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A Hungria na Guerra
A Hungria na Guerra

 

 

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RELATOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A Hungria na Guerra

 

                  

 

Rumo ao sacrifício

Operações na frente Leste

 

A disputa que, entre 1939 e 1945, ensangüentou o mundo inteiro foi protagonizada por nações poderosas, unidas em fortes coalizões. A direção dos mesmas, em todos os terrenos, caiu logicamente nas mãos das grandes potências. Apesar disso, elas não suportaram apenas o peso das ações e as subseqüentes perdas de toda ordem. Numerosos países, de diminutos territórios e reduzida população, viram-se, por essa ou aquela razão, envolvidos na luta. E a ela dedicaram o melhor de seus recursos, bem como o sangue de seus filhos mais bravos.

 

Ninguém pode julgar, quando torrentes de sangue são oferecidas em holocausto, a maior ou menor justiça de suas posições. Lealmente, humanamente, só resta reconhecer o valor, o desinteresse e a honestidade no cumprimento aos compromissos previamente firmados, o sacrifício de seus homens.

 

Muitos foram os países que, talvez involuntariamente, se viram envolvidos na guerra. E praticamente todos eles, diante do fato consumado, consagraram-se de corpo e alma à luta, com sentimento do dever, com disciplina e com espírito de sacrifício. Enumerar as pequenas nações que tomaram parte ativa nas operações e manobras militares excede as possibilidades desta obra. Contudo, é um dever citar algumas delas. Dado o caráter desta obra, bem como suas limitações, serão apresentados, minuciosamente, os movimentos e ações de um dos exércitos que mais sangue derramou no conflito, içando a bandeira de uma pequena nação do leste europeu. Paralelamente, serão descritas as ações protagonizadas por outros países, de recursos limitados, como os da nação cujo sacrifício será abordado neste capítulo.

 

A Hungria, seu exército e o Tratado de Paz de Trianon

 

O tratado firmado a 4 de junho de 1920, imediatamente após o término da Primeira Guerra Mundial, determinava claramente que, a partir desse momento, as Forças Armadas da Hungria deveriam limitar o seu poderio a um exército mercenário de 35.000 homens, desprovidos de armamento pesado e de aviação. Paralelamente, abolia-se no país o serviço militar obrigatório.

 

Como inevitável conseqüência, até 1938 a Hungria contou, para a defesa de seu território, com um pequeno exército constituído de sete brigadas, as quais operavam sob as ordens de oficiais egressos da velha escola e de jovens militares recém-promovidos. Estes, precisamente, deram ao reduzido exército nova tônica: a da consciência nacional. Posteriormente, quando em 1938 a Alemanha decidiu ignorar o Tratado de Versalhes e lançou-se ao rearmamento, a Hungria encontrou-se em situação semelhante. Como conseqüência disso, improvisou-se um projeto de reorganização militar, que especificava do seguinte forma a constituição do futuro Exército húngaro:

25 divisões de infantaria ligeira

1 divisão de cavalaria

2 divisões blindadas

1 brigada de caça (na fronteira)

2 brigadas de montanha

1 brigada fluvial

2 brigadas de aviação, com 28 companhias de combate e 10 de exploração.

 

A precária situação financeira do país, porém, à qual se juntava a falta de uma indústria bélica eficiente, constituíram ponderáveis obstáculos, somente transponíveis mediante um notável esforço daqueles que se dedicaram a essa tarefa.

 

A fabricação de armas modernas, com efeito, era extremamente difícil. Apesar disso, durante o transcurso da Segunda Guerra Mundial, a Hungria e a Suécia foram os dois únicos dos pequenos países capazes de fabricar todo os tipos de material bélico. Outros inconvenientes surgiriam, entretanto, para dificultar ainda mais a tarefa de organização das Forças Armadas. Efetivamente, ao ocorrer a intervenção húngara no conflito, restava muito ainda por fazer. A instrução de soldados e de oficiais não era completa, e muitos dos combatentes tiveram o seu batismo de fogo sem qualquer familiarização com o manuseio e a conservação de suas armas.

 

A invasão da União Soviética

 

A 21 de junho de 1941, quando da invasão alemã em território soviético, as forças vermelhas concentradas nas proximidades da fronteira com a Hungria somavam 10 divisões de infantaria, 2 de cavalaria e 6 blindadas. Em conseqüência, o Alto-Comando húngaro viu-se obrigado a tomar as precauções necessárias, deslocando previamente, para a região fronteiriça, os efetivos completos da 8a Brigada de Guarda-Fronteiras e da 1a Brigada de Montanha. Além disso, os efetivos do 8o Corpo de Exército foram apressadamente mobilizados.

 

Entre os dias 21 e 22 de junho, ao iniciar-se as ações bélico-militares entre a União Soviética e a Alemanha, o Alto-Comando húngaro achou por bem ocupar e consolidar as suas posições nos pontos fronteiriços anteriormente fortificados, ordenando também a imediata proteção das principais rodovias e ferrovias.

 

Vinte e quatro horas depois, em 23 de junho, eram rompidos as relações diplomáticas entre a União Soviética e a Hungria. O primeiro ato de guerra, entretanto, somente ocorreria no dia 26, quando aviões soviéticos atacaram um trem nas cercanias de Tiszaborkut, bombardeando posteriormente a cidade de Kassa. Em resposta, o governo húngaro decidiu declarar guerra à União Soviética no dia 27 de junho. Imediatamente procedeu-se à mobilização do 1o Corpo Ligeiro, integrado por duas divisões mecanizadas e uma de cavalaria. A aviação húngara, iniciando suas operações, atacou sem perda de tempo as instalações militares de Stanislau e outros objetivos próximos da fronteira.

