Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites
UMA BUSCA DESESPERADA
Maxie, Darcy e Polly tinham que encontrar um marido.
A falecida Nancy Leeward tinha legado a cada uma de suas três afilhadas uma parte de sua fortuna, com a condição de que se casassem em um ano e permanecessem casadas pelo menos seis meses.
Maxie, por culpa do vício de jogo de seu pai, tinha que defrontar a uma dívida que não podia assumir, assim a herança de Nancy poderia ser a solução a suas preces...
O milionário grego Angelos Petronides estava desejando dormir com ela a quase três anos, portanto poderiam chegar a um acordo... Ainda que ele cedo descobrisse que teria que lhe oferecer algo mais do que dinheiro para consegui-la...
- E como Leland me deu carta branca para levar todos seus assuntos, penso arrastar a essa pequena rameira ante os tribunais e acabar com ela - lhe explicou Jennifer Coulter, vangloriando se ante sua vingança.
Angelos Petronides ficou olhando à filha de sua falecida madrasta, dissimulando seu interesse atrás de uma máscara de amável indiferença. Ninguém poderia ter adivinhado que, sem querer, Jennifer lhe tinha proporcionado uma informação pela que tivesse estado disposto a pagar qualquer coisa. Maxie Kendall, a modelo conhecida como a Rainha de Gelo pelos jornalistas, e a única mulher que lhe tinha dado mais de uma dor de cabeça, estava metida num sério problema
– Leland esbanjou uma fortuna com ela - continuou Jennifer ressentida. - Terias que ter visto as faturas. É incrível o que gastou só em roupas de marca!
- Maxie Kendall é uma mulher ambiciosa. Suponho que se propôs tirar de Leland o máximo possível - comentou Angelos tentando aplacá-la.
Quase podia dizer-se que ele era o único dos conhecidos do casal Coulter que nunca tinha se deixado enganar a respeito das verdadeiras razões da ruptura do casal, três anos antes. Também não lhe tinham impressionado nunca as queixas de Jennifer. Aquela mulher tinha nascido na riqueza, e provavelmente morreria sendo ainda bem mais rica. Sua reconhecida avareza era motivo a mais de uma anedota entre os membros da alta sociedade londrina.
- Todo esse dinheiro desperdiçado! - se lamentou Jennifer com os dentes apertados. - E agora me inteiro de que essa rameira conseguiu que Leland lhe fizesse semelhante empréstimo!
Rameira? Definitivamente, pensou Angelos, sua irmã não tinha nenhuma pitada de classe, e muito menos de discernimento. Que um homem tivesse uma amante era algo perfeitamente normal, mas não uma rameira. No entanto, Leland tinha rompido as regras: nenhum homem em seu juízo abandonava a sua esposa para largar-se com sua amante. Nenhum grego, ao menos, teria sido tão inconsciente. Leland Coulter tinha se comportado como um estúpido, levando a vergonha a toda sua família.
- Mas, ao final, conseguiste o que te propunhas - interveio - teu marido regressou para casa.
- Sim, efetivamente - replicou secamente Jennifer, curvando os lábios numa cínica careta. - Mas só depois de que lhe desse um enfarte do que demorará meses em recuperar-se, e não antes que essa vadia o abandonasse no hospital. Limitou-se a dizer ao médico que me avisasse, e depois se largou tão fresca como uma alface. - Mas o que me importa agora é recuperar o dinheiro seja como for. Já dei ordem a meus advogados para que lhe enviem uma carta...
- Jennifer, a mim me parece que, dadas as circunstâncias, estando Leland doente e tudo isso, tuas prioridades são outras. Não creio que a teu marido lhe ajude ver-te dar o espetáculo nos tribunais - Angelos viu que de imediato a mulher se punha rígida ao considerar a situação desse ponto de vista. - Permite-me que seja eu quem me encarregue deste assunto. Faço-me responsável de que recuperes o dinheiro do empréstimo.
- O... que dizes é sério? - gaguejou Jennifer atônita.
- Não somos parentes? - perguntou Angelos a sua vez docemente.
Lenta, muito lentamente, Jennifer assentiu, como hipnotizada pela cálida mirada do homem que tinha diante de si.
Sem dúvida,Angelos Petronides, o autêntico cabeça da família, contava com o respeito de todos os membros do clã. Era um homem frio, implacável e enormemente seguro de si mesmo.
Ademais,era imensamente rico e poderoso. Conseguia atemorizar as pessoas só com sua presença. Quando Leland rompeu seu casamento, Angelos tinha cortado de raiz as queixas e prantos de Jennifer com uma simples mirada. De alguma forma, tinha-se inteirado de que ela lhe tinha sido infiel primeiro, e, implacável, assim se o comunicou.
Desde então, Jennifer tinha evitado voltar a encontrar-se com ele. Só tinha conseguido superar o temor que lhe inspirava para pedir-lhe conselho a respeito da melhor forma de gerir a rentável cadeia de cassinos de propriedade de Leland.
- Como o conseguirás? - perguntou com a boca seca, sem compreender muito bem ainda como tinha sido capaz de pôr-se em suas mãos.
- Meus métodos são coisa minha - replicou Angelos cortante, dando por concluída aquela conversa.
A impenetrável expressão de seu atraente rosto fez com que estremecer-se de pés a cabeça. No entanto, sentia-se triunfante: Angelos lhe tinha oferecido sua ajuda e aquela vadia muito cedo ia passá-lo muito mau. Só isso lhe importava.
Quando ficou só, Angelos fez algo completamente infreqüente nele: ordenou a sua surpresa secretária que não lhe passasse nenhum telefonema e se ajeitou indolente no sua poltrona de couro, contemplando a magnífica vista da cidade londrina que se estendia frente a ele. Já não precisaria mais de chuveiros frios, pensou, ao mesmo tempo em que esboçava um sensual sorriso. Não teria mais noites solitárias. Seu sorriso se fez ainda mais amplo: a Rainha de Gelo ia ser sua. Depois de uma espera de mais de três anos, estava a ponto de consegui-la.
Que fosse uma reconhecida aventureira, não diminuía um ápice sua extraordinária beleza. Inclusive mesmo Angelos, acostumado a tratar com as mulheres mais formosas, tinha ficado sem fala ao vê-la pela primeira vez. Tinha-lhe parecido a Bela Adormecida dos contos de fadas inacessível, intacta... Seu sorriso se transformou numa amarga careta. Tudo aquilo não eram mais do que tolices! Durante três anos, aquela mulher tinha sido a amante de um homem tão velho que podia ter sido seu avô. Não tinha mesmo nenhuma pitada de inocência nela.
No entanto, decidiu que não a pressionaria com o empréstimo. Se portaria como um cavaleiro: lhe ajudaria a solucionar todos os seus problemas econômicos, desse modo, ganharia primeiro sua gratidão e depois então sua lealdade. Não voltaria a mostrar-se fria e, em agradecimento, ele estava disposto a rodeá-la de todos os luxos, a dar-lhe qualquer coisa que pudesse precisar ou desejar. Já não teria sequer que voltar a trabalhar.
Por sorte para ela, Maxie não podia ser mais alheia aos planos que estavam forjando para seu futuro quando saiu do táxi. Cada um de seus movimentos estava dotado de uma elegância especial, inata. Ficou de pé um momento olhando a casa de sua falecida madrinha, uma mansão georgiana que se alçava no meio de um bem cuidado jardim.
Enquanto se acercava à porta, teve que fazer um grande esforço para conter as lágrimas. Recordou que o mesmo dia em que fez sua primeira aparição pública com Leland, sua madrinha lhe tinha escrito que já não seria bem recebida naquela casa. No entanto mal quatro meses antes, a anciã tinha ido visitá-la em Londres para reconciliar-se com ela, ainda que não lhe tinha dito que estava mortalmente enferma. Maxie se inteirou de sua morte quando já a tinham enterrado.
Tinha sido convocada à casa para a leitura do testamento de Nancy, o que dava a entender que, definitivamente, sua madrinha lhe tinha perdoado por seu escandaloso proceder.
Para complicar as coisas, Maxie levava na bolsa uma carta que acabava de receber e comprometia qualquer possibilidade de felicidade e liberdade futuras. Na mesma lhe recordava a dívida contraída com Leland, e que ingenuamente ela tinha suposto que estava cancelada desde o momento em que decidiram romper sua relação. Afinal de contas, ele tinha levado três anos de sua vida, durante os quais Maxie tinha empregado cada centavo que ganhava para devolver-lhe o empréstimo.
Talvez não lhe parecia suficiente? Naqueles momentos não só estava praticamente na bancarrota, se não que suas possibilidades de seguir trabalhando estavam seriamente comprometidas pela má publicidade. Leland era um fardo, mas ela nunca pensou que fora má pessoa, e muito menos do que precisasse do dinheiro. Por que não lhe dava um pouco mais de tempo para recuperar-se?
A governanta lhe abriu a porta antes de que ela tocasse à campainha.
- Senhorita Kendall lhe cumprimentou friamente. A senhorita Johnson e a senhorita Fielding a esperam na salinha de desenho. O senhor Hartley, o inventariante, virá em seguida.
- Obrigada... não faz falta que me acompanhe. Recordo bem o caminho.
Temerosa do recebimento que iam dispensar-lhe as outras duas jovens, especialmente uma delas, deteve-se diante um dos janelões que dava à roseira que tinha sido o orgulho e a alegria de Nancy Leeward. Recordou as deliciosas merendas infantis preparadas para as três meninas, Maxie, Darcy e Polly, quem se esforçavam por mostrar seus melhores modos diante Nancy, quem como nunca tinha tido filhos, ela mantinha umas idéias bastante antiquadas sobre a forma em que estas deviam comportar-se.
No entanto, Maxie nunca tinha se encaixado naquele ambiente. Tanto Darcy como Polly pertenciam à famílias acomodadas, e sempre que iam de visita a Gilbourne usavam preciosos vestidos, enquanto Maxie nunca tinha nada decente que se pôr. Assim que, ano após ano, Nancy a levava às compras; que surpresa se teria ficado sua boa madrinha se tivesse inteirado de que o pai de Maxie revendia aqueles custosos vestidos quanto sua filha regressava a sua casa!
Sua falecida mãe, Gwen, tinha trabalhado como senhorita de companhia de Nancy, mas esta sempre a tinha considerado como uma amiga em vez de uma empregada. No entanto, nunca lhe tinha agradado o marido que tinha escolhido.
Por desgraça, Russ Kendall tinha resultado ser um homem débil, egoísta e pouco digno de confiança, mas também era o único pai que Maxie tinha tido, e só por isso lhe professava uma lealdade sem fissuras. Seu pai se tinha esforçado por levá-la adiante, e, a seu modo, a amava muito. No entanto, a forma em que se comportava quando ia ver a Nancy era uma cruz que a Maxie se lhe fazia difícil suportar.
Invariavelmente, e apesar do evidente desgosto da dama, Russ se empenhava em tirar-lhe um pouco de dinheiro.
Maxie mal podia reprimir um suspiro de alívio quando por fim se marchava; só então era capaz de tranqüilizar-se e divertir-se.
- Me tinha parecido ouvir um carro, mas devo ter-me equivocado - disse em voz alta e clara uma voz feminina. - Espero que Maxie venha cedo, estou desejando vê-la.
Ao acercar-se um pouco mais à salinha de desenho, Maxie identificou a voz de Polly, tão amável e doce como a recordava.
- Pois a mim me dá o mesmo - replicou secamente outra mulher. - Maxie, a bonequinha falante...!
- Darcy, não é culpa dela ser tão bonita - lhe reprovou Polly.
Maxie não pôde evitar um estremecimento. Pelo visto, Darcy não lhe tinha perdoado ainda o ocorrido três anos antes, apesar de que não tivesse sido em absoluto culpa sua: seu noivo a tinha deixado plantada no dia do casamento, depois de confessar-lhe que tinha se apaixonado por uma das damas de honra... precisamente de Maxie, quem não só não tinha flertado com o noivo em questão, senão que não tinha mostrado nunca o mínimo interesse por ele.
- E talvez isso é uma desculpa para roubar o marido da outra? - perguntou azedamente sua amiga.
- Não creio que se possa escolher por quem nos apaixonamos - contestou Polly estranhamente emocionada. - Maxie deve sentir-se muito mau agora que ele voltou com sua esposa.
- Apaixonada? - estourou Darcy. - Maxie não lhe teria olhado duas vezes se não fosse um homem tão rico. Já te esqueceste de como era seu pai? Essa garota leva a cobiça em seus genes. Não te lembras de como Russ lhe fazia a rosca a Nancy para tirar-lhe os quartos?
- Recordas muito bem que ele molestava a Maxie para que o fizesse - repôs Polly.
Maxie sentiu que se lhe fazia um nó estômago. Nada, absolutamente nada tinha mudado. Darcy era muito obstinada, e nada nem ninguém conseguiriam fazer–lhe mudar de opinião. Inesperadamente, foram se desvanecendo todas as esperanças de Maxie de que o tempo tivesse curado todas as feridas.
- Não se pode negar que é toda uma beleza..., não é estranho que tente aproveitar-se disso - continuou Darcy implacável sobretudo tendo em conta de que isso é o único que tem. Nunca me pareceu muito inteligente na verdade...
- Como podes dizer semelhante coisa? - lhe reprovou Polly. - Sabes muito bem que Maxie é disléxica.
Maxie ficou lívida ao escutar aquela alusão a seu segredo melhor guardado.
- Olha - continuou Polly, - apesar disso conseguiu ser muito famosa.
- Se tua idéia da fama é sair nos anúncios de shampoo, suponho que tens razão - replicou Darcy cinicamente.
Naquele momento Maxie decidiu que já tinha escutado suficiente, e com um enérgico giro se dirigiu para a estadia, esforçando-se por esboçar um deslumbrante sorriso.
- Maxie! - exclamou Polly embaraçada.
Ela ficou sem fala ao ver que a doce e morena Polly estava inequivocamente gestante.
- Quando te casaste? - perguntou surpresa.
- Eu... - a jovem enrijeceu até a raiz do cabelo. - Não... não o fiz.
Atônita, Maxie recordou que o pai de Polly era um homem muito restrito, e que tinha ensinado a sua filha um severo conceito da moral.
- Bem, isso não importa - replicou, tentando tirar-lhe ferro ao assunto para que a amiga não se sentisse ainda mais envergonhada.
- Temo que criar um filho sem pai não é tão fácil no mundo no que se criou Polly como no teu - interveio Darcy. A luz da tarde tirava reflexos avermelhados de sua curta cabeleira, enquanto seus olhos verdes chuviscavam de fúria.
Maxie recordou que Darcy também era mãe solteira, mas decidiu não dizer nada.
- Polly sabe ao que me refiro.
- Para valer...? - começou a dizer Darcy.
- Me estou enjoando - a interrompeu Polly abruptamente.
Sem pensar, as duas jovens se dirigiram para ela. Maxie a obrigou a sentar-se no cadeirão mais próximo e lhe serviu uma xícara de chá, instando-a a que se comesse uma bolacha.
- Você deveria ver-te um médico - comentou Darcy preocupada. - A verdade é que quando estava gestante de Zia, jamais estive enferma...
- Estou bem... Fui ao médico sábado passado – respondeu. - Estou um pouco cansada, nada mais.
Justo naquele instante entrou Edward Hartley, o inventariante da madrinha, quem sem demasiada cerimônia se sentou e tirou um documento de sua valise.
- Antes de começar a leitura do testamento – anunciou, - creio que meu dever é advertir-lhes que só poderão entrar em posse de seus respectivos legados se cumprirem escrupulosamente as condições estabelecidas por minha cliente...
- Que quer dizer com isso? - lhe interrompeu Darcy impaciente.
O senhor Hartley tirou os óculos com gesto de cansaço.
- Suponho que todas vocês sabem que a senhora Leeward teve um feliz, ainda que desgraçadamente curto, casamento, e que a morte prematura e trágica de seu esposo, foi uma fonte de contínuo pesar para ela.
- Sim, sabemos - assentiu Polly. . . A madrinha nos contou muitas coisas de Robbie.
- Morreu num acidente de carro, seis meses depois do casamento - adicionou Maxie. - À medida que passava o tempo, falava dele como se fosse um santo. Parecia pensar que o casamento era uma espécie de Santo Grial, a única esperança de felicidade para uma mulher.
- Antes de morrer, a senhora Leeward se propôs visitar a cada uma de vocês e, depois de fazê-lo, decidiu então modificar seu testamento lhes informou o senhor Hartley. - Adverti-lhe que as condições que pensava impor-lhes seriam muito difíceis de cumprir, se não impossíveis. No entanto, a senhora Leeward era uma mulher muito obstinada.
Produziu-se um tenso silêncio. Maxie se deu conta de que Polly não parecia entender muito bem o que ocorria, enquanto Darcy, incapaz de dissimular seus sentimentos, estava mortalmente preocupada.
O inventariante procedeu à leitura do testamento, segundo o qual Nancy Leeward tinha dividido sua considerável fortuna em três partes exatamente iguais, que a cada uma delas receberia com a condição de que se tivessem casado no prazo de um ano, e de que tivessem permanecido assim ao menos durante outros seis meses. Só então entrariam em posse de sua parte. Se alguma delas não o conseguia, esta herança passaria ao estado.
Quando Edward Hartley terminou a leitura, Maxie estava pálida como uma difunta. Tinha rogado com toda sua alma para que aquele testamento a livrasse da dívida que quase tinha destruído sua vida, e em mudança se encontrava com que, de novo, a sorte lhe dava as costas. Desde que sua mãe morreu quando ela era mal um bebê, fazia quase vinte e dois anos, e devido ao vício ao jogo de seu pai, nada lhe tinha resultado fácil na vida.
- Deve estar caçoando! - estourou Darcy incrédula.
- Nunca poderei consegui-lo – murmurou Polly assinalando sua barriga.
Maxie a olhou com simpatia. Evidentemente, a pobre garota tinha sido seduzida e abandonada.
- Eu também não... - começou.
- Por favor Maxie! Acredito que até farão fila para casar-se contigo! - exclamou Darcy exasperada.
- Com minha estupenda reputação?
- Bem - continuou Darcy, - tudo o que nos pede é um homem e um anel de casamento. Creio que poderei conseguí-lo se ponho um anúncio no jornal oferecendo parte da herança a mudança.
- Ainda que estou seguro de que o diz em brincadeira ... interveio Hartley com severidade, - então devo advertir-lhe que se utilizasse uma artimanha semelhante, imediatamente se veria eliminada do testamento.
Maxie podia entender muito bem as razões de sua madrinha para adotar semelhante postura: nos últimos meses tinha visitado ela cada uma das jovens, e o que tinha visto não tinha podido por menos que a decepcionar.
Para começar, aparentemente Maxie estava vivendo em pecado com um homem casado, enquanto Polly ia a caminho de converter-se numa mãe solteira. Quanto a Darcy, pensou cheia de arrependimentos, uns meses depois de sua cruel humilhação na igreja tinha dado a luz uma menina. Não era de estranhar que a impetuosa ruiva odiasse aos homens desde então.
- É uma vergonha que tua madrinha vos tenha posto semelhantes condições para receber o testamento - se lamentou Liz, a amiga de Maxie, enquanto as duas mulheres examinavam a carta enviada pelos advogados de Leland. - Se não o tivesse feito, todos teus problemas estariam resolvidos.
- Talvez deveria ter-lhe contado a Nancy a verdadeira razão pela que estava vivendo em casa de Leland... mas não queria dar-lhe a entender que precisava de ajuda. Não teria sido justo: detestava a meu pai, sabes?- replicou Maxie reflexivamente, mas sem pitada de autocompaixão. Tinha sofrido tantas e tão amargas decepções em sua vida que já nem pensava nelas.
- Creio que o que precisas é de um bom assessor legal. Afinal de contas, só tinhas dezenove anos quando assinaste o empréstimo, e o fizeste sob uma pressão tremenda. Realmente, temias pela vida de teu pai - comentou Liz esperançosa.
Do outro extremo da mesa da cozinha, Maxie ficou olhando a sardenta cara de sua amiga que, literalmente, a tinha resgatado oferecendo-lhe um teto onde morar se pelo tempo que lhe fizesse falta. Liz Blake era a única pessoa na que confiava; nunca se tinha deixado enganar pela brilhante aparência a que fazia que tantas mulheres se mostrassem invejosas quando não abertamente hostis para ela. A mulher era cega de nascimento e muito independente; ganhava-se a vida trabalhando como ceramista, e tinha muitos e bons amigos.
- Assinei aquele papel com todas as conseqüências para salvar a meu pai - lhe recordou Maxie. - Desde então, não me voltou a pedir dinheiro.
- Maxie..., não lhe vê a três anos - pontualizou sua amiga.
- Está realmente envergonhado, Liz, sente-se muito culpado.
Liz levantou a cabeça e acariciou o lombo de Bounce, seu cachorro lavrador, tombado a seu lado.
- Me pergunto quem vem ver-nos. Não espero a ninguém... e ninguém exceto as pessoas de tua agência sabem que vives aqui - Liz se levantou um instante antes de que soasse o timbre da porta, e reapareceu ao cabo de dois minutos. - Tens uma visita: é um homem alto, moreno, com uma voz muito atraente. Diz que é amigo teu.
- Amigo meu? - repetiu Maxie perplexa.
Liz assentiu.
- Deve ser sério para ter te encontrado aqui. Bounce lhe fez o reconhecimento habitual, e parece que lhe deu o visto bom, assim que lhe fiz passar ao salão. Escuta, atende-lhe enquanto eu vou ao estudo para terminar o pedido que tenho pendente.
Maxie se perguntou a quem teria deixado passar Liz. Esperava que não fosse algum horrível jornalista.
Quanto entrou na pequena sala, então ficou como pregada no solo, incapaz de enfrentar a situação que se lhe vinha em cima.
- Maxie... como estás? - a saudou Angelos Petronides, estendendo uma mão para ela.
Ela deu um passo atrás, como se defronte dela tivesse uma serpente; o coração lhe batia a toda velocidade. Como era possível que Liz tivesse acreditado que se tratava de um amigo?
- Senhor Petronides...
- Chama-me Angelos - lhe pediu sorridente.
Maxie piscou atônita. Nunca o tinha visto sorrir antes. Nos últimos três anos tinham coincidido mal meia dúzia de vezes, e aquela era a primeira vez que ele parecia perceber a sua existência... Nas demais ocasiões, não só não lhe tinha dirigido a palavra, senão que se tinha posto a falar em grego quando ela tinha feito alguma tentativa para entrar na conversa.
No entanto, plantado adiante dela, parecia inclusive divertido ante sua evidente confusão.
- Não entendo por que veio até aqui... ou ainda como conseguiu encontrar-me - disse Maxie ao fim.
- É que talvez te tenhas perdido? - repôs Angelos com voz rouca, percorrendo seu corpo com a mirada de uma forma que a ela lhe pareceu insultante. - A mim me parece que sabes muito bem para que vim.
- Não... não tenho a menor idéia - replicou Maxie com os olhos reluzentes de ira como duas safiras.
- Agora és uma mulher livre...
«Isto não pode estar acontecendo a mim» pensou Maxie incrédula. Tentou mostrar-se firme, não dar a menor mostra de debilidade ante aquela mirada implacável. Recordou um instante, fazia uns seis meses: ele a tinha surpreendido olhando-o, e tomando-se como um convite, devolveu-lhe uma mirada carregada de charme e simples apetite sexual. Não tinha sido mas que um segundo, mas isso tinha bastado para que a Maxie lhe revolvessem as entranhas.
Mil e uma vezes se tinha dito que não tinham sido mais do que imaginação sua. Que tudo o que aquele arrogante grego sentia por ela não era mais do que a pura indiferença. As vezes conseguia enfadá-la por sua descortesia, mas chegava a entender semelhante comportamento, pois, diferente de Leland, Petronides nunca tivesse exibido a uma mulher, por mais bonita que esta fosse, numa reunião de negócios.
- E por isso - continuou Angelos com a segurança de um homem que estava acostumado a conseguir o que desejava, agora te quero em minha vida.
Era evidente que nem se propunha que ela fosse a recusá-lo. Estava lhe demonstrando bem às claras a consideração na que a tinha. Ao dar-se conta de seu infinito desprezo, Maxie esteve a ponto de perder o autocontrole.
- Para valer crê que pode apresentar-se aqui e dizer-me...?
- Sim - a cortou Angelos impaciente. - Deixa-te de joguinhos, já me dei conta de que não te sou indiferente.
Maxie sentiu que a percorria uma fúria surda da cabeça aos pés. Aquele tipo devia crer-se um deus. E no entanto, reconheceu que a primeira vez que o viu, tinha ficado fascinada por ele. Poucas vezes tinha visto a um homem tão atraente, e nunca a nenhum que ao mesmo tempo fosse tão inteligente, que emanasse semelhante aura de poder.
No entanto, nunca tinha se sentido atraída por ele. De fato, a maioria dos homens não lhe agradavam, pois era incapaz de confiar neles. Nunca nenhum homem a tinha visto como um ser humano, com emoções e sentimentos; normalmente a consideravam pouco mais do que um troféu do que alardear adiante de outros homens.
Sempre tinha sido assim desde que era uma adolescente, e Angelos Petronides não tinha feito mais que se comportar como todos os demais. E, no entanto, não podia entender de onde nascia essa amarga desilusão que percorria seu ser.
- Está tremendo... por que não te senta? - Angelos lhe assinalou uma cadeira. Como ela não se moveu, ele a olhou reprovadoramente. Tens olheiras, e perdeste peso, ademais. Deverias cuidar-te mais.
Maxie se propôs não perder os nervos, não lhe dar a entender o humilhada e doída que se sentia. Esse homem não só se apresentava por bem na casa de Liz para dizer um montão de inconveniências, senão que ademais esperava do que ela se jogasse agradecida a seus pés.
- Seu interesse por meu bem-estar é improcedente e desnecessário, senhor Petronides - replicou orgulhosamente. Decidiu sentar-se pois caso contrário temia não poder conter-se e soltar-lhe um par de merecidos bofetões àquele insolente.
Ele tomou assento frente a ela, o que resultou um alívio, já que sua estatura resultava imponente até para uma mulher tão alta como Maxie. Para ser um homem tão corpulento, movia-se com a ligeireza e a graça de um atleta. Era tão moreno como ela era loira, e seu atrativo não tinha comparação possível: seus pômulos só podiam se qualificar como espetaculares, o nariz era de uma perfeição quase insultante, os lábios eram cheios e sensuais.
Mas o que realmente definia seu rosto eram os olhos de um dourado escuro. No entanto, naqueles instantes, não tinha nenhum sinal de delicadeza ou emoção em sua intensa mirada.
- A mulher de Leland pensa levar-te ante os tribunais para que respondesse do empréstimo - disse suavemente.
Maxie se sentou muito rígida, completamente estupefata.
- Como te inteiraste do empréstimo?
Angelos se limitou a encolher-se de ombros, como se estivesse desfrutando com aquela conversa.
- Isso não importa. O caso é que Jennifer já não vai fazê-lo, eu paguei o empréstimo em teu nome. Incrédula, Maxie se adiantou um pouco.
- Como disse? - mal podia crer no que tinha ouvido.
- Não queria que essa dívida te preocupasse, Maxie. Só pretendo mostrar-te minhas boas intenções.
- Bo... boas intenções? - gaguejou Maxie, incapaz de ocultar o terror que sentia.
- Claro - Angelos levantou uma mão para enfatizar suas palavras, evidentemente desfrutando o impacto que tinham tido suas palavras sobre a imperturbável Rainha de Gelo. - Nenhum homem decente chantagearia à mulher que deseja levar-se à cama, não?
Maxie levantou a cabeça, vermelha de ira.
- Talvez pensa que sou uma completa idiota? - quase gritou.
Calmamente, Angelos Petronides se levantou, divertido ante semelhante arrebato.
- Se temos em conta as decisões que foste tomando em tua vida, não sei por que te assusta minha franqueza.
Maxie ficou com a boca aberta, respirava freneticamente, como se estivesse se afogando. De um sopro, aquele homem tinha conseguido acabar com seu autodomínio.
- E não faz falta que te desculpes - continuou Angelos zombador. Sei muito bem como és na realidade. Primeiro te põe pálida e depois rígida. Vi os esforços que fazias cada vez que Leland te punha a mão em público para não o recusar. Teria resultado muito divertido ver vocês na cama...
Maxie conseguiu conter-se fazendo um enorme esforço de vontade. Desejava matar àquele homem... mas nem sequer era capaz de articular uma palavra. Nunca antes tinha sentido semelhante fúria, pelo que não tinha nem idéia de como manejar aquela situação.
- No entanto, creio que o que mais agradava a Leland era presumir diante de suas amizades: « Fixar-vos, tenho a uma loira o dobro de alta que eu e três vezes mais jovem » - continuou Angelos no mesmo tom. - Não creio que fosse demasiado exigente na cama, não é verdade? Já não era nenhuma criança.
- És... és o ser mais vil e desprezível que vi em minha vida - disse Maxie afastando a vista dele.
- E eu creio que posso ser-te muito útil. Precisas de alguém como eu. – Sem prévio aviso, colocou-lhe as mãos sobre seus ombros, obrigando-a a olhá-lo.
- Isso é uma estupidez! - exclamou Maxie esforçando-se para liberar-se dele. - Tira as mãos de cima de mim!
- Por que estás tão enfadada? Já te disse que me farei cargo do empréstimo - disse Angelos calmosamente.- Mas se tu não queres... Sei que os advogados de Coulters se puseram em contato contigo.
A só menção da dívida foi como um jorro de água fria para Maxie.
- Não posso pagar esse dinheiro - confessou por fim. Estava tão pálida como uma estátua de cera. - Nem sequer uma mínima parte.
- Por que te preocupas tanto? – perguntou Angelos. – Apresenta-te, não vá a ser que te caias redonda. Repito-te que não tenho a menor intenção de passar-te a conta. - Na verdade, posso te perguntar para que precisavas desse dinheiro?
- Tive alguns problemas financeiros - murmurou evasivamente, protegendo uma vez mais a seu pai, como sempre tinha feito.
Intuía que semelhante debilidade por parte de seu progenitor não seria bem recebida por um homem tão forte.
Exausta e envergonhada, voltou a deixar-se cair na cadeira.
Pela primeira vez se sentia autenticamente assustada ante Angelos Petronides. De certo modo, ele a possuía, tal e como Leland a tinha possuído uma vez, mas ao invés do ancião, Angelos esperava algo muito concreto a mudança. Não se tinha deixado enganar por suas palavras, nem por sua suave voz: em menos de dez minutos a tinha convertido numa espécie de fantoche.
- Não costumo falar de dinheiro com as mulheres - disse Angelos com suavidade, - e, depois, é um pouco do que não penso voltar a falar contigo.
Maxie se estremeceu incrédula ante aquela perfeita personificação do milionário cavalheiro. Recordava muito bem como costumava comportar- se nas reuniões de negócios com os executivos que estavam a suas ordens..! Parecia um poderoso rei entre simples peões: aqueles homens, tão bem preparados e trajados, suavam como condenados só com que ele os olhasse, acatando todas as suas ordens sem chiar e tremendo de medo se ele franzia o cenho. Indubitavelmente, não suportava ter a idiotas a seu redor. Tinha uma mente realmente brilhante, mas ao mesmo tempo tinha uma personalidade malévola e manipuladora: agradava-lhe controlar as pessoas. Em comparação, Leland Coulter resultava absolutamente inofensivo, nem sequer tinha pretendido simular que era seu único amigo num mundo hostil. Naquele momento, no entanto, sentia cair sobre ela uma terrível ameaça.
- Sei muito bem onde queres ir parar - se ouviu dizer a si mesma.
Angelos baixou o olhar para ela.
- Então, qual o motivo todo desta comédia?
Maxie ficou um tanto desconcertada. Não se esperava que ele, simplesmente, reconhecesse que era o suficientemente pronta como para dar-se conta de suas artimanhas. Era como se a amassasse com uma mão de ferro envolta numa luva de veludo.
