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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


TONS DE CINZA / Maya Banks
TONS DE CINZA / Maya Banks

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

TONS DE CINZA

 

PJ e Cole eram atiradores de elite rivais na mesma equipe da KGI e desfrutavam de uma camaradagem simples e espirituosa. Até a noite em que se entregaram a seus desejos e de repente a relação deles deu um passo adiante. Ainda sob os efeitos dessa noite, eles são chamados para uma missão que dá terrivelmente errada, e PJ se afasta da KGI, determinada a não arrastar seus companheiros de equipe para as sombras escuras nas quais ela está prestes a mergulhar.

Seis meses depois, Cole não desistiu de sua busca por PJ, e está determinado a trazê-la de volta para o lugar onde ela pertence. Empenhada em vingança, PJ está em uma missão que vai mergulhá-la em um jogo de vingança sagaz e fazê-la questionar tudo que ela já acreditou. Cole, e o resto de sua equipe se recusam a deixá-la ir sozinha. Mesmo que isso signifique sacrificar sua lealdade a KGI e suas próprias vidas...

 

PJ Rutherford inclinou a cadeira para trás e atirou a bota em cima da mesa em frente a ela. Ajeitou o chapéu de cowboy de palha, para que seus olhos ficassem pouco visíveis e olhou através da sala cheia de fumaça para a banda acomodada ao longo da parede.

A garçonete bateu uma garrafa de cerveja sobre a mesa, ao lado da bota de PJ e depois escorregou para longe, a atenção reservada para os clientes do sexo masculino com os quais ela flertava e conversava.

PJ não era de muita conversa. Nunca conversara com ninguém em todo o tempo em que viera aqui. Ela não poderia ser chamada de normal, mas ainda assim, com todas suas irregularidades, ela era.

Este era o seu lugar para relaxar entre as missões. Não era o que a maioria considerava um lugar de descanso e relaxamento, mas para PJ funcionava para beber umas cervejas, inalar um pouco de fumaça de segunda mão, ficar surda de ouvir músicas de bandas ruins e assistir a algumas brigas de bar.

Ela estremeceu quando o guitarrista tocou muito alto um acorde particularmente ruim e depois apertou os dentes quando o microfone guinchou. Esses caras eram amadores. Inferno, provavelmente era o primeiro show ao vivo, o que significava que ela voltaria para casa surda e tomando ibuprofeno para a dor de cabeça que certamente teria.

Mas era um castigo passar a noite sozinha em seu apartamento sentindo a diferença do fuso horário. Embora não tivesse certeza de que isso poderia ser considerado fuso horário. Estivera três dias sem dormir, então realmente poderia dormir a qualquer momento, mas estava ligada e ainda tonta pela adrenalina da última missão que participara.

Estava mais dolorida e tensa do que uma mola enferrujada e não havia nenhuma elasticidade em seus músculos esta noite.

O grande festival de tolices felizes que ocorrera no complexo Kelly, com casamentos duplos e amor verdadeiro, bebês e besteiras que eram suficientes para deixá-la verde em torno das brânquias, também não ajudaram.

Não que ela fosse cínica quando se tratava de romance. Ela lia seus livros de romances e era ferozmente protetora com eles contra qualquer um que a perturbasse por que gostava de lê-los.

Mas às vezes o clã Kelly era um pouco imperioso na doçura pura e açucarada de todo aquele apoio e amor incondicional. Será que ninguém nunca ficava irritado e começava uma briga?

A verdade era que ela simplesmente se sentia fora de lugar, por isso, preferia ficar com sua própria equipe, deixava Steele receber as ordens de Sam ou Garrett Kelly e seguia seu líder de equipe. O dia em que Steele se envolvesse em toda aquela merda feliz e borbulhante seria o dia em que ela penduraria o rifle e pediria para sair.

Ela gostava de Steele. Sabia onde estava com Steele. Sempre. Ele não adoçava a merda. Se você fodia as coisas, ele cobrava sua responsabilidade sobre isso. Se você fazia seu trabalho, não recebia nenhum elogio especial. Não por fazer seu maldito trabalho, como ele dizia.

E ela gostava de sua equipe, mesmo Coletrane sendo uma dor gigante em sua bunda. Mas ele era uma linda dor na bunda e era inofensivo. Além disso, era um alvo perfeito para provocar e direcionar suas piadas. Fácil. Muito fácil. Ele mordia a isca em tantas ocasiões que ela perdeu a conta.

Ela era a melhor atiradora. Ela sabia disso, sem falsa modéstia. Mas isso não impedia uma rivalidade saudável entre ela e Cole quando cumpriam seus deveres de atiradores.

Isso os incentivava, tornava-os melhores em seus trabalhos e tornava a relação entre eles descontraída e casual. Do jeito que ela gostava.

A música atual terminou, e ela suspirou de alívio. A banda estava em um curto intervalo, mas seus ouvidos ainda estavam rugindo dos sons ensurdecedores de momentos antes.

Estava alcançando sua cerveja quando viu um grupo de três homens passarem pela porta. Sua mão tremeu, quase derrubando a garrafa. Seu estômago despencou como uma pedra, e ela chegou a considerar fazer uma pausa para ir ao banheiro.

Mas rapidamente, a raiva substituiu o pânico súbito. Por que diabos estava pensando em se esconder? Não fizera nada de errado. Foram seu ex-amante e os amigos dele que a colocaram em perigo e a abandonaram. Não o contrário.

Forçou-se a afastar o olhar, fingiu interesse em um objeto através da sala e esperou que eles não a notassem. Pela visão periférica, viu o momento em que Derek olhou para ela e a reconheceu.

Ele ficou completamente imóvel e então cutucou Jimmy e Mike e apontou em sua direção.

Porra. Estavam caminhando em sua direção. Exatamente quando ela precisava de uma maldita noite em que só queria ser deixada em paz.

Ela ainda estava olhando para frente quando Derek entrou na frente dela, bloqueando sua visão. Ela lentamente olhou para cima, certificando-se de que sua expressão era fria e serena.

— Então é aqui que você está vindo agora, PJ? — Derek falou pausadamente. — Não imaginava que você era isca deste tipo de lugar.

O tom insultuoso ralou em seus nervos.

— Saia do meu espaço, Derek.

Ele levantou uma sobrancelha e torceu o canto da boca em um sorriso de escárnio.

— Isso não é o que você costumava dizer. É claro que foi antes de decidir desmoralizar sua equipe. Onde você está trabalhando atualmente, PJ? Certamente não está aqui. Você não tem o corpo para executar este show.

A velha PJ já estaria em cima dele e teria batido em sua bunda. A nova PJ...

Foda-se. Não havia nada de errado com a velha PJ.

Ela se levantou da cadeira, inclinou seu chapéu para trás e nivelou um olhar frio nos três. De volta ao dia em que eles eram unidos. Todos os quatro. Ela e Derek foram amantes durante dois anos. Eles se envolveram quase que imediatamente após PJ se juntar à equipe deles na SWAT e conseguiram manter sua relação em segredo, escondendo-se atrás da amizade. Amizade que realmente compartilhavam com Jimmy e Mike.

Derek sorriu, quase como se pensasse que ela viraria as costas e iria embora. Porque era nisso que ela era boa. Fugir.

Não desta vez.

Ela puxou a mão para trás e o esmurrou bem no nariz.

Sua mão voou quando a cabeça dele voltou e ele cambaleou vários passos para trás.

Seus dedos saíram sangrando e ele deu um passo à frente. Ela se manteve firme, recusando-se a ser intimidada pelo idiota.

— Que diabos foi isso? — Ele rugiu.

— Algo que eu deveria ter feito muito tempo atrás — ela disse com calma. — Ouça bem, seu pau fino como um lápis. Eu não tenho tempo para suas besteiras. Não dou a mínima para você ou seus companheiros esfarrapados, então faça um favor a nós dois e me deixe em paz.

— Uma vez puta sempre puta, hein PJ? — Mike disse com os lábios curvados.

— Pense o que quiser Mike, — ela disse em uma voz calma e comedida. — Eu fui embora com a consciência limpa. Você pode dizer o mesmo?

Ele ficou vermelho e a raiva o irritou visivelmente. Ele começou a ir em sua direção, mas Jimmy segurou seu braço.

— Que porra é essa, Mike? Você vai começar uma briga em um bar público com uma mulher?

— Fique à vontade, — PJ disse docemente. — Estou mais do que feliz em chutar sua bunda.

— O que aconteceu com você? — Derek exigiu. — Você não costumava ser tão fria.

— Perdoe-me por não rolar e receber a porrada na bunda que você me deu tão bem. Não era eu quem estava suja. Eram você e seus amigos. Você esperava que eu olhasse para o outro lado e quando não fiz isso, você me ferrou. Foda-se o que aconteceu e foda-se você. Agora caia fora do meu espaço.

Ela estava tão concentrada em seus antigos colegas de equipe que não percebeu o recém-chegado, até que um braço forte em volta de sua cintura puxou-a para o lado dele.

— Desculpe o atraso, querida, — Cole falou pausadamente. — Quem são os seus amiguinhos?

Ela endureceu em estado de choque, a boca aberta. Cole cobriu o lapso, pressionando os lábios nos dela e dando-lhe um longo e demorado beijo de enrolar os dedos dos pés.

Estava tão perturbada e perplexa com sua súbita aparição que pôde fazer pouco mais do que ficar lá enquanto ele arrebatava sua boca.

Que palavra tola. Leu essa palavra muitas vezes em seus velhos romances da escola, e quando era adolescente, ria com a ideia de ser arrebatada, mas puta merda, não havia outra palavra que viesse à mente enquanto ele provava completamente cada centímetro de sua boca.

Ele se afastou, diversão espumando em seus olhos azuis. Seu cabelo estava um pouco mais longo do que o seu corte normal e arrumado, por isso estava espetado em cima, ajudado, sem dúvida pelo que parecia ser gel de cabelo. Ela teria que perturbá-lo sobre isso mais tarde. Logo depois que descobrisse o que diabos ele estava fazendo aqui em seu bar, quando deveria estar do outro lado do país, no Tennessee.

Quando ele se afastou, ela deu uma olhada melhor para ele e quase riu alto. Ele ainda estava vestido com o uniforme, camisa preta e botas de combate. Parecia que veio direto da última missão, e, bem, ela supunha que ele veio, uma vez que ele estava aqui e não no Tennessee.

Ela teve que admitir, ele parecia um valentão total. Ele a tolhia e era uns bons dois centímetros mais alto do que Derek, que era o mais alto de seu trio. E seus bíceps estavam inchados e duros contra as mangas apertadas da camiseta curta.

Ela não poderia ter planejado melhor. O momento era muito apropriado.

— Cole, estes são os idiotas número um, dois e três.

Cole levantou a sobrancelha e seus olhos brilhavam com diversão.

— Algum problema, senhores? Porque do jeito que eu vi do outro lado da sala, vocês não pareciam amigáveis. Na verdade, parecia que estavam tentando intimidar alguém muito menor do que vocês, e se aproveitar de uma mulher.

— Foda-se, — Derek rosnou. — Você é bem-vindo para a maldita rainha do gelo. Ela quase congelou meu pinto.

— Que pinto? — Ela perguntou, cruzando os braços sobre o peito.

O braço de Cole ainda estava ao seu redor, e ele não parecia inclinado a removê-lo tão cedo.

— Foda-se, — Derek disse rudemente. — Vamos sair daqui. Eu não tenho estômago para ficar perto de uma delatora.

Os três homens se dirigiram para a porta e PJ soltou um suspiro profundo. Isso poderia ter ficado feio, e nesse lugar não havia muito na forma de segurança. O segurança era um careca de meia-idade e tinha uma barriga de cerveja que o tornava lento e desajeitado. Ele não seria de muita ajuda em uma briga.

— Você pode ir agora, — ela murmurou.

Cole deixou cair o braço e, em seguida, puxou uma cadeira na mesa dela e esparramou-se, acenando para a garçonete ao mesmo tempo.

A garçonete não perdeu tempo em vir correndo. Ela presenteou Cole com seu melhor sorriso coquete e ficou muito mais perto do que o necessário, dando-lhe uma visão privilegiada de seu decote.

— Traga-me o que você tiver na torneira, docinho — Cole disse com uma piscadela.

PJ revirou os olhos quando a garçonete caiu completamente naquele charme falso. Cole era um colírio para os olhos, com certeza. Cabelo loiro escuro, um cavanhaque recentemente crescido, que PJ teve de admitir ficava muito bem nele. Olhos azuis que poderiam ser malvados como o inferno em um momento e cintilantes e despreocupados no próximo.

Ele era o pacote completo, não que ela algum dia diria isso a ele. Convinha a seus propósitos mantê-lo abaixo alguns níveis. Não fazer nada para ter seu ego explodindo em cima dela. Ela tinha que trabalhar com ele, afinal de contas.

— Que diabos você está fazendo aqui, Coletrane? — Ela exigiu saber após a saída da garçonete. — Esse não é exatamente o seu bairro.

Ele deu de ombros.

— Um cara não pode vir e visitar um companheiro de equipe?

Seu olhar se estreitou.

— Claro. Há Dolphin, Baker e Renshaw, e você pode sempre dar uma olhada em Steele. Eu tenho certeza que ele adooooooraria sua companhia.

— Talvez você apenas seja especial, — disse ele com um sorriso.

— Sorte minha, — ela murmurou.

Mas ela não podia controlar as borboletas peculiares flutuando em torno de sua barriga quando ele virou todo aquele charme sobre ela. Inferno, ela estava agindo como uma maldita menina.

A garçonete voltou e ele inclinou sua bebida, tomando um grande gole antes de colocar o copo de volta na mesa. Atrás dele, a banda começou a tocar outra música estridente e Cole visivelmente estremeceu.

— Puta merda, Rutherford. Eu pensei que você tinha um gosto melhor do que isso. O que diabos você está fazendo neste buraco de merda, afinal de contas? Você não deveria estar em casa descansando e relaxando? Você não dormiu em que, três dias?

Ela lançou um olhar maligno em sua direção.

— Eu poderia te fazer a mesma pergunta. Pelo menos eu estou a poucos quarteirões da minha cama. Da última vez que verifiquei você ainda residia no grande estado do Tennessee. É uma longa distância de Denver.

— Talvez eu goste de sua companhia.

PJ bufou.

Por um longo momento beberam a cerveja em silêncio enquanto a música soava e mais fumaça enchia o ar. Os olhos de Cole repentinamente se arregalaram quando duas meninas em um canto pularam em um tablado e começaram a fazer um lento strip-tease.

— Rutherford, você é lésbica?

Ela engasgou com a cerveja e depois se sentou para frente, deixando os pés saírem da mesa e caírem no chão com um baque. Inclinou o chapéu para trás para que pudesse olhá-lo diretamente nos olhos.

— Que raio de pergunta é essa?

Ele deu-lhe um olhar reprimido.

— Você está em um bar de strip-tease. O que mais eu deveria pensar?

— Você é um idiota.

Ele deu-lhe um falso olhar magoado.

— Vamos, PJ. Jogue-me um osso aqui. Diga-me que você não é lésbica. Ou pelo menos me esmague delicadamente.

— Você está arruinando meu descanso.

— Bem, se este é o momento de inatividade, vamos fazê-lo direito. Quer tomar algumas doses? Ou está com medo que eu consiga beber mais do que você?

As sobrancelhas dela se ergueram.

—Você não acabou de me desafiar.

Ele deu-lhe um sorriso de satisfação.

— Eu acredito que sim. A primeira rodada é por minha conta.

— Todas serão por sua conta já que a ideia é sua.

— Okay, mas eu estou supondo que você não pode passar de três doses.

— Blá, blá, blá. Estou ouvindo muita conversa e nenhuma ação.

Cole levantou a mão novamente e a garçonete veio até a mesa.

— Pode nos servir algumas doses? — Ele se virou para PJ — você tem alguma coisa contra tequila?

— Eu só tenho algo contra tequila ruim. Não venha com bebida barata para mim, Cole. É melhor mandar trazer bebida boa.

— Você ouviu a senhora, — Cole falou pausadamente. — Dê-nos uma rodada da melhor tequila que você tem.

A garçonete pareceu em dúvida, mas assentiu e seguiu em direção ao bar.

PJ estudou-o debaixo dos cílios. Apesar de sua irritação inicial, Cole estava deixando-a intrigada. O que ele estava fazendo aqui? E por quê? Ela poderia jurar que ele estava flertando com ela, e a única coisa estranha era que essa era uma sensação deliciosa.

Um cara como Cole não teria que procurar muito para conseguir sexo. De jeito nenhum ele viria todo o caminho até Denver apenas por um pedaço de traseiro.

— Então, quem eram os palhaços que estavam te perturbando? — Ele perguntou, quebrando o silêncio.

PJ fez uma careta.

— Apenas algumas pessoas que eu conheci. Há muito tempo atrás.

— Aparentemente, eles não estavam tão dominados pelo seu charme como eu.

Ela ofegou e engasgou com o riso. Sentia falta da camaradagem e suporte constante quando estava fora da equipe.

Costumava ser assim na equipe SWAT. Antes que Derek tivesse que foder tudo. PJ tinha certeza que nunca encontraria outra posição que seria melhor do que os primeiros dias na SWAT quando ela ainda estava sendo bem sucedida em conduzir o show como uma fêmea e se enrolando em seu relacionamento com Derek.

Mas ela estava errada. Ir para a KGI abrira seus olhos para o que era lealdade à equipe e uns aos outros. Os homens para os quais trabalhava eram profundamente honrados, mas ela tinha sempre o cuidado de manter distância. Especialmente de Cole. Depois de Derek, ela prometeu nunca mais se envolver com ninguém com quem trabalhasse.

A garçonete voltou, carregando uma longa bandeja que continha 10 doses. Colocou-a sobre a mesa, pegou o cartão de crédito de Cole e, em seguida, olhou para os dois, como se dissesse aqui está.

Cole pegou um copo, entregou a PJ e depois tomou outro para si mesmo. Então, ergueu-o em um brinde.

— A outra missão bem sucedida.

PJ poderia beber a isso. Inclinou seu copo contra o dele e então os dois beberam a tequila.

Ela quase tossiu quando o fogo queimou sua garganta. Inferno, passara um bom tempo desde que bebera alguma coisa mais forte do que cerveja. Ela parou de beber as coisas mais fortes após sua temporada com a SWAT e as consequências de sua saída da unidade.

Colocou o copo em cima da mesa com um baque e depois olhou desafiadoramente para Cole. Ele sorriu em resposta e, em seguida, pegou outro copo. Ela se inclinou para frente para pegar o seu, mas desta vez eles foram um pouco mais lentos para beber.

A música parecia ficar mais alta e a fumaça ficou mais densa. Seus olhos lacrimejaram, se da tequila ou a fumaça ela não tinha certeza. Cole estava certo sobre uma coisa. Este era um lugar muito ruim para passar a primeira noite de volta para casa.

— O que você acha de terminarmos nossas cinco doses e irmos direto para minha casa? — Ela perguntou antes que pudesse mudar de ideia.

Ela não podia acreditar que estava mergulhando nessa situação depois de ter definido que nunca permitiria que esse tipo de coisa acontecesse novamente. Coloque a culpa no álcool ou em sua noite de merda. Os dois motivos constituíam um erro, certo? Ela só sabia que repentinamente não queria ficar sozinha.

Ele franziu a testa, e o coração de PJ afundou. Ela não o interpretara corretamente e agora estava fazendo de si mesma uma enorme tola. Já estava se preparando para se desculpar pelo convite com uma indiferença casual quando ele falou.

— Se iremos para sua casa agora, um de nós ou ambos, precisa parar de beber agora. E se eu levar uma garrafa e nós a bebermos lá?

Ela soltou um suspiro de alívio que sequer percebeu que tinha brotado em seu peito. Levantou-se, empurrando a mesa para trás.

— Você pega a garrafa. Eu te encontro no estacionamento. Você pode me seguir para minha casa.

 

Cole foi para o bar, fez sinal para o barman e poucos momentos depois saiu com uma garrafa e dois copos de tequila. Não que ele pretendesse precisar ou querer também, mas pretendia que isso fosse bom.

Caminhou pelo estacionamento, se perguntando se PJ estaria mesmo lá como prometeu ou se teria ido embora.

Ela era durona. Difícil de se aproximar. Difícil obter qualquer informação. Ele não sabia quase nada sobre sua vida pessoal. Ela nunca escorregou ou deu alguma dica. Quando estavam em uma missão, ela era focada em um só objetivo. E quando a missão acabava, era sempre a primeira a cair fora. Nenhum bate-papo ou socialização com ela.

Foi surpreendente como o inferno descobrir que ela frequentava aquele lugar de péssima reputação. Ele teria imaginado que ela odiava as pessoas e que nunca sairia de seu caminho para realmente ir a um lugar infestado por eles.

Não sentia um pingo de culpa por ter escorregado o chip GPS na mochila dela antes que deixasse o Tennessee. Ela carregava aquela maldita coisa com ela para todos os lugares, e isso o levou para o estacionamento do bar.

Para sua surpresa, ela estava de pé ao lado do jipe, recostada com uma expressão fria no rosto. Seus olhos estavam ilegíveis quando olhou para ele.

Ele levantou a garrafa e deu um sorriso em sua direção.

Ela deu um meio sorriso em troca, depois jogou o polegar sobre o ombro.

— Siga-me e tente me acompanhar.

Pequena cabrita insolente. Ela tinha que transformar tudo em um desafio ou provocação. Mas tudo bem. Não valeria a pena, se fosse fácil.

Entrou na caminhonete e manobrou rapidamente para a estrada atrás dela, certificando-se de não perdê-la. Depois de um quilômetro, ela virou à direita em um complexo de apartamentos que parecia que remontava à década de setenta. Eram impecáveis e parecia um lugar calmo, mas Cole não gostava de como estava escuro e por não haver portões de segurança.

Como diabos uma mulher cujo trabalho era todo sobre segurança e proteção vivia em um lugar como este?

Entrou na vaga de estacionamento ao lado dela e deslizou para fora. Ela já estava na calçada esperando por ele, e antes que pudesse alcançá-la, virou-se e caminhou até o caminho para a porta da frente.

Ele examinou a área severamente e quando ela abriu a porta, ele franziu a testa ainda mais, porque a porta não resistiria a um simples chute. Ele entrou e depois fez uma pausa enquanto ela fechava a porta e colocava a trava de segurança. Não que isso fizesse qualquer bem se alguém realmente quisesse entrar.

Quando ela se virou para onde ele estava, franziu a testa quando olhou para suas mãos.

— Você se esqueceu da tequila.

— Eu não me esqueci de nada.

Antes que ela pudesse reagir, ele a apoiou contra a porta, seu corpo pressionando-a perto e fez o que ele estava morrendo de vontade de fazer desde o dia em que colocou os olhos sobre ela pela primeira vez.

Ele beijou-a.

E desta vez não era um ato que estava interpretando para os idiotas que estavam importunando PJ. E ele também não iria parar tão cedo.

 

Pela segunda vez naquela noite, PJ encontrou-se completamente aturdida e incapaz de pensar direito. Porra, mas o homem podia beijar como um sonho.

Ela odiava homens que eram hesitantes e inseguros em seus movimentos, e Cole não era nada disso. Ela amava a força. Confiança. Mas não um idiota arrogante.

Cole tinha a combinação perfeita. Confiante. Convencido. Ele encontrava-se absolutamente seguro de si mesmo.

Ela passou as mãos por seu peito e espalmou os dedos ao longo dos músculos ondulados. Duro e tão digno de babar. Ele atuou em mais de um de seus sonhos eróticos, e agora ela tinha o homem de carne e osso de pé em seu apartamento, com a boca fundida a dela como se estivessem permanentemente ligados.

Sua língua roçou sensualmente sobre a dela, acariciando com suavidade aveludada. Podia sentir o gosto da tequila que tanto consumiram, mas estava misturado com o sabor forte e masculino dele também.

Deslizou as mãos para baixo e puxou a camisa com impaciência para livrá-lo da calça. Em seguida, colocou as mãos sobre o abdômen e ele prendeu a respiração, ofegante.

— Cama ou sofá? — Ela perguntou com voz rouca.

Ele olhou para ela, seus olhos brilhando famintos.

— Depende. Qual é o tamanho da sua cama?

— King.

— Perfeito.

Ele a beijou novamente, afastando-a da porta, enquanto caminhavam pela sala de estar. Ela estava puxando a camisa dele e ele puxando a dela.

— Você tem camisinhas? — Ela perguntou.

— Isso fará de mim um idiota, se eu disser que sim?

Ela riu suavemente. Então, ele estava planejando entrar em suas calças.

— Vocês meninos militares não deveriam estar preparados para tudo? Você nunca sabe quando vai precisar fazer sexo no fim do mundo.

— Hum, essa é uma boa ideia. Vamos fazer sexo como se o mundo fosse acabar amanhã.

Ela puxou-o para um beijo quente e entorpecente.

— Você fala demais.

Os dedos dela estavam abrindo a braguilha da calça dele, e ele estava abrindo a camisa dela rapidamente. Ela puxou as mãos tempo suficiente para Cole puxar sua camisa sobre a cabeça, e então abriu o zíper dele enquanto ele abria o dela.

— Quarto, — ele murmurou. — E saia de dentro desse jeans no caminho.

Vestida de sutiã e jeans que estava com a braguilha aberta, ela liderou o caminho para o quarto, deslizando a calça para baixo dos quadris enquanto caminhava.

Assim que entraram no quarto, ela ouviu o baque de uma bota. Virou-se para vê-lo pulando em um pé só enquanto tirava a outra bota. Deixaram um rastro de roupas por todo o caminho da sala de estar, e agora ele estava tirando a calça rapidamente.

— Acenda a luz, — disse ele.

— Eu gosto do escuro.

— Claro que não, eu não vou perder nada desse momento. Sabe quanto tempo eu fantasiei em ver você nua? É como negar a um homem à beira da morte seu último desejo.

Ela sorriu e estendeu a mão para o interruptor. Quando o quarto se inundou de luz, ela viu que Cole estava completamente nu e prendeu a respiração, mantendo-a até que ficasse tonta.

Puta merda. O homem era lindo. Absolutamente lambível. Ombros largos, bíceps musculosos, abdômen magro e muito tonificado e minha nossa, ele era definido em todos os lugares certos.

— Jesus, PJ, pare de me olhar. Você vai me deixar com complexo.

Ela mal conseguiu arrastar seu olhar para cima, para encontrar o dele. Incapaz de resistir, moveu-se para frente e apertou a mão no peito nu, apreciando a sensação dos leves pelos diretamente sobre seu coração. Então, deixou que seus dedos deslizassem para baixo até tocar a ponta do pênis.

Seus dedos dançaram ao longo do comprimento, provocando enquanto ele crescia ainda mais sob seu toque. Ah, sim, não havia dúvida de que este homem iria satisfazê-la.

— Um homem que tem a aparência tão deliciosa como você nunca deveria ter um complexo, — ela murmurou.

A satisfação ardeu nos olhos dele, e então ele a surpreendeu pegando-a nos braços. Levou-a para a cama e caiu sobre o colchão. Ela saltou uma vez e então ele arrancou a calça jeans por suas pernas, jogando-a sobre o ombro.

— Eu nunca a teria imaginado neste tipo de lingerie, — ele suspirou.

Ela arqueou uma sobrancelha e olhou rapidamente com a cara feia.

— O que quer dizer com isso?

— É positivamente pecaminosa. Preta, rendada. Feminina. — Ele disse a última palavra quase acusadoramente.

— Eu as uso em todas as minhas missões. Não é que eu seja supersticiosa ou algo parecido, mas se elas funcionam para me passar segurança eu continuo usando. Eu as considero minha lingerie da sorte.

Ela sorriu, porque agora ele nunca seria capaz de sair em missão com ela sem pensar no que ela usava por baixo do uniforme.

Ele se inclinou e ela imediatamente ficou em silêncio, a respiração presa na expectativa do que ele faria. Quando a tocaria. Como a tocaria.

Ele deslizou as mãos por suas pernas para descansar possessivamente nos quadris e, em seguida, se abaixou para pressionar a boca sobre seu umbigo.

A simples ação enviou uma cascata de arrepios dançando em sua pele. Os pelos nítidos de seu cavanhaque roçaram sobre a pele sensível e aumentaram sua sensibilidade ainda mais.

Um gesto tão simples, mas foi como abrir as comportas. Cada nervo de seu corpo estava em alerta máximo.

Então ele enfiou os polegares no cós da calcinha e puxou para baixo, desembaraçando-a de seus pés e jogando o fino pedaço de renda na direção onde o jeans tinha ido.

— Nenhuma marca de biquíni — ele murmurou. — Oh, as imagens que isso evoca em mim. Eu adoraria saber onde diabos você toma sol nua. Acho que preciso tornar-me sócio desse lugar.

Ele separou suas pernas, em seguida abaixou a cabeça. Mordiscou o interior de sua coxa, mal roçando a pele com os dentes. Isso enviou um arrepio delicioso por todo o caminho até a espinha.

Usando o polegar e o dedo indicador, ele espalhou os lábios de sua vagina. Seu hálito quente soprou sobre a pele exposta, e ela fechou os olhos, assim que a língua entrou em contato com o clitóris.

Era como uma súbita onda de eletricidade.

Suas pernas tremiam e seus nervos formigavam da cabeça aos pés. O homem era um especialista em fazer sexo oral em uma mulher. Ele não era áspero ou apressado. Sabia quanta pressão aplicar e onde tocar.

Alternava pressionando beijos delicados e fortes lambidas. Os toques mais leves estavam levando-a à loucura. Estava equilibrada em uma borda afiada pronta para cair a qualquer momento. Só mais um pouco...

Ele levantou a cabeça e, a respiração que ela estava segurando escapou em um longo suspiro. Se ele a tivesse tocado mais uma vez com aquela boca deliciosa, ela teria gozado como um foguete.

— Você pode tirar o sutiã ou precisa de minha ajuda?

Ela estendeu a mão para o fecho frontal e sorriu quando o desabotoou. Um momento depois, inclinou-se para que pudesse tirá-lo e depois o enviou voando em direção à pilha de roupas no chão.

Cole subiu o corpo, deslizando entre suas pernas até que seus narizes estavam a um sopro de distância. Seu corpo estava pressionado ao dela, o calor suficiente para queimá-la.

— Porra, você tem um corpo lindo, PJ. Eu poderia olhar para você por horas.

— Eu prefiro muito mais que você me toque, — ela disse, impaciente.

Ele sorriu e baixou a boca para a dela, beijando dura e profundamente, até que ela se esqueceu de tudo, exceto dele e deste momento. Suas línguas se encontraram e se emaranharam. Ela devolveu sua paixão em igual medida. Nunca sentiu tanta urgência ao fazer sexo. Mal podia esperar para que ele entrasse dentro dela, para sentir sua força dentro dela.

— Estou planejando tocar muito, — ele murmurou enquanto se afastava.

Sua boca deslizou calorosamente pelo pescoço e depois para o seio. Seus seios eram pequenos, mas ele não parecia se importar. Espalmou um montículo suave, acariciando e moldando-o até que o mamilo estava inchado e forçando para cima.

Por fim, baixou a boca e lambeu um círculo ao redor do mamilo enrugado. Ela soltou um longo suspiro de prazer. Este homem parecia conhecer todos os seus pontos doces. Sabia como lhe dar prazer. Não poderia ter feito melhor se tivesse recebido um manual escrito à mão sobre o que fazer com ela.

— Você gosta disso?

— Mmm hmmm.

Ele chupou o bico entre os lábios e aplicou pressão rítmica até que ela estava se contorcendo sob seu corpo, inquieta e dolorida.

Suas mãos estavam por toda parte. Ele acariciou e afagou seu corpo como se estivesse apreciando algo de grande beleza. Ela não estava menos encantada. Suas mãos deslizavam sobre cada centímetro da pele dele onde conseguia alcançar, explorando os contornos, os músculos rígidos e a sensação da pele coberta de pelos ásperos, tão diferentes da sua.

Quando foi a última vez que estivera no céu com um parceiro sexual? Ou talvez ela e Cole tivessem deixado a tensão entre eles continuar por muito tempo. Talvez devessem ter liberado todo esse tesão e feito sexo quente e selvagem muito antes.

Talvez agora pudessem parar de levar um ao outro à loucura o tempo todo. Ou talvez isso tornasse as coisas muito piores.

Ela se recusava a se debruçar sobre o futuro agora. Não quando o queria a cada respiração. Era estúpido e irresponsável ceder à crescente atração entre eles, mas não estava prestes a pôr fim a este ponto. O que acontecesse depois disso, só teriam que lidar como adultos e não deixar interferir em seus trabalhos.

— Eu não sei se consigo esperar nesta primeira vez, — ele disse com voz rouca. — Preciso ter você, PJ. Estou morrendo aqui.

Ela sorriu e puxou-o para cima, para um beijo longo e de tirar o fôlego.

— O que você precisa, um convite gravado? Foda-me, Coletrane. Preliminares são boas, mas às vezes são supervalorizadas. Vamos para a parte boa.

— Adoro uma mulher que sabe o que quer.

Ele rolou de cima dela o tempo suficiente para colocar o preservativo e em poucos segundos estava de volta, deslizando para cima de seu corpo para se posicionar.

— Você quer ficar por cima ou por baixo? — Perguntou ele.

Ela estendeu a mão para agarrar sua ereção e posicionou-o em sua abertura.

— Eu quero dos dois jeitos, mas agora, eu gosto de você exatamente onde você está.

— Inferno, eu também, — ele gemeu.

— Tome-me, Cole, — disse ela. — Eu quero duro e rápido.

Os músculos de seus braços e ombros enrolaram e incharam. Sua mandíbula estava firmemente cerrada enquanto ele empurrava para dentro dela.

Ambos soltaram um lento gemido quando ele estava totalmente dentro dela. Por um longo momento, ele ficou deitado lá, olhos fechados, como se estivesse tentando reter o pouco controle que lhe restava.

Ela deslizou as mãos pelas costas até sua bunda e envolveu as pernas em volta dele, prendendo-o contra ela. Então, levantou a cabeça, encontrando a boca dele, faminta.

Ele rosnou e ela engoliu o som quando ele recuou e empurrou duramente.

— Sim, — ela sussurrou. — Isso. Desse jeito. Por favor, Cole.

Ele não precisava de mais incentivo. Começou a empurrar mais e mais rápido até que toda a cama balançava com a força de seus movimentos.

Suas bocas e órgãos estavam fundidos. Havia um senso de que isso era certo, que oprimiu PJ.

Ele reuniu-a em seus braços, enterrou-se profundamente e então rolou, levando-a para cima dele enquanto ele caía de costas.

— Agora, essa é uma fantasia que assombrou meus sonhos muitas noites, — ele disse enquanto olhava para ela. — Você, por cima de mim, percorrendo um caminho pecaminoso comigo. É a sua vez, PJ. Você me fode agora.

Ela se inclinou para frente, permitindo que as mãos dele tivessem acesso a seus seios. Ele revirou os mamilos entre os dedos e acariciou a pele macia.

Ela balançou para frente, levantou e depois desceu com força, tomando-o profundamente. Seus joelhos afundaram no colchão e ela apoiou as mãos em seus ombros largos, os dedos afundando em sua carne.

Ela alternava o ritmo, diminuindo e depois acelerando. Sentiu-o inchar e apertar, sabendo que ele estava perto, e então diminuiu o ritmo novamente, não querendo que acabasse ainda.

Inclinando-se para baixo, lambeu o peito dele, provocando outro som estrangulado. Em seguida, mordiscou sua carne. O desejo de marcá-lo era forte. Ela gostou da ideia de ele ter marcas onde ela sugaria sua pele. Algo para lembrar-lhe que ela possuíra cada pedaço de seu corpo assim como ele possuíra o dela esta noite.

Ele agarrou seus quadris, os dedos tão duros contra sua pele como os dela estavam na dele. Ela provavelmente ficaria com essas impressões digitais pelos próximos dias. Então ele começou a ter mais controle, mantendo-a no lugar enquanto ele arqueava os quadris para empurrar ainda mais fundo dentro dela.

Ela estava quase à beira de sua própria libertação, quando ele se moveu de novo, colocando-a debaixo dele uma vez mais. Mas desta vez, ele virou-a com as mãos ásperas e impacientes e ela se viu de bruços na cama.

Ele abriu as pernas dela, levantou seus quadris apenas o suficiente para obter o ângulo certo e empurrou nela por trás.

Era como se ele não se cansasse dela ou ela dele. Suas respirações eram ásperas e irregulares e o som de pele contra pele era alto em seus ouvidos.

Mais e mais duro, ele bateu nela até que ela estava gritando o seu nome. Seu orgasmo não era uma coisa doce e prazerosa. Era mais como a explosão de uma granada. Explosivo. Volátil. Algo que ela nunca experimentou antes, e ela não tinha nenhuma maneira de pará-lo, não que ela o faria em um milhão de anos.

Era assustador em sua intensidade. Ela nunca estivera tão fora de controle. Nunca permitira tanto controle a outra pessoa. Isso deveria tê-la assustado, mas ela confiava em Cole. Com ele, ela poderia ser ela mesma. Poderia se soltar.

Ouviu o grito rouco de Cole através da névoa de sua própria libertação e depois o sentiu abaixar-se, cobrindo seu corpo com o dele. Ele ainda estava enterrado dentro dela, enquanto ambos ficavam deitados, peitos arfando, tentando desesperadamente recuperar o fôlego.

Então ele beijou seu ombro. Um beijo suave e carinhoso que enviou borboletas através de seu peito.

Ele colocou o rosto nas costas dela e descansou dessa forma, cobrindo-a, suas pernas emaranhadas e o pênis ainda inchado e duro dentro dela.

 

PJ estava no espaço do braço de Cole, a cabeça descansando em seu peito. A letargia a tinha em sua mão firme e ela estava bem com isso. Estava solta e ágil e extremamente satisfeita. Não se sentia tão bem há um longo tempo.

Os dedos dele acariciavam seu braço distraidamente para cima e para baixo e ela gostava da sensação daqueles toques leves.

Nunca em um milhão de anos teria imaginado quando se levantou esta manhã que faria sexo alucinante com Cole e, depois ficaria aconchegada com ele como um velho casal.

Isso desafiava a lógica.

— Por que não fizemos isso antes? — Ela perguntou.

O aperto de Cole em seu braço temporariamente se intensificou.

— Certamente não foi por falta de vontade da minha parte. Imaginei que você arrancaria minhas bolas se eu sugerisse isso.

Ela levantou um pouco o corpo para que pudesse encará-lo, e a mão dele caiu de suas costas para descansar possessivamente em sua bunda.

— Então, por que agora? Você não veio todo o caminho até Denver apenas para dizer olá, então obviamente você planejou isso.

— Eu não diria que planejei, — ele corrigiu. — Eu esperava. Estava cansado de me perguntar se esta preocupação era unilateral. Finalmente eu disse foda-se e entrei no avião. O pior que você poderia fazer seria me dizer para eu ir me foder e zombar de mim pelo resto de minha vida.

Ela riu.

— Eu faria isso?

Ele segurou seu seio com a outra mão e esfregou o polegar sobre o mamilo.

— Você certamente faria.

Sua respiração falhou quando ele continuou a brincar com seu mamilo, que se transformou em um duro pico esticando-se em direção a ele, implorando por seu toque. Seu corpo inteiro estava implorando. Isso a assustou porque este era um homem do qual ela nunca seria capaz de obter o suficiente.

Era como colocar uma barra de 10 quilos de chocolate Hershey na frente de um viciado em chocolate e esperar que a pessoa parasse após uma mordida.

— Então, quem eram os caras no bar? — Cole perguntou.

Ela deixou de ser deliciosamente suave para instantaneamente ficar agitada com a menção de Derek e companhia.

— É ruim assim?

Ela olhou para Cole, que estava estudando-a com curiosidade.

— Não são pessoas sobre as quais eu realmente quero falar.

— Ajude-me aqui, PJ. Não sei quase nada sobre você e tenho que admitir, não tenho o hábito de ir para a cama com mulheres que mal conheço.

Ela levantou uma sobrancelha.

— Você não acredita em mim? Você acha que eu sou algum tipo de gigolô?

Ela sorriu.

— Talvez não um gigolô, mas tenho certeza que obteve sua quota de ação com as mulheres. Não há nada de errado com você.

— De alguma forma, você faz esse elogio parecer um insulto.

Ela suspirou e sentou-se, cruzando as pernas para que pudesse se sentar ao lado dele. Ele permaneceu deitado, de modo que ela estava olhando para ele, com os joelhos tocando a lateral de seu corpo.

— É complicado.

— A maioria das coisas não é?

Ela não podia discutir com isso.

— Eles são da equipe da SWAT em que eu estava. Eu estava... Envolvida com Derek.

— Ele é o cara que você esmurrou?

Ela fez uma careta.

— Você viu muito coisa, hein?

— É difícil de perder. Balanço bastante impressionante, aliás. Ele é muito maior do que você, e você quase o achatou.

Isso fez com que ela sorrisse. Cole era tão... Confortável. Ela gostava de estar perto dele. Era fácil conversar com ele, mesmo que ela raramente falasse sobre algo pessoal. Talvez fosse por isso que era cuidadosa para não abordar esses tipos de tópicos com ele, porque ele era tão fácil de falar que ela, sem dúvida, encontrar-se-ia deixando escapar tudo.

— Sim, aquele era Derek.

— Então eu imagino que a ruptura não foi exatamente amigável.

Ela ficou séria.

— Nem um pouco.

Ela fechou os olhos e respirou fundo. Nunca contou a ninguém sobre o que aconteceu, mesmo sabendo que seus companheiros de equipe atuais estavam curiosos para saber por que ela deixou a SWAT.

— Derek estava sujo e eu me recusei a fazer de conta que não sabia. Ele estava roubando dinheiro de drogas e mais tarde até mesmo as próprias drogas quando a SWAT era chamada para ajudar nas apreensões. Em vez de registrar tudo, ele enchia os bolsos quando as coisas ainda estavam caóticas. Eu não sei há quanto tempo isso vinha acontecendo. Mas uma noite eu o vi embolsar dinheiro junto com um saco de maconha. Quando falei com ele sobre isso, ele basicamente disse-me para calar a boca e esquecer qualquer coisa que eu tivesse visto.

— Cara aprumado, — Cole disse com desgosto.

— Talvez eu fosse ingênua e idealista demais. Quero dizer, quando eu fiz o juramento como policial e quando entrei para a equipe da SWAT, aquilo significava algo para mim. Eu tinha uma visão muito clara do certo e do errado. Tudo era muito preto e branco, sem nenhuma área cinzenta. Mas, mesmo sendo assim, eu queria dar a Derek o benefício da dúvida e estava relutante em delatá-lo, por que como uma idiota, pensei que eu era apaixonada por ele e sentia lealdade a ele porque éramos amantes.

Cole franziu a testa.

— Sim, diga-me sobre isso, — ela murmurou. — Você não está pensando em nada que eu não tenha dito a mim mesma, inúmeras vezes desde então. Eu era jovem e idiota. Em resumo, confrontei-o e disse-lhe que se eu o pegasse fazendo isso de novo eu iria denunciá-lo.

— Suponho que provavelmente isso não deu muito certo. Foi isso o que causou o rompimento?

Seus lábios apertaram.

— Não. E não, ele não aceitou bem. Me disse que não aceitava ameaças e que eu precisava sair fora. Nesse ponto o nosso relacionamento esfriou muito, mas eu percebi que ele iria superar isso e que minha ameaça iria dissuadi-lo de fazer de novo. Eu ainda estou irritada comigo mesma por ter-lhe dado uma segunda chance. Não foi a coisa certa a fazer, mas eu estava pensando com o meu coração e então fui contra tudo que eu acreditava. Eu me odiei por isso.

— Porra, — Cole murmurou. — Não acha que está sendo um pouco dura demais consigo mesma?

— Não, — ela disse sem rodeios. — Eu gostaria de ter sido ainda mais dura. Dois meses mais tarde, auxiliei em outro ataque de drogas. Este foi um grande problema. Vários policiais foram atingidos, e Derek, o imbecil, em vez de preocupar-se com seus companheiros, estava mais preocupado em tirar dinheiro da cena do crime. Fui para o meu comandante no dia seguinte e disse a ele o que eu vi.

— Oh merda.

— Sim, exatamente. ‘Assuntos internos’ se envolveu. Foi uma investigação grande e bagunçada. Porém, Derek era esperto e não deixou qualquer tipo de trilha. Nenhum depósito em uma conta bancária. Nenhuma mudança nos hábitos de consumo. Tinha planejado a longo prazo e estava aparentemente escondendo o dinheiro onde ele não poderia ser encontrado e iria usá-lo posteriormente, ou talvez parar, sair da SWAT e então se mudar para algum lugar e gastar o dinheiro. Eu realmente não sei qual era o plano dele, mas o que quer que fosse, certamente não me incluía na imagem.

— Então, eles não tinham nenhuma evidência sobre ele?

— Não, — ela disse suavemente.

— Foi por isso que você saiu, então? Porque não conseguiu trabalhar com ele por mais tempo?

Ela odiava essa parte. Ainda tinha o poder de desvendá-la, mesmo depois de todo esse tempo.

— PJ?

Ela olhou para cima, realmente não querendo continuar a conversa neste momento.

Seu olhar era intenso. Retirando camada após camada, até que se sentiu nua e vulnerável sob seu escrutínio.

— O que você não está me dizendo?

Ela deu um longo suspiro.

— O que eu deixei de fora é o fato de que meus dois melhores amigos, ou melhor, os melhores amigos de Derek, que eu achava que eram meus amigos também, se juntaram com Derek e me colocaram em risco e depois me abandonaram.

Cole deslizou a mão sobre o joelho mais próximo de seu alcance e apertou suavemente.

— O que aconteceu?

— Até este ponto, Derek e eu tínhamos guardado segredo sobre nosso relacionamento. Era contra a política que os membros da mesma equipe se relacionassem, uma regra, imagine, que não existia antes de eu entrar, porque eu era a primeira mulher na equipe. Mas Derek foi até nosso comandante, juntamente com Jimmy e Mike para corroborar sua história, e disse-lhe que Derek e eu éramos amantes e que ele terminou o relacionamento comigo e que eu lancei minhas acusações por vingança. Jimmy e Mike apoiaram a história dele, contando um monte de merda, que eu ameacei arruiná-lo quando ele terminou comigo. E então eles vazaram essa história em uma dimensão tão grande que não havia um policial na delegacia que não soubesse que eu era uma ex-namorada louca que tinha tentado magoar um colega policial.

— Que idiota, — Cole disse com desgosto.

— Não me restou nenhum amigo no departamento ou na minha equipe. Ninguém queria acreditar que um deles poderia estar sujo, por isso era muito mais fácil acreditar naquela besteira que eles inventaram. E havia também o fato de que nem todo mundo na SWAT estava muito feliz que uma mulher havia se juntado as suas fileiras, de qualquer maneira, então Derek não teve que se esforçar muito para me desacreditar aos olhos deles.

— Uau, — Cole disse, balançando a cabeça. — Isso é uma merda fodida.

— Então fui embora, e ainda me odeio por desistir tão facilmente. Fiquei arrasada, porque sinceramente não esperava por isso. Eu fiz o que achava que era a coisa certa e foi a decisão mais difícil que tomei na minha vida. Mas eu não podia ficar de braços cruzados e deixar que ele continuasse o que estava fazendo, porque era errado, e pensei que seria tão simples dizer ao comandante o que eu sabia ser verdade, e a situação seria resolvida. Aprendi da maneira mais difícil que às vezes a escolha mais sábia é apenas sentar e não dizer absolutamente nada.

— Bobagem, — disse Cole.

Ela olhou com surpresa para a explosão.

— Você fez a coisa certa, PJ. Nunca duvide de si mesma sobre isso. Você fez a coisa certa e eles não fizeram. Isso é sobre eles. Não você.

— Mas eu sou a única que perdeu! — Ela disse em um tom amargo.

— Sinto muito pela maneira como as coisas aconteceram, mas não sinto muito que você tenha ido embora, porque isso a trouxe para a nossa equipe. Para mim.

Ela se assustou com a pitada de emoção que ouviu em sua voz. Ele alavancou-se sobre um cotovelo, virou-se para que ficassem muito mais perto agora e esticou-se até tocar seu rosto. Puxou-a para baixo em um beijo carinhoso, e desta vez demorou a explorá-la, desacelerando o ritmo de sua pressa antes imprudente.

Lentamente, mas com mão firme, empurrou-a para que deitasse de costas, a boca nunca deixando a dela.

Onde antes ele foi impaciente e ansioso, agora parecia determinado a ser paciente e vagaroso.

— Estou feliz que você veio para KGI, — ele murmurou em sua boca. — Eu não consigo imaginar nossa equipe sem você.

Ela sentiu-o alcançar a mesa de cabeceira, e então um momento depois, ele levantou-se apenas o suficiente para que pudesse rolar o preservativo, e depois de um segundo, deslizou para dentro dela em um empurrão firme.

Ela fechou os olhos e colocou os braços ao redor de seu corpo, puxando-o ainda mais, até que estavam moldados um contra o outro, pele contra pele, nenhuma parte de seus corpos sem se tocar de alguma forma.

Ele balançou e ondulou os quadris, vagarosamente tirando o seu prazer, o tempo todo fazendo amor com ela com a boca. Cobrindo seu rosto e pescoço com beijos ternos.

Foi uma mudança completa de antes, quando cada beijo, cada toque foi quente e frenético, quase uma corrida para a conclusão. Aquilo foi sexo. Sexo puro e quente.

Mas isso?

Isso era diferente, e a inquietava mesmo enquanto se permitia cair além do limite com ele. Porque não era apenas sexo. Parecia muito com fazer amor. E ela não tinha chegado a esse ponto com Derek, mesmo após dois anos ao lado dele.

 

O som alto e forte de um detestável toque de telefone celular surpreendeu PJ ao despertar. Tivera o mais incrível sonho erótico, e irritou-a ser tão rudemente arrancada dele.

Ela se esticou e bocejou, sentindo-se estranhamente descansada, e prontamente bateu em um duro corpo masculino.

Seus olhos se abriram. Oh merda!

David Coletrane estava em sua cama.

Ela fizera sexo quente que a fez gritar por mais, com Cole.

Também fizeram um amor doce e terno e talvez isso fosse o que incomodava mais, porque ela não podia colocá-lo de lado, como um caso de uma noite. Não podia jogar a culpa na necessidade de liberar as energias e depois ir embora, fingindo que nada aconteceu.

Ela estava tão fodida e agora teria que enfrentar a fase estranha da manhã seguinte.

O telefone parou um momento e então começou a tocar novamente, enquanto ficava deitada lá admirando o belo físico de Cole. Ele murmurou alguma coisa e então imediatamente se inclinou, agarrando cegamente seu uniforme que fora descartado na noite anterior.

Ela teve uma vista privilegiada de sua bunda, e oh Senhor, que bunda era aquela? Cada parte dele era deliciosa, e ela continuou a olhar em silêncio quando ele pegou o telefone e o colocou no ouvido.

A realidade tinha um jeito de jogar um balde de água fria sobre sua cabeça. Ela estava positivamente dormente sobre o que tinha feito. Sobre o que eles fizeram. Foi muito possivelmente a coisa mais idiota que ela já fizera, e olha que ela já tomou algumas decisões muito estúpidas em sua vida.

Isso iria ferrar tudo.

— Cole — ele disse rapidamente ao telefone. — Sim, Steele, o que há?

PJ congelou. Porra. Estavam sendo chamados para uma missão. Logo hoje? A única vez que ela caiu em tentação e fez sexo louco e insano durante toda a noite com seu companheiro de equipe, para não mencionar que contara seus segredos para ele, e tinham que ser chamados para uma missão logo agora?

A expressão de Cole era sombria, e então ele disse simplesmente:

— Estarei lá.

Ele terminou a chamada e, em seguida, virou-se lentamente para encontrar o olhar de PJ. Na sugestão, o celular começou a tocar e ela estava contemplando a maneira mais modesta para se esticar sobre o corpo dele para alcançar seu telefone quando Cole estendeu a mão e agarrou-o para ela.

— PJ — ela disse secamente, não querendo que sequer um indício do que passara fazendo durante a noite transparecesse através desse telefonema.

— PJ, é Steele. Fomos chamados para uma missão. Quão rápido você consegue voltar para o Tennessee?

Ela olhou para o relógio para ver que era muito cedo.

— Irei diretamente para o aeroporto e verei o que posso conseguir de imediato. Devo ser capaz de chegar esta tarde.

— Me avise rápido. Se você não puder pegar o primeiro voo, enviaremos um jato Kelly para você.

— Farei isso, — ela murmurou, espiando Cole com o canto do olho. Ela desligou e em seguida, respirou fundo, preparando-se para lidar com o constrangimento.

— Acho que devemos ir — disse sem jeito.

— Sim, podemos ir juntos para o aeroporto, — disse Cole.

Ele estava ali completamente despreocupado por sua nudez, enquanto ela estava sentada, as cobertas puxadas até o queixo enquanto a mortificação varria sobre ela.

Ela balançou a cabeça com força.

— Não. Vamos separados.

Cole franziu a testa.

— Isso é estúpido, PJ. Estamos juntos aqui. Por que devemos sair separadamente quando vamos para o mesmo maldito lugar?

— Eu não quero que ninguém saiba que estivemos juntos.

A carranca dele se aprofundou.

— Olha Cole, — ela disse antes que ele pudesse protestar mais. — Temos que trabalhar juntos. Eu não quero que haja qualquer especulação sobre nosso... — Ela engasgou e quase disse relacionamento. — Nossa associação. Isso não é um trabalho de escritório onde flertamos e brincamos engraçadinho. As vidas das pessoas dependem da nossa concentração e eu não quero ser alvo das piadas de Dolphin, Renshaw ou Baker e não quero nem saber o que Steele faria se descobrisse que transamos. Ele provavelmente atiraria um de nós, ou os dois para fora da equipe.

— Você está dizendo que eu sou uma distração?

O olhar presunçoso em seu rosto a fez querer bater nele. Ele estava sorrindo e esticou seu considerável tamanho e rolou para o lado, apoiando na palma da mão enquanto olhava descaradamente para ela. Ela poderia jurar que ele estava tramando arrancar os lençóis dela, então intensificou seu aperto só para se prevenir.

Fechou os olhos e respirou fundo. Quando os reabriu, Cole ainda estava olhando para ela como se quisesse devorá-la no café da manhã. A agitação começou no fundo de sua barriga e trabalhou para fora até que a pele dela estava quente e avermelhada. Porra, o homem era bom. Tudo nele era bom. A boca, a língua, as mãos e o pênis. Mais definitivamente o pênis.

— Olha, podemos apenas concordar que a noite passada foi um erro? Um grande erro. Um que precisamos prometer que nunca acontecerá novamente. Não podemos nos dar ao luxo de foder nosso trabalho ou a equipe. É melhor seguir nossos caminhos separados e fingir que isso nunca aconteceu.

De repente, ele pairava sobre ela, grande, todo maravilhoso. Ela odiava como se sentia pequena debaixo dele, mas ao mesmo tempo adorava.

Com um rosnado baixo, ele apertou-a na cama e cobriu-lhe a boca com a dele, beijando-a até que ela ficasse ofegante.

Mesmo enquanto ele estava pressionando-a na cama, sua mão puxou o lençol até que este deslizou até a cintura. Uma mão surgiu para tocar seu seio, o polegar rolando o pico rígido de seu mamilo.

Deus, ela amava as mãos dele sobre ela.

A língua dele deslizou de seus lábios e encheu sua boca, saboreando-a, esfregando sobre sua língua e explorando cada centímetro. Ele tinha uma boca feita para o pecado, e ela não era uma boa menina, nem de longe. Ela tivera sua cota de pecados. Se a noite passada não a mandasse para o inferno, não sabia o que mandaria.

Quando ele se afastou, seus lábios estavam inchados e o corpo inteiro estava formigando e vivo com luxúria e desejo.

A mão dele ficou intimamente em concha em torno de seu seio, como se ele não tivesse vontade de quebrar o contato entre eles. Seus olhos estavam duros e penetrantes, raiva e desejo rolando naquelas órbitas azuis.

— Se você acha que vou fingir que isso nunca aconteceu, você está louca. Agora, pare de ser boba e vamos levar nossas bundas para o aeroporto. Se te incomoda tanto, você pode ir em outro carro para Nashville. Mas não há nenhuma razão pela qual não possamos voltar no mesmo avião.

Seu coração pulou um batimento e ela engoliu em seco.

Finalmente, a mão dele escorregou para longe de seu seio, deixando-o instantaneamente frio e ainda ansiando por seu toque.

— Eu tenho que devolver o carro que aluguei no aeroporto, você pode vir comigo, — ele disse enquanto rolava para fora da cama.

Seus lábios se apertaram ao ver como ele tão prontamente assumiu e começou a ditar a ação. Então ela suspirou. Ele estava certo. Ela estava sendo estúpida e estridente. Mas a última coisa que queria era que sua equipe soubesse que ela e Cole acabaram de passar uma noite quente juntos sob os lençóis. Ou melhor, em cima dos lençóis. Enrolados nos lençóis.

Seu rosto enrubesceu com o calor. Ela tinha que parar. Ela era a insistente sobre concentração e foco, mas sua concentração foi atirada diretamente para o inferno, porque tudo o que conseguia se lembrar era como era bom ter Cole deslizando para dentro e para fora de seu corpo.

 

O destino foi gentil e pelo menos ela não se encontrou sentada ao lado de Cole quando o avião decolou quatro horas depois. Os dois fizeram as malas, ou melhor, Cole observara enquanto PJ jogava algumas mudas de roupa na bagagem de mão. A maioria de seu equipamento estava arrumada na KGI. Ela tinha muitas armas em seu apartamento, mas quando precisava pegar um voo comercial, ficava sem sorte para levar somente o essencial.

Muitas vezes o jato Kelly voou até onde ela estava, fazendo uma parada rápida para pegar a ela e seu equipamento antes de sair para a última missão. Steele mencionara a possibilidade de ela se mudar para mais perto da base da KGI no Tennessee, mas até agora ela hesitou, não disposta a fazer a ruptura final com seu passado.

Talvez fosse a hora de seguir em frente. Tornaria as coisas muito mais fáceis se estivesse em maior proximidade com o resto da equipe.

Inferno, ela vivia, comia e respirava com eles 75 por cento do seu tempo, de qualquer maneira. O percentual de 25 passava em seu apartamento minúsculo, nos arredores de Denver, e passava as noites em bares pequenos e sombrios, e bares de strip-tease. Sim, esse era o tipo de vida que ela sempre imaginou ter.

Steele vivia nos arredores de Nashville, um pouco menos de duas horas de carro de distância da fortaleza Kelly no Lago Kentucky. Ele era um solitário, e talvez fosse por isso que ela gostava e respeitava-o tanto. Ele não queria ser intrometido, então raramente se intrometia na vida de sua equipe.

Nashville era longe o suficiente para que ela não estivesse coberta pela equipe o tempo todo, mas perto o suficiente para que nas missões nas quais tivessem que agir rápido, ela não ficasse presa viajando de Denver ou a equipe viesse até ela na rota para a localização final.

Mas agora ela tinha uma complicação que não imaginara. Cole.

Cole vivia entre Nashville e o complexo da KGI. Mudar-se para Nashville significaria estar muito mais perto dele, e ela não tinha certeza de como se sentia sobre isso agora. Ele era uma distração que ela não precisava.

A pessoa sentada ao seu lado no banco do meio levantou-se e foi para o banheiro, e PJ se inclinou para a janela, na esperança de conseguir cochilar por uma hora antes que desembarcassem em Nashville. Com o canto do olho, viu Cole seguir também na direção do banheiro diversas fileiras atrás dela.

Quando a mulher que estava sentada ao lado de PJ saiu, Cole a parou e os dois conversaram por um momento. Cole ligou aquele charme contagiante e o sorriso suave, e PJ observou desgostosa, enquanto ele a transformava em massa de modelar em suas mãos.

Ela franziu a testa ainda mais quando a mulher voltou, mas não parou em seu assento e em vez disso continuou. Em seguida, Cole começou a voltar para o corredor sem ir ao banheiro e ela gemeu quando ele parou sobre a pessoa no assento do corredor e sentou-se ruidosamente ao lado de PJ.

— Ah, qual é, Cole, — PJ murmurou. — Isso foi realmente necessário?

Ele sorriu.

— Eu só disse a ela que estamos viajando juntos e não conseguimos assentos e, então, ofereci o meu assento no corredor algumas poltronas atrás. Ela estava feliz por nos acomodar.

— E mais uma vez, por quê?

— Relaxe, Rutherford. Você está muito tensa. Você age como se a noite passada fosse o fim do mundo.

— Cale-se! — Ela sibilou entre os dentes. — Não terei essa conversa com você em um avião lotado.

Ele virou-se e inclinou-se até que estivesse perto, e murmurou em voz baixa.

— Aconteceu, PJ. Nada que você disser ou fizer alterará esse fato, portanto supere isso.

— Isso não significa que você tem que agir como se fôssemos um maldito casal agora.

— Por que você está tão espinhosa? — Perguntou ele.

Não havia censura ou condenação, apenas honesta curiosidade.

— Você foi distante desde o primeiro dia. Ninguém podia chegar perto de você. Ninguém podia fazer-lhe perguntas. Inferno, você sabe tudo o que há para saber sobre mim, Dolphin, Renshaw e Baker. Nem tanto sobre Steele, mas quem sabe muita coisa sobre ele? Mas você age como se fosse um pecado capital sabermos alguma coisa sobre você. O que aconteceu com a SWAT é uma droga, mas você acha honestamente que a equipe iria julgá-la se eles soubessem? Ou será que você não confia em nós, porque sua última equipe te decepcionou?

Ela suspirou e bateu a cabeça contra a janela. Eles ainda tinham mais duas horas e agora Cole estava exatamente em seu espaço. Não havia escapatória. A menos que ela quisesse ficar no banheiro apertado pelo resto do voo.

Ele se aproximou mais dela até que seu ombro descansasse contra o dela e ela conseguia sentir seu cheiro. O cheiro do sabonete dela sobre ele, já que ele tinha usado seu chuveiro. Mas ela usava sabonete comum, de modo que não era o cheiro de sabonete que ela estava sentindo. Era ele. Masculino, limpo e delicioso.

Era muito fácil lembrar quanto tempo ela passou perto e íntima de toda aquela pele masculina maravilhosa. Ela o lambeu e ele a lambeu em troca. Ah, sim, ele a lambeu.

Ela estremeceu.

— Está com frio? — Ele perguntou. — Posso ajustar o ventilador.

Ela balançou a cabeça e se perguntou como iria sobreviver nas próximas duas horas.

 

Quando PJ e Cole deixaram o portão de segurança em Nashville, PJ gemeu quando viu Dolphin em pé a uma curta distância segurando um cartaz que dizia PJ em letras grandes. Espertinho. Ela geralmente se divertia com isso e falava algumas bobagens com ele, mas não hoje.

Ele sorriu quando viu ela e Cole juntos e, em seguida, começou a caminhar em direção a eles. Ele era o epítome do bom e velho garoto pretensioso. Era originalmente do Texas e tinha a aparência de cowboy sem realmente parecer que viera diretamente do rancho. Frequentemente usava jeans com pelo menos meia dúzia de buracos, sandálias que faziam parecer que ele estava indo para a praia e camisetas, geralmente com dizeres sarcásticos. A de hoje dizia: Fortemente armado, facilmente irritável.

Porra, ela queria aquela camiseta.

Ele, assim como Cole, era um ex-SEAL da Marinha, e era chamado de Dolphin[1] desde o treinamento BUD/S[2], pois nadava como um golfinho. O cara se sentia mais à vontade na água do que em terra. PJ meio que esperava encontrar brânquias em sua caixa torácica em algum lugar.

— Reunião agradável aqui, Cole, — Dolphin disse com um sorriso malicioso.