 

As operações do Grupo Kárpát

 

Na zona fronteiriça,, os efetivos do Grupo Kárpát (1a Brigada de Montanha e 8a Brigada de Guarda-Fronteiras), sob o comando do General Ferenc Szombathely, começaram a deslocar-se, mantendo à sua retaguarda, como reserva, o 1o Corpo Ligeiro. Após o ataque dos alemões e dos romenos, ao norte e ao sul das posições húngaras, as referidas unidades cruzaram a fronteira a 28 de junho, atravessando caminhos minados e vencendo a resistência da primeira linha de postos fortificados soviéticos. Por volta do dia 29, a totalidade das ações já se desenvolvia em território da União Soviética. O setor esquerdo das forças húngaras, após vencer a resistência soviética, fez conexão com a ala direita das tropas alemães. Finalmente, pelo dia 5 de julho, as unidades mecanizadas ocuparam a cidade de Stanislau e alcançaram as margens do rio Dniester. Por sua vez, a ala direita dos efetivos húngaros ocupou o cidade de Tartarow no dia 1° de julho e, dois dias depois, a de Kolomea, chegando por fim, após duríssimos combates, ao Dniester.

 

A 2a Brigada Motorizada cruzou o citado rio no dia 7, operação esta que, no dia seguinte; era também realizada pela 1a Brigada. Todas os ações foram efetuadas sob difíceis condições, agravadas por uma chuva persistente que alagava caminhos e atalhos.

 

As tropas de montanha, por sua vez, de locomoção mais lenta, enfrentavam a tarefa de limpar o território conquistado ao inimigo, aprisionando ou exterminando os restos dispersos das unidades soviéticas.

 

A 9 de julho de 1941, os efetivos húngaros do Corpo Ligeiro foram postos sob o controle do 17o Exército alemão, comandado por von Rundstedt.

 

As referidas ações determinaram o fim da primeira fase da campanha do Exército húngaro em operações de guerra. A conseqüência dessas manobras consistia no afastamento dos efetivos soviéticos, aliviando assim o pressão por estes exercida na região fronteiriça.

 

As operações do Corpo de Exército Ligeiro

 

A missão do citado corpo era proteger o flanco sul do 17o Exército alemão, avançando simultaneamente com ele. Os efetivos soviéticos retiraram-se do Dniester e tomaram posição nas margens do Zbrucz, de onde foram desalojados pelas unidades do Corpo Ligeiro; a 2a Divisão Motorizada ocupou a cidade de Kameniec-Podolski, enquanto a 1a Divisão assumia o controle das cidades de Smtrycz, Lanskorum e Balin, situadas ao norte da primeira. Todas essas operações, aqui lembradas, foram realizadas no dia 10 de julho. No dia 1o de agosto, elementos do Corpo Ligeiro ocuparam a localidade de Losowa, cooperando nesta ação as forças alemães. Com a referida manobra, concluiu-se o cerco em torno de Uman.

 

A 6 de agosto, todavia, um regimento soviético conseguiu abrir caminho para o sul. Um pelotão mecanizado húngaro, em evidente inferioridade numérica, tentou audaciosamente barrar-lhe a passagem, contra-atacando com êxito e conseguindo, ainda uma vez, manter o cerco.

 

Pouco depois da bem sucedida campanha de Uman, o Corpo Ligeiro húngaro ficou subordinado ao grupo blindado do General von Kleist, da Alemanha, empreendendo, em cumprimento das ordens recebidas, o avanço paro o sul, entre os rios Bug e Iugol, e ocupando pouco depois o porto de Nikolaiev. A seguir, os efetivos húngaros tomaram posição defensiva ao longo das margens do Dnieper, abrindo uma frente de cerca de 200 km; aí se mantiveram durante cinco semanas, facilitando dessa forma a concentração das forças alemães, que alcançariam posteriormente a vitória na batalha de Kiev.

 

Pouco depois da conclusão dessas manobras, a cavalaria do Corpo Ligeiro foi enviada de volta à Hungria, enquanto os elementos mecanizados continuaram o seu avanço, cruzando o Dnieper pela ponte de Dniepropetrowsk.

 

O avanço das tropos viu-se imensamente dificultado devido à lama que cobria os caminhos, em virtude das persistentes chuvas. Contudo, pelo dia 30 de outubro, os húngaros chegaram até o rio Donec.

 

Os soldados húngaros prosseguiram sua campanha até meados do mês de novembro, quando foram retirados e novamente enviados de volta á Hungria.

 

Os resultados práticos das campanhas realizadas foram os seguintes:

a) As vastas planícies soviéticas, com seus caminhos intransitáveis e seu sistema fluvial adjacente, não apresentavam condições favoráveis às operações dos exércitos exclusivamente motorizados; deviam ser empregadas, além disso, divisões de infantaria e cavalaria, compensando assim a intervenção das forças aéreas.

b) A guerra móvel exigia comandantes de muita experiência e tropas de grande iniciativa pessoal. Os efetivos húngaros responderam amplamente a tais exigências.

c) O comportamento militar húngaro não tomou por base as instruções do Alto-Comando alemão, estruturando-se independentemente. No campo de batalha, ao contrário, as tropas húngaras operaram sempre em estreita cooperação com seus aliados.

 

Os combatentes do 2o Exército Real Húngaro

 

Nas operações realizadas durante o ano de 1941, os efetivos alemães haviam avançado rápida e consideravelmente rumo ao centro nervoso da União Soviética. Contudo, os alemães jamais alcançariam a vitória final. Duas hipóteses poderiam ser formuladas para a explicação deste insucesso:

1) As operações balcânicas retardaram o início das ações contra a União Soviética. O inverno prematuro e excepcionalmente cruel deteve o impulso da ofensiva alemã.

2) A decisão errônea de Hitler, que buscava a vitória no sul, ao invés de um avanço lógico rumo a Moscou. Pode-se afirmar que a decisão do Führer em atacar no direção sul, em lugar de fazê-lo na frente de Moscou, selou o resultado da luta.

 

É fácil imaginar, e com razão, que se o ataque, tal como o solicitavam diversos comandos alemães, fosse dirigido para a capital soviética, o desenvolvimento posterior dos acontecimentos sofreria incalculáveis variações. Com efeito, os comandos alemães contavam destruir ali, em Moscou, o que de melhor houvesse relativamente aos efetivos soviéticos. Além disso, a ocupação da capital constituiria um tremendo obstáculo aos transportes e comunicações do União Soviética.