- Vêem jantar comigo esta noite - continuou Angelos suavemente. - Assim poderemos falar calmamente. Agora precisas um pouco de tempo para pensar.
- Nada disso - replicou Maxie ao mesmo instante; quis devolver-lhe o olhar desafiante, mas o único que conseguiu foi uma estranha sensação, como se o solo se desvanecesse sob seus pés. Sacudiu a cabeça para esclarecer um pouco suas idéias. - Não penso ser tua amante - declarou.
- Ainda não te pedi.
Maxie riu cinicamente enquanto por fim conseguia pôr-se em pé.
- Não faz falta que o faças: nem por um momento imaginei que ias oferecer–me algo mais respeitável. De toda forma, não tenho a menor intenção de seguir falando deste assunto – afirmou, mas ao mesmo tempo tentou desviar o olhar, - assim que muito cedo se verá se tens bom ou mau perder...
- Não perdi – a interrompeu Angelos baixinho. – Mas posso ser muito insistente. Se resistes, lamentarei o tempo que perca em conseguir-te, mas isso te fará também mais desejável.
Maxie se estremeceu sem saber muito bem por que. Uma espécie de quase imperceptíveis sinais de alarme lhe percorreram a espinha dorsal. Sem poder evitar, voltou a cabeça para ficar sob o feitiço de sua malévola mirada.
- E também me enfadarei muito contigo - continuou Angelos entre dentes, acercando-se ainda mais a ela. Tu não tiveste nenhuma compaixão de Leland, assim que, por que teria eu que a ter de ti? Ademais, penso tratar-te muito melhor do que ele: sei o que agrada às mulheres. E posso dar-te o que precisas para sentir-te segura, feliz, e satisfeita...
Maxie estava pasma, sentia-se como um menino a ponto de cometer uma terrível travessura. Notou que lhe acelerava o pulso, sentiu o sangue que lhe percorria as veias, uma corrente tal de excitação e poder que quase a deixou paralisada.
- A... Angelos? - sussurrou, mais confundida do que nunca.
- Me agrada como dizes meu nome - murmurou.
Ela o repetiu de novo, como se fosse uma súplica. Angelos a olhou satisfeito, seus olhos convertidos em ouro líquido. Maxie se jogou a tremer, nunca em toda sua vida tinha sido tão consciente de seu próprio corpo. Notou como se erguiam seus seios embaixo da camiseta de algodão, quase lhe doíam os mamilos ao contato com o tecido.
Justo então ouviram um golpe terrível numa das contraventanas. Assustada, Maxie deu um salto para trás.
- Calma... foi só uma bola, - disse Angelos fazendo um gesto para a rua. - Veja, são esses dois meninos que estavam jogando.
Mas Maxie não lhe escutava. De repente se deu conta de que Angelos Petronides a apertava contra ele com ambos braços e que tinha estado muito perto de beijá-la. E o que era ainda pior: não podia negar-se a si mesma que tinha desejado esse beijo com toda sua alma.
Afastou-se de seu lado precipitadamente, levando-se as mãos a suas ruborizadas bochechas.
- Vá-te de aqui e não voltes nunca mais! - gritou.
Angelos amaldiçoou baixo em grego.
- Posso saber que é o que te passa? - perguntou acusadoramente.
A pouca dignidade que àquelas alturas tinha ficado a Maxie se desvaneceu como por encanto.
Maldita seja: ela lhe tinha alentado e ele sabia. Aquele homem devia sentir-se tão frustrado e ansioso como ela mesma. Sentia-se presa de sentimentos contraditórios, a ponto de perder o controle de si mesma.
- Não tenho por que dar- te explicações - disse, e se precipitou para a porta principal. - Quero que te vás e que não voltes nunca mais. Se o fizer, te jogarei ao cachorro.
Surpreendentemente, Angelos se jogou a rir naquele tom profundo e escuro que lhe era tão peculiar, olhando-a como o lobo que espreita a sua presa.
- Me parece que esse cachorro me matará a lambidas... e tu? - perguntou levantando ironicamente as sobrancelhas.
- Vá embora! - gritou Maxie quase desesperada, ruborizando-se até a raiz do cabelo.
- E tu? - repetiu Angelos enfatizando cada sílaba. - Creio que por alguma estranha razão, o que acaba de suceder, ainda que a mim me parece que não foi nada, a ti te pôs excessivamente nervosa... quase pareces aterrorizada. Maxie sentiu náuseas: nunca antes a tinham calado tão bem. Sentia-se observada tão de perto como um inseto sob o microscópio.
- Por que permites que o que nada mais é do que desejo legítimo te envergonhe? – continuou Angelos suavemente. - Por que não te permites sentir prazer?
- Prazer?
- A mim me parece - respondeu olhando-a intensamente, a ponto já de marchar-se -, que quando a ambição e o desejo se unem, o resultado não pode ser mais prazeroso.
Depois de deixar cair aquela última ofensa, saiu da casa e se encaminhou calmamente para a limusine. Os dois meninos que tinham estado jogando futebol tratavam sem sucesso de entabular uma conversa com o impassível motorista. Angelos se deteve a bater um papo com eles com uma naturalidade que a Maxie lhe pareceu desconcertante. Turvada por sua própria fascinação, bateu a porta com força. Ia regressar, disso estava tão segura como de que ao dia seguinte voltaria a sair o sol. Nervosa, pôs-se a dar voltas pela casa até que chegou à cozinha, onde, para sua surpresa, Liz a estava esperando com expressão preocupada.
- Bounce começou a rosnar no estudo. Suponho que deve ter te ouvido gritar. Voltei à casa, mas ao dar-me conta de que estavam brigando, fiquei fora – confessou. - Por desgraça, ouvi mais do que tivesse querido. És um cachorro muito mau, Bounce: foste muito tonto por não morder a esse Angelos Petronides.
- Sabia quem ele era... ?
- No princípio não, mas depois... falaste-me tantas vezes do tal Angelos.
-Sim? - Maxie respirava agitadamente. Liz sorriu. – Passavas horas criticando-lhe e queixando-te por seu comportamento, pelo que em seguida me dei conta de que, em certo modo, sentias-te muito atraída por ele. Maxie soltou uma áspera gargalhada.
- Teria sido melhor de que me tivesse dito, assim, pelo menos, estaria preparada. Meus hormônios enlouqueceram no momento menos oportuno, me sinto tão tonta! - se lamentou com os olhos cheios de lágrimas. - Está-me dando uma dor de cabeça terrível...
- Não é para menos - murmurou Liz compassivamente. - Nunca te tinha ouvido gritar desse modo.
- É que nunca odiei a ninguém em minha vida como ódio a esse maldito Angelos Petronides. Me agradaria matá-lo, Liz, to juro. Ainda por cima, agora estou em dívida com ele em vez de com Leland...
- Me pareceu entender que não quer que lhe d voltes o dinheiro...
- Penso devolver-lhe até o último centavo, ainda que isso seja o último que faça - replicou Maxie com os olhos lacrimejantes.
- Liz...! - a interrompeu Maxie doída.
- Não pensaste que pode ser ele o tipo com quem vá se casar? continuou sua amiga zombadoramente.
- Por Deus Santo, Liz! É que te voltaste louca? Como te ocorreu semelhante coisa?
- O testamento de tua madrinha...
- Esquece-te, Liz! A mim me parece que o último no que pensaria esse homem é no casamento - se deteve um instante para pensar a melhor forma de explicar-se a sua ingênua amiga sem ferir demais sua sensibilidade... Não tem o menor interesse, digamos romântico, em mim. Não é desse tipo de homens: é duro, e frio como o gelo...
- A mim não pareceu em absoluto. Sua voz soava muito amável. Te surpreenderia saber a quantidade de coisas que posso advertir só pelo tom de voz.
Em muitos aspectos, Liz era bem mais inocente do que ela. Maxie não queria dizer-lhe cruamente que Angelos Petronides a considerava um ser inferior, meramente um objeto preciso do que presumir e desfrutar.
- Liz – começou titubeante,- creio que se sentiria ofendido só ao considerar a possibilidade de ter uma relação normal com uma mulher que foi a amante de outro homem...
- Mas se tu não foste a amante de ninguém!
Maxie não fez o menor comentário. Depois de toda a publicidade negativa que lhe tinham feito, ninguém acreditaria na verdade.
- Liz, tudo o que Angelos quer é dormir comigo - declarou.
- Oh! - Liz enrijeceu tão intensamente que todas as suas sardas desapareceram. - Querida! Não deves deixar-te arrastar por um homem semelhante!
Aquela noite Maxie permaneceu estendida na cama, escutando os ruídos do tráfico. Não podia perdoar-se ter-se sentido atraída por um homem como Angelos Petronides, quem sem dúvida pensava que era uma aventureira desprezível, acostumada a vender seu corpo em troca de luxos e riquezas. Parecia-lhe que o coração se ia partir-lhe em mil pedaços de dor. Como tinha sido capaz de cair tão baixo?
Quando a escolheram para a campanha publicitária de uma das marcas de produtos para o cabelo mais populares do país, mal tinha dezoito anos. Ainda que nunca tinha querido ser modelo, deixou-se convencer por seu pai, e muito cedo começou a ganhar dinheiro aos montes.
No entanto, aos poucos começaram a fartá-la a pressão à que a submetiam e a superficialidade do mundo da moda. Como tinha poupado muito dinheiro, começou a fazer planos para mudar de vida.
Mas durante todo esse tempo seu pai não tinha deixado de jogar. Sem que ela o soubesse, cada vez fazia apostas mais arriscadas, oferecendo a fortuna de sua filha como garantia para cobrir as perdas. Por sorte, o diretor do casino de Leland lhe tinha cortado o crédito quanto suspeitou que o ancião estava jogando muito acima de suas possibilidades. Maxie conheceu a Leland Coulter quando foi ao cassino pagar as dívidas de seu pai.
- Não conseguirás mudar-lhe, Maxie - lhe tinha dito. - Seguiria apostando ainda que se estivesse morrendo. Tem que ser ele o que decida mudar.
Depois daquele humilhante episódio, seu pai lhe fez um montão de promessas. Jurou-lhe que não voltaria a jogar, mas, como era de se esperar, rompeu sua promessa. Como já não era bem recebido nos cassinos, começou a ir a lugares mais perigosos; jogava altas somas de dinheiro ao pôquer com homens de péssima reputação, dispostos a romper-lhe os ossos a quem ousasse eludir suas dívidas. Foi bem como a vida de Maxie começou a cambalear-se.
Russ contraiu uma enorme dívida da que sua filha não pôde fazer-se cargo, pois já tinha gastado suas poupanças; então uns valentões lhe deram uma terrível surra que ele perdeu um rim. Confessou-lhe o ocorrido a sua filha na cama do hospital, entre soluços: tinham-lhe ameaçado com que se não devolvesse o dinheiro a tempo eles o matariam.
Desesperada, Maxie tinha ido a Leland Coulter em procura de conselho. Depois de escutá-la, ele lhe propôs um arranjo: cobriria todas as perdas de seu pai a condição de que ela fosse viver com ele. Desde o primeiro momento tinha sido muito claro com respeito às condições do trato: ele não queria sexo, somente presumir, levar uma esplêndida mulher no braço, que esta presidisse os jantares que organizava e que lhe acompanhasse onde queira que fosse.
Tudo aquilo não tinha parecido demais a Maxie, quem, ademais, estava-lhe realmente agradecida por do que lhe tivesse prestado o dinheiro e salvado assim a seu pai. Não se deu conta da armadilha em que se estava metendo; de fato, nem sequer sabia que Leland era casado até que viu as manchetes de um jornal sensacionalista no que se arrastava sua até então intacta reputação pelo lodo.
- Jennifer e eu rompemos porque ela teve uma aventura - admitiu Leland a contra gosto quando Maxie lhe jogou em sua cara ter-se ocultado. Ter-te a meu lado faz que não me sinta como um estúpido.
E a ela lhe tinha dado tanta lástima que decidiu permanecer a seu lado enquanto o casamento livrava uma encarniçada batalha legal para repartir-se suas propriedades. Jennifer e Leland brigaram sem trégua ante os tribunais até que, justo uma semana antes da vista do divórcio, a ele lhe desse um enfarte; e naquele momento de crise, a única mulher na que ele tinha pensado era em sua esposa.
- Vê-te, deixa-me a sós - lhe tinha sussurrado pateticamente a Maxie diante da cama do hospital. - Preciso de Jennifer, Não quero que ela te veja aqui!
Aquilo lhe tinha doído, pois, por insólito que parecesse, sentia certo afeto por Leland. Não era em absoluto um homem mau, tão só egoísta, como todos os que tinha conhecido antes que ele, e esperava sinceramente que voltasse a ser feliz com seu Jennifer. No entanto, tinha-a usado não só para curar sua vaidade ferida, o que era muito pior, como arma para castigar a sua mulher infiel. E isso Maxie não podia perdoar, como também não poderia perdoar-se a si mesma ter estado tão cega como para consenti-lo. Jurou a si mesma que nunca, passasse o que passasse, voltaria a permitir que a utilizassem.
Quanto sua amiga se marchou, Maxie se encerrou no quarto balnear onde passou uma hora maquilando-se cuidadosamente e vestindo-se com especial esmero. Ia dar-lhe a Angelos Petronides uma lição que nunca esqueceria.
A meia manhã procurou a única jóia que lhe pertencia. Tratava-se de um bracelete vitoriano que tinha encontrado aos onze anos, na caixa de costura de sua mãe. Sem dúvida, tinha-o escondido aí para evitar que seu marido, que sempre andava curto de dinheiro, o vendesse. Depois de fazê-lo ele sempre se sentia terrivelmente envergonhado, mas para então era demasiado tarde como para recuperar aquelas humildes jóias. Maxie o sabia muito bem, assim que manteve aquele bracelete bem escondido durante todos aqueles anos.
Por isso é que parecia ainda mais terrível o que estava a ponto de fazer, uma autêntica traição à memória de sua mãe. Mas precisava desesperadamente de dinheiro e não possuía nada mais de valor. Tinha que demonstrar fosse como fosse a Angelos Petronides que ainda que se tivesse feito cargo da dívida, isso não lhe dava nenhum direito sobre ela. E o amargo sacrifício da única herança de sua mãe só contribuía a fazer mais firme aquela decisão.
Meia hora mais tarde subia ao andar mais alto do arranha-céu que albergava os escritórios centrais das empresas de Petronides. Decidida, acercou-se à mesa da recepcionista.
- Quero ver a Angelos - anunciou.
- Se... senhorita Kendall? - a garota levantou com os olhos como pratos ao reconhecê-la. Maxie se tinha posto um vestido de um vermelho furioso, escandalosamente cingido, e se tinha soltado a formosa cabeleira loira que caía como uma cascata de ouro até a cintura. Completavam o conjunto uns sapatos de salto vertiginoso.
- Não se preocupe, já sei onde fica seu escritório - disse, e sem mais preâmbulos se encaminhou para o corredor, deixando à empregada boquiaberta.
Abriu a porta com decisão, mas, por desgraça, o escritório tava vazio. Sem vacilar se dirigiu à sala de reuniões contígua, sem fazer caso dos espalhafatos da recepcionista, a que tinha conseguido chamar a atenção de outras duas secretárias.
Heureca! Maxie irrompeu numa habitação repleta de homens de negócios que ficaram sem fala diante sua súbita aparição.
Angelos, que presidia a reunião, levantou-se, olhando-a com uma terrível expressão.
- Quero falar contigo agora mesmo – lhe disse Maxie. Seus olhos relampejavam como duas safiras.
- Pode esperar no escritório do senhor Petronides, senhorita Kendall - interveio uma mulher de meia idade, provavelmente uma das secretárias.
- Não, obrigada, não quero esperar - lhe espetou Maxie. Angelos lhe lançou uma mirada carregada de fúria. Nunca ninguém lhe tinha feito semelhante cena. Maxie lhe sorriu docemente; sabia que ele não podia fazer-lhe nenhum dano porque já não tinha absolutamente nada que perder: nem dinheiro, nem emprego, só seu orgulho e seu bom juízo. Custasse o que custasse, estava disposta a que Angelos pagasse pelo que lhe tinha feito no dia anterior.
Impetuosamente, Angelos se acercou a ela e a pegou pelo braço. Maxie gemeu, como se lhe tivesse feito muito dano. Ele a soltou de imediato, mas a mudança lhe dirigiu uma mirada que tivesse feito tremer a mulheres bem mais fortes do que ela.
- Obrigado - disse Maxie, e como um cordeirinho se dirigiu para a porta que comunicava com o escritório. Sabia que ele a seguiria. Quanto estiveram a sós, voltou ao ônus.- As visitas inesperadas que se comportam de forma pouco adequada são mais do que maçante, não é verdade? - lhe espetou ironicamente.
- Estás louca - replicou Angelos, fazendo um esforço visível para conter-se. - A que demônios crês que estás jogando?
- Não vim jogar, senão a pagar - com um gesto dramático, alongou a mão e depositou uns quantos bilhetes sobre a escrivaninha. - Isto é a conta do empréstimo. Não podes comprar-me como se fosse uma lata de feijão.
- Como te atreveste a interromper a minha reunião? - perguntou Angelos irritado. - Como foste capaz de montar semelhante cena?
Maxie se pôs tensa. Nunca tinha visto a nenhum homem tão furioso. Apesar de sua tez bronzeada, estava muito pálido; sentiu que queria fuzilá-la com a mirada.
- Tu me provocaste – contestou. - Vieste ver-me sem que eu te convidasse e fizeste que me sentisse como o mais rasteiro. Vim te dizer que estavas muito equivocado!
- Esta é a famosa Rainha de Gelo? - replicou Angelos secamente.
- Tu serias capaz de derreter os Pólos! Maxie, então perguntando-se por que parecia tão calmo de repente. Inclusive estava recuperando sua cor natural.
- Não será que tens dupla personalidade?
- Talvez crês que me conheces muito bem só porque coincidimos meia dúzia de vezes? - Maxie sacudiu a cabeça, e não pôde deixar de se dar conta de que sua mirada parecia ficar presa ao movimento de sua formosa cabeleira. Aquele desgraçado, pensou, estava tão cheio de si mesmo que não podia tomar em sério a uma mulher nem sequer cinco minutos.
- Nunca vi que com Leland te comportasses deste modo.
- Minha relação com ele não é assunto teu - lhe interrompeu. Creia-me: ninguém me xingou nunca como tu o fizeste ontem.
- Me resulta difícil de crer.
Sem querer, Maxie começou a desanimar-se. Ele alto e poderoso, imponente naquele severo traje cinza, Angelos a olhava sem deixar transparecer a mais mínima emoção.
- Desde quando é um insulto que um homem admita que deseja a uma mulher? - perguntou implacável.
- Primeiro me disseste que tinhas pago o empréstimo, então começaste a pressionar-me com isso. És um manipulador, isso é o que és! - gritou Maxie, e, dando-se a volta, dirigiu-se para a porta.
- Todas as saídas estão fechadas. Por enquanto, não podes sair - lhe informou Angelos com suavidade.
Maxie pegou o trinco da porta e se pôs a forçar sem sucesso.
- Abre essa porta!
- Por que deveria fazê-lo? - se recostou no cadeirão, com uma expressão tão fria e ameaçadora ao mesmo tempo em que Maxie tivesse desejado estrangulá-lo.
- Pelo jeito, vieste decidida a entreter me, e ainda que não me agrada que me distraiam, devo reconhecer que tens um aspecto fabuloso com esse vestido. - Entenderás que eu queira saber por que reages de uma maneira tão melodramática a minha proposta.
Maxie se deu a volta para enfrentar-se a ele.
- Assim que o admites?
- Sim, desejo-te. É só uma questão de tempo - declarou Angelos calmamente.
Maxie se estremeceu.
- Já vejo que quando os afagos não funcionam passa diretamente às ameaças.
- Não te estou ameaçando. Nunca tive que ameaçar a uma mulher para dormir - me com ela.
- Por suposto. - Com semelhante atraente, seria uma tolice mostrar-se modesto. Aquele homem, pensou com amargura, tinha-o tudo: sex-appeal, mais dinheiro do que poderia gastar em toda sua vida e uma mente privilegiada.
- Pensas que és um ser especial, verdade? Creste-te ia sentir tão afagada que ia jogar-me a teus pés... Pois te direi que não és muito diferente aos outros tipos que foram atrás de mim. Tenho muita prática em tratar com os de tua laia, conheço-os desde que completei quatorze anos...
- Me alegro de que nossos caminhos se tenham cruzado agora que já és maior de idade - a interrompeu Angelos cinicamente.
Ante aquele comentário, Maxie saltou como uma tigresa.
- Sei muito bem que para ti não sou nada mas que uma bonequinha tonta – replicou amargamente. - Pois bem, senhor Petronides, lhe direi algo: não penso em ser o brinquedinho de ninguém. Se queres entretenimento, vá te à loja e compra-te um trem de brinquedo.
- A verdade, não podia nem imaginar-me que por trás da fachada que apresentas em público escondesses semelhante falta de amor próprio...
Maxie se deu conta de que a situação lhe fugia das mãos, que lhe faltavam argumentos para enfrentar-se àquele homem cruel.
- Não digas estupidezes! – contra atacou nervosa. - Sejam quais sejam os erros que tenha cometido no passado, asseguro-te que não estou disposta a repeti-los. E agora que já sabes, abre essa maldita porta e deixa que me vá.
- Se fosse tão fácil... - murmurou Angelos sem deixar de olhá-la.
Mas quando Maxie girou o trinco de novo, encontrou-se com que a porta estava aberta. Saiu ao fim, tão turvada e dolorida como se acabasse de livrar uma terrível batalha.
Que demônios lhe tinha passado? Maxie não deixava de dar-lhe voltas na cabeça ao sucedido enquanto regressava ao apartamento sob uma fina chuva que muito cedo a calou até os ossos. Estava tão alterada que quase agradeceu sua frescura.
Algo tinha saído muito mau naquele escritório. Angelos tinha conseguido devolver-lhe todos e cada um de seus golpes; tal e como tinha ocorrido o dia anterior, quanto mais furiosa se punha ela, mais frio e controlado parecia ele. Aquele homem tinha um autocontrole formidável.
E sim, tinha que reconhecer que se tinha comportado de forma melodramática. Tinha-se desbocado como um cavalo enlouquecido, lançando acusações que não tinha a menor intenção de fazer, se expondo diante seu pior inimigo suas mais íntimas inseguranças e temores.
Sem dúvida, tudo aquilo se devia à tensão dos últimos dias: a doença de Leland, a má imprensa, a morte da madrinha. A pressão à que estava submetida a tinham feito perder os papéis diante daquele homem implacável. Falta de amor próprio! Como se tinha atrevido a dizer-lhe semelhante coisa?
Uma limusine se deteve a uns poucos metros por adiante dela. Angelos saiu do interior e ficou olhando-a.
- Olha por que andar desse modo sob a chuva! - Vamos, entre no carro!
Maxie se deteve, retirando as mechas de cabelo molhado da cara.
- Vá te ao inferno! - lhe espetou desdenhosamente.
- Vais pôr-te a pedir socorro se te meto no carro? - perguntou Angelos impaciente.
Maxie sentiu que lhe traspassava uma onda de raiva como nunca antes tinha sentido. Plantou-se diante dele, com o vestido colado ao corpo, delineando cada uma de suas fabulosas curvas.
Sabia que, ainda que o estivesse desejando, Angelos não faria o menor movimento para ela.
- Por que me estás seguindo?
- Não me fazem muita graça os trens de brinquedo... demasiado calmos - admitiu Angelos.
- Pois a mim não me fazem nenhuma graça os tipos como tu, que pensam que me conhecem melhor do que eu mesma.
Maxie viu que ele também estava se molhando. Finas gotas de chuva reluziam em seu cabelo negro como o ébano. Por alguma razão misteriosa, agradou-lhe que ele se estivesse calando por sua causa.
- Se o que pretendes é que te diga que posso mudar, sinto muito, não vou fazê-lo. Eu sou como sou - declarou Angelos.
Seria muito tonta se não aproveitasse a oportunidade de que ele a levassem a casa, disse-se Maxie, sobretudo tendo em conta que começava a sentir um pouco de frio. Desfrutando diante a perspectiva de deixar-lhe assombrado, subiu-se na limusine.
- Queria que te enfadasses para que me deixasses só - lhe disse quanto se puseram em marcha.
- Então, por que não te mantiveste afastada? Por que te meteste no carro? - perguntou Angelos implacável.
Por toda resposta, Maxie abriu a maçaneta da porta, mas antes de que pudesse sair do carro, Angelos lhe segurou a mão com força para impedir-se.
- Talvez queres suicidar-te? - perguntou.
Ela se soltou com um gesto e ficou encolhida em silêncio. Sabia que ele tinha razão: se realmente tinha querido evitá-lo, por que tinha subido ao carro? Sem dúvida, não por algo tão trivial como a chuva ou a roupa molhada.
Desde o outro extremo do assento, Angelos estendeu uma mão amistosamente.
- Vêem aqui.
Por toda resposta, ela se encolheu ainda mais no canto. Não sabia que lhe estava passando, sentia-se aterrorizada diante a onda de sentimentos contraditórios que a presença daquele homem acordava nela. Angelos Petronides era um perigo letal para uma mulher como ela; o único sensato era evitar-lhe como se fosse uma praga.
Com um longo suspiro, Angelos se despojou da jaqueta, e, sem mais preâmbulos, pegou-a pela mão e a atraiu para si. Maxie se debateu com fúria para sair se de seu abraço.
- Deixa-me! Que fazes...?
- Está-te quieta! - exclamou Angelos; ao mesmo tempo em que a soltava estendeu os braços, como que para demonstrar-lhe que não levava nenhum arma escondida. - Não agüento mulheres histéricas.
- Não... eu não... eu não o sou - sussurrou Maxie envergonhada enquanto ele lhe colocava a jaqueta por cima dos ombros. Ainda notava o calor e o aroma de seu corpo na suave e cálida tela. Era um cheiro nítido e masculino, com uma pitada de limão. Abaixou a cabeça e aspirou profundamente, surpreendendo-se diante o que a comovia aquele gesto.
- És tão renitente como meus cavalos de carreiras: cada vez que me acerco, tu te afastas.
- Ontem não o fiz - replicou Maxie acidamente.
- Não tiveste oportunidade de fazê-lo - disse Angelos com toda intenção. Alongou as mãos e pegou as mangas da jaqueta, atirando desse modo dela.
- Não! Não! – suplicou Maxie com os olhos muito abertos. Para seu desespero, o único que podia fazer era estender as mãos para seu peito.
- Só te soltarei se me deres um beijo - lhe advertiu Angelos brincalhão.
Só em tocá-lo acima da camisa lhe resultava já tão íntimo, que Maxie sentiu que um arrepio de culpa lhe percorria a espinha dorsal. Notou os redemoinhos de pêlos por debaixo do tecido, e se sentiu absurdamente excitada. Costumava trabalhar com modelos que se depilavam o torso, e, por contraste, sentia um irreprimível desejo de desabotoar-lhe a camisa.
- Pareces um menino a que lhe pilharam em falta lhe interrompeu Angelos com um sorriso preguiçoso.
Aquele gesto teve o poder de deixá-la paralisada, como hipnotizada de novo. Fascinada, era incapaz de afastar a vista daquelas incríveis pestanas sedosas e da firme linha de sua mandíbula.
- Não me convéns em absoluto - disse, presa do pânico.
- Demonstra-o - replicou Angelos com aquela voz de veludo que parecia uma carícia. Passou-lhe a mão pelo cabelo, detendo-se na curva da nuca. - Demonstra-me por que não te convenho.
Era tão atraente que Maxie não podia pensar com clareza. O coração lhe batia com tal velocidade que parecia que se ia sair-lhe do peito. Sentiu uma onda de crescente excitação percorrer seu corpo. Se ruborizou ao dar-se conta de como Angelos olhava seus seios, erguidos sob a esticada tela do vestido.
Lentamente ele deslizou as mãos por suas costas, e se agachou para ela, mas em vez de beijar-lhe na boca, beijou lhe num de seus mamilos. Surpresa, Maxie arqueou o pescoço e gemeu baixinho.
Angelos levantou a cabeça e ficou olhando com uma expressão selvagem.
- Quase dói desejar isto tanto – disse. Não creio que conhecesses esta sensação... mas agora sim.
Maxie se jogou a tremer; o puro medo se enroscava em seu interior como uma serpente. Angelos estava jogando com ela, valendo-se para isso de seu incrível atrativo.
- Não me toques! - exclamou, e antes de que se desse conta do que estava fazendo, cruzou-lhe a cara de uma bofetada. Angelos lhe pegou a mão com um gesto e voltou a sorrir-lhe.
- Já vejo que a frustração te altera muito - disse, e sem deixar de olhá-la levou as mão aos lábios primeiro, e se agachou para beijá-la depois.
Nunca antes a tinham beijado daquele modo. Automaticamente respondeu com a mesma ânsia ao chamado daquela boca devoradora e sensual. Se agarrou a Angelos, odiando-se ao mesmo tempo pelo desejo que crescia dentro dela.
De repente, tudo acabou.
- Vamos - disse Angelos separando-se um pouco, evidentemente orgulhoso do poder que exercia sobre ela.
Maxie nem sequer se tinha dado conta de que o carro se tinha detido. Ele se deteve um instante para colocar de novo a jaqueta sobre seus ombros. Sentia-se tão desorientada que recebeu muito agradecida as frescas gotas de chuva; confusa, apoiou-se no braço que ele lhe passou pela cintura.
De repente, Angelos soltou um palavrão, atraindo-a para si. No entanto, Maxie ainda pôde distinguir a um fotógrafo que escapava correndo. Imediatamente saíram depois dele dois guarda-costas de um carro estacionado por trás da limusine.
- Meus homens conseguirão esse filme – lhe exclamou Angelos relaxando-se um pouco.
Maxie estava sem fala. Muitas vezes tinha desejado poder evitar as câmaras dos paparazzi, mas nunca tinha visto um despregue como o que acabava de fazer Angelos para proteger sua vida privada.
Desde depois, pensou com amargura, estava claro que não o tinha feito por ela. Intuía que ele faria tudo o possível por não aparecer em público a seu lado.
Ainda tremia quando ele a conduziu a um luxuoso elevador.
- Aonde vamos? - perguntou confusa enquanto subiam.
As portas se abriram sem um ruído diante um enorme vestíbulo de mármore.
- A meu apartamento, onde se não?
Imediatamente, Maxie se pôs alerta. Se aquele fotógrafo tinha conseguido fugir, teria uma foto mais do que comprometedora; não lhe resultava difícil imaginar o que pensaria as pessoas ante aquela imagem. Como podia ter sido tão tonta?
- Pensei... que me levavas a casa de Liz - murmurou incômoda.
- Nunca disse que fora a fazê-lo - disse Angelos zombador, -, e depois do ocorrido no carro, a verdade é que prefiro fazer-te amor em minha própria cama.
A Maxie começaram a tremer os dentes.
Uma qualquer, isso é o que pareceria na foto, e assim era como ele a estava tratando.
- Maxie... – percebendo-se de sua turvação, Angelos mudou de estratégia, -, Para valer pensou que ia respeitar-te mais porque me dissesses que querias esperar um pouco mais? Não tenho tempo para estar-me com essas tolices...
- Não, claro que não.
- E não creio que teus sentimentos sejam muito diferentes. Suponho que estaremos juntos ao menos seis meses – disse, - pode ser algo mais inclusive. Desejo-te como não desejei a nenhuma outra mulher em muito tempo.
- Pois tome um chuveiro frio - lhe espetou Maxie, erguendo-se orgulhosa. No entanto, tremia tanto que a jaqueta se lhe deslizou dos ombros e ficou no solo feita um farrapo. - Não sou uma mesma à que possas levar à cama quando tu queiras.
- A verdade é que, para começar só queria convidar-te a comer, mas ... - admitiu Angelos.
- Sim, para que perder o tempo, não? - lhe interrompeu Maxie desagradada. - Encontrei-me com muitos homens sem escrúpulos em minha vida, mas tu superas a todos. Talvez te crês que um simples beijo te dá direito sobre mim?
