que estava farejando a seu lado.

-Obrigado por trabalhar com rapidez -respondeu Anders em voz baixa, e as palavras desenharam uma risada em Valerie.

-Essa é a única velocidade que conheço -admitiu com ironia enquanto o levava para fora do banheiro. A clínica estava sempre ocupada e a pressa era a velocidade a qual se acostumou.

Leigh e Marguerite estavam esperando na sala de estar; Leigh segurava a sacola com os artigos menores e mais leves. Marguerite tinha a cama de Roxy sob o braço, e pendurada em uma mão a grande sacola de comida de cachorro, como se não pesasse nada. As duas mulheres sorriram a sua chegada, mas foi Leigh quem lhe perguntou, -Tudo pronto?

-Tudo pronto -concordou Valerie. -Nos podemos ir.

-Bom. Morro de vontade de um copo de café -anunciou Leigh, abrindo caminho para a porta e saindo ao alpendre.

-Pensei que estava evitando café até que tivesse o bebê -disse Anders, seguindo às mulheres fora da casa.

-Estava. Mas o bebê está atrasado e a mãe quer um café -disse com rebeldia, caminhando através do alpendre. Fazendo uma pausa na parte superior das escadas até a calçada, voltou-se com uma careta e disse, -Mas me conformarei com um descafeinado.

-Hmmm -murmurou Anders enquanto fechava a porta com as chaves de Valerie.

-Suponho que isso significa que quer ir a uma cafeteria no caminho de Cambridge?

-Supõe certo -disse Leigh alegremente.

-Não me importaria em tomar um café também -disse Valerie. -Todo aquele sorvete me deixou sedenta e... Parou e olhou a seu redor quando Roxy ficou rígida de repente a seu lado e começou a grunhir. Reparando que o cão estava olhando através da rua, Valerie olhou nessa direção enquanto colocava uma mão tranquilizadora no pescoço da cadela, mas então ficou imóvel. Havia um homem de pé à sombra do entardecer junto a uma casa da rua de frente e estava segura de que era Igor. A forma e o tamanho eram os mesmos, mas...

-Valerie? -Anders ficou a seu lado e a segurou pelo braço. -O que é?

Ela o olhou durante um momento, depois para trás, com os olhos abertos amplamente ao ver que Igor se foi. Se na verdade tivesse estado ali..., pensou Valerie e recordou a si mesma que ele estava morto. Ela o tinha matado. Nenhum homem poderia sobreviver a uma estaca no coração... e tampouco poderia ser um vampiro, se isso era o que ele tinha sido.

-Nada -disse, deixando escapar o fôlego com lentidão. Percorreu a rua, consciente de que Anders estava fazendo o mesmo, mas não havia nada para ver agora.

Literalmente. Ainda não eram três horas. Ainda era bastante cedo para que as crianças não tivessem saído da escola e os pais estivessem no trabalho. Ou, ao menos, a maioria deles estariam. Então não havia carros, nem pessoas, nem animais, apenas casas silenciosas e um par de esquilos brincando de correr.

Na verdade, eraum pouco horripilante, tudo tão tranquilo, decidiu enquanto um calafrio lhe percorria as costas. Dando a Roxy um último tapinha, Valerie afastou de lado a sensação e mentiu, -É provável que Roxy tenha visto um esquilo.

-Certo-concordou Anders com rapidez, mas se podia dizer que ele não acreditava nisso. Agora estava rígido pela tensão. Assim como Leigh e Marguerite.

-O que aconteceu? -perguntou Bricker, apertando o passo vindo da caminhonete agora estacionada junto ao meio-fio da casa alugada de Valerie.

-Nada -disse ela, forçando um sorriso e começando a descer os três degraus do alpendre. -Roxy sentiu algum cheiro ou viu algo. É muito provável que fosse um esquilo comum.

-Hmmm. Bricker se voltou agora para olhar também ao outro lado da rua, mas os outros seguiam Valerie e Roxy enquanto a guiavam até a caminhonete. Todos estavam em silêncio enquanto carregavam suas malas na parte traseira. Valerie teve medo de que Anders quisesse que Roxy montasse atrás também, mas ele fechou a porta sem o cão dentro e aplaudiu sua perna para que o seguisse enquanto conduzia Valerie até a porta do passageiro.

-Moverei o assento para trás para te dar mais espaço na frente-anunciou Anders quando abriu a porta, e Valerie poderia tê-lo abraçado. Acabava de recuperar seu cão e não queria se separar dela nem sequer por uns poucos metros. E a julgar pelo modo como se aferrava a ela, Roxy sentia o mesmo, mas Valerie se surpreendeu de que Anders fosse o bastante sensível para entender isso. Foi muito gentil. Apesar de suas tentativas de ser severo, era agradável, pensou Valerie enquanto o via apertar o botão para fazer com que o assento se deslizasse lentamente. A prova disso era que todos estavam ali apesar de sua negativa inicial em trazê-los. E o sorvete, pensou divertida, recordando seu inegável prazer quando lhe tinha dado uma colherada de amostra.

Teria pensado que ele nunca provou sorvete antes.

-Isso é tudo o que o assento recua-disse Anders, endireitando-se e lhe oferecendo uma mão para ajudá-la.

Valerie pôs seus dedos em sua mão e então ficou imóvel, com os olhos olhando aos seus quando a sacudiu uma sensação que se disparou do ponto de contato para todo seu braço. Desta vez não havia dúvida de que Anders também sentiu o mesmo. Ele encontrou seu olhar, com seus olhos muito abertos. Também tinham mais ouro que negro, observou com certa confusão, e depois olhou para Roxy quando o cão de repente farejou entre eles, gemendo.

-Está tudo bem -disse Valerie ao cão, recuperando sua mão de Anders para acariciar o pastor alemão. Depois se deu a volta e sentou no assento dianteiro sem ajuda.

-Vamos -disse Anders para Roxy uma vez que Valerie estava em seu lugar. O pastor alemão imediatamente saltou ao chão diante dela. Ela deu voltas uma vez no breve espaço antes de se estabelecer entre as pernas de Valerie e pôr sua cabeça sobre seu joelho.

-Obrigada - disse Valerie, evitando olhar nos olhos de Anders de novo e acariciando a cabeça de Roxy.

Viu ele assentir com a extremidade do olho. Fechou a porta e abriu a porta de atrás e ajudou Leigh a entrar. A mulher grávida se instalou no assento com um suspiro de alívio, com as mãos esfregando seu estômago para acalmar à pequena em seu interior quando murmurou, -Não posso esperar que nasça.

Valerie forçou um sorriso e olhou a seu redor para perguntar, -Este é seu primeiro bebê?

Não tinha visto nenhum sinal de crianças na casa, mas também não tinha visto tudo.

Além disso, poderia haver outros sinais que simplesmente não reconheceu. Valerie nunca teve filhos e ela mesma estava começando a pensar que nunca o faria. Tinha trinta anos, com uma ocupada e bem-sucedida carreira, mas sem marido ou namorado, ou mesmo perspectivas à vista. Tampouco tinha uma vida social. Tinha amigas, mas pouco tempo para estar com elas e menos ainda para conhecer homens.

Estava envelhecendo e estava mais e mais ocupada à medida que a clínica continuava crescendo.

-Sim, este é o bebê número um -respondeu Leigh e depois fez uma careta. -E já está demonstrando ser tão teimoso como seu pai.

-É ele? -brincou Valerie brandamente. -Pensei que você tinha certeza de que vai ser uma menina.

-OH, bom, isso foi naquele momento. Agora é um menino -disse Leigh com um toque de brincadeira e explicou, -Minhas suspeitas mudam vinte vezes ao dia.

Valerie riu disso e depois fez o que estava evitando fazer e deu uma olhada ao redor da rua. Para seu alívio não havia nada nem ninguém a vista. Deixando escapar o fôlego que não se deu conta de que estava contendo, voltou-se para frente para ver o que estava atrasando os outros. Marguerite, Bricker e Anders estavam tendo uma reunião a pouca distância do caminhonete.

-Estão debatendo se deveriam verificar o que deixou Roxy incomodada-anunciou Leigh e quando Valerie se voltou para ela, com as sobrancelhas levantadas, disse-lhe, -Leia os lábios.

-Hmmm. Valerie voltou os olhos para outros. Podia ver seus lábios se mover, mas não tinha nem idéia do que estavam dizendo. Não podia ler os lábios.

-Anders quer, mas Marguerite acha que deveríamos ir e ficar de olho para ver se alguém nos segue. Ela viu que Roxy está tranquila agora, que quem quer fosse já foi embora.

-É provável que tenha razão -disse Valerie, trocando seu olhar fixo do trio para as casas do outro lado da rua de novo. Para seu alívio, ainda não havia nada para ver.

-Marguerite em geral tem razão -disse Leigh divertida. -OH, aí vem eles.

Ela deve ter ganho a discussão.

Valerie olhou de novo ao trio. Não parecia que ninguém tivesse ganho. Todos tinham expressões severas e revisavam a área enquanto se aproximavam do veículo. Parecia óbvio que era bastante seguro que Roxy tinha detectado uma ameaça, mas tinham aceito que era muito provável que já se foi. Mas onde? E voltaria?

-Está bem -disse Anders quando já todos estavam amontoados de novo na caminhonete. -Vamos à cafeteria mais próxima, Valerie, e depois iremos embora.


Capítulo 5

-Ela está dormindo pacificamente. Não tem pesadelos neste momento -disse Marguerite do assento traseiro, e Anders afastou os olhos de Valerie para olhar o caminho a diante. A mulher tinha exposto exatamente o que o estava preocupando.

Valerie tinha sofrido pesadelos enquanto estava em seu estado febril nos últimos três dias. Tinha sido capaz de ouvir seus gritos por toda a casa enquanto estava ali, os pesadelos a tinham açoitado em seus sonhos quando tinha dormido, e cada um deles o tinha feito querer acalmá-la e tranquilizá-la lhe dizendo que estava a salvo e que tudo estava bem. Entretanto, as mulheres estavam cuidando dela: Leigh, Marguerite, e a filha de Marguerite, Lissianna, assim como a nora de Marguerite, Rachel. Tinham tomado turnos, e embora ele tivesse se oferecedo para ajudar, não tinha sido necessário.

As mulheres se preocupavam, esperando que Valerie saísse da febre com suas faculdades intactas. Haviam dito que estava bem da cabeça e não teriam que acalmá-

la. Assim, quando Anders percebeu que ela adormeceu no assento do passageiro, preocupou-se de que pudesse ter mais desses pesadelos. Infelizmente, Valerie tinha adormecido com a cabeça voltada para a janela. Não tinha sido capaz de ver seu rosto e ler sua expressão, saber se estava dormindo tranquilamente ou se tinha um pesadelo do qual deveria despertá-la.

-Tenho certeza de que vai dormir muito durante os próximos dias enquanto se cura -comentou Leigh. -O que está fazendo muito bem, entretanto. Nenhuma vez se queixou da dor que está sentindo.

-Está sentindo dor? -perguntou Anders, olhando bruscamente para o espelho retrovisor, observando à mulher no assento traseiro.

-Tem um buraco em suas costas, Anders - disse Leigh com secura. -Restabeleceu-se muito nos últimos dias, mas ainda está dolorida.

-Valerie tem uma capacidade impressionante para bloquear a dor -comentou Marguerite. -Deve ser por todos esses anos em que treinou artes marciais.

-Ela treinou artes marciais? -perguntou Anders com interesse, desviando seu olhar ao reflexo da mulher mais velha.

Viu Marguerite e Leigh intercambiando um olhar e depois Marguerite disse, -Sim.

Mas provavelmente eu não deveria dizer mais nada. A metade da diversão de encontrar um companheiro de vida é saber de suas experiências e aprender com elas, e já lhe demos uma boa dose de conhecimento com nossas perguntas anteriores na viagem.

Anders não fez nenhum comentário, mas desviou sua atenção a Roxy. O cão tinha permanecido sentado entre as pernas de sua dona, com a cabeça em seus joelhos, durante os últimos quarenta e cinco minutos. A diferença de sua dona, entretanto, Roxy não estava dormindo. Tinha os olhos abertos e alertas. Ficando de guarda, pensou, e assentiu para o animal. Era um bom cão.

-Anders, deveríamos parar para jantar no caminho de volta -sugeriu Leigh repentinamente.

-Ah, sim, um jantar soa bem -disse Bricker com entusiasmo.

Anders franziu o cenho a Leigh no espelho retrovisor.

-Não vamos parar para jantar. Está grávida e não vou assistir o parto do bebê de Lucian Argeneau à beira da estrada porque quer um hambúrguer.

Viu-a rodar os olhos e depois dizer, -Prometo que não vou entrar em trabalho de parto.

Anders soprou ante as palavras. Essa era uma promessa que não podia manter.

Quando o bebê decidisse sair, faria isso, independentemente das promessas que ela tinha feito.

-Vamos, Anders, tenha coração-repreendeu Marguerite. Valerie esteve presa em uma jaula em um porão sem janelas durante dez dias. Sair para jantar lhe fará bem.

O olhar de Anders se deslizou a uma Valerie adormecida e franziu o cenho. Depois de entregar Valerie a Leigh e Lucian, tinha sido enviado para recolher o resto das mulheres da casa nas jaulas. O edifício tinha sido uma antiga casa de campo, provavelmente com 150 anos de idade, supôs. O porão não tinha sido terminado. O

piso era de concreto na parte dianteira e de terra no fundo, as paredes de pedra estavam umedecidas pelo mofo que crescia nas gretas, e o lugar inteiro tinha cheirado a morte graças aos corpos que tinham encontrado amontoados em um quarto dos fundos onde estavam as jaulas. As mulheres que tinham encontrado nas jaulas não foram as primeiras ocupantes. Os donos da velha casa estavam nesse pequeno quarto junto com as inquilinas anteriores das jaulas.

Depois de seu pesadelo por permanecer ali, não tinha nenhuma dúvida que Valerie apreciaria o jantar. Sem dúvida o merecia. Era uma heroína. Salvou a si mesma e às outras mulheres. Mas se sua larga vida lhe tinha ensinado algo, era que nem sempre se obtém o que se quer ou se merece e não podia estar de acordo em jantar fora...

sobre tudo quando suspeitava que Valerie tinha visto Igor na rua de sua casa.

Marguerite lhe havia dito o que Valerie não disse quando os três se reuniram diante da caminhonete. Ela disse que Valerie tinha visto Igor cruzando a rua, mas se tinha convencido de que era sua imaginação quando ele tinha desaparecido tão rapidamente. Ele sugeriu que os três fossem procurar o homem quando escutou a notícia, mas não tinha demorado muito em perceber que era uma má idéia. Igor poderia ter sido uma isca; com Bricker e Marguerite longe o procurando, seu mestre iria detrás de Valerie. Leigh tiria sido quase inútil em seu estado atual e as duas mulheres ficariam vulneráveis. Por muito que quisesse apanhar o bastardo que tinha feito mal a Valerie, a segurança vinha em primeiro lugar. Tinha ficado de olho no caminho para casa, mas não tinha visto nada que lhe indicasse que os estavam seguindo.

-Se realmente não podemos ir comer em um restaurante, talvez pudéssemos passar em uma loja para comprar algo para levar -sugeriu Leigh, seu tom agora bajulador.

-O Chalé Suíço fica no caminho de casa. Só levaria alguns minutos e podemos comer depois no terraço. Tenho certeza que Valerie aproveitaria quase o mesmo.

-Cristo -murmurou Anders em voz baixa pela frustração. Preferia enfrentar renegados em qualquer dia. Não tinha problemas em lhes dizer não, e se não escutavam, podia atirar neles. Mas Leigh e Marguerite eram um assunto completamente diferente. Elas viam um “não” como um desafio, e quando punham suas mentes nisso, poderiam ser uma verdadeira dor no traseiro. Infelizmente, não podia atirar nelas.

Em vez de dizer não, tentou raciocinar.

-Tem certeza de que quer mais comida inadequada, Leigh? Já a comeu duas vezes hoje e deve comer mais comida saudável. Tem que pensar no bebê.

-Sorvete e café não são comida inadequada - informou Leigh com frieza.

-Então, o que são? - perguntou secamente.

-Necessidades. Essa resposta veio de Valerie e atraiu seu olhar a seu lado quando se endireitou em seu assento e passou as mãos pelo rosto para espantar o sono. Voltou-se, sorriu para ele com olhos sonolentos e disse, -O café é sempre uma necessidade.

O sorvete um pouco menos. Mas o café o é sem dúvida. E o do Chalé Suíço não é realmente comida inadequada. É mais como uma comida do tipo jantar de domingo.

Frango assado em um espeto, batatas e um pão-doce. Ela se encolheu de ombros. É

relativamente saudável, sem dúvida mais saudável que um hambúrguer, e dessa maneira não temos que cozinhar.

A última parte foi o prego no ataúde da resistência de Anders. Valerie foi ferida e ainda se estava recuperando e Leigh estava grávida e esteve se queixando dos pés inchados. Nenhuma mulher devia estar disposta para trabalhar na cozinha. Quanto a ele, não sabia absolutamente nada a respeito da cozinha. Isto fez com que parar para comprar o jantar fosse a solução lógica. E Anders gostava da lógica.

-Muito bem. Vamos parar para comprar comida no Chalé Suíço -disse, e foi recompensado com um sorriso de Valerie.

-Não se incomode em pedir comidas para Bricker e para mim -disse Marguerite momentos depois, guardando seu telefone quando Anders parou no auto-serviço do Chalé Suíço. -Bricker tem que me levar de volta à casa dos Executores para pegar meu carro. Julius acaba de me enviar uma mensagem e seu avião aterrissa em uma hora. Quero ir para casa e me arrumar antes de que ele chegue.

-Julius é o marido de Marguerite -disse Anders a Valerie quando Bricker gemeu no assento traseiro por perder o jantar.

-OH. Lhe sorriu e depois voltou a acariciar Roxy quando o cão se moveu inquieto e tentou olhar pela janela enquanto a caminhonete parava.

-Não estamos em casa, ainda -disse Valerie ao animal, lhe esfregando as orelhas e adicionou, -Logo.

O cão se recostou e olhou a Anders torvamente, como se o culpasse pelo atraso em chegar a alguma parte onde pudesse sair e estirar as patas. Sacudindo a cabeça ante a idéia, Anders olhou a seu redor.

-O que peço?

-Um jantar com frango, carne branca para mim -anunciou Leigh.

-Eu também -disse Valerie.

Assentindo, Anders se voltou para a caixa do alto-falante quando uma voz apagada lhe perguntou o que gostaria. Inseguro do que gostaria, simplesmente seguiu o exemplo das damas, e disse, -Três jantares com frango. Apenas carne branca.

-Que sejam quatro, Anders -interveio Leigh repentinamente. -Lucian provavelmente terá fome quando chegar em casa.

Mudou o pedido. Se tivesse sorte, a comida poderia mitigar um pouco da cólera de Lucian sobre levar as mulheres a Cambridge. Duvido muito, mas alguém deve guardar as esperanças, pensou Anders enquanto dirigia até a janela para pagar e pegar seu pedido.

-Maldição, isso cheira bem-disse Bricker quando Anders colocou as sacolas de comida no chão entre os assentos dianteiros vários momentos depois.

Anders não respondeu, mas assentiu em silêncio. Cheirava condenadamente bem e fez apertar seu estômago com o que suspeitava que fosse fome. Isso era algo que não tinha sentido há muito tempo. Não estava seguro de que gostasse de senti-lo agora.

Mas estava começando a entender como encontrar um companheiro de vida poderia mexer com os instintos de um homem. Aromas que nem estava acostumado a notar, agora pareciam provocar reações físicas que não eram exatamente amenas. E

Valerie? Deu uma olhada para encontrá-la olhando para ele. Quando ela sorriu, sentiu que seus próprios lábios se abriram em um sorriso torcido em resposta, e então rapidamente voltou a olhar de novo para frente.

Este assunto de companheiros de vida não era nada do que tinha esperado. De fato, não estava totalmente seguro de que Valerie realmente fosse sua companheira de vida. Seu olhar se deslizou a ela de novo. Havia tirado a jaqueta quando tinham deixado Cambridge, ficando com sua própria camiseta e calça jeans. Tinha uma boa aparência e achava que ela era bonita, mas tinha conhecido milhares de mulheres bonitas em sua vida. E havia o fato de que Decker, Mortimer, e os outros que tinha visto com companheiras de vida não pareciam ter suficiente de suas mulheres, mas ele olhava para Valerie e não tinha nenhum grande impulso de “saltar sobre seus ossos” -como Bricker chamaria.

Entretanto, estava comendo outra vez, e quando tomou sua mão para ajudá-la a subir na caminhonete antes, havia sentido uma estranha sensação correndo desde seu braço e através de seu corpo. Ela havia sentido também. Estava bastante seguro disso. Não tinha sido a primeira vez entretanto, e lhe dava vontade de tocá-la outra vez para ver o que acontecia.

Anders sacudiu a cabeça ante seus próprios pensamentos confusos. Era sua companheira de vida ou não?

-É obvio que o é -disse Marguerite brandamente atrás dele, e Anders fez uma careta a sua capacidade de ler sua mente. Outro sinal de encontrar a um companheiro de vida.

Maldição.

-Ajudarei você a trazer as coisas de Valerie antes de levar Marguerite de volta -

ofereceu Bricker quando Anders estacionou diante da casa de Lucian e Leigh vários minutos mais tarde.

-Não é necessário -disse Anders, desligando o motor e abrindo a porta. -Posso lidar com isso.

Deixando Bricker para abrir a porta lateral e ajudar às mulheres a sair, Anders se dirigiu à parte traseira da caminhonete para pegar a mochila, o computador e a bolsa de lona que haviam trazido de volta. Jogou tudo em um ombro, e depois pegou o saco de comida para cães e a sacola que continha os pratos do cachorro seus outros acessórios.

-Não pode carregar tudo isso -protestou Valerie, chegando pela parte traseira da caminhonete com as sacolas do Chalé Suíço na mão e Roxy a seu lado. Agarrou a cama do cão e tentou lhe tirar uma sacola, mas ele negou com a cabeça.

-Estou bem -assegurou ele, empurrando a porta da caminhonete com o cotovelo, e depois assentindo em direção à casa.

Sacudindo a cabeça ante sua teimosia, ela se voltou para a casa, mas se deteve ao lado de Leigh na parte dianteira da caminhonete para dizer adeus a Marguerite e Bricker e lhes agradecer por toda sua ajuda de hoje. Anders esperou pacientemente que as mulheres terminassem sua conversa, e depois seguiu Leigh e Valerie para dentro da casa quando Marguerite e Bricker retornaram à caminhonete.

-Roxy pode ter que sair -disse Valerie com o cenho franzido quando Anders deixou suas coisas e fechou com chave a porta principal.

-Isso está bem. Vamos sair também -disse Leigh alegremente. -Acho que nós gostaríamos de comer no terraço.

-OH, isso parece bom. Valerie sorriu e seguiu Leigh para a parte traseira da casa com Roxy atrás dela.

Deixando as coisas de Valerie para depois, Anders pegou a comida de cães e a sacola com coisas de Roxy e seguiu as mulheres.

Enquanto as mulheres se dirigiram para o terraço, Anders parou na cozinha para encher um dos pratos do cão com água e o outro com a comida antes de se unir a elas.

-OH, isso foi amável. Obrigada -disse Valerie com surpresa quando se virou ao ver o nariz de Roxy bisbilhotando pelo pátio e viu que Anders tinha levado comida e água para o cão. Fazendo uma careta, acrescentou, -Eu devia ter feito isso.

-Você levava a comida humana -disse Anders, encolhendo-se de ombros enquanto colocava os pratos na borda do terraço coberto. Endireitou-se e olhou a Leigh, que colocava os recipientes de plástico sobre a mesa do pátio. -Vou pegar bebidas. O que as damas gostariam?

-Nada para mim -disse Leigh, recolhendo a segunda sacola que continha duas refeições, e se dirigia às portas francesas. -Vou pôr isto na geladeira, dormirei um pouco, e esquentarei para comer com Lucian quando ele voltar. Mas há uma boa variedade de bebidas na cozinha, Valerie. Deveria dar uma olhada e ver o que quer.

Anders lhe pode mostrar isso.

Anders ficou olhando à mulher chateado. Ela era a que estava querendo comer. E

agora ia esperar Lucian? Estava tramando algo, e não tinha que se esforçar muito duro para descobrir o que. O que tinha começado como um simples jantar de três pessoas, estava se convertendo rapidamente em um jantar romântico para dois no terraço com o sol poente.

-OH, não hesitem em utilizar as velas -anunciou Leigh repentinamente, fazendo aparecer sua cabeça pela porta. -O sol irá se pôr logo e irão querer ser capazes de ver o que estão comendo.

-Obrigada-disse Valerie com um sorriso quando a mulher desapareceu no interior da casa. Era evidente que não tinha nem idéia de que era uma armadilha, mas não conhecia às pessoas com as quais estava tratando.

Sacudindo a cabeça, Anders se dirigiu para as portas francesas.

-Venha. Será melhor conseguir as bebidas e comer antes de que a comida esfrie.

Assentindo, Valerie deu um último olhar em Roxy, atrás da casa.

-Estará tudo bem com ela? -perguntou Anders enquanto a conduzia à geladeira.

-Sim. Ela não vai tentar escapar. Roxy se mantém por perto. De fato, se perceber que deixei o terraço, provavelmente venha me buscar - assegurou Valerie.

Assentindo, abriu a porta da geladeira e olhou o conteúdo. Havia sucos, leite, e diversas variedades de refrescos... e ele não tinha nem idéia do que era bom. Esperou até que ela escolheu algo que se chamava Dr. Pepper e então pegouum para si mesmo também.

-Um copo e cubos de gelo? -perguntou Anders enquanto fechava a porta.

-Sim, por favor. Só me diga onde encontrar os copos e os pegarei-adicionou.

Anders abriu uma porta do armário junto à pia e cada um pegou um copo. Em seguida, parou na máquina de gelo da geladeira para pegar gelo antes de voltar para o terraço. Roxy estava se aproximando da porta quando saiu. Era evidente que tinha notado a ausência de sua dona e estava a ponto de ir procurá-la como Valerie havia dito que faria.

-Boa garota -elogiou Valerie enquanto segurava o copo precariamente em uma mão para poder acariciar o cão com a outra ao passar. Anders não estava seguro de porque estava elogiando o cão, mas o cão gostou e balançou a cauda freneticamente, seu traseiro em movimento com a ação. Valerie riu entre dentes, mas disse, -Vá comer agora.

Roxy imediatamente se aproximou para cheirar a comida que tinham deixado para ela, e então se sentou para comer com intenções sérias.

Sacudindo a cabeça, Anders seguiu Valerie até a mesa e se sentou em frente a ela.

Abriu o refresco e o derramando sobre o gelo, comentou, -Ela obedece bem.

-Sim. É uma boa cadela -disse Valerie, olhando para Roxy enquanto servia seu próprio refresco.

-Bem treinada -respondeu ele, voltando sua atenção à abertura da tampa de sua comida e inspecionando seu conteúdo. O aroma era incrível.

-Tenho sorte -disse Valerie com um encolhimento de ombros, abrindo sua própria comida. -Tive a oportunidade de ter Roxy na clínica e manter um olho nela em tempo integral. E os outros animais ali ajudaram a socializar com ela também.

Anders olhou o cão e admitiu, -Essa é uma das razões pelas quais não tenho um cão ainda. Quero um, mas minhas horas não são exatamente regulares e não quero colocar o pobre em uma jaula durante horas e horas. E o que ia fazer com ele se tivesse que estar fora durante dias? - acrescentou com o cenho franzido.

-Está pensando primeiro no cão. Esse é o sinal de um bom proprietário de animais-disse Valerie com aprovação. -Muitas pessoas não consideram coisas assim quando conseguem um cão. Querem um, então o conseguem. Depois os alteram e pensam que há algo errado com o cão quando não se treina com facilidade ou urina na casa.

Abrindo a sacola de plástico em que se encontravam o garfo, a faca e o guardanapo, lhe perguntou, -Pensou em uma babá de treinamento para os primeiros seis meses a um ano?

Anders levantou as sobrancelhas em pergunta.

-Uma babá de treinamento?

-Pode ser que não tenham nada disso aqui -disse com o cenho franzido e depois explicou, -Temos uma garota em Winnipeg que recebe nossas indicações. Cuida dos cachorrinhos enquanto os donos estão trabalhando e ajuda a treiná-los. Um cuidador de cães, treinador... babá de cachorrinhos. Ela apertou os lábios e logo admitiu, -Pode ser um pouco caro, mas vale a pena.

-Terei que ver se há alguém assim aqui -disse pensativo e depois ambos ficaram em silêncio enquanto sua atenção se voltava para sua comida.

O primeiro pedaço do frango foi para o Anders uma revelação. Tinha pensado que o sorvete era a coisa mais deliciosa que tinha provado, mas o frango era facilmente seu concorrente e teve que se perguntar se era a comida ou o assunto dos companheiros de vida. Talvez tudo seria a coisa mais deliciosa que tinha provado agora. Supunha que encontraria a resposta quando provasse mais e diferentes tipos de alimentos.

Enquanto comiam, Anders pensou que talvez devesse deixar de ser tão duro com Bricker por seu desejo constante de parar para comer aqui e lá. Compreendeu de repente esse desejo. Embora a fome de Bricker fosse apenas porque era o suficientemente jovem para comer.

Um suspiro de satisfação de Valerie lhe chamou a atenção para seu recipiente quase vazio. Suas sobrancelhas se levantaram quando ela empurrou longe sua comida meio sem terminar e se recostou em seu assento.

-Já acabou? -perguntou-lhe, olhando o frango e as batatas fritas que ficavam no recipiente.

-Temo que sim. Meu estômago realmente deve ter encolhido. Estou cheia-disse, e depois lhe ofereceu, -Quer terminar para mim?

Quando Anders assentiu com entusiasmo, ela riu e empurrou para ele o recipiente sobre a mesa.

-Obrigado -disse, e rapidamente colocou o frango restante e batatas fritas em seu próprio recipiente. Na verdade, ele também não deveria ter espaço para a comida.

Seu estômago tinha que ser do tamanho de uma ervilha, depois de séculos sem alimentos sólidos, e, para falar a verdade, já estava cheio por completo, mas não tinha suficiente da saborosa comida.

Valerie sorriu com indulgência enquanto lhe via comer sua comida, mas começou a bocejar quando estava terminando.

-Está cansada -comentou Anders quando devolvia ambos os recipientes vazios à sacolas que haviam trazido.

-Sim. Ela fez uma careta. -Não estava acostumada ser tão mole, mas estive dormindo por toda parte hoje.

-É seu corpo que está se recuperando. Vai passar - assegurou.

Valerie assentiu e depois olhou para Roxy quando o cão retornava de uma viagem de fazer suas necessidades e se acomodava a seu lado. Acariciando o pastor alemão, perguntou-lhe, -Quanto tempo acha que vou ficar aqui?

Anders hesitou. Haviam dito a ela que estava aqui porque seu captor tinha escapado, e isso era parcialmente verdade. Havia uma pequena possibilidade de que o homem poderia vir atrás dela... se ela tivesse visto algo e pudesse identificá-lo. Mas não mantinham muitas esperanças disso. Nenhuma das outras mulheres tinha sido capaz de lhes dizer muito que pudesse ser aproveitado. Se o Renegado fosse um pouquinho esperto, Anders pensava que provavelmente teria se mudado para longe e começaria de novo a aterrorizar outras pessoas. A verdadeira razão pela qual Valerie estava aqui e não tinha sido levada à casa dos Executores era porque Anders tinha sido tão ingênuo que admitiu para Lucian que não tinha sido capaz de lê-la ou controlá-la na casa. Lucian agora suspeitava que ela era a companheira de vida de Anders e queria ter certeza se era, e se estaria de acordo em ser uma companheira de vida para ele antes de decidir o que fazer com ela.

Se não pudesse aceitar o que ele era, e não estava disposta a ser sua companheira de vida, as lembranças de seu cativeiro e de sua estadia aqui seriam apagadas de sua mente e seria devolvida a sua vida. Entretanto, se estivesse disposta...

Anders não se permitia pensar nisso. Seria muito fácil imaginar uma vida inteira em torno desta mulher como sua companheira de vida. Podia ver isso agora, comer sorvete e outros alimentos que não tinham sabor de serragem, ter uma companheira sem ter que vigiar constantemente seus pensamentos... E depois, haveria sexo de companheiros de vida supostamente quente. Estava muito curioso a respeito disso.

-Anders?

Ao perceber que não tinha respondido a sua pergunta, finalmente disse, -Provavelmente não muito.

-Acha que vai capturá-lo rapidamente, então? - perguntou Valerie, inclinando a cabeça. -Tem uma pista sobre ele ou algo assim?

-Não -respondeu com sinceridade, e depois recolheu os restos de sua comida e se levantou. -Não se preocupe com isso agora. Precisa relaxar e dormir para recuperar suas forças. Nos deixe preocupar com o resto. Vamos, levarei suas malas para cima para que possa ir para cama.

Valerie hesitou, obviamente querendo fazer mais perguntas, mas deu outro bocejo.

Cobrindo sua boca, levantou-se e assentiu.

-Amanhã é cedo suficiente para me preocupar com coisas como essa, suponho.

-Amanhã. Anders esteve de acordo e conduziu a ela e Roxy para casa. Ele desviou para a cozinha para jogar o lixo fora, e depois pegou de novo as sacolas que esperavam na porta principal.

-Posso ajudar -disse Valerie enquanto ele começava a recolher as sacolas. Quando ele não respondeu, ela se moveu a um lado e pegou o computador antes que ele pudesse fazer isso, dizendo, -Não estou completamente incapacitada, Anders.

Era a primeira vez que ela tinha pronunciado seu nome e Anders se encontrou imóvel brevemente com o som em seus lábios.

-Algo está errado? -perguntou.

-Não. Endireitou-se com as outras sacolas, e lhe indicou o caminho pelas escadas.

Encolhendo-se de ombros, Valerie se deu a volta e começou a subir as escadas. Desta vez Roxy não a seguiu, mas se sentou aos pés das escadas. Anders se deteve para olhá-la, mas o pastor alemão parecia confuso e olhou dele a Valerie e atrás sem se mover.

-Está esperando -anunciou Valerie, fazendo uma pausa na metade das escadas para olhar para trás quando percebeu que ele não a seguia. -Foi treinada para não subir as escadas até que eu permita. Evita se meter debaixo de seus pés e fazê-lo tropeçar.

—OH. Começou a subir as escadas, maravilhado uma vez mais de quão bem treinada estava a cadela. Uma vez que chegou ao topo, o tinido da plaqueta do nome de Roxy e da licença lhe disseram que estava lhe seguindo. Sacudindo a cabeça, acompanhou Valerie pelo corredor. Não foi até que parou para abrir a porta que percebeu que esteve olhando seu traseiro todo o caminho. Essa compreensão foi bastante surpreendente. Nunca tinha sido um homem de traseiros, mas o movimento e o domínio de seu traseiro tinham mantido sua fascinação por todo o caminho até o corredor.

-Não esperam que monte guarda fora do quarto durante toda a noite, não é verdade?

-perguntou Valerie com curiosidade enquanto o levava a seu quarto.

-Não, estou no quarto ao lado. Anders pôs suas sacolas na mesa junto à janela. -O

suficientemente perto para te ouvir gritar se precisar de mim. Mas não deve ter nenhum problema. O sistema de alarme aqui é de tecnologia avançada.

-Bom -disse Valerie com alívio. -Me sentiria horrível ao pensar que você teria que ficar de pé no corredor toda a noite. Não poderia dormir -acrescentou com um sorriso.

Anders se voltou para olhá-la e hesitou. Queria beijá-la. Mais por curiosidade do que por qualquer grande desejo. Quanto mais chegava a conhecer esta mulher, mais gostava. Admirava sua coragem e força, e ficou impressionado por quão bem tinha treinado seu cão. A lealdade que o animal mostrava por sua dona falava bem dela. E

até agora gostava de tudo a respeito dela. Mas não sentia luxúria, e queria saber se beijá-la provocaria a paixão de companheiro de vida da qual tanto tinha ouvido falar.

Infelizmente, tinha passado muito tempo desde que cortejou uma mulher e não estava seguro de como fazê-lo. Apenas agarrá-la e beijá-la? Ou teria que esperar algum sinal de sua parte?

-Bom, deveria me preparar e ir para cama -disse Valerie finalmente e Anders sorriu ironicamente. Isso era sem dúvida um sinal, supôs, mas não um que sugerisse que daria as boas-vindas a seu beijo.

Assentindo, deu-se a volta e se dirigiu à porta.

-Grite se precisar de algo.

-Obrigada -disse Valerie em voz baixa enquanto abria a porta.

Fazendo uma pausa, Anders deu uma olhada atrás, seu olhar deslocando-se ao cão.

-Roxy dorme com você ou deveria levá-la para baixo?

-OH, não. Dorme comigo -disse Valerie, olhando para Roxy ela mesma.

-Cadela de sorte -murmurou e apanhou seu olhar de surpresa antes que ele saísse e fechasse a porta.

Anders parou brevemente, silenciosamente se chutando o traseiro por não beijá-la, mas depois se encolheu de ombros e se dirigiu à porta do quarto que tinham lhe dado pela duração de sua estadia aqui.

Beijarei-a amanhã, pensou, e não vou esperar um sinal para fazê-lo. Enquanto isso, estava bastante cansado. Estava acostumado a dormir durante o dia, mas ao despertar Valerie ao meio dia tinha cortado seu sono. Esteve acordado toda a noite e depois durante todo o dia. Suspeitava que seu horário ia estar fodido durante os próximos dias. Valerie provavelmente manteria um horário normal e ele teria que fazer o mesmo para passar o tempo e manter um olho nela.

A choramingação de Roxy despertou Valerie. Abrindo os olhos no quarto fracamente iluminado, tinha deixado a porta do banheiro aberta e a luz se derramava fora dele.

Apesar de que Roxy estava com ela, não tinha estado disposta a dormir em completa escuridão. Valerie tinha medo de que pudesse despertar e pensar que estava de volta na jaula.

Roxy gemeu outra vez e Valerie se moveu sobre seu cotovelo para olhar pelo lado direito da cama, mas o pastor alemão não estava ali. Estava de pé no chão junto à cama, gemendo tristemente. Quando Valerie deu uma olhada, deu-se a volta e foi para a porta e logo depois de volta.

-Tem que sair, não é? - perguntou Valerie, reconhecendo o sinal. Suspirando com resignação, tirou as mantas de lado e se sentou, estremecendo quando um golpe de dor a tomou de surpresa. Esqueceu-se de suas costas. Movendo-se com mais cuidado, Valerie ficou de pé e olhou a seu redor procurando o roupão, e depois recordou que ainda estava na bolsa de lona. Estava muito cansada para se incomodar em desempacotar, e simplesmente tirou a roupa, colocou a camiseta grande com a qual dormia, e se meteu entre os lençóis.

Valerie se dirigiu às sacolas que Anders tinha posto sobre a mesa, mas outro gemido mais urgente seguido de um latido de Roxy fez mudar sua direção. Sua camiseta cobria tudo e o cão, obviamente, realmente precisava sair. Se perguntou quanto tempo Roxy esteve tentando despertá-la com seus gemidos.

-Está bem -lhe sussurrou ao chegar à porta. -Mas em silêncio. As pessoas estão dormindo.

Roxy gemeu e meneou a cauda e Valerie abriu a porta. O pastor alemão saiu pela porta imediatamente, esquecendo por completo suas maneiras. Isto disse mais sobre sua urgência que outra coisa e Valerie não perdeu o tempo repreendendo-a, mas se apressou pelo corredor detrás dela, agradecida pelas luzes noturnas nas tomadas que iluminavam seu caminho.

Roxy recordou suas maneiras na escada e se deteve para deixar que Valerie descesse primeiro. Não havia luzes noturnas aqui, mas reapareciam na parte inferior da escada e Valerie se moveu com cuidado para baixo com uma mão no corrimão da escada.

Enquanto conduzia Roxy para a parte traseira da casa com a ajuda das luzes noturnas, Valerie se perguntou que hora era. Deu uma olhada ao redor para ver um relógio enquanto cruzava as portas francesas e começava a destrancar a fechadura, mas não tinha visto nenhum antes que conseguisse abrir a porta. Ela a abriu e Roxy saiu disparada quando um alarme de repente começou a soar. Valerie ficou imóvel, só então lembrou de Anders dizendo algo a respeito de um sistema de alarme de tecnologia avançada. O qual acabava de ativar.


Capítulo 6

O som repentino do alarme despertou Anders bruscamente. Uma onda de adrenalina que passou através dele o lançou fora da cama. Antes de saber o que estava fazendo, estava na porta e a abriu. Um movimento no extremo da sala lhe chamou a atenção quando começou a avançar. Anders desacelerou quando viu que era Lucian saindo do quarto. Assim como ele, Lucian estava sem camisa. Entretanto, tinha posto sua calça.

Sem abotoar, mas com sua calça. Ou ele acabava de se despir para ir para cama, ou tinha pensado em colocar a calça antes de sair de seu quarto. Algo que ele não tinha pensado fazer, Anders percebeu, de repente consciente de que estava usando apenas sua cueca boxer.

-Valerie? -ladrou Lucian.

-Estou verificando isso -gritou Anders enquanto corria para frente, mas não podia ter certeza se o outro homem o escutou. Ele mesmo realmente não tinha ouvido Lucian dizer o nome de Valerie, apenas leu em seus lábios. Mas não se incomodou em esclarecer o que havia dito. Movendo-se rapidamente outra vez, apressou-se à porta de Valerie e a abriu, encontrando sua cama vazia. A porta do banheiro estava aberta e este parecia vazio também. Nada de Valerie e nada de Roxy.

Com o medo agarrando-se em seu peito, Anders não se incomodou em fechar a porta, seguiu adiante, movendo a cabeça para dizer a Lucian que não estava em seu quarto.

Anders chegou ao topo da escada primeiro e imediatamente começou a descer, consciente de que Lucian estava bem atrás dele.

Gemendo, Valerie apoiou a testa contra a porta e fechou os olhos enquanto escutava o ruído surdo dos pés na parte de acima. Acordou todo mundo, é claro.

Suspirando, endireitou-se e se virou para olhar para a escada na parte dianteira da casa ao escutar os sons que vinham de cima. O ruído surdo que tinha começado nos extremos opostos da casa foi convergindo no alto, e logo começou a descer as escadas.

Valerie realmente não queria estar ali e esperá-los, mas não tinha escolha. Tinha ativado acidentalmente o alarme. Isto era culpa dela. Além disso, que outra coisa poderia fazer? Sair correndo e se esconder entre os arbustos, e depois dormir nos móveis do jardim até amanhecer?

-Valerie! -gritou Anders, patinando até parar enquanto se precipitava na cozinha e a viu junto à porta.

-Sinto muito! - gritou ela para ser ouvida sobre o alarme quando um segundo homem, alto e loiro, empurrou Anders para se precipitar para as portas francesas da sala de estar e começou a teclar os números sobre um painel. -Roxy tinha que sair e me esqueci do alarme!

A última palavra foi gritada no silêncio repentino quando o alarme parou. Valerie apenas se deu conta, entretanto, estava muito ocupada boquiaberta ante Anders e o que estava usando. Ou o que não usava. O homem estava descalço com o torso nu e de cueca... e maldição, estava ótimo. Ele também estava olhando para ela como se nunca a tivesse visto antes, deu-se conta, e se mordeu o lábio enquanto trocava o olhar para o loiro. O loiro, entretanto, ignorava-a por completo. Ele tinha agarrado um telefone sem fio próximo e agora estava digitando números nele.

Estava chamando o escritório de segurança, percebeu Valerie quando ele recitou um número de sete dígitos e depois grunhiu que tudo estava bem, que o alarme havia sido ativado acidentalmente. Então deixou o telefone e se voltou para fulminá-la com o olhar, com a irritação em cada linha de seu corpo.

Valerie estava segura de que estava a ponto de conseguir uma reprimenda abrasadora, mas a alegre voz de Leigh interveio.

-Bom, graças a Deus que não estávamos dormidos ainda -disse a mulher grávida, chamando a atenção para sua chegada enquanto se apressava através da cozinha com um longo roupão cor de rosa ao lado do loiro. Lhe aplaudiu o braço com doçura, e depois se estirou para sussurrar algo no ouvido do homem. Por último, voltou-se para Valerie e sorriu. -E isto veio a calhar, já que deveria trocar a bandagem antes de ir para cama, mas estava dormindo quando Lucian chegou em casa e me levantei.

Posso fazer isso agora, entretanto.

-Anders fará isso-grunhiu o loiro. -Você vai voltar para cama.

-OH, Lucian, só levarei um minuto. Posso... -os protestos de Leigh morreram em um ofego quando o loiro a tomou em seus braços e começou a cruzar a cozinha com ela.

-Se encarregue disso-ordenou o loiro ao passar por Anders. -E se assegure de que ela não ative o alarme de novo.


Anders grunhiu em resposta e viu seu chefe passar pelo corredor levando Leigh.

Quando o casal desapareceu nas escadas, voltou-se de novo para Valerie.

-Sinto muito por isso-disse ela em voz baixa, tentando não olhá-lo diretamente nos olhos. Honestamente, ninguém deveria estar tão bom, pensou Valerie, mas quando ele não respondeu, arriscou um olhar. Seus ombros relaxaram e estava percorrendo uma mão cansada por seu cabelo curto.

-Acidentes acontecem -disse Anders finalmente, sua mão movendo-se por volta da parte posterior de seu pescoço agora, amassando-o como se tentasse eliminar a tensão ali. Depois fez um gesto a suas costas. -Acho que Roxy já resolveu seus assuntos.

Ela se virou e viu que o pastor alemão havia voltado e agora estava na porta, olhando-a. Valerie nem sequer se deu conta de que tinha fechado a porta, mas a tinha aberto agora e deixado Roxy passar.

-É melhor que eu veja sua bandagem -murmurou Anders.

Valerie olhou a seu redor enquanto fechava a porta, mas Anders se dirigiu para fora da cozinha. Ela hesitou, mas depois o seguiu, notando que ele tinha as pernas muito fortes e musculosas, e um bonito e arredondado traseiro. Forçando o pensamento longe de sua cabeça, seguiu-o escada acima, para seu quarto com Roxy imediatamente atrás dela. Tinha a gaveta do criado mudo aberta quando ela entrou e estava retirando objetos de lá. Fechou a gaveta e se voltou, indo rapidamente para a porta, mas parou abruptamente quando a viu.

-OH. Ele a olhou piscando. -Ia fazer isso lá embaixo.

-Está bem -disse Valerie imediatamente, e se virou para abrir caminho para o andar de baixo. Parecia uma idéia melhor que fazer isso ali em seu quarto. Menos pessoal.

E embaixo não havia nenhuma cama. Valerie não tinha certeza de porque isso fazia diferença, mas não queria analisar muito.

-A cozinha tem uma iluminação melhor-disse Anders enquanto a seguia até a cozinha e apertou um botão, iluminando todo o local.

Valerie se dirigiu à cozinha. Roxy estava a seu lado no princípio e então de repente correu para frente. Alguém havia trazido seus pratos de comida e de água e os colocou no chão junto ao forno. Roxy os tinha visto e agora agarrou o prato de comida e o levou de volta, colocando-o aos pés de Valerie e levando-a a parar ao lado do balcão.

-Que horas são? -perguntou Valerie com o cenho franzido enquanto se inclinava para pegar o prato.

Anders olhou para o microondas enquanto se movia na frente dela na cozinha.

-Seis e meia.

Valerie seguiu seu olhar, observando a hora digital verde brilhante no canto superior direito do aparelho e se perguntou como não tinha visto antes. Por não falar que tinha pensado que estavam no meio da noite, quando na verdade o céu estava se iluminando lá fora. Não havia nenhum sinal do sol ainda, mas o céu estava azul acinzentado em vez de negro.

-Hora da comida? - perguntou Anders com diversão quando Roxy se sentou frente a Valerie e gemeu lastimosamente.

-Sim -admitiu com ironia, levando o prato do cão ao redor do balcão. -Roxy é melhor que um relógio despertador. Às seis e meia de cada manhã está acordada e quer seu café da manhã.

Rindo entre dentes, Anders se inclinou e pegou a sacola de comida para cães de um armário no balcão e a abriu, depois colocou o conteúdo no prato de Roxy.

-Obrigada-disse ela quando ele terminou e começou a fechar a sacola.

Ela levou o prato e o colocou junto ao prato de água que alguém atentamente tinha enchido. Endireitou-se depois, mas não foi até que disse “Está bem” que Roxy começou a comer. Estava imediatamente com o focinho profundamente no prato de comida, engolindo a comida.

-Tem um apetite saudável -disse Anders secamente.

-Juro que é um saco sem fundo. Valerie se virou e se apoiou no balcão. Foi um movimento estratégico. Isto escondeu suas pernas nuas de sua vista. Ela mesma estava firmemente ignorando suas pernas nuas... seu peito nu... e seu ventre nu. Bom, pelo menos tentando. Suspirando, levantou uma sobrancelha e perguntou, -Onde quer fazer isto?

-A melhor iluminação é aqui -disse Anders, acariciando o balcão, e era verdade, reconheceu ela. A luz estava centrada no meio do balcão e ali resplandecia brilhante e forte para baixo.

Depois de uma hesitação, Valerie se deslizou ao redor do balcão e se aproximou de seu lado, inclinando-se sobre o balcão e deixando suas costas sob a luz.

-Muito baixo -disse ele com voz rouca.

Valerie se endireitou e se voltou com o cenho franzido.

-Não sei o que posso fazer para...

Suas palavras terminaram em um ofego quando Anders a agarrou pela cintura e a levantou para sentá-la no balcão. Soltou-a tão rápido como a pegou, e tinha se movido para o outro lado do balcão quase antes que ela pudesse perceber. Dando uma olhada por cima do ombro, viu-o colocar os objetos que havia trazido de seu quarto: uma boa quantidade de gaze, esparadrapo branco e líquido antibiótico.

Valerie se virou de novo para frente com uma careta ao perceber que teria que levantar sua camisa e estava atualmente sentada nela. Com um suspiro, inclinou-se para um lado, levantando uma nádega fora do balcão para poder tirar o tecido daí, depois se inclinou para o outro lado e fez o mesmo. Depois puxou o tecido e o deixou debaixo de seus braços para que ficasse bem debaixo de seus seios na parte da frente e esperava à mesma altura nas costas. Era muito consciente de que a deixava sentada ali só com suas calcinhas cor de rosa que cobriam a parte inferior de seu corpo. Isto a fez desejar ter colocado sua calcinha preta com corte masculino.

Elas, ao menos, pareciam uma calça curta.

-Obrigado -disse Anders atrás dela e se perguntou se ele estava se resfriando. Sua voz tinha sido brusca antes e agora estava rouca.

Essa preocupação sumiu quando começou a lhe tirar a bandagem que neste momento cobria sua ferida. Ele estava trabalhando lentamente, obviamente tentando ser o mais suave possível, mas a fita estava bem aderida à pele e picava o suficiente para que ela se perguntasse se tinha cabelo ali ou algo parecido. Mordendo o lábio, Valerie se concentrou nos números acesos no microondas e tentou ignorar a dor que ele estava causando inadvertidamente. Ela suspirou com alívio, entretanto, quando terminou e a bandagem estava fora.

-Como parece? -perguntou.

-Está curando-disse Anders.

Isso era bom, supôs. Mas “está curando” realmente não lhe dizia muito. Era um grande buraco? Provavelmente não, reconheceu Valerie. Leigh havia dito que a Dra.

Dani a tinha costurado, por isso provavelmente era um grande e desagradavel franzido. Lindo.

-Vou passar o antibiótico agora. Isto pode arder-advertiu em voz baixa.

Valerie assentiu e se preparou.

Uma vez mais, poderia dizer que Anders estava tentando ser amável. Seus dedos eram como plumas sobre sua pele, mas estava o suficientemente sensível para que isso ardesse. Chiando os dentes, conteve a respiração e esperou, tentando manter a mente em branco.

-Pronto-anunciou Anders e Valerie deixou escapar o fôlego em um suspiro, só para aspirar novamente quando lhe colocou a gaze sobre a ferida. O primeiro roce era desagradável, mas depois parecia estar bem e foi capaz de respirar normalmente quando fixou a fita em seu lugar.

-Terminado-disse Anders. -Pode soltar sua camiseta.

Valerie imediatamente levantou os braços, permitindo ao tecido cair até embaixo.

Teria se deslizado fora do balcão então, mas Anders tinha chegado ao redor e estava de pé frente a ela.

-OH. Olá -disse ela como uma imbecil sem cérebro.

-Olá -respondeu Anders e pegou pela cintura. Ela pensou que ele ia pegá-la para descer.

Pensou errado.

Em vez disso, ele agarrou sua cintura, colocou-se entre suas pernas e a beijou. Foi só um suave roce de seus lábios no princípio, depois mais firme, e sua língua se deslizou para empurrar seus lábios abertos. Tudo ficou muito impreciso depois disso.

Seu cérebro parecia fechado e entregue à corrente de sensações que de repente explodiram através dela. Honestamente, o homem sabia beijar. Fez coisas a seus lábios e língua que nunca antes tinha experimentado. Seu ex, Larry, não tinha sido um grande beijador. Nada mais que um pênis. Francamente, se tinha língua, não sabia. Anders definitivamente tinha uma e sabia o que fazer com ela.

Quando Roxy latiu, romperam o beijo com um sobressalto, e Valerie olhou para baixo para ver que tinha tentado subir no homem como se fosse o tronco de uma árvore. Suas pernas se envolviam ao redor de seus quadris, seus tornozelos se enganchavam atrás de suas pernas, seus braços estavam ao redor de seus ombros, suas mãos cavavam o pescoço e a cabeça, e seu traseiro estava fora do balcão e em suas mãos. Valerie olhou para Anders, e disse, -Mmmfph.

A resposta de Anders foi deixar a curva de seus lábios com o mais malditamente sexy sorriso que nunca tinha visto. Valerie lhe devolveu o olhar com os olhos abertos e desconcertados. Não tinha pensado que o homem pudesse sorrir. Mas então não sabia que podia beijar tão bem, pensou Valerie enquanto sua boca desceu para ela de novo para outro beijo, um que nunca chegou porque Roxy latiu outra vez, desta vez apoiada sobre suas patas traseiras para plantar sua frente sobre eles.

Isso foi suficiente para chamar a atenção de Valerie. Roxy nunca saltava sobre as pessoas.

-O que foi, Rox? Valerie ficou sem fôlego, empurrando o peito de Anders para conseguir que a deixasse. Ele fez isso, deixando-a no chão quando balançou seus pés para baixo, tirando-os de ao redor de seus quadris.

Agora que tinha sua atenção, Roxy imediatamente deu a volta e correu para a porta, onde latiu e se virou para olhar Valerie, suas patas movendo-se sem cessar.

-OH -suspirou Valerie e se apressou a abrir a porta. Roxy precisava sair...

desesperadamente, pensou quando o cão escapou através do terraço e apenas chegou à grama antes de se agachar.

-Vou ter que conseguir algumas sacolas de recolhimento de resíduos -murmurou Valerie e depois se estremeceu quando Anders apoiou as mãos em seus ombros por trás.

-Faremos isso quando as lojas abrirem-prometeu, puxando ela contra seu peito e dobrando a cabeça para pressionar beijos de mariposa em seu ouvido. Valerie estava se derretendo nele quando começou a mover seu cabelo de lado para beijar seu pescoço. Imediatamente ficou rígida e se afastou com uma mão subindo timidamente para se assegurar de que sua garganta estava coberta.

-Não tem que se esconder de mim, Valerie-disse em voz baixa. -Vi seu pescoço.

Terminado com seu assunto, Roxy voltou, empurrando a mão de Valerie com seu nariz. Ela baixou o olhar para o cão e a acariciou, aliviada pela desculpa para afastar o olhar de Anders. Ele já podia ter visto seu pescoço, mas não a fazia menos consciente disso.

-Ainda estou cansada. Acredito que irei dormir um pouco mais -mentiu, saindo da cozinha com Roxy a seu lado. Ele não disse nem fez nada para detê-la e Valerie caminhou tranquilamente subindo para seu quarto. Ela entrou, esperou que Roxy passasse pela porta, depois a fechou e se apoiou fracamente contra ela, fechando os olhos.

A lembrança desses momentos, ou talvez mais que uns momentos, nos braços do Anders, imediatamente se apoderou dela. A paixão tinha sido assombrosa...

alucinante. Valerie quase não conhecia homem, mas se Roxy não tivesse tido que sair, suspeitava que agora estaria montada nesse cavalo chamado sexo. E de onde diabos tinha vindo essa paixão? O homem era bonito e tudo, mas até que seus lábios se encontraram com os seus, realmente não tinha estado pensando em idéias luxuriosas sobre ele. Tinha admirado seu bonito rosto e esbelta figura como as pessoas poderia contemplar um vestido bem desenhado ou um sapato, mas não tinha havido nenhuma faísca real de interesse sexual.

Bom, exceto quando suas mãos se encontraram sobre o prato de sopa... e quando ele tinha tomado sua mão em Cambridge para ajudá-la com suas costas na caminhonete, reconheceu. Sim, a consciência acalorada se disparou através dela ambas as vezes, mas nada como o que tinha passado agora. Isso tinha sido como um incêndio repentino.

O nariz úmido de Roxy contra a palma de sua mão agitou Valerie de sua posição.

Olhou para o cão, e lhe deu um tapinha, murmurando, -Perdi a cabeça. Você sabe, não é?

Sacudindo a cabeça, aproximou-se da cama e se deitou. Eram nove da noite ontem quando se deitou. Tinha dormido diretamente até as seis da manhã. Mais de nove horas. Valerie não esperava dormir agora, mas queria evitar Anders durante um tempo. Pelo menos até que pensasse que poderia ficar perto dele sem tentar subir nele como em um poste de telefone de novo.