 

Por volta de janeiro de 1942, o comando alemão exigiu finalmente dos húngaros a entrada em ação de vinte e cinco de suas divisões. O governo húngaro não se fez de rogado e enviou à frente de combate:

9 divisões ligeiras (de dois regimentos)

1 divisão blindada

7 divisões de ocupação (com armamento ligeiro)

 

O grosso das tropas, por outro lado, foi reservado para o momento crítico das operações, isto é, a. defesa das fronteiras.

 

As forças anteriormente mencionadas foram reunidas sob a denominação de 2o Exército húngaro e distribuídas em três Corpos (3o, 4o e 7o), sob o comando do General Gustav Jány.

 

O transporte dos efetivos iniciou-se a 11 de abril de 1942, terminando a 27 de julho. No curso do cumprimento das operações foram empregados 882 trens.

 

O 2o Exército húngaro passou, conseqüentemente, a integrar o Corpo Weichs, cujo missão era proteger o flanco norte do grosso das tropas alemães e avançar para Voronez.

 

O ataque teve início no dia 28 de junho e, após encarniçados combates entre húngaros e soviéticos em Tim e Stary-Oskol, os primeiros chegaram ao Don no dia 9 de julho, tomando imediatamente posições defensivas.

 

Os referidos ataques não levaram à conquista do objetivo fixado, isto é, à derrota do grosso dos efetivos soviéticos. Com efeito, os comandos da União Soviética não aceitaram a batalha decisiva. Pelo contrário, aproveitando a imensidão de seu território, recuaram paulatinamente suas tropos para além do rio Don, deixando nas margens deste várias cabeças-de-ponte, todas situadas em seu setor ocidental.

 

De imediato, sucederam-se ataques e contra-ataques nos mencionados postos avançados, os quais, na ocasião, eram ferreamente defendidos pelos soviéticos. Contudo, pelo dia 3 de setembro, na cabeça-de-ponte de Korotojak, o esforço das tropas húngaro-germânicas obteve resultados positivos. Efetivamente, após uma intensa luta sem tréguas, que se prolongou por uma semana, os soviéticos foram obrigados o abandonar suas posições.

 

Posteriormente, após o dia 13 de setembro, as tropas húngaras e alemães instalaram-se em suas posições de inverno, dando por findos os seus esforços no sentido de desalojar os soviéticos.

 

Depois, até o mês de janeiro de 1943, não mais se produziram ações ofensivas, mantendo-se os adversários em atitude de defesa.

 

Deve-se ressaltar que, em fins de dezembro de 1942, quando se esperava o ataque soviético, o 2o Exército húngaro conseguia manter uma linho defensiva de uns 200 km. Para cobri-lo, dispunha de 9 divisões ligeiras, com seis batalhões cada uma. Todas tinham a seu cargo, por conseguinte, uma frente de combate que oscilava entre 20 e 30 km de extensão. Partindo do pressuposto de que cada divisão defendia uma faixa de terreno correspondente, com cinco batalhões na linha de combate e um outro de reserva, deduziu-se que existiria uma faixa defensiva de 4 km de comprimento. Supondo-se que todas as armas pesadas de infantaria se encontrassem na primeira linha, concluiu-se que estas deveriam ser distribuídas da seguinte maneira:

1 metralhadora colocada a cada 200 metros

1 morteiro a cada 600 metros

1 canhão antitanque leve a cada 600 metros

1 canhão antitanque pesado (7,5 cm) a cada 2.500 metros

1 bateria a cada 2.200 metros

 

A batalha do Don (12/1/1943 a 9/2/1943)

 

Desde o Natal de 1942 aguardava-se uma ofensiva soviética em larga escala, estimada com base nos êxitos do Exército Vermelho em Stalingrado e na frente defendida pelas tropas romenas e italianas. Assim foi que os soviéticos concentraram grande número de tropas nas cabeças-de-ponte de Uryw e Tsutsje.

 

Finalmente, no dia 12 de janeiro de 1943, às 10 horas da manhã, os soviéticos lançaram-se ao ataque, partindo da cabeça-de-ponte de Uryw. A superioridade numérica dos atacantes estava na proporção de 4 por 1, sem considerar as grandes reservas que haviam sido agrupadas na retaguarda da frente.

 

O ataque soviético rompeu as defesas do 4° Regimento da 7a Divisão, fazendo retroceder também os elementos do 429° Regimento alemão, que se encontrava acantonado ao norte das posições ocupados pelo 4° Regimento húngaro. Em troca; o grosso do referido regimento alemão e a 20a Divisão húngara conseguiram deter o avanço soviético, o mesmo acontecendo com o 35° Regimento húngaro da 7a Divisão, que, achando-se isolado, defendeu a localidade de Dewiza até a tarde do dia seguinte.

 

O comando do 2o Exército húngaro, tendo em conta a gravidade da situação, solicitou ao comando alemão do Cramer Korps (168a Divisão, 26a Divisão e 1a Divisão Blindada húngara) o deslocamento da 168a Divisão mais ao norte, onde a situação era crítica.

 

Apesar das dificuldades em que se encontravam os efetivos húngaros, a ofensiva soviética viu-se obrigada a uma interrupção, devido à firmeza dos combatentes do 429° Regimento alemão e da 20a Divisão húngara, ao norte, e do 35° Regimento húngaro, ao sul. Além disso, o comando do 2o Exército da Hungria retirou quatro batalhões da primeira linha de fogo, os quais foram imediatamente lançados ao contra-ataque com o apoio do 700° Grupo Blindado alemão. Entretanto, a ação não alcançou o êxito desejado em virtude da assustadora superioridade dos soviéticos. A dureza do combate foi tal que o grupo blindado alemão ficou reduzido apenas a quatro unidades. O comando alemão, em seu informe, salientou: "As tropas húngaras lutaram bravamente. As causas do fracasso foram a grande superioridade do inimigo, particularmente no que respeita às unidades blindadas, e o frio entorpecedor (35° abaixo de zero)."

