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Series & Trilogias Literarias
Um homem assombrado...
Antes um Fae poderoso e herdeiro do trono de Fae, foi dada a Lugus uma segunda chance por seu irmão, o rei Fae. Não mais um imortal, Lugus fixou sua casa na costa da Escócia enquanto luta para lidar com seu comportamento sombrio e as lembranças de um amor que nunca foi dele.
Uma mulher caçada...
Ahryn estava ligada ao domínio da Terra por uma pulseira escrava celta antiga que a impede de usar qualquer uma de suas magias Fae. Quando a esperança acaba, ela vê Lugus e sabe que é sua última chance. Embora tenha sido banido do reino Fae e despojado de sua imortalidade, ela entrega sua vida a ele... E seu coração.
Capítulo Um
Ilha na Costa Oeste da Escócia
Verão 1629
Lugus ficou no topo do penhasco em sua pequena ilha e viu o sol na crista
do horizonte, o brilho laranja cruzando o céu cinzento. Era um ritual diário, que ele
iniciára no momento em que sua mortalidade havia começado.
Nos quase cinco anos desde que fez o impensável e quase destruiu a Terra
e o Reino de Fae, ele empurrou sua vida passada e os horrores que cometera de sua
mente.
Mas havia uma coisa da qual não poderia se afastar.
A lembrança de Moira.
Uma sacerdotisa druida que tivera poderes conferidos a ela pelo Fae, uma
mulher incrivelmente linda que Lugus tinha feito de tudo para tomar como sua.
Apesar de seu grande amor por ela, ele não era seu companheiro. Mesmo quando
ele descobriu isso, ele se recusou a desistir dela. Não o fez até que ela se sacrificou
por seu companheiro e assim ele compreendeu o que era o amor verdadeiro.
Esse foi o dia no qual sua nova vida, uma vida de mortalidade, tinha
começado.
Inalou profundamente o ar marinho e esticou os braços sobre a cabeça
antes de se virar e olhou para a aldeia através do mar. Suas aventuras até a pequena
aldeia eram tão raras quanto ele poderia fazê-las.
De alguma forma as pessoas sabiam que ele não era um mero mortal, que
costumava ser algo mais. Os que falaram com ele não eram o que poderiam chamar
de amigáveis, mas eram civilizados.
Havia aprendido quem aquelas pessoas eram e faziam questão de só
negociar com ele.
Seu olhar moveu para seu pequeno barco que estava esperando por ele.
Soltou um suspiro relutante e começou a descer a encosta. Quanto mais cedo
saísse, mais cedo poderia voltar ao seu refúgio, o único lugar que sentia que podia
ser ele mesmo.
Lugus riu para si mesmo enquanto subia no barco e pôs os remos para
remar. Se apenas as pessoas que costumavam a temê-lo pudessem vê-lo agora. Já
tivera o poder de dois reinos em suas mãos, um poder tão grande que poderia ter
decidido todos os reinos. No entanto, agora estava hesitante em enfrentar uma
pequena aldeia de pessoas, seus sussurros e olhares por trás das costas.
O suor escorria pela testa e rolou entre os ombros quando finalmente
chegou à costa. Por longos momentos, olhou para sua pequena ilha, seu lar e
refúgio. Uma sensação incômoda disse a ele para retornar imediatamente e não se
aventurar até a aldeia, que se entrasse no litoral escocês a sua vida mudaria para
sempre.
Como Fae, teria conhecido imediatamente o que o ameaçava, mas como
um mortal, ainda estava aprendendo a discernir a estranha e às vezes indesejada,
intuição que o assaltava. Debateu-se durante vários momentos, mas a fome na
barriga decidiu o dia.
Suas mãos foram imediatamente para a espada em suas costas e o punhal
na cintura. Bastava saber que estava preparado para se defender para encarar o que
estava por vir. Flexionou as mãos antes de saltar do barco para puxar para terra e
amarrá-lo. Independente do que seus sentidos lhes dissessem, tinha que pegar mais
suprimentos. Comer não era uma opção.
Manteve os olhos para frente, enquanto caminhava para a vila. Um grupo
de crianças parou de brincar e cochichavam entre si quando ele passou. Lugus
deveria estar imune a este tratamento, mas cada vez que ocorria, a dor era pior que
a anterior. Com o canto dos olhos percebeu que o povo lhe dava um amplo espaço,
e outros que olhavam seguindo-o como se fosse um monstro.
E ele fora, em mais maneiras do que imaginavam.
Chegou aos moleiros e entrou para comprar mais fermento e ervas que não
foi capaz de desenvolver em seu pequeno jardim. Aprender a cozinhar tinha sido
algo que gostara e descobrira que tinha um talento especial para isso.
Depois que pagou pela compra, enfiou o pacote debaixo do braço e se
dirigiu para sua próxima parada. A Casa de Jonathon Frasier. Jonathon era uma
pessoa que realmente tratava Lugus como um homem.
Aproximara-se de Jonathon durante uma tempestade particularmente
implacável que teria jogado muitos barcos na costa. Jonathon estava tentando
desesperadamente amarrar seu pequeno barco enquanto sua esposa grávida e o
filho pequeno observavam.
Lugus deu uma mão e eles conseguiram amarrar o barco. Desde aquela
época, Jonathan havia conseguido a seu modo, ser amigo de Lugus. Agora,
Jonathon, um perito caçador, abastecia Lugus com couro. Lugus, então, trocava-as
por bainhas para espadas e pelas adagas criadas por ele.
—Bom dia, Lugus, — Jonathon falou enquanto ele caminhava do seu chalé
na pequena aldeia. —Não o esperava tão cedo.
Lugus encolheu os ombros.
—Tive uma encomenda para uma espada e pensei em começar a trabalhar
na bainha quando terminar algumas peças menores.
Jonathon sorriu enquanto seu olhar moveu-se para a espada no quadril
Lugus.
— Não é de estranhar que sua fama se espalhou por toda parte sobre seu
artesanato. Nunca vi algo semelhante antes.
Por iniciativa própria, os olhos de Lugus olharam para o desenho
primorosamente imaginado. As muitas horas que levara trabalhando para
desenrolar o couro fora relaxante, da mesma forma que trabalhar no metal para as
espadas fora emocionante.
—Faço o que posso para ganhar a vida.
Jonathon acenou com a cabeça.
—Eu sei. Venha, — disse ele e fez um gesto em direção à parte de trás da
casa. —Acho que tenho algo para você.
Foi apenas uma hora mais tarde que Lugus pagou Jonathon e escolheu as
tiras de couro. Elas funcionariam perfeitamente, estava ansioso para retornar à sua
ilha, começar a desenhar no pergaminho e decidir que nó trabalharia nele.
Teria que correr para o barco. O tempo que passara longe da sua ilha era
como uma corda em seu pescoço. Nunca se sentia seguro a menos que estivesse
em sua ilha.
Com mãos gentis, ele colocou o couro e outros materiais no barco,
desamarrou-o e empurrou-o na água. Pulou na água, tomou os remos nas mãos e
começou imediatamente a remar em direção à sua ilha.
A sensação começou imediatamente.
Estava sendo vigiado. Mas por quem?
* * * *
Ahryn submergiu até o local do misterioso homem. Ela tivera vislumbres
dele antes, mas hoje ouvira algo que lhe deu esperança. Algo que seu captor não
quisera que soubesse.
Algo que poderia muito bem libertá-la.
Lugus.
Em todos os seus anos de vida, havia apenas um homem com esse nome,
um homem que não era um homem qualquer, mas um Fae. Enquanto observava o
agrupamento de músculos dos seus braços tensos quando ele remou para sua
pequena ilha, sabia que ele era sua última chance de voltar para casa.
Sua mão se fechou em punho sob sua saia e ela sentiu a frieza da corrente
na sua mão direita. Afastou o olhar de Lugus, olhou para a ofensiva pulseira de
escrava em seu pulso e as correntes que corriam até seu dedo médio, anexada ao
anel.
O barão pensava ser engraçado prendê-la com isto, marcando-a como
escrava para que todos vissem. Mas logo tudo iria acabar.
—Vê alguma coisa que gosta? — Marcus MacGregor perguntou enquanto
se aproximava por trás dela.
Ahryn cerrou os dentes e virou-se para seu captor.
—Estava imaginando você se afogando.
Ele riu e quase levou o braço dela em sua mão quando a puxou atrás dele
para seu cavalo que esperava. Subiu e suspendeu-a na frente dele.
—Quando gostar de mim, você não desejará me matar, — ele sussurrou
em seu ouvido.
Ahryn engoliu a bile que se levantou em sua garganta.
— Nunca vou me casar com você.
Ele riu e pegou uma mecha de seus cabelos louros.
—Você irá, se quiser viver.
Logo, ele chutou o cavalo, Ahryn arriscou mais um olhar sobre Lugus. Ele
chegara a sua ilha e puxava o barco para terra. Mesmo daquela grande distância,
Ahryn poderia dizer que o seu olhar procurava alguma coisa sobre o mar.
Poderia sentir o seu olhar? Será que sentia a sua necessidade?
Capítulo Dois
Lugus acordou e esticou o pescoço enquanto lançava as pernas para o lado
da cama. As muitas horas que gastara na confecção da bainha proporcionaram um
torcicolo no pescoço. No entanto, não importava quanto tempo trabalhasse, nada
poderia abalar o sentimento de que alguém o estava observando ontem.
Mesmo no sono, a sensação o tinha perturbado. Nos sonhos Druidas,
olhos verdes viravam místicos olhos azuis - olhos de Fae. E a única razão para uma
Fae vê-lo, era porque o tempo havia finalmente chegado. Balançou a cabeça para
limpá-la e se levantou do leito.
Precisava de um pouco de ar fresco. Sem se preocupar em alcançar uma
túnica, dirigiu-se para fora para ver o sol nascer do seu precipício.
A neblina rolava no mar sobre sua ilha cobrindo sua pequena cabana em
sua profundidade. Lugus parou na porta e inalou o ar fresco enquanto fechava os
olhos. A Escócia não era o reino de Fae, mas era um segundo próximo. A beleza
selvagem e indomável do terreno acidentado puxava a alma de Lugus da mesma
forma que o esplendor, a tranquilidade, e a grandeza do reino Fae fazia.
Abriu os olhos e olhou para a espessa névoa ondulante. A volta da água
podia ser ouvida, mas nada mais. Alguns podiam pensar em uma misteriosa neblina
e quase maldita, mas Lugus adorava isto.
Os primeiros raios de luz podiam ser vistos através da neblina e Lugus
virou-se para fazer o seu consentimento para o precipício. O ar do mar encheu seus
pulmões quando ele começou a subir. Havia subido quase metade do caminho
quando algo o deteve. O mesmo sentimento que o atacara no dia anterior o cercava
agora.
Apreensão serpenteou em sua espinha. Será que alguém finalmente chegara
para encontrar a justiça? Lugus esperava que sim. Por quase cinco anos, ele
esperara que alguém viesse e acabasse com sua vida. Só então ele se sentiria como
se houvesse pagado por seus crimes.
Seus passos aceleraram quando correu para o alto, para ver quem viera para
matá-lo. Com sua respiração difícil e a névoa se agarrando a ele, levantou os olhos
para ver uma mulher que estava em cima do precipício.
O vento soprava do mar seus longos cabelos louros de sobre seus ombros,
e sua saia escura subia por trás dela. Lentamente, ela virou o rosto para ele e viu os
olhos dela.
Místicos olhos azuis.
Olhos Fae.
Seu rosto era perfeito sem qualquer mácula. O brilho etéreo de sua pele
leitosa parecia queimar na luz do sol nascente. Ela não estava vestida com as roupas
de Fae, mas sim do povo através do mar. No entanto, mesmo no vermelho escuro
da sua roupa, ele sabia que seu corpo era ágil e alto, como todas as mulheres Fae.
Lugus não esperava que uma mulher viesse para matá-lo, mas não a
impediria. Ele teria que pagar por seus crimes.
—Eu vim atrás de ajuda, — disse ela cortando seus pensamentos.
Lugus piscou, não tendo certeza que ouvira corretamente.
—Ajuda? De quem?
—Por causa deles, — disse ela e apontou.
Lugus seguiu seu dedo e viu os quatro homens que pisavam na terra. Raiva
rolou dentro dele. Ninguém viria da terra para sua ilha. Ninguém.
Ele começou a sua descida, raramente tirando os olhos dos homens. No
momento que chegou embaixo, os homens ainda não tinham se aventurado a
distanciar-se de seu barco. A neblina dificultava sua visão, mas daria a Lugus, a
vantagem que precisava para despachar os homens e, em seguida, descobrir o que
uma mulher Fae estava fazendo em sua ilha.
Brevemente, pensou em recuperar sua espada, mas decidiu o contrário
quando um dos soldados o viu.
—Onde ela está? — Exigiu o soldado.
Lugus plantou os pés quando chegou à costa e olhou para os quatro
homens.
—Não permito ninguém na minha ilha. Deixem-na agora. Ou morrerão.
—Não sem a mulher.
Lugus flexionou suas mãos e se preparou para atacar quatro homens. Eles
vieram até ele instantaneamente. Um soco pousou em seu rim, outro no queixo e
outro no estômago. Podia ser mortal, mas sua formação Fae nunca iria abandoná-
lo.
Capturou uma perna entre as suas e apertou. Enquanto ele avistou outro
golpe vindo em seu rosto, abaixou e sorriu, quando o punho carnoso pousou no
rosto de outro soldado. Com os cotovelos, punhos, e cabeça, ele conseguiu bater
dois deles inconscientes. O outro que ele capturou com a perna, agora batia nas
suas costas. Com todo o entusiasmo que conseguiu reunir, Lugus jogou para trás
seu cotovelo e conectou com o rosto do soldado. Assistiu satisfeito quando o
homem caiu no chão.
Lugus então voltou sua atenção para o último soldado restante.
—Saia da minha ilha.
—Não posso, — disse ele. —Devo voltar com a mulher, ou ele vai me
matar.
Lugus acenou longe suas palavras.
—Não me preocupo com a mulher. Esta ilha é minha e ninguém
permanece nela. Se você não quiser morrer, sugiro que leve seus homens e vá
embora. Agora.
O soldado olhou para seus homens para Lugus.
—Não vou repetir a minha oferta, — Lugus disse.
Levou apenas um instante antes do soldado lançar-se em ação e começou a
puxar seus homens desmaiados para o barco. Lugus não se moveu até que o barco
remasse para o mar. Suspirou e estremeceu quando a dor da surra começou a abrir
seu caminho em sua mente, agora que não havia ameaça.
Um raio de sol abaixava sobre o braço. Em silêncio, amaldiçoou não vendo
o sol nascer no horizonte. E foi aí que se lembrou da Fae. Ele se virou e ergueu o
olhar para o precipício que pairava sobre a casa dele para vê-la olhando-o.
Tinha sido muito tempo desde que vira uma Fae que o segurou encantado.
Ele esquecera o quão impressionante todos Faes eram. E como tinha esquecido a
essência mística e sensual que fluía a partir e em torno deles? Tinha isto como
certo, tanto quanto ele era um Fae.
Esperou que ela fizesse seu caminho lentamente para baixo do penhasco.
Ela se moveu com a graça de um felino e a sensualidade de uma mulher que
poderia trazer o prazer mais requintado imaginável a um homem. Com grande
esforço, ele se recusou a permitir que seu corpo respondesse ao chamado de um
Fae, embora soubesse que não era a mulher, mas a essência que o chamava. Foi
difícil, considerando que a última mulher que ele havia beijado fora Moira.
O prazer não era algo que se permitia sentir. Não depois do que fizera.
—Contenha-se com isso, — disse a si mesmo quando a Fae aproximou-se
dele.
A cabeça dela se inclinou para o lado enquanto ela olhou-o, seus místicos
olhos azuis nunca vacilando.
—O que exatamente devo fazer?
—Você não veio aqui para me matar?
Ela balançou a cabeça.
—Disse a você. Estou aqui para que você possa me ajudar.
Lugus olhou para o mar. O barco estava já na costa de Escócia.
—Não quero ninguém na minha ilha. — Ele voltou seu olhar para ela. —
Você precisa sair agora.
—Não posso.
Passou a mão pelo rosto.
—Você é Fae. Pode e irá sair. A menos que esteja aqui para me matar, eu
não tenho nenhuma utilidade para você.
Agora que a sua manhã fora arruinada, ele girou e entrou em seu chalé para
tentar reunir seus pensamentos antes que começasse a trabalhar sobre a espada e a
bainha.
* * * *
Ahryn ficou olhando Lugus. Não sabia o que esperar dele, mas uma vez
que o vira lutar com os soldados, soube que era o único homem que realmente
poderia ajudá-la. A memória do brilho dos olhos azuis quando a viu. Trouxe um
sorriso no rosto.
Mortal, ele podia ser, mas a realeza que corria em suas veias ainda estava lá.
Mas isto seria suficiente para convencê-lo de sua causa?
Ela respirou fundo e entrou na pequena cabana. Era maior dentro do que
poderia imaginar. Era limpo e cada coisa estava em seu lugar, com exceção da mesa
onde estava sentado olhando para um pedaço de couro diante dele. Ela vira o seu
trabalho. O artesanato das armas e bainhas a surpreendera.
Seus olhos estavam fechados e ela tomou esse tempo para estudá-lo
realmente. Ele tinha feições de Fae - um rosto anguloso, mandíbula forte, alto,
magro, mas musculoso e os cabelos louros.
O cabelo de Lugus era uma sombra mais escura do que a maioria dos Faes,
mas isto era um sinal da casa real. Seus cabelos grossos pendurados no meio das
costas com tranças minúsculas perto de sua têmpora - Mais um sinal de Fae.
Ele sentou-se sem camisa diante da mesa. Mesmo agora, ela podia ver os
hematomas escuros, onde os soldados o feriram. Havia um corte acima do olho
direito, e os dedos da mão direita estavam sangrando. Foi quando ela notou as
marcas nas mãos e antebraços, tatuagens antigas com sentidos ocultos.
Ahryn ansiava cuidar dele, mas Lugus era um homem orgulhoso e não
aceitaria de bom grado a sua invasão, embora, na sua situação, ela realmente não
tivesse muita escolha.
—Posso cuidar de seus cortes? — Perguntei delicadamente.
Seu corpo inteiro sacudiu antes dele balançar a cabeça para ela.
—Você sempre vai onde não é bem-vinda?
Sua ira se eriçou com seu comentário, mas ela mordeu a língua e se recusou
a morder a isca.
—Não, mas tempos desesperados exigem medidas desesperadas.
Ele jogou a cabeça para trás e riu, um som não de todo amigável.
—Acho engraçado, quando um Fae pode se aventurar em qualquer lugar
que queira. Você não precisa mais da minha ajuda do que o sol para subir o céu.
Ahryn sabia que era hora de mostrar-lhe seu segredo. Ela retirou a mão
direita das dobras de sua saia e segurou-a na frente dela.
Seus olhos desceram para a mão dela.
—É uma antiga pulseira escrava celta.
—Muito bom. — Ela tentou, mas falhou em manter o sarcasmo na sua
voz. —No entanto, não é qualquer pulseira escrava celta. Foi feita especificamente
para capturar um Fae.
Olhos azuis de Lugus estreitaram-se quando ele virou em seu banquinho de
frente para ela.
—Nunca ouvi falar de tal coisa.
—Eu mesma, nunca ouvi falar dela. Foi só depois que tive isto e tentei
partir, que descobri o quão diferente esta pulseira era.
—Há quanto tempo você está aqui?
Ahryn olhou pela janela aberta.
—Dois meses.
—Todas as suas habilidades desapareceram?
Ela engoliu e lambeu os lábios.
—Significa perguntar se eu ainda ouço outros Fae? Não, eu não. Tudo
acabou quando a pulseira foi apertada ao meu pulso, — disse ela e baixou a mão.
Toda vez que ela via sua mão, raiva de si mesma quase a afogava, então ela a
mantinha fora da vista.
—E como vou ajudar?
Sabia que esta pergunta viria, mas agora que estava aqui, achou difícil de
responder.
—Eu sei quem você é. Embora possa ser mortal agora, é o único que pode
me ajudar a voltar para o Reino dos Faes.
Ele cruzou os braços sobre o peito musculoso e ela notou uma tatuagem de
um cavalo rodeado por um nó antigo trabalhado em seu antebraço direito.
—Se você sabe quem eu sou e porque eu sou mortal, você também sabe
que eu não posso me aventurar no reino dos Faes.
Ahryn não tentou esconder seu desapontamento. Na verdade, ela não sabia
por que agora ele era mortal, mas tinha a esperança de blefar de forma a deixá-lo
pensar que sabia.
—Não sabia disso. Achei que ainda era capaz de viajar a diferentes reinos.
Sua última esperança havia ido embora e sua curiosidade iria mantê-la presa
na terra pela eternidade. Ela respirou fundo e virou-se para a porta. Não havia
nenhum modo de ficar agora. Voltaria para Marcus e enfrentaria qualquer ira que
tivesse.
Lugus odiava ter sido afetado pela devastação no rosto da mulher. Ela não
era sua preocupação. Não podia ajudá-la.
Ou será que não queria apenas?
—Qual é seu nome? — Ele perguntou quando a mão dela chegou à porta.
Olhos Assustados da Fae surgiram em seu rosto.
—Ahryn.
Era um belo nome, ele pensou.
—Como você chegou a minha ilha?
—Como alguém pode chegar a esta ilha? Roubei um barco e remei a noite
toda. —Olhou para os pés. —Não esperava que ele me encontrasse tão cedo.
Lugus tinha de admitir que sua curiosidade fora aguçada agora.
—Quem?
Lentamente, seus místicos olhos azuis, elevaram para o dele.
—Quem é o homem mais poderoso por aqui? Lord Marcus MacGregor é
aquele que procura por mim. Os soldados viram-me, por isso ele vai voltar a me
reclamar.
Pensou nas palavras dela por um momento. Independente dele mandá-la
embora naquele instante, sua ilha seria invadida pelo barão e seus soldados. Havia
muito poucos lugares que ele poderia se esconder ou Ahryn por qualquer período
de tempo. No entanto, antes que pudesse fazer qualquer tipo de decisão, precisava
saber mais sobre os fatos.
Lugus moveu a mão e apertou sua mandíbula enquanto seus inchados
dedos sangravam gritando em protesto. Ele se levantou do banquinho e foi até o
fogo onde havia água fervendo para lavar os cortes. Foi uma das muitas coisas que
ele tivera de aprender a fazer, uma vez que se tornou mortal.
Pegou uma tira de pano e rapidamente mergulhou na água quente. Isto
escaldava sua mão enquanto tentava torcer a água fora.
—Aqui — Ahryn disse quando pegou o pano e empurrou-o para sua cama.
—Você se senta e eu atenderei a seus cortes enquanto eu conto a minha história.
—Como você sabia que eu queria saber a sua história?
Ela levantou os olhos de Fae para ele e sorriu quando se ajoelhou diante
dele.
—Não é preciso ser uma Fae mágica para ler as emoções que atravessam
seu rosto.
Lugus olhou para ela, realmente olhou para ela. Sim, era Fae e tinha todas
as feições de Fae, mas não havia tristeza em seus olhos, uma tristeza que o próprio
Lugus vivia todos os dias.
Seus olhos eram grandes e expressivos, com as sobrancelhas douradas
levemente arqueadas. Tinha maçãs do rosto salientes, um queixo teimoso e um
pescoço longo e gracioso. Seus lábios, amplos e completos, chamavam sua atenção
como uma abelha numa flor.
Ele não estivera tão perto de uma mulher desde Moira. Quase cinco anos
de prisão autoimposta na ilha. Culpou o fato de que estava sem uma mulher por
tantos anos fazendo que seu corpo ansiasse por Ahryn. Seu corpo precisava de
alívio e tomaria qualquer mulher que chegasse perto dele.
Quando seus dedos longos e finos tocaram os dedos feridos, quase saiu da
cama. Ninguém o havia tocado no que parecia ser anos. Esquecera como era ser
confortado, mesmo algo tão pouco como alguém atendendo a uma ferida e ele
ficou surpreso ao descobrir que desejava isso.
Seu toque era delicado quando ela tirou o sangue seco e a sujeira que se
embutira na pele de seu dedo, parou para examinar cada uma de suas tatuagens.
Lugus fechou a outra mão ao seu lado enquanto tentava manter a sua respiração
normal e sua mente focada na história de Ahryn ao invés da fome que havia sido
despertada nele.
—Sua história, — ele disse entre os dentes cerrados.
—Sim, a minha história, — disse ela baixinho. — Olhou para ele e lhe deu
um pequeno sorriso. —Sinto que isso lhe cause dor. Estou sendo tão gentil quanto
posso.
Acenou para ela e permitiu que pensasse que seus atos eram devido ao seu
desconforto pela limpeza de seus ferimentos.
—Sou curiosa por natureza. Algo que tem várias vezes me metido em um
pouco de dificuldades, disse Ahryn enquanto ela torcia o pano e voltava para sua
mão. —Meus amigos e eu costumávamos vir a este reino durante o Beltane e
Samhain. Era um mundo como nenhum outro. Assim como o nosso, embora tão
diferente.
Lugus sabia exatamente como ela se sentia. O reino da Terra chamara-o
frequentemente quando menino. As pessoas eram tão inocentes da magia e do mal
que pairava em torno deles.
—No entanto, quanto mais vezes eu vinha — Ahryn continuou — Mais eu
queria ficar. As pessoas que conheci eram muito simpáticas. Isto tornou tão fácil,
que em consequência disto, fugia e me aventurava neste reino, mesmo que não
fosse nos dias sagrados. Meu pai descobriu isso e tentou pôr um fim.
Lugus suspeitou que ela foi mantida distante deste reino por um longo
período de tempo.
—Quanto tempo ele manteve-a distante?
Ela ergueu o olhar para ele.
—Séculos. Foi só depois que alguém tentou dominar ambos os reinos que
ele soltou seu poder sobre mim. Ele assumiu que, após todos esses anos eu não
gostaria de visitar aqui de novo. — Ela levantou a mão com o pano e começou a
enxugar o corte sobre a testa.
—Ele estava errado — Lugus disse.
Ela sorriu levemente.
—Sim. Por algum tempo ele achou que eu vinha para conhecer um
homem, então tentou me forçar a casar. Recusei-me. Depois de uma peleja
particularmente dolorosa com meu pai, vim aqui para Escócia.
Lugus esperou que terminasse. Ela não falou novamente até que a ferida
sobre seu olho estava limpo.
Seus olhos se encontraram e ela estava em pé.
—Só queria ficar por algumas horas. Andei no mercado local, como
costumo fazer. Foi aí que Marcus me viu. Eu sabia, logo senti o seu olhar, ele sabia
quem eu era. Eu não receava isto. Como Fae, sabia que poderia sair a qualquer
momento.
Lugus sentou mais a frente com os cotovelos sobre os joelhos.
—O que aconteceu?
—Parei numa pequena loja que vendia joias entre outras coisas. Encontrei
um par de brincos que sabia que minha irmã iria gostar. Comprei-os e ia embora
quando o dono perguntou se eu gostava de peças mais antigas. Uma vez que eu
tento encontrar peças de joalheria que fizemos quando ainda estávamos nesta
esfera — eu disse.
—E trouxeram a pulseira de escrava.
Ela assentiu com a cabeça e olhou para sua mão. Ela correu um dedo sobre
as cadeias que ligava o dedo do meio para a pulseira.
—Pensei que era uma peça inusitada e bela. Sabia que os celtas tinham
fabricado tais pulseiras, mas elas geralmente eram simples na aparência, a menos
que o escravo fosse alguém importante. Assim, quando o comerciante pediu-me
para experimentar, nem pensei nisso. Tão logo a fechei, senti a magia.
Lugus olhou para a pulseira. Ao longo dos antigos desenhos e arabescos de
nós, tão parecido com o que ele trabalhava no couro, viu o que parecia ser uma
língua antiga.
—Já tentou decifrar os símbolos?
Ela assentiu com a cabeça.
—No meu primeiro dia. Logo que apertei a pulseira, Marcus e os seus
homens me levaram para o seu castelo. Passei o resto do dia trancada em um
aposento, enquanto tentava, em vão, pedir ajuda.
Lugus suspirou e se recostou na cadeira e estudou. Ou ela não tinha ideia
que ele fora o único que quase destruiu seu reino ou não quis mencioná-lo. Ele
resolveu assumir que ela não sabia exatamente o que ele fizera.
—Mesmo que eu tentasse falar com o Fae, isto iria cair em saco roto,
porque eu não sou mais um Fae. Sou um homem mortal.
—Você já tentou?
Ele balançou a cabeça.
—Não. E nem vou.
—Se você não me ajudar, Marcus vai me forçar a casar com ele e nunca
voltarei para casa.
Ele viu a miséria e o medo nos olhos dela e odiava que não pudesse ajudá-
la.
—O que você quer que eu faça? Sou apenas um homem contra o exército
de Marcus. Sei de quem você fala, apesar de nunca tê-lo encontrado também. É um
senhor muito poderoso com muitos homens à sua disposição. Não posso defendê-
la contra eles.
—Não estou pedindo por isso.
Ele a olhou por um piscar de olhos. Dois.
—Você pede o impossível. Diz que sabe quem eu sou, mas você não sabe
tudo.
—Sei o suficiente. Você é minha última esperança, Lugus. Sabe que eu não
fui feita para viver a minha vida aqui. Preciso voltar para o meu reino.
—Então você precisa encontrar um defensor que vá auxiliar você.
Capítulo Três
Lugus caminhou para seu chalé e viu as nuvens da tempestade progredindo.
Na escuridão das nuvens os relâmpagos brilhavam quando o trovão explodia ao
redor dele. O mar já começara a se agitar e ondular. Somente um tolo se
aventuraria a sair para o mar numa tempestade tão feroz quanto a que estava
prestes a explodir aqui.
Virou-se e entrou na cabana para encontrar Ahryn olhando para o fogo. Ela
ergueu o olhar para ele quando fechou a porta atrás dele.
—Sinto muito por ter vindo aqui. Marcus e os seus homens virão, mesmo
que eu volte.
—Sim.
Ela respirou fundo e se virou para ele.
—Vou sair agora e espero que Marcus deixe-o só.
—Gostaria que isso fosse possível, — Lugus disse se encostando a porta.
—Há uma tempestade se aproximando. Somente um tolo se aventuraria a sair para
a água agora. Você vai ter que esperar até que ela passe.
—O que significa que Marcus não virá até a mim? — Ela perguntou
esperançosa.
Lugus encolheu os ombros.
—Não poderia dizer, depende se ele pode encontrar remadores que estão
dispostos a arriscar suas vidas.
—Não vai, disse ela com um sorriso que iluminou seu rosto. —Por uma
noite eu estarei livre.
Ela sussurrou a última parte, mas Lugus ouviu-a mesmo assim. Ele olhou
para suas ferramentas e, em seguida, sua pulseira. O mínimo que podia fazer era
tentar tirá-la para ela. Pegou suas ferramentas e caminhou para ela.
Ele levantou as ferramentas.
—Quer que eu?
—Por favor. — Sentou-se e estendeu a mão.
Pelas próximas duas horas Lugus trabalhou na tentativa de soltar o
bracelete sem sucesso, enquanto a tempestade assolava fora. Alguma mágica a
mantinha presa ao reino da Terra, desempenhada pela pulseira fechada. Ele deixou
de lado suas ferramentas e balançou a cabeça.
—Sem saber que tipo de mágica a pulseira é feita, eu não posso
desbloqueá-la.
—Gostaria de poder lhe dizer. Tudo o que sei é que Marcus tinha a
pulseira, mas ele não me quis dizer onde conseguiu ou de quem, — disse ela, sua
voz mal passava de um sussurro.
Permaneceram em silêncio por um tempo, o trovão se tornando quase
constante e o raio iluminava a casa como se fosse dia. Previsão como esta, sempre
o alegrava, fazendo-o se sentir como se devesse estar encharcado de selvageria.
Lugus flexionou os ombros e se levantou.
—Tenho trabalho a fazer, mas sinta-se em casa e relaxe enquanto pode.
—Para que são as marcas?
Ele se virou e encontrou-a olhando para as mãos dele. Ele olhou para as
tatuagens e encolheu os ombros.
—Não sei. Elas estão em mim desde que eu me lembro.
—Então você não sabe o que cada uma significa?
Seu olhar vasculhou todas as tatuagens: um cavalo, um porco pequeno, um
dragão ainda menor, e vários padrões de entrelaçados antigos marcavam em toda
sua pele.
—Não tenho nenhuma idéia.
Ele foi para trás da casa, atrás de um pano que cobria todo o batente da
porta e aqueceu o seu forno. Se nada mais pudesse, terminaria o punhal que fora
pedido.
Logo ele esqueceria Ahryn, Marcus, seus soldados, o bracelete escravo e o
Fae. Canalizou toda sua energia no artesanato da adaga.
Horas mais tarde, com um profundo suspiro, ele limpou o suor da testa e
levantou o punhal acabado para inspeção. Isto contou com a sua aprovação e, com
a bainha correspondente faria um par surpreendente. Limpou a lâmina com um
pano limpo, fazendo certamente tudo que fora pedido.
—É muito bonita.
Ele olhou por cima do ombro e encontrou Ahryn olhando para o punhal.
Ele deu de ombros e deslizou-o em sua bainha.
—Isso ajuda a manter a comida na minha barriga.
—Talvez, — ela disse enquanto vinha olhar a variedade de armas
penduradas em sua parede. —No entanto, tenho a sensação de que aprecia o seu
trabalho. Você sempre foi tão talentoso?
Lugus colocou o punhal de lado e afundou as mãos em uma tigela de água
para lavar o suor e a sujeira dele.
—Realmente não sei. Costumava desenhar quando criança, mas não fiz até
que vir para cá e precisei encontrar algo para fazer, que descobri isto.
Seu riso suave encheu a sala. Lugus só podia ouvir o som mágico. Não
conseguia se lembrar da última vez que alguém rira em torno dele.
—Quase não acredito que você só tropeçou sobre isto, — continuou ela,
ignorando a turbulência que causara. —Isso... —disse ela e tocou uma espada, — É
feito com paixão e amor. Você deve ter visto as espadas artesanais em nossa área.
Lugus podia ainda lembrar a fúria de seu pai ao descobrir que queria
aprender a fabricar armas. Seu pai havia dito que não era para a realeza fazer tais
trabalhos e foi o começo de uma fenda enorme entre ele e o pai, uma fenda que
nunca melhorara.
—Você não tem que responder.
Ele ergueu os olhos para ela.
—Parece que sabe muito mais sobre mim do que eu de você.
Ela sorriu e levantou um ombro timidamente.
—Não estou perto de ser tão interessante.
—Ah, eu discordo. Uma Fae que fica presa no reino da Terra depois de ter
sido proibida de aventurar-se aqui é bastante interessante.
Ela oscilou em suas palavras, a tristeza mais uma vez em seu olhar.
—Eu só sei sobre você por causa dos discretos sussurros. As histórias
nunca parecem fixas, como se houvesse algo faltando, algo que alguém não quer
que o resto dos Faes saibam. — Parou de repente e olhou para ele. —Você sabia
que nosso reino foi quase destruído pelos dragões negros? Ninguém sabe quem os
deixaram soltos ou quem conseguiu prendê-los de volta.
O intestino de Lugus retorceu-se as suas palavras.
—É isso mesmo?
—Sim. Ouvi dizer que Caer Rhoemyr foi deixada em ruínas. Minha cidade
e a aldeia circundante tiveram alguns danos, mas conseguiram ajeitá-las logo.
Ele esperou que ela perguntasse se sabia quem liberara os Dragões Mortais,
e orou para que a pergunta nunca chegasse. Ela era a única Fae que provavelmente
falava com ele e se descobrisse tudo, iria odiá-lo tanto quanto sua própria família o
fizera. Não que ele não merecesse isso.
—Você não está curioso para saber quais eram os murmúrios?
—Não, — Disse e virou-se para deixar o pequeno aposento.
—Sério? — Perguntou e o seguiu. — Acho quase impossível não
perguntar.
Lugus não se incomodou em responder-lhe. Ele estava acostumado a ficar
sozinho e gostava de sua solidão, embora não pudesse muito bem mandá-la
embora com o mau tempo que se abatia sobre eles. Se não soubesse, iria pensar que
alguém havia mandado tal clima. Andou até uma janela e facilmente abriu a coberta
um pouco para espreitar a escuridão do céu.
Ele precisava tomar banho e de sua solidão, sendo que ambos estavam lhe
sendo negado. O cauteloso sentimento sofrido através de milhões de anos,
enquanto estiveva no Reino das Sombras o consumia.
—Você não gosta de mim aqui, não é? —Ahryn perguntou.
Ele olhou para ela por cima do ombro.
—Estou acostumado a ficar sozinho.
—Eu não estou, — respondeu ela. —Tenho uma grande família e muitos
amigos. Aqui, eu só tenho Marcus. Peço desculpas se perturbei o seu trabalho.
Prometo não fazer isso novamente.
Lugus ouviu seus pés enquanto se movia em torno do chalé e em silêncio.
Ele virou-se e encontrou-a sentada na frente do fogo olhando para a mão direita.
Poderia muito bem imaginar a preocupação que sua família sentia. Invejava-lhe
isso. Tosa sua família o esquecera há milênios e fora obrigado a ficar num reino do
qual ninguém jamais voltara a partir.
Afastou os pensamentos obscuros que tentaram romper. Fora aqueles
pensamentos escuros que fizera dele o demônio que havia destruído quase tudo.
Seu olhar se voltou para Ahryn.
—Vem — ele disse enquanto passava por ela. Para sua surpresa, ela se
levantou e o seguiu. Levou-a para uma das mesas onde trabalhava e mostrou-lhe o
desenho que fizera da bainha para a espada que Marcus encomendara. —Eu já
traçei o contorno da bainha. Você pode cortar o couro?
Ela olhou para o pequeno punhal na mão, em seguida, para o rosto dele.
Um sorriso lento puxou-lhe os lábios.
—Sim, — disse ela e estendeu a mão para o punhal.
Assim quando a mão dela fechou-se sobre este, ele disse:
—Tenha cuidado. O punhal é afiado. —Ele soltou e viu quando ela passou
a mão sobre o couro e seguiu o seu contorno com um dedo. Então, ela posicionou-
se e começou a cortar.
Lugus pos-se em pé e se afastou. Não gostou de dar-lhe o couro para
cortar, mas ela precisava de algo para ocupar sua mente, tanto como ele precisava.
Ele espirrou água no rosto antes de começar a trabalhar na espada Marcus.
A espada era uma das maiores que Lugus já havia se aventurado, e ele estava
ansioso para começar.
O forno foi aceso e pronto para começar. Ele tomou um pedaço de ferro
do forno e imaginou a espada antes do primeiro vai-e-vém do martelo.
* * * *
Ahryn ficou surpresa com a rapidez com a faixa na qual perdera tempo e
esqueceu as suas preocupações. A tarefa que Lugus lhe dera havia ajudado sua
cabeça desobstruir. Ela sorriu, pensando no momento que proclamou querer sua
privacidade, mas continou a ajudá-la de uma maneira que ela nunca havia sonhado.
Ela olhou por cima do ombro para ele enquanto batia no ferro distante e
viu-se incapaz de desviar o olhar. Os Faes em regra geral, eram criaturas bonitas,
mas havia algo de primitivo, poderoso em Lugus que a atraia até ele.
Sua boca umedeceu-se, enquanto observava os músculos tensos e
agrupados de seus braços, enquanto ele trabalhava o metal com o martelo. Suas
costas e os ombros estavam pulverizados com um fino brilho do suor pela
proximidade do calor do forno e a luz do fogo ardia na pele dele, rodeando-o de
chamas com um brilho vermelho-alaranjado.
Ela afastou o seu olhar e o voltou para o couro. Acabara de cortar as tiras,
mas não estava pronta para sair do aposento. Sabia que ele não queria ser
incomodado, então pegou algumas tiras de couro descartadas e levantou o punhal.
* * * *
Lugus girou a cabeça para aliviar os esforços das torções no seu pescoço.
Ele bocejou e pôs de lado o metal. Chegara mais longe do que antecipara com a
espada neste dia, mas era tempo dele descansar ou cometeria um erro.
O trovão continuava a rugir fora enquanto a chuva batia num andar
constante no telhado e nas paredes da casa. Seu estômago roncou e percebeu que
perdera não só a sua refeição da manhã, mas o mais provável que a do meio-dia
também.
Não foi, até virar para ir para a cozinha e ver Ahryn, que percebeu que ela
estava aqui. Tinha a cabeça apoiada no braço dela enquanto dormia. Ele estava
relutante em acordá-la, mas sabia que era provável que estivesse tão faminta quanto
ele. Rapidamente lavou a sujeira e pegou sua túnica.
Ele moveu a mão para tocar seu ombro e então as viu, pequenas tiras de
couro que eram pilhas para serem jogadas fora. Ela usara o punhal para cortar os
intrincados desenhos, desenhos encontrados somente no reino de Fae.
Lugus piscou, surpreso com sua habilidade. Por um momento ele
considerou mantê-la lá com ele e tê-la desenhando algumas das bainhas. Então ele
se lembrou quem e o que ela era, e quem e o que ele era.
—Ahryn, — ele chamou suavemente.
Ela impeliu-se tão rápido que quase caiu do banco. Foram somente as mãos
rápidas de Lugus, que a impediram que caísse. Endireitou-a enquanto ela bocejava e
tirava os cabelos do rosto.
—É tão tarde como parece? — Ela perguntou sonolenta.
Pela primeira vez em séculos, Lugus sentiu como se sorrisse.
—É difícil dizer com a tempestade, embora suspeito que trabalhamos
aparentemente ultrapassando a refeição do meio-dia.
—Isso explicaria por que estou com muita fome.
Lugus deixou-a para se aventurar na cozinha, onde posicionou para fazer a
refeição deles. Cozinhar sempre fora um trabalho da mulher, mesmo em seu reino,
mas fora outra tarefa na qual não tivera espírito de aprender. Ele tomara algum
tempo antes de aprender o suficiente para fazer uma refeição comível. Por um
momento pensou que poderia morrer de fome, suas refeições tinha sido tão
terríveis.
Com a tempestade, ele não fora capaz de pegar qualquer peixe, então
aqueceu a sopa que preparara no dia anterior. Comeram em silêncio, embora Lugus
pudesse sentir sua ansiedade pelo fim da tempestade. Porque com o fim da
tempestade, viria Marcus.
Lugus manteve-se desprendido de tudo e quase tudo desde que se tornara
mortal. Para ser honesto, ele não esperava viver tanto tempo quanto vivera. Muitas
vezes rezava para a morte, e algumas vezes até mesmo exigiu-a. Mas os céus
estiveram silenciosos. Até hoje ele vivera cada dia por conta própria, nunca
espectante ou esperando por alguma coisa.
E agora, uma Fae sentava-se em sua mesa pedindo sua ajuda. Ao mesmo
tempo, que ele teria saltado para ajudá-la, pensando que poderia ganhar a sua
entrada no reino dos Fae.
Ele não era o mesmo homem insensato.
Apesar de dizer que não iria e não poderia ajudá-la, ela precisava
urgentemente de assistência. Ele sabia em primeira mão como era viver em um
reino que não tinha vontade de estar ligado e não poder regressar ao seu próprio.
Perdera a conta dos milenios que havia passado no Reino das Sombras. Não fora
um lugar agradável. Mesmo agora, os pesadelos o atormentavam.
Ele viur o olhar dela abaixado até a mesa e os ombros curvados. Ela sabia
que seu tempo era curto e estava vivendo cada batimento com toda a sua
esperança. Lugus então entendeu o que teria que fazer.
—Está bom — disse ela.
Acenou-lhe e viu quando ela terminou sua taça.
—Desculpe-me, eu não pude dar mais.
—Não se desculpe. Foi uma refeição muito agradável. Agradeço por
compartilhar isso comigo — disse com um sorriso.
Lugus levantou-se e levou a taça.
—Você pode deitar-se em minha cama, — disse ele enquanto apontava
para a esquerda. —Planejo passar mais tempo trabalhando na espada.
—Obrigado, — disse ela e virou-se para a cama.
Ele esperou até que ela puxou o pano sobre a porta fechada, antes de
retornar para seu aposento. Por longos momentos ele olhou para o forno. Quando
reuniu bastante coragem, respirou fundo e fechou os olhos.
Embora ele fosse mortal e considerado um ser humano, as formas Fae não
o tinham deixado. Ele chamou pelo seu irmão Theron, usando a linguagem Fae.
Quando Theron não respondeu ou apareceu, Lugus então chamou com mais
urgência, deixando Theron saber que havia um Fae preso na Terra.
Ainda assim, Theron não respondeu.
Lugus afundou em seu banquinho. Tinha medo que Theron ignorasse toda
as mensagens dele, que era o porquê de Lugus não dizer a Ahryn o que estivera
planejando. Não queria frustar suas esperanças se falhasse. Era melhor se ela
achasse que não se importava o suficiente para tentar.
Ele olhou para o metal que começara a tomar a forma da espada. Seu
trabalho o ajudava a manter os pensamentos ruins fora de sua mente. Levantou-se
e agarrou o martelo de metal e com ele começou a bater.
* * * *
—Você não vai responder-lhe? — Rufina perguntou.
Theron fechou os olhos apertando-os e balançou a cabeça enquanto a voz
de Lugus reverberava em torno de seu quarto de dormir como um sino tocando.
Ele se inclinou na cadeira e com os cotovelos apoiados sobre as pernas, baixou a
cabeça em suas mãos.
—Você sabe que eu não posso.
—Ele não pediu para você ou qualquer outro Fae nos cinco anos que
esteve no reino da Terra. Não estaria chamando-lhe se não fosse importante, —
disse sua mulher seriamente.
—Não posso, — repetiu ele.
Ela se levantou e se afastou dele.
—Independentemente de onde estiver, ainda é seu irmão e parte desta
família.
Theron suspirou enquanto se sentava e olhou para sua bela rainha. Havia
sido planejada para Lugus, que como mais velho, estava fora da linha para o trono.
Theron agradeceu aos céus a cada dia que tinha Rufina ao seu lado.
—Você sabe o que ele fez, — Theron gritou acima do barulho da voz de
Lugus.
E tão repentinamente quanto havia começado, ele parou.
Theron olhou ao redor do seu aposento.
—Por que parou?
—Porque ele é um homem orgulhoso que sofreu mais do que qualquer
homem, Fae ou humano, deveria sofrer. Ele enfrentou a maior das provas e
conquistou o poder que teria matado a mim ou você.
—E quase destruiu o nosso reino e a Terra, — assinalou Theron.
Rufina suspirou e abanou a cabeça tristemente, os cabelos longos e loiros se
movendo suavemente em torno dela.
—Acho que você cometeu um engano, meu amor.
—Não acho que cometi, — disse ele, orando que estivesse certo. —Se ele
não tivesse fechado a sua mente para nós, seríamos capazes de decifrar se a sua
chamada era verdadeira ou não.
Rufina levantou uma sobrancelha perfeitamente arqueada.
—Eu nunca soube que você tomava o caminho fácil, Theron. Por que é
que você sempre faz isso com Lugus?
—Não confio nele.
—Então vá dar uma olhada na vila em que ele mora. Você será capaz de
descobrir tudo que precisa muito rapidamente.
Theron considerou sua sugestão, mas não estava confortável para espionar
seu irmão. Lugus o fez jurar que não interferiria em sua vida na Terra nenhum
pouco. Queria fazê-lo por conta própria e tanto quanto Theron, sabia que ele
fizera.
Mas por que a chamada repentina? Ele poderia estar em apuros? Se Theron
conhecia bem seu irmão, sabia que Lugus preferia morrer a pedir ajuda para si
mesmo. Mas se envolvesse outra pessoa, ele só poderia enviar uma chamada.
—Pare de se preocupar, — disse Rufina quando ela veio ficar na frente
dele. —Eu tenho outras coisas com as quais gostaria de ocupar sua mente.
Theron sorriu.
—E o que poderia ser?
—Isso, — disse ela e baixou seu manto prateado para mostrar seu corpo
nu.
Ele estendeu a mão e puxou-a contra ele, seus seios na mesma altura de seu
rosto.
—Ah, uma festa, — Murmurou um pouco antes de tomar um mamilo
rígido em sua boca.
Capítulo Quatro
Não importa o quanto Ahryn tentasse, não conseguia dormir. Não foi a
batida de Lugus na oficina. Foi o conhecimento que seu último fio de esperança
havia escorregado por entre os dedos. Devido a sua curiosidade, ela seria escrava na
Terra. Para sempre.
Sabia sem tentar, que nunca convenceria Lugus a levá-la a um portal entre
os mundos. Ela nem sabia se havia um por perto. Era algo que, a todos Fae haviam
sido ensinados a descobrir antes mesmo de visitar um reino, ainda que ela deixara a
sua confiança prejudicá-la.
Com um braço atravessado na testa e outro nas pregas da saia, Ahryn
encontrou sua mente vagando rumo a Lugus. Ela tinha errado o caminho para sua
casa. Tudo o que ela lembrava era dos murmúrios que o expulsara do Reino Fae de
novo. Mais uma vez. Embora a perturbasse. Uma vez que um Fae era expulso,
nunca seria permitido retornar. Então, como ele tinha conseguido voltar? E então o
que ele fizera para ser expulso do reino pela segunda vez?
Poderia ter algo a ver com a prisão de todo o reino Fae?
Vira seu rosto enquanto falava da destruição dos Dragões Mortais. Era a
dor de saber sobre a cidade que tinha nascido e criado que quase fora destruída?
Ou era a dor de alguém que fora o responsável?
Sua mente contestava com as possibilidades. Lugus poderia ser um homem
que gostava de sua privacidade, mas ele não a afastara. Seus instintos nunca a
enganaram antes e se recusava a acreditar que eles tinham feito isso agora.
Ela fechou os olhos e imaginou Lugus como estivera mais cedo - sem
camisa e suado enquanto batia o martelo no metal, trabalhando de uma forma que
só ele mesmo via enquanto seus músculos flexionavam-se e brilhava sob brilho do
fogo.
Se tivesse sido qualquer outra situação, teria rido, finalmente encontrara um
homem que lhe interessava.
Sentou-se e correu o dedo sobre a odiada pulseira. Lugus tentara todas as
ferramentas que tinha para desbloquear o bracelete e nada menos do que cortar sua
mão fora iria libertá-la. Se ela não fosse tão covarde, iria cortá-la.
As batidas rítmicas do martelo de Lugus a embalou. Deitou-se e logo suas
pálpebras começaram a pesar.
* * * *
Seu corpo estava em chamas. Sua necessidade era tão violenta que o consumia. Ele
precisava prová-la, sentir sua carne sedosa sob suas mãos. Seus cabelos pálidos em cascata em
torno dele enquanto ela se movia para montar seus quadris.
Lugus certamente quase derramou a sua semente então. Quantas noites tinha sonhado
com ela, como estava agora? Quantos dias ele tinha conspirado para tê-la como sua? Agora ela
finalmente era dele.
E diria a ela.
Ele enrolou suas mãos em seus cabelos longos e trouxe seu rosto mais próximo do seu.
Queria olhar em seus olhos quando mergulhasse a sua vara profundamente dentro dela.
Seus seios macios pressionados contra o peito, ela gemia baixinho enquanto movia seus
quadris contra sua dureza. Lugus silenciosamente amaldiçoou. Esperara tanto tempo e também
planejara nada lhe dar errado agora. Ele teria que ficar no controle.
Levantou os olhos e olhou para sua Druida de olhos verdes enquanto movia seus quadris
até que a ponta dele entrou nela. Ela era quente e escorregada e ele deslizou facilmente em sua
vagina apertada.
O êxtase percorreu-o, finalmente clamando Moira como sua. Ele fechou os olhos e
festejando ao senti-la em torno dele. Ele começou a se mover dentro dela, bombeando mais rápido,
mais difícil. Ele sentiu o aperto em torno dele enquanto ela gritava seu nome. Ainda assim ele
empurrou dentro dela até que sentiu seu próprio clímax.
Suas mãos percorriam as lustrosas costas até a cintura estreita. Ele abriu os olhos porque
queria olhar em seus belos olhos verdes quando alcançasse seu próprio orgasmo. Assim quando ele
estava prestes a derramar sua semente ele se viu olhando para os místicos olhos azuis.