Antes que PJ pudesse contemplar a remoção dos testículos de Cole, — ela sabia que isso iria acontecer! — Ele respondeu com tanta naturalidade que até ela mesma acreditou.

— Eu vi PJ saindo de um dos portões. Imaginei que iríamos para o mesmo lugar, portanto achamos que seria bom virmos juntos.

Dolphin franziu a testa.

— Você saiu da cidade?

Cole bufou.

— Eu tenho uma vida, sabe? Nós deveríamos ter um descanso e relaxamento prolongados.

PJ o interrompeu, aliviada que Dolphin pareceu aceitar a explicação de Cole.

— Então, o que está acontecendo, Dolphin? Steele foi tão reticente como sempre quando ele me ligou.

Dolphin deu de ombros enquanto indicava a porta que conduzia ao estacionamento.

— Agora você me pegou. Você o conhece. Saberemos tudo quando Steele considerar adequado. Quanto a mim, sou apenas o garoto de recados enviado para fornecer uma carona a PJ.

Nesse momento o telefone de Cole disparou. Ele olhou para baixo e franziu a testa ao ler a mensagem.

— O que foi? — PJ perguntou e então percebeu o quanto ela parecia curiosa.

Mas Cole não parecia incomodado.

— Acabou de chegar uma mensagem de texto. Steele diz que vamos nos encontrar na casa dele, não no complexo.

— Ah, sim, — disse Dolphin. — Você não sabia? Eu acho que o mundo está chegando ao fim. Vamos conhecer o santuário de Steele? Deve ser uma merda pesada e bonita. Só espero, pelo inferno, que meu OnStar[3] possa encontrá-lo. Conhecendo-o, provavelmente não está em nenhum mapa oficial de GPS.

PJ e Cole trocaram um olhar. Dolphin estava sendo espertinho, mas ele não estava muito longe da verdade. De repente, estava ansiosa para chegar ao inferno para onde estavam indo para que pudesse descobrir para que tipo de missão foram chamados tão em cima da hora.

Quando chegaram à caminhonete de Dolphin, ele agarrou a mochila de PJ antes que ela pudesse lançá-la na parte de trás. Ela subiu na cabine extra, deixando a frente para Cole. Só esperava que ele entendesse o recado. Encontrou-se prendendo a respiração enquanto ele caminhava para o outro lado.

Para seu alívio, ele subiu na frente, assim que Dolphin deslizou atrás do volante.

— Você conseguiu descansar, PJ? — Dolphin perguntou enquanto olhava no espelho retrovisor.

Ela esforçou-se muito para não corar. Cole fez um barulho que parecia um cruzamento entre uma tosse e uma risada. Ela queria enfiar a faca diretamente na parte de trás do pescoço dele. O idiota estava gostando disso.

— Dormi como um bebê, — ela disse em uma voz sedosa.

Dolphin balançou a cabeça.

— Eu gostaria de ter dormido. Pensei que ficaríamos um bom tempo parados, então saí. Inferno, minha cabeça ainda está doendo.

PJ revirou os olhos. As noites de Dolphin eram lendárias. Ele sempre tinha uma nova história sobre todas as porcarias nas quais entrava. Pelo menos isso passava o tempo durante as viagens e quando ficavam presos em algum buraco de merda aguardando ordens ou que o inimigo fizesse algum movimento.

— Eu não consegui dormir muito, — Cole disse maliciosamente.

Dolphin deu uma gargalhada.

— Você finalmente transou, cara? Eu estava começando a pensar que você estava pensando em ser monge.

PJ queria rastejar sob o assento. Não que a discussão fosse fora do comum. Quando estava trabalhando, ela era apenas um dos caras. Ela não recebia um passe, porque era mulher, e gostava dessa maneira. De jeito nenhum queria que eles agissem estranhamente ao seu redor, com medo de dizer qualquer coisa, por receio de ofendê-la.

O que a surpreendeu ainda mais foi que se as palavras de Dolphin eram para serem levadas a sério, Cole dissera a verdade sobre não pular na cama com qualquer uma.

— Monge? Nah. Eu só precisava encontrar a mulher certa.

Dolphin balançou a cabeça exageradamente.

— Cara! Não me diga que você está fora do mercado! Eu sabia que os malditos Kellys eram más influências. Se não tivermos cuidado, estaremos todos domesticados e sem bolas antes que missão acabe.

PJ fechou os olhos e desejou que Dolphin dirigisse mais rápido.

— Não há nada de errado com uma mulher, — Cole falou devagar — desde que ela seja a pessoa certa.

— Então, diga, — Dolphin insistiu. — Como ela é?

Cole sorriu.

— Um cavalheiro não beija e sai contando.

Graças a Deus.

— Então é por isso que você estava fora da cidade, então, — Dolphin refletiu. — Como ela se sente sobre você ser arrancado de sua cama de forma tão abrupta?

Cole cortou um olhar por cima do ombro em direção PJ, e ela lhe lançou um olhar assassino que dizia se não calar a boca, eu vou matar você.

Ele riu e bateu os dedos sobre o painel.

— Ela foi notavelmente compreensiva. Claro, eu prometi a ela que estaria de volta logo que eu pudesse.

PJ engasgou e depois tossiu para cobrir o som. Ela iria chutar sua bunda maldita por causa disso. Ele iria torturá-la indefinidamente, e não havia absolutamente nada que pudesse fazer sobre isso, sem deixar que todo mundo soubesse que dormiram juntos.

— Quando foi a última vez que você transou, PJ?

Seus olhos se arregalaram enquanto olhava para Dolphin, que estava olhando para ela no espelho retrovisor. Não era como se essa fosse uma pergunta fora do comum, especialmente vindo de Dolphin, que não tinha nenhum refinamento. Aquela coisa de garotos. Mas o momento era uma merda.

Cole virou em seu assento e enviou-lhe um sorriso malicioso.

— Sim, PJ, quando foi a última vez que você se divertiu entre os lençóis?

Ela mostrou o dedo médio para os dois e voltou o olhar para fora da janela enquanto voavam rodovia abaixo.

Ela cochilou, tentando bloquear a memória da noite anterior. Acordou assustada quando sua cabeça bateu na janela, e se endireitou para ver que estavam dirigindo por uma longa estrada de terra.

— Nossa! — Disse ela.

— Sim, — respondeu Cole. — Impressionante.

Hectares de pasto estendiam-se em cada lado da entrada. À distância uma lagoa enorme brilhava ao sol da tarde que estava desaparecendo. Cavalos pastavam aqui e ali. Não imaginava que Steele fosse uma pessoa que gostasse de cavalos.

Uma enorme casa de fazenda estava situada no meio do pequeno bloco de área cultivada. Uma densa floresta cercava todos os lados, e conhecendo Steele, ele provavelmente possuía acesso a tudo e controlava tão firmemente como faziam em Fort Knox.

— Ei, você tem que dar uma amostra de sangue no portão? — PJ perguntou enquanto se inclinava para frente.

Dolphin riu.

— Ele quase me fez sair e fazer um exame de urina.

PJ sorriu. Eles não davam a mínima para a vida particular de Steele, mas em frente a ele e nas costas, davam-lhe respeito absoluto. Podiam brincar sobre o quanto ele era durão, mas ele tinha a lealdade inabalável deles.

Steele tinha lhe dado uma chance. Apesar de seu passado, apesar de seu histórico. Ele viu além do que havia em um pedaço de papel e o fato de que ela se afastou de uma posição na equipe da SWAT, e ele acreditou nela.

Em troca, ela lhe dava 150 por cento todas as vezes.

Sua equipe venciam sem muitas contendas e ela sabia disso sem falsa modéstia. Trabalhavam como uma máquina bem lubrificada. Ela e Cole eram atiradores muito bons. Baker e Renshaw eram o músculo e o cérebro por trás de explosivos e manobras táticas. Dolphin era o homem de mil e uma utilidades. Ele conseguia fazer um pouco de tudo, qualquer coisa que a equipe precisasse. Steele era apenas o fodão filho da puta que podia fazer tudo.

Não que Cole também não fosse um fodão... Mas ele frequentemente estava atirando com PJ. Ele realmente a assustou pra caramba quando levou um tiro quando as equipes foram para a Colômbia resgatar Rachel Kelly de uma situação fodida.

Ela nunca admitiria isso. Nem em um milhão de anos.

Agora isso a fez pensar em quanto Dolphin chegara perto ao levar um tiro não há muito tempo.

— Ei cara, você está bem? — Ela perguntou enquanto estacionavam atrás de outros veículos.

Baker e Renshaw, obviamente, já estavam lá.

Dolphin virou-se com uma sobrancelha levantada.

— O que é isso? Preocupação da minha companheira de equipe?

Ela fez uma careta.

— É claro que estou preocupada. Você tem autorização para isso?

Ele balançou a cabeça e saiu da caminhonete e, em seguida, educadamente abriu a porta para ela.

— Estou bem, — disse ele, quando ela olhou para ele.

Ele levantou o punho e ela sorriu e bateu. Cole jogou para ela a mochila que ele pegou na traseira da caminhonete e eles se dirigiram para a porta.

— Sobre o fato de vocês dois chegarem juntos aqui, — disse Steele da varanda da frente. — Onde você estava, Coletrane? Achei que você chegaria muito antes.

— Estava fora da cidade, — disse Cole facilmente. — Pensei que tínhamos recebido folga. Peguei PJ no aeroporto e Dolphin nos deu uma carona até aqui.

Steele fez uma careta.

— Sim, desculpe por chamá-los em cima da hora.

— Então, o que está acontecendo, chefe? — Dolphin perguntou. — Por que você nos chamou tão rapidamente? Deve ser alguma merda pesada indo ladeira abaixo, certo?

Steele virou-se e fez um gesto para que entrassem.

— Vou dar-lhe o relatório com os outros. Não temos muito tempo.

 

Entraram no hall da casa de Steele, e curiosamente PJ observou o máximo possível, enquanto ele descia os dois lances de escada para dentro da sala de estar rebaixada.

Era todo masculino, robusto e ao ar livre. Parecia um pavilhão de caça. Rústico. Algo que poderia ser encontrado nas montanhas ao lado de um córrego cheio de trutas.

Piso de madeira, móveis de cedro, lareira enorme, de pedra. Havia várias peças de taxidermia[4], de um alce enorme sobre a lareira e um cervo montado diretamente através da sala de frente para o alce.

Um tapete de urso cobria o chão em frente à lareira, e várias outras peles de animais estavam presas à parede ou cobrindo os móveis.

Parecia o paraíso de um caçador. E, bem, Steele era essencialmente o maior caçador fodão que existia. Ele simplesmente passou a caçar os homens junto com o outro grande jogo que ele gostava.

Para sua surpresa, quando entraram na sala de estar, Donovan Kelly estava sentado com Baker e Renshaw em um dos sofás.

Van, como era chamado por pessoas próximas a ele, administrava a KGI com seus irmãos Sam e Garrett. Mais recentemente seus irmãos mais novos, Ethan, Nathan e Joe, juntaram-se às fileiras, mas os três irmãos Kelly mais velhos essencialmente comandavam o show.

Donovan era o nerd, e apesar de algumas pessoas olharem para ele, o compararem com seus gigantescos irmãos Neandertais e imediatamente pensavam: nerd, Donovan era um completo fodão. PJ tinha muito respeito por ele.

Ele era tranquilo. Não era necessário gritar para obter seu ponto de vista. Além disso, era inteligente, e para PJ, não havia nada mais sexy do que um homem inteligente. E se por acaso ele fosse um fodão completo também? O pacote perfeito.

— Ei, lá estão eles, — Baker gritou enquanto se levantava do sofá.

Houve um momento de punhos batendo e apertos de mãos quando a equipe se reuniu. Alguém poderia pensar que estiveram separados há séculos em vez de apenas três dias. Mas também sabiam que, em sua linha de trabalho, sempre havia a possibilidade de que um deles não voltar de uma missão.

Esta era a realidade que viviam, e os tornava mais próximos. Apesar de que PJ poder se assustar com o pensamento de ter pessoas próximas a ela, esta era essencialmente a sua família. Muitos irmãos mais velhos. Bem, exceto por Cole. Ela tinha praticamente cortado qualquer chance de olhá-lo como um irmão. Não que ela já tivesse olhado, de qualquer maneira.

Steele e Donovan estavam olhando para ela de forma estranha, e ela não conseguia se livrar da sensação de que de alguma forma tudo o que ela e Cole fizeram na noite anterior estava em sua cara para o mundo ver.

Donovan moveu-se para o lado dela, deu-lhe uma saudação, mas parecia sombrio. Alarme arrepiou sua espinha. Isso não tinha nada a ver com qualquer bobagem de consciência culpada que ela estava sentindo. Donovan não estaria aqui se essa não fosse uma missão muito importante.

— Sentem-se, — Steele disse a todos.

Ele e Donovan permaneceram em pé, enquanto os outros se largavam no sofá e nas cadeiras. PJ fez questão de pegar o único local disponível deixado no sofá ao lado de Baker e Renshaw, forçando Cole a se sentar em uma das poltronas vazias em frente ao sofá.

Steele respirou fundo. PJ alinhou-se ao humor dele com precisão. Ele estava hesitante, o que a deixava boquiaberta, porque ele não era do tipo que hesitava. Steele não era nada, além de um cara que ia direto ao ponto.

— Peço desculpas por chamar todos vocês depois que foi prometido um período de descanso. Algo aconteceu, no entanto. Algo grande.

PJ e os outros se inclinaram para frente. Todos ficaram completamente imóveis depois desse anúncio, porque, na verdade, teria que ser algo grande para provocar esse tipo de reação.

Steele virou-se para Donovan, que deu um passo adiante, com uma expressão de seriedade absoluta.

— Carter Brumley é um dos maiores traficantes de crianças no mundo. Ele gosta de jovens, de preferência na faixa de 8 a 12 anos, e lida exclusivamente com meninas.

O ódio na voz de Donovan era evidente para todos, e agora fazia todo o sentido a PJ por que ele estava aqui e por que a equipe fora chamada. Acima de todas as coisas, Donovan tinha um ponto fraco por crianças. Mulheres e crianças, mas principalmente crianças.

Ele tinha uma mão em cada missão que lidava com crianças, desaparecidas, exploradas ou raptadas.

— Ele é inimigo público número um em vários países. Muitas agências chegaram perto, mas ninguém foi capaz de derrubá-lo. Ele é inteligente, mas também tem sorte e tem mais vidas do que um gato.

— Nós vamos atrás dele? — Dolphin perguntou.

Steele silenciou-o com um olhar.

— Em uma maneira de falar, sim, — Donovan disse severamente. — Uma oportunidade se apresentou e não podemos deixar passar. Mas para chegar perto dele, vamos ter que usar meios pouco ortodoxos.

A testa de PJ franziu para isso.

Foi quando ambos, Steele e Donovan olharam diretamente para ela.

— O braço direito de Brumley tem uma predileção por morenas pequenas com pernas deslumbrantes. Ele gosta delas frágeis, seios pequenos. Não muito pequenos, mas não excessivamente bem dotada.

PJ teve a súbita vontade de cobrir os seios com os dois braços, enquanto olhava mortificada para os homens. Todos eles estavam avaliando seus encantos diante de Deus e de todos.

Seus lábios se curvaram com desgosto. Ela estava se comportando como uma maldita menina. Aqui, ela era um dos caras. Nenhum deles sequer piscaria, se estivessem falando do tamanho do pau uns dos outros.

— Ele também tem uma boca grande, — Donovan continuou. — Temos uma dica de uma prostituta com quem ele se relacionou que disse que ele é um falador. Com álcool suficiente e encorajamento, ele não guardaria nada.

PJ estava começando a ficar com um sentimento muito ruim sobre isso.

— O boato é que ele entregará as meninas para um comprador na Europa. Meninas americanas. A ordem é específica para loiras. De oito a dez anos. Olhos azuis. Cabelos longos. O comprador foi muito exigente.

— Jesus, — Cole disse com desgosto.

— Então, como vamos impedi-lo? — PJ perguntou uniformemente.

Donovan respirou fundo.

— Sabemos onde ele vai estar daqui a três noites. Há uma festa na qual ele participará em Viena. Arthur Stromberg, um dos maiores traficantes de armas da Europa, está organizando um sarau, e ele e Brumley são bons amigos. E aonde Brumley vai, Gregory Nelson vai. É aí que você entra PJ.

Cole sentou-se na beirada da cadeira, uma carranca sombria tornando seu rosto selvagem.

— O que quer dizer que é onde ela entra? Sobre o que exatamente estamos falando aqui?

Steele franziu o cenho e Donovan levantou a mão.

— Deixe-me terminar.

Cole não sentou e PJ perfurou-o com o olhar. A última coisa que precisava era ele envergonhando-a na frente de sua equipe.

— Nós queremos que você fique perto de Gregory Nelson na festa. Seja amigável. Sorria muito. Aguarde o convite. Uma vez que o pegue sozinho, tente obter o máximo possível de informações.

PJ piscou e olhou para Donovan, sem saber ao certo o que dizer.

Cole não sofreu qualquer problema desse tipo, no entanto. Ele estava de pé, com os punhos cerrados nas laterais do corpo, como se fossem bolas.

— Que porra é essa, Van? Você quer que ela se prostitua para obter informações?

Os outros caras também não pareciam entusiasmados com a ideia.

— Por que nós não apenas entramos na festa, derrubamos Carter Brumley e livramos o mundo de sua imundície? — Cole exigiu.

— Eu não gosto da ideia mais do que você, — Steele, disse em uma voz concisa. — Mas não podemos simplesmente entrar e derrubá-lo. Por um lado, ele estará protegido até os dentes. Precisamos de um inferno de muito mais mão de obra do que uma equipe ou mesmo a equipe de Rio com a gente. Eliminá-lo não nos ajudará a libertar as meninas. Esta missão requer delicadeza e paciência.

— E onde diabos estaremos enquanto PJ estiver trabalhando com Nelson? — Cole exigiu.

— Vamos estar perto, — disse Donovan. — Não a deixaremos sozinha e vamos fornecer o quarto do hotel para o encontro. Reservaremos o quarto ao lado para que se alguma coisa der errado, estaremos lá em cinco segundos.

— Eu não gosto disso, — Cole disse teimosamente.

PJ ficou de pé como uma bala, determinada a fazer Cole calar a boca.

— Ei, todos podem calar a boca um minuto e deixar a pessoa que está realmente envolvida fazer algumas perguntas?

Cole relutantemente fechou os lábios e, em seguida, retomou o seu lugar, mas continuou a olhar agressivamente para Donovan.

— Isso tudo parece bom no papel, — PJ disse sinistramente. — Mas há muitos malditos buracos neste esquema. Eu não sou uma garota de programa. Não sou uma mulher sedutora ou atraente. Não consigo andar três passos de salto alto e tenho a maldita certeza que não tenho pernas deslumbrantes.

Os lábios de Cole apertaram ainda mais, e ela certamente conseguia ver a negação em seus olhos. Ela atirou punhais para ele, uma promessa de que, se ele abrisse a boca ela removeria seus testículos. Ele pareceu entender o recado, porque permaneceu em silêncio.

— Você ficaria bem em um traje formal PJ, ¯ disse Donovan.

— E como diabos você sabe disso?

Ele sorriu.

— Eu posso ver além da camuflagem e das besteiras. Você vai ficar deslumbrante no vestido e sapatos certos e com o cabelo certo e maquiagem. Aposto que sua própria equipe não a reconhecerá quando eu terminar.

— Uh, Van? Você vai ser meu conselheiro sobre guarda-roupa?

Ele levantou uma sobrancelha.

— Por que não? Eu sei o que fica bem em uma mulher. Não vou ser de muita ajuda com cabelo e maquiagem, mas vou me certificar de que tenha alguém que possa ajudar com isso. O importante é que você acredite que pode executá-lo. Você tem atitude e confiança. Não há dúvida sobre isso.

— E eu irei para essa festa sozinha?

— Posso adquirir convites para você e para mim. Vamos juntos, mas você vai precisar se afastar quando estivermos dentro de modo que possa fazer contato com Nelson. Uma vez que a paquera for feita e você estiver com ele no gancho, você lhe dirá onde está hospedada, e que não se oporia a ter companhia. Se tudo funcionar do jeito que esperamos, ele vai ser como massa de modelar em sua mão.

Ela olhou para Steele, seu chefe de equipe, o homem no qual colocava toda a sua confiança.

— O que você acha? — Ela perguntou em voz baixa.

Ela não se importava se ofendesse Donovan ao procurar a opinião de Steele quando na realidade Donovan assinava todos os seus contracheques. Donovan não era o seu líder de equipe. Steele era.

Donovan estivera em muitas missões com eles. Ele tinha seu respeito. Mas Steele era de quem ela recebia ordens e de ninguém mais.

Steele ficou em silêncio por um longo tempo, como se lutando com seus pensamentos. Então, olhou em sua direção, encontrando seu olhar.

— Eu acho que é provavelmente a nossa melhor opção. Eu não gosto disso, mas acho que podemos fazer acontecer e nos certificar de que você estará segura.

— Isso é insano pra caralho! — Cole explodiu. — Desde quando nós prostituimos nossos companheiros por uma missão? Vocês sequer entendem o que poderia acontecer a ela se a mínima coisa der errada? Ela vai ficar desamparada.

— Já chega, Cole — disse ela através dos dentes. — Você precisa calar a boca e se acalmar. Eu não sou uma menininha indefesa. Eu posso me defender e minha equipe não vai me decepcionar.

Não como a última equipe a decepciona. Não foi dito, mas ela sabia que Cole entendeu o significado. Ela confiava em seus companheiros de equipe. Eles não eram Derek, Jimmy e Mike.

— Não, não vamos, — disse Baker, a voz tensa com absoluta seriedade.

Renshaw assentiu em concordância.

— Ela tem que ir com um microfone sem fio, — Dolphin disse. — Temos que saber o que está acontecendo em cada passo do caminho para que se as coisas saírem do nosso controle, possamos dar um fim na missão rapidamente.

Donovan fez um som de exasperação.

— Nós não vamos colocá-la em perigo para depois abandoná-la. Esta é uma missão como qualquer outra. Trabalhamos como uma equipe. Planejamos para qualquer eventualidade.

Então ele se virou para PJ.

— Esta missão não é obrigatória. A escolha é completamente sua e não vai ser usada contra você, se optar por sair. Eu vou entender por completo, se não quiser assumir esse tipo de risco.

— Não faça isso, PJ, — Cole falou entre dentes. — Vamos encontrar outra maneira para salvar as meninas.

Mas eles não conseguiriam. Não com essas meninas. Seria tarde demais para elas. Apenas bebês. Tiradas de suas mães e suas casas. Forçadas a suportar pesadelos que nenhuma criança deveria experimentar.

Como poderia dizer não quando tinha a oportunidade de ajudá-las?

Seu olhar varreu a sala. Seus companheiros de equipe estavam quietos, as expressões pensativas. Todos olhavam para ela, um firme apoio refletido em seus olhos.

Cole estava furioso. E preocupado. Ela podia ver a preocupação em seus olhos azuis a um quilômetro de distância e a irritava que ele não tivesse mais confiança em suas habilidades. Eles transaram somente uma vez e ele já estava agindo como um tolo superprotetor. A próxima coisa que ele gostaria seria que ela ficasse atrás dele em suas missões para que nunca fosse pega no fogo cruzado.

Então, ela olhou para Steele e Donovan. Procurou a expressão de Steele, procurando algum sinal do que ele estava pensando. Finalmente, ela desistiu e expressou sua pergunta em voz alta.

— Steele? Você acha que isso é o que precisamos fazer?

— Eu não posso tomar essa decisão por você, PJ. Não vou expor minhas opiniões sobre isso. É uma causa justa, ou eu não teria me incomodado em chamar vocês quando acabaram de sair de uma missão onde não tiveram oportunidade de dormir e estão precisando desesperadamente de algum tempo de inatividade. Mas tudo que eu posso fazer é chamá-los.

Steele inspecionou os outros e, em seguida, olhou para PJ.

— Vamos colocar em votação.

PJ respirou fundo e engoliu parte da ansiedade que estava se construindo em seu peito. Dê-lhe um rifle de atirador e diga qual era o alvo a ser derrubado e ela poderia fazê-lo dormindo. Mas isto... Isto estava tão fora de sua zona de conforto que sua mente estava gritando ‘que porra é essa?’ para ela.

— Estou dentro, — ela disse com voz firme.

Steele olhou para os outros.

Dolphin soltou um suspiro.

— Inferno, eu estou dentro. Ela não vai sem a sua equipe.

— Idem, — murmurou Baker.

— Eu estarei lá, — Renshaw falou.

Só faltava Cole, que ainda estava parecendo irritado. Ele olhou para PJ, em seguida olhou para todos os outros.

— Porra. Eu também estou dentro, mas eu não gosto disso e vou continuar dizendo isso.

— Okay então, nós iremos, — Donovan disse suavemente.

 

Cole sentou-se com os outros enquanto esperavam PJ renovar o visual. Ela, Donovan e a mulher que contrataram para remodelá-la esconderam-se naquele maldito quarto de hotel por duas horas e ele estava ficando mais irritado a cada minuto.

Cada um de seus instintos dizia que tudo isso era errado. Ele não podia acreditar que Donovan e Steele recrutaram PJ para colocá-la em uma posição vulnerável e não podia acreditar que PJ concordou.

Bem, talvez ele não fosse tão longe. PJ era impressionante. Era uma das coisas que admirava nela. Ela fazia o trabalho e nunca reclamava. Equiparava-se aos caras da equipe, e para ser honesto, ele admitia, muitas vezes, ela estava acima e além.

Ela era uma atiradora danada de boa, e, por mais que seu ego ficasse ferido, ele nunca a envolveria em competição abertamente. Ela provavelmente colocaria fumaça em sua bunda e ele nunca esqueceria.

Esfregou as mãos pelo jeans e tamborilou o polegar sobre o joelho.

— Quanto tempo isso irá demorar, afinal de contas? — Resmungou.

A porta do quarto ao lado se abriu, e Donovan saiu adornado em um ostentoso smoking brilhante, sapatos muito caros, e o cabelo parecia que tinha algum tipo de gel.

Assobios soaram e Donovan revirou os olhos.

— Porra cara, você está bonito — Dolphin exultou.

— Onde está PJ? — Steele perguntou. — Temos que sair em poucos minutos, se vamos cumprir o cronograma.

Donovan virou-se e estendeu as mãos para trás. Um momento depois, puxou PJ para ficar ao seu lado. A sala inteira ficou em um silêncio mortal.

Cole quase engoliu a língua. Pura merda!

PJ estava extremamente atraente. Estava usando um vestido que dava uma nova e total definição ao pretinho básico. E inferno, ele era curto. Minúsculo!

Encaixava-se perfeitamente em seus quadris e se agarrava as coxas, parando alguns centímetros acima dos joelhos. A parte de cima tinha pescoço cavado que dava uma visão impressionante de seu decote. Os montes suaves subiam tentadoramente até o decote, mas causavam mistério o suficiente para fazer um homem realmente querer puxar um pouco aquele tecido.

Os cabelos estavam penteados para cima na parte de trás e empilhados no topo da cabeça e alguns cachos escapavam por suas bochechas e em sua nuca, dando-lhe um olhar suave e feminino que deixou Cole gemendo. Diamantes estavam pendurados em suas orelhas. Inferno, ele sequer sabia que as orelhas dela eram furadas. Em torno do pescoço havia um simples pingente de diamante que parecia caro, mas era elegante e não exagerado.

Em torno do pulso ela usava uma pulseira deslumbrante que agarrava a luz e a refletia. Suas unhas. Ainda fizera as unhas para a ocasião. Perfeitamente cuidadas e pintadas de vermelho brilhante para combinar com o toque de cor nos lábios.

Seus cílios eram longos, acentuando os surpreendentes olhos verdes, e ele ficou satisfeito ao ver que além de batom e rímel, eles não a maquiaram demais. Ela não precisava de muita maquiagem. Ela era muito linda do jeito que era.

Mas a pièce de résistance eram as... Pernas.

Santo inferno em um balde. Donovan disse que esse cara Nelson era louco por pernas deslumbrantes, e Cole sabia por experiência própria que PJ tinha um conjunto muito bom, mas vê-la em saltos e com aquele vestido curto?

Ele limpou a boca para se certificar de que não estava babando ou que não estava de boca aberta.

Ela tinha o corpo definido. Tonificado por um regime rigoroso de exercício. Suas pernas eram uma coisa linda, e ele não precisava pensar muito para lembrar-se de como elas eram deliciosas em volta dele enquanto ele estava deslizando dentro dela cada vez mais.

O suor escorreu por sua testa assim que a sala irrompeu em reação ao ver PJ.

— Uau! — Baker exclamou. — Puta merda, PJ, você está gostosa!

Ela fez uma careta e Cole podia ver o nervosismo em seus olhos. Seu desconforto era evidente. Ela não gostava de estar no centro das atenções.

Dolphin assobiou e sorriu.

— Van estava totalmente certo. Você fica muito bem em trajes formais, que bom!

Renshaw acrescentou um assobio de sua autoria.

— Você está linda, PJ. — Steele, disse em seu tom calmo e sereno.

Linda? Inferno, ela estava maravilhosa. Mas Cole gostava dela muito mais em seus uniformes camuflados com o rosto pintado. Ele fantasiou mais do que algumas vezes sobre levá-la para cama, tirando seu uniforme e pintando todo seu rosto.

— Você não tem nada a dizer, Cole? — Dolphin perguntou incrédulo. — Ela está gostosa-doce!

Cole limpou a garganta e então viu o olhar desesperado nos olhos de PJ. Isso o incomodava. Ela deveria conhecê-lo melhor para não pensar que ele comentaria o que aconteceu entre eles. Não que ele desse a mínima. Agora mesmo, gostaria de ter um selo que dissesse — Minha, mantenha distância — e colocá-lo diretamente na testa dela.

— Você está linda de matar, P.J.

— Obrigada, pessoal, — ela disse em voz baixa.

— Okay, então é assim que faremos, — disse Steele, tirando a atenção de todos para ele. — Donovan e PJ chegarão juntos. Estaremos monitorando cada movimento de PJ assim que eles se separarem.

Os olhos de Cole se estreitaram.

— Onde diabos está o fone sem fio e como vocês vão escondê-lo nesse traje? Ele não chega sequer a cobrir o corpo dela, muito menos qualquer outra coisa.

PJ fez uma careta para ele.

— Não borre o batom, querida, — ele falou devagar. — Ele está muito bonito em você.

Ela revirou os olhos e balançou a cabeça.

— Parem com isso vocês dois, — Steele vociferou.

— PJ está usando o último dos meus brinquedos tecnológicos, — Donovan disse com um sorriso que reservava para qualquer momento quando estava falando sobre seus brinquedos de alta tecnologia.

Ele levantou o braço dela e virou-o ligeiramente para que o interior ficasse visível.

— O que vocês não podem ver é esse adesivo da cor da pele. É realmente feito de pele humana e combina perfeitamente com a pele dela. Embaixo está o chip que nos permite ouvir tudo o que ela ouve.

— Sério? — Dolphin perguntou.

Ele se levantou e se aproximou. Estendeu a mão para tocar o braço de PJ, correndo o dedo para cima e para baixo no cotovelo até a axila. Cole queria dizer a ele para tirar as mãos de cima dela, mas isso não cairia bem nos ouvidos de PJ.

— Estou ferrado! — Dolphin disse. — Eu não consigo perceber que ele está lá.

— A intenção é essa, — Steele disse secamente.

Donovan continuou.

— Eu tenho adesivos de pele com localizadores GPS, também, mas a pulseira tem uma mini câmera que exibe imagens em tempo real, em alta definição. Com um simples toque da bochecha ou um casual roçar de um fio de cabelo atrás da orelha, ela poderá nos dar uma boa visão de tudo ao seu redor. E tem um localizador GPS, caso precisemos encontrá-la rapidamente, então ele mata dois pássaros com somente uma pedra.

O intestino de Cole apertou. Ele não queria pensar em piores cenários.

— Então me deixe ver se entendi, — Cole interrompeu — Você e PJ irão a esta festa intelectual. Ela se separará de você, concentrará a atenção sobre esse Nelson e se aproximará dele, dirá onde ela vai ficar e depois sairá e esperará que ele venha com ela?

Os outros olharam para ele estranhamente.

— Nós já passamos por isso, — disse Steele, impaciente.

— Sim, bem, eu só quero ter certeza.

PJ deu de ombros.

— Ele pode querer sair comigo. De qualquer forma, o resultado é o mesmo. Ninguém pode prever o que ele vai querer ou se ele vai mesmo morder a isca. Mas adaptarmos a uma situação de mudança é o que fazemos e somos muito bons nisso.

— Hooyah,[5] — Dolphin cantarolou. — Eu sugiro que devemos transformá-la em um SEAL honorário.

Sim, Cole sabia que estava sendo um covarde total sobre a coisa toda. Ele simplesmente não conseguia se livrar do nó no estômago. Ele só queria que essa noite terminasse logo para que PJ estivesse de volta onde ela pertencia. Segura. Com sua equipe. De preferência onde ele pudesse vê-la em todos os momentos.

— E é precisamente por isso que nós temos que ficar em guarda, — disse Steele. — Não sabemos como as coisas vão acontecer.

Ele se virou para PJ.

— Se você precisar sair a qualquer momento, você sabe a palavra. Não hesite em usá-la. Durante a festa, Cole, Dolphin, Baker, Renshaw e eu estaremos do lado de fora espalhados ao longo do perímetro. Quando você sair, vamos marcá-la e segui-la até o hotel. Se alguma coisa mudar, apenas certifique-se que você ficará conversando sobre isso para que saibamos o que está acontecendo.

Donovan tocou em seu braço.

— Eu vou estar lá dentro o tempo todo até você sair. Qualquer problema, estarei observando.

Então ele se virou para os outros.

— Há muita coisa envolvida neste assunto. Além da óbvia necessidade de livrar o mundo destes canalhas e tirar aquelas meninas de lá e devolvê-las para suas casas, há três governos oferecendo uma recompensa enorme se entregarmos este idiota. Morto ou vivo, eles não se importam. Resnick o quer vivo, porque quer informações sobre sua rede. Por mais que nosso contato residente da CIA tenha me irritado pra cacete nos últimos tempos, estou inclinado a concordar com ele. Brumley é apenas o fornecedor. Há um monte de filhos da puta doentes que estão comprando essas meninas lá fora, e eu quero os traseiros deles também.

Todos assentiram em concordância, as expressões sombrias.

— Então vamos pregar a bunda dele na parede, — PJ disse. — Posso flertar com o próprio diabo se isso nos ajudar a salvar essas crianças.

Cole soltou a respiração, porque ela estava certa. Se fosse qualquer outra mulher, exceto PJ, ele não estaria tão irritado sobre ela entrar nesse tipo de situação. Isto é o que eles faziam. O que fosse preciso para cumprir a missão.

Ele precisava parar de pensar nela como a mulher com quem ele dormiu, a mulher que ele reivindicou, mesmo que ela não tivesse ideia de que, na cabeça dele, ela era dele.

Essa noite ela era apenas uma companheira de equipe. A quem ele teria que dar cobertura e certificar-se que sairia da missão segura e ilesa. Não era nada que não tivesse feito centenas de vezes antes.

— Okay, então, se não houver dúvidas ou preocupações, vamos sair, — disse Steele.

 

A residência não era o que PJ esperava. Era bem no coração da cidade, com parques de estacionamento. Quatro homens estavam exercendo as funções de manobrista e movendo-se rapidamente ao longo da fila de carros à espera.

Donovan optou por estacionar a um quarteirão de distância para que tivesse acesso a um veículo, se necessário, e ele e PJ andaram em direção ao portão, onde dois homens corpulentos parecendo seguranças estavam postados verificando os convites.

Curiosamente, havia várias mulheres, todas vestidas como árvores de Natal espalhadas ao longo da calçada. Uma loira estonteante foi abordada por um dos homens que saía do carro. Conversaram um pouco e em seguida, a mulher sorriu e enrolou o braço com o do homem e caminhou até a porta, onde ele mostrou seu convite.

— Isso é o equivalente europeu de um encontro às cegas? — PJ murmurou.

Donovan riu.

— Prostitutas. Só que de mais alta classe. E infernalmente muito mais caras. Começam em uma festa como esta, e sabem que podem marcar um Sugar Daddy[6] para a noite.

— É isso que você é esta noite? — Ela perguntou maliciosamente. — Meu Sugar Daddy?

— Claro que não, eu vou despejar seu traseiro assim que entrarmos, lembra-se?

Os dois ficaram em silêncio quando se aproximaram do portão. Donovan estendeu o convite escrito caprichosamente e foram encaminhados para dentro, onde outro homem instruiu Donovan para manter as mãos acima da cabeça enquanto o revistava.

Ele olhou um momento para PJ, mas depois acenou para que entrasse depois de decidir que não havia muitas opções para ela estar escondendo uma arma.

Ela se sentiria infernalmente muito melhor se tivesse, pelo menos, uma arma. Seu rifle era uma extensão de si mesma. Era estranho não sentir as mãos em torno dele, quando estava em uma missão. Mas uma pistola faria muito bem para esta ocasião. Então, talvez, ela não estivesse tão nervosa.

Algumas mulheres faziam as malas. PJ fazia calor.

A escada de degraus de pedra que levava até a porta da frente era longa, e PJ rezou para que seus calcanhares não falhassem naqueles saltos e quebrasse o pescoço antes de estarem lá dentro.

Quando finalmente chegou ao topo, ela suspirou de alívio e depois respirou fundo quando entraram na casa. Foram encaminhados pelo hall de entrada e, em seguida, para onde portas duplas estavam amplamente abertas.

Música e o barulho da conversa podiam ser ouvidos lá de dentro. Donovan não hesitou, entrou como se fosse o dono do lugar, arrogante e confiante. Surpreendentemente, ele se encaixava bem no meio do brilho e do glamour de todos os participantes.

PJ parou, quando viu o salão brilhante. O aperto de Donovan se intensificou em sua mão quando ele colocou-a debaixo do braço.

— Não perca o ritmo agora, — ele murmurou. — Sorria e pareça confiante. Como se você pertencesse a esse tipo de lugar.

Fácil para ele dizer. Lugares como este causavam terror em seu coração. Estava cheio de gente bonita. Pessoas ricas e bonitas.

Havia um mar delas.

Ela quase riu quando Donovan habilmente manobrou-os no meio da multidão em direção ao bar. Ela estava aqui para granjear a atenção de um homem específico. Mulheres lindas estavam empilhadas em todos os cantos das paredes neste lugar. E ela deveria se destacar?

Donovan pegou duas taças de champanhe e entregou uma a PJ. Quando ele levantou a dele aos lábios, murmurou para ela.

— Tudo bem, vê o homem na sua extrema esquerda? Não, não olhe. Olhe gradualmente. Ele está em um grupo. Não pode perdê-lo. Loiro alto. Ri muito alto. Gosta de ser o centro das atenções. As mulheres o cercam porque sabem que ele tem dinheiro e poder. Elas não têm ideia de suas perversões ou fugiriam como o inferno.

Um arrepio correu-lhe a espinha.

Ótimo.

Casualmente examinou o salão até que encontrou o homem ao qual Donovan estava se referindo. Definitivamente não poderia perdê-lo. O som de sua risada era alto mesmo acima das mais de 200 pessoas reunidas.

— Esse é Brumley, e ele é um homem a se evitar. Sob nenhuma circunstância você irá querer ganhar sua atenção. Nelson está do outro lado da sala e atualmente está sozinho. Ele está examinando a multidão e, se eu tivesse que adivinhar, procurando uma presa. Você o vê de pé perto da janela? Um cara baixo e encorpado. Musculoso, mas ele não é um dos guarda-costas de Brumley ou estaria pendurado infernalmente mais próximo dele. Ele é o controle de danos de Brumley. É o cara que Brumley envia para limpar a bagunça. Cabelos escuros. Bigode. Falso bronzeado.

— Sim, eu o vejo, — ela murmurou, seus lábios mal se movendo.

— Agora seria um bom momento para você passar por ele. O banheiro feminino está além dele então é a oportunidade perfeita para você passar por lá e é provavelmente por isso que ele tomou posição lá, porque sabe que ele vai ver a maioria das mulheres em algum ponto em seu caminho para retocar a maquiagem. Vá reaplicar um pouco de batom e faça contato visual ao passar por ele. Olhe somente mais uma vez, apenas o suficiente para fazê-lo pensar que você talvez possa estar interessada, mas seja sutil e não estenda a mão muito cedo.

— Por que Van, você soa como um expert, — ela disse ironicamente. ¯ No entanto, ainda está solteiro?

— Espertinha, — ele murmurou.

Ela respirou profundamente.

— Okay, aqui vou eu.

— Você vai ficar bem, — ele tranquilizou. — Todos nós te daremos cobertura.

Ela agarrou a bolsa de contas, desejando desesperadamente que fosse uma pistola carregada, e andou tão graciosamente quanto era capaz para o outro lado da sala.

Assim que se aproximou, pôde sentir o olhar de Nelson sobre ela, despindo-a do vestido. Sentiu-se violada antes de estar a dez passos de distância, apenas pela intensidade daquele olhar lascivo.

Mesmo que Donovan tivesse dito para fazer contato com os olhos e fazer aquele primeiro movimento, seu instinto disse a ela que ser óbvia iria ajudá-la mais. Este era um cara que não gostava de não ser notado. Era uma pessoa acostumada a chamar atenção. Provavelmente tinha uma quantidade enorme de mulheres se agarrando a ele, em determinado momento, se não por ele, por sua conexão com Brumley.

Ela abriu o zíper da bolsa e fingiu focar sua concentração em encontrar o batom enquanto esperava chamar a atenção de Nelson. Assim que passou por ele, ela relaxou, mas ainda podia sentir o peso de seu olhar aborrecido em suas costas. Ele definitivamente a notou.

Parecia que a informação de Donovan estava correta, porque junto com PJ duas loiras e uma ruiva estonteante passaram na direção do banheiro feminino, mas Nelson sequer olhou para elas.

Posicionou-se na frente do espelho e se forçou a acalmar o nervosismo. Ela era uma profissional, com uma mão tão firme sob pressão quanto era possível. Sempre atingia seu objetivo. Sem suar. Sem entrar em pânico.

No entanto, essa coisa de se comportar como menina era mais aterrorizante do que uma companhia inteira de terroristas brandindo armas.

Ela fez um show retocando o batom, certificou-se que estava bonito e brilhante, depois esfregou os lábios, deslizou o tubo de volta na bolsa e alinhou os ombros, pronta para sair.

Para sua surpresa, quase bateu diretamente em Nelson quando saiu do banheiro feminino. Ela cambaleou para trás e sua mão voou para a parede para recuperar o equilíbrio.

Ele agarrou seu braço e ela conseguiu dar um sorriso fraco.

— Obrigada. Você me assustou.

— Você é americana, — ele disse em uma voz com forte sotaque. Uma voz que estava pesada com aprovação. Seus olhos brilhavam, e ela quase podia vê-lo esfregando as mãos como se ela fosse algum bife que ele estava prestes a devorar.

— S-sim, — ela balbuciou.

Ela não tinha nenhuma base para suas suposições, mas com a predileção por meninas que o chefe dele tinha, e que ele provavelmente tinha também, ela o imaginava procurando por jovens e inocentes. Mesmo quando encontrava mulheres maiores de idade.

Olhou para ele com os olhos arregalados e nervosos, e até mesmo enquanto fazia isso, o braço dele a envolveu protetoramente enquanto ele a arrebanhava de volta para o salão de baile.

Pararam um momento enquanto ele coletava bebidas para ambos. Enquanto ela ficou parada lá, Nelson olhou através da sala. Ela seguiu seu olhar para encontrar Brumley olhando fixamente para os dois. Se a franca avaliação de Nelson antes a incomodou, agora o olhar muito contundente de Brumley a fez sentir-se nua em uma sala cheia de estranhos. Em seguida, seus olhos brilharam e ele deu um aceno curto a Nelson que fez PJ congelar.

Nelson não lhe deu tempo para refletir sobre o significado por trás do assentimento de Brumley. Ele guiou-a em direção às portas do pátio e depois para o terraço. O ar da noite estava frio em seus braços e pernas nus. Foi uma desculpa para ele ficar ainda mais perto, e ele aproveitou, envolvendo um braço musculoso em volta dela, enquanto a rebocava para o seu lado.

Ela positivamente coçava para dar uma joelhada em suas bolas e depois chutar a bunda dele, mas conseguiu controlar os impulsos e, em vez disso, olhou timidamente para ele.

— O que uma garota americana como você está fazendo aqui? — Ele perguntou.

Ela levantou uma sobrancelha.

— Os americanos não são bem-vindos?

Ele riu.

— Não, é claro que são bem-vindos. — Ele a olhou por um longo momento, obviamente, estudando-a com ávida curiosidade. — Você é diferente das outras meninas. O homem com quem você entrou... Você pertence a ele?

— Eu não pertenço a ninguém, — ela disse secamente. — Eu o conheci lá fora. Fiquei sabendo sobre a festa e que seria algo repleto de luxo. Pensei que seria divertido para agitar. Havia outras mulheres se encontrando com alguns caras no portão. — Ela encolheu os ombros. — Eu pensei, por que não? Eu dei boas vindas a ele e agora estou livre para me misturar, comer boa comida e beber o quanto eu aguentar.

— Você até fala como uma americana, — Nelson disse com uma risada. — Tão independente. Eu gosto das garotas americanas. Elas têm fogo!

 

— Porra, ela convenceu até a mim, — Dolphin murmurou.

O resto da equipe se reunira do lado de fora de um bar a apenas meia quadra da casa onde a festa estava sendo organizada. Estavam vestidos casualmente. Como um grupo de caras que saiu para se divertir.

— Ela é boa, — disse Renshaw. ¯ Pensa rápido. Menina esperta.

Steele levantou a mão pedindo silêncio quando a conversa entre PJ e Nelson recomeçou. Cole ficou no escuro, as mãos enfiadas nos bolsos, como um touro no cio, enquanto ouvia com desgosto a fluência com que PJ conversava.

PJ disse e fez todas as coisas apropriadas. Era convincentemente hesitante e parecia tímida em sua forçada situação.

Nelson tornou-se um bajulador, aparentemente ficando mais excitado quanto mais relutante PJ se tornava.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, chegaram a um acordo de que iriam voltar para o quarto de hotel de PJ.

— No meu caminho para fora, — Donovan disse em voz baixa para que pudessem ouvir do transmissor que ele carregava. — Estou dando-lhes uma vantagem, então vocês vão vê-los primeiro. Marque-os e certifiquem-se que vocês estarão no rastro deles. Eu não quero que nada dê errado.

Cole girou bruscamente, esperando que eles aparecessem.

— Ele vai levá-la para os fundos. Ele provavelmente tem um carro estacionado atrás da casa, — Donovan relatou.

Cole começou a apertar os punhos, e como se sentisse a sua agitação, Steele focou nele.

— Acalme-se. Sabemos onde eles estão indo. Teremos a localização dela no GPS. Entre em seus veículos e deem a volta no quarteirão.

Os outros rapidamente se espalharam para fora, desaparecendo entre a multidão na rua à noite enquanto iam para seus veículos estacionados.

— Eu tenho um visual, — disse Donovan no fone sem fio.

— Eu gostaria que ela não estivesse tão calma, — Cole murmurou para Dolphin, que estava emparelhado com ele.

Deslizaram para a BMW e Cole imediatamente entrou no tráfego, olhando para o carro de Donovan.

Executou uma curva à esquerda e localizou o veículo de Donovan logo à frente. Um pouco da tensão o deixou. O hotel ficava a, pelo menos, 20 minutos dirigindo pela cidade, dependendo do trânsito. Cole queria estar lá ontem, porque não queria, de jeito nenhum, PJ sozinha com esse babaca por mais tempo do que o necessário.

Assim que ela fizesse o cara falar, Cole estaria colocando um fim nisso e ele não dava a mínima para o que Donovan ou Steele tinham a dizer sobre o assunto.

À frente, o tráfego ficou mais lento e luzes iluminaram a área. Cole pisou no freio e depois bateu uma mão frustrada no volante.

— Eles ainda estão conversando? — Ele exigiu saber. — Estão presos no trânsito também ou estão seguindo diretamente para o hotel?

Seu pulso estava tão disparado que custava a entender o que estava sendo falado no seu fone de ouvido. Todos estavam usando um receptor de modo que pudessem ouvir o que acontecia com PJ.

— Acalme-se. Eles não estão conversando muito. Oh, espere, tudo bem, sim, eles estão mais à frente. PJ está indo bem. Ela está mantendo-nos informados sobre o seu paradeiro sem ser óbvia. Parece que estão entrando no hotel.

— Filho da puta, — Cole desabafou. — Faça a sua magia sobre este GPS do caralho e encontre uma maneira de contornar este tráfego maldito. Eu não vou deixá-la sozinha com aquele bastardo viscoso.

— Relaxe, Cole. Nossa PJ pode derrubar um cara com as mãos amarradas atrás das costas. Ela é fodona!

— Ele é um maldito muito maior do que ela e também é treinado, — Cole disse rispidamente.

— Sim, bem eu ainda aposto na nossa menina. Okay, dê meia-volta e, em seguida, pegue a próxima rua lateral à direita. Podemos dar a volta desviando quatro quarteirões. Vai levar alguns minutos extras, mas chegaremos lá.

Cole e Dolphin se esforçavam para ouvir a conversa entre PJ e Nelson. Era óbvio que ela tinha acabado de deixá-lo em seu quarto, e Cole estava ficando cada vez mais nervoso a cada minuto.

— Eu tenho uma ideia melhor, — Nelson disse suavemente. — Tenho uma casa não muito longe daqui. Todo o tipo de vinho que você pode imaginar mais o que seu coração desejar comer.

— Estou mais interessada em algo um pouco mais forte, — PJ disse friamente.

— Que mulher! — disse Dolphin aprovação. — Mantendo-o lá e mantendo-o falando.

— Me dê o nome do seu veneno, — Nelson disse em um tom divertido. Provavelmente estava pensando que uma jovem e linda americana não teria nenhuma chance de levantar-se depois de algumas doses.

— Tequila, e acontece que tenho um frasco no armário de bebidas. Este hotel está muito bem abastecido. Vamos tomar uma bebida para ficarmos mais... Confortáveis?

— Porra, ela está soando tão sexy, — Dolphin disse enquanto voavam pelas ruas da cidade.

— Cala a boca, — Cole rosnou.

As coisas ficaram completamente silenciosas. Cole bateu no fone de ouvido.

— Ei, você está ouvindo alguma coisa, Dolphin? As coisas ficaram muito tranquilas.

Dolphin ficou em silêncio por um momento.

— Não, não estou ouvindo nada, mas eles podem estar preparando as bebidas.

Droga. Estavam se aproximando, mas o tráfego noturno era uma droga. E ainda havia muitos pedestres malditos nas ruas. Cole desviou de um pedestre atravessando a rua e continuou, seguindo para o hotel ainda oito quadras à frente.

Pegou seu celular seguro, planejando chamar Donovan ou Steele, mas ele estava provavelmente à frente deles e chegaria primeiro, de qualquer maneira. Não via vantagem em perguntar-lhes o que estavam ouvindo, porque ele teve o suficiente desta baboseira.

Ele iria entrar e arrastar PJ para fora. Poderia alegar ser um namorado ciumento. Ex-namorado. Qualquer coisa que não conseguisse estragar o disfarce dela, mas daria um fim nisso porque seus instintos estavam gritando que tudo deu errado e que PJ estava em grave perigo.

Cinco minutos depois, ele finalmente cantou pneus no estacionamento do hotel e estacionou debaixo do toldo em frente.

— Ei, espere um minuto, Cole, que porra você está fazendo? — Dolphin perguntou.

Cole já estava fora do carro e correndo para o saguão. Dolphin alcançou-o no elevador e colocou-o contra a parede, enquanto o elevador subia para o andar superior.

— Vou entrar e tirá-la de lá, — disse Cole. — Ela ficou silenciosa. A missão acabou.

Nesse momento a voz dela deslizou como seda nos ouvidos de Cole.

— Eu preferia muito mais o meu hotel — ela disse irritada. — Eu não sei por que era tão importante para você me levar para outro lugar.

— Nossa, o que? — Dolphin perguntou.

— Inferno, não. Ela não está deixando o hotel. Verifique o GPS. Dê-me sua localização.

Dolphin e Cole saíram do elevador e foram em silêncio para o quarto ao lado do de PJ enquanto Dolphin trazia os GPS portáteis.

— O GPS diz que ela está ali. Ao lado.

— Mas ela disse por que isso era tão importante. Não é, — disse Cole enquanto seu intestino apertava ainda mais. — Eu não gosto disso, Dolphin.

— A cidade é linda, — PJ disse, mais uma vez, de forma clara. — Até a ponte é muito bonita. Qual rio estamos atravessando?

Cole e Dolphin trocaram olhares e, ao mesmo tempo bateram na porta ao lado com força suficiente para derrubá-la. Correram para o quarto de hotel apenas para encontrá-lo vazio.

O armário de bebidas estava aberto, mas tudo o mais estava exatamente como PJ havia deixado.

Seus olhares rastrearam para baixo, e jogadas no chão estavam as joias que PJ estivera usando. O colar estava descuidadamente espalhado e os brincos estavam jogados como se tivessem sido arrancados dela e descartados.

Assim que pegaram a pulseira brilhante que foi quebrada em três pedaços, a voz de PJ veio sobre o fone sem fio mais uma vez.

— Eu ainda não acredito que você quebrou minha pulseira, — ela disse em um tom de quem fazia beicinho. — Era minha favorita.

— Ela não era nem mesmo verdadeira, — Nelson disse, impaciente. — Além disso, você não vai precisar dele. Tudo que você precisa se preocupar é em agradar-me.

A ameaça em sua voz enviou um fluxo quente no corpo de Cole. Raiva. Raiva por que PJ estava vulnerável e até agora ele não tinha a menor ideia de onde ela estava. Ela estava tentando dar-lhes pistas através do fone sem fio que Donovan tinha plantado nela.

Steele, Donovan, Baker e Renshaw entraram no quarto, as expressões sombrias. Eles ouviram tudo o que Cole ouvira.

Cole olhou para cima enquanto um medo frio substituiu a fúria aquecida que fervia em suas veias. Levantou a pulseira quebrada para que os outros pudessem ver.

— Temos um maldito e enorme problema aqui.

 

Os nervos de PJ foram disparados para o inferno no momento em que chegaram à casa de pedra que ficava a poucos quilômetros do centro da cidade. Embora à margem da agitação do centro da cidade, aquele era um bairro tranquilo e com muito mais espaço entre as casas. E aquela cuja garagem ele estava manobrando era enorme.

Ela fez ooh e os ruídos apropriados de apreciação durante todo o tempo tentando o melhor para transmitir informações suficientes para que sua equipe pudesse encontrá-la. Ela provavelmente soou como uma completa cabeça de vento pela maneira como repetiu cada informação, mas porra, ela estava com medo.

Nunca antes em uma missão havia sentido um medo como este. Se alguém lhe entregasse um rifle agora ela não conseguiria acertar o lado mais largo de um celeiro. Mas, então, nunca estivera separada de sua equipe. Sempre tivera seu apoio e suporte inabaláveis.

Agora? Estava completamente sozinha.

Estava convencida de que o idiota quebrou a sua pulseira de propósito, o que significava que ela estava em alguma merda muito profunda. Se ele suspeitava que ela não era quem ela disse que era ou mesmo se ele só queria brincar com segurança, isso a deixava sem uma rede de segurança maior ainda. E significava que ele tinha alguns planos não tão agradáveis para ela.

Pelo menos ainda tinha o adesivo em seu braço para que seus companheiros de equipe pudessem ouvi-la.

— Você fala demais, porra, — Nelson estalou quando a arrastou para a porta.

Ela parou e fez um show de irritação.

— Então talvez você devesse apenas levar-me de volta ao meu hotel.

A mão dele enrolou em torno de sua nuca e ele a empurrou para dentro da casa.

— Não vai acontecer, princesa.

— O que há de errado com você? — Ela perguntou enquanto tentava livrar-se do aperto dele.

Mas os dedos dele pressionaram ainda mais apertado em sua carne e ele só faltou levantá-la, arrastando-a para a sala de estar espaçosa. Jogou-a no sofá e depois arrancou a garrafa de tequila de suas mãos.

— Nem mesmo pense em ir a qualquer lugar, — ameaçou.

Ela levantou as mãos esperando que não estivessem tremendo.

— Ei, fica frio. Sirva-nos uma bebida. Não precisa ficar tão malditamente áspero. Você está louco? Porque deixe-me dizer antes que as coisas vão longe demais, que eu não estou. E se você estiver, então vamos resolver isso agora.

Ele deu-lhe um olhar que lhe disse sem palavras para calar a boca. Ela ficou em silêncio e esperou, cada segundo agonizante.

Ele pegou copos que certamente não eram pequenos e despejou uma quantidade generosa de tequila em ambos. Um momento depois, retornou e empurrou um dos copos na mão dela.

— Saúde, — disse ele.

Talvez se ela o fizesse ficar bêbado o suficiente, poderia chutar seu traseiro e cair fora. Ou talvez pudesse pelo menos ganhar tempo suficiente para que sua equipe viesse buscá-la. Qualquer um desses planos estava bom para ela.

Ela engoliu metade da tequila, parando antes que arriscasse a vomitar tudo. Limpou a parte de trás da boca com a mão quando ele terminou o dele. Para sua surpresa, ele não ficou com raiva por ela não ter bebido tudo. Ele pegou o copo dela e depois tocou seus cabelos em um gesto surpreendentemente suave.

Ele deu-lhe um olhar que parecia arrependido.

— Este não é o jeito que eu queria que as coisas acontecessem essa noite, mas o chefe a viu e ele quer você. Não havia muito que eu pudesse fazer depois disso.

Oh merda. Merda, merda, merda! Sua adrenalina subiu e seu pulso começou a bater como uma britadeira.

Apesar de sua ansiedade e do batimento acelerado de sua pulsação, a sala estava se movendo em câmera lenta. Ela tentou levantar um de seus braços e parecia que ele estava encerrado em chumbo.

— Você me drogou! — Ela acusou, esperando que sua voz não estivesse tão distorcida para que sua equipe ouvisse e soubesse que era hora de colocar um fim nesta missão.

Nelson fez uma careta.

— Eu gosto das minhas mulheres dispostas a lutar. Drogá-las é um caminho covarde, mas meu chefe sente prazer em saber que elas estão completamente indefesas. — Ele deu de ombros enquanto percorria o caminho para onde PJ ia precariamente flácida em direção ao sofá. — Eu não me importo com alguns arranhões. Torna ainda mais emocionante quando eu as domino.

— Vocês são doentes. Todos vocês. Bastardos pervertidos, — ela resmungou.

Ele colocou as mãos em seus ombros para guiá-la para o sofá e ela se encolheu, tentando lutar com ele. Mas era tão ineficaz quanto uma gatinha lutando contra um leão.

Ele a empurrou para o sofá e enfiou a mão no corpete de seu vestido, rasgando-o de cima abaixo.

— Linda lingerie, — ele murmurou enquanto olhava para o sutiã e calcinha de renda preta que ela usava. — Vou deixá-la usá-la para o chefe. Ele gosta de preto.

Quando ele se afastou, ela sussurrou entrecortadamente, esperando que sua equipe ouvisse.

— Por favor, por favor, vocês tem que me tirar daqui. Eu fui drogada. Não posso lutar com ele. Por favor, ele vai me estuprar.

O som de uma porta se abrindo lentamente a fez mover a cabeça nessa direção, avivando a esperança de que talvez eles tivessem vindo por ela. Mas quando encontrou o olhar satisfeito de Carter Brumley, seu coração afundou e ela soube que não havia nada que alguém pudesse fazer para salvá-la agora.

 

A van inteira congelou quando o apelo quebrado de PJ chegou através do comunicador. Cole socou as costas do assento com força suficiente para soltar o encosto de cabeça.

— Porra! Onde ela está? Nós temos que encontrá-la agora. Esses idiotas vão tirar vantagem dela.

¯ Estou trabalhando nisso, caramba! — Donovan gritou.

Cada um dos membros da equipe estava tenso. A van vibrava com impotência, raiva e medo.

— Como isso aconteceu? Como diabos isso aconteceu? — Cole se enfureceu. Ele precisava de alguém ou alguma coisa para culpar. Inferno, ele culpava a si mesmo. Ele nunca deveria ter permitido isso. Não importava se PJ nunca mais falasse com ele novamente. Pelo menos ela estaria segura e não nas mãos de um monstro.

— Shhh! — Steele estalou. — Brumley está lá. Porra. Estou ouvindo-o.

O tremor de emoção na voz do líder da equipe era atípico. Steele geralmente era calmo sob pressão, mas essa situação estava mexendo muito com ele.

A van ficou em silêncio enquanto Donovan recebia mais informação sobre cada residência que Brumley possuía ou tinha sociedade na área.

Até mesmo Donovan olhou para cima, sua expressão tensa quando a voz de Carter Brumley veio sobre o fio novamente.

— Eu sei que você a escolheu, Nelson, mas existe algo sobre ela que falou comigo. Eu preciso tê-la. Você tem certeza de que ela está limpa?

— Sim, chefe. As únicas joias que ela usava eram um colar, brincos e uma pulseira que eu joguei na lixeira do quarto de hotel. Ela é uma americana burra que apareceu na festa à procura de diversão.

Brumley riu.

— Muito bom. Vou fazer o melhor para acomodá-la.

Eles podiam ouvir sua respiração, então sabiam que ele estava perto de PJ, mas ela não tinha emitido nenhum som. A droga a teria afetado tanto que ela já não conseguia falar? Ela teria se tornado incapaz de lutar?

Então, ele rezou para que ela não oferecesse resistência. Eles provavelmente a matariam. Oh Deus. Ele ficou enjoado por que realmente queria que ela ficasse quietinha, deitada lá e aceitasse o que iria acontecer, porque ele não podia suportar que ela se machucasse ainda mais se lutasse.

Houve um som peculiar de estalo. Metálico. Cole pressionou as mãos na testa e olhou para os outros.

— Que diabos foi isso? — Ele murmurou.

Um momento depois, PJ gritou de dor e Brumley riu.

— Parecia o som de um canivete sendo aberto, — Dolphin disse com voz rouca.

— Meu Deus, — sussurrou Renshaw. — Que diabos esse doente está fazendo com ela?

— O que você conseguiu? — Cole perguntou a Donovan com a voz desesperada. — Aquele filho da puta está cortando-a.

Outro grito fez toda a equipe estremecer. Baker estava dirigindo e pisou no freio, encostando no meio-fio. Ele olhou para Donovan, os olhos brilhando de fúria.

— Você escolhe um local, Van. Use a informação que ela nos deu. Não pode haver muitos que se encaixem na descrição. Me deem uma maldita coordenada para que possamos entrar e pegar a nossa menina. Isso é uma merda!

Mais dois gritos enviaram os cabelos na nuca de Cole para cima. E depois silêncio total, seguido pelo som inconfundível de coxas batendo contra coxas. Havia um som baixinho que Cole teve que se esforçar para pegar em meio aos outros ruídos, mas ele ouviu.

Era um choro suave.

Ele enterrou o rosto nas mãos, os olhos ardendo de lágrimas. Ter de ouvir enquanto PJ era estuprada foi a pior coisa que ele já sofreu em todos os seus anos no exército e na KGI. Nunca se sentiu tão impotente em toda sua vida.

Donovan empurrou o mapa com as mãos trêmulas para Baker.

— Aqui, — disse com voz rouca. — Tem que ser essa. Há apenas dois locais que se encaixam nas informações que ela nos deu, e pelo período de tempo em que eles chegaram, tem que ser esta.

Baker pisou no acelerador e rugiu no tráfego, fazendo com que todos se segurassem enquanto ele desviava dos outros carros.