 

Posteriormente, uma nova solicitação húngara no sentido de obter o concurso do Cramer Korps para um contra-ataque não foi atendida, sob alegação de que tais unidades eram imprescindíveis na frente italiana de Kantemirowka, de onde se esperava um ataque soviético.

 

A 14 de janeiro, os soviéticos atacaram novamente, partindo da cabeça-de-ponte de Stutsje, com forte apoio blindado. Conseqüentemente, as linhas húngaras foram aí outra vez rompidas.

 

A encarniçada resistência ficou patenteada no fato de que o batalhão que sofreu maiores pressões teve baixas excepcionais, com a morte de quase todos seus oficiais. A temperatura, por esse tempo; havia caído para 45o abaixo de zero, tornando assim praticamente impossível o funcionamento das armas.

 

A 15 de janeiro, os efetivos soviéticos em ação tomaram o rumo do norte. A 16, o avanço das tropas soviéticas prosseguiu, apesar da grande resistência da 10a Divisão húngara. Finalmente, o Alto-Comando alemão autorizou o Cramer Korps a iniciar o contra-ataque, que, desta feita, não foi possível, em face das condições adversas. Pôde-se comprovar assim, na prática, o acerto da solicitação húngara, não atendida numa hora em que ainda poderia haver tempo para obter um sucesso na referida operação.

 

A 17 de janeiro, devido à demora do comando alemão em ordenar a retirada, a situação adquiriu cores dramáticas. Iniciou-se a desordem, que rapidamente se difundiu entre todas as unidades em combate. Já não restava qualquer possibilidade de organizar uma defesa efetiva. O frio intolerável e a tenaz perseguição dos T-34 soviéticos agravaram ainda mais a situação. Contudo, várias unidades húngaras, vencendo adversidades de toda sorte, organizaram defesas suicidas, assegurando assim a retirada das restantes tropas húngaras e alemães.

 

A 1a Divisão Blindada húngara teve especial participação nessas manobras, resistindo até o dia 22, o que permitiu salvar a integridade do Cramer Korps.

 

Apesar da gravíssima situação, o 2o Exército da Hungria pôde se reorganizar e tomar posições junto às margens do rio Oskol, abandonando-as apenas em Nowy-Oskol às vésperas do dia 29, por ordem expressa do comando alemão. A retirada processou-se também em meio a encarniçados combates.

 

A 1a Divisão Blindada e os diversos grupos combatentes de recente organização foram evacuados da primeira linha de fogo entre os dias 8 e 9 de fevereiro.

 

O 3o Corpo de Exército, ao ver-se ilhado e perdido do 2o Exército húngaro, ficou na dependência do 2o Exército alemão, com a tarefa de defender o flanco direito deste. Os efetivos húngaros cumpriram a ordem recebida, deixando suas posições no Don no dia 26, quando as tropas soviéticas já haviam firmado suas posições através de 60 km ao norte e 150 ao sul. Já completamente cercado e desprovido de armas pesadas, o 3o Corpo de Exército da Hungria não teve outra alternativa senão dividir-se em grupos menores e tratar de romper o cerco.

 

Na batalha do Don, o 2o Exército húngaro teve cerca de 35.000 mortos, igual número de feridos e mais de 26.000 prisioneiros.

 

O fecho negativo das ações foi objeto de intermináveis estudos e discussões, e as versões alemães responsabilizaram os húngaros pelo fracasso. Outras estimativas, mais técnicas e imparciais, atribuíram a derrota à pouca elasticidade do comando alemão.

 

O verão de 1944, a leste dos Cárpatos

 

Ao iniciar-se o ano de 1944, os soviéticos lançaram uma ofensiva contra o flanco sul da frente ucraniana. Conseqüentemente, suas tropas ocuparam Kirowogrado, Tscherkassy e Kriwoirog, obrigando os alemães a recuarem até os encostas orientais dos Cárpatos, com a total perda da Ucrânia por parte destes.

 

Em virtude do ocorrido, ordenou-se na Hungria a mobilização das 16a e 24a Divisões de Infantaria e as 1a e 2a Brigadas de Montanha.

 

Em fins de maio, o ímpeto dos húngaros começou a debilitar-se e, ao terminar o mês de julho, quando os soviéticos se lançaram à batalha com novas forças, as unidades húngaras limitaram-se a conservar suas posições de combate.

 

Ao ter início a nova ofensiva soviética, a ordem de combate dos húngaros era a seguinte:

7o Corpo de Exército (16a Divisão húngara e 68a Divisão alemã)

9o Corpo de Exército (24a e 25a Divisões húngaras e 101a Divisão alemã, estando a 18a Divisão de sobreaviso)

6o Corpo de Exército (1a e 2a Brigadas de Montanha e 66° Grupo de Combate, com cinco batalhões de guarda-fronteiras)

A reserva estava integrada pela 2a Divisão Blindada húngara, a 1a Divisão Blindada alemã e pela 19a Divisão, esta em estado de alerta. Em fins de junho incorporou-se a essas unidades a 7a Divisão de Infantaria húngara.

 

Em princípios da ação, os efetivos alemães e húngaros lutaram dividindo suas respectivas posições. Posteriormente, quando os exércitos soviéticos passaram a ameaçar a cidade de Lemberg, o comando alemão retirou as suas forças da frente húngara, debilitando consideravelmente as forças deste último país, que permaneceram sozinhas na luta.

 

Ao concluir-se a ofensiva de inverno, os soviéticos reforçaram maciçamente as suas forças e lançaram uma nova ofensiva contra o grupo de exércitos alemães, os quais se encontravam em operações na frente central, em direção a Lemberg. Em conseqüência disso, os alemães foram obrigados a empregar todas as suas forças de reserva para deter o avanço soviético em território polonês.