- O desejo que existe entre os dois é autêntico e muito forte - replicou arrogante. - Talvez me pedes que me desculpe por algo que tu também sentes e na mesma medida que eu? - Não... parece-me que tu não és dos que se desculpam - disse Maxie acovardada.
- Tens razão: és tu que primeiro fazes uma coisa e depois dizes outra, não eu - disse Angelos friamente. - Faz muito tempo que eu deixei desses joguinhos.
Ainda que cada músculo das costas lhe doía, Maxie se propôs manter fosse como fosse a mesma atitude de rainha ofendida. Tiraria forças da mesma vergonha que sentia por ter permitido que ele a tocasse.
- Não direi que foi um prazer conhecer-te porque não o foi, Angelos... és asqueroso - disse, e dando-se a volta se dirigiu para o elevador.
- Maldita seja ! - Não podes ir embora ! - exclamou Angelos acercando-se a ela de uma passada. - Quem tu pensas que és para falar-me nesse tom?
- Basta ! - Não quero ouvir nem uma palavra mais!
- Pois vais ter que me escutar - insistiu Angelos fechando-lhe o passo. A ficou olhando com feroz determinação. - Talvez crês que não sei que foste viver com Leland de um dia pro outro? Quase nem lhe conhecias, saíste do nada. - Se estava claro como a água que não sentias nada por ele!
- Eu... - sussurrou Maxie, surpreendida ante aquela estratégia.
- A verdade é que Leland te aborrecia, e tu não te molestavas o mínimo por dissimulá-lo. Mal podias suportar que te tocasse, mas agüentaste a seu lado três anos inteiros. Talvez assim é como se comporta uma mulher sensível e com princípios? Te vendeste por um armário de trajes de marca !
- Não ! - Não é verdade! - protestou Maxie.
- Não? Talvez um dia te levantaste e te disseste: « Eu mereço algo mais do que isto. Não quero seguir vivendo desta forma »? - Angelos estava sendo implacável. - Podes protestar o que queiras, mas eu vi com meus próprios olhos: não sentias absolutamente nada por ele, simplesmente te vendeste ao melhor concorrente.
Maxie sentia crescer a náusea em seu interior.
- Não.., não... - se limitava a dizer enquanto voltava ao interior do apartamento.
- E eu sou tão tonto, que, ainda sabendo-o, ainda te desejo. Eu não quero comprar-te... digamos que eu sou tão ingênuo como para pensar que as coisas não têm por que ser assim entre nós... Como evidentemente te agrado, talvez posso até esquecer de que minha imensa riqueza tenha tido algo que ver com que estejas comigo.
Maxie parecia uma estátua; não se atrevia nem a mover-se por temor a romper-se em mil pedaços.
- Nunca te perdoarei por isto - sussurrou, e era como se cada palavra abrisse uma nova ferida em seu maltratado coração.- Leland nunca foi meu amante, tínhamos feito um trato...
Angelos a interrompeu com uma maldição em grego.
- Talvez me tomas por tonto?
Maxie se disse que tinha sido uma completa estúpida ao tentar defender-se. Só tinha posto em evidência sua própria debilidade ao pretender que aquele grego arrogante não pensasse mau dela.
- Afasta-te de mim, ou...
- Me parece que decidiste como tinha que ser tua vida muito antes de conhecer-me, não ? Que é o que queres ? - perguntou Angelos sem deixá-la terminar.
Maxie lançou uma gargalhada histérica, lutando furiosamente por conter as lágrimas.
- Só desejo o mesmo que todo mundo - confessou, com os olhos brilhantes como duas estrelas. - E algum dia, quando tudo isto tenha passado, o terei. - Não vais conseguir-me, Angelos, não penso fazer amor contigo a não ser que me arrastes à cama e me amarres, está claro? - Por mais que me desejes, não me terás nunca - Angelos parecia incapaz de afastar a vista dela. - Más notícias – continuou, eu sou a que me marcho. Mas, por que teria de molestar-te isso? Afinal de contas - concluiu sem poder reprimir-se, tu és um homem sem sentimentos.
- Que é o que queres de mim? - replicou Angelos selvajemente. Nunca poderia amar a uma mulher como tu.
- Tanta sinceridade me comove! - exclamou Maxie tristemente, ainda que estava tremendo como uma folha. - Mas, no entanto, isso não te impede desejar-me, verdade? Sabes de uma coisa, Angelos? Alegro-me de saber, muito obrigado, fizeste maravilhas por meu maltratado amor próprio - se mofou.
- És uma... não me tinha dado conta até agora - disse Angelos sem nenhuma emoção. Cada uma de suas palavras era tão corrosiva como o ácido. - Está bem: põe então o preço por uma noite. Quanto crês que mereces?
Maxie se ergueu sem pensar-se dois segundos.
- Não creio que tu possas pagá-lo - disse olhando-o de frente. Agora quero bem mais do que um simples armário cheio de roupas. Já te disse que aprendi com meus erros, Angelos. O próximo homem com quem eu viver será meu marido.
Angelos ficou mortalmente pálido.
- Se por um só segundo chegaste a pensar...
- Por suposto que não! - lhe interrompeu Maxie, - mas suponho que agora entenderás por que não posso comer, sair ou dormir contigo. Não quero que me relacionem com um milionário grego de duvidosa reputação. Tenho que cuidar minha nova imagem.
- Terás que engolir estas palavras cada dia que passes comigo! - estourou Angelos.
- Realmente, custas entender as coisas: não penso estar contigo nem um só segundo Angelos... e sem adicionar nada mais, saiu da habitação como uma tromba.
Quando já estava na rua, deu-se conta de que tremia tanto que lhe custava inclusive andar. Ainda que não podia permitir-se, decidiu parar um táxi. ....Sentia - se terrivelmente confusa, enquanto as imagens do que ocorreu davam voltadas ao seu redor como num redemoinho.
Como era possível que duas pessoas que mal se conheciam se tratassem daquele modo?
Como tinha podido de uma forma tão odiosa? Se quase tinha desfrutado lançando-lhe todas aquelas maldade ! Ao recordá-lo, se sentia quase fisicamente enferma, vazia...
Angelos Petronides quase tinha acabado com ela... mas , ao menos, disse-se para consolar-se, não voltaria a molestá-la. Era um homem demasiado orgulhoso para expor-se a que lhe recusasse de novo. E no entanto, por que tinha aquela terrível sensação de perda?
Ainda se atrevia menos ao examinar de perto seu próprio comportamento. Tinha reagido como uma completa estúpida, como uma adolescente inexperiente!
O que lhe agradava mais do que estava disposta a admitir, mas cega e obstinada como a mais ingênua das menininhas, nem sequer se o tinha admitido a si mesma até que tinha sido demasiado tarde. « Me dei conta de que não te resulto indiferente », tinha-lhe dito Angelos. Envergonhada, deu-se conta de que tinha estado a ponto de pôr-se em evidência, não podia permitir-se mais erros desse calibre.
Por suposto, ele não a tinha crido quando lhe tinha contado a verdadeira natureza de sua relação com Leland. Não o teria feito nem ainda que lhe tivesse ensinado um certificado de virgindade. Estava segura de que ele a considerava como uma espécie de prato preparado, barato e pronto para devorar, não para saboreá-lo. Nem por um momento acreditou que, ainda aceitando sua oferta, ele se mantivesse a seu lado nada menos que seis meses.
- Os homens te prometerão a lua para conseguir que te dormes com eles - lhe tinha advertido seu pai. - O único que valerá a pena é o que esteja disposto a esperar, o que para valer se preocupe por teus sentimentos.
Tinha recebido aquele conselho quando precisamente começava a enfrentar às conseqüências mais terríveis de sua incrível beleza: as noivas dos garotos que conhecia a odiavam; homens feitos e direitos a acossavam para que saísse com eles; inclusive os garotos de sua idade , que normalmente se sentiam intimidados quando estavam a sós com ela, depois espalhavam toda classe de calúnias. Tinham passado oito anos desde então, e ainda estava esperando àquele homem ideal.
Levava uma hora em casa de Liz quando soou o telefone. Era Catriona Ferguson , a encarregada da agência de modelos à que pertencia desde que completou os dezoito anos.
- Tenho más notícias... - anunciou sem mais preâmbulos. - O departamento de publicidade de LFT Haircare nos comunicou que decidiram prescindir de ti para a próxima campanha.
- Já o esperava - se limitou a dizer Maxie.
- E me temo que não temos nada em perspectiva - continuou Catriona. - A verdade, não me surpreende, já que tua imagem está demasiado sócia a seus produtos. Adverti-te dos riscos que tinha assinar um contrato em exclusiva; agora mesmo , tens muito má imprensa.
Fazia um mês desde que se mudasse de casa de Leland, e em todo aquele tempo não tinha trabalhado nem uma só vez. Começava a resultar inquietante a necessidade de ganhar-se a vida por outros meios , pois sua conta bancária estava praticamente a zero. Não podia culpar a Catriona do ocorrido; sempre lhe tinha aconselhado que se decidisse a trabalhar em desfiles de modas , mas com a trepidante vida social de Leland e seu compromisso com ele, tinham lhe impedido aceitar qualquer compromisso.
Horas mais tarde , ainda seguia sentada na salinha da casa de Liz, ao lado de uma estufa, tentando pôr suas idéias em ordem. O único bom que lhe tinha acontecido tinha sido livrar-se de Angelos.
De repente notou uma coceira no braço; surpresa, fixou-se em que tinha uma espécie de erupção na pele. Não cria que se devesse a que tivesse comido algo em mau estado , pois nos últimos dias mal tinha sido capaz de comer nada. Ficou dormindo no cadeirão; porém quando acordou horas mais tarde, quase se arrastou até o quarto de convidados, caindo de imediato num profundo sonho.
Na manhã seguinte se sentia ainda pior. Enquanto se escovava os dentes viu que tinha outra erupção na testa. Parecia varicela, disse-se; de repente se lembrou que fazia um par de dias, uma dos vizinhas tinha deixado ao cuidado de Liz a um menino que tinha exatamente as mesmas marcas na cara.
Apreensivamente Maxie examinou o resto dos sintomas: tosse rouca, garganta ardente, febre... Fosse o que fosse se sentia fatal, assim que se voltou à cama. No entanto, teve que se levantar em seguida para atender o telefone.
- Alô ? - perguntou no meio de um acesso de tosse.
- Sou Angelos, que é o que te passa?
- Tenho... estou resfriada – mentiu. - Que é o que queres?
- Ver-te...
- Nem em sonhos ! - exclamou, e pendurou o telefone. Poucos instantes voltou a soar, mas ela o desconectou. Também ignorou o timbre da porta.
Permaneceu sonolenta o resto do dia, até que por fim acordou. Custava-lhe muito respirar e lhe doía enormemente a cabeça. Começou a pensar que precisava de um médico, e enquanto o fazia o timbre da porta não parava de soar.
Saiu da cama , mas as pernas lhe falharam e caiu ao solo. Se lhe saltaram lágrimas enquanto se arrastava , tentando recordar onde estava o telefone. AO longe ouviu como se algo se rompesse, cristal talvez, e depois o murmúrio de umas vozes. Talvez se teria deixado a televisão ligada? Reuniu as poucas forças que ficavam para seguir avançando, mas, de repente, foi como se o solo se desvanecesse.
OUVIU uma voz masculina que já lhe era muito familiar dizer algo numa língua estrangeira, e viu um par de pés a seu lado. Sentiu que alguém a levantava e começava a sacudi-la.
- Estás cheia de... manchas ! – exclamou Angelos no cúmulo da incredulidade.
- Vê-te... - murmurou Maxie.
- Tens umas pintas do mais raro. Eu achava que só os meninos tinham varicela - comentou Angelos quase acusadoramente.
- Deixa-me só... começou a dizer Maxie, mas ficou sem forças para continuar.
Sem fazê-la o menor caso, Angelos foi ao dormitório a procura do edredom e a envolveu nele.
- O que estás fazendo ? – gemeu , incapaz de fazer o menor movimento para impedir-se.
- Ia a caminho do meu sítio para passar o fim de semana. Mas agora me parece que terei que ficar na cidade e levar- te ao meu apartamento, - disse Angelos sem o menor entusiasmo perante semelhante perspectiva e , sem mais preâmbulos , levantou-a nos braços.
Ainda que estivesse muito débil , Maxie tinha tão arraigada em seu cérebro a idéia de que não queria ter nada que ver com aquele homem , que de imediato foi como se acendesse um sinal de alarme em seu interior.
- Não... tenho que ficar aqui e cuidar da casa.
- E a mim me agradaria que o fizesses , mas não pode ser.
- Se o prometi a Liz... marchou-se e tem medo de que entrem a roubar... baixa-me...
- Não posso deixar- lhe só em semelhante estado - Angelos a olhou como estivesse esperando que se produzisse uma milagrosa recuperação.
Maxie enterrou o rosto em seu ombro, sentiu-se mortificada. Demasiado débil e enferma para resistir-se , mas não para odiá-lo.
- Não quero ir a nenhuma parte contigo - insistiu entre tosses.
- Pois não vi a muitos voluntários dispostos a substituir-me... Por que estás choramingando desse modo ? - perguntou impaciente. Deteve-se um instante no recebedor para afastar-lhe o cabelo do rosto para obrigá-la a que o olhasse. - Desviei-me de meu caminho porque sabia que estavas enferma. Sentia-me obrigado a passar-me para ver se tudo ia bem.
- Não estou choramingando - protestou Maxie.
- Mas te direi que a verdadeira razão pela que queria vir era para devolver-te teu dinheiro e para dizer-te que não tinha a menor intenção de insistir mais.
- E por que não fizeste isso?
- Porque estavas atirada no solo, delirando com mais manchas do que um dálmata. Talvez é isso justo ? - O que passa é que eu não vou por aí choramingando.
- Eu também não - repetiu Maxie.
Angelos a levou até a limusine e a deixou num dos assentos, como um enorme vulto com o que não tivesse a menor relação.
Maxie se deu conta que não estava só: defronte viu a uma formosa ruiva , com uma linda tiara de diamantes , vestindo num espetacular traje de noite, e que se lhe ficou olhando perplexa.
- Já tiveste varicela, Natalie? - perguntou Angelos.
Era Natalie Cibaud , uma famosa atriz francesa que acabava de trabalhar numa superprodução americana. Pelo visto, a Angelos não lhe tinha custado muito consolar-se,
- Leve-me para casa ! – Natalie lhe pediu com voz rouca.
- Mantém- te à margem - lhe gritou Angelos. - Tudo isto não tem nada que ver contigo: nenhuma mulher me controlou nunca.
Mas por desgraça para ele, aquela era uma batalha perdida. Quando resultou evidente que não ia dar resposta a nenhuma das demandas de Natalie, esta fez que a limusine se detivesse, e impetuosamente desceu , não sem antes dizer-lhe algo muito ferino em sua língua.
- Me imagino que te terá encantado ver esta cena - comentou Angelos gelidamente enquanto o carro arrancava a toda velocidade.
Mas Maxie se limitou a olhar inexpressivamente o assento vazio frente a ela.
- Não entendo o francês – disse , fechando os olhos de novo.
Angelos murmurou uma maldição entre dentes e se dispôs a chamar pelo telefone celular. Apesar de sua debilidade, Maxie não pôde reprimir um sentimento de triunfo... ...aquele arrogante de que desejavam quase todas as mulheres da cidade , tinha- se visto ser chasqueado por duas das mais desejadas mulheres do momento em menos de quarenta e oito horas. Isso lhe ensinaria uma lição. Pouco a pouco se sentiu incapaz de seguir pensando em nada mais, até que chegou um momento em que se sumiu numa inconsciência febril.
- Se sente um pouco melhor, senhorita Kendall?
Maxie piscou um pouco. Aquela cara lhe parecia vagamente familiar. Uma mulher com uma bata branca, evidentemente uma enfermeira, estava a seu lado tomando-lhe o pulso.
- O que aconteceu comigo? - murmurou. Mal recordava nada mais que os acessos de tosse , a dor aguda no peito e a dificuldade para respirar.
- Acaba de passar uma pneumonia. Não é comum, e pode ser bastante perigoso - lhe explicou suave a enfermeira. - Tem estado delirando há quase cinco dias.
- Cinco dias ? - Maxie ficou olhando o espaçoso dormitório no que se encontrava. Indubitavelmente , estava no apartamento de Angelos. Ainda que os móveis fossem elegantes e muito caros , não tinha o menor toque feminino na decoração.
- Teve muita sorte de que o senhor Petronides a encontrasse a tempo - continuou a enfermeira, sacando-a de sua distração. Pode-se dizer que a salvou a vida ao dar-se conta da gravidade de sua doença tão rápido.
- Não quero dever-lhe nada mais ! - gemeu Maxie horrorizada. A jovem a olhou incrédula.
- Como podes dizer isso depois que o senhor Petronides tenha posto a sua disposição aos melhores especialistas do país e tenha contratado toda uma equipe de enfermeiras para atendê-la...?
- A senhorita Kendall tem estado muito enferma , assim que pode dizer o que queira – a interrompeu Angelos desde a porta da habitação. - Pode tomar-se um descanso, enfermeira, eu ficarei com a paciente.
- Sim , senhor Petronides – ruborizando-se , a enfermeira se retirou a toda pressa.
Impulsivamente, Maxie se jogou o lençol acima da cabeça.
- Vá ! Pelo que vejo a enferma está melhorando por momentos - comentou Angelos quanto se teve fechado a porta. - E segue sendo tão ingrata como sempre... - Não sei por que , mas isso não me surpreende.
- Vá-te! - murmurou Maxie, repentinamente consciente de que tinha o cabelo muito sujo e de que , provavelmente , as manhas se teriam multiplicado.
- Estou em meu apartamento - disse Angelos secamente , - e não penso marchar- me. Te direi que vim ver- te todos estes dias para comprovar como estavas.
- Não me importa. - Se eu estava tão enferma , por que não me levaste ao hospital? - perguntou Maxie embaixo do lençol.
- O maior especialista neste campo é muito grande amigo meu. Como respondeste muito bem ao tratamento , não viu a necessidade de mudar-te.
- Ninguém me perguntou nada! - se queixou Maxie, e começou a coçar-se no quadril.
Sem prévio aviso, Angelos retirou o lençol.
- Não se te ocorra coçar-te! Terás cicatrizes por todo o corpo se o fazes. Se voltou a pilhar-te, te atarei as mãos para impedir-te - lhe ameaçou.
- És um porco lhe xingou Maxie, a ponto de perder os estribos ante aquela arrogância. Não tinhas nenhum direito a trazer-me aqui.
- Não estás em condições de dizer-me o que tenho ou não que fazer, - lhe recordou Angelos brutalmente. - Não penso discutir enquanto sigas convalescendo. - Se te serve de consolo para a tua maldita vaidade te direi que essas manchas me acabaram parecendo ainda mais atraente...
- Cala-te! - gritou Maxie, e ato seguido se desaprumou sobre os travesseiros esgotada pelo esforço.
Apesar de sua debilidade, Angelos lhe tinha parecido tão atraente como lhe recordava: usava um traje bege com uma gravata cor de caramelo e uma camisa de seda a jogo. Aquelas cores tão suaves contrastavam de maravilha com sua pele morena. Por contraste, Maxie se via mais desalinhada do que nunca; furiosa , deu-se a volta para não o ver.
- Estarei em Atenas por dez dias - disse Angelos conciliador rodeando a cama. – Espero que te recuperes de tudo em minha ausência.
- Não penso estar aqui quando regresse... - Oh, não! A casa de Liz se ficou vazia todos estes dias ! - exclamou Maxie sentindo-se muito culpada.
- Não, contratei a uma pessoa para que vá cuidá-la.
A Maxie lhe deu um tombo o coração: aquele homem não só se tinha feito cargo do empréstimo de Leland, como tinha pago o tratamento médico que estava recebendo , e , para o cúmulo , também se tinha ocupado da casa de Liz. Não poderia devolver- lhe tudo aquilo nem no que lhe ficava de vida.
- Obrigada - murmurou secamente, ainda que só fora pelo favor que lhe tinha feito a sua amiga.
- De nada – replicou ironicamente. - E espero que estejas aqui quando eu voltar , pois , caso contrário , irei procurar-te...
- Não te ocorra falar-me como se fosses meu dono! - exclamou Maxie frenética. – Faz só uns quantos dias estavas com essa atriz francesa... e me disseste que nunca mais voltarias a chamar a minha porta.
- És tu a que chamou à minha... Ah Referes-te a isto... - disse, e tirou uma jóia de ouro de sua carteira, deixando ao lado da cama.
Maxie ficou olhando atônita o bracelete que tinha empenhado.
- A manchete do jornal dizia: A Rainha de Gelo no Morro de Piedade – disse Angelos franzindo as sobrancelhas sardonicamente. Suponho que o mesmo dono chamou aos jornalistas. Eu encontrei o recibo em tua bolsa e pude recuperá-lo. Maxie o olhou boquiaberta.
- Não terás que suportar o acesso da imprensa enquanto tiver comigo - lhe ofereceu Angelos muito seguro de si mesmo. - Eu te protegerei. Também não terás que voltar a empenhar nada. E muito menos voltar a fazer esses tontos anúncios nos que saías penteando te as tranças no meio de um prado alpino talher de flores...
Ela se limitou a fechar os olhos, sem forças para brigar com ele. Era como um tanque que o arrasasse tudo a seu passo. Só um míssil poderia detê-lo.
- O silêncio te acenta bem - comentou satisfeito.
- Te odeio - murmurou Maxie.
- O que odeias é desejar- me tanto – a contradisse Angelos com ênfase. - E me parece justo , não crias: quando te imagino tombada ao lado de Leland, tão tesa como um bloco de gelo , a mim também não me faz graça a idéia de desejar-te tanto.
Maxie escondeu a cara entre os lençóis, morta de vergonha.
- Limita-te a comer bastante e a descansar - lhe aconselhou Angelos agachando-se para ela. - Para quando volte da Grécia tens que estar totalmente recuperada.
Maxie deu uma mordida ao travesseiro, fervendo de raiva. Naquele momento teria vendido sua alma ao diabo a mudança de poder dar-lhe uma bofetada. Ao cabo de um momento se atreveu a assomar a cabeça, supondo que já se tinha ido. No entanto, ele ainda estava na porta.
- Na verdade - lhe disse antes de sair , - eu espero que sejas discreta com a imprensa a respeito desta relação...
- Não temos nenhuma relação! - lhe interrompeu. - Não admitiria ter estado em teu apartamento nem que os paparazzi submetessem me a tortura.
Angelos a ficou olhando satisfeito um instante antes de marchar-se , deixando- a tão abatida e acovardada como um ratinho que se acabava de escapar das garras de um gato.
Por fim acabou de empacotar suas coisas. Enquanto jazia enferma, Angelos tinha feito que lhe levassem todas suas roupas da casa de Liz. Tinha-se posto furiosa ao inteirar-se. Talvez pensava para valer que ficaria com ele depois de curar-se?
Durante os dois dias que seguiram a saída de Angelos , fez tudo o possível por recuperar- se quanto antes. Por fim o especialista lhe disse que estava já curada , ainda que lhe recomendou que tomasse as coisas com calma. Decidiu que o melhor seria ser sensata e aproveitar essa oportunidade que se lhe apresentava de descansar calmamente a casa de Angelos, atendida por seus serventes gregos. No entanto , decidiu marchar- se antes de que voltasse Angelos , o mesmo dia em que Liz tinha previsto regressar.
Dois dos guarda-costas de Angelos lhe ficaram olhando inquietos enquanto amontoava suas coisas no vestíbulo. Nenhum deles fez a menor tentativa por ajudá-la.
- O senhor Petronides... – começou a dizer- lhe o mais veterano.
- Será melhor do que se mantenha à margem disto - lhe advertiu Maxie enquanto chamava ao elevador.
- O senhor Petronides não deseja que vá embora , senhorita Kendall. - Vai-se a enfadar...
- E?
- Fará que a sigamos , senhorita... - confessou.
- Não! - Nada disso – murmurou amavelmente Maxie. - Não me agradaria ter que avisar à polícia. Ademais , estou segura de que os jornais dariam a notícia, e ao grande chefe não lhe agradaria nada a publicidade, não é verdade?
O elevador chegou por fim e ela se apressou a colocar suas malas.
- Permita que lhe de um conselho: o senhor Petronides pode ser um inimigo implacável.
Maxie se disse que não era de se estranhar que aquele homem estivesse tão cheio de si mesmo. Sua riqueza e ilimitado poder lhe deviam tê-lo feito crer que era um semi deus, acostumado sempre a obter tudo que desejava. Jurou- se a si mesma que a ela nunca a conseguiria: sua mente era só sua, o mesmo que seu corpo, e ele não poderia tê-la, jamais.
Por fim chegou a casa de Liz , da que , seguindo suas ordens, já se tinha ido a pessoa contratada por Angelos. Exausta , preparou- se uma xícara de café e se pôs a revisar o correio, onde encontrou uma carta dirigida a ela.
A tinha enviado uma agência imobiliária , e , devido aos nervos e à dislexia, ao princípio lhe custou um pouco entender o que dizia. Em realidade, desejavam contatar a Russ , mas lhe tinha sido impossível encontrar sua direção , pelo que se dirigiam a ela como pessoa de contato. Solicitava instruções a respeito a uma propriedade de seu pai que tinha ficado vaga. Pouco a pouco , Maxie foi se lembrando.
Seus avôs tinham morrido quando seu pai era ainda um menino. Já então se lhe considerava a ovelha negra da família , então só tinha ele herdado uma pequena casa e uma correspondente parcela em Cambridgeshire. No entanto, não pôde ocupá-la nem vendê-la porque vivia nela uma antiga inquilina que não estava disposta a marchar-se.
Maxie telefonou de imediato à agência.
- Não posso dizer- lhes onde está meu pai por que não o sei - admitiu tristemente. - Faz muito tempo que não sei nada dele.
- A anciã inquilina foi viver com uns parentes. Se seu pai deseja arrendar a propriedade de novo , terá que fazer muitas reformas. No entanto – continuou o agente , - a propriedade está num lugar ideal para edificar , e se seu pai o deseja , podemos encarregar-nos de vendê-la.
Maxie estava segura de que isso precisamente seria que seu pai iria querer...para esbanjar o dinheiro nas corridas de cavalos ou no jogo. Respirou fundo e perguntou se tinha algum problema para que ela passasse a procurar as chaves e se fizesse cargo da casa. Quando pendurou o telefone , era tal o redemoinho de idéias que fervia em sua cabeça que teve que se sentar para pensar com calma. O único verdadeiro era que precisava de uma casa e que sempre lhe tinha agradado viver no campo. Se tinha a valentia suficiente , poderia começar de novo. Afinal de contas , em Londres só lhe ficavam os miseráveis restos de uma carreira de modelo que lhe tinha dado mais dissabores do que alegrias. Supunha que poderia encontrar um trabalho na comarca como garçonete ou vendedora , postos nos que, ademais, contava com certa experiência.
Quando Liz regressou , Maxie estava já mais do que decidida, assim que se limitou a expor seus planos ante cada vez mais atônita amiga.
- Se a casa está realmente mau , te custará uma fortuna pô-la em condições , Maxie lhe recordou preocupada. – Eu não quero lhe desencorajar- te, mas me parece que...
- Liz, escuta: nunca quis ser modelo e, agora , ademais, não tenho nenhum trabalho - argumentou Maxie. - Esta pode ser minha oportunidade para começar uma nova vida. Custe o que custar, quero tentá-lo. - Deixarei o endereço na agência, pois se querem contratar-me para algo, mas o verdadeiro é que não posso permitir- me ficar- me sentada sem fazer nada. Pelo menos, se conseguir ganhar um pouco de dinheiro , poderei começar a devolver-lhe o empréstimo a Angelos.
Maxie tivesse querido evitar ter que lhe contar a sua amiga que tinha estado enferma , mas não lhe parecia justo não lhe dizer que um estranho tinha estado cuidando da casa durante sua ausência. No entanto, Liz pareceu preocupar-se mais por sua doença e o papel desempenhado nela por Angelos Petronides.
- Juraria que esse homem está completamente apaixonado de ti! - exclamou, sacudindo a cabeça.
- Já ! Nem sequer sabe o que significa essa palavra! O que passa é que ele faria qualquer coisa para conseguir o que deseja. Deve crer que quantos mais favores me faça , mais obrigada me sentirei a corresponder-lhe.
- Maxie, se ele tivesse te deixado aqui só , provavelmente terias morrido. Não deverias estar agradecida? - perguntou Liz incômoda. - Podia ter-se limitado a chamar a uma ambulância.
- E perder-se a oportunidade de ter-me em suas garras? - replicou Maxie cinicamente. - Nem pensar! Sei muito bem como funciona seu cérebro.
- Talvez tenhas bem mais em comum do que estás disposta a admitir - comentou sua amiga reflexivamente.
Maxie chegou ao chalé dois dias depois. À luz do entardecer , tinha um aspecto um pouco sombrio , mas estava situado num lugar muito formoso. Tinha um caminho que chegava até a porta rodeado de preciosas árvores.
Tinha conseguido por um pouco de dinheiro em sua conta vendendo a maior parte de seu armário.
Depois de explorar detidamente seu novo lar , seu entusiasmo não decaiu um ápice. Ainda que as paredes pediam aos gritos uma mão de pintura, decidiu que as reparações das que lhe tinham falado na agência imobiliária poderiam esperar.
Encantou-lhe a pequena chaminé que alegrava o salão, ainda que não podia dizer o mesmo do tanque ou do estado dos sanitários do quarto balnear. Mal tinha os móveis imprescindíveis, por isso que ela esperava que lhe trouxessem a uma cama nova naquele mesmo dia.
A casa estava a uns dois quilômetros do povo mais próximo. Quanto lhe trouxessem a cama , pensou , chamaria ao hotel para perguntar se podiam oferecer-lhe algum trabalho. Como já estavam em plena temporada alta , supôs que não lhe seria muito difícil conseguí-lo.
Cinco dias mais tarde Maxie já estava em seu terceiro dia de trabalho a meia jornada como garçonete no animado bar do hotel. Começava a pensar que aquele posto não era tão estupendo como tinha suposto no princípio.
Por que não lhes tinha perguntado se teria que servir comidas antes de aceitar ? Estava acostumada a servir bebidas, mas lhe custava muito anotar pedidos complicados a toda velocidade.
Maxie viu Angelos quanto este entrou no bar. Quanto sua imponente silhueta se recortou na porta , todo mundo se voltou para ele. Era como um gigante entre pigmeus.
Usava um traje cinza escuro , uma camisa de seda e uma gravata a jogo. Parecia insultantemente rico , quase um pouco fora de lugar inclusive. Maxie notou que o coração começava a bater- lhe a toda velocidade; de repente , a estadia lhe pareceu mais abarrotada que nunca, quase lhe faltava ar para respirar.
Angelos a ficou olhando fixamente , fazendo que se sentisse como um coelhinho surpreso pelas luzes de um carro.
Com um grande esforço , conseguiu concentrar- se para acabar de tomar nota na mesa a que estava atendendo. Pregueou os menus e se dirigiu às cozinhas o mais rápido que pôde. Mas não o suficiente como para que Angelos não a interrompesse.
- Pára um momento - lhe ordenou baixinho.
- Como me encontraste?
- Catriona Ferguson , a diretora da agência , não achou nenhum inconveniente em dizer-me - disse.
Com um rápido movimento, Maxie conseguiu eludi-lo, continuar para a cozinha. Quando saiu comprovou com surpresa que Angelos tinha sentado numa das mesas que lhe tocava atender.
Ainda que se esforçou por ignorá-lo , sabia que ele não tirava o olho de cima dela. Começaram a suar-lhe as mãos e a tremer, a tal ponto que quase se derramou em cima uma das bebidas que ia servir.
Por fim se lhe acercou Dennis , o chefe de garçons.