Brumley soltou um grunhido satisfeito, e depois o som de carne sendo golpeada ecoou no comunicador. O bastardo a esbofeteou. E então o som inconfundível de calças sendo fechadas.

O estômago de Cole se revoltou. Ele socou a parte traseira do assento de novo e, em seguida, a janela. Dolphin pulou em cima dele, restringindo-o antes que ele quebrasse o vidro.

— Controle-se, cara, — Dolphin disse calmamente. — Guarde sua raiva para aqueles idiotas e controle-se por PJ. Ela vai precisar de nós.

— Ela é toda sua, Nelson, — Brumley disse, com um claro sorriso na voz. — Eu sei que ela está um pouco mais bagunçada do que você normalmente gostaria, mas acho que você não vai ter do que reclamar. Ela é uma foda malditamente gostosa. Se eu não tivesse outros assuntos a tratar, eu a levaria comigo. Ela seria uma amante temporária muito boa.

— Sim, senhor — respondeu Nelson.

— Mate-a quando você terminar. Certifique-se de limpar a bagunça. Preciso de você na noite de domingo para a troca. As meninas chegarão de avião às oito horas. O comprador vai estar lá para inspecionar os produtos. Eu não quero nenhum problema.

— Wainwright vai tomar posse em seguida, ou enviaremos para onde ele escolher? — Nelson perguntou rispidamente. — Vou precisar trazer poder de fogo extra?

— Não, ele virá sozinho, exceto por seus três homens habituais que o acompanham em todos os lugares. Ele não vai fazer nada, porque quer aquelas meninas demais. Vamos carregar o avião e ele terá um caminhão estacionado no aeroporto onde as meninas serão agrupadas. Tudo deve levar cinco minutos, no máximo, e depois iremos embora no avião que as meninas vierem. Operação fácil e eu ganharei outros 10 milhões.

— Poderíamos levar essa garota com a gente, — Nelson tentou. — Ela não está tão bagunçada que eu não consiga limpá-la em meia hora. Eu a manterei suficientemente drogada para que ela não seja um problema.

— Tire-nos desse inferno, porra, — Cole esbravejou para Baker. — Isso é uma merda!

Brumley riu.

— Tenha seu divertimento com ela e então a silencie para sempre. Ela viu seu rosto e o meu, para não falar de Colin e Isaac. Eu não vou arriscar. Especialmente com uma prostituta de dois centavos.

Steele ergueu quatro dedos para sinalizar o número de pessoas na sala.

O som de passos ecoou pelo comunicador e depois o fechamento de uma porta sinalizou a partida de Brumley.

Filho da puta!

— Qual é o ETA[7], Baker? — Cole exigiu saber.

— Maldito tráfego! — Baker rosnou. — Não estamos longe, mas é um saco, cara. Um saco!

Todos ficaram em silêncio novamente quando mais conversa veio através do fone sem fio de PJ.

— Por que as lágrimas? — Nelson perguntou ironicamente. — Certamente ele não foi tão ruim. A maioria das mulheres disputa a honra de ser amante dele. Mas talvez você goste mais de mim.

Cole tapou os ouvidos, incapaz de suportar ouvir mais nada. Quando olhou para cima, podia ler as expressões dos outros.

Eles obtiveram a informação da qual necessitavam, afinal. Brumley derramou os detalhes do embarque das meninas.

Mas a que custo? A que custo, porra? Algo tão precioso que destruía Cole até mesmo pensar no quanto o sucesso desta missão custou a PJ.

Por mais que isso envergonhasse Cole, ele daria tudo para voltar atrás e nunca saber como salvar aquelas meninas se pudesse impedir o que aconteceu com PJ.

 

PJ estava esparramada no sofá, a dor apunhalando seu corpo, tão certa quanto a lâmina que cortara sua pele. Nelson pairava sobre ela, mas ele estava com o cenho franzido. Ele não gostava de mulheres passivas. Ele dissera isso várias vezes.

Bem, isso era bom, porque a droga estava começando a perder o efeito e se o idiota lhe desse apenas um pouco mais de tempo, ele teria uma luta infernal em suas mãos, porque ela não iria ficar deitada aqui e aceitar ser estuprada como fora forçada a fazer com Brumley.

A raiva a devorava. Era como ácido em seu sangue, devorando um pedaço de sua própria alma.

Não havia nada mais terrível do que estar tão indefesa que não era capaz de se mover. Ela mal conseguia falar. E não foi o suficiente para o bastardo, estuprá-la. Ele ainda sentira prazer em fazê-la sangrar.

O cheiro de seu próprio sangue a deixou com vontade de vomitar. Era um assalto a seus sentidos. Manchada por toda a frente do corpo, onde ele fizera cortes irregulares. Ele não se preocupara com a bagunça. Ele se revolvera nela como um porco guloso.

Nelson deixou o quarto e PJ imediatamente testou sua capacidade de se mover. Parte do chumbo tinha deixado seus membros e já conseguia mover os braços e as pernas. Olhou ao redor, a procura de algo, qualquer coisa, que pudesse usar como arma. Ainda não estava forte o suficiente para sair do sofá, mas poderia fazer o bastardo se arrepender por tê-la tocado um dia.

Para sua total surpresa, o canivete que Brumley usou para cortá-la estava na mesa de café a poucos centímetros de seu alcance. Inclinou-se o máximo que conseguiu, esforçando-se para alcançá-lo.

Esbarrou no canivete, enviando-o em uma ligeira rotação. Xingando mentalmente, tentou novamente, estremecendo quando a ponta cortou seus dedos. Era um preço pequeno a pagar para puxá-lo para mais perto.

Virou-o para que pudesse agarrar o punho e depois pegou-o, transferindo-o para a mão mais próxima do interior do sofá, e depois enfiou a mão entre o encosto do sofá e a lateral de seu corpo.

Nelson voltou um momento depois com um pano úmido e começou a limpar as manchas de sangue. Ele franziu a testa quando percebeu que os cortes ainda estavam sangrando.

Ele parecia... Chateado.

— Não havia necessidade disto, — ele murmurou. — Não havia necessidade de cortá-la, muito menos tão profundamente. Você precisa de pontos.

Uma coisa estranha de se dizer quando ele planejava matá-la. Que porra que importava se ela foi cortada?

— Por favor, — ela falou com a voz rouca, tentando ganhar mais tempo. — Sou apenas uma estudante universitária americana. Eu saí para me divertir. Eu nem sei quem você é. Eu só quero ir para casa. Ninguém nunca vai saber.

Os lábios de Nelson afinaram em uma linha firme.

— Tenho ordens.

Ele limpou a maior parte do sangue e então finalmente desistiu. Levantou-se e ela ficou chocada ao ver a protuberância em sua virilha. Apesar de sua aparente aversão, ele estava excitado, com ela sangrando ou não.

— Eu queria que você fosse capaz de lutar, — ele disse irritado. — Não é divertido quando você apenas fica deitada aí.

Venha me pegar bastardo. Você terá a sua luta.

Ele abriu o zíper da calça, nem mesmo se preocupando em removê-la. Empurrou-a para baixo dos quadris e, em seguida, puxou as pernas de PJ e estava sobre ela e dentro dela em uma arremetida brutalmente dolorosa que momentaneamente a paralisou em choque.

— Vamos, cadela, lute contra mim, — ele rosnou.

— Cuidado com o que você pede idiota, — ela sussurrou.

Os olhos dele se arregalaram de surpresa assim que ela o atingiu diretamente no queixo com força suficiente para quebrá-lo. A dor lançou-se por entre seus dedos, mas ela a ignorou. Então, levantou a mão que segurava o canivete e mergulhou-o nas costas dele.

Ele uivou de dor e imediatamente rolou de cima dela, arrancando-se de dentro dela. Ela lutou, lutando contra os efeitos das drogas. Sua arma foi embora e agora cabia a sua inteligência ajudá-la a escapar viva.

E então o rugido de um motor e faróis brilhantes inundaram a sala inteira. Era óbvio que o que quer que fosse, estava vindo diretamente para eles.

Nelson se afastou aos tropeções e correu para os fundos da casa, com a mão retirando a faca enquanto corria. A faca caiu no chão e PJ avançou para ela, preparando-se para se defender do jeito que fosse necessário.

Um momento depois, a sala explodiu em vidro e detritos quando uma van caiu pela janela da frente. Ela se jogou no chão e cobriu a cabeça para se proteger.

— PJ! PJ! Droga, onde você está? — Cole rugiu.

Ela caiu em alívio, sua força se foi. Sua equipe. Era a sua equipe! Finalmente aqui. Ela estava segura. Nada mais lhe faria mal.

De repente, Steele estava sobre ela, os olhos tão intensos e cheios de ódio que ela se encolheu.

— Ele fugiu pelos fundos, — ela disse com voz rouca. — Ele está sangrando. Não o deixe escapar. Não deixe aquele bastardo fugir.

Steele se virou e gritou para os outros.

— Fiquem com PJ. Van e eu vamos atrás de Nelson.

Steele passou por ela, Donovan em seus calcanhares. E então ela se encontrou cuidadosamente envolta em um forte par de braços.

Cole.

Ela o reconheceria em qualquer lugar. Podia sentir o cheiro dele.

Enterrou o rosto em seu peito enquanto a vergonha caía sobre ela.

— PJ, PJ, querida. Oh meu Deus, baby. Oh, meu Deus.

Parecia ser tudo o que ele conseguia dizer enquanto a balançava para frente e para trás, com o coração batendo como um tambor contra seu corpo quebrado.

— Sinto muito — disse entrecortadamente. — Eu sinto muito mesmo.

A dor gritou através de seu sistema e ela soltou um gemido que não conseguia mais reprimir. Agora que estava segura, suas barreiras caíram. A adrenalina foi embora. Ela não tinha nada, nenhum amortecedor para o que tinha acontecido. Ela foi estuprada por dois homens e cortada como um pedaço de carne.

Para onde ela poderia ir? Para se esconder? Todos eles iriam vê-la. Veriam sua vergonha. E saberiam que ela não fora capaz de impedir o que aconteceu.

Ela queria cavar um buraco e morrer.

— Eu estou com você, — Cole sussurrou, a voz embargada. Parecia que ele estava chorando, mas ela estava quase inconsciente agora.

— Sangue. Sobre todo seu corpo, — ela conseguiu sussurrar.

— Eu não dou a mínima, — ele disse ferozmente. — Vou tirá-la desse inferno. Você precisa de cuidados médicos.

Ela balançou a cabeça, tentando agarrar a camisa dele para chamar sua atenção. Mas havia algo errado com uma de suas mãos, e na outra ela ainda segurava o canivete que ela mergulhou nas costas de Nelson.

Cole pegou a mão dela delicadamente e arrancou o canivete, fechando-o com um clique.

— Não! — Ela protestou.

Ela lutou, tentando alcançar o canivete novamente. Ela queria a lâmina, droga.

Cole apertou o canivete fechado na palma da mão de PJ, em um esforço para acalmá-la e ela agarrou-a até que deixou recortes em sua pele.

Ela tinha que permanecer consciente. Isso era muito importante. Poderia significar sua vida. Poderia significar a vida daquelas meninas. Faria qualquer coisa para poupá-las do que ela sofreu, e elas teriam que suportar coisa muito pior. Elas não tinham sua equipe. Elas não tinham ninguém. Precisava salvá-las ou sua alma teria sido sacrificada para nada.

— PJ. Ah inferno, PJ. Fale Conosco. Não desmaie. Ainda não. Por favor.

Era Dolphin. Ele agachou-se ao lado de Cole. E Baker. Podia ouvi-lo e Renshaw discutindo sobre quem ficou e quem foi ajudar Steele e Donovan a perseguir o bastardo que fez isso com ela.

Ela sorriu fracamente, tão em choque que lhe pareceu apropriado sorrir mesmo em meio a todo o sangue e horror do que aconteceu.

Mas então retomou o foco e lembrou-se do objetivo. Tentou alcançar a camisa de Cole, chocada ao perceber como estava fraca. Seus dedos não se prenderam e acabaram batendo inutilmente no pescoço dele.

Ele capturou a mão dela e segurou-a nos lábios. Ele estremeceu sob seu toque e ela percebeu o quanto ele estava tremendo. Ele estava perdendo o controle. Bem aqui na frente de todo mundo.

— As meninas — disse ela, despertando cada grama de sua frágil força. — Ele as mencionou. Disse que a entrega seria amanhã à noite.

— Eu sei querida. Nós ouvimos. Ouvimos cada maldita coisa. — Ele disse com a voz torturada.

Era um lembrete, um tapa em seu rosto. Sim, ela sabia que eles ouviram, mas suas palavras apenas evidenciavam como sua humilhação foi pública.

— Vocês têm que salvá-las.

Lágrimas de dor lotavam sua visão, e ela odiava não conseguir ser mais forte. Odiava que aqueles filhos da puta conseguiram dominá-la e obrigá-la a submeter-se as suas depravações.

Estava enfraquecendo rapidamente e tinha que ter certeza que aquelas meninas seriam atendidas. Se não o fizesse, veria seus rostos lado a lado com os rostos de seus estupradores todas as noites em seus sonhos.

— Prometa que vai salvá-las, — ela sussurrou. — Prometa-me. Não importa o que aconteça comigo. Você não pode deixar isso acontecer com elas. Elas são apenas bebês. Tão amedrontadas.

Ela sufocou antes de dizer, — como eu estava. — Mas ela sabia que eles ouviram as palavras não pronunciadas. Era possível ouvi-las em seu tom.

Um barulho alto vindo da direção onde Donovan e Steele correram fez seus companheiros de equipe sacarem as armas e rodear PJ. O abraço de Cole ficou ainda mais apertado sobre ela e, em seguida, Donovan estava lá, pressionando-a.

— Fale comigo, PJ, — disse Donovan, em voz baixa. — Como você está querida?

— F-frio. — Ela virou o rosto para cima, com a cabeça tão pesada que mal conseguia realizar essa façanha.

Ele praticamente empurrou Cole para fora do caminho e tomou PJ em seus próprios braços, baixando-a no chão.

— Arranje-me algo para enrolar em torno dela, — ele ordenou.

— E os cortes? — Cole perguntou com voz rouca.

PJ lutou para não sucumbir à escuridão que a rodeava.

— Onde está Nelson? Vocês pegaram o bastardo?

Ela nunca esqueceria o olhar no rosto de Donovan, enquanto vivesse. Ele estava cheio de raiva, arrependimento e culpa.

— Ele escapou. Ele tinha um carro estacionado atrás da casa, e nossa primeira prioridade é você. Nós vamos encontrá-lo, PJ. Juro que vamos fazer esse filho da puta pagar.

Ela fechou os olhos, lágrimas escorrendo por seu rosto em trilhas quentes.

— Vamos levá-la para o hospital, — disse Donovan. — Você não vai sentir dor por muito tempo.

Ele estava errado. Muito errado. Ela não podia imaginar parar de sentir dor algum dia. Alguns ferimentos eram muito profundos, abaixo da pele. Profundos até a alma.

— Aqui não. Leve-me para casa. Ele é dono desta cidade. Eu não confio em ninguém aqui. Apenas leve-me para casa e encontre as meninas.

Cole se inclinou enquanto Donovan cuidadosamente colocava um cobertor sobre o corpo dela. Ele alisou seu cabelo para trás e beijou sua testa.

— Vou fazer o que você quiser PJ. Tudo o que você precisar, querida. Eu prometo.

Steele se ajoelhou e emoldurou seu rosto com as mãos fortes. Seus olhos azuis perfuraram os dela com intensidade abrasadora.

— Vamos resgatar aquelas meninas, PJ. Mas agora vamos cuidar de você.

Ela assentiu com a cabeça levemente e fechou os olhos, acolhendo o abismo onde flutuou livre da dor e da vergonha.

 

Empacotaram PJ na parte de trás da van, e Baker pulou para o banco do motorista, enquanto Cole e Donovan tomaram posições ao lado de PJ.

Cole conseguiu retirar o canivete de seus dedos sem protestos neste momento, mas guardou-o no bolso porque ela tinha sido inflexível sobre mantê-lo. Em seguida, fechou a mão ao redor da dela, não querendo deixá-la pensar nem por um momento que ele não estava bem aqui, ao seu lado. Que sua equipe inteira não estava em torno dela.

— O que você acha Van? — Cole perguntou, tentando controlar a ansiedade na voz. — Aquele desgraçado cortou-a muito. Ela perdeu muito sangue, para não mencionar que ele...

Ele fechou os olhos e olhou para longe, incapaz de dizer a palavra estupro. Os bastardos a estupraram. Colocaram suas mãos sobre ela. Eles a brutalizaram. E ele não foi capaz de fazer nenhuma maldita coisa sobre isso.

— Eu quero levá-la para o aeroporto, — Donovan disse severamente. — Quanto mais cedo a acomodarmos e decolarmos, melhor. Cuidarei dela enquanto estivermos no ar.

— E domingo? E as garotas?

— Assim que PJ estiver estável, eu ligarei para Sam. Ele vai ter que chamar Rio e sua equipe. Eles terão que ser informados para que saibam o que estão enfrentando.

— Eu quero esses bastardos, — Cole disse entre dentes.

Donovan levantou o olhar para ele enquanto corriam pela estrada.

— Faça sua escolha, Cole. Eu não vou impedi-lo. Mas você tem que escolher. Você vai ficar com PJ ou vai com os outros?

Colocado desta forma, não era nem mesmo uma escolha. Era ao lado de PJ que ele deveria ficar. Ele nunca queria que ela sentisse que sua equipe a abandonou. Não queria que ela pensasse que ele a abandonou.

Rio e Sam fariam justiça. PJ precisava dele.

— Eu não vou deixá-la, — disse Cole.

Do banco em frente a eles, Dolphin e Steele se inclinaram para cima, acompanhando de perto a conversa.

— Nenhum de nós irá deixá-la. — Steele disse firmemente.

— Claro que não, — murmurou Dolphin.

— Vivemos como uma equipe e morremos como uma equipe, — disse Steele. — Eu quero sair para arrancar a maldita vida daqueles idiotas também, mas PJ precisa de nós mais do que precisamos de vingança. Vamos deixar que o restante da equipe KGI faça justiça por um dos nossos.

Donovan esbravejou para Baker.

— Tempo de chegada?

— Dois minutos. O piloto já está à espera.

No tempo previsto, a van manobrou da estrada de terra até a pista de pouso na periferia da cidade. Era um aeroporto regional, usado principalmente para carga, e não era um ponto para passageiros.

O avião estava estacionado em um canto, pronto para rolar para a pista. Baker rugiu para a pista pavimentada e pisou no freio.

A equipe entrou em ação, abrindo as portas de carga para a van e certificando-se que a escotilha para o jato estava aberta.

Donovan começou a inclinar-se para pegar PJ, mas Cole afastou-o suavemente e recolheu-a em seus braços, cuidadosamente mantendo o cobertor em volta dela para proteger sua nudez.

Correu para o avião, subindo com ela os três degraus para a cabine.

— Traga-a para a parte de trás e coloque-a no sofá, — disse Donovan. — Vou buscar minha maleta de medicamentos, dar-lhe algo para a dor e depois ver o que posso fazer para suturar os cortes até que a levemos a um hospital. Diga ao piloto para nos tirar do chão.

Para Steele, ele deu uma ordem concisa.

— Ligue para Sam e conte a ele os detalhes do que aconteceu. Rio e sua equipe precisam estar aqui em 24 horas e em posição para interceptar o carregamento de meninas.

Cole levou seu precioso fardo para parte de trás do avião e delicadamente a acomodou no sofá, para que ficasse protegida da vista dos outros.

Os cortes no corpo dela eram aterrorizantes. Dois eram profundos e deixaram a carne irregularmente aberta. Um esculpia um caminho para baixo da linha média entre os seios. Havia dois logo abaixo dos seios e um na barriga plana e musculosa. E outros dois na parte interna das coxas.

O filho da puta a esculpiu e, em seguida, a forçou, porque era assim que ele conseguia gozar.

— Porra, — murmurou Donovan.

Cole focou em Donovan, tentando acalmar sua fúria. Donovan estava segurando a mão direita de PJ. Estava inchada e machucada. Cole não tinha notado porque foi em sua mão esquerda que ele se agarrou quando correram para o aeroporto.

— Parece que quebrou, — Donovan disse severamente.

Ele virou-a com cuidado na palma da mão e examinou o inchaço antes de colocá-la novamente sobre o corpo dela.

Dolphin trouxe a maleta de medicamentos depois se sentou em frente ao sofá, com os olhos ardendo com preocupação.

— Ela vai ficar bem, Van? Ela está muito ruim? Nos dê uma posição. Estamos ficando loucos lá em cima.

Donovan respirou profundamente.

— Fisicamente? Ela vai ficar bem. Eventualmente. Os cortes são ruins, mas não fatais. Emocionalmente? Eu não posso dizer. O que ela passou foi horrível. PJ é forte, mas não conheço nenhuma mulher que conseguiu escapar do que ela sofreu ilesa.

Cole esfregou as mãos no rosto e, em seguida, através dos cabelos.

— Isso não deveria ter acontecido. Eu nunca deveria ter deixado isso acontecer. Porra, eu sabia que estava errado. Meus instintos estavam gritando para mim que estava tudo errado, e eu a deixei entrar nessa situação.

Donovan suspirou.

— Foi decisão dela, Cole. Você não podia decidir por ela. Foi uma decisão da equipe.

— Bobagem, — Cole cuspiu. — Foi um movimento covarde, usar uma mulher para atrair um monstro. Havia outra maneira. Há sempre outra maneira, mas estávamos muito ansiosos e preguiçosos para procurar.

— Tente dizer isso para as mães das meninas que vamos mandar para casa, — Dolphin disse calmamente. — E então pergunte a PJ se ela acha que valeu a pena. Conhecendo-a como a conheço, eu sei o que ela escolheria. E você?

Donovan deu a PJ uma injeção de medicação para a dor e então anestesiou a área ao redor dos ferimentos. Depois disso, começou a tarefa meticulosa de costurá-los.

— Isso está além do meu alcance, — ele admitiu. — Há danos no tecido que precisam ser reparados, mas a minha principal preocupação é fazer com que os ferimentos se fechem para que não infeccionem.

Ele checou a pulsação no pulso lesionado e depois fez outra avaliação cuidadosa do inchaço. Então, passou um bloco de gelo em torno do pulso e se assegurou que ela não o moveria se despertasse.

Steele se abaixou na parte de trás.

— Como ela está?

Donovan levantou os ombros.

— Estou costurando os ferimentos. Ela precisa de cuidados mais avançados do que posso fornecer, mas vai aguentar até chegar a Fort Campbell. Você já recebeu autorização para pousar lá, em vez de Henry County? Certamente isso irá economizar algum tempo.

Steele assentiu.

— Sam está providenciando isso agora. Eles estão muito chateados e querem sangue. Ele chamou Rio e sua equipe. Isso pode ficar confuso. Eu disse a ele que ficaremos com PJ, a menos que sejamos absolutamente necessários. Não quero deixá-la, mas não quero que nenhum membro da KGI seja morto também.

Cole estudou o líder da equipe por um longo momento. Steele não era de falar muito. Ele raramente oferecia mais de uma ordem concisa ou um resumo muito curto e seco de uma situação.

Mas isso tinha abalado aquela sua compostura lendária e derreteu parte do gelo rígido que parecia envolvê-lo. Raiva, não, fúria ardia em seus olhos, tornando-os mais frios do que nunca. Sua mandíbula estava definida em uma protuberância permanente, e parecia que ele queria colocar as mãos fisicamente em alguém, em qualquer um, e fazê-los sofrer uma morte longa e dolorosa.

Mas, então, Steele era tudo sobre a equipe. A equipe significava muito para ele. Ele vivia, respirava. Exercia suas funções e nunca falhava em uma missão.

Até agora.

Era um peso que todos eles tinham de suportar. Não estavam acostumados a falhar. Sempre faziam o que fosse preciso e cumpriam seu objetivo.

Bem, eles conseguiram o que se propuseram a fazer, mas um deles pagou um preço muito alto, e para Cole, isso era inaceitável. Foi uma falha épica da parte deles não terem conseguido livrar PJ do perigo e ter sucesso na missão.

Era uma verdade que todos eles teriam de enfrentar, conviver e lidar a sua própria maneira, mas Cole conhecia sua equipe e sabia que isso pesava fortemente em suas mentes e seria assim por muito tempo.

 

Quando pousaram em Fort Campbell, foram recebidos por Sam e Garrett, juntamente com o comandante da base que dera permissão para que o jato pousasse. Uma equipe médica correu com uma maca, e PJ foi carregada e rapidamente levada para longe.

Cole começou uma briga quando não permitiram que ele acompanhasse PJ no transporte. Ela ainda estava inconsciente. Donovan a mantivera medicada durante o voo para que ela ficasse livre da dor, mas Cole não queria que ela acordasse e sentisse que estava de volta àquele pesadelo.

Dolphin, Baker e Renshaw o contiveram, empurrando-o contra um dos veículos estacionados nas proximidades.

Sam e Garrett estavam com expressões ferozes.

— O que aconteceu, Steele? O que deu errado? — Sam exigiu saber.

O comportamento de Steele era normal para ele. Frio e formidável. Mas seus olhos diziam outra história. Geralmente frios, até mesmo gelados, brilhavam com uma fúria que Cole nunca viu em todo o tempo que trabalhou para o líder da equipe.

Steele encontrou o olhar de Sam com firmeza.

— Eu falhei com a minha equipe.

Garrett praguejou.

— Bobagem. — Ele olhou em volta para todos os membros da equipe de Steele, quase como se pudesse ver o mesmo pensamento em todas as suas cabeças. — Olhe, eu sei que todos vocês estão se sentindo péssimos sobre isso, mas vocês não podem ficar tão chateados consigo mesmos. Precisamos de fatos. Não culpa.

Os lábios de Steele se franziram, mas ele deu o relatório, não deixando um único detalhe de fora. Cole fechou os olhos enquanto Steele repetia o que Brumley e Nelson fizeram a PJ. O resto da equipe ficou tenso. Dolphin olhou para baixo como se não quisesse que ninguém visse seus olhos ou sua expressão.

Cole só queria acabar com toda aquela conversa fiada para que pudesse ir ao encontro de PJ.

— Filho da puta, — Sam praguejou, fechando os olhos momentaneamente.

— O que você está fazendo sobre o embarque das meninas? — Steele perguntou. — Nós ficaremos aqui com PJ. Ela precisa de sua equipe agora.

— Rio e equipe já estão a caminho, e Nathan, Joe e Swanny irão encontrá-los em Viena. Eles foram informados. Resnick quer Brumley vivo, e ele poderia muito bem recebê-lo dessa maneira, mas depois que Rio e equipe ouvirem o que o filho da puta fez a PJ, acho que poderá estar faltando algumas partes do corpo dele quando ele for entregue.

Cole enrolou a mão em punhos. Ele queria estar lá quando Brumley fosse derrubado. Queria muito. Nunca quis tanto machucar alguém quanto queria fazer Brumley pagar.

Ele matou pessoas quando era SEAL e depois em seu tempo na KGI. Ele era um franco-atirador. Era seu trabalho matar pessoas de forma eficaz. Rapidamente. Discretamente. Mas nunca foi pessoal. Fizera seu trabalho sem emoção porque era o que ele era pago para fazer. As pessoas que ele despachava eram bandidos. Ele não precisava justificar suas ações, mas o mundo era um lugar melhor sem as pessoas contra as quais a KGI se levantava.

Mas com Brumley, a raiva era uma bola de fogo viva e respirando dentro dele. Cole queria fazê-lo sofrer muito mais do que ele fizera PJ sofrer.

— Se todos foram informados, então, podemos andar com isso e voltar para PJ? — Cole estalou.

— Hooyah, — Dolphin disse, os lábios apertados.

Até Steele olhou impaciente para Sam e Garrett.

— Sim, vamos, — disse Sam, apontando para os dois SUVs estacionados.

 

PJ abriu os olhos para encontrar o quarto de hospital predominantemente escuro. Havia um feixe de luz que emanava do banheiro onde a porta estava aberta somente por uma fresta.

Olhou para o lado da cama para encontrar Cole como ele estivera nos últimos dois dias. Apoiado em uma cadeira aparentemente desconfortável que ele puxou para tão perto da cama quanto conseguiu.

Ele estava dormindo, um fato pelo qual era grata. Propositadamente se refugiou na medicação para a dor, não querendo lidar com sua equipe, todos reunidos no quarto, simpatia e raiva em seus olhos.

E enquanto estava sendo ninada no esquecimento pela medicação, não precisava se lembrar dos olhares maliciosos nos rostos de Brumley e Nelson. Não teria que ouvir seus grunhidos, sentir seus corpos pressionados contra o dela.

Fechou os olhos, incapaz de impedir a reação física que a memória causava.

Teria lembranças permanentes da violação de Brumley. Cicatrizes que carregaria para o resto de sua vida. O médico gentilmente explicou que alguns dos cortes foram muito profundos, muito irregulares, mas que com o tempo iriam desaparecer. Mas haveria sempre uma marca lá para sinalizar os cortes que o animal fizera em sua carne.

Quanto mais ficava consciente, mais as lembranças se amontoavam até que sua mandíbula apertava e ela corajosamente tentava preparar-se emocionalmente para a agonia primitiva que colocava as garras sobre ela.

Olhou para a mão direita, que estava engessada, e estava confusa, porque não conseguia se lembrar de como a quebrou. Desajeitada, alcançou o botão que chamaria a enfermeira com a mão esquerda, esperando que não acordasse Cole. Não queria conversar. Não queria lidar com o tormento nos olhos dele. Ela só queria esquecer.

Alguns momentos depois, a enfermeira chegou apressada e falou com PJ em voz baixa. Ela saiu mais uma vez, mas voltou em menos de cinco minutos, com uma seringa. Injetou o medicamento no orifício e PJ fechou os olhos e esperou que a calmaria reconfortante a reclamasse.

Na próxima vez que abriu os olhos, a luz solar havia inundado a sala e toda sua equipe estava largada em cadeiras ao redor de sua cama. Sua testa instantaneamente ficou úmida e o nervosismo a inundou.

Ela fez contato visual com Steele primeiro. Com Steele ela poderia lidar. Ele era profissional. Não iria fazê-la querer quebrar e chorar como um maldito bebê chorão.

— As meninas? — ela perguntou com voz rouca.

Ela franziu a testa, limpou a garganta e depois piscou surpresa quando Dolphin apareceu com um copo de água. Ele segurou-o em seus lábios e ela engoliu metade do conteúdo com gratidão.

Quando terminou, sussurrou um agradecimento e então se reclinou contra os travesseiros novamente.

— As meninas — disse novamente. — Eles conseguiram salvá-las? Elas estão seguras?

Steele assentiu, mas sua expressão ainda era sombria.

— Rio e sua equipe entraram com Nathan, Joe e Swanny. Interceptaram o caminhão e derrubaram Wainwright e sua comitiva. As meninas estão no caminho de volta aos Estados Unidos, enquanto conversamos.

— E Brumley? Vocês o pegaram?

Ela prendeu a respiração, a esperança ondulando fortemente em seu peito.

Steele afastou o olhar, a mandíbula tensa. Ela olhou de soslaio para Cole, que parecia tão friamente furioso que ela estremeceu.

— Ele fugiu com seus homens para o avião e decolou, — Steele disse com a voz calma, mas irritada. —Rio teve que escolher entre ir atrás de Brumley ou salvar as meninas. Eles escolheram as meninas.

PJ fechou os olhos. Não tinha o direito de sentir raiva. As meninas eram mais importantes do que qualquer sentido de justiça que ela sentia necessidade de exigir.

Mas o fato era que o problema para ela era visceral. Entorpecente. Enquanto estava deitada em uma cama de hospital, Brumley e Nelson estavam lá. Livres. Impunes, tanto pelo que fizeram com ela quanto pelo que fizeram e planejaram fazer para aquelas meninas.

Virou o rosto para o lado, mordendo o lábio inferior para manter as emoções sob controle. E então o roçar suave de uma carícia deslizou sobre sua face. Apenas um dedo. A parte de trás de uma junta. Mas ela reconheceria aquele toque em qualquer lugar.

Ela deveria estar zangada com ele por demonstrar ternura com ela na frente dos outros. Mas todos eles estavam sendo gentis com ela. As coisas mudaram e ela odiava tudo. Como qualquer coisa poderia ser o mesmo com sua equipe novamente?

Isto estaria sempre entre eles. Eles a tratariam de forma diferente. Como se ela fosse frágil, em vez de uma companheira capaz de carregar seu próprio peso e detonar com o resto deles. Tudo porque ela falhou em uma missão. Por que não fora capaz de proteger a si mesma, foi estúpida e estivera em pânico o suficiente para tomar uma bebida de um homem que ela sabia que não devia confiar.

— PJ.

A voz de Cole saiu rouca, cheia de emoção. Estava lá para todo mundo ouvir.

— Olhe para mim, por favor, — ele pediu suavemente.

Ela virou-se, abrindo os olhos para ver o olhar torturado nos olhos dele.

— Vamos pegá-lo, PJ. Juro que vamos pregar a bunda dele na parede. Ele não vai conseguir se safar dessa vez.

Ninguém na sala negou a promessa concisa de Cole. Todos pareciam exatamente como Cole. Furiosos. Preocupados. Tristes demais.

Viver como uma equipe. Morrer como uma equipe. Ela estava derrubando-os. Eles estavam morrendo com ela.

Respirou firme, determinada a não deixar sua raiva crescente dominá-la. Precisava ficar calma e focada. Uma coisa de cada vez.

— Nós vamos para o complexo para encontrar Rio e os outros, — disse Steele. — Ficaremos fora algumas horas, no máximo. Você precisa descansar. Precisamos saber o que aconteceu em Viena. Nós vamos te contar todas as informações que recebermos. Eu prometo.

Ela assentiu com rigidez.

Cole foi o último a ficar de pé. Ele ainda estava segurando sua mão esquerda, os dedos entrelaçados com os dela. Então, finalmente, ele se levantou e inclinou-se para roçar os lábios em sua testa.

— Vou matar aquele filho da puta para você, PJ, — ele sussurrou.

Ela o viu caminhar para se juntar aos outros quando deixaram seu quarto.

— Não, você não vai, — ela disse calmamente quando a porta se fechou, deixando-a sozinha no quarto. — Eu vou.

 

PJ descansou por uma hora depois que sua equipe partiu. Não pedira analgésicos e não pediria. Ela iria sair desse lugar.

Ouvir que Brumley escapou fizera algo para sua alma. Foi como se ela tivesse se tornado uma pessoa diferente nesse ponto. Alguém mais dura. O que era necessário para atravessar a dor e a vergonha de sua provação.

Tempo para agir com coragem e lidar com o problema. Nada que valia a pena vinha facilmente. Ela aprendeu isso no início. E estivera por baixo antes. Nunca teria imaginado que chegaria a um ponto mais baixo do que quando se afastou da SWAT.

Mas aqui estava ela, despojada de quem era, o que fizera dela a mulher que ela era. Aquele desgraçado roubou sua confiança. Sua arrogância. Seu comportamento arrogante que a mantinha inteira nas missões difíceis. Ele a fez duvidar de si mesma e de tudo sobre ela.

Ela não iria ficar aqui por nem mais um momento.

Empurrou-se para fora da cama, ficando pegajosa quando a dor a agarrou logo que colocou pressão sobre os pontos. Santo inferno, estava doendo.

Estava ferida da cabeça aos pés, e os malditos cortes no interior de suas coxas faziam com que ficar em pé e andar fosse muito mais difícil.

Um de seus companheiros de equipe trouxe uma mochila e deixou-a sobre o balcão ao lado da pia. Lentamente percorreu o caminho até ela e esvaziou-a para inspecionar o conteúdo.

Havia moletons, uma grande camiseta que a engoliria, meias e um par de tênis surrados.

Seu peito suavizou quando percebeu que a roupa pertencia a um dos rapazes.

Mas no fundo havia o canivete. O canivete de Brumley. A lâmina que ela insistiu em manter. Cole a guardara para ela.

Levou vários longos minutos de agonia para se vestir. Certificou-se que os curativos sobre os cortes permanecessem no local e depois colocou as meias e sapatos. Quando terminou, enfiou o canivete no bolso do agasalho.

Olhou-se por um longo momento no espelho, não gostando do que viu. Ela viu alguém... Quebrado. E ela que se danasse se permitisse que esses bastardos tivessem esse tipo de poder.

Ela mesma caçaria os filhos da puta e os eliminaria.

Ninguém. Nenhum deles jamais se safaria depois de fazê-la se sentir da maneira que ela sentiu naquela noite horrível.

A vingança não era apenas um conceito, alguma fantasia que ela sonhou. Havia se tornado sua razão de ser.

Quanto mais tempo ficasse neste quarto de hospital, mais furiosa se tornaria e mais ela fantasiaria sobre colocar os bastardos à sua mercê. Fazê-los implorar por clemência. Clemência que ela não concederia.

Eles morreriam.

Morreriam pelo que fizeram com ela, pelo que fizeram para inúmeras jovens e pelo que tentaram fazer para aquelas menininhas que Rio e sua equipe conseguiram resgatar.

Graças a Deus, elas estavam a caminho de casa, de volta para suas mães e pais. Suas famílias.

A única família que PJ tinha era sua equipe, e ela não podia permitir-lhes assumir sua vingança. A KGI não era um grupo de justiceiros. E ela não estava a ponto de transformá-los em um.

Saiu do quarto de hospital e desceu o corredor em busca de Cathy, uma das enfermeiras que PJ conheceu durante as inúmeras vezes que a KGI estivera no hospital em Fort Campbell. Cathy era o mais próximo de uma amiga que PJ possuía, e fora Cathy quem viera e assumiu a responsabilidade de cuidar de PJ.

Cathy era uma enfermeira naval aposentada que se mudara para o Kentucky com o marido, e ambos trabalhavam na base. Era uma mulher alegre e sem nenhum despropósito, cuja franqueza sempre foi apreciada por PJ.

Quando chegou perto da enfermeira, Cathy olhou para cima e, em seguida, olhou de novo. Para seu crédito, ela não disse nada, mas atirou-se da cadeira e correu para ajudar PJ no corredor.

Rapidamente chamou PJ para a sala onde ficavam os familiares e havia apenas duas pessoas e, em seguida, falou energicamente com PJ.

— Que diabos você está fazendo? — Ela perguntou. — Você deve manter o traseiro na cama. Eu estava acabando de me preparar para trazer-lhe alguma medicação para dor.

— Preciso sair daqui, — PJ disse em voz baixa. — Não posso ficar aqui nem mais um dia. Preciso de sua ajuda.

Os olhos de Cathy se arregalaram.

— Você quer fazer o quê?

— Seu turno está quase no fim, certo? Me dê uma carona para fora daqui.

— E onde diabos você está indo? O que você precisa é manter a bunda na cama e deixar que os outros e eu cuidemos de você por um tempo. Não vai te matar depender dos outros pelo menos uma vez.

PJ queria muito abraçar a mulher mais velha, mas não se permitiu essa fraqueza.

— Tenho que fazer isso, Cathy. E não espero que você entenda.

Sua expressão se suavizou.

— Querida, você não está apenas fisicamente ferida. Você tem muito com o que lidar e isso nada tem a ver com pontos ou uma mão quebrada. Você precisa estar cercada por pessoas que se importam com você agora. Não lá fora por sua própria conta com qualquer esquema descuidado que você inventou.

— Eu preciso ir, — PJ disse em uma voz calma e determinada. — Você vai me ajudar ou eu terei que ir por conta própria?

Cathy fez um som de desgosto.

— Você vai conseguir levar um tiro do guarda noturno nessa bunda bonita. Pelo amor de Deus, PJ, você está em uma base militar. Não pode simplesmente valsar por aí como se fosse a dona do lugar.

PJ lhe deu um sorriso torto.

— Sou apenas uma civil, lembra? Eles não podem esperar que eu acompanhe todas essas regras militares.

— Você vai tentar esgueirar-se se eu não te ajudar, não é?

PJ assentiu, a expressão ficando sombria.

— Foda-me, — murmurou Cathy. — Você tem alguma ideia do que os seus homens vão fazer se descobrirem que fui eu quem a ajudou e incentivou?

— Basta jogar um hooyah na direção de Cole e Dolphin. Tudo vai ficar bem, então.

— Você é tão malditamente irreverente, — Cathy disse, exasperada. ¯ O pessoal da Marinha fica junto, você sabe. Eu deveria arrastar seu traseiro para a cama e depois algemar seu braço bom na cabeceira.

PJ olhou para o gesso incômodo. A mão que ela usava para atirar. Ela precisava daqueles dedos firmes.

— Quanto tempo até que minha mão melhore? — Ela perguntou séria.

— Poucas semanas com o gesso e você deverá ficar boa. Fraturas capilares de três dedos. Uma vez que o inchaço e hematomas diminuírem, deverão se curar rapidamente, mas só se você não tentar apressar as coisas. Dê-se o tempo que precisar e não tente nada estúpido ou você vai se arrepender. Eu só vou te ajudar se você jurar que vai cuidar de si mesma e dar-se tempo para curar. Temos um acordo?

PJ lentamente assentiu.

— Obrigada, Cathy. Fico te devendo essa.

— Você não me deve absolutamente nada, — Cathy disse, a voz cheia de emoção. — Eu tenho uma sobrinha de doze anos. Uma daquelas garotas que você salvou poderia ter sido minha sobrinha. Qualquer uma delas. Você fez uma coisa boa, PJ. Você se sacrificou muito, mas você as salvou.

PJ piscou para afastar a umidade traidora em seus olhos.

— Quanto tempo até você sair?

Cathy olhou o relógio.

— Bem, agora que eu não tenho que lhe dar remédios e verificar seus sinais vitais, dê-me cinco minutos e eu baterei o ponto. Fique aqui, eu a buscarei quando for hora de ir. Desceremos pelas escadas e espero pelo inferno que ninguém nos olhe muito de perto.

Ela estudou PJ um pouco mais e, então, esfregou o queixo.

— Deixe-me te falar. Vou trazer-lhe alguns uniformes hospitalares. Chamará menos atenção do que você andar parecendo um moleque de rua com essas roupas.

PJ sorriu.

— Obrigada.

— Agora sente e descanse até que eu venha pegá-la, — Cathy disse com uma carranca.

PJ afundou em uma cadeira com gratidão enquanto consolidava seu próximo curso de ação. A primeira coisa que precisava fazer era voltar para Denver, cuidar de algumas coisas lá e depois levar o tempo para se curar. Por mais que doesse, sabia que Cathy estava certa. Não havia absolutamente nada que pudesse fazer em seu estado atual. E precisava de um tempo sozinha para chegar a termos com o que aconteceu. Sem a presença sufocante dos membros de sua equipe. Todos eles tinham trabalho a fazer, e como ela era um elo fraco, eles não seriam capazes de realizá-los.

Até o momento que Cathy conseguiu voltar, PJ sabia exatamente o que iria fazer. Com a ajuda de Cathy, trocou as roupas pelo uniforme e as duas desceram as escadas e se agacharam fora de uma das entradas de pessoal.

Os postos de controle eram mais desafiadores. Mas Cathy disse a verdade. Mais ou menos. Ela deixou cair o nome KGI, disse que PJ tivera alta hospitalar e que ela estava lhe dando uma carona.

— Você pode me deixar em qualquer lugar em Clarksville, — PJ disse. — Eu posso pegar uma carona até o aeroporto.

— Foda-se, — Cathy disse rudemente. — Vou levá-la ao aeroporto.

— Mas você trabalhou um turno inteiro. O aeroporto fica a mais de duas horas de distância.

— Eu posso levá-la até Paducah. Pode demorar um pouco mais para chegar onde você está indo, mas você sabe que no minuto que aqueles rapazes descobrirem que você voou da gaiola, eles vão procurar em Nashville e Memphis.

PJ suspirou.

— Provavelmente você está certa. Paducah é o melhor.

— Você sabe que pode ficar comigo o tempo que quiser, — Cathy acrescentou calmamente.

— Obrigada por ser minha amiga, — disse PJ, um nó crescendo na garganta. — Isso significa muito.

Cathy olhou para ela.

— Contanto que você perceba que realmente tem amigos, PJ e que pode se apoiar neles de vez em quando. Está no livro de códigos dos amigos. Palavra de escoteiro.

PJ sorriu.

— Vou me lembrar disso.

— Okay, bem, vamos levá-la ao aeroporto. Você tem dinheiro?

— Eu tenho minha identidade e meu cartão de crédito. Isso vai me levar onde estou indo.

— Tudo bem então. Vamos pegar a estrada.

 

A sala de guerra no complexo KGI foi preenchida com um grande grupo de homens muito irritados. Steele ficou de lado com sua equipe, menos uma. Visivelmente sentindo a ausência de PJ, Cole ficou ombro a ombro com seu chefe de equipe enquanto inspecionava os outros ocupantes da sala.

Rio e sua equipe, composta por Terrence, Diego, Decker e Alton, pareciam abatidos e cansados. Eles também estavam com um homem a menos. Browning, que traíra a confiança de Rio em uma missão anterior. Rio era um bastardo duro e implacável e você só ferrava as coisas com ele uma vez. Browning teve sorte que Rio não o matara, mas ele o cortou da equipe e se afastou dele.

E depois havia os Kellys: Sam, Garrett, Donovan, Ethan, Nathan e Joe. E Swanny, o mais novo recruta da KGI.

A sala estava eriçada com a sobrecarga de raiva e testosterona. O silêncio era pesado, mas as correntes eram elétricas. Cole sabia o que estava na mente de cada um dos membros da KGI.

Vingança.

Vingança por um dos seus.

— O que aconteceu, Steele? — Garrett perguntou, o primeiro a quebrar o silêncio. — E eu não quero ouvir nenhuma besteira do tipo eu falhei com minha equipe. Apenas os fatos.

— Por que diabos ela estava sozinha? — Rio exigiu saber.

Seu temperamento estava no limite e ele fervia de raiva. Cole podia ver o medo nos olhos dele e sabia que ele estava pensando em Grace, e que uma vez, Grace estivera tão indefesa quanto PJ.

Ele também sabia que Rio e PJ eram algo semelhante a amigos. Tanto quanto PJ permitia que alguém se aproximasse dela. Ela e Rio tinham ido naquele mesmo bar desagradável que PJ frequentava. Cole ficou muito irritado por que ela deixou claro que ele não era bem-vindo quando aparentemente ela e Rio tomaram algumas bebidas juntos.

Sam levantou as mãos.

— Chega. Precisamos descobrir o que diabos deu errado para que nunca aconteça novamente.

— Eu deveria ter ficado mais perto dela no salão de baile, — Donovan disse firmemente. — Eu queria que ela chegasse perto de Nelson, mas ele saiu com ela pelos fundos e antes que eu pudesse alcançá-los para manter um olho nela, eles já tinham entrado em um carro.

— Foi o maldito tráfego — Dolphin fervia. — Nós teríamos sido capazes de interceptá-la no hotel. Eles ficaram lá tempo suficiente para que ele tirasse a pulseira dela. Se não tivéssemos ficado presos no trânsito, teríamos marcado sua saída do hotel e estaríamos na casa assim que soubéssemos que Brumley estava lá.

Garrett franziu a testa.

— Você acha que ele deduziu? É por isso que Nelson tirou a pulseira de PJ?

Steele balançou a cabeça.

— Não, eu acho que isso foi apenas rotina. Se não fosse por Brumley, Nelson teria levado PJ de volta para o hotel pensando que ele iria obter um pouco de ação e nós estaríamos lá o tempo todo. Mas Brumley a viu e decidiu que a queria. Ele é um bastardo, cauteloso e paranoico e queria que Nelson se certificasse que ela estava limpa, antes que a levasse para a casa de Brumley.

— Então, e agora? — Ethan perguntou, a voz sombria.

Sua mandíbula estava apertada também. Sua esposa, Rachel, foi vítima e passou um ano inteiro em um cativeiro na América do Sul antes que Ethan fosse avisado de que ela não estava morta, como toda a família pensava.

Estavam todos no limite. Os nervos estavam desgastados. As mulheres que se casaram na família Kelly, e a mulher que se casou com Rio, eram todas boas mulheres que experimentaram a tragédia de uma forma ou de outra.

Rachel, Sophie, Sarah, Shea e Grace estavam pesando fortemente na mente de todos eles. E agora a violência — a violação — havia tocado PJ. A companheira de equipe deles. Parceira. Uma mulher que torceu as entranhas de Cole tão forte que seu estômago era uma bola gigante de ansiedade.

— Vamos atrás desses babacas, — Cole fervilhava. — Isso é o que faremos agora.

Dolphin, Renshaw e Baker concordaram sombriamente. Até mesmo Steele parecia que estava em total acordo.

Sam e Garrett trocaram olhares inquietos.

O telefone celular de Donovan disparou, quebrando o silêncio constrangedor. Ele olhou para baixo, franziu a testa e, em seguida, colocou-o no ouvido.

Cole não prestou atenção até que Donovan praguejou e disse:

— Ela fez o que? E vocês a deixaram sair de lá? O que diabos aconteceu? Como isso aconteceu? Quero algumas malditas respostas.

Todos focaram atentamente em Donovan enquanto ele ouvia a pessoa do outro lado da linha. Em seguida, ele praguejou novamente e colocou o telefone no suporte ao seu lado.

— Que diabos está acontecendo? — Cole exigiu saber.

Donovan soltou a respiração.

— Eu nem sei como dizer isso. PJ saiu do hospital. Ou melhor, ela não saiu. Ela acabou de fugir.

Houve uma explosão de ‘mas que porra é essa?’ ecoando pela sala.

— Onde? — Cole falou entredentes. Ele não se importava com os detalhes. Só queria saber onde encontrá-la.

Donovan parecia que tinha acabado de engolir arame farpado.

— Não faço ideia. Ela não informou as pessoas em serviço que estava planejando sair.

— Filha da puta, — Steele praguejou.

Os outros lançaram olhares surpresos em sua direção. Garrett levantou uma sobrancelha, mas Cole não ficou tão horrorizado quanto os outros.

Steele podia ser uma máquina de sangue frio para alguns, mas Cole sabia que seu chefe era absolutamente envolvido com sua equipe. Ele considerava todos e cada membro como dele, e era possessivo e protetor com todos eles. Ele não aceitava desaforo de ninguém, e esperava obediência imediata quando dava uma ordem, mas tudo o que ele fazia, cada decisão que tomava, era para o bem da equipe, e ele nunca faria nada para comprometer sua segurança .

— Para onde ela iria? — Sam perguntou baixinho.

Ele dirigiu a pergunta para Cole e os membros da equipe. Eles a conheciam melhor, mas Cole queria rir dessa ideia. Será que alguém realmente conhecia PJ? Alguém sabia o que a motivava?

Renshaw balançou a cabeça.

— Ela é muito reservada, cara. Não fala muito sobre essas merdas pessoais. Eu não tenho nenhuma pista de onde começar a procurar.

— Pegue o telefone e comece a ligar para os aeroportos. Cada um em um raio de cem quilômetros, — Sam disse a Ethan. — Veja o que você consegue descobrir. Eu não me importo que tipo de história você tenha que contar ou que tipo de cordas terá que puxar. Apenas faça!

— Estou nisso, — Ethan disse, caminhando na direção do computador enquanto falava.

— E se a encontrarmos? — Nathan perguntou. — Não podemos fazê-la ficar onde a colocamos. Ou onde queremos que ela fique. Não podemos fazê-la aceitar a nossa... Ajuda. Ou apoio, por mais que nós queiramos dar.

Ninguém tinha uma resposta pronta para isso. Cole não precisava verbalizar suas intenções. PJ precisava deles. Ela precisava de alguém. Ele não dava a mínima para seu estado de lobo solitário na vida.

Ele queria estar lá para ela, para ajudá-la a passar por isso. Deus, ele só queria fazê-la sorrir. Para que as coisas voltassem a ser como eram quando zombavam um do outro, contavam piadas e lançavam insultos.

Ele não queria contemplar um mundo sem PJ. Não queria estar em uma equipe onde ela não era uma parte integrante. Não queria perder ninguém de sua equipe. Eles eram uma unidade.

Eles eram uma família.

— Vamos encontrá-la primeiro. Depois descobriremos nossas opções, — disse Steele.

Todos assentiram, concordando com a avaliação de Steele. O grupo se separou e Cole foi na direção de Rio.

— Posso falar com você? — Perguntou a Rio calmamente.

Rio olhou para ele com os olhos escuros.

— Sim, vamos sair.

Deixaram a sala de guerra e caminharam para fora, onde o anoitecer estava caindo suavemente sobre o lago. Era início do outono e as noites já estavam começando a esfriar. O vento insinuava iminentes dias agradáveis. Geralmente era a época do ano favorita de Cole, só que agora ele não podia apreciar a estação mudar, porque o mundo, o seu mundo, estava em completo tumulto.

— Há algo que você possa me dizer que iria ajudar? — Cole perguntou. — Eu sei que você passou algum tempo com PJ. Ela já te disse alguma coisa que nos ajudasse a encontrá-la agora?

Rio parecia arrependido.

— Tomamos algumas bebidas. Eu estava passando por Denver, eu a procurei, comemos e tomamos umas cervejas no bar. Não fizemos muita coisa além de conversar, e quando conversamos, foi sobre o trabalho. Missões passadas. Jogando conversa fora.

Cole fez uma careta.

— Sim, ela nunca foi de falar sobre si mesma.

Cole tinha a sensação de que a única noite que ele e PJ passaram juntos foi quando ela mais se abriu a qualquer pessoa. Mas, mesmo assim, ela não deu a ele o suficiente para saber o que estaria pensando agora.

Os lábios de Rio transformaram-se em um meio sorriso.

— Algum de nós fala?

Rio o pegou. Quanto ele realmente sabia sobre qualquer um de sua equipe? Sim, eles eram sua família. Ninguém jamais contestaria isso. Mas isso não queria dizer que eram todos melosos e intrometidos nos problemas uns dos outros.

Cole estava começando a se arrepender de não ter tentado mais no passado. Ele sempre respeitou a privacidade de PJ. Não a pressionou para obter informações que ela estava relutante em dar. Ser um bom rapaz e um bom companheiro de equipe não adiantava nada agora, quando estavam tão desesperados por informações.

— Olha, eu praticamente vi tudo. Eu tenho certeza que você também. É difícil quando é um companheiro de equipe, mas o fato é que ela está como um animal ferido e é provável que só queira se afastar para se curar sozinha. Você viu como Nathan estava quando ele voltou do Afeganistão. Você vê como Swanny é fechado. Inferno, todos nós temos nossos fardos para carregar. Apenas o fazemos de forma diferente. Talvez a melhor coisa a fazer seja se afastar e dar-lhe algum espaço. Deixá-la lidar com isso do seu próprio jeito.

Cole sabia que Rio estava dando bons conselhos, mas isso o irritou do mesmo jeito. Ele olhou fixamente para o outro homem.

— Diga-me uma coisa, Rio. Se fosse Grace, você estaria tão disposto a recuar e dar-lhe espaço e não se preocupar sobre onde ela está, se está sofrendo ou se conseguiria resolver do seu próprio jeito agora?

As sobrancelhas de Rio se levantaram, os olhos arregalados.

— Então é assim.

Cole praguejou.

— Sim. Não. O inferno se eu sei. Olha, eu estou demonstrando meu ponto de vista. Se fosse qualquer uma das outras mulheres. E se fosse Shea? Ou Rachel? Você estaria dizendo para recuar e deixá-las sozinhas para resolver seus problemas por conta própria?

Rio suspirou.

— Não. Eu não faria isso. Mas você tem que se lembrar, Cole. Você não pode simplesmente tratar PJ como qualquer outra mulher. Ela é uma guerreira. Uma agente altamente treinada que entra em combate e lida com situações que outras mulheres não lidam. Ela foi moldada de forma diferente.

Cole deu um passo mais perto até que ele e Rio estavam apenas a centímetros de distância.

— Tudo isso pode ser verdade, e eu certamente não vou contestar, mas o fato é, ela ainda é uma mulher e ela foi violada da pior maneira que uma mulher pode ser. E a equipe dela falhou com ela. Então me diga. Se ela estivesse em sua equipe, você estaria tão disposto a deixá-la ir embora e resolver tudo por conta própria?

Rio balançou a cabeça.

— Claro que não. Eu não deixaria um dos meus homens ficar sozinho. Eu só estou tentando oferecer alguma perspectiva.

— Bem, eu certamente não tenho nenhuma, — Cole disse sem rodeios. — O que eu quero é que ela não fique sozinha para lidar com isso. Ela tem a equipe dela. E ela me tem. E ela não tem de estar fora daquela cama de hospital.

Rio pôs a mão no ombro de Cole.

— Eu entendo, cara. Entendo quando uma missão se torna pessoal. Entendo isso muito bem. Minha equipe vai fazer tudo o que puder para ajudar. Nós respeitamos PJ demais. Ela é uma de nós. Será sempre uma de nós. Se você precisar de nós, é só dizer.

Um pouco da tensão deixou os ombros de Cole, e de repente ele estava cansado além do inacreditável.

— Eu aprecio isso. Sinto muito que nossa falha signifique que você tenha que ficar longe de Grace e Elizabeth.

— Vocês não falharam, — Rio disse calmamente. — Merdas acontecem. Não havia nada que vocês poderiam ter feito. E Grace e Elizabeth estão bem. Elas estão com Shea e as outras mulheres aproveitando a visita. Eu não as deixo sair da selva muitas vezes.

Cole sorriu torto.

— Não, você não deixa. Isso é certo.

— Mantenha-me informado, okay? — Rio disse quando Cole se virou para voltar para a sala de guerra. — Eu gosto muito de PJ e essa coisa toda me irrita. Eu quero aquele bastardo tanto quanto você.

Cole olhou diretamente nos olhos de Rio.

— Duvido.

 

PJ estacionou em frente à casa de Steele, desligou a ignição e, em seguida, agarrou o volante com as duas mãos. Fechou os olhos e respirou fundo. Esta seria a coisa mais difícil que ela já fez, mas era necessário.

Olhou para a mochila enorme jogada no banco do passageiro do carro alugado. Tudo o que pertencia a KGI.

Saindo, deu a volta para o outro lado para abrir a porta. Preparando-se, pegou a mochila pesada e colocou-a sobre o ombro.

Fazendo uma careta enquanto suas incisões ainda em recuperação protestavam, começou a seguir para a porta só para ver Steele parado no batente observando seu progresso.

Seu silêncio a enervava, mas só porque estava nervosa e odiava o que estava prestes a dizer.

— Onde diabos você estava?

Ela piscou e se alinhou no degrau mais alto. Ele parecia irritado quando Steele geralmente parecia imperturbável. Seu olhar varreu sobre ela, de cima abaixo, como se examinando seu bem-estar por si mesmo.

— Posso entrar? — Ela perguntou. — Preciso falar com você.

Steele pegou a mochila e então fez uma careta.

— Que diabos é isso, PJ?

Ela suspirou e passou por ele entrando na casa. Suas mãos estavam suadas e ela esfregou-as repetidamente nas pernas da calça.

Esta não era uma visita social, e ele, evidentemente, entendeu isso muito bem. Ele não a conduziu para a sala de estar, mas em vez disso encaminhou-a para seu escritório, com vista para a expansiva parte dos fundos da propriedade.

Ela caiu com gratidão em uma das poltronas em frente da mesa e esperou.

Ele largou a mochila sobre a outra cadeira e depois marchou em torno para se sentar atrás da mesa. E então nivelou um olhar fixo para ela. Um que faria um homem adulto tremer nas botas.

— Importa-se em explicar por que você fugiu do hospital, não deixou que eu ou sua equipe soubesse para onde estava indo, como você estava ou, inferno, sequer se estava viva? Você sabe o quanto ficamos preocupados nas últimas semanas? Você caiu completamente fora do radar. Ninguém foi capaz de entrar em contato com você. Você não foi para casa e não deu notícias. Que porra é essa, PJ?

Ela estremeceu e fechou os olhos. Não havia nenhuma maneira fácil de fazer isso, e um corte limpo sempre era melhor do que com arestas. Ela deveria saber.

— Estou devolvendo minhas armas.

Os lábios de Steele se apertaram.

— Eu percebi.

— Eu parei, — ela disse sem rodeios. — Estou fora da equipe.

— É isso?

Ela assentiu com a cabeça.

Ele praguejou entre os dentes cerrados.

— Que diabos está acontecendo em sua cabeça, PJ?

— Isso é algo que eu preciso fazer, — ela disse, arrebitando o queixo. — É o que eu tenho que fazer.

— Eu não vou aceitar sua renúncia.

— Você não tem escolha — disse ela suavemente. — Estou fora.

— Olhe, fique algum tempo descansando. Não havia nenhuma maneira no inferno de eu sair com a equipe tão cedo, de qualquer maneira. Não tome uma decisão emocional da qual você vai se arrepender mais tarde. Seu trabalho estará esperando quando você se recuperar.

Ela quase riu. Se recuperar? Ela não fizera nada além disso nas últimas três semanas. Três semanas agonizantemente longas onde ela permaneceu sonhando com vingança e em devolver dez vezes a dor que lhe causaram.

Levantou-se, sabendo que nada de bom podia vir de sua presença contínua aqui. Steele estava chateado e ela não queria perder tempo discutindo com ele.

— A minha decisão é definitiva.

A mandíbula de Steele inchou e flexionou.

— Não faça nada estúpido, PJ.

Ela virou-se para encará-lo e fez uma longa pausa. E ela mentiu.

— Eu preciso de algum tempo de inatividade. Não quero que a minha equipe se preocupe. Não quero te deixar com um homem a menos, enquanto estou começando a me recuperar. Não é justo com você ou com meus companheiros de equipe. Eu deveria ser substituída e você sabe disso. Eu sou uma deficiência, e você não pode se dar ao luxo de sair para uma missão com um homem a menos. Preencha a vaga, Steele.

— Simples assim? — Ele retrucou.

Ela respirou firme e orou para que não perdesse a compostura antes que conseguisse sair.

— Eu não posso fazer isso, Steele. Apenas deixe-me ir.

Ele a olhou por um longo momento. E então se levantou e deu a volta para ficar de pé na frente dela. Colocou a mão em seu ombro e gentilmente apertou. Era tão fora do personagem para ele que ela só podia ficar lá, perplexa.

— Leve o tempo que precisar, PJ. Coloque a cabeça no lugar e depois volte e converse comigo. Se ainda estiver tão determinada a parar depois de alguns meses, então aceitarei seu pedido de demissão. Mas até lá, você ainda é uma parte desta equipe. Da minha equipe.

Ela mordeu o lábio para impedir que as lágrimas inundassem sua visão.

— Obrigada.

Então ela se virou e caminhou rapidamente para fora do escritório e pela casa. Caminhou cegamente para seu veículo e entrou antes que pudesse mudar de ideia. Ela não podia ser fraca. Não agora.

O que ela tinha que fazer de modo algum poderia se refletir sobre a KGI ou sua equipe. Não iria arrastá-los para a lama que estava prestes a jogar em si mesma.

 

Cole sabia que o que Steele tinha a dizer não podia ser bom. Ele chamou a todos para sua casa. Não para as instalações da KGI onde os negócios eram geralmente tratados e missões eram delineadas.

Eles só esperavam que Baker aparecesse, e a atmosfera estava cheia de tensão e ninguém falava.

Ele cerrou e descerrou os punhos e, em seguida, levantou-se do assento do pátio, pois não conseguia mais ficar sentado de braços cruzados enquanto esperava para ouvir o que Steele tinha para eles.

As últimas semanas foram uma maldita tempestade de frustração e isso o estava desgastando. Ele fora por conta própria para Denver, na esperança de que PJ estivesse escondida no apartamento. Ele respeitava sua necessidade de privacidade, mas odiava que ela estivesse sozinha e não tivesse ninguém em quem se apoiar depois do que aconteceu. Ninguém era durão desse jeito. Ela acabaria desmoronando, mais cedo ou mais tarde, e ele não queria que estivesse sozinha, sem ninguém para ajudar a recolher os pedaços. Droga, ele queria ser a pessoa que a ajudaria.