 

Na frente húngara, o flanco sul apoiava-se nos Cárpatos, em posições facilmente defensáveis. O flanco norte, pelo contrário, ocupava um terreno plano e muito propício ao emprego de unidades blindadas.

 

A ofensiva soviética iniciou-se com violento fogo de artilharia. Três divisões soviéticas lançaram-se ao assalto das posições da 16a Divisão húngara e, horas mais tarde, combatia-se duramente. Deve destacar-se que ao raiar o dia, os artilheiros lutavam já corpo a corpo com os efetivos soviéticos. Os tanques russos, fazendo valer a sua superioridade, destruíam peça por peça do inimigo. Paralelamente, os soviéticos lançaram suas reservas contra o flanco da 7a Divisão, e também os manobreiros dos canhões tiveram de lutar corpo a corpo, tentando desesperadamente deter os soviéticos.

 

Em seguida, sem solução de continuidade, os russos atacaram o flanco da 24a Divisão e, em conseqüência da situação geral, os comandos decidiram uma retirada em massa, a fim de fazer chegar suas unidades até os Cárpatos. Com esse objetivo, foi empregada a 2a Divisão Blindada, que, contra-atacando repetidas vezes, impediu o avanço soviético e permitiu a retirada até as novas posições. Nova linha defensiva foi organizada ao longo dos Cárpatos e, com a 1a Divisão alemã e as 6a, 10a e 13a Divisões de Infantaria húngara, ergueram-se fortes posições que cobriam, inclusive, os caminhos de Verecke e Uzsok.

 

As batalhas defensivas no leste europeu

 

No verão de 1944, a situação geral em todas as frentes havia sofrido uma reviravolta crítica, abalando profundamente as estruturas alemães. A invasão aliada estabelecera uma amplo cabeça-de-ponte na Normandia, e os alemães recuavam para a fronteira de seu país.

 

No setor leste, como saldo da ofensiva soviética de verão, 25 divisões alemães foram também destruídas. Como conseqüência inevitável, a situação geral havia chegado a um ponto crítico e decisivo, tanto militar como político. Já se tornava evidente que a rendição alemã era apenas uma questão de tempo.

 

A nova ofensiva soviético começou a 20 de agosto de 1944 e foi lançada contra o Grupo de Exércitos Ucrânia Sul, que se achava sob o comando do general alemão Friesner. O peso da ofensiva fez-se sentir principalmente sobre a região de Jassy, onde se encontravam deslocadas as divisões romenas. Os soldados da Romênia, nessa emergência, cumpriram as ordens recebidas suspendendo a luta contra os soviéticos, e, a partir de 23 de agosto, começaram a lutar contra seus ex-aliados.

 

Assim foi que os soviéticos alcançaram a retaguarda dos 6o e 8o Exércitos alemães, aniquilando dezesseis divisões. Conseqüentemente, abriu-se o caminho para a ocupação da Romênia, da Bulgária e do setor sul da Transilvânia.

 

Bucareste, capital da Romênia, caiu nas mãos dos soviéticos a 1o de setembro e, pouco depois, os soviéticos chegavam à fronteira da Bulgária. Entretanto, o Marechal Malinovsky, com as unidades motorizadas da Segunda Frente da Ucrânia, bloqueara as passagens dos Cárpatos meridionais, assegurando assim a tomada da bacia do Danúbio.

 

O 1o Exército húngaro, por sua vez, resistia nos setores norte e leste, junto às unidades alemães, aos ataques soviéticos.

 

O governo húngaro, nessa emergência, e ante a ameaça que pairava sobre suas fronteiras do sul, mobilizou imediatamente as divisões de reserva (cada uma com dois regimentos de infantaria e algumas baterias).

 

Entretanto, na Transilvânia a situação militar era a seguinte: nos Cárpatos do leste, a passagem de Toronyi encontrava-se defendida pelo 17o Corpo de Exército alemão, com a 9a Divisão de Montanha húngara. Ao norte de Brasso, paralelamente, alguns batalhões de fronteira defendiam suas posições, contando com a decidida colaboração dos efetivos das 2a e 3a Divisões de Reserva. Pelo dia 2 de setembro, os defensores enfrentavam tropas romenas e soviéticos superiores em número, com a finalidade de proteger a retirada de três divisões alemães, restos do 6o Grupo de Exércitos alemão. Entretanto, para defender os territórios do sul da Transilvânia, o 2o Exército húngaro organizou-se na região de Kolzsvar. Os efetivos integravam o 2o Corpo de Exército, as 7a e 9a Divisões de Reserva, a 2a Divisão Blindada, a 25a Divisão de Infantaria e as 1a e 2a Brigadas de Montanha. Sob o comando do 2o Exército, encontravam-se também duas divisões alemães, uma de infantaria e outra de cavalaria.

 

As unidades do 2o Corpo iniciaram a ofensiva a 5 de setembro, atravessando o rio Maros em direção ao sul. Após aniquilar o resistência dos romenos, a 8 de setembro, os húngaros receberam ordens de retirar-se, em conseqüência do avanço das tropas motorizadas soviéticas, que, já a 4 de setembro, haviam ocupado as poucas passagens que atravessavam os Cárpatos do sul.

 

Como conseqüência, próximo a essa época, o 2o Exército húngaro enfrentava soviéticos e romenos ao longo da fronteira entre a Hungria e a Romênia, com o grosso de suas forças concentradas ao redor de Torda. A 13 de setembro, finalmente, iniciou-se uma sangrenta batalha contra os unidades do 6o Exército Blindado, apoiado por várias divisões romenas. No sul da Hungria, entretanto, durante o mês de setembro, o 3o Exército húngaro organizava-se sob o comando do General Heszlényi. A força estava integrada, em sua maior parte, por quatro divisões de reserva recém-mobilizadas e a 1a Divisão de Cavalaria, parcialmente motorizada. No mês de outubro, os soviéticos lançaram uma nova ofensiva, em direção de Debrecen, com o objetivo de alcançar a retaguarda dos efetivos alemães e húngaros, os quais ainda se encontravam firmes em suas posições da Transilvânia e dos Cárpatos do leste. Os alemães, por sua vez, empregando forças blindados retiradas precipitadamente de outras frentes, passaram ao contra-ataque. Por fim, a 9 de outubro, os soviéticos foram detidos em sua marcha, após uma dura batalha de blindados.