Anders se deixou cair no sofá e apoiou a cabeça para trás com um suspiro. Ficou olhando o teto em cima de sua cabeça, mas estava vendo o rosto do Valerie depois que Roxy tinha quebrado seu beijo. Seus lábios estavam inchados por seus beijos, suas bochechas ruborizadas e os olhos entrecerrados pela paixão e pela fome. Não duvidava de que tivesse parecido muito excitado. Só a lembrança de seus lábios embaixo dele, e seu corpo pressionando com entusiasmo contra ele, punha-lhe duro outra vez.

Maldição, já tinha começado a baixar, pensou com uma careta. Pelo lado positivo, já não havia duvida em sua mente de que Valerie era sua companheira de vida. Bom, se é que realmente teve essa dúvida antes. Não deveria ter sido assim -tinha tido todos os outros sinais—, mas Anders esteve duvidando sobre admitir isso devido à falta de paixão. Parecia que só tinha que tocá-la para acendê-la. E agora entendia o comportamento brincalhão de seus camaradas. Porque agora que o tinha provado, não podia esperar para provar mais. Tanto é assim foi uma luta não seguir Valerie até seu quarto. Um beijo e ela se fundiu em seus braços, como manteiga em uma frigideira quente.

-Assombroso.

Anders olhou a seu redor com um sobressalto. Encontrou Lucian apoiado no marco da porta olhando-o com diversão.

-O que? -perguntou-lhe, sentando-se com as costas reta.

-Como tudo pode mudar tão rapidamente -disse Lucian secamente, entrando na cozinha.

Anders o viu pegar um copo do armário antes de perguntar brandamente, -E o que você acha que está mudando?

-Faz três dias, a primeira vez que percebeu que não podia lê-la e que ela poderia possivelmente ser sua companheira de vida, não estva feliz -disse Lucian. Encheu o copo com água, bebeu um gole, e depois continuou, -Você não gostou da idéia de alguém roubando grande parte de sua atenção, de ter algo para perder, de se converter em uma mãe galinha como eu, ou de ser guiado poe seu pau. Agora é evidente que quer seguir seu pau até lá em cima e reclamar Valerie por qualquer meio necessário.

Anders olhou para baixo para observar que não apenas ainda tinha uma ereção, mas que também era muito evidente em sua cueca boxer. Pegou uma das almofadas do sofá, arrastou-a sobre seu colo e murmurou, -Soube todo isso da leitura de minha mente, não é verdade?

-Claro como o cristal -disse Lucian.

-Certo-disse Anders e fez uma careta ao saber que Lucian tinha lido seus pensamentos menos elogiosos de sua preocupação por Leigh e sobre ser guiado pelo pau. Levantando uma sobrancelha, perguntou-lhe, -Te devo uma desculpa?

-Não. Não posso me queixar quando estava escutando seus pensamentos. Tomou outro gole de água. Quando Lucian baixou o copo, engoliu, e acrescentou, -Mas iria com calma com Valerie. Eu não gostaria que apressasse as coisas e arruinasse tudo.

-Obrigado pelo conselho-disse Anders secamente.

-Falo sério -disse Lucian brandamente.

Anders se acalmou. Emr regra geral, Lucian poderia falar com um grito, grunhido ou latido. Sua voz só tinha esse suave tom solene em raras ocasiões. Quando o fazia, tinha que estar preparado para escutar. Anders assentiu.

-Estou escutando.

-Ela acaba de experimentar um pesadelo de duas semanas nas mãos do que acredita ser um vampiro. Um dos nossos -assinalou. -Dez dias e noites em carne e osso e três pesadelos impulsionados pela febre .

-Mas nós não somos vampiros -assinalou Anders. -Somos imortais.

-Semântica -disse Lucian com um encolhimento de ombros. -Não fará nenhuma diferença para ela se formos a besta mitológica maldita e sem alma sobre a qual escreveu Stoker ou mortais cientificamente evoluídos transformados em quase imortais por nanos de bioengenharia que foram introduzidos no sangue antes da queda da Atlântida.

-Mortais cientificamente evoluídos que precisam de mais sangue do que o corpo humano pode produzir para alimentar esses nanos -adicionou Anders com cansaço.

Lucian assentiu.

-Temos presas, não envelhecemos, somos difíceis de matar e precisamos de sangue para sobreviver. Para ela e para muitos outros, somos vampiros.

-Bebemos sangue empacotado para sobreviver agora -sustentou Anders. -O imortal que a sequestrou e manteve Valerie e as demais mulheres é um canalha.

-É verdade-concordou Lucian. -Infelizmente, o primeiro encontro de Valerie com nossa espécie foi através desse canalha. Ela, como é compreensível, não será muito receptiva à possibilidade de que existam bons entre nossa espécie. Tem que conhecer e confiar em nós acima de tudo, antes de revelar muito.

Anders assentiu ao ver a sabedoria no que ele disse. Logo esclareceu a garganta e perguntou, -Por não revelar muito, não inclui...?

-Não -disse Lucian, a diversão pouco frequente curvando seus lábios. Se deite com ela o quanto quiser, só mantenha a boca fechada enquanto fizer isso. Pelo menos até que pense que ela pode lidar com isso. Do contrário —advertiu—, poderia perder a oportunidade de sua vida.

Com essa nota, Lucian deixou o copo e se dirigiu para a porta.

Anders estava relaxando no sofá contemplando o que ele havia dito quando Lucian parou no corredor e olhou para trás para acrescentar, -É obvio, se fizer algo tão estúpido como levar minha esposa grávida e muito atrasada para o parto em outra viagem de três horas, não viverá o suficiente para desfrutar dessa oportunidade de sua vida de todos os modos.

Lucian não esperou uma resposta, e se afastou, deixando a ameaça no ar.


Fazendo uma careta, Anders fechou os olhos. Não se surpreendeu pela ameaça de Lucian. Tinha esperado que chegaria cedo ou tarde. Quando Valerie se retirou, Anders tinha se deitado também, despindo-se para ficar apenas de cueca pelo bem da comodidade. Mas esperava estar completamente acordado em uma hora mais ou menos e descer para enfrentar as consequências se Lucian estivesse de volta, ou esperar se não estivesse. Entretanto, tinha dormido toda a noite até que o alarme da casa disparou a todo volume o tinha sacudido de seu sono.

Cristo, tinha sido uma experiência e tanto. Depois de todo o pânico e da pressa, tinha corrido para baixo só para encontrar Valerie de pé junto às portas francesas na cozinha olhando-o culpada, envergonhada e linda em uma camiseta excessivamente grande.

A memória trouxe um sorriso a seu rosto que rapidamente se desvaneceu enquanto considerava Valerie e como ganhar sua confiança o suficiente para que ela não saísse correndo pelas colinas quando finalmente se arriscasse a explicar quem e o que era.

Não ia ser fácil.


Capítulo 7

Valerie piscou seus olhos abertos e se encontrou olhando o rosto peludo de Roxy. O

cão imediatamente choramingou. Provavelmente não era a primeira vez. Fazendo uma careta, Valerie se sentou e olhou o relógio da mesinha. Era um pouco depois do meio-dia. Adormeceu de novo. Não teve a intenção, e não tinha pensado que o faria depois de ter dormido tanto tempo já. Valerie só tinha a intenção de descansar um pouco até que os outros se levantassem. Parecia-lhe que ter os outros a seu redor poderia ser algo bom se não quisesse outra sessão acalorada com Anders. -Sinto muito, garota -disse Valerie, acariciando a pele de Roxy. -Deve estar aborrecida e pronta para um passeio. Provavelmente não teve um durante minha ausência. É

difícil imaginar à Sra. Ribble caminhando com você, sem falar de te levar para correr. Mas me acho que não estou em forma para ir neste momento. Provavelmente cairia de cansaço em cinco minutos -acrescentou com o cenho franzido, e depois sugeriu, -Que tal um jogo de ir procurar?

Roxy latiu. Sorrindo, Valerie lhe deu outra palmada e depois ficou de pé.

-Está bem. Vamos levantar e depois te levarei ao pátio traseiro e te jogarei a bola.

Roxy a seguiu de perto enquanto Valerie se aproximava da porta, chocando-se contra sua perna várias vezes, como apinhando-se junto a ela. Fez Valerie sorrir e acariciar a cabeça do cão enquanto caminhava. Não encontrou ninguém na sala, ou no andar térreo. Parecia que todo mundo continuava dormindo. Mas então, era de noite quando ela tinha alertado a polícia e estes homens estavam trabalhando. Supôs que trabalhavam à noite e dormiam a maior parte do dia. O que era um pouco preocupante. Significava que o alarme estava ligado de novo e estaria a cada manhã quando Roxy precisasse sair. Preocupou-se com a possibilidade enquanto caminhava para o painel das portas francesas na sala de estar. Para seu alívio, no painel se lia “em espera” -ela sabia pelo alarme em sua clínica que significava que não estava ligado.

Relaxando, foi procurar a bola de Roxy na sacola que Anders tinha posto ao lado do balcão na noite anterior, e depois se dirigiu com o pastor alemão para fora no intuito de jogar a bola para que Roxy fosse procurar. Acabou que não estava em muita melhor forma para isto que para correr. Cada vez que lançava a bola, os pontos de sutura em suas costas a faziam lembrar de sua presença. Mesmo o uso de sua mão esquerda não ajudava muito, e seus arremessos eram bastante frouxos.

Valerie estava a ponto de deixar o jogo quando ouviu as portas francesas se abrirem atrás dela. Voltou-se para olhar a seu redor imediatamente, meio aliviada e meio decepcionada ao ver que Leigh lhe sorria da cozinha.

-Bom dia -disse a morena alegremente, saindo ao terraço coberto.

-Bom dia -respondeu Valerie, oferecendo um sorriso. Ela atirou a bola pela última vez para Roxy, e depois se voltou para se aproximar da outra mulher. -Perdão por acordá-los esta manhã.

Leigh descartou isso com a mão.

-Acabávamos de nos deitar. Não estávamos dormindo.

Valerie arqueou as sobrancelhas.

-Notívagos?

-Mais ou menos -riu Leigh.

-Surpreende-me que esteja de pé se foi para cama às seis e meia - comentou.

-Dormi um pouco antes, lembra? - disse com um encolhimento de ombros e se esfregou o estômago enquanto admitia, -Me parece que estou tendo problemas para dormir mais que duas horas. Não posso ficar confortável e tenho que dormir por curtos períodos.

-Ah. Valerie assentiu, seu olhar caindo à barriga de Leigh. Supôs que seria difícil encontrar uma posição cômoda em sua condição.

-Está pronta para o café da manhã? -perguntou Leigh de repente, voltando-se e liderando o caminho de volta à casa.

-Na verdade, sim. Estou morrendo de fome -admitiu Valerie imediatamente e assobiou para Roxy enquanto a seguia para dentro. Enquanto esperava junto à porta aberta para que o cão entrasse, acrescentou, -Mas, porque não se senta e deixa que eu cozinhe? Só me diga o que quer e onde encontrar e serei a chef.

Quando Leigh hesitou, vendo-se tentada, acrescentou, -É o mínimo que posso fazer por deixar que fique aqui.

Leigh riu em afirmação, e depois suspirou.

-É mais que bem-vinda aqui e não tem que trabalhar por sua estadia, Valerie.

Fazendo uma careta, acrescentou, -Mas agradeceria um pouco de ajuda com o café da manhã.

-É um prazer - assegurou Valerie.

Assentindo, Leigh se aproximou de um armário e o abriu para inspecionar a comida do interior.

-Como se sente a respeito de panquecas? -perguntou enquanto tirava uma caixa de massa para panquecas.

-Eu adoro -disse Valerie imediatamente.

-Muito bem. Leigh sorriu e abriu outro armário para pegar uma tigela grande. -Pode pegar os ovos e o leite na geladeira, enquanto preparo o café?

Conversaram amigavelmente enquanto trabalhavam. Uma vez que tinham a massa das panquecas preparada, Leigh decidiu que deveriam acrescentar salsichas para o café da manhã. Ligou a churrasqueira elétrica e se sentou em uma das cadeiras para assar as salsichas enquanto Valerie passava as panquecas.

-Meu Deus.

Valerie olhou a seu redor ante esse comentário ofegado de Leigh.

-O que foi?

-Eu... nada, eu só... Ela enrugou o nariz e depois admitiu, -Sei que provavelmente pensou que tínhamos feito isso, mas nunca entramos em contato com sua família para lhes dizer que você está bem, Valerie. Provavelmente estão muito preocupados.

-OH. Valerie voltou para suas panquecas e suspirou. -Está tudo bem. Não há ninguém para entrar em contato ou pelo que se preocupar.

-Ninguém? -perguntou Leigh e ela podia escutar o aborrecimento em sua voz.

Valerie negou com a cabeça.

-Era filha única. Meus avós morreram um após o outro por ataques do coração e câncer quando era pequena e meus pais morreram faz três anos em um acidente de carro. Restamos apenas eu e uma tia que se mudou para o Texas há trinta anos. Só a vi duas vezes depois disso. Nos funerais de seus pais. Ela se encolheu de ombros.

-Além dos cartões de Natal, não mantemos contato.

-OH -disse Leigh brandamente e ficou em silêncio.

-E quanto aos amigos? - perguntou Anders e Valerie quase saltou fora de sua pele.

Tanto por sua união repentina à conversa como pelo peito roçando suas costas quando chegou a seu redor para pôr uma pequena bolsa no balcão.

-Sacolas para recolher resíduos —murmurou em seu ouvido, seus dedos à deriva brandamente sobre seu braço nu enquanto sua mão se retirava. -Já que Lucian estava aqui para te manter a salvo, saí e comprei para você.

Valerie ficou olhando fixamente a sacola, consciente de que corriam calafrios por sua espinha dorsal e do arrepio que foi aparecendo em sua pele, onde seu fôlego e seus dedos tinham passado. Ela se perguntava como podia estar olhando algo tão pouco atraente e estar tão excitada ao mesmo tempo.

Uma risada afogada atraiu o olhar confuso de Valerie para Leigh e a outra mulher lhe sorriu quando disse, -Foi amável de sua parte, Anders.

-Sim, foi -disse Valerie e depois fez uma pausa para esclarecer a garganta quando a voz lhe saiu como a de uma rã. -Obrigada.

-Mas -acrescentou Leigh-, as rosas vermelhas poderiam ter sido mais doces que sacolas vermelhas para cães.

-Levarei isso em conta na próxima vez -respondeu Anders.

Valerie se ruborizou e voltou para as panquecas. O que Leigh sugeria teria sido apropriado se estivessem saindo ou algo assim, mas não estavam e realmente apreciou sua saída para lhe conseguir as bolsas. Não queria pagar a Leigh por lhe permitir estar em sua casa deixando pequenos presentes de Roxy por todo seu pátio...

E o que queria dizer sua resposta exatamente?

-Portanto, não tem família, mas e quanto aos amigos? -perguntou Anders, lhe recordando sua pergunta anterior.

-Tenho amigos, é claro. Mas estão em Winnipeg. Nem sequer sabem que desapareci.

Mexeu as panquecas e acrescentou, -Só fui a Cambridge na semana anterior a que fui sequestrada e passei a maior parte dessa semana correndo de um lado para outro para conseguir as coisas que precisava para a casa e para as aulas. Não tinha feito amigos aqui ainda. Tirou as panquecas da frigideira e as pôs em um prato no forno para mantê-las quentes, depois colocou mais duas na frigideira antes de admitir, -A Sra.

Ribble é a única pessoa com a qual tinha falado, além dos empregados das lojas e dos professores da escola, e isso foi porque veio me dizer que era melhor que Roxy não fosse uma latidora ou chamaria a polícia.

-E então a velha morcega vai e tenta roubá-la -murmurou Leigh.

Valerie sacudiu a cabeça ante o comentário e olhou a sua redor com diversão.

-Não sei porque ridicularizam à mulher. Realmente cuidou de Roxy.

-Por razões puramente egoístas -disse Leigh com gravidade. -Confie em mim, essa mulher é das velhas mais egoístas e amarguradas que conheci.

Valerie se voltou para olhá-la.

-Nem sequer falou com ela. Conheceu a Sra. Ribble anteriormente ou algo assim?

Leigh abriu a boca, e depois fez uma breve pausa antes de dizer, -Conheço alguém que a conhece.

-Hmm. Valerie se voltou para as panquecas. Não estava terrivelmente surpresa de escutar que a Sra. Ribble era uma anciã mesquinha. Já tinha desenvolvido essa mesma opinião mesmo antes do último encontro. Só na semana em que morou ao lado da mulher, tinha ouvido ou visto ela azucrinando três vizinhos por coisas que não eram sua culpa, e repreendendo crianças do lugar por infrações como somente pisar acidentalmente fora da calçada em sua grama. A mulher parecia gostar de fazer a outras pessoas se sentirem miseráveis. E era boa nisso. Muita prática, suspeitou Valerie.

-Portanto, poderia ter passado um bom tempo antes que alguém percebesse que tinha desaparecido -disse Anders, pensativo, e Valerie olhou a seu redor para ver que ele pegava um copo de café.

-Sim, bastante tempo -reconheceu, voltando-se para sua frigideira. -Nenhuma das outras mulheres também tinha familiares ou amigos na região. Concluimos isto bastante rápido em nossas conversas. Nenhuma de nós tinha ninguém que se preocupasse ou desse uma queixa sobre nosso desaparecimento. Pensávamos que era provavelmente a razão pela qual nos escolheram.

-Isso provavelmente é verdade-disse Leigh com solenidade. -E foi inteligente por parte dele.

-Isso explica porque não chegamos a ele antes -disse Anders, e depois assinalou, -Se continuar com essa rotina será mais difícil achá-lo.

Valerie franziu o cenho ante a idéia deste monstro em alguma parte aproveitando-se de outras mulheres, inclusive enquanto falavam.

-Levará um tempo estabelecer outro lugar -disse Leigh, seus pensamentos aparentemente movendo-se na mesma linha que Valerie. -Ele tem que encontrar uma nova base de operações, conseguir as jaulas e outras coisas... Fez uma pausa, e depois perguntou, -Valerie, havia algo mais que tinha em comum com as outras mulheres?

-Como o que? -perguntou Valerie com incerteza, voltando-se para o lado para poder manter um olho na frigideira e outro em Leigh.

-Bom, tem que haver um modo que ele usou para achar cada uma de vocês. Não pode ser uma coincidência que nenhuma tenha família e amigos. Provavelmente escolheu a cada uma por isso, mas como chegou a vocês? -perguntou. -Há alguma organização de boas-vindas ou algo assim? Vocês todas utilizaram a mesma imobiliária?

-Não sei -admitiu Valerie com o cenho franzido. Não tinham seguido essa linha de perguntas. Depois de descobrir que cada uma delas tinha isso em comum, em sua maioria tinham falado entre si, de suas lembranças de tempos melhores, de suas vidas, de seus remorsos por coisas que ainda não tinham feito, de seus sonhos para o futuro, para quando fossem livres, e de quais eram os alimentos que mais gostavam de comer. Até tinham falado a respeito dos livros que tinham lido e dos filmes que tinham visto, algo para as levar temporariamente longe de sua triste realidade. Agora lamentava não ter pensado nisso e não ter feito essas perguntas às demais. Poderia ser uma maneira de encontrar a homem.

-Não se preocupe -disse Leigh intensamente, usando seu garfo para ajeitar as salsichas que estava assando. -Poderemos fazer isso agora. Podemos juntá-las e as deixar falar até que consigamos um lugar ou pessoas que têm em comum.

-Temo que isso não seja possível.

Valerie olhou além de Leigh para ver Lucian de pé na cozinha. Tinha o cabelo encaracolado por dormir e usava calça jeans, mas estava sem camisa. Entretanto, uma camiseta pendurava de seus dedos e começo a vestí-la enquanto olhava em seu caminho.

-Por que não é possível, Lucian? -perguntou Leigh. -Tudo o que temos que fazer é levar Valerie à casa dos Executores para conversar com elas.

-O que seria bom, exceto que as mulheres já foram devolvidas a suas vidas -disse, movendo-se para frente para beijar sua esposa na testa.

-OH -disse Leigh com decepção.

-Bom, isso não significa que não possamos juntá-las-disse Valerie razoavelmente.

Leigh se mordeu o lábio enquanto Lucian e Anders se olharam, e então Lucian disse, -É obvio, poderíamos entrar em contato com elas e lhes perguntar se estariam dispostas, mas suspeito que todas elas só querem esquecer o que aconteceu e seguir adiante com suas vidas.

-Bom, sim, imagino que seja verdade. Mas certamente não querem o homem que nos sequestrou e capturou nas ruas -assinalou com o cenho franzido.

Lucian fez um som evasivo e se moveu ao redor do balcão para buscar um copo de café. Ele o preparou doce e com leite, tomou um gole, e depois se voltou para olhá-

la.

-Antes que fossem devolvidas a suas vidas, perguntamos às outras mulheres que aparência tinham este Igor e seu chefe. Nenhuma delas parecia ser capaz de responder a isso.

Valerie fez uma careta e sacudiu a cabeça quando deu a volta nas últimas panquecas fresca.

-Não estou surpresa. Ficávamos na escuridão a maior parte do tempo. Igor era só uma silhueta grande que entregava comida e água e arrastava a uma de nós para fora todos os dias. E o que estava na aveia era alguma coisa desagradável. A primeira vez que me levou para cima estava sob sua influência e era como uma viagem ruim de LSD; pessoas que saíam da parede, seus rostos e corpos distorcidos como se olhasse para eles através do fundo de uma garrafa, e toda a casa girando vertiginosamente a meu redor. Ela sacudiu a cabeça ante a lembrança desagradável.

-Mas da última vez não estava sob sua influência -disse Lucian.

Valerie assentiu, mas se concentrou na cozinha durante uns momentos antes de dizer, -Não vi o chefe de Igor, e acho que não prestei muita atenção ao próprio Igor. Estava ocupada procurando uma arma ou uma rota de fuga.

-Só tem que fazer o melhor para descrevê-lo -disse Anders silenciosamente antes que Lucian pudesse voltar a falar.

Valerie suspirou. Ficou olhando as panquecas quando disse, -Era grande. Maior que vocês dois, inclusive. E uma loucura de forte. Quando me bateu foi como ser golpeado por um trem. Enviou-me voando diretamente para fora do banheiro.

-Está bem -disse Anders quando ela ficou em silêncio. -De que cor era seu cabelo?

-Marrom escuro -respondeu quando uma imagem dele dobrado sobre a banheira veio a sua mente. -Curto e marrom escuro.

-E seu rosto? Havia algo notável a respeito de suas feições?

Valerie franziu o cenho e tentou lembrar. Não o tinha olhado da jaula até o banheiro.

Seus olhos tinham estado movendo-se ao redor em busca de uma forma de escapar.

Imaginou voltando-se para ela no banheiro, mas a única coisa que viu foi o xampu jorrando por seu rosto. Mas então o viu sair do banheiro atrás dela. Ainda tinha xampu no rosto, mas ele tinha retirado a maior parte.

-Acho que tinha um nariz grande -disse lentamente. -E olhos pequenos sob uma testa larga.

-E sua boca? -perguntou Anders.

-Lábios finos acredito -disse com incerteza. -E tinha as orelhas grandes.

O silêncio caiu brevemente quando terminou e então Lucian disse, -Teremos que conseguir para Valerie um desenhista.

-Conhecemos um? -perguntou Anders.

-Podemos pedir emprestado um, seja da polícia local ou em outro lugar-disse Lucian. -Ligarei para Bastian depois de tomar o café da manhã e verei se pode arrumar algo.

-Falando de café da manhã, as salsichas já estão prontas-anunciou Leigh. -Valerie, como vamos com as panquecas?

-As últimas duas estão na frigideira -respondeu ela.

-Bom. Então pegarei pratos e talheres. Leigh começou a descer de seu assento, mas Lucian imediatamente pôs uma mão em seu ombro para detê-la.

-Anders e eu pegaremos os pratos e os talheres. Só se sente e relaxe - disse com firmeza.

-Valerie, já tomou café? -perguntou Anders enquanto recolhia os pratos da despensa.

-Não, acabou de terminar de passar pouco antes de que você chegasse -respondeu ela, terminando de preparar as duas últimas panquecas. -Não tive oportunidade de tomar um.

Ele não fez nenhum comentário, mas um momento mais tarde deixou um copo de café ao lado dela.

-Obrigada -murmurou Valerie e o pegou para tomar um gole. Seus olhos se aumentaram quando o provou.

-Leite e açúcar, não é? -perguntou Anders vacilante quando notou sua expressão.

-Sim -disse em voz baixa. -Está bom. Estou surpresa de que se lembre como o pedi ontem.

-Estava dirigindo. Eu pedi para você-assinalou.

-Sim, mas tinha pediu cinco cafés diferentes. Estou surpres de que se lembre como gosto do meu.

-Fiz uma nota mental disso -disse Anders simplesmente enquanto se afastava.

Valerie ficou olhando-o enquanto pegava a calda para as panquecas, e o ketchup para as salsichas que Leigh preparou. Ele tinha feito uma nota mental de como ela gostava do café. O que significava isso? Por que tinha se incomodado? Por ela? Isso significava que gostava dela? Estava interessado nela? Bom, está bem, esses beijos de antes sugeriam que estava muito interessado, mas isso era apenas... bom, química.

Algo físico. Tomar nota de como ela tomava seu café era...

Ela não sabia o que era, mas tinha levado anos para Larry lembrar como tomava seu café e Anders se incomodou de lembrá-lo na primeira vez. Isto lhe deu algo no que pensar.

Sacudindo a cabeça, Valerie voltou sua atenção para tirar as últimas duas panquecas da frigideira. O café da manhã estava preparado.

-Pelo amor de Deus, Anders, deixe de dar voltas. Está me deixando louca -disse Leigh com exasperação. -Sente-se.

Anders se deteve com surpresa e se voltou para olhar a morena que se encolhia em um canto do sofá com um livro em suas mãos.

-Não estou dando voltas, estou...

Ela arqueou as sobrancelhas, esperando, e ele suspirou.

-Dando voltas -reconheceu e se sentou na cadeira mais próxima. Apoiou os cotovelos em seus joelhos separados, permitindo que suas mãos pendurassem entre eles, e olhou pela janela. Depois de vários minutos, recostou-se na cadeira com um suspiro, depois se endireitou e lhe perguntou com impaciência, -Que diabos ela está fazendo ali?

-Está verificando com seu orientador acadêmico se faltar as duas primeiras semanas de aula não foderá o prazo -lhe recordou Leigh com paciência.

-Sim, mas deveria ter sido uma conversa de cinco minutos. Está ali há mais de uma hora -se queixou. Valerie tinha ajudado a limpar a cozinha depois do café da manhã, e depois tinha levado Roxy com ela e foi para cima com o pretexto de ligar para a faculdade de veterinária para se assegurar de que ainda era bem-vinda depois de perder as duas primeiras semanas do semestre.

-Sim, bem, talvez a pessoa com quem tinha que falar não estivesse disponível e está esperando uma chamada de volta -sugeriu Leigh. -Ou talvez tenham passado um trabalho para que não defasada e ela está lendo seus livros e estudando.

-Ou talvez esteja se escondendo -disse Anders com tristeza.

Leigh estalou a língua com irritação.

-Por que estaria se escondendo?

Anders não respondeu, mas em sua mente estava recordando o beijo da manhã...

bom, beijos. Ou talvez um beijo. Não estava seguro de como classificar. Tinha que contá-los para classificar como mais de um beijo? Ou se contava em minutos ou segundos? Porque tinha sido um devorar constante da boca um do outro durante vários minutos.

-OH, sim. Entendi-murmurou Leigh.

Anders deu uma olhada ante seu murmúrio e notou sua concentração estreitada nele.

Tinha lido sua maldita mente.

-Sim, isso poderia lhe ter feito querer se esconder-disse com simpatia. -Não faz tanto tempo quando tive meu primeiro encontro com a paixão de um companheiro de vida.

Foi bastante aterrador. E ela não tem nem idéia do que está acontecendo. Quero dizer, como um ser imortal eu tinha ouvido falar disso, tinha uma idéia do que esperar, e, entretanto, ainda assim ficamos afligidos por isso. Imagine como ele deve se sentir. Ela de repente foi golpeada por uma explosão nuclear de paixão.

Anders suspirou e passou uma mão cansada pelo cabelo muito curto. Leigh não dizia absolutamente nada que não tivesse pensado. Razão pela qual suspeitava que Valerie estava se escondendo. A pergunta era, quanto tempo ia se ocultar? E como ele deveria fazer para que ela o conhecesse e confiasse nele se não queria sair de seu quarto?

-Muito bem. Leigh deixou de lado o livro que estava lendo, e desenrolou suas pernas por debaixo dela para ficar de pé. -Verei o que posso fazer.

Anders ficou de pé imediatamente.

-O que vai fazer?

-Não sei. Terei que ver qual é a situação primeiro-assinalou ela com paciência.

-De acordo. Ele assentiu.

-Só se sente e tente deixar de parecer como um pai na maternidade. Está me provocando contrações.

Os olhos de Anders aumentaram.

-Está...?

-Brincando, Anders -disse Leigh com exasperação enquanto andava como um pato pela sala.

Ele a seguiu com o olhar até que desapareceu na escada, e depois elevou os olhos ao teto, mentalmente seguindo sua viagem ao quarto de Valerie. Quando a ouviu bater na porta, ficou imóvel por um momento, e de repente correu para a estante ao lado da televisão e agarrou um livro ao acaso. Sentando de novo em sua cadeira, Anders abriu o livro pela metade para que pudesse fingir estar lendo se por acaso Leigh atraísse Valerie para baixo.

Capítulo 8

-Nadar? -disse Valerie com incerteza.

-Sim. Dizem que devo fazer exercício, mas caminhar faz com que meus tornozelos inchem, e, na verdade, levar este bebê é como ter um saco de batatas preso na cintura, mas a água deixa tudo mais fácil -explicou Leigh. -Entretanto, Anders não nada, e não queria estar na piscina sozinha no caso de entrar em trabalho de parto, então pensei que talvez você quisesse vir comigo.

-OH. Valerie hesitou. Realmente não tinha nenhuma desculpa para dizer que não. Fez sua ligação assim que chegou no quarto, e conseguiu falar com seu orientador. A conversa não durou muito tempo, mas depois, Valerie se havia sentido tímida para enfrentar Anders de novo. Talvez não devesse estar, tinha passado um tempo com ele desde seu beijo. Mas que ele entrasse em um lugar onde ela estava era diferente da necessidade de entrar em um lugar onde ele estava. Portanto, fez a pobre Roxy se sentar neste quarto durante a última hora, e depois a tinha feito estar aqui durante horas enquanto ela dormia. A pobre cadela provavelmente lamentava que estivesse de volta. Pelo menos com a senhora Ribble podia sair no pátio.

Agora Valerie considerou as palavras de Leigh e trocou de um pé ao outro. Nadar.

Estar em um traje de banho diante de Anders. Mas também com Leigh... que tinha medo de nadar e com razão em seu estado. E que também tinha sido suficientemente amável para permitir que Valerie ficasse em sua casa para ajudá-la a se manter a salvo.

-Posso te emprestar um traje de banho se...

-Está bem. De fato, trouxe meu traje de banho quando fomos até minha casa. Pensei que com a piscina... Ela se encolheu de ombros.

-Muito bem. Leigh sorriu. -Bom, só vou pôr o meu e nos encontramos na parte superior das escadas. De acordo?

-É claro. Valerie sorriu, e a acompanhou até a porta, voltou-se e foi tirar seu traje de banho da gaveta. Por fim tinha desempacotado as malas depois de chegar do café da manhã. Agora pegou seu traje de banho e se trocou rapidamente. Uma vez feito isto, ficou ali de pé e se olhou com alarme. Seu corpo não tinha estado perto de uma lâmina de barbear por duas semanas. Era um gorila!

Gemendo, Valerie fechou os olhos um instante, depois se dirigiu à caixa de maquiagem que Marguerite tinha preparado para ela. Não tinha olhado o interior quando a tirou de sua mala e a tinha deixado na pia do banheiro. Agora, Valerie rapidamente abriu o zíper da bolsa, rogando em silêncio que...

-Sim -respirou quando os dois primeiros artigos que apareceram foram seu barbeador e um pacote de lâminas.

-Obrigada, Marguerite -respirou Valerie. Estava de pé, com um pé no lavatório quando uma batida soou na porta. Ela gritou, -Entre! —e continuou seu trabalho, raspando o barbeador com rapidez sobre sua pele.

-Se está pegando uma toalha, não se incomode. Tenho duas toalhas de praia para nós.

São maiores e... OH... Leigh se deteve ao chegar à porta do banheiro. Ok, não tinha pensado nisso. Bom...

-Eu também não-admitiu Valerie com ironia, secando rapidamente a primeira perna antes de trocar de posição para trabalhar na outra. -Não foi até que vi as pernas de urso koala que tinha desenvolvido que me lembrei.

-OH, não estão tão mal -disse Leigh.

-Sim, estão, ou estavam -respondeu Valerie, pensando que Leigh era realmente uma má mentirosa.

Ao que parece, ela esteve de acordo, porque de repente fez uma careta e admitiu, -Sim, estão. Garota, quase se podia trançar o cabelo.

-Obrigada-disse Valerie com uma gargalhada enquanto ensaboava sua segunda perna.

-Bom, na verdade não tem que se depilar. Teríamos sido um par combinando. Quero dizer que não fui capaz nem de alcançar as minhas pernas em mais de um mês.

Valerie riu ante a sugestão de não se depilar.

-Sim, mas você tem uma desculpa. Eu não tenho.

-Sim -assentiu Leigh. -Suponho que ter sido sequestrada e presa em uma jaula durante dez dias e depois ficar inconsciente durante três dias não são desculpas para as pernas peludas.

Valerie a olhou piscando, e depois sentiu a curva de um sorriso reticente em seus lábios antes de que estivesse de acordo.

-Nenhuma desculpa absolutamente.

Terminando com sua segunda perna, Valerie pegou a toalha e se secou rapidamente, esfregando o sabão restante. Fez uma pausa e se olhou, sentindo-se um pouco coibida em seu traje de banho e uma camiseta. O que realmente era uma tolice. Tinha usado menos na praia. Mas Anders não tinha estado na praia. A idéia lhe fez fazer uma careta. Um beijo e era de repente tímida com o homem?

-Vamos, a beleza venceu a besta peluda. Agora vamos nos molhar-disse Leigh voltando-se para a porta.

-Besta? Lindo-disse Valerie com diversão, e se apressou atrás dela, acariciando sua perna para mandar Roxy segui-la.

-Aqui, deixe que eu levo isso. Ela aliviou Leigh das toalhas de praia quando chegaram às escadas, por isso a mulher grávida podia apoiar-se no corrimão, e depois a seguiu em silencio para baixo.

Anders estava sentado lendo na sala de estar quando Valerie seguiu Leigh na sala.

Lançou-lhe um olhar nervoso, a seguir se centrou na mulher frente a ela.

-Vá em frente, veja como está a temperatura da água. Só vou pegar um pouco de bronzeador para nós -disse Leigh, de repente girando para a cozinha.

Valerie hesitou brevemente, mas depois continuou resolutamente para as portas francesas e paa fora com Roxy junto a ela. Foi só quando fechou a porta e respirou que percebeu que esteve contendo a respiração ao entrar na sala de estar.

-Pode parar de fingir. Ela está lá fora.

Anders olhou inocentemente o livro.

-O que te faz pensar que estava fingindo?

-Bom, é que teve um repentino interesse por A Alegria da Gravidez -disse secamente, pegando o bronzeador de uma gaveta da cozinha.

Anders virou o livro com consternação para olhar a capa. Realmente era A Alegria da Gravidez.

Fechando a gaveta, Leigh acrescentou, -E estava lendo de cabeça para baixo.


Amaldiçoando entre dentes, Anders jogou o livro sobre a mesa e se levantou.


-Então, vai nadar?

-Isso é correto. Pode me agradecer depois-acrescentou, dirigindo-se para as portas francesas.

-Por que? -perguntou-lhe com o cenho franzido.

-Vá pôr um traje de banho e saia em uns dez minutos. Estarei esgotada e sairei e você terá que ficar para cuidar de Valerie. Ela pôs uma mão na maçaneta da porta, mas se deteve e olhou para trás. -Mas lembre o que Lucian disse de ir devagar com ela.

Anders a viu sair, e depois se apressou a subir para seu quarto e colocar seu traje de banho, contente de ter pensado em levá-lo quando tinha feito sua mala. A casa tinha vindo com a piscina quando Lucian a comprou, e Anders sabia que a tinha usado frequentemente de noite, mas depois de se casar com o Leigh tinha posto um toldo para que bloqueasse os raios UV do sol. O que lhe permitia nadar à luz do sol sem ter que aumentar a quantidade de sangue que necessitava. Era uma experiência incrível e Anders tinha estado seriamente considerando pôr uma piscina em sua casa com o mesmo sistema.

Não era por isso que ele com impaciência deu um puxão em sua roupa e arrastou seu traje de banho, entretanto. Teria se arriscado no sol para nadar com Valerie. Embora a natação não era o que tinha em mente. Segurar seu corpo quase nu e úmido com os braços na água aquecida pelo sol era o que lhe punha tão ansioso como um adolescente.

Anders deixou seu quarto e voltou ao andar térreo de novo, mas parou nas portas francesas. Leigh havia dito dez minutos. Isso significava que não devia sair antes de que tivessem passado dez minutos? Deslocando-se com impaciência, olhou seu relógio de pulso, só para lembrar que não olhado as horas antes. Segundo seus cálculos, tinha levado trinta segundospara subir, trinta segundos para descer e talvez dois minutos trocar de roupa. Ou três, pensou. Então talvez ainda tivesse outros seis minutos.

Ele acariciou sua perna com impaciência, os olhos entrecerrados nas mulheres.

Ambas já estavam na piscina, só suas cabeças eram visíveis enquanto falavam e riam. Quando Valerie se voltou e desapareceu de repente sob a água, Anders olhou seu relógio. Só dois minutos tinham passado desde que tinha chegado à porta.

-Ao diabo -murmurou e saiu.

Leigh estava subindo as escadas da piscina no momento em que chegou a ela.

Agarrou uma das toalhas que estavam cuidadosamente dobradas sobre a cadeira de jardim mais próxima às escadas; Anders chegou até ela.

-Bem a tempo -anunciou Leigh quando ele a pegou pelo braço para se assegurar de que não perdesse o equilíbrio enquanto ela dava um passo rodeando a piscina. -Está nadando, por isso não pode protestar por minha partida ou anunciar que está cansada e escapar comigo.

-Marguerite está influenciando você-disse Anders secamente.

-Me adulando, Anders? Sério? -disse, sorrindo enquanto aceitava a toalha que ele lhe estendia. Leigh não se incomodou em se secar, simplesmente a envolveu ao redor de seu torso e se dirigiu à casa. -Divirtam-se. Vou me deitar para dormir um pouco.

Todo este ar fresco me esgotou.

Anders sorriu ante seu tom exagerado de voz e se alegrou de que Valerie não o ouvisse. Ela teria sabido imediatamente que a mulher estava limpando o caminho para que passassem um tempo a sós. Falando nisso...

Voltou-se e olhou Valerie na piscina. Ela estava em uma volta, nadando para o extremo da piscina, com os braços passando através da água, as pernas batendo por debaixo da superfície e seu corpo bonito em um traje de banho de duas peças azul real.

Anders sempre tinha gostado de mulheres com um pouco de carne e Valerie tinha isso. Ela nunca caminharia nas passarelas de Paris, mas a tinha imaginado em sua cabeça constantemente nas passarelas do beijo da manhã. Constantemente. Só que ela não estava na passarela, e não usava nada, muito menos a última moda.

Maldição. Estava tão mal como os outros homens imortais que tinha visto cair sob o feitiço da companheira de vida, reconheceu Anders. Tinha sido muito presunçoso quando tinha visto outros fracassarem no trabalho, incapazes de se concentrar e enfocar em outra coisa que não fosse sua companheira de vida. Agradeceu que ninguém estivesse ali para ser testemunha de sua própria idiotice, exceto Leigh e Lucian. Nenhum deles faria brincadeiras ou piadas com ele por isso... muito. Mas Bricker? Ah, sim. O jovem imortal adoraria ter algo para falar sobre ele.

Valerie tocou o extremo da parede da piscina, tomou ar, fez uma meia cambalhota na água e se afastou na piscina para se impulsionar para o extremo oposto.

Anders a viu se afastar, e depois desceu os degraus na água, desfrutando do fresco líquido deslizando-se ao longo de seus pés, panturrilhas, joelhos e coxas.

Uiiii! A piscina era aquecida pelo sol, mas mesmo assim estava mais fria que sua pele e o primeiro toque contra sua virilha era impactante. Maldição. Era quase suficiente para apagar sua fome por Valerie. Quase é a palavra chave nesse pensamento, reconheceu Anders com um sorriso irônico e autocrítico.

Moveu-se através da água para estar de pé onde ela se girou ao final de sua última volta. Depois simplesmente se levantou e esperou a que ela fizesse seu giro no outro extremo e empreendesse a viagem de volta.

Anders estava realmente decepcionado quando Valerie parou a pouco mais da metade da volta e saiu à superfície. Afastando o cabelo e a água de seu rosto, olhou a seu redor, sem dúvida em busca de Leigh enquanto ria e dizia, -Caramba, duas semanas fazem a diferença. Não posso fazer a metade das voltas que estava acostumada a...

Sua voz se apagou e seu sorriso se desvaneceu ao notar que Leigh tinha desaparecido e Anders estava agora submerso na água diante dela. Engolindo em seco notavelmente, perguntou, -Onde...?

-Leigh se cansa facilmente em sua condição-respondeu Anders, interrompendo a pergunta. Ele começou a mover-se para ela através da água, e adicionou, -Me pediu que cuidasse de você.

-OH. Sua expressão era cada vez mais cautelosa; Valerie se deslocou lateralmente para o lado da piscina. -Bom, provavelmente deveria sair também.

-Não é necessário -disse Anders, parando onde estava para lhe dar espaço. -Além disso, se sair, quem me vigiará ?

Valerie fez uma pausa, vendo-se insegura.

-Leigh disse que não nadava.

-Bom, ela se equivocou, e eu gostaria de dar algumas voltas se estiver disposta a ficar e manter um olho em mim. Nunca é bom nadar sozinho, e preciso de exercício ou ficarei gordo. Era uma mentira descarada. Nada do que fizesse nunca o deixaria gordo, mas suas palavras tiveram o efeito esperado. Ela abriu os olhos e caíram sobre o que era visível de seu peito por cima da linha de água.

-Você? Gordo? Sim, claro -disse Valerie com um bufo de brincadeira. -Quantas horas ao dia trabalha para conseguir esse abdômen? Dez, quinze horas?

Anders riu e negou com a cabeça.

-Acho que não posso ter esse crédito. Só tenho a sorte de ter um metabolismo extraordinário. Isso não era totalmente verdade. Fazia um pouco de exercício para melhorar o corpo magro e médio que os nanos lhe davam.

-Sério? -perguntou Valerie com desgosto. -Se importa de me emprestar seu metabolismo por um tempo?

Anders sorriu. Ele gostaria de dar-lhe por toda a vida, uma vida muito longa, mas não disse isso. Em troca, disse, -Por que? Tem um corpo bonito.

Valerie fez uma careta.

-Ninguém mencionou que tinha problemas de visão.

-E ninguém me disse que tinha problemas de imagem corporal -respondeu ele com suavidade.

Ela sorriu com ironia.

-Não acredito que haja uma mulher no planeta que não o faça. Se forem pequenas têm vontade de ser maior; se forem maiores, querem ser menores. Tem as que querem seios maiores, ou pensam que não têm quadris, ou têm um traseiro gordo, ou, ou. Ela suspirou. -Na verdade, estamos na era das mulheres neuróticas sobre nossos corpos.

Anders poderia ter dito que tinha razão. Tinha lido suficientes mentes femininas para saber que eram muito poucas as que não tinham alguma queixa sobre sua fisionomia.

Ao menos as mulheres mortais o faziam. As mulheres imortais, por outra parte, eram criaturas diferentes. Sabiam que os nanos as faziam ótimas, com um corpo na condição máxima. Isto acabava com a possibilidade de auto-crítica. Era algo como uma alta pontuação em um teste de inteligência. Com resultados científicos que dizem que você é inteligente, é difícil se sentir estúpido. Da mesma maneira, saber que tem um corpo perfeito faz que seja difícil de imaginar que é gordo, ou imperfeito fisicamente. É obvio, paravam para pensar se tinha um grande nariz ou lábios finos ou uma miríade de outras imperfeições, mas ao menos não percebia essa parte dos seres humanos de auto-flagelação, parecendo decididos a se atormentar.

-”Anders” é abreviatura de que?

Ele piscou para se afastar de seus pensamentos e olhou para Valerie. Parecia mais relaxada agora que não se aproximava, e sua cabeça estava inclinada com curiosidade enquanto esperava sua resposta.

Ao que parece, não foi suficientemente rápido para responder, porque ela continuou, -Ou é seu sobrenome, assim como chama o Justin por seu sobrenome, Bricker?

-É uma forma curta de meu sobrenome -respondeu.

Suas sobrancelhas se levantaram.

-Qual é?

-Andronnikov.

Isso fez que seus olhos se ampliassem.

-Qual é seu nome?

Ficou em silêncio por um momento, mas suspeitava que agora que ela tinha notado que nem sequer sabia seu nome, Valerie dificilmente estaria disposta a beijá-lo de novo, sem falar de qualquer outra coisa se ele não dissesse. As mulheres estavam acostumadas ser curiosas, desejando saber o nome do homem que colocava sua língua até a garganta, as medindo.

-Meu nome é Sêmen.

Ela piscou várias vezes com esta notícia, e depois simplesmente respirou um, -OH, Deus.

Ao menos não estava rindo, pensou Anders com ironia, e explicou, -É de origem basca. Derivado da palavra para filho.

-Entendi-murmurou.

-Todo mundo me chama de Anders.

-Sim, posso ver porque -murmurou, e então esclareceu a garganta e disse, -Então seu pai era russo e sua mãe basca e nenhum deles falava inglês?

-O que te faz pensar isso?

-Bom, é que eles tinham um senso de humor doentio -disse secamente. -Isso é como chamar uma filha de Óvulos. O que é pior ainda. Surpreende-me que sobrevivesse à escola secundária com um nome como esse.

-De fato, conheci algumas mulheres chamadas Óvulos com o passar dos anos -disse Anders com diversão.

-Meu Deus -murmurou.

Anders riu entre dentes e se moveu para um lado, sem aproximar-se mais mas movendo-se para segurar a borda da piscina como ela, de modo que ficassem de frente na borda da piscina.

Valerie sorriu e depois disse, -Então você se criou no País Basco, na Rússia ou no Canadá?

-Rússia no começo-respondeu solenemente, aproximando um passo mais na água.

Ela assentiu, ao que parece não surpreendida, e disse, -Tem um pouco de sotaque.

Não muito forte, mas um pouco. Imaginei que não tivesse sido criado aqui desde o nascimento.

-Não, vim para cá depois-reconheceu Anders. Muito mais tarde, mas manteve isso para si mesmo no momento e se aproximou um passo mais.

-E há uma senhora Andronnikov?

Pergunta o surpreendeu, e fez uma pausa ao meio passo. Ofendido pela pergunta em si, disse secamente, -Não teria te beijado antes se fosse casado.

-É bom saber disso-disse, e afastou o olhar quase com acanhamento.

Anders se aproveitou de sua falta de atenção e cortou a distância entre eles. Quando Valerie se voltou, estava a só uns centímetros de distância. O suficientemente perto para pegar seu braço e puxá-la em seus braços, mas não o fez. Este era ele tentando não se precipitar e assustá-la. Seu melhor comportamento. Era condenadamente difícil. Realmente só queria beijá-la, rasgar seu traje de banho, e tomá-la ali na água contra um lado da piscina.

É obvio, não podia fazê-lo sem pôr em perigo sua vida. Ela certamente se afogaria no final, quando ambos desmaiassem depois do sexo de companheiros de vida. Esse conhecimento foi suficiente para fazer com que Anders se comportasse.

-O que te fez decidir ser veterinária? -perguntou ele para distraí-la de sua cercania.

Valerie sorriu ligeiramente, um pouco da tensão que surgiu nela ao ver que ele estava perto se aliviou.

-Acho que todas as garotas querem ser veterinárias e cuidar dos animais doentes ou feridos quando são pequenas -disse com ironia e depois se encolheu de ombros.

-Simplesmente nunca superei isso.

-Portanto, continua sendo uma menina em seu coração? -sugeriu Anders em voz baixa.

-Talvez -reconheceu e depois inclinou a cabeça e lhe perguntou, -Por que se uniu à polícia?

-Cada garoto quer salvar a mocinha em apuros e ser um herói quando está crescendo.

Suponho que nunca superei isso -disse Anders ligeiramente.

Ela não se divertiu como ele esperava, e franziu o cenho.

-É assim como me vê? Como uma mocinha em apuros?

A pergunta surpreendeu Anders com uma gargalhada que sacudiu a cabeça.

-Não. Vejo você incrivelmente valente e forte. Resgatou a si mesma dessa casa. Não precisa de um herói. Você é uma.

Valerie baixou a cabeça enquanto falava, e não olhou para cima. Isso lhe fez franzir o cenho e perguntar, -Não deveria ter falado do assunto? Você fica chateada que fale sobre isso?

Ela ficou em silêncio por um momento, e depois levantou e sacudiu a cabeça. Suas bochechas estavam um pouco cor de rosa e percebeu que tinha abaixado a cabeça para ocultar o rubor.

-Não, por surpreendente que pareça, não é assim. Ela olhou a um lado, verificando seu cão, percebeu ele quando seguiu seu olhar e observou que Roxy estava dormindo na cadeira com uma toalha de Valerie nela. Supunha que o cão estava vagando pelo pátio quando ele tinha saído, mas não tinha notado sua ausência. Tinha estado muito ansioso por chegar a Valerie.

-Não tenho certeza de porque não me incomoda -reconheceu Valerie ironicamente, chamando sua atenção de volta para ela. -Acredito que talvez porque me drogaram e dormi durante a maior parte do tempo. Quero dizer, o sequestro foi muito traumático, e a primeira noite também, mas a última noite... Ela hesitou e então admitiu, -Me senti bem para lutar.

Anders assentiu, compreendendo.

-Mas, se não tivesse conseguido escapar, teria sido uma história diferente -acrescentou com ironia.

-Não só escapou, Valerie -disse em voz baixa. -Salvou as outras mulheres também.

Cada uma delas te deve sua vida. É uma heroína.

Ela parecia incômoda. Moveu-se na água, e depois perguntou, -Acha que Lucian tem razão e as outras mulheres não aceitarão uma reunião?

Anders hesitou. Não queria mentir para sua companheira de vida, mas não sabia como não fazer isso. Lucian não pediria às outras mulheres que se reunissem. Não podia. Quando havia dito que as mulheres tinham voltado para suas velhas vidas e provavelmente queriam esquecer, tinha querido dizer que tinham sido devolvidas a sua antiga vida depois de que as fizeram esquecer. Suas lembranças foram apagadas.

Não recordavam nada do ocorrido. As reunir novamente provavelmente seria desfazer tudo isso, mas isso era arriscado. Tinham apagado as lembranças já que mais de uma não era tão forte como Valerie e tinham estado a ponto de desmoronar.

Limpar suas memórias tinha sido a coisa mais amável a fazer. Lucian não reverteria isso a menos que fosse absolutamente necessário.

-Também não acha que estarão de acordo em se reunir, não é verdade? - perguntou Valerie quando ele permaneceu em silêncio, perdido em seus pensamentos.

A distração era a melhor tática nesta situação. Anders a tomou em seus braços e a beijou. Isso era tudo o que tinha intenção de fazer. Um beijo, talvez dois, para distraí-

la de uma pergunta que não podia responder com sinceridade.

Sou um idiota, reconheceu Anders segundos mais tarde, quando depois de uma hesitação inicial, Valerie abriu a boca para ele. Qualquer pensamento de parar em um ou dois beijos voou pela janela no momento em que ela começou a beijá-lo de novo.

Era apenas consciente de que seus braços se trancavam ao redor de seu pescoço, seus sentidos se balançavam sob o impacto do que suas bocas estavam fazendo, e a sensação de seu corpo pressionando contra o dela na água.

Gemendo, Anders se voltou e apoiou suas costas contra os frios ladrilhos da piscina, mantendo-a ali com seu corpo, e suas mãos começaram a vagar por suas laterais.

Tinha pensado que a água estava fria quando tinha entrado? Parecia estar quente agora. Quente como se os corpos a esquentassem, pensou Anders enquanto suas mãos encontravam seus seios através da parte superior de seu traje de banho e Valerie gemeu em sua boca. Um som que ecoou de seu prazer, rodando através dele também. Ansioso por mais, Anders tirou a parte superior do traje de banho de lado e cobriu os seios com suas mãos. No momento em que o fez, Valerie rompeu o beijo com um ofego de emoção, envolvendo suas pernas ao redor de seus quadris e com seus dedos acariciando por seu cabelo curto enquanto ele apertava e amassava os suaves globos. Quando ele tirou suas mãos para abraçá-la pela cintura, ela gemeu pela perda, depois gritou quando ele a levantou fora da água o suficiente para segurar em seus lábios um mamilo rosado.

Anders gemeu quando sua emoção se disparou através dele, como um murro no estômago. Ele sugou avidamente um seio, depois o outro, então não pôde suportar mais e a baixou de novo o suficiente para reclamar sua boca. Seu beijo desta vez foi quase violento, uma batalha de línguas quando ele apertou os quadris para frente, esfregando sua ereção contra ela. Apertou de novo e desta vez foi golpeado com um duplo golpe de sua excitação e a necessidade de seu prazer mesclados, vibrando através dele em ondas crescentes.

Estreitando as bochechas dela com ambas as mãos, Anders a apertou e a pressionou com mais força para ele, e depois deslizou uma mão para baixo para encontrar seu centro quente. Quase tinha alcançado esse ponto doce, e seu corpo palpitava com a antecipação, quando escutou seu nome sendo gritado por uma voz inconfundível.

Anders se congelou, dividido entre o gemido e a maldição. Depois, lentamente retirou a mão e afrouxou um pouco o espaço entre ele e Valerie.

-Sinto muito-sussurrou quando ela gemeu ante a perda. Suspirando com pesar, ele colocou a parte superior de seu traje de banho em seu lugar e olhou além dela para a casa. Lucian estava de pé nas portas francesas abertas, com cara inexpressiva.

-Traga Valerie. O desenhista está aqui -disse simplesmente. Não gritou. Não tinha porque gritar. Anders lhe ouvia bem.

Suspirando, assentiu. Depois baixou sua testa na de Valerie e fechou os olhos brevemente.

-O que disse? -perguntou ela com voz tremente.

-O desenhista está aqui -respondeu Anders solenemente.

-OH -respirou Valerie.

-Temos que ir -adicionou com suavidade.

-Sim, é claro-murmurou, mas não se moveu. Foi Anders quem brandamente desembrulhou suas pernas de ao redor de sua cintura.

-Sinto muito-murmurou Valerie, parecendo só então tomar consciência de onde tinham estado suas pernas. Retirou seus braços depois, agarrando a borda da piscina já que não estava segura de se suas pernas suportariam seu peso, e Anders o entendeu completamente. Suas próprias pernas estavam um pouco instáveis nesse ponto.

Também tinha um inferno de ereção.

-Me deixe dar uma volta e te verei ali fora -disse, se afastando dela e esperando que a distância e uma volta dessem a sua ereção a oportunidade de dissipar o suficiente para que não parecesse que tinha uma barraca armada em seu traje de banho ao sair.

Assentindo, Valerie se afastou e se ergueu fora da água o suficiente para descansar seu queixo sobre seus braços cruzados na borda da piscina. Foi então que Anders viu a bandagem em suas costas e lembrou de sua ferida.

-Não te machuquei quando te apertei contra a lateral da piscina, não é? -perguntou-lhe com preocupação.

-O que? Ela olhou por cima do ombro com confusão, e depois pareceu recordar da ferida em suas costas e sacudiu a cabeça. -Não, está bem, eu... OH, merda!

Anders começou de novo a se preocupar.

-O que foi?

-Eu não deveria molhar as bandagens-disse com aborrecimento, tentando virar o suficiente para ver sua ferida. -Me esqueci disso quando Leigh sugeriu um banho hoje.

-Ao que parece, ela também -disse Anders tranquilamente, movendo-se a seu lado para sair da água. Ficou de pé e se virou, pegou-a debaixo dos braços e rapidamente a levantou também. Os olhos do Valerie estavam muito abertos quando ele a deixou no chão e por um momento pensou que era a força que tinha revelado na ação, mas logo se deu conta de que seus olhos estavam fixos em sua virilha.

Olhando para baixo, ele viu a barraca armada em seu traje de banho e fez uma careta.

Ainda estava impressionado pelo tamanho da mesma. Cristo, ela tinha inspirado uma pequena torre Eiffel por ali. Infelizmente, parecia mais preocupada que impressionada.

Suspirando, Anders passou junto a ela para pegar sua toalha, só então percebeu que não tinha pensado em pegar uma. Sacudindo a cabeça, voltou-se para estender a toalha para ela mas ela negou com a cabeça.

-Acho que precisa mais que eu-disse Valerie, mordendo o lábio enquanto continuava com os olhos em sua ereção.

Apertando a boca, Anders envolveu a toalha ao redor de seus ombros e depois lhe deu a volta fisicamente, assinalando a direção da casa.

-Vá em frente. Te encontro em um minuto. Só quero nadar algumas voltas.

Valerie hesitou, mas começou a caminhar quando lhe deu um suave empurrão.

Anders observou até que chegou às portas francesas com a fiel Roxy seguindo-a, depois se virou e mergulhou na água. Suspeitava que ia levar mais que algumas voltas para se livrar da dureza que atualmente atuava como um leme na água.


Capítulo 9

-Suas orelhas eram um pouco maiores, e seus olhos um pouco menores-disse Valerie, inclinando-se para frente e olhando para Bryan, o desenhista, fazer o seu trabalho. -Melhor? -perguntou Bryan, girando a imagem para ela depois de ter feito as correções.

Valerie olhou em silêncio e atentamente a imagem durante alguns minutos, mas depois assentiu. O esboço carecia da personalidade e do terror vivo que transmitia o verdadeiro homem, mas suspeitava que era o mais perto que iam conseguir chegar com um desenho.

