Criar um Site Grátis Fantástico
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O MOÇO QUE VIA OS ANJOS CHORAREM / Carlos Cunha
O MOÇO QUE VIA OS ANJOS CHORAREM / Carlos Cunha

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

O MOÇO QUE VIA OS ANJOS CHORAREM

 

 

O dia tinha amanhecido escuro, coberto com nuvens negras e nele caia uma garoa muito forte que chegava a ser quase uma chuva fina. Em dias assim a alma daquele moço se enchia de depressão e se entristecia atingida por uma forte melancolia.

A sensação que ele tinha nos dias de chuva era a de ficar exposto e aberto para as coisas feias da vida e por isso neles sentia com clareza todas as dores da humanidade.

Esse moço éra dono de uma sensibilidade apurada e muito forte. Ele sentia necessidade da luz do sol, do calor dos seus raios, da energia que ele lhe proporcionava e da força que dele extraia para se sentir forte e cheio de vida.

Quando as gotas geladas de uma chuva o atingiam lhe causam ardência, ele tinha a sensação de ser queimado por elas e nessa hora sempre visualiza o céu e via nele milhares de anjos, todos possuídos de uma dor imensa. Tão grande como aquela que dominava a sua alma nessa hora.

Os rostos dos anjos que ele via que eram criaturas puras que lembravam crianças belas e inocentes, estavam marcados por um grande sofrimento.

Eles choravam porque tinham pena dos homens que largaram da mão de Deus e, por livre arbítrio, desprezaram a proteção da guarda deles.

Cada gota de chuva, que caia do céu, era para aquele moço uma lágrima que via escorrer pelo rosto de um dos anjos e cair sobre a terra.

Ele e sua alma viviam a angústia desse momento quando uma forte trovoada retumbou no céu e, como que ocasionado por ela, um grande aguaceiro caiu sobre o lugar que ele estava. Nessa hora ele se escondeu sob o beiral de uma casa, para evitar a torrente de água que caia, e ali permaneceu com a sua alma angustiada e amarga até a chuva passar.

Ela durou poucos minutos e assim que só algumas gotas esparsas ainda caiam, e ele ia seguir o seu caminho, a porta da casa em que sob o beiral dela ele tinha se escondido se abriu e duas crianças saíram por ela saltitando alegres e cheias de vida.

Uma delas trazia um barquinho de papel, que elas tinham feito enquanto a chuva caia, e foram brincar na água que corria no escoamento que beirava a calçada e formava um riacho caudaloso.

As crianças soltaram o barquinho na corrente d’água, que o levou, e com seus pés descalços correram atrás dele jogando água pra todo lado.

Dando gargalhadas sonoras elas o alcançaram, o pegaram e tornaram a soltá-lo para repetir a brincadeira.

O moço ficou olhando as crianças brincarem. Isso foi deixando a alma dele leve e ele foi ficando possuído de um grande encantamento enquanto via aquele menininho de cabelos curtos e espetados, que tinha o rosto cheio de sardas, junto da menininha possuidora de um sorriso encantador e engraçado, por causa da falta de um dos seus dentes da frente, saltando na água que tinha caído da chuva e gritando de prazer. Aquelas crianças estavam entregues a uma grande felicidade enquanto brincavam com o seu barquinho de papel.

As crianças espirraram água nele, mas quando foi atingida por ela a sensação que teve foi totalmente contrária daquela causada quando a água da chuva caia sobre ele. A água que as crianças salpicavam tinha calor e lavavam as dores que esteve sentindo.

Nesse momento um rasgão se abriu na couraça negra que cobria o céu e os raios do sol invadiram através dele, cortaram o ar cheio de umidade que envolvia a Terra e atingiram os rostos das crianças.

O moço ficou maravilhado e nessa hora olhou para o céu. Viu então que os anjos que a pouco choravam estavam sorrindo para ele. Estavam alegres com a felicidade que tinham de presenciar, como ele, a beleza daquelas crianças brincando.

Ouviu então um cantar mágico ecoar pelos céus e transpassar a sua alma.

Eram os anjos que cantavam e ele viu que nas crianças estavam as esperanças do mundo.

Que elas mantinham as suas mãozinhas agarradas à mão de Deus e que os seus anjos da guarda eram fortes, que olhariam por elas e que por causa delas o mundo ainda seria um mundo melhor.

O moço então caminhou até onde as crianças estavam brincando, deu um beijo no rosto de cada uma delas e se foi embora com o seu coração repleto de felicidade, sentindo a sua alma leve e cheia de esperança. Ele tinha certeza de que haveria um dia em que não veria mais os anjos chorarem.

 

Carlos Cunha     Autoria & Produção Visual