- Viste ao tipo da mesa seis ? - perguntou quase desculpando- se, olhando seu formoso rosto com expressão de carneiro degolado. - É estranho: algo nele me resulta familiar, mas não sei onde lhe pude ver antes. Maxie se obrigou a acercar- se a Angelos , que parecia calmo tamborilando impaciente sobre a mesa.
- Sim? - perguntou.
- Esse uniforme que usas é tão curto que pareces uma garçonete francesa de opera - lhe espetou. - Cada vez que te agachas, algum destes tipos baixa a cabeça para ver melhor o panorama, inclusive o maitre!
Maxie enrijeceu bruscamente. Efetivamente, o uniforme lhe estava um pouco pequeno, mas já tinha esticado o máximo possível.
- Vais beber algo ou não? - insistiu secamente.
- Primeiro me agradaria que me limpasses a mesa - disse Angelos assinalando com desgosto a superfície de madeira. - Depois trazes um brandy e te sentas comigo.
- Não digas bobagens! Eu estou trabalhando! - contestou Maxie afanando-se por deixar a mesa impecável.
- Trabalhas agora para mim e se eu digo que quero que te sentes, senta-te - replicou Angelos dominante. Maxie ficou em reprovado.
- Que queres dizer com isso de que trabalho para ti?
- Este hotel pertence a minha corrente – rosnou ele, - e ,por enquanto, não me está agradando nada do que vejo.
Maxie ficou gelada. Empilhou os pratos sujos e se dirigiu à cozinha sentindo-se enferma. Angelos fez um sinal a Dennis e lhe ordenou que se sentasse a sua mesa. O jovem parecia a mesma imagem da desolação.
Ainda que tenha apressado para servir os pedidos , Maxie não pôde evitar que se elevasse um coro de queixas entre os clientes.
- Eu não pedi isto! Lhe disse que me trouxesse uma salada, não batatas fritas!
- E eu as queria assadas!
- Senhorita, este filet não está bem...!
Desesperada , Maxie se deu conta de que tinha misturado todos os pedidos. Fazendo-se cargo da situação, Angelos se levantou da mesa e lhe pediu o bloco.
- Que é isto? - perguntou severamente. - Hierográficos egípcios talvez? Aqui não há quem entenda nada.
Maxie estava mortalmente pálida.
- Creio que me equivoquei - se desculpou. Começaram a tremer-lhe as pernas. – Sinto muito...
- Não se preocupem - disse Angelos aos clientes , - em seguida lhes serviremos o que pediram. Vamos, Maxie, move-te.
Viu que Dennis chamava a alguém pelo telefone interno. Parecia um homem superado pelos acontecimentos. Ao pouco entrou o diretor do hotel , que de imediato se sentou com Angelos , com a mesma expressão de um bezerro entrando no matadouro.
Maxie então se deu conta de que era ela que tinha provocado aquele desastre, mas como ia saber que aquele hotel era de Angelos? Recordou – se da imensa lista de empresas que tinha no Edifício Petronides de Londres, na que se mencionavam desde companhias petrolíferas , até indústrias de telecomunicações , passando pelos seguros e outros serviços.
- Maxie... digo , senhorita Kendall , por favor - a chamou Dennis humildemente...! ...Perguntou- se o que lhe teria dito Angelos para amansá-lo até esse ponto. - O senhor Petronides diz que pode tirar a tarde livre.
- Não posso, estou trabalhando – replicou Maxie.
- Mas... - Dennis estava pasmado.
- Estou contratada para trabalhar esta noite e preciso muito do dinheiro... – continuou Maxie , e levantando o queixo desafiante se acercou à mesa de Angelos para servir-lhe o brandy. - Não és mais do que um presunçoso e um egoísta - lhe gritou.
Antes de que pudesse evitá-lo , ele lhe pôs a mão no cotovelo e a obrigou a permanecer a seu lado. Lançou-a uma mirada tão negra e ardente como o mesmíssimo inferno.
- Se te desse uma pá, seguro que te punhas a cavar a tua própria tumba tão contente. Vá-te por teu casaco e vamos.
- Não, este é meu trabalho e não penso...
- Te porei as coisas fáceis: estás despedida - disse Angelos com rudeza.
Com a mão que tinha livre, Maxie pegou o copo de brandy e o jogou em cima das calças. Angelos se jogou para atrás surpreso e furioso.
- Se não podes suportar o fogo, será melhor do que te mantenhas afastado da cozinha - murmurou Maxie, e levantando a cabeça com a mesma arrogância que uma rainha, deu-se a volta.
Quando Maxie saiu do vestuário do pessoal... encontrou- se com Dennis que a estava esperando.
- Deves estar louca para tratar desse modo Angelos Petronides.
- Me importa o mínimo , já não trabalho aqui - replicou Maxie sacudindo a cabeça. - Podes dar-me o meu pagamento, por favor?
- Teu... teu pagamento?
- Sim, não entendeu ? - perguntou beligerante. Fez- se um longo silêncio.
- Está bem, te darei - admitiu Dennis por fim, - mas não sei que pensará o senhor Petronides...
Quando saiu à rua, estava chovendo em abundância, e apesar de que levava um guarda-chuva, Maxie se empapou dos pés a cabeça. Quando mal tinha caminhado uns passos , deteve- se a seu lado um fantástico carro esportivo.
- Sobe - disse Angelos desde o interior.
- Vai te catar! Poderás tiranizar se queres a teus empregados, mas não a mim.
- Tiranizar? - Angelos estava sinceramente surpreso. - Mas tu te fixaste bem em que condições estava esse local ? - saiu do carro e se plantou de frente para ela. - O pessoal era insuficiente e mau preparado, os clientes levavam horas e horas esperando a que lhes atendesse , as mesas estavam sujas... Mas se até o tapete estava feito um asco! Se o diretor não tomar as medidas oportunas, penso despedi-lo.
Maxie ficou sem fala, não só por sua veemência mas também porque se tinha mudado de roupa, e o ligeiro traje cinza pálido que usava posto lhe sentava como uma luva. O ficou olhando enquanto notava correr a adrenalina por suas veias.
- Te odeio por ter-me seguido até aqui... - começou.
- Mas se estavas esperando que eu o fizesse ! - a interrompeu Angelos, e quanto o teve dito ela soube que era verdadeiro.
- Vou para casa andando, não penso meter-me em teu carro - se fixou em que, uma vez mais ele estava calando-se por sua culpa.
- Não quero desperdiçar toda a noite esperando- te à porta de tua casa - grunhiu.
- Assim que já sabes onde vivo ? - Maxie mal podia dar crédito ao que acabava de ouvir. - Pois não te molestes em ir até ali, não penso abrir-te a porta.
- Não te dás conta de que podem agredir- te por algum desses caminhos tão solitários ? Talvez vale a pena ?
Maxie pegou o guarda chuva com força e empreendeu o caminho com decisão. Não tinha percorrido nem uns dez metros quando viu adiante dela um grupo de jovens que a olhavam enviesamente.
Quando passou a seu lado, começaram a dizer-lhe grosserias que a fizeram acelerar o passo.
Notou que uma mão se posava a suas costas, e antes de que pudesse soltar-se , os acontecimentos se precipitaram: Angelos apareceu a seu lado e soltou um murro em seu atacante; de imediato, os seus companheiros foram em sua ajuda, pelo que cedo se organizou uma tremenda briga. Maxie se pôs a gritar com todas as suas forças, absolutamente aterrorizada.
- Soltem – o ! – gritava , ao mesmo tempo em que proporcionava pontapés e guarda-chuvadas aos brigões, que se deram à fuga quanto começou a ir gente dos bares próximos, alarmados pelo berreiro.
Maxie se agachou ao lado de Angelos , sustentando- lhe a cabeça molhada.
- És um tonto! - repetia uma e outra vez.
Por fim Angelos mexeu a cabeça muito lentamente; tinha uma ferida que sangrava numa das têmporas.
- Eram cinco contra um - murmurou dolorido.
- Sobe-te ao carro, não vá esperar que regressem - disse Maxie ajudando-lhe a incorporar-se. - Podiam ter-te esmagado.
- Bem, não creio que seja para tanto... - protestou Angelos.
- Há uma delegacia justo ao final da rua...
- Não penso pôr uma denúncia a esses brigões desfarrapados –grunhiu Angelos pondo-se em pé. – Todos eles já receberam um par de bons murros...
- Não tantos como tu - falou Maxie ajudando- o a acomodar-se no assento dianteiro.
- Que é o que pretendes?
- Não estás em condições de dirigir.
- E isso por que?
- Por favor, Angelos ! - Estás sangrando , provavelmente estejas também desordenado. Por uma maldita vez em tua vida, faz o que te dizem.
Ele considerou durante uns instantes semelhante possibilidade, até que por fim deu seu o braço a torcer.
- Sabes conduzir um Ferrari?
- Por suposto - contestou Maxie entre dentes enquanto punha em marcha o carro.
- As luzes ! - Lhe indicou Angelos apreensivamente. - Tens que acender as luzes... ou se o preferes, fecho os olhos...
- Cala-te ! - Estou tentando concentrar-me - Maxie deu por fim com o interruptor. - É muito típico de ti isso de sacar faltas. Por verdadeiro, a meu ver, onde estavam teus guarda-costas?
- Como te atreves a dizer-me isso? - Angelos tentou incorporar-se um pouco, mas o cinto de segurança o impediu. - Posso cuidar de mim mesmo.
- Contra cinco valentões ao mesmo tempo ? - perguntou Maxie. Ainda se lhe revolviam as barrigas ao recordar a briga; sentia-se terrivelmente culpada pelo sucedido. - Te levarei ao hospital.
- Não preciso nenhum médico, estou perfeitamente - se resistiu Angelos.
- Eu não quero ser responsável de que morras por uma contusão cerebral ou algo parecido - replicou Maxie inexorável.
- Só tenho uns poucos arranhões e hematomas , o único que me faz falta é descansar um pouco. - Depois pedirei que me levem um carro.
Aquele era o autêntico Angelos: organizador, disposto a levar a voz cantora. Maxie captou a indireta e conduziu em direção a sua casa provavelmente à velocidade mínima à que esse carro jamais tem ido. A chuva tinha aumentado, fazendo que se reduzisse a visibilidade.
- De acordo , podes vir para casa comigo, mas só ficarás uma hora por lá, lhe advertiu.
- Que generosa que és!
Maxie se ruborizou ao recordar com interesse que se tinha tomado Angelos durante sua doença para assegurar- se de que estava bem atendida. No entanto, não tinha tido que se ocupar pessoalmente de seu bem-estar, tinha-se limitado a pagar a outra pessoa para que a cuidassem. De fato, não podia imaginar Angelos sacrificando- se por ninguém. De repente , notou que o caminho que levava a casa estava completamente enlameado ; alarmada , freou inesperadamente, lhe provocando que o carro desse um brusco deslize. Sem que pudesse fazer nada por evitá-lo, chocou inesperadamente contra o borde do caminho.
- Ainda que parece que nosso anjo –da- guarda esteja de férias, por sorte ainda seguimos vivos - ironizou Angelos enquanto apagava o contato.
- Agora eu suponho que te dedicarás a fazer- me um montão de comentários ofensivos sobre as mulheres na direção, não ? – lhe sussurrou Maxie agarrando- se ainda ao volante.
- Não me atrevo. És tão gafe que se agora saio do carro seguro que me afogo no ribeiro.
- Mas se não é nada profundo!
- Me tranqüiliza ouvir isso - forcejou a porta até que conseguiu sair ao caminho embarrado.
- Olha eu sinto muito! - se desculpou Maxie.- Assustei-me muito quando vi tanta água no caminho.
- Mas se não é nada! Que farás quando veres o oceano então?
- Pensei que o ribeiro se tinha extravasado , e que a correnteza nos arrastaria na escuridão , por isso freei tão inesperadamente - tentou explicar Maxie enquanto se encaminhavam a casa. Por fim abriu a porta principal e acendeu a luz.
Angelos teve que se abaixar para entrar , e ficou ali olhando a nua estadia sem fazer o menor comentário. Maxie teve que reconhecer que quando o fogo não estava acendido , parecia ainda mais triste e desolada.
- O andar lá de cima está um pouco melhor. Se queres , podes dormir em minha cama.
- Não sei se mereço tanta amabilidade. Onde está o telefone?
- Não tenho telefone - confessou Maxie.
- Estás caçoando?
- É tu não tens um celular? - replicou um pouco molesta.
- Deve ter caído durante a briga - disse Angelos, e jurando pelo baixo em grego começou a subir as escadas cambaleando um pouco.
- Teria que te ver um médico - insistiu Maxie preocupada.
- Tolices! O único que preciso é descansar um pouco...
- Cuidado com a cabeça ! - lhe advertiu Maxie justo um segundo antes de que se chocasse com o dintel da porta. - Oh, não! - gemeu, correndo a seu lado. Rapidamente lhe conduziu para o interior do dormitório antes de que se fizesse mais dano.
- Há encharcos no solo - assinalou Angelos piscando confuso.
- Não digas bobagens - disse Maxie , e precisamente então lhe caiu no nariz uma enorme gota de água.
Levantou a cabeça para o teto coberto de vigas de madeira e, viu horrorizada , descobriu um montão de goteiras. De fato , o solo já estava quase completamente coberto de água.
- Isto parece uma choupana - disse Angelos.
Maxie amaldiçoou entre dentes e acercou a comprovar como estava a cama. Por sorte , era o único na casa que estava completamente seco. Angelos se deixou cair numa esquina do colchão. Quis colocar sua jaqueta num dos postes da cama , mas não teve forças e esta caiu de cheio na poça d’água.
- Não tinha que te ter feito caso - se reprochou Maxie olhando a prenda feita um trapo.-- Tinha que te ter levado ao hospital.
- Só me dói um pouco a cabeça , nada mais - protestou Angelos arrogante. - Deixa de tratar-me como a um menino.
- Quantos dedos tu vês ? - perguntou ansiosamente plantando adiante dele o dedo gordo. Estava tão nervosa que não foi capaz de estender nenhum mais.
- Vejo só teu dedo gordo - contestou Angelos secamente. - Que tolice de pergunta é essa?
Vermelha como um tomate , Maxie deu um salto ao ver que ele se tirava a gravata.
- Vais tirar-te a roupa?
- Sim, assim estarei mais cômodo.
- E.. então melhor me marchar. De... de todas formas tenho que procurar cubos para o água - se desculpou Maxie cobardemente enquanto se precipitava para a porta.
Só de imaginar- se o corpo semi-desnudo de Angelos provocou que lhe percorresse por todo o corpo uma corrente de excitação. Desculpou- se a si mesma dizendo que aquela inesperada reação era produto da tensão acumulada nas últimas horas. Voltou a lamentar não ter levado a Angelos ao hospital , ainda que sabia que tivesse resultado inútil tentar convencer-lhe.
Quando ia a por o cubo e a fregona, lhe ocorreu que o melhor seria procurar um anti-séptico para a ferida de Angelos. Temia que fosse mais grave do que parecia , pois quase estava segura de que, ainda que fosse por uns breves instantes , tinha perdido o conhecimento depois da briga; recordava muito bem que tinha ficado com os olhos fechados , pois aquelas incríveis pestanas que tinha quase roçavam os pômulos... Santo Céu! Que demônios lhe estava passando?
Angelos já se tinha metido na cama quando ela voltou para o quarto. Parecia que tinha dormido. Quase sem atrever-se a respirar, Maxie ficou olhando– o um longo instante..., ...fascinada pela força que emanava dele inclusive quando jazia imóvel. De repente se disse que seria melhor deixar-se de bobagens e tentar acordar-lhe , não fora a ser que tivesse para valer uma comoção cerebral. Acercou- se à cama e sacudiu ligeiramente o seu ombro nu ; afastou então a mão de imediato , como se tivesse queimado ao contato com aquela pele ardente.
Angelos abriu por fim os olhos.
- Me manchaste de sangue todo o travesseiro - conseguiu dizer Maxie. Tinha a garganta completamente seca.
- Te comprarei uma nova.
- Não faz falta que me compres nada... e está tão quieto - lhe comunicou, - quero ver como está a ferida.
Com um pano de cozinha, então tentando dissimular seu nervosismo, Maxie lhe limpou o sangue da cara; de repente, ele levantou uma de suas mãos e lhe rodeou delicadamente o ombro.
- Estás tremendo como uma folha.
- Eles podiam ter te apunhalado ou algo parecido... Ponho-me enferma só de pensar nisso... - Asseguro- te que poderia ter-me enfrentado a esse garoto eu só...
- A mim parece que não. Todos eles podiam ter-te arrastado a um beco escuro, e depois...
- Não penso dar- te as graças pelo que fizeste: se me tivesses deixado em paz, nada disto teria sucedido - afirmou Maxie energicamente. - Tivesse-me ficado no hotel até acabar o turno e depois o garçom me tivesse trazido de carro para casa. Vive muito perto.
Maxie se soltou bruscamente e voltou ao andar de baixo. Sabia que o que tinha que fazer era procurar o pano de chão e enxugar o solo, mas o verdadeiro é que estava tremendo como um pano. Em parte era pelo choque sofrido , mas sobretudo porque durante o tempo todo que tinha durado o curativo não tinha deixado de perguntar-se, como uma tonta adolescente , que usaria Angelos embaixo dos lençóis.
Minutos mais tarde conseguiu recobrar- se o suficiente como para subir de novo ao dormitório com um montão de bacias para as goteiras , o rodo e pano de chão. Pôs-se a limpar o solo , furiosa consigo mesma por ter feito pouco caso das indicações do agente imobiliário; era evidente que teria que retelhar toda a casa antes de que chegasse o inverno, ainda que não tinha nem a menor idéia de como ia custear semelhante obra.
- Como te encontras? - perguntou depois de ter colocado todos os recipientes no solo.
- Fenomenal ! - foi sua irônica resposta. - A verdade é que não entendo por que preferes afogar- te dentro destas quatro paredes em vez de vir comigo.
- Pois já vês: nada do que faças ou digas conseguirá convencer-me. - Não tenho a menor intenção de viver com nenhum homem...
- Não estava pedindo que vivesses comigo - a corrigiu Angelos. Agrada- me ter meu próprio espaço. Estava pensando mais bem em comprar-te algo e ir ver-te de vez em quando...
- Não estou a venda! - lhe recordou Maxie furiosa.
- Só virias se te oferecesse um anel de compromisso, não? - a interrompeu Angelos. - Pois te direi uma coisa: eu posso até está obsedado por possuir esse teu delicioso corpo , que treme de puro desejo quanto estou perto, - murmurou apaixonadamente, ao mesmo tempo em que lhe pegava delicadamente uma mão sem que ela não pudesse opor a menor resistência, - em mudança estou disposta a te dar tudo o que desejes com sumo gosto , exceto isso precisamente, pethi mou.
- Se não tivesses essa ferida na cabeça eu te esbofetearia - ameaçou Maxie. - Deixa-me em paz de uma vez por todas!
Soltando-lhe a mão, Angelos a ficou olhando com um sorriso irônico.
- Depois de tudo que te fez Leland , não me estranha que te comportes assim. Sim, já sei que te expulsou do hospital e que fez chamar a sua mulher, deixando-te tiragem até os centavo. Por isso agora pensas que é mais seguro conseguir um marido do que um amante. Mas eu não sou Leland...
Maxie estava aterrorizada e fascinada ao mesmo tempo pelo poder daquele homem. Pressentia que era mais do que capaz de seduzi-la, pois a cada segundo que passava em sua companhia , mais terrível era a tentação de ceder. Odiava-lhe, mas também o desejava, e se odiava a si mesma por ser tão débil.
- Venha, fique perto - lhe sussurrou Angelos. Não ganhas nada com resistir. Prometo que nunca me aproveitarei de ti como fez Leland.
- Que é o que pretendes? - perguntou Maxie suspicaz.
- Quero convencer- te de que confiar em mim só te trará vantagens. Como vê, nem sequer te pus um dedo em cima - assinalou, como se considerasse tal coisa uma heroicidade.
O terrível do caso era que ela estava desejando que a tocasse. Por fim ele levantou o braço e lhe soltou a fita do cabelo , afundou os dedos na sedosa cabeleira e, pouco a pouco, atraiu-a para si.
- Talvez não seja isto o que os dois desejamos? - lhe perguntou.
- Não...- se resistiu Maxie, ainda que sua pele ardia enquanto ele percorria o contorno de seus lábios com a ponta do dedo. - Isto não significa nada para mim - insistiu desesperada.
- Olha que és obstinada - se burlou Angelos.
Ela pensou que se ele seguisse olhando-a com a mesma intensidade acabaria fundindo-se.
- Não sou obstinada, só que... se deteve sem saber como seguir, incapaz também de reunir as forças necessárias para separar-se dele.
- Te agrada brigar, eh ? - sussurrou Angelos. Maxie se sentia como numa nuvem , ensurdecida quase pelos latidos de seu próprio coração. – És uma mulher por quem vale a pena lutar. Seria muito melhor se não te resistisses, se te deixasses levar...
- Mas...
- Nada de mas... - a interrompeu Angelos colocando um dedo em seus lábios para fazê-la calar... Precisas-me - insistiu, acercando-se ainda mais a ela.
- Não... - sussurrou.
- Sim - disse Angelos antes de beijá-la. Separou-lhe os lábios delicadamente com a ponta da língua levando-a um tal estado de excitação que quase se deixou cair em cima dele.
Aproveitando-se daquele momento de debilidade, Angelos estreitou a com mais força entre seus braços.
- Não - gemeu Maxie de novo.
Ele começou a acariciar-lhe um seio, e o prazer que isso a produziu foi tão intenso e insuportável que só com um enorme esforço ela conseguiu controlar-se. Levantou a cabeça para ver-lhe melhor, mas em vez de aplacar seu desejo, só conseguiu avivá-lo ainda mais.
- Não? - repetiu Angelos joguetonamente.
Sentia-se atraída por sua irresistível virilidade como uma borboleta para a chama de uma vela.
Angelos se deu conta de que estava a ponto de render-se e sorrindo como um lobo no momento de atacar a sua presa, começou a beijá-la apaixonadamente.
Estendeu-a sobre o leito sem deixar de acariciá-la. Maxie tremia dos pés a cabeça de puro desejo, e quando ele introduziu uma mão por debaixo da camiseta para acariciá-la primeiro e beijá-la depois os seios nus , acreditou que se derreteria de prazer. Durante um interminável momento o único que pôde fazer foi acariciá-lo a sua vez. De repente, Angelo levantou a cabeça alarmado.
- Que é isso? - perguntou.
- O que? - inquiriu Maxie piscando confusa.
- Alguém está chamando à porta.
Só então pareceu dar- se conta Maxie do que tinha estado a ponto de fazer; envergonhada, levantou-se da cama de um salto.
- És um porco! - lhe xingou enquanto se colocava a camiseta em seu lugar e, sem esperar sua resposta, lançou-se escadas abaixo.
Quando abriu a porta se encontrou com Patrick Devison , o seu vizinho mais próximo, ao que tinha conhecido no dia anterior.
- Sabes que há um Ferrari meio afundado no ribeiro defronte?
Ainda trêmula , Maxie se limitou a assentir com a cabeça como uma marionete. Não podia acreditar no pouco que lhe tinha faltado para deixar-se seduzir por aquele miserável.
- Eu vi quando voltava para casa - lhe explicou Patrick, um loiro e atraente veterinário. - Como eu sabia que estavas em casa, decidi parar para ver se estavas bem, como estás? - insistiu preocupado.
- O motorista está em cima, descansando - conseguiu articular Maxie.
- Queres que lhe dê uma olhada?
- Não é necessário - disse Maxie com respiração entre cortada.
- E não queres chamar um médico ? - perguntou Patrick lhe oferecendo seu telefone móvel.
- Te estaria muito agradecida se me deixasses fazer um telefonema.
- Claro ! - assentiu o jovem. -. Te importa se eu entrar? Está chovendo muito.
- Por certo que não , perdoa.
Maxie jogou a correr escadas acima e passou o celular a Angelos.
- Chama agora mesmo para que venham te buscar se não queres que te jogue a pontapés eu mesma.
Angelos pegou o telefone impassível , mas não sem antes lançar-lhe uma mirada carregada de ódio. Marcou um número , deu algumas ordens em grego e, imediatamente saiu da cama.
Maxie ficou pasmada não tanto pela intensidade daquele olhar como pela visão daquele homem nu e visivelmente excitado. Turvada, saiu a toda pressa da habitação.
- Obrigada - disse, devolvendo-lhe o telefone a Patrick.
- Se tinha tomado um copo a mais, não é verdade ? - perguntou assinalando o dormitório. - É uma pena como ficou o carro. É teu namorado ? - perguntou enquanto se dirigia para a porta.
- Não, não é.
- Então, gostaria de jantar comigo amanhã?
Maxie esteve a ponto de recusar seu convite, mas no último momento mudou de idéia.
- Por que não? - repôs. Sabia que Angelos estava escutando cada palavra desde o dormitório.
- Estupendo! - exclamou Patrick comprazido. - Te parece bem às oito?
- Sim, muito bem.
O ficou olhando enquanto ele subia todo o terreno , e não pôde por menos do que pensar o singela que devia ser a vida daquele jovem em comparação com a de Angelos , tão manipulador e egocêntrico. Odiava àquele homem com toda sua alma.
Cálidas lágrimas rodaram por suas bochechas. Detestava-lhe pela forma em que lhe tinha feito ver o tonta e débil que podia chegar a ser, por usar todas aquelas artimanhas com o único fim de fazer-lhe cair na tentação, por demonstrar-lhe que era mais vulnerável do que pensava.
Ao cabo de cinco minutos Angelos apareceu no salão completamente vestido. Sua fúria era tal que seus olhos pareciam cuspir chispas.
- És uma vadia - murmurou entre dentes, em tom baixo e rouco. Sua boca se contraía numa espécie de careta. - Primeiro quase te metes na cama comigo e no segundo te pões a coquetear com outro homem praticamente adiante de meus narizes.
- Não estava na cama contigo!... ao menos não como tu crês - se defendeu.
- Tu não desejas a nenhum outro homem - lhe espetou Angelos. Só desejas a mim!
- Não penso ser tua amante – disse , pálida como um fantasma. Te disse desde o primeiro momento. E ainda que me tivesse dormido contigo – adicionou, também te pediria que fosse embora. Enredar-me numa relação contigo só seria degradar-me a mim mesma...
- Como se eu fosse te seduzir a estas alturas! - disse Angelos. - Degradar-te disseste? - repetiu incrédulo. - Se o único estúpido aqui fui eu, ao tratar-te como se valesses a pena.
- Já sei que não me crês, mas te repito que nunca fui amante de Leland... - começou a dizer.
- Não, claro: tu dirias que fostes sua noiva - se burlou Angelos.
- Não, eu...
- Theos ! - exclamou Angelos fora de si... - Que cego tenho estado! O único que tens estado fazendo desde o princípio é tentar conseguir mais de mim... e para seguir forçando as coisas, decidiste que o melhor é fazer-me sentir ciúmes de outro homem...
- Não! - quase gritou Maxie , incapaz de suportar a imagem que Angelos se estava fazendo dela.
- Se por um segundo pensaste que poderias obrigar- me a te oferecer um anel de compromisso em troca de dormir contigo é porque deves estar completamente louca.
- Para valer ? - aquelas duras palavras a fizeram por fim reagir. Pois é uma lástima , porque isso é a única coisa que me faria mudar de idéia - declarou, disposta a utilizar qualquer arma a seu alcance para fazer-lhe dano.
Atônito ao comprovar que suas piores suspeitas eram verdadeiras, Angelos a ficou olhando sem saber o que dizer. - Se alguma vez me casar - declarou ao fim com um fio de voz, - minha esposa será uma autêntica dama, educada e com uma reputação intocável.
Maxie se encolheu acovardada; ela mesma lhe tinha dado a corda com que se estava enforcando. No entanto , seu orgulho a ajudou a enfrentar-se de novo a ele.
- No entanto, isso não te impedirá de seguir tendo tuas amantes, não é verdade?
- Por suposto – replicou Angelos cortante. - Escolherei a minha esposa com a cabeça, não com minha libido.
Maxie fez um gesto de repugnância ante semelhante declaração. Estava-lhe custando muito manter-se calma para poder enfrentar-se àquele formidável antagonista.
- Me parece que teu lugar está no Museu de Ciências, com os dinossauros - se mofou ela.
- O único que te digo é que se eu for embora , não regressarei nunca mais, que dizes a isso?
- Que te marches já de uma vez - replicou Maxie ao instante.
- Deus! Como me agradaria arrastar-te escadas aporta até essa cama e demonstrar-te o que estás perdendo...
Surpresa , Maxie o ficou olhando sem saber o que dizer. Sentia-se como se estivesse ardendo num incêndio provocado por ela mesma.
- Segue sonhando! - lhe espetou por fim com todo o desprezo que foi capaz de reunir, ainda que um tremor em sua voz esteve a ponto de traí-la.
Então se ouviu o motor de um carro que se acercava pelo caminho. Angelos fez um gesto com a cabeça para despedir-se, e se marchou.
Maxie passou os seguintes cinco dias como num transe. Vieram uns homens com uma grua para levar-se a Ferrari, e também lhe pediu a um construtor que revisasse o telhado e lhe desse um orçamento. Como já temia, tinha que retelhá-lo completamente, o que , dado o estado de suas finanças , pelo momento lhe resultava impossível.
Saiu a jantar com Patrick Devison , e fez o que pôde para sentir-se atraída por ele. Tratava- se de um homem atraente e simpático, e ainda que consentiu em que a beijasse , não sentiu absolutamente nada. Quando ele lhe pediu outro encontro , ela o recusou com uma desculpa qualquer. Para piorar as coisas, era incapaz de dormir. Passava as noites imaginando que brigava com Angelos...ou que fazia amor com ele selvagemente, e aquilo era o mais humilhante de tudo, que se casava com aquele grego odioso. Mal reconhecia a si mesma.
Uma tarde se sentou e fez uma lista de todos os defeitos de Angelos. Encheu duas páginas , e acabou chorando, amargamente em cima delas. Detestava àquela espécie de Neanderthal, mas , por outra parte , sua recordação a obcecava a tal ponto que mal podia comer ou pensar em outra coisa.
Como se tinha deixado levar até esse ponto ? Nunca pensou que a simples atração sexual pudesse ser tão devastadora. Sentia-se tão furiosa consigo mesma, e terrivelmente envergonhada demais.
O quinto dia, ao meio da manhã, ouviu que um carro se acercava pelo caminho. Um porsche prateado estacionou diante a sua porta e dele saiu a mesmíssima Catriona Ferguson. Maxie ficou pasma, pois nunca antes tinha tido a honra de receber uma visita de sua chefe, quem, ademais, odiava o campo.
- Maxie, querida! - exclamou quanto a teve diante dela. - Tenho grandes notícias! - Vais ser a sensação da temporada!
- Tens trabalho para mim ? - perguntou a jovem no cúmulo da surpresa.
- Querida, parece que estás outra vez na crista da onda: passado amanhã terá um desfile de Dei Venci em Londres..., creio que é uma gala benéfica ou algo parecido... e é a oportunidade que estávamos esperando para que debutasses na passarela.
- Na crista da onda disseste? - Maxie não chegava a entender a conto de que vinha aquela repentina mudança de sorte.
- As revistas de fofocas estão que ardem - comentou Catriona divertida enquanto conferia sua agenda eletrônica. - Talvez não as tenha lido?
- Não, não comprei nenhuma.
- Bem , querida, já sabes que me agrada ser discreta: tua vida privada é coisa tua, - apesar de suas palavras, Catriona mal podia reprimir sua curiosidade. - No entanto , é tão emocionante o que te passou... Ele é nada menos que um dos homens mais ricos do mundo!
- Não tenho a menor idéia a que te referes...
- Pois ao homem que relançou tua carreira de forma uma tão espetacular – replicou Catriona levantando as sobrancelhas. - Ainda que lhe velaram o carrete, o fotógrafo que vos surpreendeu contou por todas partes que os viu...
- Te referes a Angelos...