Claro que ele desejou PJ por um tempo muito longo, mas as coisas mudaram entre eles naquela noite que passaram no apartamento dela. Ele sabia disso e sabia muito bem que ela também sabia. Foi por isso que ela afastou-se tão rapidamente e queria fingir que nada tinha acontecido.

Bem, ele não conseguiria fazer isso. Não importava o que ela queria, ele não poderia voltar para a fácil camaradagem e as besteiras de antes. Talvez esse sentimento fosse unilateral, mas ele estava carregando uma obsessão muito forte por ela e isso era uma droga.

Se fechasse os olhos, ainda podia sentir o cheiro dela. Sentir seu sabor. Podia sentir sua pele contra a dele. Mas não era só sexo. Ele poderia conseguir sexo em qualquer lugar, e passou um longo tempo sem transar porque nenhuma das mulheres era PJ.

Eles simplesmente se encaixavam. Havia algo indefinível sobre sua conexão, e ele sabia que ele não poderia ter sido o único a sentir isso.

Houve um suspiro audível de alívio quando Baker atravessou a porta um instante depois. Ele parecia tenso, como se estivesse esperando o pior. Seu olhar automaticamente varreu a sala, e ele franziu a testa, quase como se estivesse fazendo a contagem da quantidade de pessoas.

Sim, estava faltando uma pessoa e isso era uma droga.

— O que há, Steele? — Baker perguntou.

— Sentem-se, — ordenou Steele.

Baker deslizou em uma das cadeiras e Cole permaneceu de pé. Steele sequer emitiu uma ordem na direção dele.

— PJ veio me ver a dois dias, — Steele começou.

Cole avançou para ele.

— Que porra é essa? E só agora você vem nos contar? Onde ela está? Como ela está? Ela está bem?

Steele levantou a mão. Sua expressão era sombria.

— Ela deixou a equipe.

A sala inteira explodiu em: ‘mas que porra!’ mas Cole não disse uma palavra. Suas narinas dilataram e ele soltou várias respirações através delas, desejando não perder o controle por completo.

— Onde ela está agora? — Cole disse entre dentes. O inferno que ela sairia da equipe. De todas as coisas que ele pensou que Steele poderia dizer, essa não era um delas.

Steele suspirou.

— Eu não sei.

Dolphin levantou a mão, com a cabeça balançando em descrença. Mas Cole falou na frente dele.

— Deixe-me ver se entendi. PJ veio até você. Ela deixou a equipe. E você deixou-a sair daqui e não tem ideia de onde ela está ou para onde estava indo?

— Eu disse a ela que não iria aceitar sua demissão, — disse Steele. — Ela foi inflexível. Veio com essa estória de não querer derrubar equipe e que precisava de tempo.

— E você acreditou nesse monte de porcaria? — Cole perguntou incrédulo.

Todos ficaram em silêncio e olharam entre Steele e Cole com apreensão. Steele era seu comandante e eles lhe concederam o devido respeito dessa posição. Sempre. Até agora. Ele nunca fora questionado. Até agora.

— Eu não disse que acreditei em coisa nenhuma, mas eu não podia forçá-la a ficar. Não posso forçá-la a tomar decisões que pensamos ser o melhor para ela. Ela pediu tempo e espaço. Eu não poderia deixar de lhe dar.

— Jesus, — Dolphin murmurou. — Você estragou tudo, Steele. É bom puxar essa rotina de homem de gelo no trabalho e em uma missão. Mas é sobre uma maldita companheira de equipe que estamos falando aqui. Ninguém dá a mínima para ser justo e imparcial nesta situação. Ela precisa de nós, e você a deixou ir embora.

Steele virou furiosamente para Dolphin. Antes que Cole pudesse piscar, ele tinha Dolphin contra a parede, o antebraço atravessado no pescoço dele.

— Não ouse falar comigo sobre ser um homem de gelo. Eu estava lá, lembra? Ouvi cada maldita coisa que aconteceu com ela. Ela é minha. Assim como cada um de vocês são meus. Se você acha que eu não estou furioso sobre toda essa situação, então, foda-se.

Dolphin o encarou com firmeza e, finalmente, Steele afrouxou o braço e recuou. Rapidamente, Steele se recompôs e a fachada fria estava de volta no lugar. Mas agora todos sabiam o quanto ele estava próximo do limite.

Cole virou-se e bateu com o punho na parede. Ele não conseguia sequer pensar em imaginar PJ sozinha, sentindo Deus sabe o que. Ela deixou a maldita equipe. Eles eram uma família. E ela foi embora.

Ele afastou-se para bater na parede de novo e praticamente foi atacado por Baker e Renshaw. Eles o derrubaram, prendendo-o ao chão.

— Saiam de cima de mim! — Cole rugiu.

— Esfrie sua bunda, — Renshaw vociferou. — Nada disso está ajudando.

— Chega! — Steele berrou.

Cole capotou Baker fora de seu peito e depois tentou atacar Renshaw. Renshaw tentou evitar o soco, mas foi o suficiente para desequilibrá-lo, e Cole estava de pé novamente e olhando para Steele como se quisesse perfurá-lo.

— Eu concordo com Dolphin sobre isso, homem de gelo. Você estragou tudo. — Ele avançou em Steele até que eram praticamente só os dois. Os outros ficaram em segundo plano enquanto enfrentava seu líder de equipe.

— Maldito seja, Steele, você sabia que eu estava procurando por ela. Você sabia que eu estive em Denver. Sabia o quanto eu estava terrivelmente preocupado. E você simplesmente deixou-a ir e esperou para nos contar dois dias depois? Que porra é essa, cara?

A mandíbula de Steele ficou tensa.

— Eu esperava que ela mudasse de ideia.

— Sim, bem, como é que isso funciona para você? Que porra vamos fazer? Fingir que nada aconteceu? Seguir em frente? Aceitar outra missão? Inferno, por que nós simplesmente não a substituímos já que ela é assim tão dispensável?

— Chega, Cole! — Disse Steele, a voz tão fria como gelo.

— Chega está muito certo! — Disse Cole, a fúria crescente, mais nítida, mais dura a cada respiração.

Ele virou-se e caminhou para a porta.

— Ei, espere um minuto, — disse Dolphin. — Onde diabos você está indo?

Cole se virou e olhou para sua equipe, que não era mais a mesma. Que nunca mais seria. Não era uma equipe sem PJ.

— Estou fora, — ele falou. — Estou indo atrás de PJ. Não vou deixá-la arcar com isso sozinha. Ela precisa de nós.

— Não seja tão impetuoso, — resmungou Steele.

Os lábios de Cole se franziram com desgosto.

— Sim? E por que você não para de ser um maldito insensível? O que você fez foi errado e você sabe muito bem disso. Você deveria ter se sentado em cima dela, se fosse necessário, até que pudéssemos resolver isso como uma equipe.

— Ela procurou a mim, — Steele estalou. — Não procurou você. Não procurou a equipe. Ela procurou por mim, então eu só posso supor que ela queria que fosse assim.

As palavras de Steele cavaram fundo porque ele estava certo. Era óbvio que PJ não tinha a intenção de enfrentar Cole, e isso o destruiu.

— Eu não dou a mínima para o que ela acha que queria, — Cole disse suavemente. — Ela não está pensando direito e todos nós sabemos disso. Às vezes, fazer a coisa certa é totalmente errado. Dar-lhe espaço e tempo e toda essa merda é ótimo no papel, mas você e eu sabemos que a última coisa que ela precisa é ficar sozinha. Nós somos a família dela. Sua única família. Supostamente deveríamos nos importar. Temos que lutar por ela quando ninguém mais o fará. E certamente devemos chamar a atenção dela quando estiver fazendo escolhas estúpidas e fodendo tudo. Isso é o que a família faz. Viver e morrer como uma equipe, certo? Bem, você a abandonou, Steele. E você abandonou o resto de nós junto com ela, porque agora todos nós parecemos um bando de idiotas indiferentes que a deixamos ir embora sem lutar.

— Hooyah, — Dolphin disse calmamente.

Steele parecia que queria bater em alguém. Cole olhou desafiadoramente para ele, porque nesse momento ele adoraria uma boa luta. Steele estava agitado, e ele não costumava ficar agitado, mas Cole não dava a mínima.

— A última equipe dela fez a mesma maldita coisa que estamos fazendo, — disse Cole com desgosto. Ele não deveria quebrar a confiança de PJ. Ela se abriu para ele quando não se abrira a nenhuma outra pessoa. Mas agora ele lutaria sujo se fosse necessário. Steele e os outros precisavam saber com o que estavam lidando.

— Você está falando da SWAT? — Renshaw perguntou.

— Sim. Ela foi embora porque eles a culparam por algo que não era culpa dela. Ela fez a coisa certa e delatou policiais corruptos. Eles se viraram contra ela e a fizeram parecer uma ex-amante vingativa procurando desforra. Nenhum deles lutou por ela. Sobre o meu cadáver é que isso vai acontecer desta vez. Vamos lutar por ela. Ela merece muito.

— Estou com Cole nisso, — disse Baker, em voz baixa.

— Eu também, — disse Dolphin.

— E eu, — Renshaw ecoou. — Ela é uma de nós. Se ela cair, nós cairemos também. Não vamos pegar outra missão e seguir em frente sem ela.

— Claro que não, — Cole rosnou.

Cole olhou para Steele por um longo tempo antes de finalmente se virar.

— Estou indo embora. Se precisar de mim, estou com o celular.

Então ele se virou para Steele, mais uma vez, quando chegou à porta.

— Considere isto meu pedido de férias.

 

Seis meses mais tarde...

Cole saiu de sua caminhonete e inalou o ar fresco, tentando sacudir um pouco da névoa de sua mente. Steele telefonou para ele e disse-lhe secamente para se encaminhar para o complexo KGI. Ele não esperou pela confirmação. Apenas emitiu a ordem e desligou.

Dado o pouco que Cole dera a sua equipe desde o desaparecimento de PJ, ficou surpreso por Steele ter se incomodado. Estava ainda mais surpreso por se encontrar aqui.

Cole passou o inverno alternando entre a busca de pistas sobre PJ e isolar-se em sua casa em Camden, a uma curta distância do complexo KGI.

PJ tinha desaparecido. Isso o frustrou infinitamente. Ele passou muito tempo procurando no bairro dela, conversando com as pessoas sobre ela. O problema era, ninguém a conhecia. O garçom e a garçonete no bar onde a encontrou naquela primeira noite disseram que ela era uma cliente regular, mas ficava sozinha e nunca conversava com outros clientes.

Cole foi tão longe a ponto de procurar o comandante da SWAT da unidade dela. Levou tudo que tinha para não perder a paciência e começar alguma revanche em nome de PJ, mas obter informações era mais importante do que sua fúria sobre a traição.

Foi como bater em uma parede de tijolos, no entanto. À menção do nome de PJ, o comandante se calou e se recusou a discutir qualquer coisa que tivesse a ver com ela. Cole dissera ao idiota o que pensava sobre ele e sua equipe de idiotas antes de sair.

Seis meses sem dormir e frustração sem fim estavam agarrando-o duramente. Caminhou até a entrada para a sala de guerra, digitou o código de acesso e entrou. Enquanto caminhava pelo curto corredor para a sala principal, esfregou os olhos e depois arrastou a mão pelo cabelo cortado curto em um esforço para parecer um pouco apresentável.

Todos estavam presentes e representados, o que significava que Cole estava atrasado. Não que ele se importasse. Resmungou na direção geral de seus companheiros de equipe e largou-se em uma cadeira.

— Ainda bem que você conseguiu aparecer, — disse Steele, uma ponta de raiva na voz.

— Você disse que era importante. Caso contrário, eu não estaria aqui de jeito nenhum, — Cole estalou.

Ele olhou em volta, franzindo o cenho quando notou caras novas. Havia um cara que estava perto de Swanny e Joe, de braços cruzados, a postura rígida, como se estivesse esperando uma briga a qualquer momento. Ele tinha quase o mesmo tamanho de Garrett, com tatuagens percorrendo os dois braços, desaparecendo por trás das mangas curtas da camiseta.

Parecia que estivera em muitas brigas de bar. Cole o classificou como um boxeador ou talvez um lutador de artes marciais, porque ele tinha o início revelador das orelhas em forma de couve-flor e seu nariz parecia que foi quebrado pelo menos uma vez.

Cole ficou tenso quando percebeu a mulher de pé entre Nathan e Swanny. Ela deveria ter a mesma altura de PJ, mas com o cabelo loiro mel e profundos olhos azuis. Parecia jovem. Muito jovem para estar trabalhando em uma equipe de mercenários.

Em seguida, foi atingido por um pensamento terrível. Seu estômago agitou e um nó se formou em sua barriga.

E se o chamaram para anunciar que contrataram alguém para preencher a posição de PJ na equipe? E se isso fosse um estúpido conhecer e cumprimentar? Um, vamos fazer a nova recruta sentir-se bem-vinda? — Mentira. Ele não pensaria nisso.

Ele olhou para Steele, à procura de alguma pista, mas a expressão de Steele era dura e fria. Cole poderia ficar arrepiado só de olhar para o seu líder de equipe.

— Você não a contratou para substituir PJ.

Ele não fez disso uma pergunta, e seu desgosto era evidente para todo mundo ouvir. Ele não se importava. Ele estava em um mau-humor irritado e realmente não dava a mínima que soubessem disso.

Não queria estar aqui. Especialmente se era para ouvir que teria uma nova companheira de equipe. Essa garota não chegava aos pés de PJ e Cole não ligava para quais fossem suas qualificações.

Os olhos de Steele se estreitaram, e então ele olhou para a mulher antes de voltar os olhos para Cole.

— Ela é recruta para a nova equipe, — disse Steele.

A sobrancelha de Cole subiu.

— Qual nova equipe?

— Se você tivesse passado algum tempo com sua equipe ao longo dos últimos meses, saberia que a KGI formou uma terceira equipe composta por Nathan, Joe e Swanny e dois novos recrutas, Watkins Skylar e Edgerton Zane.

Cole rejeitou-os em um piscar de olhos. Ele queria saber qual era o negócio grande e peludo que fez Steele chamá-lo. Dois novos recrutas para uma equipe que não era a sua não poderia ser o que fez Steele chamá-lo para vir aqui.

Donovan, que estava ao telefone no canto, enfiou o celular de volta no bolso e, em seguida, caminhou até onde todos estavam reunidos.

— Temos uma pista de Brumley, — disse ele. — Sabemos onde ele estará daqui a três dias. Ele tem outro negócio para fechar, bastante importante para ele ressurgir. — Donovan tomou fôlego e dirigiu um olhar sério para os outros. — Esse é grande. Muito maior que os anteriores. Ele ficou infernalmente muito mais ousado. Acredita-se que ele tem bem mais de 30 meninas. Uma mistura de nacionalidades e todas menores de 15 anos.

Houve caretas e ruídos de nojo. As narinas de Skylar se dilataram e seus olhos queimaram com raiva.

A pulsação de Cole acelerou, e seu estômago se agitou. Ele sonhava em ter aquele filho da puta à sua mercê. Ele conjurou algumas imagens muito duras de todas as maneiras que Brumley teria uma morte longa e dolorosa.

Olhou para Steele, notando o brilho selvagem em seus olhos.

Cole se sentou mais a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. Sim, ele queria entrar nessa missão, mas sua prioridade era encontrar PJ. Não podia se dar ao luxo de ser distraído por vingança. Matar Brumley não traria PJ de volta, por mais gratificante que seria ver o bastardo morrer.

Começou a se levantar, com a intenção de sair. Estar aqui com todos os membros da KGI apenas realçava a ausência de PJ ainda mais.

A ideia interia de um grupo de mercenários estava sendo removida. Fazer o trabalho. Não se envolver emocionalmente. Seu sucesso dependia de ser capaz de desligar suas emoções.

Mas a KGI — a sua equipe, liderada por Steele — era diferente. Isso era um monte de besteira piegas, mas a organização KGI inteira não era um grupo de assassinos de aluguel comum. Eles tinham uma consciência. Suas missões eram justas. Pelo menos de sua perspectiva, e isso era tudo o que importava. No final do dia, se pudessem olhar-se no espelho e não recuar, estava tudo bem.

— Sente-se, Cole, — disse Steele. — Você precisa ouvir isso.

A mandíbula de Cole apertou, mas então viu o brilho nos olhos de Steele. Não era raiva com o fato de que Cole estava prestes a sair. Havia grande interesse. Antecipação. Como se algo grande estivesse para acontecer.

Isso fez Cole fez parar em sua intenção.

Donovan pegou uma pasta da mesa e abriu-a antes de abordar os ocupantes da sala.

— Estamos à procura de Brumley por meses. Ele desapareceu, e parece que está se escondendo. O que é interessante o suficiente, dada a sua arrogância e o fato de que ele tem tantas ligações, que nunca se preocupou em ser muito obscuro.

— Ele tem uma maldita ferradura presa no rabo, — Garrett falou entre os dentes. — O filho da puta é sortudo.

— Sim, bem, quando você adiciona o tipo de dinheiro e poder que ele tem à sorte, você tem alguém quase malditamente invencível, — disse Sam.

— Ele está com medo, — disse Donovan.

Ele chamou a atenção de todos com essas palavras.

— Dois membros de sua equipe de segurança pessoal, homens sem os quais ele nunca ficou, apareceram mortos, — Donovan continuou. — Brumley não faz nada sem eles, então o fato de que alguém chegou perto o suficiente para matar seus guardas é o suficiente para deixá-lo assustado. Provavelmente por isso ele se escondeu nesses últimos meses. Ele ficou quieto, mas a magnitude deste novo acordo, aparentemente, foi suficiente para tirá-lo de seu buraco escuro.

Donovan puxou uma pilha de fotos ampliadas e então, cuidadosamente colocou-as sobre a mesa.

A curiosidade levou a melhor sobre Cole, e ele aproximou-se para que pudesse ver as imagens.

Vários assobios e exclamações ecoaram pela sala enquanto todos se aglomeraram ao redor da mesa.

— Puta merda, — disse Dolphin. — Quem matou esses caras nutria alguma séria animosidade. Não é uma simples execução. Isto é pessoal.

Cole olhou para baixo, congelado, enquanto olhava os cortes nos corpos dos homens. Um verticalmente para baixo da linha média do peito. Mais dois acima das costelas. Dois no interior das coxas. E cada um tivera a garganta cortada. Em um dos casos, a cabeça parecia estar apenas mal ligada ao resto do corpo.

Gelo penetrou em suas veias, até que se sentiu incapaz de se mover ou reagir. O medo apertou suas entranhas.

— Doce Jesus, — ele finalmente sussurrou.

Suas mãos tremiam quando pegou uma das fotos. Então, olhou primeiro para Donovan e depois para Steele. Ambos tinham o mesmo reconhecimento nos olhos.

Cole deixou cair a foto de seus dedos para a mesa.

— PJ foi atrás deles.

— Acreditamos que sim. — Donovan disse severamente.

Cole pegou a foto novamente, ergueu-a e apontou para os ferimentos de faca.

— Acreditam? Esta é uma evidência muito conclusiva. Estes ferimentos são idênticos aos que aquele bastardo fez em PJ. Você estava lá. As únicas pessoas que viram fomos nós e os idiotas responsáveis por isso acontecer com ela. Deveríamos acreditar que é uma coincidência PJ abandonar sua equipe, desaparecer e depois os caras que têm laços com Brumley começarem a aparecer mortos?

— É por isso que queremos chegar a Brumley antes que ela o faça, — disse Steele.

— Claro que sim, temos de alcançá-lo antes dela, — Cole falou entre dentes. — Eu não a quero perto daquele bastardo nunca mais.

Querido Deus. A ideia de PJ se transformando em uma justiceira o encheu de um medo angustiante que não sentia desde que era um recruta da Marinha.

Ela poderia estar morta agora mesmo. E se ela tentou se aproximar de Brumley e o bastardo a pegou agora? Nelson a queria como um brinquedo e a teria mantido se Brumley tivesse permitido. Se eles colocassem as mãos sobre ela novamente, não havia como dizer o que fariam com ela.

— Ela começou com os dois homens que estavam lá, mas não participaram no ataque contra ela, — Donovan disse com a voz calma. — Havia apenas quatro homens lá quando ela foi estuprada. Dois estão mortos, o que deixa Nelson e Brumley. Acho que podemos assumir que ela tem planos para ir atrás de ambos. Nosso informante disse que Brumley e Nelson estarão presentes para este negócio que irá acontecer. Se quiserem minha opinião, acho que Brumley sabe que PJ está atrás dele e está com medo porque ela conseguiu pegar seus homens sem que ninguém a descobrisse. Mas ele também é um filho da puta ganancioso, e se ele acha que pode surgir para fazer um acordo, ele vai fazê-lo. Ele só vai reforçar a segurança.

— Ou ele poderia estar querendo ferrar com ela, — Dolphin disse severamente. — Ele é o tipo de cara cujo ego não permite que ele se esconda de uma mulher. Estou com Cole. Não quero esse bastardo perto dela, ou melhor, ela perto dele.

Os outros assentiram em concordância.

Cole não queria nem pensar em PJ caindo nas mãos de Brumley novamente. Ele não poderia pensar nisso ou perderia a cabeça. Olhou para os outros, resolução gravada em cada palavra.

— Nada com que não possamos lidar, certo?

Steele levantou uma sobrancelha.

— Isso significa que você está dentro ou que ainda planeja foder com tudo solzinho?

— Oh, estou dentro, — disse Cole. — Quero pegar esses dois bastardos antes que PJ tenha chance de chegar até eles. Não quero que ela passe por tudo o que passou novamente.

Dolphin, Baker e Renshaw se reuniram em torno de Steele e Cole. Trocaram olhares ferozes, suas intenções explícitas sem dizerem uma única palavra.

— Estou dentro também, — disse Donovan.

Steele franziu o cenho.

— Esta é a minha missão, Van. Você não vai liderá-la. Isso envolve a minha equipe. Meus companheiros de equipe.

Sam começou a abrir a boca, mas Donovan lançou-lhe um olhar que o fez recuar. Garrett franziu a testa, mas não interviu. O restante dos membros da KGI olhavam com interesse abjeto.

— Você tem a liderança, Steele, — Donovan disse calmamente. — Mas eu irei junto neste passeio. Eu estava lá. Posso não ser um membro de sua equipe, mas eu estava lá com PJ. Ouvi cada maldita coisa que você ouviu. Fui eu quem a deixou ir embora da festa. Tenho tanta participação nisso quanto você e sua equipe. PJ é da KGI. Todos vocês são da KGI. Eu sentiria o mesmo se fosse qualquer outra pessoa.

Garrett não pôde conter o seu silêncio por mais tempo.

— Acho que devemos enviar pelo menos duas equipes.

— Quem é que você vai enviar? — Cole exigiu saber. — De jeito nenhum uma nova equipe poderia lidar com isso. — Ele enviou um olhar de desculpas na direção de Nathan e Joe. — Sem ofensa a sua equipe, mas isso é muito importante para ferrar.

Virou seu olhar de volta para Sam, Garrett e Donovan. Sim, tecnicamente eles comandavam o show, mas todos sabiam que as equipes operavam de forma independente.

Donovan olhou fixamente para seus dois irmãos mais velhos.

— A equipe de Steele irá e eu irei com eles. Vocês podem nos ajudar fornecendo informações. Mas faremos da maneira de Steele.

— Então, vamos fazê-lo, — Cole cortou com impaciência.

Estava cansado de falar. Estava cansado de discutir. Só queria se mexer para que pudesse alcançar Brumley antes de PJ. Se ela já não o tivesse alcançado.

Houve um murmúrio de conversa, principalmente entre Sam, Garrett e Donovan. Os pensamentos de Cole se afastaram para PJ, se perguntando se ele deveria ter concentrando sua pesquisa internacionalmente. Ele nunca teria sonhado que PJ iria atrás deles por conta própria, mas de repente tudo fez sentido.

Por que ela foi embora. Por que estava tão inflexível em cortar todos os laços com sua equipe. Não que ela quisesse. Ela fez isso porque não queria envolvê-los.

Ele queria estrangulá-la. Tudo o que aconteceu com ela envolveu a equipe, ela gostando ou não. Assim como quando Cole e depois Dolphin levaram um tiro durante uma missão.

Ela não se importou em se intrometer e dar ordens a eles e garantir que descansassem. Mas, eles não haviam planejado uma missão vingadora para rastrear a escória por conta própria também.

— Cole, uma palavra, — Steele disse laconicamente.

Cole virou-se e encontrou o olhar de seu líder de equipe. Steele apontou para a porta e, em seguida, deixou a sala de guerra. Cole o seguiu para fora e depois a uma curta distância antes de ambos pararem.

— O que é tão secreto? — Cole perguntou.

— Não seja espertinho, — disse Steele bruscamente. — Eu preciso que você tenha a cabeça no lugar, se pretende fazer parte disso.

Cole franziu a testa.

— Espere um maldito minuto...

Steele derrotou-o com o olhar forte.

— Não, você espere um minuto. Não aja como se você não tivesse ido para a merda nos últimos meses. Você se parece com algo que o gato arrastou. Perdeu peso. Parece que não dorme há meses. Você não vai fazer nenhum maldito bem a PJ se não puder executar sua função dentro da equipe. Não precisamos de um maldito herói, Cole. O que precisamos é de uma equipe eficiente que entre e tome conta do negócio, sem permitir que nossas emoções nos governem.

Cole queria discutir. Porra, ele queria dizer a Steele para enfiar toda essa merda no rabo, mas seu chefe de equipe estava certo e Cole sabia.

— Eu entendi, — Cole disse rispidamente. — Estou dentro. Você não vai fazer isso sem mim.

Steele levantou um dedo.

— A única razão pela qual vou permitir que você participe é porque sei que se eu te deixar de fora, você simplesmente sairá por conta própria e então vai ficar no caminho. Eu não vou perder PJ e também não vou perder você. Eu manterei esta equipe unida, mesmo que isso me mate.

Cole ficou sério e então se virou para olhar sobre o lago.

— Espero que não seja tarde demais, Steele.

Steele suspirou.

— Sim, eu também espero.

— Eu quero aquele bastardo. Quero que ele pague pelo que fez a PJ. Mas mais do que isso, eu só quero que ela volte para casa, com a gente. Com a equipe.

— Eu entendo, — Steele disse calmamente. — E ela voltará. Eu disse a ela o que poderia fazer com sua demissão.

Cole riu. E então olhou para Steele.

— Você não é o robô que todos o acusam de ser, sabe?

A expressão de Steele poderia ter lava congelada.

— Não comece a pensar que eu tenho um coração, Coletrane. Eu só não quero ter que começar de novo e treinar um novo recruta.

Cole reprimiu um sorriso. Sim. Tanto faz.

 

Eslováquia, vigilância, segundo dia.

O suor rolou nas laterais do corpo de PJ, fazendo a fina camisa camuflada que ela usava agarrar sua pele. Estava absolutamente imóvel, quase sem respirar, enquanto esperava, assim como esperou pelas últimas vinte e quatro horas, que a oportunidade certa se apresentasse.

Ela era paciente. Muitas vezes passara longas horas no campo na mira de atirador. Algumas missões se prolongavam por dias, e ela e Cole eram parceiros silenciosos. Incapazes de se comunicarem ou até mesmo reconhecer a presença do outro de alguma forma, mas era reconfortante saber que não estava sozinha.

Esse não era o caso agora. Ela não tinha Cole como seu parceiro. Não tinha sua equipe para apoiá-la. Estava voando sozinha diretamente para a cova dos leões.

Era inteligente o suficiente para ter medo, mas se recusava a permitir que o medo a paralisasse e a tornasse impotente e fraca. Nunca mais.

Prendeu a respiração quando olhou através do binóculo para a residência abaixo. Dois carros blindados chegaram, e ela viu quando Brumley saiu de um dos lados. Nelson saiu do outro e olhou ao redor, seu olhar, obviamente, à procura de qualquer ameaça.

Você não vai me encontrar, bastardo. Não até que eu esteja pronta.

Brumley entrou, rodeado por seus capangas. Seria tão fácil matar aquele idiota com seu rifle de atiradora de elite. Mas seria muito fácil. Queria que ele sofresse, e queria que seu rosto fosse a última coisa que ele visse antes de morrer. Então ele saberia que era ela, e que ela o fez pagar por seus pecados.

Nelson ficou para trás, acendendo um cigarro enquanto Brumley entrava na casa.

PJ sorriu. Babacas arrogantes. Pensavam que o muro alto, a segurança de milhões de dólares e vigilância os protegia do mundo exterior. Que ela não poderia entrar. Que estavam seguros.

Eles estavam errados.

Ela relaxou em seu esconderijo, certificando-se que o silenciador estava anexado a arma de forma adequada e que o canivete que Brumley usara nela estava em sua mão.

Nos últimos meses, passou uma frustrante quantidade de tempo frequentando lugares que Brumley, segundo boatos, desfrutava. Gastou cada centavo de suas economias para sustentar a pesquisa sobre os homens que a estupraram.

E valia a pena ser muito pobre pelo resto de sua vida se ela realizasse sua missão.

Tirou o computador portátil e rapidamente digitou uma série de comandos. Donovan não era o único com experiência com computadores. Eles simplesmente a entediavam até as lágrimas.

Na primeira hora de sua vigilância ela invadiu o sistema de monitoramento de segurança da propriedade. E foi muito fácil. Ficou abismada que com tanto dinheiro que Brumley ganhava, ele realmente tinha um sistema de vigilância tão vagabundo.

Programou o sistema para reproduzir as fitas das últimas quatro horas, terminando antes que a procissão de carros chegasse. Ela só teria duas horas antes que soubessem que algo estava acontecendo, porque o sol começaria a se por e o anoitecer estaria sobre ela.

Duas horas para entrar e matar os homens responsáveis pelas cicatrizes em seu corpo e os danos para a sua alma.

Tivera menos tempo para executar uma missão antes. Esta não era diferente. O objetivo tinha que ser alcançado. Dizia isso a si mesma muitas e muitas vezes.

Correu para a casa, mantendo-se atrás das coberturas, para que não fosse vista através de uma das janelas. Nelson ainda estava na frente fumando seu maldito cigarro, mas não era lá onde ela queria confrontá-lo. Mas ele não demonstrou sinais de ir para outro lugar, então ela teria que fazer o trabalho lá e fazer rápido, em vez de fazê-lo sofrer a longa e prolongada morte que ela queria.

Quando chegou à casa, ficou de costas para o exterior de pedra e avançou seu caminho para frente, onde Nelson estava.

— O que...

PJ virou em direção a voz e disparou uma rodada antes que o homem pudesse gritar um aviso. Ele caiu no chão com um baque alto.

Merda! O bastardo tinha sorte e viera por trás. O que diabos ele estava fazendo lá? Brumley teria ordenado a seus homens para patrulhar o exterior da casa? Teria percebido logo agora que ela estava caçando-o?

Esperava pelo inferno que ela estivesse mantendo-o assim à noite. Que ele vivesse com medo de quando ela o pegasse. Não era uma questão de ‘se’. Era uma questão de ‘quando’.

Seu coração estava disparado quando espiou o canto de novo. Nelson ainda estava lá, mas ele tinha acabado de dar uma última tragada, jogando fora o cigarro enquanto soltava uma nuvem de fumaça.

Ela estremeceu, lembrando-se do mau cheiro de tabaco sobre ele enquanto ele empurrava o corpo sobre o dela. Antes de perder a coragem, ela dobrou o canto, a arma em uma mão e o canivete na outra.

Por mais que a irritasse matá-lo rapidamente, ela teria que reduzir suas perdas e matar Nelson para que pudesse chegar ao seu objetivo principal. Brumley.

— Nelson, — ela gritou, querendo que o bastardo a encarasse e pelo menos soubesse quem reivindicava sua morte.

Ele girou, sua expressão uma mistura de que porra é essa e medo.

O som da porta da frente sendo aberta desviou a atenção de PJ de Nelson tempo suficiente para ela ver que ela estava perdida.

Um tiro soou e a dor atacou através de sua perna. O filho da puta estúpido não poderia ter uma pontaria de merda.

Ela disparou um tiro, derrubando o cara que veio para a porta. Então se virou rapidamente para Nelson, que estava tentando fugir. Atirou na parte de trás da perna dele, apenas para atrasá-lo, e então voltou sua atenção para a entrada da frente.

Quando mais dois homens apareceram, ela mergulhou atrás de um dos carros blindados, ignorando a agonia gritando em sua perna e o cheiro de sangue.

À distância, Nelson estava deitado no chão se contorcendo de dor, gritando palavrões e ordens para alguém lhe dar cobertura.

Esperando que eles estivessem temporariamente distraídos pelas reclamações de Nelson, ela se empurrou para cima, inclinando-se sobre o carro, e disparou mais três tiros. Abaixou-se e, em seguida, olhou debaixo do carro em direção aos degraus. Um dos homens estava deitado, imóvel, na metade dos degraus, a perna balançando nos arbustos.

Ela não conseguia ver o outro, o que significava que ele estava em cima dela ou correu de volta para dentro.

Olhou para sua perna e praguejou quando viu todo aquele sangue encharcando a calça. Era apenas um ferimento na carne. Um ferimento limpo. Graças a Deus, a bala não atingiu o osso ou não estaria andando.

A dor ela podia suportar.

Levantou-se novamente, trocou o clipe de balas e atirou novamente.

— Venham me pegar, filhos da puta, — ela falou entre dentes.

Havia seis desaparecidos. Um total de 10 homens chegaram, incluindo Nelson e Brumley. Três estavam mortos e Nelson estava no chão choramingando como um bebê.

Um estrondo soou. PJ enrugou a testa e então percebeu que era um helicóptero levantando voo. Filho da puta. Brumley estava escapando.

Jogando a precaução direto para o banheiro, ela fugiu de detrás do carro e correu para a entrada da frente. Passou pelo cara morto nos degraus e quase tropeçou no segundo cara que tinha atirado nela.

Ele estava deitado dentro do hall, os olhos bem abertos na morte. Agora havia apenas cinco desaparecidos. Ficou aliviada ao saber que ela ainda tinha boa pontaria.

Dentes cerrados para afastar a dor, arrastou-se o mais rápido que sua perna ferida permitiu através da casa, arma em punho, vasculhando cada quarto pela qual passou.

Quando chegou ao gabinete dos fundos viu o helicóptero levantando-se no ar.

— Não!

Porra. Ela não podia perdê-lo. Não quando estivera tão perto.

Correu pela porta e levantou a arma, disparando vários tiros no helicóptero que partia. Através do vidro, ela viu Brumley. Fez contato visual com ele. O bastardo realmente olhou para ela e deu-lhe uma saudação arrogante com dois dedos.

Ela deu outro tiro, mesmo sabendo que era inútil. Disparou até que estava sem munição e depois deixou cair os braços para os lados. Fechou os olhos em amarga decepção.

Ela falhou.

Virou-se, tendo que arrastar a perna. Estava ficando cada vez mais dormente e quando a adrenalina passasse, a dor se tornaria insuportável.

Ainda havia Nelson para enfrentar.

Colocou outro pente de balas e mancou pela casa, deliciando-se com o fato de que deixara uma trilha de sangue por todo o mobiliário de luxo. Enquanto caminhava de volta para a parte da frente, viu Nelson tentando arrastar-se para um dos carros.

Canalha estúpido.

Ao contrário do idiota que atirou nela, ela mirou a bala para que destroçasse a perna dele. Nem com oração ele andaria em qualquer lugar.

Ela guardou a pistola e, em seguida, abriu o canivete. O sangue dos dois outros homens que ela matou secara sobre ela e ela não se preocupou em limpar. Ela iria ficar suja novamente.

Parou bem em cima de Nelson, e ele virou a cabeça para cima, com os olhos cheios de medo enquanto olhava para ela.

— Não me mate, — ele gaguejou. — Por favor, eu farei o que quiser.

Ela balançou a cabeça.

— Você é um pedaço de merda patético, Nelson. Você é muito fodão quando está atacando uma mulher drogada e indefesa. Não é tão durão quando ela está armada.

Ela o chutou para que ele rolasse e ficasse de costas, e ele soltou outro gemido quando o movimento sacudiu sua perna. Então, ela ajoelhou-se desajeitadamente, fazendo uma careta quando seu próprio ferimento a bala protestou contra o movimento.

Deveria sentir-se poderosa por elevar-se sobre o homem que a brutalizou e saber que o destino dele era inteiramente dela. Que ele estava implorando a misericórdia que não se sentiu disposto a dar a ela.

Mas tudo o que sentia era medo paralisante. O pânico aumentou, deixando-a instável onde antes ela fora firme como rocha. Olhou-o nos olhos e lembrou-se de olhar para eles, quando ele a estuprou. Eram tão sem alma agora como naquela ocasião só que na época eles brilhavam com o poder. Uma selvageria que ele gostava, apesar de seus resmungos de que preferia uma luta.

O canivete tremeu, e ela intensificou o aperto, com a intenção de marcá-lo como ele a marcou.

— Onde posso encontrar o seu chefe? — Ela exigiu.

Ele cuspiu nela, e ela o atingiu com a coronha da pistola. O sangue escorria de seus lábios e nariz quando ele se virou para olhá-la com ódio.

— Diga-me o que eu quero saber ou vou estripar você como um porco e deixar aqui para morrer uma morte muito lenta e dolorosa. Os urubus provavelmente não vão esperar você morrer antes de começar a festa.

Ele empalideceu e lambeu os lábios, mas hesitou.

Ela sacudiu a lâmina na braguilha de sua calça e habilmente cortou o material para que ele se abrisse. Então, apertou a lâmina sob seu umbigo e esculpiu uma linha de um lado ao outro extraindo sangue.

Ele gritou de dor e sugou o ar pelas narinas. Estava ofegante como um peixe chupando seu último suspiro em terra.

Ela colocou a ponta da lâmina ainda mais baixo até que descansou diretamente sobre seu pau. Ele ficou completamente imóvel, com os olhos tão arregalados de susto que eles incharam e parecia que pulariam diretamente para fora das órbitas.

— Okay, okay! Só tenha calma. Eu vou dizer o que você quer saber. Basta afastar a faca pelo amor de Deus.

— Diga-me onde encontrar Brumley, — ela disse friamente.

— Ele vai estar em Jacarta, — ele engasgou. — Três semanas. Você não vai encontrá-lo até então. Eu não sei mesmo onde ele pretende estar. Mas há um grande negócio acontecendo. Um de seus contatos prometeu a ele o melhor das melhores meninas. Se o seu contato estiver dizendo a verdade, isso fará com que Brumley ganhe milhões. Ele já está alinhando compradores com base nas informações que recebeu sobre as meninas. O nome do cara é Dimas. Ele é um chefão em Jacarta. Empresário local que está investindo no tráfico de seres humanos pela primeira vez. Dizem que está entregando virgens e a clientela de Brumley está enlouquecendo. Ele está planejando leiloá-las individualmente em um local exclusivo, de alta segurança, extremamente particular na ilha que ele possui.

Os lábios de PJ se curvaram em um rosnado e um som de raiva queimou no fundo de seu peito e borbulhou para fora, vibrando em sua garganta. Vermelho nublou sua visão. Levantou a faca, preparada para acabar com isso agora.

— Mãos para cima!

Ela congelou, o medo rastejando em seu estômago. Virou a cabeça para ver dois homens armados na esquina da casa. Carregavam rifles de assalto e ambos estavam apontados para ela.

Um homem empurrou o cano do rifle em um movimento para cima, para indicar que ela tinha que levantar as mãos.

Porra! Ela agiu como uma maldita novata vendo sua primeira ação ao vivo. Guardou a arma em vez de mantê-la, porque presumiu que a casa estava desocupada e que todos os homens de Brumley escaparam com ele. Como Steele sempre dizia, as pessoas que presumem são geralmente as que acabam mortas.

Ela esqueceu sua formação, tão ansiosa estivera por fazer justiça. E agora iria pagar caro por esse erro.

Os dois homens começaram a caminhar para frente, nunca abaixando as armas. PJ manteve as mãos no ar, a faca ainda agarrada em uma delas.

Provavelmente poderia derrubar um deles, jogando a lâmina quando chegassem perto o suficiente, mas teria que contar que o outro cara se distraísse ou falhasse se ele atirasse, assim ela teria tempo suficiente para pegar sua própria arma.

Como se lesse seus pensamentos, os dois se espalharam, circulando em um amplo espaço ao seu redor. Em seguida, um sinal para que ela ficasse de joelhos.

Sua mente fervilhava de possibilidades. Ela tinha que pensar em uma maneira de sair disto.

Começou a se abaixar, tomando seu tempo, fingindo que a lesão em sua perna era tão grave que ela estava a beira da morte. Gemeu e resmungou antes de se posicionar em seus joelhos. Todo o caminho para baixo, ela lentamente baixou a mão vazia, esperando que os homens estivessem mais preocupados com a mão que segurava a faca.

Só mais um pouco...

— Ela vai pegar sua arma! — Nelson gritou.

PJ se encolheu e esperou que a bala a atingisse.

Para sua surpresa absoluta, um dos homens ficou rígido. Um buraco floresceu na testa dele e sangue escorreu por seu rosto enquanto ele lentamente caia no chão como um balão furado.

Ela foi em direção a sua arma e rolou, assim que o outro homem caiu, respingando sangue por toda parte.

Uma mão agarrou seu tornozelo e puxou. Ela tentou chutar com a perna machucada e não conseguiu segurar o grito de dor. Ela foi como uma vingadora, lançando-se em Nelson. Ele estava desesperado para salvar sua bunda e ela estava muito determinada em matá-lo.

Não teve tempo para saber o que diabos aconteceu com os outros dois. Se ela não matasse Nelson, ele a mataria.

Dobrou o punho e socou sua mandíbula. Quando ele cambaleou para trás, ela pulou em cima dele, o canivete na mão. Ele agarrou-lhe o pulso e apertou, mas ela se recusou a soltar a arma. Ela lhe deu um soco com a mão livre, mas seu aperto não diminuiu.

Filho da puta. Ela não seria derrotada por esse canalha e não iria deixá-lo quebrar seu braço.

Lançou-se para frente, batendo a cabeça bem no nariz dele. Ela viu estrelas, mas ele ficou com a pior parte do negócio. Mais sangue jorrou de seu nariz e sua mão caiu longe dela.

Usando seu momento de distração, ela levantou o joelho e, em seguida, bateu-o em sua virilha. Ele gritou e rolou, tirando-a de cima dele enquanto enrolava-se em uma bola, com uma mão no nariz e outra sobre o pau.

— Você é um pedaço de merda inútil! — Ela enfureceu-se com ele.

Ela o chutou nas costelas, e então, lembrando que alguém havia baleado os outros dois, ela caiu, o canivete acima da cabeça e golpeou rapidamente, cortando uma linha de cima abaixo do peito dele.

Por mais que quisesse fazer isso tão ritualístico como os dois assassinatos anteriores, sabia que não tinha tempo e essa já era uma situação onde muitas coisas deram errado desde o início.

Ela se inclinou para perto, para que ele pudesse ouvir cada palavra.

— Isto é por cada menina que você já atormentou, torturou e estuprou. É por todos aqueles bebês que você vendeu para a escravidão. E isto é por mim, uma mulher que teve que drogar a fim de estuprar. Eu não estou tão indefesa desta vez, idiota.

O conhecimento de sua morte estava em seus olhos e ela saboreou um momento antes de cortar sua garganta.

Sangue borbulhava para fora e, em seguida, ela ouviu o som de assobio quando o ar escapou de seus pulmões. Seus olhos ficaram vítreos e a cabeça pendeu para o lado.

Ela fechou o canivete, enfiou a mão no bolso e começou a arrastar-se para cima. Esperava pelo inferno que um desses malditos carros pudessem fazer uma ligação direta ou ela estava fodida com transporte. De jeito nenhum conseguiria voltar para onde estacionara seu veículo a quase dois quilômetros de distância.

Conseguiu ganhar equilíbrio, mas balançava como uma muda com o vento. E então ouviu seu nome. Alto e cada vez mais alto a cada segundo.

Virou-se em confusão e então caiu de joelhos quando viu sua equipe inteira entrando em cena. Cole estava na frente, os traços esculpidos em pedra. Ele estava focado nela. Seu olhar nunca a deixou enquanto corria em sua direção.

— Foi você quem os derrubou? — Ela perguntou quando ele caiu de joelhos na frente dela.

— Dolphin pegou um, — disse ele. — Ele não é um mau atirador. Não tão bom quanto você, mas consegue atingir o alvo.

Ela não conseguia entender o fato de que sua equipe estava aqui. Que chegaram exatamente quando ela mais precisava deles. Estaria morta se não tivessem chegado quando chegaram. Mas por que eles estavam aqui? Como?

A questão borbulhou para fora.

— O que vocês estão fazendo aqui?

De repente, ela estava tremendo tanto que seus dentes estavam tinindo com força suficiente para lascá-los.

Olhou para as próprias mãos. Mãos que estavam cobertas de sangue. Um pouco era dela, mas principalmente de Nelson. E tremiam incontrolavelmente. Nada do que ela poderia fazer conseguiria parar.

Deveria estar exultante. Triunfante. E, ao invés estava tão fria por dentro que não sentia nada.

— Por Deus, você honestamente achou que não estaríamos aqui? — Cole perguntou.

Ele parecia furioso. O calor em suas palavras a escaldou e ainda assim era tão bem-vindo que queria abraçá-lo. Mas também havia preocupação.

— Onde você está machucada? — Cole perguntou com apenas um pouco de irritação em sua voz.

Ela olhou para ele confusa.

Agora ele parecia impaciente.

— Você está sangrando, PJ. Está coberta de sangue.

— Minha perna, — ela finalmente conseguiu dizer. — Eu levei um tiro.

Cole praguejou.

Enquanto sua equipe se reunia, algo estalou dentro dela. Foi como cortar uma corda esticada e ter que recuar como uma víbora.

Ela fechou os olhos, o cheiro de sangue e morte sobrecarregando-a.

Braços fortes a cercaram, a puxaram para perto e, em seguida, balançaram-na suavemente para trás e para frente.

— Está tudo bem agora, PJ, — Cole a acalmou.

Ele acariciou o cabelo dela e abraçou-a bem perto de si.

— Estamos aqui para levá-la para casa.

 

Cole reuniu PJ em seus braços e cuidadosamente se levantou. Dolphin e Renshaw imediatamente o ladearam para dar cobertura enquanto ele corria na direção dos SUVs.

— Abra a parte de trás, — Cole esbravejou. — Preciso ser capaz de esticá-la para que possamos ver o quanto o ferimento a bala é ruim.

Dolphin avançou quando chegaram à área arborizada onde estacionaram os veículos. Abriu a porta do bagageiro e Cole a colocou suavemente na área de carga.

Ele teve que afastar os dedos que ainda seguravam o canivete, e teve cuidado para que ela não entrasse em pânico e reagisse cegamente. Ele ainda não estava certo de que ela estava completamente ciente de seus arredores. Quando o canivete ficou livre, rapidamente cortou a perna da calça para que pudesse avaliar o ferimento.

— Jesus, há sangue por toda parte, — Dolphin disse severamente.

— Nem tudo é dela, — Cole disse enquanto corria os dedos sobre o buraco em sua coxa. Ela estremeceu quando ele tocou muito perto do ferimento e ele lançou-lhe um olhar de desculpas. Mas ela não pareceu notar.

Seus dedos saíram vermelho brilhante pelo sangue, e ele olhou para ele por um longo momento. Era o sangue dela, e isso o deixou com os joelhos fracos ao imaginar o que teria acontecido se tivessem chegado trinta segundos mais tarde do que chegaram.

PJ estava pálida e tremendo violentamente. O ferimento a bala era apenas superficial pelo que pudera verificar. Entrada e saídas limpas. Ela perdeu sangue, mas não tanto que estaria em estado de choque. Era o seu estado emocional que o preocupava mais.

Ela continuou enxugando as mãos sobre a camisa, o sangue vermelho quase desaparecendo no tecido preto. Então olhou para baixo, visivelmente chateada por que ainda havia sangue manchando as palmas das mãos.

Quando começou a esfregar a roupa de novo, Cole pegou suas mãos e gentilmente puxou-as para ele.

— Está tudo bem, PJ, — ele disse em uma voz calma. — Estou com você. Eu vou limpar isso. Só me dê um minuto. Quero me certificar que você está bem.

Donovan, Steele e Baker chegaram, o suor brilhando em suas testas. Cole abaixou as mãos dela, e ela as aproximou do corpo novamente envolvendo os braços ao redor das pernas em um gesto de proteção.

Cole olhou na direção de Steele enquanto ele dava uma contabilidade concisa.

— Vasculhamos a área. PJ levou a cabo vários guardas, mas Brumley está desaparecido. Ele deveria estar no helicóptero que vimos decolar em nossa direção.

— Ele estava.

Todos se viraram ao som da voz de PJ para vê-la sentada, curvada sobre os joelhos, com os olhos selvagens e distantes.

— Ele fugiu, — ela disse, e Cole foi atingido pela devastação em sua voz.

Em seguida, ela colocou a cabeça para baixo, de modo que a testa tocou os joelhos.

Cole teria dado a ela a sua atenção completa, mas Steele fez sinal para que o seguisse. Dolphin acenou para Cole se afastar e então tomou o lugar de Cole na frente de PJ, falando bobagens e besteiras como se fosse qualquer outro dia no campo.

— Nós temos um inferno de uma bagunça para limpar aqui, — Steele, disse em um tom sombrio. — PJ vai ser responsabilizada, não importa que tipo de idiotas inúteis estes bastardos são. Eu não estou disposto a deixar isso acontecer. Brumley tem influência na Eslováquia. Ele basicamente possui esta área e a aldeia. Ele é o governo aqui e tem todos em seu bolso. Eu acho que, inicialmente, ele desejaria PJ viva apenas para que pudesse fazê-la sofrer. Mas agora que ela mostrou a ameaça muito real que ela é, ele vai sancionar a morte dela custe o que custar.

Donovan assentiu em concordância.

— Estou com você sobre isso. Ela tem que ser protegida em todos os momentos. A ameaça pode vir de qualquer lugar. Um atirador de elite é uma possibilidade muito real.

Suas palavras tiveram um efeito inibidor sobre Cole. Sua boca ficou seca e a pulsação batia dolorosamente nas têmporas.

— Eu não vou deixá-la.

Steele deu-lhe um olhar impaciente.

— Eu não ia sugerir que você a deixasse. Você e Donovan precisam tirá-la daqui. Eu vou ficar para trás com os outros para fazer a limpeza e certificar-me de que nada a implique.

Donovan parecia que discutiria, mas Steele o interrompeu.

— Você é nosso médico, e PJ precisa de cuidados médicos imediatos. Não podemos levar PJ a um hospital aqui. Temos que dar o fora deste país antes que Brumley tenha tempo para colocar uma recompensa pela cabeça de PJ. Sua vida não vai valer uma merda agora que Brumley sabe com certeza que ela está atrás dele.

— A bala entrou e saiu, — Cole disse a Donovan. — Não é tão ruim, mas ela perdeu sangue e vai precisar de antibióticos e pontos.

Donovan passou a mão pelo cabelo e fez uma careta na direção de Steele.

— Tudo bem. Vocês limpam a cena. Certifiquem-se de que nenhum de nós poderá ser implicado. A KGI não precisa deste tipo de notoriedade. Eu irei com Cole e PJ e atravessaremos a fronteira para a República Checa. Quando tiverem terminado, tire suas bundas da Eslováquia e vamos ligar depois de eu ter avaliado a condição de PJ para que possamos voltar para casa.

Cole se virou, não esperando para ver se havia mais alguma coisa a ser discutida. Ele queria tirar PJ daqui. Longe da morte, sangue e memórias dolorosas. Ela estava pendurada por um fio. Quem sequer sabia que tipo de inferno particular ela passou ao longo dos últimos meses?

Dolphin afastou-se enquanto Cole chegava à parte de trás do SUV. PJ ainda estava sentada, curvada em uma bola. Ela parecia estar tentando se tornar o menor possível.

— PJ, você vai comigo e Van e estamos partindo agora. Você precisa de cuidados médicos, e antes de protestar, saiba que não estamos te dando uma escolha. Você vai cooperar ou...

Ele prendeu a respiração sobre o erro que quase cometeu. Ele iria ameaçar drogá-la. Que idiota insensível ele se tornou por pensar isso.

— Vamos, — ele gritou para Donovan.

Antes que ele colocasse o pé ainda mais em sua boca.

— Você dirige, — disse Donovan. — Dolphin, você e Baker empurrem os bancos de trás para frente para que ela possa se esticar. Vou precisar colocar o soro e preciso de espaço para a manobra.

Então ele se virou para Cole. Era a primeira vez que Cole se ressentia de não ter a formação médica que Donovan tinha. Ele queria ser o único a tomar conta de PJ e estar ao seu lado. Ele tinha a maldita certeza de que não queria ficar preso dirigindo.

— Leve-nos para a República Checa. Eu não me importo se você tiver que fazer uma estrada. Encontre uma maneira que não nos coloque em uma posição de ter de nos identificar ou sofrer qualquer escrutínio. Deixe todo o equipamento com Steele, exceto o essencial. Não podemos nos dar ao luxo de sermos parados com uma mulher com um buraco de bala na perna e um arsenal na parte de trás da caminhonete.

Cole se inclinou para trás e deslizou a mão sobre os cabelos dela e a nuca, puxando-a suavemente para frente. Nunca lhe ocorreu ser reservado na frente de sua equipe. Ele não estava pensando sobre a equipe, e não dava a mínima para o que eles pensavam. Tudo que importava era PJ e ele queria que ela soubesse que estava a salvo e, mais importante, não estava mais sozinha.

Ela se moveu contra seu toque e olhou para cima, seus olhares conectando por um longo momento. Havia tanto em seus olhos que o machucou.

— Estou te tirando daqui, PJ, — ele disse em voz baixa. — Van vai cuidar de você, mas uma vez que estivermos a salvo, você e eu vamos ter uma longa conversa.

Ele apertou os lábios em sua testa e depois se separou para apressar-se para o banco do motorista.

 

PJ estava grata que Cole estava dirigindo enquanto Donovan silenciosamente cuidava de seu ferimento. Isso lhe deu tempo para organizar seus pensamentos e recuperar a compostura.

Ela caiu como uma fracote que nunca fez uma matança, que nunca viu sangue. Fechou os olhos, horrorizada pela forma como permitiu que sua equipe a visse tão vulnerável. Que diabos eles estavam fazendo aqui?

¯ Você está bem, PJ?

Ela abriu os olhos para ver Donovan olhar preocupado para ela. Ela tentou assentir, mas acabou batendo a cabeça, enquanto o SUV batia numa série de buracos na estrada de merda pela qual Cole estava dirigindo.

¯ Sim, ¯ ela disse, tentando infundir força em suas palavras. Mas ainda soava fraca até para si mesma.

Donovan levantou o saco de soro e o prendeu na janela com várias tiras de forte fita adesiva. Donovan não era nada se não um mestre da improvisação.

¯ Eu iniciei os antibióticos e também vou te dar algo para a dor ¯ disse ele. ¯ Isso vai limpar e curar este ferimento um inferno de muito mais fácil. Terei que costurar você mais tarde. De jeito nenhum tentarei usar um kit de sutura enquanto estamos saltando nossas bundas a cada duzentos metros.

Ela sorriu, mas não respondeu.

Logo sentiu a quentura da medicação, quando atingiu suas veias. Um momento depois, ela relaxou e a dor começou a desvanecer-se em uma memória suave.

Parte de seu recente zen foi interrompido quando Donovan começou a limpar o sangue sobre o ferimento. Ela cerrou os dentes, olhou para o teto do veículo e repetiu a morte de Nelson em sua mente.

Ela nunca se considerou uma pessoa má. Imperfeita. Definitivamente imperfeita. Mas, mesmo em seus pontos mais baixos, tinha estima e honestidade suficiente para reconhecer suas falhas e pontos fortes.

Agora ela entrou no mundo cinzento onde nada é ou foi. Teria se tornado o monstro que ela acusou Brumley e sua comitiva de ser? Ela não era melhor do que ele, e sua alma teria sido irremediavelmente maculada?

Ela perseguiu e matou três pessoas a sangue frio. Não importava os outros que ela tirou do caminho para atingir seu objetivo. Não foi autodefesa. Não foi para evitar que seus companheiros de equipe fossem mortos. Não foi para salvar alguém em perigo. Ela foi atrás dos idiotas que estavam naquele quarto, naquela noite, com nada mais do que vingança em sua mente. Assassinou cruelmente sem qualquer remorso ou compaixão.

Talvez ela fosse a cadela insensível que os membros de sua equipe da SWAT a acusaram de ser.

Que se fodessem. Não, não iria deixá-los para trás em sua consciência. Isso foi há muito tempo. Ela seguiu em frente. Eles não valiam a sujeira em suas botas, e ela que se danasse se os deixasse fazê-la duvidar de si mesma agora.

Procurou em sua consciência por algum sinal de arrependimento. Algo que lhe dissesse que ela tinha uma alma que valeria a pena salvar.

Mas não se arrependia das mortes. Não se arrependia de garantir que eles nunca mais iriam ferir outro ser humano. Se isso a condenasse para o inferno, então ela só tinha que planejar um encontro com o diabo.

Queria fazer perguntas a Donovan, mas mordeu o lábio e permaneceu em silêncio. Ela não queria abrir a porta, porque se começasse a exigir respostas dele, então ele iria querer o mesmo dela.

¯ Como ela está? ¯ Cole perguntou da frente.

A tensão em sua voz sacudiu-a. Não era comum Cole soar tão desequilibrado. Cole ou estava totalmente focado na tarefa em mãos ou estava contando piadas e insultando seus companheiros de equipe, inclusive ela.

Esse era o Cole com o qual estava familiarizada e confortável.

Mas desde a noite em que dormiram juntos, ele se tornou uma pessoa diferente. Ou talvez não fosse ele que se tornou uma pessoa diferente. Ele era apenas alguém que ela não tinha reconhecido antes.

Havia algo possessivo em seu tom que a cutucou. Ela não podia decidir se ficava irritada ou... Ou o quê? Triunfante? Balançou a cabeça, o que fez seu entorno girar um pouco, como resultado dos remédios que Donovan administrara.

Ela precisava parar tudo isso porque conclusões importantes não poderiam ser alcançadas quando estava alta como uma pipa.

¯ Ela vai ficar bem, ¯ Donovan respondeu de volta. ¯ Ela chutou algumas bundas e só tem um ferimento de bala desprezível para mostrar isso. Vai doer como o inferno por um tempo e ela vai ficar deitada até curar, mas ficará boa.

¯ É claro que ela arrebentou, ¯ disse Cole, um toque de impaciência na voz.

Por alguma razão aquela confiança em suas palavras, o jeito que ele disse isso, a esquentou em lugares que estavam envoltos em gelo nos últimos meses.

Cole acreditava nela. Ele sempre acreditou. Ele podia irritá-la como ninguém em sua equipe, mas também era o primeiro a se orgulhar de suas habilidades. Eles tinham uma rivalidade de longa data sobre quem era o melhor atirador, mas PJ sabia que era tudo brincadeira. Cole a respeitava. Respeitava a sua posição na equipe. Todos seus companheiros de equipe respeitavam. O que era mais do que ela poderia dizer de sua equipe da SWAT.

E, no entanto, Cole e Steele... Dolphin, Baker, Renshaw... Eles não eram mais sua equipe. Ela desistiu. Ela se afastou. Mas lá estavam eles, arriscando suas vidas para salvar seu traseiro.

Lágrimas inundaram sua visão e ela piscou rapidamente, não querendo ceder à outra crise emocional. Ela conseguiu manter-se afastada nos últimos meses. Ela se desligou de tudo. Sem sentimentos. Sem memórias. Sem medo e sem dor. Não podia perder o controle agora. Não quando estava tão perto de alcançar seu objetivo.

De alguma forma, tinha que encontrar uma maneira de romper com ela, não, não ela, a equipe. Romper com a equipe e chegar a Jacarta em três semanas.

Até que derrubasse Carter Brumley. Até esse dia, ela não conseguiria dormir. Não poderia descansar. Não conseguiria relaxar nem por um momento.

O pensamento de todas aquelas pequenas meninas inocentes mais as inúmeras mulheres que foram outras vítimas a assombrava. Ela sabia o que era ser uma delas. Por um tempo muito curto, ela foi vítima também, e foi o suficiente para convencê-la de que preferia morrer a se tornar vítima novamente.

 

Curiosamente, PJ temia enfrentar Cole mais do que temia enfrentar Steele. Steele estaria irritado, sim. Ele já se posicionou dizendo o que pensava de sua saída da equipe. E, sim, ela foi uma covarde total indo até Steele e não encarando sua equipe e Cole.

Mal estava consciente quando Cole parou o veículo várias horas depois que fugiram do local do crime. Escorregava dentro e fora da consciência quando Cole a levou para dentro de uma casa com cheiro de mofo e a colocou em um sofá.

Quando ele arranjou as almofadas em volta dela para deixá-la confortável, ele esbarrou em sua perna, fazendo um gemido baixo escapar de sua boca.

Ele apertou os lábios em sua testa e murmurou palavras suaves de desculpas e um comando firme para ela descansar. Ela recuou para além do véu da medicação, abraçando a oportunidade de atrasar a conversa que sabia ser inevitável.

Qualquer pessoa com olhos e um cérebro podia ver que as coisas estavam... Tensas... Entre ela e Cole. Precisavam apenas olhar para a maneira como ele ficava em torno dela e saberiam imediatamente que o relacionamento deles não era tão simples quanto de companheiro para companheira de equipe.

Ex-companheiros de equipe.

Era um ponto que tinha que ficar se lembrando. Ela não era mais uma parte da KGI. Não fazia mais parte de algo que a fez se sentir como se pertencesse a algum lugar.

Ficou olhando para o teto, sentindo dores e pressionando para fora da medicação. Sua perna estava pulsando e a pele estava úmida. Quando virou a cabeça para o lado, viu que os outros membros de sua equipe haviam chegado.

Dolphin estava encostado em uma das poltronas, a cabeça inclinada para o lado, os olhos fechados. Em frente a ele, Renshaw ocupava a outra cadeira e estava com a cabeça para trás de modo que olhava para cima. Ele estava dormindo também.

A culpa a incomodava. Quantos dias ou semanas estavam sem dormir porque estavam perseguindo-a? Ou será que estiveram procurando por ela? Se estavam atrás de Brumley, situava-se a razão que tinham a mesma informação que ela recolheu. Talvez ela estivesse viva, graças a nada mais do que a merda da sorte.

Empurrou-se para cima e girou para suas pernas caírem para o lado do sofá. Dor atravessou sua coxa. Manchas pontilharam sua visão e ela quase desmaiou. Por vários segundos ficou sentada lá, sugando bocados enormes de ar. Seu pulso martelou e a sensação pegajosa ficou mais forte.

Enxugou a testa, mantendo a mão sobre a cabeça. Foi então que percebeu que ainda tinha um fio intravenoso ligado ao braço e a bolsa estava pendurada acima do sofá em um suporte de chapéus.

Começou a remover a fita do braço para que pudesse remover o intravenoso quando sua nuca arrepiou.

¯ Que porra é essa, PJ?

Olhou para cima para ver Cole de repente pairando sobre ela, uma sombria carranca no rosto. De onde ele veio? Sua boca ficou seca e a mão se afastou da fita. Cole imediatamente caiu de joelhos e recolocou a fita sobre o local anterior.

¯ Onde você pensa que está indo? ¯ Ele perguntou.

PJ suspirou. A última coisa que queria era um confronto.

¯ PJ, olhe para mim.

Ela forçou o olhar para cima, em resposta ao seu comando feroz.

¯ Onde diabos você esteve esse tempo todo?