Olhos de Fae.
Lugus acordou com um susto. Com o seu coração acelerado e sua
respiração irregular, ele olhou em torno de sua oficina. O sonho fora tão real que
ele ainda podia sentir e saborear Moira. E fora Moira, pelo menos no início, mas
não havia como negar que a face no final era Ahryn.
Tinha que ser porque ela estava em sua casa e ele tentara manter contato
com Theron. Pelo menos era o que dizia a si mesmo.
O fogo ainda ardia na oficina, o que significava que ele dormira por apenas
alguns momentos em vez de horas. Ele se levantou e caminhou até a pequena
janela da oficina e abriu as venezianas. A chuva ainda caia num feroz derrame, mas
o raio havia se mudado, embora ainda pudesse ouvir o estrondo de um trovão
sobre a chuva.
Era apenas algumas horas do amanhecer. Lugus sabia que iria começar o
demorado pequeno trabalho feito sobre a espada, então decidiu dirigir-se para o
precipício e esperar o nascer do sol na chuva. Quanto se afastou da janela, algo
sobre a água chamou sua atenção. Ele se inclinou para frente e olhou através da
chuva para ver quatro grandes barcos que vinham em direção à sua ilha.
—Marcus, — Sussurrou enquanto fechava as persianas e correu para seu
quarto, para acordar Ahryn.
Só que ela não estava lá.
Lugus olhou para a cama vazia antes de se dirigir para esta e sentir as
cobertas. Estas ainda estavam quentes, então ela não ia muito longe. Ele correu de
volta para sua oficina e pegou sua espada favorita e várias adagas enquanto correu
por trás da casa. Ela dissera a ele que viera para a ilha com um barco próprio. Uma
vez que não estava junto com o seu, ela deve ter desembarcado na costa da ilha por
trás do precipício onde a água era mais perigosa.
Ele alongou seus passos enquanto corria do chalé para o pequeno, quase
escondido, caminho que levava em torno do precipício, durante todo o tempo
colocando as adagas e espada em seu corpo. A chuva já havia colado sua roupa no
seu corpo e o cabelo no rosto, mas ele nunca enfraqueceu.
Seu pé escorregou nas pedras pequenas que se alinhavam a ilha quando
forçou dirigir-se em torno do precipício. As rochas fenderam e cortaram suas mãos
enquanto caminhava em torno do canto apertado. E então ele a viu.
O vento tornava difícil a capacidade de se movimentar quando puxou e
afundava na grossa e pesada saia. Mas era somente de uma vantagem que precisava
para alcançá-la.
Para seu grande choque, ele a viu tentando em vão empurrar para fora o
pequeno barco em águas turbulentas. Ela estava tentando sair sem Marcus
encontrá-la, o que significava que deve ter visto os barcos da mesma forma que ele
vira. Como não se incomodou em lhe dizer, ele sabia que estava saindo para
protegê-lo.
Que o deixou com uma escolha.
—O que você está fazendo? — Ele perguntou quando parou ao lado dela.
Ela girou rápido, e o vento soprou seus cabelos em seus olhos. Ajeitou o
longo cabelo e olhou espantada para ele.
—Como você sabia onde eu estava?
—É a minha ilha. Agora me responda, — ele exigiu acima da chuva e do
vento.
Ela desviou o olhar.
—Eu os vi chegando. Não há nada que possa fazer por mim. Já tinha
decidido partir esta manhã mesmo. A chegada de Marcus mais cedo só me
incentivou a apressar.
—Onde você pensa que vai?
Ela encolheu os ombros.
—Tenho que encontrar o portal. Não posso fazer isso se Marcus me
mantiver presa a ele.
Lugus olhou sobre o ombro. Eles teriam pouco de tempo antes que Marcus
e seus homens encontrassem o caminho para o precipício. Voltou-se para Ahryn.
—Temos que agir rapidamente.
—Nós? — Ela perguntou, tentando esconder a esperança em seus olhos.
—Sim, agora vamos lá.
Ele patinou na água e, em seguida, virou-se para encontrá-la ainda
empurrando o barco.
—Ahryn, — ele chamou.
Ela ergueu o olhar para ele.
—Não usaremos o barco?
—Eles vão nos pegar. Temos que passar despercebido.
Ela olhou para o mar turbulento e, lentamente, abriu caminho para ele.
—Eu não vou fazer isso com este vestido pesado.
Lugus puxou um punhal da cintura e estendeu a mão para o pescoço de seu
vestido. Ele ouviu seu suspiro quando cortou seu vestido abrindo e puxou-o de seu
corpo. Sem olhar para ela, se virou e escondeu o vestido arruinado entre duas
rochas, antes de embainhar a adaga. Quando ele se virou para trás Ahryn já estava
até o pescoço afundada na água.
Mergulhou na água e rapidamente encontrou-se com ela. A corrente era
forte e rápida, Lugus sabia que teria de nadar forte e rápido para chegar ao litoral da
Escócia sem que Marcus os encontrasse.
Eles estavam no meio do caminho para o continente quando se virou para
olhar por cima do ombro para verificar Ahryn. Ela estava muito distante e muito
atrás dele, ele podia ver que ela estava perdendo rapidamente o pouco de força que
tinha. Com uma maldição, Lugus virou-se e nadou até ela. Ele mal aproximara
quando ela afundou.
Mergulhou atrás dela e a trouxe para a superfície. Ele segurou de costas
contra seu peito enquanto nadava de volta para a praia.
—Lugus, — ouviu-a dizer acima da chuva.
E então ele viu. Sua casa, todos os seus pertences e tudo o que ele chamava
de seu, estava em chamas. Rapidamente desviou o olhar e nadou ainda mais para a
costa. Seu tempo aqui terminara. Ele teria que encontrar outro lugar para fazer a
sua casa. Se ele sobrevivesse ao nado até o continente.
Ahryn começou a tremer em seus braços. A água do mar fria finalmente
havia penetrado na sua pele Fae. Teria que retirá-la da água logo. Não tinha ideia de
quanto tempo estivera nadando, mas parecia que o continente não estava mais
perto. Sua preocupação aumentou, viu que não seria capaz de chegar até a praia.
Ele só nadara esta distância três vezes e nessas vezes não fora no meio de uma
tempestade.
Quando seus pés finalmente atingiram o fundo ganhou uma renovada força
que conseguiu levá-los para a costa. Ele puxou Ahryn fora da água até a costa
rochosa e caiu em cima dela para lhe dar algum calor seu.
—Tão frio, — Ela disse, batendo os dentes.
Seu peito ardia e seus braços doíam, mas Lugus levantou-se e pegou Ahryn
em seus braços. Eles teriam que tirar suas roupas molhadas e encontrar um lugar
para se esconder antes que Marcus os localizasse.
Os primeiros raios de sol filtraram-se ao longo do horizonte quando Lugus
caminhou para o chalé de Jonathon. Ele era a única pessoa que poderia ajudá-lo,
mas Lugus odiava colocar ele e sua família em perigo. Em vez de acordá-los, ele
posou Ahryn na parte de trás da casa e lentamente se dirigiu para frente.
—Lugus? — Jonathon perguntou quando ele saiu do chalé. —O que você
está fazendo aqui?
Lugus levantou a mão.
—Não diga mais nada. Eu não podia vir aqui, mas não tinha mais aonde ir.
Jonathon franziu a testa.
—O que aconteceu?
—Quanto menos você souber, melhor. Estou colocando você e sua família
em grave perigo com isto.
—O que você precisa?
Lugus ficou surpreso com Jonathon. Ele era um homem raro que dava
tudo o que podia e não fazia perguntas. Era o único homem que Lugus considerava
um amigo.
—Roupa limpa e um cobertor.
Jonathon assentiu.
—Minhas roupas podem ficar um pouco apertadas em você...
—Não é para mim, — interrompeu Jonathon. — Preciso de um vestido de
sua esposa.
Por um longo momento Jonathon olhou para ele antes de concordar e
entrou na casa. Quando ele voltou, tinha um vestido, dois cobertores, e algo
enrolado em um pano.
—Há comida também, — ele disse enquanto entregava isto a Lugus.
Lugus mexeu em sua bota e puxou um punhal.
—É tudo que eu tenho para o pagamento.
Jonathon balançou a cabeça. — Não vou aceitar isso. Guarde para sua
segurança, meu amigo.
— Não esquecerei isso, — prometeu Lugus.
Jonathon sorriu.
Lugus rapidamente ajeitou o vestido e alimentos entre os dois cobertores e
correu para a parte de trás da casa. Ahryn estava encolhida em uma bola contra a
chuva, a fina roupa íntima era sua única defesa.
Recusou-se a pensar mais sobre ela sentada lá quase nua na frente dele. Em
vez disso, ele abriu um dos cobertores e envolveu-o em torno dela, mas não antes
de ver o contorno de peito cheio e rosa escuro do mamilo contra o material
transparente de sua roupa íntima.
—Nós precisamos encontrar abrigo, — disse enquanto passava um braço
ao seu redor. —Você pode levantar?
Ele sorriu silenciosamente, ela balançou a cabeça e levantou-se tremendo.
Ele manteve o braço em torno dela para ajudá-la a ficar na posição vertical e
também para conduzí-la e dar-lhe calor.
Com o sol nascendo, eles teriam pouco tempo para encontrar um lugar
para se esconder. Lugus sabia de uma cabana abandonada fora da cidade, mas se ele
fosse Marcus, seria um dos primeiros lugares que ele procuraria. Em vez disso,
dirigiu Ahryn na direção do castelo de Marcus.
—Você perdeu o juízo? — Ela perguntou incrédula.
—Ele nunca vai suspeitar que nós estamos aqui. Uma vez que você se
aquecer e se trocar, vamos sair, embora então não haja nenhum lugar nesta aldeia
em que não vá procurar.
—E como você propõe sairmos do castelo sem ele nos descobrir?
—Vamos lidar com uma coisa de cada vez.
Embora a chuva tivesse abrandado, as pessoas ainda estavam relutantes em
sair no tempo, o que proporcionou a Lugus e Ahryn a oportunidade que
precisavam para entrar no portão do castelo. Lugus nunca se aventurou para o
castelo e agora ele gostaria de ter feito para que soubesse seu esquema.
—Para a esquerda, — disse Ahryn.
Lugus deixou-a dirigi-los a um depósito que não era utilizado nos últimos
anos. Cheirava como se não visse ar fresco em décadas, mas era um lugar para se
esconder. Depois que eles foram para dentro e fecharam a porta, Lugus pegou a
túnica molhada e torceu-a.
—Esse cobertor está molhado. Você precisa tirar isto e se trocar, — Disse
sem olhar para ela.
Ouviu o movimento atrás dele e imaginou que ela tivesse feito o que
sugeriu. Quando o cobertor à seus pés desapareceu, sabia que ela o envolvera em
torno de si mesma.
—Gostaria de poder lhe fornecer calor.
—Vou ficar bem, — disse ela e sentou-se sobre uma caixa vazia. —Só
preciso me aquecer.
Ahryn tentou não olhar para Lugus. Isto não era como se ela não o tivesse
visto sem camisa na noite anterior, mas ele tirou o olhar dela, no entanto. Com o
cobertor enrolado firmemente em torno dela, estendeu a mão e espremeu a água do
seu cabelo. Ela sentiu o seu olhar sobre ela e ergueu os olhos para ele.
—Obrigada — disse ela.
Deu de ombros como se não significasse nada para ele. Ela ainda não sabia
o que o fizera mudar de ideia sobre ajudá-la, mas estava feliz que ele fizesse. Talvez
com a sua ajuda, pudesse ter sucesso no retorno ao reino de Fae e uma vez lá, com
certeza iria procurar o rei Theron e falaria sobre o que Lugus fizera por ela.
Ela tornou-se desconfortável com o silêncio.
—Quanto tempo ficaremos aqui?
Ele ergueu o olhar para ela e levantou uma sobrancelha.
—Até você parar de tremer e for seguro sairmos.
Ela desviou o olhar. Com o canto do olho viu Lugus deslizar na parede e
esticar as pernas na frente dele. Com a cabeça inclinada para trás e as mãos
cruzadas na cintura, ele fechou os olhos.
Ahryn deixou seu olhar demorar-se em seu peito e abdômen bem definido.
Seu pescoço e braços eram tão grandes e ela suspeitava que os anos que passara
forjando as armas lhe deram um corpo tão delicioso. A maioria dos homens Fae,
embora musculosos, não eram tão definidos como Lugus.
Tudo nele ainda falava de Fae, mas havia algo mais, algo escuro sobre ele
também que a atraia. Talvez fosse a tristeza em seus olhos, mas independentemente
do que era, sabia que queria passar mais tempo com ele.
O destino colocara-o em suas mãos. No entanto qualquer coisa que
ocorresse hoje, ela aceitaria. Pelo menos estava tentando retornar para seu reino.
Ela fora inteligente o suficiente para perceber que se fosse capaz de fugir do castelo
e chegar à ilha de Lugus, não iria mais longe antes que Marcus a pegasse. E ela
tivera razão. Ela mal pisara na ilha antes que os soldados de Marco chegassem.
Mas com Lugus ao seu lado, ela só poderia fazê-lo isto no portal. Estava
ansiosa para saber se ele sabia de um portal, mas quando ela levantou seu olhar,
seus olhos ainda estavam fechados. Ela tinha uma curiosidade insaciável, mas não
era maldosa.
Sozinha com seus pensamentos, sua mente vagou até sua família e ao Reino
de Fae. Perdera a beleza e a grandeza de seu reino. Perdera a magia da Terra
perdida.
Lentamente, o frio que a envolvera começou a diminuir. Ainda lembrou-se
das águas geladas que quase a puxaram para suas profundezas escuras. Fora Lugus
que a salvara da morte certa e então tivera que assistir sua casa incendiada. Isto
havia sido crueldade imensa de Marcus.
Seu olhar procurou Lugus novamente. Ele era exatamente o que precisava
para ir para o portal. Só esperava que não descobrisse antes quem ela era realmente.
Capítulo Cinco
Lugus lutou para trazer o rosto de Moira em foco. Memorizara sua beleza
para que nunca esquecesse e mesmo agora, só alguns anos mais tarde, não
conseguia se lembrar da cor exata de seu cabelo ou o formato de sua boca.
A única coisa que me lembro, são os seus olhos verdes Druidas. Sabia que
nunca iria esquecer seus olhos.
Ele abriu seus olhos e encontrou Ahryn cochilando no peito. Seus cabelos
louros secaram num emaranhado de fios que caíram sobre o ombro até cobrir os
seios. Apenas de pensar em seus seios, enviava o seu sangue diretamente para a sua
vara. Ele amaldiçoou e mudou a posição.
Por muito tempo ele ficara sem uma mulher, algo que teria de corrigir em
breve, muito em breve.
Para afastar sua mente de sua necessidade de liberação sexual, começou a
planejar sua rota para o próximo portal. Seu destino seria a Ilha de Skye. Era uma
das passagens mais poderosa para o reino Fae e a mais próxima. Seria apenas uma
jornada de dois a três dias, pelos seus cálculos, uma vez que eles saíssem do castelo
de Marcus.
De repente, ouviu o som de pés se aproximando. Ele deu um pulo e
aproximou-se de Ahryn enquanto caía para trás de um monte de baús antigos. Ele
olhou para baixo e dizendo-lhe para não falar quando ele encontrou seu olhar em
sua boca.
Com seu corpo ainda em um estado de feroz necessidade, apenas a idéia de
que ela poderia desejá-lo enviou uma fome brutal em espiral percorrendo-o. O
cobertor que estivera fixo ao redor dela havia se soltado, permitindo-lhe uma visão
da sua carne a partir do ombro para o seu peito protuberante. Ele engoliu em seco
e levantou o olhar para o dela.
—Vem alguém, — disse ele pouco antes de alguém tentar abrir a porta.
Ele podia ouvir resmungos fora da porta, mas ele não conseguia distinguir
as palavras. Se eles destruíssem a porta não haveria onde ele e Ahryn se
esconderem. Ele percebeu então, que eles deveriam deixar o castelo imediatamente.
Sob o manto da escuridão seria o melhor, mas Lugus não sabia se poderia ficar
tanto tempo antes de serem descobertos.
—Acho que eram eles, — Ahryn disse suavemente.
Lugus rolou de cima dela e estendeu a mão para ajudá-la levantar-se.
—Como você se sente?
—A frieza me deixou, — disse ela.
Ele balançou a cabeça, satisfeito com sua resposta.
—Nós sairemos hoje à noite.
—Você acha que pode durar muito tempo antes que Marcus nos encontre?
—Ele é um homem Ahryn e ele é arrogante, o que significa que nunca
suspeitará que nós estamos aqui. Quem estava na porta agora não era Marcus ou
seus guardas.
Ela assentiu com a cabeça e ajustou a manta. Lugus lembrou o vestido que
conseguira de Jonathon e adquirira para Ahryn.
—Eu não tenho certeza se serve, mas será melhor do que o cobertor.
Ela sorriu e aceitou o vestido.
—Obrigada. Mais uma vez.
Ele virou as costas enquanto ela se aproximou agora da roupa seca. Ouviu
o farfalhar do material e podia imaginar o cobertor caindo no chão quando ela
deslizou a roupa sobre a cabeça e este deslizou lentamente para seu corpo flexível.
Com uma maldição baixa, fechou os olhos e tentou pensar em alguma
coisa, exceto no corpo nu de Ahryn.
—Como estou? — Perguntou ela.
Lugus disse uma oração silenciosa de agradecimento porque ela acabara e
se virou para ela. O vestido simples era de um azul suave que chamou atenção para
os olhos dela ainda mais. Este se encaixou muito bem, exceto no comprimento.
—Está um pouco curto, — disse ela e olhou para seus pés.
—Ninguém vai perceber.
Ela riu.
—Então, você obviamente não conhece as mulheres muito bem em tudo.
Ele sorriu intimamente e pegou a comida que Jonathon embalara para eles.
* * * *
—Só vou perguntar isso mais uma vez, Jonathon, — disse Marcus
enquanto olhava para o anel de rubi na mão direita. —Diga-me onde está Lugus.
Os homens, segurando Jonathon agarravam seus braços pelas costas.
Jonathon grunhiu de dor.
—Já lhe disse milorde, não tenho idéia de onde ele está.
—Não é verdade que você entregou-lhe o couro?
—Você sabe que é. Você encomendou uma espada a ele.
Marcus retirou a adaga de sua cintura pequena e trouxe-o para a garganta de
Jonathon.
—Posso matá-lo neste instante. Você e sua família, — acrescentou. —
Lugus tem algo meu, e quero de volta. Agora, me fale. Quando foi a última vez que
você viu?
—Ontem. Ele veio e comprou algum couro para começar a trabalhar em
sua espada e na bainha, — disse Jonathon, seus lábios afinados pela dor enquanto
os homens apertavam-no segurando.
Marcus olhou para a esposa de Jonathon acotovelados na porta de seu
chalé com seus filhos.
—A dificuldade é, Jonathan, que não tenho ideia se você está mentindo ou
não.
Por vários momentos, Marcus debateu sobre se matava Jonathan e sua
família. Finalmente, ele acenou para os seus homens e Jonathon caiu no chão.
Marcus pisou na mão de Jônatas e agarrou seus cabelos e puxou até Jonathon
olhou para ele.
—Estarei vigiando você. Estou certo que Lugus voltará aqui e quando o
fizer, estarei esperando por ele.
Marcus o soltou e foi até seu cavalo. Fúria bombeava cada batimento do
seu coração. Ele trabalhara duramente para conseguir a encantada pulseira escrava e
em seguida, trabalhara tão duramente tendo certeza de que isto tentaria uma Fae.
Ele se recusava em acreditar que perdera Ahryn, porque se a tivesse perdido, então
ele havia perdido tudo.
* * * *
Lugus abriu a porta para garantir que ninguém vinha. Os ocupantes do
castelo há muito encontrara sua cama, mas ele quis ser cauteloso, então esperou
mais uma hora. Ele apoiou a mão enquanto empurrava a porta abrindo-a.
Ahryn colocou a mão na dele e tirou-a do depósito. Fez uma pausa, puxou-
a para as sombras antes que fechasse a porta e esquadrinhou a muralha novamente.
Ela ficou atrás dele, sempre se mantendo nas sombras, como se analisasse
lentamente o caminho para o portão maciço.
Lugus viu quatro guardas no portão, dois na portaria da torre e dois no
pátio. Ele tivera a esperança de sair das muralhas do castelo sem ter de matar
ninguém. Ele fizera o suficiente disto nas quatro vidas Fae. Mas, parecia que não
havia maneira de contornar isso.
—Tenho uma ideia, — Ahryn sussurrou perto de seu ouvido, seu hálito
quente enviando arrepios ao longo de sua pele.
Lugus parou a mão para alcançando a adaga para arremessar e olhou para
ela.
—E o que seria isso?
Ela sorriu sedutoramente.
—Sou Fae, Lugus. O que acha que vou fazer?
Ele ficou olhando enquanto ela caminhava em direção aos dois homens no
portão. Cada um deles caiu sob o feitiço dela imediatamente, ela sorriu para eles.
Não havia necessidade dela falar porque a essência sensual Fae deixou o homem
louco de desejo. E isso era tudo o que era necessário para manter a atenção dos
guardas.
Lugus rastejou até a porta, os olhos nunca deixando Ahryn e os dois
guardas. Ele se esticou e destravou a porta e entrou rapidamente por ela. Em vez
de precipitar-se nas sombras, ele esperou Ahryn. Se a situação se tornasse demais,
uma Fae poderia simplesmente desaparecer de volta ao seu reino, mas Ahryn não
tinha esse luxo e agora Lugus preocupava-se que os homens pudessem alcançá-la.
Assim quando estava prestes a passar por trás da porta, ouviu o riso mágico
de Ahryn.
—Não posso expressar o quanto sou grata, — disse ela enquanto passava
pela porta. — Nunca vou esquecer nenhum de vocês. Deu-lhes um pequeno aceno
e em seguida, fechou a porta.
Quando ela se virou para Lugus, seu sorriso desapareceu.
—Pronto? — Perguntou ela.
—O que você disse a eles? — Ele perguntou enquanto rastejavam para as
sombras.
Ela riu.
—Menti. Disse que precisava caminhar e purificar a minha cabeça para o
meu casamento iminente.
Lugus sacudiu a cabeça, mas ele admirou sua imaginação. Onde, ele sempre
entrou fortemente bruta, Ahryn usava a cabeça e pensava nas coisas.
—Você sabe o que vai acontecer com eles quando Marcus descobrir o que
eles fizeram, — Lugus lembrou.
Ela balançou a cabeça.
—Ele não fará coisa nenhuma já que nem o homem irá se lembrar mais de
ter me visto.
—Então, você pode usar algumas de suas mágicas Fae?
—Algumas e apenas em pequenas doses.
Isto era algo que Lugus esconderia para referência futura. Ele havia
assumido que a pulseira a deixaria sem qualquer tipo de magia ou habilidades Fae.
Com a chegada da noite e as nuvens escondendo a lua, eles seriam capazes
de colocar uma boa distância entre eles e Marcus. No entanto, Lugus não parou.
Ele tinha a nítida sensação de que precisava seguir em frente e manter Ahryn em
segurança. E foi aí que percebeu que há mais de Ahryn do que ela lhe dissera.
Enquanto seguiam para a costa, Lugus pensou sobre o tribunal Fae. Seu
reino era muito parecido com os reinos da Escócia e Inglês. Havia um rei e uma
rainha, príncipes e princesas, duques, condes, e assim por diante. Os Faes haviam
começado monarquia na Grã-Bretanha.
Apesar da tentativa de Lugus discernir se, de algum modo, conhecera
Ahryn antes, não poderia situá-la. Se sua família era um membro da nobreza, não se
lembrava dela. Isso não o surpreendeu, considerando que ele havia passado vários
milênios bloqueado no Reino das Sombras para pagar por um crime que não
cometera.
Só de pensar naquele reino, um arrepio de terror o percorreu. Ele fora a
única pessoa a sair desse reino vivo. Isto significava matar e tinha quase feito
exatamente isso. Somente sua vingança o mantivera vivo.
Até hoje, não gostava de lugares escuros, não quando houvera um tempo
que pensava que nunca veria a luz novamente. Era por isso que adorava ver o sol
nascer todas as manhãs. Era sua maneira de celebrar a fuga da escuridão.
—Nós podemos descansar?
A voz de Ahryn o trouxe para o presente. Ele olhou por cima do ombro
para ela e encontrou-a encostada a uma árvore, vários passos atrás dele. Lugus
pensou em seu pedido por um momento e então se virou e caminhou para ela.
—Só por um momento, precisamos cobrir o terreno tanto quanto
pudermos nesta noite.
—Por que você está com tanta pressa? — Marcus nunca nos encontrará
agora, ela disse enquanto caía no chão.
Lugus varreu a área.
—Eu não estou tão certo disso.
—Como você poderia saber?
Lugus interrompeu as palavras dela. Ele não precisava de outro lembrete de
que não era mais Fae.
—Peço desculpas, — Ahryn disse suavemente. —Isso foi desnecessário.
Eu só quero dizer...
—Sei o que você quis dizer, — Lugus interrompeu-a. — Chame isto de
pressentimento, mas tão fácil quanto Marcus capturou você com a pulseira escrava,
ele vai saber para onde estamos indo e por quê.
—Eu vejo, — ela murmurou.
Lugus agachou ao lado dela e tentou ver seu rosto na escuridão.
—Como Marcus sabia que você era uma Fae? Você não escondeu isso?
—Sim, — ela disse com um aceno de cabeça. —Eu tomei as precauções
para que ninguém percebesse que eu não era mortal. Eu não tenho nenhuma ideia
de como Marcus sabia. Ele não divulgou essa informação para mim, mas deduzi
que ele estava bastante orgulhoso do fato.
—Ele é inteligente o suficiente para ter feito isso por conta própria?
—Ele é inteligente, mas discernir um Fae de um ser humano quando um
Fae está usando a magia para obter magia, não é tão simples adivinhar. Acho que
ele teve ajuda.
—Penso exatamente isso, Lugus disse. —A questão é, quem?
—Eu gostaria de saber. A magia Fae é umas das mais fortes ao redor.
—Sim. Você se lembra de quem é tão forte como a nossa?
Por um longo momento houve um silêncio. Então Ahryn disse:
—A Draconiana.
Só em ouvir o nome Lugus encheu-se de cautela.
—Nós lutamos com este reino uma vez. Foi uma batalha na qual, ambos
perderam um grande número, ainda assim, saímos na frente. Os Draconianos
partiram naquele dia e nunca mais voltaram.
—Você estava lá? — Perguntou ela.
Lugus engoliu e olhou para o chão.
—Eu estava. Meu irmão e eu acabávamos de chegar à idade para lutar e
mesmo contra os desejos de nosso pai, nós lutamos.
—Lembro-me dos ensinamentos que os Draconianos eram os únicos
capazes de controlar os dragões.
Lugus abaixou-se para o chão e inclinou-se contra uma árvore em frente à
Ahryn.
—Suponho que eles também lhe disseram que os Draconianos nos
ensinaram tudo o que havia para saber sobre dragões?
—Bem... Eles dizem que não nos ensinam tudo, mas eles não trazem os
dragões.
Ele balançou a cabeça em descrença.
—Admito que foi há muito tempo, mas eu teria pensado que esta parte não
teria sido esquecida. Não, os dragões em uma época, estavam em quase todos os
domínios. Eles são mais antigos do que a nossa raça ou Draconianos. Os dragões
sobre este reino e o reino Fae eram muito semelhantes, e quando chegou o
momento dos Fae partirem, os dragões ficaram com a gente e se misturaram com
os dragões Fae.
—E os Draconianos?
—Durante a grande batalha, ambos os lados utilizaram os dragões e tal
como acontece com nosso povo, ambos os lados sofreram muito com a morte dos
dragões. Tanto quanto sei, os Draconianos levaram seus dragões com eles, os vivos
e... Os mortos.
—Poderia um Draconiano se atrever a voltar à este reino?
Ahryn perguntou o que Lugus não fora capaz de fazer.
—Tudo é possível, mas poderia duvidar que um Draconiano entrasse nesse
reino sem Theron saber sobre ele.
—Com quem eles parecem?
Seu olhar foi para o seu rosto, embora ele não conseguisse distinguir suas
feições no escuro. Havia algo no nota dela e era mais que curiosidade.
—Não é muito diferente de você ou eu...
—Conseguiria identificar um na multidão?
—Duvido. Não é segredo que eles podem se misturar com os humanos.
Ele a ouviu suspirar.
—Então, eu poderia muito bem ter caminhado com ele no castelo de
Marcus e não saberia.
—Nós nem sequer sabemos com certeza se um Draconiano está aqui e nós
não saberemos até que você volte ao seu reino. Até então, só podemos especular.
Ela inclinou-se e aproximou-se dele.
—Mas faz sentido, Lugus. Ninguém teria sabido que eu era um Fae.
Ninguém.
—A menos que outro Fae tenha lhe traído. —Assim que as palavras saíram
da boca dele, ele lamentou-as. —É a minha vez de pedir desculpas, — disse ele.
Ela levantou a mão.
—Não. Você só falou a verdade.
—Então, é uma possibilidade?
Ahryn se levantou e tirou o pó de seu vestido. Ela desejou agora que não
houvesse trazido o assunto.
—Ahryn?
—Sim, — ela respondeu suavemente. —É uma possibilidade.
Sentiu mais do que registrou uma alteração em Lugus. As nuvens
completamente escondiam toda a luz, deixando-a apenas com uma silhueta para
ver.
—Diga-me, — ele disse quando passou por ela e começou a andar.
Ahryn estava mais do que feliz por estar novamente em movimento. Dessa
forma ela não teria que se preocupar com Lugus tentando ler a expressão dela. Para
não falar, ela não teria que vê-lo quando terminasse de dizer.
—Lembra quando disse que meu pai tentou me casar?
Lugus grunhiu à sua frente.
—O homem que meu pai escolheu era um membro muito alto da poderosa
guarda da realeza.
—Aimery? — Lugus perguntou.
Ahryn riu.
—Não, não Aimery. Ele está muito envolvido comandando o exército Fae
inteiro para pensar em uma mulher ou família.
—Acredito que este homem não estava feliz de ser rejeitado?
Ahryn ainda recordou a sua raiva e palavras duras.
—Não, ele não estava feliz. Na verdade, ele foi parte da razão pela qual eu
me arrisquei aqui.
—Ele não a deixaria sozinha?
Ela balançou a cabeça enquanto tentava seguir os passos largos de Lugus.
—Meus pais assumiram que eu mudaria o meu pensamento em relação a
ele se continuasse a tentar ganhar a minha corte.
—Não lhes disse como se sentia? — Lugus perguntou.
—Mais de uma vez.
—Será que este pretendente recorreu a algo como isto para se vingar?
Ahryn abriu a boca para lhe responder quando Lugus de repente virou-se e
puxou-a para trás de uma árvore. Ele apertou-a contra a árvore e colocou a mão
sobre a boca. Ela ouviu um pau quebrar debaixo do pé de alguém. O olhar dela
alcançou Lugus e desejou que pudesse ver seus olhos.
Ele abaixou a cabeça até sua boca estar perto de sua orelha e sussurrou:
—Sem som.
Ela não poderia ter falado mesmo que quisesse. Cada fibra do seu ser
estava quente pelo seu toque. Era a segunda vez naquele dia, que ele havia se
pressionado contra ela e seu corpo reagiu de imediato, em ambas às vezes.
Sua respiração correu entre seus lábios, roçando sua pele quando ele
protegeu seu corpo com o dele. Suas mãos grandes seguraram seus braços ainda,
como se ela pudesse correr quando o que realmente queria fazer era afundar os
dedos em seus longos cabelos. Ela fechou os olhos e esqueceu a ameaça que fizer
Lugus pressioná-la contra a árvore, mas deixou que seu corpo sentisse desde que
seus olhos não poderiam vê-lo.
Ela levantou as mãos e as colocou em sua cintura. Ele inalou nitidamente
enquanto trouxe um sorriso no rosto e um fio de esperança para seu coração. Ela
pensava que ele era imune a ela, mas talvez ele não fosse tão imune como dizia ser.
O desejo de sentir-se mais próxima dele era quase demais para suportar.
Ahryn não compreendeu os sentimentos súbitos e intensos percorrendo seu corpo,
mas ela sabia que nunca sentira isso por ninguém antes de Lugus.
Ela virou a cabeça em direção ao seu rosto e encontrou sua boca à mera
respiração da dela. Seus lábios se separaram em acordo próprio e esperou, sem
fôlego, os lábios encontrarem os dela. A lua rompeu por entre as nuvens e Ahryn
foi capaz de ver o rosto de Lugus. Seus olhos estavam preocupados enquanto
olhavam para ela, como se ele não tivesse certeza se queria.
Tão rápido como a lua derramou a sua luz, ela afastou-se.
E então Lugus deu um passo para longe dela.
—Tudo se foi, — disse ele baixinho.
Ahryn não poderia ter concordado mais. Ela respirou fundo e tentou
engolir. Ela ainda podia sentir o calor dele, sentir o cheiro delicioso dele, mas acima
de tudo, seu corpo ainda ansiava por seu toque.
—Fique perto, — Lugus disse quando se virou e foi embora.
Perto era exatamente o que ela queria. A questão era, quanto ele permitiria
que ela se aproximasse?
Capítulo Seis
Quando Lugus percebeu que Ahryn não podia mover um passo, ele parou.
A pequena clareira era perfeita. Ela lhes proporcionava uma bela vista da orla,
mantendo-os escondidos de alguém andando através da floresta.
Conteve um sorriso quando viu Ahryn literalmente desabar no chão.
Tinham se esquecido dos cobertores na pressa de deixar o castelo, e não houve
tempo de pegar outros luxos, mas ainda assim, Lugus sentia que deveria ter
providenciado isto para ela. Independentemente de saber se ele era imortal ou não,
no seu coração, ele seria sempre Fae e os homens Fae cuidavam de suas mulheres.
Embora assistindo Ahryn, soube neste dia que ela podia cuidar de si
mesma. Ela não se queixou uma vez, nem mesmo quando estava quase dormindo
em pé. Ele suspirou e caiu ao lado dela. Gostando ou não, ele teria de ficar perto.
Apesar de ser verão, os ventos que sopravam do mar tinha um jeito de deixar as
coisas frias, e sem proteção, isto levaria a uma noite miserável.
Lugus olhou para o pequeno saco de comida que duraria mais uma
refeição. Eles precisavam de suas forças amanhã e se tivessem sorte poderiam
encontrar alguém que vendesse comida. Ele pegou o saco, depois olhou para
Ahryn. Ela já estava dormindo e ele estava relutante em acordá-la.
Ele se decidiu contra isto e fechou a bolsa. Estava muito cansado para
comer, para isso encostou-se em uma árvore próxima e cochilou, cuidando para
não cair completamente adormecido e permitir que alguém viesse em cima deles.
Com um último olhar para Ahryn, Lugus fechou os olhos.
Não tinha certeza do que o acordou, mas quando olhou para Ahryn,
encontrou-a tremendo e enrolada em uma bola. Percebendo que já havia sido há
muito tempo desde que ela nadara nas águas geladas do mar, ele rapidamente se
arrastou até ela e moldou seu corpo ao dela. Embora Faes normalmente não
ficassem doentes, já acontecera antes, enquanto estavam na Terra.
O calor de seus corpos logo arrastou Lugus para o sono. Lutou contra isto,
enquanto pôde, mas a atração era muito forte.
* * * *
Ahryn se esticou e aproximou do calor que a cercava. Sonhou que estava
morrendo de frio, então, de repente, o sol explodiu através das nuvens e o calor a impregnou.
Ela tentou rolar para o lado e é aí ela sentiu.
Um corpo.
Um corpo muito masculino.
Lugus.
Sabia, sem olhar, que era ele. Teria gostado de pensar que ele dormia ao seu
lado porque estava atraído por ela, mas a verdade era que sabia que ele se
aproximara porque estava fria. Isso era apenas o tipo de homem ele era.
Assim, quando estava prestes a sentar-se, a mão dele se moveu para seus
quadris. Ela se acalmou e olhou para a copa das árvores em cima dela. Seu coração
começou a bater forte em seu peito, sua mão moveu-se para o seu estômago para
parar bem tímido tocando seus seios.
Um pulsar de desejo profundo sacudiu-a quando Ahryn silenciosamente
implorou para Lugus mover mais a mão, para sentir o prazer que ficaria feliz em
dar a ele.
Ahryn não entendia o desejo súbito e intenso que tivera por Lugus, mas
sabia que não era simplesmente o destino que a colocou em seu caminho. Era mais
que o destino. Mas o que justamente o futuro reservava para eles? Ela duvidava
extremamente que ficassem juntos. Lugus só estava fazendo isso porque Marcus
ousara entrar na ilha de Lugus atrás dela.
Apesar do fato de que eles estavam fugindo para salvar suas vidas e ela
quisesse desesperadamente voltar para seu reino, Ahryn gostava de estar com
Lugus. De muitas maneiras, uma parte dela não queria que sua hora acabasse.
Ela virou a cabeça para encontrar seus olhos abertos e olhando para ela.
Sua respiração se alojou em sua garganta enquanto ele lentamente a puxou para ele.
Ela esperou que ele parasse ou dissesse-lhe que estava protegendo-a de alguma
coisa, mas tudo isto desapareceu quando seus lábios encontraram os dela.
Ahryn esqueceu tudo, menos o sabor exótico de Lugus e o prazer que
espiralava através dela enquanto suas mãos corriam pelo corpo dela. Ela não
protestou quando ele virou de costas e levou-a para deitar em cima dele.
A sensação de seu corpo firme pressionado contra o dela, mais uma vez
formou-se um calor líquido entre suas pernas. Enquanto as mãos descobriam seu
corpo, ela mergulhou as dela nos espessos cabelos dourados. Sua língua explorou
sua boca e arrepios de desejo atravessaram seu corpo já aquecido.
Ficou estarrecida com a urgência com que seu corpo o queria, mas sua
mente parou de funcionar no instante em seus lábios encontraram os dela. O único
pensamento na mente dela era a certeza de que ele não parava de beijá-la.
Quando ele se virou e cravou-a no chão, Ahryn suspirou, amando o peso
dele em cima dela. Seus lábios viajaram de sua boca para o queixo, orelha, pescoço
e para baixo, deixando um rastro de formigamento na sua carne.
—Moira, — ele sussurrou.
Ahryn agitou-se, incapaz de acreditar que ele tivesse falado o nome de outra
mulher. E de repente, Lugus levantou a cabeça e olhou para ela. Depois que ele
piscou várias vezes, ele se afastou dela para sentar-se a seus pés.
—Isso não era apenas um sonho, foi? — Ele perguntou baixinho.
Ahryn engoliu, magoada e confusa. Queria perguntar-lhe quem era esta
Moira enquanto seu corpo ainda gritava pela liberação. Em vez de pedir-lhe para
terminar, ela simplesmente balançou a cabeça.
Ele levantou e passou a mão pelo rosto.
—Sinto muito, — disse ele e virou as costas. —Tenho estado sozinho por
um longo tempo.
—Não, — disse ela enquanto alisava o vestido e chegou a seus pés. —Não
há necessidade de explicações. — “Principalmente quando é uma mentira para encobrir o
fato de você estava sonhando com outra mulher”.
Ahryn não podia acreditar que estivesse tão irritada. Ela não tinha laços
com Lugus e certamente não o conhecia suficientemente bem para questioná-lo
sobre qualquer coisa.
Nenhuma palavra fora dita enquanto Ahryn correu os dedos pelos cabelos
embaraçados. Ela observou e esperou que Lugus lhe dissesse que estava pronto
para começar o dia. Ele partiu num andar acelerado que Ahryn foi duramente
pressionada a corresponder, mas não se importava que ele ficasse à frente dela, ela
ordenava tudo o que acontecera naquela manhã e a resposta do seu corpo.
Não foi, até que eles seguiram mais uma vez para a praia que ele diminuiu o
andar e esperou ela alcançá-lo.
—Eu... Disse alguma coisa? — Ele perguntou, olhando da terra para seu
rosto.
Agora seria a hora perfeita para ver se ele iria falar do passado, mas Ahryn
não estava de bom humor. Não poderia afastar a mágoa, nem podia impedir seu
corpo de sentir desejo por Lugus.
Ela balançou a cabeça e continuou.
—Eu devo ter feito alguma coisa, insistiu ele. —Você parece... Magoada,
— ele disse suavemente.
Ela atirou-lhe o que esperava que ele visse como um sorriso sincero e disse:
—Só estou cansada.
Lugus não acreditou nela por um momento. O sonho desta manhã fora tão
real, e quando ele abriu os olhos para encontrar-se em cima de Ahryn ficara
mortificado que houvesse se aproveitado dela desta maneira.
Pelo menos ele não a havia beijado. Mas podia jurar que dissera o nome de
Moira. Tivesse ele e Ahryn se deitado? Algo mais havia acontecido nesta manhã do
que ele se lembrava? Ele havia machucado Ahryn, disto estava seguro e perguntar-
lhe se a beijara ou mais só iria piorar as coisas para ambos.
Lugus tinha que admitir que sentia falta dos seus olhos brilhantes e o
sorriso fácil. Ele ainda sentia falta da sua maneira não tão discreta de tentar
descobrir as coisas de seu passado.
—Diga-me o que aconteceu? — Ela perguntou inesperadamente.
Ele não precisou perguntar sobre o quê. Ela estava se referindo ao seu
status de mortalidade.
—É uma longa história.
—É uma longa caminhada, — Ela retrucou sem forçar a sua resposta.
—Você não quer saber.
—Eu quero ou não teria perguntado.
Lugus suspirou.
—Você acha que quer, mas depois de descobrir a verdade, vai entender
porque eu tentei tão arduamente resguardá-la de você.
—Não pode ser tão terrível, — ela disse sarcasticamente.
—O que você acha que um Fae deve fazer para não somente ser expulso
do reino Fae, mas ter sua imortalidade retirada dele? — Lugus não se incomodou
em dizer que dera a sua essência de vida, a sua imortalidade para salvar Moira da
morte.
Ela encolheu os ombros, mas não enfraqueceu.
—Será que isso importa? Obviamente que foi algo realmente horrível, mas
eu não ouvi nem mesmos rumores para lhe perguntar sobre. Não ter falado nada,
não quer dizer que você já não estava no reino.
—E isso deveria falar muito para você, — Disse ele, não escondendo a
irritação crescente da sua voz. — Não vou dizer a você, então, deixe isto.
Uma vez o silêncio companheiro voara tão rapidamente como um pássaro
assustado, deixando apenas a tensão para trás. Lugus desejava agora ter ficado
perto da árvore em vez de aquecer Ahryn, porque foi aonde isto o levara.
Quando ele entregou-lhe o último pedaço de comida, ela ansiosamente a
tomou, embora não lhe concedesse um olhar. Considerando que, uma vez que ele
tinha certeza de que ela o queria, agora não estava tão certo. O sentimento de
decepção que o pensamento trouxe o perturbou muito. Ele não a queria, então por
que importava se ela não estivesse interessada nele? Lugus não tinha estado
confuso em torno de uma mulher desde que ele era um rapaz.
Por volta do meio-dia, justamente quando achava que não iria encontrar
um lugar para comprar alimentos, eles viram além, um chalé saindo fumaça da
chaminé.
—Aonde você vai? — Ahryn perguntou.
—Estamos sem comida. Irei conseguir mais.
Não demorou muito para trocar com a viúva um pequeno saco de pão
bolorento e queijo mofado por uma de suas adagas. Ele usou outra adaga para
raspar o mofo, antes de cortar um pedaço de queijo para Ahryn e o entregá-lo
enquanto retomavam a caminhada.
—Pelos meus cálculos, devemos chegar à Ilha de Skye mais tarde hoje ou
amanhã, — disse ele.
Ela engoliu a comida antes de perguntar:
—Você já esteve lá antes?
—Uma vez, admitiu. —Apesar de nunca na ilha em si. É grande e
facilmente visível a partir da costa.
—Como você sabe que o portal está lá?
—Lembro-me dessa ilha. Isto permaneceu comigo.
Ela levantou as sobrancelhas.
—E se o portal não estiver?
—Acho que vamos ter que continuar procurando.
* * * *
—Você tem certeza? — Marcus perguntou.
O rugido era baixo e profundo.
—Quantas vezes você me perguntará isso? Eu sei aonde ela irá.
Marcus olhou para seu companheiro, sendo o único que o ajudou a
capturar um Fae. E com o seu casamento com Ahryn, ele entraria em uma riqueza
de poder que ninguém no Escócia ousaria desafiar.
Cabelo escuro como breu, caía no meio das costas de seu companheiro,
afastado de seu rosto por um fecho de ouro puro, que tinha a forma de um dragão.
Marcus olhou nos seus olhos acobreados profanos e tentou esconder o medo.
—Ahryn convenceu Lugus a ajudá-la só porque você insistiu em invadir
sua ilha. Se você tivesse me ouvido e o deixado sozinho, Ahryn poderia muito bem
estar sentada ao seu lado até agora.
Marcus se afastou do olhar acobreado acusador.
—Oxalá. No entanto, você sabe quão difícil foi conseguir Ahryn. Eu não
poderia ficar de braços cruzados e esperar que ela voltasse para mim.
Uma risada baixa atingiu Marcus quando seu companheiro cruzou os
braços sobre o peito e olhou-o.
—Sempre o senhor inseguro. Admita que você não tomou Lugus como
uma ameaça, porque ele é o único que pode levá-la para um portal seguramente. É
a mesma razão que eu avisei para ficar longe dele.
Marcus acenou longe suas palavras.
—Vamos chegar até ela em tempo.
—É melhor rezar para seu deus que consigamos ou então o exército inteiro
Fae descerá sobre vós.
* * * *
Ahryn não achou que seu corpo poderia ficar mais exausto do que estava,
ainda assim ela tinha conseguido isso. A falta de magia natural na Terra drenava um
Fae facilmente e, quando forçada como fora, esta ia ainda mais rápida. Ela fechou
os olhos rapidamente e tentou reunir alguma calma ao seu redor.
Ela pensou que queimaria até derreter agora, mas aqui era fim de tarde e ela
não podia se abalar. Muito poucas palavras foram ditas, uma vez que haviam
deixado a Casa da viúva. Lugus parecia ter se perdido em seu próprio mundo e ela
não tivera vontade de invadi-lo novamente.
Sua nota de voz severa quando ela tinha perguntado sobre o seu passado,
lhe dissera o quão frescas eram suas feridas. Ela tentou imaginar a pior coisa que
poderia ter feito, que era tentar destruir o reino Fae. No entanto, ainda não a
impedia de confiar nele. No pouco tempo que estivera com ele, ela vira o homem
real.
Se ele tivesse feito o impensável, Ahryn sabia que tivera um motivo. Ela
nem por um momento acreditou que um homem capaz disto que fora sugerido
sobre seu reino, iria salvá-la em vez de deixá-la morrer.
Ela desejou que sua mente ficasse ocupada com esses pensamentos, mas,
inevitavelmente, eles mudaram para seus beijos e a sensação dele naquela manhã. O
amor e o desejo brilhando em seus olhos quando ele falou o nome “Moira” que
ficaria gravado na sua memória por toda a eternidade.
Ahryn mal viu Lugus parar na frente dela. Rapidamente desviou e correu
para ele e ignorou o olhar curioso que ele atirou até ela. Quando ele virou a cabeça,
seguiu seu olhar e viu-se olhando através do mar para uma ilha grande.
—É a Ilha de Skye? — Ela perguntou hesitante.
—Sim.
Ela olhou para o céu e para a escuridão crescente.
—Será que vamos alcançar hoje?
Lugus suspirou e se afastou.
—É tarde demais. Será a primeira coisa que faremos amanhã, — ele disse
enquanto procurava um lugar para eles dormirem de noite.
Ela havia notado como ele tornou-se desconfortável no escuro e se
perguntou se era sua imaginação ou ele realmente não gostava da noite.
Lentamente, virou-se e o seguiu. Tão preocupado com seus próprios pensamentos
quanto ela estava, ele nem notou que ela estudava-o.
Lugus se parecia muito com seu irmão, o rei Theron, embora faltasse
alguma coisa nele, além do brilho Fae de sua pele. Foi então que ela percebeu o que
era. Esperança. Ele não tinha esperança nele e sem esperança, seria apenas uma
questão de tempo antes de morrer.
Ela inclinou-se contra uma árvore e perguntou:
—Temos chance de nos esquentarmos hoje à noite?
Lugus parou o exame e olhou para ela.
—Não posso afastar a sensação de que Marcus não está muito longe de
nós. Se eu tivesse forçado um pouco mais hoje, poderíamos estar na ilha, — disse e
apontou para a Ilha de Skye. —E você poderia estar quase em casa agora.
—Não é culpa sua, — assegurou-a. —Eu o atrasei. Não estou tão certa de
que Marcus vai saber onde estamos. Eu não sei como você está — ela disse, e
esfregou sua cabeça. —Eu odeio não ser capaz de ler o futuro.
Ele deu de ombros e sentou-se contra uma árvore.
—Você se acostuma, assim como se acostumar a não curar rapidamente.
—Deve ser terrível. — Sentou-se na frente dele, esperando que fosse
continuar a falar sem ela ter que fazer mais perguntas questionadoras. Não tinha
ideia de por que sentia necessidade de conhecê-lo.
—Não foi tão mau como pensava. Com toda honestidade, eu não esperava
viver.
Foi quando ela se lembrou do que ele disse quando a viu pela primeira vez
em sua ilha.
—Você pensou que eu vim matá-lo. Você já esperava por isto?
Ele não encontrou o seu olhar enquanto assentia.
—Pedi por ela.
—Então você acha que merece a morte?
—Certamente.
A convicção em sua voz a fez parar.
—Foi-lhe dada uma segunda chance. Por que não a agarra com ambas as
mãos e vive a sua vida?
—Não é tão fácil, — disse ele, sua voz misturada com tristeza. —Eu tenho
muito a pagar, Ahryn. Minhas ações exigiram a minha morte.
—No entanto, o rei Theron não permitiu isso.
Ela ouviu o que parecia uma risada, mas certamente não poderia ser desde
que ela ainda não o vira sorrir.
—Theron não teve nada a ver com isso. A única coisa que ele fez foi
colocar-me sobre este reino, em vez de outro lugar.
Ahryn ficou mais confusa do que nunca. Se Theron não parara a mão que
iria acabar com a vida de Lugus, então, quem fizera?
Observou Lugus em seu comportamento frio e sombrio nos olhos azuis e
soube que ela tinha de fazer.
Capítulo Sete
Lugus esfregou os olhos cansados e olhou para o mar. Não podia acreditar
que conseguira trazer Ahryn até aqui com segurança, mas, em seguida, amaldiçoou-
se por não tê-la na Ilha de Skye antes do anoitecer.
Ele sabia no fundo de sua alma, que Marcus estava vindo atrás dela. Lugus
teria outra alma em sua consciência, se ele não enviasse Ahryn através do portal
antes que Marcus chegasse. E tudo porque a mente não deixava o sonho e como
acordara sobre Ahryn.
O sonho ainda estava vivo em sua memória e com ele, os olhos brilhantes
azuis que haviam olhado-o. Fora por isso que chamou o nome de Moira. Foi como
se tivesse se transformado em outra pessoa em seus braços, alguém parecido como
Ahryn.
Disse a si mesmo que era simplesmente porque estivera sozinho por tanto
tempo e não provara a carne de uma mulher em todos esses anos. Foi por causa
dessas razões que Ahryn se interpôs sobre a imagem Moira em seus sonhos. Tinha
que ser, ele disse a si mesmo. Ele recusou-se a pensar em outras razões possíveis.
Seu olhar moveu-se para Ahryn. Ela estivera tranquila e calada todo o dia e
não podia culpá-la depois do que fizera naquela manhã. Não quisera falar sobre ele
depois do que fizera a ela naquela manhã.
O que realmente o irritou foi que Ahryn era do tipo bondosa, alguém que
ele não queria fazer mal, mas ele parecia estar fazendo exatamente isso. Fora um
dos motivos porque quisera atingir a Ilha de Skye naquele dia. Quanto mais cedo
ela estivesse longe dele, melhor seria para ela.