- Te posso jurar que fiquei pasmada quando veio ver-me um cavaleiro que, segundo meus relatórios, está muito relacionado com esse tubarão das finanças grego - tagarelou Catriona, cada vez mais entusiasmada. – Assim que , sem duvidá-lo , dei-lhe teu endereço. Disse-me que Angelos Petronides nunca esquece um favor... nem também um desaforo, se vamos a isso.
- Eu... - Maxie se tinha posto mortalmente pálida.
- Não entendo o tu que ainda fazes vegetando neste lugar - continuou Catriona. - Não sei o que lhe terás dado, querida , mas o tens comendo em tua mão; Até se comenta que esta mesma semana deixou a Natalie Cibaud! E, tendo em conta sua péssima reputação - adicionou descaradamente, - é um autêntico peixe gordo, como um diamante de vinte e quatro quilates!
- Não há nada entre nós - pôde por fim declarar Maxie. A cabeça lhe dava voltas, incapaz de processar aquela informação.
- Ainda que se tenha terminado tudo , será melhor que não se o digas a ninguém - lhe aconselhou Catriona tentando dissimular sua decepção. - Tua popularidade atual se a deves a ele... Maxie pensou que não deixava de ser irônico. Angelos devia estar furioso, seguro que ele pensava que era ela quem tinha ido com o sopro à imprensa. Catriona jogou uma olhada a seu relógio.
- Escuta, que achas de regressar comigo à cidade? Aconselho-te que voltes a casa dessa amiga tua. Todos os jornalistas estão te procurando como loucos , e não nos convém que te encontrem tão cedo. Tua aparição na passarela tem que ser triunfal.
Apesar de que sabia ao que se enfrentava , Maxie decidiu aceitar sua oferta porque precisava do dinheiro... e não só para consertar o telhado, senão para devolver-lhe o empréstimo a Angelos. Ainda que tivesse deixado muito claro que o dinheiro não ia dar- lhe nenhuma felicidade , sem ele jamais conseguiria ser livre. E o que Maxie desejava mais do que nada no mundo era a possibilidade de tomar suas próprias decisões.
- Ora bolas ! Deixe disso ! - exclamou Catriona ao ver a sua expressão de derrota. Mas que se passou à famosa Rainha de Gelo?
Enquanto fazia a bagagem, Maxie se disse que tinha sido Angelos quem tinha destruído para sempre aquela imagem... ao obrigá-la a enfrentar-se a emoções que até então lhe eram desconhecidas... e dolorosas , mortificantes. Desejava com mais afinco ainda do que Catrina, voltar a ser de gelo.
Maxie abandonou a passarela entre clamorosos aplausos. Estava desejando tirar- se aquele aparatoso vestido que lhe apertava por toda parte. Por fim tinha terminado tudo. Sentia-se tão aliviada que estava a ponto de jogar-se a tremer. Nunca em toda sua vida tinha passado pior situação.
Antes que pudesse chegar ao camarim... tropeçou com Manny Dei Venci, o desenhista, um homem enorme, completamente calvo.
- Tens estado maravilhosa! Não, não, não te mudes ainda, vêem comigo - lhe instou, levando-a através de um escuro corredor. - És a melhor relações públicas que jamais tive, assim que mereces seguir assim... linda no jantar que te espera.
Seguramente, pensou , Catriona tinha planejado que ela passasse um tempo com alguns VIPS que quereria impressionar.
Saíram a um beco onde esperava um carro com a porta aberta. Quando se sentou , deu-se conta de que se tratava de uma luxuosa limusine com os cristais defumados. Viu que alguém tinha deixado num canto a sua bolsa com suas coisas.
Sentia-se cada vez mais incômoda com aquele traje de cocktail de um azul intenso. Não usava nada embaixo do corpinho ajustado de amplo decote, e a saia, além de estreita, era excessivamente curta. Não lhe agradava muito tratar com algum possível cliente com aquelas pintas , mas se consolou pensando que aquela situação não duraria para sempre. Quanto Angelos aparecesse em público em companhia de outra mulher , ela passaria então ao esquecimento automaticamente.
Quando a limusine se deteve , Maxie saiu no que parecia ser um estacionamento subterrâneo. Horrorizada, começou a pensar que a tinham seqüestrada , até que reconheceu ao longe a voz de um dos guarda-costas de Angelos, o que a fez sentir-se ainda pior.
- Onde estou? - lhe perguntou ao servente que a esperava num dos elevadores.
- O senhor Petronides a espera no último andar, Srta. Kendall.
- Não sabia que a limusine a enviava a ele! Isto é insultante! - se deu conta de que soava bastante patética , então mordeu o lábio, tentando controlar-se. Tudo o ocorrido era culpa sua, tinha que ter perguntado ao motorista aonde a levava.
Um guarda-costas bloqueou a porta até que chegaram ao último andar. Maxie saiu a uma grande estadia octogonal. Não se tratava do apartamento que ela conhecia, o que não fez senão aumentar sua apreensão. Ao outro extremo da habitação uma porta se abria a uma espécie de salão com amplos janelões por onde entrava a luz; outra porta comunicava com o que parecia ser um jardim.
O coração lhe batia com força no peito. Temerosa e expectante ao mesmo tempo, dirigiu-se para o jardim a procura de um pouco de ar fresco. Demasiado tarde se deu conta de que estava no terraço de um arranha-céu; ficou fincada diante a balaustrada, incapaz de se mover ou de olhar para o solo.
- Vá! Não me digas que também tens vertigem... - disse uma voz a suas costas.
Maxie sentiu que umas mãos lhe pegavam com firmeza pelos ombros e a ajudavam a retirar-se da balaustrada.
- Não me tinha ocorrido, mas podia ter-te deixado no borda até convencer-te... Isso acontece por eu querer ser um homem honrado - disse Angelos levando-a outra vez ao interior do edifício.
- Que demônios queres dizer com isso de honra? Lhe perguntou Maxie quando conseguiu recuperar-se do susto.
- Tenha um pouco de respeito: - para um grego isso é algo muito importante - lhe advertiu Angelos.
Maxie o ficou olhando surpresa; ele lhe devolveu uma fria mirada, que não retirou até que a ela se fez insuportável. Estava-lhe dando a entender que ela não era nada para ele, e que não lhe importava sequer se vivia ou morria.
- Cada vez que nos vemos te encontro mais nervosa - assinalou Angelos cruelmente. - E mais pálida e delgada também. Ainda que segues sendo muito bonita, não sei quanto tempo mais vai agüentar o estresse a que te submetes.
- As vezes te comportas como um autêntico... - replicou Maxie enquanto a cor voltava a suas bochechas.
- E o mais estranho de tudo é do que nunca antes me comportei assim com nenhuma mulher - a interrompeu Angelos sem o menor arrependimento.
O mais humilhante para Maxie é que lhe seguia parecendo o homem mais atraente que já tinha visto. Não podia desviar a vista de seu rosto, nem esquecer a suavidade daquele cabelo tão negro como o ébano. Para piorar as coisas, usava um traje cinza prateado, a cor que melhor lhe sentava, de um corte impecável que não fazia senão ressaltar seu imponente físico. De todo seu corpo emanava uma energia quase visível , enquanto, para sua desgraça , cada vez mais resultava evidente sua própria debilidade.
- Calma. Desta vez quero te fazer uma proposta mais decente antes de que nos sentemos para comer - comentou Angelos lhe passando um braço pelas costas para levá-la para o refeitório. - Confia em mim... Vais-te sentir como se te tivesse ganho na loteria.
- Por que não me deixas em paz de uma vez? - murmurou Maxie fixando-se numa mesa extraordinariamente disposta.
- Porque tu não me deixas em paz? - Com essa maneira que tens de olhar-me...Angelos riu brevemente. - Realmente me sinto incapaz de atirar a toalha quando me olhas assim.
- E como eu te olho?
- Seguramente da mesma forma que eu a ti - replicou enquanto pegava uma garrafa de champanhe. - com desejo e ressentimento ao mesmo tempo. Mas estou a ponto de eliminar o segundo para sempre - disse enigmaticamente enquanto lhe estendia um copo. Esse rumor odioso segundo o qual Angelos Petronides é incapaz de comprometer-se é uma completa falsidade, e penso demonstrá-lo. Tenho estado pensando muito tempo e encontrei uma solução muito simples.
- Não me digas que vais a... - se estremeceu Maxie.
- Que é o casamento afinal de contas ? Um contrato legal, nada mais... - continuou frivolamente, ainda que Maxie sentiu que se lhe gelava o sangue nas veias. - Uma vez estabelecido este princípio decidi fazer um trato contigo que nos convenha aos dois... - se tu assinar um contrato pré nupcial, eu me casarei contigo.
- Re... repete isso - gaguejou Maxie alucinada.
Angelos parecia muito satisfeito consigo mesmo.
- A condição principal é que não te aproveitarás do prestígio social que te daria ao converter-te em minha esposa. Viveríamos separados a maior parte do tempo. Quando eu vier a Londres e te quiser a meu lado , ficarás neste apartamento. Todo o edifício é meu. O único lugar onde compartilharemos o mesmo teto será em minha ilha na Grécia. Que te parece?
A Maxie lhe tremia tanto a mão que estava a ponto de derramar o champanhe. Talvez lhe estava pedindo que se casasse com ele? E se fosse assim , a conto de que vinha tudo aquilo de viver em casas separadas e do prestígio social?
Angelos lhe tirou delicadamente o copo da mão e a conduziu até um sofá, sentando-se em seguida a seu lado.
- Se o que precisas para sentir- te segura e aceitar a dormir comigo é um certificado de casamento , te darei um... - lhe disse amavelmente. – Mas , como, evidentemente, nossa relação não vai durar para sempre, faremos uma espécie de contrato privado entre nós dois.
Maxie fechou os olhos: nunca lhe tinham feito tanto dano como naquele momento. Talvez sua reputação era tão má que nem sequer queria que a vissem ao seu lado?
- Pensa muito bem antes de tomar uma decisão - lhe advertiu Angelos ao observar sua evidente perturbação. - Parece-me que é um trato justo e realista...
- É uma brincadeira! - explodiu Maxie.
E foi precisamente naquele momento terrível quando se deu conta de que, provavelmente, estava apaixonada por Angelos. Nunca se tinha sentido pior do que agora, quando por fim entendeu como e por que tinha conseguido aquele homem ter semelhante poder sobre ela. Aquela revelação acabou com sua rebeldia.
- Seja razoável: talvez acreditas que posso apresentar a minha família a uma esposa que foi a amante de Leland ? - perguntou ele no mesmo tom que usaria para convencer a um menino obstinado. Há coisas que , singelamente , não podemos fazer. Como vão me respeitar se faço algo tão baixo ? Eles me consideram um exemplo de conduta.
Maxie então manteve os olhos fechados; naquele momento entendeu porquê muitas mulheres perdem a cabeça e são capazes de matar. Sentia- se cheia de dor e de ira: ele estava- lhe oferecendo um casamento que ninguém chegaria a saber nada porque sua conduta tinha sido tão escandalosa que não merecia ser compreendida ou aceita pela extraordinária família Petronides.
- Me sinto mal - murmurou ao fim.
- Não, nada disso - a contradisse Angelos.
- Me... sinto... muito mal .
- O lavabo está do outro lado do hall – lhe exclamou Angelos desaprovadoramente. - Na verdade, eu não esperava esta reação. Posso entender que os detalhes do trato não te façam muita graça, mas, afinal de contas, estou te oferecendo um casamento legal.
- Ah, sim? - se limitou a dizer Maxie sem dar-se a volta.
Encontrou-se por fim no lavabo, onde um espelho lhe devolveu uma imagem de si mesma desconhecida, pálida e desencantada como a heroína de uma tragédia antiga. Repetiu-se mil e uma vez que não amava àquele porco , que a única coisa que sentia por ele era pura atração animal.
Desejava gritar, jogar-se a chorar, quebrar coisas, mas se limitou a passear frenética de um lado para o outro, dando- lhe mil voltas à oferta de Angelos: Tinha- lhe oferecido todo um edifício , mas não queria viver com ela; desejava mais do que nada fazer amor com ela, mas não estava disposto a apresentá-la em público. Amor e ódio, as duas caras de uma mesma moeda.
E aquela tinha sido sua proposta de casamento ? Maxie se jogou a rir amargamente. Só o que Angelos queria era utilizá-la , ele continuava considerando- a uma espécie de boneca que desejava conseguir a qualquer preço... por mais alto que este fosse.
Com um gesto de dor pensou nos dois homens que, antes de Angelos, tinham tido uma grande influência em sua vida: seu pai e Leland. Pela primeira vez pensou em seu pai sem sentimentalismos inúteis.
Russ se tinha jogado todo seu dinheiro e depois se tinha marchado, deixando que ela enfrentasse só as suas dívidas. Leland não só lhe tinha roubado três anos de sua vida, como, tinha destruído a sua reputação.... ...Quantas vezes se tinha repetido que não voltaria a consentir que nenhum homem a utilizasse?
Pela primeira vez lhe veio à mente a idéia de mudar os papéis. Que passaria se, para variar, fosse ela a manipuladora ? Também não lhe fazia falta um marido para herdar uma parte da fortuna de sua madrinha? Até aquele momento, a idéia de agarrar a um marido com tal fim lhe tinha parecido quase um crime. Curiosamente , nunca se tinha sentido tão bem. Aquela mudança devia ser produto da má influência de Angelos. Não só a tinha humilhado e turvado até os extremos inimagináveis, como se tinha proposto, ademais, converter o sagrado vínculo do casamento numa espécie de brincadeira cruel. Seguro que se tinha proposto que o seu durasse mal o tempo necessário para cansar-se dela.
Mas , que aconteceria se ela conseguisse trocar aquela aparente humilhação num triunfo ? Poderia ao fim liberar- se de tudo o que tinha contribuído a arruinar sua vida nos últimos anos: da dívida, de uma profissão que detestava e do mesmíssimo Angelos. Se reunia o valor suficiente, o conseguiria: se casaria com ele para divorciar-se seis meses mais tarde. Imaginava a si mesma lançando um cheque na cara de Angelos e dizendo- lhe de que não precisava para nada o seu dinheiro agora que tinha o seu próprio. Voltou a olhar-se no espelho com uma expressão de triunfo. Não pensava derramar nem uma só lágrima mais.
Ficou muito surpresa ao ver que Angelos a estava esperando no vestíbulo.
- Estás bem? - lhe perguntou, como se para valer lhe importasse.
- Estava pensando em minhas condições - replicou com um sorriso desafiante. - Tenho que estar segura de que nosso acordo me fará sentir realmente como se eu tivesse ganhado o prêmio gordo - lhe disse.
- Meus advogados se encarregarão de todos os detalhes - disse Angelos franzindo o cenho. - Por que tens que ser tão grosseira?
Eu grosseira ? Por Deus Santo! Que sensível se tinha voltado de repente! O que não queria , evidentemente, era enfrentar- se aos detalhes mais sórdidos do trato que ele mesmo lhe tinha proposto. Não cabia dúvida de que estava disposto a ser mais do que generoso com ela, mas, como a maior parte dos mortais, desejava fazer-se a ilusão de que lhe queriam por si mesmo. Maxie decidiu que já utilizaria mais adiante aquela surpreendente debilidade que acabava de descobrir.
Maxie abriu muito os olhos, simulando assombro.
- Eu pensei que te agradava dizer as coisas às claras...
- Te trouxe até aqui para celebrar um simples e sensato acordo entre os dois, não para começar outra briga, levantou uma mão para retirar-lhe com um delicado gesto o cabelo da cara, e pouco a pouco a baixou para deter-se na linha de seu decote. Maxie quase podia ver a intensidade da luxúria com que a olhava de cima a baixo, detendo- se em seus estreitos quadris e aquelas incríveis pernas. - Não... não tenho nenhuma vontade de brigar contigo - repetiu ele roucamente.
- Se tu estás pensando no que eu crio para celebrar o trato, a resposta é não. – Disse Maxie com um grande sorriso enquanto se servia outro copo de champanhe. - Não irei para cama contigo até a noite de casamentos, nem um só minuto antes. E agora, tudo bem se comermos?
- Comer?
- Já que não podemos fazer outra coisa... - sugeriu Maxie docemente.
- Deus! Vem aqui! - grunhiu Angelos atraindo- a para si. - Por que te empenhas em deixar- me louco ? Qual o motivo esse afã de contradizer-me continuamente? Não é assim que se comportam as mulheres. Por que não podes dar-me por uma vez o que te peço?
- Suponho que porque não me agradas - admitiu Maxie.
- Que significa tudo isso ? - Angelos estava mais perplexo que furioso. - Talvez não é o que se diz ao homem que acaba de pedir-te em casamento?
- Precisamente, a semana passada fiz uma lista de duas páginas inteiras anotando as coisas que não me agradam de ti... Não entendo de que te surpreendes. Não tens o menor interesse em mim, o único que desejas é o meu corpo...
- Estás nervosa, assim que não farei caso do que me disseste – a interrompeu Angelos tentando controlar-se. - Vamos comer.
- Uma coisa mais - disse Maxie docemente enquanto se sentava à mesa:- Tens pensando em compartilhar teus favores entre Natalie Cibaud e eu?
- Talvez te voltaste louca?
- Isso não é uma resposta.
Angelos apertou o guardanapo com força, olhando- a com os olhos brilhantes.
- Por suposto não penso enredar-me com nenhuma outra mulher enquanto estiver contigo - concedeu furioso.
- Muito bem. E para quando planejaste o feliz acontecimento?
- Te referes ao casamento ? O mais cedo possível. Será uma cerimônia muito íntima.
- Me parece tão bonito que não tenhas a menor dúvida de que vou dizer do que sim - comentou Maxie malevolamente.
- Te advirto que se o que queres é que te arraste à cama para fechar essa boquinha que tens , vais por um bom caminho - Maxie engoliu saliva, tentando controlar sua ânsia de atacá-lo ferozmente. - Disseste-me que a única coisa que te faria mudar de idéia seria uma proposta de casamento. Já te fiz, assim que me deixa calmo.
Maxie se esforçou por comer algo, mas não pôde. Tentou iniciar uma conversa, mas era demasiado tarde, já que Angelos estava com um humor péssimo. Evidentemente, tinha-se imaginado que tudo o que fariam seria beber champanhe até o momento em que a levasse para cama.
- Sabes que todos esses rumores sobre nós contribuíram para relançar minha carreira? - Lhe perguntou ao fim.
- Hoje foi teu último dia de sucesso. - Não quero que te exibas meio nua na passarela, nem também que trabalhes - disse Angelos sucintamente.
- Oh - replicou Maxie. Estava desejando pôr-se a gritar.
- Seja sensata: pensa que tens que estar permanentemente disponível quando eu te precise...
- Como a escrava de uma harém...
- Maxie.
- Escuta, eu já estou com uma dor de cabeça terrível - Maxie afastou seu prato e se levantou de repente. - Quero voltar à casa.
- Muito breve, este será o teu lar - lhe recordou secamente.
- Não me agradam os quadros, nem o piso de mármore, nem estas enormes habitações quase vazias, com móveis tão feios... Não quero viver com dez andares vazios por debaixo deste - exclamou Maxie a ponto de jogar-se a chorar.
- Estás muito nervosa...
- Como um de teus puro-sangue talvez?
Reprimindo um palavrão, Angelos se levantou e se acercou a ela, rodeando-a com seus braços.
- Maxie, por que te comportas de repente como uma menina caprichosa?
- Como te atreves...?
Calando sua resposta, Angelos começou a beijá-la apaixonadamente até que notou que ela se deixava levar e começava a tremer de puro desejo. Então, separou-se e a olhou longamente.
- Avisarei ao motorista que te leve em casa - disse finalmente. - Te chamarei bem cedo. Também perdi a vontade de comer.
Maxie sentiu que ele a recusava, e de repente intuiu no difícil que ia resultar- lhe seguir adiante com aquele funesto pacto. Mas não consentiu que a debilidade a dominasse: de uma forma ou de outra conseguiria sobreviver com o orgulho intacto. Aplacaria todo aquele insano desejo que sentia por ele e continuaria adiante com sua vida.
- Ainda que tenha sido de uma forma tão pouco convencional, Angelos te pediu que te casasse com ele - Liz suspirou satisfeita.
- Só quando se deu conta de que era sua última oportunidade.
- Pelo visto, muitos homens reagem da mesma forma. Ainda que esse Angelos já tenha trinta e três anos, parece que pensa que pode passar-se toda a vida revoluteando de flor em flor, por assim dizê-lo. - Espero que aprendas um pouco desta experiência, e, se fosses um pouco realista, poderias ensinar-lhe um par de coisas...
- Por exemplo?
- Este casamento será como vocês desejam que seja.
- Será que não me ouviste ? - perguntou Maxie confusa. - Não é um casamento para valer, Liz.
- O que se passa é que estás muito enfadada com Angelos. Não posso crer que sejas capaz de separar- te quanto passar os seis meses.
- Eu o farei, Liz, te juro.
- Agora mesmo que não penso mais escutar-te - disse sua amiga enfadada. – E pelo que diz respeito a Angelos , está igualmente equivocado se ele pensa que pode viver contigo, ainda que seja só de vez em quando, sem que as pessoas se inteire.
- Não , Liz: ele sabe muito bem o que está fazendo. - Não espera que estejamos juntos muito tempo. Liz apertou os lábios.
- Só quero perguntar uma coisa: por que não contas a Angelos a verdade do que se passou com Leland?
- Nem sequer quis escutar-me quando tentei fazê-lo!
- Podes obrigar-lhe a que te escute, não creio que te dê tanto medo.
- Para valer que pensas que Angelos vai acreditar que Leland se aproveitou de mim em todos os sentidos exceto precisamente no que todo mundo dá por certo? – contra atacou Maxie, surpreendida pela atitude de sua amiga.
- De que não lhe tenhas dito nada define muito bem tua relação com Angelos. Tenho a sensação de que, no fundo, não queres que ele saiba a verdade.
- E por que não, se pode saber?
- Eu acredito que tu estás convicta de que resultas bem mais desejável com essa reputação de garota má que tu construíste - lhe explicou Liz fazendo com que se ruborizasse. - Vais por aí com essa atitude arrogante e essa roupa que te faz parecer uma mulher de rompe e rasga, e as pessoas crêem que realmente o és...
- Liz, por favor...
- Deixa- me terminar - insistiu sua amiga : - sei muito bem que essa é a forma que encontraste de enfrentar aos que te fizeram dano; te escondes numa espécie de armadura, fingindo ser o que não és em absoluto. Assim que diga-me, talvez é estranho que Angelos não saiba como és na realidade? - Mas se nunca o viu!
Maxie se revolveu incômoda em seu assento. A ele a Maxie Kendall real, aquela que nem sequer sabia ler e escrever corretamente, lhe resultaria mortalmente aborrecedora. E para que falar sobre o que pensaria um homem tão experimentado como ele de uma garota tão zonza e ingênua como ela, que nem sequer tinha dormido nunca com ninguém.
Liz começou a preocupar-se ao vê-la tão calada.
- Escuta, és o mais parecido a uma irmã que tenho na vida. Só quero que sejas feliz, e temo que se seguir mantendo esta atitude com Angelos, vais acabar fazendo muito dano a ti mesma.
Com os olhos cheios de lágrimas, Maxie abraçou muito forte a sua amiga. Reprovou-se ter sido tão franca e preocupá-la daquele modo. Daí por adiante, propôs-se envergonhada, guardaria todos os seus pensamentos para si mesma.
Angelos a chamou naquela tarde, e falou com ela no mesmo tom que utilizaria com algum de seus empregados. Comunicou-lhe que seu advogado iria vê-la com o contrato pré nupcial e que o casamento se celebraria na semana seguinte no norte da Inglaterra.
- Tão cedo?
- Sim, vou solicitar uma permissão especial.
- E por que temos que ir tão longe?
- Se nos casarmos aqui, chamaríamos muita atenção.
Maxie mordeu o lábio com angústia. Evidentemente, Angelos ia usar sua inteligência e riqueza unidas para manter no maior segredo possível o casamento.
- Iremos juntos?
- Não, vamos separado. Já nos encontraremos ali.
- Oh... - pelo visto.. tinha-se ocupado até do mínimo detalhe.
- Me temo que não poderemos ver-nos até esse mesmo dia.
- E por que não? - desejou ter mordido a língua antes de fazer aquela pergunta.
- Por suposto, que depois do casamento me tomarei alguns dias livres - lhe explicou Angelos friamente, - mas para isso tenho que deixar alguns assuntos resolvidos. Vou ao Japão esta mesma tarde, e depois passarei na Indonésia o resto da semana.
- Vais estar esgotado.
- Calma, sobreviverei. Enquanto isso, sugiro-te que cancelas teu contrato com a agência.
- Estava a ponto de assinar um novo - confessou Maxie.
- Muito bem, então só tens que lhes dizer que mudou de idéia.
Maxie ainda não tinha se recuperado da tensa reunião que acabava de manter com Catriona quando recebeu a visita do advogado de Angelos.
O jovem lhe pediu que lesse o documento em voz alta, para inteirar-se bem de todas as cláusulas. Se fosse uma mulher tão ambiciosa como Angelos pensava que era, teria ficado extasiada: a mudança de sua discrição, o milionário lhe oferecia uma quantiosa atribuição mensal, além de pagar-lhe todos os gastos; quando o casamento acabasse, receberia uma grandiosa soma.
Só quando terminou se deu conta de que se tinha fincado as unhas com tanta força que quase se tinha feito dano. Só se decidiu a assinar ao pensar que ao cabo de seis meses, toda aquela amargura teria terminado por fim e poderia atirar à cara de Angelos aquele documento.
A igreja estava no cume de uma colina de Yorkshire. Como era um dia de trabalho, o povoado estava muito calmo.
Maxie conferiu seu relógio por enésima vez. Angelos já se atrasava mais de dez minutos. O sacerdote e sua esposa o esperavam ao seu lado, sem saber muito bem que dizer. Não era possível que a tivesse deixado plantada, repetia-se uma e outra vez, não fazia sentido.
Aquela amanhã Angelos a tinha enviado um carro que a conduziu até o povoado. E recordou que nos dias anteriores ao casamento a tinha telefonado um par de vezes... ainda que, disse-se com amargura, tivesse sido melhor do que não o fizesse. Toda possível naturalidade se tinha desvanecido como por encanto ao dar-se conta da grande excitação que lhe produzia o simples fato de ouvir sua voz.
« Hoje vou casar-me. Este é o dia de meu casamento », repetia-se incrédula. Não podia afastar àquele homem de seus pensamentos em nenhum momento; quanto estava dormindo, sua imagem vinha turvar seus sonhos.
Como no fundo sabia que aquele casamento não era mais do que uma farsa, tinha posto seu vestido vermelho: um traje atrevido para uma mulher atrevida, tinha dito a si mesma. Seguramente Angelos pensaria que era uma boa escolha.
Pouco depois, pôs-se tensa ao ouvir um carro. AOS poucos segundos apareceu um flamejante carro no que ia Angelos, seguido de outro carro. Tinha-se posto para a ocasião um traje azul marinho, com uma camisa branca de seda e uma gravata a jogo. Deteve-se um instante para esperar a seu advogado, quem desceu do outro carro. Como se tivesse o tempo todo do mundo!, pensou Maxie, enfurecida ante semelhante descortesia.
Por fim, Angelos subiu os degraus calmamente até chegar ao seu lado.
- Onde demônios esteve? – exclamou ela - Por que demoraste tanto em chegar?
Angelos pareceu encontrar muito divertida semelhante pergunta.
- Tivemos que esperar mais de meia hora no aeroporto antes de aterrizar... não pude fazer nada para arrumá-lo, te asseguro.
- Ah, bom - Maxie sentiu que lhe ardiam as bochechas.
- Obrigado por pôr-te meu vestido favorito. Estás espetacular - lhe murmurou roucamente antes de acercar-se a estreitar a mão do sacerdote.
Quando começou ao fim a cerimônia, Maxie olhou desolada suas mãos vazias. Nem sequer tinha um ramo de flores, e seu vestido lhe parecia mais inadequado que nunca, por contraste com a singeleza e o recolhimento daquela antiga igreja. Antes de que pudesse evitá-lo, se lhe encheram os olhos de lágrimas, que lutou por reprimir com todas as suas forças. Então Angelos lhe pôs um anel no dedo e tudo terminou. Quando o noivo se agachou para beijá-la , ela fez um rápido movimento para apresentar-lhe a bochecha.
- Que é o que te passa ? - lhe perguntou enfadado enquanto desciam os degraus. - A conto de que vêem essas lágrimas?
- Me sinto muito culpada... fizemos umas promessas que não pensamos manter...
Sentou-se rápido no carro que, pelo visto , ia conduzir Angelos pessoalmente. O silêncio entre eles ia espessando-se por segundos.
- Diga-me se há alguma possibilidade, por pequena que seja, de que mostres um pouco de alegria nupcial - disse Angelos por fim sardonicamente.
- Não me sinto como uma noiva - repôs Maxie. - Creio que isso te agradaria.
Angelos se desviou por um caminho secundário e deteve o carro. Maxie tirou o cinto de segurança, e antes que pudesse perguntar-lhe para que tinham parado, Angelos se voltou para ela e a beijou nos lábios com toda sua alma. Ao princípio, ela tentou resistir-se, mas cedo sentiu que lhe arrasava a mesma paixão arrebatadora.
A cabeça começou a dar-lhe voltas, as batidas de seu coração se fizeram cada vez mais ensurdecedores e , inconscientemente, rodeou-lhe o pescoço com seus braços. Quando Angelos introduziu a língua em sua boca , quase gemeu de puro prazer , e então , tão bruscamente como se tinha lançado sobre ela, ele se soltou de seu abraço.
- Agora não temos tempo para isto. Não quero que tenham que nos esperar no aeroporto.
Maxie abaixou a cabeça envergonhada , mas quando Angelos se acomodou em seu assento e pôs o carro em marcha, deu-se conta de que estava visivelmente excitado. Ruborizando-se, desviou a mirada: só então começou a preocupar-se pelas conseqüências de sua inexperiência.
Par ser um homem de aparência tão sofisticada e controlada. Angelos parecia ter estado a ponto de perder o controle. Se se tinha posto assim só por um beijo, como reagiria aquela noite?
Sem a menor dúvida, sairia à luz o seu temperamento grego, feroz e viril, disposto a saciar sua paixão por ela de uma vez por todas. Provavelmente, como suspeitava que ela tinha tido vários amantes, não se entreteria muito nas preliminares... talvez até esperava que ela se consumisse da mesma impaciência.
Por Deus Santo, disse-se exasperada: Angelos não era mais nenhum adolescente. O mais provável é de que fosse um amante consumado e delicado e de que nunca se inteirasse de que ela ainda era virgem. Recordava ter lido numa revista que a maior parte dos homens eram incapazes de ver a diferença.
Envergonhada de si mesma, decidiu que o melhor seria concentrar-se na paisagem. Notava que, à medida que passava a tensão daquele dia, ia-se sentindo cada vez mais cansada.
- Estás bem? - perguntou Angelos preocupado por sua palidez quando chegaram ao aeroporto.
- Só um pouco cansada - replicou evasivamente. Subiram a seu avião privado que lhes conduziria diretamente a Grécia. Nada mais despegar lhes serviram um extraordinário almoço do que ela mal provou. De repente, advertiu-se que ainda levava posto o anel de casamento.
E no entanto, não queria pensar em Angelos como seu marido, pois era plenamente consciente de que ele não a considerava o absoluto em sua esposa. Com uma careta, tirou-se a jóia do dedo e a colocou na mesa, em frente a Angelos.
- Toma, te devolvo - lhe disse descuidadamente.
Angelos a olhou como se ela o tivesse esbofeteado.
- Não há dúvida de que és uma mulher muito formosa - começou a dizer cheio de ira, - mas as vezes me dão vontades de afogar-te. Por que tirou o anel agora que estamos a sós?