Ela poderia dizer que ele estava visivelmente tentando manter seu temperamento sob controle. Se não estivesse machucada, ele provavelmente estaria vindo com tudo para cima dela, e isso a irritava, porque ela só queria que as coisas fossem normais e nunca seriam novamente.

¯ Caçando Brumley e seus asseclas, ¯ ela disse sem rodeios.

¯Sim, vi sua obra sobre os dois rapazes que estavam com Brumley naquela noite.

Ela se recusou a deixar a vergonha arrastar em sua alma. Nem tentaria determinar se havia condenação em seu tom.

¯ Olhe, Cole, eu saí da equipe. Você não deveria estar aqui. Nenhum de vocês. Eu fui embora.

Ela viu Renshaw se mexer e ela olhou rapidamente na direção de Dolphin para ver que ele já estava acordado. Ele estava sentado em silêncio, com a boca desenhada em uma linha fina, focado na conversa entre ela e Cole.

¯ Eu tenho uma missão a cumprir, ¯ disse ela. ¯ E não posso realizá-la sentada em meu traseiro, enquanto estou sendo mimada por meus ex-colegas de equipe.

Os lábios de Cole enrolaram e fogo ardia em seus olhos.

¯ Ex, minha bunda. Sobre o meu cadáver você vai sair por conta própria. Você tem sorte de não ter sido morta ou que não colocaram as mãos em você de novo.

Esquecendo os outros, ela se empurrou para frente na ponta do sofá e mais longe do espaço de Cole, eriçado de raiva, pelo que ela viu em sua expressão.

¯ Esta não é uma missão honrada, Cole. É pessoal.

¯ Você acha que isso não é muito pessoal para mim também? ¯ Ele quase gritou para ela.

¯ Eu não posso envolvê-lo, nem qualquer um de vocês, em minha missão, ¯ ela gritou de volta. ¯ Não é quem a KGI é. Nunca foi. Eu não vou arrastar esta organização através da lama. Isto é sangrento. É vingança, Cole.

¯ Eu sei muito bem disso, ¯ ele rosnou. ¯ E eu quero entrar nisso. Todos nós queremos entrar. Se você acha que vamos deixá-la solta no vento, você está louca.

Ela cobriu o rosto com as mãos e apoiou os cotovelos sobre os joelhos. Estava exausta e deprimida. Isto não era o que queria que acontecesse.

Mãos firmes agarraram seus pulsos e cuidadosamente arrancaram as mãos de seu rosto. Desta vez, quando olhou de volta para Cole, ela podia ver Donovan e Steele no fundo. Baker estava de pé atrás da cadeira de Renshaw. Todos os olhos estavam sobre ela. Suas expressões eram sombrias e... Determinadas.

¯ Nós, eu, não dou a mínima se a missão é justa ou se a motivação por trás de nós para matar Brumley é vingança ou para evitar que mais mulheres e crianças sejam brutalizadas. Estamos com você, PJ. Somos uma família. Você não estará sozinha para fazer isso.

¯ Eu vou atrás de Brumley, ¯ disse ela. ¯ Ele estará fechando um negócio em Jacarta em três semanas e eu vou estar lá. Vou matá-lo.

¯ Não sem nós, ¯ Cole rosnou. ¯ É hora de você aceitar e aprender a confiar em alguém.

¯ Eu não poderia concordar mais, ¯ Steele interrompeu.

Surpresa, ela ergueu o olhar para seu líder de equipe e, em seguida, olhou para Donovan. Era uma coisa sua equipe prometer ir com ela, mas Donovan representava a organização. Certamente ele não poderia estar de acordo com os outros.

Donovan cruzou os braços sobre o peito e olhou desafiadoramente para ela.

¯ Se você acha que vou seguir a linha da empresa e discursar sobre justiça pelas próprias mãos, você está olhando para o cara errado. Esse é o trabalho de Sam. Eu sou da opinião que matar Brumley, qualquer que seja a maneira como o matemos, significará um idiota a menos no mundo.

¯ Hooyah, ¯ Dolphin disse enfaticamente. ¯ É disso que estou falando.

¯ Ah, e PJ?

Ela olhou para Steele, quando ele disse seu nome.

¯ Você pode pegar seu pedido de demissão e enfiar no rabo.

Baker e Renshaw riram. Dolphin sorriu e Donovan assentiu em concordância.

¯ Parece que você está presa com a gente, ¯ Cole disse com satisfação evidente.

Ela soltou o fôlego, balançando a cabeça o tempo todo. Tinha que ser o medicamento que a fazia ficar confusa assim.

¯ Eu não sei nem o que dizer.

¯ Que tal sim senhor, quando eu lhe disser que você vai descansar e se recuperar, tanto quanto possível ao longo das próximas três semanas? ¯ Disse Cole.

A testa dela enrugou em desgosto e até mesmo o peito apertou de emoção inesperada. Deus, era bom estar de volta com sua equipe. Todas as zombarias. As observações espertinhas. Piadas picantes e insultos à esquerda e direita.

¯ Pelo amor de Deus, não chore, ¯ disse Cole em desgosto.

Os outros riram e PJ sorriu através da dor, os olhos ardendo com as lágrimas não derramadas.

¯ Obrigada ¯ disse ela sinceramente.

¯ Agora você está simplesmente me irritando, ¯ disse Steele. ¯ Não nos agradeça por fazer o nosso trabalho. Vivemos como uma equipe e morremos como uma equipe, e pensar em ir embora é besteira. Você não mija sem a minha palavra, entendeu isso, Rutherford?

Ela sorriu, e parecia que era a primeira vez que realmente sorria na vida. Deus, era bom estar cercada por pessoas que ela considerava sua família. Nunca estivera tão sozinha quanto nos últimos meses, quando não tinha a equipe ao seu redor.

Sua equipe.

¯ Sim, senhor, ¯ ela disse rapidamente.

 

Eram duas da manhã e PJ estava bem acordada, a perna latejando. Ela recusara mais uma dose de analgésico porque queria avaliar exatamente com o que estava lidando.

Embora fosse apenas um ferimento superficial, a perna ainda protestava, se colocava qualquer peso sobre ela. Ela tinha uma quantidade limitada de tempo para se curar, porque não iria ficar para trás, enquanto sua equipe ia para Jacarta. A verdade era que não os queria envolvidos, mesmo que eles estivessem determinados a estar. Não queria que seus pecados fossem os deles.

Empurrou-se desajeitadamente da cama e deslizou os pés no chão. Não tinha nenhuma esperança de dormir. Ficou praticamente inconsciente a maior parte do dia, ajudada pela medicação para a dor que Donovan administrou. Imaginou que o resto do grupo dormia profundamente.

Donovan arranjou para o jato decolar cedo na manhã seguinte. Depois de um rápido olhar para o relógio, sabia que era inútil sequer tentar voltar a dormir. Tinha apenas três horas antes de se moverem novamente.

O pequeno chalé que Donovan e Cole conseguiram era apenas grande o suficiente para caber duas pessoas, muito menos sua equipe inteira mais Donovan. Eles insistiram que ela usasse o quarto, e Cole a levou da sala de estar da frente onde ela passou parte da tarde no sofá e a colocou na cama de casal.

Se tivesse mais coragem, teria convidado Cole para compartilhar o conforto da cama com ela. Ele parecia abatido e cansado. Mas ela não conseguiu fazer as palavras saírem.

Timidamente, deu um passo, preparando-se para a dor que disparou por sua perna e barriga. Esperou vários segundos enquanto sugava respiração por respiração em uma tentativa de se firmar.

Precisava do banheiro da pior maneira, e não estava prestes a chamar um dos rapazes para ajudá-la com essa necessidade particular.

Os poucos metros para o banheiro levaram uma eternidade. Na porta, parou e olhou para a sala para ver os caras cobrindo todo o mobiliário. Eles pareciam terrivelmente desconfortáveis. Steele e Cole estavam deitados no chão, com as mochilas empurradas sob os pescoços para amortecer as cabeças.

Sentindo-se com cerca de cem anos de idade, arrastou-se para o banheiro para fazer o seu negócio.

Demorou mais tempo do que teria gostado. Examinou os curativos volumosos na coxa direita. Ela teve sorte. A bala poderia ter quebrado seu fêmur ou pior, atingido a artéria femoral e ela poderia ter sangrado em minutos. Como foi, ela passou por um pedaço de carne a menos de meia polegada do osso.

Esquecer a dor.

Era um mantra que fora eficaz nos últimos seis meses. Às vezes foi a única coisa que a mantivera seguindo.

Vestida com roupas íntimas e uma camiseta limpa, puxou a camisa mais para baixo sobre as pernas antes de abrir a porta do banheiro. Quando entrou na sala, ficou cara a cara com Cole.

Ele estava encostado na parede oposta, de braços cruzados, uma perna puxada para cima, de modo que o pé repousava contra a parede.

¯ Você deveria ter me chamado ¯ disse laconicamente. ¯ Você não precisava andar. Vai romper os pontos.

¯ Estou bem ¯ disse ela, mesmo enquanto cautelosamente dava outro passo.

¯ Inferno que está. Cada passo que dá, você fica mais pálida, e sua testa está tão pegajosa que eu posso ver daqui.

Sem dizer mais nada, ele a empurrou na parede e envolveu um braço de suporte ao redor dela.

¯ Envolva o seu braço em torno de mim e segure. Coloque mais de seu peso sobre mim.

Aliviada por ele não a pegar e carregá-la, ela fez como ele instruiu e mancou para dentro do quarto. Pelo menos ele parecia aberto para ela tentar dar a volta por conta própria. Ou na maior parte por conta própria, de qualquer maneira.

Quando chegaram à cama, ele a ajudou a se sentar na beirada e então arranjou todos os travesseiros para que ela pudesse apoiar as costas e sentar-se na cama com conforto.

Depois que ela se acomodou, ele se sentou na beirada da cama de frente para ela. Puxou um joelho e descansou o antebraço através de sua perna enquanto a estudava.

¯ Como você está se sentindo?

A maneira como ele disse isso dizia que não estava perguntando sobre sua perna. Ela soltou um longo suspiro.

¯ Eu não sei ¯ disse ela honestamente. ¯ Eu não me permiti sentir nada durante os últimos seis meses. Mas, quando me ajoelhei no chão com sangue de Nelson em minhas mãos, pensei comigo mesma: você deve estar exultante. Você deve se sentir vingada. A justiça foi feita e ele nunca vai machucar outra mulher ou criança novamente.

Cole deslizou a mão suavemente sobre a dela, entrelaçando os dedos. Apenas um gesto simples que afugentou o sentimento ruim remanescente do fundo de seu estômago.

¯ Em vez disso eu me senti... Doente. Tudo veio correndo de volta para mim, e eu tentei tanto não lembrar. Eu juro que foi como se ele tivesse me estuprado novamente. Isso não é estúpido?

Ela tentou rir, mas saiu mais como um soluço.

¯ Deus, eu o tive a minha mercê e tudo que eu conseguia pensar era que era como ser estuprada novamente porque era tudo que eu conseguia lembrar. Ele em cima de mim. Ele me subjugando e todo o ódio e repulsa que experimentei.

Cole apertou sua mão, mas a mão dele tremia contra a dela, dando-lhe uma pitada da emoção que corria por ele.

¯ Isso não é estúpido, querida. Nada do que você sente é estúpido. É como você se sente, o modo que a torna legítima. Entende o que estou dizendo? Eu não vou deixar você abater-se por ser humana. O que aconteceu com você não foi apenas uma simples lesão no curso de uma missão. Foi algo que nenhuma pessoa deveria ter de suportar. Você não pode simplesmente dar de ombros e fingir que não aconteceu. Algum dia, de alguma maneira, você terá que lidar com isso, e eu não acho que você já lidou. Eu sei que não lidou, ¯ ele acrescentou suavemente.

¯ Eu odeio isso, ¯ ela sussurrou. ¯ Oh, Deus, Cole, eu odiei me sentir impotente. Nem mesmo quando toda a merda desceu com a minha equipe da SWAT me senti impotente. Eu senti raiva. Estava chateada. Fiquei decepcionada. Mas o que eu fiz foi minha escolha. Eu não tive minhas escolhas tiradas de mim.

Cole se inclinou para frente, pressionou os lábios em sua testa e deixou-os lá. Ela se inclinou para ele, fechando os olhos enquanto se sentavam em silêncio por um longo momento. Apenas ele estar lá era o suficiente. Ele não precisava oferecer-lhe banalidades.

Quando ele se afastou, havia uma dureza em seus olhos que lhe disse que ele estava prestes a soltar suas garras. Ela quase deu um suspiro de alívio, porque estava ficando muito pesado. Preferia muito mais a sua raiva à preocupação esmagadora em seu olhar.

¯ Por que você fugiu PJ? Você tem alguma ideia do que me fez? Para nós? A equipe? Quando Steele disse-me o que você fez, eu me senti como se alguém tivesse me dado um soco. Os outros caras estavam tão confusos. Nós não somos a sua maldita equipe da SWAT. Não abandonamos você quando as coisas ficam pegajosas.

A raiva muito real e frustração em sua voz a fez sentir vergonha. Não havia nenhum lugar para se esconder do olhar em seus olhos ou o jeito que ele olhava tão atentamente para ela.

¯ Eu não sabia mais o que fazer, ¯ ela disse. E no momento era verdade. ¯ Eu não estava pensando direito. Estava doente até a alma e tudo que eu conseguia pensar era em vingança. Estava consumida pelo ódio e vergonha. Deus, você tem alguma ideia de como é ficar totalmente indefesa, enquanto alguém o segura para baixo e degrada você? Eu me senti como se aqueles bastardos tivessem tomado a minha alma.

A mandíbula de Cole apertou.

¯ Sim, eu sei. Talvez não no mesmo nível, mas porra, eu sei o que se sente ao ficar indefeso. Eu tive que sentar lá e ouvir a maldita coisa toda, PJ. Nunca me senti tão impotente em minha vida. Ter que ficar sentado lá enquanto alguém com quem me importo está sendo atacada? Isso me deixa doente para sequer pensar.

Ela fez uma pausa e olhou para cima, a mandíbula frouxa enquanto processava suas palavras. Parte de seu choque deve ter se mostrado em seu rosto.

¯ Sim, é isso mesmo, PJ. Eu me importo. Eu me importo pra caramba.

Ela não sabia o que dizer ou como reagir, porque ambos sabiam que ele não estava falando sobre se importar em um nível mais casual. Como a forma como Dolphin ou Baker ou Renshaw se importavam com ela. Isso era algo muito mais profundo, e a assustava muito e muito.

Incapaz de fazer qualquer outra coisa, ela segurou a mão que segurava a dela e apertou, esperando que o gesto transmitisse o que ela não era capaz de colocar em palavras.

Ele se inclinou para frente, tenso e hesitante. Sua mão livre foi para o rosto dela, afastando de lado o cabelo, e depois ele simplesmente a beijou.

Não foi o beijo do tipo escaldante que colocava fogo nos lençóis que eles compartilharam naquela noite tantos meses antes. Não havia impaciência e nem exigência. Não era nem mesmo sexual. O toque foi tão primorosamente suave que a fez querer chorar.

Ele tinha um jeito de se aproximar dela. Ultrapassar suas barreiras. E lá estava ele, no coração dela antes que ela sequer percebesse que ele passou.

Quando ele se afastou, girou para que pudesse subir na cama ao lado dela. Então simplesmente a puxou contra o peito, segurando-a com os dois braços.

¯ Descanse e deixe-me segurar você, ¯ ele disse em uma voz calma. ¯ Só você e eu, PJ. Não pense sobre o passado ou o futuro. Apenas foque o agora, você ficando melhor, e deixe-se apoiar em mim.

Ela descansou a cabeça em seu peito e esticou a perna machucada por toda a extensão dele. Ele era quente e sólido e era muito bom soltar-se e permitir-lhe assumir seus medos apenas por pouco tempo.

Levou algum tempo para reunir a coragem para fazer a pergunta queimando em sua língua. Abriu a boca várias vezes e acabou fechando-a quando seus nervos fugiram.

¯ Você se importa comigo... Mesmo depois do que aconteceu?

No início, não tinha certeza se ele ouviu o sussurro abafado. Então percebeu que ele estava apenas recolhendo-se antes de responder. Sua voz estava cheia de emoção. Ele parecia irritado, mas não com ela. As palavras vieram como se ele se esforçasse para expô-las, sem perder a compostura.

¯ Eu não dou a mínima para o que aconteceu, além do fato de que esses filhos da puta te machucaram. Eles colocaram as mãos em você. O que aconteceu não muda nada sobre os meus sentimentos por você. Se influi em alguma coisa, o fato de que você está saindo disto tão forte me faz respeitar sua força ainda mais, e eu já tinha uma boa dose de admiração por sua capacidade de chutar alguns traseiros.

Ela se ergueu, colocando a mão vão entre seu peito enquanto olhava nos olhos dele.

¯ Eu tenho cicatrizes, Cole. Elas não são bonitas. Você viu onde ele me cortou. Há cicatrizes em cada um desses lugares. E elas não sumirão.

Ele tocou-lhe o queixo com a ponta do dedo e, em seguida, beijou-a quase como se não pudesse resistir. Em seguida, deixou sua mão deslizar para baixo até que a palma repousava sobre o coração dela.

¯ Estou mais preocupado com as cicatrizes aqui ¯ disse ele, pressionando em seu peito. Então, levantou a mão para a têmpora e bateu suavemente. ¯ E aqui.

Ele a beijou novamente, desta vez na testa.

¯ As cicatrizes físicas não mudam quem você é, PJ. As emocionais sim. Essas são as quais eu quero ajudá-la. Eu não dou a mínima que o seu corpo tenha algumas cicatrizes. Inferno, eu sou cheio delas e você não parece se importar.

As bochechas dela apertaram e calor subiu por seu pescoço.

Ele pegou a mão dela, a que estava descansando no peito dele, e entrelaçou seus dedos, segurando suas mãos entre eles.

¯ Vou esperar o tempo que for preciso, PJ. Vou fazer o que puder para ajudá-la. O que for preciso para que você possa se curar física e emocionalmente. Só sei que eu não vou a lugar nenhum, e é hora de você parar de fugir.

Ela se aconchegou de volta em seu abraço, acariciando a bochecha contra o peito dele enquanto processava as palavras que ainda flutuavam em torno de sua mente. Palavras tão bonitas, e ela sabia que ele estava falando sério. Cole não era do tipo que mentia. Ele era alegre e divertido quando a ocasião chamava para isso, mas no final do dia, ele era um atirador direto. Era contundente e falava o que pensava.

E agora que ele falou exatamente o que estava em sua mente, ela estava encantada com as implicações.

Aqui estava um homem que admitia ter sentimentos por ela. Não só isso, mas também estava disposto a esperar o tempo que ela levasse para conseguir colocar a cabeça no lugar e se curar do trauma que sofreu.

Inferno, ainda mais do que isso, ele estava arriscando sua vida, sua reputação e carreira, a fim de ajudá-la a procurar justiça.

Ele iria ajudar a encontrar uma maneira de matar outro indivíduo.

Estremeceu com a ideia de derrubá-lo com ela. Ela não podia suportar. Não poderia suportar se a equipe fosse arrastada pela lama com ela.

Fechou os olhos, com a certeza de que estava segura. Cole estava aqui, em torno dela. Oferecendo seu apoio incondicional.

Ele estava na frente com ela. Dissera a ela o que estava em seu coração. Agora ela tinha que descobrir o que estava em seu próprio coração e classificar seus sentimentos confusos por um homem que a enfurecia e a seduzia em igual medida.

O futuro era uma perspectiva muito assustadora quando nem sabia se tinha um presente. O que a assustava mais, no entanto, era a possibilidade muito real de estragar um relacionamento com alguém que ela realmente se preocupava antes mesmo de esse relacionamento começar.

Cole merecia alguém que poderia lhe dar cem por cento. Alguém que poderia entregar-se sem reservas. Ele era um bom homem. Leal. Ferozmente protetor. Um homem que qualquer mulher teria sorte de ter.

Ela podia ver a si mesma como aquela mulher, e talvez fosse isso o que mais a assustava.

E não era tão simples como decidir se se encaixavam e viver felizes para sempre. Eles tinham a equipe a considerar. Tinham dezenas de jovens dependendo deles. Não podiam se dar ao luxo de foder tudo porque suas emoções ficaram no caminho.

Por mais que quisesse ser egoísta e deixar o amanhã cuidar disso, sabia que tinha de permanecer objetiva e fazer da missão sua prioridade. Para sua própria sanidade, tanto quanto para a proteção daquelas pequenas meninas preciosas.

 

Cole levou PJ ao avião. Era quase como se tivesse chegado ao fim de sua paciência ou apenas desistido de sua decisão de deixá-la fazer tanto quanto possível.

Ela saiu mancando da casa com a ajuda de Cole, e reconhecidamente ele praticamente a carregou, mas permitiu-lhe a ilusão de que caminhava por conta própria. Até permitiu que ela saísse do veículo no aeroporto, mas depois de três degraus dolorosos, ele murmurou uma maldição e simplesmente carregou-a nos braços.

Ela não discutiu, porque, para ser perfeitamente honesta, cada um daqueles três degraus foi agonizante e estava exausta demais para se importar se estava fraca para o resto da equipe.

Era estúpido da parte dela se importar de qualquer forma. Cada membro de sua equipe já tinha sido derrubado antes e não mostrou sua bunda ou insistiu em fazer as coisas por conta própria. Toda a pressão era de sua própria autoria. Ela não queria parecer que precisava de ajuda, porque sentia que tinha que provar alguma coisa.

Ridículo, mas era isso. Ela era uma mulher, e sua equipe não se importava. Era ela quem estava com o chip no ombro e, sem motivo.

Cole a colocou no sofá de trás e fez com que ela ficasse confortável, enquanto os outros tomaram seus assentos e colocavam os cintos de segurança.

¯ Estou bem, Cole, ¯ disse ela, depois de ele ter colocado um travesseiro debaixo de sua perna. ¯ Vá se sentar e colocar o cinto.

Ele fez uma careta e ignorou-a, tomando posição no final do sofá. Colocou a mão no joelho dela para firmar a perna e não ser empurrado na decolagem.

Ela suspirou, sabendo que era inútil discutir com ele. Ele era um homem obstinado.

Assim que estavam voando, os outros se agruparam em volta. Havia apenas duas poltronas que compunham a pequena área de estar junto com o sofá, e Dolphin e Renshaw sentaram-se nelas enquanto Baker se largava no chão. Steele estava na porta, e era evidente que ele tinha algo em mente.

Donovan estava visualmente ausente, e ela não sabia se era porque ele queria dar privacidade para a equipe botar para fora as suas questões ou se Steele dissera para ele se afastar.

¯ Vou ser direto com você, PJ, ¯ disse Steele. ¯ Você vai ficar quieta pelas próximas semanas. Você não vai voltar para o seu apartamento. É muito arriscado. É provável que Brumley queira eliminá-la. E se eu não achar que você está pronta para a ação no momento em que formos fazer nosso movimento sobre ele, você estará de castigo.

Ela começou a protestar, mas ele cortou-a antes que ela pudesse dizer a primeira palavra.

¯ Vou amarrá-la e fazer Sam sentar em você se for necessário, ¯ Steele, disse em uma voz concisa. ¯ Vai ser uma responsabilidade para a equipe, para não mencionar o perigo pessoal que você se colocará.

Ela mordeu o lábio e não ofereceu argumento. Não faria nenhum bem. E se lhe dissesse que não havia nenhuma maneira no inferno de ela ficar para trás, enquanto eles iam atrás de Brumley, ele faria exatamente o que ameaçou e colocaria Sam ou Garrett brincando de babá.

Então, em vez disso, ela balançou a cabeça com firmeza e manteve a boca fechada.

¯ A outra coisa é que você não vai ficar sozinha, enquanto estiver se recuperando.

Mais uma vez ela abriu a boca e ele a cortou em duas com seu olhar.

¯ Isso não está em negociação. Você não vai voltar para o seu apartamento e não vai ficar sozinha. Você seria um alvo fácil se Brumley tentasse algo. Então, aqui estão as suas opções. Você fica comigo ou fica com alguém da equipe. Não importa para mim. Mas você não estará voando solo.

¯ Você pode ficar comigo, ¯ Dolphin ofereceu.

¯ Ou comigo, ¯ Renshaw interrompeu.

Baker também ofereceu sua casa.

Cole foi o único que ficou em silêncio. Ela cortou o olhar de lado para vê-lo sentado impassível, a mão ainda em concha sobre o joelho dela.

Era quase como se ele estivesse lhe emitindo um desafio. Ele colocou suas cartas na mesa. Agora era a sua vez de encontrá-lo no meio do caminho. Ele não iria se oferecer. Ele queria que ela fizesse a próxima jogada.

Droga.

Ela soltou a respiração enquanto seu coração estava prestes a bater fora do peito. Era uma coisa tão boba, mas fazer aquele movimento a assustava muito. Era como saltar de um avião e esperar que o paraquedas se abrisse.

¯ PJ? ¯ Steele instigou.

Houve outra longa pausa, enquanto ela reunia coragem.

¯ Vou ficar com Cole, se ele não se importar, ¯ ela ofegou.

A mão dele apertou seu joelho. Ela podia sentir a marca dos dedos em sua carne.

Dolphin lançou um olhar sobre Cole, juntando as sobrancelhas, como se não entendesse muito bem a forte corrente que fluía na sala.

¯ Sério, eu não me importo, PJ, ¯ Dolphin disse.

A voz de Cole era quase ameaçadora.

¯ Ela vai ficar comigo.

¯ Tudo bem então, ¯ disse Dolphin, expulsando o fôlego.

A pressão de Cole em seu joelho suavizou, mas ele ainda manteve a mão lá, e dessa vez, quando ela olhou para ele, ele estava olhando para ela, com os olhos cheios de satisfação.

Ela estava feliz agora que fez esse movimento. Algo lhe dizia que ele ficaria ferido se ela tivesse recusado o desafio que ele jogou.

¯ A primeira coisa que você vai fazer é a checagem no hospital, ¯ disse Steele.

¯ Ah, porra ¯ ela murmurou.

¯ Obedeça, ¯ disse Cole. ¯ Você não tem que ficar, mas precisa ser examinada e conseguir alguns medicamentos, pontos, o que for preciso. Então eu vou te levar para casa e fazer você se sentir melhor.

Calor arrepiou até sua nuca e prazer quente inundou seu coração. Ela tinha a sensação de que ele não estava simplesmente falando de um pouco de mimo e boa comida. E se estivesse certa, sabia que certamente seria um longo caminho para fazê-la se sentir muito, muito bem.

 

PJ tentou sair do avião sozinha, mas até mesmo ela teve que admitir a derrota. Sua perna era como um gigante nervo exposto. Transpiração frisava a testa e o lábio superior, e estava suada. Sua respiração era superficial e rápida, e não tinha certeza se precisava vomitar ou desmaiar.

Depois de tentar dar dois passos, seu joelho dobrou e ela quase caiu. Cole estava lá para pegá-la e, sem dizer uma palavra ou reclamar com ela por tentar andar, ele simplesmente carregou-a e marcharam para fora do avião.

Ela quase gemeu em voz alta quando percebeu que tinham voado para Henry County que era o aeródromo base dos Kellys, onde mantinham seus jatos abrigados.

Ficou agradavelmente surpresa, porém, quando Cole levou-a para um SUV a espera. Nenhum dos Kellys estava presente. Ninguém da KGI veio encontrá-los, o que significava que não haveria sermão a suportar. Talvez sua equipe fosse escapar ilesa de todos os problemas que ela causou.

Steele colocou a cabeça na porta depois que Cole a colocou no banco de trás.

¯ Se precisar de alguma coisa, grite, Cole. Entrarei em contato periodicamente. Fique atento e confie em seus instintos.

¯ Você vai para casa? ¯ Cole perguntou ao líder da equipe.

Steele balançou a cabeça.

¯ Eu tenho que dar o relatório para Sam.

PJ se encolheu. Tanto por sua equipe não ter qualquer precipitação.

¯ Sinto muito. Você não deveria ter que responder por mim.

Steele olhou-a com frieza.

¯ Quem disse que estou respondendo a alguém? E, além disso, quem disse que é sobre você? Eu tomo as decisões sobre esta equipe e eu assumo cada uma. Se há algo a ser dito, será dito para mim. Não para minha equipe.

Quando ele fechou a porta, Cole olhou no espelho retrovisor.

¯ E essa é a lei, de acordo com Steele.

PJ sorriu.

¯ Ele é um arrogante total. Eu amo isso nele.

Cole bufou.

¯ Você amaria.

¯ Você também é um arrogante muito grande, Coletrane. Eu gosto disso.

¯ Que bom que você aprova, ¯ ele disse secamente. ¯ Agora, o que acha de irmos para a maldita casa e comer alguma comida decente? Eu não alimentaria meu cão com a merda que comemos nos últimos dias.

¯ Você tem um cachorro?

¯ Não, mas se eu tivesse, eu o alimentaria melhor do que com o que estivemos comendo.

Ela riu.

¯ Não é possível discutir com isso. O que há para o jantar?

Ele olhou no espelho novamente enquanto seguia para a estrada municipal que se afastava do campo de pouso.

¯ É uma noite perfeita. Eu estava pensando em alguns bifes grelhados no pátio dos fundos e contar vagalumes sobre a lagoa.

Ela fechou os olhos e agarrou a imagem que ele descreveu. Era tão perfeita, que doía.

¯ Eu gostaria disso, ¯ ela disse suavemente. ¯ Eu gostaria muito.

¯ Não pense que esquecemos a parada no hospital. Apenas no caso de você ter suas esperanças.

Ela fez uma careta e ele riu de volta para ela.

¯ Eu convenci Steele que arrastar você agora não iria conseguir nada além de deixá-la mais irritada do que já está. Prometi que a primeira coisa que eu faria seria levá-la a Fort Campbell amanhã de manhã, mas que esta noite eu iria fazê-la relaxar e desfrutar de uma boa refeição.

Ela foi cercada pelo sentimento estranho e engraçado na boca do estômago, que apertou seu coração e fez borboletas agitarem suas entranhas. Não se sentia tão boba desde sua primeira paixão no colegial.

¯ Obrigada, Cole. Eu aprecio isso. Vou me sentir muito melhor sobre alugar Cathy amanhã.

A sobrancelha dele subiu em questionamento.

¯ Quem é Cathy?

¯ Minha parceira no crime, ¯ PJ se esquivou. ¯ Foi ela quem me ajudou a voar da gaiola da última vez. Eu a conheci alguns anos atrás. Pelo tanto que estive dentro e fora de Fort Campbell, quando nos encontramos, começamos a conversar. Ela é provavelmente a coisa mais próxima que tenho de uma amiga.

Cole franziu o cenho.

¯ Você tem amigos.

PJ sorriu.

¯ Eu quis dizer amigas. Eu não tenho nenhuma amiga íntima. Cathy é mais velha do que eu, mas ela é ótima. Ela até me aborrece sobre não respeitar vocês da marinha o suficiente. Ela também é ex-marinha.

¯ Ela tem meu hooyah, então. Embora eu vá ter palavras graves com a mulher sobre tirar você do hospital. Esse foi um movimento estúpido.

Ela não respondeu a isso. Talvez fosse. Talvez não fosse. Mas naquele momento era o que ela tinha que fazer. Ela não poderia muito bem tentar analisar seu estado de espírito naquele momento, porque era honesta o suficiente para saber que estava fora de si. Cathy também sabia, mas ela não tentou dizer a PJ que ela estava errada, e por isso ela apreciava.

Ninguém abordara o assunto de ver um psiquiatra ainda. Ela estava apenas esperando por isso. Sabia que as esposas dos homens Kelly, até mesmo a esposa de Rio, Grace, passaram por alguma merda pesada. Ela as respeitava por isso. Elas não eram mulheres tímidas. Sabiam como vencer as coisas do seu próprio jeito.

Shea especialmente tinha o profundo respeito de PJ e PJ suspeitou que ela e a mulher de Nathan poderiam ser amigas se andassem juntas tempo suficiente. Shea tomou muita dor e tortura em nome de Nathan. Ela o ajudou a sobreviver ao inferno e era a única razão pela qual ele estava em casa com seus irmãos depois de passar meses presos no Oriente Médio.

Ela duvidou que se encaixasse no círculo interno dos Kelly. Que estava reservado para suas esposas, e os Kellys eram ferozmente protetores com elas. Mas será que ela queria? Teria chegado a um ponto em sua vida onde queria se encaixar em algum lugar e ter uma rede de amigos para se apoiar para obter suporte?

Meses antes, ela diria enfaticamente, não. Gostava de sua vida do jeito que era. Fazia seu trabalho, ia para casa, ninguém a incomodava.

Mas quanto era produto do que tinha acontecido em sua equipe da SWAT? Ela tinha que admitir, era muito jovem e idealista quando conseguiu um lugar na equipe. Não só foi a primeira mulher, mas também foi a mais nova recruta daquela equipe em particular.

Teve que trabalhar o dobro para ganhar o mesmo respeito que os homens, e pensou que tinha chegado lá. Pensou que tinha a lealdade deles. Ela foi mais esmagada do que queria admitir na época. Quando percebeu como fora ingênua e o quanto estivera errada, foi humilhante.

Quando foi contratada para a equipe de Steele, ela foi esperando o pior e treinou adequadamente. Aos poucos, relaxou, mas nunca baixou sua guarda completamente. Não como fizera com sua equipe da SWAT. Assumira muito com eles, e estava determinada a não cometer o mesmo erro novamente.

Mas Cole e seus companheiros de equipe foram lentamente provando que estava errada. Eles a apoiaram. Seu chefe de equipe estava apoiando-a, mesmo com o risco de sua própria reputação e posição dentro da KGI.

Isso significava alguma coisa, não é?

Sim, significava muito.

¯ Está dormindo aí atrás, PJ? ¯ Cole chamou de novo. ¯ Estamos quase lá.

Ela sentou-se, cautelosamente erguendo-se para que pudesse ver pela janela. Não estava dormindo, mas estava em outro mundo contemplando suas circunstâncias.

O SUV desacelerou e Cole virou em uma estrada de terra que era marcada apenas pelo número da estrada do condado. Não havia residências na estrada. Apenas uma pilha grossa de pinho e madeira.

No final, abriu-se em uma área desmatada com uma pequena casa. Na parte de trás, uma lagoa enorme se espalhava por vários hectares. Era praticamente um pequeno lago.

A casa não era inteiramente o que ela esperava. Talvez pensasse que ele teria uma com visual mais rústico, mas a casa era de aspecto moderno com tijolos, madeiras e amplas janelas. Parecia acolhedora e convidativa, e se encaixava bem com a paisagem.

Sebes puras que pareciam recém-aparadas. Um gramado que parecia que foi acabado de cortar. Várias árvores menores pontilhavam a campo aberto e os arbustos de azaleias e várias outras variedades de flores cobriam as bordas da casa.

¯ Você é dono de tudo isso? ¯ Ela perguntou.

Ele parou o SUV na frente da casa, sem se preocupar em estacionar na garagem.

¯ Sim. Comprei uma centena de hectares de uma empresa de papel que estava vendendo terras na área. A mesma empresa onde Sam conseguiu toda a propriedade da KGI. Eles saíram do Tennessee. Consegui um bom negócio pela propriedade. Cortei madeira suficiente para pagar a terra e, em seguida, construí a casa e escavei a lagoa.

¯ Então, quem cuida disso para você? Você não fica em casa o suficiente para cuidar de tudo isso.

Ele riu.

¯ Eu tenho um cara que vem quando estou fora.

¯ Belo apartamento de solteiro. Você age como o gigante homem da caverna lá dentro? ¯ Ele ficou em silêncio e depois não respondeu. Ele saiu e, em seguida, abriu a porta do passageiro atrás dela.

¯ Eu não quero que você se mova, okay? Eu vou colocar minhas mãos em seus braços e puxá-lo do meu jeito. Vai ser mais fácil do que você tentar manobrar seu corpo ao redor e bater a perna.

Ela não discutiu.

Seus braços deslizaram sob ela e as mãos espalmaram sobre o peito e barriga. Então começou a deslizá-la para trás até que o traseiro estava pendurado para fora do assento. Girou de modo que pôde colocar um braço por baixo dos joelhos e, em seguida, levantou-a sem esforço do banco de trás e deu uma cotovelada para fechar a porta.

¯ Vou pegar nosso equipamento mais tarde. Agora quero ter certeza de que você ficará confortável e tome algum medicamento para dor.

Ela franziu o cenho.

¯ Eu não quero dormir entre os bifes e vaga-lumes.

Ele riu enquanto a levava para a porta.

¯ Não se preocupe. Vou te dar apenas o suficiente para tirar a dor. Não quero que você ronque durante o jantar também.

Ele a colocou no chão na varanda da frente, com cuidado para não deixá-la colocar qualquer peso sobre a perna. Então destrancou a casa e abriu a porta.

¯ Você pode fazer isso sozinha ou quer que eu a carregue?

Ela quase deixou escapar que queria que ele a levasse, mas quão fracote soaria?

Ela só tinha algumas semanas para conseguir se recuperar, e não iria conseguir tendo Cole tratando-a como uma inválida.

Preparando-se para o flash inevitável de desconforto, deu um passo, segurando-se no batente da porta, para não se humilhar caindo.

Apertou a mandíbula e deu outro passo, achando mais fácil se simplesmente continuasse em movimento do que uma pausa após cada passo. Cole pairava ao seu lado, sem dúvida, esperando para ver se ela caía de cara no chão.

Gratificada por ainda estar de pé e não beijar o chão, ficou um pouco mais ousada e mancou até a sala de estar.

O sofá de couro parecia convidativo, e ela fez seu único propósito chegar a ele o mais rápido possível para que pudesse afundar na suavidade que a esperava. Já estava imaginando uma longa soneca com o couro de aparência suntuosa abraçando seu corpo.

Algumas maldições murmuradas mais tarde e ela estava lá. Sabendo que não havia maneira graciosa de se instalar, deixou-se cair sem jeito nas almofadas. Fez uma careta quando o impacto empurrou sua perna, mas em seguida puxou-a para que pudesse se deitar de lado confortavelmente.

Soltou um grande suspiro de alívio e fechou os olhos por um momento. Isso era bom. Perfeito, mesmo. Poderia totalmente ficar aqui o resto do dia. Só que eles deveriam grelhar bifes e observar vaga-lumes.

¯ Dê-me uma hora, ¯ disse para Cole. ¯ Só quero descansar aqui por um tempo. Então vamos sair e ver o sol se pôr.

Ele sorriu e estendeu a mão para tocar sua bochecha. Foi um gesto tão simples, mas que era mais doce do que qualquer beijo ou sinal mais evidente de intimidade.

¯ Leve o tempo que precisar. Vou fazer um balanço do que tem no freezer.

 

Cole observou PJ dormir da cadeira do outro lado da sala. Era onde ele encontrava-se pela última hora, estudando-a enquanto ela descansava.

Um indivíduo tão complexo em um pacote pequeno. Ela tinha camadas que ele levaria uma eternidade para desvendar completamente, e ainda assim ele ansiava pelo desafio. A vida definitivamente não era chata com PJ ao redor.

Olhando para trás, não estava mesmo certo de quando ela se tornou uma parte integrante de sua vida. Admitia que ele foi um pouco idiota quando ela foi trazida a bordo pela primeira vez. Ele foi cético em relação a suas habilidades, porque ela era mulher. Foi difícil para ele olhar para ela e imaginar a guerreira agressiva que a equipe precisava.

Ela muito rapidamente provou que ele estava errado, e ele era homem o suficiente para admitir que se enganou totalmente e tinha sido um machista idiota completo.

PJ lhe ensinou muito, no entanto. Ela mudou sua visão sobre a maioria das mulheres. Ao vê-la, ele aprendeu a não assumir que as mulheres eram mais fracas só porque eram do sexo feminino.

Ela carregava o próprio peso e as vezes o da equipe. Ele a admirava muito e teria dito a ela em várias ocasiões, se não soubesse que teria conseguido uma surra por isso.

Em essência, ela era absolutamente perfeita para ele. Ele a queria. Mais do que já quis outra mulher, e ela era, certamente, a primeira mulher com quem realmente considerou que gostaria de ter uma relação de longo prazo.

Casamento?

Ele resolveu logo no início que não era o tipo de cara talhado para uma mulher, filhos e todos os nove metros de domesticidade. Ele gostava de ação. Gostava da emoção que seu trabalho provinha. Nunca seria feliz em um trabalho das nove às cinco, voltando para casa para verificar as coisas a fazer da lista de casal. E sabia que não havia muitas mulheres que poderiam adaptar-se com sua programação. Nunca sabendo quando ele chegaria em casa, ou quando seria chamado em outra missão. Tampouco podia culpá-las.

Mas e se a mulher por quem ele se apaixonasse vivesse as mesmas coisas que ele fazia? Poderia funcionar? Seriam capazes de ficar em uma equipe se estivessem romanticamente envolvidos?

A única coisa ruim foi que ele descobriu que PJ lidaria com isso muito bem. Mas ele lidaria? Conseguiria sair em uma missão com a mulher que ele amava ao seu lado, sabendo que era possível que ela não voltasse ou que poderia ficar seriamente ferida?

Inferno, isso já tinha acontecido.

Depois da aventura de uma noite deles, ele ficou louco da vida com a ideia de ela ser usada como isca para atrair Nelson em uma armadilha. Ele estava certo, mas se fosse qualquer outra mulher, ele teria sido tão inflexível sobre a realização do trabalho?

Provavelmente não.

O que significava que ele não lidaria com isso melhor no futuro, quando PJ se colocaria na linha, e ele conhecia PJ. Este incidente não iria impedi-la. Era provável que a fizesse muito mais determinada a não deixar que o que aconteceu com ela interferisse em futuras missões.

Seu primeiro instinto foi protegê-la. Ele não havia considerado o que era melhor para a missão. Ou as pessoas que estavam tentando proteger eliminando Brumley. Ele só se importava que PJ estava se arriscando, e ele a queria em um papel que assumisse menos risco.

Era um inferno de um dilema para ele, porque não tinha certeza se poderia dar ao time cem por cento, enquanto PJ estivesse envolvida. E ela nunca permitiria que ele a protegesse da realidade de seus trabalhos. Ele teria menos respeito por ela se ela fizesse isso. Mas isso não mudava o fato de que ele era um caso perdido com a ideia do enorme risco pessoal que ela correria.

Esfregou a mão sobre o rosto, cansado do peso absoluto da sua preocupação e indecisão.

Ele queria PJ. Achava que podia até amá-la. Mas poderia se comprometer com ela sabendo o tipo de bagagem que eles traziam para a mesa? Seria justo para ela e sua posição na equipe ter um amante e companheiro de equipe louco, cujo único objetivo era mantê-la segura e foda-se o resto do mundo?

E mesmo que não fosse justo, era tarde demais, pois ele já posicionou suas cartas. Dissera a ela que ele estava aqui. Que esperaria o tempo que fosse necessário para ela colocar a cabeça no lugar de novo.

Mesmo que ele pensasse no passado, ele estremeceu como soava. Colocar a cabeça no lugar? Você usava uma linguagem como essa com alguém que tinha fodido algo. Para alguém cuja cabeça não estava no jogo.

Esse não era o caso com PJ. Ela não tinha fodido nada. Ela fez tudo certo e pagou um preço alto por isso. Ele não conseguia entender como ela foi capaz de se manter inteira por tanto tempo.

Enquanto olhava as feições dela, suavizadas pelo véu do sono, algo dentro dele torceu e deu um nó. O problema era, ela manteve-se inteira muito bem. O que significava que, em algum momento, ela teria que quebrar. Ninguém poderia se desligar completamente para sempre, e o que a susteve todos estes meses foi a caça aos homens que a machucaram. Uma vez que ela já não tinha esse objetivo sustentando-a, o que aconteceria?

Ela precisava dele, de alguém, agora, mais do que nunca. A pergunta era: ela aceitaria sua ajuda? Ou o afastaria, determinada a assumir tudo sozinha?

Ele balançou a cabeça.

¯ Eu não vou deixar você fazer isso, PJ, ¯ ele sussurrou. ¯ Eu não sei exatamente o que é que nós temos, mas não estou disposto a deixá-la ir, não importa o quanto seja difícil.

Relacionamentos davam trabalho. Ele viu a prova muitas vezes apenas observando os Kellys. A esposa de Ethan, Rachel, passou por um inferno, e seu caminho para a recuperação foi acidentado.

Mas PJ valia a pena. Ela merecia felicidade. Ela merecia um homem que estivesse por ela e com ela. Alguém que lhe permitisse ser ela mesma. Mesmo que o matasse, ele seria esse homem. Incentivando-a a ser a mulher agressiva que sabia que ela seria e não a restringindo, não importa o quanto seu instinto gritasse fortemente com ele para protegê-la de qualquer coisa que pudesse machucá-la.

O amor era uma droga.

O amor necessitava sacrifícios que eram difíceis de fazer. Era necessário ir contra cada instinto para que ele não esmagasse o que fazia de PJ tão especial.

Se isso era se apaixonar, ele não tinha certeza se queria.

E, no entanto, a ideia de PJ não estar em seu futuro como mais do que apenas um membro da equipe, o deixava chateado. Assim, realmente não importava o que ele queria ou o que era fácil neste ponto, porque a decisão foi feita por ele.

PJ era dele. E sim, não seria fácil, mas nada de valor era.

Ele gostava dela do jeito que ela era. Toda agressiva, teimosa, independente e capaz de chutar o traseiro de qualquer um. Até mesmo o dele.

Ele não mudaria coisa alguma sobre ela.

A súbita onda de emoção o pegou desprevenido. Era como se admitir para si mesmo a profundidade de seus sentimentos por PJ o fizesse querer agir sobre eles agora. Queria que ela soubesse, que ela sentisse, o que ela significava para ele. Quanto tempo ele a desejou secretamente?

Não poderia identificar a hora exata ou o lugar. Em vez disso, cresceu gradualmente sobre ele, enquanto sentia aumentar seu respeito e admiração. Com o tempo, seus sentimentos mudaram para algo intensamente mais pessoal, e agora aqui estava ele observando-a enquanto ela dormia em seu sofá, em sua casa.

Ele a tinha exatamente onde mais a queria, e suas mãos estavam atadas e ele era incapaz de agir sobre a atração entre eles.

Ainda assim, viu-se levantando para que pudesse estar mais perto dela. Ajoelhou-se na frente do sofá, os dedos traçando a pele suave como de bebê em sua bochecha.

Seu cabelo estava puxado em um rabo de cavalo, como sempre estava, mas escapavam mechas que flutuavam pelo rosto, dando-lhe um ar de vulnerabilidade que fez o peito dele apertar.

Ele a viu no seu momento mais vulnerável. Em seu ponto mais baixo. Era uma imagem que desejava poder lavar de sua memória. Ela quebrada e sangrando, os olhos inundados pela vergonha.

Mesmo agora era como um soco no estômago. Ele não conseguia sequer pensar nisso sem querer colocar seu punho através de uma parede.

Abaixou os lábios para roçar por sua testa, e depois, porque não era o suficiente, deixou sua boca demorar, simplesmente absorvendo a sensação de tê-la tão perto.

Respirou profundamente, aspirando a fragrância de seu xampu e do cheiro de seu sabonete, um perfume que ele agora identificava como exclusivamente dela.

Ela se moveu debaixo dele, e então suas pálpebras se abriram. Ele se afastou, porque não a queria entrando em pânico se ainda estivesse meio dormindo. Mas ela sorriu para ele, seus olhos brilhando com o reconhecimento imediato.

¯ Eu dormi muito tempo? ¯ Ela sussurrou.

Ele sorriu e balançou a cabeça.

¯ Nem um pouco. Você apagou por algumas horas. Eu percebi que precisava para se recuperar.

¯ Ah bom, então eu não perdi os bifes?

¯ Não. Eles estão marinando agora, e assim que eu colocar a grade no fogo, vou jogá-los e poderemos sair no pátio, se você quiser.

Ela soltou um suspiro que enviou uma raia de prazer através de seus sentidos. Ela fizera sons como esse na noite que passaram juntos. Sons de satisfação, como se ela estivesse feliz no mundo.

Ele faria qualquer coisa que pudesse lhe dar esses pequenos momentos. Qualquer coisa para remover as sombras em sua mente. Queria dar memórias novas para substituir as dolorosas.

¯ Sabe o que eu realmente gostaria? ¯ Ela perguntou, uma nota melancólica na voz.

Ele quase riu, porque, no momento, ela poderia pedir qualquer coisa e ele se mataria para ter certeza que ela teria.

¯ O que seria?

¯ Um banho muito longo e quente.

Ele franziu a testa por um momento, contemplando as possíveis ramificações.

¯ Eu não tenho certeza que você deve ficar de pé por muito tempo sozinha.

Seu rosto floresceu com cor, uma das poucas vezes que ele pôde se lembrar de vê-la corando.

¯ Eu posso fazer isso ¯ disse ela. ¯ Contanto que eu possa apoiar a mão na parede do chuveiro, ficarei bem. Se eu tiver algum problema, prometo que vou gritar por você.

¯ Funciona para mim, ¯ disse ele, submisso. Não que ele teria negado de qualquer jeito. ¯ Vou ajudá-la no banheiro, me certificarei de que tenha tudo o que precisa, e então esperarei na cozinha.

¯ Isso soa divino. Ajuda-me a levantar.

Ela estendeu a mão e ele ficou de pé, deixando seus dedos entrelaçados com os dela. Ela puxou-se em uma posição sentada, cautelosamente deixando as pernas deslizarem para o lado do sofá.

Ele deveria levá-la direto para Fort Campbell. É o que Steele queria, mas Cole a queria aqui. Queria dar-lhe algum tempo de inatividade e não levá-la para um lugar onde ela seria constantemente lembrada de sua lesão e de como a conseguiu.

Além disso, PJ era dura. Ela não seria fraca por um ferimento superficial.

¯ E quanto a você, deixe-me dar-lhe alguns remédios para dor para que possa desfrutar da noite, ¯ disse ele.

Por um momento, ele pensou que ela iria recusar, mas depois ela suspirou.

¯ Okay.

¯ Eu vou pegá-los para você quando você sair do chuveiro. Coloquei sua bolsa no quarto de hóspedes. Grite se precisar de alguma coisa.

Ela assentiu com a cabeça e, em seguida, começou a ir em direção ao banheiro. Embora nunca tivesse vindo aqui antes, encontrou o caminho bem o suficiente. Não era como se a casa fosse tão grande que ela se perderia.

Depois de tranquilizar-se que ela não iria cair, ele correu para acender a grelha, não querendo ficar fora por muito tempo, caso ela precisasse dele.

Quando voltou para dentro, foi para o banheiro e colocou o ouvido à porta. Ouvindo a água correr, relaxou e voltou para a cozinha para que começar os preparativos do jantar.

Se fizesse do seu jeito, ele e PJ iriam desfrutar de uma noite tranquila juntos. Apenas os dois. Nenhuma equipe. Nenhum trabalho. Nem mundo exterior.

 

PJ se sentia 200% melhor depois de ferver no chuveiro quente. Ela até removeu as bandagens do ferimento e o limpou também. Iria pedir a Cole para ajudá-la a reaplicar o curativo, até que pudesse ser examinada no dia seguinte, no hospital.

Vestiu shorts de ginástica para que o ferimento ficasse de fácil acesso e em seguida vestiu uma camiseta, não se preocupando com sutiã. Um, ela não tinha muito busto para se preocupar, e dois, Cole já tinha visto tudo o que ela tinha. Eles deveriam ter passado bem a fase do tímido e modesto agora.

Depois de colocar meias para manter os pés quentes, cuidadosamente fez o caminho de volta para a sala de estar. Cole não estava lá, mas ouviu barulho na cozinha, então foi em busca dele.

Ele estava colocando os bifes em um prato para levá-los para fora quando olhou para cima e a viu.

¯ Oi, ¯ ele disse suavemente. ¯ Sente-se melhor?

¯ Você não tem ideia, ¯ ela arfou. ¯ Quase humana novamente.

Ele colocou o prato com os bifes na mesa e limpou as mãos em uma toalha. Então pegou um vidro de remédio, sacudiu uma pílula e entregou a ela.

¯ Só um segundo, vou pegar um pouco de leite para tomar com ele. Não é uma boa ideia tomar com o estômago vazio.

Ela pegou a pílula e esperou enquanto ele servia um copo de leite e empurrava-o em direção a ela no balcão. Tomou um gole do leite, fazendo uma careta antes de finalmente colocar a pílula na boca e beber mais para descer.

¯ Não é fã de leite?

Ela balançou a cabeça.

¯ Não gosto nem mesmo do cheiro. Recebo meu cálcio comendo queijo. Muito.

¯ O que você gostaria de beber no jantar? Eu lhe ofereceria uma cerveja, mas não iria muito bem com o analgésico que você acabou de tomar.

¯ Chá ou água está bem. Estou mais focada no bife, de qualquer maneira. Já estou babando por ele e ele ainda está cru.

Ele sorriu.

¯ Menina do meu coração. Eu sou um grande fã de vaca.

¯ Ah, eu não sou muito. Eu comeria frango ou porco com o mesmo entusiasmo.

Ele olhou para sua perna nua e franziu a testa.

¯ Essa ferimento parece bastante desagradável. Devemos colocar outro curativo nele.

¯ Sim, pensei que você poderia ajudar quando fizer os bifes. Eu queria limpá-la no chuveiro. Além disso, a água quente fez bem a ele.

¯ Você pode fazer isso lá fora, ou quer que eu vá colocar os bifes e em seguida, volte para você?

Ela deu um passo hesitante para frente, segurando a bancada.

¯ Você lidera e eu vou acompanhar. Farei o melhor para não cair.

Ele sorriu e pegou o prato, colocando tongs a pinça em cima. Enquanto saía da cozinha pelas portas francesas com vista para o pátio, ela seguia lentamente atrás dele. Quando ela chegou à porta, ele já estava colocando os bifes no fogo.

Ela saiu e respirou o ar com cheiro de madressilva. Grilos cantavam à distância e o zumbido baixo de gafanhotos aumentava no ar da noite. O céu estava coberto com a sombra pálida do crepúsculo e o sol estava quase se agarrando ao horizonte enquanto deslizava mais e mais.

Era uma noite perfeita para um churrasco.

Sentou-se à mesa e esticou a perna para baixo dela completamente. A medicação já estava entorpecendo a dor cruel, transformando-a em um zumbido mais tolerável.

¯ É lindo aqui ¯ disse enquanto Cole abaixava a tampa da grelha.

¯ Eu gosto. É perto do trabalho, mas ainda é reservado. Não preciso me preocupar em tropeçar em ninguém quando estou aqui. É bom depois de sair de uma missão, me entocar longe do mundo por alguns dias.

¯ Steele ficou me chateando para eu me mudar para mais perto daqui. Você sabe, antes da última missão e tudo.

Cole estudou atentamente.

¯ E? Você estava considerando isso?

¯ Eu não sei ¯ disse ela honestamente. ¯ Antes, eu provavelmente teria pensado no assunto, mas provavelmente teria adiado ou dado uma desculpa. Eu estava confortável na minha rotina e gostava que o trabalho fosse longe de onde eu morava.

¯ E agora? Você disse antes, como se as coisas tivessem mudado, ou pelo menos seu pensamento mudou.

Ela olhou por cima do lago, observando enquanto o primeiro vaga-lume aparecia e brilhava uma linha sobre a água antes de piscar novamente.

Havia algo fascinante sobre vaga-lumes. Algo que a levou de volta à sua infância, quando as coisas eram simples e os dias de verão eram gastos perseguindo sonhos.

Era uma chamada de despertar de sua vida adulta, que foi gasta estando insatisfeita com ela mesma, seus relacionamentos e empregos.

Quando ela tinha mudado de uma pequena menina risonha sonhando em mudar o mundo para uma adulta cínica que acreditava que o mundo não tinha salvação?

¯ PJ?

Cole rompeu suavemente seus pensamentos, e ela percebeu que ele estava esperando por uma resposta à sua pergunta.

¯ Agora eu não tenho tanta certeza. Na verdade, foi na noite em que você entrou no bar que tive esse momento de percepção que eu ainda estava vivendo no passado pelo que acontecera em Denver. Não há nada para mim lá. Não há razão para ficar. Nenhum laço. Nada. Pelo menos aqui eu estaria mais perto do trabalho, se nada mais.

¯ Você tem a mim, ¯ disse ele.

Ela levantou o olhar para ele e seus olhos se encontraram. Ele não se afastou. Não tentou esconder nada dela.

¯ Eu não quero estragar a nossa amizade. Eu não posso perdê-la, Cole. É muito importante para mim. É por isso que eu reagi da maneira que fiz na manhã seguinte, porque tudo em que eu conseguia pensar era o quanto eu era estúpida por arriscar algo que significava tanto assim para mim.

¯ Você não vai me perder, PJ. Não nos condene antes mesmo de nos dar uma chance.

Ela baixou o olhar e voltou a olhar para o lago, contando os vaga-lumes enquanto dançavam no ar. Mais e mais foram surgindo e os sons da noite ficaram mais altos. Ao longe, uma coruja piou, enviando um arrepio estranho na espinha dela.

Ele estava certo? Ela era culpada de nem mesmo dar-lhes uma chance? De renegá-los antes que sequer tivessem uma chance?

Ela estava sendo uma covarde total e oferecendo desculpas esfarrapadas quando no cerne da questão havia apenas... Medo.

¯ E se não der certo? ¯ Ela perguntou, expressando um desses medos. ¯ E se as coisas terminarem mal entre nós? Nós ainda teremos que trabalhar em equipe, e se fodermos as coisas, criará tensão para toda a equipe e ainda teremos que trabalhar juntos. Nosso companheirismo é o que nos torna tão bons. Poderíamos foder tudo, não só entre nós, mas com toda a equipe. Pior ainda, poderíamos acabar levando outros a morte. Eu não acho que poderia viver com isso.

¯ Se acabar, eu sairia, ¯ ele disse calmamente. ¯ Eu nunca a forçaria a sair, PJ.

¯ Seria ainda mais devastador para mim, ¯ ela sussurrou.

¯ Você não acredita no para sempre? ¯ Ele perguntou. ¯ E todos aqueles romances que você leu? Não pregam a mensagem de felizes para sempre?

Suas palavras colocaram uma dor no coração dela. Ela queria o “felizes para sempre” mais do que ele poderia saber. Ela queria o para sempre. O problema era, ela só não tinha certeza se acreditava mais nisso. Por isso ela se agarrava tanto na ficção. Mergulhava em livros, porque lá ela poderia ser qualquer uma, e era fácil acreditar no amor e no “felizes para sempre”.

¯ Você daria uma heroína de romance incrível. Só estou dizendo.

Ela sorriu.

¯ Você também daria um herói de romances muito foda também.

¯ Vê? É inevitável. Ou destino. Como você quiser chamar. Fomos feitos para ficarmos juntos. Uau, eu estou começando a soar como um total mulherzinha!

Ela riu, mas o problema era que ela estava começando a se sentir da mesma forma. Cole apenas... Ajustava. Não havia nada que ela não gostava dele, mesmo quando ele era chato pra caralho com ela.

Era divertido brigar e discutir com ele. Ele lidava da melhor forma possível e nunca guardou rancor. Nunca levou muito a sério. E não deixou seu ego ficar no caminho das coisas. Ela salvou seu traseiro muitas vezes e ele nunca se ressentiu dela por isso.

Sua equipe KGI era tudo o que sua primeira equipe não era. Fiel. Eles a respeitavam. Cuidaram dela, mesmo quando isso significava colocar seus empregos em risco.

Subitamente ocorreu-lhe o pensamento de que ela era uma hipócrita flamejante. Era como ser pega de surpresa por um gancho de direita. Seus pensamentos devem ter se refletido em seu rosto, porque Cole enrugou a testa de preocupação, e sentou-se em frente a ela.

¯ O que foi, PJ? Você está bem?

Ela soltou um suspiro desgostoso e esfregou a testa em agitação.

¯ Eu estava sentada aqui comparando a SWAT com a KGI e estava sendo toda presunçosa e hipócrita pensando que minha equipe aqui é tudo que minha velha equipe não era. Eu fiquei tão chateada com eles por tanto tempo, mas ocorreu-me que eu sou uma hipócrita enorme.

Ele recuou, surpreso.

¯ Por que diabos você pensaria algo assim?

¯ Eu delatei meu amante por estar sendo desonesto. Eu era tão hipócrita e tão “devo fazer a coisa certa” e tão “preto e branco” na época. Não havia motivos, nem explicações. Nem desculpas. Você estava certo ou errado. Nada entre os dois. E, no entanto, aqui estou eu, depois de ter assassinado três homens a sangue frio e casualmente tramando a morte de um quarto. Minhas mãos estão manchadas com sangue de modo que nunca vou deixá-las limpas. Pelo menos Derek não estava prejudicando ninguém. Ele não matou ninguém. Ele roubou o dinheiro de perdedores e traficantes de drogas.

Cole fez uma careta, o rosto escurecendo enquanto olhava para ela.

¯ Você não está comparando-se com aquele idiota.

Ela fez um som de impaciência.

¯ Olhe objetivamente, Cole. Eu o entreguei. Por estar no “mau” caminho. Fui abandonada por ele e fiquei amarga, porque todos se viraram contra mim. Merda acontece aqui, eu saio sozinha e mato três homens. Quem é o maior criminoso? Vocês têm toda a razão para lavar suas mãos para mim.

¯ Agora você está me irritando. Não combina com você se comportar como mártir. Cale a boca e dê uma pausa. Você não pode comparar a sua situação com aquele idiota fodido com quem você costumava dormir.

Ela piscou por um minuto e depois começou a rir. Oh Deus. Isso era o que ela tanto amava em Cole. Ele não a deixava ser tão estúpida e sempre retrucava diretamente.

Cole ainda parecia insatisfeito.

¯ Aqueles bastardos precisavam morrer. Mesmo se eles não tivessem feito o que fizeram com você. O que fizeram para inúmeras mulheres e crianças é o suficiente para matá-los. Você fez um favor ao mundo, e eu não vou deixá-la se abater, porque não se arrependeu de matá-los. Você ficaria melhor se lamentasse e se sentisse culpada por tê-los matado? Se está esperando que eu a julgue, você é uma merda sem sorte. Eu não sou muito o tipo de cara preto e branco. Eu gasto muito tempo nas áreas cinzentas.

Ele levantou-se e ocupou-se virando os bifes. O cheiro era forte e o vento levava o cheiro de carvão e carne assada para as narinas dela. Ela cheirou apreciativamente e seu estômago roncou em resposta.

Quando ele terminou, ele passou por ela.

¯ Vou acender as luzes do lado de fora e pegar um spray de insetos para que os mosquitos não a peguem. Eu já volto.

A porta se abriu e fechou e ela ficou só contando os vaga-lumes e refletindo sobre a conversa que tiveram.

Ela era nada mais do que uma hipócrita, pedante e pretensiosa? Ela sempre se sentiu mais santa do que todos sobre o fato de que Derek estava envolvido em negócios escusos durante o trabalho. Ele a ofendeu e espetou seu senso de honra. Ela ficou totalmente desapontada por ele não defender seus ideais elevados. Em sua mente, ele falhou não só consigo mesmo e sua equipe, mas com ela, e talvez fosse por isso que nunca foi capaz de perdoá-lo.

Mas não importa o que Cole disse, ela não era melhor que Derek. Suas razões podem ter sido diferentes para cruzar essa linha, mas o resultado final era o mesmo. Ela cruzou uma linha, e nunca poderia voltar.

Pior, ela não tinha vontade de voltar. Não sentia nenhuma culpa, apenas a satisfação selvagem de que eliminara três dos quatro homens de quem jurara se vingar.

Não era bonito. Certamente não era correto. Mas não estava fugindo da questão. Ela sabia o que era. Uma assassina de sangue frio.

Qual era o pecado de Derek quando comparado com o dela?