Ficou surpreso quando ela mexeu a cabeça e encontrou o olhar dele. Seus
místicos olhos azuis brilhavam à luz do desvanecimento do sol.
—O que você fará quando eu voltar ao meu reino?
Ele ponderou a sua pergunta por um momento.
—Eu não sei, — disse ele depois de não ser capaz de encontrar uma
mentira.
—Você não pode retornar à sua ilha.
Ele balançou a cabeça.
—Não. Mesmo se conseguirmos chegar a Ilha de Skye e você passar o
portal sem Marcus capturá-la, ele vai me caçar. Voltar à minha casa não é uma
opção.
—Você gosta da Escócia — ela disse de repente.
Ele ficou surpreso por ela conseguir ver isso nele.
—Gosto.
—Você não vai deixá-la.
—Isso combina comigo — foi tudo o que ele disse em resposta.
Ela inclinou a cabeça para o lado e olhou-o.
—Sim, é verdade. A mão de Marcus chega longe e seu poder sobre os
outros clãs é grande.
—Eu achava o máximo. Há muitos lugares em que um homem pode viver
despercebido por alguns anos.
Ele já havia decidido que isto seria mais profundo no topo das Terras Altas
e nas montanhas. Lá, iria encontrar algum lugar para chamar de lar.
—E você? — Perguntou ele. —O que você fará?
Ela olhou para suas mãos que brincavam com o tecido de suas saias.
—Vou voltar aos meus pais e explicar o que aconteceu e então, depois
disso, quero visitar Caer Rhoemyr.
Lugus agitou ao ouvir sobre sua cidade.
—O que tem lá?
—Uma tia. Acho que ficar algum tempo longe da minha família me
preparará para que possa determinar o que eu quero, não o que os meus pais
querem para mim.
—Uma ideia inteligente.
Fez-se silêncio à sua volta, mas ele estava relutante em quebrá-lo. Quando
ele ouviu o ronco do estômago de Ahryn, levantou-se e deu-lhe o último pedaço de
queijo e pão.
—E você? — Perguntou ela.
—Não estou com fome, — ele mentiu e desceu para o litoral.
Água levemente envolveu seus pés, enquanto observava o sol desaparecer
no horizonte. Suspirou e se recusou a deixar o medo tomar conta dele. Veria a luz
da manhã, ele repetiu várias vezes em sua cabeça.
O suprimento de água havia acabado mais cedo e Lugus sabia que teria de
encontrar um pouco de água fresca para eles em breve. Ele olhou para a direita e
para a aldeia. Não havia mais nada para ele fazer. Ele tinha que buscar água.
—Aonde você vai? — Ahryn perguntou enquanto ele andava para ela.
—Até a aldeia, atrás de um pouco de água.
—Esta em segurança. Não há nenhuma maneira de Marcus e os seus
homens chegarem aqui antes de nós. Por que não me deixa ir?
Provavelmente era seguro, mas quanto mais pessoas a vissem, mais fácil
Marcus poderia chegar até eles. Ela parecia tão esperançosa que Lugus não pode
recusar não depois de tudo o que ocorrera.
—Tudo bem, mas tente manter a sua mão escondida. Se alguém ver que...
—Eu sei, disse ela rapidamente.
Lugus olhou para ela e resignou-se ao fato de que teria que trocar mais uma
de suas adagas por um quarto para que ela pudesse tomar banho e descansar em
paz. Não havia nenhuma maneira de passar outra noite sozinho com ela.
Seus passos eram mais leves enquanto caminhava ao lado dele até a aldeia.
—Você sabe onde o portal está?
—Não.
—Então, pode ser em qualquer lugar da ilha.
Lugus não se incomodou em responder-lhe a declaração.
—Quão grande é a Ilha de Skye?
Ele amaldiçoou e a arrastou para frente.
—É grande, — disse ela baixinho. —Pode levar vários dias antes de
encontrá-lo.
Lugus não queria dizer-lhe, até quando houvesse chegado Skye. Ela estava
exausta e saber que teriam ainda mais dias de viagem só preocupava-a. No entanto,
não queria mentir para ela também.
Assim que chegou à aldeia, Lugus encontrou uma pousada com duas salas
vazias e comercializou outra adaga dele, comida, banho e roupas para Ahryn. Ele a
acompanhou até o quarto dela e apontou para o salão.
—O proprietário enviará água quente, um vestido novo, e alguns alimentos.
Não saia.
—Aonde você vai?
—Para fazer algumas perguntas, disse ele e virou-se.
Lugus não respirou até que atingiu as escadas e entrou na sala de jantar. Ele
se sentou em um canto e pediu uma caneca de cerveja. O proprietário lhe dissera
que o punhal cobriria qualquer coisa que ele e Ahryn encomendassem para os
próximos dois dias, então Lugus fora para ter a certeza de obter o valor do seu
dinheiro.
Quando a esposa do dono veio trazer a sua caneca, ele parou e perguntou:
—Há uma balsa para a Ilha de Skye?
—Sim, — respondeu ela, com os cabelos grisalhos castanhos se soltando e
caindo sobre seu rosto.
—Você sabe muito sobre a ilha?
Ela riu e colocou a mão sobre o peito roliço.
—Vocês podem dizer isso. Eu vivi aqui toda a vida. Que quer saber?
Lugus tomou um longo gole de sua cerveja antes de respondê-la.
—Você sabe de um lugar na ilha onde há duas pedras grande altas?
Ela olhou de perto para ele.
—Há muitas pedras em toda a Escócia e na Ilha.
—Elas são diferentes. Ambas as pedras são separadas e viradas para o mar,
atingindo a sua altura elevando-se para o céu.
—Eu conheço essas, — respondeu ela baixinho, o seu olhar olhando ao
redor da sala de jantar.
Lugus disse uma oração silenciosa de agradecimento.
—Você pode dizer onde estão na ilha?
—Por um preço.
De alguma forma, isso não era surpresa para ele. Ele enfiou a mão na bota
e tirou uma de suas adagas de nota. Era menor do que as outras, mas a arma era um
de seus bens mais valiosos. Fora um dos primeiros que ele fizera.
—Será que isto paga? — Ele perguntou e deslizou em direção a ela sobre a
mesa.
Ela sorriu, mostrando os dois dentes faltando.
—Isto irá fazer muito bem, ela disse enquanto o colocou no bolso do
avental. —As pedras estão no lado nordeste da ilha. Se você seguir a costa, não as
perderá.
—Quanto tempo levará para alcançá-las?
—Depende de quão rápido você viajar. Se você andar, isto poderia levar até
cinco dias. Há um navio que poderá levá-lo e chegar lá em três.
Lugus já havia trocado três de suas armas, deixando-o com sua espada e
apenas mais dois punhais. Ele não queria mais trocar, mas a sua comida não estava
lá e não tinha moeda para gastar. Era trocar as armas ou a eles mesmos.
* * * *
Ahryn olhou para a grande banheira de madeira que estava sendo cheia
com água. Ela não podia esperar para afundar na água quente. Não era a gigante
banheira de pedra de seu pai, mas isto serviria muito bem.
A jovem deu um sorriso.
—Vou voltar com a comida e um vestido mais tarde.
Ahryn acenou e tirou os sapatos. Não se preocupava com o alimento no
momento. Tudo o que queria era lavar a imundície e a sujeira de seu corpo e
cabelo. Seus longos cabelos se tornaram embaraçados e enredados de modo que ela
sabia que iria penteá-lo o resto da noite apenas para desembaraçar todo o
emaranhado.
Mergulhou seu dedo do pé na água e assobiou com o calor provocado em
sua pele, mas isso não a impediu de pisar na banheira e afundar na deliciosa água
quente. Com um longo suspiro, inclinou as costas e deixou a água envolve-la.
Fechou os olhos e sentiu seus músculos começarem a relaxar pouco a pouco até
que estava quase dormindo.
Repouso, sua mão se esticou e pegou a barra de sabão. Ela trouxe para o
nariz, pensando que o cheiro era tão maravilhoso quanto o sabão que era feito em
seu reino, quando sentiu o cheiro de limpeza combinado. Segurando o mais
distante quanto pode, ela ensaboou-se e começou a esfregar seu corpo. Duas vezes.
Mesmo assim, ela se perguntava se deveria esfregá-la novamente. Em vez disso,
mergulhou a cabeça molhando os cabelos.
Limpou a água de seus olhos e procurou em volta o frasco de lavar o
cabelo. Não vendo nada mais para ensaboar, ela revirou os olhos e estendeu a mão
para a barra novamente. Como ela estava relutante em usá-lo, tinha que admitir que
isto parecia deixar sua pele e os cabelos limpos.
Até o momento que terminou, a água começara a esfriar. Quando saiu da
banheira de madeira e começou a secar, houve uma batida suave na porta e Ahryn
ouviu a menina que servia chamar.
—Pode entrar, — Ahryn falou e envolveu o tecido em torno de seu corpo.
A menina sorriu timidamente e colocou a bandeja de comida na mesa antes
de colocar um vestido sobre a cama.
—Espero que a cor lhe convenha, — ela disse suavemente.
Ahryn olhou para o vestido azul-claro e sorriu.
—Eu amo esta cor. Obrigada. —Ela esperou até que a porta se fechou
atrás da garota antes que corresse para esta e trancá-la. Só então conseguiu deixar a
toalha cair quando se aproximou do vestido novo. Debateu sobre a possibilidade
de colocar o vestido de uma vez que sabia que não iria sair. Decidiu contra e se
sentou para comer.
* * * *
Lugus desajeitadamente caminhou de volta para a pousada. A noite não
fora como ele havia planejado, e seu humor havia azedado rapidamente. Nem
sequer olhou para o hospedeiro quando entrou e subiu as escadas.
Quando ele passava pela porta de Ahryn, viu luz por baixo. Ele bateu com
suavidade e ouviu-a correr para a porta.
—Quem é? — Ela perguntou hesitante.
Esfregou os olhos e disse: — Sou eu.
Um momento depois, a porta se abriu.
—Está tudo bem?
—Preciso entrar e falar sobre os planos — disse ele enquanto empurrava a
porta e entrava, nunca registrou em sua mente que ela não poderia estar vestida,
então quando se virou e encontrou-a sem nada, a não ser um camisão, penas pôde
olhar.
Ela encolheu os ombros.
—Tentei avisá-lo.
Ele piscou enquanto ela ia para a mesa e sentou-se para continuar
comendo. Ao contrário das mulheres na Terra, uma Fae não escondia todas as
partes de seus corpos e não corria para se esconder se alguém viesse até eles. O
corpo Fae era belo e não se importava em mostrá-lo.
Lugus olhou para o teto, enquanto tentava, em vão, falar sem olhar para ela
e implorou que seu corpo não respondesse.
Ela deu uma risadinha.
—Acho estranho que você tenha alterado suas maneiras neste reino.
—Uma pessoa se acostuma a algo, mas não é isso, — disse ele e virou as
costas para ela, para olhar para sua cama e o vestido azul-claro.
—Então o que é isto? O meu corpo não o agrada?
Ele me agrada muito.
—Eu não vim até aqui para discutir o seu corpo ou o que me agrada. —
Ele sabia que deveria ter continuado até seu aposento e falado com ela de manhã.
No entanto, em vez de sair, ele ficou imaginando que ultrajante questão ela poderia
lhe perguntar em seguida.
—É verdade, mas é o que nós estamos discutindo agora. Então me
responda. Eu não agrado você?
Ele suspirou e inclinou-se contra o poste da cama.
—Você sabe que faz. Faes são algumas das mais belas criaturas, fascinantes
na criação.
—Exatamente. Por isso, só faz sentido que você possa favorecer-me bem,
— disse ela como fato, como se não houvesse debate.
Lugus virou preparado para lhe contar as novidades e sair. Em vez disso,
ele se viu olhando enquanto ela lentamente se levantou da mesa, à luz da única vela
atrás dela iluminando sua silhueta através da roupa fina. Toda a umidade em sua
boca, simplesmente desapareceu quando olhou.
Seu coração começou a bater descontroladamente e seu sangue
acumulando em sua vara, trazendo-a para um estado dolorosamente difícil e de
saudade. Tudo o que tinha a fazer era estender a mão e tocá-la. Ele podia sentir a
sua própria necessidade que apenas rejeitou o seu desejo.
Mas para tocá-la, saboreá-la, dar-lhe-ia seu prazer, algo que ele havia se
negado durante muito tempo. Dando-se agora não seria justo nem para ele, nem
para Ahryn.
Com mais vontade do que ele jamais pensou que possuía, disse:
—Eu vim aqui para dizer o plano para amanhã.
—O plano? — Ela perguntou, sua voz baixa e sedutora.
—Sim. Descobri que o portal está no lado nordeste da ilha, — disse ele e
afastou-se dela em direção à porta. —Isso nos faria levar mais tempo a pé, por isso
estamos indo de barco.
—Tudo bem.
Ele engoliu em seco e estendeu a mão para a porta.
—Saímos na primeira luz.
Ela sorriu conscientemente.
—Por que você está com essa pressa? Ambos sabemos o que queremos.
—Tenho as minhas razões.
—Lugus, — disse ela.
—Não, — disse ele mais duro do que pretendia. Olhou para baixo antes de
olhar em seus olhos místicos. —Tenho minhas razões, Ahryn. Por favor, não peça
mais de mim do que eu posso dar.
Ahryn olhou para a porta fechada, não acreditando que Lugus tivesse saído.
Por um momento ela pensou que ele iria desistir, mas então algo acontecera e ele
saiu antes que pudesse dizer outra palavra.
Seja qual for a prisão que Lugus mantinha, era quase impenetrável.
* * * *
Lugus apressou-se do aposento de Ahryn para o seu próprio e fechou a
porta. Ele afundou-se na cama, a cabeça entre as mãos, seu corpo doía com a
necessidade. Se tivesse sido qualquer outra pessoa, ele poderia ter dado o que fosse
apenas para se aliviar. Mas era Ahryn. A Fae que lhe havia confiado a sua vida.
Não podia deixá-la.
Capítulo Oito
Lugus passou as mãos pelas costas nuas e sorriu enquanto ela arqueava-se para ele. Ele
inclinou-se e passou a língua em sua espinha, persistente na base enquanto brincou com um ponto
sensível. Ouviu sua ingestão aguda de ar e virou-a para encará-lo.
Olhou em seus olhos verdes de Druida. Moira.
Ela sorriu e inclinou-se para por os lábios dela sobre os dele. Ele traçou o contorno da
boca com a língua e a aconchegou em cima dele. A sensação de seus seios contra o peito cheio fez o
seu sacos pesarem com o desejo. Fora um tempo longo desde que a abraçara e sabia que uma vez
não seria suficiente naquela noite.
Suas mãos envolveram os seios e apertaram os mamilos. Ela gritou e girou seus quadris
contra sua vara inchada. Ele gemeu e levou a boca o bico rígido. Passou a língua sobre o mamilo e
girou em torno de sua boca até que ela se contorcia de desejo.
Só então ele lhe permitiu sentar e se levou lentamente para dentro dela. Sua vagina,
quente e úmida, certamente quase o fez perder o seu esperma. Ele fechou os olhos e se divertiu com
a sensação de sua constrição em torno dele. Quando ela começou a agitar-se para trás e para frente,
ele agarrou seus quadris e sentiu seu clímax vindo mais rápido do que ele queria.
Ele abriu os olhos para dizer-lhe para parar e se viu olhando para os místicos olhos
azuis.
Lugus estava no navio e viu o sol romper o horizonte. Soltou a respiração
reprimida e inalou o ar marinho. Só que não era o sal que ele cheirava, mas a
fragrância diferenciada de inocência, sexualidade e magia.
Ahryn.
Ele podia sentir a sua aproximação e se perguntou como ela havia dormido.
Depois de mais um sonho onde Moira, mais uma vez se transformou em Ahryn,
não fora capaz de dormir de novo. Ele estava cansado e com o pior dos humores.
Desde que deixara a pousada, havia experimentado uma urgência a bordo do navio
e de sair o mais rapidamente possível.
—Bom dia, — disse Ahryn enquanto parava ao lado dele.
Ele olhou para ela e notou os círculos escuros sob seus olhos. Ao invés de
comentar, ele olhou para o vestido e seu cabelo limpo trançado longe de seu rosto
com muitas tranças minúsculas que se reuniam em uma trança grossa pelas costas.
—Bom dia. A cor combina com você, — disse ele e voltou para o mar.
Viu-a virar-se para ele com o canto do olho.
—Obrigada. Está tudo pronto?
—Quase, — ele disse quando avistou o capitão.
Ela começou a inquietar-se ao seu lado até que ele não pode ignorar isto
por mais tempo.
—Qual é o problema?
—Você não sente isso? — Ela perguntou baixinho.
Ele olhou em volta.
—O quê?
—Eu não sei. Há uma urgência no ar que eu não posso explicar.
Ele balançou a cabeça e olhou para ela.
—Eu sinto.
—É Marcus? — Seus grandes olhos azuis procuraram o seu.
Lugus encolheu os ombros.
—Eu não sei. Uma vez a bordo do navio, o capitão irá mostrar-lhe o
aposento. Fique aí. Não se arrisque na plataforma até que eu vá até você.
—Aonde você vai?
—Perto, — disse, quando colocou a mão nas costas dela e guiou-a em
direção ao porto, ele viu o aceno do capitão para ele.
—Quanto tempo levará para alcançarmos o portal?
—Cerca de três dias até chegar à Skye, mas não estou certo quanto tempo
vai demorar para chegar ao portal, — ele respondeu enquanto olhava por cima do
ombro. Podia jurar que alguém estava olhando para ele e mesmo que procurasse, a
sensação não desaparecia.
Voltou-se para encontrar Ahryn à sua frente. —Alguém está lá fora— disse
ela.
—Sim. Agora siga o capitão. Rapidamente — ele disse quando ela não se
moveu. Observou enquanto o capitão a conduzia antes dele de virar-se para a
aldeia.
As pessoas andavam, mas ninguém pareceu desconfiado, até que viu um
homem com longos cabelos negros desaparecer por trás de um edifício. Poderia
não ser nada, mas poderia ser tudo, especialmente porque a sensação de estar sendo
observado já não o afetava.
—Pronto? — O capitão perguntou enquanto se juntava a ele.
Lugus suspirou e entregou-lhe sua espada.
—Pronto.
* * * *
Os braços de Lugus ardiam enquanto puxava o equipamento apertado. O
vento dera-lhes velocidade, mas mudava muitas vezes. Estava pilotando desde que
o navio havia deixado o cais, e ele podia muito bem imaginar Ahryn ficando
impaciente na cabine.
Ele pulou e mergulhou no convés para encontrar sua cabine. Mal tocou
com os dedos na porta antes dela mover-se abrindo.
—Onde você... — Ela começou, depois parou enquanto olhava para ele. —
O que você estava fazendo?
—Ajudando o capitão.
Seus olhos azuis se estreitaram.
—Ele não tem equipe para isso?
—Sim.
Ela suspirou e inclinou-se contra a porta.
—Então por que você está ajudando-o?
Lugus sabia que tinha que lhe dizer.
—Era parte do pacote.
—Para a nossa passagem?
Ele balançou a cabeça uma vez.
—Você pode vir para o convés, se quiser. Estamos longe o suficiente da
costa, — disse e retrocedeu nos seus passos.
Ahryn correu atrás dele. Ela não podia acreditar que havia trocado a si
mesmo como pagamento de sua passagem. Ela o vira dar dois de seus punhais, mas
já não tinha ideia de quantas armas ele tinha.
O sol iluminou-a enquanto chegou ao convés e por um momento, ela
parou e inclinou seu rosto para ele. As poucas horas que ela estivera na pequena
cabine sendo sacudida era quase pior do que ficar presa na Terra.
Moveu-se em direção ao corrimão, um sorriso em seu rosto quando Lugus
caminhou em sua direção. A sua expressão a deixava saber que não estava feliz.
—O que foi?
—Esconda a pulseira, — ele sussurrou. Então, em uma nota mais suave,
advertiu: — Você não está usando a magia, então os homens se juntarão a você.
Vou ficar de olho, mas apenas no caso de eu não estar perto, use isso — disse e
entregou-lhe o punhal.
Ela pegou instintivamente.
—Não vou ficar no convés muito tempo, — prometeu e rapidamente
escondeu a faca em sua mão direita.
Seu rosto suavizou enquanto olhava por cima da água.
—Será apenas por três dias. Podemos sobreviver três dias.
—Sim, nós podemos, — prometeu e deu-lhe um sorriso brilhante quando
ele voltou seus olhos azuis para ela.
Ele começou a sair quando parou e relutantemente voltou em sua direção.
—Uma coisa mais.
Ela inclinou-se contra o corrimão e esperou.
—Para que você viesse a bordo, tive que mentir.
Ahryn estava achando Lugus cada vez mais interessante.
—E o que você teve que mentir?
Ele suspirou dramaticamente.
—Disse que você era minha esposa, — ele falou rapidamente e afastou-se
rápido.
Ahryn piscou surpresa e descrente. Ficou surpresa, ele não dissera que ela
era sua irmã ou sobrinha. Mas mulher? Isto não esperava e a emoção de ouvir isto
de seus lábios preocupou-a mais do que Marcus encontrá-la.
No meio da tarde o céu de sol brilhante dera lugar a nuvens escuras e
sinistras e trovoadas distante. Ahryn passou a maior parte do dia em sua pequena
cabine alternadamente chamando por seus pais e até mesmo o rei Fae, Theron,
embora nenhum deles respondesse o chamado.
O navio começou a balançar loucamente e Ahryn desistiu de tentar andar
na cabine e ao invés disso, sentou-se. As primeiras gotas de chuva poderiam ser
ouvidas sobre os gritos dos marinheiros e tudo o que Ahryn conseguia pensar era
em Lugus no alto dos cordames. Se ele não tivesse um aperto firme, a rota do navio
ou uma rajada de vento poderia derrubá-lo logo depois. A preocupação aumentou
em cada batida do coração até que estava quase perdendo o juízo com isto.
Então, de repente, a porta do camarote se abriu e Lugus adentrou. Ele
parecia que estava pronto para desmaiar. Ela saltou e agarrou-o quando ele
tropeçou e o navio balançava. Ele levantou a cabeça e olhou para ela com os olhos
semicerrados. Ela lhe deu um sorriso e envolveu seus braços em torno dele e de sua
roupa molhada.
—Você precisa de descanso, — disse ela enquanto eles tropeçavam rumo à
cama.
Ele caiu sobre uma pilha antes que ela pudesse tirar sua roupa. Começou a
retirar as suas botas e meias, em seguida conseguiu colocá-lo de costas para que
pudesse lidar com sua túnica.
Ela só conseguia imaginar como parecia estar quase montada nele enquanto
esforçava-se para tirar seus braços para fora do tecido molhado e depois, uma vez
que foi feito, ela teve que sentá-lo e tirar por sobre a cabeça, o que provou ser mais
difícil do que imaginava. Assim quando retirou a túnica e atirou-a de lado, ela se
virou para trás e encontrou o olhar dele.
—O que você está fazendo?
Ela engoliu em seco, a boca seca, agora vendo o desejo escurecer seus
olhos azuis.
—Suas roupas estavam encharcadas. Não quero que você durma nelas.
Seu olhar vasculhou em seu rosto como se estivesse procurando algo.
—Você deveria ter me acordado.
Incapaz de resistir, ela levantou a mão e traçou a sua boca com o dedo.
—Não. Não depois do trabalho que teve hoje para me ajudar. —Deixou
cair à mão e encontrou seu olhar. —Eu nunca vou ser capaz de retribuir-lhe.
—Não, — ele murmurou enquanto seu rosto se aproximava.
Ahryn prendeu a respiração, esperando e pensando se ele iria beijá-la
novamente. A memória do seu primeiro beijo ainda persistia em sua mente.
O navio oscilou para o lado, e Ahryn agarrou Lugus com uma mão e a
parede com a outra. E isso foi quando ela sentiu a sua vara, aninhada contra ela.
Calor agrupou entre suas pernas e um palpitar profundo da fome ressoou dentro
dela.
Ficou surpresa quando seu braço delicadamente envolveu-a e atraiu-a para
o peito para mantê-la estável. Seus olhos abaixaram para a sua boca larga, cheia. Era
uma boca sensual, que poderia trazer o prazer mais intenso, apenas com um
simples beijo. Lambeu os lábios e ouviu a sua ingestão de ar.
Seus lábios se separaram enquanto sua boca se aproximava. Suas bochechas
se encontraram e roçando ligeiramente. Os pelos do bigode arranharam seu rosto
enquanto sua boca se moveu na direção dela devagar, parecendo indeciso.
Ela sentiu seus braços tensos ao seu redor, pouco antes dos seus lábios
tocarem o dela.
Lugus sabia que poderia queimar num reino especial por isso, mas ele não
podia mais negar a força de Ahryn. Estava tão cansado de lutar e o desejo crescente
de seu corpo tinha que ser liberado. Quando seu rosto macio encontrou o dele,
fechou os olhos e saboreou a sensação de sua pele sedosa contra a sua. Ele abriu os
olhos para ver seu peito subindo e descendo rapidamente e os lábios entreabertos,
esperando ansiosamente.
E seu controle desapareceu.
Ele moveu a cabeça e seus lábios encontraram os dela, o prazer explodiu
dentro dele. Seus braços esmagaram-na enquanto aprofundou o beijo e explorou
sua boca deliciosa. Prometeu a si mesmo que não faria mais do que beijá-la, mas a
cada gosto, gemido e suspiro que escapava da boca doce, ele achou difícil pensar
em qualquer coisa, apenas em mergulhar no calor dela.
Precisando conhecê-la mais, Lugus cortou o beijo e se mudou para o
pescoço dela. Ela virou a cabeça para o lado e deu-lhe o acesso à seu pescoço longo
e fino. Suas mãos se moveram para os lados, enquanto ela se inclinava para trás,
peito estirando-se, como se o implorasse para provar seu néctar.
Lugus não poderia se afastar mais do que poderia parar de respirar. Suas
mãos se moveram para a taça formada pelos seios e até mesmo o tecido pesado de
seu vestido, ele podia sentir os mamilos endurecerem. Ela gemeu e segurou seus
braços enquanto ele se inclinou e beijou a pele por cima de cada peito, enquanto
suas mãos continuaram a apertar e rolar seus mamilos.
Sua vara implorou por mais. Isto exigia tanto até que ele ficou cego para
qualquer coisa, a não ser o prazer e o desejo de Ahryn que corria célere e
verdadeiro nele.
Ele estava prestes a começar a remover as roupas dela, quando alguém
bateu na porta e gritou para ele voltar para o convés. A realidade desceu sobre ele
como um balde de água fria. E ele sabia no instante que Ahryn percebeu isso.
Ela não disse uma palavra quando se afastou dele. Ele pegou sua túnica
molhada e puxou-a antes de puxar suas botas. Não sabia o que dizer a ela, então em
vez de dizer algo que não queria ou não quis, decidiu que o melhor curso de ação
era deixar isto.
Ele caminhou rapidamente da cabine e suavemente fechou a porta atrás
dele. Pouco depois, saiu para a tempestade, parou e tocou seus lábios. Conhecia seu
gosto, o que significava que a beijara antes. Por que ela mentiu sobre seu primeiro
beijo?
* * * *
Ahryn ficou no canto e assistiu Lugus sair da cabine. Quando a porta
fechou, ela deslizou pela parede e aconchegou os joelhos até o peito. Pensava que
ele sabia quem estava beijando, mas talvez ela estivesse se enganado de novo.
Seus seios se arrepiaram, como se suas mãos ainda estivessem sobre eles.
Ela suspirou e enterrou a cabeça nos braços, enquanto o navio continuou a
balançar.
Deve ter cochilado porque quando acordou estava na cama. Esfregou os
olhos e rolou enquanto bocejou e tentou lembrar se tinha subido para a cama. Com
o navio lançando sobre ela, tinha certeza que não teria, por acaso, sido atirada fora
enquanto dormia. Mas como é que ela foi para a cama?
Então ela viu Lugus dormindo no chão. Ele estava de costas, com uma
mão jogada sobre os olhos. Suas roupas ainda estavam molhadas e ele tinha
círculos escuros sob seus olhos.
Olhou pela janela pequena e viu que o sol começava a clarear o horizonte.
Brevemente, ela pensou em acordá-lo já que ele parecia gostar de assistir o nascer
do sol, mas as linhas em seu rosto desfigurado a impediu.
Impossível ajudar a si mesma, ela o observava. Os homens Fae não tinham
pelos faciais como os homens do reino da Terra tinham, embora Lugus tivesse
alguns em crescimento. Notou o fato de que, quando ele perdera sua imortalidade,
recebeu os atributos mortais.
Seus longos cabelos estavam puxados para longe de seu rosto, mas estes
ainda estavam embaraçados e precisavam de um pente. Ela percebeu um hematoma
no pescoço, perto do ombro e só podia imaginar o que havia ocorrido enquanto ele
estava ajudando os homens durante a tempestade. Ela esperava que ele não
estivesse ferido seriamente porque sabia que nunca iria dizer-lhe se estivesse.
Ela mordeu o lábio inferior e escovou o cabelo do rosto com a mão. O
tinido de sua pulseira escrava chamou sua atenção. Passou o dedo sobre o trabalho
emaranhado dos antigos celtas e perguntou sobre as marcas estranhas que se
assemelhava a um idioma. Se alguém pudesse decifrar que linguagem era, eles
seriam encontrados no reino Fae. Ela apenas tinha de chegar lá primeiro.
Precisando de um pouco de ar, Ahryn precipitou-se para o final da cama,
em seguida, colocou os sapatos e calmamente deixou a cabine. Assim como
acontecia normalmente depois de uma terrível tempestade, o céu mostrava-se azul
e o sol brilhante.
Inclinou-se sobre o parapeito e estudou o azul profundo do mar. À sua
esquerda e mais à frente estava a Ilha de Skye. Se ela caminhasse até o outro lado
do navio, seria capaz de distinguir a ilha, mas não gostou de saber que estava tão
perto e tão longe.
—Bom dia, minha senhora, — disse o capitão enquanto se aproximava.
Ahryn inclinou a cabeça e desejou que tivesse tomado um tempo para
arrumar seu cabelo. Ela só podia imaginar o quão terrível parecia ao ter acabado de
acordar.
—Vejo que você sobreviveu à tempestade, — disse ele enquanto inclinava
um cotovelo no corrimão e olhava para ela.
O capitão era um homem mais velho com o cabelo quase completamente
branco e a barba combinando. Seus olhos castanhos pareciam inocentes, mas de
alguma forma Ahryn duvidava que fosse.
—Sobrevivi, — ela finalmente respondeu. — Obrigada pelo excelente
trabalho de nos manter à tona.
Ele riu e olhou para a água.
—Esta tempestade não era nada comparada a algumas das que eu tenho
passado. Poderia contar histórias que fariam você nunca querer pisar num navio
novamente. Ahryn encontrou-se sorrindo.
—Imagino que você poderia. — Seus olhos abaixaram e ela viu... A espada
de Lugus.
Ela sabia que ele não estava usando-a ontem, mas só assumiu que ele
tivesse armazenado em sua cabine.
—Esta é uma excelente espada, poderosa, — disse o capitão. — Estou
surpreso por seu marido se separar dela.
Ela engoliu em seco e fez o seu olhar encontrar o seu.
—Tanto como eu estou.
—Só mostra o quanto ele ama você, — disse o capitão antes de se afastar.
Ahryn estava atordoada. Essa espada foi uma obra-prima e o preço do
valor do navio e outros dez como este. E o capitão sabia. Ela colocou um fio de
cabelo atrás da orelha e com o pensamento no homem dormindo no convés
inferior.
* * * *
Lugus acordou com um susto. Sentou-se e tentou se orientar. Seu ombro
latejava quando o mastro quebrou frouxamente de seu nó e se chocou contra ele.
Outras partes machucaram bastante enquanto se lembrava das muitas horas em que
ele e os outros marinheiros lutaram juntos para manter o navio na violenta
tempestade.
Apoiou uma mão no chão quando se inclinou para trás. Para sua surpresa,
percebeu que era a primeira noite que não sonhara com Moira. Sabia que era
provavelmente devido ao seu cansaço, por isso não investigou mais.
Seu estômago roncou, lembrando que não comera desde a manhã de
ontem. Usando a cama como uma alavanca, ele se levantou e olhou para uma cama
vazia.
Capítulo Nove
Lugus piscou. Onde estava Ahryn? Ela tinha que estar no navio, mas ele
avisara-a justamente do que sua magia Fae podia e poderia fazer aos marinheiros.
Abriu a porta da cabine, correu pelo corredor estreito e subiu as escadas.
Logo que chegou ao convés, teve que parar e proteger os olhos do sol brilhante.
Com o braço levantado, examinou o convés. Quando não a encontroou na grade,
começou a andar pelo navio.
Não foi, até que chegou do outro lado, que a encontrou. Parou e apoiou as
mãos sobre os joelhos, e respirou fundo. O temor que sentia por não encontrá-la
atirou-o num medo infernal. Fora um longo tempo desde que sentira uma emoção
tão forte e não sabia se estava pronto para sentir novamente.
Quando sua respiração estava sob controle, caminhou até ela e encostou-se
no corrimão ao seu lado. Eles não se olharam entre si, ao invés disso, olharam para
a água.
—Obrigada por me colocar na cama, — disse ela.
Ele ainda lembrou de entrar na cabine escura e encontrá-la encolhida num
canto. Apesar do cansaço, a sua vara se agitara quando a levantou e colocou sobre a
cama.
— Não podia deixá-la dormir como estava.
Ela encolheu os ombros.
—Você precisava descansar mais do que eu. O chão não pode ter sido
confortável.
—Na verdade, estava tão cansado que não percebi.
—Você trocou sua espada.
Lugus suspirou e se virou para ela.
—Sim. Eu fiz.
Ela olhou para ele, seus olhos perturbados e sua testa franzida.
—Por quê? Essa espada era magnífica.
—E pode ser substituída. Vou fazer outra. —Não queria que soubesse o
quanto a espada significava para ele ou a facilidade com que entregara ao capitão
para dar a ela passagem segura para a ilha.
—Você diz as palavras, mas não quer dizê-las. Esquece que eu o vi
enquanto trabalhava. Você coloca seu coração e alma em cada arma.
—É verdade que eu amo elaborar armas, mas elas são apenas armas, Ahryn.
—Ela desviou o olhar, mas ele vira a dúvida em seus místicos olhos azul. Ela sabia
que ele mentia.
—As contusões não estão doendo? — Ela perguntou e apontou para o
ombro ferido.
A dor era como ter um dragão roendo seu ombro, mas ele não quis dizer a
ela isto.
—Nem tanto.
—Parece horrível.
Ele encontrou-se querendo sorrir de seu torcido nariz e de sua voz
duvidosa.
—E pensar que me foi dito que as mulheres gostam de homens com
cicatrizes.
A luz provocadora mostrado em seus olhos azuis enquanto ela sacudia sua
longa trança sobre o ombro.
—Com cicatriz sim. Contusões não.
Para sua surpresa, ele riu. Ele não conseguia se lembrar da última vez que
sorriu, muito menos rir.
Ahryn inclinou-se e estudou-o.
—Era isso que pensou que eu era?
—Depende. O que você acha que foi?
—Um riso? — Ela perguntou esperançosa.
Ele pensou um momento e depois assentiu.
—Sim, acho que foi.
Ela se inclinou para trás e deu-lhe um sorriso pensativo.
—Interessante. O som não era ruim. Tenho certeza que se você trabalhar
mais com isto, pode até soar natural.
Lugus olhou para longe antes que começasse a rir. Sua provocação e
raciocínio rápido trouxeram um sorriso ao rosto como nada mais poderia.
—E eu tenho que admitir, o sorriso parece muito bonito em você.
Ele balançou a cabeça para ela.
—Ah, então você me acha bonito.
Ela ergueu um dedo e este balançou de um lado para o outro.
—Disse que parecia bonito em você, não que você fosse bonito. Talvez
haja algo de errado com a sua audição.
—Nunca conheci ninguém como você, — confessou, antes que pensasse
melhor. —Você está na extrema das situações e ainda assim encontra algo para rir.
Ela encolheu os ombros e olhou para os trilhos novamente.
—Por que não? O que vai acontecer vai acontecer e nenhuma quantidade
de minha impaciência ou beicinho vai mudar isso. E se a graça ilumina por um
momento e me faz esquecer, por que não?
Lugus nunca pensara nisso dessa maneira e isto lhe deu uma pausa.
—Você me acha sisudo, não é?
Ela lhe lançou um olhar e sacudiu a cabeça.
—Não sisudo. Você é um tipo taciturno e é um desafio extra, ver se posso
fazer você sorrir.
Ele não era do tipo de ser que se surpreende ou de intrigar-se com alguma
coisa, embora Ahryn continuasse a fazer as duas coisas com ele. E não queria ficar
intrigado, sobretudo por ela.
Seus olhos seguiram-na enquanto ela empurrou a grade. Encarou-a,
perguntando o que iria sair de sua boca em seguida. Será que teria uma resposta
rápida que o faria querer sorrir? Ou será que ela finalmente admitiria que a beijou
antes da noite passada?
—Tenha cuidado hoje, — ela disse enquanto arrastou seu dedo ao longo
do corrimão antes que se virasse e se afastasse.
Lugus balançou a cabeça. Mais uma vez ela o surpreendeu. Ele poderia
jurar que ela estava prestes a dizer algo mais. Suspirou e moveu o ombro para
tentar descobrir algumas das dores. A tensão e a dor só iria piorar à medida que o
dia passasse.
—É melhor comer alguma coisa rapaz, — disse o capitão quando passou
por ele. —Esse vai ser um longo dia para reparar os danos causados pela
tempestade.
Lugus assentiu e caminhou para a cozinha. Ele pegou a tigela oferecida e
tentou não olhar para a poça aguada dentro desta. Em vez disso, se sentou e
começou a comer, esperando que Ahryn tivesse algo melhor do que o mingau sem
gosto que ele comia.
Mal terminou o último pedaço antes de subir novamente para o convés.
Queria examinar as lesões em si mesmo e ver se iria custar-lhes um dia extra. Suas
mãos doloridas e com bolhas dos dias de trabalho anteriores, latejavam e
protestavam quando chegou para os suportes e começou a subir.
O estrago não foi tão ruim quanto temia e duvidava que fosse atrasá-los
muito além de tudo. O alívio que sentiu foi de curta duração quando percebeu que
uma vez na ilha, eles ainda teriam que alcançar o portal antes de Marcus. Ele e
Ahryn estavam adiantados, mas o quanto justamente?
Quando começou a prender a parte da vela que se soltara, pensava sobre a
sensação que tivera quando saíra do cais a de que alguém o estava observando. Ele
desejava que tivesse visto seus olhos então Lugus saberia se era um Draconiano, ou
qualquer outra coisa. Poderia ter sido sua imaginação e sua apreensão, mas
duvidava muito.
As tarefas tornaram-se mais difíceis e Lugus tivera de se concentrar ou cair
no convés. Algum tempo depois, ouviu um dos marinheiros murmurar algo perto
dele. Lugus virou-se para o marinheiro à sua direita que se pendurava
perigosamente por apenas uma das mãos e dos pés enquanto ele puxou as velas
apertando-as. Ele seguiu a linha da vista do marinheiro e encontrou Ahryn
passeando no convés.
Ela fizera exatamente o que ele pediu e manteve sua mão direita escondida
para que ninguém visse a pulseira escrava. Seus passos eram lentos, relaxados,
enquanto andava sem olhar para ninguém, nem nada.
Seu olhar foi atraído para ela como um dragão para o tesouro e se fosse
honesto consigo mesmo, não era apenas o seu olhar que a queria. Seu corpo doía
por ela.
A memória do seu beijo ainda persistia em sua mente bem como a sensação
incrível de seu corpo sob as mãos dele. O desejo que ardeu em seus místicos olhos
azuis só tinha alimentado o corpo dele. Se não tivesse sido interrompido, Lugus
sabia que ele teria se declarado a ela naquela noite. Ele não podia evitar, mas
perguntou-se quanto tempo poderia adiar o que almejava extremamente.
O cabelo na nuca de repente ficou em pé. Lentamente, Lugus olhou sobre
seu ombro e podia jurar que um par de olhos acobreados olhou para ele através das
nuvens. Piscou e eles desapareceram, mas sabia o que vira. Os Draconianos
estavam na Terra. Quantos, ele não sabia e pelo tempo em que descobriu, isto era
provavelmente tarde demais.
Amaldiçoou e olhou para Ahryn. Se ainda tivesse seus poderes, poderia
facilmente dispensar qualquer draconianos que chegasse perto dela. Mas não tinha
mais seus poderes. Nenhuma magia fluía dentro dele, apenas a lembrança do que
isto fazia.
Rapidamente, terminou de amarrar o nó e começou a descer para o convés.
Ele desembarcou na frente de Ahryn e pegou a mão dela.
—O que é isso? — Perguntou ela.
Ele a puxou para baixo do convés, até sua cabine antes que se virasse para
ela.
—É um Draconiano.
Ela engoliu em seco e afundou na cama.
—Como você sabe?
—Eles estão nos vendo enquanto eu falo.
—Então não há nenhuma esperança para mim, — ela disse com um
suspiro.
Lugus ajoelhou-se na frente dela.
—Nós iremos ao portal, e prometo que farei tudo que posso para ter
certeza de que você passará para seu reino.
—O nosso reino.
Ele ignorou a correção e se levantou.
—O que me incomoda é o seu aparecimento súbito e interesse em você.
—Não tenho ideia de quais são seus interesses, — disse ela e olhou para
longe.
Ele soube então que mentia. Doeu que ela confiasse nele sua vida, mas não
seus segredos. No entanto, não poderia dizer-lhe que sabia que ela mentia.
Deixaria-a guardar seus segredos, porque a única coisa que importava, era levá-la
para atravessar o portal.
—Eles querem algo, — disse ele. — Se não é você, então o quê?
—Ou quem? — Disse. —Seu irmão, talvez?
A respiração de Lugus alojou em seu peito.
—Theron? — Sua mente acatou a possibilidade. Theron era poderoso
como o rei Fae, mas o que os Draconianos querem com ele?
—Theron, sim? Por que não? Ele é o rei e muito poderoso.
Ele pensou sobre as palavras dela e encostou-se na porta.
—Pode ser. Eu não consigo pensar em ninguém que eles querem para se
atreverem a aventurar-se nesse reino.
—Tem que ser, — disse ela e afastou uma mecha de cabelos louros de seu
rosto. — Os Draconianos não eram vistos pelos Faes em...
—Anos, — Lugus forneceu a ela.
Ela assentiu com a cabeça.
—Exatamente. Como você disse, porque eles se atrevem a aventurar-se
aqui, teriam que estar atrás de algo extremamente poderoso ou extremamente
precioso para eles. Poderiam estar tentando tomar de volta este reino?
—Não, — disse ele. — Não acho que eles ousariam tentar. Seria muito
difícil agora, para travar esse tipo de guerra com todos os seres humanos
envolvidos.
Ahryn sorriu interiormente quando ouviu Lugus referir-se aos humanos.
Quer queira admitir ou não, no fundo, ele ainda se considerava um Fae.
Ela ponderou a aparência dos Draconianos.
—As guerras eram travadas antes com os seres humanos aqui.
—Eles não têm. No entanto, vai nos custar muito caro para mantê-lo a
partir do homem.
—Se os Draconianos são tão poderosos como nós, eles poderiam muito
bem tentar. — Olhou enquanto Lugus passou a mão pelo rosto cansado. O olhar
dela abancou sua mão avermelhada e odiava que tivesse de trabalhar pela passagem
dela.
Ele era um príncipe e não algum mendigo com necessidade de trabalho.
—Como está seu ombro? — Perguntou ela.
—Está bem.
Ela lambeu os lábios.
—Nós não vamos fazer isso vamos? — Ele tentou esconder a dúvida em
seus olhos azuis, mas ela viu isso de qualquer maneira.
—Nós vamos fazer isso.
Ela aproximou e soltou sua trança, então correu os dedos pelas costas
enquanto olhou pela janela.
—Se um Draconiano está ajudando Marcus, eles já estão provavelmente no
portal e esperando por nós.
—Então nós vamos encontrar outro portal.
Sua declaração a fez balançar a cabeça em direção a ele. Pela aparência de
seus olhos, ele estava sério.
—Por minha causa, a sua casa foi queimada e você não pode voltar. Por
minha causa teve que trocar suas armas. Por minha causa você está machucado,
maltratado e exausto. Eu não posso pedir mais de você do que eu já pedi.
Uma sugestão de um sorriso repuxou-se em sua boca.
—Tenho muito para expiar. Trazendo-lhe ao portal da entrada,
independentemente do que acontece entre, então e agora não importa.
Ela não sabia por que esperava que ele quisesse seguir por causa dela, não
porque ele sentia que precisava pagar alguma penitência por ações passadas. Em
seu coração sabia que deveria ser grata, que estivesse disposto a ajudar inteiramente,
mas quando envolvia Lugus, ela descobrira que não era nada razoável.
—Você não acredita em mim, — disse ele, sua voz chocada.
Ahryn desviou o olhar.
—Não é tudo, Lugus. Só quero voltar para casa.
—E você vai, — disse ele antes de deixar a cabine.
Ela caiu de costas na cama e olhou para o teto. Como neta do Alto
Chanceler, Ahryn e seus irmãos haviam sido procurados para serem requeridos em
casamentos para dar estirpe a algumas famílias. Tudo o que ela queria era um
homem que pudesse amar, um homem que fosse forte e solidário.
Não importa o quão difícil parecesse, não tinha encontrado um homem que
quisesse fortemente o suficiente para pensar em casamento. Até agora.
Ela não era uma idiota. Sabia que qualquer união entre ela e o príncipe Fae
Lugus, ou não, nunca poderia ocorrer. Sua imortalidade fora tirada e ele fora
exilado do reino Fae. E não a queria.
Oh, seu corpo pode querê-la, mas o fato de que continuasse a se afastar
dela, lhe disse que seu coração pertencia à outra pessoa. Moira.
De alguma forma, Ahryn sabia que Moira estava ligada ao banimento de
Lugus, mas até que ponto, ela não tinha ideia. E por que Moira não estava com ele
agora? Se apenas a maldita pulseira escrava não estivesse em seu braço, ela seria
capaz de ver tudo o que precisava saber, em vez de perguntar.
E saber levaria à loucura.
Capítulo Dez
Todos os músculos do corpo de Lugus doíam. Nem todas as horas, em que
havia trabalhado martelando o ferro, preparara o seu corpo para o trabalho
rigoroso que os marinheiros faziam enquanto subiam para a ponta dos mastros e
voltavam.
Pelo menos não estava esfregando o convés.
Lentamente, caminhava no convés inferior. Estava meio adormecido e
precisava desesperadamente de uma cama confortável, banho quente e comida boa.
Nenhum destes ele conseguiria no navio. Seus pés pararam quando chegou à porta
da cabine.
Ahryn estaria dentro, mais provavelmente dormindo desde que anoitecera.
Ele poderia muito bem retratá-la com seus cabelos louros espalhados em torno dela
como um brilho dourado dos fios de seda, sua pele brilhando luminosa à luz do
luar enquanto o cobertor moldava suas curvas.
Se entrasse na cabine, sabia que clamaria por ela e qualquer coisa que fosse,
nobre ou plebeia, ele não poderia se aproveitar dela, apesar do desejo que a atraía
até ele.
Com um profundo suspiro de resignação, Lugus abaixou-se para o chão e
esticou na frente de sua porta. Tão exausto e drenado como ele estava, não se
importava se alguém visse ou não. Tudo o que ele queria era descansar um pouco
sua mente, seu corpo e sua alma.
Pouco antes de sono chegar, encontrou-se imaginando o que Theron
pensaria de Ahryn.
* * * *
Ahryn não sabia o que a acordou. Tudo que sabia era que estava sozinha.
Levantou-se de joelhos e olhou para fora da pequena janela redonda. O mar estava
calmo. Então, onde estava Lugus?
Saiu da cama e vestiu-se antes de abrir a porta para ir a busca dele. Depois
da noite anterior, ele precisava de descanso, e iria ter certeza de que ele descansaria,
mesmo que tivesse que negociar-se a fazê-lo.
Mas quando ela abriu a porta, encontrou uma forma encolhida no chão.
Apenas o longo comprimento dos pálidos cabelos de Lugus deixou-a saber, que era
ele. Ela sabia que o chão não era onde ele precisava estar, mas enquanto estivesse
na cama, ele não iria.
Ela voltou andando silenciosamente e puxou um cobertor da cama, em
seguida, caminhou até ele e colocou-o gentilmente sobre seu corpo. Calmamente,
fechou a porta, despiu-se e voltou à cama.
Suas ações hoje provavam que ele iria sair do seu caminho para não ficar
perto dela. Sabia que lutaria contra a necessidade de seu corpo até o último e se o
forçasse, ele cederia, mas acabaria por se ressentir dela, porque não era o que
queria, ou quem queria.
Ahryn vira os outros marinheiros olhando para ela. Tudo o que tinha que
fazer era dar uma leve impressão que o queria e ele seria dela. Era a magia Fae que
puxava os seres humanos. Mas não funcionara com Lugus e de uma forma que ela
ficou agradecida. Queria que ele a quisesse por ela, não porque não conseguia
resistir a seus encantos Fae.
Lamentou as poucas vezes que o forçara para fazer amor com ela. Na
época, não tinha a menor ideia o quão profundo os seus sentimentos corriam para
Moira, mas agora que ela tinha, sabia que não tivera a menor chance. E porque ela
o admirava, se recusava a colocá-lo nessa posição novamente.
Com o cobertor puxado até o queixo, ela rolou para o lado e tentou dormir,
mas tudo o que conseguia pensar, era a necessidade quase incontrolável que seu
corpo tinha de estar preso por Lugus.
* * * *
Lugus abriu os olhos quando ouviu o clique da porta fechando-se.
Despertou no instante em que ouviu a porta abrir e por um momento não tinha
certeza quais eram as intenções de Ahryn. Quando sentiu o cobertor contra sua
pele, alguma coisa mudara dentro dele. Ninguém fizera algo bom para ele... Em
anos.
Não fez, até que fechou a porta atrás dela, que ele se permitiu abrir os olhos
e virar de costas. Depois que tivera repetidas vezes afastando-a, ela continuou a
mostrar-lhe compaixão. Ele não entendia por que.
De todas as pessoas que ela concedia sua bondade, ele era o menos
merecedor. E foi aí que percebeu que nunca quisera que soubesse o que ele fizera
para ser banido do reino Fae. Ele vira o riso, a determinação, o medo e a bondade
em seus místicos olhos azuis. Não queria ver o ódio e a repulsa que certamente
brilharia quando ela descobrisse a verdade.
Por muitos anos ele sonhara que uma Fae viesse e acabasse com sua vida
por aquilo que fizera. Mas agora... Agora ele orou que eles não viessem. Ele
precisava fazer Ahryn atingir certamente o reino Fae, ilesa e segura, então veria
com bons olhos a morte.
Então iria buscar esta.
Ahryn.
Seu nome significa paixão e ela incorporava seu o nome como uma luva.
Como a maioria dos Fae, ela era elegante, bonita e graciosa, mas tinha outras
feições que a moldavam, a bondade, determinação e fé.
Em sua mente, ele imaginou o corpo flexível de Ahryn em suas mãos, as
costas arqueadas, e seus seios fartos pesados e ávidos por seu toque. Seu corpo
endurecido, enquanto o desejo ardia nele.
Lugus fechou os olhos e tentou apagar a imagem de Ahryn com uma de
Moira, mas não importava o quanto tentasse, não se lembrava de Moira. Nem a
sombra de seu cabelo, nem a sensação de seu corpo, mas, sobretudo nem o verde
de seus olhos.
Passou a mão pelo rosto e se recusou a ceder à ansiedade que rolou em seu
estômago. Disse a si mesmo que era porque se concentrava em Ahryn e na chegada
dela em segurança na ilha de Skye e por isto não podia se lembrar do rosto de
Moira. Depois que Ahryn fosse embora, então ele seria capaz de lembrar-se dos
detalhes de Moira.
Com a sua consciência aliviada, Lugus fechou os olhos e não lutou contra o
fato de que tudo o que podia pensar era nos místicos olhos azuis de Ahryn cheios
de paixão.