 

A 11, em troca, retomando a ofensiva, os soviéticos ocuparam a cidade de Szeged e organizaram uma ampla cabeça-de-ponte, após atravessarem o rio Tisza.

 

A falta de forças, nessa emergência, impediu que os húngaros estabelecessem uma linha defensiva mais coesa. Além disso, conspirou contra a defesa eficaz da região a vasta planície húngara, inadequada ao estabelecimento de obstáculos antitanque.

 

Assim, passo a passo, chegou-se ao dia 15 de outubro, quando a rádio de Budapeste emitiria as primeiras notícias referentes ao armistício. O texto da comunicação dizia: "Combatentes da 'Honved' húngara! Calculando as forças do inimigo, a quem enfrentamos em devastadoras batalhas no coração de nossa pátria, não se pode esperar uma troca favorável. Por isso decidi pedir um armistício. Como Comandante Supremo de todas as Forças Armadas, solicito o fiel cumprimento do juramento prestado e a total obediência às ordens de vossos chefes e superiores. Nossa existência depende de vosso comportamento disciplinado até o sacrifício.

Nicolay Horthy Regente da Hungria."

 

A notícia do pedido de armistício não chegaria, entretanto, à grande massa dos combatentes, sendo, paralelamente, desconhecida por outras tropas.

 

Assim foi que, durante a segunda quinzena de outubro, os forças húngara-alemães se retiraram, ante a pressão incontida dos exércitos soviéticos, até as margens do rio Tisza e a região montanhosa de Eger e Tokay, deixando as cabeças-de-ponte de Szolnok, Tiszapolgar e Tokay.

 

A batalha de Balaton

 

Março de 1945 foi um mês decisivo para a Segunda Guerra Mundial. E foi durante esse mês, precisamente, que teve lugar, no leste o batalha de Balaton, decisiva para o curso do guerra nessa frente.

 

O objetivo visado era o seguinte: encerrar os efetivos soviéticos e derrotá-los entre os lagos Balaton e Velence; em seguida, com um ataque combinado dos forças acantonadas em Balaton, através do Drava, nas direções norte e leste, seria libertada a Transilvânia e assegurada a posse do petróleo, essencial às necessidades da guerra.

 

O ataque deveria ser efetuado pelo 6o Exército Blindado alemão, sob o comando de Sepp Dietrich, que dispunha, além da 25a Divisão de Infantaria húngara, de seis divisões blindadas da SS e três da Wehrmacht.

 

Essa força blindada, considerável, lançou-se ao ataque ao longo de Sórviz a 2 de maio de 1945.

 

Operações de guerra

 

O 6o Exército começou seu ataque partindo do território situado entre a extremidade oriental de Balaton e o Lago de Velence; ao mesmo tempo, o 2o Exército Blindado alemão, acantonado ao sul de Balaton, lançou-se também ao ataque em direção o Kaposvár, enquanto forças mais frágeis, retiradas dos Bálcãs, atravessavam o rio Dróva em Drávapalkonyo, formando uma cabeça-de-ponte, com a intenção de atacar em direção de Pécs.

 

Na área do ataque principal, as forças blindadas obtiveram êxitos iniciais e, a 6 de março, os grupos atacantes chegaram até ao Canal Sió. A 25a Divisão de Infantaria húngara, disposta no flanco direito, reconquistou Siofok e chegou a Sió. Os blindados, todavia, avançaram com grandes dificuldades, devido ao terreno pantanoso, alagado pelo degelo. E foi essa a razão, à qual se acrescentariam os contra-ataques soviéticos, que fez fracassar o ataque a 9 de março, depois da reconquista de Ozora e Simontornya e do aproximação do Danúbio, em Dunapentele. A situação húngaro-germânica, nessa oportunidade, tornou-se extremamente perigosa, devido à considerável cunha que formavam suas forças, ameaçadas por um possível ataque soviético. Tal situação exigia a retirada imediata das forças blindadas. E foi o que ocorreu a partir de 13 de março, quando o 6o Exército Blindado começou a evacuar gradualmente os seus efetivos.

 

Contudo, a retirada demonstrou ser algo mais do que uma simples manobra tática, revelando o estado de esgotamento e de tensão intolerável a que se encontravam sujeitos os homens que haviam lutado sem trégua durante meses e meses. E foi assim que, apesar das enérgicas ordens estipulando claramente a retirada das unidades, muitas das que deviam permanecer combatendo e cobrindo o recuo das demais se afastaram do front, rompendo a disciplina e convertendo a retirada praticamente numa fuga.

 

Por volta do dia 15 de março, a frente entre Káloz e o Lago Velence voltou a retomar sua linha primitiva. Todos os sacrifícios foram vãos. Os efetivos regressaram ao ponto de partida.

 

O que se segue está constituído por trechos do diário de uma seção tática pertencente ao Exército húngaro. Em seu laconismo, eles traduzem fielmente a aspereza da luta e o acúmulo de dificuldades da Hungria durante a batalha:

 

"16/03. O inimigo, durante o período de sol a pino e após uma grande preparação de artilharia, iniciou o esperado ataque contra Székesfehérvár e a baixada de Mór, enviando elementos contra os montes Vértes, por um lado, e contra a zona situada ao sul do Lago Velence, por outro. Junto ao rio Dráva prosseguia o estrangulamento da cabeça-de-ponte; ao norte do Danúbio, em um trecho de aproximadamente seis quilômetros, esse estrangulamento alcançou o Garam."