Sentiu que um pouco da velha animosidade saía e foi capaz de deixar ir parte do ressentimento que nutriu por tanto tempo. Ela delatou Derek, se foi a coisa certa a fazer ou não. Por muito tempo, se sentiu traída por ele, mas, em essência, poderia ser dito que ela foi a pessoa que o traiu.

Que momento infernal para ter uma manifestação divina e descobrir merda sobre si mesma.

A luz acendeu e depois a porta se abriu. Cole voltou para fora carregando um copo de chá em cada mão e uma lata de spray repelente debaixo do braço. Ele colocou um dos copos na frente dela e então se inclinou para pulverizar o repelente de insetos sobre suas pernas. Ela se inclinou para cobrir seu chá para que ele pudesse pulverizar os braços. Quando terminou, ele voltou ao seu lugar.

Ele recostou-se na cadeira e olhou-a com curiosidade.

¯ Então me diga o que PJ significa.

Ela piscou e, em seguida, olhou para ele, perplexa por um momento com a mudança na conversa. Ela não tinha considerado que o resto da equipe não soubesse o que suas iniciais representavam. Steele certamente sabia por que invadira seu histórico, não deixando pedra sobre pedra, antes de contrata-la. Tinha certeza de que Sam, Garrett e Donovan fizeram o mesmo.

Ninguém a chamava por seu nome real. Nunca chamaram. Um fato pelo qual era grata. Sempre se perguntou o que fizera para irritar sua mãe para que ela lhe desse um nome tão piegas.

¯ Vamos, PJ fale. Eu nunca dormi com uma mulher cujo nome eu não soubesse. Até você. Isso me fez sentir como um garoto de programa.

Ela começou a rir.

¯ Eu não deveria dizer agora para que você possa mergulhar em seu momento garoto de programa um pouco mais.

¯ Você zomba da minha dor. Eu tenho padrões, sabe?

Ela riu de novo e, em seguida, espetou-o com o olhar.

¯ Vou apenas dizer se você jurar, primeiro, nunca dizer a outra alma, e segundo nunca, jamais, me chamar pelo meu nome completo em público.

Ele levantou a mão.

¯ Eu juro.

¯ Penelope Jane, ¯ ela murmurou.

¯ O quê? Eu não consegui ouvir.

¯ Penelope Jane! ¯ Ela disse mais alto.

O nariz dele enrugou-se.

¯ Sério?

Ela suspirou.

¯ Sim, é sério. Agora, talvez você veja o por que de eu usar minhas iniciais.

¯ Você não parece uma Penelope Jane.

Ele parecia genuinamente perplexo e estava estudando-a como se ela fosse uma estranha espécie de inseto ainda não descoberta.

¯ Com o que eu pareço então? ¯ Ela exigiu.

¯ Você parece com uma PJ.

Ela riu de novo.

¯ Bem, isso é bom, eu acho. Eu estou bem com a aparência de uma PJ.

¯ Penelope Jane Rutherford, — disse ele, como se estivesse testando o som na língua. ¯ Eu não sei, estou começando a gostar. Soa bonito.

¯ Não tenha ideias, Coletrane, ¯ ela resmungou.

¯ Não há Penelopes suficientes no mundo. Eu não conheço ninguém com esse nome.

Ela revirou os olhos.

¯ Aqueles bifes não estão prontos ainda? Estou morrendo de fome aqui.

Ele empurrou sua cadeira para trás e levantou a tampa da churrasqueira. Cutucou um em seguida, virou e virou novamente.

¯ Não. Precisa de cerca de cinco minutos. Eu sequer perguntei como você gosta de sua carne.

Ela engasgou e cobriu com uma tosse. Quando olhou para cima, ele estava dando a ela um olhar de impaciência.

¯ Pelo amor de Deus, ovelha de espírito sujo.

Ela riu e continuou rindo.

¯ Oh, vamos, Cole. Você tem que admitir, soou provocativo. Quer dizer, eu poderia ter dito que eu gosto da minha carne dura.

Ele suspirou e balançou a cabeça.

¯ Ao ponto é bom, ¯ disse ela com um sorriso. ¯ Eu gosto um pouco rosado, mas não sangrento.

¯ Eu vou pegar as batatas do forno e todos os acessórios para elas. Assim que eu voltar, vou tirar os bifes da grelha e podemos começar a comer.

¯ Incrível. Mal posso esperar. O cheiro está me matando!

Sozinha novamente por alguns momentos, PJ ficou maravilhada com a leveza que sentia. Era quase como se os últimos seis meses não tivessem acontecido. Como se ela e Cole estivessem juntos desde sempre. Só que desta vez era mais íntimo. Mais pessoal.

A única coisa que agradecia é que o caso deles de uma noite não deixou as coisas estranhas entre eles. E quem sabe, talvez tivesse em circunstâncias normais.

A aventura deles foi o início de uma série de eventos que, mesmo agora tinha dificuldade em acreditar. Daquela noite em diante, as coisas ficaram insanas, e ela nunca teria acreditado que estaria olhando para os últimos seis meses, lembrando o quanto seu mundo foi alterado.

¯ Como está a perna? ¯ Cole perguntou quando voltou com as batatas.

Ele jogou uma em seu prato e, em seguida, pousou a bandeja com a manteiga, o creme de leite e queijo para ficarem de fácil acesso.

Perna? Ela não pensou sobre a perna o tempo todo em que estavam conversando. Precisava se concentrar muito até mesmo para sentir o zumbido baixo de dor que estava sempre presente no fundo, abafado pela medicação que ele lhe deu.

¯ Estou bem, ¯ ela disse, com sinceridade. Estava melhor do que estivera em um tempo muito longo.

Ele se inclinou e beijou sua testa, surpreendendo-a com o gesto doce. Ela fechou os olhos e saboreou a sensação da boca em sua pele. O beijo foi cheio de calor e conforto. Duas coisas que ela precisava muito.

Ele se afastou e foi para a grelha. Um momento depois, distribuiu os bifes e voltou para a mesa. Colocou um rib eye[8] enorme no prato dela e depois serviu o próprio prato.

O cheiro era absolutamente divino. Sua boca encheu de água e já estava fazendo uma garra para o garfo e faca, não se incomodando com a batata imediatamente.

A primeira mordida a fez gemer de prazer. E também a fez perceber como estava com fome.

Ela atacou sua refeição. Não havia nenhuma outra palavra. Cortou-a como se estivesse com medo de que fosse brotar pernas e fugir.

Por longos minutos, comeram em silêncio e ela se concentrou unicamente na maravilhosa experiência de comer um pedaço delicioso de carne de primeira. Era o mais próximo de uma experiência religiosa que ela poderia experimentar.

¯ Eu perguntaria como o bife está, mas sua expressão diz tudo, ¯ Cole disse divertido.

¯ Mmmm ¯ foi tudo o que ela pôde expressar.

Continuaram a comer, e ela acabou abrandando quando começou a receber um sentimento de estufamento. Era bom, no entanto. Sabia que não tomou conta de si mesma direito ao longo dos últimos meses. Alguns dias ela não comia nada. Seu foco inteiro estava na vingança. Ela foi consumida, e em um grau que ainda estava.

¯ Você quer entrar e ir para a cama ou quer ficar por aqui e falar mais do passado? ¯ Ele perguntou enquanto empurrava o prato.

Ela estava cansada até os ossos, mesmo depois da soneca, mas não queria que a noite terminasse. Estava mais descontraída do que estivera em mais do que podia se lembrar. Certamente a medicação para a dor ajudou, mas estar aqui com Cole era um bálsamo para sua alma.

¯ Eu gosto daqui, ¯ disse ela. ¯ Está uma noite linda. Fresca, mas não muito fria. E os vaga-lumes estão nos dando um ótimo show. Posso ver o reflexo da água. Eu poderia sentar aqui para sempre e observar esse brilho.

¯ Eu podia observá-la observando-os para sempre, ¯ disse ele.

Ela sentiu seu olhar sobre ela e se virou apenas para que pudesse vê-lo em sua visão periférica. Seus olhos nunca a deixaram. Ele parecia contente em apenas observá-la.

¯ Então me conte sobre sua família ¯ disse ela. ¯ Você nunca menciona pais ou irmãos. Eu sei que Dolphin tem uma irmã. Ele a visita algumas vezes por ano. Ele odeia o pai. Cuida um pouco da mãe. Os pais de Baker são divorciados e ele não vê muito nenhum dos dois. Renshaw costuma ficar com os pais entre as missões, porque acha que não há nenhuma razão para comprar uma casa quando ele nunca está lá. Mas você e Steele nunca dizem qualquer coisa, não que Steele fechar a boca seja uma grande surpresa ¯ disse ela ironicamente.

¯ Olha quem está falando, ¯ ele apontou. ¯ Eu não sei nada sobre sua família. Ou seu passado, que não seja o que eu descobri recentemente sobre a SWAT.

¯ Okay, então você conta e eu contarei ¯ disse ela, levantando uma sobrancelha em desafio.

¯ Sério...? Você vai me contar todos os seus segredos?

¯ Oh meu Deus, ¯ ela murmurou. ¯ Eu sou a pessoa mais chata do planeta. Sou aborrecida em autodefesa, porque minha educação foi do lado estranho.

As sobrancelhas de Cole subiram.

¯ Okay, agora você me deixou curioso.

Ela sorriu docemente.

¯ Ah, não, você primeiro.

Ele balançou a cabeça.

¯ Não há muito a dizer, realmente. Meus pais foram mortos em um acidente de carro no meu último ano do ensino médio. Sou filho único, de forma que não há nenhum irmão na foto.

¯ Ai caramba ¯ disse ela suavemente. ¯ Isso deve ser um saco.

Por um momento, ela podia ver a tristeza persistente em seus olhos.

¯ Sim, é um saco. Ainda sinto falta deles. Eu tinha uma bolsa de estudos para jogar beisebol. Eu era um jogador estrela na escola. Levei nossa equipe para as finais e ganhamos o campeonato estadual no último ano. Uma semana antes de meus pais morrerem.

¯ Eu não tinha ideia de que você jogava beisebol ¯ disse ela, surpresa.

Ele deu de ombros.

¯ Depois que eles morreram, eu estava sem ocupação. Quer dizer, eu tipo, desmoronei. Não fui para a escola. Desisti da minha bolsa de estudos. Havia pessoas me dizendo que eu estava fodendo com minha vida e minha chance de jogar profissionalmente e não era o que os meus pais queriam. Tudo o que eu sabia era que as duas pessoas que eu mais amava no mundo foram embora e eu realmente não dava a mínima se eu não jogasse em uma equipe profissional. Por que eu o faria, quando eles nunca estariam lá para me ver?

¯ Sim, eu entendo, ¯ PJ disse.

¯ Então, eu sofri por um tempo. Senti pena de mim mesmo. Me perguntei o que diabos fazer com a minha vida. Acordei no meio da noite, uma noite e pensei, por que não entrar para a marinha? Não tenho ideia de por que escolhi esse ramo. Foi uma decisão de impulso total e fui ao recrutamento no dia seguinte antes que eu mudasse de ideia. Foi a melhor decisão que já tomei. Isso me fez ser quem e o que eu sou hoje. Estava apavorado ao entrar, mas uma vez que eu passei pelo treinamento de recrutas, tudo apenas se encaixou no lugar.

¯ Então por que você saiu?

¯ Boa pergunta. Honestamente, acho que é porque eu tinha alcançado uma meta e fiquei pensando o que vem depois? Eu era um SEAL. Eu consegui algo que muito poucos conseguiram, mas eu ainda me sentia inquieto. Foquei sabendo sobre a KGI através de um dos meus amigos e tocou diretamente nos meus interesses. Eu me encontrei com Sam e Garrett depois de renunciar a minha patente. O resto, como dizem, é história.

¯ Aposto que você só tinha problemas com autoridade e com o conjunto rígido com os quais viver, ¯ brincou ela.

Ele sorriu com tristeza.

¯ Admito, gosto de trabalhar para a KGI e para Steele. Eu já disse que eu sou um cara da área cinzenta. Não que não há muitas áreas cinzentas no militar, mas a KGI faz suas próprias regras. Eles escolhem suas missões. Quando você pertence ao Tio Sam, você faz o que mandam, concordando com ele ou não.

Ela assentiu com compreensão.

¯ Então, e você? Você nunca menciona a família.

Ela fez uma careta.

¯ Eu cresci em um ambiente muito religioso.

Ele recuou em falsa surpresa.

¯ Você? Religiosa? Com essa boca? Você deve ter sido a desgraça da existência de sua mãe.

¯ Ha há ha! Você é tão engraçado. Eu era uma criança muito doce e pacífica, quero que você saiba.

Ele tinha acabado de tomar um gole da bebida e bufou e depois engasgou quando tentou engolir sem cuspir.

¯ Aposto que você costumava atormentar os meninos e que ninguém mexia com você no parque infantil.

Ela suspirou.

¯ Eu era extremamente tímida. Era diferente das outras crianças. Não via televisão. Apenas livros. Usei vestidos até que era adolescente. Usar jeans na escola no meu primeiro ano foi o meu grande ato de rebeldia.

Ele olhou para ela em total confusão.

¯ Você está falando sério, não é?

Ela assentiu com a cabeça.

¯ Claro. Eu tive uma educação carismática. Cresci em um ambiente tipicamente santo. Nunca cortava meu cabelo. Não usava calças. Igreja muito patriarcal e vida doméstica.

Cole balançou a cabeça.

¯ Você mexeu com minha mente. Como diabos você foi disso, para onde está agora?

¯ Meu tio era um grande caçador e costumava me levar. Ele me vestia de camuflagem e eu me sentia uma valentona. Passávamos nosso tempo ajustando nossos rifles e eu achava natural. Ele incentivou minha pontaria. Minha mãe teve um ataque quando percebeu quanto tempo eu estava passando "brincando com instrumentos do diabo", como ela dizia.

¯ Uau, ¯ disse Cole. ¯ Eu perdi as palavras. Isso confunde a mente. Eu não teria imaginado o seu histórico em um milhão de anos.

PJ riu.

¯ Sim, a maioria das pessoas não imagina.

¯ Então o que aconteceu? Quero dizer, o que eles pensaram quando você se juntou à SWAT, e eles sabem o que você faz para a KGI?

Os lábios dela se abaixaram, e por um momento ela ficou em silêncio enquanto revivia a última vez que viu sua mãe.

¯ Nós uh... Não nos falamos.

Cole franziu a testa.

¯ Nunca?

¯ Não desde que deixei a escola. Ela lavou as mãos para mim. Disse que eu nunca seria nada. Que eu estava muito inclinada a uma vida de pecado. Meu irmão mais velho já era um pastor de sua própria igreja, e acho que eles pensavam que eu deveria ser como ele. A maneira que eu entendo é que eles rezam pelo mundo, e eu não faço isso.

¯ Então você seriamente não fala com eles? Acabou? Deste jeito?

A incredulidade em sua voz beirava a condenação e atingiu-a do jeito errado.

¯ Eu não poderia ser quem eles queriam que eu fosse, ¯ ela disse calmamente. ¯ E eles não estavam dispostos a aceitar qualquer outra coisa. Não foi minha escolha.

Cole fez uma careta.

¯ Eu sinto muito. Eu provavelmente soei todo julgador. É só que eu daria qualquer coisa para ter os meus pais de volta. Eu não posso imaginar não falar com eles ou vê-los.

¯ Não, está tudo bem. Estou sendo muito sensível. Acho que falar deles ainda é um assunto delicado para mim. Eu não tinha percebido o quanto.

¯ E seu pai? Quer dizer, tudo que você mencionou foi sobre sua mãe, e como ela se sentia.

PJ curvou os lábios em desgosto.

¯ Por esse sistema patriarcal na igreja e supostamente na casa, a minha mãe usava as calças e meu pai era um covarde que se esquivava de qualquer conflito. Ele não teria se levantado por mim ou qualquer outra pessoa contra a minha mãe. Ela governava o poleiro e era do seu jeito ou a porta da rua.

Cole balançou a cabeça.

¯ Isso é péssimo. Eu acho que entendo porque você tem essa atitude aceite ou saia. Não posso dizer que a culpo.

¯ Eu só parei de tentar ser alguém que não era para as pessoas que nunca ficariam satisfeitas com o resultado final, de qualquer maneira. Tentar agradar minha mãe era como tentar empurrar uma corda pelo buraco de uma agulha. Acho que o meu maior pecado foi ter nascido uma menina que preferiu fazer as coisas de menino. Ela só queria que eu ficasse bonita e me casasse jovem.

¯ Sorte para mim você ser tão rebelde, ¯ Cole disse com um sorriso. ¯ Seria uma droga se você fosse casada e tivesse meia dúzia de crianças ligadas a barra de seu avental.

Ela estremeceu.

¯ Obrigada por essa imagem.

Ele riu. Mas então sua expressão ficou séria.

¯ Eu gosto de você do jeito que você é, PJ. Não mude nunca. Você é uma mulher muito especial. Nunca pense que não é.

Calor viajou para o coração dela. Em sua alma, afastando as sombras antigas e permitindo o sol, depois de um inverno sem fim.

Ela olhou fixamente em seus olhos, absorvendo todo o aconchego que podia.

¯ Eu só quero dizer obrigada, Cole.

Ele inclinou a cabeça.

¯ Pelo quê?

¯ Tudo. Por ser você. Por ser tão paciente comigo. Por proteger minhas costas.

Seus olhos se suavizaram.

¯ Eu sempre a protegerei, PJ. Você nunca vai ter que procurar muito para encontrar-me.

 

PJ acordou cedo na manhã seguinte. Sua perna estava dura e ela mal podia movê-la para sair da cama sem que a dor insuportável percorresse sua coxa.

Flexionou e estendeu a perna, fazendo uma careta quando tentou soltar os músculos.

Sabendo que teria de tirar a roupa quando chegasse ao hospital, optou por usar moletom e uma camiseta, desta vez usando um sutiã esportivo.

Enquanto mancava para a cozinha, viu Cole na mesa bebendo uma xícara de café e lendo o jornal. Pareceu-lhe tão doméstica toda a cena. Tudo o que estava faltando era chegar até ele, beijá-lo e dizer bom dia.

Era assim para os casais? Uma existência confortável que beirava a chatice?

Cole olhou por cima do jornal e seus olhos aqueceram quando ele a viu.

¯ Bom dia, PJ. Como está a perna?

Sim, ela poderia totalmente vê-los cair neste tipo de rotina. Adorou que ele parecia feliz em vê-la. Isso poderia diminuir? Acabariam tomando um ao outro como garantidos? Perderiam a amizade fácil entre eles e começariam a discutir como um velho casal?

Estremeceu com o pensamento. Estava ficando muito à frente de si mesma. Eles tinham problemas demais para lidar antes que ela pudesse começar a pensar em compromisso a longo prazo.

¯ Estava muito dura quando me levantei, ¯ ela admitiu. ¯ Dói como o inferno, mas fiz alguns alongamentos, e se eu continuo me movendo, ela fica mais solta.

Ele franziu a testa.

¯ Sente-se. Vou pegar alguma coisa para você comer e então te darei um comprimido para dor. Partiremos assim que você comer. Acho que quanto mais rápido chegarmos lá, mais cedo poderemos sair e você não ficará presa o dia inteiro no hospital.

¯ Você me conhece tão bem ¯ disse ela com um sorriso.

Acomodou-se em uma cadeira e observou enquanto ele mexia além dela. Era uma sensação tão estranha. Ela e Derek estiveram juntos por dois anos completos e nunca desenvolveram o relacionamento fácil que ela e Cole tinham. E certamente não poderia imaginar Derek realmente fazendo as pequenas coisas que Cole fazia para ela.

O sexo era bom. Admitia isso para Derek, mas, no final, isso é tudo que foi a relação deles. Sexo. Sem nenhuma conexão emocional. Sem lealdade. Nada que ela não poderia ter começado com qualquer outro homem.

Sempre soube que Derek se sentia ameaçado por ela, mas ignorou o ressentimento, atribuindo-o por ser a única mulher em uma equipe dominada por homens. Ele nunca perdeu uma oportunidade de rebaixá-la algumas posições e foder com a sua confiança.

Com Cole e os outros homens de sua equipe havia apenas aceitação e valorização de suas habilidades com um rifle. Ela não sabia como as coisas realmente foram difíceis para ela em sua antiga equipe até que se juntou a KGI. Comparar os dois agora a fez se sentir estúpida por ficar com sua antiga equipe tanto tempo como ficou.

Ela tinha uma coisa boa aqui, e quase jogou tudo fora. Graças a Deus que eles não a abandonaram.

Seu coração apertou e a emoção fez um nó na garganta. Eles lutaram por ela e não a deixaram ir embora. Talvez nunca soubessem o quanto isso significava, especialmente em um momento em que ela mais precisava de apoio e alguém para ancorá-la.

Poucos minutos depois, Cole serviu-lhe ovos mexidos, bacon e torradas com suco de laranja. Colocou um comprimido ao lado de seu copo com instruções para tomar depois que tivesse comido. Então, acomodou-se em sua cadeira e observou enquanto ela comia.

¯ Não vai comer? ¯ Ela perguntou enquanto dava uma mordida.

¯ Eu já comi. Estava apenas mantendo a comida quente para você.

¯ Obrigada -- disse ela suavemente, percebendo que dissera isso muito ultimamente. Mas conseguiria realmente verbalizar totalmente o alcance de sua gratidão?

¯ Coma e vamos pegar a estrada. Sei que você provavelmente ainda sente muita dor, mas estava pensando que se você fizer todos os exames e tomar os medicamentos, à noite eu poderia levá-la para um encontro de namorados.

Ele hesitou e pareceu um pouco nervoso.

¯ Quer dizer, como em um encontro de verdade? ¯ Ela deixou escapar.

¯ Sim. Você sabe. Eu levá-la em algum lugar agradável para comer, ou tão bom quanto nós temos nesta área do bosque. Nós relaxaremos. Teremos uma boa conversa e então talvez eu receba um beijo de boa noite. Um desses encontros.

Ela sorriu e, então, sentiu seu sorriso crescer ainda mais até que seus dentes estavam piscando.

¯ Eu gostaria muito. Parece divertido.

Ele relaxou visivelmente. Seu alívio era tão tocante que ela desejava que estivesse mais perto, para que pudesse se aproximar e tocá-lo. Nunca se considerou uma pessoa carente, mas precisava... Dele. Precisava do conforto de sua amizade e da promessa de algo mais.

¯ Então vamos nos mexer para que possamos acabar com isso. Talvez depois do jantar, possamos alugar alguns filmes classe B e eu farei pipoca para nós.

¯ Filmes baratos de catástrofe! ¯ Ela exclamou.

Ele sorriu.

¯ Eu sabia que você era meu tipo de garota.

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Que coisa feia...

 

¯ Bem, estou contente de ver que alguém em sua equipe tem algum bom senso e a arrastou de volta, chutando e gritando, ¯ disse Cathy, a desaprovação acentuada em seus olhos.

PJ sentou-se lealmente e suportou um sermão de sua amiga enquanto ela cortava os pontos que Donovan fizera e depois limpou o ferimento.

¯ Eu fiquei muito chateada quando soube que você desertou e ninguém ouviu falar de você por seis meses, ¯ Cathy continuou. ¯ Se eu soubesse que você iria fazer algo tão idiota, nunca a teria ajudado a sair daqui da primeira vez.

¯ Você não deveria ter ajudado de jeito nenhum, ¯ disse Cole, um rosnado baixo em sua voz.

Cathy enviou-lhe um olhar por cima do ombro e fungou com desdém.

¯ As mulheres têm que ficar unidas. Você não poderia entender o código das “amigas”. Um bom amigo vai salvá-lo quando você acaba na prisão, mas um grande amigo vai estar sentado ao seu lado na cela de cadeia.

¯ Como é que isso faz algum sentido? ¯ Cole perguntou, claramente perplexo.

PJ riu.

¯ O que ela quer dizer é que ajudar uma amiga nem sempre pode fazer sentido, mas fazemos assim mesmo, porque é isso que as amigas fazem.

¯ Não é de se admirar que os homens não tenham ideia do que se passa na mente de uma mulher. ¯ Ele resmungou.

Cathy revirou os olhos.

¯ Estupidez é a descrição exata dos homens em geral. Além disso, por mais que eu não goste, PJ fez o que tinha que fazer na época.

Ela olhou e encontrou o olhar de PJ.

¯ Isso não significa que você precisa sair assim de novo.

¯ Sim, senhora, ¯ PJ disse humildemente. ¯ Minha equipe me fez ver o erro no meu jeito de agir.

¯ Bons homens. Sempre agi como eles.

¯ O que? Você acabou de dizer que somos todos um bando de idiotas sem noção, ¯ Cole estalou.

Cathy sorriu.

¯ Você não consegue entender.

Cole balançou a cabeça enquanto Cathy dava o última ponto. Em seguida, virou-se para frente, olhando para a perna de PJ sobre o ombro de Cathy.

¯ Como está?

¯ Donovan fez um bom trabalho, ¯ disse Cathy. ¯ O ferimento está limpo e livre de infecção. Eu ainda gostaria de mandá-la para casa com uma prescrição de antibióticos, caso sejam necessários. Se ela perceber alguma vermelhidão ou inchaço ao redor do ferimento, precisa começar a tomá-los imediatamente. Se tiver febre, se sentir mal ou simplesmente se sentir fora de qualquer forma, você precisa trazê-la de volta para que possamos verificar. Donovan fez um trabalho adequado de sutura, mas eu queria chegar lá e ver por mim mesma com o que estamos lidando.

¯ De quanto tempo de recuperação estamos considerando? ¯ Cole perguntou.

Cathy virou-se para Cole.

¯ Bem, se ela relaxar e fica sem apoiar os pés e não tentar fazer muito em pouco tempo, eu diria que algumas semanas. Mas boa sorte a ela para fazer exatamente isso.

Cole bufou.

¯ Fale-me sobre isso.

¯ Ei, pessoal? ¯ PJ interrompeu. ¯ Olá? Estou sentada aqui. Parem de falar sobre mim como se eu não estivesse presente.

Cathy deu um olhar de desprezo.

¯ Eu sei que não devia dizer tudo isso sem testemunhas. Você só ouve o que quer ouvir e ignora o resto. Pelo menos agora Cole vai saber o que você deve fazer e certificar-se que o fará.

¯ Às vezes, amigos podem ser uma dor na bunda, ¯ PJ disse irritada.

Cathy sorriu.

¯ Isso é o que os amigos fazem, doçura.

PJ sorriu para ela.

¯ Obrigada, Cathy. Agradeço por tudo.

¯ Apenas se concentre em melhorar. Esse é o melhor agradecimento que você pode me dar. ¯ Sua expressão ficou séria e ela colocou a mão no braço de PJ, apertando levemente. ¯ Eu me preocupo com você, PJ.

¯ Você não tem que se preocupar mais com ela, ¯ Cole disse com firmeza. ¯ Eu tenho a intenção de me certificar que ela descansará e fará o que foi sugerido.

Cathy arregalou os olhos e depois um largo sorriso dividiu seus lábios.

¯ Bom, tudo bem, então. Parece que PJ encontrou seu companheiro.

Cole cortou um olhar em sua direção, os olhos azuis brilhando com promessas.

¯ Ah, sim, definitivamente.

Cathy deu um passo atrás, examinando PJ com aparente satisfação. Então, apertou os lábios e disse:

¯ Eu ia dar-lhe um par de muletas, mas algo me diz que você não vai usá-las.

PJ torceu o nariz em desgosto.

¯ Não. Você está certa. Eu não usaria. Eu manco muito bem. Um pouco de dor não vai me matar.

Cathy encolheu os ombros.

¯ Mulher cabeça-dura. Okay, então, acabei com você. Vou devolvê-la para Cole então você pode ser uma dor na bunda dele, em vez de na minha.

PJ riu e então deslizou cautelosamente para fora da cama. Segurou-se na beirada por um longo momento antes de empurrar para ficar de pé sozinha.

Cole pairou em seu cotovelo, a testa enrugada com preocupação. Mas ele não fez um barulho ou uma cena na frente de Cathy, o que ela totalmente apreciou.

Ele permaneceu solidamente ao seu lado enquanto manobrava seu caminho para fora da sala de exames e para o corredor.

¯ Você está bem? ¯ Ele perguntou calmamente quando chegaram do lado de fora do hospital.

Ela assentiu com a cabeça.

¯ Sim. Dói como nunca, mas eu posso lidar.

Ele a ajudou a entrar no banco do passageiro da caminhonete e, em seguida, estendeu a mão para prender uma garrafa de água no console central. Ainda de pé, abriu o porta-luvas e pegou o recipiente que continha a medicação para dor.

¯ Aqui, vá em frente e pegue outra pílula, assim você fica à frente da dor. E se aceitar a proposta desta noite, podemos voltar para a casa para que possa tirar um cochilo no sofá.

Ela colocou a mão sobre a dele e ele ficou completamente imóvel. Ela podia sentir o hitch engate em sua respiração enquanto ela passava por seus lábios.

¯ Eu quero ir, Cole. Eu vou tomar a pílula e vou ficar bem. Eu ansiosa pelo nosso... Encontro.

Ele tocou os nós dos dedos no rosto dela e roçou a curva de sua bochecha. Então simplesmente se inclinou e beijou sua testa.

¯ Assim como eu.

 

¯ Oh meu Deus, estou estufada, ¯ PJ gemeu enquanto empurrava o prato para longe. ¯ Isso estava estupidamente bom.

Cole a levou a um pequeno restaurante despretensioso que se assemelhava a um barraco a 20 minutos de sua casa. Serviam uma variedade de comida estilo country, mas os frutos do mar eram fora deste mundo.

Ela pediu o prato de frutos do mar e comeu quase tudo.

¯ Eu praticamente moro aqui quando estou em casa, ¯ disse Cole. ¯ Não é que eu não saiba cozinhar, mas a comida é excelente e os preços são razoáveis. Não faz sentido cozinhar quando posso vir aqui.

¯ Se eu tivesse um lugar como este para comer, eu nunca iria cozinhar, ¯ disse ela.

¯ Fico feliz que tenha gostado. Você precisa de mais algumas refeições como esta. ¯ Seu tom ficou sério. ¯ Você perdeu muito peso nos últimos seis meses, PJ. Peso que não pode se dar ao luxo de perder. Você poderia ganhar mais alguns quilos.

Se ele não parecesse tão genuinamente preocupado, o seu comentário a irritaria muito. Mas era óbvio que ele estava preocupado, e ela não podia culpá-lo por isso. Ela tivera muito a dizer quando ele estava convalescendo após tomar um tiro. Era a sua vez de se calar e aceitar.

A garçonete se aproximou e PJ sentou-se com um suspiro de satisfação, enquanto Cole resolvia a conta. Até agora, essa coisa de namoro estava... Boa. Tiveram uma ótima refeição e uma conversa casual. Foi divertido, e quando foi a última vez que ela poderia dizer que se divertiu?

Nos últimos meses, nada foi divertido.

Na verdade as únicas ocasiões divertidas que ela podia recordar eram os tempos que passou com Cole e a equipe. Era com eles que ela se sentia a vontade.

¯ Está pronta? ¯ Cole perguntou, sacudindo-a de seus pensamentos.

Ela empurrou a cadeira para trás e apoiou as mãos na mesa, mantendo a maior parte do peso nas mãos até que ficou de pé.

Quando se virou para a porta, Cole deslizou o braço em volta de sua cintura, puxando-a para o abrigo de seu corpo. Ela se encaixava perfeitamente embaixo do braço dele, a cabeça exatamente nivelada com o ombro.

Sem pensar duas vezes, colocou o braço ao redor dele também enquanto mancava em direção à saída.

Havia um frio no ar hoje à noite, que estivera ausente na noite anterior. A primavera ainda estava decidindo se estava aqui para ficar e o inverno estava lutando uma batalha perdida.

Estremeceu levemente enquanto o vento aumentava, e Cole esfregou a mão para cima e para baixo no braço para aquecê-la.

¯ Vou acender a lareira quando voltarmos para a casa, se quiser. Podemos chutar nossos sapatos, entrar em algumas roupas confortáveis e nos esticar no sofá para assistir filmes.

¯ Humm, isso soa bem.

Parecia... Romântico. Uma noite agradável no sofá em casa assistindo filmes. Era algo que ela teria feito como adolescente, e agora, batendo à porta dos 30, estava tão entusiasmada quanto costumava ser quando era adolescente.

¯ Ei, quantos anos você tem, Coletrane? ¯ Ela deixou escapar.

Ele parou no processo de abertura da porta da caminhonete para ela e a olhou com uma sobrancelha levantada.

¯ Trinta e dois. Por quê?

Ela encolheu os ombros.

¯ Nenhuma razão. Eu só percebi que nunca soube quantos anos você tinha.

¯ E ocorreu-lhe que você tinha que saber justo neste momento? ¯ Perguntou ele com uma risada.

Ele abriu a porta e esperou que ela deslizasse no assento. Então, deu a volta para entrar do seu lado.

¯ Bem, sim ¯ disse quando ele saiu do estacionamento. ¯ Seria estranho se você fosse mais jovem do que eu.

Ele olhou de lado para ela.

¯ Por que diabos seria estranho? E eu sou mais novo que você?

¯ Não. Eu vou fazer 30 este ano. E eu não sei por que. Eu sempre assumi que era mais velho.

Ele balançou a cabeça.

¯ Você tem algumas ideias estranhas, PJ. Idade é irrelevante. Se você fosse mais velha ou mais nova do que eu isso não iria mudar o que sinto por você. Espero muito que isso não afete a forma como você se sente por mim.

A última coisa que ela queria era causar conflito entre eles.

¯ Honestamente, eu estava apenas curiosa. Não é grande coisa.

Ela apoiou o cotovelo no console, e ele estendeu a mão, deslizando os dedos pelo braço até que alcançou a dela. Então simplesmente pegou-a, fechou os dedos em torno dela e descansou suas mãos unidas entre eles.

Por um longo momento, ela simplesmente olhou para a mão envolvida sobre a dela. Calor espalhava-se do braço e no peito. Era a coisa mais simples do mundo. Na idade dela, não deveria enviar uma vibração estranha através de seu peito ou fazê-la se sentir como uma adolescente sem fôlego em seu primeiro encontro.

Mas ele tinha esse efeito sobre ela. Sentia-se como se estivesse sendo cortejada. Deus, que palavra boba e antiquada, mas era tão apropriada. Cole parecia ter uma alma velha quando se tratava de relacionamentos, e ela pensou que era bonitinho.

Os homens com quem costumava sair renunciavam à fase de namoro e iam direto para a braguilha de sua calça jeans. Não havia nada lento ou paciente em seus métodos. Era geralmente uma questão de: quer transar ou não?

Claramente, ela estava saindo com os caras errados.

¯ Você está quieta, ¯ disse ele.

Ela riu.

¯ Eu só estava pensando que eu tenho andado com os caras errados.

¯ Ah? Diga. O que motivou essa declaração divina?

¯ Os caras com quem eu estava no passado eram desprezíveis. Não consigo pensar em um único que já segurou a minha mão, me ofereceu medicação para dor, preparou-me almoço ou quisesse assistir filmes baratos de desastres no sofá.

¯ Terrível ¯ disse ele em choque divertido.

¯ Eu sei, não é?

Ele pegou a mão dela e beijou-a.

¯ Estou feliz que você viu o erro de seus caminhos.

Ela sorriu e recostou-se contra o encosto de cabeça. Porra, ela poderia realmente se apaixonar por esse cara. Seu companheiro de equipe. Alguém com que ela não tinha nada que entrar em um relacionamento. Poderia foder com todos os tipos de coisas. Ou podia acabar sendo o início de algo verdadeiramente maravilhoso.

Oh, ter uma bola de cristal.

Estava completamente escuro quando ele parou na garagem. A luz da varanda brilhava calorosamente, iluminando a sensação acolhedora da casa.

Bem-vindos ao lar, parecia dizer.

Cole desligou o motor e saltou, correndo para o lado dela quando ela abriu a porta. Ele chegou para tomar-lhe a mão e ajudá-la a sair.

Ainda segurando sua mão, ele fechou a porta e, em seguida, dirigiu-se para a varanda, igualando seu passo com o dela, desajeitado e lento. Ela se inclinou sobre ele um pouco mais forte quando seus passos oscilaram, mas ficou satisfeito com o progresso que estava fazendo.

Ele acendeu as luzes quando entraram na casa, e a levou para o sofá primeiro, insistindo que ela se sentasse. Levantou cada pé e deslizou seus tênis, jogando-os ao lado. Em seguida, arrastou o puff da posição na frente da poltrona para o sofá para que ela pudesse sustentar a perna para cima.

¯ Bem-confortável? ¯ Ele perguntou.

¯ Eu não poderia estar mais confortável, ¯ respondeu ela.

¯ Eu só vou pegar alguma coisa para beber e jogar um saco de pipoca no micro-ondas e depois vamos pôr em marcha os filmes de fim de mundo.

¯ Incrível.

Ela olhou quando ele saiu e continuou olhando, enquanto ele desaparecia de vista. Estava se apaixonando tanto por ele que estava inundada nas sensações vertiginosas de um novo relacionamento. Quando tudo era novo e fresco e cada pequena coisa era emocionante. Quando cada toque era uma emoção e você saboreava até mesmo um breve contato.

Eles já tiveram relações sexuais, pelo amor de Deus, mas isso era completamente diferente. Era como se aquela noite que compartilharam fosse há muito tempo atrás e apagada da equação. Estavam começando de novo, como se tivessem acabado de se conhecer, apenas a facilidade com que eles se davam sugeria uma amizade de longa data que estava explorando um novo território.

Ele voltou cinco minutos depois com uma tigela de pipoca e duas latas de cola. Entregou-lhe uma bebida e as pipocas, e depois foi até a televisão pegar o controle remoto.

Enquanto se acomodava no sofá ao lado dela, ligou a TV e começou a navegar pelo menu de filmes que poderiam assistir.

¯ Então, o que vai ser? O mundo tomado por alienígenas ou o mundo engolido por um tsunami gigante?

¯ Definitivamente os alienígenas. Não podem matar um tsunami. O filme de alienígenas terá muita violência gratuita.

¯ Excelente escolha. Alienígenas então.

Ele se inclinou para trás, colocando o braço sobre a cabeça e depois para baixo ao redor dos ombros dela. Puxou-a para perto, e ela estava feliz por se aninhar ao seu lado. A pipoca estava apoiada em seu colo de fácil acesso, e ela mastigava à toa enquanto o filme começava.

¯ Você percebe como isso é irreal? ¯ PJ disse, depois de uma hora de filme.

¯ Eu nunca teria imaginado, ¯ Cole disse secamente.

¯ Bem, vamos lá. Coloque a KGI contra os alienígenas. Nós acabaríamos com eles em dois segundos. Estes alienígenas sequer são assustadores. Por que continuam lutando contra eles mano a mano? Basta jogar uma granada de merda e eliminar um monte deles.

Cole riu.

¯ Você tem razão, mas então não haveria ação, nem conflito, e muito menos filme.

¯ Falando do quanto os filmes de alienígenas são irreais, lembra-se do filme do Mel Gibson com os alienígenas[9] e há toda esta tensão e polêmica sobre a invasão alienígena, e ele e seus filhos sobrevivem a noite e, em seguida, eles ouvem no rádio no dia seguinte que alguma tribo na África descobriu uma maneira de matá-los e tudo acabou? Fale sobre decepção total.

¯ Bem, se me lembro bem, os alienígenas não eram realmente o ponto do filme, ¯ disse Cole.

¯ Sim, bem, deveriam ter sido. Era mais interessante do que o momento encontrei Jesus que o cara supostamente teve.

Cole riu e balançou a cabeça.

¯ Eu não quero ter que pensar durante um filme, ¯ PJ disse. ¯ Eu só quero violência descerebrada e muita ação extravagante.

¯ Você está tentando me dizer que o seu QI não está colocando o mundo em chamas?

Ela lhe deu uma cotovelada no estômago e ele soltou um grito. Passou os braços em volta dela, prendendo-a contra seu corpo, e então sorriu triunfante para ela.

¯ Se eu não tivesse uma lesão, eu iria chutar muito o seu traseiro agora, Coletrane.

¯ Sim, sim, toda late e não morde.

Sua boca pairou precariamente perto dela, tão perto que ela podia sentir o calor de sua respiração sobre os lábios. Ela olhou para cima, encontrando seu olhar, se perguntando se ele estava pensando a mesma coisa que ela.

¯ Vou te beijar, PJ.

Evidentemente ele estava.

¯ Eu estava esperando que você beijasse, ¯ ela sussurrou.

Sua boca cobriu a dela, quente e doce. Ele relaxou seu controle sobre os braços e deslizou uma mão ao rosto para tocá-lo enquanto aprofundava o beijo.

Sua língua mergulhou sobre a dela, salgada da pipoca, com uma pitada de manteiga e a doçura da cola. Seus dedos afundaram no cabelo dela, na parte traseira da cabeça e, em seguida, até a nuca.

¯ Faça amor comigo, Cole.

Ele se afastou surpreso, seus olhos se estreitando com preocupação.

¯ Eu não quero pressioná-la, PJ. Provavelmente seria melhor se esperarmos até que você esteja pronta.

¯ Estou pronta ¯ disse ela, mergulhando à frente de forma imprudente. ¯ Eu quero isso. Eu quero você.

Ele a olhou por um longo momento, como se não pudesse fazê-la mudar de ideia. Ela puxou-o em outro longo beijo, desta vez tendo certeza de que ela era a agressora.

Quando ele se separou desta vez, sua respiração veio em rajadas irregulares. Seu peito arfava e ficou claro que ele estava lutando contra a vontade de capitular.

¯ Lembro-me perfeitamente de você dizer que iria me levar para casa e me fazer sentir melhor ¯ disse ela.

¯ Cristo, PJ. Você tem certeza? Isso é muito importante. Não quero estragar tudo.

Ela acariciou a mão sobre a mandíbula dele.

¯ Por favor.

Foi o, por favor, que pareceu funcionar. Ele levantou-se do sofá e depois estendeu a mão, deslizando os braços debaixo dela, e arrancou-a das almofadas.

Caminhou em direção ao quarto e empurrou a porta para abri-la com os ombros.

¯ Acenda a luz, ¯ ele instruiu.

Ela bateu a mão ao longo da parede até encontrar o interruptor e, em seguida, virou-o, inundando o quarto com luz. Ele a levou para a cama e pousou-a delicadamente.

¯ Temos que ter cuidado ¯ disse ele. ¯ Eu não quero machucar sua perna. Deixe-me tirar as calças, primeiro.

Sua perna era a última coisa em que ela estava pensando. Ela queria que ele se aproximasse. Queria substituir a memória de Nelson e Brumley com a de Cole. Apenas Cole. Ele afastaria seus demônios. Ela tinha certeza disso.

Ele cuidadosamente desceu seu agasalho sobre os quadris e as pernas, tomando cuidado para não esbarrar em seu ferimento. Seus dedos roçaram a pele, ateando fogo a seus sentidos. Mil arrepios dançavam sobre suas coxas e diafragma quando ele deixou as mãos deslizarem para trás até suas pernas nuas e depois sob a camiseta.

Ele se colocou por cima, descobrindo mais dela, e ela levantou os braços sobre a cabeça, um sinal de que estava tudo bem para ele tirar a camisa também.

Agora, deixada apenas de sutiã e calcinha, ela estremeceu enquanto sombras espreitavam sua mente. Ela forçou sua atenção para Cole, recusando-se a permitir que nada estragasse esse momento. Mas, mesmo assim, um frio caiu sobre ela.

Suas cicatrizes estavam lá para ele ver, e ainda estavam com aparência crua. Feias. Marcas colocadas lá por outros homens.

¯ Diga-me o que você quer, PJ. Você está no comando aqui. Diga-me como agradá-la.

¯ Estou com frio, ¯ sussurrou. ¯ Aqueça-me, Cole. Por favor, leve embora o frio.

Ele tirou a roupa e cuidadosamente abaixou seu corpo ao dela. Acariciou seus cabelos e afastou-os do rosto e a beijou, longa e vagarosamente.

Ele se afastou de sua boca e pressionou uma linha suave com os lábios para baixo por sua mandíbula e na pele sensível abaixo da orelha. Mais carinhos surgiram, mas desta vez ela não sentiu o mesmo frio que antes.

Seu calor sangrou dentro dela, acalmando seus medos e dando-lhe um profundo conforto na alma.

Segurando-a com força contra ele, ele rolou para que ficassem deitados de lado. Sua mão alisou o braço dela por todo o caminho até a ponta dos dedos e depois no quadril antes de lentamente deslizar para cima novamente, desta vez indo embaixo do braço, sobre a curva da cintura e seios.

Seu ritmo era lento e preguiçoso, como se tivesse todo o tempo do mundo. Parecia determinado a não apressá-la, e ela percebeu pela primeira vez como o estupro deveria ter sido duro para ele também.

Mesmo agora, apesar do ritmo lento que ele definiu, sua mandíbula estava apertada, e ela conseguia perceber que era difícil para ele ir lentamente e ser tão paciente. Nesse momento, ela se apaixonou ainda mais pelo homem pelo qual já estava praticamente completamente apaixonada.

¯ Beije-me, ¯ ela sussurrou. ¯ Faça amor comigo.

Ele gemia baixinho enquanto seus lábios se fundiam aos dela. Suas línguas se encontraram e emaranharam. Quente e úmidas. Ofegantes e necessitadas.

Sua mão se moveu para baixo, entre as pernas dela, deslizando através de sua umidade, provocando e acariciando em movimentos suaves.

¯ Temos toda a noite, querida, ¯ ele murmurou. ¯ Não vamos nos apressar. Eu quero ter certeza de que você está comigo em cada passo do caminho.

Ela suspirou e se aconchegou mais perto dele, querendo e precisando do contato pele a pele. Sua perna protestou furiosamente quando a deslizou sobre a dele, mas ela não se importava. Nada iria estragar esse momento para ela.

Ele atingiu seu objetivo tocando cada centímetro de sua pele. Nenhuma parte de seu corpo ficou intacta. Ele lambeu e beijou o caminho da ponta dos dedos até as pálpebras. Deu atenção extra para os seios, provocando e brincando com os mamilos, até que estavam forçando para cima, implorando por mais.

Mas foi quando ele traçou as linhas de cada uma de suas cicatrizes e depois seguiu o caminho que os dedos fizeram com a boca, docemente beijando cada centímetro enrugado dos ferimentos, que o seu coração se apertou e ela achou difícil respirar.

Ele estava dizendo a ela sem palavras que suas cicatrizes não significavam nada para ele. Ele não iria afastar-se delas. Não recuaria sobre sua feiura. Estava assegurando-a de que não havia dúvida em sua mente de que ele aceitava cada parte dela.

Deus, ela queria chorar. Queria soltar a dor que se prolongara por tanto tempo. Sentia-se segura com Cole. Seu porto. Seu abrigo. A única pessoa para quem poderia voltar e ele nunca pensaria que ela estava fraca.

As mãos dele deslizavam calorosamente sobre seu corpo. Seus dedos acariciaram e sua boca fez amor com ela de uma forma toda própria.

Ela estava sem sentido com a necessidade, e o prazer que corria em suas veias. Mais potente do que a mais forte das drogas.

Estava em uma névoa, seus arredores turvos. Sentiu as pernas sendo separadas, sentiu a pontada de dor quando a perna machucada protestou contra o movimento. Em seguida, um corpo duro cobriu o dela e estilhaçou pânico através de sua consciência, trazendo um fim abrupto a cada sensação de prazer na qual estivera totalmente imersa.

Reagiu às cegas, desesperada para se defender. Nunca permitiria que alguém a machucasse assim novamente. Um soluço escapou, alto, como um trovão em seus ouvidos. Lutou desesperadamente, a dor pulsante em sua perna até que ela gritou.

Rolou, tentando fugir, e caiu no chão, o cobertor da cama enrolado ao redor de seus pés. Quase desmaiou de dor após cair sobre a perna lesionada. Ou talvez tivesse desmaiado.

Era como se ela fosse duas pessoas completamente diferentes. Aquela que abraçava a ideia de fazer amor com Cole como se nada tivesse acontecido com ela, uma enraizada solidamente em negação, e a outra? Ainda presa no sofá, em Viena, impotente contra os efeitos da droga, enquanto dois homens estupravam seu corpo e mente.

E no momento quem venceu a batalha de autopreservação foi a vítima, aterrorizada e brutalizada, que ela tentou tão duramente esquecer que existia dentro de si durante os últimos seis meses.

Quando parte do pânico esmagador se dissipou e ela se tornou consciente de seu entorno, mais uma vez, estava sentada no chão, os braços protetoramente ao redor do corpo enquanto balançava para frente e para trás. Lágrimas escorriam por seu rosto e estava impotente para detê-las.

Oh Deus. O que ela fez?

Um cobertor caiu sobre seus ombros e foi puxado firmemente em torno dela até que estava coberta. Eventualmente, parte do tremor terrível cessou e o calor começou a sangrar de volta ao seu corpo.

Ela foi levantada, embalada contra um peito duro e, em seguida, colocada à beira da cama, aquele cobertor ainda bem embrulhado em torno dela.

¯ PJ. PJ, baby, está tudo certo. Você está segura. Ninguém pode feri-la aqui. Sou eu, Cole. Okay? Abra os olhos. Olhe para mim, querida. Olhe para mim, para que eu saiba que você está bem.

Ela piscou e, em seguida, tentou se concentrar no rosto dele. Ele estava ajoelhado na frente dela, e ela mal podia distinguir seus traços entre as lágrimas nublando sua visão.

¯ Sinto muito, ¯ ela sussurrou.

¯ Oh, Deus. Não se desculpe, querida. Nunca.

Moveu-se para se sentar ao lado dela na cama e puxou-a em seus braços. Ela se enterrou firmemente contra ele, buscando mais do seu calor. Apertou o rosto em seu pescoço e fechou os olhos. Ela queria morrer. Ficou horrorizada com o que aconteceu. Não tinha certeza do que tinha acontecido. Num minuto estava envolvida na beleza de seu amor e no outro estava tão cheia de pânico que ficou completamente apavorada.

Agarrou-se a ele, humilhada pelas lágrimas que não tinham fim. Estava tremendo dos pés à cabeça, e a memória daquela noite era tão vibrante em sua mente que nenhum desejo faria ir embora. Ainda podia sentir o cheiro de seu próprio sangue, se lembrar de como o sentiu, liso e pegajoso contra ela. Começou a soluçar, e Cole a segurou mais apertado.

¯ Respire fundo, PJ. Entrar e sair. Devagar. Vamos! Respire comigo.

Ele a afastou, para que fosse forçada a olhar para ele, e a olhava fixamente, imitando o gesto de inspirar e expirar, que ele queria que ela fizesse.

¯ Diga-me se quiser vomitar. Eu a levarei ao banheiro.

Ela balançou a cabeça cegamente, determinada a não perder mais controle do que já perdera.

Aos poucos, sua pulsação desacelerou e a respiração firmou. O tremor parou e o pânico diminuiu. As imagens desbotaram para as sombras e o cheiro de sangue a deixou.

Mas as lágrimas continuavam a cair, escorregando sobre seu rosto enquanto olhava entorpecida para Cole.

¯ Sinto muito ¯ disse novamente. Porque o que mais restava a dizer? Que cara queria ter o sexo interrompido por um grande colapso e depois ter de perguntar à mulher se ela queria vomitar?

E Deus, foi ela quem provocou! Ele queria esperar. Ele não achava que ela estava pronta. Ele queria levar as coisas devagar. Ela estivera tão certa. Mas era apenas mais de sua recusa em aceitar o que lhe foi feito. Se não pensasse sobre isso, então não existiria. Só que agora, o passado voltou a mordê-la na bunda de uma forma importante.

¯ Sinto muito, ¯ ela sussurrou. ¯ Sinto muito por estragar tudo.

Ele parecia furioso, e balançou a cabeça enfaticamente.

¯ Você não vai se desculpar por isso. Sou eu quem deve pedir desculpas. Eu sabia que você não estava pronta e eu deveria ter colocado um fim a isso. Eu sou um completo idiota, por sequer contemplar fazer amor com você, logo após o que aconteceu.

Ela balançou a cabeça com a mesma ênfase.

¯ Não. Eu pensei que eu estava pronta. Quer dizer, eu estava. Então, não sei o que aconteceu. Eu queria, Cole. Eu não estava com medo. Eu estava lá com você e então bum, pânico do nada. Oh meu Deus, o pânico era paralisante e tudo que eu podia ver era neles e até mesmo senti o cheiro do meu sangue. Eu senti. Pegajoso e molhado na minha pele. A mesma sensação de quando ele o espalhou em cima de mim com o próprio corpo.

Ela estremeceu e recuou fisicamente das imagens que descreveu.

Os olhos de Cole eram assassinos e sua mandíbula estava tão apertada que inchou.

Seu primeiro instinto foi de fugir, e ela lutou com todas as suas forças. Obrigou-se a sentar lá e enfrentar Cole. Ela tinha que fazer isso. Tinha que enfrentar a situação. Ela não iria embora, não importa o quanto desejasse.

¯ Não me deixe fugir disto, ¯ falou. ¯ É o que eu faço. Eu fujo quando as coisas ficam difíceis. Fugi da minha antiga equipe e da situação lá. Fugi da realidade do que aconteceu comigo, em Viena. Fugi de você e da minha equipe porque eu não podia lidar com o que aconteceu. Não me deixe fugir, ¯ ela implorou.

Ele acariciou seus cabelos com a mão e gentilmente beijou o topo de sua cabeça.

¯ Se você fugir, eu vou atrás de você e a trarei de volta para mim.

Ela soltou outro soluço silencioso, quase engasgando com ele, em um esforço para evitar que escapasse.

¯ Por que você ainda quer se envolver comigo? ¯ Ela perguntou. ¯ Eu sou uma bagunça completa. Não estou com a cabeça no lugar. Sou mestre em foder tudo o que há de bom na minha vida.

¯ Mas você é minha bagunça, ¯ Cole disse calmamente. ¯ Eu não preciso que você seja perfeita. Eu só preciso que você seja você, porque isso é o que me interessa.

Ela estendeu a mão para ele, abraçando-o com força. Ele a abraçou com a mesma intensidade, seus braços como aço ao redor do corpo dela.

¯ Vai ficar tudo bem, PJ, ¯ ele sussurrou em seu ouvido. ¯ Eu não vou a lugar nenhum e vamos passar por isso. Juntos.

Ela fechou os olhos, saboreando a promessa. Era a única coisa tangível para se segurar quando tantas outras coisas estavam mergulhadas na escuridão. Não podia confiar em si mesma. Não podia confiar em seu estado de espírito. Mas ela podia confiar em Cole. Ele não iria deixá-la partir.

 

Cole andava pela cozinha, perguntando-se pela centésima vez se cometeu um erro enorme. Não tinha certeza de como PJ lidaria com isso. Foi presunçoso da parte dele forçar e seguir com a ideia, e agora estava com sérias dúvidas. A última coisa que queria era chatear PJ e fazer com que ela se recolhesse e fugisse como dissera muitas vezes que fazia.

Soltou um suspiro enorme e passou a mão pelo cabelo de corte curto. Porra, mas ele estragou tudo na noite passada. Sabia muito bem que não deveria fazer um movimento desse, logo após o estupro dela.

E o fato de que ela parecia estar lidando com isso tão bem deveria ter sido um sinal de alerta muito grande. Ela estava em negação desde a noite em que aqueles bastardos a machucaram. Ela empurrou tudo para trás, recusando-se a enfrentar porque é o que ela tinha que fazer, a fim de lidar com isso. Ela focou toda a sua energia na vingança.

Ele se sentia como um bastardo total. Ela despedaçou completamente. Ele acabou segurando-a até que ela adormeceu, e se assegurou de acordar antes dela para que ela não sentisse qualquer constrangimento quando acordasse.

Ele se irritou que ela realmente achava que tinha de pedir desculpas a ele. Desculpar-se, pelo amor de Cristo. Ele estava tão enojado consigo mesmo.

Para afastar sua mente do telefonema que ele deu apenas momentos antes, se ocupou em fazer o café da manhã. Levaria o café da manhã dela na cama e se asseguraria de que não havia constrangimento entre eles ou que, Deus me livre, ela tentasse se desculpar novamente.

Colocou as panquecas no prato, tirou a panela de bacon do queimador e, em seguida, colocou os pedaços em um pires. Depois de pegar o frasco de suco da despensa, arranjou tudo em uma bandeja de café da manhã e foi para o quarto.

Ela ainda estava dormindo quando ele entrou no quarto. A satisfação de vê-la dormindo em sua cama, com a cabeça em seu travesseiro, era esmagadora.

Ela parecia pertencer ali. Pertencer a ele.

Havia sombras profundas sob os olhos dela, como se não tivesse descansado bem na noite anterior. Elas a faziam parecer muito mais frágil do que ele sabia que ela era. Ou talvez ele tivesse cometido um erro, assumindo que ela era muito mais forte do que era.

Abaixou-se à beira da cama, bandeja no colo, e suavemente chamou seu nome.

¯ PJ, acorde, baby. Eu trouxe o café da manhã para você.

Ela se mexeu e murmurou algo em seu sono.

¯ PJ, acorde ¯ ele disse novamente.

Suas pálpebras tremularam, revelando olhos verdes enevoados. Ela parecia confusa, como se estivesse tentando reunir seus pensamentos. Ele soube o momento em que ela se lembrou de tudo o que aconteceu. Seus lábios recuaram em uma carranca e vergonha escureceu seus olhos.

¯ Ei, eu trouxe o café da manhã, ¯ disse ele, determinado a não permitir que ela ainda se sentisse constrangida.

Ela cuidadosamente se ergueu, fazendo uma careta quando flexionou a perna. Pegou um dos travesseiros e o colocou atrás das costas de modo que ficasse encostada, e então ele colocou a bandeja sobre seu colo, travando as pernas para que ficasse estável.

¯ Cheiro maravilhoso ¯ ela disse com um sorriso pálido.

¯ Caia dentro. Eu já comi, mas estou feliz em lhe fazer companhia enquanto você desfruta.

Ela olhou nervosamente para ele, então recuou, com foco na comida na sua frente.

Ele amaldiçoou baixinho e se perguntou novamente se cometera um grande erro. Ele poderia colocar tudo para fora, e se ela ficasse com raiva, lidar com isso depois. Ele poderia sempre ligar para Sam novamente e cancelar a coisa toda.

¯ Eu dei um telefonema esta manhã, ¯ ele começou. ¯ Pode ser algo que você não queira fazer, e vou entender se isso a irritar. Eu apenas pensei que poderia ajudar.

Ela inclinou a cabeça e olhou para ele, com a sobrancelha franzida em perplexidade.

¯ Por que eu iria ficar irritada?

Ele fez uma careta.

¯ Eu arranjei para você se encontrar com as mulheres Kelly hoje. Eu disse a Sam que eu a levaria depois do almoço para que você pudesse passar algum tempo com Rachel, Sophie, Sarah e Shea.

Ela piscou surpresa.

¯ Oookay.

Ele percebeu que ela estava confusa e correu para dar uma explicação. Inferno parecia bom na hora. Agora só parecia bobo.

Ele esfregou a mão sobre a nuca em agitação.

¯ Olhe, eu só pensei... Pensei que por elas já terem passado por algumas das coisas que você está passando, elas poderiam ajudar. Eu não sei, talvez você possa falar com elas sobre isso. Achei que poderia ajudar saber que você não está sozinha. Elas sofreram merdas muito pesadas. Especialmente Sarah. Ela foi estuprada também.

Por um longo momento PJ só olhou para ele. Ele engoliu em seco, ansiedade beliscando em seu intestino. A última coisa que ele queria era foder as coisas entre ele e PJ. E essa podia muito bem ser a coisa que foderia tudo.

PJ era intensamente reservada, se nada mais. Ela não era o tipo de espalhar o seu negócio muito longe. Ele estava apenas aprendendo mais coisas sobre ela que ele nunca soube, e ele trabalhou com ela por quatro anos.

Mas então a expressão se suavizou e seus olhos brilhavam com uma luz quente.

¯ Obrigada, ¯ disse ela. ¯ Foi muito gentil de sua parte pensar em fazer isso para mim.

O alívio foi esmagador. Ele esteve perto de se desmanchar no local.

¯ Então você não está com raiva?

Sua testa franziu ainda mais profundamente.

¯ Com raiva porque você se importa comigo? O suficiente para que você me leve todo o caminho até o complexo KGI porque acha que o encontro com as esposas dos Kelly poderia me ajudar? Você é um homem muito especial, David Coletrane. Eu não sei por que diabos você se preocupa comigo, mas estou muito feliz por você fazê-lo.

Era tudo o que podia fazer para não agarrá-la em seus braços e nunca deixá-la sair.

¯ Okay, então, ¯ ele disse roucamente. ¯ Se quiser, termine e vista-se, sairemos o mais rapidamente possível, de modo que não seja muito tarde quando voltarmos.

Ela sorriu e colocou outro pedaço de panqueca na boca.

¯ Sabe que eu poderia me acostumar com este tipo de serviço cinco estrelas?

Ele relaxou, espalhando calor através de seu peito. Se isto era o que se sentia ao estar amando, ele pensou que não se importava tanto com isso, afinal.

 

O trajeto para o complexo Kelly foi tenso e silencioso. Cole tentou conversar várias vezes, mas a mente de PJ estava preocupada com a próxima reunião com todas as mulheres Kelly.

A verdade era que a incomodava. Ela não tinha ideia do que dizer nessas conversas. Não tinha nada em comum com elas. Não tinha ideia do que dizer sobre bebês e coisas femininas, e a última coisa que queria era algum momento meloso do tipo encontrei Jesus, onde desnudariam suas almas.

A mera ideia a colocou em polvorosa.

Mas Cole organizou isso porque ele realmente se importava com ela, e ela sabia que ele tinha as melhores intenções no coração. Então, como poderia recusar sem ser uma puta ingrata?

Não podia.

Cole estava tão nervoso e tão preocupado por pensar que passou por cima da linha que ela teria feito qualquer coisa para tranquilizá-lo.

Mesmo que preferisse enfrentar um time inteiro de loucos terroristas do que outras quatro mulheres?

Depois do que o fez passar ontem à noite, ela lhe devia muito, e se isso o fizesse se sentir melhor, ela suportaria tudo.

Quando entraram no complexo, os olhos de PJ se arregalaram com o progresso que foi feito. Parecia muito perto da conclusão. Havia um heliporto, instalações de treinamento e um campo de tiro. A única coisa que parecia não terminada era a pista simples onde os jatos dos Kelly poderiam pousar e ser guardados.

Muita coisa aconteceu em seis meses. De repente, ela se sentiu fora do circuito. Uma estranha entre as pessoas com quem trabalhou por quatro anos.

Seus olhos se arregalaram quando viu um grupo no campo de tiro. Reconheceu Nathan, Joe e Swanny, mas não os outros dois com eles. E um deles era uma mulher. Seu cabelo loiro estava reunido em um rabo de cavalo e usava um boné de beisebol, mas era óbvio que era uma mulher.

Ela era muito menor em estatura do que o homem que estava ao seu lado. Ele a tolhia, mas afinal ele era maior do que Nathan, Joe e Swanny. Mesmo à distância, podia perceber que ele era um homem grande e musculoso.

¯ Novos recrutas? ¯ Ela perguntou suavemente.

¯ Ela não está substituindo você, PJ.

PJ piscou. Okay, talvez o pensamento tenha cruzado sua mente. Não que estivesse sendo substituída, exatamente, mas que talvez antes de terem encontrado PJ de novo eles trouxeram essa mulher a bordo para preencher o lugar vago na equipe de Steele.

¯ Ela está na equipe de Nathan e Joe. Donovan queria acrescentar uma terceira equipe por um tempo. Nathan e Joe estão no comando. Swanny está nela e eles recrutaram Skylar e Zane.

¯ Oh, ¯ PJ disse, tentando ignorar a onda de alívio que a inundou.