No momento em que ela assentiu, Lucian se inclinou e pegou o desenho do desenhista. Ele o olhou com o cenho franzido e depois se voltou para o Anders.

-Reconhece ele?

Valerie olhou para Anders, seus olhos caindo automaticamente em seu traje de banho já seco. Tinha conseguido se livrar do volume delator em seu traje de banho antes de entrar na casa, mas tinha levado vários minutos e suspeitava que deu um monte de voltas na piscina par conseguir. Mas o fato de que já não estava ali não eliminou a imagem de sua memória. Querido Deus, o homem era enorme. Ou ao menos parecia enorme ali, mas não era como se ela tivesse um monte de homens com os quais compará-lo. Um namorado na escola e Larry eram a extensão de sua experiência.

Deus, sou esquisita, pensou Valerie com tristeza. A maioria das mulheres de sua idade tinha mais experiência. Não tinham? Não tinha nem idéia. Certamente sim se é que se podia acreditar no seriado ‘Sex and the City’ e em alguns outros programas, do passado e do presente, na televisão. Os personagens femininos pareciam trocar de homens quase todas as semanas nesses programas.

-Não-disse Anders finalmente e Valerie conseguiu arrastar o olhar e a mente a seu rosto enquanto ele negava com a cabeça. Não o reconheço.

-Hmm. Lucian olhou a imagem durante outro momento, e depois deixou que a mão que segurava o desenho caísse? -Bom, direi a Mortimer que faça cópias e as distribua. Direi a ele que envie uma por fax a Bastien em Nova Iorque também. Ele pode distribuí-la lá. Alguém deve reconhecê-lo. -Seu olhar se dirigiu a Bryan quando terminou de empacotar suas coisas. -Se está preparado o levarei primeiro de volta ao aeroporto.

Bryan assentiu e se levantou.

-Tudo preparado. Voltou-se para Valerie e lhe estendeu uma mão. -Srta. Moyer.

-Obrigada-respondeu Valerie, movendo a mão. Quando ele se voltou para Leigh, ela ficou de pé, fazendo uma careta pela sensação de puxão em suas costas. Foi o primeiro desconforto que havia sentido desde que saiu da piscina, mas tinha estado sentada em um único lugar e na mesma posição desde que tinha entrado, e sua atenção tinha estado centrada na imagem que aparecia no caderno de desenho.

-Vou me trocar-disse Valerie a ninguém em particular enquanto se afastava do quarteto distraído e saía da sala. O traje de banho dela estava seco. Seria agradável colocar uma roupa limpa que não cheirasse a cloro. Mas também queria tentar olhar suas costas e ver se nadar tinha causado algum dano à ferida. Valerie tinha a esperança de que um nova aplicação de antibiótico e uma bandagem limpa arrumariam as coisas, mas se não, talvez fosse melhor ter mais cuidado e deixar o curativo por mais tempo.

Ela tinha chegado a seu quarto e acabado de fechar a porta atrás dela quando alguém bateu na porta. Franzindo o cenho, Valerie a abriu, e seus olhos se ampliaram quando Roxy entrou deixando Anders na soleira com o antibiótico e a gaze na mão. Estava menos surpreendida pela presença de Anders do que pelo fato de que havia esquecido de sua cadela.

-Tenho que dar uma olhada em suas costas -disse Anders desculpando-se, atraindo sua atenção de novo do pastor alemão, que tinha se aproximado da cama e deitado ao lado dela.

Valerie hesitou brevemente, mas depois assentiu. Tinha que cuidar da ferida. Sabia o que poderia acontecer com as feridas que não eram cuidadas adequadamente e não queria correr o risco de morrer de uma ferida infeccionada depois de sobreviver a essa casa do inferno.

-No banheiro? -perguntou enquanto se afastava.

-Está bem -disse Anders e ela era consciente de sua presença logo atrás dela enquanto cruzava o quarto. Quando o pastor alemão começou a se levantar para segui-la, pôs a mão nele e sacudiu a cabeça.

-Fique, Roxy.

A cadela se recostou no chão e Valerie conduziu Anders até o banheiro. Uma vez ali, ela o olhou manipulando a gaze, a fita adesiva e o antibiótico.

-Então? -disse ele, olhando-a também.

Valerie se virou de costas para ele e deixou cair a toalha. Estava-a usando ao estilo sarong desde que entrou na casa e foi apresentada ao desenhista, Bryan. Quis ir se vestir, mas Lucian havia dito que estava bem e que não queria que perdesse tempo.

-Rápido ou devagar? -perguntou Anders e quando Valerie olhou por cima do ombro, explicou, -Pareceu muito doloroso para você quando fiz devagar esta manhã. Um puxão rápido poderia ser melhor.

Valerie se mordeu o lábio, mas assentiu e virou o rosto para o outro lado.

-Respira fundo -disse.

Valerie começou a inspirar lento e profundo, mas na metade do caminho, converteu-se em uma inalação aguda quando ele arrancou a bandagem de suas costas.

-Está bem? - perguntou Anders preocupado.

Valerie assentiu, deixando escapar o fôlego lentamente. Na verdade, tinha sido melhor que da forma lenta. Tinha doído, mas tinha sido uma rápida sacudida de dor em vez da interminável dor desta manhã.

-Que tal está? -perguntou ela, levantando seu braço e estirando a cabeça para tentar ver a ferida.

-Menos vermelha do que estava esta manhã -adicionou. -Vou passar o antibiótico.


Valerie desistiu de tentar olhar, assentiu e se voltou de novo para frente. Sentiu-o passando brandamente o antibiótico sobre a ferida. Estava fresco mas não frio, e não ardia tanto como essa manhã, o que lhe fez se perguntar se o cloro da piscina tinha secado a ferida um pouco. Nadar podia até ter feito algo bom, pensou enquanto Anders pressionava a gaze sobre ela.

Esperou pacientemente que ele acomodasse a gaze em seu lugar, depois refreou um calafrio quando seus dedos quentes se moveram sobre sua pele. Seu toque, tão metódico como era, enviava raios de prazer através dela que eram difíceis de ignorar.

Na verdade, foi um alívio quando ele disse, -Terminado. Até que suas mãos se posaram em seu ombro e ele a atraiu para seu peito.

Valerie fechou os olhos, apoiando-se contra o calor que se filtrava através dela.

Irradiava de seu peito apertado contra suas costas, mas então parecia se juntar e deslizar sob seu ventre.

-Sua pele é tão suave -sussurrou Anders em seu ouvido, seu fôlego agitava seu cabelo, seus dedos se deslizaram para baixo e depois para cima em seus braços.

Quando sentiu seus lábios roçarem a orelha, Valerie inclinou a cabeça ligeiramente para um lado e depois gemeu quando ele pressionou um beijo em seu pescoço e em seguida no lóbulo da orelha. Eram carícias suaves e ligeiras como as asas de uma mariposa, e o roce de seus dedos sobre seus braços era como a luz, mas tudo isso fez com que seu corpo tremesse em seu abraço.

Faminta por seu beijo, Valerie girou sua cabeça para trás e para Anders e foi recompensada com sua boca fechando-se sobre a sua. Era um ângulo incômodo, mas não lhe importava enquanto sua língua empurrava entre seus lábios. Preocupou-se ainda menos pelo ângulo quando suas mãos passaram de seus braços para se fechar por cima de seus seios por cima de seu traje de banho.

Gemendo em sua boca, Valerie se virou em seus braços, momentaneamente desalojando suas mãos. Como tinha esperado, entretanto, elas retornaram rapidamente. Inclusive quando ela deslizou seus braços ao redor de seus ombros e se apertou contra ele, suas mãos encontraram e cobriram seus seios. Espremendo sua carne ansiosa través do fino tecido, ele foi capaz de beijá-la corretamente.

Valerie gemeu e lhe chupou a língua, os dedos percorrendo os músculos e as linhas de suas costas, amassando e impulsionando-o mais perto dela. Era vagamente consciente de que uma das mãos se afastou de um de seus seios, mas não se deu conta do porque até que a parte superior de seu traje de banho se desprendeu e caiu solta entre seus corpos, adornando seus mamilos. Ele liberou seu outro seio então e a agarrou pela cintura para levantá-la sobre a pia do lavatório. Valerie instintivamente abriu as pernas e o levou entre elas enquanto ele rapidamente se desfazia do nó da parte inferior de seu traje de banho e o retirou por completo.

Anders rompeu o beijo e se afastou o suficiente para olhar atentamente para baixo.

-Deus -exalou e baixou a cabeça para reclamar um mamilo.

Valerie gritou, os pés pressionando contra a porta do armário e seu traseiro levantando da pia quando se arqueou com a carícia. Imediatamente ele deslizou uma mão debaixo dela, sustentando-a e impulsionando-a apertadamente contra ele enquanto se amamentava de um primeiro seio e depois do outro.

-Semmy -gemeu e pressionou a boca aberta na parte superior de sua cabeça enquanto seus corpos inferiores se imprensavam.

Anders imediatamente parou e levantou a cabeça. Encontrando-se com seu olhar, levantou as sobrancelhas.

-Semmy?

Valerie sentiu o rubor que a reclamava.

-Bom, te chamar por seu sobrenome em um momento como este parece... er...

errado-disse torpemente, e então admitiu, -Simplesmente não posso te chamar Sêmen. Ela se encolheu de ombros. -Mas Semmy soa como um bom apelido. Se não se importar com isso -adicionou e depois se mordeu o lábio e esperou.

Anders a olhou durante vários segundos e de repente sorriu.

-Eu gosto.

-Gosta? -perguntou ela com alívio.

-OH, sim -disse, e levantou uma mão para roçar seus dedos ligeiramente sobre sua bochecha. Valerie voltou a cabeça para lhe beijar os dedos e ele sorriu, e depois deixou que seus dedos baixassem para acariciar brandamente um mamilo, acrescentando, -Eu gosto de tudo em você.

Valerie ficou sem fôlego com a emoção que a suave carícia estava enviado através dela, e levantou sua própria mão para puxar seu pescoço e pôr sua boca de novo na dela. Seus lábios apenas haviam se tocado quando uma batida soou na porta de seu quarto. Ambos se congelaram. Quando uma segunda batida soou, Valerie afastou Anders e desceu da pia para pegar sua toalha e envolvê-la rapidamente a seu redor enquanto se dirigia à porta.

Não esteve surpresa ao abri-la e encontrar Leigh ali. Lucian falou a respeito de levar o desenhista ao aeroporto e dirigir-se à casa dos Executores quando ela se retirou. Se tivesse feito isso, Leigh provavelmente procurava companhia.

-Pensei que seria melhor ver como estão suas costas-admitiu Leigh com uma careta.

-Acabo de lembrar que não deveria se molhar. Entretanto, a menina grande em mim sugeriu nadar.

-Ela está bem -disse Anders atrás dela e Valerie olhou a seu redor para ver que a tinha seguido fora do banheiro. -Troquei sua bandagem. Na verdade, parece melhor do que estava esta manhã. Não acredito que tenha sofrido nenhum dano.

-OH, bom. Leigh parecia aliviada. -Mas me sentirei melhor quando Dani der uma olhada em você.

-Virá depois do trabalho esta noite, não é verdade? -perguntou Anders.

Leigh assentiu.

-Deverá estar aqui às quatro e meia, e Lucian disse que estaria de volta ao redor dessa hora também. Ela sorriu ironicamente. -Acho que deveria começar a pensar em fazer o jantar caso precisemos fazer alguma compra ou de uma comida que necessite muito tempo de preparação. Me pergunto se Dani e Decker gostariam de ficar para comer?

-Decker? -perguntou Valerie.

-O marido de Dani -respondeu Anders atrás dela. -É o sobrinho de Lucian.

As sobrancelhas de Valerie se levantaram e ela olhou para Anders.

-Lucian tem um sobrinho com idade de se casar?

-Ele tem vários sobrinhos em idade de se casar. E duas sobrinhas-disse simplesmente.

Valerie assentiu lentamente. Sua melhor amiga na escola tinha sido a sobrinha de um de seus companheiros de classe. Era estranho, mas certamente não algo inaudito.

Supôs que Lucian tinha sido o mais jovem dos filhos.

-Ajudarei com o jantar -ofereceu. -Mas primeiro tenho que trocar meu traje de banho.

-OH, obrigada-disse Leigh com um sorriso e depois olhou para Anders. -Vai se trocar também? Ou pretende ficar por aí meio nu e parecendo um touro para deixar Lucian e Decker com ciúmes?

Anders soprou ante a sugestão.

-Esses dois nem sequer entendem a palavra ciúme. Eles sabem que têm você e Dani presas-disse, dando um passo em torno de Valerie. Deu no braço de um leve apertão e murmurou, -Nos vemos lá em baixo?

-Sim -disse ela em voz baixa, ruborizando-se quando Leigh sorriu de um para o outro. Fazendo uma careta pelo brilho de casamenteira nos olhos da mulher, adicionou, -OH, vão, estarei pronta em um minuto.

-Está bem -disse Leigh alegremente e deslizou seu braço no de Anders, dizendo, -Eu caminharei a seu lado.

-Caminhará, não é? -perguntou-lhe secamente.

-É claro. Eu não gostaria que se perdesse-disse ela.

Sacudindo a cabeça, Valerie fechou a porta e voltou a cruzar o quarto. Leigh, obviamente, percebeu que algo mais tinha estava ocorrendo além da mudança de curativo. A falta de uma parte do traje de banho poderia ter ajudado com isso, supôs Valerie, olhando-se enquanto tirava a toalha que tinha colocado ao redor de seus seios.

-OH, bom, “c’est la vie”. Certo Roxy? -disse, olhando a cadela deitada junto à cama.

Ao ouvir seu nome, Roxy se levantou e se aproximou dela, movendo a cauda. -Boa garota -murmurou Valerie, dando uma palmadinha em seu mascote. -Quer me ajudar a decidir o que vestir?

Roxy latiu, balançando a cauda mais rápido, e Valerie sorriu. Não o fez por pensar que a cadela entendia o que lhe tinha perguntado. Ela apenas entendia seu nome e que o tom de sua voz era uma pergunta, assim respondia. Mesmo assim, era agradável ter alguém com quem falar. Isto fazia com que uma garota se sentisse menos louca por falar sozinha.

Valerie se debateu sobre o que deveria usar brevemente e se decidiu por um vestido pêssego pálido que deixava a maior parte de suas costas e laterais nus. Seria mais fácil para a Dr. Dani Pimms examinar a ferida sem ter que se despir.

Trocou-se rapidamente, tirando o biquíni e colocando uma calcinha cor creme e o vestido. Escovou seu cabelo, aplicou um pouco de lápis labial e se dirigiu para as escadas com o Roxy bem atrás dela.

-OH, olá! Isso foi rápido. Leigh lhe sorriu de seu assento no balcão. Anders estava ali também, pegando uma grande panela do armário debaixo do fogão. Endireitou-se para ouvir as palavras de Leigh e assentiu em saudação, seu olhar agradecido ao se deslizar sobre ela.

-Olá! Pensou no que vamos preparar? -perguntou Valerie enquanto conduzia Roxy às portas francesas e a deixava sair.

-O que acha de chili? -perguntou Leigh. -Se começarmos agora pode ser cozido em fogo baixo até que todos cheguem. Então só terá que adicionar um pouco de batatas fritas e faremos com que Anders prepare alguns cachorros quentes na churrasqueira antes que possamos comer. Podemos ter cachorros quentes e chili com batatas fritas.

-Está com desejos? -adivinhou Valerie, fechando as portas francesas e voltando-se para olhá-la.

-E graves -admitiu Leigh com um suspiro. -E vão mudando. Primeiro foram os doces: sorvete e chocolate. Agora são cachorros quentes e batatas fritas.

-Então acho que parece delicioso -lhe assegurou, movendo-se ao redor do balcão na cozinha. -Como posso ajudar?

Valerie se recostou em seu assento e bebeu um gole de vinho, fazendo todo o possível para ignorar a forma em que a perna de Anders estava pressionando contra a sua debaixo da mesa. Ele esteve tocando, roçando ou acariciando às escondidas toda a noite. Primeiro com a desculpa de trabalhar juntos na cozinha e depois por debaixo da mesa, quando estavam comendo. Estava a deixando selvagem.

-Obrigada, Leigh. Isto estava delicioso -disse Dani, de novo em seu próprio assento com um suspiro satisfeito. -Não comia cachorros quentes desde que era uma adolescente.

Valerie sorriu para Dani. Gostava da boa doutora. Tinham terminado de fazer o chili e borbulhava no fogão quando a mulher chegou com seu marido, Decker. Enquanto Anders pegava uma cerveja para Decker, as três mulheres tinham ido para cima até o quarto de Valerie para que a médica pudesse ver sua ferida. Dani a tinha examinado e anunciado que estava curando bem.

As pessoas esperariam que tivesse sido uma viagem rápida. Mas não foi. As mulheres tinham começado a conversar sobre isto e aquilo enquanto subiam as escadas, e continuaram durante todo o exame. Depois, simplesmente tinham ficado ali em seu quarto, falando durante vários minutos antes de voltarem a se reunir com os homens.

Dani e Decker se beijaram e abraçaram como se ela tivesse estado fora durante dias em vez do tempo que as mulheres estiveram tagarelando acima. Logo se sentaram no sofá, com o braço de Decker ao redor dela e a mão em sua perna enquanto o grupo continuava conversando. Os dois pareciam tão conectados mentalmente como estavam fisicamente; terminando as frases um do outro e intercambiando sorrisos amorosos e carícias afetuosas ocasionalmente na bochecha ou no cabelo. Foi o suficiente para que Valerie tivesse inveja.

Quando Lucian retornou para casa e eles se sentaram para jantar, Valerie tinha chegado à conclusão de que Dani e Decker era geniais. Também eram feitos um para o outro.

-Hmm -disse Decker quando terminou e se inclinou para trás. Alcançando a mão de sua esposa, ele desenhou círculos sobre o braço e o acariciou distraídamente com o polegar e os dedos. -Na verdade nunca os comi antes. Mas estão bons. Minhas felicitações ao chef.

-Chefs -corrigiu Leigh com uma risada. -Valerie e Anders fizeram virtualmente tudo.

Eu somente cortei a cebola. E me desculpo por não oferecer algo mais elegante.

Posso culpar Lucian pelo menu.

O homem loiro se deteve com um cachorro quente a meio caminho da boca e olhou a sua esposa com assombro.

-O que? Por que me culpa pelos cachorros quentes? Nunca tinha ouvido falar deles antes de esta noite tampouco.

-Sim, mas foi seu filho quem me deu o estranho desejo de cachorros quentes e batatas fritas -disse como se isso devesse ser óbvio.

Lucian a olhou brevemente, e depois se encolheu de ombros.

-Bom, ao menos tem bom gosto. Estou de acordo com Dani. Estava bom.

Leigh riu e lhe apertou o braço quando ele meteu a última metade de seu cachorro quente na boca e o mastigou com satisfação.

-Você acha que tudo é bom.

-Tudo o que me serve está bom -disse depois de engolir. -Felizmente, parece que temos gostos similares para a comida.

-Nós também somos assim-comentou Dani. -Me pergunto se foi por isso que os nanos...

-Meu Deus! -interrompeu Leigh, sua bebida repentinamente derramando sobre a mesa.

Só havia um pouco de água, mas parecia correr por toda parte, e Valerie rapidamente agarrou o guardanapo para ajudar a absorver o líquido enquanto Lucian fez o mesmo do outro lado de Leigh.

-Obrigada-disse Leigh.

-Não aconteceu nada. Era só água e não havia muito -assinalou Valerie e pôs o guardanapo molhado em seu prato. Ela se levantou e começou a recolher os pratos.

Todo mundo parecia estar bem, e a desordem só poderia conduzir a mais acidentes.

-Não tem que fazer isso -protestou Leigh, levantando-se também. -Você e Anders se encarregaram da cozinha. Eu vou...

-Sente-se e relaxe enquanto o resto de nós enche a lava-louça -disse Lucian com firmeza, ficando de pé também.

-Ele tem razão, Leigh -disse Dani, levantando-se. -Com todos nós ajudando só levará um minuto. Ponha os pés para cima e relaxe.

Foram rápidos limpando a mesa e enchendo a lava-louça. Valerie então pôs o café antes de se unir aos outros na mesa. Quando se sentou, Dani disse, -Leigh mencionou que é veterinária em Winnipeg, que está aqui fazendo alguns cursos para atualizar suas habilidades.

-Sim -grunhiu Valerie. -Essa era a idéia, mas se não capturarem a este sujeito nos próximos dias, terei que renunciar aos cursos até o próximo semestre e se isso acontecer, terei que voltar para casa.

-O que? Anders se voltou para ela bruscamente.

Valerie se mordeu o lábio, não muito feliz ante a idéia. Teria gostado de chegar a conhecê-lo melhor, mas se não pudesse fazer o curso agora, teria que fazê-lo no próximo semestre e não seria justo estar longe da clínica tanto tempo. Suspirando ante apenas a idéia, disse, -Isso é o que meu orientador acadêmico disse quando falei com ele hoje. Faltei às duas primeiras semanas de aula. Disseme que se não estiver de volta na segunda-feira, então teria que deixar o curso e começar de novo no próximo período.

Anders franziu o cenho, seu olhar disparando ao de Lucian.

Foi Leigh quem disse preocupada, -Não pode ir para casa, Valerie. Não com ele ainda aí fora.

-Na verdade, provavelmente seria melhor se o fizesse -disse Valerie e assinalou, -Ele não tem como saber que estou em Winnipeg, assim estaria a salvo ali e Anders não teria que perder tempo bancando a babá podendo ajudar a caçá-lo.

Um silêncio sepulcral pairou no ar ante este anúncio quando todos os outros intercambiaram olhares.

-Mas seus cursos -disse Anders finalmente, -Queria se atualizar.

-E ainda o farei, mas não posso fazê-lo se não puder assistir às aulas-assinalou razoavelmente.

Outro momento de silêncio passou, com todo mundo intercambiando olhares que não entendia e depois Lucian disse bruscamente, -Então terá que assistir às aulas.

Quando Valerie o olhou com surpresa, acrescentou, -Anders te acompanhará.

-OH. Ela vacilou brevemente e depois negou com a cabeça. -Não acredito que o deixem assistir comigo.

-Poderiam -disse Dani lentamente. -Ouvi falar de pessoas fiscalizando aulas. Até conheci alguém que fiscalizava algumas das minhas. Ela teve que obter a permissão do professor e do chefe de departamento, e acredito que do orientador do programa também.

-Então ele conseguirá a permissão -disse Lucian como se fosse a coisa mais simples do mundo. Quando Anders franziu o cenho ante essa notícia, acrescentou solenemente, -É isso ou que ela e Roxy entrem em um avião de volta a Winnipeg.

Por alguma razão, essas palavras soaram ameaçadoras para Valerie, e certamente Anders reagiu como se fossem. Sua boca se apertou com gravidade, e assentiu com a cabeça.

Era sexta-feira agora, mas ao que parece assistiria às aulas na segunda-feira e Anders iria com ela. A idéia a fez sorrir. Não queria ir para casa, e não porque queria evitar seu ex. Mas sim porque não queria deixar Anders. A fazia sentir coisas que nunca tinha experimentado antes, e queria mais.

Ela o desejava.

Capítulo 10

Anders terminou de beber a segunda bolsa de sangue e olhou o relógio do criado mudo enquanto retirava a bolsa vazia. Uma careta reclamou seus lábios quando notou que eram as seis e meia. Apesar de ficar até tarde pela visita de Dani e Decker ontem à noite, tinha ajustado o despertador para as 6:15 desta manhã para se assegurar de que estivesse acordado e no andar térreo antes que Roxy acordasse Valerie para sair. Esperava prevenir outro incidente como a da manhã anterior, quando o alarme tocou e despertou Lucian e Leigh. Mas ao que parece, levou mais tempo do que esperava para entrar e sair da ducha, colocar uma calça jeans e uma camiseta negra. Esperou, entretanto, compensar o atraso chegando mais rápido ao andar de baixo. Caminhando com os pés descalços para a porta, Anders acelerou a marcha no corredor, reduzindo-a quando se aproximou da porta de Valerie e viu que estava aberta. Parou e chamou ligeiramente. Quando não houve resposta, abriu-a e olhou dentro. A cama estava vazia, assim como o quarto em si, e através da porta do banheiro aberta pôde ver que este também estava vazio.

Amaldiçoando entre dentes, Anders se precipitou para a escada, desesperado por chegar a Valerie antes que abrisse as portas francesas. Com cada passo que dava, esperava o som do alarme disparando. Mas fez todo o caminho até a sala de estar sem que isso ocorresse. Viu primeiro Roxy. O pastor alemão estava na cozinha, engolindo sua comida. Valerie estava nas portas francesas, olhando o painel de segurança com os ombros caídos. Anders exalou um suspiro de alívio e disse, -Eu dou um jeito nisso.

Valerie olhou por cima de seu ombro surpreendida, enquanto ele cruzava a cozinha para ela.

-Disse que Roxy saía às seis e meia, então pus o dispertador para tocar-explicou, fazendo uma pausa a seu lado.

-OH, sinto muito que tivesse que se levantar. Estou agradecida, mas sinto muito-disse Valerie com suavidade, mantendo a voz baixa para evitar incomodar o sono de alguém quando ele chegou junto a ela para digitar os números no painel de segurança que desligariam o alarme.

-Sem problema – assegurou ele. Terminando com o painel, deu a volta e olhou para Roxy que agora estava lambendo a tigela vazia em busca das migalhas restantes.

-Vejo que encontrou uma maneira de distrair Roxy de sair para rua.

-Tinha que fazer algo, queixava-se de forma lastimosa até que lhe mostrei a comida.

Isso a fez esquecer por um momento que tinha que sair-disse Valerie com ironia.

-Ela é uma cadela que gosta de sua comida -disse Anders secamente enquanto a cadela se voltava e se dirigia para eles. Aagachou-se para abrir a porta, mas parou quando viu a correia pendurada na mão de Valerie.

Ao ver a direção que seus olhos tinham tomado, Valerie sorriu e levantou a correia.

-Prometi a Roxy uma caminhada depois de fazer suas necessidades e de que comesse -explicou Valerie. -Não teve uma desde... bom, um longo tempo.

Assentindo, ele abriu a porta para que Roxy pudesse sair.

-Só me deixe pegar meus sapatos e iremos.

-OH, não quero te incomodar-protestou imediatamente. -Não tem que...

-Guarda-costas, lembra? -disse Anders com suavidade. -Tenho que ficar com você para proteger seu corpo.

-Certo-murmurou Valerie, ruborizando-se enquanto se deslizava a seu lado para seguir Roxy para fora da casa. -Esperaremos no pátio traseiro.

Anders assentiu e fechou a porta atrás dela, seu olhar fixo encontrando a forma encurvada de Roxy junto à piscina. Seus olhos se estreitaram quando se moveram de novo a Valerie. Não tinha visto nenhuma sacola em suas mãos. Sabendo que precisaria delas, com rapidez se dirigiu à cozinha e tirou um cilindro da gaveta da cozinha onde tinham sido armazenadas. Voltou para a porta quando Valerie se voltou de repente e se dirigiu para ela. Abrindo a porta, ele estendeu a mão, com o cilindro de sacolas em sua mão.

-Obrigada-disse Valerie com uma pequena risada enquanto agarrava o cilindro.

-Acabei de lembrar.

No momento em que seus dedos tocaram as sacolas, Anders fechou sua mão sobre a dela. Imediatamente a puxou para frente, enquanto ele abria mais a porta, e se inclinava para beijá-la. Foi só um roce rápido de seus lábios sobre os dela, não podia se arriscar a nada mais que isso. Tão forte era o prazer compartilhado dos companheiros de vida, que poderiam terminar rodando nus no terraço caso se arriscasse a mais que isso. Embora só o roce dos lábios agitasse o desejo por mais nele, conseguiu romper o beijo e se retirar para pronunciar um rouco, -Bom dia.

Sua voz era débil e entrecortada quando ela respondeu, -Bom dia.

Anders sorriu lentamente, depois se retirou e fechou a porta entre eles. Era consciente de que Valerie não se afastou, mas se levantou e o viu se afastar. Podia sentir seus olhos nele enquanto saía da cozinha.

Valerie olhou a seu redor ao ouvir o som da porta e ofereceu um sorriso tímido quando Anders voltou a aparecer, usando sapatilhas esportivas. Tinha sido rápido em calçar os sapatos, mas Roxy tinha sido mais rápida. Estava com a correia posta e de pé junto a Valerie quando saiu para se reunir com elas.

-A estrada ou o bosque? -perguntou Anders enquanto se aproximava.

Valerie não precisava lhe perguntar o que queria dizer. Queria caminhar com Roxy pela estrada ou pelo bosque? Debateu brevemente o assunto. O bosque seria mais interessante, mas não tinha nem idéia se havia trilhas através dele, e embora o sol começasse a fazer sua aparição, não seria capaz de penetrar as árvores. Seria mais escuro ali, talvez escuro como a noite.

-É seguro andar pela estrada? -perguntou ela finalmente.

-Bastante seguro -disse ele em voz baixa.

-Está bem. A estrada então.

Assentindo, Anders tomou seu braço e começou a caminhar, guiando-a ao redor da casa até o pátio dianteiro. Roxy imediatamente começou a caminhar junto a Valerie.

-A que horas Dani e Decker partiram ontem à noite? -perguntou ela, para quebrar o silêncio enquanto caminhavam.

-Tarde -disse com secura, o que fez que Valerie sorrir.

-Anders, já era tarde quando fui para cama e não mostravam sinais de que fossem sair. Quanto mais tarde é tarde?

-Uma hora ou algo assim depois de que foi para cama -respondeu e acrescentou, -Eles, como Leigh e Lucian, são amantes da noite.

-Caramba, então você dormiu muito menos que eu -disse Valerie em tom de desculpa. Sinto muito, mas lhe agradeço isso. Não sei o que teria feito com Roxy uma vez que terminasse de comer se não tivesse aparecido para abrir a porta. Ela ficaria desesperada depois.

Anders se encolheu de ombros.

-Está tudo bem. Sempre posso dormir um pouco depois.

-É provável que eu vá fazer isso também -murmurou quando começaram a subir a estrada, e então perguntou de repente, -Quantos anos tem?

Era uma pergunta que tinha começado a pensar na noite anterior, quando tinha ido dormir. Todo mundo que tinha conhecido desde que acordou aqui parecia ter entre vinte e cinco e trinta anos. A maioria deles mais perto de vinte e cinco por sua conjetura. Anders, entretanto, parecia mais perto dos trinta, mas talvez fosse só uma ilusão de sua parte já que tinha trinta. Valerie nunca tinha saído com alguém mais jovem que ela. Embora supôs que uma diferença de dois anos não seria grande coisa.

Sua avó pelo lado de sua mãe tinha sido quatro anos mais velha que seu avô e sua mãe tinha sido dois anos mais velha que seu pai. Parecia ser uma tendência na família. Podia lidar com a diferença de idade de dois anos, se isso fossetudo o que era.

-Mais velho que você -disse Anders ao fim, recuperando sua atenção.

-Tenho trinta anos -disse, no caso de que pensasse que era mais jovem.

-Ei sei. Sua carteira de motorista estava em sua carteira -assinalou.

-Ah, claro -disse Valerie com ironia, e depois perguntou dúbia, -E você é mais velho?

Quando Anders assentiu, olhou-lhe com atenção ao rosto, mas sem ver a realidade dessa afirmação. -Quanto mais?

-Por que não é educado perguntar a uma senhora sua idade, mas não é da mesma maneira a um homem? -perguntou em vez de responder e Valerie considerou a pergunta.

-Acho que se deve ao fato de que os homens não costumam ser sensíveis a respeito de sua idade -disse depois de um momento.

-Eu sou.

Valerie se voltou para ele com surpresa.

-Sério?

-Sério - confirmou.

-Então não me dirá sua idade? -perguntou ela incrédula.

-Não neste momento. Mas o farei depois-disse.

-Depois, quando? -perguntou com interesse.

-Quando nos conhecermos melhor.

-Huh -murmurou Valerie, calando-se durante um momento e olhou a seu redor ao chegar ao final das árvores que margeavam o passeio. Saíram da estrada. Estavam em uma zona rural: a casa mais próxima estava do outro lado da estrada e isto ficava no meio de um campo a sua direita. A casa seguinte deste lado da estrada estava a um completo campo de distância, e supôs que o campo era do tamanho de dois campos de futebol.

-Bom, agora sei porque é tão tranquilo quando estamos sentados do lado de fora -

comentou quando começaram a subir pelo caminho.

Anders sorriu, mas não fez nenhum comentário.

-Está bem, se não vai me dizer sua idade, me diga quantos irmãos e irmãs tem -

sugeriu.

-Por que? -perguntou Anders divertido.

-Porque apesar de gostar de seus beijos, eu não gosto de ser beijada por alguém de quem não sei nada -disse Valerie sem rodeios e parando, girou-se para ele em pergunta quando percebeu que seus passos tinham vacilado e que tinha chegado a um ponto morto. Sua expressão era ilegível. Por um momento, parecia como se tivesse engolido sua língua.

Elevando as sobrancelhas, lhe perguntou, -O que? Não é uma grande surpresa que eu goste de seus beijos.

Por alguma razão, isso fez com que um lento sorriso aparecesse no rosto do Anders.

-Não, acho que não -reconheceu. -Suponho que estou surpreso de que esteja disposta a admitir isso.

Valerie soprou e se voltou para seguir caminhando.

-Não é que não fosse óbvio. Quero dizer, estava sobre você e por toda parte nas duas últimas vezes que me beijou.

-Sim, estava-assentiu Anders com um sorriso.

-Gostou muito? -perguntou ela com diversão seca, e depois solicitou, -Então? Irmãos e irmãs?

-Nenhum -respondeu imediatamente.

-Meu Deus, é filho único! -disse com uma careta exagerada.

-O que há de errado nisso? -perguntou Anders com surpresa.

-O filho único é o mimado. Recebe toda a atenção, todo o foco, todos os brinquedos, tudo de tudo, o que normalmente seria repartido entre vários irmãos -lhe respondeu simplesmente, e depois acrescentou, -Eu sei. Fui filha única também.

Anders se pôs a rir, mas depois disse, -Bom, talvez isso seja certo para você e para a maioria dos filhos únicos. Mas não há muito com o que ser mimado quando se é órfão.

-Foi órfão? -perguntou Valerie surpreendida.

-Sim.

Valerie o olhou em silêncio e depois se voltou de novo para frente, murmurando, -Bom, isso são outros quinhentos.

-Por que é algo ruim? -perguntou-lhe com o cenho franzido.

-Não é ruim, simplesmente...

-Não é bom -sugeriu ele e Valerie sorriu com seu descontentamento. Por alguma razão gostava de provocá-lo. Talvez porque suspeitasse de que não era provocado frequentemente.

Sendo mais séria, lhe perguntou, -Que idade tinha quando seus pais morreram?

Anders ficou em silêncio durante um minuto, debatendo como responder a isso, e a maneira de responder a todas as perguntas que viriam a seguir. Não queria lhe mentir.

Queria-a para ser sua companheira de vida e a mentira não era uma boa maneira de começar, mas não podia lhe dizer a verdade neste momento. Ou pensaria que estava louco, ou então ele teria que lhe explicar a respeito dos imortais, e não acreditava que estivesse preparada para essa explicação ainda. Poderia não estar nunca.

Suspirando pelo pensamento deprimente, Anders decidiu que o melhor que podia fazer era lhe dizer tanta verdade quanto pudesse e só deixar de lado os detalhes que pudessem precisar de explicações... como o fato de que tinha nascido em 1357.

-Meu pai, Ilom, morreu antes de que eu nascesse -disse em voz baixa, pensando que isso era bastante seguro para dizer. -E minha mãe, Leta, quando tinha doze anos.

-Sinto muito-disse Valerie em voz baixa, e depois perguntou, -Vai falar sobre eles?

-Meu pai era da Sofala -disse, deixando de lado que seu pai tinha sido um escravo Zanj.

-Sofala? - perguntou com incerteza.

-É uma província de Mozambique. Ao sul de Pemba, na costa leste da África -explicou, sem mencionar que já era Nova Sofala há muito tempo. Continuando com o que podia lhe dizer, disse, -O pai de meu pai era árabe. Sua mãe era uma mulher da localidade de Bantu.

-E sua mãe? Leta?

-Basca.

-Espanhola?

Ele assentiu, e então franziu o cenho. Isso não era completamente verdade. Ela tinha vindo de Atlântida no princípio, mas tinha se situado no país Basco e o considerou seu lar durante séculos. Tinha sido sua casa quando conheceu seu pai.

-Como se conheceram? -perguntou Valerie com curiosidade.

-Minha mãe viajava muito. Estava visitando uma amiga e meu pai... trabalhava para ela -terminou Anders, e Valerie o olhou com curiosidade. Achou que suspeitava que esteve a ponto de dizer algo mais, e isso seria exato. Quase havia dito que seu pai tinha sido um escravo dessa amiga de sua mãe, mas se conteve a tempo.

-Então o conheceu através desta amiga? -perguntou. -Estavam apaixonados?

-Eram companheiros de vida -disse solenemente. -Planejavam passar sua vida juntos.

-Como seu pai morreu?

Essa pergunta lhe fez hesitar, mas finalmente disse, -Foi assassinado por ter escolhido minha mãe.

Valerie piscou.

-O que?

Anders fez uma careta. Estava ficando um pouco complicado não mentir. Seu pai, Ilom, tinha sido o escravo de outra imortal, Alecto. Ela tinha sido amiga de sua mãe durante alguns séculos. Sua mãe tinha ido visitá-la durante um dos períodos nos quais tinha que deixar sua casa para que ninguém se desse conta de que não envelhecia. Se as coisas tivessem saído como queriam, sua mãe teria retornado dez ou vinte anos mais tarde, dizendo ser a filha ou sobrinha dela, que tinha herdado tudo. Assim era como a maioria tinha lidado com o assunto do não envelhecimento nos tempos antigos.

Entretanto, sua mãe tinha conhecido seu pai e percebeu que era seu companheiro de vida. O problema era que ele era um dos escravos pertencentes à família de Alecto e quando seu pai chamou sua atenção, Alecto, que ao que parece nunca se incomodou muito em se fixar nos escravos antes disso, disse não poder lê-lo ou controlá-lo também. Ela tinha afirmado que também era sua possível companheira de vida, e como era o escravo de sua família, Alecto o queria para ela. Seu pai, entretanto, já tinha se dado a sua mãe e a tinha escolhido em vez de sua dona.

Isso não foi nada bom. Alecto tinha tentado manter seus pais separados e Ilom e Leta tinham fugido. E tinham sido caçados por isso.

Falando devagar e com cuidado, disse, -Havia quem pensasse que meus pais não deveriam ficar juntos. Meu pai e minha mãe foram caçados. Eles planejavam escapar em um navio. Minha mãe conseguiu, mas meu pai foi assassinado antes de chegar.


Ele olhou a Valerie para ver como estava aceitando esta parte da história e a encontrou perdida em seus pensamentos, com o cenho franzido em seu rosto. Anders suspeitava que estava pensando que o problema tinha sido a diferença de cor, seu pai era um homem negro e sua mãe uma mulher branca. E isso poderia ter sido um problema entre as pessoas dessa época, mas nunca tinha sido um problema entre os atlantes. Entretanto, seria útil se pensasse que esse era o problema. Mas só se não perguntasse sobre isso e o obrigasse a evadir da pergunta ou lhe mentir, ele não a faria mudar de idéia.

Para seu alívio, deixou passar a questão e se limitou a perguntar, -Se seu pai era africano e sua mãe espanhola, como é que seu sobrenome é Andronikov? Esse era o nome da família que te adotou depois que sua mãe morreu?

Negou com a cabeça.

-Não, era o nome do homem que deu a minha mãe um refúgio seguro para dar a luz a mim quando chegou na Rússia. Ela teve que mudar seu nome e se esconder depois que mataram meu pai. Escolheu seu nome para que pudéssemos viver sob sua proteção.

-OH -disse em voz baixa. -Te criou depois da morte de sua mãe?

Anders sorriu ante a idéia. Andronik, agora conhecido como São Andronik, tinha sido o hegumen de um monastério. O equivalente russo de um abade. Anders não foi criado em um monastério. Nem sequer tinha nascido em um. Andronik tinha dado a sua mãe refúgio em uma pequena cabana perto do monastério e lhe tinha dado sua comida. Mas nenhum deles tinha posto um pé no monastério.

-Não, ela já tinha ido na época-disse Anders finalmente. -Ou deveria dizer, que fomos. Minha mãe só aceitou sua ajuda até que deu a luz. Uma vez que se recuperou o suficiente, nos mudamos.

-Então, quem te criou depois dos doze anos após sua morte? -perguntou Valerie com o cenho franzido.

-Deveríamos voltar-disse Anders em vez de responder.

Valerie olhou a seu redor, observando quão longe que estavam da casa, então assentiu e retornou pelo caminho por onde tinham vindo. Depois de poucos passos, ela repetiu, -Então, quem te criou depois dos doze anos?

-Fui adotado pela família de um amigo -respondeu com sinceridade, com a voz cada vez mais rouca. A lembrança era dolorosa para ele.

-Por que a família de um amigo? Não tem família? -perguntou Valerie com o cenho franzido.

-Não-lhe disse simplesmente.

Valerie franziu o cenho ante isso e lhe perguntou, -Como sua mãe morreu?

Anders hesitou, mas depis suspirou e admitiu, -As mesmas pessoas que mataram meu pai também mataram minha mãe.

Valerie parou consternada.

-Sua mãe foi assassinada também? E doze anos depois que seu pai... pelas mesmas pessoas? Querido Deus, quem faz isso?

-Determinadas pessoas que não têm nada melhor para fazer? - sugeriu, tentando um tom leve que fracassou estrepitosamente.

O que disse era verdade ou, ao menos, parte da verdade. O tempo não era o mesmo para um imortal, doze anos era uma mísera quantidade de tempo para alguém que vivia séculos. Mesmo assim, houve mais sobre o que determinou que Alecto não tinha nada melhor que fazer. A forma em que ela via o assunto era que lhe tinha sido roubado um possível companheiro de vida, e queria castigar alguém por isso. Isso tinha se convertido em sua obsessão. Tinha caçado eles com a ajuda de sua família, o que os obrigou a se deslocarem com frequência e repetidamente. Sua infância com sua mãe tinha sido uma série de diferentes casas e constantes correr e esconder.

Diferentemente de Alecto, Leta não teve uma grande rede de apoio. Tinha saído de Atlântida sozinha, exceto por seus amigos e sua melhor amiga que se converteu em sua pior inimizade. Estava sozinha.

Na verdade, sua mãe não teve chance e o fato de que tinha sobrevivido tanto tempo era uma combinação de pura sorte e vontade de ver seu filho sobreviver. Conseguiu manter a ambos vivos durante doze anos. Em seu décimo segundo aniversário, lhe enviou em sua primeira caça solitária de um doador de sangue. Tinham estado praticando durante os últimos dois meses, com ele saindo sozinho e ela vindo depois caso houvesse problemas. Mas essa noite lhe tinha enviado completamente sozinho, advertindo que não ia estar ali para vigiar suas costas, e que deveria ser muito cuidadoso. E o tinha sido, tinha retornado essa noite cheio de orgulho e de triunfo só para descobrir que ela tinha sido menos cuidadosa, ou talvez menos afortunada.

Anders tinha visto o carro e vários cavalos quando se aproximou da cabana. Só estavam vivendo ali durante duas semanas. Não tinham feito amigos, mas nunca o faziam. Ele e sua mãe apenas uma vez se atreveram a permanecer em um lugar o tempo suficiente como para esse tipo de coisa e não tinha sido assim nesse momento.

Com a cobertura do bosque, deslizou-se para a parte traseira da cabana e se aproximou sigilosamente da janela. O corpo de sua mãe estava atirado no chão; sua cabeça, entretanto, tinha sido posta sobre a mesa e Alecto estava ordenando a seus homens que viajassem de volta para a aldeia para que os cavalos não assustassem o garoto quando voltasse. Um dos homens tinha sugerido que deixassem Anders em paz. Leta tinha pago sua dívida, não havia necessidade de levar a cabo a vingança de Alecto contra o filho, mas ela se negou. O menino, como ela o tinha chamado, substituiria seu pai como seu escravo.

Anders fugiu e conseguiu despistá-los. Tinha retornado à cabana algumas semanas mais tarde para ver que tinha sido queimada até o chão. Não sobrou nada de sua vida com sua mãe, nem sequer uma migalha ou uma lembrança para levar com ele. Partiu de novo então e tinha vagado brevemente, mas as lembranças do verão feliz que tinha passado em um pequeno povoado na Espanha no verão anterior o tinham levado até lá. Era o único lugar onde ele e sua mãe tinham tinham ficado mais que um punhado de semanas e sabia que a única razão pela qual ficaram ali tanto tempo foi que sua mãe não tinha tido coragem de arrastá-lo para longe do único amigo que tinha feito durante sua infância solitária de correr e esconder.

Pedro Álvarez tinha onze anos naquele verão, assim como ele. Também tinha tido um pouco de diabo nele, como lhe tinham chamado na época. Agora o teriam chamado um bagunceiro ou endiabrado. Pedro sempre estava escapando de sua babá e tutores, e fugindo do castelo que sua família habitava. O que era o que ele tinha feito na noite em que Anders o tinha encontrado. Anders tinha sido enviado para procurar lenha para a fogueira, enquanto sua mãe ia caçar. Ela o tinha levado antes durante a tarde para fiscalizar sua alimentação, e depois o havia devolvido a seu acampamento, sugirido que encontrasse um pouco de lenha, enquanto ela ia procurar sua própria comida.

Assim que tinha começado sua tarefa, Anders se encontrou com Pedro pescando perto da borda do lago próximo de seu acampamento. Depois de um susto inicial ante sua repentina aparição, Pedro o tinha saudado sem medo e com alegria e lhe convidou a compartilhar o queijo, o pão e o vinho que tinha levado clandestinamente das cozinhas do castelo.

Tinha sido o começo de uma firme amizade. Rapidamente os dois se tornaram tão próximos como irmãos. Pedro escapava do castelo a cada noite e Anders o esperava.

Os dois corriam através dos bosques e campos, sempre terminando na borda da água onde deitavam na grama, olhando as estrelas e compartilhando seus sonhos para o futuro. Pedro planejava ser um valente cavalheiro e senhor de seu povo, e Anders sonhava com o dia em que mataria a perversa Alecto, vingando seu pai e assegurando que sua mãe não tivesse que correr e se esconder mais e que pudesse ficar em um só lugar ao menos durante mais que algumas semanas. Pedro era a única pessoa a quem Anders tinha revelado alguma vez sua história. Não tudo, é obvio.

Não lhe havia dito que era imortal. Apenas que Alecto, ciumenta, matou seu pai e agora buscava a ele e sua mãe como castigo, porque seu pai amava sua mãe. Pedro tinha jurado solenemente que lhe ajudaria a matar Alecto.

Cada noite, quando Pedro o deixava, Anders retornava ao acampamento que compartilhava com sua mãe, aterrorizado da noite em que ela decidiria que tinham que levantar acampamento e seguir adiante. Ao final, quase todo o verão tinha passado antes que ela fizesse o temido anúncio. Quando instintivamente tentou protestar e convencê-la a ficar, ela revelou que sabia de seu amigo, que sabia que ia ser difícil deixá-lo, mas que se ficassem muito tempo, seus perseguidores os alcançariam. Tinha visto um dos homens de Alecto no povoado essa noite. Tinham que seguir adiante. Anders nem sequer tinha tido a oportunidade de dizer adeus a seu amigo. Eles tinham partido imediatamente.

Olhando para trás, Anders suspeitava que a bondade de sua mãe em lhe deixar ter um amigo nesse verão tinha sido o princípio do fim para eles. Para todos eles, incluindo o Pedro e sua família. Alecto e sua gente tinham captado seu aroma nessa aldeia e tinham estado sobre eles como uma matilha de cães de caça, sempre lhes perseguindo de perto durante os seguintes seis meses, até que os tinham alcançado em seu aniversário e tinham assassinado a sua mãe. Seis semanas depois, Anders estava de novo nesse lago na Espanha, à espera do Pedro.

Ao inteirar-se da morte de sua mãe, Pedro tinha insistido em que viesse a seu lar no castelo com ele. Estava seguro de que seus pais lhe dariam as boas-vindas como seu amigo. Anders tinha sido mais cético. A bondade não tinha sido uma coisa que tinha experimentado em sua vida, mas a mãe de Pedro tinha sentido pena dele por ser órfão, e ao saber que sua mãe lhe tinha ensinado a ler e escrever, o pai do Pedro tinha decidido que seria um bom escudeiro depois de um intenso treinamento de combate pessoal para que alcançasse os outros escudeiros de sua idade. Seria seu escudeiro, e ao final se converteria em um de seus cavalheiros, assegurou-lhe o pai de Pedro.

O que aconteceu depois foram os seis meses mais maravilhosos da vida de Anders.

Com um pouco de controle mental conseguiu organizar sua formação de maneira que tinha a menor exposição à luz solar quanto era possível. Mas também tinha trabalhado duro para agradar ao pai de Pedro como escudeiro, e tinha sido tratado com amabilidade e carinho... até a noite em que Alecto e seus homens o tinham seguido até ali, invadiram o castelo durante a noite e assassinaram toda a família, incluindo as três irmãs menores de Pedro.

Anders e Pedro estavam correndo, praticando luta de batalha e pescando como faziam na maioria das noites quando isso ocorreu. Não foi até que retornaram ao castelo que perceberam que algo estava errado. Havia sangue. Anders o tinha cheirado no momento em que Pedro abriu a porta de pedra dos túneis secretos no corredor de cima, onde estavam os dormitórios. Seu amigo mortal não tinha captado o aroma, mas para Anders, com o excepcional sentido de olfato imortal que possuía, o aroma o tinha feito parar com brutalidade na entrada, cheirando o ar com repentino alarme.

Não foi até que Pedro disse, -Vamos, ou seremos apanhados - que Anders percebeu, durante o tempo que parou para farejar o ar, que Pedro tinha seguido em frente e estava agora na porta de seu dormitório. Apesar de Anders ter aberto a boca para expressar uma advertência e chamá-lo para devolvê-lo à segurança dos túneis até que soubessem o que tinha acontecido, a porta do quarto de Pedro se abriu e um dos homens de Alecto atacou seu amigo. Não houve nenhuma pergunta, nem ameaças, nem advertências. O bastardo tinha agarrado Pedro de surpresa pelo pescoço, levantou-o, e rasgou sua garganta com um movimento impreciso.

Anders se congelou em estado de shock e horror. Embora tivesse passado toda sua vida fugindo e se escondendo destas pessoas, na verdade nunca tinha visto Alecto e seus homens em ação. Mesmo com sua mãe, o ataque já estava concluído e ela estava morta quando ele se aproximou da cabana. A crueldade e a violência deste ataque eram incompreensíveis para ele, impressionantes. Isso o tinha deixado tremendo e incapaz de se mover... até que outra porta se abriu e Alecto saiu levando vários homens para fora do quarto da mãe e do pai de Pedro. Depois que contou seis homens saindo do quarto, um golpe atraiu seu olhar para onde o corpo sem vida de Pedro tinha sido jogado no chão do corredor, como lixo. Um dos homens o viu então e gritou, e Anders saltou para trás, deixando a porta de pedra fechada entre eles.

Ele tinha começado a correr, descendo as escadas pela passagem secreta dois degraus por vez, até que irrompeu no túnel sob o castelo. Isto o levou a uma cova na borda de uma clareira além dos muros do castelo e Anders tinha fugido através dela, com sua mente em um caos total. O medo, a ira, e a perda tinham lutado em seu cérebro, deixando-o incapaz de se aferrar a qualquer emoção. Tinha fugido até que não pôde correr mais, e então se derrubou no bosque e chorou até que o sol se levantou.

Um pouco aturdido e sem lhe importar por completo o dano que o sol poderia lhe causar depois, Anders retornou por onde veio. Sabia que Alecto e seus homens já teriam ido neste momento e esperava ver que Pedro de algum jeito tinha sobrevivido.

Também queria, necessitava, saber o que tinha acontecido com o resto da família que o tinha acolhido em seu seio.

Nem sequer teve que sair dos túneis. A sala estava repleta de serventes chorando quando abriu a porta da passagem secreta e uma leitura rápida do mais próximo lhe havia dito tudo o que precisava saber. Alecto e seus homens tinham matado todos os membros da família, a sua filha de três anos de idade, e até alguns dos serventes.

Anders escapou pela porta de pedra fechada, e depois simplesmente se sentou afundando-se no pó e nas teias de aranha do túnel, afligido pela perda e pela culpa.

Havia trazido isto a Pedro e a sua família por estar ali. Foi uma dura lição. Tinha aprendido que ninguém estaria a salvo perto dele enquanto Alecto o perseguisse, e concluiu que Alecto nunca deixaria de caçá-lo enquanto vivesse. A mulher estava obcecada até o ponto da loucura.

Depois de dois dias e noites agachado naquela passagem escura e fria com sua dor, Anders desceu os túneis e se dirigiu para a clareira, renascido com um propósito.

Nunca voltaria a deixar que ninguém se aproximasse dele. Nunca ficaria em algum lugar tempo suficiente para que Alecto e sua gente o alcançassem. Cresceria e treinaria combate, e quando fosse bastante forte e tivesse aprendido o suficiente, iria matar a essa cadela e cada um dos filhos da puta que viajavam com ela.

-Sinto muito.

Anders olhou para Valerie então, e esboçou um sorriso.

-Foi há muito tempo.

-Não muito -disse soando muito solene, mas claro que ela pensava que só tinha sido uma década ou duas, quando na verdade tinham sido séculos. Mais de 644 anos.

Muito tinha acontecido depois disso, incluindo o envio de Alecto e de cada um de seus homens para se reunir com seu pai e sua mãe na morte. Isso tinha acontecido dez anos depois do dia da morte de sua mãe, e na clareira onde uma vez esteve a cabana onde sua mãe tinha morrido. Tinha escolhido o lugar e a data, e simplesmente deixou que Alecto e seus homens lhe alcançassem.

Anders duvidava que Alecto sequer reconhecesse a clareira ou seu significado.

Encontrando seu cavalo na clareira onde o tinha deixado, ela enviou seus homens para pegá-lo no bosque e ele os tinha eliminado um por um até que só sobrou ela.

Anders tinha sonhado com esse dia tão frequentemente nos últimos anos... Tinha pensado que sentiria alívio ou satisfação quando chegasse. Mas no final, não havia sentido nada uma vez que enfrentou, lutou e decapitou a cadela. Isso não devolveu sua mãe, ou Pedro e sua família, e se tinha acabado com o único propósito que teve durante a última década. Ficou ali se sentindo como um homem oco, só meio vivo e se movendo mecanicamente. Continuou se sentindo assim durante muito tempo.

Durante séculos tinha viajado, unindo-se a vários grupos de mercenários e passando sua vida se afundando até os joelhos em sangue e cadáveres, vendendo seus serviços por moedas, e nunca se preocupando muito com a causa ou seus companheiros. Isso tinha sido assim até que encontrou Lucian.

Lucian Argeneau tinha um caminho para ele. Quando te olhava, parecia ver sob sua alma, e tinha olhado a alma de Anders e lhe ofereceu o que precisava: um propósito.

Lucian o convenceu a se tornar um Executor e que o ajudasse não só a manter os mortais como Pedro e sua família a salvo, mas também a evitar que o que tinha acontecido a sua mãe e a seu pai acontecesse a outros imortais desafortunados. Esse propósito lhe tinha ajudado a começar a se sentir humano de novo. Ainda era reticente e evitava se abrir com os outros, mas contava com Lucian tanto como amigo, como chefe, e havia outros que trabalhavam com ele que o chamavam amigo... E então havia Valerie. Pensou que poderia se abrir com ela. Queria. Sem dúvida, havia-lhe dito mais do que a maioria sabia de sua história. O problema era que, uma vez mais, alguém com quem se preocupava corria perigo. A única diferença era que desta vez ele não trazia o perigo.

-Temos que mudar de assunto-anunciou Valerie.

Anders a olhou ante essas palavras, sorriu com ironia, e arqueou uma sobrancelha.

-Muito deprimente para você?

-Sim -admitiu ela, depois lhe aplaudiu o braço, e adicionou, -Mas obrigada por compartilhá-lo.

Por alguma razão isso fez com que Anders quisesse rir, que não era algo que fazia frequentemente. Mas então, se encontrou divertindo e sorrindo muito desde a chegada de Valerie a sua vida... gostava dela... e não queria perdê-la. Tinha que ter êxito onde tinha falhado com sua mãe, com Pedro e com sua família. Tinha que mantê-la a salvo.


Capítulo 11

-Acho que levará um momento antes de que Leigh e Lucian se levantem -comentou Valerie enquanto se aproximavam da casa.

-Sem dúvida. Em geral, dormem toda a manhã -disse Anders. -Acho que estamos por nossa conta para o café da manhã.

-Acha que Leigh se importará se o fizermos nós mesmos? -perguntou ela.

Anders sacudiu a cabeça e se aproximou para lhe abrir uma das portas francesas que davam para a cozinha.

-Disse que éramos bem-vindos para o que quiséssemos.

Valerie deixou escapar um suspiro de alívio quando passou pela porta. A caminhada lhe tinha dado fome, e estava preocupada de que tivessem que esperar para comer até que Leigh e Lucian se levantassem.

-O que gosta no café da manhã? -perguntou Anders, fechando a porta uma vez que Roxy entrou.

Valerie se encolheu de ombros.

-Não estou segura do que há. Acho que umas torradas iriam bem.

-Torradas? Depois desse passeio? -perguntou Anders com as sobrancelhas levantadas, parando em frente a ela. Enquanto Roxy caminhava a seu redor, farejando o chão, perguntou-lhe, -Temos mais opções que torradas. Há toucinho, ovos, salsichas, cereais, laranja, ou torradas, se desejar. Mas eu gostei dessas salsichas com panquecas que comemos ontem e estava pensando em comer isso.