 

"17/03. O inimigo, ao norte de Székesfehérvár, em uma ampla frente, alcançou a rota principal Székesfehérvár-Mór e, ao norte desta, a encosta ocidental dos montes Vértes, onde nossa Companhia de Hussardos n° luta em duros combates. Em vários trechos da frente há brechas de dois a quatro quilômetros."

 

"18/03. Caem Mór e Dad."

 

"19/03. Entre o Lago Velence e o Danúbio, o inimigo insiste em seus ataques com grandes forças, e notam-se seus propósitos de fazer explodir a própria frente de luta, situada entre os Lagos Balaton e Velence. A luta assume grande intensidade, com pesadas baixas para ambos os lados."

 

"21/03. Cai Székesfehérvár."

 

"22/03. Desde a zona entre os Lagos Balaton e Velence, nossas tropas (tardiamente evacuadas), após tenaz resistência, avançam na direção oeste e chegam à principal linha de defesa. Tal retrocesso, com perdas totais, que caracteriza o comando tático alemão desde 1943, afeta principalmente nossa Companhia n° 25. Além desta, participaram da batalha de Dunántul, nas cercanias do Lago Balaton, sob o comando do General Vítez Kudriczy, comandante-chefe do 2o Exército, as companhias n° 20 e a 'Szent Lászlo', que chegaram da zona de complementação de Pápa. Nos montes Vértes encontra-se a Companhia de Hussardos n° 1, enquanto as companhias n° 23 de infantaria e n° 11 de tanques, juntamente com vários grupos de combate menores, ocupam a cabeça-de-ponte do Danúbio, em Nyergesújfalú, sob as ordens do comandante-chefe do 3o Exército húngaro."

 

"24/03. Até o presente momento, na frente situada entre o Balaton e o Dráva, não se registram êxitos de importância, mas a situação torna-se desfavorável em Bakóny, onde algumas colunas de tanques conseguem penetrar até Tapolcafö, ao norte de Pápa. Característico do comando soviético é o fato de este efetuar um ataque de importância estratégica justamente no terreno mais difícil, no Bakóny, e fazê-lo com êxito. Ainda no dia 24 registram-se grandes ataques às linhas de frente, até o momento de resistência ativa, do Garam. Na frente eslovaca, a cidade de Besztercebánya cai em poder do inimigo."

 

"26/03. Cai Pápa. A extensão das linhas de combate alcançadas pelos soviéticos é estimada nos mapas de campanha. Essas linhas, defendidas por nós, não podem ser consideradas de forma alguma como linhas defensivas de resistência, e sim como um agrupamento de tropas obrigadas pela necessidade momentânea a aí permanecerem, já esgotadas, como linha de resistência ocupada apenas para servir de base às operações, e que poderá ser rompida a qualquer momento pelo peso das forças atacantes."

 

A luta em território austríaco

 

Após a perda total do solo pátrio, os efetivos do Exército Real Húngaro achavam-se, a 8 de maio de 1945, data do término da Segunda Guerra Mundial, divididos em três grupos maiores localizados em três diferentes locais. O 1o Exército húngaro, o 24° e o 16° Batalhões, bem como o esgotado 5° Batalhão, caíram prisioneiros dos soviéticos em território checo. O segundo grupo, comandado pelo General Vítez Heszlényi, que preferiu suicidar-se a cair prisioneiro dos soviéticos, e sob as ordens do comandante do 3o Exército húngaro, foi expulso do território nacional. A ele pertenciam os batalhões de Hussardos n° 1, o de Tanques n° 2, o de Montanha n° 1 e os de Infantaria n° 9, 23, 27, além de vários grupos menores de combate. Finalmente, o terceiro grupo, sob o comando do 2o Corpo Militar e integrado pelos batalhões n° 20, 25 e a "Szent Lászlo', interveio ativamente nos combates ocorridos até o último dia da guerra, ao sul da Áustria e na zona norte da Croácia, principalmente na linha defensiva que se estendia ao longo de Bad Gleichenberg, Mureck e Marburg. Nesses combates, distinguiram-se especialmente os batalhões "Szent Lászlo', sob o comando do Generol Vítez Szügyi Zóltan. Essas tropas, com exceção do Batalhão n° 25, que obedecia os ordens do "Heeresgruppe Süd" (General Rendulic), para evitar caírem prisioneiras dos soviéticos, retrocederam através do Vale do Dráva e de Korolpok, em terras de Karinthia. Nessa oportunidade, os ingleses prosseguiram mantendo em pé de guerra muitas das tropas húngaras, especialmente o batalhão "Szent Lászlo", que conseguiu conservar as suas armas.

 

Os efetivos húngaros foram notificados, pelas altas autoridades de seu país, que:

1) As tropas húngaras não utilizariam suas armas contra os aliados ocidentais, a fim de demonstrar, claramente, que a Hungria havia lutado exclusivamente contra o bolchevismo.

2) As tropas húngaras, ao findar a luta, avançariam para o Ocidente, para evitar caírem prisioneiras dos soviéticos.

 

Perdas húngaras no conflito

 

No total, incluindo na cifra mortos, feridos e desaparecidos, a Hungria perdeu, no curso da Segunda Guerra Mundial, cerca de 300.000 homens. A este número se devem somar aproximadamente 200.000 soldados que, ao terminarem as ações, caíram nas mãos dos soviéticos, como prisioneiros de guerra, e mais uns 297.000 cidadãos que foram deportados para a União Soviética.

 

Como dado ilustrativo, veja-se o seguinte quadro, referente às perdas húngaras na Segunda Guerra Mundial:

Mortos em ação: 116.762

Desaparecidos: 41.419

Feridos: 367.673

Mutilados: 39.313

Total: 565.167

 

Em linhas gerais, deduz-se que a Hungria participou das ações, durante o ano de 1941, com forças que se podem classificar como simbólicas. Em troca, em 1942, ocorreu uma alteração fundamental na atitude húngara, pois, a partir de então, intervieram na luta todas os forças armadas. O ano de 1943 foi dedicado pelos comandos húngaros à reorganização de suas forças. Já era então evidente que a guerra não teria uma definição rápida e, muito menos, favorável. O exército, por sua vez, necessitava urgentemente de novos substitutos que preenchessem as lacunas abertas nas fileiras húngaras durante os ações no Don.