Ele continuou dirigindo após a área e em direção as casas aninhadas na parte de trás da enorme extensão de terra que a KGI possuía.

¯ A casa de Ethan e Rachel está pronta, ¯ PJ disse.

¯ Sim. As casas de todos estão terminadas. Bem, exceto as de Van e Joe. Van está em negociação. Ele ainda está vivendo na cabana de madeira sobre o lago e Joe está dormindo lá com ele. Mas todos que são casados estão vivendo dentro do complexo.

¯ Mesmo Marlene e Frank?

Cole sorriu.

¯ Eles não querem se deslocar da casa deles. Dizem que há muitas memórias envolvidas na casa em que criaram sua família. Sam está chateado com isso, e a última vez que ouvi, ele e Garrett estavam tentando ter uma réplica exata da casa construída aqui.

PJ assentiu.

¯ Depois do que aconteceu com Marlene, posso imaginar a preocupação de seus filhos. Ela precisa estar segura. A KGI só vai ganhar mais inimigos enquanto o tempo passa. Eles certamente não estão angariando amigos.

¯ Isso é verdade. É por isso que Steele e eu não queremos que você fique sozinha em Denver. Você seria um alvo muito mais fácil. Tenho certeza de que Brumley não está apenas sentado girando os polegares e esperando você pegá-lo saindo de qualquer buraco escuro em que ele se entocou.

O rosto de PJ escureceu em uma carranca.

¯ Eu gostaria que o filho da puta me encontrasse. Me pouparia o trabalho de ir atrás de seu traseiro.

Cole pegou a mão dela e apertou.

¯ Vamos pegá-lo, PJ.

Enquanto rolavam até parar na frente de uma das casas, PJ sofreu outro ataque de nervosismo. O que era muito estúpido, considerando que ela já enfrentou maníacos portando armas e se esquivou de granadas e incontáveis outros explosivos, além de um exército inteiro de loucos terroristas com metralhadoras, todos atirando nela.

Ela não esperou por Cole dar a volta para ajudá-la. De repente, pareceu importante que pudesse fazê-lo por conta própria e não iria demonstrar qualquer fraqueza.

Quase a matou baixar a perna ferida e colocar peso sobre ela, mas cerrou os dentes e utilizou a porta para alavancar enquanto saía.

Antes que ela e Cole chegassem à frente do veículo, Sam os encontrou a passos para sua casa.

Ele deu a PJ um olhar longo e avaliador.

¯ Como você está? ¯ Ele perguntou calmamente.

Ela engoliu em seco. Okay, isto era definitivamente estranho. Ela realmente não queria entrar em assuntos particulares com Sam. Limpou a garganta do nó que estava se formando.

¯ Estou bem. Cole está cuidando bem de mim.

¯ Sophie e as outras estão no pátio de trás brincando com Charlotte. Você consegue chegar lá ou precisa de ajuda?

¯ Estou bem, ¯ PJ murmurou novamente.

Seu orgulho condenável estava elevando a cabeça feia de novo, mas ela não iria pedir ajuda a seu chefe. Ele provavelmente estava chateado o suficiente com ela como era. Ela provavelmente lhe causou tristeza suficiente por um ano inteiro.

Ela mancou em direção à porta que a levaria para trás da casa. Era covardia total querer Cole com ela, e sabia que ele viria se ela pedisse. Mas supunha-se que isso era para ela. Cole tivera muitos problemas, e não queria decepcioná-lo. Ela não queria se decepcionar.

Hesitou quando ouviu o grito de riso de uma criança e o riso acompanhado dos adultos. Ficou no canto, observando a pequena fada de cabelos loiros correr atrás de um filhote de golden retriever[10], enquanto as mulheres estavam sentadas nos degraus do deque observando com grandes sorrisos em seus rostos.

Elas não se pareciam com mulheres que sofreram o mesmo tipo de merda que PJ passou, embora soubesse ser de forma diferente. PJ fizera parte de cada missão que trouxera essas mulheres de volta para casa onde elas pertenciam. E todas elas suportaram a sua própria versão do inferno. Elas eram sobreviventes. Eram ferozes. E merda, matava admitir, mas elas a intimidavam porque não se sentia como se fosse igual. Especialmente depois de seu ataque de pânico da noite passada.

Continuou a observar de longe, seu intestino apertando mais a cada momento que passava. Das quatro mulheres, a que PJ menos conhecia era Sarah. Ela era mais quieta e mais retraída do que as outras. E sempre fez PJ sorrir que Garrett ficava em apuros com ela sobre sua boca suja e estava sempre escorregando quando ela não estava por perto.

Cole disse que ela foi estuprada antes de ela e Garrett se encontrarem e que o irmão de Sarah matou o homem responsável. PJ silenciosamente o aplaudiu mesmo naquela época antes de seu próprio ataque ter acontecido.

Um homem não pode ser de todo ruim se estava disposto a matar o monstro responsável por ferir sua irmã.

PJ se identificava mais com Sophie, a esposa de Sam. Ela era uma lutadora. Mesmo grávida de cinco meses e fugindo para salvar sua vida, ela venceu lutas muito sérias. Inferno, ela ainda disparou contra seu próprio pai. E levou alguns tiros.

Mas Rachel também era uma resistente, uma forte sobrevivente em sua própria maneira tranquila. De todas elas, ela resistiu por mais tempo. Um ano no inferno. PJ não poderia sequer começar a imaginar ou compreender. O que Rachel sofreu fez o que PJ experimentou parecer insignificante em comparação. PJ temia que Rachel pudesse não se recuperar totalmente. PJ estava lá quando Ethan a tirou da selva. Ela viu Rachel em seu ponto mais baixo. Mas ela percorreu um longo caminho da vítima assustada e impotente que era, e fez grandes avanços graças à rede de apoio em torno dela.

PJ estava com inveja disso, se ela fosse honesta consigo mesma. Cada Kelly daria sua vida por ela ou qualquer das outras mulheres Kelly. Sem hesitação. Nem arrependimentos.

Ela estava tão absorta em sua análise das mulheres que não percebeu Sophie andando até ela até que a outra mulher estava exatamente em sua frente.

¯ Oi, PJ, ¯ Sophie disse com um sorriso. ¯ Cole disse que você viria. Estou muito feliz que você veio.

As palmas de PJ estavam úmidas, mas resistiu ao impulso de limpá-las na calça. Conseguiu dar um sorriso convincente de volta.

¯ Er, obrigada por me receber. Quero dizer, foi legal de sua parte me convidarem.

Sophie acenou com a mão.

¯ Venha até aqui. Estávamos esperando-a para abrir o vinho. Agora que você está aqui, vamos corrigir isso. ¯ Ela terminou com um sorriso genuíno e quente que fez PJ relaxar e perder um pouco da tensão terrível em seu intestino.

Ela mancou atrás de Sophie e encontrou-se sendo o objeto de escrutínio das outras três mulheres enquanto elas observavam sua abordagem. Com certeza, como Sophie dissera, havia uma garrafa de vinho e taças na mesa do pátio.

Isso cheirava a um encontro social feminino. Tudo o que estava faltando era um bule de chá, alguns mini sanduíches bonitinhos com as crostas cortadas e alguns molhos cheirosos que tinham a aparência de algo que um gato vomitou na tigela.

PJ estava mais acostumada com música, cerveja ruim e companhia ainda pior. Surpreendeu-a que estivesse começando a pensar que esta não seria uma tarde tão ruim. Podia até ser... Divertida.

¯ Aqui está a PJ, finalmente em casa, ¯ disse Sophie. ¯ Ela veio nos visitar hoje, enquanto está se recuperando. Acho que ela precisa de uma pausa de Cole agora. ¯ Voltou-se para PJ ¯ todas nós ficamos tão preocupadas com você.

PJ começou a defender Cole, mas percebeu que a outra mulher estava simplesmente brincando com ela. Encolheu os ombros afastando toda a relutância restante e ofereceu um sorriso hesitante, mas genuíno, em direções as outras mulheres. Elas preocupadas com ela? Elas realmente sabiam que ela tinha ido embora? PJ não poderia imaginar os Kellys superprotetores permitindo que suas mulheres soubessem muito sobre o que acontecia com a KGI. Ela não teria imaginado que teriam conhecimento de que ela tinha partido, e muito menos se preocupado com o fato.

¯ Oi, PJ, ¯ Shea falou, um sorriso largo ampliando suas feições bonitas.

¯ Como está sua perna? ¯ Rachel perguntou em voz baixa. ¯ Ethan disse que você foi baleada.

PJ olhou para perna com um sorriso triste.

¯ Não está tão ruim. Uma ferimento limpo. Poderia ter sido muito pior. Estarei de volta a ação em breve.

Sarah estremeceu.

¯ Eu não vejo como você pode viver com o perigo constante. E você fala tão casualmente sobre ser baleada!

¯ Apenas faz parte do trabalho, ¯ PJ disse facilmente. ¯ É algo com o qual você se acostuma.

¯ Bem, venha e sente-se, ¯ Sophie insistiu. ¯ Levante a perna. Você precisa ficar com os pés para cima. Deixe-me te dar um copo de água. Eu disse a Sam para encontrar algo para fazer e para os homens não se preocuparem conosco hoje. Eles estão provavelmente em algum lugar encolhidos de medo do mal que estamos planejando eclodir.

PJ permitiu-se ser conduzida até uma das cadeiras, e depois Shea arrastou outra para que ela pudesse colocar a perna para cima.

Um pensamento súbito ocorreu a PJ, que se alarmou, e ela olhou para Shea, a testa franzida.

¯ Você não vai fazer nada de elo mental para ajudar a minha perna, não é? Eu sei o quanto isso dói, por isso sequer pense nisso.

Shea piscou por um momento e depois começou a rir.

¯ Fusão de mentes. É uma palavra nova para isso. E para responder a sua pergunta, não. Receio que o meu dom seja aleatório. Não consigo me conectar com as pessoas à vontade. Minha irmã consegue, mas eu não posso.

PJ sentiu-se constrangida por falar assim, mas a última coisa que queria era que Shea assumisse sua dor. Iria irritar Nathan e causar uma grande confusão. Sem mencionar que PJ testemunhou em primeira mão quanto sofrimento causava em Shea, quando ela ajudava os outros com o seu dom extraordinário. Era sua lesão e ela podia lidar com isso.

Shea e sua irmã Grace, que estava com Rio, líder da outra equipe, tinham habilidades únicas que desafiavam a explicação científica. Havia toda uma história bizarra por trás, envolvendo experimentos e emparelhamento de certos casais com habilidades sobrenaturais para ver que filhos produziriam. Shea e Grace eram dois experimentos tão impressionantes que conseguiram escapar e libertar-se das pessoas que queriam aproveitar e usar suas habilidades para seus próprios propósitos.

A coisa toda ia além do âmbito de entendimento de PJ. Ela não teria acreditado em nada se não tivesse visto por si mesma os resultados de uma dessas sessões de fusão de mentes.

Isso a lembrou de sua educação religiosa carismática e toda a ideia de cura pela fé. Nada disso fazia sentido para ela.

¯ Como está Grace? ¯ PJ perguntou, dirigindo sua pergunta para Shea. ¯ E Elizabeth? Como ela está se ajustando? Você consegue vê-las, muitas vezes?

Shea sorriu tristemente.

¯ Não tanto quanto eu gostaria, mas o elo mental é uma coisa melhor do que um telefone celular. Posso falar com ela sempre que eu quero, por isso as vezes eu não poder vê-la não parece tão ruim. E Elizabeth é uma querida. Madura demais para sua idade. Ela teve que crescer muito rápido, mas Grace e Rio já a amam muito.

¯ Eu vou admitir, era difícil imaginar Rio como um pai, ¯ disse PJ, uma curva em seu lábio. ¯ Ele é tão intenso e introspectivo. Mas também tem um ponto fraco de um quilômetro de largura, então eu acho que não é tão fora do reino da credibilidade. Estou feliz que eles estão indo bem. A última vez que os vi foi no casamento de vocês.

O rosto inteiro de Shea se iluminou, seu sorriso deslumbrante. Ela trocou sorrisos com Sarah, com quem ela compartilhou o casamento. Foi a Festa de Amor dos Kelly que enviou PJ para o bar decadente em Denver, em depressão. Agora ela percebeu que era apenas ciúmes e solidão.

Estremeceu ao admitir que realmente tinha ciúmes de todo o amor e apoio da enorme família Kelly, mas era brutalmente honesta consigo mesma. Bem, quando ela não estava em negação...

Sarah serviu-lhe um copo de vinho e entregou-o sobre a mesa para PJ, mas, em seguida, puxou-o antes que PJ o pegasse.

¯ Você não tomou nenhuma medicação para dor, não é? Nós sequer pensamos nisso. Você deve estar com muita dor e deveríamos ter tido o bom senso de não planejar vinho.

PJ sorriu da preocupação genuína de Sarah.

¯ Eu estou livre de drogas. Não precisa se preocupar que serei derrubada depois de um copo de vinho. Minha última dose foi ontem à noite. Estou tentando não tomar, a menos que eu seja obrigada ou que Cole me faça tomar.

As outras riram.

¯ Se Cole for como os nossos maridos, e tenho certeza que ele é um macho alfa teimoso, então você tem as mãos cheias, ¯ Rachel disse com um sorriso triste.

¯ Ele tem sido ótimo, ¯ PJ disse suavemente.

Ela baixou o olhar, quando as mulheres compartilharam um sorriso de satisfação, e tomou um pequeno gole de seu vinho, se perguntando quando uma delas iria tocar na situação delicada que era essencialmente o elefante na sala. E a razão por ela estar aqui em primeiro lugar.

Ela observou enquanto Sophie pegava a criança de três anos, Charlotte, para um abraço e depois fez cócegas na barriga da criança até que ela gritou com risos.

PJ teve de admitir que Charlotte era uma completa fofura. Ela quase fez PJ desejar bebês cheirosos e doces e pequenas gargalhadas. Quase...

Houve um tempo em que PJ considerou que estava pronta para estabelecer-se, ter um bebê ou dois e fazer a coisa toda americana, torta de maçã e cerca de estacas. Derek rapidamente a dissuadiu dessa noção.

Ele não queria filhos e, além disso, não queria casamento. Ele achava que isso era um conceito velho e antiquado e que, no mundo moderno, não fazia sentido para um homem se comprometer com uma mulher.

Okay, então ele era um idiota completo. Ela soubera disso depois, mesmo que não tivesse lhe dado seu bilhete de dispensa imediatamente.

Curiosamente ela foi menos tolerante por ele ser um policial corrupto do que foi com seus pontos de vista sobre amor, casamento e família.

Desde então, ela não tinha qualquer pensamento sobre qualquer coisa, exceto seu trabalho e certificar-se que ela era a melhor atiradora e soldado que poderia ser.

Todos os planos de casamento e família foram jogados para fora da janela. E desde então, decidiu que simplesmente não tinha essência de mãe. Que tipo de mãe ela poderia ser com o trabalho que fazia? Adorava seu trabalho e sabia que nunca seria feliz de desistir de tudo por casa e família.

Ela se perguntava quais as opiniões de Cole sobre o assunto.

Balançou a cabeça, determinada a não viajar nesse caminho. Era uma boa maneira de preparar-se para a decepção. Além disso, o que diabos estava fazendo debatendo crianças e casamento, quando era uma assassina de sangue frio conspirando para fazer sua próxima vítima?

Não ajudaria nada que sonhasse em uma cela de prisão. Por falar nisso, se fosse pega em algum buraco de merda de um país estrangeiro, não seria com o sistema de justiça dos Estados Unidos que teria que se preocupar. Estaria em algum lugar profundo, escuro e sujeito a um tratamento que faria o que Nelson e Brumley fizeram a ela parecer uma moleza total.

Valia a pena? Realmente vale a sua vida eliminar Brumley?

Ela não precisava de tempo para responder a essa pergunta.

Inferno. Sim. Ela sequer hesitou. Não foi só ela que sofreu nas mãos daquele monstro. Tantos crianças. Quantas jovens! Não podia sequer começar a pensar nas atrocidades que tantas garotas sofreram antes. E quantas iriam sofrer no futuro, se ela não eliminasse esse imbecil.

Sua vida certamente valeria a pena quando comparada com as centenas, milhares de meninas que ela poderia salvar, matando o miserável.

¯ Eu não tenho ideia do que você está pensando, mas deve ser bastante terrível, ¯ disse Sarah.

PJ piscou e olhou para a esposa de Garrett, que estava sentada em frente a ela em uma cadeira de gramado. Neste momento, todas as mulheres estavam olhando fixamente para ela.

PJ ofereceu uma careta.

¯ Nada que vale a pena falar. Só um idiota que precisa morrer.

Sophie ergueu a sobrancelha.

¯ Vários vêm à mente quando você diz isso.

Rachel deu um aceno.

¯ Não dê ouvidos a ela. Ela é muito sanguinária.

PJ abriu um sorriso.

¯ Ela soa como o meu tipo de mulher.

Foi então que PJ percebeu que Rachel não estava bebendo vinho, e aliás, apenas quatro copos foram colocados sobre a mesa. Franziu a testa e levantou o copo na direção de Rachel.

¯ Você quer um pouco de vinho?

As bochechas de Rachel tingiram de um rosa suave e seus olhos brilharam como raios de sol individuais. Então, ela acariciou a barriga suavemente arredondada que PJ não notara antes. O queijo de PJ caiu.

¯ Você está grávida? ¯ PJ perguntou.

¯ De gêmeos! ¯ Rachel exclamou, seu sorriso cada vez maior o tempo todo.

¯ Puta merda!

Todas as mulheres riram da reação de PJ. PJ balançou a cabeça.

¯ Eu não tinha ideia. Parece que eu perdi muito nos últimos seis meses.

¯ Se você soubesse, ¯ Sarah murmurou.

PJ levantou as sobrancelhas.

¯ O quê?

Rachel suspirou.

¯ Enquanto você estava ausente, nós meio que tivemos um incidente na escola onde estou lecionando novamente. A mãe e o pai de um dos meus alunos se separaram, e o pai ficou maluco e chegou à escola com uma arma e manteve minha classe como refém. Isto aconteceu apenas alguns dias depois que eu descobri que teria gêmeos. Você pode imaginar que Ethan não lidou com nada disso muito bem.

¯ Eles entraram e removeram o filho da puta? ¯ PJ perguntou. Em seguida, mordeu o lábio, olhando na direção de Charlotte. ¯ Desculpe.

As outras riram.

¯ Sim, eles fizeram isso, ¯ Sophie disse com um sorriso. ¯ Eles irritaram toda uma série de pessoas no processo, mas a verdadeira heroína foi Rachel.

Rachel corou e balançou a cabeça.

¯ Eu estava apavorada.

¯ Sinto muito por não estar aqui, ¯ PJ disse calmamente. Ela se sentia protetora dessas mulheres. Como se fossem dela. Ela tinha uma mão em cada missão que lidou com elas, e a incomodava que enquanto estivera fora em busca de vingança, Rachel poderia ter sido morta.

¯ Você está aqui, agora, ¯ disse Rachel. ¯ E isso é tudo que importa. A KGI não é a mesma sem você, PJ.

Shea se recostou na cadeira e arrancou uma folha da mão de Charlotte antes que ela a colocasse na boca. Então virou-se para olhar diretamente para PJ.

¯ Olha, PJ, sei que Cole ligou e falou com Sophie, e sim, ele nos contou sobre o que aconteceu com você, mas nós já sabíamos. A KGI é uma família, e mesmo que você não seja muito próxima de nós, gostamos muito de você. Você esteve lá para cada uma de nós, quando mais precisávamos de alguém. Você arriscou sua vida por todas nós. Você arriscaria sua vida para manter os homens que amamos seguros. Isso faz de você muito especial para nós, você sabendo disso ou não. Isso também nos deixa muito interessadas no que se passa com você. Quando soubemos o que aconteceu, queríamos chutar a bunda de cada desgraçado tanto quanto os caras queriam.

PJ mordeu o interior de sua boca para impedi-la de abrir em demasia. Ela realmente não sabia como responder a declaração apaixonada de Shea. Nunca considerou que ela significasse alguma coisa para essas mulheres. Isso a confundia, o que elas pensavam sobre ela. Ela era apenas um membro de uma equipe que trabalhava para ou com seus maridos. Ninguém especial. Certamente não uma parte da família. Não é?

E ainda assim essas simples palavras enviaram um rubor quente diretamente em seu coração.

¯ E eu disse tudo isso para que você saiba que não estamos aqui para psicanalisar você. Não vamos nos intrometer em seus pensamentos. O que queremos que você saiba é que estamos aqui para você. A qualquer hora. Para tudo o que você precisar. Se precisar de alguém com quem conversar. Se quiser apenas um ombro para chorar. Se só quiser xingar e gritar. Estamos aqui. Nunca hesite em entrar em contatar ou vir. Você pode não ser uma Kelly no nome, mas pertence a nós e levamos muito a sério a família.

Sophie bateu palmas, um largo sorriso no rosto.

¯ Muito bem dito, Shea. Uau, você está evoluindo bem. ¯ Virou um sorriso maroto para PJ ¯ Não faz muito tempo que nós estávamos tendo que convencê-la de que ela era parte da família e que estava tudo bem ela apoiar-se em nós.

Sarah se inclinou para frente, sua expressão séria, os olhos cheios de compreensão.

¯ Eu fui estuprada também, PJ, eu sei como é. Eu lidei com isso ignorando-o. Fechei todos do lado de fora. Eu só queria ser deixada sozinha.

¯ Sim, ¯ PJ disse ferozmente, finalmente chegando plenamente na parte da conversa.

A admissão de Sarah era tudo o que PJ fizera a si mesma, e por mais bobo que parecia, isso a fez não se sentir tão sozinha, que ela não era a única a reagir ao que aconteceu com ela do jeito que reagiu.

¯ Eu só queria, não quero, pensar sobre isso, ¯ ela terminou dolorosamente.

Sarah assentiu.

¯ Eu entendi. Eu entendo. Mas quando você o afasta por tanto tempo, você eventualmente chega a um ponto de ruptura.

O coração de PJ disparou, fazendo-a se sentir um pouco tonta. Queria tanto confiar nelas sobre o que aconteceu na noite anterior. As palavras estavam queimando nos lábios, mas estava tão envergonhada, e simplesmente não estava em sua natureza confiar nos outros.

Ela sempre foi uma solitária. Foi algo incutido nela desde o momento em que era criança. Isso não iria mudar no decorrer de um único dia, a primeira vez que outras mulheres estendiam a mão em amizade.

Quando criança não poderia mesmo contar com seus pais, como diabos deveria ser capaz de contar com mais alguém?

Mas quem disse que havia regras que tinha de seguir? Só porque ela foi de uma forma toda a sua vida não significava que não poderia tomar medidas para mudar, mesmo se fossem passos de bebê. Estava cansada de se sentir tão sozinha todo o maldito tempo. Se isso a tornava fraca, então tudo bem. Ela estava fraca.

Esfregou o rosto cansado e sentou-se ali por um longo momento antes que finalmente tivesse a coragem de dizer o que ela quase deixou escapar momentos antes.

¯ Eu entrei em pânico ontem à noite, ¯ ela admitiu. ¯ Pensei que eu estava pronta. Eu realmente nunca pensei sobre isso. Quer dizer, eu sou uma pessoa lógica e não tenho dificuldade em separar o que esses canalhas fizeram comigo com a realidade de ter alguém que você gosta te tocando. Eu sei que Cole nunca me machucaria. Eu sei disso! E mesmo assim em um minuto eu estava no lugar mais fantástico do mundo e no seguinte estava em plena escala de pânico e ofegando por todo o ambiente. Eu já não sabia onde eu estava, ou o que eu era. Eu estava com tanto medo que eu não poderia funcionar mesmo. O quanto isso é estúpido?

¯ Não é estúpido, ¯ Rachel disse em um tom que disse a PJ que sabia exatamente do que ela estava falando. ¯ Eu ainda tenho episódios de pânico e desespero. Desespero nem sequer começa a descrever a desolação absoluta ou a sensação de que estou perdida no inferno e ninguém nunca vai me encontrar. Eu acordava no meio da noite pensando que estava de volta naquela caixa horrível, no escuro, sozinha, sabendo que eu não tinha saída.

¯ Eu tenho uma confissão horrível a fazer, ¯ Sarah disse, com uma careta. ¯ Na nossa noite de núpcias, eu tive um ataque de pânico quando Garrett tentou fazer amor comigo. E por falar em estupidez. Nós tínhamos feito amor tantas vezes antes e eu estava bem. Talvez fosse o estresse do casamento. Eu não tenho ideia. Mas eu me apavorei quando ele me tocou, e ele passou o resto da nossa noite de núpcias me segurando e me confortando. Eu nunca me senti tão mal na minha vida. Estraguei o que deveria ter sido a noite mais especial de nossas vidas.

PJ sentiu uma pontada de simpatia pela outra mulher. Ela sabia exatamente como ela se sentia. Foi como ela se sentiu a noite anterior, quando fizera tudo, exceto implorar a Cole para fazer amor com ela.

¯ Ahh querida, eu sinto muito, ¯ Sophie disse, estendendo a mão para apertar a de Sarah. ¯ Tenho certeza de que Garrett estava bem com isso. Ele te ama tanto.

¯ Ah, ele estava. Era eu que não estava bem com isso. Eu estava tão cansada de permitir que aquele bastardo que me estuprou controlasse a minha vida. Eu não o quero na minha vida ou no meu casamento e certamente não o quero na cama comigo e meu marido.

As outras riram. Então Sarah abafou sua própria risada e todas se juntaram, rindo da imagem de outro homem na cama com Sarah e Garrett.

Isso suavizou o humor e injetou alguma leveza muito necessária para a conversa.

¯ Vou dizer-lhe como dissemos a Shea, ¯ Rachel começou. ¯ Pode parecer estúpido, e a reação inicial é a negação, mas às vezes você só precisa de alguém com quem conversar sobre isso. Evitei a terapia por muito tempo, porque me frustrava que eu precisasse ver um completo estranho para que eu pudesse lidar com as coisas que aconteceram comigo. Mas uma vez que superei aquele sentimento de ridículo, ela realmente ajudou.

¯ O mesmo para mim, ¯ Sarah interrompeu. ¯ E eu te digo uma coisa que realmente ajudou. Conversar com Garrett e ser honesta com meus sentimentos. Ele tem sido tão compreensivo, e eu não posso imaginar que Cole seria menos que isso.

PJ sentiu aumentar o calor em suas bochechas.

¯ Vocês são amáveis em assumir que Cole e eu somos um casal certo.

Sophie bufou.

¯ Oh, por favor. O homem era um cadáver ambulante, depois que você fez o seu ato de desaparecimento. Você tem aquele homem tão amarrado, que não é nem mesmo engraçado.

As outras assentiram em concordância.

¯ Bem, inferno, ¯ PJ resmungou. ¯ Nada parece permanecer secreto por aqui.

Elas caíram no riso.

¯ Eu tenho medo do inconveniente de ser parte de uma família barulhenta, muito próxima e intrusiva. Não há muitas coisas que todos não saibam, ¯ disse Shea.

¯ Mas é o melhor tipo de família para se fazer parte, ¯ Rachel disse suavemente. ¯ Eu não os trocaria por nada no mundo.

¯ Já que estamos fazendo confissões, vou fazer mais uma, ¯ PJ disse com uma careta. ¯ Eu temia isso. E para ser honesta, a única razão pela qual concordei em vir foi porque Cole estava em agonia depois que ele ligou para Sam, pensando que eu estaria chateada que ele arranjou isso sem falar comigo primeiro.

As outras sorriram, mas esperaram que ela continuasse.

¯ Mas eu realmente estou me divertindo e quero agradecer a vocês por ter todo este problema por alguém que vocês sequer conhecem realmente.

¯ Você fez muito por todas nós, ¯ disse Shea. ¯ Você diz que está apenas fazendo seu trabalho. Mas para nós, você não só coloca sua vida em jogo por nós individualmente, mas você sai toda vez que nossos maridos saem e você é uma grande parte da razão de eles voltarem para casa, para nós, novamente. Não há nada que possamos fazer para recompensá-la por isso, assim, se houver qualquer coisa que qualquer que uma de nós possa fazer, não só queremos que você peça, esperamos que você peça.

PJ sorriu, aquecida através do respeito genuíno e aceitação que as outras mulheres haviam concedido a ela.

O mundo poderia estar chegando ao fim, porque PJ Rutherford estava realmente fazendo amigas.

 

¯ Então, como é que foi? ¯ Cole perguntou durante a viagem de volta para Camden.

¯ Realmente foi bem, ¯ disse ela.

Estendeu a mão para deslizar os dedos ao redor da mão dele, surpreendendo-o com a iniciativa. Ele pegou a mão dela e a colocou em sua perna, seu aperto firme.

¯ Você foi doce por fazer isso por mim, Cole. Eu realmente aprecio seu carinho, ¯ ela disse em uma voz calma. ¯ Elas não se intrometeram. E não pressionaram muito. Só me avisaram que eu não estava sozinha e que elas estavam lá a qualquer momento que eu precisasse de um ombro amigo. Foi muito... Legal.

Ele apertou a mão dela.

¯ Estou feliz. Odeio que você pareça tão só, como se estivesse isolada do resto do mundo. Há muitos de nós que se preocupam com você, PJ, eu só queria lhe mostrar isso.

Seu coração deu uma cambalhota completa no peito. Este homem era tão, tão perfeito e ele realmente a queria. Isso desafiava toda a lógica, mas ela não iria discutir.

¯ Obrigada. Eu me sinto melhor. Foi bom sair por uma tarde. As mulheres Kelly são boas.

¯ Sim, elas são muito especiais, mas não tão especiais quanto você.

Ela corou, mas sorriu calorosamente demonstrando sua felicidade com sua afirmação.

¯ Ei, quando chegar a sua casa, você tem Internet sem fio? Preciso olhar meu laptop. Faz tempo desde que eu chequei e-mail e mensagens.

¯ Claro. Vou ligar, não há problema.

¯ Que tipo de iguarias divinas posso esperar ansiosa para esta noite? ¯ Brincou ela.

¯ Estava pensando em ligar a grelha e fazer algo rápido, como hambúrgueres.

¯ Yum. Isso soa perfeito!

Ele sorriu.

¯ Você é muito fácil de agradar.

Impulsivamente, ela inclinou-se sobre a caminhonete e beijou-o no rosto. Ele a olhou surpreso quando ela se afastou, mas o prazer brilhava em seus olhos.

¯ O que foi isso?

¯ Só parecia a coisa certa a fazer, ¯ ela disse.

¯ Esteja bem à vontade para fazer isso mais vezes, ¯ ele encorajou. ¯ Eu garanto que não vou me importar.

Quando chegaram à casa dele, ela novamente saiu sem a ajuda dele. Ela mancou em direção a casa, e ou ela estava bem humorada ou o ferimento não estava incomodando tanto, mas seu passo era mais rápido e mais confiante.

Sua avaliação foi verificada quando Cole comentou que ela parecia estar ficando melhor.

Ela foi ao seu quarto e puxou o laptop da mochila. A bateria estava provavelmente morta, então pegou o fio e foi em busca de um lugar para ligá-lo.

Cole estava na cozinha tirando coisas da geladeira, então ela optou por colocar o computador no bar e se colocou em um dos bancos.

Depois de ligar para começar a carregar, ela abriu e procurou pela conexão sem fio.

¯ Ei, você tem uma senha para conectar? ¯ Ela perguntou.

Para sua surpresa, o rosto dele enrubesceu, e em vez de dizer-lhe a senha, ele deu a volta para o laptop e rapidamente digitou.

Ela olhou para ele com curiosidade.

¯ Não confia em mim?

¯ Não é isso, só percebi que era mais fácil se eu digitasse, ¯ ele disfarçou.

¯ Então, como é que vou ligar quando você não estiver aqui? ¯ Ela perguntou inocentemente.

¯ Como eu não tenho intenção de não estar aqui com você, não é um problema.

¯ Oh, vamos, Cole. Você me deixou curiosa. Eu poderia jurar que corou quando eu pedi a senha. O que é, algum tipo de coisa obscena? Como seios grandes ou algo assim?

Cole suspirou.

¯ A senha é Pjshot, okay? Feliz?

Seus olhos se arregalaram e ela abafou o riso.

¯ PJ é quente[11]? Essa é a senha? Há quanto tempo você tem esta rede?

¯ Três anos, okay? Agora podemos mudar de assunto?

Ele estava tão bonito em seu embaraço e isso fez com que ela quisesse apertá-lo.

¯ Então você estava interessado em mim há muito tempo, hein?

Ele suspirou.

¯ Eu estava interessado a partir do dia em que você entrou para a equipe.

¯ Isso é tão adorável ¯ disse ela com um sorriso.

¯ Adorável? ¯ Ele resmungou. ¯ Deus, eu me sinto como uma espécie de adolescente com tesão que acabou de ser pego beijando no sofá por sua mãe.

Ainda sorrindo, ela conectou seu e-mail e começou a verificar os cabeçalhos de assunto.

Quando chegou em um enterrado debaixo de uma dúzia de outros, ela congelou e seu coração acelerou, batendo dolorosamente contra o peito. Com dedos trêmulos clicou na mensagem.

Teve que lê-la várias vezes, porque a adrenalina estava deixando-a nervosa e ela demorou para processar a mensagem.

 

B na cidade. Algo grande vai acontecer. Várias meninas foram contratadas. Não posso dizer mais por e-mail. Falarei pessoalmente, se for só você.

 

O e-mail era de uma das garotas de programa com quem PJ fez amizade em sua busca para encontrar os quatro homens que estavam presentes quando ela foi estuprada. Katia, PJ não sabia o seu verdadeiro nome, era uma fonte inestimável de informação, mas também era extremamente paranoica e assustada. Com boa razão. Brumley não hesitaria em eliminar qualquer um que ele percebesse como uma ameaça.

Rapidamente verificou a data em que o e-mail foi enviado e respirou aliviada quando viu que foi na noite anterior. Portanto, não definhou durante dias, enquanto PJ esteve fora de contato.

Com as mãos trêmulas, fechou o laptop, a mente em tumulto vicioso.

Era tão fácil esquecer seu objetivo quando estava um mundo longe com as pessoas que se importavam com ela. Os últimos dias com Cole lhe permitiram empurrar Brumley na parte de trás de sua mente. Relaxou a guarda, foi capaz de fingir que estava flertando e forjando um relacionamento.

A noite passada devia ter-lhe dito que não havia nenhuma maneira de poder avançar com sua vida até que cuidasse do seu passado. Mas, mesmo depois de seu ataque de pânico, ela ainda se recusava a se concentrar na tarefa em mãos.

Precisava ir a Viena e falar com Katia. E se Nelson estivesse errado sobre Jacarta? E se ele tivesse mentido abertamente, enviando propositadamente PJ em uma perseguição sem fim? Ele poderia estar protegendo o chefe em seu último suspiro.

E se pudessem derrubar Brumley antes do acordo em Jacarta?

Sua mente se encheu com mil “se”.

¯ Ei, o que houve? Você está pálida, ¯ disse Cole, a preocupação no limite em sua voz.

¯ Precisamos conversar ¯ disse ela de forma mais acentuada do que pretendia.

Cole deixou o que estava fazendo e deu a volta para puxar o banco do bar ao lado dela, virando-a para encará-la.

¯ E aí?

Ele estava todo sério agora, a expressão séria, e estava focado apenas nela.

Ela soltou a respiração, esperando como o inferno que não estivesse cometendo um erro ao confiar em Cole. Mas ela confiava nele. Era hora de ver como o relacionamento deles iria funcionar.

¯ Okay, você sabe que eu fugi por seis meses e consegui eliminar três homens de Brumley. Você estava lá quando eu eliminei Nelson.

Cole assentiu.

¯ O que eu nunca disse foi como fui capaz de chegar tão perto. Como consegui minhas informações e sabia onde encontrá-los cada vez.

Cole assentiu.

¯ Sim, eu me perguntava isso já que você não estava usando a equipe como apoio.

¯ A noite da festa, quando Donovan e eu entramos, vi várias meninas de muito alta classe se encontrando com homens solteiros indo para a festa. Donovan explicou que elas eram garotas de programa muito caras. Um encontro por noite, mais o que se passava por trás de portas fechadas, quando tudo era dito e feito.

Cole assentiu novamente.

¯ Bem, ocorreu-me o que estas meninas provavelmente sabiam. Elas sabem quando as festas acabam. Sabem quem são os jogadores. E, se eu chegasse perto de uma delas, eu poderia conseguir uma valiosa fonte de informação.

Cole franziu a testa.

¯ Okay.

¯ Eu só consegui encontrar uma disposta a falar comigo. Ela se chama Katia. O resto estava, obviamente, com medo e não queria correr o risco de falar comigo. Não posso culpá-las. Elas estão muito bem sem nome, mulheres sem rosto que ninguém se preocupa. Nenhuma família para se preocupar se desaparecem. Provavelmente nem mesmo causam uma ondulação se de repente desaparecerem.

¯ De qualquer forma, Katia estava disposta a falar comigo, mas ela era extremamente cautelosa. Sempre nos encontramos em segredo. Ela estava convencida de que eu era a única pessoa com que ela iria falar, e se eu não aparecesse sozinha, ela não abria a boca. Então eu lhe paguei por informações. Ela me dizia quando uma festa foi planejada ou até mesmo quando ouviu falar de um negócio sendo fechado. Aparentemente, muitos caras que essas meninas pegam têm lábios soltos após o sexo e gostam de se gabar de como são poderosos.

¯ Então ela contou-lhe como chegar aos primeiros três homens, ¯ Cole disse severamente.

¯ Sim. Ela nunca me deu uma informação ruim, então eu acho que ela está entretendo algumas pessoas muito altas na organização de Brumley, se não o próprio Brumley.

¯ Okay, mas o que isso tem a ver com agora? ¯ Cole perguntou impaciente.

¯ Eu recebi um e-mail dela, ¯ PJ disse, os dedos ainda tremendo apesar de seus melhores esforços para não deixar o e-mail chacoalhá-la. ¯ Ela diz que algo grande será fechado em Viena com Brumley. Ela não disse mais. Ela quer falar comigo pessoalmente.

Cole recuou, automaticamente balançando a cabeça.

¯ Oh não. Foda-se, não, PJ. Não vai acontecer.

PJ pôs a mão para cima, chateada porque ainda estava tremendo. A última coisa que precisava era que Cole pensasse que estava com medo, porque então nunca o convenceria.

¯ Pense nisso, Cole. Eu não vou atrás de Brumley sozinha. Só preciso ver Kátia e descobrir o que ela sabe. É possível que Nelson estivesse me enganando completamente quando me contou sobre o negócio que aconteceria em Jacarta. Pense sobre isso. Seu suspiro de morte e ele me envia na direção oposta de onde Brumley vai realmente estar. O foda-se definitivo. Eu preciso chegar a Viena e falar com Katia para sabemos onde o negócio será fechado. Se estivermos fora, lá longe em Jacarta, enquanto ele está fazendo um acordo em Viena, ele estará seguro do sucesso. Nunca conseguiremos achar o filho da puta de novo.

¯ Se você acha que vou deixar você sair para Viena sozinha, você está muito louca.

Ele parecia com raiva agora. Seu corpo inteiro estava tenso e seus olhos brilhavam com determinação.

Ela colocou a mão em seu braço e apertou suavemente.

¯ Eu não estava planejando ir sozinha, Cole. Estava esperando que você fosse comigo.

 

O nível de agitação de Cole estava além dos limites. Ele olhou para PJ percebendo que ela estava totalmente séria. Seu instinto estava gritando, porque tudo o que ele queria fazer era mantê-la segura em segredo, em suas vistas, em sua casa, onde ele sabia muito bem que ela estava segura.

Os últimos dias foram... Idílicos. Não tinham sequer tocado no assunto de Brumley ou Jacarta ou nada disso. Secretamente tinha a esperança de que com tempo suficiente,  seria capaz de convencê-la a deixar a KGI ir atrás de Brumley e deixá-la de fora disso inteiramente.

Era uma esperança realista no melhor, mas enganou-se ao pensar que era uma possibilidade.

— PJ, isso é estúpido. Você honestamente quer sair sem a equipe em uma missão de apuração? Você está ferida. Ou não se lembra de levar um tiro na perna? Você mal consegue andar. A última coisa que precisa é correr por toda Viena.

Os lábios de PJ apertaram e ela estava com aquele olhar persistente de touro teimoso que ficava quando estava chateada e determinada.

— Eu não vou correr por toda Viena, — disse ela com firmeza. — E não há nenhum ponto que comece com toda a equipe envolvida quando isso pode equivaler a nada. Há também o fato de que se entrarmos como uma equipe, não vamos passar despercebidos. E em terceiro lugar, não há nenhuma maneira de Katia falar se eu aparecer com um monte de testosterona pairando sobre o meu ombro.

Cole franziu a testa, mas ela continuou.

— Você está dando mais importância do que deveria a isso. É uma simples viagem a Viena. Entrar e sair. Poderíamos estar de volta em três dias. Eu vou ver Katia. Saber quais informações ela pode nos dar. Se algo será fechado em breve, vamos chamar Steele e levar a equipe ao lugar. Se nada será fechado, nós simplesmente voltamos e esperamos por Jacarta. Eu não posso me permitir não saltar sobre este chumbo, Cole. Você sabia desde o começo que eu não iria descansar até eu pregar aquele bastardo, não só pelo que ele fez para mim, mas pelo que fez com todos aquelas crianças, — ela disse ferozmente. — Se você não for, eu vou muito bem sozinha.

Merda.

Ele sabia que estava exagerando e sabia que só queria mantê-la embrulhada em plástico-bolha para que nada pudesse tocá-la novamente. Também sabia que era uma ideia estúpida, porque ela nunca permitiria isso. Assim como sabia, no fundo de sua mente, não importava o quanto gostaria que ela não fosse para Jacarta, ela estaria lá, com ou sem a aprovação da equipe, e ela não iria sentar e deixar a equipe assumir uma missão que ela jurou realizar.

Ele ficava insano, mas ao mesmo tempo a admirava por sua determinação e seu compromisso com seu objetivo. Ele não a respeitaria nem a metade se ela permitisse que outros assumissem a luta por ela.

—Porra, PJ.

Sua expressão suavizou porque ela sabia que ganhou.

— Vou ficar online e reservar-nos o próximo voo de Nashville, — disse ela. — Teremos que fazer a conexão em Nova York, e é uma porcaria, mas vamos entrar sem qualquer tipo de equipamento. Mas, eu conheço um fornecedor onde poderemos conseguir o que precisarmos em Viena.

— Fez alguns amigos por lá, — Rosnou Cole.

A expressão dela ficou séria.

— Eu fiz o que tinha que fazer para eliminar os bastardos.

Ele se esticou, emoldurando seu rosto com as duas mãos.

— Eu quero que você seja cuidadosa, PJ. Você significa muito para mim. Eu não vou ficar de braços cruzados enquanto você se coloca na linha. Estarei com você a cada passo do caminho. Esta já não é apenas a sua luta. É a nossa luta. Esses bastardos machucaram alguém com quem me importo. Isso a torna a minha luta também.

Ela se inclinou, apoiando a testa contra a dele. Nesse momento, ela parecia totalmente frágil e vulnerável, o que só intensificou sua determinação de que ela não iria fazer isso sozinha.

Ele moveu os lábios, apenas o suficiente para que encontrassem os dela. Beijou-a uma vez, recuou, em seguida, beijou-a novamente, enquanto dizia em voz baixa.

— Você faz as reservas. Eu estou a bordo até que eu veja que estamos entrando em uma situação perigosa. Se isso acontecer, eu puxarei você, e se eu tiver que sentar em você até que nossa equipe chegue, então isso é o que eu vou fazer. Entendeu?

Ela sorriu.

— Entendi.

 

Para reservar um voo, PJ acabou por ligar para a companhia aérea, e então tiveram que, literalmente, fazer uma mala e sair pela porta dentro de uma hora. Isso de tomar qualquer decisão rapidamente não combinava com Cole. Ele era um cara do tipo que sentava, pensava e ponderava em todas as questões em potencial. PJ era mais de pegar o touro pelos chifres e deixar o inferno quebrar solto.

Se esta era uma indicação de como o relacionamento seguiria, ele estava regiamente fodido.

Todo o caminho para Nashville, ele criticou sua decisão de ir junto com o plano de PJ. Havia uma centena de diferentes razões por que era uma má ideia, mas havia também razões por que fazia sentido.

Se fosse exatamente como ela havia explicado e estivessem indo para Viena apenas para encontrar seu contato e, em seguida, fazer planos nesse sentido, ele não via dano.

Mas havia tantas coisas que poderiam dar errado que faziam sua cabeça girar.

Mesmo se a irritasse e ela nunca falasse com ele novamente, ele iria se assegurar muito de que ela não iria colocar-se em perigo. Uma rápida visita à garota de programa e então uniriam suas cabeças e chamariam a equipe.

Parecia simples no papel, mas seu estômago estava cheio de medo, porque nada é tão simples. E ele e PJ já pagaram o preço por ele ignorar seu instinto uma vez.

Chegaram a Nashville com apenas alguns minutos de sobra antes de perder o check-in para o voo. Os assentos eram na classe econômica, o que era uma droga. Cole estava um pouco mimado, fazendo a maioria de suas viagens no jato Kelly, onde não era submetido a choro de bebês, crianças birrentas e idiotas que tentavam tomar seu assento antes mesmo de embarcar.

Pior, o voo transatlântico tinha uma conexão em Londres e depois um voo para Viena. Tudo na classe econômica.

PJ estava tensa e plugada todo o trajeto para Nova York. Eles não conversaram durante o voo, mas ele podia ver as rodas girando em sua cabeça.

Ela passou da PJ descontraída e relaxada que ele tinha sido capaz de tirar nos poucos dias que passaram juntos, à PJ que estava pronta para seriamente lançar um pouco de sangue.

Não que ele não ficasse seriamente excitado quando PJ ficava toda durona. Algo sobre aquela mulher quando ela ficava toda fodona simplesmente ligava todas os seus desejos, e alguns ele nem sabia que tinha.

Mas desta vez estava preocupado. Isso era muito pessoal. Ela perdeu toda a objetividade. Não era uma missão onde pudesse tirar suas emoções e fazer o trabalho que era esperado.

Isto era vingança, e por mais que ele não pudesse culpá-la por querer pregar o desgraçado que não apenas a machucou, mas abalou sua confiança profundamente, uma grande parte dele desejava que ela pudesse simplesmente ir embora e se curar.

Quando chegaram à Nova York, só tinham 47 minutos para fazer a próxima perna do voo, e levou um tempo extra para embarcar, porque tiveram que apresentar seus passaportes. Foram um dos últimos a se sentar, e certamente, algum idiota se sentou no assento de Cole, e quando estava no corredor, o idiota, na verdade, teve a coragem de pedir a ele para trocar.

Cole deu-lhe o seu melhor grunhido e disse-lhe para levantar sua bunda, mas no final, foi PJ quem o fez se mover rapidamente. Ela se inclinou, sussurrou algo em voz baixa e, de repente, o homem não poderia sair do assento rápido o suficiente.

Ele e PJ tomaram seus lugares e Cole olhou interrogativo.

— O que você disse que o fez mudar de ideia tão rapidamente?

Ela sorriu.

— Eu só disse a ele que eu sofria de distúrbio de personalidade múltipla, estava com muito medo de voar e que eu tinha que ter você ao meu lado para que eu não tivesse ataques de pânico.

Cole riu.

— Você é diabólica. Eu amo isso em você.

Ela encolheu os ombros.

— Ei, eu fiz o trabalho.

— Eu odeio idiotas que simplesmente assumem que você está disposto a trocar seu lugar de merda só porque eles preferem o seu assento, — Cole resmungou. —Porra, é por isso que eu prefiro voar de primeira classe.

O voo para Londres era longo, e deu a Cole muito tempo para ponderar todas as razões por que esta era uma má ideia. Seu intestino estava roendo-o, mas ele já estava dentro, e não havia muito que pudesse fazer, neste ponto, exceto esperar que seu instinto estivesse errado.

Depois de mudar de voo em Londres, dormiram durante a maior parte do voo para Viena. Quando arrastaram suas carcaças para fora do aeroporto e entraram no carro de aluguel, Cole sentiu como se tivesse sido arremessado violentamente e transpirava de ansiedade.

— Você já enviou o e-mail para a garota de programa? — Ele perguntou enquanto dirigiram em direção ao hotel.

PJ balançou a cabeça.

— Eu não queria correr o risco de ela querer me encontrar imediatamente e em seguida, ficar assustada quando levar mais de 24 horas para organizar o encontro. Depois que entrarmos no hotel, temos de ir ver o meu contato e então enviarei o e-mail a ela uma vez que estivermos preparados.

Cole teve que admitir, PJ sabia planejar. Ele se assustou muito que ela estivesse vasculhando os buracos negros de Viena em busca de um traficante de armas por conta própria quando ele estava a meio mundo de distância enlouquecendo e se preocupando com ela.

Registraram-se em um hotel, e quando ele teria caído de cara na cama, PJ estava arrastando-o para fora da porta de novo.

— Eu não tenho o número desse cara, mas eu sei onde ele anda, — PJ disse. — Eu só espero que, com sorte, ele possa ser encontrado. Vamos tomar um táxi. Não quero chamar a atenção por conduzir até este lugar.

— Que tipo de lugar estamos falando? — Cole perguntou cauteloso.

A última coisa que ele queria era entrar em algum buraco de merda desarmado.

— Não é o Ritz — foi tudo o que ela disse enquanto entravam no táxi.

Ela pediu ao motorista para deixá-los em um cruzamento em uma parte da cidade que imediatamente levantou polêmica de Cole. Inferno, era plena luz do dia e ele ainda estava inquieto.

Caminharam dois quarteirões, em seguida baixaram em um beco que cheirava como um esgoto. A estreita rua de paralelepípedos que seguia para o beco era larga o suficiente para uma scooter[12] passar, e os buracos eram grandes o suficiente para serem pequenos lagos.

Esculpida em paredes de pedra que tinha que ser secular estava uma porta de metal que parecia ter sido vítima de polícia aríete. Mais do que uma vez. O cadeado pendia precariamente da trava.

PJ deu três afiadas batidas, e um momento depois um cara que era três vezes o tamanho de Cole abriu a porta e enfiou a cabeça para fora.

Ele tinha um cabelo longo e pegajoso que não era lavado em pelo menos uma semana e uma cicatriz irregular que curvava todo o lado do rosto.

Seus olhos brilhavam em reconhecimento, quando viu PJ, e sua postura relaxou.

— Eu preciso ver Kristoff, — disse ela.

— Vou ver se ele tem tempo para você, — o homem enorme roncou.

— Diga a ele que é importante.

Sem uma palavra, o cara fechou a porta, deixando PJ e Cole no beco úmido e fedorento.

— Isso não pode ser uma boa ideia, — murmurou Cole. – Eu estava fora de mim para deixar você fazer isso.

— Kristoff vai nos conseguir o que precisamos — disse ela, confiante. — Além disso, ele gosta de mim.

— Bem, graças a Deus por isso, — Cole disse sarcasticamente.

Um momento depois, o Hulk abriu a porta e fez um gesto para que entrassem.

O interior cheirava um pouco melhor do que o beco. Estava escuro e cheirava fortemente a fumaça de charuto e álcool.

PJ forjou confiança e seguiu em frente e Cole seguiu logo atrás dela, determinado a ficar perto dela no caso de tudo ir para o inferno.

Seguiram por um longo corredor e o Hulk parou em uma porta e abriu-a, acenando para PJ e Cole entrarem. Cole deu um suspiro de alívio quando Hulk ficou fora, fechando a porta atrás deles.

Kristoff estava sentado atrás de uma mesa, fumando um charuto fedorento que fez Cole querer vomitar.

Quando ele a viu, deslizou os pés da mesa e sorriu na direção de PJ.

— Então, o que a traz de volta?

— Eu preciso de armas, — PJ disse sem rodeios. — Pelo menos dois rifles semiautomáticos e dois revólveres. Se você tem algo pequeno que possa ser facilmente escondido, preciso de dois também.

Kristoff estudou-a atentamente.

— Eu soube dos três caras que você matou. Os jogadores principais na rede de Brumley. Impressionante. Ele tem um contrato por você. Oferecendo muito dinheiro para a pessoa que possa te trazer. Viva ou morta. Ele não se importa.

O olhar de PJ se estreitou.

— Não me aborreça mais, Kristoff.

Ele riu.

— Eu tenho dinheiro. Para que eu precisaria de Brumley? Além disso, tenho um monte de dinheiro apostado que você o eliminará primeiro. Portanto, não me decepcione, hein?

— Sobre as armas, — disse ela, impaciente.

Kristoff se levantou de seu assento, apertou um botão e a parede oposta girou, revelando todo um arsenal disposto na parede interna.

— Faça a sua escolha. Falaremos de preço depois que você escolher.

PJ dirigiu-se para a parede, examinou algumas das armas e depois jogou um dos fuzis em direção a Cole. Ele o pegou e examinou o M-16.

— Vai funcionar, — disse ele.

Ela, então, atirou-lhe um revólver.

— Estou assumindo que estes irão disparar, — disse Cole na direção de Kristoff.

Kristoff imediatamente se irritou.

— Eu vendo apenas as melhores armas. Você não vai encontrar falhas em qualquer uma do meu estoque.

PJ escolheu suas próprias armas em seguida, atirou outra pistola menor na direção de Cole.

— Dê-nos o que precisamos de munição e estaremos em nosso caminho, — PJ disse brevemente.

Kristoff levantou uma sobrancelha.

— Nós não falamos de preço ainda.

— Dez mil para o lote, — ela disse friamente. — Dinheiro. Dólares americanos.

— Quinze. Você escolheu seis das minhas melhores peças.

— Você tem 10 ou nenhum negócio.

Cole piscou, impressionado com a calma de PJ. A mulher tinha coragem.

Kristoff pareceu aflito por um longo momento e então suspirou.

— Só porque estou planejando fazer o dobro quando você eliminar Brumley. Mas se você falhar, eu vou atrás de você pelos outros cinco mil.

PJ bufou e cavou em seu bolso, tirando um maço de dinheiro que Cole sequer sabia que ela tinha com ela.

Ela jogou as notas na mesa de Kristoff.

Kristoff contou meticulosamente cada nota de cem dólares e, em seguida, foi até um armário e tirou caixas de munição, colocando cada uma sobre a mesa.

— Ainda presta serviço de segurança? — PJ perguntou.

— Claro. Não posso ter você andando na rua carregando toda essa merda. Um carro estará esperando no final do beco. Eu vou fazer Franz levar suas compras.

— Bom fazer negócios com você, Kristoff. Farei o melhor para me certificar de ganhar a sua aposta.

Seus dentes brilharam.

— Faça isso. Eu sou um péssimo perdedor.

 

PJ sentou-se à mesa pequena no quarto do hotel para escrever um e-mail para Katia enquanto Cole estava deitado na cama, de olhos fechados. Ela duvidou que ele estivesse dormindo. Sabia que Cole ficaria sem dormir por dias quando a situação exigisse isso.

Propositadamente não disse a ele muito detalhes antes de voarem para Viena porque... Bem, ele não teria ido, e pior, teria cumprido sua ameaça de contê-la fisicamente para evitar que ela fosse.

Brumley não se tornara apenas outro alvo, uma missão que tinha que cumprir. Ele havia se tornado uma obsessão.

Quando dormia à noite, ela o via em seus sonhos. Às vezes, podia sentir a faca em suas mãos, e ouvir o gorgolejar do sangue enquanto ele dava o último suspiro. Era uma imagem que a assombrava dia e noite, e até que a tornasse uma realidade, continuaria a assombrá-la.

Clicou em enviar e-mail, mas deixou o laptop aberto e ele soaria para que ela soubesse o momento em que uma resposta chegasse.

Então, deitou na cama ao lado de Cole e colocou a cabeça na dobra do braço dele.

Como suspeitava, ele não estava dormindo. Ele virou-se para ela imediatamente e colocou o braço ao redor de seu corpo, puxando-a ainda mais perto.

¯ Então é isso o que você fez nesses seis meses que fugiu? ¯ Ele perguntou sério. ¯ Se escondeu em hotéis de merda, foi em becos para negócios obscuros com homens chamados Kristoff ou prostitutas amigáveis?

¯ Basicamente, sim. Mudava de hotel em poucos dias. Estava sempre preocupada que Brumley fosse me encontrar, especialmente depois que fiz a primeira morte e deixei a minha assinatura, por assim dizer. Ele não é burro. Tinha saber que era eu. Especialmente quando o seu braço-direito apareceu na noite em que ele me estuprou com um ferimento a faca nas costas, informando que eu tinha escapado.

Cole soltou uma série de palavrões.

¯ Eu não sei o que me irrita mais. Que você se envolveu nisto ou que não confiou em mim ou na sua equipe o suficiente para deixar-nos cientes do que estava acontecendo.

¯ Você queria que eu arrastasse a equipe em uma vingança pessoal, Cole? Sério? Se você estivesse planejando matar alguém, você realmente iria pedir à equipe para ajudá-lo? Porque não importa como você colorir isso, eu estou matando esses homens a sangue frio. Não é mais autodefesa. Eu os persegui e os cortei em tiras antes de matá-los.

Ele ficou em silêncio, e ela sabia que demonstrara seu ponto de vista.

¯ Eu odeio que você esteja envolvido agora. Odeio que Steele e os outros se envolveram. Isso mancha a KGI como um todo. O que acontecerá quando Resnick ficar sabendo dessa merda? E você não pode me dizer que ele não vai saber. O homem sabe de tudo. Aposto que o presidente está com medo de irritar o cara, porque ele sabe muito.

Ele colocou um dedo sobre os lábios dela.

¯ Cale-se. Não importa o que você quer ou não quer neste momento, porque estamos envolvidos. Não há como voltar agora. E não a deixaremos fazer isso sozinha, por isso cale a boca e lide com isso.

Ela sorriu e inclinou-se para beijá-lo quando seu laptop apitou, sinalizando um e-mail recebido.

Arrastou-se para fora da cama e correu para a mesa. Sua respiração ficou presa quando viu a resposta de Katia na caixa de entrada.

 

Devo me encontrar com você imediatamente. Importante. Venha sozinha.

 

¯ É isso, ¯ ela disse para Cole. ¯ Ela quer se encontrar imediatamente. Diz que é importante e para ir sozinha.

¯ Foda-se, ¯ Cole rosnou.

PJ levantou a mão.

¯ É claro que eu não vou sozinha. Se eu fosse, eu não teria me incomodado em trazê-lo comigo, então mantenha a sua cueca.

Ele parecia um pouco apaziguado, mas rolou para fora da cama, enfiou a arma maior no coldre, deslizou a pistola menor no coldre do tornozelo e depois fez uma revista no fuzil de assalto.

PJ se armou, mas colocou a espingarda na mochila e em seguida, estendeu a mão para Cole para que pudessem sair do hotel sem suas armas serem vistas.

¯ Você dirige, ¯ ela instruiu enquanto jogava a bolsa no banco de trás. ¯ Quero que você estacione um quarteirão longe do apartamento de Katia. Eu vou entrar, ver o que ela tem a dizer e depois volto para fora. Preciso que você vigie o edifício.

Seus lábios se apertaram, mas ele não discutiu.

Eles dirigiram, cruzando toda a cidade, gradualmente chegando em uma área que se deteriorou ao longo dos anos. Muitos dos edifícios estavam em condições precárias e a maioria das empresas se mudou para mais próximo do centro da cidade.

O apartamento de Katia era realmente um lugar agradável. No lado de dentro. O exterior era um edifício em ruínas, com grafite nas paredes e barras de ferro que cobriam cada uma das janelas.

Ela disse a PJ que o aluguel era quase nada, e com o dinheiro que tirava atendendo seus clientes ricos, podia se dar ao luxo de fazer do lado de dentro um palácio.

Depois de instruir Cole onde estacionar, PJ se armou e abriu a porta do passageiro.

¯ Dê-me meia hora. Eu não sei tudo o que ela tem a dizer, mas se eu não sair até então, venha atrás de mim.

¯ Vou lhe dar 20 minutos, ¯ Cole disse sem rodeios. ¯ Ela não pode ter muito o que dizer. Eu não gosto deste lugar. Não gosto de toda essa situação. Meu instinto está gritando como um filho da puta.

¯ Okay, 20 minutos, ¯ PJ concordou.

Ela não iria admitir, mas seu instinto estava fazendo seu próprio pedaço de putaria. Ela estava desconfortável com essa coisa toda.

Ela saiu, fechou a porta e correu em direção à entrada do edifício. Desperdiçou cinco minutos esperando o elevador de serviço rastejar até parar no piso térreo. Apertou o botão do sexto andar e saiu, fazendo um caminho mais curto para o fim do corredor onde ficava o apartamento de Kátia.

Bateu suavemente, e a porta abriu uma polegada no minuto em que PJ bateu.

PJ apertou a arma e cuidadosamente abriu a porta para que pudesse ver o interior.

¯ Katia? ¯ Ela chamou baixinho. ¯ É PJ. Você está aqui?

Entrou, arma erguida e apontada enquanto varria a sala de estar. A televisão estava ligada. Alguma novela europeia. Entrou na cozinha e não encontrou nada fora de ordem, então foi para o quarto.

A porta estava entreaberta e PJ cutucou-a com a ponta do pé, ficando para trás antes de girar ao redor, arma apontada para dentro.

Katia estava deitada na cama, em uma poça de sangue.

Filhos da puta!

PJ correu, alcançando o pescoço de Katia para tentar encontrar a pulsação, mas parou quando viu a visão macabra diante dela.

A mulher estava nua, com cortes no interior das coxas, abaixo dos seios e um abaixo da cintura.

Sua garganta estava tão horrivelmente cortada, que exceto por um pequeno pedaço de carne na nuca, ela foi praticamente decapitada.

PJ curvou-se, náuseas tão grandes que teve que respirar pelo nariz para não esvaziar o estômago.

Sobre a mesa, o laptop estava aberto com o último e-mail de PJ.

PJ tocou um dedo no braço de Katia para encontrá-lo frio e duro. Ela estava morta por muito mais tempo do que quando PJ recebeu o e-mail anterior.

Seu sangue gelou. Esta era uma encenação completa.

Foi então que percebeu o bilhete jogado na cama, manchas de sangue sobre o papel.

Ela o pegou e seu estômago foi ao fundo do poço.

 

Se você tem algum interesse em manter seu companheiro de equipe vivo, virá até a mim amanhã de manhã às dez horas. Sozinha. Desarmada. A escolha é sua. Você ou seu companheiro de equipe. Se você não aparecer, entenderei que sua escolha foi feita.

B.

 

Que porra é essa? De jeito nenhum eles estavam com Cole. Era um blefe completo. Será que pensavam que ela era estúpida? Virou-se e saiu correndo do apartamento de Kátia, não se incomodando com o elevador.

Voou os seis lances de escada e caiu para fora do prédio, em disparada, e correu pela rua onde Cole estava estacionado.

Mas o carro não estava mais lá.

Ah, merda, merda, oh merda.

De jeito nenhum eles estavam com Cole. De maneira nenhuma.

Arrancou o celular e discou o número de Cole.

¯ Vamos, vamos, ¯ disse, ansiosa.

Mas não foi Cole quem atendeu. Era uma voz que ela ouvia em seus pesadelos todas as noites durante os últimos seis meses.

¯ Não acreditou em mim? ¯ Perguntou divertido. ¯ Estou com seu namorado aqui. Ele está muito chateado. Ele vai ter sorte se eu não matá-lo antes de você chegar aqui, mas um acordo é um acordo. Você por seu companheiro de equipe.

¯ Onde? ¯ Ela resmungou.