-As salsichas estavam boas-concordou ela com um sorriso, depois se cambaleou um passo adiante, pondo suas mãos no peito de Anders para se sustentar quando algo foi pressionado na parte posterior de seus joelhos, fazendo-a perder o equilíbrio. Ao olhar para baixo e ao redor, Valerie viu que era a correia. Roxy tinha caminhado ao redor dos dois e depois de volta atrás de Anders para chegar a seu prato.

-Treinou-a para que fizesse isso? -perguntou Anders, com as mãos agarrando sua cintura.

-Não! É obvio que não. Valerie ficou sem fôlego, horrorizada de que pudesse sequer pensar nisso. Relaxou, entretanto, ao ver o brilho zombador em seus olhos.

-Bom, disse que você gostava de meus beijos-assinalou com voz rouca e zombadora enquanto suas mãos se deslizavam por suas costas e lhe insistiam a se aproximar-se.

-Talvez estivesse esperando mais.

Valerie podia sentir o calor do rubor em suas bochechas. Era em parte por sua brincadeira e em parte porque seu corpo zumbia em todo lugar onde ele a tocava.

Baixando o olhar a seu peito, onde seus dedos agora nervosamente puxavam o algodão negro de sua camiseta, murmurou, -Talvez estivesse.

-Como desejar-sussurrou Anders e quando ela levantou o olhar com os olhos muito abertos, seus lábios se posaram nos dela. Valerie tinha pensado que devia ter imaginado a paixão que tinha estalado entre eles nas duas últimas vezes que se beijaram. Que de algum jeito sua memória o tinha feito parecer melhor ou mais forte do que realmente era. Mas em todo caso, sua memória tinha sido como uma imagem descolorida, incapaz de reter a vitalidade e a força bruta do calor e da necessidade que se desatou no interior de Valerie quando seus lábios se encontraram. Era uma mulher adulta, não era a primeira vez que tinha beijado, mas maldição, ninguém tinha provocado uma reação tão violenta dentro dela como ele fazia. Derreteu-se e explodiu, tudo ao mesmo tempo.

Quando ele rompeu o beijo para arrastar sua boca por sua bochecha, Valerie recuperou o suficiente sentido comum para dar-se conta de que tinha deixado cair a correia de Roxy e se envolvia ao redor dele como a hera que se aferra... e ele estava tão envolto a seu redor como ela. Seus braços estavam a seu redor, com as mãos atrás sobre suas costas e seus lados, com uma perna entre as dela e com a outra abraçava a parte exterior de sua outra perna enquanto seus lábios lhe encontravam a orelha e começavam a penetrá-la. Ela suportou durante um momento, depois girou a cabeça voltando a buscá-lo de novo.

Anders respondeu a sua silenciosa petição e voltou a beijá-la, empurrando sua língua agressiva em sua boca enquanto uma de suas mãos se desviava ao redor para encontrar um seio. Ambos gemeram na boca um do outro enquanto sua mão se cavava nele. Quando a perna entre as suas se levantou, e se esfregou contra ela, Valerie pensou que a conjunção de três vertentes de prazer poderia matá-la. Foi incrivelmente excitante, parecia vir de todas partes, saltando através dela com quebra de onda atrás de quebra de onda de prazer.

Valerie não estava a par de que tinha levantado sua camiseta até que ele puxou a taça de seu sutiã de lado e o ar frio chegou a seu mamilo. Gemendo em sua boca, acelerou suas carícias enquanto apertava e amassa a carne suave, e depois começava a puxar seus mamilos.

-Semmy -suplicou quando ele rompeu o beijo, depois ofegou quando inclinou suas costas sobre um braço e baixou a cabeça para reclamar seu mamilo, chupando com sua boca e enviando um novo motim de sensações através dela. Valerie cravou os dedos em seus ombros e grunhiu, um som repetido por Anders. Agora suas duas mãos estavam em suas costas, uma segurando-a enquanto a outra... trabalhava em seu sutiã, quando notou de repente que este se soltou a seu redor.

Anders imediatamente levantou a cabeça e reclamou sua boca de novo. Valerie devolveu seus beijos com entusiasmo, ofegando ao sentir o couro fresco do sofá a suas costas e percebeu a tinha baixado ali. No momento seguinte, seu corpo cobriu o dela e ele rompeu o beijo. Sustentando-se em um braço, utilizou a outra mão para empurrar o tecido sedoso de seu sutiã longe de seus seios. Seus olhos se deslizaram sobre sua pele quente. Valerie se retorceu sob seu olhar, e depois gemeu quando sua boca se inclinou para reclamar um mamilo.

Quando depois sua mão livre cobriu o outro, Valerie ofegou e arqueou as costas, uma mão se deslizava ao redor de seu pescoço e a outra cobrindo sua mão e apertando o seio ainda quando ele já o fazia. Estava tão afligida pelas sensações que se moviam nela que Valerie foi lenta para notar que não estava fazendo nada em troca. Nunca tinha sido uma amante egoísta, mas agora estava tomando e não dando. E isso falava do efeito que ele tinha sobre ela. Caramba, tudo o que estava fazendo era sustentar-se com todas suas forças para não se afogar na paixão esvaziada sobre ela.

Soltando a mão que tinha estado agarrando, Valerie deslizou sua mão em suas costas e a dirigiu até seu traseiro. Apertou-o, puxando com mais força contra ela e depois começou a deslizar sua mão entre eles. Tinha chegado à parte superior de sua calça quando Anders imediatamente deixou o que estava fazendo e se agachou para agarrar sua mão.

-Mas...-o protesto de Valerie terminou quando sua boca cobriu a dela.

O beijo de Anders foi determinado e duro, enquanto agarrava seus dois pulsos com uma mão e os levantava sobre sua cabeça, os segurando em seu lugar para que ela não pudesse tocá-lo. Enquanto isso, a outra mão se deslizava de sua bochecha até seu seio, por seu ventre e nao interior de seu jeans. Foi então quando percebeu que tinha desabotoado seu jeans em algum momento, enquanto ela estava distraída, permitindo que sua mão se deslizasse facilmente entre sua pele, a roupa íntima e entre suas pernas.

Valerie se sacudiu embaixo dele, ofegando e fazendo ruídos de gemidos em sua boca enquanto seus dedos roçavam sua pele sensível. Também separou suas pernas, lhe dando um melhor acesso. Anders aceitou o convite, seus dedos se inundaram em seu centro úmido.

Seu toque provocou uma explosão de prazer dentro de Valerie que se construiu e se precipitou sobre ela, uma quebra de onda atrás de outra sob sua carícia. Foi incrível, excitante, completo e aterrador. Ela queria que parasse e não queria que terminasse.

Queria se afogar no prazer que estava criando e temia fazê-lo.

O corpo de Valerie se arqueou como um arco tenso e tremente. Seus olhos se apertaram bem fechados e enquanto estava desesperadamente chupando sua língua, com ele cobrindo sua boca com a sua, já não pôde encontrar os meios para fazer sequer isso. Sua boca estava aberta para ele enquanto ofegava pequenas baforadas de fôlego mais rápido e mais profundo com cada roce de seus dedos sobre ela.

Quando de repente apertou um dedo nela sem deixar de acariciá-la, a tensão dentro estalou como um fio. Valerie gritou em sua boca, sacudiu-se com violência, e então finalmente se afogou sob o prazer que a agredia e se afundou na escuridão.

Quando Valerie murmurou adormecida e se moveu, atraindo sua perna ao longo dele, Anders abriu os olhos para olhá-la. Estava encolhida a seu lado, com um braço e uma perna sobre ele e a cabeça em seu peito. Ela se moveu outra vez, com sua perna agora deslizando-se para baixo. Demônios. Até essa pequena carícia involuntária durante o sono enviou calafrios de prazer através dele. Mas seu corpo ainda estava sensibilizado depois do que tinha passado.

Anders tinha desfrutado de cada segundo de prazer que tinha dado a Valerie, experimentando cada onda e quebra de onda de excitação e prazer que tinha viajado através dela, incluindo o orgasmo final que tinha afligido aos dois. Valerie não era a única que desmaiou. Mas Anders tinha acordado primeiro.

Consciente de que Valerie se envergonharia se fossemencontrados no sofá por Leigh ou Lucian, e sem saber quanto tempo ficaria inconsciente, Anders a tinha levantado e levado até seu quarto. Tinha lhe tirado o jeans, a camiseta e o sutiã para que ficasse mais confortável. Depois se despojou de seu cuecas boxer e se meteu na cama com ela. Queria estar ali quando ela despertasse, para se assegurar de que não estaria muito assustada pelo que tinha acontecido.

A intimidade entre os companheiros de vida não era uma experiência sexual de todos os dias. Anders tinha tido em sua cama a centenas, talvez até milhares de mulheres durante o primeiro século ou dois de sua vida, e nunca tinha experimentado nada igual. Não havia nada nem sequer próximo.

Seus pensamentos fugiram quando Valerie voltou a se mover e passou uma mão por seu rosto. A ação lhe fez sorrir. Ela esteve babando sobre ele durante a última meia hora, enquanto dormia. Ao que parece, estava suficientemente acordada para sentir o líquido que gotejava através de sua própria pele antes de cair sobre seu peito.

Levantando a cabeça, Anders olhou seu rosto a tempo para ver seus olhos piscarem abertos. Um segundo mais tarde, ficou rígida entre seus braços, depois se ergueu e golpeou seu queixo com a parte superior de sua cabeça. Fazendo uma careta, Anders deixou que sua cabeça caísse de novo na cama.

-Ai -murmurou Valerie, seguido com um...-Sinto muito.

-Está tudo bem -disse Anders com um sorriso irônico, esfregando o queixo com a mão que não estava envolta ao redor de suas costas.

-Estamos em meu quarto-notou ela surpreendida.

-Trouxe você até aqui -explicou Anders, e quando levantou o lençol que cobria a ambos para olhar a si mesmo, acrescentou, -E tirei seu jeans e o resto da roupa de modo que ficasse mais confortável.

-Deixou a calcinha-disse ela, ruborizando-se.

-Sim. Não queria te fazer sentir incômoda.

-Obrigada-sussurrou, e depois riu envergonhada. -Suponho que é uma tolice que tivesse ficado envergonhada se não a tivesse deixado, mas...

-Mas teria ficado envergonhada-terminou Anders com compreensão.

Valerie assentiu, e depois jogou a cabeça para trás, com cuidado desta vez, e o olhou com incerteza.

-Desmaiei, não foi? Nunca desmaiei antes. Nunca.

Anders hesitou e depois disse, -Seu sistema está mais fraco que o normal neste momento, e estava sobre suas costas, exercendo pressão sobre a ferida. Tudo isso era verdade, é claro, mas não foi a razão pela qual ela desmaiou.

-Não senti nenhuma dor -disse com o cenho franzido.

-Estava muito distraída -assinalou ele com delicadeza.

Valerie se ruborizou e baixou a cabeça outra vez brevemente. Quando a levantou um momento depois, havia uma determinada expressão em seu rosto.

-Sim, definitivamente estava distraída. E egoísta. Não chegou a...

-Está tudo bem -a interrompeu Anders, sabendo para onde se dirigiam seus pensamentos. Sentia como se tudo tivesse sido de um só lado, tinha dado prazer a ela, enquanto ela não tinha dado nada a ele. Não podia estar mais longe da verdade, mas não podia dizer isso a ela, ou explicar como pôde desfrutar de seu prazer com ela.

-Isso é doce, Anders, mas não está certo-disse Valerie com um suspiro e se incorporou o suficiente para olhá-lo no rosto. Ela começou a deslizar sua mão por seu estômago quando disse, -Poderia fazer por você o que fez...

Parou abruptamente quando Anders agarrou a mão que quase tinha chegado a sua cueca boxer. Tão tentado como estava, não podia deixar que o tocasse. Embora certamente lhe daria prazer, Valerie também experimentaria o prazer com ele e não podia lhe explicar isso sem lhe revelar tudo. Não estava preparada para ouvir a verdade de suas origens ainda.

Levando seus dedos a seus lábios, deu um beijo neles, depois lhe soltou a mão para deslizá-la ao redor de seu pescoço e atrair seu rosto para o seu. Seu beijo foi tão ligeiro e doce como tinha sido em seus dedos. Pelo menos, ele quis que o fosse, mas no momento em que seus lábios se encontraram, a paixão voltou com força como um trem de carga. Cambaleando sob o golpe, Anders rodou na cama, apertando Valerie no colchão enquanto seu corpo cobria o dela. A sensação de sua pele contra a sua era estimulante, com o peito nu dele, suas pernas nuas entrelaçando-se com as suas...

Tudo começou com um clamor em seu corpo que era impossível de ignorar.

-Semmy... -Valerie ficou sem fôlego quando ele afastou a boca da dela para seguir um rastro por seu pescoço.

Anders sorriu contra seu pescoço pelo apelido. Nunca ninguém lhe tinha chamado assim. Sua mãe o tinha chamado só algumas vezes de Sêmen, e todos os outros o chamavam de Anders e nada mais. Mas gostava de Semmy. Nos lábios de Valerie soava como um carinho ou uma prece.

Valerie se moveu debaixo dele, deslizando os calcanhares para baixo, à parte traseira de suas panturrilhas e depois forçando-os para poder arquear sua pélvis contra ele. A ação teve um efeito imediato. O sangue correu para sua virilha, convertendo a semi-dureza que tinha estado se construindo ali em uma cheia e furiosa ereção.

Grunhindo no fundo de sua garganta, Anders enredou os dedos de uma mão em seu cabelo e puxou, atraindo sua cabeça para trás e alargando o pescoço enquanto empurrava de volta. Ambos gemeram pela paixão que se apressou através deles, e Anders sentiu suas presas se deslizarem para fora. Ficou paralisado por um instante, depois permitiu que raspassem brandamente através de sua carne, tremendo com ela antes de forçá-las de novo aonde pertenciam, em seguida levou a boca até a crista de um seio e depois fechou-a por cima de seu mamilo.

-OH, Deus, Semmy, Semmy, Semmy... -respirava Valerie, embalando sua cabeça enquanto se amamentava.

Anders mordiscou sua carne ligeiramente, e depois levantou a cabeça para reclamar seus lábios uma vez mais antes de cair mais abaixo de seu corpo, seus lábios e sua língua saboreando a parte superior de seu estômago, seu ventre, e inundando-se em seu umbigo...

-Semmy? Ela estremeceu sob suas brincadeiras, suas pernas movendo-se sem cessar.

Quando ele colocou os dedos na cintura de sua calcinha e começou a baixar, Valerie levantou seu traseiro para lhe ajudar. Ele a deslizou a calcinha por suas pernas e depois as deixou cair no chão enquanto se levantava para eliminar sua cueca. No momento em que se levantou, Valerie se levantou também e foi ajudá-lo. Anders não acreditava que houvesse algo errado nisso até que ela procurou sua ereção enquanto sua cueca ainda estava ao redor de seus joelhos.

Anders aspirou uma baforada de ar pela descarga de prazer, mas foi distraído quase imediatamente pelo grito que ela lançou enquanto experimentava o prazer com ele.

Quando levantou seus olhos confusos para ele, Anders lhe roçou a mão e acariciou a cabeça para beijá-la. Foi um beijo rápido e forte, destinado a distraí-la do prazer compartilhado, mas sabia antes de levantar a cabeça que não tinha funcionado e não se surpreendeu quando ela imediatamente franziu o cenho e disse, -Anders, eu...

Isso foi o que lhe permitiu dizer. Capturando suas pernas debaixo de cada joelho, puxou-a até a borda da cama, ficou de joelhos entre suas pernas e procurou uma forma mais efetiva de distraí-la. No momento em que seus lábios se apertaram contra seu quente núcleo, Anders soube que tinha encontrado a maneira perfeita para lhe fazer esquecer o que tinha experimentado. Infernos, ele estava tendo problemas para lembrar do que estava tentando distraí-la quando o prazer começou seu curso através dele em crescentes quebras de onda.

Anders virtualmente os empurrou sobre a borda com sua boca; de certo modo, os dois estavam oscilando nessa borda quando Valerie de repente gritou seu nome e puxou suas orelhas quase com dor. Imediatamente lembrou o que tinha começado tudo isto. Sua sensação de que tinha sido injusto que ele a tivesse agradado antes sem que, segundo ela, ele ganhasse qualquer prazer em troca.

Amaldiçoando, Anders se situou de uma vez, agarrou-lhe as pernas com as duas mãos e empurrou dentro dela. Congelou-se então, apenas consciente do longo gemido que tanto ele como Valerie emitiram juntos. Tudo do que ele era consciente, por um momento, foi de como condenadamente bem se sentia por estar enterrado nela, tê-la quente, fechando esse calor úmido a seu redor como uma luva, apertando e pulsando. Nada em sua vida jamais o fez se sentir tão bem e por um momento não pôde se mover, nem quis. Mas então Valerie se moveu, envolvendo suas pernas atrás de seu traseiro e arqueando-se contra ele.

Anders começou a se mover então, retirando-se e empurrando de novo. Mas tão na borda como estavam, bastaram apenas uns poucos movimentos para que chegasse ao climax de uma vez gritando e então se afundando no poço escuro do prazer.


Capítulo 12

Valerie abriu os olhos e se encontrou olhando o rosto peludo de Roxy. Ela sorriu ironicamente ao ver seus olhos tristes, e então Roxy se moveu e girou um pouco de modo que pudesse arranhar a orelha com a pata da frente.

-Maldição-respirou Valerie.

-O que foi?

Olhando a seu redor pela pergunta de Anders, Valerie sorriu timidamente quando viu que estava deitada de costas, com a cabeça sobre seu braço enquanto ele estav de lado, olhando-a sonolento. A última coisa que lembrava era que estava estendida sobre a cama de lado com ele entre suas pernas. Supôs que a tinha movido de novo depois.

-Desmaiei de novo.

Anders sorriu lentamente.

-Será devido a minha habilidade superior como amante?

Valerie riu ante o olhar de suficiência em seu rosto, mas disse, -Acho que deve ser...

isso e minha ferida. Talvez não tenha recuperado todo meu sangue ainda.

-Talvez -disse brandamente.

Um gemido de Roxy lhe chamou a atenção de novo e Valerie começou a mover os lençóis e as cobertas de lado com um suspiro, mas parou quando lembrou que estava nua.

-Tímida? -brincou Anders ligeiramente enquanto se levantava, completamente, gloriosamente e descaradamente nu.

-Um pouco -admitiu Valerie, seus olhos vagando sobre seu corpo. Maldição, o homem era lindo. Era como um deus grego, músculos ondulando sob a pele morena sem manchas. Como ia se atrever a mostrar seu corpo menos que perfeito ante ele?

-Aqui.

Valerie conseguiu arrastar os olhos até seu rosto, mas se deteve no caminho ao notar a roupa que lhe estendia.

-Vá em frente, vista-se. Tenho que ir ao banheiro-disse ele.

Valerie lhe viu cruzar o quarto, seus olhos fundidos em seu apertado traseiro enquanto caminhava. Maldição. Isto simplesmente não era justo. O homem tinha o traseiro mais bonito que ela. E essas pernas? Uau. Quando a porta do banheiro se fechou, cortando sua vista, Valerie deu uma pequena sacudida em sua cabeça e voltou sua atenção para se vestir mais rápido que pôde. Não tinha nem idéia de quanto tempo ele ficaria no banheiro.

Anders deu tempo suficiente para que Valerie se vestisse, escovasse o cabelo e enganchasse a correia em Roxy, depois saiu do banheiro. Para seu assombro, ele também estava vestido. Devia ter levado sua roupa para o banheiro com ele antes.

Como não tinha notado isso? Não teve que perguntar muito sobre isso. Tinha estado tão ocupada comendo com os olhos seu traseiro, que ele poderia estar usando uma cabeça de alce e não teria percebido, reconheceu Valerie ironicamente.

-Imagino que Roxy tenha que atender a natureza -comentou Anders enquanto se aproximava.

-Sim. Infelizmente, eu também -disse Valerie quando se deteve frente a ela.

-Posso sair com ela enquanto utiliza o banheiro-ofereceu, tomando a iniciativa.

-Obrigada-disse com sincera gratidão. Ela realmente tinha que ir. -Volto em um minuto.

-Não há pressa -lhe assegurou, indo em direção à porta com Roxy trotando obedientemente atrás dele. -Tome uma ducha se quiser.

Valerie não esperou para vê-lo partir, imediatamente se dirigiu ao banheiro. Não tinha a intenção de tomar banho, mas depois de atender a outros assuntos, reparou na ducha ainda gotejando, percebendo que Anders devia ter tomado uma ducha rápida antes de se vestir, e decidiu que talvez quisesse uma, afinal de contas. Mas uma rápida.

Com seu longo cabelo para lavar com xampu e enxaguar, e a necessidade de se depilar, Valerie não seria tão rápida quanto Anders, mas ainda era bastante rápida.

Quando saiu, escovou o cabelo, pondo-o de novo em um rabo-de-cavalo e depois foi para seu quarto encontrar roupa limpa. Uma olhada pela janela mostrou um dia quente e ensolarado, por isso em vez da calça jeans que tinha usado aquela manhã, quando estava mais fresco, Valerie vestiu uma calça curta vermelha e uma camiseta branca.

Anders e Roxy ainda estavam fora quando desceu, então se dirigiu para se reunir com eles, franzindo o cenho e murmurando outro -Maldição - quando Roxy se sentou e se coçou.

-O que foi? -perguntou Anders, avançando para ela.

-Roxy deveria ter tomado sua pílula de pulgas há três dias -respondeu Valerie.

Anders se deteve e olhou de volta a uma Roxy ainda se coçando. Franziu o cenho e disse, -Bom, tem certeza que as pulgas não podem já tê-la infectado?

Valerie sorriu.


-Não, provavelmente só se coça pela pele seca ou algo assim, mas se não obter sua pílula, poderia atrair pulgas.

-Suponho que as pastilhas estão em Cambridge -disse com uma careta.

-Sim -admitiu, mas se apressou a acrescentar, -O veterinário mais próximo deve ser capaz de subministrar as patilhas. Não há necessidade de dirigir até Cambridge.

-Bom -disse Anders, obviamente aliviado. Olhou para casa, e depois a Roxy e finalmente a Valerie e lhe disse, -Bom, poderíamos ir recolhê-la agora. Podemos tomar o café da manhã fora.

-Ou comer o café da manhã-almoço -disse Valerie ironicamente com um olhar a seu relógio. Eram depois das 11h da manhã agora. Estiveram um junto ao outro durante horas. Bom, não realmente assim. Na verdade um em cima e o outro embaixo, pensou e depois disse, -Acho que teremos que levar Roxy conosco. Eu não gostaria de deixá-la aqui sozinha. Poderia fazer travessuras.

-Pode deixá-la comigo -anunciou Leigh, chamando a atenção sobre sua presença nas portas francesas abertas.

-Bom dia -disse Valerie, oferecendo um sorriso e se perguntando porque estava repentinamente ruborizada. Não era como se a mulher soubesse o que tinha acontecido entre ela e Anders enquanto Leigh e seu marido estavam dormindo no quarto junto ao corredor. Não tinham sido ruidosos. Ou teriam?

-Bom dia -respondeu Leigh, indo até ela para apertar a mão. -Vão e consigam as pastilhas. Ficarei feliz em cuidar de Roxy enquanto estiverem fora.

-Tem certeza? -perguntou Valerie.

-Sim -assegurou Leigh. -Roxy é um encanto, e ela vai me fazer companhia até que Lucian acorde.

-Obrigado -disse Anders. -Há algo que precise enquanto estamos fora?

Leigh hesitou, e depois perguntou, -Se importaria de fazer uma parada na loja de alimentos na volta?

-Não, absolutamente -lhe assegurou. -O que precisa?

Olhou para a casa, e depois disse, -Sei que precisamos de pão e leite, mas pode haver algumas coisas mais. Vou verificar e farei uma lista se você achar conveniente.

-É claro-disse Anders com diversão e depois pegou o braço de Valerie para conduzí-

la para casa. Quando atravessou a sala e o corredor, disse, -Vá pegar os sapatos e a bolsa. Tirarei o carro da garagem e trarei até a porta.

-Está bem -concordou Valerie e começou a girar para a escada, só para que Anders girasse suas costas e reclamasse seus lábios. Ela vacilou sob a carícia, mas depois deslizou seus braços ao redor de seu pescoço e o beijou quando ele o aprofundou.

Maldição, um beijo e estava pronta para arrastá-lo até seu quarto.

Nem bem teve a idéia quando Anders rompeu o beijo e lhe sorriu.

-Vá, ou terminaremos de novo na cama e Roxy e Leigh terão se que arrumar. Um pouco aturdida ainda pelo beijo, Valerie assentiu em silêncio e se voltou para as escadas, ruborizando a um vermelho vivo quando olhou pelo corredor e viu Leigh sorridente os observando da cozinha.

Sacudindo a cabeça, Valerie subiu rapidamente as escadas, tentando lembrar o que ia fazer lá em cima. Era condenadamente embaraçoso, mas só um beijo de Anders a deixava como uma completa imbecil.

-Caramba, não há um só lugar para estacionar -murmurou Anders, escaneando o estacionamento lotado da clínica veterinária. -Terei que procurar um lugar na rua.

-Ou pode estacionar em fila dupla aqui e eu poderia correr -sugeriu Valerie. Quando ele franziu o cenho ante a sugestão, ela fez rodar seus olhos. -Pode ver todo mundo indo e vindo por aqui e só será um minuto. Estarei bem.

Franziu os lábios, deixou escapar o fôlego em um suspiro e assentiu.

-Está bem, mas grite meu nome se precisar de mim. Vou ouví-la.

-Claro que o farei -disse Valerie com diversão, e então se inclinou para lhe dar um beijo, mas se conteve no último minuto. Era muito arriscado. Seus beijos a acendiam.

Além disso, não tinha certeza se tinha direito. Valerie não estava muito segura do que estava acontecendo entre eles ainda. Tiveram sexo, seguro, muito quente, sexo alucinante, mas isso não significava que tinha direito de lhe dar um beijo quando quisesse, ou tratá-lo como um namorado. Diabos, nem sequer tiveram um encontro, e não tinha nem idéia se teriam, ou se ele quereria. Talvez não fosse mais que uma aventura para ele.

Suspirando pela situação em que tinha conseguido se meter, Valerie forçou um sorriso e se deslizou com rapidez para fora do carro, dizendo, -Volto em seguida.

A clínica estava tão ocupada no interior como o estacionamento sugeria. Cada assento no lugar estava ocupado e o lugar estava cheio de cães, gatos e jaulas com animais menores. Também havia três pessoas na fila, esperando para cadastrar seus animais.

Valerie pegou um lugar no final da fila e olhou a seu redor enquanto esperava. Havia um doberman com uma pata ferida, um sheltie deitado de olhar triste, um labrador que parecia estar perdendo seu pêlo, um gato que estava miando sem parar...

Assinalou mentalmente cada animal, fazendo uma rápida avaliação e resolvendo que tratamento requeria. Era um exercício mental para passar o tempo, mas a fez desejar bastante sua própria clínica. Valerie amava ser veterinária, sempre tinha amado. Não iria à escola todo esse tempo por uma carreira que não gostasse e Valerie amava as animais. Cuidar deles era seu trabalho ideal.

-Senhora?

Valerie olhou para frente, surpresa ao ver que era sua vez no balcão. Qualquer das duas mulheres que controlavam o atendimento aqui era muito eficaz, ou ela tinha passado mais tempo analisando os animais do que pensou.

Sorrindo, se aproximou do balcão e explicou a situação. Acabou sendo um pouco mais complicado do que esperava. Esta clínica era muito legalista e a fizeram preencher um formulário de paciente para Roxy, relacionando seu aniversário, nome completo, data das últimas vacinas, etc. Valerie se colocou ao lado do balcão para dar passagem à próxima pessoa enquanto preenchia rapidamente a informação pertinente. Estava meio escutando os donos dos animais que deram um passo até o balcão atrás dela, e acabava de terminar de preencher o formulário quando seu ouvido distinguiu uma voz de mulher.

Fazendo uma pausa, Valerie levantou a cabeça e deu uma olhada, olhando com curiosidade à pequena loira de cabelo curto que conversava com facilidade com o recepcionista. Sua voz era familiar. Parecia terrivelmente com uma das mulheres que tinham sido enjauladas na casa do horror com ela, Cindy...

-Sinto muito, senhorita MacVicar -disse um homem de jaleco médico (um dos veterinários, supôs) aparecendo do outro lado do balcão. -Tive que preencher a ficha.

Valerie ficou imóvel, com os olhos correndo sobre a mulher. Era ela: Cindy MacVicar. Seus olhos se deslizaram à caixa para gatos que a mulher levava. Cindy lhes havia dito que tinha um gato chamado Mittens.

-Está bem, Doc -disse a loira com um sorriso. -Mittens e eu não temos pressa.

Assentindo, o homem se dirigiu ao recepcionista e começou a dar instruções e Valerie imediatamente se aproximou mais do balcão, dizendo, -Cindy?

-Sim? A loira se girou, uma pequena cicatriz na comissura da boca se enrugava enquanto sorria com incerteza. Inclinando sua cabeça enquanto olhava para Valerie, franziu o cenho, -Sinto muito. Conheço você?

-Sim -disse ela, e depois admitiu, -Bom, não de vista. Sinto muito, sou eu, Valerie Moyer -explicou, e quando a expressão da mulher permaneceu em branco, adicionou, -Da casa.

Cindy sacudiu a cabeça com desconcerto.

-Que casa?

A pergunta fez com que Valerie franzisse o cenho, mas ela explicou, -A casa de Igor e seu chefe.

-Igor? Cindy se ecoou com diversão, mas negou com a cabeça. -Sinto muito. Não sei do que está falando.

Valerie a olhou com desconcerto. Sabia que era ela. Sua voz era um pouco diferenciada, aguda e rápida. Soava como a Cindy MacVicar da casa. E quantas Cindy MacVicars poderiam ter um gato chamado Mittens?

Decidida, Valerie se aproximou mais ainda e disse, -As jaulas? Foi sequestrada uma semana e meia antes que eu. Esteve ali pelo menos durante três semanas. Tem que se lembrar.

-Sinto muito. Acho que você me confundiu com outra pessoa -disse Cindy brandamente. Na verdade falou como se não soubesse se Valerie estava bastante estável mentalmente, e depois adicionou, -Estive de férias durante um mês, até antes de ontem. Acabo de retornar.

-Aqui estão as pílulas, Dra. Moyer. Terminou com o formulário?

Valerie se voltou com confusão, já que o recepcionista pôs um pacote no balcão. Ela o olhou fixamente, e depois assentiu e entregou o formulário com a informação de Roxy. Começou a pegar as pílulas, já voltando para Cindy, mas o recepcionista disse, -Quer pagar em dinheiro ou cartão de débito?

Valerie fez uma careta. Quase tinha esquecido de pagar. Abriu a bolsa, tirou sua carteira e tirou o dinheiro necessário.

-Obrigado. Vou pegar seu troco-disse o recepcionista quando ela o entregou. Depois olhou a Cindy. -Srta. MacVicar, o doutor se esqueceu de pesar Mittens. Se você puder seguir John, ele fará isso agora para o registro no arquivo.

-É claro.

Valerie olhou Cindy seguir o segundo recepcionista da sala, o desconcerto em cima de sua mente. Lucian havia dito que as mulheres queriam seguir adiante com sua vida e se esquecer do que lhes tinha acontecido, mas isto era ridículo. Era como se Cindy realmente não tivesse nem idéia do que estava falando. Talvez ela não fosse a Cindy correta, pensou Valerie com o cenho franzido. Mas a voz... Tinha certeza de que era a mesma. Entretanto, nunca tinha visto Cindy e não poderia estar cem por cem segura.

-Aqui está-disse o recepcionista, retomando sua atenção. Lhe oferecia seu troco.

Valerie pegou o troco com um pequeno suspiro, murmurou ‘Obrigada’ e se voltou para sair da clínica.

-Sra. Moyer?

Parou e olhou para trás.

-As pílulas de Roxy. O recepcionista as segurava.

Valerie voltou rapidamente para pegá-las, muito consciente de que a sala ficou em silêncio, todo mundo a olhava com especulação agora, inclusive o recepcionista.

Supôs que falar sobre ser sequestrada não tinham sido muito inteligente. E a negação completa de Cindy não tinha ajudado. Todos estavam se perguntando sobre seu estado mental, supôs. Cuidado com a senhora louca.

Forçando um sorriso, Valerie pegou o pacote de pílulas e se voltou para sair depressa.

-Está tudo bem? -perguntou Anders enquanto subia ao carro um momento depois.


-Sim -murmurou Valerie, empurrando o pacote em sua bolsa e colocando rapidamente o cinto de segurança. Mas depois lhe perguntou, -Viu a casa onde estávamos confinadas?

-Sim -respondeu, franzindo o cenho um pouco.

-As jaulas?

Ele assentiu, olhando-a perplexo pela pergunta.

-Encontrou as outras mulheres?

Anders franziu o cenho.

-Valerie, por que...?

-Cindy MacVicar?

-Pequena, loira -lhe disse com incerteza. -Cicatriz na boca?

Valerie se afundou de novo em seu assento sem responder. Tinha sido ela. Tinha que ser. Por que parecia não lembrar nada a respeito do ocorrido? Ou era simplesmente uma excelente atriz?

-Valerie? -perguntou Anders.

Podia ouvir o cenho franzido em sua voz sem olhá-lo, mas no princípio não reagiu.

Sua mente estava correndo. Estava lembrando quão determinado foi Lucian quando disse que as mulheres não queriam voltar a se reunir, e se perguntava se era porque sabia que elas nem sequer lembravam de nada. Lucian e outros executores teriam de algum jeito apagado suas lembranças? Mas, como e por que fariam isso?

-Valerie? -repetiu Anders em tom preocupado agora. -Aconteceu algo no interior da clínica veterinária?

Ela negou com a cabeça de uma vez, mantendo instintivamente o que tinha acontecido para si mesma por agora... ao menos até que pudesse averiguar porque Cindy não lembrava de nada. Ao perceber que ele a estava olhando suspeitosamente, Valerie esclareceu a garganta e lhe mentiu, -Estava pensando enquanto esperava na fila e me perguntei sobre as outras mulheres. Nunca as vi, você sabe. Não as reconheceria na rua se me encontrasse com elas.

Para seu alívio, ele pareceu relaxar, o que, por sua vez, fez-lhe suspeitar. Por que ia estar aliviado de que não reconhecesse as outras mulheres? Preocupando-se com isso, ela endireitou os ombros e se recostou de novo.

-Só lembrei que há um livro que preciso para a aula de segunda-feira.

-OH. Anders se voltou em seu assento e ligou o motor. -Bom, o campus não está longe daqui. Poderíamos passar por ele a caminho da loja de alimentos.

-Sim, por favor -disse Valerie e fechou os olhos um instante. Tinha estado a ponto de sugerir isso, mas ele o tinha feito por ela. Billie lhe havia dito que trabalhava na cafeteria da livraria e Valerie tinha a intenção de encontrá-la e falar com ela. Se pudesse encontrá-la.

Valerie apertou suas mãos ao redor de sua bolsa. Tinha que encontrá-la. Billie era a única outra mulher que Valerie tinha a oportunidade de encontrar. Laura trabalhava no escritório de um corretor imobiliário, mas não havia dito qual ou onde, e Kathy estava desempregada e não havia dito nada que pudesse conduzir a ela.

-Então -disse Anders, olhando ao redor ao entrar na livraria vinte minutos mais tarde.

-Que livro estamos procurando?

-Vamos tomar um café primeiro -disse Valerie com determinação.

-Café? -perguntou Anders, aumentando a velocidade para manter o ritmo com ela enquanto se apressava para frente. -Onde?

-Há uma cafeteria no andar de cima-anunciou Valerie. Não tinha nenhuma intenção de comprar um livro. Demônios, não podia comprar um livro aqui para seus cursos.

Esta era a livraria da universidade no Edifício MacNaughton. Para conseguir livros para qualquer de suas aulas teria que ir ao Ontario Veterinary College Book Barn.

Felizmente, Anders não sabia nada sobre o Ontario Veterinary College da Universidade de Guelph.

-Não faz um pouco de calor para café? -perguntou Anders quando Valerie o levou ao balcão da cafeteria.

Ela fez uma careta. Tinha razão. O caminho do carro até aqui a tinha deixado com calor e suada.

-Podemos tomar capps gelados então.

-Capps gelados?

-Cappuccinos gelados -explicou.

-Como são?

-Nunca tomou um? -perguntou Valerie com surpresa quando se voltou para procurar o nome nos crachás dos trabalhadores depois do balcão. Não tinha nem idéia de como se parecia Billie. Só que tinha uma voz aguda e doce. Tinha parecido ter uns doze anos, apesar de que havia dito que tinha vinte e dois anos.

-Não. São bons? -perguntou Anders.

-Sim -respondeu ela com ar ausente. -São uma espécie de sorvete de beber. São feitos de café, açúcar, leite e cubos de gelo, tudo batido no liquidificador.

-Hmmm. Sorvete de beber parece bom -disse Anders alegremente.

Valerie sorriu distraídamente e o conduziu ao balcão.

-Por que não pede dois? Dois capps gelados grandes -acrescentou quando o viu inseguro.

Anders assentiu e se dirigiu para o balcão, e Valerie voltou a procurar nos crachás.

Tinha lido todos os nomes de todos os trabalhadores atrás do balcão sem detectar nada parecido com Billie e estava a ponto de desistir quando uma mulher alta, magra e morena com o cabelo preso em um rabo-de-cavalo saiu da parte traseira da loja colocando um boné enquanto se aproximava da prateleira de sanduíches. Na etiqueta se lia o nome BILLIE.

Valerie se dirigiu ao outro extremo do balcão.

-Desculpe.

A morena a olhou e lhe dedicou um sorriso amável. Sua voz era alta e doce, uma que Valerie recordou quando disse, -Sinto muito. Tem que fazer seu pedido no outro extremo do balcão nos caixas.

Era ela. Essa voz era muito reconhecível. Não podia haver duas Billies com essa voz que trabalhassem nesta cafeteria. Valerie sorriu.

-Não vou fazer um pedido, meu... er... amigo... -disse ela, sem saber se tinha direito de chamar Anders de namorado ou não. Embora, na verdade, aos trinta ainda se chamavam de namorados? Supôs que poderia ter dito amante, mas isso era apenas dar muita informação. Deixando de lado a questão de como chamar Anders, disse solenemente, -Meu nome é Valerie Moyer... da casa das jaulas.

Billie inclinou a cabeça.

-É um bar ou uma banda?

-Não. Franziu o cenho e sacudiu a cabeça. -Billie, estou falando da casa onde estávamos presas em jaulas no porão. Lembra-se? -disse Valerie quando Billie ficou olhando. -As jaulas nas quais não podíamos nos esticar ou ficar de pé. Farinha de aveia uma vez ao dia. O louco e seu chefe, que pensava que era um...

-Valerie.

Fazendo uma pausa ante a voz aguda de Anders, olhou a sua redor com surpresa quando ele a pegou pelo braço e a levou longe.

-Espere. Não tinha terminado de falar com ela.

-Sim, terminou-disse com firmeza, obrigando-a a segui-lo.

-Mas, Semmy, ela era uma das garotas. Talvez possamos averiguar como ele escolheu a todas nós.

-Ela não pode nos ajudar. Não lembra de nada.

Valerie sacudiu o braço de seu agarre e se voltou para ele.

-Por que? -perguntou com gravidade. Sabia que ele tinha razão. Tinha visto o rosto de Billie todo o tempo que esteve falando e não tinha havido nem um pingo de reconhecimento ou memória em seu rosto. Não lembrava de nada. Assim como a Cindy. E enquanto isso a surpreendeu, Anders não estava nem um pouco surpreso.

Apertando a boca, lhe perguntou, -O que sabe que não me está dizendo?

O olhar de Anders se deslizou de novo a Billie, que observava com curiosidade.

Voltando-se, ofereceu a bandeja com as bebidas para Valerie. Quando ela pegou automaticamente um dos capps gelados nela, ele se voltou para impulsioná-la a avançar outra vez e disse, -Não aqui.

Valerie não protestou ou lutou. Caminhou em silêncio junto a ele até que parou no andar térreo da loja de livros e olhou para ela.

-Realmente tem um livro que precisava comprar?

Ela hesitou, mas depois sacudiu a cabeça com ar de culpabilidade. Anders não parecia surpreso, mas sim simplesmente tomou um gole de sua bebida, quando começou a caminhar de novo. Ficaram em silêncio todo o caminho até o carro, mas uma vez ali, Valerie se voltou para ele.

-E então? -disse. -Se importaria de explicar porque Billie e Cindy não lembram o que nos aconteceu?

-Cindy? -perguntou bruscamente.

-Ela estava na clínica veterinária -disse Valerie com gravidade. -Não me lembra, nem da casa nem de Igor. Não lembra nada. E tampouco Billie. Valerie fez uma breve pausa, e depois perguntou, -O que está acontecendo?

-Não aqui -repetiu Anders, e quando el aabriu a boca para protestar, acrescentou, -Tenho que me concentrar na condução... ao menos até que tenhamos um lugar no qual não sejamos interrompidos.

Soprando um suspiro, Valerie se afundou no assento do passageiro e colocou o cinto de segurança. Logo voltou sua atenção a seu sorvete Capp, bebendo lentamente para evitar um cérebro congelado. Pensou que a levaria de novo a casa de Leigh e Lucian, mas quando parou o carro um pouco mais tarde, estavam em uma casa de campo.

Parecia nova, construída durante os últimos dez anos por sua conjetura; uma casa grande, de tijolo vermelho com dois anexos, incluindo um estábulo e curral com meia dúzia de cavalos.

-Onde estamos?

-Meu lar -disse, e saiu do carro, deixando que o seguisse.

Valerie ficou olhando-o, sem saber o que fazer. Não estava segura de poder confiar nele. Não tinha a menor dúvida de que ele podia explicar, mas isso era porque provavelmente estava envolvido em tudo o que tinha acontecido para que as outras mulheres se esquecessem.

Deveria estar preocupada? Seu olhar percorreu o homem diante do carro, enquanto tentava averiguar se podia ser uma ameaça para ela ou não. Valerie queria pensar que não, mas tinha muitas perguntas que ainda não tinham sido respondidas. Qual era essa equipe de Executores na qual Anders, Bricker e Lucian trabalhavam? Por que tinha sido tratada em uma casa particular e não em um hospital? Eles haviam dito que era para mantê-la a salvo, já que seu sequestrador tinha escapado, mas um guarda da polícia a teria mantido a salvo? E além disso, se era tão perigoso, por que Anders tinha sugerido que deveriam buscar as pílulas de Roxy? Por que Leigh não tinha protestado? Demônios, não só não tinha protestado, mas também tinha pedido para fazer uma parada adicional.

Então, pensou Valerie com tristeza, estava em perigo ou não? E se não estava, por que era a única na casa de Leigh e Lucian? E a única que ainda conservava sua memória? Bom, se era a única. Era possível que Laura e Kathy ainda conservassem a sua, mas suspeitava que não era o caso.

Valerie olhou para Anders enquanto sua mente se retorcia em circuitos tentando esclarecer as coisas, mas no final teve que reconhecer que a única maneira de obter alguma resposta era deixar que Anders se explicasse. E a única maneira de fazê-lo era ter suficiente confiança no homem para sair deste veículo e lhe fazer as perguntas. Isso não deveria ser tão difícil. Ela tinha estado nua, com este homem dentro de seu corpo, há apenas umas horas. Tinha acreditado nele com seu corpo, sem dúvida podia confiar nele com seu bem-estar, pelo amor de Deus.

Anders sorveu o último gole de seu capuchino gelado enquanto esperava que Valerie decidisse se confiava nele o suficiente para sair ou não. Se o fizesse ou não, era importante. Precisava de sua confiança e sabia que agora estava um pouco agitada.

Mas Anders precisava saber quão agitada... e se podia recuperá-la.

Suspirando, separou-se da caminhonete e se dirigiu a três metros da cerca do campo diante do qual tinha estacionado.

O dia tinha começado tão bem e com tantas promessas. Tinha pensado que tinha mais tempo, mas o encontro de Valerie com Billie forçava os acontecimentos. Bom, seu encontro tanto com Billie quanto com Cindy. Sua boca se esticou ao pensar em Cindy. Tinha suspeitado que algo tinha acontecido quando Valerie saiu da clínica.

Ela tinha parecido... apagada. Diferente. Não podia ter imaginado, entretanto, que uma de suas companheiras de jaula da casa tinha estado dentro da clínica. Quais eram as probabilidades?

O som da porta do caminhonete se abrindo chegou a seus ouvidos e Anders suspirou de alívio. Ainda confiava nele um pouco, agora só tinha que esperar que fosse suficiente.

-Surpreende-me que viva em um fazenda-disse Valerie em voz baixa ao chegar à cerca e se apoiou nela a seu lado.

-A maioria das pessoa também se surpreende-reconheceu com um débil sorriso. Por alguma razão, todo mundo parece esperar que eu tenha um apartamento na cidade ou algo assim.

Valerie assentiu.

-Posso ver isso. É porque é tão elegante e sexy.

Anders piscou e olhou para ela bruscamente.

-Elegante e sexy?

-Como se não soubesse? -perguntou com diversão. -Tenho certeza de que não sou a primeira garota que se lançou sobre você.

-Você não se lançou sobre mim -disse solenemente.

-Hmm -murmurou Valerie.

Anders viu um pequeno sorriso reclamar seus lábios e depois se desvaneceu com a mesma rapidez.

-Por que não se lembram do que nos aconteceu?

Direto ao assunto, pensou com ironia e disse, -Duas das mulheres estavam gravemente traumatizadas por seu tempo nessa casa. Lucian pensou que o mais conveniente era eliminar essas experiências de suas memórias e lhes permitir viver uma vida normal sem que essas experiências lhes atormentassem.

-E estavam dispostas a deixar que isso acontecesse? -perguntou Valerie.

-Não lhes pediu permissão -admitiu Anders a contra gosto. Só sabia que não aceitaria isso muito bem e não se surpreendeu quando sua voz ficou fria e dura.

-Portanto, ele roubo suas lembranças sem perguntar se tudo estava bem?

Suspirando com cansaço, ele se voltou para ela e lhe perguntou, -Realmente acha que teriam preferido manter as lembranças? Gosta dos pesadelos que lhe dão?

Valerie franziu o cenho e se deu a volta, com o rosto avermelhado.

Anders supôs que ela não tinha pensado que ele sabia isso, mas ele a tinha segurado em seus braços através desses pesadelos nessa mesma manhã em seu quarto.

-Então, por que não apagaram minhas lembranças? -perguntou soando cansada.

-Poderiam, se você quiser-disse em voz baixa.

Valerie vacilou, mordendo o lábio, e depois perguntou, -O que fazem? Hipnose?

-Não. É mais profundo que isso. Teriam que acabar com a lembrança do que aconteceu nessa casa... e tudo depois -acrescentou solenemente.

-Tudo depois-perguntou, voltando-se para ele com assombro.

Anders assentiu.

-Tudo. Leigh, Lucian, sua casa... eu. Eles poriam novas lembranças em seu lugar.

-Por que? -perguntou Valerie. -Quero dizer, claro, eliminar as lembranças de Igor e da casa do horror, mas porque vocês?

-Porque lembrar de nós poderia conduzir à recuperação das outras lembranças - disse brandamente. -Afinal de contas, foi levada até a casa para se recuperar das feridas recebeu ali. E caçamos à pessoas como Igor e seu chefe.

-OH. Ela ficou em silêncio, estava fazendo as contas em sua cabeça. Valerie era uma mulher inteligente; não se surpreendeu quando disse, -O que significaria que você e eu...

-Não poderíamos nos ver de novo -disse o que estava seguro que ela quis perguntar, mas não pôde. -Me ver poderia trazer de volta as outras lembranças.

-Mas me ver não trouxe de volta as lembranças de Cindy e Billie -protestou.

-Talvez...

-Cindy e Billie nunca a viram -interrompeu ele com suavidade. -Pelo que sei, nenhuma de vocês viu a outra exceto como sombras e silhuetas nesse porão escuro.

E, por sorte, sua voz é normal, é improvável que desperte uma lembrança nelas.

Ela levantou uma sobrancelha.

-Normal?

-Quero dizer que não é inusualmente alta, como Billie, ou aguda e medida como Cindy. Não é suficientemente estranha para ser lembrada.

-Obrigada-disse Valerie com secura.

-Tem uma voz bonita-assegurou ele.

-Só não é uma para ser lembrada-disse, e antes que pudesse lhe assegurar que era a mais reconhecível para ele, Valerie continuou, -Então, Lucian chamou os mágicos para apagar as lembranças das outras mulheres e depois recolocando-as de novo em suas vidas. O que aconteceu às supostas preocupações sobre o sujeito que nos sequestrou? Pensei que era por isso que estava na casa de Leigh e Lucian?

-Realmente não esperamos mais problemas com o renegado que sequestrou você e as outras mulheres. Se for inteligente, terá seguido em frente em vez de se arriscar a ser capturado por nós -admitiu Anders.

-Então por que estou com Leigh e Lucian?

-Está ali para se curar-disse com cautela.

-Ahh. Assentiu Valerie. -É obvio, não podiam me pôr de novo em minha vida com menos lembranças. A ferida que adquiri na casa dos horrores poderia despertar minha memória.

Na verdade, poderia ser que não. Simplesmente teriam que lhe dar lembranças de um acidente para explicar isso, mas não deu a Anders a oportunidade de dizer isso.

-Então suponho que estão esperando até que me cure e depois apagarão minha memória e me colocarão de novo em minha vida. Me vou esquecer de todos os momentos desde que fui sequestrada.

Ela tinha o cenho franzido e estava obviamente zangada, mas ele não entendia por que até que acrescentou, -E tudo isto... seja o que for que está acontecendo entre nós nem sequer terá acontecido em minha mente? Valerie se voltou para ele e lhe acusou, -Então tudo isto é apenas um golpe a curto prazo para você? Nenhum envolvimento emocional, nenhuma mulher pegajosa exigindo saber o que significa para você ou esperando uma relação?

Os olhos de Anders se abriram quando percebeu para aonde se dirigiam seus pensamentos, mas uma vez mais não lhe deu a oportunidade de responder, e gritou, -Que bonito! Com quantas mulheres desfrutou destes assuntos a curto prazo?

Quantas mulheres houve? Estará a metade da população feminina do GTA vivendo sem saber que tiveram sexo alucinante com um galã quente que...

Anders a fez calar com um beijo. Era a maneira mais fácil. Além disso, gostava de beijá-la, e ele não queria ouvir mais acusações sobre ter se deitado com a metade da área metropolitana de Toronto, ou GTA, como era chamado pelos nativos da região.

Especialmente quando tinham passado séculos desde que fez sexo antes dela.

Ironicamente, supôs que era apropriado que seu sobrenome fosse tirado de um monge.

Depois de um momento Valerie deixou de lutar e lhe devolveu o beijo, Anders rompeu o beijo. Teve que fazê-lo. Muitos mais beijos e estariam rodando por aí nus no chão em vez de falar, e agora mesmo, falar era mais importante.

Soltou-a lentamente, deixou-a a um passo e esperou que o olhar aturdido desaparecesse de seu rosto. Mas no momento em que o fez e voltou sua memória da ira retornou, e ele disse, -Eu não costumo fazer amor com as vítimas feridas dos renegados caçamos. Não me deitei com outras mulheres no GTA. De fato, passou um tempo muito, muito longo desde que tive relações íntimas com alguém. Você é especial, e vou explicar quão especial é e responderei a todas suas outras perguntas, se me der a oportunidade.

Para seu alívio, Valerie relaxou lentamente e depois assentiu com a cabeça.

-Está bem.

-Está bem -admitiu ele, deixando escapar um lento suspiro, e depois pegando-a pelo braço, para conduzi-la até a casa. -Vamos. Mostrarei a você minha casa e então nos sentaremos para falar.


Capítulo 13


-Esta é a cozinha.

Valerie olhou ao redor da acolhedora cozinha, notando as paredes de cor amarela brilhante e os armários de madeira clara. Foi tão surpreendente para ela como o resto da casa. Enquanto as roupas de Anders pareciam consistir apenas em peças de cor negra sem vida, sua casa tinha uma grande quantidade de cor. A sala de estar era creme com detalhes em vermelho, sua sala de estar era ocre escuro, seu quarto de um marrom vibrante e ouro. Os quartos de convidados e banheirosos eram todos azuis brilhantes, verdes e águas. Se sua casa estivesse refletindo sua personalidade, havia um monte de profundidade e paixão no homem frequentemente silencioso e quase severo. Ma ela já tinha provado essa paixão e sabia que existia. Não havia nada frio neste homem.

-O que você gostaria de beber? - perguntou Anders, movendo-se para a geladeira, apenas para fazer uma pausa sem abri-la. Quando ele se virou com o cenho franzido, ela levantou as sobrancelhas.

-Há algum problema?

-Eu... Não -disse com uma careta. -Acabo de lembrar que não tenho nada aqui para você beber.

Ela assentiu lentamente.

-Acho que não te incomodou com provisões, porque ficava com Leigh e Lucian.

-Certo. Anders olhou a seu redor antes de oferecer, -Quer um pouco de água?

Valerie sorriu fracamente.


-É claro. Água está ótimo.

Assentindo, ele se dirigiu para a geladeira e depois fez uma pausa e se voltou lentamente, seu olhar se deslizando sobre os armários como se tentasse lembrar onde poderiam estar os copos. Depois de um momento, murmurou, -Já volto. E se dirigiu à porta traseira da cozinha.

Valerie o olhou com assombro enquanto saía da casa. Movendo-se para a janela sobre a pia, o viu cruzar o pátio e se dirigir ao que parecia uma casa de hóspedes parcialmente oculta pelas árvores no lado oposto dos estábulos e do curral.

Carrancuda, esperou até que desapareceu de sua vista, depois se virou e estudou a cozinha. As bancadas estavam reluzindo de limpas, sem nada de desordem em sua superfície de granito brilhante, e a geladeira e o fogão pareciam novos, sem um pingo de gordura nem migalhas de comida sobre eles. Certamente não parecia com o apartamento normal de um solteiro.

Alcançando o armário mais próximo Valerie o abriu e então se congelou. Estava completamente vazio. Deixou-o se fechar e se moveu ao próximo armário e depois ao seguinte antes de começar com as gavetas e armários inferiores. Cada uma estava total e absolutamente vazia. Não havia um prato, copo, panela ou frigideira, ou mesmo uma lata ou uma caixa de comida nos armários.

Seu olhar se girou para a geladeira e Valerie se dirigiu para ela abrindo-a completamente esperando encontrar a mesma situação ali. Em vez disso, encontrou prateleiras cheias com filas e filas de bolsas de sangue cuidadosamente empilhadas.

O som da porta se abrindo por trás a fez rapidamente fechar de repente a porta e girar quando Anders se congelou na porta da cozinha, dois copos fumegantes na mão.

Nenhum dos dois se moveu nem falou durante um momento, e então Anders disse em voz baixa, -Posso explicar. Por favor, confie em mim o suficiente para me permitir isso.

Valerie o olhou fixamente, suas palavras correndo através de sua mente. Por favor confie em mim o suficiente para me permitir isso parecia como se ele pedisse muitíssimo quando seu coração pulsava como louco em seu peito e sua mente era um torvelinho de confusão e medo. Os armários vazios a tinham confundido, mas a visão de todo essa sangue na geladeira a tinha sacudido. Por alguma razão, isso a fez pensar na casa dos horrores, embora não tinha visto nenhuma bolsa de sangue ali.

E poderia haver pelo menos uma dúzia de explicações perfeitamente razoáveis para que ele tivesse bolsas de sangue em sua geladeira. Ao menos, isso é o que queria acreditar. Infelizmente, não conseguia pensar em nenhuma neste momento.

-Por favor -repetiu Anders, e depois levantou os copos que levava. -Tenho café.

Uma curta gargalhada lhe escapou e Valerie colocou sua mão sobre sua boca. Talvez fosse apenas ela, mas tinha soado quase histérica a seus ouvidos. Tomando uma respiração profunda, assentiu e se moveu em silêncio para a mesa da cozinha. Era uma mesa alta com cadeiras tipo tamborete. Valerie se instalou em uma e depois olhou para Anders.

Não havia dúvida de seu alívio em sua decisão. Os ombros de Anders na verdade se afundaram sob o peso disso enquanto se movia para colocar os copos sobre a mesa e sentar-se em frente a ela.

-Bem - disse ele, empurrando um dos copos para ela. -Meu caseiro tinha uma jarra de café fresco.

-Obrigada. Valerie aceitou o copo, e até envolveu suas mãos frias ao redor dela, mas não bebeu nada.

-Bem -repetiu Anders, e depois suspirou. -Não sei por onde começar.

-Tente pelo princípio -sugeriu ela e por alguma razão isso trouxe uma breve gargalhada dele.

-O princípio. Bem -disse ele secamente, e então endireitou os ombros. -Está bem, mas tem que me deixar terminar todas minhas explicações antes de que enlouqueça e corra. De acordo?

Ela piscou. Isso foi um inferno de uma maneira alentadora para iniciar.

-Valerie, prometo que não te farei mal. Eu nunca te faria mal -acrescentou solenemente. -Mas o que vou dizer te pode parecer surrealista, ou louco, ou até arrepiante. Portanto, só me prometa que vai me deixar terminar de explicar tudo antes de reagir e se sentará aí nessa cadeira até que eu termine.

Valerie não concordou imediatamente. Ela levou um momento para considerar a promessa, mas na verdade estava sentada ali olhando para o homem que não só a tinha encontrado e tirado da casa dos horrores, mas que também a tinha tratado com respeito e gentileza depois disso, e lhe tinha dado tanto prazer que na verdade até desmaiou. Era um homem que gostava, desfrutava passando tempo com ele, dentro e fora da cama, alguém a quem ela realmente, até neste momento, só queria subir como em um poste telefônico. Tudo isso foi suficiente para superar o que tinha encontrado na cozinha agora que tinha passado o primeiro shock... o que fazia difícil não fazer essa promessa. Valerie só queria que lhe explicasse tudo e o fizesse o melhor possível, para que pudesse continuar desejando o homem, o que já estava fazendo de todos os modos.