 

Em 1944, quando o poderio soviético já ameaçava as fronteiras da Hungria, o país lançou na luta todo o seu poder combativo, atitude esta que se repetiu no ano seguinte.

 

Com respeito à situação dos efetivos húngaros, seria interessante transcrever aqui a opinião de alguns qualificados ex-chefes militares das referidas forças, emitida posteriormente aos acontecimentos. Uma dessas considerações diz textualmente:

"... a orientação militar alemã foi desacertada em 1942, quando dispersou o grosso de nossas tropas ao longo de Brestlitowszk e Varsóvia, até os Cárpatos, ao invés de nos dar apoio e enviar nossas tropas apenas para a zona dos Cárpatos, a fim de ali resolver todas as operações de vulto. Se o comando alemão houvesse optado por essa medida, as oportunidades teriam sido melhor aproveitadas, já que, ao verificar-se a retirada dos romenos no sul, sobreveio a inevitável catástrofe. Presumimos que, na solução desse problema, foi antes adotado o critério de uma 'alta política' que o de uma 'sã opinião militar'..."

 

Observemos a seguir o esforço desenvolvido pelas demais nações aliadas da Alemanha no sudoeste europeu.

 

Com relação à Hungria, veremos que, em 1941, lançava ela ao campo de luta cinco divisões, que aumentaram para dez, em 1942, e para vinte e sete, após 23 de agosto de 1944. A Romênia, por seu lado, mobilizou doze divisões em 1941, os quais subiram a 31 em 1942, caindo a 25 em 1943. Tais unidades abandonaram a luta depois de 23 de agosto, passando a combater, em seguida, contra os seus antigos aliados. A Checoslováquia iniciou a luta em 1941 com duas divisões, que se reduziram a uma entre 1942 e 1943.

 

O caso da Hungria - como o de outros pequenos países que se viram obrigados a intervir no conflito, participar do cumprimento de pactos já existentes ou da organização da defesa de suas fronteiras - é simplesmente dramático. Tais países se lançaram a uma luta na qual muito pouco poderiam lucrar, comparativamente ao que decerto perderiam. E assim foi. Perderam muito, em homens, em bens; em futuro histórico. Em troca, essas pequenos nações podem orgulhar-se por haverem caído combatendo, com bravura, valor e autêntico espírito de sacrifício.

 

Anexo

 

"Não me retirarei..."

Na noite de 13 para 14 de janeiro da 1943, no rio Don, encontravam-se colocadas as baterias do 6o Regimento húngaro da artilharia, "Klapka Gyorgy". Ali em uma das baterias, seu comandante, o Tenente Sandor Lévay, velava à espera da manhã. Imaginava talvez o inferno que explodiria algumas horas depois.

E o inferno chegou. Chegou com as primeiras luzes da manhã. Os canhões soviéticos, em uníssono, como que respondendo a uma só ordem, abriram fogo, atroando o espaço e levantando nuvens de terra e concreto, com o impacto de seus disparos. As posições húngaras, golpeadas, sem descanso, começaram a ceder. Logo após veio a retirada, em busca de maior proteção. Ao ser rompida a frente, apenas alguns pontos resistiam à investida soviética. Por fim, em meio àquele dilúvio de projéteis, um posto permaneceu isolado como uma ilha no vórtice da. tempestade. Era "Gibraltar", designação em código pela qual era conhecido o posto de observação do Tenente Lévay.

De "Gibraltar", na primeira linha, partia o fogo cujas quatro baterias húngaras que respondiam ao canhoneio dos soviéticos. E em "Gibraltar", o jovem tenente, com seu telêmetro, era quem o orientava.

Por fim, em meio àquele estrondo ensurdecedor, onde se confundiam o zunir dos próprios projéteis húngaros e os dos inimigos com o espocar das granadas de todos os calibres, o lamento dos feridos com as ordens de comando, o Tenente Lévay encontrava-se praticamente sozinho, isolado de seus camaradas, irremediavelmente condenado. Da retaguarda húngara, com uma clara visão da situação, partiu uma ordem telefônica; "Lévay, deve empreender a retirada. O comandante de seu batalhão está morto. A segunda bateria já foi obrigada a retirar-se. Oskino foi tomada pelos russos. Pode sair unicamente pela 4a bateria. Apresse-se. Estamos aguardando."

A resposta de Lévay, como seus camaradas esperavam, foi a seguinte: "Meu coronel, daqui não saio. Estou num excelente ponto de observação. Somente me retirarei quando não mais puder ser útil."

Eram 11 da manhã, e o fogo inimigo continuava, sem trégua. Outra vez escutou-se o chamado do único telefone com que contava a retaguarda para comunicar-se com o posto de Lévay: "Tenente, é uma ordem! Apresente-se imediatamente. Não aceito nenhuma classe de contradições. Execute-a imediatamente... "

Mas o Tenente Lévay não se retirou. Eram três horas da tarde, e todos ouviam ainda sua voz, comandando baterias húngaras. Finalmente, devido a exigências da situação, os disparos da artilharia tiveram de ser dirigidos praticamente sobre a posição de Lévay. Os soviéticos encontravam-se a poucos passos do local.

Foi então que um oficial da 5a bateria, seu melhor amigo, tomou o telefone: "Sanyi, não sejas tolo, volta... Pela direção dos tiros, vejo que estamos quase bombardeando tua posição..." A resposta, lacônica, parecia vir do século V antes de Cristo, das Termópilas: "Enquanto puder ser útil, não me retirarei."

O fogo recrudesceu. Três minutos depois, apenas o silêncio reinava na posição ocupada pelo heróico tenente. Chamava-se Sandor Lévay e tinha 23 anos. Seus camaradas jamais se esqueceram de seu eterno sorriso e de seus alegres olhos azuis.

                                                                                      

 

                      

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