* * * *
Ahryn acordou sentindo como se não tivesse dormido mais de uma hora.
Estava cansada, irritada e inquieta. Não era uma boa combinação num navio.
Ela levantou a mão e tirou o cabelo de seus olhos. Seus sonhos haviam sido
atormentados pelo medo. Estava fugindo de alguma coisa. No início, ela pensara
que era de Marcus, mas logo percebeu que não era ele. Era algo mais, algo mais
perigoso... Mais malvado.
O tinido da pulseira escrava chamou sua atenção. Temia ter de dizer à
família que ela fora impulsiva e infantil em deixar o reino e ser pega por humanos.
Ela sabia que seu pai demoraria em perdoá-la, mas se ela precisasse de alguma
coisa, poderia voltar para seu avô. Ele sempre esteve lá para ela.
Uma batida suave afastou-a de suas reflexões.
—Quem é? — Ela perguntou enquanto sentava-se e agarrava o cobertor
sobre o peito.
—Eu, — Lugus respondeu. — Trouxe alimentos. Você está decente?
Ela pensou brevemente em permanecer nua na cama para ver se iria
perceber, mas se lembrou da promessa de deixá-lo.
—Só um momento, — ela disse enquanto saía da cama às pressas e vestia-
se. Pegou o cadarço para amarrá-lo e falou - Você pode entrar agora.
Ela se concentrou em suas rendas enquanto ouviu a porta abrir e Lugus
entrou na pequena cabine. Esteve na ponta da língua para lhe perguntar se ele
dormira bem no piso rígido, mas mordeu a língua antes que seu mau humor
aparecesse completamente.
Ele colocou a bandeja sobre a mesinha que estava pregada nas tábuas do
piso e esperou. Ahryn baixou as mãos e ergueu o olhar. Ela não gostou do olhar
cansado, que havia substituído suas frias feições.
—Obrigado, — disse ele.
Ela parou ante suas palavras.
—Por quê?
—O cobertor.
—Você é bem-vindo, — disse ela enquanto pegava um pedaço de pão e
afundava na cadeira. —Obrigado por trazer a comida.
Ele ignorou suas palavras e sentou-se começando a comer.
—Devemos chegar a Skye ainda hoje.
—Tão cedo? Ela temia que a tempestade os houvesse assoprado mais para
fora do curso de alguma forma. Ficou aliviada por saber que eles ainda estavam no
horário.
Lugus assentiu.
—Falei com o capitão esta manhã. A menos que algo estranho aconteça,
esta noite estaremos dormindo na ilha.
—Quão distante do portal?
Ele respirou fundo e engoliu seu alimento.
—Isso depende da terra onde estamos. O portal é no litoral, portanto este
não deve ser muito difícil de encontrar.
Ahryn devia estar se sentindo satisfeita com a notícia, mas a sensação
incômoda de que não alcançaria o portal tão fácil como Lugus dizia não ia embora.
—E se Marcus estiver lá?
Lugus lentamente posou seu copo, enquanto seus olhos azuis seguravam o
dela.
—Cada portal tem guardiões Fae colocados lá. Se necessário, vamos
procurar a sua ajuda. No entanto, eu não planejo permitir que Marcus nos capture
antes. Vamos viajar na claridade e rápido, uma vez que atingirmos a terra.
Suas palavras, embora lhes consolassem, não aliviava o medo que crescia
dentro dela. E ele só tinha um punhal com o qual lutar.
—Ahryn. — Sua voz era suave, mas imponente.
—Não pense que eu não confio em você, — explicou ela. — Não é isso,
mas um medo crescente de que... Não posso negar.
Ele suspirou e se recostou na cadeira.
—Você sente isto também?
Ela procurou seu rosto e viu que ele não estava brincando. Seus olhos
olharam ao redor da pequena cabine para ver se algo ou alguém se escondia
esperando por eles.
—Eles não estão a bordo do navio, — Lugus disse.
—Sinto como se estivessem. — Seu olhar voltou para o seu rosto. —
Quando você começou a sentir isso?
Ele deu de ombros.
—Isso não importa.
—Isto importa. Quanto tempo?
Com os braços cruzados sobre o peito, ele disse,
—Desde que partimos da Escócia.
Ahryn encontrou dificuldades para respirar. Ela se levantou e tentou o
andar no espaço minúsculo.
—Eu não sinto isso, — disse ela. — Preciso sentir a minha magia, para me
sentir ligada com a nossa realidade.
Lugus sabia que ela estava se tornando rapidamente histérica. Ficou
surpreso que não tivesse feito antes e na verdade, ela tinha toda a razão de estar
agitada. Sem a sua magia e qualquer ligação com o Fae, ela poderia morrer.
Ele se levantou e pegou seus ombros para forçá-la a encontrar seu olhar.
—Nunca volto atrás em uma promessa, Ahryn. Nós vamos chegar lá, não
importa o que tenha que fazer.
Suas sobrancelhas franziram quando ela procurou os olhos dele.
—Não gosto de ficar assustada.
—Não são muitas pessoas que gostam. Agora... — disse ele enquanto se
movia em direção à sua cadeira, — Você precisa comer tanto quanto você puder
antes de descer.
Ela assentiu desajeitadamente, mas pegou a comida e começou a comer.
Satisfeito, Lugus voltou a sentar e ficou olhando para a comida. Ele não admitiria
para Ahryn que estava preocupado em como alcançar o portal antes de Marcus. Se
Marcus estava ligado com um Draconiano, então eles provavelmente já estavam lá
esperando por ele e Ahryn chegar.
E sem a sua espada, ele era inútil.
Ele olhou para cima e encontrou Ahryn observando-o, assim rapidamente
aproximou-se de seu alimento. Comeu sem saboreá-lo, enquanto sua mente passava
por toda e qualquer possibilidade que poderia e provavelmente pudesse encontrar
até chegarem ao portal.
E nenhuma delas era boa.
Mais importante ainda, ele teria que se certificar de que se aproximava dos
guardiões do portal rapidamente. Eles poderiam ser a única chance de
sobrevivência de Ahryn, embora se perguntasse o preço que os guardiões fariam
por tal pedido.
Fosse o que fosse, estava preparado para pagar.
Capítulo Onze
As intensas emoções correndo soltas através de Ahryn tinham drenado
toda a energia dela. Precisava de seu reino, da magia que poderia restaurá-la.
No entanto, se recusava a permitir-se pensar sobre essas coisas até que ela e
Lugus atingissem o portal. Até então, precisava se concentrar no que estava à frente
deles.
Afastou-se da grade e protegeu os olhos com o braço enquanto erguia seu
olhar para encontrar Lugus acima dela. Não tinha ideia do que estava fazendo, mas
desejou que ele não se segurasse tão perigosamente com uma mão, enquanto
amarrava algo com a outra. Se ele perdesse o equilíbrio... Ela parou o pensamento e
se recusou a pensar mais sobre isso.
Não importa quantas vezes dissesse a si mesma para parar de pensar em
Lugus, ele continuava a aparecer em seus pensamentos. Constantemente. Ele não
era dela, e precisava lembrar-se disto várias vezes ao dia.
Mas quando viu seus olhos azuis brilharem com determinação e autoridade,
ela ansiava por ser parte disto, dele. Afastou o olhar dele e encarou o convés. Não
era o tipo de Fae que ficava obcecada com nada, muito menos um homem, então
porque é que ela sentia isto?
A raiva logo substituiu seu ressentimento enquanto seu olhar pousou no
capitão e na espada de Lugus que estava presa à cintura. Quando ele se aproximou,
ela ergueu os lábios em um sorriso deslumbrante.
—Este é um belo dia, — disse o capitão quando parou ao lado dela.
—É sim, meu capitão.
—Percebi que seu marido informou-lhe que estamos dentro do prazo e
vamos aportar hoje nas margens de Skye.
Ahryn lambeu os lábios e observou como os olhos do capitão seguiram sua
língua.
—Sim, — ele informou. — Estou ansiosa para estar em terra firme
novamente.
O capitão tentou responder, mas quando nada saiu, ele limpou a garganta e
tentou novamente.
— Ah... As mulheres não são adequadas para navegação.
—Oh, não é nada disso. Penso que estar na água é maravilhoso, — mentiu
e passou a mão pelo seu pescoço.
Novamente os olhos do capitão seguiram-na, mas quando a mão dela parou
na clavícula, seus olhos continuaram a descer para os seios.
A repulsa que rolou em seu estômago não era nada comparada à raiva dele
por ter a espada de Lugus.
—Vê algo que gosta?
Ele balançou a cabeça, incapaz de responder e tudo mais, a não ser babar
no convés.
Ahryn revirou os olhos.
—Você tem algo que eu quero.
—Qualquer coisa. Eu vou lhe dar qualquer coisa, — disse ele, seus olhos
ainda em seus seios.
—Se você tocá-la, eu vou matar você.
Ahryn girou para a voz atrás dela para encontrar Lugus olhando para o
capitão. Antes que ela pudesse começar a se perguntar qual parte ouvira, ele olhou
para ela e ergueu a mão para silenciar quaisquer palavras que pudesse pensar em
falar.
—Estou apenas tomando o que ela oferece, — disse o capitão
presunçosamente.
Lugus sorriu, e isto gelou Ahryn, pois ela viu o que o capitão não viu. Fúria.
O capitão riu e deu um tapa nas costas Lugus.
—Ela é espirituosa, sim. Sou capaz de satisfazê-la desde que você não
pode.
Ahryn segurou o braço de Lugus quando o viu enrolar o punho.
—Não, — ela sussurrou e orou que ele a ouvisse.
—Nós vamos terminar mais tarde, querida, — disse o capitão enquanto se
virava e partia.
Ahryn sentiu a frieza queimar nos frios olhos azuis de Lugus sobre ela. Ela
virou de costas para ele e esperou. Não teve que esperar muito.
—O que você estava fazendo?
—É negócio meu, — disse ela. Não queria que ele soubesse que trocaria o
seu corpo pela espada dele, porque sabia que iria contestar.
Lugus ficou olhando Ahryn enquanto ela se afastava. Ele sentira os olhos
dela sobre ele, enquanto pendurava os cordames. Não tinha certeza sobre o que o
fez descer, mas quando se aproximou dela e ouviu suas palavras, sentiu como se
tivesse sido jogado num reino de gelo.
Mesmo agora, quando ele tentou forçar, a imagem dela oferecendo-se para
o capitão, ele pensou no desejo feroz e repentino de esmagar o rosto do capitão.
Quanto mais Lugus pensava sobre as ações de Ahryn, mais furioso ficava.
Isto só mostrou a ele o quão pouco sabia dela e começou a questionar seus motivos
por permitir que guardasse seus segredos. Talvez fosse hora dela contar-lhe tudo.
Então ela desejará que eu faça o mesmo.
E ele não podia.
Ele encostou-se à grade e apertou sua mandíbula. Paciência. Era a chave
para sobreviver. Pelo menos é o que ele dizia a si mesmo.
Lugus não fizera isso fora do Reino das Sombras sem o seu controle
lendário e sua paciência, ele evocou os seus dois pontos fortes de novo, porque
tinha grande necessidade destes.
Assim, quando se empurrou longe do corrimão para subir de volta os
cordames, pegou o capitão olhando para ele enquanto sorria e acenava.
Isto era a palha que quebrou as costas do dragão.
Lugus virou-se e caminhou para o convés inferior. Não se preocupou em
bater na porta da cabine, antes de arremessar abrindo-a. O local onde Ahryn
encolhia-se na cama com a cabeça sobre os seus joelhos não deteve ou diminuiu
sua ira crescente.
—Você está certa, é o seu negócio. No entanto, até que você caminhe
através do portal de entrada, gostaria pedir que você não fizesse nada que possa nos
impedir de chegar ao portal.
Ela apenas piscou e deu um ligeiro aceno antes que olhasse distante.
Lugus se recusou a se sentir culpado por levantar a voz.
—Descanse um pouco. Nós estaremos viajando de noite, — disse ele
pouco antes de fechar a porta atrás dele.
Ele encostou-se à porta e perguntou onde seu controle tinha desaparecido.
Não, desde a luta com seu pai, que terminou com a morte dele, tinha perdido a
paciência assim. E isso o assustou. Quando perdia o controle, as pessoas se
machucavam.
Com o seu coração ainda bombeando freneticamente, lentamente
caminhou de volta para o convés para continuar seu trabalho. Enquanto pendurava
o cordame, ele não estava a planejando a sua chegada ao portal ou até mesmo
pensando sobre as armadilhas que queria plantar para Marcus. Em vez disso, seus
pensamentos estavam em Ahryn e como não era o mesmo quando estava ao seu
lado.
De tudo o que aprendera dela nesses poucos dias juntos, ela oferecendo-se
para o capitão não se encaixava no que ele pensava que ela era. E raramente errava
quando se trata de pessoas.
Embora ele não fosse o tipo de pessoa que precisava dos outros para
conversar, queria agora ter alguém para confiar seus problemas, alguém para ajudá-
lo a ver o que estava passando com ele quando se referia a Ahryn.
Mas sabia que não importava o quanto pudesse gostar de tal pessoa, não
haveria ninguém, nem poderia haver alguém. Mesmo quando era um jovem Fae, ele
e Theron não eram próximos como a maioria dos irmãos. Na verdade, eles nunca
tiveram nada em comum, o que só serviu para afastá-los.
A única vez que Lugus precisara de Theron ao seu lado, ele mostrara quão
pouco pensava em Lugus ao se aliar com os anciãos mandando-o para o Reino das
Sombras.
A partir desse dia, Lugus não perdoara completamente Theron.
Lugus, desgostoso consigo mesmo por perder a paciência, então afundou
em no próprio desespero, desligando sua mente e focando em suas funções.
Ele não libertou sua mente, até que alguém lhe bateu nas costas e apontou.
Lugus seguiu o dedo do homem e viu a terra se aproximando através dos raios do
sol poente. Sentou-se e observou a enorme pia de sol laranja no mar enquanto a
noite lentamente fechava-se em torno dele.
Pouco a pouco, a calma pelo qual era famoso desceu sobre ele. Quando
sentiu que era mais uma vez ele mesmo, desceu do cordame. Tão logo seus pés
bateram no convés, sabia que Ahryn estava esperando por ele. Ele se virou e
encontrou-a em pé perto do gradeado, a mão direita escondida nas dobras de sua
saia.
—Nós estamos aqui, — disse ela baixinho.
Ele andou até ela e olhou para a terra que se aproximava. Dentro de uma
hora a âncora seria lançada e eles iriam entrar no barco que os levaria para a ilha.
—Sim, — ele disse, e apoiou as mãos no corrimão. —Você está pronta?
—Não sei.
Sua resposta sincera o fez virar-se e olhar para ela.
—Prometi levá-la até lá.
Ela lambeu os lábios e sacudiu a cabeça.
—Não é isso. Eu não sou o tipo corajoso Lugus, e o que temos de
enfrentar me assusta até minha alma.
—Ser corajoso não significa que alguém não esteja com medo. Significa
simplesmente que sabe o que está diante dele e faz isso de qualquer maneira. Você
é valente. Você escapou de Marcus e veio a mim sem saber se Marcus iria encontrá-
la ou se eu iria recusar.
Um canto de sua boca puxou um sorriso.
—Tenho mais medo agora que sei que os Draconianos estão lá fora.
—Venha, — Lugus disse enquanto a puxou para o convés de baixo até a
cabine deles. Uma vez dentro, ele fechou a porta e olhou para ela. — Ouça-me
atentamente, porque eu só tenho tempo para explicar isso uma vez.
—Você está me assustando.
—Eu sei e peço desculpa, mas deve ser dito. — Respirou fundo antes de
começar. —Se algo me acontecer... .
—Se? — Ahryn repetiu.
Lugus fechou os olhos apertando-os e tentou novamente.
—Se algo acontecer a mim, você precisa saber aonde ir para voltar para
casa. Só você pode abrir o portal, Ahryn.
Quando ela caiu na cama e olhou para ele com seus brilhantes olhos azuis
místicos, ele continuou.
—As pedras estão no litoral. Pelas direções que me foram dadas antes de
sair da Escócia, o capitão desembarcou ao sul do portal. Quando chegarmos à
terra, precisamos seguir até a costa norte.
—Norte, — repetiu.
—Mesmo com a tempestade, temos um bom tempo, e a menos que a
magia esteja envolvida, chegaremos ao portal antes de Marcus.
—E se nós não? — Perguntou ela.
—Não penso nesse sentido, — disse ele enquanto se encostava na porta.
—Se você puder encontrar o portal, têm duas opções, você pode atravessá-lo
sozinha ou se precisar de ajuda, vá para os guardiões. Eles vivem perto do portal e
sentirão você se aproximar. Mas não importa o quê, esqueça-me e encontre o
portal de entrada.
Ela se levantou da cama e olhou-o fixamente.
—Esquecer você? Você espera que eu o deixe se estiver ferido?
—Eu espero. — Cruzou os braços sobre o peito e retornou seu olhar.
—Não. Eu não posso.
—Você não tem escolha. Se eu cair, será porque Marcus e seu exército nos
encontraram. Serei capaz de lhe dar algum tempo para fugir, mas o sacrifício de
minha vida será inútil se você for pega.
Ela olhou para o chão.
—Não gosto disso.
—Há muitas coisas na vida que eu não gosto, nem todos nós fazemos
porque queremos. Sentia o desacelerar do navio e sabia que iriam ancorar a
qualquer momento. — Agora. Você está pronta?
Ela assentiu com a cabeça.
—Ótimo. Suba na plataforma e espere por mim lá.
—O que você fará? — Perguntou ela.
Ele não lhe respondeu enquanto deixava a cabine. Suas passadas eram
devagar, enquanto subiam os degraus até a plataforma. Não foi difícil encontrar o
capitão. Ele se levantou do leme e olhou por cima do navio com olhos ávidos.
Lugus caminhou para o capitão e Ahryn orou para que não visse o que
estava prestes a acontecer.
—Vejo que você está ansioso para se afastar, — disse o capitão enquanto
Lugus se juntou a ele.
—Estamos.
O capitão riu e deu um tapa no ombro Lugus.
—Invejo a vivacidade de sua mulher.
—Eu sei.
O olhar do capitão estreitou-se sobre ele.
—Você ainda está bravo pelo ocorreu antes.
Lugus se virou e olhou para ele. Não houve necessidade de responder-lhe,
ele sabia que o capitão vira a fúria em seus olhos.
—Ela ofereceu-se para mim, — explicou o capitão.
—Eu sei, — Lugus interrompeu. —E é isso que me confundiu.
—Tenho poder. As mulheres são atraídas pelo poder.
Lugus quase riu. Poder. O capitão não sabia o significado da palavra.
—Acredito que você gosta. Agora, me dê de volta o que é meu.
—Nunca a toquei, — disse o capitão quando deu um passo para longe.
—Você sabe do que estou falando.
Os olhos castanhos do capitão acenderam de raiva.
—Não. Ela é minha agora.
Lugus respirou fundo e olhou para o céu à noite.
—Você tem duas opções, Capitão. Pode entregar a minha espada e
continuar com sua vida monótona, ou pode recusar e eu vou cortar sua garganta e
pegar a minha espada de qualquer jeito.
—Você está blefando.
Num piscar de olhos Lugus retirou sua adaga restante e segurou-a no rosto
do capitão. A lâmina era comprida e grossa e tão afiada que poderia fatiar uma
rocha.
O Capitão engoliu ruidosamente antes de desafivelar a bainha e entregá-la a
Lugus.
—Esperto. Pela primeira vez, — Lugus disse. Ele afivelou a espada e a
bainha de sua adaga, em seguida, virou-se e foi procurar Ahryn.
Ela estava no parapeito, à luz da lua brilhando sobre ela como um farol,
enquanto olhava tristemente a ilha. Sua real jornada estava prestes a começar.
Capítulo Doze
Ahryn segurou os lados do barco tão duro que feriu os nós dos dedos. Sua
boca estava seca no momento em que deixaram o navio e começaram a remar o
barco para a praia. Mesmo sem a sua magia, sabia que sua viagem com Lugus para
o portal não acabaria bem.
Olhou-o. Ele se sentou ao lado dela, com o rosto para frente como se
calculasse com quantas remadas esses homens dariam antes que chegassem à praia.
Lugus estava calculando tudo o que faziam. Ficara chocada ao vê-lo usando a sua
espada novamente, mas decidiu não perguntar como havia conseguido de volta
com o capitão.
A cada remada dos remos, seu estômago abatia-se como uma pedra pesada.
Para sua surpresa, Lugus se aproximou e segurou sua mão direita na dele. Com a
mão fechada sobre a dela, podia sentir a sua força enchê-la. Deu um pequeno
aperto em sua mão para lhe agradecer.
E então eles chegaram à terra.
Ela esperou no barco enquanto Lugus e os outros homens pularam e
puxaram o barco para a praia. Quando Lugus segurou a mão dela, se levantou e
caminhou até a frente do barco onde a levantou para fora e a sentou na praia.
Após uma breve troca com os marinheiros, Lugus voltou para ela. Sabia
que ele esperava dela um sinal de que estava pronta para começar, assim lhe deu
um pequeno aceno de cabeça e seguiu enquanto virava à direita.
O passo que ele fixou era rápido e difícil, mas não tão rápido que ela tivesse
que correr para acompanhá-lo. Enquanto caminhavam, ela passava as palavras que
ele havia falado na cabine mais e mais em sua cabeça. Estava agradecida por não tê-
la feito prometer deixá-lo se caísse porque ela não seria capaz de lhe dar.
Nada, nem mesmo a morte dela, faria com que o deixasse morrer, não
depois de tudo o que fizera por ela. Não, ela não iria abandoná-lo.
Ela tropeçou em algo em seu caminho e justamente quando estava prestes a
cair de cara no chão, Lugus a pegou. Puxou-a para cima e empurrou o cabelo do
rosto, que tinha escapado da trança.
—Você está bem?
Ela assentiu com a cabeça.
— Não vi no que tropecei.
—É um dos perigos de viajar de noite, especialmente em um lugar que
nenhum de nós temos andado.
—Vou ter mais cuidado, — Ela assegurou .
Quando ele não se moveu, girou em torno dele e deu-lhe um pequeno
empurrão. Ele começou a andar novamente, mas o andar não era tão rápido como
antes.
Ela tocou a pulseira escrava e perguntou se as marcas eram draconianas.
Tanto quanto sabia, o idioma Draconiano não fora ensinado aos Fae. Se alguém
quisesse saber o que as marcas eram, seu avô seria o homem a perguntar.
* * * *
—Onde eles estão? — Marcus exigiu.
Nem mesmo quando os olhos acobreados incomuns estreitaram-se, Marcus
recuou. Ele sabia que se mostrasse medo a qualquer Draconiano, seria o fim dele.
—Estão na Ilha Skye.
Marcus ajustou a túnica enquanto se sentava diante do fogo. Tinham
cavalgado longamente e duramente para tentar chegar antes que o navio de Ahryn
chegasse à costa, mas não tiveram sucesso.
Na verdade, Marcus começou a questionar se algo ou alguém estava
impedindo-o de chegar até Ahryn a tempo de detê-la. Mesmo com a pulseira, ela
ainda seria capaz de atravessar.
Fez sinal aos guardas para saírem da tenda para que pudesse falar em
particular com o draconiano. Marcus olhou para o homem diante dele. Vira a
maneira como as mulheres olhavam para o Draconiano e supôs que os olhos
incomuns, os cabelos negros como a obsidiana e o poder que ele irradiava
puxariam as mulheres para ele.
—Diga-me, Tane, há alguém usando a magia para me impedir de chegar até
Ahryn?
Tane sorriu, mas isto não conseguiu chegar a seus olhos acobreados.
—Não sinto ninguém usando a magia para impedir isto.
—Sério? — Marcus disse enquanto levantava e passeou na tenda. — Então
por que é que não chegamos até Ahryn esta noite?
Tane encolheu os ombros com indiferença.
—As coisas acontecem, Marcus.
—Certifique-se de que não aconteça amanhã, — alertou.
Tane levantou-se lentamente à medida que seu desgosto por Marcus quase
o atingiu. Saiu da tenda antes que sufocasse a vida de Marcus. Detestava o homem
tão ferozmente que não podia acreditar que seu povo lutara contra os Fae neste
maldito reino.
Entrou no bosque de árvores e inclinou-se contra uma. Perdera Draconia,
seu povo e os dragões. Mas logo, a sua missão estaria terminada e ele poderia voltar
ao seu reino. Então e só então, poderia enfrentar o que o esperava. Até aquele
momento, ele faria sofrer os seres humanos.
Tane voltou e deitou sobre o seu catre, enquanto ele olhava através dos
elementos no céu. Só uma lua no céu se mostrava comparada com as três que os
Draconianos tinham.
Suspirou e acomodou-se para descansar. Eles tinham certeza que apanharia
Ahryn e Lugus no dia seguinte. Até foram incrivelmente afortunados, mas a sorte
estava prestes a terminar.
* * * *
Seria Lugus sabia que Marcus estava na ilha. Também sabia que o
Draconiano estava com ele. O que não sabia era o que, exatamente, Marcus e o
draconiano eram.
Olhou por cima do ombro para encontrar Ahryn tentando
desesperadamente manter-se. Ele forçara fortemente logo que ancoraram, então
decidiu que agora um bom momento para descansar. Quando avistou um pequeno
bosque de árvores, se aventurou na direção deles e entregou para Ahryn a pele de
água quando ela o alcançou.
—Obrigada, — disse ela enquanto levantou o saco e bebeu profundamente.
Lugus encontrou o seu olhar atraído por seu pescoço delgado quando ela
inclinou a cabeça para trás para beber. Ele havia beijado sua carne e sabia como
macia e quente isto era. Engoliu e fez seu olhar afastar-se antes que fizesse algo
insensato como puxá-la para ele e beijá-la até que os dois perdessem o sentido de
tudo ao seu redor.
Não sabia o que estava errado com ele. Bastava o mínimo de toques e
ficava doído por ela tanto que quase sacudiu. Segurou o punho da sua espada,
enquanto olhava para longe e rezou pela força de vontade e paciência que sempre
lhe servira no passado.
—Já chegamos até aqui? — Ahryn perguntou enquanto veio ficar ao lado
dele.
Lugus recusou-se a olhar para ela. Sabia exatamente quão apelativa ela era
ao luar com as mechas de seus cabelos emoldurando seu rosto. Seu controle pendia
na mais fina das linhas e um vento fraco poderia quebrá-la ao meio.
—Sim, — ele conseguiu passar pela garganta apertada. Era como se seu
corpo estivesse de alguma forma ligado à Ahryn e à todos seus movimentos.
Precisava de alguma distância entre eles. Partiu novamente, sem olhar para
trás para ver se ela o seguiria. Foi apenas um momento depois que ele ouviu as
pisadas suaves enquanto ela rapidamente o seguira.
—O que eu não daria por um cavalo, — disse Ahryn.
Lugus sabia que as chances deles encontrarem cavalos eram remotas e
estava prestes a dizer isso a ela, quando ouviu um pisado macio. Ele parou nas
trilhas e lentamente olhou para a esquerda, onde avistou um cavalo em cima de
uma pequena colina.
Ahryn inalou nitidamente.
—Você acha que poderia pegá-lo? Poderíamos chegar ao portão de modo
muito mais rápido.
Por alguns segundos Lugus debateu sobre continuar a pé, mas ele sabia que
estava sendo tolo. Seu objetivo era levar Ahryn para o portal e fazer isso o mais
rapidamente possível era de extrema importância, não à sua súbita necessidade para
deitá-la na cama.
—Lugus? — Ela chamou baixinho.
Ele suspirou e se virou para ela.
—Fique aqui, enquanto eu pego ele.
O sorriso alegre que iluminou o rosto dela conseguiu prender sua
respiração. Ele pulou o muro pequeno na frente do cavalo e encontrou um pedaço
de corda no chão. Ele agarrou-a e lentamente se dirigiu para o cavalo. Cerca de
meio caminho dele, Lugus parou e abaixou-se como se procurasse algo no chão.
Sabendo como os cavalos eram curiosos, não demorou muito para ele ouvir
o suave pisar do cavalo enquanto ele se aproximava. Lugus viu o animal pelo canto
do olho quando ele aproximava, tirou um maçã de um saco que havia pegado no
navio.
Na primeira mordida, o cavalo trotou mais perto dele. Se Lugus quisesse,
poderia chegar e tocar o animal, mas ele precisava da confiança do cavalo, então
esperou. Depois de algumas mordidas mais, ele lentamente levantou a maçã em
direção ao cavalo. Assim como ele suspeitava, o cavalo estendeu seu pescoço e
cheirou a maçã.
Com o mínimo de movimentos, Lugus puxou a maçã para perto dele de
modo que se o cavalo quisesse, ele precisava dar um passo em direção a ele. Lugus
sorriu quando o cavalo, não só deu o passo necessário, mas também deu outro.
Lugus deu ao cavalo a maçã e levantou-se enquanto passava as mãos sobre
o cavalo, apreciando as agradáveis linhas do cavalo. Ele era escuro, preto
aparentemente, mas era difícil para Lugus para ver à luz da lua e com quatro meias
brancas .
No momento em que o cavalo comeu a maçã, não estava mais com medo
de Lugus.
—Nós precisamos de sua ajuda, — Lugus disse ao cavalo. — Não gosto de
levá-lo de sua casa, mas eu preciso levar Ahryn em segurança para o portal.
Devolverei você.
Lugus aproximou-se e segurou pelo comprimento de corda para simular as
rédeas, em seguida, agarrou a crina do cavalo preto, antes de pular em cima de suas
costas. Ele esperou para ver se o cavalo iria protestar contra o seu peso, mas
quando o cavalo balançou a cabeça grande em torno para olhar para ele, Lugus riu
e deu um tapinha no pescoço.
—Vamos ver o que você pode fazer.
Ele trotou em torno do pasto com o cavalo antes de guiá-lo em direção à
cerca e Ahryn. Lugus assobiou para o cavalo e levou-o em um galope antes que
pulasse a cerca.
A alegria do passeio rápido ajudou Lugus a empurrar o seu desejo por
Ahryn para o lado, até que ela se pôs diante dele à espera de ser levantada para o
animal grande.
—Ele é uma beleza — disse ela enquanto passava a mão sobre o lado
escuro do cavalo.
—Ele é — Lugus disse e estendeu a mão. Ela segurou e ele simplesmente a
levantou atrás dele. —Segure-se firme. Não tenho freio ou rédeas.
Assim que as palavras saíram de sua boca, ele lamentou, especialmente
quando o seu corpo moldou-se à sua volta. Ele comprimiu os olhos quando sentiu
os seios em suas costas e os braços em volta de sua cintura. Sua vara inchou de
desejo e tudo o que podia fazer era não puxá-la para sua frente e banquetear-se em
seus seios.
Dá-me força, ele pediu que Deus estivesse ouvindo-o quando cutucou o
cavalo em um galope.
O cavalo estava ansioso para exercitar da mesma forma que eles estavam
ansiosos para cobrir o solo rapidamente. Não demorou muito para Lugus sentir os
braços Ahryn afrouxarem à sua volta quando adormeceu. Para ajudar a segurá-la
contra ele, colocou suas mãos sobre os braços. Mesmo que o simples contato
fizesse doer por senti-la.
Orou para chegarem à passagem logo, antes que cedesse à tentação e
provasse o néctar inebriante de Ahryn. Mais uma vez.
Capítulo Treze
Lugus conseguira se manter apertado, apesar de instável, seguro em seu
desejo. Isto é, até que Ahryn começou a escorregar do cavalo. Lugus rapidamente
fez o cavalo parar e facilmente puxou Ahryn ao redor até que a segurou no colo
com a cabeça contra seu peito.
Ele sabia que a estrada à frente deles ia ser traiçoeira, mesmo com o cavalo,
então a deixou dormir enquanto pôde. Haveria vezes que teriam que perder o sono,
a fim de alcançar o portal.
Embora tivesse conseguido a direção pela mulher da estalagem, Lugus
desejava que tivesse visitado antes Skye. Sem conhecer o local bem o suficiente, ou
ter a precaução de perguntar mais aos habitantes, ele não tinha ideia de quanto
tempo levaria para chegar ao portal. E, claro, o capitão se recusou a dizer-lhe
depois que Lugus tomara a espada.
Não havia maneira dele deixar o navio sem a sua espada. Foi um dos seus
poucos pertences que significava algo para ele. Sem mencionar que um homem sem
uma arma estava certamente morto, e com sua atual missão, ele não poderia ter essa
chance, pelo menos não até Ahryn estar segura no reino Fae.
Ahryn suspirou e se aconchegou em seu peito, a mão dela pousado
flacidamente contra seu abdômen. Não importa o quanto ele dissesse a si mesmo
para não olhar, seus olhos baixaram para vê-la dormir contente contra ele. Como
Fae, era deslumbrante, mas dormindo, ela parecia inocente e frágil, e Lugus tinha o
enorme desejo de protegê-la.
—A única coisa da qual você precisa protegê-la é de você mesmo, — ele
murmurou no ar da noite.
Uma constante brisa do mar esmaecia os sons das noites, os sons que
Lugus desesperadamente necessitava para estar acordado. Porque o vento jogava a
devastação com ele, tinha que continuamente olhar ao redor, permitindo que os
seus sentidos o guiassem.
Determinou que faltava um par de horas para o amanhecer, quando parou
o cavalo debaixo de um pequeno bosque de árvores. Grandes pedregulhos estavam
entre as árvores e o mar, que poderia mantê-los escondidos de transeuntes na
estrada, bem como da brisa constante.
Lugus delicadamente pegou Ahryn nos braços e balançou a perna por cima
da cabeça do cavalo preto. Com o cuidado que podia, deslizou no chão. Sorriu para
si mesmo quando Ahryn não se mexeu.
Deitou e rapidamente escovou e amarrou o cavalo antes dele também
sucumbir ao sono.
* * * *
Ahryn não sabia o que a tinha despertado. Manteve-se assim enquanto abria
os olhos para ver Lugus dormindo perto dela. Luz do sol delicadamente filtrava-se
na densa folhagem das árvores em cima quando se virou de costas e se espreguiçou.
Ela levantou-se e caminhou até o cavalo que Lugus tinha amarrado a uma
das árvores.
—Oi, — ela sussurrou, estendendo a mão.
O cavalo ergueu a boca macia e delicadamente tocou em sua mão antes que
coçasse a cabeça grande contra ela. Ela riu e passou a mão de sua cabeça até o
pescoço para as costas lisas. Ele era lindo, e ela estava agradecida a Lugus por ter
sido capaz de pegá-lo.
—Mesmo sem a magia Fae ele é impressionante, não é?
Ahryn puxou e virou-se para encontrar um homem encostado a uma das
árvores. Mas ele não era apenas um homem qualquer. Ela sabia por seus olhos
acobreados que era um Draconiano.
—O que você quer?
Ele deu de ombros.
—Quero que você responda a minha pergunta.
Pela vida dela, Ahryn não conseguia se lembrar do que havia perguntado.
—Que pergunta?
—Ele é impressionante, mesmo sem a sua magia Fae.
Ahryn olhou Lugus que ainda dormia profundamente, muito
profundamente.
—Sim, ele é.
—Não se preocupe com ele, — o Draconiano disse enquanto afastava-se
da árvore e deu um passo em sua direção. —Não vai acordar até que eu deseje.
Medo escoou nos ossos de Ahryn. Com a pulseira ainda unida e sua magia
inexistente e Lugus agora era mortal, nenhum deles tinha a magia para combater o
Draconiano.
Mas ela recusou a se curvar. Afinal Lugus fizera tudo por ela, não permitiria
que nenhum mal chegasse a ele.
—Então você me encontrou. Vou calmamente com você se deixar Lugus
vivo e ileso.
O Draconiano riu e cruzou os braços sobre o peito grande, enquanto
olhava para ela, seu manto negro o escondendo. Seus longos cabelos negros caíam
até o meio do seu estômago e brilhava quase azul à luz do sol.
—Você acha que pode negociar comigo, Ahryn?
Nunca se sentiu tão sozinha ou com medo em sua vida.
—Posso — ela mentiu. —Como você sabe meu nome, porque não me dá
o seu?
Ele abaixou a cabeça um pouco, e num tom profundo disse:
—Eu sou Tane.
—Tane, eu imploro, deixe Lugus ileso e vivo.
Ele respirou fundo.
—O que faz você pensar que eu vim por você?
Ahryn não acreditou no que ouvia.
—Você não veio por mim?
Tane balançou a cabeça.
Então... — Ela parou quando a compreensão alcançou-a. Olhou para
Lugus, em seguida, voltou-se para Tane.
—Por quê?
—Por quê? — Repetiu ele, suas sobrancelhas pretas levantadas. —Ele é o
legítimo herdeiro do reino Fae. Foi preso injustamente e só por sua força de
vontade que sobreviveu e conseguiu sair de um reino que ninguém foi capaz de sair
antes. E você pergunta por quê?
Ela tentou engolir, mas encontrou sua boca seca.
—O que você quer com ele? É um bom homem.
—Nós sabemos. A necessidade de se corrigir um erro, Ahryn. Lugus
precisa retornar ao seu reino.
—Ele não pode. Foi banido.
Tane fechou os olhos e suspirou. Quando os abriu novamente, seu olhar
era duro, exigente.
—Você deve levá-lo para o reino Fae, a qualquer custo.
Ahryn desviou o olhar penetrante do olhar acobreado de Tane.
—Já discuti com ele o seu regresso. Ele não vai. Nada o fará passar através
do portal.
—Ele vai atravessar este.
O tom de Tane, tão certo e poderoso, que fez Ahryn voltar para ele.
—Ele poderia ser morto.
—Theron pode ser muitas coisas, mas não iria matar o próprio irmão.
—Como você sabe tanto sobre Theron e Lugus? — Perguntou ela.
Seus olhos se afastaram dela.
—Isso não importa.
Ela percebeu que ele sabia muito mais do que estava disposto a
compartilhar, mas também sabia que ele não lhe daria mais nenhuma informação.
—E se eu não puder levá-lo para passar comigo através do portal?
—Vou levá-lo até o portão, — disse Tane.
Ahryn queria Lugus no seu reino para que Theron pudesse ver o quão
maravilhoso fora Lugus, mas ela não podia evitar, duvidava de Tane. Ele era um
Draconiano.
—Você duvida que eu seja sincero, — disse ele.
Não era uma pergunta, mas um fato e Ahryn assentiu.
—Draconiano e Fae não se misturam.
—E por que isso? Você nunca se perguntou?
Ela tinha, mas não estava disposta a admitir para Tane.
—Você está trabalhando com Marcus. Por tudo que eu sei, você deu a ele a
pulseira para prender-me, — ela disse e ergueu a mão direita.
Tane caminhou até ela e olhou para a pulseira.
—Marcus me disse que tinha, mas eu nunca vi isso até agora. — Movendo
o olhar para seu rosto. —Você não pode removê-la. — Isto não era uma pergunta.
—Não.
—Eu posso.
Sua respiração deixou seu corpo em uma lufada.
—Então faça isso, — disse ela sem fôlego.
—Só se você fizer, com certeza, que Lugus esteja com você no portal.
—Quando eu passar pelo portão, a pulseira não funcionará mais.
—Quem lhe disse isso?
Ahryn podia sentir as areias do destino mudando sob seus pés.
—Eu só assumi...
—Você assumiu errado, — disse Tane e se moveu para ficar perto Lugus.
—Até que a pulseira seja removida, você não terá a sua magia.
—Certamente alguém no meu reino será capaz de removê-lo.
Ele deu de ombros.
—Possivelmente, se puderem decifrar os sinais.
Ahryn olhou para a pulseira e as marcas que ela e Lugus haviam olhado.
—Você sabe o que quer dizer?
—Eu sei e vou retirar a pulseira logo que Lugus estiver novamente no reino
Fae.
Ahryn respirou profundamente e percebeu que não tinha muita escolha.
—Tudo bem. — Só me responda uma pergunta.
—Se eu puder, — disse ele baixinho.
—Tem a intenção de ferir ou matar Lugus de alguma forma?
Um dos lados da boca levantada em um sorriso.
—Se eu quisesse matá-lo, teria feito isso enquanto você dormia. Nem ele
vai ser prejudicado ou morto uma vez que retorne ao seu reino.
—Como você pode prometer isso?
—Eu posso, — disse ele quando se virou e foi embora.
Ahryn piscou e ele se foi. Mal Tane desapareceu Lugus começou a se
mexer. Ela viu quando ele levantou-se lentamente em um cotovelo e coçou a
cabeça com a outra mão.
—Você dormiu bem? — Perguntou ela.
Ele grunhiu enquanto se sentou.
—Acho que nunca dormi tão bem antes.
Ahryn virou-se para o mar.
—Será que nós viajaremos no final da noite?
—Nós iremos, — respondeu enquanto veio ficar ao lado dela. —Vou
procurar alguma comida e água.
—Nós dois podemos ir, — ela disse quando se virou para ele.
Ele estudou o rosto dela um instante antes de dizer,
—Você descansou o suficiente?
—Sim. Estou ansiosa para chegar ao portal.
—Então vamos, — disse ele enquanto caminhava para o cavalo, podia ver
agora à luz do dia em que era negro, como suspeitava.
Ahryn viu quando ele desamarrou o cavalo e deu na grande besta negra um
tapinha no pescoço enquanto falava baixo palavras no ouvido. Ela queria
desesperadamente saber que palavras que ele dividia com o preto, mas sabia que
nunca saberia.
—Venha, — Lugus disse e estendeu a mão.
Ahryn abanou a cabeça.
—Gostaria de esticar as pernas um pouco esta manhã. Além disso,
precisamos poupar o cavalo para mais tarde.
Ela sabia que Lugus admirava sua lógica, pela maneira como olhou para ela,
mas ele não a questionou. A verdade é que Ahryn precisava pensar sobre a visita de
Tane e ela não podia fazer isso com os braços em volta do ventre musculoso de
Lugus.
—Você está tranquila nesta manhã, — Lugus disse depois de algum tempo.
Ahryn encolheu os ombros.
—É que eu estou tão perto de casa agora.
Ele balançou a cabeça.
—Entendo. Nós poderíamos ter dormido mais. Tinha a intenção de
descansar a maior parte do dia e viajar à noite.
—Por que não viajamos enquanto podemos? Ambos estamos descansados
esta manhã e é só um pouco depois do meio-dia. Nós viajaremos lentamente até o
anoitecer.
Lugus parou de andar e estendeu a mão para deter Ahryn.
—O que está acontecendo? — Perguntou ele. Ela estava diferente, logo
que abriu os olhos. Na verdade, ela parecia apreensiva... Como se ela tivesse muito
em que pensar.
Seus místicos olhos azuis encontraram os dele e ele quase ficou
acabrunhado pelo medo e tristeza em suas profundezas.
—Ahryn?
Ela se afastou dele e baixou os olhos.
—Só quero voltar para casa, Lugus.
Ele aceitou sua mentira. Mais uma vez. Quando ela começou a andar,
deixou que tivesse uma ligeira vantagem, enquanto ele erguia as costas e levava o
preto. Eles andaram mais dez minutos quando Lugus avistou um pequeno chalé.
Quando ele começou a entregar as rédeas a Ahryn para que pudesse
negociar alguma comida e água, ela balançou a cabeça.
—Deixe comigo, — disse ela.
Ele hesitou, mas concordou.
—Tudo bem.
Enquanto observava sua caminhada para o chalé, ele segurou sua adaga,
rezando para que não fosse precisar.
Ela alcançou a porta e bateu. Uma mulher mais velha respondeu e sorriu
para Ahryn. Mesmo Lugus tenso, não conseguia distinguir as palavras que
trocaram, mas não demorou muito para que a mulher entregasse a Ahryn uma cesta
e um cantil de couro.
Ahryn tinha um largo sorriso quando retornou para ele.
—Fome? — Ela perguntou enquanto levantava o cesto que estava
carregado de alimentos.
—Faminto, — admitiu e aproximou-se da cesta.
Ele esperou até que ela pegasse um pedaço de pão e queijo, antes de
perguntar:
—O que disse a ela?
Ahryn sorriu e começou a andar.
—Disse a verdade, que estávamos em uma viagem e perguntei se tinha
alguma comida de sobra.
—Incrível, — ele disse quando falou com ela. —Acho que de agora em
diante, vou deixar você conseguir nossos alimentos.
Ela riu e lhe lançou um olhar compreensivo.
—Estou pronta para o desafio.
Lugus rapidamente terminou a sua refeição e tomou um longo gole de
água. Sabia que precisava encontrar um pouco de água fresca para reabastecer o
cantil de couro, para não mencionar que gostaria de um banho. O último banho, se
ele poderia chamar assim, tivera lugar à bordo do navio, fora apenas com uma tina
de água com a qual se lavou.
Lançou um olhar para Ahryn e viu os seus passos começarem a diminuir.
Sem perguntar, aproximou-se e ergueu-a para cima do preto. Ela lhe deu um
pequeno sorriso e pegou a crina do cavalo com uma mão, enquanto segurava o
cesto com a outra.
Viajaram em silêncio por horas e foi durante esse tempo que Lugus
percebeu que ele dormira sem sonhar novamente. Duas vezes já fizera isso e isso o
preocupava. Não só dormira muito, mas ele não sonhara com nada.
Olhou para Ahryn e encontrou-a absorta no pensamento. Não fora Ahryn.
Sua magia era basicamente inexistente com a pulseira, mas então quem poderia ser?
Não tinha respostas. Mas sabia que a magia fora utilizada nele.
Mas para quê?
Capítulo Quatorze
Ahryn fechou os olhos e tentou imaginar a graça e a beleza que era o reino
Fae. O céu azul brilhante, o ar puro, cachoeiras poderosas, montanhas que
chegavam quase aos céus e os dragões.
Perdera o farfalhar das asas de comandos dos dragões, enquanto eles
deslizavam pelo céu. Ela ainda perdera o som do seu rugido na luz fraca do dia,
quando eles voltaram para seus ninhos.
Durante anos ela tinha levado os dragões para se estabelecerem, mas no
reino da terra, onde não havia dragões, ela descobrira o quanto sentia falta deles.
Encontrou-se ansiosa para olhar o céu e ver um grande dragão vermelho ou um
pequeno dragão verde voar através do ar.
—Está tudo bem? — Lugus perguntou-lhe baixinho.
Ela abriu os olhos e voltou seu olhar para ele.
—Sinto falta dos dragões.
Ele desviou o olhar rapidamente, mas não antes que visse a angústia nos
seus olhos. Ele também sentia sua falta.
—Qual é o seu favorito? — Perguntou ela.
Um dos lados da boca levantou num sorriso.
—Adorava ver todos eles, mas tenho que dizer que o meu favorito era o
dragão azul escuro.
—Ah, — disse ela, enquanto lembrava-se de vê-los apenas uma vez em sua
vida. —Eles são magníficos e raros, tão grandes e graciosos.
—E poderosos, — acrescentou.
—Você sabe por que há tão poucos deles?
Ele encolheu os ombros musculosos.
—Acho que eles são como a maioria das criaturas em que alguns deles
sobrevivem e prosperam, enquanto outros têm dificuldade de produzir
descendentes.
—Suponho, — disse ela. —Só vi uma vez, mas pretendo procurá-los
quando voltar.
Ele olhou para ela e sorriu.
—Você terá que viajar para longe.
—Eu não me importo.
—Depois desta jornada, você não terá nenhum problema em encontrá-los,
Ahryn.
—Importa-se em se juntar a mim em minha busca? Ela não sabia o que a
levou a perguntar, mas sabia que queria desesperadamente ele com ela.
Ele desviou o olhar e suspirou.
—Você sabe que eu não posso.
—Ninguém vai saber que você está no reino.
—Theron saberá.
Ahryn olhou para ele de cima do preto e pensou sobre as palavras de Tane.
Ela tinha fazer tudo o que pudesse para garantir que Lugus efetivamente
regressasse ao reino Fae com ela. Pertencia ali, mesmo que não quisesse
reconhecer. E se ela tivesse que procurar o Rei Theron e a Rainha Rufina para
pleitear seu caso, ela certamente faria isso. Não merecia ser banido.
Mas e se ele realmente merece o castigo?
Ahryn se recusou a acreditar nisso. Lugus era um homem bom e tudo o que
ele fez não poderia ter sido tão terrível que não tivesse permissão para viver com
seu próprio povo. Ele era um Fae, com ou sem a sua imortalidade.
Ela iria manter sua palavra para Tane, mas se alguma vez chegasse um
momento em que a vida Lugus estivesse em perigo ou fosse ferido de alguma
forma, ela faria com que Tane certamente fosse perseguido e punido.
Qualquer coisa que Lugus pudesse ter feito, ele era seu salvador e isto era
suficiente para ela.
Será mesmo? Você ainda pensaria isto se soubesse os rumores que os
anciãos sussurravam em relação a ele?
Ahryn queria pensar que fosse, mas era difícil dizer. Tentou imaginar o pior
e que envolvia seres inocentes mortos, algo que ela sabia que Lugus nunca faria.
Lugus não era um assassino.
Mas tinha dúvidas sobre a destruição de Caer Rhoemyr. A Cidade dos Reis
era um lugar sagrado e para alguém tentar destruí-la poderia muito bem resultar em
sua expulsão.
Ela planejou então, que quando chegasse ao reino Fae iria descobrir
exatamente o que Lugus fizera e decidiria por si mesma. Ele havia deixado claro
que nunca iria dizer-lhe, mas sabia de uma pessoa que diria - seu avô.
Estava tão imersa no pensamento, que não tinha notado que Lugus os
dirigia ao largo da costa e cabeça à dentro até que parou o preto e ela se viu
olhando para um lago pequeno.
Quando ela olhou para Lugus, ele encolheu os ombros.
—Preciso de um banho, — Foi a única explicação quando desmontou. Ele
colocou a cesta no chão e depois estendeu a mão para ela.
Suas mãos agarraram seus ombros enquanto ela deslizava do cavalo. Suas
mãos grandes quase atravessaram a cintura, e ela achou o calor dele tocante e
viciante. Antes que se fizesse de boba, afastou-se dele com a cabeça abaixada e se
virou para olhar a água.
—Você pode banhar-se em primeiro lugar, — ela disse enquanto corria
para o bosque de árvores. Havia algo sobre Lugus que a fazia ansiar por seus beijos,
seu toque. Algo que a fez querer jogar a precaução ao vento e ver onde ele iria levá-
la.
Mas sabia exatamente aonde iria levá-la — aos braços de Lugus. Era
exatamente o que queria, mas sabia o que ele realmente não queria. Seu corpo pode
querer uma mulher para saciar suas necessidades, mas seu coração queria... Moira.
Ahryn encontrou-se odiando Moira. Quem era esta mulher que mantinha
Lugus tão preso e por que ela não estava com ele?
Ahryn encontrou uma árvore, deslizou para encostar-se e olhou para o mar,
ela sabia que ninguém iria responder suas perguntas. Se ela encontrasse Moira, ela
iria descobrir a verdade.
Ouviu um esguicho e sabia que Lugus mergulhara na água. Podia
facilmente imaginar o seu corpo magro e rígido deslizando através da água escura
até a cabeça surgir na superfície. Apenas essa imagem tinha acelerado seu coração e
sua respiração vinha em grandes goles.
O corpo dela pedia para ir até a água e vê-lo por si mesma, mas sua mente a
parou, por um momento. A ideia de que poderia realmente vislumbrar seu corpo
glorioso nu a fez quase correr para o lago.
Quando chegou, fez questão de esconder-se atrás de uma árvore próxima,
enquanto seus olhos se banqueteavam nos planos rígidos de seu peito enquanto ele
levantava os braços para lavar. A água brilhava em seus ombros largos e, em
seguida, rolou para o peito e se fundiu com o lago.
Ele se virou e ela viu quando levantou seus longos cabelos e começou a
lavá-los enquanto os músculos de suas costas, ombros e braços brilhavam na luz
fraca do dia com cada movimento.
Tentou engolir, mas encontrou a boca seca quando ele mergulhou e ela viu
o seu estreito bumbum antes de desaparecer sob as águas.
O corpo dela cantarolou com o desejo indizível e inexperiente. Queria-o
como um corpo queria respirar. Seu corpo pulsava, os seios doíam e os mamilos
endureceram. O desejo era tão forte que não podia lutar contra isso. Ela lentamente
saiu de trás da árvore onde estava escondida e foi até a beira do lago quando ele
surgiu e encarou-a.