-Sou realmente patética -disse em voz baixa.

-Não é -disse Anders imediatamente e ela o olhou com um sobressalto, surpresa de que tivesse escutado suas palavras sussurradas.

Sacudindo a cabeça, ela agitou a mão.

-Prometo. Vá em frente. Explique.

-Certo. Anders assentiu e depois fez uma pausa e ficou olhando a mesa de madeira escura brevemente antes de sacudir a cabeça e dizer, -Está bem, suponho que posso começar com o que te disse sobre minha família esta manhã. Meu pai sendo assassinado, minha mãe me criando até os doze, etc.

Valerie levantou uma sobrancelha, meio suspeitando que ia dizer lhe que tudo isso era mentira.

-Tudo era verdade - assegurou. Mas deixei de fora alguns detalhes pertinentes.

-Que detalhes? -perguntou ela com cautela.

Anders resistiu brevemente, e depois admitiu, -Que tudo ocorreu no século XIV.

Nasci em 1357.

Valerie piscou enquanto seu cérebro tentava aceitar o que havia dito, e depois ficou de pé bruscamente.

Anders imediatamente agarrou sua mão.

-Você prometeu.

-Bom, e eu gostaria de manter minha promessa se não se importar em dizer a verdade, mas não pode esperar que eu me sente aqui e escute algumas tolices sobre...

Sua voz se extinguiu abruptamente quando ele abriu sua boca e seus caninos repentinamente se deslizaram para frente e para baixo formando duas presas pontudas, muito compridas.

Valerie se sentou, não porque quisesse, mas porque suas pernas repentinamente deixaram de funcionar. Lembranças de repente cintilavam por sua cabeça; a risada cruel, exibindo as presas, a dor insuportável...

-Respire-disse Anders sombriamente, esfregando seu polegar sobre seu pulso e Valerie percebeu que estava começando a hiperventilar. Tentou eliminar o pânico que a agarrou, obrigou-se a tomar várias respirações lentas, estáveis e profundas. Uma vez que a ameaça da hiperventilacão passou, percebeu que ele estava falando em voz tranquila, calmante.

-Está a salvo comigo. Viu o sangue em bolsas na geladeira. Nunca te farei mal. Não sou como o homem que te sequestrou. Ele é um renegado. Lucian, eu mesmo e outros caçam os de sua espécie. Eu nunca te faria mal. Está a salvo comigo.

Valerie suspeitou que ele havia dito essas coisas mais de uma vez, as repetindo como um mantra até que ela se acalmou o suficiente para escutá-las e aceitar. E encontrou a si mesma as aceitando. Ele não tinha necessidade de mordê-la e feri-la, havia uma geladeira cheia de sangue atrás dela. Além disso, se ele quisesse lhe machucar, poderia tê-lo feito mulhares de vezes desde que tinha despertado na casa de Leigh.

-De onde veio o sangue? -perguntou ela bruscamente.

-Um banco de sangue. Sua resposta foi rápida e sem vacilação. Ela suspeitava que era verdade.

-Então é um vampiro, assim como meu sequestrador, mas é um vampiro bom que caça vampiros maus, e ele é um dos vampiros maus que você caça?- perguntou Valerie, tentando envolver seu cérebro ao redor da situação. Parece surrealista, pensou sombriamente. Caramba, agora estava realmente acreditando em vampiros só porque Anders cintilou uma presa? Podiam ser tão falsas como ela mesma se fez acreditar que eram as de seu sequestrador. É obvio, não tinha acreditado realmente que eram falsas. Apenas tinha sido tranquilizador pensar assim. Tinha ajudado a não se sentir tão louca.

-Preferimos o termo imortais do que vampiro -disse Anders com uma careta de dor.

-Mas, em essência, sim, essa é a situação.

-Então esta equipe de execução que mencionou Leigh...

-Um grupo de imortais que faz cumprir nossas leis e caçam imortais desonestos que as transgridem.

-Fazem cumprir suas leis -murmurou Valerie, surpresa por pensar que vampiros tinham leis. Não sabia porque. Simplesmente parecia estranho. Mas então um pensamento a golpeou e olhou para ele bruscamente. -Leigh não é...

-Ela não nasceu imortal, mas é imortal agora -respondeu Anders à pergunta sem terminar.

Valerie o olhou sem compreender. A doce e muito grávida, uma garota comum como Leigh, era um vampiro... mas não nasceu assim. Franziu o cenho e perguntou, -Como pôde se converter em um vampiro?

-Foi atacada e convertida por um renegado. Um diferente do seu -acrescentou rapidamente. -Lucian a resgatou quando ele e alguns dos outros homens atacaram a toca onde ela estava presa.

-Mas está grávida -protestou Valerie. -Os vampiros não podem ter filhos, não é verdade? Estava grávida quando foi atacada? Assim será uma mulher grávida para sempre? E ela e Lucian são realmente um casal, ou é tudo apenas...

-Leigh foi convertida há vários anos -interrompeu Anders. -Ela não estava grávida nesse momento. Sim, nossas mulheres podem ficar grávidas. Seu bebê é de Lucian, e sim, são definitivamente um casal. São companheiros de vida.

Valerie ficou imóvel. Ele tinha usado esse termo antes ao falar de seus pais. Ela tinha pensado que era só uma maneira pitoresca dizer companheiros de vida, como almas as gêmeas. Mas os vampiros não têm alma.

-O que é um companheiro de vida?

-Um companheiro de vida é... Ele fez uma pausa e depois suspirou e sacudiu a cabeça. -São o tesouro mais prezado que um dos nossos pode encontrar.

-Por que? Como? -perguntou ela.

-Para entender isso, tenho que explicar algumas coisas primeiro -disse Anders tranquilamente.

Compreendendo que ele estava pedindo permissão, Valerie assentiu.

Anders disse, -Nós somos tão humanos como você.

Um bufo se deslizou dela antes de que pudesse detê-lo e Valerie se tampou o nariz e a boca, e depois murmurou, -Sinto muito. Vá em frente.

Anders tinha o cenho franzido, mas depois de um momento explicou, -Temos os mesmos antepassados que os não imortais. Como você mesma. Entretanto, os nossos estiveram um pouco isolados durante muitos séculos e se desenvolveram muito mais rápido, tecnologicamente, que o resto do planeta. Fez uma pausa para tomar um gole de café, provavelmente tanto para deixá-la digerir o que havia dito, como porque tinha sede, e depois continuou, -Eles desenvolveram com bioengenharia componetes chamados nanos que podiam ser injetados no corpo para reparar os danos e lutar contra as infecções e enfermidades. Estes nanos tiveram a vantagem acrescentada de estender enormemente nossa vida.

Os olhos de Valerie se aumentaram. Tinha lido um artigo recente sobre a investigação que se realizava para o uso de nanos para combater o câncer. Ele estava sugerindo que seus antepassados tinham trabalhado com eles há muito tempo. Supôs que não era de tudo impossível, mas ele dizia que não combatia apenas o câncer.

Havia dito que reparavam os danos e combatiam infecções e enfermidades. Isso cobria um espectro bastante amplo, o que supôs ser possível.

-Estender a vida por quanto tempo? -perguntou. -Certamente não nasceu realmente em 1357?

-Sim, nasci. Não tenho e não vou mentir para você, Valerie -disse Anders solenemente, e depois disse, -Quanto à duração de nossas vidas, estende-se por... Ele se encolheu de ombros. -Ninguém sabe. Salvo um acidente que resulte em decapitação ou queimar o imortal em questão, suponho que poderíamos viver indefinidamente.

-Indefinidamente -repetiu ela fracamente. Isso foi um pouco mais difícil de aceitar. A fonte da juventude era um nano?

Anders se manteve em silêncio e simplesmente tomou um gole de seu café enquanto ela digeria isso. Esperou que Valerie suspirasse e dissesse ‘Continue’ antes de seguir em frente.

-Estes nanos eram um acontecimento milagroso. Mas tinham um inconveniente, bom, dois, suponho, já que nossos anciões naquele tempo não pensaram que a quase imortalidade fosse algo necessariamente bom -disse Anders secamente. Sacudindo a cabeça, disse, -O outro engano foi que os nanos utilizavam o sangue de seu anfitrião para realizar seu trabalho e como propulsor ou fonte de energia. Infelizmente, utilizam mais sangue que um corpo humano pode produzir.

-Então seus cientistas lhes deram presas e os converteram completamente em vampiros? -perguntou Valerie com incredulidade.

Anders negou com a cabeça.

-Não. Nossos cientistas nos deram transfusões de sangue. As presas não se desenvolveram até depois da queda de Atlântida. Então o...

-A Atlântida? -chiou ela com incredulidade.

-Suponho que ouviu falar dela -disse ele, com tom seco.

-Bom, sim, é claro. Mas Atlântida era mítica e existiu há milçhares de anos -protestou ela.

-Parece um pouco exagerado, mas foi há milhares de anos. Entretanto, não era mítica - assegurou Anders.

Valerie franziu o cenho, mas depois de um momento assentiu.

-Está bem. Então havia transfusões de sangue em Atlântida, mas ela caiu, e depois seus cientistas desenvolveram as presas para vocês?

-Não. Os nanos fizeram isso-corrigiu ele. Todos os cientistas morreram quando Atlântida caiu, só suas cobaias, aqueles pacientes que tinham recebido os nanos, sobreviveram. Nenhum deles era do campo da ciência ou médico, por isso não tinham mais como conseguir suas transfusões. Arrastaram-se para fora das ruínas de Atlântida para se unir a um mundo muito menos desenvolvido que Atlântida. Sem as transfusões, muitos deles morreram, mas em outros, os nanos forçaram uma espécie de evolução que deu a seus anfitriões presas para obter o sangue que os nanos necessitam para continuar com seu trabalho e assegurar a sobrevivência de seus anfitriões.

-Presas e o que mais? -perguntou Valerie, lembrando quão forte e rápido tinham sido seu sequestrador e Igor. E as outras mulheres tinham certeza de que eles podiam ler suas mentes.

-Presas, força, velocidade, melhor visão noturna... Ele se encolheu de ombros. -Algo que os fizesse melhores predadores para obter o que necessitavam.

-Coisas como ler a mente? -perguntou ela secamente.

Quando Anders assentiu, Valerie amaldiçoou e tentou se levantar de novo.

-Você prometeu -repetiu ele, agarrando sua mão tão rapidamente que o movimento da própria mão foi só um borrão para ela.

-Sinto muito. Sei que prometi. Mas não estou muito confortável sabendo que pode ler meus pensamentos, e eu...

-Não posso -disse Anders firmemente.

Valerie hesitou e o olhou estritamente.

-Acaba de admitir que uma das habilidades que os nanos lhes deram era ler a mente.

-E é-reconheceu. -Mas não posso ler sua mente.

Ela franziu o cenho agora.

-Por que? Essa habilidade saltou uma geração ou algo assim?

-Não -disse Anders com um leve sorriso. -Sou capaz de ler a maioria dos mortais, e até a maioria dos imortais mais jovens que eu.

-Então, por que não é capaz de me ler? -perguntou ela suspicazmente.

Anders engoliu em seco e depois disse, -Porque você é minha companheira de vida.

Valerie o olhou inexpresivamente quando essa palavra a golpeou de novo. Seus pais tinham sido companheiros de vida. Leigh era companheira de vida do Lucian... e ela era a sua?

-O que é um companheiro de vida?

-Se quiser se sentar, lhe explicarei -disse Anders tranquilamente.

Valerie se sentou. Não podia fazer outra coisa. Tinha que saber o que era um companheiro de vida. Suspeitava que era importante. Vital, inclusive. Apenas não sabia porque.

-Ler a mente é uma das habilidades que evoluíram através dos nanos. Os imortais podem ler à maioria de imortais mais jovens que eles, e em certas ocasiões até imortais mais velhos que eles. Mas podem ler a todos os mortais, a menos que estejam doentes mentalmente ou que sofram algum tipo de doença, como um tumor, que poderia bloquear a parte do cérebro onde se processam os pensamentos.

-Não estou louca -negou Valerie, os olhos muito abertos.

-Não, é claro que não -disse ele rapidamente.

-Então tenho um tumor? -perguntou ela com horror. A notícia era devastadora.

Querido Deus, só tinha trinta. Muito jovem para...

-Respire -repetiu Anders, tomando suas mãos e as esfregando entre as suas. -Não tem um tumor, Valerie. Isso não é o motivo pelo qual não posso te ler. Leigh, Lucian, e, infernos, cada um dos que lhe conheceram, foram capazes de ler seus pensamentos como um livro. Não está doente.

-OH, bom. Valerie deixou escapar o fôlego em um suspiro e depois franziu o cenho.

Realmente não era tão bom. Apesar de se alegrar de não estar doente, era muito inquietante pensar que todos os que a tinham conhecido desde que despertou na casa de Leigh e Lucian tinham sido capazes de ler sua mente. Empurrando essa preocupação por agora, ela perguntou, -Por que não pode ler minha mente?

-Porque você é minha...

-Companheira de vida -terminou ela por ele, recordando sua expressão anterior.


-Sim. E um companheiro de vida é uma pessoa, mortal ou imortal, que um imortal não pode ler nem controlar, e que não pode nos ler ou controlar.

-E isso os faz um companheiro de vida? -perguntou Valerie com incerteza.

Anders assentiu.

-É um presente muito especial para nós. Com o resto do mundo, temos que vigiar constantemente nossas mentes para evitar que nossos pensamentos possam ser lidos, o que pode ser exaustivo. É isso, ou nos limitar a uma existência solitária. Fez uma pausa e depois disse, -Mas com um companheiro de vida não temos que fazer isso.

Podemos baixar nossa guarda a seu redor, e só desfrutar da companhia do outro sem o temor de que vão ler nossos pensamentos.

-E eu sou isso para você?

-Sim, é-assegurou Anders como se fosse algo bom.

Valerie franziu o cenho. Ser um tranquilo refúgio não soava tão sexy ou emocionante. E simplesmente não via como a paixão que estalava entre eles cada vez que se tocavam ou beijavam poderia ser pacífica. Ele experimentou essa paixão também, não? Ela pensava que sim, e então havia...

-Eu não acredito que sejamos companheiros de vida.

Anders se esticou.

-Não acredita?

Valerie negou com a cabeça, realmente lamentando ter que desiludi-lo.

-Sinto muito, mas quando estávamos... er... antes em meu quarto quando... er... toquei você-fez uma careta, mas continuou. -Acho que na verdade poderia ter lido sua mente. Quando te toquei isso enviou uma onda de prazer físico através de mim que, bom, deve ter sido o seu e que eu estava recebendo e lendo. Quero dizer que embora desfrute e queira te tocar, não deveria experimentar realmente a excitação que você sente.

Para sua surpresa, em lugar de parecer devastado, Anders relaxou, com um lento sorriso cruzando sua cara.

-Isso se chama prazer compartilhado.

-Isso? -perguntou ela duvidosamente.

-Sim. É um sinal dos companheiros de vida. Quando se tocam, compartilham e experimentam o prazer do outro.

-OH -disse Valerie fracamente. Companheiros de vida. As palavras ressonava em sua cabeça.

-Esse prazer compartilhado é algo que você não experimentará com ninguém que não seja um companheiro de vida -disse ele em voz baixa. -E é... bastante excitante. É a razão pela qual ambos perdemos a consciência.

-Você desmaiou também? -perguntou Valerie com surpresa. Ela tinha assumido que só ela havia desmaiado. Ele sempre parecia acordado e bem quando ela despertava.

Anders assentiu.

-Sim. Perdi a conciência ambas as vezes também. Mas acordei antes que você.

-Hmmm. Valerie ficou em silêncio. Ela estava classificando tudo o que tinha aprendido, tentando pensar o que perguntar. Sabia que havia coisas que não tinham sido ditas e que se perguntaria mais tarde. Por exemplo... . -Então, você não está morto?

Ele sorriu levemente.

-Não. Só velho.

-Ah, sim -murmurou ela, sacudindo a cabeça. Ele nasceu em 1357? O homem era velho. Mas parecia condenadamente bom para ser um ancião, e não estava morto, então pelo visto ainda tinha uma alma. Uma velha, mas mesmo assim uma alma.

Valerie não tinha ido à igreja desde que seus pais tinham sido tirados dela, mas ainda estava contente de não estar saindo do caminho por se relacionar com alguns chupasangues sem alma. Certamente um chupasangue com alma era melhor que um chupasangue sem uma, não é verdade?

-E não morde os mortais para conseguir o sangue que precisa? -perguntou ela, com os olhos entrecerrados.

-Não mais. Estamos restritos a sangue empacotado agora - assegurou ele.

-Não mais? -perguntou Valerie, conseguindo não estremecer. -Mas o fez no passado?

Anders se encolheu de ombros, desculpando-se.

-Os bancos de sangue só passaram a existir a partir do século XX. Antes disso, todos estávamos forçados a nos alimentar do gado.

-Do gado? -repetiu ela com incredulidade. -Sério? Vocês o chamam assim?


Ele levantou as mãos em um gesto de impotência.

-Eu não inventei o termo. Todos acabamos usando-o.

Valerie rodou os olhos e negou com a cabeça.

-Bem.

-Minhas desculpas -disse Anders solenemente. -Tentarei lembrar de não usar o termo diante de você outra vez.

-Hmm -murmurou, só ligeiramente apaziguada. Do gado? Como se fossem vacas ou algo assim, o que supôs que eram para sua espécie. A idéia era um pouco áspera.

Valerie o olhou em silêncio durante um momento e então perguntou o que realmente queria saber, -O que significa exatamente que eu seja sua companheira de vida?

Anders a olhou sem compreender, e depois disse, -Já lhe disse isso, um companheiro de vida é um tesouro raro e precioso. É alguém com quem um imortal pode viver feliz e em paz.

-Sim, mas... - Valerie hesitou, um pouco frustrada em sua tentativa de verbalizar o que queria saber. Finalmente, apenas perguntou, -O que quer de mim, Anders?

-Você-disse simplesmente, e se estirou para tomar suas mãos brandamente entre as suas. -Sei que suas experiências nessa casa foram horríveis e traumatizantes, e o mais provável é que a voltaram contra minha espécie, Valerie. Mas queria te lembrar que há maldade e pessoas ruins entre os mortais também. Nem todos os imortais são como o que te atacou e te tirou da rua naquela noite, te mantendo em uma jaula para se alimentar.

Valerie o olhou em silêncio, as lembranças da casa correndo através de sua cabeça.

Foram seguidas rapidamente pelas lembranças que tinha feito com este homem. A viagem a Cambridge, a piscina, o passeio, comidas compartilhadas, cozinhar juntos, a paixão arrebatadora, despertar em seus braços... Por estranho que parecesse, o horror e o trauma da casa tinham empalidecido um pouco ao lado da vitalidade das lembranças que tinha começado a fazer com Anders. Eram como fotos antigas junto a fotos novas e modernas, havia cor.

Anders continuou.

-E também sei que como mortal está mais acostumada a um namoro longo e lento antes de tomar uma decisão tão importante. Mas para mim espécie é diferente. Um companheiro de vida é um presente para nós e saber que não podemos lê-los ou controlá-los, que compartilhamos o prazer, e que nossos outros apetites estão retornando é suficiente em nossas mentes para nos dizer que esta pessoa é com quem estamos destinados ficar. Que esta pessoa é a que mais nos convém em todos os sentidos. Portanto, o que quero é passar o resto de minha muito longa vida com você a meu lado e em minha cama. E se estiver de acordo nisso, prometo que nunca te machucarei ou te farei mal. Preferiria me machucar antes disso. Apertou seus dedos brandamente. -Daria minha vida por você, Valerie. Porque tendo experimentado a vitalidade e provado o sabor da vida com você, retornar à aborrecida existência fria que tinha antes de você é insuportável inclusive de considerar.

Anders olhou solenemente em seus grandes olhos enquanto dizia isso, e depois soltou suas mãos, inclinando-se para trás, e adicionou, -Entretanto, sei que é possível que precise de mais tempo para tomar uma decisão a respeito de se está disposta a ser minha companheira de vida. E essa é a verdadeira razão pela qual foi levada à casa de Leigh e Lucian. Foi para te dar a oportunidade de me conhecer, para ver se podia aceitar ser minha companheira de vida.

-E se não puder? -perguntou Valerie em voz baixa.

-Então suas lembranças serão apagadas como as das outras mulheres e também será devolvida a sua vida para vivê-la como escolher, sem suas experiências te atormentando.

Valerie o olhou fixamente. Nesse momento, não sabia o que queria. Ou talvez sim, mas tinha medo de admitir. Queria este homem. Tudo o que tinha que fazer era olhar para ele e começava a salivar como um dos cães de Pavlov. Inclusive nesse momento queria saltar sobre ele, rasgar sua roupa e experimentar algo mais desse alucinante prazer compartilhado que a fez desmaiar. Sério, era como uma drogada desejando uma dose, nesse sentido. Então o fator luxúria estava ali. Mas também gostava dele.

Até o momento, Anders tinha demonstrado ser atento e considerado e um homem que prestava atenção aos detalhes. Ele tinha programado seu despertador para se levantar apenas umas horas depois de ir dormir para desligar o alarme e permitir que ela pudesse deixar Roxy sair. Quando ela tinha comentado que precisava de sacolas para dejetos de cães, ele tinha saído e comprado para ela sem que pedisse isso. Ele sempre foi procurar seu café, ou preenchia seu copo nas refeições... Ele escutava o que ela dizia e estava atento a suas necessidades. Às necessidades de Roxy também. E na hora de comer, não cruzava os braços esperando ser atendido, como fazia seu ex, Larry, mas ajudavar a cozinhar e a pôr a mesa, etc.

Além disso, era inteligente, e parecia ter um bom senso de humor. Ela tinha percebido que ele não falava muito na presença de outros, mas ele podia dizer mais arqueando uma sobrancelha e curvando os lábios do que Bricker poderia dizer em uma hora de brincadeiras e balbuceio e pelo que ela podia dizer, suas opiniões e pensamentos pareciam alinhar-se com os seus. Enquanto conversavam com Dani, Decker, Leigh e Lucian na outra noite, encontrou-se assentindo frequentemente a algo que um dos outros disse, e lhe olhou para lhe ver assentir também. E mais de uma vez tinha ouvido suas próprias palavras saindo de sua boca, nas opiniões que tinha manifestado no passado a outros, de maneira concisa verbalizadas por ele.

Tudo isso foi suficiente para tentá-la a mandar a precaução para o espaço, saltar com ambos os pés e concordar em ser sua companheira de vida. Entretanto, não podia simplesmente saltar para algo assim. Pelo que podia perceber, aceitar ser sua companheira de vida era equivalente a aceitar se casar com o homem, e ninguém consideraria tomar uma decisão tão importante, depois de conhecer alguém a menos de uns poucos dias. Tinha que conhecer a outra pessoa, aprender como levava a vida dia a dia, como reagia em uma crise, caso estivesse de mau humor se era difícil de conviver, ou tolerante tratando com a vida de frente. Era a coisa mais inteligente a fazer.

Anders havia dito que tinha tempo, recordou Valerie. Suspeitava que não era muito tempo, mas usaria o que pudesse e tentaria ser mais racional a respeito de tudo isto do que seus instintos urgiam que fosse. Se não por outra razão, porque suspeitava que não tinha assimilado tudo ainda do que lhe havia dito. Do contrário, Valerie suspeitava que não estaria tão tranquila. O homem estava dizendo que os vampiros existiam, ou os imortais, como ele os chamou. Sem falar em Atlântida e alma, tinham presas e chupavam sangue, o que era um vampiro. E segundo ele, o chefe de Igor, e provavelmente o próprio Igor, eram vampiros, como as outras mulheres tinham sugerido em sussurros naquele porão escuro. Também havia dito que ele era um, embora um bom, e que queria passar sua longa vida com ela...

Mas não tinha havido nenhuma menção de amor. Não é que devesse haver, pensou rapidamente. Não se conheciam o suficiente para amar um ao outro. Entretanto, quando as pessoa falam de sempre, o amor é uma palavra que geralmente se inclui.

Então desejava que ele tivesse mencionado o amor, ou não?

Suspirando, Valerie se esfregou o rosto, tentando esclarecer seus pensamentos. Eram um pouco confusos neste momento, mas suspeitava que não deveria estar tão tranquila como se sentia neste momento. Mas em vez de estar aterrorizada, se perguntava se o fato de ele estar lhe dando tempo para se decidir significava não usufruir mais dessa maravilhosa paixão que tinham compartilhado até agora, porque, maldição, poderia utilizar um pouco dela neste momento. De fato, queria se afogar nela de novo, e suspeitava que parte disso era o desejo de não ter que pensar em tudo neste momento.

Estendendo a mão, Valerie tomou uma de suas mãos entre as suas e passou seus dedos brandamente sobre ela, depois a levou a sua boca e a beijou, primeiro o dorso e depois a palma. Deslizou a língua e a passou entre seus dedos indicadores e médio, reprimindo um sorriso quando um calafrio de prazer foi à deriva através dela. Desta vez não a deteve, mas se manteve completamente imóvel. Não havia necessidade para evitar que ela experimentasse o prazer compartilhado.

Levantando-se, Valerie caminhou ao redor da mesa até seu lado. Anders imediatamente inclinou a cabeça para trás para olhá-la e ela levantou a mão livre para passar os dedos brandamente por sua garganta, depois se inclinou para pressionar seus lábios contra os seus. Foi então quando pôs fim a sua calma. Com os dedos apertando ao redor dos seus, Anders se voltou em seu assento e a atraiu para frente entre suas pernas enquanto começava a beijá-la de volta.

Valerie suspirou em sua boca, e lhe acariciou o peito. Ao chegar a ela, desta vez foi Valerie quem apanhou suas mãos e o deteve.

-Minha vez-murmurou contra sua boca e o empurrou. Ela tinha conseguido uma breve amostra desse assunto de “experimentar o prazer do outro” anteriormente essa manhã, mas queria experimentá-lo de forma adequada, sem que ele a detivesse.

As cadeiras altas deixaram Anders na altura certa para que Valerie pudesse deslizar suas mãos debaixo de sua camiseta e empurrá-la até despir a carne firme de baixo.

Pequenos tremores de prazer dispararam através dela enquanto o acariciava, apertando seus peitorais antes de percorrer seu ventre. Mas quando Valerie deixou cair uma mão para embalar através de sua calça jeans, quase gritou pela descarga de prazer que se disparou através dela.

Maldição. Ela gostava disso, pensou, e continuou acariciando-o através do grosso tecido, sentindo ao mesmo tempo o prazer e a forma como se endurecia sob seu toque. A combinação era como um mapa de estrada, lhe dizendo exatamente onde e como acariciá-lo, e a quantidade de pressão a aplicar. Isso o fazia a amante perfeita, percebeu, e o fazia o amante perfeito também.

Então, tocá-lo através de sua roupa não era suficiente, e Valerie voltou sua atenção a abrir rapidamente o cinto e o botão de seu jeans. O zíper foi o seguinte. Deslizou-se com facilidade, lhe permitindo deslizar sua mão dentro de seu jeans e sua cueca boxer e encontrar a dureza quente para acariciar.

Seu primeiro contato fez a ambos ofegar quando seu corpo reagiu. Valerie sentiu seu estômago ondular com prazer, mas seu próprio estômago estava fazendo o mesmo, saltando sob a pele pela excitação.

-Valerie. A voz de Anders foi um roce de som.

Sua resposta foi cair sobre seus joelhos e levá-lo a sua boca. Ela esteve condenadamente perto de mordê-lo pela sensação que foi enviada através de seu corpo, mas se conteve no último momento.

Uau, este prazer compartilhado sacode, pensou Valerie enquanto deslizava sua língua ao redor da ponta e começava a mover sua boca ao longo de seu eixo. O prazer de Anders era seu prazer enquanto trabalhava, a excitação rodando sobre ela em ondas e centrando-se em seu núcleo, onde ficou molhada. Estava tão absorta no que estava fazendo e nas sensações que estava causando, que Valerie foi tomada completamente de surpresa quando Anders repentinamente a agarrou por debaixo dos braços e a levantou.

Ela na verdade grunhiu com frustração ao se ver obrigada a parar, mas depois Anders cobriu sua boca com a sua e começou a rasgar sua roupa. Não o fazia com tanto cuidado. Valerie ouviu o tecido se rasgando, mas não lhe importava. Simplesmente o ajudou a despir a si mesma e depois a ele, apesar de que só lhe permitiu levantar sua camiseta pela cabeça. Quando ela chegou a sua calça, afastou-lhe as mãos, empurrou-a fora de seus quadris, levantou-a sobre a mesa e se colocou entre suas pernas.

-Cristo -grunhiu Anders contra sua boca enquanto se deslizava nela. Fez uma pausa então e olhou brevemente ao redor.

-O que? -ofegou ela, lhe cravando os dedos no traseiro para insisti-lo a se mover.


Anders negou com a cabeça, e então a levantou da mesa e baixou os dois ao chão.

Valerie sentiu o ladrilho frio pressionando em suas costas e quase protestou, mas então lembrou do desmaio que seguiria o prazer. Ficar no chão era provavelmente melhor, reconheceu e não lhe importou quando ele começou a se mover.


Capítulo 14

Valerie franziu o cenho ante o armário vazio que acabava de abrir em busca de um copo de água, e lhe perguntou, -Por que não tem nenhum prato ou comida aqui? Você come.

-Comer é um fenômeno muito recente para mim -disse Anders silenciosamente enquanto puxava sua camiseta sobre sua cabeça. -Comi durante os primeiros cem ou duzentos anos, mas a comida perdeu o interesse para mim depois disso. Assim como o sexo e muitas outras coisas. Sua chegada a minha vida tornou a despertar os velhos apetites, entretanto -admitiu. -Isso, aliás, é outro sinal de um companheiro de vida.

-OH. Sua mente tentou considerar o fato de que era sua companheira de vida, mas Valerie não estava preparada para isso e afastou o pensamento. Ao fechar a porta, voltou-se para ele e comentou, -Suponho que isso explica porque nunca tomou um capp sorvete.

-Sim. Ele sorriu fracamente. -São muito bons. Tudo o que provei até agora foi bom.

Valerie o olhou em silêncio. Ele esfregava o estômago e lambia seus lábios. Ela suspeitava que eram ações subconscientes das quais não estava ciente, mas a fez lhe perguntar um pouco nervosa, -Quando foi a última vez que tomou sangue?

Anders piscou, mas respondeu, -Esta manhã. Estarei bem por um tempo. Mas estou faminto de comida. Nunca paramos para tomar o café da manhã-almoço.

As sobrancelhas de Valerie se elevaram. Seu estômago estava roendo desde que saíram da livraria. Tinha assumido que era apenas um sintoma da ansiedade e do medo, mas a maior parte de seu medo se dissipou agora, e as espetadas se mantinham. Fome, reconheceu.

-Tenho certeza de que tem muitas perguntas -disse Anders em voz baixa. -Mas, sente-se o suficientemente segura comigo para ir tomar o café da manhã-almoço que tínhamos planejado, e depois ir ao supermercado?

-É uma brincadeira, certo? -perguntou ela com incredulidade.

Ele se viu inseguro.

-Não.

-Caramba -murmurou Valerie, e assinalou, -Acabo de acordar por desmaiar depois de saltar sobre você. Acho que isso pode ser considerado que me sinto bastante segura a seu redor.

-OH. Anders sorriu, mas depois disse, -Bom, uma coisa não implica necessariamente na outra. O prazer compartilhado é bastante viciante. Poderia não ter sido capaz de evitá-lo.

-Devido a sua habilidade superior como amante? -brincou ao recordar suas palavras dessa manhã em seu quarto.

-Exatamente -disse e se aproximou para puxá-la contra seu peito com um sorriso.

-OH, não -disse Valerie, esquivando o beijo com o qual tentou agraciá-la. -Isto nos levará de volta a nos despir, o que é impressionante, mas preciso de comida. Meu estômago me está matando.

A preocupação cruzou o rosto de Anders.

-Sinto muito. Deveria ter percebido. Venha. Iremos imediatamente.

Valerie sorriu torcidamente quando ele a impulsionou para a porta. Gostava de seu carinho e preocupação. Poderia me acostumar a isso, pensou enquanto se dirigiam à caminhonete e entravam.

Pararam literalmente no primeiro restaurante que viram. Era um pequeno restaurante no meio do nada com bancos e uma garçonete mal-humorada, mas a comida era realmente incrível. Valerie e Anders conversaram amigavelmente enquanto comiam, mas se mantiveram afastados do tema de seu sequestro e suas origens totalmente.

Alegrava-se de que tivessem feito isso. Permitiu-lhe fingir que eram apenas um casal normal tomando um café da manhã... bom, um café da manhã muito tardio, supôs, já que era uma da tarde.

Não falaram de nada relacionado com imortais até que caminhavam de volta à caminhonete e então foi Valerie que trouxe o assunto à tona, perguntando, -Então, posso considerar que todo este assunto sobre cruzes e luz solar machucando os vampiros é mentira?

-As cruzes não têm nenhum efeito sobre nós e podemos entrar nas Igrejas – assegurou ele. -Entretanto, a luz solar é algo que em geral tentamos evitar.

-Por que? -perguntou ela com o cenho franzido, o olhar se deslizando para o céu ensolarado sob o qual caminhavam e depois a seus braços nus. -Dói quando a luz do sol toca sua pele ou algo assim?

-Não. Se o fizesse não estaria caminhando nela neste momento. Mas a luz do sol faz mal ao corpo humano, tanto ao meu como ao seu. A diferença é que os nanos reparam o dano que minha pele tem, o que significa que necessitam de mais sangue.

Rapidamente aprendemos a evitar tudo o que faz mal para reduzir a quantidade de sangue que precisamos -explicou Anders, caminhando ao redor dela para seu lado da caminhonete. Olhou-a, beijou-a no nariz, fechou a porta e caminhou ao redor para entrar em seu lado, antes de acrescentar, -Quanto mais sangue, mais frequentemente temos que nos alimentar, e há mais risco de ser descoberto. Por isso evitamos habitualmente o sol.

-Mas ao utilizar o sangue dos bancos de sangue agora podem sair de novo -

adivinhou enquanto ele ligava o motor.

-É verdade que podemos -concordou Anders enquanto saía do estacionamento. -Mas tentamos evitar o aumento desnecessário da demanda nos bancos de sangue. A maioria de nós não passa muito tempo no sol. Caminhar a pé e de carro é uma coisa, mas um imortal nunca tomará sol.

-Mas Leigh e até você estavam nadando na piscina em pleno sol -recordou Valerie com o cenho franzido.

-Lucian tem um toldo especial instalado sobre ela para que ele e Leigh possam nadar durante o dia.

-Aquilo ali é um toldo? -perguntou Valerie com um bufo enquanto lembrava do vidro diferenciado sobre a piscina.

-Pode não parecer muito, mas enquanto deixa passar a luz, bloqueia os raios nocivos-assegurou Anders.

-Sério? -perguntou com interesse.

Ele assentiu.

-A maioria dos imortais têm suas janelas tratadas com um revestimento similar. De fato, as janelas desta caminhonete são tratadas assim. Anders lhe sorriu. -Já não temos que viver na escuridão.

-OH. Valerie se encontrou examinando as janelas agora. Pareciam janelas normais com uma película desse material contra os efeitos nocivos do sol. Embora seja bom saber que também estou evitando os raios UV, pensou, e então perguntou, -Então todos dormem durante o dia por hábito? Quero dizer, percebi que Leigh e Lucian tendem a dormir até tarde, e suponho que também o faria se não tivesse que estar comigo.

Anders hesitou e depois disse, -Alguns imortais seguem as horas comerciais. Os que têm postos de trabalho onde têm que interagir com os mortais têm que trabalhar nos horários mortais. Mas mesmo assim evitam a luz do sol tanto quanto possível com janelas tratadas, estacionamentos subterrâneos e todo o resto.

-E os outros? -perguntou. -Como você. Se caças vampiros maus, não interage muito com os mortais.

Anders entrecerrou os olhos e inclinou a cabeça de lado a lado brevemente.

-Isso não é totalmente correto. Realmente interagimos com os mortais, você mesma e as outras mulheres são um exemplo disso. Mas também temos que interrogar os mortais quando se caça um renegado. Para tentar encontrar seu sequestrador, temos caçadores interrogando pessoas nas lojas de animais de toda a área metropolitana de Toronto, perguntando se por acaso alguém comprou três ou mais jaulas de cães grandes.

Ela assentiu e disse, -Então tem que ter gente trabalhando durante o dia.

-Sim, mas há mais Executores no turno de noite que no turno do dia -disse Anders.

-A maioria dos renegados se voltam para a versão de Stoker dos vampiros, se alimentando do gado, espreitando na noite... Alguns até transformam um grande número de mortais para ter um pequeno exército de seguidores que os adore.

-Encantador -disse Valerie secamente, e depois perguntou, -Mas você prefere trabalhar a noite?

Anders se encolheu de ombros.

-Não há muita diferença para mim. Eu trabalho quando sou necessário e fui muito necessário ultimamente.

-Bem, estiveram com de pessoal -murmurou, recordando Bricker dizer que os novos recrutas tinham chegado porque seus caçadores continuavam caindo como moscas. A lembrança a fez morder o lábio com preocupação. -Suponho que caçar estes renegados é perigoso.

-Pode ser-disse encolhendo-se de ombros enquanto desligava o motor. Depois sorriu e se desabotoou o cinto de segurança. -Já chegamos.

Valerie olhou pela janela para ver que tinham chegado a uma loja de comida.


-Leigh te mandou uma lista do que queria, além de pão e leite?

-Esqueci de olhar-admitiu Anders e tirou seu telefone. Era um iPhone; olhou enquanto ele começava a percorrer seus dedos sobre a tela e operar o aparelho.

-Caramba.

-O que? -perguntou Valerie, inclinando-se para ele para tentar ver o que tinha provocado o som consternado. Anders virou o telefone para seu rosto e ela o olhou sem compreender. Lentamente percebeu que estava olhando um texto de Leigh. Um texto de uma lista de compras. Uma longa lista de compras, notou, aproximando-se para percorrer um dedo sobre a tela e encontrar o final da mesma. Caramba, a mulher tinha mandado ao menos cinquenta itens. Supôs que as compras de Leigh tinham sido um pouco restringidas com Lucian atuando de forma tão super protetora.

Provavelmente ele não deixava que saísse de casa e se limitava a comprar algumas coisas por si mesmo aqui e ali a caminho de casa. Valerie tinha notado que os armários e a geladeira não tinham quase nada.

Dando uma suave risada, alcançou a porta.

-Acho que será melhor começarmos.

-Meu deus, pensei que nunca íamos sair daí -disse Anders resmungando, abrindo a parte traseira da caminhonete para iniciar a transferência das sacolas de compras de seu carrinho.

Valerie sorriu ante sua exasperação.


-Foi bastante ruim, mas já vi piores. Deveria ver as lojas no Natal.

-Quer dizer que isso não foi o pior? -perguntou com incredulidade, pegando as sacolas do carrinho e as colocando na parte traseira da caminhonete. -Parecia que havia meia dúzia de compradores em cada corredor que percorremos, e cada um parecia ficar feliz em bloquear o corredor com seus carrinhos. Ninguém tem o bom senso de deixar espaço para as pessoas manobrarem ao redor deles? E que diabos Leigh vai fazer com toda esta comida?

Valerie se pôs a rir de suas queixas enquanto ajudava a guardar as sacolas. Sua diversão era sobretudo porque podia se compadecer. Tinham chegado com a multidão da última hora da tarde, que parecia ser composta por pessoas que não tinham nada melhor para fazer que ficar de pé conversando. Não tinha ajudado o fato de que nenhum deles estava familiarizado com as instalações desta loja em particular e que Leigh não tinha catalogado seus artigos de alimentação, de modo que tiveram que ir e voltar na loja várias vezes para conseguir todos os itens da lista.

-Sinto muito-murmurou Anders, vendo-se aborrecido. -Estou me queixando muito.

-Não se desculpe comigo -disse com diversão. -Queria socar a anciã com o cabelo pintado de azul e laranja. Acho que deliberadamente nos bloqueava cada vez que nos encontrávamos com ela.

-O que foi pelo menos cinco vezes. Juro que se tivéssemos que voltar ao corredor dos latocínios outra vez... Não terminou o pensamento, e Valerie sorriu. Tiveram que visitar o corredor dos laticínios para pegar leite, manteiga, queijo, iogurte e ovos, e cada item tinha sido separado por carne, produtos de padaria, produtos enlatados e verduras entre um e outro. Leigh tinha enumerado os mantimentos pelas comidas que viriam deles. A lista seguia com ovos, pão, toucinho, batatas, manteiga, carne, tomate, etc. Muito inconveniente, sobre tudo porque só cinco artigos se mostravam na pequena tela ao esmo tempo e tiveram que descer pela lista item por item para se assegurar de que não tinham esquecido nada.

-Bom, ao menos terminou-assinalou Valerie com um sorriso. -E conseguimos contribuir, assim não tenho que me sentir mal com Leigh e Lucian nos mantendo.

Dividiram a conta, cada um pagou a metade. Valerie quis pagar tudo ela mesma, mas Anders pensou da mesma forma quanto a ele, por isso, no final, resolveram dividir a conta. Gostava do fato de que ele concordou em vez de ser teimoso e machista a respeito de pagar a conta.

-Sabe, agora que sabe sobre nós, não há nenhuma razão pela qual tenhamos que permanecer com Leigh e Lucian -disse Anders tranquilamente enquanto deixava as últimas sacolas na caminhonete. Voltando-se para ela, adicionou, -Lucian originalmente sugeriu isso para que pudesse me conhecer. Me colocar como seu guarda-costas e que não pudesse voltar para casa era só sua tentativa de me dar essa oportunidade. Mas agora que sabe sobre nós, poderíamos ficar em minha casa. Me conhecerá melhor ali, sem outros ao redor para nos distrair.

Valerie não respondeu no começo. Tinha uma sensação um pouco alarmante. Estava sugerindo que vivesse com ele. Caramba, nem sequer tinham tido um encontro ainda.

OH, espere, talvez o café da manhã pudesse ser considerado um encontro.

Entretanto, era apenas um.

Por outro lado, ficar em sua casa traria algumas vantagens. Por exemplo, não teriam que se preocupar com ser afligidos por esse assunto do prazer compartilhado e fazer algo tão estúpido como ter sexo e desmaiar sobre o sofá da sala, onde qualquer um poderia tê-los visto. Não é que tivessem feito o amor dessa vez, reconheceu.

Entretanto, bem que poderiam fazê-lo, e sem dúvida o fariam no futuro, o que poderia dar lugar a situações embaraçosas.

-Não tem que decidir neste momento -disse Anders, fechando a porta da caminhonete. -Só pense nisso.

Assentindo, Valerie pegou o carrinho de compras e começou a levá-lo de volta.

-Eu levo para dentro-disse Anders, movendo-se a seu lado. -Vá em frente e entre no carro.

-Não preciso colocá-lo lá dentro-disse Valerie. -Simplesmente colocarei ali. Vá e ligue o motor e o ar condicionado. Eu já volto.

Ele jogou deu olhada à parede de carrinhos para a qual ela gesticulou e franziu o cenho. Ela sabia que ele queria protestar, mas saiu correndo sem lhe dar a oportunidade.

Valerie podia sentir que a olhava e suspeitava que não entraria na caminhonete até que ela voltasse. Sorrindo ligeiramente ante sua conduta cortês, chegou à parede quando um loiro platinado alto o fez com seu próprio carrinho. Valerie foi mais devagar para lhe permitir que guardasse o seu primeiro carro. Entretanto, ele também se deteve e lhe fez um gesto para os carros alinhados.

-Vá em frente-disse com um amplo sorriso.

-Obrigada. Valerie lhe devolveu o sorriso enquanto empurrava de novo para diante e enganchava seu carrinho no extremo de outro. Voltando-se, assentiu para o homem, oferecendo outro sorriso ao passar. Suspeitava que tinha passado por ele uma dúzia de vezes na loja, durante suas andanças daqui para lá. Parecia vagamente familiar, e seu sorriso era quase bajulador, o que era algo que Anders parecia ter notado, a julgar pelo cenho em seu rosto. Deus, Anders parece quase ciumento, pensou Valerie, seu sorriso sem querer se alargou ao passar ao homem, o que fez com que o sorriso dele se alargasse em resposta.

Tudo isto a fez se sentir condenadamente bem e caminhou diretamente para Anders, sorriu e ficou nas pontas dos pés para lhe dar um beijo na bochecha.

-Sorria. A vida é boa -disse à ligeira antes de se dirigir à porta do passageiro.

-Descarada -murmurou Anders, abrindo a porta antes que ela pudesse.

Sorrindo abertamente, Valerie subiu a seu assento. Agarrou seu cinto de segurança, e depois levou um susto quando Anders se inclinou com o rosto repentinamente diante dela.

-Isso não foi um beijo -lhe informou quando ela o olhou com os olhos abertos ampliamente. -Isto é.

Sua boca cobriu a sua, sua língua movendo-se de maneira agressiva para insistir a seus lábios a abrirem. Valerie gemeu quando agitou a paixão que parecia descansar bem debaixo da superfície nela. Tudo o que este homem tinha que fazer era olhá-la e seu corpo parecia despertar e se desdobrar como uma flor que se abre sob o sol.

Tocando-a ou beijando-a, entretanto, trazia uma onda de calor e necessidade nela, e instintivamente se aproximou dele, com uma mão levantada para acariciar a parte posterior de seu pescoço e a outra movendo-se para embalar-se entre suas pernas.

Anders grunhiu em sua boca, a emoção e a necessidade disparando-se através de seu corpo para se mesclar com a sua. Mas então ele afastou sua boca da dela e saiu bruscamente, rompendo todo contato.

-Para casa -disse, com sua voz rouca.

Valerie o olhou sem compreender durante um momento, depois olhou a seu redor e lembrou que estavam em um estacionamento lotado. Deixando escapar o fôlego em um suspiro, deixou-se cair em seu assento enquanto fechava a porta e se sentou ali respirando profundamente, tentando recuperar certa aparência de calma enquanto ele caminhava ao redor e entrava no lado do motorista.

Nenhum dos dois falou no caminho para casa. Valerie estava muito ocupada tentando manter o controle de si mesma. Todo seu corpo estava gritando pela necessidade, cada terminação nervosa sensível, e sua mente pediam apenas por uma coisa...

Anders.

Meu Deus, realmente era como uma viciada nas drogas quando se tratava dele, reconheceu Valerie com preocupação. Não podia conseguir o suficiente dele e não importava onde se encontravam. Enquanto estavam na loja de comidas brilhantemente iluminada e completamente pouco romântica, tinha o observado, desejando que a beijasse ou tocasse. Cada olhar, cada roce de sua mão ou corpo contra o dela, inclusive involuntário, tinha despertado sua fome. Era como ter uma besta em seu interior, apenas adormecida e despertando a menor provocação, mas que despertava completamente e faminta no momento em que a beijava. Ela quis se atirar em cima dele e obter o prazer que tinha despertado até que ambos estivessem felizmente inconscientes de novo. E não lhe importava em nada que estivessem em um estacionamento público.

Na verdade, talvez fosse mais exato dizer que se esqueceu de onde estavam. No momento em que sua boca cobriu a sua, a única coisa que existia eram eles dois em sua mente. Não havia espaço para nada mais em seu cérebro com toda a paixão enchendo-a.

Como diabos iam se arrumar com Leigh e Lucian desta maneira? Valerie queria acreditar que podia se controlar com outras pessoas por perto, mas não estava muito segura de que isso fosse verdade.

-Lucian ainda está em casa.

Valerie olhou a seu redor ante esse comentário e viu que cruzavam pelo caminho para a casa de Leigh e Lucian. Seu olhar se deslizou sobre a caminhonete estacionada em frente a casa e depois para a porta que se abria e dava passagem ao alto e loiro Lucian que saiu com Leigh bem atrás dele.

-Parecem simplesmente um casal jovem normal -sussurrou ela, olhando para Leigh andando como um pato ao lado de seu marido. Lucian olhou para baixo, ao que parece surpreso de que ela o tivesse seguido, e depois franziu o cenho e fez um gesto à casa quando disse algo que Leigh ignorou. Ordenando-a a voltar para dentro, sem dúvida, pensou Valerie com diversão.

-Não há nada normal em Lucian Argeneau -disse Anders com ironia quando parou diante do casal, e então adicionou a sério, -Mas são as mesmas pessoas que nos abriram sua casa e com as quais passou os últimos dois dias.

-Bom -disse Valerie, e sabia que era verdade. Não tinham saído se arrastando de caixões e colocado capas. Lucian tinha sua expressão geralmente severa, junto com calça jeans e uma camiseta que se estendia sobre seu peito musculoso, e Leigh era...

bom, Leigh. Usava um vestido de verão muito negro com grandes flores vermelhas nele que ajudam pouco a ocultar a protuberância de sua gravidez excessivamente grande. Também tinha um amplo sorriso de bem-vinda que era difícil de resistir.

Valerie se encontrou sorrindo de volta enquanto saía da caminhonete. Seu sorriso se converteu em uma careta de diversão, entretanto, quando Leigh gritou um alegre “olá” e foi rapidamente para a parte traseira da caminhonete.

-Entre e descanse, Leigh -grunhiu Lucian, tentando levá-la para longe do veículo quando Valerie os seguiu.

-Estou grávida, não discapacitada. Posso ajudar -protestou Leigh, sacudindo seu agarre quando Anders abriu as portas traseiras da caminhonete. Olhando as sacolas de compras, sorriu amplamente e esfregou as mãos como uma criança em frente a um caminhão carregado de presentes. Antes que os homens pudessem começar a descarregar, pegou a sacola mais próxima, tirou para fora e abriu para olhar ansiosamente dentro. -OH, olhe, Lucian. Bolo de café com limão. Isso não estava em minha lista.

-Não, mas Anders pensou que fosse bom -disse Valerie com diversão.

-E é-concordou Leigh, fechando a sacola para segurá-la em uma mão.

-Por que não leva para dentro e começa a fazer o café enquanto tiramos o resto?

-sugeriu Lucian esperançado. -Podemos ter uma fatia de bolo e café enquanto decidimos o que fazer para o jantar uma vez que tenhamos tudo desempacotado e guardado em seu lugar.

-Está bem -concordou ela alegremente e Lucian começou a relaxar, mas então franziu o cenho quando ela pegou mais duas sacolas para levar consigo.

-Mulher obstinada -murmurou Lucian enquanto olhava sua esposa se afastar.

Valerie sorriu enquanto se aproximava da caminhonete para pegar algumas sacolas, mas olhou a sua redor com surpresa quando Lucian disse de repente, -Então falou sobre nós. Ele estava falando com Anders e acrescentou, -Parece ter aceitado melhor do que esperava.

-Como sabe? -perguntou, entrecerrando os olhos. Quando ele simplesmente arqueou uma sobrancelha, Valerie lembrou que Anders lhe havia dito que os imortais podiam ler os mortais, e murmurou, -OH.

Lucian assentiu e depois se aproximou da caminhonete para pegar várias sacolas, acrescentando, -Mas não ficará alojada com Anders, então tire esse pensamento de sua cabeça.

-Decidiu ficar em minha casa? -perguntou Anders a Valerie com um sorriso torcido, obviamente feliz. Esse meio sorriso se desvaneceu, entretanto, quando se voltou para Lucian e anunciou em tom duro, -Ficará em minha casa se quiser, Lucian. Não há nenhuma razão pela qual não deva.

-Kathy desapareceu -disse Lucian com calma enquanto se afastava da caminhonete carregado com sacolas. -Acho que concordará que Valerie não deve ir a nenhuma parte até que saibamos onde está sua companheira de jaula.

Afastou-se então, levando as sacolas com comida para o interior da casa. Valerie ficou olhando com o cenho franzido. Kathy tinha desaparecido? Voltou-se para Anders. Tinha o cenho franzido também.

-Vamos -disse ele, pegando o resto das sacolas da parte traseira da caminhonete e batendo a porta para fechá-la. -Será melhor saber o que aconteceu.

Valerie assentiu e o seguiu para dentro, mas não se inteirou do que estava acontecendo no começo. Roxy estava esperando junto à porta, toda emocionada ante sua volta. Quando Valerie entrou, saudou-a e a levou a cozinha. Leigh estava tirando felizmente as comidas da sacola, surpreendida e maravilhada com cada item enquanto ela e Anders os guardavam em seu lugar. Lucian não estava à vista.

-Lucian está no escritório para atender uma ligação -disse Anders quando ela olhou em sua direção.

Valerie assentiu compreendendo e ajudou a guardar o resto dos mantimentos, sabendo que teriam que esperar a volta do homem antes de saber o que quis dizer a respeito do desaparecimento de Kathy. Depois de guardar o último item, ela e Anders reuniram pratos, garfos e cafés para todos e se uniram a Leigh no balcão, onde já estava cortando o bolo de café.

Lucian voltou quando Leigh punha a última parte de bolo em um prato para ele e anunciou abruptamente, -Kathy desapareceu em algum momento durante a noite.

-Quem a estava vigiando? -perguntou Anders.

-Nicholas e Jo.

-Nicholas é o sobrinho de Lucian e Jo é sua companheira de vida -disse Leigh em voz baixa a Valerie quando Lucian se sentou para comer vários pedaços de bolo.

-Nicholas era um Executor, depois foi considerado um renegado durante cinquenta anos. Todo mundo pensava que tinha matado uma mulher mortal, mas tudo isso foi esclarecido recentemente e está de volta na família de novo.

-E este Joe, é o companheiro de vida de Nicholas? -perguntou Valerie com interesse.

Vampiros gays. Quem teria imaginado?

-Jo é uma garota -disse Leigh com diversão. -Seu nome é Josephine. Embora haja companheiros de vida do mesmo sexo -acrescentou.

-Hmm -murmurou Valerie e depois voltou sua atenção aos homens quando Anders perguntou, -Como foi levada se eles a vigiavam?

-Supunha-se que somente a estavam vigiando para se assegurar de que não havia problemas com sua volta a sua vida. Podiam controlar e influir em qualquer pessoa com perguntas, esse tipo de coisas. Não esperávamos nenhum problema além disso, então não havia necessidade de estar muito perto quando estava sozinha em casa -

disse Lucian.

Anders assentiu com entendimento.

-Kathy alugou uma casa sozinha. Nicholas e Jo a seguiam ali ao final do dia e estacionavam em frente para observar. Era só uma salvaguarda, no caso de que ela fosse de noite a algum lugar e falasse com alguém que poderia ser um problema.

Portanto se instalaram e observaram a frente da casa.

-Ninguém estava olhando a parte de atrás -disse Anders solenemente.

-Não -concordou Lucian. Ele afastou seu prato e se levantou para pegar outro café enquanto continuava, -Bricker substituiu Nicholas e Jo esta manhã. Quando Kathy não tinha saiu até o meio-dia, pensou que estava dormindo como em uma manhã de sábado. Mas no meio da tarde começou a se preocupar, e entrou. A casa estava vazia, mas a janela do quarto estava aberta.

-O quarto estava na parte traseira da casa? -supôs Anders. Reunindo seu prato e o de Lucian, assim como seu próprio copo de café, e ficou de pé. Enxaguou os pratos e os pôs na máquina de lavar quando Lucian respondeu.

-Aparentemente dormiu em sua cama, então foi levada em algum momento depois de ir dormir, mas provavelmente antes de se levantar.

Anders terminou com o serviço da pia e se dirigiu para se unir a ele junto à cafeteira com seu copo vazio. Franziu o cenho e perguntou, -Tem certeza de que foi sequestrada? Não saiu apenas usando sua porta traseira?

-Sua bolsa, chaves e telefone celular ainda estavam ali, e a porta traseira estava fechada. Saiu pela janela. Suponho que não voluntariamente -acrescentou Lucian secamente enquanto conduzia Anders à mesa.

Valerie notou que Anders não estava feliz com essa notícia, mas ela também não. Do mesmo modo, não tinha fome, e empurrou seu bolo sem terminar imediatamente.

-E isso não é tudo -acrescentou Lucian.

-Genial -murmurou Valerie em voz baixa enquanto os homens se sentavam.

-Recebi a notícia pouco antes de que retornassem -disse Lucian e depois adicionou, -Minha parada no escritório depois de que retornaram foi para ligar aos outros observadores e verificar o estado das mulheres de cada um.

-E? -perguntou Anders.

-Todos confirmaram que estava tudo certo, menos um-disse Lucian em tom cansado.

-Decker estava com Laura Kennedy e disse que ela não tinha saído de casa ainda e que estava a ponto de ir ver como ela estava quando liguei. Disse-lhe que ligasse depois de verificar. Estou esperando a resposta dele.

-Então poderíamos ter duas mulheres desaparecidas -disse Anders lentamente e deixou escapar um longo suspiro. Com seus ombros caídos, sacudiu a cabeça e olhou seu café, dizendo, -Tinha certeza de que as deixaria em paz e iria para outro lugar. Só um idiota poderia estar nesta região, agora que sabemos que está aqui.

-Ou alguém que quer ser apanhado e finalizado-disse Lucian com gravidade.

-Apanhado e finalizado? -perguntou Valerie com surpresa.

-A maioria dos renegados são bastante suicidas -disse Anders em voz baixa, e depois olhou a Lucian e disse, -Mas este sujeito não estava se portando como um renegado típico. Foi cuidadoso. Escolheu mulheres das quais ninguém sentiria falta, usou uma casa de campo no meio do nada com donos que eram velhos, sem filhos ou amigos para entrarem em contato. Anders negou com a cabeça. -Os suicidas não são cuidadosos para não chamar a atenção dessa maneira. Fazem coisas que chamam a atenção sobre si mesmos.

-Como o que? -perguntou Valerie com curiosidade.

-Como comprar dúzias de caixões e enchê-los com novos convertidos -disse Leigh com secura. Foi assim que encontraram o renegado que me sequestrou. Comprava caixões em grandes quantidades.

Os olhos de Valerie se ampliaram com incredulidade.

-Caixões? Realmente não dormem em caixões, não é? -perguntou com consternação.

Depois da explicação de Anders com uma base científica para o vampirismo, tinha certeza de que tudo -os caixões, as capas e o alho-eram crendices.

-Não -assegurou Leigh, enquanto Anders e Lucian disseram ‘Já não mais’ em uníssono.