- Porque não me sinto cômoda com ele - replicou, e sem dar-lhe mais explicações, reclinou o assento e fechou os olhos. Por mais que lhe ofendesse, não pensava em usar um anel que sabia que teria que tirar muito cedo. E com aquele convencimento ficou dormindo.
Angelos a acordou pouco depois que o avião aterrizasse em Atenas.
- Não se pode dizer que sejas uma colega muito animada - bufou.
- Eu sinto muito, estava completamente esgotada.
- Sim, já me dei conta...
Transladaram-se a um helicóptero que lhes levaria até a ilha. Quando o aparelho começou a ganhar altura , Maxie reprimiu um grito de medo. Ficou olhando fixamente a nuca do piloto, disposta a não deixar transparecer o pânico que sentia.
- Já estamos quase chegando - anunciou Angelos. - Quero que vejas a ilha enquanto nos acercamos à baía - lhe indicou, enquanto o helicóptero virava perigosamente.
Mas tudo que ela pôde fazer foi fechar os olhos com força e rezar entre dentes.
- Tinha esquecido que tens muita vertigem - se desculpou quando por fim aterrizaram. - Sempre venho a Chymos de helicóptero, assim que daqui a pouco te acostumarás - Maxie o olhou espantada ante a perspectiva de passar outra vez por um trago semelhante. - O que a ti te faz falta é um pouco de prática - continuou Angelos convencido. - Como tenho carteira de piloto, te levarei todos os dias a dar uma volta no helicóptero para que superes essa fobia.
Petrificada ao ouvir semelhante ameaça, Maxie o olhou atônita.
- Talvez crês que tua missão na vida é torturar-me desse modo?
Angelos pareceu considerar por um momento aquela pergunta; seus lábios se curvaram num sensual sorriso enquanto a olhava com toda intenção.
- Não, pethi mou, só quero matar-te de prazer, em minha cama...
Pouco a pouco, Maxie foi recuperando a cor. Já se podia ver a vila, reluzente no alto de uma colina. A seus pés se estendia uma preciosa praia de areia fina e desde a mesma se divisava uma série de impressionantes alcantilados que caíam sobre um mar de azul mais brilhante.
- Nasci em Chymos - lhe explicou Angelos. - Quando eu era pequeno sempre passava aqui as férias. Ainda que sou filho único, nunca me senti só porque tenho uma multidão de primos. Desde que morreu meu pai, venho à ilha quando quero retirar-me do mundo. Tens muita sorte , pethi mou - lhe disse enquanto a guiava ao interior da vila, - nunca até agora tinha vindo com nenhuma mulher.
O vestíbulo dava a um confortável salão. Todas as paredes estavam cobertas de fotos, e prateleiras com livros; tinha vários sofás de cômodo aspecto e cálidos tapetes cobriam o solo.
- Não se parece em nada a teu apartamento! - exclamou Maxie agradavelmente surpresa.
- A casa de Londres foi decorada por uma de minhas primas.
Expliquei o que eu queria, mas a verdade é que não a vigiei muito enquanto trabalhava - Angelos a abraçou pelas costas. - Estamos a sós, dei férias aos empregados.
Maxie se pôs tensa. Angelos a beijou tão delicadamente justo ao lado da orelha que se sentiu desfalecer; ele riu brevemente, então levantando-a como se pesasse menos que uma pluma, levou-a através de um longo corredor.
- Angelos - murmurou ela nervosa. Era sua última oportunidade, já sei que crês que eu dormir com...
- Não quero saber nada dos homens que me precederam - a interrompeu categórico. - Por que vos empenhareis as mulheres em fazer semelhantes confissões nos momentos mais inoportunos?
Aquelas palavras a reduziram a um vasto silêncio até que chegaram a um formoso dormitório. Imediatamente Maxie ficou olhando a cama.
Como se não pudesse suportar permanecer um segundo separado dela, Angelos a abraçou de novo e, muito pouco a pouco, começou a baixar-lhe o zíper do vestido. Um sopro de ar frio lhe percorreu as costas nuas enquanto ele se abaixava para beijá-la.
- De fato - começou Maxie de novo, - o único que queria dizer-te é que não tenho muita experiência...
- Theos! - Angelos se afastou como se lhe tivesse picado uma serpente. Ficou frente a ela, olhando-a tão ameaçadoramente que sentiu que se lhe gelava o sangue nas veias.
- Mas, o que se passa...?
- Por que me fazes isto? - perguntou Angelos furioso enquanto tirava a gravata. - A que vêem tuas estúpidas mentiras? Talvez tu pensavas que ia acreditar?
Maxie se sentia como uma tonta, ali no meio do tapete, despenteada e com o vestido desabotoado. Se aquela era sua reação ao inteirar-se de que não era uma mulher muito sofisticada, que teria feito se chegava a dizer-lhe que, em realidade, sua experiência era nula? Por nada do mundo queria dormir com um homem que parecia tão enfadado.
- E seguro que agora começas a contar uma série de mentiras a respeito de Leland... Nem te ocorra isso! - lhe advertiu Angelos. – Não tenho a menor vontade de saber os detalhes de tua vida amorosa. Aceito-te e como és... afinal de contas, isso é a única coisa que posso fazer - Maxie começou a subir-se o vestido timidamente. - E por que ficas aí plantada como uma menina à que acabam de castigar?
- É que te vejo muito alterado... - começou a dizer Maxie.
- Frustrado queres dizer. - Não fizeste mais do que me recusar desde que me casei contigo - a corrigiu Angelos impaciente.
- E tu não pensaste em outra coisa senão em dormir te comigo - replicou Maxie sem sentir o menor arrependimento. Como se atrevia a dizer-lhe que parecia uma menina? Orgulhosamente, deixou cair o vestido a seus pés.
Angelos a ficou olhando como hipnotizado. Maxie exibia ante ele sua espetacular silhueta; só usava umas minúsculas calcinhas brancas e um sutiã de encaixe da mesma cor. Ante aquela visão ficou sem fala. Como se estivesse desfilando na passarela, dirigiu-se preguiçosamente para a cama e se estendeu nela.
- O que estás esperando? A que saque uma bandeira branca? - perguntou provocadoramente.
- Esperava algo menos preparado, mais cálido - admitiu Angelos tombando-se no outro lado da cama, devorando-a com a mirada. - Não tens nem idéia de como me sinto, não é verdade?
- Que queres dizer? perguntou Maxie, repentinamente incômoda.
- Vais entendê-lo em seguida - se limitou a responder Angelos enquanto se desabotoava a camisa.
- É uma ameaça talvez? - lhe perguntou Maxie com a respiração entrecortada.
- É medo ou desejo isso o que ouço? - com uma gargalhada carregada de sensualidade, Angelos se despojou da camisa e ficou olhando-a. – Só ver a expressão de tua cara, valia a pena tudo isto.
Maxie então escondeu a cabeça, vermelha de vergonha. Angelos se levantou de novo, bem mais calmo depois de conseguir recuperar o controle da situação.
- E a respeito disso que disseste, o que se passa? - talvez não conheces aos homens? Levo semanas sem dormir com ninguém. Desejo-te faz muito tempo, e não estou acostumado a esperar e a brigar por ninguém. Quando se tem tudo , como é meu caso, o que se custa a ganhar adquire uma importância tremenda...
- E suponho que quando por fim o consegues , perde todo seu interesse - interveio Maxie ironicamente.
- Isso o dizes tu - replicou Angelos franzindo as sobrancelhas, como se não tivesse estado falando em nenhum momento deles dois. - Isso quem decide é o tempo. Eu sempre vivo no presente, e isso era o deverias fazer, pethi mou.
Acabou de despir-se rapidamente. Maxie lhe contemplou fascinada; ainda que desde a noite do acidente a imagem de seu corpo nu se tinha gravado a fogo em sua mente , estremeceu- se dos pés a cabeça ao comprovar novamente a fascinação que exercia sobre ela. Não tinha visto nunca a um homem tão formoso, voltou a dizer-se enquanto concentrava em seus largos ombros, os esbeltos quadris e poderosas coxas.
- Tens estado tão calada desde o casamento... e agora , de repente, jogas-te sobre minha cama como uma formosa estátua de pedra... Estou quase pensando que , por mais ridículo que possa parecer, tens medo de mim.
Maxie soltou então uma áspera gargalhada. Assombrava-lhe que se mostrasse nu com tanta tranqüilidade. Angelos se tombou a seu lado e começou a acariciar-lhe lentamente o cabelo; pegou-a pelos ombros obrigando-a a olhá-lo de frente.
- Já é hora de que cobrar a minha recompensa – sussurrou. - Agora nada pode me impedir.
- Angelos... - sentiu que se afogava naqueles olhos que pareciam feitos de ouro líquido.
Mas ele começou a acariciar os seus lábios com a ponta da língua.
- Estás gelada, peth mou, mas eu te derreterei - disse ele rouca mente enquanto lhe desabotoava o sutiã com mãos experientes.
Maxie sentia todo seu corpo preso de uma deliciosa tensão. Fechou os olhos, deixando-se levar. Cada beijo que ele lhe dava aumentava aquele doce tormento.
Angelos se colocou sobre ela, acariciando-lhe suavemente o seio. Sorriu ao ver que ela se arqueava, incapaz de suportar aquela tortura.
- Me encanta que te agrade - sussurrou Angelos. - Encanta-me ver como perdes o controle.
- Não me agrada...! - protestou Maxie debilmente.
- Te agradará - lhe interrompeu Angelos, e abaixando a cabeça começou a lamber-lhe um mamilo, provocando que a percorresse uma onda de prazer ainda mais intensa.
- Não... – gemeu ela.
- Não te resistas - Angelos continuou acariciando-a sabiamente.
Ela estava a ponto de perder o controle de seu corpo, mas já não a importava. O único que desejava é que ele não deixasse de acariciá-la. Sentia-se como intoxicada por uma droga poderosa.
Sem querer, quase sem dar-se conta, chamou-o por seu nome desde o fundo de suas entranhas.
Angelos então a beijou interminavelmente , e quando por fim se deteve, a ficou olhando como se quisesse decifrar seus mais íntimos pensamentos.
- Angelos...? - levantou uma mão trêmula para acariciar a linha de seus lábios, mas ele torceu a cabeça. Desolada, Maxie retirou a mão sem saber muito bem que fazer.
- Não fazias mais que me olhar - lhe recriminou Angelos, - mas quanto eu te devolvia a mirada, sempre fazias como se não me tivesses visto... exceto aquela vez, faz sete meses. Então soube que algum dia serias completamente minha.
Maxie desviou a mirada assombrada. Parecia-lhe terrível que ele tivesse descoberto em seu interior aquele ânsia, quando nem sequer ela mesma era capaz de admiti-la.
- Esperei que tu fizesses algum movimento - continuou Angelos, - mas tu continuavas com Leland. Comecei a perguntar-me se não serias completamente tonta.
- Mas se eu não... - começou a protestar.
- Oh, sim! - Agora entendo por que ficaste com ele. Devias-lhe demasiado dinheiro. Deve ter sido então quando decidiste pôr-te a venda... quando penso nisso me dar vontades de quebrar as coisas. Aprendeste tão bem a lição que não paraste até conseguir de mim o preço mais alto por teus favores.
- Como te atreves...?
- Este casamento não é o que tive que pagar para conseguir-te?
- És... um... porco - sussurrou Maxie, sentindo que se afogava ao escutar aquela venenosa acusação.
- Te deixarei de lado quando começar a resultar perigosa - lhe jurou Angelos.
- Começa por deixar-me sair desta cama! - lhe rogou Maxie.
- Nem o penses. Paguei um preço muito alto por este prazer.
- Não!
- Sabes muito bem que és incapaz de resistir - murmurou ele. Angelos acercando sua boca à dela. - Convertes-te em cera entre minhas mãos quanto estou perto. Esse é meu único consolo por me comportar como um imbecil com uma mulher como tu.
- Como te atreves!
Mas por toda resposta Angelos se limitou a pôr uma mão entre suas coxas enquanto a beijava de novo. Aquilo foi suficiente para que Maxie sentisse que se desfazia, enquanto ele esgotava sobre sua pele todo seu extenso repertório de carícias. Uma depois da outra foram caindo todas as defesas que tão cuidadosamente ela tinha levantado para proteger-se.
Não pôde reprimir um gemido quando ele começou a acariciá-la na parte mais íntima de seu corpo, a ponto quase de suplicar-lhe que acabasse de uma vez com aquela insuportável espera. Angelos ainda se fez de rogado um pouco mais, acariciando-a e beijando-a, muito satisfeito sem dúvida ao comprovar o imenso poder que exercia sobre ela.
Quando por fim ele se colocou por cima dela, começou a tremer, tão excitada que por um momento pensou que estava a ponto de desmaiar. Por isso não estava preparada em absoluto para sentir aquela intensa dor, misturado com um prazer desconhecido para ela. Sem podê-lo evitar, proferiu um grito e lhe empurrou para que se afastasse dela , ainda que Angelos então já tinha se detido e a contemplava incrédulo.
- Por que me olhas dessa forma? - sussurrou, envergonhada de que seu corpo tivesse podido traí-la até esse extremo.
- Cristo! És...virgem! - conseguiu articular ao fim Angelos, pálido e sudoroso. Maxie desejou que a terra a engolisse. - Realmente te fiz dano! – Angelos se fez a um lado sem deixar de olhá-la com a mesma expressão assombrada. - Estás bem? Sem dizer palavra, Maxie se levantou da cama e fugiu ao quarto balnear. Santo Céu! Angelos devia sentir-se realmente enojado.
- Maxie! Temos que falar disto imediatamente – grunhiu ele.
Maxie fechou a porta inesperadamente. Ali acabava sua carreira de mulher fatal, pensou, completamente humilhada. Não se sentia com forças para suportar suas perguntas. Com os olhos cheios de lágrimas, recordou as terríveis palavras que ele lhe disse antes de fazer amor com ela.
- Maxie?- Angelos deu uns golpes na porta. - Saia agora mesmo!
- Vai pro inferno! - exclamou, rezando para que o água que caía na banheira dissimulasse o tremor de sua voz.
- Estás bem?
- Por Deus Santo, Angelos! Só estou dando-me um banho, não vou afogar-me... ainda que com essa técnica tão estupenda entendo que te preocupes...
Antes mesmo de acabar de dizer aquelas terríveis palavras, Maxie se lamentou por tê-la feita. Sabia que ele não tinha pretendido fazer-lhe dano, que não tinha a menor culpa do ocorrido, e dizer-lhe semelhante coisa só em vingança, por que se sentia humilhada e envergonhada, não tinha sido nada justo. Produziu-se um opressivo silêncio.
Quando já estava na banheira, começou a pensar que era uma tolice molestar-se pelo que Angelos lhe tinha dito. Agora que já sabia que lhe tinha dito a verdade a respeito de sua relação com Leland, seguramente a olharia com outros olhos... a não ser que estivesse horrorizado precisamente por sua inocência.
Recordou aquela ocasião que Angelos tinha mencionado, sete meses atrás, quando suas miradas se cruzaram na sala de reuniões. Desde então ele tinha estado esperando que deixasse a Leland; de fato, nem sequer podia suportar falar dele, o que demonstrava que aquela antiga relação com seu ex cunhado lhe importava bem mais do que tinha querido aparentar durante sua primeira visita a casa de Liz. Os homens eram seres estranhos, disse-se, e nenhum o era tanto como Angelos.
Demorou muito em sair da banheira; quando o fez, pôs-se uma longa bata de seda e voltou ao dormitório que, para sua surpresa, estava vazio. Tombou-se na cama, ainda que estava demasiado tensa como para conciliar o sono, esperando que Angelos regressasse. Seguramente, pensou apreensivamente, estaria furioso depois do ocorrido.
Passou um longo momento, atormentada pelo arrependimento: não tinha sido justa com ele, repetia-se uma e outra vez, Liz tinha toda a razão. Tinha-se passado de lista aparentando ser o que não era. Não deixava de perguntar-se por que aquele homem tinha sobre ela uma influência que nenhum outro jamais tinha tido.
De repente, abriu-se a porta e Angelos apareceu no umbral. Estava descalço e despenteado, e a olhava apertando a mandíbula com uma expressão feroz que não lhe tinha visto antes. Usava uns jeans de cor negra e uma folgada camisa branca desabotoada.
- Agora eu sei de tudo - murmurou arrastando as palavras. - Por desgraça, estou demasiado bêbado como para pilotar o helicóptero.
Maxie se incorporou na cama, à defensiva. Angelos tinha bebido demasiado, e isso lhe dava um ar desvalido que lhe chegou fundo ao coração. Levantou-se de um salto, pegando-lhe pelo braço.
- Venha, deitar - lhe rogou.
- Não nessa cama! - replicou com súbita fúria. – Agora mesmo a queimaria.
Maxie se deu conta de que seu depreciativo comentário a respeito de seus dotes como amante lhe tinha doído no mais fundo. <<Talvez era essa a razão pela que se tinha embebedado? », se perguntou enquanto atirava dele.
- Dorme, por favor - lhe gritou desesperada por sua obstinada resistência.
Por incrível que pudesse parecer, Angelos a obedeceu de imediato, como se lhe tivesse posto uma pistola no peito. Tinha um aspecto lamentável, parecia o exemplo vivente de que, como rezava o velho provérbio, as mulheres eram o autêntico sexo forte.
Tinha-se derrubado por completo ao fracassar num terreno no que se orgulhava ser um maestro.
Maxie se estendeu ao seu lado, disposta a confortá-lo.
- Tu estavas fazendo tudo muito bem justo até esse momento - o consolou. – Não pensava em sério isso que te disse. Não deves culpar-te...
- O culpado é Leland! - a interrompeu Angelos.
- Le... Leland? - repetiu Maxie mais confusa do que nunca. Angelos soltou um palavrão em grego.
- Fale inglês, por favor...
- É uma lesma! - estourou, enquanto tirava do bolso da calça uma folha de fax.
Maxie a tirou das mãos, estendendo-a cuidadosamente. Forçando a vista, reconheceu sua própria assinatura ao pé daquele documento, ainda que a luz era tão escassa, por não falar de seu nervosismo, que foi incapaz de decifrá-lo.
- Leland se aproveitou de tua estupidez...
- Como dizes? - perguntou Maxie com os olhos como pratos.
- Só uma pessoa realmente ignorante em questões financeiras poderia ter assinado um documento como esse... e nem sequer o pior dos humanos teria fixado umas condições para o empréstimo tão draconianas como as que te impôs esse bastardo.
Por fim Maxie entendeu que Angelos estava com uma cópia do con- trato que tinha assinado três anos antes.
- Como o conseguiste?
- Isso não importa - respondeu evasivamente.
- E por que pensas que sou tão estúpida?
- Se tivesses que cumprir as condições que se mencionam nesse documento, terias que estar pagando-lhe durante uns dez anos - lhe explicou, entrando de cheio em questões técnicas sobre taxas de interesse e prazos de vencimento.
Não podia explicar-lhe que se tinha deixado enganar porque tinha sido demasiado orgulhosa como para pedir a alguém que lhe lesse a letra pequena e lhe explicasse os termos legais do documento.
- Só tinhas dezenove anos - concluiu Angelos, - o assinaste justo um dia antes de ir viver com Leland. - É evidente que esse porco te chantageou.
- Não... eu aceitei. - Nunca me pediu que dormisse com ele nem nada parecido, o único que queria era exibir-se em público comigo. Não sabia no embrulho em que me estava metendo até que foi demasiado tarde - lhe explicou Maxie amassando o fax.
- O único que queria Leland era devolver-lhe o golpe a Jennifer.
Surpreendida de que ele soubesse aquela sórdida história, Maxie decidiu mostrar-se franca com ele.
- Meu pai é um viciado em jogo, Angelos. - Meteu-se num sério problema com uns tipos muito perigosos aos que não podia devolver o dinheiro que lhes devia. Eu quase não conhecia a Leland, mas fui a pedir-lhe conselho. Foi então quando me disse que me emprestaria o dinheiro se eu fosse viver com ele.
- Como um cordeiro ao que se levam ao matadouro, eh? - grunhiu Angelos. - Disseste viciado em jogo?
- Se pudesse, meu pai venderia até esta cama em que estamos sem que nos déssemos conta.
- E onde está agora essa jóia de homem?
- Não tenho a menor idéia. - Separamo-nos quando eu aceitei o empréstimo de Leland para pagar suas dívidas. Creio que se sente envergonhado por isso.
- Assim que teu maravilhoso pai consentiu que fosses viver com Leland para saldar suas dívidas de jogo ? - era evidente que lhe custava crer no que ouvia.
- Era uma questão de vida ou morte, Angelos, para valer - se defendeu Maxie. – Já lhe tinham dado uma surra tremenda, e tinha medo de que o matassem. Leland se ofereceu a dar-me o dinheiro, e isso salvou sua vida.
- Não merecia que fizesses semelhante sacrifício por ele...
- Não te atrevas a meter-te com meu pai! - Maxie estava tão indignada. - Me sacou adiante ele só!
- Sim claro, imagino que muito cedo te ensinou o caminho à casa de penhoras. - Tens que ter tido uma infância de pesadelo...
- Eu fazia o que podia. Nem todos tivemos a sorte de nascer de pé, como tu, sabes? Tu és rico e egoísta, e meu pai pobre e também egoísta, mas, por desgraça ele, tinha a cabeça cheia de grandes esperanças.
- E eu também, te asseguro! - replicou Angelos amargamente. - O único no que não me equivoquei foi em pensar que tu precisavas, de mim porque tudo o demais que esperava de ti... Esta noite eu recebi o que merecia.
Aquelas palavras fizeram que lhe gelasse o sangue nas veias. Quis dizer-lhe que nunca lhe tinha precisado, mas, a ponto de estourar em lágrimas, não conseguiu articular as palavras. Uma fantasia? Só tinha sido isso para ele? Aquilo era inclusive muito pior do que ser utilizada e exibida como um simples objeto.
- A verdade - continuou Angelos cada vez mais deprimido, - é que quantas mais coisas sei de ti, pior me sinto. E me aborrece sentir-me culpado, não posso suportar. Como pude ser tão estúpido?
- Pelo sexo suponho – contestou Maxie abatida. Angelos se estremeceu dos pés a cabeça. – Talvez isso te parece tão mau? - perguntou surpresa.
- Pior do que mal, sinto-me como um violador.
- Não sejas tonto. Foi só uma questão de má sorte - lhe consolou Maxie à beira do pranto.
- Deverias estar furiosa comigo...
- Não vale a pena... estás demasiado bêbado. Quase te diria que me agradas mais assim do que sóbrio, és bem mais humano...
- Christos! Te agrada pôr o dedo na ferida, eh? - mortalmente pálido, Angelos se recostou sobre o travesseiro. - Pelo menos agora sei que tua opinião sobre mim não pode ser pior... - murmurou ele incoerentemente.
- Dorme - lhe urgiu Maxie.
- E quando um está no fundo do poço, só cabe ir melhorando, não é verdade? - perguntou esperançoso.
O único bom de tudo aquilo, pensou Maxie, era que ele , pelo menos, parecia ter-se esquecido de pilotar o helicóptero. Sabia que teria que o odiar por ter-lhe rompido o coração com aquela insultante sinceridade, mas, e pesar da lista de defeitos que ainda conservava, a verdade é que o amava, e que o único que desejava era abraçá-lo e consolar-lhe.
Pensou que tinha demorado tanto tempo em reconhecer quais eram seus verdadeiros sentimentos porque estar apaixonada por ele lhe doía mais do que qualquer coisa que tivesse experimentado até aquele momento. E pensar que tinha chegado a crer que a reação de Angelos se devia a sua má atuação na cama...
A verdade era que, quanto tinha descoberto sem o menor gênero de dúvidas do que ele era o primeiro homem com o que dormia, tinha começado a perguntar-se pela verdadeira natureza de sua relação com Leland. Por suposto, tinha sido então quando tinha começado a pensar no empréstimo... o que lhe tinha levado a inteirar-se da pior forma possível do resto da história.
Recordou com amargura que Liz pensava que lhe divertia aparentar que era uma garota má... sem considerar a possibilidade de que Angelos se sentisse mais excitado por uma delas do que por uma virgem autêntica.
Maxie se acordou no dia seguinte entre os braços de Angelos. Era como estar no céu. Entreabriu os lábios e roçou com a língua seu ombro nu. Sabia a glória. Aspirou seu cálido aroma , enquanto lhe acompanhava o ritmo de sua respiração à dele.
No entanto, não podia se enganar Angelos estava ali só porque tinha ficado dormindo. Não se tratava de que aquela noite ele tivesse perdido porque, na realidade, nunca tinha sido seu.
O tinha perseguido nela uma quimera, uma imagem, e a miragem se tinha rompido.
Posou a mão em seu amplo peito e traçou com a ponta dos dedos a linha daqueles músculos poderosos. Fascinada, alongou aquela suave carícia até chegar à parte baixa do abdômen , e ali se deteve subitamente ao dar-se conta de que , sem querer , estava a ponto de acordá-lo.
O que menos desejava no mundo era enfrentar-se com ele. Seguramente se poria furioso ao recordar os acontecimentos da noite anterior. Ficou muito quieta até que notou que ele voltava a relaxar-se.
Se levantou muito devagar , reunindo suas roupas precipitadamente. A porta dava a outro dormitório onde encontrou sua mala ao pé da cama. Amargamente pensou que aquilo resumia exatamente a sua posição naquela casa: mal era algo mais do que uma visitante à que se aloja na habitação de hospedes.
Pôs-se um vestido ligeiro e umas sandálias de tiras, pois ainda que só eram as sete da manhã, já fazia bastante calor. Encaminhou-se à cozinha onde se serviu um copo de suco de laranja, e depois saiu da casa. Não desejava enfrentar-se com Angelos até meditar bem o que ia dizer-lhe .
Para começar, sua noite de casamentos tinha resultado um completo desastre. Rezava para que Angelos não recordasse bem todas as tolices que lhe tinha dito e , sobretudo, para que não chegasse a descobrir que se tinha apaixonado dele.
Durante um breve instante, ele a tinha tratado como a uma igual, e ela tinha tido que o estragar tudo escolhendo precisamente aquele instante para despojar-se de sua armadura e mostrar-se diante ele tal e como era: uma patética fraude, uma virgem tonta , em definitiva, tão só uma pobre, vítima de uma chantagem em vez da desejável amante de um homem rico.
Mas o mais surpreendente tinha sido a insólita revelação de do que, depois de tudo, Angelos tinha consciência: não só se tinha ficado pasmado ao descobrir a verdade , senão que se tinha compadecido de coração por sua triste infância.
Mas Maxie não queria que a compadecesse, e muito menos do que se sentisse culpado , e chegou à conclusão de que a única forma de evitá-lo seria contando-lhe com detalhe as condições do testamento da falecida Nancy Leeward. Quando Angelos visse o pouco nobres que tinham sido seus motivos para casar-se com ele , sem dúvida a veria com outros olhos, e, pelo menos, poderia recuperar parte de seu orgulho.
Quando deu a volta a um saliente rochoso, viu na praia dois meninos ajudando a um ancião marinheiro a arrastar as redes.
Era uma cena tão bonita que, inconscientemente , um amplo sorriso se desenhou em seu rosto.
- Nunca te tinha visto sorrir assim - disse uma voz a suas costas.
Surpresa, deu-se a volta em redondo. Angelos estava tão bonito que sentiu que se lhe saía o coração do peito ao vê-lo. Mas , quase instantaneamente, pôs-se em guarda para ocultar-lhe como fosse seus sentimentos.
- Ainda que, o mais provável – continuou, é que nunca tenha feito nada para merecê-lo.
Ela o ficou olhando, imóvel, tão bela como uma estátua, com o cabelo reluzindo sob aquele sol de verão. Angelos lhe pegou pela mão e começou a andar para a costa.
- Desde agora, desde este mesmo momento, tudo vai ser muito diferente entre nós - lhe prometeu.
- Sim ? - Maxie começava a pôr-se muito nervosa.
- Deverias ter-me dito a verdade sobre tua relação com Leland desde o primeiro dia...
- Não terias acreditado.
- Tens razão - assentiu Angelos olhando o mar que se estendia diante eles. - Só o que aconteceu na noite passada me convenceu de que não és a mulher que eu pensava que eras.
- Pelo menos és sincero - sussurrou Maxie.
- Considerando todas as coisas que se disseram sobre ti - se defendeu Angelos, - creio que tinha todo o direito do mundo a pensar mau, ainda que não acredite, não me orgulho precisamente de meu comportamento. Quando penso que inclusive te marchaste de Londres para evitar-me... Nunca me portei com nenhuma mulher tão mau como contigo; estou muito arrependido por ter-te obrigado a aceitar este casamento, pethi mou.
Maxie ficou atônita ante tão inesperada confissão, mas, sobretudo, não podia suportar que ele a compadecesse.
- Escuta, quero dizer-te uma coisa - lhe interrompeu, soltando-se de sua mão.
- Não, deixa que siga. Isto não está sendo nada fácil para mim, não estou acostumado a mostrar deste modo meus sentimentos.
- Tu não sentes nada por mim - lhe espetou Maxie sem pensar.
- Pareces muito segura de ti mesma...
- Reconheça Angelos: as rochas desta praia seguramente têm mais sentimentos do que tu - lhe acusou cinicamente. - Por outra parte, por que deveria importar-me de que me usavas, quando eu estava disposta também a aproveitar-me da situação. - Não é o mesmo que se eu estivesse apaixonada por ti, ou algo parecido continuou , incapaz de deter-se. - Casei- me contigo porque me convinha fazê-lo. Precisava um marido pelo menos durante uns seis meses.
Produziu-se um interminável silêncio entre eles.
- Que diabos queres dizer ? - estourou Angelos tencionando todos os músculos de seu rosto.
- Me refiro ao testamento de minha madrinha - lhe explicou Maxie impassível. - Era uma mulher muito rica, mas só podia herdar minha parte se me casasse. - Tudo o que queria casando-me contigo era conseguir meu próprio dinheiro, não o teu.
- É uma brincadeira, verdade? - Angelos parecia ter-se ficado petrificado. Maxie negou com a cabeça, incapaz de articular uma palavra. - Te dás conta de que se isso que me dizes é verdade penso matar-te?
- Não sei por que ! - replicou Maxie com fingida calma. - Este casamento é tão falso para ti como para mim. Me o propuseste só para dormir comigo, e só ias mantê-lo até que te aborrecesses de mim, nem um minuto mais. - Por isso, pareceu-me que o melhor seria ser igual de franca contigo.
Incapaz de seguir, Maxie deu a volta, encaminhando-se para a casa. Aí terminava aquela história, pensava, nunca mais voltaria a vê-lo: passaria o resto de sua vida na pobreza e sentindo falta daquele homem.
- Maxie...
Sumida em seus pensamentos, não se tinha dado conta de que ele a tinha seguido. Em duas passadas esteve a seu lado.
- Não te ocorreu que é possível que não me aborreça de ti nunca pethi mou? - perguntou abraçando-a.
- Mas...
Angelos a fez calar-se com um apaixonado beijo que durou até que chegaram ao dormitório. Uma espécie de corrente elétrica lhe percorreu dos pés a cabeça até que ele por fim se separou dela, estendendo-a sobre a cama.
- Pensei... mas eu pensei que já não me querias...
- E eu não me imaginava que fosses tão franca, nem tão aguda também não - replicou Angelos enquanto se tirava a roupa.
- Que vais fazer? - perguntou sufocada.
- O que deveria ter feito quando acordei esta manhã e te peguei acariciando- me como uma mocinha... E pensar que não queria te envergonhar ! – exclamou. - Como se tu soubesses o que é sentir vergonha! Apesar de tua carinha de anjo és mais dura do que o aço.
Maxie se sentiu afagada, mas não porque ele tivesse dito que era franca, nem aguda, senão porque por fim parecia ter ganhado seu respeito. Conhecia Angelos o suficiente como para entender que, desde a noite anterior, tinha ganho muitos pontos em sua estima. Intuiu então que reagia assim porque lhe agradavam os desafios, e semelhante revelação a deixou atônita.
- Por que estás tão calma? – perguntou Angelos suspicaz. - Não me fio de ti quando estás assim.