Seus olhos prenderam-se e seguraram.
Em um instante, ela se lembrou do seu beijo, um beijo que a tinha
marcado, um beijo que a acordara... Um beijo que ainda não havia sido respondido.
A água rodopiou e moveu enquanto Lugus ia para sua direção. Deixou os
olhos vaguearem para baixo à sua forma esculpida em seus ombros largos para seu
abdômen firme, em seguida, os quadris estreitos e...
Ergueu o olhar para o dele quando parou. Seus olhos nunca deixando seu
rosto e sabia que ele esperou para ver o que ela faria. Demasiadas vezes, tinha
oferecido o que ele não queria e embora fosse difícil, não poderia mais se oferecer
sabendo que não a queria.
Ahryn sentiu as lágrimas arderem em seus olhos quando virou as costas
para Lugus e foi para o cavalo. Ela passou as mãos sobre o macio pelo do cavalo
negro, enquanto visualizava suas mãos escorrendo pelo corpo Lugus.
—Ahryn?
Ouviu a preocupação em sua voz, mas se recusou a deixá-lo saber o quanto
a afetava.
—Não queria interromper o seu banho. Por favor, continue.
Suas mãos tremiam quando seus dedos entrelaçaram na crina negra. Odiou
como seu corpo a traiu com apenas um vislumbre de Lugus e não importava o
quanto dissesse a si mesma que ele não a queria, seu corpo não queria ouvir.
—Terminei — Lugus disse, amarrando os calções enquanto parou perto
dos cabelos dela, seu hálito quente abanando o pescoço dela.
Não foi capaz de controlar o arrepio que a percorreu quando se virou para
encará-lo. A água ainda escorria das extremidades de seu cabelo dourado para
correr do seu peito para a cintura de suas calças.
Com uma força de vontade que não sabia que tinha, Ahryn afastou-se do
cavalo, manteve suas mãos para ela e levantou o olhar para seu rosto.
—A água esta boa? — Não podia acreditar que sua voz soava tão calma
como parecia, quando por dentro estava tremendo.
Sua testa franziu pouco antes que ele desse um pequeno passo para trás e
acenasse com a cabeça.
—Obrigada — disse e passou por ele. Quando arremessou os sapatos,
olhou por cima do ombro para encontrá-lo olhando para ela. —Você poderia se
virar?
Lugus apertou sua mandíbula ante seu tom gelado e colocou-se de costas
para ela. Ele não tinha certeza do que acontecera, mas de repente Ahryn não queria
compartilhar com ele. Deveria estar aliviado, mas na verdade, ele estava confuso.
Havia se acostumado com seus místicos olhos azuis, cheios de paixão e desejo
quando o olhava e seus lábios cheios, rosa escuro entreabertos, como se esperasse
por seu beijo.
Em sua vida, ele não conseguia entender seu espanto ou sua mudança de
atitude. Mas não iria questioná-la. Quanto mais cedo chegassem ao portal, mais
cedo poderia voltar ao seu antigo modo de vida.
Olhou por cima do ombro para ver Ahryn deslizar graciosamente na água e
num piscar de olhos ele imaginou-a na grande cachoeira perto de Caer Rhoemyr
onde nadara quando criança. A cachoeira era um dos seus lugares favoritos, um
lugar no qual sempre quis levar sua companheira, um lugar que jamais veria
novamente.
Com uma maldição, se virou e tentou afastar Ahryn de sua mente. Depois
do descanso e após comer algo, seria hora de retomar o caminho novamente.
Ainda teriam várias horas de viagem antes de dormir.
Lugus esfregou o cavalo negro e sussurrou as palavras calmantes para ele.
Quando terminou, se virou e olhou para a água e não viu Ahryn. Pensando que ela
já tinha acabado e estava se vestindo, trouxe o cavalo negro até a água para beber.
Mal o cavalo inclinou o nariz dentro da água, Ahryn subiu das profundezas,
como uma deusa com a água borbulhante e agitada em torno dela. Seus olhos
imediatamente notaram os seios nus antes que ela mergulhasse de volta na água de
modo que apenas mostrava sua cabeça.
—Pensei que tinha acabado — disse quando a viu.
Ela limpou a água do seu rosto.
—Estava debaixo d'água.
—Percebi isso.
Um silêncio tenso prolongou-se enquanto o cavalo continuava a beber.
Finalmente, o cavalo levantou a cabeça e Lugus o levou longe do lago para dar
alguma privacidade a Ahryn.
Ele se movimentou e tentou aliviar parte da pressão de sua vara, agora
latejante. A necessidade quase o tinha ultrapassado de novo, tal como acontecera
quando ele subira da água para encontrar Ahryn de pé diante dele.
Por apenas um momento, tinha certeza que a vira incendiar a paixão em
seus olhos azuis quando o olhar dela percorreu-o. Ficara imóvel, incapaz de se
mover por medo de que ela saísse. Quando finalmente se mexeu, ficou surpreso
quando ela se virou.
Se fosse honesto consigo mesmo, admitiria que não sabia o que teria feito
se Ahryn não se afastasse. Sabia que seu corpo precisava de liberação e estava mais
do que atraído por ela, mas ele a teria tomado?
Seus olhos quase reviraram em sua cabeça enquanto se imaginou dirigindo
profundamente em sua apertada vagina molhada com as unhas arranhando sua pele
enquanto ele a trouxesse cada vez mais perto de seu clímax.
A imagem era tão viva e real que por um momento Lugus não poderia dizer
o que era a fantasia e o que era genuíno. Piscou e encontrou o cavalo olhando para
ele como se soubesse o que estava se passando com Lugus.
—Eu sei rapaz — ele sussurrou enquanto coçava a cabeça do cavalo. —
Algo precisa ser feito e rapidamente.
Lugus pegou alguns alimentos da cesta amarrada ao cavalo e o deixou
pastar enquanto ia em busca de Ahryn para quebrar o jejum. Encontrou-a sentada
perto de uma árvore, enquanto trabalhava com os dedos os longos fios de seu
cabelo molhado. Seus olhos estavam fechados, com pequeno sorriso em seus lábios
e ele se viu querendo saber o que poderia trazer um sorriso em seu rosto.
—Diga-me, — ele sussurrou.
Seus olhos oscilaram de surpresa e suas mãos pararam.
—Dizer o quê?
—Diga-me, — ele disse quando pôs o alimento e ajoelhou na frente dela,
— O que você estava pensando ao sorrir.
Ela sorriu e baixou os olhos. Seus dedos começaram a pentear os cabelos
novamente.
—Estava lembrando de como minha mãe costumava resmungar quando
penteava os meus cabelos. Estava sempre emaranhado e eu reclamava sem parar.
Ela costumava dizer-me que chegaria um dia em que eu gostaria que ela estivesse
me penteando.
—E hoje é esse dia? — Perguntou ele, gostando de como ela lhe permitiu
entrever em seu passado.
Ela riu.
—Oh, sim. É muito difícil com um pente muito menos sem um.
—Permita-me, — ele ofereceu.
Capítulo Quinze
—Mas não há nenhum pente.
Lugus ergueu as mãos e mexeu os dedos.
—Tenho esses e você poderia comer.
—Tudo bem, — disse ela adiantando-se e voltando as costas para ele.
Lugus moveu a comida para o lado e sentou de pernas cruzadas atrás dela.
—Inicie na parte inferior e trabalhe a sua maneira. É mais fácil assim.
Ele lambeu os lábios e correu os dedos pela parte inferior do seu cabelo,
encontrando de imediato um nó.
Ela riu e aproximou-se de um bolo de aveia.
—Vê? — Ela disse.
Tentando trabalhar suavemente, livrando o emaranhado e logo lamentando
o que oferecera.
—Você precisa ser mais agressivo com os nós ou isto nunca vai
desmanchar. Além disso, você não vai me machucar.
Ele não tinha certeza da última parte, considerando quão grandes alguns
dos emaranhados eram, mas ele puxou um pouco severo e foi recompensado
quando o nó cedeu.
Depois disso, abordou nó após nó até que estava próximo do pescoço. Correu os
dedos no cabelo em seu pescoço, todo o caminho até o bumbum e ouviu-a gemer
baixinho.
Nunca imaginou que uma mulher gostaria de ter as mãos percorrendo seu
cabelo e só para ter certeza que tinha realmente ouvido o gemido, fez de novo. Foi
recompensado com outro suave gemido.
Lugus sorriu e continuou trabalhando nos nós. Não levou muito tempo
para traçar o caminho para as têmporas. Até o momento que estava movendo os
dedos do topo da cabeça para as extremidades, a cabeça foi jogada para trás e as
extremidades escovaram suas pernas.
Vez após vez, usava as duas mãos para puxar suavemente através das costas e a
cada vez, podia ver claramente Ahryn relaxar. Observou o quanto ela inalou
bruscamente quando massageou seu couro cabeludo, seus lábios abriram e os seios
subiam a cada respiração.
Com cada execução de seus dedos, lentamente começou a puxar Ahryn de
volta contra ele até que ela descansou a cabeça sobre um dos ombros. Sabia que
não devia tentar-se, mas quando vinha de Ahryn, nunca poderia pensar direito.
De repente, seus olhos se abriram e ela olhou para ele.
Sua boca estava próxima da dela. Tudo o que tinha que fazer era provar
seus doces lábios novamente, movendo a cabeça uma fração de polegada. Sua vara
doeu, implorando para tomá-la, mas ele não queria quebrar o feitiço que prendia
seu corpo macio contra ele. Era tão bom segurá-la que se contentou em fazer
apenas isso.
Lugus estava preparado para ficar lá a noite inteira, mas o cavalo negro
tinha retornado e cutucava-o.
—Nós permanecemos aqui por muito tempo, — Ahryn disse quando
levantou.
Ele olhou para o céu escuro quando se levantou.
—Suponho. Sei que você está ansiosa para chegar ao portal.
—Assim como você está ansioso para retornar à sua vida.
Lugus assentiu distraidamente.
—Já pensou o que pode acontecer se não atingir o portal?
Sua mão estendeu-se e envolveu o rosto dele. Ele olhou para baixo, para
vê-la procurando seu rosto.
—Não diga isso. Vamos alcançá-lo. Sei que você nunca desistirá até
conseguirmos.
Sua fé o mortificou.
—Pare de duvidar de si mesmo, — disse ela, enquanto puxava sua cabeça
para baixo em sua direção.
O corpo Lugus criou vida. Seu sangue martelava em seus ouvidos enquanto
olhava sua boca convidativa. Por vários momentos, eles olharam um para o outro
até que de repente ela se afastou. Ele suspirou e viu como ela reuniu os restos de
comida.
—Você não comeu, — disse ela e segurou o alimento que juntara para ele.
Ele recusou a comida oferecida, a sua mente em outras coisas.
—Vou comer mais tarde.
Ela assentiu e enfiou-o na cesta pequena. Quando ela terminou, ele a
levantou ao topo do preto. Entregou-lhe o cesto e saltou para cima do cavalo atrás
dela.
Seu corpo macio apertado contra ele quase foi sua perdição. Momentos
antes, eles quase se beijaram e com o seu corpo já inflamado, era tudo o que podia
fazer para não acariciar o pescoço ou envolver as mãos em toda a sua pele
aveludada.
Usando a sua férrea vontade, que o trouxe através do infinito milênio no
Reino das Sombras, ele estava determinado a esquecer a sua necessidade e
crescente atração por Ahryn. Em um dia ou assim, chegariam ao portal e ela teria
desaparecido de sua vida para sempre.
E de alguma forma o entristeceu.
Ela conseguira encher seus dias com mais aventura e emoção do que vira
em mais de cinco anos. Não percebera, até que esteve em torno dela, o quanto
odiava ficar sozinho, mas ele escolhera sua própria situação.
Sempre que tentava pensar em como seria sua vida quando ela estivesse de
volta ao reino Fae, via apenas desolação.
Ele sacudiu a cabeça de volta ao presente. O cavalo negro foi avançando
constantemente, acompanhando a costa. Ahryn deslocou-se e sem saber, esfregou
o bumbum firme contra sua vara. Lugus não conseguiu parar o assobio de prazer
que escapou de seus lábios. Antes que ela pudesse virar e perguntar o que estava
errado, ele cutucou o cavalo num galope, enquanto segurava na negra juba sua
preciosa vida.
O resto da noite foi passada em silêncio, enquanto Lugus considerava sua
atração por Ahryn e seu afastamento repentino dele. Dissera a si mesmo, em
primeiro lugar, que sua atração era porque não tinha na cama uma mulher há anos e
precisava de liberação, mas agora não tinha tanta certeza. E quanto mais pensava
nisso, mais confuso ficava.
Alternava entre andar e galopar o cavalo, o que lhes permitiu cobrir uma
porção de terreno. Até o momento, pararam apenas algumas horas antes do
amanhecer, Lugus sabia que tinham que viajar duas vezes mais do que esperava.
Com um puxão suave das rédeas, Lugus parou o cavalo e segurou o braço
de Ahryn enquanto abaixava-a no chão. Ele escorregou do cavalo e dirigiu o animal
a um pequeno refúgio de árvores e deu-lhe uma massagem completa.
Quando este ficou pronto, virou-se e, pela luz suave da lua, encontrou
Ahryn olhando para o mar, seus cabelos brilhantes soprando na brisa. Ela parecia
solitária e isolada e teve uma súbita vontade de atraía-la nos braços e confortá-la.
O tinido de sua pulseira de escrava chamou sua atenção e seguiu seu braço
quando ela levantou para escovar o cabelo do rosto. Lugus sabia que ela teria que
ver Theron e falar-lhe da pulseira, consequentemente outros Fae poderiam ser
avisados, caso houvesse braceletes escravos Célticos lá fora, significava que ela ia
dizer a Theron sobre ele a ajudar.
Lugus desejava que ela omitisse sua participação no conto, mas sabia que
não iria. Por alguma razão, ela tinha em sua mente que tudo o que tinha que fazer,
era conversar com Theron e tudo estaria bem. Só Lugus o conhecia bem.
Realmente não queria que ela descobrisse seus atos falhos, mas estava feliz
que não estivesse lá quando ela soubesse a verdade. Pelo menos desta maneira, ela
poderia se lembrar dele com carinho por ajudá-la.
Lugus não tentou dissuadi-la de falar com Theron, porque sabia que não ia
fazer nenhum bem. Theron assumiria que Lugus fizera o ato, a fim de ser
autorizado a voltar para o reino Fae, quando na verdade Lugus ajudara, porque ele
tinha muito a expiar.
O luar desbotado derramou seu feixe pálido sobre Ahryn e sua beleza
simples e elegante roubou a respiração Lugus. Seus pés moveram-se com vontade
própria para o lado dela. Ele não tentou falar com ela enquanto observavam as
trevas esmaecer envolvendo o céu e tanto quanto ele desejava ver o sol nascer,
Lugus sabia que precisava dormir.
Pegou a mão dela e a levou para as árvores aonde iriam dormir. Depois de
tirar as suas armas, abaixou-se para o chão, gentilmente a puxou para baixo, ao lado
dele.
—Lugus, — disse ela, mas ele rapidamente cobriu seus lábios com o dedo.
Sua testa franziu, enquanto observava e ele podia ver dúvida e confusão em seus
místicos olhos azuis.
Lugus mesmo não tinha ideia do que estava fazendo, só que ele queria
Ahryn em seus braços, precisava sentir a sua maciez e calor neste esmaecido
mundo frio. Precisava sentir-se vivo novamente, e ela dar-lhe-ia isso. Era hora dele
parar de fugir dela e da necessidade que ela despertara.
Enquanto procurava seus olhos, ele viu algo em suas profundezas azuis que
tocava como nunca fora tocada antes. E antes que percebesse, sua boca abaixou
para a dela.
Pouco antes de tocar os lábios dela, puxou-a uma fração e estudou-o. O
que quer que procure, deve ter encontrado, pois levantou o rosto para ele.
No instante em que seus lábios se encontraram, Lugus sentiu um
burburinho de consciência roçar-lhe a espinha. Era como se um animal que ele
tinha mantido trancado dentro dele tivesse se soltando.
Puxou-a, apertando-a contra o peito e cobriu seu corpo com o dele.
Aprofundou o beijo enquanto passava a língua em sua boca para duelar com a dela.
O beijo fortaleceu tanto quanto enfraqueceu, mas ele não conseguira o suficiente
dela.
As mãos dele alisaram seus braços enquanto viajavam por seu corpo até os
quadris. O desejo de rasgar a roupa de seu corpo para que pudesse vê-la em toda
sua glória era tão forte que suas mãos tremiam.
Ele moveu as mãos em sua cabeça e enterrou nos fios espessos dos cabelos
louros. E assim como ele freou seu desejo em fúria, ela gemeu.
Foi desfazendo Lugus.
Sua necessidade era tão poderosa que esqueceu tudo e todos, exceto Ahryn.
A mente de Ahryn rodopiou com as sensações incríveis que rugia dentro
dela. O beijo de Lugus lhe enviou em uma espiral fora de controle, e quando ele
aprofundou o beijo, despertou os seus desejos, acordando rapidamente, aquecendo-
se para vida e trazendo uma dor entre suas pernas.
Suas mãos agarraram às suas costas enquanto ela tentava desesperadamente
sentir sua pele sob seus dedos, mas ele continuou a beijá-la como se fosse tudo o
que desejava fazer.
Então suas mãos deslizaram sobre seu corpo e roçou seus seios. E
rapidamente suas mãos tocaram seu pescoço enquanto ele lhe deu um beijo que fez
seus sentidos elevarem-se. Um gemido escapou dela enquanto sua vara inchada
pressionava seu estômago. Seus seios ficaram pesados e os mamilos excitados
enquanto esfregava seus quadris contra ele.
Ela vira o olhar em seus olhos antes que eles se beijassem. Ele sabia
exatamente quem estava embaixo dele e ela poderia apostar sua vida que não estava
pensando em Moira agora. Era a única razão pela qual ela permitira o beijo.
Não havia como negar que sabia que Lugus ia fazer amor com ela. Foi o
que ela havia orado e esperado. E, quando sua boca se moveu de seus lábios para
seu pescoço, Ahryn deixou suas mãos vagarem sobre seu corpo magnífico.
Seus lábios faziam coisas incríveis com ela. Quanto seu hálito quente roçou
em sua pele, ela se ouviu suspirar de prazer. Quando ela estava prestes a gritar com
a falta de suas mãos em seu corpo, ele finalmente moveu seus braços.
Ela esperou num folego antecipado para ele envolver seios ou esfregar os
quadris contra os dela, mas não fez nada. Ahryn agarrou os ombros e abriu os
olhos para vê-lo olhando para ela.
—O que é isso? — Ela perguntou hesitante.
Sua mandíbula se apertou.
—Este é o vestido que você tem?
—Sim.
—Então não posso rasgá-lo.
Ahryn sorriu e empurrou-o enquanto se sentou.
—Eu, com prazer, vou tirá-lo. Tudo o que tinha de fazer, era pedir.
—Então, considere isto mendicância, — disse ele enquanto o seu desejo
enchia os olhos invocando-a.
Ahryn levantou-se rapidamente e tirou seus sapatos, meias e o vestido.
Quando ela lançou um olhar para o lado, encontrou Lugus retirando sua túnica.
Movendo-se para ficar na frente dele, passou as mãos lentamente sobre seu torso
esculpido.
—Quis fazer isso por tanto tempo, — disse enquanto depositava beijos
sobre este.
Com um ronco selvagem, Lugus afastou-a dele.
—Se você continuar não vou ser capaz de lhe dar prazer.
—Tocar em você é prazer suficiente, — disse ela e estendeu a mão para ele
novamente.
Pensou que tinha ganhado enquanto movimentava as mãos sobre o peito
até a guarnecida cintura, mas ele tinha outros planos em mente. Ele atraiu-a,
apertando-a contra ele, então ela sentiu a sua vara.
—É a minha vez de brincar, — sua voz rouca disse pouco antes dele
clamar sua boca em um beijo que a fez esquecer seu próprio nome. Sua língua
tocou cada parte da boca dela e exigiu que ela desse tanto quanto ele.
Ahryn ansiosamente devolveu o beijo, mas com cada golpe de sua língua, as
chamas do desejo saltavam mais alto, e mais alto até que ela pensou que iria
queimar até as cinzas.
Então a mão dele aproximou-se e envolveu um peito. Ela suspirou em sua
boca, seu sexo já ardente e úmido. Enquanto a mão massageava seus seios, ela
encontrou sua respiração presa em seu peito. Até o polegar pastorear seu mamilo e
sua respiração explodir enquanto ela gritava de prazer.
Não se lembrava dele abaixando-a para o chão até que o encontrou em
cima dela novamente. O peso do seu corpo delicioso trazendo-lhe um intenso
pulsar através de seu centro.
Seus dedos enroscaram através de seus compridos fios de seda enquanto a
sua boca se moveu mais para baixo até que pairou sobre seu peito. Seu hálito
quente ventilou seu mamilo, fazendo com que o botão minúsculo endurecesse de
expectativa. Ahryn moveu seus quadris enquanto tentou abaixar a cabeça dele e
sentiu a sensação mais deliciosa quando encontrou sua vara dura. Uma punhalada,
afiada, poderoso jato de prazer atravessou-a enquanto a língua de Lugus correu
pelo mamilo antes que começasse a mamar, enquanto a outra mão puxava
retorcendo em seu outro mamilo.
Prazer que Ahryn apenas sonhara, engoliu-a e disparou em linha reta até
seu centro. No entanto, queria mais.
Movendo a boca de um seio para o outro até que o único pensamento
coerente de Ahryn era satisfazer o desejo feroz que a consumia.
—Lugus, — ela gemia enquanto sua boca deixou os seios para viajar até
seu estômago.
Ela abriu os olhos para ver a sua língua roçar seu umbigo. Nunca soubera
que tamanha paixão poderia existir, mas ela queria Lugus. Pulsando e rígido dentro
dela.
Capítulo Dezesseis
Ahryn não se inibiu ante Lugus quando ele abriu as pernas e ajoelhou-se
entre elas. Espalhou-se, abrindo-se para ele, suas dobras expostas ao ar e ao seu
olhar penetrante. Observou, fascinada, enquanto ele se instalou em seu estômago e
beijou primeiro uma coxa e depois outra.
Com cada beijo que ele chegava mais perto de seu sexo. Quando pairou
sobre seu centro, sentiu a umidade escorrer pela sua perna e sabia que ele fizera isso
com ela.
Ele abaixou a cabeça e deu no seu sexo com uma pequena lambida leve e
que enviou arrepios de antecipação através de seu corpo. Em seguida, ele se postou
entre suas pernas e lhe deu um beijo como nenhum outro. Sua língua lambeu ao
longo de suas dobras, mergulhado em seu centro, em seguida, circulou em torno do
inchado clitóris.
O incrível, suculento desejo que tomou conta dela, a fez arquear as costas
enquanto empurrava mais perto dele, querendo mais e gritando de puro prazer.
E só quando ela achou que não poderia suportar mais, ele empurrou um
dedo dentro dela. Ela respirou fundo e se acalmou enquanto as sensações
disparavam através dela, dificultando o sangue em sua pernas. Então ele começou a
movimentar seu dedo dentro e fora enquanto sua língua brincava habilmente sobre
seu sexo.
Ahryn gritou enquanto sentia algo crescendo, algo tão intenso e
surpreendente que não podia esperar para chegar lá.
O nome de Lugus foi arrancado de seus lábios enquanto as primeiras ondas
do orgasmo a alcançaram, mas ele nunca parou sua missão. Continuou a acariciar e
lamber, trazendo-lhe mais e mais até que as últimas explosões de seu clímax a
envolveram.
Ahryn nunca se sentira tão especial... Em toda a sua vida e não queria que
acabasse. Olhou para cima através da folhagem espessa para ver o sol fazendo a sua
ascensão. Seu corpo ainda convulsionando de seu orgasmo, mas queria tocar no
corpo Lugus, como ele a havia tocado.
Quando ele subiu mais, ela retribuiu o sorriso, em seguida, estendeu a mão
e empurrou-o em suas costas. Ela rolou até que se inclinou sobre ele.
—Deixe-me tocar em você.
Ele balançou a cabeça lentamente, os olhos tristes.
—Na verdade, nunca deveria ter encostado a mão em você.
—Estou feliz que você fez, mas agora quero devolver o prazer.
Ele começou a abanar a cabeça outra vez, mas Ahryn alcançado entre seus
corpos, envolvendo sua vara dura e pressionando-a suavemente. Um gemido foi
arrancado de sua garganta enquanto seus olhos reviraram na sua cabeça.
Movendo-se entre as pernas e passando a mão para cima e para baixo pelo
comprimento dele. Sua vara tensa contra a calça e saltava cada vez que ela tocou
nele. Ela rapidamente abriu as calças e o libertou. A visão de sua vara dura
sobressaindo à fez comprimir o sexo querendo-o profundamente dentro dela.
Sua mão estendeu e acariciou o comprimento rígido aveludado dele.
Quando ela o ouviu gemer, se tornou mais agressiva e envolveu sua mão ao redor
dele, enquanto movia lentamente sua mão para cima e para baixo em seu
comprimento.
Uma gota de líquido se formou na ponta de sua vara. Os olhos seguraram
os dele enquanto ela inclinou-se e lambeu a umidade. Um assobio passou por entre
os lábios Lugus tal como ela se inclinou e tomou em sua boca.
A mão de Lugus cavadas no chão enquanto a boca suave de Ahryn tomou-
o dentro dela. Isto era uma tortura maior do que quando as mãos dela o tinham
explorado, mas quando ela o lambeu, quase lhe enviou sobre a borda. Nunca
estivera tão duro, querendo tão profundamente como agora. Era demais para
recusar.
E agora ela o levava cada vez mais fundo em sua boca, ele se viu desejando
que estivesse mergulhando em sua vagina apertada, enterrando tão profundo que
iria tocar o seu útero.
Lugus sentiu a necessidade crescente em que ela chupou e tocava seu saco.
Ele gemeu e empurrou o seu clímax para baixo. Antes de sucumbir, puxou Ahryn
para cima e para seu peito enquanto derramou a semente dele com um orgasmo tão
forte que por um momento pensou que morrera.
* * * *
—Com o que você esta tão satisfeita? — Theron perguntou à sua esposa,
enquanto ela caminhava sedutoramente para a cama na qual ele se inclinava.
Ela encolheu os ombros e subiu na cama, permitindo-lhe um vislumbre de
seu peito.
—Nada de especial, meu amor.
—Agora eu sei que você mente, — disse ele com um sorriso, enquanto
seus olhos se deleitavam com um mamilo que endureceu diante de seus olhos. —
Diga-me, exigiu enquanto ela moveu suas mãos e joelhos até que estava sobre ele.
Ela se inclinou e beijou-o, sua língua lambendo os lábios antes dela se
sentar e o olhar.
—Você está me deixando inquieto, Rufina, — disse Theron. Não era
comum que sua esposa ficasse tão pensativa.
—Alguma coisa aconteceu.
Theron sentou-se, totalmente por fora dos sinais.
—O que é isso?
Ela se aproximou e pegou sua mão e colocou-a em seu estômago.
Theron olhou para suas mãos, em seguida, olhou para sua esposa.
—Você está doente?
Ela riu e balançou a cabeça.
—Para um governante do reino Fae inteiro, você pode ser lento algumas
vezes.
Theron ficou olhando para a mão sobre a barriga e depois puxou o olhar
para ela.
—Você está...
—Carregando o seu herdeiro no meu ventre? Estou — ela respondeu com
um sorriso brilhante.
Theron agarrou e fechou os olhos enquanto disse uma oração de
agradecimento. Por séculos eles esperavam uma criança e tinham quase desistido.
—Você tem certeza? — Ele perguntou quando agarrou os ombros dela e
puxou-a para trás de modo que pudesse olhar em seus olhos.
—Estou certa. Você está feliz?
—Deslumbrado, meu amor, — disse ele pouco antes de beijá-la.
* * * *
Lugus acordou com um sorriso no rosto e Ahryn em seus braços. Ele não
se arrependera do prazer que tinham partilhado, embora soubesse que jamais
poderia ir mais longe. Se algum dos Fae soubesse que ela tinha compartilhado com
ele a si mesma, nunca seria capaz de encontrar um companheiro.
—Acordado. E com um sorriso, — Ahryn disse enquanto sorria e sentava-
se.
Ele deu de ombros e esticou-se.
—Você dormiu bem?
—Como um Fae recém-nascido.
—Acho que estamos muito perto da porta de entrada, — Lugus disse se
levantando, pôs as suas calças e vestiu sua túnica.
Ela parou de puxar pelo seu próprio vestuário e olhou para ele.
—Realmente?
—Acho que sim. Você está pronta para andar?
—Dê-me só um momento.
Quando ela terminou de se vestir, Lugus foi para o cavalo e o ajeitou para
que ficasse pronto. Num instante, tinha Ahryn na parte traseira do cavalo e estavam
mais uma vez na estrada. Ele não quis falar para Ahryn, mas estava quase certo de
que encontraria o portal de entrada naquele dia.
Ahryn assistiu a expressão de satisfação no rosto de Lugus. Ele parecia mais
relaxado e aberto, desde quando tinha despertado. Seu corpo ainda formigava por
seu toque e estava na ponta da língua para pedir-lhe para parar, para que ela
pudesse sentir o gosto dele mais uma vez.
Sentia-se sem vergonha, mas não se importava. Quando estava com Lugus
sentia-se livre, apesar de ter a pulseira escrava. Recordando a pulseira, fez pensar no
reino Fae e o que teria que fazer para que Lugus passasse pela porta com ela.
Seria mais fácil convencê-lo se soubesse mais do seu passado, então ela
decidiu ver se ele falaria do seu passado.
—Quando você foi banido?
Se ele ficou surpreso com a pergunta, não demonstrou.
—Cinco anos atrás, — ele respondeu simplesmente.
Ahryn achou que sua resposta fácil significava que ele estava disposto a
conversar sobre os acontecimentos que levaram ao seu banimento.
—Como isso aconteceu?
Por um momento ela não achava que iria responder, então ele disse:
—Alguém estava morrendo por causa de algo que eu fiz. Para tentar fazer
as pazes. Dei-lhe a minha força vital.
—Para tentar salvar uma pessoa? — Ela nunca conhecera alguém que fez
algo tão heroico.
Ele concordou, mas olhava para frente.
—Rufina recebeu a minha força vital. Ao fazer isso, eu dei a minha
imortalidade para salvar a pessoa que estava morrendo, mas Rufina não permitiu
que eu morresse.
A maneira como ele falava, a mágoa e a raiva mostrando através de sua voz,
Ahryn sabia então que Moira tivera alguma coisa a ver com isso.
—Quem foi que você tentou salvar? Foi Moira?
Ele deu um breve aceno de cabeça.
Ahryn poderia ter se chutado alegremente por trazer à tona o nome de
Moira agora à sua memória. Encontrou-se curiosa sobre a mulher que mantivera o
coração de Lugus em suas mãos.
—Com quem ela se parece? — Perguntou e olhou para ele enquanto
caminhava ao lado dela.
Ele deu de ombros.
—Ela tem olhos azuis. Não, espere. Seus olhos são verdes, e tem o cabelo
loiro.
Ahryn viu quando Lugus afastou-se dela. Era óbvio que ele estava
mergulhando em suas memórias de Moira, as memórias com as quais ela nunca
poderia competir.
Lugus não podia acreditar que havia dito que Moira tinha olhos azuis.
Todas as noites, durante cinco anos, sonhava com os olhos verdes Druidas de
Moira, mas agora ele não conseguia lembrar o tom exato. Foi então que percebeu
que não sonhara com Moira em várias noites e passara muitos dias sem pensar nela.
Foi uma sensação nova e diferente, que não sabia se regozijava ou
lamentava a ausência de Moira de sua vida. Parte dele não estava pronto para deixá-
la ir, mas a outra parte estava ansiosa para explorar a atração indesejada que ele
tinha por Ahryn.
Ele suspirou e desejou que pudesse voltar ao tempo e fazer as coisas de
forma diferente. Se ele ainda fosse um Fae e herdeiro do trono, poderia ter uma
noiva, cortejada corretamente e já teria filhos e filhas enchendo o palácio com o
riso. Ele podia ver-se com uma noiva bonita ao seu lado, alguém como Ahryn.
O pensamento o trouxe à realidade.
Embora estivesse atraído por Ahryn, se recusava a permitir-se ficar ligado
de qualquer maneira. Queria esquecê-la quando voltasse para casa, mas a paixão
que compartilharam a noite passada tornaria isto difícil. Amaldiçoou-se
interiormente por ser tão fraco que não conseguia controlar seus desejos por alguns
dias até que Ahryn tivesse passado através do portal.
Seu pai tinha razão anos atrás. Ele não estava apto para ser rei.
* * * *
Rufina assistiu seu marido andar ante o trono enquanto esfregava as mãos
com alegria.
—Precisamos ter uma grande festa, — disse ele.
Rufina negou com a cabeça.
—Peço que você adie esses planos até o bebê nascer.
Theron parou de andar a poucos passos de seu trono.
—Há sempre motivo de comemoração. Vamos ter um baile como nenhum
outro.
Ela riu, sabendo que não seria capaz de dissuadi-lo de sua intenção.
—E quando será esta festa?
—Amanhã, — respondeu ele alegremente. —Os convites saíram esta
manhã.
—Mas só lhe disse ontem à noite a notícia.
—Informei a equipe como primeira pauta desta manhã. Eles imediatamente
puseram tudo em movimento.
Seu sorriso era tão brilhante que ela não tinha coragem de dizer a ele que
estava assustada de receber visitas no palácio. Não conseguia identificar exatamente
o que ela temia, mas tinha a sensação inquietante de que algo terrível poderia
acontecer.
—Peço mais um favor, — disse ela.
—Qualquer coisa.
—Mantenha Aimery e os guardas perto.
O sorriso desapareceu do rosto de Theron.
—E você sentiu algo?
—Talvez. Não sei. — E, na verdade, ela não sabia. Era mais como uma
dúvida incômoda do que uma garantia inabalável de que algo iria realmente
acontecer.
—Provavelmente é só o menino que afeta os seus poderes. Isso acontece.
Rufina riu enquanto o alívio a percorria.
—Tinha esquecido isso.
—Tudo vai ficar bem, meu amor. Você vai ver, — prometeu Theron.
Rufina assistiu-o apressar-se para a sala do trono, antes de também se
levantar e fazer uma lista de tudo o que precisaria para o berçário.
Capítulo Dezessete
Ahryn não tentou tirar Lugus fora de si o resto da noite. Ele estava imerso
em suas memórias como se não visse o chão perante ele. Então, quando de repente
ele parou e sussurrou seu nome, ele a surpreendeu.
—Ahryn, — disse ele com mais força quando olhou para ela por cima do
ombro. —Olha.
Ela seguiu o seu dedo e descobriu a luz da lua brilhar em cima de duas
pedras grandes de pé.
—A passagem, — ela sussurrou e mal sentiu as mãos Lugus, enquanto ele
puxou o cavalo preto.
—É quase amanhecer. Devemos levá-la através do portal agora, antes que
Marcus e seu exército apareçam, para não mencionar o draconiano que ajuda
Marcus.
Ahryn olhou para as pedras, incapaz de acreditar que ela tinha finalmente
chegado a elas. E foi tudo por causa de Lugus. Sem ele, ela ainda estaria no castelo
de Marcus sendo preparada para um casamento que não queria.
—Temos de nos apressar, — Lugus disse.
A urgência em sua voz a fez se movimentar. Ela levantou a saia e veio para
ficar ao lado dele na colina com vista para o portal.
—É uma casa? — Perguntou.
Lugus seguiu seu olhar e amaldiçoou.
—É. Quanto menos as pessoas verem o que está prestes a acontecer
melhor.
Ele agarrou sua mão e estava prestes a começar a descer o morro, quando
ela parou.
—Espere, — ela disse e olhou nos olhos azuis. —Vamos observar o nascer
do sol e dia juntos, uma última vez.
Seu rosto abrandou e ele deu-lhe um aceno ligeiro. Ela virou-se para a bola
vermelha brilhante que, lentamente, quebrou o horizonte. Grandes feixes de luz
afastaram os últimos vestígios remanescentes da noite. Sabia o quanto ele gostava
de ver o nascer do sol e embora ela não soubesse o motivo, queria compartilhar
outro com ele, algo que fosse deles.
—Você está pronta para voltar para casa? — Perguntou ele.
Ela concordou e começaram a descer o morro quando o chão começou a
tremer. Ahryn olhou Lugus para ver o seu olhar focado em algum lugar distante.
—O que é isso?
—Corra, — disse ele e retirou a sua espada.
Ela olhou para a porta, em seguida, voltou para ele.
—Lugus?
—Comece a correr Ahryn, — gritou ele. —Marcus chegou. Vá para o
portal agora.
Medo serpenteava através dela, se instalando na boca do estômago.
—Você não pode enfrentá-los sozinho.
Ele pegou-a pelo braço e a virou para ele.
—Ahryn, nós conversamos sobre isso. Você deve chegar ao portal. Corra o
mais rápido possível e nunca olhe para trás.
—Não, — disse ela e puxou sua cabeça para beijá-lo. Lugus se permitiu
perder-se no beijo um momento, antes que se afastasse. Ele viu o medo em seus
místicos olhos azuis e desejou que pudesse apagá-lo, mas não podia. Tudo o que
podia fazer era sacrificar-se para se certificar de que ela fosse para o reino Fae.
O estranho é que, todos esses anos desejou a morte e no entanto, agora
queria viver. Ele passou o dedo pelo seu rosto macio.
—Corra.
—Não posso deixá-lo.
—Se significo alguma coisa para você, vai me dar seu voto que vai correr
para a porta e nunca mais olhará para trás.
Ela hesitou e ele preocupou-se que pudesse tentar dissuadi-lo, mas
finalmente deu-lhe um aceno e se virou para o portal.
—Vou mantê-los afastados, enquanto puder. Não tardará, — ele advertiu
enquanto apertava o cabo da sua espada e viu Marcus e seu exército cavalgar forte e
rápido.
Lugus deu-lhe um pequeno empurrão ladeira abaixo. Ela levantou a saia
com as mãos para permitir que as suas pernas alongarem-se enquanto fazia questão
de mantê-la segura, apesar dela. Quando eles chegaram ao fundo, Lugus se moveu
na frente dela e guiou-a para as pedras.
Chegaram às pedras ao mesmo tempo, do exército de Marcus, veio numa
série de disparo de flechas. Lugus usou sua espada para bater fora as setas
destinadas a ele enquanto esperou para ouvir o som da abertura do portal e Ahryn
atravessando-o.
Mas não havia nada.
—Lugus, — ela gritou.
Havia uma nota histérica na voz dela que alertou que algo estava
terrivelmente errado. Virou-se para encontrá-la de pé entre as pedras, mas nada
havia acontecido. O portal não abria para ela.
Ele ficou incrédulo quando seus olhos seguraram os dela. Não conseguia
entender porque o portal não abrira para ela. Então viu a sua pulseira.
Seu olhar seguiu o dele e ela fechou os olhos e caiu no chão. Lugus correu
até ela para protegê-la com o corpo enquanto mais flechas se espalhavam pelo chão
ao redor deles. Se ela não conseguia passar pelo portal, então ele tinha que levá-la
para a segurança antes de uma das setas encontrasse-a como alvo.
—Ahryn, — enquanto chamava, correu para ela.
Tão logo ele se colocou entre as pedras, algo brilhou ao seu redor e a luz
brilhante do portal abriu-se, o cegando.
Se Lugus estivera confuso antes, não era nada o que sentia agora. Ele não
era mais Fae, ainda assim conseguiu abrir o portal. Não houve tempo para
permanecer indeciso e não quando Ahryn estava em perigo.
—Atravesse-o, — pediu ele enquanto a levantava.
—Obrigada.
Ele enxugou uma lágrima e empurrou-a através do portal. Pegou apenas um
vislumbre de seu reino, seu lar, antes que se voltassse para Marcus e seu exército
que agora os cercava.
Lugus levantou a espada e conheceu um soldado se armando. Usando sua
adaga, Lugus cortou na coxa do soldado enquanto ele arrastava-o de sua montaria.
O soldado freou seu cavalo ao redor recobrando-se novamente e desta vez Lugus
conseguiu puxá-lo de seu cavalo.
Ele vira e cometera assassinatos suficiente nas ultimas cinco vidas Fae, por
isso não era sua intenção matar o soldado de Marcus. Mas então, o homem ficou
de pé e apontou uma adaga para o coração de Lugus, foi por instinto que, por si só
Lugus levantou a espada e matou o soldado antes de sua adaga encontrasse
caminho para Lugus coração.
Lugus empurrou o soldado fora de sua espada e ergueu o olhar para
Marcus.
—Não vou permitir que você viva— gritou Marcus.
—Não importo, agora que Ahryn está segura no reino Fae.
Ao lado de Marcus estava o homem que Lugus vira antes, cabelo longo,
preto azulado e olhos cobre , um draconiano. Lugus teria que matá-lo. De alguma
forma, ele conseguiu manter-se oculto do Fae, que lhe permitia caminhar na Terra
sem serem detectados.
—Você não tem ideia do que fez. — Marcus ergueu a mão e as flechas
começaram a voar em torno de Lugus.
Movimento no morro acima dele chamou a atenção de Lugus e ele avistou
um homem e uma mulher olhando para eles. Devia ter sido o longo cabelo loiro
soprando na brisa que fez Lugus perceber que era Moira e Dartayous observando-
os, uma Moira muito grávida.
Era como se uma pedra tivesse sido empurrada no seu intestino. Uma
flecha zumbiu por sua cabeça deixando um corte profundo no pescoço, mas ele
ignorou a dor. Abaixou-se desviando de outra seta e começou a caminhar em
direção ao Draconiano quando ele, de repente, olhou sobre o ombro de Lugus e
seu rosto empalideceu.
Lugus se virou para ver Ahryn deitada no chão com uma flecha no ombro.
O portal começou a fechar e sabia que não poderia deixá-la morrer. Teria de
encarar Theron.
Ele guardou a espada, saltou através do portal e se ajoelhou ao lado Ahryn.
Assim, quando a porta de entrada fechou, viu o Draconiano desta vez com um
sorriso no rosto.
Lugus já não se preocupava com o Draconiano. Tudo o que importava era
Ahryn e levá-la com segurança para alguém que pudesse remover a seta para que
ela se cure.
* * * *
O nervosismo de Rufina não desapareceu enquanto se aproximava o dia. O
baile magnífico que Theron ordenara, aconteceria nesta noite, mas tudo o que ela
queria fazer, era ficar em seus aposentos.
—Você está deslumbrante, meu amor, — disse Theron enquanto veio por
trás dela e se inclinou para beijar seu pescoço.
Ela olhou para o marido no espelho e sorriu. Nunca o vira tão animado
desde que soube da notícia de seu bebê. Vai ser um excelente pai para seus filhos.
—Eles estão esperando, — disse ele e pegou a mão dela.
Rufina deu um último olhar no espelho. Um elegante vestido de prata
enfeitava seu corpo e seu cabelo fora deixado solto para fluir livremente sobre ela,
exceto por um pequeno objeto que o retinha longe do seu rosto, sua coroa.
Permitiu que Theron a guiasse de seu aposento e seguiu pelo corredor até a
sala do trono onde receberiam presentes de emissários de outros reinos. Era a
primeira vez em quase um milênio que Theron abria o reino Fae para permitir a
entrada de emissários.
A sala do trono estava lotada de pessoas enquanto ela e Theron
caminharam para seus tronos. Olhou para o marido e encontrou seu rosto radiante
de orgulho. Deu-lhe um aperto na mão enquanto levava-a até o trono. Não foi, até
que tomasse seu lugar, que ele sentou-se.
Rufina olhou à sua direita e encontrou Aimery, o comandante Fae e amigo
de confiança, em pé perto de Theron. Ela deu a Aimery um aceno para que lhe
falasse de seus medos, temores de que poderia muito bem ser atribuída à sua
gravidez, mas queria ter certeza que justificava o caso.
Cada emissário foi introduzido enquanto eles caminhavam para os degraus
diante de Rufina e Theron, depois de uma elaborada curvatura, apresentavam os
seus presentes.
A cada apresentação, Rufina encontrou-se relaxando e aproveitando os
presentes maravilhosos e elaborados trazidos de outros reinos. Horas se passaram e
ela estava começando a se cansar, mas uma vez que apenas alguns emissários
faltavam, ela não queria perder nada.
Foi só o Draconiano ser anunciado, que sentiu uma onda de medo passar
por ela. Olhou para o marido, mas ele sorriu e acenou para o emissário à frente.
—Foi um prazer receber o seu convite, Rei Theron — o emissário
Draconiano disse. — É com sinceras felicitações que trago um presente de meu rei,
Constantino. Espero que você e sua família se divirta.
Theron sorriu.
—Tem sido há bastante tempo que um Draconiano andou em nosso reino.
Sejam bem-vindos e esperamos que fiquem conosco alguns dias antes de regressar
ao seu reino.
O Draconiano sorriu e Rufina se acalmou quando seu sorriso pareceu
genuíno e não havia maldade em seu olhar acobreado.
O emissário levantou um pequeno baú dourado e esperou Aimery
apresentá-lo. Theron tocou o peito e olhou para Rufina.
Ela sorriu quando ele abriu o baú. Ambos olharam para dentro, para
encontrar uma esfera redonda que brilhava branco leitoso. De repente brilhou
intensamente e Rufina rapidamente cobriu os olhos. Ela riu e baixou o braço
sabendo como Theron amava truques desse tipo.
Só que ela não encontrou o marido, mas sim um trono vazio e o emissário
sumira.
Capítulo Dezoito
Lugus sabia que, com Ahryn de volta ao reino de Fae, sua magia poderia ser
novamente utilizada. Não sabia se ela tinha energia suficiente para levá-los até a
casa dela agora que estava ferida, mas ele tinha que tentar.
—Ahryn, — ele chamou suavemente enquanto afastava o cabelo do rosto.
—Ahryn, você está machucada e eu preciso saber que você está bem.
Mas não importava o que dissesse ou quantas vezes a chamasse, ela nunca
acordou. Sua ferida sangrava muito e ficou nervoso. Não queria tentar tirar a flecha
de seu ombro por medo de que a machucasse mais do que a ajudasse, mas ele não
tinha escolha.
Tocou no sangue escorrendo de seu pescoço de sua própria ferida e chegou
a rasgar um pedaço de sua saia, em seguida, amarrando-a em volta do pescoço para
ajudar a parar o sangramento.
—Não acorde, — ele murmurou e pegou a seta enfiada no seu ombro esquerdo.
Ele apoiou a outra mão em seu ombro para segurá-la ainda e, após um
profundo suspiro, puxou a flecha. O sangue jorrou enquanto a ferida abria e Lugus
rapidamente rasgou parte de suas saias para ajudar a estancar o fluxo de sangue.
Nunca vira tanto sangue em sua vida e começou a se preocupar que não estivesse
ajudando-a.
Quanto tempo demorou para que o sangue parasse de fluir, ele não tinha
ideia e foi só então que rasgou mais tecido de suas saias para enrolar um curativo
sobre ela e levantou-a nos braços.
Ele virou as costas para o portal e, pela primeira vez em cinco anos, viu seu
reino amado. No entanto, ele não viu este. Tudo o que procurava, era um lugar
aonde poderia levar Ahryn para conseguir ajuda.
Não demorou muito para se lembrar de onde estava e enquanto deixava a
proteção das árvores avistou uma magnífica cascata e a ponte que levava a Dun
Glamyr, uma pequena aldeia. Começou a caminhar em direção à vila orando com
cada passo que Ahryn estivesse bem.
Ao atravessar a ponte de pedra sobre o rio para a aldeia, avistou um Fae
observando-o.
—Ajude-me, — ele gritou.
O homem correu para Lugus e deu uma olhada em Ahryn nos braços dele
e disse:
—Siga-me.
Lugus deu um passo atrás do homem e entrou no alojamento dele. Ele
esperou, sem saber o que fazer.
—Aqui, — o homem chamou e Lugus rapidamente o seguiu até um quarto
no fundo onde colocou Ahryn na cama.
—O que aconteceu? — O homem perguntou enquanto abriu o curativo
para olhar a ferida.
Lugus não queria contar a história toda, por isso disse:
—Ela foi atingida por uma flecha durante a travessia através do portal.
O Fae balançou a cabeça e não olhou para cima novamente, limpou o
ferimento. Lugus afundou em uma cadeira ao lado da cama e manteve seu olhar em
Ahryn, sua crescente preocupação com cada batida do seu coração. Era a primeira
vez em cinco anos que ele gostaria de ter os seus poderes.
Ele sabia que era uma questão de momentos antes que Theron percebesse
que ele estava aqui e viesse buscá-lo. Mas Lugus orou agora. Sairia tão logo
soubesse que estava tudo bem, mas nem um pouco mais cedo.
—Eu sei quem você é, — disse o homem.
Lugus ficou parado e fechou os olhos. Quando ele abriu-os foi para
encontrar o Fae olhando-o, olhos azuis cheios de animosidade.
—Não vou ficar, mas não podia deixá-la morrer.
O Fae deu um breve aceno de aceitação e saiu da sala. Lugus baixou a
cabeça entre as mãos e suspirou. Foi por causa de sua hesitação, depois de observar
Moira, que Ahryn ficara ferida. Se tivesse os olhos sobre Marcus e no exército, tudo
estaria bem.
Em vez disso, ele assistia Ahryn deitada ainda com uma ferida mortal que
devia ter sido sua.
Lugus ouviu o Fae entrar na sala novamente, mas não queria ver o
desprezo nos olhos dele ainda.
—Que tipo de magia é esta?
A cabeça de Lugus ergueu-se e encontrou o Fae olhando para a pulseira
Ahryn.
—Será que ela vai ficar bem?
—O que é isso? — Ele repetiu.
Lugus levantou-se a seus pés.
—Ahryn vai ficar bem?
—Sim, — disse o Fae. —Agora me diga.
Lugus soltou um suspiro que estava segurando e caminhou até a porta da
sala.
—É preciso chamar o comandante Fae, Aimery. Ele saberá o que a pulseira
é e como removê-la, bem como quem é a família de Ahryn.
—Eu sei quem é sua família, — disse o Fae. —Seu avô é Michyl, o Alto
Chanceler.
Lugus piscou. Não admirava que ela não quisesse que ele soubesse quem
ela era. Se soubesse, certamente manteria distância dela, porque, embora ela não
fosse da realeza, era apenas um degrau abaixo.
—Então chame a sua família, mas certifique-se de chamar Aimery primeiro.
Ahryn iria querer a pulseira fora antes que sua família a visse.
Lugus apressadamente deixou a habitação em seguida e não olhou para trás.
Ele desejava que pudesse ter olhado nos místicos olhos azuis de Ahryn mais uma
vez, mas era melhor assim. Seus passos abrandaram ao longo da ponte grande e ele
se viu olhando para as brilhantes águas esverdeadas do rio que corria sob a ponte.
Ele sacudiu-se e continuou até o portal. De qualquer forma, tinha certeza
que iria receber a visita de Aimery querendo saber cada detalhe do que acontecera
com Ahryn, mas Lugus não queria confronto no reino Fae.
Assim quando ele chegou ao portal e se perguntou se abriria para ele
novamente, ele sentiu alguém próximo. Ele sacou a espada e virou para a esquerda,
para ver o Draconiano encostado a uma árvore desfrutando de uma maçã.
—O que você está fazendo aqui? Veio se certificar que Ahryn morreu? —
Lugus exigiu.
O Draconiano jogou fora a maçã e esticou-se.
—Não desejo nenhum dano a Ahryn ou quaisquer outras fadas. Eu vim
para lhe alertar.
—Alertar-me? — Lugus repetiu. —Alertar-me de quê?
—Que algo terrível aconteceu com seu irmão. — Como eu disse à Ahryn...
—Disse à Ahryn? — Lugus disse perplexo. Quando Ahryn tinha falado
com os draconianos, e por que ela não lhe contara?
—Sim, — disse o Draconiano. —Sou Tane e eu vim à sua procura.
Lugus abaixou sua espada enquanto tentava absorver tudo.
—Isso não faz sentido. Já não detenho o poder que já tive.