Ela olhou os três, um após o outro.

-Já não mais?

-OH, bom... Leigh fez uma careta e agitou uma mão. -Suponho que nos velhos tempos, quando as casas não eram tão bem construídas como agora, alguns deles dormiam em caixões para se assegurarem de que nada de luz solar entrasse através das gretas nas paredes ou tetos, ou por pobres cobertas de janelas. Ela se encolheu de ombros. -A maioria deles só têm que utilizar cortinas negras e coisas assim agora, mas os renegados tendem a se afundar na versão viva do filme de vampiros em beneficio de seus seguidores. Sei que Morgan, o renegado que me converteu -explicou-, fez isso para manter seus convertidos na linha. Todos pensavam que ele era seu pai e senhor e todas essas tolices, e eram tão servis como Renfield de Drácula.

-A maioria dos renegados fazem isso precisamente por essa razão -disse Lucian secamente. -Isto impõe medo e obediência.

-Meu renegado não fez isso -disse Valerie. -Nunca vi um caixão e não converteu Janey ou Bethany, simplesmente as deixou morrer.

-Sim. O renegado cuidou de não chamar a atenção sobre si mesmo -esteve de acordo Anders. -É por isso que pensamos que era da velha escola. Prefere alimentar do...

er... da fonte -se corrigiu com uma careta. Depois suspirou, passou-se uma mão pela parte traseira de seu pescoço, e adicionou, -Nos equivocamos.

-Pode ser que não -disse Leigh. -Talvez o desaparecimento de Kathy não tenha nada a ver com o renegado. Talvez um mortal a tenha levado. Ou talvez percebeu que Nicholas e Jo estavam fora na caminhonete, ficou nervosa, pensou que a observavam com algum propósito nefasto e saiu pela janela para ir a um lugar seguro ou algo assim -sugeriu Leigh. Infelizmente, nem suas palavras nem seu tom de voz eram muito convincentes. Ela, obviamente, nem por um minuto acreditou que o que estava dizendo pudesse ser verdade.

A julgar pelas expressões nos rostos de Anders e Lucian, eles também não acreditavam, mas antes que um dos dois pudesse fazer um comentário, uma música apagada começou a soar.

Valerie olhou a Lucian quando ele alcançou seu bolso e tirou um telefone celular. A música imediatamente se fez mais forte e ela inclinou a cabeça ligeiramente e disse, -Isso parece com ‘Ridin’ Dirty’ do Chamillionaire.

Lucian grunhiu em voz baixa, e depois gritou, -Fale! -enquanto apertava o telefone em sua orelha.

Mas Leigh sorriu e exclamou, -Conhece a canção?

-Sim. Valerie sorriu fracamente. -Eu adorava escutá-la no carro a caminho do trabalho.

-Eu escuto no carro também -disse Leigh com uma inclinação de cabeça. -Mas é só chamado ‘Ridin’, não ‘Ridin’ Dirty’ e isso não é tudo.

Valerie piscou.

-Tenho certeza de que é. Parece com...

-Parece com ‘Ridin’ -reconheceu Leigh. -Mas é do Weird Ao Yankovic. Branco e Friki.

-Branco e Friki? Valerie se ecoou com os olhos muito abertos. Lucian não parecia o tipo de homem que era capaz de rir de si mesmo... ou de qualquer outra coisa, na verdade. Era geralmente severo e sério. Mas tinha que ter um bom senso de humor para fazer daquilo seu tom de chamada.

-OH, Lucian tem um maravilhoso senso de humor - assegurou Leigh alegremente.

-Mas fui eu que a pôs em seu telefone. Fiz isso na semana passada, quando estava chateada com ele.

-OH -disse Valerie com incerteza e depois olhou para Anders para ver que seus lábios estavam fortemente comprimidos. Suspeitava que estava tentando não rir.

-Trocarei-o cedo ou tarde -acrescentou Leigh serenamente. -Mas provavelmente não até que tenha o bebê e ele deixe de se portar como um asno ditador super protetor.

Os olhos de Valerie estavam amplamente abertos, mas Anders deu uma gargalhada, que rapidamente tentou encobrir com uma tosse.

-Ligue e atualize os outros. Lhes diga que quero “olhos em cima” daqui em diante -gritou Lucian de repente no telefone.

Valerie ficou imóvel, com a cabeça girando lentamente para o homem. Esta obviamente era a ligação que estava esperando, e supôs que “olhos em cima” queria dizer que não haveria mais “observar as casas” das outras mulheres e as seguir a distância. Tinham que manter as mulheres à vista em todo tempo. Laura deve ter desaparecido então, pensou. Dificilmente daria aquela ordem de outra maneira, não é?

As seguintes palavras de Lucian confirmaram o medo do Valerie quando disse, -Dobrem os observadores. Quero duas equipes com cada uma das restantes mulheres todo o dia. Não perderemos outra.

Valerie se recostou em seu assento. Laura tinha desaparecido também. Isso deixava a Cindy, Billie, e ela mesma.

-Beth já se dirigiu a Port Henry? -perguntou Lucian.

-Beth é uma Executora da Europa - explicou Leigh a Valerie, sua expressão solene agora. -Ela e a sobrinha de Lucian, Drina, eram colegas lá. Mas Drina chegou ao Canadá para ajudar com uma situação e encontrou a seu companheiro de vida, Harper. Então ficou ali. Assim quando Lucian enviou uma chamada sobre os números muito baixos de Executores e que precisava de ajuda, Beth se ofereceu. Ela e outro novo recruta, Paolo, chegaram no dia em que despertou.

Valerie assentiu e perguntou com curiosidade, -Se dirigia a Port Henry em outro trabalho de Executora?

Leigh negou com a cabeça.

-Beth queria visitar Drina antes de começar a trabalhar. Ia a Port Henry para ficar com Drina e Harper durante o fim de semana e depois começaria aqui em Toronto na segunda-feira.

-OH -murmurou Valerie, pensando que seria uma pena que a visita da mulher fosse cancelada antes de sequer começar.

-As Cataratas do Niágara? Por que diabos estavam indo ali? -grasnou Lucian, e depois murmurou, -Turismo -em voz baixa com desgosto. -Bom, por que diabos não levaram seus telefones celulares pelo menos?

Provavelmente para não serem contatados e arrastados de suas férias para ser pressionados no trabalho, pensou Valerie.

-Ligue para os hotéis na região das Cataratas do Niágara e os encontre-grunhiu Lucian.

Valerie se mordeu o lábio. Lucian, obviamente, não sabia quantos hotéis havia nas Cataratas do Niágara. Se é que sequer estavam em um hotel... poderiam ter alugado uma casa de campo, ou até poderiam ter ingressado em uma posada. E é possível que nem sequer estivessem no lado canadense, que poderiam ter passado ao lado americano das Cataratas do Niágara. Encontrá-los poderia chegar a ser mais difícil que encontrar o renegado, pensou, mas depois prestou atenção quando Lucian voltou a falar.

-Somente faça o melhor que puder-gritou. -Enquanto isso, Christian e sua banda estão com Marguerite agora mesmo. Cada um deles passou algum tempo como Executor em um momento ou outro através dos séculos. Ligarei para ver se algum deles está disposto a ajudar até que consigamos trazer Beth e Drina para cá.

-Christian é filho de Marguerite, e sobrinho de Lucian -explicou Leigh e depois franziu o cenho. -Bom, tecnicamente, suponho que não é seu sobrinho. Ao menos, não de sangue, mas Marguerite é a cunhada de Lucian, por isso ele é da família.

Valerie assentiu, e depois olhou para Lucian quando disse, -Não, não precisa organizar nada para ela. Anders e eu estamos com ela. Só se concentre nas outras duas.

Não teve que pensar muito para saber que estava falando dela quando Lucian disse que ele e Anders estavam com ela. Estava definitivamente na prisão preventiva agora. Mas Valerie tinha pensado isso desde o começo.

Lucian desligou então, mas em seguida se levantou e caminhou até o telefone no final do balcão. Pegou-o, começou a teclar os números e, em seguida, segurou o telefone entre sua orelha e seu ombro enquanto conectava o carregador de seu telefone celular na tomada da parede. Depois que conseguiu realizar a tarefa, deixou o telefone celular na mesa e pegou o outro telefone para ladrar, -Marguerite?

Valerie se distraiu da última conversa quando Roxy empurrou seu braço com um nariz úmido.

Ao olhar para baixo, acariciou a cabeça do cão.

-Tem que sair?

Roxy se queixou, depois se virou e se dirigiu para o grupo mais próximo de portas francesas.

-Isso seria um sim -disse Leigh com diversão.

Sorrindo ironicamente, Valerie assentiu e foi até as portas. Roxy esperou que ela passasse primeiro e então a seguiu e correu na frente para encontrar um pedaço de grama. Valerie começou a fechar a porta atrás dela, mas se deteve e olhou a seu redor quando não se fechou. Anders a seguiu fora da casa.


Capítulo 15

-Vou te fazer companhia -disse Anders enquanto impedia Valerie de fechar a porta em seu rosto.

-Obrigada-murmurou, e voltou a caminhar até a borda do terraço para observar Roxy. Anders fechou a porta e a seguiu. Ele também olhava para o pátio, mas não estava observando Roxy. Estava examinando o bosque que havia atrás da casa e as árvores de ambos os lados dela. Infernos, percebeu que havia inclusive árvores a três ou seis metros de distância da frente da casa. Todo o lugar estava rodeado pelo bosque que seria um grande esconderijo para qualquer um que quisesse se aproximar em sigilo da casa. Que diabos tinha estado pensado Lucian quando comprou esta casa no meio do maldito bosque?

-Suponho que isto significa que nosso renegado é suicida -comentou Valerie de repente.

Anders franziu o cenho.

-Sim, parece que sim.

-Isso o faz mais ou menos perigoso? -perguntou com tristeza.

-Mais -admitiu ele a contra gosto.

Valerie assentiu como se fosse exatamente o que esperava que dissesse. Depois se voltou para ele. Com os braços cruzados sobre seu peito, perguntou em voz baixa, -Quão perigoso é seu trabalho, Anders? Quero dizer, sei que ser um policial mortal é perigoso, mas quanto pior é ser um policial imortal em comparação?

-Pode ser perigoso às vezes, mas somos muito cuidadosos -respondeu Anders. Tinha a esperança de tranquilizá-la, mas ela não parecia se sentir assim, por isso acrescentou, -No final, é provável que seja mais seguro para nós que para um oficial de polícia mortal, embora seja apenas porque somos mais difíceis de matar.

Ele notou que Valerie ainda não parecia estar tranquila. De fato, parecia zangada.

-Sério? -disse ela sombriamente. -Vai mentir para mim depois de dizer que não o faria?

-Não estou mentindo -respondeu com afronta.

-Não? -perguntou ela vacilante. -É engraçado, porque tenho certeza de lembrar de Justin dizendo algo o outro dia sobre vocês caindo como moscas. E Leigh disse faz menos de dez minutos que Beth e Paolo devem ajudar seu número estava diminuindo.

-OH. Anders sorriu e agarrou seus braços, esfregando-os enquanto lhe falava.

-Entendeu errado, Valerie. Drina, Beth e Paolo estão aqui porque muitos de meus colegas de trabalho encontraram suas companheiras de vida -explicou com suavidade.

-O que? -ofegou ela incrédula. -Por que precisariam substituir as pessoas que encontram seus companheiros de vida? Franziu o cenho e acrescentou, -Vocês não são como as seitas religiosas, não é? Não têm um acordo sobre encontrar um companheiro e morrer, não é?

A sugestão era tão ridícula que fez com que Anders lançasse uma gargalhada, mas se serenou com rapidez sob o cenho franzido dela e lhe assegurou, -Não, é obvio que não. Não é nada disso.

-Então o que é? - perguntou Valerie, soando um pouco beligerante agora.

Anders achou sua atitude um pouco sexy. Suspeitava que Valerie poderia soar o nariz e ele acharia sexy neste momento de sua relação. Fazendo uma careta ante essa pequena tira de consciência de si mesmo, decidiu mostrar a ela em vez de lhe dizer, então simplesmente a tomou em seus braços para lhe dar um beijo.

Um tempo depois, Anders reconheceu que não foi a idéia mais brilhante que já teve.

Não estava seguro de quantos minutos tinham passado quando a voz de Lucian perfurou a névoa quente que envolvia seu cérebro. Atraiu a atenção de Anders o suficiente para que percebesse o que estava fazendo. E o que estava fazendo era esfregar-se contra Valerie contra a cerca do alpendre enquanto simultaneamente tentava examinar suas amídalas com sua língua, tocar e apertar seus seios, seu traseiro, e desabotoar seu jeans, tudo ao mesmo tempo.

Gemendo, Anders se desenredou dos braços de Valerie que lhe aferravam e deu um passo atrás. Fez uma pausa para tomar fôlego várias vezes, tentando dar a seu cérebro a oportunidade de se recuperar-se antes de se virar para Lucian. Uma vez que enfrentou o homem, limitou-se a perguntar, -O que disse?

-Disse que prefiro que minha esposa não olhe através de nossas portas francesas e veja seu traseiro nu, se não se importa -disse Lucian sobriamente.

Anders olhou a si mesmo, aliviado ao ver que, como tinha pensado, ainda não tinha conseguido desabotoar e deixar cair sua cueca. Tentando manter a dignidade, endireitou seus ombros e disse, -Te asseguro que meu autocontrole teria aparecido antes de que as coisas fossem tão longe.

-Sim, claro -soprou Lucian. Um minuto mais e teria estado com o traseiro de fora e dando a Valerie uma boa ralada bem ali na cerca do terraço. Fazendo uma careta, acrescentou, -Para referência futura, não recomendo isso. Leigh obteve algumas farpas desagradáveis dessa cerca faz uns meses. É muito rude para passar por esse tipo de esforço.

Anders deu uma olhada por cima do ombro para Valerie com preocupação ante essa notícia. A calça que usava não era especialmente longa e não tinha dúvida de que pela menos suas coxas teriam sido cravadas pela madeira quando a estava esfregando.

-Está bem?

Ruborizando-se de forma brilhante, ela assentiu.

-Acredito que sim.

-Vou verificar isso mais tarde. Anders teve a intenção de que isso a tranquilizasse, mas o rubor de Valerie aumentou de uma cor rosada até se converter no vermelho de um tomate e seus grandes olhos saltaram para Lucian cheios de vergonha.

-E é precisamente por isso que precisamos de ajuda neste momento -disse Lucian cortante para Valerie, obviamente depois de ter lido o suficiente de suas mentes para saber o que Anders estava tentando lhe mostrar.

Esclareceu, entretanto, ao acrescentar, -Perdi a maior parte de meus melhores executores porque perdem a cabeça por suas companheiras de vida... o que acontece com muita frequência. Ficam tão desatentos quanto gatos no cio. Até eu sofri disso em algum momento. Vamos precisar de ajuda durante o próximo ano até que o pior tenha passado.

-OH -suspirou Valerie.

Aparentemente satisfeito de que ela entendesse o problema, Lucian se voltou para Anders.

-Christian e seus primos da banda vão nos dar uma mão durante o próximo dia ou dois, e talvez até mais. Aceitaram se reunir conosco na casa dos Executores.

-Por que na casa dos Executores? -perguntou Anders. -Por que não podem vir aqui?

-Temos que discutir um plano de ação para caçar este renegado e fazê-lo rapidamente. Quero ter essas mulheres a salvo de novo. Liguei para Greg para ter sua opinião e quero Mortimer e Justin ali também, mas não podem deixar a casa sem pessoal. Alguém tem que ficar ali para se assegurar que as coisas funcionem bem.

Então nos encontraremos com os rapazes lá.

-Mas e as mulheres? -perguntou Anders franzindo o cenho. -Não vou deixar Valerie.

-Elas vêm conosco - interrompeu Lucian, e logo se virou para voltar à casa, acrescentando, -Leigh quer levar um pouco de comida para cozinhar para todo mundo. Está reunindo tudo neste momento, e depois iremos. Têm uns dez minutos no máximo.

Anders se girou de novo para Valerie justo quando ela perguntava, -Quem é Greg?

-OH. Levou um minuto a sua mente recuperar a informação, mas depois explicou, -Greg Hewitt. É casado com a sobrinha de Lucian, Lissianna. Ele é psicólogo.

Ajudou algumas vezes no passado quando os casos não estavam seguindo um patrão normal.

-Assim como este -sugeriu Valerie.

-Sim. Assim como este - concordou ele com seriedade. Na verdade, este renegado não estava se comportando com sentido nenhum. Anders estava certo de que não era mais que um imortal ancião, que se negava a renunciar à alimentação direta da veia.

Havia muitos anciões que ainda pensavam nos mortais como nada mais que bolsas de comida que caminhavam, e que se podiam utilizar e esgotar se o desejassem.

Entretanto, a maioria deles permanecia na Europa, onde se alimentar da veia ainda era tolerado. Embora alimentar-se da fonte até o ponto da morte já não era tolerado em nenhum lugar, assim o homem teria sido um renegado também ali.

Entretanto, Anders não tinha pensado que este imortal em particular fosse tão suicida como egoísta e carente de consciência. Mas ficar na região, e inclusive voltar a sequestrar a suas vítimas anteriores quando devia saber que estavam sendo observadas... bom, isso era suicida.

-Melhor levar Roxy para meu quarto -disse Valerie em voz baixa. -Ela pode ficar ali enquanto não estamos.

O comentário de Valerie atraiu a atenção de Anders de seus pensamentos e baixou o olhar para o pastor alemão que cruzava o pátio parava entre eles. Estendendo a mão para acariciar o cão, ele comentou, -Confirmarei com Lucian, mas tenho certeza de que não haverá problema em levá-la conosco, se quiser. Na verdade, Mortimer esteve pensando em conseguir alguns cães de guarda para a casa dos Executores para ajudar com a segurança e liberar um pouco de mão de obra, assim sei que não se importará de que ela fique ali.

-Não tenho sua jaula de viagem -assinalou Valerie.

-É uma cadela muito bem educada. Deve ficar bem sem uma jaula. Veio até aqui de Cambridge no chão do assento dianteiro sem nenhum problema.

-Sei, mas prefiro não aparecer com ela -disse Valerie com o cenho franzido. Se não ficarmos fora durante muito tempo, deve ficar bem aqui.

Anders hesitou, mas depois se encolheu de ombros e assentiu.

-Não permaneceremos muito tempo afastados. Algumas horas no máximo - supôs, dando a Roxy uma última carícia. Tomando o braço de Valerie, conduzia para a porta, dizendo, -Devemos entrar agora.

-Sim, parece que Leigh quase terminou -assinalou Valerie e Anders deu uma olhada no interior da casa quando estendeu a mão para abrir a porta. Efetivamente, ao que parece Leigh quase tinha terminado. Ao menos esperava que sim. Parecia que ela tinha embalado de novo tudo o que acabavam de comprar e desempacotar. A quantas pessoas ela acreditava que ia alimentar?

-Segundo minhas contas são dezenove -anunciou Justin, entrando na cozinha da casa dos Executores. -Vinte e quatro se pensa em alimentar os rapazes no portão e os que estão de guarda.

-Obrigada -respondeu Valerie, olhando para Justin Bricker enquanto ele abria a geladeira, e depois simplesmente o olhou fixamente e com assombro quando ele tirou uma bolsa de sangue e a levou até seus dentes.

-Vinte e quatro então -disse Leigh com um assentimento de cabeça, deixando a colher que estava usando para mexer a grande panela de chili e se inclinar ligeiramente para abrir a porta do forno e verificar a lasanha. -Valerie, como vai o pão de alho? Está quase preparado para ir ao forno? Valerie?

Piscando, Valerie tentou afastar os olhos de Justin, mas não pôde. Nem sequer estava segura do que havia dito Leigh, por isso só murmurou, -Hã?

-Valerie, eu... Jesus, Justin, o que está fazendo? -ofegou Leigh com assombro, notando onde estava sua atenção.

-O que? -exclamou o homem, afastando a bolsa de sua boca e depois correndo para pia com esta quando a bolsa perfurada começou a jorrar sangue por toda parte.

Deixando cair a bolsa na pia, Justin olhou do Leigh a Valerie enquanto começava a pegar folhas do cilindro de toalhas de papel. -Pensei que ela sabia sobre nós.

-Bom, sim, ela sabe. Mas acaba de se inteirar hoje. Nunca viu nos alimentar nem nada -disse Leigh com exasperação.

-OH. Sinto muito -murmurou, secando rapidamente a desordem em sua camisa e depois voltando sua atenção para o chão. Havia um rastro de sangue no azuleijo branco da geladeira até a pia.

-Valerie? Leigh a chamou com suavidade, aproximando de seu lado. -Está bem?

Ela afastou os olhos do rastro de sangue que desaparecia rapidamente, e assentiu fracamente.

-Sim. Claro. Só estava...

-Um pouco surpresa por ver Justin levar uma bolsa de sangue até seus dentes -terminou por ela em um suspiro. Leigh lhe aplaudiu o braço. -É preciso algum tempo para se acostumar, sei disso. Posso ver que terminou com o pão de alho.

Poderia possa começar a preparar uma salada para mim?

-Claro -murmurou Valerie e se moveu para a geladeira para pegar os ingredientes necessários. Mas quando abriu a porta, encontrou-se olhando fixamente as bolsas de sangue empilhadas com cuidado na prateleira inferior, bem em cima das gavetas de frutas e verduras. E enquanto se inclinava para pegar a alface, endireitou-se segurando uma bolsa de sangue.

Valerie se girou com ela na mão justo quando Justin se endireitava de terminar de limpar o desastre que tinha feito.

Ele deu uma olhada de seu rosto à bolsa e viceversa.

-O que está fazendo?

-Faça de novo -disse ela, surpreendendo inclusive a si mesma com o pedido.

-Que parte? -perguntou ele divertido. -Me alimentar ou fazer uma bagunça quando Leigh gritar comigo outra vez?

Suas palavras fizeram com que Valerie desse uma olhada em Leigh para ver que a olhava com preocupação. Voltando-se, estendeu a bolsa a Justin.

-Ponha em sua boca.

Ele vacilou, girando seu olhar a Leigh, mas quando ela assentiu, pegou a bolsa e, em seguida, olhando Valerie com cautela, abriu a boca e deixou que suas presas se deslizassem para fora e simplesmente perfurou a bolsa com eles.

Valerie o observou com fascinação durante um momento, e depois se moveu a seu lado para tentar ver o que estava acontecendo.

-Está bebendo o sangue ou é...

Justin esticou os lábios, retraindo-os para revelar seus dentes. Podia ver que não havia nenhum líquido acumulando-se em sua boca. As presas estavam afundadas na bolsa e pareciam estar drenando o líquido da bolsa por si mesmas, como se tivessem pequenas bombas que atraíam o sangue para dentro.

-Interessante -murmurou, aproximando-se.

-Entretanto, ele não é o renegado habitual -disse Anders, movendo os olhos para a porta enquanto se perguntava o que Valerie estava fazendo. Ela tinha ido junto com Leigh, Lissianna e Dani para ajudar na cozinhar, enquanto Jo, Carolyn e os homens foram para sala de estar para planejar um plano de ação para esse renegado.

Infelizmente, não chegavam a um acordo porque não podiam resolver com que classe de renegado estavam tratando.

-Pode ser que tenha razão -disse Greg. -Não parece suicida. Ou não é -acrescentou, pensativo. -No começo foi cuidadoso para não ser apanhado. Se Valerie não tivesse conseguido nocautear Igor e chamar a polícia, pode ser que nunca tivesse chamado nossa atenção.

E ele nunca a teria conhecido. Ela teria morrido sozinha na escuridão em uma jaula suja e fria, pensou Anders, apertando a boca.

-Nocauteou-o? -perguntou Christian. -Então não acredita que matou Igor quando enterrou a estaca?

-Seu chefe chegou logo depois, provavelmente ele retirou a estaca e se uma estaca é removida com rapidez suficiente o imortal viverá. Supomos que está vivo -disse Anders. Teve que explicar a Christian, a sua companheira de vida, Carolyn, e a seus companheiros de banda toda a história desde o começo até o final. Não podiam enviá-los a uma situação em que não sabiam o que estava acontecendo e o que enfrentavam.

-Certo-adicionou Christian com o cenho franzido. -Então na verdade estamos procurando dois renegados.

-Temos uma imagem do que elas chamam de Igor -anunciou Lucian e Mortimer de imediato entregou duas cópias do retrato de Igor que o desenhista fez.

-E o outro sujeito? -perguntou Christian.

-Nenhuma delas o viu quando não estavam sob a influência de drogas - respondeu Anders.

-Pensei que não lhes dava comida drogada na noite em que subiam com elas ao andar de cima -comentou Carolyn com o cenho franzido. -Não deveriam estar mais sóbrias no momento em que o vissem?

-Não estavam, mas deveriam estar-concordou Lucian. -Mas acreditam que Igor lhes dava um medicamento durante ou depois do banho.

-Um medicamento diferente do que era colocado na comida -esclareceu Greg. -Um que não as fazia dóceis, mas arruinava suas percepções. Valerie e as outras mulheres lembram que lutaram com ele em suas saídas noturnas e que ele gostou disso.

Entretanto, para cada uma delas as lembranças do que aconteceu, assim como seu aspecto, estão muito distorcidas para ter sido o resultado apenas das drogas na noite anterior em sua comida.

-Nenhuma delas mencionou ter sido drogada em suas saídas noturnas -disse Anders com o cenho franzido. Não estava seguro do que Lucian tinha dito ao falar. Não estava muito atento à conversa.

-Igor poderia tê-las controlado para evitar que lembrassem -disse Lucian com um encolhimento de ombros. -Ele não parecia tão sádico como seu chefe.

-Bom, embora não tenhamos idéia de como parece o chefe, essa não é a razão pela qual está se arriscando a sequestrar às mesmas mulheres de novo -murmurou Greg, e depois perguntou, -E não encontraram nenhuma loja com muitas compras de jaulas?

Anders negou com a cabeça.

-Não. Nem sequer encontramos uma loja onde alguém comprasse mais de uma jaula grande de uma vez.

-Se ele fosse um suicida e quisesse ser apanhado, inconscientemente estaria deixando vestígios. Mas não deixou nenhum rastro -disse Greg com o cenho franzido.

-Realmente acredito que não é um suicida.

-Então, por que se arriscar a pegar suas anteriores vítimas de novo? - perguntou Anders com frustração. -Deve que saber que estaríamos vigiando elas para nos assegurar de que não tivessem problemas ao retornar a suas vidas, e não teria que fazer mais que dar uma olhada à rua para detectar nossas caminhonetes. Essas são reconhecidas pelos imortais como veículos dos Executores.

-As duas primeiras mulheres não foram um risco tão grande -comentou Mortimer.

-Não esperávamos que voltasse a sequestrá-las. Não estávamos vigiando elas por causa dele.

-Entretanto, Billie foi um risco -assinalou Anders, com a boca apertada. Mortimer tinha recebido a ligação pouco antes de que tivessem chegado ao local. Billie tinha sido sequestrada em seu trabalho. Estavam esperando que o executor que trabalhava para Mortimer chegasse à casa para dar explicações, mas parecia que ela tinha entrado na seção de “só empregados” para se trocar e nunca saiu. Anders não estava certo de porque o Executor não a tinha seguido lá dentro. Lucian tinha ordenado “nunca perder de vista”. Nunca perder de vista significava que não podiam permitir sair de sua vista nem para se trocar. A privacidade se tornava algo secundário no que se refere a segurança, ou deveria ser assim.

-Sim, Billie deveria ser um risco maior -disse Lucian, com a voz fria. Anders não invejava o homem que estava vigiando Billie. O sujeito estava muito encrencado.

-Então, por que correr o risco? -perguntou Carolyn.

-Não sei -admitiu Greg com cansaço. -A menos que ele tenha medo que possam ter visto algo na casa que pudesse delatar quem ele é.

Mortimer negou com a cabeça.

-Verificamos todas as mulheres. Em todas elas, suas lembranças estavam distorcidas.

Os detalhes de seu rosto são como imagens vistas através do fundo de uma garrafa.

Não há absolutamente nada que se possa usar em suas lembranças.

-Pode ser que não seja com seu rosto que está preocupado -assinalou Greg. -Poderia ter sido um sobre uma carta no criado mudo com seu nome nela, ou que sua carteira possa ter caído e ficado aberta mostrando sua carteira de motorista durante uma de suas lutas, ou quando foram sequestradas. Ou durante seu sequestro, poderiam ter vislumbrado seu rosto no reflexo de uma janela ou algo assim. Poderia ser algo.

Anders amaldiçoou. E ele não foi o único, tanto Lucian como Mortimer ecoaram o som quando se deram conta de que poderiam ter passado por cima algo importante.

-Valerie está na cozinha, não é verdade? -perguntou Greg.

Anders assentiu e se dirigiu à porta.

-Sim, vou até ela e...

-Não, não faça isso. As palavras de Greg o fizeram parar em seco. -Nós iremos aonde está ela. Será mais natural. Estará relaxada, mais propensa a lembrar as coisas, do que se a arrastamos atém aqui e fizermos com que se sinta como se estivesse sendo interrogada.

-Ela saberá o que está fazendo e ficará tensa no momento em que lhe pedir para lembrar, de todos os modos -disse Jo com sensatez.

-Sim -concordou Greg. -Mas quero lhe fazer algumas pergunta primeiro e ver se podemos identificar o que possam ter tido as mulheres em comum. Como ele escolheu cada uma delas. Isso poderia nos dizer algo a respeito dele, o que poderia nos dar uma pista de aonde irá agora.

Anders assentiu.

-Vamos.

Todos na sala começaram a se mover enquanto Anders se girava. Isso lhe fez sacudir a cabeça. Não vamos caber todos na cozinha. Além dele, estavam Christian, sua companheira de vida, Carolyn, e seus quatro companheiros de banda, e também Greg, Lucian, Mortimer, Nicholas, Jo e Decker. Lissianna, Dani e Sam tinham optado por ajudar Leigh e Valerie com a comida. Simplesmente, não havia maneira de que todos fossem caber na cozinha.

Capítulo 16

Está bem, possivelmente todos caberiam na cozinha, pensou Anders enquanto entrava no grande ambiente brilhante. Era muito maior na realidade que em sua memória, mas também não ficava frequentemente aqui.

Os pensamentos de Anders morreram quando parou dentro da cozinha. Foi a visão de Valerie no refrigerador, examinando Justin como se fora um cavalo à venda o que lhe fez parar. O jovem Executor estava completamente imóvel, uma bolsa de sangue diminuindo rapidamente em sua boca e os olhos muito abertos enquanto Valerie estava a seu lado, puxando seu lábio superior e tocando nos dentes.

-Tem que haver um caminho direto para a corrente sanguínea através das presas -dizia pensativa. -Mas não vejo como. Ou como pode ir para o sangue sem algum tipo de sistema de bombeamento... a menos que os nanos façam o trabalho real de levá-lo ao sangue. Hmmm.

A bolsa de sangue estava vazia, e Justin a tirou com alívio, murmurando, -Sim. Bom, não sei como funciona. Apenas desfruto dos benefícios.

-Posso ver suas presas de novo? -perguntou Valerie.

-Er... -disse Justin, então viu Anders e sorriu com alivio. -Anders, amigo. Mostre a sua mulher suas presas.

-Tímido, Bricker? Você? -perguntou Anders secamente, avançando de novo quando Valerie olhou a seu redor para lhe sorrir.

-Não. É só que não quero que pareça que estou lhe fazendo ver quanto maiores minhas presas são que as suas -respondeu Justin.

-Na verdade, vi as presas de Anders em sua casa esta tarde e são maiores que as suas -disse Valerie, e então quando Anders chegou a seu lado, ela o olhou e lhe perguntou, -Por que? É algo assim como grandes presas, grandes pés, grandes...

Anders pôs fim a sua pergunta beijando sua boca brincalhona. Deus, amava a esta mulher. Justin tinha tentado envergonhá-lo e lhe tinha dado um golpe de volta com tão pouco esforço que....

Seus pensamentos morreram quando o cérebro do Anders agarrou e se aferrou a uma frase em particular que ficou em sua mente. Deus, amava a esta mulher? Rompendo o beijo, ele levantou a cabeça e olhou a seu doce rosto. Ela era como um raio de sol.

Cabelo de ouro, pele de porcelana, olhos verdes brilhantes, lábios vermelhos deliciosos. Era tão formosa como o sol, e ele sempre tinha pensado que o sol era a coisa mais formosa do mundo. Talvez porque nunca poderia desfrutá-lo de verdade, e só se permitiu breves olhares para ele, ou desfrutar de segunda mão as lembranças dos mortais dos que se alimentava. Não foi até a última década mais ou menos que foi capaz de desfrutar adequadamente com a ajuda da película de janela que bloqueava os raios UV.

Valerie rivalizava com o sol ante seus olhos. E ganhava. Se lhe dessem a opção de vê-la todos os dias mas não voltar a ver o sol de novo, ou não voltar a vê-la e desfrutar do sol, Valerie ganharia disparado, reconheceu.

Anders sempre pensou que os nanos eram justos quando escolhiam o companheiro de vida de um ser imortal. Ele não se deu conta de quão bons poderiam ser. Quando estava com o Valerie, sentia-se em paz. Gostava de seu sorriso, sua risada, seu bate-papo, seu senso de humor, tudo. Gostava de estar sozinho com ela, inclusive sem dizer nada. E sem dúvida desfrutava de sua paixão.

-Anders? A profunda voz de Greg interrompeu suas reflexões.

Endireitou-se, se virou e olhou Greg durante um momento em branco, e depois assentiu.

-Valerie, este é Greg Hewitt. Ele é...

-O marido da Lissianna -disse Valerie com um sorriso, estendendo sua mão para Greg. -Prazer em conhecê-lo. Lissianna é encantadora.

-Prazer em conhecê-la também -disse Greg com um sorriso. Levantou uma sobrancelha e olhou a seu redor.

-Falando de minha esposa, onde está ela?


-Lá fora -respondeu Valerie. -Estava aqui para nos ajudar, mas a pequena Luciana ficou exigente, por isso a levou ao pátio para deixá-la correr enquanto verificava com Sam e Dani para ver se estava tudo bem com a churrasqueira ou se precisavam de algo.

-Sam e Dani estão trabalhando na churrasqueira? -perguntou Decker com o cenho franzido. -Por que não chamaram um de nós para fazê-lo?

-Porque todos estavam ocupados -disse Valerie com um encolhimento de ombros.

-Além disso, não havia necessidade. Como disse Sam, ela é advogada e Dani é médica, as duas devem ser capazes de usar uama churrasqueira sem explodir o lugar.

-Cristo -murmurou Mortimer e saiu da habitação com Decker logo atrás dele. Anders esticou o braço que ainda tinha ao redor de Valerie, lhe dando um pequeno apertão.

Tinha visto o brilho em seus olhos, mesmo se os outros dois homens não viram.

-Tem uma linda filha -disse Valerie agora para Greg. -É um pequeno querubim alado com seus cachos de ouro, gordinhas bochechas rosadas e esses lindos olhos grandes, azul prata. Falando disso, acrescentou, voltando-se para Anders. -Todos têm essa aura de olhos metálicos. São de prata azulado, verde prateado ou negro e ouro como os seus. É devido aos nanos?

-Sim -respondeu Anders.

Antes que pudesse perguntar porque os nanos tinham esse efeito nos olhos, o que Anders suspeita que seria a próxima pergunta, Greg perguntou uma das suas.

-Ouvi dizer que é veterinária e que está fazendo alguns cursos de atualização na Faculdade de Veterinária da Universidade de Guelph.

Valerie assentiu.

-E eu ouvi que é psicólogo. Esse deve ser um trabalho interessante.

-Às vezes -esteve de acordo com ironia, e depois disse, -Pelo que entendi, uma das outras mulheres levadas pelo sequestrador trabalhava na universidade. Billie?


-Sim, ela... Valerie se deteve abruptamente, suas sobrancelhas juntando-se. -Espere.

Você disse trabalhava?

-Sinto muito, quero dizer trabalha. Ela trabalha ali. Greg se corrigiu rapidamente.

Valerie o olhou fixamente durante um minuto e depois se virou para Anders.

-Billie está bem?

Anders podia sentir todos os olhos nele. Sabia que todo mundo queria que mentisse e lhe dissesse que Billie estava bem para poder seguir adiante com suas perguntas a Valerie, mas simplesmente não podia fazê-lo. Não ia mentir a Valerie.

Mas antes de que pudesse lhe dizer que Billie tinha sido sequestrada, Lucian tomou a palavra, chamando a atenção de Valerie para ele.

-Ela continua trabalhando na cafeteria universitária e ficará bem -disse Lucian.

Anders estava relaxando quando Valerie se voltou para ele de novo e lhe perguntou, -Billie está bem agora mesmo?

Fazendo uma careta, ele negou com a cabeça.

-Foi tirada de seu trabalho antes de chegar aqui. Seus olhos se abriram com horror e ela abriu a boca para dizer algo, mas ele se precipitou, dizendo, -Não sabemos os detalhes ainda, Valerie. Logo que eu souber, você saberá. Enquanto isso, Greg tem algumas pergunta para você. Isso nos ajudará a ajudá-la.

Valerie ficou em silêncio durante um momento, depois assentiu e se voltou para Greg.

-Vá em frente.

Greg olhou de Anders a Valerie e então disse, -Você e Billie têm uma conexão com a Universidade de Guelph. Alguma das outras também tem? Poderia a universidade ser onde ele encontrou todas vocês?

Valerie considerou a possibilidade, mas negou com a cabeça.

-Não acredito. Laura era uma corretora imobiliária e Cindy era professora. Kathy estava desempregada. Billie foi a única que mencionou uma conexão com a universidade.

Greg parecia decepcionado, mas depois disse, -Certo, você viu Cindy no veterinário.

Talvez esteja conectado à clínica veterinária e foi assim como chegou a todas vocês.

Valerie negou com a cabeça uma vez mais.

-O dia em que vi Cindy na clínica foi a primeira vez que fui até lá. Só fiz isso porque precisava das pílulas para pulgas de Roxy e não queria que Anders perdesse tempo dirigindo até Cambridge. Simplesmente passei pela clínica mais próxima. Não tinha conexão com ela antes disso.

Greg ficou em silêncio durante um momento, mas depois suspirou e disse, -Nos fale da casa.

Valerie olhou dele para Anders com incerteza.

-O que quer que eu diga sobre a casa?

-Tudo que puder lembrar -disse Greg. -A maior parte do tempo passou em uma jaula na escuridão do porão?

Valerie assentiu e se aproximou de Anders. Suspeitava que era uma ação subconsciente. Ela estava procurando consolo. Apertou o braço que tinha a seu redor e passou a mão com doçura para cima e para baixo por seu braço.

-Mas foi levada para cima duas vezes -continuou Greg. -Quero que feche os olhos e volte ali em sua memória para nós e nos diga tudo o que vê. Pode fazer isso?

Valerie vacilou, obviamente não tinha vontade de fazer isso, mas depois fez uma careta e assentiu, fechando os olhos.

-Bom -disse Greg. -É a última noite que estava em sua jaula. Igor te tirou da jaula e está te levando para cima. O primeiro cômodo na parte superior das escadas, qual é?

-A cozinha -disse em voz baixa.

-Pode descrever tudo o que vê nessa cozinha? -perguntou Greg.

Valerie ficou em silêncio durante um momento, mas Anders pôde ver suas pálpebras trementes, como se estivesse olhando a seu redor. Suspeitava que estava vendo a cozinha de novo.

-Estava procurando uma arma -disse de repente. -Tinha a cabeça encurvada e estava usando o cabelo para me cobrir. Vejo ladrilhos brancos e negros, a mesa da cozinha de um alumínio velho com a parte superior salpicada, gritando “realmente velho”. Os armários eram retângulos simples, do azul brilhante que se utilizava há cinquenta anos, e os balcões estavam completamente vazios. Era como se fosse uma casa vazia que tinham ocupado ou algo assim.

Anders continuou esfregando seu braço. Não era uma casa vazia. Igor e seu chefe deviam ter esvaziado os cômodos que não eram usados. Mas não tinham contado a Valerie que o casal de anciões que era dono do lugar tinha sido assassinado e estavam apodrecendo na sala atrás do porão em que estava sua jaula. Não havia necessidade de lhe dar piores pesadelos.

-Nada em cima dos balcões? -perguntou Greg com o cenho franzido. -O que há na geladeira? Há ímãs com notas ou correio, ou...

-Não, não havia nada - assegurou Valerie.

-Está bem -disse Greg. -Saia da cozinha. Agora, o que vê?

-Uma sala tão vazia quanto a cozinha, e depois nos dirigimos às escadas.

-Deve ter passado por cômodos no caminho para as escadas. Viu algo neles?

-Não há nada perto das portas e isso é tudo o que vi -disse, e lhe recordou, -Minha cabeça estava abaixada.

-Está bem, está subindo a escada. O que vê na parte superior?

-Levantei a cabeça à medida que subimos as escadas, e então entramos em outro corredor. Há um tapete azul de pelúcia... Deus, odeio os que são de pelúcia!

-acrescentou em um murmúrio de desgosto. -Deixam tudo asqueroso e emaranhado.

Greg sorriu fracamente.

-Algo mais?

-Paredes de painéis, um barato retrato renascentista falso, e viro à esquerda e...

-Um retrato do Renascimento? -interrompeu Greg bruscamente.

Valerie abriu os olhos com curiosidade.

-Sim. Mas era uma imitação ruim, feio e de aspecto sujo.

Os olhos do Greg se estreitaram.

-Marguerite tem retratos dela e seus filhos através do tempo. Ela os tem bem cuidados, tem que limpá-los e retocá-los com regularidade e assim sucessivamente quando a pintura começa a obscurecer ou quebrar, mas se seu renegado não faz isso, a pintura poderia estar suja e de aspecto barato.

Suas sobrancelhas se levantaram.

-Acha que o retrato poderia ser dele?

Em lugar de responder, Greg olhou a Lucian e perguntou.

-A maioria dos imortais mantêm retratos de si mesmos?

-Alguns -reconheceu. -Não havia câmeras nessa época e os retratos eram a única maneira de capturar lembranças. Mas poderia ser facilmente uma imitação barata, como pensou Valerie. Algo que os donos anteriores tinham colocado.

-Tiraram tudo da cozinha que pertenceu aos donos anteriores. O que te faz pensar que deixaram algo no resto da casa? -perguntou Greg.

Lucian arqueou as sobrancelhas.

-Bom ponto. Suponho que poderia ser dele. Isso explicaria porque querem as mulheres de volta. Pode ser que elas sejam capazes de descrever seu retrato.

-Mas nenhuma das demais o mencionou, não é mesmo? -perguntou Anders. Ninguém tinha mencionado o retrato antes disto.

-Não -reconheceu Lucian.

-Mas as demais estavam drogadas, provavelmente instáveis sobre seus pés e vigiando seu passo por causa disso. Valerie não estava drogada e estava procurando uma arma para facilitar sua fuga -assinalou Greg.

-Entretanto, não podia estar seguro de que alguma delas não tivesse olhado para cima. Ao menos não sem ter que procurar em suas lembranças. Para isso, precisava recuperá-las.

Anders franziu o cenho. Isso não pressagiava nada bom para as mulheres que tinham sido recapturadas. Se ele as tinha levado para procurar em suas lembranças e se assegurar de que não falaram com ninguém sobre o retrato, depois não haveria razão para que continuassem vivas. Seu plano poderia ser na verdade capturar e matar cada uma das mulheres, e depois passar a novos pastos mais seguros.

-É verdade -disse Greg.

Anders olhou para cima para ver que o psicólogo estava falando com ele. Tinha lido sua mente, percebeu com irritação.

-Mas isso significa que há uma boa notícia -acrescentou Greg. -Se ele está preocupado com o retrato, é porque alguém poderia reconhecê-lo.

-Talvez, mas ninguém reconheceu Igor ainda -assinalou Anders.


Greg se encolheu de ombros.

-Pode ser que seja novo. Alguém recente que o renegado tomou para atender às mulheres e fazer o trabalho mais desagradável ou pesado que ele não queria fazer.

Fez uma pausa para deixar que isso se assentasse e depois adicionou, -Mas ele mesmo pode ser mais que reconhecível... especialmente se foi imortal por muito tempo e tinha suficiente riqueza e poder para ser capaz de pagar um retrato. Suspeito que não fosse barato.

-Não, não eram -concordou Lucian e olhou a Valerie. -Descreva o retrato. Disse Renascimento. Tem certeza, ou era apenas uma hipótese?

-Usava uma dessas coisas caras ao redor de seu pescoço, como os que a rainha Elizabeth usava -disse ela.

-Um colar -disse Lucian. -Eram de perto do final do Renascimento. Do século XVI.

Que mais?

Valerie vacilou, e depois se mordeu os lábios e fechou os olhos.

-Um casaco de pele, roupa escura, talvez um traje ou algo assim, mas era dos ombros para cima.

-O rosto, Valerie -disse Anders gentilmente. Ela suspirou com resignação e depois seu rosto se enrugou. Não sabia se estava sentindo dor ou pensava muito forte.

-Uma barba e um bigode, orelhas grandes, com uma expressão triste.

-Todo mundo parecia miserável nessa época -disse Anders com diversão.

-Sim, mas não lembro de pêlo facial no Conde Drácula -disse levantando a mão com acanhamento para seu pescoço enquanto abria os olhos.

Anders pegou a mão e a tirou de seu pescoço para beijar seus dedos. Ela estava lutando com isto e desejou que não tivesse que acontecer, mas não estaria a salvo até que encontrassem este homem.

-É possível que tenha eliminado o pêlo facial depois -disse Greg com doçura.

-Simplesmente tente lembrar dos olhos, do nariz e da cor do cabelo.

-Certo -murmurou, e fechou os olhos. -Os olhos, o nariz e a cor do cabelo. Bom, a pintura estava suja, mas parecia que seu cabelo era terrivelmente claro.

-Loiro? -perguntou Anders.

-Mais que só loiro. Quase branco, mas seu rosto não era de aspecto antigo. Tinha um nariz reto e seus olhos eram algo assim como... OH! -interrompeu-se com surpresa.

-O que é? -perguntou Anders e podia sentir a forma em que todos na sala se imobilizaram repentinamente e se inclinavam para frente com antecipação.

-Percebi porque parecia tão familiar -disse ela com assombro. -Parecia o homem do retrato.

-Quem? -perguntou Anders com alarme. -Viu o homem do retrato desde que saiu da casa?

-Sim. Ela abriu os olhos amplamente e se voltou para ele. -No estacionamento da loja de comidas. O homem no setor dos carrinhos.

-Maldição -grunhiu Anders, recordando exatamente a quem se referia. O bastardo gordurento que tinha pensado que estava de olho nela quando ela levou o carrinho de volta a seu lugar. -Sabia que havia algo ruim com esse sujeito.

-Você o viu também? -perguntou Lucian bruscamente.

Anders assentiu.

-Não o reconheci, entretanto. Mas na verdade não vi grande parte de seu rosto.

Manteve-se de costas e de lado para mim.

-Então está atrás de Valerie também -disse Greg com uma inclinação de cabeça e quando Anders se voltou para ele, disse-lhe, -Bom, não acha que o fato de ele estar no estacionamento é uma coincidência, não é verdade? Devia estar atrás de você.

-Como? -perguntou Anders com o cenho franzido. -Ele não podia saber que Valerie estava com Lucian, por isso não poderia ter nos seguido até lá.

-Talvez tenha ido atrás de Billie mais cedo naquele dia e viu Valerie quando estava falando com ela. Ou poderia ter estado seguindo Cindy e simplesmente esperando sua oportunidade, mas seguiu aos dois a esse lugar porque Valerie já não está em sua casa -sugeriu. Apertando os lábios, acrescentou, -Suspeito que se não tivesse vigiado Valerie tão de perto todo o caminho, e tivesse se metido na caminhonete como ela tinha sugerido, provavelmente ele a teria agora.

-Como sabe...-começou Valerie e depois murmurou, -Ah, claro, leitura da mente. Ela franziu o cenho, e acrescentou, -É um pouco grosseiro ler minha mente, não acha?

Agradeceria se todos parassem com isso. Se não o fizerem, pode ser que ponha alguns pensamentos desagradáveis aí para que possam encontrar.

-Pensamentos desagradáveis? -perguntou Justin com diversão.

-Coisas que poderá não gostar ao encontrar - assegurou.

-OH, agora estou curioso -disse, centrando-se em sua testa.

Os olhos de Valerie se estreitaram no jovem imortal, e então apertou os lábios e fechou os olhos. Um instante depois, Justin abriu a boca e deu um passo atrás, com expressão horrorizada.

-Eca, isso é asqueroso -exclamou, dando com a cabeça um movimento como se tentasse tirar uma imagem dela.

-Cada vez que quiser mais, dê uma olhada em meu cérebro -disse Valerie docemente, e depois acrescentou com gravidade, -Sou veterinária. Há muito mais de onde veio isso.

Anders tinha estado a ponto de perguntar o que ela tinha pensado, mas suas palavras foram suficiente explicação. Tinha uma clínica. Imaginava uma coisa desagradável ou duas por si mesmo. Ele nunca tivesse pensado em bombardear os outros com elas por lerem sua mente. Mas Valerie se, a pequena descarada inteligente pensou.

Maldição, ele a amava.

-Está bem -disse Leigh de repente, aplaudindo. -O jantar estará pronto em dez minutos. Lucian, tem tempo suficiente para chamar Bastien e fazer com que envie de volta esse bom desenhista que fez a imagem de Igor. Desta maneira podemos obter uma imagem do Conde Drácula sem passar penosamente através de imagens de tripas de cachorrinhos e diarréia na mente de Valerie -acrescentou com um sorriso.

-Todos os outros vão se lavar para que possam ajudar a trazer pratos, comidas, e tudo mais.

-Acho que não posso comer depois do que Valerie me mostrou -murmurou Justin com desgosto.

-Isso é uma vergonha -disse Leigh, sem soar preocupada enquanto se inclinava para olhar algo que tinha no forno. -Temos lasanha, chili, pão de alho, salada, salada de batatas, e também hambúrguers e cachorros quentes na churrasqueira. Tinha a esperança de que todo mundo encontrasse algo que gostasse nesse cardápio.

-Sua lasanha? Feita em casa? -perguntou Justin, seu interesse e apetite aparentemente de volta. Mas claro, era de se esperar. Justin sempre tem fome, pensou Anders.

-Vão se lavar -disse Leigh com um sorriso, uma mão acariciando seu ventre e a outra nas costas enquanto se endireitava.

-Está bem, Leigh? -perguntou Valerie, dando à cintura de Anders um apertão antes de deixar cair seu braço e se mover para a outra mulher.

-OH, estou bem -disse ela, soando cansada. -Acho que só estive de pé muito tempo.

-Sente-se -disse Valerie, tomando o braço da mulher e acompanhando-a a um dos tamboretes ao redor do balcão no centro da grande cozinha. -Eu me encarrego a partir daqui.

-A partit daqui? -perguntou Leigh com diversão. -Fez a maior parte das coisas, para começar.

Valerie se encolheu de ombros e pegou um concha de sopa para mexer o chili, dizendo brandamente, -Pode me devolver o favor quando eu estiver grávida.

Anders olhou para Valerie, suas palavras ressoando em sua cabeça. Quando estiver grávida? Imediatamente começou a imaginar isso, uma Valerie brilhante e linda, seu ventre arredondado com seu filho.

-Ela aceitou ser sua companheira de vida?

Anders olhou para Greg ante essa pergunta suave e depois se voltou para olhar Valerie enquanto negava com a cabeça.

-Bom, de um jeito ou de outro, aceitou o que somos e não tem medo de nós. Acho que pode agradecer isso a Leigh -adicionou Greg.

-Leigh? -perguntou com surpresa. Tinha pensado que tivesse sido por ele.

-Sinto muito, Anders, mas não é assim como funciona a mente de uma mulher. É um vampiro sombrio, misterioso e sexy para ela, e nenhuma dessas palavras equivale a confiança e a sensação de segurança -assinalou secamente, e depois acrescentou, -Mas Leigh... Greg olhou à mulher e sorriu torcidamente. -Ela é a vampira menos ameaçadora no planeta neste momento. Valerie pode ver a si mesma no Leigh. Será de muita ajuda que estejam se convertendo em boas amigas. Acho que te escolherá no final.

Anders grunhiu. Esperava que Greg tivesse razão. Tinha estado sozinho por muito tempo e nunca tinha pensado nisso até que ela tinha entrado em sua vida. Agora nem sequer queria contemplar um futuro sem ela.

Capítulo 17


-Parece cansada.

Valerie fez uma careta ante o comentário de Anders enquanto se aproximava do sofá onde ele estava sentado. Estava sozinho na sala de estar da casa dos Executores, que para ela parecia uma casa normal. Bom, uma enorme casa normal e com muitos quartos em cima, com segurança de alta tecnologia, guardas na porta de entrada (assim como uns que percorriam o perímetro), e isso sem falar da grande construção que era metade celas e metade garagem, embora ainda não a tinha visto.

Soube que Mortimer, que estava a cargo dos Executores sob o mando de Lucian, vivia aqui com sua companheira de vida, Sam, uma advogada que agora trabalhava a seu lado, ajudando com os assuntos legais que surgiam. Entretanto, haviam dito a ela que os dormitórios restantes eram usados frequentemente por algum Executor de outra área, ou mortais e imortais que precisavam de uma casa de segurança.

-Estou um pouco cansada -admitiu enquanto se acomodava no sofá junto a ele. -Mas não sou a única.

-Leigh? -perguntou Anders.

-Sim, está deitada lá em cima. Diz que não consegue ficar suficientemente confortável durante o dia, por isso acaba durmindo vários cochilos.

Anders assentiu.

-Está bem, então?

-Ela diz que sim -disse Valerie com o cenho franzido.

-Você não acredita? -perguntou Anders.

Valerie hesitou, mas depois suspirou e se encolheu os ombros.

-E se não acreditar? Sou apenas uma veterinária. Se ela diz que está bem, provavelmente esteja.

Anders ficou em silencio durante um minuto, depois se aproximou e tomou sua mão entre as suas.

-E você, como está?

-Eu? -perguntou com surpresa. -Estou bem.

-Então não esteve me evitando por uma hora depois de ter terminado de limpar a cozinha? -perguntou-lhe com solenidade.

-Já passou uma hora? -perguntou Valerie surpreendida. Todo mundo ajudou depois de comer, mas então Lucian chamou Christian, sua companheira de vida, e os membros de seu grupo e se foram. Tinha levado eles para substituir as duas equipes que atualmente estavam vigiando Cindy, pondo Christian e Carolyn na casa antes que os outros membros do grupo chegassem para substitui-los. Mas não tinham veículos para transporte, por isso Lucian e Mortimer tinham ido fazer a mudança de grupos.

Depois que Lucian saiu com eles, todos outros ajudaram a limpar muito rápido e os casais se dispersaram por toda a casa. Ninguém esperava realizar nenhuma atividade até amanhã. Não esperavam trazer de volta o desenhista até então. Uma vez que tivessem as imagens do renegado, ficariam fora vigiando tudo... se por acaso alguém não reconhecesse o homem.

Uma vez que a última pessoa se foi, Leigh anunciou que tinha que se deitar. Sam lhe mostrou um quarto e Valerie a seguiu até se assegurar que a mulher se encontrava bem. Não podia explicar o porquê, mas pressentia que Leigh não estava bem. Mas Leigh tinha assegurado que estava bem, e tinha iniciado uma conversa para distrai-la e que Valerie não notasse que tinha estado alí conversando com ela durante uma hora.

-Leigh e eu falamos um pouco -admitiu Valerie. -Mas não pensei que tinha passado uma hora. Sinto muito.

-Não há necessidade de se desculpar. Leigh é uma boa pessoa, vale a pena escutá-la.

-É boa pessoa -disse Valerie com um sorriso. -Nada do que teria imaginado que um vampiro seria... se tivesse imaginado que os vampiros existiam -acrescentou com ironia. Mas está tudo bem, agora que todos os que conheço escaparam do Conde Drácula.

-Somos apenas pessoas, Valerie. Temos bons, maus e alguns intermediários - disse Anders silenciosamente.

Ela sacudiu a cabeça, com um sorriso torcido em seu rosto.

-Está delirando se pensar isso, Anders. Quando o alarme cruzou seu rosto, ela acariciou sua mão com doçura. -Acho que quer acreditar isso. Mas não é “só uma pessoa”. As pessoas não vivem séculos ou mesmo milênios. Não podem ver na escuridão, ou levantar um pequeno carro com o mínimo esforço, ou ler e controlar a mente dos outros. E essas “só pessoas” não têm que se alimentar de outra “pessoa”

para sobreviver.

-Eu...

-Está tudo bem. Nasceu assim, por isso não tem nem idéia de que é como um super herói horripilante. É provável que nem sequer se dê conta de quão diferente vê as coisas. Que sua percepção do tempo é tão diferente da dos não imortais, já que o tempo tem tão pouco poder sobre você. Leigh tinha mencionado isso. Que uma das coisas que tinha notado nos imortais antes que ela mesma fosse um deles era que os mais antigos tinham um conceito muito diferente do tempo. Que o que ela considerava um longo tempo, era uma mera piscada de olhos para eles. Valerie supunha que se tivesse vivido milhares de anos, um dia seria uma piscada de olhos em seu tempo e uma semana não seria muito mais.

Fazendo uma careta, acrescentou, -É provável que não perceba que tem menos temores e preocupações que os mortais, como o câncer, as enfermidades do coração e todos esses pequenos e desagradáveis ladrões de vida que não podem te alcançar. E

certamente nunca teve medo de que um mortal pudesse te machucar.

Valerie parou e baixou o olhar para suas mãos entrelaçadas.

-Leigh disse que para ser sua companheira de vida teria que me transformar.

-Sim. Sua voz era rouca. Esclarecendo a garganta, ele acrescentou, -Embora não será necessário que seja de forma imediata. Sam não o fez imediatamente depois de aceitar ser a companheira de vida de Mortimer.

-Leigh me disse isso, mas me contou que Mortimer era um desastre, preocupando-se constantemente de que Sam morresse em um acidente ou algo parecido antes que ela aceitasse.