Maxie lhe sorriu languidamente.
- Suponho que não quererás divorciar-te precisamente agora...
- Theos! Mas se nos casamos ontem!
Era verdade, ainda a desejava..., por incrível que pudesse parecer, inclusive a desejava mais do que nunca. Quando se abaixou para beijá-la de novo , seu próprio desejo voltou a atraí-la; desejava tocá-lo, abraçá-lo, sem que por uma vez lhe importassem as conseqüências.
- Desta vez não te farei dano, te prometo - sussurrou Angelos roucamente enquanto lhe tirava o vestido. - Ser o primeiro foi... um presente inesperado. - Quase me voltaste louco contando-me essas ridículas histórias. - Talvez acreditas que não sei que tu também me desejas? Posso vê-lo em teus olhos...
Não tinha acreditado numa palavra do que lhe tinha contado sobre o testamento. Abriu a boca para explicar-se outra vez, mas ele a aplacou com um beijo, e ela lhe estreitou entre seus braços, rendida a uma paixão que já não podia dissimular mais.
- Por que te empenhas em brigar comigo? - murmurou Angelos tirando-lhe o sutiã e começando a acariciar-lhe os peitos de tal forma que vibraram todas as fibras de seu corpo.
No mais fundo de sua consciência, Maxie sabia que tinha algo que precisava dizer-lhe , mas enquanto aqueles incríveis olhos dourados estivessem postos sobre ela, era incapaz até de recordar seu nome. Quando Angelos sorriu, foi como se estivesse estado esperando aquele gesto para adiantar- se a beijá-lo; nunca tinha desejado fazer algo com semelhante intensidade.
Meio tombado sobre ela e sem deixar de beijá-la, Angelos lhe tirou a calcinha e começou a acariciar-lhe doce, sabiamente. A Maxie lhe pareceu que uma corrente de lava ardente começava a derramar-se de seu interior.
Angelos continuou até que se deu conta de que ela não poderia agüentá-lo bem mais , e só então a possuiu. E enquanto ele a olhava, contendo a duras penas seu próprio desejo, desataram-se em seu corpo ondas sucessivas do mais intenso prazer.
- Angelos! - gritou sem poder-se controlar. Ele se deteve então, até que Maxie lhe pediu para que continuasse: não queria que se detivesse, não enquanto não atingisse a cume do êxtase. Por fim ele a conduziu até ali, fazendo-a sentir uma plenitude tão gloriosa como nunca tivesse imaginado.
- Assim teria que ter sido em nossa noite de casamentos - lhe disse Angelos sorrindo.
Maxie mal podia crer o que acabava de suceder; se agarrava a seu corpo, incapaz de separar-se, ao mesmo tempo em que lutava por conter as lágrimas.
- Me parece que já é hora de anunciar nosso casamento - disse Angelos preguiçosamente. Maxie abriu uns olhos como pratos ao pensar nos envolvimentos do que acabava de ouvir. - Que te parece? - lhe perguntou, mas, sem esperar sua resposta, levantou-se de um salto da cama. - Primeiro um chuveiro e depois o café da manhã... Nunca em minha vida tive tanta fome.
Só então recordou Maxie o que tinha dito antes de fazer-lhe amor a respeito de suas «ridículas histórias».
- Angelos... - ele se voltou para olhá-la com um amplo sorriso desenhada em seu rosto. - O que te contei antes... do testamento... é verdade...
Angelos a ficou olhando com uma expressão indecifrável enquanto ela lhe contava com detalhe a importância que sua madrinha lhe tinha dado ao casamento, seu desgosto ao inteirar-se de que se tinha ido viver com Leland. Ao princípio estava tão nervosa que nem sequer era capaz de olhá-lo à cara.
- Então, bom... foi quando me propuseste o casamento, e me enfadei tanto que me ocorreu que também podia utilizar-te para cumprir a condição imposta no testamento - lhe explicou com voz cada vez mais trêmula. Naquele momento não podia entender como tinha sido capaz de levar adiante uma idéia tão peregrina. Ante a mirada de Angelos, aquele plano que ao princípio lhe tinha parecido algo tão singelo e inteligente se convertia em algo muito diferente.
Fez-se entre eles um silêncio que podia cortar-se com uma faca. Sem saber muito bem como ia reagir, Maxie estendeu uma mão para ele.
- És uma víbora - estourou Angelos ao ver aquele gesto.- Quando te pedi que te casasses comigo, o fiz de coração, porque, diferente de ti, eu ainda mantenho alguns princípios...
- Angelos, eu... - Maxie se tinha posto tão branca como o papel.
- Cala-te! Não quero seguir escutando-te! Estou-me lembrando da generosa quantidade que lembramos que receberias em caso de divórcio... E és tão avarenta que também pretendes fazer-te com o dinheiro dessa pobre anciã... - Maxie notou que se lhe inundavam os olhos de lágrimas , Angelos a olhava como se ela fosse um ser repugnante. - Como foste capaz de manipular-me desta maneira ? lhe reprovou amargamente.
- Estás muito equivocado! - se defendeu Maxie, lamentando no mais fundo sua torpeza. - Não foi algo premeditado, só me ocorreu sobre a saída! Estava tão enfadada, sentia-me tão doída...
- Quando um homem te oferece um anel de casamentos, o faz para honrar-te, não para utilizar-te - disse Angelos entre dentes.
- Bem, isso eu não posso saber: só tive a suprema honra de usá-lo durante cinco minutos.
- Tu o devolveste!
- E tu o aceitaste! - lhe recordou Maxie implacável. E não quero que me devolvas, nem quero que digas a ninguém que nos casamos... não quero que se saiba que fui tão tonta para casar-me contigo.
- Isso me parece bem - admitiu Angelos torvamente. - Já me assegurarei eu de desfazer-me de ti antes de que se passem seis meses - anunciou antes de meter-se no banho.
Maxie enterrou a cabeça entre os travesseiros, golpeando-as com raiva e frustração. Por um breve instante se tinha sentido muito perto de Angelos, e em menos de um segundo, aquela ilusão se tinha rompido em mil pedaços... e a culpa era só sua, por ser imprudente.
Ainda que fosse verdadeiro que mais cedo ou mais tarde teria que lhe ter falado do testamento, tinha escolhido sem dúvida a pior forma de fazê-lo. Tinha-o feito tão rematadamente mau que, ao princípio, Angelos nem sequer se o tinha acreditado, tomando suas palavras por uma tentativa infantil de desafiá-lo. Estremeceu-se ao dar-se conta do bem que a conhecia aquele homem.
Porque aquilo era exatamente o que tinha pretendido contando-lhe a história de sua herança naqueles termos tão ofensivos. Tinha se esquecido que quem semeia ventos, colhe tempestades, e por isso teria que se conformar com os amargos frutos que ela mesma tinha plantado: ira, desilusão, rejeição...
Como poderia explicar-lhe que o tinha feito porque desejava seguir casada com ele, e que para isso precisava de uma desculpa que lhe permitisse crer que ainda mantinha o controle? Não podia dizer-lhe de nenhum modo que se tinha apaixonado dele...
Quando por fim Angelos saiu do banheiro, Maxie o ficou olhando como um cachorro espancado.
- Ouve Angelos, não pensava obrigar-te a cumprir o acordo pré nupcial...
- Deverias dedicar-te a escrever roteiros de ciência ou ficção - lhe espetou Angelos no cúmulo da incredulidade.
- Antes reconheceste que te equivocaste ao pré julgar-me! - insistiu Maxie.
- Retiro o que disse - replicou, lançando-lhe uma gélida mirada. - Ah, E me marcho a Londres um par de dias. Tenho que me ocupar de uns assuntos.
Maxie não era tonta. Desolada, percebeu que ele não queria estar com ela nem um minuto mais.
- Sempre és tão implacável com os que te rodeiam? - perguntou com o alma em brasas.
- Te asseguro que me encanta essa voz tristonha que pões, mas não te esforces, não acredito em nada.
Cálidas lágrimas começaram a cair por suas bochechas sem que pudesse fazer outra coisa por remediá-lo que secar-se com a borda do lençol.
Angelos acabou de pôr-se um elegante traje cinza. Parecia tão inacessível e frio como o Himalaia. No entanto , Maxie decidiu fazer uma última tentativa.
- Te juro que nunca quis teu dinheiro, Angelos - sussurrou, imprimindo a cada uma de suas palavras toda a sinceridade da que foi capaz.
Angelos esboçou um sorriso que bem parecia uma careta de burla.
- Ainda que não se encaixes na imagem que tenho da perfeita esposa, como amante és impagável. Não faz falta que dissimules teu interesse. Fizemos um trato: eu desfruto de teu corpo, tu de meu dinheiro. - Afinal de contas, essas coisas é o que mais acontece aos multimilionários vulgares como eu, não é verdade?
Maxie sentiu que se lhe gelava o sangue nas veias. Com o mínimo de lucidez que lhe ficava decidiu que se o que Angelos queria era uma amante, isso era precisamente o que teria.
- Como é que Angelos não sabe onde estás ? - Então não lhe disseste que voltaste a Londres? - perguntou Liz assombrada.
- Vim direito do aeroporto; quero fazer-lhe uma surpresa - lhe explicou sem faltar do tudo à verdade.
- Claro , eu entendo - disse sua amiga mais calma. - Que pena que os negócios lhe tenham obrigado a interromper tão cedo a lua de mel! - Quando disse que se marchou Angelos da ilha?
- Faz uns dias - contestou Maxie, mas não lhe confessou que ela tinha embarcado no ferry mal vinte e quatro horas mais tarde, quanto recebeu os cartões de crédito e lhe foi possível comprar o bilhete. Tinha-se sentido mortificada ao ver que neles figurava seu nome de solteira.
Aquilo a tinha induzido a manter-se até suas últimas conseqüências no papel de amante que lhe tinha adjetivado Angelos, e como tal, dedicou-se a esbanjar seu dinheiro a mãos cheias. Primeiro tinha ido a Roma, e depois a Paris, investindo uma considerável quantidade de tempo e dinheiro em fazer-se com um impressionante armário. Quase podia empapelar aquele quarto com todos os recibos que tinha acumulando e que esperava que servissem para que Angelos acreditasse que ainda estava no continente; deliberadamente, tinha utilizado dinheiro em efetivo para pagar as faturas dos hotéis e os bilhetes de avião.
- És feliz? - lhe perguntou Liz preocupada.
- Muito feliz - contestou. Pelo menos, disse, tudo o feliz que podia ser tendo em conta que fazia só seis dias, quatorze horas e trinta e sete minutos que Angelos se tinha marchado do seu lado. Consolou-se pensando que a alternativa , de ficar vegetando em Chymos até que ele voltasse, era muitíssimo pior.
- Crês que Angelos pode chegar a amar-te? - insistiu Liz.
Maxie não soube o que contestar. Tinha desejado isso, mas agora se dava conta de que era um anseio impossível. O único que podia lhe assegurar com certeza é que àquelas alturas ele devia estar furioso porque se tinha marchado da ilha sem dizer a ninguém.
Ainda que, pensando bem, supunha-se que toda amante que se apreciasse de sério devia procurar-se entretenimentos enquanto seu protetor se ocupava de seus assuntos. Não era ela quem tinha que lhe dizer quando estava disponível, senão mais bem ao invés.
Maxie tomou o chá com Liz e depois chamou um táxi para que a conduzisse junto com sua imensa bagagem ao edifício onde Angelos tinha disposto a que vivesse. Sentiu uma apunhalada de apreensão, pois não estava muito segura de como ia ser recebida, dado que Angelos nem sequer devia saber que tinha regressado a Londres.
Mas em seguida se deu conta de que, uma vez mais, ela o tinha subestimado: para começar, quanto chegou ao elevador, um guarda-costas se dirigiu a ela.
- Senhorita Kendall?
- Sim, sou eu. Lhe importaria fazer-se cargo de minha bagagem? – respondeu, e sem esperar sua resposta subiu ao apartamento.
Quando as portas se abriram pensou por um momento que se tinha equivocado de andar. Tinham sido retirados todos aqueles horríveis móveis futuristas, em seu lugar , tinham colocado preciosos móveis antigos e cálidos tapetes. Na sacada tinham instalado barreiras protetoras e ademais, se ainda não se atrevesse a sair a respirar ar fresco, tinham construído um amplo jardim de inverno.
Ainda que era evidente que não se tinha consertado em gastos para redecorar aquele lugar a seu gosto, longe de sentir-se comprazida, Maxie estava a ponto de estourar em lágrimas. Angelos se tinha tomado tantas moléstias somente para assegurar-se de que, tal e como tinha disposto, viveriam separados. Aos seus olhos , aquele esplendor não bastava para consolá-la de semelhante humilhação.
A jovem passou o resto da tarde ordenando seu armário, e quando o acabou, procurou as duas folhas com a lista de defeitos de Angelos que se tinha convertido numa espécie de talismã. Quando se sentia furiosa, ou lhe sentia falta, voltava a lê-la de cabo a rabo para recordar-se que, ainda que ela estivesse longe de ser perfeita, ele também não o era. Surpreendentemente, fazendo aquele insólito exercício se sentia um pouco perto dele.
Quanto tempo se passaria antes de que ele se inteirasse de seu regresso? reflexionou enquanto se relaxava num banho de espuma. Desejava chamá-lo com todas as suas forças, mas sabia que não era isso o que se esperava da perfeita amante, não podia ser indiscreta. Pôs-se uma camisola curta de seda azul e se encostou na enorme cama do dormitório principal.
Ainda que não ouviu o ruído do elevador, incorporou-se sobres-saltada ao escutar uns passos que se dirigiam ao dormitório.
Se abriu a porta e Angelos apareceu no umbral. Estava tão atraente com aquele smoking, a gravata solta e a camisa meio desabotoada que Maxie sentiu que o coração lhe paralisava.
Angelos ficou plantado no umbral, com os punhos apertados. Respirando agitadamente; ela se recostou sobre os travesseiros, olhando-o tão calma como se lhe tivesse estado esperando.
- Vieste ver-me quanto regressei ! - lhe saudou alegremente. Mas que agradável surpresa!
A animada saudação de Maxie deixou a Angelos desconcertado. Piscou, como se não acreditasse o que estava vendo, para não falar do que acabava de ouvir.
Maxie tinha aprendido dele valiosas lições, e as pôs em prática. Inclinou-se para frente, sacudiu sua preciosa cabeleira loira e se esticou, de modo que nem um só centímetro da sedutora camisola, que marcava seus voluptuosas curvas, escapasse a seus olhos.
- Que te parece? - perguntou animadamente. - Comprei-o em...
Angelos não podia afastar a vista dela, incrédulo.
- Onde demônios tens estado toda esta semana? - lhe espetou. - Sabia que voltei a Chymos? Não sabia que tu tinhas saído.
- Oh, eu não sabia que ias voltar.
- Por que então não me chamaste para dizer-me o que pensavas fazer? - perguntou Angelos com crueldade. - Podes ir-te as compras quando te dê vontade mas não faz falta que o faças quando nós poderíamos estar juntos.
- Por que não me chamaste para dizer- me que voltavas? - replicou Maxie, seus olhos brilhavam como safiras. - Olha, eu não pude fazê-lo: Na vila ninguém falava uma palavra de inglês eu não tinha teu número de telefone...
Angelos ficou de pedra.
- Como que não tens meu número de telefone?
- Bem, não estás na guia e estou segura de que teus empregados não deixam escapar nenhuma informação privilegiada a qualquer um que...
- Diabos! - Tu não és qualquer um - exclamou Angelos, com raiva. - Quero saber onde estás a cada minuto! E o único que podia fazer era vigiar os gastos de teu cartão de crédito enquanto passeavas por toda Europa.
Aquelas palavras foram como música para Maxie.
- Creio que o mais sensato da tua parte seria dar-me um número de contato - disse com suavidade. – Sinto muito, mas, sinceramente, não me tinha dado conta do possessivo que podias chegar a ser.
- Possessivo ? - disse Angelos dando um suspiro. – Eu não sou possessivo, só queria saber onde estavas.
- Em todas as horas? - disse Maxie. - E como ia eu a saber isso se não me dizias?
Angelos passou as mãos nos cabelos.
- Não voltes a desaparecer sem dizer-me aonde vais... está claro? - disse, tirando uma caneta de ouro do bolso interior do terno.
E procedeu a escrever algo no verso da folha de papel onde Maxie tinha enumerado seus defeitos.
- Que fazes? - lhe perguntou.
- Vou escrever-te todos meus números de telefone, para que não voltes a pôr-me a desculpa de que não sabias aonde chamar-me. O celular, a linha privada, o andar, os dos carros e quando estou no estrangeiro...
E escreveu e escreveu e escreveu enquanto Maxie o observava fascinada. Tinha mais números que uma empresa de comunicação. Felizmente, pensou, não lhe ocorreu dar-lhe a volta ao papel.
- Me inteirei de que tinhas aparecido enquanto estava perdendo o tempo com um grupo de industriais japoneses - disse Angelos. - Tive que os suportar durante toda a tarde antes de poder vir aqui.
- Se eu tivesse sabido - disse Maxie com um suspiro, tratando de conter a imensa alegria que sentia. Angelos, ao comprovar que ela não era um mero objeto decorativo, tinha deixado por fim de mostrar-se tão duro e frio.
Seguia escrevendo, mas deteve por um instante e dirigiu a Maxie uma mirada perspicaz.
- Tens estado em Roma... em Paris... com quem?
- Só - replicou Maxie, com toda a dignidade de que foi capaz.
Angelos não despregou os olhos de seu rosto, mas relaxou, era evidente.
- Tenho estado muito enfadado contigo...
Maxie sabia o que isso significava. Devia ter estado tão furioso como um vulcão ativo, esperando com anseio o momento da erupção.
- Te ofereceria algo para beber, mas os armários estão vazios.
- Claro... não esperava que viesses aqui.
Maxie franziu o cenho.
- Como podes dizer isso quando reformaram este andar só para que eu viesse viver nele?
Angelo se esticou e a olhou intensamente.
- Olha, isso foi antes de que nos casássemos... talvez não te deste conta, mas desde então as coisas mudaram.
Maxie ficou pálida.
- Para valer?
A formosa boca de Angelos se comprimiu.
- Tenho estado pensando. - Creio que deverias vir a casa comigo. Vou comunicar ao jornal a notícia de nosso casamento.
- Não, prefiro que as coisas fiquem como estão – disse Maxie. Nunca em sua vida lhe tinha custado tanto dizer algo, mas o orgulho lhe impedia aceitar o papel de esposa se o ofereciam de um modo tão tosco. - Encanta-me este andar e, como tu, agrada-me viver num espaço que eu possa sentir como meu. E não tem nenhum sentido convocar a imprensa para dizer-lhes que nos casamos quando não creio que duremos juntos muito tempo.
Angelos não afastava a mirada dela, escrutinando até o mínimo de seus gestos. Depois, subitamente, sua mirada se tornou tão fria, acirrada.
- Muito bem, de acordo, não passa nada. Creio que estás sendo muito sensata.
Maxie sentiu uma apunhalada no estômago... Angelos, pelo visto, parecia aliviado ante aquela decisão, não encontrava nenhuma razão para que tentassem viver como um casal normal. Evidentemente, seguia sem ver nenhum futuro em comum para os dois. E no entanto ela desejava que ele se jogasse aos seus pés, rogando-lhe que compartilhassem o mesmo teto.
- Mas te agradeceria que me desses uma explicação de tua repentina fuga de Chymos - disse Angelos.
- Não sabia quando voltarias, e como estavas muito enfadado, pareceu-me que o melhor era deixar que passasse um pouco mais de tempo até do que te tranqüilizasses.
- Sabes por que voltei A Londres? - disse Angelos, com o gesto concentrado.
- Não tenho nem idéia.
- Tinha que me ocupar de Leland.
- De Leland? - perguntou Maxie com perplexidade. Com mirada ausente, Angelos dobrou as folhas de papel que tinha na mão e as meteu no bolso. Maxie observou o gesto com horror.
- Tinha que o fazer. - Não pensarias que ia deixá-lo escapar depois do que te fez? Roubou-te parte de tua vida e, não contente com isso, esmagou-te com esse empréstimo...
- Angelos, Leland está enfermo...
- Desde que lhe tiraram o marcapasso está tão bem como qualquer um - alegou Angelos.- Mas se sente muito envergonhado de si mesmo, o que não me estranha nada.
- Falaste com ele?
- Na presença de Jennifer. Agora que conhece a verdadeira história de teus tratos com seu marido está eufórica. Leland não tinha nenhuma intenção de confessar a verdade, assim que sua vaidade humilhada será seu castigo. Tinha-te enganado em toda essa charada só para impressionar a Jennifer.
- Nunca me teria passado pela cabeça que pudesses odiá-lo tanto.
- Agora és minha - disse Angelos com frialdade. - E me agrada cuidar de tudo o que me pertence.
- Eu não te pertenço... só passo por tua vida... - replicou Maxie ofendida. Davam-lhe vontades de bater-lhe , mas só apertou os dentes porque sabia que se acercasse a ele, se derreteria entre seus braços como uma bola de neve numa fogueira. Quase sete dias sem sua presença tinham suposto uma tortura que a tinha debilitado enormemente.
Angelos, sentado à beira da cama, não deixava de olhá-la intensamente.
- Ao ver Leland e Jennifer - disse com tranqüilidade, - refleti em como nos agrada aos adultos jogar com os sentimentos. Que erro tão grave é subestimar a teu oponente...
Maxie se estremeceu. Jogos ? Não, Angelos não podia dar-se conta do que tentava fazer. Ademais, ela não se propunha nenhum jogo, ou sim?
- Não sei o que queres dizer...
- Leland recusou sua mulher. Jennifer teve uma breve estúpida aventura e não se desculpou. Leland se ofendeu e não a perdoou. Assim se passaram três longos anos fazendo-se a vida impossível, engajados em contínuas brigas, pensando no divórcio sem chegar a fazer nada para levá-lo a cabo. E em todo esse tempo não se deram nem um respiro.
- Que loucura - sussurrou Maxie.
- Verdade? - disse Angelos conferindo o relógio.- Me encantaria ficar-me, mas prometi a meu sobrinho Demetrios que iria à festa de seu vigésimo primeiro aniversário... e já se faz tarde.
Maxie ficou sentada mais imóvel do que uma pedra.
- Já vais? - disse com um débil fio de voz.
- Tenho uma vida social muito ativa. - Negócios, compromissos familiares, em fim. Mas o tempo e a distância converterão em algo maravilhoso os poucos momentos que podemos compartilhar.
- Os poucos momentos ? - repetiu Maxie com temor. - E esperas que fique aqui sentada esperando tua próxima visita?
- Maxie já começas a falar como uma verdadeira esposa - disse Angelos com um sorriso de satisfação. - Bem, tenho que me ir, virei jantar amanhã.
- Vou sair.
- Maxie - disse Angelos com um tom exigente, me agradaria que estivéssemos juntos quando eu tenho tempo livre para ti.
- Quando tens tempo livre para mim? E daí que vou fazer o resto do dia?, esperar sentada?
- Ir as compras – deixou cair Angelos com aprumo. - Não é o que fizeste durante toda a semana passada?
Maxie se pôs furiosa, mas o que dizia Angelos era verdadeiro, tinha gastado uma verdadeira fortuna.
- Mas não me importa - disse Angelos, - posso permitir-me.
Maxie ficou muda. Todos seus planos para pôr-lhe furioso jaziam a seus pés, descartados, e ainda assim, não sabia o que tinha passado exatamente. Angelos se tinha posto furioso ao princípio, mas tinha recobrado o bom humor em seguida.
Durante aquele breve momento de distração, Angelos se acercou a ela para estreitá-la entre seus braços. Maxie estava rígida até aquele instante, mas ao contato de Angelos, ao sentir seu calor, viu-se devorada pelo fogo da paixão, do desejo.
- Se não fosse por essa maldita festa - disse Angelos, - eu ficaria. - Se apertava contra ela, consciente da sensação que tinha acordado em Maxie, e presa assim mesmo dela. - Poderia jogar-te sobre a cama e fazer-te amor...
- Sim - disse Maxie.
- Mas seria um pecado provar um bocado da torta antes da hora de um banquete que promete ser inesquecível... - disse Angelos, beijando a Maxie no pescoço apesar de suas ardentes palavras e deslizando o joelho entre suas pernas. - Tenho que me ir...
- Beija-me.
- Não, não posso... não poderia parar... - disse Angelos, e se afastou dela com uma mirada que refletia toda sua frustração. Parecia um alcoólico resistindo-se a cair no que só podia significar sua perdição. – Meu Deus! És tão linda, e tão perfeita para mim - murmurou.
Maxie não podia pensar em outra coisa que em sua marcha. O único que lhe importava no mundo era que se marchava e a deixaria ali só. Não podia separar-se dele, seria demasiado doloroso. Ao dar-se conta do que sentia por ele, atemorizou-se; e pela primeira vez se tinha dado conta de sua enorme vulnerabilidade.
Angelos se marchou e ela o esteve olhando até o último momento, e quando deixou de vê-lo se esforçou por ouvir seus passos, que se afastavam irremediavelmente. Quando se fez o silêncio caiu sobre o tapete feito um mar de lágrimas. Deus Santo, que idiota tinha sido, como se tinha atrevido a desafiar Angelos. De repente lhe resultou impossível acreditar que não tivesse feito nada por arrumar seu casamento. E tudo por seu maldito orgulho.
O que devia fazer? E aquilo era tudo o que desejava, era ser a melhor esposa para ele, mas em vez disso lhe tinha dado as costas, com a ingênua pretensão de fazer-lhe compreender que queria ser algo mais do que uma amante para ele. No entanto, a maneira como se tinha comportado justo antes de que ele se marchasse, só tinha servido para demonstrar-lhe que não era mais do que o que ele queria do que fosse, exatamente o que o ele queria.
Se estremeceu. Angelos só se tinha casado com ela pelo sexo, por que se não lhe oferecia outra coisa que seu tempo livre ? Por que então a tinha deixado para ir-se a uma discoteca para celebrar o aniversário de seu sobrinho?
Depois de soluçar durante um bom momento, dirigiu-se ao banho a lavar seu maltratado rosto com água fria. Seu reflexo no espelho a assustou e voltou à cama para refugiar-se sob os lençóis.
Aquela noite tinha feito muitas coisas ruins , mas sua decisão era acertada. A única coisa que lhe fazia falta era energia , muita energia para combater com Angelos. Era estranho , mas cada vez que pensava que tinha conseguido furar sua insultante posição, era ele quem conseguia que ela se sentisse mais e mais débil.
Ao sentir o calor de seu poderoso corpo masculino, acordou-se.
- Não queria acordar-te - murmurou Angelos.
Maxie se deu a volta para ver-lhe a cara. Contra o pálido resplendor dos lençóis, Angelos não era mais do que uma enigmática sombra.
- Que fazes aqui?
- O que tu achas ? - disse Angelos com evidente bom humor e rodou para Maxie, abraçando suas costas com força. - Supõe-se que a antecipação é o mais excitante do sexo , mas não penso ficar-me com as vontades, agape mou - disse Angelos com voz grave. – Ainda mais com a maldita semana tive... sete dias perguntando-me se me tinhas me deixado e te tinhas ido com outro.
Maxie se comoveu, porque não se lhe tinha passado pela cabeça que Angelos pudesse interpretar sua partida nesse sentido.
- E pensar - prosseguiu Angelos - que estavas por aí... perdida.
- Como que «perdida»?
- O mundo está cheio de homens como eu. - Se eu visse uma beleza como tu andando só por aí, não sei o que faria para estar a seu lado.
Maxie não sabia o que pensar daquele comentário.
- Se alguma vez descobrir que me enganas, irei me embora...
- Te irás? Aonde? - disse Angelos comprazido pelos ciúmes de Maxie e acariciando sua cintura.
Maxie estremeceu e seu corpo respondeu cheio de vida, à excitação de seu marido. No entanto, não deixou de falar, a infidelidade era um assunto que não se podia deixar de lado.
- Quem disse que quando a amante se converte em esposa se cria um esvaziamento que há que voltar a encher?
- Alguém que não teve a sorte de conhecer-te - lhe respondeu Angelos com satisfação. - Tu não és como as outras mulheres.
Maxie se ruborizou.
- Tu passaste bem esta noite?
- O que tu achas? - disse Angelos beijando-a no lóbulo da orelha e estreitando-se contra ela, de modo que Maxie se deu conta de que estava muito excitado. – Estou assim por toda a noite, não pude deixar de pensar em ti...
Maxie o beijou, para calá-lo. A estava envergonhando. Mas o beijo só conseguiu aumentar o desejo de ambos. Ao cabo de alguns instantes, teve que se separar dele, precisava de ar.
A Angelos, não cabia dúvida, pensava demasiado no sexo, mas ela o adorava igualmente. Sentia-se como um objeto sexual, mas talvez isso fosse uma boa base para construir um casamento sólido, quem podia sabê-lo?
Angelos então voltou a beijá-la e qualquer vislumbre de pensamento racional se dissipou...
Maxie se deslizou fora da cama e se acercou de ponta de pé até a cadeira onde estava dobrada a roupa de Angelos. Propunha- se tirar-lhe a lista antes de que a encontrasse. O último que lhe fazia falta a sua agitada relação era que Angelos encontrasse aquela pulsante relação de defeitos. Afinal de contas, a lista era muito exaustiva, demasiado talvez, e suscetível.
Mas se levou uma grande surpresa. A jaqueta que estava na cadeira não era sua jaqueta de etiqueta. Antes de voltar a seu lado, Angelos devia ter-se passado em casa para mudado de roupa...
- Maxie... que fazes?
Maxie se sobressaltou, tropeçando com a cadeira.
- Nada.
- Que hora são?
- Oito horas.
- Volta para cama, agape mou.
Maxie o fez num instante, aliviada ao dar-se conta de que ele não tivesse descoberto o que estava fazendo.
Uma hora e meia depois estava no refeitório, ante o extraordinário café da manhã servido por Nikos, um dos empregados de Angelos. Este tinha trazido a seus próprios criados para remediar o esvaziamento que sofriam os armários da cozinha. Não cabia dúvida de que era um homem muito eficaz, pensava Maxie vendo- o ler os jornais da manhã.
Também era um amante fantástico , pensou. Tão terno e tão... selvagem. Tinha dormido só duas horas e devia de estar portanto exausto, mas ali estava, tão calmo, emanando, como sempre, um aura de energia positiva. «Nunca conseguirei estar a sua altura", pensou, com temor.
"Preciso recuperar essa lista para reprogramar-me e deixar de ser tão dependente dele».
De repente , Angelos disse algo entre dentes , em grego , e se levantou. Ágil, forte, como um urso. Correu para o telefone e discou um número.
- Quem autorizou esse artigo sobre Maxie Kendall ? - perguntou ao cabo de uns segundos. - Quero uma nota de desculpas amanhã mesmo e depois não quero que volte a aparecer nem uma palavra sobre ela. Diga a essa imbecil que procure a outra com quem meter-se.
Instantes depois pendurou. Maxie estava boquiaberta, sem saber o que dizer, só Nikos, evidentemente ao tanto da agitada vida de Angelos, parecia calmo. E sabia qual era seu papel, pois, depois de servir outra xícara de café, retirou-se discretamente.
Angelos arrojou o jornal sobre a mesa.
- Isto é o que passa quando te passeias por Paris por tua conta, disse. - Nem te deste conta de que te estavam tirando fotos, não é verdade?
- Não - disse Maxie, ainda impressionada pela demonstração de proteção masculina. - Crês que o jornal vai fazer o que pediu?
- Esse jornal é meu - replicou Angelos. - Olha o que escreveu essa estúpida colunista!
Maxie inclinou a cabeça obedientemente e se fixou nas linhas de texto que tinha junto à foto, mas as letras apareciam imprecisas diante sua vista. Nem sequer podia concentrar-se no que estava olhando com Angelos ali, em cima dela.
O silêncio era ensurdecedor. Angelos assinalou o pé de foto.
- Me refiro a isso - disse.