—Eu sei. E mesmo com todo o poder que você não vê assumir outras
esferas quando poderia facilmente ter feito, mas eu discordo. Falei com Ahryn
sobre a pulseira. Tanto você, quanto ela entendeu tudo errado. A pulseira vai
atrapalhar seus poderes, mesmo neste reino. Apenas um Draconiano pode liberar a
pulseira, uma vez que são as nossas marcas próximas de vocês.
A mente de Lugus rodopiou com a notícia.
—Ahryn ainda está em perigo.
—Sim. Enquanto ela usar aquela pulseira, é completamente mortal. Seu
corpo não será capaz de curar como um Fae faz normalmente.
—Por que ela não me contou?
—Estarei esperando. Chame a mim quando quiser minha ajuda.
Lugus olhou em volta, mas Tane se fora. Ele nunca havia confiado nos
Draconianos e ele tinha dificuldade em fazê-lo agora. Contudo, a vida de Ahryn
pendurava numa balança.
—Partindo tão cedo?
Lugus suspirou ao ouvir a voz sarcástica de Aimery. Ele se virou e
encontrou o comandante Fae em pé atrás dele com as pernas separadas e apoiado
com os braços cruzados sobre o peito.
—Estava.
Aimery deixou cair os braços.
—Preciso de você para responder a algumas perguntas, primeiro.
—Achei que você poderia.
—Como é que Ahryn chegou a usar essa pulseira?
—Primeiro — disse Lugus — Preciso saber se isto foi destruído.
—Seria difícil, considerando que ainda está atado a ela.
Lugus amaldiçoou. Tane não tinha mentido.
—Temos de eliminar a pulseira com toda a pressa para que ela não morra.
Aimery olhou fixamente para ele um momento.
—Por quê?
—No reino humano isto a impediu de quase todo os seus poderes Fae ou
de chamar qualquer Fae. Presumi erradamente que, uma vez que ela voltasse a este
reino, o bracelete mágico deixaria de funcionar. Não aconteceu. Se não retirar a
pulseira, ela poderá morrer.
Aimery amaldiçoou e, em seguida, assentiu.
—Você deve voltar comigo.
—Eu não posso, disse ele. —Tanto quanto eu preciso saber que Ahryn está
bem, não posso ficar.
—Preciso de você para ficar. Estou pedindo para você ficar.
Foi então que Lugus notou as linhas de preocupação ao redor dos olhos de
Aimery.
—O que aconteceu?
—Vou dizer-lhe depois de vermos a Ahryn.
Lugus acertou o passo com Aimery enquanto sua mente aceitou as
possibilidades. Para Aimery estar tão preocupado, devia ter algo a ver com Theron
ou Rufina.
Não demorou muito para ele, mais uma vez, ficar olhando Ahryn. Ela
parecia mais pálida, mais sem vida. Ele observou Aimery examinar a pulseira
escrava.
Ao olhar indagador de Aimery, Lugus sabia que era hora de uma
explicação.
—Foi enganada quando colocaram isto. Um homem queria prendê-la em
seu reino e casar com ela. Tentei tirá-lo dela.
—Que marcas são essas? — Aimery perguntou.
Lugus sabia que ele não tinha outra escolha, apenas lhe dizer.
—Draconianas.
A cabeça de Aimery moveu-se rápida.
—Como você sabe disso?
—Foi-me dito.
—Por quem? Um Draconiano? Você quis aliar-se com eles? Não foi
suficiente você quase destruir tudo em sua busca pelo poder?
A raiva de Lugus subiu a superfície.
—Não foi uma busca de poder, mas uma vingança por ter sido acusado
injustamente, — ele cuspiu. —E eu não me aliei com um Draconiano. O que isso
tem a ver com alguma coisa?
—Tem tudo a ver com isso, — disse uma voz atrás deles.
Lugus virou-se para encontrar Tane ao pé da cama. O rosto do Draconiano
estava pensativo enquanto ele olhava Ahryn.
—Por que é que a pulseira ainda está nela, Lugus?
—Você se aliou a eles, — gritou Aimery e desembainhou a espada.
—Ponha a sua espada distante, — disse Tane. —Não sou parte do que
aconteceu.
Lugus olhou de Tane para Aimery.
—O que aconteceu?
Os olhos acobreados de Tane se viraram para ele.
—A rainha está carregando o herdeiro do reino e para celebrar, o Rei
Theron organizou um baile elegante em que emissários de outros reinos
apresentaram presentes para eles.
—E um Draconiano nos traiu e mandou a alma de Theron em um reino
que ninguém pode entrar, Aimery terminou.
Lugus passou a mão pelo rosto.
—Theron? Sumiu?
—Eu não tomei parte disso, — Tane repetiu para Aimery. — Eu vi o que
estava para acontecer e sabia que Lugus devia retornar aqui, senão você perderia o
seu rei para sempre.
—Como está Rufina? — Lugus perguntou, sabendo que sua cunhada
provavelmente estava devastada. Theron era seu companheiro de verdade. Eles
estariam ligados para sempre ao longo do tempo.
—O que Lugus tem a ver com isto? — Aimery perguntou.
Tane respirou fundo.
—Guarda a sua espada, comandante Fae. Vou liberar a pulseira do braço
Ahryn, então nós podemos falar disso.
Aimery lentamente abaixou sua espada, então a embainhou. Ele observou
atentamente Tane, enquanto o Draconiano moveu-se para o lado da cama.
—Lugus, — disse Tane. —Leia suas palavras, então lerei as minhas.
—Por que Lugus? — Aimery perguntou.
Mas Lugus sabia. Ele estava ligado de alguma forma a Ahryn e eles
precisavam de toda a magia e o poder que eles poderiam reunir para liberar o
bracelete.
Lugus se inclinou e colocou a mão dela na dele. Sua respiração estava
superficial e sua pele fria ao toque. Lambeu os lábios e passou a mão sobre o anel
em seu dedo.
—Pela magia antiga na qual você tem sido bloqueada, ele começou a ler -
Pelo amor, você será libertada.
Lugus sentiu um raio lançar-se através das palavras que ele falou. Amor?
Ele não gostava de Ahryn. Ele ainda amava Moira. Ou amara?
—Termine, — Tane alentou.
—Ouve a minha voz porque eu ordeno aos antigos para livrá-los da prisão
e por sua vez livrar os que têm aprisionados.
Tane balançou a cabeça e se inclinou para Ahryn. — Ouçam as vozes que
ordenam a vocês. Fae e Draconiano Unidos. Nós exigimos que os antigos retirem a
sua magia.
Capítulo Dezenove
Imediatamente a pulseira foi desbloqueada e Lugus rapidamente a retirou e
o anel preso da mão de Ahryn. A cor lentamente voltou ao seu rosto e sua pele
começou a se aquecer sob sua mão.
—Obrigado, — disse ele enquanto olhava Tane.
—É tempo de falarmos, — disse Aimery.
Lugus assentiu e relutantemente soltou a mão de Ahryn para seguir Aimery
e Tane para fora da habitação. De repente, ele encontrou-se muito cansado e
precisando dormir por pelo menos um ano. O medo que mantivera preso no seu
coração, num aperto de morte fora liberado.
—Quem foi o emissário Draconiano? — Aimery perguntou laconicamente
a Tane.
—Daveth. O presente não veio do rei Constantino, no entanto. Ele veio de
alguém que está tentando tomar o trono.
Aimery suspirou profundamente.
—O que exatamente foi o presente dado pelo emissário?
Quando Tane olhou para ele, Lugus sabia que o que ele estava prestes a
dizer não era bom.
—Isto sugou o seu irmão em um vazio completo. Um lugar que ninguém
pode chegar, disse Tane infeliz.
Lugus não acreditou nisto por um momento. Depois de tudo, ele tinha
encontrado o caminho para fora do Reino das Sombras, um lugar que ninguém
mais conseguira sair.
—Tem que haver um jeito.
Tane se virou para ele, seus olhos acobreados sérios.
—Há.
—Espere, — Aimery disse, mostrando a sua agitação. —Você disse que
ninguém pode chegar a esse vazio.
Tane, com o olhar ainda segurando o de Lugus , disse,
— Se a Rainha Rufina tentar encontrar seu marido, não só ela vai perder o
bebê que cresce em seu ventre, mas também ela e o rei vão morrer.
Lugus tragou, pois temia as próximas palavras de Tane.
—Não diga isso, — disse ele, antes que Tane pudesse falar.
—Você não sabe o que estou prestes a dizer.
—Eu sei e eu preferiria que você não o fizesse.
—Em nome de tudo o que é mágico, do que vocês dois estão falando? —
Aimery perguntou. —Tenho uma rainha perturbada, um exército pronto para
atacar Draconia e um príncipe banido para lidar com eles. Não tenho tempo para
enigmas.
—O príncipe banido está partindo, então haverá uma preocupação a menos
para você, — Lugus disse e girou sobre os calcanhares.
—Sem ver Ahryn? —Tane disse suavemente.
Lugus parou no caminho. Ele se sentia responsável por Ahryn, mas na
verdade, seus sentimentos eram mais profundos. Como poderia dizer a Tane e
Aimery a verdade? Não era que ele não quisesse salvar seu irmão, porque apesar do
que havia acontecido entre eles, não tinha qualquer animosidade para Theron.
A verdade é que ele estava petrificado.
Lugus olhou através da porta da habitação e o aposento de Ahryn e viu o
movimento na cama. Ele girou e entrou no aposento de Ahryn para vê-la lutando
para se sentar.
—Segure, — disse ele e correu para seu lado. —Deixe-me ajudá-la.
Ele mudou os travesseiros atrás dela e ficou aliviado ao ver o brilho
luminoso de Fae, mais uma vez retornando para a sua pele.
Ela ergueu o braço direito e olhou em silêncio por um momento.
—Tane manteve sua barganha?
Lugus assentiu.
—Por que você não me disse que falou com ele?
—Sabia que você não queria ouvir nada do que ele tinha a dizer. Além
disso, eu concordei com ele. Você precisava voltar aqui. É onde você pertence.
Lugus abaixou os olhos e respirou fundo.
—Sei que você gostaria de pensar que sim, mas assim que eu sair, vai saber
exatamente o que fiz para ser banido. Uma vez que saiba a verdade, não me achará
tão digno.
—Como você sabe como eu vou pensar? — Ela perguntou com um
sorriso. —Você me trouxe com segurança para o portal justamente como você
prometeu. Independentemente de seus erros passados, você é um bom homem.
Suas palavras afetaram-no mais do que gostou e foi por causa delas que ele
sabia que tinha que ficar o mais longe possível dela. Se ela estava associada com ele
de qualquer forma... Bem, ela poderia muito bem ser banida pelo modo como o
restante dos Fae iriam tratá-la.
—Ahryn, — começou, mas ela colocou os dedos nos lábios.
—Eu sei o que você dirá e eu prefiro que não faça.
Ele balançou a cabeça e levantou seu olhar para ela.
—Aimery está aqui.
Ela mordeu o lábio.
—Você sabe quem eu sou.
Isto não era uma pergunta.
—Eu sei. Aimery vai reunir você com sua família quando estiver totalmente
curada.
—Você irá embora.
Odiava a decepção nos olhos dela, mas ele tinha que fazê-la entender.
—Não pertenço aqui. Foi por causa de mim que você foi atingida com a
seta.
O estômago de Ahryn revolveu-se enquanto lembrava-se da bela mulher
com cabelos loiros, contemplando do alto, o portal.
—Era Moira no portal, não era?
Ele concordou e foi toda a resposta de que precisava.
—Você não precisa se desculpar. Não deveria ter ficado na porta
assistindo. Obrigada por me trazer aqui e por me salvar.
Seus olhos azuis estavam tristes quando olhou para ela.
—Você será bem-vinda, — disse ele e depois saiu calmamente do
aposento.
Ahryn enterrou a cabeça entre as mãos quando as lágrimas vieram,
ignorando a dor pulsando em seu ombro ferido. Lugus estava saindo de sua vida e
não havia nada que pudesse fazer sobre isso.
* * * *
Aimery assistiu a troca entre Ahryn e Lugus e viu-se curioso. Era óbvio
para qualquer um que olhasse para Ahryn, que ela tinha sentimentos profundos por
Lugus e, apesar de Lugus tentar esconder ou negar seus sentimentos, ele também
sentia algo por Ahryn.
—Eles formam um casal marcante, não é? — Tane perguntou quando veio
ficar ao lado dele.
—Eles fazem.
—Lugus arriscou tudo para levá-la para o portal. Marcus queimou sua casa
quando eles conseguiram escapar.
—Isso não muda o que ele fez no passado, — disse Aimery firmemente.
Tane balançou a cabeça.
—Não, não muda, mas isto devia mostrar que um homem está arrependido
e quer apenas fazer a reparação de qualquer maneira que possa.
—Você se aproximou de Ahryn sem conhecimento de Lugus, — Aimery
disse, mudando de assunto. —Por quê?
—Para ter certeza que ela o traria a este reino de qualquer maneira que
pudesse.
—Por quê?
Tane suspirou e se virou para olhar para a cachoeira.
—Tenho um dom... Um... Em que posso ver o futuro.
—Como eu posso. Não há nada especial nisso.
Tane sorriu e voltou para Aimery.
—Há uma diferença. Você vê de uma forma o futuro e não vê nenhuma
das mudanças até que alguém se desvia do que você inicialmente viu.
—E você?
—Vejo cada segmento do que pode acontecer.
Aimery encostou-se à habitação e viu quando Lugus novamente caminhou
até a porta de entrada.
—Você trouxe um monte de problemas ao fazer Lugus retornar.
—E você poderia estar agora em grande dificuldade em mantê-lo aqui.
—O que tem ele a ver com alguma coisa?
Tane ficou em silêncio por um momento, como se tivesse contemplado o
que seria sua resposta.
—Eu não posso compartilhar isso com você agora. Lugus deve entrar em
acordo com seus próprios demônios.
—Eu não gosto de não saber, — Aimery disse, sua voz grave e
ameaçadora.
—A maioria das pessoas não gosta, — respondeu Tane facilmente. —Você
irá atrás de Lugus?
Aimery revirou os olhos e desapareceu.
* * * *
Lugus não podia andar rápido o suficiente. Esta era a segunda vez que já
havia tentado afastar-se de Ahryn... Ou melhor, do reino Fae. Estava partindo do
reino Fae, ele repetiu para si mesmo.
Ahryn não era mais sua preocupação. Aimery iria certamente devolvê-la
para seus pais e com a ajuda de Tane, iria encontrar a alma de Theron.
Os pés de Lugus diminuíram. Ele não se permitiu olhar em torno do reino.
Voltar aqui fazia a partida ainda mais difícil. Além disso, ele perdera o direito de
estar entre a magia que fluía tão livremente.
Ser indigno era tudo que Lugus tinha sido e era tudo que ele seria.
Pensou em Moira e em vez da habitual saudade e a dor que o enchia, havia
uma tristeza pelo que fizera para ela e Dartayous. Vendo-a pesada com a gravidez,
o fez entender que ela nunca fora sua e nunca seria.
De certa forma, ele desejava ter ficado no Reino das Sombras. Pelo menos
era ali que pertencia. Não importando o quanto fizesse, nunca iria reparar a
destruição e a morte que havia causado.
Uma mudança no ar o alertou que não estava mais sozinho quando ele se
virou e viu Aimery atrás dele, ele não estava surpreso.
—Seguindo-me para certificar que estou saindo? — Lugus não pode deixar
de perguntar.
—Não. Na verdade, venho pedir que fique.
Lugus fechou os olhos e suspirou. Quando os abriu, foi para encontrar
Aimery olhando-o pensativo.
—Você sabe o que fiz, Aimery. Sabe melhor do que a maioria, que Theron
estava certo em me banir. Na verdade, Rufina deveria ter permitido que eu
morresse.
—Mas ela não fez, — disse Aimery.
Lugus começou a andar novamente.
—Proteja as suas palavras. Não vou ficar porque você não precisa de mim.
—Eu não acho, mas Tane pensa que precisa e Ahryn definitivamente quer
que você fique. Apesar do que eu possa desejar, você tem sangue real em suas
veias.
Bastou mencionar o nome de Ahryn para fazer com que Lugus começasse
a duvidar da planejada partida.
—Ahryn não percebe quem sou. Tão logo saiba, seu pensamento vai
mudar. Sei que mereço muito, mas preferiria não estar por perto quando ela
descobrir a verdade.
—Você não se dá crédito suficiente, — disse Aimery enquanto falava com
Lugus.
Lugus parou e virou-se para o comandante Fae.
—Pare de usar Ahryn, porque isso não tem nada a ver com ela. Tane acha
que ele precisa de mim, mas não precisa. É preciso encontrar Theron e, se um Fae
e um Draconiano unirem os poderes, serão capazes de encontrá-lo sozinho. Que
bem eu faria sem poderes.
—Você abriu o portal, algo que você não deveria ter sido capaz de fazer.
Lugus assinou mais alto desta vez.
—Eu sei, mas você não precisa se preocupar. Não vou me aventurar a
entrar no reino novamente.
Havia algo no olhar de Aimery que Lugus parou de falar. Talvez tenha sido
a preocupação ou o medo subjacente, mas ele sabia que Aimery estava mais
preocupado do que deixava transparecer.
—Peço-lhe para ficar. Se você não fizer isso por seu irmão, peço-vos que
faça pela amizade que costumava existir entre nós.
Lugus se virou e olhou para o portal.
—Compreendo que minha vontade de sair não tem nada a ver com
Theron. Ele é meu irmão e independentemente de como ele se sente, é minha única
família. Quero sair porque eu... Receio que minha presença vá piorar as coisas.
Como Lugus esperava, Aimery caminhou até que ficou na frente dele.
—Não estou totalmente convencido de que você é o homem que Tane
proclama que é, mas porque meu rei necessita e minha rainha não pode ajudá-lo,
peço-lhe.
Lugus sabia que não tinha escolha. Tane tinha convencido Aimery de que
ele precisava de Lugus, quando na verdade Lugus sabia que Tane poderia, mais
provavelmente, encontrar Theron.
—Então irei ficar.
Em um piscar de olhos, Aimery foi embora. Lugus não queria voltar para a
habitação e ver os místicos olhos azuis de Ahryn cheios de dúvidas, assim começou
a caminhar em direção a Caer Rhoemyr para ver sua cunhada e enfrentar o medo
que ele pensara que havia enterrado dentro dele.
Capítulo Vinte
Ahryn, apressadamente, enxugou os olhos quando Tane entrou no
aposento.
—Obrigada por liberar o bracelete.
Ele sorriu e acenou com a cabeça.
—Como você está se sentindo?
—Muito melhor. Deverei estar curada em poucas horas e Aimery me
devolverá para a minha família.
Novamente Tane balançou a cabeça pensativo.
—O que espera por você lá?
—Intermináveis perguntas. Prefiro a companhia do meu avô. Pelo menos
eu sei que lhe direi a verdade.
—Sobre Lugus?
Ela piscou e acenou com a cabeça.
—Você lê pensamentos também?
Tane sorriu.
—Não exatamente. Como acontece com qualquer ser poderoso, você
bloqueia qualquer um que tenta ler os seus pensamentos, eu só vejo coisas que
outros não fazem.
—Só quero saber do que Lugus está se escondendo.
—Por quê? — Tane perguntou. —Isto é por que você acha que não é tão
ruim quanto ele pensa que é ou por que você tem medo que seja pior do que você
pensa?
Ahryn odiava que ele conhecesse seus sentimentos.
— Só ouvi sussurros dos rumores. Todos temem por nossas vidas, quando
são capturados e mantidos prisioneiros. Não foi até que de repente estávamos
libertos, que veio a destruição em todo o reino Fae e começaram os rumores.
—Quais eram os rumores? —Tane perguntou.
—Que alguém tinha tentado assumir o reino e liberou os Dragões Mortais.
—Os Dragões Mortais são uma coisa perigosa para se brincar, — Tane
murmurou.
—Alguém se aproveitou dos Dragões Mortais e libertou-nos. Só então
ficamos sabendo do banimento de Lugus.
Tane deu uma pancadinha no queixo dele enquanto andava na frente de sua
cama.
—Como você acha que Lugus estava envolvido?
—Acho que ele deve ter ajudado a pessoa responsável por liberar os
Dragões Mortais.
—Por que você acha isso?
Ela lambeu os lábios e olhou para fora das janelas.
—Ele passou incontáveis anos no Reino das Sombras. Ninguém mesmo
sabia que conseguira sair. Alguns dizem que era poderoso o suficiente para escapar,
eu acho Theron finalmente percebeu que fora punido por tempo suficiente e o
soltou. Após o banimento ficamos sabendo que ele não tinha, de fato, matado seu
pai e que ele fora acusado injustamente, o que explicaria porque ele ajudou a pessoa
a livrar os Dragões Mortais.
—Uma teoria plausível, — Tane disse suavemente. —Então, você não acha
que ele teve um grande papel na quase destruição de seu reino?
—Não, — disse ela energicamente. —Ele é um homem bom, um homem
que merece ser respeitado como um príncipe do nosso reino.
Tane de repente sorriu ante as palavras dela.
—É preciso cuidado com ele em muita coisa.
—Ele me salvou. Sua casa foi queimada e ele nunca poderá retornar à sua
ilha por minha causa. Ele perdeu outra casa e gostaria de corrigir o que está errado.
—Você fará muito bem— disse ele antes de se virar e ir embora.
—Bem para quem? — Ahryn exclamou depois dele, mas ela sabia que não
iria responder.
Quanto mais tempo ela passava com Tane, mais soube de suas diferenças e
semelhanças. Embora tanto Fae e Draconianos eram dotados de igual poder, havia
alguns de sua raça, como Tane, que tinha um dom excepcional.
Tane estava planejando algo e Ahryn desejava estar a par disto. Ela ficaria
feliz em ajudá-lo se isso significasse que o banimento de Lugus seria anulado.
Ela tomou a decisão de que primeiro iria até o seu avô desde que tinha uma
suspeita de que Tane, Lugus e Aimery estavam indo para Caer Rhoemyr.
* * * *
Aimery encontrou Tane deixando o aposento de Ahryn.
—Tenho convicção que Lugus ficará. Precisamos nos apressar para o
palácio. Quero que Rainha Rufina ouça suas palavras.
—Onde está Lugus?
—Ele já começou a caminhar. Quero entregar Ahryn à sua família em
primeiro lugar. Alcance Lugus. Levará você a Caer Rhoemyr.
Tane assentiu com a cabeça e desapareceu. Depois que ele foi embora,
Aimery virou-se para entrar no aposento de Ahryn e encontrou-a em pé ao lado da
cama.
—Você está pronta para ver seus pais novamente?
—Ainda não.
Ele ficou surpreso ao ouvir suas palavras.
—Por que não?
—Tenho a necessidade de ver meu avô em primeiro lugar.
—Ele está em Rhoemyr Caer.
—Exatamente, — ela disse e inclinou a cabeça para o lado.
Aimery silenciosamente amaldiçoou.
—Será que Tane disse para onde estamos indo?
—Tane não me disse nada.
—Você realmente precisa ver seus pais, — Aimery argumentou.
Ahryn abanou a cabeça.
—Meus poderes voltaram. Irei até meu avô de uma maneira ou de outra. Já
mandei dizer aos meus pais que eu estou, mais uma vez no reino Fae.
—Você tem a teimosia de seu avô.
—É por isso que eu o amo tanto, — Ahryn respondeu com um sorriso.
* * * *
Lugus localizou Tane encostado numa árvore cerca de vinte passos à frente
dele.
—Suponho que Aimery lhe enviou.
Tane balançou a cabeça e acertou o passo com ele.
—Aimery está tentando levar Ahryn até seus pais.
—O que quer dizer com tentando? — Lugus perguntou e parou. —Há algo
de errado com ela? Será que sua lesão não se curou corretamente?
—Ela está bem, — Tane respondeu com um sorriso. —Você está ferido.
Lugus tocou o tecido em torno de sua garganta.
—Não é nada.
—Deixe-me ver, — disse Tane, antes que ele esticasse o braço e
desamarrasse a fita. —A seta mal lhe acertou.
Lugus encolheu os ombros.
—Isso vai curar com o tempo. — Antes que ele pudesse se afastar, Tane
colocou a mão na ferida e fechou os olhos. Lugus sentiu a magia fluir através dele e
ficou atordoado.
Quando Tane se afastou, Lugus estendeu a mão e sentiu a pele curada. Ele
jogou de lado o tecido sujo.
—Obrigado. Agora, o que você estava dizendo sobre Ahryn?
—Você se preocupa muito por uma pessoa que proclamou o pensamento
de ser uma responsabilidade.
Lugus voltou-se para o caminho e começou a andar.
—Diga-me porque Aimery está tendo dificuldade com Ahryn.
—Ela deseja ver o avô.
Lugus franziu o cenho e tentou ignorar o sentimento de desespero que se
instalou em torno dele.
—Você não tem a resposta?
Lugus sacudiu a cabeça, incapaz de encontrar sua voz. Ele sabia por que
Ahryn queria ver seu avô, queria a verdade sobre ele. Lugus agora se arrependeu de
não ter lhe dito quando tivera chance.
Agora ela ouviria todos os detalhes feios e o conheceria como o monstro
que realmente era. De certa forma, seria melhor que ela finalmente ouvisse a
verdade. Em seguida, teria que ficar longe dela. Desse modo, estava achando difícil
manter distância dela.
Sua vara ainda pulsava com a necessidade de enterrar-se dentro dela. A
satisfação deles apenas deixara sedento seu apetite por ela e ele temia que nunca iria
conseguir o suficiente.
Ele parou no caminho.
—Estou destinado a andar sozinho nos reinos, um monstro que todo
mundo repudia, — ele disse suavemente.
—Nunca se sabe realmente o que o futuro nos reserva, — disse Tane.
Lugus olhou para ele e viu algo nos olhos acobreados de Tane.
—Mas você pode ver o meu futuro?
—Vejo muitos caminhos diferentes que você pode tomar. Por qual deles
você viajará, é a sua própria escolha.
—Por que tantos problemas para me trazer de volta aqui, se você não vai
me dizer o que eu preciso fazer?
Tane sorriu tristemente.
—Não é tão fácil, Lugus. Vi o que estava para acontecer com seu irmão e o
que foi feito. Também vi o que seria de seu reino, se o rei Theron não for
devolvido.
—E isso por si só, fez vir a um reino aonde Draconianos não eram
acolhidos em milênios?
—Não. Eu vim porque tinha que fazer. Como você, não tenho escolha.
Foi quando Lugus entendeu.
—Alguém lhe enviou?
—Algo parecido com isso, — disse Tane e desviou o olhar.
—Não vou investigar os seus segredos, — Lugus disse, —Pois todos nós
temos.
Mal as palavras saíram da boca Lugus, Aimery apareceu diante deles.
—A rainha quer falar com vocês dois.
Lugus respirou profundamente e esperou Aimery transportá-los para o
palácio. Ele estava com medo de ver o palácio e a cidade ainda destruídos. Quando
eles chegaram na sala do trono do palácio, Lugus apressadamente caminhou para a
varanda e olhou para sua cidade preciosa.
Todos os vestígios de destruição foram embora. Era como se os Dragões
Mortais nunca tivessem vindo para a cidade.
—Você sempre gostou de olhar a cidade.
Lugus estremeceu ao ouvir a voz de Rufina ao lado dele. Ele moveu a
cabeça e encontrou o normalmente sorridente no rosto cheio de desespero.
—Sinto muito Rufina, — disse ele.
Para sua surpresa, uma única lágrima escorreu pelo seu rosto.
—Estou tentando ser forte, — disse ela, sua voz suave como se estivesse
com medo que alguém pudesse ouvir. —Mas estou falhando miseravelmente.
Lugus se virou para ela quando olhou para ele.
—Vou ser forte por você.
Em suas palavras o rosto dela ruiu e ele a puxou em seus braços enquanto
ela chorava. Apertou sua mandíbula e sabia que ficaria feliz em dar a sua vida para
encontrar Theron.
Ele não sabia quanto tempo ele e Rufina estavam juntos enquanto ela
chorava e ele ofereceu-lhe a sua força. Quando as lágrimas começaram a secar, ela
se afastou e olhou nos olhos dele.
—Estou contente que você esteja aqui. Sinto como se estivesse perdendo
minha razão.
Lugus pegou a mão dela e colocou-a na curva de seu braço, ele a levou de
volta para a sala do trono, onde Tane e Aimery esperavam. Enquanto ele se
aproximava, viu Michyl, Alto Chanceler de Theron e Ahryn ao lado dele.
Ele parou e olhou para ela. Quando ela lhe deu um sorriso hesitante,
devolveu-lhe com um aceno e continuou com Rufina até trono.
Rufina inclinou-se,
—Vejo como vocês dois se entreolharam. Estou ansiosa para ouvir a
história.
—Não há nada a dizer, porque não pode haver nada entre nós.
A testa de Rufina enrugou-se.
—Lugus, não tem vivido no castigo o suficiente?
Ele quase riu de suas palavras.
—A primeira vez que fui punido foi imerecidamente. Desta vez, porém,
mereço isso e muito mais.
—Qualquer um iria querer vingança.
—Não Theron, — respondeu Lugus e, com o silêncio de Rufina, ele sabia
que ela diria que não mais.
Ela suspirou baixinho.
—Eu ainda gostaria de ouvir a história, nem que seja para tirar o meu
pensamento de Theron por pouco tempo. Sinto-me tão impotente.
Lugus sentou-a e moveu poucos passos.
—Talvez um dia.
—Hoje de noite, — disse ela.
Ele sabia que era melhor não discutir com ela aqui. Hoje à noite iria
explicar porque não queria falar de Ahryn ou de seu tempo juntos.
Lugus virou-se e caminhou até ficar ao lado de Tane. Independentemente
de que Tane fosse um Draconiano, ele tinha arriscado tudo e salvara Ahryn e Lugus
confiaria nele a sua vida.
Rufina levantou a mão e Tane caminhou em sua direção. Ajoelhou-se sobre
os passos abaixo dela e colocou sua mão direita sobre o coração.
—Sua majestade, — ele disse suavemente e abaixou a cabeça.
—Levante e me diga o que você sabe, — Rufina exigiu.
Tane, em seguida levantou-se e endireitou os ombros.
—Como disse ao comandante, que não foi nosso rei que enviou o presente.
—Quem fez? — Rufina perguntou.
—Daveth. Ele é um Draconiano poderoso que está tentando usurpar a
coroa.
Rufina cruzou as mãos no colo.
—Como eu saberei que você está falando a verdade?
—Posso me aproximar? —Tane perguntou.
Lugus assistiu Aimery aproximar-se de Rufina.
Tane jogou para trás seu manto negro sobre os ombros revelando o tecido
dourado intrincado que se alinhavam no interior. Ele segurou os braços e as palmas
para cima enquanto se movia em direção a Rufina. Uma vez que ele estava em
frente a ela, virou a palma para baixo.
Lugus viu como Rufina inclinou-se e olhou para a mão de Tane. Ela
assentiu, e ele se afastou. Lugus sabia que a única razão para Tane mostrar para
Rufina suas mãos era se tinha as tatuagens da verdade nelas. As tatuagens da
Verdade foram implementadas vários milênios atrás e isto influenciava bastante,
não só os embaixadores, mas também os reinos.
—Então, você fala a verdade e é Daveth que está tentando tomar a coroa
do seu rei. O que isso tem a ver conosco?
—Theron é um rei muito poderoso. Apesar dos Draconianos e os Fae não
se misturarem, Daveth sabia que, se Theron alguma vez descobrisse sua traição,
Theron certamente iria detê-lo.
Rufina assentiu com tristeza.
—Você está correto. Meu marido teria feito exatamente isso, porém, não
acho que você esteja me contando tudo.
—Não estou, — Tane respondeu honestamente. — Sou o que meu povo
chama de adivinho, capaz de ver não apenas o futuro, mas para ver todos os
caminhos diferentes que uma pessoa pode tomar.
—Então, você viu algum caminho meu marido poderia tomar e veio para
salvá-lo?
Tane olhou para os pés, antes que ele sacudisse a cabeça.
—Não. Eu vim por causa de Lugus.
Lugus encontrou o olhar de Rufina e sabia que ela temia que ele pudesse
tentar assumir o trono enquanto Theron estivesse desaparecido. Ele precisava
colocar-se a sua frente, quando eles conversavam. Havia muitas pessoas,
nomeadamente Ahryn, na sala que não precisava ouvir tudo.
—Pensei que você tivesse vindo para salvar o meu marido, — disse Rufina,
sua voz baixa e firme, como se estivesse prestes a perder o único segmento que a
segurava.
—Rei Theron desempenha um grande papel nisso, Rainha Rufina. Uma vez
que os detalhes sejam resolvidos, podemos tentar encontrá-lo.
—Não, — disse Rufina enquanto ela levantava. —Você vai encontrá-lo
agora. Ele está em algum lugar lá fora, o sofrimento. Não vou sentar aqui e esperar
para que você faça alguma coisa. Vou atrás dele.
Lugus viu balançar e começou a andar para ela. Passou por Ahryn e sentiu
seus olhos sobre ele, mas estava muito preocupado com a mulher de seu irmão
para adicionar Ahryn num olhar.
A voz de Tane levantou-se e encheram a sala do trono.
—Se fizer isso, selará o destino dele, o seu e do bebê de Theron para a
morte. Ele foi enviado para o Reino das Sombras.
Lugus pegou Rufina quando ela desmaiava. Ela apertou sua cabeça no
ombro dele enquanto seu corpo tremia.
—Eu o perdi, — ela disse suavemente.
Lugus a ergueu em seus braços e encontrou os olhos dela.
—Não. Irei atrás dele.
Lágrimas encheram os olhos dela e ela colocou os braços em volta do seu
pescoço, quando ia para seu quarto.
Capítulo Vinte e Um
Ahryn sabia que não devia ter ciúmes de sua rainha, mas quando Lugus a
carregou, Ahryn sentiu uma pontada de emoção queimante e verdadeira
percorrendo-a.
Esperava que Lugus ficasse feliz em vê-la, mas quando ele olhou para ela,
pensou ter visto... Resignação em suas profundezas azuis. Ela não tivera tempo de
perguntar ao seu avô sobre Lugus e agora temia que nunca houvesse tempo.
—Siga Lugus, — disse o avô. —A Rainha Rufina vai precisar de você.
Ahryn levantou a saia branca e correu atrás de Lugus. Fora um sentimento
maravilhoso tirar as roupas terríveis dos seres humanos e vestir-se de Fae.
Seus sapatos de sola macia não soaram quando ela esticou as pernas dela e
alcançou Lugus. Rufina ainda tinha os braços fechados ao redor de seu pescoço e
seu rosto colado em seu ombro. Ahryn só podia imaginar a dor e o sofrimento que
a rainha sentia com o marido atraiçoado e preso em um lugar que não podia
alcançá-lo.
Ela correu à frente de Lugus e abriu a porta de Rufina. Seus olhos se
encontraram enquanto passava, mas eles não falaram. Quando ele colocou Rufina
na enorme cama, os olhos dela estavam fechados. Lugus recuou e puxou o pano
prateado ao redor da cama fechando-o. Ahryn fez o mesmo no lado oposto e
esperou por Lugus.
Ele andou até ela e gentilmente tocou seu rosto.
—Como está seu ombro?
—Não sinto nada, parece que nunca tive uma lesão, — ela disse e sorriu.
Ele não retornou o sorriso.
—Pensei que Aimery a levaria para sua família?
—Ele fez.
—Não estava falando do seu avô. Embora saiba o quão valioso é Michyl
para Rufina e Theron, tenho certeza que seus pais gostariam de falar com você.
—Mandei aos meus pais uma mensagem. — Viu como sua mandíbula
apertou-se.
—Você precisa ficar longe de mim, — ele sussurrou, sua expressão
dolorida, como se quisesse ficar longe dela.
—Eu sei, mas não posso.
—Você veio para descobrir a verdade, — ele quase gritou.
Ahryn cobriu a boca dele com os dedos para silenciá-lo. Ele soltou um
gemido baixo e fechou os olhos. Quando ele os abriu, ardiam de desejo.
—Pode tentar esconder isto, mas eu sei que você sente.
—Você não sabe nada, — disse ele pouco antes dele a puxar para seus
braços e a beijar.
Ahryn enroscou os dedos em seus longos cabelos loiros enquanto sua
língua saqueava a sua boca. Umidade aglomerou entre as pernas dela e ela começou
a pulsar de desejo, um desejo que só ele pode saciar.
—Não, — ele disse e arrancou a boca da sua. —Ahryn, você não pertence
aqui. Este lugar é perigoso e eu quero você tão longe quanto possa. Vá para casa,
— disse pouco antes de se virar e saiu do aposento. Ahryn respirou fundo e tocou
seus lábios. Apesar de suas palavras, ele ainda a desejava, isto era evidente pelo seu
beijo voraz e a vara grossa que pressionara contra seu estômago. Agitou-se e saiu
rapidamente para se certificar de que havia comida e bebida para Rufina quando
acordasse.
* * * *
Rufina olhou para o teto e pensou sobre tudo o que havia testemunhado.
Ela nunca vira Lugus tão protetor, mas o que mais intrigava era a sua óbvia
necessidade de se livrar de Ahryn. Será que ele achava que não era digno de amor?
Ela não podia esperar para falar com ele e saber exatamente o que havia
acontecido entre ele e Ahryn, porque os sentimentos que Ahryn sentia eram
profundos - muito profundo.
Para sua surpresa, ouviu a porta abrir. Levantou a cabeça e viu Lugus
adentrar.
—Pensei que você havia saido.
Ele deu de ombros.
—Sabia que você queria falar comigo. É melhor fazer isso agora, então
poderá descansar logo.
Ela olhou para o cunhado e viu aparecer o abatimento em seus olhos.
Como desejava que ele não tivesse perdido sua imortalidade, ele merecia estar no
reino Fae.
—Fale-me, — ela disse e se sentou.
Ele caminhou até a cama e afastou as cortinas para sentar na borda.
—Primeiro, quero que saiba que eu não retornei para assumir como
governador. O papel do rei pertence a Theron agora.
—Mas é um direito seu.
—Talvez, mas você sabe tão bem quanto eu que, independentemente de
quem sou, o Fae nunca me aceitaria como rei. Agora não.
Ela colocou a mão em cima da dele. —Sinto muito, Lugus.
—Isso não importa.
Mas ela sabia que lhe importava.
—Se você não veio assumir, então por que veio? Quase não sobreviveu ao
Reino das Sombras pela primeira vez.
—Tenho que fazer. Ele é meu irmão, — ele disse suavemente, seus olhos
azuis intensos, enquanto olhava para ela.
—Não posso perder ambos.
Ele segurou a mão dela na sua.
—Você não vai perder Theron. Isso eu prometo a você.
Ela suspirou e fechou os olhos por um instante. Quando os abriu, deu-lhe
um sorriso.
—Você sempre foi um homem bom. Agora, me fale sobre Ahryn.
—Não há nada para falar, — ele disse e se levantou da cama para passear
na frente dela. —Ajudei-a escapar da Terra e voltar para cá.
—É só isso?
—Isso é tudo que pode ser, — ele admitiu baixinho.
Rufina lançou as pernas para fora da cama e caminhou até ele. Colocou a
mão em seu braço para detê-lo.
—Lugus, não recuse o amor que Ahryn lhe dá de bom grado.
—Ela só dá porque não tem ideia de que tipo de monstro eu sou.
—Então diga a ela. Deixe que decida. Não espere que algum idiota conte
para ela antes que tenha chance de ouvir isso de você.
Ele olhou para ela um momento antes de assentir.
—Vou pensar sobre isso. Agora, quero que você descanse. Theron tomará
minha cabeça se alguma coisa acontecer com você e o bebê.
Rufina permitiu que ele a sentasse de costas na cama, mas ela não se
enganou. Sabia que ele se importava mais com Ahryn do que deixava transparecer.
Estava em cada palavra, cada movimento, cada olhar. E ela ia fazer o que fosse
preciso para Lugus encontrar a felicidade.
* * * *
No momento em que Ahryn retornou ao aposento de Rufina, a rainha
sentara-se em sua pequena mesa e olhava para fora das portas da varanda.
—Você está com fome, minha rainha? — Ahryn perguntou.
Rufina saltou ligeiramente e sorriu tristemente.
—Olá, Ahryn. Não estou com fome, mas devo cuidar do menino que
cresce no meu ventre.
Ahryn colocou a bandeja sobre a mesa e tomou a cadeira em frente.
—Há algo que eu possa fazer por você?
A rainha sorriu e acenou.
—Preciso de algo para afastar a minha mente da falta de poder.
—Terei prazer em fazer qualquer coisa que pedir.
—Então me fale sobre Lugus.
Ahryn inquietou-se bastante.
—O que quer saber?
Rufina suspirou e colocou um pedaço de fruta em sua boca enquanto se
recostou na cadeira.
—Conheço Lugus desde que eu era uma criança pequena. Ele estava
sempre pronto com um sorriso e seu humor era afiado, mas podia enraivar-se por
qualquer coisa, especialmente com o pai. Eles brigavam diariamente. O Lugus que
vi hoje, não é mais o mesmo homem que eu vi há cinco anos.
—Ele não sorri muito, — admitiu Ahryn. —Embora eu tenha conseguido
obter um pouco dele quando eu tentei.
A rainha sorriu.
—Isso é bom saber. Ele precisa de riso em sua vida.
—Ele precisa, embora não admita. Realmente pensava que eu tinha ido
matá-lo na primeira vez que me viu.
Rufina franziu a testa.
—Esperava que, lhe dando uma segunda chance de vida, ele iria abraçá-la.
Algo na face Ahryn deve ter alertado a rainha da sua ignorância.
—Você não sabe, não é? — Rufina perguntou a ela.
Ahryn abanou a cabeça.
—Perguntei-lhe muitas vezes, mas se recusou a me dizer.
—É por isso que veio até aqui em vez de retornar para sua casa?
—Sabia que meu avô me contaria a verdade.
—Por que você quer saber? — Rufina perguntou. —Mudaria a maneira
como você se sente sobre ele?
Ahryn encolheu os ombros.
—Eu sei que ele ocupa meus pensamentos constantemente. Arriscou a
própria vida para salvar a minha quando poderia facilmente ter virado as costas
para mim. Ele também perdeu tudo ao me ajudar. A segunda chance que você deu
a ele se foi. —Ela molhou os lábios e perguntou: — Você vai me dizer o que eu
procuro?
A rainha encontrou seu olhar.
—Não. Lugus é minha família. Se ele não deseja que você saiba de seus
atos,vou respeitar isso. Se ele quizer que você saiba, irá dizer.
Ahryn esperava que Rufina lhe daria alguma coisa, e ela não podia deixar de
ficar desapontada em descobrir que a rainha fecharia a boca quanto a Lugus.
—Um pequeno conselho, — disse Rufina quando Ahryn levantou-se. —
Não vá atrás de Lugus. Dê-lhe tempo e vai se abrir com você.
A esperança floresceu em Ahryn. Se alguém conhecia Lugus, era Rufina,
então ela acolheu as palavras da rainha de coração.
* * * *
Lugus correu para seu quarto. Bateu a porta e encostou-se nela enquanto
seu coração batia forte e sua vara pedia para ser liberada. Queria Ahryn com um
desespero que nunca sentiu, uma necessidade tão intensa que quase não conseguia
respirar.
E foi por causa dessa emoção que se recusou a deixá-la perto dele. Ele só
iria trazer-lhe dor e angústia.
Com passos pesados, caminhou para a varanda e abriu as portas. O ar doce
escovou contra ele, e respirou fundo quando fechou os olhos.
Nunca pensara que veria sua amada terra de novo, voltar e descobrir que
seu irmão estava em perigom, tirava qualquer emoção que sentia ao regressar. Ele
não era tolo agora. Iria aproveitar cada momento que tivesse, antes de se aventurar
na escuridão para encontrar Theron.
Lugus apoiou suas mãos sobre o corrimão e caiu com a cabeça no seu
peito. Quão irônico era que tinha lutado desesperadamente por milênios para ficar
livre do Reino das Sombras apenas para voltar.
Isto só mostrou que nunca deveria ter saído. Era aonde ele pertencia. E era
onde ele iria ficar.
Ele engoliu em seco e levantou a cabeça para a cidade abaixo. Sua bela
cidade, uma cidade que ele tinha quase destruído, poderia nunca vê-la novamente.
Ahryn.
Lugus amaldiçoou e se afastou do corrimão. Não importa o que ele fizesse,
não conseguia tirá-la de sua cabeça e seu corpo queria apenas ela depois que a
saboreara. Mesmo agora, o seu desejo por ela superava tudo.
Uma batida na porta, felizmente, o tirou de seus pensamentos. Lugus
caminhou até a porta maciça e abriu-a para encontrar Aimery diante dele.
—Aconteceu alguma coisa para Rufina? — Lugus perguntou à expressão
sombria de Aimery.
O comandante Fae balançou a cabeça.
—Posso entrar?
Lugus recuou e permitiu que seu velho amigo entrasse.
—O que é isso? Você costumava esconder suas emoções, assim, é fácil de
ver que algo o incomoda.
—Apenas receio pela vida de Theron e Rufina— disse ele enquanto
caminhava lentamente ao redor do aposento.
Lugus fechou a porta e cruzou os braços sobre o peito enquanto esperava.
Sabia que, eventualmente, Aimery diria por que veio.
—Obrigado por ter se voluntariado para ir atrás de Theron, — Aimery
disse e virou-se para Lugus.
Lugus encolheu os ombros.
—Ele é meu irmão. Você esperava que eu ignorasse isso?
—Na verdade, sim, — admitiu. —Tane me garantiu que você encontraria
Theron, mas tinha minhas dúvidas.
—Você ainda tem suas dúvidas, — Lugus disse enquanto ia para a mesa
perto do balcão e servia duas bebidas. —Sei que você e o resto de Fae pensam de
mim e eu nunca teria voltado se não fosse por...
—Ahryn, — terminou Aimery.
Lugus assentiu com a cabeça e entregou-lhe um copo.
—Quero que você a leve daqui.
—Já tentei.
—Tente mais duro, — gritou Lugus. Ele fechou os olhos e passou a mão
pelo rosto. Quando abriu os olhos novamente, estava mais uma vez no controle de
suas emoções. —Aimery, estou te pedindo isso como um amigo. Faça o que for
preciso, mas afaste-a daqui.
Por vários momentos ele retornou olhar de Aimery enquanto o
comandante segurava o olhar dele.
—Então, é verdade. Você se importa para ela.
Lugus virou-se e suspirou.
—Por favor. Pela a amizade que compartilhamos, faça essa pequena coisa
por mim. Peço.
—Farei o meu melhor, — ele ouviu Aimery dizer atrás dele.
Lugus soltou um suspiro que não sabia que estava segurando e voltou-se
para Aimery.
—Obrigado.
Aimery inclinou a cabeça para trás e esvaziou o copo pequeno antes de
colocá-lo em cima da mesa.
—Não me faça arrepender disto.
Lugus viu quando Aimery deixou seu quarto. Uma vez que as portas se
fecharam atrás dele, Lugus afundou em sua cadeira e baixou a cabeça em suas
mãos.
Ficou aliviado ao saber que Aimery levaria Ahryn longe do palácio, mas
parte dele lutava contra estar separado dela. Era uma guerra que sabia que lutaria
pelo resto de sua vida, porque seria tão difícil quanto deixá-la ir, seria pior ainda
assistir a sua mágoa por causa dele.
Não havia outra escolha senão deixá-la ir.
Ele se inclinou para trás e caiu com a cabeça no encosto da cadeira. Seus
pensamentos se voltaram para Theron e os Draconianos que ousaram trair Fae.
Um plano começou a se formar enquanto pensava o que ele iria fazer, uma vez que
encontrasse Theron.
Capítulo Vinte e Dois
Aimery marchou do aposento de Lugus contemplando suas palavras. A
necessidade de ter Ahryn longe do palácio era palpável. E era óbvio para qualquer
pessoa que se importasse em procurar o motivo - Lugus se importava com Ahryn.
Qual era a profundidade de seus sentimentos, Aimery não sabia.
Ele encontrou Ahryn em pé no quarto de Rufina, pouco tempo depois. Por
um momento ele quase não parou, Ahryn parecia tão pensativa, como se estivesse
contemplando algo de grande importância.
—Ahryn, — Chamou suavemente.
Sua cabeça loira agitou-se para seu lado e ela lhe deu um pequeno sorriso.
—Olá, Aimery. Se você veio perguntar sobre Rufina, vou lhe dizer que ela
está descansando, tanto como o esperado.
—Na verdade, vim falar com você.
—Eu? — Ela perguntou, com a testa franzida. —Por quê?
Aimery suspirou.
—Ande comigo, ele ordenou enquanto cruzava as mãos atrás das costas e
relaxados caminharam pelos corredores do palácio.
—Quanto você sabe?
—Sobre o quê?
—O rei?
Ela encolheu os ombros.
—Eu sei o que ouvi na sala do trono, quando Tane falou com Rufina.
—Mas você sabe o quão perigoso é tudo?
Ela parou de andar e encarou-o.
—O que você está tentando dizer?
—Pedimos a todos para deixar o palácio, Ahryn.
Seus olhos azuis se estreitaram.
—Você quer que eu saia?
—Quero, — disse Aimery feliz que isto não ia tão mal como esperava. —Seria o
melhor.
—E por que isso? Precisa de alguém aqui para cuidar de Rufina.
Certamente não terá ninguém, desde que você e Tane estarão auxiliando Lugus.
Uma vez que, como disse, você pediu a todos para deixar o palácio, sou tudo que
tem para cuidar da rainha.
Aimery virou-se e amaldiçoou.
—Ahryn, por favor. Você deve sair.
Ahryn olhou para trás de Aimery por um longo momento. Finalmente, ela
deu a volta para encará-lo.
—Lugus lhe pediu para me fazer sair, não foi?
O pequeno aceno que Aimery deu a ela era sua única resposta.
—Por quê?
Os olhos de Aimery brilhavam quando ele olhou para ela.
—Está tentando protegê-la. Não há garantia de que o que nós planejamos
vá acontecer.
—Não vou deixá-lo, — disse ela e voltou a olhar Aimery. —Nada do que
possa dizer ou fazer faria deixá-lo agora. Ele esteve sozinho por muito tempo.
Aimery suspirou e passou a mão pelo rosto.
—Prometi a ele que a levaria.
—Você fez o seu melhor. Vá começar a sua preparação. Devo atender a
rainha.
Ela esperou até que Aimery afastasse antes de se encostar à parede e
suspirar. Seu coração tinha batido violentamente no peito quando Aimery lhe disse
que Lugus queria protegê-la. Ela sabia que havia algo entre eles. Só precisava
convencer Lugus.
* * * *
Lugus acordou algumas horas mais tarde com um torcicolo e uma
necessidade de visitar os banheiros. Levantou-se e abriu uma gaveta de sua larga
cômoda para encontrá-la ainda cheia de roupas. Não podia acreditar que Theron
não tinha esvaziado o quarto, mas estava feliz por isso. Ele rapidamente pegou a
roupa e saiu do quarto.
Quando ele descia ao longo das calmas salas do palácio, as memórias de sua
infância o engolfaram. Ainda podia ver o rosto sorridente de sua mãe enquanto ela
se sentava e olhava ele e Theron jogarem. Lembrou o orgulho no rosto de seu pai
quando ele tinha dominado a espada. Ainda lembrou a primeira garota que beijou.
O sorriso que ele usava desapareceu logo que percebeu a vida que jogara
fora porque não podia controlar o seu temperamento. Quantas vezes sua mãe
alertou-o a pensar antes de falar, se dar alguns instantes para se acalmar e não
deixar que seu temperamento o governasse? Nunca a ouviu e ele pagou caro por
isso.
Ele encontrou seus pés seguindo o corredor que se aventurava para a
galeria, onde todos os reis e rainhas de seu reino estavam retratados. Lugus parou
na frente da pintura do seu pai e se encostou a parede oposta.
—Desculpe-me pai, — ele sussurrou. —Sinto terrivelmente a sua falta.
Theron precisa de você. Preciso de você, — ele disse e baixou a cabeça, incapaz de
olhar nos experientes olhos azuis de seu pai.
Lugus sentia-se fora de lugar na sala. Ele fora responsável pela morte de seu
pai e sua mãe, pois ela morreu logo em seguida, por causa do que fizera. Então
houve as mortes, o que ele fizera para tentar assumir o reino Fae.