-Mas não lhe aconteceu nada -disse Anders. -E eu estaria disposto a passar por isso se você precisar.

Valerie sorriu e negou com a cabeça. Não queria fazê-lo sofrer, mas estava tendo problemas com esta situação. Não tinha considerado que teria que se converter em um vampiro para estar com um. Estúpido, supôs. Ele havia dito que Leigh era mortal.

Também havia dito que queria passar o resto de sua vida com ela. O resto de sua vida podia ser um inferno de muito tempo. Certamente, era muito mais de cinquenta anos ou os que ela vivesse. Mas não tinha considerado que querer ser sua companheira de vida incluía transformá-la em um ser imortal até sua conversa com o Leigh. Agora a decisão de ser sua companheira de vida era muito mais importante.

Não era como dizer, ‘Ah, caramba, vamos lhe dar uma oportunidade’, e então ir viver com ele, sabendo que sempre podia ir embora. Nem sequer era como se arriscar e casar com ele. Isso poderia ser reverttido pelo divórcio caso fosse um engano. Mas isto não era reversível. Teria que ser uma deles. E a partir de sua conversa com Leigh, Valerie sabia que não era reversível. Tinha que tomar uma decisão que afetaria o resto de sua vida.

Queria se converter em vampiro e permanecer para sempre com este homem?

Caramba, os casamentos de hoje em dia tinham sorte se duravam dez ou quinze anos.

Havia algumas exceções, é obvio. Os jornais e os noticiários de vez em quando publicavam algum artigo ou itens sobre casais que estavam unidos há cinquenta anos ou mais. Mas esses casos eram exceções, não a regra, e lhe pedia que passasse com ele muito mais que cinquenta anos. Acrescentando um zero ou dois mais a esse número. Certamente até para um companheiro de vida o sexo esfriaria depois de um milênio ou dois.

-Leigh disse que sua transformação foi a experiência mais terrível de sua vida, mas que acabou sendo a melhor coisa que lhe tinha acontecido -disse Valerie em voz baixa.

-Ela é a companheira de vida de Lucian. Estavam destinados a ficarem juntos. Já viu quão perfeito é quando estão juntos e o muito que se amam -lhe disse alentador.

-Mas só estiveram juntos alguns anos. Continuam sendo recém casados, pelo amor de Deus -assinalou ela.

Anders suspirou.

-Tem razão, é claro. Não estiveram juntos muito tempo -reconheceu. -Mas posso te levar para conhecer companheiros de vida que estiveram juntos milênios se isso te ajudar a tomar sua decisão.

Ela o olhou surpreendida.

-Conhece companheiros de vida que estiveram juntos tanto tempo? Ele assentiu.

-Continuam sendo felizes? -perguntou.

-Sim - assegurou, depois franziu o cenho e disse, -Não estou dizendo que nunca discordaram ou brigaram. Mas... Parou quando Valerie o interrompeu com um gesto da mão.

Sorrindo, ela inclinou a cabeça e simplesmente disse, -Óbvio e evidente. Então lhe assegurou. -Entendo que uma relação sã inclui desacordos.

Anders sorriu, apertou-lhe a mão e lhe disse, -Sei que esta é uma decisão importante, e não vou pôr pressão sobre você para que seja rápida. Não há necessidade. Esperei séculos, posso esperar um pouco mais. Entretanto, você nunca pode falar com ninguém sobre nós.

-Como se alguém fosse acreditar -disse com um bufido, depois lhe assegurou, -Sua gente e seus segredos estão a salvo comigo.

-Obrigado -disse Anders, e se inclinou para frente.

Valerie estava segura de que estava a ponto de beijá-la, mas no último momento, parou e se voltou para a porta. Ela seguiu seu olhar curioso, bem a tempo para ver Mortimer aparecer no corredor. Leigh tinha mencionado que os imortais tinham uma audição incrível. Obviamente isso era verdade. Não tinha ouvido Mortimer se aproximar. Na verdade, nem sequer podia escutá-lo caminhar agora que entrava e a sala na direção deles.

-Anders, preciso que vá ao aeroporto -anunciou o homem ao parar ante eles. -Acabo de saber que Bastien pôs o desenhista em um vôo da United que aterrissa em quarenta e cinco minutos, mas Sam está fora comprando comida e Nicholas e Jo levaram a caminhonete para uma manutenção necessária, então Justin teve que levá-

los para casa. E eu não tenho a ninguém mais a quem enviar no momento, só você.

-O desenhista já está de caminho? -perguntou Anders surpreso. -Não o esperávamos até amanhã.

-Ao que parece, esteva disponível imediatamente -disse Mortimer encolhendo-se de ombros. -Mas todos os aviões da companhia estavam ocupados, então Bastien o enviou em um vôo comercial.

-Que aterrissa em quarenta e cinco minutos -disse Anders secamente, ficando de pé.

-Não podia nos dar uma mão em algo mais que isso?

-Disse que ele mesmo pôs o homem no avião para que nenhum mortal pudesse lhe causar nenhum problema no último minuto, como acontece nestes vôos. Tentou se comunicar com Lucian nos últimos quarenta e cinco minutos desde que o vôo decolou, mas Lucian não lhe respondeu, então ligou para cá.

-Lucian estava aqui há uma hora -disse Anders com o cenho franzido. -Não escutei seu telefone tocar.

-Seu telefone está na cozinha, carregando -disse Valerie, recordando que o tinha observado conectar o telefone e ligar para Marguerite pelo fixo.

-Bom, isso explica porque Bastien não pôde localizá-lo -disse Mortimer com chateação, depois desprezou sua irritação. -Que seja. Pelo menos peguei a mensagem com tempo suficiente para enviar alguém até lá para encontrá-lo. A esta hora e com o tráfego de Toronto, será apertado mas deve conseguir chegar antes de que o vôo aterrise... Se sair imediatamente.

-Certo -murmurou Anders, mas se voltou para olhar com preocupação para Valerie.

-Ela está a salvo aqui -disse Mortimer em voz baixa.

-É obvio que está. Anders assentiu, inclinou-se e a beijou rapidamente. Ao soltá-la, disse, -Voltarei assim que puder.

Valerie assentiu e o viu seguir Mortimer para fora da sala enquanto o outro homem lhe dava o número do vôo, depois Anders cruzou a porta para ir ao aeroporto. Ela continuou de pé mesmo depois que desapareceram de sua vista, e não se sentou até que ouviu a porta principal se fechar atrás deles. Suspirando, Valerie sentou no sofá e então seus pensamentos imediatamente foram para a decisão que devia tomar. Passar toda a vida, bom, várias centenas de vidas com o homem com o que acabava de começar a sair, ou renunciar a ele e voltar para sua aborrecida e solitária vida?

Essa última parte lhe fez franzir o cenho. Nunca tinha pensado que sua vida fosse tão aborrecida antes disto. E menos ainda agora. Normalmente, ela tinha uma união profunda com os animais com os que trabalhava para cuidar e curar. Os animais raramente eram aborrecidos. Ou não lhe pareciam aborrecidos antes. Então percebeu que era mais difícil sua vida como veterinária local, comparada com a idéia de várias vidas com um vampiro. Nunca envelheceria, não teria que se preocupar com adoecer, não teria que fazer dietas... Essa última parte a fez sorrir.

Foi Leigh que disso isso durante a hora que durou sua conversa e isso tinha fascinado Valerie. Tinha uma boa aparência, mas não era uma supermodelo. Tinha flacidez e um pouco de celulite, mas não odiava seu corpo. Mas também trabalhava para continuar assim. Não era constante em sua dieta, mas a fazia cada dois meses e, em geral, vigiava o que comia e se negava muitas coisas para manter a forma que tinha. E seus hábitos alimentares desde que despertou na casa de Leigh estavam pior que nunca, comportando-se como jamais tinha feito quanto a comida. Portanto, a idéia de não ter que fazer dieta de novo não lhe era desagradável. Entretanto, essa não era uma boa desculpa para ser a companheira de vida de Anders.

E, com o fator de se opor que sua dieta tivesse que incluir dose diárias de sangue...

Bom, essa idéia não lhe era muito atraente. Era bem brutal, na verdade, face às garantias de Leigh de que nem sequer teria que sentir o gosto. Apenas tinha que perfurar a bolsa com suas presas como tinha visto Justin fazer e deixar que estes fizessem o trabalho.

Presas. Valerie fez uma careta enquanto estendia a mão para passar um dedo através de seus dentes. Como ficaria com presas?

Valerie deixou cair a mão ante o ruído da porta dianteira se fechando, e observou o corredor até que viu Mortimer aparecer de novo.

-Está a caminho. Deve estar de volta em uma hora ou uma hora e meia -anunciou Mortimer com um sorriso.

Ela assentiu, e quando Mortimer hesitou, observando o corredor por onde sabia que estava seu escritório, sorriu ligeiramente e disse, -Sei que tem coisas para fazer, não se preocupe comigo.

-Sim, realmente tenho - disse Mortimer desculpando-se. -Há um televisor no armário do outro lado da sala. O controle remoto está na gaveta da mesa. Se preferir ler, há uma biblioteca no final da sala com um monte de livros, e fique a vontade para se servir do que está na cozinha se tiver fome ou sede.

-Genial -disse Valerie ligeiramente. Como ainda hesitava, sorriu e disse brandamente, -Estarei bem. Vá e volte para seu trabalho. Não se preocupe.

Mortimer deixou escapar seu fôlego em um longo suspiro e assentiu.

-Obrigado. Grite se precisar de algo.

-Farei isso - assegurou, e ele finalmente deu a volta e saiu.

No momento em que se foi, Valerie se recostou no sofá e fechou os olhos. O silêncio imediatamente se abateu sobre ela, por isso piscou, abrindo os olhos.

-É como viver com o Larry -murmurou, olhando o teto, e depois fez uma careta ao pensamento.

Valerie normalmente não se importava em ficar sozinha. Depois de um dia agitado e ocupado na clínica, em geral tinha vontade de chegar em casa e buscar um pouco de paz e tranquilidade, mas não sempre foi assim. Enquanto ela e Larry conviveram...

Franziu o cenho ao teto e se sentou. Valerie estava incomodada por estar na casa de outra pessoa. Apesar de ser usada como casa de segurança e ser a sede, também era a casa de Mortimer e Sam, e uma onde nem sequer tinha um quarto temporário próprio onde pudesse se retirar. Isso fazia com que Valerie se sentisse como uma convidada incômoda e deslocada dadas as circunstâncias. Assim era como se sentia com Larry, dava-se conta agora. Teve o mesmo mal-estar durante todo o tempo em que viveu com ele.

Na verdade, Valerie suspeitava que se seus pais não tivessem morrido, ela e Larry teriam se separado antes que terminassem de se formar. Mas Larry era um bom sujeito, e sua família a tinha recebido em seu seio quando seus pais faleceram, convidando-a a Winnipeg para as férias e assim sucessivamente. Converteram-se em sua família, e não tinha nenhum motivo real para romper com ela.

Valerie supôs que o seguro de vida e sua herança, que bastaram para lhes ajudar a começar uma clínica, tinha influenciado nisso. Não é que pensasse que Larry era um caçador de tesouros e que ficou com ela por isso, mas, gostando ou não, não tinha nenhuma dúvida de que esse tinha sido um fator que influenciou, embora de forma inconsciente.

Quanto a ela, Valerie tinha se obstinado a Larry como se fora um salva-vidas em uma tormenta depois de perder seus pais. Não estava locamente apaixonada por ele, ou apenas apaixonada, mas gostava bastante dele e adorava a sua família... e eles gostavam dela também. Isso tinha sido suficiente para que sua relação sobrevivesse enquanto estavam ocupados com seus estudos e depois ao começar a clínica. Mas não foi suficiente uma vez que seguiram em frente.

Valerie acreditava que foi esse o caso desde o começo. Sabia que ia terminar e que no final estaria sozinha neste grande e aterrador mundo. Essa era provavelmente a razão pela qual sempre se sentia incômoda. Sabia que vivia de alguma forma em um tempo emprestado.

Não havia se sentido assim quando estava com Anders. Havia se sentido querida e na verdade apreciada por ele. Gostava de sua companhia, fosse apenas fazendo compras, ou conversando enquanto comiam. Sentia...

-Maldição, sair da cama me fez sentir como uma baleia encalhada.

Valerie olhou a seu redor, surpreendida ante o comentário, e viu Leigh rebolando em direção à sala, segurando sua barriga como se quisesse evitar que balançasse de um lado a outro enquanto se movia. Sorrindo com simpatia, Valerie parou enquanto se aproximava.

-Não consegue dormir?

Leigh fez uma careta e tomou a mão de Valerie quando a ofereceu, agarrando-se como um contrapeso quando se agachou para sentar no sofá.

-Estou inchada, tenho gases, meus tornozelos inchados são uma loucura, e estou além do esgotamento, mas não consigo dormir em uma cama diferente da minha.

-Em geral sinto isso também -admitiu Valerie. -Embora não me parecia ter esse problema em sua casa.

Leigh sorriu fracamente.

-Obrigada. Mas acho que está mentindo. Provavelmente poderia dormir até em uma casinha de cachorro neste momento.

Valerie riu de suas palavras, depois olhou a Leigh com preocupação quando se moveu no sofá, tentando encontrar uma posição mais cômoda.

-Há algo em que possa te ajudar? -ofereceu. -Algo para beber, ou...

-Minha própria cama e Roxy para esquentar meus pés - interrompeu Leigh, e quando os olhos de Valerie se abriram em estado de shock, disse em tom de desculpa, -O

sinto muito, você não lhe permite subir na cama? Não pensei que se importasse, é que meus pés estavam frios e ela parecia saber, deitou-se em cima deles sobre a manta. Honestamente, é a melhor esquenta pés do mundo.

-Não, eu... Normalmente não lhe permito ficar na cama, mas está tudo bem. Apenas que... me esqueci dela admitiu Valerie pensando. -A pobre permaneceu durante horas em meu quarto sem comida nem água, e sem poder sair à rua -explicou com ar de culpabilidade. -Como pude me esquecer dela dessa maneira?

-Estávamos ocupados -disse Leigh com doçura, começando a se balançar onde estava sentada. -Podemos resolver isso agora mesmo... e procurar minha cama para que possa descansar -acrescentou, balançando-se para frente.

Valerie a olhou fixamente, perguntando-se que diabos estava fazendo; de repente, deu-se conta de que a mulher estava tentando ficar de pé, mas que tinha dificuldades com seu estômago na frente.

-Aqui -disse, segurando-a pelo braço para ajudá-la a ficar em pé. Uma vez que a tinha em posição vertical, Valerie franziu o cenho e sacudiu a cabeça. -Mas acho que não podemos ir para casa. Lucian não voltou e deixou a todos aqui, e Anders acaba de sair para o aeroporto.

-Justin pode nos levar -disse Leigh, começando a caminhar pela sala.

-Foi fazer um serviço para Mortimer. Por isso é que Anders foi ao aeroporto. Não havia ninguém mais que pudesse ir - disse Valerie, seguindo-a até a porta.

-Bom, diabos -murmurou Leigh, fazendo uma pausa na porta. Apertou os lábios com desagrado, e depois sugeriu, -Sempre podemos chamar um táxi.

Valerie sorriu ante a sugestão, mas negou com a cabeça.

-De jeito algum, não acho que os homens gostem muito dessa idéia.

-Não -concordou Leigh com um suspiro. -E ainda tem o renegado com o qual temos que nos preocupar. Contar com Justin para nos levar para casa e passar um momento até que os homens voltem seria uma coisa, mas não estou em forma para me manter a salvo neste momento e um taxista mortal seria menos que inútil.

-Quer se sentar outra vez? -sugeriu Valerie. -Poderia te preparar um copo de chocolate ou leite quente. Isso poderia te ajudar a conciliar o sonho.

-Não, eu... Leigh se deteve, olhando para a porta que se abria. Um amplo sorriso reclamou seus lábios quando viu Justin entrar. -Justo o homem que queria ver.

Justin parou com a porta meio aberta, com uma expressão cautelosa.

-Por que?

-Mortimer tem outra missão para você -anunciou Leigh, rebolando para o jovem imortal a grande velocidade.

-O que é? -perguntou Justin com o cenho franzido.

-Levar Valerie e eu para casa -anunciou Leigh, segurando seu braço e lhe dando a volta para a porta. Usando seu braço como muleta, desceram pelas escadas, arrastando Valerie com ela enquanto adicionava, -Valerie precisa alimentar e tirar Roxy e eu tenho que descansar, mas os homens estão ocupados, então nos levará para casa e permanecerá conosco até que possam retornar.

-Está bem -disse Justin, tentando afastar seu braço do agarre. -Só me deixe falar com Mortimer primeiro.

-Poderá ligar para ele assim que estivermos a caminho -disse Leigh, aferrando-se a ele com força.

-Mas... -protestou, arrastando os pés.

-Justin, estou esgotada e tenho que urinar. Me leve para casa -demandou Leigh soando de muito mau humor.

-Bem, pelo amor de Deus. Vamos entar para que possa urinar -disse ele. -Posso falar com Mortimer enquanto está no banheiro.

-Não -respondeu Leigh.

-Por que? -perguntou-lhe com exasperação.

Leigh suspirou, mas depois admitiu, -Tive que passar um inferno de tempo me levantando do vaso sanitário daqui antes. Pensei que teria que pedir ajuda. Mas consegui com muita dificuldade, e não tenho certeza de que tenha tanta sorte na próxima vez. Em casa, a pia está bem ao lado do vaso, assim posso usá-la para segurar e me ajudar a levantar. Quero ir para casa e fazer minhas necessidades comodamente, sem o medo de não poder me levantar depois -admitiu olhando-o miseravelmente.

Valerie se mordeu o lábio, já entendia porque Leigh parecia tão incômoda e infeliz.

Estava seguindo ela até esse momento, mas agora se posicionou a seu lado e lhe disse brandamente, -Leigh, posso te ajudar a ir ao banho se quiser antes de sair.

Leigh fez uma careta.

-Obrigada, mas já é bastante humilhante ter problemas para subir e descer. Prefiro não ter que precisar de ajuda para me sentar e levantar do vaso sanitário quando posso muito bem ir para casa. Quanto a Justin, ameaçou-o, -E te juro que se não me levar lá em dez minutos, vou fazer minhas necessidades no assento de sua caminhonete, ou farei com que você entre comigo no banheiro de qualquer loja de um posto de gasolina ou cafeteria mais próximo e me ajude a sentar e levantar do vaso... e depois direi a Lucian que o fez.

Justin realmente ficou verde ante a ameaça. Também começou a se mover de novo.

Correndo diante de Leigh, murmurou, -Ligarei para Mortimer no caminho.

Valerie se mordeu o lábio para não rir e se limitou a seguir o casal a uma caminhonete estacionada em frente a casa.

-Minha caminhonete está em manutenção com as demais, então estou usando esta caminhonete -disse Justin, desculpando-se enquanto ajudava Leigh a se acomodar no assento dianteiro.

-Tenho certeza de que estará bem -disse Valerie quando Leigh não fez nenhum comentário. Deslizou a porta lateral para abrir, subiu e a fechou atrás de si. Valerie se sentou no assento traseiro do lado do motorista. Isto me permitirá ver e falar com Leigh, pensou enquanto colocava o cinto de segurança.

-Sinto muito -murmurou Leigh quando Justin fechou a porta e correu ao redor da parte dianteira do veículo. -Sei que estou sendo irritável e difícil.

-Não é necessário que se desculpe - assegurou Valerie. -Eu estaria de muito mau humor também se estivesse inchada, com gases, esgotada e com vontades de fazer xixi.

Leigh sorriu levemente, e depois suspirou.

-Também tenho uma tremenda queimação de estômago e estive tendo contrações Braxton Hicks toda a tarde.

Valerie a olhou com preocupação e perguntou, -Braxton Hicks são as falsas contrações de parto, não é?

-Sim -disse Leigh.

Valerie assentiu lentamente, mas depois perguntou, -Tem certeza de que são Braxton Hicks e não as reais? Quero dizer, está atrasada.

-Sim -disse Leigh, depois franziu o cenho. -Bom, tenho certeza de que são. Não doem muito e aconteceram durante horas, mas foram piores desde que começamos o caminho para a Casa dos Executores.

-As teve durante toda a noite? -perguntou Valerie assombrada. Fazia três horas e meia que estavam na casa dos Executores. E eram mais sete da manhã. Inclinou-se para frente em seu assento, e lhe perguntou, -Por que não disse nada?

Leigh estalou a língua com impaciência.

-Vocês viram como Lucian está se portando, todo superprotetor e como uma mãe galinha. Não quero que fique louco e faça uma grande coisa disto. Tenho certeza que são apenas Braxton Hicks. Estarei bem.

-O que são Braxton Hicks? -perguntou Justin, capturando a parte final da conversa quando se sentou no assento do motorista.

-Nada -disse Leigh. -Só tem que ir para casa. Tenho que ir ao banheiro.

Justin assentiu, conduzindo a caminhonete para evitar o cruzamento do caminho para a porta. Depois colocou a mão em seu bolso e tirou seu telefone celular.

-Me dê isso. Eu ligarei -disse Leigh. -Se Concentre em dirigir. Justin lhe entregou o telefone e Leigh rapidamente fez a chamada.

-Secretária eletrônica -disse ela enquanto esperavam que os portões se abrissem.

-Mortimer deve estar em outra ligação - murmurou Justin.

-Hmm, deixarei uma mensagem -disse Leigh enquanto Justin conduzia através dos portões para a estrada, acelerando imediatamente. O homem está sem dúvida desejoso de voltar para a casa e sair do veículo, pensou Valerie divertida enquanto corriam pela estrada.

-Olá, Mortimer -cantarolou Leigh alegremente. -Só estou ligando para dizer que Justin retornou de sua missão e está nos levando para casa. Quero me recostar e Valerie tem que cuidar de Roxy, então lhe disse que queria que nos levasse. Envie Lucian e Anders para casa quando retornarem, certo? Até mais tarde.

-Ele queria que te levasse, não é mesmo? -perguntou Justin com suspicacia quando Leigh afastou o telefone de sua orelha.

-Tenho certeza... OH, merda! -murmurou quando ia pressionar o botão para finalizar a ligação e deixou cair o telefone. Valerie o viu ricochetear no joelho da mulher e então desaparecer em algum lugar no chão diante dela.

-Deixe-o -sugeriu ele quando Leigh começou a tentar se inclinar para frente para pegá-lo. Não havia maneira de que chegasse a ele em sua condição.

-OH, merda! -ofegou Leigh de repente.

-O que foi? -perguntou Justin, olhando a de lado com alarme. -Quebrou meu telefone?

-Não, minha bolsa se rompeu —murmurou Leigh.

-O que? -disseram Valerie e ele ao uníssono.

-Acho que não eram Braxton Hicks, depois de tudo -murmurou. -Maldição.

-Eu... você... tem certeza de que sua bolsa se rompeu? A voz do Justin saiu por fim, alta e alarmada e com seus olhos movendo-se repentinamente dela para o caminho.

-Bom, ainda tenho que fazer xixi, então acho que o atoleiro no qual estou sentada é de líquido amniótico -disse Leigh secamente.

-Olhe para a estrada, Justin -disse Valerie, tirando-se seu cinto de segurança e deslocando-se de seu assento para se ajoelhar entre os assentos dianteiros.

-Estou dando a volta. Vamos voltar para a casa -advertiu Justin lentamente.

-Bom, por que diabos vai fazer isso? -perguntou Leigh com irritação. -Preciso de Rachel ou Dani. E nenhuma delas se encontra na casa. Então, quem vai fazer o parto? Você?

-OH, Deus -murmurou Justin, pressionando o pedal do acelerador de novo. -Rachel e a casa de Etienne estão mais perto. Posso chegar ali em vinte minutos. Não, quinze.

Só espere e não empurre nem nada.

Valerie segurou o assento de Leigh para evitar cair quando a caminhonete acelerou; depois olhou para Leigh surpresa quando ela começou a se mover em seu assento, tentando pôr suas pernas de lado em vez de deixá-las para frente.

-O que está fazendo? -perguntou alarmada.

-Quero ir para o assento de trás - explicou Leigh. -Não posso me estirar mais. E esse assento não está molhado.

-Bom, me deixe te ajudar -disse Valerie, afastando-se para um lado para sair de seu caminho e segurá-la pela braço para ajudar. Para seu alívio, conseguiram levá-la ao assento traseiro sem se sacudir indevidamente ou ser jogada através do pára-brisa dianteiro quando Justin freou abruptamente. Depois ajudou Leigh a colocar o cinto de segurança antes de fazer o mesmo com o seu. Agora, a única coisa que podia fazer era segurar a mão de Leigh e tentar não gemer quando seus dedos eram esmagados com cada contração. Era alarmante ver que os apertos chegavam em intervalos bastante regulares e diminuíam rapidamente à medida que avançavam. Mas não a deixou em pânico até que Leigh começou a gemer e gritar junto com cada aperto de sua mão.

Valerie não acreditou que tinha escutado um palavra mais bela que o ‘chegamos’ de Justin quando ele a pronunciou. Observou pela janela que a casa estava em frente ao pararem, depois olhou rapidamente para Leigh quando ela ficou sem fôlego e lhe esmagou os dedos outra vez.

-OH, Meu deus! gritou Leigh de dor, para depois gritar com amargura, -Por que as mulheres têm que ter os bebês? Os homens deveriam tê-los. O que fizemos para merecer isto?

-Eva comeu a maçã -respondeu Justin, freando e estacionando a caminhonete no estacionamento.

-Cale a boca, Justin, ou juro que coloco uma maçã em você...

-Ai, ai, ai! -gritou Valerie quando Leigh quase pulverizou os ossos de seus dedos.


-Sinto muito -murmurou Leigh, liberando seus dedos. -Estava tentando não apertar muito.

-Está tudo bem -disse Valerie fracamente.

-Vou procurar Etienne e Rachel -anunciou Justin, abrindo a porta. -Não acredito que possamos colocar Leigh na casa sem ajuda.

-Isso é porque sou uma baleia encalhada -se queixou Leigh, soando chorosa de repente.

-Não, querida -disse Valerie rapidamente. -Ele só está preocupado com você, se por acaso tem uma contração enquanto vai caminhando. É melhor se tivermos a ajuda de alguém para te levar.

Leigh soltou um bufido de incredulidade, e todo rastro de lágrimas se foi, dando passo de novo à incredulidade.

—Justin poderia me levar com uma mão. A única coisa que tem medo é que eu vá mordê-lo ou algo assim.

-Tenho certeza de que ele... Valerie não se incomodou em terminar. Leigh ficou sem fôlego pela dor de novo e agora estava se inclinando para frente, com a cabeça agachada enquanto se aferrava desesperadamente a seu abdômen.

Desatando seu cinto de segurança, deslocou-se de joelhos frente a ela, disposta a ajudar quando os homens retornassem.

-Respire -disse, esfregando o braço e o ombro superior de Leigh, mas franziu o cenho quando a porta dianteira se abriu de novo. Continuou esfregando o ombro do Leigh e disse, -Pensei que Etienne nos receberia.

Quando o veículo arrancou, Valerie se uniu a Leigh em seu gemido. Etienne e Rachel não deveriam estar em casa, pensou com desgosto e disse, -Talvez devêssemos ir ao hospital.

-Não podemos ir ao hospital. Os nanos. Leigh ficou sem fôlego entre ofegos.

-Bem -murmurou Valerie. Girando-se de joelhos para poder olhar a Justin, disse, -Quão longe estão Dani e Decker daqui? Dani...

Sua voz se apagou enquanto olhava o motorista. Não era Justin.

-OH merda -respirou Valerie.

Capítulo 18

- O que? Anders olhou para Mortimer com seu cérebro completamente em branco, enquanto tentava aceitar a notícia que acabava de lhe dar. -Valerie e Leigh disseram que pensavam que Justin deveria levá-las para casa...

-Sim, sim, captei isso -o interrompeu Anders secamente, seu cérebro ficando de novo em marcha. -Vá para a parte em que um sujeito de cabelo branco se afasta com minha companheira de vida e Leigh. Quem diabos era?

-Acreditam que é o renegado. Mortimer dirigia a caminhonete através dos portões e em direção à estrada.

-É obvio -murmurou, e depois perguntou com gravidade, -Faz quanto tempo?

-Justin me ligou do telefone de Etienne no minuto em que aconteceu. Isso foi quase vinte minutos depois das sete. Olhei no relógio -adicionou secamente, depois murmurou, -Embora não sei porque.

Anders sacudiu a cabeça ante quão rápido a vida podia mudar. E isso era o que tinha acontecido com seu mundo no momento em que chegou de volta à casa com o desenhista. Tinha pensado que Valerie estava a salvo e que as coisas estavam bem ali.

Tinha a grande esperança de que com o desenho que se podia fazer, identificariam e apanhariam o renegado e que com um pouco de tempo, Valerie estaria de acordo em ser sua companheira de vida. Mas assim que saiu da caminhonete, viu Mortimer sair e se dirigir a outra caminhonete que esperava diante da casa. O chefe dos Executores nem sequer desacelerou. Tinha gritado a Sam que cuidasse do desenhista, depois ordenou a Anders que subisse, e acelerou no momento em que seu traseiro se posou no assento. Anders nem sequer tinha fechado a porta ainda. Então soube que havia problemas, mas certamente não os que esperava. Tinha deixado Valerie segura na casa dos Executores. Ainda devia estar ali. Mas não estava. Ainda estava tentando processar isso em sua mente.

-Estão na caminhonete, e todos nossos veículos tem GPS -assinalou Mortimer, seus olhos corriam pela estrada. -Há um programa de rastreamento no computador instalado aqui. Dirigiam-se para o sul quando saí da casa. Verifique você mesmo e veja onde estão agora, depois ligue para Justin e Lucian e diga a eles onde ir.

-Lucian sabe? -perguntou Anders pegando o computador aberto no chão.

-Só deixei uma mensagem quando liguei para Marguerite. Não tinha o número de seu celular - recordou Mortimer. -Christian e Carolyn os estão seguindo e ficarão com ele. É para o número de Christian que terá que ligar. Use meu telefone. Está programado nele -acrescentou, tirando o de seu bolso e passando para ele.

Anders pegou o telefone, mas sua atenção estava no computador em seu colo. Tinha entrado em modo de espera. Enquanto esperava com impaciência que se iniciasse de novo, murmurou, -Devia ter dito.

-Dizer o que a quem? -perguntou Mortimer distraído.

-A Valerie, devia ter dito que a amo. Mas percebi que ela pensava que era muito cedo e... Não se incomodou em terminar. O equipamento estava operacional de novo.

Olhou os pontos em movimento na tela. -Qual é a caminhonete?

-O verde -respondeu Mortimer.

-Vão para o sul. Estão na 401 -anunciou Anders, que em seguida começou a teclar os números do celular para que outros soubessem.

-O que estão fazendo? Ambas voltem para seus assentos agora.

Valerie ignorou a ordem do homem que tinha sequestrado a caminhonete, e continuou ajudando Leigh a se recostar no assento da parte posterior.

-Ela está em trabalho de parto. Precisa descansar.

-Voltem para seus assentos ou controlarei suas mentes e farei com que voltem -sua resposta foi fria como o aço.

-OH, que coisa -replicou Leigh. -Tenho uma bola de praia tentando abrir caminho para fora de mim. Estou deitada e não há nada que possa fazer a respeito. Não pode controlar a caminhonete e tentar nos controlar também... espero -murmurou em voz baixa.

O renegado não respondeu, mas Valerie mal percebeu. Estava olhando para Leigh preocupada enquanto se movia para trás de joelhos. Sussurrou-lhe, -Os imortais podem controlar uns aos outros?

-Acredito que os verdadeiramente velhos podem controlar os mais jovens, às vezes -admitiu Leigh a contra gosto, sussurrando também, -Pelo menos o primeiro marido de Marguerite a controlava.

-OH -murmurou Valerie tristemente e olhou a seu redor procurando algo para pôr no chão da caminhonete. Ao ver uma manta e um estojo de primeiro socorros presos sob o assento de atrás, agarrou ambos, abrindo e estendendo rapidamente a manta.

-Aqui, Leigh, me deixe te ajudar -disse Valerie, lhe passando o braço para ajudá-la a subir e colocá-la sobre a manta.

-Não se preocupe, Lucian e os meninos virão atrás de nós - assegurou Leigh quando Valerie se ajoelhou a seu lado.

-E se não chegarem a tempo? -perguntou Valerie.

-Chegarão -disse com firmeza.

-Bom, caso não cheguem, acho que deveríamos planejar algo nós mesmas - sugeriu Valerie em ajoelhada a seu lado e procurando a sua redor por alguma possível arma.

-Sim -concordou Leigh com os dentes apertados. -Simplesmente não acredito que isso sirva muito se ele puder ler nossas mentes.

-Certo -murmurou Valerie e começou a recitar letras de canções em sua cabeça. A primeira canção que veio a sua mente foi Ridin. Só que em vez do Ridin’ Dirty, o coro de repetições dava voltas em sua cabeça. Era algo irritante.

-Eu gostaria que Dani e Rachel estivessem aqui -disse Leigh com um suspiro enquanto sua contração terminava.

-Sinto muito -murmurou Valerie, e depois para distraí-la perguntou, -Quem é Rachel?

-É a companheira de vida de Etienne. O sobrinho de Lucian. Trabalha no necrotério, mas também é médica -explicou Leigh.

Valerie assentiu, comentando, -Lucian parece ter um monte de sobrinhas e sobrinhos.

-Sim, ele... ahhhhh! -gritou Leigh e se agarrou no ombro de Valerie, seus dedos apertando tanto que a fez chorar de dor também e temer que perfurasse a pele de seu lado direito. Querido Deus, isso era forte.

-Respire -disse Valerie com voz tensa uma vez que o pior da contração terminou e os dedos deixaram de oprimir seu ombro, para seu alívio.

-Estou respirando -ofegou Leigh.

-É obvio que sim -disse Valerie com doçura, seus olhos se moviam ao redor da caminhonete de novo. Não via nada que pudesse usar como arma, mas tinha a idéia de tentar não pensar. Se pudesse encontrar uma desculpa para voltar para a parte dianteira da caminhonete...

-Deveríamos... tomar o tempo... entre contrações -ofegou Leigh.

-Boa idéia -aceitou Valerie distraída. Se nada mais mantinha Leigh ocupada. Depois olhando-a abruptamente, perguntou-lhe, -Tem relógio?

-Não.

-Eu também não. Tentou não soar muito feliz por isso enquanto olhava por cima de seu ombro à parte dianteira da caminhonete. Seu sequestrador provavelmente tinha um.

-Valerie?

-Hmm? -voltou-se, aproximando-se mais quando Leigh puxou sua mão.

-Grite -sussurrou olhando-a fixamente nos olhos. Depois Leigh deixou escapar um agônico e longo grito de novo. Não obstante, não segurou seu ombro ou sua mão de novo, mas simplesmente a olhou com calma e começou mover suas sobrancelhas de acima abaixo até que Valerie entendeu e começou a gritar junto com ela.

-Calem-se -grunhiu seu sequestrador.

Leigh deixou morrer lentamente seu grito, e quando Valerie ficou em silêncio, pensou em uma sugestão para seu sequestrador que fosse fisicamente impossível.

-Estou em trabalho de parto -ladrou. -Dói. Vou gritar até dar voltas em minha cabeça.

Se você não gostar, me deixe ir.

Depois soltou outro uivo de dor. Este era real, entretanto. Valerie podia dizer pelo fato de que Leigh se aferrou a seu pulso, esmagando-o. Maldição, ia ser uma sorte se saísse disto sem um osso quebrado, e não pelo sequestrador, pensou Valerie, gritando junto à mulher.

A caminhonete se encheu imediatamente com música a todo volume. Clássica e maníaca até o final, para tentar abafar o ruído que estavam fazendo, supôs Valerie. E

notou que isso foi exatamente o que Leigh estava esperando quando seu grito finalizou posteriormente em um grunhido de satisfação; aproximando-se de Valerie, assobiou, -Temos que sair daqui.

Valerie assentiu. Estava segura de que o renegado não as tinha sequestrado para devolvê-la a sua jaula e se alimentar dela de novo. Provavelmente estava preocupado de que tivesse visto o retrato. Tão preocupado que se arriscou a levar Leigh. Não podia permitir que qualquer delas o visse agora.

-Deve estar planejando matar nós duas -acrescentou Leigh. -Vi seu rosto.

-Eu sei - concordou Valerie, não totalmente segura de que Leigh a escutasse sobre a música. Mal era capaz de ouvir Leigh e estava sobre tudo lendo seus lábios.

-E ao bebê -acrescentou Leigh, olhando para baixo e esfregando seu estômago. -Não podemos deixar que assassine o bebê.

-Não, é obvio que não -disse em tom tranquilizador.

Valerie estava pensando em quão incrível era que as mães estivessem unidas a seus filhos até mesmo antes do nascimento, quando Leigh acrescentou sombriamente, -Não depois de que passei por toda essa merda para dar a luz.

-Ah -murmurou Valerie e se perguntou se eram os hormônios falando agora mesmo ou se Leigh estava possuída. Sinceramente, esta não era a mulher que tinha sido sua anfitriã desde que acordou de sua febre. Se eram os hormônios ou uma possessão, Valerie não podia dizer. Não tinha muita experiência com grávidas, pelo menos não da variedade de duas patas. Os cães, gatos, cavalos e vacas simplesmente não agiam assim.

-As caminhonetes têm armas e caixas térmicas com sangue -sussurrou Leigh. -Talvez esta caminhonete também tenha.

-Não vejo nada -murmurou Valerie, olhando a sua redor outra vez.

-Verifique os painéis do chão e os laterais. Deixam escondidos, caso os veículos sejam roubados por mortais.

-Inteligente -comentou Valerie e começou a arrastasse pelo chão, golpeando aqui e ali, apalpando ao longo da parede. Estava a ponto de desistir quando viu uma costura no painel lateral no lado da caminhonete em que se encontravam. Valerie o olhou brevemente, e depois pressionou ao longo das borda. Quando isto não teve nenhum efeito, instintivamente apertou os dedos e os arrastou à esquerda. Um pequeno sopro de alívio se deslizou através dela quando o painel se moveu, abrindo alguns centímetros.

Valerie olhou nervosamente para a parte dianteira da caminhonete, mas a banqueta estava oferecendo uma cobertura, assim deslizou o painel abrindo-o mais e se mordeu o lábio enquanto observava o que tinha revelado. Sob o painel havia uma parede para ferramentas, um painel com filas de pequenos buracos onde as ferramentas se encontravam em seu lugar: chaves de fenda, chaves inglesas, serras, martelos, fita adesiva...

-Pegue a serra - aconselhou Leigh, arrastando-se a seu lado. -Podemos cortar a cabeça dele.

Valerie lhe lançou um olhar de incredulidade e depois, em vez disso, pegou um martelo e a fita adesiva. Deixando-os no chão, deslizou o painel para fechá-lo e se voltou para Leigh.

-Temos que encontrar uma maneira de nos preparar caso o veículo capote ou algo parecido.

Ambas consideraram o espaço, então Valerie sugeriu, -Vire para o lado e se situe entre os espaços das rodas.

Leigh começou a fazer o que lhe sugeriu, apoiando seus pés contra uma das rodas, mas não era o bastante ampla para que ela se deitasse. Faltavam apenas alguns centímetros, segundo a conjetura de Valerie. A outra roda se elevava a uns centímetros por debaixo da base do pescoço de Leigh.

Valerie se inclinou sobre ela e lhe sugeriu, -Dobre as pernas, mantenha as costas e a cabeça retas.

Ela não tinha certeza de que Leigh ouvisse por cima da música, mas ela ouviu. Isso, ou estava lendo seus lábios, porque Leigh fez o que lhe indicou.

-Acha que pode se manter assim? -perguntou Valerie com incerteza.

Leigh hesitou, depois levantou as mãos, as colocando contra a parede da caminhonete a ambos os lados de sua cabeça. Seguiu deslizando-se para cima, pressionando seus pés contra o metal por cima do espaço da roda na parede oposta.

Esticou-se brevemente, empurrando ambas as superfícies, depois relaxou e assentiu para Valerie.

-Certo. Valerie obteve um sorriso alentador. Olhou para a frente da caminhonete, mas voltou quando Leigh de repente a agarrou pelo braço por debaixo do cotovelo.

Entendeu o porque quando Leigh começou a gritar e apertar.

Valerie gemeu, esperando que passasse a última contração e rapidamente colocou a fita adesiva e o martelo na parte dianteira de suas calças, dizendo, -Vou ver se o Conde Drácula tem relógio.

Sem querer soar como se estivesse tramando algo, disse em um tom de voz normal, com a esperança de que o ouvido imortal de seu sequestrador o escutasse apesar da música a todo volume. Depois trocou um olhar com Leigh e se moveu de joelhos, inclinando-se para frente para ocultar os vultos na parte frontal de suas calças enquanto avançava de novo para a parte dianteira da caminhonete. Ao mesmo tempo, seguia pensando: Preciso de um relógio, preciso de um relógio, temos marcar o tempo entre contrações, preciso de um relógio, uma e outra vez com a esperança de que não ficasse nem um vestígio de seu plano na superfície de seus pensamentos.

Valerie não sabia se ele conseguiu vê-la pelo espelho retrovisor, ou se simplesmente sentiu sua presença, porque estava movendo-se ao redor do assento quando o renegado lhe gritou algo.

Não podia ouvi-lo por cima da forte música, mas suspeitava que estava dizendo que voltasse para trás. Irônico, já que há uns momentos tinha querido que ficasse no assento, pensou, mas simplesmente lhe gritou, -Não consigo te ouvir. Precisamos de um relógio.

Ele gritou de novo, voltando-se para olhá-la enquanto avançava para frente, mas ela negou com a cabeça, assinalou seu ouvido e gritou, -Não consigo te ouvir! Preciso de um relógio, tenho que medir o tempo de suas contrações!

Com sacudidas impacientes para frente, ele desligou a música, começando a gritar de novo ao mesmo tempo em que Leigh começava a uivar.

Fazendo uma pausa, Valerie se virou, inclinando-se sobre o assento de atrás e apoiando um joelho nele enquanto olhava para Leigh. O alívio a percorreu quando viu sua expressão e se deu conta de que estava fingindo. Um momento depois, entretanto, o alívio morreu quando os olhos de Leigh se abriram de repente e o grito se fez mais forte quando uma verdadeira contração a golpeou.

Maldição, nunca terei bebês, pensou Valerie com desalento quando Leigh se aferrou a seu estômago e começou quase se retorcer no chão em agonia.

-Algo está errado. Leigh ficou sem fôlego, logo que pôde falar.

Valerie duvidou, dividida entre retornar a toda pressa com ela ou continuar para frente. Mas para frente era a única resposta. Ele mataria a todos enquanto estava ocupada tentando tirar o bebe se retornasse para trás. Quando Leigh relaxou de novo com um gemido assim que a contração terminou, imediatamente se preparou uma vez mais. Valerie sentiu cada músculo de seu próprio corpo se esticar. Tinha que seguir.

-Volte para trás!

Valerie pegou o cinto de segurança do centro com a mão esquerda, girando-o a seu redor para envolvê-lo duas vezes em seu pulso enquanto deslizava o martelo fora da parte superior de sua calça. Depois se separou do assento e girou para o condutor, mantendo o martelo para baixo e esperando que estivesse fora de sua vista.

-Preciso que me empreste um relógio para medir o tempo das contrações -disse com gravidade enquanto seu olhar se deslizava sobre a estrada em que iam. Estavam na estrada, mas ele estava desacelerando em direção a uma rampa de saída que viu. Seus olhos se dirigiram ao velocímetro, que se reduzia dos cem quilômetros por hora a noventa... e oitenta... setenta...

Estavam na curva, ainda muito rápidos, mas a velocidade continuava baixando quando de repente voltou a cabeça para ela. Por alguma razão, isso pareceu sinistro para Valerie. Com medo de que ele a lesse, ou —ainda pior— que tomasse o controle dela, apertou seu agarre no cinto de segurança e lhe golpeou com o martelo na cabeça.

Pensou que golpearia o volante e o giraria por si mesma com o martelo em lugar de golpeá-lo na têmpora. Sua cabeça girou para a esquerda, assim como o volante.

Valerie gritou e deixou cair o martelo, agarrando o assento do passageiro da frente para evitar ser arremessada ao redor quando a caminhonete se disparou para fora da estrada, em uma linha de árvores três metros a seu lado.

Apesar da sensação de ardor em seu pulso e seu braço esquerdo quando parte do cinto de segurança escapou de seu agarre, Valerie se alegrou de ter pensado em enrrolá-lo em seu pulso. Do contrário, certamente teria saído voando pela janela.

Assim como as coisas, ricocheteava entre os assentos, chocando-se contra uma superfície acolchoada e depois contra outra enquanto deslizavam sobre uma superfície coberta de grama, para depois colidir contra uma árvore.

Valerie gritou quando foi lançada para frente pelo impacto, que lhe deslocou o braço.

Depois, quase se mordeu a língua quando caiu de costas sobre o assento. Mas não ficou ali muito tempo, uma vez que o veículo parou. Sabia que não podia se permitir esse luxo, então se empurrou para frente do assento, caindo de joelhos no chão enquanto pegava o martelo.

Queria ver Leigh. Valerie lembrou que a tinha escutado gritar durante o acidente, mas como ela mesma tinha gritado não podia estar segura. Entretanto, não tinha tempo para ver como ela estava nesse momento. Drácula parecia um pouco aturdido pelo golpe, mas o air-bag tinha impedido que sofresse alguma lesão mais séria, já que se movia.

Agarrando o martelo, Valerie se endireitou e o golpeou de novo com ele, desta vez na parte superior da cabeça. Para seu alívio, gemeu e se deixou cair contra o air-bag que se desinflou sobre o volante.

-Leigh? -gritou, pegando a fita adesiva. -Está bem?

Um gemido soou da parte de trás e Valerie franziu o cenho mas rapidamente começou a passar pelo espaço entre seu assento e o do condutor com a fita, passando-a ao redor do peito do renegado e na parte traseira do assento, depois sobre o peito uma e outra vez em uma rápida sucessão enquanto gritava, -Espere! Já vou para aí... de acordo? - acrescentou preocupada.

Escutou outro gemido, e Valerie se mordeu o lábio enquanto passava a fita ao redor uma dúzia de vezes mais antes de decidir que era suficiente. Deixando a fita pendurada na parte posterior do assento, abraçou-se ao assento do motorista e ao assento traseiro para cambalear em uma posição vertical.

Para sua surpresa, as pernas de Valerie quase cederam debaixo dela. Apertando os dentes, obrigou-as a se endireitarem e começou a se mover ao redor do assento de loelhos.

Leigh estava deitada no chão agarrando a barriga e parecia que não tinha sido golpeada nem estava muito mal. Ao menos Valerie não viu nenhuma laceração, golpes ou contusões.

-O renegado? Leigh preocupada ficou sem fôlego quando Valerie se ajoelhou a seu lado.

-Amarrei-o no assento do motorista - assegurou. -Como você está?

Os olhos de Leigh se abriram alarmados.

-Isso não vai detê-lo. Ele é imortal.

Valerie franziu o cenho e olhou para a parte dianteira da caminhonete, mas não podia ver mais à frente do assento desde esse ângulo. Mordendo os lábios, levantou-se sobre seus joelhos para ter uma melhor visão, sentindo-se aliviada ao ver que ele não se movia. Voltando-se, disse, -O deixei fora de combate.

-Ele não ficará inconsciente por muito tempo e a fita não o deterá quando despertar -disse Leigh. -Vá verificar se já não está acordado.

-Parece que não - assegurou Valerie, dando outra olhada de todos os modos.

-Poderia estar fingindo. Se acordar, matará a todos -a última parte disse quase em um grito enquanto se aferrava a sua barriga.

Outra contração, percebeu Valerie preocupada.

Apertando os dentes um momento depois que a contração pareceu ceder, Leigh grunhiu.

-Há algo errado com o bebê. Preciso de você aqui, mas se não estiver fora de combate terá que lhe cortar a cabeça.

-O que? -perguntou Valerie incrédula. -Quem acha que sou? Rainha de copas?

-Não, se fosse já lhe teria cortado a cabeça -soltou Leigh, depois gemeu com agonia.

Valerie vacilou, seu olhar se separou de Leigh para ir ao motorista, depois suspirou.

Movendo-se sobre seus pés, murmurou, -Espere.

Martelo em mão, moveu-se rapidamente ao redor do assento para olhar com preocupação o renegado. Parecia estar como ela tinha deixado, mas Valerie acreditou ver um ligeiro espasmo. Com medo de que estivesse fingindo estar inconsciente como Leigh havia dito, golpeou-o de novo na cabeça. Estava convencida de que estava certa quando um pequeno suspiro escapou de seus lábios e sua cabeça se afundou ainda mais para frente. Ele estava fingindo. Maldição. O que se supunha que devia fazer? Não podia lhe cortar a cabeça. Isso era só...

-Maldição -murmurou Valerie, olhando rapidamente para a parte posterior da caminhonete quando Leigh voltou a gritar. Isto era ridículo. Não podia vigiar o renegado e Leigh ao mesmo tempo. E não podia cortar a cabeça de um homem inconsciente, renegado ou não.

Amaldiçoando, se apoiou no assento e observou a força de sua amarração. Depois olhou a porta lateral. Colidiram de frente contra uma árvore, batendo pelo lado dianteiro do motorista. Mas não havia nada bloqueando a porta. Movendo-se para ela, agarrou a maçaneta e a abriu, deslizando-a para trás até fixá-la aberta. Então, dirigiu-se de novo à frente do assento.

Valerie começou a se ajoelhar, mas depois se voltou para o renegado e golpeou com o martelo de novo em seu crânio só para garantir. Satisfeita de que tinha alguns minutos pelo menos, ajoelhou-se e rapidamente levantou as travas para liberar o assento.

-O que está fazendo? -ofegou Leigh quando as contrações terminaram.

-O melhor que posso -disse simplesmente Valerie enquanto começava a manobrar o assento para a porta. Conseguiu chegar à entrada com um pouco de esforço, e depois simplesmente o empurrou para a grama.

Deixando a porta aberta, Valerie se voltou para golpear a cabeça do renegado de novo. Não se sentia mal por fazer isso. Ele era imortal. Eles curavam. Além disso, era melhor que tentar lhe cortar a cabeça com uma serra. Apenas a idéia a fazia estremecer quando se virou para retornar a Leigh.

-Está bem, vou te pôr em cima dos assentos de trás -anunciou, inclinando-se para pegar as pontas da manta onde estava Leigh. À medida que a arrastava pela caminhonete, adicionou, -Desta forma posso continuar golpeando ele enquanto tento te ajudar.

Por alguma razão, suas palavras fizeram Leigh rir. O som era um pouco histérico, notou Valerie. Uma vez que teve Leigh diretamente atrás dos assentos dianteiros, Valerie soltou a manta, voltou-se e golpeou o renegado na cabeça uma vez mais, o que fez Leigh rir mais forte. Sacudindo a cabeça, Valerie se inclinou rapidamente sobre o assento do passageiro para procurar o telefone que Leigh tinha deixado cair antes.

-O que está fazendo agora? -perguntou Leigh entre risadas.

-Procurando o telefone de Justin para pedir ajuda. Deve estar por aqui. Ah... achei!

-exclamou quando o viu.

—Cristo! Anders amaldiçoou no telefone quando viu que a caminhonete bateu nas árvores ao lado da curva. Mortimer tinha corrido como o vento para alcançar o outro veículo. Anders estava no telefone com Lucian quando viu a luz intermitente da caminhonete, e lhe disse imediatamente o número da rampa de saída que estavam acessando. Uma vez que desligou, chamou Justin pelo telefone de Etienne e lhe deu a mesma informação.

-O que aconteceu? -perguntou Justin preocupado do outro lado da linha.

Anders não explicou.

-Traga Rachel aqui assim que seja possível - gritou, e desligou o telefone.


-Esse é o assento do motorista? -perguntou Mortimer, com o cenho franzido e a confusão notável em sua voz. -Por que diabos está do lado de fora?

-Quem se importa? Abde logo, maldição. Elas precisam de nós. Bruscamente, Anders jogou o computador no chão e se levantou de seu assento. Grunhindo e caindo de joelhos no assento traseiro quando Mortimer conduziu a caminhonete para fora da estrada, preparando-se para sair rapidamente. Inclinou-se sobre o assento, depois se agachou para abrir o depósito de armas. Anders tinha agarrado duas armas quando seu telefone começou a tocar.

Trocou de lado as armas, tirou seu telefone e franziu o cenho quando viu o nome do Justin no identificador de chamadas.

-O que? -gritou-lhe com impaciência.

-Semmy?

Nunca ninguém o tinha chamado assim, apenas Valerie. Se não tivesse reconhecido sua voz, teria perguntado quem era, mas reconheceu sua voz, assim como a tensão nela. Ouviu um surdo “Quem é Semmy?” com uma voz que suspeitava ser a de Leigh.

-Valerie, querida? -disse, antes de que pudesse responder. -Está bem?

Voltando-se sobre o assento, olhou para a caminhonete quando Mortimer parou atrás dela.

-Sim -disse Valerie, e logo soltou, -O renegado nos sequestrou.

-Sei disso, querida -disse Anders, desejando que de algum jeito pudesse puxá-la através do telefone e colocá-la a salvo. Sem dúvida, o renegado tinha descoberto que os seguiam e a fez ligar para lhes dizer que se afastassem. Mortimer deve ter suspeitado o mesmo, pois tinha estacionado a caminhonete e se inclinou no assento para escutar seu lado da conversa, esperando saber qual era a situação.

-Sério? -soava surpreendida. -Bem...

-Valerie! -gritou Leigh ao fundo.

-Maldição -amaldiçoou Valerie, depois houve um ruído como se o telefone tivesse caído e só podia escutar o som de fundo, incluindo a forte bater de porta que fez com que Anders se desesperasse na caminhonete, tentando ver o que acontecia através das pequenas janelas enegrecidas traseiras da caminhonete.


-Sinto muito -murmurou Valerie um momento depois.

-Juro que vi seu espasmo -disse a voz de Leigh fracamente, e Anders franziu o cenho. Não entendia do que estavam falando, mas era mais o som de sua voz o que o incomodava. Era como se estivessem falando com os dentes apertados, e logo ela ou Valerie começou a gritar e houve outro ruído do telefone caindo de novo.

-Valerie? -gritou Anders.

-Quem está gritando? -perguntou Mortimer, tentando ouvir de onde estava sentado.

Amaldiçoando, Anders entregou a Mortimer uma das pistolas, meteu a outra na parte superior de sua calça, virou-se e empurrou a porta a seu lado para abri-la. Ainda tinha o telefone na orelha e gritava o nome de Valerie enquanto saía do caminhonete.

Anders tirava sua arma enquanto corria para a caminhonete, vagamente consciente de que Mortimer tinha saltado fora da caminhonete atrás dele.

Anders viu que a porta lateral ainda estava aberta enquanto se aproximava correndo para ela, com o telefone ainda na orelha, o terror em seu coração e a pistola na mão... de repente ficou ali, olhando. No interior, Leigh se encolhia no chão da caminhonete, agarrando a mão do Valerie e gritando. Valerie estava de joelhos, gritando junto com a mulher, mas enquanto a olhava, ela se virou e golpeou o assento do motorista com o que parecia ser um martelo.

Não era o assento do motorista, deu-se conta enquanto baixava o martelo e se afundava para se sentar sobre seus calcanhares. Era o renegado quem ela tinha golpeado.

-Bom, infernos -murmurou Mortimer a seu lado. -Parece que as garotas salvaram a si mesmas.


Capítulo 19

-Preciso de meu telefone.

Anders mal ouviu as palavras através dos gritos que provinham da caminhonete, mas se virou sem compreender, dando uma olhada em Mortimer, que levantava a mão.

-Está com ele em sua orelha -disse Mortimer amavelmente. -Quero chamar Lucian e lhe dizer que alcançamos as mulheres e que estão vivas.

-De acordo. Anders baixou o telefone e o entregou. Depois viu Mortimer caminhar pela lateral da caminhonete até o lado do motorista, teclando o número.

Com um suspiro de alívio quando os gritos das mulheres começaram a diminuir e se tornarem menos vociferantes, Anders meteu a pistola na parte posterior de sua calça e caminhou até a porta lateral aberta da caminhonete. Mas esperou que elas terminassem por completo antes de perguntar, -Estão bem?

A cabeça de Valerie se sacudiu, com os olhos e a boca abertos. Obviamente, não tinha percebido que estavam bem atrás da caminhonete quando ligou. Mas as janelas traseiras da caminhonete eram altas e não teria sido capaz de ver através delas ajoelhada como estava.

-Como chegou até aqui tão rápido? -perguntou, recuperando sua mão do agarre agora solto de Leigh e fazendo uma careta enquanto a esfregava. Detectando as impressões da mão de Leigh ao apertar, Anders começou a entender porque ela estava gritando.

Ele tinha se perguntado sobre isso. Que Leigh o fizesse ele podia entender, mas não tinha certeza se Valerie estava gritando em solidariedade com ela ou por outro motivo.

-Estávamos atrás de você quando me ligou -explicou Anders, seu olhar se disparou para a janela do motorista quando Mortimer apareceu ali. Ao que parece, tinha terminado sua ligação. Agora, o homem pegou a cabeça do renegado através da janela e a girou para ele para poder examiná-lo. No momento seguinte, sacudiu seu braço afastando o da janela e gritando “Uau!” quando Valerie de repente agarrou o martelo e se voltou para golpear o renegado, quase pulverizando a mão de Mortimer no processo.

-OH -disse Valerie, soando surpreendida. -Sinto muito, escutei um movimento e pensei que estava voltando a si.

Anders se mordeu o lábio e se inclinou para a caminhonete.

-Talvez devesse me dar isso.

Valerie entregou o martelo com aparente alívio, e depois disse, -Precisamos de Rachel ou Dani para Leigh. Está em trabalho de parto e não vai bem.

-Etienne e Justin estão trazendo Rachel neste momento. Devem estar aqui logo – assegurou ele, contemplando-a se aproximar de Leigh. A mulher estava tremendo no chão da caminhonete, com o rosto pálido e suado.