Maxie ficou branca, com um nó no estômago.
- Não sei que tem aqui – lhe disse, - sou muito míope e não tenho os óculos aqui.
O silêncio durou uma eternidade. Maxie não se atrevia a levantar a vista para comprovar se tinha conseguido enganar a Angelos com aquela desesperada mentira.
- Dá igual, não deverias ler um lixo como essa.
Maxie sentiu arrepios. Como poderia dizer-se? Como podia dizer-lhe a Angelos que padecia de dislexia? Como se o tomaria um homem como ele? Talvez, como muitas pessoas, nem sequer chegasse a crer que tal incapacidade existisse. Poderia pensar que tal nome não era mais do que um eufemismo que mascarava uma simples falta de inteligência. Maxie se tinha encontrado ao longo de sua vida com muitas pessoas com uma idéia parecida , e cada vez que tinha tentado explicar-se, só tinha conseguido mais e mais desprezo.
- Maxie... – disse Angelos, aclarando-se a garganta. - Não creio que a tua vista lhe passe nada e me parece fatal que, a esta altura de nossa relação, finjas que sim.
Maxie sentiu uma grande humilhação. Aquele era seu pior pesadelo, Angelos tinha descoberto seu segredo. Não lhe teria importado que outra pessoa descobrisse suas desculpas, mas Angelos... Que terrível seria que ele examinasse suas aptidões para ler e escrever. Não podia mover-se, não podia olhá-lo.
- Maxie, não quero te molestar mas não penso esquecer o assunto – disse Angelos , sentando- se frente a Maxie , e agarrando sua cadeira pelo respaldo, de maneira que ela ficasse presa entre seus braços. . És muito inteligente assim que tem que ter uma boa razão para que não possas ler dez linhas de jornal. E me lembro muito bem do caderno que usavas quando eras garçonete... parecia mais taquigrafia em vez de palavras.
- Sou disléxica, tudo bem? - espetou Maxie, sem poder suportar a tensão por mais tempo.
- Tudo bem. Queres mais café? respondeu Angelos, sem denotar nenhuma emoção.
- Não, obrigada... Creio que querias falar disso.
- Agora não, se tanto te molesta - replicou Angelos.
- Não estou molesta! - Mas não me agrada que metam o nariz em algo que só a mim me afeta, está claro?
Angelos sustentou sua mirada.
- A dislexia está mais estendida do que crês. Demetrios, meu sobrinho, também a padece, mas estuda em Oxford. Seus irmãos pequenos também a tinham. - Não te ajudaram no colégio?
Maxie relaxou, cruzou os braços e negou com a cabeça.
- Estive numa dúzia de colégios...
- Numa dúzia? - perguntou Angelos com assombro.
- Meu pai e eu nunca passávamos muito tempo no mesmo lugar, ele sempre estava devendo dinheiro a alguém, se não era ao caseiro, era à casa de apostas, ou ao supermercado...
- E tudo voltava a começar outra vez, não?
- Sim - disse Maxie franzindo os lábios. – Até os dez anos não encontrei a nenhum professor que pensasse que minhas dificuldades se deviam a algo mais do que à estupidez. Estava disposto a dar-me classes especiais, mas nos mudamos antes de começar, - disse Maxie, abaixando a cabeça. - E chegamos a um colégio no que me puseram na classe dos mais atrasados.
Angelos estava perplexo.
- Quando deixaste de ir ao colégio?
- Aos dezesseis, o mais depressa do que pude - admitiu Maxie, com amargura. - Como disse uma vez minha madrinha, não se pode ser bonita e inteligente ao mesmo tempo.
- Isso é uma tolice.
- Minha madrinha só queria ser amável, mas pensava que eu era muito tonta porque lia muito devagar... – disse Maxie, e a ponto de jogar-se a chorar, saiu correndo para o dormitório.
Angelos chegou depois dela e se sentou a seu lado.
- E não tentes dizer-me que segues me vendo igual que antes! lhe espetou.
- Tens razão, não te vejo igual. Vejo-te mais valente, por tudo o que tiveste que suportar – disse Angelos com suavidade. - E se eu tivesse sabido isto quando vi a Leland, lhe teria feito em pedaços... porque não pudeste ler as condições daquele maldito empréstimo, não é verdade?
- Algo... pude ler... mas demoro muito. Não quis que se burlasse de mim, assim que assinei.
- Demetrios teve muita sorte, detectaram seu problema quando era menino e lhe prestaram toda a ajuda possível, mas a ti te deixaram sofrer sem ocupar-se de ti. Não deverias te envergonhar.
Apertou-se contra suas costas e lhe afastou o cabelo de sua úmida bochecha, com delicadeza, como se estivesse consolando a uma menina ofendida e sensível. Apesar da rejeição inicial de Maxie, ele voltou a insistir, e fez uma vez mais quando Maxie, por orgulho, negava-se a aceitar aquele gesto de consolo. Para ela, no entanto, nada podia ser mais reconfortante que a calidez de seus poderosos braços.
Por fim se tranqüilizou.
- Que dizia o jornal? - perguntou.
- Que os rumores de uma possível relação entre tu e eu eram uma tolice, mas que dava a impressão, pelo que tu gastavas, de que tinhas atraído a outro «amigo rico», sugerindo que era outro homem casado.
- Pois não se equivocava, não ? - disse Maxie com uma risada involuntária.
- A mim não me faz tanta graça.
Naquele instante, Maxie teve a coragem de perguntar - algo que estava intrigando-a toda a noite.
- Por que já não estás enfadado comigo porque me tenha casado contigo pelo testamento de minha madrinha?
- Em teu lugar, eu teria feito o mesmo. - Eu também teria combatido o fogo com o fogo - admitiu Angelos. - No entanto, te direi que, com o tempo, essa estratégia se converte num costume muito destrutivo...
- Tratarei de não protestar de cada coisa que faças - prometeu Maxie.
- E eu tratarei de não te dar motivos - jurou Angelos. - Agora nos iremos à ilha para desfrutar de um pouco de intimidade.
- És uma cozinheira fabulosa - comentou Angelos, enquanto ela fechava a cesta da comida, já vazia.
Maxie tentou aparentar modéstia, mas não o conseguiu. Angelos não deixava de surpreendê-la com sua amabilidade; ainda que estava acostumado a viver rodeado de criados, e a comer nos restaurantes mais luxuosos do mundo, quase diria que tinha ficado muito comovido ao ver que ela era capaz de cozinhar.
- Com tuas habilidades, farias feliz a qualquer homem - lhe disse Angelos galantemente.
Maxie o ficou olhando, comprazida e orgulhosa, sem acabar de crer-se que estivessem juntos. Angelos alongou a mão para acariciar - lhe o cabelo.
- Quero perguntar-te uma coisa: chegaste a confiar num homem alguma vez?
- Não! - respondeu Maxie incômoda.
- Me sinto como se estivesse me pondo a prova. - Ainda que estamos casados, ainda não te puseste o anel... é como se não quisesses que ninguém soubesse que és minha esposa.
- Eu entendi que eras tu que não querias que se fizesse público - pontualizou Maxie.
- Não sabes como me arrependo. - As vezes penso que tu estás se vingando de mim por não ter feito as coisas bem desde um princípio - se lamentou Angelo doído. - Sei que te fiz dano, e sinto, mas creio que já é hora de que avancemos em outra direção.
- Ainda não estou preparada para isso - declarou Maxie com a mirada perdida.
- Muito obrigado pelo voto de confiança - enfadado, Angelos se pôs em pé e se marchou da praia.
Maxie teve que fazer um grande esforço para controlar seu medo e a vontade que tinha de ir por trás dele. Era sua primeira briga desde que saíram de Londres. Tinha-se passado todo aquele tempo torturando-se , temendo não ser capaz de retê-lo. Ela não podia suportar a idéia de que ele a apresentasse como sua mulher e que, depois, perdesse o interesse por ela e a abandonasse.
No entanto, tinha que reconhecer que até aquele momento Angelos não tinha dado a menor mostra de aborrecer- se com ela. Na realidade, quando estava a seu lado sentia que por fim alguém a considerava algo mais do que uma cara ou um corpo bonitos.
No dia anterior Angelos se tinha tido que ir a Atenas para resolver algumas questões de negócios; durante sua ausência, Maxie recebeu três extraordinários ramos de lírios, sua flor preferida, cada um com o cartão correspondente, escrita de seu punho e letra: Quero-te, dizia o primeiro; Quero-te ainda mais do que antes, dizia o segundo; Não posso querer-te de menos, declarava por fim no terceiro. Não estava mal para um homem tão pouco romântico...
Para dizer a verdade durante os dez dias que estavam na Grécia, Angelos não tinha feito senão demonstrar-lhe o equivocada que estava nos qualificativos que lhe tinha colocado e que figuravam naquela famosa lista. Estava quase segura de que, por sorte, devia ter-se perdido; desde depois, Angelos não a tinha visto, pois não tinha feito o menor comentário a respeito. Tinha-lhe presenteado um computador portátil com um programa especial para ajudá-la a soletrar primeiro e escrever depois corretamente. Ademais, todos os dias lia os jornais com ela. Era tão carinhoso e paciente que Maxie sentia que sua confiança em si mesma aumentava dia a dia. De fato, seus progressos tinham sido espetaculares. Como tinha sido capaz de pensar que era um homem egoísta e desconsiderado? Era o homem mais generoso que tinha conhecido, e suspeitava que o que desejava a mudança de suas desvelos era pura e simplesmente que ela chegasse a confiar nele. Como podia ser tão covarde e egoísta?, reprovou a si mesma.
Maxie lhe encontrou na sacada.
- Confio em ti - confessou ao fim, com os olhos reluzentes.
Nada mais ouvi-lo, Angelos lançou uma exclamação de júbilo e se acercou a ela em duas passadas para estreitá-la entre seus braços.
- Christos ! Não me olhes assim, agape mou... e perdoa tudo o que te disse antes, não sou mais do que um maldito impaciente.
- Me agradas tal e como és.
- Há que ver o mentirosas que pode chegar a ser as mulheres! - replicou Angelos ironicamente.
- Não é mentira...
- Pode ser que cedo consiga que não o seja - a interrompeu, e abaixando-se selou aquela promessa com um beijo.
Maxie sentiu que a terra tremia sob seus pés. Aquele era o único aspecto no que, sem dúvida, Angelos não usava a voz. Ele o sabia e se aproveitava disso... e ela o aceitava de bom grau, porque era a única forma de alimentar a paixão devoradora que crescia em seu interior. Também aquelas eram as únicas ocasiões nas que lhe podia mostrar o carinho que sentia por ele, sem temor a revelar o muito que o amava. Estava agarrada, definitivamente unida para sempre àquele homem; e assim, quanto ele a abraçou, abriu as comportas à emoção tanto tempo retida. E ele não lhe deu o menor motivo para sentir-se decepcionada, pois respondeu em igual ou maior medida do que ela.
Sem deixar de beijá-la, Angelos lhe desabotoou a parte de cima do biquíni, e começou a acariciar-lhe os mamilos, primeiro com as mãos, com os lábios depois. Maxie estava tão excitada que quase não podia respirar. Retirando-se um pouco, ele lhe tirou a calcinha do biquíni, contemplando extasiado seu corpo nu.
- Me encanta excitar-te - murmurou roucamente. Pouco a pouco a obrigou a deitar, sem deixar de acariciá-la, lenta, apaixonadamente. Quando se deu conta de que Maxie não poderia resistir bem mais, levantou-a em braços para levá-la ao dormitório.
Uma vez ali, não demorou nem um segundo em despojar-se dos calções.
- Angelos... ! - lhe urgiu Maxie em voz muito baixa. Atendendo a seu pedido, ele a possuiu intensa, vorazmente, assombrando-a como sempre com a força daquele desejo que parecia dominá-lo por completo. Quando por fim atingiram o êxtase sentiu que lhe tinha dado até a última gota de seu ser.
- Tens estado apaixonada alguma vez ? - lhe perguntou Angelos quando tudo estava terminado.
Maxie ficou muito surpresa de que ele tirasse precisamente naquele momento semelhante conversa.
- Sim - admitiu ao fim.
- E daí passou?
- Er... pois que ele não me queria - respondeu incômoda. - E tu?
- Uma vez...
- E? - Maxie estava mais do que intrigada.
- Caí nas redes de uma feminista militante que esperava demais dos homens. Pensava que eu era bom na cama, mas nada mais.
- Que tonta ela ! - exclamou Maxie impulsivamente. Não podia suportar a idéia de que ele se tivesse apaixonado de outra antes de conhecê-la, e muito menos do que a mulher que tinha escolhido não lhe merecesse em absoluto.
- Não era nada tonta - replicou Angelos.
- Eu não sou ciumenta - mentiu Maxie, e recuperando por um instante os ares de Rainha de Gelo que tinha abandonado naqueles dias, levantou-se de um salto da cama. - Creio que irei dar-me um chuveiro.
No vôo que lhes levou de regresso a Londres, Maxie não deixava de olhar a nova aliança de platina que reluzia em seu dedo. Angelos lhe tinha presenteado também com um anel com uma safira rodeada de diamantes.
- É uma anel de compromisso? - tinha perguntado assombrada.
- É um presente – tinha sido a resposta de Angelos.
Ainda que resultava mais evidente para quem visse aquele dedo que estava casada e bem casada, Maxie sentia falta que tivesse feito alguma alusão a ter filhos ou algo pelo estilo...Então lhe ocorreu que talvez não quisesse tê-los com ela ao recordar que tinha tomado as precauções necessárias para evitá-lo.
Se separaram ao chegar ao aeroporto. Angelos se dirigiu ao Edifício Petronides enquanto ela se marchou direto ao apartamento. Mal teve chegado e foi direito a seu armário para tentar encontrar a lista em algum dos smooks ali guardados, mas não o conseguiu.
Angelos a chamou à hora do jantar.
- Surgiu um imprevisto, assim chegarei muito tarde esta noite.
- Não te preocupes - lhe tranqüilizou Maxie. - Já encontrarei algo com o que entreter-me.
- Com que? - lhe perguntou Angelos de imediato.
- Não sei, já me ocorrerá algo - replicou joguetonamente.
- Espero que não faças nada de que depois possas envergonhar-te... - lhe advertiu Angelos meio em sério meio em brincadeira.
- Pensa o ladrão que todos são de sua condição - continuou zombadora.
Maxie lhe sentiu a falta bem mais do que queria, e se sentiu muito decepcionada quando se acordou à manhã seguinte e descobriu que ele não tinha regressado ainda.
Quando se sentou para tomar café da manhã, encontrou em cima da mesa um precioso ramo de lírios. “Quero-te hoje mais do que ontem”, dizia o cartão. Justo então soou seu telefone móvel.
- Obrigada pelas flores - contestou, pois sabia que só Angelos tinha aquele número. - Onde estás?
- No escritório. - Ontem à noite tive que fazer uma viagem imprevista. Quando regressei era demasiado tarde... ou temporão, e não quis acordar-te.
- A próxima vez, não deixes de chamar-me - lhe pediu Maxie.
- Que estás usando , agape mou?
- Uma camisola curta de seda rosa - sussurrou. Estou desejando que me tires dela.
- Como queres que me concentre se me dizes essas coisas? - protestou Angelos.
- Quero que sintas a minha falta.
- Te sinto muita falta, vale?
- Vale, mas, quando vais vir? - perguntou mimosa.
- Não se te ocorrer ir a nenhuma parte. Passarei a procurar-te às onze. Tenho-te preparada uma surpresa - anunciou.
Maxie se entreteve folheando o jornal. Quando chegou às páginas de fofocas, imediatamente viu aquela foto de Angelos. Ao princípio só se lhe ocorreu que era muito fotogênico, quase nem se fixou na mulher que aparecia a seu lado...
Pareceu como se o mundo se lhe viesse em cima quando se deu conta de que se tratava daquela atriz francesa, Natalie Cibaud.
Ainda que segundo os últimos rumores o milionário grego Angelos Petronides, nosso rompe corações favorito, estava saindo com a bela Maxie Kendall, foi visto jantando na noite passada com a menos deslumbrante atriz francesa Natalie Cibaud. Se terá cansado já da famosa modelo ? Ou estaremos assistindo ao nascimento de uma amizade a três?
A noite passada? Com Natalie Cibaud? Maxie mal podia dar crédito ao que estava lendo... Agoniada repassou o artigo palavra por palavra; ao ver a foto que o ilustrava, pôs-se tão enferma que teve que ir ao banheiro para vomitar o café da manhã
Quando voltou ao refeitório, releu o cartão que acompanhava às flores: Quero-te hoje mais do que ontem... Evidentemente, não se podia confiar em Angelos nem cinco minutos.
Sem pensar duas vezes, chamou a Nikos para que a esperasse com o carro, disposta a não lhe dar aquele miserável a oportunidade de inventar-se alguma desculpa patética.
Enquanto descia, soou seu telefone móvel, mas não lhe fez o menor caso; quando já estava na limusine, o apagou quanto voltou a soar, e se negou a contestar quando o motorista lhe anunciou que tinha um telefonema para ela no telefone do carro. Pelo visto, Angelos se estava pondo nervoso. Ele já teria lido aquela manchete e estaria temendo sua reação. Por que lhe tinha feito algo tão horrível?
Até então não se tinha percebido do importante que Angelos era para ela. Tinha confiado nele cegamente, e não entendia por que lhe tinha traído daquele modo quando estavam a ponto de fazer público seu casamento.
Maxie irrompeu furiosa no Edifico Petronides fazendo que todas as cabeças se voltassem a seu passo.
Angelos devia ranger os dentes ao pensar que todos seus esforços por manter sua vida privada à margem da imprensa tinham sido em vão. Por um segundo a Maxie lhe passou pela cabeça que talvez ele mesmo tinha provocado aquela situação , que ao encontrar-se de novo com Natalie tinha descoberto que era ela a mulher de sua vida...
Sem fazer menor caso à apressada recepcionista, atravessou como uma bala o corredor que conduzia para o escritório de Angelos, e entrou sem chamar sequer, fechando a porta de um golpe.
De pé, no centro do escritório , ele a olhou com uma expressão de desalento.
- Vim para dizer-te um par de coisas antes de sair de tua vida para sempre.
- Maxie... - Angelos deu um passo para diante.
- Não me interrompas quando estiver falando ! - E nem te ocorra voltar a pronunciar meu nome! Nem imaginas como me senti ao ver-te nessa maldita foto com Natalie Cibaud!
- Sim, eu imagino, mas tens que saber que nos fotografaram faz três meses - replicou Angelos.
- Não acredito!
- Podes chamar o meu advogado se queres. - Acabo de falar com ele para ordenar-lhe que demande a esse jornal.
A Maxie começaram a tremer-lhe as pernas de tal modo que teve que se apoiar na porta.
- Me estás dizendo que não passaste a noite com Natalie Cibaud? - perguntou.
- Maxie, asseguro-te que não voltei a vê-la desde o dia que te puseste enferma... Não acabamos precisamente como bons amigos, na verdade...
- Mas eu supunha que a tinhas estado vendo depois... - Maxie já estava tremendo dos pés a cabeça.
- Pois te equivocaste. Nem sequer voltei a falar com ela; de fato, creio que nem sequer está no país. Maxie, deverias saber melhor do que ninguém do que, desde que estou contigo, não voltei a olhar a nenhuma outra mulher - lhe disse Angelos abraçando-a. - Não há nenhuma que se te possa comparar. Quase me voltei louco quando me dei conta de que ias ver essa foto; teria feito o que fosse para evitar-te o desgosto, agape mou. - Maxie o ficou olhando extasiada. - Há tantas coisas que quero dizer-te... - continuou Angelos- mas há alguém que está desejando ver-te, e não desejo fazer-lhe esperar mais: Maxie, está aqui o teu pai...
- Meu... meu pai? - gaguejou incrédula. - Aqui?
- Contratei a uns detetives para que o procurassem, e faz pouco me avisaram de que lhe tinham encontrado - lhe explicou. – Se me ocorreu levar lhe ontem a casa para fazer-te uma surpresa. Carinhosamente, fez que se sentasse num cadeirão para que fosse assimilando aquela inesperada notícia.
- Angelos diga-me uma coisa antes de continuar - lhe perguntou ansiosamente, ele te pediu dinheiro?
- Não, nada disso. Está realmente arrependido, Maxie. Encontrou um trabalho e está tentando refazer sua vida, ainda que ele mesmo me confessou que ainda tem que fazer muito esforço para resistir a tentação de voltar a sua antiga vida.
Se lhe encheram os olhos de lágrimas ao ver que seu pai aparecia na porta enquanto Angelos se retirava discretamente. Parecia mais velho do que recordava, e tinha perdido um pouco de peso.
- Não sabia como ias receber-me depois do que fiz - lhe disse, visivelmente incômodo. - Isto é muito duro para mim... quando eras pequena te decepcionei muitas vezes, mas o pior de tudo foi o que te fiz faz três anos, quando consenti que pagasses por meus erros...
Comovida, Maxie lhe estreitou entre seus braços.
- Mas tu me querias, disso sempre tenho estado segura - lhe confortou.
- Não podia suportar ver-te ao lado de Leland Coulter e saber que estavas com ele por minha causa, que tinha caído então sob que te tinha arrastado comigo ao fundo do poço. Decidi que o melhor seria afastar-me de ti, de tudo...
- Angelos me disse que conseguiste um trabalho - disse Maxie animando-lhe a seguir.
Seu pai lhe contou que lhe tinham contratado como representante numa empresa de confecção. Estava a um ano e meio sem jogar e todas as semanas ia a sessões de terapia de grupo com outros ex-jogadores.
Maxie lhe contou da casinha de campo que por fim tinham herdado. Seu pai pareceu surpreso, e, um pouco nervoso, contou-lhe que tinha conhecido a uma mulher com a que estava pensando casar-se. Disse-lhe que lhe agradaria vender aquela casa e utilizar o dinheiro para contribuir na compra de outra.
Maxie pensou que tinha feito falta que decorresse mais da metade de sua vida para que seu pai começasse a desejar as mesmas coisas do que a maioria das pessoas: segurança, amor próprio, ser amado e respeitado... Quase exatamente o mesmo que queria para ela mesma. Russ precisava que ela lhe perdoasse para começar de novo, e ela tinha que enterrar de algum modo as tristes recordações do passado para enfrentar-se ao futuro.
- Angelos é um grande homem - comentou seu pai antes de marchar-se, - mas creio que me agradaria que se enfadasse comigo...
Quando Angelos voltou ao escritório, ela quase nem se atreveu a olhá-lo, ainda que seu coração transbordava de gratidão por ele por ter-lhe devolvido a seu pai.
- Que manhã tão agitada... - disse embaraçada. – Obrigada por ter encontrado o meu pai... tiraste-me um grande peso de cima... mas, diga-me uma coisa, lhe terias feito vir se ele não se tivesse reformado?
- Não - lhe confessou Angelos com total sinceridade. - Primeiro teria tentado ajudá-lo. - E também não creio que ele tivesse tido o valor suficiente para ver-te - lhe pôs uma mão nas costas e a levou para a porta. - Vamos, tenho um helicóptero esperando.
- Mas aonde demônios vamos agora?
- Surpresa!
- Eu pensei que a surpresa era meu pai...
- Era só uma parte.
Subiram pelas escadas até o terraço do edifício.
Ao ver que efetivamente um helicóptero lhes estavam esperando, Maxie lhe lançou uma mirada carregada de reprovação.
No entanto, o vôo não resultou tão terrível como temia pois Angelos segurou a sua mão o tempo todo. Inclusive foi capaz de olhar pela janela um par de vezes.
- Te portaste como uma campeã - a felicitou quanto aterrizaram.
Mas Maxie contemplava admirada a imensa mansão que se levantava diante deles. Viu outros três helicópteros nos campos próximos e um montão de luxuosos carros estacionados.
- Onde estamos? - perguntou assombrada.
- Já te disse uma vez que tinha uma casa no campo - respondeu Angelos com um sorriso - Bem-vinda a tua festa de casamentos, senhora Petronides...
- Como dizes?
- Todos meus parentes e meus amigos estão esperando-nos para conhecer-te - confessou Angelos. - Pensei então que seria melhor convidar-lhes a almoçar , porque assim se terão marchado para a hora do jantar...
- Vieram todos?
- Estou preparando esta festa já faz tempo, e se não a celebrei antes é porque queria ter-te um tempo só para mim. Pedi-lhe a teu pai que viesse, mas ao final decidiu que seria melhor do que não assistisse...
- Por isso te marchaste ontem tão intempestivamente, para ir falar com ele?
- Efetivamente. – Fui a Manchester para procurá-lo e depois passei aqui a noite para supervisionar os preparativos - lhe explicou distraidamente. Não parava de olhar para o céu com uma expressão ansiosa.
- Que passa, Angelos?
Desenhou-se um sorriso em seu rosto quando por fim se ouviu ao longe o motor de uma avião. Abraçando-a, obrigou-a a que olhasse ela também. Quase se lhe saíram os olhos das órbitas quando viu que começavam a desenhar-se no céu umas letras de cor rosa.
- Isso é um T - soletrou Angelos, - depois uma E, depois uma A, e um M...
- Posso ler perfeitamente umas letras tão grandes! - protestou Maxie, olhando aquela mensagem de amor escrito entre as nuvens.
- Queria demonstrar-te que estou orgulhoso do que sinto por ti, Maxie, e esta é a melhor forma que se me ocorreu para fazê-lo.
Nem em seus mais loucos sonhos lhe tivesse acreditado capaz Maxie de fazer uma coisa tão insólita como aquela.
- Para valer me queres? - perguntou emocionada.
- Claro que sim! - Passei as últimas semanas fazendo o impossível para demonstrar-te.
- E por que não me disseste até agora ? - insistiu com olhos brilhantes.
- Não estavas preparada para ouví-lo. - Recordo-te que tinhas muito má opinião de mim. - Fiquei horrorizado ao ler o que tinhas escrito em tua famosa lista - disse Angelos com uma cômica careta.
- Encontraste minha lista? - Maxie estava pasmada.
- Como foste capaz de escrever semelhantes coisas de mim?
- E como é que sabias que me referia a ti ? - Não tinha nenhum nome que eu recorde - Maxie ficou calada uns instantes, sem saber muito bem que dizer-lhe. - Oh, Angelos! - murmurou ao fim. – Teve que te sentir fatal...
- Bem, na verdade é que me foi de muita ajuda para saber o que devia corrigir. Queria convencer-te de que não era o homem que tu pensava que era.
- A verdade é que melhoraste muito...
Angelos a estreitou com mais força, beijando-a apaixonadamente. Maxie lhe respondeu na mesma medida, e quando por fim se separaram, recostou a cabeça em seu ombro.
- Querido! - Que tonta fui ao crer que tudo o que pretendias de mim era passar um bom momento na cama...
Abraçados se reuniram a multidão de convidados que lhes estavam esperando. Maxie ia com a cabeça muito alta; sentia-se tão feliz que prometeu a si mesma que jamais lhe confessaria que o número do avião lhe tinha parecido a coisa mais cafona que tinha visto em sua vida... sobretudo tendo em conta o satisfeito que se sentia de si mesmo porque que lhe tivesse ocorrido semelhante idéia.
- Eu também te amo - lhe murmurou ao ouvido. - Não deveria te dizer, mas não tem nada que ver com o bondoso que te voltaste... Já estava louca por ti antes inclusive de escrever essa odiosa lista.
- Como te atreves a dizer-me isto diante de toda esta gente? - lhe xingou Angelos zombadoramente. No entanto, sorria-lhe ao mesmo tempo com uma imensa ternura. - Atenção todos, quero lhes apresentar a minha esposa - anunciou, com tal orgulho e prazer que Maxie se sentiu a ponto de estourar de alegria.
Sua felicidade não se viu embaraçada sequer quando viu entre a multidão que se acercava a felicitá-los a inconfundível cabeça de Leland Coulter.
- Eu lamento - murmurou envergonhado o ancião quando chegou a sua altura.
- Por suposto que o lamenta - adicionou em voz alta Jennifer. - Agora todo mundo sabe o que fez. Eu me encarreguei de que assim seja.
- Me dá um pouco de pena - lhe confessou Maxie a Angelos quando perdeu de vista o infeliz casal.
- Nem se te ocorra dizer isso! - replicou seu marido, implacável. Por sua culpa perdemos três anos preciosos.
- Me parece que então era demasiado jovem e imatura...
- Eu te tivesse ensinado rapidamente - grunhiu Angelos.
Com imensa alegria, Maxie distinguiu entre os convidados a sua boa amiga Liz, acompanhada de Bounce.
- Vieste! - exclamou.
- Angelos me chamou ontem à noite. - Trouxeram-nos em uma limusine, que te parece? Bounce estava do mais impressionado –caçoou. - Bem, não te tinha dito que este homem estava apaixonado de ti? ...E nem, espero que não esteja escutando...
- Me parece que és bem mais intuitiva do que Maxie - interveio Angelos. - Tive que alugar uma avião para que escrevesse no céu Te amo só para convencê-la.
- Vá! - Que barbaridade! E daí como se sente? - lhe perguntou Liz a Maxie.
- Bem... bom, foi algo... incrível, inesperado também... - improvisou Maxie.
- E cafona talvez? - adicionou Angelos.
- Nada disso. - Nunca te quis mais do que nesse momento - respondeu com absoluta sinceridade, pois com aquele gesto Angelos lhe tinha demonstrado que, por ela, podia abandonar seu orgulho.
À hora de comer se serviu um extraordinário buffet no salão de baile. Maxie se sentia como numa nuvem enquanto Angelos a levava de um extremo a outro da estadia apresentando-lhe ao que parecia ser um número interminável de parentes cujos nomes muito cedo começaram a dar-lhe voltas na cabeça.
Depois tiveram que iniciar o baile; Maxie se arrumou para não ter que dançar com ninguém que não fosse seu marido.
- Espero que se comecem a ir cedo... - lhe sussurrou esperançosa ao ouvido. Estava desejando ficar-se a sós com ele.
Nada mais marchar-se o último dos convidados, Angelos a conduziu ao andar de cima.
- Quando te diste conta de que me querias? - quis saber Maxie.
- Quando tiveste a varicela - foi sua surpreendente resposta, - mas não estava disposto a admiti-lo por nada desse mundo. Este é nosso dormitório - anunciou abrindo uma porta.
- Que bem soa isso! - Quase não posso crer-me que isto seja verdade.
- Não terás tido que esperar tanto para sabê-lo se tivesses sido mais paciente aquela manhã na praia - Angelos tomou seu surpreso rostinho entre as mãos. - Estive a ponto de dizer-te, mas tu...
- Te tirei do testamento. Agora penso que entregarei minha parte dessa herança a uma ONG. Tinha que ter-te dito de outras forma – admitiu, - mas não queria que soubesses o muito que te queria...
- Pequena tonta estás feita...
- Te recordo que disseste que sou o amor de tua vida - continuou Maxie enquanto lhe soltava a gravata- e que tu és o amor da minha.
Angelos a conduziu até a cama.
- Bem, recordo-te o que anotaste em tua lista: machista, egoísta, pouco romântico, insensível, dominante.
- Suponho que tenho direito a mudar de opinião, não? - lhe interrompeu calorosamente.
- Ainda que és preciosa - Angelos a olhava com olhos que pareciam de ouro líquido, - definitivamente o que mais me agrada de ti é esse engenhoso talento teu, agape mou.
- E pensar que cheguei a crer que eras um homem muito frio! - exclamou, assombrada ante sua própria cegueira.
– Diga-me, Quantos meninos vamos ter?
- Para valer queres ter um menino? - Angelos então lhe sorriu de orelha a orelha.
Maxie assentiu. Aquela idéia a emocionava muitíssimo.
- És formidável - murmurou Angelos roucamente, abaixando-se para beijá-la.
Dez meses mais tarde, Maxie deu a luz a uma menina que tinha os olhos tão azuis como os seus. Quando Angelos a viu, começou a adorá-la com todo seu coração.
Lynne Graham
O melhor da literatura para todos os gostos e idades