¯ Verifique seu e-mail. Informarei o local às nove da manhã. Até então, durma bem, PJ Rutherford. E lembre-se disso. Se você estiver mais que um minuto atrasada, seu amigo aqui estará morto. Se você aparecer com alguém, se eu sequer pensar que você tem reforço, ele estará morto. Se eu encontrar uma única arma em você, ele estará morto. Você está recebendo a imagem agora? Eu não tenho nenhum uso para este homem. Mas você... Você, eu tenho uso. Temos negócios inacabados. Chegue aqui a tempo e siga as minhas instruções. Faça isso e ele fica livre. Entendeu?

Antes que ela pudesse responder, Brumley cortou a ligação, deixando PJ de pé na esquina da rua entorpecida até os dedos dos pés.

 

PJ voltou para o hotel, se pondo ativa e imediatamente fechando a conta. Mudou-se para um albergue do outro lado da cidade, providenciou um nome falso, e pagou em dinheiro, mais do que o triplo do custo do quarto para que não tivesse que fornecer seu passaporte.

Ela estava um caco. Uma destruição completa e absoluta, e estava tão chateada que sabia que tinha que se controlar ou conseguiria que ela e Cole fossem mortos.

Não acreditou nem por um minuto que Brumley iria deixar Cole sair uma vez que PJ se rendesse. O imbecil devia pensar que ela era uma completa idiota para engolir essa linha de besteira.

A primeira coisa que tinha a fazer era chamar Steele, e era uma chamada que temia com cada fibra do seu ser. Mas, por Cole, ela faria qualquer coisa. Mesmo que isso significasse nunca trabalhar para a KGI novamente. E isso provavelmente aconteceria. Ela não podia pressionar seu líder da equipe tanto assim. Ele não era exatamente conhecido por sua compreensão.

Ele esperava que ela obedecesse a ordens sem perguntas e fizesse o seu trabalho. Se fizesse as duas coisas, estava tudo muito bem. Se não, havia um problema sério.

Fez a chamada com um enorme nó no estômago. Ele atendeu no segundo toque.

¯ Steele ¯ disse ele curto.

¯ Steele é PJ. Temos uma situação.

Steele imediatamente tornou-se alerta.

¯ Dê-me o resumo.

Nunca media as palavras. Ele queria as coisas curtas e concisas, diretas ao ponto. Sem besteiras desnecessárias e sem desculpas.

¯ Cole e eu chegamos a Viena para seguir uma pista de um contato que eu fiz quando estava aqui. Ela me levou a acreditar que Jacarta era uma pista falsa e que algo grande seria fechado aqui. Cole e eu planejamos verificar, porque o meu contato só falava comigo. Depois de descobrirmos o que havia para descobrir iríamos chamar a equipe.

PJ teve de segurar o telefone longe da orelha enquanto obscenidades estouravam derramadas através da outra extremidade.

¯ Que diabos vocês dois estavam fazendo saindo sem me dizer uma maldita coisa, e, além disso, por que diabos vocês dois foram sozinhos? ¯ Ele exigiu.

Ela não tinha tempo para responder suas perguntas.

¯ Meu contato foi morto quando eu fui para o apartamento dela. Cartão de visitas de Brumley. Brutalizada e com a garganta cortada. Da mesma forma que matei três de seus homens. Era uma mensagem clara para mim. E ele deixou um bilhete dizendo que estava com Cole.

¯ Filho da puta! Você foi sozinha? Sem reforço? Você ficou louca, PJ? Você está agindo como uma recruta novata molhada atrás das orelhas e eu esperava mais de você.

¯ Olha, nós tínhamos nossas bases cobertas. Fomos preparados. Brumley nos enganou. Ele chegou até meu contato primeiro, a matou e depois me mandou um e-mail do laptop dela. Enquanto eu estava lá dentro, eles pegaram Cole, que estava estacionado a uma quadra me esperando sair.

¯ E agora? ¯ Steele rosnou.

¯ Ele quer que me trocar por Cole.

¯ Sobre o meu cadáver, ¯ Steele disse friamente.

¯ Olha, eu não acredito nem por um minuto, que ele vai deixar Cole em liberdade uma vez que ele tenha a mim. É por isso que estou chamando você. Eu não sou idiota, Steele, mesmo você pensando que sou. Eu pensei nisso. Se você e os outros pegarem um avião agora você pode chegar muito perto do tempo que eu deveria encontrar Brumley. O problema é que eu não sei onde, ainda. Mas tenho um dispositivo de rastreamento que vou usar para que você saiba como me encontrar. Preciso que você consiga trazer seus traseiros aqui tão rápido quanto possível, de modo que teremos reforço. Não posso esperar você chegar para eu sair, porque acredito que ele vai matar Cole por despeito, se eu estiver um minuto atrasada. Mas se eu chegar lá, posso ganhar tempo até vocês entrarem. Farei o que tiver que fazer, seja seduzir aquele idiota lamentável ou deixá-lo dar outro tiro em mim. Enquanto Cole sobreviver, não importa o que aconteça comigo.

¯ Você não vai negociar a si mesma em troca de Cole, ¯ Steele disse laconicamente. ¯ Você honestamente acha que Cole será capaz de viver consigo mesmo se você fizer isso?

¯ Pelo menos ele estará vivo ¯ ela disse suavemente. ¯ Ninguém em minha equipe será derrubado por minha causa.

Steele xingou novamente.

¯ Em quanto tempo você pode estar aqui? ¯ PJ perguntou. ¯ Eu o encontrarei às dez da manhã. Acho que vocês vão demorar a noite toda e parte da manhã para chegar. Estaremos separados por pouco. Preciso de você lá o máximo possível perto das dez. Não sei quais são os planos dele. Ele pode nos matar assim que eu aparecer. Estou esperando brincar um pouco com o ego dele para ganhar tempo. Só esteja aqui, Steele. Estou contando com você.

¯ Estaremos lá, ¯ Steele rosnou. ¯ Mantenham suas bundas vivas até chutarmos alguns traseiros, porra. Você consegue isso, Rutherford? Isso é uma maldita ordem e eu espero que você a siga.

Era uma ordem que ela não tinha absolutamente nenhum problema em seguir.

 

PJ não dormiu naquela noite. Ela passou por uma dezena de cenários em sua cabeça, mas nenhum deles fez qualquer bem, porque não tinha ideia do que estava contra ela.

E o bastardo estava brincando com ela. Ela verificou seu e-mail várias vezes, hora após hora, e não veio nenhuma informação.

Não foi até as oito e meia da manhã seguinte que o e-mail surgiu em sua caixa de entrada.

Ela bateu na mesa em frustração, porque tudo que ele disse foi que um carro iria buscá-la às nove e meia na parada do metrô Stubentor[13].

Com nenhuma informação para deixar para Steele, teria que confiar exclusivamente nos dispositivos de rastreamento e esperar que não fossem descobertos antes que Steele chegasse e tivesse sua localização.

Colocou um dos pontos no fundo de seu sapato, e outro conectou ao elástico que usava para prender os cabelos em um rabo de cavalo.

Orando que Steele e companhia chegassem logo, deixou o quarto no albergue, pedindo instruções para a estação de metrô mais próxima.

Foi engraçado que ela não conseguia se lembrar de qualquer outra missão. Não se lembrava de como se sentia, se foi com medo, se estava preocupada em morrer ou ter um de seus companheiros de equipe mortos.

A velha PJ tinha sido arrogante e autoconfiante. A nova PJ tinha uma compreensão muito melhor e justa do que poderia dar errado, e certamente estava mais em contato com sua mortalidade e a de seus companheiros de equipe.

Ninguém iria morrer se ela tinha alguma coisa a dizer sobre isso.

Ela andava de metrô em tenso silêncio, perguntando-se se Steele e sua equipe chegaram, na esperança de que fossem capazes de pegar o sinal dos dispositivos de rastreamento.

Os bastardos provavelmente iriam revistá-la muito duramente, mas sua esperança era que, se encontrassem um dos dispositivos de rastreamento, não se incomodariam em procurar um segundo. E ela propositadamente usava uma simples camiseta e calça jeans porque não havia um caminho possível para esconder nada, e queria que Brumley pensasse que ela cumpria cem por cento de suas ordens.

Quando chegou à estação, saiu e olhou cautelosamente ao redor. Não estava inteiramente certa do que estava procurando, mas imaginava que os idiotas iriam encontrá-la rápido o suficiente.

E estava certa.

Não tinha dado mais do que alguns passos fora da plataforma quando sentiu o cano de uma arma pressionar dolorosamente em suas costas.

¯ Continue andando e não faça nada estúpido.

A voz com sotaque foi um ataque aos seus ouvidos. Não queria nada mais do que se soltar e arrebentar o filho da puta, mas controlou sua raiva e caminhou mansamente na direção que ele apontou para ela.

Foi empurrada em um carro esperando e ordenada a deitar-se no banco.

Fez o que foi instruído e esperou uma eternidade, enquanto o carro saia e rodava pelo que pareceu para sempre, antes de parar novamente. Esperou que o homem abrisse a porta e dissesse-lhe o que queria. Não queria correr o risco de irritá-lo tão cedo no jogo.

Paciência era a palavra do dia. Enrolar. Qualquer coisa que fosse necessária para Steele e sua equipe chegarem à posição.

¯ Levante-se e não tente nada estúpido, ¯ o homem gritou.

Ela levantou-se lentamente, certificando-se de que suas mãos podiam ser vistas.

Assim que estava fora do carro, o homem empurrou-a para a entrada do que parecia ser uma maldita fortaleza.

Ela lançou um rápido olhar para trás, vendo o portão de ferro forjado e a cerca de alta segurança, para não mencionar os guardas armados que patrulhavam o perímetro.

Não seria fácil, mas ela tinha toda a confiança de que Steele habilmente lidaria com quaisquer obstáculos que encontrasse.

Seu foco principal agora tinha que ser Cole e ter certeza que ele estava vivo e bem.

Ela tropeçou, sua perna protestando contra a tensão que estava colocando sobre ela. Então exagerou ao mancar enquanto entravam na casa. Quanto mais fraca assumissem que ela estava, melhor a oportunidade que teria de pegá-los desprevenidos.

Ela quase gemeu quando ele a guiou a uma escada em espiral que levava para o próximo nível. Visivelmente fazendo uma careta, subiu a escada no ritmo de um caracol. Não teve que fingir o desconforto neste momento.

O homem empurrou-a, obviamente com pressa, e ela reprimiu a réplica que queimou seus lábios.

Quando finalmente chegaram ao topo, ele dirigiu-a pelo longo corredor até uma porta no final. Uma vez lá, ele bateu forte e esperou a convocação.

Ela prendeu a respiração quando a porta se abriu, não sabendo o que esperar do outro lado. O homem empurrou-a para dentro e ela tropeçou, sua perna não sendo capaz de tomar o impulso repentino.

Caiu esparramada no chão de madeira, e quando olhou para cima, o objeto de seu pesadelo estava parado do outro lado da sala, um sorriso de satisfação no rosto.

Rapidamente fazendo o balanço do resto do quarto, ela contou três outros guardas armados mais Brumley. Em seguida, seu olhar iluminou sobre Cole e seu coração parou.

Ele estava amarrado a uma cadeira e seu rosto era uma bagunça. Sangue seco no nariz e boca e crosta de uma contusão escurecia um olho. Raiva a encheu, rugindo através de suas veias, dando-lhe o ímpeto para se levantar e enfrentar Brumley.

¯ Então você veio, ¯ Brumley disse. ¯ Imaginava se deixaria o seu companheiro de equipe para se salvar. Talvez eu a subestimei.

¯ Você cometeu esse erro algumas vezes, ¯ PJ rosnou. ¯ Então, qual é o negócio, Brumley? Você me pediu por ele. Eu estou aqui, então o deixe ir.

Mesmo que soubesse que ele não tinha essa intenção, ela jogaria o seu jogo por tanto tempo quanto possível.

Brumley dispensou o homem que a escoltou, e ele saiu, fechando a porta atrás dele.

Então Brumley voltou sua atenção para ela, seus olhos brilhando com diversão.

¯ Então, nos encontramos novamente, finalmente. Sabe, eu deveria ter deixado Nelson fazer do jeito dele quando ele pediu para mantê-la como um animal de estimação. Acho que teria sido divertido para brincar. E não teria me custado três dos meus homens.

Os lábios de PJ se curvaram em um rosnado.

¯ Você não é homem o suficiente, Brumley. As únicas vezes que você consegue ficar de pau duro é quando a mulher é drogada e está impotente. Você não poderia me derrubar em uma luta justa.

¯ Cala a boca, PJ, ¯ Cole esbravejou.

Ela o olhou rapidamente, e ele estava fervendo em fúria por ela provocar Brumley. Cada músculo de seu corpo estava lutando contra as amarras. Ele era um macho alfa muito irritado.

¯ Você joga um jogo perigoso, ¯ Brumley disse suavemente. ¯ O que espera realizar? Ganhei. Eu tenho você. Eu tenho seu companheiro de equipe aqui. Você não pode esperar ganhar.

¯ O negócio não é ganhar, ¯ ela disse calmamente. ¯ Você disse: eu por ele. ¯ Ela apontou o dedo na direção de Cole. ¯ Então, deixe-o ir e depois será só você e eu. Quer que eu tire a roupa? Torna mais fácil para você? Vamos ver se você consegue quando eu não estou desnorteada e incapaz de me mover como resultado de suas drogas.

Ela olhou de soslaio para Cole, dizendo-lhe em silêncio para não reagir. Ela só esperava, pelo inferno, que ele entendesse a mensagem.

¯ Eu estava pensando mais em um acordo de longo prazo, ¯ Brumley rebateu. ¯ Eu tenho uma pequena gaiola agradável que seria perfeita para você. Meu pequeno animal de estimação. Brincar com você por algum tempo depois colocá-la de volta em sua gaiola. Depois de um tempo você vai ser grata por toda atenção que eu lhe der. Eu vou quebra-la muito rapidamente.

Ela riu.

¯ Em seus sonhos.

Brumley levantou uma sobrancelha.

¯ Então tire a roupa. Se eu ficar satisfeito com o seu desempenho, deixarei seu precioso companheiro de equipe ir.

¯ Vai me foder aqui mesmo na frente de todos? ¯ Ela provocou. ¯ Eu não sei se eu quero que os seus homens saibam que você é um pequeno merda impotente.

Brumley avançou sobre ela, mas ela manteve sua posição. Ele envolveu o punho em seu cabelo, puxando-a para perto. Então bateu nela com as costas da mão, mas segurou-a firmemente para ela não cair.

¯ Cuidado com a boca ou eu vou matá-lo aqui mesmo na sua frente e então vou foder você, enquanto você o vê morrer.

PJ estendeu as mãos.

¯ Okay, você ganhou. Você é o chefe. Diga-me o que quer.

¯ Dispa-se ¯ disse ele novamente.

Ela soltou um suspiro. Isso não é o que ela queria. Por tudo o que sabia o idiota iria passá-la para seus pequenos cães de guarda, que estavam todos se inclinando para frente interessados agora.

Mas ela precisava de pelo menos um deles perto se ela tinha alguma esperança de conseguir uma arma.

¯ Quer um strip-tease ou só quer que eu tire a roupa? ¯ Ela estalou.

Cada minuto que poderia mantê-lo falando dava-lhe tempo muito necessário para Steele chegar aqui.

Brumley sinalizou para um de seus homens.

¯ Tire a roupa dela e faça isso rápido.

Ela prendeu a respiração, todos os sentidos em alerta.

O homem mais próximo de Brumley avançou ansiosamente.

¯ Ponha as mãos para cima e não faça nenhum movimento, ¯ o guarda disse em tom conciso.

Lentamente, ela levantou os braços enquanto ele puxava uma faca e fazia um rápido trabalho em sua camisa.

Cole ficou louco. A cadeira na qual estava posicionado colidiu e ameaçou quebrar, forçando um dos outros guardas a agir. Ele puxou uma arma e segurou-a na cabeça de Cole.

¯ Pelo amor de Deus, PJ, não faça isso, ¯ Cole pediu.

Ela não ousou sequer olhar em sua direção. Não podia perder o foco.

Quando o homem encarregado de despi-la alcançou seu jeans, ele puxou o botão do zíper e, em seguida, cortou para baixo, chegando perigosamente perto de cortar sua pele.

Ela estava de pé apenas com sutiã e calcinha, e nunca se sentiu tão vulnerável em sua vida.

Pare!

Ela não iria voltar a ser aquela mulher amedrontada e impotente que ela foi na primeira vez quando Brumley a estuprou. Não deixaria que aquela mulher entrasse e assumisse o controle. Desta vez, ela estava no controle. Ela estava no banco do motorista e ele não tomaria nada dela. Morreria antes que permitisse que ele a tocasse novamente.

Manteve estreita vigilância sobre o homem que a despojava de sua roupa. Sua arma estava tão perto, quase ao alcance. Tão perto. Ela prendeu a respiração, precisando que ele se virasse um pouco mais.

Merda, ela perdeu o controle do terceiro homem. Um estava guardando Cole, um estava despindo-a, mas onde estava o terceiro?

Não podia fingir modéstia e de repente começar a agir como donzela tímida quando corajosamente confrontou Brumley e lançou seu desafio.

Porra.

Encolheu-se quando o idiota deslizou a lâmina debaixo do sutiã direto no vão entre os seios. A sensação de mal estar a assaltou quando o sutiã caiu e, em seguida, moveu a lâmina para sua calcinha.

Oh, Deus, ajude-me. Por favor, por favor, deixe Steele estar perto.

Ela talvez não fosse capaz de conseguir que ela e Cole saíssem dessa, sozinha.

O homem recuou e ela perdeu qualquer oportunidade de pegar sua arma. Ficou sozinha no meio do quarto, nua, com os olhos destes bastardos festejando avidamente sobre ela.

Em seguida, finalmente localizou o terceiro guarda. Ele estava por trás dela, em direção ao canto, mas agora ele se aproximava, querendo encher os olhos também.

A antecipação no rosto dos guardas lhe disse que era muito provável que Brumley não se importasse de dividir sua propriedade.

Brumley deu um passo adiante e ela podia ver a protuberância em suas calças. O desgraçado estava completamente excitado com a cena diante dele e provavelmente saboreava a ideia de estuprá-la aqui na frente de Cole.

¯ Okay, estou nua ¯ ela disse friamente. ¯ Deixe-o ir.

Brumley lançou um olhar na direção de Cole. A expressão de Cole era assassina.

¯ E deixá-lo perder a diversão? ¯ Brumley perguntou. ¯ Qual a melhor satisfação do que transar com você bem aqui enquanto ele assiste?

¯ Esse não era o acordo, ¯ ela retrucou.

¯ Então me processe.

Ela mostrou os dentes, embora soubesse que era precisamente o que ele planejava fazer.

Ele deu um passo em direção a ela, e por um momento ela foi levada de volta no tempo para quando foi forçada a suportar o peso sufocante, o cheiro de seu próprio sangue. A dor horrível que ele infligiu e, em seguida, quando empurrou-se dentro de seu corpo.

Brumley olhou vagarosamente por seu corpo, olhando para as cicatrizes dos ferimentos que ele infligiu. Havia uma satisfação doentia em seu olhar.

— Apenas pense. Essas marcas, minhas marcas, estarão em você para sempre. Toda vez que você vê-las, olhá-las, você vai se lembrar de mim. Eu pretendo adicionar mais. Não vou matá-la, PJ. Vou mantê-la viva, mas você vai desejar estar morta. Eu garanto isso.

Levou todo o seu esforço não permitir que ele visse o medo paralisante e a revolta que explodia através de seu corpo. Ela não lhe daria essa satisfação. Se morresse hoje, morreria sem medo e derrubaria esse filho da puta com ela.

Sentiu a presença do guarda atrás dela. Ele se aproximou até que ela podia sentir o desejo desesperado irradiando dele. Talvez Brumley planejasse que ele a segurasse enquanto Brumley a estuprava. Seja qual fosse o caso, ela não podia esperar nem mais um minuto por Steele. Teria que sair dessa sozinha.

Ela identificou as posições dos outros homens. O que mais a preocupava era aquele segurando uma arma em Cole. No entanto, ele estava muito focado na cena rolando diante dele e realmente baixou a arma poucos centímetros preciosos. O suficiente para que, se houvesse um tiro, Cole tivesse uma chance muito boa de sobreviver.

Em seguida, ela fez sua jogada.

Girando em sua perna boa, conectou um gancho de direita sólido no rosto do guarda em pé atrás dela. Então, puxou a arma do coldre dele e disparou no guarda mais próximo de Cole.

Ela caiu e rolou, disparando uma série de rodadas no guarda de quem tomou a arma e então tentou freneticamente localizar o último homem armado.

O filho da puta mergulhou atrás da escrivaninha enquanto Brumley alcançava sua própria arma. Merda!

Ela rolou até que teve uma visão clara no recorte da mesa e acertou o joelho do filho da puta, fazendo-o gritar de dor. Assim que ele se inclinou para pegar o joelho, ela colocou uma bala na sua cabeça.

Outro tiro soou, e por um momento ela pensou que foi atingida. Mas não sentia dor.

Ah não! Deus, não... Não, não, não!

Ela arrastou-se para ver Cole caído sobre o sangue escorrendo do lado direito de seu corpo. Então dor cegante a oprimiu enquanto Brumley batia em seu rosto com a coronha da arma.

Ela saiu cambaleando, a arma voando de sua mão. Caiu vários metros longe, o rosto explodindo de dor. Porra, parecia que havia quebrado sua maldita mandíbula.

Ele pairava sobre ela, segurando a arma sobre sua cabeça, mas ela reagiu rapidamente, atacando com sua perna boa, batendo a arma de sua mão.

Ela lutou, mas ele estava em cima dela, puxando-a para seus pés, aterrissando outro golpe na mandíbula já ferida.

Por pura determinação, permaneceu consciente e empurrou de lado a dor. Agarrou-se tenazmente a Brumley quando ele tentou jogá-la no sofá. Se ele colocasse seu peso sobre ela, ela estaria acabada. Ele a superava em 90 quilos. Ela bateu o joelho em seus testículos, e de repente estava livre, o grito de dor ecoando fortemente em seus ouvidos.

Onde havia uma maldita arma?

Cole estava vivo?

Brumley se recuperou rapidamente e eles circularam um ao outro como predadores desconfiados. Mas a concentração dela estava dividida, porque estava deprimida com a ideia de que Cole foi baleado. Ele podia estar morto.

Olhou para o lado de Cole novamente e Brumley se aproveitou desse momento de desatenção, dando um chute em sua perna ferida. Agonia lanceou até a coxa. Ela soltou um grito de dor e caiu no chão, incapaz de se segurar antes do impacto.

— Porra, PJ, eu estou bem. Agora levante sua bunda e chute o maldito traseiro dele, — Cole gritou.

O alívio a deixou tonta. Mas ela também estava de repente imbuída de força e propósito. Cole estava vivo. Tudo o que tinha a fazer era derrubar esse imbecil e seu objetivo seria alcançado. A vingança seria dela. E o filho da puta nunca machucaria outra mulher ou criança novamente.

Ela se levantou justo quando Brumley lançou outro ataque. Ela rolou e fez um chute circular com a perna não lesionada, acertando suas bolas por uma segunda vez. Se ela fizesse isso certo, ele não teria uma bola restante quando terminasse com ele.

Onde estava uma maldita arma? Revolver? Faca? Qualquer coisa?

Ela rolou novamente, tentando reunir forças para ficar de pé, quando sua mão resvalou na faca que foi usada para cortar sua roupa.

Ela a agarrou e segurou para manter sua preciosa vida. Desta vez, quando Brumley veio por trás, ela atacou com a faca e acertou bem no intestino.

Ele uivou de dor e saltou para trás. Desta vez, ele não avançou sobre ela, depois de ter descoberto que as probabilidades tinham virado a favor dela.

Ele fez um mergulho para uma das armas e PJ saltou atrás dele, rolando sobre seu corpo e chutando a arma na direção de Cole.

Assim que ela entrou em contato com o chão, perdeu a respiração e Brumley estava sobre ela em uma fração de segundos.

Eles rolaram, sua mão esmagando-lhe o pulso, em um esforço para fazê-la soltar a faca. Oh, inferno não. Ela não seria derrotada assim.

Esperou até que ele caiu mais baixo, tentando usar seu peso para tirar vantagem, e deu-lhe uma cabeçada na cara. Dor lanceou sua espinha quando ele rolou para longe dela, mas não podia se dar ao luxo de deixá-lo pará-la agora. Todo o seu corpo parecia que tinha passado por um moedor de carne, mas estava tão perto. Tão perto da vitória, que poderia prová-la.

— Atrás de você, PJ! — Cole gritou.

Ela caiu e rolou de novo, mal sentindo a carga de Brumley. Mais uma vez os dois estavam de pé se enfrentando como dois touros. Sangue escorria de ambos. Não tinha ideia de onde ela estava sangrando. Não havia uma única parte de seu corpo que não doía. A sua concentração total era fazer Brumley sangrar mais.

Ele fintou para a esquerda e foi aí que ela o pegou. Ela foi para baixo e levou-o com ela quando ele perdeu o equilíbrio. Rolou em cima dele e deu-lhe um soco na cara. E então, novamente. Ela socou até que teve certeza de que quebrou a mão novamente.

Então agarrou a cabeça dele com ambas as mãos e bateu com ela no chão até que ele estava quase inconsciente.

— PJ, PJ, querida, você o pegou.

A voz suave de Cole filtrou pela névoa provocada por sua raiva. Ela olhou para cima, para a primeira conexão com Cole. Ele estava vivo. Sangrando, mas vivo. Então olhou para Brumley, sobre quem ainda estava montada. Nua.

Não sentiu vergonha neste momento. Ela era a vencedora. Ela derrubou esse filho da puta. Ela. Apenas uma mulher indefesa que ele uma vez estuprou.

Ela se inclinou sibilando para que ele não deixasse de ouvir.

— Como se sente, idiota? Saber que eu não estou tão impotente agora e venci você.

Pegou a faca que ela tinha derrubado e bateu casualmente nos botões da camisa de seda cara e ensanguentada dele. Pânico entrou em seus olhos quando ele imaginou a intenção dela.

A porta do quarto se abriu e ela ergueu a arma para ficar perto de Cole. Estava escorregadia e quase caiu, e então ouviu a voz de Cole, tranquilizando-a. Acalmando-a do pânico que a dominou.

— Está tudo bem agora, PJ. É apenas Steele e o resto da equipe. Eles estão aqui agora. Está tudo bem.

Mas não estava bem. Sequer deu a seus companheiros de equipe um olhar. Voltou sua atenção para o bastardo que prendeu ao chão. Não se importava com o que seus companheiros estavam vendo. Que ela estava nua e ensanguentada. Ela sacrificou todo o orgulho em sua busca de justiça. E agora a justiça era dela para ser tomada.

Terminou de cortar a camisa e Brumley começou a balbuciar e implorar por sua vida.

Patético, maricas, verme.

— Não me mate, — ele implorou.

Ela riu, e o som era frio no quarto. Não era como PJ. Esta era uma PJ diferente. Esta era a assassina de sangue frio que ela se tornou.

— Dê-me uma boa razão por que eu não deveria cortá-lo como você fez comigo e depois deixá-lo morrer morte longa e dolorosa, — ela cuspiu.

— PJ.

Era Steele. Uma única palavra cortou a neblina e a trouxe de volta à realidade.

Ela virou-se, esperando censura. Esperando que ele dissesse para ela se retirar. O que ela viu foram seus companheiros de equipe com raiva nos olhos.

Steele estava à frente, com os olhos cheios de compreensão.

— A decisão é sua, — ele disse calmamente. — Resnick o quer vivo, mas foda-se Resnick. O que você decidir, estamos com você cem por cento.

Foi então que Brumley quebrou, chorando como uma criança perturbada. Talvez ele visse a promessa da morte nos olhos de PJ. E depois de ouvir seu líder de equipe, a sanção para sua morte, ele começou a balbuciar mais rápido do que PJ podia compreender.

— Eu te darei o que você quiser. Dinheiro. Eu tenho dinheiro. Informação.

Ele ofereceu avidamente.

— Eu tenho os nomes e contatos. Tenho registros de cada negócio que eu já fiz. Você poderia ter muitas pessoas muito importantes que lidam com o tráfico de crianças. Eu sou apenas o homem do meio. Eu não sou nada.

Os lábios de PJ se curvaram em um rosnado.

— Sim, você provavelmente gostaria de ser entregue à Resnick. Você faria algum acordo confortável, cantaria como um pássaro e, em seguida, estaria livre em algum momento. Eu não confio em você, Brumley. Você diria qualquer coisa para salvar seu próprio rabo.

Dolphin e Renshaw correram para onde Cole ainda estava sentado, amarrado à cadeira. Rapidamente o desamarraram e começaram a aplicar uma pressão densa no ferimento.

Steele e Baker estavam na porta, as armas ainda apontadas, seus olhares nunca deixando PJ.

— Eu posso provar, — Brumley tagarelou. — No meu cofre. Lá na parede. Eu vou dar-lhe a combinação. Você pode ver. Tenho registros de tudo. Conversas gravadas. Detalhes de negócios. Quando e onde. Está tudo lá, eu juro!

— Baker, verifique, — PJ ordenou.

Baker removeu o quadro na parede e depois esperou enquanto Brumley gaguejava a combinação. Um momento depois, Baker começou a retirar as pilhas de dinheiro e com elas um livro e vários chips de memória.

Baker folheou o livro e soltou um assobio.

— Aparentemente o nosso idiota aqui faz negócios com algumas pessoas muito importantes. Resnick gozaria nas calças por colocar as mãos sobre estas coisas.

— Viu? — Brumley ofegou. — Eu te disse!

PJ olhou para ele com nojo e depois pressionou a lâmina em sua garganta até que uma linha de sangue apareceu.

— Espere! Você disse que não iria me matar! — Brumley disse em pânico.

Ela cortou profundamente, cortando sua traqueia, o ar escapando em um silvo longo.

— Me processe.

 

PJ deixou a faca cair de sua mão, fazendo barulho no chão. A dormência insinuou-se junto com a percepção do que ela fez. Sua vingança estava completa.

Seus estupradores estavam mortos. Sua missão estava terminada.

Um arrepio a percorreu, e ela percebeu que ainda estava montada sobre Brumley, nua e fria, tremendo como uma folha.

E então, sua equipe estava lá, em torno dela.

A mortificação agarrou-a e ela envolveu os braços ao redor do corpo em uma tentativa de se cobrir.

Steele embrulhou um cobertor em torno de sua forma trêmula e puxou-a para cima e longe do sangue e da visão do corpo morto de Brumley.

— Está ferida? — Steele perguntou, as mãos em seus ombros, segurando o cobertor no lugar.

Parecia uma pergunta sem sentido quando ela estava sangrando por todo o rosto e devia parecer um acidente de trem.

— Cole, — ela resmungou. — Como está Cole?

Ela se afastou, indiferente de qualquer coisa, menos de Cole. Correu para onde ele ainda estava sentado na cadeira em que esteve muito perto de ser dilacerado em seu desespero para chegar a ela. Havia queimaduras de corda em seus pulsos e uma bandagem volumosa cobria seu ombro. Mas ele estava vivo.

Assim que ela abriu caminho por Dolphin e Renshaw, Cole cambaleou e a encontrou no meio.

Ignorando seus ferimentos, ignorando os dela, esmagou-a contra ele, segurando-a como se nunca mais fosse soltá-la.

— Meu Deus, você me assustou, PJ, — ele sussurrou em seu ouvido. — Nunca mais faça isso comigo de novo. Jure que você nunca vai fazer isso de novo. Eu quase perdi você. Eu não posso perder você de novo. Nunca mais.

Ela agarrou-se ferozmente a ele, temendo o que aconteceria se o soltasse. Ela podia literalmente sentir os fios que a mantiveram inteira soltando-se e começando a briga. Ela não sabia quanto tempo seria capaz de manter-se inteira.

— Baker, tire tudo daquele cofre, — ordenou Steele. — Precisamos limpar isso aqui imediatamente. Eu não quero qualquer sinal de que estivemos aqui.

Renshaw bufou.

— Eu acho que os corpos dos mortos ficariam.

Steele derrotou-o com um olhar.

— Eles podem especular sobre quem ou o que, mas não quero que tenham provas irrefutáveis. Eu quero todos fora e este lugar limpo imediatamente.

— Sim, senhor, — disse Baker.

Baker reuniu tudo do cofre e começou a colocar tudo em sua mochila.

Renshaw começou a limpar todas as superfícies que poderiam ter sido tocadas e depois começou a trabalhar na porta, as maçanetas e o batente.

PJ ainda estava agarrada firmemente a Cole, sabendo que se o soltasse estaria perdida.

Steele foi até eles.

— Você consegue descer sem ajuda? — Ele perguntou a Cole.

— Sim, eu estou bem. Mas ela não está.

— Eu sei, — Steele disse calmamente.

Ele suavemente arrancou PJ de perto de Cole. Ela estava delirando, esticando os braços para Cole, não querendo ser separada dele nem por um momento.

— Shhhh, PJ, — Steele disse gentilmente. — Agora acabou. Você está segura. Cole está bem.

Mas sua mente destroçada não conseguia processar mais nada além de sua necessidade de estar perto de Cole.

Ela ainda estava lutando quando Steele pegou-a em seus braços. Depois de pedir a Baker, Dolphin e Renshaw para completar a limpeza, ele saiu pela porta com Cole logo atrás.

PJ ficou mole, a dor de sua luta esmagando-a. Deitou a cabeça no ombro de Steele e fechou os olhos, tantas emoções diferentes bombardeando-a até que estava completamente esmagada.

Alívio. Dor! Tristeza. Pesar. Justificativa.

 Justiça.

Agarrou-se à última palavra sabendo que era a mais adequada de todas. A justiça fora feita. Brumley nunca seria uma ameaça para outra mulher ou criança novamente.

Steele a levou para fora dos portões que foram detonados, e ela olhou para o ferro retorcido, a carnificina que foi feita quando sua equipe explodiu o seu caminho para dentro.

Um momento depois, Steele colocou-a na parte de trás de um SUV e deslizou-a em uma posição sentada. Cuidadosamente puxou as pontas do cobertor em volta dela, dobrando as extremidades como se ela fosse uma criança incapaz de fazer a tarefa mais simples por si mesma.

— Vou voltar para reunir os outros, para que possamos dar o fora daqui, — disse Steele. E então ele se afastou, deixando-a sozinha com Cole.

Ela sentou-se curvada e Cole se aproximou, puxando-a em seus braços. Ela fechou os olhos e simplesmente inalou seu aroma. O sangue, o suor, a sujeira. Ela não se importava. Ele estava vivo. Eles conseguiram. Brumley estava morto.

— Acabou, querida, — ele murmurou. — Finalmente acabou. Você eliminou o merda violento. Você me assustou até a morte, mas nunca duvidei de você, nem por um momento.

Suspirou e esfregou a face contra o ombro dele. Sua voz tremeu e balançou quando ela falou. Teve que se esforçar para conseguir passar as palavras além dos lábios frios e duros.

— Acabou, mas ainda vou vê-lo à noite, quando eu fechar os olhos? Ainda o verei em meus sonhos e reviverei aquele momento de impotência de novo e de novo?

Ele deslizou os dedos sob o queixo dela e gentilmente cutucou-o para cima até que ela encontrou seu olhar.

— Estarei ao seu lado a cada passo do caminho, e cada vez que o idiota entrar em sua mente, vou empurrá-lo de volta para fora novamente. Para cada sonho ruim que você tiver, eu vou substituí-lo por algo maravilhoso.

Ela inclinou a cabeça contra o peito dele de novo.

— Eu te amo, sabe?

Ele colocou a boca no topo de sua cabeça, e ela podia sentir seu sorriso.

— Sim, eu sei. E eu também te amo muito. O que acha que devemos fazer sobre isso?

Ela fez um som distorcido que poderia ter sido de pânico ou satisfação. Talvez um pouco de ambos. Era tão duro conseguir juntar seus pensamentos e isso era muito importante. Precisava fazer direito.

Levantou a cabeça para que pudesse olhá-lo nos olhos, para que pudesse ver aquele amor, por ela, brilhando como a mais quente luz no canto mais escuro do inferno.

— Provavelmente significa que devemos fazer algo estúpido como morar juntos. Mas eu protesto contra a linha de produção de bebês.

Ele riu suavemente, a boca ensanguentada trabalhando em um arremedo de um sorriso.

— O que, você não quer criar uma ninhada de pequenos atiradores?

Ela estremeceu.

— Não.

Ele a abraçou com força.

— Eu estou bem com isso. Enquanto eu tiver você. Fazemos uma boa equipe, Penelope Jane. Dentro e fora do trabalho.

Ela se afastou de novo e olhou para ele com desconfiança.

— Nenhuma exigência para eu parar meu trabalho para que você possa trancar-me e manter-me segura?

— Claro que não. Quem vai salvar meu traseiro em uma missão? Estou contando com você para me proteger!

Ela riu, apesar da dor lancinante que lhe causou, e deixou ir um pouco da tensão horrível que atava seu intestino.

— Vou fazer o meu melhor.

Ela o abraçou de novo, porque simplesmente não conseguia parar de tocá-lo.

— Eu te amo — disse ela ferozmente. — Me desculpe, eu não podia dizer isso antes. Mas estava lá. Talvez sempre estivesse lá. Sempre estará lá, Cole. Eu juro.

Ele acariciou seus cabelos, chovendo beijinhos sobre a testa e cabeça.

— Chegaríamos lá, eventualmente. Nosso tempo de namoro simplesmente foi balas, granadas e resgate de reféns. Nós nunca vamos ser normais, mas  foda-se o normal, não é?

— Sim, foda-se o normal, — ela disse, com a voz abafada pela camisa de Cole.

— Vamos carregar e partir.

A voz de Steele penetrou o brilho que existia em PJ e a trouxe de volta à realidade muito rápido.

Eles ainda teriam que enfrentar as consequências de suas ações, e isso poderia muito bem significar que ela já não tinha um futuro na KGI.

 

Pela primeira vez desde que veio trabalhar para a KGI, PJ desafiou abertamente seu líder de equipe. Tecnicamente o que fizera antes, não foi desafio, já que Steele não dissera especificamente para não fazer as coisas que ela fez. Ele não poderia ter dito nada já que ela não o deixou saber de seus planos.

E tecnicamente ela renunciou a equipe para tudo o que ela fez nos seis meses em que esteve sozinha, não como um membro da organização KGI. Não importa que Steele tenha dito para ela esquecer sua demissão.

Mas quando Steele anunciou seu plano para despejar a equipe de volta ao lar, no Tennessee e ir sozinho se encontrar com Sam, Garrett e Donovan e transferir as informações coletadas de Brumley, PJ traçou uma linha dura e rápida na areia.

Ela se recusava a permitir que Steele levasse a reprimenda por suas ações e suas decisões. Cole ficou firmemente ao lado dela nesse caso, afirmando que ele e PJ iriam acertas as contas com os Kellys. De jeito nenhum jogariam o ônus sobre Steele.

Steele não estava feliz sobre o assunto, mas não havia muito que pudesse fazer quando confrontado por duas pessoas determinadas que iriam até Sam, Garrett e Donovan com ou sem ele.

Como Steele também sequestrou um jato Kelly sem permissão, PJ percebeu que ele tinha o suficiente para responder sem levar a culpa pelos crimes dela.

Após a adrenalina ter desaparecido e Cole ter certeza da segurança de PJ, sua lesão o acertou muito mais forte do que inicialmente. Ele perdeu muito sangue e começou a enfraquecer durante o voo.

Sem Donovan, tiveram ajuda médica limitada para oferecer a Cole, mas Steele mudou a bandagem muitas vezes e fez com que ele tomasse medicação para dor para mantê-lo calmo e quieto.

PJ pairou ao lado de Cole, nunca o deixando. Ela segurou sua mão, intimidando-o impiedosamente e prometeu chutar a bunda dele se ele sequer pensasse em fazer algo estúpido como morrer.

Steele tentou levá-la para descansar, ela estava em uma situação pouco melhor do que Cole, mas ela permaneceu firme em sua recusa de sair do lado de Cole.

Ela estava literalmente caindo, a dor roendo seu corpo, quando sentiu uma picada e se virou, surpresa, ao ver que Steele injetou algo em seu braço.

— Que diabos foi isso? — Ela exigiu.

— Algo para a dor e que vai ajudá-la a descansar. Você está prestes a cair e qualquer pessoa com olhos pode ver que está em agonia. Desista, PJ. Você não está ajudando Cole pairando sobre ele parecendo algo que o gato engoliu. Ele está muito preocupado com você, então não vai se acalmar e descansar.

O medicamento já estava fazendo-a flutuar. Seus membros ficaram pesados e estava cada vez mais difícil manter os olhos abertos.

— Droga, Steele, — ela pronunciou.

— Amaldiçoe-me mais tarde, — ele falou baixinho e então prontamente a pegou enquanto ela caía.

Cole ergueu a cabeça, os lábios desenhados em uma linha sombria de satisfação.

— Obrigado, Steele. Eu estava preocupado que ela cairia a qualquer segundo. Ela precisa de descanso. Ela fez o diabo lá.

— Você não se saiu tão bem por si mesmo, — Steele disse secamente.

Steele a deitou, tirou o cabelo do rosto e, em seguida, cuidadosamente dispôs um cobertor sobre ela. Então se voltou para Cole.

— Está muito ruim? — Ele perguntou secamente.

— Dói pra cacete, mas vou sobreviver, — disse Cole. — Nada que eu não tenha vivido antes.

Steele se sentou em uma das poltronas em frente ao sofá onde PJ e Cole estavam esparramados.

— Vocês poderiam ter sido mortos.

Cole balançou a cabeça.

— Sim, poderíamos. Mas PJ não ia deixar isso acontecer. Ela é uma filha da puta, quando fica chateada.

Um meio sorriso rachou os lábios de Steele.

— Sim, eu sei do que você está falando.

Cole ficou sério e olhou para seu líder de equipe.

— Como é que isto vai funcionar para mim e PJ estando na mesma equipe?

Steele ficou em silêncio por um momento.

— Eu não vou sacrificar a minha relação com ela por um trabalho, — disse Cole.

Steele bufou.

— É uma boa coisa, porque eu não tenho nenhuma intenção de deixar qualquer um de vocês sair. Já estou irritado o suficiente por que vou estar fora de ação por enquanto porque dois dos membros da minha equipe estarão acamados e depois vocês provavelmente vão querer um tempo para uma maldita lua de mel.

Cole sorriu. Uma lua de mel parecia muito bom. Olhou para onde PJ estava desmaiada no sofá. Ambos precisavam se curar, mas o futuro estava parecendo muito brilhante.

Então, olhou de volta para Steele e ficou sério.

— Como é que isto vai ficar com Sam? Eu sei que estraguei tudo. Eu assumo a responsabilidade total.

— Cale a boca, — Steele disse rudemente. — Eu vou cuidar de Sam.

Cole sorriu e relaxou. Steele era um arrogante completo, mas Cole não trabalharia para qualquer outra pessoa no mundo. O dia que Steele já não liderasse uma equipe KGI seria o dia em que Cole guardaria sua arma e se tornaria um ex-mercenário com um emprego das nove às cinco.

— Descanse um pouco, — disse Steele. — Demoraremos a pousar e você vai direto para o hospital de base.

Cole gemeu.

— Eu juro, eles precisam apenas reservar um quarto com o meu nome, tantas vezes malditas eu estive lá.

— Entre você e PJ, será necessário nomear uma ala inteira para vocês, — Steele disse secamente.

 

PJ foi tecnicamente liberada do hospital antes de Cole, mas insistiu em ficar ao lado da cama dele até o médico do exército achar que ele estava bem o suficiente para ser liberado.

Steele chegou no dia que Cole teve alta. Em tons concisos, disse-lhes que Sam queria a equipe no complexo KGI. Não quis dizer mais nada quando pressionado, e PJ se preocupou.

Era o dia do ajuste de contas. Um dia que ela sabia que viria. Ela só queria que Cole e o resto de sua equipe não estivessem envolvidos.

O trajeto de Fort Campbell para o complexo KGI foi tenso e silencioso. A mão de Cole se apoderou da de PJ e ele apertou como se dissesse que estaria tudo certo. Mas nenhum dos dois falou, e ela sabia que o iminente confronto pesava tanto na mente de Cole quanto na dela.

Mesmo Dolphin, que normalmente tinha algo a dizer para cada ocasião, estava tão silencioso quanto o resto da equipe.

Steele dirigia enquanto PJ e Cole sentavam-se no assento do meio com Renshaw e Baker no assento de trás. Dolphin sentou ao lado do motorista, e foi o trajeto mais longo que PJ podia se lembrar, as palavras não sendo trocadas entre os companheiros de equipe.

Eles estavam zangados com ela? Ressentidos? Chateados porque ela arrastou-os para sua vingança pessoal?

Ela estava torturando-se com todas as possibilidades.

No momento em que entraram no complexo, PJ era um desastre.

Estacionaram do lado de fora da sala de guerra e saíram, Dolphin e Steele ajudando PJ e Cole. Mas estava determinada a entrar neste encontro sem nenhuma vulnerabilidade. Não queria que dissessem que ela abusou da simpatia de ninguém, então soltou o braço de Dolphin que a apoiava e caminhou em direção à entrada, ignorando os protestos de sua perna.

O rosto dela era uma bagunça, machucado e ainda inchado da luta com Brumley. Os raios-X não mostraram nenhuma fratura do maxilar, embora Cathy houvesse jurado que estava quebrado quando PJ deu entrada no hospital.

Mastigar seria difícil por um tempo, mas ela conseguiria lidar com isso.

Digitou o código de segurança para ter acesso à sala de guerra e andou, ou melhor, caminhou com dificuldade em sua tentativa de não mancar na sala onde os irmãos Kelly estavam recolhidos.

Franziu o cenho quando olhou ao redor. Eram apenas os Kellys, bem, nem mesmo todos eles. Nathan e Joe não estavam presentes.

Inferno, nem mesmo Ethan estava lá, o que significava que este ia ser um momento de repreensão entre os três homens que comandavam oficialmente a KGI e a equipe que estava na proverbial casa de cachorro.

— PJ, — disse Donovan em saudação. — Eu diria que você parece bem, mas nem mesmo eu posso dizer esse tipo de mentira com uma cara séria.

Ela relaxou diante da provocação e sorriu torto para ele. Porra, mas, inclusive, doía sorrir.

O resto de sua equipe entrou atrás dela, e um silêncio constrangedor caiu sobre a sala.

Cole veio por detrás e colocou o braço ao redor de seus ombros, puxando-a para perto dele. Era óbvio que ele estava enviando uma mensagem para todos. Ele estava com ela. Ele dava cobertura a suas costas, e tudo o que a afetava, o afetava.

Sam limpou a garganta e se encostou na ponta da grande mesa de planejamento no meio da sala. Donovan e Garrett ladeando-o, e todas as suas expressões eram sérias.

— Temos um problema sério aqui, — Sam começou. — A KGI como uma organização não pode ser associada com o fazer justiça com as próprias mãos. O governo austríaco está gritando. O governo dos Estados Unidos está gritando. Resnick está gritando. E eu estou preso me fazendo de bobo com tudo isso. Enquanto os respectivos governos podem engolir minha história inverossímil, Resnick não vai engolir. Ele sabe demais.

— Foda-se ele, — Cole disse rudemente.

Donovan tossiu e cobriu a boca. PJ poderia jurar que ele estava segurando o riso, mas então sua expressão reverteu para aquele olhar tenso que seus irmãos estavam mantendo.

Sam levantou a mão.

— Resnick foi apaziguado pelas informações que foram capazes de fornecer-lhe. É claro que não poderíamos explicar como chegamos até elas, mas ele está prestes a ficar calmo, porque ele tem o poder para derrubar muitos dos grandes jogadores no tráfico de crianças, o que por sua vez lhe dá mais poder, que por sua vez lhe dá mais proteção. Ele patinou em uma linha muito fina com a merda que desceu com Shea e Grace, e passou muito tempo se perguntando quando seria retirado. Isto lhe dá muita segurança, por assim dizer. Em pouco tempo, o maldito presidente vai temer Resnick. Se já não o teme.

— Então, chegamos ao ponto, — disse Steele, impaciente, falando pela primeira vez. — Dois dos membros da minha equipe acabaram de ter alta do hospital algumas horas atrás. Você nos queria aqui, mas eles precisam estar na cama.

Garrett limpou a garganta.

— Depois de muita discussão entre nós três, foi decidido que, como medida disciplinar, Cole e PJ serão colocados em licença administrativa, com efeito imediato por um período de 60 dias, e ambos terão de passar por um exame médico completo e receber a liberação do médico antes de poderem voltar para o serviço.

Cole franziu a testa.

— Licença administrativa? Que diabos isso significa?

— Isso significa que você está fora de ação, recebendo pagamento pelos próximos dois meses, — disse Donovan, um brilho nos olhos.

— Steele, você vai comparecer nas instalações da KGI daqui a cinco dias com Dolphin, Renshaw e Baker e irá dirigir a formação da mais nova equipe da KGI até que estejamos satisfeitos que eles são capazes de trabalhar por conta própria, — Sam continuou. — Eles são bons. Mas bom não é aceitável. Queremos o melhor.

PJ olhou entre os irmãos, seus olhos estreitando desconfiada. Licença de dois meses com pagamento? Steele comparecer para treinar novos recrutas? Isso tudo parecia falar para o outro lado de suas bocas. Temos de punir vocês, mas, oh, que castigo confortável.

Parecia terrivelmente com uma maneira de ela e Cole se recuperarem recebendo salário integral e não se sentirem pressionados a voltar ao trabalho muito em breve.

Seus olhos ardiam e ela rapidamente os limpou com as costas da mão, envergonhada como o inferno que estivesse engasgada de emoção.

Porra, ela adorava trabalhar para esses caras.

Até mesmo Steele usava um sorriso que dizia que ele viu através da mentira de Sam.

Sam voltou seu olhar sobre Cole e PJ.

— Eu não quero ver nenhum de vocês pelos próximos dois meses. Não quero nem saber que vocês existem. Pelos próximos dois meses vocês são civis e é melhor eu não ter que salvar seus traseiros de problemas. Entenderam?

PJ e Cole assentiram ao mesmo tempo, e Cole apertou os ombros de PJ. Ela não se atreveu a tentar dizer alguma coisa, porque não confiava em si mesma para não fazer algo completamente estúpido como engasgar ou, Deus nos livre, começar a abraçar as pessoas.

— Isso é tudo que tenho a dizer, — disse Sam. — Vocês estão todos dispensados. Steele, verei você e seus rapazes em cinco dias. PJ e Cole, é melhor eu não ver vocês.

Sorrindo, sua equipe virou-se para sair pela porta. Todos eles sabiam que toda a ação disciplinar era besteira. Quando PJ virou-se para sair com Cole, Sam gritou para ela.

— PJ, uma palavra, se você não se importa.

Ela fez uma pausa e depois disse a Cole:

— Espera por mim lá fora?

Cole a surpreendeu ao beijá-la ali mesmo na frente de Deus e de todos. Mas, então, ele tinha menos problema com demonstrações públicas de afeto do que PJ. Ela não ficava tão confortável deixando todos no mundo verem sua vida pessoal.

— Vou estar lá fora — disse ele, enquanto caminhava atrás de Steele.

PJ virou-se para Sam, sentindo-se nervosa agora que eram apenas ela e os irmãos Kelly. Mas Garrett passou por ela, evidentemente, não ligando para o que Sam queria dizer para ela. Donovan também deixou o lado de Sam, mas parou na frente de PJ e depois a puxou para um abraço.

— Estou muito orgulhoso de você, PJ, — ele murmurou contra seu ouvido. — E eu estou muito feliz por você estar de volta onde você pertence.

Seu estômago caiu. Ela devolveu o abraço ferozmente, nem mesmo percebendo até aquele momento o quanto precisava ouvir isso.

Ele a soltou, tocou um dedo em seu rosto machucado e depois seguiu Garrett.

Eram só ela e Sam na sala, e ela bravamente o encarou, determinada a aceitar o que fosse que ele diria. Ela merecia sua censura. Merecia publicamente, e era grata por ele parecer inclinado a fazê-lo em privado.

— Como você está realmente, PJ? — Sam perguntou em voz baixa.

Assustada, ela só conseguiu olhar para ele. Sequer sabia como responder a sua pergunta, porque na verdade, não sabia como estava. Não teve tempo para avaliar sua situação ou como se sentia sobre nada, porque seu foco inteiro esteve em Cole e sua recuperação.

— Eu acho que estou bem — disse com sinceridade. E talvez estivesse. Ela se sentia mais leve. Não tão pesada. Não tão irritada.

— Fico feliz por ouvir isso. Nós, eu, estou preocupado com você. Eu não quero te perder. Você é muito boa. Você é da família.

Sua boca tremeu e ela se preparou, determinada a ser profissional.

Ele soltou um longo suspiro.

— Oficialmente não podemos sancionar o que você fez. Mas em off? Estou feliz que você eliminou o violento do Brumley e seus comparsas, e quero que saiba que oficialmente ou não, eu e KGI a protegeremos. Cem por cento. Sempre. Nunca duvide disso.

Oh merda, ela nunca mais duvidaria disso.

Sam lhe deu um olhar que era tão cheio de compreensão e preocupação que o peito dela apertou e sua garganta inchou.

— Quando entramos e resgatamos Rachel, eu tinha toda a intenção de voltar por conta própria. Por vingança. Para obter informações. Eu tinha toda a intenção de fazer o que fosse preciso para obter as informações que eu precisava e eu gostaria de saber que a minha família estava a salvo.

— Eu entendo como você se sente, PJ, e quero que você saiba que não estou te julgando, porque no seu lugar, eu teria feito exatamente a mesma coisa se o que aconteceu com você houvesse acontecido com qualquer membro de minha família. E você é da família. No futuro, você deve estar disposta, e eu vou exigir que você esteja disposta, a confiar mais em sua família, em vez de ir sozinha.

— Eu não estou chateado porque você fez o que fez. Estou chateado porque você pensou que tinha que fazer sozinha e não veio até nós para obter ajuda. Eu teria usado todos os recursos disponíveis da KGI e meus, pessoalmente, para derrubar o bastardo e fazê-lo pagar. Nunca acredite, nem por um momento, que você está sozinha. Estamos entendidos?

Lágrimas silenciosas escorregaram pelas bochechas de PJ. Era demais. Por muito tempo ela carregou seu fardo sozinha, e agora havia várias pessoas muito dispostas a compartilhar essa carga.

— Obrigada, — ela sussurrou.

Ele caminhou vacilante na direção dela e, em seguida, passou os braços em torno dela em um abraço suave.

— Você parecia que precisava de um abraço, — disse ele. — Agora fora daqui antes que Cole fique impaciente e preocupado e venha atrás de você. E eu quero que vocês dois tenham descanso pelos próximos dois meses e voltem totalmente recuperados.

— Obrigada, — ela disse, enquanto se afastava. — Por tudo, Sam. Por entender.

Ele sorriu.

— Lembre-se que você tem pessoas que se preocupam com você. E não tenha medo de pedir ajuda a essas pessoas. Você poderia ter economizado um inferno inteiro de muitos problemas se nos procurasse.

Ela assentiu com a cabeça, não discutindo sua declaração. Mesmo que não se arrependesse do rumo que tinha tomado. Ela estava em paz com suas decisões. Estava em paz com as escolhas que fez. Agora só queria colocar tudo isso para trás e seguir em frente com Cole.

Saiu para a luz do dia, olhando o brilho do sol. Então, respirou o doce aroma de madressilva tão associado com o lago e o complexo KGI.

Não teve que olhar muito longe para ver Cole. Ele estava esperando por ela a poucos metros de distância, e todo o seu rosto mudou quando a viu.

Ele estava falando com Dolphin, mas assim que olhou para ela, seus olhos se suavizaram com tanto amor que a deixou fraca. E com um pouco de medo.

Saber que alguém se importava com ela tanto assim significava que ela tinha o poder de machucá-lo, e ela faria qualquer coisa para nunca ferir Cole novamente.

Como se sentindo sua confusão interna, ele se separou de Dolphin e caminhou lentamente em sua direção.

— Ei, tudo bem? — Perguntou.

Ela se inclinou para ele, mesmo que ele não tinha iniciado contato. Só queria a proximidade e estar perto dele. Colocou os braços ao redor de sua cintura e deitou a cabeça em seu peito, surpreendendo-o com sua espontaneidade.

Ele estava provavelmente pensando que ela estava à beira do colapso porque apenas o abraçou na frente de todos e não deu a mínima para quem estava olhando.

— Estou perfeita, agora que estou com você, — ela disse. — E agora temos dois meses inteiros para fazer nada.

Cole sorriu.

— Ah, tenho certeza que posso pensar em alguma coisa para fazer.

 

Mãos quentes deslizaram sensualmente sobre as costas nuas de PJ, e ela gemeu baixinho, arqueando ao contato de Cole. Porra, o homem estava estragando-a pecaminosamente.

Sua boca logo seguiu as mãos e ele beijou uma linha acima de sua espinha até chegar à pele sensível da nuca. Um arrepio de corpo inteiro ultrapassou-a, apesar do sol batendo em ambos.

— Estou de volta, — ele murmurou contra seu ouvido.

Ela rolou na toalha de praia, amando como os olhos dele escureceram quando viu seus seios.

— Eu notei. O que você trouxe para mim?

— Mmmm, depende de como você se comportou, — ele brincou.

— Eu não mostrei meus seios a qualquer um, apenas a você, — ela disse.

Ele riu.

— Bem, é isso mesmo, eu acho.

Ele estendeu a toalha ao lado dela e entregou-lhe uma bebida frutada deliciosa, com um daqueles guarda-chuvas pequenos bonitos.

Então, ele estendeu os braços para cima e fez um grande show ao colocar as mãos atrás da cabeça.

— Você sabe, mesmo suspensos, isto é muito incrível, — disse Cole.

PJ riu.

— Você sabe tão bem quanto eu, eles não nos suspenderam.

— Eles são boas pessoas, — disse Cole sério. Rolou para o lado e pousou a mão possessivamente em seu quadril nu. — Então me diga alguma coisa.

— Alguma coisa, — ela respondeu rapidamente.

Ele lhe deu um tapa leve na bunda.

Ela sorriu.

— Okay, okay, o que você quer saber?

— Você vai estar bem trabalhando? Quer dizer você e eu. Mesma Equipe. Como antes?

Por um momento ela ficou alarmada. Ele estava tentando dizer que ele tinha problema com isso?

Ele colocou um dedo sobre seus lábios.

— Não fique alarmada, PJ. Você tem que aprender a parar de tirar conclusões precipitadas. Esta é uma conversa. Algo que duas pessoas que se amam têm. Não é o fim do mundo. Há coisas que precisamos falar. Trabalho é uma delas.

Ela soltou a respiração, sentindo-se uma idiota.

— Sim, sim, eu entendo. E sim, é claro que eu vou ficar bem trabalhando com você. Oh Deus, quase me deu um ataque cardíaco. Eu pensei que você iria sugerir que um de nós se transferisse para a equipe de Rio, pois ele está com um homem a menos.

A expressão de Cole sombreou.

— Claro que não. Eu quero você bem onde eu possa vê-la o tempo todo. E como eu disse antes, eu gosto da ideia de você proteger minhas costas. Eu confio em você mais do que em qualquer outra pessoa e sei que você nunca vai me deixar cair.

Ela se aproximou e então girou de modo que estivesse olhando para ele. Em seguida, o beijou longa, dura e vigorosamente.

— Tenha a maldita certeza de que eu nunca vou deixar você cair, — disse ela com voz rouca.

— Agora sobre as outras coisas que precisamos falar...

Ela levantou uma sobrancelha.

Ele deslizou a mão sobre sua bunda e coluna, esfregando para cima e para baixo. Ela sequer sabia se alguém poderia ver. Por um lado estavam em uma praia muito particular em Bora-Bora. Só viram duas outras pessoas correndo em todo o tempo que passaram neste pequeno paraíso particular, e ela sabia do fato que Cole cuspiu muito dinheiro pela exclusividade.

Agora estava pensando que valia a pena tudo o que ele pagou.

— Fizemos de tudo neste relacionamento muito ferrado, então acho que uma lua de mel antes do casamento é  pular um passo muito importante, mas acho que isso definitivamente deve contar como uma lua de mel.

Seus olhos se arregalaram e ela olhou para baixo.

— Ei, espere um minuto, Coletrane. Você está me pedindo em casamento?

— Bem, estaria se você me deixasse terminar, — ele resmungou.

Ela baixou a boca e começou a bombardear cada centímetro do rosto dele com  beijos. Ele riu e, finalmente, a afastou.

— Okay, okay, peça! — Disse ela.

Seus olhos eram suaves e ele tocou seu rosto, agora curado, alisando um pouco para afastar a areia.

— Quer se casar comigo, Penélope Jane Rutherford?

— Sim. Sim, sim, sim!

— Eu gosto do seu entusiasmo, — disse ele com um sorriso.

Mas, então, seu rosto caiu e ela desviou o olhar.

Ele cutucou suas costas para ela olhar para ele, franzindo a testa enquanto acariciava a linha de seu queixo.

— O que está se passando pela sua cabeça agora?

— Você disse que tivemos a lua de mel antes do casamento, mas Cole, esta não tem sido uma lua de mel de verdade e você sabe disso.

Ele parecia chateado e tão amado ao mesmo tempo, que ela não tinha certeza de como ele conseguia.

Ele segurou seu rosto com as duas mãos, forçando-a a olhar diretamente para ele.

— Você acha que o amor, casamento e lua de mel significam somente sexo? Você acha que não temos nada, a menos que estejamos fodendo como macacos?

Ela teria abanado a cabeça, mas ele estava segurando-a muito bem.

— Eu amo você, PJ. Você! E isso não está condicionado ao fato de não termos feito sexo ainda, ou mesmo amanhã, ou no próximo mês. Nós vamos chegar lá. E eu estou pensando em ter diversão a cada passo do caminho. Mas você sabe, eu sou um cara à moda antiga, e eu meio que gosto da ideia de ter a papelada que diz que você pertence a mim e eu pertenço a você. Então, o que você acha de pegar um avião para Vegas depois que terminarmos aqui e nos casar antes de nossos dois meses acabarem?

Ela sorriu para ele, um brilho de lágrimas obscurecendo sua visão. Ele se inclinou e beijou a cicatriz que corria diretamente para baixo da sua cintura.

— Eu te amo, sabe? — Ele disse, repetindo as palavras que ela falou para ele depois daquele dia terrível quando ela matou Brumley.

— Eu sei — disse ela suavemente. — E eu acho que Vegas parece infernalmente muita diversão.



 

[1] Dolphin = Golfinho em inglês.

[2] Basic Underwater Demolition SEAL Training, Treinamento Básico de Demolição Subaquática. Programa militar de Treinamento com duração de 6 meses que o recruta passa para se tornar um Seal de elite da Marinha. É considerado o treinamento militar mais duro do mundo. Apenas 20 a 30 por cento dos aspirantes conseguem graduação.

[3] Fabricante do GPS.

[4] Técnica de preservar animais e exibi-los tal como quando vivos.

[5] Grito de guerra dos SEALs da Marinha dos Estados Unidos.

[6] Gíria para definir homens que oferecem dinheiro ou presentes para uma pessoa mais jovem em troca de companhia ou favores sexuais.

[7] ETA, Estimated Time of Arrival = Tempo Estimado para Chegada.

[8] Corte de carne.

[9] Referência ao filme Sinais (Signs), de 2002. Onde um ex-pastor, que perdeu sua fé após a esposa morrer em um acidente de carro, vive com os filhos e o irmão numa fazenda e certa noite surgem alienígenas, provocando toda a tensão e suspense. Na parte final, o ex-pastor tem um sonho que o faz repensar suas crenças e o ajuda a salvar os filhos.

[11] Tradução de Pj’s hot.

[12] Tipo de moto com rodas pequenas e assento baixo.

[13] Ponto famoso em Viena.

 

                                                                                            Maya Banks

 

 

                      

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