Tinha sentido o cheiro de sangue quando subiu pela porta e a primeira coisa que tinha assumido era que fosse a cabeça do renegado ferido, mas começava a pensar que talvez o cheiro vinha de Leigh. O aroma era forte quando se inclinou para olhá-

la.

-Leigh? Está bem? -perguntou.

Leigh gemeu e moveu a cabeça fracamente onde estava.

-Acho que algo está errado. Dói muito.

Anders franziu o cenho, mas manteve a preocupação fora de sua voz quando disse, -Aguente firme. Rachel estará aqui logo. Quando ela não respondeu, ele se inquietou, sentindo-se inútil. Foi até onde estava Valerie e lhe perguntou, -Há algo que possamos fazer para que se sinta mais cômoda até que cheguem?

-Sim, pode levar esse bastardo do assento dianteiro e lhe cortar a cabeça -disse Leigh fracamente.

Valerie fez uma careta e olhou para Anders, dizendo, -Está delirando. Continua pensando que sou o Highlander ou algo assim.

-Não, rainha de copas, lembra? -disse Leigh com uma risada débil, e depois acrescentou com cansaço, -Simplesmente tire-o daqui e se assegure de que não escape ou se levante e nos mate a todos enquanto os três estão distraídos me olhando tentando tirar a gigantesca cria de Lucian.

-Eu me encarrego disso-anunciou Mortimer, abrindo a porta do lado do motorista quando Anders olhou em sua direção.

-Precisa de uma mão? -perguntou Anders esperançado.

-Não, eu... Jesus, envolveu-o com uma fita adesiva -disse Mortimer com desgosto e começou a rasgar a fita prateada, murmurando todo o tempo ser pior do que como Justin embrulhava os presentes. Sacudindo a cabeça, Anders voltou sua atenção às mulheres. Conduziu Valerie e Leigh ao lado oposto da caminhonete para que pudessem se apoiar contra o painel lateral. Baixou o olhar para o lugar onde Leigh estava. Franziu o cenho e se inclinou, sentindo a mancha escura no centro da manta.

Era enorme e reluzente, e deixou sua mão vermelha de sangue.

-Mortimer -ladrou, endireitando-se.

O Executor se deteve com o renegado em seu assento e levantou uma sobrancelha.

-Problemas?

Anders girou a mão para que a visse.

-Há sangue na caminhonete? A boca de Mortimer se apertou e negou com a cabeça.

-Tudo isto foi inesperado. A única coisa que peguei foi o equipamento de rastreamento ao sair. Deixou as costas do renegado em seu assento e tirou seu telefone de novo de seu bolso. -Chamarei Lucian e verei se tem sangue. Se não tiver, talvez Rachel tenha pensado em trazer um pouco.

-Não se incomode. Pode pedir a Lucian em pessoa -disse Anders ante o som de um motor desacelerando e moveu seu olhar para a estrada a tempo de ver uma caminhonete dirigir-se à grama, em sua direção. Lucian estava ao volante.

Grunhindo, Mortimer guardou seu telefone e arrastou o renegado por cima de seu ombro. Depois levou sua carga para fora de vista enquanto se dirigia para o veículo que chegava. Anders olhou até que Mortimer desapareceu na parte traseira da caminhonete, e depois voltou sua atenção para o interior quando Valerie deixou Leigh e se arrastou através da caminhonete para ele.

-Quanto tempo falta até que Rachel chegue? - perguntou preocupada. -Há algo realmente errado e Leigh está perdendo força rapidamente.

-Pode ajudá-la? -perguntou Anders com o cenho franzido. Sabia que Justin, Etienne e Rachel estavam a uns bons dez minutos atrás de Lucian. Rachel tinha insistido em tomar um tempo para pegar um estojo de primeiro socorros e tudo o que pudesse necessitar antes de sair da casa. Justin tinha mencionado isso em uma das ligações.

-Não sei. Poderia ser capaz de ajudá-la -disse Valerie com cautela. -E ia me oferecer, mas ela continua dizendo que deseja que Rachel ou Dani estejam aqui e não tenho certeza de que fique confortável comigo a examinando.

-Rachel e Dani não estão aqui -disse Anders em voz baixa. -Você está.

-Onde está ela? Lucian de repente estava a seu lado, franzindo o cenho com preocupação.

-Dentro -disse Anders, e apanhou Valerie pela cintura para levantá-la da caminhonete e deixá-la fora do caminho. Depois que tinha posto os pés no chão, Leigh gritou de novo e começou a se retorcer na caminhonete. Lucian estava dentro e junto a ela em um abrir e fechar de olhos, seu rosto quase tão branco como o de Leigh quando a tomou em seu colo e a abraçou pela dor.

-Valerie -ladrou Lucian no minuto em que os gritos de Leigh terminaram e se deixou cair esgotada em seus braços.

Anders levantou de novo a Valerie para que entrasse na caminhonete e se ajoelhou ao lado de Lucian quando Valerie se ajoelhou do outro lado.

-Algo está errado -grunhiu Lucian. -Leigh tem muito dor.

Apesar das preocupações que tinha mencionado a Anders, Valerie tentou acalmar o homem dizendo, -Leigh está em trabalho de parto, Lucian. É doloroso.

-Não tão doloroso -disse com firmeza.

-Perdeu muito sangue, Valerie -disse Anders. -Não deveria haver tanto sangue.

-Sangue? Valerie lhe olhou com surpresa e percebeu que ela não tinha notado o sangue.

Mas ele percebeu, é obvio. Os sentidos dela não eram tão aguçados como os seus e a manta era escura, assim como o vestido de negro e vermelho de Leigh. Anders fez um gesto para a grande mancha um pouco mais escura na manta e ela ficou olhando-a fixamente, depois se voltou para Lucian.

-Onde está Rachel?

-Muito longe para ajudar neste momento -disse Lucian com gravidade. -Ajude-a você.

Valerie olhou para Leigh insegura e lhe perguntou, -Está tudo bem se eu a examinar?

-Só faça com que a dor pare -suplicou Leigh.

Isso foi suficiente para Valerie. Endireitou os ombros, olhou para Anders e disse, -Pegue o estojo de primeiro socorros e veja se pode encontrar anti-sépticos de mão, ou limpadores de feridas.

Anders assentiu e se moveu para fazer o que lhe pedia, mas sua atenção estava nela quando se voltou para o Lucian e lhe disse, -Tire a calcinha dela e volte a sentá-la entre suas pernas. Pode apoiá-la por trás e consolá-la enquanto a examino.

Lucian fez o indicado, atirando rapidamente a calcinha de Leigh na manta no chão e colocando ela entre suas pernas. Em seguida, envolveu seus braços a seu redor com suavidade, apoiando-os sobre seu estômago enquanto pressionava um beijo a um lado de seu pescoço e murmurava palavras alentadoras para ela.

-Anders, encontrou algo que possa usar para limpar minhas mãos? -perguntou Valerie, enquanto se ajoelhava aos pés de Leigh e separava suas pernas, pondo seus pés por fora das pernas de Lucian para que seus joelhos estivessem dobrados e as pernas dele atuassem como estribos, impedindo-a de fechar as pernas.

-Não se preocupe em limpar suas mãos -grunhiu Lucian.

-Mas poderia contrair uma infecção e... Valerie fez uma pausa e sacudiu a cabeça.

-Certo. Imortal. Os nanos se encarregarão de qualquer tipo de infecção -murmurou.

Anders voltou sua atenção para o estojo de primeiro socorros quando Valerie começou seu exame. Rebuscou através dos conteúdos por algo que pudesse ser útil, mas não esperava encontrar nada. Acima de tudo, queria dar a Leigh alguma privacidade.

-O bebê está atravessado -anunciou Valerie de repente, com voz sombria. -Cristo, está sangrando muito. Onde diabos está Rachel?

-Tire o bebê -ladrou Lucian e Valerie levantou a cabeça para olhá-lo.

-Precisa de uma cesareana, Lucian. Não tenho o equipamento para fazer isso.

-Não pode girar ao bebê sobre si mesmo? -perguntou Anders.

Valerie franziu o cenho.

-Talvez se não tivesse rompido a bolsa e tivesse os medicamentos adequados para que seu útero relaxasse... e a anestesia para aliviar seu mal estar. Mas...

-Ela já está em agonia, Valerie. Não pode lhe fazer mais dano do que já está sofrendo -disse Lucian com gravidade. -E terá que tirar o bebê agora se quisermos que sobreviva.

-O que? Valerie o olhou em estado de shock. -Mas é um menino imortal. Pensei que significava que sua sobrevivência seria uma coisa segura.

-Em geral é -disse Anders, arrastando o kit de primeiros auxílios com ele enquanto se dirigia a eles. -Os fetos com anomalias genéticas são abortados pelos nanos durante o primeiro trimestre, mas depois disso, desde que a mãe tome sangue suficiente, o bebê estará bem.

-Bom, então... -começou Valerie.

-Está perdendo muito sangue -interrompeu Lucian. -E se os nanos virem o bebê como uma ameaça ao bem-estar de Leigh, o atacarão e tentarão matar o bebê. Os nanos do bebê vão revidar. Se houver muitos danos e os nanos se matarem uns aos outros podemos perder não só um, mas os dois.

Quando Valerie olhou para Lucian com incompreensão, Anders disse. -Pense nisso como uma guerra nuclear no interior de seu corpo. Enquanto ninguém fizer um lançamento, tudo é cor de rosa. Mas se as bombas começam a cair, ou neste caso, os nanos começam a atacar a outros, ninguém sairá vivo.

-Jesus -suspirou Valerie, empalidecendo.

-Pode tirar o bebê? -perguntou Anders em voz baixa.

Valerie vacilou.

-Poderíamos tentar um parto por cesareana, mas precisarei de uma faca e...

-Isso aumentaria a perda de sangue e aumentaria o risco de que os nanos ataquem antes de que possa tirar o bebê -interrompeu Lucian. -Temos que virar a bebê agora.

Valerie o olhou em silêncio, mas então disse, -Está completamente dilatada. Posso tentar virar o bebê manualmente, mas é arriscado e terá que mantê-la imóvel.


Lucian assentiu.

Suspirando, Valerie hesitou e depois deu meia volta e saiu da caminhonete. De pé na porta aberta, deu uns tapinhas no chão desta.

-Traga-a para frente.

Quando Lucian moveu tanto a ele como Leigh até a borda da caminhonete, Valerie assentiu e se ajoelhou na grama, mas antes que pudesse fazer algo, outra contração alcançou Leigh e ela se arqueou nos braços de Lucian, gritando do profundo de sua garganta.

-Ajude-a! -gritou Lucian.

-Tenho que esperar a que a contração termine! -disse Valerie impotente e todos esperaram. Para Anders pareceu que durou uma eternidade, mas ao final, os gritos do Leigh terminaram em um gemido e desmaiou nos braços de Lucian.

-Abra suas pernas mais e mantenha assim -disse Valerie e depois começou a trabalhar no momento em que Lucian fez o que ela indicou.

Anders conteve a respiração enquanto esperava atrás do casal. Sabia exatamente o que Valerie estava fazendo; estava usando uma técnica que tinha visto ser utilizada há anos em uma égua com problemas. Estava aliviando-a fisicamente com sua mão, para tentar girar a cabeça do bebê para baixo e fazer com que pudesse nascer.

Também sabia que se outra contração alcançasse Leigh enquanto a mão de Valerie estava dentro dela... os músculos imortais se esticariam ao redor dos ossos de um mortal.

O que não é uma boa coisa, pensou Anders sombriamente e depois olhou além dela quando Mortimer apareceu.

-Justin acaba de... Uau! Mortimer se interrompeu e se virou bruscamente quando percebeu para onde se dirigia.

-Veja se têm sangue -ladrou Lucian e depois dirigiu sua atenção a Valerie quando ela franziu o cenho e disse: -Há algo pressionando...

-Pressionando o que? -perguntou Anders quando ela se deteve com um olhar semi-perplexo em seu rosto.

No momento seguinte, com os olhos repentinamente ampliados, exclamou, -Há um segundo bebê pressionando para baixo o primeiro. É por isso que o bebê não podia girar.

-Gêmeos -exclamou Mortimer, esquecendo de si mesmo e se afastando, ficando verde e balançando bruscamente. -Vou ver se têm um pouco de sangue.

O rosto do Valerie se enrugou com concentração.

-Acho que posso... posso fazer isto -murmurou e se inclinou um pouco para trás.

-O que você fez? E funcionou? - perguntou Anders. Valerie não se incomodou em responder, e o repentino grito de Leigh teria afogado a resposta de todos os modos.

No momento seguinte, o primeiro filho de Lucian e Leigh estava deitado em silêncio nas mãos de Valerie.

-Ela está bem? - perguntou Lucian com ansiedade, segurando Leigh e balançando-a brandamente de um lado par o outro quando se deixou cair contra ele.

-Está viva -disse Valerie, segurando-a contra seu peito e esfregando suas costas até que a bebê tossiu e começou a respirar com normalidade, seus bracinhos começando a se mover. Anders viu o alívio no rosto de Valerie e soube que a quietude da bebê a tinha preocupado.

-Preciso de algo para cortar o cordão -disse.

-Eu posso ajudar com isso -anunciou Rachel, que apareceu atrás dela e franziu o cenho enquanto olhava para Leigh.

-Valerie, Rachel -as apresentou Anders, indo mais à frente do ombro de Lucian para pegar as bolsas de sangue que lhe estendia. Passou a primeira a Lucian e agarrou a segunda enquanto Lucian punha a primeira bolsa nos dentes de Leigh, que nem sequer parecia ser consciente disso.

-Prazer em conhecê-la, Rachel. Se tiver algo para cortar o cordão, terá que fazê-lo rápido -disse Valerie. -Não acredito que o segundo bebê vá esperar muito tempo para se unir a nós.

-Gêmeos? -perguntou Rachel, um sorriso em seus lábios. Mas não reagiu imediatamente à sugestão de Valerie. Em vez disso, observou Lucian rasgar a bolsa agora vazia dos dentes de Leigh e substitui-la com uma nova. Anders não sabia o que estava procurando, mas depois de um momento, ela relaxou e fez um gesto para alguém que Anders não podia ver. Etienne, percebeu, quando o homem apareceu com uma bolsa grande em sua mão que abriu para que Rachel procurasse nela.

Depois de um momento, deu-se a volta com tesouras cirúrgicas e braçadeiras.

Valerie segurava a bebê vendo como Rachel fazia um trabalho rápido com o cordão umbilical, e depois ofereceu.

-Posso sair com a bebê se quiser se encarregar aqui.

Rachel sorriu, mas negou com a cabeça.

-É brincadeira? Você fez todo o trabalho duro. Essas são as coisas divertidas. Não te tirarei isso -disse, pegando a bebê e usando uma toalha úmida para limpá-la tanto quanto fosse possível antes de envolvê-la em uma manta.

Valerie a olhou em silêncio, mas se voltou para Leigh quando ela gemeu ao redor da bolsa de sangue em sua boca.

-Empurre, Leigh -ordenou Valerie. -Empurra.

Em questão de segundos, o segundo bebê saiu para se unir ao mundo. Começou a chorar e se retorcer como o primeiro, seus braços e pernas agitando-se quando Valerie se sentou sobre os calcanhares com ele em suas mãos.

-Um menino -anunciou ela e o olhou com um sorriso.

Uma choramingação canina despertou Valerie de um sono profundo; abriu uma pálpebra e franziu o cenho à cara peluda frente a ela.

-É brincadeira, certo? -murmurou com desgosto. -Não poderia me deixar dormir desta vez? Só desta vez? Quero dizer, eram só quatro da manhã quando finalmente me deitei na cama na noite anterior. Mas não pode me deixar dormir? Roxy se queixou uma vez mais, moveu-se em seu lugar e Valerie suspirou. -Está bem -disse, empurrando-se com cansaço sobre as mãos e os joelhos para se levantar. Em seguida, congelou-se quando notou o homem na cama junto a ela. Anders. Raios. Não estava ali quando se colocou na cama ontem à noite. Nem sequer tinha estado na casa.

Uma vez que o segundo bebê nasceu e Leigh foi alimentada com três ou quatro bolsas de sangue, tinham considerado que era hora de ir e todos tinham retornado à casa. Bom, todos menos Mortimer, que tinha ido à parte de trás da casa dos Executores levando o renegado para prendê-lo. Tinha retornado mais tarde com Sam, para que pudesse ver os bebês.

Parecia como se a metade de Toronto tivesse chegado à casa ontem de noite para ver os bebês. Tinham apresentado Valerie a pelo menos duas dúzias de novas pessoas, todos eles relacionados de uma maneira ou outra com Lucian e Leigh. E essas pessoas ficaram por horas, tentando ajudar Leigh e Lucian com os nomes dos bebês.

Ao que parece, Leigh tinha se negado a decidir nomes antes que o bebê nascesse.

Tinha sofrido um aborto antes e tinha algumas superstições por causa da perda. Uma dessas superstições era o temor de que se escolhesse nomes antes que nascesse o bebê, ele não iria nascer. Ou que eles não iriam, já que acabou por serem dois bebês.

Não tinham tomado decisões, embora havia um par de sugestões que Leigh e Lucian estavam considerando. A festa finalmente tinha terminado às quatro da manhã, quando Lucian e Anders tinham decidido que era hora de ir interrogar o renegado.

Antes de se unir a todos na casa, Mortimer tinha tentado obter respostas do homem quanto a onde estavam Laura, Billie e Kathy ou se ainda estavam vivas, mas o renegado não tinha colaborado muito, se negando inclusive a dar seu nome. Assim, depois de relaxar um pouco e desfrutar de sua nova família, Lucian tinha decidido que era hora de conseguir respostas. Anders, Mortimer, Sam e Justin, assim como dois outros homens, tinham ido com ele.

Para grande alívio do Valerie, todos outros se foram, mas Rachel e Etienne ficaram.

A médica e seu marido criador de vídeo games iam ficar durante um dia ou dois para ajudar Leigh com os bebês, por isso Valerie havia sentido que estava bem que finalmente fosse dormir. Tinha sido um dia muito longo e estava esgotada, por isso depois de deixar Roxy fazer suas necessidades, foi para cima, despojou-se de sua roupa e caíu na cama. Sozinha.

Valerie olhou para Anders agora, tendo em conta o fato de que estava completamente vestido e coberto com as mantas. Mas quando Roxy se queixou mais uma vez, a fez calar e desceu com cuidado da cama.

Em vez de procurar em suas gavetas no quarto escuro ou acender a luz e correr o risco de acordar Anders, Valerie procurou sua roupa do dia anterior e logo a pôs.

Estava tão cansada que nem sequer lhe importava se estivessem com as costuras para fora. Tampouco se incomodou em escovar o cabelo ou os dentes e simplesmente levou Roxy para fora do quarto. Valerie tinha toda a intenção voltar para cama no momento em que Roxy tivesse comido e feito suas necessidades.

Apenas duas horas de sono não eram suficientes para que seu sistema funcionasse com clareza. Além disso, merecia um pouco de sono, tinha superado a um sujeito mau e entregou dois bebês no dia anterior. A idéia a fez sorrir. Os bebês eram pequenos pacotes adoráveis e Lucian esteve se pavoneando como um touro premiado na feira quando todo mundo os tinha lisonjeado ontem à noite. Quanto a Leigh, uma vez que lhe tinham dado algumas bolsas de sangue na casa, todos os sinais da mulher louca tinham desaparecido. Ela voltou para sua doce risada. Valerie ficou bastante aliviada com isso.

Falando do diabo, pensou Valerie enquanto entrava na cozinha e via Leigh no balcão com um de seus pequenos pacotes de alegria. A bebê, deu-se conta, tomando nota da manta cor de rosa.

-Hora de comer? -perguntou Valerie enquanto se aproximava.

-Hora de arrotar -corrigiu Leigh secamente. -A hora da comida terminou faz quinze minutos, mas não quer arrotar.

Valerie assentiu, mas franziu o cenho.

-Deveria já estar de pé? Quer que eu a segure?

-Estou bem - assegurou Leigh com um sorriso, e depois acrescentou com ironia, -Imortal, lembra? Meia dúzia de bolsas de sangue e os nanos me consertaram imediatamente. Estou como nova.

Valerie arqueou as sobrancelhas.

-Impressionante.

-Sim. Sorriu Leigh.

-Mas deve estar cansada -disse Valerie.

Leigh negou com a cabeça.

-Posso ficar sem dormir se aumentar o consumo de sangue.

-Sério? -perguntou Valerie com surpresa e não pouca inveja.

Leigh assentiu.

-É obvio, tentamos não fazer muito isso. Significa mais sangue e sempre é melhor ser conservador no uso do sangue. Mas às vezes, como agora, é difícil de evitar.

-Hmmm. Bom, isso fará à maternidade muito menos dolorosa. A falta de sono é do que mais se queixam as mães e os pais -comentou Valerie e depois olhou para Roxy quando ela deu um leve golpe em sua mão com um nariz úmido.

-Pode deixá-la sair -disse Leigh, sorrindo para Roxy. -Desliguei o alarme quando ouvi que se movia lá em cima.

-Obrigada. Valerie se dirigiu às portas francesas e abriu uma para Roxy, então a fechou e se apoiou nela enquanto perguntava a Leigh, -Já escolheu um nome?

-Não -admitiu Leigh com um suspiro e abraçou a sua menina por um momento.

Aliviando seu abraço, admitiu, -Realmente não pensei que seria tão difícil. Não deveria simplesmente olhá-la e saber qual deveria ser seu nome?

Valerie riu ante a sugestão.

-É claro. Foi assim como os sete anões se transformaram em Atchim, Dengoso, Zangado, Feliz, Dunga, Soneca e Mestre, não é?

Leigh sorriu, mas depois franziu o nariz.

-Nesse caso, esta menina deveria se chamar fedorenta... ou cocô. Acho que é hora de trocar a fralda.

-Hmmm. Falando nisso... Acho que será melhor pegar as sacolas de dejetos e recolher o que a minha garota fez -disse Valerie, afastando-se da porta para entrar na cozinha e procurar as sacolas.

-Divirta-se -disse Leigh, em direção à porta.

-Você também! -gritou Valerie com um sorriso enquanto pegava as sacolas da gaveta e se dirigia para fora. Roxy se apressou ansiosamente a seu lado quando Valerie saiu ao terraço coberto. Com a uma pastora alemã a seu lado, prometeu, -Vou te alimentar em um minuto. Me deixe recolher os seus pequenos presentes de ontem a noite e desta manhã primeiro.

Roxy latiu e se apertou contra seu lado, provocando outro sorriso de Valerie. Não acreditava que a cadela tivesse entendido o que havia dito. Bom, exceto talvez a parte da alimentação. Tinha certeza que Roxy entendia essa palavra. Mas seu não entendimento nunca tinha evitado que Valerie falasse com ela antes. Tinha tido conversações inteiras com a pastora alemã, derramando seus problemas e suas preocupações na cadela. Roxy sempre a olhava, com os olhos brilhantes e a língua de fora, soltando um ocasional latido. Parecia feliz de ter sua atenção. Era parte de seu encanto.

-Então -disse Valerie, caminhando pelo pátio em busca dos tesouros de Roxy. -O que acha de Anders? Deveria estar de acordo em ser sua companheira de vida ou não?

Roxy latiu e correu um pouco a frente antes de parar para olhar para trás e para ela.

As sobrancelhas de Valerie subiram; seguiu-a e se deteve quando viu que a cadela tinha deixado um de seus tesouros.

-Isso é um “sim, deveria” ou um “não, não deveria”? - perguntou recolhendo o cocô da cadela. Roxy latiu e se afastou, farejando o chão enquanto ia, e depois fez uma pausa e a olhou com espectativa.

-Que bom que possa ser tão útil -disse Valerie secamente quando chegou a ela e se inclinou para recolher o depósito em frente ao cão. Passou alguns minutos caminhando atrás de Roxy, limpando atrás dela. Estava bastante segura de que estava terminando quando Roxy de repente parou com a cabeça para cima, as orelhas rígidas, e depois correu para frente e ao redor da casa.

-Esquilo -murmurou Valerie e sacudiu a cabeça. Em geral isso era a única coisa que fazia com que a cadela reagisse assim. Amarrou a parte superior da sacola, assobiou e depois caminhou ao redor da casa. Deu a volta no canto bem a tempo de ver Roxy trotar ao redor da parte dianteira da casa em busca de qualquer pequena criatura peluda que tivesse chamado sua atenção.

-Cadela tola -disse Valerie com exasperação, correndo atrás dela. Estava exausta e com vontade de voltar para cama, então é claro que esse seria o dia em que Roxy decidiria se converter em um cão de caça.

Roxy tinha farejado a porta da garagem e se deslizava no interior no momento em que Valerie deu a volta na frente da casa. Amaldiçoando, Valerie se precipitou para a porta e a abriu.

-Roxy? -gritou, com o cenho franzido à garagem escura. Lançando a sacola de excrementos de cão no cesto de lixo junto à porta, Valerie procurou um interruptor de luz nas paredes a ambos os lados da porta. Sem uma das grandes portas de garagem automáticas para os carros abertas para oferecer mais luz, a porta só projetava sombras por toda parte.

-Maldição, Roxy, onde está? -disse Valerie com irritação, renunciando a um interruptor de luz. Nem sequer podia escutar a pastor alemão mover-se e a escuridão e o silêncio começavam a assustá-la. Se soubesse onde estava o painel que controlava as portas automáticas, as abriria. Suspirando no silêncio, Valerie retrocedeu um passo, considerando se aproximar da porta da garagem, abri-la e depois chamar Roxy outra vez. Talvez o medo de ficar aqui a atrairá, pensou Valerie e estava a ponto de sair quando ouviu um estrondo metálico na parte posterior da garagem. Roxy tinha derrubado uma lata de algo. Valerie deu alguns passos para frente, chamando-a de novo.

Impaciente por voltar a entrar e ir para cama, Valerie se introduziu mais na garagem, movendo-se cuidadosamente entre a caminhonete de Lucian a sua direita e as estantes cheias de ferramentas, limpadores de piscina, tintas e outros artigos diversos a sua esquerda. Estava a meio caminho da caminhonete quando a porta da garagem se fechou atrás dela.

Congelada, Valerie se virou lentamente para a caminhonete na escuridão, agudizando o ouvido.

-Foi o vento -se assegurou em um sussurro.

-Não, não foi.

A voz vinha da direita e muito perto. Valerie se sobressaltou com um grito e seu coração disparou. Virou-se em um torvelinho e correu cegamente na direção oposta.

Valerie só tinha dado meia dúzia de passos quando foi capturada por seu cabelo e arremessada para trás contra um peito muito largo e duro. Captou imediatamente o aroma de almíscar que tinha esquecido, mas que agora lembrou imediatamente.

-Igor -suspirou, o horror deslizando-se sobre ela. Estava vivo.

-Igor? -perguntou ele em tom perplexo.

-Onde está Roxy? -perguntou Valerie com gravidade.

-Morta -replicou ele. -Onde está Ambrose?

Valerie não respondeu, não podia ainda que quisesse. Seu anúncio enviou um raio de dor através de seu peito que a tinha deixado sem fôlego.

-Onde está Ambrose? - repetiu ele, sacudindo furiosamente seu agarre em seu cabelo para chamar sua atenção.

-Não sei quem é Ambrose! -gritou Valerie, agarrando o cabelo aos lados de sua cabeça para tentar aliviar a dor. Sua sacudida sem dúvida tinha recuperado sua atenção. Ele a tinha tirado de sua bruma de dor, mas a raiva a substituiu quando Valerie pensou em sua pobre Roxy, que estava morta em algum lugar naquela escura garagem. Reagiu sem parar para pensar nisso, elevou o pé e o disparou para suas pernas com força.

Acertei! Pensou Valerie sombriamente quando ele rugiu de dor e cambaleou para trás, arrastando-a com ele.

Grunhindo enquanto recuperava o equilíbrio, Igor se virou e a jogou contra a caminhonete, seu peso se chocou nela por trás para aumentar o impacto. Valerie gemeu quando perdeu o ar e as ondas de dor vibraram de seu peito até os joelhos.

- De quem acha que falo? -perguntou com fúria em seu ouvido.

-Seu chefe -sussurrou quase sem fazer ruído. Simplesmente não tinha fôlego para falar.

-Onde está? -exigiu Igor, aliviando o peso de seu corpo o suficiente para lhe deixar um pouco de ar. Enquanto, Valerie ouvia um débil latido. Soava muito longe, ou apagado, como se viesse de fora, mas sem dúvida era um latido. Roxy não estava morta. Mal teve esse pensamento quando Igor amaldiçoou e a arrastou longe da caminhonete pelo cabelo.

-Onde está? -grunhiu, atirando-a vários metros mais à frente, provavelmente para a porta da garagem.

Valerie vacilou, mas quando o fez ele a agarrou pela garganta, assim rapidamente respondeu, -Na casa dos Executores. Não havia nenhuma razão para não dizer. Não era como se Igor pudesse aparecer ali. Embora, se tentasse, daria-lhes a oportunidade de apanhá-lo. Saboreando esse pensamento, perguntou-lhe, -O que fez com o Billie, Laura e Kathy?

-Já vai saber, muito em breve – assegurou ele. -Onde fica a casa dos Executores?

-Não sei o endereço -disse Valerie. Quando começou a levantá-la do chão pelo cabelo, apressou-se a acrescentar, -Não sei. Levaram-me até lá, não me disseram o endereço.

-Então acho que terá que me guiar -disse com gravidade, liberando sua garganta e seguindo o caminho pelo qual a tinha estado arrastando antes de deter-se.

-Realmente preferiria não fazê-lo -disse Valerie honestamente e depois franziu o cenho e perguntou, -Por que apenas não lê minha mente e me controla?

-Por que me incomodar? - perguntou ele secamente.

-Porque então não teria que me arrastar por meu cabelo e me machucar - assinalou ela com seu próprio tom árido.

-Mas eu gosto de te machucar. Alivia a dor que me causou quando me estacou.

Valerie se mordeu o lábio. Parecia irritado, ainda ressentido. Imagine !Como se não tivesse merecido e ela fosse a personagem má do filme. Endurecendo a boca, disse, -Ou talvez seja um recém convertido e não aprendeu a controlar e ler mortais ainda.

Sua conversa com o Leigh na casa dos Executores foi o que lhe deu a idéia. Leigh tinha mencionado que ainda estava aprendendo as habilidades, mas que era bastante boa nelas e Valerie se perguntava se Igor era um novo convertido e ainda não tinha aprendido essas habilidades. Do contrário, por que não tinha tomado seu controle no banheiro quando lhe tinha jogado o xampu? Ou depois, quando ele tinha saído do banheiro atrás dela?

Suspeitava que tinha acertado em cheio quando o passo de Igor vacilou e lhe espetou, -Cale-se.

-Me cale -murmurou Valerie, piscando com rapidez quando de repente abriu a porta e a arrastou para a luz do sol brilhante. Meio cega pela luz repentina, Valerie foi tomada de surpresa e tropeçou até cair sobre seus joelhos quando ficou livre de repente. Assustou-se tanto que quase perdeu o grunhido que Igor soltou quando a liberou, mas definitivamente escutou os sons da pequena luta que seguiu. Virou a cabeça e viu com assombro como Anders o estacava no peito com um girassol de madeira do jardim. O homem caiu como uma tonelada de tijolos, chocando suas costas contra a calçada de concreto.

-Bem, isso parece bom -disse Anders sombrio e quando o olhou com surpresa, ele se encolheu de ombros e admitiu, -É agradável ser capaz de te salvar para variar, em vez de aparecer depois que já salvou a si mesma.

Valerie lançou uma risada surpresa que terminou em um grito afogado quando ele a agarrou pelos braços e a levantou para colocá-la de pé.

-Obrigada -suspirou ela, deslizando seus braços ao redor de sua cintura e apoiando a cabeça em seu peito. -É meu herói.

-Hmmm -disse Anders duvidando, e depois a baixou para poder beijar seu nariz.

Com um sorriso torcido, comentou, -Parece que tem uma tendência a encontrar problemas.

-Não fui eu desta vez. Estava seguindo Roxy. Ela... Roxy! Valerie ficou rígida, com os olhos abertos amplamente e preocupados. -Disse que a matou, mas pensei ter ouvir seu latido.

-Ela está bem - assegurou Anders rapidamente. -Está na casa. Aproximou-se do quarto e me despertou. Dessa forma soube que estava com problemas. Não estava com ela. Assim fui te buscar.

-OH. Valerie se apoiou nele, mas negou com a cabeça. -Não sei como chegou à casa.

Eu a vi entrar na garagem, mas quando cheguei ali não estava e ele me agarrou.

-Há uma porta entre a garagem e a lavanderia. Devia estar aberta e foi da garagem para casa de algum jeito -disse Anders.

-OH -suspirou Valerie, e depois seguiu o olhar de Anders quando de repente ficou rígido e olhou para a casa. A porta principal se abria e viu Roxy sair correndo seguida por Lucian e Leigh, que a seguia mais devagar enquanto Roxy corria para eles, balançando alegremente a cauda. Valerie se afastou de Anders e se agachou para saudar o cão.

-Boa garota -disse, massageando suas bochechas e os lados de seu pescoço. -Boa garota por procurar Anders -elogiou, e depois se ergueu quando o outro casal chegou até eles.

-Igor? -perguntou Lucian em um bocejo e esfregou a mão por seu largo peito nu. O

homem obviamente acabava de sair da cama. Só usava uma calça de pijama com quadros verdes e seu cabelo estava bagunçado.

Anders assentiu.

Lucian olhou o homem alto com o girassol de madeira fincado no peito, e comentou, -Bom, isto muda a forma de plantar flores.

Leigh estalou a língua ante o comentário e passou junto a Lucian para ver melhor o homem. Sacudindo a cabeça, ela disse, -Tinha que utilizar o girassol? Eu adorava esse e é único, eu mesma fiz. Devia ter utilizado um dos de rã. Tenho três.

-Levarei isso em conta na próxima vez -disse Anders com diversão.

Lucian deslizou seu braço ao redor de Leigh e a abraçou brevemente.

-Chamarei os rapazes para que venham recolhê-lo. Podem tirar seu girassol antes de levá-lo... Farei com que limpem o sangue para você -adicionou quando Leigh fez uma careta de desgosto.

-Talvez deveríamos fazer isso agora -sugeriu Anders. -Se o deixarmos muito tempo poderia não sobreviver e ainda precisamos de informação. Nem sequer fomos capazes de obter o nome de seu chefe.

-Ambrose -anunciou Valerie.

Anders a olhou com surpresa e negou com a cabeça.

-Maldição, mulher, só esteve na garagem com ele durante uns minutos. Como conseguiu lhe tirar isso?

-Meu encanto natural? -sugeriu com um sorriso.

-E conseguiu averiguar algo sobre as outra mulheres também, não é? -perguntou Lucian.

O sorriso de Valerie desvaneceu e negou com a cabeça.

-Não, temo que não.

-Suponho que será melhor tirar a estaca agora, então -sugeriu Lucian, não soando feliz por ter que fazê-lo.

Anders não parecia mais feliz que ele quando se inclinou para pegar o girassol de madeira e tirá-lo do peito do homem. Quando Leigh fez uma careta ante a ponta sangrenta, disse, -Enxaguarei com a mangueira do jardim. Ficará como nova.

-Boa idéia -disse Lucian. -Vigiarei Igor enquanto faz isso.

Anders arqueou as sobrancelhas. Ele quis dizer que faria isso mais tarde, mas assentiu e se dirigiu para a garagem dizendo, -Será apenas um minuto.

Sacudindo a cabeça, Leigh voltou a se inclinar e beijar a bochecha de Lucian.

-Chamarei Mortimer para você. Tenho que ir ver os gêmeos de todos os modos.

-Obrigado, amor -disse Lucian, vendo-a ir. Uma vez que ela desapareceu na casa, voltou os olhos para Valerie. -Então? Quando quer ser convertida?

-Não estou de acordo em me converter -grasnou Valerie com assombro.

-Não, mas o fará -disse encolhendo-se de ombros.

-O que te faz pensar isso? - perguntou ela com cautela.

-Porque se não fizer, terei que apagar suas lembranças e voltará para sua vida e nenhum de nós quer isso -disse simplesmente.

-Anders disse que podia ter um tempo para decidir -protestou Valerie, e depois franziu o cenho e acrescentou, -E o que quer dizer com que nenhum de nós quer isso? Por que se importa?

-Salvou minha esposa e meus filhos, Valerie. E Leigh te adora. É da família agora.

-OH. Ela o olhou perplexa, perguntando-se se realmente queria dizer isso.

-Falo sério -disse com firmeza. -Leigh decidiu isso, por isso assim será. Ficaria decepcionada caso não se converta em uma de nós e não vou deixá-la decepcionada.

Valerie franziu o cenho ligeiramente. A última parte soou como uma ameaça.

-Quanto a Anders dizendo que poderia ter tempo para decidir -continuou Lucian.

-Para que precisa de tempo? O que está procurando? Os nanos lhe encontraram um companheiro, estão destinados a estar juntos.

-Faz parecer muito simples -disse com cansaço.

-É simples. Não o torne difícil.

-Muito bem, os nanos nos escolheram. Mas, e quanto ao amor? - perguntou.

Lucian se moveu com impaciência.

-Você gosta dele?

-Sim -admitiu.

-Respeita-o?

Ela assentiu.

-Confia nele?

-É obvio -disse sem duvidá-lo.

Lucian assentiu e disse secamente, -Não tenho que perguntar se o deseja sexualmente.

Valerie se ruborizou e levantou o queixo.

-Todas essas coisas em conjunto formam o amor - assegurou Lucian. -Sabendo ou não, já o ama.

Valerie engoliu em seco, sabendo em seu coração que ele tinha razão. Mordeu-se o lábio, e depois exclamou, -Mas ele me ama?

-Ah. Lucian assentiu. -Então esse é o assunto, não é verdade? Ele não disse ainda.

Valerie suspirou e olhou para outro lado, murmurando, -Quando me pediu que fosse sua companheira de vida falou sobre procurar paz e ser capaz de relaxar e estar em paz. Tudo era paz, paz, paz. Acrescentou com frustração e olhou a Lucian, entreabrindo os olhos quando viu seus lábios retorcendo-se. Se risse, ela....

-Não se sente em paz com ele? -perguntou, e acrescentou, -Quando não está nervosa e chateada, quero dizer.

-Bom, sim, mas...

-Mas quer saber se ele te ama -disse Lucian e se encolheu de ombros. -Acho que terá que perguntar então.

-Perguntar se ele me ama? - perguntou com consternação.

Lucian suspirou com exasperação.

-Caiu sobre o Igor e o estacou, salvando a si mesma e a outras seis mulheres no processo.

-Quatro -corrigiu com tristeza. -Duas delas morreram, lembra.

-E então -continuou, ignorando sua interrupção - nocauteou Ambrose e salvou minha esposa e os gêmeos não nascidos ao bater a caminhonete em que estavam e golpear várias vezes o homem na cabeça até que a ajuda chegasse. Não é uma covarde, Valerie, assim deixe de se comportar com tal. Pergunte a ele. E se ele disser que te ama, fiscalizarei pessoalmente sua conversão e pagarei as despesas do casamento. Com isto deu a volta e se dirigiu para a casa.

Valerie ficou olhando com assombro, depois se virou e olhou Igor, a suas costas.

-Ei! O quanto a ...

-Anders o vigiará -respondeu Lucian, sem parar.

Valerie olhou a seu redor, bem a tempo de ver Anders voltar da garagem. Lucian tinha ouvido ele se aproximar, ela percebeu.

-A maior parte saiu -disse Anders enquanto se aproximava. -Levarei isso para casa comigo esta noite e lhe darei uma lixada rápida antes de pintar para Leigh. Deve ficar bom.

-Vamos para sua casa esta noite? - perguntou com surpresa.

Anders baixou a mão a seu lado, a estaca pendurando de seus dedos. Sua expressão era solene quando disse, -Eu vou. Mas acho que você deveria ficar aqui.

Provavelmente é o melhor até que tome sua decisão.

Valerie franziu o cenho.

-O que quer dizer?

Anders fez uma careta e olhou para outro lado.

-Bom, estive pensando que o assunto sexual dos companheiros de vida é bastante complicado... queima e é viciante.

-Eu percebi -admitiu ela com ironia, inclinando-se ligeiramente para o Roxy, que tinha permanecido a seu lado mas que agora se levantou e se pressionou contra sua perna.

-Nesse caso -continuou ele brandamente-, pensei que talvez fosse melhor se nos abstivermos até que tenha tomado sua decisão.

Valerie se endireitou lentamente para olhá-lo.

-Nos abster?

-Sim -disse solenemente, e depois adicionou, -Precisa ter a mente clara para tomar uma decisão tão importante como esta, e ao ser constantemente bombardeada com prazer, seu corpo e sua mente clamando por ele... confunde seus pensamentos e atrasa sua decisão.

Valerie franziu o cenho.

-Mas...

-É o melhor -acrescentou solenemente.

Valerie entrecerrou os olhos.

-Quanto tempo acha que devemos nos abster?

-Como já disse, até que tenha tomado sua decisão -respondeu Anders.

-Mas e se eu levar um tempo? -perguntou.

-Então esperaremos um tempo. Anos, se tivermos que fazer isso-assegurou.

-Querida, quero que seja feliz, vale a pena a espera.

-Mas estou feliz quando... Ruborizando-se, ela se interrompeu e disse, -E se digo que estou disposta a ser sua companheira de vida?

-Então te arrancarei a roupa e farei amor com você até que não possa suportar -disse, como se estivessem falando do tempo.

-E se digo que não estou disposta a correr o risco de ser sua companheira de vida?

-perguntou.

A frustração enchia sua expressão.

-Valerie, não há risco aqui. Os nanos não cometem enganos. Esta é uma aposta segura. O único jogo que não se pode perder. Tudo o que tem que fazer é estar disposta a aceitar o presente que estão nos oferecendo.

Valerie o olhou em silêncio. Assim como Lucian, ele fazia parecer muito simples. Os nanos tinham decidido. Era um fato consumado. Bla, bla, bla. Os homens eram tolos às vezes. Precisava mais que...

Um gemido de Igor chamou sua atenção e ela olhou para baixo, depois ofegou com surpresa quando Anders cravou a estaca nele de novo.

-Anders, precisamos dele com vida -protestou ela, pegando o girassol que se balançava, sobressaindo do peito do homem.

-Vou tirar daqui a um minuto -disse, roçando sua mão. -Se está gemendo, está se recuperando. Só quero detê-lo um pouco. Pelo menos até que os homens cheguem.

Como se suas palavras os tivessem invocado, o som de um veículo atraiu o olhar de Valerie para uma caminhonete escura subindo pelo caminho de entrada. Mortimer e Bricker tinham chegado para recolher Igor, supôs, já que estacionaram o veículo ao lado de Anders e saíram.

-Enfim conseguimos o nome de nosso renegado -anunciou Mortimer com um sorriso enquanto levava Bricker para eles.

-Ambrose -disse Anders.

O sorriso de Mortimer se desvaneceu, sua boca fazendo uma “o” de surpresa.

-Como diabos sabe?

-Valerie conseguiu o nome com Igor -disse Anders com diversão.

-Ah. Mortimer olhou para o homem que estava caído no caminho de entrada, e depois olhou para trás, seu olhar se encontrando com o de Valerie. -Então...

averiguou o destino das garotas?

-Não -admitiu Valerie com o cenho franzido. -E você?

-Sim, é obvio. O sorriso de Mortimer tinha retornado. -Estão vivas e bem em uma casa há dez minutos daqui. Nicholas, Jo e Decker estão a caminho agora. Terão que voltar para a casa dos Executores para comprovar suas mentes, apagar sua memória e as enviar de novo para suas vidas. Desta vez para sempre.

Valerie deixou escapar seu fôlego em um suspiro, só percebendo então que o estava contendo. Estava preocupada de que Ambrose já as tivesse matado.

-Não, planejava matar apenas você -disse Mortimer, obviamente lendo sua mente.

-Você foi a única que tinha visto o retrato. Nenhuma das outras lembrava algo que pudesse prejudicá-lo.

-Então, por que as levou? -perguntou Valerie com o cenho franzido. -Pelo que sei, não era necessário levá-las para lê-las, tinha apenas que se aproximar. Por que se arriscar e sequestrá-las outra vez quando sabia que não havia nada nelas que pudesse guiá-los até ele?

Bricker fez uma careta.

-Ele tem uma maneira estranha de pensar. O sujeito via você e às demais como sua propriedade.

-Como se fosse seu gado? -disse Valerie com gravidade.

-Basicamente -reconheceu Bricker em tom de desculpa e depois se encolheu de ombros. -Queria tudo de volta aonde sentia que pertencia.

-Então poderia continuar nos fazendo sangrar até nos secar? -sugeriu Valerie, estreitando os olhos.

Bricker assentiu.

-Temo que sim.

Valerie murmurou em voz baixa com desgosto.

-Averiguou como escolheu às mulheres? -perguntou Anders. -Como sabia que não tinham família e como as escolheu?

-Ah, sim -confirmou Mortimer. -Valerie, deduzo que já trabalhou no Hospital Universitário?

-Hospital Universitário? -perguntou Anders, olhando-a.

-A universidade tem um hospital de ensino sobre animais; basicamente, uma clínica veterinária para que os estudantes aperfeiçoem suas habilidades. Os estudantes executam procedimentos, mas são fiscalizados pelo professor, que pode intervir caso se apresente uma situação. Eu ia trabalhar ali alguns dias na semana para manter minhas habilidades afiadas e praticar algumas novas técnicas que esperava aprender em meus cursos deste ano -explicou. -De fato, estava no Hospital Universitário na tarde em que fui sequestrada.

Mortimer assentiu.

-Alí foi onde encontrou suas vítimas. Ele é da equipe de pessoal dali. Cindy, Laura e Kathy tinham levado seus animais ao hospital por uma razão ou outra e ele aproveitou a oportunidade para fazer perguntas e saber se eram possíveis vítimas para ele ou não. Conheceu Billie na cafeteria da livraria, uma tarde quando estava na loja de livros. Conversou com ela, soube que estava sozinha, sem ninguém que se importasse caso desaparecesse e... -encolheu-se de ombros.

Anders franziu o cenho e se voltou para Valerie para dizer, -Mas viu Cindy nessa outra clínica em que fomos. Por que ia a ambos os lugares?

-Provavelmente levou seu gato ao hospital universitário para uma operação, esterilização, castração, ou algo assim -disse Valerie com gravidade. -O maior benefício da clínica é que não cobra os procedimentos desse tipo. Assim é como incentivam as pessoas a levar seus animais. Mas para o cuidado a longo prazo; injeções anuais, pílulas de pulgas e demais, precisam de um veterinário normal.

Valerie parou brevemente, depois olhou a Mortimer e negou com a cabeça. -Não o vi no hospital universitário. Falei com uma mulher, não com Ambrose.

-Escutou partes da conversa e conseguiu o resto da informação que estava procurando de sua entrevistadora. Ao que parece lhe disse que tem uma clínica em Winnipeg e que estava aqui só temporariamente.

-Sim. Ela assentiu e depois fez uma careta. -Lhe disse que não tinha família ou amigos aqui, assim poderia trabalhar horas extras se quisessem.

-Então... seu nome é Ambrose o que? -perguntou Anders. -E quem diabos é?

-Só Ambrose -disse Mortimer com um encolhimento de ombros. -Não lembra nada mais que isso de sua vida como mortal. E pode muito bem ser seu sobrenome. Ele diz que estava em uma etiqueta em seu uniforme.

-Uniforme? -perguntou Anders com o cenho franzido.

-Era um soldado na Primeira guerra mundial -explicou Bricker. -Diz que sua primeira lembrança é despertar no meio de um campo de batalha com bombas explodindo por toda parte, cadáveres sobre ele e outro companheiro alemão meio doido e estendido sobre ele, sangrando por todo o corpo.

-Ah, infernos -murmurou Anders.

-O que? -perguntou Valerie.

Em vez de lhe responder, Anders arqueou uma sobrancelha para Mortimer.

-Outro acidental?

Mortimer assentiu.

-Isso é o que estamos pensando. Diz que lembra de empurrar o soldado alemão para longe e ficar de pé. Doía-lhe a cabeça, sentia-a suave e leve, seja porque estava meio aberta ou pelo vento. Sentia-se enjoado e com uma dor aguda na cabeça e no estômago. Desmaiou e quando despertou estava chupando a ferida aberta de outro soldado e se sentia muito melhor. Quanta mais sangue obtinha, melhor se sentia e depois suas feridas pareceram se curar. Percebeu que era um vampiro e esteve vivendo como um após isso, usando o que podia encontrar como seu guia.

-O que seriam coisas de fantasias ridículas como Drácula -assinalou Bricker com desgosto.

A boca de Anders se torceu, mas perguntou, -E ele alguma vez recuperou a memória de sua vida antes de despertar no campo de batalha?

Mortimer negou com a cabeça.

-Diz que não.

-Isso é possível? - perguntou Valerie. -Pensei que os nanos reparavam as coisas.

-Reparam, e obviamente reparam o dano físico, mas se a ferida em sua cabeça era o suficientemente ruim... Franziu os lábios. -Os nanos podem não ter sido capazes de recuperar as lembranças de sua massa cerebral destruída.

-Suponho que isso é possível -disse Anders, pensativo, e depois suspirou e se encolheu de ombros.

-Espere... -disse Valerie com o cenho franzido. -Entendo que os nanos o repararam, mas não tenho certeza se entendo como acha que os nanos chegaram ali em primeiro lugar. Ela olhou de um homem a outro e perguntou com incerteza, -Estão pensando que o soldado que estava sangrando sobre ele era um imortal e que os nanos foram transmitidos a ele dessa maneira? Meteram-se em suas feridas e só... apoderaram-se dele como um vírus ou algo assim?

-Em suas feridas, talvez sua boca. Mas sim, provavelmente isso é o que aconteceu -

disse Mortimer.

-Isto acontece frequentemente? - perguntou com assombro.

-Só ouvi falar de outro incidente como esse -disse Bricker e elevou as sobrancelhas enquanto olhava os outros.

-Elvi é a única da que eu saiba também -disse Mortimer.

-O mesmo digo eu -concrdou Anders. -Mas isso não quer dizer que não haja mais por aí como ele.

-Quem é Elvi? -perguntou Valerie com curiosidade.

-Ela é a companheira de vida de Víctor -disse Anders, e depois acrescentou, -Víctor é o irmão de Lucian.

-E se transformou por acidente? -perguntou Valerie, fascinada.

-É uma longa história. Contarei-lhe isso mais tarde -disse Anders brandamente.

Quando Valerie assentiu, olhou aos homens e disse, -Então ele despertou em meio a uma zona de guerra, um vampiro sem memória de seu passado, e conseguiu sobreviver passando desapercebido durante quase cem anos?

-Parece que sim -esteve de acordo Mortimer e negou com a cabeça. -É um filho da puta com sorte, nos escapou todo este tempo.

-O mesmo digo eu -murmurou Bricker.

-E Igor? -perguntou Anders, olhando ao homem que ainda estava no chão.

Detectando o girassol que saía de seu peito, Anders franziu o cenho, mas não tirou dele.

-Seu nome é Mickey Green -disse Mortimer. -Ambrose o conheceu em um bar há seis ou sete meses; gostou, decidiu que seria um bom lacaio e o transformou. Olhou o girassol que Igor, ou Mickey Green, tinha no peito e lhe perguntou, -Quanto tempo esteve estacado?

-Estava estacado antes, mas se recuperou. Estaquei de novo pouco antes de você chegarem -admitiu Anders, se posicionando para pegar a estaca de girassol agora.

-Vamos fazer isso uma vez que o tenhamos acorrentado na caminhonete -disse Mortimer, detendo-o. -É um sujeito grande. É mais seguro assim.

Anders assentiu, mas disse, -Disse a Leigh que a limparia para ela. A maior parte do sangue é lavável, mas a ponta da madeira está um pouco manchada e precisa de um pouco de lixa.

-Nos ocuparemos dela na casa - assegurou Mortimer, e acrescentou, -Falando nisso, suponho que devemos colocá-lo na caminhonete e levá-lo daqui. Temos uma boa cela que espera por ele junto a Ambrose. Os dois podem ser vizinhos até que o Conselho diga o que fazer com eles.

Anders assentiu.

-Irei com Valerie lá dentro e direi a Lucian que está aqui. Pode ser que queira falar com você.

Não esperou a resposta de Mortimer para isso, e pegou o braço de Valerie, a conduzindo para a porta principal. Roxy tinha se deitado em uma sombra próxima para vê-los, mas agora se levantou e os seguiu.

Valerie permitiu que Anders a conduzisse para a casa, mas sua mente estava correndo. Planejava caminhar com ela, falar com Lucian sobre os homens ali e depois deixá-la e retornar para sua casa... e não queria isso. Queria... na verdade, Valerie não estava segura do que queria.

Sabia o que não queria, entretanto, e isso era ficar aqui só sem ele. Mas não sabia o que fazer a respeito. Estava decidido a lhe dar tempo para pensar e tomar sua decisão.

A abertura da porta frontal a distraiu, e Valerie olhou para ela quando Lucian saiu.

-Mortimer e Bricker obtiveram alguns dados de Ambrose -anunciou Anders, freando quando o homem fechou a porta. -Mas deixarei que eles lhe falem disso. Ficariam decepcionados se roubo o protagonismo.

Lucian assentiu enquanto se aproximava, mas seus olhos se deslizaram de Anders para ela enquanto se aproximava. Desacelerou quando chegou a eles e franziu o cenho a Valerie.

-Ainda não perguntou?

Não esperou uma resposta, mas se limitou a negar com a cabeça e seguiu para o caminho de entrada.

-Perguntar o que? -disse Anders, olhando-a com curiosidade.

Valerie hesitou e depois simplesmente falou.

-Você me ama?

Anders ficou imóvel, sua respiração deixando-o em um longo suspiro. Depois ficou ali olhando-a até que Valerie começou a se preocupar de que a resposta fosse não, e que não queria admitir.

-Se não ama, apenas... -começou a dizer com ansiedade, mas nunca terminou porque sua boca estava repentinamente sobre a dela e a beijava.

Valerie rapidamente se esqueceu de Igor, ou de se Anders a amava, e de quase todo o resto. Quando rompeu o beijo e levantou a cabeça um momento depois, gemeu em sinal de protesto e, continuando, piscou abrindo os olhos quando ele disse, -Eu te amo.

-Sério? -perguntou com assombro, um sorriso curvando seus lábios.

-É obvio que sim. É perfeita. Como poderia não te amar?

-Não sou perfeita -disse ela a sua vez.

-É perfeita para mim -assegurou. -É bonita, sexy, inteligente e valente... Sacudiu a cabeça. -É tudo o que eu desejava e mais, Valerie. Sou feliz quando estou com você.

Amo você.

-OH. Ela suspirou e apoiou a cabeça em seu peito, admitindo, -Lucian pensa que eu também te amo.

-Genial-disse Anders secamente. -Mas, e você o que pensa?

Inclinando-se para trás, olhou-o nos olhos e disse solenemente, -Penso que ele tem razão. Eu também te amo, Anders.

Ele fechou os olhos um instante, como se estivesse saboreando as palavras, voltou a abri-los e lhe perguntou com cautela, -Então está de acordo em ser minha companheira de vida?

-Parece que já sou sua companheira de vida -disse ela com ironia. -Mas caso se refira a estar de acordo em ser convertida, me casar com você e passar o resto de nossas muito longas vidas juntos, sim. Estou de acordo.

Ela conseguiu ver o sorriso que se estendeu em seu rosto, mas depois ficou sem fôlego quando ele a levantou em braços e começou a caminhar, dizendo, -Vamos, Roxy.

-Espere! O que está fazendo? -gritou Valerie, segurando-se em seus ombros.

-Vou te levar para mi... nossa casa -se corrigiu e logo depois a lembrou, -Prometi que se respondesse que sim, arrancaria sua roupa e faria amor com você até que não pudesse ficar de pé, e tenho a intenção de manter minha promessa. Mas não aqui.

-Não, definitivamente não aqui -concordou Valerie, avermelhando. Ela não era exatamente tranquila quando fazia o amor. Além disso, gostava da idéia de ter tudo para ela. Quando Anders parou junto a sua caminhonete, Valerie agarrou a maçaneta da porta e a abriu para ele.

-Olhe, é perfeita -disse Anders com um sorriso quando a deixou no assento do passageiro. -Nem sequer tenho que pedir isso. Somos uma boa equipe.

Valerie se limitou a sacudir a cabeça e tornar a rir.

Sorrindo, Anders deu um passo atrás e olhou para baixo, dizendo, -Venha, Roxy.

A cadela saltou, colocando-se no chão entre as pernas de Valerie como tinha feito quando a trouxe de volta de Cambridge. Ela sorria à cadela quando o rosto de Anders de repente apareceu ante ela. Enquanto se inclinava, seus lábios roçaram os dela e logo lhe sussurrou, -Cinto de segurança, antes de fechar a porta.

Valerie ajustou o cinto de segurança e o viu caminhar para chegar a seu lado e fazer o mesmo com seu cinto de segurança, pondo em movimento a caminhonete.

Anders agarrou a alavanca de mudança de marcha, mas parou quando viu que ela estava simplesmente ali sentada sorrindo. Inclinando a cabeça, perguntou, -O que foi?

-Sabe que isto é uma loucura, não é? -perguntou Valerie alegremente. -Só nos conhecemos há uns poucos dias.

Anders fechou a porta e a olhou com incerteza.

-Assustada?

-Um pouco -admitiu.

-Está tendo dúvidas?

-OH, não, definitivamente não -lhe assegurou com um sorriso.

Relaxado, inclinou-se sobre o espaço aberto entre eles para lhe dar um beijo rápido, mas quando começou a se endireitar outra vez, ela agarrou seu rosto entre as mãos e lhe disse, -Te amo.

-E eu te amo - assegurou ele, e então a beijou de novo, desta vez com um lento, suave e doce beijo que deixou a ambos com vontade de mais. Levantando uma sobrancelha, perguntou, -Para casa?

-Para casa -esteve de acordo ela.

Anders mudou a marcha da caminhonete e Valerie se girou para olhar pelo parabrisa para seu futuro... juntos.

 

 

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