Ele deu mais um olhar para seus pais e foi embora, o coração pesado de
tristeza. Ele nem viu Aimery nas sombras.
Lugus tentou manter sua mente em branco enquanto caminhava para os
banheiros. Abriu as altas portas duplas e olhou para a beleza perante ele.
O banheiro era grande e largo, maior que qualquer romano tentou duplicar.
Os romanos tentaram apropriar-se de muitas coisas que não eram deles, os
banheiros sendo um deles. Se um Fae não lhes tivesse mostrado como construir os
banheiros, isto provavelmente nunca teria sido construído.
Lugus atravessou as portas e fechou-as atrás. Um movimento à sua
esquerda chamou sua atenção, e ele virou-se para encontrar Tane puxando uma
túnica sobre sua cabeça, mas não antes de Lugus ver a tatuagem de um dragão
intrincada que cobria toda as costas de Tane.
—Minhas desculpas, — Lugus disse. —Voltarei mais tarde.
—Não, — disse Tane e se virou para ele enquanto se aproximava das suas
botas. —Estava acabando. Irei apenas num momento.
Lugus assentiu com a cabeça e caminhou para um banco do outro lado da
banheira.
—Esta é sua primeira vez em nosso reino?
—É, — ele respondeu puxando uma bota.
—Diga-me, é muito diferente do seu?
Tane parou de puxar a outra bota.
—Meu reino é diferente em muitos aspectos, mas há também semelhanças.
Seu banho, por exemplo. Nós temos também, mas ao invés de um grande, temos
vários outros menores.
—Estranho, não é isto, os dois reinos que nunca se misturam terem algo
em comum.
Tane sorriu ao terminar de puxar a bota e se levantou.
—Não há muito que eu ache estranho hoje em dia, Lugus. A magia é uma
coisa maravilhosa, mas ninguém sabe onde ela começou, nem como. —Ele pegou
sua capa e acenou para Lugus. —Aproveite o seu banho.
* * * *
Tane parou fora das portas do banheiro enquanto ele contemplava Lugus
falando de seus planos. O único problema foi que, pela primeira vez em décadas,
Tane não sabia que resultado era o melhor, e se ele não sabia disso, então não devia
falar com Lugus e tentar mudar sua mente.
Houve tempo, mas só um pouco do que saiu.
Ele suspirou alto e começou a caminhar de volta para seu quarto. Não fora
muito longe quando ele viu Ahryn vindo em sua direção.
—É uma noite linda, não? — Ela perguntou com um sorriso quando se
aproximou.
Ele balançou a cabeça.
—É, apesar da saudade do meu céu.
—É tão diferente?
Tane pensou nas três luas Draconianas e sorriu.
—Muito.
—Adoraria vê-lo um dia.
Tane piscou.
—Tenho certeza que você vai. Aonde vai?
—Para os banheiros.
—Eu vim de lá, — disse ele. Decidiu omitir o fato de que Lugus agora os
ocupava.
Ela sorriu.
—É maravilhoso, não é?
—Aproveite seu banho, Ahryn, — disse e foi embora. Ele sorriu quando
entrou em seu quarto e pensou na surpresa que Lugus teria esta noite.
* * * *
Lugus esperou até que Tane deixasse-o para se despir e entrar na água
morna. Ele tinha perdido esta solidão, enquanto estivera na Terra. As cubas de
madeira minúscula que mal conseguia dobrar-se eram perturbadoras e ele
rapidamente crescera odiando-as. Preferia a frieza do mar, onde ele podia esticar as
pernas e sentir como se estivesse mais uma vez em um banho em Fae.
Deslizou na água aquecida até que parou no meio da banheira grande,
então ele se virou de costas e olhou para o teto de vidro para a sobrecarga de
estrelas.
De repente, o silêncio e a solidão foram quebrados pelo som de uma porta.
Lugus empurrou-se de pé e olhou pela porta dupla para encontrar Ahryn em pé lá,
o assistindo. Por vários momentos, simplesmente olharam um para o outro.
Lugus sabia que deveria pedir a ela para sair, mas não importava o quanto
ele dissesse a si mesmo o que devia fazer, isto não era o que ele queria.
Enquanto observava, Ahryn alcançou no ombro e soltou seu vestido. Com
um simples movimento de seus quadris, seu vestido reuniu-se à seus pés. A boca de
Lugus ficou seca enquanto olhava para o corpo nu de Ahryn, um corpo que tinha
tocado e provado, no que parecia uma eternidade.
Quando ela entrou na água, ele se encontrou caminhando em sua direção,
seu coração batendo fortemente em seu peito. Ele não poderia ter ficado longe dela
se sua vida dependesse disso. Era atraído por ela como os Faes eram atraídos pela
magia.
Ele parou um pouco antes de aproximar-se dela, quase com medo de tocá-
la.
—Lugus, — ela sussurrou.
Seu nome nos lábios dela aproximou a sua alma e quando estendeu a mão
para tocá-lo, seu coração deu um salto ao contato. Ele parou de fugir dela então.
Teria sido inútil e ela tinha tentado lhe dizer, mas mais uma vez não tinha escutado.
Puxou-a para ele e passou os braços apertados em volta dela enquanto
enterrou o rosto em seu pescoço, inalando o cheiro fresco e limpo do cabelo dela.
A sensação de seu corpo mole nos braços, de repente aliviou uma dor que
não sabia que estava lá. Ele se afastou e colocou as mãos em cada lado do rosto
enquanto olhou em seus místicos olhos azuis.
—Não me peça para sair, — ela implorou.
Apesar de suas palavras serem fortes, havia uma dúvida em seus olhos.
—Não se atreva a sair, — disse e baixou a cabeça para seus lábios.
Cada sabor dela era novo, exótico e pôs seu sangue em chamas. Ele a
queria, ou melhor, necessitava mais dela, totalmente dela. Sua fome não conhecia
limites quando se tratava de Ahryn e por mais que tentasse, não conseguia
controlar isto.
O coração de Ahryn ribombou no peito enquanto Lugus reivindicou seus
lábios com os dele. Seu beijo foi formidável em sua intensidade, mas ela também
sentiu a solidão e o medo também.
Colocou os braços em volta do seu pescoço e enterrou as mãos em seus
cabelos loiros enquanto se abria para ele. Tinha finalmente se dado a ela e não
havia jeito que o deixasse ir.
A água girava em torno deles quando Lugus puxou as pernas dela em torno
dele. Ela sentia sua vara contra a sua barriga e ansiava por senti-lo dentro dela.
Tentou mover os quadris, mas ele segurou-a firme enquanto seus beijos a
enfraqueceram de desejo.
Ela inclinou a cabeça para trás enquanto seus beijos arrastavam pelo
pescoço até os ombros e peito. Sentiu o movimento da água em torno dela e abriu
os olhos para ver Lugus movendo em direção ao lado da banheira.
Seu corpo era uma massa trêmula de nervos, veias se enchiam de desejo
derretido. Seus dedos arrastaram nos ombros e nas costas dela para descansar no
seu quadril. Ela suspirou quando ele empurrou sua vara contra seu sexo.
Um gemido escapou da garganta enquanto sua mão se moveu para tocar a
parte inferior de seu peito, um peito já pesado com o desejo e ansiando por seu
toque. Ela mordeu o lábio enquanto ele continuava a provocar sua mama com seu
toque, enquanto mordiscava os lábios e beijava seu pescoço.
O sexo dela doía e pulsava cada vez que a sua vara roçava-a, mas isso seria
tudo o que ele lhe daria, um simples toque. Ela estava perto de perder sua
provocação. Quando decidiu explorá-lo, ela encontrou seus pulsos capturados em
uma das mãos acima da cabeça. Abriu os olhos para vê-lo sorrindo para ela.
—Hoje, irei fazer amor de forma adequada, Ahryn. Esta noite é minha.
Suas palavras enviaram uma emoção através dela que aterrissou com um
baque em seu sexo.
Ela sentiu algo em suas costas e reconheceu como o lado da banheira.
Lugus tinha a situado entre ele e o banho enquanto continuou a trabalhar a sua
magia nela com sua boca.
Com a cabeça dela encostada de um lado, Ahryn moveu seus quadris contra
ele e foi recompensada com um gemido profundo. Ela sorriu e moveu seus quadris
novamente. Ele não parou e ela se tornou mais sensível à sua necessidade.
Quando as mãos dele se moveram para os seus quadris, ela assumiu que iria
parar, mas ele tinha outras ideias. Seus dedos arrastaram para o interior das coxas e
perto de seu centro, mas nunca tocando seu sexo. Vez por outra passava perto de
seu sexo e assim, quando ela pensou que finalmente iria tocá-la, sua mão deslizou
para longe.
Ela gemeu e tentou esfregar seu quadril contra sua vara, mas as mãos dele
acalmaram-na. Ela pensou que o ouvira rir um pouco antes de abaixar a cabeça e
beijar no topo de cada mama. Ela arqueou as costas para ele aceitar o mamilo, a
cabeça moveu-se e apenas o seu queixo pastoreou seu mamilo sensível.
Suas mãos agarraram seus ombros, em silêncio, implorando-lhe para aliviá-
la da provocação. Seus lábios e língua traçaram padrões em seus seios, sempre
perto de seus mamilos doloridos, mas nunca os tocando.
Seu sexo latejava e os mamilos endureceram enquanto o desejo cravava
nela. Ela estava alheia a qualquer coisa, menos da necessidade excitante
percorrendo-a.
Um grito rasgou a garganta quando o polegar de Lugus esfregou seu sexo.
No próximo segundo a outra mão envolveu o peito como uma concha enquanto
girava o mamilo entre os dedos. Enquanto seus dedos continuaram a girar seus
mamilos, seu polegar trabalhou avançando contra seu sexo, esfregando todo clitóris
com um levíssimo toque.
Ahryn já estava a meio caminho para a liberação antes de tocá-la e apenas
tocando alguns golpes de seu polegar sobre seu sexo iria mandá-la ao clímax.
O corpo dela estremeceu enquanto o orgasmo clamava-a, enviando ondas
sobre ondas de prazer através dela a cada golpe do dedo de Lugus em seu sexo.
Quando finalmente foi capaz de abrir os olhos, ela olhou para baixo para
vê-lo ainda rolando o mamilo entre os dedos. Ela ergueu o olhar para ele e esfregou
seu quadril contra o dele.
—Isso não foi exatamente justo, — ela murmurou.
Ele sorriu, um sorriso que transformou seu rosto em esplendor.
—Talvez não, mas você gostou.
Capítulo Vinte e Três
O corpo de Lugus ardia para enterrar-se profundamente dentro de Ahryn,
mas manteve a fina linha de controle com todas as suas forças. Iria fazer esta noite
durar para sempre, pois iria precisar dela nos anos vindouros.
Enquanto o tremor atravessava-a, Lugus suavemente levou Ahryn para fora
da água e a deitou no chão. Ele saiu do banho e a pegou para levá-la a um dos
vários sofás escondidos nos cantos da sala.
Os dedos dela rastreando do pescoço para o ombro. Ele olhou em seus
olhos e vendo que eles ainda tinham o brilho da paixão, uma paixão que tinha
inflamado. Ela foi a primeira coisa que ele fizera direito e queria mantê-la dessa
maneira.
Quando se aproximou do sofá, ele deitou, colocando-se ao lado dela. Não
sabia quanto tempo eles se olharam nos olhos uns dos outros, só sabia que sentia
alegria, algo que nunca pensou em experimentar de novo.
—O que você está pensando? — Perguntou ela.
Ele não queria quebrar o seu humor, assim manteve seus sentimentos para
si e disse ao invés,
—Estou pensando em todas as diferentes maneiras que eu quero fazer
amor com você.
Ela riu e inclinou-se para beijar seu ombro.
—Você não precisa fazer tudo isso esta noite. Nós temos anos pela frente e
eu pretendo ver você me amar todas as noites.
Lugus se inclinou para beijá-la, em vez de lhe dar a resposta que sabia que
ela queria.
Quando ele explorou sua boca quente, seu corpo tremia de desejo, uma
necessidade que só Ahryn poderia satisfazer. Ele não perguntou por que seu corpo
havia se conectado com Ahryn. Era uma parte da vida deles no seu reino, mas sabia
que não haveria futuro para eles. Agora não.
Nem nunca.
Ele arrastou a boca para baixo, por sua garganta delgada, mordiscando o
lóbulo da sua orelha. Ela gemia e passava as mãos nas costas, enviando arrepios ao
longo de sua pele. Seu toque o deixava louco de desejo e ele não sabia quanto
tempo poderia segurar-se antes de deslizar dentro de sua vagina ardente.
Nunca a necessidade dele fora tão grande, seu desejo decidindo tudo. Mas
com Ahryn, as coisas sempre eram diferentes.
—Lugus, — ela sussurrou em seu ouvido quando sua boca desceu para os
seios.
Ele ergueu o olhar para seu rosto enquanto cobria seu peito e tomou o
mamilo rígido em sua boca. Como rodou sua língua ao redor do mamilo dela e
começou a mamar, os olhos dela rolaram e deixou cair a cabeça sobre o travesseiro.
Lugus queria que essa noite fosse especial, algo que poderia se lembrar nas
longas noites pela frente. Ele pretendia memorizar o corpo magnífico de Ahryn, a
sensação de seus seios nas mãos, o calor de seu corpo enquanto a preenchia. Cada
fibra do seu ser conheceria Ahryn.
Sua mão continuou a acariciar seus seios fartos, enquanto sua boca moveu-
se de um mamilo a outro. Seus quadris esfregaram-se, enquanto o prazer dela
crescia e a sua vara latejava de desejo.
Ahryn estava cercada por felicidade. Quantas noites ela sonhara com Lugus
clamando-a? Quantas vezes ela se perguntou se nunca iria sentir seu corpo contra o
dela de novo?
Um gemido escapou de seus lábios, sua boca deixou os seios dela e beijou
sua barriga para baixo. Sua língua lambendo seu umbigo enquanto suas mãos
agarraram seus ombros. Seu sexo latejava e cerrava e um espiral de desejo
arrebatando-a.
Suas mãos agarraram seus quadris, pouco antes dela ser levantada fora do
sofá e colocada em seu colo de costas para o peito. Ansiava pela sensação de Lugus
aprofundando-se dentro dela, tê-lo preenchendo-a completamente.
Ele começou a beijar a nuca, enquanto suas mãos percorriam os seios e o
estômago, mal roçando seu sexo. Ela tentou segurar um gemido quando ele a
puxou de costas para inclinar-se contra ele e abriu as pernas de modo que cada uma
caiu para um lado dele, expondo-a ao ar fresco.
Ela estremeceu, sua mente se perguntando que novo prazer Lugus lhe daria
em seguida. Ela não teve que esperar muito, enquanto suas mãos envolveram seus
seios e começou a beliscar seus mamilos já sensíveis.
Só quando ela achava que não aguentaria mais, as mãos de Lugus moveu
para baixo por seu estômago e sobre os quadris dela para descansar em suas coxas.
Sua respiração prendeu-se em seu peito enquanto ela esperava, ansiando que a
tocasse, para amenizar a dor dentro dela.
Então, seus dedos espalharam suas pregas, abrindo-a plenamente. Ahryn
gemeu enquanto seu dedo mergulhou em seu centro e espalhou sua excitação sobre
seu sexo. Seu polegar circundou sua pérola quando o dedo entrou nela, levando-a a
novas alturas. Ele entrou com um segundo dedo, alongando-a.
—Pelas estrelas você é tão apertada, — ele sussurrou enquanto mordiscava
sua orelha.
Ahryn estremeceu e segurou seus braços quando ele empurrou mais para
dentro dela. Ela gritou, seu clímax crescendo novamente. Com apenas um toque,
Lugus poderia enviar seu corpo às alturas.
—Lugus, — ela gemeu enquanto esfregava seus quadris contra ele.
De repente, a mão dele tinha sumido. Ela começou a virar-se para enfrentá-
lo quando suas mãos agarraram seus quadris e a ergueu. Foi quando ela sentiu a
ponta de sua vara contra o seu sexo. Lentamente, ele guiou seu comprimento
apenas parando no topo.
—Não, — ela gritou e tentou se mover contra ele, mas segurou-a ainda.
Seu rosto estava pressionado contra seu pescoço, o peito subindo e
descendo rapidamente.
—Por que você não me diz Ahryn?
Através de sua névoa de desejo, ela percebeu o que ele pedia.
—Nunca encontrei ninguém que quisesse compartilhar meu corpo, antes
de você.
Por vários minutos Lugus não se mexeu, então ele beijou seu pescoço
suavemente.
—Isso pode doer.
Ahryn sabia que ia doer, mas ela também sabia que tinha que tê-lo
preenchendo-a. Completamente. Ela não esperou, mas usou suas pernas para
endireitar-se. Ele deve ter percebido o que estava fazendo, porque, quando ela se
abaixou, ele moveu seus quadris e rompeu o seu hímen.
A dor rompeu o seu desejo, mas o corpo de Ahryn estava em tal estado de
necessidade, que quase não sentiu nada além da plenitude de Lugus quando ele
preencheu-a completamente.
—Esperei por isso, por você, — ela disse enquanto virava a cabeça e o
beijava.
Lugus tocou a boca e colocou toda paixão e amor que podia no beijo,
agradecendo por ela sentir a profundidade de seus sentimentos por ela. Nunca fora
tão humilde. Nunca havia passado por sua cabeça que Ahryn pudesse ser intocada.
A maioria dos Fae experimentavam o sexo antes de se casarem. Era parte de sua
cultura, especialmente desde que os Fae eram criaturas muito sensuais.
Ele gentilmente moveu seus quadris num vai e vem e ouviu o gemido
ofegante que escapara dos lábios de Ahryn. Sua necessidade por ela só tinha
crescido com cada toque e gosto dela, até que isto o sacudiu. Ele quebrou o beijo e
continuou a mover os quadris até que ela movia-se contra ele.
Então ele lhe permitiu controlar o tempo. Fechou os olhos e deixou-se
explorar o prazer que derramava em todo o seu corpo. Não demorou muito até que
sua mandíbula apertou-se quando o seu orgasmo ameaçou. Não chegaria ao ápice,
sem levar Ahryn com ele.
Movendo os braços para cercá-la. Com uma mão, ele puxou um mamilo e
com a outra, ele encontrou sua pérola e rolou-a entre os dedos até que ela estava
ofegante e gritando seu nome.
Ela estava tão perto, mas Lugus não sabia se poderia adiar por muito mais
tempo. Em seguida, o corpo de Ahryn estremeceu quando o clímax firmou nela e
Lugus deixou-se ir, derramando sua semente dentro dela.
Pareceu uma eternidade até que ele abriu os olhos para encontrar-se deitado
no sofá ainda profundamente enterrado em Ahryn enquanto ela estava deitada em
seu peito.
Lugus piscou quando percebeu o que tinha compartilhado com Ahryn. Isto
havia sido glorioso e único e ele sabia nas profundezes de sua alma que jamais
experimentaria tal maravilha novamente com outra mulher. Ahryn era importante
para ele.
Isto era péssimo, pois não era o homem certo para reclamá-la.
* * * *
Lugus assistiu ao nascer do sol ao longo do horizonte e incorporando à
memória em sua mente. Ele olhou para o sofá e Ahryn dormia silenciosamente.
Fizera amor com ela várias vezes durante a noite e à cada vez, descobria que a
queria mais que a última.
Seu apetite por ela estava aumentando e temia que pudesse muito bem
assumir sua vida. Se provasse sua carne suave ou beijasse seus lábios cheios mais
uma vez, sabia que nunca poderia deixá-la. E se preocupava muito com ela por
isso.
Lugus sacudiu-se, como se atingido, quando percebeu no que tinha apenas
pensado.
Ele se importava com Ahryn, importava-se muito mais do que tinha se
importado com outra pessoa. O que ele pensava que era amor por Moira, não era
nada comparado com os seus sentimentos por Ahryn.
E ele sabia que ela faria qualquer coisa para estar ao lado dele, o que ajudou
manter a razão.
Seus olhos moveram-se para as portas enquanto silenciosamente se abriam
e ele viu Tane. Deu um aceno ao Draconiano, antes de se ajoelhar ao lado de
Ahryn e traçar o queixo com o dedo.
Porque ele estava com muito medo do que aconteceria se realmente
proferisse as palavras, murmurou:
—Eu te amo, Ahryn.
Com um último olhar para ela, ele saiu do banheiro.
—Lugus?
Ele ignorou a questão de Tane e caminhou até a sala do trono.
—Quaisquer perguntas que você possa ter, segure-as, — disse ao
Draconiano.
—Você deveria ter dito a ela.
Lugus parou e virou a cara Tane.
—Dito o quê?
Tane cruzou os braços sobre o peito e olhou.
—Você sabe que falo de Ahryn. Você deveria ter dito a ela que não está
pensando em voltar aqui.
Lugus rapidamente desviou o olhar no caso do Draconiano ver como ele
desejava desesperadamente agarrar-se a Ahryn e os sentimentos que ela incitava
nele.
—Você pode voltar, — disse Tane. Lugus olhou para a sala do trono e para
Rufina sentada quieta em seu trono.
—Não posso. Não há perdão pelas coisas que fiz.
Apressou-se em se afastar de Tane antes que o Draconiano dissesse mais
ou se aprofundasse. Tudo que restara à Lugus era a noite em que ele e Ahryn
passaram juntos e o conhecimento que estava finalmente fazendo a coisa certa.
Quando seus passos o levaram para perto de sua cunhada, ele viu a cabeça
agora se levantar e brilhar a esperança em suas profundezas azuis.
—Hoje? — Ela perguntou, tentando esconder a ansiedade em sua voz.
Lugus levou a mão dela à boca e colocou um leve beijo em seus dedos.
—Agora. Voltarei com Theron para você, — ele prometeu e se afastou
para ver Aimery em pé à esquerda.
Ele não esperou para ver se Aimery tinha algo a dizer a ele, sabia como o
comandante Fae se sentia. O olhar de Lugus esquadrinhou a enorme sala até que
ele avistou Tane encostado a uma parede.
—Tive um sentimento que você gostaria de fazer isso hoje, — disse Tane
enquanto se afastava da parede e caminhava até Lugus.
—Theron está na escuridão por muito tempo. Tenho medo de esperar
muito mais.
Tane assentiu.
—O que você precisa?
—Água, — Lugus disse. —Tanta água quanto eu possa carregar.
Rufina lambeu os lábios.
—Aimery, — satisfaça o pedido de Lugus.
Lugus viu como Aimery deixou a sala do trono, antes dele se virar para
Tane.
—Você tem o olhar de alguém que tem algo a dizer.
Nas profundezas de seu ser, Lugus orou para que Tane não deixasse
escapar que ele não estava pensando em voltar com Theron. Por longos momentos
Tane retornou seu olhar.
—Tenho, — disse Tane e caminhou em sua direção. —Você não quer
saber como você foi capaz de abrir a porta de entrada para este reino?
Lugus encolheu os ombros.
—Não pensei muito sobre isso.
—Estou surpreso que ninguém tenha indagado qual a razão, — continuou
Tane. —Teria assumido que alguém no palácio teria reconhecido a verdade.
—Que verdade? — Rufina perguntou.
Tane suspirou visivelmente.
—Lugus, logo que você nasceu, as marcações foram colocadas em seu
corpo.
Lugus olhou para seus braços cobertos de tatuagens em sua pele.
—Por quê?
—Você era o herdeiro do reino, — Tane respondeu. Somente após a sua
morte seria transferido essas marcações para Theron, a menos que você tivesse um
herdeiro.
Lugus passou a mão pelo rosto.
—Ninguém nunca me explicou o que eram.
—Imagino que seu pai tinha planejado lhe transmitir todo esse
conhecimento em um determinado momento.
Lugus recordou muitas vezes o que seu pai dissera, que logo que
aprendesse a controlar seu temperamento, tinha muitas coisas para falar com ele.
Lugus percebeu agora o que essas “muitas coisas” eram as tatuagens e o que cada
uma representava.
Ele engoliu em seco e levantou seu olhar para Tane.
—Foi assim que eu consegui escapar do Reino das Sombras, não é?
Tane assentiu. — Cada marca detém certo poder, não importando se você
seja mortal ou imortal. Enquanto viver, você será capaz de abrir portais.
—E que mais?
—Não tenho certeza, — disse Tane. —Para você mais uma vez deixar o
reino das sombras, deve tocar essa marcação.
Lugus olhou para baixo para ver Tane apontando para a tatuagem de cavalo
em sua mão direita, que corria desde o meio do antebraço ao seu pulso com os
desenhos de nós entrelaçados com o cavalo.
Ele ainda encarou a marcação, quando Aimery veio para ficar ao lado dele
com água nos cantis de peles. Lugus pegou de Aimery e envolveu-as pelo pescoço e
com um braço.
Ele olhou para Tane.
—Estou pronto.
Tane assentiu com a cabeça e olhou para Rufina, antes de voltar seu olhar
para Lugus.
—Haverá um pouco de dor.
Lugus rangeu os dentes. A dor que ele lembrou-se claramente, mas não era
nada comparado com a escuridão interminável que o envolveria ou o vazio de
entorpecimento mental que se estendia para sempre.
—Posso lidar com a dor, —disse ele enquanto aproximou-se de Tane.
Os olhos do Draconiano, entendiam, entendiam o que Lugus não
precisava, ou queria.
O simples pensamento de que alguém pudesse saber o que ele pensara e o
que passaria novamente sacudiu a sua decisão.
* * * *
Ahryn acordou lentamente e sorriu para o sol que escorria em seu rosto.
Ela se espreguiçou e sentiu seus músculos gemendo de protesto. Lugus tinha
prometido a amá-la ontem à noite e ele fizera, muitas vezes.
Ela virou-se para alcançá-lo, mas encontrou o sofá vazio. Sua mão se
estendeu e ela se sentiu a frieza do tecido. Ela não pensou mais nisto, quando rolou
de costas e olhou para o céu do amanhecer pelas janelas.
Lugus a tinha surpreendido ontem à noite. Antes ele sempre mantinha um
pedaço de si mesmo escondido, mas na última véspera, dera-lhe tudo. Ele pode não
ter dito as palavras, mas sabia que em suas ações e a maneira como ele fez amor
com ela que a amava.
Ela questionou a tristeza em seus olhos azuis quando ele a beijou, como se
ele nunca fosse vê-la novamente.
Ahryn engasgou e impulsionou em pé.
—Lugus não, — Ela disse e saiu às pressas do sofá. Rapidamente pegou
um lençol e envolveu-o em volta dela, enquanto corria em direção às portas.
O coração dela batia em seu peito quando pedia que os pés se movessem
mais rapidamente. Não podia acreditar que Lugus se atreveria a sair para o Reino
das Sombras sem dizer adeus, mas o que doía mais era, que sabia que ele não
pretendia voltar.
Ela empurrou a porta e levantou a parte inferior da folha e alongou seus
passos e correu para a sala do trono.
* * * *
Lugus acenou para Tane e observou o Draconiano apertar suas mãos juntas
e fechar os olhos. Um segundo mais tarde, Tane estendeu os braços à frente dele e
abriu as mãos. Lentamente, Tane movia os braços para cima e depois fez um
grande círculo com os braços.
O ar ao redor da sala do trono parecia parado e depois, com uma lufada, o
portal abriu. Lugus olhou para o abismo e perguntou como viera a estar no portal
novamente. Ele tinha jurado nunca mais voltar para a escuridão.
—Lugus. — Ele virou a cabeça para Rufina.
—Tenha cuidado.
Ele engoliu em seco e assentiu. Respirou fundo e começou a mover-se no
portal quando a mão de Aimery deteve o seu braço.
Lugus encontrou o olhar do comandante Fae e esperou.
—Gostaria que houvesse outra maneira, — disse Aimery.
—Não há. Todos nós fazemos o que devemos. —Ele olhou para o abismo,
antes que se voltasse para Aimery. —Cuide dela por mim.
—Cuidar de... — Aimery hesitou enquanto a compreensão chegou.
Lugus bateu em Tane no ombro.
—Obrigado.
—Basta encontrar Theron.
* * * *
Lágrimas cegaram Ahryn quando ela tropeçou e quase caiu no longo
corredor. Era como se algo a impedisse de se aproximar de Lugus à tempo. Ela
tinha de vê-lo, tinha que falar com ele antes que partisse para encontrar Theron.
Ela sorveu as lágrimas quando chegou à sala do trono e abriu as portas.
Por um momento não conseguia respirar enquanto olhava para o grande
buraco que ocupava quase uma parede inteira. Então ela viu Lugus e Tane em pé
na frente dele.
—Não, — ela disse, mas só saiu em um sussurro. Quando Lugus deu um
passo em direção ao portal, ela estendeu a mão.
—Lugus! Não, — ela gritou.
* * * *
Lugus mais uma vez encarou o imenso buraco. Não sabia quão difícil seria
forçar-se a entrar nele e por um momento temeu que não pudesse.
Então ele ouviu. Fechou os olhos e orou pela coragem que sabia não existir
em seu corpo. Apesar do que ele sabia que deveria fazer, olhou por cima do ombro
para ver Ahryn cambaleando em sua direção, agarrada num lençol em torno de seu
corpo, enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto.
A dor em seus olhos azuis místicos era quase maior do que ele poderia
suportar. Antes que mudasse de ideia, entrou pela porta... Com Ahryn gritando o
seu nome, ecoando em torno dele.
* * * *
Ahryn caiu no chão. Ela ouviu alguém gritando o nome de Lugus e apenas
vagamente percebeu que era sua própria voz.
Braços fortes envolveram-na, mas ela não queria nada com eles. Eles não
pertenciam a Lugus, mas quanto mais tentava afastá-los, o mais forte a seguravam.
Ela não tinha forças para lutar e enterrando o rosto no ombro, deixou as
lágrimas caírem.
—Não desista dele, — Tane sussurrou em seu ouvido.
Ahryn levantou o rosto para ver que era Tane quem a envolvia.
—Você sabia.
Não era uma pergunta.
Ele suspirou, os olhos acobreados cheio de tristeza e arrependimento
quando olhou para ela.
—Sabia.
—Será que ele vai voltar? — Ahryn sabia que não devia perguntar, mas ela
tinha que saber.
—Isso é com ele.
Os seus olhos piscaram com lágrimas não derramadas ante as palavras dele.
—Meu amor não é forte o suficiente.
Ela sentiu os braços de Tane apertá-la quando a pegou nos braços e se
levantou.
—Seu amor não teve nada a ver com isso, — disse Rufina do lado dela. —
Em todo tempo que tenho conhecido Lugus, nunca vi ele tão protetor com alguém
como com você.
—Então por que ele foi embora? — Ahryn perguntou e não perdendo o
olhar que se passou entre Aimery, Rufina e Tane.
Foi Aimery que finalmente respondeu.
—Lugus não escapou de seus demônios.
Demônios que Lugus não queria compartilhar com ela. Demônios que
Rufina tinha pedido a ele para deixá-la sozinha até que Lugus estivesse pronto para
dizer a ela. Demônios que ela nunca ficaria sabendo.
Para ela sabia o que eles não disseram.
Lugus não retornaria.
Capítulo Vinte e Quatro
Lugus ofegou quando a dor atravessou seu corpo. Tentou enrolar seus
braços em torno de seu abdômen, mas com a força do portal não foi capaz de fazer
mais do que pensar sobre isso.
Apenas quando ele pensou que poderia ser estilhaçado em dois, caiu com
um baque de ossos rangendo e o encerramento do portal terminou.
Se achava que a dor era insuportável ainda um imortal, estava perto da
cegueira como um simples homem. Tentou rolar e gemeu quando a agonia irradiou
de cada centímetro do seu corpo. Por vários momentos, simplesmente ficou lá e
tentou esquecer a dor que o consumia.
Quando as dores tinham diminuído para uma dor constante e maçante,
Lugus abriu os olhos. Seu olhar encontrou somente a escuridão, um mar sem fim
da escuridão, sem esperança de um pingo de luz ou brilho de felicidade. Estava
preso no meio de seu verdadeiro medo.
Quantas noites que dormira com uma vela acesa ao lado da sua cama?
Quantas vezes sacudira-se com violência quando a noite chegava?
Tinha jurado nunca mais voltar, para nunca ficar sem luz novamente. E ali
estava ele, na escuridão.
Nada sobrevivia neste reino por muito tempo e sabia que seu tempo era
curto. Não podia chafurdar na autopiedade, tinha de encontrar Theron.
Devagar e com grande esforço, Lugus ficou em pé. O grande vazio que
temia, cobria-lhe, mas ele empurrou-o de lado e deu um passo surpreendente.
—Theron, — gritou ele. —Theron, estou aqui. Eu vim para você. Rufina
precisa de você. Theron? Theron!
* * * *
O corpo de Ahryn tornou-se vivo como se as mãos de Lugus se movessem sobre sua pele.
Espreguiçou-se, arqueando as costas, assim seu peito estava perto de sua mão. Um suspiro escapou
dela quando mão envolveu o peito e o apertou.
—Lugus, — ela sussurrou quando a boca fechava-se sobre o mamilo dolorido, enviando
através de seu desejo a espiral de umidade em seu sexo.
Ela pulsava, precisando senti-lo dentro dela. Só ele poderia matar a saudade, mas sabia
que ele iria fazê-la esperar, levando-a além do ponto de querer, num estado de necessidade que
deixou um enorme tremor nos nervos.
Seus dedos separaram os lábios inferiores, expondo-a a seu olhar. O sexo dela apertou-se
ansiosamente de antecipação. Gemeu profundamente em sua garganta enquanto os dedos
mergulharam dentro dela e em seguida movendo-se suavemente sobre seu sexo, alisando seu botão
com a almofada do dedo.
Gritou, pedindo mais. Mas ele a ignorou. Seus dedos continuaram a explorar seu sexo,
mergulhando profundamente nela e espalhando seus sucos sobre seu botão latejante. Seus punhos
cerraram nos lençóis quando uma intensa onda de prazer percorreu-a.
De alguma forma, levantou a cabeça e viu quando ele tomou a sua vara na mão e
trouxe-a para ela. Abriu as pernas e mordeu o lábio, impaciente para sentir a sua dureza, o seu
calor.
Em vez de enchê-la, ele esfregou a cabeça de sua vara contra seu sexo fazendo-a gritar.
Ela latejava. Ela pulsava. Ela precisava.
Excitação rasgou-a quando ele empurrou a ponta de sua vara dentro dela. Ela moveu os
quadris para tirar mais dele, mas ele segurou-a ainda.
—Ainda não, — ele sussurrou e deu-lhe um sorriso que prometia horas de prazer.
Antes que pudesse pedir-lhe para enchê-la, seus dedos se fecharam sobre ela e apertou o
botão enquanto a outra mão rolou um mamilo entre o polegar e o indicador.
Com cada carícia, cada aperto, estava perdendo a razão com o desejo. Não tinha ideia de
quanto tempo Lugus brincou com ela. Cada vez que chegava perto de seu clímax, ele parava a
cada vez que ela gritava para ele aliviá-la.
Ele ignorava o choro dela, concentrando-se ao invés disso em trazer seu corpo para o
prazer mais apaixonado que ela já sentira.
Enquanto ele manuseava os mamilos em botão, sentiu-o dentro dela. Arqueou os
quadris, silenciosamente implorando por mais dele. Esse simples movimento enviou-a ao topo
enquanto explodiu em ondas de prazer.
Ahryn acordou, seu corpo ainda formigando pelo seu sonho. Enterrou a
cabeça no travesseiro, enquanto as lágrimas ameaçavam novamente. Estava apenas
um dia sem Lugus, mas parecia uma vida.
Mesmo no sono, ela o procurou, mas seus sonhos eram mais vívidos, mais
desoladores. Levantou-se de sua cama e saiu do quarto para vaguear pelo palácio.
Rainha Rufina recusou a deixá-la sair do palácio, dizendo que Ahryn
precisava deles tanto quanto eles precisavam dela, enquanto aguardavam a chegada
de Lugus e Theron.
Só que ela apenas sabia que Lugus não voltaria.
Seus pés ficaram em silêncio enquanto andava pelos corredores escuros.
Para sua surpresa, encontrou Tane em pé sob o luar na sala do trono. Ela
caminhou até ele e viu os olhos dele fechados. Decidindo que não se intrometeria,
virou-se.
—Não há necessidade de sair, — disse ele.
Ahryn virou-se para encontrá-lo olhando para ela
. —Vocês nunca dorme?
Ele deu de ombros.
—Durmo quando meu corpo precisa. O que a traz aqui?
—Nada, — ela mentiu e se virou para as portas da varanda. —É uma noite
linda.
—Ele levará algum tempo para encontrar Theron. A escuridão é como
estar cego.
Ela engoliu e lambeu os lábios quando percebeu quão Lugus odiava a
escuridão.
—Ele acordava todas as manhãs e ia ver o sol nascer.
—Ele odeia a escuridão. O Reino das Sombras não tem um pingo de luz.
Nenhum som pode ser ouvido além do imenso vazio. Em apenas em alguns
momentos, o reino torna um homem forte em louco.
—Oh, deuses. Nunca entendi até agora porque ele amava tanto o nascer do
sol.
—É preciso muita coragem para um homem enfrentar seus medos da
maneira Lugus faz, — disse Tane enquanto veio ficar ao lado dela.
—Lugus é um grande homem. Ele não merece a vida que sofreu.
Tane se virou para ela.
—Ele é um grande homem, mas foram as provações que sofreu que
fizeram dele o homem que é hoje.
—Diga-me o que ele fez que não acha que pode ser perdoado?
Por longos momentos Tane ficou quieto.
—Não. Lugus deve ser o único a dizê-lo.
Ela suspirou.
—Todo mundo me diz isto, embora Lugus não vá falar.
—Você desistiu dele assim tão facilmente?
Ela estreitou seu olhar sobre Tane.
—Você sabe que não desisto.
—Quão forte é o seu amor por ele?
Ela virou a cabeça.
—Que tipo de pergunta é essa?
—Aquela que Lugus pergunta a si mesmo. Ele teme o que verá em seus
olhos uma vez que você saiba a verdade sobre ele.
Seu olhar se voltou para Tane.
—Como ousa. Você não sabe nada da profundidade dos meus sentimentos
por Lugus.
—Verdade, — admitiu facilmente. —No entanto, vamos fazer um pequeno
teste.
Ahryn apenas revirou os olhos completamente. Ela viera por causa da
solidão, para se sentar no lugar que vira Lugus pela última vez, mas sabia que Tane
não lhe permitiria sair ainda. Então, aceitaria seu jogo pouco, no momento.
—Teste de quê?
Ele sorriu, embora este não alcançasse os olhos acobreados.
—Digamos que Lugus roubou. Será que você ainda o amaria?
—Sim.
—Poderia importar porque ele roubou?
—O que ele fez no seu passado não importa, — disse ela, já cansada do
jogo.
—Mas ele fez, — Tane respondeu suavemente.
Ahryn sabia que de alguma forma Tane estava tentando lhe dizer alguma
coisa.
—Tudo bem. Se isso não importa, então gostaria de ouvir dele porque
roubou.
—Digamos que ele roubou para recuperar algo que alguém lhe tomou, mas
enquanto estava roubando, derrubou uma escultura premiada, que nenhuma
quantidade de moeda poderia consertar.
—Tudo pode ser corrigido, — disse ela baixinho enquanto olhava nos
olhos acobreados. —O que ele fez que não podia ser consertado, Tane?
Tane desviou o olhar e respirou profundamente.
—Você sabe que tinha que ter feito algo terrível para Theron tirar sua
imortalidade. Você não pensou o que isso poderia ser?
Com um último olhar de despedida para ela, Tane virou-se e saiu.
Muito tempo depois que Tane a tinha abandonado, Ahryn pensava sobre
suas palavras. Ela pensou em todas as coisas terríveis que Lugus poderia ter feito e
independentemente do que era, nada a dissuadiu de seu amor por ele.
Mas será que nunca seria capaz de dizer isso a ele?
* * * *
Lugus não tinha ideia de quanto tempo tinha passado. Uma hora? Um dia?
Um ano?
Já, a loucura estava se espalhando sobre ele e não tinha força para manter
isto longe. Sua voz estava rouca de gritar por Theron repetidamente sem resposta e
até mesmo a água que ele trouxera não o acalmava.
Na maior parte, Lugus manteve os olhos fechados. Ele descobrira que, se
ele deixasse-os abertos, forçavam na escuridão e uma dor começava na base do seu
crânio. Mas, às vezes ele esquecia e abria os olhos.
A frustração por não ser capaz de ver até mesmo um pingo de luz, um
esboço de algo, estava o enlouquecendo. O silêncio estendia-se como a eternidade,
esvaziando-o de esperança.
Se não estivesse procurando por Theron, se deitaria e permitiria que o reino
levasse sua alma, acabando com o pesadelo que ele chamava de vida.
Então pensou em Ahryn. Ela era a única mancha brilhante na vida, a única
coisa que se dera livremente a ele, sem exigir algo em troca.
Nunca poderia dizer-lhe que a amava, nunca poderia submetê-la aos
horrores do que fizera, ou parecia uma crueldade Fae que certamente a lançaram no
caminho dele. Em vez disso, esperava que suas ações dissessem a ela quando
parasse de odiá-lo por partir.
Apesar de seu pedido feito para que Aimery levasse Ahryn, estava grato por
haver tido uma última noite com ela. Seu corpo tivera mais do que ele merecia, seus
gritos e gemidos de prazer fazendo eco na eternidade na sua mente.
Ela era o farol que só ele tivera.
—Theron, — ele tentou gritar só para sentir as agulhadas de dor na
garganta.
Lugus sentiu ao longo de sua perna, o recipiente de água e levou-a aos
lábios. Ele só bebia algumas gotas, deixando o resto para Theron quando ele o
encontrasse.
O reino Fae inteiro estava em suas mãos. Seria tão fácil para ele voltar e
assumir como herdeiro legítimo do trono, mas não podia fazer isso. Poder já não
importava para ele.
Corrigir seus erros fazia.
Ele parou de andar e lentamente, afundou-se no chão. Estava tão cansado,
seu corpo se sentia sobrecarregado, ele mal conseguia erguer as mãos.
—Theron, — ele sussurrou enquanto encostou-se e fechou os olhos. Disse
para si mesmo que iria descansar só um momento.
Capítulo Vinte e Cinco
Tinha jurado que ouvira o nome dele como sussurrado ao vento.
—Lugus.
Lá estava ele novamente e soava como se fosse... Ahryn. Sorriu enquanto
sentou-se lentamente. Sua voz doce era como música para seus ouvidos. Apurou o
ouvido, mas ouviu apenas o silêncio.
Sua cabeça caiu em suas mãos. Estava ficando louco. Ahryn não estava aqui
e não estava chamando por ele. Estava falhando com Theron, Rufina e Ahryn.
Pensou no Draconiano que ousou trair Theron e Fae. Se Lugus não
encontrasse Theron e o devolvesse, sabia que era apenas o começo daquilo que os
Draconianos iriam fazer para o Fae.
Lugus cerrou os dentes e empurrou-se sobre os joelhos. A pressão que o
segurava como um grande peso empurrou com mais força. Mas Lugus se recusou a
desistir. Com o brilho dos olhos azuis de Ahryn em sua mente, ele empurrou-se
com um rugido.
A atração não diminuiu, mas foi o suficiente para que ficasse em seus pés.
Afastou o medo do escuro e se concentrou no belo rosto de Ahryn. Se ela era seu
sinal na Terra e no reino Fae, continuaria a guiá-lo no poço da escuridão.
Lugus continuou a colocar um pé à frente do outro, periodicamente
chamando Theron. Quando o peso se tornou insuportável, Lugus abraçou as mãos
nos joelhos e tentou tomar goles enormes de ar. Temia que, se sentasse e caísse no
chão, nunca ressuscitaria.
—Ahryn, — ele sussurrou. —Não quero falhar.
—Lugus.
Seu coração quase parou quando ouviu a voz dela. Levantou e abriu os
olhos, esforçando-se para a escuridão.
—Ahryn?
Na distância, à direita, ouviu o seu nome novamente. Sem hesitar, ele
seguiu a sua voz, orando que o levasse a Theron.
—Não pare, Ahryn. Não pare.
* * * *
Ahryn sentou-se no meio da cama com as pernas cruzadas e colocadas
embaixo dela. Ela pediu que Tane lhe dissesse como era Reino Sombras e depois
que ouviu sobre a escuridão terrível e o estranho silêncio, sabia que devia ajudar
Lugus de alguma forma.
Não sabia se isto iria funcionar e sem nunca tentar fazer isto ela mesma,
não tinha certeza se sabia como fazê-lo corretamente. Mas iria tentar.
Vários anos atrás, vira um texto antigo na biblioteca de seu avô, que
relatava como o Fae aproximava-os, em diferentes domínios. Isto ficou com ela e
agora ela sabia porque.
Fechou os olhos e limpou sua mente de tudo - salvar Lugus. Usando todos
os seus poderes limitados, se concentrou em Lugus. Depois de várias tentativas,
estava prestes a desistir quando um arrepio na espinha alertou que poderia tê-lo
encontrado.
A desolação, o vazio e o medo cercavam e chamou o seu nome.
As emoções enfraqueceram e ela respirou fundo. Encontrara-o, agora tinha
que encontrar Theron e levar Lugus até ele.
* * * *
Lugus seguiu a voz pelo que pareceu uma eternidade. Ele não sabia se
finalmente havia enlouquecido ou se Ahryn estava de alguma forma ajudando-o.
De qualquer maneira, não tinha outras opções.
De repente, a voz se foi, — deixando-o sozinho nas sombras, mais uma
vez. Ele quase se afogou na angústia.
—Ahryn, por favor, — implorou, precisando ouvir a voz dela.
Deu um passo para a esquerda, ouvindo. Nada. Deu um passo para a direita
e escutou. No entanto, apenas o vazio chegou aos seus ouvidos. Deu um passo à
frente, emaranhados seus pés em algo e caiu de cara no chão.
Com um gemido, Lugus virou de costas. Seu rosto brilhou com agonia e
seu crânio sentiu como se centenas de pequenos homenzinhos martelassem dentro.
Moveu-se para sentar quando a mão tocou uma pele.
Sua respiração alojou-se em sua garganta enquanto ele estendeu a mão e
tocou o tecido de um Fae.
—Theron, — ele sussurrou e procurou o rosto do irmão.
Ele rolou Theron em suas costas e encontrou a sua respiração superficial e
seus batimentos cardíacos lentos.
—Levarei você para casa, meu irmão, — disse enquanto aproximava a
água.
Usando uma mão perto dos lábios Theron e a outra segurando a água,
Lugus lentamente despejou um pouco na boca de seu irmão.
—Theron? Theron acorda, — ele exigiu acariciando o rosto do irmão.
Usando as mãos como guias, ele encontrou os ombros de Theron e o
sacudiu. Mas nenhuma sacudida acordou seu irmão.
Lugus sentou-se sobre os calcanhares enquanto percebia que seu plano de
permanecer no Reino das Sombras como sua própria forma de punição estava
agora fora de suas mãos. Se Theron não podia acordar, ele não poderia entrar no
portal sozinho. Teria de ser transportado.
Por Lugus.
O coração de Lugus saltou com a ideia de ver e segurar Ahryn novamente.
Ele não tinha nenhuma dúvida de que ela iria entender porque ele fora sem lhe
falar. Mas o que o preocupava era que sabia que seria praticamente impossível
deixá-la e deveria deixá-la. Independentemente do que ela dissesse, ele não devia
ficar.
Com um suspiro profundo, Lugus dobrou para baixo e puxou Theron em
seu ombro. Depois de ajeitar Theron, Lugus tocou sua tatuagem do cavalo para
solicitar o portal.
Fez várias tentativas antes que fosse realmente capaz de encontrar a
tatuagem em seu antebraço, enquanto falava as palavras. O barulho parecido como
o portal se abrindo e derramando a luz em torno dele foi um alívio bem-vindo.
Mesmo sabendo que ele estava prestes a experimentar a dor excruciante, saudou a
luz e o som.
Seu único pensamento, enquanto atravessava o portal foi para Ahryn.
* * * *
A cabeça de Ahryn saltou do ombro de seu avô quando um barulho alto
soou ao redor deles enquanto o portal abria. Pelo o canto de olho, ela viu Rufina,
Aimery e Tane reunirem-se perto dela enquanto esperavam quem daria um passo
através do portal.
Eles não tiveram que esperar muito.
Lugus saiu cambaleante do portal, segurando Theron em seus ombros. Ela
observou como Tane e Aimery tentaram pegar tanto Lugus, quanto Theron.
Aimery foi capaz de agarrar Theron enquanto Lugus batia no chão com um baque
forte de osso.
Ela correu para seu lado, lágrimas de alegria cegando a sua visão. Suas mãos
tocaram o rosto e viu seus olhos fechados e linhas apertadas de dor ao redor da
boca.
—Lugus? — Ela perguntou enquanto se inclinou. Ela levantou o olhar para
ver todos em torno Theron. Lugus havia arriscado sua vida por seu rei, o mínimo
que podiam fazer, era ver se ele estava ferido.
—Alguém ajude, — ela gritou.
Tane rapidamente levantou, movendo-se para o lado de Lugus. Ele correu
as mãos pelos seus braços e pernas como se estivesse procurando algo. Ahryn não
sabia o que fazer com ele, mas quando a expressão Tane ficou incerta, ela sabia que
isto não era bom.
—O que é isso? — Perguntou ela.
Os olhos acobreados subiram para o dela.
—Ele tem uma perna quebrada e acho que suas costelas podem estar
machucadas, ou mesmo fraturadas.
—Então, alguém precisa repará-lo, — disse enquanto a raiva começava a
ferver dentro dela. Ela virou a cabeça e viu como Theron foi conduzido para fora
do aposento, Rufina e Aimery correndo atrás dele.
Ahryn afastou as lágrimas não derramadas enquanto ela se virou para Tane.
—Repare-o, — ela exigia.
Tane desviou o olhar.
—Seus ferimentos não são graves, Ahryn. Ele pode esperar. Preciso ver o
seu rei.
—Não, — ela disse e agarrou o braço de Tane. —Theron tem muitos que
vão assisti-lo. Eu preciso de você. Lugus precisa de você.
Por um momento tenso, teve medo de ficar sozinha com Lugus, em
seguida Tane acenou rápido.
—Tudo bem. Vou ajudá-lo, — disse ele. — Primeiro, temos de levá-lo para
seu quarto.
—Irei ver isto, — disse Aimery enquanto subia. Ele olhou para Ahryn. —
Não o esqueceremos.
Ela não iria discutir o ponto, não quando eles estavam ajudando agora.
Vieram vários guardas para levantar Lugus e ele gemeu enquanto o moviam, Ahryn
estremeceu, desejando que ela pudesse tirar sua dor.
—Ahryn, — disse o avô do lado dela.
Ela tentou dar-lhe um sorriso.
—Ele retornou. Preciso assisti-lo.
—Irei ver com os seus pais, — disse o avô quando ele se virou e deixou a
sala do trono.
Ahryn correu atrás de Lugus, ansiosa para estar perto dele. Quando
chegaram ao seu quarto, ela abriu a porta e correu para seu lado quando os guardas
a abaixaram.
—Vejo um hematoma no rosto, — disse Aimery quando veio para o lado
de Ahryn.
Tane assentiu.
—Uma contusão, fraturas nas costelas e uma perna quebrada que observei
até agora.
—Qualquer coisa mais séria? — Aimery questionou.
—Não vou saber até depois que examiná-lo.
Aimery olhou para Lugus antes de dizer:
—Atenda Lugus. Se nós precisarmos, chamarei você.
Ahryn esperou até que Aimery saísse, para pegar a mão de Lugus.
—Parece estar com dor.
—É porque ele está. Você, apenas sendo imortal, não sabe a profundidade
da dor que os homens mortais podem alcançar.
Ela engoliu em seco e delicadamente afastou uma mecha de cabelo loiro
que caía sobre a testa.
—Posso parar a dor?
Tane balançou a cabeça e virou-se para falar com os guardas. Ahryn não se
importou com o que ele respondesse, tanto que ajudasse Lugus. Ela não podia
acreditar que Lugus tinha voltado, mas não iria questionar a sua sorte. O fato de
que ele estava vivo e ela estava o segurando, era suficiente.
