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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


Caiporismo / Artur Azevedo
Caiporismo / Artur Azevedo

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

Caiporismo

 

 

Naquele dia o Ladislau entrou em casa radiante e alegre. A sua cara-metade, não habituada a isso, perguntou-lhe se tinha visto passarinho verde.

 

 

 

- Não, não vi passarinho verde, mas calcula que... Ainda me parece um sonho!...

 

 

 

- Mas que foi, homem de Deus?...

 

 

 

- Tu sabes que eu sou o maior caipora em tudo quanto é jogo... Em Caxambu - lembras-te? - todos ganhavam, menos eu, e o processo era muito simples: jogavam onde eu não jogava. Bastava que eu pusesse uma fichazinha num número para que ele ficasse abandonado pelos demais pontos! Já toda a gente sabia que o diabo do número não safa nem a cacete!.

 

 

 

- Mas que te aconteceu? Estou morta de curiosidade! Tiraste algum prêmio na loteria?

 

 

 

- Oh, a loteria!... a loteria é outra!... Bem sabes que ainda não me foi dada a satisfação de comprar um bilhete e tirar, não a sorte grande, não um prêmio qualquer, mas o mesmo dinheiro! Não sei o gosto que isso tem!.

 

 

 

- Na realidade és muito caipora.

 

 

 

- E os bichos? Se jogo na borboleta, dá o elefante; se arrisco cinco ou dez mil-réis na águia, é contar que sai o burro!... Sempre contrastes!... sempre antíteses!...

 

 

 

- Mas não me dirás?. .

 

 

 

- O Balisa, aquele alfaiate da Rua do Ouvidor, que me fez o terno marrom - sabes? -, organizou um "club de roupas" a cinco mil-réis por semana, e instou comigo para que eu entrasse. Entrei, paguei a primeira prestação, e saiu o meu número! Comprei por cinco mil-réis um terno que vale duzentos!.

 

 

 

- Deveras?

 

 

 

- É o que te digo! Já tomei medida! Desta vez não fui caipora!...

 

 

 

- Ainda bem!

 

 

 

- O Balisa pediu-me que continuasse, e eu continuei: paguei já a primeira prestação para outro terno.

 

 

 

Três meses depois desse diálogo, o Ladislau já tinha pago integralmente os duzentos mil-réis do segundo terno, e o alfaiate não lhe dera ainda o primeiro: desculpava-se com o mestre da oficina, com a grande quantidade de roupa que tinha a entregar, e hoje-amanhã, hoje-amanhã, passaram-se dias, semanas, e nada...

 

Um dia o Ladislau saiu de casa disposto a zangar-se com o Balisa: se não tivesse para ali os ternos, ou pelo menos um, faria um tempo quente! Pois se estava tão precisado de roupa!

 

Mas qual foi a sua surpresa quando, ao chegar à loja, encontrou a porta fechada.

 

Um vizinho informou-o de que o alfaiate morrera falido e na miséria, sem ter em casa fazenda que chegasse para a terça parte dos ternos que devia.

 

E o Ladislau se convenceu de que ter apanhado calça, colete e paletó por cinco mil-réis foi ainda uma pirraça do seu medonho caiporismo.

 

 

                                                                                               Artur Azevedo

 

Carlos Cunha    Arte & Produção Visual

 

 

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