—Lugus, — ela sussurrou antes de colocar um beijo suave em seus lábios.
Capítulo Vinte e Seis
Lugus sentiu a suave carícia no rosto e virou para esta. Quando ele
começou a acordar, a dor penetrou desde os dedos retorcidos até o longo de seu
corpo.
Ele tentou respirar fundo e pagou dolorosamente, uma amostra violenta de
dor que destruiu.
—Fique quieto, — alguém sussurrou em seu ouvido.
Ele conhecia aquela voz. Ahryn. Lentamente, abriu os olhos para encontrá-
la sorrindo para ele.
—Como você se sente?
Ele abriu a boca, mas pensou em dizer melhor, mas ao invés disso deu-lhe
um pequeno grunhido.
—Tane esteve curando todos os dias. A sua perna dói?
Lugus moveu a perna direita e não sentiu dor, mas quando ele moveu sua
perna esquerda, sentiu uma dor surda, como se um osso estivesse sendo curado.
Ele levantou os olhos para Ahryn.
—Você tem uma perna quebrada. Deve ter acontecido quando caiu do
portal.
Lugus engoliu e sentiu uma pontada na bochecha direita. Vagamente,
lembrou tropeçar em Theron e enterrar seu rosto, mas não achava que tinha se
machucado tão mal assim.
—Vejo que você está acordado, — disse Tane enquanto veio até a cama.
—Como você se sente?
Lugus fechou os olhos e desejou que pudesse voltar a dormir. Sua garganta
parecia um baile de agulhas apresentando-se, ele mal podia respirar sem sentir dor
com o rosto ferido e havia uma dor incômoda, mas constante em sua perna. A
última coisa que queria era conversar.
—Suponho que isso significa que se sente melhor, — Tane respondeu
sarcasticamente.
Se Lugus sentiu isto, poderia apenas revirar os olhos. Em vez disso, abriu
os olhos e encontrou Tane estudando-o.
—Como eu tenho certeza que você já sabe, têm algumas lesões, —
explicou Tane. —Você tinha uma perna quebrada que eu consegui curar o melhor
que pude. Você ainda sentirá alguma dor ali por algumas semanas, enquanto o osso
cura completamente, mas você será capaz de andar até o final do dia.
Lugus deu-lhe um aceno silencioso de agradecimento.
—De alguma forma o seu rosto ficou machucado. Apliquei uma pomada
para isso há poucas horas que vai amortecer a dor e acelerar a cicatrização. Não
haverá cicatrizes permanentes. Quanto à sua última lesão, suas costelas estão ou
machucadas ou fraturadas. Eu não senti nenhuma irrompida.
Lugus estendeu a mão e tocou o braço de Tane em agradecimento. Não
esperava que alguém o ajudasse e o fato de que Tane tinha ajudado Lugus, mostrou
que tipo de homem era o Draconiano.
—Você é bem-vindo, — disse Tane. —Você têm outros ferimentos que eu
não sei?
Lugus assentiu com a cabeça e tocou-lhe na garganta.
—Ah, — respondeu Tane e rapidamente virou as costas para eles enquanto
ocupava-se de uma mesa.
Lugus sentiu os olhos de Ahryn sobre ele e pela primeira vez desde que
acordou, estava feliz de não poder falar. Sabia que ela queria respostas, podia ver
isto em seus místicos olhos azuis. Mas ela segurou a língua.
—Estou feliz por você estar de volta, — ela sussurrou, beijou a bochecha
ilesa dele.
Ele entrelaçou seus dedos nos dela e deu um aperto suave. Já podia sentir a
sua determinação de deixar escorregar e ele tinha acabado de voltar. Estar perto
dela o fez pensar que podia haver esperança para ele.
Tane baixou uma taça na frente dele.
—Beba isto, — disse ele.
Tanto como Ahryn, quanto Tane, ajudaram Lugus levantar a cabeça, Foi
capaz de sentir o gosto da água doce. Quase que imediatamente a dor deixou sua
garganta.
—O que você fez? — Perguntou ele.
Tane simplesmente sorriu e encolheu os ombros.
—As fadas não são os únicos com habilidades especiais de cura.
—E Theron...? — Lugus não tinha sequer coragem de perguntar.
Ahryn assentiu.
—Theron está sendo cuidado.
—Ele já acordou?
Lugus viu quando Ahryn levantou a cabeça para Tane. Tane suspirou e
voltou para a mesa.
—Ele acordará, — Lugus disse. Ele sabia das habilidades de cura do Fae.
Ele poderia ter trazido Theron, mas o Fae poderia trazer de volta o homem.
—Vamos cuidar de você agora, — disse Tane e levantou o tronco de
Lugus. —Isso pode doer um pouco.
Lugus apertou os olhos, fechando-os, as mãos de Tane tocaram as costelas
feridas. Cada respiração que deixava seu corpo, era como um punhal em seus
pulmões.
—Relaxe— Tane disse suavemente.
—Ele está quase terminando, — Ahryn sussurrou em seu ouvido e esticou
os dedos em seus cabelos.
Seus dedos suavemente esfregaram seu couro cabeludo, ajudando a aliviar a
angústia. Lentamente, Lugus relaxou e quando o fez, achou mais fácil respirar.
—Em poucos dias você não vai sentir nenhuma dor em suas costelas. Têm
apenas contusões e eu as curei.
Lugus abriu os olhos enquanto adormecia falando com ele.
—Não sei como lhe agradecer.
—Sim, você sabe.
Lugus queria perguntar o que significava a Tane, mas seus olhos não
abriam e o sono começou a dominá-lo.
—O que você fez? — Ahryn perguntou quando ela olhou Lugus.
Tane suspirou.
—Ele precisa de repouso. Para curar-se completamente, precisa dormir e
com tudo acontecendo, eu sabia que lutaria contra isto. Só fiz somente o que era
preciso para que não pudesse lutar contra isso.
Ahryn olhou a Lugus tão pacífico no seu sono. Ela queria estar perto dele
quando acordasse, e após longas horas dele se agitando sem conta, isto trouxe
lágrimas aos olhos dela quando finalmente procurou por ela.
—Você precisa descansar, — Tane disse suavemente.
—Eu não vou deixá-lo. Nunca iria abandoná-lo.
Tane veio agachar-se ao lado de sua cadeira e tocou seu ombro.
—Ahryn, você está tão esgotada quanto Lugus. Estará curado e quando
acordar, estará quase de volta ao normal.
—Então o quê? — Ela perguntou e se virou para olhar profundamente em
seus olhos cobre. —O que estar por vir até nós, Tane? Eu sei que você vê.
Tane abaixou a cabeça e suspirou profundamente.
—Se fosse fácil, eu lhe diria, mas não é. Seu avô espera por você agora
mesmo, Ahryn. Vá até ele.
Ahryn não quis deixar Lugus, mas sabia que com Tane em seu quarto, tudo
estaria bem. Ela não admitia a ninguém senão a si mesma que tinha medo de sair de
novo. Se pudesse falar com ele, deixá-lo saber que não importava o que ele fizera
no passado, ela o amaria por toda a eternidade.
—Tudo bem, — disse ela e lançou mão de Lugus. —Você cuidará dele?
Tane assentiu.
Com um último olhar para Lugus, ela saiu da sala e para os braços do avô.
* * * *
Tane liberou sua respiração quando Ahryn fechou a porta atrás dela. Ele
afundou-se na cadeira que ela tinha acabado de desocupar e olhou para Lugus.
—Não invejo sua estrada à frente, meu amigo, — disse ele.
Apesar do que pensara originalmente, ele chegou a pensar em Lugus e
Ahryn como amigos. Lugus era um bom homem e ele não sabia se os seus papéis
estivessem invertidos, se ele poderia ter controlado o poder que Lugus tivera uma
vez.
Poder no mais forte dos homens, tinha uma maneira de transformar o seus
corações em escuridão, embora não tinha tocado Lugus. Em vez disso, ele tinha
saído mais forte do que antes.
Foi a razão pela qual Tane sabia que somente Lugus era o homem que ele
precisava.
Ele se levantou e começou a embalar as ervas que tinha solicitado ao Fae.
Ele estava mais que um pouco surpreso que Aimery não tivesse vindo olhar Lugus,
desde que Lugus era o legítimo rei de Fae, não importava se ele era mortal ou não.
Tane riu quando passou a ter um vislumbre do futuro de Aimery, que não
seria tão ordeiro como o comandante Fae queria.
—Oh, como os poderosos caem aos pés do amor, — Tane resmungou.
Uma vez que a mesa estava limpa, se voltou para a varanda e olhou para a
brilhante cidade. Era uma cidade bonita, mas nem mesmo sua beleza poderia
enfraquecer a saudade de retornar à Draconiana. E ele deveria voltar. Um traidor
tinha que ser encontrado antes que fizesse mais danos.
Tane olhou para Lugus. Os cortes em seu rosto já estavam em cura,
deixando apenas a pele rosada que logo desapareceria também. Seu olhar encontrou
as tatuagens nos braços Lugus.
Como Lugus não conhecia a importância das marcas especiais e como estas
poderiam governar a sua vida, independentemente de onde ele fizesse sua casa?
O barulho suave de asas espantou seus pensamentos e quando se voltou
para a varanda aberta, ele avistou o pequeno dragão castanho pouco antes
empoleirar no corrimão.
Tane sorriu e caminhou para o dragão.
—O que o traz aqui? — Perguntou ele.
O pequeno dragão inclinou a cabeça oblonga para o lado, enquanto ele
considerava Tane com os olhos cobre. Enfiou as suas asas contra ele e colocou a
sua cauda espetada sobre os trilhos. O dragão tinha dois chifres na testa que
retorcia de ida e em várias linhas de minúsculos pontos em suas costas.
—Ah, você é lindo, — Tane arrulhou.
O dragão piscou e depois lhe estendeu a pata dianteira. Sem hesitar, Tane
estendeu, como o dragão que deixou cair uma moeda dourada e sua mão. Tane
olhou para a moeda para ver dois dragões negros entrelaçados. Vinha de seus
irmãos.
Quando Tane levantou a cabeça para agradecer ao dragão, este já tinha
voado para longe.
—Obrigado, meu amigo, — ele sussurrou para o vento antes de voltar para
a moeda.
Ele entrou no quarto de Lugus e fechou as portas da varanda. Só então ele
pegou a moeda entre dois dedos e prendendo-as diante dele.
No mesmo instante uma luz brilhante derramou na moeda e uma figura em
miniatura se tornou visível. Tane ficou surpreso ao ver Viggo na frente dele. Um
medo atroz começou na boca do estômago de Tane. Somente nas mais difíceis
circunstâncias que Viggo enviava uma mensagem que possa ser interceptado.
—Espero que este o encontre rapidamente Tane, — Viggo falou baixinho
como se alguém pudesse ouvi-lo quando sua mensagem gravada começou. —
Conclua a sua missão e volte. Draconia precisa de você. Nosso rei precisa de você.
E tão repentinamente quanto a mensagem apareceu, ela sumiu. Tane se
recostou na cadeira e descansou a cabeça contra o encosto. Não havia maneira de
contornar isso, tinha que retornar. Imediatamente.
Ele olhou para Lugus, viu seu rosto quase curado e sua respiração igual.
Por mais que precisasse estar aqui para ajudar Lugus estabelecer o seu caminho,
Draconia e seu rei precisavam mais dele.
Capítulo Vinte e Sete
Não importa quanto Ahryn se esforçasse duramente, não conseguia
descansar. Fingia que dormia enquanto seu avô cuidava dela, mas agora estava
ficando cansada da farsa. Queria estar com Lugus.
—Você pode parar de fingir agora.
Deveria ter sabido que não faria de tolo ao seu avô. Ahryn virou e sentou-
se para encontrar seu avô sentado com os braços cruzados, seus longos cabelos
loiros e mantido longe de seu rosto por tranças.
—Mesmo quando uma menina que não era capaz de me enganar, Ahryn.
Por que tentar agora? —Ele perguntou, a tristeza escurecendo seus olhos azuis.
Ahryn suspirou.
—Não sei.
—Você vai estar com Lugus em breve, mas você precisa descansar. Não
fará nada por ele, nem mesmo qualquer bem tornando-se esgotada.
Havia algo em sua voz, algo que alertou a Ahryn de que algo estava para
acontecer.
—O que você está escondendo de mim? — Ela perguntou hesitante.
Michyl desviou o olhar e descruzou os braços.
—Não tive escolha, Ahryn. Você não sabe o que Lugus fez no passado.
—Eu sei que tipo de homem que ele é agora, vovô. Quando ela olhou para
o homem diante dela, o homem em que confiara seu coração, percebeu o que ele
fizera. —Você mandou chamar meus pais.
Ele balançou a cabeça lentamente.
—Não importa, — ela disse quando jogou as cobertas para trás e saiu da
cama. —Não vou deixar Lugus.
Com um último olhar para seu avô, ela voltou para seu aposento.
* * * *
Não importa o quanto Rufina tinha orado ou a quantidade de magia usada,
Theron não acordava. Muitas horas, eles tinham se debruçado sobre Theron,
combinando seus poderes juntos na esperança de que ressuscitaria.
Ela pediu por notícias constantes sobre o estado de Lugus e, embora
quisesse ir até o cunhado, e agradecer-lhe pelo regresso do marido, não poderia
deixar Theron. Não até que ele acordasse.
—Minha rainha, você deve comer, — disse Aimery enquanto segurava um
prato de comida para ela.
Estendeu o braço e arrancou um pedaço de fruta a partir da bandeja, mas
não sentia gosto quando mastigava. Finalmente, quando não pôde suportar a sala
lotada mais, levantou-se.
—Todo mundo, obrigado por seus esforços, mas preciso que vocês saiam
agora.
—Mas, Rufina, — Aimery iniciou.
Interrompeu-o com a mão. Uma vez que os outros foram embora, ela se
virou para o comandante.
—Verifique Lugus novamente. Dê a Tane qualquer coisa que ele precisar
para acelerar a recuperação de Lugus.
Aimery assentiu e se virou para sair.
—Além disso, — disse ela, parando ele. —Veja Ahryn. Ela e Lugus vão
precisar de um pouco de privacidade e eu quero ter certeza que eles terão.
—Mesmo se Michyl e seus pais desaprovarem?
Ela levantou uma sobrancelha.
—Eu sou rainha de nada? Este é o meu palácio, Aimery e eles vão se
lembrar disso. Enquanto Ahryn ficar aqui, ela está sob minha proteção.
—A sua proteção também chega a Lugus?
Ela olhou para Aimery, tentando discernir o que ele estava se referindo.
—Os outros sabem que ele está aqui?
Aimery assentiu.
—Eles estão mais preocupados com a presença de Tane.
—Se alguém prejudicar Lugus, vou eliminá-lo. Ela tremia de raiva pelo
modo insensível que seu povo poderia atuar. Será que eles não percebem que as
pessoas podem mudar?
—Vou espalhar a palavra, — Aimery disse então se virou e saiu do quarto.
Quando a porta fechou atrás de Aimery, Rufina afundou em sua cadeira e
ergueu a mão de Theron na dela.
—Estou perdida Theron e você sabe que raramente acontece. Não sei mais
o que fazer para trazê-lo de volta. Parece que com toda a magia no reino Fae não
posso acordar você. Não quer voltar para mim? Para o nosso filho?
Ela suspirou alto e baixou a cabeça em suas mãos.
—Nosso povo precisa de você, meu amor. Eu preciso de você. Não posso
fazer isso sozinha.
—Você podia fazer tudo, — veio uma resposta rouca.
Rufina cabeça ergueu olhar para Theron, mas seus olhos permaneciam
fechados. Teria ela simplesmente imaginado que seu marido tinha falado?
—Rufina?
Ela sabia o que ouviu naquele momento. Ela levantou-se e inclinou-se para
Theron.
—Meu amor? Estou aqui. Venha para mim.
Lentamente, Theron abriu os olhos, agora seus olhos azuis brilhantes
estavam entorpecidos e quase sem vida.
Mas, Rufina não se importava. Ela sorriu por entre as lágrimas e beijou sua
bochecha.
—Sabia que você voltaria para mim.
—Qu... O que aconteceu?
—Vou contar tudo mais tarde. Agora você deve melhorar. Dorme meu
amor e recupere sua força.
Quando os olhos fecharam e sua respiração igualou no sono, Rufina
reclinou-se na cadeira e limpou as lágrimas. Agora que Theron acordara, sentia a
garra de ferro em torno de seu coração se afrouxar.
Ela se levantou e foi até a porta para anunciar a boa notícia. Logo, o palácio
tranquilo estava agitado pela notícia do despertar de Theron. Rufina apressou-se até
o aposento de Lugus para lhe dizer.
Sem bater, ela abriu a porta e encontrou Tane olhando para longe como se
estivesse imerso em seus pensamentos. O olhar dela moveu-se à cama para
encontrar Lugus dormindo.
—Tane? — Ela sussurrou quanto entrou na aposento.
Ele empurrou e se levantou.
—Rufina.
—Como ele está? — Ela perguntou pensando se poderia dizer pelo rosto
de Lugus que ele estava curado.
Tane assentiu.
—Está praticamente curado. Dorme em um sono reparador, embora eu
suspeite que vai acordar em breve.
—Sei que sua mortalidade retardou o processo.
—Contribuiu um pouco, mas fui capaz de trabalhar com isso.
Rufina sorriu.
—Você tem habilidades muito boas, então. Entendo que você não requer
qualquer auxílio nosso.
—Você me elogia bastante. As feridas de Lugus não eram tão graves.
Ela movimento sua mãos ante suas palavras.
—Diga-me, ele vai se recuperar completamente?
—Por causa da sua mortalidade, vai andar com um pouco de dor por
algumas semanas antes que o osso sare completamente em sua perna. Uma vez que
suas costelas estavam apenas machucadas, deve estar bem no final do dia.
—Excelente. Não sei como lhe agradecer por tudo...
Ela observou como seu olhar deslocou-se por um instante antes de retornar
a ela.
—Peço apenas um pequeno favor.
—Diga.
—Lugus tem seu destino ainda ante ele. Precisa chegar a ele. Muitas coisas
dependem de que Lugus possa encontrar em seu destino.
A curiosidade levou a melhor sobre Rufina.
—Qual é o seu destino?
Tane sorriu e abanou a cabeça.
—Isso eu não posso dizer.
—Por que é que tenho a sensação de que você está prestes a deixar-nos?
—Porque eu estou. Draconia precisa de mim.
Ela assentiu com a cabeça quando entendeu.
—Saiba que você é bem-vindo em nosso reino a qualquer momento.
Gostaria que você visitasse logo para que Theron possa agradecer-lhe
pessoalmente.
—O agradecimento vai para Lugus.
—Isto vai para os dois.
Tane curvou a cabeça.
—Como você quiser.
Ela observou enquanto Tane caminhou até a porta.
—Se você precisar de nós, basta pedir, Tane. Temos uma dívida muito
grande que temo nunca poder saldá-la.
Tane deu-lhe um sorriso então deslizou para a porta.
—Ele é um bom homem.
O olhar de Rufina virou-se para cama e encontrar Lugus olhando para ela.
—Ele é. Temo que nunca vá vê-lo novamente.
—Ah, acho que nós... — Lugus disse enquanto se sentava e lançou as
pernas para o lado da cama, cuidando de manter o lençol sem mostrar sua nudez.
Rufina foi até a cama.
—Como você se sente?
—Como se fosse arrastado atrás de uma horda de dragões.
Ela sorriu, mas viu a dor em seus olhos, no entanto. Não a dor dos
ferimentos, mas a dor da sua alma.
—Não posso imaginar o que foi voltar para aquele lugar, Lugus. Meras
palavras de agradecimento não parece o suficiente.
—Mas eles vão fazer muito bem. Não peço nada. Eu fiz isso por meu
irmão.
Ela se sentou ao lado dele e colocou a cabeça em seu ombro.
—Theron acordou.
Lugus suspirou e fechou os olhos.
—Graças as estrelas, — ele sussurrou.
—Você não pensava em voltar.
Não era uma pergunta e ele sabia disso, mas sentiu que tinha de responder
a ela.
—Eu não, mas não tinha outra escolha quando encontrei Theron
inconsciente.
—Como você encontrou-o? — Ela perguntou quando levantou a cabeça e
olhou para ele. —Tane nos disse que o reino era tão negro como os Dragões
Mortais e silencioso como um túmulo.
—É tudo isso e muito mais. Não sei como eu encontrei. Andei por horas
até que ouvi uma voz, — disse ele ao lembrar o doce som de Ahryn chamando por
ele.
—Uma voz, — repetiu. —De quem era a voz?
—Ahryn, — ele disse com um riso suave. —Eu sei que provavelmente era
minha imaginação. Esse reino te deixa tonto em questão de momentos.
—No entanto, você encontrou Theron?
—Tropecei sobre ele na verdade, — disse e tocou seu rosto que agora
estava completamente curado.
—Interessante, — disse ela em seguida, levantou-se. —Espero que você
venha ver Theron.
Lugus afastou o olhar dela. Isto ele não podia fazer. Era melhor que
partisse antes, então.
—Sim, — ele mentiu e a viu caminhar pelo aposento.
Ele procurou em volta por suas roupas, mas elas não estavam aonde
deveriam ser encontradas. Hesitante, se levantou e encontrou uma perna doida e
respirou lento e bem fundo, para suas costelas não doerem.
Ao chegar a seu guarda-roupa sem incidentes, abriu a porta e pegou
algumas roupas. Não gostava de usar as roupas que constituíam a realeza. Quando
pensou que teria que usá-las, tinha um vislumbre de algo escuro entre o branco e o
prata.
Jogou de lado a túnica branca que segurava e deixou de lado as outras
roupas, até encontrar as calças de couro e uma túnica preta. Com um sorriso, ele
vestiu a roupa. Não se surpreendeu ao encontrar as botas próximas. Puxou as botas
de couro confortáveis e emitiu um suspiro ao sentir-se melhor...
Primeiro, iria encontrar algo para comer, então iria encontrar Ahryn. Ainda
não decidira o que faria em relação ao que havia entre eles. Havia tanta coisa que
ele queria dizer, mas era injusto fazer algo até que ela soubesse a verdade sobre ele.
Talvez fosse hora dizer-lhe. Tudo. Mesmo que isto a fizesse odiá-lo depois,
pelo menos ele poderia saber que fizera a coisa certa e deu tudo.
Paz de repente o encheu. Ele riu e caminhou até a porta, de repente ansioso
para encontrar Ahryn.
Capítulo Vinte e Oito
Ahryn caminhava pelos corredores do palácio, mergulhada em
pensamentos. As palavras do avô tocando em sua mente e com a iminente chegada
de seus pais, sabia que teria pouco tempo para falar com Lugus sozinho.
Embora não importasse o que ele fizera. Mesmo se tivesse sido o único que
quase destruiu Caer Rhoemyr, ele não era o mesmo homem e de bom grado
colocaria sua vida em suas mãos. Só precisava dizer-lhe isso.
Então, poderiam decidir o que era certo para eles. Sabia que se não tivesse a
oportunidade de falar com Lugus antes de seus pais chegarem, nunca iria. Seus pais
ainda a tratavam como uma criança.
—Talvez com tempo eu os impeça de fazê-lo, — ela sussurrou.
Era tempo de parar de reclamar sobre como os pais a tratavam e fazer algo
a respeito. Sorriu por sua decisão, sabendo que era a influência de Lugus sobre ela
que tinha mudado o que era.
Seus pés apressaram-se quando se virou e caminhou para o aposento de
Lugus. No momento em que ela chegou, estava quase tonta de emoção.
O que fez o seu desapontamento muito pior foi quando ela encontrou a
sala vazia.
—Acho que ele está se sentindo muito melhor.
Ahryn virou-se para encontrar Rufina atrás dela.
—Minha rainha. Não ouvi você se aproximar.
Rufina lhe deu um sorriso conhecedor.
—Isso é óbvio. Gostaria de falar com você um momento, por favor.
Ahryn olhou para cama de Lugus. Teria que esperar para encontrá-lo, mas
encontrá-lo, ela o faria.
—Sim, minha rainha.
—Bom, — disse Rufina. —Venha comigo.
Ahryn não sabia por que Rufina a levou para o pequeno aposento fora dos
aposentos privados do rei e da rainha. Parecia mais uma interrogação se
aproximando.
—Sente-se, — disse Rufina quando sentou em uma das muitas cadeiras.
Ahryn afundou em uma e esperou.
Ela não teve que esperar muito tempo.
—Diga-me, Ahryn, o quanto você ama Lugus?
Ahryn piscou.
—Eu o amo tanto que daria a minha imortalidade para ficar com ele.
—Isso é bastante, sim, — disse Rufina, o rosto sem expressão.
—Sim.
—Sem saber quais os demônios que o assombram?
Ahryn assentiu.
—Não importa o que ele fez no passado. Sei que tipo de homem que ele é
agora.
—Só mais uma pergunta, — disse Rufina. —Você de alguma maneira
conseguiu comunicar-se com ele enquanto ele estava no Reino das Sombras?
Ahryn ingerido.
—Consegui. Sabia que ele iria precisar de ajuda e procurei dar-lhe isso.
Rufina de repente sorriu.
—Você será muito feliz com Lugus. Ele é um homem bom, Ahryn, apesar
do que alguns pensam dele.
—Eu sei, — disse Ahryn, com um sorriso no rosto também. —Fui ao seu
quarto para lhe dizer do meu amor e que eu não me importo com o que ele fez no
passado. Vou ajudá-lo a se libertar de seus demônios. Nós podemos fazer isso
juntos.
Rufina então se levantou e deu um tapinha no ombro de Ahryn.
—Espere na sala do trono. Vou encontrar Lugus e enviá-lo ali. Ah e
Ahryn... Não se preocupe com seus pais. Eu os manterei distantes e vou continuar
a fazê-lo até você e Lugus terem a chance de conversar.
Ahryn se abraçou e fez uma oração de agradecimento antes de correr para a
sala do trono.
Ela perambulou pela sala enorme enquanto a sua mente acolhia tudo o que
queria dizer a Lugus. Ela passou cada possível resultado e sua reação a cada uma,
apenas para que pudesse estar preparada para qualquer eventualidade.
Quando a porta se abriu, ela saltou e virou à espera de encontrar Lugus,
mas encontrou Theron. Ele estava encostado na porta, como se tivesse usado todas
as gramas de sua força apenas para abri-la.
Ela correu para o seu rei e passou o braço em volta da cintura para ajudá-lo
a sustentar-se.
—Não acho que você deveria estar fora da cama ainda. A Rainha Rufina
terá sua cabeça se você se machucar.
Ele sorriu, mas sua boca estava apertada de cansaço.
—Estou bem, Ahryn, incrivelmente fraco. Nunca senti isso antes e vou
estar perfeitamente satisfeito em nunca sentir isso novamente.
Ela o ajudou a ir até o trono e fez com que ele estivesse confortável antes
de recuar.
—Posso arranjar-lhe em alguma coisa?
—Não, — ele disse, olhos fechados enquanto inclinava a cabeça contra a
parte de trás do trono. —Eu me senti muito bem quando acordei e pensei que
poderia procurar minha esposa, mas foi apenas a poucos passos da cama que eu
percebi o meu erro.
Ahryn riu.
—Eu vou encontrar alguém para levar você de volta para seu quarto.
—Ainda não, — disse ele. —Eu me sinto confortável no momento.
—Tudo bem, — disse ela e olhou para as portas.
—Você age como se estivesse esperando por algo ou alguém, — disse ele,
com um olho mal aberto.
Ahryn estendeu as mãos e olhou para seu rei.
—Estou.
—Quem é o pretendente de sorte? Michyl está satisfeito?
Ela encolheu os ombros.
—Não tenho certeza do que meu avô pensa.
—E o pretendente?
—Lugus.
Theron abriu olhos.
—Meu irmão Lugus?
Ahryn assentiu com a cabeça, mal conseguindo conter o arrepio que
percorreu sua espinha ao ver a expressão no rosto de Theron.
—Proíbo-a. Você não deve nem mesmo falar com ele. Não é digno de
você.
—Acho que sou a única que pode decidir quem é ou não é digno de mim,
— retrucou Ahryn. —Meu rei.
—Se você não vai ouvir o meu conselho, talvez a verdade do que ele é
mudará sua mente.
Ahryn abriu a boca para impedi-lo. Ela não queria ouvir os atos Lugus de
Theron. Agora entendia quando Rufina dissera para ela deixar que Lugus falasse
primeiro.
—Ele poderia ter sido indevidamente acusado de matar o nosso pai, —
começou ele.
—Poderia ter sido? — Ahryn perguntou indignada. —Ele foi e
erroneamente preso também. Você esteve naquele reino por um mero dia apenas.
Ele esteve lá por milênios e sobreviveu.
Theron passou a mão em frente a ele silenciando-a.
—Não penso, — ele levantou-se.
Ahryn olhou para ele, sem entender o ódio que Theron sentia pelo homem
que lhe salvara a vida.
—Foi a vingança que manteve Lugus vivo durante milênios, Ahryn e
quando ele foi capaz de libertar-se, tinha mais poder do que qualquer pessoa em
qualquer reino. Ele saiu para assumir este reino e a Terra.
—Este reino era justamente o seu, — disse ela apressadamente.
—Isto não desculpa o que ele fez. Não só ele interceptou o reino Fae
inteiro sob seu controle, mas ele liberou os Dragões Mortais, que quase destruiram
a cidade.
Lugus acabara de entrar na sala do trono, quando ouviu seu irmão em
seguida. Quando Rufina o encontrara e disse-lhe que Ahryn esperava por ele,
Lugus quase correra a distância. Agora, enquanto esperava que seu irmão
continuasse, ele sentiu um nó de medo na boca do estômago.
Ele ficou preso no chão enquanto Theron continuou sua longa lista de
crimes.
—Ele é um assassino, Ahryn.
Lugus fechou os olhos e suspirou. Ahryn estava totalmente e
verdadeiramente perdida para ele agora, que era provavelmente o melhor. Ele
entrou na sala do trono em seguida e esperou até que ambos, Ahryn e Theron e
notasse-o.
—Agora você tem, Ahryn. Todos os meus crimes. Tudo o que eu tentei
desesperadamente manter longe de você, o motivo de ter partido sem nenhuma
intenção de retornar algum dia.
Antes Ahryn pudesse responder, a voz Theron aumentou em torno deles.
—Como você ousa entrar neste palácio! Foi banido deste reino e não há
nenhuma razão para ter retornado. Parta agora antes que eu o jogue de volta ao
reino das sombras.
Lugus olhou para seu irmão e desejou com todo seu coração que pudesse
pedir desculpas a Theron, mas um pedido de desculpas não era suficiente. Nada
jamais iria compensar a destruição que ele havia feito.
Theron estava certo. Era hora de sair. Lugus não se incomodou em olhar
para Ahryn quando se virou para sair. Ele não poderia encontrar o ódio brilhando
em seus belos místicos olhos azuis, não depois de tudo o que tinham
compartilhado.
Apressou-se em partir da sala do trono, sentindo subitamente como se seu
coração estivesse morrendo. Mas deixar o palácio não era suficiente. Ele tinha que
ir mais longe.
Lugus esperou até que estivesse claro totalmente, em seguida tocou uma de
suas tatuagens. Ele não tinha ideia para onde iria, mas novamente, realmente isto
não importava mais.
* * * *
Ahryn olhou horrorizada para o rei.
—O que você fez? — Ela gritou e tentou correr atrás Lugus.
—Detenham-na, — gritou Theron.
E antes Ahryn pudessem deixar a sala do trono, dois guardas a seguraram.
—Você não tem ideia do que acabou de fazer. Você não se importa que ele
tenha se arriscado para ajudá-lo?
Theron riu.
—Ajudou-me? — Lugus só ajudou a si mesmo.
—Não é verdade, — disse Rufina enquanto entrava na sala do trono. —
Theron, o que está acontecendo? — Ela perguntou quando viu Ahryn sendo
segura.
—Está tentando partir para seguir Lugus. Eu a impedi. Ela não pertence a
ele.
—Sim, ela pertençe. Diga-me que não fez o que eu acho que você fez.
Theron se inclinou para trás e considerou sua esposa.
—Acabei de regressar do quase morte, Rufina. O que é que você acha que
eu fiz?
—Interferiu onde não tinha o direito, — disse ela. —E a única razão que
você está de volta do quase morte, querido marido é porque Lugus arriscou sua
vida para ir ao Reino das Sombras para encontrá-lo. Sua voz tremia de raiva.
A face de Theron caiu.
—Quer dizer que ele veio atrás de mim na esperança de restaurar a sua
imortalidade?
Ahryn viu como Rufina abanou a cabeça.
—Então por que ele veio atrás de mim? — Theron perguntou.
—Porque nós lhe pedimos, — respondeu Ahryn quando Rufina não fez.
Theron fechou os olhos e passou a mão pelo rosto.
—Pelas estrelas, o que eu fiz Rufina?
—Onde ele foi? —Ahryn perguntou impaciente para esperar por Theron.
Rufina e Theron levantaram seus olhares para ela.
—Não sei, — respondeu Theron. —Mas tenho que encontrá-lo.
—Não, — disse Ahryn e sacudiu os braços para soltar-se do aperto dos
guardas. —Eu vou encontrá-lo.
Ela virou-se para deixar a sala do trono, quando Theron gritou para que
parasse. Ahryn suspirou e voltou para o rei. Ele levantou-se e com a ajuda de
Rufina, foi caminhando lentamente em sua direção.
—Você vai precisar de ajuda, — disse Theron. —Ele pode estar em
qualquer lugar deste reino.
—Não acho que ele está neste reino, — disse Rufina.
O olhar de Theron se voltou para ela.
—O quê?
—Não há tempo para lhe dizer tudo, meu amor, — Rufina disse
suavemente. —Mas há tantas coisas que você não sabe. Lugus arriscou sua vida
para trazer Ahryn aqui ao ficar presa no reino da Terra, então novamente arriscou a
vida para salvá-lo. Ele pretendia permanecer no Reino das Sombras, mas você
estava inconsciente e então teve que trazê-lo para casa.
—Não entendo, — resmungou Theron. —Como é que Ahryn ficou presa?
Ahryn aproximou.
—Um mortal me ligou a ele com um antigo bracelete escravo celta. Isso me
impediu de usar, basicamente, todos os meus poderes Fae, o que incluiu a abertura
do portal. Foi Lugus quem abriu.
—Como? —Theron repetiu e olhou para Ahryn e Rufina.
—Suas tatuagens, meu amor. Eles são especiais e pelo que descobri, foi-
lhes dada porque era o herdeiro do trono.
—Nós temos que encontrá-lo, — disse Theron. —Tenho... Ele virou, os
olhos suplicando a Ahryn. —Perdoe-me Ahryn. Não há desculpa para o que fiz.
Ahryn abanou a cabeça.
—Só me deixe sair para encontrá-lo.
—Vou assim que eu encontrar Aimery. Vou mandá-lo com você.
—Não, — disse Ahryn mais duro do que ela pretendia. — Aproximei-me
de Lugus antes. Vou fazer isto novamente, — disse ela e saiu da sala do trono.
—O que você acha que ela quis dizer? —Theron perguntou a Rufina.
Rufina sorriu quando ela se virou e encaminhou Theron de volta aos seus
aposentos.
—Ela esteve comunicando-se com ele, enquanto estava procurando por
você.
—O quê? — Ele perguntou, a incredulidade ampliando seus olhos.
—Eu sei. Estou tão surpresa. Não acho que ela sabe como é raro isto que a
liga a Lugus.
—Ela o ama.
—Muito, — disse Rufina.
Theron parou e virou para a esposa.
—Não posso acreditar que agi como idiota.
Rufina tocou seu rosto e sorriu.
—Ele vai te perdoar, meu amor. Não é o homem que você conheceu. Seus
pais ficariam orgulhosos do que se tornou.
Theron suspirou.
—Ele pertence aqui. Temos de trazê-lo de volta.
—Bem, — Tane disse que ele tinha um destino a encontrar.
—Tane? — Theron já tivera muitas surpresas para o dia, mas ele percebeu
que provavelmente tinha mais. —Quem é Tane?
—Eu vou lhe contar tudo sobre ele enquanto nós tomamos um banho e
dou-lhe uma bronca pelo que você quase fez a Ahryn e Lugus.
Capítulo Vinte e Nove
Lugus saiu do portal e encontrou-se olhando para três luas. Piscou. Três
luas brilhavam de volta para ele.
—Surpreendente, — disse enquanto olhava em torno dele.
O reino estava em trevas, mas surpreendentemente, as trevas não o
assustavam como costumava fazer. Com a lua derramando sua luz sobre a terra, ele
deixou seus olhos percorrem as mais altas montanhas, florestas densas e a beleza
negra.
Um som que nunca pensou ouvir novamente o alcançou.
—Dragões, — ele sussurrou enquanto levantava a cabeça para o céu e
encontrava a forma escura de um dragão enorme circulando acima dele.
—Isso eu não esperava, — disse Tane enquanto caminhava pela floresta.
Lugus ficou surpreso ao encontrar-se sorridente.
—Devo estar em Draconia.
Tane assentiu.
—O que você acha?
—É muito bonito.
—Isto ela é. Por que você veio?
Lugus encarou um momento.
—Você sabia que eu viria, assim como você sabe porque eu deixei o meu
reino.
—Sim. Eu sabia.
—Então por que pergunta?
—Na esperança que você perceba o que precisa saber.
Lugus suspirou.
—Só quero ficar sozinho por algum tempo. Se eu não sou bem-vindo aqui,
vou partir.
—É claro que é bem-vindo aqui, disse enquanto voltava para a floresta. —
Basta lembrar que...
Sua voz sumiu quando ele desapareceu entre as árvores. Lugus revirou os
olhos e rolou no chão. Não se preocupou em chamar Tane de volta e perguntar-lhe
que repetisse o que dissera. Se ele quisesse que Lugus o ouvisse, teria dito mais alto.
Com o seu braço recostado na parte de trás da cabeça, Lugus olhou para o
céu e viu muitos dragões enquanto eles dançavam no ar da noite.
—Lugus?
Ele pulou e sentou-se. Essa era a voz de Ahryn em sua cabeça, tal como
fora no Reino das Sombras.
—Lugus.
Desta vez, ela foi mais insistente, como se esperasse que ele respondesse.
—Responda-me, por favor.
Ele ouviu o desespero na voz dela e queria responder-lhe. Não tinha ideia
de como ela estava aproximando-se dele através de outro reino e parte dele não se
importava, mas a outra parte sabia que era melhor se eles se separassem.
—Sei que você pode me ouvir, — continuou ela. —Se não vai me responder, então
vai ter que me ouvir.
Ele deitou de costas, mas já não via os dragões. Em vez disso, fechou os
olhos se deleitando com o som de sua voz.
—Você não deveria ter me deixado. Mais uma vez. Há muitas coisas que precisamos
dizer um para o outro.
Ela estava certa, ele sabia.
—Lugus, Eu... Eu te amo. Era por isso que eu estava esperando na sala do trono para
lhe dizer.
Seu coração deu um salto em suas palavras e ele desejava dizer-lhe o que
sentia.
—Não me importa o que você fez no passado. Conheço o homem que é hoje e isso é tudo
que importa para mim.
Ele queria acreditar nela, mas sabia que o Fae nunca esqueceria ou lhe
perdoaria. Ele ainda não perdoara a si mesmo.
—Volte para mim, Lugus. Vamos explorar o que há entre nós. Não sou inteira a
menos que você esteja comigo. Preciso de você.
Após alguns momentos ele percebeu que ela fora embora e se arrependeu
de não falar com ela.
—Ahryn, — ele gritou, testando para ver se ela estava ouvindo. Mas ele
não conseguiu uma resposta.
Sentou-se e apoiou os cotovelos sobre os joelhos enquanto pensava sobre
as palavras dela. Talvez não houvesse lhe dado crédito suficiente para tomar suas
próprias decisões. Talvez ela realmente se importasse.
Talvez...
* * * *
Ahryn deixou as lágrimas caírem. Falhara. Lugus nem sequer falara com ela.
Embora, não estivesse desistindo. Continuaria a estender a mão para ele, para falar-
lhe de seu amor. Talvez um dia ele visse o quão forte era o seu amor.
Ouviu a porta do seu quarto abrir e soltou um suspiro suave. Theron fora
vê-la várias vezes, implorando seu perdão a cada vez. Não achava que poderia ouvi-
lo dizer isso mais uma vez.
—Só quero ficar sozinha, — disse ela e continuou de costas para a porta.
Talvez ele entendesse e simplesmente fosse embora.
—Devo ter errado de aposento porque tinha certeza de que você chamou
por mim.
A boca de Ahryn abriu-se ao ouvir a voz de Lugus. Ela virou-se para vê-lo
preenchendo sua porta, um sorriso no rosto incerto.
—Você quis dizer aquilo?
—O quê? — Perguntou ela.
—O que você me disse. Você quis dizer aquilo?
Ela sorriu e lutou contra o impulso de correr para seus braços. Havia coisas
que tinham de ser ditas antes que pudesse se alegrar.
—Sim. Cada palavra.
—Você não tem vergonha do que eu fiz?
—Qualquer homem teria feito o que você fez, se eles fossem capazes. Eu
teria feito isso.
Ele entrou no quarto e fechou a porta.
—Seus pais não me aprovam.
—Não me importo. Faço e isso é tudo que deve importar.
Ele deu um passo em sua direção.
—Não sou mais imortal.
—Nós vamos trabalhar em cima disso. Não estou preocupada. —Ele não
precisava saber ainda que ela já havia falado com Rufina e Theron em desistir de
sua imortalidade.
Outro passo na direção dela.
—Nós não seremos capazes de viver aqui.
—Não me importo onde nós viveremos, conquanto que esteja com você.
Um último passo os trouxe face a face.
—Tudo o que tenho para dar é meu amor.
Ela fechou os olhos para, finalmente, ouvi-lo dizer isso. Quando ela abriu-
os o encontrou solenemente olhando-a.
—Isso é tudo que peço.
Alívio tomou conta de seu rosto e ele estendeu a mão para ela, apertando-a
fortemente contra seu corpo.
—Nunca pensei... — Ele começou, mas foi incapaz de terminar.
—Eu sei, — disse ela e se inclinou para trás, para olhar em seus olhos. —
Nem eu. Estou feliz porque você voltou.
Ele sorriu e beijou-a com ternura.
—Como poderia resistir à você?
Ahryn cedeu aos seus beijos inebriantes até que seu corpo estava em
chamas e seu sexo pulsava pela liberação. Ela mergulhou as mãos em seus cabelos
enquanto os seus seios ficaram pesados e os mamilos endurecidos pela antecipação.
—Precisamos ver Theron e Rufina, — disse ela entre beijos.
—Eles podem esperar— Lugus disse enquanto a pegava e colocava na
cama. — Vou te amar em primeiro lugar.
Capítulo Trinta
Lugus apertou sua mão de novo e de novo sobre o punho da sua espada.
Soltou um suspiro quando poderia muito bem imaginar as palavras que Theron
queria lançar em cima dele e só queria que Theron fizesse isso sem Ahryn ao lado
dele.
Antes que ele e Ahryn fossem à sala do trono, Lugus queria um momento a
sós. Durante esse período, visitou os retratos de seus pais na sala da galeria.
Por alguma razão, não se sentia tão indigno como costumava ser. Talvez
amar Ahryn o libertara, ou talvez fosse o seu amor que fizera isso. De qualquer
maneira, ele estava em paz e pronto para o futuro determinado para eles.
Agora, enquanto estava esperando por Theron e Rufina, ele encontrou-se
tão ansioso como costumava estar quando estava diante de seu pai quando estava
em apuros.
A porta se abriu e Aimery entrou na sala. O comandante Fae caminhou
para Lugus, onde segurou o seu braço. Hesitante, Lugus apertou antebraço de
Aimery.
—Obrigado por tudo o que você fez, — disse Aimery. —Tenho orgulho
de lhe chamar amigo e, orgulhosamente, de rei.
Lugus piscou e não sabia como responder a Aimery. Tudo o que podia
fazer era acenar de cabeça.
Ele não teve tempo para pensar sobre isso, porém quando Theron e Rufina
entraram na sala do trono. Rufina deu-lhe um sorriso brilhante que ele retornou de
bom grado. Viu como Theron sentava Rufina, tocando a barriga arredondada
suavemente antes de tomar seu assento.
—Lugus, — Theron chamou, sua face estoica.
Lugus olhou Ahryn e depois caminhou em direção ao seu irmão. Ele
abaixou a cabeça e esperou Theron começar.
—Parece que agi como um tolo.
Lugus moveu a cabeça e olhou nos olhos de seu irmão.
— Por quê?
—Não tinha ideia de que você tinha salvado Ahryn, nem percebi quem foi
que arriscou a vida por mim.
Theron levantou-se e desceu os degraus até que ficou na frente de Lugus.
—Meu irmão, obrigado. Obrigado por me salvar, por me trazer de volta
para minha esposa e meu filho. E por favor, me perdoe pelo que fiz para você e
Ahryn.
Lugus piscou.
—Não há nada a perdoar.
Theron sorriu.
—Peço-lhe para voltar para cá, mas não acho que faria.
—Voltar para quê? — Lugus perguntou. —Não sou mais imortal. Não
pertenço a esse lugar.
Ahryn apertou seu braço.
—Sim, você pertence, meu amor. Imortal ou não, sempre foi e sempre será
um Fae.
Lugus balançou a cabeça.
—Eu não sei.
—Eu sei, — disse Ahryn. — Já falei com Theron e Rufina. Estou dando a
minha imortalidade.
Uma sacudida de medo percorreu Lugus.
—Não, — ele gritou e agarrou os ombros. —Não posso colocar sua vida
em perigo.
—E nem nós a colocaríamos, — disse Rufina. —É por isso que nós
estamos oferecendo-lhe a imortalidade, Lugus.
Ele olhou para o fruto na mão estendida de Theron. Havia se esquecido da
fruta especial que crescia em uma árvore na parte de trás do palácio, uma árvore
mantida em segredo de todos, menos dos principais.
—Você tem certeza? — Ele perguntou a Theron.
—É hora de corrigir um erro, meu irmão.
—Não vou assumir, — disse Lugus e deu um passo para trás.
Theron sorriu.
—Sabia que não aceitaria. Pegue, Lugus.
Isto não ocorreu até que Ahryn alcançou o fruto e levou-o aos lábios de
Lugus, que abriu a boca e deu-lhe uma mordida. Um dos obstáculos havia sido
superado.
—Obrigado, — disse ele à Theron e Rufina.
—Agora, — disse Theron, enquanto voltava para o seu trono. —Se você
não vai tomar posse como legítimo herdeiro deste reino, nós temos outra
alternativa. Seu lugar é aqui e nós queremos que você fique.
—Mas o resto dos Fae... Começou ele.
—Terão que se ajustar, — Theron interrompeu. —Nós gostaríamos de
oferecer-lhe a posição de Embaixador Real. Com a responsabilidade, você vai ter
que fazer mais do que um embaixador regular. O 'real' unido para que todos saibam
que você veio da família real. Pode não ter o trono, irmão, mas você vai ter a
próxima melhor coisa. Além disso, com suas tatuagens especiais, você é capaz de
percorrer através dos reinos onde outros não ousariam.
Lugus não podia acreditar no que Theron estava lhe oferecendo. Ele se
virou para Ahryn.
—O que você acha?
Ela sorriu e inclinou-se para beijá-lo.
—Digo que faça o que lhe faz feliz. Vou apoiar qualquer decisão que você
tomar.
—Mesmo que isso signifique deixar sua família?
—Mesmo isso, — ela respondeu com uma piscadela.
Obstáculo dois tinha sido superado.
Lugus voltou a seu irmão.
—Aceito. Antes que as palavras estivessem completamente fora de sua
boca, Theron tinha descido as escadas e passou os braços em torno dele.
—É bom ter você de volta, irmão. Senti muito sua falta.
Lugus retribuiu o abraço.
—Senti a sua também.
Eles separaram e olharam um para o outro.
—Acho que nossos pais ficariam orgulhosos.
Lugus sorriu e esperou até Theron voltar para Rufina, antes que ele se
virasse para Ahryn. Com o canto do olho, ele viu Aimery. Ele olhou e devolveu o
sorriso que o comandante Fae enviou.
—Devemos dizer a minha família? — Ahryn perguntou. —Recusei-me a
falar com eles desde que voltei. Meu avô me manteve a par de tudo o que vinha
acontecendo.
Lugus franziu o cenho.
—Sempre admirei Michyl. Queria que ele nos aprovasse.
—Ah, mas ele aprova, — disse ela. —Devia ter deixado essa parte de fora.
Estou pronta para enfrentar a minha família com essa notícia.
—Ainda não, — Lugus disse.
Ela inclinou a cabeça para o lado e olhou-o.
—Por quê?
—Eu tenho outra pergunta que preciso que você responda.
—O que é?
—Quer se casar comigo?
Seu rosto abriu um sorriso enorme quando ela jogou os braços ao redor de
seu pescoço.
—Sim. Oh sim, eu quero, — ela disse e escondeu o rosto em seu pescoço.
Lugus sorriu e segurou-a firmemente. Obstáculo três havia sido superado.
Tinha tudo o que sempre quis, mas o mais importante, ele tinha Ahryn.
Epílogo
—O que você acha que ele quer? — Ahryn perguntou.
Lugus encolheu os ombros e puxou-a contra ele para envolver seus braços
em volta de seu corpo esbelto.
—Não sei. Disse a ele que, se fosse importante, teria que nos encontrar
aqui. Nós viajamos tão longe e à tanto tempo para voltar atrás.
Ela sorriu para ele.
—Ainda não consigo acreditar que estamos prestes a ver os dragões azuis.
Lugus passara semanas localizando onde os raros dragões azuis viviam. Era
uma surpresa para Ahryn após o casamento deles. Apenas pensara que fora a
emoção do casamento, mas quando ela descobrira sua surpresa, chorou por horas.
Ele sorriu por dentro e a soltou enquanto subia no topo da montanha.
Estendeu a mão e ajudou-a.
—Agora eu sei porque você quis escalá-lo ao invés de usar a nossa magia,
— disse Ahryn do lado dele.
Lugus assentiu com a cabeça enquanto olhava para as vastas montanhas e o
infindável céu azul e a neblina girava em torno do mais alto cume das montanhas.
—Nunca vi nada tão bonito, — disse ela com admiração. —Acho que
nunca vou querer partir.
—Nós não temos, — ele disse e se moveu para ficar atrás dela. Passou os
braços em torno dela e descansou o queixo no peito. —Você está pronta?
—Para quê?
—Ouça, — ele sussurrou.
Apenas a ponta do vento chegou até eles, o bater de asas de um dragão
enquanto estas soavam através do ar. Lugus procurou nos céus até que ele
encontrou o pequeno dragão azul escuro.
—Lá, — ele disse e apontou à sua direita.
Ela respirou fundo quando avistou o dragão.
—Você os encontrou.
—Não, meu amor. Nós os encontramos.
Ela virou a cabeça e Lugus inclinou-se para reivindicar seus lábios. Ele
aprofundou o beijo e estava prestes a colocá-la no chão quando ouviu alguém
limpar a garganta atrás deles. Relutantemente, Lugus se afastou e voltou-se para
encontrar Theron.
—Irmão, disse que você poderia nos encontrar aqui, mas eu teria pensado
que perceberia que agora não é um bom momento.
Theron deu uma risadinha.
—Da maneira como você dois estão sempre ocupados, nunca seria capaz
de falar.
Lugus poderia dizer pela boca comprimida de Theron que algo estava
errado.
—O que é isso?
—Recebemos uma mensagem de Draconia. Tane está em apuros.
Lugus olhou Ahryn e ao consentimento dela, virou-se para Theron.
—Então temos de ir.
—Tenha cuidado, — disse Theron e depois foi embora.
Lugus virou-se para Ahryn.
—Sinto muito, amor.
—Não sinta. Devemos a Tane e se ele está com problemas, então
precisamos ajudá-lo. Nós voltaremos aqui.
—Sim, — Lugus disse ao lançar outro olhar para o magnífico dragão azul.
—Nós não só voltaremos como construiremos nossa casa aqui.
—E vamos criar os nossos filhos.
Seus olhos se moveram lentamente para Ahryn.
—Filhos?
—Filhos — ela repetiu com um sorriso enorme no rosto.
Donna Grant
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